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Copyright © 2018 Cinthia Basso

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Revisão: Morgana Brunner


Capa: Layce Design
Diagramação Digital: Layce Design

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dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
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e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Edição digital | Criado no Brasil.
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
Capítulo 1
Agradecimentos
Outras obras
Sobre a autora
Contato
Notas
9 anos antes

— COLLIN, VOCÊ CHEGOU a ver a garota que está atrás do August?


— Aquela gata do segundo ano?
Eu estava alheia a conversa dos garotos, ainda mais porque ter dois irmãos
homens com idades não muito diferentes me deixava apenas com dor de cabeça.
Era mulher pra cá, mulher pra lá e “você viu aquela gata? Será que eu
arrisco?”
Um saco!
Eu carregava meus cadernos, enquanto os dois falavam coisas que eu nem
tentava mais prestar atenção.
— Olha só se não é a estranha!
Um dos garotos mais idiotas da escola passou por mim, entre meus dois
irmãos e bateu nas minhas mãos, derrubando meus cadernos e me deixando
completamente envergonhada no meio do corredor.
— Bem feito! — Uma das meninas que estava com ele falou, enquanto eu
tentava inutilmente não chorar e pegar minhas coisas do chão.
Ouvi um barulho forte e quando levantei o olhar para ver o que viria dessa
vez, notei Collin prensando o garoto em um dos armários, enquanto Tyler me
ajudava a pegar tudo do chão.
— Não encosta mais a mão nela, tá me ouvindo? Ou eu garanto que não vai
ter mais a porra da mão!
— Sua irmãzinha não consegue se defender?
Ai, meu Deus!
Collin não se deu ao trabalho de negar, apenas deu um soco que quebrou de
primeira o nariz do outro.
— O que aconteceu aqui? — ouvi Ella e Elena perguntando o que estava
acontecendo e levantei meus olhos, vendo August que agora tentava tirar Collin
de perto do idiota.
— David bancou o valentão com a Lily. E bem, sabem como Collin é
volúvel — olhamos para onde August sofria para segurá-lo. — Tem como
ajudarem ela aqui? Vou dar uma mão pro August.
Tyler foi ajudar os meninos, enquanto as meninas me ajudavam. Ayesha
também acabou parando para saber o que estava acontecendo, mas não precisava
de muito para poder entender.
Ouvimos mais barulho e dessa vez, quem batia no David era o August e
Tyler.
O que era covardia, mas não fazia a menor ideia do que o garoto tinha dito
para provocar a raiva até do August e do Ty, que eram os dois mais calmos que
eu conhecia.
— Ai, meu Deus! E agora? — Eu gritei e corri para ficar no meio daqueles
loucos antes que eles matassem o rapaz.
Não gostava dele, mas não precisava de tudo isso, quando eu sabia que
escolas eram assim e não tinha o que fazer para mudar.
— Sai da frente, Lily! — Collin gritou e estava totalmente alterado.
— Vocês têm que parar com isso! Vai dar ruim pra gente!
Assim que eu disse, vi o zelador e o diretor da escola andando apressados
na nossa direção.
Agora sim que ouviríamos uns bons xingamentos de três homens nem um
pouco sutis. Se bem que tio Silas era o mais calmo deles e sempre entendia o
nosso lado.
August tinha sorte por ter um pai como ele.
— O que está acontecendo aqui?
Todos se separaram e eu fiquei no meio, sem saber muito o que fazer. Com
todos baixando o olhar, sem dizer sequer uma única palavra.
— Nada, senhor Robert.
— Todos para a sala da direção! Vou precisar conversar com seus pais mais
uma vez.
Era tudo o que precisávamos!
***
— Mas que merda vocês têm na cabeça?
Meu pai olhava entre eu, Tyler e Collin com um olhar furioso.
— Lily não tem culpa de nada.
— Ah, não? Então, alguém me conta o que realmente aconteceu?
Olhei para os dois e pedi com o olhar para não dizerem nada. Se David
tinha sofrido nas mãos deles, imagina na do meu pai furioso.
Josh Currey não era a pessoa mais calma do mundo e eu preferia evitar que
ele quisesse me trocar de escola. Por isso, aguentava tudo quieta.
— Nada. — Collin disse e olhou para o teto, disfarçando que a verdade era
bem maior que essa única palavra.
— Acontece, amor, fica calmo!
— Nem chegue perto com essa sua pose de bem feitora, Beatriz! Esses três
têm que saber o limite do aceitável! Puta que pariu, brigar na escola? E ainda em
bando?
— Foi tudo culpa minha, tudo bem?! — gritei perdendo a paciência por
estarmos sendo culpados por coisas que não eram nossa culpa. — Um dos
garotos me chamou de estranha e derrubou meus cadernos no meio do corredor e
os meninos apenas me defenderam! Foi isso! A verdade! — falei e saí correndo,
chorando por ter que admitir uma coisa tão vergonhosa para pessoas que eu sabia
que queriam apenas me defender.
Por que eu era alta e estranha assim?
Por que ninguém gostava de mim?
Eu não era ruim, era uma pessoa legal e só queria que todos falassem
comigo por eu ser amiga e sincera, e não pelos meus irmãos e amigos serem a
galera mais popular da escola.
Fui direto até o meu banheiro e vomitei todo o almoço, sentindo como se
ele estivesse pesando no meu estômago. Me enchendo de culpa por ser tão
idiota.
— Filha, abre a porta... Eu e seu pai queremos falar com você.
Eu não queria falar com ninguém. Muito menos com eles.
— Vão embora.
Vários minutos depois, ouvi seus passos se afastando e logo depois um se
aproximando.
— Lily, gatinha, não fica assim. David não vai fazer mais nada. — Collin
nem tentou entrar, apenas falou do outro lado da porta, assim como fazíamos
quando contávamos os segredos um para o outro por cartas.
Era uma forma de não ter que olhar nos olhos para descobrir o que
realmente pensava.
— Tudo bem, Collin. Obrigada pelo que fez.
— Conta comigo sempre. Sempre...
Também ouvi os seus passos se afastando e me permiti chorar sabendo que
ninguém ouviria além de mim.
— SÉRIO QUE EU precisava vir? Preferia ficar em casa com os caras.
Ross perguntou logo que passamos pela porta de entrada da casa Currey.
Todos os móveis estavam exatamente do mesmo jeito que eu me lembrava, todos
em tons pastéis, sem carregar o ambiente.
Nem fazia tanto tempo que eu não aparecia, mas para os meus pais, com
certeza devia parecer que eu estava voltando para casa depois de vários anos.
— Qual o problema em vir até a casa dos pais da sua namorada, Ross? —
questionei-o, completamente chateada pela sua falta de vontade em conversar
com a minha família.
Ele não gostar deles era um tremendo empecilho. Claro que pela feição que
meu pai fazia toda vez que o via, não ajudava. Pelo menos, ele era uma lenda no
basquete e isso o deixava interessante para o meu namorado nada simpático.
Às vezes me irritava. Mas não irritava mais do que ver Collin com uma
garota diferente a cada dia. Realmente, não irritava tanto assim!
Faltava explodir de raiva por saber que seu sorriso fácil e sua conversa boa
conquistavam todas as mulheres com as quais trombava.
Isso e ser um dos jogadores principais da liga de beisebol!
Collin estava na maioria dos outdoors de propagandas e toda essa fama
combinada com o seu visual confiante, sua pele morena, cabelo preto
praticamente raspado e o corte na sobrancelha esquerda, o deixavam digno de
entortar pescoços. Um inferno de irresistibilidade!
— Veja se não é a Lily gatinha! — Ele sempre aparecia quando eu pensava
nele. Parecia uma invocação. — Com o namorado chato. — Ele disse assim que
reparou em Ross ao meu lado.
Tinha vindo da área da piscina e estacou no lugar quando nos viu na sala.
Os dois não se davam bem. Na verdade, ninguém se dava bem com Ross.
Apenas August que o aturava porque era que nem o pai, calmo e analítico,
analisando tudo antes de ter uma opinião concreta.
E pensando que ninguém reparava nos seus olhares para Elena. Sorte dele
que o Allan ainda não tinha percebido, caso contrário, ele ficaria sem pênis para
usar...
Quando Silas e ele se juntavam, ficava engraçado. Ambos se sentavam e
ficavam olhando para todos com as mãos no queixo, apenas observando o
movimento.
— Cadê o papai?
— Tá lá na piscina, com todo mundo. — Collin disse e apontou com a
cabeça na direção.
— E por que decidiu sair?
— Pra esperar a gata da vez, achei que nem precisasse dizer! — Ele
gargalhou e dentro de mim, mais uma parte foi quebrada.
Eu era idiota demais e mesmo querendo ignorar tudo o que ele causava em
mim, falhava sempre, sentindo vergonha por ainda pensar nele dessa forma.
Era praticamente um incesto, mesmo Collin não tendo o mesmo sangue que
eu, mesmo Collin não sendo meu irmão de verdade. Mas como eu diria isso para
o meu coração? Que aprendeu a amá-lo de outra forma desde que eu me
lembrava?
Seria julgada e massacrada, por sentir algo acima do meu poder de decisão.
— Olha se não é a filha pródiga! — August me abraçou logo que entrou e
olhou para Ross, o cumprimentando com um balançar de cabeça, claramente
avaliando a minha opção de tê-lo trazido.
Pelo visto, todos entrariam antes que sequer chegássemos no quintal para
cumprimentá-los.
— Como está? — perguntei.
— Eu? Muito bem! Quem anda sumida é você que só se preocupa com as
semanas de moda ao redor do mundo. Saiba que o tio fica aqui só roendo as
unhas por aquelas coisas pequenas com as quais desfila. Ele nem deixa a gente
olhar, se te consola!
Essas cenas eu não queria imaginar, mas eram ossos do ofício. Eu tinha um
desfile para fazer, eu o fazia, mesmo que infelizmente ele pudesse não ser com
muita roupa.
— A vadia apareceu!
Ella correu na minha direção e me deu um abraço de arregalar os olhos de
tão apertado.
Nem fazia tanto tempo que eu não aparecia... Eles que eram exagerados,
assim como toda família grande.
— E Elena?
Ella e Elena, as gêmeas que deixavam Allan praticamente maluco.
— Essa está em algum lugar, construindo coisas, como sempre. Não
construindo propriamente, mas coordenando. Mandar é o que ela sabe fazer de
melhor!
Sorri porque ela era uma engenheira excelente, minha cabana em Montana
tinha ficado na sua responsabilidade e sempre que eu podia, ficava por lá. Era o
melhor lugar para refletir e tentar eliminar meus pensamentos nada puros.
Pensamentos sobre alguém que eu deveria considerar apenas meu irmão.
Nada mais.
Às vezes isso me sufocava tanto que eu me sentia como se estivesse prestes
a perder o fio da sanidade.
— Lily! — Josh Currey entrou e me viu, vindo na minha direção, com
aquela aura de poder que somente um homem como ele poderia ter.
Meus pais tinham seus momentos de loucura, mas os filhos sempre vieram
em primeiro lugar e o amor dos dois os faziam se esforçarem para serem o que
precisávamos, sempre, sem qualquer ressalva.
— Pai...
— Não pode nos abandonar! A última vez que te vi foi há um mês e porque
fui no desfile! Não criei filha pra isso não, tá louco, que sacanagem! Pareço até
um brinquedo jogado no canto! — Ele disse, revoltado, depois de me abraçar
apertado.
Sorri, sabendo que esse era o humor do meu pai e isso nunca mudaria.
E seu drama característico também nunca o abandonaria.
— Josh, já está enchendo a cabeça da menina de novo?
— Eu sou o pai, é minha obrigação!
Mamãe veio até mim e me abraçou, dando a mão para Ross e perguntando
cordialmente se ele estava bem. Ela era mais uma que não gostava dele, mas ao
contrário dos outros, ainda disfarçava, meu pai nem ao menos tinha olhado para
o homem ao meu lado.
— Cumprimentou Ross? — Ela perguntou e ele revirou os olhos, assim
como eu fazia, mania hereditária e irritante.
— E aí, cara.
— E aí.
Um falou com o outro, mas o clima pesado era mais do que claro.
— Não pode falar desse jeito, Josh!
— Qual é? O cara tá ficando com a minha filha, não tem como ser ursinho
não!
— Educado.
— Besteira! Vou voltar para a piscina!
— Desculpem por isso... Ele não aceita que nossa garota já é uma mulher.
Sabe-se lá quando vai aceitar. — Minha mãe tentou se desculpar, mas nós duas
sabíamos que esse não era o motivo completo.
Só Ross que felizmente não percebia esse detalhe.
— Tudo bem, mãe. Todo o pessoal está na piscina?
Ela balançou a cabeça confirmando e foi na nossa frente, enquanto
seguíamos até onde a confusão era grande.
— Olá, todo mundo! — falei quando passamos pela porta.
A conversa parou e todos olharam para mim e logo em seguida para Ross
ao meu lado.
Não disfarçavam nem um pouco.
— Claramente não somos bem-vindos, acho que vou voltar para casa!
Apertei mais forte a sua mão. Porque se continuasse agindo assim aí é que
ninguém gostaria dele mesmo! Já me bastava o seu ego alto, sua antipatia seria
mais um motivo, se é que todos já não sabiam dessa característica.
— Se não ficar e interagir mais, essa coisa nunca vai mudar.
— Tô nem aí!
— Ross, é a minha família!
— Disse certo... Sua família. E todos são um saco, diga-se de passagem!
Soltei sua mão e o olhei, querendo dizer que ele podia fazer o que quisesse.
Estava cansada de tentar passar uma felicidade que não sentia... Quase não nos
víamos e quando sobrava tempo, era sempre assim que ele agia.
Tudo se somava com a sua falta de vontade com as coisas e uma hora ou
outra, eu simplesmente jogaria o namoro para o alto, sem remorso.
Faltava pouco, muito pouco.
— Então vai, Ross. Então vai!
— Não precisa falar duas vezes. — Ele respondeu e se virou, sem
cumprimentar ninguém, apenas sumindo pelo caminho que fizemos.
— Continua um bosta! — Collin passou por mim, com uma morena ao seu
lado, comentando a indelicadeza do meu namorado.
Não sabia o que era mais humilhante... Meu namorado agindo como um
babaca, ou ver Collin com outra e fingir indiferença. Talvez esse segundo só
fosse humilhante porque eu sabia o quanto lutava contra.
Fui até a parte das bebidas e peguei um suco para mim, ciente de que nada
mais poderia ultrapassar minha dieta. Caso eu quebrasse as regras, a vontade de
fazer aquilo de novo voltaria e depois eu ficaria me sentindo mal e hipócrita por
ter cedido.
Comer muito, me sentir mal, vomitar tudo.
Exatamente nessa ordem.
— O que tanto pensa? — Tyler se sentou ao meu lado, sorrindo confortável
com a agitação.
Os olhos verde-claros que enfeitavam meu rosto eram refletidos pelos dele,
um brinde do nosso pai. Tínhamos mais dele do que da nossa mãe. Talvez o
formato do rosto e as linhas faciais, mas fora isso, o lado Currey imperava com
maestria e até na altura era ressaltado, sendo nós dois consideravelmente altos e
imponentes.
— Nessa coisa de namorar, acho que não dou certo.
— Bem-vinda ao clube irmãzinha, também sou do contra e não combino
com ninguém.
— Sei bem que não quer combinar.
— Touché.
— Eu quero combinar com alguém.
— Tipo a mãe e o pai? — Ele disse e apontou para os dois, que dançavam e
sorriam, olhando um nos olhos do outro.
— Mais ou menos isso. — Eu respondi e olhei na direção do Collin, que
sorria junto com o August, Ella e a mulher que não desgrudava dele.
— Eles pirariam.
— O quê? — perguntei, sem entender.
— Se soubessem que tem uma queda pelo Collin...
Eu abri a minha boca em choque, porque não tinha como ele ter notado
isso. Ou tinha?
— Do que está falando?
— Sou seu irmão, seria cego se não notasse... Só não sei como os dois não
notaram ainda, levando em conta que você não é lá aquelas coisas pra disfarçar.
— Está tão óbvio? — perguntei com medo, pensando que talvez Collin
havia notado também e me ignorava apenas para não me machucar.
— Se reparar muito sim! Mas, você não fica por aqui e quase não vir pras
nossas confraternizações ajuda a esconder também. Sorte sua! Seria
praticamente a Terceira Guerra Mundial!
— Não acho, ele nem olha pra mim.
Tyler respirou fundo ao meu lado e deitou as costas na cadeira, ficando em
uma posição relaxada, observando todas as pessoas se divertindo, enquanto
conversávamos sobre um assunto tão tenso.
— É especial irmãzinha, só um babaca não daria valor!
— Fala porque é meu irmão.
— Com orgulho! Saiba que a maioria dos meus amigos sonham em ficar
com você um dia! É meio que o sonho molhado da galera!
— Que nojo!
— Esse é o mesmo pensamento que tenho toda vez! Sem chances, eles não
valem nada e você merece o melhor! Merece o que crescemos vendo e tem razão
em não querer menos.
Assim que ele falou, meu pai e minha mãe terminaram de dançar e olharam
na nossa direção.
— Ferrou! Vou sair antes que eu fique no meio da conversa... Semana
passada já tive minha cota. — Tyler disse e se levantou, saindo na maior cara de
pau enquanto nossos pais vinham na minha direção.
— O que aprontou?
— Outra hora te conto! — Ele disse já longe e nem disfarçou a sua fuga.
Ele tinha sorte, porque eu já não conseguiria o mesmo.
— EU E SUA mãe queremos conversar...
Papai disse assim que se aproximou o bastante, com mamãe concordando
com as suas palavras.
— Você é feliz, filha? — Era a primeira vez que ela era tão direta e eu
amaldiçoava Ross mentalmente por ter sido tão estúpido e deixado tudo assim
tão claro.
— Amor! Não pode chegar assim metralhando! Tem que ter jeito...
— E o que você faria?
— O mesmo que você, mas eu sou conhecido por não ter jeito, então,
estaria tudo certo! — ele deu de ombros e eu sorri, mesmo com a intensidade do
assunto que viria.
— Estão me perguntando justo agora se sou feliz? O momento é mesmo
propício... — falei um pouco irônica, torcendo para que eles desistissem dessa
investigação sobre a minha vida.
— É nossa filha, qualquer momento é momento.
— Sim, estou feliz, mãe e pai. Muito feliz!
— Por que ainda insiste nesse relacionamento?
Eu também não sabia... Talvez por medo de ficar sozinha ou ter a noção que
perdi meses com alguém que não valia a pena. A verdade era que eu não sabia ao
certo e tinha medo de descobrir.
Tantos namorados indo e vindo, apenas para cobrir a falta de alguém
completamente real na minha vida. Não um príncipe em um conto de fadas, mas
sim alguém que eu veria mesmo que não quisesse.
— Não sei.
— Não precisa de ninguém para ser feliz, filha! A felicidade está em você e
não em outra pessoa.
Era fácil para ele falar isso com a minha mãe do lado. Duvidava que ele
dissesse o mesmo se ela não estivesse ali.
— Acho que já vou, tenho que pegar um voo amanhã cedo....
Falei me levantando, não querendo deixar que o assunto se estendesse.
— Mas acabou de chegar! — Minha mãe reclamou e eu sabia que ela sofria
com essa minha vida corrida, só que nesse momento, era o melhor para mim.
Preferia ficar com a cabeça cheia do que vazia, propensa a ideias idiotas.
— Desfiles e campanhas.
— Nem comeu nada!
— Não posso...
— Tem que parar com essa obsessão de não comer nada, vai passar mal!
Mal sabia minha mãe que as coisas eram bem mais fundas do que
simplesmente não comer ou comer demais...
Eles não precisavam dos meus problemas, eu já era adulta e agora cabia a
mim enfrentá-los.
— Eu me viro. Assim que ficar mais tranquila, volto.
— Já vai, irmãzinha? — Collin me pegou pela cintura e girou, impedindo
meus passos em direção à porta.
— Tenho que ir.
— A temporada vai começar logo, mas vou tentar ir em um desfile pra te
dar uma força!
Por mim ele nem precisava fazer isso, seria a mesma coisa que ter uma
distração constante me observando em cada segundo na passarela.
— Se não puder, sem problemas... Entendo como são essas coisas de jogos
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na MLB .
— Por que parece não se importar?
O problema era que eu me importava demais... Mais do que eu gostaria!
— Eu vou, fica tranquilo, Collin. — Tyler apareceu para me salvar e nesses
momentos eu podia jurar que ele lia a minha mente e sabia exatamente o que eu
precisava.
— Você já foi na maioria! É a minha vez de prestigiar, não é não?
— Podemos ir juntos.
— Não tem trabalho?
— Tenho, mas eu me viro! É importante para a Lily então é importante pra
mim também, fora que é o Brasil, faz tempo desde a última vez que fomos com a
tia Dee!
— Eu curto aquele lugar.
— Eu também... — Meu irmão falou de uma forma estranha e eu apostava
que tinha alguma coisa escondida ali.
Nem mesmo o convidara ainda e ele já confirmava que iria, sem nem
titubear.
Isso não era normal!
— Alguma mulher? — perguntei, chamando a atenção dos dois, que me
olharam e levantaram as sobrancelhas. — Tyler falou de um jeito estranho... Tem
alguma mulher com a qual ficou por lá?
— Algumas. — Meu irmão deu de ombros, como se realmente não valesse
a pena contar, mudando de assunto para disfarçar — Cadê a garota, Collin?
— Se mandou... A mãe é meio paranoica com essas mulheres que eu trago.
— Sabe que ela tem razão... Essas doidas ficam no seu pé depois e o pior,
sabem exatamente o endereço onde elas podem deixar todo mundo louco!
— Sei que acabo pisando na bola com isso, mas é maior que eu!
Os gêmeos do tio Silas passaram pela gente, brincando entre si, o que me
fez sorrir e desejar voltar a ser criança novamente, sem nenhuma preocupação,
além de dormir no horário certo. Aqueles dois estavam na época de aproveitar as
brincadeiras e deixavam todo mundo louco.
— Eu realmente preciso ir... Vejo vocês por lá! — falei me distanciando,
antes que eles me atrasassem ainda mais.
— O babaca vai? — Collin me perguntou e olhou fixamente, como se
desvendasse tudo o que eu me esforçava para esconder.
— Não.
— Ele é mesmo um otário.
— Acontece. — Dei de ombros e me despedi de todos, saindo da mansão,
torcendo para que a noite passasse rápido.
Recebi uma mensagem no celular e assim que a abri, li uma frase que fazia
tempos que eu não lia, muito menos ouvia.
“Conta comigo sempre.”
Essas palavras me lembravam a menina frágil que fui um dia, e não me
traziam recordações tão boas.
Ignorei a vontade de responder e continuei meu caminho, torcendo para que
ele não me surpreendesse com mais nada. Já me bastava pensar nele uma boa
parte do meu dia, não precisava de ainda mais lembretes para a minha fixação.
Tinha várias coisas nas quais focar e isso deveria ser o mais importante por
hora, mesmo que não bastasse.
Uma carreira bem-sucedida não era capaz de apagar um amor inalcançável.
Prova disso era que não importava o quanto eu viajasse e conhecesse
cidades maravilhosas, ou homens de tirar o fôlego... Nada realmente importava,
porque ele não estava conhecendo as paisagens comigo e nenhum dos homens
era ele.
Parei na calçada e olhei para os lados, lembrando que tinha vindo com Ross
e que ele foi embora com o carro, me deixando sem ter como voltar. Talvez ele
tivesse presumido que eu pediria para alguém me levar, ou talvez ele não
pensasse nada, não saberia dizer... A questão era que eu realmente odiava pedir
táxis, mas era a única alternativa. Essa ou pedir emprestado um dos carros para
meu pai, que faria mais perguntas desnecessárias.
Não, definitivamente, essa não era uma opção!
Podia pegar carona com um dos meninos... August era a melhor chance,
mas eu sabia exatamente quem faria questão de quebrar esse meu galho, e eu
absurdamente não queria.
— Saco! — Blasfemei, enquanto discava um número de táxi salvo nos
meus contatos.
— Algum problema? — Collin se aproximou sorrateiro, perguntando com a
voz baixa e tranquila.
Ele era meu problema.
Sempre tinha sido.
— Não.
— Por que estava praguejando alto, então?
— Um contratempo... Ross foi embora e eu esqueci que tinha vindo junto
com ele no carro.
Collin levantou apenas uma das sobrancelhas, justamente aquela que tinha
um corte proposital e sexy, que me fazia pensar coisas indecentes. Coisas do tipo
que meu pai iria surtar se soubesse e sorriu! Sorriu!
Um tremendo golpe baixo, me fazendo imaginar coisas que eu não deveria
imaginar!
— Foi uma sorte! Qualquer minuto com aquele cara, é uma perda total de
tempo.
Meu semblante não era dos melhores nesse instante. Quem ele pensava que
era para falar dessa forma? Como se eu fosse uma criança por sonhar estar com
alguém que me desse atenção? Ele praticamente fazia a mesma coisa, da sua
maneira, mas fazia.
— Cuida da sua vida!
— Eu cuido até demais dela, muito mais do que você da sua!
— Quem pensa que é, pra dizer essas coisas pra mim? — falei irritada,
porque minha cota de sermão já tinha sido atingida na noite e eu não estava lá
essas coisas para ultrapassarem meus limites.
— Seu irmão!
Tapa na cara dado com sucesso!
A verdade doía, mas ainda assim era verdade.
Collin era meu irmão de coração, e infelizmente, apenas eu tinha trocado o
sentimento. Admitia que soava doentio e repulsivo até mesmo para mim, mas o
que eu poderia fazer? Era como se quanto mais eu lutasse contra o sentimento,
mais ele aumentasse e tinha horas que eu pensava que me sufocaria por tentar
mantê-lo preso.
Não fazia a menor ideia de como lidar com isso e a única maneira que eu
havia encontrado de fazer doer menos, era quase nunca aparecer na cidade.
E ninguém poderia me culpar por tentar fazer o que era certo. Ninguém!
— Falou a pessoa mais certa do mundo!
— Ninguém é perfeito. — Ele deu de ombros e encostou no seu carro,
parado na frente da entrada.
O celular fez um barulho e assim que olhei para ele, notei que a ligação do
taxista tinha sido encerrada, provavelmente achando que aquilo era um trote,
ouvindo nossa conversa sem sentido, sem ter qualquer resposta na ligação.
Disquei o número de novo, torcendo para que ele atendesse, mesmo com a
falha da ligação anterior.
— Está pedindo um táxi? — Collin perguntou e eu apenas balancei a
cabeça concordando. — Para com isso! Sobe aí, vamos lá, eu te levo.
Pesei minhas opções e aquela nem de longe era a melhor.
Continuei com o celular no ouvido, esperando que atendessem, precisando
que atendessem.
Ficar com Collin em um ambiente tão fechado, com o seu perfume
inebriando meus sentidos, e seu tamanho me fazendo sentir extremamente
pressionada, não era nada animador.
Eu me sentia a bola que ele rebatia à milhas de distância e isso me fazia
entrar em pânico!
Pensar no taco me fazia entrar em pânico!
— O que tá esperando? Entra logo! — Ele chamou assim que abriu a porta
para mim e eu permaneci catatônica, com o telefone na orelha, sem saber o que
fazer.
A pessoa do outro lado não atendia e Collin estava ali, na minha frente,
esperando impacientemente a minha resposta.
Entrei à contragosto no carro, ciente de que teria que me controlar ao
extremo para não dar nenhum sinal. Era isso ou aceitar o que ele pensaria se
descobrisse.
Que eu era louca!
O que provavelmente nem eu duvidava.
— Obrigada. — Por mais ignorante que eu fosse quando estava perto dele,
ainda tinha educação e manter as frases polidas me deixaria distante da
proximidade que costumávamos ter.
— Eu vi as fotos do último desfile, estava linda!
Já nem fantasiava com esses elogios... Eram os mesmos que meu pai ou
Tyler faziam.
— Obrigada de novo.
Agradeci mais uma vez, por pura educação.
— Devia reconsiderar essa sua opção de não vir muito pra cá. Eles ficam
loucos sem notícias, te amam e isso deveria bastar pra você!
Se eu contasse o motivo para evitar com todas as minhas forças encontrar
todos, ele teria uma solução, que envolvia ele se afastar para eu me aproximar...
O problema é que eu não era egoísta a esse ponto e tinha orgulho de ter sido
criada por duas pessoas com um senso de bondade consideravelmente alto.
Foi assim que aprendi a ser e não mudaria para garantir minha felicidade.
— Não sou eu que escolho.
— Deve conseguir fazer um esforço... Porra, Lily, são seus pais! Não pode
sumir por metade de um ano e achar que eles vão ficar bem com isso! É uma
mulher e não mais uma adolescente para desaparecer como uma rebelde!
Ele ficava sempre que podia em casa, mas eu não fazer o mesmo não era
sinal de que eu não amava meus pais, ou que não levasse em conta os seus
sentimentos.
A verdade era bem diferente.
— Até você?
— Não sou o mais certo, já fiz umas burradas dignas de nota, mas ainda
assim, me importo com vocês, somos uma família, caramba!
— Soa irônico — resmunguei, porque ele se importar não bastava para
mim.
Eu queria mais.
— O que disse?
— Nada, desconsidera. Me leva pro apartamento? Preciso descansar antes
de embarcar!
— Claro. Mas pensa um pouco sobre o que falei, não foi uma simples
observação.
— Sempre penso...
Estacionou na frente do edifício, me deu um beijo no rosto e se esticou para
abrir minha porta, enquanto eu sentia uma corrente elétrica percorrer meu corpo.
— Se cuida!
— Você também. — Respondi, fechando a porta e acompanhando seu carro
sumindo no meio do trânsito.
Algumas coisas realmente soavam impossíveis e eu vivia tentando me
conformar com elas.
LILY ERA MARAVILHOSA! Sempre tinha sido! Isso era claro como a
água em Malibu, mas era uma tremenda teimosa quando queria e isso irritava pra
caralho!
Não entendia seus motivos para sumir sem dar explicação. A víamos nos
desfiles e campanhas, mas não era a mesma coisa que ela ligar e dizer: “Estou
bem, trabalhando pra cacete, mas bem”.
Todo mundo sentia falta dela e eu odiava dizer, mas ela preferir a fama à
própria família, diminuía uma boa parte da admiração que eu nutria por ela.
Sorte que esse sentimento era grande, se não o fosse, eu não ficaria tão ligado
quando estava por perto ou quando algo a chateava.
Havia sido sempre assim.
Era meio que um código entre irmãos, defender os outros acima de
qualquer coisa.
Ou pessoas que deveriam ser irmãos, no caso.
Tyler era tranquilo, mas ela... Achava que pela sua beleza incomum,
juntando olhos verdes como safiras, àquela pele morena e de arrancar corações,
as meninas no colégio praticamente se matavam para humilhá-la e aquilo sempre
a machucava, tanto que eu me via ignorando e fazendo o mesmo com elas
apenas para que percebessem o quanto isso afetava.
E eu era bom, realmente muito bom em dar o troco na mesma moeda.
Me aproveitava da situação e via uma desculpa na forma com a qual elas
agiam com as outras para poder fugir de qualquer compromisso.
Mas isso não mudava nada para Lily, não quando ela me via com as
meninas e achava que eu estava traindo aquele código que tínhamos.
A verdade era bem diferente e muito mais protetora.
Meu celular começou a tocar e o atendi pela multimídia do carro,
completamente absorto nos meus pensamentos.
— Ela está entregue? — Ele falando assim até parecia que estávamos
falando de uma encomenda.
Dei risada com o pensamento.
Josh era o verdadeiro significado de pai zeloso e eu duvidava que algum dia
ele a deixasse viver sua própria vida. Era complicado e eu até a entendia por
sumir... Ele meio que a sufocava, enquanto soltava a rédea minha e do Tyler.
Lily era sua filhinha, todos sabíamos, mas em um certo momento da vida,
precisamos embarcar em nossos próprios erros e aprender com eles, caso
contrário, quando realmente precisássemos nos defender do mundo, não
estaríamos preparados para isso.
— Está.
— Quando que ela vai terminar com aquele otário? — Também vivia me
fazendo essa pergunta.
Quando?
— Logo. Pela cara dela não está nada satisfeita. — Era o que eu torcia para
que acontecesse.
— Bom.
Eu não sabia se isso era tão bom, porque ela ficaria arrasada com mais um
relacionamento furado, mas era melhor se magoar do que continuar se
enganando.
— Acho que ela vai sofrer.
— Provavelmente... E eu vou quebrar as pernas daquele cantor de merda.
Ross era um rapper famoso, com legiões de fãs, porém, com um
temperamento horrível e índole pior ainda.
Ele sem sombra de dúvidas não a respeitava, mas não era como se eu
pudesse chegar e bater toda a merda para fora dele. Os dois estavam juntos e
qualquer ataque nosso seria meio que um motivo para ela se afastar ainda mais.
— Todos já foram?
— Já... Sabe que sua mãe odeia que traga qualquer uma pra casa, não sabe?
Ela fica puta da vida aqui e acaba descontando em mim... Precisa ser mais
seletivo e filtrar quem realmente vale a pena!
— Estou bem com todas.
— Eu sei, já passei por isso.
— Então, me entende.
— Entendia, filho. Hoje em dia as coisas não funcionam mais assim por
aqui e sinceramente, uma hora a poeira tem que assentar, não acha?
Ele vivia me dizendo para procurar alguma mulher que fizesse meu coração
parar, mas eu não sabia se um dia a encontraria.
Talvez eu até tivesse encontrado e deixado passar sem saber. Entretanto,
nenhuma realmente me marcou e me divertir com as demais não parecia errado
de maneira nenhuma.
Elas procuravam. Elas tinham.
Não dava garantias e, principalmente, não as iludia. Era homem o suficiente
para ser sincero e aguentar as consequências por isso.
Aprendi com o melhor a ter essa característica.
— Talvez.
— Vou desligar, só queria saber se ela chegou bem, já que não atende o
celular quase nunca. Só te liguei porque quando os dois sumiram, imaginei que a
tivesse levado embora, aquele Ross nem pra isso serve, já a avisei para vir de
carro e não depender daquele babaca!
Ele encerrou a chamada e eu fiquei um pouco cismado com essa sua
resposta.
Como ela não atendia o celular se eu havia acabado de deixá-la no seu
apartamento, com ele na mão?
Duvidava que tivesse dormido tão cedo, ou que estivesse tão entretida
arrumando as suas coisas para preferir ignorar uma chamada do pai.
Virei em uma das ruas com o carro, fazendo o retorno direto para o seu
apartamento.
Odiava ficar preocupado com ela e nesse momento se eu não checasse com
meus próprios olhos, não conseguiria dormir e definitivamente, eu não era a
melhor das pessoas para ficar com insônia. Meu humor se tornava negro e
qualquer um que tentasse entrar em contato, levaria grito dos bons.
Estacionei perto do edifício e passei pelo saguão, sem ser parado, com a
minha entrada permitida apenas porque ela liberou a família para subir a
qualquer hora do dia. Lily tinha a alma doce e diferente de mim, gostava que as
pessoas ao seu redor se sentissem realmente amadas por ela.
Lembrava a Beatriz e eu suspeitava que essa era a única característica da
mãe nela. Sua altura não me deixava mentir.
Quase passava de mim com salto e isso era uma vergonha.
Uma vergonha das boas!
Em eventos ela até tirava sarro por causa disso e dizia que pelo menos eu
ainda era mais alto e que homens menores, eram todos considerados amigos.
O elevador parou no seu andar e eu saí rapidamente, acionando a senha na
sua fechadura eletrônica e entrando para ser brindado com o silêncio e escuridão.
Fiquei dividido entre sair e deixá-la dormindo ou descobrir o que raios ela
estava fazendo e tentar convencê-la a comer algo. Sentia como se ela não
estivesse totalmente feliz e a necessidade que havia em mim de mudar esse seu
estado era gigantesca.
— Lily! — chamei, dando um sinal da minha presença.
Nada.
Chamei mais uma vez e fui até seu quarto. Olhei para a cama arrumada e a
preocupação se tornou ainda mais forte.
— Lily!
— O que você quer, Collin?
Ela respondeu, com a sua voz abafada devido a porta do banheiro.
— Saber como você tá! O pai tentou ligar e disse que você não atendeu.
— Eu estou bem!
A sua voz não passava essa sensação e eu não a deixaria ali sem atenção até
que não tivesse a certeza de que as coisas estavam realmente bem.
— Não liga para aquele babaca, princesa, ele não te merece!
Ross não merecia nem metade da mulher que ela era e se não percebesse
isso logo, apenas se magoaria mais.
— Vai embora, Collin! Por favor?
— Não até abrir!
— E se eu estiver impossibilitada no momento? Não sei se percebeu, mas
estou no banheiro!
— Sei que não está, então abre, ou eu arrombo a porta, Lily! E não, essa
não é uma ameaça vazia.
A chamei pelo nome apenas para que percebesse que eu não estava
brincando e que realmente faria aquilo, caso ela não se dignasse a abrir a porta e
me mostrasse que estava bem de verdade.
— Certo.
Depois de alguns segundos, abriu e eu respirei aliviado.
Parecia ter chorado, mas nada além disso.
Olhei fixamente para ela e conseguia notar o quão quebrada estava e o
sentimento em mim era tentar colar todas as suas peças de uma forma que ela
não tivesse cicatrizes para atormentá-la.
Poderia ver qualquer mulher com aquela feição, mas ela, simplesmente
mexia com uma coisa em mim que me fazia ficar ruim em reflexo ao seu humor.
— Quer comer algo? — perguntei, porque eu cozinharia se precisasse.
Comida sempre ajudava em questões como essas, pelo menos para mim.
O problema é que a rotina dela não a deixava comer praticamente nada bom
e aquilo deveria ser proibido! Como aproveitar uma vida sem poder fazer nada
do que deseja?
As melhores coisas eram comer pizza, massas e afins. Batata frita então, eu
preferia nem comentar! Certo que eu também seria penalizado se descobrissem,
a dieta era controlada, mas uma quebra aqui e ali, não faria mal.
Bastava eu treinar com mais afinco no próximo dia.
— Acho que não. — Ela respondeu e fez uma careta que eu não conseguia
decifrar.
Estranho.
— Vou fazer um lanche pra mim então! Tem comida na sua cozinha, não
tem?
— Claro que tem! Sabe que a Gloria abastece os nossos apartamentos
praticamente toda semana! Mesmo que eu quase nem fique aqui!
Gloria estava na família antes até da gente. Era empregada do Josh quando
ele era solteiro e continuou mais como parte da família depois que casou, mas
ela ainda insistia em arrumar nossas coisas quase sempre, aparecendo do nada e
sumindo como a Mary Poppins.
— Eu amo aquela mulher!
— Não é só você!
— A temporada regular começa em algumas semanas, sabia? Vai poder vir
a algum dos jogos, pelo menos?
Ela pensou e eu mexi a minha boca, em um por favor silencioso.
Com Lily a artilharia tinha que ser pesada, ou somente a veria nos Playoffs,
talvez até no jogo de decisão.
— Vou tentar... Quem era aquela hoje? Torcedora, animadora, ou outra
classificação?
— Outra classificação.
Shayla era um caso à parte, história um pouco complicada para uma noite
que eu queria que fosse leve.
— Não vai dizer mais nada? — Ela parecia curiosa, como sempre havia
sido e aquilo me intrigava tanto quanto me fazia falar.
— Uma outra hora...
Ela respirou fundo e eu sorri, era automático — Tyler me disse a mesma
coisa hoje... Afinal, o que ele aprontou? Me deixou no matadouro com a mamãe
e o papai... Um covarde!
Ele tinha dado em cima de uma das clientes da mamãe na livraria e é lógico
que ela não levou muito bem isso.
— O segredo não é meu, gatinha. Logo ele te conta!
Eu pisquei para ela e comecei a procurar as coisas na sua cozinha, enquanto
ela sentava em uma das cadeiras no balcão e apoiava o cotovelo nele, entediada
com a minha presença.
Por hora, o Collin aqui tinha que servir para o entretenimento, nada mais.
— Vocês não me contam mais nada! Até parece que não sou mais eu e que
não posso ouvir as coisas que falam.
— Vai por mim, não vai querer ouvir! — Eu olhei para ela novamente e
gargalhei, lembrando de coisas que ela absolutamente não iria querer saber.
— Se não querem falar, eu respeito! Só não reclamem quando eu estiver
longe e não puderem desabafar.
— Não vamos reclamar, principalmente, porque essa semana a gente vai
passar com você.
— Obrigada por isso.
— Não pense que vai ficar barato! Eu vou cobrar e em troca você vai ter
que ver no mínimo, metade dos meus jogos da temporada!
— Só pode estar brincando comigo! Metade? Eu nem passo metade da
temporada por aqui, se não sabe! É injusto! Por uma semana? Que semana mais
cara essa sua! — Ela disse brava e eu gargalhei alto.
Se ela achava que seria barato, estava muito enganada.
— Torça para o Tyler não pedir nada também!
— Ele não vai pedir, é o irmão bom, que passa um tempo com a irmã sem
pedir favores em troca.
— Eu sou o ruim, admito, mas merece isso por ter me ignorado a última
temporada inteira! Só te vi em alguns jogos e na decisão! Decisão, Lily! Quão
boa irmã você se acha por isso? Te dou nota cinco só pra não desanimar, mas a
verdadeira nota é bem menor.
Ela pareceu levar um soco com o que eu disse, mas rapidamente se
recompôs, com um semblante estranho.
Tudo estava estranho hoje...
Talvez, quem não estivesse vendo as coisas certas fosse eu.
— Eu estava ocupada!
— Eu também estava ocupado naquela semana de moda em Paris, mas eu
estava lá por você e só queria reciprocidade da sua parte!
— Vai me jogar isso na cara sempre? — Ela perguntou frustrada e eu sorri
mais uma vez, contente com a irritação que eu via no seu rosto.
— Não.
Terminei de pegar o último ingrediente para o meu lanche e comecei a
prepará-lo, com ela me observando em cada movimento.
Seus olhos mostravam uma coisa enquanto as suas ações me mostravam
outra e aquilo soava maluco. Maluco porque eu não entendia de verdade
nenhuma das duas.
— Como consegue comer a essa hora?
Olhei para o relógio, que indicava início da madrugada e dei de ombros.
Nem era tão tarde assim.
— Não está tão tarde.
— Pra você! Parece que um caminhão passou por mim!
— Fuso horário! Estava onde mesmo?
— Inglaterra.
Levantei uma das minhas sobrancelhas, provando o óbvio na minha
constatação.
— Que coisa chata, Collin! Essa sua mania de levantar as sobrancelhas é
irritante!
— A sua de revirar os olhos também! Um saco! — rebati com a verdade.
Era irritante pra caralho!
— Eu vou dormir. Arruma tudo depois que terminar, sim? — Ela apontou
para as coisas e seguiu para o quarto, enquanto eu a acompanhava com o olhar,
tentando decifrar essa sua pose de mulher fria e inabalável.
Terminei de fazer meu lanche e comi, assistindo um pouco de televisão,
enquanto o sono não vinha.
Eu não iria embora, dormiria em um dos seus quartos. Eles sempre estavam
livres e não era como se já não tivesse feito isso antes, milhares de vezes.
Limpei as coisas e fui até o seu, notando-a dormindo serena e agarrada a
um dos travesseiros, como se ele pudesse salvar a sua vida caso algo
acontecesse. Entrei e a cobri vagarosamente, não querendo despertá-la do
descanso.
— Collin... Por favor? Collin... Faça parar...
Congelei no lugar e não conseguia definir o que sentia.
Um misto de confusão e medo?
Que porra estava acontecendo com ela que queria que parasse?
Ela se virou para o outro lado e murmurou mais alguma coisa, enquanto eu
permanecia próximo à cama, tenso e curioso para saber o que tanto a afligia.
— Collin...
— Oi, gatinha! — respondi baixo, arriscando uma resposta sua, caso não
estivesse dormindo de verdade.
— Está aqui?
— Estou.
— Que bom... Senti sua falta.
Eu também senti a sua.
Ela ronronou e começou a falar coisas desconexas, me deixando a certeza
de que a nossa conversa não tinha passado de um reflexo seu durante o sono.
Saí do quarto abalado e decidi ir para o meu apartamento antes que a
acordasse e perguntasse que merda vinha acontecendo.
Essa era uma conversa para outro dia e eu não estava me sentindo
preparado para o que poderia ouvir.
Sabia que não estava.
Desisti do meu plano inicial e dirigi catatônico para o meu apartamento,
amaldiçoando quem quer que estivesse deixando-a assim.
LEVANTEI E A primeira coisa que fiz foi ir até o quarto ao lado para ver se
Collin tinha dormido aqui.
Nada.
Pelo visto, dessa vez, ele teve coisas mais interessantes para fazer do que
ouvir as minhas lamúrias idiotas.
Não sabia o que me machucava mais, ele agindo como irmão zeloso ou as
suas sumidas ocasionais. Provavelmente, as duas machucavam na mesma
proporção.
Peguei meu celular na esperança de ler alguma mensagem sua e ao invés
disso, vi as várias ligações do meu pai e algumas mensagens de outras pessoas...
Precisava sair do apartamento o quanto antes para pegar o voo e mesmo que eu
soubesse que o encontraria ainda hoje, um vazio sempre se apoderava de mim
quando saía da cidade e colocava aquela distância entre a gente.
Simplesmente não confiava em mim perto dele e depois de até mesmo Tyler
ter notado, confiava ainda menos.
— Esse lugar é maravilhoso, não acha? — Chloe disse assim que nos
encontramos na frente do hotel em São Paulo, completamente fascinada com o
povo e a paisagem.
Nesse ponto eu já havia me acostumado, viajava mais do que parava em
casa e aprendi com isso a notar as sutilezas de cada lugar, sendo que Brasil era
um dos lugares mais frequentes que eu visitava, vantagem de ter duas tias
brasileiras.
Considerava até mesmo meu português como intermediário, as duas me
ensinavam e eu era rápida para aprender. Mesmo a língua sendo
consideravelmente complicada e cheia de regras.
Sabia me virar quando preciso e agradecia à elas por isso!
— Sou suspeita a falar!
— Verdade, com a família que tem é muito suspeita! Falando em família,
aqueles seus irmãos gostosos virão também? Até seu pai ainda é de arrasar
corações!
Que minha mãe não ouvisse isso ou Chloe seria uma garota morta em
poucos segundos!
Senhora Beatriz era ciumenta até mesmo prestes a alcançar a casa dos
cinquenta.
— Collin e Tyler vão vir, meu pai não sei... Minha mãe e ele estão
aproveitando o tempo como podem. Ele até colocou na cabeça que seu esporte
agora é o golfe e se acha o novo Tyger Woods da geração!
— Se for bom como era no basquete, eu apostaria nele com certeza!
Mais uma para ficar babando na habilidade do meu pai.
Algumas horas eu queria esconder o sobrenome Currey e deixar que as
pessoas me conhecessem apenas como Lily, porque viver na sombra dele era
sufocante e ter que sempre arrumar autógrafos pior ainda.
Não ajudava nada um irmão na liga de beisebol também, ou seja, estava
ferrada dos dois lados.
— Cadê o restante das meninas? — perguntei notando a ausência de
algumas delas.
A maioria não gostava de mim, mas eu fingia ignorar e continuava vivendo
a minha vida aparentando não ver as coisas que elas faziam para me prejudicar.
Aprendi que quanto mais eu me deixava afetar, pior eu ficava e isso
machucava apenas a mim.
— Sei lá! — Minha amiga deu de ombros e ficou encarando um dos
seguranças bonitões do hotel.
Nem precisava ser vidente para saber como ela gastaria parte do seu tempo
por aqui. Quem me dera ter essa falta de vergonha para aproveitar sem medo.
Sabia o que queria e era me destacar por talento próprio, o que viesse além
disso era lucro. Não gostava de ficar com homens sabendo que eles estavam
comigo apenas porque eu era famosa e uma chance deles ficarem conhecidos
também.
Me soava injusto.
— De novo?
— Não estou fazendo nada errado. — Ela rebateu e não deixava de ter
razão.
— Verdade.
— Acha que Collin olharia pra mim? Ele é sempre tão focado e preocupado
com você que sinto como se todas as mulheres ao seu lado fossem invisíveis,
incluindo eu.
Eu não via a mesma coisa que ela e por mais que quisesse que fosse
verdade, duvidava fielmente.
— É meu irmão... Tem o Tyler se quiser.
— Os dois são quentes, mas não sei, Collin tem algo de excitante que
chama a nossa atenção. Acho que é aquele olhar avaliador dele, quem me dera
ser avaliada assim durante a noite!
Eu sabia exatamente do que ela estava falando.
Infelizmente.
— Tyler é o mais fácil.
— É o que parece! Mas adoro um bom desafio, me soa empolgante!
A ideia de ter minha amiga disputando a atenção do Collin comigo não me
animava de forma alguma e eu até cogitava contar para ela o que eu sentia
apenas para que se afastasse e não me obrigasse a ver a interação com segundas
intenções que os dois teriam.
Seria ainda mais humilhante para a minha autoestima.
— Por favor?
— Essa sua cara de desanimada não me deixa mesmo investir nos seus
irmãos. Talvez por isso eles soem tão impossíveis pra mim, eles se interessam
pelas mulheres com atributos o bastante para chamar atenção! Apesar que o
Tyler sempre é fotografado com modelos! — Ela disse pensativa
Pelo menos ela tinha interpretado minha má vontade supondo que era pelos
dois.
— Ross gosta de mim assim. — Eu falei, mas até para mim isso soava uma
mentira.
— Tenho minhas dúvidas... Sem querer ser amarga com você!
Seguimos em direção ao elevador, completamente desligadas do ambiente à
nossa volta, agora entretidas na conversa sobre homens e suas preferências.
Se é que realmente sabíamos de alguma coisa nesse quesito.
— Eu sei.
— Por que ainda não terminou com ele?
— Eu nem tive tempo, Chloe... Chego e ele está em algum show, saio e ele
está voltando para a cidade, mas nem trocamos muitas palavras. Nem parece um
relacionamento se pensar por esse lado! Me sinto solteira, mas sem vontade de
me aventurar no campo do amor!
— Tem medo de ficar sozinha? Duvido que isso aconteça! E se fosse você,
daria um basta logo naquele idiota! Conheço tantos homens que são doidos por
você que me faltariam dedos nas mãos para contar!
O único que eu queria não estava nem aí e me parecia perda de tempo
terminar com Ross apenas para tentar algo vazio com um outro alguém.
— Exagerada! Eu não sei de todos esses!
— Não? É tanto cantor te chamando para clipe que eu sinto até uma fisgada
de inveja! Eles praticamente te imploram por uma chance e você aí, fingindo o
relacionamento com um babaca!
— Já te disse que é imaginativa demais?
— Eu?! Você que deveria colocar aquela música Worth It do Fifth Harmony
como lema da sua vida! Definitivamente, vale a pena e tem que se dar conta
disso! Chega de se doar por idiotas, vamos viver a vida e carregar apenas coisas
boas! Boas vibrações!
— Meu Deus! — Eu supliquei e revirei os olhos, porque hoje ela parecia
estar ainda pior que os outros dias.
— Estou me sentindo muito inspirada hoje! Talvez seja porque essa coleção
é maravilhosa! Chegou a ver?
Não tive tempo nem para ficar com a minha família, quem dirá para fazer
qualquer outra coisa!
— Eu sei, eu sei! Você não tem tempo e tudo o mais que sempre usa como
desculpa!
Sorri, porque nessa parte ela me entendia como ninguém.
— Viu a olhada que aquele homem deu em você?
Ela disse se virando para olhar e eu fiz o mesmo, percebendo que realmente
ele olhava para nós duas, mas eu não conseguia distinguir se me encarava ou a
encarava.
— Deve estar olhando pra você! — Eu respondi sorrindo, enquanto ela não
disfarçava a encarada no homem.
— Ah não, meu amor! Ele com certeza se fascinou pelos seus olhos verdes
e essa pele fantástica! Foi meio injusto sua mãe dar à luz e você nascer com as
qualidades do seu pai, não acha? Será que ela não se ressente? Você e Tyler são
definitivamente a cara do Josh Currey! O homem nem poderia duvidar da
paternidade!
Se ele fizesse isso, minha mãe não o perdoaria jamais! Aqueles dois eram
tão ligados que um confiava no outro cegamente e segredos entre eles
praticamente não existiam. Exceto quando eu falava com ela e pedia para que
não contasse nada.
Mas isso não era uma quebra à confiança deles.
— Acho que ela não se importa.
— Com certeza não! Seu pai é um prêmio e tanto!
Às vezes achava que Chloe se esquecia que estava falando do meu pai. Meu
pai! Pelo amor de Deus!
Meu irmão até poderia aceitar, mas meu pai era meio pesado para minha
boa vontade.
— Tomara que tudo ocorra bem. — Falei baixo, sabendo que ela entenderia
exatamente o que eu queria dizer.
Nesse mundo da moda, uma queria derrubar a outra e eu me sentia sempre
vulnerável e propensa a sabotagens logo que pisava na passarela.
Soava meio paranoico, mas era a mais pura verdade.
— Vai dar! Ou podemos afogá-las na piscina do hotel, o que acha? Eu dou
o sonífero e ajudo você a carregá-las, mas enterrar não é comigo, então sobra pra
você!
— A parte mais chata?
— Cada um tem aquilo que merece, meu amor!
Chegamos ao nosso quarto, gargalhando com os pensamentos assassinos e
nada bondosos.
Agora era só deixar nossas coisas, tomar um banho e descer para o
camarim, para fazer o teste de roupa, a maquiagem e o penteado da vez. A maior
parte do tempo era gasta ali, porque no momento em que o desfile começava, o
alvoroço praticamente nos impedia de pensar com tranquilidade. Tudo era rápido
e tinha que ser perfeito.
Precisava comer algo leve antes, mas a vontade não vinha, ou melhor, ela
vinha e junto com ela outra bem pior e eu não queria ter que conviver com o
peso da culpa hoje também. Principalmente, antes de um desfile tão importante.
Seria a mesma coisa que atirar no meu próprio pé e toda vez que eu fazia isso,
não parecia eu a desfilar, mas sim uma cópia fajuta de mim.
Sempre que eu faltava à uma consulta com a terapeuta, as coisas
desandavam e tudo parecia voltar com força.
Mas o que eu faria se a minha rotina praticamente consistia em passar
temporadas em vários países diferentes e lidar com os vários tipos de dietas e
comidas estranhas?
Em alguns momentos, se tornava impossível cuidar totalmente da minha
saúde, mas eu me virava como podia e de uma forma ou outra sempre parecia
bem ao mundo, quando algo dentro de mim queria explodir a qualquer instante.
***
— Minha modelo preferida!
Um dos estilistas veio e me abraçou forte, com a sua roupa pomposa e
perfume forte agredindo meus sentidos. Larrocey era assim e não tinha muito o
que se fazer com relação a sua natureza espalhafatosa. Ne verdade, a maioria era
assim, eu suspeitava que fosse um efeito colateral das suas mentes criativas ao
extremo.
Essas pessoas deviam mesmo ter uma tendência maior a ficar com a cabeça
perdida no mundo da lua.
— Já testou? E a Chloe?
Ele perguntou e eu acenei a cabeça confirmando. Sabendo que ele não
reclamaria de nada, já que todas as peças encaixaram como uma luva no meu
corpo.
Nessas partes eu até que me sentia um pouco feliz.
Com a euforia e ansiedade de mais um desfile prestes a ser iniciado
correndo nas minhas veias. Devia ser a mesma coisa que Collin sentia quando
jogava, ou Tyler quando programava algo e assim por diante.
Essa era a alegria de se fazer o que gostava e tinha vocação para ser.
— Ela está fazendo isso agora! Vou para a maquiagem! — cantarolei
enquanto seguia os maquiadores que estavam a mil já com os preparativos das
modelos.
Mais um tumulto.
Mais um desfile.
E as coisas seguiam para o encaixe da minha rotina.
Não sabia se Collin ou Tyler já haviam chegado, mas com certeza, assim
que pisasse na passarela, se aquela sensação me percorresse, eu saberia.
Tinha sido assim desde o começo.
— AH, COMO EU adoro esse país! — Tyler disse completamente
sorridente do meu lado, olhando a paisagem fora do carro.
Para mim São Paulo era igual às cidades que conhecíamos, a movimentação
e as pessoas sempre apressadas me lembrava e muito Nova Iorque.
Dei de ombros em descaso, com a lembrança da noite passada ainda muito
clara na minha mente.
Lily estava me deixando muito preocupado e quando eu dizia muito, era
realmente muito que eu queria dizer.
— Ela te falou sobre algo que a aflige?
Tyler olhou na minha direção de uma forma indecifrável. Odiava quando os
dois faziam isso e praticamente me deixavam na escuridão da ignorância.
— Falou um pouco ontem, mas os pais a interromperam antes. — Ele
revirou os olhos, irritante. — E acabou por isso mesmo.
— Eu a levei e sei lá, a achei estranha. Muito estranha! Sinto como se
estivéssemos deixando passar algo e que ela precisa da gente como precisava na
época do colégio.
— Lily nunca precisou da gente, Collin! Ela é autossuficiente e sabe se
virar mais do que nós dois. Acho que ela nos quer por perto, mas precisar não sei
se é a palavra... Basta apenas darmos o apoio que sempre demos e estar lá para
ela quando a vida lhe passar uma rasteira.
— É mais do que isso, Ty, eu sinto que é!
Eu olhei para ele e percebi que sabia de alguma coisa, mas que não me
contaria, pois quem o deveria fazer era ela.
— Vai te contar um dia...
— Por que? Sempre contamos tudo uns para os outros! — Eu falei
indignado, me achando no direito de poder ajudá-la caso caísse. Mas pelo visto,
meu irmão pensava de outra forma.
— Nem tudo, Collin! Lily têm seus segredos, assim como temos os nossos
e não seria justo com ela a pressionarmos até que explodisse... Papai já faz isso o
suficiente.
— Tem razão.
Por hora eu tentaria esquecer esse assunto. Não fazia a menor ideia se
conseguiria esconder minha preocupação na sua frente, mas eu tentaria de
qualquer forma. Tentar já era uma grande evolução.
2
— Como está o nosso garoto para os próximos Home runs da temporada?
— Está se sentindo pressionado. Me trate como a Lily que tudo ficará bem!
Já basta o treinador; agora a família, estou perdido!
A temporada regular nem havia começado ainda e já estavam todos doidos
por ver sangue.
— Sabe que eu acho que eles ficam ressentidos por ninguém ter seguido no
basquete? Somos o completo oposto deles e nem mesmo August deu muita
atenção nos jogos que fomos forçados a participar desde crianças!
— Será? Não acho... Eles estão felizes demais nas bolhas deles para se
preocuparem com isso!
— Tem essa possibilidade também.
Paramos na frente do hotel e os dois seguranças que vieram com a gente
desceram nos escoltando. Exigência do senhor Josh Currey, desde muito tempo.
Eu não via necessidade disso, mas ir contra ele era praticamente pedir para
ouvir uma metralhadora de reprimendas.
— Ela não descansa? — perguntei me referindo à Lily, que vivia fora de
casa e quase nunca parava por mais de uma semana em Boston.
— Provavelmente, não. Chegamos atrasados e vamos ter que tomar banho e
já ir, sabe disso, não sabe?
— Sei. Culpa sua que nunca sabe sair no horário!
— Minha? Quem reservou os voos foi você! E pra cima da hora, inclusive!
— Não dá pra ter tudo na vida! — dei de ombros e gargalhei, enquanto ele
me olhava de uma forma nada acolhedora.
***
Sentamos na primeira fileira e reparamos nas gatas que estavam ao nosso
lado, praticamente nos comendo vivos.
Eu nem me importava mais com a atenção, assim como Tyler. Não éramos
os caras mais propícios a passar despercebidos.
— Tem aquela modelo amiga dela, o que acha?
Ty me perguntou assim que vimos uma mulher desfilando. Suspeitava que
ele estava querendo ficar com a Chloe, mas ultimamente, não sabia ao certo se
meu irmão queria mesmo ficar com as mulheres a ponto de se envolver. Nesse
quesito, ele era ainda pior que eu e com a sua habilidade em computadores e
redes, as mulheres caíam matando.
Parecia açúcar atraindo formiga!
— Chloe?
— Essa! Tinha esquecido o nome dela, falha minha!
— Chama de gata, ou princesa. Evita esse problema!
— Eu sei, mas é que realmente não estava pensando em chamar de nada.
Ele era malandro e dos bons, que fingiam não ser e levavam as mulheres
em um papo de computador, e como gostavam de seus relacionamentos estritos a
circuitos eletrônicos.
Uma verdadeira baboseira.
Eu nem respondi o que ele falou e assim que olhei novamente para a
passarela, quem caminhava confiante na nossa direção era ela. E parecia ainda
mais deslumbrante do que era normalmente.
Todas as pessoas à nossa volta pareceram ficar quietas? Ou tudo não
passava de imaginação da minha cabeça? Mas realmente parecia que o foco era
ela e nada mais. Entendia perfeitamente os estilistas que se matavam para tê-la
como modelo, era a melhor e sabia disso, o que era evidenciado pelo seu rosto
impassível e aterrorizante ao mesmo tempo.
Em Paris, eu tive que fazer uma nota mental para não bater em cada cara
que a olhou de forma desrespeitosa e parecia que aqui eu teria que fazer a
mesma coisa.
Contar até dez e depois contar de novo de trás para frente.
— Cara, preciso sair um pouco.
Tyler era mesmo um idiota, nem disfarçava quando queria ficar com
alguma mulher.
Sorte dele que a Lily nem olhava para o lado quando desfilava, e não
notaria a falta dele.
Sorte. Pura sorte!
— Volta logo.
— Vou tentar.
Ele disse e passou na minha frente, sumindo no meio das pessoas, sem nem
olhar para trás.
Continuei acompanhando-a com o olhar, enquanto sumia novamente nos
bastidores. Depois de várias modelos e o que pareciam roupas sem graças e fora
de sentido para mim, ela apareceu novamente e assim como da outra vez,
completamente presa no seu foco em tornar aquele desfile inesquecível para
quem assistisse.
Não sei se todos perceberam, mas eu percebi o exato momento em que a
sandália que usava saiu do seu pé e ela se esforçou para manter-se na ponta dos
pés, não querendo atrapalhar tudo o que havia batalhado tanto para conquistar.
Tudo aconteceu rápido, em questão de segundos.
Mas eu notei, porque minha atenção estava toda nela e de repente me vi
fazendo algo impensado e maluco para ajudá-la.
Subi na passarela e fui na sua direção, passando um braço na sua cintura, a
amparando e acompanhando seu passo apressado. Tudo para que ela não caísse e
tudo para que não perdesse a pose de modelo profissional que tinha.
Não pensei no que isso causaria e, sinceramente, estava pouco me
importando. Lily precisava de ajuda e eu estava ali para ela.
Já tinha desfilado para as grifes por causa dos contratos de patrocínios e
sabia exatamente o que deveria fazer. Era fácil. Se pensar que eu nem precisei
passar pela maquiagem, me soava ainda mais fácil.
O detalhe era relaxar e fingir entrar no papel.
Não me olhou durante o percurso, mas eu sentia o seu agradecimento em
formato de calor.
Nós não precisávamos de palavras para entender o que o outro queria dizer.
Bastava um toque que eu sabia exatamente o que ela pedia.
Apertei sua cintura.
Um aperto apenas.
Pedindo para ficar calma que tudo daria certo.
Era um gesto pequeno, que poderia passar despercebido pelas pessoas,
assim como a falta de sandália no seu pé, devido ao seu profissionalismo, mas
que eu tinha certeza que ela havia sentido.
Assim que saímos do campo de visão das pessoas, ela se permitiu soltar o
peso do corpo no meu apoio e desceu o pé que estava sem sandália, soltando um
suspiro aliviado por tudo ter dado certo.
— MEU DEUS O QUE ACONTECEU COM A MINHA DIVA?! — O
estilista veio correndo na nossa direção, com a mão na boca, fazendo um
escândalo que para mim soava desnecessário.
— A sandália rebentou. — Ela respondeu desanimada e eu passei minha
mão no seu braço, tentando confortá-la.
Essas coisas aconteciam e ela havia sido espetacular na sua volta por cima e
provado que estava acima de qualquer desastre.
— E o que ele faz aqui? — O maluco perguntou, apontando na minha
direção.
Se ele continuasse agindo daquela forma, sem se importar em perguntar se
ela estava bem, quem não sairia andando bem era ele.
Minha paciência estava por um fio.
— Me ajudou quando tudo aconteceu, subindo e me amparando para que eu
não caísse.
— Que absurdo, isso não poderia ter acontecido! Vai acabar com meu
desfile! — Ele gritou e meu olhar que já estava aterrorizante passou a ser
assassino.
Queria era ver alguém dizer para mim que eu não podia ter feito aquilo. Era
falar e aguentar as consequências.
Ele percebeu que eu não era dos mais calmos e parou de falar
estridentemente no mesmo instante.
Uma mulher veio correndo, falando baixo no ouvido dele, enquanto
encarava eu e Lily, com meus braços apertando-a firmemente contra mim.
Assim que a mulher saiu, ele começou a falar novamente e se fosse alguma
idiotice, eu realmente o daria um olho roxo de enfeite.
O processo que viesse depois! Eu poderia lidar melhor com isso do que
com essa situação.
— Parece que adoraram a sua aparição e estão todos eufóricos com isso!
Não posso reclamar muito depois de ter uma repercussão dessas! Desculpem
pelo escândalo, mas é que é minha vida na passarela e eu não podia correr o
risco de ter algo tão importante estragado por uma sandália.
Esses eram os tipos de pessoas com as quais ela trabalhava?
Fiquei ainda mais revoltado por ele nem expressar preocupação com ela.
Aquilo era o cúmulo!
— Está bem, gatinha? — falei rispidamente, deixando um sinal claro para o
homem à minha frente do que ele deveria ter feito desde o começo.
Antes de qualquer escândalo.
— Estou, Collin, pode voltar para o seu lugar! Preciso ir para a próxima
troca.
Lily se desprendeu de mim e saiu abalada, deixando apenas o vazio no seu
lugar.
Olhei para o homem e não disfarcei meu sentimento. Seguindo para a saída
dali e encontrando uma forma de poder voltar discretamente para o meu assento.
Meus nervos estavam em polvorosa e eu já imaginava como a imprensa
seria ferrenha em julgar isso depois. Só esperava que eles não vissem nada mais
do que havia e realmente entendessem que eu não poderia deixá-la correr riscos
em um momento como aquele.
Lily era meu Yang e a minha promessa jamais seria vã. Ela poderia contar
comigo sempre, independente do que fosse. Eu estaria lá por ela e que se ferrasse
o mundo e o que ele achava certo, o que realmente importava era o nosso apoio
incondicional.
Sentei-me novamente e notei vários olhares sobre mim, sendo a maioria de
mulheres que cochichavam no ouvido das suas amigas sem a menor questão de
disfarçar que eu era o centro da especulação.
Estava pouco me fodendo se elas não tinham ninguém que fizesse o
mesmo. Eu só não poderia ver o desastre eminente e fingir que aquilo não me
importava.
Por isso se algo similar acontecesse novamente e eu pudesse fazer a mesma
coisa, subiria de novo sem o menor remorso.
Eu era bom de briga e rebatia uma bola a mais de sessenta milhas por hora,
imagina o estrago que um soco não faria.
— Perdi algo? — Tyler perguntou, se sentando ao meu lado novamente e
mal sabia ele que tinha perdido toda a emoção principal.
— Perdeu! Mas vou deixar que veja em alguma revista amanhã.
— O que aprontou? Não estragou o desfile da Lily, não é?
— Não, aguarde e verá.
— Acho que não aconteceu nada e está dizendo isso apenas para eu me
sentir mal por sumir no meio de tudo.
— Não vou acabar com a sua ilusão! — falei e sorri, porque ele ficaria todo
arrependido de ter saído e não poder ajudar assim como eu. — E aí, como foi?
— Peguei um número para mais tarde e uma garantia de noite em claro.
Não poderia ter sido melhor! Ela tem uma amiga, o que me diz? Duplo?
— Sem chances! Tenho que ver como a Lily vai estar depois de tudo.
Mulheres assim a gente encontra em qualquer lugar.
— Aconteceu mesmo algo, não estava brincando?
— Não. Mas como eu disse, fica curioso até amanhã, como castigo por ter
saído bem no meio do desfile!
— Idiota!
— Somos todos.
Permanecemos calados durante o restante do tempo e acompanhando-a com
o olhar toda vez que voltava.
Ela merecia todo o sucesso do mundo e sem sombra de dúvidas, hoje
apenas tinha provado isso.
NO MOMENTO EM que seus braços me envolveram, o pânico pelo
ocorrido se evaporou e senti como se pudesse desabar, porque ele estaria ali para
me segurar.
Collin não tinha ideia, mas todas as vezes em que se mostrava dessa forma,
fazia com que meu amor por ele aumentasse.
Sua mão apertou a minha cintura e os arrepios que percorreram meu corpo
foram involuntários, uma resposta ao seu toque tão quente e devastador.
Ele era devastador para a minha sanidade.
Só não sabia disso.
Sua altura e seus passos confiantes me impulsionaram a continuar com a
farsa de que tudo estava bem. Se ele podia fazer aquilo, eu também poderia e
deveria manter o foco na passarela e nem arriscar olhar para o lado, tentando
saber o que as pessoas pensavam.
Como ele vivia me dizendo, a questão era me importar comigo, o que os
outros pensavam era problema deles, apenas deles.
Aquele retorno para os bastidores foi rápido, mas na minha cabeça tudo se
passou em câmera lenta, com o tempo girando de forma agonizante e me
torturando cada vez mais pela sua proximidade.
No mesmo instante em que eu queria abraçá-lo e deixar as coisas para trás,
eu queria que ele se afastasse e devolvesse meus pensamentos coerentes.
Collin levava tudo com ele, como uma bola de demolição destruía sem dó
uma construção.
No instante em que pisei na passarela, eu senti sua presença, mas não
contava que aquela sandália iria rebentar e contava muito menos com a sua ajuda
logo que isso acontecesse.
Como ele queria que eu não sentisse nada quando fazia essas coisas?
Às vezes, eu até pensava em contar tudo logo de uma vez e me libertar
desse fardo de conviver com a sua presença e uma mulher diferente a cada
festa... Só eu sabia o quanto machucava, e só eu sabia o quanto devastava
sempre.
Assim que saímos dos olhares ansiosos, me permiti relaxar, sabendo que
seus braços fortes segurariam meu peso e me manteriam estável. Tinham feito
isso há poucos segundos e tudo ainda girava confuso na minha cabeça
exatamente por esse motivo.
— Meu Deus, o que aconteceu com a minha diva?! — Larrosey correu na
nossa direção, com a sua pose de abalado pelo escândalo.
Quem estava abalada categoricamente era eu!
Sem saber se conseguiria continuar com a farsa de “Collin, não me afeta”
assim como antes.
— A sandália rebentou. — respondi desanimada e senti suas mãos traçarem
círculos reconfortantes no meu braço.
— E o que ele faz aqui? — Larrosey perguntou e apontou para o Collin,
que sustentava um olhar nada amistoso para o estilista.
Se ele não calasse a boca, não iria querer saber como Collin perdia a
paciência rápido.
Sempre tinha sido assim e suas anotações na época do colégio provavam
isso, assim como os surtos do meu pai por entrarmos em brigas desnecessárias.
Era maior que ele e eu realmente entendia.
Algumas vezes ele nem era tão culpado assim, mas como explicar para as
pessoas que o conheciam que nem tudo era culpa dele?
Sem sombra de dúvidas, eu e Tyler causávamos tanta confusão quanto, mas
tínhamos a sorte de ser considerados passíveis o bastante para nunca sermos
culpados pelas situações.
— Me ajudou quando tudo aconteceu, subindo e me amparando para que eu
não caísse.
— Que absurdo, isso não poderia ter acontecido! Vai acabar com meu
desfile!
E eu não importava?
Sorte que eu sabia o quanto as coisas eram cruéis e entendia a sua
preocupação.
Sua ajudante veio correndo na nossa direção e sussurrou algo em seu
ouvido, sem nos deixar ouvir qualquer coisa. Sua expressão mudou e eu entendi
que mesmo Collin quebrando as regras, aquilo não tinha surtido um efeito
negativo na campanha de forma alguma.
Suspeitava que fosse exatamente o contrário e tinha até medo do que seria
estampado nas manchetes seguintes.
— Parece que adoraram a sua aparição e estão todos eufóricos com isso!
Não posso reclamar muito depois de ter uma repercussão dessas! Desculpem
pelo escândalo, mas é que é minha vida na passarela e eu não podia correr o
risco de ter algo tão importante estragado por uma sandália.
Como eu imaginava.
E a repercussão não seria nada boa.
Eu poderia até mesmo ser taxada como fraca e má profissional por aceitar
ser amparada. Porém, eu não tinha pedido nada daquilo, Collin o fez porque se
importava realmente comigo.
Não como eu queria, mas se importava.
E por hora eu deveria me contentar com as migalhas e sorrir feliz por ter
pessoas como ele com as quais poderia contar sempre que precisasse.
— Está bem, gatinha? — Collin perguntou e eu podia sentir a sua
reprimenda clara com o estilista.
O clima pesado que ficou depois da sua fala como prova para o que eu
desconfiava.
Collin não disfarçava e nem precisava. Ele era o tipo de homem imponente
que as pessoas sabiam que não deveriam provocar, caso tivessem amor à vida.
— Estou, Collin, pode voltar para o seu lugar! Preciso ir para a próxima
troca.
Me soltei dos seus braços, sentindo a sua falta logo que o fiz.
Desfilar era o que eu amava, mas nem mesmo isso chegava sequer perto do
amor que eu sentia por ele.
Collin era o meu porto seguro... Um colo onde eu podia chorar, um abraço
que eu receberia sem nem pedir e um pilar no qual eu conseguiria me apoiar.
Como ele não enxergava meus olhos brilhando toda vez que eu o olhava?
E como inferno ele não ouvia os batimentos frenéticos do meu coração?
Até Tyler havia notado e ele não, quão fora do seu radar eu era para nem ser
digna de nota?
Com certeza, a zona de strike passava longe de mim e Collin não arriscaria
uma jogada, porque não havia nenhuma, eu era considerada sua irmãzinha, o que
me fazia sentir ainda mais patética.
Olhei para uma das meninas que dava risada escandalosamente e me senti
vulnerável, imaginando que elas estivessem falando de mim e por um motivo
que eu sabia qual era.
A vontade de vomitar surgiu com força, independente que eu tivesse
comido algo mais leve. Tudo isso parecia aumentar a minha necessidade de
escapar do mundo e aceitar que eu era defeituosa e idiota, simples assim.
Me troquei rapidamente, ignorando tudo o que queria me dominar, tentando
esquecer que ainda caminharia na passarela, com Collin olhando cada passo,
zelando para vir ao meu auxílio se notasse qualquer necessidade.
Isso era cavalheiresco da sua parte, mas não era o que eu realmente queria.
Minha vez chegou novamente e me esforcei para ignorar o episódio na
minha mente, fingindo que naquele momento éramos apenas eu e a passarela sob
meus pés, mais ninguém. Ninguém que pudesse me afetar.
A terapeuta falava: “Você precisa se aceitar, Lily”.
E eu respondia que me aceitava.
“Eu me aceito, Sharon”.
Ambas sabíamos que era mentira.
Saía do seu consultório me sentindo uma hipócrita por saber que não
demoraria muito para cair em velhos hábitos. Bastava uma recaída para acabar
com qualquer progresso no tratamento.
Era fraca e deprimente.
Os únicos momentos nos quais eu me sentia realmente bem era quando
estava com Collin, apenas nós dois conversando, como nos velhos tempos.
Sem preocupação e sem meu amor estúpido entre a gente.
Não que ele soubesse que eu me mantinha afastada as vezes exatamente por
essa fascinação, mas no que dependia de mim, seguiria minha vida e torceria
para algum homem causar no mínimo metade do que ele causava em mim.
Poderia conviver com isso.
Tyler achava que não, mas eu acreditava fielmente que sim.
Não adiantava ficar sonhando com o impossível quando eu só precisava de
uma coisa real e possível na minha vida.
Pelo menos agora eu teria com quem conversar sobre isso. Meu irmão havia
percebido e não era como se eu pudesse manter aquilo em segredo para sempre.
Assim que entramos com o estilista, me permiti respirar um pouco mais
aliviada e ter a consciência que com acidentes ou não, no final, tudo tinha
corrido bem.
***
— Estranho aquilo acontecer.
Chloe caminhava ao meu lado, em direção aos elevadores, especulando o
que poderia ter ocorrido errado.
Sinceramente, eu já nem queria saber.
Passado era passado e servia apenas como um aprendizado para o presente
e futuro.
— Deixa pra lá!
Respondi amarga, porque o assunto já estava me irritando mais do que
poderia manter guardado em mim. E contando com os sentimentos em ebulição,
faltava muito pouco para eu dizer coisas das quais me arrependeria depois.
— E Collin? Que homem quente! E ainda te ajudou! Não poderia pedir
nada melhor para a minha vida.
Fiquei rígida em imaginar os dois juntos, e sua fascinação por ele já estava
passando dos limites.
Tyler era uma coisa, agora Collin era outra totalmente diferente.
— Ele está fora dos limites, Chloe! — falei alterada e ela percebeu o que eu
sentia assim que pronunciei as palavras.
Mais uma.
Mais uma pessoa descobrindo o segredo que eu lutava tanto para manter.
— MAS QUE MERDA! VOCÊ GOSTA DELE! DO COLLIN! MEU
DEUS!
— Fala mais alto e chama atenção ainda mais — sibilei para ela e olhei em
volta, dando graças a Deus por estarmos sozinhas esperando o elevador.
— Me desculpa, mas é que... caramba... isso é uma merda, Lily!
Nada que eu não soubesse.
— Não quero falar sobre isso.
— Eu me contento com Tyler, sem problema! Sim, acho que Tyler dá pro
gasto, sem dúvida.
Revirei meus olhos, porque sua habilidade de mudar de assunto era
praticamente lendária.
Se as coisas ficassem suficientemente vergonhosas para ela, não tinha
problema nenhum em variar o tópico e fingir que nada havia acontecido.
Isso era bom.
Pelo menos para ela.
— Não conte pra ninguém — pedi baixo, sabendo que Chloe não falaria
nada.
Era confiável mesmo sendo tão aberta com as pessoas.
— Nem precisava pedir... Eu como amiga só tenho que te dizer que vai ter
que passar pelo orgulho dele antes.
— Como assim?
— Não sei, agora que descobri isso sobre você, estou meio em dúvida se
não acontece o mesmo com ele... Talvez o que o impeça de aceitar isso seja sua
família e o sentimento fraterno que “acha” nutrir por você. As coisas mudam
em um piscar de olhos e quem sabe esse piscar não esteja próximo?
Ela era mesmo maluca.
Collin nem olhava para mim dessa forma e não importava o quanto eu
achasse que isso poderia mudar, jamais aconteceria. Já tinha me visto de lingerie,
de pijama, de biquíni, nos meus piores momentos, nos melhores e tudo o que
tinha direito. Se nada se alterou devido a isso, não seria agora que mudaria.
Desistir era necessário quando a derrota era iminente e a minha estava clara
há muito tempo, tanto que eu tentava me relacionar com outros homens na inútil
tentativa de acabar com a necessidade de ver seu sorriso ou ouvir a sua voz.
— Duvido disso!
— Já jogou um verde? Por menor que seja? Como sabe que nessa rede não
tem peixe se não puxá-la para olhar? — Como boa espanhola que era, Chloe
sempre tinha um conselho decidido para dar.
Um conselho que ela mesma seguiria se estivesse no meu lugar.
A analogia era boa, mas sem chances de eu tentar seduzi-lo para descobrir.
Estragaria toda a relação legal que mantínhamos e eu sem aquilo era a
mesma coisa que um drogado sem sua droga.
Os poucos momentos aplacavam um pouco do meu calvário e eu manteria
assim.
— Não.
— Qual é, Lily? Como vai saber?
— Eu só sei que vai dar errado.
— Talvez não.
Não poderia viver com dúvidas e por mais que eu amasse minha amiga,
nesse instante, eu só queria que ela parasse de falar e me deixasse sozinha para
cobrir minhas feridas e tentar cicatrizá-las a força.
O que pelo visto ela não deixaria.
Porque me seguiu até o quarto, falando sem parar e supondo todas as
possíveis situações.
Eu deveria ter disfarçado melhor, agora estava literalmente perdida no meio
dos seus planos malucos e muito mal elaborados.
— VOU ATRÁS DA Lily, sabe o hotel e o quarto dela? Não consegui
alcançá-la quando terminou...
Tyler me olhou de forma estranha pela terceira vez no dia e aqueles dois
estavam ferrando com a minha cabeça. Ambos sem demonstrar nada do que
pensavam.
— Descubro agora.
Ele pegou o celular e mandou uma mensagem, recebendo a resposta
minutos depois.
Eu quem devia ter perguntado, mas não sabia se ela me responderia.
Prezava a sua independência e eu ajudá-la poderia ter dado uma ideia errada de
dependência.
Lily era orgulhosa nessa parte e eu odiava como queria que ela fosse mais
maleável e aceitasse o apoio quando precisasse dele.
Tyler me encaminhou a resposta dela rapidamente e terminou de se arrumar
para o encontro que teria dali alguns minutos.
— Não a chateie.
— Por que eu faria isso?
— Não sei. Perguntei pra ela o que tinha acontecido por mensagem e
caramba cara, eu devia tê-la ajudado, mas quem estava lá era você e não estrague
isso.
Sua frase me soava sem sentido, mas ao mesmo tempo em que eu pensava
isso, jurava ter notado um sentido oculto por trás da sua escolha de palavras.
— O que quis dizer?
— Um dia vai entender, irmão! Um dia você com certeza vai entender e vai
se socar mentalmente por não ter percebido um palmo à sua frente antes! Só
espero que até lá as coisas não estejam complicadas demais para um final feliz.
Bem... vou nessa, qualquer coisa liga. E se ver que ela está muito ruim, me liga
também, volto correndo.
— Por que não abandona esse encontro e vai comigo?
Tyler parou na porta e voltou a olhar para mim, com o sorriso irônico
despontando no seu rosto.
— Não é de mim que ela precisa.
Abriu e saiu, sem me dar chances de resposta ou qualquer outra coisa.
Estava meio perdido e sem entender nada do que acontecia.
Tyler estava estranho, Lily estava estranha e meu pressentimento dizia que
isso não era boa coisa.
Tentei manter esse pensamento esquecido na minha cabeça, enquanto
mostrava o endereço para o taxista e esperava que ele me levasse até lá o mais
rápido possível.
Pelo menos Ty tinha tirado os seguranças do meu pé, afirmando que eu não
sairia. Melhor para mim, ruim para ele. Saiu com o carro, mas isso não era
problema, porque eu provavelmente nem voltaria para o hotel hoje. Se ela me
pedisse para vir eu o faria, senão, dormiria em algum canto do quarto se preciso
fosse.
Assim que cheguei, falei para o cara na recepção o nome dela, sinalizando
que eu iria subir. Ele fez um sinal de que me pararia, mas outro homem, que eu
acreditava ser seu chefe, o impediu de o fazer. Devia ter me reconhecido,
melhor, porque eu não falava português razoavelmente bem como Lily ou Tyler
e me enrolaria como um idiota nas palavras.
Eles deviam falar inglês também, mas ainda achava melhor que não
tivessem tentado me barrar.
Enquanto o elevador subia vagarosamente de acordo com a minha
preocupação, tentava entender o que Tyler havia dito... Ou melhor, o que ele
queria ter dito... Odiava a forma como os irmãos sempre vinham com essas
mensagens decifráveis e me deixavam de fora, como um bobo, sem entender
nada.
Era mais chato do que a mania de revirar os olhos. Muito mais.
Bati na porta do seu quarto e quem atendeu foi a Chloe, demonstrando
espanto com a minha presença ali.
Será que ela havia dito o número do quarto errado?
— Cadê a Lily?
— Ela tá aqui... Mas tá tomando banho.
— Certo, vou entrar.
— Mas ela está tomando banho! — Ela falou espantada, mas não era como
se eu tivesse dito que entraria no banho com a Lily, apenas que eu entraria no
quarto.
O que aquela doida tinha pensado?
— Vou ficar no quarto, Chloe! — falei pausadamente para ver se ela
entendia.
Não acreditava muito no estereótipo de mulheres lindas e burras, mas a que
estava à minha frente, me fazia duvidar da ideia.
— Ah, certo... Vou pro meu, então. Fala pra Lily me avisar quando estiver
pronta?
— Por que? Vão fazer uma noite do travesseiro? — perguntei sorrindo,
porque daquelas duas malucas eu esperava de tudo.
— Claro que não! Vamos pegar homens! — Ela disse gargalhando e passou
por mim, fechando a porta logo em seguida.
Aquela verdade não precisava ser dita assim de cara. Não era nada legal
saber as coisas obscuras que minha irmã fazia.
Deitei na cama e liguei a televisão, assistindo um programa qualquer e
torcendo para que ela terminasse logo o banho. Aí teríamos uma conversa e
colocaríamos essa sua ideia de “pegar homens” fora dos limites. Só de imaginá-
la sozinha, com outra doida, à noite, em uma cidade que não conheciam bem,
arrepiava até mesmo meus cabelos.
Olhei para a porta do banheiro assim que ouvi o barulho da madeira.
— Collin? O que faz aqui?
Ela perguntou, de roupão e corada pelo banho tomado.
Sem a maquiagem e aquele ar de modelo, ela ficava ainda mais fascinante.
Pelo menos, para mim! E eu costumava ter um gosto muito bom. Não que eu
devesse ter um gosto por ela, ou melhor, de acordo com ela, acima de tudo.
Meus pensamentos possivelmente estavam me trapaceando e fazendo notar
coisas que eu não queria notar.
Nunca quis notar.
Mas ainda assim me via embasbacado com a sua beleza e as vezes se
tornava a coisa mais difícil da minha vida disfarçar essa fascinação.
— Só vim dar uma conferida em você... — respondi assim que o ar me
voltou e falar se tornou novamente o mais confortável a ser feito.
— Estou bem.
— Certeza? — A falha na sua voz denunciava exatamente o contrário... E
não era de hoje que eu a conhecia para acreditar nas suas mentiras deslavadas.
Crescemos juntos, aprendemos juntos e sorrimos juntos.
E não era uma resposta sem um fundo de verdade que me faria ir embora
daquele quarto sem a certeza de que as coisas estavam realmente bem.
— Não... O que aconteceu hoje, eu não tenho palavras pra agradecer,
Collin! Realmente, salvou a minha pele e não imagina o medo que eu sentia no
momento.
Eu sabia muito bem. Tanto que não demorei um segundo para notar o que
era o certo a se fazer.
Eu faria coisa pior por ela.
E tinha até medo que um dia Lily descobrisse o que eu era capaz de fazer
para protegê-la.
Eu também amava Tyler como um irmão, mas eu e Lily tínhamos uma
ligação muito mais forte e poderosa. Era como se qualquer coisa que acontecesse
à ela pudesse me atingir diretamente e isso me assustava mais do que me deixava
feliz.
Principalmente, porque era um sentimento que eu não sabia definir com
certeza.
— Não precisa agradecer, gatinha!
— Por que não saiu com o Ty? Eu e a Chloe vamos dar uma volta e não
acho que o lugar vai ser bom pra você... — Ela disse e colocou a mão na boca
para impedir a risada que eu sabia que viria.
Me dava até medo de sequer imaginar o motivo dela dizer isso.
— Como assim?
— É um clube de mulheres... Mulheres... E você é um homem, como bem
sabe!
— Se não me falasse, eu provavelmente teria uma crise de identidade. E
não pode mudar os planos pra me incluir? Ty saiu com uma mulher que
conheceu e eu ficaria sozinho no hotel. Você, como a única pessoa que conheço
além dele, tem a obrigação de me acompanhar!
— Vou ver com a Chloe... Ela realmente estava muito animada e eu não
queria deixá-la chateada.
Ela não, mas eu não me importava nem um pouco.
Poderíamos jantar apenas nós dois, assim como fizemos várias vezes antes
e não sentiria a menor falta da sua amiga.
Na verdade, ela me olhava como se fosse me morder em todos os instantes
e isso era apavorante.
— Não podemos ir apenas nós dois? — pedi com a minha maior cara de
convincente.
Realmente queria algo apenas nosso, assim como antes. Ter um pouco de
nostalgia, em uma vida adulta tão caótica quanto a nossa seria maravilhoso.
Quase não a via tanto quanto queria e precisava.
Todas as vezes em que aparecia na cidade, falava um pouco, depois viajava
novamente. A impressão que eu tinha era que ela me evitava tanto quanto eu a
procurava e não sabia o motivo para isso.
— Eu combinei com ela antes, Collin...
— Certo, posso aceitar... Mas vamos em um lugar que me inclua pelo
menos. Vocês duas sozinhas é a mesma coisa que pedir para algo ruim acontecer.
Vai por mim, precisam de um homem forte e imponente como eu para defender
as donzelas!
— Cadê esse homem? — Ela se sentou à minha frente e olhou em volta,
fingindo procurar.
Não achei graça nenhuma da piada. Nenhuma.
— Ofende a minha masculinidade dessa forma — falei afetado e peguei o
controle da televisão novamente, perdendo a paciência com o programa idiota
que passava agora.
— Eu vou me arrumar e falar com a Chloe. Tem como me dar privacidade?
Não.
Aquela cama estava uma delícia.
Devia ter falado para o Tyler pegar o mesmo hotel que ela. Porém, ele como
homem da tecnologia que era, não se ligava nem um pouco nessas coisas e eu,
não estava ligando tanto quando pedi para que ele arranjasse o hotel.
Dois desligados.
— Claro! Vou ficar na frente da porta e quando terminar me avisa.
Ela concordou com um aceno e foi até onde a sua mala estava, em uma
poltrona perto da varanda, aberta e cheia de roupas.
Me espantava a quantidade de coisas que ela fazia caber no objeto. Se eu
tivesse trazido duas camisetas, três cuecas, uma calça, bermuda e tênis, era
muito.
Saí do quarto e encostei na parede, estranhando a falta de movimento do
lugar. Parecia mais um corredor abandonado do que com quartos reservados.
Depois de apenas alguns minutos, ela abriu a porta para que eu entrasse.
Mas Lily ainda não tinha colocado toda a roupa e seu sutiã estava
completamente à mostra enquanto ela procurava uma blusa para vestir.
Aquilo era golpe baixo.
Até a minha mente de homem centrado dava uma vacilada nessas horas.
— Não encontrou nada decente para cobrir a parte de cima? — perguntei
assim que entrei, tentando tirar meu foco da imaginação perversa que ameaçava
tomar conta de mim.
— Ainda não. Qual acha mais legal? — Ela perguntou com uma camiseta
na mão e outra na outra mão.
Meu foco estava em outro lugar!
Completamente!
Não fazia a menor ideia da cor das camisetas!
— A da direita! — chutei.
— Sério? — Ela me fez duvidar do palpite e me amaldiçoar por não ter
optado pela da esquerda.
Se ela pudesse ler mentes, já teria me matado há vários minutos.
— Eu não sou bom com essas coisas, sabe disso.
— Me ajudava em Boston.
Quando estava vestida e perguntava algo para usar.
Minha mente estava funcionando naquelas vezes... Hoje eu já não podia
dizer o mesmo.
— Eu dizia o que você queria ouvir.
Ela fez uma careta e eu dei risada, achando engraçada a sua frustração.
Depois de ficar com a camiseta da esquerda, contraria à minha opinião, ela
terminou de se arrumar e saiu como um furacão do quarto, me deixando na
tentativa inútil de acalmar aquela vontade louca que crescia no meu peito sem
que eu soubesse identificar o que era.
Soava loucura.
Muita loucura!
Se eu ouvisse aquela voz que gritava, me dizendo exatamente o que era.
Soava mesmo como uma loucura das maiores!
CHEGAMOS NA CASA noturna e era possível notar como o lugar era
seletivo quanto aos seus frequentadores. Não via ninguém desalinhado ali,
apenas pessoas perfeitamente engomadas nos seus ternos e vestidos caros, com
preços exorbitantes.
Eu conhecia esses tipos de roupas de longe... Não por comprar somente
elas, e sim, por desfilar com elas.
Não era adepta do luxo e por mais que ganhasse muito dinheiro, ainda
preferia comprar na Target e ir com o meu Toyota Prius para os lugares que
frequentava.
Não precisava comprar nada que valesse mais do que meu apartamento.
Nada. Simplesmente não via necessidade para isso. Preferia doar dinheiro para
ONG´s com foco no meio ambiente, hospitais e entidades que fariam um uso
muito mais satisfatório.
— Quer alguma coisa? — Collin perguntou assim que nos sentamos na área
VIP.
Chloe olhava para todos os lados, procurando alguém interessante,
enquanto ele fingia não notar os comentários dela sobre os homens presentes.
Ela tinha deixado claro que queria ir em outro lugar, mas Collin era
simplesmente persuasivo demais quando queria.
— Qualquer coquetel, por favor! — pedi, recebendo um sorriso em
resposta.
Recostei-me no sofá, observando as pessoas que dançavam e socializavam
com a maior facilidade. Completamente à vontade no ambiente, aproveitando a
noite de diversão como se ela fosse a única da sua vida.
— Duas mulheres espetaculares, tô com uma sorte imensa hoje! — Um
rapaz falou alto, em português, parando bem à nossa frente, com um sorriso
perverso e cheio de más intenções.
— Saia daqui — respondi em inglês, tentando assustá-lo com a noção que
eu não era dali, o que infelizmente surtiu o efeito contrário.
— Uma estrangeira! — falou em um inglês perfeito, me deixando com a
boca aberta por ter cavado a minha própria cova.
— O que está acontecendo aqui? — Collin perguntou assim que chegou na
nossa mesa, segurando os drinques e olhando para o homem de forma
ameaçadora.
— Nada. — O cara falou rapidamente e murmurou alguma desculpa para
se retirar, nos deixando novamente em paz.
— Salvou a gente! Aquele homem estava sendo desnecessário! — Chloe
disse e revirou os olhos, em um sinal de claro descontento.
— O que seria de vocês sozinhas sem mim? Fico até com medo em pensar.
Peguei o drinque e bebi um pouco, sentindo o gosto doce da bebida
enfeitiçar a minha língua. Collin fez o mesmo e pareceu gostar, virando o
restante em um gole só.
Aquilo era perigoso demais. Mas não sabia o que nos impulsionava, só
sabia que eu bebia mais e mais e conforme o álcool invadia a minha corrente
sanguínea, a verdade ameaçava sair com uma força esmagadora.
Meus pensamentos se tornavam um pouco desconexos e todas as questões
que me impediam de abrir o coração pareciam idiotas demais. O que de ruim
poderia acontecer? No máximo um coração partido, que ocasionalmente, já
acontecia quando eu o via com alguma mulher.
— Gatas, vou no banheiro rápido e já volto! Tentem não chamar atenção
enquanto estou fora! — Ele falou sorrindo e se levantou, sumindo em meio à
multidão.
— Fala pra ele!
Olhei para Chloe e jurei ter visto mais de uma. Pisquei e a minha visão
voltou ao normal, mostrando apenas a figura alegre ao meu lado.
— Falar o quê?
— Que quer pegá-lo loucamente! Se eu fosse você aproveitava, porque essa
parece ser a noite perfeita! — Ela disse e apontou para ele que voltava do
banheiro, com seu andar felino e imponente.
A ideia da minha amiga não era tão absurda assim... Ou era?
Quem sabe o que aconteceria depois?
Eu, com o álcool comandando minhas ações não fazia a menor ideia.
— Esse negócio colorido é uma delícia! — Collin comentou, sentando e
passando os nossos drinques.
Ou melhor, mais uma rodada deles, já que perdi a conta de quantos havia
bebido.
Meu estômago protestava por estar bebendo sem ter comido nada, mas não
queria arriscar essa noite e achei melhor evitar qualquer incidente.
Como eu saberia quando teria uma recaída?
— Collin... — Chloe disse o nome dele de forma arrastada e pesarosa. —
Nossos nomes começam com a mesma letra, sabia?
Ele olhou para mim e gargalhou, um som rouco e delicioso que vinha
diretamente do fundo da sua garganta e acertava a minha mente cheia de ideias.
— Acho melhor tirarmos isso de você, gatinha! — falou baixo, tirando o drinque
de perto da minha amiga e bebendo ele mesmo o conteúdo na taça.
Achava que nessa noite, nós três sairíamos alegres e afetados pelas bebidas.
— Menino esperto, você! — Ela se levantou e murmurou algo, avisando
que já voltava.
Meu olhar se desviou para a pista de dança e Collin o acompanhou,
percebendo imediatamente o que eu queria fazer.
— Quer dançar?
Balancei a cabeça confirmando, virando a minha bebida, enquanto ele fazia
o mesmo com a dele.
Pegou minha mão e me arrastou pelas várias pessoas que atrapalhavam a
circulação, empurrando algumas ou apenas pedindo licença para outras.
A corrente elétrica que passava do seu corpo para o meu era palpável e me
causava uma onda de pânico que eu nunca havia sentido antes. A coragem para
tentar algo me motivando, querendo saber se de fato, ele não sentia nada por
mim além de amor de irmão.
Assim que chegamos na pista de dança e uma música lenta começou a
tocar, eu o abracei, como várias vezes antes, porém, aquela era completamente
diferente. O sentimento parecia diferente. E minha esperança se renovou, dando
a motivação que eu precisava.
Apertei seu corpo contra o meu e Collin não se afastou, olhando
profundamente nos meus olhos, enquanto eu fazia o mesmo com ele, tentando
manter aquela conexão forte para evoluir o estágio. Era exatamente a sua entrega
que eu desejava e precisava que ele estivesse tão envolvido com o momento
quanto eu, para que as coisas realmente conseguissem ir em frente.
— Collin...
Murmurei e toquei meus lábios nos seus, com a euforia dominando
completamente as minhas ações.
Aprofundei o beijo, sentindo o gosto doce da bebida misturado com um
sabor que era apenas dele e que eu imaginava, toda vez que conversávamos,
sentindo seu hálito quente tocar meu rosto.
Era ainda melhor do que nos meus sonhos.
Como se seu sabor fosse uma droga viciante da qual eu não conseguiria me
libertar nunca mais.
Nossos movimentos se tornaram frenéticos e pude sentir sua mão apertando
forte minha cintura, enquanto sua boca buscava de forma brusca satisfazer a
nossa necessidade.
O beijo não durou tanto tempo quanto pareceu na minha cabeça, mas ele
poderia muito bem ter durado horas, tamanho era o êxtase que me invadia toda
vez que a sua língua entrava em contato com a minha. Não era uma mulher
puritana, mas aquilo parecia muito mais cru e carnal do que as várias noites que
passei com os homens com os quais me relacionei.
Era muito mais profundo e provocava uma onda de desejo capaz de abalar
todas as minhas estruturas e desestabilizar tudo o que lutei tanto para manter
guardado.
Collin pausou o beijou, em seguida, passou sua língua pelo meu queixo e
pescoço, me deixando louca e totalmente fora de mim. Despertando sensações
totalmente novas e inesperadas.
— Precisamos sair daqui.
— Temos que avisar a Chloe! — falei preocupada, sabendo que o efeito do
álcool não o deixava raciocinar, assim como também não me permitia pensar
com clareza.
Eu não me arrependeria quando acordasse amanhã.
Mas Collin com certeza o faria e eu não conseguia nem imaginar o quanto
sua rejeição machucaria.
— Ela sabe se virar.
Ele disse e me arrastou até a saída, sem olhar para trás e sem demonstrar
qualquer tipo de arrependimento por estar prestes a fazer a maior loucura das
nossas vidas.
Paramos um táxi que passava e entramos rapidamente. Falei o endereço do
hotel, enquanto ele segurava forte minha mão e beijava meu pescoço
sensualmente.
Aquele não era o Collin que eu me lembrava, mas do que estava
reclamando? Aquele era o Collin que eu sempre quis conhecer e que agora
parecia finalmente estar se mostrando para mim.
Assim que chegamos no hotel, andamos apressados até o elevador, entre
beijos e abraços ocasionais, que atrasavam um pouco a nossa corrida. Tirei os
saltos do meu pé, cansada deles e me sentindo livre por finalmente tê-los tirado.
Não que não gostasse, era apenas porque hoje havia ficado com saltos
gigantescos durante horas e andar um pouco sem nada no pé, era renovador.
— Acho que aquela bebida era forte!
Ele disse gargalhando assim que minhas mãos tremeram e eu não consegui
passar o cartão eletrônico na porta do quarto, deixando-o cair algumas vezes no
chão antes de finalmente conseguir liberar o acesso.
— Você acha?
Ele balançou a cabeça exageradamente, o que me fez cair na risada, mesmo
que sem motivo nenhum aparente.
— Quer pedir mais uma bebida aqui?
— Aqui?
— Sim! — gritei feliz, me jogando na cama, sentindo o meu peso afundar o
colchão macio.
— Tenho ideias maravilhosas para essa bebida. — Ele pegou o telefone,
discando o número da recepção, sem notar o quanto estávamos loucos para
sequer pensar em beber mais. — O que você vai querer?
— Qualquer coisa?
— Qualquer coisa não tem, baby!
Dei de ombros.
— Fala você, eu não sou bom em português! — Ele disse e me passou o
telefone, de repente sério e preocupado.
— Mas o que eu vou pedir?
— Eu não sei! Pede o que tiver álcool que no nosso estado não sei se vamos
diferenciar xixi de uma verdadeira bebida alcoólica. Só espero que eles não
percebam isso! — Collin disse e colocou a mão na boca, tentando impedir a
gargalhada que ameaçava irromper pela sua garganta.
— Oi, eu quero uma vodca! — pedi com meu sotaque em evidência,
percebendo a relutância da recepcionista em atender meu pedido.
Devia ter notado que não estava na condição de querer beber ainda mais.
Mas ela não poderia se recusar a atender o pedido. Não mesmo.
A diversão estava apenas começando e beber era o primordial para que a
atmosfera leve e despreocupada continuasse.
Ela concordou e assim que desliguei o telefone, comecei a tirar a roupa,
domando minha insegurança e torcendo para que Collin gostasse do que visse.
Era apenas eu e ele, sem barreiras morais entre a gente e se fosse rejeitada pelo
meu corpo, não saberia como lidaria com a situação.
— Ah, seduzindo! Queria te dizer que já te vi de biquíni e de lingerie mais
vezes do que posso contar, então, não precisa tirar com essa lerdeza!
Fiquei vermelha imediatamente, mesmo não sentindo mais a inibição que
há segundos existia.
— Está acabando com a minha coragem! — falei exasperada, notando o
sorriso torto que se abria em seus lábios, juntamente com a leve arqueada de
sobrancelha.
Um desafio mudo entre a gente.
— Relaxa! Para de pensar! — Ele pegou a minha mão e apertou levemente,
acalmando aquele turbilhão dentro de mim.
— Eu não consigo.
— Eu sei.
— E se der errado? — perguntei receosa.
— Vem cá! — Ele me puxou para a porta do banheiro, provavelmente,
sentindo minha pulsação acelerada, gritando o quanto eu queria que aquilo
acontecesse. — A gente pode só ficar junto, não vejo mal nisso.
Eu estava alterada, mas as suas palavras soavam firmes, muito longe da
maneira como as minhas soavam.
— Mas eu quero você!
— Acho que a gente tá louco demais pra pensar certo, gatinha.
Ele estava voltando ao normal e não era por esse lado que eu queria que as
coisas seguissem.
Essa poderia ser a minha única chance e eu a estava desperdiçando com
atitudes idiotas... Como a Chloe vivia dizendo, à noite precisávamos ser fêmeas
fatais e eu com certeza não estava sendo uma, sentindo vergonha e hesitando em
partir para cima do que sempre havia desejado.
— Não. — falei baixo e beijei seu queixo, sentindo-o se retesar com o
toque dos meus lábios.
— Eu não sou de ferro.
— Nem quero isso.
Fui até a banheira e dessa vez, não parei nem um segundo para pensar no
que estava fazendo. Apenas tirei a minha roupa e torci para que ele fosse homem
o suficiente para não me abandonar desejosa em pleno momento de tesão.
E Collin não o fez.
Bem longe disso...
Se aproximou rápido, me puxando de encontro à ele, suas mãos passeando
pelo meu corpo, deixando um caminho de queimaduras na alma, me fazendo
ansiar pelo seu toque como se eu precisasse mais disso do que minha próxima
respiração.
Collin não poupava empolgação e suspeitava que o álcool atrapalhava um
pouco e sem esse efeito entre a gente, tudo seria ainda mais fantástico. Se é que
tinha como ser.
Toda aquela aura de proibido me fazia sentir em uma dança no inferno, me
entregando, sabendo que amanhã a realidade retornaria e nos deixaria
completamente em choque com o que fizemos.
Mas de que outra forma eu poderia finalmente matar essa vontade?
— Está com muita roupa! — falei afetada, enquanto ele se preocupava em
correr os lábios pela linha do meu ombro, causando arrepios impiedosos.
Puxei sua camiseta e em um momento de pura paixão, olhei nos seus olhos
e o que vi neles me deixou ansiosa, quando eu devia estar com medo e
arrependida por toda aquela loucura.
— Temos a noite inteira.
Não me chamou de Lily, muito menos de gatinha e aquilo não me parecia
tão bom.
O que estava de fato acontecendo com a gente?
Era como se tudo fosse apenas um teste! Um teste com o resultado negativo
desde o começo.
Olhei seu abdômen esculpido com perfeição e passei a língua na boca,
tentando em vão não salivar pela visão. Não era à toa que ele não ficava
sozinho... Com um corpo daquele, duvidava que soubesse o significado da
palavra não.
Collin poderia definitivamente ter a mulher que quisesse aos seus pés e não
era apenas pelo seu corpo maravilhoso, mas por causa do seu sorriso relaxado,
seu jeito espontâneo e até mesmo aquele corte na sobrancelha esquerda que era
capaz de despertar até a imaginação de mulheres casadas.
Aquele corte...
Meu Deus! Aquele corte!
Assim que passei as mãos pela sua barriga e o livrei da calça jeans, comecei
a tremer por antecipação, sabendo que depois daquele ponto, não teria mais
volta.
— Calma. — Ele segurou minhas mãos e falou baixo, me fazendo duvidar
se ele estava mesmo tão alcoolizado quanto eu acreditava que estava.
Se a situação fosse essa, eu passaria uma vergonha gigantesca me expondo
assim e tinha até medo do que aconteceria quando ele decidisse que meu papel
de boba já não era mais o suficiente.
— Vai com calma... — Ele repetiu e deixei que meus ombros cedessem em
derrota, por não conseguir nem mesmo manter a sua atenção focada em mim.
Minha tentativa de sedução era tão inútil que me sentia idiota por sequer
pensar que conseguiria.
Quem era eu perto das mulheres maravilhosas com as quais ele ficava?
Ninguém... Não tinha nenhum atrativo, nada que chamasse atenção, nada...
Devia era me conformar com os homens que pareciam se interessar por
mim e deixar Collin de lado.
— Desisto! — Me desprendi dele e comecei a andar em direção a porta,
abalada com a vergonha aparecendo no meu subconsciente.
Eu era péssima mesmo, nem devia ter cogitado algo assim...
— Volta aqui! Pra onde vai?
Para onde eu estava indo?
Embora, chorar minha derrota no quarto da Chloe, enquanto ela dava tapas
nas minhas costas e me dizia conhecer uns caras realmente maravilhosos na
cama.
Melhores amigas serviam para isso e eu usaria a sua habilidade de ver algo
bom até nas coisas ruins e deixaria que a humilhação fosse embora.
— Vou sair daqui... Não vai dar certo, Collin... Pra começo de conversa,
não deveria nem ter começado.
Ele franziu as sobrancelhas claramente confuso e estendeu a mão,
segurando no meu braço, apertando, me impedindo de continuar me afastando.
— Não, não vai...
— Por que?
— Começamos, vamos terminar, Lily! Nada de fugir disso! Se tem uma
coisa que você não é, essa coisa é covarde.
Mal sabia ele.
Revirei meus olhos discordando, e senti seu aperto ainda mais firme. Não
machucava, pelo contrário, carregava uma tensão sexual gigantesca e que me
fazia dar voltas com a imaginação.
— Estamos bêbados! — admiti derrotada, vendo o sorriso se abrir
lentamente nos seus lábios.
Um sorriso predador.
Avassalador.
E que por si só me deixava de pernas bambas e desejosa.
— Posso até estar, mas esse é o sonho mais louco que já tive!
Ele achava que era um sonho?
Como assim?
Não me deu tempo para pensar ao certo e me puxou de encontro ao seu
peito, beijando-me como se não pudesse aplacar nunca essa vontade.
Coloquei minha mão dentro da sua boxer e o senti pulsar na minha pele,
louco assim como eu estava por prosseguir com o que sabíamos muito bem.
Nunca me permiti pensar que esse “nós” poderia acontecer, mas agora, ali,
só pensava como perderia a melhor coisa apenas por receio.
Arriscar não me soava mesmo tão ruim, sentindo-o tão duro sob minha
mão.
Collin me desejava.
Claro que a maioria dos homens teria essa mesma reação com uma mulher
nua na sua frente, mas eu preferia acreditar que com ele era diferente e que
realmente estivesse afetado assim por minha culpa.
Apenas minha!
E meu sonho de ser a única para ele já não parecia ser tão distante.
Teríamos alguns problemas, principalmente, com meu pai, mas isso poderia
ser resolvido, não poderia? Tinha questões ainda piores que essa para superar e
Josh Currey não era assim uma ameaça tão grande.
Sua grande questão era me ver feliz e se eu estivesse feliz com Collin, qual
o mal nisso?
Assim que ajoelhei na sua frente, o senti se retesando, me fazendo querer
ainda mais aquilo.
Era como se eu já pudesse sentir seu sabor na minha língua, inebriando
meus sentidos e me dando prazer apenas por ser capaz de deixá-lo tão maluco a
ponto de perder completamente a linha.
Precisava provar esse ponto e eu não cederia aos limites por isso!
Abri meus lábios e chupei-o, passando minha língua ao seu redor,
saboreando e aproveitando o momento, sentindo seu membro pulsar enquanto eu
o sugava mais e mais forte. O gosto agridoce era viciante e eu me sentia cada
vez mais perigosa e sedenta por ele, não querendo parar nem por um minuto
aquela tortura surreal.
Seus gemidos pareciam apenas aumentar o meu ritmo, me deixando
eletrizada, enquanto ele segurava meus cabelos, murmurando rouco para que eu
continuasse, o que com certeza eu faria!
Sem dúvida, aquele som era o mais sexy que eu já tinha ouvido e depois
dele, sofreria para encontrar alguém à altura.
Collin era meu e ele só precisava acreditar nesse ponto tanto quanto eu.
— Merda, Lily!
Ele urrou e me levantou de forma rude, encaixando minhas pernas na sua
cintura e apoiando no azulejo frio do banheiro, enquanto eu o sentia em todas as
partes, todos os lugares que mais precisavam dele.
Sua pele quente contra a minha me deixando em êxtase, enquanto a sua
boca explorando os pontos certos me levavam a loucura!
Ele olhou nos meus olhos e me perguntou silenciosamente se estava tudo
bem, se eu tinha certeza do que queria.
Não hesitei.
— Quero você!
Apoiou a cabeça no meu ombro, criando coragem assim como eu para
transpor aquela barreira sem se arrepender por isso.
— Oh Deus, acho que estou com a cabeça fora do lugar!
— Collin, não estraga essa noite pra mim... Por favor?
— Você não entende, Lily! O problema não é estragar pra você, o problema
é eu querer mais e não poder ter!
Ele disse isso e me preencheu por completo, me fazendo arfar com a
surpresa e o prazer.
Esperou um pouco o meu corpo se adaptar ao dele e começou os
movimentos ritmados, lentos e profundos, atingindo meu âmago e causando
espasmos de tentação.
— Você. Não. Entende!
Ele falava duro e colocava ainda mais pressão no movimento, raspando as
minhas costas contra o azulejo, em um vaivém doloroso, descontando toda a
raiva por fazer algo proibido e gostar disso.
O que ele não sabia era que ninguém precisava descobrir o que havia
acontecido ali.
Eu ficaria quieta, ainda mais porque guardaria aqueles sentimentos e
sensações para sempre dentro do meu coração.
Toda vez que eu o visse, lembraria, sem sombra de dúvidas, mas teria que
lidar com essa verdade. Principalmente, quando eu fui a culpada por causar
nosso calvário.
Ele me desgrudou da parede, perdido nas ações e me deitou na banheira,
permanecendo em cima de mim, e sem momento nenhum, quebrar a ligação
entre a gente.
— Olha pra mim! — olhei para ele. — Não vai esquecer essa porcaria de
noite, Lily! Nunca mais!
Poderia até ficar magoada por ele chamar a nossa noite de porcaria, mas
não era hora para me fazer de ofendida e sim de aproveitar o momento como se
fosse o último.
E quem eu queria enganar? Realmente, não esqueceria.
Sua boca desceu, chupando meu pescoço e levando minhas terminações
nervosas a picos inimagináveis. Meu corpo se curvava à sua vontade e eu só
queria que ele continuasse com as estocadas até que eu sentisse finalmente o
nirvana possuir meu corpo.
— Collin...
Eu sussurrava em uma vã tentativa de manter a sanidade mesmo que por
alguns instantes. Mas ele estava determinado a não me deixar pensar em nada, e
conseguia simplesmente evaporar qualquer pensamento que não fosse ele na
minha cabeça.
Me dominando.
Mostrando que nenhum outro chegaria aos seus pés.
Meu coração se despedaçava a cada espasmo que corria no meu corpo e
seria inútil pensar que eu ficaria bem depois de tudo.
Seria mesmo idiotice pensar assim.
— Você é a minha ruína em forma de mulher, nunca vi isso tão claro como
agora. — Ele falou rouco, ainda movimentando o quadril de encontro ao meu,
causando uma agitação bem-vinda na água da banheira.
Era como se o que estivéssemos fazendo fosse ainda mais especial.
Sua fala agiu como um estopim para o meu prazer e enquanto eu tremia,
sentindo as ondas invadirem meu corpo, ouvi seu grito rouco no meu pescoço,
alto e claro, liberando a parte mais primitiva dele.
Era mesmo um vendaval no sexo e eu sabia que ansiaria por essa bagunça
toda vez que o visse.
Era como alguém oferecer uma droga a um viciado e esperar que ele não
quisesse no mínimo roubá-la!
Meu peito se abria em dor, na mesma medida que a paixão me consumia
por agora existir uma lembrança real de um momento com ele. Um momento
bem longe do que costumávamos compartilhar.
— Essa foi definitivamente a melhor noite da minha vida! — Ele disse
ainda com a cabeça no meu pescoço, seu hálito quente causando cócegas
confortáveis e sensacionais.
Levei minha mão ao seu cabelo e fiquei um tempo fazendo carinho,
sentindo a sua respiração leve no meu peito e seu corpo amolecendo com o
esforço.
Antes que eu começasse a dormir profundamente, senti-o sair de cima de
mim, me levantar nos braços e carregar até a cama. Me envolveu em um dos
roupões e deitou-me vagarosamente, colocando-se ao meu lado e envolvendo
seus braços na minha cintura.
— Amanhã a gente vê o que faz, gatinha.
Sua respiração se tornou pesada e o aperto na minha cintura diminuiu, com
o seu sono evidente colocando novamente a barreira entre a gente.
A sua frase deveria ter me deixando esperançosa, mas sabia que ele não
estava totalmente bem e que amanhã quando acordasse não iria nem querer olhar
para minha cara. Me culpando pelo seu deslize e por ter estragado a boa relação
que ele tinha com o pai e com a mãe.
Uma promessa em uma noite de bebedeira para mim não valia nada.
E para ele muito menos.
Tinha certeza que prometia mundos e fundos para as mulheres que levava
para a cama e eu era apenas mais uma na sua infinita lista.
Collin era um paquerador nato, e seu charme derreteria até mesmo o
coração mais frio da terra.
Nunca tive chance contra ele.
Só achava engraçado meus pais não terem percebido a minha fascinação
depois de tanto tempo. Como Tyler havia dito, eu não era boa em disfarçar e se
eles soubessem, talvez as coisas poderiam ficar mais fáceis e Collin até pensaria
em ficar comigo...
Mas com o meu pai na equação, eu era fora do limite para ele e não o
culpava por essa decisão, nem um pouco. Ele devia fazer o que achava certo e eu
o entendia.
Não valia esse risco!
Dormi com seu corpo quente embalando meu sono e sua respiração
tranquila servindo de trilha sonora para as batidas do meu coração.
O que seria de mim agora, eu já nem queria imaginar.
Tudo sobre astros
“PRA QUÊ PRINCÍPE QUANDO SE TEM UM JOGADOR DE BEISEBOL
EM QUEM SE APOIAR? AHHHHHHHHH! Me mostra seu taco que eu te
mostro que força tem que ser aplicada, bebê! Estou velha, mas com certeza não
estou cega!
Josh que ainda é Joshlicia, agora aparece em tudo quanto é evento de
golfe! Um crush daquele jogando golfe, chega a ser desperdício! Pelo menos, as
meninas dos carrinhos de bebidas têm a quem olhar! Diva C. que me perdoe,
mas se o homem está com ela a mais de duas décadas é porque gosta da comida
que ela faz, tenho certeza! E não sou eu falando asneiras que vou atrapalhar a
vida dos dois!
A mulher confia nas curvas dela, bebês!
Que cinquentão é esse? Parece vinho! Devia tê-lo conquistado antes!
Agora só me arrependo!
As brasileiras são outras vadias que não envelhecem nem ferrando! É
doutor Hollywood sendo pago que eu sei! Esse homem ainda faz cirurgias? Não
sei! Mas pra mim ele é imortal!
Agora as crias estão espalhando beleza e masculinidade pelo mundo.
Genética boa, vadias!
O segredo é a genética boa! E a água, claro! Porque a água que essas
mulheres bebem atraem deuses gregos e a gente, com água normal, atraímos no
máximo um mais ou menos arrumado!
Que sina!”
por Stephen Pharrell.

MINHA CABEÇA DOÍA como se estivesse sendo pisoteada por elefantes e


meu braço completamente dormente, queria seu descanso.
Por que diabos eu tinha dormido com outra mulher?
Em que parte da noite eu me separara da Lily e da Chloe e arranjara uma
companhia?
Não me lembrava.
Não me lembrava de muita coisa depois de ter visto aquele homem as
importunando. Nem sabia dizer se o cara tinha se mandado ou se continuara
perto das duas.
Inferno!
Eu devia pegar leve com a bebida, ainda mais quando não estava em casa.
Abri meus olhos, sentindo a dor de cabeça aumentar consideravelmente em
resposta à luz bem na minha direção.
Olhei para o lado e vi a Lily dormindo serenamente.
Pelo menos ela estava bem e dormindo.
Levantei o lençol e PUTA MERDA!
Eu estava sem roupa e levantei a parte dela apenas para confirmar a
porcaria que eu já desconfiava.
PUTA QUE PARIU! O que eu tinha feito?
Saí da cama meio desnorteado, procurando minha roupa em todos os
cantos, encontrando as peças apenas no banheiro, junto com as dela. Coloquei
minha mão na testa em raiva interna, me xingando demais por ter feito aquilo.
Agora como tudo ficaria? E que merda eu tinha dito?
Um arrepio de medo me percorria só em imaginar a confusão que tinha
causado. E o pior era nem lembrar da noite, das sensações e como eu havia
perdido a cabeça.
Apoiei uma das mãos no azulejo, tentando achar uma melhor solução para
evitar a catástrofe iminente.
Josh me mataria, Beatriz me mataria, Tyler me mataria, todo mundo me
mataria! Ficar vivo depois dessa noite era apenas uma doce ilusão e nem era
tanto por esse motivo que eu me amaldiçoava internamente, e sim, por não saber
como as coisas aconteceram e como ela se sentiu com tudo.
Era uma merda!
Uma merda das grandes!
Voltei para o quarto, dobrando as suas roupas e deixando em cima da cama,
ao seu lado, enquanto eu colocava as minhas apressadamente, torcendo para que
ela não acordasse e me pegasse no flagra. Sabia que precisava ficar e conversar,
mas me sentia covarde demais para isso e só conseguia torcer para que ela não
me confrontasse e forçasse a tomar uma atitude.
Chegava a doer no meu peito essa possibilidade. Ou até mesmo a ideia de
que poderia nunca mais vê-la por causa de um momento estúpido comandado
pelo álcool.
Sentei na cama e passei a mão no seu cabelo, pedindo perdão
silenciosamente por sair antes de esclarecer as coisas e, principalmente, antes de
explicar algo que nem eu entendia.
Quando tudo ficara tão confuso?
Pelo amor de Deus, fomos criados como irmãos, e nem em sonho poderia
desejá-la além disso!
O problema é que duvidava que resistir fora o meu pensamento ao vê-la
nua, duvidava muito.
— Me desculpa... — murmurei e saí do quarto, trombando em alguém no
caminho.
Olhei para a mulher à minha frente e tinha a certeza que ela havia entendido
do que eu estava fugindo e me julgava um merda por esse motivo.
Eu também não estava nada contente comigo mesmo se isso a ajudasse.
Só não podia ficar e ouvir o que Lily teria a dizer. Era como se o
pressentimento me dissesse para dar o fora o mais rápido possível e fingir que
aquilo nunca tinha acontecido.
Onde eu estava com a porra da cabeça?
Nunca, nunca em toda a minha vida, a olhei com outros olhos. Claro que eu
senti ciúmes dos caras que ficavam com ela, era a minha irmã, ciúmes era
compreensível. Mas pensar nela e em eletricidade sexual, jamais! Ou talvez eu
achava que isso nunca tivesse acontecido.
Será?
O que eu realmente senti quando Lily me disse ter beijado a primeira vez?
O que eu realmente senti quando ela me contou que ficou com um cara e que
aquilo os levou aos finalmente? O que eu realmente senti quando ela me disse
que queria namorar alguém porque nutria algo mais por essa pessoa?
Que merda eu realmente havia sentido?
No fundo eu sabia... Senti a necessidade de fazer a mesma coisa.
Procurava saber até onde seguia a ideia dos caras, e claro que eu os
ameaçava caso causassem algum sofrimento nela.
Tyler fazia o mesmo?
Sim, fazia. Em proporções menores, mas fazia, e eu?
Por que sempre ficava preocupado com o que ela acharia de mim e das
mulheres com as quais ficava? Por que merda sempre me importava mais com
ela do que comigo mesmo? Por que quando me ligava eu largava quem quer que
fosse e corria ao seu auxílio?
Por que?
Por que?
— Collin, que cara é essa?
Tyler perguntou assim que pisei no nosso quarto e comecei a arrumar
minhas coisas, querendo sair dessa cidade e desse país o mais rápido possível...
Precisava entender todas as questões que se abriam na minha cabeça e toda
a necessidade que eu tinha de ficar cada vez mais próximo da Lily.
Isso definitivamente não seria o melhor para mim, muito menos para ela...
Merecia um homem muito melhor do que eu e um que fosse capaz de enfrentar
todas as merdas por causa dela.
Eu era para ser apenas seu irmão, porra!
Não era para pensar em nada disso, nem imagens dela embaixo de mim
deveriam ser uma constante na minha cabeça.
Mesmo com a dor pulsando, algumas memórias quebradas acabaram por
surgir na minha mente e me deixaram a certeza que se eu a visse novamente,
aquela atração, aquela sensação de querer pegá-la para mim seria multiplicada
por mil e inferno, eu não saberia lidar com isso.
Nem em sonho!
— Me deixa, Ty!
Falei ríspido, notando a sua cara de espanto.
— Tem a ver com a Lily, não tem?
Parei de jogar as minhas coisas na mala e senti meu corpo ficando tenso à
menção do seu nome. Do nome! Já até imaginava como iria travar se a visse ou
ouvisse a sua voz.
Essa merda não podia estar acontecendo.
Não deveria estar acontecendo!
— Sei que tem, Collin! O que aconteceu?
— Nada! — respondi completamente irritado por ser pressionado quando
meus sentimentos eram um verdadeiro desastre.
— Ah, porcaria! Você dormiu com ela!
Essa habilidade do Tyler perceber as coisas assim de cara não era nem um
pouco maravilhosa, principalmente quando ele descobria algo tão certo como o
que aconteceu nessa noite.
— Não.
— Para de mentir, caralho! Seja o homem que meu pai te criou pra ser e vai
ver como ela tá! — Ele me puxou pela camiseta, furioso, e era a primeira vez
que eu o via tão alterado.
Não queria nem imaginar como nosso pai ficaria quando soubesse. Se é que
ele saberia um dia. Eu torcia para que não! Realmente, torcia para que não!
— Eu não estou pra conversas hoje.
— Ela gosta de você, Collin! Minha irmã sempre gostou de você e não
importava com quantas mulheres aparecesse ou quantas vezes ela te ligava e
você não atendia! Nunca importou se você seria um jogador famoso, ou apenas
um cara com um trabalho comum! Merda, Collin, nunca importou! E o que você
faz agora? Foge? Como a porcaria de um covarde?
As suas palavras me atingiram em cheio, mas não mudariam o que
aconteceu.
Ainda era errado e eu não gostava de coisas erradas.
— Eu não tô fugindo! — gritei revoltado, empurrando-o e tirando a sua
mão da minha camiseta.
Meu humor estava negro e não ajudava em nada ele ficar cobrando coisas
de mim, sendo que eu nem sabia o que estava acontecendo de verdade.
— Vai voltar pra casa?
Não.
Para o meu apartamento, pensar em algo que me fizesse tirá-la da cabeça e
decidir calmamente qual caminho seguir a partir daí.
— Pro meu apartamento.
— Sério, Collin? Não acredito nisso... Eu esperava mais, muito mais. Se
soubesse que seria essa decepção, eu mesmo teria falado pra ela esquecer toda
essa merda e seguir em frente com a vida dela! Mas não, o idiota aqui pensava
que vocês dois só estavam cegos demais, talvez o cego fosse mesmo eu.
Tyler falou alto e pegou suas coisas, indo em direção à porta do quarto.
— Onde vai?
— Tentar amenizar a devastação que você deixou! E vou te falar só uma
vez, Collin, a porcaria de uma vez! Nunca mais olhe pra minha irmã e nunca
mais pense em machucá-la! Ouviu? Ou eu juro por Deus que vou brigar com
você a primeira vez na vida e fazer com que meu pai descubra a merda do
covarde que você é!
Sua ameaça não era vazia. Eu sentia a raiva emanando dele direto na minha
direção, completamente abalado com a minha atitude.
Mas o que eu diria à ela?
“Eu sei que transei com você, mas sinceramente, não sei o que aconteceu,
só esqueça.”
Isso me soava muito pior do que ir embora sem dizer nada. Muito pior! E
quebraria ainda mais o coração dela.
Terminei de guardar as minhas coisas e reservei o voo mais próximo pelo
celular, não querendo passar nem mais um segundo debatendo comigo mesmo se
precisava ou não ir embora daquele jeito. Se eu esperasse mais, com certeza a
minha consciência pesaria e me levaria novamente até ela.
Liguei na recepção e pedi para chamarem um táxi, com pressa para sair
dali, ou me livrar da responsabilidade, não sabia ao certo.
Tudo era conflitante e eu não fazia a menor ideia de como olharia para a
cara da Beatriz e do Josh assim que chegasse em casa. Era como se eu tivesse
traído a confiança deles e apenas olhando para a minha feição culpada eles
pudessem notar isso... Aqueles dois praticamente sentiam o cheiro de confusão e
eu e Lily juntos era confusão na certa.
Meus pelos até se arrepiavam em pensar assim.
A imagem dela respondendo aos meus toques estavam me deixando louco,
isso porque eu imaginava que nem eram o ponto alto da noite. Apenas pelas
lembranças já conseguia perceber que louco era pouco para descrever a forma
que ela havia me deixado.
O que ela tinha feito comigo?
Era como se um pedaço meu estivesse ficando para trás, enquanto eu ia
embora. Um vazio parecia se apoderar de uma parte no meu peito e mesmo
passando a mão tentando esquentar aquela área, ainda parecia fria e errada.
É, eu estava mesmo louco. Louco, maluco ao extremo!
Lily era minha irmã e continuaria sendo. Eu a faria voltar ao normal e
manter aquela relação saudável que a gente mantinha, nada além daquilo.
Não deveria existir nada além daquilo.
Era minha tarefa fazê-la entender essa verdade. Manter as coisas no nível
normal era fundamental para a minha sanidade e nada poderia me desviar desse
caminho.
Passei o tempo todo fora de mim, pensando mil coisas em uma, sem
entender nenhuma delas ao certo. Quando finalmente cheguei no apartamento
depois de muitas horas viajando no mundo perdido da minha cabeça e sentei no
meu sofá, a ficha realmente caiu e a ideia de que eu tinha ido para a cama com a
Lily me pareceu ainda pior do que soara no Brasil.
Algo errado. Sujo. Imoral.
Como inferno eu explicaria para todo mundo se isso viesse à tona?
Como eu chegaria para nossa família com a maior falta de vergonha e
falaria o que fiz com a menina dos olhos da galera?
Com alguém que era para ser minha irmã?
O mundo nos condenaria e eu nem sabia dizer se estavam errados! Me
parecia errado!
Eu merecia mesmo ser metralhado e não me importaria com o final, porque
eu não valia a pena. Lily era perfeita, doce e tranquila, enquanto eu era seu
completo oposto, o maluco da família, que levava uma mulher diferente cada vez
nas confraternizações.
Como ela devia se sentir com isso?
Doía imaginar, mas o que eu poderia fazer?
Não era bom nem para ficar sozinho, quem dirá com outra pessoa.
Minha dor de cabeça parecia ter aumentado e o vazio que eu sentia, me
consumido em um buraco negro. Parecia que eu estava tendo uma crise de
claustrofobia sem sofrer desse mal, como é que isso era possível?
Precisava esquecer tudo, quem sabe isso resolveria uma parte dos
problemas... Pequena, mas uma parte deles.
— COLLIN SAIU COMO um furacão do quarto.
Chloe me falou algo que eu já sabia.
Estava acordada quando ele foi embora, ouvi cada palavra sua e o tom de
arrependimento na sua voz, e foi por notá-lo que eu fingi estar dormindo,
enquanto sentia meu coração ser arrasado, com a sua preferência em sair sem
nem se despedir ou querer saber como as coisas seriam dali por diante.
Como eu imaginava, era ilusão minha pensar que Collin nutriria algum
sentimento por mim. Claramente eu não era seu tipo preferido e talvez, estivesse
voando para Boston encontrar uma delas para satisfazê-lo de verdade.
Por que eu ainda me importava com ele?
Já não bastava ter notado o quanto não valia a pena, ainda ficava pensando
no que ele estaria fazendo?
Me sentia mais patética do que o normal, se é que tinha como eu ser ainda
mais.
— Eu sei.
— O que aconteceu?
— Eu dormi com ele.
— Ah, não brinca! E aí, como foi?
— Acho que ele estava mais alcoolizado que eu, mas mesmo assim, foi
tão... tão... selvagem! Entende?
— Se eu entendo? Selvagem é com certeza um ótimo sexo!
Não, ela não tinha entendido. A noite tinha sido muito mais do que ótima.
Beirava o esplêndido na minha cabeça. Não que eu tivesse muitos homens com
os quais compará-lo, mas Collin definitivamente sabia o que fazia e todos os
lugares certos a alcançar. Só de imaginar a experiência dele nessa arte já sentia a
bile me invadir e o ciúme por não poder ter aquilo nunca mais dominando meus
sentidos e enchendo-os de raiva.
— Mas, enfim, terminou como você viu... Com ele saindo, com aquela cara
fechada e pensando maneiras de me evitar para o resto da vida.
— Não foi isso o que vi.
— Conta outra, Chloe!
— Sério, Lily! Ele queria, deu pra perceber como estava confuso e acho
que você marcou um tremendo de um Home run nesse quarto. Espero que suas
próximas jogadas sejam capazes de vencer esse jogo... Está com a vantagem,
enquanto Collin se mantém na primeira base, você já marcou um ponto e está
buscando o segundo.
— Que analogia! — debochei da ideia, dando risada pelo absurdo de como
soava.
— Faz todo sentido! Pensa um pouco! Se ele não sentisse nada, nem uma
mísera faísca, não teria álcool que o faria cair nos seus braços e praticar loucuras
na cama!
— Não foi na cama.
— Onde?
— Na parede... do banheiro.
— Como você não me conta isso?
— E na banheira!
— O que aquele homem é? O maldito super sexo? Me recuso a acreditar!
— Acredite se quiser!
Sorri com as imagens do nosso momento quente e era como se eu sentisse
as mesmas sensações de ontem à noite correndo por todas as minhas terminações
nervosas.
— Será que o Tyler é assim também? Se for, vou adorar perder umas horas
com ele.
Joguei o travesseiro nela por me fazer pensar no meu irmão com ela, na
cama. Era nojento demais pensar em algo assim, e Chloe devia aprender a
manter a sua boca fechada quando a falta de decoro tomava conta das suas
ações.
Ouvimos batidas na porta e meu coração respondeu eufórico, imaginando
que fosse Collin para me pedir desculpas, dizendo que havia percebido o quanto
fora covarde em fugir daquela forma de mim.
Mas me decepcionei novamente.
Era Tyler.
E ele parecia já saber o que havia acontecido... Pela sua cara eu podia jurar
inclusive que ele repreendia tudo e me faria jurar não me aproximar mais do
Collin.
Ty era assim... Tentava proteger as duas partes, do seu jeito, mas tentava.
Éramos seus dois irmãos, como ele poderia escolher um lado certo? Nem pediria
para o fazer.
Toda aquela questão era apenas entre eu e Collin, mais ninguém.
Éramos adultos e devíamos nos virar quanto aos assuntos delicados e se ele
tivesse ficado, poderíamos conversar e ver como desenrolar os fatos. Tinha me
prometido isso ontem e eu acreditei nele, como todas as vezes em que me falava
que voltaria para me buscar, ou que me defenderia quando eu precisasse.
As palavras que ele vivia me dizendo, nesse momento não serviam para
nada. Não podia contar sempre com ele e era uma tremenda mentira na qual eu
havia acreditado desde aquela época no colégio.
— Como você tá?
Como eu estava?
— Bem. — Bem seria uma boa palavra, mas não mentiria dizendo que
estava ótima. Parecia apenas mais um dia da minha vida sem graça e corrida.
Nada mais.
— Collin foi embora.
Eu já imaginava. Pela forma que ele saiu do quarto, me espantava que não
estivesse indo para o lugar mais longe de mim possível, Alasca talvez? Ou para a
Austrália fazer companhia aos cangurus! O fato era que a sua partida antecipada
não me surpreendera de forma alguma.
— Não me interessa.
Ty revirou os olhos e fez um som de indignação com a boca. Teimoso nato,
assim como eu.
— Vocês dois são muito parecidos! Tem até as mesmas manias!
— Somos irmãos! Faria sentido o contrário? — Ty falou para minha amiga,
que sorriu com a ironia na sua voz.
— Eu e minha irmã não somos parecidas! Mas vocês são muito iguais, isso
é bacana!
— Era só o que faltava! — Ele jogou as mãos para o alto e sentou na cama,
colocando os pés com os tênis em cima do lençol de linho.
— Se eu fosse você não deitava aí.
— Ah, que nojo! Mas que merda! — Meu irmão levantou rápido,
esbravejando por eu tê-lo deixado deitar no lençol do amor.
— Estou brincando com você! A gente não fez nada na cama...
— Como assim não fez nada na cama?
Olhei sugestivamente e ele colocou as mãos nos olhos, com raiva.
— Isso não foi legal. Não mesmo! Prefiro nem saber onde foi que vocês se
descobriram. Meu deus! Não quero nem ficar pensando em vocês dois juntos.
Que nojo!
— Na banheira...
— Merda, Chloe, você não me ajudou em nada! Agora piorou as coisas!
Vim aqui só para saber como a minha irmã está e saio com imagens horríveis na
cabeça. Vocês ainda vão me deixar maluco, escrevam o que eu digo, maluco!
Maluco, completamente pirado!
— O que vai fazer hoje?
— Não sei... Tem algum desfile?
— Sim, até o fim da semana...
— Então, até o fim da semana eu fico. Tem vaga nesse quarto pra mim?
Depois que trocar esse lençol, lógico!
— Por que?
— Meu parceiro de quarto foi embora, esqueceu? Não vou ficar sozinho
por lá! Prefiro ficar aqui com você e monitorar seus próximos deslizes!
— Mesmo com o lençol do amor? — brinquei, apenas com o intuito de
irritá-lo ainda mais.
— Você é louca! Já falei que só durmo nessa cama depois que trocarem
tudo. Não vou ficar nesse lugar de impureza, mas não mesmo! Me lembre de
avisá-los pra lavar a banheira e os azulejos também, certo?
— Mas eu não falei do azulejo!
— Vou nem explicar como sei. — Ele ergueu uma das sobrancelhas, o que
só me lembrou de alguém que eu não queria lembrar.
— Também sabe essa coisa de paredes e tudo o mais?
Minha amiga não tinha mesmo a menor quantidade de vergonha na cara.
Mais direta que ela, impossível.
Ty gargalhou alto e eu tinha certeza que aqueles dois ainda me dariam
trabalho. Chloe ficando com Tyler seria uma confusão enorme e eu não sabia se
o mundo estava preparado para uma guerra nessa magnitude. Meu irmão com
seu jeito nerd, ficava com mais mulheres do que qualquer um era capaz de
contar e ele só achava que me enganava, quando na verdade, enganava apenas a
si mesmo.
— Nem pensem nisso vocês dois!
— Por que? Chloe é legal, gosto dela.
Ai merda, já não teria mais nada que eu pudesse fazer para impedir. Quando
Ty colocava algo na cabeça dele nem mamãe tirava, quem dirá eu, uma pessoa
que não sabia nem de perto ser ameaçadora como ela.
— Também gosto do Tyler.
— Faíscas podem nascer desse gostar, não acha, Chloe?
Eles estavam flertando na minha frente? Pelo amor de Deus, quão azarada
eu era por ter uma amiga e um irmão tão safados?
Pelo olhar dos dois, tinha certeza que caso não quisesse presenciar os dois
acasalando, era melhor nem tentar falar com eles.
Ou seja, Tyler e ela estavam ali, mas eu ficaria sozinha durante a
madrugada, livre para pensar as coisas mais absurdas sobre meu jeito bobo e
minha falta de tato com os homens.
Por que eu não podia ser tão bonita como a mamãe e marcante como meu
pai?
Não custava nada eles passarem um pouco dessas duas características para
mim.
Era como se eu fosse o patinho feio da família.
Ella e Elena, com aquela beleza de tirar o fôlego, proeza do Allan e da
Rose. Ayesha, filha da Dayane e do Kyrie, igualmente deslumbrante. E eu... Os
homens eu preferia nem comentar muito, porque August, Tyler e Collin eram
simplesmente o sonho de todas as mulheres que os conheciam. O único que era
seletivo ao extremo era August, talvez pela personalidade do tio Silas, que
moldara ele para procurar uma mulher que realmente valesse a pena o
investimento.
Não perdia tempo com quem não valia a pena e eu precisava mesmo
aprender com ele. Só me colocava em enrascada e conhecia idiotas atrás de
idiotas.
— Por favor, parem com essa falta de vergonha?
— Certo, só porque minha irmãzinha está com o coração despedaçado
depois de uma desilusão amorosa.
— Não tem graça, Ty!
— Sei que não!
— O que você faria no meu lugar?
— Além de chutar a bunda dele? Um chute nas bolas, provavelmente... Dá
uma boa vantagem e vai deixá-lo alerta para não aprontar uma próxima vez.
— Falei sério!
— Lily, é difícil perguntar isso pra mim, porque eu amo os dois! Fico em
uma corda bamba, sem saber pra que lado caio.
— Verdade!
— Obrigado, Chloe!
— Só pedi uma ajuda, Ty!
— É a mesma coisa que eu ser culpado pela infelicidade dos dois! Dei jeito
nem na minha vida emocional ainda, o que me classifica como experiente para
dar na sua? Pode parecer idiota, mas faça o que seu coração achar certo, não que
eu saiba o que isso quer dizer, é algo que vi em alguma comédia romântica por
aí, mas as mulheres costumam falar essas coisas, então, bom, esse é meu
conselho... Pra você e pra mim, inclusive...
Ficamos os três conversando, até que o compromisso nos chamasse e me
fizesse esquecer um pouco que fosse aquela desilusão.
A prioridade era focar em mim e não em tentar conquistar alguém que não
se importava comigo.
Uma dose gigantesca de amor próprio não faria mesmo mal e eu deveria
tomá-la o quanto antes.
— COLLIN, TEM COMO vir aqui em casa? Eu e sua mãe queremos falar
com você...
Aquilo não era uma boa.
Consegui dormir apenas no começo da manhã, passando a madrugada
inteira pensando coisas sem sentido... Com as sensações à flor da pele. E minha
cabeça parecia que explodiria justamente por esse motivo.
— Tem...
— Venha rápido!
Não poderia ficar fugindo. Uma hora ou outra aquela merda chegaria no
ouvido deles, ainda mais se Tyler tivesse a coragem de abrir o jogo.
Realmente, eu estaria morto em um futuro próximo.
***
Estacionei na frente da mansão, sentindo como se o peso da culpa me
esmagasse mais e mais, me abstendo da vida.
Criei coragem e segui em frente. Precisaria enfrentar de qualquer forma e
seria apenas pior ficar empurrando para depois.
— Até que enfim resolveu aparecer! — Meu pai veio na minha direção e
me cumprimentou.
Sem gritos.
Sem nenhuma ameaça.
Aquilo estava mesmo estranho.
Ou meus pensamentos foram idiotas e eles não soubessem de nada. E para
mim, isso soava animador.
— O que queriam? — tentei parecer calmo e relaxado, mas quando Beatriz
me olhou, era fácil perceber que ela notara essa tentativa.
Mães sempre sabiam das coisas.
Ela poderia até ter adivinhado o que acontecera e depois me pressionaria.
Não duvidava. O radar dela para coisas ruins era infalível.
— Saber sobre isso. — Meu pai respondeu e jogou a revista, com eu e Lily
como foto de capa.
A legenda não era nada boa e deixava claro o que pensavam sobre o gesto.
Eu ser adotado era de conhecimento público e a mídia ficar inventando essas
bobagens para vender matérias parecia alimentar o amor impossível que muitas
pessoas queriam.
Pelo menos era uma foto minha ajudando ela, nada demais. Mas o proibido
era sempre estimulante, todos achavam isso e por esse motivo inventavam
idiotices.
E o que seria mais escandaloso do que a filha do astro, com o filho adotado
dele? Realmente, nada. O que isso causaria nas nossas carreiras eu não queria
nem imaginar.
Passei a mão na testa, suando frio, tentando inventar algo convincente para
disfarçar a enrascada na qual estava.
Com a filha deles.
Meu Deus. Eu estava fodido!
O que eu queria? Nem mesmo sabia!
— É óbvio que a ajudou... Está claro. Mas queríamos saber como ela está,
já que o pai sufocou-a tanto a ponto de nem retornar as ligações! — salvo pelo
gongo.
Minha mãe olhou para mim, com o rosto impassível e zero emoção. Seu
olhar era duro e avaliativo. Merda, ela já devia ter descoberto, ainda mais com a
cara de culpado que eu provavelmente estampava.
— Ela é minha filha e eu a vejo quantas vezes por ano? Três ou quatro? E
ainda me pedem para dar espaço? Mais?
— Não para de ligar pra ela, Josh! Aceita que a Lily é uma mulher de 24
anos extremamente independente e que já saiu de debaixo das suas asas.
Pela primeira vez vi os dois se olharem estranho e meu pai parecia
realmente tentado a contra argumentar, mas assim como eu, notara que era
melhor manter a boca fechada antes de falar o que queria e ouvir o que não
queria.
— Ter filha é mesmo uma luta. Agora entendo os pais revoltados dos
filmes. É desesperador! — Ele resmungou e se deixou cair no sofá, quieto e
pensativo. — Graças a Deus foi só uma, duas como o Allan eu estaria fodido!
Seria uma bola com cada uma e eu doido atrás!
— Josh! Olha a besteira!
— Ah, qual é! Ele já é bem crescido pra saber dessas coisas!
— Eu sei, mas ainda assim é feio!
— Quando eu a conheci era bem mais legal. Se soubesse que se
transformaria nesse monstro, teria corrido pra muito longe! — Ele disse e olhou
para mim, sorrindo.
Duvidava que tivesse mesmo corrido, os dois eram malucos um pelo outro,
mesmo depois de tantos anos casados. Viviam brigando, mas faziam as pazes no
minuto seguinte, incapazes de ficarem sem conversar um com o outro.
— Mentiroso.
— Jamais! Se tem algo que não sou, esse algo é mentiroso! Fica me
ofendendo na frente do nosso filho, o quão ruim isso te faz?
— Nem um pouco. — Ela deu uma pausa e olhou pra mim novamente. —
Mas agora é sério, como a Lily está com o que aconteceu?
Com o que aconteceu, bem.
Com o que aconteceu entre a gente, eu não fazia a menor ideia.
— Eu falei com ela depois de tudo e parecia bem, mas, tem algo que ela
não está me contando, só contou pro Ty.
— Acho que sei o que é... — Ela disse e Josh a olhou intrigado.
— Só pode ser isso, não é? — Ele perguntou e ela respondeu com um
aceno.
Os dois conversando por código era literalmente uma merda e me deixava
sempre irritado por parecer um idiota que não entendia nada.
— Por isso evita vir...
— É uma teoria boa se for pensar no plano de jogo.
— Que plano de jogo, Josh? Estamos falando da vida da nossa filha!
— Eu sei... E é isso que me assusta. Ela não querer nos contar, achando que
a gente ainda não sabe.
— Do que estão falando? — perguntei, já não conseguindo mais ouvir
aquela troca de palavras sem ficar no mínimo curioso para saber do que se
tratava.
— Nada! Esquece isso, filho. — Josh me disse e Bia sorriu sem repuxar os
lábios.
Aqueles dois estavam mesmo me escondendo algo. Ou melhor, os quatro!
Porque Lily e Ty também contavam.
Ninguém ali era santo para mim!
Um bando de mentirosos sem escrúpulos!
— Estou liberado?
— Está... Mas só pra deixar claro, nada de trazer mulheres aqui, ouviu?
Estou realmente irritada por isso e não vou aceitar mais nenhuma na minha casa,
fingindo não prestar atenção em tudo para vender a notícia depois. Fui clara,
Collin?
— Como água.
Quando ela falava daquele jeito, ir contra só me deixaria em maus lençóis.
E querendo ou não, sabia que ela tinha toda a razão. Eu não era muito certo da
cabeça com essas coisas e devia ter mantido a privacidade deles em primeiro
lugar.
— Tyler é mais sem vergonha que você e não faz isso, tome o exemplo.
— Aquele garoto aprendeu direitinho! — Josh recebeu um olhar ruim da
Bia e engoliu em seco. — Ou não... É horrível viver assim, com uma mulher a
cada semana, realmente terrível!
— Desculpem! Não vai mais acontecer.
— Espero que não, porque na próxima não vou ser educada e vou chutar a
bunda delas pra fora de casa!
— Assim que se fala! Isso ela aprendeu comigo! — Papai disse e
gargalhou, deixando o ambiente consideravelmente mais leve.
— Se só queriam saber disso, eu vou indo nessa!
— Já? Não vai comer nada?
— Como no apartamento! Sei me virar, mãe, fica tranquila! E cadê a
Gloria?
— Foi visitar alguns parentes.
— Certo! Diz pra ela passar me ver quando voltar? Quero conversar... Pedir
uns conselhos.
Gloria era a única pessoa que eu sabia que não contaria nada à eles. Dava
uns conselhos realmente bons e que eu conseguia me ver seguindo. O contrário
do que o restante da família fazia.
A maioria parecia querer ajudar, mas acabava atrapalhando muito mais.
Fora que eu não poderia sair contando o que tinha feito para todos.
Gloria era mesmo a melhor escolha.
— O que vai dizer pra ela que não pode dizer pra gente?
— Nada não... É só umas coisas que ela vai entender. Não é nada demais,
fiquem tranquilos!
Não sabia nem porque tinha falado alto aquilo, estava meio louco e sem
noção das coisas.
— Ok...
Eles não pareciam muito convencidos, mas a merda já estava feita e eu não
tinha nem o que dizer para apaziguar.
— Amanhã eu apareço!
Saí temendo que me bombardeassem, torcendo para que nenhum dos dois
viesse atrás de mim antes que eu subisse no carro e desse o fora.
Fugindo deles.
Tentando fugir de mim.
E principalmente, querendo fugir dos meus sentimentos.
Fiquei dando voltas pela cidade, perdido e cego com tudo. As músicas
tocavam, eu batucava no volante, mas sem ouvi-las de verdade. Faziam seu
caminho por mim, mas eu não fazia meu caminho por elas.
Shayla seria capaz de manter minha mente ocupada?
Deus sabia que eu não queria essa proximidade com ela, mas também sabia
que eu não queria ficar tendo flashes despropositais da noite com a Lily vindo na
minha mente.
Estava me deixando maluco, me fazendo literalmente perder a cabeça! A
ponto de querer segurá-la com as duas mãos e jogar aquelas merdas de
pensamentos para fora. E não porque pensasse que a noite fora ruim, muito pelo
contrário.... Por saber que tinha sido incrível ao ponto de me marcar mesmo
bêbado.
O que era horrível.
Freei o carro com tudo, sem saber o que fazer para ficar em paz.
Voltei a acelerar, ainda perplexo com o que tinha feito e dirigi até a casa da
Shayla; ansiando para que ela calasse as vozes sussurrando na minha cabeça o
quanto eu estava ferrado.
Assim que estacionei na frente da sua casa, respirei fundo e repensei meus
atos.
Que merda eu fazia ali?
Não sabia.
Mas estava confuso o bastante para achar que poderia sentir qualquer
conforto em braços que eu não queria que me abraçassem.
Desci do carro, sem pesar os contras, sem pesar nada.
Bati na porta e o sorriso que abriu quando me viu poderia iluminar um
mundo que não era o meu. Nunca seria.
— Está livre?
— Pra você? Sempre!
Ela saiu da frente e eu entrei, passando as mãos na calça de nervoso.
Aquilo era errado!
O que eu estava fazendo era errado!
Ter fugido era errado!
Tudo errado!
Ela mal me deu tempo para pensar e me empurrou para a parede, colando a
sua boca na minha. E merda, eu não sentia nada.
Nada!
Que porcaria estava acontecendo?

“— Collin, não estraga essa noite pra mim... Por favor?


Ela me olhava com o semblante pesado e parecia realmente fazer aquele
pedido com o coração.”

Era ruim o bastante essas coisas ficarem vindo à minha lembrança.


Providencial em um momento como esse.
Retribuí o beijo da mulher com fervor. Um fervor falso, que passava longe
do meu corpo.
Shayla tirou minha camiseta, eu deixei. Desabotoou minha calça, eu deixei.
Mas quando as coisas realmente esquentaram, eu travei. Travei tudo e não
conseguia nem formular uma frase certa. Só sabia que aquilo não daria certo.
— Gata, desculpa, mas acho que estava errado e realmente não vai dar!
— Como assim? Isso nunca aconteceu!
Não até ela.
Não até minha mente ficar me jogando imagens dela, nua, prensada na
parede, embaixo de mim, em todos os lugares. Marcada na minha vontade.
Passei as mãos nos meus olhos, tentando espantar tudo e empurrei Shayla
suavemente. Com o máximo de dignidade que eu conseguia demonstrar. Eu não
estava no meu estado normal, não mesmo!
Por que?
Meu amigo não quis dar sinal de vida e nem daria. Ele estava morto para
ela e parecia realmente querer ficar assim.
Uma vergonha!
Mas o que mais me afligia nesse momento não era isso e sim o motivo para
o seu sono e a certeza de que se fosse outra pessoa, ele se animaria em segundos.
MERDA!
Isso não era para estar acontecendo.
— Pois é, mas acho que estou com a cabeça fora do lugar, preciso só
respirar e pensar um pouco! Me desculpe por ter vindo, não era pra ter feito isso.
Nem me despedi dela, saindo rapidamente da casa e entrando no meu carro,
como se ele fosse meu refúgio e pudesse me manter fora de encrenca. Ir até ali
tinha sido a pior coisa que eu fizera desde que voltara e agora entendia que não
adiantaria nada tentar resolver as coisas sem ter uma conversa com a pessoa que
despertara todos aqueles sentimentos em mim.
Lily provavelmente sabia das coisas.
Não devia estar tão perdida quanto eu.
Mas sinceramente, não sabia se queria enfrentá-la ou distanciá-la.
Possivelmente um pouco dos dois, se é que tinha como...
TY PEGOU O celular e respondeu uma mensagem rapidamente, olhando de
relance para mim, depois olhando para a tela novamente.
— Era ele, não era?
Balançou a cabeça afirmativamente.
— Me perguntou se estamos voltando e como você tá.
Típico!
Collin ficava pedindo notícias minhas para o Ty, mas não tinha a decência
de falar comigo sequer o essencial. Era muita idiotice para um homem só e dizer
que eu estava magoada, irritada e frustrada seria pouco para descrever o que me
invadia.
— Babaca!
— Ele não sabe o que fazer, Lily, eu percebo isso. Dá um desconto pro
cara!
Eu duvidava!
Apostava que ele correra para Boston e se enfiara em algum lugar com as
mulheres as quais ele costumava transar. Não tinha significado nada para ele e eu
queria que também fosse assim para mim.
Fácil de esquecer e fingir que nada havia acontecido.
— Mas não custava nada falar comigo.
— Eu acho que ele vai tentar.
— Não acho!
E realmente pensava que ele agiria como se aquela noite nunca tivesse
existido. Era o que mais fazia sentido.
Um homem segurou meu braço enquanto seguíamos para o check-in e Tyler
automaticamente ficou tenso, querendo entender o que estava acontecendo.
Eu então, nem se falava.
Poderia ser um maluco com más intenções e se eu estivesse sozinha
provavelmente já teria gritado como uma histérica. Nunca se sabia o que esses
homens poderiam fazer.
Puxei meu braço bruscamente e deixei claro com o olhar que não gostei
daquilo. Era invasivo.
— Me desculpe, não quis assustar. Mas é que te vi no mesmo hotel em que
eu estava e por sorte do destino acabamos nos encontrando aqui também...
Queria saber se poderia te dar meu número pra gente conversar e ver se temos
algo em comum... Uma coisa em você realmente chamou minha atenção.
Louco. Maluco total!
Mas não custava nada pegar seu número.
Olhei para o Ty, que deu de ombros e não se importou muito.
— Claro.
— Eu costumo viajar bastante, mas vai conseguir entrar em contato!
Podemos saber onde estamos e se fica viável tomar um café... Ou um jantar,
quem sabe.
Ele me passou um papel com seu nome e telefone, se despedindo logo
depois com um aceno e sumindo pela multidão, me deixando de boca aberta pelo
atrevimento.
Enrico — li no papel.
Italiano?
Talvez...
Um cara com essa coragem merecia mesmo uma chance e eu poderia
marcar um encontro em um lugar movimentado para ter certeza que suas
intenções não eram ruins e depois o futuro poderia ditar.
Terminaria com Ross, de qualquer forma, então não era uma ideia tão ruim.
Me soava como a mulher independente que eu achava que era.
— Tem cara de maluco?
— Do tipo que mata mulheres?
Fiz uma careta, mas era esse ponto que queria acertar.
— Isso.
— Não achei, parece ser normal. Com uma tática de abordagem estranha,
mas normal!
— Você também faz essas coisas! — Tyler julgava, mas as vezes fazia
coisas piores.
— Por isso tô dizendo que acho que ele é normal!
Eu sorri, porque ele estava certo e assim que embarcamos para Boston, um
sentimento angustiante começou a crescer em mim e de repente o homem
intrusivo se tornou um assunto esquecido.
Completamente esquecido.
***
Cheguei no apartamento, com a sensação de vazio invadindo meu peito.
Eu devia ter estragado tudo e agora nada seria como antes... Com quem eu
conversaria?
Acendi algumas luzes, notando a solidão no ambiente e deixando que ela se
infiltrasse um pouco em mim. Parecia gelado e deprimente, sentimentos
horríveis para se ter no retorno ao lar.
Saí de lá assim que me arrumei e segui direto para a casa dos meus pais.
Sabendo que poderia não encontrar nenhum dos dois, mas queria fazer uma
surpresa e se eu ligasse ou mandasse mensagem perguntando, acabaria com a
graça. Então, preferia arriscar. O máximo que podia acontecer era eles não
estarem lá e eu voltar para o apartamento e esperar umas horas até que
estivessem.
Estacionei na frente e vi aquele carro que eu amava e odiava ao mesmo
tempo.
Collin estava ali.
E eu precisava me preparar para a tortura mental a qual seria submetida.
Passei pela porta de entrada e senti a sua presença, notando-o conversando
com meu pai, com o Ty do lado, assistindo a um filme idiota de homens. Era
sempre assim quando os três se juntavam.
— Olá, gente!
— Lily! — Meu pai levantou apressado e veio até mim, me dando um
abraço apertado.
O que ele sempre fazia, aliás.
— Tudo bem, pai?
— Está e com você? Que merda foi aquela que aconteceu?
— Imprevisto... Cadê a mamãe?
— Deve estar no quarto. Sobe lá pra falar com ela, estava mesmo querendo
ter uma palavra com você.
Isso não era uma boa coisa.
Mamãe tinha olhos de gavião e descobria até os segredos mais obscuros.
Me tornava uma verdadeira pedra na frente dela para que não conseguisse
decifrar nada.
Olhei para o Tyler que sorria e logo em seguida para o Collin, que me
olhava com uma feição indecifrável.
Ignorei.
Com toda a minha força.
Dei as costas e fui para o andar de cima, como se aquele olhar não tivesse
me afetado e comprovado todas as minhas teorias antes de chegar ali.
— Mãe?
Bati na porta e chamei, esperando que ela atendesse rápido para eu poder
respirar em paz.
Depois da conversa sabia que poderia disfarçar melhor em um ambiente
maior. A única prova era não demonstrar nada no quarto, de frente para ela, com
seu olhar me varrendo e analisando a todo instante.
— Entra.
Empurrei a porta e fui até ela, deitada na cama, assistindo um dos
programas que gostava na televisão. Tranquila e calma, nem parecendo que
estava prestes a me interrogar como sempre fazia.
— Tem que conversar com ele! Aconteceu alguma coisa, isso é claro! Eu
percebi, seu pai percebeu, sorte a sua que a gente já sabia, caso contrário ele
poderia até se irritar.
Abri minha boca, completamente chocada.
Como eles sabiam?
E do que falavam? Do Collin, certo?
— O quê?
— Você e Collin.
— Mas como vocês descobriram?
— Já sabemos há um bom tempo, Lily, somos seus pais! Eu te carreguei
comigo por nove meses e depois cuidei de você até que criasse independência e
saísse de casa. Achou mesmo que esconderia algo assim?
Achei.
— Eu... Sei lá...
— O que aconteceu?
Essa pergunta já era perigosa e podia apostar que pelo meu olhar ela
descobriu exatamente o que se passou.
— Agora entendo o nervoso dele assim que chegou. Estava transtornado...
Não sei... Desesperado? Enfim, não estava bem e se complicou nas palavras
conforme a gente conversava. Notei na hora que algo entre vocês tinha
acontecido. Pelo menos era o que explicava o nervosismo dele! Collin nunca foi
o preocupado, sempre o relaxado e atencioso, uma mudança dessas foi
perceptível.
— A senhora não vai falar que é errado?
— E desde quando eu sei das coisas? Só poderia ser errado se fossem
irmãos de verdade, mas referente ao sangue, é claro, não o são. E eu tenho
certeza absoluta! Suspeito que não queira ser irmã também no coração, então....
O que eu diria? Só quero ver os dois felizes. Assim como o Ty, que só me dá
trabalho! Mas precisam estar cientes que não podem se casar, não legalmente,
ele é adotado, tem o mesmo sobrenome, o que para fins legais caracteriza-o
como seu irmão... Terão que lidar também com todos os julgamentos, mas com
amor e o apoio da família, tenho certeza que tudo terminará bem!
Ela bateu com a mão ao seu lado e eu sentei. Olhando para a parede, com
vergonha por ter que admitir para minha mãe que fracassara no amor e que não
conseguia ser nem metade da mulher que ela era.
Minha mãe era especial, interessante e eu entendia o amor do meu pai por
ela, assim como entendia o dela por ele. Eram perfeitos um para o outro.
A questão de casamento nem me preocupava, sabia que não chegaria a esse
ponto mesmo.
— Queria ser assim maravilhosa que nem você! — falei baixo, ouvindo-a
cantarolar uma música qualquer.
— Nunca mais diga isso! — Se alterou rapidamente e me senti
repentinamente mal por sequer ter cogitado uma ideia dessas. — Você é
espetacular, filha! E não digo isso porque sou sua mãe, digo isso porque é a
verdade! Tenho muito orgulho de você, pela excelente pessoa que é e por tudo
que conquistou sozinha! Isso te torna espetacular, fantástica, tanto por dentro
quanto por fora. O que você guarda aqui — Ela apontou para o meu peito —,
influencia no que você aparenta aí. — E indicou meu rosto.
Tinha umas palavras sábias e as vezes eu me perguntava se realmente
conseguiria colocar aquelas coisas em prática.
Se nem na terapia eu conseguia, quem dirá em casa.
Soava mesmo impossível.
— Mas o que eu faço agora?
— Eu não sei... Tem que esperar e ver como tudo evolui.
— Acha que isso funciona?
— Eu acho que os dois tem que se olhar no espelho. São dois cegos, e não
me desculpo por dizer isso, é uma verdade absoluta!
— Falou com ele também?
— Não! Nem vou perder meu tempo.
Olhei para o teto, absorvendo o que ela tinha dito e torcendo para que se
nada desse certo, eu pudesse apagar o que aconteceu para poder voltar ao normal
com a nossa relação.
Collin era uma parte fundamental da minha vida e eu não me sentia a
mesma pessoa sem ele presente nela. No quarto, com a minha mãe, notando que
poderia perder essa amizade, o desespero se tornava insistente e ameaçava toda a
minha segurança.
Se é que eu tinha alguma.
— Tyler sabe, não sabe?
— Sabe.
— Poderia até me magoar por você ter contado para ele antes de contar para
a gente, mas sei que não foi assim que aconteceu. É observador e tenho certeza
que descobriu tudo sozinho.
E foi exatamente o ocorrido.
Minha mãe acertara na mosca mais uma vez. Isso porque as vezes que ela
acertara no seu palpite já eram incontáveis.
— Nem vou responder, sabe a resposta.
— Ganhei a aposta com seu pai, disse que tinha sido isso e ele duvidou!
— O que ganhou dessa vez?
Ela sempre ganhava e meu pai sempre sofria com as escolhas dela para ele
pagar a dívida.
Pelo menos nós, os filhos, nos divertíamos.
— Ainda não sei o que pedir, se tiver alguma ideia, vou adorar. Preciso de
inspiração para essas coisas, mas é que ganho tanto que já nem sei mais o que
pedir!
Era mesmo difícil... Eu também não tinha nem uma sombra de palpite.
— Por que não está na sala?
— Sabe como eles gostam de conversar assuntos de homens e eu só
atrapalho. Prefiro ficar vendo esses realities engraçados.
— Por que não participa de algum? — falei dando risada, porque sabia
como ela era avessa a chamar atenção para si.
Odiava tumulto e odiava mais ainda notícias falsas.
Minha mãe nunca lidara bem com essas coisas e não importava o tempo
que passasse ainda não lidaria.
— Também não vou responder, sabe a resposta. — Ela repetiu as minhas
palavras e ficou alguns segundos em silêncio, assistindo comigo ao seu lado.
Como nos velhos tempos.
Deitei e apoiei a minha cabeça no seu colo, sentindo suas mãos suaves
passearem pelos meus cabelos, me acalmando. Um colo de mãe que fazia
tempos eu não sentia. Não por falta dela e sim pela minha. Tinha sumido e
aparecia ocasionalmente por pouco tempo, sem chance de conversar mais com
eles e interagir com as pessoas mais importantes da minha vida.
— Mãe, eu amo você.
— Também te amo, Lily! Estava com saudade da minha garotinha.
— Eu também. — Falei baixo, enquanto algumas lágrimas molhavam meu
rosto e sua calça leve de pijama. Sentindo falta assim como ela, da garotinha que
um dia eu fui.
Seu colo parecia mesmo milagroso e me fez esquecer até meus piores
medos.
Pena que quando eu levantasse, eles voltassem com força total.
Agora que era adulta, entendia porque o Peter Pan decidiu ir para a Terra do
Nunca e não mais voltar. Ele era esperto e já sabia que crescer não era tão bom
quanto parecia.
A maioria das coisas não eram como pareciam.
OLHEI PARA O Tyler, que me encarava de volta com um olhar nada bom.
Um sinal claro do que eu teria se ameaçasse ir atrás da sua irmã.
Ainda mais agora que eu conseguia notar o quanto estava afetada com tudo
o que aconteceu. Até me senti mal em causar isso, justo eu que prometi estar ali
sempre que ela precisasse.
Soava irônico ser quem a machucara.
Tentei manter minha mente no que assistíamos, mas a mulher de olhos
verdes teimava em roubar toda a minha atenção, mesmo não estando no
ambiente. Sentia minhas mãos formigarem com aquelas lembranças incompletas
da nossa noite e me forçava a não ficar pensando naquilo ou eu estaria mesmo
muito ferrado se todo mundo percebesse.
Ou não.
Josh e Beatriz não sabiam de nada.
Só minha consciência que teimava em pisar em mim, esmagando meu peito
em um arrependimento gigantesco. Não pelo que fiz, mas sim por não ter ficado
e enfrentado.
Descobriríamos o que fazer, juntos, tinha certeza.
Ameacei levantar do sofá, mas assim que pensei nisso, ouvi seus passos
descendo a escada e sua risada leve e gostosa. Lily entrou no meu campo de
visão segurando seu celular e eu automaticamente fiquei alerta, doido para saber
quem estava fazendo-a se divertir tanto.
Essa tarefa era minha e eu não deixaria ninguém tomá-la de mim!
A raiva era palpável, mesmo que eu não tivesse motivos para senti-la.
— Podemos nos ver sim, claro! Um café estaria bom pra você?
Ela perguntou e aquilo não parecia bom. Realmente, não parecia bom!
Principalmente, com a minha imaginação funcionando a mil e levando as coisas
para os piores lados possíveis.
— Não, prefiro um café, é mais seguro...
Dessa vez não fui o único a olhá-la curioso, Josh tinha virado a cabeça
assim que ela pronunciou “mais seguro”. Se eu me achava possessivo e
ciumento com relação à ela, extremamente preocupado, não chegava nem perto
dos pés do pai dela.
— Certo, estamos combinados! Até mais!
Assim que ela desligou, nós três perguntamos ao mesmo tempo quem era ao
telefone.
Lily olhou um a um e deu de ombros, vindo até uma das poltronas e
sentando casualmente como se aquilo não fosse nada demais.
— Leva o seu irmão!
— Qual deles? — Perguntou preocupada, com certeza torcendo para que
não fosse eu.
Realmente... Se eu fosse junto, ela nem chegaria perto do cara que estava
tentando ficar com ela! Isso era mais certo do que dizer que o mar era azul.
— Eu vou!
— Já não ficou uma semana longe do trabalho, Ty?
— Fiquei, mas consigo recuperar o tempo perdido em um dia! Que horas
vai ser, Lily?
— Amanhã de tarde... Ele disse que vai pra Rússia à noite.
— Conheceu ele onde?
Ela olhou para o Tyler pedindo ajuda, sabendo que se ele não interferisse,
Josh a massacraria por mais informações.
Era ferrenho nesse quesito.
— Ele ficou no mesmo hotel que ela e topamos com ele no aeroporto
ontem. Me pareceu ok, nada do tipo doido ou controlador. Só ok.
Josh não parecia convencido... Muito menos eu.
— Certeza?
— Tenho. — Ty respondeu.
— Pai! Eu sei me cuidar! — Ela falou, completamente alterada.
— E o spray?
— Eu sempre carrego comigo.
— Então, tudo bem. — Ele respondeu como se não tivesse concordado e
ela fosse desistir daquilo.
Lily era uma mulher que não dependeria dos outros para tomar as suas
decisões e muito menos se deixaria ser barrada por excesso de proteção.
A gatinha podia arranhar quando quisesse, isso eu tinha certeza!
— O que andaram aprontando no Brasil? — Josh perguntou e fez nós três
engolirmos em seco.
Parecia que queria chegar no ponto exato que escondíamos.
— Nada.
— Por que eu acho que vocês estão me escondendo algo? — Ele perguntou
e nos fulminou com o olhar.
Nada bom.
— Amor, deixa eles em paz! Já passaram da idade de ficar fazendo relatório
de tudo pra você! Até eu fico irritada com isso, imagina eles!
Mamãe caminhou até a gente e piscou, aliviando o nosso lado.
E eu conseguia apostar que ela estava fazendo aquilo porque sabia de
alguma coisa, era sempre assim.
— O que acha de irmos até aquele restaurante tailandês, comemorar a
minha vitória?
— De novo? — perguntei sorrindo, porque Beatriz sempre apostava as
coisas com ele e sempre ganhava.
Eu desconfiava que era aquele sentido extra que as mães tinham de saber
tudo a todo momento.
— Ela sempre ganha! — Ele disse e revirou os olhos, novamente provando
de onde vinha a mania irritante do Tyler e da Lily.
E eu até desconfiava que também fazia isso as vezes, mesmo odiando
demais o gesto.
— Vamos? O momento garotos já passou?
— Passou, porque nem garotos eles são mais! Isso é frustrante! Me davam
menos dor de cabeça quando eram crianças.
— É a vida, amor. Meninos se comportem, seu pai vai me levar para jantar
e pagar a aposta vergonhosa que perdeu! — Beatriz disse e nos olhou, sorrindo
tranquila.
— Qual foi a aposta? — perguntei tentando esquecer Lily no meu campo de
visão.
Já estava me torturando o bastante para ainda ficar olhando-a a todos os
instantes apenas para conferir o que eu já sabia.
Ela estava me evitando.
E isso acendia algo em mim que eu não queria dar vazão.
— Nada que precisem saber por hora.
— Sexual?
— Não! Essa foi a última... Dessa vez peguei leve com seu pai!
Assim que olhei para ele pude notar o olhar apaixonado que estava presente
em todos os momentos que ele estava ao lado da mulher.
Será que algum dia olharia para alguém dessa forma?
— Não posso ir no lugar do Ty? — perguntei porque eu realmente estava
sentindo algo no meu peito.
Desespero talvez!
Desespero por saber que Lily estaria sozinha com um homem que não seria
eu.
— Não! — Os dois falaram no mesmo momento, o que apenas atraiu a
atenção dos nossos pais que nos olharam estranho, sem deixar claro o que
pensavam.
E era uma merda quando faziam isso. Eu não tinha a menor ideia do que
passava pela cabeça deles e era frustrante pra caralho.
— Por que o Collin não pode ir? — Josh perguntou para os dois e eu os vi
engolir em seco, sem qualquer sombra de desculpa em mente.
Só me restava livrar a barra antes que ferrassem com tudo.
— Porque eu e Lily brigamos no Brasil e ela não quer ficar jogando
conversa fora comigo.
Falei a verdade em partes e omiti o que não valia a pena ser contado. Josh e
Beatriz percebiam a mentira de longe e eu estava fora de encrenca. Preferia paz
para pensar no que fazer com clareza, já que eu não estava nem um pouco bem
em ficar sabendo que Lily tinha seguido em frente e planejava ficar com outros
caras quando meu amigo nem subia ao pensar em outras mulheres.
Não era justo apenas eu ficar com os vestígios daquela noite!
Nem ferrando!
Precisava arrumar a bagunça e, principalmente, queria minha vida sexual
ativa de volta.
Não sabia em que inferno estava vivendo para ela tomar conta da minha
mente toda vez que eu ameaçava ficar com outra, mas eu sabia que uma hora ou
isso acabaria bem ou acabaria muito mal.
Dois extremos.
Duas verdades.
E eu não era ingênuo para achar que toda aquela palhaçada não significava
alguma coisa.
— Por que brigou com ela?
— Queria ficar com a Chloe, mas Lily disse para não tentar nada com a
amiga, porque eu não presto e blá blá blá!
— Lily? — Josh perguntou para ela, que disfarçava muito mal por sinal.
Seríamos pegos na mentira e teríamos nossas bundas chutadas. Ou melhor,
eu teria, porque ela sempre foi a menininha do papai e eu o cafajeste assumido.
Apesar que agora Tyler estava ali para contestar até mesmo esse meu título.
Que levasse!
Pegar mulher não era a minha maior preocupação. Tentava primeiro
entender o que acontecia comigo toda vez que eu lembrava de uma.
No treino, dizer que eu tinha sido uma merda era um elogio. Não rebati
nenhuma bola, uma mísera bola! Como eu poderia começar a temporada com ela
dominando todas as minhas terminações e me deixando perdido, impotente e
sem capacidade nenhuma para jogar?
Era uma grande merda!
Imensa!
Os patrocinadores cairiam em cima como moscas quando percebessem que
eu não era lá o garoto de ouro dessa vez.
Fodido!
Sim, eu estava fodido!
— Está tudo bem, pai. Sabe como eu e Collin somos, uma hora a gente
briga e na outra já estamos bem de novo.
— Certo. — Ele olhou dela para mim e pareceu realmente desconfiado —
Vou sair e quando eu voltar quero conversar com os dois, em particular. Me
esperem!
Quem acabara de engolir em seco tinha sido eu.
— Está tudo certo, não precisamos conversar... Tenho umas coisas pra
resolver no apartamento...
— Essas mulheres não podem esperar? — Ele perguntou, com uma sombra
de sorriso no rosto. Mal sabendo que a mulher que dominava a minha cabeça no
momento era a sua filha.
Olhei para ela, que parecia machucada por ouvir aquilo e me amaldiçoei
mentalmente por ser o motivo para a sua tristeza. Mesmo que dessa vez eu não
tivesse culpa.
— Sabe como Collin se importa com elas. — Lily disse e cruzou os braços,
em uma postura nada boa.
Isso porque nem era eu que estava todo cheio de graça com outra pelo
telefone.
Era muito mais santo que ela nessa parte.
Na última semana tinha sido, pelo menos. Uma verdadeira semana sabática!
E eu não costumava ficar mais do que três dias com a minha cama vazia.
— E Ross? Não está com ele ainda, para sair com outro homem? — Eu
queria soar calmo, mas sabia que soara raivoso e com ciúme.
Dos dois caras.
— Terminei com ele hoje. Não fale o que não sabe, irmão!
Passei a odiar aquela palavra na boca dela, e a ironia na sua voz apenas
aumentou meu ódio.
— Até que enfim, filha! — Josh e Beatriz que ainda acompanhavam nosso
pingue-pongue verbal decidiram que a conversa havia acabado e se mandaram,
deixando nós três sem termos o que dizer.
Tyler se levantou e foi para algum lugar da casa, dando privacidade para
que eu e ela conversássemos. Mas o problema é que eu não sabia o que dizer...
Que palavras a deixariam tranquila e sem raiva de mim?
Talvez nenhuma.
— Não precisamos conversar, estávamos bêbados.
Não estava tão fora de mim assim. Me lembrava de algumas coisas e tinha
plena noção de que fiz aquilo porque era o que eu queria. Nem mesmo a bebida
me deixaria tão desnorteado a ponto de fazer algo que não desejava.
A minha sorte é que ela ainda não desconfiava dessa verdade.
— Eu não estava bêbado a ponto de não saber o que fazia, gatinha...
Ela levantou da poltrona e sentou do meu lado. Muito mais corajosa do que
eu me sentia no momento. Era difícil admitir que tinha feito uma coisa muito
errada e gostado dela mais do que qualquer outra coisa na vida.
Só não sabia de onde tinha surgido aquele impulso que me puxava direto
para ela naquela noite. Era como se eu quisesse lutar contra e não conseguisse
nem ferrando.
— O que quer dizer?
— Não é linda e burra, entendeu exatamente o que eu quis dizer. Não estava
tão ruim e você muito menos! Vamos parar de fugir dessa verdade e aceitar que
erramos e que essa coisa não pode mais se repetir.
Sua feição mudou completamente e a sua mágoa era o martelo que batia
forte contra meu tórax.
Eu não era bom com as palavras e, definitivamente, não era bom em
explicar as coisas. Meus pensamentos não eram aqueles que expressei, mas
estava confuso e não sabia o que dizer para ela.
Quando Lily estava perto, minhas palavras simplesmente evaporavam e se
tornava impossível dizer algo coerente. Isso já acontecia antes, com menos
frequência, mas acontecia, agora, depois de tudo, eu jurava que aconteceria em
todos os momentos que eu a visse.
— Por mim, você que engula seu pênis! Idiota!
Ela disse, se virou e saiu como um raio da sala. Me deixando tonto, sem
saber quando essa mudança aconteceu na nossa vida.
Minhas pernas estavam no lugar dos meus braços e meus braços no lugar
das pernas, no sentido figurado, tamanha a loucura que me invadia. Nada no seu
lugar estava certo e nem mesmo meu coração, porque eu podia jurar que o sentia
indo embora junto com ela.
E isso era uma porcaria! Das grandes!
— NÃO PRECISA IR. — falei para o Ty que teimava em me acompanhar
de perto até o café.
Ele sabia que o lugar era público e seria praticamente impossível o homem
fazer alguma coisa.
— Claro que preciso. Além disso, Collin está tornando meus segundos um
inferno, não parou de me ligar até agora... Se eu soubesse que ele piraria assim,
não teria avisado que estava te acompanhando.
Revirei meus olhos.
Collin não sabia o que queria e eu tinha a maior certeza do universo sobre
quem queria.
— Ele é um idiota.
— Não posso discordar. Mas realmente está preocupado... Ele está confuso,
Lily, consigo notar isso toda vez que ele te olha. Não sei ao certo o que
aconteceu entre vocês, mas isso o marcou, assim como marcou-a também. O
mais certo é os dois criarem coragem, sentar e conversar. Conversa quase sempre
resolve, uma conversa sincera.
A hipocrisia em pessoa falando comigo!
— Hipócrita!
— Falar é bem mais fácil do que fazer, irmã.
Sentamos em uma das mesas ao lado do vidro, querendo ver as pessoas que
passavam do lado de fora.
Eu com óculos escuros e Ty do mesmo jeito, tentando disfarçar pelo menos
um pouco as nossas identidades. Quando percebiam quem éramos, as coisas
ficavam frenéticas e difíceis de conter e andar com seguranças o tempo todo era
um saco.
— Vai ficar na mesma mesa que eu? — perguntei assim que ele não deu o
menor sinal que levantaria.
Tinha passado da idade em que precisava de babá em um encontro
amoroso. E isso há uns bons anos.
— Só até o cara chegar. — Ele olhou para o celular e franziu as
sobrancelhas. — Collin tá perguntando onde estamos, posso falar?
Não.
Se contasse ele provavelmente apareceria e atrapalharia tudo. Apostava que
o meu celular que não parava de vibrar no meu bolso, era ele tentando falar
comigo assim como perturbava o Ty.
Mas eu nem perderia tempo olhando, não era obrigada a isso. Não precisava
me humilhar para ficar com alguém que achava que tínhamos sido um erro.
Porque para ele, categoricamente, aquela noite tinha sido isso. Minha paciência
era zero e eu me encontrava em conflitos muito maiores do que esse para
enfrentar.
E sozinha...
— Não. Nem responde, senão vai ficar mandando mensagem.
— Ainda acho que deveriam conversar! Nada vai mudar se tentar “maquiá-
lo” com um cara qualquer... Sabe disso melhor do que eu.
— Não vai funcionar.
— Porra, ele tá ligando! Deve estar mesmo muito nervoso pra me ligar,
quase nunca liga para as pessoas.
Para ele. Eu e Collin vivíamos nos falando pelo celular. Achava até que eu
conversava mais com ele do que com meu pai e minha mãe.
Olhei para o parque que ficava bem à nossa frente e respirei fundo.
Estava cansada de tentar ser sempre o que ele precisava, querendo que me
notasse e amasse como eu era. Parecia ser o único capaz disso e agora eu já
acreditava no contrário, que ele era justamente o mais incapaz de o fazer.
— Cansei de tentar, Tyler.
— Nem precisava falar, é fácil de notar. E lá vem seu príncipe, Cinderela.
Vou dar uma volta, mas estarei por perto, qualquer coisa é só acenar com a mão
ou mandar um sinal telepático de irmãos.
— Pode deixar.
Eu falei e ele piscou, saindo do meu campo de visão assim que o homem se
sentou à minha frente.
Pelo menos Tyler tinha noção que eu precisava de espaço e não ajudaria em
nada ficar sentindo seu olhar sobre mim, enquanto conversasse com outra
pessoa.
— Seu irmão não confiou? — Enrico perguntou, parecendo não se importar
com isso.
Na verdade, nem era Ty que não confiava e sim meu pai e eu, literalmente,
preferia meu irmão ao homem que achava ter que ficar todos os instantes me
vigiando.
Me sentia sufocada e presa na sua bolha de proteção.
Hora ou outra, papai teria que parar com essa bobagem e aceitar que eu já
não era mais a sua princesinha, que corria ao seu auxílio toda vez que me ralava
ou quando pedia uma coisa e a mamãe não dava.
Eu era adulta, e ele já não poderia me proteger de tudo.
— Meu pai.
— Josh Currey... A verdadeira lenda do basquete.
Odiava quando as pessoas me lembravam disso. Ocultava meu sobrenome
ao máximo para que não me associassem à sua imagem, mas isso não mudava
muita coisa, já que ele aparecer na maioria dos desfiles evidenciava o nosso
parentesco. Não queria me sair bem só por causa dele, queria trilhar meu próprio
caminho. Mas era a filha do astro e tinha que conviver com os holofotes em
mim. Desde criança tudo era notícia, e sair de casa era praticamente uma corrida
das olímpiadas para fugir dos fotógrafos. Então, sabia que conseguir esconder
não seria uma possibilidade. Mas falava com todo o orgulho que ele não
desempenhara papel na minha carreira e que tudo eu conseguira com meu
esforço.
Prova disso era que agora eu era Lily Currey e não somente a filha de Josh
Currey.
Collin era a mesma coisa. Collin Currey, um dos jogadores mais famosos de
beisebol da atualidade. Com a sombra de ser filho adotivo do jogador de
basquete esquecida na mente das pessoas.
Tyler não era muito de fama e escolhera uma profissão em que não
chamaria atenção nenhuma.
Ele estava feliz, então, eu também estava feliz por ele. Simples assim.
— Você não gosta que te lembrem dele, não é?
— Deixei tão claro?
— Evidente.
— Certo... Com o que você trabalha? — Eu não tinha muito assunto com
ele e não me parecia ruim começar com esse.
— Sou estilista.
Interessante. Estilista.
E eu modelo.
Muito favorável para ele me chamar para sair.
— Não é o que está pensando! — Se apressou em dizer, provavelmente,
notando os pensamentos estampados no meu rosto.
— Não?
— Claro que não! Eu sabia quem você era, mas não foi por isso que resolvi
conversar, foi apenas por sentir que era mais do que deixava as pessoas verem.
Faz sentido pra você?
Até que fazia.
— Não deve ter olhado certo! Sou exatamente o que aparento ser.
— Além de maravilhosa é modesta?
Senti minhas bochechas ardendo com a sua fala direta.
— Não sou nada disso! — sorri, me sentindo mais leve com a mudança de
assunto parental.
— Não direi mais nada, percebi que não gosta muito de ouvir elogios.
E realmente não gostava muito, eles me deixavam sem jeito e sem saber
como responder à altura.
— Por quanto tempo ainda ficará aqui? — Ele perguntou e eu puxei a
minha agenda mentalmente.
Era meio perdida nessas coisas, mas tinham pessoas que não me deixavam
esquecer nem ferrando qual o próximo lugar que eu deveria estar.
— Poucos dias... Tenho uma campanha em Florença.
3
— Questo suona perfetto!
Agora entendia aquele fascínio que eu sentia.
Italianos eram de fato sedutores ao extremo e eu sabia disso por experiência
própria.
— Agora entendo.
— O quê?
— Seu charme nato! Italiano! — confirmei o que pensei no aeroporto.
Ele gargalhou e eu fiquei encantada. Estava confortável conversar com ele e
eu já não me sentia mais tão relutante com a sua presença.
Não tinha sido de todo ruim, afinal.
E ele também não era um maluco, um excelente ponto.
— Somos todos sedutores?
— Não diria todos, mas a maioria!
— Então se eu te convidasse para um jantar, à sua altura, ouvindo Con te
partirò, poderia chegar perto da mulher que esconde?
Eu imaginei a cena que ele descrevera e a paisagem incrível da cidade, com
uma trilha sonora daquelas, com certeza deixava meu coração batendo mais
forte. Não era à toa que eu sempre tomava cuidado com italianos.
Ele me fazia questão de lembrar disso.
— Talvez, quem sabe! — dei de ombros.
— Não sou muito dado a desafios, mas esse estou realmente tentado a
aceitar.
Que desafio?
Eu não estava o desafiando a nada. Pelo amor de Deus, só estava tentando
soar normal!
Acabara de terminar um relacionamento e, absolutamente, não precisava de
alguém atrás de mim. Se fosse a pessoa certa, talvez. Mas qualquer outro soava
aterrorizante.
— Acho melhor eu ir, Enrico.
— Claro! Mas, ainda sinto que nos encontraremos e não costumo errar nos
meus palpites... Até mais, Lily.
Ele falou baixo e se levantou, assim como eu acabara de fazer, se
despedindo de mim com um beijo suave na bochecha.
Sua proximidade trazendo o perfume que ele usava diretamente até mim.
Uma mistura inebriante de masculinidade e homem confiante.
Seus olhos verdes me fitavam, nebulosos e combinados com os seus
cabelos negros, ligeiramente desarrumados o deixavam tentador. Pena que ainda
assim não superasse aquele corte na sobrancelha com o qual eu fantasiava dia e
noite.
Achara ele lindo, traços fortes e bem definidos, mas a menção da imagem
do Collin na minha cabeça, já desistia de qualquer tipo de envolvimento. Seria
apenas colocar alguém na equação que estaria ali apenas por estar. E eu
sinceramente, não queria me culpar por usar alguém, preferia sofrer sozinha a
tentar esquecer um amor antigo com uma pessoa nova.
— Obrigada pela companhia! Você é... — dei uma pausa para pensar em
uma palavra que o definisse sem insultá-lo, claro — um homem interessante.
Ele não pareceu gostar, mas decidiu ignorar meu comentário, se virando e
indo embora. Provavelmente, querendo se afastar de mim antes que eu falasse
mais coisas idiotas.
O café que eu pedi antes dele chegar, intacto na mesa, sendo que nem dera
tempo a ele de pedir algo.
Eu não tinha o mesmo jeito que Chloe com os homens, ela os deixava
fascinados e completamente interessados. Talvez fosse porque preferia sorrir a
ficar fazendo perguntas assim como eu fazia.
Mandei uma mensagem para o Ty avisando que estava indo embora e
aguardei alguns minutos antes que ele se colocasse ao meu lado, como se nada
demais tivesse acontecido. Não perguntou o que eu conversei com o homem e
também não quis saber nenhum assunto relacionado a isso, apenas me
acompanhou, quieto e concentrado nas coisas que povoavam a sua mente cheia
de ideias.
— Está tudo bem?
— Está sim...
— Certeza?
Eu sabia quando ele não estava bem e hoje era com certeza um desses dias.
Entretanto, não poderia pressioná-lo, era como eu, toda vez que alguém
ficava perguntando as coisas, fazia com que o silêncio fosse mais presente.
— O que sente quando olha pra ele?
Eu sabia que ele estava falando do Collin, mesmo que não tivesse citado
seu nome.
— Só sinto. Sinto que eu encontrei o que procurava mesmo sem ter a noção
de que estava mesmo procurando em si. Sinto meu coração bater apressado perto
dele, como se fosse as músicas da Aretha Franklin ecoando no meu peito, mas
também sinto uma vontade absurda de chutar as bolas dele por ser tão idiota.
Tyler gargalhou e era exatamente isso que eu esperava. Meu irmão parecia
tenso demais e eu queria aliviar o clima, mas a última parte não era mesmo de
todo mentira.
— Eu perguntei sério.
— E eu respondi. A gente apenas sente, Ty! Não há como descrever o amor,
há apenas como sentir.
— Você fala como o papai, meu Deus!
— Nós dois... Só que você não percebe isso. O Collin é o que mais soa
como ele, às vezes.
— Não posso discordar.
— E ele te deixou em paz?
— Acha? Claro que não! Ainda me liga de cinco em cinco minutos
tentando descobrir onde você está. Não duvido nada que ele esteja te esperando
no seu apartamento. Erro seu, irmã, quando deixou a senha para todos nós. Não
imaginava que as coisas realmente chegariam nesse ponto, não é?
— Não.
— Pois agora aguente as suas escolhas e enfrente o cara antes que tudo
desça por água abaixo. — Ty assoviou e fez um gesto com a mão da água
descendo.
Um verdadeiro idiota. Nem parecia meu irmão. Pior que nem podia dizer
que ele era adotado, tinha as mesmas manias que eu, altura e traços faciais mais
do que semelhantes.
— Vai fazer alguma coisa hoje à noite? Poderíamos jantar, o que acha?
— Que estou decaindo! Jantar com a minha irmã? Nada me soa mais
vergonhoso! Mas eu topo, não estou com nada na agenda para essa noite, a de
amanhã talvez, mas com certeza, a de hoje não.
— Trocaria sua irmã por uma mulher qualquer?
— Sabe que não, estava apenas descontraindo.
— E você, Ty, já sentiu o amor?
Ele tinha me feito a pergunta, logo, já tinha sentido e só não queria ser
corajoso o suficiente para admitir.
Era difícil se entregar ao amor e esperar que ele fosse piedoso.
— Sei lá. Ultimamente, não tô sabendo nada na minha vida.
Mal sabia ele que quando se começava a pensar assim era porque já estava
perdido.
— E AÍ, TUDO bem? — Um dos caras me perguntou, mas eu não sabia
definir.
Lily devia estar se encontrando com um homem que não era eu nesse exato
momento e essa ideia me fazia apertar os dedos da mão querendo que a dor
amenizasse a confusão da minha cabeça.
— Estou. Estou ok.
Ele não pareceu confiar, nem eu ao me ouvir soar transtornado daquela
forma.
— Com essa cara de merda? Com certeza você não está... O que aconteceu
dessa vez?
— Nada. Vai se ferrar e me deixa em paz!
Eu só queria treinar e ir embora, era tão difícil me deixar fazer isso?
— Certo, não está mais aqui quem perguntou. — Steve levantou as mãos e
saiu de perto da mesa de reunião do time.
O boné na minha cabeça virado com a aba para trás e minhas costas
apoiadas na cadeira, aparentando uma calma que eu não sentia nem em sonho.
Estava completamente desanimado e não era um exagero dizer isso.
O que inferno estava acontecendo comigo?
Bati na mesa, irritado e virei a cadeira para olhar o campo visível pela
parede de vidro da sala. Queria mais do que tudo me concentrar no treino, mas
era a mesma coisa que pedir para sair voando. Claramente impossível.
Cansei de me manter à sombra e me levantei para ir até onde o pessoal
treinava. Não podia deixar que essa confusão atrapalhasse meu desempenho e
não podia deixar que a minha cabeça continuasse a girar me deixando tonto.
As coisas cairiam hora ou outra. Por minha culpa ou dela, não faria
diferença.
— Até que enfim se juntou a nós, princesa.
Olhei para o Steve e deixei claro que não estava para brincadeiras hoje.
Geralmente, eu era o primeiro a aliviar o clima com alguma piada idiota, mas
hoje realmente não era meu dia.
— É mulher? Que merda, cara! Esquece e segue em frente... Não é como se
fosse a única mulher no mundo a querer ir pra sua cama.
Ele não sabia de nada.
Lily não era qualquer mulher e para piorar a situação, eu sabia que não,
porque só sentia minha pulsação acelerar quando estava perto dela. Era como se
me atraísse mesmo sem querer. Meu corpo inteiro parecia pegar fogo e a vontade
de ficar cada vez mais perto era gigantesca.
Oh, merda!
O que eu estava sentindo?
— Cala a boca.
— É a Shayla?
Mas que porcaria! Até quando ele continuaria tentando adivinhar?
— Vá a merda, Steve! Não te interessa.
E realmente não interessava. Ser um dos meus amigos não dava o direito de
ficar xeretando minha vida.
Desisti de continuar me alongando e segui até o campo, onde o gerente e os
dois treinadores conversavam entre si. Assim que me olharam, percebi que não
estavam contentes com a minha falta de empenho.
O que eu diria para eles quando nem eu estava contente comigo mesmo?
Se eu não tivesse sido tão covarde, poderia ter resolvido tudo em um piscar
de olhos. E dizer que tinha sido um erro para Lily não fora a minha melhor
solução, sem sombra de dúvidas. Consegui ver através dos seus olhos a dor que
eu causara e aquilo apenas me deixou pior.
— Currey! — Os três gritaram ao mesmo tempo, ao notarem que eu
passaria reto por eles e seguiria meu caminho até o campo.
Sempre que me chamavam assim eu me lembrava do meu pai e não me
achava nem metade do homem que ele era para usar esse sobrenome. Ainda mais
depois de ter magoado a sua filha.
Me virei a contragosto e fui até eles.
Não teria como evitar de qualquer forma.
4
Não ganharíamos a World Series se eu ficasse fugindo.
— Precisa de alguma coisa? — Carter perguntou assim que me aproximei
deles.
— Não, treinador. Estou bem.
— Já faz uns dias que seu desempenho não é satisfatório, Currey, tem
certeza de que está tudo bem? Estamos apostando alto nessa temporada e seria
bom se demonstrasse mais comprometimento com o time.
Mais comprometimento?
Puta merda!
Eu vivia para treinar e me sair bem nos jogos e por causa de poucos dias em
que eu não estava no meu melhor momento, eles se viam no direito de falar “seu
desempenho não é satisfatório”?
Virei-me e os deixei falando sozinhos. Precisava focar em alguma coisa
para não deixar que a raiva tomasse conta de mim.
Peguei um dos tacos e segui até a defesa.
Rebati uma das bolas com tanta força que senti o taco se quebrando na
minha mão. Nem mesmo ele tinha aguentado a minha raiva e em compensação
eu não consegui acompanhar onde a bola foi parar, se na arquibancada ou ainda
mais longe.
Nem me preocupei em correr pelas bases. Era Home run. Só esperava que
eu conseguisse algo parecido no jogo, sinceramente, não estava tão confiante
como costumava ficar.
— Mais um? — O lançador gritou e eu sorri.
Costumava quebrá-los com frequência, mas isso era normal. Com a força, o
mais difícil era o objeto se manter intacto.
Girei no ar o taco novo, para sentir o seu peso e ter uma noção da potência
que precisava empregar para a bola ir o mais longe possível.

Lily se abaixou e merda. Merda. Merda!


Meu braço congelou com a lembrança e minha boca se abriu em choque.
Parecia que eu estava sentindo tudo novamente e a intensidade do desejo
amoleceu as minhas pernas. Abandonei o taco e saí meio desorientado do
campo, sem me importar com quem olhava a minha ação e achava estranho. Se
já estava difícil me concentrar antes, depois de lembrar essa parte da noite, eu
realmente não conseguiria seguir com nada.
Nem mesmo fingir parecia ser possível.
— Collin, onde você vai? — O gerente perguntou e eu fiz um sinal que
depois conversava com ele. E mesmo sabendo que levaria uma multa por
abandonar o treino dessa forma, era impossível não fazê-lo.
Se eu continuasse em campo, poderia acabar presenteando todos com uma
ereção gratuita e um vexame digno de primeira página.
Assim que passei pelos caras, sentados no banco, percebi os olhares
preocupados em mim.
Não me importei.
Peguei minhas coisas e procurei meu celular, discando para a única pessoa
que poderia aliviar um pouco do meu inferno.
Nós precisávamos colocar as coisas a limpo e não teria nada que me faria
mudar de ideia, nem mesmo a minha consciência.
***
Ela não queria falar comigo.
E eu não quis ir procurá-la antes, por orgulho, mas não quis.
— Lily... — falei em uma prece, enquanto dirigia, ouvindo o som de
chamada encerrada.
Soquei o volante do carro e mudei de direção, deixando meu apartamento
de lado e seguindo direto para o dela, torcendo para que ela estivesse lá e não me
expulsasse com ignorância.
O que na verdade era impossível, Lily não era ignorante, mas eu sabia o
quanto a sua raiva poderia ser sincera.
Estacionei de qualquer jeito e entrei correndo no prédio. A senha de acesso
ao seu apartamento correndo pela minha mente, se repetindo incontáveis vezes
enquanto eu me mantinha nervoso pela conversa que teríamos.
Assim que abri a porta, a vi deitada no sofá, lendo um livro, apenas de robe.
As imagens da noite invadiram a minha mente e eu entendi claramente
porque me deixei levar. Ela era maravilhosa, uma verdadeira ninfa sexual feita
para me fazer pecar.
Lily estava tão concentrada na leitura que não me notou admirando-a.
Fechei a porta cuidadosamente e me aproximei a passos lentos e silenciosos.
Queria surpreendê-la antes que tivesse tempo para fugir de mim.
— Lendo, gatinha? — falei baixo, assustando-a e vendo o livro cair da sua
mão com o susto.
Dei um sorriso involuntário, achando graça da sua cara de assustada.
— Inferno, Collin! Você me assustou! — Ela disse, abalada e com o cabelo
bagunçado pelo seu movimento brusco.
— Eu percebi.
Olhei nos seus olhos e senti aquela conexão novamente, prestes a me
consumir totalmente. Ignorei o máximo que consegui e tentei focar no presente,
na conversa que eu teria com ela.
Precisava entender o que era aquela coisa e o que poderíamos fazer.
Talvez acabar?
Não, acreditava que acabar não era a palavra mais correta para o que eu
queria que acontecesse.
Levantei a sua perna e sentei no sofá, deixando seus pés apoiados no meu
colo, sentindo que aquela proximidade era o máximo que eu conseguia antes de
ceder a atração que pulsava como doida nas minhas veias.
— Precisamos conversar. Dessa vez, de verdade.
Aquelas frases na casa dos nossos pais não tinham sido uma conversa,
afinal.
— Não acho.
— Sabe que sim.
Evitei olhar para ela, fingindo que prestava atenção em alguma parte da sua
decoração, quando na verdade estava mais do que ciente da presença sufocante
daquele magnetismo novo que eu sentia.
Ou ele era mais antigo do que eu me dava conta?
Não saberia dizer.
— É só esquecer, Collin...
Como inferno eu esqueceria com as memórias me bombardeando
constantemente imagens dela sem roupa, afoita, entregue e parecendo uma deusa
do tesão?
Inferno! Eu conseguia até sentir o desejo me percorrendo apenas em
lembrar. Não conseguia nem imaginar o que sentiria se tudo acontecesse
novamente.
Respirei fundo na inútil tentativa de me acalmar.
Não deveria pensar assim nela.
Não deveria.
Se eu repetisse esse mantra, a ideia sumiria da minha cabeça?
— Não tem como, gatinha.
— Aconteceu... Não há muito o que se fazer quanto a isso, mas prometo
que não vou falar para ninguém.
Eu estava pouco me fodendo para isso!
Quando ela entenderia o que realmente eu estava querendo discutir?
— Outras pessoas é o que menos me importa no momento, Lily! — falei
amargurado e a senti se retesar. — Só quero entender o que tá rolando entre a
gente. Não sei nem o que pensar mais! Eu não sei! — passei as mãos na cabeça,
irritado por não entender eu mesmo.
A dúvida me engolfava e me deixava em estado de pânico, sem saber que
decisão tomar.
Trabalhava muito bem sob pressão, mas nesse instante já não conseguia
acreditar verdadeiramente nisso.
— Collin, foi idiotice, eu sei. Esquece! Vai ser melhor pra nós dois, só
espero que nossa relação não mude por causa desse infeliz acidente.
Como se eu tivesse tropeçado e caído de pau duro em cima dela.
Meio impossível de acreditar que aquilo pudesse ser considerado apenas um
acidente.
— Não foi um acidente, Lily.
Suspeitava que o único que não sabia de nada ali, era eu.
— Não precisamos tornar isso um acontecimento maior do que ele é!
Ignora e segue sua vida, assim como eu vou fazer!
Mas que porra ela estava falando? Maior do que era? Inferno, que eu
conseguia sentir seu sabor na minha boca se focasse nas lembranças o suficiente
para perder o pouco de tudo que eu ainda mantinha na linha.
— Eu preciso entender, Lily! Preciso entender porque a sua imagem não sai
da minha cabeça e porque merda eu não consigo ficar com outra mulher sem me
lembrar da nossa noite juntos. Eu só preciso entender... Só preciso entender,
Lily...
A mudança na sua feição foi nítida e o que antes poderia ser julgado como
rancor, agora refletia uma confusão que eu multiplicava como erva daninha em
mim.
— Collin, eu amo você. Amo há tanto tempo que já nem sei mais quando
percebi que amava, só amo! Por isso, acho que é melhor esquecermos o que
aconteceu.
Meu corpo inteiro travou. Nenhum pensamento coerente passava pela
minha cabeça, parecia que eu estava caindo direto para a morte e a única coisa
que eu podia fazer para evitar a dor era não respirar.
Sentia meu peito ignorar a necessidade do meu corpo por oxigênio e isso
me parecia normal, porque todo o resto era o mais absoluto significado do caos.
Lily me amava.
Deus! Quão ruim isso poderia ser?
Eu não merecia nem metade da mulher que ela era, quem dirá seu coração.
Seríamos massacrados além de tudo. Como se o resto já não soasse louco e
improvável, tremia em pensar como soaria na cabeça dos nossos pais.
Queria falar alguma coisa para ela, mas eu estava em choque, sem qualquer
palavra em mente. Sem qualquer noção do que fazer ou se era melhor ficar ou ir
embora.
— Você... me ama? — questionei pausadamente, tentando evitar que o
desespero tomasse a vez.
Eu estava prestes a gaguejar.
Ficar maluco!
Perder a noção de lugar!
Me sentia uma criança, logo depois de descobrir que Papai Noel, coelho da
páscoa e afins eram uma completa mentira.
Não tinha mais vinte e cinco anos. Eu tinha cinco e esperava apenas que
guloseimas pudessem preencher o vazio de algo que eu não sabia.
— Amo.
Eu a amava?
O que eu sentia por ela?
Deus! O que eu poderia sentir por ela?
E se eu a amasse também?
As perguntas eram muitas e as respostas poucas. Levantei, completamente
absorto em coisas que eu não comandava na vida. As palavras do Tyler
dominando a minha compreensão e, finalmente, deixando a marca que
precisavam deixar.
Tudo fazia sentido. Tudo me deixava ainda mais confuso. Tudo me
mantinha na linha que eu não deveria seguir. Uma jogada na zona de strike que
por mais controverso, eu não poderia rebater. Meu coração se tornando a bola
que eu rebatia com força, reverberando o impacto por todo o meu corpo.
Levantei apressado, sabendo que não poderia ficar perto dela por mais
tempo. Sabendo que o risco que eu corria era de me machucar muito mais do que
um simples ralado.
Machucar ela ainda mais.
— Collin?! Para onde vai?
Não respondi.
Passei pela porta e a ouvi batendo com força no batente. Transtornado e
perturbado com a revelação.
Lily me amava...
Me amava...
E esse sentimento mudava tudo.
EU ABRI MEU coração e ele saiu correndo. Como se eu falar que o amava
fosse a pior coisa que ouviu na vida.
Corri para o banheiro e enfiei meu dedo na garganta, sentindo a vergonha
me percorrer impiedosamente. A sensação de falhar mais uma vez sorrindo da
minha situação e humilhando todo o meu esforço para superar a crise.
Uma situação ruim desencadeando outra pior ainda.
“— Vou te encaminhar para um psiquiatra. Trabalharemos em conjunto, os
três, para superar isso.
— Não confio em ninguém, Sharon. Se isso vazar pode acabar com a minha
carreira.
— Somos profissionais, Lily. Não podemos e não devemos passar qualquer
tipo de informação dos nossos pacientes.
— Não quero, Sharon.”

Não voltei depois disso, com o medo dominando todas as minhas ações e
me fazendo regredir em tudo o que havia conseguido em poucas horas.
Meu castelo de mentiras ruindo em questão de segundos, enquanto eu me
afundava novamente na doença.
A vontade de vomitar apareceu e eu a abracei como se fosse a minha
salvação, quando na verdade, ela só provava o quanto eu era fraca. Coloquei
para fora toda a minha raiva e medo.
Coloquei para fora toda a confusão que se instaurara em mim.
Coloquei para fora a vergonha por ter falado que o amava e ele fingir que
não era nada.
Coloquei para fora a decepção pela mulher que eu havia me tornado.
E por último, o fracasso por não conseguir ser metade do que precisava ser.
Sentei no chão do banheiro e chorei com amargor, sentindo as lágrimas
descerem livres pelo meu rosto, deixando um gosto salgado quando alcançavam
minha boca.

“— Lily, se as crises ficarem constantes, teremos que colocar em pauta a


possibilidade de internação. Para seu próprio bem.
Eu me recusava a olhar para ela e concordar com aquilo. Minha carreira
estaria arruinada e meu esforço para superar apenas me faria afundar mais.
— Minha carreira seria arruinada, Sharon!
— É o momento para se preocupar com a sua saúde. E garanto que
faremos o possível e impossível para que nada disso acabe caindo na mídia.
Mas é claro que se realmente se comprometesse com o tratamento, com o
acompanhamento nutricional, nada disso seria preciso. E como disse, o apoio
da sua família é fundamental. Converse com eles.
Como se ela pudesse impedir tudo de vir à tona, a minha melhor opção
parecia mesmo ser sincera com todos.
Só não sabia se tinha força para isso.”
Encostei minhas costas na parede fria e admiti para mim mesma, que talvez
eu não conseguisse mesmo acabar com aquilo sozinha. Precisava de ajuda. Mas
como eu pediria ajuda quando me sentia tão sozinha?
“— Tem que conversar com a sua família, Lily. Eles são uma parte
importante da sua vida.
Sharon continuava batendo nesse mesmo ponto. Sessão após sessão.
Conversa após conversa.
Eram uma parte realmente importante e exatamente por esse motivo, eu
preferia manter o orgulho deles em mim, do que acabar com ele, contando algo
tão estúpido que eu fazia.
Era maior que eu. Me via fazendo isso sempre que o nervoso caía sobre
mim, sempre que eu comia demais e a culpa me assolava. Me sentia incapaz de
manter as rédeas da minha própria vida.
Aquilo era a liberdade em uma prisão. A prisão que eu mesma escolhia
estar.”

Os soluços se repetiam, enquanto eu sentia aquele frio crescer no meu peito.


Era solitária. Uma solitária que escolhera ficar assim... Tinha uma família
maravilhosa e uma paixão secreta que me mantinha afastada de todos eles. Mas
ainda assim eram maravilhosos, sempre se preocupando comigo e me mantendo
a par das coisas mesmo sem merecer o mínimo de atenção deles.
Escondia um segredo gigantesco e ainda tinha a coragem de olhar para os
seus rostos e fingir que nada demais estava acontecendo.
Eu realmente não merecia ser amada daquela forma tão sincera, e entendia
Collin por ter fugido sem nem comentar acerca da minha revelação.
Quem era eu?
Uma pessoa que usava o trabalho para fugir dos problemas e se via cada
vez mais perdida neles.

“Fiquei quieta e olhei para todos os lugares, menos para Sharon.


Sabia que ela esperava que eu me pronunciasse, mas eu não achava que
poderia tomar uma decisão dessas de uma hora para outra. Preferia tentar
novamente a ter que admitir o fracasso.
Lily Currey era uma idiota com bulimia nervosa. Se as pessoas que
estudaram comigo soubessem disso, diriam coisas do tipo: sempre soube que
era esquisita.
O que eu de fato, era.”
Precisava mesmo contar para todos? Precisava mesmo ter a noção de que a
internação não estava tão longe?
Tudo estava atingindo pontos em que eu não conseguiria mais voltar. Meus
quilos diminuíam ainda mais, se é que era possível, e eu sentia como se pudesse
me perder na infinidade dos meus receios.
Minha garganta ardia e doía constantemente com o esforço e meu estômago
me mandava um sinal claro de que não tinha muito o que tirar dali, doendo de
tempos em tempos também. Efeitos de se fazer algo que não era normal, algo
que claramente agredia à minha saúde.
O gosto salgado prevalecia na minha boca e me fazia chorar ainda mais por
perceber que a vontade me dominara novamente e que poderia continuar fazendo
aquilo até que mais nada restasse em mim.
No meu estômago.
No meu coração.
Eu poderia colocar todas as coisas para fora? Talvez...
Mas a sensação de ceder ao desejo, me tornava uma viciada por senti-la
repetidas vezes em um curto espaço de tempo.
Voltei até a privada e esperei que a vontade passasse.
Ouvi um barulho no quarto, mas não consegui me recompor a tempo e
quando levantei os olhos, notei Tyler me encarando com um misto de desespero
e raiva.
Eu mentia para todos a todo momento e isso o incluía na equação.
Não me sentia melhor por fazê-lo, mas se ele se colocasse no meu lugar,
veria o quão difícil era a situação.
Minha mão tremia, refletindo as contrações que eu sentia como protesto do
meu estômago.
— Me diz pelo amor de Deus que isso não é o que estou imaginando...
Ele perguntou e eu apenas abaixei a cabeça, envergonhada por decepcioná-
lo.
Ty era um homem digno de orgulho, enquanto eu, uma mulher fraca e
deprimente.
— Eu não consigo parar, Ty — admiti e chorei ainda mais, sentindo os
espasmos correrem pelo meu corpo, mostrando uma realidade que não queria
mostrar para ninguém.
— Desde quando?
Há muitos anos... Porém, na época não era algo constante e eu só o fazia
quando passava por algo ruim, ou quando comia demais e meu estômago
reclamava.
Mas hoje em dia, esses episódios não eram somente nessas ocasiões, mas
em qualquer outra que despertasse sentimentos muito grandes que eu não
conseguia conter e precisava colocar para fora.
— Acho que no colégio... Mas agora ficou pior, tudo ficou pior, Ty! Falei
pro Collin o que eu sentia e ele saiu correndo. Me abandonou quando eu abri
meu coração. Estava sendo sincera e esperava o mínimo em troca, ele
simplesmente fugiu... Como se eu fosse a pessoa que menos queria ver.
— A culpa não é dele, Lily, a culpa não é de ninguém. Essas coisas estão
acima das nossas escolhas.
— Você não entende, Ty! Eu escolhi isso muito tempo atrás e agora preciso
lidar com as consequências.
— Não ouve o absurdo que está dizendo? ISSO NÃO É CULPA SUA!
Levanta, vem, vou te levar para algum médico, alguma coisa, pra mãe e pro pai,
sei lá! Só quero que pense no quanto é importante pra gente, irmã!
— Eu não mereço isso! Me solta! — falei irritada, querendo que ele me
deixasse em paz, remoendo as minhas dores e as aliviando da forma que eu
sabia.
Não que essas formas surtissem o efeito desejado, principalmente, a longo
prazo, mas no momento, por alguns instantes, eram as únicas capazes de acalmar
a ventania de falhas que eu carregava.
— Para com essa merda! Não tá vendo que tá perdendo a cabeça? — Ele
me sacudiu e eu chorei ainda mais forte, sabendo que Ty tinha toda a razão. —
Precisa de ajuda e eu não vou deixar que estrague a sua vida assim!
Deixei que ele me abraçasse e quando o fez, molhei a sua camiseta,
encharcando-a com lágrimas de tristeza misturadas com raiva por não conseguir
ser tão forte quanto queria ser.
— Vamos falar com o pai e a mãe.
Mexi minha cabeça no seu peito, deixando claro que isso era exatamente o
que eu não queria. Eles pirariam e achariam que tudo isso era culpa deles
quando claramente não era. Alguém poderia até ser culpado, mas esse alguém
não era nenhum dos dois.
Eram os melhores pais do mundo e eu acabaria fazendo-os duvidarem de
que demonstravam o amor, quando na verdade eles eram o amor na minha vida.
— Eles precisam saber. Não é justo deixá-los de fora de algo tão sério.
Eu sabia disso, mas era tudo muito mais complicado do que parecia.
— Eu não vou conseguir contar.
— Uma hora vai ter que fazer.
— Eu sei... Mas e se eu parar antes, Ty? Então, não vou precisar certo?
Só em olhar para os olhos do meu irmão conseguia notar que ele não
acreditava em uma resposta negativa para a minha pergunta.
— Não preciso responder essa pergunta, sabe a verdade.
Eu sabia, mas queria fugir dela tanto quanto fugiria em situações de perigo.
— O que vai fazer? — perguntei assim que ele se desprendeu do meu
abraço e seguiu para fora do quarto.
— Pegar alguma coisa pra você comer.
— Não vai descer nada, meu estômago está ruim pelo esforço e será a
mesma coisa que nada. Tudo vai voltar.
Ele me olhou, percebendo a gravidade de tudo, a forma como eu já sabia até
mesmo o que acontecia depois de um episódio. Já tinha passado por aquilo mais
vezes do que poderia contar e sabia como era tentar ir contra a força, mesmo
sabendo que tudo era provocado por mim mesma.
— Emagreceu quantos quilos?
— Eu não sei... Uns sete talvez.
— Pelo que entendi tudo piorou, e não consegue mais evitar...
Balancei a cabeça derrotada, sabendo que minha aparência devia ser
suficiente para provar o quanto estava acabada e cansada de lutar.
— Faz terapia?
— Faço...
— E como ninguém descobriu ainda?
— Digamos que eu saía bem disfarçada e que tudo seja feito em extremo
sigilo. — Sorri amarga por fazer coisas tão fáceis se tornarem tão difíceis.
Comer e não se culpar por isso deveria ser fácil.
Me sentir bem comigo mesma, também deveria ser fácil.
Ficar nervosa sem querer vomitar deveria ser mais fácil ainda. Afinal, era
só ficar nervosa, apenas isso.
Mas eu complicava tudo, sempre tinha sido dessa forma.
E válvulas de escape se tornaram necessárias para aliviar a pressão no meu
interior.
— Acho que essa é a única coisa que eu realmente me empenho em
disfarçar.
— Vou com você na próxima consulta.
Meu desespero foi o que o fez perceber que eu não estava comparecendo ao
consultório na frequência que deveria.
— Não importa se tem fugido disso, eu vou com você e vou te ajudar, só
não me peça para mentir para os nossos pais, porque eu não vou ser capaz disso,
Lily. Eles merecem saber.
— Por favor, só me dê um tempo para criar coragem e falar?
— Isso eu posso fazer. E o que a pessoa responsável pelo seu tratamento
diz pra você?
— Muitas coisas, mas na última vez, ela disse que a única solução que
poderia restar para mim parar com essas compulsões seria contar para eles,
tomar antidepressivos receitados por um psiquiatra ou me internar, caso
realmente nada surtisse efeito e eu piorasse.
Tyler ficou chocado e assim como eu, agora notava o quanto nada na
situação seria fácil de resolver.
— Tão ruim assim?
Balancei a cabeça confirmando.
— E se tentasse a todo custo evitar?
Ele realmente achava que eu não vinha fazendo isso durante esses anos
todos?
O que eu mais fazia na minha vida era tentar e somente há pouco tempo
desistira e deixava que as coisas acontecessem como aquele desejo desenfreado
dentro de mim pedia para que acontecessem.
— Eu tentei, Tyler! Tentei todos esses anos e de que isso adiantou? Basta
algumas coisas acontecerem que eu sinto a vontade imensa me dominar como se
eu fosse o hospedeiro e ela meu parasita.
— Esse é o problema! Você não percebe que não precisa se importar tanto
com certas coisas! Não pode controlar tudo, Lily, e talvez, se puder ser feliz e se
aceitar como é, tudo se torne mais fácil para lidar e seguir em frente.

“Você tem que se aceitar, Lily.


Eu me aceito, Sharon.”

Até meu irmão notara que isso não era verdade.


Eu não me aceitava. Eu me odiava por ser daquele jeito.
Eu queria ser uma mulher que Collin olhasse e desejasse assim como eu o
vi fazendo com outras.
Por que eu tinha que ser estranha? Esquisita?
Parecia que todos que se aproximavam de mim nutriam uma admiração
falsa e um desejo mais falso ainda. Era horrível. Eu me sentia horrível.
Aquela coisa toda não era porque eu queria sempre emagrecer, era porque
eu não me aceitava, não me achava nada que valesse a pena. E por mais
contraditório que pudesse parecer, sentia satisfação toda vez que me ajoelhava e
colocava tudo para fora, assim como sentia desespero e medo por notar que era
tão viciada nisso.
— Chega de conversas pesadas. Eu posso só ficar aqui... com você.
— E o jantar?
Eu lembrava que combinamos de jantar juntos, mas sinceramente, não
estava com a menor disposição para isso.
Ainda mais depois de um episódio tão recente.
— A gente deixa para um outro dia.
Abracei o meu irmão, com toda a força, percebendo que não importava o
que acontecesse, eu sempre teria com quem contar. Fosse ele ou meus pais, eu
não estava verdadeiramente sozinha nunca e devia colocar isso na minha cabeça
de uma vez por todas.
Tudo sobre astros

“Um beijo?
Ai, meu Deus, vadias me abanem!
Essa Currey está cada vez mais assanhada! Onde já se viu, partir pra outra
liga? Com alguém completamente fora do seu radar, inclusive? Só tenho uma
palavra para tal ato: egoísmo, nosso bom e velho egoísmo! Como se não
bastasse tudo pelo que temos que passar com esses homens mais ou menos,
sabendo que deus gregos andam pelo mundo como se fosse o Olimpo! Levando
doidas que não somos nós aos limites do céu!
Eu não mereço essa frustação!
Não, não mereço!
Preciso de alguém que também saiba usar o taco que tem, porque tamanho
sem aplicação de força para nada serve!
E sabem do que estou falando, não sabem? Daquele beijo de desentupir pia
em uma boate brasileira! Não quero levantar assuntos polêmicos agora, mas
que o beijo foi de arrasar, isso foi!
Vou até ligar pra diva C. depois dessa e gritar, querendo saber tudo!
Me invejem!
Sim, eu converso com o quarteto de mulheres maravilhas do basquete e só
tenho uma coisa a dizer:
QUANDO ELAS MENOS ESPERAREM, EU VOU ESTAR LÁ COM O
HOMEM DELAS!
Não custa nada sonhar, ainda bem!”
por Stephen Pharrell.

DIRIGI SEM DESTINO. Parando nos sinais e esperando que de uma hora
para outra tudo se tornasse mais fácil.
Me arrependia por ter corrido, mas eu realmente não sabia o que fazer.

“— Collin, eu acho que vou ficar com ele...


— Como assim ficar com ele?
— Ah, você sabe, virar mulher ou algo assim!
Eu sabia exatamente o que ela queria dizer, mas a raiva em mim não me
deixava raciocinar direito.
— Eu acho melhor não.
Se falasse que não, ela poderia voltar atrás.
— Por que?
— Ele não te merece.
Na minha cabeça ninguém a merecia. Lily era simplesmente perfeita
demais para qualquer merda que aparecesse. E se eu pudesse provar isso à ela,
me sentiria bem melhor.
— Mas se eu não escolher alguém, vou ficar virgem para o resto da vida!
— E qual o mal nisso?
Imaginá-la fazendo o que eu fazia dilacerava meu peito e se pudesse ficar
na ignorância, doeria muito menos.
— Todas não são mais, só eu! Sou o patinho feio, você sabe, então, devo
aproveitar a única oportunidade que surgiu.
Meus pelos se arrepiavam de irritação só em pensar em um cara fazendo
com ela o que eu costumava fazer com as garotas. Ficar e um tempo depois já
não se importar mais. Lily não merecia isso.
Merecia alguém que fizesse da noite a mais especial da sua vida e entre
nosso círculo de amigos não tinha ninguém bom o bastante, eu sabia.
Nunca teria.
— Pare de basear a sua vida com a dos outros, Lily!
Eu falei, sendo que nem era o melhor a dar conselhos. Essa tarefa era
sempre do Tyler ou do August. Jamais eu.
— Só diz isso porque aproveita bastante as coisas.
Aproveitava, claro que sim, mas isso não mudava o fato de que não era
nada além de uma coisa carnal. Hormônios à flor da pele.
— Você merece alguém que te ame, gatinha. Nada menos.
Era a verdade, uma verdade absoluta.
— Mas ninguém me ama, Collin.
Será?
Eu suspeitava que vários caras a amavam, mas só tinham medo demais
para se aproximar com os irmãos malucos por perto.
Ou melhor, irmão maluco. Eu era o único que sempre perdia a linha, Ty se
continha e fazia o que sabia de melhor, ajudava os outros.
Olhei para o campo, vendo os jogadores nas bases e sabendo que eu teria
que descer para voltar ao treino. Lily sempre aparecia de surpresa para assistir
e aquilo me enchia de vontade de deixá-la orgulhosa. Era minha fã mais
presente. Minha única fã na verdade, além da mamãe, que não contava.
Josh ainda estava se recuperando da minha predileção pelo beisebol ao
invés do basquete e eu o entendia, afinal, desde criança jogávamos para seguir
seus passos, mas o destino não era mesmo como eles queriam e talvez o talento
não estivesse no basquete, mas em outro esporte.
— Sua namorada está brava.
Fixei meu olhar onde ela apontou e estava pouco me lixando para aquela
garota.
Era apenas uma das que se achavam melhor que a Lily e merecia o gelo
que eu daria nela. Seria bom para acordar para a vida e parar de achar que o
mundo girava apenas em torno do seu umbigo.
Não se devia achar melhor do que ninguém, éramos todos iguais.
E eu só tinha raiva de gente assim. Me dava nojo.
Quem eu seria se Josh e Beatriz não tivessem decidido me criar? Ao invés
dos caras mais descolados da escola, eu passaria a ser o idiota que todos
tirariam sarro e só em pensar nisso, me deixava com raiva o suficiente para
vingar o que acontecia com os outros.
— Deixa ela.
— Fiquei sabendo que está aproveitando com ela também.
Como raios Lily sabia disso? Essa informação eu não tinha passado e
estava praguejando mentalmente quem passara.
— Não quero falar sobre isso.
— Ela me odeia.
Todas as garotas a odiavam, só porque ela era a mais linda do lugar.
Inveja. Eu que era homem e nem me ligava nessas coisas, sabia que era
pura inveja. Ela deveria saber também.
— Espera eu terminar pra gente dar uma volta?
Lily era a única que importava e foi por esse motivo que eu desci da
arquibancada, passei pela garota e a ignorei totalmente. Era bom que
percebesse logo que não deveria brincar com as pessoas, brincadeiras
machucavam.
Não que eu não estivesse fazendo isso com ela, mas na minha cabeça, ela
merecia.”

Eu lembrava dos nossos instantes juntos como se fosse hoje e das outras
mulheres esquecia a maioria. O que isso provava?
Que eu pensava mais nela do que em qualquer outra pessoa no mundo.
Cancelava eventos para poder acompanhar a maioria dos seus desfiles.
Ficava com o celular na mão durante a pausa nos treinos só para poder
ouvir a sua voz no instante em que me ligasse.
E cerrava as mãos quando notava algum homem a olhando com segundas
intenções.
Que merda isso provava sobre a gente?
Provavelmente, que eu era tão maluco por ela, quanto ela por mim, só
covarde demais para admitir.
E se ela arrumasse alguém?
E se Lily me deixasse de fora da sua vida?
Nunca nenhum pensamento me doera tanto. Era como se eu perdesse meu
chão e me visse caindo de uma ponte no meio do nada, com o concreto me
aguardando para acabar de vez com tudo.
A dor era lancinante.
O desespero frustrante.
5
Parei o carro em um lugar perto do Boston Common e fui caminhar no
meio do verde. Olhando as pessoas e me perguntando há quanto tempo eu não
fazia algo assim.
As mãos nos bolsos demonstrando o quanto eu me mantinha preso para
novas ações.
Precisava voltar e pedir desculpas. Acima de tudo, precisava voltar e falar
que também sentia algo por ela.
Eu a amava?
Como eu saberia definir o que era amor?
Não tinha manual para isso e só sabia que não conseguia me ver sem ela.
Andei por vários minutos e decidi ir até a casa dos nossos pais e perguntar
para pessoas que realmente poderiam me ajudar. Gloria não aparecera, mas ela
não tinha essa obrigação, estava visitando a família e merecia descanso.
Agora, as únicas pessoas que me dariam um rumo eram justamente as que
me matariam por ficar com a filha deles.
***
— Pai, mãe, estão em casa?
Entrei, perguntando, com o silêncio em resposta.
Segui até a área da cozinha e vi os dois entretidos em alguma revista. Assim
que cheguei perto, a fecharam em uma velocidade gigantesca e ficaram com cara
de espanto.
Estranho.
— O que aconteceu?
— Nada. Nada não, Collin. — Meu pai respondeu, mas parecia ter engolido
um sapo que havia entalado na sua garganta.
— O que estavam lendo?
— Uma coluna de fofocas...
— Pharrell? — perguntei porque a dele era a mais famosa e o homem
praticamente amava a nossa família. Tanto que éramos os assuntos centrais das
suas palavras.
— Não. Não é do Pharrell...
— Então, por que estão com essa cara?
— Que cara? — Josh perguntou e me olhou sério, sem qualquer sombra de
sorriso.
— Esquece. Eu preciso falar com vocês.
— Senta aí. — Ele apontou a banqueta em frente ao balcão e se sentou ao
meu lado, com a Beatriz apoiada na minha frente e olhando também de forma
curiosa.
Respirei fundo.
Muito fundo.
— Fiquei com a Lily.
— Já sabemos. — Ele disse e abriu novamente a revista na página em que
estavam olhando e a minha foto beijando-a era melhor do que eu poderia
imaginar se considerando a escuridão na boate.
A pessoa era boa.
Não tinha nem como falar que não era a gente. E eu nem queria mentir
mais. Fora ali justamente para fazer o contrário.
— Por isso fecharam com pressa.
— Foi.
— Não estão bravos? — Perguntei porque a atitude deles não condizia em
nada com o que eu esperava enfrentar.
Estava pronto a enfrentar tudo e todos para ficar com ela.
Mesmo que precisássemos viver apenas nós dois por um tempo.
— Collin, nós já sabíamos, antes que tudo isso acontecesse... Só estávamos
esperando o momento em que notassem. Por isso, sua mãe não gostava que
trouxesse mulheres em casa e por esse motivo eu não gostava do Ross. Vocês
não estavam felizes e nós que os amamos, só queremos isso, a felicidade das
pessoas mais importantes das nossas vidas. Não importa com quem, só nos cabe
respeitar a escolha de vocês! Claro, que serem irmãos, mesmo que adotivos
complica as coisas, mas duvido que isso nunca tenha acontecido no mundo
inteiro.
Eles já tinham percebido?
E nunca falaram nada?
O diálogo dos dois quando voltei para casa veio na minha cabeça e agora
entendi porque eles falavam sobre ela evitar aparecer e sobre o que Tyler sabia.
Antes de qualquer pessoa falar, eles já estavam cientes.
Nós que éramos idiotas o bastante e pensamos o contrário. Essa novidade
seria surpresa até mesmo para o Tyler, que costumava saber de tudo.
— Não via como ela o olhava machucada quando entrava com alguma
mulher e aquilo me matava como mãe. Era como se eu pudesse sentir a dor dela.
Sentia raiva daquelas mulheres e a única solução que eu encontrava era proibir a
entrada delas em casa, que você sem perceber nada, ignorava como se fosse uma
paranoia minha.
Olhei para o Josh que estava pensativo e balançava a cabeça concordando
com a mulher.
Como eu conseguira ser tão cego e não notar que eu só a machucava?
Como pude achar que aquela raiva que eu tinha por Ross era apenas porque
não gostava dele? A verdade era que sentia ciúme, um ciúme absurdo e para
mim ele não a merecia, porque quem queria ficar com ela era eu. Mas aí estava o
grande problema, eu não era muito melhor do que ele.
— Por que nunca me disseram?
— Tinha que perceber. — Beatriz me olhou no fundo dos olhos e eu podia
jurar que ela estava lendo minha alma.
— Mas, eu não sei se a amo.
Os dois permaneceram quietos e olharam um para o outro, uma troca muda
de cumplicidade. Provavelmente, pensando o quão estúpido eu era.
— Não tem como definir o amor, filho. Ele só acontece no momento que
tem que acontecer e quero que saiba que os apoiaremos, mesmo que tudo se
volte contra vocês por causa do que julgam “imoralidade”.
— Como vou saber?
— Sobre o quê? — Josh perguntou.
— Sobre o amor.
— Sua dúvida só prova que você já sabe.
A dúvida provava?
E eu estava mesmo tão confuso quanto imaginava estar ou era somente um
plano de defesa que bolara para me enganar?
— Mas e se eu a machucar?
— Quebro as suas pernas, garoto, e faço voltar rastejando pro seu
apartamento. Não é porque é meu filho que pode machucar minha princesa! —
Ele parou um pouco de falar e ficou pensativo. — Isso soou confuso, que bosta!
Mas você entendeu.
Claro que sim.
— Vou tentar não o fazer, então.
— Vai conseguir. Tentar não adianta nada quando não se consegue e se
tratando da Lily, eu não quero falhas, já avisei o que te acontece se chateá-la
ainda mais e levar o plano de jogo ralo abaixo.
Balancei a cabeça em um aceno e olhei para minha mãe, que mantinha um
sorriso compreensivo no rosto.
— Vocês são demais, já disse isso?
Realmente eram. Os melhores!
— Não, todos esses anos só nos deu foi trabalho. Acho que vou tirar férias
com a sua mãe, um mês em um lugar paradisíaco pra gente descansar dessas
frustrações.
Eu gargalhei e eles também, me deixando com o pensamento de quão
ignorante eu fui por achar que não entenderiam.
Sabiam antes mesmo da gente.
Devia estar tão claro assim para as pessoas que nos olhavam?
Com certeza. E agora entendia o motivo para todas as mulheres com as
quais saía terem ciúmes dela.
Lily era a mulher da minha vida e nenhuma outra teria capacidade de
competir, porque não havia competição. Sempre tinha sido ela.
Eu só era relapso demais para notar.
— Acho que vou nessa. Preciso conversar com ela.
— Demorou pra sair. Fecha a porta! — Josh gritou quando eu já estava
longe, correndo até o carro, querendo chegar até ela o mais rápido possível.
Só conseguia torcer para não tê-la feito se sentir pior. Precisava de um
tempo sozinho para perceber a verdade e precisava de um tempo sozinho para
notar o quão importante e especial ela era para mim.
Agora que eu notara não voltaria mais atrás.
Nem mesmo que precisasse suar para provar meu ponto.
— PODEMOS DAR UMA volta, Ty? Não aguento ficar aqui.
Precisava respirar um pouco e agora que meu irmão sabia do meu
problema, a sua presença apenas aliviaria a minha dor.
Parecia um pouco mais fácil agora e talvez Sharon tivesse razão, e o que eu
precisava era contar para minha família e ter a força deles me ajudando.
Um fardo se tornava mais leve quando várias pessoas o carregavam. No que
dependesse do meu pai e minha mãe, eles levariam sozinhos e me deixariam sem
nada, sabia disso. Me amavam e era egoísmo meu deixá-los na escuridão, sem
saber o que acontecia de verdade na minha vida.
— Podemos.
Meu irmão disse e pegou o celular, olhando o visor e me perguntando
silenciosamente se atendia ou não Collin.
— O que ele quer?
Estava esgotada emocionalmente e não ajudaria em nada mais um dilema
para lidar nesse instante.
Collin tinha escolhido que lado seguir, assim como eu.
— Não sei. Mas tá ligando que nem um maluco.
Se fosse para pedir desculpas, nem precisava. Depois que inventaram essa
palavra todo mundo achava que poderia sair magoando as pessoas, porque era só
dizer desculpa, eu sinto muito, ou algo do tipo, que toda a mágoa simplesmente
evaporaria.
Meu celular em cima da cama, começou a vibrar também, deixando claro
que ele não desistiria de ligar.
Enfrente ou em frente?
Eu achava que no momento enfrentar poderia ajudar. Já tinha criado
coragem e falado o que realmente sentia, nada seria muito pior. Mas primeiro, eu
o deixaria que nem um idiota ligando sem parar, para poder aprender de uma vez
por todas que nem tudo o que ele queria acontecia na hora que desejava.
— Vai atender? — Ty perguntou, provavelmente querendo que eu o fizesse
para o Collin parar de infernizá-lo por mensagem.
— Depois.
— Certo. Vou desligar meu celular, então.
Fiz o mesmo com o meu. Sem o menor remorso.
— Acho que ele vai ficar desesperado.
— Que fique, te garanto que merece!
— Quanta revolta!
— Não é, Ty, não é revolta! É só questão de parar de ser ingênua.
Ele revirou os olhos e sorriu, entrando no seu carro, para darmos a volta que
precisávamos.
Meu celular queimava na minha mão e a vontade de ligá-lo e ver se Collin
ainda tentava me contatar era imensa, maior do que a força de vontade para
ignorá-lo.
— Eu se fosse você ligaria, não custa nada. Pode ser que ele não queira só
pedir desculpa...
— Como sabe?
— Ele foi em casa, papai me mandou mensagem falando, um pouco antes
que eu desligasse o celular.
E Tyler ainda achara que essa informação não era importante o suficiente
para ser compartilhada?
— E por que não me contou?
— Mudaria alguma coisa?
— Mudaria tudo!
O que Collin tinha dito para os nossos pais?
O medo se apossou de mim e tentei lembrar de tudo que ele poderia ter dito,
se é que dissera alguma coisa. Mas, por que o desespero dele em falar comigo se
não fosse isso?
Liguei o celular no mesmo instante, torcendo para que nada de ruim tivesse
acontecido. Já me bastava os meus demônios, ter que lidar com outros não seria
nada bom.
— O que acha que aconteceu?
— Acho que ele foi dar alguma desculpa para sumir da cidade. Collin saiu
transtornado do meu apartamento e duvido que ele ainda queira ficar perto de
mim depois do que revelei. Não posso deixar que isso aconteça, Ty. Não posso
interferir na vida de todos dessa forma.
— Você não fez nada demais. — Meu irmão falou baixo, sem deixar de
prestar atenção no sinal fechado à nossa frente, tentando me confortar.
Pena que minha consciência não pensava da mesma forma.
— Foi culpa minha, Ty. Eu que comecei tudo isso.
— Não foi. Ainda vão se entender, e qualquer coisa até esse passo vai se
tornar dispensável.
— Tem um positivismo invejável.
— Puxei da mamãe, pelo menos isso.
Eu gargalhei. Era verdade.
O aparelho começou a vibrar na minha mão e o atendi prontamente, tensa e
preocupada com o que Collin teria a dizer.
— Oi.
— Lily, onde você tá?
— Dando uma volta com o Ty.
— Onde?
— O que aconteceu? Ele me disse que falou com a mamãe e o papai...
— Esclareci uns pontos com eles. Preciso falar com você, gatinha.
Precisava falar comigo?
Eu não sabia se estava ouvindo direito, ou era alguma paranoia da minha
cabeça, que desejava tanto que ele me desse atenção.
— Daqui uma hora mais ou menos eu volto, e a gente conversa.
— Espero no seu apartamento.
Ele desligou e eu fiquei com a boca aberta, sem saber o que o deixara tão
determinado.
— Vai ter que contar pra ele hora ou outra também. Se deixar que descubra
sozinho, como eu, pode ser que não tenha chances de se explicar e que tudo
mude drasticamente.
Tyler tinha toda a razão. Mas não conseguia imaginar uma forma de dizer o
que me afligia para Collin sem deixá-lo em pânico e extremamente preocupado.
— Eu sei.
— Ainda quer andar sem rumo? Ou vai voltar para o bonitão?
— O que você decidir.
Queria enfrentar a fera, mas não sabia em qual momento. Uma confusão
completa.
— Vamos voltar, então. Preciso resolver minhas coisas também...
— Não vai mesmo me dizer?
— Não agora.
Era sempre assim, um verdadeiro poço de mistérios, enquanto eu tinha que
dizer tudo para eles.
— Eu poderia ajudar.
— Com certeza, mas no momento precisa se resolver antes. Depois que der
um jeito na sua vida, vai poder me ajudar.
Não sabia se a intenção dele era jogar na minha cara que eu estava tão
ferrada quanto ele, mas foi assim que soou aos meus ouvidos.
— Não estou tão mal assim.
— Não é a questão. O que eu quis dizer foi que precisa focar em você, focar
na sua saúde, ao invés de se distrair com meus casos.
— Tudo bem.
Falei baixo e ficamos ambos em silêncio, retornando para o meu
apartamento, cada um preso nas suas próprias preocupações.
***
Tyler acabara de me deixar na frente do prédio e eu sentia a coragem que eu
achava que tinha, se esvair completamente do meu corpo.
Parei por um instante e olhei a fachada do edifício, logo em seguida, olhei
em volta, respirando fundo e tentando dar os passos que tirariam as minhas
dúvidas. Collin não me parecera alguém transtornado no telefone e isso me
deixara curiosa, porém, meu receio era bem maior que minha curiosidade.
Voltei a caminhar em direção ao saguão, passos apressados e que pareciam
confiantes. Apenas pareciam, porque na verdade eu estava tremendo de nervoso.
Isso não terminaria bem, tinha quase certeza.
Não precisava ter aberto o jogo rápido daquele jeito, agora a confusão
poderia não ser desfeita nunca mais.
Lily, respira, fica tranquila. O que mais ele pode te dizer para magoá-la?
Não é como se sair correndo fosse a resposta que você esperava para começo de
conversa.
Assim que digitei o código de acesso do apartamento, notei o quanto tudo
estava quieto, ao contrário do que eu esperava.
Uma sombra passou pela cortina que separava a sala da varanda e Collin
entrou no meu campo de visão. Com um olhar que eu não sabia identificar ao
certo o que queria passar. Não parecia preocupado, muito menos arrependido, na
verdade, parecia o Collin de sempre, um que se infiltrara no meu coração com o
tempo.
— Desde quando está aqui? — perguntei, engolindo em seco, notando a
forma como ele me encarava fixamente.
Aquele olhar eu nunca tinha visto.
Era totalmente novo e eu não sabia como me sentia em relação a isso.
— Eu falei com o pai e com a mãe. — Sua voz era rouca e meus pelos se
eriçaram ao notar o quanto parecia misterioso e confiante.
— O que falou pra eles?
Perguntei com medo, porque sua resposta poderia mudar tudo.
— Isso! — apontou dele para mim.
Nós.
— Tudo?
— Tudo, gatinha.
— Por favor, não me chama assim, está irritando. Não gosto disso, soa
abusivo, agora mais ainda. Antes eu não me importava muito, mas nesse
momento, me incomoda pra caramba.
— Está nervosa.
— Estou.
— Você fala rápido quando está nervosa. Atropela tudo e quase não deixa a
gente falar!
Dei um sorriso contido, porque era verdade, mas não explicava o motivo
para ele estar ali no meu apartamento com uma aura tão intrigante.
— O que você quer que eu fale?
— Nada. Eu que vim para falar abertamente com você. Contei para eles que
estava confuso e está aí a novidade, já sabiam do que nem eu sabia ainda. É
estranho, mas juro que não estou mentindo.
— Eu sei.
Ele deu passos lentos na minha direção e todo aquele suspense estava me
matando aos poucos.
— Você me ama?
— Sério que quer que eu repita isso? Se for, dê meia volta e vá embora
daqui! — falei irritada.
Não iria repetir aquela vergonha. Nem de longe.
— Como sabe que me ama?
Coloquei as mãos na cabeça, frustrada, prestes a gritar como uma histérica
se isso pudesse afastá-lo de mim.
Collin com a sua presença sufocante estava sugando todo o meu ar e me
deixando em desespero.
— Eu só sei, Collin! Só sei!
— Tinha ciúme quando eu aparecia com alguma mulher?
Que pergunta idiota e eu odiava perguntas idiotas, não respondi e ele
parecia não querer uma resposta.
— Ou quando eu falava delas com você?
Sentei no sofá, estressada e sem paciência, querendo que ele parasse com
essa idiotice.
— Sentia minha falta quando não vinha te ver? Quando estava desfilando?
Quando me ligava e eu não atendia? Ou quando precisava de mim e eu
simplesmente não estava aqui?
— Para com isso, por favor?
Não sabia quanto mais aguentaria e não era uma metáfora dizer que ele
estava pisando no meu coração.
— Lily... Eu sinto tudo isso. E mais... Eu só sinto e percebo agora... Meu
Deus! Eu era tão cego! Tão cego!
Minha boca se abriu em choque e se eu estivesse em pé, provavelmente,
desabaria no chão, desmaiada.
Collin estava admitindo que pensava em mim da mesma forma que eu
pensava nele? Não, não poderia ser, com certeza eu estava ficando maluca e
precisava de tratamento o mais rápido possível.
— O que quer dizer?
Ele sorriu de canto e olhou para a cozinha, apenas evitando que seu olhar
cruzasse com o meu.
— Só que... Eu acho que sou apaixonado por você desde muito tempo.
Meus braços desabaram ao lado do meu corpo, inertes, sem saber o que
fazer ou como continuarem presos ao meu corpo. Eu estava mesmo louca.
Eu estava louca.
Muito louca.
Balancei a cabeça, descrente e senti o sofá afundar ao meu lado, enquanto
eu ainda tentava absorver as suas palavras.
— Isso não é legal, Collin.
— Não estou mentindo, sabe que não minto, Lily. Ou se quiser, posso te
chamar de boneca, nunca chamei ninguém de boneca.
— Odeio boneca também.
— Amor fica melhor, então?
Olhei para ele, tentando identificar qualquer traço de ironia e não encontrei
nenhum. Nenhum.
— Por que?
— Não quero te tratar como as outras, algo que nunca foi.
Aquilo estava mesmo acontecendo?
— É loucura, Collin. Loucura! Só pode estar louco e eu também!
Levantei rapidamente do sofá e comecei a andar em círculos, fora de mim.
Sem saber o que fazer ou o que falar.
Querer alguém tanto que ela te fazia perder o chão era uma coisa e ver isso
sendo realizado sem qualquer probabilidade, deixaria mesmo qualquer uma
maluca.
— Fica calma! — segurou meu braço e me forçou a olhar nos seus olhos.
E por mais que pudesse ser contraditório, isso me acalmou... um pouco.
— Não é como se fosse o fim do mundo. Eu acho que sempre foi você,
Lily. Só não conseguia entender isso na época, a minha sorte é que foi forte o
suficiente e deu o passo por nós dois. Eu quero você, boneca! Quero de verdade!
Não me importei com o apelido besta, não quando as palavras antes dele
foram eu quero você.
— Jura?
— Eu juro pelo que quiser.
Collin me puxou na sua direção e me abraçou. Um abraço apertado que era
muito mais significativo do que qualquer palavra que ele pudesse dizer.
— Amor soa perfeito.
— Que bom, porque não tinha nada melhor em mente.
Ele disse e sorriu no meu pescoço, causando um arrepio involuntário,
enquanto me embalava nos seus braços e tornava tudo mais perfeito do que eu
poderia sonhar.
Estava acontecendo, realmente estava acontecendo e pela primeira vez na
minha vida me senti extraordinariamente completa.
NÃO FOI DIFÍCIL como eu imaginei que seria admitir a verdade. Ela
estava apenas esperando que eu me desse conta, e que não fosse tarde demais.
A noite que passei do seu lado, foi a melhor noite da minha vida, provando
que aquelas partes que eu me lembrava da outra, não chegavam nem perto de
como era a realidade. Lily estava comigo e a sua pele contra a minha, parecia ser
o certo desde o princípio.
— O que está fazendo?
— Seu café da manhã — respondi relaxado.
Por que eu não faria isso por ela?
Costumava ter o hábito de sempre comer algo reforçado antes do treino e o
simples fato de que cozinhava para ela depois de uma noite como a que
passamos, fazia o monstro em mim rugir alto.
Ela era minha e eu cuidaria dela.
— Não como de manhã.
Virei-me na sua direção e apoiei minhas costas na bancada, não acreditando
na maluquice que estava ouvindo. Como raios ela se mantinha em pé?
— Como assim? O café da manhã é essencial!
— Pra mim não!
— Não é à toa que eu consigo te levantar com um dedo! Está muito magra,
aliás, mais magra do que costuma ser.
— Pare de me perturbar! — Ela disse e jogou alguma coisa na minha
direção, errando por pouco.
— E se acerta meu rosto perfeito?!
— Convencido!
Gargalhei e ficamos nos olhando por um tempo, notando pela primeira vez
que as coisas realmente tinham mudado, mas que do errado, passavam longe.
— Quer ver o treino hoje?
Não sabia se ela precisava viajar, mas não custava nada perguntar.
— Pode ser! — deu de ombros. — Mas não vai ser estranho?
Por que seria?
Ela já tinha feito isso algumas vezes, como irmã, mas tinha feito. Não me
parecia algo errado, para que os outros nos julgassem e se o fizessem, no que a
opinião deles mudaria as nossas vidas?
Eu me orgulhava por cuidar das minhas merdas e ficar com Lily era motivo
de orgulho, o melhor que eu havia feito na minha vida desde muito tempo.
— Não acho.
— Pra eles eu sou sua irmã...
— Sabem que sou adotado.
— Sim. Mas ainda assim...
Esqueci o que eu fazia e fui até ela, passando as mãos nos seus cabelos e
puxando seu queixo para que ela olhasse nos meus olhos e visse que eu de fato
não me importava com nada além de nós dois.
— Não importa, amor. Não importa.
— E sua carreira?
— Eu assumo qualquer risco por você.
Realmente assumiria. Se me julgassem por algo assim, só provariam o
quanto eram idiotas e eu já imaginava que os responsáveis pela imagem do time
poderiam até se acharem no direito de vetar alguma coisa, mas o que eles não
sabiam é que eu não concordaria com nada. Nada.
— E se tudo acabar mal?
— Ainda bem que você é modelo e já ganhou bastante dinheiro por nós
dois! Eu mudo pra cá e dirijo aquele seu carro elétrico! — fiz uma careta, eu
odiava aquele carro. — Ou não, prefiro manter o meu.
— Falou o jogador mais famoso da liga!
Eu mantinha uma boa reserva, mas apenas porque o que mais me dava
dinheiro eram os patrocínios. Não que o salário não fosse bom, mas os
patrocínios eram vários e somando tudo, tornavam meu lucro muito maior.
— Não sou não.
— Nunca foi modesto, vai começar agora?
— Mulheres gostam de homens modestos!
— Nunca foi problema pra você antes.
— Porque eu não queria ficar de verdade com nenhuma delas.
A brincadeira no meu tom de voz se esvaiu, transmitindo a sinceridade que
eu sentia emanando de mim. Lily sempre fora a única pela qual eu tentava ser
melhor e quando ela se dizia desapontada comigo, era como se várias agulhas
estivessem me perfurando, o que me fazia sempre procurar um sorriso no seu
rosto.
— É bom nessa coisa.
— Obrigado.
Ela me pegara direitinho e nessa teia eu já estava mais preso do que
considerava possível para sair.
***
— Que sorriso é esse, garotão? — Steve perguntou e eu apenas olhei na
grade, vendo-a perfeita com um boné do time e prestando atenção em tudo e
todos.
— Ah, a irmã gata! — Ele assobiou. Eu me irritei.
— Ela não é pra você!
— Qual é? Lily Currey? Ela é com certeza um sonho da metade da
população masculina do mundo!
Eu sabia disso e definitivamente não gostava. Nem um pouco.
— Está comigo.
— Claro que está, isso a gente sabe! É sua irmã!
— Ela está comigo, Steve. Eu e Lily estamos juntos! — falei baixo,
deixando claro que qualquer palavra errada por parte dele lhe renderia um soco
bem dado.
— Oh, merda! Juntos, tipo transando?
Cerrei minhas mãos, sentindo a raiva querer sair de mim sem que eu
pudesse ter força para controlar.
— Calma, cara! Não foi para ofender! É que foi uma surpresa, tem que
entender!
— Vá a merda!
— Vão assumir isso?
— Vamos. — Eu não sabia se ela queria assumir algo tão cedo, mas eu sem
sombra de dúvidas sim.
Era isso ou ter que morrer de ciúmes a cada investida que ela recebia em
um final de desfile. Meu autocontrole era uma porcaria e tê-lo em provação
dessa forma apenas dificultaria as coisas.
Pelo menos Ross já era carta fora do baralho!
— Boa sorte!
Por que?
Não estávamos fazendo nada de errado.
— Não estou fazendo nada de errado.
— Lily Currey, Collin Currey. Esse sobrenome já dificulta as coisas.
— Sou adotado.
— Sim, mas sei lá, é estranho.
Eu parei de me alongar e olhei diretamente nos seus olhos, mudando
totalmente de passivo para irritado em questão de segundos.
— Eu pedi sua opinião?
Nos encaramos por vários segundos, medindo a força um do outro, sabendo
que se fosse no braço a braço o mais provável era que eu sairia com bem menos
machucados do que ele. Costumava ter fama de esquentado e não era porque eu
evitava conflitos.
— Desculpa, foi mal. — Ele levantou as mãos e saiu de perto.
Melhor para ele, porque eu realmente perdera a paciência e não suportaria
mais ficar perto dele por hoje.
Treinei mais duro do que era de costume, olhando todas as vezes que tinha
chance para onde ela se encontrava, hora apoiada, sentada ou apenas
conversando ao telefone.
Assim que terminei e fui na sua direção, vi Shayla caminhando até ela.
Aquilo daria merda, tinha certeza!
Não fazia a menor ideia do que a mulher queria ali, mas eu não era o
culpado. Nunca dera nenhuma esperança de algo mais e muito menos dera
liberdade para ela ficar indo no treino. Na verdade, ela era irmã de um dos caras
e foi assim que a conheci, e só conseguia torcer para que tivesse ido para vê-lo e
não para me ver.
Nunca temi nada tanto na vida, sentia até mesmo a confusão que isso daria.
— Ei, Collin! — Ela gritou e correu, assim que cheguei na Lily.
Se tivesse um buraco no chão, eu provavelmente me enterraria nele.
— Ela não é aquela da última vez?
Engoli em seco. Lily não era burra e sabia a resposta, mentir estava fora de
questão.
— É.
— A caso complicado? Nenhuma das definições?
Que memória desgraçada de boa!
Como ela fazia isso?
— Essa.
— E o que faz aqui?
— Ela é irmã de um dos caras...
Era a verdade, mesmo que ela não acreditasse.
— E veio aqui por causa dele?
Bem no ponto que eu queria evitar. Era sempre assim, nada seguia o
caminho que eu ansiava que seguisse.
Uma falta de sorte do caralho!
— Não sei.
— Acho que não, ou ela não estaria vindo direto até a gente, não é?
Dei um sorriso forçado, rezando para que Shayla não falasse nada que
piorasse ainda mais tudo. Eu tive muitas mulheres, mas não podia julgá-la por
me olhar querendo me matar, sabendo que faria o mesmo se visse algum cara
com o qual ela ficara.
— Olá, Lily! Collin, eu posso falar com você?
Oh, merda!
— Eu estou ocupado, quem sabe outro dia?
Olhei para Lily, que me fuzilava. Resposta errada. Mas, afinal, tinha
resposta certa? Eu acreditava que não.
— Muito ocupado? É sobre aquela noite... Eu queria dizer que entendo
você...
OH, MERDA!
E eu achando que as coisas não poderiam piorar ainda mais.
— Que noite? — Lily perguntou.
— Bem... — cocei minhas costas, nervoso. — Uma noite... dias atrás...
— Semana passada, Collin! — Shayla falou e minha vontade era de tampar
a sua boca com a mão para que parasse de falar e me complicar ainda mais.
— Quando voltou para casa...
Lily disse e meu semblante com certeza passava a derrota iminente que eu
sentia. Não tinha entendido a confusão em mim ainda e ela precisava saber que
não acontecera nada, justamente porque a única coisa na qual eu conseguia
pensar era nela.
— Não aconteceu nada...
— Vocês estão juntos? — Shayla olhou da Lily para mim e pareceu ter
entendido a merda que estava causando parada e falando coisas idiotas.
— Estamos e você tá atrapalhando. — Falei sério, decidindo que ela não
valia a minha tentativa de ser educado.
— Me desculpem... Eu não sabia. Na verdade, achei que fossem irmãos...
Hoje era o dia para que eu realmente perdesse a paciência e saísse gritando
como um louco que era adotado.
As pessoas pareciam se esquecer desse detalhe.
— Eu sou adotado.
— Claro.
Fiquei olhando para ela, até que se tocasse e saísse de perto da gente. Já
causara estrago suficiente e eu não arriscaria que causasse mais. Pelo amor de
Deus, tudo porque eu finalmente me decidira e escolhera que lado seguir?
— Vai ser sempre assim?
Odiava que as pessoas falassem merda e a fizessem duvidar. Lily deixava
que os pensamentos de quem não importava adquirissem importância na sua
vida, quando na verdade não o tinham.
— Não importa, eu já disse.
— Certo. Podemos ir? Ou ainda tem mais algo para fazer? Alguma mulher
pra dispensar?
Levantei minha sobrancelha e a encarei, imaginando que ela jogaria isso na
minha cara sempre que estivesse chateada.
— Não, vou tomar um banho e já volto! — decidi ignorar a última
pergunta.
Dei um beijo nela, para que qualquer pessoa notasse o motivo dela estar ali.
Não era porque nos conhecíamos desde crianças e fomos criados como irmãos.
Era porque eu era maluco por ela e ela por mim.
Nenhum sentimento afetivo de irmão estava envolvido.
E nenhum julgamento me importaria.
Tomei banho e guardei minhas coisas no armário o mais rápido que pude,
ansiando por estar novamente ao seu lado. Parecia que agora que estávamos nos
entendendo, qualquer tempo longe dela era capaz de me consumir em solidão.
— O pessoal quer falar com você. — Steve disse assim que passou por mim
e eu já sabia de quem ele falava.
Que se ferrassem!
Não iria atrás hoje, não quando me sentia feliz demais para que minha
felicidade fosse jogada no chão e pisoteada.
Deixaria para amanhã, quando eu sabia que ela não viria, pois teria que ir
pra a Itália participar de uma campanha.
Não queria que acabasse ouvindo mesmo que por acidente, a repreensão
que eu receberia. O mais engraçado é que ficar com as mulheres a ponto de
ganhar fama de mulherengo não parecia ser tão ruim para eles como era ficar
com alguém que eu era apaixonado, exclusivamente.
Lily não era minha irmã de verdade, e qualquer pessoa que quisesse poderia
pesquisar e comprovar essa parte da nossa vida.
— Vou deixar isso para amanhã.
Ele balançou a cabeça concordando e eu saí rápido, antes que a galera
percebesse que a minha intenção passava bem longe de conversar. Pela primeira
vez na vida, estava mais preocupado em aproveitar meu tempo do que em como
a minha carreira ficaria.
Eu amava o esporte, mas não sabia se o amava mais do que a Lily.
Provavelmente, não. Quando saí nem olhei para trás, apenas para o lado,
com a minha mão na sua cintura, enquanto sorriamos feito idiotas da minha
explicação de como tinha sido meu desempenho naquela noite com Shayla,
justamente por causa dela.
Da maldita imagem dela, como uma deusa do sexo, impedindo que eu
sequer conseguisse imaginar algo diferente.
Lily tinha me estragado e eu não queria ser consertado se não fosse por ela.
Por que raios eu perdi tanto tempo?
Era o que eu me perguntava, quando abri a porta do carro para ela, com
pressa para me deixar envolver na nossa verdade novamente.
PRECISAVA CONTAR A verdade. Mas e se eu contasse e Collin saísse
correndo, decidindo que eu era complicada demais para ele lidar?
Eu não conseguia nem imaginar como ficaria se algo assim acontecesse.
— Disseram alguma coisa?
Collin estava sorrindo ao meu lado, mas eu conseguia sentir que não estava
me contando tudo e que no treino, algo bem mais chato do que Shayla falando
idiotices tinha acontecido.
— Nada demais.
— Sobre a gente...
— Vai nos jogos que puder, não vai? Não tem porque me evitar agora que
estamos bem.
Não tinha mesmo e eu poderia dar um jeito para ir na maioria, inclusive.
Quanto mais tempo eu tivesse perto dele, melhor.
Deixei que a sua tentativa de mudar de assunto fosse bem sucedida,
respondendo à pergunta.
— Vou sim.
— Bom.
Collin pegou na minha mão, enquanto dirigia e aquele simples gesto foi
capaz de inundar meu coração com sentimentos bons. Uma sensação de conforto
e de estar realmente no lugar certo.
Sabia que com a minha carreira não teríamos tanto tempo, mas agora que eu
ficava ansiosa para encontrá-lo, ao invés de temerosa, poderia cancelar algumas
coisas que me empenhei em fazer apenas para ficar longe de casa. Não precisava
mais disso.
— Eu evitava vir por causa de você.
— Imaginei. Não era coisa da minha cabeça então... — Ele falou pensativo
e eu notei que não era mesmo tão boa em disfarçar como pensava.
— Aparecia cada vez com uma mulher diferente, só uma doida adoraria
essa tortura. Preferia estar o mais longe possível.
Se fosse ele no meu lugar, faria a mesma coisa.
— Entendo. Me desculpe por isso.
— Não precisa, passado não merece ser relembrado! — Ele mesmo me
dissera isso várias vezes no decorrer dos anos quando eu teimava em lembrar as
coisas ruins que aconteceram comigo.
— Essa frase é minha!
Sorri, sabendo que não importava o tempo que passasse, as coisas que
fizemos juntos seriam mantidas para sempre nos nossos corações.
— Foi muito boa.
— Acho que ouvi em alguma música, mas agora tanto faz, não lembro
mais.
— E você me fez acreditar que tinha sido você, seu idiota!
— Não disse que tinha sido eu, você que supôs!
— Não vale nada, Collin!
— Eu nunca disse que valia! Mais um erro de suposição da sua parte.
— Eu sempre erro nas minhas suposições, não é?
— Com certeza! Assim como aquela vez no colégio quando achou que eu
tinha dormido fora, na casa de uma das meninas.
— Verdade, você estava fazendo minha surpresa.
— Aquela caixinha deu um trabalho do caralho, se não sabe!
Eu tinha aquela caixinha com fotos nossas até hoje. Era um recorte dos
nossos momentos, colados um ao lado do outro e dentro, várias repartições para
eu colocar as minhas coisas “de forma organizada”, como Collin havia dito uma
vez que vira a bagunça de brincos e colares no meu closet.
A verdade é que eu era desorganizada e aquela caixinha era linda demais
para usar dessa forma. Acabou que minhas coisas ainda estavam bagunçadas e a
caixinha ficou guardada no meu armário desde então. Só a tirei quando mudei
para o apartamento, sendo a primeira coisa que lembrei de levar comigo.
— Ainda está guardada e dentro estão aquelas cartinhas que a gente
trocava.
— Guardou isso?
— Guardei. Qual o mal nisso?
Eram parte de mim e eu adorava relembrar como tudo era simples antes de
me tornar adulta e ter várias coisas com as quais lidar.
— Nada. É que também guardei. — Ele disse e deu de ombros.
Como assim ele tinha guardado?
Se eu achava que não conseguia sorrir ainda mais, estava completamente
errada.
— Está brincando!
— Não estou não! Vamos lá que eu te mostro!
— Nunca achei! E olha que eu já entrei no seu apartamento mais vezes do
que posso contar.
— Eu escondi bem! Muito bem!
— No cofre?
— Lógico. Não queria que as pessoas encontrassem aquilo! Não era algo
que eu poderia guardar na gaveta de cuecas ou lugar parecido.
Para mim não parecia tão importante assim.
— Exagerado.
— Onde guardou as suas?
— Estão dentro da caixinha no meu closet.
— Não levava muita gente pro seu apartamento, por isso. Acho inclusive
que nunca deu uma festa por lá.
E não dera mesmo. Eu quase não ficava lá para pensar em festas. Quando
dava sorte e tinha uns momentos de descanso, pegava um livro e me sentava
para ler calmamente, agradecendo por não ter ninguém por perto para me
atrapalhar.
— Não. Sabe que não.
— Pois eu dei várias e não queria que sumissem com as minhas coisas. Já
encontrei pessoas perdidas no meu closet e se deixasse lá, sumiriam assim como
algumas coisas que até hoje não sei onde foram parar.
— Não gosto de imaginar pessoas que não conheço no meu apartamento.
— Eu não me importava.
— Entendo.
Chegamos no prédio onde ele morava e assim que acessamos o elevador,
Collin pressionou o botão da cobertura, digitando a senha numérica que eu
decorara desde o momento em que ele comprara o lugar.
— Eu mudei algumas coisas desde a última vez que esteve aqui. — Ele
falou assim que cruzei a porta e as mudanças eram claras.
O imenso sofá branco que antes ficava na sala de estar dera lugar a dois
menores, da mesma tonalidade, mas que deixavam o espaço maior. Assim como
o restante da decoração era minimalista e tornava tudo muito mais belo de se
admirar.
Atrás dos sofás, haviam três imensos quadros. Um do meu pai, em um jogo
de final de temporada, com o troféu na mão, outro do Collin na World Series do
último ano, da qual saíra campeão e o terceiro, por mais incrível que pareça, era
meu. Eu estava desfilando e não me lembrava ao certo daquela imagem, mas eu
parecia muito mais bonita do que acreditava ser, muito mais sedutora também.
Um retrato tão diferente do que eu fazia de mim.
O sorriso que se abriu no meu rosto foi involuntário.
Collin mantinha um quadro com a minha foto na sua sala.
Uma foto gigante minha.
Não de outra mulher, mas minha.
— Mandei fazer ano passado. Queria te mostrar, mas você praticamente não
parava por aqui...
— Como conseguiu?
— Mamãe. Ela tinha uma versão menor, pedi para um cara aumentar e
enquadrar. Queria algo para lembrar de você quando não estivesse.
As batidas no meu peito pareciam ter perdido o ritmo e o que já era imenso
se tornou impossível de conter. Eu o amava desde que me conhecia por gente, e
Collin fazendo essas coisas só fazia com que o sentimento pulsasse
descontrolado.
— Ficou maravilhosa.
— Você que é maravilhosa, o quadro só realçou isso. Tenho outras no
quarto.
Ele pegou na minha mão e me levou até o quarto, que também estava um
pouco diferente do que eu me lembrava, os móveis assim como no restante do
apartamento eram simples e sofisticados, combinando perfeitamente com ele.
No pequeno aparador em um dos cantos, haviam várias fotos, minhas e
dele, com nossos pais e com o Tyler. A grande maioria era nossa, em festas, no
colégio, abraçados, dançando ou só olhando um para o outro.
Eu me lembrava de cada uma delas e achava que ele também.
Eram uma parte nossa, criando personalidades diferentes e nos tornando os
adultos que agora éramos.
— Lembro de todas. — Ele disse e consegui sentir a sua respiração bem
próxima de mim.
Era como jogar um isqueiro em um monte de palha. Praticamente fogo
instantâneo.
Collin pegou a que dançávamos, e sorriu, olhando para ela e provavelmente
lembrando da desgraça que fora aquela noite. Um cara me convidou apenas para
ganhar a aposta que tinha feito com os amigos e eu ficara sem par para o baile
em cima da hora, Collin ligara para a garota que ele tinha convidado,
desmarcando e fora comigo. Isso rendeu muitas risadas e uma verdadeira saia
justa. Mas no final, eu saí sorrindo, ele também e eu nem de longe passara
vergonha. Acabei indo com o cara que as meninas cobiçavam até a morte, o que
me tornou ainda mais alvo delas e de mais apostas, algumas que eu nem queria
lembrar, eram humilhantes demais.
— Eu bati nele, sabia? Não deveria ter apostado uma coisa tão importante
como essa pra você.
— Por isso ficou de detenção?
— Foi.
Eu perguntara para ele o motivo da detenção e ele respondera que era uma
bobagem, eu nem de longe imaginei que tinha sido sobre a aposta. Se soubesse,
não o teria deixado se colocar em problemas por minha culpa.
— Não devia ter feito isso.
— Por saber que você não gostaria, eu não contei. Pra ser sincero faz tanto
tempo que parece que foi em outra vida.
Era a mesma sensação que eu tinha. Crescemos juntos e quando me
lembrava dos momentos de infância era sempre nele que eu pensava. A diferença
entre Tyler também era pequena, mas ele era o garoto que gostava de desmontar
as coisas, enquanto Collin era o que ficava brincando comigo e sendo o Ken que
minha Barbie precisava.
— Verdade.
Ele me olhou por alguns segundos e eu não conseguia adivinhar o que ele
pensava. Parecia preocupado com alguma coisa, ou confuso se perguntaria ou
não.
— Lily, não faz parte do assunto, mas... Você está tomando algo para
prevenir gravidez? Nós passamos a noite juntos no Brasil e não usamos nada
para nos prevenir...
Não tomava nada. Mas não achava que poderia ter engravidado assim. Algo
me dizia que não, pelo menos.
— Não... Mas não acho que tenha engravidado.
— Essas coisas não são assim, boneca.
Ele sorriu amargo e o meu medo nesse instante era que ele estivesse irritado
por esse motivo. Mas eu não fui a única a perder todo o controle, ele era tão
responsável quanto eu.
— Não precisa me olhar com essa cara! Só perguntei! De qualquer forma,
aconteceu, certo? Não há muito o que se fazer, apenas prevenir daqui em diante.
Respirei aliviada e ele percebeu, gargalhando quando eu parecia ter
engolido um sapo.
— Eu sei que fui tão culpado quanto você, não faria sentido apontar o dedo.
E se vier, não é como se não pudéssemos cuidar dele... ou dela... — Ele olhou
para a minha barriga e pelo amor, falava como se eu já estivesse grávida.
— Collin, eu não estou grávida!
— Não sabe!
— Pelo amor de Deus! Sério que estamos falando disso?
— Só estava tirando as minhas dúvidas!
— Então pronto, agora sabe.
— Ainda não. Estou em dúvida!
Revirei meus olhos, porque ficarmos falando sobre isso era irritante. Eu
sabia e tinha certeza. Sentiria alguma mudança, não sentiria? Não em uma
semana, claro... E se Collin tivesse razão e eu estivesse grávida? Seria uma
verdadeira loucura e eu não saberia nem como agir, como falar para meus pais e
afins...
Com Ross eu sempre me preocupava com a proteção, mas naquela noite no
hotel, com os hormônios em ebulição e o álcool correndo pelo sangue, isso
passou bem longe da minha cabeça.
— Eu disse que iria te mostrar, não é?
Collin foi até o closet e tirou uma das gavetas, revelando o cofre. Digitou
minha data de aniversário e assim que o abriu tirou uma caixa de sapato, velha e
surrada, com marcas de batom nas bordas. Marcas que eu tinha feito há vários
anos.
— Não acredito!
O pequeno objeto estava abarrotado de cartas e bilhetes. Com os assuntos
mais idiotas que apenas duas crianças poderiam ter.
— Eu disse que guardei tudo!
Peguei um deles na mão e li o que ele tinha escrito na sua caligrafia feia de
adolescente, o que na verdade não mudara até hoje.
“Conta sempre comigo.”
— Perdi as contas de quantas vezes você disse ou escreveu isso. —
murmurei, sabendo que ele falara aquilo todas as vezes em que eu me sentia mal
com alguma coisa.
— E sempre foi verdade.
Não duvidava. Collin sempre aparecia quando eu precisava dele e talvez
por esse motivo, o sentimento crescera e se transformara em algo mais,
conforme eu sabia que podia contar com toda a sua força para suprir uma parte
da minha que faltava.
— Eu me sentia melhor quando estava com você.
Ele falou e a lágrima que desceu pelo meu rosto provou o quanto aquilo
mexia comigo.
— Não parecia! — falei, fungando, sorrindo e enxugando meu rosto com o
braço.
Cedendo à menina que eu era, ao invés da mulher na qual me transformara.
— Sempre foi você, Lily. Nunca nenhuma mulher foi tão importante na
minha vida, que chegasse sequer perto de nublar a sua presença nela.
Mais lágrimas desceram pelo meu rosto e Collin beijou todas elas, com um
misto de carinho e preocupação.
— Onde escondeu esse Collin?
— Ele estava esperando por você.
Disse e sorriu, um sorriso maravilhoso, com uma carga de amor maior do
que eu poderia quantificar.
— Ainda bem que me encontrou então...
— Ainda bem que ele acordou.
Tudo estava tão bom que parecia um sonho de princesa do qual eu
despertaria em breve. Mas no momento, me permitiria fantasiar e me deixaria
levar pela sensação incrível que era ter Collin amando cada parte de mim.
Cada mísera parte de mim...
— DOIS DIAS SEGUIDOS?
— Gosto do jeito antigo.
Ele andava pela sua cozinha como se fizesse isso a todo momento, um
verdadeiro cozinheiro.
— Preciso sair daqui uns minutos.
— Quando volta?
Ele parecia contrariado ao perguntar isso e jurava que era por não poder me
acompanhar com a World Series em cima e seus treinos se intensificando cada
vez mais.
— Daqui uns três dias...
— Tudo isso? — Collin não parecia feliz e seria errado eu estar por ele
sentir tanto a minha falta?
— Sim.
— Tome cuidado.
— Pode deixar. Faço isso sempre.
— Eu sei...
— Fica tranquilo, jogador, eu volto para o primeiro jogo! — fui até ele e
abracei a sua cintura, passando a mão pelo seu abdômen definido e descendo por
lugares que nenhuma outra mulher além de mim deveria ter acesso.
Não mais.
Collin me virou bruscamente e me prensou na bancada, deixando o volume
nas suas pernas bem claro para mim.
Jamais imaginei que ele fosse um cara ruim de cama, mas espetacular
também não me passava pela cabeça.
— Tira a roupa. — Ele falou autoritário e aquilo foi o suficiente para as
minhas pernas bambearem.
— Faltam minutos, preciso ir.
— Só preciso de dois minutos pra te fazer perder a linha! — disse baixo no
meu ouvido e eu senti aquilo causar um frisson bem no meio das minhas pernas.
Desci a alça da minha blusa de seda, enquanto seu olhar queimava a minha
pele. O ar no ambiente ficou escasso e Collin passando a língua nos lábios,
querendo me devorar, não estava ajudando em nada.
Terminei de tirar a última peça, e ele se ajoelhou, com a sua intenção clara
deixando as coisas ainda mais indecentes.
Levantou uma das minhas pernas, me fazendo escorar na bancada, enquanto
sua língua traçava caminhos desconhecidos e me fazia chegar em um patamar de
prazer que eu nunca sentira.
Suas mãos passeando pelo meu corpo, enquanto sua boca fazia maravilhas,
também não me deixava esquecer que depois dessa semana, apenas Collin
despertaria meus desejos. Meus desejos mais obscuros e insanos.
Ajoelhado, me colocando em primeiro plano, me dava uma sensação de
superioridade que carregava o momento de luxúria.
Não contei o tempo, mas eu tinha certeza que nos dois minutos que ele
dera, já tinha perdido a linha várias vezes e a cada novo segundo, eu
experimentava sensações tortuosas que me provavam o quanto as preliminares
poderiam ser tão boas quanto o ato em si.
Minhas pernas falharam e Collin as segurou em um aperto forte, enquanto
meu peso desabava sobre a sua sustentação. Meu rosto pegava fogo com os
espasmos ainda passando pelo meu corpo e a leveza que eu agora sentia.
— Nem chegou em dois minutos. — Ele se levantou e falou no meu
ouvido.
Um sussurro rouco e desejoso.
Como poderia chegar em dois minutos com ele fazendo aquilo?
Era impossível.
Começou a beijar meu pescoço, apertando a minha cintura com força, de
uma maneira completamente arrebatadora.
— Eu preciso ir...— falei baixo e ele não pareceu dar importância.
— Só se prometer voltar o mais rápido possível. — Uma mordida no lóbulo
da minha orelha e eu acreditava que perderia o voo por culpa dele.
— Vou voltar, Collin. Por que não voltaria?
Ele pegou minhas roupas no chão e me ajudou a vestir a lingerie, ajoelhado
na minha frente e passando a renda pela minha perna era muito mais tentador do
que qualquer outro homem no mundo a tirando.
— Onde aprendeu essas coisas?
Falei afetada, leve e mole pelo prazer que sentira segundos antes.
— Não vai querer saber. — Ele terminou de subir a peça e beijou minhas
pernas, deixando novamente tudo em mim ansiando por tê-lo dentro de mim, me
preenchendo de maneira deliciosa e enlouquecedora.
— Isso é golpe baixo, Collin.
Fechei meus olhos e tudo o que eu conseguia fazer era senti-lo em todos os
lugares, todas as minhas terminações desfalecendo pela falta de descanso.
— Sorte sua que precisa sair, senão eu te mostraria que ficar exausta é
muito melhor do que querendo mais.
Colocou as roupas nas minhas mãos e saiu de perto, enquanto eu as
colocava. Me deixando sem entender o motivo para isso.
— O que aconteceu?
— Se eu ficar perto de você, não vai pegar voo nenhum. Melhor me afastar.
Levantou a sobrancelha com o corte e me olhou intensamente, me fazendo
duvidar se eu realmente queria pegar esse voo e viajar para a Itália. Sem sombra
de dúvidas, passar mais uma noite nos seus braços era uma alternativa muito
melhor.
— Não confia na sua noção de tempo?
— Ah, eu confio e muito, mas eu vou te fazer gritar e poucos minutos não
vão me deixar satisfeito nem ferrando.
— Não?
— Não! Vai gritar, berrar, e colocar toda a sua vontade para fora e as
pessoas no andar de baixo vão saber exatamente o que está acontecendo aqui. E
isso vai te excitar, te deixar querendo mais e vai me fazer ir mais fundo, cada vez
mais fundo. — Ele se aproximou e voltou a falar, baixo e rouco, bem próximo ao
meu ouvido. — Atingindo os pontos que você quer, causando as sensações que
deseja e te deixando molhada, enquanto percebe que uma vez não vai bastar,
uma vez vai ser só o começo.
— Não tem isolamento acústico? — perguntei apenas para provocar,
sabendo que estava brincando com fogo e muito próxima de me queimar.
— E ainda vão te ouvir.
Eu sorri com isso. Parecia indecente, mas essa era a melhor definição para
alguém tão quente quanto Collin.
— Vamos? Senão vai acabar se atrasando.
A velocidade com a qual ele parecia deixar essas coisas de lado era
impressionante. Eu ainda me recuperava dos efeitos lentamente, enquanto ele já
parecia estar pensando em outra coisa e outros problemas.
— Como consegue?
— Eu foco no que está por vir.
Aquela era a coisa mais sensual que eu já tinha ouvido e me deixava
ansiosa para voltar o mais rápido possível, e ficar rouca de tanto gritar assim
como ele prometera.
Me parecia uma ótima coisa pela qual ansiar.
***
Desembarquei em Florença, torcendo para que os dias passassem rápido e
que eu conseguisse falar com ele enquanto estivesse longe. Precisava disso para
me manter focada ao invés de pensar apenas na sua promessa.
Era a primeira vez que eu permitia fantasiar algo com ele e parecia que
daria certo. Meu sonho de princesa se transformara em realidade.
— Lily, está tudo bem?
Minha agente me perguntou e eu balancei a cabeça confirmando. As coisas
estavam muito melhores do que bem, estavam perfeitas!
— Está sim.
— Você emagreceu... Está falando com o nutricionista, fazendo todos os
acompanhamentos?
— Estou.
E estava mesmo, mas não do jeito que precisava.
— Certo.
— Preciso saber de algo para essa campanha, ou é o de sempre?
— De sempre. Mas vale ressaltar que vai tirar foto com o cara do momento,
o verdadeiro sonho de todas as mulheres. Boa sorte para não cair de amores pelo
homem!
Eu tinha o Collin, quem poderia ser ainda mais sexy que ele? Ninguém,
pelo menos para mim que o via como a encarnação do pecado. Com uma voz tão
quente quanto, inclusive. Lembrei das suas palavras no apartamento, e antes que
eu pudesse me policiar, apertei as pernas, tentando aplacar a vontade de tê-lo em
mim que se apoderou do meu corpo.
Seria a coisa mais difícil que já fiz, ficar durante esses três dias pensando
no que aconteceria quando voltasse.
— Acho que não...
— Pois eu acredito que sim! O homem é irresistível!
Eu nem sabia de quem ela estava falando e também não me importava. Só
queria fazer logo esse trabalho e ir embora.
Não desejava nada além disso.
— Tenho mais alguma campanha por esses dias?
— Preciso ver na agenda, por que?
— Quero passar um tempo em casa. No mínimo umas duas semanas.
— Duas semanas? Mas isso é tempo demais! Têm vários compromissos
nesse meio tempo.
— Desmarque! — falei com naturalidade.
Precisava focar em mim e morrer de trabalhar já não me parecia mais tão
certo. Isso que a World Series estava prestes a começar e eu queria ver os
primeiros jogos do Collin. Se eu ficasse com a agenda cheia, não teria tempo
nem para respirar, muito menos para vê-lo.
— Não tem como fazer isso.
Eu sabia. E por envolver tantas coisas teria que manter essa rotina até que
os compromissos diminuíssem.
— Então, não marque mais nada depois.
— Certeza?
Ela parecia relutante em acatar a minha vontade, mas eu realmente estava
decidida a ter um tempo apenas meu e aproveitar os jogos do Collin. Me faria
bem, tinha certeza.
Talvez as crises que me consumiam era por viver uma vida estressante, na
qual eu não tinha tempo nem mesmo para me tratar. Sharon me falara que se não
me esforçasse, qualquer progresso seria em vão, porque na primeira
oportunidade tudo retornaria e ela tinha razão. Parecia que eu nunca ficaria bem,
sem me dedicar totalmente ao tratamento e recuperação.
Tyler, Collin, minha família, eram um motivo grande o suficiente para eu
me preocupar com a minha saúde e não poderia desapontá-los dessa forma. De
maneira nenhuma.
— Sim. Vou ficar com a minha família.
— Corre uma fofoca sobre você e seu irmão.
— Tyler?
— Não, o jogador.
— Que fofoca?
— Que estão juntos... Envolvidos amorosamente...
Isso nem era fofoca, era a verdade. Mas eu tinha que ver com ele como
faríamos isso. Um comunicado ou declaração, ou simplesmente sair juntos e
deixar que tirassem as próprias conclusões.
Os responsáveis pelas nossas imagens deveriam ser consultados e eu tinha
certeza que não ficariam contentes. Era mesmo uma bomba, mas sinceramente,
não me importava muito a repercussão, o importante era sermos felizes.
— É verdade.
— O QUÊ? — Ela falou embasbacada e completamente surpresa.
Não sabia o motivo. Ter relacionamentos era normal.
— E Ross?
— Eu terminei com ele.
— E assim tão rápido já está se envolvendo com seu irmão?
— Ele não é meu irmão, pelo menos não geneticamente, sabe disso... Todos
sabem e ainda teimam em ficar me olhando dessa forma que você está olhando.
Acho que não me importa a opinião das pessoas, minha mãe me apoiou e a
família é o que realmente conta.
— Lily, isso não vai ser bom pra sua imagem...
— Por que? — O que as pessoas tinham a ver com a minha vida pessoal?
Tudo. Claro que pensavam assim.
Se achando no direito de mandar na minha vida e tomar as decisões por
mim.
— Ele foi criado como seu irmão! Tem até o mesmo sobrenome! Pra todos
os efeitos legais, ele é seu irmão, Lily! — Ela falou baixo, olhando para os lados,
tentando disfarçar o assunto, com medo que alguém ouvisse e vendesse a notícia.
No aeroporto? Cheio de gente nos rodeando? Duvidava que isso
acontecesse, mas ela querer esconder algo que eu estava decidida a deixar que
soubessem, era no mínimo irritante.
— Mas ele não é, Hilary! Está se preocupando muito por algo tão banal.
— Não. Não estou! Ele que está afetando a sua visão, quer até cancelar os
compromissos! Que falta de responsabilidade é essa?
Às vezes eu achava que ela esquecia que quem pagava seu salário era eu e
que se continuasse me infernizando por algo que não tinha nada a ver, teria que
procurar alguém que fizesse isso.
— Quantas vezes eu fiquei uma semana que seja, sem fazer nada?
Ela ficou quieta. Sabia que eu tinha um ponto e realmente não costumava
ficar sem fazer nada. Muito pelo contrário, ultimamente eu procurava o que fazer
porque não queria ter que ver Collin com mais uma das suas conquistas.
— O que eu posso falar para mudar a sua ideia?
Nada. Eu amava Collin e não esconderia isso.
— Nada. Eu o amo, Hilary. O amo desde quando me lembro de gostar de
alguém e não vou deixar que ninguém atrapalhe isso.
— Entendo. Vamos deixar que as coisas sigam o seu caminho então.
Ela disse e sumiu pela multidão, sem me esperar, chateada por uma coisa
que não deveria nem ser do seu interesse. Claro que ela deveria prezar pela
minha imagem, mas eu odiava quando as pessoas achavam que sabiam o que eu
devia fazer.
Não seria infeliz por causa de outros.
Se eu precisasse lutar pela minha felicidade, era exatamente isso que faria.
— POR QUE TÁ com essa cara?
Tyler perguntou e eu nem respondi.
Estava irritado.
Ficar longe dela agora parecia uma provação, uma a qual eu não queria ter
que passar.
— Falta dois dias pra ela voltar.
— Tá nesse patamar de contar os dias?
Provavelmente, já o alcançara há muito tempo, só não sabia definir o
sentimento.
Era maluco por ela e não negaria mais, não valia a pena.
— Acho que sempre estive.
— Que bom que percebeu, tava cansado de ficar dando conselhos para os
dois.
Os conselhos do Tyler não valiam de muito quando nem ele sabia o que
fazia.
— O que vai fazer hoje? — perguntei, sentado no sofá, olhando para trás
ocasionalmente para ver o quadro da Lily em cima da minha cabeça.
Era uma parte dela que eu mantinha sempre comigo.
Depois que voltei do treino, empurrei a poltrona e sentei de frente para os
quadros, admirando a sua beleza exótica e relembrando os momentos que
passamos juntos. Nem me reconhecia mais, mas admitia que estava gostando
desse novo eu. Um eu que se preocupava com a mulher que sempre fora dele.
Depois de muitos minutos perdido no verde dos seus olhos, devolvi a
poltrona para o seu lugar e sentei no sofá, roendo as unhas por ter que esperar
para falar com ela. Me mandara uma mensagem dizendo a hora que estaria livre
e eu contava os segundos para ouvir a sua voz doce e perguntar como tinha sido
seu dia e se sentira minha falta como eu sentira a dela.
Parecia que isso acontecera há uma eternidade e não apenas algumas horas
atrás.
— Eu tinha um jantar, mas não sei se vou.
— Por que?
— Sabe quando a gente gosta de alguém mas sabe que não é o melhor para
aquela pessoa?
Se eu sabia? Eu vivia isso desde aquela noite com a Lily. O entendia melhor
do que ninguém! Era nossa sina, nunca nos acharmos suficiente para as pessoas
que amávamos.
— Sei, toda vez que olho pra Lily esse entendimento cai sobre mim.
— Ela é toda linda, inteligente, mas é diferente... Não é o tipo de garota
com a qual eu fico, entende?
— Chloe? — dei um palpite mesmo sabendo que tinha uma chance enorme
de não o ser.
— Não. É uma garota que trabalha comigo.
Essa era nova. Suas amigas de trabalho eram todas retraídas, usavam óculos
e costumavam ser virgens, porque se importavam mais com computador do que
com pessoas. Não que eu tivesse preconceito, mas realmente não era o padrão do
Ty. Mas quando o amor escolhia padrões? Se ele gostava dela que se jogasse,
assim como eu tinha feito com a sua irmã, deixando que todas as minhas
barreiras caíssem.
Essas coisas do coração eram imprevisíveis.
— Inteligente, que gosta de computadores, usa óculos, fã de Star Wars e
todas essas coisas geeks?
— Direto no alvo.
Tyler passou a mão na testa e parecia realmente sem saber como agir. E
caramba, eu no seu lugar estaria da mesma forma, era complicado tentar algo
com alguém que a gente não sabia o padrão de envolvimento. Ele não poderia ir
rápido demais para não assustar a garota, também não poderia ir devagar demais,
porque daí ela pensaria que ele queria ser amigo dela, enfim, era difícil encontrar
o ponto certo da conquista.
— Não sabe como convidá-la?
— Eu convidei, mas acho que ela entendeu como um jantar de amigos... Pra
ela não passo disso.
Lily também não passava disso para mim.
— Eu e Lily éramos assim, olha onde estamos agora.
— Em uma confusão, isso é certo.
Sim, era verdade. Mas era uma confusão excitante e maravilhosa.
— Vai voltar atrás com o jantar?
— Não sei. O que faria no meu lugar?
Uma pergunta que eu definitivamente não conseguia responder. Não sabia
nem o que faria da minha vida, quem dirá o que ele faria com a dele. E para
piorar, também nunca convivi com essas mulheres tempo o suficiente para saber
o que realmente elas queriam.
As que eu ficava eram fáceis demais, queriam sexo. Muito sexo. Uma noite
quente e maluca para fazê-las esquecerem até o nome. Agora as outras? Eu não
fazia a menor ideia e nem faria. Lily tinha chegado e depois dela,
provavelmente, não haveria nenhuma outra.
— Está perguntando pro homem errado, irmão.
— Imaginei.
Ficamos em silêncio, os dois sofrendo por não tirarem da cabeça imagens
de mulheres marcantes.
— Quer jantar fora? Não tô afim de voltar pra casa e ser fuzilado pelo pai e
pela mãe.
— Vamos dar uma volta então e se quiser pode dormir aqui, não tem
problema. Ou no apartamento da Lily, ela com certeza não iria se importar.
Não iria mesmo. E sinceramente quem estava cogitando ir até lá passar a
noite, era eu, apenas para sentir seu cheiro em todos os lugares e dormir na cama
que ela dormia sempre que estava lá.
Aquele apartamento tinha uma parte dela e eu do jeito que estava, doido
para matar um pouco da saudade, achava uma excelente ideia ficar por lá.
— Melhor, Ty, eu vou pra lá e você fica! Chama a garota pra jantar aqui, o
que acha?
— Ficou doido? Não sei se quero vê-la.
— Eu aposto que quer, por isso está inquieto desse jeito.
— Essa semana saiu uma matéria sobre eu e a Chloe. Uma modelo.
Exuberante! Acha mesmo que ela não pensaria que estou brincando com os
sentimentos dela?
Olhando por esse lado, acreditava que ela daria um soco nele se tentasse
algo. Se eu fosse mulher, era isso que faria.
— Aí complica tudo.
— Pois é...
— Mas se está gostando dessa, por que ficou com a Chloe?
— Não fiquei. Nós apenas saímos para conversar, mas não passou disso.
— E Lily ficou com quem? — Se ele tinha saído e a Chloe também, com
quem a gatinha ficara?
— No hotel, vendo algum programa de televisão. Ela achou que eu e a
Chloe gastaríamos nosso tempo fazendo coisas mais prazerosas e não quis
atrapalhar.
— Minha garota é esperta!
— Agora ela é sua garota...
— Antes tarde do que nunca! E isso vale pra você e pra nerd que gosta de
Star Wars.
— Eu gosto de Star Wars!
— Por isso, vão se dar bem! E como eu disse, vou sair, vou pro
apartamento da Lily. Aproveita o meu e chama a garota pra jantar, faz algo legal
pra ela e mostra seu sabre de luz! Vai que ela gosta! E — dei uma pausa,
enquanto seguia pra porta — tem camisinha nos criados mudos!
— Idiota! — Ele falou alto e jogou uma almofada em mim.
Mas no fundo, devia estar nervoso por saber que hora ou outra teria que dar
o primeiro passo.
Eu e sua irmã tínhamos dado. Só faltava ele.
Virei a aba do boné para a frente, antes de entrar no carro, sabendo que ela
incomodaria enquanto eu estivesse dirigindo. Com os nervos à flor da pele por
notar que eu estaria mais perto dela, mesmo sem o estar de fato.
Ficar no seu apartamento me parecia muito melhor do que ficar no meu.
Estacionei ao lado do seu carro assim que acessei a garagem subterrânea,
parando por um instante e sorrindo ao olhar e ter uma lembrança dela me falando
que era um carro para o meio ambiente e que o meu só sabia poluir o mundo.
Sacudi a cabeça, espantando a lembrança e fui para o elevador, apertando o
botão do seu andar e desejando que o lugar pudesse preencher um pouco do
vazio que estava se apoderando de mim.
Meu celular começou a vibrar no meu bolso assim que entrei no
apartamento e a euforia por ver a sua imagem na tela pareceu irradiar felicidade
pelo meu corpo.
— Oi, amor.
Era a primeira vez que eu atendia o telefone dessa forma e foi mais fácil do
que eu esperava. Muito mais fácil.
— Oi, gatinho.
Invertemos os papéis? Eu a chamava de amor e ela me chamava de
gatinho?
Não fazia muito sentido.
— Que inversão de papéis é essa?
— Só para variar.
— Como foi seu dia?
Eu sempre ligava para ela para saber, mas hoje era diferente,
completamente diferente.
— Corrido e o seu?
O meu? Uma merda! O tempo todo pensando nela.
— Não foi produtivo, você não saiu da minha cabeça.
Lily não esperava que eu dissesse isso e seu silêncio foi a prova.
— Estamos na mesma, então... Tyler me mandou mensagem perguntando o
que eu gostaria de comer em um jantar romântico, acredita? Está sabendo de
algo?
Sorri com a inteligência dele. Tinha feito o que falei e daí sim poderia dizer
se as chances eram mesmo nulas com a nerd.
— Ele tá no meu apartamento, preparando algo para uma mulher que ele
quer ficar.
— No seu? E onde você tá?
O ciúme era evidente no seu tom de voz e eu era muito ruim por ter gostado
disso, mas realmente gostei.
— No seu.
— Não vai fazer festa aí! Não quero sujeira quando voltar! — O que
inferno ela achava que eu era? A intenção era totalmente diferente para eu ter
vindo.
— Eu vim pra ficar mais perto de você... Vou passar a noite aqui.
— Certeza que nunca namorou antes?
Eu gargalhei, ela sabia que não. Apenas Lily e mamãe tinham o melhor lado
de mim. Eram as duas mulheres da minha vida e sabiam dessa verdade tanto
quanto as mulheres que eu ficara de vez em quando.
Algumas perguntavam porque eu tinha um quadro dela na minha sala e eu
respondia que não lhes interessava. Uma verdade absoluta. O apartamento era
meu e eu colocava imagens de quem eu quisesse nele.
Eu poderia colocar foto do Mr. Bean que ninguém teria nada a ver com isso.
As fotos no quarto então, causaram um mar de perguntas. Perguntas que eu
não respondi nenhuma.
— Sabe melhor do que eu, boneca. Posou com qual roupa hoje? Não era
lingerie, era?
Eu não queria dar uma de ciumento, mas agora que eu conhecia o seu gosto
e a textura do seu corpo, era impossível evitar. O monstro em mim simplesmente
rugia com a ideia de alguém tocando-a da mesma forma que eu.
— Lingerie, com um modelo maravilhoso!
— Como assim modelo? — perguntei interessado, e não de uma maneira
saudável.
Outro cara com ela, enquanto eu ficava sozinho e doido para matar toda a
minha vontade dela, por ela e somente ela.
— É um modelo, Collin. Isso é normal.
Não era normal para mim, não para o meu ciúme.
— Certo.
— Não fica assim! Quando eu voltar vou ver se consigo dar um tempo pra
poder ir nos primeiros jogos e passarmos uns dias sozinhos.
Aquela definitivamente era uma excelente ideia.
— Não prometa se não for cumprir.
— Dessa vez é sério! Nunca vai esquecer aquele dia?
Eu não esqueceria porque adorava irritá-la. Lily tinha prometido ir ao jogo
da decisão na temporada passada e nem sinal de fumaça fez quando não pôde ir.
A sorte dela é que o outro time acabou ganhando e empatando o placar, o que
adiou a decisão para o próximo jogo.
Sorte a dela.
Senão ouviria muito mais de mim.
— Jamais!
— Coração rancoroso o seu.
— Não viu nada.
— Vou ter que desligar, quando puder te ligo novamente, tudo bem?
— Já? — A gente nem tinha conversado direito e ela já precisava desligar?
— Desculpe.
— Certo. A gente conversa mais quando puder, até mais gatinha.
— Um beijo, amo você.
Ouvi uma voz masculina antes que ela encerrasse a ligação e meu coração
bateu acelerado, nervoso. Será que acontecera alguma coisa? Ou alguém
tentando fazer algo para ela?
Não, não deveria ser nada disso, eu que estava paranoico e imaginava as
piores coisas sempre. Lily era esperta e eu devia confiar nela.
Fui até seu quarto, imaginando estar louco por sentir o seu cheiro mesmo
que ela não tivesse dormido ali há dias.
Tirei o tênis e o boné, deitei na cama e abracei seu travesseiro, com as
lembranças dominando a minha cabeça e me deixando sorrindo como um idiota.
Haviam muitas, muitas lembranças nossas naquelas paredes e agora ficava
contente por ter pelo menos essa colher de chá.
Era o que evitava que eu ficasse maluco sem ela.
Isso e saber que em dois dias no máximo ela estaria novamente nos meus
braços.
— O QUE FAZ aqui? — perguntei para o Enrico, que me olhava com
extremo divertimento.
— Essa coleção é minha. Não se deu ao trabalho de ler?
Eu realmente não o fizera, estava com a cabeça em Boston, mais
especificamente em Collin.
— Falha minha, mas por que não me disse que eu estrelaria a sua
campanha?
— Já estava achando que eu queria me aproveitar de você por ser estilista,
se soubesse que já estava contratada para a minha coleção, provavelmente,
cancelaria e levaria as coisas para o lado errado.
Ele não deixava de ter razão.
— E o nosso jantar ainda está de pé? — perguntou, notando que eu não
comentaria nada sobre o que acabara de dizer.
Depois de ficar com Collin, achava que não era bom sair com Enrico e
correr o risco de dar a entender algo errado.
— Eu não sei...
— Um jantar não é uma ameaça tão grande, não acha? Apenas como
parceiros de trabalho, o que me diz?
— Que você é insistente!
E era mesmo. Mais insistente do que eu me sentia confortável para admitir.
Possuía um charme envolvente e me olhando da forma como olhava, me deixava
ainda mais desconfortável por achá-lo um homem atraente.
— Não há como conquistar o que deseja se desistir no primeiro problema.
Sabia disso melhor do que ninguém, conquistara as minhas coisas
persistindo mesmo quando recebia um não como resposta.
O não era o que mais ouvia, mas lutava firmemente pelo sim.
— Isso é fato.
— Aceita?
E se Collin descobrisse? Mas eu não estava errada, estava? Não deixaria
que Enrico avançasse nenhum sinal e para mim isso parecia mais como um
jantar de negócios.
— Tudo bem. Mas eu preciso voltar o quanto antes para o hotel.
— Tudo isso é medo?
Medo? Dele? Não, definitivamente. Medo do que ele poderia me causar
justo agora que as coisas estavam indo bem.
— Claro que não.
— A coleção ficou maravilhosa em você. — Ele disse e seu olhar passando
pelo meu corpo não foi despercebido.
A minha sorte é que Collin não conseguia ver um negócio desses, senão as
coisas realmente desceriam com a correnteza. Já bastava o modelo ter flertado
descaradamente e toda aquela sua atenção provavelmente seria perceptível na
campanha.
Ele olhava como se fosse me morder a qualquer instante, pelo amor de
Deus!
— Obrigada! — agradeci, adquirindo uma feição dura que demonstrava que
eu não gostara do seu flerte descarado.
Antes, talvez gostasse, mas agora, essa possibilidade nem me passava pela
cabeça.
Não estava namorando ainda, mas o único homem que me interessava de
verdade estava na minha e eu não brincaria com isso.
— Vou te esperar. — Ele disse e passou a mão no cabelo, sorrindo
acanhado.
Não entendia o motivo para isso, com certeza ficara com mulheres
maravilhosas que me deixariam no chinelo. E tínhamos a noção que não era um
jantar romântico, eu estava com a cabeça em outro lugar para qualquer tipo de
resposta aos seus flertes.
Mas não custava nada ser educada e jogar conversa fora sem qualquer tipo
de segundas intenções por trás disso.
Segui para o meu trailer que servia de camarim, e coloquei minha roupa,
checando minha aparência vagamente no espelho. Notei as maçãs do meu rosto,
profundas, e me xinguei mentalmente por estar deixando que aquelas crises
voltassem e afetassem toda a minha vida. Achava que elas tinham diminuído,
mas sempre me surpreendia e não de uma maneira boa.
Apoiei as mãos na penteadeira e abaixei a cabeça, derrotada. Sabendo que
quanto mais eu lutava contra, mais a compulsão vinha com força. Me deixando
blindada para qualquer pensamento bom.
O celular começou a vibrar e olhei para a imagem minha e do Collin
piscando na tela. Não estava bem para falar com ele, o momento não era dos
melhores. Tentava manter a vontade dentro de mim, me sentindo suja por mentir
para todos que se importavam comigo, como se eles não fossem se magoar
quando descobrissem.
Bati na mesa com o punho fechado. O aparelho ainda vibrando ao meu
lado, me lembrando de quem eu amava.
Meu coração doía.
Todos se decepcionariam comigo, igual o Tyler. Ele disfarçava bem, mas eu
conhecia-o o suficiente para saber que fingia estar tranquilo com isso. Ty estava
chateado e mais ainda por ter que esconder de todos. Me fez prometer que assim
que voltasse iríamos juntos ver Sharon, mas eu sinceramente não sabia se
cumpriria essa promessa, queria correr para longe o mais rápido possível e não
ver como todos reagiriam quando soubessem.
Minha mãe se sentiria uma péssima mãe e meu pai, um péssimo pai.
Mas eles precisavam entender que nada tinha a ver com eles, nem eu sabia
ao certo o que desencadeara essa minha maneira errada de defesa contra o
mundo.
Não importava o quanto depois que me tornei modelo, todos à minha volta
me falassem que eu era linda. Não importava, porque não me sentia linda.
Me sentia apenas uma casca de uma mulher que todos julgavam pela
aparência.
Uma pessoa com mais defeitos do que qualidades.
Enxuguei uma lágrima que desceu solitária pela minha face e respirei
fundo, lutando contra aquela força.
Como alcançar o céu quando se sentia sendo constantemente puxada para o
inferno?
Era uma boa questão.
— Está tudo bem aí? — ouvi batidas na porta e a voz do Enrico soou alta e
preocupada.
Nem mesmo um momento de paz com meus segredos eu conseguia.
— Já estou saindo! — falei alto para ele ouvir, peguei minha bolsa e abri a
porta do trailer, quase batendo nele com esse movimento.
— Desculpe! Acho que fiquei próximo demais.
Se ele não tivesse me falado, eu nem teria percebido.
— Quanta ansiedade! — tentei soar tranquila, mas sabia que alguma coisa
na minha voz denunciara meu estado apenas em olhar para o seu rosto.
Parecia que ele estava tentando me ler, mas para minha sorte, eu era um
livro fechado sobre esse assunto e ele não teria muito a que descobrir.
— Não costumo ficar assim, me desculpe.
— Sem problemas, é o primeiro homem que me pede desculpas por estar
ansioso para me ver! — Eu gargalhei porque era verdade e aquilo não fazia
sentindo nenhum.
— Soou um pouco estranho, admito. Mas espero que Con te Partirò quebre
o gelo no seu coração!
— Acho que não... Enrico, eu estou ficando com outra pessoa, por isso a
minha relutância. Não quero que pense nada romântico sobre esse encontro,
podemos ser apenas dois conhecidos que saíram pra conversar, o que acha?
— Não sou desse tipo de homem!
— Como não?
— Gosto de jantares elegantes com uma companhia interessante o bastante
para me fazer esquecer o processo criativo que roda na minha cabeça a todo
momento. — Ele girou a mão ao lado da têmpora, em um gesto de loucura e eu
sorri.
Era fácil conversar com ele. Fácil até demais! Chloe deveria conhecê-lo,
ficaria maluca, sem sombra de dúvidas.
— Uma vez me disseram que é mesmo um conflito, pensa nisso a todo
momento, até quando está dormindo.
— E essa pessoa não mentiu, qualquer coisa é fonte de inspiração, até
mesmo apenas conversar com uma mulher espetacular.
Espetacular?
Eu usaria vários adjetivos para me descrever, mas espetacular não era um
deles. Só me sentia magnífica ao ponto de pensar nessa palavra quando Collin
me olhava e eu via o brilho dos meus olhos refletido nos dele.
— Estou longe disso.
— Não precisa mais provar a sua modéstia, eu notei-a aquele dia no café.
Enrico tornava a conversa muito fácil e parecia ter um dom natural para
arrancar sorriso do rosto das mulheres. Todas pelas quais passamos enquanto eu
o acompanhava, o paravam, cumprimentavam e sorriam derretidas quando ele as
beijava na mão para se despedir.
Nunca tinha visto tamanha facilidade de conquista em um homem. Ele
superava todos os meus pré-conceitos sobre italianos e parecia fazer com que o
restante dos seus camaradas soassem como garotos do ensino médio, sem
charme algum e sem experiência para contar vantagem.
— Com faz essas coisas? — perguntei, realmente curiosa.
Nem mesmo Collin e Tyler conseguiam enfeitiçar as mulheres dessa forma.
Eles as seduziam com um bom papo, mas o olhar que as mulheres davam para
Enrico, demonstrava que elas o queriam para muito mais do que uma noite.
— Que coisas?
— Enfeitiçar as mulheres dessa forma! Que coisa maluca!
— Você eu claramente não consigo afetar.
Só porque meu coração já era de outra pessoa e sequer olhava para o lado.
Tinha sido sempre assim, com a diferença de que antes, não achava que
conseguiria um avanço, então tentava da melhor forma não tornar minha vida
amorosa um fracasso. O que acontecia de qualquer forma, sendo Ross a maior
prova dessa verdade.
Vários meses de puro fingimento e notícias sensacionalistas que nos faziam
ser perfeitos um para o outro, mesmo sem o ser. Sorrisos falsos e abraços mais
falsos ainda. Nem eu mesma sabia como conseguira passar tanto tempo com ele,
talvez porque eu não tinha muitas horas com ele. Eram ocasionais e haviam
semanas em que nem nos víamos.
Não me surpreenderia se aparecesse alguma imagem dele me traindo e, na
verdade, achava que tinha sido um milagre que isso não aconteceu.
Ross era Ross.
— Porque estou com o coração ocupado.
— Mas não precisamos nos envolver com o coração...
Eu o olhei brava, sabendo exatamente onde ele queria chegar com essas
frases cheias de duplo sentido.
— Eu já disse, Enrico! — soei seca e ríspida.
Melhor cortar os seus avanços já pela raiz antes que ele me causasse
problemas.
— Certo, entendo. Minhas artes de sedução não funcionam com você e
ponto final, posso conviver com isso!
Assim que entramos no seu carro, vi uns flashes, mas não me importei, era
assim praticamente todo dia e nem me dava mais ao trabalho de tentar tampar
com a mão.
— Não enjoa?
— Do que?
— Dessa atenção todos os instantes do dia... Não pode fazer nada sem que
isso perca a normalidade com a quantidade de paparazzi que a seguem para obter
um furo exclusivo.
— Não me importo mais... Antes eu ficava paranoica, mas hoje em dia eu
até sorrio as vezes, é claro, dependendo de como foi meu dia.
— Eu não gosto muito.
O som no carro começou com as batidas suaves de Con te Partirò e eu o
olhei, incriminando pela escolha. Ele fizera de propósito e o sorriso debochado
no seu rosto provava que eu estava certa nos meus pensamentos.
— Falei que jantaria com você ouvindo essa música, mas como não posso
ter esperanças quanto a uma madrugada bem aproveitada, prefiro não
desperdiçar meu arsenal completo.
— Usa isso com todas?
— Todas? Não! La maggior parte delle donne non resiste nemmeno alle
6
prime parole...
Ele falando em um italiano perfeito, tão sexy, me fazia entender porque elas
de fato não resistiam.
Falando sacanagem ao pé do ouvido devia ser ainda pior. Muito pior. Do
tipo que nos fazia perder a cabeça logo no primeiro toque.
7
— Per favore non parlare in italiano. Conosco solo alcune cose .
— Parabéns! Acaba de me deixar ainda mais interessado!
Me amaldiçoei por isso e anotei mentalmente que não poderia ficar
treinando o que sabia em Italiano com ele.
Conversamos sobre várias coisas e estava realmente me sentindo mais à
vontade na sua companhia quando ele estacionou na frente de um pequeno
restaurante, discreto e modesto à sua maneira, mas com uma beleza difícil de
descrever. Uma beleza do tipo que só se via na Itália. Ramos contornavam a sua
entrada e a madeira rústica da qual era feito, me fazia pensar em um conto de
fadas. Enrico ao meu lado, abotoando seu terno de maneira casual não deixava
essa fantasia menos possível, a tornava praticamente real.
Engoli em seco.
Não podia me deixar levar.
Collin me esperava em Boston e eu realmente estava morrendo de saudade
dele e não conseguia tirar da cabeça a sua promessa de prazer, o que me fazia
arder sem ter quem aplacasse o fogo imediato. Além de Enrico, que não era uma
opção.
Ninguém era opção além do Collin, isso era fato.
— Vamos?
Enrico colocou a mão nas minhas costas e me guiou suavemente, enquanto
eu absorvia a magia do ambiente. Era totalmente calmo e confortável,
simplesmente encantador.
O sorriso no meu rosto era sincero e eu estava realmente me deixando
envolver pela atmosfera acolhedora.
— É perfeito! — falei admirada.
— Eu sei! Descobri há um tempo e me pareceu interessante. Entrei por
curiosidade e desde então não deixo de vir aqui quando tenho a oportunidade.
Ele puxou a minha cadeira e esperou que eu me sentasse para poder fazê-lo.
O homem estava muito à frente das regras de etiqueta e eu me assustei com
o quanto isso me fascinou.
— Gostou?
— Eu adorei! Que lugar magnífico!
— Sabia que escolhera certo... Você não gosta de lugares muito chiques.
— Como sabe?
Eu odiava jantar em lugares que poderiam valer o preço do meu carro.
Odiava de verdade. E odiava ainda mais que as pessoas achassem que eu fazia
parte desses lugares, quando na verdade os evitava com todas as minhas forças.
— É fácil notar.
Nos trouxeram o cardápio, que eu não prestei atenção, completamente
perdida nos detalhes da decoração.
Pedi a primeira coisa que li e recebi uma aprovação dele. Não devia ser
algo ruim então.
Jantamos, sorrimos e percebi que Enrico poderia não ser Collin, mas
poderia ser meu amigo sem sombra de dúvidas.
Ele não era de se jogar fora e eu faria questão de apresentá-lo para Chloe, e
garantir que os dois tivessem momentos memoráveis dos quais lembrar.
Sim, seria perfeito!
Ninguém sairia machucado e poderia sorrir enquanto ouviria minha amiga
falando o quanto ele era bom no que fazia.
Soava um arranjo espetacular! E a palavra dessa vez era perfeita para a
ocasião.
PEGUEI A REVISTA nas minhas mãos e a foto na capa foi capaz de me
rasgar em pedaços.
A notícia: “Lily Currey se encontra com Enrico Morelli. Possível caso de
amor no mundo da moda? Saiba mais na página 6!”
Joguei aquela merda com tudo na parede e olhei para o quadro da mulher
que me deixava maluco, completamente furioso por saber que eu não teria como
controlar o ciúme que me corroía e envenenava. Por que raios ela me fazia ir
contra tudo no que eu acreditava, para depois sair com um cara qualquer?
A dúvida esmagava a minha vontade de ligar para ela e saber que não me
atendeu ontem quando liguei apenas porque estava com esse homem, me
deixava ainda mais irritado. Ela ficara brava por causa da Shayla e agora fazia
uma coisa dessas?
Peguei meu celular e tentei ligar para ela, que dessa vez atendeu. Dessa
maldita vez ela atendeu! Justo quando eu não estava nem perto de bem para
conversar.
— Oi, amor.
Sua voz doce se infiltrou em mim e abri um sorriso amargo, como se ela
pudesse vê-lo.
— Oi, tem algo pra me contar? — perguntei tentando soar calmo, quando
na verdade a raiva dentro de mim queria vir diretamente para a superfície.
— Por que?
— Nada?
Apertei o celular na minha mão e achei que ela conseguia ouvir a minha
respiração pesada e notar o quanto eu estava fora de mim.
— Bem... Eu só tirei as fotos para a campanha e depois saí para jantar com
um amigo...
A falha na sua voz demonstrou que ela sabia exatamente o motivo para eu
estar desse jeito. Podia até ser um amigo, mas e se fosse no meu caso? Como ela
se sentiria em acordar e dar de cara com uma matéria dessas? Com certeza
ficaria no mínimo puta e era como eu estava me sentindo.
Sem vontade nenhuma de ficar falando com ela.
Quando voltasse e a visse, seria outra história, mas por enquanto eu preferia
me acalmar sozinho. Era um perigo para a sociedade quando estava irritado e ela
sabia disso melhor do que ninguém.
— Entendo, fiquei sabendo por uma revista.
— Collin, me escuta, ele é o cara com o qual falei no café aquele dia e é
estilista, foi ele quem desenhou a coleção da campanha de hoje.
Trinquei meus dentes e apostava que ela ouvira o barulho.
Tinha acabado de piorar a situação e meu ciúme provavelmente atingia o pé
direito do meu apartamento de tão alto. Os nós dos meus dedos estavam doendo
e mordi a língua para aplacar um pouco do sentimento que me dominava.
Aquilo não era o melhor, mas era complicado explicar isso para o meu
coração.
— Maravilha.
— Eu sei que piorei, mas iria descobrir uma hora ou outra, não é?
— Por isso não pôde falar comigo ontem quando liguei de novo?
— Claro que não! Eu estava no meio da sessão!
— Certo! — soei irônico, mas é que era realmente difícil de acreditar.
Ela poderia ter me dito o que faria que eu não me importaria. O que mais
me deixava rancoroso era ter descoberto por uma matéria de revista e não da
boca dela, quando nos falamos horas antes do “suposto jantar”.
— Quando voltar a gente conversa.
Não esperei que ela respondesse. Apenas pioraria tudo.
Olhei mais uma vez para o seu quadro e desisti de ficar remoendo essa
coisa louca no meu peito. Peguei a chave do carro e corri para o treino, antes que
eu fizesse alguma merda da qual não me orgulharia depois.
Meu celular voltou a vibrar no meu bolso e era ela tentando remediar a
situação, mas eu não atenderia. Não estava bem para falar com quem quer que
fosse. Só queria treinar em paz e me preparar para o jogo de amanhã, no qual
possivelmente ela estaria na torcida.
Minha concentração com certeza iria para o inferno.
Que se ferrasse!
Passei pelos caras e não cumprimentei nenhum deles.
Mulheres nos deixavam loucos e pelo visto, mal-educados também. Minha
vontade era de correr para o mais longe que eu conseguia, apenas para evitar
aqueles olhares cheio de perguntas.
Nem preso nos meus próprios demônios eu podia ficar mais.
— Problemas, não é? Shayla me mandou uma foto... — Steve comentou
como se não fosse nada demais.
Mas que porra ela tinha a ver com a minha vida? E ele?
— Vocês dois que se fodam! O que minha vida é do interesse de vocês?
Ele pareceu chateado, mas eu realmente estava muito bravo para ficar
ouvindo idiotices de pessoas que nem sabiam o que estava acontecendo de
verdade. Nem eu tinha noção, quem dirá eles.
— Ela estava preocupada.
Era só o que me faltava! Uma merda gigantesca dessas! Tinha deixado claro
que não queria nenhum tipo de envolvimento além do sexual que mantínhamos e
nem para isso eu a via mais. Que direito ela achava que tinha?
— Ou feliz por eu ter quebrado minha cara.
— Quebrou?
Não ainda. Mas com Lily eu não fazia ideia do que aconteceria a seguir. Ela
era a mulher mais linda que já tinha visto e para piorar, era modelo, estrelava
campanhas e mais campanhas, sendo o sonho de praticamente todos os homens
do mundo. E sorria como ninguém, um sorriso avassalador!
Se é que sorrisos poderiam ser caracterizados dessa forma.
Os dela me hipnotizavam e me deixavam de boca aberta, sem conseguir
desviar o olhar.
— Ainda não.
— Aquela mulher é um perigo cara! Sabe disso! Metade do time se mataria
pra ter um momento com ela!
Olhei feio para ele, eu definitivamente não precisava saber disso. Não
queria saber antes, muito menos agora.
Principalmente agora.
Peguei o taco e apontei na sua direção, que engoliu em seco, prevendo o
perigo. E caralho, eu estava mesmo muito puto. Nem me lembrava de algum dia
ter estado tão bravo como estava depois da surpresa.
— Vira essa coisa pra outro lado! Eu só comentei!
— Cale a boca pra não acabar sem dentes, então.
— Foi mal!
— Falaram alguma coisa por eu ter saído e nem conversado com eles? —
perguntei, realmente curioso, porque nem se importaram quando eu passei pelas
salas e vim direto para o campo.
Pareciam concentrados em outra coisa.
— Não. Estão preocupados com o início da temporada e com as
contratações dos outros times.
Balancei a cabeça, entendendo o que ele queria dizer e mordi o meu lábio
inferior, tentando mandar para longe os pensamentos sobre Lily e sobre a minha
promessa que pelo visto não se cumpriria. Mal sabia como estaríamos quando
ela chegasse aqui, quem dirá se sua explicação seria convincente o bastante.
Era boa de lábia, mas eu notava uma mentira à milhas de distância. Ficara
com mulheres fúteis o bastante para saber distinguir a verdade.
— Quer ir pra festa hoje?
— Festa? Ficou louco? O jogo é amanhã!
— Não vamos beber, vamos só nos divertir.
Já até previa qual seria a diversão e não estava nem um pouco afim.
Precisava conversar com o Tyler e saber como tudo havia ficado.
Quando cheguei no apartamento hoje, não o encontrei e muito menos
qualquer sinal de bagunça. Se ele tivesse feito algo, arrumou em tempo recorde
ou se mandou antes.
— Não, tenho mais o que fazer.
— Shayla vai estar lá...
— E que merda eu iria querer com ela? — questionei amargo, porque
parecia que esses dois tinham combinado de me irritar mais do que eu poderia
suportar.
— Ela gosta de você, Collin...
— Pega pra cuidar. Eu disse desde a primeira noite que não teríamos nada
além daquilo e se ela se iludiu, o problema é dela.
— Disse que até a levou para conhecer seus pais.
Pelo amor de Deus! Ela que praticamente havia implorado e eu idiota, cedi.
— Ela implorou.
— E você cedeu, péssimo sinal cara, pra quem não queria nada além de
sexo.
Eu tinha que concordar, mas não era como se eu não tivesse levado
ninguém antes dela. Aparecia sempre com uma diferente e notava Lily em um
canto, discutindo com Ross, como fazia todas as vezes. Abandonava as mulheres
ou as mandava embora e corria doar meu ombro para o seu choro baixo e
sentido. Consolá-la me fazia ficar bem e ver seu sorriso, iluminava meu dia.
Muito mais do que passar uma noite inteira transando com outra mulher.
Muito mais.
Meu humor praticamente reagia ao seu e quando estava brava, eu acabava
me irritando também, quando estava chateada tudo à minha volta parecia se
tornar mais escuro e sempre fora assim. Sempre. Ficava surpreso por não ter
notado o que era isso antes e ter poupado um bom tempo.
— Não farei mais nada parecido.
Por causa da Lily, por mim e, principalmente, porque não sentiria nada com
qualquer outra.
Era como se notar que eu estava apaixonado por ela tivesse me travado para
qualquer outra mulher.
Por isso que meu pai e meus tios estavam com as mesmas mulheres há
anos?
Provavelmente.
Agora fazia todo o sentido para mim.
Se eles sentem metade da ligação que eu sinto com a Lily, faz a merda de
um enorme sentido!
— Ela te mudou mesmo, uh?
Ele nem fazia ideia.
Parecia que eu entraria em colapso a qualquer momento, tamanha era a
minha vontade em estar perto dela.
— É complicado...
Me posicionei na área e perdi a primeira bola, respirando fundo enquanto
me concentrava para a próxima. Steve, no monte, sorrindo da minha falta clara
de habilidade, provando que quando a vida amorosa não estava bem, isso era
refletido nas demais coisas.
Acertei uma. Ela não chegou nem mesmo nas arquibancadas, caindo no
meio de campo.
E o jogo seria amanhã. Eu estava ferrado, ferrado pra caralho!
Steve assoviou e eu fiquei ainda mais irritado.
Como não conseguia acompanhar a trajetória da bola como antes?
Lily.
Porque meus pensamentos estavam todos nela.
— Esteja melhor para amanhã, senão seremos massacrados logo no
primeiro jogo.
— Sei disso, não precisa nem me falar.
Olhei de relance para uma das grades e Shayla estava lá. Para a minha raiva
se tornar maior. O que raios ela estava fazendo ali de novo?
Não sabia qual ponto da minha conversa ela não entendera, mas tinha
certeza que falava a sua língua.
— Porcaria! — murmurei, mas Steve pareceu entender o motivo da minha
revolta assim que olhou na mesma direção.
— Eu disse. — Ele gritou e deu de ombros.
Provavelmente se divertindo com a enrascada na qual eu havia me metido.
Quando comecei a ficar com ela nem de longe imaginava que seria do tipo que
ficaria perseguindo e agora me amaldiçoava por não ter notado isso.
— Fica com ela você! — falei alto, querendo que ela ouvisse e parasse de
correr atrás de mim.
Sabia que estava sendo muito ruim, mas merda, a forma como ela agia
estava me irritando e eu não tinha lá muita paciência.
— Já tentei! Mas ela não me quer!
Ele lançou e eu mantive o taco parado, notando o porquê ele se importava
tanto com ela.
— Gosta dela? — mexi minha boca e ele viu, sem responder.
Não sabia quem estava mais ferrado, eu ou Steve, era uma boa questão.
Shayla não era uma mulher que prezava relacionamentos monogâmicos, ou pelo
menos era o que eu achava e o que ela transparecia.
Ele jogou novamente e dessa vez eu acertei a bola, lançando-a na
arquibancada, sem me importar realmente com isso. Meu sorriso irônico se
abrindo porque eu só lamentava por ele ter se apaixonado também.
Era uma porcaria! E das grandes!
— Boa sorte! — falei alto e ele lançou mais uma, com toda a sua força e
raiva, querendo provavelmente acertar o meu rosto e me mandar para o hospital.
Toquei na ferida dele, assim como ele tinha tocado na minha.
— Cale a boca!
— Retribui o seu carinho! — gritei sabendo que teria que falar a realidade
para Shayla, pela milésima vez e que dessa vez ela finalmente entendesse.
Para ela, Steve era muito melhor do que eu e não tinha outra mulher na
cabeça além dela.
Segui até onde estava para cortar o mal pela raiz e que dessa vez eu
realmente cortasse.
Tudo sobre Astros
“Lily C. puxou para a mamãe sortudaaaa e tá com dois homens lindos de
morrer no encalço! MAS QUE SORTE AS MULHERES DESSA FAMÍLIA TÊM!
Vou me chamar Stephen Pharrell-Currey! Vai que as coisas finalmente dão
certo pra mim e eu consiga um Adônis para chamar de meu!
Beisebol? Estilista? Nãooooooooo! Ainda quero um jogador de basquete!
Não superei esse sonho de princesa!
Mais um casório? Nos resta a dúvida! Pelo menos agora estará tudo em
família! Vadias com mel vicioso! Nunca vi algo assim e penso que um raio não
cai duas vezes no mesmo lugar!”
por Stephen Pharrell.
COLLIN ESTAVA CHATEADO, isso era claro.
Mas eu conversaria com ele quando chegasse e deixaria as coisas claras.
Como ele podia pensar que eu o estava enganando quando esperei todo esse
tempo apenas para ter um resquício da sua atenção?
Parecia que Collin perdera toda a sua Inteligência.
Não era uma foto que provaria o que não existia. E ele era ingênuo por
acreditar na manipulação da mídia quando sabia o quanto algumas informações
eram completamente infundadas.
— Causei problema pra você, não é?
Enrico ao meu lado, parecia realmente se sentir culpado. Mas eu não sabia
definir ao certo se era verdade ou não.
— Não.
Era apenas uma prova que se Collin não poderia aceitar coisas como essas,
nosso relacionamento estava realmente fadado ao fracasso desde o princípio. Era
só questão de tempo.
— Desculpe por isso, vejo o quanto gosta dele.
— Está tudo bem, Enrico. De acordo com a mídia, fiquei com um bonitão
do beisebol e dias depois com um estilista maravilhoso. Não estou mal, não é?
— Com certeza não.
— Queria que conhecesse alguém...
— Quem? — Ele perguntou, completamente interessado.
— Chloe Foster.
— A vi junto com você no hotel. — E eu lembrava desse dia.
— Ela gostou de você.
— Investi minhas fichas na mulher errada?
— Definitivamente!
— Certo, então vou mudar meu plano de ataque!
— É a melhor coisa que faz! E obrigada por me trazer até o aeroporto, foi
muito gentil da sua parte!
E realmente foi, mais gentil inclusive do que a atitude do homem que eu
amava estava tomando. Uma briga por causa de uma foto quando a gente vivia
nesse meio e sabia exatamente como as coisas funcionavam?
Me parecia mesmo burrice! E eu sabia muito bem que Collin não era burro.
— Espero que ele entenda!
— Vai entender. — Eu o faria entender na base da agressão se preciso fosse.
Nunca tinha conhecido uma pessoa tão precipitada como ele. Explosivo ao
extremo e nem mesmo deixava a gente se explicar antes de resolver as coisas do
seu jeito. Era assim desde criança.
Eu a calma e ele o revoltado.
Embarquei, torcendo para que as horas passassem rápido e que eu pudesse
remediar a situação caótica em que estava nossa relação.
Isso se essa confusão ainda podia ser chamada de relação.
***
Logo que desembarquei, peguei um táxi e fui direto para o seu apartamento.
Era a primeira coisa que eu queria resolver, isso se ele já não tivesse saído
para o jogo. Hoje era o primeiro do time para a temporada e eu queria estar lá
por ele, como havia prometido.
Olhei para o relógio no meu pulso e batuquei com os dedos na minha perna,
impaciente. Não era dada a preocupação com horários quando voltava para casa,
mas nesse momento, meu coração parecia que sairia pela boca, caso eu me
atrasasse mais do que o tempo necessário para estar frente a frente com ele.
Mal o táxi estacionara, desci correndo, peguei minha mala das mãos do
motorista assim que abriu o porta-malas e corri até o edifício, achando
agonizante até mesmo a velocidade com que o elevador subia para a cobertura.
Estava lerdo demais.
Lerdo demais para o meu gosto.
As portas se abriram e entrei na sua sala, com a visão dos quadros
completando meu campo de visão. Não devia estar tão mal assim, já que ainda
deixara aquela parte minha com ele.
Olhei em volta, tudo arrumado, da mesma forma que estava quando eu saíra
para o aeroporto.
Quando Collin se irritava tinha a péssima mania de quebrar as coisas e pelo
que eu via, nada quebrado, não achava que estaria assim tão ruim.
— Collin? — chamei baixo, ansiando que ele respondesse.
Nada. Nenhuma resposta.
Andei pelos cômodos e somente o cheiro dele preenchia o ambiente, mas
ele de fato, não estava ali. Provavelmente, saíra antes para se preparar e eu
acabara correndo para o lugar errado.
Entrei no seu quarto e a caixa que guardava nossas cartas estava aberta na
cama, com elas todas esparramadas pelo colchão.
Minha boca se abriu em espanto.
O que ele estava fazendo com elas?
Rasgando, queimando ou qualquer outra coisa relacionada a destruição?
Me aproximei e sentei, pegando-as na mão e notando que estavam intactas.
Sem qualquer marca, o que era outro sinal bom.
Tomei um banho rápido, vesti minha camiseta do time, um boné e dei com
a mão para um táxi, querendo ver o jogo desde o começo. Sabia como eles
demoravam ao extremo e acabaria tendo que esperar horas para falar com ele,
mas isso me parecia muito melhor do que não ter previsão nenhuma.
Cheguei e liberaram minha entrada instantaneamente.
Não fui para o corredor esperar por ele, segui direto para o meu lugar na
arquibancada, torcendo que olhasse para mim mesmo que por alguns instantes e
notasse que eu estava ali por ele.
Não entendia esse seu ciúme quando quem tivera que suportar várias e
várias mulheres tinha sido eu.
Eu namorava ocasionalmente e alguns relacionamentos nem poderiam ser
chamados de namoro, de tão patéticos. E principalmente, nenhum me amara da
forma como ele o fizera. Se tornou o único depois disso e negar o contrário seria
apenas ineficiente.
Os jogadores entraram em campo depois de vários minutos e o meu coração
bateu acelerado assim que o viu. Completamente extasiado com a sua confiança
no jogo. Collin tinha uma sensualidade única, que atraía todos os olhares, e era
praticamente impossível ignorar as mulheres suspirando e apontando para ele.
Era meu!
Esperara demais por isso e não esperaria mais.
Não mais.
Ajeitou o boné e olhou para a arquibancada, o exato lugar onde sabia que
eu sempre ficava quando assistia aos jogos, procurando e achando que não
encontraria, porque quando seus olhares se encontraram com os meus, a surpresa
era clara.
Ele não me esperava.
Estava me julgando ainda mais baixo do que eu imaginava.
Justo ele? Que não tinha moral nenhuma pra pensar aquilo sobre mim?
Mostrei o dedo do meio. Sem remorso.
Sorriu e eu acabei sorrindo também.
Seu sorriso era demais para eu sequer pensar em resistir. Mas ainda não
sabia identificar se aquilo era uma trégua ou se ele finalmente entendera que eu
era maluca por ele e por mais ninguém.
A dúvida era sempre pior.
Uma pessoa se sentou ao meu lado e assim que a olhei, me arrependi
instantaneamente. Shayla não parecia contente em me ver.
— Oi.
Balancei a cabeça respondendo ao seu cumprimento, sem querer dar
atenção para ela e acabar ouvindo suas lamúrias. Meu dia não estava dos
melhores e eu só queria prestar atenção no jogo, nada mais.
— Ainda estão juntos? Mesmo depois da foto?
O que ela tinha a ver com a foto? Esse era um grande ponto de interrogação
nessa conversa.
— Sim. — falei mesmo sem saber.
Se ela estava perguntando era porque estava mais interessada do que queria
transparecer e eu precisava cortar as suas ideias logo no princípio. Não seria ela
que tiraria Collin de mim, até porque dela, ele nem queria chegar perto.
— Não basta ter o mundo aos seus pés, agora quer ele também?
Ah, mas que porcaria! Como eu conseguia atrair essas pessoas para perto de
mim? Realmente, não tinha muita sorte.
— Não sabe do que fala.
— Sei muito bem! Lily Currey, a irresistível Lily Currey, com um estilista
maravilhoso lambendo a bota e ainda volta atrás do jogador de beisebol com o
qual as mulheres sonham dia e noite.
Suspeitava que ela se incluía nessa gama de mulheres que fantasiavam
sobre Collin, com a única diferença que ela tivera um pouco dele durante um
tempo. Mas isso não importava, eu tinha ele todo e seria difícil ela entrar no
páreo.
— Não sabe nada da nossa vida.
— Sei o bastante.
— Tem certeza? O que você sabe sobre ele além de que fode bem?
Isso acertou em cheio o rosto dela, mesmo sem eu ter feito um movimento
para levantar a mão. A machucou e era isso que eu queria. Precisava entender
que fazer sexo com um cara não significava que ela o conhecia.
Julgar os outros pelo que ela achava era o seu pior engano.
Subestimava e subestimar era perigoso, muito mais perigoso do que ela
imaginava.
— Collin alguma vez te deu esperança de algo mais?
— Não... — Falou baixo e eu conseguia ouvir a humilhação na sua voz.
Não gostava de fazer isso, mas não voltaria a ser a adolescente que baixava
a cabeça e deixava que as outras pessoas tirassem sarro dela. Passara dessa fase e
realmente sabia me defender com palavras quando necessário.
— Então, por que ainda nutre essa fantasia?
— E pra você, ele falou algo?
Se ela achava que me atingira com isso estava muito errada. Apostava que
ele me falara coisas mais profundas do que um dia a fizera sentir.
— Não pergunte o que não quer saber.
Ela trincou os dentes e eu sorri vitoriosa. Estava cheia de mulheres como
ela acharem que só porque tinha cara de trouxa, eu era uma. Não o era e ela
acabara de descobrir isso.
— Com licença. Vou descer e ver o jogo mais de perto.
Ela tentaria falar com ele, isso eu sabia. Só restava saber se ele falaria com
ela.
Se o fizesse, não teria sexo selvagem que me faria conversar com ele. Uma
coisa diferente era tirarem uma foto minha em uma situação normal e distorcê-
la, e outra totalmente diferente era ele conversar com Shayla apenas para me
provocar.
Eu definitivamente não tinha sangue de barata.
Meu celular tocou e li o nome do Ty na tela, o que era melhor do que os
meus pais, muito melhor.
— Oi, Ty.
— Não esqueceu de amanhã, não é?
— Não, não esqueci.
Meu irmão tinha me forçado a marcar uma consulta com a Sharon para
amanhã e não me deixaria ir sozinha. Dissera que eu precisava dele e eu
desconfiava que realmente precisava da sua força.
— Está no jogo?
— Estou.
— Bom. Não deu pra ir, mas no próximo eu vou.
Ouvi uma voz no fundo, de uma mulher e me espantei por Ty ter deixado
alguma calcinha de lado para ligar para mim. Ele não costumava fazer essas
coisas.
— O que faz aí?
— Jogando xadrez.
— Xadrez?
— Não é o jogo tira calcinha?
— Fala baixo, pelo amor de Deus! — Ele cochichou no telefone e eu fiquei
sem entender o que de fato estava acontecendo.
— O que aconteceu?
— Eu estou com uma mulher.
— E não tá fazendo nada além de jogar xadrez?
— Não.... Não que eu não queira fazer algo a mais, mas acho melhor ir com
calma. — Ele falou ainda mais baixo e eu me surpreendi.
Meu irmão não era esse tipo de homem e agora eu entendia o porquê dele
me perguntar como eu sabia que amava Collin. Tyler estava apaixonado, e ainda
estava se dando conta dessa verdade.
Ty, é sua vez, deixa a sua irmã em paz!
A mulher gritou ao fundo e eu gostei dela. Ty precisava mesmo me deixar
em paz e voltar para a sua partida de xadrez.
— Amanhã a gente se fala, irmãzinha.
Ele encerrou a ligação e eu fiquei sorrindo sozinha com a mudança que
notara na voz do meu irmão. A felicidade que eu sentia por ele era gigantesca e o
faria ter certeza que investiria em uma relação com essa pessoa. Ty merecia ter
mais do que noites casuais. Merecia muito mais! Ele era desapegado com os
sentimentos, mas só porque ainda não encontrara a pessoa certa, o que
acontecera agora, com essa jogadora de xadrez.
Pelo menos era inteligente. Eu não conhecia pessoas burras que gostavam
desse jogo.
Tyler era inteligente também, inteligente ao extremo e não combinaria com
qualquer outra que não pudesse acompanhar seu raciocínio rápido.
ASSIM QUE A vi, o ódio pareceu se evaporar completamente e qualquer
chance que eu tinha de ficar longe dela, sumira mais rápido do que a velocidade
com a qual eu costumava rebater as bolas.
Lily era a mulher da minha vida e não tinha como resistir à ela. Isso era
certeza, pelo menos agora que eu sabia a imensidão do sentimento e exatamente
como defini-lo.
O jogo todo passou como um borrão na minha visão, com a única atenção
de verdade voltada para o lugar que não deveria estar, pelo menos nessas horas.
Ainda bem que era o primeiro da temporada, senão eu estaria realmente
preocupado.
Rebati uma, não foi longe. Saí de campo, estava fora do jogo e suspirei
aliviado.
Era um milagre! Suspirar aliviado? Por aquilo? Com certeza um milagre.
Sentei no banco, virando a aba do boné para trás e olhando na direção dela,
misturada na multidão, mas que com aquela ligação que a gente sentia, se
sobressaía como um sinal de luz para os meus olhos.
Não existia nenhuma outra.
Atenção para qualquer outra era impossível.
Fiquei olhando o restante do jogo se desenrolar, sentindo que não estava
sendo rápido o suficiente, nem mesmo se o fosse, ainda não seria tão rápido
quanto eu queria.
O pessoal ao meu lado vibrou e percebi que tinha sido Home run para nosso
time, mas nem isso fora capaz de tirar a minha atenção da mulher alta e
curvilínea que levantou para comemorar. Mesmo naquela distância, conseguia
distinguir seu contorno muito mais do que bem.
O treinador nem olhou para mim, provavelmente desanimado.
Eu estava pouco me fodendo para ele.
— E aí?
Steve se sentou ao meu lado, o que me fez emitir um zumbido de desagrado
baixo.
— Ainda pensando nela?
— Cara, eu realmente não quero falar desse assunto com você. Vai encher
outra pessoa, pelo amor de Deus!
— Só estou querendo saber se a foto te deixou receoso.
Deixara. Mas agora eu já tinha certeza que uma foto não mudaria nada.
— Deixou, mas isso não importa, Steve. Vou conversar com ela e só então
decidir o que fazer, tenho a mania de me irritar fácil demais e isso estraga as
coisas.
Admiti o meu defeito mais profundo e o quanto ele poderia atrapalhar tudo
o que eu queria.
— Cara, eu quero ficar com a Shayla de verdade, mas tá foda, ela não para
de falar em você, nem me dá um espaço para sondar o terreno!
Eu não sabia mais o que fazer para ela desistir. Já tinha dito milhares de
vezes e nenhuma delas parecia surtir o efeito que eu procurava. Um inferno.
Shayla nem de longe despertava a fera que Lily abria a jaula tão facilmente.
— Tenta outra estratégia, sei lá! — dei de ombros e voltei a olhar para o
jogo, querendo que ele esquecesse esse assunto.
Sabia exatamente para onde seguia e eu não gostava de ficar falando como
eu conquistava as mulheres, eu simplesmente ia lá e fazia, não era algo que eu
soubesse como, só conversava com elas, e depois de umas horas, meus lençóis
eram bagunçados loucamente.
— Por que não deu um assento perto da gente pra ela?
Eu nem sabia com certeza que ela viria e, principalmente, Lily não aceitava
nada desse tipo, ela mesma comprava e sempre no mesmo lugar. Eu cansara de
oferecer há muito tempo e agora simplesmente havia me acostumado.
Era o jeito dela e eu o amava.
— Não gosta de regalos, prefere fazer tudo do jeito dela.
Ele assoviou.
— Essa vai te deixar na mão.
Eu já estava. Nem sabia definir desde quando ou se sempre estive, mas a
noção de que nesse momento eu era dela, era maior do que nunca.
Ganhamos o jogo e não por mérito meu, e sim pelo do time que era ótimo.
Ninguém se deu ao trabalho de perguntar o porquê do meu fracasso, apenas
saímos depois de terem feito o trabalho. No próximo poderiam contar com todo
meu empenho, o de hoje fora uma falha apenas porque eu estava preocupado
com ela e o que conversaríamos quando terminasse.
Ansioso, na verdade.
Muito ansioso.
***
— Olá. — Ela falou baixo assim que a encontrei no lado de fora, torcendo
para que ela me perdoasse pelo momento de imbecilidade.
Eu sempre fazia essas coisas e ela me conhecia melhor do que ninguém.
— Oi, boneca.
— Tudo bem?
Eu sorri. Um sorriso contido, mas ainda assim um sorriso. Com certeza,
muito melhor do que a careta e o silvo que eu daria se estivesse furioso.
— Sim.... — respirei fundo. — Me desculpe pela crise, mas é que eu
realmente queria saber por você e não por uma revista idiota.
Nesse ponto eu tinha razão e nada me provaria o contrário, nem mesmo a
cara de anjo que ela fazia quando queria algo.
— Sim, nessa parte eu estou errada, sinto muito. Não vai ficar furioso?
Eu estava. Estava antes de perceber a ironia na minha raiva.
— Estava, mas como pode ver, a fera se acalmou! — abri os braços e sorri,
vendo a confusão nos seus olhos.
Eu com certeza não estava no melhor momento e não a culpava por estar
assim também.
— Você é mesmo louco!
— Sou e tenho uma promessa a cumprir! — Nos encaramos e notei a sua
pele se enrubescendo, um convite explícito para o pecado que cometeríamos
assim que chegássemos no apartamento.
Os vizinhos de baixo iriam ouvir e ouviriam muito, porque eu a faria sentir
como se estivesse caindo em um abismo para logo depois ser puxada e
submetida a sensações ainda mais conflituosas.
Nada seria tão indecente quanto o que faríamos e eu a deixaria relaxada. Se
eu falasse, ela se retesaria e eu definitivamente não queria isso.
— Fui até o seu apartamento primeiro, minhas coisas estão lá, pode ir
direto.
Mesmo que não estivessem, eu não aguentaria esperá-la no dela. Queria
Lily e não me conformaria enquanto não a penetrasse carinhosamente, depois
bruscamente, depois insanamente e da maneira mais profunda que
conseguíssemos nos conectar.
— Sorte sua, se não teria que andar com as minhas cuecas, porque eu não te
levaria pro seu nem ferrando.
— E por que isso? A gente já ficou no meu...
Ficou... Mas meus géis estavam no meu. Só que ela não precisava saber
disso agora.
— Vai descobrir, Lily.
Meu sorriso safado, deixando claro que não teria italiano que seria capaz de
se enfiar entre a gente hoje e eu suspeitava que em nenhuma outra hora.
***
Soltei a chave do carro em cima do aparador em um dos cantos da sala e
percebi que Lily se retesou com o gesto, prevendo a onda de instinto que nos
invadiria em questão de segundos. Porque era isso que eu sentia, uma força
imensurável dominando meus músculos e todo o meu desejo.
Qualquer outro assunto completamente esquecido na minha cabeça e
suspeitava que na dela também.
— E a garganta? Tá boa?
Adorava provocar e com ela, essa mania praticamente dobrava de tamanho.
— Idiota!
— Ah, eu devo ser mesmo um idiota por não ter admitido nada disso antes,
ainda mais se eu soubesse que seria tão viciante.
Passei minhas mãos em torno da sua cintura e o calor do corpo dela
queimou a minha mão, ou aquilo era apenas uma sensação para descrever como
pegávamos fogo juntos.
Qualquer coisa que ela quisesse.
Assim que minha boca tocou a sua, foi nisso que pensei.
Lily teria o que quisesse de mim!
Mesmo que isso me custasse a minha carreira, mesmo que isso me custasse
tudo. Não me importava.
Ela realmente teria o que quisesse.
— Aquela foto não foi nada, Collin.
Ela se apressou a dizer assim que desgrudei meus lábios dos seus e eu voltei
a beijá-la ferozmente, sem me importar com quem quer que fosse. Eu a tinha,
mais nada valia a pena uma discussão.
Minha língua em uma dança sensual com a dela, enquanto minhas mãos a
apertavam em todos os lugares, tudo ao mesmo tempo, querendo tudo ao mesmo
tempo. Tudo dela.
— Eu tô pouco me ferrando com a foto, Lily, como disse quando o jogo
acabou.
Levantei-a e senti quando passou as pernas na minha cintura, em um aperto
esmagador e que previa exatamente como seria a nossa noite.
Levei-a vagarosamente até o quarto e empurrei as coisas que eu deixara na
cama mais cedo. Cartas que me provavam que eu era o único para ela, assim
como era para mim. Precisei de uma grande dose do passado para perceber o que
estava bem na minha frente.
Para ela eu valia o esforço. Lily merecia um Collin muito melhor e eu seria
esse Collin por ela.
Passei minhas mãos pela sua barriga e ela gemeu.
Sorri irônico.
Ela gritaria ainda mais do que eu imaginava. O prédio inteiro saberia
exatamente o que estávamos fazendo e isso era bom pra caralho. Saber que eu a
tiraria da linha despertava os instintos mais primitivos em mim.
Passei sua camiseta pelos seus braços e fiz uma trilha de beijos pela sua
barriga, ao mesmo tempo em que puxava o short de algodão que ela usava. Lily
ficaria sem roupa logo e se dependesse de mim, esses momentos seriam os mais
prazerosos que ela já vivera.
Puxei a calcinha com o dente.
Minha boca passando vagarosamente pela sua pele enquanto eu o fazia. A
trilha de arrepios seguindo seu caminho, enquanto a minha mão segurava forte o
seu quadril. Aquela tortura não estava surtindo efeito apenas nela... Na minha
bermuda, meu volume era insuportável e parecia que explodiria a qualquer
momento.
Estimulei seu clitóris e ela agarrava com força o lençol, na merda de uma
pintura sensual da deusa do pecado.
A minha visão dela estava espetacular e me fazia salivar por prová-la e
levá-la a loucura antes mesmo que a penetrasse.
— Eu vou amar você, Lily. Depois vou te foder. E quando estiver saciada
demais, a gente vai testar os limites e vai perceber que nem tudo é uma caixinha
de instruções.
Nada no sexo era instrução.
O bom estava em sentir e se entregar. Confiar que a outra pessoa te levaria
exatamente nos lugares que você queria e ansiava alcançar.
Ela gemeu ainda mais alto e eu não aguentei mais provocá-la, porque aquilo
estava mexendo comigo a um ponto que eu não sabia quanto seria capaz de
resistir. Tirei minha camiseta rapidamente e desafivelei o cinto mais rápido do
que eu me lembrava de já ter feito um dia. Fui até o criado-mudo, peguei uma
camisinha e a rasguei a embalagem com o dente, vendo-a com os olhos
fechados, completamente entregue.
Ela confiava em mim para dar prazer à ela e eu de forma alguma a
decepcionaria.
Subi na cama, com a corrente de prata no meu pescoço roçando-a e
deixando-a estremecida com a temperatura do objeto. Até mesmo aquilo soava
sexy e parecia meu inferno, um inferno bom demais para recusar.
Deslizei para dentro dela, lentamente, sentindo suas paredes me apertarem,
com a sua lubrificação deixando o movimento ainda mais fácil.
— Merda, Collin! Que delícia! — Lily falou de olhos fechados e eu sorri
safado, mordendo a parte inferior do meu lábio.
Pensei em uma pessoa horrível, sem dentes, com a bunda torta, uma maior
que a outra, nem aquilo parecia funcionar, mas nem aqui e nem no inferno que
eu me deixaria levar primeiro que ela.
Mulheres tinham que gozar primeiro. Sempre.
Que raios de homem eu seria se aceitasse o contrário?
Levantei uma das suas pernas e a encaixei na curva do meu ombro, indo
mais fundo, arrancando um grito alto, um grito de puro prazer. Mais uma
estocada, mais um grito, e eu mordi meu lábio dessa vez, forte, mordi forte assim
como eu entrava com força nela.
— Collin! Mais, isso... Mais!
— Gosta assim? — sussurrei no seu ouvido.
— Vai mais forte!
E eu cedi ao seu apelo.
Me colocando completamente nela, em um vaivém forte e tórrido.
Minha boca procurando pela sua ferozmente, enquanto nossas línguas
faziam movimentos ainda mais sensuais do que os nossos corpos.
Eu empurrava, ela aceitava, e os gritos eram audíveis no quarto.
Assim como seus incentivos para que eu continuasse.
A ideia de ir devagar e fazer amor completamente nublada pelo meu desejo
de ter mais dela, enquanto percebia que o que fazíamos ainda era uma
ramificação do sentimento.
Qualquer coisa com ela era amor.
Lily era o amor.
Nada de Lírio, para mim, Lily significava amar alguém com todas as
minhas forças.
Levantei-a e fiquei sentado nas minhas pernas, enquanto ela se
movimentava no meu colo, com a minha atenção nos seus mamilos duros e
empinados, me convidando a passar a língua por toda aquela parte.
E eu o fiz.
E ela gritou mais alto.
Tão alto que qualquer outro barulho de animais no parque próximo, pareceu
desaparecer. A única coisa que eu escutava eram os seus gritos, seus gemidos e
suas preces roucas no meu ouvido.
Senti uma mordida no meu ombro e aquilo me transformou em um animal,
muito mais feroz e desejoso.
— Ah, merda, Lily!
Segurei ainda mais forte na sua cintura e a movimentei mais rápido, um
ritmo insano que nos fazia suar como se pudéssemos derreter a qualquer
momento.
Ela começou a tremer no meu colo e eu me permiti urrar e me libertar com
força dentro dela. Sem pensar em mais nada, sem saber ao menos quem era. A
noção de tempo e espaço completamente perdida.
Olhei para o gel no criado-mudo e um sorriso safado se abriu no meu rosto.
— O que acha de um segundo round especial? — olhei para ela e depois
para o lugar.
Lily ficou vermelha, mas eu conseguia ver no seu rosto que ela queria
experimentar e merda, eu sabia que a faria gritar ainda mais alto e que todos os
seus gritos seriam únicos e exclusivamente pelo prazer.
Sim, gatinha, nós faremos um anal maravilhoso.
Eu sabia como fazer aquilo ser mais prazeroso agora e só conseguia
agradecer por isso.
— Dói? — Ela perguntou receosa e eu sorri, o garoto se animando mais
rápido que um velocista na Olímpiada.
— Não se relaxar! — respondi. — E temos umas coisas realmente muito
boas pra isso, aqui.
Peguei o gel na mão e esperei, esperei que ela concordasse.
Queria que ela descobrisse o próprio corpo e o poder que ele tinha sobre
mim.
— Certo.
Sorri malicioso.
Ela responder isso era como soltar todas as cordas que prendiam a fera.
— Deita! — A rouquidão na minha voz evidente.
— Vai ser assim? Do nada? — Ela perguntou espantada.
— Não, claro que não.
Coloquei um pouco de gel na mão e passei pelas suas pernas e costas,
massageando-as em um ritmo gostoso e paciente, querendo que ela relaxasse e
se sentisse pronta para atingir qualquer nível de prazer.
Quando minha mão estava completamente lambuzada com o gel e seu
corpo, brilhando como as estrelas que víamos através da janela, peguei o
lubrificante e passei em círculos delicados naquela área, sentindo seu corpo
tremer sob a minha mão.
— Relaxa, amor.
Essa palavra pareceu deixá-la melhor e percebi que ela estava pronta.
Peguei uma nova camisinha e coloquei, passando lubrificante nela também,
coloquei uma almofada embaixo da sua barriga, enquanto Lily ronronava como
uma gatinha que recebia carinho.
Coloquei um dedo, a fazendo se acostumar, depois dois, feliz com a entrega
dela.
— Qualquer coisa pede pra parar...— falei.
Seria libertador e não algo imposto.
Ela precisava aproveitar também.
— Pode ter certeza que vou fazer isso.
Sorri, eu sabia que faria.
Beijei suas costas, enquanto pressionava suavemente, empurrando com toda
a calma que eu pude puxar de mim, porque a vontade era absurdamente outra.
Com ela as coisas eram tão intensas que eu me sentia prestes a cair em um
abismo sem fim.
Empurrei mais um pouco, Lily se mexeu.
Me preocupei.
— Tá tudo bem?
— Tá sim.
O lubrificante fazia efeito, afinal.
Afundei mais, mordendo meu punho, não querendo gozar assim tão rápido,
sem nem completar o ato.
— Ai, Collin...
Travei.
— Tá doendo muito?
— Tá até bom, continua.
Respirei aliviado e entrei devagar, tudo, vendo-a ficar do mesmo jeito.
— Posso me mover? — perguntei preocupado, bem próximo ao seu ouvido.
— Deve! É diferente, mas é uma sensação muito boa!
Fui ao delírio.
Comecei devagar e quando percebi já estávamos nós dois acelerados,
parecendo dois selvagens e pervertidos.
Xingando mais alto do que antes.
As experiências anteriores sendo nubladas e apenas Lily preenchendo
minhas memórias mais sacanas, apenas ela.
E a noite acabou por superar minhas expectativas, me fazendo deitar
exausto ao seu lado, enquanto passava a mão pelos seus cabelos, acompanhando
o fechar dos seus olhos e respiração pesada, adormecendo com seu sono
embalando o meu.
LILY AINDA DORMIA, mas o telefone não parava de tocar na sala e se eu
não atendesse ela acabaria acordando, assim como eu.
Levantei devagar a contragosto, com todo cuidado para não mexer muito o
colchão. Ela sentiu a mudança de peso, resmungou e virou para o lado. Respirei
aliviado. Ela realmente precisava dormir.
— Quem fala?
— Oi, filho. — Eu conhecia aquela voz e sem sombra de dúvidas não
queria escutá-la agora.
— Não sou seu filho.
— Nasceu da minha porra, então é.
— Fala logo o que quer.
Ele estava preso e me ligava algumas vezes com o direito a telefonemas
ocasionais que possuía. Eu odiava isso. Odiava esconder dos meus pais que eu
falava com o cara que tinha quase os matado. Sentia nojo de mim, mas assim
que criei noção das coisas, a curiosidade foi maior e eu não consegui evitar que
aos vinte e um anos acabasse visitando-o apenas para conhecer.
E agora estava ali, atolado até o cotovelo na merda.
Bem que a curiosidade matava o gato.
— Quando vai vir me visitar?
— Não vou mais. — E realmente não iria.
Estava feliz demais para deixar que qualquer coisa ousasse atrapalhar
minha felicidade.
— Tenho um assunto que vai te interessar. Venha logo.
Ele disse e desligou, fazendo minha mandíbula trincar em raiva.
— O que aconteceu? — olhei para Lily, sonolenta e apoiada na parede, me
olhando curiosa.
Ela não merecia saber disso agora, depois de uma noite como a que
tivemos.
— Nada. Apenas um dos caras, querendo saber se vamos sair hoje...—
respondi, sem qualquer sombra da mentira por trás das minhas palavras.
Lily até poderia ter desconfiado, mas não fez mais perguntas, apenas se
virou e seguiu para o quarto, enquanto eu permaneci na sala por alguns minutos,
tentando adivinhar que assuntos aquele homem tinha comigo. Não queria me
misturar com ele e mesmo que tivéssemos o mesmo material genético, eu tinha
certeza que não poderíamos ser mais diferentes.
Fui até o quarto e a encontrei deitada tranquilamente na cama, com os olhos
abertos, mas com uma sonolência clara.
— Quer sair hoje? Cinema, teatro? Ou qualquer outra baboseira?
Eu queria que nosso relacionamento fosse normal e que ela sentisse isso
cada vez em que saíssemos juntos.
— Preciso ver nossos pais.
Eu também precisava e precisava mais ainda mostrar que tinha acordado
para a vida e chutado a minha bunda como realmente merecia por ser tão cego.
— Vamos lá, então. Levanta daí e vamos tomar banho, pra gente ir logo e
ouvir o blá blá blá de Josh e Beatriz Currey! — falei animado, pela primeira vez
realmente animado.
— Banho juntos? — Ela perguntou e eu sorri.
Não chegaríamos na mansão tão cedo.
— Como tá a sua garganta? — A pergunta carregava vários sentidos
sexuais e ela entendeu. Claro que entendeu.
— Muito boa!
Lily sorriu e eu retribuí.
Só saímos do apartamento algumas horas depois.
***
— Pai, mãe? — Ela gritou e eu comecei a rir.
Já imaginava o que os dois diriam quando nos vissem juntos, algo do tipo:
“Vamos agora pras Maldivas!”. Josh não costumava brincar quando o assunto
era um tempo só com a mulher e eu tinha certeza que depois da nossa confusão,
isso era o que ele mais desejava.
Mamãe desceu a escada arrumando os cabelos e eu notei na hora o que
tínhamos atrapalhado. Esse era o mal de não ligar antes de aparecer.
— Ah, meu Deus! A gente interrompeu?
— Que pergunta idiota! — Papai desceu bravo, sem se preocupar em
colocar uma camiseta.
Já éramos adultos e sabíamos exatamente o que acontecia entre duas
pessoas que se amavam, assim como fizemos antes de atrapalhá-los.
Ninguém merecia empata foda.
— Vocês vão se casar? Quer dizer, um casamento simbólico, claro... —
Mamãe perguntou e eu engoli em seco.
Casar?
A ideia passou pela minha cabeça e não soou ruim, mas eu sabia como Lily
era e tinha certeza que ela não iria querer casar assim tão cedo. Se bem que nem
poderíamos casar, então, acabaria ficando elas por elas.
— Casar! Casar é uma palavra maravilhosa para um pai estressado que nem
eu! — Josh disse e gargalhou, assim que se sentou na poltrona do papai.
Ninguém sentava na poltrona dele, era lei na casa e aprendemos isso logo
que começamos a falar as primeiras palavras.
— Não vou casar. — Lily respondeu enfática e quem a olhou intrigado
dessa vez fui eu.
— Nem uma festa simbólica para os familiares? Sem assinar, nem nada? —
Mamãe perguntou e ela parecia indignada assim como eu.
Como assim não iria casar?
Agora, eu queria absurdamente casar e a convenceria de que ela queria
também. Nem que para isso precisasse usar a artilharia mais pesada. Como assim
não queria casar? A perguntava ficava girando na minha cabeça e me colocando
em xeque-mate com a mulher geniosa ao meu lado.
E eu achando que ela era inocente, um amor de pessoa, não podia estar mais
errado.
— Por que não?
— Pra que? — Ela devolveu minha pergunta e aquilo me irritou.
Qual o mal em se casar comigo? Sorte a dela que eu não costumava me
sentir ofendido por essas coisas. Mas outro no lugar, se sentiria no mínimo
rejeitado.
— Pra compartilhar uma vida? — Josh perguntou e olhou para nós dois
sorrindo.
Se divertindo com a troca de farpas claras entre a gente. Se as coisas
continuassem assim, praticamente nos mataríamos sem nem chegar no primeiro
ano de relacionamento.
— Podemos compartilhar uma vida sem celebração nenhuma, não vejo
necessidade, é antiquado.
— Antiquado? Meu Deus! Por que não nasceu romântica como eu? —
Mamãe parecia ultrajada e a risada do papai foi gutural, ecoando por toda a
enorme sala. — Casar é maravilhoso! Um momento único!
Lily revirou os olhos e Josh também.
Eu acabei rindo mesmo sem querer.
— Não podemos nos casar, por que eu faria uma festa qualquer só por
simbolismo?
— É um bom ponto que ela tem, amor. — Josh defendeu a filha e Beatriz o
olhou mortalmente, com a boca crispada pronta para matá-lo a qualquer
momento.
Se ele não calasse a boca, faria parte dos jogos mortais logo.
— Não pode deixar que nossa filha fique sem casar!
— Eu?! O que eu tenho a ver com o casamento dela? É decisão dela e sua
felicidade já me basta! Fora que nem vai casar de verdade, nem sei pra que todo
esse escândalo.
— Também me preocupo com a felicidade dela!
— Então deixe-a em paz, assim como sempre fala para eu fazer!
Eu e Lily estávamos apenas acompanhando o pingue-pongue verbal dos
dois, nos segurando ao máximo para não gargalhar.
— E você nunca faz!
— Agora estou fazendo!
— Josh!
— Beatriz!
Ela jogou as mãos para o alto em derrota e ele aumentou o sorriso, olhando
para a gente e piscando, conforme a carranca da mamãe se dissolvia em uma
careta desgostosa.
— Ty vai trazer uma menina aqui hoje...
A nerd. Pelo visto nosso jantar em família já estava garantido e em casais.
Nossos pais tentariam soar normais com uma pessoa diferente à mesa e eu
agradecia por isso. Quando os dois começavam a falar sobre as coisas mais
absurdas se tornava impossível comer sem cuspir a comida em uma gargalhada.
Da última vez, eu engasguei com a água e achei que nunca mais fosse
respirar novamente.
— Ele me ligou hoje e estava jogando xadrez.
— Disse que ela é peculiar.
Eu gargalhei. Peculiar era uma boa definição para o ciúme claro que mamãe
sentia ao descobrir que seu caçula estava sendo fisgado.
— Não queria que ele se firmasse?
— E sua mãe sabe o que quer? Às vezes acho que ela foi feita por um
programa secreto do governo para mudar de ideia a cada segundo. E de humor
também, inclusive.
Ela ficou séria de repente e depois sorriu, o que só provava a tese da sua
mudança de humor. De ideia não deveria estar errada também.
— Só estou preocupada.
— Ele ficou com ela no meu apartamento há algumas noites e acho que
dessa vez realmente está afim de uma mulher. Me disse que ela é inteligente,
trabalha com ele e nerd. Muito nerd.
— Adoro pessoas assim! Esse detalhe meu filho ingrato deixou de fora!
Talvez ela tenha lido tantos livros quanto eu e vai ser perfeito ter com quem
conversar!
— Se o Ty soubesse que seria fácil assim conquistar a boa opinião da sua
mãe, com certeza não teria ocultado essa informação.
— Ele nunca fala nada pra mim! Tenho que adivinhar!
— E você faz um bom trabalho com isso, pode apostar!
E era verdade. Ela pegava as coisas no ar e parecia uma bruxa prevendo o
futuro. Ou melhor, bruxa não, senão ela me mataria se desconfiasse que andava
pensando isso sobre a sua habilidade.
— Vão ficar? — Ela ignorou a fala do marido e olhou esperançosa para
mim e para Lily.
Notando que agora que estávamos juntos não tinha motivo para Lily evitar
a casa e todas as pessoas que acabavam por aparecer em algum momento do dia.
O mal e bom em ser vizinho dos dois melhores amigos. Meu pai sofria, mas
também amava ver a casa cheia.
— Vamos sim!
— Ah, maravilha, vou fazer pudim! — bateu palmas animada, como não a
via fazendo há algum tempo.
Mamãe estava realmente feliz pela nossa relação e nem fazia questão de
disfarçar.
— Pudim? Faz um só pra mim? Allan comeu o último todo e nem deixou
pro cheiro!
— Ninguém mandou ficar jogando golfe até tarde!
— Eu não fico olhando as garotas, não sei se sabe, mas eu sou um
cinquentão! — Ele falou e eu imaginei que a fala dela tivesse significado oculto,
ou ciúme oculto.
— Então, por que demorou?
— Eu já disse, amor! Fiquei conversando com o pessoal!
— Perto do carrinho de bebidas?
— Claro que não!
Josh levantou e foi atrás da mulher, os dois resmungando, seguindo para a
cozinha, em um debate fervoroso sobre mulheres, carrinhos de bebidas e
olhadelas no traseiro.
Era impossível não dar risada daquela ligação maluca que os dois tinham.
Ouvimos um barulho de panela sendo jogada na parede e trememos
involuntariamente. Papai devia estar tendo trabalho em acalmar a fera e com
certeza dissera algo fora da zona de segurança.
— Vamos ser assim?
— Teremos muita sorte se formos. — Eu respondi sincero, porque eles se
entendiam melhor do que qualquer outro casal que eu conhecia.
Ou na verdade, eles e outros dois casais.
Eram o sinônimo de pessoas feitas umas para as outras, que não eram
perfeitas, mas compreendiam e aceitavam os defeitos entre si.
— Verdade.
— Já sabia sobre essa garota do Tyler?
— Sabia porque ele comentou... Mas pelo que me falou não tinha dado
nenhum passo ainda e pelo visto criou coragem.
— Por que não dera um passo?
— Porque ela é diferente. A gente pisa em ovos quando sente que a mulher
é especial.
— Pisou em ovos por mim?
— Eu pisei e ainda fiz ovos mexidos com bacon.
Ela gargalhou e assim que Tyler passou pela porta, sorrindo como um
idiota, o olhou, intrigada.
— Estou feliz, não posso?
— Xadrez? — Lily perguntou e eu gargalhei.
Xadrez era bom, mas tirar peças de roupa era ainda melhor!
— Sim!
— Só xadrez? — Ela enfatizou e eu gargalhei ainda mais alto ao notar a
decepção na sua voz. Era praticamente um eco do que eu pensava.
— Só. Mas estou progredindo e o jantar é apenas o começo.
— Isso é bom. Vou gostar de conhecê-la!
— Vai sim! Todos vão. — Ele confirmou e deu um aceno, subindo a escada
assoviando e dando risada sozinho.
Eu geralmente ficava assim depois de conversar com a Lily e entendia o
que ele sentia perfeitamente. Algumas pessoas eram tão importantes pra gente e
as amávamos tanto que não importava como o tempo fosse passado, apenas que
ele fosse passado ao seu lado.
— O QUE VOCÊ gosta de fazer, Mia? — Mamãe praticamente fuzilava a
coitada da garota e todos nós a olhávamos com pena.
Inclusive, Tyler. Que devia estar se amaldiçoando por ter trazido a mulher
assim tão cedo para que mamãe e papai conhecessem. Não ajudou em nada
ambos dizerem que eram amigos, aquilo apenas acendeu o fogo da curiosidade
em Beatriz Currey.
— Gosto muito de ler, ir ao cinema e estudar.
Ela gostava de ler. Minha mãe devia ter prestado atenção só nessa parte,
porque ela definitivamente mudara de tom com a garota e voltara a soar
maternal, assim como a ouvíamos todos os dias.
— Ler?! — Ainda teve a audácia de parecer surpresa, mesmo que Collin
tivesse dito algo semelhante mais cedo. — Eu adoro ler! Leio de tudo, sempre
que posso!
— É verdade. Às vezes me manda jogar golfe só pra poder terminar de ler
algum livro, diz que eu atrapalho. — Papai admitiu e deu risada, se divertindo
com as duas.
Olhei para o meu irmão que relaxou e respirou fundo, fazendo com que um
sorriso se abrisse no meu rosto assim que seu olhar encontrou o meu e ele
revirou os olhos despropositadamente.
— Lê romances? — Mamãe perguntou esperançosa e Mia balançou a
cabeça afirmativamente.
Foi o suficiente para o grito histérico ser ouvido e a mesa de jantar virar
uma euforia sobre personagens literários, o quanto eram perfeitos, e um convite
sem chance de recusa para a possível membro da família ir até a livraria dela e
da tia Rose, a livraria Divas.
Um nome que eu achava engraçado, mas que combinava.
Beatriz era fácil de ser conquistada e a mulher pegara exatamente no
calcanhar de Aquiles da mamãe.
— Agora não conversarão sobre mais nada. — Papai murmurou e a gente
riu, observando o entrosamento das duas. — Acertou na mosca, Ty.
Meu irmão deu de ombros e voltou a comer normalmente, depois de
passado o susto das primeiras impressões.
Só que ainda tinha um monte de gente pra coitada sofrer na mão. Mal de ter
família grande. Só conseguia torcer e desejar boa sorte à ela, mesmo que Mia
ainda nem soubesse desse detalhe e a contar pelo nervoso do Tyler, ele nem
contaria para ela.
— Você trabalha junto com o Ty?
— Sim. Somos parceiros de divisória, ele fica bem ao meu lado! — Ela
respondeu casualmente e minha mãe abriu um sorriso malicioso.
A menina não entendeu, mas nós entendemos exatamente onde a mente dela
estava chegando. E Tyler parecia mais tranquilo do que eu imaginei que ele
estaria. Pelo menos Beatriz Currey gostara da menina e isso era um tremendo de
um ponto positivo.
Collin permanecia um pouco quieto do meu lado, o que não era normal se
tratando dele, mas o conhecia bem o suficiente para saber que mais tarde ele me
diria o que o afligia. Ou não... Só restava esperar.
— O que aconteceu, Collin? — Meu pai perguntou, no exato momento em
que eu pensava em fazer o mesmo.
— Nada. — Ele disse e deu de ombros.
Então, tinha sim algo.
— Tirei duas semanas para ficar aqui! — falei, chamando a atenção do meu
pai, antes que ele fuzilasse Collin e o deixasse ainda mais quieto.
A minha segunda discussão com Hilary sendo relembrada e como eu me
recusei a ir à outra campanha ou evento. Dissera que não poderia cancelar e eu
acabara avisando que se não conseguisse eu faltaria, porque passava mal. Não
teve como contra argumentar.
Merecia um tempo para mim e eu o aproveitaria.
Um Oscar também não seria nada mal, com a minha intepretação de doente.
— Isso é maravilhoso! Faz um tempo que não faz isso! Mas eu e a sua mãe
vamos para as Maldivas amanhã e não voltaremos logo, para avisar.
Minha mãe olhou-o, pelo visto sendo pega de surpresa pela informação.
Meu pai tinha essa mania e nem para ela contava seus planos viajantes.
— Eu não estava sabendo disso e não posso me ausentar tanto da livraria!
— A Rose vai cuidar, a Diane também, falei com elas.
— Falou com elas e não falou comigo?
Todos sabíamos que ela estava se contendo assim apenas por causa da Mia.
Se não tivesse essa visita em casa, papai seria comido vivo pelo humor negro da
mamãe.
— Era uma surpresa!
— Que bom! Que bom! — Não era nada bom.
O tom dela deixava isso claro.
— Vai levar a garota do carrinho de bebidas também? — Ela perguntou
depois de uma pausa na conversa com a amiga do Ty e olhou-o fuzilando.
Não sabia o que estava acontecendo com isso, mas meu pai parecia saber
muito bem.
— Por que a mamãe não para de falar nisso? — Ty perguntou e eu agradeci
mentalmente, porque minha curiosidade estava enorme.
— Uma mulher me pediu para tirar foto com ela e bem... Isso saiu em umas
fofocas e capas... — Ele coçou a cabeça e aquilo nos fez gargalhar.
Papai não gostava de ser ignorante com os fãs, mas sabia que ter tirado foto
com a mulher e não ter avisado a mamãe, a deixaria no mínimo em um estado de
nervos.
— Não foi só por isso! Aqueles desgraçados me chamaram de velha e
disseram que meu marido estava interessado em carne nova! CARNE NOVA! E
marido, não precisava abraçar a moça com aquela vontade para tirar uma foto.
Agora o motivo estava claro e eu não sabia quanto tempo aguentaria sem
dar risada de toda a situação. Mamãe era um vulcão prestes a entrar em erupção,
e isso não era uma boa coisa.
Não para o meu pai.
— Eu não a abracei com vontade!
— A foto mostra outra coisa!
— Pelo amor de Deus! Isso porque somos casados há mais de duas
décadas! E como uma foto pode mostrar a vontade de alguém?
A tensão estava alta na mesa, mas ninguém ameaçava sequer abrir a boca
para se meter na conversa dos dois, até porque sabíamos que dali algumas horas
eles estariam conversando como se nada parecido tivesse acontecido.
Minha mãe desceu o garfo até o ravióli, com força, fazendo barulho,
enquanto o olhava com os olhos semicerrados.
Papai engoliu em seco mais uma vez.
— Interessante... Você tira foto com uma garota, depois me enche de
desculpas sobre ficar no golfe até mais tarde... Engraçado como isso soa, não é?
— Soa de qualquer forma, menos engraçado.
— Então você me faz uma surpresa, dizendo que viajaremos para as
Maldivas... Mais uma vez engraçado.
A feição do meu pai mudou e agora ele estava tão furioso quanto ela. Se
ninguém falasse nada, a toalha de mesa voaria com o confronto verbal dos dois.
— Beatriz, a gente conversa depois. Achei que não fosse necessário, mas
vai ser. Então, esqueça esse assunto porque a Mia está ficando assustada.
Ele apontou para a amiga do Tyler, que com o foco sendo voltado para ela,
parou com o copo de suco a centímetros da boca, olhando tensa para os dois.
Collin do meu lado não aguentou e gargalhou alto, aliviando o clima.
— Vocês dois são ainda piores do que eu e a Lily!
— Sua mãe.
— Seu pai! — Ela respondeu, mas parecia mais relaxada. — Apenas um
pouco, claro. — Mia, me desculpe por isso, é que meu marido se tornou um
velho safado, você acredita?
A coitada não soube o que responder e eu estava morrendo de pena dela por
ter que ficar no meio do fogo cruzado.
— Eu não estou velho! E sempre fui safado!
Um ravióli voou pela mesa e acertou em cheio o rosto do meu pai.
Ninguém conseguiu ficar quieto dessa vez e uma gargalhada coletiva foi
ouvida. Até a Mia que não os conhecia ainda e esse jeito maluco deles, acabou
rindo, sem conseguir parar.
— Para uma cinquentona, sua mira está maravilhosa, querida.
— Obrigada, querido.
— A sorte dela, crianças, é que eu a amo desde que a conheci. Pura sorte.
Mamãe relaxou e sorriu fraco, meu pai sabia como amolecer o coração dela.
Caso não soubesse, não estaria mais vivo para contar a história.
— Isso não tira a sua culpa.
— Claro. Podemos deixá-los em paz para comer e discutir isso mais tarde?
— Como quiser.
Voltamos a comer, agora segurando o riso, olhando para os dois que se
encaravam ocasionalmente, em uma mistura de amor e ironia que apenas Josh e
Beatriz Currey eram capazes de manter.
As pessoas conheciam o astro e a mulher dele, mas definitivamente, não
conheciam marido e mulher e o quanto eles lutavam todos os dias para não
deixar que a fama atrapalhasse o casamento. Sorte que ambos eram fortes o
suficiente e se amavam loucamente, para passar acima de qualquer problema.
Não importavam as mentiras e muito menos quem se colocasse no meio
deles. Derrubavam e passavam por cima. Algumas vezes com comida atirada
sobre a mesa, mas ainda assim, superavam.
— Quer ir, Mia? — Tyler perguntou e ela balançou a cabeça
afirmativamente.
— Mas já? Nem comeu a sobremesa!
— Ela precisa ir agora, mãe. Tem um compromisso.
Minha mãe olhou dele para ela, interrogativamente, a curiosidade em
pessoa, mas não recebeu nenhuma explicação. Achava que meu irmão tinha os
segredos dele, tanto quanto essa moça e nenhum dos dois se sentia confortável o
bastante para responder à mamãe.
— Certo, espero que na próxima possa aproveitar o pudim!
— Eu espero que não, sobra mais pra mim! — Papai disse e mamãe jogou
um guardanapo nele.
— Josh!
— Desculpe, Mia.
— Fico feliz em deixar mais pudim para o senhor. — Ela sorriu e meu pai
balançou a cabeça, negativamente.
— Nada de senhor, Josh ou você.
— Meu pai ficaria maluco em saber que conheci você! Ele é fã do Globe
desde aquela época, e disse que era o melhor e junto com James e Johnson,
deixavam o time perfeito.
— Agradeça a ele por mim.
Ela balançou a cabeça e saiu com o Tyler, nos deixando olhando uns para os
outros.
— Gostei dela. — Mamãe disse casualmente.
— Me diga uma coisa que a gente não saiba... Assim que ela disse que lê,
faltou chorar de emoção! — Meu pai falou, arrancando gargalhadas da gente.
— Não foi só por isso... Ela me lembra a garota sonhadora que eu era, que
não é deslumbrante fisicamente, mas que sonha em ser especial para alguém,
mesmo sabendo que não chama atenção. Os homens costumam olhar para
mulheres diferentes, e as que Tyler já saiu provam isso. Mia deve estar insegura
e confusa, sem saber o que ele quer com ela e isso é o suficiente para ganhar
uma parte do meu coração.
— Eu sempre achei você deslumbrante, em todos os sentidos. — Meu pai
disse e a sinceridade na sua fala era clara.
Minha mãe sorriu novamente e olhou para ele como se estivesse vendo-o
pela primeira vez.
Eu e Collin saímos silenciosamente, para não atrapalhar o momento.
Provavelmente, papai seria perdoado pela foto ainda hoje.
— Ele me ligou.
Collin disse assim que sentamos no sofá e eu sabia exatamente de quem ele
estava falando. Seu pai biológico, que tentara matar minha mãe e meu pai, de
forma cruel, por uma vingança que não tinha fundamento.
— O que queria?
— Não sei e acho que não quero saber. Nada de bom pode vir dele.
— Talvez seja melhor enfrentar de uma vez.
— Pode ser. E se algo acontecer? E se eles descobrirem e ficarem chateados
comigo?
Eu duvidava que algo assim acontecesse, mas não poderia afirmar com
certeza, tomar essa decisão cabia apenas ao Collin, mais ninguém.
— Pode falar com eles antes.
— Vão viajar, não quero estragar a diversão deles.
— Tem razão. Então, deixa para quando voltarem!
Ele concordou e se perdeu nos seus pensamentos.
Queria falar que o acompanharia e esperaria enquanto falasse com o
homem, mas eu não era capaz disso. Quando minha mãe achou que era a hora
certa, contou como tudo aconteceu e só em lembrar, eu já sentia raiva daquele
ser desprezível. E toda a verdade me fizera amá-la ainda mais, assim como
Collin, porque ela tinha ignorado o que os pais dele fizeram e o criado como um
filho, um filho de verdade, sem diferenciar de forma alguma eu e Tyler, dele.
— Vou lá amanhã, terminar logo com isso.
— Pode ser bom.
— Tomara. Não o quero envolvido na minha vida.
— Será que eles se resolveram? — perguntei e Collin olhou na direção da
sala de jantar.
— Provavelmente sim, não ouço barulho de nada.
— Então, o que acha da gente ir pro meu antigo quarto e se divertir?
— Se prometer fazer silêncio. — Ele sorriu malicioso.
— Posso fazer isso.
Subimos correndo em direção ao quarto, entre beijos e sorrisos.
— Fica quieta, Lily. — Ele pediu e esse comando pareceu totalmente sexual
aos meus ouvidos.
— Prometo.
Collin me encostou na parede, sem nem se importar com a cama. Olhei para
ele questionando e vi o sorriso safado se formando.
— Temos que ser rápidos, e aqui é melhor.
Ele soltou o botão da minha calça e puxou-a rápido, quase me fazendo cair
pela surpresa.
Gargalhamos.
— Não me faz cair!
— Não vou, tô te segurando, boneca.
Respondeu e eu acreditei completamente nele. Collin sempre me segurara.
— Segura no meu ombro e levanta um dos pés! — levantei, enquanto ele
passava a perna da calça, fiz o mesmo com o outro e me vi apenas de calcinha,
perante seu olhar maravilhado.
Ele ajoelhado na minha frente, parecendo o príncipe que eu sempre tinha
pedido quando lia contos de fadas.
Um príncipe pervertido ao extremo.
Não poderia pedir nada melhor.
Levantou-se, me beijando e abrindo o botão da sua calça, colocando seu
membro enorme para fora.
Salivei!
E ele suspirou.
— Não temos tempo pra isso agora. É uma foda rápida ou arriscar que eles
saibam exatamente o que estamos fazendo.
Sorri, passando a língua nos lábios.
— Então, o que tá esperando?
Collin me beijou novamente e me levantou na parede. Passei minhas pernas
na sua cintura e o senti duro entre as minhas coxas, para logo em seguida me
preencher em uma estocada só, com tudo dele, me fazendo arfar.
Minha pele ainda sensível pelo sexo louco da madrugada protestava, mas
meu corpo clamava por mais.
A tensão sexual tomou conta da gente e silêncio foi a coisa mais difícil que
eu já fiz.
— O QUE VOCÊ quer? — falei, encarando-o pelo vidro.
— Que você pare de foder a filhinha de merda dele.
Harper Patterson. Um nome que eu não queria ouvir, mas que infelizmente
carregava a minha carga genética.
— Nem ferrando! Tá aí algo que não vai acontecer, até porque eu não estou
só fodendo ela, eu a amo e não importa que merda você ache que tem com isso,
não vai influenciar em nada — respondi, de cabeça erguida, admitindo que eu
amava a filha de um cara que ele odiava.
E para mim isso não mudava nada. Ele que apodrecesse e notasse que sua
raiva idiota apenas o tinha jogado atrás das grades.
— Tenho amigos aí fora, garoto. Então, se for esperto, vai ficar longe dela
ou vai carregar a culpa depois.
Sua ameaça me fez tremer, mas eu não demonstrei que me abalara,
mantendo o semblante duro, encarando-o de volta com a mesma intensidade a
qual ele o fazia.
— Você não pode fazer nada à ela.
— Certeza? Não contaria com a sorte no seu caso. Currey e a mulher estão
de prova que eu não costumo pesar as consequências, eu simplesmente vou lá e
faço.
Fechei a mão com força e ele notou esse gesto, sorrindo ironicamente,
percebendo que finalmente tinha me assustado como desejava.
Eu não me importava muito comigo, mas Lily era tudo para mim e se algo
acontecesse à ela por minha culpa, não fazia a menor ideia como seguiria em
frente. Se seguiria.
— Por isso nunca sairá desse lugar! — falei, despejando o ódio que eu
sentia correr em minhas veias, agradecendo por ter sido Josh e Beatriz a me
criarem.
Caso o homem à minha frente fosse responsável por essa tarefa, eu
provavelmente não seria muito melhor que ele.
— O aviso foi dado.
Ele falou e colocou o aparelho no apoio, me olhando pelo vidro, com um
olhar divertido.
Aquela merda não podia estar acontecendo... Não podia...
Saí desnorteado e dirigi até meu apartamento, com as imagens dela girando
na minha cabeça e empurrando toda a felicidade para longe. Eu não poderia tê-
la. Eu não devia colocá-la em perigo desse jeito. Não, não poderia...
Devia falar com meus pais, mas nem isso me animava. Contar a eles que
uma vez, por curiosidade, eu fui atrás do homem que os machucou tanto, não
seria nada fácil. E na situação atual, revelar que ele ameaçara a vida da filha
deles, seria no mínimo a pior maneira de retribuir todo o amor com o qual me
trataram.
Era mesmo uma merda.
Entrei no apartamento, sabendo que Lily estaria lá e não fazia a menor ideia
de como dispensá-la sem piorar ainda mais as coisas. Eu não podia arriscar a
vida dela. Não, eu não podia. E era inteligente o bastante para saber que o
homem não ameaçava com promessas vazias.
Ele era capaz disso e de coisas muito piores. O brilho perverso no seu olhar
apenas provava esse ponto.
— Oi, como foi? — Ela surgiu, vestindo uma camiseta minha e aquilo foi
como um soco no meu estômago.
Como eu diria para ela que não queria mais nada, quando o sentimento era
transparente e palpável entre a gente?
Seria a porcaria mais difícil que eu faria em toda a minha vida.
Sentei no sofá e passei as mãos nos olhos, frustrado. Completamente
frustrado com os caminhos que o destino seguira.
— O que ele queria, Collin?
Fiquei quieto.
Não conseguiria fazer essa merda.
Mas eu tinha que fazer. Era isso ou... Eu preferia nem imaginar o que
aconteceria.
— Acho que precisamos conversar, gatinha. — Chamei-a por um apelido
que não gostava e Lily percebeu isso de primeira.
Fora intencional. Uma tentativa de manter a nossa conversa distante do
vendaval de paixão que me consumia todas as vezes que eu estava perto dela.
Se sentou ao meu lado, preocupada e receosa. O que eu lia no seu rosto me
deixava ainda pior pelo que eu faria a seguir. Mas era para mantê-la segura e se
eu precisasse viver no inferno para que ela fosse feliz, eu garantiria que ele
estava quente o bastante para me receber.
— O que aconteceu?
— Eu pensei sobre a gente... — Meu peito parecia doer apenas por respirar.
— E acho que não vai dar certo. Somos considerados irmãos, Lily, e devemos
manter as coisas dessa forma. — O ato de respirar era doloroso e olhar para ela
estava transformando a terra em meu inferno pessoal.
— Co..Co..mo assim? — Ela gaguejou de nervoso e eu me senti um filho
da puta.
Um desgraçado que não merecia nada!
Eu a amava, jamais a colocaria em perigo e precisava fazer com que ela
acreditasse que eu não sentia nada. Caso contrário, Lily não me abandonaria.
— Isso que ouviu, não vai dar certo. — Levantei a cabeça e olhei para o seu
quadro.
Eu estava perdido.
— Mas por que? Eu te amo, Collin! Não me deixa sozinha de novo, por
favor? — A sua voz fraca e chorosa estava me matando.
A dor me dilacerava, dura e crua, enquanto a sua respiração pesada ao meu
lado deixava claro o quanto eu a estava machucando.
— Eu também gosto de você, mas isso não é suficiente.
Era. Era mais do que suficiente. Eu queria gritar, despejar toda a minha
raiva em um beijo devastador e depois provar o quanto ela me afetava durante
nossos momentos na cama. Mas nada disso seria possível, não quando
deveríamos nos afastar.
Cogitei até contar a verdade. Mas se ela soubesse, iria querer desafiar e se
colocaria em um risco ainda maior.
— Estávamos bem! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO! —
gritou, revoltada.
Seu olhar era capaz de me fazer queimar ainda mais no inferno.
— Não só posso, como vou. — Sorri amargo.
Um sorriso que pareceu ironia para ela.
Dentro de mim, tudo parecia se revirar em dor, conforme as lágrimas
enchiam os seus olhos, descendo livremente pelo rosto e eu nem ao menos
poderia enxugá-las.
Não seríamos mais amigos, não seríamos mais amantes, não seríamos mais
nada um do outro.
Eu continuaria jogando porque era parte de mim, mas nunca mais pisaria na
mansão Currey e muito menos falaria com qualquer um deles. Não merecia nada
disso, não merecia o amor e muito menos conviver com aquela família
maravilhosa.
— Melhor aceitar logo de uma vez.
Respirei fundo, tentando acalmar o monstro rugindo em mim e segurando
ao máximo que as minhas lágrimas acabassem dando o ar da graça.
Ela veria o quanto estava sendo difícil para mim e solucionaria a charada.
— E se eu não quiser? — Ela respondeu altiva, o que me fez encará-la
diretamente, passando uma frieza que eu estava longe de sentir.
— Teremos um problema.
Problema gigantesco, porque eu com certeza não conseguiria resistir a ela
para sempre.
— O que aconteceu?
— Nada, Lily. Apenas isso que falei... Saia assim que puder e não tente
entrar, vou mudar a senha de acesso.
O ar pareceu faltar nos seus pulmões e ela colocou uma mão no peito,
tentando abafar aquela dor que se alastrava tanto nela quanto em mim.
Ela levantou do sofá, andou de costas até que bateu com força na parede,
sem se importar com o impacto, me olhando aterrorizada e magoada.
Amaldiçoei Harper em todos os segundos que saí de lá e agora eu me
amaldiçoava, por ser capaz de ver a dor nos olhos dela e ainda me sentir
tranquilo por ter a certeza que ela não iria querer me ver e deixaria as coisas
mais fáceis com o tempo. Ou não. Se a falta que ela me fazia antes já sufocava,
não queria nem pensar no que aconteceria de hoje por diante.
Passou a mão nos olhos e respirou fundo.
Me olhou como se quisesse me matar e foi em direção ao quarto, pegar as
suas coisas.
Abaixei a cabeça, agradecendo por ela não estar ali para ver como eu
realmente me sentia.
Parecia que eu tinha sido destroçado e a maior parte de mim se mantinha
com ela, enquanto se arrumava para ir embora da minha vida e nunca mais
voltar.
Jamais conseguiria reparar o que eu quebrei hoje e com certeza não seria
inteiro para mais ninguém.
— Eu estou indo. Desculpe por impor minha presença na sua vida.
Não respondi, permaneci quieto.
Os soluços dela acabavam comigo e se eu arriscasse qualquer palavra, a voz
sairia falha e arrependida.
— Achei que fosse o cara certo pra mim, mas pelo visto, não poderia estar
mais errada.
Meu coração parecia ter parado de bater com a sua fala e a vontade de gritar
que eu fazia aquilo porque a amava, crescia em mim.
Mas a segurança dela era muito mais importante do que a minha felicidade.
— Foi bom, gatinha! Você arrasa, mas ainda assim não tocou tão fundo
quanto imaginou.
Eu a ouvi trincar os dentes e a sua humilhação chegava em mim como
ondas de tortura. Apertando mais e mais meu peito, me impedindo de continuar
respirando e vivendo.
Eu estava sendo arrastado pelo asfalto e o amor arrancava a minha pele,
como se fosse uma camada sem a menor importância.
Como eu lidaria com tudo depois disso?
— Você é um idiota desgraçado! Não sou suas vadias para me comer, me
iludir e achar que pode dispensar dizendo que foi apenas bom! Seu imbecil!
Ficou me olhando, como se esperasse que eu a desmentisse.
Todas as suas palavras eram verdadeiras, mas com ela, eu não tinha feito
nada disso. Lily realmente tomara a parte que sempre fora dela e eu não fazia
questão que devolvesse.
Parecia estar melhor com ela do que comigo.
O espaço que faltava em mim, me lembrando da felicidade que eu senti ao
seu lado, mesmo que por poucos dias.
Uma vida de ignorância, quando poderíamos ter ficado juntos desde
sempre.
Eu a encarei e as memórias vinham como uma avalanche, me deixando em
meio à neve, sendo esmagado lentamente.
“— O que está achando do baile?
— Estou feliz que meu parceiro apostou essa idiotice e que ao invés dele,
vim com você.
Sorri para ela e senti seus braços passarem pelo meu pescoço, arrepiando
a minha pele. A vontade de descer meus lábios e beijá-la, me consumia, mas não
poderia fazer nada. Lily era proibida e eu a amava como uma irmã. Éramos
irmãos.
Tracei círculos na sua cintura, meus dedos formigando com o contato.
— Você está maravilhoso arrumado desse jeito!
— Eu sou maravilhoso todos os dias! — fingi indignação pelo seu
comentário e o sorriso que ela deu, iluminou todo o salão, a minha atenção
focada totalmente nela.
— Pausa pra foto! — Tyler falou, com o celular na mão, nos pegando
desprevenidos.
Eu olhei para ela e Lily para mim.
Me perdi na profundidade dos seus olhos verdes e sorri.”

E não me encontrara em nenhum outro desde então.


Pensei assim que a memória me libertou. A foto no meu quarto sendo a
prova do quanto eu a olhava apaixonado, mesmo sem perceber.
— Adeus, Collin. — Lily desistiu de esperar por qualquer desculpa assim
que percebeu que eu não abriria minha boca.
Segui-a com os olhos, enquanto ela abria a porta e quando enxugou mais
uma lágrima e desapareceu, eu me senti realmente quebrado.
Afogado em meio à culpa.

“— Não acho que precise namorar com ele.


— Por que?
Ela tinha ficado com o cara na noite passada e eu ouvira uns boatos que
ele estava se gabando sobre isso. Aquilo me irritou a tal ponto que eu sabia
exatamente o que fazer com o otário.
— Ele não quer, Lily.
— Você subestima o meu poder de sedução! Eu consigo conquistá-lo!
Não era esse o problema. Eu era bem ciente dos poderes magnéticos dela,
só não queria que se machucasse por um idiota qualquer. Não valia a pena.”
Eu também não valia a pena. Não era apenas os outros caras que
apareceram na vida dela, eu definitivamente, não valia porcaria nenhuma
também.
MINHAS MÃOS TREMIAM e as lágrimas desciam livremente.
Era um brinquedo mais uma vez e notar o descaso nos olhos dele, me
provara que eu nunca seria boa o bastante para ser amada de verdade.
Um táxi parou, eu subi. Não enxergava as coisas ao meu redor, cega pela
dor, pela devastação que Collin havia causado em mim.
A vontade de vomitar, me dominando como nunca tinha feito. A
necessidade de sentir o vazio, se apoderando de mim. Estava saturada e
precisava colocá-lo para fora, mesmo que isso aumentasse a dor em mim. Não
importava o quanto eu sabia que isso era errado, não importava, eu só queria
uma maneira de fazer a dor parar.
Ir embora.
Eu precisava de um tratamento mais pesado.
Sabia que era verdade.
A vontade nunca me abandonaria.
Cheguei no meu apartamento e corri para o banheiro, ajoelhando no meu
canto cativo e fazendo o que eu sempre fazia.
Não era difícil, era a coisa mais fácil que existia para mim. Uma compulsão
que eu abraçava como uma lufada de ar fresco quando me sentia presa.
Chorei.
Chorei e chorei até que sentisse meus olhos ardendo.
A tristeza como sempre, fazendo seu caminho por mim, com uma facilidade
feroz e constante. Uma onda que se quebrava na praia e me afogava todas as
vezes.
Tentava voltar para a superfície e não conseguia.
Eu tentava.
Lutava contra e fracassava.
Como se eu tentasse pegar os diamantes brilhando acima de mim, esticasse
a mão e notasse que eram estrelas no meio da escuridão. Estrelas inalcançáveis.
Peguei meu celular no bolso, lembrando do meu irmão, discando seu
número e torcendo para que ele atendesse rápido, antes que esse fio de sanidade
se esvaísse da minha mente.
— Tyler, eu preciso de ajuda.
Falei assim que ele atendeu e não ouvi resposta, apenas o sinal que a
ligação tinha sido encerrada.
***
Braços me levantaram. Alguém sussurrou palavras de conforto no meu
ouvido, mas eu não sabia ao certo quem era.
— Eu chamei o pai e a mãe. Estavam embarcando...
Tyler. Tyler estava me ajudando.
— Tô com a Sharon na linha e ela perguntou se passou por algo estressante.
— Tyler comentou e eu balancei a cabeça em um aceno.
Buscara alívio e encontrara apenas problemas.
Eu era o problema na vida das pessoas.
Collin notara isso antes que tudo avançasse e foi esperto saindo do barco
antes que ele afundasse.
— Sim. Certo. Acha que isso foi só o estresse? Certeza? — Ele perguntava
e ela parecia responder. — Não precisamos levá-la ao médico? Não? Certo,
certo.
— Não deixe que a imprensa saiba. — Eu sussurrei, apertando a camiseta
do meu irmão.
— Não vão saber... Ela disse que precisa comer alguma coisa e tentar se
acalmar, porque desmaiou com o nervoso e esforço. Vai ficar bem.
— O que está acontecendo? — Aquela voz eu conhecia mais do que bem.
Papai parecia furioso.
— Lily tem distúrbio alimentar... Sei que não deveria estar dizendo isso
agora dessa forma, mas não vejo como poderia fazer melhor.
Eles olharam para mim, decepcionados.
Senti como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés.
— Por que nunca soubemos disso? — Meu pai perguntou e a mágoa por
meu irmão e eu termos escondido isso deles era notável.
— Tyler descobriu faz pouco tempo e eu não o deixei contar... Essa era
minha responsabilidade.
Pedi que ele me colocasse no chão e assim o fez. Eu acabei perdendo o
equilíbrio e eles me seguraram, evitando a minha queda. Não olhei para
ninguém, mas já imaginava o que eu veria.
— Como eu não percebi nada? — Minha mãe se perguntava e a dor dela era
palpável.
Nem queria imaginar o que estava sentindo ao ver a sua filha desse jeito
degradante.
— Sou uma mãe horrível... Ela fazia isso, e eu não percebi? Meu Deus,
Josh, como eu não percebi e ajudei nossa garotinha? — Ela começou a chorar e
eu me senti a pior filha do mundo.
— Ninguém tem culpa, liguei para a terapeuta e ela disse que foi uma
situação de estresse que desencadeou a crise, então, o melhor a fazer é Lily
comer alguma coisa e tentar se acalmar. O caso dela ainda não é gravíssimo,
porque Lily querendo ou não vinha se tratando, mas como Sharon me disse, esse
processo é longo e ela pode ter recaídas, principalmente, para se sentir bem
quando todo o resto desmorona. Hoje pelo visto foi uma dessas situações. E de
acordo com as suas palavras, se a família souber e apoiar, mais fácil se tornam as
coisas para o paciente.
Tyler estava calmo e eu não fazia a menor ideia de que ele conversara com
a Sharon em particular.
Estava desestruturando a família e talvez por esse motivo guardara aquele
segredo para mim há muito tempo.
Eu não os merecia. Precisavam de uma pessoa melhor, uma pessoa que eu
não era capaz de ser.
Meu estômago se agitou, protestando, levei a mão até a barriga e tentei
ignorar aquela dor. Queria superar, precisava superar.
— Collin? — Meu pai perguntou para o Tyler e eu não ouvi a sua resposta.
Não queria ouvir.
Apenas esse nome já era capaz de fazer tudo em mim se agitar novamente e
causar ainda mais devastação. Não queria nunca mais falar com ele. Tinha
piorado tudo e agora, eu já não achava que seria capaz de me segurar, sozinha.
Não seria capaz, simplesmente não era tão forte para isso.
***
— Por que não nos contou?
Minha mãe me olhava com lágrimas nos olhos, mas como eu contaria e a
decepcionaria?
Estava melhor depois de ter comido e olhado tudo o que acontecera de uma
perspectiva nova. Não poderia deixar me levar pela escuridão novamente apenas
porque não era amada como queria.
— Eu estava com medo.
— Medo?
Balancei a cabeça. Morrendo de medo, pavor, que ela me culpasse por tudo
e por ser tão estúpida.
— Como Tyler soube?
— Ele me viu em uma crise. Ficou bravo e ameaçou contar para vocês.
— Eu sinceramente gostaria que ele o tivesse feito, mas ainda assim não
tanto quanto você. Sou sua mãe, Lily, e merecia no mínimo poder dividir o fardo
com a minha filha. É tudo pra mim e não imagina como foi doloroso vê-la
sofrendo daquela forma... Eu queria estar no seu lugar e se pudesse, trocaria com
você sem nem pensar sobre isso.
Eu sabia. Mas nem tudo era fácil de se consertar, assim como não era fácil
de falar.
— Não avisamos o Collin ainda.
Eu sorri fraco. Mesmo não sendo sincera com eles, ainda conseguiam
pensar no que eu gostaria antes de agir. De fato, não merecia pessoas tão
maravilhosas na minha vida.
— Obrigada.
— Mas seu pai está a ponto de ligar. Odeia mentiras e acha que tudo precisa
ser esclarecido, inclusive, o motivo para a sua crise.
Eles deviam ter presumido o motivo para tudo, e minha careta quando ela
citou o nome dele deve apenas ter comprovado isso.
— Não o quero aqui.
Deitada no sofá, com minha mãe me olhando cheia de empatia deixava
claro que eu não queria ter Collin aqui.
Não o queria em nenhum lugar perto de mim.
Para ele devia ter sido fácil pegar meu coração e jogá-lo contra a parede
com toda a força. Muito fácil. Eu o olhava, tentando desafiá-lo, mas essa era
uma luta que Collin já havia ganhado. Ganhou quando percebi que o amava e
ignorou quando eu disse isso em voz alta.
Não importava. Ninguém gostava sinceramente de mim e nessa altura da
vida eu já deveria ter me acostumado com esse fato.
— Eu sei, mas o que aconteceu? Vocês estavam finalmente bem.
O que acontecera? Nem eu sabia. Apenas decidiu que em um dia ele me
queria e no outro não queria mais. Como se eu fosse uma boneca de pano,
apenas para ser controlada por ele.
— Acabou.
A feição da minha mãe se fechou e eu não sabia dizer se ela estava brava,
magoada ou simplesmente frustrada por tanto tempo ter sido jogado no ralo. Um
tempo de espera idiota da minha parte.
— Quem?
Ela perguntar era engraçado. Eu sonhara com aquilo desde adolescente e ela
notava isso conforme os anos passavam.
— Ele. Disse que não daria certo.
— O que ele escondeu da gente? Estava tão concentrado ontem... Acho que
a decisão dele tem a ver com isso.
Não diria para minha mãe que ele fora ver o homem que tentara matar meu
pai, esse era um segredo dele e quem deveria contar não era eu. Por mais que
estivesse magoada, ainda não estava magoada a esse ponto.
Eu era leal.
Meu coração era leal.
Mas Collin não queria saber dessa baboseira, afinal.
— Logo ele conta.
— Nós amamos você, por favor, não esconda mais quando estiver com
problemas. Somos sua família e sempre estaremos aqui, não importa o que
aconteça.
As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto, uma resposta do
arrependimento que eu sentia. Arrependimento por enganar todos eles e por
ainda achar que isso os protegia de alguma forma.
— Olá, meu amor. — Meu pai apareceu no meu campo de visão e parecia
tão chateado quanto minha mãe.
Eu entendia o lado dos dois, mas eles precisavam entender o meu também.
— Desculpem por isso.
— Tranquilo. — Ele olhou para minha mãe e com isso ela se levantou e
saiu de perto, nos dando privacidade.
Deixando a tarefa de me levantar para o homem que sempre tinha sido o
meu pilar quando as coisas não saíam bem.
— Eu já te contei como eu me senti quando soube que seria pai?
Balancei a cabeça negativamente.
— Eu era um jogador famoso, conseguia ter a mulher que quisesse e não,
isso não é presunção. Era a verdade e eu gostava dela... Pelo menos gostava até
conhecer a sua mãe. Foi tudo muito louco, rápido e envolvente, e não queria
mais me ver sem ela. Eu não era eu sem a ruiva. Tivemos um desentendimento e
aquilo foi o suficiente para que saísse da minha vida. Me martirizei por várias
semanas, doido pra vê-la, pra acordar e notar que aquela merda tinha sido um
pesadelo! — respirou fundo. — Um dia, quando nos veríamos mesmo sem ela
saber, fui avisado pelo Allan, que Beatriz tinha desmaiado e estavam levando-a
para o hospital. Fiquei maluco, louco, completamente fora de mim e me
amaldiçoando por ter deixado que aquilo acontecesse. Ela tinha se afastado por
minha culpa, por eu não ser forte o bastante para lutar por nós dois e aquilo me
corroeu até me deixar em estado de nervos.
— Mamãe contou.
— Não me interrompe, ela contou a versão dela.
— Eu estava preocupado, malditamente preocupado. Até que descobrimos
o que ela tinha e todos os meus arrependimentos se transformaram em alegria.
Beatriz estava grávida e em nenhum momento, nenhum mísero momento eu
cheguei a desconfiar que a criança não era parte minha e dela! Nossa relação
tinha sido breve, mas eu ficava com mulheres o bastante para identificar quando
as coisas eram intensas e diferentes. Estava grávida e eu nem queria ser pai
naquele momento, mas quando ouvi as palavras, todas as minhas prioridades
mudaram e você encabeçou a lista das pessoas que eu precisava proteger.
Quando olhei nos seus olhos e vi meu verde refletido neles, meu coração inteiro
tinha se deslocado e batia junto com o seu, rapidamente, em um amor
incondicional, um amor que nunca morreria. Era a minha princesa. O fruto de
um amor que ficou tão grande que precisou ser dividido. Precisava de mim pra te
proteger e eu cuidaria disso com a minha própria vida, se preciso fosse.
Nesse ponto as lágrimas corriam soltas pelo meu rosto. Meu pai nunca tinha
falado essas coisas e eu me odiava por ele ter feito nesse momento, um no qual
eu estragara toda a magia do seu amor.
— Quando te vi sendo amparada pelo seu irmão, senti que falhei de alguma
forma nessa promessa que fiz e, merda, eu nunca fiquei tão mal na vida. Nem
mesmo nos meses que passei longe da sua mãe. Nunca, nunca em toda a porcaria
da minha vida, eu quis tanto me bater como naquele momento em que notei o
quão ruim você estava. Por que merda minha filha não conversou comigo? Por
que tudo aconteceu dessa forma? Por que eu não percebi? Por que eu não
percebi?
Meu pai começou a chorar e eu jamais o tinha visto fazer isso. Era sempre
feliz e brincalhão, sem qualquer sombra de tristeza.
— Foi o pior dia da minha vida. Minha princesa estava ruim e eu não sabia,
eu não sabia! Que raio de pai eu sou? Ainda não sei, mas quero acreditar que fiz
tudo certo e que não tenho motivos para que meus filhos se ressintam de alguma
forma. Fiz por amor, vocês representam o amor na minha vida. Eu acordo todos
os dias e sorrio porque estou rodeado de felicidade. Então, enfim, dei muitas
voltas, só queria dizer que se dei motivos para não confiar em mim ou até
mesmo na sua mãe, peço desculpas, mas saiba que depois do inferno de hoje,
não vai mais passar um dia sem que eu te ligue e pergunte se está bem!
Ele sempre fazia isso, eu que não dava valor.
— Já faz isso, pai.
— Não fiz o bastante. Ver você daquele jeito me deixou em choque e
completamente abalado. Se acontecer de novo, eu posso muito bem pirar de vez
e ninguém quer me ver pirado, isso é certeza.
Eu sorri fraco. Ele também. Um reflexo das semelhanças entre a gente.
— Pai. Você é o melhor pai do mundo, não tenho e nunca terei do que
reclamar! — Peguei na sua mão e apertei.
Não existia nenhuma mentira na minha frase.
— Então, me promete que não guardará mais segredos como esse? Passei
um inferno e não quero voltar pra lá.
— Prometo.
— Bom.
Ele levantou da poltrona que arrastara até minha frente, enxugando as
lágrimas e saiu do apartamento, deixando que minha mãe tomasse seu lugar,
percebendo que a conversa tinha sido profunda.
Respirei fundo e olhei para o teto, sentindo a sua presença reconfortante e
me permitindo sorrir aliviada em muito tempo.
Eu não tinha mais segredos.
E a carga dos meus problemas pareceu ser aliviada, tomada para ser
dividida entre as pessoas que realmente se importavam comigo.
EU NÃO A vira mais e aquilo estava me matando.
Não ter Lily na minha vida era como não ter parte da minha alma.
O treino, as risadas, os desafios, não surtiam o mesmo efeito de quando ela
estava ali para me apoiar como sempre fazia. Era tudo muito frio e solitário, de
uma maneira que fazia muito tempo eu não me sentia.
— Por que tá assim? — Steve perguntou com a música alta fazendo com
que falasse mais alto do que o normal.
Minha dor de cabeça parecia que iria explodir tudo a qualquer momento.
Não era mais um cara de festas e devia ter aceitado isso.
Três dias, três malditos dias em que eu não a via. E isso me deixava mais
lúcido do que a temporada batendo na porta. Nada era tão importante como ela e
por esse motivo eu a afastara magoando de uma forma que não sabia se seria
perdoado, caso ela viesse a descobrir a verdade.
— É só preocupação... — respondi amargo.
Shayla em alguma parte da casa do seu irmão, desistira de chamar a minha
atenção e graças a Deus percebera que não ficaríamos mais juntos.
Nem mesmo que tudo viesse por água abaixo.
Definitivamente, não precisava de mais enrolação na minha vida. Já tivera o
bastante para umas boas décadas e por incrível que pareça, só queria ficar
tranquilo e me afogar em olhos verdes que eu não fazia a menor ideia de quando
veria novamente.
Para o bem dela. Claro que era para o bem dela.
Não saberia conviver comigo mesmo caso algo acontecesse.
— Não vai beber?
— Não.
Nenhuma gota de álcool. Nada.
Lily me tornara mais responsável do que a dedicação diária com o time e
isso era um feito e tanto.
A música ensurdecedora me fazendo questionar porque raios eu tinha ido
parar ali.
Era uma incógnita.
O copo de suco na minha mão pesando uma tonelada e deixando claro que
meu lugar não era esse. Nem perto. Meu lugar era onde ela estava, sempre
seria... Tyler e Josh se recusaram a passar qualquer tipo de informação para mim
e eu soube que tinha ferrado com tudo de vez, sem chances de retornar as coisas
à como eram antes.
Nossos sentimentos mudaram tudo.
Admitir meus sentimentos mudaram a forma como eu via o mundo.
O colorido dos seus olhos transbordava as cores que eu enxergava e aquilo
me parecera a perfeição... Pelo menos parecera até que um homem com um ódio
infundado e que não tinha nada que mandar na minha vida achara que tinha
algum direito sobre ela.
Exatamente nesse instante meu inferno começara e não dava o menor sinal
de acabar.
— Você tá muito mal, cara.
Steve nem fazia ideia.
Eu estava uma merda e não fazia a menor questão de disfarçar isso.
Sentado no sofá, segurando um suco e olhando as pessoas se divertindo, só
ressaltava esse meu estado. Não perceberia quem não quisesse.
— Nem imagina o quanto.
— Não precisaram remediar os danos na imagem do time, você e ela não
assumiram nada.
Eu sabia de quem ele falava e não pensava que merecia que ela fosse citada
assim em uma conversa. Lily era muito mais do que uma garota sendo lembrada
em uma festa idiota.
Muito mais.
— Não foi por falta de vontade.
— O que aconteceu? Vocês pareciam felizes.
Não só parecíamos, nós estávamos felizes.
— A vida. A vida aconteceu.
A vida e o peso do passado. Um passado que eu não queria nem ao menos
ter conhecido. Caso não corresse atrás, nada disso estaria acontecendo.
Agora nós nem nos falávamos como costumávamos fazer e isso fazia uma
falta da porra na minha vida. Ela por si só fazia falta, mesmo que fosse para
sentar no meu sofá e ficar em silêncio como fizera várias vezes.
Eu entendia a sua quietude e Lily entendia a minha agitação. Éramos
perfeitos um para o outro.
— Que merda. — Ele disse, mas não olhava para mim.
Segui seu olhar e vi Shayla conversando com um outro homem, e ele ao
meu lado, tenso com a clara provocação dela à mim. O que mal sabia é que essa
porcaria não fazia o menor efeito, pelo contrário, atingia quem ela nem
imaginava que atingiria.
— Vai lá e conquista a garota! — falei, mais sério do que queria parecer.
Sabia muito bem como era ter o paraíso e senti-lo escorrendo pelas mãos.
Não tínhamos segundas chances e ele deveria aproveitar enquanto ainda era
tempo.
— Ela claramente não quer ser conquistada.
— Penso diferente.
Depois de até mesmo eu ser conquistado, não imaginava ninguém no
mundo que não quisesse sentir algo remotamente parecido.
— Por você ela com certeza mudaria de ideia.
— Ela não é a mulher que me deixa maluco, Steve, na cama e fora dela,
então, pode ter certeza, que não vai nem fazer mais efeito em mim. Fiquei
blindado a partir do momento em que outras mãos causaram um efeito
devastador.
Ele ainda não sabia porque não sentira algo tão forte, mas quando sentisse
entenderia.
Como se notasse que estávamos falando dela, Shayla nos olhos e sorriu,
imaginando besteiras, isso eu tinha certeza.
— Maravilha! Acho que ela entendeu nosso olhar errado! — suspirei
derrotado.
Parecia que nenhuma outra mulher despertaria a minha vontade e eu nem
queria.
Meu corpo ansiava pelo da Lily e apenas pelo dela. Antes que eu
experimentasse não imaginava que seria tão vicioso, agora a vontade era insana
e se eu pudesse correria até ela sem a menor vergonha. Não conseguia mais ficar
sem e cada dia parecia tomar mais um pouco de mim pelo esforço.
— Todos estão se divertindo, menos você.
— E você, que fica olhando a mulher que gosta se esfregando em outro sem
nem tentar chamar a atenção dela!
Ambos sorrimos amargos.
Desorientados por duas mulheres que nos pegaram de jeito.
— Eu tentei.
— Não tentou tanto, pelo visto.
Shayla parecia dar atenção para qualquer um, menos para ele.
— O que vocês tanto fazem aí?
Mais um do time para encher o saco.
Paz era com certeza uma palavra que ninguém conhecia, mas levando em
conta que eu estava ali e não em casa, praticamente pedira pela falta de solidão.
Mesmo que eu a sentisse com a casa cheia de gente e a bebida sobrando em
litros na cozinha.
Todos os meus parceiros de time estavam ali, na casa de um deles, sendo
que em mim, o vazio reinava com maestria e me impedia de aproveitar a
algazarra.
— Fofocando. — Steve respondeu e eu gargalhei.
— Assuntos interessantes pelo menos?
— Mulheres são muito interessantes! — respondi, pensando em apenas
uma.
— Ah, com certeza! Mulheres são mulheres! O que seriamos de nós sem
elas?
Não era segredo que uma boa parte do time era solteiro e ali estavam três
que estavam nessa parte.
— Nada.
Eu me sentia como um nada e aquela era a palavra que mais definia meu
estado de espírito na noite.
— Olhe só pra elas, fazem nossa alegria. — O terceiro integrante do nosso
trio solitário apontou na direção de algumas mulheres para provar seu ponto e eu
nem ao menos perdi muito tempo olhando.
Nada chamava minha atenção e eu precisava ir embora dali o quanto antes.
Ficar sozinho com meus pensamentos era muito melhor do que ficar em
companhias que não mudavam muito como eu me sentia.
Lily teria mudado a sua senha de acesso?
Se eu tentasse poderia ao menos ter mais um pouco do seu cheiro, se não
estivesse no apartamento, é claro. O que eu imaginava que não estava.
Ela vivia fora e depois do que acontecera sumiria ainda mais.
— Acho que vou nessa.
Falei e coloquei o copo de suco praticamente cheio em cima da mesa de
centro à nossa frente. Com meus colegas de time me olhando curiosos.
Eu não era de sair dessas comemorações sozinho e, sinceramente, nesse
momento, sabia que nenhuma companhia aplacaria a falta dolorosa no meu
peito.
— Não vai convidar nenhuma? — Oliver perguntou e eu neguei com um
aceno.
Ele não sabia das coisas assim como Steve, e eu nem faria questão de
contar. Não precisava me explicar para ninguém.
— Eu vou aproveitar.
— Bom proveito! — respondi sem me alterar.
Não me importava o que eles fariam, apenas o que eu não faria.
Passei pelas pessoas apressadamente, trombando com algumas sem ao
menos pedir desculpas, procurando nos rostos que eu observava, um o qual eu
sabia que não encontraria.
Diziam que o amor durava para sempre, então, eu estava fodido, porque
aquilo machucaria até a morte e não dava sinais de que diminuiria algum dia.
Respirei fundo assim que saí da casa e olhei para o céu, pedindo um
milagre, porque era disso que eu precisava. Um milagre.
Dirigi até o seu apartamento, torcendo para o que eu desconfiava ser
verdade e assim que digitei o código na porta, me tranquilizei ao ouvir o clique
suave. Ela não mudara e eu tinha esperanças de que seu sentimento assim como
seu código de acesso permanecessem os mesmos.
Entrei na sala e tudo parecia da mesma forma como eu me lembrava, mas
assim que cheguei no seu quarto, notei que alguma coisa estava muito errada.
Frascos quebrados no chão e uma toalha jogada sem qualquer tipo de
padrão.
Lily não fazia isso e meu desespero me consumiu.
Se o pior tivesse acontecido com ela por minha culpa eu nunca me
perdoaria.
Peguei meu celular no mesmo instante e liguei para o Josh, para saber
alguma notícia dela. Não aguentaria nem mais um minuto nessa agonia.
Que se ferrasse meu progenitor e sua raiva!
— Oi, pai, tá tudo bem?
Ele demorou um pouco para responder e aquilo me assustou mais do que eu
imaginava ser possível.
— Não.
Não. Não. Não.
Essa palavra ecoava em mim, juntamente com o desespero catastrófico.
— O que aconteceu?
Pelo amor de Deus que não tivesse a ver com ela. Pelo amor de Deus que
nada tivesse acontecido à ela.
— Lily sofreu uma crise...
Que raios de crise ele estava falando?
— Como assim?
— Bem... Acho que não devemos falar sobre isso por telefone, vem em
casa que a gente conversa, mesmo ela não querendo te ver nem pintado de ouro.
Vou te dar mais um voto de confiança, Collin, e por favor, não magoe minha
princesa novamente.
Ele falava sério e doía em mim machucar as pessoas que eu amava.
O que ele não sabia é que fora pelo próprio bem dela.
— Eu preciso explicar o que aconteceu.
— Não sei quais foram seus motivos, mas espero que eles sejam
convincentes o bastante. A oferta de quebrar as suas pernas ainda está de pé.
E eu não duvidava nem um pouco.
Josh Currey não fazia ameaças em vão.
— Tô indo! — falei, já saindo do apartamento dela.
Correndo pela escada, porque nem esperar o elevador conseguia.
— Se prepara, porque sua mãe tá uma fera, muito mais do que eu. É que
estou tão perdido que não sei bem como agir referente a esse assunto.
— Certo. Até logo!
Cheguei no carro tremendo tanto que não conseguia colocar a minha chave
no contato para dar a partida. O medo me consumindo totalmente depois de
ouvir o tom desanimado com o qual Josh conversara comigo.
Papai era um homem firme e feliz, jamais o vira daquela forma e saber que
tinha a ver com Lily era o suficiente para me deixar talvez pior do que ele.
Tyler não me falara nada durante esses dias e a sua falta de consideração me
deixou irritado. Mas também o que eu queria?
Magoara a irmã dele e me dar um gelo era o mínimo que poderia ser feito.
Apertei firme o volante e dirigi.
Como se minha vida dependesse disso.
O que provavelmente era a maior verdade do dia.
FICAR COM A minha família foi a melhor iniciativa que pude tomar, eles
sabiam e estavam me apoiando. Teria muita coisa com a qual lidar e,
provavelmente, uma escolha a fazer referente à minha carreira, mas o mais
importante eu tinha, que era a compreensão e ajuda deles.
Achava que boa parte da minha doença se dera ao complexo com bullying
que eu sofrera e aquilo na passarela, apenas aumentava. Eu me tornava uma
mulher confiante desfilando, mas era uma farsa, uma bem elaborada, que
enganava a todos.
E ainda tinha Collin... Que não sabia de nada e se dependesse de mim, nem
saberia.
Não tínhamos mais nada, não era minha obrigação então contar.
— Como se sente? — Mamãe perguntou assim que entrou no quarto,
sondando o terreno.
— Bem. Não foi pra livraria, mãe?
— Estava preocupada demais para fazer qualquer outra coisa que não fosse
ficar em casa com você. A Rose e a Diane estão segurando as pontas, mesmo
sem saber o motivo para o meu “sumiço”. — Ela fez um sinal de aspas com os
dedos e sorriu fraco.
Eu a fizera se sentir uma péssima mãe e percebia nesses seus sacrifícios a
tentativa de se redimir quando na verdade ela não precisava fazer nada disso.
Dera o seu máximo e fora a melhor mãe do mundo e não era um problema meu
que tornaria essa verdade uma mentira.
— Fica tranquila, mãe! Descanse, trabalhe... Eu vou estar aqui quando
voltar!
Peguei sua mão e fiz carinho.
Ouvi vozes alteradas no lado de fora do quarto e não precisava ver a pessoa,
para saber quem falava alto.
— Pelo visto seu pai conversou com ele...
— Como assim?
— Collin ligou desesperado, e seu pai falou para ele vir.
Me sentia traída por não terem contado isso para mim e, principalmente,
por não terem respeitado o meu direito de não querer vê-lo.
— Deviam ter me contado! — falei irritada.
Já me bastava a vergonha deles saberem minhas fraquezas, agora teria que
lidar com o olhar de piedade do homem que eu amava também.
O que era pior, muito pior para minha autoestima.
— Terá que enfrentar de uma vez, filha! Já fugiu demais, mais do que é
saudável — deu uma pausa e voltou a falar — E Tyler não vai segurá-lo por
muito tempo, sabe disso.
Minha mãe tinha razão, mas a parte em mim que se envergonhava por tudo
duvidava completamente.
— Eu não quero, mãe. Não quero a piedade dele também.
— Ninguém está com dó de você, nós estamos a apoiando e isso é
totalmente diferente.
— Mesmo assim...
— Não posso fazer nada, Lily. Ou termina de uma vez, ou vai ficar se
corroendo a vida inteira. Não tem como evitar vê-lo, sabe disso melhor do que
ninguém! Tentou fazê-lo até agora e aonde tudo a levou?
Vários anos de tentativas idiotas de não vê-lo e sentir meu corpo responder
à sua presença.
— Lily.
Tarde demais.
Collin abrira a porta com força, meu pai e irmão atrás dele. Mas o único
que estava com o semblante triste por não ter conseguido mantê-lo do lado de
fora era o Tyler.
— Por favor, conversem e se entendam. — Mamãe disse e saiu, tirando
meu pai e irmão da porta, fechando-a logo em seguida, me deixando em um
silêncio desconfortável com o homem que permeava meus pensamentos.
Ele nunca abandonara minha cabeça, muito menos meu coração.
Collin puxou a cadeira em que minha mãe estava e se sentou, sem dizer
uma palavra. Meus batimentos cardíacos podiam ser sentidos na minha garganta
e a qualquer momento me sufocariam. Tinha certeza.
— Foi culpa minha, não foi? — Ele perguntou e eu me odiava ainda mais
por todos à minha volta pensarem que eram culpados.
— Não.
— Foi depois que eu disse aquelas coisas.
Foi. E tinha sido por causa dele que eu piorara, mas todos os episódios
anteriores também tiveram sua dose de culpa.
— Sim, mas já aconteceu antes.
— Por que não nos contou?
Porque eu não queria ver aquele olhar que ele me dava. Simplesmente por
isso. Não queria ver aquilo no rosto de ninguém.
— Vocês teriam pena de mim.
Collin segurou minha mão e estava bem longe de parecer o mesmo de
sempre. Alguma coisa nele o consumia e eu não sabia dizer o quê. Pela primeira
vez em que conversávamos, não sabia dizer o que ele sentia e isso era ruim o
bastante para me aterrorizar.
— Jamais! Sempre deixei claro que poderia contar comigo, para qualquer
coisa, qualquer maldita coisa, Lily! Só precisava que você confiasse em mim
assim como confio em você. Sabe que não há ninguém no mundo a qual eu conte
tantas coisas minhas. Já falei mentiras idiotas até para nossos pais, mas nunca
pra você, é a única pessoa na face da terra para a qual eu nunca menti, nunca
enganei. — Ele baixou o olhar e passou os dedos no dorso da minha mão. — O
que acabou acontecendo na última vez em que nos vimos...
Eu fechei minha boca, me obrigando a não dizer nada.
— Meu pai, ou seja lá como eu deva chamar aquele homem, já que meu pai
claramente ele não é, a ameaçou. Disse que eu não poderia manter nossa relação
ou as coisas realmente ficariam feias. Como eu a colocaria em risco? A mulher
que sempre esteve na minha vida? Como raios eu acordaria sem saber que você
sorria em algum canto do mundo? Não conseguia imaginar algo assim. Então, eu
menti pra te afastar... Menti dizendo que não queria você, que toda aquela merda
não estava levando uma parte de mim embora. Eu só... menti, Lily. E agora me
amaldiçoo por isso.
— Devia ter me contado.
— Não contei porque sabia que você iria querer enfrentar comigo e que isso
a colocaria em um perigo ainda maior. Não posso deixar que nada te aconteça.
Não posso, boneca! Você é tudo o que eu quero ter, mas não mereço, entende?
— É um idiota.
Ele sorriu amargo e me olhou nos olhos.
— Um idiota que a ama demais, posso garantir. Quando você saiu do meu
apartamento, eu simplesmente parei de respirar e levou junto com você toda a
minha vontade de sorrir.
— Mentiroso.
Eu sabia pela sinceridade na sua voz que ele não estava mentindo, assim
como Collin sabia que eu dissera aquilo brincando.
— Por que não contou? Eu entrei em pânico quando cheguei no seu
apartamento e vi tudo quebrado daquela forma. Não imagina as merdas que
passaram pela minha cabeça... Eu pensei... pensei...
— Que ele tivesse cumprido a promessa.
Collin balançou a cabeça afirmativamente e eu conseguia sentir a dor nele.
A mesma dor que eu sentira diversas vezes, quando ele aparecia com alguma
mulher, quando me olhava, mas não percebia meu calvário e quando disse que
trocaria até mesmo o código de acesso do apartamento para eu não vê-lo mais.
— Podemos superar isso juntos, Lily. Podemos voltar a ser como antes. A
gente pode... Pode... Fazer qualquer coisa! Só por favor, não esconda algo tão
importante novamente! Me senti impotente e, merda, não quero me sentir assim
de novo.
Agora que todos sabiam, não havia mais o que esconder.
Era eu e a parte mais obscura de mim.
Longe de ser a supermodelo, perfeita e que sorria a todos os instantes.
Aquela era a Lily, a verdadeira Lily.
— Voltar a ser como antes?
— Não vou arriscar sua vida! Jamais!
Ele falava sério e me machucava a ideia de ficar longe dele depois de tudo
o que tinha experimentado.
— Está falando sério?
— Como nunca em toda a minha vida!
— Vai embora, Collin! Quero alguém que lute por mim e não que lute
contra mim.
Meu corpo parecia estar sendo rasgado novamente e, dessa vez, eu sabia
que fazia o certo. Não havia meios de tudo ser novamente como era e olhando
para ele eu tinha essa certeza. Tudo o que acontecera entre a gente ainda estava
vivido na minha cabeça e eu jamais esqueceria.
Não tinha como trazer o Collin amigo de volta, quando eu conhecera o
amante e uma parte dele que eu nunca sentira.
— Não vou embora.
Ele falou sério e eu não entendia que merda ele queria, afinal.
— O que você quer? Pelo amor de Deus! Não quer ficar comigo por causa
dessa ameaça que a gente nem sabe se é verdadeira? Não quer ficar comigo
porque me ama, ou não quer ficar comigo por causa do que sente?
— Pelo amor de Deus!
— Pelo amor de Deus, digo eu, Collin! Só porque eu sou uma idiota
quebrada? Uma idiota que não consegue nem mesmo viver em paz? Uma idiota
que amou seu irmão adotivo em segredo por tanto tempo, que a certa altura
achou que fosse apenas mais um sonho?
— Sabe que nada do que disse é verdade.
— EU NÃO SEI DE NADA! NÃO SEI DE PORCARIA NENHUMA!
LEVANTE ESSA SUA BUNDA DE MERDA E SAIA DAQUI!
Eu gritei e levantei da cama com raiva. Completamente fora de mim, dando
socos no seu peito e sentindo as lágrimas descendo furiosas pelo meu rosto, um
reflexo de como eu realmente me sentia.
Só piorara a situação ele ir até ali e dizer que me amava, mas que não
poderia ficar comigo por causa de uma ameaça idiota.
Collin não entendia que a maior ameaça para mim era a sua presença. Essa
sim machucava muito mais do que qualquer outra coisa.
— O que tá acontecendo aqui?
Meu pai entrou rapidamente no quarto, me olhando preocupado.
— Tira ele daqui, pai!
— Vou sair do quarto, mas eu não vou sair de casa enquanto não se acalmar
e conversar mais tranquila.
— Vai perder seu tempo.
— Duvido!
— Por favor, pai? — supliquei, notando o olhar dele entre seus dois filhos.
Sharon logo apareceria para ver como eu estava, como havia prometido,
uma visita domiciliar, e notaria assim que me olhasse a dor que eu sentia.
— Vamos, Collin.
— Vou estar na sala. — Ele me avisou, mas aquela informação não me
deixou mais calma e sim mais irritada.
Não queria aquele Collin. Eu precisava do outro e se não o tivesse nunca
mais, preferia não ter nenhum dos dois.
— Prefiro que não faça isso.
— Algumas coisas estão fora do seu controle, gatinha.
Ele saiu, obedecendo meu pai, e as lágrimas que antes eu segurara,
desceram como uma torrente pelo meu rosto.
— Se estressou demais hoje, tenta dormir. — Meu pai falou e saiu,
seguindo Collin.
Não queria dormir, só queria que aquele sentimento fosse embora.
A declaração do homem que eu amava era para ter me feito sorrir, mas
assim que percebi que ele não ficaria comigo, que estava apenas contando a
verdade, o que estava trincado se estilhaçou.
Ele não lutaria por nós.
A única que estava fazendo isso desde o momento em que ficamos juntos
foi eu e apenas eu deveria terminar.
Ficar de olhos abertos era bem mais doloroso do que cair em um mundo
sem sonhos. Um mundo onde eu não pensava em nada, não sentia vergonha de
nada e, principalmente, não amava ninguém.
— Não pode deixar tudo acontecer de novo, Lily. — falei baixo, sonolenta,
e me deixei levar pela escuridão...
Um coração inteiro em um mundo sombrio.
Uma alma solitária, porém, feliz.
Ou era o que eu queria acreditar.
— QUE MERDA VOCÊ pensa que tá fazendo, garoto?
Meu pai perguntou alterado e eu só passei a mão nos meus olhos em
resposta.
Não fazia a menor ideia do que estava fazendo, só sabia que não sairia dali
enquanto ela não o fizesse. E que se fodesse a temporada, contratos, patrocínios,
que se fodesse tudo. Não dava a mínima para o restante. Não quando ela estava
sofrendo por minha causa.
— Contei a verdade.
— Que verdade?
Chegara a hora de contar para eles também, e no mínimo eles me odiariam
com isso. Me odiariam mais ainda por colocar a vida da filha deles em risco,
assim como eu fazia agora.
— Eu conheci Harper, há alguns anos... — Apenas a menção do nome dele
transformou a feição dos meus pais e eu me amaldiçoei por estar contando
somente agora. Conseguia sentir a dor neles por terem sido enganados e de
nenhuma forma mereciam isso. — Foi por curiosidade e como nunca me
enganaram, achei que tudo bem se eu só o visse. Depois disso nunca mais fui
visitá-lo, nunca mais sequer me interessei por ele... A notícia sobre eu e Lily
vazou e não sei como raios ele descobriu, mas ameaçou a vida dela, se eu não
terminasse tudo... Então o fiz, e é por isso que ela ficou ruim daquela forma...
Suspirei, derrotado. Sem forças para responder qualquer ofensa que eles
fizessem. Eu as merecia, e inferno, como merecia!
Lily não devia ter saído machucada com isso e a promessa que eu fizera
para ela em várias situações se tornara completamente em vão.
Completamente.
Duvidava que uma promessa quebrada pudesse doer tanto quanto aquela
abria um espaço doloroso no meu peito.
— Foi por isso... Você a ama de verdade, Collin? — Mamãe perguntou e
era engraçado ela o fazer.
Com certeza o amor que eu sentia estava estampado na minha testa.
Abrir mão da presença da Lily era a mesma coisa que abrir mão da minha
felicidade e eu sabia o quanto isso era uma grande coisa.
— Não a amaria se tivesse continuado com ela. — Meu pai respondeu por
mim e ele parecia ser a única pessoa no mundo capaz de entender meus motivos
para me afastar.
Provavelmente, faria a mesma coisa no meu lugar. Por isso, se colocara na
frente de uma bala pela mulher e pela filha. Josh me entendia completamente e
sabia com o que estávamos lidando.
Ele conhecia Harper melhor do que eu e se nem ele o subestimava, eu nem
em sonho o faria.
— Vamos resolver isso juntos, a felicidade de dois filhos meus depende
disso. — Ele falou e colocou a mão no meu ombro, se levantando do meu lado
no sofá, com um olhar de pesar.
— Vocês dois não nos falam nada! Nós não somos adivinhas, pelo amor de
Deus! — Minha mãe parecia histérica, mas eu suspeitava que era porque a
deixamos de fora e ela odiava não saber das coisas.
— Amor, se acalma, nós vamos resolver...
— Acho bom! Acho muito bom!
— O que aconteceu? — Tyler surgiu na sala e ninguém parecia inclinado a
responder à sua pergunta.
Muito menos eu.
Precisava de uma saída para o que estava acontecendo e me agoniava não
ter nenhuma em mente. Quanto mais eu pensava, mais as ondas de dor de cabeça
aumentavam, pelo menos, agora Josh também tentava ajudar e ter dito a verdade
a eles tirara um fardo que eu carregava há tempos nas minhas costas.
— O pai biológico do Collin ameaçou a Lily e em nenhuma realidade eu
deixarei que ele faça alguma coisa à minha princesa. Passei por isso uma vez e,
merda, nem que eu tenha que passar de novo, mas ele não machucará a minha
família nunca mais!
Eu conseguia sentir a determinação por trás das palavras do meu pai e ao
olhar para minha mãe, a vi com medo. Um medo puro e irracional. Um o qual eu
nunca a tinha visto sentir antes.
— Não quero passar por aquilo de novo, Josh.
— Não passaremos, amor. Harper está preso e o quão difícil é garantir que
ele não consiga seguir adiante? Duvido que seja o único a conhecer más
influências. — Josh trincou os dentes e se virou, saindo em direção à piscina,
sem falar mais nada.
Olhei para as duas pessoas à minha frente e respirei fundo.
A paz estava sumindo antes mesmo que fosse vista.
— Eu odeio de verdade esse homem! Meu Deus, como odeio! — Mamãe
falou alto e se deixou desabar no sofá ao meu lado, desanimada e preocupada.
Meus pensamentos estavam tão conflitantes que eu não sabia nem o que
pensar direito.
Tyler assobiou, percebendo a gravidade da situação e recebendo olhares
recriminadores meus e da mamãe.
— Qual é! Somos três homens! Quem vai mexer com ela com a gente aqui?
É só não deixarmos ninguém chegar perto... Herdar a altura do papai vai valer
para algo, afinal.
Eu não deixaria ninguém suspeito chegar perto dela, sem chances mesmo
disso acontecer! O meu ódio seria suficiente para parar quem fosse apenas com
um olhar.
Mamãe começou a chorar baixo ao nosso lado e me virei para abraçá-la,
assim como Tyler. Seus dois filhos tentando confortá-la, enquanto sabíamos que
isso seria impossível. Beatriz Currey só ficaria tranquila quando a filha estivesse
bem e totalmente segura.
— Ela é a minha filhinha... — falou chorosa e apertamos ainda mais o
abraço, sentindo seu corpo convulsionar com o medo.
— Onde o pai foi? — Tyler perguntou e eu dei de ombros.
— Acho que pra piscina.
— Será que ele tá bem?
— Vou conferir.
Meu irmão balançou a cabeça e sinalizou que ficaria esperando com a
minha mãe. Nenhum de nós dois seria louco em pensar que ela ficaria bem
sozinha.
Fui até a área da piscina e vi meu pai conversando irritado pelo telefone, me
aproximei e aos poucos pude ouvir claramente a conversa.
— Preciso que veja isso pra mim. Foda-se o que tem que fazer, não me
importo! Esse merda vai pagar pelo que tá fazendo e te garanto que não vou
medir esforços para isso.
— Com quem tá falando? — perguntei e ele se virou, contrariado a dizer.
— Advogado.
Não parecia ser com o advogado, mas não comentei.
— Isso. Inferno, isso mesmo! Passa a conta que eu transfiro agora! Segredo
absoluto e qualquer coisa me avisa.
Meu pai desligou e a raiva no seu semblante era ainda pior do que a minha.
— Não era um advogado, era alguém que pode ajudar.
Eu já imaginava inclusive que se Harper conhecia pessoas ruins, meu pai
não ficava tão para trás. A voz que ele usou com a pessoa não era nem um pouco
parecida com a qual ele conversava com a gente.
Soava ameaçador e eu o agradecia por isso.
Era um sinal que nada aconteceria à Lily.
— Alguém que vai ajudar. — frisou a palavra, para poder provar algo a si
mesmo.
— Mamãe não pode saber?
— Nem em sonho. Beatriz comeria meu fígado! Ela pode até desconfiar,
mas ter certeza, jamais, ouviu? Não me orgulho disso, mas eu tinha que apelar
para alguém e que Deus nos ajude e dê certo, caso contrário, sou capaz de
invadir a prisão e matá-lo com as minhas próprias mãos!
Arregalei meus olhos.
Ele tinha mandado matar o cara?
Não que eu não pudesse fazer o mesmo, mas estragar a nossa vida não valia
a pena por alguém tão baixo. Uma lição seria o melhor e mantê-lo atrás das
grades até que morresse ainda melhor.
— Não fiz isso.
— O quê?
— Mandei matá-lo... Foi algo mais ameaçador. Ele quer tirar algo de mim e
eu, definitivamente, posso jogar o jogo dele. O problema nunca foi você e ela,
Collin; o problema é de quem ela é filha. Não vou deixar que ele a machuque
por minha causa ou tente pela segunda vez.
— É minha culpa...
— Não é... Nunca foi. O problema do Harper é que eu sou feliz como ele
nunca foi e acha que fazendo essas coisas vai conseguir atrapalhar. Mas ele não
conhece esse novo eu, que faria qualquer coisa pela família e depois, vai desejar
não ter conhecido.
Meu pai se virou e entrou novamente em casa. Sentei em uma das
espreguiçadeiras e fiquei olhando para o céu, desejando que nada daquilo
estivesse mesmo acontecendo. Só podia ser um pesadelo idiota, um pesadelo
impiedoso.
De repente, tudo se tornou tão sem importância.
Meu caso com Shayla e sua perseguição.
O time.
Os jogos.
8
O prêmio de MVP .
Tudo absolutamente sem importância.
Sem Lily, o que eu tinha?
Uma família que me amava, sem dúvidas. Mas eu não faria mais parte
daquela família sem ela, seria doloroso demais e eu não era um cara tão forte a
esse ponto. Ver Lily e não ficar com ela seria uma provação maior do que eu
poderia suportar.
Agora que eu sentira, não deixaria mais de sentir.
Só restava saber se ela me perdoaria.
— Que não seja tarde demais! — sussurrei, morrendo de medo.
Pedindo a Deus ou à ela, eu já não fazia a menor ideia.
— Papai tá confortando a mamãe. — Tyler disse e se sentou ao meu lado.
— Eu descobri antes de todos... Partiu meu coração não poder ajudar minha
irmã... Na verdade, fui em uma sessão com ela e percebi o quanto aquilo era
horrível. Alguém forçá-lo a dizer seus medos? Segredos? Mas era o necessário, e
qualquer um veria que depois do choque inicial, tudo parecia melhorar. — Ty
respirou fundo. — Lily só precisava que alguém soubesse para apoiá-la e essa
pessoa não era eu, nem papai, nem mamãe; era você...
— Ela nunca tentou dizer.
— Tinha vergonha, Collin. No fundo, nós a entendemos bem... Eu tenho
vergonha de conversar com a Mia e parecer um idiota. Você tem vergonha por
todos esses anos ter sido tão cego. Somos pessoas cheias de receios e Lily não é
diferente.
— O que eu posso fazer? Não vou entrar lá de novo e piorar ainda mais as
coisas.
— Não vai mesmo ficar com ela?
Se a segurança dela dependesse disso, com certeza, não.
— Se conseguirmos arranjar um modo, não consigo me imaginar querendo
tanto outra coisa.
— Nós vamos resolver, ela não está sozinha, nunca esteve.
— Tem melhorado?
Tyler sabia o que eu perguntava e balançou a cabeça afirmativamente.
— Muito.
— Se eu tivesse percebido... Meu Deus, Ty, como não percebi?
Coloquei as mãos na cabeça, revoltado comigo mesmo. Como não percebi
que algo estava errado? Nós passávamos a maior parte do tempo conversando e
eu nunca me liguei que ela não estava tão bem como demonstrava?
Provavelmente, era o cara mais cego de toda Boston.
Não percebi que ela me amava e não notei que nem todos os seus sorrisos
eram verdadeiros.
Lily implorava por ajuda e eu, imbecil, não a ouvi.
— Nem nossos pais perceberam... Lily escondeu bem, e ela com certeza
não quer que se culpe por isso. Claro que nesse instante ela está torcendo para
que você caminhe no inferno, descalço, mas não por esse motivo, tenho certeza.
— Acha que fiz errado em me afastar?
— Sinceramente?
Balancei a cabeça, confirmando. A sinceridade poderia machucar, mas era
melhor do que ouvir mentiras.
— Deveria ter lutado antes. Terminar tudo sem ter certeza não é lá o melhor
a se fazer... Você quebrou-a e agora, só podemos torcer para que consiga
consertar!
— Não estava no meu melhor momento.
— Imagino. Por esse motivo não vou chutar seu traseiro, mas vontade não
me falta!
— Vou esperar uns dias pra falar com ela.
— É o melhor. Lily puxou à mamãe nessa parte e pode ser... bem... Pode
ser...
— Nervosa.
— Digamos que sim. — Tyler riu e pegou seu celular assim que o mesmo
começou a tocar.
Pelo olhar dele nem precisava dar um palpite para saber quem ligava.
— Por que não atendeu? — perguntei assim que ele ignorou a chamada e
guardou o aparelho novamente.
— Não sei... acho que não compensa investir nisso. Nunca vou ser o que ela
precisa, é simplesmente boa demais pra mim. Prefiro desistir e deixá-la
encontrar alguém à altura do que atrapalhar tudo.
— Trabalha com ela, não vai conseguir evitá-la.
— Não trabalho mais.
Tyler falava de mim, mas de um jeito diferente, fizera o mesmo que eu.
Desistira sem lutar e isso era o maior erro que poderia cometer.
— Ty, não caia na mesma cilada que eu.
— É muito mais fácil falar do que fazer.
— Certeza que tentou de tudo?
— Daqui uns anos quem sabe eu a encontre novamente? Nós dois não
estamos em épocas propícias a relacionamentos.
Eu sabia que ele a procuraria em cada mulher que viesse a ficar, mas decidi
não falar. Hora ou outra ele perceberia sozinho e daria um jeito.
— Não concordo com o seu ponto, mas a vida é sua, irmão.
— Aceitei um emprego no Japão. — Ele falou naturalmente e eu cairia de
costas se não tivesse com elas apoiadas na espreguiçadeira.
— Japão?
— Sim, por isso desisti de me envolver com ela. Não daria certo de
qualquer forma.
— E a Mia já sabe?
— Deve ter lido minha mensagem.
— Falou isso por mensagem?
Ele balançou a cabeça e eu já não reconhecia mais o meu irmão.
— Ela deve te odiar!
— Não pode dizer que não sabe como é isso, minha irmã também não te
ama nesse momento.
Eu duvidava. Lily me amava, só não estava gostando muito de mim pelo
que fiz. Mas o amor ainda estava lá.
O sentimento que nutríamos um pelo outro era forte e não acabaria
instantaneamente, se é que um dia se findaria.
— O que realmente aconteceu para desistir assim?
Alguma coisa devia ter acontecido. Tyler não desistia fácil e ele ter
esperado tanto tempo para finalmente avançar um sinal era a prova.
— Ela era noiva e bem... Eu acho que ela ainda o ama. Nunca tive chance,
Collin, nunca tive. Ele é tudo o que eu não sou, um cara tranquilo e que não saiu
com mais mulheres do que pode contar.
— Se ele era noivo dela, não é o que ela procura.
— Ela me disse, Collin, que quer um homem que não tenha ficado com a
maioria das mulheres da cidade.
— Por que ela disse?
— Encontramos alguém com quem já fiquei...
Tyler não falou mais nada sobre o assunto e eu nem o pressionaria. Falar
sobre os problemas dele parecia bem melhor do que me preocupar com os meus.
— Não posso mudar quem eu fui, nem quero.
— Não posso te julgar por isso. Minha sorte é que Lily sabe melhor do que
ninguém tudo o que já fiz. Não preciso contar meus segredos pra ela, porque ela
faz parte da maioria deles.
— Sorte sua, irmão. Sorte sua...
Tyler falou e ficamos os dois, com a cabeça baixa, tentando encontrar
soluções para coisas que pareciam simplesmente fora do nosso alcance.
— QUE MERDA VOCÊ tá fazendo, Currey?
O treinador gritava no meu ouvido, através do telefone e eu fiquei feliz por
ter atendido a ligação ao invés do seu convite para aparecer em uma reunião.
— Eu não posso participar da temporada.
— Tem bosta na cabeça, seu estúpido?! Vai ser quebra de contrato e vai
levar o time a perder a taça antes mesmo de chegar a competir por ela!
Eu era egoísta por fazer isso com o time ou altruísta por abandonar tudo
pela Lily?
Me restava essa dúvida.
— Não tenho cabeça para nada.
Olhei para minha mãe que tentava chamar a minha atenção e tirei o celular
do ouvido para ouvir o que ela diria.
— Lily quer falar com você.
Meu coração parou de bater e eu engoli em seco, tentando molhar a minha
garganta que agora estava tão seca quanto a areia do deserto.
Encerrei a ligação e não me importei. Tudo estava maluco e ficar sendo
repreendido por seguir o que eu achava ser o certo não era do meu feitio.
Não era nem metade do jogador que queria ser, mas também não era nem
metade do homem que precisava ser.
— Certeza?
Tinha se passado quase uma semana desde que descobri o que acontecia e
desde aquela nossa discussão ela nem ao menos se deu ao trabalho de perguntar
sobre mim. Não que eu duvidasse que nossa mãe ficava falando para ela que eu
não saíra dali, mas ainda assim soava estranho.
Saber que ela estava a poucos passos de distância, enquanto eu tentava
dormir sem sucesso.
O redemoinho de pensamentos me consumindo em uma tristeza
esmagadora.
Lily não era das que perdoavam fácil e eu pagava o preço por tê-la
magoado.
— Tenho, se não tivesse não chamaria!
— Certo.
Ela saía do quarto, ia para a cozinha, conversava com todo mundo, mas se
recusava sequer a olhar na minha direção.
Eu podia superar isso, claro que podia.
Mas só se ela estivesse tão bem quanto parecia, o que eu sabia que era
mentira.
— Oi! — falei assim que abri a porta do seu quarto.
Evitei qualquer tipo de apelido. Lily parecia ficar ainda mais irritada
quando eu os falava e do que eu mais queria fugir era da sua fúria.
Mesmo que irritá-la fosse tremendamente divertido.
— Ficou esperando todo esse tempo...
— Eu consegui me distrair, se é o que te preocupa! — falei baixo, tentando
aliviar o clima.
Ela se tornava mais maleável quando sorria.
— Imagino. — Ela disse séria. — Sei que não podemos ficar juntos, Collin.
Conhecemos o outro bem demais para qualquer envolvimento. Não daria certo e
eu quero deixar claro que não estou brava com você por isso.
Eu queria que ela estivesse brava!
Queria que ela me matasse por sequer pensar em um absurdo desses!
Eu queria... queria... queria ela.
Só isso.
Brava, feliz, irritada, pensativa, eu a queria. De todas as formas.
— Não. — Respondi.
— Não o quê? — perguntou, parecendo confusa.
— Não vamos voltar a ser como antes.
— Não voltaríamos, eu não conseguiria.
— Eu te amo, Lily, e assim que falei aquela idiotice da última vez, percebi
o quanto estava errado e não, não vou deixar você sair da minha vida.
— Mas você disse, Collin! Disse que não daria certo! — ela quase gaguejou
e um sorriso leve se abriu nos meus lábios.
— Eu sou um idiota, não pode acreditar no que digo.
— E a minha doença?
Ela parecia realmente preocupada com isso e eu me amaldiçoei por tê-la
feito duvidar que estaria aqui por ela sempre que precisasse.
— Estamos todos aqui, não estamos?
— Eu não mereço.
— Eu que definitivamente não mereço a mulher que se tornou e você
merece tudo o que o mundo pode oferecer... e mais, muito mais! Mas boneca,
nesse momento, o amor da sua família e meu coração terão que bastar.
— Vou conseguir?
— Vai! Sempre conseguiu o que queria.
— Você não.
Como ela não percebia?
— Principalmente, eu. Sempre fui seu.
— Não, não foi, Collin.
— Se eu contar todas as vezes em que a preferi a qualquer outra, vai mudar
de opinião mais rápido do que a velocidade das minhas rebatidas... Tanto que eu
estava com uma garota quando me ligou chorando na noite em que aquele
idiota... Sabe como é... Vesti minhas roupas e saí correndo pra te buscar.

“— Collin, onde você tá? Preciso de você...


— O que aconteceu?
— Acho que eu não fiz as coisas certas... — Ela chorou ainda mais.
Soquei a parede.
Olhei para a garota na cama, sem roupa, esperando que eu seguisse em
frente.
Desisti.
Vesti minhas roupas.
Passei como um furacão pela saída da sua casa, sem qualquer remorso.
Lily precisava de mim e eu estaria lá por ela.”
— Não! Não acredito! Você chegou em menos de dez minutos!
— Acho que passei por todos os sinais vermelhos naquela noite, sorte sua
que não morri! Ficaria com a consciência pesada!
— Qual delas?
— Sério que quer saber?
— Não, melhor não.
— Suspeitei.
— E quais foram as outras?
Agora que eu começara teria que terminar, ou ela ficaria perguntando
sempre que tivesse a oportunidade.
— Naquela festa na casa do amigo do Tyler... Eu fiquei conversando com
você, porque não suportava a ideia de que todos os homens que a olhassem
pudessem tentar alguma coisa. Aquilo me fazia sentir uma raiva gigantesca e eu
preferi ficar com a sua atenção, do que retribuir a das mulheres que tentavam me
distrair.

“— Quer um suco?
Perguntei, olhando-a e fazendo uma varredura de todos os caras que a
imaginavam sem roupa. Tinham muitos.
— Não.
Melhor.
Encostei na parede e fiquei na sua frente, evitando qualquer outro tipo de
contato visual, senão tinha certeza que acabaria começando uma briga e ela
seria a mais prejudicada com isso. Era sempre a que separava.
A única que conseguia acalmar a fera em mim.
— Tem um monte de garotas te olhando, vai dar uma volta! — Ela falou e
sorriu fraco.
Balancei minha cabeça negando.
Nem pela mulher mais gostosa do planeta eu sairia de perto dela!
— Está atrapalhando minhas conquistas...
— Quer uma conquista? — perguntei.
Seria a mesma coisa que engolir ácido, mas então, eu sairia de perto.
— Não, estava brincando. Gosto da sua companhia.
— Bom... Quer dançar? — puxei-a pela mão e entramos no meio das
pessoas, sentindo os olhares questionadores nos queimarem.
Eu estava pouco ligando para eles.
Lily estava ali, não tinha com quem eu me importar além dela.”
— E nunca pensou o que isso poderia ser?
Sorri amargo. Se tivesse percebido com certeza teria feito algo.
— Eu a considerava minha irmã, achava normal sentir ciúmes.
— Não era, Tyler não agia como você.
— Ele sempre foi mais tranquilo, sabe disso.
— Mas me defendia quando necessário, só não como você, que vivia
aparecendo nos meus encontros e atrapalhava a maioria deles.
— Ah, qual é! Era divertido!
— Pra você! Era fácil encontrar alguma mulher que ficaria com Collin
Currey, eu já era diferente. Ninguém queria ficar com uma garota tão alta quanto
eles!
Se ela soubesse a verdade, não pensaria dessa forma.
— Não tem noção, não é?
— Do quê?
— Do quanto é linda... Sempre foi... As garotas tinham ciúme, Lily! Por
isso faziam aquelas coisas.
— Não acho.
— Sei muito bem do que estou falando, vai por mim...
— Está vendo? É fácil voltarmos a conversar normalmente.
Se esse era seu argumento mais válido, ela teria que se esforçar muito,
porque eu nem ferrando o aceitaria.
Decidi mudar de tática e me aproximei dela. Sentindo a sua respiração
desejosa, conforme ela se dava conta do que eu faria para provar o meu ponto.
Encostei meus lábios nos seus e ela respondeu ao beijo, colocando as mãos
no meu peito e incendiando o lugar com seus apertos ocasionais. Era por esse
maldito motivo que não poderíamos mais ficar separados ou fingir amizade
quando nos encontrássemos.
Eu a desejava.
E ela me desejava.
Empurrei-a na parede, prensando-a, sentindo o volume aumentar nas
minhas calças, querendo ela e mais ninguém.
Lily arfou e eu sorri com isso.
— Eu não acho! — falei assim que minha boca abandonou a sua.
O frio e o vazio se apoderando do meu corpo, como eu imaginava fazer
com o dela.
— Por que fez isso?
— Não me ouviria, decidi agir.
— Foi golpe baixo.
— Não sabia que tínhamos regras.
— Sabe muito bem que não pode beijar uma pessoa só pra ela mudar de
ideia. Precisa de muito mais pra isso acontecer.
— Já podemos tirar a roupa? Achei que não! — falei, brincando.
— Sexo também não convence ninguém. — Mentira! Tinha me
convencido.
— Eu discordo. Foi aquele sexo bêbado que tivemos que me fez duvidar de
tudo. Pelo amor de Deus, não consegui nem ficar com outras mulheres depois
daquilo!
— Homens se deixam levar por sexo.
— Isso nunca me aconteceu antes.
— Posso considerar um elogio ser capaz de me rebaixar tanto para ter um
pouco de você?
Como ela transformava minha admissão de paixão em algo tão sujo?
Levaria uma vida para entender essa habilidade de manipulação. Com
certeza, uma vida e talvez acabasse nem entendendo.
— Quem caiu de joelhos fui eu, Lily.
Isso a calou e eu sorri triunfante por finalmente estar conseguindo uma
evolução em toda essa discussão idiota.
— Mas você desistiu de mim!
— Não, eu pensei que a estava salvando.
— Me largando?
— Te dando uma chance de aproveitar.
— Queria aproveitar com você, nada além disso.
Ela estava ficando nervosa novamente e isso não era uma boa coisa se eu a
quisesse voltando atrás da sua decisão.
— Lily, vou falar só mais uma vez... Eu te amo e sou capaz de qualquer
coisa para provar isso.
— Desfilar pelado?
Fiz uma careta, isso já era demais, até mesmo para a mente perversa dela.
— Se fosse a única opção.
— Que horror! Nunca faria isso com você!
— Ainda bem, porque eu não teria coragem.
Ela gargalhou e percebi que o resultado da guerra estava prestes a ser
descoberto.
— Não vai ter vergonha se tudo vier à tona? Pode ser que eu me cure, ou
pode ser que eu tenha alguma recaída, não sei como tudo funciona... E se
descobrirem?
— Eu vou te proteger de qualquer coisa.
— Não pode me proteger do mundo, Collin...
— Mas posso tentar e te garanto que se algo magoá-la, a noite vou provar o
quanto é importante pra mim e como a opinião dos outros é insignificante.
— Isso parece bom.
— E é a mais absoluta verdade.
Ela confiara em mim desde que brincávamos juntos e eu prometia não
deixá-la cair, enquanto descia as escadas da casa na árvore, poderia muito bem
confiar agora também.
— Não sei quando vou estar completamente bem.
— E o que isso muda?
— Nada?
— Exatamente! Nada!
Lily pareceu se lembrar de alguma coisa e levou a mão à boca para conter o
espanto.
Esperava de verdade que não fosse algum segredo obscuro meu que a
impedisse de acreditar em mim. Não me lembrava de nenhum no momento, mas
eu poderia ser esquecido às vezes e só me restava rezar.
— Como estão os jogos?
Jogos? De que raios de jogos ela estava falando?
— Da temporada! — Ela completou assim que eu não respondi a sua
pergunta.
— Não sei.
— Como não sabe?
— Não estou jogando... Pelo que parece, a temporada é carta fora do
baralho pra mim esse ano e talvez nos próximos.
Um descaso desse jamais seria perdoado e eu estava preparado para lidar
com ele assim que fiz a minha escolha.
— Por que não está jogando? — Lily parecia assustada e me espantava ela
não perceber logo de cara o motivo.
Levantei minha sobrancelha.
Se ela ligasse o lugar onde eu estava, com o lugar onde eu não estava,
perceberia rapidamente.
— Por minha causa? Você abandonou o time por minha causa?
Abandonar era uma palavra muito forte, mas não deixava de descrever a
minha atitude.
— É a prioridade.
— Mas eu vou me recuperar, Collin! A sua carreira não! Pelo amor de
Deus, mexa essa sua bunda daqui e vá treinar e ganhar a temporada pra sua
namorada!
Para minha namorada?
— Falei sério! Não fique me olhando com essa cara de estúpido! Vá logo
pra gente ter um dia com a taça, porque eu tenho muitas ideias para aquela taça!
Quando um time ganhava, cada um tinha um dia com a taça, onde
poderíamos fazer o que quiséssemos, respeitando alguns limites, claro, e
sinceramente, na última vez eu estava tão bêbado que nem me lembrava o que
fiz durante meu dia.
Decepcionante.
Ainda mais porque se as minhas ideias fossem parecidas com as dela,
seriam lembranças de tirar o fôlego.
E depois, tentaria convencê-la a termos uma cerimônia mesmo que por
consideração.
Faria com que mudasse de ideia.
Precisávamos disso, precisávamos encerrar essa etapa da nossa vida e
embarcar em uma nova. E já que não podíamos casar de verdade, não via mal
nenhum em fazer algo para a família e comemorar da mesma forma.
Realmente, mal nenhum.
Me despedi, antes que me chutasse dali e corri treinar, sabendo que me
dedicaria ainda mais do que no último ano, porque agora eu tinha alguém a
quem impressionar, alguém com quem comemorar de verdade quando fosse a
hora.
A ideia de ganhar nunca me pareceu tão sensual.
E tão fundamental.
— POR QUE COLLIN saiu correndo?
Sorri para minha mãe.
— Ele tem que ganhar uma temporada pra mim.
Ela abriu um sorriso em resposta, um que eu havia me esquecido durante
esses dias em que permaneci sendo observada praticamente o dia inteiro.
— De fato, tem.
— Mãe, anda lendo muito romance de época ultimamente?
— Oras, que não!
— Então, porque está falando como uma mulher daquela época? —
encostei no balcão da cozinha, achando engraçada a sua feição de ultraje.
Ela nem ao menos sabia mentir.
— Não estou falando assim!
— Está. — Papai concordou comigo e gargalhou, entrando na cozinha, com
a sua presença imponente, no auge dos seus quase dois metros de altura.
— Não li nada antigo, ultimamente...
Papai levantou a sobrancelha e minha mãe ficou vermelha, uma coisa rara
de se ver. Aqueles dois estavam juntos tempo o bastante para ela ficar com
vergonha daquela forma.
— De certo que devo ter lido algo desse tipo, digamos... ontem?
Ela olhou para ele, que confirmou com um aceno.
— Daqui uns dias, com certeza terei uma mulher que se julga francesa. Da
última vez leu um livro sobre o que era, amor? Inglês e espanhola? Pelo menos
eu me saí bem depois, adoro imitar sotaque inglês. Soou perrrfeito!
Meu pai definitivamente não era bom em imitar sotaque e eu nem queria
imaginar a situação para tê-lo feito.
— Filha, nós precisamos conversar com você... — Ela frisou a palavra e
olhou para o meu pai, que gargalhava, tentando quebrar o assunto anterior.
— Está grávida? — perguntei.
— Por Deus, não! Tenho uma idade avançada para ser mãe novamente!
— Não acho, adoraria mais um!
— Está vendo? Deu ideia para o seu pai! E Josh, querido, aos cinquenta, eu
só quero ler e tomar chocolate quente! Quem sabe um gato? O que acha de um
gato?
— Gato? De onde tirou essa ideia?
— De um romance talvez?
— Melhor do que patos, isso eu tenho certeza! Se lembra daquele que a
mulher tinha um pato de estimação?
— Você não quis me dar um pato!
— Olha o absurdo nisso, Bia, um pato! Nunca ouvi tamanha insanidade!
Não sabia se meu pai notava, mas pelo visto ele também falava como um
cavalheiro inglês. Nem mesmo seus costumeiros palavrões estavam sendo
citados, nada de: “vá a merda!”; “Nem ferrando!”, “Que se foda!”, entre outros
que eu me cansara de ouvir.
— Os dois estão falando como um casal da aristocracia inglesa! —
comentei e os vi arregalarem os olhos.
— Só porque essa era uma das fantasias da sua mãe!
— Josh! — repreendeu-o e eu gargalhei.
Meus pais eram dois malucos! Só Deus sabia como Collin, Tyler e eu
tínhamos sobrevivido até nos tornarmos adultos.
— Você mesma me disse que ela não é mais ingênua! Acha que gosto de
saber disso também? Claro que não! Preferia ter ficado na ignorância!
— Pai! — falei, indignada.
— Mulheres! Jamais as entenderei, isso é certo!
— Imitou direitinho dessa vez, amor! — A parte engraçada era perceber
que minha mãe realmente estava orgulhosa.
— Chega dessa palhaçada, ok? Quero voltar a ser eu.
— Já voltou!
— Tá vendo como sou um verdadeiro mágico?
— O que querem falar comigo? — perguntei, porque eles pareciam ter
esquecido.
— Queremos seguir o tratamento com você, participar da terapia, acha que
podemos? — mamãe perguntou, parecendo receosa com a minha resposta.
Era algo importante e eu me lembrava vagamente de Sharon falando que o
apoio deles era imprescindível.
— Pode ser...
— Certeza? — Meu pai parecia não acreditar em mim... Mas com essa
possibilidade, me vi querendo ter com quem dividir os sentimentos conflitantes.
— Absoluta.
— Certo... — Ele respondeu e ficou quieto.
A cozinha se tornando silenciosa demais para a família Currey.
Tyler tinha sumido e eu não fazia a menor ideia de onde estava, Collin
treinava, o que significava que a preocupação dos nossos pais estava toda sobre
mim.
— Tyler me contou sobre a viagem... — falei, querendo aliviar o clima.
— Estamos tão surpresos quanto você. Não imaginamos que tudo fosse dar
errado com a Mia, estou decepcionada.
— Com ela ou com ele?
— Com a situação! Gosto muito dela, ainda conversamos, inclusive. É uma
menina gentil e maravilhosa, mas como dizem, não posso ficar me metendo na
vida dos dois.
Isso era um verdadeiro milagre. Minha mãe jamais tivera esse senso de
privacidade e se achava no direito de se intrometer na vida de todos que ela
amava. Olhei para o meu pai e notei a surpresa no seu semblante, assim como no
meu.
— Preciso anotar essa data pra comemorar ano que vem! — Brincou e
recebeu um olhar feio dela.
— Josh, do que está rindo? Preciso te contar um segredo também...
— Se comeu todo o pudim de novo, eu vou ficar muito puto!
— Não! É só que a Lily não é sua filha!
— Amor, essa nem se eu estivesse bêbado acreditaria. A única coisa que
possui de você é o temperamento! O que me deixa cada dia mais louco! — Ele
disse e revirou os olhos.
Eu gargalhei.
Era como ver o gesto que eu e Tyler fazíamos tanto em sua absoluta glória.
— Sem graça!
— Por que não duvido da paternidade da nossa filha?
— Não, é que comi todo o pudim!
— MERDA, BEATRIZ! ESTAVA COM MEU NOME!
— Não seu nome! Estava escrito: Pudim do papai!
— Quem é o pai? Até onde sei só existe eu de pai naquela casa!
— Devia ter escrito pudim do Josh.
— Você é impossível! Quando foi a porcaria de dia que me aceitei casar
com você? Vou voltar no tempo agora mesmo e desfazer esse engano!
— Não, não vai! E voltando para você, Lily, nos avise quando for!
Confirmei com um aceno de cabeça.
— Bom, senão veria do que eu sou capaz mocinha! — Ela falou e colocou
o dedo em riste, apontando para mim.
Engoli em seco.
Era melhor sempre se manter longe do caos, como já dizia o sábio Josh
Currey, um especialista na arte de evitar furacões há mais de vinte anos. Até
mesmo os ruivos. Inclusive, os ruivos!
***
— Está se sentindo melhor hoje? — Mamãe me perguntou, assustada com o
que acontecera na última noite.
Eu praticamente não tinha dormido, me controlando para não vomitar toda
a comida.
Meu estômago se embrulhava com a vontade de ceder, mas minha força de
vontade era bem maior e eu tinha motivos para sair dessa dependência o quanto
antes.
— Mais ou menos...
— Olá, Lily. — Sharon espiou pela porta e não havia mesmo hora melhor
para ela aparecer.
Bem quando eu lutava contra aquilo.
— Oi.
— Podemos conversar?
Era uma sessão, eu sabia. Nem precisava que ela disfarçasse, na verdade,
toda essa sua determinação em disfarçar era apenas irritante demais.
O pior era ser no meu quarto, na mansão, percebendo que toda vez que eu
entrasse ali no futuro me lembraria dessa cena.
— Claro... Meu pai e minha mãe ficam?
— Não, não precisa, queria falar apenas com você agora. No consultório,
podemos conversar em grupo sem problema nenhum... Se for da sua vontade, é
claro.
— Tudo bem.
— Precisa saber de uma coisa, Lily. Temo que isso nem passe pela sua
cabeça, já que não me avisou dessa possibilidade quando fez os exames para o
psiquiatra que vai trabalhar com a gente no seu caso... Ele me avisou que
qualquer tratamento com antidepressivos pode representar riscos...
— Riscos? — Não fazia a menor ideia do que ela estava falando.
Quanto mais Sharon abria a boca, mais eu me sentia perdida em meio às
suas palavras.
— Está grávida, Lily...
Grávida?
Aquilo só poderia ser palhaçada!
Não tinha como! Ou melhor, eu sabia que tinha, mas não queria acreditar!
Por misericórdia, eu estava tratando de uma doença, como seria considerada apta
a cuidar de uma criança?
O desespero que vinha com a verdade era horrível e não por ser algo ruim,
mas por ser inesperado. Completamente inesperado.
O que eu faria?
O que Collin faria?
Tinha sido claro em dizer que assumiria, mas como ele realmente reagiria
quando a verdade o atingisse em cheio?
A vontade de vomitar me dominou totalmente e Sharon percebeu o exato
instante em que isso aconteceu, tentando conversar comigo e me fazer esquecer
por alguns segundos essa compulsão.
— Não é motivo para ficar nervosa, tem que ficar feliz...
— Eu estou feliz, é só que... não estou preparada ainda! Sharon, eu nem
consegui superar as coisas!
— Entendo você, mas será necessário apenas mais um pouco, tudo depende
do progresso que fizemos e, principalmente, da sua aceitação.
— Só nos resta saber quando isso vai acontecer...
— Eu a ajudo, é meu trabalho, mas o esforço de verdade tem que vir de
você. Tem que se consultar com a nutricionista regularmente e agora, com a sua
atual situação, é muito mais importante.
— Posso perder o bebê? — perguntei baixo assim que percebi o que
realmente estava acontecendo.
Eu estava grávida... Do Collin...
E de repente, uma menina morena de olhos verdes surgiu na minha mente,
enchendo minha vida de cor.
— As primeiras vinte semanas são as mais propensas a interrupções
involuntárias de gravidez. — Ela ficou quieta e eu conseguia sentir o que
pensava.
Um abalo emocional como esse na minha vida ferraria com tudo de vez.
Não era idiota, muito menos burra.
Passei as mãos na barriga, sem notar qualquer mudança no seu tamanho,
mas querendo mais que tudo que isso acontecesse logo. Um amor que eu nem
sabia sentir se fez presente e uma força sobrenatural tomou posse do meu corpo.
Eu faria de tudo para melhorar, pela minha família e agora por minha filha
ou filho.
Faria qualquer coisa por ela ou ele, eu tinha certeza.
Somente nesse momento, entendi o motivo para minha mãe se sentir tão
mal com toda a situação e foi nesse momento também que eu compreendi o
tamanho do amor dela pelos filhos. As palavras do meu pai fizeram todo sentido
e eu tinha a convicção que assim como ele, mudaria toda a minha vida para dar
lugar a essa pessoa que era parte minha e do homem que eu amava.
Assim como eu e Tyler éramos parte do amor de Josh e Beatriz Currey.
Não me importei mais com a possibilidade dos meus problemas surgirem na
mídia, não me importei com a repercussão na minha carreira e não me importei
em como me sentiria por isso. Agora, meu foco era outro e minha força de
vontade triplicara de tamanho.
Sharon percebeu a mudança na minha determinação e balançou a cabeça,
em um aceno de apoio.
— Ser mãe nos deixa mais fortes. Sabia que essa notícia mudaria tudo, por
isso decidi vir até aqui... Meu marido queria conversar com você, mas recusei,
esse assunto é mais confortável entre mulheres e como sua terapeuta há bastante
tempo, achei o mais certo ser eu.
— Marido?
— Não percebeu o sobrenome? Achei que tivesse notado. — Ela sorriu
fraco e puxei na memória o sobrenome dele, lembrando que era o mesmo que o
dela.
Devia mesmo estar muito ruim para não ter notado esse fato de primeira.
— Pelo visto, não pensei muito durante esses últimos dias.
— E ninguém a culpa! Precisa de descanso e o mínimo de estresse
possível... Acredito ainda que deva dar uma pausa na carreira, para se recuperar.
Suas lembranças podem ser traumáticas e devido a isso, podem dificultar o
progresso.
— E se eu tiver uma recaída mesmo em casa?
— Lily... Não há como “curar” para sempre algo assim, será uma luta
constante. A situação se agrava quando passa por situações de extremo nervoso e
o melhor seria evitar qualquer tipo de “incentivo” à compulsão, entende?
— Sim.
— Então, deve se perguntar, está bem consigo mesma?
— Como assim?
— É feliz?
Eu era feliz antes?
Agora eu sabia que estava no caminho para ser, mas antigamente eu não
tinha tanta certeza.
Quando adolescente, me sentia mal por ser tão alta e quando adulta, me
sentia mal por amar alguém que sequer parecia nutrir o mesmo sentimento.
Essas duas coisas fizeram com que eu me afastasse da minha família e a culpa
me atingia de tempos em tempos por notar o quão chateados ficavam com isso.
— Agora sim.
— Agora você é. Esse com certeza já é um bom começo, não acha? Temos
necessidade de sentir que estamos no controle de alguma coisa na nossa vida, e
quando essa vontade nos domina e estamos descontentes o suficiente para não
lutar contra, as compulsões surgem e se tornam a única coisa a qual “acha” que
consegue controlar, quando na verdade são as que menos passam confiança.
Notava o quanto aquilo era semelhante à realidade e o quanto eu estava
errada por achar que minha família não entenderia. Eles teriam sido capazes de
entender muito mais. Teriam sido capazes de fazer qualquer coisa por mim e
para me ajudar.
Assim como eu faria por eles se necessário fosse.
A MÚSICA QUE tocava durante o jogo sinalizava os pontos altos da
partida. Não que fosse rápida, mas eu admitia que era emocionante, tanto para a
gente que jogava, como para quem assistia. Beisebol estava longe de ser um
esporte com acontecimentos rápidos e que poderiam mudar tudo, era mais algo
de perseverança e persistência.
Encarei o lançador à minha frente, fazendo sinais para o seu parceiro de
time, que ficava logo atrás de mim, esperando que eu perdesse a bola a qualquer
momento.
Não me intimidava com isso, muito menos com cara feia.
Quando eu queria, não tinha bola curva que parasse a minha determinação e
Home Run era praticamente certeiro.
9
Fui a revelação do Draft , há quatro anos e continuava sendo a revelação da
liga. Sempre uma surpresa, uma técnica aperfeiçoada.
Aprendera com o melhor a me empenhar e mesmo que não fosse no
basquete, me saía melhor do que a encomenda.
Notei o momento exato em que a bola foi lançada. Por instinto, meus
braços moveram o taco na direção, com toda a força, toda a potência que eu
poderia colocar em um golpe.
Certeiro!
Não vi o impacto, mas eu o senti e tinha certeza que essa bola não seria
encontrada tão cedo. O baque estridente da madeira soou como uma explosão
oca nos meus ouvidos, mas era um dos sons que eu mais gostava de ouvir.
Sonhara com eles desde criança e me sentia em estado de euforia por poder
conquistar o que tanto quis.
— E É HOME RUN!!! ESSSEEEEE GAROTO SABE O QUE FAZ!
CURREEEEEEY! NOME DE PESO NO ESPORTE!
Ouvi novamente a música e me desliguei de todo o resto, passando pelas
bases, chegando na casa base, marcando ponto para o time.
Respondi ao cumprimento do pessoal e vibrei pelo restante do jogo,
sentindo que poderia ser sim mais uma vitória de temporada, se continuássemos
nos esforçando como fazíamos, o que era absolutamente certo.
***
A primeira coisa que fiz quando saí do jogo foi pegar meu celular e ligar
para meus pais.
Estava morrendo de saudade dela e se eu pudesse, sumiria na sua
companhia por vários meses para aplacar toda essa minha vontade de tê-la
próxima a mim.
Queria e muito fazer algo, para deixar clara a nossa união, ela por outro
lado não queria e isso era uma merda! Nunca imaginei uma coisa dessas e claro
que amaria a mulher com essas ideias reversas.
Era doido o bastante para ser o único homem na face da terra a fazer uma
insanidade dessas.
Lily era diferente, mas essa diferença me deixava cada vez mais louco por
ela.
— Estão em casa?
— Estamos, vem pra cá! Tyler tá insuportável, então se prepara.
— Algo com a Mia?
— Acho que sim... Tá de um lado pra outro do quarto, o dia inteiro. O
maldito dia inteiro. Não sei o que essa Mia fez, mas o amarrou pelas bolas
direitinho.
— Josh! — ouvi minha mãe repreendê-lo através da linha e gargalhei.
Ele jamais mudaria. Eu se fosse ela nem me daria ao trabalho de tentar
fazê-lo mudar.
— Eu tenho razão! Você também me amarrou pelas bolas, amor, pode ficar
tranquila! E não vou pro Japão!
“Como se eu tivesse essa sorte!”
Ela respondeu e eu gargalhei novamente, não tinha como evitar.
— A ruiva quer se livrar de mim! Vê se pode um negócio desses! Tô sem
moral nenhuma, Collin, nenhuma mesmo! Nunca tive, agora acho que tá ainda
pior.
— Vou aí, então! — falei, ouvindo meu pai e minha mãe já conversando
sobre outro assunto, mesmo com a chamada ainda ativa.
Quando eles começavam a conversar, era difícil chamar a atenção o
suficiente de um dos dois a ponto de pararem de se olhar carinhosamente.
Ou ameaçadoramente.
Eram sempre dois extremos na família.
Batuquei no volante do carro, acompanhando a batida da música, me
sentindo feliz por estar novamente no meu estado normal. Agora era focar na
Lily, na temporada e em tudo o que viria a seguir.
Assim que parei na frente da mansão e vi Sharon, a terapeuta da Lily, meu
sorriso se abriu. Ela era calma e entendia perfeitamente seu trabalho, seu rosto
pacífico e voz doce eram praticamente um convite para contarmos todos os
nossos segredos.
Quando explicara para todos nós o que vinha acontecendo com a Lily, fora
impossível não notar isso.
— Lily está maravilhosa! Estão fazendo muito bem à ela!
Disse animada e se a felicidade já era grande, se tornara gigantesca depois
da sua fala.
— Somos uma família e obrigado por toda essa ajuda!
— Ah, não me agradeça, não foi de todo pela terapia! Com certeza logo ela
te conta e poderão comemorar juntos!
Comemorar?
Fiquei momentaneamente curioso, mas quando me virei novamente para
perguntar, Sharon já entrava em seu carro e sumia de vista.
Entrei em casa, passando pelo meu pai conversando com a minha mãe na
sala, sem nem notarem que eu já tinha chegado. Não cumprimentei, deixei para
depois, curioso demais com o que tinha ouvido para ficar me distraindo com
outras coisas.
Comemorar?
Comemorar que ela estava melhorando?
Podia ser...
Subi a escada apressado e abri a porta do seu quarto, sem bater. E assim que
a vi, o sorriso que se abriu no meu rosto foi praticamente automático.
— Ei, é tão estranho... — Lily sorria e conversava sozinha.
É. Aquilo era estranho.
— Falando sozinha? — perguntei.
Ela finalmente levantou o olhar e pude notar lágrimas se formarem nos seus
olhos.
Não fazia a menor porra de ideia do que tinha feito agora, mas com certeza
eu me desculparia. Depois que ela me dissesse o motivo para estar chorando,
claro.
— O que eu fiz?
— Nada! Me dá um abraço?
Não respondi, ao invés disso, fui até ela. Tomando o cuidado para parecer
culpado o bastante. Nada não era uma boa resposta, mas pedir um abraço sim, o
que me deixava confuso se a situação tendia mais para bom ou para ruim.
— Sharon me disse que está melhorando.
— Sim, ela disse pra mim. Tive que garantir à ela que não vou mais faltar
às sessões, assim como não faltarei mais às consultas com a nutricionista.
— Mas vocês não têm? Como modelos e tudo o mais?
— Temos, sim, claro. Mas eu não me orgulho em dizer que a evitava como
se fosse o inferno me esperando. Acho que a coitada se sente chateada até hoje
por isso!
— Certo. Podemos ir juntos, se quiser... Talvez a sua rotina não deixe, mas
eu gostaria muito de te acompanhar...
— Que rotina?
— Cada semana em um país...
— Collin, sobre isso... Eu não vou mais desfilar nas passarelas... É minha
carreira, mas eu tenho que levar em conta a minha saúde em primeiro lugar.
Decidi que vou ser somente modelo fotográfica, até porque preciso aproveitar
agora...
— Vai abandonar as passarelas? — Interrompi-a, chocado.
Não era o que ela queria! Impossível! E se fosse por minha culpa eu a faria
mudar de ideia, porque definitivamente a amava e não me importava quanto
tempo tivesse que esperar para vê-la novamente, continuaria amando.
Nesse ponto, morarmos juntos ajudaria e muito. Lily seria minha mulher e
isso impediria uma boa parte dos avanços masculinos, ou os aumentaria, se eu
levasse pelo lado negativo.
— Vou, porque...
— Não! Não vai! Sei que sou idiota e tudo o que quiser me chamar, mas
nunca vou fazer nada que possa te magoar, pelo menos, não conscientemente.
— Não é por isso...
— Lily, não importa! Não vai desistir do seu sonho por minha causa!
— Meu Deus, como você é estúpido!
— Sou sim. Mas ainda tenho certeza que não deve desistir, de NADA! É
perfeita assim e eu te amo por ser essa mulher maravilhosa, que corre atrás dos
seus sonhos! Não aceito uma Lily pela metade, quero uma Lily por inteiro!
— E uma Lily e meia? — Ela perguntou e me deixou confuso.
O que diabos queria dizer com aquilo?
— Como assim?
— Você não me deixa falar, seu imbecil! Estou grávida! GRÁVIDA! Por
isso não vou mais desfilar, quero aproveitar o tempo com meu filho ou filha e
trabalhar menos. ISSO É O MOTIVO! Não você, seu convencido!
GRÁVIDA.
GRÁVIDA!
GRÁVIDA.
GRÁVIDA?!
— Grávida?! — perguntei perplexo.
Lily estava grávida. Jesus, Lily estava grávida!
— Sim. Mas você já desconfiava.
Eu desconfiava, ela dissera certo. A certeza era totalmente diferente.
Precisávamos morar juntos! Definitivamente!
Lily grávida ficaria sexy pra caralho! E nem de longe eu a deixaria ficar
andando sem uma aliança no dedo. Nem morto!
— Então, vamos nos casar!
Sua feição mudou no mesmo instante e o que estava sereno se tornou uma
cópia do que eu podia jurar ser Cérbero, o cão do inferno. Seus olhos passavam
tanta raiva que eu conseguia sentir o calor da sua ira queimando a minha pele.
— Não vamos fazer cerimônia alguma, eu já disse! É perda de tempo.
— Não vai carregar uma criança minha sem uma aliança no dedo!
— QUE COISA PRIMITIVA! E posso usar aliança sem fazer nada,
podemos pegar nossas coisas e morar juntos, simples assim!
— Eu sou primitivo, boneca! Sou primitivo demais quando se trata de você!
— Insuportável!
— Não foi um sim, Lily!
— Nem vai ser! É sério, Collin, porque quer tanto fazer isso? Posso usar
aliança e ainda assim não precisar fazer nenhuma festa!
Ela sempre tinha essas desculpas e eu não gostava nada delas.
Lily era a única mulher do mundo que não sonhava com pedidos de
casamento, pelo amor de Deus! Como eu poderia ser tão azarado e sortudo ao
mesmo tempo?
— Você é tão difícil! Tá grávida e não quer casar? Não quer casar, sério?
Vai ser só por consideração! Nem acredito que estou tentando te convencer a
fazer isso! Justo eu! Esse mundo tá mesmo mais maluco do que eu imaginava!
Dramatizei e parecia um idiota por isso. Só não achava a ideia tão absurda
quanto ela e, sinceramente, ser acorrentado a uma vida com a Lily, me soava
maravilhoso.
— Não vou, pronto!!
— Certeza? Posso te surpreender!
— Não vou mudar de ideia!
— Quer saber, não me importo! Não mude, então!
— E se eu mudar?
— Se decida pelo bem da minha sanidade, Lily, PELO AMOR DE DEUS!
Mamãe era indecisa, mas a filha com certeza a deixava no chinelo.
— Eu não quero, palavra final.
— Bom.
— Ótimo.
— E de quanto tempo tá? — perguntei, mudando de assunto.
Um assunto que me assustava e me deixava feliz pra caralho. Se é que tinha
como.
— Ainda não sei... Mas vou fazer os acompanhamentos da gravidez e então
descubro. Sharon não ficou comentando muito, apenas deu a notícia.
— Eu vou junto! — falei, porque não perderia essas coisas por nada no
mundo.
— Eu te arrastaria mesmo que não quisesse! – gargalhei.
Ela arrastaria com certeza.
— Precisamos contar para o papai e mamãe... — lembrei dos dois, sabendo
que se ficássemos guardando essa informação pra gente, quando soubessem nos
matariam.
E ainda ficariam com a criança para eles.
— Passo pra você.
— Pra mim? A tarefa de contar que tá grávida?
— Você que tirou minha pureza e colocou a sementinha em mim, então,
sim, a tarefa de contar fica por sua conta!
E era uma vez uma criança que nascera sem pai por culpa da mãe. Fim.
— Não. Não tô doido a esse ponto!
— Vai contar, querendo ou não! Se quiser um tempo pra praticar, fique à
vontade, não vou te pressionar! — dava para ver na cara dela que estava se
divertindo com o meu pânico.
— Contamos juntos!
— Não! Jamais! E te deixar passar ileso por essa? Nem em sonho, bonitão,
nem em sonho!
Lily não queria facilitar, claramente, obviamente, queria dificultar!
E conseguiu.
Sorte a minha que a reação dos dois não foi nem perto do que
imaginávamos e minutos depois da revelação, Josh e Beatriz ainda pulavam
dizendo que finalmente seriam avós. Como se fôssemos velhos, prestes a ficar
inférteis, os deixando sem netos.
Nunca entenderia essa família. Nunca mesmo! Quanto mais eu convivia
com eles, mais parecia um manicômio, onde todos estávamos presos e nem
tínhamos noção disso.
O manicômio da família “Boston Globe”.
O ponto positivo é que graças a Deus eu era tratado bem. Todos nós
éramos. E que amor, o sentimento mais importante do convívio humano,
tínhamos de sobra.
Tudo sobre Astros

“Onde se encontram escondidas essas vadias da família Currey? Gatas,


estamos sentindo a falta de vocês! As fofocas ficam como? Não ficam!
As brasileiras se acham as rainhas, mas o que podemos fazer? NADA! Os
homens mais gostosos da liga são delas, uma injustiça! Ainda sinto falta do meu
Joshilicia, Jamesconda, GostoSilas e Kyrie sem apelido! SUAS ABUSADAS!
Pelo menos agora podemos babar nos filhos, porque me recuso a acreditar
que a genética é tão boa que TODOS, frisando a palavra TODOS, nasceram
com um corpo abençoado! Até T. Currey, que é de outra área que não o esporte
parece um deus do chocolate! PELO AMOR DE DEUS, SEJAMOS MENOS
PESSOAL!
Assim a gente não aguenta! Eu estou ficando velha e meu coração não
suporta tanta beleza!
Vou partir para outros esportes, CANSEI dessas vadias roubando meus
homens. Agora é Lily C. que parece disposta a amarrar certo jogador de
beisebol! Justo o mais bonito? E aquele sorriso? Por misericórdia, eu iria ao
inferno descalça por aquele sorriso!
Logo ela cria um protótipo mirim de beleza e ninguém mais vai conseguir
competir.
Desistooooooo! Desistooooooooo!
Ninguém liga pra mim, mesmo! Vou é chorar até que um príncipe chocolate
apareça e me salve!
Vida cruel e ingrata!”
por Stephen Pharrell.

RESPIREI FUNDO ME sentindo renovada.


Sem amarras e sem segredos obscuros.
Era finalmente livre para ser eu de verdade e teria ajuda de todas as pessoas
que me amavam para combater meus medos. Como poderia reclamar dessa
realidade? Não poderia, muito menos o faria.
— Vamos? — Meu pai perguntou e procurei entre os rostos, a tão famosa
sobrancelha cortada.
Não encontrei e aquilo me deixou preocupada.
Collin tinha dito que iria nas sessões comigo, mas pelo visto, hoje não
poderia.
— Ele está treinando. — Minha mãe respondeu, provavelmente,
adivinhando o motivo para o meu semblante pouco amistoso.
— Hoje? Não me avisou. — Realmente não tinha me avisado.
Isso porque me ligava de hora em hora, quando não aparecia na mansão do
nada, me procurando.
— A temporada está aí e ele prometeu ganhar para você. — Ela deu de
ombros, como se isso explicasse as coisas.
— Alguma coisa vazou? — Eu pensara nessa possibilidade e, sinceramente,
não estava dando tanta importância quanto deveria. Ou talvez isso fosse o certo
desde o começo, afinal.
Faziam dias que eu não pegava nenhuma revista na mão, tentando evitar
qualquer notícia sensacionalista.
— Não. Achei estranho... Nós não comentamos nada quando nos
questionaram, mas realmente não surgiu nada. Pharrell me ligou, curioso como
sempre, porém, também não me infernizou como costumava fazer, um
verdadeiro milagre! E sua agente, deu uma de louca pra cima da gente, como se
resolvesse.
— O que falou pra ela? — perguntei, curiosa.
— Mandei à merda! Que nem seu pai faria!
Gargalhei.
Minha mãe era terrível quando queria.
— Devem achar que estou de férias em alguma parte do mundo.
— Pode ser. Com certeza aquela sua agente chata e inconveniente deve ter
dito algo assim. Odeio ela!
Minha mãe realmente não gostava da mulher, e eu no seu lugar também não
gostaria, Hilary olhava para o papai como se fosse capaz de pular no colo dele a
qualquer momento.
E bom... O ciúme da minha mãe era lendário.
— Se fez isso, salvou a minha pele! — respondi aliviada.
Mesmo que não fosse mais desfilar nas passarelas, ficava feliz em saber que
meus segredos estavam intactos. Minha família saber era o melhor para mim,
agora o mundo se enquadrava nas piores coisas que poderiam acontecer e eu não
queria isso.

— Vou embarcar daqui algumas horas. Será que a sessão vai demorar? —
Ty perguntou e eu balancei a cabeça negativamente.
— Já disse o que penso, vai se arrepender e muito.
— Mãe! Para de ficar jogando negativismo na minha viagem!
— Não é negativismo, meu filho, é a verdade! Eu sinto que isso não vai ser
boa coisa e acredite em mim, quando digo que esses sentimentos são certeiros.
Ty revirou os olhos e meu pai gargalhou com o gesto. Aquela falha
gigantesca tínhamos puxado diretamente do lado dele. Na verdade, não fazia a
menor ideia do que Tyler puxara da mamãe. Era moreno assim como eu, com
olhos verdes praticamente do mesmo tom, alto e musculoso, com um porte digno
de atleta, mesmo sem o ser.
Era o cara da tecnologia com mais sex appeal que eu conhecia e não dizia
isso porque era meu irmão.
Pararam de caminhar, provavelmente, tentando colocar juízo na cabeça
dele.
Ouvi o som do alarme do carro sendo destravado, logo na frente de casa e
me aproximei, querendo entrar e terminar a sessão o quanto antes.
Ficar em casa, com tranquilidade, agora me soava um sonho.
Puxei a trava da porta e ouvi um barulho de tic tac parar assim que o fiz.
Minha mão paralisou no lugar e qualquer traço de sorriso que eu ostentava
desapareceu completamente do meu rosto.
Uma bomba?
Eu devia ser idiota! Como colocariam uma bomba no carro do meu pai?
Aquilo só podia ser paranoia minha.
Tirei a mão e ouvi o barulho, logo depois, um corpo me jogando
bruscamente no chão. A nuvem cinza acima da minha cabeça não era uma
alucinação, o barulho do fogo crepitando próximo a gente também não. Minha
cabeça doía e meu peito parecia se movimentar com dificuldade, sentindo que
respirar era tão doloroso quanto não respirar.
Comecei a ficar tonta. Pelo cheiro ou pela pancada, eu não sabia. O fato era
que não aguentaria muito mais acordada.
— Lily! Collin!
Gritaram meu nome, do Collin, e meus olhos giraram nas órbitas, sem
responder ao meu comando de se manterem abertos. Nada de dormir. Mas meu
corpo não me ouvia, ou se o fazia, ignorava com sucesso.
— Lily! Tá tudo bem?
Novamente a voz desesperada e depois senti o corpo acima de mim, me
libertar. O vento gelado roçou suavemente a minha pele e o calor que eu sentira
antes, praticamente não existia.
Minha visão embaçada, impedindo que eu distinguisse as várias sombras
que se acumulavam em cima de mim.
— Chama uma ambulância, pelo amor de Deus, chama logo! — Alguém
gritou desesperado.
Não sabia quem era e nem precisava saber.
O tempo passando, sem que eu ao menos, sentisse meu corpo para poder
levantar. Estava entorpecida, completamente, com os meus sentidos abalados e
não respondendo aos meus comandos.
A movimentação de pessoas então se tornou enorme, conseguia sentir as
mãos pelo meu corpo, me imobilizando. Depois de instantes, meus olhos
cederam à súplica silenciosa da minha cabeça e se deixaram engolfar pela
escuridão tão esperada, não sentindo mais dor por lutarem contra o impossível.
Os vultos já não mais sendo vistos.
***
— Cadê o Collin? — ouvi alguém perguntando, mas não sabia distinguir
quem era.
— Na ala de queimados....
Um suspiro alto tomou conta do ambiente e abri meus olhos
vagarosamente. Sentindo meu corpo inteiro doendo, sem saber ao certo o
motivo.
Collin estava ferido?
Por que?
Isso foi o suficiente para me tirar do estado de torpor e me inundar em outro
totalmente sufocante, o desespero. Sem saber o que tinha acontecido, não
conseguiria de forma alguma ceder ao cansaço do meu corpo e voltar a dormir.
Seria impossível.
— Ela tá acordando.
Olhei para o Tyler em uma cadeira, no canto do quarto e notei de imediato o
seu semblante pesado. Não parecia em nada meu irmão e algo muito ruim devia
ter acontecido para deixá-lo assim.
— O que aconteceu?
Perguntei e meu irmão olhou para a minha mãe e meu pai, que pareciam
felizes em me ver bem, mas também tristes por alguma outra coisa.
— O carro explodiu.
Eu lembrava do pânico, do calor, do medo, da dor e de alguém me jogando
no chão, mas eram lembranças vagas, que não continham metade dos detalhes
que eu precisava.
Olhei para as minhas mãos arranhadas, um resultado pequeno para algo tão
perigoso, quanto o que ele falara. Se eu tivesse ficado no mesmo lugar quando
abri a porta do carro com certeza não estaria falando com eles nesse momento.
— E o Collin te salvou... — Meu irmão admitiu baixo e eu entendi que ele
escondia a maior parte.
Talvez por medo que eu perdesse a cabeça e se realmente tivesse acontecido
algo com Collin, de fato, deveriam temer, porque eu não garantiria minha calma.
Simplesmente não teria como. Eu o amava e ele ter se arriscado para me salvar
só provava o quanto me amava também.
— Onde ele tá?
Os três trocaram um olhar de aviso entre si, o que me deixou ainda mais
preocupada.
— Em outra ala.
— Mas o que aconteceu com ele?
— Se queimou...
As palavras do Tyler fizeram seu caminho em mim e eu soube no mesmo
instante que a situação do Collin era grave, se não o fosse não estariam assim tão
perdidos, sem saber o que fazer nessa situação.
— Mas era pra ele estar treinando! Meu Deus, como isso aconteceu?
— Não sabemos... Collin surgiu e a empurrou, caindo em cima de você.
Recebeu boa parte do impacto que a teria atingido, salvou a sua vida, filha,
colocando a dele em risco. — Minha mãe falou baixo, deixando claro que ela
sofria e muito pelos dois filhos.
— Foi culpa minha! Essa merda toda foi culpa minha! Devia ter feito algo,
deixado um aviso mais ameaçador...
— Não tínhamos como saber, Josh. Você não tem culpa! Ninguém além de
quem fez, tem.
— A gente sabe quem foi, não precisa falar assim.
O pai do Collin. Não precisava ser um gênio para imaginar quem queria
acabar com a felicidade da nossa família.
— Ele vai pagar, Bia, eu juro por Deus que vai pagar. Mexer comigo é uma
coisa, agora com a minha família? Isso é imperdoável! Não vou avisar dessa vez,
nem ferrando, o mal só termina quando uma das duas partes se torna incapaz.
Todos nós arregalamos os olhos. Papai estava fora de si e caso mamãe não
conseguisse controlá-lo, tinha certeza que ele sairia dali e estrangularia o homem
com as próprias mãos.
— Precisamos focar na recuperação dos nossos filhos... Esse assunto
podemos resolver depois.
Assim que ela disse a palavra filhos, me desesperei ao constatar o que
poderia ter acontecido. Ninguém me falara nada, mas eu não estava acordada
para que o fizessem.
— E o meu bebê? — perguntei para todos, que me olharam sem dizer nada.
O medo se apoderava aos poucos de mim e os minutos pareciam passar
com uma lentidão agonizante na minha cabeça. Me lembrando a todo instante
que eu poderia perder tudo o que me mantinha na linha da sanidade.
Collin e meu bebê.
— Está bem... Ele salvou vocês dois. — Minha mãe falou e vi as lágrimas
se formarem nos seus olhos. — E isso acontece de novo... — Ela começou a
chorar e meu pai envolveu-a em um abraço, um abraço de puro amor.
A atmosfera pareceu ficar ainda pior com o choro dela e eu não estava
acostumada a situações como essa, onde o pilar da família se tornava fraco.
Beatriz era praticamente o que movia a todos em um sinônimo da felicidade, e
vê-la dessa forma, nos mostrava que éramos pequenos.
Pessoas pequenas diante do que poderia acontecer ao nosso redor.
Manipuláveis e moldáveis de acordo com a dor e sua intensidade.
— Vou ver o Collin. — Meu irmão saiu, sendo seguido pelo meu pai, que
parecia ainda não ter se acalmado completamente.
Não sabia o que ele faria para se vingar, mas tinha certeza que isso não seria
boa coisa. Vingança nunca era uma boa coisa, enchia de ódio as duas partes e
tornava ambas culpadas. Como competir com o mal quando teria que se tornar
igual para fazê-lo sofrer?
Mal e bem. Dois conceitos difíceis de serem diferenciados.
— Quero vê-lo, mãe! — sussurrei e ela me olhou pesarosa.
Sabia o quanto queimaduras poderiam ser graves e ter a noção que Collin
estava passando por isso me deixava em uma calamidade de sentimentos. Um
conflito gigantesco de pensamentos ruins.
Por culpa de alguém que deveria amá-lo.
Como existiam pessoas assim no mundo? Pessoas capazes de não levar
nada em conta além do seu próprio ódio?
— Eu também... — Ela respondeu e eu não entendia porque não tinha ido
ainda.
Meus pensamentos pareceram claros e ela se apressou em responder. — Seu
pai disse que era melhor eu esperar.
Isso não era um bom sinal! Papai não diria algo assim se as coisas
estivessem bem.
— Foi muito ruim? — perguntei, com pavor da resposta.
A cena se formando automaticamente na minha cabeça e me deixando com
uma pequena ideia do quanto seus ferimentos poderiam ter sido graves.
— Foi horrível. Eu não consegui dormir, com a certeza de que a cena se
refaria muitas e muitas vezes durante o meu sono.
— Quanto tempo eu dormi?
— Dezesseis horas. Acharam que seria bom repousar, sem sofrer ainda
mais estresse...
Mais estresse?
— Eu só quero saber se ele está bem, mãe!
— Fica calma, Lily. Todos estamos nervosos e não ajuda em nada você
ficar alterada dessa forma. Pensa no bebê e em como ele precisa que seja forte,
acredite em mim, mas o feto pode sentir tudo o que a mãe sente, pelo menos era
o que parecia quando eu falava com você ou quando ficava nervosa. Eles sentem
Lily! E também podem sentir o amor! Se esforce para transmitir apenas amor à
essa criança!
Eu queria transmitir amor. Mas eu queria transmitir amor, sabendo que o
homem que eu amava não corria nenhum risco de vida. Se não soubesse pelo
menos isso, seria impossível me manter tranquila frente à tantos medos. Medos
que me dominavam e tiravam qualquer importância do meu temor de fracassar
em combater a doença.
Se algo acontecesse ao Collin, não fazia a menor ideia de como seguiria em
frente.
Pelo bebê era lógico que o faria, mas eu não seria a mesma pessoa, apenas
uma imagem translúcida da mulher que um dia fora. Uma mulher que perdera
metade do amor que tivera. Incompleta e sem possibilidade de redenção.
CHEGUEI NO APARTAMENTO, correndo para o banheiro, querendo sair
mesmo que atrasado para vê-la.
Disse aos meus pais que não poderia ir porque estava treinando, só que eu
precisava estar lá para ela, o que me fez sair antes do treino terminar, torcendo
para não estar tão atrasado quanto eu achava que estava.
Lily começaria uma nova vida, a qual seria uma honra dividir com ela.
Fazer parte do seu presente e futuro, deixando o passado no lugar dele. Era eu e
ela contra o mundo, com a diferença que finalmente estávamos sendo felizes por
completo.
Sem qualquer tipo de disfarce ou mentira entre nós.
Ou um sentimento que não era verdadeiro, como o amor fraterno que eu
achava nos unir.
Nunca fora fraterno, nunca!
O telefone tocou assim que terminei de me arrumar e meus pelos se
arrepiaram, prevendo uma notícia ruim ou algum demônio saído direto do
inferno para me atormentar.
Não costumava receber ligações em casa e a última vez fora para acabar
com toda a minha felicidade e me deixar vegetando, como um objeto inanimado,
andando pelos corredores do apartamento, sentindo a falta de alguém que eu
mesmo tinha mandado embora.
Foram os piores dias da minha vida e eu não queria relembrá-los de jeito
nenhum, apenas esquecer. Trocar as memórias ruins por outras completamente
boas.
— Collin.
— Recebeu a surpresa?
Ouvi aquela voz desgraçada, com o pânico tomando conta de mim. Não
pensei em mais nada enquanto pegava a chave do carro e saía correndo em
direção à mansão.
Harper ligara apenas para contar vantagem e eu soube no momento em que
ele disse a primeira palavra que uma coisa muito ruim aconteceria. Ele me
ameaçara e não deixaria aquela ameaça em vão. Deus quisesse que eu estivesse
errado, mas o sentimento ruim que crescia no meu peito teimava em me alertar
para o perigo.
Cheguei na mansão tão depressa, que meu coração parecia pulsar conforme
o ponteiro do velocímetro subia frenético.
Meu peito se apertando com a sensação ruim, me fazendo arfar de pavor ao
pensar no que poderia acontecer.
Estacionei o carro de qualquer jeito e ouvi vozes que eu reconheceria até
mesmo de olhos vendados. Fui na direção deles e quando cheguei próximo o
bastante, notei que a Lily caminhava na frente e assim que encostou a mão na
maçaneta do Hummer, travou e ficou um bom tempo sem saber o que fazer.
Um sentimento de proteção se apoderou de mim e eu apenas soube que
tinha que afastá-la do carro. Não importava o que acontecesse, eu tinha que
afastá-la. Corri como um louco na sua direção e assim que a empurrei com força,
ouvi um estalo alto atrás da gente, logo em seguida, uma explosão, que nos
arremessou para longe, direto no chão; o fogo atingindo em cheio as minhas
costas.
Foi tudo tão rápido que ninguém teve tempo de processar o que de fato
estava acontecendo.
Muito menos tive tempo de ponderar minhas opções e analisar se eu
realmente sobreviveria depois de uma coisa tão perigosa quanto essa.
A adrenalina correndo furiosamente pelas minhas veias, impediu que eu
sentisse qualquer dor e a felicidade por estar ali no momento em que ela mais
precisava amorteceu qualquer tipo de desconforto que eu pudesse sentir. Mas, o
calor era notável e eu tinha certeza que sentia cheiro de roupa e pele queimada,
se fundindo e se tornando uma mistura líquida, corroendo tudo o que encontrava
pela frente.
Entretanto, esse não era o ponto, ou pelo menos, não importava. Eu salvara
as duas pessoas mais importantes da minha vida e não havia meios de reclamar
da dor depois disso.
Foi um milagre ter chegado a tempo e de milagres não se reclamava,
agradecia.
Ouvi gritos, em questão de segundos, sem conseguir me mexer, continuei
com meu corpo sobre o dela. Se eu sequer ameaçasse levantar, tinha certeza que
a adrenalina passaria completamente e eu sentiria a dor agonizante que me dava
uma trégua.
Só podia ser piedade divina por eu ter feito uma boa ação. Mas a motivação
era puramente egoísta, porque se algo acontecesse à Lily, não suportaria viver
sozinho, sem nunca mais ver seu sorriso ou ouvir sua voz doce. Fiz aquilo
puramente por mim e por ter a certeza de que eu não viveria em um mundo no
qual ela não existisse.
Ela ou a criança que carregava.
Era uma parte minha e dela, uma parte que triplicara o amor que eu sentia.
Pensei em perguntar se ela estava bem, mas nesse exato instante a
queimadura nas minhas costas protestou e a dor consumiu todos os meus
sentidos, escurecendo minha visão, me deixando entorpecido pelas várias
pontadas em partes diferentes do corpo.
A piedade tinha acabado e agora, eu rezava para que Lily ficasse bem
mesmo com o impacto e para que eu voltasse a abrir os olhos para vê-la bem.
Queimaduras graves eram um verdadeiro perigo e eu sabia que a minha
perspectiva não era das melhores.
Me deixei levar. Sabendo que eu recebera a maior parte do impacto e que
ela, graças a Deus, acordaria e não sentiria nem metade do que eu provavelmente
sentiria.
E isso era bom.
Ótimo.
Não era apenas falar, era ter a certeza que eu trocaria de lugar com ela, que
eu levaria a maior parte da dor dela, embora, para bem longe. E eu trocara.
Salvei-a e acabei me salvando no processo... Não podia existir Collin sem
Lily e não existiria.
— Meu Deus! Meu Deus!
Gritaram ao meu lado, mas não me movi. Sem forças para isso. Sem forças
para qualquer outra coisa, até mesmo respirar estava doloroso, causando
espasmos pelo meu corpo.
— Alguém nos ajude! — ouvi passos se afastarem apressados e logo em
seguida um tumulto de vozes se aproximando.
Alguém me afastou da Lily e senti meu corpo protestar com a distância,
sem saber o motivo para fazerem isso. Tudo girava na minha cabeça, um reflexo
da dor que agora corroía minhas costas. Até mesmo o ar em contato com ela
causava arrepios involuntários, enquanto centelhas dolorosas açoitavam minha
pele.
— Li...ly — falei sofregamente, com todo o fiapo de força que ainda havia
em mim.
— Ela vai ficar bem.
Me levantaram e colocaram em algum lugar, causando ainda mais ondas de
dor pelo meu corpo. Protestei. Pioravam a minha situação e eu, sinceramente, só
queria ser deixado em paz para uma hora não sentir mais nada. Quanto mais
tentavam me ajudar, mais pioravam.
Algumas palavras que não entendi foram murmuradas e a confusão nos
meus sentidos se tornou uma mancha negra nos meus pensamentos. Só queria
saber dela e se a estavam levando para bem longe dali. Não sabia se aquela era a
única bomba, nem teria como saber, só queria que a levassem para longe do
perigo o mais rápido possível.
Olhei para o lado, sentindo alguma coisa imobilizando meu pescoço,
atrapalhando minha visão, mas consegui ter um vislumbre embaçado dela sendo
levada também.
Aquilo me acalmou e pareceu mandar o medo embora.
— A camiseta... — falaram assim que me deitaram de costas em uma cama,
no ambiente agora branco, diferente da luz solar que eu me lembrava.
Como tinham sido tão rápidos assim?
Não vira o caminho, muito menos onde me deixaram, agora eu só estava lá.
Minha mente parecia se recusar a processar todas as informações, guardando
apenas flashes ocasionais do que acontecia. O tempo passando com uma
velocidade invejável, enquanto eu tentava assimilar o que acabara de fazer.
Senti uma pontada nas minhas costas e uma dor aguda percorreu todas as
minhas terminações nervosas. Se eu achava que estava doendo antes, aquela dor
não chegava nem perto dessa.
Nem perto.
AH, MERDA!
Gritei alguma coisa desconexa e senti novamente a pontada, como se
alguém raspasse a minha pele sem a menor consideração. Maldosa, impiedosa,
abrindo caminho por toda a minha carne.
Parecia que chegavam na minha alma, completamente em carne viva.
Tudo em mim ardia e implorava para que parasse, mas quanto mais eu o
fazia, mais a dor aumentava.
Outra onda de dor e mais um suspiro exasperado, protestando contra o que
faziam. Protestando contra tudo. Dessa vez, foi tão forte que senti minha vontade
sucumbindo, tudo em mim cedendo ao sofrimento.
Todos tinham um limite de dor a suportar e o meu já tinha sido atingido há
vários segundos.
E sem saber se tinha sido anestesiado ou simplesmente não aguentara mais
o sofrimento imposto, apaguei.
***
— Collin? — ouvi meu pai perguntando, com a voz baixa, algo atípico
dele.
— Ei! — respondi, ouvindo como minha própria voz soava cansada.
Depois do susto e do pesadelo, qualquer um soaria assim como eu. Não era
de ferro e nem queria ser, mas admitia que senti o gosto do que era ter uma boa
parte do corpo queimada, enquanto sentia o cheiro horrível dominando meus
sentidos.
Com certeza não queria morrer queimado, muito menos afogado. Achava
que essas duas mortes eram suficientemente ruins e mesmo tendo aprontado
muito na vida, ainda não achava que aprontara tanto para merecer algo do tipo.
Pena que a vida não era justa e não adiantava o que fizera, acabaria morrendo do
jeito mais filho da puta possível. Ou não. Uma incógnita.
Se as pessoas soubessem como morreriam, tudo se tornaria um caos e
ninguém mais estaria a salvo. Porque, mesmo sendo uma certeza, a morte ainda
apavorava mais do que o fim das batatas fritas no McDonald’s.
— Obrigado, filho! Essa é a palavra!
Ele não precisava agradecer. Sabia que eu amava a sua filha e que faria
qualquer coisa por ela. Literalmente, qualquer coisa.
Até mesmo ter minhas costas em carne viva.
— Ah, eu vou ser pai, garotão! Criei super poderes! — tentei soar divertido,
mas nesse exato momento minhas costas resolveram lembrar do seu calvário e a
careta foi inevitável.
— Ninguém vai achar que você não é o Collin por se permitir um momento
de dor. Relaxa, que não vou mentir, a coisa tá feia! E bem, agora sabe como é
amar alguém mais do que a si próprio, quando olhar nos olhos, então, vai sentir
seu mundo todo orbitando em torno da criança. Eu sei disso. Vai por mim, sei
muito bem!
— E como o vovô tá?
— Quando essa coisa passar — ele fez um sinal, indicando o lugar — aí a
gente comemora com todo mundo. Nem um minuto antes disso!
— Mas e se acontecer de novo?
— Não vai.
Nunca tinha ouvido sua voz soar tão ameaçadora, mas eu tive a certeza
naquele instante que Harper não faria mais nada, e estranhei que não me
importasse com isso. Harper nunca tinha sido meu pai, eu nem ao menos
carregava seu sobrenome, apenas o laço de sangue nos unia, um laço fraco sem o
menor resquício de amor.
Meu pai sempre fora Josh Currey.
Desde a primeira palavra, primeiro passo, até mesmo os primeiros jogos e
conselhos sobre mulheres. Era o exemplo de homem que eu tive na vida e graças
a Deus eu segui o mesmo caminho que ele, lutando pelos meus sonhos, sem em
momento nenhum, atrapalhar e intimidar outras pessoas.
Por esse motivo achava que eles aceitaram tão bem meu envolvimento com
a sua filha. Sabiam que fizeram um bom trabalho e que eu não faria nada de
errado com ela.
Tentei me mexer, incomodado com a linha que meus pensamentos seguiam
e uma pontada de dor me impediu de continuar tentando me arrumar na cama.
Era melhor aceitar a posição e esperar até que doesse menos e eu pudesse olhar
para o outro lado sem sentir que estava praticamente nadando no desespero.
— Como ela tá? — perguntei, fazendo uma careta, ainda por causa da
tentativa de movimento.
— Bem melhor que você! Parece uma merda ambulante!
Eu levantei meus lábios fracamente, em um sorriso sem dentes. Não era
idiota ao ponto de sorrir ou gargalhar e sentir a dor aguda me consumir
novamente.
Se eu pudesse, pararia até mesmo de respirar para evitar.
— E o bebê?
— Feliz na barriga dela, tenho certeza. Fez um bom trabalho, moleque, a
merda de um bom trabalho! Não poderia estar mais orgulhoso!
— Quando poderei vê-la?
— Não sei... Disseram que seu estado ainda é complicado, porque suas
queimaduras foram graves, poucas partes de terceiro grau, bem poucas por sorte,
o restante de segunda, mas ainda assim a parte sem pele fica exposta as
bactérias, e pode causar uma doença grave, então, irão te segurar por mais um
tempo aqui.
— Onde aprendeu essas palavras difíceis?
— Ah, garoto, eu estava tão nervoso que praticamente decorei! Espera
nascer que vai entender, só espera.
— Cadê o mulherzinha?
— Saiu apressado, dizendo que logo voltaria. Deve ter ido atrás da mulher,
aquela com camiseta do Star Wars e não faço a menor ideia se ainda volta para
saber das coisas.
— Mas ele ia pro Japão!
— Ainda não sabemos se isso é certeza. Até o Tyler pousar na terra dos
olhos puxados, muita coisa pode acontecer, inclusive, uma mulher amarrá-lo!
Isso sim era um milagre e tanto.
Eu me considerava cafajeste, mas Tyler era mil vezes pior e nem deixava
bilhete como eu costumava fazer.
— Ele tá ferrado! — falei, com uma sombra de sorriso.
Amar não era nada fácil. Mas era excitante, isso eu tinha que admitir.
— Muito. — Meu pai concordou e o silêncio no quarto se tornou
confortável depois disso.
Os remédios fazendo seu trabalho e me dando a sonolência que eu
precisava para uma recuperação. Treinos e temporada completamente esquecidos
na minha mente, enquanto olhos verdes povoavam os meus sonhos.
— O QUE VOCÊ fez? — perguntei para o meu pai, que parecia mais calmo
do que antes.
Se a nossa vida ainda corresse risco ele não estaria dessa forma nem que
tivesse ganhado o campeonato de golfe.
— Nada! — deu de ombros e mamãe nem ao menos se virou para olhá-lo.
Claramente irritada.
— Ele contratou pessoas... Pessoas ruins. — Ela falou baixo, revoltada.
Não precisava ler mentes para saber que minha mãe não gostara nada disso.
— Não quero falar sobre isso, Beatriz.
Ambos se olharam, desafiando a primeira fala apenas com o olhar e era a
primeira vez que eu os via realmente brigando, sem qualquer traço de humor por
trás das palavras.
— Ele mandou matar Harper? — perguntei horrorizada.
Se não fosse isso, não via motivos para mamãe ficar tão irritada.
— Claro que não! Vocês tão loucas se pensam algo tão baixo de mim! Qual
o problema em falar com algumas pessoas na prisão pra fazerem algo ruim com
ele? Qual a merda do problema por querer defender a minha família? Qual a
merda do problema em me preocupar mais com vocês do que comigo mesmo? E
qual a maldita merda de problema em falar com as pessoas certas, cobrar uns
favores e pedir a transferência dele para um lugar mais longe possível? Fora que
com a minha acusação recente, ele não vai sair nunca mais, os advogados
garantiram isso! — Sua respiração se tornou pesada e ele claramente estava fora
de si com as cobranças, se sentindo pressionado, assim como me sentira muitas
vezes. — Eu sinceramente, não vejo porcaria nenhuma nisso! A única coisa que
me atormenta de verdade é a possibilidade de algo acontecer à vocês e que se
foda quem me julgue por isso, mas não sou homem de aceitar calado e se
pudesse, eu mesmo entraria naquele lugar e bateria a merda pra fora dele!
Meu pai se irritou e saiu tempestuosamente, assim como fizera quando
descobrira a possibilidade de Harper fazer algo à mim.
Suspeitava que Collin tivesse aquele comportamento irritável por causa de
alguém e agora sabia exatamente a quem ele puxara. Mesmo que não tivessem o
mesmo sangue, a convivência implantara características que nenhum dos dois
percebiam.
— Eu sabia! — Mamãe falou baixo e pousou a cabeça nas mãos,
aparentando um cansaço mental assim como o meu.
— Eu o entendo, mãe. Papai só quis nos proteger.
— Dessa forma? Preferia que ele ficasse com a consciência tranquila.
— E ele pelo visto está. Me pareceu muito melhor do que antes e deve ser
difícil pra ele passar pela mesma situação duas vezes. A lembrança deve ficar se
repetindo e isso deixou-o atormentado, tão atormentado que a única solução que
enxergou foi essa, então agarrou-a e não soltou mais.
Ela olhou para mim e o exato momento em que o entendimento a atingiu foi
perceptível. Talvez não estivesse conseguindo ver como a memória do papai o
estava martirizando.
— Não pensei nesse ponto. — Ela admitiu e saiu atrás dele, andando
apressada.
Nenhuma desavença era capaz de separar aqueles dois. E foi por causa
deles que eu aprendi a não desejar nada menos para a minha vida.
Fiquei olhando o teto do quarto, agora sem ter com quem conversar,
desejando que pudesse ver Collin e agradecer tudo o que ele arriscara por mim.
Minha mãe e meu pai não queriam falar sobre o verdadeiro estado dele, mas eu
queria saber, ou não teria um momento sequer de paz.
— Será que ele está bem?
Murmurei, alisando minha barriga, percebendo que mesmo não notando a
mudança clara no seu tamanho, um pequeno coração batia forte ali. Dois
corações batendo em um único corpo. Como não perceber a mágica que existia
nisso?
A mágica de dar à luz a uma nova vida.
Agora eu pensava em como não quisera sentir essa sensação antes... Era tão
especial que me consumia em um amor puro e inocente, único e inabalável.
Bastava acreditar.
Acreditar na magia!
— Falando sozinha, irmã?
— Não estou mais sozinha! — falei e olhei para a minha barriga, Tyler
seguindo meu olhar.
— Está feliz.
Ele admitiu, para si mesmo, para mim, não sabia ao certo, mas soou como
um pensamento que ele deixara escapar.
— Estou. Viu o Collin? — perguntei, porque era o único que não
esconderia nada de mim.
Era o mais cruel dos irmãos mais novos, assim como o mais gentil.
Escondia minhas coisas quando éramos crianças, mas se sentia tão culpado que
minutos depois buscava-as e me pedia desculpas. Era difícil de entendê-lo as
vezes, e até hoje eu ainda não conseguia compreendê-lo cem por cento.
— Vi.
— E?
— Ele tá um caco, mas quando cheguei já estava dormindo, quem falou
com ele foi o papai.
— Pareceu bem?
Tyler fez um barulho com a boca e eu odiava aquele sinal, porque sabia que
ele seria sincero nas suas próximas palavras.
— Não... E provavelmente, tem a noção de que a temporada já era pra ele.
A culpa me assolou. Ele perderia uma enorme oportunidade por minha
culpa. Como eu lidaria com isso?
— Não se culpe. Collin faria de novo, tenho certeza! Eu e papai faríamos o
mesmo também, sem sentir remorso algum. Ele só foi mais rápido... Enquanto
assimilávamos o que estava acontecendo, ele já estava lá por você.
Um médico entrou no quarto, assim que Tyler terminou de falar, olhando
feio para o meu irmão, por algum motivo que eu ainda não entendia.
Olhei para ele e questionei-o silenciosamente.
Tyler fez um gesto de telefone com as mãos e moveu os lábios “eu estava
gritando”.
Provavelmente com a Mia, o que não era uma boa coisa. Tyler quase nunca
perdia a paciência e devia ser por um bom motivo que ele o tinha feito.
— Adiei o voo novamente, mas na próxima semana eu vou. Não tenho mais
motivos para ficar aqui.
— Tem a sua família! — falei chateada e ele me olhou com pesar.
— Você dentre todas as pessoas é a mais capaz de me entender, irmãzinha.
Sabe como é olhar para uma pessoa que ama e vê-la feliz com outra. Não quero
isso pra mim, não quero sofrer à toa. Prefiro me afastar e assim como fez, usar o
trabalho como desculpa.
Estaria sendo hipócrita se o desmentisse e só conseguia pedir aos céus que
Tyler encontrasse a felicidade assim como eu.
— Não vou dizer mais nada.
— Obrigado.
— Boa sorte, Ty! Boa sorte com tudo! — Ele sabia o que eu queria dizer e
assentiu agradecido.
— Acho que a senhorita poderá sair em poucos dias e, então, dar início aos
devidos acompanhamentos da gravidez.
— Obrigada, doutor! — falei, sorrindo, notando a bondade no homem ao
meu lado, checando os medicamentos prescritos no meu prontuário.
— E você, jovem, não fique gritando no telefone pelos corredores!
Atrapalha o sono dos pacientes!
Sorri baixinho com a reprimenda para o Tyler e ainda estava sorrindo
quando ambos saíram do meu quarto.
***
— Está liberada! — O médico disse e saiu para assinar os papéis da minha
alta.
Mamãe e papai me esperavam, quietos, presos em seus próprios
pensamentos e a primeira coisa que pedi para fazerem foi me levar até Collin. Já
não suportava mais ficar sem vê-lo e eles muito menos o médico, me deixaram
ficar andando pelo hospital atrás de notícias, ficando naquele pingue-pongue de
“ele está bem, não se preocupe”, “logo o verá, fique tranquila.”; já não
suportava mais ouvir essas coisas.
— Tem certeza? — Minha mãe me olhou e por um momento achei que ela
fosse negar meu pedido.
Não que fizesse diferença, eu o veria de qualquer forma. Já tinha esperado o
bastante e não aguentaria esperar mais.
— Vamos lá. — Papai disse e minha mãe olhou-o irritada, sem concordar
com aquilo.
— Ela quer vê-lo, amor. E se fosse você e eu estivesse lá?
Isso acabou com qualquer argumento da parte dela, que nos seguiu um
pouco contrariada.
Assim que meu pai abriu a porta e vi Collin enfaixado na cama, meu
coração deu um salto e pude sentir outro fazer a mesma coisa, em mim. Ou era
coisa da minha cabeça, não sabia ao certo.
Collin dormia profundamente, seu peito subindo e descendo
tranquilamente, sem qualquer sinal que notara a minha presença.
— Vou te deixar a sós com ele, quando quiser a levamos para casa.
Assenti e entrei completamente no quarto, ouvindo o barulho da porta se
fechando atrás de mim.
Peguei na mão do homem deitado e senti o calor que estava tão
acostumada, aquecer não só a minha mão, mas também a minha vida. Seus
dedos deram um sinal sutil de que estava acordando e sorri boba, feliz por
finalmente vê-lo e poder ouvir a sua voz com meus próprios ouvidos.
Fiquei desesperada durante todos os dias e agora que ele estava ali, na
minha frente, eu só queria abraçá-lo e não soltar nunca mais.
— Ei, não faz essa cara! Eu sou durão!
Collin falou fraco quando eu abaixei a cabeça.
— Senti tanto a sua falta! — Lágrimas desceram pelo meu rosto e ele as
enxugou com o maior carinho.
Um carinho que atingia os pontos mais profundos da minha alma. Me
fazendo sentir amada como sempre desejei.
— Sonhei com você todas as noites. — Ele disse e sorriu, enviando uma
onda de choque pelo meu corpo.
Uma onda de desejo.
— Quando vai ficar bom?
— Quando pararem de raspar as minhas costas! Sério, é uma porcaria e das
grandes! Acho até que fiquei traumatizado com hospitais!
— Muito ruim?
— Ainda não sei. Vivo enfaixado e só tiram a faixa para ver como está o
progresso aqui atrás. — Ele sorriu de leve. — Nem o traseiro se livrou! Deu uma
queimada de leve!
— As enfermeiras estão vendo seu bumbum, então?
— Já viu essa camisola? Ela deixa a retaguarda totalmente livre e é
vergonhoso pra caralho! Não vejo a hora de voltar pro meu apartamento.
Gargalhei e ele me olhou com os olhos brilhando, transbordando amor.
Como não percebemos antes que tínhamos sido feitos um para o outro?
— Posso andar com ela o dia inteiro se isso a fizer gargalhar dessa forma!
— Ah, eu vou adorar ver isso!
— Já te falaram que é maldosa pra caralho? Meu Deus, que mulher ruim!
— Só falei porque adoraria ver seu traseiro o dia todo... — disse com um
sorriso safado enfeitando meu rosto.
Collin tinha realmente um bumbum maravilhoso de apertar! Talvez pela
enorme quantidade de exercícios físicos que ele fazia, mas eu não diria isso à
ele, ou provavelmente, o homem teria um ataque apoplético com crise de
masculinidade.
— Pode ver sem a camisola! Se quiser eu ando sem roupa nenhuma quando
a gente se casar.
— Não vamos nos casar.
— Pelo amor de Deus, Lily! Sou um homem enfermo, você pode ao menos
acatar meu desejo? É só uma festa! Uma coisa informal!
— Talvez...
— Isso é uma boa resposta! Melhor do que os incontáveis nãos que recebi!
— Se fizer uma coisa...
— Uma coisa? Agora tô com medo do que vai dizer e não, não vou jogar
uma partida pelado!
— Idiota, não é isso o que eu pediria!
Olhei para ele, sorrindo abertamente, torcendo para que a sua resposta fosse
sim.
— Estrela uma campanha comigo? Estou pensando em abandonar as
passarelas e ser modelo fotográfica, mas pensei: por que não abrir minha própria
marca de roupas? Quero fazer uma campanha para gestantes e adoraria que você
se dispusesse a se vestir de papai ao meu lado, ficaria perfeito! — bati palmas
com a imagem já se formando na minha mente.
— Só?
— Só.
Não diria o resto, senão ele não aceitaria. Era bem provável que preferisse
não fazer festa nenhuma só para evitar.
— Fechado!
— E não vai me pedir em casamento? Por mais que não seja de verdade, eu
quero o pacote completo!
— Vou, não aqui, lógico! Precisa ser surpresa, gatinha!
— Só não me faça esperar muito, posso mudar de ideia.
— Pode deixar, não vou. Já esperamos demais!
Deitei no seu peito sem apoiar meu peso, sentindo sua mão passar pelos
meus cabelos, assim como fizeram várias vezes antes e me permiti respirar
aliviada.
Não seria um final feliz, seria uma vida inteira de felicidade.
EU VINHA ENSAIANDO o pedido há mais de dois meses, mas não era
por não querer, era por ter medo de que não chegasse aos pés do que ela merecia.
Ainda mais por não podermos casar de verdade, a experiência teria que ser
boa o suficiente para bastar para ela. Caso contrário, Lily encontraria outro
marido e eu não podia deixar isso acontecer!
Não! Nem ferrando!
Estávamos mais unidos do que nunca e eu a apoiava em tudo, em suas
ideias, sua terapia, suas vontades, tudo. E seus desejos ficava mais do que feliz
em satisfazer. Grávidas tinham, como dizer... uma ânsia peculiar.
— Chloe e Enrico estão juntos. — Ela falou, quando viu uma foto da amiga
e do idiota na revista que segurava.
Pelo menos eu não precisaria me preocupar com o italiano metido a besta.
Tirei minha camiseta, com calor, treinando incansavelmente na sala de
academia do apartamento.
Olhei para Lily, que encarava a cicatriz recém-formada, com extremo
interesse e aquilo até poderia me incomodar, mas eu sabia o quanto ela amava
aquela marca. Eu também. Era um sinal do que eu fizera por ela e uma prova do
quanto a amava.
— Pare de olhar minha marca de guerra!
— É sexy! — Me olhou lasciva e eu acreditava que continuar treinando
seria impossível.
— Não tanto quanto você, isso eu posso garantir! Agora, quer me ajudar?
Vem sentar aqui, vem? — apontei para as minhas costas assim que deitei no
chão com carpete.
— Não vai machucar?
— Não. Já se passou um bom tempo, estou curado, parecendo o Freddy
Krueger nas costas, mas bem.
— Tenho que tomar cuidado para não dormir, então!
— Eu não costumo deixá-la dormir por muito tempo. — Olhei-a com
segundas intenções e ela entendeu exatamente o que eu queria dizer.
Tive consultas regulares para avaliar a extensão da queimadura e a sua
cicatrização, na última quando perguntei sobre o diagnóstico, ele fora o melhor
possível e eu praticamente pulei de felicidade. Podia treinar e praticar todos os
tipos de atividades físicas, inclusive, as que eu mais gostava.
— Daqui a pouco saímos.
Eu disse, assim que ela subiu nas minhas costas e colocou seu peso para me
ajudar.
Lily até podia ser magra, mas depois de tudo, e ainda grávida, eu jurava que
uns bons quilos a enfeitavam e agora me deixavam sem fôlego, mas ainda era
muito leve.
— Levanta um pouco. — Ela o fez e eu peguei dois pesos, um em cada
mão. — Volta.
Comecei a levantar uma mão com o peso, enquanto a outra mantinha meu
corpo e o dela estáveis. Não consegui chegar em cinquenta e aquilo era uma
decepção.
Essas semanas sem treinar tinham me deixado molenga demais para o meu
gosto.
Larguei os pesos e comecei as flexões.
— Tá ansiosa? — perguntei, porque eu estava.
Ansioso pra caralho!
Entre uma arfada e outra parecia que eu estava prestes a pegar o troféu da
temporada.
O que até aconteceria, mas não por mérito exclusivamente meu. Voltei a
participar dos treinos apenas há poucos dias, impedido pela queimadura de me
esforçar ao máximo.
— Um pouco. Mamãe quer ir comigo.
Parei no mesmo instante de fazer flexões, irritado por ela falar uma coisa
dessas. Por mais que Beatriz Currey fosse a avó, eu era o pai e não perderia isso
por nada no mundo. E inclusive, achava que era uma coisa nossa, ela que visse o
neto ou a neta quando nascesse ou na gravação do exame, não me importava.
Mas hoje seria somente eu, Lily e o nosso bebê.
— Ela pode esperar e ver a gravação.
— Também acho.
Voltei a fazer as flexões, dessa vez com apenas um braço, sentindo o
formigamento nas minhas costas, ignorando-o completamente.
Dor era um sinal bom nesses casos.
— Ty mandou notícias, está bem e trabalhando como um condenado.
Gargalhei e por pouco não fraquejei, acertando a testa com tudo no carpete.
Tyler fugira como o covarde que era e quando voltasse eu tinha certeza que
se arrependeria do que fizera.
Fugir do amor nunca era o certo a se fazer.
— Ele ainda vai se arrepender, escreve o que tô falando.
— Também acho... A Mia se casou, você soube?
— Como não saber quando a mamãe reclama disso sempre que nos vê ou
quando o nome Tyler surge na conversa?
— Tem razão.
Pedi para que ela levantasse com um sinal da cabeça e assim que o fez,
corri até o banheiro do quarto, tremendo de ansiedade pelo que viria a seguir.
Mataria dois coelhos com uma cajadada só.
Passei pelo closet e peguei o anel que eu escolhera rapidamente, sabendo
que era o que ela amaria, eu a conhecia bem o bastante para ter essa certeza.
Lily não gostaria do maior diamante, do mais caro ou do mais bonito. Ela
gostaria do mais simples, porém, especial, assim como ela, e eu achava ter
encontrado uma joia que expressasse seus sentimentos com perfeição. Uma
verde safira, assim como seus olhos.
Um anel Lily.
Soava perfeito para mim, tomara que soasse pra ela também.
— Por que tá demorando? — ouvi seus passos e escondi o objeto
rapidamente, respirando agradecido por ter tido tempo assim que ela colocou a
cabeça na porta.
— Eu só estava escolhendo uma roupa...
— Pra que? Não vai desfilar não, papai. Vai apenas em uma consulta.
Toda vez que ela falava papai, a alegria me dominava e eu tinha vontade de
abraçá-la e gritar como um desvairado, querendo que todo mundo soubesse o
tamanho da minha satisfação.
— Eu sei.
— Vamos logo, senão a gente se atrasa!
— Um minuto. — Eu falei e levantei um dedo, vestindo a camiseta e logo
em seguida o tênis.
O anel jazia completamente seguro no meu bolso, só aguardando o
momento certo.
— Pronto, podemos ir! — passei por ela, pegando na sua mão e levando-a
para fora do apartamento, com a pressa consumindo a minha paciência.
— Collin, você tá tremendo! Meu Deus, sua mão parece uma britadeira! Tá
tudo bem?
— Estou! É só nervoso, Lily. Tenho direito de ficar nervoso, não tenho?
— É só um ultrassom! Vai dar tudo certo!
Eu sabia que era só um ultrassom. Mas, eu ouviria o coração e aquilo era o
suficiente para me deixar com a expectativa correndo desenfreada nas minhas
veias. Estranhava que os pés não tivessem começado a batucar no chão ainda,
isso sempre acontecia quando eu estava nervoso.
— Quer que eu dirija? — Ela perguntou me olhando preocupada e eu
neguei com um sinal.
Deus me livre ela dirigir e passar nervoso!
— Não. Não pode se estressar.
— Eu não sou de porcelana, Collin! Posso dirigir e fazer todas as coisas que
as pessoas fazem! Inclusive trabalhar, principalmente, trabalhar! Muitas mães
trabalham até praticamente o final da gravidez.
Não gostei da ideia dela e qual era o mal em querer protegê-la? Custava
alguma coisa aceitar, sorrir e agradecer?
— Eu só não quero correr riscos... Não é por pensar que não é capaz, é só
por pensar que você é tudo pra mim e que se eu puder evitar os problemas, vou
fazer sem o menor arrependimento.
— Certo. Mas já adianto que vai ter que pensar sobre isso... Caso contrário,
eu subitamente irei entender que sexo também se enquadra na categoria riscos.
— Você não ousaria!
— Ah sim, eu ousaria! — Ela sorriu maliciosa e aquilo quebrou meus
argumentos.
Não que eu acreditasse que ela pudesse de fato ficar sem aquela atividade
durante muito tempo, mas na minha ideia, não valia a pena duvidar, eu poderia
muito bem quebrar a cara.
— Na volta você dirige!
— Obrigada! — Ela respondeu e eu dei um sorriso contrariado.
Odiava quando ela ganhava as discussões, o que quase sempre acontecia.
Assim que entramos na sala de espera da clínica que ela escolhera para
fazer o ultrassom, todos nos olharam com extrema admiração, prestes a voarem
na gente para pedir autógrafo.
Estava acostumado com isso e com Lily ao meu lado, parecia que o tumulto
era ainda maior.
— Lily Currey. — Ela falou para a atendente, que já digitava
freneticamente em seu teclado.
Como se a mulher não soubesse o nome dela antes de dizer. Seu rosto
estampava a maioria das propagandas pela cidade e somente um cego não a teria
visto.
— Siga no corredor, até a última porta à esquerda, a doutora já está a sua
espera.
— Obrigada. — Lily agradeceu e eu apenas balancei a cabeça, querendo
dizer o mesmo.
Sua mão apertando a minha, era um sinal claro do quanto estava nervosa.
— Olá, mamãe! Como está se sentindo? — ouvimos assim que abrimos a
porta.
A médica morena, baixa e com traços orientais deu um sorriso tão sincero
que até mesmo eu dissolvi a carranca que ostentava.
— E o papai?
— Ansioso. O papai está ansioso! — respondi, sorrindo abertamente,
morrendo de vontade de ver a imagem através dos aparelhos.
— Pode se trocar ali, por favor? — A médica pediu, apontando para uma
sala ao lado, com um sorriso gentil no rosto.
Lily sumiu através da pequena porta e depois voltou com uma fina
camisola, o que eu acreditava, facilitaria todo o processo.
— Podemos ir logo com isso? Sinto que vou ter um ataque a qualquer
momento! — falei alto, porque era uma verdade absoluta.
Meu coração vibrava mais do que a arquibancada em dia de jogo.
— Claro! Deve estar morrendo de vontade de ouvir o coração, não é?
A mulher fazia uns comentários tão idiotas que se eu falasse o que
realmente pensava, ela me chutaria para fora em um piscar de olhos.
— Pois, vamos lá! — Ela disse, logo que a Lily deitou na cama, olhando
esperançosa para a tela.
Um barulho de batidas preencheu toda a sala e eu sentia como se meu
coração ecoasse o ritmo perfeitamente. Era o coração dela, ou dele, não me
importava, o que me importava é que parecia forte e saudável, assim como eu
rezara tanto para parecer.
— É o coração? — perguntei abobalhado.
— Sim, papai, é o coração do bebê.
Nunca pensei que fosse ficar tão em êxtase com essa palavra e com o amor
que ela carregava, mas tudo em mim simplesmente vibrava com a emoção e
sentia como se eu finalmente tivesse encontrado o mundo certo no qual ficar.
Um mundo que combinava perfeitamente comigo.
— O feto está saudável e... — Meu DEUS como ela enrolava. — Vamos
tentar ver o sexo, hmmm... — Ela fez uma pausa e eu parecia capaz de morrer a
qualquer instante. — Pelo que vejo, é uma menina...
O restante das suas palavras eu não consegui ouvir, completamente vidrado
naquelas batidas que ecoavam como um grito de felicidade no meu peito.
Coloquei as mãos na cabeça e fiquei apenas prestando atenção, tentando contar
cada uma e memorizar o som eternamente na minha cabeça.
Me senti maior do que qualquer problema.
Me senti melhor do que eu poderia ser.
E definitivamente, entendi o que Josh quis dizer...
Meu mundo já não orbitava mais em torno do sol.
Meu mundo orbitava em torno daquela pessoa que nem nascera ainda.
E meu coração ecoava as batidas do seu.
***
— Seus olhos estavam brilhando!
— Qual é o seu problema? Um pai não pode babar na cria? Sou humano,
tenha o mínimo de empatia, pelo amor de Deus!
— Eu achei lindo!
— Que bom, porque foi sincero. Muito sincero!
— É uma menina...
— Agora entendo porque ter filhas é tão aterrorizante para os homens. Não
gosto nem de pensar!
Lily gargalhou e enquanto estacionava na frente da mansão, ela entrou, se
fazendo ouvir com a sua “discreta” gargalhada.
— Mulheres.
Nunca entenderiam porque tínhamos tanto pavor em ter filhas.
Simplesmente sabíamos a nossa natureza devassa e imaginar alguém fazendo
com as nossas filhas o que fazíamos com a dos outros era horrível. Horrível
demais!
Josh com certeza me entendia.
Pelo menos não arrancara minhas bolas por ficar com a Lily, assim como eu
faria com quem ficasse com a minha filha.
— Pensando muito aí, bunda mole? — August apareceu na porta e me
chamou com um gesto exagerado, dando risada sozinho do meu momento
reflexão.
— Tá tudo preparado?
— Como pediu! Minha mãe e as tias ficaram eufóricas, deveria ter visto!
Pareciam um bando de líder de torcida ao invés das coroas que elas são!
— Não as deixe ouvir isso!
— Nunca! Tô muito novo pra morrer!
Acompanhei-o enquanto entrava na casa, sentindo o nervoso me dominar
aos poucos. Minhas mãos tremiam levemente e a impressão que eu tinha era que
sairia correndo a qualquer momento. Se nem mesmo eu confiava na minha
coragem, ficaria até com medo de saber o que os outros pensavam.
— Vai que é tua! — August se despediu assim que entramos na área da
piscina, indo em direção à Elena, que conversava com o pai.
Pela forma que ele a olhava, não ficava difícil adivinhar qual era o
sentimento que existia ali.
Eu identificava de longe, porque acabei sentindo o mesmo por anos sem me
tocar disso e me arrependia a cada mísero segundo do dia por ter sido tão
desligado.
Tivera a felicidade sempre ao alcance das minhas mãos e passava reto por
ela, como um idiota.
Ele só precisava de sorte, porque Allan era com certeza mil vezes pior do
que o Josh.
Olhei para cada um presente e todos ficaram quietos, Allan mudou a música
que tocava para uma mais romântica, enquanto os demais se aproximavam de
onde Lily estava, sendo seguidos por mim, que na verdade, não fazia a menor
ideia do que dizer. Ensaiara tanto que as palavras simplesmente evaporaram da
minha mente e parecia que eu gaguejaria logo que começasse a falar.
Ajoelhei.
E foi automático todas as mulheres levantarem as mãos até o rosto, em um
choro silencioso.
Nunca entenderia. Bem que todos diziam, principalmente o tio Silas, que
pedidos de casamento e casamentos eram um tema frágil e lágrimas eram
praticamente certeza. Se não as tivesse, não estaria fazendo certo.
— Eu sou um estúpido, essa é a primeira frase que vou dizer... E realmente
sou, por ignorar uma mulher maravilhosa como você, por ser o que precisava e
não o que queria que eu fosse. Agora, tudo está claro como água e sei
exatamente o que sinto! Sei o que cada um deles sente pelas suas mulheres —
apontei para meu pai e para os meus tios, recebendo um gesto de apoio em
resposta. — E quero continuar mostrando o quanto me arrependo por ter fingido
não ver cada olhar que me dava. Eu te amo, Lily! Sempre amei! Foi só questão
de tempo e de muita fé sua para que eu estivesse ajoelhado aqui, nesse momento,
esperando seu sim e rezando pra que por Deus, não decida dizer não assim como
fez nas últimas dez vezes em que pedi.
— Não foram dez vezes. — Ela respondeu e todos a olharam feio. — O que
foi? Não foi tudo isso! Recusei só alguns! E ele nem pediu direito, então, não
contava!
— Filha, ele está tentando fazer isso agora! — Beatriz falou entredentes e
Lily deu de ombros, sem se importar em acabar com a minha esperança.
Sorte minha que tínhamos um trato ou eu ficaria verdadeiramente
preocupado!
— Não sei porquê, Collin já sabe a resposta.
— Jesus! Só podia ser filha da Beatriz com o Josh! — Allan resmungou e
todos caíram na gargalhada.
Coisas especiais nunca ficavam totalmente sérias na família, o ponto alto da
noite eram sempre as piadas.
— Aceita? — abri a caixinha com o anel de safira brilhando majestoso, seu
brilho refletido nos olhos dela, me hipnotizando.
— Claro que sim! Aceito desde o primeiro, mas é que era engraçado ver a
sua cara de desanimado com as minhas recusas!
— Eu tinha razão! Estão vendo a maldade nessa garota? — Allan disse e
voltou a cuidar da churrasqueira.
Não me deixei abalar com o comentário dele e coloquei o anel no dedo
dela, sentindo-a tremer de emoção. O que era um feito e tanto no seu caso. Meus
dedos pareciam ansiosos por se emaranharem aos dela e tudo o que eu queria era
ficar a sós para decidirmos juntos o que faríamos durante a noite inteira.
Mas teríamos tempo para isso. Tempo para tudo.
Ninguém parecia surpreso, e não por eu ter avisado, mas porque
provavelmente já enxergavam a verdade, evitando ao máximo não dizerem em
voz alta sobre o que desconfiavam.
Eu já era dela, só era cego como uma porta e não percebi.
— Consegui! — sussurrei no seu ouvido, assim que me levantei e puxei-a
para os meus braços.
— Mas temos um acordo.
Eu sabia do acordo e não me parecia um sacrífico, mas é claro, eu não sabia
o que era ainda.
Ainda...
O barulho das pessoas em torno da piscina foi abafado pela alegria que
comandava meu coração. E eu senti, que finalmente, seríamos eu e ela pelo
tempo que nos fosse concedido, amando um ao outro e provando que qualquer
empecilho desaparecia quando havia amor. Verdadeiro amor.
O amor que movia montanhas e causava mudança nas pessoas.
Olhei para a sua beleza exótica e envolvente ao meu lado, sabendo que
nesse jogo, eu marcara o Home Lily da vitória e não poderia estar mais feliz! Era
com certeza, a merda do homem mais feliz do planeta e faria por merecer a sorte
que tivera.
Para sempre.
— AI, MEU DEUS, por que merda eu tô fazendo isso?
— Porque vamos nos casar, temos um trato!
Um trato que ele aceitara sem saber o que abrangia. Vantagem das grandes
para mim!
— E tinha que inventar um macacão rosa que nem esse? Pequeno ainda por
cima? Parece que ele vai explodir a qualquer momento!
A frase: Eu sou papai e vou ao show da Tay Tay era vergonha suficiente
para o Collin se arrepender de ter aceitado. Achava até que ele desistiria de casar
se pudesse voltar atrás.
— É pai de menina, meu amor, e Taylor Swift será presença constante nos
seus ouvidos. Escuta a voz da razão!
— Tay Tay! Preferia ter desfilado pelado! — Collin falou amargo e ouvimos
as gargalhadas da equipe de fotografia em todo o estúdio.
Ele estava divertindo o dia do pessoal, isso sem dúvidas.
O meu então, preferia nem comentar.
— Do que vocês tão rindo? — Ele perguntou e todos fingiram olhar para
outros lugares, ao invés do macacão rosa com vários tufos de pelo.
Nem eu conseguia parar de rir. Tinha sido maldosa, mas era uma campanha
diferente, que ressaltava os poderes de um super pai e a influência que ele
poderia ter na vida da criança.
Roupas para o pai e para a mãe. O macacão tinha sido pra fazer ele pagar
mico, mas eu nunca admitiria isso.
— É que está sexy, amor! — tentei aplacar a fera, mas a sua feição só
mostrava que ele não acreditava nem um pouco em mim.
— E a sua roupa vergonhosa?
— Essa? – Eu tirei o roupão e vi o momento em que seus olhos
arregalaram.
— O QUÊ? MAS QUE MERDA!
Ele pegou o roupão do chão e colocou de novo em cima de mim, tentando
tampar as partes que estavam a mostra.
Eu gargalhei com o desespero dele, era hilário!
— Por que vou ficar de macacão quente que é uma desgraça e você de top e
saia? Sem chances! Vou ficar de cueca. Super pai de cueca!
Ele começou a tentar puxar o zíper nas costas e quanto mais tentava e não
conseguia, mais todo mundo gargalhava.
— Não vai não!
— Eu não vou tirar foto assim, não vou. Não vou!
— Temos um trato, ainda dá tempo de cancelar o casamento.
— Não faria isso. — Seus olhos se estreitaram e eu ri ainda mais.
— Até parece que não me conhece.
— Veste uma roupa mais... Mais roupa! — Ele disse e apontou para as
partes da minha pele que conseguia ver.
— Mais roupa?
— Sim, um macacão que nem o meu.
— Mas eu preciso mostrar a barriga! É uma campanha para grávidos,
papais e mamães!
— Não precisa! Eu não acho!
— Collin! – repreendi-o, vendo a sua carranca ficar ainda pior.
— Lily!
— Vai ficar lindo, super fofinho!
— Fofinho... — Ele resmungou, me olhando bravo. — Como vamos fazer
isso?
— Eu vou sentar no seu ombro e você me levanta para as primeiras fotos.
— Sorte sua que sou forte, senão seu sonho cairia por terra.
— É o mais forte. — Era fácil fazer Collin mudar de ideia, eu sabia. E se
fosse necessário apelar para o seu ego, eu o faria.
— Vem logo, vamos acabar com isso! — Ele se ajoelhou a contragosto,
enquanto uma das meninas trazia um banquinho para eu subir.
Era tudo questão de confiança.
Eu confiava nele para me segurar, assim como confiava nele para dividir
uma vida.
Sentei do lado esquerdo, sentindo sua mão segurar forte meu quadril.
E daí se aquilo era loucura? Soaria tão divertido para quem visse assim
como soava pra gente ali.
Senti a cabeça dele apoiada na minha barriga e sorri, carinhosa, com todo o
amor sendo refletido nos meus olhos.
— Você vai me pagar. — Ele sussurrou e eu aumentei o sorriso, com os
flashes aos quais estava tão familiarizada, iluminando nosso rosto.
— Papai, você tem que sorrir! — O fotógrafo falou e a gargalhada no
estúdio foi geral.
— Vão para o inferno, vocês todos! — Ele respondeu e eu gargalhei ainda
mais, sabendo que aquela campanha seria mais espontânea do que qualquer
outra.
— Lily cruza mais um pouco as pernas! — O homem falou de novo.
Senti o corpo do Collin se retesar.
— Tá aparecendo a calcinha dela? Mas que porcaria que eu não consigo
continuar assim! Se alguém ver a calcinha da minha mulher, eu juro que vou
pichar cada maldito outdoor nessa cidade.
— Não tá aparecendo nada, Collin. — tranquilizei-o, gostando mais do que
queria admitir.
Ele me fazia sentir linda.
Perfeita.
Desejada.
Mesmo parecendo ter engolido uma melancia inteira.
E não importava quantos quilos eu ganhasse, ele beijava cada parte, com a
mesma paixão, todos os dias. Me amando de uma forma geral e não ao meu
corpo. Dedicando cada jogo para mim, declarando seu amor em cada entrevista e
procurando o meu olhar antes de qualquer outro.
Era um amor capaz de curar.
Um amor que transbordava, como minha mãe vivia dizendo.
— Bom que não esteja mesmo!
Ele sussurrou e continuou fazendo seu papel. Um papel que em breve se
tornaria real demais, um papel que nos assustava ao mesmo tempo em que nos
deixava morrendo de felicidade.
Seríamos papais!
A pequena Brooke estava chegando e com ela a felicidade fizera seu
caminho na nossa vida.
E não sairia mais dela.
Eu, Collin e Brooke, e quem mais saberia dizer o que o futuro reservara
para a gente?
— Eu te amo, Lily! Mesmo me fazendo passar por isso. — Ele falou,
menos tenso.
— Também te amo, Collin.
— Eu sei.
Ele falou baixo e eu olhei para a câmera, com as mãos em torno da minha
barriga, sorrindo como pensei que nunca sorriria um dia.
Uma dor me varreu e eu tentei ignorar, mas assim que o líquido escorreu
nas minhas pernas para o macacão, Collin perdeu a estabilidade e me desceu.
Em pânico.
— Collin, meu Deus! — Ainda não era hora. Ainda não era hora.
Oito meses, não nove!
Meu Deus, não eram nove meses ainda!
— Pega as chaves do meu carro. — Ele pediu para uma das meninas que
trouxe correndo.
O desespero em mim enorme e o dele provavelmente ecoando o meu.
— Vai vestido assim? — Alguém perguntou e ele não respondeu.
— Foda-se!
Me pegou no colo e saiu correndo, passando pelas pessoas, que nos
olhavam interrogativamente.
Me deitou no banco do carro e ligou, dirigindo mais rápido do que eu me
lembrava.
Gritei. Uma onda de dor me dominando. Eu nem sabia que isso era
possível, mas eu com certeza poderia matar quem inventou que as mulheres
precisavam sofrer tanto.
— Ai, Jesus, eu sou um super pai! Não, eu não estou desesperado! Não
estou desesperado. Tá tudo bem aí?
— MAS QUE PORRA! — gritei, fora de mim.
— Eu tô fodido!
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
— Sua garganta tá ótima pelo visto!
— Desgraçado! Vai mais rápido ou eu argh, matooooooooo! — falei
palavras desconexas.
Ele ficou quieto e eu gritei sozinha a maior parte do tempo. Sentindo seus
braços me pegarem e agradecendo que a dor pararia. Ou não, ela só parecia
aumentar.
Uma lufada de ar preencheu meu peito e o vento batia furioso no meu rosto,
sentindo Collin correr com um fôlego invejável.
— Nossa filha vai nascer, boneca. Ela vai nascer!
Ele falou assim que me deitaram na maca e levaram para eu não fazia a
menor ideia onde era.
Sua mão abandonou a minha, mas a senti de volta logo que as pessoas à
minha volta apareceram.
Pelo visto Brooke era apressada que nem o pai e não queria saber de moleza
da minha parte.
— Aiiiiiiii! — gritei em mais uma vez e ele arregalou os olhos, preocupado.
— Anestesista! — Alguém gritou e eu não me importei, as dores me
corroendo.
Me impedindo de pensar absurdos.
— Agora é sua hora, mamãe. O bebê quer vir, é só fazer força!
Eu trinquei meus dentes, fazendo força como me falaram para fazer.
Apertei a sua mão na minha e senti um grito abafado. Bom, porque essa dor era
pra ser dividida. A dele não chegava nem perto da minha, eu tinha certeza.
Meu coração batia acelerado.
E eu conseguia sentir o suor pelo esforço descendo pelo meu rosto.
Quanto mais eu me esforçava, mais o cansaço tentava me puxar.
— Vamos, está vindo! Já consigo ver os cabelos!
Fiz mais força, tentando empurrar para acabar logo com aquilo.
Não sabia o tempo que tinha se passado, mas para mim, parecia uma
eternidade. Desde quando tudo começou no ensaio até eu chegar aqui, na parte
em que eu estava finalmente tendo minha filha.
O olhar do Collin, me dando a força que eu precisava. Sua mão na minha, a
certeza de um futuro maravilhoso.
Seus lábios se moveram, dizendo que me amava e eu respirei fundo,
empurrando novamente. Novamente, novamente, novamente, até que um choro
agudo se fez ouvir.
Ele sorriu.
Eu sorri.
Era um sinal de que tudo estava bem!
Encostei minha cabeça na maca, acabada. Sem forças para qualquer outra
coisa. A dor sumira como em um passe de mágica assim que ouvi o choro e meu
coração vibrou de felicidade por saber que eu cumprira meu propósito.
Collin abandonou minha mão e saiu do meu campo de visão, voltando com
uma menina linda nos braços.
O ar me faltou e comecei a chorar e sorrir ao mesmo tempo.
Brooke.
— Olha que linda, boneca! — Collin chorava que nem eu, emocionado. —
Ela é uma réplica de você, olhos verdes e tudo o mais! Eu sou a princesinha do
papai, eu sou... — Ele disse e eu sorri, extasiada. Sem saber como um amor tão
grande poderia caber em mim.
Collin deitou-a cuidadosamente no meu peito e eu a segurei, ela se
mexendo e resmungando por ter saído do colo dele. Pelo visto eu seria trocada,
assim como minha mãe tinha sido trocada pelo meu pai.
Era o poder que eu queria passar através das campanhas.
— Preciso sair e ligar pra todo mundo, avisar que Brooke já nasceu. Vão
chutar minha bunda por não ter avisado antes, mas tudo aconteceu tão rápido que
eu só pensava em ficar com você e aproveitar cada segundo.
Eu sabia.
E eles entenderiam.
— Eles vão entender.
— Vão, com certeza vão. — Ele falou e olhou para nossa filha uma última
vez antes de seguir para a saída.
— E vão tirar sarro da sua roupa sexy!
Ele olhou para baixo, com a transparência da roupa que deram pra ele ver o
parto, deixando o rosa em evidência.
— Sou um super pai! Eu sou um super pai foda! E daí se amanhã todas as
revistas vão estar com fotos minhas correndo com você no colo como um louco?
E daí?
— Com o macacão rosa.
— Com o macacão. — Ele fez uma careta e saiu.
Sorri sozinha.
Sabendo que o mundo voltara a girar.
As partes certas nos lugares certos e o que realmente era importante,
comandando o lugar certo do meu coração.
Amor para mim se chamava família.
Se chamava Collin e Brooke.
Principalmente, Brooke.
Tudo sobre Astros
“MAS QUE LOUCURA FOI AQUELA?
POSSO JURAR QUE VI O PROTÓTIPO DE DEUS DOS CURREY,
CORRENDO COM MACACÃO ROSA QUE NEM UM LOUCO!
Esse, caras leitoras, é o título da coluna de hoje!
O jogador de beisebol mais quente de todos os tempos já é papai! Com
direito a corrida de desespero, macacão vergonhoso e tudo o mais!
Que coisa mais doida! Pensei que estivesse vendo uma foto de realidade
alternativa! Mas admito que eu queria e muito ser aquela peça de roupa!
Diva C. e as outras três divas, com seus maridos do Olimpo deram as caras
logo em seguida, eufóricos como se estivessem ganhando o troféu da
temporada!
Reza a lenda que a herdeira será mais paparicada que a Barbie no seu
desenho!
Ainda não temos fotos da pequena, mas como sabem, Lily C. e Collin C.
são tranquilos e quem sabe não damos a sorte que a safada aqui consiga uma
exclusiva? Não custa sonhar, não é, gatas? Já fiz uso da minha intimidade com a
família pra dar berros pelo telefone. Acho que fui bloqueada por isso, mas quem
se importa? É BEBÊ NOVO NA CASA CURREY, SAFADAS!
E ESTAMOS COMO?
HISTÉRICAS, DESEJANDO SER AS MAMÃES!
Enfim, acordei do sonho, um beijo e até a próxima!”

por Stephen Pharrell.


— SEM MULHERES DESNUDAS? — Allan perguntou e eu confirmei.
Ele estava maluco se pensava que eu arriscaria tudo com isso.
— O que tá falando, Allan? Você também preferiu beber umas sem
mulheres por perto, sacanagem querer julgar o Collin por isso!
— Também acho! — Silas comentou, levantando o copo e brindando às
nossas loucuras.
— Vocês que sabem, mas eu aposto o quanto quiserem que as mulheres
estão vendo a versão ao vivo de Magic Mike! São uns otários se acham que são
santas!
Eu duvidava!
Elas deviam estar vendo vários filmes de mulherzinha seguidos!
Particularmente, meu inferno na terra. Não que eu fosse contar isso algum
dia para a Lily, mas era com certeza um inferno ver aquelas coisas todo fim de
semana!
— Por mim eu nem teria essa porcaria, ficaria com ela até amanhã, só pra
garantir! Primeiro que nós nem vamos assinar nada, então, tecnicamente
ficaremos solteiros, logo, não há necessidade para essa merda!
— Dá pra entender porque não reclamou dele ser o escolhido da Lily, Josh.
O garoto é bom! Nem quer mulheres na despedida, nem quer despedida, preciso
de alguém assim pras meninas!
Não foi impressão apenas minha e do meu pai, Silas olhando para o Allan
com uma feição indecifrável, afinal, todos sabíamos que August, o filho dele, era
apaixonado por uma das filhas do Allan.
E eu, sinceramente, desejava sorte!
Porque Allan era o pior!
— Acho que logo vai precisar entender que nossos filhos acabam fazendo o
que querem, Allan.
— Que merda, Silas! Eu sei o que é melhor pra elas e não vou deixar
nenhum otário se aproveitar das minhas garotas, não mesmo!
O clima tenso logo se dissipou com a chegada do August e do Tyler, ambos
sorrindo e olhando em volta, tentando encontrar um motivo realmente bom para
terem ido parar ali.
— Esses são sem vergonhas! — Allan disse e puxou os dois para um abraço
e aperto de mão.
Novamente olhamos uns entre os outros, imaginando que quando tudo
viesse à tona alguém morreria por não ter contado a verdade. Isso porque se
tivesse contado, morreria de qualquer forma.
— Vamos parar de conversa e beber? — Ty falou alto, e gritamos em
resposta.
Aquela nem poderia ser chamada de uma despedida de solteiro.
Não quando a pessoa que deixaria esse status para trás nem queria estar
comemorando, para começo de conversa. A comemoração deveria ser para a
vida de felicidade que se iniciaria amanhã!
Tudo o que eu queria era ser o melhor amigo dela para o restante das nossas
vidas.
Não importando as notícias idiotas sobre o assunto, não importando as
piadas de quem não sabia como era a nossa vida. Nada realmente me faria mudar
de ideia, porque o coração não mudava de ideia quando finalmente encontrava
quem o comandasse.
Um monte de mulheres passou pela gente, parando e olhando, deixando
claro o que queriam.
Nenhum de nós ligou mesmo para isso.
Piscamos, para não deixá-las magoadas com a falta de interesse, mas a
verdade era que não tínhamos olhos para nenhuma outra mulher.
A não ser Tyler, que claramente pareceu disposto a ir atrás.
August nem olhou, provavelmente, pensando em uma maneira de fazer as
coisas com Elena darem certo. Eu realmente torcia para ele, afinal, mais um
casal recém-formado na família ajudaria e muito a fugir das piadas sem graça
sobre o amor.
— Eu iria se fosse você! — Josh comentou, recebendo um balançar de
cabeça do Allan e do Silas, concordando com o ponto de vista.
— Mais tarde, quem sabe! Voltei só pra ver essa cerimônia e não vou ter
realmente muito tempo para saídas ocasionais. Preciso embarcar amanhã à noite
de volta para Tóquio e acho que não compensa ficar com ninguém por algumas
horas... Pode ser que eu mude de ideia, mas agora, nesse momento, não estou
afim.
— Faz sentido! — Os homens concordaram e ficaram subitamente quietos,
como eu, que não dissera nada nos últimos minutos.
Apenas sentia.
Parecia que não havia muito o que ser dito na ocasião.
Os três ao meu lado deviam pensar o mesmo, sabiam como era amar
alguém e ser capaz de tudo por ela. Praticamente o coração era nosso, para ser
ofertado à outra pessoa.
August, encostado no balcão, não demonstrava nada além de preocupação,
com o que eu não fazia a menor ideia.
O barulho alto do bar, o tumulto de pessoas conversando agitadas, jogando
sinuca ou apenas bebendo e se divertindo não parecia ser o certo para a gente,
estávamos praticamente fora de contexto, pessoas normais, conversando sobre o
amor em uma noite de verão, sentindo que o sentimento nos transformava em
homens completamente melhores e mais fortes.
Milagres aconteciam.
— É felicidade, não é garoto? — Papai perguntou e eu não respondi, ele
devia saber a resposta.
— Cara, eu me lembro como se fosse hoje, não sei... mas foi tão perfeito!
Era tudo o que eu precisava pra parar de ser tão idiota, tão pessimista e tão
amargurado! — Silas comentou e eu acabei rindo com a cara de nojo que Allan
fez.
— Por isso aquela sua mulher te faz de gato e sapato, cara, é um bosta!
— Melhor nem comentar que você não fica muito atrás, Allan! Todos
acabamos assim, mais cedo ou mais tarde, o importante é ser homem e assumir
que as mulheres são o centro do nosso universo!
— Pra mim é só a Rose, ou melhor, ela e as gêmeas, então, não deixa de ser
mulheres no plural mesmo, tem razão! — Ele comentou e nós o olhamos.
Allan falava que não era comandado pela mulher, mas nós sabíamos a
verdade. Ele também, só não queria aceitar.
— É um sem noção, Allan, sempre foi! — Meu pai falou e todos acabamos
rindo.
— Vocês são sortudos! É foda amar e não ser amado. — August falou, nos
deixando em silêncio, alguns por saberem de quem ele falava e o outro por
pensar que a solidão do filho do amigo era dolorida.
E era.
— Vai dar tudo certo, Auggie! — Allan disse, se levantou e o abraçou, nos
deixando sem saber como reagir.
Não era nossa verdade para contar, mas ficava estranho saber sem poder
compartilhar. Parecia que estávamos mentindo e com certeza, assim como eu,
todos deviam se sentir mal com isso.
— Enfim, mulheres...
— São maravilhosas! — Tyler comentou e nós rimos mais uma vez.
A noite sendo de palhaçadas e divertimento, mesmo que não tivesse
nenhuma sacanagem ou noite em Vegas, fazendo loucuras.
Loucuras cheias de notas perdidas e tempo desperdiçado. O corpo
esbanjava o que o coração estava cheio e estarmos ali, bebendo tranquilos,
comentando sobre elas, só provava o que transbordava no nosso peito.
— Vegas... Estava aqui pensando...
— Eu topo! — fui cortado pelo Auggie logo que comecei a falar, olhando
feio para ele.
— Que não quero mais essas coisas... Que estou contente assim e acho que
nunca mais meu pau vai subir pra outra mulher! — continuei minha fala anterior,
ouvindo as gargalhadas de todos com a minha frase.
— É bom mesmo que não suba, garoto, ou minha....
— Sua ameaça está valendo, sei bem disso! — completei a frase de Josh
Currey, sabendo que se eu vacilasse com a sua filha, quem acabaria comigo seria
eu mesmo.
— Vida sacana, não é? Veja se não somos os caras mais loucos da face da
terra, casados, um prestes a se casar e felizes pra caralho. Que porra doida! —
Allan se sentou de novo e olhou em volta, vendo algumas pessoas apontando pra
gente, nos reconhecendo como os atletas que éramos.
Sempre assim.
Deviam ter percebido que o momento era familiar, porque não se
aproximaram e agradecemos por isso.
O celular do Silas vibrou em cima da mesa e nós reviramos os olhos,
imaginando quem era.
— Oi, amor, posso voltar sim! Certo, até daqui a pouco! — Ele finalizou a
ligação e nos olhou. — Vou embora, a Diane precisa de mim, alguém quer ir
junto pra rachar o táxi?
— Acho que também já vou, mais alguém? — Meu pai perguntou e todos
levantamos dos bancos, deixando o dinheiro e uma boa gorjeta no balcão do bar.
Fomos em direção à porta, saindo e sentindo a alegria nos brindar.
— Que despedida de merda essa! — Allan comentou e eu nem me importei.
Não queria nenhuma de qualquer forma.
— Mal chegamos, estamos indo! Se eu soubesse nem teria me dado ao
trabalho! — Tyler comentou e deu de ombros.
— Deveria voltar lá e sair com alguém, não está comprometido como a
gente. — Ele relutou em ouvir meu conselho, mas se decidiu e sumiu novamente
dentro do bar.
Provavelmente, ignorando sua reclamação anterior de não ter tempo para
ficar com mulheres. Era o Tyler, e sabíamos que ele arranjaria tempo de sobra.
— Esse sabe aproveitar! É bem pior que o Josh!
— Cala a boca, Allan, que você também não era melhor! O único que
ficava mais de boa era o Silas! Também vivia sofrendo decepção amorosa, ficava
até com pena quando o via com alguém, porque sabia que ele choraria depois!
— Vocês não prestam! E nem fui eu que chorei quando alguém aqui meteu
os pés pelas mãos e acabou sem uma ruiva! — Essa doeu em mim, papai falava
o que queria e acabava ouvindo o que não queria.
— Não vale!
— Como que foi, Allan? Allan, vê com a Rose se a Beatriz quer falar
comigo? Allan vê com a Rose se a Beatriz está bem... — Silas imitou a voz do
amigo e todos acabamos gargalhando.
Ele era bom em imitar os outros, vivia fazendo isso nos churrascos, o que
somado às piadas do Allan, nos deixavam com a barriga doendo de tanto dar
risadas.
— Não tem nem como eu não falar nada, Josh, porque o Silas tem razão! —
Allan comentou, notando a fúria mortal no rosto do papai.
Sorri fraco, olhando para a rua, vendo as pessoas caminhando, concentradas
nas suas próprias vidas o bastante para nos ignorarem completamente.
A brisa suave que soprava era apenas um convite para os anos que viriam,
para a cerimônia que aconteceria por pura vontade nossa, firmando algo que nem
precisava, porque meu coração era dela e seria até que eu morresse.
Nunca tinha deixado de ser.
Nunca deixaria.
Respirei, sentindo a vida invadir meus pulmões, olhando para os outros e
notando que faziam o mesmo.
Porra!
Eu nem dormiria esperando a hora chegar!
— Vai pra onde? — Josh perguntou, enquanto os táxis que pedimos
estacionavam às nossa frente.
Allan entrando em um deles sem perder tempo.
Falava do Silas, mas estava tão ansioso quanto ele para voltar para casa.
— Pro meu apartamento.
— Ótima escolha! Uma noite sem ela, sendo que o restante será com ela.
Concordei com um aceno, sentindo o que havia de bom na vida me invadir.
Tudo tinha um lado espetacular e eu estava vivendo o meu.
Entrei no táxi logo depois dele, notando Allan olhando pela janela, sem
falar muito. Silas e Auggie indo no outro táxi, a maioria para o mesmo bairro,
suas casas sendo ao lado umas das outras, uma região onde existia apoio mútuo e
muitas, muitas pegadinhas.
Me despedi assim que o carro parou na frente do edifício onde morava.
Admirei-o por instantes, a enorme fachada de vidro, com o nome chique em
letras chamativas, sabendo que não ficaria mais por muito tempo ali. Era um
apartamento que me lembrava a vida de solteiro, sem pessoas com as quais me
importar em dar satisfação, agora as coisas mudariam e eu queria mudar
radicalmente tudo com elas, inclusive, o lugar onde passaria a maioria das horas
do meu dia.
Subi, cumprimentei as pessoas pelas quais passei e logo que entrei, sentei
no sofá, olhando para o quadro dela na sala, agora sozinho, chamando toda a
atenção para si.
Um efeito que a mulher retratada nele causava em mim sempre que a via.
Apoiei a minha cabeça nas mãos e chorei, chorei de alegria. Quando eu
fosse mais velho e me lembrasse desses dias, apenas ela os enfeitaria, me
fazendo crescer como pessoa e como homem.
E a noite passou voando.
Semanas como se fossem minutos.
Anos como se fossem dias.
A felicidade tornando tudo mais intenso, prazeroso e inesquecível.
Tornando tudo, real...
— EI, IRMÃO, QUE saudades! — recebi um abraço da Lily, sentindo as
mãozinhas da minha sobrinha puxarem a barra da minha calça.
— E aí, princesinha? Como tá? — abaixei até ficar da sua altura e dei um
beijo no seu rosto.
Seus olhos brilhando como o de um anjinho.
— Bem, titio! Papai vai me levar pla jogar!
— E qual é o seu nome? — Eu perguntei, só porque ela falando era a coisa
mais linda que eu já tinha escutado.
— Brooke Curreeeeeeey! — Ela arrastou o sobrenome nos fazendo
gargalhar.
— Que coisa mais linda! — Angie falou ao meu lado, e o olhar da minha
irmã, curioso, foi o suficiente para me fazer engolir em seco.
— Lily, essa é Angie, Angie, essa é a Lily — apresentei as duas, sabendo
que tinha ocultado uma parte muito importante na frase.
— Quem é essa, titio? A muler com você! — Brooke perguntou e eu sorri,
babando como doido na minha sobrinha.
— É minha noiva, meu amor.
— Vão moar juntos?
— Brooke, para de perguntar essas coisas pro seu tio!
— Poque mamãe? Ele é grandão! — Ela disse e levantou os braços,
pulando em seguida, querendo mostrar o quão grande eu era.
Eu gargalhei novamente. Por isso ela era a atenção da família Currey!
— Me desculpe, Angie, ela está mais sapeca do que nunca!
— Imagina! Amo crianças!
Lily sorriu fraco e quando achei que ela diria algo, ficou quieta.
— Mamãe está ansiosa pra te ver. Todos estão.
— Cadê o Collin? — perguntei, estranhando ele não ter ido.
— Treinando.
— Claro que sim!
— Podemos ir? — Ela disse e deu a mão para Brooke, que ao invés de
aceitar a mão da mãe, me esperou para pegá-la no colo.
— Vocês a ficam mimando, e está cada vez pior!
Gargalhei, enquanto fazia cócegas na garotinha que era uma cópia da minha
irmã, sendo que o sorriso era completamente do Collin.
A imagem de uma filha minha se materializou na minha mente e me vi
questionando se ela sorriria assim como eu, ou seria totalmente diferente. Qual
característica minha que ela herdaria ou se a minha personalidade seria notável.
— Combina com isso, Ty! — Minha irmã disse e olhou para Angie, que me
encarou.
Engoli em seco.
Eu queria ter filhos e, sinceramente, eu gostava da Angie, só não sabia se
estava preparado para ter uma extensão nossa, ainda não. Quem sabe um dia.
— Obrigado? — falei em tom de brincadeira.
Era bom ter jeito para ser pai?
— Talvez você seja ainda pior que o Collin... Brooke sempre me troca por
ele.
— Papai! Papai! — Ela começou a dizer, estendendo as mãos e quando
olhamos para frente, vimos Collin vindo na nossa direção.
— Ah, meu amor, estava com saudades? – Ele olhava direto para a filha,
com todo o amor transparente nos seus olhos.
Ela pulou no seu colo e não se importou com mais ninguém.
— Ela sempre nos troca por ele, não se importe. Ele e o papai. Não sei o
que esses dois fazem, mas ela literalmente os ama mais que todo mundo!
— A gente faz bagunça, não faz? — Collin perguntou para ela, que
gargalhou.
— Papai faz vrum, vrum, vrum, vrum.
— O que é isso? — perguntei curioso.
— Ele a empurra pela casa toda, em cima do aspirador, imitando carro de
corrida. Enfim, não tente entender.
Gargalhei alto. Aqueles dois como pais eram muito engraçados e por mais
que minha irmã estivesse com cara de mãe, seria para sempre a garota sonhadora
a qual me lembrava.
— Alguma novidade? — perguntei, querendo saber de todos.
Até de uma que eu me recusava a lembrar. Angie nem fazia ideia do motivo
para eu ter ido embora e eu não achei necessário contar. O problema era que se
eu visse Mia, precisaria abrir o jogo com a minha noiva e dizer que existia sim
uma mulher capaz de mexer com tudo o que eu acreditava.
Não era justo com ela viver uma mentira.
Collin e Lily se olharam, receosos por falar alguma coisa e eu já imaginava
o que seria.
Mia provavelmente mantinha uma família com o otário do noivo dela
naquela época.
Não via problema nenhum nisso. Eu tive a mulher que eu quis e por ironia
do destino, uma que nem imaginava a atração que causava em mim, foi
justamente a que fugiu de tudo, com medo de se entregar.
Mia queria um porto seguro, e eu não era um porto seguro nem para mim
mesmo.
— Não, nenhuma.
Soube no instante em que falaram juntos que estavam mentindo. Até
Brooke parou de se concentrar nas suas mãos para olhar para mim, sentindo a
tensão.
— Esse eu conheço, mas tecnicamente não conheço... Costumava
acompanhar seus jogos. — Angie quebrou o silêncio olhando para o Collin,
completamente indiferente à isso.
— Esse é o Collin. Collin, essa é Angie, minha noiva.
— Noiva? — Ele perguntou e me olhou curioso, do mesmo jeito que minha
irmã tinha feito.
Era como se falassem: Sua noiva? Mas você não brilha que nem a gente
quando está perto dela!
Porque aqueles dois literalmente reluziam perto um do outro e isso era
irritante algumas vezes. Principalmente, quando eles sabiam que eu não estava
de todo certo com esse casamento.
Na verdade, eu nunca estive mais confuso.
Angie era uma mulher legal, que gostava de mim pelo o que eu era e por
incrível que fosse, também trabalhava na área de tecnologia.
No meu segundo ano de trabalho, ela foi transferida para a sede da empresa
e nos cruzamos pelos corredores.
Agora ela era minha noiva.
E eu nem sabia ao certo se casar era uma boa.
— Sim.
— Angie vai ser uma Currey? — Ele tentou disfarçar, mas a descrença era
clara na sua voz, e eu só esperava que a mulher ao meu lado não tivesse
percebido também.
— Vai — respondi, baixo.
— Boa sorte! Nós não somos normais! — Brooke gargalhou no colo dele,
como se a voz do pai fosse a coisa mais engraçada do mundo.
— Essa menina gargalha só com a voz dele, como pode? — Lily falou
revoltada e todos nós sorrimos.
Brooke fora a salvação da família em um momento complicado, e eu sabia
o quanto minha irmã devia lutar com a sua doença dia após dia e ver no rosto
angelical um motivo gigantesco para nunca desistir.
— Sou um super pai!
— Nunca mais vai esquecer essa campanha, não é?
— Jamais! A vergonha não me deixa esquecer.
— Vocês só têm ela? — Angie perguntou e ambos sorriram um para o
outro.
— Sim. — Lily respondeu.
— Por enquanto. — Collin rebateu.
E era claro como água que ele estava tentando-a convencer a fabricar mais
um mini Currey.
— O que estamos esperando? — perguntei, antes que não saíssemos dali
durante a próxima meia hora.
Angie conheceria o pessoal e, sinceramente, eu achava que ela piraria.
Eram todos insanos, e isso não era um eufemismo. Principalmente, meu pai e
minha mãe, os piores.
Beatriz a fuzilaria pelo simples fato de não ser uma loira que usava óculos.
Eu sabia.
Angie estava mais para as modelos com as quais eu ficava antes, diferente
de como minha mãe acreditava que deveria ser.
— Nada. Vamos lá!
— Estão todos em casa?
— Sim. Sempre nos reunimos no fim de semana.
Minha irmã olhou para mim novamente e com isso eu entendi que ela
queria conversar. Sobre o que eu já imaginava, tanto que ela relanceou o olhar
para Angie que andava distraída.
Movi meus lábios dizendo para ela deixar para depois e recebi um aceno
em resposta.
O problema foi chegar na mansão e entender porque ela queria tanto
conversar. Os cabelos loiros, balançando, a altura, não me fariam duvidar nem
por um instante de quem se tratava. Ela estava de costas, mas não precisava estar
de frente para que eu a reconhecesse.
Mia chamaria minha atenção até mesmo no inferno.
Não importava que eu segurasse a mão de outra mulher, não importava que
tivesse colocado um anel na mão de outra mulher. Meu coração não queria saber
de nada disso e, simplesmente, decidiu bater descompassado e assim que ouviu a
sua gargalhada, praticamente teve uma sobrecarga, batendo freneticamente.
— Filho! — Minha mãe gritou logo que me viu, correndo na nossa direção.
Me abraçou apertado e olhou para a mulher ao meu lado.
Só aquele olhar já me fazia ter calafrios, imaginava que Angie não estava
muito melhor.
— Quem é essa? — perguntou e eu senti o aperto na minha mão se
intensificar.
— Essa é Angie, mãe, minha noiva.
— Noiva?
Ela perguntou e fazia sentido, eu não contara para ninguém. Talvez nem eu
acreditasse naquilo ainda.
— Não contou para a sua mãe?
Agora quem engoliu em seco fui eu, com todos os olhares voltados para
mim, inclusive olhos azuis inocentes que há tanto eu já não via.
Mia me encarava séria e eu não consegui desviar ou disfarçar, parecia que
nós dois éramos os únicos presentes.
— Eu não achei que contar por telefone ou vídeo chamada fosse legal.
E essa era mesmo a verdade.
— Tem razão. Mas poderia ter nos avisado que traria alguém!
Aquela frase tinha muitos significados ocultos, como: A Mia não estaria
aqui se soubéssemos disso, devia ter no mínimo avisado. E pra começar, quem é
essa? Voltou para os velhos hábitos? Eu não te criei pra isso, Ty!
— Desculpe, mãe, deveria ter avisado. — Meu olhar se voltou para Mia
novamente e ela ainda me encarava em choque.
E aquilo mexia comigo.
Ainda mexia.
Na mesma intensidade.
Olhei sua mão e a aliança ali era clara. Ela estava casada, como Lily deixara
escapar sem querer quando eu já estava no Japão e nenhuma notícia jamais me
doera tanto.
Foi por esse motivo que decidi realmente seguir em frente, tentando
esquecê-la e quando eu menos esperava, Angie apareceu e se tornou o que eu
precisava no momento, fazendo com que eu me tornasse o que ela queria.
O útil se unindo ao agradável.
Mesmo que por motivos egoístas.
— Deveria mesmo.
— Se o problema for não ter lugar pra mim, posso procurar um hotel... —
Angie falou, tentando aliviar o clima.
Mal sabia ela que o problema não era esse.
— Claro que não, querida! Nós temos muitos quartos aqui e,
provavelmente, vai querer ficar com o Tyler, certo? — Minha mãe falou e
tentava apenas ser educada.
Quando ninguém estivesse por perto, meu coro seria arrancado comigo
ainda vivo.
— Beatriz, eu já vou indo, passo amanhã na livraria. — Mia se uniu a gente
e falou baixo, no mesmo tom que eu me lembrava.
Não olhou mais para mim e eu tentei com todas as minhas forças não olhar
para ela.
— Claro, vamos adorar! Tenho um livro novo que é a sua cara, não me
deixe esquecer de pegá-lo pra você, tudo bem? — Minha mãe falou com um tom
totalmente diferente com ela.
Angie devia pensar besteira, qualquer uma pensaria.
Minha mãe tendia a criar relações afetivas com quem ela combinava, e
Angie não era bem o tipo de garota com a qual minha mãe teria amizade na
faculdade, Mia sim.
— Não vou deixar! Agora preciso ir... Se despeça do Josh por mim? — Ela
pediu e minha mãe confirmou com um aceno.
— Até amanhã.
Mia saiu de perto da gente e eu a acompanhei com o olhar até que tivesse
passado pela porta, sem olhar em nenhum momento para trás.
— Tyler? — Minha mãe perguntou e eu a encarei.
Não fazia a menor ideia do que tinha falado.
— Quanto tempo vai ficar aqui?
— Umas duas semanas.
— Só?
— Sim, preciso voltar, mãe.
— Nós precisamos. — Angie falou e só eu percebi o olhar feio que recebeu
da minha mãe.
— Vão se casar quando?
Engasguei.
Com nada!
Eu engasguei sem estar comendo ou bebendo merda nenhuma!
Recebi um tapa forte nas costas e já imaginava quem o tivesse dado.
— O que aconteceu, Ty? — Meu pai perguntou e eu engoli em seco.
Meu pai era tão bom quanto minha mãe para descobrir as coisas.
— Nada.
— Eu perguntei quando ele vai casar. — Mamãe comentou e eu olhei para o
teto. Amaldiçoando o dia em que decidi ceder aos apelos da Angie e a trazer
para conhecer minha família.
— Tyler vai casar? — Meu pai perguntou assustado e a história começava
novamente.
Todas as explicações e motivos.
A noite seria mesmo muito longa.
A CADA NOVO livro finalizado, a felicidade aumenta. É uma história a
qual eu dou adeus, mas uma história que ficará viva na mente das leitoras.
Chegar no quarto livro da série Boston Globe e vê-la conquistando as
leitoras não tem preço! E só posso dizer que o amor que sinto pelos meus
personagens, coloco em cada linha, esperando que eles toquem o coração de
quem lê de alguma forma. Essa é a magia da escrita! E eu amo como ela me faz
sentir! O que não seria possível sem muitas pessoas que se envolvem nos meus
projetos comigo e vivem os meus sonhos ali, lado a lado.
Queria agradecer a todas que me apoiaram na plataforma Wattpad, sempre
comentando, incentivando, apontando melhoras e fazendo parte da minha vida
de alguma forma! São as melhores pessoas que eu poderia conhecer e me sinto
extremamente grata por essa dádiva!
Meu imenso carinho à todos que se envolveram com esse livro e foram
responsáveis por agora ele estar tão perfeito quanto eu imaginava! Sei que cada
uma que colocou seu esforço, seja em diagramação, capa, revisão e afins foi
fundamental para toda essa conquista! Meu mais sincero obrigada!
Por último, mas não menos importante, queria dizer o quão motivador foi o
apoio dos meus pais, Sandra e Edimarques, assim como do meu namorado
Anderson; que mesmo após todas as horas perdidas ao meu lado enquanto eu
escrevia, manteve-se ali, acreditando em mim como só um homem apaixonado
poderia fazer.
Muito obrigada por tudo!

Cinthia Basso
Te prometo ser a única
Trilogia Tudo de Mim I
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Sinopse
Bonito, rico e agradável. Thom nunca ficava sozinho. Mas o que ele mais
desejava estava fora de seu alcance: Lara. Sua prima adotada que o tratava como
um irmão. Para ele não tinha coisa pior do que amar e não ser amado.
Lara. Inteligente, meiga e querida por toda a família, tinha somente um
segredo, que escondia de tudo e todos. Inclusive de seu primo.
Quando a verdade vier á tona, será que Thom continuará a amá-la? Pode
um amor ser tão forte a ponto de sobreviver a barreiras e crenças? São perguntas
que serão respondidas por si mesmo, em meio a tantos conflitos e verdades não
ditas, emocionando-nos a cada passo dado em busca da felicidade.
Um império onde riqueza e poder não podem comprar o que há de mais
importante no mundo: o amor.
Te darei o mundo
Trilogia Tudo de Mim II
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Sinopse
Stephen Cooper é um dos homens mais sedutores de Nova Iorque, e pode
ter certeza que ele se aproveitou disso. Ficando com quem ele quisesse e
desejando quem ele pudesse. O grande problema, é que ele amava uma mulher
que não lhe pertencia, e por isso, incentivou-a a viver um amor que não era o
dele. Ficou sozinho e com o coração partido, sem expectativas de nada melhor
para o futuro.
Eva Barnes é uma mulher batalhadora que nunca conheceu coisas fáceis na
vida. Sofreu e sofre nas mãos de um pai bêbado, que se mantêm às suas custas,
enquanto ela ainda cuida da pequena filha de quatro anos. Ela não se considera
uma mulher de futilidades, mas ao conhecer Stephen, pensa duas vezes na
possibilidade de se deixar levar por um homem tão charmoso. Afinal, ela já caiu
nesse truque e saiu despedaçada ao final.
Ambos guardam segredos entre si, mas durante a noite, eles não precisam
ser revelados, precisam?
Dois corações quebrados, duas almas em busca do amor. Podem estes dois
encontrar o que tanto procuram um no outro?
Jamais duvide do destino e jamais subestime o amor.
Te farei minha
Trilogia Tudo de Mim III
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Sinopse
Andy é a típica garota texana, que usa botas e chapéus, tem uma Silverado
onde toca somente músicas cowntry, e, claro, como na maioria das histórias de
mulheres sulistas, tem um cowboy!
Hardy é seu sonho adolescente. Uns bons anos mais velho, e muita
experiência na arte de seduzir, ele nem mesmo presta atenção na mulher que vive
a salivar litros por sua causa. E como se já não bastasse isso, após sair com sua
irmã mais velha, Andy pareceu realmente sumir do mapa para ele. Mas ela
cansou de ser ignorada, e esse verdadeiro homem de Dallas mal sabe o que o
espera.
Muitas brigas, ciúmes e umas boas pancadas da vida, vão provar que o
Texas se tornará pequeno para conter o desastre iminente de Hardy e Andy,
prestes a descobrirem o amor.
Sadie e Max
Conto
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Sinopse
Sadie e Max são duas pessoas que não acreditam no amor. Por motivos
diferentes e realidades opostas. Mas, e se em um olhar tudo mudasse? Eles estão
prestes a se surpreenderem e descobrirem um dos caminhos que levam ao amor.
Meu astro do basquete
Série Boston Globe, livro 1
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Sinopse
Beatriz é uma bibliotecária simples e maluca, que sonha em ficar frente a
frente com o lendário astro do basquete, Josh Currey. Quando uma reviravolta
acontece e tudo se encaminha para um final desanimador, ela se surpreende em
como o destino pode pregar peças e virar toda a nossa vida de cabeça para baixo.
Josh por outro lado, está aproveitando seu momento, tanto para se
consagrar, como para ajudar as pessoas as quais tem a oportunidade de ajudar. É
um homem decidido e que sabe a responsabilidade que carrega nas costas,
adorando um bom jogo e aceitando todos os desafios à ele impostos.
Mas, será que ambos se encontrarão em meio a tantos empecilhos, dentre
eles, a fama mundial do jogador?
E se o passado conter tudo o que procura para o futuro?
Nesse jogo da vida ambos descobrirão que um vencendo, os dois se tornam
campeões!
Antes do sucesso
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Sinopse

Allan James é um dos jogadores mais famosos da NBA. Todos querem estar
ao seu redor por causa do seu jeito humilde, e o adoram pelo seu bom humor. No
entanto, o que ninguém percebe, é que debaixo de tudo isso, ele esconde suas
mágoas e tristezas, tentando afastar memórias de alguém que um dia fora
insubstituível.

Roselyn Stewart é uma pacata bibliotecária que não se preocupa ou se


interessa por fama nem atenção, mas sua vida vira de pernas para o ar quando
James, o famoso jogador, se infiltra no seu mundo tranquilo, sem ao menos pedir
permissão. Com seu jeito brincalhão e irresistível, ele mexe com seus
sentimentos e a deixa confusa, fazendo-a repensar tudo o que acreditava sobre os
homens.

Ninguém sabe, mas o passado de ambos pode estar mais perto do que
imaginam, e só eles poderão escolher os caminhos para o futuro.

Pode o presente ser mais importante que o passado? E se o passado bater à


sua porta, você o manda embora ou o convida a entrar?
Na marcação do amor
Série Boston Globe, livro 3
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Sinopse

Silas Johnson é um homem tranquilo, que sempre quis encontrar alguém


com quem pudesse contar. Não têm muitas ambições, é o mais romântico dos
seus três amigos e não se importa com as piadas ao seu redor. Afinal, como
dizem, Silas é o Silas e todos sabem o quão romântico ele é capaz de ser.

Diane Kannemberg por outro lado, é uma jornalista esportiva brasileira, que
sabe o que quer e isso inclui se sair bem na sua profissão, sem ficar à sombra de
ninguém. Odeia como os astros acham que podem ficar com todas as mulheres
do planeta e, principalmente, odeia a confiança com a qual eles falam com ela.

Silas sabe que ela vai ser dele.

Diane só pensa em quão idiota ele é por pensar isso.

Os dois vão acabar perdendo e descobrindo que na marcação do amor, o


que menos importa é vencer.
Raio de sol
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Sinopse

Suellen Carvalho nasceu em Ventura, mas seu sonho fez com que saísse da
cidade sem olhar para trás, com o intuito de estudar e se tornar a escritora que
tanto queria ser. Agora, com um bloqueio literário, ela está de volta e se
surpreende ao notar que Vince, seu amigo de infância, se transformou de garoto
franzino para um peão sexy, com um sorriso digno de fazê-la delirar.

Vincent D’Ávila é filho do fazendeiro mais conhecido da região, herdeiro


da fazenda Raio de sol e um dos brutos mais cobiçados de Ventura. Com a volta
da única mulher que sempre mexeu com os seus sentidos, Vince terá que
escolher entre se render ao sentimento adormecido, ou trancafiar de vez tudo o
que Suellen lhe desperta, e ela, por sua vez, terá que se decidir entre ir embora
novamente ou atender ao pedido do seu coração.

O tempo os separou.

Mas existiria algo mais forte capaz de uni-los?


UMA MOÇA DO interior que viu nos livros a oportunidade de viajar
sem sair do lugar. Engenheira civil, recém-graduada, que sonha pelas linhas de
livros sem ter a menor vergonha de admitir isso.
Adora Einstein, Tesla e todos os cientistas capazes de criar teorias
consideradas absurdas de ideias adversas.
Pensa que todos nós somos capazes de conquistar nossos sonhos, e que o
nosso maior inimigo somos nós mesmos. Afinal, nada cai do céu e não podemos
ficar parados esperando que as coisas aconteçam sem qualquer esforço para isso!
Cria diversas estórias através das mais diferentes inspirações, não escreve
sem estar ouvindo uma boa música e costuma colocar sempre um pouco de si
nos personagens.
Enfim, essa é Cinthia Basso, uma mulher de vinte e três anos com o
romantismo à flor da pele, que não busca nada além da sua própria felicidade.
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Notas
[←1]
Major League Baseball, liga de beisebol profissional nos Estados Unidos.
[←2]
Rebatida no jogo de beisebol, na qual o rebatedor consegue percorrer todas as bases. Os jogadores
com mais Home runs na carreira são os mais bem pagos dos times.
[←3]
Isso parece perfeito!
[←4]
Série final do campeonato de beisebol.
[←5]
Parque em Boston.
[←6]
A maioria das mulheres não resiste nem às primeiras palavras.
[←7]
Por favor, não fale em italiano. Eu sei apenas algumas coisas.
[←8]
Jogador Mais Valioso (Most Valuable Player)
[←9]
Processo de alocação de jogadores em determinada liga profissional.

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