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MARTINICI
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
DIMITRI
1ª EDIÇÃO
Lavínia: Já sim. Há muito tempo. Meu chefe não me faz de escrava como o
seu.
Caio: Olie, por favor, vamos conversar. Eu sei que fiz merda. Me dá
uma chance para me explicar. Não vivo sem você!!
Ah, pelo amor de Deus... Não vivo sem você? Meio exagerado, não?
Claro que vive. Tanto vive, que semana passada estava transando com a
colega de trabalho. Dentro do almoxarifado. Que palhaçada!
Bloqueio o aparelho de novo e já está tocando outra música. Volto a
fechar os olhos para esperar pelo meu ponto de descida.
Acordo no susto.
Droga! Passei do ponto?
Olho em volta e para a minha felicidade, ainda estou a um ponto do
meu. Começo a me arrumar para descer e quando vejo o ponto de
referência, dou sinal.
O edifício que moro não fica longe do ponto de ônibus, mas ando
por uns dez minutos até chegar na portaria.
Abro o primeiro portão e logo em seguida, o segundo.
Como está mais tarde do que o horário habitual que chego, o
porteiro já foi embora e quem chegar agora, precisa ter as chaves para
entrar.
Chego em casa e me jogo no sofá. Estou morta, só quero tirar essa
roupa social, que usei o dia inteiro, e esse sapato de salto, quando ouço
Lavínia vir até a sala. Minha irmã começa a falar um monte de coisas, que
eu confesso não prestar atenção... Só quero tomar um banho, comer alguma
coisa e dormir. Amanhã acordo cedo para fazer faxina no apartamento, que
está precisando urgentemente.
— Olie! Me empresta aquela sua blusa preta, que tem o decote em
V? — Eu tenho blusa com decote em V?
Não faço ideia de que peça é essa que ela está falando. Porém, como
não estou muito a fim de falar, apenas balanço a mão e ela entende que isso
foi um sim.
Tomo coragem, levanto-me do sofá e, literalmente, me arrasto até
meu quarto. Pego a roupa mais larga que tenho e me enfio dentro do
banheiro, ligando a água quente e enchendo a pequena banheira, que eu
agradeço e muito por vir com o banheiro. Não a uso sempre, demora um
pouco para encher e gasta muita água, mas, às vezes, me dou ao luxo de me
banhar e relaxar com classe.
Entro na banheira e afundo até o pescoço, encostando a cabeça no
apoio.
Que delícia da porra!
A água quentinha, uns sais de banho e o jato bem forte na direção da
minha lombar, me fazem gemer.
Obrigada, Deus. Obrigada por esse pequeno prazer.
Não sei por quanto tempo estou no banheiro, apenas percebo que
fiquei por muito tempo, quando escuto Lavínia gritar da porta que está indo.
Sendo que quando cheguei, ela ainda estava escolhendo a roupa. Acredito
que eu tenha cochilado aqui dentro, de novo. Estou exausta.
Começo a sentir que a água esfriou e me preparo para sair da
banheira. Me seco com a toalha e visto a roupa que peguei, aproveitando
para esvaziar a banheira e organizar o banheiro. Dou uma última olhada na
sala, e claro que todas as luzes estão acesas, já que Lavínia é incapaz de
apagá-las quando sai. As desligo e vou para o meu quarto para me enfiar
debaixo das cobertas e assistir – ou tentar – alguma coisa na televisão.
Passo pelos canais, mas não encontro nada de bom. Seleciono algum
aplicativo de streaming e por fim, escolho assistir meu filme/desenho
favorito, e claro que seria Anastásia. Sinto minhas pálpebras pesarem e não
percebo quando caio no sono.
Ele poderia ter ficado mais uns minutos sem lembrar dessa maldita
reunião, que poderia ser resolvida apenas com um simples e-mail.
Definitivamente, Niko deveria ter sido o CEO e não eu.
Desço no 19º andar, onde fica o andar do financeiro que meu irmão
administra, mas encontro a mesa da secretária vazia. Olho para o relógio e
acho estranho não ter ninguém ali naquele horário. Entro na sua sala sem
bater, e vejo-o sentado, atrás da grande mesa de vidro escurecida, olhando
atentamente para a tela do notebook – um dos, pois ele tem três em cima do
móvel.
— Não sabe mais bater? — Niko nem se dá ao trabalho de olhar
para mim enquanto pergunta.
— Você está sem secretária?
— Ela bateria por você?
— Ela ligaria e avisaria que estou aqui. — Não é óbvio?
— Não sei se você sabe, mas todo funcionário tem direito a hora do
almoço, querido brat[8]. Olívia sai todos os dias ao meio-dia e volta às treze,
sem nenhum minuto a mais ou a menos.
— Muito eficiente ela, não é?
— Sim, ela é. — Ele tira os olhos da tela do notebook e me fita.
Niko me olha com seus olhos de tons verdes, quase azuis, passando
os dedos pelo cabelo que é maior do que o meu e coça a barba, quase como
se estivesse sem paciência. Sua respiração e sua virada de olhos
demonstram que não ficou nenhum pouco feliz com meu comentário.
Sorrio em deboche e então, ele se encosta na cadeira, apoiando os
braços nas laterais e cruza os dedos, colocando suas mãos em seu abdômen.
— O que quer aqui? A reunião foi adiada para às quinze horas —
ele pergunta.
Puxo a cadeira na frente de sua mesa e digo enquanto me sento:
— Não posso vir visitar meu irmão na hora do almoço? — estendo o
braço e olho para o meu relógio de pulso.
— Dimitri...
— Eu!
— Desde quando você almoça a essa hora, ou melhor, desde quando
você sai de sua sala para almoçar?
— Só resolvi vir aqui dar uma voltinha. — Dou de ombros. — Acho
cansativo demais ter que descer vinte andares para chegar até o refeitório.
— Você já esteve no refeitório? — parece incrédulo ao perguntar.
— Claro que já. Uma ou duas vezes. — Balanço a cabeça,
lembrando do momento desagradável.
Eu não sou esnobe, juro que não, mas o refeitório estava horrível, as
mesas caindo aos pedaços e alguns lugares nem banco tinha para os
funcionários se sentarem. Sem contar que o lugar era sujo demais.
Reuni todo mundo e mandei fazerem uma obra de caráter
emergencial. Em duas semanas, os funcionários tinham um lugar adequado
para realizarem suas refeições. Desde então, não pisei mais no ambiente
com puro medo de encontrar um lugar nojento de novo.
— Depois dessas vezes...
— Não. Como disse, acho cansativo ter que descer tudo e depois
subir novamente. Além do mais...
— Além do mais, você é um esnobe do caralho.
— Não sou esnobe, porra nenhuma! Só não... Não sei como agir na
frente dos funcionários.
Niko se ajeita na cadeira e apoia os braços em cima da mesa,
inclinando-se um pouco em minha direção.
— Ainda com o pensamento de que não deveria ser o presidente? Já
faz cinco anos. Você conhece a empresa, tem feito muitas inovações,
sempre recebe elogios. Tem exercido muito bem o trabalho, Dimitri.
Por mais que seja a verdade o que ele acaba de dizer, confesso que
não me sinto bem com o título de presidente. Acho, de fato, que o cargo
deveria ser dele, pois Niko estudou para isso. É sem dúvidas, a pessoa mais
adequada da família. O mais estranho é que ele mesmo não quis o cargo
quando eu disse que iria recusar. Muito pelo contrário, ele disse que não via
pessoa melhor para isso.
— Enfim... Acho que precisava sair um pouco lá de cima. Estou me
preparando para mais cinquenta horas de uma reunião que acho
desnecessária.
— Eu sei que acha. Por isso, faço questão de tê-la.
— Você é desprezível, Nikolai.
Ele gargalha e nesse momento, a porta se abre.
— Senhor Nikolai, eu já… — Os olhos castanhos de sexta-feira me
fitam e, logo depois, se arregalam. — Desculpe-me. — Ela olha para meu
irmão — Não sabia que estava acompanhado do seu irmão. — Dá dois
passos para trás e começa a fechar a porta.
— Senhorita Olívia! — Niko a chama de volta e a porta começa a se
abrir novamente. — Não tem problema algum. Pode me fazer um favor?
Ela assente com a cabeça, sem tirar os olhos dele.
— Gostaria que mandasse um e-mail para os acionistas dizendo que
eu cancelei a reunião de hoje. Explique que tenho em mente todas as
observações deles e que Dimitri e eu, agiremos conforme o gosto de todos.
E se precisarmos, conversaremos por e-mail.
Sorrio feito criança. Por dentro, é claro.
Graças a Deus não vou precisar ficar por horas em uma reunião
inútil.
Alícia, quer dizer... Olívia acena com a cabeça, olhando para mim
de relance e sai da sala, fechando a porta.
— Ela é bonita — digo, sendo apenas sincero e sem notar que falei
em voz alta.
— Pozhaluysta[9], nem pense em dar em cima dela. Não estou em
condições de perder uma ótima secretária como a Olívia.
— Eu só falei que ela é bonita. — Dou de ombros. — Só isso. Não
tenho nenhuma intenção com ela. Sabe muito bem que sou contra
envolvimento no trabalho, pelo amor de Deus.
— Conheço esse seu discurso, Dimitri. — Niko me dispensa com a
mão, não levando a sério o que falo e volta para o seu computador, depois
que ele apita.
Levanto-me da cadeira e vou em direção a porta, abrindo-a. Dou de
cara com a moça, sentada na sua mesa, digitando o e-mail que meu irmão
pediu. Fecho a porta e ando na sua direção, ela se mantém focada na tarefa
e só percebe que estou perto quando paro bem em sua frente.
Apoio minhas mãos na mesa, debruçando-me de leve e a chamo.
— Senhorita... — Ela levanta a cabeça em um susto.
— Senhor.
— Desculpe-me — digo, olhando em seus olhos.
Cacete! Duas bolas de um tom de marrom lindo.
— Algo em específico?
— Por sexta-feira, no elevador. Prometo não esquecer mais o seu
nome. — Pisco um olho e saio em direção ao elevador, apertando o botão e
o esperando chegar no andar. Quando as portas se abrem, me viro antes de
entrar. — Me copie neste e-mail. Vou imprimi-lo e emoldurar para me
lembrar da primeira vez que Niko desistiu de discutir algo por reunião.
Entro na lata de metal e aperto o número do meu andar. Olívia ainda
está me olhando quando as portas se fecham.
Dentro do ambiente, sorrio de uma forma que me forço a parar.
Ela é bonita, isso não é mistério para ninguém, mas será que vale a
pena quebrar minha regra quanto ao envolvimento no trabalho?
Por dentro, confesso que estou muito feliz pelo cancelamento dessa
reunião, que conhecendo bem o meu chefe, duraria até altas horas,
igualzinha à de sexta-feira.
A diferença entre as duas? Bem, a de sexta, era porque era sexta e
no dia seguinte, eu não precisaria acordar cedo para vir trabalhar. A de hoje,
eu sairia tarde da noite e precisaria acordar cedo para estar aqui amanhã.
Logo, não seria nada bom para mim.
Fiquei surpresa ao encontrar o senhor Dimitri na sala do meu chefe.
Não que ele não pudesse ir até lá, claro que não. Afinal de contas, ele é o
dono da empresa e estava na sala do irmão. O que acontece é que ele não
costuma sair do Monte Olimpo com frequência. E quando o vi sentado,
levei um leve susto com sua imagem ao me fitar.
Por um momento, achei que ele pudesse estar falando sobre o que eu
disse a ele no elevador, mas seria bem infantil de sua parte. Se Dimitri
tivesse se sentido ofendido, teria simplesmente me demitido sem nem falar
com seu irmão, o que seria bobeira da parte dele.
Quando saiu e falou comigo, achei mais estranho ainda. Tanto que o
encarei até a porta do elevador se fechar.
Acho que nunca havia notado o verde-escuro de seus olhos. Quer
dizer, não tenho o hábito de olhar para ele com constância. Dimitri quase
não vem aqui e eu quase não vou lá, o que agradeço imensamente.
Quando me olhou bem nos olhos, eu gelei. Depois que pediu
desculpas, então, senti um arrepio me cortar inteira, indo da nuca até os
dedos do pé. Jamais imaginei que ele pudesse fazer algo do tipo. Se
desculpar? Ele não me parece do tipo que se desculpa. Por nada, e nem a
ninguém.
O restante do dia foi tranquilo, com alguns documentos para assinar,
relatórios que Nikolai me pediu para separar, e verificar datas e assinaturas.
Tudo dentro da normalidade. Quando deu dezoito horas, senhor Nikolai foi
embora e eu esperei por mais trinta minutos para sair. pre espero esse
tempo para sair.
Acho que dá tempo de ele ir até a garagem, entrar em seu carro, sair
e apenas por uma margem de erro, estar longe quando saio. E tem a questão
do seu irmão. Se o senhor Nikolai sai às dezoito em ponto, todos os dias,
acredito que seu irmão saia antes, já que, como ouvi de diversas pessoas, o
senhor Dimitri não gosta muito de ficar até tarde na empresa. Não que
dezoito horas seja tarde, mas ele é o chefe, então entendo que ele possa sair
a hora que bem entender.
Junto minhas coisas, deixando tudo organizado para o dia seguinte,
e verifico mais uma vez a caixa de e-mails e, graças a Deus, nenhum
chegou nos últimos minutos. Desligo o notebook, pego minha bolsa e vou
em direção ao elevador. Aperto o botão e espero que chegue ao penúltimo
andar, que é onde me encontro de segunda a sexta de oito às dezoito e trinta.
As portas se abrem e está vazio.
Adoro o elevador vazio. Adoro lugares vazios para ser mais
específica. Multidão não é comigo.
Entro e aperto o botão do térreo, torcendo mentalmente para ele não
subir e eu não ter nenhuma surpresa indesejada. Me concentro tanto, que as
portas fecham devagar. Olho para o LED, onde os números são indicados, e
aperto as mãos com o pensamento “desce, desce, desce”, entretanto, para a
minha total infelicidade, a seta que aparece no painel indica que vai subir.
Fecho os olhos em lamentação, mas pelo menos, o risco que corro é dar de
cara com a Felícia.
Respiro fundo e solto o ar para não parecer afetada quando as portas
se abrirem e eu der de cara com a loira de peitos de silicone e vestido
colado no corpo.
O elevador trava no andar e eu me preparo para, talvez, ouvir
alguma coisa gracinha dela. Mas quando as portas se abrem, meus olhos se
voltam ao homem enorme à minha frente.
Não acredito!
Ele está usando um terno preto e segura uma pasta com uma das
mãos e a outra, está enfiada no bolso da calça. Engulo em seco, sabendo
que Dimitri ainda não me viu, pois está olhando para os próprios pés.
Dou um passo para trás, me encostando no espelho ao fundo do
elevador e quando ele levanta o olhar e me vê, arqueia uma das
sobrancelhas e sorri de lado.
Ele entra no elevador e se põe ao meu lado. Ambos olhamos para as
portas que se fecham com a mesma velocidade de uma lesma.
— Parece que sempre nos encontramos no elevador, não é mesmo?
— diz ele.
— Não é muito surpresa, já que trabalhamos no mesmo prédio e eu
estou apenas a um andar do senhor — respondo, sem olhar para o lado e
tentando não ser tão grosseira quanto imaginei na minha cabeça.
Continuo olhando fixamente para a porta à minha frente e para o
painel de LED do elevador, que mostra o número quinze.
Esse elevador tem descido muito devagar ultimamente.
— Me pergunto se fala assim com Nikolai também.
— Ele é meu chefe.
— Teoricamente, eu também sou. Sou o chefe do seu chefe. — Gelo
ao ouvi-lo falar assim.
Ele tem um ponto. Não posso negar.
— Desculpe-me se fui grosseira.
— Tudo bem, era só uma curiosidade. Você me pareceu bem mais...
Como posso dizer, simpática com ele. — Ótimo, agora ele sabe que eu não
gosto dele.
Eu não gosto mesmo, mas ele também não precisava ficar sabendo.
Não mudaria nada.
— Desculpe-me novamente — é o mínimo que posso dizer.
— Já disse que está tudo bem. — Sinto seu olhar em cima de mim.
— Nikolai ainda está ou já saiu?
— Saiu faz uns trinta minutos.
— Ele te faz mesmo trabalhar até tarde.
— Dezoito e trinta não é tarde, é até um horário padrão de trabalho.
— Me atrevo a virar o rosto e olhar para ele, encontrando novamente o
verde – de uns tons mais escuros do que o do irmão – de seus olhos.
Nos encaramos por alguns instantes.
Sinto-me sem ar, mesmo com meu peito subindo e descendo com
minha respiração. Simplesmente, não consigo desviar os olhos dele.
Sempre o vi como um homem com uma personalidade horrível, mas
não posso negar que ele é lindo. Lindo de um jeito que parece até ser de
mentira. Ele tem alguns traços do irmão, o nariz afilado e o formato dos
olhos, porém o maxilar é mais marcado, mais quadrado que o do irmão. A
barba cerrada marca bem o seu rosto e o deixa com um ar de mais...
homem? Se isso for possível.
O apito do elevador toca, tirando-me da admiração que faço sobre o
homem e acabo dando um passo mais para o lado, me distanciando de
Dimitri. As portas se abrem e Carlos, o chefe de T.I. entra no elevador. Ele
sorri para mim e acena com a cabeça para Dimitri, ficando no meio de nós
dois, também olhando para as portas. Entretanto, ele não mantém o silêncio.
— Amanhã preciso te mostrar uma coisa que achei bem legal, Olie.
Vamos almoçar juntos, igual à hoje — fala, virando o rosto na minha
direção.
— Claro! Costumo almoçar sempre nesse horário, é muito difícil o
senhor Nikolai me prender lá em cima.
Dimitri se mantém em silêncio. Apenas olhando para as portas, nem
é possível ouvir a sua respiração.
As portas finalmente se abrem e chegamos ao térreo. Carlos se põe
de lado, segurando as portas e faz sinal para que eu saia primeiro.
Olho para Dimitri, acenando com a cabeça e saio, porém, ele não faz
nada e Carlos segue logo atrás de mim. Olho para trás, vendo as portas do
elevador se fecharem e os olhos de Dimitri me seguirem.
Carlos e eu passamos pelas portas giratórias e andamos em direção
ao mesmo ponto de ônibus. Ele fala sobre algo que eu não presto muita
atenção, ainda estou com a cabeça dentro daquele elevador. Solto alguns
risos, apenas para disfarçar minha distração e quando meu ônibus chega, me
despeço dele.
Chego em casa depois de quase uma hora sentada na condução, já
que o horário de dezoito até mais ou menos às vinte, é horrível. Todo
mundo está saindo do trabalho e tudo vira um caos, principalmente que
fiquei parada, pelo menos por trinta minutos, no mesmo lugar.
Nessas horas, gostaria de não ter vendido meu carro um ano atrás.
Ele podia ser velhinho, mas era muito bem cuidado e me levava para
qualquer lugar. O adorava, mas a vida nem sempre é como queremos.
Quando Lavínia veio morar comigo, precisei mudar um pouco
minha rotina. Tudo bem que ela já era adulta, mas eu ainda sou nove anos
mais velha que ela. E eu jamais a deixaria sozinha, não depois do que
passou nas mãos do seu pai, se é que posso chamar aquilo de pai. No
máximo, um reprodutor.
Como eu morava em um apartamento de apenas um quarto, precisei
me mudar para um maior, com dois. Ela precisa da privacidade dela e bem,
eu da minha. Ela é mais jovem e gosta de se divertir. Eu, por outro lado,
prefiro o sossego da minha casa.
Na época, visitamos alguns apartamentos antes de nos mudarmos de
vez. Não iria morar em qualquer lugar e muito menos levar minha irmã para
qualquer espelunca. Depois de muito procurar, encontramos esse em que
moramos hoje, o aluguel é puxado, mas o dividimos e não nos falta nada.
Ela trabalha de manhã e estuda à noite. Meu salário é maior que o dela, mas
ela ajuda tanto quanto e, assim, a vida segue.
Precisei vender o carro para pagar o depósito do apartamento, fiquei
chateada na época e Lavínia não queria que eu o fizesse, mas o lugar é
ótimo e seria alugado em um piscar de olhos se não fechássemos o contrato
logo.
Morar em um apartamento pequeno com uma pessoa que é
extremamente bagunceira não é muito legal, ou aconselhável.
Entro em casa e como sempre, todas as luzes estão ligadas.
— Meu Deus, qual a dificuldade de desligar as luzes dos cômodos
que não estão sendo usados? — grito, fechando a porta e Lavínia surge no
corredor de pijama e com os cabelos molhados.
— Desculpa. Eu entrei e esqueci de desligar.
— Como sempre. — Arqueio as sobrancelhas e crispo os lábios.
Ela sorri amarelo.
— Tô vendo um filme no seu quarto — ela me informa e eu peço
internamente para que não esteja uma zona lá dentro.
Já disse o quanto odeio bagunça? Pois bem, odeio. Me dá gastura
ver as coisas fora do lugar, talvez eu tenha um problema sério com isso.
Preciso procurar um profissional, ou não, talvez eu só seja muito
organizada, diferente de Lavínia. Vai saber.
— Qual?
— Adivinha... — Ela abre os olhos e morde o lábio inferior.
— Não me diga que é O Rei Leão.
— É o melhor filme da vida. E com a voz da Beyoncé como a Nala,
meu Deus!
— Você já assistiu isso quantas vezes, Lavínia? — Já sei as músicas
de cor de tanto que ela assiste esse filme.
— Quem tá contando?
— Eu.
— Vai tomar um banho e trocar de roupa. Eu vou fazer mais pipoca
e te encontro no seu quarto.
Sei que ela tem vinte e quatro anos, mas ainda é minha irmãzinha.
Ela sai aos finais de semana, se diverte com as amigas – e alguns homens –,
mas ainda é a menininha que me fazia brincar de boneca quando não tinha
ninguém e mais nada para fazer. Ela se escondia dentro do armário da
cozinha quando brincávamos de esconde-esconde e eu fingia que não sabia
onde ela estava, até ela abrir as portas e gritar “BOOO”, como se tivesse me
dando um baita susto.
Não tem como eu negar algo a ela. Talvez eu nem queira mesmo
fazê-lo. Lavínia passa por mim para chegar até a cozinha e eu entro no
banheiro. Tomo um banho, coloco minha roupa larga e me enfio debaixo do
edredom. Ela logo chega com uma tigela, que mais parece um balde, de
pipoca, também se enfiando debaixo do mesmo edredom e dá play no filme,
que já está, praticamente, no meio.
EM CARÁTER DE URGÊNCIA
Senhorita Olívia,
Primeiramente, gostaria de me desculpar pelo horário. Sei que já é tarde, mas acabo de me lembrar
que amanhã precisarei de seus serviços.
Pedirei a minha secretária para entrar em contato com a senhorita no horário que precisar.
At.te.,
Dimitri Markova
CEO
Markova Tech Company
Niko: Nem pensar! Você não consegue ficar sozinho? Nem tem muita coisa
para fazer amanhã, Dimitri.
Eu: Não, não consigo. Além do mais, ela pode me ajudar a adiantar
algumas pendências.
Niko: Chert voz’mi[12], se ela pedir demissão, eu mesmo subo até a sua sala
e quebro sua cara, tá me ouvindo?
Eu: Não entendo esse zelo todo com a moça. Até parece que você sente
algo por ela. Está apaixonadinho, irmão?
Niko: Não fala merda! Claro que não estou. Tenho zelo por ela, porque
gosto do trabalho dela, Dimitri. Olívia é eficiente, comprometida e sabe
trabalhar, diferente das que você contrata.
Sexta-feira.
Gosto das sextas-feiras. Exceto essa, já que amanhã estarei com a
minha mãe e com o pai de Lavínia. Tenho evitado esse encontro desde que
saí da cidadezinha, onde nasci e cresci, para vir morar em São Paulo.
Na primeira oportunidade, saí de casa e nem olhei para trás.
Nada contra a cidade em si ou aos seus pouquíssimos habitantes. O
ponto principal foi, ou ainda é, exatamente a minha mãe e o seu gosto
duvidoso por homens.
Já faz um tempo que ela entrou em contato, pedindo para que
fôssemos visitá-la. Eu tentei adiar o máximo que consegui, mas Lavínia é
mais apegada a ela do que eu, e quando mamãe ligou pedindo – quase
implorando –, minha irmã confirmou a visita na hora.
Não tive nem, ao menos, chance de dizer não. O máximo que
consegui, foi mentir para Lavínia, dizendo que dependia da liberação do
trabalho.
Quando informei a data que precisaria viajar e a quantidade de
tempo que precisaria ficar fora, Nikolai, de bom grado, aceitou. Claro que
trabalhei o dobro durante essa semana para adiantar tudo que pude, porque
não gostava de deixar meu chefe na mão.
Mas tudo bem, não estou reclamando. Na verdade, nem tenho do
que reclamar, somente o fato de ter que arrumar minha mala para ir à
rodoviária pegar o ônibus e passar a noite toda viajando.
— Você já terminou de arrumar as suas coisas? — Lavínia grita de
seu quarto.
Que saco!
— Você não pode ir sozinha?
— Claro que não! Você também é filha dela, Olívia. Mamãe quer
nós duas lá.
Acabo de fechar o zíper da mala e vou até o seu quarto.
— Você tem noção do ódio que eu tô sentindo de ter que ficar uma
semana com eles?
Ela está dobrando uma camisola.
— Eu sei, Olie. Eu estou indo pela mamãe.
— E de bônus, veremos o Ivan, já que são casados — digo com as
mãos na cintura.
— Ela me prometeu que ele não ficaria em casa todos os dias.
— Ah, Lavínia… Pelo amor de Deus, só você acredita nisso. —
Saio do quarto, voltando ao meu para checar as horas no meu celular.
Quando o pego, a tela brilha.
E-mail corporativo de novo?
Clico em cima da notificação e ele se abre, mas não leio o corpo da
mensagem, indo direto ver a assinatura.
Dimitri.
Leio a mensagem e confesso sentir um certo desânimo quando
percebo que, na verdade, é apenas um e-mail para eu ter ciência de algum
assunto referente a expansão da empresa.
Nessas horas que ele poderia pedir meus serviços, ele não pede. Isso
iria me livrar de uma e ele nem teria ideia.
— Eu já estou pronta! — Lavínia diz, me tirando do pensamento. —
Se quiser chamar o Uber, fica à vontade.
Tento meu último olhar de misericórdia, mas ela caga para mim.
Mesmo desanimada, puxo a mala para fora do quarto e deixo-a na sala, com
a de Lavínia e vou verificar se está tudo certo no apartamento, já que
ficaremos uma semana fora.
O gás, ok; as janelas, ok; e nada de comida que possa estragar, ok.
— Você tem sérios problemas, Olie.
— Eu tenho responsabilidade, Lalá.
— Odeio esse apelido. — Me lança um olhar mortal e eu sorrio em
deboche para ela.
O carro do aplicativo chega. Apago as luzes da casa e fecho a porta
atrás de nós.
Vamos lá! Não tenho muita saída. É enfrentar ou enfrentar.
Elevador.
Acho que nunca gostei tanto dele na vida como agora. Ele me
remete à Olívia.
Preferi não aparecer depois do que – quase – aconteceu.
Um envolvimento com ela está fora de cogitação, mas a ideia de
encontrá-la no elevador, como tem acontecido, é tentadora. E confesso que
sempre espero vê-la adentrando o pequeno ambiente.
As portas se abrem e eu entro.
Ele para no andar debaixo e as portas começam a se abrir. Aprumo
meu corpo, ajeitando o terno e quando dou de cara com meu irmão, reviro
os olhos.
— O que foi? Estava esperando outra pessoa? — ele pergunta.
— Claro que não, estava apenas ajeitando minha roupa.
Descemos juntos, mas sem muitas palavras. Quando o elevador se
abre na garagem, cada um segue até seu carro.
Nikolai segue para a sua casa e eu, para qualquer lugar que possa
me proporcionar divertimento, como sempre faço as sextas-feiras.
Encontro Bernardo em um restaurante.
Havíamos marcado esse jantar faz algum tempo. Sempre saímos
juntos e ele é um ótimo amigo. Nós nos conhecemos quando voltei para
Rússia para terminar os estudos. Imagina a minha surpresa quando descobri
um brasileiro no mesmo colégio que eu.
Tínhamos treze anos e desde então, nunca mais nos desgrudamos.
Sempre fomos muito unidos e sempre gostamos das mesmas coisas. Exceto
uma, sexo casual. Ele é do tipo romântico, que se apega, que gosta demais,
que ama demais. Às vezes, em raras ocasiões, ele gosta de uma farra, mas
se for para escolher, certeza que Bernardo escolheria ficar de conchinha em
uma noite de sexta, assistindo a algum filme.
Adentro o restaurante e logo vejo meu amigo sentado na mesa.
Quando me vê, se levanta para me cumprimentar.
— E aí, cara! — Apertamos as mãos e nos sentamos.
— Fala, Dimitri. Como vão as coisas? — ele pergunta, pegando a
carta de vinhos.
— Nada de novo, tudo continua o mesmo de sempre. Viu que
saímos na capa de mais uma revista? — pergunto rindo, já sabendo da sua
reação.
— Porra, cara, nem fala nisso! Odeio quando esse tipo de coisa
acontece. Meu pai me ligou não sei quantas vezes para falar dessa merda,
disse que a minha mãe torrou com a paciência dele por conta disso.
— Eles ainda querem um casamento de peso, com alguém que tenha
o nome tão poderoso quanto o seu? — Sei o quanto a família de Bernardo é
exigente com esse assunto.
Assim como eu, ele também nasceu em berço de ouro, mas a nossa
diferença é que a família dele quer que ele mantenha o status. Querem o
casamento perfeito para o filho perfeito. A irmã mais nova dele já está
vivendo a vida que os pais idealizaram para ela – mesmo sem vontade
nenhuma. Bernardo, por sua vez, se nega, a todo custo, a esse tipo de
relacionamento. Ele quer casar, mas acho que está esperando encontrar um
grande amor, ou coisa assim.
— É, ainda.
— Eu não entendo. Você aí, disponível e querendo alguma coisa
séria com alguém, mas não consegue ninguém.
— Também não é assim, porra. Não consegue ninguém. Não precisa
ser babaca desse jeito.
Rio alto.
— É modo de falar, Bezinho.
— Ah, vai se foder. — Ele ri. Odeia quando o chamo assim. — Eu
quero me casar, só não quero que seja com qualquer uma, e… é
complicado, cara. — Ele me olha e desvia o olhar. — É complicado —
repete.
— Não entendo esse conceito de vocês de ‘é complicado’. A gente
sai, você conhece alguém que tenha interesse e pronto. Nenhuma
complicação.
— Você fala isso, porque é um filho da puta desapegado. — Não
sou um filho da puta desapegado. Eu evito me apegar e, graças ao destino,
sempre consigo. — E além do mais… tem uma pessoa, mas eu não quero
falar disso com você agora, pelo menos.
— Não sei para que tanto mistério.
Bernardo dá de ombro enquanto levanta a mão para chamar o
garçom que não está tão longe de nós. Ele faz o pedido da sua bebida e pede
uma entrada. Faço o mesmo e o rapaz segue em direção ao interior do
restaurante.
Continuamos conversando sobre algumas amenidades, como
trabalho, futebol e carros. Uma das paixões que dividimos são os nossos
queridos automóveis. Bebemos um pouco e quando notamos, o restaurante
já está vazio, por isso resolvemos ir embora.
Bernardo dirige seu tão amado Porsche de cor preta, e eu, como de
costume, dirijo meu Aston Martin.
Sigo para a minha casa e por todo o caminho, me pego pensando em
um par de olhos castanhos que me olharam profundamente alguns dias
atrás.
Olívia. A secretária do meu irmão.
Entro no condomínio, cumprimentando os guardas e abro a minha
garagem, estacionando meu carro para enfim, estar na quietude da minha
casa.
Adoro a minha casa. Ela tem meu toque pessoal, com o cinza em
todos os lugares, que contrasta com o preto e o branco. Mas o que me
incomoda, não é a casa em si e sim, sua quietude, sua solidão.
Não gosto de silêncio por um motivo. Sempre penso demais e meus
pensamentos não são lá os melhores, por isso tento ao máximo evitá-los.
Sentir a dor que eles me causam é o que menos quero em qualquer
momento da minha vida.
— Cadê ela? — Entro na sala do meu irmão sem nem bater na porta,
quase derrubando-a, para ser mais exato. — Cadê ela, Niko?
— Cadê quem?
— Você sabe quem, a Olívia.
Ele solta a caneta e se encosta na cadeira, na posição que eu mais
odeio. Cruza os dedos na frente do abdômen, apoiando os cotovelos nos
braços da cadeira e começa a girar, de um lado para o outro.
— Por quê? O que quer com ela?
— Quero saber onde ela está, caralho!
Niko eleva as sobrancelhas e sorri de canto de boca. O que só me
deixa ainda mais puto.
— Blyad’[14], Niko! Você demitiu a mulher? — pergunto, já puto por
conta de seu silêncio. — Não acredito! Puta que pariu. — Levo as mãos ao
meu cabelo em desespero. — Liga para ela agora e a mande voltar. Se
desculpe! Mande flores. Mande uma caixa de bombons, não sei o que você
vai fazer, MAS LIGA PARA ELA E A MANDE VOLTAR! — grito
enquanto ele se mantém calado.
Nikolai não diz nada, apenas me olha, ainda com o maldito sorriso
no rosto.
— Poydem[15], está esperando o quê? — continuo a gesticular com
pressa, cada vez mais irritado com ele. — Não, deixa! Eu mesmo faço isso.
Que palhaçada! Você é um babaca! — digo, apontando o dedo em riste para
ele, saindo da sua sala.
Volto ao meu andar e passo por Felícia, batendo o pé feito uma
criança mimada que não conseguiu o doce que queria. Assim que entro em
minha sala, percebo que não tenho o telefone de Olívia para falar com ela,
apenas o e-mail corporativo. Mas se ela foi demitida, com certeza não tem
mais acesso a ele.
Que merda!
Dou um soco na mesa.
— Mas que droga! — falo alto, mais alto do que imaginei, já que
segundos depois, Felícia abre a porta da sala e diz:
— Está tudo bem?
— Como eu consigo o telefone de um ex-funcionário?
— No Recursos Humanos — ela diz em um tom de ‘não é óbvio?’
Me viro para ela com um sorriso no rosto.
— Você é um gênio, Felícia.
Sento-me na minha mesa depois que Felícia saiu da sala e disco o
número do ramal do RH. O telefone chama três vezes e uma voz de mulher
atende o telefone.
— RH MarkovaTech, boa tarde!
— Boa tarde! Gostaria de falar com o responsável pelo setor. —
Não sei o nome do chefe da área. Não sei o nome de ninguém, aliás. Só o
de Felícia porque ela trabalha comigo o dia inteiro. E bem, agora o de
Olívia.
— Quem deseja? — a voz me pergunta.
— Dimitri.
— Dimitri… — fala em um tom de dúvida.
Tudo bem, ela não tem obrigação de saber como é a minha voz, já
que eu não sei seu nome e muito menos seu rosto, então…
— Dimitri Markova, senhorita. Diga que é urgente!
Ela solta um gritinho de surpresa e sinto sua voz tremer quando
finalmente responde.
— Cla-claro, claro, só um instante. — Começo a escutar uma
musiquinha. Provavelmente, ela me colocou na espera para chamar seu
superior.
Que musiquinha horrível. Devia ligar mais para os outros setores
para ver se é tudo desse jeito. É irritante. Quem teve essa ideia?
Finalmente, uma voz de homem se pronuncia no aparelho.
— Pois não, senhor Dimitri?
— Olá, com quem falo? — Preciso conhecer meus funcionários,
mesmo que seja um pouco tarde para isso.
— Jorge, senhor.
— Olá, Jorge, preciso de uma ajuda. Poderia me fornecer o telefone
de um funcionário? — Será que preciso explicar que a pessoa em questão
não trabalha mais conosco?
— Claro. Qual o nome? — Ótimo. Sem muita informação.
— Olívia Castanheira. Ela era do setor financeiro, secretária do meu
irmão. — Se ele sabe quem sou, sabe também quem Nikolai é.
— Só um instante.
Consigo ouvir os barulhos das teclas enquanto ele digita a
informação.
— O senhor pode anotar?
— Claro. — Pego uma caneta e papel. — Diga!
Jorge me informa não só o número dela, mas também, um que ela
deixou para emergência. Agradeço e termino a ligação.
Pego meu telefone e digito o número que me foi informado. Ele
chama, mas cai na caixa postal. Desligo e tento de novo. Novamente,
chama e cai na caixa postal.
Que inferno! Onde essa mulher está?
Tento mais uma vez e dessa vez, chama quatro vezes e alguém
atende, mas nada é dito.
— Alô! Olívia? — digo, apenas escutando chiados.
— Oi? — É ela, tenho certeza. Conheço a voz.
— Olívia, onde você está? — Sinto minha voz subir algumas notas.
— Desculpe, não estou te ouvindo. A ligação está falhando. —
Levanto-me da cadeira e começo a andar pela sala, procurando um lugar
que pegue melhor sinal, sem me dar conta de que estou no centro de uma
das maiores metrópoles do Brasil. Com certeza o problema deve ser o lugar
onde ela está.
— Vai para um lugar melhor! — grito.
— Não estou ouvindo! — Só pode ser sacanagem.
— Vai para um lugar que tenha área! — falo, cada vez mais puto.
Ela fica calada por um tempo e chego a pensar que desligou na
minha cara.
— Oi, oi! Quem fala? — agora consigo escutar perfeitamente.
— Como assim, quem fala? Sou eu!
— Senhor… Dimitri? — Ela parece não acreditar.
Na verdade, nem eu acredito que estou fazendo isso.
— Claro, quem mais poderia ser?
— O senhor deseja alguma coisa? Eu… — Não a deixo terminar.
— Onde você está? — pergunto sem muitos rodeios.
— Como… O que… Onde… desculpe, senhor, não estou entendendo
o que quer.
— Quero saber onde você está? É difícil entender isso? — Minha
paciência é pouca e ela está gastando mais do que deveria.
— Desculpe, mas o que interessa ao senhor isso? — Que mulher
insuportável. Começo a ponderar se vale a pena mesmo trazê-la de volta.
Seria uma dor de cabeça a menos para mim. Talvez, até mesmo, menos uma
tentação.
— Olhe, estou ligando para a senhorita, com toda a minha boa
vontade, para pedir que volte para a empresa…
— Mas eu estou na casa da minha mãe, não posso voltar… — ela
me interrompe e novamente, eu não a deixo terminar a frase porque, com
certeza, vai inventar desculpas.
— Onde é? Eu vou até aí buscá-la.
— Mas, senhor…
— Me diga logo. Onde fica?
Ela me informa o lugar muito a contragosto e eu desligo o telefone
sem, ao menos, me despedir. Depois a peço desculpas, agora não tenho
tempo para isso. Pego meu terno, minha pasta e deixo as coisas em cima da
mesa como estão. Saio da sala e informo à Felícia que sairei e não
retornarei mais hoje.
Chego no estacionamento, entrando no meu carro e coloco o
endereço que Olívia me passou no GPS.
O aparelho me mostra que o tempo de viagem será de mais ou
menos três horas e meio. Olho para o relógio do painel automático e vejo
que, se tiver sorte, consigo fazer em menos. Não quero perder tempo.
Quanto antes chegar, volto mais cedo para casa com menos um problema na
conta. E mais uma tentação para evitar.
B. A.: Dimitri Markova vai ficar em casa em pleno sábado? Deduzo que
essa visita seja uma mulher bem gostosa que deve estar no banheiro agora,
já que está respondendo uma mensagem que mandei ainda no início da
tarde.
Eu: Acertou! É uma mulher e ela está no banheiro. Vai ficar aqui até
amanhã.
Aí, cacete!
Pego o aparelho e disco o número da minha irmã.
O que foi agora?
Ela atende depois do terceiro toque.
— Oi!
— Olie, aconteceu uma coisa!
— O quê? Você está bem? — pergunto, já aflita.
— Não foi nada comigo. — Sinto sua voz trêmula, parecendo que
quer chorar. — Mamãe me ligou...
Fecho os olhos, sabendo que não vem coisa boa.
— Ela entrou em um ônibus faz alguns minutos e está vindo para
cá! O Ivan... — Ela não consegue terminar a frase.
— O que tem o Ivan, Lavínia?
Escuto um soluço bem baixo, mas sei que tem um choro vindo por
aí.
— Ele... — O barulho se torna mais alto, fazendo a voz ficar ainda
mais trêmula.
— Onde você está?
— Estou no banheiro do trabalho — tenta falar calmamente. —
Olie, ela pediu para que a gente a buscasse na rodoviária.
— Tudo bem, ela deve demorar para chegar. Vou para casa quando
sair daqui e a gente se encontra e vai junto, pode ser?
— Pode!
— Ok.
— Olie!
— Oi! — Ela soluça mais uma vez.
— Ela não parece bem... Acho que ele...
— Tudo bem, Lalá, tudo bem... Quando ela chegar, a gente
conversa.
Desligo a ligação e rezo, pedindo para que ele não a tenha
machucado muito.
Ter dito para Olívia que gosto dela, depois de transarmos dentro do
chuveiro, não estava em meus planos. Mas para ser sincero, tudo o que
aconteceu hoje, também não estava, então, que se foda.
Descobri muitas coisas que nunca, nem em um milhão de anos,
pensaria em descobrir. Muitas informações ao mesmo tempo e mesmo
recebendo a enxurrada que recebi, a única coisa em que pensava, era em
como eu quero me manter perto da mulher que agora dorme em cima do
meu peito.
Faço um carinho em seu cabelo e me mantenho olhando para o teto,
pensando em como a vida é uma coisinha inexplicável.
Olívia e eu, de um modo péssimo, sempre tivemos uma ligação. E
acho que, de uma forma ou de outra, no final de tudo, acabaríamos nos
encontrando. Porque, o fato de Lavínia ser irmã dos meus irmãos não
passaria em branco e se Niko soubesse disso antes ou mais para frente, ele
iria atrás dela de qualquer maneira. Pelo menos, acho que as circunstâncias
ajudaram um pouco.
Já faz três anos que Olívia trabalha com ele e é como se a vida
estivesse preparando a todos para essa grande revelação.
Bem, Olívia e Lavínia ainda não sabem de nada e, com certeza, será
meio complicado explicar tudo. Mas elas têm o direito de saber de todos os
por menores dessa ligação louca.
Niko, com certeza, está tentando arrumar um jeito de tirar Vlad de
cena logo. Pelo pouco que conseguimos conversar, precisamos de mais
provas para levar tudo às autoridades e, finalmente, tirar esse homem de
nossas vidas. É complicado demais pensar em tudo o que já aconteceu.
Além de complicado, é doloroso. Para ambas as partes.
Olho novamente para Olívia e porra, como é linda. Penso em como
ela vai sofrer quando souber a verdade sobre a morte do seu pai.
Ai, meu Deus, outra coisa que teremos que provar. E isso já faz o
quê? Quinze anos... Puta merda. Revirar esse baú vai ser difícil demais para
ela. Meu único desejo é que ela não sofra tanto. Quero estar ao seu lado.
Quer dizer, espero que ela me queira ao seu lado.
Acho que sou capaz de qualquer coisa por ela.
Tenho a sensação de estar esquecendo de alguma coisa. Não sei o
que, mas desde de manhã, eu sinto isso. Algo me passou despercebido.
Fecho os olhos e tento pensar em tudo o que aconteceu no dia de
hoje. Acordamos, tomamos café, pedi para Olívia confirmar com a sua mãe
e irmã se viriam, recebi mensagem de Niko dizendo que isso era loucura.
Minha mãe me ligou e eu ignorei a ligação, tomamos banho e nos
arrumamos. Chegamos na casa de dedushka e tudo aconteceu.
Não, não tem nada! Será que não foi hoje?
Sábado...
Não dormi, fui até à casa de Niko, conversei com ele sobre tudo o
que sabia enquanto Anya estava aqui com Olívia. Voltei quase a noite e
Anya foi embora em seguida. Olívia e eu transamos no...
Puta que pariu!
Transamos no sofá, mas não usamos camisinha, eu gozei dentro dela
e quando ela foi ligar para a farmácia, eu a impedi, pedindo que entrasse em
contato com a sua família para vir almoçar conosco.
Foi isso!
O remédio!
Tento com todo o cuidado, tirar a cabeça de Olívia de cima do meu
peito e pego meu telefone que está em uma das prateleiras da estante. Abro
o google e pesquiso sobre a pílula do dia seguinte.
Como funciona:
As pílulas do dia seguinte usam a progestina para impedir que os ovários liberem um óvulo. A
eficácia delas é maior quando ingeridas dentro de 72 horas (três dias) após o ato sexual sem proteção,
mas continua por até cinco dias para ajudar a evitar a gravidez. A eficácia diminui com o tempo, por
isso, é melhor tomá-la o mais cedo possível.
· Eficácia: 85 a 90% dentro de 72 horas.
· Disponibilidade: Em farmácias e lojas de conveniência.
· Esforço: Tomar uma pílula de dose única.
· Infecções sexualmente transmissíveis: Não oferece proteção.
· Hormônios: Contém progestina.
Ok.
Transamos no sábado, então só completa três dias amanhã. Ou a
gente não conta com sábado e o terceiro dia é terça?
Cacete, como essas coisas são difíceis. Mas aqui diz que ainda faz
efeito por cinco dias.
Viro-me para a cama e já estou prestes a procurar o número da
farmácia, quando olho para Olívia, ela dorme tão serena, tão calma. É como
se nada pudesse abalar esse momento.
Olho seu rosto e, imediatamente, vem em minha mente a imagem de
criancinhas correndo por essa casa. Uma menina igual à Olívia e um
menino parecido comigo. Pisco, tentando espantar a imagem que se formou
em minha mente e volto a olhar para o aparelho em minha mão.
A tela está acesa, com o número de diversas farmácias nela.
Olho para o telefone e depois para Olívia. E de novo, de Olívia para
o telefone.
Mas que merda! Que porra você quer fazer, Dimitri? Isso é dar
sorte ao azar, cara.
Azar?
Azar seria não ter Olívia.
Desligo o telefone e o coloco de volta no lugar onde estava.
Deito-me novamente na cama e me aconchego a ela. Fecho os olhos
e sonho com o que imaginei.
Vou deixar a vida me surpreender.
Já faz duas semanas que Dimitri e eu estamos juntos. Bem, acho que
o termo juntos, não é o ideal. Estamos nos relacionando. Acredito que, no
caso, só entre a gente mesmo. Bem, eu posso dizer, por mim, que não estou
saindo com mais ninguém e nesses últimos dias, Dimitri tem praticamente,
chegado e saído junto comigo.
Nikolai, por outro lado, anda estranho. Sempre perguntando sobre
minha mãe e, o que mais me deixa curiosa, perguntando por minha irmã.
Sempre pergunta sobre como ela vai na faculdade ou como estão as coisas
no estágio. Ontem perguntou se precisávamos de alguma coisa e chegou até
a oferecer um aumento de salário, que me fez abrir a boca em choque. Eu
disse que não precisava e que tudo estava sob controle.
Expliquei que ela tem uma bolsa integral no curso e que o estágio
iria efetivá-la futuramente. Meu chefe chegou a perguntar sobre os
namorados dela, mas preferi não entrar nesse assunto com ele. Quando
contei para Dimitri, ele pareceu tão interessado quanto o irmão.
— Oras, acho que você tem que se preocupar sim. Ela é jovem e
uma moça muito bonita, assim como você. — Me deu um beijo na
bochecha e sorriu torto, aquele sorriso que faz minhas pernas tremerem. —
Todo cuidado é pouco, Olívia.
O olhei incrédula, sem acreditar no que estava ouvindo.
Tenho ido todos os finais de semana para sua casa.
Na quarta-feira passada, ele cismou de me levar em casa e dormiu lá
comigo. O que me espantou, não foi ele ter dormido comigo, o que me
espantou, foi a intimidade que ele teve com a minha mãe. Conversaram
sobre tudo que possa existir. Minha mãe perguntou como a mãe dele estava
e se ele estava bem com a notícia de seus pais estarem se preparando para
casar.
Perguntou se ele já tinha ido encontrar com eles e Dimitri disse que
na segunda, todos almoçaram juntos. Seus pais estão no apartamento que
sua mãe tem, próximo ao condomínio onde ele, os irmãos e o avô moram.
Minha mãe disse que até ligaria para Yvannia para elas conversarem.
Conversarem.
Elas se viram uma única vez e já são melhores amigas? Onde isso,
gente, em que mundo?
Quando fomos para o quarto, questionei Dimitri sobre essa
intimidade e ele, todo sonso, apenas me respondeu que nossas mães têm
algumas coisas em comum. Novamente, preferi deixar para lá todas essas
informações. Tivemos mais uma noite de muito sexo e em uma das vezes,
não usamos camisinha – de novo. Comentei novamente com ele que
precisaríamos ter cuidado com isso e ele concordou, mas antes de esquecer
sobre o assunto, perguntou:
— E se acontecer de você engravidar? — O olhei com os olhos
arregalados. — Quero dizer, você quer ter filhos?
— Isso é sério? A gente tá falando sobre filhos mesmo?
— Qual o problema? — seu tom de voz é tão relaxado que chega a
me preocupar.
— Nenhum, mas… — penso bem em minhas palavras. — Você quer
filhos?
— Claro. Por que não? Imagina, vários outros Dimitris no mundo.
— E se você tiver uma filha? — pergunto, rindo do que ele disse.
— É, aí talvez possa ser uma coisa complicada para mim. — Ele
deu de ombros e trocou de assunto tão rápido que, em segundos, o assunto
filhos, já tinha saído de pauta.
Hoje é mais uma sexta-feira, e estou me preparando para ficar até
mais tarde, já que Dimitri e Nikolai tem uma reunião com alguns acionistas.
Toda aquela história de votação e de uma possível troca da presidência, tem
tirado o sono dos dois.
Dimitri, sem paciência, resolveu, de uma hora para outra, reunir
todos, sim, eu disse todos os acionistas de uma vez só e segundo ele,
mandar quem quer que seja para o inferno e se não gostarem mais dele, que
saiam. Chegou até a dizer que existem muitas pessoas qualificadas apenas
esperando por uma oportunidade. Errado, ele não está.
Estou terminando de arrumar os relatórios dos últimos meses para
entregar a Nikolai – que exigiu que eu o chamasse apenas de Nikolai, sem o
senhor na frente – para ele revisar e mostrar na reunião que, dessa vez, será
nesse andar e não no Monte Olimpo.
— Olívia, separou os relatórios de compra e venda para mim? —
Nikolai abre a porta e me pergunta.
— Sim, senhor. Daqui a pouco levo tudo para você.
— Ok, obrigado! — Fecha novamente a porta.
Consigo sentir a tensão daqui.
Termino tudo, bato em sua porta e a abro lentamente, colocando
minha cabeça para dentro primeiro.
— Está tudo aqui. Os relatórios de compra e venda, de instalações,
alguns contratos, todas as informações que o jurídico forneceu e o resto que
o senhor...
— Você...
— Como?
— Você, Olívia. Lembra? Nada mais de ‘o senhor’, somos família.
Franzo o cenho e ele percebe o que acabou de falar.
— Quer dizer, você e o Dimitri estão… Você sabe. Enfim, não
precisa de formalidades.
Deixo os papéis em cima da sua mesa e saio, fechando a porta.
Nesse momento, as portas do elevador se abrem e a última pessoa que eu
gostaria de ver hoje, sai de dentro dele.
Otávio Ribeiro. Para mim, Sr. Ribeiro.
Ele anda escoltado por dois homens que mais parecem dois
armários, todos imponentes, achando que mandam no lugar inteiro. Nunca
gostei de Otávio Ribeiro. Ele me causa calafrios. Conheço um homem ruim
quando o vejo.
Ele vem em minha direção, fazendo sinal para que os seguranças
atrás dele, parem a uma distância considerável. Tento voltar rápido para a
minha mesa, mas sinto sua mão segurar meu braço, me impedindo de me
sentar. Ele me olha de cima a baixo e sorri.
Nojento!
— Fico imaginando como deve ser poder olhar para a senhorita
todos os dias. Abrir a porta e dar de cara com uma coisinha assim, como
você, deve ser muito agradável. — Ele solta uma risada rouca, do tipo que
fumantes tem. Aliás, tenho quase certeza que começo a sentir um cheiro de
cigarro vindo dele.
Me causa náuseas.
Ele leva um dos seus dedos até meu rosto, passando em minha
bochecha e, bruscamente, vira meu rosto para olhá-lo.
— Poderia me fazer uma visita qualquer dia desses, mocinha. Meus
homens e eu adoraríamos ter sua presença no décimo andar.
Ele olha para os dois atrás dele e ri. Ambos o seguem na risada. Em
seguida, se volta para mim e diz:
— Posso te proporcionar coisas muito boas aqui dentro…
— Não acho que ela precise de você, Otávio. — Olho por cima do
ombro do homem e vejo Dimitri parado, olhando para a cena ridícula que
acontece.
Nikolai por sua vez, abre a porta da sua sala e dá de cara com a
mesma cena.
— O que pensa que está fazendo, Otávio? Tire as mãos dela. Você
está no meu andar, na minha empresa. Exijo respeito com a minha
funcionária.
O homem dá um passo para trás e ri, com deboche.
— Estou aqui por conta da reunião. Estou apenas passando o tempo
enquanto converso com a senhorita… — Nem o meu nome, ele sabe.
— Você não precisa saber o nome dela. — Sem nem perceber,
Dimitri já está do meu lado, segurando minha cintura. — Não terá contato
nenhum com ela para isso. — Ele me olha e sorri com o canto da boca.
— Ora, vejam só… Então é verdade o que dizem pelos corredores, o
grande Dimitri Markova finalmente foi enlaçado e por uma secretariazinha.
— Dá uma gargalhada sombria. — Algumas mulheres são mesmo muito
ambiciosas.
— Como disse? — Seguro Dimitri pelo braço, o que não é fácil, já
que ele tem praticamente o dobro do meu tamanho.
Otávio o encara e parece não ter preocupação alguma com a atitude
de Dimitri, na verdade, acho até que é o que ele quer. Que ele se
descontrole e avance para cima dele. Nikolai segura o irmão e o puxa para
dentro de sua sala. Meu chefe volta rápido e manda Otávio e seus homens o
esperar na sala de reunião que já está preparada. Nikolai indica o caminho
para os homens e eles o seguem.
Sinto meu estômago se revirar só de pensar nesse homem me
tocando de novo. Ele me lembra Ivan, ambos têm a mesma aura ruim. São
sombrios.
Sento-me em minha cadeira e logo Dimitri sai da sala.
— Você está bem, kroshka? — O olho e de repente, e é como se eu
tivesse sido atropelada por um trem da felicidade. Ele passa a mão em meu
rosto e eu pressiono meu rosto nela.
— Sim, está tudo bem... Sei bem lidar com homens do tipo dele.
Ele sorri e se abaixa para me beijar de novo e então diz:
— Estou contando as horas para essa reunião terminar e poder te
levar para casa, te jogar na cama e fazer aquele sexo gostoso que só a gente
faz. — Solto uma risada do seu comentário.
— Só se controla lá dentro. Acho que ele tem te provocado de
propósito.
— Eu sei, o pior é que eu sei.
Nikolai passa pelo irmão e o puxa pelo terno sem dizer muita coisa.
— Quando os outros forem chegando, por favor, indique a sala a
eles, Olívia — Nikolai pede.
— Tudo bem.
Depois de alguns minutos, mais cinco acionistas chegam e eu
informo o local e eles se encaminham até a sala. Logo depois, mais dois e
então a reunião se torna completa. Entro apenas uma vez para levar uma
jarra de água e copos para que se sirvam.
Volto para o meu lugar e tudo o que me resta, é aguardar pelo fim da
reunião.
Já faz mais de duas horas que eles estão dentro daquela sala. E nesse
tempo, já ouvi Dimitri xingar umas cinco vezes e imagino que esteja
brigando com Otávio, que deve rir do seu jeito explosivo. O que só o faz
ficar ainda mais puto.
Tento me distrair olhando as redes sociais. Depois, passo para
alguma plataforma de streaming e resolvo atualizar minha série, assisto dois
capítulos e nada. Olho para o relógio e me dou conta de que já são quase
dez da noite e os homens continuam em uma discussão acalorada dentro
daquela sala.
Abaixo meu rosto, deitando-o em cima dos braços e fecho os olhos
por alguns segundos. De repente, escuto a porta abrir e bater com muita
força. Levo um susto que chego a pular da cadeira.
Dimitri passa direto para a sala do irmão, que o segue. Os outros
acionistas saem, comentando sobre algo. Escuto alguns recriminarem a
atitude de Dimitri, mas, ao mesmo tempo, outros apoiam suas ideias. E
graças a Deus, esses são a maioria. Desejo boa noite a todos e os vejo, um a
um, entrar no elevador e sumir.
O único que não vi foi Otávio, o que me faz pensar que ele continua
dentro da sala. Respiro fundo e me sento novamente. Vou esperar que o
homem passe por mim e torço para que ele não venha com gracinhas.
Espero por dez minutos e nada. Começo a pensar se, de repente, ele
possa ter passado e eu não o ter visto.
Não. Eu teria visto, pelo menos, seus seguranças.
Olho para o corredor e a porta da sala continua aberta.
A porta de Nikolai se abre e vejo Dimitri, agora mais calmo, mas
ainda assim, com uma feição de poucos amigos. Nikolai o segue.
— Vou lá em cima pegar as minhas coisas. Arrume tudo por aqui
que eu já volto. — Assinto.
— Eu já vou, Olívia. Nós vemos no domingo? — Nikolai pergunta e
eu assinto novamente.
É, acho que não vi mesmo os homens saindo.
Será que nos poucos segundos que fechei os olhos, eu dormi e não
senti?
Levanto-me, vou até a sala de Nikolai para ver se está tudo em
ordem.
Pego o copo que ele sempre deixa em cima da mesa e ajeito a
cadeira. Saio e fecho a porta. Minha mesa já está toda arrumada, até meu
notebook já está desligado.
Levo o copo até à pequena pia e o deixo lá. Desligo a cafeteira – que
Dimitri pediu para colocar aqui – e confiro se nenhuma cápsula ficou ali
dentro. Me viro para entrar na sala e quando dou o primeiro passo para
dentro do ambiente, uma mão enorme me puxa e me joga contra a parede
com força.
— Então quer dizer que a secretariazinha não quer me fazer uma
visita porque está trepando com o chefão, não é? — Ele não saiu. Ficou
aqui esse tempo todo.
Otávio segura em meu pescoço com uma das mãos e com a outra,
segura a barra do meu vestido.
— Quero saber de você, Olívia — pronuncia meu nome de uma
forma que me faz ter desejo de trocá-lo —, se quando eu for o chefão, você
vai dar para mim também, já que gosta de um todo poderoso, não é?
Ele chega mais perto do meu rosto e lambe minha bochecha.
— Me solta ou vou gritar — digo com dificuldade, já que ele tem
meu pescoço em sua mão.
— Vai, é?! — Aperta mais um pouco e eu, no desespero, levo
minhas mãos, que seguravam a barra do vestido para não ser levantado, até
a mão do homem que aperta meu pescoço.
Começo a sentir o choro vindo e lembro da noite que me
traumatizou.
As lágrimas escorrem por minha bochecha e o homem ri do meu
desespero. Ele cola seu corpo ao meu e me imprensa mais contra a parede.
Tento virar meu rosto para os lados, porque sei que ele está tentando me
beijar. Começo a bater em seu peito, mas me sinto fraca e com falta de ar,
porque o aperto fica cada vez mais forte.
Meu Deus, vai acontecer comigo. Vai acontecer comigo a mesma
coisa que aconteceu com aquela menina.
Fecho os olhos e espero pelo pior. Não tenho forças contra esse
homem. Que ele não me mate, por favor. Que ele não me mate!
Sinto o último fiapo de ar ir embora quando, de repente, uma força
ainda maior o puxa, fazendo com que ele solte meu pescoço bruscamente.
Caio no chão, mas me mantenho encostada na parede.
— FICA. LONGE. DELA. SEU. FILHO. DE. UMA. PUTA. —
Cada palavra é um soco que Dimitri dá em Otávio. — ELA É MINHA! EU
VOU ACABAR COM VOCÊ, SEU MERDA! — Mais socos são
desferidos no rosto do homem.
Dois homens passam pela porta, vindos não sei de onde e afastam
Dimitri de cima do Otávio. O homem, que está com a cara ensanguentada,
apenas ri e cospe no chão.
— É maravilhoso ver esse Dimitri. Se eu soubesse que você ficaria
assim, teria dado em cima dela antes.
Dimitri solta fogo pelas ventas e tenta a todo custo se soltar dos
homens que o seguram. Com um único sinal, os homens soltam Dimitri
com tanta força, que ele quase cai. Otávio me olha de cima e ri, saindo da
sala, seguido dos outros homens.
Eu me encolho onde estou e sinto os braços de Dimitri me
envolverem com cuidado, me erguendo do chão.
— Moya lyubov’[29], você está bem? Olívia, você está bem? Fala
comigo.
Não consigo falar nada, apenas agarro em sua cintura e o abraço
forte. E ele retribui, me agarrando a si com ainda mais força.
Choro copiosamente em seu peito, sentindo duas dores, a física, que
está em meu pescoço e a sentimental, que está em minha cabeça, que
lembrou de tudo o que eu mais quero esquecer.
— Me desculpe, eu achei que ele tinha ido embora com os outros.
Esse filho da puta de merda! Me desculpe, kroshka. — Sinto uma grande
lamentação em sua voz. — Eu vou acabar com ele. YA ub’yu etogo
ublyudka![30]
Me abraça mais forte.
— Eu... — falo com certa dificuldade. — Eu… achei… que ele
fosse... — Mais choro. — Achei que ia acontecer comigo o que aconteceu
com ela.
— Não! Não! Shh... — Dimitri passa as mãos em minhas costas,
fazendo um carinho delicado. — Vamos, vamos embora.
Saímos da sala e ele bate à porta com muita força, ainda puto pelo
que aconteceu. Desliga as luzes e seguimos em direção à garagem.
Choro mais um pouco dentro do elevador e ele se mantém abraçado
a mim. Saímos da garagem e ele me coloca dentro do carro. No caminho, o
escuto conversar com Nikolai, porém eles conversam em russo, o que por si
só, já aparenta que estão muito nervosos e irritados.
Chegamos à casa de Dimitri e Nikolai nos espera em sua sala.
Ele me olha e vem até mim.
Pela primeira vez em três anos, Nikolai me dá um abraço apertado.
Choro de novo e ele faz um carinho parecido com o que o irmão fez antes,
mas faz em meu cabelo.
— Eu sinto muito, Olívia. Vou acionar imediatamente o conselho e
exigir que expulsem Otávio. Nem que eu tenha que comprar as ações dele,
ele não vai mais pisar na empresa. Confia em mim.
Sei que está falando sério. Tanto Nikolai quanto Dimitri sempre
prezaram pelo bem-estar dos funcionários e assédio, ainda mais vindo de
um dos acionistas, não é bem-vindo.
Nikolai se afasta, voltando para o sofá e Dimitri beija minha cabeça.
— Consegue ir sozinha lá para cima? Eu preciso estar presente para
denunciá-lo e ainda vão me questionar por que bati nele. — Entendo a parte
dele.
Confirmo com a cabeça e Dimitri beija os meus lábios.
— Eu não vou demorar. Prometo, moya lyubov’.
Não entendo o que ele fala e no momento, não tenho tempo para
perguntar. Aceno para Nikolai que está sentado, com os cotovelos apoiados
nos joelhos, olhando a cena.
Sigo em direção às escadas e subo, ainda sentindo o torpor em meu
corpo. Chego no quarto e tiro minha roupa, sem nem ao menos perceber
que estou tirando. Entro no banheiro e ligo a ducha no máximo. Me sento
no chão, abraçando as pernas e começo a chorar novamente, fazendo com
que as minhas lágrimas se misturem com a água quente que corre pelo meu
rosto.
— Caralho, Nikolai! Eu quero matar esse homem! — Estou
transtornado. Meu sangue ainda ferve só de pensar no que acabou de
acontecer com Olívia. — Eu quero ele fora, FORA da empresa. Se tiver que
comprar as ações, a gente compra. A gente tem dinheiro para isso.
— Não funciona assim, Dimitri.
— E como vai ser? Ele vai ficar perambulando por aí? Rindo da
nossa cara? Assediando mais quantas mulheres? — Se ele fez com Olívia,
deve ter feito com outras. Que grandíssimo filho de uma puta, esse homem
é.
— A gente precisa de uma certa quantidade de pessoas contra ele
também...
— CARALHO! MAS QUE PORRA! A EMPRESA É NOSSA E A
GENTE NEM NISSO PODE MANDAR? ELE ESTAVA ASSEDIANDO A
OLÍVIA... — grito, completamente sem controle.
— Eu sei! Mas os outros vão ficar do nosso lado. Não vai ser difícil.
Ele não vai ter saída, vai ter que sair!
Sento-me na poltrona, passando as mãos na cabeça, pensando em
tudo o que posso fazer para destruir a vida desse homem. Não gosto de ser
do tipo vingativo, mas porra... O que ele estava fazendo com Olívia, eu não
vou admitir. Quem ele pensa que é para fazer isso com ela? Com a minha
Olívia ou com qualquer outra mulher.
Já é a segunda vez que me refiro a ela como minha e sinto um pouco
de possessividade nessa palavra, mas é assim que me sinto. Ela é minha. Eu
vou protegê-la, nem que seja a última coisa que eu faça na porra da minha
vida.
— Você a chamou de meu amor... — Saio dos meus pensamentos
quando ouço Niko.
— Quê?
— Você a chamou de ‘meu amor’.
Ele está sério, olhando para mim.
— É, a chamei sim.
— Então é sério mesmo. Não é só mais uma maratona de sex...
— Nunca foi só sexo, Niko. Acho que desde a primeira vez. —
Começo a me dar conta de que eu apenas me enganei quando pensei que
sexo casual seria o que bastaria com Olívia. — Não sei em que momento
virou mais, mas sei que virou.
— Ela é uma boa moça. Sempre gostei muito dela. E talvez, agora
eu goste mais ainda, já que ela conseguiu colocar juízo nessa sua cabeça e
te tirou da vida de farra.
Rio do comentário do meu irmão e tenho vontade de perguntar
como estão as coisas em sua vida pessoal, se tem conversado com alguém
ou sei lá, quem sabe se interessado, mas sei que ele não responderá e fingirá
que nunca perguntei sobre o assunto. Acho que ele já se acostumou com sua
vida solitária. Afinal de contas, já faz cinco anos desde que Emília saiu de
sua vida, levando seu coração junto.
Niko acha que enganar a todos nós, mas ele muito se engana.
Sabemos bem o quanto ainda sofre com isso.
— Acho que a quero para sempre na minha vida.
— Você acha? — ironiza. — Você acabou de chamá-la de meu
amor, Dimitri. Quem foi a última pessoa que você chamou de meu amor?
— Anya? — Ele gargalha da minha resposta e se levanta do sofá.
— Eu vou embora e deixar os pombinhos a sós. — Passa pela minha
poltrona e bate em meus ombros. — A gente conversa com dedushka no
domingo. Ele vai saber o que fazer. Enquanto isso, cuida do tvoya
lyubov’[31]
Solto uma risada do seu comentário, mas é exatamente o que mais
quero.
Cuidar do meu amor.
Me despeço do meu irmão e vou em direção ao meu quarto, que é
onde Olívia já está durante um tempo.
Tudo está quieto e escuro aqui. Abro a porta do quarto com todo o
cuidado e vejo apenas a luz parca do abajur acesa, exatamente como a
deixei semanas atrás, depois de descobrir o que tinha acontecido com ela.
Olho rápido na direção da cama e vejo o edredom desarrumado, com uma
leve elevação. O ar do quarto está frio, imagino que Olívia esteja coberta
até a cabeça devido a temperatura do quarto.
Vou até o banheiro e o cheiro do shampoo que Olívia usou invade
minhas narinas. Tiro a roupa e tomo uma chuveirada rápida. Só penso em
me deitar junto à Olívia e sentir seu cheirinho gostoso.
Eu tô muito apaixonado por essa mulher, não consigo nem mais
negar. Acho que já está estampado na minha testa.
Me seco e visto uma calça de pijama qualquer. Vou até a cama e
puxo o edredom bem devagar e me deito. Movo a mão procurando por
Olívia e para o meu espanto, ela não está aqui. Pulo da cama, já acendendo
a luz do quarto e vejo a cama vazia.
Mas, o quê?
Entro de novo no banheiro, apenas para constatar que estou bem em
minhas faculdades mentais, já que acabei de sair do lugar e não tinha
ninguém ali. Saio do banheiro, entrando na porta ao lado, onde fica meu
closet e nada também.
Onde essa mulher se meteu?
Não está lá embaixo, disso tenho certeza.
No quarto de hóspedes, talvez?
Saio do meu quarto e vou em direção ao outro cômodo. Abro a porta
e dou de cara, mais uma vez, com o nada. Apenas outro quarto vazio. Passo
pelo banheiro social e, adivinha, nada, de novo.
Olívia tem essa mania de sumir dentro da casa dos outros, não é?
Semana passada, durante o almoço de domingo, ela fez a mesma
coisa e quando fui ver, ela estava no jardim, sentada no gramado, olhando
para os lírios de Vera.
Sei que não faz de propósito, mas é que tenho a sensação de que
estou em um filme de terror e que a qualquer momento, vou encontrar o
corpo dela em algum lugar, já em decomposição.
Filme!
A sala de cinema…
Corro em direção ao lugar e para o meu total alívio, escuto um som
saindo de lá. Abro a porta e ela está encolhida, olhando para a tela, toda
concentrada. Enrolada no edredom e abraçando um travesseiro.
— Ei! — digo, entrando na sala. — Te encontrei.
Olívia olha para mim e mesmo com a luz baixa, consigo ver a
vermelhidão em seu pescoço.
— Desculpe! Não consegui dormir.
Ando até ela e me sento ao seu lado. A abraço e olho para a tela.
Não sei que filme é esse.
— Está vendo o quê?
Ela dá de ombros.
— Não sei, só não queria ficar no silêncio.
— Demorei muito? Me desculpe! — Precisei fazer algumas ligações
e consequentemente, respondi e-mails de acionistas e mais outros querendo
entender direito o que houve de fato.
— Não… Eu que não queria ficar sozinha mesmo. Precisava de
alguma coisa para distrair minha cabeça.
— Eu exigi que ele saísse, Olívia. Não vou tolerar isso, nem com
você e nem com ninguém. — Seus olhos estão vermelhos e é nítido que ela
chorou muito mais do que quer transparecer.
Balança a cabeça em positivo e volta a olhar para a tela.
— Olívia… — Eu quero contar para ela sobre o nosso padrasto.
Quero que ela saiba que Niko e eu estamos tentando resolver tudo e sumir
com esse maldito de nossas vidas. Mas Niko pediu mais um tempo até
conseguir informações mais concretas sobre ele e suas possíveis outras
identidades.
Ela me olha e permanece séria, esperando que eu fale algo.
Estou prestes a assumir que estou apaixonado por ela e que quero
que ela se mantenha na minha vida. Será que ela sente o mesmo? Ou será
que ainda tem a mesma opinião sobre mim como a um tempo atrás?
Acho estranho sentir o que sinto por ela. Não imaginei que iríamos
chegar ao ponto que chegamos. Eu tinha o intuito de tornar isso apenas
casual, mas, como disse ao Niko, em algum momento, que não sei qual, a
chave virou e eu comecei a não me enxergar mais sem Olívia. Conto os dias
para chegar sexta para que ela venha comigo para casa. Semana passada, eu
senti tanto a falta dela, que arrumei uma desculpa, muito ruim, para levá-la
em casa e ficar por lá mesmo. Nem eu me reconheci nesse momento.
— Eu… — não consigo falar. Simplesmente não consigo. E é uma
coisa tão simples… — Está com fome? Nós chegamos e você não comeu
nada.
Ela nega com a cabeça e eu me sinto um idiota por não conseguir
dizer o que, de fato, quero.
Olívia volta sua atenção para tela e eu não consigo tirar os olhos
dela. Por mais que eu consiga ver a tristeza em seu rosto, ele ainda é a coisa
mais linda que meus olhos já viram. De repente, ela sorri por alguma coisa
que apareceu no filme que eu não estou prestando atenção. Olho para a tela
para tentar entender o que pode ser, mas acho que o timing não foi bom. Já
não vejo nada de mais.
— Eu acho que não te agradeci pelo que você fez. — Escuto sua
voz, mesmo que ainda baixa. — Muito obrigada! Não gosto de pensar no
que poderia ter acontecido se você não chegasse a tempo.
— Não quero que pense nisso, nunca mais, está me ouvindo? Nunca
mais pense nisso. Nada vai acontecer com você. Eu não vou deixar.
Me aproximo e beijo seus lábios quentes.
— Eu vou sempre te proteger, kroshka!
Seus olhos se enchem de lágrimas, mas em vez de tristeza, consigo
ver uma fagulha de felicidade. Algo que se acende dentro de Olívia.
— Eu amo você, Dimitri. — Arregalo os olhos. — Sei que pode não
sentir o mesmo e eu falar isso, não impõe que você também diga, mas eu
amo você. — Passa a mão em meu rosto e sorri em meio a algumas
lágrimas que escorrem por sua bochecha. — Não queria, mas amo. A gente
não controla isso, não é?
Me mantenho em silêncio enquanto olho para ela. Sem reação.
Não consegui dizer que estou apaixonado por ela e ela diz que me
ama.
Olívia se levanta, vai até a parede e acende a luz completamente.
— Acho melhor eu ir dormir. — Pega a maçaneta e abre a porta. —
Vou dormir no quarto de hóspedes. Talvez você precise de…
— Quê? Não! Claro que não. — Levanto-me, indo em sua direção.
— Você vai dormir comigo, como tem feito esses últimos dias. Não preciso
de nada, Olívia, só de você. Só preciso de você comigo. Eu não quero ficar
sem você. — Vamos, Dimitri, é agora ou nunca, não seja um bundão. — Eu
estou apaixonado por você, Olívia. Completamente apaixonado. Odeio
quando você não está por perto, seja aqui ou na empresa. Já briguei duas
vezes com Nikolai quando disse que queria você lá no 20º andar comigo.
Eu conto os dias até a sexta-feira, só para poder acordar no sábado e ver que
você está ao meu lado. Talvez, não seja apenas paixão. Talvez, eu também
te ame, mas isso é tudo muito novo para mim e eu gostaria muito que a
gente descobrisse isso, juntos, de preferência.
Olívia repete minha reação de antes, está com os olhos arregalados e
não emite som algum, acho que está tentando processar tudo o que eu disse.
Acho que nem eu consegui processar tudo ainda.
— Seria bom se você falasse alguma coisa, sabe… Só para eu saber
que não fiz papel de idiota, falando tudo isso.
Olívia ri e se joga no meu pescoço. Ela chora, mas, ao mesmo
tempo, ri. O que me deixa confuso. Está feliz ou está triste?
Ela se afasta um pouco e me beija, o que me tranquiliza. Se
estivesse triste, não faria isso, ou faria? Nossa, eu sofro de ansiedade, não é
possível.
— Achei lindo o que você falou. No fundo, eu esperava que você
retribuísse o sentimento, mas tentei ao máximo deixar meus pés no chão e
você me pegou de surpresa se abrindo desse jeito. — Me abraça pela
cintura e repousa a cabeça em meu peito, e eu acarinho sua cabeça. — Eu
adoraria descobrir isso, e tantas outras coisas junto a você, Dimitri.
Abro um sorriso enorme e sinto meu peito esquentar. Abraço Olivia
mais forte e beijo o topo de sua cabeça.
Desligo a tela e as luzes da sala e saio em direção ao meu quarto
com Olívia ainda abraçada a mim.
Não tenho vontade alguma de soltá-la. Chegamos no quarto e não
precisamos de muito. A deito na cama e só penso no quanto me sinto feliz
por tê-la aqui comigo e por ter sido sincero com ela – e comigo – sobre os
meus sentimentos.
Pela primeira vez, eu me sinto inteiro e pronto para estar com
alguém. E esse alguém, não podia ser outra pessoa, além de Olívia. Minha
Olívia.
Ouvir Dimitri admitir que também tem sentimentos por mim, foi a
coisa mais linda que já me aconteceu. Eu nem acreditei quando ele falou.
Achei que estivesse delirando e apenas ouvindo o que eu queria, mas depois
que me dei conta de que, realmente, ele sente o mesmo, me permiti flutuar.
Fomos para o quarto e fizemos amor. Amor.
Deus sabe o quanto eu não quis me ligar a ele, mas foi inevitável. O
que ele fez com Otávio, o modo como me protegeu, não só ele, mas
também Nikolai, me fez sentir especial e incluída em sua vida. Não consigo
imaginar o quanto pode ter sido difícil para ele se abrir. Dizer abertamente
que está apaixonado deve ter sido difícil. Senti que antes havia sido
reticente sobre algo e acabou dizendo outra coisa no lugar, que não tinha
nada a ver com nada. Mas diferente dele, eu já não conseguia mais segurar.
E sabia que corria o risco de ele fugir assim que ouvisse, mas, graças a
Deus, o pior não aconteceu.
No sábado, passamos o dia no quarto. Dimitri até sugeriu que
fôssemos assistir alguma coisa, mas eu só queria ficar na cama com ele.
Claro que ele não reclamou. Transamos o dia inteiro praticamente, o que me
deixou exausta, me fazendo dormir mais cedo do que o normal.
De madrugada, acordei sentindo um mal-estar estranho e fui até o
banheiro. Senti um enjoo incomum, mas como tinha passado por um
momento de trauma, acho que foi o jeito do meu corpo responder. Bebi uma
água e voltei para cama. Dormi até o dia clarear e se Dimitri deixasse, acho
que estaria lá até agora.
— Então, quer dizer que vocês já estão assumidos? — Escuto o Sr.
Bóris perguntar da ponta da mesa. — Ou ainda estão nesse lenga-lenga de
‘não somos namorados’? — O senhor revira os olhos e dá mais uma garfada
na sobremesa deliciosa que Vera preparou.
— Sr. Bóris, não ouvi nenhum pedido do seu neto. — Seguro o riso,
olhando para Dimitri que me encara com as sobrancelhas erguidas. —
Logo, não posso afirmar nada.
O senhor solta uma gargalhada alta e muito autêntica, apontando o
garfo para Dimitri e então diz:
— Gostei dela… gostei dela de verdade. Ela vai te dar trabalho,
vnuk.
Dimitri responde ao avô em sua língua natal e os três riem do
comentário. Fico perdida, querendo saber o que falou, mas ele não diz e eu
acabo deixando o assunto morrer.
Conversamos mais um pouco sobre coisas triviais e pergunto pela
Anya, pois ela não veio almoçar conosco. Senti sua falta. Ela se mostrou
uma pessoa maravilhosa e sempre está junto comigo, conversando
principalmente sobre decoração – já que elogiei muito a casa de Dimitri e a
casa de seu avô – e outras coisas mais. Nikolai me informou que ela
precisou viajar, porque foi convidada para um desfile e mesmo não fazendo
mais parte desse mundo fashion, ela ainda conhece muitas pessoas e sempre
é convidada para tais eventos. Depois, Dimitri me contou que a irmã até já
foi convidada para participar das criações de algumas peças, mas como ela
não conhecia nada sobre corte e costura, rejeitou.
— Anya é outra que precisa encontrar alguém… Ela já está na idade
de ter filhos. — Como?
Olho para o Sr. Bóris e franzo o cenho, não entendendo o seu
comentário.
Idade para ter filhos?
— Dedushka, as coisas não são assim hoje em dia — Dimitri não
demora a falar. — Ela está feliz com a vida que tem. E com certeza, se
Anya ouvir o senhor falar isso, vai levar um belo de um sermão.
— Ah, era só o que me faltava. Troquei as fraldas daquela menina.
Troquei as fraldas de todos vocês, aliás. — Se levanta da sua cadeira com o
auxílio da sua bengala e de Vera.
— Gostaria de trocar as fraldas dos nossos filhos também? —
Nikolai diz, rindo.
— Gostaria de conhecer pelo menos um, não é? Com a idade que
tenho, não se espantem quando chegarem aqui e me verem estatelado no
chão.
Os dois irmãos o olham e batem na madeira três vezes, como se
quisessem espantar o que o avô disse.
— Bóris, acho que você está exagerando. E não adianta apressar as
crianças, as coisas acontecem quando tem que acontecer.
— Crianças… São sim, criancinhas que já fazem outras
criancinhas… — Não consegui ver a feição que o senhor fez, mas já o
imagino revirando os olhos, apenas pelo tom sarcástico em sua voz.
Mas que droga de barulho chato é esse? Alguém pode, por favor,
desligá-lo?
Já escuto isso faz um tempo, mas não sei de onde vem e nem o que
é. Até em sonho, eu sou uma pessoa irritada. Que porra!
— ... quando doutor?
— A qualquer momento. Ele está com todos os sinais ótimos.
Quem é? Quem tá falando?
— Mas o tempo é dele. A cirurgia foi ótima e ele está fora de
perigo.
Cirurgia? O que aconteceu? Eu não estou apenas dormindo? A dor
voltou. Não é tão forte, mas está aqui, a sinto em meu corpo e me incomoda
novamente. Mas não consigo fazer nada quanto a isso e meus olhos
continuam sem me obedecer, o que só me deixa mais irritado.
— Ela está cada vez mais linda. Parece Olívia quando era bebê.
— Ela é a cara de Dimitri, Márcia. Tem o nariz dele, olha, Mikhail!
— Os avôs babões conversam animadamente.
Dimitri não saiu do nosso lado desde que viemos para casa.
Ele, muito exigente, reformou um dos quartos para Ana, mas fez
questão de comprar um berço móvel. Assim ele pode levá-la para todos os
cantos da casa.
Estamos na sala com todo mundo. A única que ainda não chegou, é
Anya, que estava presa no aeroporto, voltando de mais uma viagem.
— Ainda bem que ela não tem mais aquela carinha de joelho, não é?
— Lavínia! — minha mãe a repreende e eu rio. pois pensei a mesma
coisa nos primeiros dois dias.
— Até com a ‘cara de joelho’, ela é linda. Você está com inveja,
cunhadinha, não será mais o bebezinho da família.
Lavínia revira os olhos e todos riem.
André dá um abraço forte nela e Niko entorta o nariz vendo a cena.
Olho para a minha filha, que já tem dois meses de vida.
Agora, bem mais do que antes, consigo ver alguns traços de Dimitri
nela. A boca, os olhos verdes e o nariz, como mostrou Yvannia para
Mikhail.
Todo dia me encanto mais e mais por ela.
Algumas noites, ela não nos deixa dormir, mas na maioria, Ana
dorme feito pedra e só acorda bem cedinho para mamar.
Em algumas noites, Dimitri a leva para o nosso quarto no berço
móvel e a deixa do seu lado da cama, olhando para ela enquanto adormece.
E isso sempre derrete o meu coração. São os melhores momentos da minha
vida. Tento gravar todos em minha mente e todas as noites, antes de fechar
os olhos, agradeço por tudo. Pelas coisas boas e as ruins, que de uma forma
ou de outra, me trouxeram até aqui.
Me trouxeram até esse momento.
Anya passa pela porta e estanca no lugar quando vê Bernardo que,
de sua maneira, fica tenso quando a vê.
Já parei de tentar entender as pessoas dessa família.
Bóris toca em meu ombro e eu olho para trás, vendo-o rir para a
primeira bisneta.
Depois que Ana nasceu, ele começou a infernizar Nikolai e Anya
por querer mais bisnetos e, é claro que os dois fogem do avô como o diabo
foge da cruz.
— Obrigado! — Bóris sussurra em meu ouvido e eu sorrio para ele,
vendo-o se afastar de mim e se juntar a Vera, que conversa com Yvannia e
mamãe.
Olho mais uma vez ao redor e me pego sorrindo sozinha.
Lavínia está sentada no sofá junto a André, que faz um carinho em
suas costas. Niko está logo atrás, fingindo prestar atenção em uma conversa
com Bernardo, mas está bem atento a qualquer gesto mais ousado dele e
Bernardo, por sua vez, finge manter a conversa, mas olha atentamente para
Anya, que está abraçada a Mikhail, contando sobre a sua viagem.
Eventualmente, ela o chama de pai e eu acho muito bonita a relação
que os dois tem.
Em outro canto, minha mãe, Yvannia, Vera e Bóris bebem alguma
coisa e riem de algo que foi dito.
— O que foi? — Dimitri me tira dos meus pensamentos.
— Nada — digo a ele, sorrindo. Me sentindo feliz e completa.
Ele pega Ana no colo e começa embalá-la.
— Eu amo vocês.
— E nós amamos você, Sr. Dimitri.
Ele ri e me beija carinhosamente.
Eu não podia estar mais feliz por minha família, finalmente, estar
completa.
Nem consigo mensurar como me sinto agora.
Acho que posso considerar esse, o momento mais feliz da minha
vida – ou, quem sabe, o segundo – e acho que preciso de uma bebida. Forte,
de preferência.
Ajeito a minha gravata e me olho mais uma vez no espelho. Nem sei
o motivo disso tudo. Eu estou bem. Eu estou bem!
— Não, você não está bem... — Bernardo diz, sentado na poltrona
perto da porta. — Já é a terceira vez que você diz isso olhando para o
espelho.
— Porra, Bernardo. Eu vou me casar, caralho! É claro que estou
bem... — Ele gargalha e eu o olho com vontade de apertar seu pescoço.
Antes do nascimento de Ana – apelido carinhoso que eu dei a ela, já
que Olívia me obrigou a aceitar Anastasia –, eu já pensava em tornar Olívia,
definitivamente, uma Markova, mas houve alguns percalços e acabei
adiando o inevitável.
Nós já éramos casados de uma forma ou de outra. Olívia morava
comigo, dividíamos a cama, o quarto, a sala, a cozinha, o banheiro, até
mesmo as roupas, já que ela, durante a gravidez, criou a mania de usar as
minhas blusas com a desculpa de que suas roupas estavam pequenas –
também, a mulher ficou com um barrigão que me fez pensar, por diversas
vezes, que teríamos gêmeos.
Ela, por sua vez, não esboçava muita vontade no matrimônio. Uma
vez, perguntei se ela gostaria de se casar de verdade, trocar sobrenomes e
tudo mais. Ela deu de ombro e confesso que fiquei meio confuso. Por que
ela não podia dizer sim ou não? Mexer os ombros é muito vago para mim.
Depois que Ana nasceu, eu simplesmente não conseguia mais
ignorar o fato de que Olívia não era minha mulher no papel. Ela era minha
mulher na cama e na vida, mas mesmo assim, era estranho demais, por
exemplo, olhar para a sua mão direita e não encontrar nenhuma aliança ali.
Eu sei que parece a coisa mais ridícula do mundo – e deve ser –, mas eu
queria oficializar. Queria assinar o papel e colocar o meu nome nela.
Conversei com Niko e Bernardo e eles apoiaram a minha decisão. E
mesmo que não tivesse apoiado, eu faria de qualquer forma. É nítido que
Olívia é a mulher da minha vida. Isso é indiscutível.
Logo, tive a brilhante ideia de pedi-la em casamento na festa de um
ano da nossa filha. A festa foi intimista, só para os mais próximos e família.
Claro que Anya ficou chateada, ela queria um festão com decoração de
revista. Niko, como sempre, apoiou o que os pais queriam, sempre muito
categórico. Dedushka teve apenas um pedido, que a festa fosse em seu
jardim. Olívia e eu rimos, já que pediríamos exatamente isso a ele.
Em um dado momento da festa, deixei nossa filha aos cuidados dos
tios e puxei Olívia para dentro do escritório de dedushka – que, claro,
estava todo arrumadinho – e fiz o pedido de casamento. Ela demorou para
dizer sim e eu comecei a surtar, achando que ela não aceitaria, mas quando,
finalmente, disse sim, eu chorei.
Eu chorei e ela riu de mim. Riu, porque eu estava chorando – essa é
a minha mulher.
Antes de sairmos do escritório, quase – eu disse quase – transamos
por lá mesmo, mas achamos que não seria uma boa ideia, já que estávamos
na casa do meu avô e na festa de um ano da nossa filha.
Olívia disse que não queria festa, queria apenas ir até o cartório,
assinar os papéis e pronto, já estaria feliz. Eu, como o bom marido, acatei
sua vontade. Para ser sincero, também não tenho muita paciência para esse
tipo de evento.
Chamei Bernardo para ser a minha testemunha e Olívia chamou Liz,
sua amiga.
— Dimitri, a gente só vai no cartório. Você vai assinar o papel e
pronto. Felizes para sempre.
— Vai ser o papel para o resto da minha vida, Bernardo...
— Tá arrependido? — Se ele continuar me provocando, eu juro que
acabo com ele.
— É claro que não! Tá maluco? Eu amo aquela mulher. Quero
passar o resto da minha vida com ela — digo, ajeitando a gravata pela
milésima vez.
— Então, qual é a do nervosismo?
— E se ela não quiser mais casar comigo?
— Ah, Dimitri, pelo amor de Deus! — Ele se levanta e vem em
minha direção. — Vai ter uma crise nessa altura do campeonato? Faça-me o
favor, não? — Bernardo pega minha gravata e a ajusta. — E para de mexer
nessa merda, vai acabar se enforcando sozinho.
Respiro fundo e dou uma última olhada no espelho.
— Vambora, gostosão. Tu tá lindo! Se ela não quiser casar contigo,
eu me caso.
Ele me puxa enquanto eu rio do seu comentário.
— Teu pai te mata...
Por algum motivo desconhecido, Olívia não quis me encontrar antes
do casamento, disse que me encontraria no cartório, junto a Liz. Eu aceitei,
pois não tive muita escolha.
Bernardo dá partida no carro e saímos da minha garagem. Ele segue
calmo e eu, mais nervoso do que achei que ficaria. Sei o que estou fazendo,
é exatamente o que quero fazer. Jamais voltaria atrás da minha decisão. Me
casar seria o bônus da minha felicidade.
Chegamos no cartório e já de cara, avisto alguns casais esperando
sua vez. Como resolvemos casar e não apenas ter uma união estável,
precisamos marcar dia e horário.
Me sento em um dos bancos e apenas espero.
Casal por casal entra na sala, passam alguns minutos e logo saem.
Vejo isso acontecer umas cinco vezes.
Sempre olho em direção à porta quando ela se abre para ver se é
Olívia. Confesso que já estou ficando agoniado. Olho para o relógio e já
está quase na hora que marcamos.
Outro casal entra e eu torço para que demorem mais do que os
outros, só para dar tempo de Olívia chegar, mas graças a Deus, mal começo
a torcer e minha mulher passa pela porta. Linda, como sempre.
Ela está usando um vestido claro, cor de marfim, preso até a cintura
e solto na parte da saia, que vai um pouco acima dos joelhos e um sapato
fechado, com um salto baixo. Ela me olha e sorri. Seus cabelos estão soltos
e tem algumas ondas nas pontas e ela está com pouca maquiagem, mas está
estupenda.
Levanto-me e vou em sua direção, pegando em sua cintura e a puxo
para mim. Beijo seus lábios ternamente e roço meu nariz no dela. De
repente, escuto nossos nomes serem chamados e olho em direção à mulher
baixa que usa um conjunto de cor duvidosa. Ela nos chama e então, seguro
a mão de Olívia, puxando-a enquanto andamos. Bernardo e Liz nos seguem
e logo estamos de frente a um Juiz de Paz.
Seguro as duas mãos de Olívia e a todo momento, não desvio meus
olhos dos seus. Sinto uma felicidade transbordar de mim, nunca achei que
fosse amar tanto uma mulher, como amo Olívia. Ela me completa. Ela é
exatamente tudo o que eu preciso. Uma vida inteira ao seu lado é tudo o que
eu quero.
Instagram
Wattpad
Primeiramente a Deus!
Quero agradecer a você que chegou ao final do livro. Obrigada
mesmo por me prestigiar desse jeito. Espero ter levado uma ótima
experiência a você com essa leitura.
Quero agradecer a algumas pessoas, então vamos lá.
Mary Ancillotti: Por me fazer a voltar a ler compulsivamente, me
fazendo desejar cada vez mais ter minha própria experiência de autora. E
por ter me cedido um notebook, também. Muito obrigada amiga, por tudo.
Filipe Galvão: Por me emprestar seu notebook enquanto eu não
tinha o meu (hahaha), obrigada também por me dar dicas de vez enquanto,
mesmo você dizendo que não sabe muito bem sobre certos assuntos e muito
obrigada por corrigir meu português, mesmo dizendo que é semianalfabeto
(isso é só uma piada interna, ok). Quero que saiba que eu te considero uma
das pessoas mais inteligentes com quem já convivi. Te amo!
A TODAS as meninas do trabalho que, ou não me deixaram parar
ou sempre comentavam como eu escrevia rápido demais e depois tinha que
mudar tudo porque algumas coisas não faziam muito sentido, ou ficavam
rindo quando eu falava sozinha, me fazendo perguntas e me respondendo ao
mesmo tempo. Muito obrigada mesmo. Vocês foram primordiais para mim.
Devo minha evolução a vocês...
A minha família, que com certeza ficará espantada por eu ter
terminado este livro, já que muitas vezes, deixei de terminar várias outras
coisas por puro desanimo e, ou preguiça. Acho que finalmente encontrei
algo em que sou boa e que tenho total prazer.
Tan, Lilly e Isah, muito obrigada por participarem dessa experiência
comigo. Me sinto muito orgulhosa por ter mulheres como vocês, andando
de mãos dadas junto a mim e realizando o sonho de tantas outras mulheres
maravilhosas.
E por fim e nem menos importante, a mim, acho importante me dar
esse crédito, já que quando comecei, não sabia nem se conseguiria terminar.
Dormi noites e noites pensando em como fazer uma reviravolta e sempre
que conseguia uma, tinha que mudar alguma coisa que já estava escrita. No
final, deu tudo certo. Mesmo eu tendo que mudar alguns capítulos e alguns
nomes durante o caminho. O que importa mesmo, é que foi a melhor
experiência da minha vida escrever este livro – e tantos outros que já tenho
em mente.
Muito obrigada mesmo a todos(as)!
Espero continuar proporcionando ótimas experiências e entregando
ótimas leituras!
[1]
Avô/Vovô
[2]
Babaca.
[3]
Filho da puta.
[4]
Chief Financial Officer – Diretor Financeiro
[5]
Chief Executive Officer – Diretor Executivo
[6]
Carro mais conhecido por ser o veículo do Agente James Bond nas franquias 007
[7]
Menino/Garoto
[8]
Irmão.
[9]
Por favor.
[10]
Menina/Moça.
[11]
Neto.
[12]
Puta que pariu/Caralho/Inferno.
[13]
No literal, significa ‘Migalha de Pão’. É uma forma carinhosa de se referir a uma
mulher baixa.
[14]
Caralho.
[15]
Vamos logo!
[16]
Caralho, Dimitri, que merda!
[17]
Deus.
[18]
Princesa
[19]
Bar que aparece no livro No Lugar e Na Hora Certa, da autora Mary Ancillotti.
[20]
Puta que pariu!
[21]
Porra!
[22]
Eu vou cuidar de você, pequena.
[23]
Filho da puta/Desgraçado
[24]
Já que meus filhos não vão até mim, eu venho até meus filhos.
[25]
Mãe?
[26]
O que você está fazendo aqui?
[27]
Ptichye Moloko, que se traduz em “Leite de Pássaro”, é uma sobremesa russa da era soviética
com camadas de pão de ló, recheio de creme de leite tipo mousse (ou suflê) e ganache de chocolate.
[28]
Arruinar-se ou permanecer em situação de ruína, de decadência; desandar, decair
[29]
Meu amor
[30]
Eu vou matar esse filho da puta!
[31]
Seu amor.
[32]
o Livro de Registro de Transferência de Ações Nominativas tem como objetivo
registrar todas as transferências de ações realizadas, seja por compra e venda, por doação, ou outra
forma de cessão, de forma a mapear o histórico societário da companhia. Dessa forma, vale dizer,
que toda e qualquer transferência de titularidade de ações deve ser registrada neste livro e tal
transferência deverá sempre ser assinada pelo cedente e pelo cessionário da operação, ou seus
legítimos representantes.
[33]
Pirralho.
[34]
Filho
[35]
Graças a Deus
[36]
Princesa