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Não voltei depois disso, com o medo dominando todas as minhas ações e
me fazendo regredir em tudo o que havia conseguido em poucas horas.
Meu castelo de mentiras ruindo em questão de segundos, enquanto eu me
afundava novamente na doença.
A vontade de vomitar apareceu e eu a abracei como se fosse a minha
salvação, quando na verdade, ela só provava o quanto eu era fraca. Coloquei
para fora toda a minha raiva e medo.
Coloquei para fora toda a confusão que se instaurara em mim.
Coloquei para fora a vergonha por ter falado que o amava e ele fingir que
não era nada.
Coloquei para fora a decepção pela mulher que eu havia me tornado.
E por último, o fracasso por não conseguir ser metade do que precisava ser.
Sentei no chão do banheiro e chorei com amargor, sentindo as lágrimas
descerem livres pelo meu rosto, deixando um gosto salgado quando alcançavam
minha boca.
“Um beijo?
Ai, meu Deus, vadias me abanem!
Essa Currey está cada vez mais assanhada! Onde já se viu, partir pra outra
liga? Com alguém completamente fora do seu radar, inclusive? Só tenho uma
palavra para tal ato: egoísmo, nosso bom e velho egoísmo! Como se não
bastasse tudo pelo que temos que passar com esses homens mais ou menos,
sabendo que deus gregos andam pelo mundo como se fosse o Olimpo! Levando
doidas que não somos nós aos limites do céu!
Eu não mereço essa frustação!
Não, não mereço!
Preciso de alguém que também saiba usar o taco que tem, porque tamanho
sem aplicação de força para nada serve!
E sabem do que estou falando, não sabem? Daquele beijo de desentupir pia
em uma boate brasileira! Não quero levantar assuntos polêmicos agora, mas
que o beijo foi de arrasar, isso foi!
Vou até ligar pra diva C. depois dessa e gritar, querendo saber tudo!
Me invejem!
Sim, eu converso com o quarteto de mulheres maravilhas do basquete e só
tenho uma coisa a dizer:
QUANDO ELAS MENOS ESPERAREM, EU VOU ESTAR LÁ COM O
HOMEM DELAS!
Não custa nada sonhar, ainda bem!”
por Stephen Pharrell.
DIRIGI SEM DESTINO. Parando nos sinais e esperando que de uma hora
para outra tudo se tornasse mais fácil.
Me arrependia por ter corrido, mas eu realmente não sabia o que fazer.
Eu lembrava dos nossos instantes juntos como se fosse hoje e das outras
mulheres esquecia a maioria. O que isso provava?
Que eu pensava mais nela do que em qualquer outra pessoa no mundo.
Cancelava eventos para poder acompanhar a maioria dos seus desfiles.
Ficava com o celular na mão durante a pausa nos treinos só para poder
ouvir a sua voz no instante em que me ligasse.
E cerrava as mãos quando notava algum homem a olhando com segundas
intenções.
Que merda isso provava sobre a gente?
Provavelmente, que eu era tão maluco por ela, quanto ela por mim, só
covarde demais para admitir.
E se ela arrumasse alguém?
E se Lily me deixasse de fora da sua vida?
Nunca nenhum pensamento me doera tanto. Era como se eu perdesse meu
chão e me visse caindo de uma ponte no meio do nada, com o concreto me
aguardando para acabar de vez com tudo.
A dor era lancinante.
O desespero frustrante.
5
Parei o carro em um lugar perto do Boston Common e fui caminhar no
meio do verde. Olhando as pessoas e me perguntando há quanto tempo eu não
fazia algo assim.
As mãos nos bolsos demonstrando o quanto eu me mantinha preso para
novas ações.
Precisava voltar e pedir desculpas. Acima de tudo, precisava voltar e falar
que também sentia algo por ela.
Eu a amava?
Como eu saberia definir o que era amor?
Não tinha manual para isso e só sabia que não conseguia me ver sem ela.
Andei por vários minutos e decidi ir até a casa dos nossos pais e perguntar
para pessoas que realmente poderiam me ajudar. Gloria não aparecera, mas ela
não tinha essa obrigação, estava visitando a família e merecia descanso.
Agora, as únicas pessoas que me dariam um rumo eram justamente as que
me matariam por ficar com a filha deles.
***
— Pai, mãe, estão em casa?
Entrei, perguntando, com o silêncio em resposta.
Segui até a área da cozinha e vi os dois entretidos em alguma revista. Assim
que cheguei perto, a fecharam em uma velocidade gigantesca e ficaram com cara
de espanto.
Estranho.
— O que aconteceu?
— Nada. Nada não, Collin. — Meu pai respondeu, mas parecia ter engolido
um sapo que havia entalado na sua garganta.
— O que estavam lendo?
— Uma coluna de fofocas...
— Pharrell? — perguntei porque a dele era a mais famosa e o homem
praticamente amava a nossa família. Tanto que éramos os assuntos centrais das
suas palavras.
— Não. Não é do Pharrell...
— Então, por que estão com essa cara?
— Que cara? — Josh perguntou e me olhou sério, sem qualquer sombra de
sorriso.
— Esquece. Eu preciso falar com vocês.
— Senta aí. — Ele apontou a banqueta em frente ao balcão e se sentou ao
meu lado, com a Beatriz apoiada na minha frente e olhando também de forma
curiosa.
Respirei fundo.
Muito fundo.
— Fiquei com a Lily.
— Já sabemos. — Ele disse e abriu novamente a revista na página em que
estavam olhando e a minha foto beijando-a era melhor do que eu poderia
imaginar se considerando a escuridão na boate.
A pessoa era boa.
Não tinha nem como falar que não era a gente. E eu nem queria mentir
mais. Fora ali justamente para fazer o contrário.
— Por isso fecharam com pressa.
— Foi.
— Não estão bravos? — Perguntei porque a atitude deles não condizia em
nada com o que eu esperava enfrentar.
Estava pronto a enfrentar tudo e todos para ficar com ela.
Mesmo que precisássemos viver apenas nós dois por um tempo.
— Collin, nós já sabíamos, antes que tudo isso acontecesse... Só estávamos
esperando o momento em que notassem. Por isso, sua mãe não gostava que
trouxesse mulheres em casa e por esse motivo eu não gostava do Ross. Vocês
não estavam felizes e nós que os amamos, só queremos isso, a felicidade das
pessoas mais importantes das nossas vidas. Não importa com quem, só nos cabe
respeitar a escolha de vocês! Claro, que serem irmãos, mesmo que adotivos
complica as coisas, mas duvido que isso nunca tenha acontecido no mundo
inteiro.
Eles já tinham percebido?
E nunca falaram nada?
O diálogo dos dois quando voltei para casa veio na minha cabeça e agora
entendi porque eles falavam sobre ela evitar aparecer e sobre o que Tyler sabia.
Antes de qualquer pessoa falar, eles já estavam cientes.
Nós que éramos idiotas o bastante e pensamos o contrário. Essa novidade
seria surpresa até mesmo para o Tyler, que costumava saber de tudo.
— Não via como ela o olhava machucada quando entrava com alguma
mulher e aquilo me matava como mãe. Era como se eu pudesse sentir a dor dela.
Sentia raiva daquelas mulheres e a única solução que eu encontrava era proibir a
entrada delas em casa, que você sem perceber nada, ignorava como se fosse uma
paranoia minha.
Olhei para o Josh que estava pensativo e balançava a cabeça concordando
com a mulher.
Como eu conseguira ser tão cego e não notar que eu só a machucava?
Como pude achar que aquela raiva que eu tinha por Ross era apenas porque
não gostava dele? A verdade era que sentia ciúme, um ciúme absurdo e para
mim ele não a merecia, porque quem queria ficar com ela era eu. Mas aí estava o
grande problema, eu não era muito melhor do que ele.
— Por que nunca me disseram?
— Tinha que perceber. — Beatriz me olhou no fundo dos olhos e eu podia
jurar que ela estava lendo minha alma.
— Mas, eu não sei se a amo.
Os dois permaneceram quietos e olharam um para o outro, uma troca muda
de cumplicidade. Provavelmente, pensando o quão estúpido eu era.
— Não tem como definir o amor, filho. Ele só acontece no momento que
tem que acontecer e quero que saiba que os apoiaremos, mesmo que tudo se
volte contra vocês por causa do que julgam “imoralidade”.
— Como vou saber?
— Sobre o quê? — Josh perguntou.
— Sobre o amor.
— Sua dúvida só prova que você já sabe.
A dúvida provava?
E eu estava mesmo tão confuso quanto imaginava estar ou era somente um
plano de defesa que bolara para me enganar?
— Mas e se eu a machucar?
— Quebro as suas pernas, garoto, e faço voltar rastejando pro seu
apartamento. Não é porque é meu filho que pode machucar minha princesa! —
Ele parou um pouco de falar e ficou pensativo. — Isso soou confuso, que bosta!
Mas você entendeu.
Claro que sim.
— Vou tentar não o fazer, então.
— Vai conseguir. Tentar não adianta nada quando não se consegue e se
tratando da Lily, eu não quero falhas, já avisei o que te acontece se chateá-la
ainda mais e levar o plano de jogo ralo abaixo.
Balancei a cabeça em um aceno e olhei para minha mãe, que mantinha um
sorriso compreensivo no rosto.
— Vocês são demais, já disse isso?
Realmente eram. Os melhores!
— Não, todos esses anos só nos deu foi trabalho. Acho que vou tirar férias
com a sua mãe, um mês em um lugar paradisíaco pra gente descansar dessas
frustrações.
Eu gargalhei e eles também, me deixando com o pensamento de quão
ignorante eu fui por achar que não entenderiam.
Sabiam antes mesmo da gente.
Devia estar tão claro assim para as pessoas que nos olhavam?
Com certeza. E agora entendia o motivo para todas as mulheres com as
quais saía terem ciúmes dela.
Lily era a mulher da minha vida e nenhuma outra teria capacidade de
competir, porque não havia competição. Sempre tinha sido ela.
Eu só era relapso demais para notar.
— Acho que vou nessa. Preciso conversar com ela.
— Demorou pra sair. Fecha a porta! — Josh gritou quando eu já estava
longe, correndo até o carro, querendo chegar até ela o mais rápido possível.
Só conseguia torcer para não tê-la feito se sentir pior. Precisava de um
tempo sozinho para perceber a verdade e precisava de um tempo sozinho para
notar o quão importante e especial ela era para mim.
Agora que eu notara não voltaria mais atrás.
Nem mesmo que precisasse suar para provar meu ponto.
— PODEMOS DAR UMA volta, Ty? Não aguento ficar aqui.
Precisava respirar um pouco e agora que meu irmão sabia do meu
problema, a sua presença apenas aliviaria a minha dor.
Parecia um pouco mais fácil agora e talvez Sharon tivesse razão, e o que eu
precisava era contar para minha família e ter a força deles me ajudando.
Um fardo se tornava mais leve quando várias pessoas o carregavam. No que
dependesse do meu pai e minha mãe, eles levariam sozinhos e me deixariam sem
nada, sabia disso. Me amavam e era egoísmo meu deixá-los na escuridão, sem
saber o que acontecia de verdade na minha vida.
— Podemos.
Meu irmão disse e pegou o celular, olhando o visor e me perguntando
silenciosamente se atendia ou não Collin.
— O que ele quer?
Estava esgotada emocionalmente e não ajudaria em nada mais um dilema
para lidar nesse instante.
Collin tinha escolhido que lado seguir, assim como eu.
— Não sei. Mas tá ligando que nem um maluco.
Se fosse para pedir desculpas, nem precisava. Depois que inventaram essa
palavra todo mundo achava que poderia sair magoando as pessoas, porque era só
dizer desculpa, eu sinto muito, ou algo do tipo, que toda a mágoa simplesmente
evaporaria.
Meu celular em cima da cama, começou a vibrar também, deixando claro
que ele não desistiria de ligar.
Enfrente ou em frente?
Eu achava que no momento enfrentar poderia ajudar. Já tinha criado
coragem e falado o que realmente sentia, nada seria muito pior. Mas primeiro, eu
o deixaria que nem um idiota ligando sem parar, para poder aprender de uma vez
por todas que nem tudo o que ele queria acontecia na hora que desejava.
— Vai atender? — Ty perguntou, provavelmente querendo que eu o fizesse
para o Collin parar de infernizá-lo por mensagem.
— Depois.
— Certo. Vou desligar meu celular, então.
Fiz o mesmo com o meu. Sem o menor remorso.
— Acho que ele vai ficar desesperado.
— Que fique, te garanto que merece!
— Quanta revolta!
— Não é, Ty, não é revolta! É só questão de parar de ser ingênua.
Ele revirou os olhos e sorriu, entrando no seu carro, para darmos a volta que
precisávamos.
Meu celular queimava na minha mão e a vontade de ligá-lo e ver se Collin
ainda tentava me contatar era imensa, maior do que a força de vontade para
ignorá-lo.
— Eu se fosse você ligaria, não custa nada. Pode ser que ele não queira só
pedir desculpa...
— Como sabe?
— Ele foi em casa, papai me mandou mensagem falando, um pouco antes
que eu desligasse o celular.
E Tyler ainda achara que essa informação não era importante o suficiente
para ser compartilhada?
— E por que não me contou?
— Mudaria alguma coisa?
— Mudaria tudo!
O que Collin tinha dito para os nossos pais?
O medo se apossou de mim e tentei lembrar de tudo que ele poderia ter dito,
se é que dissera alguma coisa. Mas, por que o desespero dele em falar comigo se
não fosse isso?
Liguei o celular no mesmo instante, torcendo para que nada de ruim tivesse
acontecido. Já me bastava os meus demônios, ter que lidar com outros não seria
nada bom.
— O que acha que aconteceu?
— Acho que ele foi dar alguma desculpa para sumir da cidade. Collin saiu
transtornado do meu apartamento e duvido que ele ainda queira ficar perto de
mim depois do que revelei. Não posso deixar que isso aconteça, Ty. Não posso
interferir na vida de todos dessa forma.
— Você não fez nada demais. — Meu irmão falou baixo, sem deixar de
prestar atenção no sinal fechado à nossa frente, tentando me confortar.
Pena que minha consciência não pensava da mesma forma.
— Foi culpa minha, Ty. Eu que comecei tudo isso.
— Não foi. Ainda vão se entender, e qualquer coisa até esse passo vai se
tornar dispensável.
— Tem um positivismo invejável.
— Puxei da mamãe, pelo menos isso.
Eu gargalhei. Era verdade.
O aparelho começou a vibrar na minha mão e o atendi prontamente, tensa e
preocupada com o que Collin teria a dizer.
— Oi.
— Lily, onde você tá?
— Dando uma volta com o Ty.
— Onde?
— O que aconteceu? Ele me disse que falou com a mamãe e o papai...
— Esclareci uns pontos com eles. Preciso falar com você, gatinha.
Precisava falar comigo?
Eu não sabia se estava ouvindo direito, ou era alguma paranoia da minha
cabeça, que desejava tanto que ele me desse atenção.
— Daqui uma hora mais ou menos eu volto, e a gente conversa.
— Espero no seu apartamento.
Ele desligou e eu fiquei com a boca aberta, sem saber o que o deixara tão
determinado.
— Vai ter que contar pra ele hora ou outra também. Se deixar que descubra
sozinho, como eu, pode ser que não tenha chances de se explicar e que tudo
mude drasticamente.
Tyler tinha toda a razão. Mas não conseguia imaginar uma forma de dizer o
que me afligia para Collin sem deixá-lo em pânico e extremamente preocupado.
— Eu sei.
— Ainda quer andar sem rumo? Ou vai voltar para o bonitão?
— O que você decidir.
Queria enfrentar a fera, mas não sabia em qual momento. Uma confusão
completa.
— Vamos voltar, então. Preciso resolver minhas coisas também...
— Não vai mesmo me dizer?
— Não agora.
Era sempre assim, um verdadeiro poço de mistérios, enquanto eu tinha que
dizer tudo para eles.
— Eu poderia ajudar.
— Com certeza, mas no momento precisa se resolver antes. Depois que der
um jeito na sua vida, vai poder me ajudar.
Não sabia se a intenção dele era jogar na minha cara que eu estava tão
ferrada quanto ele, mas foi assim que soou aos meus ouvidos.
— Não estou tão mal assim.
— Não é a questão. O que eu quis dizer foi que precisa focar em você, focar
na sua saúde, ao invés de se distrair com meus casos.
— Tudo bem.
Falei baixo e ficamos ambos em silêncio, retornando para o meu
apartamento, cada um preso nas suas próprias preocupações.
***
Tyler acabara de me deixar na frente do prédio e eu sentia a coragem que eu
achava que tinha, se esvair completamente do meu corpo.
Parei por um instante e olhei a fachada do edifício, logo em seguida, olhei
em volta, respirando fundo e tentando dar os passos que tirariam as minhas
dúvidas. Collin não me parecera alguém transtornado no telefone e isso me
deixara curiosa, porém, meu receio era bem maior que minha curiosidade.
Voltei a caminhar em direção ao saguão, passos apressados e que pareciam
confiantes. Apenas pareciam, porque na verdade eu estava tremendo de nervoso.
Isso não terminaria bem, tinha quase certeza.
Não precisava ter aberto o jogo rápido daquele jeito, agora a confusão
poderia não ser desfeita nunca mais.
Lily, respira, fica tranquila. O que mais ele pode te dizer para magoá-la?
Não é como se sair correndo fosse a resposta que você esperava para começo de
conversa.
Assim que digitei o código de acesso do apartamento, notei o quanto tudo
estava quieto, ao contrário do que eu esperava.
Uma sombra passou pela cortina que separava a sala da varanda e Collin
entrou no meu campo de visão. Com um olhar que eu não sabia identificar ao
certo o que queria passar. Não parecia preocupado, muito menos arrependido, na
verdade, parecia o Collin de sempre, um que se infiltrara no meu coração com o
tempo.
— Desde quando está aqui? — perguntei, engolindo em seco, notando a
forma como ele me encarava fixamente.
Aquele olhar eu nunca tinha visto.
Era totalmente novo e eu não sabia como me sentia em relação a isso.
— Eu falei com o pai e com a mãe. — Sua voz era rouca e meus pelos se
eriçaram ao notar o quanto parecia misterioso e confiante.
— O que falou pra eles?
Perguntei com medo, porque sua resposta poderia mudar tudo.
— Isso! — apontou dele para mim.
Nós.
— Tudo?
— Tudo, gatinha.
— Por favor, não me chama assim, está irritando. Não gosto disso, soa
abusivo, agora mais ainda. Antes eu não me importava muito, mas nesse
momento, me incomoda pra caramba.
— Está nervosa.
— Estou.
— Você fala rápido quando está nervosa. Atropela tudo e quase não deixa a
gente falar!
Dei um sorriso contido, porque era verdade, mas não explicava o motivo
para ele estar ali no meu apartamento com uma aura tão intrigante.
— O que você quer que eu fale?
— Nada. Eu que vim para falar abertamente com você. Contei para eles que
estava confuso e está aí a novidade, já sabiam do que nem eu sabia ainda. É
estranho, mas juro que não estou mentindo.
— Eu sei.
Ele deu passos lentos na minha direção e todo aquele suspense estava me
matando aos poucos.
— Você me ama?
— Sério que quer que eu repita isso? Se for, dê meia volta e vá embora
daqui! — falei irritada.
Não iria repetir aquela vergonha. Nem de longe.
— Como sabe que me ama?
Coloquei as mãos na cabeça, frustrada, prestes a gritar como uma histérica
se isso pudesse afastá-lo de mim.
Collin com a sua presença sufocante estava sugando todo o meu ar e me
deixando em desespero.
— Eu só sei, Collin! Só sei!
— Tinha ciúme quando eu aparecia com alguma mulher?
Que pergunta idiota e eu odiava perguntas idiotas, não respondi e ele
parecia não querer uma resposta.
— Ou quando eu falava delas com você?
Sentei no sofá, estressada e sem paciência, querendo que ele parasse com
essa idiotice.
— Sentia minha falta quando não vinha te ver? Quando estava desfilando?
Quando me ligava e eu não atendia? Ou quando precisava de mim e eu
simplesmente não estava aqui?
— Para com isso, por favor?
Não sabia quanto mais aguentaria e não era uma metáfora dizer que ele
estava pisando no meu coração.
— Lily... Eu sinto tudo isso. E mais... Eu só sinto e percebo agora... Meu
Deus! Eu era tão cego! Tão cego!
Minha boca se abriu em choque e se eu estivesse em pé, provavelmente,
desabaria no chão, desmaiada.
Collin estava admitindo que pensava em mim da mesma forma que eu
pensava nele? Não, não poderia ser, com certeza eu estava ficando maluca e
precisava de tratamento o mais rápido possível.
— O que quer dizer?
Ele sorriu de canto e olhou para a cozinha, apenas evitando que seu olhar
cruzasse com o meu.
— Só que... Eu acho que sou apaixonado por você desde muito tempo.
Meus braços desabaram ao lado do meu corpo, inertes, sem saber o que
fazer ou como continuarem presos ao meu corpo. Eu estava mesmo louca.
Eu estava louca.
Muito louca.
Balancei a cabeça, descrente e senti o sofá afundar ao meu lado, enquanto
eu ainda tentava absorver as suas palavras.
— Isso não é legal, Collin.
— Não estou mentindo, sabe que não minto, Lily. Ou se quiser, posso te
chamar de boneca, nunca chamei ninguém de boneca.
— Odeio boneca também.
— Amor fica melhor, então?
Olhei para ele, tentando identificar qualquer traço de ironia e não encontrei
nenhum. Nenhum.
— Por que?
— Não quero te tratar como as outras, algo que nunca foi.
Aquilo estava mesmo acontecendo?
— É loucura, Collin. Loucura! Só pode estar louco e eu também!
Levantei rapidamente do sofá e comecei a andar em círculos, fora de mim.
Sem saber o que fazer ou o que falar.
Querer alguém tanto que ela te fazia perder o chão era uma coisa e ver isso
sendo realizado sem qualquer probabilidade, deixaria mesmo qualquer uma
maluca.
— Fica calma! — segurou meu braço e me forçou a olhar nos seus olhos.
E por mais que pudesse ser contraditório, isso me acalmou... um pouco.
— Não é como se fosse o fim do mundo. Eu acho que sempre foi você,
Lily. Só não conseguia entender isso na época, a minha sorte é que foi forte o
suficiente e deu o passo por nós dois. Eu quero você, boneca! Quero de verdade!
Não me importei com o apelido besta, não quando as palavras antes dele
foram eu quero você.
— Jura?
— Eu juro pelo que quiser.
Collin me puxou na sua direção e me abraçou. Um abraço apertado que era
muito mais significativo do que qualquer palavra que ele pudesse dizer.
— Amor soa perfeito.
— Que bom, porque não tinha nada melhor em mente.
Ele disse e sorriu no meu pescoço, causando um arrepio involuntário,
enquanto me embalava nos seus braços e tornava tudo mais perfeito do que eu
poderia sonhar.
Estava acontecendo, realmente estava acontecendo e pela primeira vez na
minha vida me senti extraordinariamente completa.
NÃO FOI DIFÍCIL como eu imaginei que seria admitir a verdade. Ela
estava apenas esperando que eu me desse conta, e que não fosse tarde demais.
A noite que passei do seu lado, foi a melhor noite da minha vida, provando
que aquelas partes que eu me lembrava da outra, não chegavam nem perto de
como era a realidade. Lily estava comigo e a sua pele contra a minha, parecia ser
o certo desde o princípio.
— O que está fazendo?
— Seu café da manhã — respondi relaxado.
Por que eu não faria isso por ela?
Costumava ter o hábito de sempre comer algo reforçado antes do treino e o
simples fato de que cozinhava para ela depois de uma noite como a que
passamos, fazia o monstro em mim rugir alto.
Ela era minha e eu cuidaria dela.
— Não como de manhã.
Virei-me na sua direção e apoiei minhas costas na bancada, não acreditando
na maluquice que estava ouvindo. Como raios ela se mantinha em pé?
— Como assim? O café da manhã é essencial!
— Pra mim não!
— Não é à toa que eu consigo te levantar com um dedo! Está muito magra,
aliás, mais magra do que costuma ser.
— Pare de me perturbar! — Ela disse e jogou alguma coisa na minha
direção, errando por pouco.
— E se acerta meu rosto perfeito?!
— Convencido!
Gargalhei e ficamos nos olhando por um tempo, notando pela primeira vez
que as coisas realmente tinham mudado, mas que do errado, passavam longe.
— Quer ver o treino hoje?
Não sabia se ela precisava viajar, mas não custava nada perguntar.
— Pode ser! — deu de ombros. — Mas não vai ser estranho?
Por que seria?
Ela já tinha feito isso algumas vezes, como irmã, mas tinha feito. Não me
parecia algo errado, para que os outros nos julgassem e se o fizessem, no que a
opinião deles mudaria as nossas vidas?
Eu me orgulhava por cuidar das minhas merdas e ficar com Lily era motivo
de orgulho, o melhor que eu havia feito na minha vida desde muito tempo.
— Não acho.
— Pra eles eu sou sua irmã...
— Sabem que sou adotado.
— Sim. Mas ainda assim...
Esqueci o que eu fazia e fui até ela, passando as mãos nos seus cabelos e
puxando seu queixo para que ela olhasse nos meus olhos e visse que eu de fato
não me importava com nada além de nós dois.
— Não importa, amor. Não importa.
— E sua carreira?
— Eu assumo qualquer risco por você.
Realmente assumiria. Se me julgassem por algo assim, só provariam o
quanto eram idiotas e eu já imaginava que os responsáveis pela imagem do time
poderiam até se acharem no direito de vetar alguma coisa, mas o que eles não
sabiam é que eu não concordaria com nada. Nada.
— E se tudo acabar mal?
— Ainda bem que você é modelo e já ganhou bastante dinheiro por nós
dois! Eu mudo pra cá e dirijo aquele seu carro elétrico! — fiz uma careta, eu
odiava aquele carro. — Ou não, prefiro manter o meu.
— Falou o jogador mais famoso da liga!
Eu mantinha uma boa reserva, mas apenas porque o que mais me dava
dinheiro eram os patrocínios. Não que o salário não fosse bom, mas os
patrocínios eram vários e somando tudo, tornavam meu lucro muito maior.
— Não sou não.
— Nunca foi modesto, vai começar agora?
— Mulheres gostam de homens modestos!
— Nunca foi problema pra você antes.
— Porque eu não queria ficar de verdade com nenhuma delas.
A brincadeira no meu tom de voz se esvaiu, transmitindo a sinceridade que
eu sentia emanando de mim. Lily sempre fora a única pela qual eu tentava ser
melhor e quando ela se dizia desapontada comigo, era como se várias agulhas
estivessem me perfurando, o que me fazia sempre procurar um sorriso no seu
rosto.
— É bom nessa coisa.
— Obrigado.
Ela me pegara direitinho e nessa teia eu já estava mais preso do que
considerava possível para sair.
***
— Que sorriso é esse, garotão? — Steve perguntou e eu apenas olhei na
grade, vendo-a perfeita com um boné do time e prestando atenção em tudo e
todos.
— Ah, a irmã gata! — Ele assobiou. Eu me irritei.
— Ela não é pra você!
— Qual é? Lily Currey? Ela é com certeza um sonho da metade da
população masculina do mundo!
Eu sabia disso e definitivamente não gostava. Nem um pouco.
— Está comigo.
— Claro que está, isso a gente sabe! É sua irmã!
— Ela está comigo, Steve. Eu e Lily estamos juntos! — falei baixo,
deixando claro que qualquer palavra errada por parte dele lhe renderia um soco
bem dado.
— Oh, merda! Juntos, tipo transando?
Cerrei minhas mãos, sentindo a raiva querer sair de mim sem que eu
pudesse ter força para controlar.
— Calma, cara! Não foi para ofender! É que foi uma surpresa, tem que
entender!
— Vá a merda!
— Vão assumir isso?
— Vamos. — Eu não sabia se ela queria assumir algo tão cedo, mas eu sem
sombra de dúvidas sim.
Era isso ou ter que morrer de ciúmes a cada investida que ela recebia em
um final de desfile. Meu autocontrole era uma porcaria e tê-lo em provação
dessa forma apenas dificultaria as coisas.
Pelo menos Ross já era carta fora do baralho!
— Boa sorte!
Por que?
Não estávamos fazendo nada de errado.
— Não estou fazendo nada de errado.
— Lily Currey, Collin Currey. Esse sobrenome já dificulta as coisas.
— Sou adotado.
— Sim, mas sei lá, é estranho.
Eu parei de me alongar e olhei diretamente nos seus olhos, mudando
totalmente de passivo para irritado em questão de segundos.
— Eu pedi sua opinião?
Nos encaramos por vários segundos, medindo a força um do outro, sabendo
que se fosse no braço a braço o mais provável era que eu sairia com bem menos
machucados do que ele. Costumava ter fama de esquentado e não era porque eu
evitava conflitos.
— Desculpa, foi mal. — Ele levantou as mãos e saiu de perto.
Melhor para ele, porque eu realmente perdera a paciência e não suportaria
mais ficar perto dele por hoje.
Treinei mais duro do que era de costume, olhando todas as vezes que tinha
chance para onde ela se encontrava, hora apoiada, sentada ou apenas
conversando ao telefone.
Assim que terminei e fui na sua direção, vi Shayla caminhando até ela.
Aquilo daria merda, tinha certeza!
Não fazia a menor ideia do que a mulher queria ali, mas eu não era o
culpado. Nunca dera nenhuma esperança de algo mais e muito menos dera
liberdade para ela ficar indo no treino. Na verdade, ela era irmã de um dos caras
e foi assim que a conheci, e só conseguia torcer para que tivesse ido para vê-lo e
não para me ver.
Nunca temi nada tanto na vida, sentia até mesmo a confusão que isso daria.
— Ei, Collin! — Ela gritou e correu, assim que cheguei na Lily.
Se tivesse um buraco no chão, eu provavelmente me enterraria nele.
— Ela não é aquela da última vez?
Engoli em seco. Lily não era burra e sabia a resposta, mentir estava fora de
questão.
— É.
— A caso complicado? Nenhuma das definições?
Que memória desgraçada de boa!
Como ela fazia isso?
— Essa.
— E o que faz aqui?
— Ela é irmã de um dos caras...
Era a verdade, mesmo que ela não acreditasse.
— E veio aqui por causa dele?
Bem no ponto que eu queria evitar. Era sempre assim, nada seguia o
caminho que eu ansiava que seguisse.
Uma falta de sorte do caralho!
— Não sei.
— Acho que não, ou ela não estaria vindo direto até a gente, não é?
Dei um sorriso forçado, rezando para que Shayla não falasse nada que
piorasse ainda mais tudo. Eu tive muitas mulheres, mas não podia julgá-la por
me olhar querendo me matar, sabendo que faria o mesmo se visse algum cara
com o qual ela ficara.
— Olá, Lily! Collin, eu posso falar com você?
Oh, merda!
— Eu estou ocupado, quem sabe outro dia?
Olhei para Lily, que me fuzilava. Resposta errada. Mas, afinal, tinha
resposta certa? Eu acreditava que não.
— Muito ocupado? É sobre aquela noite... Eu queria dizer que entendo
você...
OH, MERDA!
E eu achando que as coisas não poderiam piorar ainda mais.
— Que noite? — Lily perguntou.
— Bem... — cocei minhas costas, nervoso. — Uma noite... dias atrás...
— Semana passada, Collin! — Shayla falou e minha vontade era de tampar
a sua boca com a mão para que parasse de falar e me complicar ainda mais.
— Quando voltou para casa...
Lily disse e meu semblante com certeza passava a derrota iminente que eu
sentia. Não tinha entendido a confusão em mim ainda e ela precisava saber que
não acontecera nada, justamente porque a única coisa na qual eu conseguia
pensar era nela.
— Não aconteceu nada...
— Vocês estão juntos? — Shayla olhou da Lily para mim e pareceu ter
entendido a merda que estava causando parada e falando coisas idiotas.
— Estamos e você tá atrapalhando. — Falei sério, decidindo que ela não
valia a minha tentativa de ser educado.
— Me desculpem... Eu não sabia. Na verdade, achei que fossem irmãos...
Hoje era o dia para que eu realmente perdesse a paciência e saísse gritando
como um louco que era adotado.
As pessoas pareciam se esquecer desse detalhe.
— Eu sou adotado.
— Claro.
Fiquei olhando para ela, até que se tocasse e saísse de perto da gente. Já
causara estrago suficiente e eu não arriscaria que causasse mais. Pelo amor de
Deus, tudo porque eu finalmente me decidira e escolhera que lado seguir?
— Vai ser sempre assim?
Odiava que as pessoas falassem merda e a fizessem duvidar. Lily deixava
que os pensamentos de quem não importava adquirissem importância na sua
vida, quando na verdade não o tinham.
— Não importa, eu já disse.
— Certo. Podemos ir? Ou ainda tem mais algo para fazer? Alguma mulher
pra dispensar?
Levantei minha sobrancelha e a encarei, imaginando que ela jogaria isso na
minha cara sempre que estivesse chateada.
— Não, vou tomar um banho e já volto! — decidi ignorar a última
pergunta.
Dei um beijo nela, para que qualquer pessoa notasse o motivo dela estar ali.
Não era porque nos conhecíamos desde crianças e fomos criados como irmãos.
Era porque eu era maluco por ela e ela por mim.
Nenhum sentimento afetivo de irmão estava envolvido.
E nenhum julgamento me importaria.
Tomei banho e guardei minhas coisas no armário o mais rápido que pude,
ansiando por estar novamente ao seu lado. Parecia que agora que estávamos nos
entendendo, qualquer tempo longe dela era capaz de me consumir em solidão.
— O pessoal quer falar com você. — Steve disse assim que passou por mim
e eu já sabia de quem ele falava.
Que se ferrassem!
Não iria atrás hoje, não quando me sentia feliz demais para que minha
felicidade fosse jogada no chão e pisoteada.
Deixaria para amanhã, quando eu sabia que ela não viria, pois teria que ir
pra a Itália participar de uma campanha.
Não queria que acabasse ouvindo mesmo que por acidente, a repreensão
que eu receberia. O mais engraçado é que ficar com as mulheres a ponto de
ganhar fama de mulherengo não parecia ser tão ruim para eles como era ficar
com alguém que eu era apaixonado, exclusivamente.
Lily não era minha irmã de verdade, e qualquer pessoa que quisesse poderia
pesquisar e comprovar essa parte da nossa vida.
— Vou deixar isso para amanhã.
Ele balançou a cabeça concordando e eu saí rápido, antes que a galera
percebesse que a minha intenção passava bem longe de conversar. Pela primeira
vez na vida, estava mais preocupado em aproveitar meu tempo do que em como
a minha carreira ficaria.
Eu amava o esporte, mas não sabia se o amava mais do que a Lily.
Provavelmente, não. Quando saí nem olhei para trás, apenas para o lado,
com a minha mão na sua cintura, enquanto sorriamos feito idiotas da minha
explicação de como tinha sido meu desempenho naquela noite com Shayla,
justamente por causa dela.
Da maldita imagem dela, como uma deusa do sexo, impedindo que eu
sequer conseguisse imaginar algo diferente.
Lily tinha me estragado e eu não queria ser consertado se não fosse por ela.
Por que raios eu perdi tanto tempo?
Era o que eu me perguntava, quando abri a porta do carro para ela, com
pressa para me deixar envolver na nossa verdade novamente.
PRECISAVA CONTAR A verdade. Mas e se eu contasse e Collin saísse
correndo, decidindo que eu era complicada demais para ele lidar?
Eu não conseguia nem imaginar como ficaria se algo assim acontecesse.
— Disseram alguma coisa?
Collin estava sorrindo ao meu lado, mas eu conseguia sentir que não estava
me contando tudo e que no treino, algo bem mais chato do que Shayla falando
idiotices tinha acontecido.
— Nada demais.
— Sobre a gente...
— Vai nos jogos que puder, não vai? Não tem porque me evitar agora que
estamos bem.
Não tinha mesmo e eu poderia dar um jeito para ir na maioria, inclusive.
Quanto mais tempo eu tivesse perto dele, melhor.
Deixei que a sua tentativa de mudar de assunto fosse bem sucedida,
respondendo à pergunta.
— Vou sim.
— Bom.
Collin pegou na minha mão, enquanto dirigia e aquele simples gesto foi
capaz de inundar meu coração com sentimentos bons. Uma sensação de conforto
e de estar realmente no lugar certo.
Sabia que com a minha carreira não teríamos tanto tempo, mas agora que eu
ficava ansiosa para encontrá-lo, ao invés de temerosa, poderia cancelar algumas
coisas que me empenhei em fazer apenas para ficar longe de casa. Não precisava
mais disso.
— Eu evitava vir por causa de você.
— Imaginei. Não era coisa da minha cabeça então... — Ele falou pensativo
e eu notei que não era mesmo tão boa em disfarçar como pensava.
— Aparecia cada vez com uma mulher diferente, só uma doida adoraria
essa tortura. Preferia estar o mais longe possível.
Se fosse ele no meu lugar, faria a mesma coisa.
— Entendo. Me desculpe por isso.
— Não precisa, passado não merece ser relembrado! — Ele mesmo me
dissera isso várias vezes no decorrer dos anos quando eu teimava em lembrar as
coisas ruins que aconteceram comigo.
— Essa frase é minha!
Sorri, sabendo que não importava o tempo que passasse, as coisas que
fizemos juntos seriam mantidas para sempre nos nossos corações.
— Foi muito boa.
— Acho que ouvi em alguma música, mas agora tanto faz, não lembro
mais.
— E você me fez acreditar que tinha sido você, seu idiota!
— Não disse que tinha sido eu, você que supôs!
— Não vale nada, Collin!
— Eu nunca disse que valia! Mais um erro de suposição da sua parte.
— Eu sempre erro nas minhas suposições, não é?
— Com certeza! Assim como aquela vez no colégio quando achou que eu
tinha dormido fora, na casa de uma das meninas.
— Verdade, você estava fazendo minha surpresa.
— Aquela caixinha deu um trabalho do caralho, se não sabe!
Eu tinha aquela caixinha com fotos nossas até hoje. Era um recorte dos
nossos momentos, colados um ao lado do outro e dentro, várias repartições para
eu colocar as minhas coisas “de forma organizada”, como Collin havia dito uma
vez que vira a bagunça de brincos e colares no meu closet.
A verdade é que eu era desorganizada e aquela caixinha era linda demais
para usar dessa forma. Acabou que minhas coisas ainda estavam bagunçadas e a
caixinha ficou guardada no meu armário desde então. Só a tirei quando mudei
para o apartamento, sendo a primeira coisa que lembrei de levar comigo.
— Ainda está guardada e dentro estão aquelas cartinhas que a gente
trocava.
— Guardou isso?
— Guardei. Qual o mal nisso?
Eram parte de mim e eu adorava relembrar como tudo era simples antes de
me tornar adulta e ter várias coisas com as quais lidar.
— Nada. É que também guardei. — Ele disse e deu de ombros.
Como assim ele tinha guardado?
Se eu achava que não conseguia sorrir ainda mais, estava completamente
errada.
— Está brincando!
— Não estou não! Vamos lá que eu te mostro!
— Nunca achei! E olha que eu já entrei no seu apartamento mais vezes do
que posso contar.
— Eu escondi bem! Muito bem!
— No cofre?
— Lógico. Não queria que as pessoas encontrassem aquilo! Não era algo
que eu poderia guardar na gaveta de cuecas ou lugar parecido.
Para mim não parecia tão importante assim.
— Exagerado.
— Onde guardou as suas?
— Estão dentro da caixinha no meu closet.
— Não levava muita gente pro seu apartamento, por isso. Acho inclusive
que nunca deu uma festa por lá.
E não dera mesmo. Eu quase não ficava lá para pensar em festas. Quando
dava sorte e tinha uns momentos de descanso, pegava um livro e me sentava
para ler calmamente, agradecendo por não ter ninguém por perto para me
atrapalhar.
— Não. Sabe que não.
— Pois eu dei várias e não queria que sumissem com as minhas coisas. Já
encontrei pessoas perdidas no meu closet e se deixasse lá, sumiriam assim como
algumas coisas que até hoje não sei onde foram parar.
— Não gosto de imaginar pessoas que não conheço no meu apartamento.
— Eu não me importava.
— Entendo.
Chegamos no prédio onde ele morava e assim que acessamos o elevador,
Collin pressionou o botão da cobertura, digitando a senha numérica que eu
decorara desde o momento em que ele comprara o lugar.
— Eu mudei algumas coisas desde a última vez que esteve aqui. — Ele
falou assim que cruzei a porta e as mudanças eram claras.
O imenso sofá branco que antes ficava na sala de estar dera lugar a dois
menores, da mesma tonalidade, mas que deixavam o espaço maior. Assim como
o restante da decoração era minimalista e tornava tudo muito mais belo de se
admirar.
Atrás dos sofás, haviam três imensos quadros. Um do meu pai, em um jogo
de final de temporada, com o troféu na mão, outro do Collin na World Series do
último ano, da qual saíra campeão e o terceiro, por mais incrível que pareça, era
meu. Eu estava desfilando e não me lembrava ao certo daquela imagem, mas eu
parecia muito mais bonita do que acreditava ser, muito mais sedutora também.
Um retrato tão diferente do que eu fazia de mim.
O sorriso que se abriu no meu rosto foi involuntário.
Collin mantinha um quadro com a minha foto na sua sala.
Uma foto gigante minha.
Não de outra mulher, mas minha.
— Mandei fazer ano passado. Queria te mostrar, mas você praticamente não
parava por aqui...
— Como conseguiu?
— Mamãe. Ela tinha uma versão menor, pedi para um cara aumentar e
enquadrar. Queria algo para lembrar de você quando não estivesse.
As batidas no meu peito pareciam ter perdido o ritmo e o que já era imenso
se tornou impossível de conter. Eu o amava desde que me conhecia por gente, e
Collin fazendo essas coisas só fazia com que o sentimento pulsasse
descontrolado.
— Ficou maravilhosa.
— Você que é maravilhosa, o quadro só realçou isso. Tenho outras no
quarto.
Ele pegou na minha mão e me levou até o quarto, que também estava um
pouco diferente do que eu me lembrava, os móveis assim como no restante do
apartamento eram simples e sofisticados, combinando perfeitamente com ele.
No pequeno aparador em um dos cantos, haviam várias fotos, minhas e
dele, com nossos pais e com o Tyler. A grande maioria era nossa, em festas, no
colégio, abraçados, dançando ou só olhando um para o outro.
Eu me lembrava de cada uma delas e achava que ele também.
Eram uma parte nossa, criando personalidades diferentes e nos tornando os
adultos que agora éramos.
— Lembro de todas. — Ele disse e consegui sentir a sua respiração bem
próxima de mim.
Era como jogar um isqueiro em um monte de palha. Praticamente fogo
instantâneo.
Collin pegou a que dançávamos, e sorriu, olhando para ela e provavelmente
lembrando da desgraça que fora aquela noite. Um cara me convidou apenas para
ganhar a aposta que tinha feito com os amigos e eu ficara sem par para o baile
em cima da hora, Collin ligara para a garota que ele tinha convidado,
desmarcando e fora comigo. Isso rendeu muitas risadas e uma verdadeira saia
justa. Mas no final, eu saí sorrindo, ele também e eu nem de longe passara
vergonha. Acabei indo com o cara que as meninas cobiçavam até a morte, o que
me tornou ainda mais alvo delas e de mais apostas, algumas que eu nem queria
lembrar, eram humilhantes demais.
— Eu bati nele, sabia? Não deveria ter apostado uma coisa tão importante
como essa pra você.
— Por isso ficou de detenção?
— Foi.
Eu perguntara para ele o motivo da detenção e ele respondera que era uma
bobagem, eu nem de longe imaginei que tinha sido sobre a aposta. Se soubesse,
não o teria deixado se colocar em problemas por minha culpa.
— Não devia ter feito isso.
— Por saber que você não gostaria, eu não contei. Pra ser sincero faz tanto
tempo que parece que foi em outra vida.
Era a mesma sensação que eu tinha. Crescemos juntos e quando me
lembrava dos momentos de infância era sempre nele que eu pensava. A diferença
entre Tyler também era pequena, mas ele era o garoto que gostava de desmontar
as coisas, enquanto Collin era o que ficava brincando comigo e sendo o Ken que
minha Barbie precisava.
— Verdade.
Ele me olhou por alguns segundos e eu não conseguia adivinhar o que ele
pensava. Parecia preocupado com alguma coisa, ou confuso se perguntaria ou
não.
— Lily, não faz parte do assunto, mas... Você está tomando algo para
prevenir gravidez? Nós passamos a noite juntos no Brasil e não usamos nada
para nos prevenir...
Não tomava nada. Mas não achava que poderia ter engravidado assim. Algo
me dizia que não, pelo menos.
— Não... Mas não acho que tenha engravidado.
— Essas coisas não são assim, boneca.
Ele sorriu amargo e o meu medo nesse instante era que ele estivesse irritado
por esse motivo. Mas eu não fui a única a perder todo o controle, ele era tão
responsável quanto eu.
— Não precisa me olhar com essa cara! Só perguntei! De qualquer forma,
aconteceu, certo? Não há muito o que se fazer, apenas prevenir daqui em diante.
Respirei aliviada e ele percebeu, gargalhando quando eu parecia ter
engolido um sapo.
— Eu sei que fui tão culpado quanto você, não faria sentido apontar o dedo.
E se vier, não é como se não pudéssemos cuidar dele... ou dela... — Ele olhou
para a minha barriga e pelo amor, falava como se eu já estivesse grávida.
— Collin, eu não estou grávida!
— Não sabe!
— Pelo amor de Deus! Sério que estamos falando disso?
— Só estava tirando as minhas dúvidas!
— Então pronto, agora sabe.
— Ainda não. Estou em dúvida!
Revirei meus olhos, porque ficarmos falando sobre isso era irritante. Eu
sabia e tinha certeza. Sentiria alguma mudança, não sentiria? Não em uma
semana, claro... E se Collin tivesse razão e eu estivesse grávida? Seria uma
verdadeira loucura e eu não saberia nem como agir, como falar para meus pais e
afins...
Com Ross eu sempre me preocupava com a proteção, mas naquela noite no
hotel, com os hormônios em ebulição e o álcool correndo pelo sangue, isso
passou bem longe da minha cabeça.
— Eu disse que iria te mostrar, não é?
Collin foi até o closet e tirou uma das gavetas, revelando o cofre. Digitou
minha data de aniversário e assim que o abriu tirou uma caixa de sapato, velha e
surrada, com marcas de batom nas bordas. Marcas que eu tinha feito há vários
anos.
— Não acredito!
O pequeno objeto estava abarrotado de cartas e bilhetes. Com os assuntos
mais idiotas que apenas duas crianças poderiam ter.
— Eu disse que guardei tudo!
Peguei um deles na mão e li o que ele tinha escrito na sua caligrafia feia de
adolescente, o que na verdade não mudara até hoje.
“Conta sempre comigo.”
— Perdi as contas de quantas vezes você disse ou escreveu isso. —
murmurei, sabendo que ele falara aquilo todas as vezes em que eu me sentia mal
com alguma coisa.
— E sempre foi verdade.
Não duvidava. Collin sempre aparecia quando eu precisava dele e talvez
por esse motivo, o sentimento crescera e se transformara em algo mais,
conforme eu sabia que podia contar com toda a sua força para suprir uma parte
da minha que faltava.
— Eu me sentia melhor quando estava com você.
Ele falou e a lágrima que desceu pelo meu rosto provou o quanto aquilo
mexia comigo.
— Não parecia! — falei, fungando, sorrindo e enxugando meu rosto com o
braço.
Cedendo à menina que eu era, ao invés da mulher na qual me transformara.
— Sempre foi você, Lily. Nunca nenhuma mulher foi tão importante na
minha vida, que chegasse sequer perto de nublar a sua presença nela.
Mais lágrimas desceram pelo meu rosto e Collin beijou todas elas, com um
misto de carinho e preocupação.
— Onde escondeu esse Collin?
— Ele estava esperando por você.
Disse e sorriu, um sorriso maravilhoso, com uma carga de amor maior do
que eu poderia quantificar.
— Ainda bem que me encontrou então...
— Ainda bem que ele acordou.
Tudo estava tão bom que parecia um sonho de princesa do qual eu
despertaria em breve. Mas no momento, me permitiria fantasiar e me deixaria
levar pela sensação incrível que era ter Collin amando cada parte de mim.
Cada mísera parte de mim...
— DOIS DIAS SEGUIDOS?
— Gosto do jeito antigo.
Ele andava pela sua cozinha como se fizesse isso a todo momento, um
verdadeiro cozinheiro.
— Preciso sair daqui uns minutos.
— Quando volta?
Ele parecia contrariado ao perguntar isso e jurava que era por não poder me
acompanhar com a World Series em cima e seus treinos se intensificando cada
vez mais.
— Daqui uns três dias...
— Tudo isso? — Collin não parecia feliz e seria errado eu estar por ele
sentir tanto a minha falta?
— Sim.
— Tome cuidado.
— Pode deixar. Faço isso sempre.
— Eu sei...
— Fica tranquilo, jogador, eu volto para o primeiro jogo! — fui até ele e
abracei a sua cintura, passando a mão pelo seu abdômen definido e descendo por
lugares que nenhuma outra mulher além de mim deveria ter acesso.
Não mais.
Collin me virou bruscamente e me prensou na bancada, deixando o volume
nas suas pernas bem claro para mim.
Jamais imaginei que ele fosse um cara ruim de cama, mas espetacular
também não me passava pela cabeça.
— Tira a roupa. — Ele falou autoritário e aquilo foi o suficiente para as
minhas pernas bambearem.
— Faltam minutos, preciso ir.
— Só preciso de dois minutos pra te fazer perder a linha! — disse baixo no
meu ouvido e eu senti aquilo causar um frisson bem no meio das minhas pernas.
Desci a alça da minha blusa de seda, enquanto seu olhar queimava a minha
pele. O ar no ambiente ficou escasso e Collin passando a língua nos lábios,
querendo me devorar, não estava ajudando em nada.
Terminei de tirar a última peça, e ele se ajoelhou, com a sua intenção clara
deixando as coisas ainda mais indecentes.
Levantou uma das minhas pernas, me fazendo escorar na bancada, enquanto
sua língua traçava caminhos desconhecidos e me fazia chegar em um patamar de
prazer que eu nunca sentira.
Suas mãos passeando pelo meu corpo, enquanto sua boca fazia maravilhas,
também não me deixava esquecer que depois dessa semana, apenas Collin
despertaria meus desejos. Meus desejos mais obscuros e insanos.
Ajoelhado, me colocando em primeiro plano, me dava uma sensação de
superioridade que carregava o momento de luxúria.
Não contei o tempo, mas eu tinha certeza que nos dois minutos que ele
dera, já tinha perdido a linha várias vezes e a cada novo segundo, eu
experimentava sensações tortuosas que me provavam o quanto as preliminares
poderiam ser tão boas quanto o ato em si.
Minhas pernas falharam e Collin as segurou em um aperto forte, enquanto
meu peso desabava sobre a sua sustentação. Meu rosto pegava fogo com os
espasmos ainda passando pelo meu corpo e a leveza que eu agora sentia.
— Nem chegou em dois minutos. — Ele se levantou e falou no meu
ouvido.
Um sussurro rouco e desejoso.
Como poderia chegar em dois minutos com ele fazendo aquilo?
Era impossível.
Começou a beijar meu pescoço, apertando a minha cintura com força, de
uma maneira completamente arrebatadora.
— Eu preciso ir...— falei baixo e ele não pareceu dar importância.
— Só se prometer voltar o mais rápido possível. — Uma mordida no lóbulo
da minha orelha e eu acreditava que perderia o voo por culpa dele.
— Vou voltar, Collin. Por que não voltaria?
Ele pegou minhas roupas no chão e me ajudou a vestir a lingerie, ajoelhado
na minha frente e passando a renda pela minha perna era muito mais tentador do
que qualquer outro homem no mundo a tirando.
— Onde aprendeu essas coisas?
Falei afetada, leve e mole pelo prazer que sentira segundos antes.
— Não vai querer saber. — Ele terminou de subir a peça e beijou minhas
pernas, deixando novamente tudo em mim ansiando por tê-lo dentro de mim, me
preenchendo de maneira deliciosa e enlouquecedora.
— Isso é golpe baixo, Collin.
Fechei meus olhos e tudo o que eu conseguia fazer era senti-lo em todos os
lugares, todas as minhas terminações desfalecendo pela falta de descanso.
— Sorte sua que precisa sair, senão eu te mostraria que ficar exausta é
muito melhor do que querendo mais.
Colocou as roupas nas minhas mãos e saiu de perto, enquanto eu as
colocava. Me deixando sem entender o motivo para isso.
— O que aconteceu?
— Se eu ficar perto de você, não vai pegar voo nenhum. Melhor me afastar.
Levantou a sobrancelha com o corte e me olhou intensamente, me fazendo
duvidar se eu realmente queria pegar esse voo e viajar para a Itália. Sem sombra
de dúvidas, passar mais uma noite nos seus braços era uma alternativa muito
melhor.
— Não confia na sua noção de tempo?
— Ah, eu confio e muito, mas eu vou te fazer gritar e poucos minutos não
vão me deixar satisfeito nem ferrando.
— Não?
— Não! Vai gritar, berrar, e colocar toda a sua vontade para fora e as
pessoas no andar de baixo vão saber exatamente o que está acontecendo aqui. E
isso vai te excitar, te deixar querendo mais e vai me fazer ir mais fundo, cada vez
mais fundo. — Ele se aproximou e voltou a falar, baixo e rouco, bem próximo ao
meu ouvido. — Atingindo os pontos que você quer, causando as sensações que
deseja e te deixando molhada, enquanto percebe que uma vez não vai bastar,
uma vez vai ser só o começo.
— Não tem isolamento acústico? — perguntei apenas para provocar,
sabendo que estava brincando com fogo e muito próxima de me queimar.
— E ainda vão te ouvir.
Eu sorri com isso. Parecia indecente, mas essa era a melhor definição para
alguém tão quente quanto Collin.
— Vamos? Senão vai acabar se atrasando.
A velocidade com a qual ele parecia deixar essas coisas de lado era
impressionante. Eu ainda me recuperava dos efeitos lentamente, enquanto ele já
parecia estar pensando em outra coisa e outros problemas.
— Como consegue?
— Eu foco no que está por vir.
Aquela era a coisa mais sensual que eu já tinha ouvido e me deixava
ansiosa para voltar o mais rápido possível, e ficar rouca de tanto gritar assim
como ele prometera.
Me parecia uma ótima coisa pela qual ansiar.
***
Desembarquei em Florença, torcendo para que os dias passassem rápido e
que eu conseguisse falar com ele enquanto estivesse longe. Precisava disso para
me manter focada ao invés de pensar apenas na sua promessa.
Era a primeira vez que eu permitia fantasiar algo com ele e parecia que
daria certo. Meu sonho de princesa se transformara em realidade.
— Lily, está tudo bem?
Minha agente me perguntou e eu balancei a cabeça confirmando. As coisas
estavam muito melhores do que bem, estavam perfeitas!
— Está sim.
— Você emagreceu... Está falando com o nutricionista, fazendo todos os
acompanhamentos?
— Estou.
E estava mesmo, mas não do jeito que precisava.
— Certo.
— Preciso saber de algo para essa campanha, ou é o de sempre?
— De sempre. Mas vale ressaltar que vai tirar foto com o cara do momento,
o verdadeiro sonho de todas as mulheres. Boa sorte para não cair de amores pelo
homem!
Eu tinha o Collin, quem poderia ser ainda mais sexy que ele? Ninguém,
pelo menos para mim que o via como a encarnação do pecado. Com uma voz tão
quente quanto, inclusive. Lembrei das suas palavras no apartamento, e antes que
eu pudesse me policiar, apertei as pernas, tentando aplacar a vontade de tê-lo em
mim que se apoderou do meu corpo.
Seria a coisa mais difícil que já fiz, ficar durante esses três dias pensando
no que aconteceria quando voltasse.
— Acho que não...
— Pois eu acredito que sim! O homem é irresistível!
Eu nem sabia de quem ela estava falando e também não me importava. Só
queria fazer logo esse trabalho e ir embora.
Não desejava nada além disso.
— Tenho mais alguma campanha por esses dias?
— Preciso ver na agenda, por que?
— Quero passar um tempo em casa. No mínimo umas duas semanas.
— Duas semanas? Mas isso é tempo demais! Têm vários compromissos
nesse meio tempo.
— Desmarque! — falei com naturalidade.
Precisava focar em mim e morrer de trabalhar já não me parecia mais tão
certo. Isso que a World Series estava prestes a começar e eu queria ver os
primeiros jogos do Collin. Se eu ficasse com a agenda cheia, não teria tempo
nem para respirar, muito menos para vê-lo.
— Não tem como fazer isso.
Eu sabia. E por envolver tantas coisas teria que manter essa rotina até que
os compromissos diminuíssem.
— Então, não marque mais nada depois.
— Certeza?
Ela parecia relutante em acatar a minha vontade, mas eu realmente estava
decidida a ter um tempo apenas meu e aproveitar os jogos do Collin. Me faria
bem, tinha certeza.
Talvez as crises que me consumiam era por viver uma vida estressante, na
qual eu não tinha tempo nem mesmo para me tratar. Sharon me falara que se não
me esforçasse, qualquer progresso seria em vão, porque na primeira
oportunidade tudo retornaria e ela tinha razão. Parecia que eu nunca ficaria bem,
sem me dedicar totalmente ao tratamento e recuperação.
Tyler, Collin, minha família, eram um motivo grande o suficiente para eu
me preocupar com a minha saúde e não poderia desapontá-los dessa forma. De
maneira nenhuma.
— Sim. Vou ficar com a minha família.
— Corre uma fofoca sobre você e seu irmão.
— Tyler?
— Não, o jogador.
— Que fofoca?
— Que estão juntos... Envolvidos amorosamente...
Isso nem era fofoca, era a verdade. Mas eu tinha que ver com ele como
faríamos isso. Um comunicado ou declaração, ou simplesmente sair juntos e
deixar que tirassem as próprias conclusões.
Os responsáveis pelas nossas imagens deveriam ser consultados e eu tinha
certeza que não ficariam contentes. Era mesmo uma bomba, mas sinceramente,
não me importava muito a repercussão, o importante era sermos felizes.
— É verdade.
— O QUÊ? — Ela falou embasbacada e completamente surpresa.
Não sabia o motivo. Ter relacionamentos era normal.
— E Ross?
— Eu terminei com ele.
— E assim tão rápido já está se envolvendo com seu irmão?
— Ele não é meu irmão, pelo menos não geneticamente, sabe disso... Todos
sabem e ainda teimam em ficar me olhando dessa forma que você está olhando.
Acho que não me importa a opinião das pessoas, minha mãe me apoiou e a
família é o que realmente conta.
— Lily, isso não vai ser bom pra sua imagem...
— Por que? — O que as pessoas tinham a ver com a minha vida pessoal?
Tudo. Claro que pensavam assim.
Se achando no direito de mandar na minha vida e tomar as decisões por
mim.
— Ele foi criado como seu irmão! Tem até o mesmo sobrenome! Pra todos
os efeitos legais, ele é seu irmão, Lily! — Ela falou baixo, olhando para os lados,
tentando disfarçar o assunto, com medo que alguém ouvisse e vendesse a notícia.
No aeroporto? Cheio de gente nos rodeando? Duvidava que isso
acontecesse, mas ela querer esconder algo que eu estava decidida a deixar que
soubessem, era no mínimo irritante.
— Mas ele não é, Hilary! Está se preocupando muito por algo tão banal.
— Não. Não estou! Ele que está afetando a sua visão, quer até cancelar os
compromissos! Que falta de responsabilidade é essa?
Às vezes eu achava que ela esquecia que quem pagava seu salário era eu e
que se continuasse me infernizando por algo que não tinha nada a ver, teria que
procurar alguém que fizesse isso.
— Quantas vezes eu fiquei uma semana que seja, sem fazer nada?
Ela ficou quieta. Sabia que eu tinha um ponto e realmente não costumava
ficar sem fazer nada. Muito pelo contrário, ultimamente eu procurava o que fazer
porque não queria ter que ver Collin com mais uma das suas conquistas.
— O que eu posso falar para mudar a sua ideia?
Nada. Eu amava Collin e não esconderia isso.
— Nada. Eu o amo, Hilary. O amo desde quando me lembro de gostar de
alguém e não vou deixar que ninguém atrapalhe isso.
— Entendo. Vamos deixar que as coisas sigam o seu caminho então.
Ela disse e sumiu pela multidão, sem me esperar, chateada por uma coisa
que não deveria nem ser do seu interesse. Claro que ela deveria prezar pela
minha imagem, mas eu odiava quando as pessoas achavam que sabiam o que eu
devia fazer.
Não seria infeliz por causa de outros.
Se eu precisasse lutar pela minha felicidade, era exatamente isso que faria.
— POR QUE TÁ com essa cara?
Tyler perguntou e eu nem respondi.
Estava irritado.
Ficar longe dela agora parecia uma provação, uma a qual eu não queria ter
que passar.
— Falta dois dias pra ela voltar.
— Tá nesse patamar de contar os dias?
Provavelmente, já o alcançara há muito tempo, só não sabia definir o
sentimento.
Era maluco por ela e não negaria mais, não valia a pena.
— Acho que sempre estive.
— Que bom que percebeu, tava cansado de ficar dando conselhos para os
dois.
Os conselhos do Tyler não valiam de muito quando nem ele sabia o que
fazia.
— O que vai fazer hoje? — perguntei, sentado no sofá, olhando para trás
ocasionalmente para ver o quadro da Lily em cima da minha cabeça.
Era uma parte dela que eu mantinha sempre comigo.
Depois que voltei do treino, empurrei a poltrona e sentei de frente para os
quadros, admirando a sua beleza exótica e relembrando os momentos que
passamos juntos. Nem me reconhecia mais, mas admitia que estava gostando
desse novo eu. Um eu que se preocupava com a mulher que sempre fora dele.
Depois de muitos minutos perdido no verde dos seus olhos, devolvi a
poltrona para o seu lugar e sentei no sofá, roendo as unhas por ter que esperar
para falar com ela. Me mandara uma mensagem dizendo a hora que estaria livre
e eu contava os segundos para ouvir a sua voz doce e perguntar como tinha sido
seu dia e se sentira minha falta como eu sentira a dela.
Parecia que isso acontecera há uma eternidade e não apenas algumas horas
atrás.
— Eu tinha um jantar, mas não sei se vou.
— Por que?
— Sabe quando a gente gosta de alguém mas sabe que não é o melhor para
aquela pessoa?
Se eu sabia? Eu vivia isso desde aquela noite com a Lily. O entendia melhor
do que ninguém! Era nossa sina, nunca nos acharmos suficiente para as pessoas
que amávamos.
— Sei, toda vez que olho pra Lily esse entendimento cai sobre mim.
— Ela é toda linda, inteligente, mas é diferente... Não é o tipo de garota
com a qual eu fico, entende?
— Chloe? — dei um palpite mesmo sabendo que tinha uma chance enorme
de não o ser.
— Não. É uma garota que trabalha comigo.
Essa era nova. Suas amigas de trabalho eram todas retraídas, usavam óculos
e costumavam ser virgens, porque se importavam mais com computador do que
com pessoas. Não que eu tivesse preconceito, mas realmente não era o padrão do
Ty. Mas quando o amor escolhia padrões? Se ele gostava dela que se jogasse,
assim como eu tinha feito com a sua irmã, deixando que todas as minhas
barreiras caíssem.
Essas coisas do coração eram imprevisíveis.
— Inteligente, que gosta de computadores, usa óculos, fã de Star Wars e
todas essas coisas geeks?
— Direto no alvo.
Tyler passou a mão na testa e parecia realmente sem saber como agir. E
caramba, eu no seu lugar estaria da mesma forma, era complicado tentar algo
com alguém que a gente não sabia o padrão de envolvimento. Ele não poderia ir
rápido demais para não assustar a garota, também não poderia ir devagar demais,
porque daí ela pensaria que ele queria ser amigo dela, enfim, era difícil encontrar
o ponto certo da conquista.
— Não sabe como convidá-la?
— Eu convidei, mas acho que ela entendeu como um jantar de amigos... Pra
ela não passo disso.
Lily também não passava disso para mim.
— Eu e Lily éramos assim, olha onde estamos agora.
— Em uma confusão, isso é certo.
Sim, era verdade. Mas era uma confusão excitante e maravilhosa.
— Vai voltar atrás com o jantar?
— Não sei. O que faria no meu lugar?
Uma pergunta que eu definitivamente não conseguia responder. Não sabia
nem o que faria da minha vida, quem dirá o que ele faria com a dele. E para
piorar, também nunca convivi com essas mulheres tempo o suficiente para saber
o que realmente elas queriam.
As que eu ficava eram fáceis demais, queriam sexo. Muito sexo. Uma noite
quente e maluca para fazê-las esquecerem até o nome. Agora as outras? Eu não
fazia a menor ideia e nem faria. Lily tinha chegado e depois dela,
provavelmente, não haveria nenhuma outra.
— Está perguntando pro homem errado, irmão.
— Imaginei.
Ficamos em silêncio, os dois sofrendo por não tirarem da cabeça imagens
de mulheres marcantes.
— Quer jantar fora? Não tô afim de voltar pra casa e ser fuzilado pelo pai e
pela mãe.
— Vamos dar uma volta então e se quiser pode dormir aqui, não tem
problema. Ou no apartamento da Lily, ela com certeza não iria se importar.
Não iria mesmo. E sinceramente quem estava cogitando ir até lá passar a
noite, era eu, apenas para sentir seu cheiro em todos os lugares e dormir na cama
que ela dormia sempre que estava lá.
Aquele apartamento tinha uma parte dela e eu do jeito que estava, doido
para matar um pouco da saudade, achava uma excelente ideia ficar por lá.
— Melhor, Ty, eu vou pra lá e você fica! Chama a garota pra jantar aqui, o
que acha?
— Ficou doido? Não sei se quero vê-la.
— Eu aposto que quer, por isso está inquieto desse jeito.
— Essa semana saiu uma matéria sobre eu e a Chloe. Uma modelo.
Exuberante! Acha mesmo que ela não pensaria que estou brincando com os
sentimentos dela?
Olhando por esse lado, acreditava que ela daria um soco nele se tentasse
algo. Se eu fosse mulher, era isso que faria.
— Aí complica tudo.
— Pois é...
— Mas se está gostando dessa, por que ficou com a Chloe?
— Não fiquei. Nós apenas saímos para conversar, mas não passou disso.
— E Lily ficou com quem? — Se ele tinha saído e a Chloe também, com
quem a gatinha ficara?
— No hotel, vendo algum programa de televisão. Ela achou que eu e a
Chloe gastaríamos nosso tempo fazendo coisas mais prazerosas e não quis
atrapalhar.
— Minha garota é esperta!
— Agora ela é sua garota...
— Antes tarde do que nunca! E isso vale pra você e pra nerd que gosta de
Star Wars.
— Eu gosto de Star Wars!
— Por isso, vão se dar bem! E como eu disse, vou sair, vou pro
apartamento da Lily. Aproveita o meu e chama a garota pra jantar, faz algo legal
pra ela e mostra seu sabre de luz! Vai que ela gosta! E — dei uma pausa,
enquanto seguia pra porta — tem camisinha nos criados mudos!
— Idiota! — Ele falou alto e jogou uma almofada em mim.
Mas no fundo, devia estar nervoso por saber que hora ou outra teria que dar
o primeiro passo.
Eu e sua irmã tínhamos dado. Só faltava ele.
Virei a aba do boné para a frente, antes de entrar no carro, sabendo que ela
incomodaria enquanto eu estivesse dirigindo. Com os nervos à flor da pele por
notar que eu estaria mais perto dela, mesmo sem o estar de fato.
Ficar no seu apartamento me parecia muito melhor do que ficar no meu.
Estacionei ao lado do seu carro assim que acessei a garagem subterrânea,
parando por um instante e sorrindo ao olhar e ter uma lembrança dela me falando
que era um carro para o meio ambiente e que o meu só sabia poluir o mundo.
Sacudi a cabeça, espantando a lembrança e fui para o elevador, apertando o
botão do seu andar e desejando que o lugar pudesse preencher um pouco do
vazio que estava se apoderando de mim.
Meu celular começou a vibrar no meu bolso assim que entrei no
apartamento e a euforia por ver a sua imagem na tela pareceu irradiar felicidade
pelo meu corpo.
— Oi, amor.
Era a primeira vez que eu atendia o telefone dessa forma e foi mais fácil do
que eu esperava. Muito mais fácil.
— Oi, gatinho.
Invertemos os papéis? Eu a chamava de amor e ela me chamava de
gatinho?
Não fazia muito sentido.
— Que inversão de papéis é essa?
— Só para variar.
— Como foi seu dia?
Eu sempre ligava para ela para saber, mas hoje era diferente,
completamente diferente.
— Corrido e o seu?
O meu? Uma merda! O tempo todo pensando nela.
— Não foi produtivo, você não saiu da minha cabeça.
Lily não esperava que eu dissesse isso e seu silêncio foi a prova.
— Estamos na mesma, então... Tyler me mandou mensagem perguntando o
que eu gostaria de comer em um jantar romântico, acredita? Está sabendo de
algo?
Sorri com a inteligência dele. Tinha feito o que falei e daí sim poderia dizer
se as chances eram mesmo nulas com a nerd.
— Ele tá no meu apartamento, preparando algo para uma mulher que ele
quer ficar.
— No seu? E onde você tá?
O ciúme era evidente no seu tom de voz e eu era muito ruim por ter gostado
disso, mas realmente gostei.
— No seu.
— Não vai fazer festa aí! Não quero sujeira quando voltar! — O que
inferno ela achava que eu era? A intenção era totalmente diferente para eu ter
vindo.
— Eu vim pra ficar mais perto de você... Vou passar a noite aqui.
— Certeza que nunca namorou antes?
Eu gargalhei, ela sabia que não. Apenas Lily e mamãe tinham o melhor lado
de mim. Eram as duas mulheres da minha vida e sabiam dessa verdade tanto
quanto as mulheres que eu ficara de vez em quando.
Algumas perguntavam porque eu tinha um quadro dela na minha sala e eu
respondia que não lhes interessava. Uma verdade absoluta. O apartamento era
meu e eu colocava imagens de quem eu quisesse nele.
Eu poderia colocar foto do Mr. Bean que ninguém teria nada a ver com isso.
As fotos no quarto então, causaram um mar de perguntas. Perguntas que eu
não respondi nenhuma.
— Sabe melhor do que eu, boneca. Posou com qual roupa hoje? Não era
lingerie, era?
Eu não queria dar uma de ciumento, mas agora que eu conhecia o seu gosto
e a textura do seu corpo, era impossível evitar. O monstro em mim simplesmente
rugia com a ideia de alguém tocando-a da mesma forma que eu.
— Lingerie, com um modelo maravilhoso!
— Como assim modelo? — perguntei interessado, e não de uma maneira
saudável.
Outro cara com ela, enquanto eu ficava sozinho e doido para matar toda a
minha vontade dela, por ela e somente ela.
— É um modelo, Collin. Isso é normal.
Não era normal para mim, não para o meu ciúme.
— Certo.
— Não fica assim! Quando eu voltar vou ver se consigo dar um tempo pra
poder ir nos primeiros jogos e passarmos uns dias sozinhos.
Aquela definitivamente era uma excelente ideia.
— Não prometa se não for cumprir.
— Dessa vez é sério! Nunca vai esquecer aquele dia?
Eu não esqueceria porque adorava irritá-la. Lily tinha prometido ir ao jogo
da decisão na temporada passada e nem sinal de fumaça fez quando não pôde ir.
A sorte dela é que o outro time acabou ganhando e empatando o placar, o que
adiou a decisão para o próximo jogo.
Sorte a dela.
Senão ouviria muito mais de mim.
— Jamais!
— Coração rancoroso o seu.
— Não viu nada.
— Vou ter que desligar, quando puder te ligo novamente, tudo bem?
— Já? — A gente nem tinha conversado direito e ela já precisava desligar?
— Desculpe.
— Certo. A gente conversa mais quando puder, até mais gatinha.
— Um beijo, amo você.
Ouvi uma voz masculina antes que ela encerrasse a ligação e meu coração
bateu acelerado, nervoso. Será que acontecera alguma coisa? Ou alguém
tentando fazer algo para ela?
Não, não deveria ser nada disso, eu que estava paranoico e imaginava as
piores coisas sempre. Lily era esperta e eu devia confiar nela.
Fui até seu quarto, imaginando estar louco por sentir o seu cheiro mesmo
que ela não tivesse dormido ali há dias.
Tirei o tênis e o boné, deitei na cama e abracei seu travesseiro, com as
lembranças dominando a minha cabeça e me deixando sorrindo como um idiota.
Haviam muitas, muitas lembranças nossas naquelas paredes e agora ficava
contente por ter pelo menos essa colher de chá.
Era o que evitava que eu ficasse maluco sem ela.
Isso e saber que em dois dias no máximo ela estaria novamente nos meus
braços.
— O QUE FAZ aqui? — perguntei para o Enrico, que me olhava com
extremo divertimento.
— Essa coleção é minha. Não se deu ao trabalho de ler?
Eu realmente não o fizera, estava com a cabeça em Boston, mais
especificamente em Collin.
— Falha minha, mas por que não me disse que eu estrelaria a sua
campanha?
— Já estava achando que eu queria me aproveitar de você por ser estilista,
se soubesse que já estava contratada para a minha coleção, provavelmente,
cancelaria e levaria as coisas para o lado errado.
Ele não deixava de ter razão.
— E o nosso jantar ainda está de pé? — perguntou, notando que eu não
comentaria nada sobre o que acabara de dizer.
Depois de ficar com Collin, achava que não era bom sair com Enrico e
correr o risco de dar a entender algo errado.
— Eu não sei...
— Um jantar não é uma ameaça tão grande, não acha? Apenas como
parceiros de trabalho, o que me diz?
— Que você é insistente!
E era mesmo. Mais insistente do que eu me sentia confortável para admitir.
Possuía um charme envolvente e me olhando da forma como olhava, me deixava
ainda mais desconfortável por achá-lo um homem atraente.
— Não há como conquistar o que deseja se desistir no primeiro problema.
Sabia disso melhor do que ninguém, conquistara as minhas coisas
persistindo mesmo quando recebia um não como resposta.
O não era o que mais ouvia, mas lutava firmemente pelo sim.
— Isso é fato.
— Aceita?
E se Collin descobrisse? Mas eu não estava errada, estava? Não deixaria
que Enrico avançasse nenhum sinal e para mim isso parecia mais como um
jantar de negócios.
— Tudo bem. Mas eu preciso voltar o quanto antes para o hotel.
— Tudo isso é medo?
Medo? Dele? Não, definitivamente. Medo do que ele poderia me causar
justo agora que as coisas estavam indo bem.
— Claro que não.
— A coleção ficou maravilhosa em você. — Ele disse e seu olhar passando
pelo meu corpo não foi despercebido.
A minha sorte é que Collin não conseguia ver um negócio desses, senão as
coisas realmente desceriam com a correnteza. Já bastava o modelo ter flertado
descaradamente e toda aquela sua atenção provavelmente seria perceptível na
campanha.
Ele olhava como se fosse me morder a qualquer instante, pelo amor de
Deus!
— Obrigada! — agradeci, adquirindo uma feição dura que demonstrava que
eu não gostara do seu flerte descarado.
Antes, talvez gostasse, mas agora, essa possibilidade nem me passava pela
cabeça.
Não estava namorando ainda, mas o único homem que me interessava de
verdade estava na minha e eu não brincaria com isso.
— Vou te esperar. — Ele disse e passou a mão no cabelo, sorrindo
acanhado.
Não entendia o motivo para isso, com certeza ficara com mulheres
maravilhosas que me deixariam no chinelo. E tínhamos a noção que não era um
jantar romântico, eu estava com a cabeça em outro lugar para qualquer tipo de
resposta aos seus flertes.
Mas não custava nada ser educada e jogar conversa fora sem qualquer tipo
de segundas intenções por trás disso.
Segui para o meu trailer que servia de camarim, e coloquei minha roupa,
checando minha aparência vagamente no espelho. Notei as maçãs do meu rosto,
profundas, e me xinguei mentalmente por estar deixando que aquelas crises
voltassem e afetassem toda a minha vida. Achava que elas tinham diminuído,
mas sempre me surpreendia e não de uma maneira boa.
Apoiei as mãos na penteadeira e abaixei a cabeça, derrotada. Sabendo que
quanto mais eu lutava contra, mais a compulsão vinha com força. Me deixando
blindada para qualquer pensamento bom.
O celular começou a vibrar e olhei para a imagem minha e do Collin
piscando na tela. Não estava bem para falar com ele, o momento não era dos
melhores. Tentava manter a vontade dentro de mim, me sentindo suja por mentir
para todos que se importavam comigo, como se eles não fossem se magoar
quando descobrissem.
Bati na mesa com o punho fechado. O aparelho ainda vibrando ao meu
lado, me lembrando de quem eu amava.
Meu coração doía.
Todos se decepcionariam comigo, igual o Tyler. Ele disfarçava bem, mas eu
conhecia-o o suficiente para saber que fingia estar tranquilo com isso. Ty estava
chateado e mais ainda por ter que esconder de todos. Me fez prometer que assim
que voltasse iríamos juntos ver Sharon, mas eu sinceramente não sabia se
cumpriria essa promessa, queria correr para longe o mais rápido possível e não
ver como todos reagiriam quando soubessem.
Minha mãe se sentiria uma péssima mãe e meu pai, um péssimo pai.
Mas eles precisavam entender que nada tinha a ver com eles, nem eu sabia
ao certo o que desencadeara essa minha maneira errada de defesa contra o
mundo.
Não importava o quanto depois que me tornei modelo, todos à minha volta
me falassem que eu era linda. Não importava, porque não me sentia linda.
Me sentia apenas uma casca de uma mulher que todos julgavam pela
aparência.
Uma pessoa com mais defeitos do que qualidades.
Enxuguei uma lágrima que desceu solitária pela minha face e respirei
fundo, lutando contra aquela força.
Como alcançar o céu quando se sentia sendo constantemente puxada para o
inferno?
Era uma boa questão.
— Está tudo bem aí? — ouvi batidas na porta e a voz do Enrico soou alta e
preocupada.
Nem mesmo um momento de paz com meus segredos eu conseguia.
— Já estou saindo! — falei alto para ele ouvir, peguei minha bolsa e abri a
porta do trailer, quase batendo nele com esse movimento.
— Desculpe! Acho que fiquei próximo demais.
Se ele não tivesse me falado, eu nem teria percebido.
— Quanta ansiedade! — tentei soar tranquila, mas sabia que alguma coisa
na minha voz denunciara meu estado apenas em olhar para o seu rosto.
Parecia que ele estava tentando me ler, mas para minha sorte, eu era um
livro fechado sobre esse assunto e ele não teria muito a que descobrir.
— Não costumo ficar assim, me desculpe.
— Sem problemas, é o primeiro homem que me pede desculpas por estar
ansioso para me ver! — Eu gargalhei porque era verdade e aquilo não fazia
sentindo nenhum.
— Soou um pouco estranho, admito. Mas espero que Con te Partirò quebre
o gelo no seu coração!
— Acho que não... Enrico, eu estou ficando com outra pessoa, por isso a
minha relutância. Não quero que pense nada romântico sobre esse encontro,
podemos ser apenas dois conhecidos que saíram pra conversar, o que acha?
— Não sou desse tipo de homem!
— Como não?
— Gosto de jantares elegantes com uma companhia interessante o bastante
para me fazer esquecer o processo criativo que roda na minha cabeça a todo
momento. — Ele girou a mão ao lado da têmpora, em um gesto de loucura e eu
sorri.
Era fácil conversar com ele. Fácil até demais! Chloe deveria conhecê-lo,
ficaria maluca, sem sombra de dúvidas.
— Uma vez me disseram que é mesmo um conflito, pensa nisso a todo
momento, até quando está dormindo.
— E essa pessoa não mentiu, qualquer coisa é fonte de inspiração, até
mesmo apenas conversar com uma mulher espetacular.
Espetacular?
Eu usaria vários adjetivos para me descrever, mas espetacular não era um
deles. Só me sentia magnífica ao ponto de pensar nessa palavra quando Collin
me olhava e eu via o brilho dos meus olhos refletido nos dele.
— Estou longe disso.
— Não precisa mais provar a sua modéstia, eu notei-a aquele dia no café.
Enrico tornava a conversa muito fácil e parecia ter um dom natural para
arrancar sorriso do rosto das mulheres. Todas pelas quais passamos enquanto eu
o acompanhava, o paravam, cumprimentavam e sorriam derretidas quando ele as
beijava na mão para se despedir.
Nunca tinha visto tamanha facilidade de conquista em um homem. Ele
superava todos os meus pré-conceitos sobre italianos e parecia fazer com que o
restante dos seus camaradas soassem como garotos do ensino médio, sem
charme algum e sem experiência para contar vantagem.
— Com faz essas coisas? — perguntei, realmente curiosa.
Nem mesmo Collin e Tyler conseguiam enfeitiçar as mulheres dessa forma.
Eles as seduziam com um bom papo, mas o olhar que as mulheres davam para
Enrico, demonstrava que elas o queriam para muito mais do que uma noite.
— Que coisas?
— Enfeitiçar as mulheres dessa forma! Que coisa maluca!
— Você eu claramente não consigo afetar.
Só porque meu coração já era de outra pessoa e sequer olhava para o lado.
Tinha sido sempre assim, com a diferença de que antes, não achava que
conseguiria um avanço, então tentava da melhor forma não tornar minha vida
amorosa um fracasso. O que acontecia de qualquer forma, sendo Ross a maior
prova dessa verdade.
Vários meses de puro fingimento e notícias sensacionalistas que nos faziam
ser perfeitos um para o outro, mesmo sem o ser. Sorrisos falsos e abraços mais
falsos ainda. Nem eu mesma sabia como conseguira passar tanto tempo com ele,
talvez porque eu não tinha muitas horas com ele. Eram ocasionais e haviam
semanas em que nem nos víamos.
Não me surpreenderia se aparecesse alguma imagem dele me traindo e, na
verdade, achava que tinha sido um milagre que isso não aconteceu.
Ross era Ross.
— Porque estou com o coração ocupado.
— Mas não precisamos nos envolver com o coração...
Eu o olhei brava, sabendo exatamente onde ele queria chegar com essas
frases cheias de duplo sentido.
— Eu já disse, Enrico! — soei seca e ríspida.
Melhor cortar os seus avanços já pela raiz antes que ele me causasse
problemas.
— Certo, entendo. Minhas artes de sedução não funcionam com você e
ponto final, posso conviver com isso!
Assim que entramos no seu carro, vi uns flashes, mas não me importei, era
assim praticamente todo dia e nem me dava mais ao trabalho de tentar tampar
com a mão.
— Não enjoa?
— Do que?
— Dessa atenção todos os instantes do dia... Não pode fazer nada sem que
isso perca a normalidade com a quantidade de paparazzi que a seguem para obter
um furo exclusivo.
— Não me importo mais... Antes eu ficava paranoica, mas hoje em dia eu
até sorrio as vezes, é claro, dependendo de como foi meu dia.
— Eu não gosto muito.
O som no carro começou com as batidas suaves de Con te Partirò e eu o
olhei, incriminando pela escolha. Ele fizera de propósito e o sorriso debochado
no seu rosto provava que eu estava certa nos meus pensamentos.
— Falei que jantaria com você ouvindo essa música, mas como não posso
ter esperanças quanto a uma madrugada bem aproveitada, prefiro não
desperdiçar meu arsenal completo.
— Usa isso com todas?
— Todas? Não! La maggior parte delle donne non resiste nemmeno alle
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prime parole...
Ele falando em um italiano perfeito, tão sexy, me fazia entender porque elas
de fato não resistiam.
Falando sacanagem ao pé do ouvido devia ser ainda pior. Muito pior. Do
tipo que nos fazia perder a cabeça logo no primeiro toque.
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— Per favore non parlare in italiano. Conosco solo alcune cose .
— Parabéns! Acaba de me deixar ainda mais interessado!
Me amaldiçoei por isso e anotei mentalmente que não poderia ficar
treinando o que sabia em Italiano com ele.
Conversamos sobre várias coisas e estava realmente me sentindo mais à
vontade na sua companhia quando ele estacionou na frente de um pequeno
restaurante, discreto e modesto à sua maneira, mas com uma beleza difícil de
descrever. Uma beleza do tipo que só se via na Itália. Ramos contornavam a sua
entrada e a madeira rústica da qual era feito, me fazia pensar em um conto de
fadas. Enrico ao meu lado, abotoando seu terno de maneira casual não deixava
essa fantasia menos possível, a tornava praticamente real.
Engoli em seco.
Não podia me deixar levar.
Collin me esperava em Boston e eu realmente estava morrendo de saudade
dele e não conseguia tirar da cabeça a sua promessa de prazer, o que me fazia
arder sem ter quem aplacasse o fogo imediato. Além de Enrico, que não era uma
opção.
Ninguém era opção além do Collin, isso era fato.
— Vamos?
Enrico colocou a mão nas minhas costas e me guiou suavemente, enquanto
eu absorvia a magia do ambiente. Era totalmente calmo e confortável,
simplesmente encantador.
O sorriso no meu rosto era sincero e eu estava realmente me deixando
envolver pela atmosfera acolhedora.
— É perfeito! — falei admirada.
— Eu sei! Descobri há um tempo e me pareceu interessante. Entrei por
curiosidade e desde então não deixo de vir aqui quando tenho a oportunidade.
Ele puxou a minha cadeira e esperou que eu me sentasse para poder fazê-lo.
O homem estava muito à frente das regras de etiqueta e eu me assustei com
o quanto isso me fascinou.
— Gostou?
— Eu adorei! Que lugar magnífico!
— Sabia que escolhera certo... Você não gosta de lugares muito chiques.
— Como sabe?
Eu odiava jantar em lugares que poderiam valer o preço do meu carro.
Odiava de verdade. E odiava ainda mais que as pessoas achassem que eu fazia
parte desses lugares, quando na verdade os evitava com todas as minhas forças.
— É fácil notar.
Nos trouxeram o cardápio, que eu não prestei atenção, completamente
perdida nos detalhes da decoração.
Pedi a primeira coisa que li e recebi uma aprovação dele. Não devia ser
algo ruim então.
Jantamos, sorrimos e percebi que Enrico poderia não ser Collin, mas
poderia ser meu amigo sem sombra de dúvidas.
Ele não era de se jogar fora e eu faria questão de apresentá-lo para Chloe, e
garantir que os dois tivessem momentos memoráveis dos quais lembrar.
Sim, seria perfeito!
Ninguém sairia machucado e poderia sorrir enquanto ouviria minha amiga
falando o quanto ele era bom no que fazia.
Soava um arranjo espetacular! E a palavra dessa vez era perfeita para a
ocasião.
PEGUEI A REVISTA nas minhas mãos e a foto na capa foi capaz de me
rasgar em pedaços.
A notícia: “Lily Currey se encontra com Enrico Morelli. Possível caso de
amor no mundo da moda? Saiba mais na página 6!”
Joguei aquela merda com tudo na parede e olhei para o quadro da mulher
que me deixava maluco, completamente furioso por saber que eu não teria como
controlar o ciúme que me corroía e envenenava. Por que raios ela me fazia ir
contra tudo no que eu acreditava, para depois sair com um cara qualquer?
A dúvida esmagava a minha vontade de ligar para ela e saber que não me
atendeu ontem quando liguei apenas porque estava com esse homem, me
deixava ainda mais irritado. Ela ficara brava por causa da Shayla e agora fazia
uma coisa dessas?
Peguei meu celular e tentei ligar para ela, que dessa vez atendeu. Dessa
maldita vez ela atendeu! Justo quando eu não estava nem perto de bem para
conversar.
— Oi, amor.
Sua voz doce se infiltrou em mim e abri um sorriso amargo, como se ela
pudesse vê-lo.
— Oi, tem algo pra me contar? — perguntei tentando soar calmo, quando
na verdade a raiva dentro de mim queria vir diretamente para a superfície.
— Por que?
— Nada?
Apertei o celular na minha mão e achei que ela conseguia ouvir a minha
respiração pesada e notar o quanto eu estava fora de mim.
— Bem... Eu só tirei as fotos para a campanha e depois saí para jantar com
um amigo...
A falha na sua voz demonstrou que ela sabia exatamente o motivo para eu
estar desse jeito. Podia até ser um amigo, mas e se fosse no meu caso? Como ela
se sentiria em acordar e dar de cara com uma matéria dessas? Com certeza
ficaria no mínimo puta e era como eu estava me sentindo.
Sem vontade nenhuma de ficar falando com ela.
Quando voltasse e a visse, seria outra história, mas por enquanto eu preferia
me acalmar sozinho. Era um perigo para a sociedade quando estava irritado e ela
sabia disso melhor do que ninguém.
— Entendo, fiquei sabendo por uma revista.
— Collin, me escuta, ele é o cara com o qual falei no café aquele dia e é
estilista, foi ele quem desenhou a coleção da campanha de hoje.
Trinquei meus dentes e apostava que ela ouvira o barulho.
Tinha acabado de piorar a situação e meu ciúme provavelmente atingia o pé
direito do meu apartamento de tão alto. Os nós dos meus dedos estavam doendo
e mordi a língua para aplacar um pouco do sentimento que me dominava.
Aquilo não era o melhor, mas era complicado explicar isso para o meu
coração.
— Maravilha.
— Eu sei que piorei, mas iria descobrir uma hora ou outra, não é?
— Por isso não pôde falar comigo ontem quando liguei de novo?
— Claro que não! Eu estava no meio da sessão!
— Certo! — soei irônico, mas é que era realmente difícil de acreditar.
Ela poderia ter me dito o que faria que eu não me importaria. O que mais
me deixava rancoroso era ter descoberto por uma matéria de revista e não da
boca dela, quando nos falamos horas antes do “suposto jantar”.
— Quando voltar a gente conversa.
Não esperei que ela respondesse. Apenas pioraria tudo.
Olhei mais uma vez para o seu quadro e desisti de ficar remoendo essa
coisa louca no meu peito. Peguei a chave do carro e corri para o treino, antes que
eu fizesse alguma merda da qual não me orgulharia depois.
Meu celular voltou a vibrar no meu bolso e era ela tentando remediar a
situação, mas eu não atenderia. Não estava bem para falar com quem quer que
fosse. Só queria treinar em paz e me preparar para o jogo de amanhã, no qual
possivelmente ela estaria na torcida.
Minha concentração com certeza iria para o inferno.
Que se ferrasse!
Passei pelos caras e não cumprimentei nenhum deles.
Mulheres nos deixavam loucos e pelo visto, mal-educados também. Minha
vontade era de correr para o mais longe que eu conseguia, apenas para evitar
aqueles olhares cheio de perguntas.
Nem preso nos meus próprios demônios eu podia ficar mais.
— Problemas, não é? Shayla me mandou uma foto... — Steve comentou
como se não fosse nada demais.
Mas que porra ela tinha a ver com a minha vida? E ele?
— Vocês dois que se fodam! O que minha vida é do interesse de vocês?
Ele pareceu chateado, mas eu realmente estava muito bravo para ficar
ouvindo idiotices de pessoas que nem sabiam o que estava acontecendo de
verdade. Nem eu tinha noção, quem dirá eles.
— Ela estava preocupada.
Era só o que me faltava! Uma merda gigantesca dessas! Tinha deixado claro
que não queria nenhum tipo de envolvimento além do sexual que mantínhamos e
nem para isso eu a via mais. Que direito ela achava que tinha?
— Ou feliz por eu ter quebrado minha cara.
— Quebrou?
Não ainda. Mas com Lily eu não fazia ideia do que aconteceria a seguir. Ela
era a mulher mais linda que já tinha visto e para piorar, era modelo, estrelava
campanhas e mais campanhas, sendo o sonho de praticamente todos os homens
do mundo. E sorria como ninguém, um sorriso avassalador!
Se é que sorrisos poderiam ser caracterizados dessa forma.
Os dela me hipnotizavam e me deixavam de boca aberta, sem conseguir
desviar o olhar.
— Ainda não.
— Aquela mulher é um perigo cara! Sabe disso! Metade do time se mataria
pra ter um momento com ela!
Olhei feio para ele, eu definitivamente não precisava saber disso. Não
queria saber antes, muito menos agora.
Principalmente agora.
Peguei o taco e apontei na sua direção, que engoliu em seco, prevendo o
perigo. E caralho, eu estava mesmo muito puto. Nem me lembrava de algum dia
ter estado tão bravo como estava depois da surpresa.
— Vira essa coisa pra outro lado! Eu só comentei!
— Cale a boca pra não acabar sem dentes, então.
— Foi mal!
— Falaram alguma coisa por eu ter saído e nem conversado com eles? —
perguntei, realmente curioso, porque nem se importaram quando eu passei pelas
salas e vim direto para o campo.
Pareciam concentrados em outra coisa.
— Não. Estão preocupados com o início da temporada e com as
contratações dos outros times.
Balancei a cabeça, entendendo o que ele queria dizer e mordi o meu lábio
inferior, tentando mandar para longe os pensamentos sobre Lily e sobre a minha
promessa que pelo visto não se cumpriria. Mal sabia como estaríamos quando
ela chegasse aqui, quem dirá se sua explicação seria convincente o bastante.
Era boa de lábia, mas eu notava uma mentira à milhas de distância. Ficara
com mulheres fúteis o bastante para saber distinguir a verdade.
— Quer ir pra festa hoje?
— Festa? Ficou louco? O jogo é amanhã!
— Não vamos beber, vamos só nos divertir.
Já até previa qual seria a diversão e não estava nem um pouco afim.
Precisava conversar com o Tyler e saber como tudo havia ficado.
Quando cheguei no apartamento hoje, não o encontrei e muito menos
qualquer sinal de bagunça. Se ele tivesse feito algo, arrumou em tempo recorde
ou se mandou antes.
— Não, tenho mais o que fazer.
— Shayla vai estar lá...
— E que merda eu iria querer com ela? — questionei amargo, porque
parecia que esses dois tinham combinado de me irritar mais do que eu poderia
suportar.
— Ela gosta de você, Collin...
— Pega pra cuidar. Eu disse desde a primeira noite que não teríamos nada
além daquilo e se ela se iludiu, o problema é dela.
— Disse que até a levou para conhecer seus pais.
Pelo amor de Deus! Ela que praticamente havia implorado e eu idiota, cedi.
— Ela implorou.
— E você cedeu, péssimo sinal cara, pra quem não queria nada além de
sexo.
Eu tinha que concordar, mas não era como se eu não tivesse levado
ninguém antes dela. Aparecia sempre com uma diferente e notava Lily em um
canto, discutindo com Ross, como fazia todas as vezes. Abandonava as mulheres
ou as mandava embora e corria doar meu ombro para o seu choro baixo e
sentido. Consolá-la me fazia ficar bem e ver seu sorriso, iluminava meu dia.
Muito mais do que passar uma noite inteira transando com outra mulher.
Muito mais.
Meu humor praticamente reagia ao seu e quando estava brava, eu acabava
me irritando também, quando estava chateada tudo à minha volta parecia se
tornar mais escuro e sempre fora assim. Sempre. Ficava surpreso por não ter
notado o que era isso antes e ter poupado um bom tempo.
— Não farei mais nada parecido.
Por causa da Lily, por mim e, principalmente, porque não sentiria nada com
qualquer outra.
Era como se notar que eu estava apaixonado por ela tivesse me travado para
qualquer outra mulher.
Por isso que meu pai e meus tios estavam com as mesmas mulheres há
anos?
Provavelmente.
Agora fazia todo o sentido para mim.
Se eles sentem metade da ligação que eu sinto com a Lily, faz a merda de
um enorme sentido!
— Ela te mudou mesmo, uh?
Ele nem fazia ideia.
Parecia que eu entraria em colapso a qualquer momento, tamanha era a
minha vontade em estar perto dela.
— É complicado...
Me posicionei na área e perdi a primeira bola, respirando fundo enquanto
me concentrava para a próxima. Steve, no monte, sorrindo da minha falta clara
de habilidade, provando que quando a vida amorosa não estava bem, isso era
refletido nas demais coisas.
Acertei uma. Ela não chegou nem mesmo nas arquibancadas, caindo no
meio de campo.
E o jogo seria amanhã. Eu estava ferrado, ferrado pra caralho!
Steve assoviou e eu fiquei ainda mais irritado.
Como não conseguia acompanhar a trajetória da bola como antes?
Lily.
Porque meus pensamentos estavam todos nela.
— Esteja melhor para amanhã, senão seremos massacrados logo no
primeiro jogo.
— Sei disso, não precisa nem me falar.
Olhei de relance para uma das grades e Shayla estava lá. Para a minha raiva
se tornar maior. O que raios ela estava fazendo ali de novo?
Não sabia qual ponto da minha conversa ela não entendera, mas tinha
certeza que falava a sua língua.
— Porcaria! — murmurei, mas Steve pareceu entender o motivo da minha
revolta assim que olhou na mesma direção.
— Eu disse. — Ele gritou e deu de ombros.
Provavelmente se divertindo com a enrascada na qual eu havia me metido.
Quando comecei a ficar com ela nem de longe imaginava que seria do tipo que
ficaria perseguindo e agora me amaldiçoava por não ter notado isso.
— Fica com ela você! — falei alto, querendo que ela ouvisse e parasse de
correr atrás de mim.
Sabia que estava sendo muito ruim, mas merda, a forma como ela agia
estava me irritando e eu não tinha lá muita paciência.
— Já tentei! Mas ela não me quer!
Ele lançou e eu mantive o taco parado, notando o porquê ele se importava
tanto com ela.
— Gosta dela? — mexi minha boca e ele viu, sem responder.
Não sabia quem estava mais ferrado, eu ou Steve, era uma boa questão.
Shayla não era uma mulher que prezava relacionamentos monogâmicos, ou pelo
menos era o que eu achava e o que ela transparecia.
Ele jogou novamente e dessa vez eu acertei a bola, lançando-a na
arquibancada, sem me importar realmente com isso. Meu sorriso irônico se
abrindo porque eu só lamentava por ele ter se apaixonado também.
Era uma porcaria! E das grandes!
— Boa sorte! — falei alto e ele lançou mais uma, com toda a sua força e
raiva, querendo provavelmente acertar o meu rosto e me mandar para o hospital.
Toquei na ferida dele, assim como ele tinha tocado na minha.
— Cale a boca!
— Retribui o seu carinho! — gritei sabendo que teria que falar a realidade
para Shayla, pela milésima vez e que dessa vez ela finalmente entendesse.
Para ela, Steve era muito melhor do que eu e não tinha outra mulher na
cabeça além dela.
Segui até onde estava para cortar o mal pela raiz e que dessa vez eu
realmente cortasse.
Tudo sobre Astros
“Lily C. puxou para a mamãe sortudaaaa e tá com dois homens lindos de
morrer no encalço! MAS QUE SORTE AS MULHERES DESSA FAMÍLIA TÊM!
Vou me chamar Stephen Pharrell-Currey! Vai que as coisas finalmente dão
certo pra mim e eu consiga um Adônis para chamar de meu!
Beisebol? Estilista? Nãooooooooo! Ainda quero um jogador de basquete!
Não superei esse sonho de princesa!
Mais um casório? Nos resta a dúvida! Pelo menos agora estará tudo em
família! Vadias com mel vicioso! Nunca vi algo assim e penso que um raio não
cai duas vezes no mesmo lugar!”
por Stephen Pharrell.
COLLIN ESTAVA CHATEADO, isso era claro.
Mas eu conversaria com ele quando chegasse e deixaria as coisas claras.
Como ele podia pensar que eu o estava enganando quando esperei todo esse
tempo apenas para ter um resquício da sua atenção?
Parecia que Collin perdera toda a sua Inteligência.
Não era uma foto que provaria o que não existia. E ele era ingênuo por
acreditar na manipulação da mídia quando sabia o quanto algumas informações
eram completamente infundadas.
— Causei problema pra você, não é?
Enrico ao meu lado, parecia realmente se sentir culpado. Mas eu não sabia
definir ao certo se era verdade ou não.
— Não.
Era apenas uma prova que se Collin não poderia aceitar coisas como essas,
nosso relacionamento estava realmente fadado ao fracasso desde o princípio. Era
só questão de tempo.
— Desculpe por isso, vejo o quanto gosta dele.
— Está tudo bem, Enrico. De acordo com a mídia, fiquei com um bonitão
do beisebol e dias depois com um estilista maravilhoso. Não estou mal, não é?
— Com certeza não.
— Queria que conhecesse alguém...
— Quem? — Ele perguntou, completamente interessado.
— Chloe Foster.
— A vi junto com você no hotel. — E eu lembrava desse dia.
— Ela gostou de você.
— Investi minhas fichas na mulher errada?
— Definitivamente!
— Certo, então vou mudar meu plano de ataque!
— É a melhor coisa que faz! E obrigada por me trazer até o aeroporto, foi
muito gentil da sua parte!
E realmente foi, mais gentil inclusive do que a atitude do homem que eu
amava estava tomando. Uma briga por causa de uma foto quando a gente vivia
nesse meio e sabia exatamente como as coisas funcionavam?
Me parecia mesmo burrice! E eu sabia muito bem que Collin não era burro.
— Espero que ele entenda!
— Vai entender. — Eu o faria entender na base da agressão se preciso fosse.
Nunca tinha conhecido uma pessoa tão precipitada como ele. Explosivo ao
extremo e nem mesmo deixava a gente se explicar antes de resolver as coisas do
seu jeito. Era assim desde criança.
Eu a calma e ele o revoltado.
Embarquei, torcendo para que as horas passassem rápido e que eu pudesse
remediar a situação caótica em que estava nossa relação.
Isso se essa confusão ainda podia ser chamada de relação.
***
Logo que desembarquei, peguei um táxi e fui direto para o seu apartamento.
Era a primeira coisa que eu queria resolver, isso se ele já não tivesse saído
para o jogo. Hoje era o primeiro do time para a temporada e eu queria estar lá
por ele, como havia prometido.
Olhei para o relógio no meu pulso e batuquei com os dedos na minha perna,
impaciente. Não era dada a preocupação com horários quando voltava para casa,
mas nesse momento, meu coração parecia que sairia pela boca, caso eu me
atrasasse mais do que o tempo necessário para estar frente a frente com ele.
Mal o táxi estacionara, desci correndo, peguei minha mala das mãos do
motorista assim que abriu o porta-malas e corri até o edifício, achando
agonizante até mesmo a velocidade com que o elevador subia para a cobertura.
Estava lerdo demais.
Lerdo demais para o meu gosto.
As portas se abriram e entrei na sua sala, com a visão dos quadros
completando meu campo de visão. Não devia estar tão mal assim, já que ainda
deixara aquela parte minha com ele.
Olhei em volta, tudo arrumado, da mesma forma que estava quando eu saíra
para o aeroporto.
Quando Collin se irritava tinha a péssima mania de quebrar as coisas e pelo
que eu via, nada quebrado, não achava que estaria assim tão ruim.
— Collin? — chamei baixo, ansiando que ele respondesse.
Nada. Nenhuma resposta.
Andei pelos cômodos e somente o cheiro dele preenchia o ambiente, mas
ele de fato, não estava ali. Provavelmente, saíra antes para se preparar e eu
acabara correndo para o lugar errado.
Entrei no seu quarto e a caixa que guardava nossas cartas estava aberta na
cama, com elas todas esparramadas pelo colchão.
Minha boca se abriu em espanto.
O que ele estava fazendo com elas?
Rasgando, queimando ou qualquer outra coisa relacionada a destruição?
Me aproximei e sentei, pegando-as na mão e notando que estavam intactas.
Sem qualquer marca, o que era outro sinal bom.
Tomei um banho rápido, vesti minha camiseta do time, um boné e dei com
a mão para um táxi, querendo ver o jogo desde o começo. Sabia como eles
demoravam ao extremo e acabaria tendo que esperar horas para falar com ele,
mas isso me parecia muito melhor do que não ter previsão nenhuma.
Cheguei e liberaram minha entrada instantaneamente.
Não fui para o corredor esperar por ele, segui direto para o meu lugar na
arquibancada, torcendo que olhasse para mim mesmo que por alguns instantes e
notasse que eu estava ali por ele.
Não entendia esse seu ciúme quando quem tivera que suportar várias e
várias mulheres tinha sido eu.
Eu namorava ocasionalmente e alguns relacionamentos nem poderiam ser
chamados de namoro, de tão patéticos. E principalmente, nenhum me amara da
forma como ele o fizera. Se tornou o único depois disso e negar o contrário seria
apenas ineficiente.
Os jogadores entraram em campo depois de vários minutos e o meu coração
bateu acelerado assim que o viu. Completamente extasiado com a sua confiança
no jogo. Collin tinha uma sensualidade única, que atraía todos os olhares, e era
praticamente impossível ignorar as mulheres suspirando e apontando para ele.
Era meu!
Esperara demais por isso e não esperaria mais.
Não mais.
Ajeitou o boné e olhou para a arquibancada, o exato lugar onde sabia que
eu sempre ficava quando assistia aos jogos, procurando e achando que não
encontraria, porque quando seus olhares se encontraram com os meus, a surpresa
era clara.
Ele não me esperava.
Estava me julgando ainda mais baixo do que eu imaginava.
Justo ele? Que não tinha moral nenhuma pra pensar aquilo sobre mim?
Mostrei o dedo do meio. Sem remorso.
Sorriu e eu acabei sorrindo também.
Seu sorriso era demais para eu sequer pensar em resistir. Mas ainda não
sabia identificar se aquilo era uma trégua ou se ele finalmente entendera que eu
era maluca por ele e por mais ninguém.
A dúvida era sempre pior.
Uma pessoa se sentou ao meu lado e assim que a olhei, me arrependi
instantaneamente. Shayla não parecia contente em me ver.
— Oi.
Balancei a cabeça respondendo ao seu cumprimento, sem querer dar
atenção para ela e acabar ouvindo suas lamúrias. Meu dia não estava dos
melhores e eu só queria prestar atenção no jogo, nada mais.
— Ainda estão juntos? Mesmo depois da foto?
O que ela tinha a ver com a foto? Esse era um grande ponto de interrogação
nessa conversa.
— Sim. — falei mesmo sem saber.
Se ela estava perguntando era porque estava mais interessada do que queria
transparecer e eu precisava cortar as suas ideias logo no princípio. Não seria ela
que tiraria Collin de mim, até porque dela, ele nem queria chegar perto.
— Não basta ter o mundo aos seus pés, agora quer ele também?
Ah, mas que porcaria! Como eu conseguia atrair essas pessoas para perto de
mim? Realmente, não tinha muita sorte.
— Não sabe do que fala.
— Sei muito bem! Lily Currey, a irresistível Lily Currey, com um estilista
maravilhoso lambendo a bota e ainda volta atrás do jogador de beisebol com o
qual as mulheres sonham dia e noite.
Suspeitava que ela se incluía nessa gama de mulheres que fantasiavam
sobre Collin, com a única diferença que ela tivera um pouco dele durante um
tempo. Mas isso não importava, eu tinha ele todo e seria difícil ela entrar no
páreo.
— Não sabe nada da nossa vida.
— Sei o bastante.
— Tem certeza? O que você sabe sobre ele além de que fode bem?
Isso acertou em cheio o rosto dela, mesmo sem eu ter feito um movimento
para levantar a mão. A machucou e era isso que eu queria. Precisava entender
que fazer sexo com um cara não significava que ela o conhecia.
Julgar os outros pelo que ela achava era o seu pior engano.
Subestimava e subestimar era perigoso, muito mais perigoso do que ela
imaginava.
— Collin alguma vez te deu esperança de algo mais?
— Não... — Falou baixo e eu conseguia ouvir a humilhação na sua voz.
Não gostava de fazer isso, mas não voltaria a ser a adolescente que baixava
a cabeça e deixava que as outras pessoas tirassem sarro dela. Passara dessa fase e
realmente sabia me defender com palavras quando necessário.
— Então, por que ainda nutre essa fantasia?
— E pra você, ele falou algo?
Se ela achava que me atingira com isso estava muito errada. Apostava que
ele me falara coisas mais profundas do que um dia a fizera sentir.
— Não pergunte o que não quer saber.
Ela trincou os dentes e eu sorri vitoriosa. Estava cheia de mulheres como
ela acharem que só porque tinha cara de trouxa, eu era uma. Não o era e ela
acabara de descobrir isso.
— Com licença. Vou descer e ver o jogo mais de perto.
Ela tentaria falar com ele, isso eu sabia. Só restava saber se ele falaria com
ela.
Se o fizesse, não teria sexo selvagem que me faria conversar com ele. Uma
coisa diferente era tirarem uma foto minha em uma situação normal e distorcê-
la, e outra totalmente diferente era ele conversar com Shayla apenas para me
provocar.
Eu definitivamente não tinha sangue de barata.
Meu celular tocou e li o nome do Ty na tela, o que era melhor do que os
meus pais, muito melhor.
— Oi, Ty.
— Não esqueceu de amanhã, não é?
— Não, não esqueci.
Meu irmão tinha me forçado a marcar uma consulta com a Sharon para
amanhã e não me deixaria ir sozinha. Dissera que eu precisava dele e eu
desconfiava que realmente precisava da sua força.
— Está no jogo?
— Estou.
— Bom. Não deu pra ir, mas no próximo eu vou.
Ouvi uma voz no fundo, de uma mulher e me espantei por Ty ter deixado
alguma calcinha de lado para ligar para mim. Ele não costumava fazer essas
coisas.
— O que faz aí?
— Jogando xadrez.
— Xadrez?
— Não é o jogo tira calcinha?
— Fala baixo, pelo amor de Deus! — Ele cochichou no telefone e eu fiquei
sem entender o que de fato estava acontecendo.
— O que aconteceu?
— Eu estou com uma mulher.
— E não tá fazendo nada além de jogar xadrez?
— Não.... Não que eu não queira fazer algo a mais, mas acho melhor ir com
calma. — Ele falou ainda mais baixo e eu me surpreendi.
Meu irmão não era esse tipo de homem e agora eu entendia o porquê dele
me perguntar como eu sabia que amava Collin. Tyler estava apaixonado, e ainda
estava se dando conta dessa verdade.
Ty, é sua vez, deixa a sua irmã em paz!
A mulher gritou ao fundo e eu gostei dela. Ty precisava mesmo me deixar
em paz e voltar para a sua partida de xadrez.
— Amanhã a gente se fala, irmãzinha.
Ele encerrou a ligação e eu fiquei sorrindo sozinha com a mudança que
notara na voz do meu irmão. A felicidade que eu sentia por ele era gigantesca e o
faria ter certeza que investiria em uma relação com essa pessoa. Ty merecia ter
mais do que noites casuais. Merecia muito mais! Ele era desapegado com os
sentimentos, mas só porque ainda não encontrara a pessoa certa, o que
acontecera agora, com essa jogadora de xadrez.
Pelo menos era inteligente. Eu não conhecia pessoas burras que gostavam
desse jogo.
Tyler era inteligente também, inteligente ao extremo e não combinaria com
qualquer outra que não pudesse acompanhar seu raciocínio rápido.
ASSIM QUE A vi, o ódio pareceu se evaporar completamente e qualquer
chance que eu tinha de ficar longe dela, sumira mais rápido do que a velocidade
com a qual eu costumava rebater as bolas.
Lily era a mulher da minha vida e não tinha como resistir à ela. Isso era
certeza, pelo menos agora que eu sabia a imensidão do sentimento e exatamente
como defini-lo.
O jogo todo passou como um borrão na minha visão, com a única atenção
de verdade voltada para o lugar que não deveria estar, pelo menos nessas horas.
Ainda bem que era o primeiro da temporada, senão eu estaria realmente
preocupado.
Rebati uma, não foi longe. Saí de campo, estava fora do jogo e suspirei
aliviado.
Era um milagre! Suspirar aliviado? Por aquilo? Com certeza um milagre.
Sentei no banco, virando a aba do boné para trás e olhando na direção dela,
misturada na multidão, mas que com aquela ligação que a gente sentia, se
sobressaía como um sinal de luz para os meus olhos.
Não existia nenhuma outra.
Atenção para qualquer outra era impossível.
Fiquei olhando o restante do jogo se desenrolar, sentindo que não estava
sendo rápido o suficiente, nem mesmo se o fosse, ainda não seria tão rápido
quanto eu queria.
O pessoal ao meu lado vibrou e percebi que tinha sido Home run para nosso
time, mas nem isso fora capaz de tirar a minha atenção da mulher alta e
curvilínea que levantou para comemorar. Mesmo naquela distância, conseguia
distinguir seu contorno muito mais do que bem.
O treinador nem olhou para mim, provavelmente desanimado.
Eu estava pouco me fodendo para ele.
— E aí?
Steve se sentou ao meu lado, o que me fez emitir um zumbido de desagrado
baixo.
— Ainda pensando nela?
— Cara, eu realmente não quero falar desse assunto com você. Vai encher
outra pessoa, pelo amor de Deus!
— Só estou querendo saber se a foto te deixou receoso.
Deixara. Mas agora eu já tinha certeza que uma foto não mudaria nada.
— Deixou, mas isso não importa, Steve. Vou conversar com ela e só então
decidir o que fazer, tenho a mania de me irritar fácil demais e isso estraga as
coisas.
Admiti o meu defeito mais profundo e o quanto ele poderia atrapalhar tudo
o que eu queria.
— Cara, eu quero ficar com a Shayla de verdade, mas tá foda, ela não para
de falar em você, nem me dá um espaço para sondar o terreno!
Eu não sabia mais o que fazer para ela desistir. Já tinha dito milhares de
vezes e nenhuma delas parecia surtir o efeito que eu procurava. Um inferno.
Shayla nem de longe despertava a fera que Lily abria a jaula tão facilmente.
— Tenta outra estratégia, sei lá! — dei de ombros e voltei a olhar para o
jogo, querendo que ele esquecesse esse assunto.
Sabia exatamente para onde seguia e eu não gostava de ficar falando como
eu conquistava as mulheres, eu simplesmente ia lá e fazia, não era algo que eu
soubesse como, só conversava com elas, e depois de umas horas, meus lençóis
eram bagunçados loucamente.
— Por que não deu um assento perto da gente pra ela?
Eu nem sabia com certeza que ela viria e, principalmente, Lily não aceitava
nada desse tipo, ela mesma comprava e sempre no mesmo lugar. Eu cansara de
oferecer há muito tempo e agora simplesmente havia me acostumado.
Era o jeito dela e eu o amava.
— Não gosta de regalos, prefere fazer tudo do jeito dela.
Ele assoviou.
— Essa vai te deixar na mão.
Eu já estava. Nem sabia definir desde quando ou se sempre estive, mas a
noção de que nesse momento eu era dela, era maior do que nunca.
Ganhamos o jogo e não por mérito meu, e sim pelo do time que era ótimo.
Ninguém se deu ao trabalho de perguntar o porquê do meu fracasso, apenas
saímos depois de terem feito o trabalho. No próximo poderiam contar com todo
meu empenho, o de hoje fora uma falha apenas porque eu estava preocupado
com ela e o que conversaríamos quando terminasse.
Ansioso, na verdade.
Muito ansioso.
***
— Olá. — Ela falou baixo assim que a encontrei no lado de fora, torcendo
para que ela me perdoasse pelo momento de imbecilidade.
Eu sempre fazia essas coisas e ela me conhecia melhor do que ninguém.
— Oi, boneca.
— Tudo bem?
Eu sorri. Um sorriso contido, mas ainda assim um sorriso. Com certeza,
muito melhor do que a careta e o silvo que eu daria se estivesse furioso.
— Sim.... — respirei fundo. — Me desculpe pela crise, mas é que eu
realmente queria saber por você e não por uma revista idiota.
Nesse ponto eu tinha razão e nada me provaria o contrário, nem mesmo a
cara de anjo que ela fazia quando queria algo.
— Sim, nessa parte eu estou errada, sinto muito. Não vai ficar furioso?
Eu estava. Estava antes de perceber a ironia na minha raiva.
— Estava, mas como pode ver, a fera se acalmou! — abri os braços e sorri,
vendo a confusão nos seus olhos.
Eu com certeza não estava no melhor momento e não a culpava por estar
assim também.
— Você é mesmo louco!
— Sou e tenho uma promessa a cumprir! — Nos encaramos e notei a sua
pele se enrubescendo, um convite explícito para o pecado que cometeríamos
assim que chegássemos no apartamento.
Os vizinhos de baixo iriam ouvir e ouviriam muito, porque eu a faria sentir
como se estivesse caindo em um abismo para logo depois ser puxada e
submetida a sensações ainda mais conflituosas.
Nada seria tão indecente quanto o que faríamos e eu a deixaria relaxada. Se
eu falasse, ela se retesaria e eu definitivamente não queria isso.
— Fui até o seu apartamento primeiro, minhas coisas estão lá, pode ir
direto.
Mesmo que não estivessem, eu não aguentaria esperá-la no dela. Queria
Lily e não me conformaria enquanto não a penetrasse carinhosamente, depois
bruscamente, depois insanamente e da maneira mais profunda que
conseguíssemos nos conectar.
— Sorte sua, se não teria que andar com as minhas cuecas, porque eu não te
levaria pro seu nem ferrando.
— E por que isso? A gente já ficou no meu...
Ficou... Mas meus géis estavam no meu. Só que ela não precisava saber
disso agora.
— Vai descobrir, Lily.
Meu sorriso safado, deixando claro que não teria italiano que seria capaz de
se enfiar entre a gente hoje e eu suspeitava que em nenhuma outra hora.
***
Soltei a chave do carro em cima do aparador em um dos cantos da sala e
percebi que Lily se retesou com o gesto, prevendo a onda de instinto que nos
invadiria em questão de segundos. Porque era isso que eu sentia, uma força
imensurável dominando meus músculos e todo o meu desejo.
Qualquer outro assunto completamente esquecido na minha cabeça e
suspeitava que na dela também.
— E a garganta? Tá boa?
Adorava provocar e com ela, essa mania praticamente dobrava de tamanho.
— Idiota!
— Ah, eu devo ser mesmo um idiota por não ter admitido nada disso antes,
ainda mais se eu soubesse que seria tão viciante.
Passei minhas mãos em torno da sua cintura e o calor do corpo dela
queimou a minha mão, ou aquilo era apenas uma sensação para descrever como
pegávamos fogo juntos.
Qualquer coisa que ela quisesse.
Assim que minha boca tocou a sua, foi nisso que pensei.
Lily teria o que quisesse de mim!
Mesmo que isso me custasse a minha carreira, mesmo que isso me custasse
tudo. Não me importava.
Ela realmente teria o que quisesse.
— Aquela foto não foi nada, Collin.
Ela se apressou a dizer assim que desgrudei meus lábios dos seus e eu voltei
a beijá-la ferozmente, sem me importar com quem quer que fosse. Eu a tinha,
mais nada valia a pena uma discussão.
Minha língua em uma dança sensual com a dela, enquanto minhas mãos a
apertavam em todos os lugares, tudo ao mesmo tempo, querendo tudo ao mesmo
tempo. Tudo dela.
— Eu tô pouco me ferrando com a foto, Lily, como disse quando o jogo
acabou.
Levantei-a e senti quando passou as pernas na minha cintura, em um aperto
esmagador e que previa exatamente como seria a nossa noite.
Levei-a vagarosamente até o quarto e empurrei as coisas que eu deixara na
cama mais cedo. Cartas que me provavam que eu era o único para ela, assim
como era para mim. Precisei de uma grande dose do passado para perceber o que
estava bem na minha frente.
Para ela eu valia o esforço. Lily merecia um Collin muito melhor e eu seria
esse Collin por ela.
Passei minhas mãos pela sua barriga e ela gemeu.
Sorri irônico.
Ela gritaria ainda mais do que eu imaginava. O prédio inteiro saberia
exatamente o que estávamos fazendo e isso era bom pra caralho. Saber que eu a
tiraria da linha despertava os instintos mais primitivos em mim.
Passei sua camiseta pelos seus braços e fiz uma trilha de beijos pela sua
barriga, ao mesmo tempo em que puxava o short de algodão que ela usava. Lily
ficaria sem roupa logo e se dependesse de mim, esses momentos seriam os mais
prazerosos que ela já vivera.
Puxei a calcinha com o dente.
Minha boca passando vagarosamente pela sua pele enquanto eu o fazia. A
trilha de arrepios seguindo seu caminho, enquanto a minha mão segurava forte o
seu quadril. Aquela tortura não estava surtindo efeito apenas nela... Na minha
bermuda, meu volume era insuportável e parecia que explodiria a qualquer
momento.
Estimulei seu clitóris e ela agarrava com força o lençol, na merda de uma
pintura sensual da deusa do pecado.
A minha visão dela estava espetacular e me fazia salivar por prová-la e
levá-la a loucura antes mesmo que a penetrasse.
— Eu vou amar você, Lily. Depois vou te foder. E quando estiver saciada
demais, a gente vai testar os limites e vai perceber que nem tudo é uma caixinha
de instruções.
Nada no sexo era instrução.
O bom estava em sentir e se entregar. Confiar que a outra pessoa te levaria
exatamente nos lugares que você queria e ansiava alcançar.
Ela gemeu ainda mais alto e eu não aguentei mais provocá-la, porque aquilo
estava mexendo comigo a um ponto que eu não sabia quanto seria capaz de
resistir. Tirei minha camiseta rapidamente e desafivelei o cinto mais rápido do
que eu me lembrava de já ter feito um dia. Fui até o criado-mudo, peguei uma
camisinha e a rasguei a embalagem com o dente, vendo-a com os olhos
fechados, completamente entregue.
Ela confiava em mim para dar prazer à ela e eu de forma alguma a
decepcionaria.
Subi na cama, com a corrente de prata no meu pescoço roçando-a e
deixando-a estremecida com a temperatura do objeto. Até mesmo aquilo soava
sexy e parecia meu inferno, um inferno bom demais para recusar.
Deslizei para dentro dela, lentamente, sentindo suas paredes me apertarem,
com a sua lubrificação deixando o movimento ainda mais fácil.
— Merda, Collin! Que delícia! — Lily falou de olhos fechados e eu sorri
safado, mordendo a parte inferior do meu lábio.
Pensei em uma pessoa horrível, sem dentes, com a bunda torta, uma maior
que a outra, nem aquilo parecia funcionar, mas nem aqui e nem no inferno que
eu me deixaria levar primeiro que ela.
Mulheres tinham que gozar primeiro. Sempre.
Que raios de homem eu seria se aceitasse o contrário?
Levantei uma das suas pernas e a encaixei na curva do meu ombro, indo
mais fundo, arrancando um grito alto, um grito de puro prazer. Mais uma
estocada, mais um grito, e eu mordi meu lábio dessa vez, forte, mordi forte assim
como eu entrava com força nela.
— Collin! Mais, isso... Mais!
— Gosta assim? — sussurrei no seu ouvido.
— Vai mais forte!
E eu cedi ao seu apelo.
Me colocando completamente nela, em um vaivém forte e tórrido.
Minha boca procurando pela sua ferozmente, enquanto nossas línguas
faziam movimentos ainda mais sensuais do que os nossos corpos.
Eu empurrava, ela aceitava, e os gritos eram audíveis no quarto.
Assim como seus incentivos para que eu continuasse.
A ideia de ir devagar e fazer amor completamente nublada pelo meu desejo
de ter mais dela, enquanto percebia que o que fazíamos ainda era uma
ramificação do sentimento.
Qualquer coisa com ela era amor.
Lily era o amor.
Nada de Lírio, para mim, Lily significava amar alguém com todas as
minhas forças.
Levantei-a e fiquei sentado nas minhas pernas, enquanto ela se
movimentava no meu colo, com a minha atenção nos seus mamilos duros e
empinados, me convidando a passar a língua por toda aquela parte.
E eu o fiz.
E ela gritou mais alto.
Tão alto que qualquer outro barulho de animais no parque próximo, pareceu
desaparecer. A única coisa que eu escutava eram os seus gritos, seus gemidos e
suas preces roucas no meu ouvido.
Senti uma mordida no meu ombro e aquilo me transformou em um animal,
muito mais feroz e desejoso.
— Ah, merda, Lily!
Segurei ainda mais forte na sua cintura e a movimentei mais rápido, um
ritmo insano que nos fazia suar como se pudéssemos derreter a qualquer
momento.
Ela começou a tremer no meu colo e eu me permiti urrar e me libertar com
força dentro dela. Sem pensar em mais nada, sem saber ao menos quem era. A
noção de tempo e espaço completamente perdida.
Olhei para o gel no criado-mudo e um sorriso safado se abriu no meu rosto.
— O que acha de um segundo round especial? — olhei para ela e depois
para o lugar.
Lily ficou vermelha, mas eu conseguia ver no seu rosto que ela queria
experimentar e merda, eu sabia que a faria gritar ainda mais alto e que todos os
seus gritos seriam únicos e exclusivamente pelo prazer.
Sim, gatinha, nós faremos um anal maravilhoso.
Eu sabia como fazer aquilo ser mais prazeroso agora e só conseguia
agradecer por isso.
— Dói? — Ela perguntou receosa e eu sorri, o garoto se animando mais
rápido que um velocista na Olímpiada.
— Não se relaxar! — respondi. — E temos umas coisas realmente muito
boas pra isso, aqui.
Peguei o gel na mão e esperei, esperei que ela concordasse.
Queria que ela descobrisse o próprio corpo e o poder que ele tinha sobre
mim.
— Certo.
Sorri malicioso.
Ela responder isso era como soltar todas as cordas que prendiam a fera.
— Deita! — A rouquidão na minha voz evidente.
— Vai ser assim? Do nada? — Ela perguntou espantada.
— Não, claro que não.
Coloquei um pouco de gel na mão e passei pelas suas pernas e costas,
massageando-as em um ritmo gostoso e paciente, querendo que ela relaxasse e
se sentisse pronta para atingir qualquer nível de prazer.
Quando minha mão estava completamente lambuzada com o gel e seu
corpo, brilhando como as estrelas que víamos através da janela, peguei o
lubrificante e passei em círculos delicados naquela área, sentindo seu corpo
tremer sob a minha mão.
— Relaxa, amor.
Essa palavra pareceu deixá-la melhor e percebi que ela estava pronta.
Peguei uma nova camisinha e coloquei, passando lubrificante nela também,
coloquei uma almofada embaixo da sua barriga, enquanto Lily ronronava como
uma gatinha que recebia carinho.
Coloquei um dedo, a fazendo se acostumar, depois dois, feliz com a entrega
dela.
— Qualquer coisa pede pra parar...— falei.
Seria libertador e não algo imposto.
Ela precisava aproveitar também.
— Pode ter certeza que vou fazer isso.
Sorri, eu sabia que faria.
Beijei suas costas, enquanto pressionava suavemente, empurrando com toda
a calma que eu pude puxar de mim, porque a vontade era absurdamente outra.
Com ela as coisas eram tão intensas que eu me sentia prestes a cair em um
abismo sem fim.
Empurrei mais um pouco, Lily se mexeu.
Me preocupei.
— Tá tudo bem?
— Tá sim.
O lubrificante fazia efeito, afinal.
Afundei mais, mordendo meu punho, não querendo gozar assim tão rápido,
sem nem completar o ato.
— Ai, Collin...
Travei.
— Tá doendo muito?
— Tá até bom, continua.
Respirei aliviado e entrei devagar, tudo, vendo-a ficar do mesmo jeito.
— Posso me mover? — perguntei preocupado, bem próximo ao seu ouvido.
— Deve! É diferente, mas é uma sensação muito boa!
Fui ao delírio.
Comecei devagar e quando percebi já estávamos nós dois acelerados,
parecendo dois selvagens e pervertidos.
Xingando mais alto do que antes.
As experiências anteriores sendo nubladas e apenas Lily preenchendo
minhas memórias mais sacanas, apenas ela.
E a noite acabou por superar minhas expectativas, me fazendo deitar
exausto ao seu lado, enquanto passava a mão pelos seus cabelos, acompanhando
o fechar dos seus olhos e respiração pesada, adormecendo com seu sono
embalando o meu.
LILY AINDA DORMIA, mas o telefone não parava de tocar na sala e se eu
não atendesse ela acabaria acordando, assim como eu.
Levantei devagar a contragosto, com todo cuidado para não mexer muito o
colchão. Ela sentiu a mudança de peso, resmungou e virou para o lado. Respirei
aliviado. Ela realmente precisava dormir.
— Quem fala?
— Oi, filho. — Eu conhecia aquela voz e sem sombra de dúvidas não
queria escutá-la agora.
— Não sou seu filho.
— Nasceu da minha porra, então é.
— Fala logo o que quer.
Ele estava preso e me ligava algumas vezes com o direito a telefonemas
ocasionais que possuía. Eu odiava isso. Odiava esconder dos meus pais que eu
falava com o cara que tinha quase os matado. Sentia nojo de mim, mas assim
que criei noção das coisas, a curiosidade foi maior e eu não consegui evitar que
aos vinte e um anos acabasse visitando-o apenas para conhecer.
E agora estava ali, atolado até o cotovelo na merda.
Bem que a curiosidade matava o gato.
— Quando vai vir me visitar?
— Não vou mais. — E realmente não iria.
Estava feliz demais para deixar que qualquer coisa ousasse atrapalhar
minha felicidade.
— Tenho um assunto que vai te interessar. Venha logo.
Ele disse e desligou, fazendo minha mandíbula trincar em raiva.
— O que aconteceu? — olhei para Lily, sonolenta e apoiada na parede, me
olhando curiosa.
Ela não merecia saber disso agora, depois de uma noite como a que
tivemos.
— Nada. Apenas um dos caras, querendo saber se vamos sair hoje...—
respondi, sem qualquer sombra da mentira por trás das minhas palavras.
Lily até poderia ter desconfiado, mas não fez mais perguntas, apenas se
virou e seguiu para o quarto, enquanto eu permaneci na sala por alguns minutos,
tentando adivinhar que assuntos aquele homem tinha comigo. Não queria me
misturar com ele e mesmo que tivéssemos o mesmo material genético, eu tinha
certeza que não poderíamos ser mais diferentes.
Fui até o quarto e a encontrei deitada tranquilamente na cama, com os olhos
abertos, mas com uma sonolência clara.
— Quer sair hoje? Cinema, teatro? Ou qualquer outra baboseira?
Eu queria que nosso relacionamento fosse normal e que ela sentisse isso
cada vez em que saíssemos juntos.
— Preciso ver nossos pais.
Eu também precisava e precisava mais ainda mostrar que tinha acordado
para a vida e chutado a minha bunda como realmente merecia por ser tão cego.
— Vamos lá, então. Levanta daí e vamos tomar banho, pra gente ir logo e
ouvir o blá blá blá de Josh e Beatriz Currey! — falei animado, pela primeira vez
realmente animado.
— Banho juntos? — Ela perguntou e eu sorri.
Não chegaríamos na mansão tão cedo.
— Como tá a sua garganta? — A pergunta carregava vários sentidos
sexuais e ela entendeu. Claro que entendeu.
— Muito boa!
Lily sorriu e eu retribuí.
Só saímos do apartamento algumas horas depois.
***
— Pai, mãe? — Ela gritou e eu comecei a rir.
Já imaginava o que os dois diriam quando nos vissem juntos, algo do tipo:
“Vamos agora pras Maldivas!”. Josh não costumava brincar quando o assunto
era um tempo só com a mulher e eu tinha certeza que depois da nossa confusão,
isso era o que ele mais desejava.
Mamãe desceu a escada arrumando os cabelos e eu notei na hora o que
tínhamos atrapalhado. Esse era o mal de não ligar antes de aparecer.
— Ah, meu Deus! A gente interrompeu?
— Que pergunta idiota! — Papai desceu bravo, sem se preocupar em
colocar uma camiseta.
Já éramos adultos e sabíamos exatamente o que acontecia entre duas
pessoas que se amavam, assim como fizemos antes de atrapalhá-los.
Ninguém merecia empata foda.
— Vocês vão se casar? Quer dizer, um casamento simbólico, claro... —
Mamãe perguntou e eu engoli em seco.
Casar?
A ideia passou pela minha cabeça e não soou ruim, mas eu sabia como Lily
era e tinha certeza que ela não iria querer casar assim tão cedo. Se bem que nem
poderíamos casar, então, acabaria ficando elas por elas.
— Casar! Casar é uma palavra maravilhosa para um pai estressado que nem
eu! — Josh disse e gargalhou, assim que se sentou na poltrona do papai.
Ninguém sentava na poltrona dele, era lei na casa e aprendemos isso logo
que começamos a falar as primeiras palavras.
— Não vou casar. — Lily respondeu enfática e quem a olhou intrigado
dessa vez fui eu.
— Nem uma festa simbólica para os familiares? Sem assinar, nem nada? —
Mamãe perguntou e ela parecia indignada assim como eu.
Como assim não iria casar?
Agora, eu queria absurdamente casar e a convenceria de que ela queria
também. Nem que para isso precisasse usar a artilharia mais pesada. Como assim
não queria casar? A perguntava ficava girando na minha cabeça e me colocando
em xeque-mate com a mulher geniosa ao meu lado.
E eu achando que ela era inocente, um amor de pessoa, não podia estar mais
errado.
— Por que não?
— Pra que? — Ela devolveu minha pergunta e aquilo me irritou.
Qual o mal em se casar comigo? Sorte a dela que eu não costumava me
sentir ofendido por essas coisas. Mas outro no lugar, se sentiria no mínimo
rejeitado.
— Pra compartilhar uma vida? — Josh perguntou e olhou para nós dois
sorrindo.
Se divertindo com a troca de farpas claras entre a gente. Se as coisas
continuassem assim, praticamente nos mataríamos sem nem chegar no primeiro
ano de relacionamento.
— Podemos compartilhar uma vida sem celebração nenhuma, não vejo
necessidade, é antiquado.
— Antiquado? Meu Deus! Por que não nasceu romântica como eu? —
Mamãe parecia ultrajada e a risada do papai foi gutural, ecoando por toda a
enorme sala. — Casar é maravilhoso! Um momento único!
Lily revirou os olhos e Josh também.
Eu acabei rindo mesmo sem querer.
— Não podemos nos casar, por que eu faria uma festa qualquer só por
simbolismo?
— É um bom ponto que ela tem, amor. — Josh defendeu a filha e Beatriz o
olhou mortalmente, com a boca crispada pronta para matá-lo a qualquer
momento.
Se ele não calasse a boca, faria parte dos jogos mortais logo.
— Não pode deixar que nossa filha fique sem casar!
— Eu?! O que eu tenho a ver com o casamento dela? É decisão dela e sua
felicidade já me basta! Fora que nem vai casar de verdade, nem sei pra que todo
esse escândalo.
— Também me preocupo com a felicidade dela!
— Então deixe-a em paz, assim como sempre fala para eu fazer!
Eu e Lily estávamos apenas acompanhando o pingue-pongue verbal dos
dois, nos segurando ao máximo para não gargalhar.
— E você nunca faz!
— Agora estou fazendo!
— Josh!
— Beatriz!
Ela jogou as mãos para o alto em derrota e ele aumentou o sorriso, olhando
para a gente e piscando, conforme a carranca da mamãe se dissolvia em uma
careta desgostosa.
— Ty vai trazer uma menina aqui hoje...
A nerd. Pelo visto nosso jantar em família já estava garantido e em casais.
Nossos pais tentariam soar normais com uma pessoa diferente à mesa e eu
agradecia por isso. Quando os dois começavam a falar sobre as coisas mais
absurdas se tornava impossível comer sem cuspir a comida em uma gargalhada.
Da última vez, eu engasguei com a água e achei que nunca mais fosse
respirar novamente.
— Ele me ligou hoje e estava jogando xadrez.
— Disse que ela é peculiar.
Eu gargalhei. Peculiar era uma boa definição para o ciúme claro que mamãe
sentia ao descobrir que seu caçula estava sendo fisgado.
— Não queria que ele se firmasse?
— E sua mãe sabe o que quer? Às vezes acho que ela foi feita por um
programa secreto do governo para mudar de ideia a cada segundo. E de humor
também, inclusive.
Ela ficou séria de repente e depois sorriu, o que só provava a tese da sua
mudança de humor. De ideia não deveria estar errada também.
— Só estou preocupada.
— Ele ficou com ela no meu apartamento há algumas noites e acho que
dessa vez realmente está afim de uma mulher. Me disse que ela é inteligente,
trabalha com ele e nerd. Muito nerd.
— Adoro pessoas assim! Esse detalhe meu filho ingrato deixou de fora!
Talvez ela tenha lido tantos livros quanto eu e vai ser perfeito ter com quem
conversar!
— Se o Ty soubesse que seria fácil assim conquistar a boa opinião da sua
mãe, com certeza não teria ocultado essa informação.
— Ele nunca fala nada pra mim! Tenho que adivinhar!
— E você faz um bom trabalho com isso, pode apostar!
E era verdade. Ela pegava as coisas no ar e parecia uma bruxa prevendo o
futuro. Ou melhor, bruxa não, senão ela me mataria se desconfiasse que andava
pensando isso sobre a sua habilidade.
— Vão ficar? — Ela ignorou a fala do marido e olhou esperançosa para
mim e para Lily.
Notando que agora que estávamos juntos não tinha motivo para Lily evitar
a casa e todas as pessoas que acabavam por aparecer em algum momento do dia.
O mal e bom em ser vizinho dos dois melhores amigos. Meu pai sofria, mas
também amava ver a casa cheia.
— Vamos sim!
— Ah, maravilha, vou fazer pudim! — bateu palmas animada, como não a
via fazendo há algum tempo.
Mamãe estava realmente feliz pela nossa relação e nem fazia questão de
disfarçar.
— Pudim? Faz um só pra mim? Allan comeu o último todo e nem deixou
pro cheiro!
— Ninguém mandou ficar jogando golfe até tarde!
— Eu não fico olhando as garotas, não sei se sabe, mas eu sou um
cinquentão! — Ele falou e eu imaginei que a fala dela tivesse significado oculto,
ou ciúme oculto.
— Então, por que demorou?
— Eu já disse, amor! Fiquei conversando com o pessoal!
— Perto do carrinho de bebidas?
— Claro que não!
Josh levantou e foi atrás da mulher, os dois resmungando, seguindo para a
cozinha, em um debate fervoroso sobre mulheres, carrinhos de bebidas e
olhadelas no traseiro.
Era impossível não dar risada daquela ligação maluca que os dois tinham.
Ouvimos um barulho de panela sendo jogada na parede e trememos
involuntariamente. Papai devia estar tendo trabalho em acalmar a fera e com
certeza dissera algo fora da zona de segurança.
— Vamos ser assim?
— Teremos muita sorte se formos. — Eu respondi sincero, porque eles se
entendiam melhor do que qualquer outro casal que eu conhecia.
Ou na verdade, eles e outros dois casais.
Eram o sinônimo de pessoas feitas umas para as outras, que não eram
perfeitas, mas compreendiam e aceitavam os defeitos entre si.
— Verdade.
— Já sabia sobre essa garota do Tyler?
— Sabia porque ele comentou... Mas pelo que me falou não tinha dado
nenhum passo ainda e pelo visto criou coragem.
— Por que não dera um passo?
— Porque ela é diferente. A gente pisa em ovos quando sente que a mulher
é especial.
— Pisou em ovos por mim?
— Eu pisei e ainda fiz ovos mexidos com bacon.
Ela gargalhou e assim que Tyler passou pela porta, sorrindo como um
idiota, o olhou, intrigada.
— Estou feliz, não posso?
— Xadrez? — Lily perguntou e eu gargalhei.
Xadrez era bom, mas tirar peças de roupa era ainda melhor!
— Sim!
— Só xadrez? — Ela enfatizou e eu gargalhei ainda mais alto ao notar a
decepção na sua voz. Era praticamente um eco do que eu pensava.
— Só. Mas estou progredindo e o jantar é apenas o começo.
— Isso é bom. Vou gostar de conhecê-la!
— Vai sim! Todos vão. — Ele confirmou e deu um aceno, subindo a escada
assoviando e dando risada sozinho.
Eu geralmente ficava assim depois de conversar com a Lily e entendia o
que ele sentia perfeitamente. Algumas pessoas eram tão importantes pra gente e
as amávamos tanto que não importava como o tempo fosse passado, apenas que
ele fosse passado ao seu lado.
— O QUE VOCÊ gosta de fazer, Mia? — Mamãe praticamente fuzilava a
coitada da garota e todos nós a olhávamos com pena.
Inclusive, Tyler. Que devia estar se amaldiçoando por ter trazido a mulher
assim tão cedo para que mamãe e papai conhecessem. Não ajudou em nada
ambos dizerem que eram amigos, aquilo apenas acendeu o fogo da curiosidade
em Beatriz Currey.
— Gosto muito de ler, ir ao cinema e estudar.
Ela gostava de ler. Minha mãe devia ter prestado atenção só nessa parte,
porque ela definitivamente mudara de tom com a garota e voltara a soar
maternal, assim como a ouvíamos todos os dias.
— Ler?! — Ainda teve a audácia de parecer surpresa, mesmo que Collin
tivesse dito algo semelhante mais cedo. — Eu adoro ler! Leio de tudo, sempre
que posso!
— É verdade. Às vezes me manda jogar golfe só pra poder terminar de ler
algum livro, diz que eu atrapalho. — Papai admitiu e deu risada, se divertindo
com as duas.
Olhei para o meu irmão que relaxou e respirou fundo, fazendo com que um
sorriso se abrisse no meu rosto assim que seu olhar encontrou o meu e ele
revirou os olhos despropositadamente.
— Lê romances? — Mamãe perguntou esperançosa e Mia balançou a
cabeça afirmativamente.
Foi o suficiente para o grito histérico ser ouvido e a mesa de jantar virar
uma euforia sobre personagens literários, o quanto eram perfeitos, e um convite
sem chance de recusa para a possível membro da família ir até a livraria dela e
da tia Rose, a livraria Divas.
Um nome que eu achava engraçado, mas que combinava.
Beatriz era fácil de ser conquistada e a mulher pegara exatamente no
calcanhar de Aquiles da mamãe.
— Agora não conversarão sobre mais nada. — Papai murmurou e a gente
riu, observando o entrosamento das duas. — Acertou na mosca, Ty.
Meu irmão deu de ombros e voltou a comer normalmente, depois de
passado o susto das primeiras impressões.
Só que ainda tinha um monte de gente pra coitada sofrer na mão. Mal de ter
família grande. Só conseguia torcer e desejar boa sorte à ela, mesmo que Mia
ainda nem soubesse desse detalhe e a contar pelo nervoso do Tyler, ele nem
contaria para ela.
— Você trabalha junto com o Ty?
— Sim. Somos parceiros de divisória, ele fica bem ao meu lado! — Ela
respondeu casualmente e minha mãe abriu um sorriso malicioso.
A menina não entendeu, mas nós entendemos exatamente onde a mente dela
estava chegando. E Tyler parecia mais tranquilo do que eu imaginei que ele
estaria. Pelo menos Beatriz Currey gostara da menina e isso era um tremendo de
um ponto positivo.
Collin permanecia um pouco quieto do meu lado, o que não era normal se
tratando dele, mas o conhecia bem o suficiente para saber que mais tarde ele me
diria o que o afligia. Ou não... Só restava esperar.
— O que aconteceu, Collin? — Meu pai perguntou, no exato momento em
que eu pensava em fazer o mesmo.
— Nada. — Ele disse e deu de ombros.
Então, tinha sim algo.
— Tirei duas semanas para ficar aqui! — falei, chamando a atenção do meu
pai, antes que ele fuzilasse Collin e o deixasse ainda mais quieto.
A minha segunda discussão com Hilary sendo relembrada e como eu me
recusei a ir à outra campanha ou evento. Dissera que não poderia cancelar e eu
acabara avisando que se não conseguisse eu faltaria, porque passava mal. Não
teve como contra argumentar.
Merecia um tempo para mim e eu o aproveitaria.
Um Oscar também não seria nada mal, com a minha intepretação de doente.
— Isso é maravilhoso! Faz um tempo que não faz isso! Mas eu e a sua mãe
vamos para as Maldivas amanhã e não voltaremos logo, para avisar.
Minha mãe olhou-o, pelo visto sendo pega de surpresa pela informação.
Meu pai tinha essa mania e nem para ela contava seus planos viajantes.
— Eu não estava sabendo disso e não posso me ausentar tanto da livraria!
— A Rose vai cuidar, a Diane também, falei com elas.
— Falou com elas e não falou comigo?
Todos sabíamos que ela estava se contendo assim apenas por causa da Mia.
Se não tivesse essa visita em casa, papai seria comido vivo pelo humor negro da
mamãe.
— Era uma surpresa!
— Que bom! Que bom! — Não era nada bom.
O tom dela deixava isso claro.
— Vai levar a garota do carrinho de bebidas também? — Ela perguntou
depois de uma pausa na conversa com a amiga do Ty e olhou-o fuzilando.
Não sabia o que estava acontecendo com isso, mas meu pai parecia saber
muito bem.
— Por que a mamãe não para de falar nisso? — Ty perguntou e eu agradeci
mentalmente, porque minha curiosidade estava enorme.
— Uma mulher me pediu para tirar foto com ela e bem... Isso saiu em umas
fofocas e capas... — Ele coçou a cabeça e aquilo nos fez gargalhar.
Papai não gostava de ser ignorante com os fãs, mas sabia que ter tirado foto
com a mulher e não ter avisado a mamãe, a deixaria no mínimo em um estado de
nervos.
— Não foi só por isso! Aqueles desgraçados me chamaram de velha e
disseram que meu marido estava interessado em carne nova! CARNE NOVA! E
marido, não precisava abraçar a moça com aquela vontade para tirar uma foto.
Agora o motivo estava claro e eu não sabia quanto tempo aguentaria sem
dar risada de toda a situação. Mamãe era um vulcão prestes a entrar em erupção,
e isso não era uma boa coisa.
Não para o meu pai.
— Eu não a abracei com vontade!
— A foto mostra outra coisa!
— Pelo amor de Deus! Isso porque somos casados há mais de duas
décadas! E como uma foto pode mostrar a vontade de alguém?
A tensão estava alta na mesa, mas ninguém ameaçava sequer abrir a boca
para se meter na conversa dos dois, até porque sabíamos que dali algumas horas
eles estariam conversando como se nada parecido tivesse acontecido.
Minha mãe desceu o garfo até o ravióli, com força, fazendo barulho,
enquanto o olhava com os olhos semicerrados.
Papai engoliu em seco mais uma vez.
— Interessante... Você tira foto com uma garota, depois me enche de
desculpas sobre ficar no golfe até mais tarde... Engraçado como isso soa, não é?
— Soa de qualquer forma, menos engraçado.
— Então você me faz uma surpresa, dizendo que viajaremos para as
Maldivas... Mais uma vez engraçado.
A feição do meu pai mudou e agora ele estava tão furioso quanto ela. Se
ninguém falasse nada, a toalha de mesa voaria com o confronto verbal dos dois.
— Beatriz, a gente conversa depois. Achei que não fosse necessário, mas
vai ser. Então, esqueça esse assunto porque a Mia está ficando assustada.
Ele apontou para a amiga do Tyler, que com o foco sendo voltado para ela,
parou com o copo de suco a centímetros da boca, olhando tensa para os dois.
Collin do meu lado não aguentou e gargalhou alto, aliviando o clima.
— Vocês dois são ainda piores do que eu e a Lily!
— Sua mãe.
— Seu pai! — Ela respondeu, mas parecia mais relaxada. — Apenas um
pouco, claro. — Mia, me desculpe por isso, é que meu marido se tornou um
velho safado, você acredita?
A coitada não soube o que responder e eu estava morrendo de pena dela por
ter que ficar no meio do fogo cruzado.
— Eu não estou velho! E sempre fui safado!
Um ravióli voou pela mesa e acertou em cheio o rosto do meu pai.
Ninguém conseguiu ficar quieto dessa vez e uma gargalhada coletiva foi
ouvida. Até a Mia que não os conhecia ainda e esse jeito maluco deles, acabou
rindo, sem conseguir parar.
— Para uma cinquentona, sua mira está maravilhosa, querida.
— Obrigada, querido.
— A sorte dela, crianças, é que eu a amo desde que a conheci. Pura sorte.
Mamãe relaxou e sorriu fraco, meu pai sabia como amolecer o coração dela.
Caso não soubesse, não estaria mais vivo para contar a história.
— Isso não tira a sua culpa.
— Claro. Podemos deixá-los em paz para comer e discutir isso mais tarde?
— Como quiser.
Voltamos a comer, agora segurando o riso, olhando para os dois que se
encaravam ocasionalmente, em uma mistura de amor e ironia que apenas Josh e
Beatriz Currey eram capazes de manter.
As pessoas conheciam o astro e a mulher dele, mas definitivamente, não
conheciam marido e mulher e o quanto eles lutavam todos os dias para não
deixar que a fama atrapalhasse o casamento. Sorte que ambos eram fortes o
suficiente e se amavam loucamente, para passar acima de qualquer problema.
Não importavam as mentiras e muito menos quem se colocasse no meio
deles. Derrubavam e passavam por cima. Algumas vezes com comida atirada
sobre a mesa, mas ainda assim, superavam.
— Quer ir, Mia? — Tyler perguntou e ela balançou a cabeça
afirmativamente.
— Mas já? Nem comeu a sobremesa!
— Ela precisa ir agora, mãe. Tem um compromisso.
Minha mãe olhou dele para ela, interrogativamente, a curiosidade em
pessoa, mas não recebeu nenhuma explicação. Achava que meu irmão tinha os
segredos dele, tanto quanto essa moça e nenhum dos dois se sentia confortável o
bastante para responder à mamãe.
— Certo, espero que na próxima possa aproveitar o pudim!
— Eu espero que não, sobra mais pra mim! — Papai disse e mamãe jogou
um guardanapo nele.
— Josh!
— Desculpe, Mia.
— Fico feliz em deixar mais pudim para o senhor. — Ela sorriu e meu pai
balançou a cabeça, negativamente.
— Nada de senhor, Josh ou você.
— Meu pai ficaria maluco em saber que conheci você! Ele é fã do Globe
desde aquela época, e disse que era o melhor e junto com James e Johnson,
deixavam o time perfeito.
— Agradeça a ele por mim.
Ela balançou a cabeça e saiu com o Tyler, nos deixando olhando uns para os
outros.
— Gostei dela. — Mamãe disse casualmente.
— Me diga uma coisa que a gente não saiba... Assim que ela disse que lê,
faltou chorar de emoção! — Meu pai falou, arrancando gargalhadas da gente.
— Não foi só por isso... Ela me lembra a garota sonhadora que eu era, que
não é deslumbrante fisicamente, mas que sonha em ser especial para alguém,
mesmo sabendo que não chama atenção. Os homens costumam olhar para
mulheres diferentes, e as que Tyler já saiu provam isso. Mia deve estar insegura
e confusa, sem saber o que ele quer com ela e isso é o suficiente para ganhar
uma parte do meu coração.
— Eu sempre achei você deslumbrante, em todos os sentidos. — Meu pai
disse e a sinceridade na sua fala era clara.
Minha mãe sorriu novamente e olhou para ele como se estivesse vendo-o
pela primeira vez.
Eu e Collin saímos silenciosamente, para não atrapalhar o momento.
Provavelmente, papai seria perdoado pela foto ainda hoje.
— Ele me ligou.
Collin disse assim que sentamos no sofá e eu sabia exatamente de quem ele
estava falando. Seu pai biológico, que tentara matar minha mãe e meu pai, de
forma cruel, por uma vingança que não tinha fundamento.
— O que queria?
— Não sei e acho que não quero saber. Nada de bom pode vir dele.
— Talvez seja melhor enfrentar de uma vez.
— Pode ser. E se algo acontecer? E se eles descobrirem e ficarem chateados
comigo?
Eu duvidava que algo assim acontecesse, mas não poderia afirmar com
certeza, tomar essa decisão cabia apenas ao Collin, mais ninguém.
— Pode falar com eles antes.
— Vão viajar, não quero estragar a diversão deles.
— Tem razão. Então, deixa para quando voltarem!
Ele concordou e se perdeu nos seus pensamentos.
Queria falar que o acompanharia e esperaria enquanto falasse com o
homem, mas eu não era capaz disso. Quando minha mãe achou que era a hora
certa, contou como tudo aconteceu e só em lembrar, eu já sentia raiva daquele
ser desprezível. E toda a verdade me fizera amá-la ainda mais, assim como
Collin, porque ela tinha ignorado o que os pais dele fizeram e o criado como um
filho, um filho de verdade, sem diferenciar de forma alguma eu e Tyler, dele.
— Vou lá amanhã, terminar logo com isso.
— Pode ser bom.
— Tomara. Não o quero envolvido na minha vida.
— Será que eles se resolveram? — perguntei e Collin olhou na direção da
sala de jantar.
— Provavelmente sim, não ouço barulho de nada.
— Então, o que acha da gente ir pro meu antigo quarto e se divertir?
— Se prometer fazer silêncio. — Ele sorriu malicioso.
— Posso fazer isso.
Subimos correndo em direção ao quarto, entre beijos e sorrisos.
— Fica quieta, Lily. — Ele pediu e esse comando pareceu totalmente sexual
aos meus ouvidos.
— Prometo.
Collin me encostou na parede, sem nem se importar com a cama. Olhei para
ele questionando e vi o sorriso safado se formando.
— Temos que ser rápidos, e aqui é melhor.
Ele soltou o botão da minha calça e puxou-a rápido, quase me fazendo cair
pela surpresa.
Gargalhamos.
— Não me faz cair!
— Não vou, tô te segurando, boneca.
Respondeu e eu acreditei completamente nele. Collin sempre me segurara.
— Segura no meu ombro e levanta um dos pés! — levantei, enquanto ele
passava a perna da calça, fiz o mesmo com o outro e me vi apenas de calcinha,
perante seu olhar maravilhado.
Ele ajoelhado na minha frente, parecendo o príncipe que eu sempre tinha
pedido quando lia contos de fadas.
Um príncipe pervertido ao extremo.
Não poderia pedir nada melhor.
Levantou-se, me beijando e abrindo o botão da sua calça, colocando seu
membro enorme para fora.
Salivei!
E ele suspirou.
— Não temos tempo pra isso agora. É uma foda rápida ou arriscar que eles
saibam exatamente o que estamos fazendo.
Sorri, passando a língua nos lábios.
— Então, o que tá esperando?
Collin me beijou novamente e me levantou na parede. Passei minhas pernas
na sua cintura e o senti duro entre as minhas coxas, para logo em seguida me
preencher em uma estocada só, com tudo dele, me fazendo arfar.
Minha pele ainda sensível pelo sexo louco da madrugada protestava, mas
meu corpo clamava por mais.
A tensão sexual tomou conta da gente e silêncio foi a coisa mais difícil que
eu já fiz.
— O QUE VOCÊ quer? — falei, encarando-o pelo vidro.
— Que você pare de foder a filhinha de merda dele.
Harper Patterson. Um nome que eu não queria ouvir, mas que infelizmente
carregava a minha carga genética.
— Nem ferrando! Tá aí algo que não vai acontecer, até porque eu não estou
só fodendo ela, eu a amo e não importa que merda você ache que tem com isso,
não vai influenciar em nada — respondi, de cabeça erguida, admitindo que eu
amava a filha de um cara que ele odiava.
E para mim isso não mudava nada. Ele que apodrecesse e notasse que sua
raiva idiota apenas o tinha jogado atrás das grades.
— Tenho amigos aí fora, garoto. Então, se for esperto, vai ficar longe dela
ou vai carregar a culpa depois.
Sua ameaça me fez tremer, mas eu não demonstrei que me abalara,
mantendo o semblante duro, encarando-o de volta com a mesma intensidade a
qual ele o fazia.
— Você não pode fazer nada à ela.
— Certeza? Não contaria com a sorte no seu caso. Currey e a mulher estão
de prova que eu não costumo pesar as consequências, eu simplesmente vou lá e
faço.
Fechei a mão com força e ele notou esse gesto, sorrindo ironicamente,
percebendo que finalmente tinha me assustado como desejava.
Eu não me importava muito comigo, mas Lily era tudo para mim e se algo
acontecesse à ela por minha culpa, não fazia a menor ideia como seguiria em
frente. Se seguiria.
— Por isso nunca sairá desse lugar! — falei, despejando o ódio que eu
sentia correr em minhas veias, agradecendo por ter sido Josh e Beatriz a me
criarem.
Caso o homem à minha frente fosse responsável por essa tarefa, eu
provavelmente não seria muito melhor que ele.
— O aviso foi dado.
Ele falou e colocou o aparelho no apoio, me olhando pelo vidro, com um
olhar divertido.
Aquela merda não podia estar acontecendo... Não podia...
Saí desnorteado e dirigi até meu apartamento, com as imagens dela girando
na minha cabeça e empurrando toda a felicidade para longe. Eu não poderia tê-
la. Eu não devia colocá-la em perigo desse jeito. Não, não poderia...
Devia falar com meus pais, mas nem isso me animava. Contar a eles que
uma vez, por curiosidade, eu fui atrás do homem que os machucou tanto, não
seria nada fácil. E na situação atual, revelar que ele ameaçara a vida da filha
deles, seria no mínimo a pior maneira de retribuir todo o amor com o qual me
trataram.
Era mesmo uma merda.
Entrei no apartamento, sabendo que Lily estaria lá e não fazia a menor ideia
de como dispensá-la sem piorar ainda mais as coisas. Eu não podia arriscar a
vida dela. Não, eu não podia. E era inteligente o bastante para saber que o
homem não ameaçava com promessas vazias.
Ele era capaz disso e de coisas muito piores. O brilho perverso no seu olhar
apenas provava esse ponto.
— Oi, como foi? — Ela surgiu, vestindo uma camiseta minha e aquilo foi
como um soco no meu estômago.
Como eu diria para ela que não queria mais nada, quando o sentimento era
transparente e palpável entre a gente?
Seria a porcaria mais difícil que eu faria em toda a minha vida.
Sentei no sofá e passei as mãos nos olhos, frustrado. Completamente
frustrado com os caminhos que o destino seguira.
— O que ele queria, Collin?
Fiquei quieto.
Não conseguiria fazer essa merda.
Mas eu tinha que fazer. Era isso ou... Eu preferia nem imaginar o que
aconteceria.
— Acho que precisamos conversar, gatinha. — Chamei-a por um apelido
que não gostava e Lily percebeu isso de primeira.
Fora intencional. Uma tentativa de manter a nossa conversa distante do
vendaval de paixão que me consumia todas as vezes que eu estava perto dela.
Se sentou ao meu lado, preocupada e receosa. O que eu lia no seu rosto me
deixava ainda pior pelo que eu faria a seguir. Mas era para mantê-la segura e se
eu precisasse viver no inferno para que ela fosse feliz, eu garantiria que ele
estava quente o bastante para me receber.
— O que aconteceu?
— Eu pensei sobre a gente... — Meu peito parecia doer apenas por respirar.
— E acho que não vai dar certo. Somos considerados irmãos, Lily, e devemos
manter as coisas dessa forma. — O ato de respirar era doloroso e olhar para ela
estava transformando a terra em meu inferno pessoal.
— Co..Co..mo assim? — Ela gaguejou de nervoso e eu me senti um filho
da puta.
Um desgraçado que não merecia nada!
Eu a amava, jamais a colocaria em perigo e precisava fazer com que ela
acreditasse que eu não sentia nada. Caso contrário, Lily não me abandonaria.
— Isso que ouviu, não vai dar certo. — Levantei a cabeça e olhei para o seu
quadro.
Eu estava perdido.
— Mas por que? Eu te amo, Collin! Não me deixa sozinha de novo, por
favor? — A sua voz fraca e chorosa estava me matando.
A dor me dilacerava, dura e crua, enquanto a sua respiração pesada ao meu
lado deixava claro o quanto eu a estava machucando.
— Eu também gosto de você, mas isso não é suficiente.
Era. Era mais do que suficiente. Eu queria gritar, despejar toda a minha
raiva em um beijo devastador e depois provar o quanto ela me afetava durante
nossos momentos na cama. Mas nada disso seria possível, não quando
deveríamos nos afastar.
Cogitei até contar a verdade. Mas se ela soubesse, iria querer desafiar e se
colocaria em um risco ainda maior.
— Estávamos bem! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO! —
gritou, revoltada.
Seu olhar era capaz de me fazer queimar ainda mais no inferno.
— Não só posso, como vou. — Sorri amargo.
Um sorriso que pareceu ironia para ela.
Dentro de mim, tudo parecia se revirar em dor, conforme as lágrimas
enchiam os seus olhos, descendo livremente pelo rosto e eu nem ao menos
poderia enxugá-las.
Não seríamos mais amigos, não seríamos mais amantes, não seríamos mais
nada um do outro.
Eu continuaria jogando porque era parte de mim, mas nunca mais pisaria na
mansão Currey e muito menos falaria com qualquer um deles. Não merecia nada
disso, não merecia o amor e muito menos conviver com aquela família
maravilhosa.
— Melhor aceitar logo de uma vez.
Respirei fundo, tentando acalmar o monstro rugindo em mim e segurando
ao máximo que as minhas lágrimas acabassem dando o ar da graça.
Ela veria o quanto estava sendo difícil para mim e solucionaria a charada.
— E se eu não quiser? — Ela respondeu altiva, o que me fez encará-la
diretamente, passando uma frieza que eu estava longe de sentir.
— Teremos um problema.
Problema gigantesco, porque eu com certeza não conseguiria resistir a ela
para sempre.
— O que aconteceu?
— Nada, Lily. Apenas isso que falei... Saia assim que puder e não tente
entrar, vou mudar a senha de acesso.
O ar pareceu faltar nos seus pulmões e ela colocou uma mão no peito,
tentando abafar aquela dor que se alastrava tanto nela quanto em mim.
Ela levantou do sofá, andou de costas até que bateu com força na parede,
sem se importar com o impacto, me olhando aterrorizada e magoada.
Amaldiçoei Harper em todos os segundos que saí de lá e agora eu me
amaldiçoava, por ser capaz de ver a dor nos olhos dela e ainda me sentir
tranquilo por ter a certeza que ela não iria querer me ver e deixaria as coisas
mais fáceis com o tempo. Ou não. Se a falta que ela me fazia antes já sufocava,
não queria nem pensar no que aconteceria de hoje por diante.
Passou a mão nos olhos e respirou fundo.
Me olhou como se quisesse me matar e foi em direção ao quarto, pegar as
suas coisas.
Abaixei a cabeça, agradecendo por ela não estar ali para ver como eu
realmente me sentia.
Parecia que eu tinha sido destroçado e a maior parte de mim se mantinha
com ela, enquanto se arrumava para ir embora da minha vida e nunca mais
voltar.
Jamais conseguiria reparar o que eu quebrei hoje e com certeza não seria
inteiro para mais ninguém.
— Eu estou indo. Desculpe por impor minha presença na sua vida.
Não respondi, permaneci quieto.
Os soluços dela acabavam comigo e se eu arriscasse qualquer palavra, a voz
sairia falha e arrependida.
— Achei que fosse o cara certo pra mim, mas pelo visto, não poderia estar
mais errada.
Meu coração parecia ter parado de bater com a sua fala e a vontade de gritar
que eu fazia aquilo porque a amava, crescia em mim.
Mas a segurança dela era muito mais importante do que a minha felicidade.
— Foi bom, gatinha! Você arrasa, mas ainda assim não tocou tão fundo
quanto imaginou.
Eu a ouvi trincar os dentes e a sua humilhação chegava em mim como
ondas de tortura. Apertando mais e mais meu peito, me impedindo de continuar
respirando e vivendo.
Eu estava sendo arrastado pelo asfalto e o amor arrancava a minha pele,
como se fosse uma camada sem a menor importância.
Como eu lidaria com tudo depois disso?
— Você é um idiota desgraçado! Não sou suas vadias para me comer, me
iludir e achar que pode dispensar dizendo que foi apenas bom! Seu imbecil!
Ficou me olhando, como se esperasse que eu a desmentisse.
Todas as suas palavras eram verdadeiras, mas com ela, eu não tinha feito
nada disso. Lily realmente tomara a parte que sempre fora dela e eu não fazia
questão que devolvesse.
Parecia estar melhor com ela do que comigo.
O espaço que faltava em mim, me lembrando da felicidade que eu senti ao
seu lado, mesmo que por poucos dias.
Uma vida de ignorância, quando poderíamos ter ficado juntos desde
sempre.
Eu a encarei e as memórias vinham como uma avalanche, me deixando em
meio à neve, sendo esmagado lentamente.
“— O que está achando do baile?
— Estou feliz que meu parceiro apostou essa idiotice e que ao invés dele,
vim com você.
Sorri para ela e senti seus braços passarem pelo meu pescoço, arrepiando
a minha pele. A vontade de descer meus lábios e beijá-la, me consumia, mas não
poderia fazer nada. Lily era proibida e eu a amava como uma irmã. Éramos
irmãos.
Tracei círculos na sua cintura, meus dedos formigando com o contato.
— Você está maravilhoso arrumado desse jeito!
— Eu sou maravilhoso todos os dias! — fingi indignação pelo seu
comentário e o sorriso que ela deu, iluminou todo o salão, a minha atenção
focada totalmente nela.
— Pausa pra foto! — Tyler falou, com o celular na mão, nos pegando
desprevenidos.
Eu olhei para ela e Lily para mim.
Me perdi na profundidade dos seus olhos verdes e sorri.”
“— Quer um suco?
Perguntei, olhando-a e fazendo uma varredura de todos os caras que a
imaginavam sem roupa. Tinham muitos.
— Não.
Melhor.
Encostei na parede e fiquei na sua frente, evitando qualquer outro tipo de
contato visual, senão tinha certeza que acabaria começando uma briga e ela
seria a mais prejudicada com isso. Era sempre a que separava.
A única que conseguia acalmar a fera em mim.
— Tem um monte de garotas te olhando, vai dar uma volta! — Ela falou e
sorriu fraco.
Balancei minha cabeça negando.
Nem pela mulher mais gostosa do planeta eu sairia de perto dela!
— Está atrapalhando minhas conquistas...
— Quer uma conquista? — perguntei.
Seria a mesma coisa que engolir ácido, mas então, eu sairia de perto.
— Não, estava brincando. Gosto da sua companhia.
— Bom... Quer dançar? — puxei-a pela mão e entramos no meio das
pessoas, sentindo os olhares questionadores nos queimarem.
Eu estava pouco ligando para eles.
Lily estava ali, não tinha com quem eu me importar além dela.”
— E nunca pensou o que isso poderia ser?
Sorri amargo. Se tivesse percebido com certeza teria feito algo.
— Eu a considerava minha irmã, achava normal sentir ciúmes.
— Não era, Tyler não agia como você.
— Ele sempre foi mais tranquilo, sabe disso.
— Mas me defendia quando necessário, só não como você, que vivia
aparecendo nos meus encontros e atrapalhava a maioria deles.
— Ah, qual é! Era divertido!
— Pra você! Era fácil encontrar alguma mulher que ficaria com Collin
Currey, eu já era diferente. Ninguém queria ficar com uma garota tão alta quanto
eles!
Se ela soubesse a verdade, não pensaria dessa forma.
— Não tem noção, não é?
— Do quê?
— Do quanto é linda... Sempre foi... As garotas tinham ciúme, Lily! Por
isso faziam aquelas coisas.
— Não acho.
— Sei muito bem do que estou falando, vai por mim...
— Está vendo? É fácil voltarmos a conversar normalmente.
Se esse era seu argumento mais válido, ela teria que se esforçar muito,
porque eu nem ferrando o aceitaria.
Decidi mudar de tática e me aproximei dela. Sentindo a sua respiração
desejosa, conforme ela se dava conta do que eu faria para provar o meu ponto.
Encostei meus lábios nos seus e ela respondeu ao beijo, colocando as mãos
no meu peito e incendiando o lugar com seus apertos ocasionais. Era por esse
maldito motivo que não poderíamos mais ficar separados ou fingir amizade
quando nos encontrássemos.
Eu a desejava.
E ela me desejava.
Empurrei-a na parede, prensando-a, sentindo o volume aumentar nas
minhas calças, querendo ela e mais ninguém.
Lily arfou e eu sorri com isso.
— Eu não acho! — falei assim que minha boca abandonou a sua.
O frio e o vazio se apoderando do meu corpo, como eu imaginava fazer
com o dela.
— Por que fez isso?
— Não me ouviria, decidi agir.
— Foi golpe baixo.
— Não sabia que tínhamos regras.
— Sabe muito bem que não pode beijar uma pessoa só pra ela mudar de
ideia. Precisa de muito mais pra isso acontecer.
— Já podemos tirar a roupa? Achei que não! — falei, brincando.
— Sexo também não convence ninguém. — Mentira! Tinha me
convencido.
— Eu discordo. Foi aquele sexo bêbado que tivemos que me fez duvidar de
tudo. Pelo amor de Deus, não consegui nem ficar com outras mulheres depois
daquilo!
— Homens se deixam levar por sexo.
— Isso nunca me aconteceu antes.
— Posso considerar um elogio ser capaz de me rebaixar tanto para ter um
pouco de você?
Como ela transformava minha admissão de paixão em algo tão sujo?
Levaria uma vida para entender essa habilidade de manipulação. Com
certeza, uma vida e talvez acabasse nem entendendo.
— Quem caiu de joelhos fui eu, Lily.
Isso a calou e eu sorri triunfante por finalmente estar conseguindo uma
evolução em toda essa discussão idiota.
— Mas você desistiu de mim!
— Não, eu pensei que a estava salvando.
— Me largando?
— Te dando uma chance de aproveitar.
— Queria aproveitar com você, nada além disso.
Ela estava ficando nervosa novamente e isso não era uma boa coisa se eu a
quisesse voltando atrás da sua decisão.
— Lily, vou falar só mais uma vez... Eu te amo e sou capaz de qualquer
coisa para provar isso.
— Desfilar pelado?
Fiz uma careta, isso já era demais, até mesmo para a mente perversa dela.
— Se fosse a única opção.
— Que horror! Nunca faria isso com você!
— Ainda bem, porque eu não teria coragem.
Ela gargalhou e percebi que o resultado da guerra estava prestes a ser
descoberto.
— Não vai ter vergonha se tudo vier à tona? Pode ser que eu me cure, ou
pode ser que eu tenha alguma recaída, não sei como tudo funciona... E se
descobrirem?
— Eu vou te proteger de qualquer coisa.
— Não pode me proteger do mundo, Collin...
— Mas posso tentar e te garanto que se algo magoá-la, a noite vou provar o
quanto é importante pra mim e como a opinião dos outros é insignificante.
— Isso parece bom.
— E é a mais absoluta verdade.
Ela confiara em mim desde que brincávamos juntos e eu prometia não
deixá-la cair, enquanto descia as escadas da casa na árvore, poderia muito bem
confiar agora também.
— Não sei quando vou estar completamente bem.
— E o que isso muda?
— Nada?
— Exatamente! Nada!
Lily pareceu se lembrar de alguma coisa e levou a mão à boca para conter o
espanto.
Esperava de verdade que não fosse algum segredo obscuro meu que a
impedisse de acreditar em mim. Não me lembrava de nenhum no momento, mas
eu poderia ser esquecido às vezes e só me restava rezar.
— Como estão os jogos?
Jogos? De que raios de jogos ela estava falando?
— Da temporada! — Ela completou assim que eu não respondi a sua
pergunta.
— Não sei.
— Como não sabe?
— Não estou jogando... Pelo que parece, a temporada é carta fora do
baralho pra mim esse ano e talvez nos próximos.
Um descaso desse jamais seria perdoado e eu estava preparado para lidar
com ele assim que fiz a minha escolha.
— Por que não está jogando? — Lily parecia assustada e me espantava ela
não perceber logo de cara o motivo.
Levantei minha sobrancelha.
Se ela ligasse o lugar onde eu estava, com o lugar onde eu não estava,
perceberia rapidamente.
— Por minha causa? Você abandonou o time por minha causa?
Abandonar era uma palavra muito forte, mas não deixava de descrever a
minha atitude.
— É a prioridade.
— Mas eu vou me recuperar, Collin! A sua carreira não! Pelo amor de
Deus, mexa essa sua bunda daqui e vá treinar e ganhar a temporada pra sua
namorada!
Para minha namorada?
— Falei sério! Não fique me olhando com essa cara de estúpido! Vá logo
pra gente ter um dia com a taça, porque eu tenho muitas ideias para aquela taça!
Quando um time ganhava, cada um tinha um dia com a taça, onde
poderíamos fazer o que quiséssemos, respeitando alguns limites, claro, e
sinceramente, na última vez eu estava tão bêbado que nem me lembrava o que
fiz durante meu dia.
Decepcionante.
Ainda mais porque se as minhas ideias fossem parecidas com as dela,
seriam lembranças de tirar o fôlego.
E depois, tentaria convencê-la a termos uma cerimônia mesmo que por
consideração.
Faria com que mudasse de ideia.
Precisávamos disso, precisávamos encerrar essa etapa da nossa vida e
embarcar em uma nova. E já que não podíamos casar de verdade, não via mal
nenhum em fazer algo para a família e comemorar da mesma forma.
Realmente, mal nenhum.
Me despedi, antes que me chutasse dali e corri treinar, sabendo que me
dedicaria ainda mais do que no último ano, porque agora eu tinha alguém a
quem impressionar, alguém com quem comemorar de verdade quando fosse a
hora.
A ideia de ganhar nunca me pareceu tão sensual.
E tão fundamental.
— POR QUE COLLIN saiu correndo?
Sorri para minha mãe.
— Ele tem que ganhar uma temporada pra mim.
Ela abriu um sorriso em resposta, um que eu havia me esquecido durante
esses dias em que permaneci sendo observada praticamente o dia inteiro.
— De fato, tem.
— Mãe, anda lendo muito romance de época ultimamente?
— Oras, que não!
— Então, porque está falando como uma mulher daquela época? —
encostei no balcão da cozinha, achando engraçada a sua feição de ultraje.
Ela nem ao menos sabia mentir.
— Não estou falando assim!
— Está. — Papai concordou comigo e gargalhou, entrando na cozinha, com
a sua presença imponente, no auge dos seus quase dois metros de altura.
— Não li nada antigo, ultimamente...
Papai levantou a sobrancelha e minha mãe ficou vermelha, uma coisa rara
de se ver. Aqueles dois estavam juntos tempo o bastante para ela ficar com
vergonha daquela forma.
— De certo que devo ter lido algo desse tipo, digamos... ontem?
Ela olhou para ele, que confirmou com um aceno.
— Daqui uns dias, com certeza terei uma mulher que se julga francesa. Da
última vez leu um livro sobre o que era, amor? Inglês e espanhola? Pelo menos
eu me saí bem depois, adoro imitar sotaque inglês. Soou perrrfeito!
Meu pai definitivamente não era bom em imitar sotaque e eu nem queria
imaginar a situação para tê-lo feito.
— Filha, nós precisamos conversar com você... — Ela frisou a palavra e
olhou para o meu pai, que gargalhava, tentando quebrar o assunto anterior.
— Está grávida? — perguntei.
— Por Deus, não! Tenho uma idade avançada para ser mãe novamente!
— Não acho, adoraria mais um!
— Está vendo? Deu ideia para o seu pai! E Josh, querido, aos cinquenta, eu
só quero ler e tomar chocolate quente! Quem sabe um gato? O que acha de um
gato?
— Gato? De onde tirou essa ideia?
— De um romance talvez?
— Melhor do que patos, isso eu tenho certeza! Se lembra daquele que a
mulher tinha um pato de estimação?
— Você não quis me dar um pato!
— Olha o absurdo nisso, Bia, um pato! Nunca ouvi tamanha insanidade!
Não sabia se meu pai notava, mas pelo visto ele também falava como um
cavalheiro inglês. Nem mesmo seus costumeiros palavrões estavam sendo
citados, nada de: “vá a merda!”; “Nem ferrando!”, “Que se foda!”, entre outros
que eu me cansara de ouvir.
— Os dois estão falando como um casal da aristocracia inglesa! —
comentei e os vi arregalarem os olhos.
— Só porque essa era uma das fantasias da sua mãe!
— Josh! — repreendeu-o e eu gargalhei.
Meus pais eram dois malucos! Só Deus sabia como Collin, Tyler e eu
tínhamos sobrevivido até nos tornarmos adultos.
— Você mesma me disse que ela não é mais ingênua! Acha que gosto de
saber disso também? Claro que não! Preferia ter ficado na ignorância!
— Pai! — falei, indignada.
— Mulheres! Jamais as entenderei, isso é certo!
— Imitou direitinho dessa vez, amor! — A parte engraçada era perceber
que minha mãe realmente estava orgulhosa.
— Chega dessa palhaçada, ok? Quero voltar a ser eu.
— Já voltou!
— Tá vendo como sou um verdadeiro mágico?
— O que querem falar comigo? — perguntei, porque eles pareciam ter
esquecido.
— Queremos seguir o tratamento com você, participar da terapia, acha que
podemos? — mamãe perguntou, parecendo receosa com a minha resposta.
Era algo importante e eu me lembrava vagamente de Sharon falando que o
apoio deles era imprescindível.
— Pode ser...
— Certeza? — Meu pai parecia não acreditar em mim... Mas com essa
possibilidade, me vi querendo ter com quem dividir os sentimentos conflitantes.
— Absoluta.
— Certo... — Ele respondeu e ficou quieto.
A cozinha se tornando silenciosa demais para a família Currey.
Tyler tinha sumido e eu não fazia a menor ideia de onde estava, Collin
treinava, o que significava que a preocupação dos nossos pais estava toda sobre
mim.
— Tyler me contou sobre a viagem... — falei, querendo aliviar o clima.
— Estamos tão surpresos quanto você. Não imaginamos que tudo fosse dar
errado com a Mia, estou decepcionada.
— Com ela ou com ele?
— Com a situação! Gosto muito dela, ainda conversamos, inclusive. É uma
menina gentil e maravilhosa, mas como dizem, não posso ficar me metendo na
vida dos dois.
Isso era um verdadeiro milagre. Minha mãe jamais tivera esse senso de
privacidade e se achava no direito de se intrometer na vida de todos que ela
amava. Olhei para o meu pai e notei a surpresa no seu semblante, assim como no
meu.
— Preciso anotar essa data pra comemorar ano que vem! — Brincou e
recebeu um olhar feio dela.
— Josh, do que está rindo? Preciso te contar um segredo também...
— Se comeu todo o pudim de novo, eu vou ficar muito puto!
— Não! É só que a Lily não é sua filha!
— Amor, essa nem se eu estivesse bêbado acreditaria. A única coisa que
possui de você é o temperamento! O que me deixa cada dia mais louco! — Ele
disse e revirou os olhos.
Eu gargalhei.
Era como ver o gesto que eu e Tyler fazíamos tanto em sua absoluta glória.
— Sem graça!
— Por que não duvido da paternidade da nossa filha?
— Não, é que comi todo o pudim!
— MERDA, BEATRIZ! ESTAVA COM MEU NOME!
— Não seu nome! Estava escrito: Pudim do papai!
— Quem é o pai? Até onde sei só existe eu de pai naquela casa!
— Devia ter escrito pudim do Josh.
— Você é impossível! Quando foi a porcaria de dia que me aceitei casar
com você? Vou voltar no tempo agora mesmo e desfazer esse engano!
— Não, não vai! E voltando para você, Lily, nos avise quando for!
Confirmei com um aceno de cabeça.
— Bom, senão veria do que eu sou capaz mocinha! — Ela falou e colocou
o dedo em riste, apontando para mim.
Engoli em seco.
Era melhor sempre se manter longe do caos, como já dizia o sábio Josh
Currey, um especialista na arte de evitar furacões há mais de vinte anos. Até
mesmo os ruivos. Inclusive, os ruivos!
***
— Está se sentindo melhor hoje? — Mamãe me perguntou, assustada com o
que acontecera na última noite.
Eu praticamente não tinha dormido, me controlando para não vomitar toda
a comida.
Meu estômago se embrulhava com a vontade de ceder, mas minha força de
vontade era bem maior e eu tinha motivos para sair dessa dependência o quanto
antes.
— Mais ou menos...
— Olá, Lily. — Sharon espiou pela porta e não havia mesmo hora melhor
para ela aparecer.
Bem quando eu lutava contra aquilo.
— Oi.
— Podemos conversar?
Era uma sessão, eu sabia. Nem precisava que ela disfarçasse, na verdade,
toda essa sua determinação em disfarçar era apenas irritante demais.
O pior era ser no meu quarto, na mansão, percebendo que toda vez que eu
entrasse ali no futuro me lembraria dessa cena.
— Claro... Meu pai e minha mãe ficam?
— Não, não precisa, queria falar apenas com você agora. No consultório,
podemos conversar em grupo sem problema nenhum... Se for da sua vontade, é
claro.
— Tudo bem.
— Precisa saber de uma coisa, Lily. Temo que isso nem passe pela sua
cabeça, já que não me avisou dessa possibilidade quando fez os exames para o
psiquiatra que vai trabalhar com a gente no seu caso... Ele me avisou que
qualquer tratamento com antidepressivos pode representar riscos...
— Riscos? — Não fazia a menor ideia do que ela estava falando.
Quanto mais Sharon abria a boca, mais eu me sentia perdida em meio às
suas palavras.
— Está grávida, Lily...
Grávida?
Aquilo só poderia ser palhaçada!
Não tinha como! Ou melhor, eu sabia que tinha, mas não queria acreditar!
Por misericórdia, eu estava tratando de uma doença, como seria considerada apta
a cuidar de uma criança?
O desespero que vinha com a verdade era horrível e não por ser algo ruim,
mas por ser inesperado. Completamente inesperado.
O que eu faria?
O que Collin faria?
Tinha sido claro em dizer que assumiria, mas como ele realmente reagiria
quando a verdade o atingisse em cheio?
A vontade de vomitar me dominou totalmente e Sharon percebeu o exato
instante em que isso aconteceu, tentando conversar comigo e me fazer esquecer
por alguns segundos essa compulsão.
— Não é motivo para ficar nervosa, tem que ficar feliz...
— Eu estou feliz, é só que... não estou preparada ainda! Sharon, eu nem
consegui superar as coisas!
— Entendo você, mas será necessário apenas mais um pouco, tudo depende
do progresso que fizemos e, principalmente, da sua aceitação.
— Só nos resta saber quando isso vai acontecer...
— Eu a ajudo, é meu trabalho, mas o esforço de verdade tem que vir de
você. Tem que se consultar com a nutricionista regularmente e agora, com a sua
atual situação, é muito mais importante.
— Posso perder o bebê? — perguntei baixo assim que percebi o que
realmente estava acontecendo.
Eu estava grávida... Do Collin...
E de repente, uma menina morena de olhos verdes surgiu na minha mente,
enchendo minha vida de cor.
— As primeiras vinte semanas são as mais propensas a interrupções
involuntárias de gravidez. — Ela ficou quieta e eu conseguia sentir o que
pensava.
Um abalo emocional como esse na minha vida ferraria com tudo de vez.
Não era idiota, muito menos burra.
Passei as mãos na barriga, sem notar qualquer mudança no seu tamanho,
mas querendo mais que tudo que isso acontecesse logo. Um amor que eu nem
sabia sentir se fez presente e uma força sobrenatural tomou posse do meu corpo.
Eu faria de tudo para melhorar, pela minha família e agora por minha filha
ou filho.
Faria qualquer coisa por ela ou ele, eu tinha certeza.
Somente nesse momento, entendi o motivo para minha mãe se sentir tão
mal com toda a situação e foi nesse momento também que eu compreendi o
tamanho do amor dela pelos filhos. As palavras do meu pai fizeram todo sentido
e eu tinha a convicção que assim como ele, mudaria toda a minha vida para dar
lugar a essa pessoa que era parte minha e do homem que eu amava.
Assim como eu e Tyler éramos parte do amor de Josh e Beatriz Currey.
Não me importei mais com a possibilidade dos meus problemas surgirem na
mídia, não me importei com a repercussão na minha carreira e não me importei
em como me sentiria por isso. Agora, meu foco era outro e minha força de
vontade triplicara de tamanho.
Sharon percebeu a mudança na minha determinação e balançou a cabeça,
em um aceno de apoio.
— Ser mãe nos deixa mais fortes. Sabia que essa notícia mudaria tudo, por
isso decidi vir até aqui... Meu marido queria conversar com você, mas recusei,
esse assunto é mais confortável entre mulheres e como sua terapeuta há bastante
tempo, achei o mais certo ser eu.
— Marido?
— Não percebeu o sobrenome? Achei que tivesse notado. — Ela sorriu
fraco e puxei na memória o sobrenome dele, lembrando que era o mesmo que o
dela.
Devia mesmo estar muito ruim para não ter notado esse fato de primeira.
— Pelo visto, não pensei muito durante esses últimos dias.
— E ninguém a culpa! Precisa de descanso e o mínimo de estresse
possível... Acredito ainda que deva dar uma pausa na carreira, para se recuperar.
Suas lembranças podem ser traumáticas e devido a isso, podem dificultar o
progresso.
— E se eu tiver uma recaída mesmo em casa?
— Lily... Não há como “curar” para sempre algo assim, será uma luta
constante. A situação se agrava quando passa por situações de extremo nervoso e
o melhor seria evitar qualquer tipo de “incentivo” à compulsão, entende?
— Sim.
— Então, deve se perguntar, está bem consigo mesma?
— Como assim?
— É feliz?
Eu era feliz antes?
Agora eu sabia que estava no caminho para ser, mas antigamente eu não
tinha tanta certeza.
Quando adolescente, me sentia mal por ser tão alta e quando adulta, me
sentia mal por amar alguém que sequer parecia nutrir o mesmo sentimento.
Essas duas coisas fizeram com que eu me afastasse da minha família e a culpa
me atingia de tempos em tempos por notar o quão chateados ficavam com isso.
— Agora sim.
— Agora você é. Esse com certeza já é um bom começo, não acha? Temos
necessidade de sentir que estamos no controle de alguma coisa na nossa vida, e
quando essa vontade nos domina e estamos descontentes o suficiente para não
lutar contra, as compulsões surgem e se tornam a única coisa a qual “acha” que
consegue controlar, quando na verdade são as que menos passam confiança.
Notava o quanto aquilo era semelhante à realidade e o quanto eu estava
errada por achar que minha família não entenderia. Eles teriam sido capazes de
entender muito mais. Teriam sido capazes de fazer qualquer coisa por mim e
para me ajudar.
Assim como eu faria por eles se necessário fosse.
A MÚSICA QUE tocava durante o jogo sinalizava os pontos altos da
partida. Não que fosse rápida, mas eu admitia que era emocionante, tanto para a
gente que jogava, como para quem assistia. Beisebol estava longe de ser um
esporte com acontecimentos rápidos e que poderiam mudar tudo, era mais algo
de perseverança e persistência.
Encarei o lançador à minha frente, fazendo sinais para o seu parceiro de
time, que ficava logo atrás de mim, esperando que eu perdesse a bola a qualquer
momento.
Não me intimidava com isso, muito menos com cara feia.
Quando eu queria, não tinha bola curva que parasse a minha determinação e
Home Run era praticamente certeiro.
9
Fui a revelação do Draft , há quatro anos e continuava sendo a revelação da
liga. Sempre uma surpresa, uma técnica aperfeiçoada.
Aprendera com o melhor a me empenhar e mesmo que não fosse no
basquete, me saía melhor do que a encomenda.
Notei o momento exato em que a bola foi lançada. Por instinto, meus
braços moveram o taco na direção, com toda a força, toda a potência que eu
poderia colocar em um golpe.
Certeiro!
Não vi o impacto, mas eu o senti e tinha certeza que essa bola não seria
encontrada tão cedo. O baque estridente da madeira soou como uma explosão
oca nos meus ouvidos, mas era um dos sons que eu mais gostava de ouvir.
Sonhara com eles desde criança e me sentia em estado de euforia por poder
conquistar o que tanto quis.
— E É HOME RUN!!! ESSSEEEEE GAROTO SABE O QUE FAZ!
CURREEEEEEY! NOME DE PESO NO ESPORTE!
Ouvi novamente a música e me desliguei de todo o resto, passando pelas
bases, chegando na casa base, marcando ponto para o time.
Respondi ao cumprimento do pessoal e vibrei pelo restante do jogo,
sentindo que poderia ser sim mais uma vitória de temporada, se continuássemos
nos esforçando como fazíamos, o que era absolutamente certo.
***
A primeira coisa que fiz quando saí do jogo foi pegar meu celular e ligar
para meus pais.
Estava morrendo de saudade dela e se eu pudesse, sumiria na sua
companhia por vários meses para aplacar toda essa minha vontade de tê-la
próxima a mim.
Queria e muito fazer algo, para deixar clara a nossa união, ela por outro
lado não queria e isso era uma merda! Nunca imaginei uma coisa dessas e claro
que amaria a mulher com essas ideias reversas.
Era doido o bastante para ser o único homem na face da terra a fazer uma
insanidade dessas.
Lily era diferente, mas essa diferença me deixava cada vez mais louco por
ela.
— Estão em casa?
— Estamos, vem pra cá! Tyler tá insuportável, então se prepara.
— Algo com a Mia?
— Acho que sim... Tá de um lado pra outro do quarto, o dia inteiro. O
maldito dia inteiro. Não sei o que essa Mia fez, mas o amarrou pelas bolas
direitinho.
— Josh! — ouvi minha mãe repreendê-lo através da linha e gargalhei.
Ele jamais mudaria. Eu se fosse ela nem me daria ao trabalho de tentar
fazê-lo mudar.
— Eu tenho razão! Você também me amarrou pelas bolas, amor, pode ficar
tranquila! E não vou pro Japão!
“Como se eu tivesse essa sorte!”
Ela respondeu e eu gargalhei novamente, não tinha como evitar.
— A ruiva quer se livrar de mim! Vê se pode um negócio desses! Tô sem
moral nenhuma, Collin, nenhuma mesmo! Nunca tive, agora acho que tá ainda
pior.
— Vou aí, então! — falei, ouvindo meu pai e minha mãe já conversando
sobre outro assunto, mesmo com a chamada ainda ativa.
Quando eles começavam a conversar, era difícil chamar a atenção o
suficiente de um dos dois a ponto de pararem de se olhar carinhosamente.
Ou ameaçadoramente.
Eram sempre dois extremos na família.
Batuquei no volante do carro, acompanhando a batida da música, me
sentindo feliz por estar novamente no meu estado normal. Agora era focar na
Lily, na temporada e em tudo o que viria a seguir.
Assim que parei na frente da mansão e vi Sharon, a terapeuta da Lily, meu
sorriso se abriu. Ela era calma e entendia perfeitamente seu trabalho, seu rosto
pacífico e voz doce eram praticamente um convite para contarmos todos os
nossos segredos.
Quando explicara para todos nós o que vinha acontecendo com a Lily, fora
impossível não notar isso.
— Lily está maravilhosa! Estão fazendo muito bem à ela!
Disse animada e se a felicidade já era grande, se tornara gigantesca depois
da sua fala.
— Somos uma família e obrigado por toda essa ajuda!
— Ah, não me agradeça, não foi de todo pela terapia! Com certeza logo ela
te conta e poderão comemorar juntos!
Comemorar?
Fiquei momentaneamente curioso, mas quando me virei novamente para
perguntar, Sharon já entrava em seu carro e sumia de vista.
Entrei em casa, passando pelo meu pai conversando com a minha mãe na
sala, sem nem notarem que eu já tinha chegado. Não cumprimentei, deixei para
depois, curioso demais com o que tinha ouvido para ficar me distraindo com
outras coisas.
Comemorar?
Comemorar que ela estava melhorando?
Podia ser...
Subi a escada apressado e abri a porta do seu quarto, sem bater. E assim que
a vi, o sorriso que se abriu no meu rosto foi praticamente automático.
— Ei, é tão estranho... — Lily sorria e conversava sozinha.
É. Aquilo era estranho.
— Falando sozinha? — perguntei.
Ela finalmente levantou o olhar e pude notar lágrimas se formarem nos seus
olhos.
Não fazia a menor porra de ideia do que tinha feito agora, mas com certeza
eu me desculparia. Depois que ela me dissesse o motivo para estar chorando,
claro.
— O que eu fiz?
— Nada! Me dá um abraço?
Não respondi, ao invés disso, fui até ela. Tomando o cuidado para parecer
culpado o bastante. Nada não era uma boa resposta, mas pedir um abraço sim, o
que me deixava confuso se a situação tendia mais para bom ou para ruim.
— Sharon me disse que está melhorando.
— Sim, ela disse pra mim. Tive que garantir à ela que não vou mais faltar
às sessões, assim como não faltarei mais às consultas com a nutricionista.
— Mas vocês não têm? Como modelos e tudo o mais?
— Temos, sim, claro. Mas eu não me orgulho em dizer que a evitava como
se fosse o inferno me esperando. Acho que a coitada se sente chateada até hoje
por isso!
— Certo. Podemos ir juntos, se quiser... Talvez a sua rotina não deixe, mas
eu gostaria muito de te acompanhar...
— Que rotina?
— Cada semana em um país...
— Collin, sobre isso... Eu não vou mais desfilar nas passarelas... É minha
carreira, mas eu tenho que levar em conta a minha saúde em primeiro lugar.
Decidi que vou ser somente modelo fotográfica, até porque preciso aproveitar
agora...
— Vai abandonar as passarelas? — Interrompi-a, chocado.
Não era o que ela queria! Impossível! E se fosse por minha culpa eu a faria
mudar de ideia, porque definitivamente a amava e não me importava quanto
tempo tivesse que esperar para vê-la novamente, continuaria amando.
Nesse ponto, morarmos juntos ajudaria e muito. Lily seria minha mulher e
isso impediria uma boa parte dos avanços masculinos, ou os aumentaria, se eu
levasse pelo lado negativo.
— Vou, porque...
— Não! Não vai! Sei que sou idiota e tudo o que quiser me chamar, mas
nunca vou fazer nada que possa te magoar, pelo menos, não conscientemente.
— Não é por isso...
— Lily, não importa! Não vai desistir do seu sonho por minha causa!
— Meu Deus, como você é estúpido!
— Sou sim. Mas ainda tenho certeza que não deve desistir, de NADA! É
perfeita assim e eu te amo por ser essa mulher maravilhosa, que corre atrás dos
seus sonhos! Não aceito uma Lily pela metade, quero uma Lily por inteiro!
— E uma Lily e meia? — Ela perguntou e me deixou confuso.
O que diabos queria dizer com aquilo?
— Como assim?
— Você não me deixa falar, seu imbecil! Estou grávida! GRÁVIDA! Por
isso não vou mais desfilar, quero aproveitar o tempo com meu filho ou filha e
trabalhar menos. ISSO É O MOTIVO! Não você, seu convencido!
GRÁVIDA.
GRÁVIDA!
GRÁVIDA.
GRÁVIDA?!
— Grávida?! — perguntei perplexo.
Lily estava grávida. Jesus, Lily estava grávida!
— Sim. Mas você já desconfiava.
Eu desconfiava, ela dissera certo. A certeza era totalmente diferente.
Precisávamos morar juntos! Definitivamente!
Lily grávida ficaria sexy pra caralho! E nem de longe eu a deixaria ficar
andando sem uma aliança no dedo. Nem morto!
— Então, vamos nos casar!
Sua feição mudou no mesmo instante e o que estava sereno se tornou uma
cópia do que eu podia jurar ser Cérbero, o cão do inferno. Seus olhos passavam
tanta raiva que eu conseguia sentir o calor da sua ira queimando a minha pele.
— Não vamos fazer cerimônia alguma, eu já disse! É perda de tempo.
— Não vai carregar uma criança minha sem uma aliança no dedo!
— QUE COISA PRIMITIVA! E posso usar aliança sem fazer nada,
podemos pegar nossas coisas e morar juntos, simples assim!
— Eu sou primitivo, boneca! Sou primitivo demais quando se trata de você!
— Insuportável!
— Não foi um sim, Lily!
— Nem vai ser! É sério, Collin, porque quer tanto fazer isso? Posso usar
aliança e ainda assim não precisar fazer nenhuma festa!
Ela sempre tinha essas desculpas e eu não gostava nada delas.
Lily era a única mulher do mundo que não sonhava com pedidos de
casamento, pelo amor de Deus! Como eu poderia ser tão azarado e sortudo ao
mesmo tempo?
— Você é tão difícil! Tá grávida e não quer casar? Não quer casar, sério?
Vai ser só por consideração! Nem acredito que estou tentando te convencer a
fazer isso! Justo eu! Esse mundo tá mesmo mais maluco do que eu imaginava!
Dramatizei e parecia um idiota por isso. Só não achava a ideia tão absurda
quanto ela e, sinceramente, ser acorrentado a uma vida com a Lily, me soava
maravilhoso.
— Não vou, pronto!!
— Certeza? Posso te surpreender!
— Não vou mudar de ideia!
— Quer saber, não me importo! Não mude, então!
— E se eu mudar?
— Se decida pelo bem da minha sanidade, Lily, PELO AMOR DE DEUS!
Mamãe era indecisa, mas a filha com certeza a deixava no chinelo.
— Eu não quero, palavra final.
— Bom.
— Ótimo.
— E de quanto tempo tá? — perguntei, mudando de assunto.
Um assunto que me assustava e me deixava feliz pra caralho. Se é que tinha
como.
— Ainda não sei... Mas vou fazer os acompanhamentos da gravidez e então
descubro. Sharon não ficou comentando muito, apenas deu a notícia.
— Eu vou junto! — falei, porque não perderia essas coisas por nada no
mundo.
— Eu te arrastaria mesmo que não quisesse! – gargalhei.
Ela arrastaria com certeza.
— Precisamos contar para o papai e mamãe... — lembrei dos dois, sabendo
que se ficássemos guardando essa informação pra gente, quando soubessem nos
matariam.
E ainda ficariam com a criança para eles.
— Passo pra você.
— Pra mim? A tarefa de contar que tá grávida?
— Você que tirou minha pureza e colocou a sementinha em mim, então,
sim, a tarefa de contar fica por sua conta!
E era uma vez uma criança que nascera sem pai por culpa da mãe. Fim.
— Não. Não tô doido a esse ponto!
— Vai contar, querendo ou não! Se quiser um tempo pra praticar, fique à
vontade, não vou te pressionar! — dava para ver na cara dela que estava se
divertindo com o meu pânico.
— Contamos juntos!
— Não! Jamais! E te deixar passar ileso por essa? Nem em sonho, bonitão,
nem em sonho!
Lily não queria facilitar, claramente, obviamente, queria dificultar!
E conseguiu.
Sorte a minha que a reação dos dois não foi nem perto do que
imaginávamos e minutos depois da revelação, Josh e Beatriz ainda pulavam
dizendo que finalmente seriam avós. Como se fôssemos velhos, prestes a ficar
inférteis, os deixando sem netos.
Nunca entenderia essa família. Nunca mesmo! Quanto mais eu convivia
com eles, mais parecia um manicômio, onde todos estávamos presos e nem
tínhamos noção disso.
O manicômio da família “Boston Globe”.
O ponto positivo é que graças a Deus eu era tratado bem. Todos nós
éramos. E que amor, o sentimento mais importante do convívio humano,
tínhamos de sobra.
Tudo sobre Astros
— Vou embarcar daqui algumas horas. Será que a sessão vai demorar? —
Ty perguntou e eu balancei a cabeça negativamente.
— Já disse o que penso, vai se arrepender e muito.
— Mãe! Para de ficar jogando negativismo na minha viagem!
— Não é negativismo, meu filho, é a verdade! Eu sinto que isso não vai ser
boa coisa e acredite em mim, quando digo que esses sentimentos são certeiros.
Ty revirou os olhos e meu pai gargalhou com o gesto. Aquela falha
gigantesca tínhamos puxado diretamente do lado dele. Na verdade, não fazia a
menor ideia do que Tyler puxara da mamãe. Era moreno assim como eu, com
olhos verdes praticamente do mesmo tom, alto e musculoso, com um porte digno
de atleta, mesmo sem o ser.
Era o cara da tecnologia com mais sex appeal que eu conhecia e não dizia
isso porque era meu irmão.
Pararam de caminhar, provavelmente, tentando colocar juízo na cabeça
dele.
Ouvi o som do alarme do carro sendo destravado, logo na frente de casa e
me aproximei, querendo entrar e terminar a sessão o quanto antes.
Ficar em casa, com tranquilidade, agora me soava um sonho.
Puxei a trava da porta e ouvi um barulho de tic tac parar assim que o fiz.
Minha mão paralisou no lugar e qualquer traço de sorriso que eu ostentava
desapareceu completamente do meu rosto.
Uma bomba?
Eu devia ser idiota! Como colocariam uma bomba no carro do meu pai?
Aquilo só podia ser paranoia minha.
Tirei a mão e ouvi o barulho, logo depois, um corpo me jogando
bruscamente no chão. A nuvem cinza acima da minha cabeça não era uma
alucinação, o barulho do fogo crepitando próximo a gente também não. Minha
cabeça doía e meu peito parecia se movimentar com dificuldade, sentindo que
respirar era tão doloroso quanto não respirar.
Comecei a ficar tonta. Pelo cheiro ou pela pancada, eu não sabia. O fato era
que não aguentaria muito mais acordada.
— Lily! Collin!
Gritaram meu nome, do Collin, e meus olhos giraram nas órbitas, sem
responder ao meu comando de se manterem abertos. Nada de dormir. Mas meu
corpo não me ouvia, ou se o fazia, ignorava com sucesso.
— Lily! Tá tudo bem?
Novamente a voz desesperada e depois senti o corpo acima de mim, me
libertar. O vento gelado roçou suavemente a minha pele e o calor que eu sentira
antes, praticamente não existia.
Minha visão embaçada, impedindo que eu distinguisse as várias sombras
que se acumulavam em cima de mim.
— Chama uma ambulância, pelo amor de Deus, chama logo! — Alguém
gritou desesperado.
Não sabia quem era e nem precisava saber.
O tempo passando, sem que eu ao menos, sentisse meu corpo para poder
levantar. Estava entorpecida, completamente, com os meus sentidos abalados e
não respondendo aos meus comandos.
A movimentação de pessoas então se tornou enorme, conseguia sentir as
mãos pelo meu corpo, me imobilizando. Depois de instantes, meus olhos
cederam à súplica silenciosa da minha cabeça e se deixaram engolfar pela
escuridão tão esperada, não sentindo mais dor por lutarem contra o impossível.
Os vultos já não mais sendo vistos.
***
— Cadê o Collin? — ouvi alguém perguntando, mas não sabia distinguir
quem era.
— Na ala de queimados....
Um suspiro alto tomou conta do ambiente e abri meus olhos
vagarosamente. Sentindo meu corpo inteiro doendo, sem saber ao certo o
motivo.
Collin estava ferido?
Por que?
Isso foi o suficiente para me tirar do estado de torpor e me inundar em outro
totalmente sufocante, o desespero. Sem saber o que tinha acontecido, não
conseguiria de forma alguma ceder ao cansaço do meu corpo e voltar a dormir.
Seria impossível.
— Ela tá acordando.
Olhei para o Tyler em uma cadeira, no canto do quarto e notei de imediato o
seu semblante pesado. Não parecia em nada meu irmão e algo muito ruim devia
ter acontecido para deixá-lo assim.
— O que aconteceu?
Perguntei e meu irmão olhou para a minha mãe e meu pai, que pareciam
felizes em me ver bem, mas também tristes por alguma outra coisa.
— O carro explodiu.
Eu lembrava do pânico, do calor, do medo, da dor e de alguém me jogando
no chão, mas eram lembranças vagas, que não continham metade dos detalhes
que eu precisava.
Olhei para as minhas mãos arranhadas, um resultado pequeno para algo tão
perigoso, quanto o que ele falara. Se eu tivesse ficado no mesmo lugar quando
abri a porta do carro com certeza não estaria falando com eles nesse momento.
— E o Collin te salvou... — Meu irmão admitiu baixo e eu entendi que ele
escondia a maior parte.
Talvez por medo que eu perdesse a cabeça e se realmente tivesse acontecido
algo com Collin, de fato, deveriam temer, porque eu não garantiria minha calma.
Simplesmente não teria como. Eu o amava e ele ter se arriscado para me salvar
só provava o quanto me amava também.
— Onde ele tá?
Os três trocaram um olhar de aviso entre si, o que me deixou ainda mais
preocupada.
— Em outra ala.
— Mas o que aconteceu com ele?
— Se queimou...
As palavras do Tyler fizeram seu caminho em mim e eu soube no mesmo
instante que a situação do Collin era grave, se não o fosse não estariam assim tão
perdidos, sem saber o que fazer nessa situação.
— Mas era pra ele estar treinando! Meu Deus, como isso aconteceu?
— Não sabemos... Collin surgiu e a empurrou, caindo em cima de você.
Recebeu boa parte do impacto que a teria atingido, salvou a sua vida, filha,
colocando a dele em risco. — Minha mãe falou baixo, deixando claro que ela
sofria e muito pelos dois filhos.
— Foi culpa minha! Essa merda toda foi culpa minha! Devia ter feito algo,
deixado um aviso mais ameaçador...
— Não tínhamos como saber, Josh. Você não tem culpa! Ninguém além de
quem fez, tem.
— A gente sabe quem foi, não precisa falar assim.
O pai do Collin. Não precisava ser um gênio para imaginar quem queria
acabar com a felicidade da nossa família.
— Ele vai pagar, Bia, eu juro por Deus que vai pagar. Mexer comigo é uma
coisa, agora com a minha família? Isso é imperdoável! Não vou avisar dessa vez,
nem ferrando, o mal só termina quando uma das duas partes se torna incapaz.
Todos nós arregalamos os olhos. Papai estava fora de si e caso mamãe não
conseguisse controlá-lo, tinha certeza que ele sairia dali e estrangularia o homem
com as próprias mãos.
— Precisamos focar na recuperação dos nossos filhos... Esse assunto
podemos resolver depois.
Assim que ela disse a palavra filhos, me desesperei ao constatar o que
poderia ter acontecido. Ninguém me falara nada, mas eu não estava acordada
para que o fizessem.
— E o meu bebê? — perguntei para todos, que me olharam sem dizer nada.
O medo se apoderava aos poucos de mim e os minutos pareciam passar
com uma lentidão agonizante na minha cabeça. Me lembrando a todo instante
que eu poderia perder tudo o que me mantinha na linha da sanidade.
Collin e meu bebê.
— Está bem... Ele salvou vocês dois. — Minha mãe falou e vi as lágrimas
se formarem nos seus olhos. — E isso acontece de novo... — Ela começou a
chorar e meu pai envolveu-a em um abraço, um abraço de puro amor.
A atmosfera pareceu ficar ainda pior com o choro dela e eu não estava
acostumada a situações como essa, onde o pilar da família se tornava fraco.
Beatriz era praticamente o que movia a todos em um sinônimo da felicidade, e
vê-la dessa forma, nos mostrava que éramos pequenos.
Pessoas pequenas diante do que poderia acontecer ao nosso redor.
Manipuláveis e moldáveis de acordo com a dor e sua intensidade.
— Vou ver o Collin. — Meu irmão saiu, sendo seguido pelo meu pai, que
parecia ainda não ter se acalmado completamente.
Não sabia o que ele faria para se vingar, mas tinha certeza que isso não seria
boa coisa. Vingança nunca era uma boa coisa, enchia de ódio as duas partes e
tornava ambas culpadas. Como competir com o mal quando teria que se tornar
igual para fazê-lo sofrer?
Mal e bem. Dois conceitos difíceis de serem diferenciados.
— Quero vê-lo, mãe! — sussurrei e ela me olhou pesarosa.
Sabia o quanto queimaduras poderiam ser graves e ter a noção que Collin
estava passando por isso me deixava em uma calamidade de sentimentos. Um
conflito gigantesco de pensamentos ruins.
Por culpa de alguém que deveria amá-lo.
Como existiam pessoas assim no mundo? Pessoas capazes de não levar
nada em conta além do seu próprio ódio?
— Eu também... — Ela respondeu e eu não entendia porque não tinha ido
ainda.
Meus pensamentos pareceram claros e ela se apressou em responder. — Seu
pai disse que era melhor eu esperar.
Isso não era um bom sinal! Papai não diria algo assim se as coisas
estivessem bem.
— Foi muito ruim? — perguntei, com pavor da resposta.
A cena se formando automaticamente na minha cabeça e me deixando com
uma pequena ideia do quanto seus ferimentos poderiam ter sido graves.
— Foi horrível. Eu não consegui dormir, com a certeza de que a cena se
refaria muitas e muitas vezes durante o meu sono.
— Quanto tempo eu dormi?
— Dezesseis horas. Acharam que seria bom repousar, sem sofrer ainda
mais estresse...
Mais estresse?
— Eu só quero saber se ele está bem, mãe!
— Fica calma, Lily. Todos estamos nervosos e não ajuda em nada você
ficar alterada dessa forma. Pensa no bebê e em como ele precisa que seja forte,
acredite em mim, mas o feto pode sentir tudo o que a mãe sente, pelo menos era
o que parecia quando eu falava com você ou quando ficava nervosa. Eles sentem
Lily! E também podem sentir o amor! Se esforce para transmitir apenas amor à
essa criança!
Eu queria transmitir amor. Mas eu queria transmitir amor, sabendo que o
homem que eu amava não corria nenhum risco de vida. Se não soubesse pelo
menos isso, seria impossível me manter tranquila frente à tantos medos. Medos
que me dominavam e tiravam qualquer importância do meu temor de fracassar
em combater a doença.
Se algo acontecesse ao Collin, não fazia a menor ideia de como seguiria em
frente.
Pelo bebê era lógico que o faria, mas eu não seria a mesma pessoa, apenas
uma imagem translúcida da mulher que um dia fora. Uma mulher que perdera
metade do amor que tivera. Incompleta e sem possibilidade de redenção.
CHEGUEI NO APARTAMENTO, correndo para o banheiro, querendo sair
mesmo que atrasado para vê-la.
Disse aos meus pais que não poderia ir porque estava treinando, só que eu
precisava estar lá para ela, o que me fez sair antes do treino terminar, torcendo
para não estar tão atrasado quanto eu achava que estava.
Lily começaria uma nova vida, a qual seria uma honra dividir com ela.
Fazer parte do seu presente e futuro, deixando o passado no lugar dele. Era eu e
ela contra o mundo, com a diferença que finalmente estávamos sendo felizes por
completo.
Sem qualquer tipo de disfarce ou mentira entre nós.
Ou um sentimento que não era verdadeiro, como o amor fraterno que eu
achava nos unir.
Nunca fora fraterno, nunca!
O telefone tocou assim que terminei de me arrumar e meus pelos se
arrepiaram, prevendo uma notícia ruim ou algum demônio saído direto do
inferno para me atormentar.
Não costumava receber ligações em casa e a última vez fora para acabar
com toda a minha felicidade e me deixar vegetando, como um objeto inanimado,
andando pelos corredores do apartamento, sentindo a falta de alguém que eu
mesmo tinha mandado embora.
Foram os piores dias da minha vida e eu não queria relembrá-los de jeito
nenhum, apenas esquecer. Trocar as memórias ruins por outras completamente
boas.
— Collin.
— Recebeu a surpresa?
Ouvi aquela voz desgraçada, com o pânico tomando conta de mim. Não
pensei em mais nada enquanto pegava a chave do carro e saía correndo em
direção à mansão.
Harper ligara apenas para contar vantagem e eu soube no momento em que
ele disse a primeira palavra que uma coisa muito ruim aconteceria. Ele me
ameaçara e não deixaria aquela ameaça em vão. Deus quisesse que eu estivesse
errado, mas o sentimento ruim que crescia no meu peito teimava em me alertar
para o perigo.
Cheguei na mansão tão depressa, que meu coração parecia pulsar conforme
o ponteiro do velocímetro subia frenético.
Meu peito se apertando com a sensação ruim, me fazendo arfar de pavor ao
pensar no que poderia acontecer.
Estacionei o carro de qualquer jeito e ouvi vozes que eu reconheceria até
mesmo de olhos vendados. Fui na direção deles e quando cheguei próximo o
bastante, notei que a Lily caminhava na frente e assim que encostou a mão na
maçaneta do Hummer, travou e ficou um bom tempo sem saber o que fazer.
Um sentimento de proteção se apoderou de mim e eu apenas soube que
tinha que afastá-la do carro. Não importava o que acontecesse, eu tinha que
afastá-la. Corri como um louco na sua direção e assim que a empurrei com força,
ouvi um estalo alto atrás da gente, logo em seguida, uma explosão, que nos
arremessou para longe, direto no chão; o fogo atingindo em cheio as minhas
costas.
Foi tudo tão rápido que ninguém teve tempo de processar o que de fato
estava acontecendo.
Muito menos tive tempo de ponderar minhas opções e analisar se eu
realmente sobreviveria depois de uma coisa tão perigosa quanto essa.
A adrenalina correndo furiosamente pelas minhas veias, impediu que eu
sentisse qualquer dor e a felicidade por estar ali no momento em que ela mais
precisava amorteceu qualquer tipo de desconforto que eu pudesse sentir. Mas, o
calor era notável e eu tinha certeza que sentia cheiro de roupa e pele queimada,
se fundindo e se tornando uma mistura líquida, corroendo tudo o que encontrava
pela frente.
Entretanto, esse não era o ponto, ou pelo menos, não importava. Eu salvara
as duas pessoas mais importantes da minha vida e não havia meios de reclamar
da dor depois disso.
Foi um milagre ter chegado a tempo e de milagres não se reclamava,
agradecia.
Ouvi gritos, em questão de segundos, sem conseguir me mexer, continuei
com meu corpo sobre o dela. Se eu sequer ameaçasse levantar, tinha certeza que
a adrenalina passaria completamente e eu sentiria a dor agonizante que me dava
uma trégua.
Só podia ser piedade divina por eu ter feito uma boa ação. Mas a motivação
era puramente egoísta, porque se algo acontecesse à Lily, não suportaria viver
sozinho, sem nunca mais ver seu sorriso ou ouvir sua voz doce. Fiz aquilo
puramente por mim e por ter a certeza de que eu não viveria em um mundo no
qual ela não existisse.
Ela ou a criança que carregava.
Era uma parte minha e dela, uma parte que triplicara o amor que eu sentia.
Pensei em perguntar se ela estava bem, mas nesse exato instante a
queimadura nas minhas costas protestou e a dor consumiu todos os meus
sentidos, escurecendo minha visão, me deixando entorpecido pelas várias
pontadas em partes diferentes do corpo.
A piedade tinha acabado e agora, eu rezava para que Lily ficasse bem
mesmo com o impacto e para que eu voltasse a abrir os olhos para vê-la bem.
Queimaduras graves eram um verdadeiro perigo e eu sabia que a minha
perspectiva não era das melhores.
Me deixei levar. Sabendo que eu recebera a maior parte do impacto e que
ela, graças a Deus, acordaria e não sentiria nem metade do que eu provavelmente
sentiria.
E isso era bom.
Ótimo.
Não era apenas falar, era ter a certeza que eu trocaria de lugar com ela, que
eu levaria a maior parte da dor dela, embora, para bem longe. E eu trocara.
Salvei-a e acabei me salvando no processo... Não podia existir Collin sem
Lily e não existiria.
— Meu Deus! Meu Deus!
Gritaram ao meu lado, mas não me movi. Sem forças para isso. Sem forças
para qualquer outra coisa, até mesmo respirar estava doloroso, causando
espasmos pelo meu corpo.
— Alguém nos ajude! — ouvi passos se afastarem apressados e logo em
seguida um tumulto de vozes se aproximando.
Alguém me afastou da Lily e senti meu corpo protestar com a distância,
sem saber o motivo para fazerem isso. Tudo girava na minha cabeça, um reflexo
da dor que agora corroía minhas costas. Até mesmo o ar em contato com ela
causava arrepios involuntários, enquanto centelhas dolorosas açoitavam minha
pele.
— Li...ly — falei sofregamente, com todo o fiapo de força que ainda havia
em mim.
— Ela vai ficar bem.
Me levantaram e colocaram em algum lugar, causando ainda mais ondas de
dor pelo meu corpo. Protestei. Pioravam a minha situação e eu, sinceramente, só
queria ser deixado em paz para uma hora não sentir mais nada. Quanto mais
tentavam me ajudar, mais pioravam.
Algumas palavras que não entendi foram murmuradas e a confusão nos
meus sentidos se tornou uma mancha negra nos meus pensamentos. Só queria
saber dela e se a estavam levando para bem longe dali. Não sabia se aquela era a
única bomba, nem teria como saber, só queria que a levassem para longe do
perigo o mais rápido possível.
Olhei para o lado, sentindo alguma coisa imobilizando meu pescoço,
atrapalhando minha visão, mas consegui ter um vislumbre embaçado dela sendo
levada também.
Aquilo me acalmou e pareceu mandar o medo embora.
— A camiseta... — falaram assim que me deitaram de costas em uma cama,
no ambiente agora branco, diferente da luz solar que eu me lembrava.
Como tinham sido tão rápidos assim?
Não vira o caminho, muito menos onde me deixaram, agora eu só estava lá.
Minha mente parecia se recusar a processar todas as informações, guardando
apenas flashes ocasionais do que acontecia. O tempo passando com uma
velocidade invejável, enquanto eu tentava assimilar o que acabara de fazer.
Senti uma pontada nas minhas costas e uma dor aguda percorreu todas as
minhas terminações nervosas. Se eu achava que estava doendo antes, aquela dor
não chegava nem perto dessa.
Nem perto.
AH, MERDA!
Gritei alguma coisa desconexa e senti novamente a pontada, como se
alguém raspasse a minha pele sem a menor consideração. Maldosa, impiedosa,
abrindo caminho por toda a minha carne.
Parecia que chegavam na minha alma, completamente em carne viva.
Tudo em mim ardia e implorava para que parasse, mas quanto mais eu o
fazia, mais a dor aumentava.
Outra onda de dor e mais um suspiro exasperado, protestando contra o que
faziam. Protestando contra tudo. Dessa vez, foi tão forte que senti minha vontade
sucumbindo, tudo em mim cedendo ao sofrimento.
Todos tinham um limite de dor a suportar e o meu já tinha sido atingido há
vários segundos.
E sem saber se tinha sido anestesiado ou simplesmente não aguentara mais
o sofrimento imposto, apaguei.
***
— Collin? — ouvi meu pai perguntando, com a voz baixa, algo atípico
dele.
— Ei! — respondi, ouvindo como minha própria voz soava cansada.
Depois do susto e do pesadelo, qualquer um soaria assim como eu. Não era
de ferro e nem queria ser, mas admitia que senti o gosto do que era ter uma boa
parte do corpo queimada, enquanto sentia o cheiro horrível dominando meus
sentidos.
Com certeza não queria morrer queimado, muito menos afogado. Achava
que essas duas mortes eram suficientemente ruins e mesmo tendo aprontado
muito na vida, ainda não achava que aprontara tanto para merecer algo do tipo.
Pena que a vida não era justa e não adiantava o que fizera, acabaria morrendo do
jeito mais filho da puta possível. Ou não. Uma incógnita.
Se as pessoas soubessem como morreriam, tudo se tornaria um caos e
ninguém mais estaria a salvo. Porque, mesmo sendo uma certeza, a morte ainda
apavorava mais do que o fim das batatas fritas no McDonald’s.
— Obrigado, filho! Essa é a palavra!
Ele não precisava agradecer. Sabia que eu amava a sua filha e que faria
qualquer coisa por ela. Literalmente, qualquer coisa.
Até mesmo ter minhas costas em carne viva.
— Ah, eu vou ser pai, garotão! Criei super poderes! — tentei soar divertido,
mas nesse exato momento minhas costas resolveram lembrar do seu calvário e a
careta foi inevitável.
— Ninguém vai achar que você não é o Collin por se permitir um momento
de dor. Relaxa, que não vou mentir, a coisa tá feia! E bem, agora sabe como é
amar alguém mais do que a si próprio, quando olhar nos olhos, então, vai sentir
seu mundo todo orbitando em torno da criança. Eu sei disso. Vai por mim, sei
muito bem!
— E como o vovô tá?
— Quando essa coisa passar — ele fez um sinal, indicando o lugar — aí a
gente comemora com todo mundo. Nem um minuto antes disso!
— Mas e se acontecer de novo?
— Não vai.
Nunca tinha ouvido sua voz soar tão ameaçadora, mas eu tive a certeza
naquele instante que Harper não faria mais nada, e estranhei que não me
importasse com isso. Harper nunca tinha sido meu pai, eu nem ao menos
carregava seu sobrenome, apenas o laço de sangue nos unia, um laço fraco sem o
menor resquício de amor.
Meu pai sempre fora Josh Currey.
Desde a primeira palavra, primeiro passo, até mesmo os primeiros jogos e
conselhos sobre mulheres. Era o exemplo de homem que eu tive na vida e graças
a Deus eu segui o mesmo caminho que ele, lutando pelos meus sonhos, sem em
momento nenhum, atrapalhar e intimidar outras pessoas.
Por esse motivo achava que eles aceitaram tão bem meu envolvimento com
a sua filha. Sabiam que fizeram um bom trabalho e que eu não faria nada de
errado com ela.
Tentei me mexer, incomodado com a linha que meus pensamentos seguiam
e uma pontada de dor me impediu de continuar tentando me arrumar na cama.
Era melhor aceitar a posição e esperar até que doesse menos e eu pudesse olhar
para o outro lado sem sentir que estava praticamente nadando no desespero.
— Como ela tá? — perguntei, fazendo uma careta, ainda por causa da
tentativa de movimento.
— Bem melhor que você! Parece uma merda ambulante!
Eu levantei meus lábios fracamente, em um sorriso sem dentes. Não era
idiota ao ponto de sorrir ou gargalhar e sentir a dor aguda me consumir
novamente.
Se eu pudesse, pararia até mesmo de respirar para evitar.
— E o bebê?
— Feliz na barriga dela, tenho certeza. Fez um bom trabalho, moleque, a
merda de um bom trabalho! Não poderia estar mais orgulhoso!
— Quando poderei vê-la?
— Não sei... Disseram que seu estado ainda é complicado, porque suas
queimaduras foram graves, poucas partes de terceiro grau, bem poucas por sorte,
o restante de segunda, mas ainda assim a parte sem pele fica exposta as
bactérias, e pode causar uma doença grave, então, irão te segurar por mais um
tempo aqui.
— Onde aprendeu essas palavras difíceis?
— Ah, garoto, eu estava tão nervoso que praticamente decorei! Espera
nascer que vai entender, só espera.
— Cadê o mulherzinha?
— Saiu apressado, dizendo que logo voltaria. Deve ter ido atrás da mulher,
aquela com camiseta do Star Wars e não faço a menor ideia se ainda volta para
saber das coisas.
— Mas ele ia pro Japão!
— Ainda não sabemos se isso é certeza. Até o Tyler pousar na terra dos
olhos puxados, muita coisa pode acontecer, inclusive, uma mulher amarrá-lo!
Isso sim era um milagre e tanto.
Eu me considerava cafajeste, mas Tyler era mil vezes pior e nem deixava
bilhete como eu costumava fazer.
— Ele tá ferrado! — falei, com uma sombra de sorriso.
Amar não era nada fácil. Mas era excitante, isso eu tinha que admitir.
— Muito. — Meu pai concordou e o silêncio no quarto se tornou
confortável depois disso.
Os remédios fazendo seu trabalho e me dando a sonolência que eu
precisava para uma recuperação. Treinos e temporada completamente esquecidos
na minha mente, enquanto olhos verdes povoavam os meus sonhos.
— O QUE VOCÊ fez? — perguntei para o meu pai, que parecia mais calmo
do que antes.
Se a nossa vida ainda corresse risco ele não estaria dessa forma nem que
tivesse ganhado o campeonato de golfe.
— Nada! — deu de ombros e mamãe nem ao menos se virou para olhá-lo.
Claramente irritada.
— Ele contratou pessoas... Pessoas ruins. — Ela falou baixo, revoltada.
Não precisava ler mentes para saber que minha mãe não gostara nada disso.
— Não quero falar sobre isso, Beatriz.
Ambos se olharam, desafiando a primeira fala apenas com o olhar e era a
primeira vez que eu os via realmente brigando, sem qualquer traço de humor por
trás das palavras.
— Ele mandou matar Harper? — perguntei horrorizada.
Se não fosse isso, não via motivos para mamãe ficar tão irritada.
— Claro que não! Vocês tão loucas se pensam algo tão baixo de mim! Qual
o problema em falar com algumas pessoas na prisão pra fazerem algo ruim com
ele? Qual a merda do problema por querer defender a minha família? Qual a
merda do problema em me preocupar mais com vocês do que comigo mesmo? E
qual a maldita merda de problema em falar com as pessoas certas, cobrar uns
favores e pedir a transferência dele para um lugar mais longe possível? Fora que
com a minha acusação recente, ele não vai sair nunca mais, os advogados
garantiram isso! — Sua respiração se tornou pesada e ele claramente estava fora
de si com as cobranças, se sentindo pressionado, assim como me sentira muitas
vezes. — Eu sinceramente, não vejo porcaria nenhuma nisso! A única coisa que
me atormenta de verdade é a possibilidade de algo acontecer à vocês e que se
foda quem me julgue por isso, mas não sou homem de aceitar calado e se
pudesse, eu mesmo entraria naquele lugar e bateria a merda pra fora dele!
Meu pai se irritou e saiu tempestuosamente, assim como fizera quando
descobrira a possibilidade de Harper fazer algo à mim.
Suspeitava que Collin tivesse aquele comportamento irritável por causa de
alguém e agora sabia exatamente a quem ele puxara. Mesmo que não tivessem o
mesmo sangue, a convivência implantara características que nenhum dos dois
percebiam.
— Eu sabia! — Mamãe falou baixo e pousou a cabeça nas mãos,
aparentando um cansaço mental assim como o meu.
— Eu o entendo, mãe. Papai só quis nos proteger.
— Dessa forma? Preferia que ele ficasse com a consciência tranquila.
— E ele pelo visto está. Me pareceu muito melhor do que antes e deve ser
difícil pra ele passar pela mesma situação duas vezes. A lembrança deve ficar se
repetindo e isso deixou-o atormentado, tão atormentado que a única solução que
enxergou foi essa, então agarrou-a e não soltou mais.
Ela olhou para mim e o exato momento em que o entendimento a atingiu foi
perceptível. Talvez não estivesse conseguindo ver como a memória do papai o
estava martirizando.
— Não pensei nesse ponto. — Ela admitiu e saiu atrás dele, andando
apressada.
Nenhuma desavença era capaz de separar aqueles dois. E foi por causa
deles que eu aprendi a não desejar nada menos para a minha vida.
Fiquei olhando o teto do quarto, agora sem ter com quem conversar,
desejando que pudesse ver Collin e agradecer tudo o que ele arriscara por mim.
Minha mãe e meu pai não queriam falar sobre o verdadeiro estado dele, mas eu
queria saber, ou não teria um momento sequer de paz.
— Será que ele está bem?
Murmurei, alisando minha barriga, percebendo que mesmo não notando a
mudança clara no seu tamanho, um pequeno coração batia forte ali. Dois
corações batendo em um único corpo. Como não perceber a mágica que existia
nisso?
A mágica de dar à luz a uma nova vida.
Agora eu pensava em como não quisera sentir essa sensação antes... Era tão
especial que me consumia em um amor puro e inocente, único e inabalável.
Bastava acreditar.
Acreditar na magia!
— Falando sozinha, irmã?
— Não estou mais sozinha! — falei e olhei para a minha barriga, Tyler
seguindo meu olhar.
— Está feliz.
Ele admitiu, para si mesmo, para mim, não sabia ao certo, mas soou como
um pensamento que ele deixara escapar.
— Estou. Viu o Collin? — perguntei, porque era o único que não
esconderia nada de mim.
Era o mais cruel dos irmãos mais novos, assim como o mais gentil.
Escondia minhas coisas quando éramos crianças, mas se sentia tão culpado que
minutos depois buscava-as e me pedia desculpas. Era difícil de entendê-lo as
vezes, e até hoje eu ainda não conseguia compreendê-lo cem por cento.
— Vi.
— E?
— Ele tá um caco, mas quando cheguei já estava dormindo, quem falou
com ele foi o papai.
— Pareceu bem?
Tyler fez um barulho com a boca e eu odiava aquele sinal, porque sabia que
ele seria sincero nas suas próximas palavras.
— Não... E provavelmente, tem a noção de que a temporada já era pra ele.
A culpa me assolou. Ele perderia uma enorme oportunidade por minha
culpa. Como eu lidaria com isso?
— Não se culpe. Collin faria de novo, tenho certeza! Eu e papai faríamos o
mesmo também, sem sentir remorso algum. Ele só foi mais rápido... Enquanto
assimilávamos o que estava acontecendo, ele já estava lá por você.
Um médico entrou no quarto, assim que Tyler terminou de falar, olhando
feio para o meu irmão, por algum motivo que eu ainda não entendia.
Olhei para ele e questionei-o silenciosamente.
Tyler fez um gesto de telefone com as mãos e moveu os lábios “eu estava
gritando”.
Provavelmente com a Mia, o que não era uma boa coisa. Tyler quase nunca
perdia a paciência e devia ser por um bom motivo que ele o tinha feito.
— Adiei o voo novamente, mas na próxima semana eu vou. Não tenho mais
motivos para ficar aqui.
— Tem a sua família! — falei chateada e ele me olhou com pesar.
— Você dentre todas as pessoas é a mais capaz de me entender, irmãzinha.
Sabe como é olhar para uma pessoa que ama e vê-la feliz com outra. Não quero
isso pra mim, não quero sofrer à toa. Prefiro me afastar e assim como fez, usar o
trabalho como desculpa.
Estaria sendo hipócrita se o desmentisse e só conseguia pedir aos céus que
Tyler encontrasse a felicidade assim como eu.
— Não vou dizer mais nada.
— Obrigado.
— Boa sorte, Ty! Boa sorte com tudo! — Ele sabia o que eu queria dizer e
assentiu agradecido.
— Acho que a senhorita poderá sair em poucos dias e, então, dar início aos
devidos acompanhamentos da gravidez.
— Obrigada, doutor! — falei, sorrindo, notando a bondade no homem ao
meu lado, checando os medicamentos prescritos no meu prontuário.
— E você, jovem, não fique gritando no telefone pelos corredores!
Atrapalha o sono dos pacientes!
Sorri baixinho com a reprimenda para o Tyler e ainda estava sorrindo
quando ambos saíram do meu quarto.
***
— Está liberada! — O médico disse e saiu para assinar os papéis da minha
alta.
Mamãe e papai me esperavam, quietos, presos em seus próprios
pensamentos e a primeira coisa que pedi para fazerem foi me levar até Collin. Já
não suportava mais ficar sem vê-lo e eles muito menos o médico, me deixaram
ficar andando pelo hospital atrás de notícias, ficando naquele pingue-pongue de
“ele está bem, não se preocupe”, “logo o verá, fique tranquila.”; já não
suportava mais ouvir essas coisas.
— Tem certeza? — Minha mãe me olhou e por um momento achei que ela
fosse negar meu pedido.
Não que fizesse diferença, eu o veria de qualquer forma. Já tinha esperado o
bastante e não aguentaria esperar mais.
— Vamos lá. — Papai disse e minha mãe olhou-o irritada, sem concordar
com aquilo.
— Ela quer vê-lo, amor. E se fosse você e eu estivesse lá?
Isso acabou com qualquer argumento da parte dela, que nos seguiu um
pouco contrariada.
Assim que meu pai abriu a porta e vi Collin enfaixado na cama, meu
coração deu um salto e pude sentir outro fazer a mesma coisa, em mim. Ou era
coisa da minha cabeça, não sabia ao certo.
Collin dormia profundamente, seu peito subindo e descendo
tranquilamente, sem qualquer sinal que notara a minha presença.
— Vou te deixar a sós com ele, quando quiser a levamos para casa.
Assenti e entrei completamente no quarto, ouvindo o barulho da porta se
fechando atrás de mim.
Peguei na mão do homem deitado e senti o calor que estava tão
acostumada, aquecer não só a minha mão, mas também a minha vida. Seus
dedos deram um sinal sutil de que estava acordando e sorri boba, feliz por
finalmente vê-lo e poder ouvir a sua voz com meus próprios ouvidos.
Fiquei desesperada durante todos os dias e agora que ele estava ali, na
minha frente, eu só queria abraçá-lo e não soltar nunca mais.
— Ei, não faz essa cara! Eu sou durão!
Collin falou fraco quando eu abaixei a cabeça.
— Senti tanto a sua falta! — Lágrimas desceram pelo meu rosto e ele as
enxugou com o maior carinho.
Um carinho que atingia os pontos mais profundos da minha alma. Me
fazendo sentir amada como sempre desejei.
— Sonhei com você todas as noites. — Ele disse e sorriu, enviando uma
onda de choque pelo meu corpo.
Uma onda de desejo.
— Quando vai ficar bom?
— Quando pararem de raspar as minhas costas! Sério, é uma porcaria e das
grandes! Acho até que fiquei traumatizado com hospitais!
— Muito ruim?
— Ainda não sei. Vivo enfaixado e só tiram a faixa para ver como está o
progresso aqui atrás. — Ele sorriu de leve. — Nem o traseiro se livrou! Deu uma
queimada de leve!
— As enfermeiras estão vendo seu bumbum, então?
— Já viu essa camisola? Ela deixa a retaguarda totalmente livre e é
vergonhoso pra caralho! Não vejo a hora de voltar pro meu apartamento.
Gargalhei e ele me olhou com os olhos brilhando, transbordando amor.
Como não percebemos antes que tínhamos sido feitos um para o outro?
— Posso andar com ela o dia inteiro se isso a fizer gargalhar dessa forma!
— Ah, eu vou adorar ver isso!
— Já te falaram que é maldosa pra caralho? Meu Deus, que mulher ruim!
— Só falei porque adoraria ver seu traseiro o dia todo... — disse com um
sorriso safado enfeitando meu rosto.
Collin tinha realmente um bumbum maravilhoso de apertar! Talvez pela
enorme quantidade de exercícios físicos que ele fazia, mas eu não diria isso à
ele, ou provavelmente, o homem teria um ataque apoplético com crise de
masculinidade.
— Pode ver sem a camisola! Se quiser eu ando sem roupa nenhuma quando
a gente se casar.
— Não vamos nos casar.
— Pelo amor de Deus, Lily! Sou um homem enfermo, você pode ao menos
acatar meu desejo? É só uma festa! Uma coisa informal!
— Talvez...
— Isso é uma boa resposta! Melhor do que os incontáveis nãos que recebi!
— Se fizer uma coisa...
— Uma coisa? Agora tô com medo do que vai dizer e não, não vou jogar
uma partida pelado!
— Idiota, não é isso o que eu pediria!
Olhei para ele, sorrindo abertamente, torcendo para que a sua resposta fosse
sim.
— Estrela uma campanha comigo? Estou pensando em abandonar as
passarelas e ser modelo fotográfica, mas pensei: por que não abrir minha própria
marca de roupas? Quero fazer uma campanha para gestantes e adoraria que você
se dispusesse a se vestir de papai ao meu lado, ficaria perfeito! — bati palmas
com a imagem já se formando na minha mente.
— Só?
— Só.
Não diria o resto, senão ele não aceitaria. Era bem provável que preferisse
não fazer festa nenhuma só para evitar.
— Fechado!
— E não vai me pedir em casamento? Por mais que não seja de verdade, eu
quero o pacote completo!
— Vou, não aqui, lógico! Precisa ser surpresa, gatinha!
— Só não me faça esperar muito, posso mudar de ideia.
— Pode deixar, não vou. Já esperamos demais!
Deitei no seu peito sem apoiar meu peso, sentindo sua mão passar pelos
meus cabelos, assim como fizeram várias vezes antes e me permiti respirar
aliviada.
Não seria um final feliz, seria uma vida inteira de felicidade.
EU VINHA ENSAIANDO o pedido há mais de dois meses, mas não era
por não querer, era por ter medo de que não chegasse aos pés do que ela merecia.
Ainda mais por não podermos casar de verdade, a experiência teria que ser
boa o suficiente para bastar para ela. Caso contrário, Lily encontraria outro
marido e eu não podia deixar isso acontecer!
Não! Nem ferrando!
Estávamos mais unidos do que nunca e eu a apoiava em tudo, em suas
ideias, sua terapia, suas vontades, tudo. E seus desejos ficava mais do que feliz
em satisfazer. Grávidas tinham, como dizer... uma ânsia peculiar.
— Chloe e Enrico estão juntos. — Ela falou, quando viu uma foto da amiga
e do idiota na revista que segurava.
Pelo menos eu não precisaria me preocupar com o italiano metido a besta.
Tirei minha camiseta, com calor, treinando incansavelmente na sala de
academia do apartamento.
Olhei para Lily, que encarava a cicatriz recém-formada, com extremo
interesse e aquilo até poderia me incomodar, mas eu sabia o quanto ela amava
aquela marca. Eu também. Era um sinal do que eu fizera por ela e uma prova do
quanto a amava.
— Pare de olhar minha marca de guerra!
— É sexy! — Me olhou lasciva e eu acreditava que continuar treinando
seria impossível.
— Não tanto quanto você, isso eu posso garantir! Agora, quer me ajudar?
Vem sentar aqui, vem? — apontei para as minhas costas assim que deitei no
chão com carpete.
— Não vai machucar?
— Não. Já se passou um bom tempo, estou curado, parecendo o Freddy
Krueger nas costas, mas bem.
— Tenho que tomar cuidado para não dormir, então!
— Eu não costumo deixá-la dormir por muito tempo. — Olhei-a com
segundas intenções e ela entendeu exatamente o que eu queria dizer.
Tive consultas regulares para avaliar a extensão da queimadura e a sua
cicatrização, na última quando perguntei sobre o diagnóstico, ele fora o melhor
possível e eu praticamente pulei de felicidade. Podia treinar e praticar todos os
tipos de atividades físicas, inclusive, as que eu mais gostava.
— Daqui a pouco saímos.
Eu disse, assim que ela subiu nas minhas costas e colocou seu peso para me
ajudar.
Lily até podia ser magra, mas depois de tudo, e ainda grávida, eu jurava que
uns bons quilos a enfeitavam e agora me deixavam sem fôlego, mas ainda era
muito leve.
— Levanta um pouco. — Ela o fez e eu peguei dois pesos, um em cada
mão. — Volta.
Comecei a levantar uma mão com o peso, enquanto a outra mantinha meu
corpo e o dela estáveis. Não consegui chegar em cinquenta e aquilo era uma
decepção.
Essas semanas sem treinar tinham me deixado molenga demais para o meu
gosto.
Larguei os pesos e comecei as flexões.
— Tá ansiosa? — perguntei, porque eu estava.
Ansioso pra caralho!
Entre uma arfada e outra parecia que eu estava prestes a pegar o troféu da
temporada.
O que até aconteceria, mas não por mérito exclusivamente meu. Voltei a
participar dos treinos apenas há poucos dias, impedido pela queimadura de me
esforçar ao máximo.
— Um pouco. Mamãe quer ir comigo.
Parei no mesmo instante de fazer flexões, irritado por ela falar uma coisa
dessas. Por mais que Beatriz Currey fosse a avó, eu era o pai e não perderia isso
por nada no mundo. E inclusive, achava que era uma coisa nossa, ela que visse o
neto ou a neta quando nascesse ou na gravação do exame, não me importava.
Mas hoje seria somente eu, Lily e o nosso bebê.
— Ela pode esperar e ver a gravação.
— Também acho.
Voltei a fazer as flexões, dessa vez com apenas um braço, sentindo o
formigamento nas minhas costas, ignorando-o completamente.
Dor era um sinal bom nesses casos.
— Ty mandou notícias, está bem e trabalhando como um condenado.
Gargalhei e por pouco não fraquejei, acertando a testa com tudo no carpete.
Tyler fugira como o covarde que era e quando voltasse eu tinha certeza que
se arrependeria do que fizera.
Fugir do amor nunca era o certo a se fazer.
— Ele ainda vai se arrepender, escreve o que tô falando.
— Também acho... A Mia se casou, você soube?
— Como não saber quando a mamãe reclama disso sempre que nos vê ou
quando o nome Tyler surge na conversa?
— Tem razão.
Pedi para que ela levantasse com um sinal da cabeça e assim que o fez,
corri até o banheiro do quarto, tremendo de ansiedade pelo que viria a seguir.
Mataria dois coelhos com uma cajadada só.
Passei pelo closet e peguei o anel que eu escolhera rapidamente, sabendo
que era o que ela amaria, eu a conhecia bem o bastante para ter essa certeza.
Lily não gostaria do maior diamante, do mais caro ou do mais bonito. Ela
gostaria do mais simples, porém, especial, assim como ela, e eu achava ter
encontrado uma joia que expressasse seus sentimentos com perfeição. Uma
verde safira, assim como seus olhos.
Um anel Lily.
Soava perfeito para mim, tomara que soasse pra ela também.
— Por que tá demorando? — ouvi seus passos e escondi o objeto
rapidamente, respirando agradecido por ter tido tempo assim que ela colocou a
cabeça na porta.
— Eu só estava escolhendo uma roupa...
— Pra que? Não vai desfilar não, papai. Vai apenas em uma consulta.
Toda vez que ela falava papai, a alegria me dominava e eu tinha vontade de
abraçá-la e gritar como um desvairado, querendo que todo mundo soubesse o
tamanho da minha satisfação.
— Eu sei.
— Vamos logo, senão a gente se atrasa!
— Um minuto. — Eu falei e levantei um dedo, vestindo a camiseta e logo
em seguida o tênis.
O anel jazia completamente seguro no meu bolso, só aguardando o
momento certo.
— Pronto, podemos ir! — passei por ela, pegando na sua mão e levando-a
para fora do apartamento, com a pressa consumindo a minha paciência.
— Collin, você tá tremendo! Meu Deus, sua mão parece uma britadeira! Tá
tudo bem?
— Estou! É só nervoso, Lily. Tenho direito de ficar nervoso, não tenho?
— É só um ultrassom! Vai dar tudo certo!
Eu sabia que era só um ultrassom. Mas, eu ouviria o coração e aquilo era o
suficiente para me deixar com a expectativa correndo desenfreada nas minhas
veias. Estranhava que os pés não tivessem começado a batucar no chão ainda,
isso sempre acontecia quando eu estava nervoso.
— Quer que eu dirija? — Ela perguntou me olhando preocupada e eu
neguei com um sinal.
Deus me livre ela dirigir e passar nervoso!
— Não. Não pode se estressar.
— Eu não sou de porcelana, Collin! Posso dirigir e fazer todas as coisas que
as pessoas fazem! Inclusive trabalhar, principalmente, trabalhar! Muitas mães
trabalham até praticamente o final da gravidez.
Não gostei da ideia dela e qual era o mal em querer protegê-la? Custava
alguma coisa aceitar, sorrir e agradecer?
— Eu só não quero correr riscos... Não é por pensar que não é capaz, é só
por pensar que você é tudo pra mim e que se eu puder evitar os problemas, vou
fazer sem o menor arrependimento.
— Certo. Mas já adianto que vai ter que pensar sobre isso... Caso contrário,
eu subitamente irei entender que sexo também se enquadra na categoria riscos.
— Você não ousaria!
— Ah sim, eu ousaria! — Ela sorriu maliciosa e aquilo quebrou meus
argumentos.
Não que eu acreditasse que ela pudesse de fato ficar sem aquela atividade
durante muito tempo, mas na minha ideia, não valia a pena duvidar, eu poderia
muito bem quebrar a cara.
— Na volta você dirige!
— Obrigada! — Ela respondeu e eu dei um sorriso contrariado.
Odiava quando ela ganhava as discussões, o que quase sempre acontecia.
Assim que entramos na sala de espera da clínica que ela escolhera para
fazer o ultrassom, todos nos olharam com extrema admiração, prestes a voarem
na gente para pedir autógrafo.
Estava acostumado com isso e com Lily ao meu lado, parecia que o tumulto
era ainda maior.
— Lily Currey. — Ela falou para a atendente, que já digitava
freneticamente em seu teclado.
Como se a mulher não soubesse o nome dela antes de dizer. Seu rosto
estampava a maioria das propagandas pela cidade e somente um cego não a teria
visto.
— Siga no corredor, até a última porta à esquerda, a doutora já está a sua
espera.
— Obrigada. — Lily agradeceu e eu apenas balancei a cabeça, querendo
dizer o mesmo.
Sua mão apertando a minha, era um sinal claro do quanto estava nervosa.
— Olá, mamãe! Como está se sentindo? — ouvimos assim que abrimos a
porta.
A médica morena, baixa e com traços orientais deu um sorriso tão sincero
que até mesmo eu dissolvi a carranca que ostentava.
— E o papai?
— Ansioso. O papai está ansioso! — respondi, sorrindo abertamente,
morrendo de vontade de ver a imagem através dos aparelhos.
— Pode se trocar ali, por favor? — A médica pediu, apontando para uma
sala ao lado, com um sorriso gentil no rosto.
Lily sumiu através da pequena porta e depois voltou com uma fina
camisola, o que eu acreditava, facilitaria todo o processo.
— Podemos ir logo com isso? Sinto que vou ter um ataque a qualquer
momento! — falei alto, porque era uma verdade absoluta.
Meu coração vibrava mais do que a arquibancada em dia de jogo.
— Claro! Deve estar morrendo de vontade de ouvir o coração, não é?
A mulher fazia uns comentários tão idiotas que se eu falasse o que
realmente pensava, ela me chutaria para fora em um piscar de olhos.
— Pois, vamos lá! — Ela disse, logo que a Lily deitou na cama, olhando
esperançosa para a tela.
Um barulho de batidas preencheu toda a sala e eu sentia como se meu
coração ecoasse o ritmo perfeitamente. Era o coração dela, ou dele, não me
importava, o que me importava é que parecia forte e saudável, assim como eu
rezara tanto para parecer.
— É o coração? — perguntei abobalhado.
— Sim, papai, é o coração do bebê.
Nunca pensei que fosse ficar tão em êxtase com essa palavra e com o amor
que ela carregava, mas tudo em mim simplesmente vibrava com a emoção e
sentia como se eu finalmente tivesse encontrado o mundo certo no qual ficar.
Um mundo que combinava perfeitamente comigo.
— O feto está saudável e... — Meu DEUS como ela enrolava. — Vamos
tentar ver o sexo, hmmm... — Ela fez uma pausa e eu parecia capaz de morrer a
qualquer instante. — Pelo que vejo, é uma menina...
O restante das suas palavras eu não consegui ouvir, completamente vidrado
naquelas batidas que ecoavam como um grito de felicidade no meu peito.
Coloquei as mãos na cabeça e fiquei apenas prestando atenção, tentando contar
cada uma e memorizar o som eternamente na minha cabeça.
Me senti maior do que qualquer problema.
Me senti melhor do que eu poderia ser.
E definitivamente, entendi o que Josh quis dizer...
Meu mundo já não orbitava mais em torno do sol.
Meu mundo orbitava em torno daquela pessoa que nem nascera ainda.
E meu coração ecoava as batidas do seu.
***
— Seus olhos estavam brilhando!
— Qual é o seu problema? Um pai não pode babar na cria? Sou humano,
tenha o mínimo de empatia, pelo amor de Deus!
— Eu achei lindo!
— Que bom, porque foi sincero. Muito sincero!
— É uma menina...
— Agora entendo porque ter filhas é tão aterrorizante para os homens. Não
gosto nem de pensar!
Lily gargalhou e enquanto estacionava na frente da mansão, ela entrou, se
fazendo ouvir com a sua “discreta” gargalhada.
— Mulheres.
Nunca entenderiam porque tínhamos tanto pavor em ter filhas.
Simplesmente sabíamos a nossa natureza devassa e imaginar alguém fazendo
com as nossas filhas o que fazíamos com a dos outros era horrível. Horrível
demais!
Josh com certeza me entendia.
Pelo menos não arrancara minhas bolas por ficar com a Lily, assim como eu
faria com quem ficasse com a minha filha.
— Pensando muito aí, bunda mole? — August apareceu na porta e me
chamou com um gesto exagerado, dando risada sozinho do meu momento
reflexão.
— Tá tudo preparado?
— Como pediu! Minha mãe e as tias ficaram eufóricas, deveria ter visto!
Pareciam um bando de líder de torcida ao invés das coroas que elas são!
— Não as deixe ouvir isso!
— Nunca! Tô muito novo pra morrer!
Acompanhei-o enquanto entrava na casa, sentindo o nervoso me dominar
aos poucos. Minhas mãos tremiam levemente e a impressão que eu tinha era que
sairia correndo a qualquer momento. Se nem mesmo eu confiava na minha
coragem, ficaria até com medo de saber o que os outros pensavam.
— Vai que é tua! — August se despediu assim que entramos na área da
piscina, indo em direção à Elena, que conversava com o pai.
Pela forma que ele a olhava, não ficava difícil adivinhar qual era o
sentimento que existia ali.
Eu identificava de longe, porque acabei sentindo o mesmo por anos sem me
tocar disso e me arrependia a cada mísero segundo do dia por ter sido tão
desligado.
Tivera a felicidade sempre ao alcance das minhas mãos e passava reto por
ela, como um idiota.
Ele só precisava de sorte, porque Allan era com certeza mil vezes pior do
que o Josh.
Olhei para cada um presente e todos ficaram quietos, Allan mudou a música
que tocava para uma mais romântica, enquanto os demais se aproximavam de
onde Lily estava, sendo seguidos por mim, que na verdade, não fazia a menor
ideia do que dizer. Ensaiara tanto que as palavras simplesmente evaporaram da
minha mente e parecia que eu gaguejaria logo que começasse a falar.
Ajoelhei.
E foi automático todas as mulheres levantarem as mãos até o rosto, em um
choro silencioso.
Nunca entenderia. Bem que todos diziam, principalmente o tio Silas, que
pedidos de casamento e casamentos eram um tema frágil e lágrimas eram
praticamente certeza. Se não as tivesse, não estaria fazendo certo.
— Eu sou um estúpido, essa é a primeira frase que vou dizer... E realmente
sou, por ignorar uma mulher maravilhosa como você, por ser o que precisava e
não o que queria que eu fosse. Agora, tudo está claro como água e sei
exatamente o que sinto! Sei o que cada um deles sente pelas suas mulheres —
apontei para meu pai e para os meus tios, recebendo um gesto de apoio em
resposta. — E quero continuar mostrando o quanto me arrependo por ter fingido
não ver cada olhar que me dava. Eu te amo, Lily! Sempre amei! Foi só questão
de tempo e de muita fé sua para que eu estivesse ajoelhado aqui, nesse momento,
esperando seu sim e rezando pra que por Deus, não decida dizer não assim como
fez nas últimas dez vezes em que pedi.
— Não foram dez vezes. — Ela respondeu e todos a olharam feio. — O que
foi? Não foi tudo isso! Recusei só alguns! E ele nem pediu direito, então, não
contava!
— Filha, ele está tentando fazer isso agora! — Beatriz falou entredentes e
Lily deu de ombros, sem se importar em acabar com a minha esperança.
Sorte minha que tínhamos um trato ou eu ficaria verdadeiramente
preocupado!
— Não sei porquê, Collin já sabe a resposta.
— Jesus! Só podia ser filha da Beatriz com o Josh! — Allan resmungou e
todos caíram na gargalhada.
Coisas especiais nunca ficavam totalmente sérias na família, o ponto alto da
noite eram sempre as piadas.
— Aceita? — abri a caixinha com o anel de safira brilhando majestoso, seu
brilho refletido nos olhos dela, me hipnotizando.
— Claro que sim! Aceito desde o primeiro, mas é que era engraçado ver a
sua cara de desanimado com as minhas recusas!
— Eu tinha razão! Estão vendo a maldade nessa garota? — Allan disse e
voltou a cuidar da churrasqueira.
Não me deixei abalar com o comentário dele e coloquei o anel no dedo
dela, sentindo-a tremer de emoção. O que era um feito e tanto no seu caso. Meus
dedos pareciam ansiosos por se emaranharem aos dela e tudo o que eu queria era
ficar a sós para decidirmos juntos o que faríamos durante a noite inteira.
Mas teríamos tempo para isso. Tempo para tudo.
Ninguém parecia surpreso, e não por eu ter avisado, mas porque
provavelmente já enxergavam a verdade, evitando ao máximo não dizerem em
voz alta sobre o que desconfiavam.
Eu já era dela, só era cego como uma porta e não percebi.
— Consegui! — sussurrei no seu ouvido, assim que me levantei e puxei-a
para os meus braços.
— Mas temos um acordo.
Eu sabia do acordo e não me parecia um sacrífico, mas é claro, eu não sabia
o que era ainda.
Ainda...
O barulho das pessoas em torno da piscina foi abafado pela alegria que
comandava meu coração. E eu senti, que finalmente, seríamos eu e ela pelo
tempo que nos fosse concedido, amando um ao outro e provando que qualquer
empecilho desaparecia quando havia amor. Verdadeiro amor.
O amor que movia montanhas e causava mudança nas pessoas.
Olhei para a sua beleza exótica e envolvente ao meu lado, sabendo que
nesse jogo, eu marcara o Home Lily da vitória e não poderia estar mais feliz! Era
com certeza, a merda do homem mais feliz do planeta e faria por merecer a sorte
que tivera.
Para sempre.
— AI, MEU DEUS, por que merda eu tô fazendo isso?
— Porque vamos nos casar, temos um trato!
Um trato que ele aceitara sem saber o que abrangia. Vantagem das grandes
para mim!
— E tinha que inventar um macacão rosa que nem esse? Pequeno ainda por
cima? Parece que ele vai explodir a qualquer momento!
A frase: Eu sou papai e vou ao show da Tay Tay era vergonha suficiente
para o Collin se arrepender de ter aceitado. Achava até que ele desistiria de casar
se pudesse voltar atrás.
— É pai de menina, meu amor, e Taylor Swift será presença constante nos
seus ouvidos. Escuta a voz da razão!
— Tay Tay! Preferia ter desfilado pelado! — Collin falou amargo e ouvimos
as gargalhadas da equipe de fotografia em todo o estúdio.
Ele estava divertindo o dia do pessoal, isso sem dúvidas.
O meu então, preferia nem comentar.
— Do que vocês tão rindo? — Ele perguntou e todos fingiram olhar para
outros lugares, ao invés do macacão rosa com vários tufos de pelo.
Nem eu conseguia parar de rir. Tinha sido maldosa, mas era uma campanha
diferente, que ressaltava os poderes de um super pai e a influência que ele
poderia ter na vida da criança.
Roupas para o pai e para a mãe. O macacão tinha sido pra fazer ele pagar
mico, mas eu nunca admitiria isso.
— É que está sexy, amor! — tentei aplacar a fera, mas a sua feição só
mostrava que ele não acreditava nem um pouco em mim.
— E a sua roupa vergonhosa?
— Essa? – Eu tirei o roupão e vi o momento em que seus olhos
arregalaram.
— O QUÊ? MAS QUE MERDA!
Ele pegou o roupão do chão e colocou de novo em cima de mim, tentando
tampar as partes que estavam a mostra.
Eu gargalhei com o desespero dele, era hilário!
— Por que vou ficar de macacão quente que é uma desgraça e você de top e
saia? Sem chances! Vou ficar de cueca. Super pai de cueca!
Ele começou a tentar puxar o zíper nas costas e quanto mais tentava e não
conseguia, mais todo mundo gargalhava.
— Não vai não!
— Eu não vou tirar foto assim, não vou. Não vou!
— Temos um trato, ainda dá tempo de cancelar o casamento.
— Não faria isso. — Seus olhos se estreitaram e eu ri ainda mais.
— Até parece que não me conhece.
— Veste uma roupa mais... Mais roupa! — Ele disse e apontou para as
partes da minha pele que conseguia ver.
— Mais roupa?
— Sim, um macacão que nem o meu.
— Mas eu preciso mostrar a barriga! É uma campanha para grávidos,
papais e mamães!
— Não precisa! Eu não acho!
— Collin! – repreendi-o, vendo a sua carranca ficar ainda pior.
— Lily!
— Vai ficar lindo, super fofinho!
— Fofinho... — Ele resmungou, me olhando bravo. — Como vamos fazer
isso?
— Eu vou sentar no seu ombro e você me levanta para as primeiras fotos.
— Sorte sua que sou forte, senão seu sonho cairia por terra.
— É o mais forte. — Era fácil fazer Collin mudar de ideia, eu sabia. E se
fosse necessário apelar para o seu ego, eu o faria.
— Vem logo, vamos acabar com isso! — Ele se ajoelhou a contragosto,
enquanto uma das meninas trazia um banquinho para eu subir.
Era tudo questão de confiança.
Eu confiava nele para me segurar, assim como confiava nele para dividir
uma vida.
Sentei do lado esquerdo, sentindo sua mão segurar forte meu quadril.
E daí se aquilo era loucura? Soaria tão divertido para quem visse assim
como soava pra gente ali.
Senti a cabeça dele apoiada na minha barriga e sorri, carinhosa, com todo o
amor sendo refletido nos meus olhos.
— Você vai me pagar. — Ele sussurrou e eu aumentei o sorriso, com os
flashes aos quais estava tão familiarizada, iluminando nosso rosto.
— Papai, você tem que sorrir! — O fotógrafo falou e a gargalhada no
estúdio foi geral.
— Vão para o inferno, vocês todos! — Ele respondeu e eu gargalhei ainda
mais, sabendo que aquela campanha seria mais espontânea do que qualquer
outra.
— Lily cruza mais um pouco as pernas! — O homem falou de novo.
Senti o corpo do Collin se retesar.
— Tá aparecendo a calcinha dela? Mas que porcaria que eu não consigo
continuar assim! Se alguém ver a calcinha da minha mulher, eu juro que vou
pichar cada maldito outdoor nessa cidade.
— Não tá aparecendo nada, Collin. — tranquilizei-o, gostando mais do que
queria admitir.
Ele me fazia sentir linda.
Perfeita.
Desejada.
Mesmo parecendo ter engolido uma melancia inteira.
E não importava quantos quilos eu ganhasse, ele beijava cada parte, com a
mesma paixão, todos os dias. Me amando de uma forma geral e não ao meu
corpo. Dedicando cada jogo para mim, declarando seu amor em cada entrevista e
procurando o meu olhar antes de qualquer outro.
Era um amor capaz de curar.
Um amor que transbordava, como minha mãe vivia dizendo.
— Bom que não esteja mesmo!
Ele sussurrou e continuou fazendo seu papel. Um papel que em breve se
tornaria real demais, um papel que nos assustava ao mesmo tempo em que nos
deixava morrendo de felicidade.
Seríamos papais!
A pequena Brooke estava chegando e com ela a felicidade fizera seu
caminho na nossa vida.
E não sairia mais dela.
Eu, Collin e Brooke, e quem mais saberia dizer o que o futuro reservara
para a gente?
— Eu te amo, Lily! Mesmo me fazendo passar por isso. — Ele falou,
menos tenso.
— Também te amo, Collin.
— Eu sei.
Ele falou baixo e eu olhei para a câmera, com as mãos em torno da minha
barriga, sorrindo como pensei que nunca sorriria um dia.
Uma dor me varreu e eu tentei ignorar, mas assim que o líquido escorreu
nas minhas pernas para o macacão, Collin perdeu a estabilidade e me desceu.
Em pânico.
— Collin, meu Deus! — Ainda não era hora. Ainda não era hora.
Oito meses, não nove!
Meu Deus, não eram nove meses ainda!
— Pega as chaves do meu carro. — Ele pediu para uma das meninas que
trouxe correndo.
O desespero em mim enorme e o dele provavelmente ecoando o meu.
— Vai vestido assim? — Alguém perguntou e ele não respondeu.
— Foda-se!
Me pegou no colo e saiu correndo, passando pelas pessoas, que nos
olhavam interrogativamente.
Me deitou no banco do carro e ligou, dirigindo mais rápido do que eu me
lembrava.
Gritei. Uma onda de dor me dominando. Eu nem sabia que isso era
possível, mas eu com certeza poderia matar quem inventou que as mulheres
precisavam sofrer tanto.
— Ai, Jesus, eu sou um super pai! Não, eu não estou desesperado! Não
estou desesperado. Tá tudo bem aí?
— MAS QUE PORRA! — gritei, fora de mim.
— Eu tô fodido!
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
— Sua garganta tá ótima pelo visto!
— Desgraçado! Vai mais rápido ou eu argh, matooooooooo! — falei
palavras desconexas.
Ele ficou quieto e eu gritei sozinha a maior parte do tempo. Sentindo seus
braços me pegarem e agradecendo que a dor pararia. Ou não, ela só parecia
aumentar.
Uma lufada de ar preencheu meu peito e o vento batia furioso no meu rosto,
sentindo Collin correr com um fôlego invejável.
— Nossa filha vai nascer, boneca. Ela vai nascer!
Ele falou assim que me deitaram na maca e levaram para eu não fazia a
menor ideia onde era.
Sua mão abandonou a minha, mas a senti de volta logo que as pessoas à
minha volta apareceram.
Pelo visto Brooke era apressada que nem o pai e não queria saber de moleza
da minha parte.
— Aiiiiiiii! — gritei em mais uma vez e ele arregalou os olhos, preocupado.
— Anestesista! — Alguém gritou e eu não me importei, as dores me
corroendo.
Me impedindo de pensar absurdos.
— Agora é sua hora, mamãe. O bebê quer vir, é só fazer força!
Eu trinquei meus dentes, fazendo força como me falaram para fazer.
Apertei a sua mão na minha e senti um grito abafado. Bom, porque essa dor era
pra ser dividida. A dele não chegava nem perto da minha, eu tinha certeza.
Meu coração batia acelerado.
E eu conseguia sentir o suor pelo esforço descendo pelo meu rosto.
Quanto mais eu me esforçava, mais o cansaço tentava me puxar.
— Vamos, está vindo! Já consigo ver os cabelos!
Fiz mais força, tentando empurrar para acabar logo com aquilo.
Não sabia o tempo que tinha se passado, mas para mim, parecia uma
eternidade. Desde quando tudo começou no ensaio até eu chegar aqui, na parte
em que eu estava finalmente tendo minha filha.
O olhar do Collin, me dando a força que eu precisava. Sua mão na minha, a
certeza de um futuro maravilhoso.
Seus lábios se moveram, dizendo que me amava e eu respirei fundo,
empurrando novamente. Novamente, novamente, novamente, até que um choro
agudo se fez ouvir.
Ele sorriu.
Eu sorri.
Era um sinal de que tudo estava bem!
Encostei minha cabeça na maca, acabada. Sem forças para qualquer outra
coisa. A dor sumira como em um passe de mágica assim que ouvi o choro e meu
coração vibrou de felicidade por saber que eu cumprira meu propósito.
Collin abandonou minha mão e saiu do meu campo de visão, voltando com
uma menina linda nos braços.
O ar me faltou e comecei a chorar e sorrir ao mesmo tempo.
Brooke.
— Olha que linda, boneca! — Collin chorava que nem eu, emocionado. —
Ela é uma réplica de você, olhos verdes e tudo o mais! Eu sou a princesinha do
papai, eu sou... — Ele disse e eu sorri, extasiada. Sem saber como um amor tão
grande poderia caber em mim.
Collin deitou-a cuidadosamente no meu peito e eu a segurei, ela se
mexendo e resmungando por ter saído do colo dele. Pelo visto eu seria trocada,
assim como minha mãe tinha sido trocada pelo meu pai.
Era o poder que eu queria passar através das campanhas.
— Preciso sair e ligar pra todo mundo, avisar que Brooke já nasceu. Vão
chutar minha bunda por não ter avisado antes, mas tudo aconteceu tão rápido que
eu só pensava em ficar com você e aproveitar cada segundo.
Eu sabia.
E eles entenderiam.
— Eles vão entender.
— Vão, com certeza vão. — Ele falou e olhou para nossa filha uma última
vez antes de seguir para a saída.
— E vão tirar sarro da sua roupa sexy!
Ele olhou para baixo, com a transparência da roupa que deram pra ele ver o
parto, deixando o rosa em evidência.
— Sou um super pai! Eu sou um super pai foda! E daí se amanhã todas as
revistas vão estar com fotos minhas correndo com você no colo como um louco?
E daí?
— Com o macacão rosa.
— Com o macacão. — Ele fez uma careta e saiu.
Sorri sozinha.
Sabendo que o mundo voltara a girar.
As partes certas nos lugares certos e o que realmente era importante,
comandando o lugar certo do meu coração.
Amor para mim se chamava família.
Se chamava Collin e Brooke.
Principalmente, Brooke.
Tudo sobre Astros
“MAS QUE LOUCURA FOI AQUELA?
POSSO JURAR QUE VI O PROTÓTIPO DE DEUS DOS CURREY,
CORRENDO COM MACACÃO ROSA QUE NEM UM LOUCO!
Esse, caras leitoras, é o título da coluna de hoje!
O jogador de beisebol mais quente de todos os tempos já é papai! Com
direito a corrida de desespero, macacão vergonhoso e tudo o mais!
Que coisa mais doida! Pensei que estivesse vendo uma foto de realidade
alternativa! Mas admito que eu queria e muito ser aquela peça de roupa!
Diva C. e as outras três divas, com seus maridos do Olimpo deram as caras
logo em seguida, eufóricos como se estivessem ganhando o troféu da
temporada!
Reza a lenda que a herdeira será mais paparicada que a Barbie no seu
desenho!
Ainda não temos fotos da pequena, mas como sabem, Lily C. e Collin C.
são tranquilos e quem sabe não damos a sorte que a safada aqui consiga uma
exclusiva? Não custa sonhar, não é, gatas? Já fiz uso da minha intimidade com a
família pra dar berros pelo telefone. Acho que fui bloqueada por isso, mas quem
se importa? É BEBÊ NOVO NA CASA CURREY, SAFADAS!
E ESTAMOS COMO?
HISTÉRICAS, DESEJANDO SER AS MAMÃES!
Enfim, acordei do sonho, um beijo e até a próxima!”
Cinthia Basso
Te prometo ser a única
Trilogia Tudo de Mim I
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Sinopse
Bonito, rico e agradável. Thom nunca ficava sozinho. Mas o que ele mais
desejava estava fora de seu alcance: Lara. Sua prima adotada que o tratava como
um irmão. Para ele não tinha coisa pior do que amar e não ser amado.
Lara. Inteligente, meiga e querida por toda a família, tinha somente um
segredo, que escondia de tudo e todos. Inclusive de seu primo.
Quando a verdade vier á tona, será que Thom continuará a amá-la? Pode
um amor ser tão forte a ponto de sobreviver a barreiras e crenças? São perguntas
que serão respondidas por si mesmo, em meio a tantos conflitos e verdades não
ditas, emocionando-nos a cada passo dado em busca da felicidade.
Um império onde riqueza e poder não podem comprar o que há de mais
importante no mundo: o amor.
Te darei o mundo
Trilogia Tudo de Mim II
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Sinopse
Stephen Cooper é um dos homens mais sedutores de Nova Iorque, e pode
ter certeza que ele se aproveitou disso. Ficando com quem ele quisesse e
desejando quem ele pudesse. O grande problema, é que ele amava uma mulher
que não lhe pertencia, e por isso, incentivou-a a viver um amor que não era o
dele. Ficou sozinho e com o coração partido, sem expectativas de nada melhor
para o futuro.
Eva Barnes é uma mulher batalhadora que nunca conheceu coisas fáceis na
vida. Sofreu e sofre nas mãos de um pai bêbado, que se mantêm às suas custas,
enquanto ela ainda cuida da pequena filha de quatro anos. Ela não se considera
uma mulher de futilidades, mas ao conhecer Stephen, pensa duas vezes na
possibilidade de se deixar levar por um homem tão charmoso. Afinal, ela já caiu
nesse truque e saiu despedaçada ao final.
Ambos guardam segredos entre si, mas durante a noite, eles não precisam
ser revelados, precisam?
Dois corações quebrados, duas almas em busca do amor. Podem estes dois
encontrar o que tanto procuram um no outro?
Jamais duvide do destino e jamais subestime o amor.
Te farei minha
Trilogia Tudo de Mim III
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Sinopse
Andy é a típica garota texana, que usa botas e chapéus, tem uma Silverado
onde toca somente músicas cowntry, e, claro, como na maioria das histórias de
mulheres sulistas, tem um cowboy!
Hardy é seu sonho adolescente. Uns bons anos mais velho, e muita
experiência na arte de seduzir, ele nem mesmo presta atenção na mulher que vive
a salivar litros por sua causa. E como se já não bastasse isso, após sair com sua
irmã mais velha, Andy pareceu realmente sumir do mapa para ele. Mas ela
cansou de ser ignorada, e esse verdadeiro homem de Dallas mal sabe o que o
espera.
Muitas brigas, ciúmes e umas boas pancadas da vida, vão provar que o
Texas se tornará pequeno para conter o desastre iminente de Hardy e Andy,
prestes a descobrirem o amor.
Sadie e Max
Conto
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Sinopse
Sadie e Max são duas pessoas que não acreditam no amor. Por motivos
diferentes e realidades opostas. Mas, e se em um olhar tudo mudasse? Eles estão
prestes a se surpreenderem e descobrirem um dos caminhos que levam ao amor.
Meu astro do basquete
Série Boston Globe, livro 1
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Sinopse
Beatriz é uma bibliotecária simples e maluca, que sonha em ficar frente a
frente com o lendário astro do basquete, Josh Currey. Quando uma reviravolta
acontece e tudo se encaminha para um final desanimador, ela se surpreende em
como o destino pode pregar peças e virar toda a nossa vida de cabeça para baixo.
Josh por outro lado, está aproveitando seu momento, tanto para se
consagrar, como para ajudar as pessoas as quais tem a oportunidade de ajudar. É
um homem decidido e que sabe a responsabilidade que carrega nas costas,
adorando um bom jogo e aceitando todos os desafios à ele impostos.
Mas, será que ambos se encontrarão em meio a tantos empecilhos, dentre
eles, a fama mundial do jogador?
E se o passado conter tudo o que procura para o futuro?
Nesse jogo da vida ambos descobrirão que um vencendo, os dois se tornam
campeões!
Antes do sucesso
Série Boston Globe, livro 2
AMAZON
Sinopse
Allan James é um dos jogadores mais famosos da NBA. Todos querem estar
ao seu redor por causa do seu jeito humilde, e o adoram pelo seu bom humor. No
entanto, o que ninguém percebe, é que debaixo de tudo isso, ele esconde suas
mágoas e tristezas, tentando afastar memórias de alguém que um dia fora
insubstituível.
Ninguém sabe, mas o passado de ambos pode estar mais perto do que
imaginam, e só eles poderão escolher os caminhos para o futuro.
Sinopse
Diane Kannemberg por outro lado, é uma jornalista esportiva brasileira, que
sabe o que quer e isso inclui se sair bem na sua profissão, sem ficar à sombra de
ninguém. Odeia como os astros acham que podem ficar com todas as mulheres
do planeta e, principalmente, odeia a confiança com a qual eles falam com ela.
Sinopse
Suellen Carvalho nasceu em Ventura, mas seu sonho fez com que saísse da
cidade sem olhar para trás, com o intuito de estudar e se tornar a escritora que
tanto queria ser. Agora, com um bloqueio literário, ela está de volta e se
surpreende ao notar que Vince, seu amigo de infância, se transformou de garoto
franzino para um peão sexy, com um sorriso digno de fazê-la delirar.
O tempo os separou.