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ESCRAVA BRANCA
Pele Vermelha – Livro 3
Michelle Castelli
1ª Edição — 2022
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Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Índice
Dedicatória
Epígrafe
Introdução
Capítulo 1 – Ataque
Capítulo 2 – Encontro
Capítulo 3 – Tempo
Capítulo 4 – Turbilhão
Capítulo 5 – Uma Opção
Capítulo 6 – Farsa
Capítulo 7 – Fogo
Capítulo 8 – Contato Imediato
Capítulo 9 – Arrependimento
Capitulo 10 – Tormento
Capítulo 11 – Desafio
Capítulo 12 – Primeira e Única
Capítulo 13 – Incêndio
Capítulo 14 – Noiva?
Capítulo 15 – Noiva? (Versão Coiote)
Capítulo 16 – Alguém do Passado
Capítulo 17 – Grávida?
Capítulo 18 – Forte
Capítulo 19 – Criando Confusão
Capítulo 20 – Amor
Capítulo 21 – Enfim Esclarecimentos
Capítulo 22 – Vivendo com o Capitão
Capítulo 23 – Saudade...
Capítulo 24 – A Caminho
Capítulo 25 – Irmã
Capítulo 26 – Reencontro
Capítulo 27 – Reconciliação
Capítulo 28 – Abrigo
Capítulo 29 – Seguindo em Frente
Capítulo 30 – Volta
Capítulo 31 – União
Capítulo 32 – Acertando Contas
Capítulo 33 – Estrela da Manhã
Capítulo 34 – Uma Visão
Capítulo 35 – Batalha
Capítulo 36 - Final
Epílogo
Próximo Livro da Saga
Agradecimentos
Para minhas irmãs de alma: Simone e Fran.
Nós o compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos os
sonhos do homem branco, se soubéssemos quais as
esperanças que transmite aos seus filhos [...] Os sonhos do
homem branco são, para nós, ocultos.
CHEFE SEATTLE (1856)
Introdução
A história de Puma Pequena e Coiote Grande já aparece de
forma resumida no livro Pele Vermelha, mas aqui ela será contada
na íntegra, com os detalhes para todas aquelas que já se
apaixonaram por esse casal!
Se você não leu Pele Vermelha, não importa. Este é um livro
totalmente independente.
Essa história é destinada ao público adulto, pois contém
cenas detalhadas do ato sexual. Também contém gatilhos e
descrição de abuso sexual, se você é sensível a esse assunto, lhe
peço desculpas e sugiro que não continue com a leitura.
Como é um livro de época, alguns termos pejorativos como
“índio”, “selvagem”, “tribo” e coisas assim, são usados pelos
personagens. Deixo aqui expresso que apenas são usados esses
termos por causa da época em que se passa a história, e porque
quem usa os termos são personagens que têm o preconceito
enraizado. Não são reflexo de forma alguma do pensamento da
autora que abomina qualquer tipo de racismo ou preconceito, e se
você se sentir ofendido em algum momento, é só entrar em contato
comigo para as devidas ratificações.
Meu e-mail: millecastelli@gmail.com
A saga Pele Vermelha é baseada em fantasia e romance.
O xamanismo também é praticado na atualidade e resume-se
ao respeito pela natureza e seus elementos, bem como o emprego
destes em uso medicinal. E seus adeptos acreditam que o transe
tem como objetivo encontrar espíritos, seus animais protetores,
mentores, ter insights, oráculos e curas. Dizem que através destes,
conseguimos a percepção aos mistérios que estão dentro de nós,
guardados, e também que sentimos, vemos e ouvimos a energia.
Os nativos americanos sempre me fascinaram, desde
Pocahontas, Cavalo Doido, Geronimo, Hawkeye (O último moicano),
e até o Tonto. Mas entre todos os filmes que assisti, ou livros que li
sobre o assunto, sempre houve uma tribo que me chamou mais a
atenção: os Cheyennes. Qualquer busca simples revela o porquê da
minha admiração:
"Os Cheyennes eram o povo considerado o mais belo,
elegante e honrado."
Este é o terceiro livro da saga Pele Vermelha que é formada
por:
Pele Vermelha – Livro 1
Maldição Cheyenne – Livro 2
Escrava Branca – Livro 3
Sob as Estrelas – Livro 4
Filhos da Lua – Livro 5
∞∞∞
A inconsciência não me dá a paz que achei que teria. Tenho
sonhos, visões, eu grito, me debato, tento afastar os monstros que
me aprisionam, que matam minha família.
Sinto braços ao redor de mim, eu luto contra eles, mas eles
não usam força, eles parecem querer me amparar.
— Shhhhh, está tudo bem. Tudo bem – uma voz é sussurrada,
com sotaque estranho.
Eu luto ainda mais, mas estou ficando sem forças. Escuto
uma canção baixa e em língua estranha, e meu coração parece se
acalmar, o ar começa a entrar nos meus pulmões novamente, então
abro meus olhos.
A semi claridade não me permite enxergar claramente, mas
vejo que estou dentro de algum lugar, parece uma barraca... a luz
bruxuleante amarelada me diz que há fogo por perto, mas o que
mais me apavora é que tem alguém muito próximo de mim, ao meu
lado, com os braços ao redor do meu corpo. Eu o afasto com um
empurrão e me encolho sentada no canto.
Vejo o mesmo nativo enorme que me salvou. Ele ergue as
duas mãos em sinal de rendição, quando diz:
— Sou amigo, não vou lhe fazer mal. – E vai se afastando.
Eu não me mexo. Ele estava perto demais para quem não
queria fazer nada! E tem o peito nu! Liso, sem pelo algum e com
mais músculos que Lincoln jamais sonharia.
Eu o encaro com os olhos estreitos. Ele pode ter me salvado
antes, mas o que estou fazendo aqui, sozinha com ele?
— Você teve um sonho ruim. Eu só estava tentando mandar o
sonho embora – ele se explica. E de uma bolsa de couro parecida
com um cantil tira um líquido e coloca em uma tigela de madeira, me
oferendo em seguida. — Água. Beba.
Eu penso um pouco, depois aceito. Eu cheiro, para ver se é
mesmo água e como não há cheiro algum, eu bebo. Nossa! Eu
estava morrendo de sede! Ofereço novamente o copo para ele
encher, o que faz e eu bebo mais.
— Não se acostume com isso. Não vou ficar lhe servindo,
branca. Você é quem me servirá.
Eu tomo o último gole, como se estivesse engolindo pedra,
arregalo os olhos e só penso em sair correndo. Procuro a porta e a
vejo atrás deste homem enorme e forte. Como poderei fugir?
— Não me olhe com esses enormes olhos azuis! Pelo Grande
Espírito! Só ele sabe que não atirei minha flecha em você por causa
deste seu olhar! E não precisa ficar acuada assim. Quando digo
servir, quero dizer trabalhar para mim. Arrumar minha tenda,
costurar, cozinhar. Só isso! Não quero mais nada de você!
Não quer mais nada de mim? Só como empregada? Ou
melhor, escrava? Virei escrava deste indígena gigante? Não sei se
choro pela parte do “escrava”, ou se rio feliz pela parte do "só isso"!
Eu penso um pouco. Posso ficar e fugir na primeira
oportunidade. Isso de John e papai não me acharem primeiro... Sim,
se ele não quer nada comigo, posso cozinhar para ele, para
compensá-lo por ter me salvado!
Eu sacudo a cabeça, confirmando. Minha garganta dói pelo
esforço em gritar tanto e também não quero falar. A dor de ter
perdido minha mãe e tudo que aconteceu ainda me apertam o
coração, me fazem fitar o chão de vergonha e sinto minhas faces
ficarem vermelhas.
O nativo se senta sobre algumas peles que estão do outro
lado disso, que agora sei que é sua tenda e que John falou uma vez
que eram as casas dos “selvagens”, mas John também me disse que
“selvagens” violentavam mulheres e tiravam os escalpos de todos...
Ele olha para mim, vejo em seu olhar algo que parece ser
tristeza ou pena.
— Você ficou desacordada toda a tarde e noite também.
Minha mãe cuidou de você – ele limpa a garganta e olha dentro dos
meus olhos. — A sua família... eu voltei lá e os enterrei. Quando
você estiver melhor, posso levá-la até lá...
Ele tenta continuar, mas eu já estou de pé, as lágrimas caindo,
a mão em punhos. Tento passar por ele, mas ele também se levanta
e me segura pelos ombros. Eu recuo ante seu toque.
— Você não pode ir lá agora! É noite!
Eu o encaro. Quero gritar, quero perguntar o que ele viu,
quem ele enterrou, mas só uma palavra sai dos meus lábios,
sussurrada com voz rouca e praticamente inaudível:
— Quantos?
— Uma mulher, com cabelos castanhos dourados como os
seus, porém mais velha – minha mãe. — E dois homens, um mais
velho e outro jovem, muito parecido com você. Tinha mais alguém?
Eu deixo meu corpo cair no chão de terra batida e sacudo a
cabeça. Não. Não tinha mais ninguém.
Sinto seus braços me envolvendo outra vez e ele parece
tentar dizer algo, mas eu não escuto, não tinha notado, mas estou
gritando novamente.
Capítulo 3 – Tempo
Se passaram três semanas.
Três semanas que estou aqui entre esses nativos.
Três semanas que minha família foi morta.
Três semanas que tudo ruiu em minha vida.
Eu trabalho desde que o sol nasce até o momento em que se
põe. Pego água no rio, faço a comida, trato a caça, apanho frutas e
raízes silvestres, costuro, faço cestas, bordo, lavo roupa, ajudo a
cuidar das crianças.
Tudo isso foi a mãe de Coiote Grande, Chuva Forte, quem me
ensinou. Ela tem mais dois filhos, um menino e uma menina menor.
Quando minhas regras vieram, tive que ir para a grande tenda das
mulheres. Lá aprendi várias coisas também, até como assar um pão.
Bom, nem sei se posso chamar aquilo de pão, mas enfim...
Apenas as mulheres mais velhas me tratam bem. Devem ter
pena de mim, pois Coiote contou que fui atacada. Eu não falo nada.
Não tenho muito o que conversar e nem quero conversar. Por isso
trabalho tanto, para não pensar, para não lembrar. Me mantenho
ocupada até adormecer de exaustão.
Coiote também pouco fala comigo. Uma semana atrás ele me
levou onde meus pais foram enterrados. Nossa carroça ainda estava
lá virada e eu, depois de chorar e orar nos túmulos deles, pude pegar
algumas de nossas coisas. Poucas, mas preciosas, como algumas
roupas, minha escova de cabelos, a caixa de costura de minha mãe,
o cachimbo de meu pai e o chapéu de John. Estão todos aqui
comigo.
Embora Coiote tenha dito que uma escrava não pode possuir
nada, ele não me impediu de trazê-los.
Coiote é frio comigo e eu agradeço todos os dias por isso. Ele
raras vezes me olha. Só se dirige a mim quando quer algo, jogando
um mocassim rasgado ao meu lado e dizendo:
– Costure!
Ou quando me estende uma caça, ou parte dela:
– Prepare!
Sempre seco.
As mulheres dizem que ele é assim por causa da antiga
esposa. Dizem que ele era louco por ela, mas ela o abandonou por
um branco. Dizem que depois disso, Coiote Grande não foi mais o
mesmo e que as nativas solteiras e viúvas competem por sua
atenção, mas ele não quer mais compromisso. Dizem que ele jurou
nunca mais se casar novamente.
Não que eu esteja interessada nesta história, quero distância
deste arrogante presunçoso, mas eu escuto tudo. Depois que elas
viram que não sou dada a falatórios, parece que sou invisível, não há
pudores na minha frente.
Hoje, depois de limpar a tenda e terminar um tapete, eu
resolvi sair para colher flores. Enquanto colho os lírios selvagens,
penso que quero deixar a tenda bem bonita. Esta noite vou preparar
o restante da carne de bisão que há. Pensando bem, vou tomar um
banho também, colocar aquela minha saia vermelha e a blusa
branca. Sim! Isso vai ser bom.
Quando entro na tenda, eu arrumo as flores, pego minhas
coisas e saio para o rio.
Esta manhã eu acordei melhor, a tristeza que me invadiu a
alma está se dissipando. Sinto muita saudade de minha família e
aquela dor ainda está ali, mas está mais tolerável.
Esta manhã quando acordei, vi Coiote de costas para mim
penteando os cabelos. Eu acho os cabelos dele lindos. São negros,
muito lisos e brilhantes. Desta vez eu não resisti ao impulso e peguei
minha escova e os escovei. Ele ficou atônito. Eu nunca encostei
nele, tirando os primeiros dias em que eu acordava aos gritos e ele
me amparava. Tampouco ele nunca mais me tocou. Mas desta vez
eu cedi à tentação, eu tinha que tocá-los, tinha que ver se eram
realmente tão macios quanto pareciam. E eram. Eu os escovei e ele
não ofereceu resistência. Depois os trancei, como ele sempre faz
todas as manhãs antes de sair.
Ele apenas me olhou com aqueles olhos muito negros e
aveludados, depois abaixou a cabeça de leve. Não sei se foi um
agradecimento, ou somente um consentimento, mas eu gostei.
Depois ele se levantou e saiu sem me dizer nenhuma palavra, como
sempre.
Finalmente chego ao rio. Neste local existe uma pequena
curva baixa, que as árvores encobrem e escondem, ideal para um
banho escondido. Eu subo na grande pedra chata e olho ao redor.
Não vendo ninguém, dispo as roupas e me enfio na água gelada.
Muiiiito gelada!
Tremendo o queixo, eu esfrego o sabão de gordura de bisão e
raiz de saboeiro no corpo, assim como erva de saboeiro nos cabelos.
Passo algumas gotas de extrato de bergamota silvestre no corpo e
estou limpa e cheirosa.
Quando saio da água e me enrolo no tecido para me secar,
dou de cara com Coiote Grande, que está chegando. Ele não parece
surpreso em me ver.
– O que faz aqui sozinha?! Quantas vezes já lhe disse que só
deve se banhar se vir com minha mãe ou outra mulher junto?!
Qual o problema dele? Por que está tão irado? Olho em volta,
não há ninguém, então qual o perigo?
Ele suspira alto.
– Você só me dá dor de cabeça, Puma Pequena!
Puma Pequena. É assim que ele me chama, que todos agora
me chamam. Não sei o porquê, mas eu não me importo. Elizabeth
Carter parece que morreu naquele dia e não existe mais.
Mas que história é essa de só lhe dar dor de cabeça? Esse
ingrato!
Eu não olho para ele, saio pisando duro. Aperto meus lábios
para não gritar o que ele merece ouvir e junto minhas coisas, para
me vestir e sair logo daqui.
Ele fica me olhando, ainda bravo. Eu o encaro e mostro
minhas vestes, fazendo sinal para ele sair. Tenho que me vestir.
– Oh, não! Eu não vou a lugar nenhum! Vou ficar aqui mesmo!
Pode se vestir na minha frente!
Eu arregalo os olhos diante de tal absurdo! Ele ficou louco?
Eu o fuzilo com os olhos.
– Pode arregalar esses olhos gigantes o quanto quiser! Eu
sou imune ao seu charme! Vou ficar de costas até contar 10, é este o
tempo que tem para se vestir – dizendo isso, ele se vira – Um...
Dois...
Meu Deus! O que deu nele?
– Três...
Eu tiro correndo a pano que me envolve, coloco a saia e enfio
a blusa pela cabeça, estou abotoando-a quando ele termina e se
vira.
– Dez! Ótimo, agora vamos.
Ele me pega pelo braço e vai me puxando. Eu retiro o braço,
me livrando do toque.
Ele se volta para mim:
– Por que quer ficar mais? Está esperando alguém aparecer?
O quê? Ele está doido?
Ele me olha com olhar estreito, parecendo querer me dizer
que sabe de algo...
Neste momento, eu escuto alguém assoviar e Coiote dá um
suspiro profundo.
Falcão Negro, um guerreiro que dizem que perdeu a mulher e
a filha em um ataque da tribo inimiga, está chegando com um pano a
tiracolo e erva de saboeiro na mão. Claramente, o próximo a tomar
banho.
Ele para quando vê a mim e Coiote.
– Boa tarde, Coiote! – ele o saúda e depois olha para mim e
um sorriso bonito desenha seus lábios. – Linda Puma, como está?
Eu sorrio e coro sob o elogio. Falcão é um homem bonito e eu
sempre o tive em consideração pela sua perda.
– Estamos de saída. Vamos logo, Puma!
Ele diz, tentando me puxar novamente.
Eu me solto e caminho atrás dele. Cumprimento Falcão com
um gesto de cabeça quando passamos por ele e em um gesto súbito
ele pega meu braço. Eu paraliso, encarando-o dentro dos olhos, mas
não há maldade ali. Ele parece até um pouco envergonhado. Seu
toque é gentil, foi apenas para me chamar a atenção, mas mesmo
assim eu me afasto um pouco.
– Linda Puma, eu já falei com Coiote, mas ele está irredutível.
Porém, se eu conseguir mudar a decisão dele e você aceitar minha
atenção, saiba que a quero como esposa, não como escrava...
O quê? Aceitar sua atenção? Esposa? O quê?
Meu queixo vai ao chão e eu não sei o que pensar...
– Já lhe disse que não aceito sua oferta! – Coiote pula na
frente dele e agarrando meu braço, me puxa com força para longe.
Eu estou atônita e não ofereço resistência.
– Então me diga o seu preço! – Falcão fala andando de
costas, seguindo–nos.
– Não tem preço. Agora nos deixe!
– Sabe que posso falar com sua mãe. Como matriarca da
família, ela é quem decide sobre a escrava. Isso se você me aceitar,
Puma...
Coiote para a caminhada.
– Já lhe disse que não! E ela não aceita! Eu não aceito!
Entendeu, Falcão Negro? Brancas são apenas escravas e não
esposas, seu tolo! Vá achar uma de nossas mulheres para si...
O discurso dele entra no meu coração e eu estaco no lugar, a
raiva queimando no meu sangue. Então eu explodo:
– O que você disse?! Branca só serve para ser escrava?!
Pois, sim! É só para isso que sirvo mesmo, seu arrogante! Trabalho
de sol a sol e você não é capaz de dizer um muito obrigado, seu mal-
educado!!! E agora sou menos que suas preciosas índias? Pois eu
não aprontaria nem metade do que escuto delas por aí! – Coiote está
catatônico, então me dirijo a Falcão. – Desculpe, Falcão, mas eu
nunca serei uma boa esposa. Temo que o que me aconteceu foi
além do corpo...
– Eu também tenho cicatrizes, minha linda. Posso ajudá-la,
sou paciente... – Falcão é só calma e parece estar implorando por
uma chance.
Mas o que dizer? Eu nunca vou permitir que um homem me
toque outra vez. Só de pensar nisso, me repugna a alma.
Coiote parece que reencontrou a língua, pois ele se coloca
entre mim e Falcão, e me encara com os olhos queimando de raiva:
– Quer dizer que com ele você fala?!
Eu apenas estreito meus olhos e lhe dou as costas. Sigo para
a tenda, pois tenho que começar a preparar o jantar.
Coiote vem atrás.
– O que você anda falando com ele que o incentivou tanto?
Por que ele está tão apaixonado a ponto de querer tê-la como
esposa, mesmo sendo uma branca? O que você fez?
O que ele está insinuando?!
Eu paro e lhe dou um violento tapa no rosto. Minha ira não me
deixa falar, mas estou com o pescoço erguido, pois ele é muito maior
que eu, fitando-o e esperando que ele faça algum movimento que me
fará correr para longe.
Mas ele apenas se afasta.
– Você não fala comigo, mas falou com ele. Ele quer me dar
10 cavalos por você, quase tudo que tem. O que quer que eu pense?
Eu só o encaro. Ele não merece que eu explique nada. Até
porque, não há nada a ser explicado.
– Só tenho seu silêncio novamente. Ótimo. Maravilhoso!
Ele grita e se vai.
Eu volto para a tenda e começo a preparar o assado. A noite
cai.
Coiote não retorna.
Eu acabo adormecendo, mas sou acordada quando escuto
algo cair aqui dentro.
Me sento em minha cama de peles de um pulo e vejo que
Coiote chegou e está cheirando a bebida.
– Acordei você, linda Puma? – ele debocha, se referindo a
como Falcão me chamou à tarde.
Ele retira os mocassins e desfaz as tranças dos cabelos.
– Eu não sabia que você bebia – eu digo com todo meu
desprezo por vê-lo assim.
– Pois eu bebo! Bebo quando quero esquecer todas as
mulheres do mundo! – ele diz se deitando. – Mas como vou esquecer
de você, se eu chego e você acorda? Volte a dormir!
– Não precisa ser grosseiro! Seu bêbado!
Ele se levanta, caminha em minha direção e eu me arrependo
de ter voltado a falar. Me afasto alguns passos e me sento
novamente na minha cama.
Me pegando de surpresa, ele se abaixa na minha frente.
– Me diga, você incentivou Falcão Negro alguma vez?
Sua voz é baixa e ele me encara.
– Nunca tinha falado ou sido alvo da atenção de Falcão até
esta tarde. Eu não tenho tempo para isso, ou você não notou?
Ele balança a cabeça, concordando.
– Você tem sido uma boa escrava.
Eu estreito meus olhos.
– Isso não é um elogio, você sabe, né?
Ele se senta na minha frente, de pernas cruzadas e a
proximidade me inquieta.
– Esta manhã você penteou meus cabelos. Sabe que só uma
esposa pode fazer isso, não sabe?
Eu me surpreendo com o assunto, mas ele está bêbado, não
duvido que comece a falar besteiras.
– Não, eu não sabia. Desculpe, não vou fazer de novo.
Então era por isso que ele estava tão bravo mais cedo? Será
que acha que o quero como marido?
– Se soubesse, não teria feito! – eu emendo.
Ele se chega mais para frente, me avaliando.
– O que Falcão viu em você? Além destes olhos enormes e
quase estranhos, o que você pode oferecer a um guerreiro
Cheyenne?
A ofensa me atinge a alma. E sem conseguir refrear minha
língua, eu coloco o dedo em seu peito nu e musculoso quando digo
entredentes:
– Para um grande e maravilhoso guerreiro como você, nada!
Seu metido! Ingrato! Faço tudo que posso e ainda tem a cara de pau
de me chamar de zoiuda estranha? Seu... seu selvagem! Seu
grosseirão! Está bêbado por causa da safada da sua esposa e vem
ofender a mim? Vá descontar sua traição em outra!
Só quando vi o olhar de puro ódio no rosto dele, foi que me
dei conta de que falei demais.
Droga! Eu deveria ter continuado calada! Para sempre!
Capítulo 4 – Turbilhão
Coiote está na minha frente, com o olhar faiscando de raiva pelas
minhas palavras impensadas.
Ele pega minha mão, prendendo-a na sua. Eu esqueci que
ainda estava cutucando-o com o indicador.
Eu arregalo meus olhos. Droga! John tinha razão. Eu sou uma
mula surda mesmo!
– O que você disse? Oh, não me olhe com esses olhos
enormes! Eu não vou cair neles outra vez! Inferno! Feche os olhos,
Puma! Não consigo falar com você assim!
Eu não sei o que fazer, ele está louco!
– Feche-os, Puma! – eu não o espero mandar outra vez. –
Ótimo, agora me diga o que acha que sabe.
Eu abro os olhos para falar, mas ele se aproxima mais,
falando entredentes:
– De olhos fechados.
Ele está terrivelmente perto. E eu comecei a tremer. Ainda
bem que me acha estranha e sem atrativos, senão eu estaria
apavorada. Mas pensando bem sobre isso, é por isso que ele nunca
tentou nada comigo em todo este tempo! Nem um olhar, nenhum
toque. Nada. Ele me acha feia. Ninguém nunca me disse isso. Não
que eu me ache linda, mas na minha antiga cidade, as pessoas
diziam que eu era bonita, que meus cabelos castanhos dourados
faziam o contraste perfeito com os olhos azuis e bem... eles são
grandes mesmo. Mas daí dizer que são estranhos e querer
conversar comigo de olhos fechados, já é um pouco demais!
Não gosto disso! Não gosto dele me chamar de esquisita! Não
gosto de sentir que meu coração ficou triste com o que ele me disse!
Eu lhe dou um olhar irado e torço a boca. Fecho meus olhos e
digo:
– Então, mestre supremo do universo, está de seu agrado
agora?
– Está. Agora me diga o que sabe sobre minha esposa.
– Pelo que eu sei, você deveria ter é vergonha de chamá-la de
sua esposa, já que ela fugiu com outro... – diabos! Mas ele mereceu
essa!
Eu queria estar de olhos abertos para ver a cara dele...
Pensando bem, é melhor não.
Ele fica em silêncio. E depois de um longo tempo, solta:
– Eu gostava mais de você quando era muda.
Abro meus olhos, querendo gritar um monte de coisas na cara
dele, mas quando ele os vê abertos, diz antes que eu possa falar
algo:
– Eu disse para deixá-los fechados!
Eu o encaro mais e coloco minha cabeça para frente, a um
centímetro dele, olhando-o bem no fundo dos olhos negros.
– Pois eu não quero! Vai fazer o quê?
Vejo a respiração dele se alterar e eu tenho vontade de socar
minha cabeça! Ele é um selvagem! Por Deus! Pode até arrancar
meus olhos, se quiser!
Eu os arregalo em pânico.
– Branca tola – eu o ouço dizer, antes de sentir os lábios dele
sobre os meus.
Eu prendo a respiração. A boca dele é suave sobre a minha,
parece querer provar meu gosto. Não como Lincoln, que
simplesmente me espremeu os lábios e os invadiu com a língua.
Este índio parece querer descobrir alguma coisa.
Meu coração acelera. Sei que devo sair daqui, mas tenho
medo. Se eu sair, ele pode ficar violento.
Ele beija com suavidade meu queixo, o canto de minha boca,
meu lábio superior e algo está acontecendo dentro de mim. Além de
minha respiração ficar ofegante como se tivesse corrido cem léguas,
o medo está dando lugar a outro sentimento, algo que não sei
explicar, mas que faz meu sangue correr mais rápido, como se
estivesse quente.
Eu quero que ele continue, que me mostre assim, com essa
delicadeza, mais coisas...
Ele então cobre minha boca totalmente com a sua e eu sinto
sua língua se infiltrar e tocar a minha.
Eu mexo a minha de encontro à dele e o simples toque me
causa um arrepio pelo corpo.
Parece que causa nele também, pois ele suspira e me agarra
pelos braços, me puxando para si.
Neste momento, o encanto se quebra. Eu lembro de Lincoln,
eu lembro daqueles bandidos. O pânico, a ira e o asco crescem
dentro de mim e eu o empurro com toda minha força.
Ele cai sentado para trás e eu me ergo de um pulo, tentando
fugir pela abertura da tenda.
Ele se levanta e se coloca na minha frente, impedindo minha
passagem. Ele tem as mãos para o alto, em sinal de rendição, como
já o vi fazendo antes. Eu me afasto.
– Eu... Desculpe, Puma Pequena. Eu... Isso não vai mais
acontecer. Não sei onde estava com a cabeça. Beijar você, quando
tem tantas índias pela tribo que disputam minha atenção!
– Arrogante! – eu lhe digo. – Então por que não vai procurar
elas e me deixa em paz?
Ele dá um meio sorriso presunçoso e meu coração falha uma
batida. Ele é realmente muito bonito.
– Tem razão – ele diz e se senta para calçar os mocassins e
depois se curva para mim com um sorriso nos lábios e sai.
– Idiota! – eu grito para o vazio.
Só de pensar que ele foi passar a noite com alguma nativa já
me dá tanto ódio, que eu não consigo dormir.
Não sei o que há comigo! Eu deixei ele me beijar, e pior, eu
gostei no início.
Indígena desgraçado! Me chama de esquisita e depois me
beija! Deve ter feito isso para descobrir o que Falcão tanto se
interessa por mim.
Eu não durmo, me viro a noite toda, quando o safado chega,
já é manhã.
Eu passo por ele e não o olho.
Ele pega a tigela de madeira e me estende:
– Água, Puma – como sempre, nem cumprimenta, apenas
ordena.
Mas hoje não, garanhão!
Eu cruzo meus braços e o olho de cima, já que ele está
sentado e eu em pé.
– Bom dia para você também, Coiote! Dormiu bem? Oh, não
me diga, não quero saber! E você quer água? Pois vá pegar, seu
inútil! Não vou servir mais você como se fosse um rei!
Ele me olha atordoado. Se eu tivesse jogado água na cara
dele, o resultado não teria sido melhor.
– Ficou louca? Você é minha escrava! Tem que fazer o que eu
mando!
– Não vou fazer mais nada! Eu servi você em agradecimento
pelo que fez por mim, mas agora basta! E se você acha que vou ficar
aqui, sofrendo essas suas afrontas, ou vendo você ir dormir com
uma nativa por noite, está muito enganado! Eu vou conversar com
Chuva Forte, vou falar que quero me casar com Falcão Negro!
Capítulo 5 – Uma Opção
Meu coração está aos saltos. Sem pensar muito, eu enrolo as tiras
nos pulsos largos e aperto com força, dando dois nós.
– Você tem tanto medo assim de mim? – ele me pergunta,
mas tem um sorriso nos lábios carnudos.
Estou ofegante, meus lábios estão repentinamente secos e eu
os umedeço com a ponta da língua. Esse gesto o faz me observar
atentamente, e quando me olha, vejo um desejo tão profundo, que
me traz um incômodo ainda maior a uma região que eu nem sabia
que poderia sentir isso.
– Não é de você, é das minhas lembranças.
Ele concorda com a cabeça.
– Certo. Mas acho que nenhuma das suas lembranças se
parece com isso, não é?
Ele abaixa a cabeça e pousa os lábios no meu ombro,
plantando ali um beijo molhado, me fazendo estremecer.
– Um índio amarrado embaixo de mim? Com certeza não.
Ele me beija mais uma vez no ombro, e desta vez também o
pescoço.
Solto um suspiro sem querer.
– Eu não posso fazer muita coisa assim, então vou pedir e
você faz se quiser, certo? – sussurra, enquanto beija atrás da minha
orelha.
Eu não consigo responder, então apenas concordo,
balançando a cabeça.
– Não se preocupe. Não importa o que aconteça, eu não vou
possuir você. Vou apenas lhe mostrar o que pode sentir. Não tenha
medo, Puma.
Eu concordo novamente com a cabeça.
– Me toque – ele diz, pegando minhas mãos e colocando no
seu peito. – Prometo não me mexer.
Eu mordo o lábio e exploro o físico bonito e firme. Seus
músculos são grandes e minhas mãos percorrem todos eles. Peito,
costas, braços e ombros. Lembro do que ele fez, me beijando a pele,
e eu quero fazer o mesmo, quero sentir seu gosto.
– Posso te tocar com a boca também?
Vejo ele estremecer embaixo de mim.
– Deve – diz simplesmente.
Eu me curvo e devagar, com as bochechas queimando de
vergonha, eu toco seu ombro com os lábios, beijando-os. Mas assim
eu não consigo sentir o gosto dele, apenas a textura maravilhosa.
Abro mais um pouco a boca e com a parte interna dos lábios, eu o
beijo novamente. Seu cheiro é amadeirado e cítrico ao mesmo
tempo. Minha respiração acelera e ele não se mexe. Bom. Eu passo
a língua pelo seu pescoço e sinto finalmente o gosto desta pele
âmbar.
Deus! É inebriante!
Beijo-o novamente no pescoço com a língua e sugo um
pouco. Remexo os quadris e aperto minhas coxas, pois o
desconforto no meio de minhas pernas é intenso. Ouço um gemido
vindo dele.
Me afasto.
– Desculpe – eu digo, totalmente sem fôlego.
Ele tem a respiração descompassada também e pega minhas
mãos, colocando-as sobre o enorme volume que está debaixo do
couro macio das calças dele, um pouco à frente da minha própria
feminilidade.
– Veja o que faz comigo, o quanto meu corpo está desejando
o seu – a mão dele aperta a minha, fazendo-me apertar o volume
cilíndrico extremamente grosso e muito duro. – Não tenha medo, só
quero saber se seu corpo também está inquieto. Você sente alguma
coisa?
Eu concordo com a cabeça.
– Onde? Me diga.
Eu faço o que ele fez comigo. Pego sua mão e mostro,
fazendo-o tocar no meio das minhas pernas, no lugar proibido, mas
que está praticamente gritando o nome dele agora.
– Aqui? – ele passa os dedos e eu congelo.
De repente, o pânico vem em ondas fortes, junto com o desejo
que está me queimando. A vontade de fugir é enorme e eu o encaro
com todo meu medo. Ele ergue as mãos amarradas imediatamente.
– Desculpe, achei que poderia... – ele tenta regular a
respiração.
Vejo suas mãos amarradas e me compadeço dele. Saber que
ele está fazendo tudo isso apenas para que eu não tenha medo, me
faz sentir o coração aos pulos.
– Tudo bem, já passou – digo em um sussurro.
Coloco meus braços sobre seus ombros e olho dentro dos
seus olhos negros flamejantes. Sinto ele tocar meu queixo e se
aproximar aos poucos, parando a centímetros de minha boca, me
deixando a opção de recuar ou beijá-lo. Eu não penso duas vezes e
o beijo com toda a paixão que esse homem tem despertado há
tantos dias. Meus dedos se misturam aos cabelos dele e a sensação
de tê-los entre eles me faz apoderar-me com ainda mais gana das
mechas longas e puxá-lo para mais perto de mim.
Sua língua acaricia a minha e eu me remexo outra vez sobre
ele, tentando aplacar minha volúpia.
O que é isso? Nunca em toda minha vida me senti assim.
Sinto uma necessidade quase selvagem de tê-lo cada vez
mais perto de mim. E isso me assusta sobremaneira.
Coiote interrompe o beijo e passa os braços pela minha
cabeça, me envolvendo com eles, parando-os na minha cintura,
enquanto me observa, avaliando minha reação. Eu enrijeço mas
deixo. Estamos muito próximos, mas estranhamente eu não estou
com medo. Pelo menos ainda não.
– Se eu pedir, você abaixa um pouco o tecido da sua blusa?
Quero ver essa pele tão branca, só um pouco... – a voz dele é rouca,
baixa e sensual.
Minha blusa não é decotada e revela apenas um pouco os
ombros, mas tem botões. Eu deixo meus dedos desabotoarem os
primeiros dois e abaixo um pouco o tecido. Ele me puxa para mais
perto, usando as mãos presas atrás do meu quadril.
Ele me puxa para cima de seu membro rijo. Ele está de calças
e eu ainda tenho a barreira do tecido fino de minhas ceroulas, mas
mesmo assim, eu sinto todo aquele volume firme e grande tocando
meu próprio sexo. E apesar do meu temor, a sensação de tormenta é
maior. Tormenta e prazer.
Eu gemo sem querer, com a respiração pesada.
– Baixe um pouco mais, Puma – ele encara meu colo.
Eu abro minha blusa até abaixo dos seios, mas não os
descubro. Coiote olha apenas para o vale entre eles.
– Pelo Grande Espírito! Você está me torturando! – ele me
beija nos lábios com fome e eu me sinto uma mulher muito
desejável. Pela primeira vez, não parece que estou sendo usada,
mas sim que estamos mutuamente aproveitando o momento.
Ele me puxa e me afasta pelos quadris, esfregando-me nele.
Sinto um prazer indescritível, uma onda de sensação tão gostosa,
que um gemido sai alto de minha garganta.
– Faça isso novamente, Coiote – eu peço, com a voz muito
baixa.
– O quê? Isso? – ele me puxa novamente para cima do seu
membro, roçando o lugar onde está meu tormento, sobre aquilo duro.
E a consciência de que aquilo são seus dotes que tanto ouvi falar,
me excita ainda mais.
Outra onda de prazer me envolve. Fecho os olhos e amoleço
o corpo, me deixando levar por ela.
– Isso, me mostre que está gostando. Geme, minha Puma –
ele faz mais uma vez e incentivada, eu gemo alto.
– Abra a blusa para mim, eu quero vê-la toda – ele tem a
respiração descompassada e eu já perdi o juízo, por isso eu retiro a
blusa toda e jogo ao nosso lado.
Coiote fica sem fala e molha os lábios enquanto diz:
– Você é perfeita, de todas as maneiras. E eu acho que estou
perdendo minha cabeça – ele beija a curva do meu pescoço, meu
colo, meus seios e quando dou por mim, ele os está sugando, um
depois o outro.
Eu dou um pequeno grito, de surpresa, de prazer e ele me
puxa outra vez para seu membro.
– Mexa você agora. Não pense, apenas sinta – ele diz, indo
de um seio para o outro.
Eu obedeço. Faço o movimento por mim mesma, abro mais as
pernas e pressiono ainda mais.
Ele geme e toma minha boca. Então quando dou por mim,
estamos nos esfregando enlouquecidamente. Coiote respira
pesadamente e eu gemo contra seu ouvido, agarrada a ele.
Mais rápido, mais forte, parece nunca ser demais. Eu o quero
dentro de mim, em uma urgência que me assusta, mas não sei como
pedir. Então eu apenas faço o que ele me diz.
– Remexe em cima dele. Estou tão duro por você, está
sentindo? Mexe mais, Puma. Me mostra que está gostando...
Ele continua incentivando e eu perco todo o sentido do
mundo. A emoção vem crescendo e eu só penso nele, no corpo, na
pele, no membro rijo abaixo de mim. Eu sinto uma onda me
invadindo, vem forte e me arrebata, me inundando de prazer e me
tirando do chão, fazendo com que eu perca a noção de tudo por
alguns segundos, exceto do êxtase que me atinge.
Eu gritei o nome dele, pedindo mais. Só lembro disso.
Quando volto para a terra devagar, sinto que ele não para com
o movimento. Ele me puxa, me pressionando com força algumas
vezes, ainda sobre seu dote grande. E então, diante de mim, Coiote
larga a cabeça para trás em expressão de agonia e prazer, enquanto
grunhe e geme em total abandono.
Eu o observo com o coração aos saltos.
Acabei de sentir tanto prazer com ele, mesmo estando
amarrado e não me possuindo, imagina o que fará se for de
verdade?
A ideia me satisfaz muito e eu me pego imaginando se ele vai
continuar me ensinado tais coisas...
Coiote retira os braços ao redor de mim e se deita na relva,
rindo.
– Qual a graça? – pergunto, ainda sentada sobre ele, meio
rindo também.
– A graça é que eu me transformei em um tolo, deixando uma
branca me converter a um jovem que goza nas próprias calças!
Ele ri mais um pouco e sua atitude não está me deixando à
vontade. Ele continua deitado e não me olhou nos olhos desde que
"gozou em suas próprias calças".
A vergonha me atinge.
O que eu fiz? Por que me entreguei assim a este arrogante,
que não me considera nada além de uma escrava?
Cubro meus seios com as mãos, saindo do colo dele,
procurando minha blusa e a vestindo, esperando que o chão se abra
e me engula por ter sido tão estúpida e ter me comportado como
uma perdida.
Oh, mas a quem eu quero enganar? Eu sou uma perdida,
desde que me entreguei a Lincoln, mas isso não foi nada comparado
àquilo. Isso foi... maravilhoso. Até esse brutamontes se jogar para
trás e praticamente me ignorar!
– Não, Coiote, a única tola aqui sou eu – digo, já vestida e me
levantando.
Neste momento, ele se senta também, finalmente me dando
atenção.
– Onde vai?
Dirijo-lhe um olhar zangado.
– Para a tenda, onde mais?
– O que houve? Por que está assim?
Ele ainda tem os pulsos atados e eu penso se o desamarro ou
não.
– Não houve nada, só deduzi por sua atitude que já poderia ir
embora – eu o olho de cima, aproveitando que estou em pé e ele
ainda sentado.
Ele ergue uma sobrancelha.
– O que tem minha atitude?
– Oh, nada! Se você acha normal, depois do que aconteceu,
se jogar para trás e não olhar para a outra pessoa!
– E o que você esperava? Que eu a abraçasse e dissesse que
a amava? – isso e a gargalhada dele são como um soco no meu
estômago.
Está decidido, ele vai ficar amarrado a vida toda, se depender
de mim!
Ele se levanta com extrema facilidade e com um sorriso fácil
se aproxima de mim.
– Eu dei o que você queria. E você, de certa forma, o que eu
queria no momento. Não precisamos fingir que temos sentimentos
um pelo outro...
Então, sem que eu consiga evitar, o esbofeteio com força.
Vejo a mandíbula dele ser pressionada e ele fecha os olhos
com força, para depois abri-los em fúria.
– É a segunda vez que bate em meu rosto... – ele começa
entredentes, mas eu não o deixo terminar.
– Você é igual a todos os outros! –eu grito. – Só está
preocupado com o que tem no meio das pernas!
– Pois você pareceu gostar muito do que eu tenho no meio
das pernas! – ele também está furioso.
A vergonha e o arrependimento me apertam o coração. As
lágrimas sobem aos meus olhos sem que eu possa evitar, e quando
escorrem por meu rosto, vejo a expressão de Coiote se suavizar.
– Como pode ser tão desprezível? Eu acreditei que era um
bom homem, que estava sendo gentil e cuidadoso porque me
entendia, porque se importava. Mas você não se importa com nada.
Só estava fazendo aquilo para poder me mostrar que é melhor que
eu, que faz o que quer comigo... Eu caí direitinho – as lágrimas vem
com mais força agora e eu não as impeço, tenho impressão que irei
explodir se o fizer. – Fiz tudo que me pediu porque confiei em você.
Você foi pior que os outros. Pelo menos eles não mentiram dizendo
que não me machucariam.
Eu vou me virando para ir embora, quando ele me segura pelo
braço, me impedindo.
– Puma... eu... a machuquei? – a voz dele é um sussurro.
– Machucou, Coiote. Aqui – digo, apontando para meu
coração.
Me viro e corro. Para longe dele, para longe destes
acontecimentos que quero esquecer. Para longe do meu coração
que ficou ali, totalmente despedaçado.
Capítulo 9 – Arrependimento
Coiote
∞∞∞
Faz três dias que Coiote partiu com os guerreiros. Apenas três dias
e eu estou morrendo de saudades.
Eu o espero até tarde, todas as noites. Achei que ele chegaria
logo.
Por que demoram tanto?
Esta noite tive outro sonho ruim. Sonhei com Coiote ferido.
Sonhei que eu estava sozinha, não momentaneamente, como agora.
Não. Sonhei que estava sozinha no mundo, na vida.
Então me dei conta de que só tenho ele. Só ele no mundo
inteiro. Isso me dá medo.
Medo de perdê-lo, mas mais ainda... Medo que ele me
machuque. Não sei se ele é um homem que seja capaz de me fazer
feliz, unicamente porque eu só poderei ser feliz se ele for fiel a mim,
o que sei que é impossível para ele...
Ah, eu não deveria estar pensando nisso!
Eu deveria...
Vários gritos ecoam lá fora e sei que eles chegaram.
Eu corro para fora, com um sorriso nos lábios, abrindo
caminho em meio à multidão.
Vejo os guerreiros, vejo mais cinco mulheres... Mas Cavalo
Alado não disse que eram apenas duas?
E onde está Coiote?
Eu olho atentamente e noto porquê não o reconheci antes. Ele
está montando seu corcel malhado, mas não está só na garupa do
animal. Há uma indígena na frente dele. E ele está com o braço ao
redor da cintura dela...
...
O. Braço. Ao. Redor. Da. Cintura. Dela. Como. Um. Amante.
...
Respire, Puma. Não grite. Não faça nada.
Eu aperto os lábios, cerro os pulsos, me viro e corro de volta à
tenda.
– Desgraçado!!! Índio maldito!!! – eu ando de um lado para o
outro.
Tenho vontade de quebrar tudo, mas por saber que depois
serei eu que terei que limpar, não o faço.
O que eu achei? Que ele ficaria com saudades? Que iria me
esperar? Chegar, desmontar e me tomar nos braços?!
Droga! Era exatamente isso que eu esperava!!!
– Foi só um ferimento superficial, não estou aleijado! – a voz
de Coiote ecoa na tenda.
Me viro e vejo Cavalo Alado amparando o outro, que tem a
perna sangrando e está amarrada com um pedaço de pano.
Ele se senta nas peles e não me olha quando diz:
– Vá buscar Olhos Brancos, Puma.
– Bom ver você também, Coiote! Como passou estes três
dias? – eu o fuzilo com o olhar.
– Não estou para brincadeiras, Puma – ele ainda não me olha.
– Tampouco eu! – me viro e vou até a tenda da xamã.
Tenho um pouco de medo dela. É cega, mas é como se não
fosse. Parece que ver tudo, que sabe de tudo. Às vezes
conhecimento demais pode ser uma maldição. Minha mãe dizia isso.
– Olhos Brancos? Com licença... – eu entro na tenda e ela
está colocando coisas em uma sacola de couro. Não se vira quando
diz:
– O que foi, Puma Pequena? Ainda é cedo para me procurar...
Então o que é?
Ainda é cedo? Como assim? Já passa e muito do meio dia!
Do que ela está falando?
Ela se vira para mim, seu rosto muito enrugado e longos
cabelos brancos, assim como seus olhos.
– Coiote, ele foi ferido em combate, na perna...
– Oh, é isso? Ah, isso não é nada. Um ferimento sem
importância... Espere um pouco que eu pego tudo, então poderemos
ir.
Eu espero. Ela me lembra a minha avó paterna. Nossa, eu
morria de medo dela, era muito brava!
Eu sorrio ante a lembrança.
Ela pega no meu braço.
– Vamos, Puma. Ouvi dizer que tem olhos lindos. Azuis como
o céu ao meio dia.
Eu me surpreendo com a revelação.
– Quem lhe disse isso? – eu pergunto, levando-a para a tenda
de Coiote.
– Coiote Grande. Quem mais?
Eu fico em silêncio. Não quero pensar naquele outro!
Quando chegamos, eu não entro. Deixo-a na porta e saio dali.
Quero saber quem são as mulheres que vieram com os guerreiros.
Então eu vou ao lugar onde falam sobre tudo, a tenda das mulheres.
Um tempo depois lá e eu descubro que além, das duas
Cheyennes que foram levadas, havia com os Crows mais duas
Lakotas. E uma delas era filha do grande chefe daquela tribo e era
esta que Coiote abraçava em cima de seu cavalo. As mulheres
disseram que Coiote foi ferido quando salvava aquelazinha! Bem
feito!
Eu me afasto da tenda das mulheres. "Aquelazinha" chegou lá
e eu me seguro para não voar no pescoço dela... Feiosa! Magra
demais! Pele lisa demais! Seios pequenos demais! Pernas finas
demais! Sorriso falso demais! Cabelo liso demais! Tudo horrível!!!
Cuspo quando passo por ela. Ergo meu queixo e volto
pisando duro para a tenda.
Quando chego, Olhos Brancos não está mais lá. E Coiote está
com a perna devidamente enfaixada e erguida.
– Onde estava?! – ele pergunta estupidamente.
– Não é da sua conta! – eu digo, enquanto mexo nos
utensílios.
– Claro que é! Pode ter mais Crows, eles...
– Pois então agora está interessado no que pode acontecer
comigo?! Agora?! Mas há meia hora não?!
– Ora, Puma...
– Com licença! Coiote... – uma voz feminina com sotaque
estranho soa na porta.
"Aquelazinha" está aqui.
– Relva Macia, entre.
Relva Macia?! Macia?! Isso aí não tem nada de macio!
Eu encaro a mulher, que entra me dando um olhar rápido e se
senta na frente de Coiote.
– Vejo que já cuidaram de sua perna. Eu fiquei tão
preocupada... – ela toca a perna dele.
Eu pego uma tigela com força. Vou quebrar a cabeça dela!
– Não foi nada. Amanhã já estarei correndo outra vez... – ele
sorri para ela.
Eu acho que vou vomitar.
– Meu pai vai ficar muito contente quando eu contá-lo como
me salvou... – ela me olha e depois para Coiote.
– Quem é ela, meu Coiote?
MEU COIOTE?!!!
Eu vou fazer com esta horrorosa o que John me ensinou,
quando éramos menores... Derrubar no chão, subir em cima e
encher de tapas.
– É minha escrava. Puma, vá buscar água. – Eu ouvi direito?!
– Agora, Puma.
Eu estou com tanto ódio que saio, em minutos encho o balde
e volto. Quando entro, eles estão de mãos dadas.
– ... Quando nos unirmos, eu vou vender esta escrava. Não
gostei do jeito que ela me olhou...
Ela diz quando eu entro.
– Puma é uma boa escrava. Não penso em me desfazer dela
– ele me olha de canto de olho.
– Vão se unir, então? – eu pergunto sem emoção.
– Depois que Coiote falar com meu pai, mas sei que ele dará
sua benção.
Coiote não fala nada, apenas me olha.
– Oh, que bom! – eu digo com um sorriso. – A escrava aqui
vai preparar algo para vocês comemorarem!
Eu me aproximo, ainda com o balde na mão.
– Que tal um banho?! – e atiro com força a água nos dois.
A mulher grita, Coiote ruge.
– Eu sou sua escrava porque quero, seu idiota! Se eu
quisesse, já teria ido embora daqui. E você, sua burra, vai se casar
com o homem mais sem–vergonha da tribo. Ele se deita com uma
mulher diferente ou duas todas as noites! Pergunte a qualquer uma!
E quanto a não querer se desfazer da escrava aqui, é só porque ele
tem montado esta branca gostosa nos últimos dias!!! E quer
continuar! Não é, Coiote Grande?!!!
Coiote está vermelho e se firma para ficar em pé. Está
encharcado.
A moça diz algo na língua dela e corre porta afora.
– Está louca, Puma?! – ele grita.
– Falei alguma mentira?
Ele me olha dos pés à cabeça.
– Não sei o que eu vi em você – isso é como levar um soco,
só que pior.
Eu ergo o meu queixo, para não demonstrar como isso me
magoou.
– Eu tenho nojo de mim mesma por ter deixado um selvagem
ignorante como você me tocar.
Eu me viro e saio dali, mas antes eu escuto.
– Não volte aqui! Você agora é de Olhos Brancos!!!
Eu corro e vou em direção ao grande rio. As lágrimas e os
soluços não me deixam ver e nem ouvir direito, mas eu tenho que
me afastar. O grande rio é local proibido, pois fica longe e é muito
perigoso, as águas são profundas e turbulentas, mas o local é muito
bonito e tranquilo.
Quando chego lá, eu ainda estou atordoada com os
acontecimentos...
Como em apenas três dias, Coiote me volta com uma noiva?
Ele, que disse que nunca mais iria se unir a ninguém... Será que é
por ser filha do chefe? Assim traria o respeito que acha que perdeu
de volta... Mas, não. Não pode ser apenas isso. Ele não pode ser tão
estúpido!
Gemidos se fazem ouvir e vejo que a alguns passos de mim
um casal está em pleno ato.
Eu dou um passo para trás.
– Lírio do Campo, como senti sua falta...
Ai, meu Deus! Lírio e Cavalo estão aqui! Ai, o futuro chefe vai
me expulsar se achar que eu estou espiando...
– Sentiu falta do meu corpo, não é, Lobo Solitário?! – ela
responde entre um gemido e outro.
O quê?! Esta safada está traindo Cavalo Alado?! Minha mãe
do céu!!
Eu dou mais um passo e mais um e piso em um graveto.
Lírio levanta a cabeça e me vê. Eu ergo as mão e balanço a
cabeça. Movo os lábios em um “não vi nada”.
E corro para longe.
O que faço agora? Coiote vai se casar com aquelazinha. E eu
terei que vê-lo todos os dias feliz com outra?
Eu tenho que dar um jeito de sair daqui.
Capítulo 15 – Noiva? (Versão Coiote)
Coiote
∞∞∞
Quando chegamos ao grande forte feito de toras gigantes de
madeira, eu me encolho.
Um jovem soldado está de prontidão no portão e quando vê
Lincoln, tem uma grande surpresa.
– Está... está vivo?! – ele tem os olhos arregalados e dá um
abraço no outro. – Meu amigo! Pensei que tivesse virado comida de
selvagens a esta altura!
Lincoln também abraça o outro, visivelmente feliz pelo
reencontro.
– Eu teria, Robert, se esta linda amiga não tivesse me
salvado! Lizie, querida, venha aqui! – eu me aproximo. – Este é
Robert, meu melhor amigo neste lugar esquecido por Deus.
– Olá, Robert. – eu cumprimento de longe o ruivo muito
magro.
Ele me sorri como se eu fosse a mulher mais linda do mundo.
– Minha nossa! Que amiga é essa?! Vai ficar conosco,
belezinha?
Lincoln dá um soco no braço do outro.
– Está louco, Robert! Ela é minha amiga! Onde está o seu
respeito?
O ruivo fica vermelho.
– Poxa! Ela é bonita demais! Se não quer que a desrespeitem,
não a mostre ao Capitão...
Lincoln me dá um olhar triste, parece que nossos planos terão
que mudar.
Mas subitamente ele parece brilhar, aquele sorriso charmoso
se abre e sei que ele tem um plano em mente.
– Você poderia pagar a diligência, Robert? Depois eu acerto
com você. Eu tenho que falar com o Capitão, quero que ele dê
emprego a Lizie.
Vejo o ruivo arregalar os olhos e engolir em seco. E eu tremo
por dentro, de medo deste tal de Capitão Smith.
Quando entramos, eu me apavoro com a dimensão
gigantesca deste forte. Há muitas casas grandes, soldados, cavalos
e outros galpões, mas bem ao meio tem uma residência muito bonita
e bem feita. É para lá que Lincoln me leva.
Ele bate de leve na porta e a abre sem esperar resposta.
Entramos em uma sala luxuosamente decorada, com sofás de
pés torneados, forrados de cetim bordado e almofadas rendadas.
Contrasta tanto com o lugar árido e de terra batida lá de fora, que
parece que entrei em outra dimensão.
– Fique aqui, Lizie. Vou falar com ele. – se vira e se afasta.
– Não entregue aquele povo, Lincoln, por favor. Por mim! – eu
peço de um sopro, num sussurro que temo que ele não tenha ouvido.
Mas Lincoln para em sua caminhada, me olha por sobre o
ombro com olhar torturado. Parecendo indeciso e relutante em
atender. Vejo-o engolir em seco e concordar com a cabeça, meu
peito então sente um alívio imenso.
– Por você – ele afirma e entra em um corredor.
Não sei quanto tempo demora, mas eu não consigo me
acalmar. Não me sento, caminho de um lado para o outro, até que as
vozes graves se fazem ouvir.
– ... Como assim você estava desmaiado e não viu o local da
maldita tribo? E quem é essa que lhe salvou?! Como posso confiar
em colocar essa desconhecida na minha...
Eles aparecem na sala e o homem de bigodes e olhos azuis
me mede dos pés à cabeça, se calando subitamente.
– Esta é minha amiga de infância, Capitão. Elizabeth Carter.
Foi ela quem me salvou e é ela quem está precisando de um lugar
para ficar e emprego. – Lincoln sorri.
Eu sorrio de volta para ele e o tal Capitão, feliz por ele não ter
entregue a tribo, mas um arrepio ruim percorre o meu corpo e vejo o
Capitão, que é mais jovem e bonito do que imaginei, praticamente
salivar enquanto seu olhar parece arrancar minhas roupas.
Ele se aproxima e eu instintivamente dou um passo para trás.
Ele se curva em um mesura cordial e eu retribuo o gesto, mas
não gosto de seu olhar lascivo.
– É um prazer, Elizabeth. Sua coragem salvando meu soldado
é admirável, assim como sua beleza. – ele sorri e parece por um
minuto realmente bonito, mas não gosto da frieza de seu olhar.
– Então, Capitão, vai empregar minha amiga? – Lincoln sorri
de orelha a orelha.
O Capitão Smith parece a ponto de pular em cima de mim,
seu olhar para em meus seios e ele chega a limpar a boca, me
dando nojo e vontade de sair correndo.
– Claro. Ela será minha.
– Sua empregada. – Lincoln completa.
– Sim. – o Capitão dá mais um passo na minha direção, passa
a mão pelos meus braços e eu me encolho.
Por que Lincoln me trouxe aqui? Esse homem é um
depravado!
O pânico começa a me atingir em ondas fortes.
– Tenho a sua palavra então, Capitão, que a empregará e a
protegerá aqui em sua casa? – Lincoln ainda sorri e eu quero dar um
soco nele.
Não está vendo o que está acontecendo aqui?!
– Claro, soldado. Claro, tem a minha palavra. – ele sorri,
passando agora a outra mão em mim.
– Ótimo. Ela e a criança ficarão bem aqui com o senhor... –
Lincoln tem expressão de vitória no rosto.
– Que... Que criança? – o Capitão o fita, mas não tira as mãos
de mim.
– Ah, não lhe falei, senhor? Elizabeth foi forçada a casar com
um dos selvagens e espera um filho dele – o Capitão me olha com
olhos enormes e retira as mãos de mim, com súbito nojo, limpando-
as nas calças.
– O quê? Amante de índio?! – o Capitão vocifera.
– Esposa. Mas o senhor me deu sua palavra. Emprego e
proteção. Vai voltar atrás, Capitão? – Lincoln cruza os braços e
encara o superior.
O Capitão vai até ele e com os olhos cheios de ódio, lhe diz
entredentes:
– Sabe que minha palavra não tem volta! Leve a amante de
índio para Marie, tire-a da minha frente, ou sou capaz de vomitar nas
minhas botas! – ele aperta os olhos e Lincoln me puxa pelo corredor
afora.
Ele ri baixinho.
– O Capitão nunca mais irá tocar em você, desconfio que nem
olhar – ele ri ainda.
Eu o acompanho. Já tinha esquecido de como Lincoln é bom
em convencer as pessoas. Pelo menos eu e o bebê temos agora um
lugar para ficar. Não sei por quanto tempo, nem se o Capitão se
manterá longe, mas por agora, está muito bom.
Capítulo 19 – Criando Confusão
Coiote
∞∞∞
– Ah, Puma, por que foi embora?! – eu digo para o vazio, me
afastando de Lírio, depois que termino de me esvaziar fora dela.
Nunca mais terminei dentro de uma mulher. Não. Não me dou
esse gosto.
– Que inferno, Coiote!!! – ela grita. – Além de ficar chamando
aquela branca o tempo todo, ainda diz isso agora?!
Ela está irada. Eu visto as calças e jogo o vestido dela para
ela.
– Se quiser, é assim, Lírio. Se quer carinho, procure Lobo
Solitário – eu me viro para a fogueira, dando as costas para ela.
Sinto os braços ao redor do meu pescoço e ela diz em meu
ouvido.
– Se você não fosse tão bom, eu nunca mais olharia na sua
cara, mas é, então amanhã eu volto.
Ela se vira e sai.
Dou de ombros. Tanto faz. Venha ou não. Quem se importa?
Achei que ficaria melhor, mas só fiz compará-la com Puma. E ela
perde em todos os quesitos.
Passo a mão pelo rosto.
Preciso me curar desta doença. Tinha outra garrafa de bebida
por aqui... Onde coloquei?
Procuro até a encontrar, caída ao lado da cama de Puma. Me
abaixo para pegar e um objeto chama minha atenção, algo que não
tinha visto por todo este tempo. Um pano lindamente bordado,
trabalho de muitas luas e quase terminado. Eu via Puma com isso
quase todas as noites, mas nunca imaginei o que seria.
Passo os dedos pelo desenho delicado, sinto meus olhos
úmidos pela primeira vez desde que virei homem.
Saudade.
A palavra dói. Dói como jamais imaginei, mas não é só isso.
Percebo que depois de tanto tempo, depois de tanta coisa... Eu amei
Puma, e que inferno, eu ainda a amo.
Aperto o bordado junto ao peito, o trabalho que ela fazia e
trazia junto ao corpo enquanto dormia este tempo todo.
A imagem é de um enorme coiote, que parece estar
protegendo, quase abraçando, um puma.
Capítulo 21 – Enfim Esclarecimentos
Coiote
Depois que falei com Lincoln, foi a vez de falar com Marie. Sim, o
soldado virá visitá-la hoje à noite e eu não resisti ao suspiro de alívio
que soltei. Ela apenas me olhou desconfiada, mas não disse nada.
Depois do jantar, eu fiquei de olho em Samanta e o Capitão. Vi
quando foram para a sala de música e depois quando ela correu
para o quarto e ele foi atrás como um tarado. Que nojo! Espero que
ela saiba lidar com aquele pervertido.
Peguei uma faca e fiquei esperando-a me chamar ou gritar.
Como não fez nada disso, fiquei apreensiva. Quase empurrei Marie
para fora e quando dei de cara com o soldado esperando-a com um
sorriso nos lábios, eu fiquei imensamente feliz.
Corri para o quarto de hóspedes e abri a porta com cuidado, o
que vi me fez perder a fala.
O Capitão está no chão, com braços e pernas amarrados e
um pano na boca. E Samanta está sentada próxima a ele, com
pernas dobradas e parece estar brilhando!!!
O Capitão parece tentar gritar algo para mim. E a verdade é
que comecei a ficar inquieta com isso.
Me aproximo dela e limpo a garganta, ela parece despertar do
seu "transe" e me encara sem jeito.
–Não sei o que aconteceu, acho que saí de mim por alguns
minutos. – ela dá um sorriso sem graça, falando em Cheyenne,
enquanto se levanta.
– Você estava brilhando. Muito. Como se estivesse pegando
fogo. – digo meio catatônica.
E ela parece se surpreender.
– Às vezes acontecem coisas que não conseguimos explicar.
E ultimamente estão acontecendo muitas comigo. – ela parece estar
com vergonha ou receio do que aconteceu.
Eu olho para o Capitão, que se debate amarrado.
– Vejo que conseguiu a chave. – digo e ela afirma com a
cabeça. - O soldado já está indo ver Marie, precisamos ir agora.
Ela corre para a porta, sem esperar, praticamente
desesperada. Quando saímos, ela tranca com a chave, mas eu
ainda assim fico apreensiva. O Capitão Smith é muito esperto, quase
endemoniado.
Antes de passarmos pela porta da frente, ela se detém por um
segundo.
–Espere! Esqueci de algo! – Ela corre pelo corredor e em
segundos volta.
–Você pega o cavalo e eu pego Rainnan. – Diz, enquanto me
entrega um revólver. – Se precisar, aponte e puxe o gatilho.
–Pode deixar, não vou deixar ninguém se aproximar
novamente o suficiente para me fazer mal. E vou fazer melhor do
que só trazer uma montaria. Deixe o portão aberto, Espírito Branco.
Agora sei porque lhe chamam assim. – Eu digo sorrindo, entregando-
lhe uma faca e corro pátio afora, em direção às baias.
Quando entro, Lincoln está lá, escondido.
– Que droga, Lizie! Tem certeza que quer fazer isso? – ele
está desalinhado, como se estivesse se arrumando para dormir.
– Me ajude logo, não temos tempo! – eu digo animada.
Ele concorda com a cabeça e me ajuda a montar um enorme
cavalo, que ainda não ganhou a marca do exército americano.
– Lizie, seja feliz! – a voz dele embarga e meus olhos ficam
úmidos.
Me abaixo e o abraço.
– Vou ser. E você, fique longe de confusão!
Ele sorri.
– Se está pedindo para eu não ir visitá-la na aldeia, pode
deixar, ficarei o mais longe possível de qualquer índio de agora em
diante. Não quero acabar encontrando seu amor! – ele debocha.
– Promete, Lincoln? Promete que não irá se envolver com
coisas relacionadas a nativos e aldeias? Eu estarei em uma delas,
assim como meu bebê...
Vejo o sangue fugir do rosto dele.
– Tem minha palavra, Lizie. – ele diz solene.
Então escutamos a voz do Capitão urrando:
– Soldados, o prisioneiro está fugindo! Soldados! Alerta!
Então, sem eu esperar, Lincoln abre todas as baias.
– Lembra do que fazíamos quando queríamos distrair seu pai?
Então ele bate no traseiro de dois grandes garanhões e eles
voam porta afora, e todos os outros os seguem.
– Obrigada, Lincoln! – e assim incito meu próprio cavalo e vou
junto com dezenas de cavalos, voando pelo pátio, que já tem
algumas casas iluminadas e alguns homens já saíram com arma em
punho...
O Capitão acordou todo o forte.
Eu domino meu corcel e atiço os demais a fugirem pelo
portão, que já está devidamente escancarado. Os soldados param
estupefatos diante da cena, alguns têm que sair do caminho, outros
tentam pegá-los, mas não conseguem. Eles literalmente voam para
fora, ficando apenas o que eu monto.
Vejo Cavalo Alado em pé, livre das cordas, o ferimento ainda
parece deixá-lo fraco, mas Samanta está ao seu lado. Eu paro à
direita deles e desmonto, mas antes que possamos fazer qualquer
coisa, os soldados começam a atirar. O som das munições sendo
usadas nos intimida. E pela primeira vez, penso que isso pode dar
muito errado.
Ouço Espírito Branco soltar algumas expressões em outra
língua e se colocar ao meu lado com a sua arma na mão, apontando
para os soldados que estão vindo em nossa direção, com o mais
variado tipo de armamento em mãos. Eu também saco meu revólver
e miro neles.
Um lobo vindo não sei de onde se coloca na frente de nosso
trio, parecendo que quer nos proteger. A nossa única saída está a
algumas centenas de metros à nossa esquerda, os soldados à nossa
frente e o Capitão caído às nossas costas. Ele pelo menos parou de
gritar, desmaiou ou morreu.
Samanta atira em um soldado que estava terrivelmente perto
e ele cai. Não quero matar nenhum deles, mas para não morrer, eu
começo a disparar também, e em meio a uma saraivada de tiros,
ouço um grito.
Um brado indígena de guerra.
E diante de meus olhos, Coiote Grande rompe forte adentro,
montado no seu cavalo malhado, com arco e flecha na mão,
derrubando vários, enquanto cavalga até nós. Meu coração falha
uma batida. Por alguns instantes eu não consigo fazer mais nada,
apenas observá-lo, sem fôlego. Tudo dentro de mim se agita, parece
que o momento para por alguns instantes.
Enorme, musculoso, com os cabelos negros e compridos
voando ao vento, como no dia em que o conheci e usando seu arco
para salvar, usando sua força para proteger.
Ele não me viu, está ao lado de Cavalo Alado e joga um arco
para este. Os dois atiram contra os soldados.
Cavalo Alado faz esforço sobre–humano para montar no
cavalo que eu trouxe e puxar Samanta para junto dele. Coiote para
com sua montaria ao meu lado e estica a mão para me puxar para o
lombo do animal. Eu o encaro e ele arregala os olhos, congelando o
movimento, parecendo quase apavorado. Eu empurro sua mão
estendida e monto sozinha na frente dele. E logo que faço isso, ele
enlaça minha cintura com firmeza.
Ele solta uma expressão de surpresa e sei que notou o
volume de minha barriga, mas ele continua me segurando. Eu tento
afastá-la, mas ele segura com mais força.
– Pode se mexer o quanto quiser, não vou soltá-la. – ele
sussurra no meu ouvido.
E eu escuto claramente apenas por uma coisa: os tiros
pararam.
Ninguém está disparando em nossa direção. Os soldados
estão parados com rifles e revolveres nas mãos, embasbacados, em
choque. E eu noto o porquê.
Na nossa frente, um ao lado do outro, há uma dezena de
indígenas. E eles são translúcidos, parecem...fantasmas de
guerreiros do passado! Eles têm arcos, machadinhas e lanças.
Um soldado dá um tiro em nossa direção e a bala atravessa o
nativo que estava a alguns passos de distância de Samanta. O
projétil passa por ele como se passasse por uma cortina de fumaça,
que se dissolve e depois volta a se unir. Este nativo tem uma
machadinha na mão e a atira no soldado que disparou. Vejo-a girar
primeiro como uma fumaça semitransparente, para depois se
solidificar a alguns poucos metros de distância do soldado, o
acertando bem no meio da testa. Ele cai morto no mesmo instante.
Outra machadinha aparece na mão do guerreiro indígena.
Eu sufoco um grito, horrorizada. Seguro com força o braço de
Coiote, que me enlaça ainda mais.
– Vocês não têm chances! Abaixem suas armas e nos deixem
ir. Do contrário, serão massacrados. – Samanta pede com voz alta e
forte, parecendo estar muito à vontade nesta situação.
Então, para nossa alegria, os soldados obedecem. Todos
largam suas coisas no chão e se afastam alguns passos.
Não esperamos mais. Nossos cavalos disparam pelo portão,
deixando o forte, os soldados, o Capitão, a prisão e a morte para
trás.
Eu fico olhando enquanto nos afastamos, os nossos
fantasmas continuam lá, armados e bloqueando a saída de qualquer
um que tentasse nos seguir a pé, porque depois que Lincoln
afugentou toda a montaria, não teriam como nos alcançarem.
Quando estamos em uma distância segura, diminuímos a
marcha. Coiote ainda não me soltou e ninguém fala nada. Solto um
suspiro e apoio as costas no peito grande de Coiote, sentindo como
se estivesse em paz, depois de muito tempo.
Sinto Coiote aspirar o meu cheiro bem na curva do meu
pescoço.
– Que saudade, minha branca. – a voz rouca junto ao meu
ouvido me faz arrepiar.
– Pena que não posso dizer o mesmo, seu sem–vergonha! –
digo entredentes.
– O quê?! Ainda está brava por causa de Relva Macia? – ele
parece surpreso.
– Relva Macia, Lírio do Campo e todas as outras, seu
ordinário! – resmungo com raiva.
– Como...? – ele começa, mas Samanta o interrompe com voz
urgente.
– Coiote, temos que parar. Rainnan está muito mal, preciso
cuidar dele.
– Ainda estamos perto demais, Cabelo de Sol... – Coiote tenta
argumentar.
– Agora, Coiote! Tem que ser agora! – ela pede em
desespero.
– Vamos parar ali naquelas árvores, até o amanhecer. –Ele
anuncia.
Desmontamos e Coiote ajuda a tirar Cavalo Alado do lombo
de sua montaria. Ele está desmaiado. Agora entendo a preocupação
de Samanta. O esforço que ele fez, mais o ferimento, devem ter
consumido todas as suas forças. Acendemos uma fogueira e o
colocamos sobre as mantas. Samanta diz que ele está queimando
de febre, rasga sua camisa e limpa seu corpo, seu rosto e o obriga a
tomar água.
Ela cuida dele como se disso dependesse mais do que a vida
de Cavalo, a vida dela própria. Como ela não quer minha ajuda, eu
me afasto e me sento próximo à fogueira. Coiote me lança um olhar
intenso e eu desvio as vistas. Meu peito dói, tenho tanta saudade
dele e agora ele está tão próximo, mas ao mesmo tempo, tão
distante. Não posso me jogar em seus braços e esquecer tudo! Ou
posso?
Olho outra vez para Samanta, que parece orar em aflição,
para não perder seu amor. E o meu está aqui, me olhando com
carinha de cachorro arrependido. O que eu faria se fosse o
contrário? Se fosse Coiote ali, entre a vida e a morte? Ainda ficaria
pensando no passado, ou seguiria olhando apenas para frente?
Samanta disse que ele mudou... Será verdade?
Oh, Deus, como eu gostaria que fosse!
Capítulo 27 – Reconciliação
Depois de muito tempo, Cavalo Alado parece acordar e conversar
com Samanta, para depois cair em sono profundo. Ela se aninha ao
lado dele, perecendo querer protegê-lo de todo o mundo, parecendo
querer isolá-los de todo o resto.
Eu continuo sentada diante da fogueira. Coiote foi esconder
os rastros, ele disse. Então, quando escuto passos se aproximando,
eu ergo a cabeça e dou de cara com ele, tão grande, tão forte, tão
másculo... Sinto meu coração palpitar. Ele se aproxima e se senta ao
meu lado, me olhando intensamente.
– Você acha que ele vai sobreviver? Ele parece tão fraco... –
Pergunto a Coiote baixinho, olhando na direção onde Cavalo e
Samanta estão, não muito próximos.
– Se ela não conseguir salvá-lo, ninguém mais consegue. O
que ela fez por Entre Nuvens, talvez nem Olhos Brancos teria feito. –
ele responde com um meio sorriso nos lábios cheios, me olhando de
canto de olho.
– O que aconteceu lá? Quem eram aqueles? – Faço a
pergunta que tanto me incomoda, sobre os fantasmas.
– Antepassados. Guerreiros. Protetores. Vieram porque ainda
não era nossa hora de morrer. O Grande Espírito tem planos para
nós. Para todos nós. – Ele aviva o fogo e depois me encara. – E
falando em planos... Quais são os seus, Puma Pequena?
Ele parece me desafiar e eu o encaro com o queixo erguido.
– Espírito Branco me convidou para morar com ela e Cavalo
Alado, como sua irmã. – digo satisfeita.
Quero só ver a cara dele agora!
Porém, Coiote não expressa nenhuma surpresa, mas quando
fala, sua voz é carregada de mágoa:
– Quanto tempo vai demorar para fugir desta vez?
A pergunta me pega desprevenida, me fazendo perder um
pouco a postura rígida que tinha assumido desde que reencontrei
Coiote.
– Não precisarei fugir, não serei escrava, ficarei por vontade
própria. – Eu digo, jogando uma meia verdade.
Se ele não tivesse me tratado apenas como escrava, eu não
teria fugido!
– Você não entende que eu a levei para a tribo unicamente
porque não poderia abandoná-la à própria sorte? – Ele se exaspera
e eu me indigno!
Me levanto e me afasto dele. Ele se levanta também. E me
puxando pelo braço, me vira obrigando-me a encará-lo.
– Me solte! Vai querer me dizer que me fez de escrava para
meu próprio bem? Que me levou para a sua tenda, obrigando-me a
limpar, cozinhar e me deitar com você... – eu começo, mas ele me
interrompe.
– Nunca a obriguei a deitar-se comigo. –Ele me repreende
irritado.
– Não, mas devia! Assim eu não me sentiria tão imbecil! –Eu
grito e me solto das mãos dele. – Você me usou! Eu fiz tudo que me
pedia! Tudo o que, com arrogância, me ordenava, porque tinha
gratidão por você, por ter matado aqueles miseráveis! Mas eu não
entendia porque não tinha me matado também, até que me levou
para a tribo. Então entendi que queria alguém que substituísse sua
ex–esposa. Em tudo, menos no seu coração. – A última frase foi dita
em um sussurro.
Não queria falar sobre Ave Branca, mas não resisti. Ele deixou
aquela safada entrar no seu coração... Mas eu não. Eu e todas as
outras ele manteve afastadas enquanto nos usava!
– Onde está o pai desta criança que carrega? Foi por causa
dele que fugiu? – Ele ergue uma sobrancelha, perguntando muito
sério.
Ele acha que Lincoln é o pai do meu filho?!!
– Sim, foi por causa dele que fugi. Por causa daquele
selvagem ignorante e burro! – Eu esbravejo com as mãos fechadas,
os braços ao longo do corpo.
Vou pular no pescoço dele se ficar falando idiotices!!!
Ele se aproxima mais a passos largos, parece irritado e ainda
maior.
– Eu achei que tinha fugido com um branco, mas me traiu com
alguém da minha própria tribo! Como pôde? Como pode ser tão... –
ele começa e eu o interrompo aos berros.
– Não ouse terminar! Eu o proíbo! Você não tem o mínimo
respeito por mim, não tem confiança... – eu iria dizer sentimento e
etc, mas é a vez dele de me interromper:
– Como posso ter confiança se está esperando um filho de
outro? – Ele está perto de perder a cabeça e eu me irrito ainda mais.
– Seu tolo! Este filho é teu! – Eu grito e vejo Coiote piscar
várias vezes, a expressão é mais chocada do que quando joguei
aquele balde de água nele. Me compadeço e repito com a voz mais
terna: – Ele é seu filho, Coiote.
Vejo-o escancarar a boca tentando falar algo, para depois
fechá-la novamente, sem pronunciar nada. Está atônito. Ele pega as
minhas mãos e me puxa para mais perto dele, passa a mão enorme
pelo meu rosto em um carinho, me olhando com os olhos cheios
d'água. Quando fala, sua voz tem um tom baixo e rouco.
– Então, por que me deixou?
– Você queria se casar com outra, queria que eu fosse
somente sua escrava. E eu sou branca, você nunca escondeu sua
aversão ao meu povo. Achei que não iria querer um filho mestiço... –
as palavras saem aos tropeços e todas de uma vez.
Coiote se aproxima ainda mais, aproxima seu rosto do meu,
coloca as mãos no meu pescoço e encara meus lábios.
– Shhhh, não fale mais. É meu filho, não é mestiço, é um
Cheyenne e só isso importa. Você não vai mais ficar na tenda de
Cavalo Alado, vai ficar na minha, com meu filho. – ele diz e então
toma minha boca com a sua, envolvendo meu corpo com o seu,
apertando-me contra os seus músculos fortes, invadindo tudo com
sua língua, em um beijo sensual e faminto.
Eu esperei tanto por esse beijo, eu desejei tanto este
momento. Só Deus sabe quantas vezes pensei nisso antes de
adormecer. E por isso eu retribuo o beijo, agarro seus cabelos
longos, passando a mão pelas suas costas fortes.
Mas então eu me lembro das safadezas dele e a aversão vem
rápida. Ele não falou nada sobre "casamento"! Por isso eu o empurro
para longe, usando toda a minha força.
Coiote é pego desprevenido e me olha assustado.
– Me solte! – Eu grito. –Você não vai tocar em mim
novamente, nem vou para sua tenda sem antes me casar sob as leis
e costumes da tribo. – Digo batendo o pé.
– Mas... – ele parece confuso.
– E sem segunda esposa! E quero que se afaste de Lírio do
Campo! – Digo desta vez entredentes, olhando-o com raiva.
Para minha surpresa, Coiote ri. Um riso alto e cheio de alívio.
– É isso que quer? – Ele ainda sorri quando se aproxima outra
vez.
– Sim. É o que eu queria antes e o que quero agora, que me
respeite. Quero que me tenha por primeira esposa, diante de todos e
não me venha dizendo que eu sou branca, Cavalo Alado será o
próximo chefe da tribo e tem uma esposa branca e que ama, pelo
que eu vi...
Coiote se aproxima ainda mais, com um sorriso gigante.
– Não precisa continuar, eu aceito suas condições, vamos nos
casar, sem segunda esposa, sem Lírio do Campo. Eu te entendo.
Entendo agora porque fugiu, Cabelo de Sol me fez entender e ela me
deu um conselho que pretendo seguir. – Ele diz, enquanto me abraça
novamente.
– E qual foi? – Pergunto sorrindo, totalmente rendida ao
charme dele.
– Te amar. –Ele diz e sem eu esperar, toma minha boca
novamente em um beijo feroz que me faz perder a noção de tudo à
minha volta, como sempre.
Coiote interrompe o beijo, aspira o cheiro dos meus cabelos e
sussurra em meu ouvido:
– Iria te procurar pelo resto da minha vida, o Grande Espírito
me poupou trabalho.
– Iria...? Demorou um pouco para decidir isso, não? – Eu
sorrio, pois ele está beijando meu pescoço.
Coiote para com os beijos e me encara muito sério.
– Eu fui um tolo, um burro e pretendo passar o resto dos meus
dias tentando te fazer feliz, minha branca... – ele faz outro carinho no
meu rosto. – Eu te amo, Puma Pequena.
As palavras são ditas com receio, devagar e com olhar
angustiado.
Eu me emociono com o medo dele em expor seus
sentimentos.
– Eu também te amo, meu Coiote – digo, tocando seu rosto
bonito.
Outra vez ele me beija, me apertando contra si, se ajoelha
diante de mim e planta um beijo em minha barriga.
Depois, ele próprio arruma uma cama improvisada próxima à
fogueira e estende a mão me chamando.
Eu me deito ao seu lado e ele fica de lado, apoiado em um
braço, me encarando como se estivesse me vendo pela primeira vez.
– O que foi? – Pergunto meio rindo.
– Você é mais linda do que eu me lembrava. E eu achava que
isso nem era possível. – Ele dá uma risada baixa.
– Então agora não sou mais uma zoiuda estranha? – Eu rio
também.
A gargalhada dele faz meu coração dar um pulo de felicidade.
Ele passa a mão pelos meus ombros, pescoço, seios...
– Sabe que sempre fui louco por você, só fui burro demais
para não admitir.
Eu ofego com o carinho sobre a roupa. Coiote abaixa a
cabeça e morde meu mamilo por cima do tecido, me fazendo soltar
um gemido baixo, que ele abafa com um beijo.
– Coiote... – eu arquejo quando a mão dele se infiltra sob
minha saia, tocando minhas coxas nuas, enquanto ele está beijando
a curva do meu pescoço, passando a língua e sugando.
– Ah, minha branca, como senti sua falta! – Ele murmura com
a voz rouca de desejo.
Então eu me lembro! E a raiva me faz empurrá-lo.
– Deve ter sentido muita falta, pois, sim, dormindo com todas
as nativas da tribo e até aquela infame da Lírio do Campo! – O ciúme
vem forte e eu não consigo evitá-lo.
Coiote parece que levou um coice, me olha com os olhos
muito abertos.
– Você fugiu com aquele branco! O que esperava que eu
fizesse?
– Lincoln é meu amigo, eu não poderia vê-lo morrer! E você já
estava de safadezas antes de eu fugir! – Eu digo, tentando me
erguer, mas ele se senta e me puxa para seu colo, me fazendo cair
de lado sobre seu corpo.
– Já disse que fui um idiota, o que mais quer que eu diga? – A
voz é profunda e ao contrário do que imaginei, não está irritada.
Eu lhe encaro e ergo o meu queixo.
– Você me machucou muito. – Quando digo as palavras, meus
olhos se enchem de água, mas eu mantenho o olhar dele.
– Não, Puma, por favor, não faça isso. Eu já me sinto mal
demais pelo que fiz... Inferno! Se eu pudesse, voltava no tempo!
Puma, meu amor, não fique assim! Eu vou fazer tudo diferente! Me
deixe, pelo Grande Espírito, mostrar que eu posso ser outro homem
e não aquele idiota. Perdão, minha branca! – Ele me beija os lábios,
o nariz, a testa, as bochechas... – Vai me perdoar, esquecer tudo e
começar a partir de agora? Só você, eu e nosso filho?
Eu fungo e sacudo a cabeça.
Ele está certo. Se vamos começar um casamento, uma
família, tenho que deixar o passado para trás, mas uma vingancinha
inocente não seria mal.
– Sim, você tem razão, esqueceremos tudo então. – Eu dou
um sorriso fraco e ele me beija, feliz.
– Ah, minha branca, você não vai se arrepender... – ele
começa a beijar meu pescoço, a afastar o decote do meu vestido, em
um desejo ardente.
Sinto seu membro muito rijo abaixo de minhas ancas e me
remexo sobre ele, sentindo tudo queimar dentro de mim.
Coiote solta um gemido.
– Quero você, minha branca, quero agora. Dizem que nossas
mulheres não podem ser tocadas quando estão esperando um filho,
eu nunca acreditei nisso, mas agora, com você, tenho medo. Eu não
sei o que fazer...
Opa! A vingança perfeita!
Eu me levanto do seu colo e me deito na cama improvisada.
– Certo. Então até o bebê nascer, você não vai me tocar. Nem
em mim, nem em ninguém! – Eu digo com um sorriso.
– O quê?!! – Ele quase grita. – Mas, Puma... Eu achei que
você iria dizer que isso é tolice, que você é branca, que nada tem a
ver com nossos costumes antigos!!! Não pode estar falando sério!!!
Eu rio.
– Você não queria provar que é um homem mudado, Coiote
Grande? Então?! Sem mulher nenhuma até o bebê nascer!
Ele se deita ao meu lado, me puxando para ele de costas,
enquanto beija meu ombro.
– Você é a única mulher que eu quero, a única que me
importa. E se é isso que quer, então assim será. – Ele sussurra com
os lábios no meu ouvido.
Ele está tão próximo enquanto me abraça por trás, que eu
sinto todo seu corpo junto ao meu, me fazendo ficar em fogo.
É, acho que me dei muito mal com essa brincadeira! Droga!
Capítulo 28 – Abrigo
Quando amanhece, o céu está carregado de nuvens negras. Coiote
caça uns coelhos e nos alimentamos. Cavalo Alado está bem melhor
e Samanta o obriga a se alimentar um pouco. Parece que está
melhorando, já se levanta e com ajuda de Coiote, reclamando quase
ofendido, monta no cavalo e Samanta sobe em sua frente. Ela não
sabe montar e precisa de ajuda também.
Depois é a vez de Coiote e eu. Noto pela primeira vez que ele
monta Tormenta, a água que estava domando naquele dia em que
fingiu estar ferido.
– Tormenta virou uma égua excelente, nem parece aquela que
com um simples mudar de sua atitude lhe jogou ao chão! – Eu rio,
lembrando dele caindo.
Coiote não ri, apenas me puxa mais para si, prendendo meu
corpo ao dele, depois sussurra no meu ouvido:
– Ah, minha branca, por que foi me lembrar daquele dia? – Ele
beija o meu pescoço e atiça mais Tormenta e esta galopa um pouco
à frente de Cavalo Alado e Samanta.
– Coiote? – Eu pergunto, estranhando essa atitude dele.
– Puma, se eu não tocar em você, vou morrer! – Ele diz em
agonia e eu rio.
– Como assim? – Digo rindo.
Ele pega meu queixo e puxa em sua direção, me beijando a
boca com sofreguidão, enfiando a língua e agarrando meus cabelos
pela nuca, em um beijo que me rouba o ar.
Quando sinto a mão dele nas minhas coxas, eu noto que está
passando dos limites, mas não ligo, meu corpo quer o toque dele.
Não estou de ceroulas, esse tipo de vestido de couro não permite
isso, apenas uma combinação fina e as mãos dele não se detém
apenas nas minhas coxas, elas sobem mais, procurando o centro da
minha feminilidade. Os dedos grandes me tocam e eu arquejo.
– Coiote, não... – o protesto sai fraco e entre os lábios dele,
que me cala com outro beijo faminto.
Sinto seu dedo me tocar como se toca um frágil instrumento
de cordas, enquanto sua língua faz movimentos de vai e vem dentro
de minha boca. Agarro o braço dele, precisando me segurar em algo
e sugo sua língua em um desejo louco por tê-lo.
Coiote dá um gemido alto contra minha boca e sinto que isso
o excitou ainda mais. Noto o membro duro em minhas costas e
colocando a mão para trás, eu o toco. Já está saindo pelo cós das
calças dele e eu o envolvo com a mão, como ele me ensinou.
Sinto ele me erguer um pouco e então enfia um dos dedos em
mim. Eu estremeço. Quando ele se mexe dentro de meu ser, eu não
resisto e solto um gemido, enquanto mexo meu corpo contra a mão
dele.
Minha respiração está descompassada, tudo se agitando.
Queria poder descer deste cavalo e amá-lo aqui mesmo.
Mas não posso! Ele merece uma lição!
– Pare, Coiote... – eu começo, mas ele não escuta, parece até
intensificar o toque. Eu tampouco consigo largar seu membro, passo
a mão para cima e para baixo, sentindo-o mais rijo, me fazendo
enlouquecer de desejo.
– Não! – Eu tiro forças sabe Deus de onde para largá-lo e
empurrar a mão que está acabando com meu autocontrole.
Quando ele sai de mim, sinto um vazio, estou tremendo e com
raiva.
– Você prometeu! – Digo sem fôlego.
Coiote também parece frustrado, pois torce a boca quando
diz:
– Eu não prometi nada. Apenas disse que só você me
interessa e se QUISER continuar com essa ideia, tudo bem, mas não
disse que não vou tentar fazê-la mudar de opinião.
– Isso não é justo! – Eu o fuzilo com o olhar.
– E é justo você não me deixar tocá-la? Você será minha
esposa! Inferno! – Ele parece furioso.
Não respondo e olho sempre em frente.
– Vai ficar muda outra vez? É isso? – ele solta um suspiro
atrás de mim.
Eu seguro a sua mão, olho para os dedos longos e sinto um
arrepio na espinha.
– Coiote, eu não vou mudar de ideia. Você precisa me provar
que está mudado, que não irá para a cama da primeira que se
oferecer! – Cruzo os braços olhando para frente.
Ele puxa meu rosto em sua direção, me fazendo encarar seus
olhos negros.
– Eu só quero você. Quanto antes entender isso, melhor
viveremos. Eu poderia ter me unido a qualquer uma, mas só quero
você, com todo meu coração, corpo e alma.
As palavras marcam meu coração e eu aperto os lábios.
– Mas ainda não se uniu a mim... – eu começo, mas ele me
interrompe.
– Farei isso logo que chegar à tribo. Nem que eu tenha que
arrancar o xamã Poeira ao Vento de sua cama! – Ele diz aborrecido
e eu sorrio.
Pego outra vez a mão dele, entrelaçando meus dedos nos
seus.
Ele me abraça, me apertando por trás.
– Desculpe, eu deveria respeitar sua decisão... mas não
consigo. – Ele diz no meu ouvido, mordiscando o lóbulo da minha
orelha. – E como eu sou mais teimoso do que você, acho melhor
acabar logo com isso. – Ele sorri aquele sorrisão lindo e arrogante
dele e eu tenho que rir.
Cavalgamos o dia todo. O tempo só piorou e no final da tarde,
um relâmpago corta os céus e o vento forte me faz arrepiar.
– Não seria melhor pararmos e buscar abrigo? – Pergunto a
ninguém especificamente.
–Não podemos seguir viagem assim, ela tem razão. –
Samanta reforça.
Coiote e Cavalo Alado trocam olhares significativos. Tem algo
acontecendo e não querem nos contar. Cavalo concorda com a
cabeça e os dois ao mesmo tempo mudam o rumo dos cavalos.
Neste momento, a chuva cai, torrencial e violenta.
– Meu Deus, Coiote! Precisamos de abrigo rápido! – eu digo
debaixo de muita água.
– Não se preocupe, minha branca, vou proteger você,
conhecemos um lugar. –Ele me responde somente.
Saímos da trilha, vamos por entre árvores e mata rasteira,
estamos subindo uma pequena montanha. O aclive força os cavalos
a diminuírem a marcha e o chão escorregadio e lamacento obriga
Rainnan e Coiote a desmontarem.
Passamos perto de um rio grande e caudaloso. Mesmo por
entre a chuva inclemente, vejo que a paisagem é infinitamente bonita
aqui. As árvores fazem um túnel, quase parando as gotas do
temporal, mas ao contrário do que imagino, eles seguem adiante,
atravessam o túnel verde e em uma clareira maravilhosa ao pé da
montanha, eu vejo uma cabana. Está abandonada, pelo jeito, há
muitos anos, mas as toras enormes sobreviveriam até mesmo a um
dilúvio.
Quando entramos, a grande sala está empoeirada. Samanta
se dirige à lareira de pedra e logo um fogo aconchegante toma conta
de tudo. Me ponho a limpar um pouco o lugar, mas meu vestido
encharcado não me deixa caminhar direito, está grudando no meu
corpo e me fazendo tremer de frio. Eu tento torcer a barra dele.
Procuro Coiote com os olhos e noto que os homens parecem
indecisos em entrar completamente. Miro em volta e vejo que mais
um cômodo se une a este. Uma bela cabana, em um lugar lindo...
– Por que esta cabana está abandonada? – ouço Samanta
perguntar.
Os dois homens olham para o chão, claramente tentando
esconder algo. Eu me apavoro. Com olhos arregalados pergunto:
– Alguém morreu aqui, de alguma doença? – me levanto de
um pulo.
Coiote decide por entrar e senta-se diante do fogo.
– Ninguém morreu aqui, só estamos proibidos de vir para cá.
– Ele lança um olhar para Cavalo Alado, com um sorriso debochado
nos lábios. – Todos na tribo estão, mas Cavalo e eu nunca fomos de
seguir as regras. Mesmo assim, faz muitos invernos que não
entramos aqui.
– Por que não podem? – a curiosidade me faz perguntar,
porém um arrepio de frio me impede de continuar.
Coiote nota e se aproxima, me puxando para si e me
abraçando com seu corpo grande.
Cavalo Alado também entra, puxando por Samanta. Ela
também está com frio, pois até seus lábios estão azuis.
– Eu acho melhor vocês dois aí se virarem de costas. Eu e
Puma Pequena temos que nos livrar destes vestidos ensopados,
senão vamos acabar pegando uma pneumonia. – ela anuncia e eu
sinto o sangue sumir de meu rosto.
Como assim? O que ela pretende, que eu fique nua diante de
Cavalo Alado?
Os dois homens se viram apressadamente para a parede, um
cuidando o outro, para não olhar, provavelmente.
Eu não me mexo e Samanta chega bem próxima de mim e diz
baixinho:
– Puma, ninguém aqui é criança e estes vestidos tem tanto
tecido que dá para fazer mais cinco roupas. Vamos ficar só com a
combinação de baixo, viu? – Ela diz, enquanto retira o vestido pela
cabeça. – Ela parece uma camisola. Você também está com uma
assim?
Concordo com a cabeça e retiro o vestido de couro e franjas.
Não é algo que seja considerado decente se apresentar assim
diante de outras pessoas, mas nesta situação, não há muita escolha.
Estendemos as roupas molhadas próximas ao fogo. E quando
Samanta se vira de costas, eu vejo um desenho lindo gravado em
sua pele, um cavalo com asas e uma mulher parecida com ela
própria. Nunca vi nada igual.
– Eu não tinha notado antes, você não me deixou ajudá-la a
banhar-se, mas você tem a marca de Cavalo Alado gravada em si? –
Eu ainda estou olhando boquiaberta o desenho lindo e perfeito.
– Sim, era o meu destino. Agora eu sei disso.
Eu engulo em seco. Começo a pensar que isso de "destino"
interfere mesmo na vida das pessoas.
Se Coiote não estivesse naquele exato local quando fui
atacada, ele não teria me salvado, eu não teria ido para sua tribo e
por minha vez salvado Lincoln. Se eu não tivesse fugido com ele,
não teria acabado no forte e encontrado Cavalo e Samanta... Parece
que foi tudo escrito, como algo selado desde sempre.
É isso que chamam de "destino"?
Os indígenas acreditam no Grande Espírito. Mais do que as
pessoas da minha cidade, que se reuniam na igreja aos domingos,
eles veem Deus em todos os cantos, em cada nascer do sol, em
cada criança. O Grande Espírito é alguém presente na vida deles.
Acho que tenho muito ainda a aprender com esse povo.
Pegamos as mantas, que graças a Deus estavam enroladas e
quase não molharam e nos cobrimos.
– Pronto, podem se virar! – ela diz. – E não pensem que nos
esquecemos, podem ir contando o porquê de esta cabana ser
proibida.
Ouço ela dizendo, mas nem ligo mais. Coiote se virou e eu
vejo seus olhos queimarem. Ele move os lábios em um "branca
gostosa" e eu sinto minhas bochechas arderem. Ele se aproxima e
faz um carinho em meu rosto.
– Porque esta era a casa do avô de Cavalo Alado. – Ele
explica, como se não estivesse mexendo comigo, esse infame. – Ele,
assim como nós, se encantou com uma branca e a tomou como
esposa. – Ele termina, olhando com um meio sorriso para mim.
– Sério? – Samanta se dirige a Cavalo.
Coiote me puxa para ele, erguendo disfarçadamente minha
manta e olhando para dentro, enquanto morde o lábio e desce as
sobrancelhas.
– Eram outros tempos, a guerra entre nossos povos era mais
cruel e mais sanguinária. Amar uma branca era impossível,
improvável e totalmente proibido, até para o maior guerreiro da tribo.
–Escuto Cavalo falar, com uma nota de tristeza na voz.
Dou um tapa na mão de Coiote, que segura minha manta e
me afasto dele.
– O que aconteceu com eles? – Samanta pergunta.
– Viveram isolados dos dois mundos, aqui. E depois que se
foram, o chefe proibiu qualquer um de chegar perto deste lugar, para
não seguirmos o exemplo e enfraquecer a tribo. – Ele explica.
– Mas você não parece ter sangue branco, Cavalo Alado. –
Afirmo com sinceridade.
– E não tenho. A minha avó branca não deu filhos a meu avô,
mas ele era viúvo e já tinha minha mãe pequena.
– Nuvem Cinzenta foi criada por uma branca. Essa nem você
sabia, não é Cabelo de Sol? – Coiote ri e me puxa outra vez para
perto dele. – Nem pense em ficar longe de mim assim – ele sussurra
no meu ouvido.
– Não, eu não fazia ideia. Nunca me disseram nada. –
Samanta dá um olhar acusador para Cavalo. – Mas ela não fala
inglês...
– Ela fala, sim. Entende tudo, mas prometeu a si mesma,
depois que meu pai morreu, não falar mais nenhuma palavra no
idioma branco. – Cavalo explica.
– Oh! E eu fazendo papel de tola diante dela, por tantas
vezes! – Samanta fica vermelha, faz uma careta tão estranha,
envergonhada e irritada ao mesmo tempo, que Coiote gargalha alto.
– Você deveria ter me contado! – ela diz a Cavalo, parecendo
querer matar o outro. Ela é tão pequena perto dele, que é até
engraçado vê-la desafiá-lo assim.
Deve ser a mesma coisa quando eu e Coiote brigamos.
Ele a abraça.
– Minha mãe não gosta que toquemos neste assunto. Urso
em Pé não quer que ninguém saiba que sua esposa foi criada por
uma branca. É quase um segredo.
– E como você sabe disso, Coiote? – ela pergunta.
– Cavalo Alado e eu, quando não passávamos de dois
meninos, achamos este lugar. Mesmo com nossos pais nos
proibindo, vínhamos sempre, até que foram obrigados a nos contar. –
Ele ri. – Diziam que seríamos amaldiçoados e que nos
apaixonaríamos por brancas, se continuássemos vindo aqui! – Ele ri
ainda mais.
Depois para de repente, como se tivesse se dado conta do
que falou.
– Poxa! Era verdade! – Ele arregala os olhos e dou-lhe um
safanão.
– Quer dizer que agora sou uma maldição? – Eu pergunto
furiosa.
– A maldição mais linda que já vi! – Ele emenda e me beija os
lábios de um jeito delicioso, me fazendo rir e esquecer sei lá o
porquê que estava brava com ele.
Endireito as costas e limpo a garganta. Coiote não parece
estar ligando para a presença do outro casal.
– E qual era o nome deste seu avô que enfrentou tudo e todos
por este amor proibido? – Eu pergunto, curiosa demais com essa
história.
– Três Marcas. Ele estava liderando os guerreiros indígenas
que nos ajudaram a sair do forte.
Meu queixo cai. O avô dele era um dos fantasmas?!
Coiote quebra o silêncio pesado que se formou, ninguém quer
falar sobre nossa quase morte e estragar o clima descontraído.
– Eu não vou caçar nada a esta hora, acho que podemos
comer alguns sapos. O que acham?
– Você só pensa em comer! – dou um empurrãozinho nele e
todos nós rimos juntos.
– Enquanto Cavalo está fraquinho como um potro, eu sou o
provedor daqui, mas vou cobrar tudo quando melhorar. Vai caçar
para mim durante muitas luas! – Ele não deixa passar a
oportunidade.
– Como um potro? – Cavalo Alado se ofende e atira um
mocassim nele.
Coiote se desvia e ri alto.
– Tenta me matar com seu cheiro de gambá?
Me levanto e pego um dos alforjes, o que enchi com
mantimentos antes de fugir do forte e retiro carne seca e algumas
maçãs. Quando entrego a eles, Coiote grita para os céus:
– Por isso esta mulher será minha esposa! Obrigado, Grande
Espírito!
Coiote louco! Vai me matar de vergonha na frente dos outros!
Abaixo a cabeça sem jeito, mas não consigo evitar o sorriso.
Esta noite, dormimos abraçados diante do fogo, com a chuva
caindo inclemente lá fora.
Capítulo 29 – Seguindo em Frente
Puma Pequena
∞∞∞
A noite já vai alta quando, com um leve debruçar na direção
de Puma, que agora está sentada ao meu lado, eu sussurro:
– Acho que já está na hora de irmos para nossa tenda, minha
branca. – Puma parece cansada e tem os olhos nublados pelo sono.
– Deveríamos ter ido mais cedo, o dia foi longo demais para você,
sou um tonto mesmo! Deveria ter me dito o que fui tolo o suficiente
para não notar.
Eu me levanto e a pego pela mão.
– Eu quis aproveitar a festa do meu casamento, meu marido –
ela diz com doçura, me pegando de surpresa.
Me viro para ela, com um misto de orgulho e felicidade e não
me aguentando mais, praticamente a arrasto para longe da vista de
todos e a puxo para junto de mim. O corpo dela se molda ao meu e
ela ergue o rosto para mim. Toco seu queixo e então tomo sua boca
com a minha, devorando os lábios pequenos e macios, penetrando a
boca morna e delicada com minha língua. Meu corpo todo desperta e
eu a solto, antes que tente montá-la aqui mesmo, como um garanhão
louco.
A pego outra vez pela mão e a levo devagar para nossa
tenda, tentando controlar o desejo insano que me consome. O trajeto
é feito em silêncio.
Quando chegamos, a tenda está na escuridão e eu levo
apenas alguns minutos para acender a fogueira.
Quando me levanto e olho para onde Puma está, prendo o
fôlego.
Sem eu notar, ela se despiu e se deitou na minha cama. Está
com a manta sobre seu corpo, cobrindo sua nudez, porém as pernas
e os ombros muito brancos estão de fora e eu não consigo desviar o
olhar.
Ela sorri.
– Venha, meu Coiote. Essa será nossa primeira noite como
casados. Quero que seja especial – ela não desvia o olhar nenhuma
vez ao dizer isso.
Engulo em seco e pela primeira vez diante de uma mulher
nua, eu não sei o que fazer.
Capítulo 32 – Acertando Contas
Puma Pequena
∞∞∞
Se passaram sete dias desde que chegamos novamente à
tribo. Nestes sete dias, Coiote se mostrou um homem maravilhoso.
Conversamos muito, eu lhe contei sobre Lincoln, sobre o Capitão
Smith... Ele me contou sobre como conheceu Sam e como
resgataram Entre Nuvens, que agora está muito bem com sua
família. Todos têm sido simpáticos e amáveis.
Descobri que Sam dá aulas às crianças. Não sou muito boa
com as letras, mas ajudo-a no que posso e também aprendo no
processo.
Foi pensando em arranjar mais alguns "utensílios" para
nossas aulas que fui até a Tenda das Mulheres.
Porém, infelizmente, quando lá entrei dei de cara com Lírio do
Campo, que estava por ali, certamente por estar em seus "dias".
Muitas outras senhoras ficam por aqui, as viúvas principalmente, e
por isso Chuva Forte está aqui, trançando uma manta colorida.
Eu passo por Lírio do Campo sem encará-la, indo em direção
à minha sogra, mas antes que eu chegue até esta, escuto a voz
odiosa da outra:
– Olha só quem está aqui, a mais nova "esposa" da tribo – ela
diz, para ninguém especificamente.
Eu me detenho em minha caminhada e me viro de frente para
ela, que penteia os longos cabelos negros e não me olha.
A raiva faz meu sangue ferver, o ódio queimando minhas
veias. Por causa desta miserável, eu passei muitos sufocos, mas o
que mais me dá raiva, foi saber que ela dormiu com meu marido
neste tempo.
– Ao contrário de algumas vagabundas, que só servem para
serem usadas durante a noite, eu sou "esposa", sim.
Ela se levanta, jogando o pente longe.
– O que diz, sua branca suja?! – ela quase grita.
Eu ergo minha voz também:
– Suja é você, que dorme com qualquer um! Traía o honrado
Cavalo Alado e agora se joga para ele quando a sua única esposa
não está! Cerca o meu Coiote cada vez que eu viro de costas! Para
quantos homens casados mais você se oferece, Lírio do Campo? As
mulheres desta tribo sabem que você não tem moral nenhuma?! – eu
grito e a tenda enorme fica em silêncio.
– Sua mentirosa! Branca infeliz! Isso é mentira! – ela diz
vermelha, a duas que se aproximaram com cara de poucos amigos.
– Mentira foi o que me contou, dizendo que Coiote mataria o
próprio filho se ele fosse mestiço! Infeliz fui eu quando acreditei que
você era uma pessoa e não um monte de esterco!!! – eu grito mais
uma vez, deixando sair tudo que esteve engasgado dentro de mim.
Ela avança sobre mim, com um brado indígena e eu não me
acovardo.
Mas antes que ela possa chegar perto o suficiente, Chuva
Forte se põe em minha frente, interrompendo o seu ataque.
Ela para e grita algo em Cheyenne para a senhora, algo
entredentes e tão rápido que eu não distingo.
– Se tocar um dedo em minha honrada filha ou em meu neto,
não terá mais cabelos para pentear, Lírio do Campo – minha sogra
diz pausadamente.
Lírio a encara e busca ajuda com o olhar ao redor.
Quase todas as mulheres se levantam e eu me aproximo de
Chuva Forte. Não vou deixar que elas se virem contra minha sogra!
Tenho que dizer alguma coisa, mas o quê?
Antes que eu abra a boca, uma senhora com grossas
tranças diz em tom alto:
– Lírio do Campo, você não é mais bem-vinda entre nós. Acho
que falo por todas quando digo que suas atitudes não são de uma
Cheyenne. Trair, mentir, enganar... Não é o que somos, nem o que
ensinamos. Até você mudar, seu lugar será longe do convívio da
tribo...
– O quê?! Mãe, a senhora irá proteger a branca também?! –
ela grita ofendida.
– A branca é mais Cheyenne que você neste momento! Pegue
suas coisas, Lírio. Ficará em nossa tipí até voltar a ser a menina
honrada que um dia eu chamei de filha. Neste dia, você nos
desonrou – a senhora diz com profundo desgosto.
Então, pela primeira vez eu vejo sentimentos no rosto cínico
de Lírio. A máscara cai e sua face demonstra algo que quero pensar
que seja remorso.
As mulheres que eu erroneamente achei que estavam contra
mim e Chuva Forte encaram Lírio e ela pega algumas coisas que
estão pelo chão e sai da Grande Tenda. Sua mãe lança ainda um
olhar triste para mim e depois vai atrás dela.
Aos poucos as mulheres voltam aos seus afazeres e eu me
impressiono por ter tido o apoio delas.
– Obrigada – sussurro para Chuva Forte.
Ela sorri.
– Ninguém irá estragar a felicidade de meus filhos. Eu não
deixo – ela me diz, com o cenho subitamente fechado.
Eu sorrio emocionada.
– Nenhuma de nós deixará nada lhe acontecer, Puma
Pequena – a senhora anciã, Lontra Ágil, diz de onde está sentada,
me pegando de surpresa, e mais ainda quando todas confirmam com
a cabeça.
– Você é uma de nós agora – a esposa de Entre Nuvens, que
está com um menino a tiracolo, explica o que eu demoro para
entender.
– Obrigada – digo com a voz embargada.
Depois de tanto tempo, de tantas coisas, sinto que faço parte
de algo maior, de uma família, de uma sociedade, que sou aceita.
Finalmente me sinto em casa.
Capítulo 33 – Estrela da Manhã
Puma Pequena
Desde que a noite caiu, a dor que existia nas minhas costas
aumentou, não me permitindo dormir. Coiote está ao meu lado
ressonando tranquilo. A dor vem e vai, em espaços de tempo que
diminuem enquanto a mesma aumenta. Sam me disse que é normal,
que é assim mesmo, por isso ainda não acordei Coiote. Espírito
Branco está há dias me preparando para minha grande hora, mas
hoje ela estava sorrindo o tempo todo e dizendo que deveria chamá-
la assim que sentisse algo escorrer por minhas pernas. Não entendi
direito, mas concordei.
Quando a dor violenta vem com intensidade, de dentro para
fora de minha barriga e costas, eu prendo a respiração, contraindo o
corpo. Aperto os olhos e gemo baixinho, sem me conter.
Coiote abre os olhos de uma vez, se sentando com agilidade
e olhando assustado para mim e em todas as direções da tenda.
– Minha branca, o que foi? – ele parece assustado diante de
minha expressão e pula da nossa cama, se pondo em pé,
inteiramente nu. – Já está na hora? Pelo Grande Espírito, por que
não me acordou antes?! – ele veste as calças de couro de qualquer
jeito e pega minha mão.
A dor passa e eu volto a respirar, me levanto com ajuda de
Coiote.
– Samanta disse que caminhar ajuda a diminuir a dor e faz
com que a criança venha mais rápido... E que eu só deveria chamá-
la quando... – então eu sinto algo quente, como se estivesse
urinando em minhas calças, porém sem que o fizesse. O líquido
escorre por minhas pernas e vejo Coiote arregalar os olhos,
parecendo ficar realmente em pânico.
– Posso... posso chamar Cabelo de Sol agora? – ele pergunta
chocado, ainda olhando para a poça aos meus pés.
– Deve – eu digo e ele não espera, simplesmente voa tenda
afora, para voltar instantes depois e me beijar o rosto, passar a mão
delicadamente pela minha barriga e correr outra vez para fora,
apenas de calça e descalço.
A primeira a chegar é minha sogra, Chuva Forte, que entra
como um furacão, em sua energia contagiante e tagarelice sem par.
Arruma minhas roupas, tecidos e me coloca sentada sobre
eles. Diz para fazer respirações curtas que a dor diminui.
Outra dor vem, mais intensa e perdura por mais tempo. Chuva
Forte aperta a minha mão.
Sam escolhe este momento para chegar, traz Olhos Brancos
consigo e algumas coisas que não faço ideia do que sejam, ou para
quê. Nunca vi nenhuma mulher dar à luz, apenas as éguas de meu
pai e estou em pânico.
As palavras de Lírio do Campo ainda ecoam nos meus
ouvidos, trazendo temores:
"Brancas não sabem dar à luz como nativas. Elas morrem."
Outra dor passa pelo meu corpo e sinto lágrimas nos olhos.
– Sam... – eu a chamo com medo.
– Shhhhh, não se apavore, Elizabeth. Isso é normal. Fique
tranquila que logo seu bebê estará conosco. E você fique lá fora,
Coiote...
Ela diz para meu Coiote, que acabou de entrar.
– Não vou a lugar nenhum! – ele bate o pé e se põe ao meu
lado, pegando a minha mão e a apertando.
Sinto como se meus medos sumissem imediatamente.
– Você não pode... – Chuva Forte começa. – Aqui é só para
mulheres, quando chegar a hora chamamos você!
– Não, minha mãe, eu fico – ele diz resoluto.
– Coiote teimoso! Saia já daí... – a mãe dele se aproxima e
sinto a mão grande soltar a minha.
– Não! Por favor, deixe ele aqui! – eu choramingo outra vez,
com medo.
Ele pega minha mão novamente e a beija.
– Vou ficar, minha branca. Não vou a lugar nenhum – ele diz,
olhando para sua mãe.
Sam e Olhos Brancos apenas observam a discussão.
Chuva Forte as encara:
– Não irão dizer nada?
– De onde eu venho, é normal pais participarem do parto. Não
vejo nada de errado em Coiote ficar...
– Desde que não interfira – Olhos Brancos termina a frase.
– Vou ficar aqui atrás... Não vou interferir – ele diz solene.
Samanta diz algo que não escuto, pois a dor voltou, mas
agora não estou mais com medo. Estou rodeada de pessoas que
confio e Coiote, meu amor, está comigo. Perto dele nada temo.
As dores aumentam até ficarem insuportáveis, até que eu não
consiga respirar, pensar, ou ter esperança de viver. Olhos Brancos se
aproxima e me toca, cochicha algo com Sam e ela fala em bom tom:
– Vamos colocá-la de cócoras. Ganhará sua criança como
uma nativa – ela diz simplesmente e Chuva Forte e Coiote me
seguram cada um por um braço.
Já não penso, não consigo raciocinar, apenas faço o que
mandam.
– Quando vier a dor, empurre. Quando passar, espere. Certo?
– Samanta diz com voz calma e eu concordo.
A dor vem e eu empurro com todas as minhas forças. Quando
ela passa, eu respiro.
– Falta pouco agora, Puma – Sam me anima.
Outra dor, outra vez me esforço e sinto algo passado pelo
meu canal. A dor passa.
– Continue empurrando, Puma, não pare agora! – Samanta
está tranquila e eu a obedeço.
Sinto meu bebê passar pelo meu corpo, sair de mim e vir ao
mundo. Sinto algo estranho em meu coração, algo mágico e puro. E
quando Coiote beija o topo da minha cabeça e nosso bebê chora, é
para mim o momento da felicidade suprema, de milagre e união.
– É uma menina! – Olhos Brancos exclama sem enxergar, em
total alegria.
O choro da bebê é ouvido por todos, muito alto e sinto o corpo
de Coiote ser sacudido. Olho para seu rosto e ele não disfarça as
lágrimas, depois que me colocam deitada, ele me beija as mãos.
– Aqui, Coiote, corte aqui – Samanta lhe mostra algo que
parece uma veia muito grossa, que foi amarrada próximo ao umbigo
da minha menininha e mais um pouco além, para Coiote cortar no
meio.
Ele o faz e depois ele próprio pega a menina nos braços.
Ouço agora a algazarra que está lá fora e nem percebi. Uma
festa, a tribo está em festa pelo nascimento de mais uma criança.
Para eles é como se as crianças fossem um pouco de cada um e
mesmo a minha sendo mestiça, não parecem se importar.
Coiote age com o mesmo cuidado e orgulho que agiria se
carregasse o mundo nos braços e sorri lindamente para mim.
– Ela é linda, minha Branca!
– Sim, é igualzinha a você, meu filho! Até os cabelos! – Chuva
Forte está emocionada e sorri muito.
Coiote sai da tenda com a menina. Irá anunciar o seu nome a
todos e assim reconhecê-la como filha.
Eu sorrio feliz e orgulhosa também.
Quando ele volta outra vez, estou limpa e deitada na cama. O
cheiro de sangue não existe mais, pois até ervas elas queimaram
aqui dentro e me lavaram com chá de folhas de laranjeiras, eu acho,
pois o cheiro estava parecido. Tenho que perguntar a Sam algumas
destas coisas, pois não conheço nada... As mulheres saem e nos
deixam a sós assim que Coiote passa pela entrada.
– Qual nome colocou nela? Qual a primeira coisa que viu? –
eu pergunto sem me conter, quando pego minha filha nos braços e a
observo atentamente.
Ela é idêntica a Coiote, a mesma pele morena, os mesmos
cabelos negros, a mesma boca carnuda, o mesmo queixo forte. É
neste momento, à meia luz da manhã, que minha filha abre de leve
os olhos, como que despertando de um sono profundo, estranhando
a tênue claridade e me olhando nos olhos. Os olhos dela são
iguaizinhos aos meus e de minha mãe, azuis brilhantes e muito
claros, contrastando com a pele e cabelos escuros.
– Puma, ela tem seus olhos! – Coiote exclama, parecendo
infinitamente feliz. – Coloquei o nome certo nela.
– E qual foi, amor?
– Estrela da Manhã. Perfeito para uma mocinha com estes
olhos lindos, que brilham como estrelas no céu. – ele diz isso me
encarando e sinto meus olhos ficarem úmidos.
– Você sempre foi bom com isso de nomes... – sorrio sem
jeito.
Coiote me beija com paixão.
– E você é ótima com isso de bebês. Temos que providenciar
uns 5 no mínimo, minha branca.
– Acabo de passar a pior dor do mundo e você me fala em 5!?
– eu o censuro.
– Não será agora! Pode descansar! – ele ri. – Nossos filhos
serão os mais lindos da tribo... Ai, droga!
– Que foi?
– A minha filha será a mais linda da tribo! Tem ideia do quanto
isso é terrível?! – ele parece apavorado.
Eu rio.
– Isso não será bom? – pergunto, olhando para minha
princesa, que parece ter voltado a dormir.
– Vou começar a afiar minhas machadinhas desde agora –
Coiote passa a mão no queixo, falando muito sério. – Temos que
fazer alguns guerreiros para me ajudarem a defender e vigiar Estrela
da Manhã...
Rio mais uma vez.
– E se vierem mais meninas?
– Aí não terei mais nada o que fazer a não ser virar o maior
guerreiro de todas as tribos!
Puxo o rosto dele para perto do meu e o beijo.
– Você já é.
Ele sorri cheio de charme e arrogância.
– Eu sei – pisca um olho para mim. – Afinal, tenho o maior
troféu de todos: seu amor. Ah, essa conquista não foi fácil, isso
demonstra o bravo guerreiro que sou.
Ele balança a cabeça concordando com o que ele próprio
acabou de dizer e apenas sinto meu coração transbordar de
felicidade, de sentimento por ele, por Estrela da Manhã e por estar
em paz e em comunhão com tudo ao meu redor.
Capítulo 34 – Uma Visão
Coiote
∞∞∞
Não há beleza em uma batalha, nunca houve. Há apenas o
dever de garantir a segurança dos nossos e o esforço para que isso
aconteça. Em uma batalha se entra com a decisão de vencer, custe
o que custar. Inimigos não serão dignos de piedade, pois sabemos
que não a terão conosco.
Caminho furtivamente entre as árvores. Arco armado nas
mãos, olhar atento. O barulho da guerra é alto em meus ouvidos.
Tiros, gritos, relinchar de cavalos. Tento afastá-los, me concentrar no
som de algo potencialmente perigoso em minha situação. Somos
treinados para isso desde pequenos, a mais sentir do que realmente
ouvir quando estamos em meio a esse tipo de caos.
A uma pequena distância um soldado está atirando e não me
vê. Puxo a corda de meu arco e o acerto, ele cai de cima do cavalo
em que está. Quando tomba, um guerreiro Lakota pula sobre ele e
enterra sua faca, a retirando em seguida.
Ótimo, não preciso confirmar se esse está morto.
É nesse momento que a vejo: Cabelo de Sol. Ela está parada
olhando ao redor com olhos aterrorizados. Ainda não entendo porquê
Cavalo Alado a trouxe. Esse, claramente, não é o lugar dela, tenho
vontade de gritar para ela se esconder. Branca tola!
Mas vejo outros soldados se aproximando e começo a fazer
meu arco trabalhar, atirando uma sequência de flechas em vários
deles. Para os que estão perto, eu uso a machadinha, não existe
tempo para hesitação. Apenas um pensamento nos domina: matar
todos os soldados, ficar livre dessa raça maldita, para poder viver em
paz com nossas famílias, mas parece que quanto mais matamos,
mais aparecem. Será que vai ser sempre assim?
Procuro outra vez Cabelo de Sol, temendo vê-la caída em
algum lugar e a raiva me invade quando a vejo debruçada sobre um
dos soldados. Ele grita de dor, mas ela não o está matando, está
curando-o, arrancando uma lança que estava atravessada no infeliz.
A expressão dela é aquela que já vi algumas vezes. Há poder nela e
não me surpreende quando a vejo fazer pressão sobre o ferimento
do homem e suas mãos brilharem em sinal de cura.
Respiro fundo várias vezes. Vou falar com Cavalo Alado, para
que aquele idiota nunca mais traga a esposa numa batalha! De que
adianta nós matarmos os malditos soldados, se ela vai ressuscitar os
desgraçados?!
Uma curandeira numa batalha! Óbvio que iria querer curar e
não ferir! Óbvio que não deveria ter vindo! Óbvio que Cavalo é um
tonto!
Volto minha atenção aos inimigos. Coloco o arco sobre os
ombros e em uma mão tenho a machadinha e na outra uma faca. É
difícil acertá-los quando estão sobre os cavalos e por isso temos que
esperar o momento oportuno. Já derrubei mais três, quando ouço um
urro enorme e vejo quem deve ser o tal Capitão Smith que Puma me
falou, em um galope furioso com arma na mão.
O ódio cego me atinge. Pego meu arco e o engatilho, tentando
mirar no meio da testa desse desgraçado, porém não estou em uma
posição muito boa.
Cavalo Alado está indo na direção dele, também com flecha
engatilhada no seu arco. Caminho entre as árvores, ainda mirando.
Não vou deixar para Cavalo o prazer de acabar com esse demônio.
E quando o tenho em minha mira, puxo a corda, um sorriso de pura
vitória já se desenhando em meus lábios...
É nesse momento que, mais uma vez, a branca de Cavalo
atrapalha tudo! Raios de mulher intrometida! Ela corre na direção
deles, atravessando bem no meio dos dois. Eu seguro minha mão,
mas parece que Cavalo e o Capitão não foram tão rápidos, pois
assim que ela para no meio deles, braços abertos, parecendo querer
parar ambos, Cavalo e Capitão disparam, flecha e tiro.
— Não! Grande Espírito, ancestrais, a protejam! – eu
murmuro, noto que faço coro à fala dela própria.
Um grande clarão me cega e por um minuto nada mais é
ouvido. Nem gritos, ou tiros, nem cavalos... Absolutamente nada.
Então, aos poucos, eles voltam, o relinchar dos cavalos, os uivos dos
lobos...
Ela continua no meio dos dois homens e suas montarias,
parece que nem bala nem flecha a atingiu. Mas não é isso que deixa
todos da batalha em silêncio e sem reação, mas sim todos os
guerreiros ancestrais da tribo que aparecem diante de nós, enchendo
o campo de batalha, munidos e armados. Três Marcas está entre
eles e a apenas alguns passos de Cabelo de Sol. Ele soca o peito,
abaixando a cabeça para ela, no nosso sinal Cheyenne de respeito e
fidelidade.
Nenhum soldado se mexe, parece que desaprenderam até a
respirar. Alguns largam as armas e vejo-os correr para longe sem
fazer alarde. Dou uma risada baixa. Esse reforço inesperado será
interessante.
— Não queremos ver outro massacre, nem dos nossos
guerreiros nem dos de vocês, Capitão Smith! – Cabelo de Sol se faz
ouvir — Vamos resolver isso à moda antiga, você ou seu melhor
guerreiro, contra nosso melhor guerreiro. Se seu homem vencer, nós
nos entregaremos, e se vencermos vocês não incomodarão mais os
Cheyennes ou nossos irmãos Lakotas!
Grande Espírito, de onde essa louca tira essas ideias?! Como
assim não lutar? Como assim se entregar?!
Cavalo Alado também pareceu não gostar disso, pois o vejo
claramente desconfortável sobre seu cavalo sem sela e inquieto.
— Besteira!!! – Capitão Smith grita. — Ataquem!!!
Ele faz o gesto com o braço incentivando o seu pelotão a se
arremeter contra os nossos, mas isso não acontece, todos continuam
parados. Então eu vejo o porquê: há um soldado montado em seu
corcel negro um pouco mais atrás do tal Capitão Smith, ele parece
ser o soldado que Cabelo de Sol curou há pouco. Ele está com a
mão erguida, em sinal de pare e isso está contendo os soldados, que
olham para ele aliviados. Bando de covardes.
— Eu sou o Major Scott – ele grita em alta voz, para todos
escutarem — E como oficial superior nesta batalha, aceito a sua
oferta! – Ele diz, se dirigindo à branca. E depois se dirigindo ao
Capitão: — Smith, desça deste cavalo e resolva seu problema com
esse povo de uma vez por todas!
— Mas Major...
— Agora, soldado! – o outro grita.
Capitão Smith então desce de seu cavalo e joga o revólver no
chão, junto com seu casaco, retirando do cinto uma faca, encarando
Cavalo.
Me aproximo. Eu sou o melhor guerreiro da tribo, não Cavalo!
Mas parece que o tal Capitão quer a ele, que desce do seu
malhado e largando o arco e a machadinha, pega sua faca também.
Torço a boca e vou até a montaria de Cavalo, tirando-a do
caminho.
— Vou deixar que você ache por hoje que é o melhor
guerreiro, Cavalo – resmungo sem me conter.
Ele me olha e concorda com a cabeça, indo até Cabelo de Sol
e a trazendo até mim. Entendo o seu recado: cuidar dela. Sim, com
apenas um olhar nos entendemos.
Percebo quando Capitão Smith se enche de fúria e se atira
para cima de Cavalo, mesmo ele estando de costas, apenas porque
Cavalo deu um beijo em sua branca. A loucura e covardia desse
homem não tem limites, por isso deixo meu arco numa mão, com a
flecha pronta. Não irei hesitar um minuto sequer.
Cavalo se vira no momento certo, se desviando da lâmina.
Todos, sem exceção, prendem a respiração no momento em que os
dois começam a lutar.
Eles se encaram, corpos inclinados para frente sem desviar o
olhar, um passo ao lado do outro. O Capitão joga a faca de uma mão
para a outra e diz entredentes:
— Vou derrubar suas vísceras na frente dessa rameira, índio!
Cavalo não se altera, fazendo o outro ficar vermelho de raiva
e se atirar com faca erguida, mirando-lhe o peito. Cavalo desvia e lhe
dá uma forte cotovelada nas costas, quase o fazendo cair, mas o
Capitão se recupera e com rapidez golpeia o braço de Cavalo,
derrubando sangue, mas nada muito grave.
Cavalo se desvia de mais uma investida do Capitão e lhe
corta o lado em um ataque inesperado, rasgando a camisa branca do
homem e a manchando de sangue. Sem lhe dar tempo, este investe
como uma besta fera, agarrando Cavalo pela cintura, tentando
derrubá-lo e fazendo-o perder a faca com o movimento. Este, com o
cotovelo, investe com força nas costas do outro, que continua
empurrando-o, até Cavalo quase perder o equilíbrio. Até que enfim
Cavalo consegue se soltar do aperto e o Capitão cai aos seus pés,
com o rosto batendo no chão de terra.
— Isso! – eu murmuro.
— Levante-se! – ouço Cavalo ordenar ao outro.
O Capitão se levanta e quando o tonto do Cavalo se vira para
recuperar sua faca que caiu, ele se arremete contra o outro pelas
costas, com intensa fúria. Será que Cavalo não se deu conta que
não pode dar as costas a esse covarde?
Cavalo se vira sem faca e dá um soco certeiro no rosto do
branco, deixando o outro atordoado; depois um no estômago e
quando este se curva, Cavalo faz o que eu (sim, fui eu) ensinei a ele.
Ele lhe dá um gancho forte, que tira o Capitão Smith do chão,
derrubando-o de costas na terra.
Dou uma risada baixa.
Cavalo, vendo a vitória, pega sua faca e se aproxima do outro,
que ainda está caído e a coloca sobre seu pescoço.
— A luta acabou! Me dê sua palavra de que não irá mais
perseguir meus irmãos e eu o deixo vivo! – ele diz em alto e bom
som.
O Capitão ergue as mãos, ainda deitado e solta um:
— Tem minha palavra, índio.
Fácil assim, Cavalo?
Estreito meus olhos, desconfiando.
Cavalo, então, olha para o tal Major Scott e este concorda
com a cabeça. Depois faz sinal de voltar com a mão para outro
soldado, que grita:
— Pelotão! Meia volta, volver! Recuar!
Mas quê? Acabou?!
Os soldados estão indo embora. Ouço alguns dos nossos
gritar em alegria!
Cabelo de Sol corre para Cavalo Alado no mesmo momento
em que o Capitão Smith se põe de pé, com sua faca brilhando à luz
do luar, indo em direção às costas de Cavalo, que olhando em volta,
parecendo feliz, nem notou seu movimento. Pego minha flecha e nos
segundos que levo para o pôr no arco, engatilhar e mirar, vejo
Cabelo de Sol tentar segurar o braço do Capitão, se colocando no
meio dos dois. Porém a faca desce com violência, até se cravar em
seu peito.
Atiro minha flecha, bem no meio das costas do Capitão.
Capítulo 36 - Final
∞∞∞
Coiote
Traído por um moleque que nunca achei que seria homem
suficiente para fazer mal à minha filha! Como fui tão burro???
Caminho sem rumo. Quando noto, estou afastado da tribo, na
grande planície.
Não posso matar Bisão Negro, por mais que tenha vontade. Ele
tem a mesma idade de Estrela e ela quer se unir a ele. Ela mesma
disse! Diante dessas duas coisas, eu não posso arrancar o membro
dele fora.
Maldito aproveitador!!!
“Você não pode julgar sem pensar no passado ou no futuro” – a
voz de Puma aparece na minha mente.
Sento-me na relva baixa, o sol está se pondo e a luz dourada do
entardecer estimula o canto dos pássaros. Respiro fundo várias
vezes e deixo a irritação diminuir, até que eu consiga pensar direito.
Pensar no passado e no futuro?
Grande Espírito, sei que não tenho muito entendimento das
coisas da vida, mas minha menina estar esperando um bebê tão
jovem não me parece certo…
Fecho os olhos por alguns momentos, sinto o vento bater em meu
rosto e o cheiro doce dos lírios do campo, que estão desabrochando
aos montes na planície. Me permito deitar e olhar para o céu por
alguns momentos, então ouço uma voz:
– Quando vai parar de ser tão teimoso?
Me levanto e vejo Puma se aproximar. Ela está com o rosto
vermelho e os olhos ainda maiores. Linda. Sorrio.
– O quê?...
– Ela está esperando o meu neto! Ou neta! Tanto faz, é MEU! E
eu não vou deixar você me afastar deles, nem a fazer ficar nervosa
por causa do seu ego ferido! Já dei minha benção a eles e espero
que você faça o mesmo, senão juro por Deus que não falo mais com
você, DE NOVO!
– Você não acha que está muito atrevida, Puma Pequena?!
– Atrevida?! Pois com quem pensa que está falando? Não sou
sua escrava! Sou sua mulher e mãe de seus filhos!!!!
– Está merecendo outras palmadas, então, minha mulher! – lhe
digo com os olhos estreitos.
Ela fica ainda mais corada, os olhos ficam redondos. Tenho
vontade de rir, mas continuo firme.
– Não se atreva, Coiote! – ela estreita os olhos para mim.
Me levanto sorrindo, ela se vira para correr, mas eu a agarro em
seguida. Ela grita.
– Não pense em começar com isso aqui… – ela adverte, meio
rindo, olhando ao redor.
– Ninguém vai ver… E não seria a primeira vez… – digo,
acariciando o seu traseiro e ficando totalmente louco por ela, como
sempre acontece quando estamos juntos, mesmo depoiss de todos
esses anos.
– Você não ache que nosso assunto morreu aqui… – ela começa,
mas não termina, pois estou sugando seu pescoço.
– Sim, minha branca, vou dar minha benção aos dois. Você está
certa, é nosso neto que está por vir. O futuro. E alguma coisa me
sussurrou quando estava olhando as nuvens, um sentimento de que
esse molequinho vai ser muito especial para todos nós…
– O quê...? Coiote, se comporte! Não pode… Oh! – beijo seu
braço, sua nuca, enquanto a ajeito sobre meu colo com o traseiro
para cima e ergo suas saias, beijando cada uma das ancas brancas
e macias.
– Você lembra de como são as regras? – pergunto e dou um tapa
forte.
Ela grita:
– Não! Seu… Seu…
– Se me xingar, leva outro – sorrio amplamente e ela ri baixinho.
– Ordinário! – ela grita.
Eu bato mais uma vez, ela não se aguenta e se solta, me
beijando forte e subindo no meu colo.
– Ah, minha branca, agora que eu estava começando? – rio e ela
também.
– Agora você vai ter que apagar o fogo que começou, seu Coiote
Safado… – ela diz, me beijando outra vez e me montando.
– Seu pedido é uma ordem, afinal sou seu escravo…
– Escravo?
– Sim, minha branca, um escravo totalmente rendido por você e
nosso amor.
Vejo os olhos dela se encherem de lágrimas:
– Aqui não existem escravos, apenas dois corações livres que
decidiram se atar um ao outro, para serem mais fortes e completos.
Te amo, meu Coiote.
– E eu te amo, minha branca. Para sempre.
– Para sempre – ela repete e me beija.
Fim.
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SOB AS ESTRELAS
Aos meus dois filhos, Bell e Miguel por me apoiarem na hora que
estou trabalhando, me ajudando e inclusive entretendo a terrível
Maya.