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Fanfic de Harry Potter escrita por Adara Marques


Todos os personagens pertecem à JK Rowling
A obra pode ser encontrada no wattpad no perfil @msamoony.

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Capítulo 1: Vazio
Eu lembro que me sentia mal. Vazio. Minha cabeça dizia coisas que meus
ouvidos podiam ouvir claramente, mas meu coração gritava pedidos de
socorro que eu me negava a escutar.
Toda noite de "jantar especial" no Largo Grimmauld eu me sentia assim.
Eram só algumas famílias puro-sangue e ricas que se vestiam de preto o
tempo inteiro e pareciam estar de mal humor o tempo todo. Fora, é claro,
quando estavam falando sobre si mesmas. Quando eu era pequeno, mamãe
dizia que quando eu tivesse idade o suficiente eu poderia participar das
conversas porque éramos todos iguais buscando o mesmo propósito.
Caralho, não somos iguais. Eu tinha sete anos e não entendia sobre o que ela
falava. Agora eu tenho dezessete e queria ter continuado sem entender.

"Regulus." Minha mãe apareceu na porta do meu quarto, em um vestido


preto que cobria seus dois braços. "Lá em baixo. Já." E deu meia volta. E
saiu.
Merda, o que ela quer de mim? Eu me tornei um comensal da morte e ela
ainda me olha como se quisesse que eu fizesse mais. E eu já fiz tudo. Eu
imagino como Sirius se sentia, indo para a Grifinória, se relacionando com
traidores de sangue e nascidos trouxas, se negando ao legado da família
Black. Qual o sentido? Se você nasce para algo, você o faz, não é? Não vai
contra a sua natureza ou o que você acredita... Bom, o que a família acredita,
eu acho. Tanto faz.
Não que isso importe muito agora, porque Sirius não é mais o meu irmão.
Eu não posso acreditar que ele deixou tudo para trás por sangues-ruins, pelos
Potter...Por Remus...E James...

Ah, maldito James Potter! Tudo ia bem até ele e Sirius serem amigos. Tudo
ia bem até Sirius se apaixonar por aquele bastardo lobisomem! Agora eu
preciso ficar sozinho nesta maldita casa onde todos acham que eu nasci para
algo que eu claramente não quero fazer. Não era mais fácil ter obedecido
nossos pais, Sirius? Não era mais fácil não ter ido embora? Não era mais
fácil não ter me deixado sozinho?
Dane-se essa merda. Sirius não merece meu tempo, nem a minha mãe e nem
aqueles comensais com mal gosto para roupa lá em baixo.

No meio do caminho das escadas eu parei, respirei, e segui andando até em


baixo, sorrindo. É óbvio que eu tinha que sorrir. Mamãe me amaldiçoaria se
eu não sorrisse para os convidados, e não digo no sentido figurado.

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"Reg, meu querido, venha falar com o sua prima e o senhor Lestrange!"
Minha mãe me chamou, me puxando pelo braço até eles.
"Ah, sim, claro, mãe." Que porra é essa? Por que ela está sorrindo se a cinco
segundos atrás foi me chamar no meu quarto com um olhar terrível?
"Reggie! O que anda fazendo, huh?" Perguntou Bellatrix.
"Ah, você sabe, não tenho feito nada demais e..."

"Ele está bem ocupado! Cheio de compromissos com a família e com a causa.
Inclusive, Bella, o próprio Voldemort em pessoa disse que queria falar com
Regulus, não é, querido? Ele é tão dedicado!" Minha mãe mentia tão bem
quando estava disposta a isso.
"Isso é verdade, Regulus?" Bella me perguntou, me olhando nos olhos. Eu
conseguia sentir o olhar fulminante da minha mãe do meu lado, dizendo para
eu apenas confirmar o que ela dizia.
"Oh...sim, claro. Eu acho que Voldemort me considera um de seus comensais
mais fiéis. Mas claro, olhe pra mim, eu sou um Black. Acho que sou especial
para qualquer um." Dizer isso me embrulhou o estômago. Eu vi minha mãe
sorrir de satisfação por cima do meu ombro. Que droga é essa? Por que a
necessidade de passar essa imagem para as pessoas? Todo mundo sabe que
os Black's são todos comensais da morte, aliados de você-sabe-quem. Para
quem é esse showzinho todo? Francamente.
O salão principal estava lotado de bruxos das sagradas vinte oito. Depois que
peguei algo para beber, eu consegui identificar com mais facilidade cada um.
Eu vi Cissa e o Malfoy sentados no sofá conversando com Bella e o
Lestrange. Odeios esses caras. Do outro lado da sala, estavam os Nott,
conversando sobre alguma coisa com os Avery. E tinha os Parkinson, os
Abott, os Burkes...Era um circo de palhaços ostentando as próprias
conquistas com o Lorde das Trevas.
E é claro, havia a minha mãe e meu pai, conversando entre si. Franzi a testa
quando li nos lábios da minha mãe o meu nome. Regulus.

Percebi imediatamente que aquele showzinho para Bella mais cedo não era
encenação. Voldemort queria a mim. Qualquer outro pai ou mãe ficaria
preocupado, os meus não. Minha mãe cheirava a orgulho de longe e meu pai
não tirou o sorriso de satisfação do rosto o resto da festa.
Eu não tive muito tempo para ficar preocupado. Meus pais e meus tios,
Cygnus e Druella, vieram na minha direção e eu tive que fingir que não
estava pensando no que minha mãe disse mais cedo. O próprio Voldemort

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em pessoa disse que queria falar com ele. O que diabos está acontecendo? E
por que comigo?
"Regulus, como você está?" Eles nunca realmente queriam saber. "Sua mãe
disse que você está sendo muito fiel à nossa causa ultimamente. Isso é ótimo,
levando em conta o último desastre que vocês tiveram nesta casa, Walburga!
Francamente, aquele traidorzinho..."

"O nome dele é Sirius." Eu senti uma indignação absurda crescer na parte
esquerda do meu peito. Eu interrompi minha tia, sem pensar. Porra. Por que
eu fiz isso? Mamãe vai me matar. Sirius não merece, então o que eu estou
fazendo? Cale a boca, Regulus, seu bastardo.

"Como?" Meu tio perguntou, fitando os olhos em mim. Minha mãe e meu
pai me lançavam olhares tão cortantes que me fizeram arrepiar por dentro.
Eu não sabia o que dizer. Então fiquei parado lá olhando para os quatro.
"Ele está cansado, Druella...não é, querido?" Mamãe disse, sorrindo para
meus tios, mas me lançando olhares mortais. Eu sabia o que ia acontecer.

"É claro que, em perfeita consciência, Regulus nunca falaria o nome daquele
traidor de sangue dentro de nossa casa. Ele só precisa descansar, não é?"
Merda.

Minha mãe e meu pai me levaram até a biblioteca da mansão e trancaram as


portas com um feitiço. Droga, droga, droga...
Quando me virei, meu pai estava um pouco mais atrás da minha mãe. Os
dois estavam com as varinhas nas mãos e eu, involuntariamente, levei a
minha mão até o bolso do paletó para a minha.
"Nem pense nisso." Bradou meu pai mais severo que de costume.

"O que você estava pensando, huh? Defendendo aquele traidor para sua tia!
Desafiando seu próprio sangue! Você tem alguma ideia da impressão que
isso passa, garoto? Você é um Black! Aja como tal! Você segue o Lorde das
Trevas e assim será até o dia em que você morrer! Não ouse mencionar o
nome daquele verme que um dia você chamou de irmão! E muito menos
defendê-lo! Você não faz ideia do que eu sou capaz de fazer para punir
você..."

"Mãe, eu..." Agora você trate de falar, Regulus. "Eu não queria ter dito
aquilo. Eu...é claro que eu não estou do lado dele. É claro que eu não trairei
o Lorde e nem o meu sangue. Eu só acho que..."

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"Você não tem que achar nada!" Desta vez, era meu pai esbravejando em
cima de mim. "Chega de desculpas! Não pedimos para que você falasse nada,
você vai apenas aceitar o que dissermos."

Passei alguns segundos parado olhando para os dois. Quando eles estavam
prestes a sair da biblioteca, eu tomei minha dose de coragem e falei.
"O que Voldemort quer comigo?"

Eles me olharam curiosamente.

"Eu sei que ele quer falar comigo. Eu ouvi." Eu estava falando com minha
mãe agora. "Mãe, o que Voldemort quer de mim?"

"Você fará o que ele mandar, dirá o que ele lhe pedir e até matará quem ele
odiar! Se o Lorde da Trevas pede algo a você, você faz. Sem discussões."
Eles se viraram novamente em direção às portas da biblioteca. E, merda, eu
deveria saber que dar uma de corajoso com eles não era boa ideia. O corajoso
da casa era Sirius. E ele não está mais aqui. O quê, Regulus? Você se acha
corajoso? Francamente, não me faça rir.

Eles já estavam quase tirando o feitiço da porta quando eu falei de novo.


"E se eu não quiser?" Porra, Regulus, cala a boca.
"E se você...não quiser?" Meu pai repetiu me olhando com um sorriso
sarcástico e cortante. "Você vai querer."
"Mãe, por favor, eu...eu...eu estou com med-" O resto eu não consegui
terminar.

Eu me lembro de uma luz forte sair da varinha da minha mãe antes que eu
pudesse terminar a frase. E me lembro de cair no chão com tanta dor que eu
mal conseguia respirar. Tudo dentro de mim ardia e se partia ao meio, como
se eu estivesse sendo esmagado de dentro para fora. E eu pensei em Sirius.
E em todas as vezes que ele se pôs na minha frente quando éramos menores
e recebeu as punições por mim. E, de repente, nada doeu mais do que isso.
O meu corpo se partindo ao meio, minha cabeça explodindo em dor, meus
músculos querendo explodir de tanto se contorcer. Nada doeu mais que
pensar em Sirius. Nada.
Por que você tinha que me deixar, Sirius? Eu não fui o suficiente para você?
E se eu não fui, por que James Potter é? Droga, você é um idiota.
Quando eu recuperei a consciência, eu já estava sozinho na biblioteca. Meus
pais já tinham ido e não fizeram questão de me levar de volta para o salão.
Acho que eles não queriam me ver por lá e ter que resistir à vontade de me
torturar por ter insinuado ir contra eles.

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Eu levei um tempo para levantar do chão. Tentei me sentar na poltrona ao
lado da estante de livros, mas minhas pernas doíam tanto que eu mal
consegui me acomodar. Eu sentei e olhei para frente. Para o nada. Nada, nada
nada...Pensando em como o silêncio era bom, em como o "nada" era
confortável quando o seu "tudo" era viver no meio de pessoas que deveriam
te amar, mas que não querem o seu bem de verdade. Eu deveria só desistir
da próxima vez e deixar a dor me levar. Não lutar. É, talvez fosse uma boa
ideia. Eu não quero mais ter que tentar sobreviver. Eu fui destruído tantas
vezes. Eu deveria apenas desistir de toda essa merda.

Meu joelho estava doendo muito e quando eu levei a mão para ver se ele
tinha quebrado ou algo do tipo, eu acabei batendo em um livro na mesa ao
lado da poltrona. Quando eu juntei o livro do chão para colocar de volta na
mesa, um pedaço de pergaminho caiu. Era uma lista. Uma lista com todos os
comensais que estariam amanhã aqui em casa para a reunião com o Lorde
das Trevas. Haviam tantos nomes conhecidos. Ler meu nome me embrulhou
o estômago. Dei uma rápida olhada no meu braço. O braço com a marca. A
marca que morreria comigo. A marca pela qual se eu tivesse que morrer por
ela, eu deveria morrer. Mas acho que isso não faz muito sentido porque, na
verdade, Regulus Black morreu no momento em que foi marcado. Ele já está
morto a muito tempo e ninguém parece perceber. Sirius perceberia.

Quando desviei o olhar de volta para o pergaminho, meus olhos se


arregalaram. Mas que droga é essa? Não. Eu não posso estar lendo isso. Não,
é um engano. Não faz o menor sentido isso ser verdade. Por que ele está
aqui?
Peter Pettigrew - Sangue-puro
"Mas o que..." Tive que ler várias vezes até realmente entender. "QUE
GRANDE FILHO DA PUTA!" Gritei sozinho quando finalmente a ficha
caiu enquanto segurava ainda o pergaminho nas mãos.

Sirius, cuidado...

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Capítulo 2: Kreacher
Não preguei o olho a noite inteira.

Peter era amigo de Sirius, não? Ele era aquele garoto gordinho que vivia atrás
dele, e de Remus e James também. E eles todos são da tal Ordem, se não
estou enganado.

Não é como se eu lembrasse muito de todos os amigos de Sirius, eles são


todos uns idiotas. Mas, definitivamente, lembro daqueles três.

Pela janela do meu quarto, eu consegui ver o céu clareando. Tentei me


levantar da cama e senti uma pontada no meu joelho, estremeci quando
lembrei o motivo dele estar assim. Talvez Kreacher tivesse algo para ajudar
na dor. Ele é não é um ser humano, mas é o ser mais humano nesta casa.

Quando eu era criança, e minha mãe e Sirius passavam todos os jantares de


todas as noites aos berros, Kreacher se oferecia para levar tudo que eu
quisesse do jantar ao meu quarto se eu quisesse subir para não ouvir a gritaria
toda. E eu subia. E ninguém nunca percebia quando eu subia. Fora Sirius.
Sirius percebia sempre.

Ou quando eu tinha nove anos e Sirius onze, e estávamos brincando no


jardim algumas semanas antes dele ir para Hogwarts. Eu estava feliz por ele,
mas com medo dele fazer amigos demais e não querer mais voltar. E lembro
que disse isso à ele. E ele me disse que não faria.

Você me disse que não faria, Sirius. Você me prometeu.

De qualquer forma, naquele dia eu levei um tombo feio. Sirius sempre corria
mais rápido que eu e eu sempre tentava alcançá-lo para provar que podia ser
tão bom quanto ele. Não levou muito tempo para nós dois esbarrarmos um
no outro e cairmos no chão. Eu ralei quase toda a parte de trás do meu braço
e Sirius estava com a testa sangrando um pouco. Kreacher veio rapidamente,
com um olhar muito preocupado, pronto para cuidar de nós. E Sirius, é claro,
não permitiu. Sirius sempre foi presunçoso demais para deixar as pessoas o
ajudarem, principalmente nesta casa. Ele sempre foi corajoso. Bem mais que
eu. Então não deixou Kreacher encostar nele e disse que poderia resolver
isso sozinho porque não era mais uma criança e depois saiu de lá. Eu lembro
de seguir com o olhar meu irmão entrar em casa e desejar tanto, tanto, tanto
ser tão forte e corajoso quanto ele. Lembro de me perguntar se um dia não
precisaria de ninguém igual a ele. Se um dia não precisaria mais dele.

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Bom, Sirius, eu não preciso de você.

Naquele dia, Kreacher cuidou de todos os meus ferimentos. Eu me sentei no


sofá de casa e ele foi cicatrizando cada um com magia. Minha mãe estava
ocupada demais para perceber alguma coisa, então éramos apenas nós dois
no cômodo. Eu não tinha amigos na época, minha carta de Hogwarts não
havia chegado e eu perguntei à ele se ele queria ser meu amigo.

"Kreacher estará sempre aqui quando o senhor precisar dele." Ele me


respondeu e começou uma reverência. Eu o segurei e disse que ele não
precisava fazer reverência porque amigos não fazem essas coisas.

Talvez eu estivesse errado porque, apesar dos anos, Kreacher nunca parou
de fazer reverência quando fala comigo. Mas ainda assim, era meu amigo.

Já eram sete da manhã quando ele bateu à porta do meu quarto e entrou
devagar, se certificando que eu havia permitido.

"Senhor Regulus deseja que Kreacher faça algo para ele comer?"

"Não, Kreacher, não se preocupe...hm...na verdade, eu preciso da sua ajuda


em outra coisa..." Falei me sentando de novo na cama, com dificuldade para
dobrar o joelho. Ele logo percebeu que eu estava com dor e correu até a
minha cama para me ajudar.

"O que o senhor desejar, senhor Regulus."

"Eu irritei minha mãe ontem. Você sabe, o de sempre. De qualquer forma,
ela ficou muito brava e meu joelho pagou o preço dessa vez. Você poderia
fazer algo para...não sei, diminuir a dor, talvez?", falei enquanto ele me ouvia
atentamente, "Eu mesmo faria, mas mamãe me tirou a varinha ontem à
noite."

"Senhor Regulus está bem? Foi apenas o joelho? Kreacher pode ajudar em
outros ferimentos também." Ele respondeu já esticando minha perna na cama
e passando a mão sobre ela.

"Bom, já houve vezes piores, nada que já não tenha acontecido antes, não
é?" Falei com um sorriso irônico no rosto, mas Kreacher estava sério. "Você
sabe como ela é."

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"Se precisar de algo mais, Kreacher está disposto a ajudar. Kreacher
percebeu que senhor Regulus tem estado muito calado ultimamente. Os
senhores comentam entre eles quando vou servir o chá.", ele parou de falar
e me olhou como se pedisse permissão para continuar, eu assenti com a
cabeça e ele continuou, "Senhor Orion tem estado ansioso ultimamente, acho
que o Lorde das Trevas quer falar algo com o senhor. Mas ninguém sabe o
quê. Senhora Walburga está ficando paranóica com as possibilidades."

"Sinceramente, Kreacher, eu preferiria não saber. Aquele cara me dá medo.


Eu vou às reuniões porque quase sempre é aqui em casa. Mas honestamente,
eu tenho preferido ficar sozinho porque ninguém parece se importar muito
se estou presente ou não. A não ser que seja alguma festa, evento ou coisa
do tipo. Mas quando estamos sozinhos...bom, acontece isso." Falei
apontando para o meu joelho.

"Senhor Regulus se sente sozinho?" Kreacher parou com as mãos e me


perguntou seriamente. Eu o encarei por alguns segundos.

"Acho que sim."

"Senhor Regulus sente falta da escola?" Ele perguntou voltando as mãos ao


meu joelho.

"Às vezes, sim. Faz apenas três meses que acabou, então eu ainda sinto falta
de algumas coisas. Principalmente, de poder passar um tempo fora de casa."

"E o senhor...", Kreacher pareceu relutante ao perguntar, "sente falta de seu


irmão também?" Isso me pegou em cheio. Eu não gostava de falar sobre
Sirius para qualquer pessoa que não fosse comigo mesmo. Na verdade,
ultimamente não tenho falado com ninguém que não seja comigo mesmo. E
também, os retratos escutam para minha mãe. Ela saberia que o nome de
Sirius foi mencionado nesta casa e meu joelho já aguentou o bastante por
uma noite.

"Não." Respondi direto e secamente.

"Se o senhor Regulus não quiser falar sobre isso, tudo bem. Kreacher
entende. Mas Kreacher fica preocupado se o senhor não precisa falar com
alguém, acho que o senhor guarda a maioria dos pensamentos para si e isso
não faz bem. Quando o senhor Sirius morava nesta casa, senhor Regulus ao
menos tinha seu irmão para..."

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"Sirius nunca esteve comigo de verdade!" Esbravejei mais alto que do
percebi e Kreacher se encolheu. "Ele está bem sem mim e eu estou bem sem
ele. Eu nunca o tive. Como irmão e nem como amigo. Sirius não era
verdadeiro em nenhuma palavra."

Kreacher estava calado agora e eu comecei a me arrepender de ter levantado


a voz. Não era culpa dele. Eu só estava cansado de toda essa situação.

"Kreacher, não é culpa sua. Minha cabeça está cheia com esses comensais
vindo aqui hoje e não estou pensando direito. Me desculpe."

"Senhor Regulus não precisa se desculpar, Kreacher entende sempre." Ele


disse em um tom amigável.

***

Eu odiava essas roupas que me obrigavam a vestir. Eu gosto de preto, mas


isso já é demais. Paletó preto, blusa preta, sapato preto. Ao menos a blusa
tinha alguns detalhes brancos. Mamãe ficaria furiosa, mas que se dane. Era
assim que eu tinha me vestir em todas as reuniões em casa para passar a "boa
impressão". E ali estava eu, em pé em frente o espelho, com o cabelo
arrumado para trás e parecendo que havia acabado de enterrar alguém.

Eu não conseguia parar de pensar em Peter. Droga, Regulus, isso vai te


arranjar um problemão se você fizer o que está pensando em fazer. Não, eu
precisava observar antes. Eu precisava saber se ele estaria aqui como espião
de Dumbledore ou se ele estava lá como espião de Voldemort. Se bem que,
em qualquer uma das duas opções, eu quebraria a cara dele. A primeira por
ele ser burro e a segunda por ele ser covarde.

Veremos.

Mais ou menos uma hora depois, Kreacher veio me chamar.

"Senhora Walburga já está esperando pelo senhor para receber os seus


convidados."

"Já estou indo.", desviei o olhar do espelho e falei olhando para o elfo, "Você
vai estar lá?"

"Não, senhor, senhora Walburga disse para Kreacher aparatar para ir buscar
algo que ela me pediu."

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"Ela provavelmente não quer que você escute nada. Acredite, se eu pudesse
ir com você, eu iria.", falei voltando o olhar para o espelho, olhando bem
para mim naquela roupa, "Na verdade, há tantas coisas que se eu pudesse
fazer, eu faria, Kreacher..."

Desci as escadas com o pensamento em Peter todo o tempo. Como eu reagiria


se o visse? Se eu demonstrasse algo, meus pais poderiam perceber. Eu teria
que agir normalmente e sem olhar direto nos olhos de Peter porque eu só
saberia enxergar Sirius. Sirius sendo enganado.

Havia a possibilidade de Peter ser um espião de Dumbledore, mas não era


muito possível que Voldemort tenha caído nisso. Isso não parecia muito
provável. E Peter não conseguiria enganar Voldemort tão facilmente, pelo
que eu me lembro, ele era inútil demais para qualquer coisa desse
tipo. Pense, Regulus, pense antes de fazer qualquer coisa na frente deles.

No meio do salão principal, havia uma mesa comprida com várias cadeiras
ao redor e uma cadeira grande na ponta. Nagini passava por entre as pessoas
como se fosse o nosso bichinho de estimação. Para que diabos esse cara
carrega essa coisa para todo lado?

A maioria das famílias puro-sangue estavam, menos os Weasleys, os


Longbottom e outras famílias que se aliavam à traidores de sangue. Nem sei
se devo mesmo chamá-los assim, mas é como ouço meus pais chamarem
desde que eu era criança.

Voldemort ainda não estava no cômodo e todos que estavam sentados na


mesa pareciam nervosos. Me admirava Nagini estar aqui e ele não, ele leva
a cobra para todos os lugares.

"Reg, venha cá, sente-se aqui do meu lado." Bella me chamou.

Depois de me sentar, eu olhei para todos os lados à procura de Peter. E ele


não estava lá. Acho que estou ficando louco. Mesmo se ele estivesse lá, o
que eu poderia fazer? Merda, Regulus, você acha mesmo que é a porra de
um herói? E além disso, eu não poderia fazer nada sem que alguém
percebesse. Eu nem deveria estar pensando nisso. Tudo está tão confuso na
minha cabeça. O Lorde das Trevas queria falar comigo. Um amigo de Sirius
talvez venha até minha casa hoje. Minha mãe me torturou ontem e por isso
meu joelho não parava de doer. Eu odiava aquela roupa. Que inferno.

Eu mal conseguia respirar.

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E quando me distraí dos meus pensamentos e levantei o olhar de volta à
mesa, meus olhos se arregalaram. O que porra está acontecendo? Isso não
pode ser real. Percebi que passei tempo demais olhando para minhas próprias
mãos e pensando sobre estar ficando louco. Tanto tempo que não reparei nas
pessoas que chegaram no salão depois de mim.

Ele estava lá. Sentado na minha frente. Aquele bastardo covarde...Senti uma
raiva imensurável preencher todo o meu peito. Não sei de onde ela vinha ou
o porquê ela vinha. Mas estava lá. Tão real quanto ele sentado na minha
frente.

O encarei furiosamente até que ele encontrou, nervosamente, os meus olhos.

"Oi, Reggie."

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Capítulo 3: Perigo

Voldemort estava inquieto. Assustador como sempre, mas inquieto.

Mesmo com todos já sentados na mesa, Nagini brincava por entre os


comensais como um cão de estimação brinca com as visitas. Seu sibiliar
doía nos tímpanos, como se a real intenção da cobra fosse torturar qualquer
um que enfrentasse o Lorde das Trevas. A conexão dos dois era bizarra.

"Bem vindos, meus amigos.", começou Voldemort. "Vejo que todos já


estão aqui. Podemos começar."

***

A reunião durou por quase duas horas. Não desgrudei os olhos de Pettigrew
nem por um minuto. Eu esperava que ele vacilasse, que em alguma parte do
discurso de Voldemort ele caísse em si e aparatasse daqui antes que desse
tempo deles o matarem.

Mas ele ficou lá. Sentado. Ouvindo tudo. Que nojo, Pettigrew. Que nojo.
Isso é baixo demais até para você.

Merlim, se essa droga não for um plano de Dumbledore, então ninguém da


Ordem está sabendo e muito menos Sirius. Não que a Ordem me
importasse, são todos uns babacas presunçosos. Mas traição é o nível mais
baixo que alguém pode chegar, é repulsivo mentir para alguém que é leal à
você como Sirius, James e Remus são à esse idiota. Chega a ser burrice da
parte deles confiar tanto em alguém tão covarde que claramente trocaria de
lado para o próprio benefício.

Depois que Voldemort se levantou e permitiu que o resto de nós se


levantasse também, minha cabeça deu um estalo. Droga, com toda essa
história de Pettigrew, eu esqueci totalmente que o babaca quer algo
comigo. Que ele não seja Legilimens, pelo amor de Merlim...

Minha mãe e meu pai seguiram Voldemort para a biblioteca e minha mãe
fitou o olhar em mim por cima dos ombros. Eu sei o que ela queria dizer.
Queria que eu os seguisse. E eu deveria. Mas, droga, Pettigrew estava bem
na minha frente. Eu não podia perder essa chance. Mamãe me amaldiçoaria
se soubesse o que estou pensando agora, mas o Lorde das Trevas pode
esperar.

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Ele estava quase saindo do salão, quando eu corri e me pûs na frente dele o
impedindo de passar pela porta.

"Ah. Reggie." Ele se encolheu. Babaca covarde.

"Para você, é Regulus." Falei mantendo uma postura reta e o olhando por
cima do nariz. Minha mãe sempre diz: a postura de um homem é o que
define seu valor perante qualquer situação. Isso me fez ficar mais alto que
ele e parecer mais velho. O que era estranho, porque eu era claramente
mais jovem.

"Oh. Tudo bem. Como vai, Regulus?" Ele perguntou forçando um sorriso.

O sorriso me fez perder a paciência de vez.

"Ah, por favor!" O agarrei pela manga do casaco e o arrastei para outra
sala, os outros no salão estavam ocupados demais se exibindo uns aos
outros para notar alguma coisa.

Bati Pettigrew contra uma parede e ele me olhou completamente


desesperado. Queria que ele sentisse medo. Vamos, seu cretino, sinta medo
de mim. É melhor mesmo sentir medo, porque eu juro por Merlim que se
você encostar em Sirius...

"Pettigrew, eu vou perguntar uma vez só." Falei ainda o segurando pela
gola da camisa. "O que você está fazendo aqui?"

"Escuta, Reg, eu posso explicar.."

"Eu sei. Se não, eu não teria perguntado, não acha?" Que cara burro.

"Você não faz ideia das armas que o Lorde das Trevas possui, se você
soubesse... Eu não tive outra opção, ele queria alguém de dentro da Ordem
e...e bem, não posso dizer que a Ordem está realmente ganhando essa
guerra. Depois da morte dos Prewetts, as coisas pioraram. James está com
medo pelos pais que estão doentes, Sirius está nervoso o tempo inteiro e..."

"Sirius está nervoso? Por quê?"

"Você se importa?" Ele perguntou se soltando da minha mão, com um traço


de cinismo no rosto. Quem diabos ele pensa que é?

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"Como você ous-"

"Ah, vamos, Reggiezinho. O que você vai fazer? Contar à Padfoot que seu
melhor amigo virou comensal? Logo você que sempre quis que ele se
afastasse de nós? Ele nunca acreditaria em você. Pobre Reg, sempre a
segunda opção, para os pais e para Sirius..."

"Cala a boca, Pettigrew! Você não tem dignidade alguma para falar sobre
mim. Pelo menos eu sou uma opção, você nem isso. Ou você acha mesmo
que se você não estivesse dando uma de agente secreto, você teria alguma
ultilidade por aqui?" Disse sarcasticamente. "Fala sério, você não duraria
cinco minutos! Você era inútil para a Ordem e quando perder a utilidade
aqui, vou adorar assistir a sua morte, seu covarde de merda."

A última parte fez ele estremecer. Eu estava com tanta raiva que poderia
matá-lo agora mesmo. Mas eu teria que explicar aos meus pais, e isso com
certeza seria difícil.

"Bem, parece que este covarde é mais irmão para Sirius do que você." Que
se foda, ele vai morrer agora.

"Irmão? Como você tem coragem de chamar ele de irmão? Eu nunca o


trairia! Nós brigamos e nos odiamos, pensamos diferente sobre a maioria
das coisas e às vezes eu queria poder esquecer quem ele é, mas eu nunca o
trairia!" As palavras saíam da minha boca sem controle nenhum. Merlim,
que os retratos não estejam ouvindo para minha mãe, porque o que eu vou
dizer agora pode me matar se cair em ouvidos errados. "Não há nada que eu
não faria para salvar a vida do meu irmão."

"Ninguém vai acreditar em você. Você é só mais um comensal." Ele disse


quase sussurrando e sem olhar nos meus olhos. E então ele gritou. "Sirius
odeia você!"

Eu quis morrer. Como eu saberia se isso não é verdade? Sirius já havia dito
que me odiava antes, mas irmãos não falam isso da boca para fora? Sirius,
você realmente me odeia?

"Regulus!" Ouvi minha mãe chamar.

"Vai embora daqui! E aproveite seus últimos dias porque quando eu contar
a verdade, pode dar adeus aos seus marotos e sua utilidade aqui, seu egoísta

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de merda." Eu falei o encarando raivosamente enquanto ele saía da mansão
tropeçando e tremendo.

Quando voltei para o salão, só meus pais estavam sentados, todos haviam
ido embora, inclusive Voldemort.

"Onde você estava?" Minha mãe perguntou, desconfiada.

"Mm, estava procurando Kreacher, acho que ele não voltou ainda."

"Ugh! Você e essa sua afeição por elfos domésticos. Francamente,


Regulus..."

"Desculpe, mãe." Nunca adiantava discutir com ela.

"De qualquer forma, o Lorde nos disse que precisava falar com você, mas
apenas quando o elfo estivesse presente. Eu não entendi, obviamente. Por
que ele precisaria de uma criatura inútil daquela?"

"O que Kreacher tem a ver com isso?" Perguntei.

"E isso importa? O que o Lorde pedir, Regulus. Você fará."

Eu hesitei por um instante. O que Voldemort iria querer com Kreacher?


Tem alguma coisa muito errada aqui. Papai estava calado, ele nunca se
calava. De qualquer forma, não posso pensar nisso agora. Sirius corre
perigo. Eu não ligo para Voldemort ou minha mãe agora. Isso vai ter que
esperar.

"Boa noite. Com licença, estou subindo." Me despedi e me virei. Quando


estava quase saindo do campo de visão deles, minha mãe interveio.

"Você é amigo de Peter Pettigrew?"

Droga, droga, droga. Eles sabem. Não vou conseguir contar para Sirius.
Meu joelho nem está bom ainda para outra sessão especial daquelas na
biblioteca. Provavelmente, vou ficar sem andar. Cicatrizes novas e
Kreacher vai precisar de feitiços maiores para me ajudar. Ou talvez eu
apenas morra desta vez. Quem me dera ter a sorte.

"Não." Foi só o que eu consegui dizer.

17
"Se lembre sempre que eu sei de tudo que acontece nesta casa. Não ouse
me esconder nada." Ela disse acusadoramente.

"Tudo bem, mãe."

Ok. Certo, acho que ela não sabe. Ela não teria se controlado se soubesse
que defendi Sirius daquela forma debaixo do mesmo teto que ela. Eu
mesmo não entendia porque continuava fazendo isso. Sirius odeia você.
Sirius odeia você. Sirius odeia você...

Golpe baixo, Pettigrew. Muito baixo.

Eu não podia deixar as coisas assim. Se Peter teve coragem de fazer isso, o
que mais ele teria? Teria coragem de entregá-los, de matá-los? Ótimo,
Regulus, agora você está falando no plural. Como se você ligasse para
aquele lobisomem mestiço e para o santo Potter! Merlim, e pensar que já
tive uma queda pelo bastardo. Talvez você seja mesmo louco, Regulus.

Merda, era o último lugar que eu queria estar. Se mamãe soubesse, eu


passaria o mês inteiro de cama e não vou nem dizer porquê. Mas preciso
fazer algo, preciso..

Depois das três da amanhã, peguei meu casaco e desci as escadas, em


direção à biblioteca. Caralho, aquelas portas de madeira faziam barulho
demais. Respirei fundo, fundo mesmo. Regulus, você só faz merda. Entrei
na biblioteca e tudo estava escuro, não podia acender nada porque os
retratos acordariam. Encontrei a lareira e entrei com o pó de flu na mão.

Então, é isso.

"Casa dos Potter."

18
Capítulo 4: Retrato

A casa dos Potter era assustadoramente normal.

James era rico. Eu não sabia bem o porquê, mas ele era. Mas eu também não
sabia porque eu era rico, então.

A casa era grande e espaçosa como a minha, mas também era aconchegante
e cheirava à biscoitos recém saídos do forno. O que não era nada como a
minha. Posso ver porque Sirius gosta tanto daqui. A casa cheira à amor.

Mamãe vomitaria.

Acima da lareira, haviam quatro porta-retratos bem alinhados. O primeiro,


da esquerda para a direita, era um de James com uns oito anos, talvez. Ele
voa pela sala numa vassoura com os cabelos no rosto enquanto seu pai sorri
atrás e a mãe está sentada no chão com cara de preocupada e orgulhosa. E
James está com um sorriso tão largo no rosto que eu poderia socá-lo se o
visse agora com ele no rosto. Não tenho fotos em casa sorrindo.

A segunda é de James indo para Hogwarts na estação nove três quartos. Ele
sorri igual a primeira, seu sorriso não mudou desde os oito anos. Ele segura
uma coruja e acena para a foto e aponta para coruja ao mesmo tempo.

A terceira é em um dia de Natal. Estão todos na sala. O senhor e a senhora


Potter estão sentados em poltronas, sorrindo. James e os amigos estão em
pés ao lado deles. James sorrindo, o que faz eu me perguntar como diabos as
bochechas deles aguentam isso o tempo inteiro. Lupin está do outro lado,
com um sorriso sem mostrar os dentes, vestido com um suéter marrom e
algumas cicatrizes a mais do que a última vez que o vi, mas ele parece feliz.

E Sirius está sentado no chão aos pés da mãe de James enquanto ela o abraça
pelos ombros. Ele está radiante, os olhos brilhando, uma tatuagem nova perto
do pescoço, um brinco que mamãe faria questão de arrancar sem magia se
visse, o cabelo solto com um lado atrás da orelha, um suéter preto e coturnos
de couro. Ele está tão diferente. Sirius sempre odiou as roupas que mamãe o
obrigava a usar. Ele sempre gostou de roupas mais soltas e descoladas. Nada
de blaizers ou gravatas, ou sapatos sociais. Ele era assim. Acho que nunca o
conheci de verdade. A senhora Potter abraça Sirius com tanto amor que, se
eles não fossem completamente diferentes de aparência, qualquer um juraria
que são mãe e filho. Nossa mãe nunca abraçou Sirius assim. Nem a mim.

19
Pettigrew está em pé do lado de Remus. Maldito Peter. Ele já era.

Antes de eu conseguir ver o que tinha na quarta foto, ouço uma voz vindo
dos corredores. Claro que alguém me escutaria chegando às três da manhã
pela lareira, não sou idiota de pensar que não. Queria muito que fosse Sirius,
para eu apenas contar tudo de uma vez e poder ir embora. Mas não é ele.

"Quem está aí?" Diz a voz de James no escuro. Ele faz um feitiço de luz com
a varinha que ilumina a sala de uma vez. Ele pula para trás quando me vê.
"O que você está fazendo aqui, Regulus? Você está bem? Isso não é bom...
Vou acordar meu pais e..."

"Não! Eu não vim incomodar ninguém, vim apenas para..."

"Olha, Regulus, sinto muito. Mas você não é bem vindo aqui." James diz
com firmeza, mas tristeza aparece em seus olhos quando ele os desce até a
marca no meu pulso. "Eu não queria ser aquele que te manda embora
porque... Bem, eu não sou assim. Queria que você pudesse ficar e que
conversássemos como antes, mas... Você está diferente agora. E Sirius vai
ter um ataque se ver você aqui, então, se não se incomoda..." Ele diz
caminhando para a porta. "Não posso ter um comensal da morte dentro de
casa."

"Eu não vou embora, James. Não até falar com Sirius." Digo com firmeza.

"Reg, você não está facilitando as coisas..."

"Você não era assim, James. Não costumava expulsar as pessoas da sua
casa."

"Você também não era assim, Regulus." Ele diz decepcionado, me olhando
da cabeça aos pés. "Não era."

"Acho que mudei quando você decidiu tirar meu irmão de mim e fazê-lo
esquecer completamente de quem era seu irmão de verdade." Vamos, James,
revide. Tenho uma lista de insultos esperando por você.

"Não vou fazer isso, Regulus. Quero que você vá embora. Você não pode ter
ficado mais teimoso do que antes."

"Você ficaria surpreso."

20
"Escuta, eu não quero brigar. Mas você não deveria aparecer aqui assim.
Droga, Regulus, me diga logo o que você tem para dizer e acabamos com
isso."

"Você quer saber?" Digo sorrindo ironicamente. "Chame Sirius. E então


contarei."

"Não estamos só nós dois aqui." James disse isso quase num surrusso. Não
é possível que Peter estivesse lá, não depois de sair da minha casa. Ele não
seria tão descarado. Porra, mas se ele estivesse, tudo estaria acabado, Sirius
não acreditaria em mim e todo esse esforço havia sido em vão.

"Quem está aí?" Pergunto e James demora para responder.

"Lily, comigo. Sirius e Moony no quarto ao lado." Diz James calmamente.


"Eles vão pirar se te verem aqui, principalmente Padfoot."

Odeio que ele tenha apelidos para o meu irmão.

"Não vou embora, James." Respondo decididamente.

Ele espia pelo corredor e volta a me olhar.

"Cacete, tudo bem! Mas faça silêncio. Sirius já vai gritar o suficiente." Ele
diz me guiando para o segundo quarto à esquerda no corredor.

O quarto é grande e espaçoso com uma cama grande cheia de almofadas e


pôsters de times de quadribol espalhados pelas paredes. Quase tudo no quarto
é vermelho, até o pijama de James. Vermelho como a Grifinória.

Lily está deitada na cama de James, dormindo. Os cabelos ruivos espalhados


no travesseiro, o rosto angelical e as sardas perfeitamente bem feitas no seu
rosto. Lily era linda. Eu podia entender porque James gostava dela. Eu
mesmo poderia gostar. Mas mamãe em hipótese alguma aceitaria uma
nascida trouxa em casa. Ele me diz para entrar, mas ficar em silêncio. Eu
espero encostado na porta. Me sinto constrangido. Estou em um quarto com
James Potter e Lily Evans e eles estão em uma cama enquanto eu estou em
pé na porta. Como você chegou aqui, Regulus?

"Lily, acorde... Hm, e tente não surtar, está bem?"

21
"Potter, são quase quatro da manhã, o que voc-" Ela para quando me vê.
"Regulus?"

"Lily." Respondo.

"O que você faz aqui?" Ela pergunta, mas não olha para mim, e sim para
James. "James, péssima ideia. Sirius vai..."

"Surtar?" Me intrometo. "Você se surpreenderia se soubesse quantas vezes


ouvi isso hoje." Digo olhando sarcasticamente para James.

"Ele disse que tem uma coisa para falar. Não acho que ele viria até aqui se
não fosse sério, Lily." Ele diz olhando para mim.

Lily me estuda em silêncio por um minuto inteiro. Ela é inteligente. Sabe que
não vim procurando guerra. Mas também é cuidadosa e nunca confiaria em
um comensal. Boa escolha.

"Está bem. Mas é você quem vai chamar Sirius. Ele já vai odiar você por
estar o acordando essa hora, quando ele ver o motivo, não quero nem pensar
na reação dele." Ela diz para James soando como a mãe dele, não conheço a
mãe dele, mas acredite, ela soava como ela.

"Já volto." Ele diz saindo do quarto e me deixando sozinho com ela. Ela me
encara o tempo inteiro.

"Está me achando bonito ou o quê?" Pergunto, um pouco irritado.

"Não. Estou apenas pensando." Ela responde ainda me olhando.

"Mm." Desvio o olhar e depois a olho de novo. "Espera, você acabou de me


chamar de feio?"

"Você entende o que quiser." Ela diz sorrindo.

"Ai." Eu enceno uma cara de dor. E nós rimos. Mas o meu sorriso se desfaz
primeiro, porque percebo que ela está olhando meu braço. Será que as
pessoas nunca vão parar de olhar?

"Você fez isso porque quis?" Ela pergunta, sem rodeio nenhum.

22
"Com a mãe que eu tenho, era melhor do que não fazer." Respondo, quase
num sussurro.

"Você não quer isso, não é?"

"Do que você está falando?" Eu pergunto e ela suspira logo depois.

"Regulus, eu sou uma nascida trouxa. Não sou idiota. Sei que pessoas como
eu, entre todos, são os alvos principais deles. Mas eu estou sozinha com você
nesse quarto e não estou assustada." Ela diz e eu fico em silêncio, porque não
sei o que dizer. "Sabe, Reg, não sei se alguém já te disse isso antes, mas você
pode ser o que quiser. Não precisa da permissão de ninguém para ser feliz."

"Não estou procurando felicidade, Lily. Estou procurando meu irmão."

"Exatamente." Ela diz e eu finalmente a encaro. Entendo o que ela quis dizer.
"Você se parece com ele."

Não tenho tempo para responder Lily porque escuto James bater na porta e
entrar devagar no quarto, fazendo completo silêncio. A reação dos pais dele
realmente seria horrível se me vissem aqui.

"Eles estão vindo. Não contei para Sirius, mas disse para Moony, eu podia
jurar que ele ia me socar, mesmo no escuro..." James conta com uma cara
assustada.

E então a porta se abre e Lupin aparece. Remus é bem mais alto que eu, mais
alto até que James. Ele tem o rosto calmo, mas as cicatrizes fazem ele parecer
assustador. Ele me olha dos pés à cabeça.

"Se você magoá-lo, enfio sua própria varinha no seu-"

"Remus!" Lily grita.

"Shhhiiiuuu!" James grita também, olhando ao redor.

"Você também gritou!" Ela começa a brigar com ele e ele visivelmente
desiste e se senta na cama com as mãos no rosto.

Eles são um casal peculiar.

23
Remus me encara novamente e entra no quarto. Escuto a voz de Sirius e meu
sangue some do rosto, sinto que vou passar mal. Ele entra no quarto coçando
os olhos.

"Droga, Prongs, se você tiver me acordado à essa hora para treinar quadribol,
eu juro por Merlim que eu-" Ele para quando me vê.

Lá estava ele. Parado na minha frente. Ele estava tão diferente da última vez
que o vi. Ele me encara e o primeiro olhar que ele me dá mareja os seus
olhos. Sirius me olha com preocupação de verdade por cerca de um segundo
e meio. E parece que ele está me olhando dos pés à cabeça para checar se
ainda estou inteiro. Por fora, talvez. Por dentro, já não sei mais.

Mas como eu disse, só dura um segundo e meio. Eu contei.

Ele logo assume um olhar de raiva. E então olha para James e abre a boca
como se fosse soltar um palavrão enorme.

"O que caralh-" Ele é interrompido por James.

"Um segundo." James disse, calmamente, levantando um dedo e apontando


a varinha para a porta. "Muffliatto." Ele lança o feitiço silenciador no quarto
e respira aliviado. "Tudo bem. Pode ir."

"O que caralho ele está fazendo aqui?" Ainda bem que James colocou o
feitiço no quarto, porque Sirius está realmente gritando.

"Padfoot, ele veio dizer algo importante. Você deveria ouvir."

"Eu não tenho nada para dizer à ele, Prongs. Achei que você entendia isso.
Como você pôde fazer isso comigo? Você sabe o que eles são. E o que
fizeram comigo..." Ele está tão puto em me ver que está com raiva de James.
E ele nunca fica com raiva de James.

"Sirius, pelo menos ouça..." Dessa vez, Lily quem pede.

Remus põe a mão no ombro de Sirius e ele se acalma quando vê que ele está
do lado dele. Lupin desce a mão do ombro de Sirius até a sua mão e sussurra
para ele, quase inaudível.

"Está tudo bem, Pads..." E depois sorri de lado. "Estou com você."

24
Sirius claramente se acalma. As veias da sua testa relaxam e eu quase o vejo
sorrir. Ele realmente o ama. Remus significa tudo para Sirius. Ele não o deixa
afundar em sua personalidade autodestrutiva. Ele está sempre lá. Impedindo
que Sirius caia. Parece que Sirius consegue amar todo mundo, menos à mim.

"Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui." Digo, irritado.


"Cresça, Sirius. Nem tudo é sobre você. O que vim dizer é importante para
todos vocês."

"Por que você não volta para a sua querida Mais Antiga e Nobre Casa dos
Black, huh? Volte para os seus comensais da morte e para aquele desgraçado
que vocês chamam de Lorde! Eu não preciso de você aqui. Não no único
lugar em que me sinto em casa." Ele explode na minha direção. As palavras
dele cortam como facas.

"Acredite, Sirius, eu não queria estar aqui! Na verdade, eu pensei muito antes
vir aqui!" Minto descaradamente. Não pensei duas vezes. "Você é a última
pessoa que eu queria ver agora!"

"Então, vá embora!"

Sirius não merece que eu conte o que eu sei. Talvez até James mereça mais,
até Remus. Com certeza, Lily. Mas Sirius não. Ele é um babaca mimado. Se
ele está tão melhor sem mim, que se dane. Olho para todos no quarto e passo
por Sirius até a porta. Que se foda essa merda. Se ele me quer longe, vai me
ter longe. Não vai me ver nunca mais.

Para minha surpresa, é Remus quem me para antes de eu chegar na porta.

"O que aconteceu?" Ele me olha nos olhos. Ele sabe que vim por algo
importante. Lupin parece com Lily. Ele é esperto. Além dos sentidos de lobo,
ele tem uma habilidade ótima para desvendar pessoas complicadas, não é a
toa que é apaixonado por Sirius.

Eu volto à olhar para eles e me sento na cama de James. Todos eles estão me
olhando.

"Voldemort estava na mansão hoje." Digo e Sirius revira os olhos


impaciente, mas continuo. "Vocês têm notado algo estranho ultimamente?
Como... Como por exemplo estarem em lugares e comensais aparecem do
nada, mesmo não tendo como eles saberem onde vocês estão?"

25
"E por que te responderíamos qualquer coisa sobre a Ordem?" Sirius
pergunta de braços cruzados, mas eu ignoro. Porque James, Lily e Lupin
estão tão vidrados em mim que tenho certeza que sabem do que estou
falando. James olha para Lily e depois para Remus. E eu entendo. Eles
notaram sim. Então, continuo.

"Eu não deveria contar isto, mas tenho certeza que se eu não disser, vocês
não saberão nunca e provavelmente a falta de informações vai acabar
causando a morte de vocês se esse for o caso." Faço uma pausa. "Há um
espião na Ordem e eu sei que vocês sabem disso porque não são burros.
Quando o vi hoje, não pude acreditar que era ele..."

"Espere, ele estava lá hoje?" Remus pergunta.

"Sim. Sentado na minha frente. Eu sei quem é."

Os quatro se olham. Parece que conversam telepaticamente para que eu não


ouça a conversa íntima que se passa entre eles. Parece que escutam os
pensamentos uns dos outros de tão próximos que são. Talvez isso seja
amizade. Me lembro de Pandora. Com certeza, a mandarei uma carta quando
sair deste inferno.

"Regulus, você precisa nos dizer quem é." Lily diz me olhando
profundamente e colocando a mão no meu ombro. Me afasto, porque não
preciso de ninguém fingindo que se importa para tirar informação de mim.
Por mais que Lily não pareça ser alguém capaz disso. Mesmo assim. Não
gosto de ser tocado.

Olho para cada um deles por vez. Sirius me olha com desconfiança, pronto
para ir contra qualquer coisa que eu disser. James me olha com compreensão,
levando à sério tudo que estou dizendo, ele é tão bom que deve ser fácil
enganá-lo. Remus está indecifrável, ele só quer que eu diga de uma vez.
Prefiro nem falar de Lily, parece que a qualquer momento ela vai me abraçar.
Não gosto nem de pensar na ideia.

E então digo.

"É Peter."

Os quatro me olham confusos e ficam calados por um bom tempo. James é


o primeiro a falar.

26
"Você não pode estar falando sério." E então ele ri. "É o Pete. Nosso
Wormtail. Ele nunca faria isso com a gente, Regulus. Nunca."

"Eu estou falando o que vi, James." E então conto tudo que Pettigrew me
disse quando o confrontei e eles ficam em silêncio por mais tempo que da
primeira vez.

Francamente, eu preferia o silêncio do que o que Sirius disse a seguir.

"Você não espera que realmente acreditemos em você, não é?" Ele diz, quase
sorrindo. "Você é a porra de um comensal! Você é um deles! Está tentando
nos separar para nos enfraquecer? Não vai funcionar."

"Eu não estou tentando fazer nada, seu idiota."

"Pare de mentir! Wormtail esteve mais presente para mim em sete anos do
que você à vida toda! Não venha até à minha casa e fale do meu melhor
amigo como se tivesse alguma porra de moral!"

Sirius está pedindo, então ele vai ter.

"Mais presente?" Eu pergunto sorrindo e me levantando da cama para ficar


de pé, cara a cara com ele. "Você não me teve presente porque não quis!
Você não me teve presente porque arranjou outro cara para chamar de irmão!
Você não me teve presente porque me deixou sozinho na porra daquela casa
que você sabia que eu morria de medo, Sirius! Porque eu só tinha quinze
anos e a pessoa mais importante da minha vida me deixou porque estava com
raiva dos nossos pais." Eu não ia chorar, não podia. "Eu amava você e você
me abandonou."

Sirius fica em silêncio e me encarando com raiva por um tempo.

"Você é um mentiroso." É a única coisa que ele diz.

"Acho que você devia ir para casa, Reg." James diz.

"Não me chame de Reg. Não sou seu amigo. Nunca fui." Quem ele pensa
que é? "Espero que vocês não acreditem em mim quando for tarde demais."

Saio pela porta do quarto rápido em direção à lareira, porque não quero olhar
para trás e ver a cara de Sirius de novo. De nenhum dos quatro. Se eles não
acreditam em mim, se Sirius não acredita, eu os farei acreditar. Mesmo que

27
para isso eu tenha que destruir Voldemort eu mesmo. Mesmo que isso me
mate.

Agora, de frente para a lareira, finalmente vejo o que tem no quarto retrato.
É uma foto de Sirius e James abraçados e sorrindo com o uniforme de
quadribol. Nunca vou ter esse lugar de volta. Talvez eu nunca nem mesmo
tive. Olho para a foto por mais um segundo, para gravar na memória que
Sirius não me quer por perto.

Vou te provar o contrário, Sirius. Não importa o que custe. Vou fazer você
acreditar em mim.

Entro na lareira e enxugo uma lágrima na minha bochecha. Homens não


choram, é o que mamãe diria. Mas hoje não sou um homem. Hoje voltei a
ser só um menino. O menino que foi abandonado pelo irmão numa casa com
pessoas que punem ele por usar o talher errado. O homem de hoje foi
abandonado pelo irmão pela segunda vez e não sei se ele está pronto para vir
à tona agora sem que ele acabe destruindo a si mesmo.

28
Capítulo 4.1: James

Já estava quase amanhecendo e eu sei que Sirius não dormiria depois


daquilo. Acho que nenhum de nós conseguiria pensar em dormir.

Ficamos algum tempo em silêncio depois que Regulus foi embora. Não
sabíamos o que dizer um ao outro, porque qualquer coisa que disséssemos
não parecia certa. Regulus não era mentiroso. Eu o conhecia. Até o nosso
quinto ano, quando Sirius fugiu de casa, Regulus era bom. Ele sempre foi
meio arrogante, mas Sirius também era às vezes, então. Nós dois
costumávamos conversar muito, ele gostava de quadribol e pensava em
entrar para o time da Sonserina. Acho que ele era o único sonserino que eu
gostava. Ele era engraçado, mas não tão aberto quanto Sirius. Era
inteligente, mas não esperto o suficiente para ir contra à própria mãe. Uma
vez, Sirius me disse que achava que ele tinha uma queda por mim. Talvez
até tivesse mesmo, mas mesmo assim, eu nunca me afastaria dele por isso.
Eu gostava dele por perto.

Isso acabou no Natal de 1975.

Regulus passava direito por Sirius nos corredores. E por mim também.
Nunca mais ficamos sozinhos no mesmo lugar depois disso. Regulus ficou
realmente chateado pelo o que Sirius fez. E Padfoot tentou muito consertar
as coisas, por um tempo. Mas Regulus estava impenetrável. Ele estava tão
magoado que uma vez, o vi no banheiro dos monitores, chorando em
silêncio. Não sei se o motivo era Sirius, mas ele definitivamente estava
diferente. Eu quis chegar perto e perguntar se ele estava bem, mas eu sabia
que ele me afastaria.

Até que Sirius desistiu. Levou um bom tempo, porque Sirius realmente
amava Reg. Tipo, ele amava de verdade. Eu acho que existem pessoas que
amamos, mas que não conseguimos gostamos de verdade.

Depois que Moony e ele ficaram juntos, as coisas melhoraram para Sirius.
Ele não falava mais sobre Regulus ou qualquer outro Black. Ele estava
feliz. Feliz como eu nunca tinha visto antes. Cacete, Moony fazia Sirius tão
feliz. Eles pareciam ter sido criados estritamente um para o outro. Era
surreal.

Mas ele nunca falava sobre Regulus. Nunca.

29
Depois que Regulus virou comensal, foi o fim. A questão é que Reg e
Padfoot tem assuntos mal resolvidos que nenhum dos dois é maduro o
suficiente para tratar. Regulus é ressentido por Sirius ter o deixado sozinho
naquela casa, mas eu sei e ele também deveria saber que Sirius precisou de
muita coragem para isso. E Sirius guarda rancor por Regulus nunca ter
dado à chance de escutá-lo e, claro, por virar um deles, penso que talvez
também há coisas na mente de Regulus que Sirius não se esforça muito
para entender.

"Padfoot, você está bem?" Pergunto, colocando a minha mão no seu ombro.

"Sim, eu só preciso... Acho que preciso descansar."

"Vamos, eu vou com você." Remus se ofereceu. Eles estavam quase saindo
do quarto quando Lily falou.

"Precisamos conversar sobre isso." Ela estava séria. Droga, ele era tão linda
séria. Acho que eu nunca deixaria de me sentir nervoso perto dela.

"Conversar sobre o que, Lily?" Sirius disse virando para trás para olhar
para ela. "Você não pode ter acreditado nisso."

"Olha, Sirius, ninguém aqui está contra você, está bem? Que droga, isto é
uma guerra! Pessoas morreram, Sirius! Você não pode ignorar o que
Regulus nos contou porque está irritado demais para ver a verdade."

"Lily... Você acha que é verdade?" Pergunto segurando na mão dela.


Remus se solta de Sirius e vai até ela.

"Lily, sou seu melhor amigo. Você sabe disso. Mas é de Wormtail que
estamos falando. Nosso amigo desde o primeiro ano!" Remus diz. "Ele...
Ele é um maroto."

"Eu sei, Rem. Mas não podemos deixar nada passar." Ela diz olhando para
todos nós. "Acho que devíamos levar isso até Dumbledore. Se Regulus
estiver mentindo ótimo, se não, estaremos preparados."

Eu e Remus nos entreolhamos por um tempo. Sirius não diz nada e não
olha para nós.

"Temos que contar à Ordem o que seu irmão disse, Sirius." Lily diz,
decididamente.

30
Sirius olha para o chão por um minuto. Não sei no que ele está pensando,
mas posso imaginar. Sirius é tão teimoso.

"Ele não é meu irmão, Lily." E então ele sai do quarto.

"Vá atrás dele." Digo para Moony.

Logo ele sai do quarto e ficamos só eu e Lily.

"Você acha que ele vai mudar de ideia?" Lily me pergunta.

"Acho que Sirius é intenso demais e que ama e odeia Regulus na mesma
intensidade." Respondo, e suspiro logo em seguida.

"Não posso ficar parada, James." Ela diz e eu entendo o que ela quer dizer.
"Vou escrever para Dumbledore."

Por um segundo, penso em Regulus. Sozinho, em seu quarto, na casa dos


Blacks. E acho que, no final de tudo, Regulus e Sirius ainda tem algo em
comum.

A mente dos dois é uma bagunça.

31
Capítulo 5: Herói

Fiquei acordado até o dia clarear. Por incrível que pareça, não era Sirius
que estava na minha cabeça. Precisava fazer alguma coisa. Não é como se
eu tivesse muito a perder. Não tenho pais de verdade, nem um irmão de
verdade. Se minha vida for o que precisarei dar para pará-lo, que assim
seja. Se não posso parar Pettigrew, então pararei quem puxa suas cordas.

Lord Voldemort.

Passei todos os anos da minha vida com medo. Porque sabia que ir contra o
que meus pais acreditavam era uma sentença de morte. Por muito tempo,
eu quis isso, porque fui ensinado que Lord Voldemort era o único caminho
para a grandeza. Tive inúmeras brigas com Sirius por causa disso, ele dizia
que eu era bom e que eu não queria isso de verdade. Eu, honestamente, não
acho que eu seja uma boa pessoa. Não gosto que me defendam, que
demonstrem afeto por mim ou até mesmo que cheguem perto demais
porque eu realmente não acho que eu mereça esse tipo de coisa. Mas Sirius
não estava totalmente errado. Eu não queria isso de verdade.

Eu fantasiei uma ideia na minha mente por toda a minha adolescência do


que eu seria quando finalmente recebesse a minha marca. De quem eu
escolheria ser. Mas a verdade é que eu nunca tive escolha nenhuma. Porque
depois da marca, eu me vi preso à uma vida que eu não queria de verdade.
Garoto idiota. Eu achei mesmo que eu me encontraria, como Sirius se
encontrou.

Estou tão longe disso quanto estou de fazer ele acreditar no que eu digo.

Sirius vive em meio ao amor, à liberdade e à amizade. O meu mundo é


repleto de mentiras, mortes, torturas e traições. Principalmente traições.
Ontem foi a gota d'água. Se até mesmo Pettigrew é capaz de trair as
pessoas que foram leais à ele por tanto tempo, por que os comensais acham
que Voldemort hesitaria em matar algum de nós se isso signficasse que ele
se beneficiaria? Eles são tão burros assim?

A minha ficha caiu ontem para algo que eu estava me negando a querer ver.

Dei um salto da cama e peguei um pedaço de pergaminho e uma pena na


cabeceira ao lado e comecei a escrever.

"Pandora,

32
Precisamos conversar. Vi Sirius esta madrugada. Preciso de ajuda em uma
coisa muito importante. Não é seguro falar o assunto por aqui, como você
deve imaginar. Mas irei até à sua casa no fim desta tarde. Me retorne se
estiver tudo bem para você.

Espero que você esteja bem.

Com amor,

R.A.B"

Enrolei o pergaminho no pé da coruja e mandei. A carta chegaria rápido


porque Pandora não mora longe daqui. E eu espero de verdade que ela
responda, porque não vou conseguir fazer isso sozinho. Na verdade, eu não
teria chegado tão longe se não por fosse ela. Ela entendia que não escolhi a
vida que tenho, às vezes, podia parecer que sim, mas não escolhi. E sempre
que eu estava de volta à Hogwarts depois das íncriveis férias de verão na
mansão dos Black's com meus pais, Pandora estava lá. Perdi a conta de
quantos machucados meus ela ajudou a sarar.

Ela dizia que não se importava com a marca no meu pulso porque conhecia
a marca no meu coração. E que acreditava em mim o suficiente para saber
que quando chegasse a hora, eu faria a coisa certa. Ela acreditava em mim.

Ela era a irmã que não me abandonou.

Assim que começou à clarear lá fora, Kreacher entrou no meu quarto. Não
o via desde antes da reunião aqui em casa. Foi bom ver alguém que eu
gostava depois de confrontar Pettigrew e ir parar na casa dos Potter no
meio da madrugada.

"Senhor Regulus vai descer para o café?" Ele perguntou.

"Mm... Acho que não, Kreacher. Não estou com fome."

"O que quiser, pode chamar Kreacher que ele virá." Ele respondeu,
virando-se para a porta novamente.

"Mm, ei, Kreacher! Na verdade, preciso te perguntar uma coisa."

"O que o senhor quiser." Disse Kreacher, vindo na minha direção


rapidamente.

33
"Mamãe falou algo sobre... Sobre mim hoje no café? Mais especificamente
algo que envolva o Lorde das Trevas?"

"Kreacher não ouviu nada. Senhora Walburga não deixou Kreacher ficar
perto na hora do café. Senhor Regulus está falando sobre o que?"

"Acho que ele quer algo comigo..." Disse, pensativo. "Acho que precisa de
mim para alguma coisa, mas não sei o quê. E ele não me convocou ontem
porque você não estava aqui." Falei apontando para ele.

"Kreacher?" Ele perguntou arregalando os olhos cansados, quase


desesperado.

"Estou te dizendo, Kreacher. Tem algo acontecendo e não sei o que é."
Falei. "Eu vou ver Pandora esta tarde, se mamãe perguntar algo, diga que
saí com Barty ou Snape, tanto faz."

Tanto faz mesmo. São dois idiotas.

"Temo que senhora Walburga não vá gostar..." Ele diz assustado enquanto
eu me levanto em direção ao banheiro.

"E ela não vai, mas não ligo."

***

"Reggie,

Venha! Estou com saudades! Você sabe que é sempre bem-vindo, seu
idiota.

Com amor e abraços que você não gosta, mas que dou mesmo assim,

Dora."

Ler o bilhete me fez sorrir. Peguei meu casaco e minha varinha, espiei pela
porta do quarto para ver se alguém estava vindo e aparatei. Teria sido mas
fácil chegar até à casa de James aparatando, mas a casa dos Potter está com
algum feitiço anti-aparatação, por motivos de segurança, eu acho.
Consequências de uma guerra.

34
Pandora mora sozinha. A casa dela é alegre, com flores azuis na frente e
cristais energizados espalhados pelo jardim. Sei que ela pretende trazer
Xenophilius para morar com ela algum dia, mas por enquanto, preciso da
minha melhor amiga apenas para mim. Um cara pode esperar. Não é como
se eles fossem casar, ter filhos, ou algo do tipo.

Eu e Pandora tínhamos um código. Sempre que sou eu na porta, eu dou três


batidas rápidas, pausa, e mais uma batida por último. Por segurança, assim
ela pode saber que sou eu e não outro comensal. Ela não demora muito para
abrir a porta da frente da casa quando eu dou as batidas.

"Ei, você!" Sorrio abraçando ela assim que a vejo.

"Meu Deus, Reg, você está horrível. Aparatar te deixa com uma aparência
péssima." Ela diz arrumando meu cabelo.

"Bom te ver também, Dora!" Digo tirando a mão dela da minha cabeça.

"Não seja idiota, claro que eu sei que você estava com saudades! Você não
aguenta muito tempo sem mim!" Ela diz fechando a porta atrás de nós e
sorrindo, enquanto eu tiro o casaco.

"E então? O que você tem de novidades para mim?" Pergunto me jogando
no sofá.

"Sapatos." Ela diz, sem me olhar, e eu os tiro imediatamente. "Não tenho


nada muito interessante, na verdade... Ah! Enfeiticei um cristal azul para
ele sempre ficar vermelho quando estiver perto de algo com magia negra.
Você quer ver?"

"Brilhante!" Digo me levantando do sofá e indo atrás dela.

"É impressionante e muito útil, na verdade, levando em conta tudo que tem
acontecido..." Ela diz enquanto me leva até à sala onde faz seus
experimentos. A sala é repleta de livros, cristais, plantas e poções. Pandora
é realmente muito esperta quando se trata de criar coisas.

"Aqui está. Pegue!" Ela joga para mim e eu pego rápido, com medo de
quebrar.

O cristal era lindo. Era de um azul muito forte e brilhante, quase do


tamanho de uma palma da mão. Mas assim que o peguei em minhas mãos,

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sua cor foi completamente embora e um vermelho vivo, cor de sangue,
tomou conta de todo o cristal.

Claro. A marca.

"Mm, acho melhor você ficar com isso..." Falei devolvendo o cristal para
ela, que voltou a ficar azul em suas mãos. "Acho que fica melhor com
você."

"Você não tem magia negra, Reg. Já te disse que essa marca..."

"Não faz parte de quem você é." Falamos em uníssono. Ela sempre dizia
isso. "Já sei disso. Mas é meio difícil acreditar quando ela está grudada na
porra do no meu braço."

"Bom, de qualquer forma, se não fosse pela marca, esse cristal não
mudaria. Você sabe disso."

"Não sei. Talvez nascer um Black seja uma maldição também."

"Isso com certeza, Reg." Ela começa a rir, o que me faz rir também. "E
então? O que trouxe você até aqui? E não diga que foi saudades de mim,
porque sei quando você quer me contar algo sério. Você está com aquela
cara de quando me contou no quinto ano que achava que gostava de
meninos tanto quanto gostava de meninas."

"Ugh, não me lembre. Eu estava desesperado porque vi Barty trocar de


roupa na minha frente e parecia que alguma coisa ia explodir para fora da
minha calça. Fui correndo te procurar na hora, saí perguntando por você
pelo castelo inteiro." Respondi.

"Meu deus, Reg, eu não precisava ouvir os detalhes disso de novo!" Nós
gargalhamos. "Já não me basta os detalhes que você me fazia ouvir sobre
James! Ah, Pandora, ele é tão bonito jogando quadribol, ele é tão bonito
arrumando os óculos, ele é tão gost-" Coloco a mão na boca dela para
impedir ela de continuar me humilhando.

"Acho que já chega de lembrar sobre casos passados, Dora. Não se esqueça
que você teve uma queda por Mulcilber no quarto ano!" Falei, gargalhando.

"Merlim! Que passado horroroso!" Ela gargalhou comigo. "Mas vamos, me


conte, você viu Sirius ontem?"

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"Mm, sim..." Respondi, ficando sério. "Fui até os Potter ontem."

"Os Potter?" Ela respondeu, arregalando os olhos. "Mas e sua mãe? Como
ela... Meu deus, Regulus, ela fez algo com você? Ela fez, não fez? Ela
sempre faz. Você está machucado? Ah, aquela..."

"Calma, Dora, eu estou bem! Ela não sabe de nada." Respondi, a


tranquilizando. "Mas eu descobri uma coisa. Você não pode dizer para
ninguém, não ainda."

"Me conte tudo."

E então eu contei à ela tudo sobre Pettigrew, sobre a visita no meio da


madrugada aos Potter, sobre Voldemort querer algo comigo que eu ainda
não sei o que é, mas que tinha a ver com meu elfo, sobre as coisas que
Sirius disse para mim e sobre as coisas que decidi fazer depois. Ela ouviu
tudo sem me interromper, por um instante, eu tive medo de Pandora não
acreditar em mim como Sirius. Tive medo dela dizer que estou louco e me
expulsar de lá como ele fez. Mas Pandora sempre teve uma visão diferente
das outras pessoas sobre as coisas. Ela via além do que olhos normais
costumavam enxergar. E ela nunca me deixava na mão, nunca.

Ela demorou um tempo para absorver tudo e então disse.

"Peter Pettigrew? Merlim, quem imaginaria?" Ela diz tentando raciocinar.


"Claro, ele sempre foi o mais distante dos meninos, mas... Que filho da
mãe!"

"Pois é."

"Mas, Reg, você sabe que... Sabe que Sirius não quis realmente dizer tudo
aquilo, não sabe?" Ela diz colocando a mão no meu braço.

"Ah, eu acho que ele quis sim, Dora." Digo, sorrindo, mas sem nenhum
traço de felicidade.

"Ele está com raiva porque acha que o irmão que ele ainda ama não está
mais aí. Ele acha que ama alguém que não existe mais, Reg." Ela fica de
frente para mim, olhando nos meus olhos, e coloca uma mão em cada
ombro meu. "Regulus, presta atenção, você não pode destruir Você-Sabe-
Quem só por querer salvar Sirius ou provar algo para ele, faça isso por
você! Você não pode também esperar que Sirius apareça na sua porta

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dizendo que quer voltar a ser seu irmão e tirando você daquela casa de
merda. Droga, Regulus, você tem que achar algo pelo que você mesmo
acredita e lutar por isso! Se está disposto a arriscar sua vida, não espere que
Sirius, eu, nem ninguém banque o herói e te salve de tudo isso. Seja você
seu próprio herói."

"Cacete. Onde você aprendeu tudo isso?" Disse, mas foi da boca para fora,
porque esta sempre foi a Pandora, gentil, mas sempre, sempre sincera.

"Sendo amiga de um comensal desertor bissexual com problemas


fraternais." Ela disse, fingindo tédio. "Acredite, é difícil." E então rimos.

Seja você seu próprio herói. Eu pensaria no que Pandora disse mais tarde.
Eu, sem dúvidas, pensaria. Mas eu precisava dela para outra coisa mais
importante agora.

"Dora, eu preciso de você. Precisamos descobrir o ponto fraco dele. O


calcanhar de Aquiles." Disse, olhando nos olhos dela. "Preciso matá-lo."

"Não é só lançar um feitiço no cara quando ele não estiver vendo?"

"Não. Quer dizer, antes eu acreditava que sim. Mas, quando comecei a
entender mais as coisas, escutei conversas entre meus pais. Eles
conversavam sobre como ele era poderoso e como ninguém conseguia
matá-lo. Nem Alvo Dumbledore. Houveram vezes... Houveram vezes em
que tentaram, mas foi um erro fatal. Precisa de mais do que só um feitiço
para matá-lo. É como se... Como se a alma dele estivesse ligada à alguma
coisa que não pode morrer."

"Espere aí, o que você disse?" Ela levantou os olhos para mim.

"Que ninguém consegue simplesmente mat-"

"Não, depois disso!" Ela disse me interrompendo e se levantando.

"Como se a alma dele estivesse ligada à alguma coisa..." Respondi devagar,


sem entender onde ela queria chegar.

"Ai. Meu. Deus. Regulus Arcturus Black!" Ela gritou. E saiu correndo para
trás da bancada, pegando um livro grosso de uma prateleira cheia deles. Ela
folheava as folhas do livro tão rápido que me deixou atordoado.

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"Dora, o que foi?" Perguntei, mas não tive resposta. "Pandora, o que está
acontecendo? O que você está procurando?"

"Onde está? Onde está?" Ela sussurrava enquanto folheava o livro mais
rápido, sem olhar para mim nenhuma só vez.

"Pandora!" Gritei em cima dela dessa vez.

"Achei!" Ela gritou mais alto ainda. "Divide sua alma... Se você tirar uma
vida..." Ela estava lendo as frases do livro sussurrando. Merlim, ela nunca
esteve tão estranha.

"Vai me dizer o que está acontecendo ou não?"

Ela suspirou e finalmente me olhou.

"Regulus, você já ouviu falar em horcruxes?"

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Capítulo 6: Horcrux

"Pandora, isso é loucura!"

Pandora finalmente tinha enlouquecido. Não é possível. Esse tipo de magia


era mais complexo do que qualquer coisa que já tínhamos aprendido em
Hogwarts. E eu sou um comensal, acredite, eu já vi muita coisa ruim. Se
Voldemort chegou à isso, então a coisa era mais difícil do que eu pensava.

"Leia isto, Regulus!" Pandora estava muito acelerada. "Leia em voz alta, por
favor." Ela disse, me dando o livro nas mãos enquanto andava de um lado
para o outro.

"Uma horcrux é um objeto mágico maligno, no qual garante imortalidade


ao seu criador, enquanto a mesma não for destruída..." Comecei a ler.
"Dora, isso é.."

"Continue!" E então continuei.

"É uma magia extremamente avançada. Ela divide a alma em um ou mais


objetos, de acordo com a vontade do criador. O pedaço da alma, que é
colocado no objeto de sua vontade, se parte quando você..." Fiz uma pausa.
Que porra era aquela? "Tira uma vida."

"E se for isso?" Pandora diz me olhando.

"Não sei, Dora, isso parece coisa de filme de terror... Por que ele teria todo
esse trabalho se é mais poderoso que qualquer bruxo e pode se proteger do
que quiser?"

"Maldade não é poder, Regulus." Ela diz séria, tirando o livro da minha mão.

"Ele é esperto. Uma coisa assim, deixaria pistas..."

"E se por isso ele parece ser tão poderoso? Porque mesmo que não seja de
verdade, ele não pode morrer. Ele é intocável, indestrutível, mas... Se ele
fosse mortal..."

"Eu poderia matá-lo." Digo, encarando o chão.

"Exatamente." Ela diz com um sorriso malicioso.

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"Mas...Mas Pandora, se ele realmente tiver criado uma horcrux, pode ser
qualquer coisa. Literalmente, qualquer coisa. Um livro, uma chave, até
mesmo alguma coisa que ele usa..."

"Duvido que seja algo tão fácil assim, Reg." Ela diz pensativa. "São coisas
com significados, coisas importantes..."

"Pandora?"

"Mm?"

"Dá para fazer isso quantas vezes?"

"O que você quer dizer?"

"Quantas horcruxes? Quantas vezes é possível dividir a própria alma,


Pandora?" Perguntei assustado e ela arregalou com os olhos, percebendo o
que eu queria dizer.

"Regulus, você tem que falar com Dumbledore." Ela só podia estar de
brincadeira.

"Você só pode tá brincando comigo, não é?" Disse, revirando os olhos e me


virando para o outro lado.

"Ele conheceu Você-Sabe-Quem! Ele era diretor da escola quando ele


estudou lá. Quem vai saber alguma coisa sobre isso além dele?" Ela virou
para de frente comigo. "Ele pode nos ajudar."

"Pandora, minha querida," Respondi. "O máximo que Dumbledore vai fazer
é dizer uma frase de efeito e um sorriso cínico de merda."

"Isso não é verdade, Reg. Se ele tiver alguma informação útil, ele vai
ajudar..."

"Não. Não. Não vou recorrer à ele. Sinto muito." Eu sabia que deixaria ela
irritada, mas Dumbledore nunca me ajudou muito quando eu estava em
Hogwarts. Talvez porque eu era um Black e estivesse com o destino
marcado. Mas ele me conheceu com onze anos. Se ele em algum momento
achou que eu precisava de ajuda, ele só continuou achando. Porque nunca
fez nada. Nem quando mamãe mandou um berrador no meio do jantar
chamando Sirius de 'traidorzinho' e me chamando de ingrato por fazer

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amizade com uma corvina. Mamãe odeia Pandora. Mas tudo bem, porque eu
acho que o sentimento é mútuo. Mas a questão é que Dumbledore sempre
sabe das coisas, mas prefere colocar os outros para cuidar de assuntos que
ele resolveria muito mais facilmente. Ele não era uma pessoa ruim, mas
ninguém pode me culpar por não confiar no cara.

Mas não tinha apenas Dumbledore. Eu conhecia outra pessoa que conheceu
Voldemort na escola. Nele eu confiava. É o cara mais genial que conheço.
Fazia qualquer poção em um piscar de olhos e como se fosse uma obra de
arte, ele me ensinou tudo que eu sei sobre elas. Eu e Evans éramos os alunos
preferidos dele. Bom, eu era melhor que ela, obviamente. Mas sim, nele eu
poderia confiar. Eu sabia que podia, ele só precisava querer me contar.

"Pandora, tem outra pessoa." Eu disse e ela me olhou intrigada. "O professor
Slughorn." Os olhos dela se arregalaram na hora. E ela correu para pegar um
pergaminho e uma pena.

"Aqui!" Ela disse, me dando nas mãos. "Escreva para ele e diga para ele
encontrar você no Três Vassouras amanhã."

E eu escrevi. Eu sei que ele iria porque sempre me disse que se eu precisasse
de algo quando fosse embora de Hogwarts, eu poderia sempre contatá-lo. Ele
era o único adulto em quem eu confiava. Pandora amarrou a carta em sua
coruja e a mandou.

"Se Sirius não vai me ajudar... Eu conseguirei o que preciso sozinho."

"Regulus, Sirius vai te ajudar. Ele só precisa de uma prova. Todos eles vão,
Reg. Ele, os meninos, Lily... E Marlene e Dorcas? Ouvi que elas estão
morando juntas, talvez você pudesse falar com elas... Ah, e Mary! Ela
ajudaria com certeza, eu acho até que ela gostava de você."

"Pandora." Falei, a parando. "Ninguém da Ordem, ok? Nenhum deles. Eu sei


que para você, eu sou diferente. Mas eu ainda sou um comensal." Levantei a
manga da camisa, para ela ver quem eu era de verdade. "Está vendo? Não
importa quem eu destrua ou quem eu proteja. Isso não vai sair daqui. Eu sou
assim."

"Isso não é nada para mim!" Ela pega meu pulso com força e o joga para o
lado.

"Bem, deveria ser!"

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"É uma pena, Reg." Ela diz, sem expressão.

"O quê?"

"É uma pena você achar que isso diz mais sobre você do que você mesmo."

"Pandora, eu..." Falei, querendo rebatê-la.

"Regulus, você sabe por que acredito em você?" Ela me interrompe.

"Porque...você me ama?" Falei, com um sorriso.

"Porque eu vi quem você é, Reg." Ela responde, séria. "Eu acredito em você
porque você nunca mentiu para mim sobre quem era. Porque era você quem
me protegia nos corredores de outros sonserinos que me chamavam de
esquisita por causa dos meus cristais. Porque você deu um soco em Mulcilber
no quinto ano, quando ele tentou...tocar em mim. Porque você foi meu amigo
desde os meus onze anos e, mesmo quando ganhou essa coisa no seu braço,
você me olhou nos olhos e se deixou chorar na minha frente porque achava
que seu irmão o odiaria para sempre. Porque no dia em que você me mostrou
que tentou tirar a droga dessa marca com..." Ela fez uma pausa, porque ela
tocou em assunto que nunca mais tínhamos tocado. "Com uma lâmina, Reg.
Você se machucou, porque não queria mais fazer isso. Você estava com tanta
vergonha e eu podia ver. Você me deixou te enxergar e, droga, Black, você
é lindo. E se você diz agora que quer matá-lo. Então eu vou matá-lo com
você." Ela encosta a testa na minha. "Porque você vale o risco."

***

Não sei se um dia serei capaz de agradecer Pandora dignamente. Mas vou
tentar, enquanto eu viver, vou tentar.

Mamãe mãe não me perguntou sobre onde eu fui ontem. Ela deve ter
acreditado na história de Kreacher. Eu me encontraria com Slughorn naquela
tarde e eu daria um jeito de descobrir tudo. Mesmo que para isso, eu
precisasse usar a poção da verdade que Pandora me deu ontem. Uma gota na
bebida dele e ele me diria qualquer coisa que eu perguntasse. Eu estaria
encrencado, mas era melhor do que ficar sem saber. E, aliás, ele nem era
mais meu professor, ele não poderia me dar uma detenção ou algo do tipo.
Pelo menos, eu espero que não.

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Aparatei para o Três Vassouras no fim daquela tarde. Esperei por alguns
minutos até vê-lo passar pela a porta do bar. E quando ele me viu na mesa,
abriu um sorriso gigante. Eu já havia pedido a bebida dele, obviamente. Eu
precisava colocar a poção sem ele ver e esse foi o único jeito que eu
achei. Merlim, eu vou para o inferno.

"Regulus Black! Meu aluno favorito!" Disse ele, se sentando. "O que traz
você aqui? Você está jovem! Deveria estar com alguma bela moça e não com
um antigo professor velho como eu." Ele diz, dando um gole na bebida. Por
que as pessoas sempre cogitavam mulheres primeiro?

"O senhor sabe que gosto das nossas conversas." Falei, rindo e bebendo
também. Ótimo, ele já havia bebido, era agora ou nunca. "Na verdade, eu
queria perguntar algo ao senhor."

"O quê, Regulus?" Ele perguntou, dando mais um gole na bebida. Isso, isso,
isso.

"Eu estava lendo uns livros antigos ultimamente... E me intriguei muito com
uma coisa que li. Nenhum professor nunca nos ensinou sobre isso antes,
então achei que devia ser algo muito complicado de se executar. O senhor
sabe o que são horcruxes, não sabe?" Os olhos dele se arregalaram, mas o
seu cérebro pareceu não estar acompanhando a língua, porque ele respondeu
na mesma hora.

"São objetos das trevas. Um bruxo cria uma matando alguém e então ele não
pode morrer porque a alma fica presa à isso." Ele parecia confuso. "Eu não
deveria estar dizendo essas coisas para você, Regulus. Há um motivo para
isso não ser ensinado nas aulas..."

"O senhor foi professor de Você-Sabe-Quem, não foi?" Perguntei, tentando


parecer desinteressado.

"Sim. Espere, por que está me perguntando isso?" Ele parecia realmente
confuso agora.

"Ele alguma vez falou com o senhor sobre isso? O senhor disse à ele o que
está me dizendo agora?" Era inevitável não parecer interessado.

"Sim, tivemos conversas sobre horcruxes. Ele parecia bem interessado, na


época. Mas eu nunca imaginei que ele ia se tornar o que se tornou, Regulus!
Ah, se eu soubesse..." Ele pôs a mão na testa, choramingando. "Se eu

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soubesse, poderia ter feito algo, eu sei que poderia! Você tem que entender
que não foi minha culpa." Droga, eu era uma pessoa horrível.

"Eu sei disso, professor. Eu sei," Falei tentando confortá-lo. Nunca fui bom
nisso. "Eu...hm...eu preciso ir agora! O senhor conhece a minha mãe, hm..."
Falei me levantando e querendo ir embora logo. "Ela não gosta que eu saia
muito. mas vou escrever para o senhor, não se preocupe! Se cuide!" Falei da
porta do bar.

Não queria estar perto quando ele percebesse que tomou aquela poção.
Parabéns, Evans, acho que você é a única favorita agora.

Aparatei de volta para casa para escrever para Dora o que eu descobri.
Finalmente, eu tinha algo. Ela não vai acreditar quando escutar as coisas que
Slughorn me contou. Ela estava certa, Voldemort criou horcruxes, como eu
nunca li sobre isso? E se ele criou, o que poderiam ser?

Subi correndo para o meu quarto. Eu precisava escrever para Pandora


imediatamente. Mas quando cheguei no quarto, já havia uma carta em cima
da mesa. Eu estranhei porque Pandora não me manda cartas sem que eu
mande antes porque mamãe poderia descobrir. E além dela, ninguém me
escrevia. Peguei a carta nas mãos e quase não acreditei no que eu li e na
pessoa que havia escrito.

"Regulus,

Preciso falar com você, Padfoot não pode saber. É urgente. Não posso mais
ignorar as coisas que ouvimos de você naquela noite. Por favor, me escreva
de volta.

Dorcas Meadows foi morta na noite passada.

R.J. Lupin"

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Capítulo 7: Escuridão

Eu não conhecia muito Dorcas Meadows.

Na verdade, eu acho que só falei com ela umas três vezes na escola. Ela era
do ano de Sirius. Era um menina muito bonita. Era alta, negra, com os
cabelos crespos e os olhos castanhos escuros. Pandora dizia que ela era muito
gentil e que sempre se interessava pelos assuntos sobre energia, cristais e
essas coisas que Dora sempre gostou, mas também não era muito próxima
dela. Dorcas estava sempre andando com Marlene McKinnon. Uma vez vi
as duas se beijando em um corredor depois de uma festa da Grifinória, mas
nunca contei para ninguém. Eu não gostaria que ninguém contasse se me
vissem beijando um cara na escola. Porque são os anos setenta e as pessoas
simplesmente não aceitam esse tipo de amor.

Mas Dorcas era amada. Por todo tipo de amor, ela era muito amada.

A família dela foi atacada por comensais. Não sobrou ninguém. O que me
faz pensar que Lupin deveria estar com Sirius e James agora, com Marlene
principalmente, que deve estar inconsolável. Mas ali estava a carta do
namorado do meu irmão, que me odeia, dizendo que queria falar comigo.
Parecia até piada. Talvez eles estejam com raiva dos comensais da morte e
finalmente decidiram me matar.

Mas, pensando bem, eu não tinha nada a perder. Peguei a pena e escrevi
primeiro para Pandora.

"Dora,

Falei com Slughorn. Você não faz ideia do quanto estava certa! Eu
provavelmente irei para o inferno por ter meio que drogado meu antigo
professor para ele me contar o que sabia, mas tudo bem! Porque eu descobri
que tudo que eu e você conversamos é verdade. Quando posso ir ver você de
novo?

Não sei se você está sabendo sobre Dorcas Meadows, mas comensais
atacaram ela e a família na noite passada. Odeio isso. Queria não me sentir
culpado por essas merdas.

PS.: Remus Lupin me escreveu. O que é estranho, porque eu sempre achei


que ele me odiasse.

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Com muito amor,

R.A.B."

"Lupin,

É um pouco estranho você querer conversar comigo. Mas se isso não for
mesmo um plano homicida muito ruim, tudo bem. Me encontre em
Hogsmead essa tarde.

Sinto muito por Dorcas,

R.A.B."

A realidade é que, eu não sabia desse ataque e mesmo se soubesse eu não


poderia fazer nada, mas ainda assim eu me sentia culpado. Culpado por
carregar a mesma marca que as pessoas que assassinaram uma família
inocente há menos de vinte e quatro horas. Ninguém merecia isso.

Essa coisa de tentar ser um herói dava trabalho. Já era o terceiro dia seguido
que eu passava fora de casa e não tinha nenhuma parte do meu corpo doendo
ou sangrando. Acho que mamãe está perdendo o jeito. Ou ela só não se
importa o suficiente porque acha que estou "cumprindo meus deveres pelo o
que acredito".

Bom, Walburga, eu estou mesmo.

Eu esperei um pouco antes de sair porque estava esperando uma resposta de


Pandora, mas não recebi nenhuma. Droga, Pandora, cadê você? Juro que se
isso for mais uma das suas distrações com o Lovegood, eu mato você.

Tranquei a porta do quarto e aparatei.

***

Não tive tempo para reparar em como Hogsmead estava bonita ontem. Cheia
de neve, como sempre. Os bares lotados, alunos de Hogwarts comprando
doces para o Natal, muitas conversas e risadas ao mesmo tempo. Eu amava
vir aqui com Pandora, os dias de passeio em Hogsmead eram os melhores.
Afinal, não existe nada melhor do que a neve.

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Eram tantas lembranças que eu tinha por lá. Uma vez, eu e Dora comemos
tantos doces na Dedos de Mel que eu segurei o cabelo dela por meia hora no
banheiro. Foi nojento, mas divertido. Beijei Emmeline Vance uma vez na
frente do Três Vassouras, ela beijava esquisito, mas não importava, porque
quem eu queria beijar era um lufano de olhos azuis que não parava de nos
encarar. Alguns meses depois, eu o beijei, mas nem era tudo isso.

Eu estava distraído com tantas memórias enquanto andava pela vila que não
notei quando Snape saiu do Três Vassouras com Mulcilber e me viu. Merda,
merda, merda, merda.

"Regulus? É você?" Não, seu idiota, sou a porra da sua avó.

"Snape. Mulcilber." Acenei com a cabeça para os dois. "O que estão fazendo
aqui?"

"O Lord mandou que checássemos o que estavam falando sobre a família de
ontem." Snape respondeu, indiferente. "Mas e você? Veio fazer o que?"

"E por que eu contaria? Você sabe que Lord Voldemort me dá missões mais
importantes do que só escutar fofocas em um bar, não é, Snape?" Falei,
enojado por me gabar disso, mas era necessário para fazer Snape se mandar
daqui. "Acho que vocês dois estão perdendo a credibilidade."

"Olha como fala, Black." Mulcilber se pôs do lado de Snape.

"Olha como você fala, Mulcilber," Me pus na sua frente. "Quer que o Lord
saiba que você atrapalhou algo que ele pediu diretamente à mim?"

Mulcilber pareceu apavorado, mas orgulhoso demais para demonstrar tão


facilmente. Então Snape empurrou ele para trás, e me olhou nos olhos.

"Lord Voldemort não mandou você aqui." Ele disse, desconfiado. "Não me
diga que veio ver o irmãozinho traidor..." Ele começou a rir junto com
Mulcilber.

"Não ouse..." Vociferei.

"O quê?! Ah, Reg, a mamãezinha não vai gostar de saber que você fugiu de
casa para ver o Black renegado..." Mulcilber diz rindo. Eu poderia matá-los
agora mesmo.

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"Ela não costuma punir você, Reg?" Snape ria agora, com aqueles dentes
amarelados. "Ou você que é muito fraco para se defender?"

"Você não sabe nada sobre mim." Rosnei, enquanto colocava a mão na
minha varinha.

E então, de repente, Snape e Mulcilber caíram no chão e começaram a ser


arrastados pelas próprias cuecas, mas sem ninguém os segurando. Snape
gritava para Mulcilber fazer alguma coisa e Mulcilber chamava Snape de
idiota. Foi uma cena épica. Todos na vila começaram a sorrir dos dois e eles
saíram correndo assustados. Olhei ao redor e vi Lupin sair de trás da Dedos
de Mel, girando a varinha na mão e com um sorriso maroto no rosto.

"Você fez isso?!" Perguntei.

"Claro que sim, não é de hoje que Snape me irrita." Ele diz, ainda sorrindo.

"Que feitiço é esse, pelo amor de Merlim?!"

"Um maroto nunca conta seus segredos, jovem Black." Ele diz sorrindo,
guardando varinha no bolso do casaco e acendendo um cigarro. "Vamos
caminhar."

Andamos por vários lugares, em silêncio. Lupin parecia realmente relaxado


quando fumava, ele cheirava à chocolate e à pelo de cachorro. Ele tinha uma
cicatriz que passava no meio do seu rosto, indo do canto do olho direito até
o fim da bochecha esquerda, mas isso não o fazia feio. Lupin era lindo, na
verdade. Mas acho que ele não fazia muita ideia disso.

"Regulus, você sabe que eu não odeio você, não é?" Ele perguntou, de
repente, jogando o cigarro fora.

"Na verdade, eu não sei." Respondi, sinceramente, o que fez ele sorrir.

"Não odeio. Na verdade, eu até gosto de você." Ele disse e eu não disfarcei
a minha surpresa. "Qual é, não fique tão surpreso."

"Bom, a última vez que nos vimos, você ia mandar eu enfiar minha varinha
em um lugar horrível se Evans não tivesse interrompido você, então... Sua
definição de gostar é meio estranha." Ele riu, mas eu estava falando sério.

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"Fiz aquilo por Padfoot. Lealdade, sabe?" Ele diz, sorrindo ao pensar em
Sirius.

"Não, não sei, não é algo que eu e Sirius temos muito." Eu disse, esperando
ele rebater, mas ele ficou em silêncio, então continuei. "Posso perguntar uma
coisa?"

"Manda." Ele diz, depois de acender outro cigarro.

"Você o ama?"

Ele demora para responder.

"Quero te levar à um lugar." Ele começa a caminhar sem me responder. Isso


é um não? Que cara esquisito.

"Onde está me levando? Não vai me levar para um cativeiro, não é?!"

"Droga, Black, como adivinhou?" Ele responde rindo, mas eu estou nervoso
de verdade.

Caminhamos por algum tempo até chegarmos à uma parte deserta e cheia de
neve, com uma cerca de arame farpado na nossa frente.

"Você sabe o que é aquilo?" Lupin pergunta, apontando para o que tem além
da cerca.

"Sim." Digo, estreitando os olhos. "A Casa dos Gritos."

"Você sabe por que se chama se assim?"

"Não sei, acho que é assombrada, sei lá... Qual o objetivo disso?" Pergunto,
um pouco irritado.

"Sabe, Reg, é isso que admiro em você," Ele começou, dando uma tragada
no cigarro. "Você tem claramente uma escuridão dentro de você, mas você
nunca fugiu dela. Não estou falando dessa porra de marca no seu braço ou
de você ser um Black, estou falando de quem você é. Você tem esse lado
obscuro e, às vezes, ele domina você, não é?" Ele pergunta, olhando para a
casa.

50
"Sim." Respondo sinceramente, também olhando para a casa.

"Você sabe que eu sou um lobisomem, não é, Regulus?"

"Claro que sei. Você é todo, sei lá, cortado na cara e eu nunca via você no
café depois de uma noite de lua cheia! E, pelo amor de Deus, se isso era para
ser segredo, por que diabos chamam você de Moony?!" Isso ele fez
gargalhar.

"Você é esperto." Ele parou de rir e voltou à olhar para a casa. "Eles me
colocavam lá. Sozinho. Eu me transformava todo mês em um monstro que
rasgava meu corpo de dentro para fora e eu ficava sozinho."

"Espere, então... Meu Deus, Lupin, os gritos eram seus?!" Perguntei,


horrorizado.

"Sim." Ele tragou o cigarro mais uma vez. "É disso que eu estou falando,
Reg. Eu tenho essa escuridão em mim também. Eu sou considerado uma
criatura das trevas, na visão da maioria. E eu passei muito tempo tentando
colocar na minha cabeça que isso não era eu e que eu podia simplesmente
ignorar essa parte minha. Você não é assim, você consegue aceitar seus
demônios e viver com isso. Por mais que tenha perdido alguém que amou
muito. Por mais que às vezes acredite na coisa errada, você nunca abandonou
seu lado imperfeito, você assumiu ele e arcou com as consequências."

"Não sei se estou entendendo onde você quer chegar, Lupin."

"Regulus, eu só consegui aceitar quem eu era depois dos marotos, depois de


Sirius. Eles me mostraram que o lobo fazia parte de mim, mas que se eu não
quisesse que ele me definisse, ele não definiria. Eu ainda odeio isso, mas ele
não vai sair daqui. Então ao invés de ignorá-lo no resto do mês, agora eu o
enfrento. No fim, a única pessoa que pode dizer quem você é, é você
mesmo."

"E o que eu tenho a ver com tudo isso?"

"Você não vê? Regulus, Sirius me mostrou isso. Sirius conseguiu me amar
não apesar disso, mas por causa disso. Sirius não se assusta com monstros.
Ele não está nem aí para escuridão nas pessoas ou coisa do tipo, ele mesmo
tem a própria. Ele não é assim. Ele liga para amor, lealdade e coragem. Ele
não quer que você deixe de ser quem é, ele quer que você o mostre que ele
pode se sentir seguro em amar você porque você não vai deixar os seus

51
demônios o afetarem." Ele joga o cigarro fora. "Então, sim. Eu o amo por
isso. Você não faz ideia do quanto."

"Você acha que Sirius ainda pode me perdoar?" Perguntei, quase num
sussuro.

"Você pode?" Ele respondeu, simplesmente.

"Você precisa acreditar em mim, Lupin. Tudo que eu disse. Era tudo
verdade." Eu digo e ele me olha pelo canto dos olhos.

"Regulus, você sabe o que é uma penseira, não sabe?"

"Claro, não sou idiota." Respondo.

"Eu e Sirius temos uma. Você sabia disso?"

"O que?! Como assim?!" Fico realmente chocado. "Pelo amor de Deus, como
vocês conseguem essas coisas desde a escola, Lupin?" Ele começa a rir.

"Eu já disse, um maroto nunca conta seus segredos!" Ele para de rir. "Vamos
até a minha casa. Quero que você me mostre tudo."

***

A casa de Lupin e Sirius era comum. Lupin não deve ter deixado Sirius gastar
toda a herança de tio Alphard nas decorações. É uma casa branca e com muita
grama. E uma casa de cachorro, o que é estranho, porque eles não tem um
cachorro.

"Ei!," Chamo Lupin enquanto ele fecha a porta atrás de nós. "Por que você
tem uma casa de cachorro lá fora?" Lupin gargalha tão alto que ecoa pela
casa inteira.

"Sirius é um animago, Reg. Ele é um cachorro." Ele ri. "Desde o quinto ano,
na verdade."

"Espere aí, o que?! Onde eu estava quando isso aconteceu? E como o


bastardo fez isso?" Pergunto, chocado.

"É Sirius. Ele sempre consegue." Ele responde, dando de ombras.

52
"Certo... Mm, a penseira...?" Digo, querendo parar de falar de Sirius logo.

"Certo, certo, vamos, é por aqui, eu só tenho que pegar um-" Ele é
interrompido por um barulho de chave abrindo a porta da frente.

Porra.

"Moony, eu comprei chocolate para fazermos aquele doce trouxa que vimos
no-" Sirius chega alegre e para quando me vê, igual na casa dos Potter. "O
que. Porra. Você. Está. Fazendo. Aqui?!"

"Pads, calma, fui eu quem chamei ele. Tá tudo bem, eu..." Lupin se
intromete, eu permaneço calado.

"Você o que?!" Ele olha com raiva para mim. "Vai embora! Agora!" E depois
olha para Lupin. "Dorcas morreu por causa deles, Remus! Marlene está
inconsolável! O que você estava pensando?"

"Sirius! Você está sendo impossível!"

"Olha, eu não quero começar uma briga entre vocês..." Pego meu casaco e
me dirijo à Lupin. "Estou indo, Lupin. Quando quiser continuar a conversa,
me mande uma carta e eu virei."

"Pode me chamar de Remus, Reg." Ele diz, passando a mão no meu braço.

"Como é que é?!" Sirius parece indignado. "Vai deixar ele chamar você de
Moony agora também?!"

É a última coisa que escuto antes de aparatar de volta.

Eu estava feliz. Remus acreditava em mim. Ele queria uma prova, porque,
bem, estamos numa guerra e eu sou um comensal. Mas ele me ouviu,
considerou as coisas que eu disse. Se consegui fazer Remus acreditar, então
Sirius não está tão longe. Me sinto com esperança, como se finalmente tudo
estivesse indo para o caminho que deveria ir. Tenho a escuridão dentro de
mim, mas também tenho luz. Eu mesmo posso decidir quem quero ser. Eu
mereço algo bom. Eu mereço. Tenho que acreditar porque ninguém vai
acreditar em mim se eu mesmo não fizer isso.

53
Tenho que escrever para Pandora e contar, mas ela ainda não respondeu a
carta que mandei. Quando estou quase subindo as escadas, ouço a voz da
minha mãe chamar.

"Regulus, querido, você voltou mais cedo que ontem!" Querido?

A voz dela vinha da biblioteca, onde Kreacher estava na porta com uma cara
completamente assustada.

"Senhor... Senhor, me desculpe... Kreacher não conseguiu impedir..." Ele


choramingava.

"Do que você est-" E então eu vi horrorizado.

"Eu avisei para nunca mentir para mim, Regulus."

Mamãe estava com um sorriso maníaco no rosto, enquanto luzes saíam de


sua varinha direto para mesa onde Pandora se contorcia e gritava de dor. Ela
estava torturando a pessoa que eu mais amava no mundo. Comecei a chorar
descontroladamente enquanto o mundo inteiro começava a desmoronar.

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Capítulo 7.1: Remus

"Não consigo acreditar que você fez isso comigo!" Sirius estava
transtornado.

"Como você pode achar que eu fiz isso para atingir você?! Droga, Black, são
atitudes como essas que fizeram a gente se descuidar e perder Dorcas, não
Regulus!" Gritei de volta enquanto ele andava de um lado para o outro na
sala.

"Você está querendo me dizer que eu não querer ele por perto porque ele é a
porra de um comensal foi o que a matou?!" Sirius disse. "Ah, Remus, me
poupe!"

"Sirius... O que estou tentando dizer, é que você deveria pensar com a cabeça,
não com o seu coração. Pense. Não vimos Wormtail desde..."

"Ah, meu Deus!" Sirius gritou de verdade, me interrompendo. "Por que é que
você não confia em ninguém?!"

"Porque você confia em todo mundo!" Grito de volta e Padfoot para e me


encara, chocado e magoado.

"Não posso fazer isso agora." E então ele entrou no quarto, batendo a porta.

Eu não sabia mais o que fazer com Sirius. Ele era impossível quando o
assunto se tratava de Regulus. Eu sabia que havia o magoado trazendo o seu
irmão até aqui, eu trouxe para o lar que Sirius construiu uma lembrança da
vida que ele odiava. Eu odiava saber que ele estava triste por minha causa.
Mas Padfoot estava com tanto medo de perder as poucas pessoas que ainda
podia confiar durante a guerra, que estava fechando os olhos para o que
estava na sua frente.

Não víamos Peter desde a noite em que Regulus apareceu na casa de Prongs.

Dumbledore acha que não devemos nos precipitar e levar à palavra de


Regulus como verdade absoluta porque, querendo ou não, ele é um deles.
Mas Peter não é apenas um membro da Ordem, Peter era um maroto. Peter
cresceu com todos nós, Peter foi quem passou anos estudando como virar um
animago apenas para me ajudar, Peter ajudou James a encantar todas as
vitrolas de Hogwarts para tocarem a mesma música de amor quando Lily

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passasse e aconselhou Sirius a me dar mais espaço quando eu não queria
aceitar meus próprios sentimentos por ele.

Peter estava lá, sempre. Mesmo quando não o enxergávamos. E se já era


difícil para mim acreditar, para Sirius, que sempre foi mais emocional, era
pior ainda. Mas perdemos Dorcas noite passada, e Dorcas também era uma
de nós. Quantos mais vamos perder por não querermos acreditar no que está
na nossa frente?

"Ei, Pads..." Sussurrei, abrindo devagar a porta do quarto. Sirius estava


sentado na beira da cama, com os cotovelos apoiados no joelho e comendo
um dos chocolates que comprou. Ele levantou a cabeça quando me ouviu.
"Posso ficar com você?"

Ele assentiu e eu entrei, fechando a porta e me sentando ao lado dele.

"Me desculpe por ter gritado com você." Ele sussurrou, com a voz trêmula,
sem olhar para mim.

"Me desculpe por agir pelas suas costas." Respondi. "Fui um idiota."

"Sim, você foi." Ele responde, me olhando dessa vez.

"Ei!" Empurro o braço dele e nós rimos. Mas o sorriso dele se desfaz e ele
encosta a cabeça no meu peito.

"É só que... Eu não sei se consigo, Moony." Ele começa, com a cabeça ainda
encostada em mim. "Eu olho para ele e sinto vontade de abraçá-lo e pegar na
mão dele e tirá-lo daquela casa... Mas quando lembro que isso foi pelo o que
ele escolheu lutar. Quando lembro das vezes que..." Ele está chorando agora.
"Das vezes em que chamei por ele nos corredores e ele fingia que não sabia
quem eu era... Não sei se eu aguentaria passar por isso de novo, Moony."

"Pads, eu amo você..." Digo, passando a mão no cabelo dele. "Mas às vezes
você é muito burro."

"O quê?!" Ele levanta, confuso e me encara.

"Se você não tivesse nos conhecido, ou tivesse, sei lá, ido parar em
Durmstrang ao invés de Hogwarts. Se não tivesse ido para a Grifinória e que,
Merlim nos livre, mas se você tivesse cedido ao que seus pais tentaram te

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impor por muito tempo, você acha que estaria feliz?" Pergunto o olhando nos
olhos.

"Claro que não!" Ele responde sem hesitar.

"Vocês dois tiveram a mesma criação, você, melhor do que ninguém, sabe o
que acontece dentro daquela casa. O que te faz acreditar tanto que Regulus
está nisso porque quer?" Ele não me responde e encara o chão. Aproveito
que ele não está falando, o que é raro, e continuo falando. "O que te faz
pensar que as coisas não ficaram tão ruins para ele naquela casa que chegou
um momento em que ele não aguentou e apenas cedeu?"

"Mas então... Por que ele se distanciou de mim?! Por que ele me afastou?!
Eu podia tê-lo ajudado, Moony! Eu podia ter tirado ele de lá, ou não sei, eu
teria dado um jeito!" Os olhos dele começaram a ficar marejados.

"Eu sei que você teria..." Respondo, segurando o rosto dele com minhas duas
mãos e encostanto minha testa na dele. "Mas nem todo mundo consegue ser
tão corajoso como o meu Padfoot."

"Não fui corajoso o suficiente para tirar ele de lá." Ele responde sussurrando.
"Eu deixei ele... E ele só tinha quinze anos, Moony! Droga, por que ele não
me pediu ajuda?! Eu teria feito qualquer coisa por ele!"

"Você ainda pode fazer, Sirius..." Virei o rosto dele para mim e o encarei
seriamente. "Você pode acreditar no que ele diz."

"Mas se for verdade... Moony, é de Worm que estamos falando. Você precisa
entender porque me recuso tanto a acreditar nisso." Ele responde.

"Padfoot, não vemos ele a uma semana inteira. Coincidentemente, desde o


dia que Regulus disse que o viu na mansão e..." Digo, fazendo Sirius prestar
atenção em mim. "Não quero perder mais ninguém importante para mim por
causa dessa guerra. Não consigo imaginar perder você... Ou Lily, ou
Prongs..."

"Não diga isso." Ele me interrompe, alarmado. "Eu e Prongs somos


humanamente incapazes de existir em um mundo que o outro não exista. É
quase biologia isso, Moony!"

"Eu sei, Pads," Respondo, rindo da maneira como ele diz. "É disso que estou
falando. Não podemos perder mais ninguém."

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"Então... O que eu faço, Moony?" Sirius pergunta para mim, com os olhos
tristes.

"Você começa escrevendo para o seu irmão. E a partir da aí, veremos." Digo,
com firmeza.

"Tudo bem..." Ele responde e suspira.

"Mas antes!" Aponto para os chocolate aberto na mão dele. "Vamos fazer
aquele doce! Porque eu estou realmente com vontade de comer aquilo."

"Você quer provar?" Ele me interrompe, quebrando um pedaço da barra. Eu


aceno que sim com a cabeça e ele coloca ela na minha boca. Ele sorri, perto
demais do meu rosto e sussurra no meu ouvido. "Não está com vontade de
mais nada?"

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Capítulo 8: Culpa

I'm going under and this time/Estou afundando e desta vez

I fear there's no one to save me/Eu temo que não haja ninguém para me
salvar

This all or nothing really/Essa coisa de tudo ou nada realmente

Got a way of driving me crazy/Tem um jeito de me deixar louco

I need somebody to heal/Eu preciso de alguém para curar

Somebody to know/Alguém para saber

Somebody to have/Alguém para ter

Somebody to hold/Alguém para segurar

Someone You Loved - Lewis Capaldi

- 26 horas e meia até a hora zero.

"O-que você está fazendo?!" Parecia que alguém tinha dado um soco no meu
estômago. "Solta ela! Agora!" Pandora estava com tanta dor que não
conseguia falar. Fui correndo até onde ela estava, mas mamãe foi mais rápida
e me lançou um feitiço me jogando para o outro lado da sala. Minha cabeça
bateu tão forte na parede de madeira que começou a sangrar na parte de trás.
Quando tentei me levantar de novo, mamãe me prendeu na parede. Eu fiquei
imóvel, não conseguia mexer um músculo sequer do meu corpo. Como eu
achei que seria capaz de salvar alguém?

"Reg..." Foi a única coisa que Pandora conseguiu falar, ela levantou a mão e
disse meu nome. Eu acho que nunca chorei tanto em toda a minha vida.

"Mãe, por favor!" Gritei. "Eu estou implorando! Deixe ela ir! Eu prometo
que faço o que você quiser, só... Só por favor! Deixe Pandora ir!"

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"Sabe, Regulus," Ela começou a andar em círculos na minha frente, se
divertindo com aquilo. "Eu nunca entendi esse seu carinho por essa menina
insignificante. Ela é tão burra que não foi nada difícil achá-la naquela escória
que ela chama de casa."

"Não ouse falar sobre el-"

"Crucio!"

Tudo começou a rasgar dentro de mim. Minha visão ficou turva e meu corpo
inteiro se contorcia no chão. Eu estava tão desesperado e eu achava que
nunca mais iria parar de gritar. Minha mãe se revezava entre mim e Pandora
o tempo inteiro. Enquanto eu ouvia os gritos dela, pensei na voz dela me
falando "Seja seu próprio herói.". Me desculpe por não conseguir ser um,
Dora. Sinto muito, sinto muito, sinto muito...

Eu queria morrer. Sirius nunca mais me veria, como ele tanto deseja. Eu
nunca veria ele se casar com Remus e construir a família feliz que ele sempre
quis. Eu perderia todas essas coisas porque não tive coragem para ir embora
quando deveria ter ido. Ele estava certo. A culpa era minha. Se saísse disso
vivo hoje, nunca mais o procuraria. É uma promessa, Sirius. Você não vai
me ver nunca mais.

Eu prefiro morrer do que olhar nos olhos de Pandora de novo. Não vou
conseguir viver comigo mesmo sabendo que isso aconteceu com ela por
minha culpa. Eu meti ela nisso e agora não consigo tirar. Mamãe não vai
pensar duas vezes em matá-la. Eu prefiro morrer à viver sem ela. Sinto muito,
Dora, eu sinto tanto...

Tudo estava acabado.

"Mãe, p-por favor..." Falei tossindo, quase sem força nenhuma. "N-não mate
ela... Eu estou implorando..."

"E por que não, Regulus?! Ela é uma distração! Lord Voldemort virá aqui à
meia noite para falar com o meu filho e ele está preocupado com uma
qualquer sem valor algum! Francamente! Eu deveria matá-la e fazer você
assistir para disciplinar você!" Ela dizia, com raiva e nojo.

"Eu não mentirei mais para você, mãe. Eu juro. Eu não a verei mais. Eu..."
Comecei a tossir de novo. "Eu me dedicarei ao Lorde das Trevas! Eu vou
fazer o que ele mandar, eu prometo! Só... Por favor..."

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"Você vai fazer o que ele mandar de um jeito ou de outro, seu garotinho
estúpido!" Ela diz, se abaixando até onde eu estava. "Ou eu mesma vou matar
cada uma das suas distraições."

"O-oquê?! Que outras distrações?!" Perguntei, assustado.

"Você acha que não desconfio que você tem visto o traidor do seu irmão?!"
Ela estava gritando bem na minha cara. "Eu juro à você, Regulus Arctutus
Black, eu dei a vida aquele bastardo e eu a tirarei em um piscar de olhos! E
a culpa será toda sua!"

"Mãe..." Tentei falar, mas estava fraco demais. "Por favor..."

"Mas vamos começar por esta aqui..." Ela sorriu maliciosamente e virou de
costas para mim, andando até Pandora.

"Mãe..." Eu mal conseguia gritar. Ela estava com a varinha na mão. Pronta
para matar Pandora bem na minha frente sem piedade alguma. Não sei de
onde Pandora conseguiu tirar forças para gritar.

"Não, por favor! Eu estou grávida!"

Ela gritou e me olhou, com os olhos desesperados. Eu a olhei de volta,


chocado, e ela estava chorando. Eu não podia acreditar. Pandora não só temia
pela própria vida, como também temia pela a de outra pessoa dentro dela.

"Regulus, você engravidou essa mestiça imunda?!" Ela virou para mim.

"Não é dele." Ela estava juntando todas as forças para conseguir falar. "Não
é de Regulus."

"Bom. Menos mal." Mamãe estava indecifrável. Ela chegou perto de


Pandora e a segurou pelo queixo com força. "Eu vou deixar você ir, menina.
Mas só porque sei a importância de um herdeiro. Mas se eu ver você e meu
filho outra vez, mato você e esse ratinho dentro de você!"

Ela soltou Pandora da mesa e depois à mim. Tudo em mim doía, todo
músculo, toda terminação nervosa. Mesmo assim, corri até onde Pandora
estava e coloquei o braço dela por cima de mim. Ela estava fraca e mal
conseguia falar.

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"Pandora! Vem cá, segura em mim!" Joguei todo o peso dela em cima de
mim.

"Não, Reg, você está..." Ela diz, com a voz falha.

"Eu não ligo para mim! Vamos, eu vou levar você para casa. Não solte meu
pescoço." Dou uma pausa e digo, sem conseguir deixar de chorar. "Eu sinto
muito, sinto muito, sinto muito. Eu tive tanto medo de você... Não vou deixar
nada acontecer com você nunca mais, eu prometo."

"Kreacher vai levá-los e trazê-lo de volta à tempo de você se arrumar parar


receber o Lorde das Trevas." Mamãe chega perto de mim, sorrindo, e dá uma
batidinha no meu rosto. "Não quero você se distraindo no caminho, filho
querido."

Empurro a mão dela com o rosto com uma expressão de nojo. Aquela mulher
não é minha mãe. Ela nunca foi. Ela nunca me amou e a última vez que a
amei foi dentro de sua barriga. Ela era tudo de ruim que existia no mundo.
Como me deixei ser manipulado por alguém assim? Como julguei Sirius por
ir embora? Essas coisas não importavam mais. Nada importava mais.
Horcruxes, Sirius, minha escuridão... Não podia deixar ninguém se
machucar por minha causa. Farei o que ela disser porque fui idiota em achar
que podia ir contra a decisão que fiz há muito tempo. Não deixarei ela
encostar em nenhum fio de cabelo das pessoas que eu amo, mesmo que para
isso tenha que viver preso para sempre.

Chego perto de Kreacher com Pandora nos braços e ele parece estar tão
assustado quanto eu. Isso não é culpa dele, ele não pode evitar obedecê-la. E
então aparatamos.

"Vamos. Vou deixar você lá dentro." Levo Pandora até sofá e a deito com
cuidado, sem olhar diretamente nos seus olhos.

"Reg, isso não foi sua..." Ela começa, mas eu a interrompo,

"Não, Pandora." Levanto a mão para pará-la. Eu não mereço que ela seja
gentil. Não depois de hoje. Começo a arrumar os travesseiros ao redor dela
para não ter que ficar cara a cara com ela.

"Regulus." Ela segura a minha mão e encara meus olhos, me fazendo parar.
"Não faça o que ele mandar."

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Me levanto sem dizer nada e ando até Kreacher para aparatar de volta. Nunca
vou conseguir me perdoar por hoje.

"Parabéns pelo bebê, Pandora." Digo, friamente. "Adeus." E aparato de


volta.

Queria poder ter ficado e conversado com ela a tarde inteira sobre o bebê.
Ela me contaria sobre como Phil quase desmaiou quando soube e nós dois
riríamos até a barriga doer. Pensaríamos nos nomes mais engraçados para
bebês e nos certificaríamos que nenhum deles fosse escolhido. Eu diria que
ele iria para a Sonserina porque seria um bebê do caralho e ela me bateria e
diria que ele pode ser 'do caralho' na Corvinal. Ele ainda nem nasceu e eu já
o coloquei em perigo. Faço o que for preciso para que ele e Pandora fiquem
seguros.

Quando volto, mamãe ainda está na biblioteca.

"Não demore para se arrumar! O Lorde das Trevas-" Mas eu a interrompo.


E a dou um ultimato.

"Se tocar nela outra vez," Pauso e a olho nos olhos. "Eu vou matar você."
Ela não responde nada. Me viro e subo para o meu quarto.

- 23 horas até a hora zero.

Reg,

Me desculpe por ser um idiota.

Eu sei que demorei para perceber, mas você é meu irmão. Você nunca
deixou de ser. Eu estava tão magoado e via as coisas apenas como eu queria
ver. Eu vou entender se você não quiser falar comigo nunca mais depois da
forma como tratei você, mas eu precisava tentar.

Quando quiser me ver e conversar, apenas venha aqui. Você não precisa
nem avisar. Eu e Moony aprendemos a fazer um doce de chocolate trouxa
em uma panela, você acredita? É a melhor coisa que já comi! Senti
literalmente que lambi as próprias bolas de Merlim! Você precisa provar.

Com amor e desculpas,

Six.

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Eu nunca mais tinha chamado ele de Six. Nem consigo me lembrar quando
foi a última vez.

Li a carta inteira chorando e sorrindo ao mesmo tempo. Andando no quarto


de um lado para o outro. Minha respiração começa a falhar e eu sinto que
vou desmaiar. Meu peito dói e parece que as paredes do meu quarto estão
ficando menores. O que está acontecendo com meu peito? Não consigo
respirar, não consigo respirar...

Vou para a janela e finalmente consigo encontrar o ar. Pelo menos, ele não
me odiava. Pandora realmente estava certa quando me disse isso. Mas eu e
Sirius nunca mais poderíamos nos ver. Nunca me perdoaria se algo
acontecesse com ele por minha culpa. Terei que viver apenas com o perdão
dele, mas não com ele na minha vida. Perdi meu irmão no dia em que decidi
me tornar o que eu sou. Essa carta não muda isso.

Amassei a carta e lancei um feitiço para queimá-la. Não poderia ter vestígio
nenhum dela aqui.

Enquanto me arrumava, encontrei jogado na minha gaveta algo que não via
há muito tempo. Era uma réplica exata do medalhão de Salazar Slytherin.
Mamãe deu um para mim e para Sirius. Ele, obviamente, tirou o medalhão e
colocou a cabeça de um leão vermelha e extravagante no lugar. Mas eu deixei
assim, porque eu já era da Sonserina e tirar o pingente não mudaria em nada.

Kreacher foi até meu quarto para me acompanhar até lá embaixo. Afinal,
Voldemort queria falar comigo e com Kreacher presente, o que é estranho
porque ele nunca se importou com elfos domésticos.

"Boa noite, Regulus. Estava preocupado que você tivesse se perdido no


caminho." Voldemort falou, sentado em uma cadeira grande na ponta da
mesa. Nagini passando pelo salão como sempre. Estávamos apenas eu, ele e
Kreacher.

"Estou aqui, Milorde." Falei, me curvando. Quero morrer. "O senhor precisa
de mim para alguma coisa?"

"Na verdade, como você sabe, você é um dos comensais que mais confio.
Sua família tem sido leal à mim há gerações e você não é diferente." Ele diz,
calmo até demais.

"É uma honra, Milorde." Minto.

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"Então, eu precisava de alguém confiável para isso. Quero o seu elfo
emprestado." Ele diz, olhando para Kreacher. Que porra está acontecendo?

"O meu elfo?" Pergunto.

"Sim. Preciso de um elfo e você é o meu seguidor com um que mais goza de
minha confiança." Ele responde. "Preciso dele agora."

"Tudo bem, Milorde. Deixe-me dar a ordem à ele, então." Kreacher me olha
assustado e eu me abaixo para falar com ele, sussurrando. "Kreacher, não se
preocupe. Eu quero que você volte. Sou seu mestre e estou mandando você
voltar, ok? Você não vai morrer. Me conte tudo quando voltar." Então
levanto e encaro Voldemort.

"Podemos ir, então?" Diz ele, se levantando e indo em direção à Kreacher.

"Sim, Milorde." Assenti e o deixei pegar na mão do elfo.

Dou uma última olhada para Kreacher e ele entende o que quero dizer. E
então, os dois aparatam.

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Capítulo 9: R.A.B

Eu vejo que muitas pessoas estão morrendo


Porque eles acham que a vida não vale a pena ser vivida
Eu vejo outros, que paradoxalmente são mortos por ideias, por ilusões
Isso dá a eles uma razão para viver
O que chamamos de razão de viver é ao mesmo tempo
Um grande motivo para morrer

Achilles, Come Down - Gang of Youths

Tudo estava escuro. A caverna não permitia que nenhum raio de luz
alcançasse seu interior. Era grande e repleta de rochas cristalinas. Voldemort
não permitiria que o esconderijo do seu maior segredo fosse tão fácil de se
adentrar. Tivemos que desaparatar do lado de fora, em uma rocha grande e
larga, porque não se pode aparatar dentro da caverna. Então, só depois de
usar meu sangue, eu e Kreacher conseguimos passar para a parte de dentro.
Ele estremecia a cada passo que dávamos, sua mente provavelmente
recordando a agonia que havia passado aqui dentro.

Boa parte da caverna era composta apenas de rochas brilhosas e água. Muita,
muita água. Eu e Kreacher precisaríamos convocar um barco para acharmos
a cripta com o medalhão. Não foi difícil achar a corrente do barco depois que
ele me mostrou exatamente o local em que Voldemort achou. Você é burro
demais para um Lorde das Trevas, Milorde.

"É ali, senhor Regulus," Kreacher disse, apontando para uma cripta repleta
de rochas cristalinas. "O Lorde das Trevas colocou ali."

"Tudo bem, Kreacher," Comecei a remar naquela direção. "Você sabe o que
fazer, certo?"

"Sim, senhor Regulus, Kreacher sabe exatamente o que fazer." Ele assentiu,
cabisbaixo. Elfos são criaturas mais inteligentes do que a maioria dos bruxos
pensam. Kreacher sabia. Eu sei que que ele sabia. Mas ainda assim, ele estava
aqui. Ele estava comigo desde o começo da minha vida e é a última pessoa a
estar comigo no fim.

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Espero que, no futuro, alguém tenha coragem o suficiente para pôr um fim
na servidão deles e lutar pela sua liberdade. Eles são melhores que os seres
humanos, sempre foram.

Remei até à cripta que ele apontou. Ela era cercada por água e em seu centro
havia uma pedra comprida com uma concha branca apoiada no canto. Eu e
Kreacher descemos do barco e subimos na cripta, com cuidado para não
cairmos na água escura.

"Está aqui dentro, senhor," Kreacher disse, ficando ao lado da pedra.


"Kreacher viu o Lorde colocar o medalhão aí dentro, mas... Mas só
conseguiremos vê-lo se tomar toda a poção..."

"Tudo bem, Kreacher, como combinamos," Digo à ele. "Eu vou beber toda
a poção. E mesmo que eu peça para parar ou implore para morrer, você não
pode deixar isso acontecer. Tem que me fazer beber, mesmo se eu não quiser
mais, mesmo se eu esquecer o porquê de eu estar aqui. E depois, você não
pode contar isso para ninguém, nem para a minha mãe. Não importa o que
aconteça, você tem que me fazer beber até a última gota. E então, você vai
trocar os medalhões."

"Kreacher... Kreacher sabe o que senhor Regulus tem em mente." Ele diz,
olhando para mim.

"Eu sei que você sabe, Kreacher," Dou um meio sorriso. "Você me conhece
desde criança. Você sabe que sou ambicioso. Não ia desistir dessa tão fácil,
você não acha?"

"Kreacher quer que senhor Regulus saiba..." Ele diz, estufando o peito e
levantando o semblante, me olhando como igual, pela primeira vez. "Que foi
uma honra servi-lo."

"Foi uma honra ser seu amigo, Kreacher." Digo, sorrindo para ele, que agora
estava com os olhos marejados.

Finalmente, pego a concha e a encho com a poção. Dou uma última olhada
ainda são para Kreacher e aceno com a cabeça para ele, ele faz exatamente o
mesmo. Ele sabe o que quero dizer. Kreacher não poderia cuidar de mim
hoje como cuidou a vida inteira. Ele teria que me deixar ir.

Não estou com medo como achei que estaria. Me sinto em paz, sabendo que
estou fazendo isso pelos motivos certos. Quando ouvi que eu deveria achar

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algo que eu acreditasse e lutar por isso, não fazia ideia que acabaria aqui.
Mas tudo isso valerá à pena, porque Sirius e Pandora destruirão o resto das
horcruxes que faltam e nada terá sido em vão. Serei lembrado.

Finalmente, me torno a melhor versão de mim mesmo.

Respiro fundo e dou a primeira golada na concha, a poção desce rasgando as


paredes da minha garganta. Arde desde a minha língua até o meu estômago.
Tento encher a concha mais uma vez, mas não aguento o peso do meu próprio
corpo e o deixo cair. Kreacher pega a concha da minha mão e a enche
novamente, com lágrimas nos olhos porque sabe exatamente o que eu estou
sentindo. Ele à leva até a minha boca e eu bebo mais uma vez. A dor aumenta
e não consigo me segurar desta vez, começo a chorar e o pedir para parar,
mas ele não o faz. E vem até mim com a concha cheia pela terceira vez. Sinto
que vou morrer, mas infelizmente ainda estou vivo.

"Não, Kreacher, por favor... Por favor..." Não me lembro mais o que eu estou
fazendo. Apenas quero que isso pare.

"Senhor Regulus fez Kreacher prometer que faria isso." Ele diz em meio as
lágrimas, enquanto vira a concha novamente na minha boca. "Perdoe
Kreacher, senhor Regulus, perdoe Kreacher..."

Ele está vindo com a quarta concha. Já não me lembro mais o porquê estou
aqui, não faço ideia de quem sou ou de onde eu estou. Não sei como cheguei
até aqui. Coisas horríveis começam à vir a tona, minha mãe me torturando,
meu pai rindo de toda aquela diversão. Fecho os olhos e vejo Sirius, na noite
em que fugiu, o vejo sair pela porta e me deixar. Me vejo virando as costas
para Pandora, como eu pude? A culpa invade minha mente de acordo com
que a poção invade minha garganta. Meu corpo está queimando, posso sentir.
Minha visão começa a escurecer, mas ele vira meu rosto para me fazer beber
novamente.

"Por favor..." Eu estou chorando, ele não vê que está doendo? "Por favor, me
deixe morrer... Por favor..."

"Kreacher já está fazendo isso, senhor..." Ele começa a soluçar dessa vez e
força a quarta concha na minha boca.

Quero morrer, preciso morrer.

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"Vamos, senhor Regulus, é a última..." Ele traz a quinta concha. "Kreacher
promete que é a última."

"Por que está fazendo isso?" Pergunto, fraco demais para gritar. "Me mate
de uma vez... Eu... Eu estou implorando..."

"Apenas mais essa, senhor..." Ele força a última concha na minha boca. "Por
favor..."

Ele cambaleia de volta para perto da pedra e se vira para ela, retirando o
medalhão de dentro. As coisas voltam a fazer sentido na minha mente. Me
lembro o porquê de estar aqui, o porquê de tomar a poção e o porquê de não
conseguir voltar.

"Veja, senhor Regulus," Ele levanta o medalhão verdadeiro para mim. "Nós
conseguimos!" Estou fraco demais para levantar, fraco demais para dizer
qualquer. Apenas sorrio para ele. É isso. Eu consegui.

"Kreacher..." Não tenho tempo de terminar. Algo gelado e áspero agarra a


minha perna e a arranha, me puxando para a água.

"Senhor Regulus!' Kreacher grita, tentando segurar a minha mão.

Criaturas escuras saem de dentro da água por todos os lados. De repente, não
sou mais puxado apenas pela perna e sim por todos os membros do meu
corpo. A frieza das mãos dos inferi cortam como navalha na minha pele. Eles
me puxam para baixo, mas resisto, por enquanto, para dizer à Kreacher
exatamente o que ele precisa fazer.

"Destrua-o, Kreacher! Vá embora daqui e destrua-o! Nunca conte ao meus


pais!" Grito, com o corpo cinquenta por cento imerso na água. "Suma daqui!"

"Kreacher sente muito... Sente muito..." Diz, em meio às lágrimas.

E então, Kreacher some. Estou sozinho. Não preciso mais resistir.


Finalmente, cedo e minha mão se solta da rocha em que estava presa. Os
inferi me afundam na água e, por alguns minutos, eu prendo a respiração
para me despedir de mim mesmo. Penso em Sirius, em Pandora, em
Kreacher, na menina que ela espera que apenas ouvirá sobre mim. Fecho os
olhos, finalmente em paz, e pronto para soltar a respiração e deixar a água
queimar os meus pulmões.

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Foi um belo fim, Reg. Curto, mas bonito.

Tudo deveria estar preto. Tudo deveria estar escuro. Estou de olhos fechados,
mas não enxergo nenhuma escuridão. Mesmo de olhos fechados, tudo parece
avermelhado. Tento abrir os olhos embaixo d'água, os Inferi não estão mais
me empurrando, eles estão pegando fogo. Pegando fogo embaixo da água.
Não faz o menor sentido. Olho para cima e não consigo acreditar no que eu
estou vendo. É a silhueta de Sirius, a silhueta de Sirius estendendo a mão
para mim em um barco.

Acho que estou morto.

Estico minha mão para sentir o quão vívido esse sonho é. Mas o sinto. Eu o
sinto na minha pele. Não é possível que não seja real.

"Eu perco você de vista por um minuto e você resolve dar um mergulho sem
mim, seu idiota?!" Ouço a voz dele. Só pode ser ele para dizer algo tão
estúpido para alguém que quase morreu.

Ele me puxa pelo braço para dentro do barco. Há fogo por todo lado,
Dumbledore está bem em cima da cripta com a varinha levantada no alto por
onde saem chamas vivas que queimam os Inferi. Enquanto a água pega fogo,
Dumbledore entra no barco e me olha.

"Você está bem, filho?!" Ele tira o manto por cima de si mesmo e me cobre.
"Pronto, agora está."

"Vamos! Temos que sair daqui!" Essa voz. Não é a de Sirius. Remus está
aqui. Ele está aqui por mim. Não faço a menor ideia do que está acontecendo.
"Pads, tudo bem aí?!"

"Tente remar para longe das chamas!" Outra voz. "Não posso ficar noivo e
morrer no mesmo dia, Moony!" A única pessoa que seria capaz de fazer uma
piada com noivado e morte na mesma frase. James.

"O que... O que estão fazendo aqui?!" Me levanto e olho para Sirius.

"O que você acha?!" Ele responde, sorrindo. "Não vou perder você outra vez,
irmão." Ele encosta a testa na minha.

E então ele me abraça. Droga, há quanto tempo eu não o abraçava. Há quanto


tempo me neguei até mesmo a tocá-lo. Tirei Sirius da minha vida, mas só

70
agora, o abraçando de verdade, percebo o quanto quis ele de volta. Ele me
abraça forte. Meu cabelo molhado está molhando ele inteiro, mas não me
importo. E nem ele. Somos nós dois outra vez e nada vai desfazer isso.

"Eu estava tão preocupado com você, seu babaca! Como pôde decidir morrer
e não me avisar?" Ele me solta, furioso.

"Eu deixei uma carta." Digo, dando de ombros e Sirius me dá um tapa na


cabeça.

"Nunca mais faça isso de novo, seu pirralho!" Ele responde. "Se você não
morreu hoje, tenho certeza que Pandora é quem vai matar você!"

"Merlim!" Grito quando lembro. "Me esqueci completamente de Pandora!


Como ela está?!"

"Acho que triste é a palavra certa." James diz. "Melhor, inconsolável."

"Obrigado, James." Respondo.

E então Sirius me abraça de novo. Mas não reclamo. Não sou fã de abraços,
mas acho que nunca mais terei coragem de negar algum. Muito menos os de
Sirius. Mas então, algo estala na minha cabeça.

"Sirius." Chamo, me desprendendo do abraço.

"O quê?!" Ele responde, confuso. "Estávamos no meio de um momento aqui,


Reg."

"Não, seu idiota," Digo. "O medalhão. Está com Kreacher agora."

"Tudo bem, vamos voltar para casa e amanhã-" Ele começa, mas eu o
interrompo.

"Não. Vou pegá-lo hoje. Agora." Digo, seriamente.

"Regulus, você acabou de sair de uma situação muito perigosa..." Diz


Dumbledore. "Tem certeza de que quer-"

"Eu vou." Respondo, decidido.

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"Não acredito que você vai me meter naquele lugar outra vez." Sirius diz.
"Ei, marotos!"

"O quê?" James responde e Remus apenas vira a cabeça.

"Próxima parada: Minha querídissima, muito antiga e chata casa dos


Blacks!" Sirius diz, alto para todos ouvirem.

"O quê?!" Eu, Remus e James dizemos em uníssono, chocados.

"Sirius, você não precisa..." Começo e ele me interrompe.

"Você está louco se acha que vou perder meu irmãozinho de vista de novo!"
Sirius diz.

"Vamos nos apressar, rapazes, as chamas estão diminuindo." Dumbledore se


intromete.

"Ei, cara, relaxa aí," James me cutuca com o braço, sorrindo. "Você é um de
nós agora."

"Estamos quase na porta da caverna, professor!" Remus grita, da ponta do


barco.

"Você só vai precisar dar um jeito de entrarmos," Sirius sussura para mim.
"Porque não acho que ela vai me deixar passar pela porta da frente,
irmãozinho."

"Quebro aquela casa inteira, se precisar." Respondo, com sangue nos olhos.

72
Capítulo 11: Invasão

Dumbledore aparatou de volta para onde Pandora e Andrômeda estavam para


avisá-las que tudo estava bem. Não vejo a hora de ver Pandora novamente e
contar que estamos mais perto do que nunca de destruí-lo.

Eu estava pronto para morrer. Eu tinha certeza que ia morrer. Não havia saída
para mim. Eu sabia onde estava me metendo quando decidi destruir o
medalhão por minha própria conta e risco. Eu jamais pensaria que Sirius
chegaria à tempo de me salvar dos inferi. Mas estou vivo. Mais vivo do que
nunca. E vou destruir aquela horcrux, mesmo que tenha que pôr aquela
mansão abaixo para entrar.

"Lar, doce lar..." Sirius diz, com as mãos na cintura, assim que aparatamos
no Largo Grimmauld.

"Sirius, você tem certeza que quer fazer isso?" Pergunto. "Sabe, mamãe não
vai ficar muito feliz quando ver você..."

"Está brincando?" James desaparata do meu lado, me dando um susto


enorme. "Se Sirius quiser ficar, ele fica, mas eu não perco a cara dela por
nada!"

"Sabe, você não precisava..." Tento dizer à James, mas tomo outro susto logo
em seguida.

"Um namorado de verdade conhece a própria sogra, não é, Pads?!" Remus


desaparata ao lado de Sirius, que lhe dá um sorriso de orelha a orelha e segura
sua mão.

"Achava que vocês não estavam falando sério quando disseram que iam
acompanhar Sirius e eu até aqui." Digo, sinceramente.

"Qual é, Reg," James diz despreocupado, colocando um braço por cima do


meu ombro. "Eu sempre falo sério." O Regulus de quinze anos estaria em
transe completo com James Potter tão perto assim.

Ainda era madrugada, não havia ninguém nas ruas, apenas as luzes amarelas
piscando nos postes. Parecia até calmo do lado de fora, a mansão realmente
parecia uma casa se vista daqui. Embora ela nunca houvesse sido realmente
um lar, nem para mim e nem para Sirius. Meus pais estariam dormindo, com
certeza. Então seria mais fácil entrar, porém eu precisava que alguém abrisse

73
a porta porque mamãe ordena Kreacher a não abrir para ninguém durante a
madrugada.

"Você não tem uma chave ou, sei lá?!" James perguntou, me vendo andar de
um lado para o outro.

"Eu ia morrer, James." Digo, parando e olhando para ele. "Por que eu levaria
a chave de casa?!"

"Eu levaria uma chave se fosse morrer." Sirius diz, fazendo todos olharmos
para ele confusos. "Uma chave e um papel com meu endereço, eu ia querer
que soubessem onde eu moro para levar o corpo para a minha casa."

"Por que você ia querer que um estranho soubesse onde você mora?!" Remus
pergunta. "Isso é perigoso!"

"Eu estaria morto!" Sirius diz, mais alto do que deveria.

"Perigoso para quem está na casa, Padfoot!" Remus grita, de volta.

"Eu não ia querer estar na casa." James diz, falando sozinho.

"Pelo amor de Merlim!" Grito, impaciente, fazendo eles olharem para mim.
"Estou tentando ter uma ideia aqui, seus idiotas!"

"Ei!" Remus diz. "Eu quem sou o maroto das ideias!"

"Exatamente," Sirius diz. "Moony cria, eu executo, Prongs me cobre."

"E Pettigrew?" Eu teria que perguntar alguma hora.

Os três se olham antes de responder. Eles estão tristes, posso ver. Mas nunca
demonstrariam isso agora, quando sabem que ele é um traidor. Faço uma
nota mental para perguntar sobre isso à Sirius mais tarde, porque não acho
que eles vão me responder agora.

"Então, Reg," Remus diz, chegando perto de mim. "Como vamos entrar
nessa prisão?"

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"Mm... Eu poderia usar Alohomora para abrir as fechaduras..." Digo,
pensativo. "Mas a casa está enfeitiçada para esse tipo de feitiço não
funcionar..."

"Kreacher não está aí?!" James pergunta.

"Mamãe dá ordens para ele não abrir a essa hora." Respondo, ainda
pensativo.

"Ai!" Sirius grita. Muito alto. Mais alto do que o tom seguro para se gritar
em um momento assim.

"Shhhh!" Digo, colocando a mão na boca dele. "Você tá louco?! O que foi
agora?!"

"Algum inseto picou a minha perna..." Sirius choraminga.

"Não gosto de insetos, Reg," James diz, assustado. "É melhor irmos logo
com isso."

"Você quer que ela escute a gente?!" Repreendo os dois. Meu Deus, eles
parecem duas crianças.

"Minha pele é sensível, Reg," Sirius choraminga de novo. "Moony, diga à


ele. Sempre que nós dois estamos na cama, eu-"

"Eu não quero ouvir isso!" Digo, soltando ele rápido. "Merlim, como você
os aguenta?!" Pergunto indo até Remus de novo.

"Não quero ir para Azkaban por matar dois bruxos." Remus diz, dando de
ombros.

Estamos os quatro em frente à casa quando uma voz alta e esganiçada vem
de uma das janelas da mansão.

"Regulus, não pense que vou deixar você entrar nesta casa!" Minha mãe
grita, da janela de seu quarto. "Você acha que é quem para ficar fora até essa
hora, seu garoto insolente?! Quem está com você?!" Ela vai ter um ataque,
posso até ver.

"Esta aí é a minha mãe." Ouço Sirius sussurrar para Remus.

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"Encantadora." Ele responde.

"Me deixe entrar." Digo, seriamente. E então meu pai aparece na janela ao
lado dela e sussurra algo no seu ouvido. E aí vem os gritos...

"Você está com o bastardo do seu irmão?!" Os vizinhos com certeza


acordaram depois desse grito. "E um Potter?! Quem é este outro?! Regulus
Arcturus Black!"

"Oi, mãe!" Sirius entra na minha frente, acenando com as mãos e um sorriso
no rosto. "Sentiu saudades?!"

"Saiam da minha casa!" Ela grita mais uma vez.

"É, eu também não!" Ele responde, levantando o dedo do meio em direção à


janela. Merlim.

"Entre em casa agora, Regulus!" Ela me chama. "Você tem dois segundos
ou eu farei você não querer colocar os pés para fora nunca mais!"

"Ele só entra com a gente." James diz, se colocando na minha frente, de


braços cruzados.

"Sem a gente, ele não sai daqui, senhora Black." E então Remus se põe ao
lado de James.

"Acho que você tem um problema, mamãe." Sirius vai para o lado de Remus.

"E então?!" Vou para a frente dos três. "Como vai ser?"

Mamãe está soltando fumaça pelos ouvidos. Posso jurar que vi uma veia
saltar na testa dela. Estou com um mestiço, um Potter e com meu irmão na
porta da casa dela. Consegui transformar os piores pesadelos da mulher em
realidade. Tenho certeza que esse é o bicho papão dela. Ela desaparece da
janela do seu quarto e não a vimos mais.

"E então?!" Remus me pergunta. E eu penso, penso muito.

"Tenho uma ideia." Digo para os três. "Mas vai fazer muito estrago."

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"É nossa especialidade." Sirius diz, com um sorriso no rosto, enquanto James
e Remus batem as mãos por trás dele.

"O que vamos fazer, Reg?!" James me pergunta, com um sorriso diabólico
no rosto. Hesito em responder, porque ainda não acredito que estou mesmo
fazendo isso.

"Vamos explodir a porra dessa porta." Respondo, sério, para os três.

"Isso!" Sirius comemora.

"O "Juro Solenemente Não Fazer Nada De Bom" nunca foi tão literal como
agora." Remuz diz preocupado, mas empolgado.

"Quando você mandar, Reg." James prepara a varinha. Todos estão com as
varinhas na mão e aqui, no meio dos três, percebo há quanto tempo eu estava
com vontade de fazer isso.

"No três." Aviso. "Um..."

Sirius põe a mão no meu ombro e sorri.

"Dois..."

James e Remus se olham, com os mesmos sorrisos travessos no rosto.

"Três!" E então, nós quatro balançamos as varinhas e gritamos em uníssono.

"Bombarda!"

Nunca vi um estrago tão grande como esse. As portas pesadas e grandes de


madeira da Nobre e Antiga Casa dos Black's se estilhaçaram para todos os
lados. Tivemos que nos abaixar para não sermos atingidos por pedaços de
madeira que saltaram para fora. A frente da casa ficou repleta de fumaça,
quase não dando para ver a parte de dentro. Se há um ano atrás, alguém me
parasse nas ruas de Londres e me dissesse que eu explodiria a minha casa
com Sirius e os amigos dele, que aparentemente são meus amigos agora
porque eu acho que quando pessoas te salvam da morte e explodem uma casa
com você elas são suas amigas, eu provavelmente não acreditaria.

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"Kreacher!" Entro, passando por cima dos pedaços de madeira pulverizados.
"Kreacher, sou eu! Onde você está?"

"Reg, seus pais gostam bastante de preto, não é?" James diz, observando ao
redor.

"Não senti nenhuma falta desse lugar." Diz Sirius, derrubando uma estátua
pequena de uma serpente no chão.

"Ainda bem que não deixei você decidir a decoração da nossa casa," Diz
Remus, para Sirius. "Se isso estiver no sangue, eu teria dificuldade para
enxergar mesmo com os olhos de lobo."

"Saiam da minha casa!" Minha mãe vem em nossa direção, com os olhos
pegando fogo, com meu pai atrás dela.

"Onde está Kreacher?!" Pergunto, esbravejando.

"Ah, seu..." Papai começa, levantando a varinha para mim. Mas antes que
ele consiga completar o feitiço, James aparece.

"Expelliarmus!"

Em um segundo, a varinha do meu pai e a da minha mãe pularam para as


mãos dele.

"Como você ousa?!" Minha mãe esbraveja. "Seu traidor de sangue sujo!"

"Eu não traio a minha própria família, senhora Black," James diz, soando
como se já tivesse rancores antigos com a minha mãe. Penso em quantas
vezes James ouviu os choros de Sirius por causa da mulher que está na frente
dele. "E eu não os torturo ou os puno como animais! Se há alguém suja aqui,
esse alguém é você!"

"Como você ous-" Meu pai começa, mas eu o interrompo.

"Onde o meu elfo está?!" Pergunto. "Não vou perguntar outra vez."

"Ei, Prongs," Remus grita, vindo de onde ele estava. "Acharam?!"

"Quem é você?!" Minha mãe esbraveja, quando seus olhos o encontram.

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"Ah, sou Remus," Remus se apresenta. "Remus John Lupin. Mas pode me
chamar só de.-"

"O namorado gostoso para caralho de Sirius Black." Sirius aparece, dizendo
essas exatas palavras na frente dos nossos pais. "Oi, mãe. Oi, pai." Ele sorri.

"Eu quero vocês fora da minha casa agora!" Minha mãe grita mais uma vez.

"Devolva minha varinha, seu traidorzinho!" Papai se dirige à James.

"Não vai dar não, Black pai," James responde, sarcasticamente. "Não até
acharmos o elfo."

"Regulus!" Minha mãe grita meu nome, me fazendo encará-la. "Se você não
tirar essas pessoas da minha casa agora, você terá o mesmo fim indigno do
seu irmão."

"Você não vai falar com ele assim na minha frente." Sirius se põe na minha
frente. "Não vai tratar ele como me tratou durante anos. Não vou deixar você
ferrar com a cabeça dele nunca mais, sua filha da puta!"

"Ora, seu..." Meu pai esbraveja em cima de Sirius, mas eu seguro seu braço.

"Não encoste no meu irmão." Eu o encaro. "Nunca mais."

"Você está escolhendo o seu caminho, Regulus Arcturus Black." Minha mãe
diz, me olhando ameaçadoramente.

"Sim, mãe, eu estou," Digo me soltando do meu pai e indo até ela. "Eu cansei
dessa merda. Cansei de você. Cansei da porra dos comensais, da porra dos
jantares formais, da porra da supremacia e da porra do Voldemort!" Estou
gritando agora. "Eu quase... Eu quase morri hoje, mãe! Eu quase morri
porque estava lutando por algo que você nunca vai enxergar! Você não vai
mais me manipular e eu não deixarei que você me diga o que eu posso ou
não fazer, o que eu posso ou não vestir, o que eu posso ou não comer... Eu
vou vencer esta guerra, mãe. Mas vou vencer do lado certo, vou vencer..."
Digo me aproximando de Sirius e pegando em sua mão. "Vou vencer com o
meu irmão."

Meus pais estão paralisados. Se tivessem com as suas varinhas, estaríamos


todos sendo torturados, ou até mortos. Sirius sorri para mim e James e Remus
estão atrás de nós chocados. Sorrio para Sirius porque agora, ele é a minha

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pessoa favorita no mundo. Como era quando eu tinha doze anos e como
nunca deixou de ser, por mais que eu quisesse. Levanto a manga da minha
camisa, pela primeira vez sem vergonha alguma, porque o que está no meu
braço não significa nada para mim.

"Isso," Digo mostrando o pulso para os meus pais. "Nunca definiu quem eu
sou. Sou eu quem defino." Olho para Remus de relance e ele pisca para mim,
porque lembra que ele quem me ensinou isso.

"Senhor Regulus?!" Ouço a voz de Kreacher no canto da sala e corro até ele.

"Kreacher!" Digo, com os olhos marejados. Nunca foi tão bom ver o meu
amigo.

"Kreacher achou... Kreacher que senhor Regulus..." Ele está em choque e


com os olhos arregalados, cheios de água. Antes que eu consiga responder,
Kreacher se joga nos meus ombros e me abraça. Me vendo finalmente como
seu amigo, não como seu mestre.

"Eu estou aqui, Kreacher," Digo, o soltando. "Ele está com você?" Sussurro.

"Sim, senhor Regulus." Ele responde bravamente, levantando o medalhão na


minha frente. Isso, isso, isso!

"Nós conseguimos, Kreacher!" E o abraço novamente. "Conseguimos!"

Me levanto, segurando Kreacher pela mão e com o medalhão na outra. Ando


até meu irmão e encaro meus pais pela última vez. Porque não faço a menor
questão de vê-los outra vez. Mas ali, na frente dos meus pais, depois de tudo
que passei, não posso ir embora sem antes fazer mais uma coisa.

"Sirius." Eu o chamo e ele me olha. "Tire a meia."

"O quê?!" Ele parece confuso.

"Tire a meia."

"Mas é a minha favorita!" Ele choraminga.

"Sirius, tire o caralho da meia!" Grito com ele.

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"Tá!" Ele tira os sapatos e depois as meias, emburrado. "Aqui."

Eu me abaixo, ainda encarando meus pais e minha mãe arregala os olhos


porque sabe o que estou prestes a fazer.

"Não ous-" Ela começa.

"Ah, ah, ah," James a interrompe, encenando que vai quebrar as varinhas se
ela fizer algo. "Nem pense nisso."

"Kreacher," Ele está chocado demais para me responder com palavras, mas
me olha bem nos olhos. "Pegue isto."

"Senhor Regulus..." Ele começa a chorar. "O senhor tem certeza disso?"

"Não sou seu senhor." Digo, seriamente. "Nunca fui. E não quero que você
tenha que ter um nunca mais."

Ele pega a meia de Sirius e a abraça, com os olhos fechados.

"Kreacher nunca vai saber como agradecer..." Ele diz, chorando.

"Você já fez tudo por mim..." Digo, sorrindo. "Agora, apenas me chame pelo
nome, ok? Você está livre."

"Livre..." Ele repete a palavra para si mesmo, para se convencer que é real.
"Kreacher é... Um elfo livre." Ele diz a última parte com convicção e se vira
com raiva para meus pais. "Kreacher não vai deixar encostarem nenhum
dedo em Regulus Black e seus amigos!"

E então Kreacher joga minha mãe e meu pai pelas paredes e todos nós saímos
correndo para fora da mansão, que está em sua boa parte destruída. Mas antes
que passemos pela porta, Sirius volta.

"Só mais uma coisinha!" E então ele agarra Remus pelo rosto e beija ele na
cara dos nossos pais. Tipo, ele beija ele de verdade. Tenho certeza que vi a
mão de Remus pegar na bunda dele. Mamãe e papai não podiam estar mais
paralisados. "Não que eu precise me assumir para vocês, mas eu sou gay!
Não só gay! Sou gay para caralho!" E então ele olha para mim e aponta. "E
o Reg aqui, ele também gosta de homem! Só que de mulher também, é algo
assim... Mas é! É isso aí"

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"Sirius, pelo amor de Deus..." O puxo pelo braço para fora da mansão, mas
estou rindo por dentro. Porque não podia imaginar outra pessoa fazendo isso
além dele.

Nunca vou saber colocar em palavras as coisas que eu senti hoje. Mas eu sei
que o que quer que tenham sido, eu nunca as senti antes. Assim que
chegamos do lado de fora, aparatamos de volta para a casa de Sirius. Já está
quase amanhecendo e eu me despeço de Kreacher, dessa vez não para
sempre.

"Ei, amigo," Digo, sorrindo para ele. "Agora você pode ir para onde quiser."

"Kreacher sempre virá quando Regulus Black precisar dele." Ele diz,
orgulhoso. "É uma promessa."

E então eu o abraço. E ele aparata. Nasci com Kreacher, quase morri com ele
e agora estamos os dois livres, na mesma noite. Eu o verei de novo. Sei que
verei. Preciso mais dele do que ele precisa de mim.

"Eu estou indo para a casa, rapazes," James diz. "A noite foi divertida, mas
Lily deve estar à beira de um colapso."

"Diga à ela que estamos bem." Remus se despede.

"Eu direi... E, ah, só para vocês saberem," Ele diz, antes de aparatar. "Se na
minha despedida de solteiro, não explodirmos um prédio, abandono vocês
para sempre!" E então ele aparata, deixando eu, Sirius e Remus
gargalhando. Como pude um dia odiar James Potter?

"Vamos entrar..." Sirius nos chama. "Preciso dormir e você, Reg,


provavelmente tem um sermão te esperando de uma certa loirinha grávida."

"Depois de hoje, irmão," Digo, passando o braço pelo pescoço dele. "Não
reclamo de sermão nenhum."

Entramos na casa e apenas Andy está sentada no sofá. Faz tanto tempo que
não a vejo que quase não a reconheci.

"Ei, Andy! Quanto tempo não-" Digo, indo sorrindo até ela, mas ela levanta
do sofá rápido.

82
"Graças à Merlim, vocês estão bem!" Ela me abraça e abraça Sirius, mas nos
solta.

"O que foi, Andy?!" Sirius percebe que ela está estranha.

"Vocês precisam saber de uma coisa." Ela está nervosa, e tremendo um


pouco.

"O que houve?!" Remus é quem pergunta, nervoso.

"Pandora está no hospital." Andrômeda responde, e meu corpo parece sair


do chão.

"Do que você está falando?!" Pergunto, quase gritando porque estou ficando
realmente desesperado. "Ela está bem?!"

Andrômeda olha para cada um de nós três de cada vez e respira fundo.
Consigo quase ler a mente dela. Mas não pode ser, nunca me perdoaria se
fosse. As coisas não podem ter acabado de dar tão certo para isso acontecer
agora. Não, não, não...

"Pandora perdeu a filha, Regulus." Andrômeda diz e eu sinto minhas pernas


falharem.

83
Capítulo 12: Juntos

FLASHBACK - 1972

Regulus odiava lugares fechados e abafados. Os trouxas deveriam ter um


nome para esse tipo de coisa. Ele se sentia sufocado, mesmo se fosse um
lugar grande. O que foi um problema quando ele foi à Hogwarts pela
primeira vez e foi selecionado para a Sonserina. A comunal era escura,
iluminada apenas por algumas luzes verdes. E o pior de tudo, as janelas não
podiam ser abertas, a não ser que você quisesse afogar mais de cem alunos
de uma vez. O lugar ficava na parte mais baixa do castelo, nas masmorras.
Era cercado pela água do lago negro e a lula conseguia ser facilmente vista
das janela.

Apesar de tudo isso, Regulus não poderia pensar em considerar a


possibilidade de não ter sido selecionado para a Sonserina. Sua mãe saberia
e aconteceria com ele o mesmo que aconteceu com Andrômeda quando ela
decidiu ir embora com o lufano nascido trouxa. Ele não gostava nem de
imaginar.

Mas no fundo de sua mente, ele sabia. Ele sempre saberia que na sua
cerimônia de seleção, o chapéu seletor quis colocá-lo na Corvinal. A sua mãe
teria um ataque do coração e seu pai provavelmente o puniria de um jeito tão
horrível que ele teria que passar mais de uma semana com os curativos que
Kreacher fazia.

Definitivamente, não era uma opção, mas ele gostava de pensar na Corvinal
às vezes. Ele gostava mais de azul do que verde, isso era óbvio. Ele não
entendia porquê priorizar o poder ao invés da inteligência. Não achava que
ambição e orgulho eram virtudes maiores que inteligência e mente aberta, de
jeito nenhum.

Talvez a comunal da Corvinal fosse mais bonita. Ele teria que dar um jeito
de descobrir. Podia pedir emprestado a capa estranha que o amigo de Sirius
carregava sempre por aí, mas ele não achava que eles tinham intimidade o
suficiente para isso. Apesar de que, James e Sirius eram o tipo de pessoa que
podiam entrar em qualquer lugar e fazer o que quisessem sem ser pegos.

É claro que daria errado. Já havia passado do horário de recolher quando


Regulus decidiu se esgueirar para o lado oeste de Hogwarts sem ser visto
para matar a sua curiosidade.

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Ele teve que seguir um aluno da Corvinal pelas escadas espirais que davam
até à sala. Assim que chegou perto da porta, ele se escondeu atrás de uma
parede e conseguiu ouvir o retrato dar um enigma para o aluno desvendar.
Se ele tivesse que fazer só isso para conseguir, não seria tão difícil. Regulus
era ótimo em descobrir as coisas.

Quando o garoto entrou, Regulus pôde ver a parte interior da comunal de


longe. Era melhor do que o que garoto de onze anos esperava. Era azul e
bronze e a sala era mais clara e arejada do que a própria Hogwarts. Quando
ele tomou coragem para se aproximar da porta, uma garota loira, da sua idade
ele pensou, veio andando distraída em direção à porta.

"Ei," Ela disse, conseguindo vê-lo. "O que está fazendo aí?!"

"Não te interessa." Ele respondeu, porque precisava sair correndo dali se não
pegaria uma detenção e sua mãe o deixaria sem sair do quarto pelas férias
inteiras.

"Você podia ser mais gentil." Ela diz, cruzando os braços. "Afinal, não sou
eu que estou na porta de uma comunal que não é a minha e fora do horário
de recolher." Ela disse, arqueando as sobrancelhas.

"Eu só estava..." Regulus começou, espiando a porta. "Eu só fiquei curioso


para saber como era... Você sabe, lá dentro."

"Bom..." A menina disse, pensativa com o dedo batendo no queixo. "E por
que você não vem até aqui e eu abro a porta, e então você pode ver melhor?"

"É sério?!" Regulus disse, arregalando os olhos, ele não entendia porquê
alguém que nem o conhecia estava sendo tão gentil.

"Sim!" Ela disse, sorridente. "Acho que não consigo que você entre porque
os outros alunos perceberiam... Mas com certeza posso abrir e então você
fica aqui onde eu estou e vê a parte de dentro, ok?"

"Tudo bem!" Regulus se animou, ele precisava ver aquela comunal.

Então, ele se pôs do lado da garota loira e ela não demorou muito para
conseguir desvendar o enigma que lhe foi dito. Assim que a porta se abriu,
Regulus se arrependeu por meio segundo de não ter deixado o chápeu colocá-
lo na Corvinal.

85
Era lindo. Era ampla, iluminada e graciosas janelas em arco pontuavam as
paredes, ladeadas por reposteiros de seda azul e bronze. O teto era pintado
com estrelas que se repetiam também no carpete. E ao contrário do lago
negro, os alunos conseguiam ter uma vista ampla das montanhas ao redor.

"É-é lindo..." Ele disse, maravilhado. "É muito lindo mesmo..."

"Queria que você pudesse entrar para ver os dormitórios, eles são-" A menina
começou a falar empolgada e Regulus estava pronto para ouvir cada detalhe
do que ela iria contar, mas ela foi interrompida quando a professora
McGonagall apareceu dobrando o corredor.

"Vocês dois!" Ela estava vindo na direção deles. "O que vocês estão fazendo
nos corredores a essa hora da noite?!"

"Professora McGonagall..." Ela começou a se explicar, mas Regulus a


impediu.

"Foi minha culpa, professora!" Ele disse. "Eu quis ver como era aqui e...
Bem, a culpa foi minha! Ela não fez nada a não ser estar aqui voltando para
a comunal."

"Entendo, senhor Black," A professora começou. "Não levarei isso à


nenhuma autoridade maior, mas os senhores devem comparecer à minha sala
amanhã depois das aulas. Hogwarts não tolera qualquer ato de indiscplina,
senhor Black."

"Tudo bem, professora," A menina disse. "Nós iremos."

"Volte para a sua comunal, senhor Black." Ela disse, os olhando por cima
dos óculos e depois indo embora, virando no fim do corredor.

"Droga..." Regulus resmungou, dando meia volta.

"Não se preocupe," A menina o consolou. "É só um dia de detenção."

"Minha mãe vai me odiar." Regulus disse, simplesmente.

"Isso é impossível!" Ela disse, sorrindo para ele.

"É porque você não a conhece." Regulus respondeu e se virou para ir embora.

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No outro dia, Regulus saiu de sua última aula para ir até à detenção. Ele sabia
que receberia um berrador igual os que Sirius recebia quase toda semana,
mas ele não gostava de decepcionar as pessoas e sua mãe colocava
expectativas nele que ela não colocava no irmão mais velho. A ideia de
decepcioná-la era assustadora.

"Boa noite, professora McGonagall." Regulus a cumprimentou, chegando na


sala e se sentando.

"Boa noite, senhor Black." A professor assentiu, com um sorriso.

"Me desculpe o atraso, professora!" A menina loira da outra noite havia


parecido na porta e foi se sentar em uma das cadeiras. "Acabei me distraindo
na biblioteca..."

"Você deveria vir direto para cá, senhorita." Repreendeu McGonagall.


"Vocês podem ir embora daqui a uma hora."

Regulus e a menina assentiram. Ele estava entediado e com sono, não via a
hora de poder voltar para o seu dormitório e dormir. E então, quando ele, a
professora e a menina estavam em completo silêncio, alguma coisa explodiu
do lado de fora da sala fazendo um barulho tão grande que os assustou.

"O que foi isso?!" Ele perguntou, curioso.

"Com licença, volto em um instante." A professora Mcgonagall se levantou,


claramente irritada e pronta para dar um sermão em quem tivesse provocado
aquilo.

"Quer apostar quanto que meu irmão está metido nisso?" Regulus sussurrou
para a menina, sorrindo.

"Quem é seu irmão?" Ela perguntou. E antes que ele pudesse responder, o
grito de McGonagall foi ouvido do corredor.

"Sirius Black! James Potter! Voltem aqui!"

"Bingo." Regulus respondeu.

"Sirius Black?!" A menina perguntou, sorrindo. "Ele é o assunto das


conversas da maioria das meninas da Corvinal..."

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"Sinto dizer que não acho que elas sejam o assunto das dele." Regulus disse,
sarcasticamente.

"O que você quer dizer?" Ela perguntou, confusa.

"Deixa para lá." Regulus respondeu. Ele estava muito cansado e decidiu se
espreguiçar na cadeira, o que foi uma péssima decisão porque as mangas do
seu uniforme abaixaram deixando seus braços à vista.

"O que é isso?!" A menina disse, segurando o braço dele e apontando para
uma série de cicatrizes finas e brancas na parte de cima do braço.

"Não é nada." Ele puxou a mão de uma vez.

"Elas doem?" Ela perguntou.

"Não mais." Ele respondeu, saindo da defensiva. "São só... Lições


disciplinares."

"Seus pais?" Ela perguntou e ele apenas assentiu com a cabeça. "É por causa
deles que você estava com tanto medo da detenção?"

"Mm, sim... Minha mãe... Ela não aceita muito bem esse tipo de coisa."
Regulus disse, olhando para baixo.

"Bom, tome isto." Ela o entregou um cristal pequeno e rosa claro.

"O que é isso?"

"É um cristal enfeitiçado." A menina respondeu. "Eu o enfeiticei para


diminuir a dor de um bruxo que estiver segurando. Você sabe, se for preciso
em algum duelo ou coisa do tipo... Mas você pode ficar!"

"Tem certeza?" Regulus perguntou, hesitante.

"Sim!" Ela respondeu. "E em troca, você pode não me meter mais em
problemas!" Ela disse, começando a gargalhar.

"Tudo bem, eu prometo!" Regulus disse, gargalhando também. "Aliás, eu me


chamo Regulus. Regulus Black." Ele estendeu a mão para ela.

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"Sou Pandora." Ela disse sorrindo, e segurando na mão dele.

1979

"Onde ela está?! Eu preciso ver ela agora!" Eu entrei aos berros pelas portas
do hospital.

Não podia estar acontecendo. Pandora foi torturada pela minha mãe e agora
perdeu uma filha sem nem mesmo conhecê-la porque estava preocupada
comigo bancando o herói. Ela estava nervosa por minha causa. Quantas
vezes eu vou arruiná-la assim? Eu sou um idiota. Eu não a mereço. Eu não
mereço a sua amizade ou a fé que ela passou todos esses anos tendo em mim.
Eu consegui destruir algo que ela amava. Como vou ser capaz de olhá-la nos
olhos? Como tenho coragem de ainda vir procurar por ela?

"Regulus, você precisa se acalmar..." Sirius disse, tentando colocar os braços


ao meu redor.

"Não encosta em mim!" Empurrei ele. "Não tenho tempo para isso agora."
Disse, entrando na recepção do hospital.

"Eu vou perguntar por ela." Remus se ofereceu, indo até uma enfermeira.
"Tentem não gritar em um local público, ok?"

Xenophilius estava sentado em uma das cadeiras da recepção. Os olhos


vermelhos e as mãos tremendo. Ele tinha todo o direito de me odiar.

"Você!" Ele veio até mim, com o dedo levantado. "Você fez isso! Você
destruiu tudo para ela!"

Eu não tive tempo de responder. No segundo seguinte, eu já estava com a


boca doendo e sangrando. Ele me deu um soco na frente de todos que
estavam no hospital. Tudo bem, eu mereci.

"Ei, cara, vai com calma aí!" Sirius disse, se colocando no meio de nós dois.

"Calma?! Eu acabei de perder minha filha, Black!" Ele disse, chorando de


raiva e tristeza. "E A culpa é dele! Você faz ideia da reação dela quando leu
a porra da sua carta, Regulus?! Faz ideia de como a magoou indo embora
daquele jeito para fazer sabe-se lá Deus o quê e deixar um carta?! O que ela
fez para você além de continuar essa amizade que claramente vai matá-la
algum dia?!"

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"Acredite, Xenophilius," Eu disse à ele. "A única pessoa que me odeia agora
mais do que você sou eu mesmo."

"Isso não vai trazer minha filha de volta, seu babaca!" Ele continuou
gritando.

"Ei, Phil, vamos sentar ali," Remus o pegou pelo braço, o levando para outro
lugar. "Vem, cara."

"Vem cá," Sirius disse, segurando no meu rosto machucado. "Deixa eu ver
isso."

"Me solta!" Tirei a mão dele de mim. Eu não queria nenhum cuidado agora.
Não merecia.

"Por que você é assim?!" Agora Sirius estava falando alto. "Por que não
deixa as pessoas te ajudarem?!"

"Porque eu não mereço isso, Sirius!" Gritei de volta.

"Bom, foi por você pensar assim que eu quase perdi você hoje!" Ele diz, com
os olhos marejados.

"Você quase me perdeu porque foi o primeiro a me provar que eu não


merecia ninguém." Disse, olhando nos olhos dele. Eu não tinha tempo para
me importar com os sentimentos de ninguém agora. Eu precisava vê-la.
"Ninguém aqui vai me dizer onde Pandora está?!"

"Regulus, não adianta você fazer um escândalo agora." Remus disse,


sussurrando para mim. "Ela está desacordada e só vai receber visitas quando
acordar."

"Eu tinha...Eu tinha que..." Eu não estava conseguindo terminar nenhuma


frase. A sensação do ar faltando voltou de novo. Meu peito sempre doía e a
circulação de ar parecia não conseguir passar pela a minha garganta.

"Regulus, você precisa se acalmar." Remus disse e Sirius apenas me


observava, provavelmente ainda chocado com as coisas que eu disse.

"Eu tinha que estar aqui, Lupin!" Dane-se. Não ligo de gritar. "Eu devia estar
aqui! Com ela! Ela... Ela ficou comigo na história das horcruxes e... Ficou
comigo quando eu e Sirius brigamos..." Chorar e falar ao mesmo tempo não

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fazia minha respiração melhorar. "Ela ficou comigo sempre! E eu não estava
aqui! Ela descobriu que eu ia morrer e não aguentou! Como vocês dois tem
coragem de me dizer que não foi minha culpa?!"

"Porque eu tenho certeza que ela não vai culpar você, seu idiota." Lupin me
disse, seriamente. Ainda me segurando. "Vão! Vocês dois lá para fora. Se
ela acordar eu aviso vocês. Vocês precisam esfriar a cabeça."

"Eu não vou para lugar nenh-" Sirius começou.

"Padfoot." Remus precisou apenas olhá-lo.

Sirius respirou fundo e saiu do hospital. Remus tinha esse jeito


impressionante de contornar até as teimosias de Sirius. Talvez por isso ele o
amava tanto.

Eu saí do hospital logo atrás de Sirius, mas ainda sem falar com ele. Eu não
estava com raiva dele, eu não estava com raiva de ninguém além de mim
mesmo. Não acreditava na forma que a tratei quando fui embora da casa dela
naquela tarde. Na hora, pareceu a coisa certa a se fazer. Eu precisava magoá-
la para que ela me deixasse ir embora. Mas não a magoei o suficiente a para
ela parar de se preocupar comigo. Na verdade, acho que Pandora nunca vai
parar de se preocupar comigo.

"Você não é obrigado a me desculpar." Sirius disse, de repente. Ele estava


sentado em um banco na calçada e eu fui me sentar ao lado dele. "Eu
entenderia se você não desculpasse."

"Eu nunca quis o seu mal, Sirius." Eu respondi. "Eu te odiei por ter ido
embora - não vou mentir. Mas eu te perdoei, então não posso continuar
guardando rancor. Desculpe por ter jogado isso na sua cara lá dentro."

Eu me senti um pouco atordoado enquanto dizia isso. Não era muita coisa,
mas nós dois sabíamos o peso daquelas palavras. Sirius sempre entendeu as
coisas que eu dizia.

"Mesmo assim," Sirius continuou. "Se você ainda estiver com raiva, tudo
bem. Ainda me sinto culpado por tratar você da forma que eu tratei, mesmo
quando sabia de tudo que acontecia dentro daquela casa. Acho que foi a pior
coisa que eu já fiz."

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"Não precisamos falar sobre isso..." Eu me mexi, desconfortável. Eu estava
preocupado demais com Pandora para falar sobre algo assim.

"Eu só queria que você soubesse que eu me sinto responsável." Sirius


continuou. "Pelo o que aconteceu com você hoje. Então não o culpo por
também ter me afastado. Eu não culpo ninguém além de mim. Nem mesmo
ela."

"Quem?!" Eu franzi a testa, perdido.

Senti a perna de Sirius enrijecer do meu lado, vi sua mão tremer por um curto
momento.

"Nossa mãe." Sirius respondeu muito baixo. Sua respiração estava


superficial e ele falou tão baixo que eu tive que esforçar a audição para ouvir.
"Você se lembra da noite em que fui embora?"

Eu apenas acenei com a cabeça. Como eu poderia esquecer? Foi uma das
piores noites da minha vida junto com a noite em que achei que iria morrer
afogado. Sirius subiu as pernas para o banco, encolhendo elas junto aos
braços e continuou a falar, olhando para os próprios joelhos.

"Ela ameaçava me expulsar o tempo todo, você sabe. Ameaçava fazer todo
tipo de coisa. Mas até o momento em que eles começaram a se aprofundar
no Lorde das Trevas, eu nunca realmente acreditei nela."

Ele fez uma pausa, para respirar fundo algumas vezes. Eu estava prestando
muita atenção porque não queria perder nenhuma palavra, então ele
continuou bravamente.

"Eu sei que eles baniram Andy, mas mamãe sabia que nós ainda
mantínhamos contato e nunca tentou impedir. Então eu pensei - bem, eles
devem estar planejando perdoá-la algum dia, trazê-la de volta, porque ela era
da família. E foi arrogante da minha parte, mas eu nunca pensei que isso
fosse realmente acontecer comigo."

"Sirius..." Tentei soar gentil, mas Sirius balançou a cabeça, enxugando os


próprios olhos rapidamente.

"Não, está tudo bem, não estou dizendo isso para dar alguma desculpa por
ter deixado você, ou algo do tipo. Eu só estou... Não sei, tentando explicar.
Depois eu fui morar com James, e tudo estava bem, sabe? Tipo... Eu me

92
sentia seguro e não tinha do que ter medo, Reg. Mas eu ainda sentia que ela
podia me pegar. Eu tive esses...pesadelos. Sei que parece estúpido."

"Não parece." Respondi.

"Então, eu senti que tinha que fazer algo para isso parar e não era como se
eu tivesse as melhores ideias. Você sabe como eu era - todo arrogante, agindo
como um idiota. Então eu achei que..." Ele apertou os olhos. "Eu achei que
se deixasse você... Se apenas deixasse você lá, eu pararia de me sentir assim.
Como se ela estivesse por perto o tempo todo. Eu odiei você quando você
aceitou a marca porque... Porque se eu não te odiasse, eu teria que me odiar
por deixar isso acontecer. E eu não ia conseguir viver comigo mesmo." Ele
me olhou timidamente. "Eu sei que isso não é desculpa e eu sinto muito, Reg.
Sinto de verdade. Foi... Egoísta."

Eu respirei fundo, olhando para frente agora e não para ele. Subi as pernas
no banco, como ele fez e me senti pela primeira livre para dizer exatamente
as coisas que eu sentia. Estava ouvindo de Sirius a explicação que sempre
quis e ele merecia ouvir a minha.

"Sempre foi a coisa mais importante, quando nós estávamos crescendo, não
é, Six? Lealdade à família." Comecei, ainda olhando para frente, mas vi que
ele percebeu que eu usei o apelido que eu costumava usar pela primeira vez
depois de muito tempo. "Eu sabia das coisas que mamãe fazia com você. Era
muito pior do que era comigo. Tinha os cortes e... Tudo aquilo. Mas - e eu
sei que parece estranho - eu nunca pensei que ela expulsaria você como
aconteceu naquela noite."

Respirei fundo de novo, porque não queria chorar dizendo aquelas coisas.

"Mas então ela expulsou. E eles já haviam nos punido tantas vezes que eu
pensei que sabia o que esperar. Eu achei que era como mais uma das
inúmeras outras punições e não faria diferença você sair de lá porque nós
continuaríamos sendo irmãos. Mas quando as aulas voltaram e eu vi você
com James... Senti que você não precisava mais de mim. E sei que isso sim
parece estúpido, mas eu me senti... Traído. Senti como se você não fosse
corajoso para aguentar tudo aquilo do meu lado, mas passaria por qualquer
coisa por James. Aquilo foi demais para mim."

Sirius estava olhando para mim e pôs a mão no meu ombro porque eu
claramente estava com os olhos brilhando e ele sabe que não gosto de ficar
assim na frente das pessoas. Então dei um sorriso forçado e continuei.

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"E então veio a marca. No dia em que a recebi, eu nunca tinha ficado tão...
tão assustado." Eu estava olhando com raiva agora, para frente. "Eu odiava,
odiava me sentir daquele jeito e tudo que eu conseguia pensar, sozinho no
meu quarto, era como você teria se saído melhor, sido mais corajoso ou como
teria pensado em uma maneira de contrariá-los. Eu não deixei de contrariá-
los porque eu acreditava no que eles acreditavam, ou algo do tipo. Eu deixei,
porque... Porque eles eram a minha única família."

"Você não precisa me dizer isso, Reg..." Agora ele quem estava tentando
soar gentil.

"Não, tudo bem, eu realmente preciso. Houve um... Um momento em que


comecei a acreditar que era mais fácil passar por isso odiando você, mas
quando isso passou - porque não durou, eu apenas nunca admitiria - eu disse
para mim mesmo que você estava com James agora porque eu não era...
digno, ou algo assim. Eu tinha Pandora, é claro. Sempre a tive. Mas havia
partes das coisas que eu sentia que eu não queria compartilhar com ninguém.
Então quando eu vi a chance de contar sobre Pettigrew ou de... De encontrar
a horcrux. Eu simplesmente fui. Porque imaginei que só assim mereceria
você de volta. E quando você não acreditou em mim, eu quis morrer. Então
eu senti que não tinha nada a perder, a única coisa que eu podia fazer era
destruir o medalhão. Mesmo se custasse a minha vida."

Ficamos os dois em silêncio por uns minutos. Mas não foi um silêncio
desconfortável, era um tempo para a nossa cabeça absorver tudo que havia
sido dito e posto para fora.

"Sua desculpa é melhor que a minha." Sirius foi o primeiro a falar, dando um
sorriso e batendo com o braço no meu, me fazendo rir também. "Você sabe
que não foi sua culpa, não é, Reg?"

"Não sei, Sirius," Suspirei. "Realmente, não sei."

"Você não poderia ter adivinhado."

"Eu carrego comigo um... Um cristal que ela me deu quando nos
conhecemos. Ela sempre se metia em problemas por minha causa, mas eu
nunca deixava ninguém mexer com ela. Dei um soco em Mulcilber uma vez,
sabia disso?"

"Você tá brincando." Sirius disse, desacreditado.

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"Ele a chamou de vadia por não querer sair com ele. Filho da puta. Eu sempre
a protegi e ela sempre me protegeu. Eu a amo." Falei, sinceramente.

"Nunca sentiu alguma coisa por ela?" Sirius perguntou, curioso.

"Não, não é assim. Nós cuidamos um do outro. Como irmãos." Olhei para
ele. "Como eu e você." Ele deu um sorriso.

Pensei muito antes de realmente perguntar o que queria saber. Estava com
medo de tocar em um ponto delicado e não conseguir voltar atrás.

"O que vocês vão fazer?" Perguntei, tentando soar sutil. "Com Pettigrew."

Sirius pensou antes de falar e olhou para os joelhos novamente. "Tentamos


mandar cartas à ele. Sabe, quando estávamos apenas desconfiando ainda.
Fomos até onde ele mora e ele não estava lá. Não o vimos desde o dia em
que ele esteve na mansão." Ele fez uma pausa, mas continuou. "Reg, Peter
era... Peter era um de nós. Ele era meio idiota, mas nós o amávamos,
entende? Quando ele não respondeu as cartas e começamos a desconfiar de
verdade, James se trancou no próprio quarto por três dias e não deixou nem
mesmo Lily entrar."

"É serio?" Perguntei, sem acreditar no quanto isso o afetara.

"James sempre foi o elo. Nós quatro nos amávamos, mas James amava cada
um de nós mais do que nós mesmos podíamos imaginar. Então quando a
ficha dele sobre Peter caiu... Uma noite, fui até o quarto dele para fazê-lo
comer alguma coisa e ele estava chorando. Ele... Ele apenas me abraçou e
disse 'Padfoot, nunca minta para mim, por favor.' e então voltou a chorar. A
coisa afetou ele de verdade e tipo, pelo amor de Merlin... Quem é tão cruel a
ponto de magoar James Potter?"

"Peter é um babaca. E vocês deviam matá-lo." Respondi, isso fez Sirius


sorrir, mas eu meio que estava falando sério. "O que vocês vão fazer quando
acharem ele?"

"James não teria coragem de matá-lo. Ele é... Bom demais. Remus o mataria,
com certeza." Nós dois rimos, porque Remus é realmente sinistro quando
alguém ataca quem ele ama. "Mas eu... Eu não sei ao certo, acho que se ele
ameaçasse a vida de algum de nós, eu teria coragem de matá-lo... Tive
vontade quando vi suas memórias."

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"Você viu quando eu descobri." Afirmei.

"Sim. E quis matá-lo apenas por dizer à você que te odiava. Então acho que...
Que se a coisa tivesse ido mais longe e chegasse um momento em que ele
fosse culpado pela morte de algum de nós..." Ele fez uma pausa e assumiu
uma expressão furiosa. "Eu o mataria sem pensar duas vezes."

"Pode me chamar para a festa." Falei, tentando fazê-lo rir. "Eu adoraria
ajudar você com isso."

E então ele gargalhou e bateu no meu braço.

"Juntos, então, huh?" Ele disse rindo, mas senti que ele queria que eu
confirmasse.

"Juntos." Falei, sem hesitar.

Fomos distraídos quando Remus apareceu. Ele veio até nós no banco em que
estávamos.

"Pandora acordou."

"O que?!" Levantei de uma vez só. Esquecendo tudo e indo em direção ao
hospital.

"Reg," Remus segurou meu braço e respirou fundo. "Ela disse que não quer
ver você."

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Capítulo 13: Mártir

Pandora teve alta naquela manhã.

Eu não a vi. Apesar de que Xenophilius provavelmente não me deixaria


passar pela porta, se ela realmente quisesse me ver, eu não mediria nenhum
esforço para entrar. Remus me disse que a viu e que ela não parecia com
raiva, apenas muito triste e perdida. Ele diz que preciso dar um tempo à ela
depois que ela saiu do hospital. Sirius diz que eu deveria falar com ela de
uma vez e resolver as coisas. James disse para eu apenas ouvir meu coração.
Lily fez biscoitos.

Eu não me sentia estranho perto deles. O que era estranho é que eu me sentia
bem e completamente normal. Como se eu já estivesse ali há muito tempo.
Isso foi bom, porque me ajudou a aguentar a ideia de Pandora não querer
nunca mais falar comigo.

"E se ela não quiser falar comigo nunca mais?!" Pensei alto, em um tarde na
casa de Sirius, deitado em seu sofá.

"Você está sendo dramático." Remus respondeu, me olhando por cima do


seu livro. "E seu sofrimento está atrapalhando a minha leitura."

"Moony, não seja mal!" Sirius gritou da cozinha, enquanto lavava a louça do
almoço..

"Não, Six, tudo bem," Respondi. "Acho que mereço isso."

"Você deveria vê-la." Sirius disse, simplesmente.

"Não. Não vou fazer isso." Falei, balançando a cabeça. "Mesmo que me
deixe triste, é por um bem maior."

"Pare de ser um mártir." Remus levantou os olhos mais uma vez e os abaixou
de novo.

"Moony." Sirius o repreendeu novamente.

"Não estou sendo um mártir." Respondi. "Estou falando a verdade."

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Remus não me respondeu. Eu sou um mártir? Acho que eu nem sei o que
isso significa. Continuei dentro dos meus próprios pensamentos auto-
destrutivos. Quase não percebi quando James e Lily apareceram na porta e
Sirius foi correndo abrir.

"Ei, Pads!" James o cumprimentou, com um abraço de lado. "Moony, veja o


que trouxe para você." E retirou uma embalagem de chocolate ao leite de
uma sacola de supermercado.

"Graças à Merlim, estava ficando difícil ouvir Regulus sem um desses." Ele
respondeu, pegando o chocolate. "Valeu, Prongs!"

"Lily," Chamei, fazendo-a olhar para mim. "Você acha que sou um mártir?!"

"Por que é que você acha isso?" Lily perguntou, se sentando no sofá e
colocando minha pernas por cima do joelho dela.

"Lupin disse." Respondi, e ela lançou um olhar repreendendo Remus, que


apenas deu de ombros.

"Talvez você seja um pouco," Lily disse. "Mas isso não precisa ser algo ruim,
eu acho."

"Cara, você tá precisando relaxar, isso sim." James disse, passando por mim
e bagunçando meu cabelo. "Ei, Pads! Você sabe de Marlene e Mary? Não as
vejo desde o dia de mergulho de Reg." O comentário fez todos olharmos para
ele seriamente, até Sirius. "Muito cedo?"

"Acho que sim, Prongs." Respondeu Remus, ainda lendo.

"Não, está tudo bem," Eu respondi. "Não me importo com isso agora. Só
queria saber como ela está."

"O que você fez com o medalhão, Reg?" Sirius perguntou, vindo até nós.
"Dumbledore mandou uma carta. Haverá uma reunião da Ordem. Ele quer
saber sobre a horcrux."

"Tenho certeza que ele sabe até mais do que nós." Respondi. "Mas vai
esperar que falemos, para ele poder nos mandar resolver, então prefiro pular
para a última parte e resolver isso sozinho."

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"Não acho que devia fazer isso sozinho, Reg." James disse, me lançando um
olhar preocupado. "Quer dizer, sabe se lá o que essa coisa faz."

"Você não está com ele aí, está?" Remus perguntou.

"Não." Respondi. "Ontem, na pressa, acabei levando no bolso para o


hospital. Mas não aconteceu nada demais," Fiz uma pausa. "Bom, nada por
causa do medalhão pelo menos..."

"Mesmo assim," Lily disse. "Acho que você deveria falar com Dumbledore
antes."

"Por que é que vocês confiam tanto nesse cara?!" Perguntei, me sentando no
sofá.

"Nós só achamos você por causa dele, Reg," Sirius disse. "E ele é o maior
bruxo que conheço."

"Só porque ele é velho e sabe frases motivacionais decoradas?!" Sabia que
eu estava sendo mal, mas o que Dumbledore poderia fazer que eu já não
tivesse pensado?

"Dê uma chance, Reg." Lily disse, sorrindo e batendo o braço no meu.

Posso ver porquê James gostava de Lily e passou todos aqueles anos atrás
dela. Lily não era só diferente de outras garotas, ela era diferente de todas as
outras pessoas. Ela tinha o dom de ver a bondade em outra pessoa até quando
ela mesma não via. Percebi isso na noite em que fui até os Potter. Ela foi a
única dos quatro que não insinuou que eu estava mentindo. Nunca esqueci
disso. Talvez porque eu não tenha entendido como ela viu tão fácil que eu
estava falando a verdade.

"Nem sei ainda como destruir aquela coisa." Respondi. "Tentei todos os
feitiços de destruição possíveis. Nada funciona."

"Bom, você deveria-" Remus começou a falar, mas foi interrompido quando
uma coruja apareceu na janela.

"Será que são as meninas dando notícias?!" Perguntou James, curioso. Sirius
se levantou para ir pegar a carta.

"Não, Pads," Remus se ofereceu. "Deixe que eu vou."

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Remus levantou para ir até à janela e sua expressão ficou séria ao passar os
olhos pelo papel.

"De quem é, Moony?!" Sirius perguntou.

"Pandora." Remus respondeu, e todos olharam para mim. Me levantei


imediatamente para ir ler a carta.

"Regulus,

Venha até aqui hoje. Se você puder, é claro.

Pandora."

"Ela me chamou pelo nome." Foi a única coisa que consegui dizer.

"O quê?!" Remus perguntou, confuso.

"Ela me chamou pelo nome. Ela nunca escreve para mim me chamando de
Regulus." Falei ainda olhando para a carta. "E sempre escreve 'com alguma
coisa' no final... você sabe, com amor ou coisa do tipo."

"Você está sendo paranoico." Remus respondeu.

"Você devia apenas ir até lá e descobrir, Reg." Sirius disse.

"É. Talvez."

Não precisei que ninguém me convencesse a ir até lá. Eu precisava apenas


que ela me chamasse. Eu nunca teria coragem de aparecer sem que ela
mesma quisesse. E se ela não me chamasse nunca mais, então... Então acho
que não nos veríamos mais. Mas a verdade é que eu estava com medo do que
ela teria para me dizer. Estava com medo de ela querer que eu me mantivesse
longe dela, ou que me culpasse. Já era torturante viver dentro da minha
própria cabeça, mas ouvir em voz alta da boca de Pandora que era minha
culpa ela ter perdido a filha, era simplesmente demais para suportar.

Quando cheguei na frente da sua porta, não fazia ideia se deveria bater do
jeito que eu costumava bater. Provavelmente sim porque ainda é uma questão
de segurança. Mas parecia estar ultrapassando um limite, ou algo
assim. Odeio minha mente.

100
Decidi dar as batidas. Pandora acabou de perder uma filha, ela não vai ficar
com raiva da porra de umas batidas.

Desculpe, isso foi insensível.

Xenophilius apareceu e eu estava pronto para outro soco na minha boca, mas
ele apenas olhou sério nos meus olhos e passou por mim. Ele estava triste. E
tudo bem ele me odiar. Tudo bem de verdade.

Pandora estava sentada em uma cadeira na varanda. Ela parecia diferente. Os


mesmos cabelos loiros, mesma pele sem defeitos e mesmos olhos azuis. Mas
havia um rastro de vazio no rosto dela que eu sabia muito bem pelo o que
era.

"Ei, você..." Falei, forçando um sorriso e me aproximando da cadeira. Porque


era assim que sempre nos chamávamos. "Como... como você está?"

"Melhorando." Ela respondeu, seriamente, encarando algum ponto à sua


frente. "E você?"

"Bem. Mm... quer dizer, eu acho." Meu Deus, eu estava tremendo. "Você...
está precisando alguma coisa? Vim correndo quando recebi sua carta."

"Não, Regulus," Droga, Pandora, não me chame de Regulus. "Não precisa


se preocupar."

"Bom, mas eu..." Comecei, indo sentar ao lado dela. "Eu sempre me
preocupo com você. Você sabe disso."

Não tive tempo para me sentar, antes mesmo de eu chegar perto da cadeira,
ela se esquivou.

"Por que não me deixa chegar perto?" Perguntei sinceramente. "Você... você
sabe que pode falar comigo sobre o que quiser."

"Sobre o que você quer falar?" Ela perguntou, quase sussurrando, olhando
para baixo.

"O que você quiser." Respondi, seriamente. "Eu... eu sinto muito pelo o que
aconteceu. Eu entendo se você me culpar ou não quiser me ver nunca mais
pelo o que fiz você passar... Entendo se me culpar pelo o que aconteceu com
ela." Falei, sem olhá-la nos olhos.

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"Espere aí," Pandora me olhou de uma vez, com os olhos arregalados. "Você
acha que culpo você pelo o que aconteceu com ela?!"

"Bom... eu acho que-"

"Ah, meu Deus, Regulus!" Pandora aumentou a voz. "Você acha que eu
culparia você por isso?! Droga, Regulus, você é inacreditável!"

"Então por que você não quis me ver no hospital?!" Eu estava realmente
confuso agora.

"Porque você me disse que não me queria por perto só para você ir lá e se
matar, Regulus! Você... você faz alguma ideia de como eu fiquei quando
você virou as costas e foi embora?!"

"Pandora, você tem que entender," Eu respondi. "Eu não fiz aquilo para
magoar você. Eu precisava fazer aquilo. Era necessário."

"Regulus, nós descobrimos sobre as horcruxes juntos. Eu achei que... que


por mais que você gostasse de se virar sozinho, eu era a exceção. Se você
queria fazer isso sozinho, por que me procurou?! Você deixou uma carta,
Regulus! Me avisando que iria morrer!" Ela estava chorando agora. Odeio
ver ela chorar. "Você não pode me deixar assim! Não pode simplesmente
colocar na sua cabeça que não merece a ajuda das pessoas e abandoná-las
desse jeito!"

"Pandora, eu..." Comecei, mas na verdade não sabia o que dizer.

"Não." Ela levantou a mão e respirou fundo. "A gente se conhece desde o
primeiro ano. Eu cuidei dos machucados que a sua mãe fazia em você, fiquei
com você quando você perdeu Sirius e faria tudo de novo se precisasse. Eu
passei por cada merda com você que até Merlim duvidaria! Eu nunca saí do
seu lado. Nunca." Ela estava olhando nos meus olhos agora e minha voz
começou a ficar trêmula.

"Pandora," Comecei. "Eu não saí do seu lado, eu... eu nunca sairia do seu
lado, eu nunca deixaria você se não fosse preciso. Eu não tive escolha!"

"Mas eu tive, Regulus! Eu tive e escolhi ser sua amiga mesmo com essa coisa
no seu braço, mesmo você sendo parte de um grupo de bruxos das trevas que
mata pessoas como eu! Eu nunca cogitei a possibilidade de deixar você e
nem de ter que cobrar isso porque... porque eu achei que você sempre fosse

102
fazer o mesmo por mim." Ela começou a abaixar o tom da voz. "Você era o
meu melhor amigo e você partiu o meu coração."

"Você estava grávida!" Gritei, me levantando da cadeira. "Eu não podia


colocar duas vidas em perigo! Você ia me impedir ou pior, ia querer ir
comigo! Você não faz ideia da merda que eu passei naquele lugar! Você acha
que eu não quis ficar?! Que eu não quis abandonar tudo e ficar aqui?"

"Eu acho que você achava que não tinha mais nada a perder, Regulus. Porque
você é assim. Você acha que não é merecedor das coisas e das pessoas e você
as afasta. Você fez isso com seu irmão e agora fez comigo." Ela respondeu,
sem olhar para mim.

"Eu preciso que você me perdoe." Implorei, me ajoelhando perto dela.


"Desculpe por ter gritado. Por favor, eu... eu preciso porque... porque não sei
se eu aguento sem você, Pandora. Você não pode me odiar."

"Eu não odeio você, seu idiota." Pandora respondeu.

"Eu juro, Pandora! Nunca mais vou fazer nada pelas suas costas. Vou te
mandar dez cartas por dia para avisar exatamente o que eu estou fazendo. Ou
se você quiser, vou todos os dias até a cabine telefônica da rua de Sirius e
ligo para você. Eu deixo você enfeitiçar todos os cristais que quiser por mim
e... e eu deixo você me ajudar em qualquer coisa! Só não... por favor, não
fique longe de mim."

Ela suspirou e me encarou por alguns minutos. "Você é um idiota, Regulus


Black."

"Eu sou." Afirmei. "Pense no estrago que eu faria sem você por perto."

Ela ficou pensativa por alguns minutos. Eu realmente não sabia se ela havia
me perdoado ou não. Eu precisava que ela perdoasse. Precisava de verdade.

"O que você fez com o medalhão?" Ela perguntou.

"Ele está aqui." Falei, puxando ele dentro da camisa.

"Espere," Pandora disse. "Você está usando essa coisa?!"

"Você quer que eu faça o que com ela?!"

103
"Destruir, talvez?! Espere um pouco," Ela disse. "Quando foi que você usou
além de hoje?"

"No dia em que fui ver você no hospital."

"Então é por isso." Ela disse, simplesmente.

"Por isso o quê?!" Perguntei, confuso.

"Regulus, você não vê?! Essa coisa mexe com você. Por isso você fez aquele
escândalo no hospital. Por isso você acreditou tanto que eu culpei você pelo
que aconteceu comigo. A culpa. Ela é seu ponto fraco." Ela explicou. "Isso
aqui deve trazer à tona algo no seu subconsciente... algo que realmente te
afeta."

"Eu não... eu não pensei dessa maneira." Eu realmente não havia pensado.

"Me dê isso aqui." Ela tirou o medalhão do meu pescoço e meu corpo pareceu
ter se livrado de uma carga de energia imensa. Como se algo estivesse
finalmente saído das minhas costas. "Se sente melhor?"

"Com certeza, sim."

"Você precisa dar um jeito de destruir logo essa coisa. Precisamos achar as
outras." Ela disse, examinando o medalhão.

"Nós?" Perguntei, timidamente.

"Você vai levar anos para encontrar uma sem mim. E, bom," Ela abaixou a
voz e olhou para a própria barriga. "Não é como se eu tivesse algo para
proteger agora."

"Você quer falar sobre isso?"

"Não. Não acho que eu consigo ainda." Ela disse, balançando a cabeça.

"Tudo bem." Respondi. E ficamos um tempo em silêncio, antes de eu falar


novamente. "Vou à uma reunião da Ordem."

"Isso é sério?!" Ela perguntou.

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"Sirius diz que preciso falar sobre o medalhão com Dumbledore. O que você
sabe que eu acho uma perda de tempo, mas acho que vou tentar a sorte."
Digo, dando de ombros.

"É melhor tentar," Ela disse. "Até porque você não faz ideia de por onde
começar."

"Pandora, você acha que sou um mártir?" Perguntei de repente, a palavra


ficou na minha cabeça o dia inteiro.

Pandora suspirou e olhou para a grama na nossa frente. Ela colocou um braço
por volta do meu ombro, deu um sorriso e disse. "Sim, Regulus Black, você
é a porra de um mártir."

***

Foi uma grande caminhada até a chave do portal, que acabou sendo um pato
de borracha amarelo, deixado no meio de um terreno de grama alta no final
de um dos campos ao redor de uma aldeia. Eu não me importava, eu gostava
de caminhar. Mas minhas pernas estavam começando a doer de verdade.

Sirius, Remus, James, Lily e eu estávamos em uma colina verde, embaixo de


um céu de verão sem nuvem alguma.

"Mal posso acreditar que você está aqui, Reg." Sirius disse maravilhado, mas
eu estava muito nervoso.

"Todos têm suas varinhas?" James perguntou e cada um de nós assentiu,


engolindo em seco.

"Espero que eu não vomite até chegarmos onde quer que estejamos indo."
Comentei.

Todos nós tocamos no pato e de repente começamos a girar através do espaço


tempo a uma velocidade incrível. Era pior do que aparatar, mas melhor do
que pó de flu, com certeza.

Momentos depois, nós cinco pousamos em uma sala de estar pequena e


elegante. O tapete era grosso, rosa suave, os sofás de couro sintético eram
cor de creme amarelado, e o papel de parede tinha um desenho floral.

105
Quando levantamos, James nos levou para fora da sala por um corredor em
direção a uma cozinha. Frank e Alice Longbottom estavam na lá, preparando
várias xícaras de chá para quem viesse.

"Olá!" Alice sorriu, "Chá?"

"Sim, obrigado." Ou ela era uma pessoa muito gentil, ou só não percebeu
quem eu era.

Ela serviu chá à todos, enquanto Frank preparava mais chá em vários bules,
e todos foram instruídos a irem para a parte de trás da cozinha para a reunião.

"De quem é essa casa, Prongs?" Perguntou Sirius.

"É melhor não sabermos muito", respondeu James, "Vamos, eles estão
esperando!"

Depois de passarmos pela cozinha, a parte de trás estava incrivelmente clara


e extremamente quente. As janelas ao redor eram de vidro e exibiam um
jardim muito bem cuidado, o telhado era de acrílico transparente e salpicado
de velhas folhas mortas que sobraram do inverno. Havia um forte cheiro de
fertilizante, vasos de plantas espalhados pelo local nas prateleiras e mesinhas
de canto.

Eu não percebi muitas coisas, porque a sala estava lotada de pessoas. Deveria
haver vinte ou trinta bruxas e bruxos, reunidos em torno de uma grande mesa
de madeira, ou então de pé. Hagrid era o maior. Eu nunca tinha visto Hagrid
em lugar nenhum além de Hogwarts, que era tão grande que meio que
compensava o tamanho gigante dele.

Haviam outros rostos reconhecíveis; Olho-Tonto Moody, Dumbledore,


Emmeline Vance e Andrômeda. Mary e Marlene estavam juntas em um
canto, parecendo terrivelmente jovens e tímidas nesta multidão. Elas
cumprimentaram os meninos com uma espécie de alívio ansioso. Mary se
agarrou ao pescoço de Sirius com muita força.

"Ei! Você está aqui!" Ele disse surpreso.

"Regulus!" Mary veio até mim e me abraçou. Tipo, ela me abraçou mesmo.
"Você fica bem mais bonito do lado do bem, sabia?" Ela piscou para mim.
Ela... piscou para mim? Eu não tinha nenhum problema com isso,
obviamente. Mary era linda. Se ela quisesse me beijar, eu não iria reclamar

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nenhum pouco. Mas achei que o tratamento seria diferente levando em conta
quem eu era. E levando em conta que ela era nascida trouxa.

"Ei, Regulus," Marlene também veio até nós. "Como você está? Ficamos
sabendo do que aconteceu.

"Ah, mm, estou bem, eu acho." Respondi, meio fora de lugar. "No fim, ficou
tudo bem,"

"Você deveria vir até em casa, Reg," Mary ofereceu. "Eu sou mais divertida
do que Sirius." Ela disse, dando língua para ele.

"Não me faça rir, ninguém é mais divertido que eu, Mary!" Sirius apareceu
por trás de mim, colocando os braços em volta do meu pescoço e sorrindo
para as duas.

"Odeio atrapalhar, senhores", Moody apareceu, "Mas temos alguns negócios


para resolver."

Todos se reuniram ao redor da mesa parecendo muito sérios. Começaram se


apresentando, embora de uma forma ou de outra a maioria das pessoas se
conhecessem. Quando o meu nome foi falado, houve alguns murmúrios
abafados, mas eu e Sirius apenas olhamos desafiadoramente para todos eles.
Eu estava orgulhoso de mim. Deixe todos verem que você nunca poderia
julgar um livro pela capa, ou um homem pelo nome.

Depois disso, alguém leu um pergaminho com o que foi falado na última
reunião. Eu não entendi nada. Todos pareciam falar em um código estranho,
e todos conversaram entre si, diferente das reuniões de Voldemort e que
apenas ele falava. Muitos nomes foram mencionados, pessoas em diferentes
cantos do país que eram aliadas ou que passaram para o outro lado.

Eu ousei olhar para Sirius, James e Remus, e fiquei aliviado ao ver que
estavam tão confusos quanto eu. Eles também não tinham muito tempo na
Ordem e não estavam familiarizados com tantos adultos fazendo coisa de
adultos. Em seguida, a lista de desaparecidos foi lida e Alice propôs um
minuto de silêncio.

Todos queriam saber o que Dumbledore estava fazendo, que progresso ele
havia feito. Progresso com o que exatamente eu não fazia ideia. Tarefas
também foram distribuídas, para Frank e Alice, para Andrômeda e Ted, para

107
Arthur Weasley. Todos acenaram com a cabeça enquanto Moody os
selecionava.

Finalmente, Dumbledore encerrou a discussão.

"Aqueles que têm que ir, vão", disse ele, calmamente, "Mandarei recado
pelos canais habituais em nossa próxima reunião. Precisarei me ocupar
agora, senhores." Ele se levantou com suavidade, as mãos sobre a mesa.

De repente, o lugar não estava mais silencioso, pois todos começaram a


conversar com a pessoa ao lado, concordando uns com os outros, ou então
apenas colocando os assuntos em dia. Eu pisquei. Era só isso?! Franzi a testa
e olhei para Moody, que estava abrindo caminho ao redor da sala até nós,

"Venham comigo, rapazes", disse ele, "Vocês também, senhoritas. Vou


explicar tudo à vocês."

Eu relaxei, finalmente. Graças a Deus por isso. Havia sido profundamente


desagradável se sentir tão por fora sobre tudo. Eu me sentia incrivelmente
jovem e ingênuo.

"Você não, rapaz," Moody colocou a mão calejada no meu ombro.


"Dumbledore precisa dar uma palavra com você."

Arregalei os olhos e silenciosamente implorei a Sirius por ajuda, apenas para


ele se juntar a mim, rindo.

"Não fique tão nervoso, Reg, eu prometo que eles não vão torturar você."

Eu ri fracamente. Segui Dumbledore de volta para dentro da casa, subindo a


escada, que rangeu fortemente sob os pés.

Entramos em um pequeno quarto, parecia o quarto de uma criança. Havia


uma pequena cama no canto com estrelas e naves espaciais no edredom. A
mobília era pequena e pintada de azul claro, e havia brilho nas estrelas
escuras no teto.

"Sente-se, Regulus." Dumbledore acenou com a cabeça para a pequena


cama. Eu obedeci. Dumbledore se sentou em uma cadeira à minha frente.
Estávamos apenas nós dois. Se ele iria me matar, tinha que ser agora. Ele não
teria outra chance depois.

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"Como você está, Regulus?" Dumbledore perguntou.

"Estou bem. Melhor." Sorri fracamente.

"Você se sentiu bem hoje? Notei alguns olhares estranhos, fiquei apreensivo
de você ter se sentido desconfortável, talvez." Ele disse. "Apesar disso, a
senhorita MacDonald parece ter prestado bastante atenção em você."

"Eu, hm... acho que me senti normal," Menti. "E Mary é bem legal, apesar
de eu ser quem sou e ela ser quem é, ela foi gentil."

"Bom, Regulus, não há prêmios para adivinhar sobre o que quero conversar."
Ele disse, calmamente.

"As horcruxes." Respondi

"Isso mesmo." Dumbledore respondeu.

"Não tenho certeza de como encontrar as outras", Comecei a falar, "Só


descobri sobre o medalhão porque Voldemort usou meu elfo para escondê-
lo. E também não sei como destruí-lo, já tentei todos os feitiços possíveis."
Estremeci um pouco sendo tão sincero assim.

"Posso vê-lo?" Dumbledore pediu.

Eu entreguei à ele e ele olhou com cuidado por alguns minutos.

"Regulus, este é o medalhão da Sonserina, uma casa de Hogwarts. Já pensou


em procurar coisas que tenham a ver com as outras casas, além dessa?" Ele
sugeriu, ainda observando. "Há muito tempo, suspeitei que Lord Voldemort
havia as criado. Mas nunca tive como ter certeza. Horácio nunca me contou
de suas conversas com ele."

"É. Acho que ele gosta muito de mim para ter contado." Menti. Eu morreria
antes de contar que praticamente droguei um professor por informações.

"Imagino que sim." Ele continuou. "Regulus, espero que você entenda que a
tarefa que você está se disponibilizando a cumprir é algo muito importante e
muito perigoso também. Você será procurado por comensais da morte. Eles
o verão como um traidor, você entende isso?"

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"Sim." Falei, sem hesitar. "Não vou pôr ninguém em risco, professor. Eu
prometo ao senhor."

"Receio que isso não será possível, Regulus." Dumbledore disse, se


levantando da cadeira. "É tolo da sua parte achar que conseguirá fazer isso
sozinho."

"O que o senhor quer dizer?" Perguntei.

"Você precisará do seu irmão. E de seus amigos." Dumbledore disse. "Um


homem sem aliados é um homem sem poder, Regulus, você deveria saber."

"Sirius não deixaria eu fazer isso sozinho nem se eu quisesse, senhor. Não
depois do que aconteceu."

"Sim, me recordo. Isso não pode ocorrer de novo." Ele afirmou. "Além disso,
você vai precisar de alguém da Grifinória se quiser destruir essa horcrux e as
próximas que encontrar."

"Como assim?! Os únicos grifinórios que confio são Sirius e, bem, talvez
James e Lupin. E por quê preciso deles?!" Perguntei, confuso.

Então, Dumbledore puxou algo de baixo da cama em que eu estava. Era uma
capa grande e preta, com mais menos meio metro. Meus olhos se arregalaram
quando Dumbledore retirou de dentro uma espada grande e reluzente
vermelha e prata.

"Regulus," Dumbledore disse. "Esta é a espada de Godric Gryffindor."

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Capítulo 14: Plano

"Deixa eu ver se eu entendi direito," Sirius disse. "Esta é a espada de Godric


Gryffindor." Eu assenti. "E Dumbledore deu a você para destruir as
horcruxes." Assenti novamente. "Mas você vai precisar mergulhá-la em...
veneno?!."

"Isso." Respondi, assentindo mais uma vez. "Veneno de Basilisco."

"Onde você vai conseguir um basilisco?!" James perguntou.

"Há um em Hogwarts." Remus disse, acendendo um cigarro, concentrado na


espada estirada sobre a mesa. E Sirius e James o olharam surpresos. "O
monstro que vive escondido em Hogwarts? Qual é, como vocês nunca leram
sobre isso?!"

"Mas onde ele fica exatamente?!" James perguntou.

"Bem, segundo Dumbledore," Comecei. "A história é que o herdeiro


legítimo da Sonserina seria o único capaz de controlar o monstro, então a
coisa vai ser difícil. Nos anos 40, este lugar, a câmara secreta... foi aberta
pelo herdeiro da Sonserina. E então uma sangue r-" James me encarou,
furiosamente. "Desculpe, força do hábito - e então uma nascida trouxa foi
morta. Morta pelo monstro que vivia na câmara." Dei uma pausa. "Murta. A
fantasma do banheiro feminino."

"Murta-Que-Geme?!" Perguntou Sirius. "Mas ela morreu no banheiro... você


não acha que a câmara secreta pode estar lá?!"

"E Reg," James disse. "Se você está dizendo que o herdeiro é o único capaz
de controlar o monstro... então, quem ele é?"

"Não faço a menor ideia." Balancei a cabeça, "Mas condenaram Hagrid


injustamente na época. Por isso, ele foi expulso. Acharam que Aragogue, a
aranha que ele tinha, era o monstro."

"Homens são tão lentos!" Pandora falou, pela primeira vez desde que chegou
aqui. "Vocês não entendem? É ele!"

"Quem?!" James perguntou.

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"Voldemort. Lord Voldemort é o herdeiro de Salazar Slytherin." Ela
respondeu, nos encarando.

"Isso.. isso faz sentido..." Remus disse, tirando o cigarro da boca e se


levantando da cadeira. "Reg, você mesmo disse que Dumbledore desconfiou
dele na época, não é? Dumbledore nunca acreditou que Hagrid era o
verdadeiro assassino. Dumbledore desconfiou dele. E se... e se realmente for
ele?"

"Se for ele, tenho certeza que não vai ser fácil entrar. Deve ter algum tipo de
chave, código ou, sei lá... Com certeza, tem algo." Eu disse, ainda olhando
para a espada.

"Reg, você de todos nós é o que mais esteve na presença dele. Quer dizer, o
cara confiava em você, não é? Não tem ninguém melhor para fazer isso do
que você. Então, se conseguir lembrar de qualquer coisa... Podemos até sair
de lá com outra horcrux." Observou James.

"Reg, você não comentou uma vez comigo que Voldemort é ofidioglota?"
Pandora disse.

"Lembro disso vagamente," Sirius disse. "Lembro de mamãe falando alguma


coisa sobre isso para nós, em algum momento em casa..."

"Sim," Respondi. "Ele é. Ele carrega essa... cobra. Para tudo quanto é lado.
Nagini. Ele conversa com ela o tempo todo, já ouvi várias vezes."

"Salazar era ofidioglota também. Não pode ser uma coincidência." Remus
disse. "Você acha que consegue reproduzir alguma coisa?!"

"Não sei, talvez sim." Respondi. "Eu teria que tentar a sorte."

"Vamos ter que testar isso." Remus disse.

"Não sei se vou contar à Lily sobre isso." Disse James, seriamente. "Ela vai
querer ajudar e pelo o que você está dizendo, esse monstro matou uma
nascida trouxa e tenho certeza que não foi porque ele não gostou da roupa
dela."

"Você vai mentir?!" Pandora perguntou.

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"Não sei ainda. Talvez omitir. Não posso deixar que nada aconteça com ela."
Ele respondeu. "O casamento é daqui duas semanas. Por isso, se vamos fazer
isso, vamos fazer antes de eu me casar. Porque um namorado mentiroso é
uma coisa, um marido mentiroso? De jeito nenhum."

"Você não vai contar à Lily." Remus disse. "Eu vou."

"O quê?!" James perguntou.

"É a Lily, Prongs. Você não vai mentir para ela." Remus prosseguiu. "Eu
conto. E a convenço a ficar. Sei que ela vai entender."

"Cuidem disso. A última coisa que precisamos dentro da câmara secreta é


alguém nascido trouxa." Afirmei. E todos assentiram.

"Ok, ok," Sirius começou. "Vocês estão esquecendo duas coisas. Primeira,
como vamos tirar o veneno de um basilisco?"

"Vamos matá-lo." James disse, bravamente, encarando a espada.

"Isso." Assenti. "Vamos usar a espada de Godric. E além das varinhas, vamos
levar vassouras. Vai ser mais fácil fazer isso se pudermos sair do chão. E
vamos na madrugada, é mais seguro para os alunos... E tem mais uma coisa."
Dei uma pausa. "O basilisco pode matar alguém apenas olhando para a
pessoa."

"O quê?! Você tá brincando, né?!" Sirius arregalou os olhos. "Como vamos
lutar com uma coisa que não podemos ver?!"

Sirius estava certo. Isso seria mais difícil do que qualquer coisa que já
fizemos. Era perigoso - talvez até mais do que pegar o medalhão. Mas não
havia outra escolha. Precisávamos do veneno do basilisco se quiséssemos
que a espada funcionasse. Uma vez que conseguíssemos, destruir as
horcruxes seria fácil.

"Vamos dar um jeito, Sirius." Pandora falou. "Vamos ter que dar."

"Segunda coisa." Sirius continuou. "Como vamos ter certeza se há alguma


outra horcrux em Hogwarts? Dumbledore disse que você deveria procurar
por coisas que tenham a ver com as casas ou com a vida de Voldemort, não
é? Não seria alguma horcrux alguma coisa a ver com a Lufa-Lufa ou a
Corvinal?!" Ele disse, olhando para Pandora.

113
"Pode ser literalmente qualquer coisa..." Disse James, ainda correndo os
olhos pela espada.

"Nós podemos usar meu cristal!" Pandora disse, arregalando os olhos.

Todos a olharam estranhamente. As pessoas sempre faziam isso quando a


mente criativa de Pandora ia longe demais na visão delas. Acho que as
pessoas não conseguem lidar com alguém com a mente tão aberta como a
dela. Em Hogwarts, os sonserinos costumavam rir dos cristais enfeitiçados
de Pandora. Eu particulamente, sempre os achei incríveis.

"Um... cristal?!" Remus disse, confuso.

"Qual cristal?" Perguntei atentamente.

"O que te mostrei a primeira vez que falamos sobre as horcruxes." Ela
respondeu. "Você lembra? Ele mudou de cor quando você o tocou, por causa
da marca."

"Achei que ele só funcionasse com pessoas." Respondo.

"Não, funciona com objetos. Ele pode sentir quando algo impregnado com
magia negra está o tocando." Ela disse, se animando. "Vamos conseguir,
Reg."

"Então é isso... Marotos?!" Falei com um sorriso no rosto, batendo na mesa


e rapidamente James, Remus e Sirius ficaram lado a lado na minha frente,
fazendo um gesto militar com a mão. "Vamos matar aquele maldito
basilisco."

***

Naquela tarde, fomos até o Beco Diagonal comprar uma vassoura nova para
Remus. Segundo ele, a dele acabou quebrando quando ele estava voando e
ela prendeu em uma árvore. James e Sirius tem uma teoria de que ele quebrou
de propósito apenas para não ter que treinar quadribol com os dois. O que
não me surpreenderia nenhum pouco porque James é o que se pode chamar
de obcecado. Eu diria que a única coisa que ele ama mais que quadribol é
Lily Evans. Bem, pensando bem, talvez não. Marlene, Mary e Lily nos
acompanharam até lá.

114
"Vocês estão sentindo esse cheiro?" Remus perguntou, o que nos deixou
confusos.

"Não," Disse Sirius. "Cheiro de quê?"

"Não sei, hm..." Remus continuou, distraído. "Deixa para lá, devem ser tantas
pessoas juntas no mesmo lugar."

"Onde você quer procurar primeiro, Moony?" Perguntou Sirius, agarrado ao


braço de Remus.

"Podemos ir primeiro ao Vassourax," Respondeu ele. "Se vocês quiserem,


podemos nos encontrar na Floreios e Borrões em meia hora." Todos
assentimos e ele e Sirius seguiram caminho até à loja de vassouras.

"Ah, meu Merlim!" James gritou. "Lily, olha aquilo!" Ele estava apontando
para uma camiseta de quadribol autografada por sabe se lá Deus quem na
vitrine de uma loja.

"Potter, você deveria ir com calma, da última vez que entrou nessa loja, você
gastou todo o dinheiro que tínhamos acabado de pegar no Gringotes!" Lily
disse, o que fez eu, Marlene e Mary rirmos. Entramos todos na loja e James
foi correndo, igual a uma criança, até à camisa.

"Vou fazer nossos filhos usarem roupas de quadribol todos os dias, Lily."
Disse James, ainda admirando a blusa.

"Você não acha que deveria deixar eles escolherem os próprios times de
quadribol que vão torcer?!" Perguntou ela.

"Mas é claro que não!" Respondeu ele, terminantemente.

"Não se preocupe, Lily," Marlene disse, indo para o lado de James e


passando um braço por trás do seu ombro. "Deixe que eu cuido da criança
aqui! Você pode ir ver os livros que você queria."

"Já vi que vou passar a tarde tendo que ouvir vocês dois falarem sobre
quadribol, mesmo eu não entendendo nenhuma palavra se quer." Mary disse,
sorrindo.

"Tudo bem," Lily disse, sorrindo. "Reg, você vem comigo?"

115
"Hm, sim," Respondi. "Tem mesmo um livro que preciso ver também..."

"Pensando bem, hm," Mary respondeu, rapidamente. "Acho que também


estou atrás de um livro para mim." Ela veio andando atrás de nós e dando
tchau para James e Marlene.

Eu estava andando no meio das duas, quando Lily cutucou meu braço e
sussurrou para mim. "Ei, Reg."

"Hm?" Respondi, um pouco distraído.

"Remus me contou que vocês pretendem ir à Hogwarts daqui a uns dias." Ela
disse, franzindo um pouco a testa. "Só queria dizer para tomar cuidado."

"Não se preocupe, não vou deixar nada acontecer com eles." Respondi,
seriamente.

"Eu estava falando de você." Ela disse, passando a mão no meu braço e
sorrindo amigavelmente.

Chegamos até à Floreios e Borrões e era exatamente como eu me lembrava.


A loja cheia de crianças e adultos conversando, indo e vindo. As prateleiras
abarrotadas de livros indo até o teto. Livros novos e usados por toda parte,
balcões de madeira no meio da loja exibindo os livros mais comprados
daquele mês e uma escada que ia até a parte de cima da loja, com mais livros
ainda. O cheiro de página nova sempre foi um dos meus preferidos.

"Esqueci de como gostava desse lugar." Comentei, admirado.

"Ei," Mary nos chamou. "O que Remus quis dizer mais cedo com cheiro
diferente?!"

"Não sei, talvez tivéssemos passando na frente de um restaurante ou algo


assim. Sabe como ele é com comida." Lily disse, sorrindo fracamente.
Percebi que ela estava preocupada, então sussurrei quando Mary não estava
olhando.

"Você está bem?" Perguntei.

"Reg, Remus é um lobisomem." Ela observou e eu assenti. "Eu conheço ele


desde os meus onze anos. Se ele sentiu um cheiro diferente... Talvez
devêssemos achar os outros e voltar para casa."

116
"Hm, tudo bem..." Eu não estava entendendo muito bem o que ela queria
dizer. "Ei, Mary! Não quero deixar Sirius andando por aí por muito tempo,
ele pode querer gastar toda a única herança que ainda temos."

"Ah, tudo bem, podemos ir, então." Ela assentiu.

Nós três saímos da Floreios e Borrões. Começamos a andar pelas calçadas


procurando pelos outros, passando por vários bruxos e bruxas com seus
filhos e filhas, alguns bares agitados e lojas lotadas de pessoas entrando e
saindo. Até que vimos Remus e Sirius em frente ao Vassourex, mas Remus
estava esquisito. Ele estava muito agitado e Sirius estava tentando acalmá-
lo.

"Eles estão ali." Falei para Lily e Mary, apontando para os dois.

Mas assim que demos o primeiro passo em direção aos dois, a Floreios e
Borrões que havia ficado um pouco atrás de nós explodiu completamente.
Vidro, madeira e tijolos voando por todos os lados e não demorou muito para
que uma gritaria de terror e horror da multidão começasse. O som de várias
pessoas aparatando ao mesmo tempo para longe do Beco Diagonal era
aterrorizante. Mas o pior ainda viria.

A Vassourex explodiu diante dos nossos olhos e mais pessoas começaram a


correr. Perdi Remus e meu irmão de vista completamente. E mais lojas
começaram a explodir, depois outra e mais outra. Eu sabia. Eram eles.

"Se abaixem!" Abracei Lily e Mary e joguei nossos corpos no chão, cobrindo
nossos rostos enquanto o Beco Diagonal era destruído.

Eu estava atordoado. Não sabia onde Sirius estava e nem os outros. Eu estava
com duas nascidas trouxas, se algo acontecesse à elas a culpa seria minha.
Eles estão me procurando? Eu estava confuso e completamente perdido,
apesar de saber exatamente o que estava acontecendo.

Várias sombras pretas começaram a passar por todas as pessoas assustadas e


uma risada fina e esganiçada foi ouvida pelo beco inteiro. Aurores
começaram a aparecer de todos os lugares. O lugar estava completamente
destruído. Mas a gritaria recomeçou quando uma voz foi ouvida de alguma
lugar dos destroços.

"Morsmorde!"

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"São... são..." Mary estava agarrada à mim e não conseguia terminar a frase,
ela estava aterrorizada.

"Regulus." Lily me olhou, preocupada e eu apenas assenti. "James!" Ela


começou a gritar e sair de perto de mim.

"Lily, não!" Ela estava louca?! "Mary, vamos."

Segurei na mão de Mary e comecei a correr atrás de Lily que gritava o nome
de James por toda a rua. Minha marca estava ardendo no meu pulso. Se
algum deles a pegasse, ela estava morta. Eu não podia deixar nada acontecer
a nenhuma das duas.

Encontramos Remus e Sirius escondidos em um beco escuro.

"Reg... meu Deus, eu..." Sirius me abraçou com força e sussurrou no meu
ouvido. "Eu achei que eles tivessem vindo pegar você."

"Graças à Deus!" Disse Mary, abraçando Remus e depois Sirius. "Onde...


onde Marlene está?!"

"Onde James está?!" Lily perguntou, gritando. Mas haviam muitos gritos.

"James? Ele não está com vocês?!" Sirius engasgou. "O que?! Não... ele...
James?!" Sirius começou a gritar, sua voz estranha e estrangulada de terror,
ele começou a querer correr e quase tropeçou. "Prongs?! James!" O grito
dele era quase tão alto quanto das outras pessoas.

"Sirius," Pus a mão nos ombros dele. "Não se preocupe. Vamos achá-los."

"Lily! Meu Deus... você... Não suma da minha vista de novo!" Remus a
abraçou forte. "Não posso perder você para eles... Nunca."

Haviam coisas horríveis escritas nas paredes como 'fora sangues ruins' e 'vida
longa à Lord Voldemort'. Senti vontade de vomitar quando minha marca
ardeu de novo. Sirius percebeu que eu estava mexendo no braço e apenas me
encarou. Não tínhamos tempo. Precisávamos achar os outros.

James e Marlene não haviam saído da loja de quadribol. Mas a loja não
existia mais. Apenas destroços e pedaços de madeira queimados. James
estava se escondendo atrás de um pedaço de madeira que havia se
desprendido do teto e estava segurando Marlene no colo, desacordada.

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"Marlene!" Mary gritou, começando a chorar e se ajoelhando.

"Ela não está morta... ela desmaiou depois da explosão, acho que algo bateu
na cabeça dela, eu não sei..." James começou a explicar nervoso, e tremendo
também.

"James!" Lily apareceu, com alívio nos olhos, indo até ele.

"Lily!" Os dele brilharam e ele a segurou nos braços e a beijou fortemente.

"Prongs!" Sirius gritou vindo de onde estava e sorriu em meio às lágrimas


quando viu James.

"Padfoot!" James foi correndo abraçá-lo. "Moony, você... você se


machucou?! Estão todos aqui?!"

"Sim," Falei juntando todos juntos em um só lugar. "Temos que aparatar


daqui. Mary, aparate com Marlene para um hospital. O resto, vocês vem
comigo. Vamos até Pandora."

"Regulus, acho que você vai querer ver aquilo..." Remus disse, da porta da
loja.

Uma parede que não havia sido totalmente destruída estava escrita.

'VAMOS MATAR VOCÊ REGULUS BLACK'

***

"Meu deus, vocês estão bem?!" Pandora perguntou abrindo a porta


rapidamente, assim que nos viu desaparatar em sua porta. "Eu ouvi sobre o
que aconteceu no beco!"

"Ninguém de nós está machucado. Graças à Merlim." James disse, entrando


abraçado à Lily.

"Obrigado por nos receber, Pandora..." Remus agradeceu, enquanto entrava


com Sirius.

119
"Tudo bem, tudo bem..." Pandora disse, os deixando entrar. "Ah, meu Deus,
você!" Ela se jogou no meu pescoço. "Você está bem?! Está machucado?!
Precisa de ajuda para andar?!"

"Pandora, eu estou bem..." Falei, a abraçando de volta e depois entrando na


casa.

"Eu senti o cheiro deles." Remus disse, olhando furioso para a frente. "Senti
o cheiro da magia negra deles, mas não quis acreditar que era isso."

"Tudo bem, Moony," Sirius disse. "Estamos bem agora."

"Regulus, sua marca, você..." Pandora veio até mim e segurou no meu braço.
"Ela está doendo? Você sentiu?"

"Sim, eu..." Eu estava atordoado. "Ela ardeu. Ardeu muito." E então


Pandorou me abraçou.

"Não quase morra outra vez, seu idiota." Ela sussurrou.

"Precisamos escrever à Ordem, ver se alguém que conhecemos se


machucou!" James disse.

"Eles escreveram que iam me matar." Pensei alto, não estava pensando em
falar de verdade. E todos me encararam.

"O quê?!" Pandora me olhou aterrorizada. "Regulus, você-"

"Lily!" Interrompi Pandora. "Se você estiver bem, aparate para onde Mary e
Marlene estão e nos mande notícias."

"Tudo bem." Ela assentiu, bravamente. "Farei isso."

"E nós, Reg?" James disse, pondo a mão no meu ombro. "O que faremos?"

"Preparem as coisas de vocês," Falei, com ódio nos olhos. "Vamos voltar à
Hogwarts hoje."

120
Capítulo 15: Hogwarts

Voamos até Hogwarts o mais rápido que conseguimos.

Precisávamos chegar ainda na madrugada para evitar que encontrássemos


alunos nos corredores que pudessem nos reconhecer. O plano era treinarmos
o suficiente e virmos daqui a alguns dias. Mas o ataque ao Beco Diagonal
mudou tudo. Não me importo se eu morrer, não vou deixar que eles se
machuquem porque eu decidi trair Voldemort. Se alguém deve pagar, serei
eu.

James era um líder natural. Apesar de eu estar com a horcrux e a espada, de


Pandora estar com o cristal, de Remus ser o único com um olfato
sobrenatural e de Sirius conseguir se transformar em um animal
aparentemente inofensivo, James era quem estava nos guiando pelo céu. O
cara era realmente bom em voar e liderava nossa ida até lá sem nem mesmo
notar ou se esforçar.

"Reg!" Gritou James, através do vento batendo contra nós. "Você sabe o que
vai fazer, não é?!"

"Sim!" Gritei de volta.

"Que bom!" Ele respondeu. "Porque se eu morrer, acho que Lily vai matar
você!"

"Tudo bem!" Respondi.

Hogwarts sempre seria linda, mesmo com a guerra. Sempre me lembraria do


lugar como a primeira vez que me senti em casa. Sempre me lembraria daqui
como o lugar em que pertenci à alguma coisa que realmente amava.

"Quase me esqueci de como era linda." Disse Remus, admirado.

"Vamos, Reg! Temos que encontrar Dumbledore!" Pandora disse, segurando


na minha mão.

"Não, espere aí!" Falei, me soltando. "Por que eu deveria procurar ele?!
Temos tudo que precisamos!"

121
"Você está se esquecendo que foi Dumbledore quem te deu essa espada."
Disse Remus. "Dumbledore é o único em quem podemos confiar."

"Onde está Sirius?!" Perguntei, desconversando.

"Estamos aqui." James disse, vindo com duas vassouras e um cachorro preto
ao seu lado. "Sirius vai entrar como Padfoot, é mais fácil dele se esconder."

"Você não vai se transformar também?" Perguntei.

"Acho que galhos não são tão fáceis de esconder, Reg." James disse,
sorrindo. "Então, fazemos o que antes?"

"Banheiro feminino." Respondi, seriamente.

"Não!" Pandora disse. "James, diga à ele para irmos até Dumbledore!"

"Por que não quer ir até lá, Reg?" Perguntou James, confuso. "Foi ele quem
te deu a espada."

"Viu? Eu falei." Remus disse.

"Tudo bem!" Falei, irritado. "Que droga, vocês parecem marionetes dele."
Resmunguei, e Pandora revirou os olhos. Sirius latiu.

"Olha, sinceramente, eu estou com Regulus." James disse, dando de ombros.


"Quero dizer, foi ele quem quase morreu atrás dessa coisa, ele deveria poder
decidir o que vamos fazer, não é?"

"Obrigado, James!" Disse, sorrindo e levantando as mãos para o alto.

"Mas se ele quase morreu, é porque fez alguma coisa errada." Remus disse.
"Quem garante que não vamos morrer hoje?!"

"Obrigada, Remus!" Pandora disse, colocando o braço no ombro dele.

"Pandora, não comece." Falei, seriamente.

"Não, não comece você." Ela respondeu.

122
"Ah, pelo amor de Deus!" Sirius disse, voltando à sua forma humana.
"Somos cinco, dois querem ir até Dumbledore, dois não, então eu decido."

"Ótimo." Respondi ironicamente, porque sabia que Sirius confiava em


Dumbledore demais.

"Não devemos ir até ele." Ele disse, simplesmente. O que me deixou


surpreso.

"Padfoot..." Remus começou, indo até ele.

"Não, Moony, Prongs está certo... se foi Regulus quem arriscou a própria
vida para isso, então devemos seguir o que ele diz." Sirius respondeu.

"Não gosto disso." Pandora disse, cruzando os braços.

"Pandora, eu já fiz demais em deixar você vir," Respondi. "Você é mestiça,


sabe Deus se o basilisco também não vai querer matar você!"

"Remus também é mestiço e Sirius não está o impedindo de fazer nada!" Ela
respondeu, irritada.

"É porque nunca consigo impedir Moony de fazer nada, Pandora." Disse
Sirius.

"Pandora, amor," Falei, sorrindo e segurando em suas mãos. "Você pode, por
favor, apenas dessa vez, concordar comigo?"

Ela pensou antes de responder, e então disse. "Tudo bem! Mas vamos lá
assim que sairmos. Nenhum minuto a mais!"

"Se é que vamos sair..." Remus sussurrou, enquanto Sirius voltava a ser um
cachorro e nós entrávamos na escola.

Eu obviamente era grato à Dumbledore pela espada e por ter me contado a


história da câmara secreta. Mas eu não via razão nenhuma para metermos ele
em todas as nossas decisões se ele não faria nada, apenas daria ordens. Ele é
um dos bruxos mais poderosos do último século, ele não deveria ter se
oferecido para procurar as horcruxes conosco ou, algo assim? Talvez fosse
só minha dificuldade em pedir ajuda falando mais alto, não sei.

123
Entramos pela parte dos fundos de Hogwarts, as portas principais estavam
fechadas durante à madrugada. Os corredores estavam escuros e tivemos que
tomar cuidado para não acordarmos os quadros.

"Acho que foi uma ideia ruim você vir como cachorro, Pads," Sussurrou
James. "Se Madame Norris ver você, teremos outro monstro para enfrentar
além do basilisco."

"Espere, você disse Madame Norris?" Remus perguntou.

"O que tem a gata do Filch?" Pandora perguntou.

"Me sigam." Remus disse, tomando a frente. Passamos pelos corredores pelo
maior silêncio que conseguimos. James pisou em uma pata de Sirius sem
querer e o rosnado dele quase acordou um dos quadros. Que caos. Remus
nos guiou até uma sala no corredor do segundo andar. Era a sala de Filch.
"Chegamos."

"Por que estamos aqui?" Perguntei, ansioso. "Vamos logo com isso, Remus."

"Você não está pensando em..." James disse indo para o lado de Remus, com
um sorriso.

"Sim, Prongs, estou." Remus respondeu, sorrindo também.

"Do que vocês estão falando?!" Pandora perguntou e Sirius rapidamente se


transformou em humano de novo.

"Vamos pegar o que é nosso." Ele disse, com um sorriso perverso.

"Alohomora!" Remus sussurrou, e a porta da sala de Filch destrancou.

"Ainda não faço ideia do que estamos fazendo aqui." Falei, ainda apressado.

"Você já vai ver, irmãozinho." Sirius respondeu, batendo no meu ombro.

Remus, James e Sirius foram na frente. Filch estava derrubado em sua


cadeira, dormindo tanto que poderia estar morto e Madame Norris estava em
seu colo, dormindo também. James estava abrindo, em silêncio, gaveta por
gaveta. Sirius olhava os armários e Remus embaixo de alguns móveis. Eu e

124
Pandora nos entreolhamos confusos. Não fazíamos ideia do que estava
acontecendo.

"Achei!" James sussurrou, tentando conter a empolgação.

"Tá brincando comigo." Sirius foi até ele, maravilhado.

"Boa, Prongs." Remus disse, sorrindo também.

"Vocês nos fizeram vir até aqui por um pergaminho sem nada?!" Perguntei,
irritado.

"Regulus, meu cunhado," Remus disse suspirando, "Você está prestes a ver
nosso melhor trabalho."

"Então, vamos sair daqui, antes que ele acorde!" Pandora disse, saindo da
sala, nós fomos atrás. Assim que estávamos do lado de fora, ela perguntou.
"E então?!"

James deu um sorriso travesso e olhou para Sirius e Remus, apontando sua
varinha para o pergaminho amarelado e dizendo. "Eu juro solenemente não
fazer nada de bom!"

"O que é isso?! Uma maldição?!" Eu falei, eu estava ficando realmente


irritado.

Mas então, várias palavras e símbolos começaram a aparecer no pergaminho.


Eu e Pandora fomos para o lado dos três para vermos melhor. Era
simplesmente genial. Todas as pessoas que estavam em Hogwarts naquele
momento eram possíveis de ser encontradas, os nomes dela flutuavam no
papel exatamente onde elas estavam. Todos os lugares e até passagens
secretas podiam ser vistas no mapa.

"Senhoras e senhores..." Sirius começou.

"Este aqui, é nada mais, nada menos que..." Remus continuou.

"O mapa do Maroto!" Os três falaram, orgulhosamente, em uníssono.

"Não tinha um nome mais criativo?!" Provoquei, sorrindo.

125
"Reg, não seja mal!" Pandora respondeu, ainda admirando o mapa. "É
simplesmente incrível!"

"Não tem como achar a câmara com ele, porque na época em que criamos
ele nem sabíamos da existência dela." Disse Remus. "Mas podemos achar o
banheiro feminino mais fácil nessa escuridão."

O mapa realmente era útil. Com ele, nós cinco podíamos ir a qualquer lugar
facilmente e sem nos perdermos. Não foi difícil chegar até o banheiro
feminino do segundo andar. Descemos as escadas mais próximas e seguimos
pelo corredor escuro até o banheiro. Ele não havia mudado nada. Eu esperava
que Murta fosse aparecer a qualquer momento como sempre fazia.

"Onde será que Murta está?!" Sirius perguntou, assim que chegamos.

"Procurando por mim, Sirius?" Murta estava sentada na divisão de um dos


boxes. Exatamente como eu me lembrava dela. "Que é que estão fazendo
aqui?"

"Murta!" Fui até ela, ansioso, mas ela se esquivou.

"Ugh! Não fale comigo..." Ela me olhou, com raiva. "Me lembro de você no
ano passado... você e seus amigos sonserinos me chamaram de sangue-ruim
várias vezes!" Ela choramingou.

"Reg!" Pandora socou meu braço.

"O que?! Era isso ou Barty contaria aos meus pais." Falei, dando de ombros.
"Murta, eu preciso de um favor seu..."

"Não vou fazer nada à você." Ela respondeu, orgulhosa.

"Sirius, Murta gostava de você, lembra?!" Sussurrou James. "Talvez você


pudesse... você sabe, jogar uma cantada?!"

"Ei!" Remus disse.

"Não se preocupe, Moony, ainda sou todinho seu." Sirius disse, sorrindo

Sirius estava com as suas roupas de sempre. Ele estava com uma jaqueta de
couro, um jeans preto e seus coturnos. A varinha prendendo o nó feito no

126
cabelo e o mesmo sorriso travesso que ele tinha desde o dia em que nasceu.
Ele soltou o nó do cabelo, deixando ele solto e bagunçado, passou a mão por
ele jogando-o para trás e se encostou na porta do box, perto de Murta.

"Ei, Murta..." Ele a chamou. "Se lembra de mim?"

"Ficou com saudades de mim, Black?" Ela perguntou, com os olhos


encantados.

"Você sabe que sim, Murta... se eu pudesse, viria ver você todos os dias."
Ele disse, sorrindo e Murta estava absurdamente concentrada em sua boca.
"Murta, queria que você me respondesse uma coisa, você... pode fazer isso
por mim?"

"Não gosto disso." Remus sussurrou, emburrado.

"Shiu." Falei, o calando.

"Qualquer coisa..." Ela respondeu, ainda o admirando.

"Pode me contar como foi que você morreu?" Sirius perguntou, parecendo
preocupado com ela.

"Foi aqui, neste banheiro mesmo!" Ela respondeu, parecendo como se ele
tivesse a elogiado. "Eu me lembro tão bem! Alguns alunos estavam caçoando
de mim... então eu vim para o banheiro feminino e me tranquei neste boxe
para chorar. E então ouvi alguém entrar... falando alguma coisa meio
engraçada, parecia em outra língua. Era um garoto. Quando fui dizer para ele
sair do banheiro feminino..." Murta, suspirou. "Morri."

"Mas... como?" Sirius perguntou, ainda atento.

"Não me lembro, Sirius... vi dois olhos grandes e amarelos e então, não vi


mais nada. Bati as botas." Ela respondeu.

"Onde você os viu?!" Ele perguntou.

"Bem ali." Ela respondeu apontando para a pia do banheiro.

"Fica na...pia?!" James perguntou.

127
"Não na pia..." Pandora disse, correndo até lá.

"Embaixo dela." Remus completou, trocando um olhar com Pandora. Fiz


uma cara feia, me lembraria mais tarde de dizer à ela que não gostei da
proximidade repentina dos dois.

"Muito obrigado, Murta!" Disse Sirius, piscando para ela.

"Parecia ser uma pia comum..." Eu disse.

"Talvez essa seja a intenção." Remus respondeu.

Examinamos toda a pia, por todos os lados, por dentro e por fora. E então eu
vi em uma das torneiras, uma cobra pequena gravada no cobre.

"É aqui." Falei, e todos vieram ver.

"Tudo bem. Regulus." Remus disse. "Você precisa lembrar agora. A língua
das cobras."

"Remus, não sou ofidioglota." Respondi, ainda encarando a torneira. Eu


estava assustado. E se eu não conseguisse? Estávamos tão perto, eu não podia
errar.

"Ei, Reg, olhe para mim," Sirius disse, segurando no meu rosto e me fazendo
olhá-lo. "Você é o cara que achou o medalhão, ok? Você é foda para caralho.
Você escapou de um monte de esqueletos e explodiu a casa dos Blacks! Você
vai conseguir, apenas... apenas tente."

"Vai ficar tudo bem, Reg." Pandora disse, segurando na minha mão. "Se isso
não der certo, vamos dar outro jeito. Sempre damos."

"Não sei se consigo, eu... eu não sou-" Comecei.

"Ei, cara, não é hora de pensar negativo," James me interrompeu, pondo a


mão no meu ombro. "Você não passou por tudo isso para andar para trás
agora. Você vai conseguir. Eu sei disso."

"Reg, se não for você, não vai ser ninguém." Remus disse, seriamente. "Nós
confiamos em você."

128
Olhei para todos os quatro de cada vez. Eles confiavam em mim. Eu tinha
que conseguir fazer isso. Não podia errar. Fechei os olhos e respirei fundo,
tentando lembrar das palavras que Voldemort usava para conversar com
Nagini. Abri os olhos e os fixei na torneira. Vamos, Regulus, diga...

"Abra." Foi o que eu escutei que disse na minha mente. Não deu certo. Falei
na nossa língua. Olhei para Sirius, esperando um olhar decepcionado. Mas
não foi isso que vi.

"Reg, isso foi assustador." Ele estava de olhos arregalados. "Nunca mais use
essa voz de novo."

"O-o que?!" Eu não estava entendendo nada.

"Reg, olha!" James apontou para a pia.

A pia começou a se deslocar bem na nossa frente. Até que sumiu de vista,
deixando um cano enorme exposto, grande o suficiente para uma pessoa
passar por ele.

"Você conseguiu!" Pandora exclamou, sorrindo.

"Eu consegui." Afirmei atordoado, mais para convencer a mim mesmo.

"Vamos lá, irmãozinho." Sirius disse, batendo no meu braço. Desgraçado


corajoso.

Sirius passou primeiro. Depois Remus, atrás dele. E então, James. Dei um
olhar preocupado para Pandora, e ela apenas assentiu e passou também.
Antes de eu ir, olhei para Murta que ainda estava no boxe do banheiro.

"Murta." Chamei, e ela apenas me olhou. "Eu sinto muito. Você não... não
merecia."

"Você está diferente." Ela disse.

"Obrigado." Assenti e sorri fracamente. E então desci.

O cano era muito escorregadio e escuro. Parecia não ter fim nunca. Tinham
outros canos, mas nenhum tão largo assim.

129
"Vocês estão percebendo que o cano está indo cada vez mais baixo?!" Sirius
observou.

"Devemos estar muito abaixo da escola." Respondi.

"Embaixo até mesmo do lago, talvez." Disse James.

Até que nós cinco caímos em uma superfície úmida e viscosa em um chão
de um túnel escuro, mas grande o suficiente para ficarmos de pé. Estávamos
todos sujos de limo e cheirando mal. Começamos a andar pelo chão molhado
do túnel para ver até onde ele dava.

"Tem limo no meu cabelo!" Sirius choramingou.

"Sirius, não é hora disso." Pandora o repreendeu.

"Eu lavo para você depois, Padfoot. Vamos focar aqui." Remus disse.

"Lumus!" Todos murmuramos para nossas varinhas, o que foi o suficiente


para clarear o ambiente. O túnel era tão escuro que não conseguíamos ver o
fim dele, apenas nossas sombras.

"Se lembrem de que não se pode olhar nos olhos dele." Remus disse. "Então,
até darmos um jeito de cegá-lo, fechem os olhos."

"Então, esse é o plano?" James perguntou. "Cegá-lo?! Como diabos vamos


fazer isso?!"

"Com a espada." Respondi. "Alguém vai ter que fazer."

"Alguém tem que voar por cima do basilisco e furar os olhos dele." Pandora
explicou. "É o único jeito."

"Isso se não morrermos antes." Sirius disse.

"Tem que ser um de vocês três." Respondi. "A espada não vai responder à
mim ou à Pandora. Tem que ser alguém da Grifinória. O mais digno, algo
assim."

"Bom, Padfoot, você é corajoso. E Moony, você é esperto e corajoso.


Qualquer um de vocês..." James começou.

130
"Na verdade, eu estava pensando em você, James." Falei. E isso o deixou
sem palavras. Não era mentira. James era provavelmente a pessoa mais
heroica que eu conhecia. Se alguém um dia salvaria o mundo, esse alguém
era James Potter.

Assim que dobramos mais uma curva, encontramos uma parede com duas
cobras de pedra entrelaçadas e duas esmeraldas em seus olhos.

"Reg, acho que você vai precisar fazer aquilo de novo." Pandora disse, mais
séria do que o normal.

Eu estava mais confiante. Havia conseguido uma vez e conseguiria de novo.


Repeti a palavra na minha mente, mas ela saiu totalmente diferente na minha
boca. Se eu precisasse falar alguma coisa que não fosse 'abra', não sei se daria
certo.

Mas então, as cobras se moveram, se separando suavemente e então,


entramos.

"Que lugar bizarro." Sirius disse, olhando ao redor.

"Ele me dá arrepios." Pandora disse, eu a olhei preocupado e segurei a mão


dela.

Era uma câmara muito comprida com várias colunas de pedra. O lugar era
decorado por estátuas de cobras e uma luz esverdeada iluminava o local, o
que me lembrava a comunal da Sonserina.

"Moony, acho que aquele cobra olhou para mim." Sirius sussurrou.

"São estátuas, Padfoot." Remus respondeu.

"Não gosto de cobras." James disse, olhando ao redor.

"Não gosto da Sonserina." Remus disse, muito espontaneamente, e eu o


encarei. "Desculpe, Reg."

"Você está bem?" Sussurrei para Pandora, ainda segurando na sua mão.

"Estou, só... esse lugar tem uma energia estranha." Ela disse, pegando o
cristal em seu bolso. "Viu? Está vermelho. Tem muita magia negra aqui..."

131
"Não se preocupe. Vai ficar tudo bem." Tranquilizei, mas na verdade, não
fazia ideia.

Continuamos avançando até o último par de colunas, havia uma estátua alta
com um rosto esculpido nela. Com uma barba esculpida e longas vestes que
iam até o chão.

"É Salazar." Falei. "Salazar Slytherin."

"Cara bizarro." Disse James.

"Tudo bem, peguem as varinhas de vocês." Disse aos quatro. "E peguem as
vassouras. Não sei como isso aqui vai ser, mas temos que estar preparados."

"Reg, você disse que só o herdeiro pode controlar o basilisco..." Sirius disse.

"Sim."

"Então, se ele aparecer... ele estará sem controle algum?!" Ele continuou.

"Basicamente."

"Isso não me tranquiliza." Sirius disse, balançado a cabeça.

"E se ele estiver escondido," Remus falou. "E precisarmos chamá-lo, algo
assim?"

"Talvez você precise falar com ele, Reg." James disse.

"Não sei que parte do 'eu não sou ofidioglota' vocês não entenderam, mas
vou repetir," Falei, ironicamente. "Não sou ofidioglota."

"Reg, não tem outro jeito." Pandora disse. "Precisamos do veneno. Só o


herdeiro pode controlá-lo, mas talvez você consiga chamá-lo..."

"E eu digo o quê?! 'Vem aqui, cobrinha bonitinha'?! Pelo amor de Merlin!"
Falei, irritado.

"Regulus." Sirius disse, pondo a mão no meu ombro. "É o único jeito."

132
Os próximos minutos que se seguiram foram estranhos. Tentei várias vezes,
e não consegui nada. Era engraçado pensar que eu estava tentando chamar o
provável motivo da nossa possível morte. Muitas palavras se formavam na
minha mente, algumas saíam em uma língua estranha, a maioria na nossa
língua. Até que o rosto de Salazar Slytherin começou a se mexer.

"É só eu que estou vendo esse cara abrir a boca?!" Sirius disse, aterrorizado.

"Acho que tem alguma coisa... alguma coisa dentro da boca dele..." Pandora
disse, chegando perto.

Era isso.

"Pra trás! Agora!" Gritei, quando uma coisa grande e comprida começou a
escorregar para fora da boca da estátua.

"Puta que pariu!" Remus gritou.

"Mas que p-" James não conseguiu terminar de falar.

"Rápido! Subam nas vassouras!" Gritei.

Remus, Sirius e James fizeram um toque com as mãos. Remus e Sirius deram
um beijo intenso e rápido. Olhei nos olhos de Pandora e ela apertou minha
mão, subindo na sua vassoura em seguida. Dei uma última olhada à Sirius e
assentimos um ao outro. Estava na hora.

Uma cobra enorme e descomunal bateu no piso. Todos estavam olhando


apenas para seu corpo, não podíamos encarar seus olhos amarelos até que
alguém conseguisse cegá-lo. Joguei a espada para James e ele assentiu para
mim. Mas antes que ele conseguisse fazer algo, a cobra gigante bateu na
ponta da vassoura de Sirius.

"SIRIUS!" Gritei, minha voz estrangulada de terror, enquanto via meu irmão
cair no chão e a cobra se virando em direção à ele.

133
Capítulo 16: Três

"Regulus, não!" Pandora gritou. A voz dela ecoou no fundo da minha mente.
Nada importava agora. Tudo aconteceu dentro de apenas um único segundo.

Alavanquei com a vassoura em uma velocidade absurda em direção à Sirius.


Mas antes que eu pudesse chegar até ele, Pandora levantou a varinha do outro
lado da câmara e lançou um feitiço para levitá-lo que o impediu de chegar
ao chão. James e Remus estavam chamando a atenção do basilisco para longe
de Sirius para podermos pegá-lo. Cheguei até ele e o segurei nos meus
braços, tremendo.

"Nunca mais me assuste assim de novo." Disse, o abraçando.

"Estou só te dando o troco." Ele respondeu, sorrindo fracamente.

"Sirius, volte para a sua vassoura!" Pandora gritou. "James e Remus não vão
conseguir fugir dele por tanto tempo!"

Não podíamos olhá-lo nos olhos, seguímos seu movimento apenas olhando
para o corpo e o ouvindo deslizar pelo chão molhado. Remus quase caiu da
vassoura três vezes, ele lançava olhares preocupados para Sirius o tempo
inteiro, devia estar o incomodando muito não poder correr até ele para se
certificar de que ele estava bem.

"James, você precisa cegar ele agora!" Gritei.

"É meio difícil quando não faço ideia de onde os olhos dele estão!" Ele gritou
de volta.

"Você pode voar por trás da cabeça dele, não vai precisar atacar pela frente!"
Remus gritou.

Estávamos todos espalhados pelo lugar para confundir o basilisco. Mas


Remus gritou alto demais. O basilisco conseguiu saber exatamente onde ele
estava e virou toda sua coluna na direção dele, o corpo enroscando, batendo
nas colunas, se torcendo para atacá-lo de frente.

"Moony, saia da aí!" Sirius gritou, aterrorizado. "Prongs, você precisa acertá-
lo!"

134
"Estou tentando!" James gritou de volta.

Remus apertou os olhos e desviou tão rápido em sua vassoura que quase caiu
pela quarta vez. O basilisco mataria todos nós facilmente, mas ele parecia
não estar tão preocupado comigo, Sirius ou James. Ele estava mais focado
em Remus, e agora que ele havia desviado tão rápido, a cobra virou-se na
direção de Pandora, com a boca escancarada, grande o suficiente para engoli-
la inteira, cheia de dentes compridos e pontiagudos, cheios de veneno.

"Pandora! Ele está indo até você!" Gritei alto, me segurando para não ir até
ela. Precisávamos ficar todos o mais separados que pudéssemos. Mas não
consegui, não conseguia ver ela em perigo. Voei até onde ela estava e ela
gritou.

"Regulus, fique aí!" Mas o monstro me ouviu e virou na minha direção. Eu


fixei os olhos no seu corpo para não encará-lo. Eu só precisava que ele ficasse
longe de Pandora.

"Pandora, vá para a outra direção!" Gritei, tentando me desviar rápido,


enquanto lançava vários feitiços no basilisco.

"Reducto!" Pandora apontou com a varinha para cobra, com os olhos fixados
em seu corpo. A cobra ficou atordoada por alguns segundos, e então voltou
à perseguir Remus na outra direção.

"Por que essa coisa está mais preocupada com eles dois?!" James gritou,
desesperado.

"Eles são mestiços!" Gritou Sirius.

"Exatamente!" Respondi. "Nós somos os únicos sangues-puro aqui, ele foi


criado para matar mestiços e nascidos-trouxas! Mas podemos chamar a
atenção dele para nós!"

Sirius não pensou duas vezes. Ele foi, impulsivamente, de uma só vez em
direção à Lupin, que desviava da cobra sem fazer ideia de onde ela realmente
estava. Sirius estava com tanta raiva nos olhos, que o olhar dele estava quase
tão mortal quanto o do monstro. Sirius era muito imprudente se tratando de
quem ele amava. Um dos dois morreria.

"Padfoot, não!" James gritou, horrorizado.

135
"James, agora!" Eu e Pandora gritamos em uníssono. James assumiu uma
postura raivosa e voou bravamente até o basilisco que estava atrás de Remus
e Sirius. Ele pairou por cima da cabeça da cobra, tentando fixar os olhos em
qualquer lugar que não fosse seus olhos. Ele levantou a espada no ar no
momento em que a cobra escancarou a boca na direção de Sirius, e desferiu
um golpe em seu olho direito e logo depois, no seu olho esquerdo.

"Boa, Prongs!" Sirius disse, voando de volta até mim e Pandora. Os olhos do
basilisco se inundaram de sangue, o rabo da cobra chicoteou não acertando
James por pouco, e antes que eu pudesse fechar os olhos de novo, a cobra se
virou para mim - olhei direto para o seu rosto, e os dois olhos, antes amarelos
e vivos, estavam perfurados. O sangue escorria pelo chão e a cobra sibilava
de dor.

"Podem olhar para ela!" Gritei e todos a encararam. Em questão de segundos,


a cobra balançou, confusa, mas ainda letal. "James, agora você precisa matá-
lo!"

"Sabe, eu não sou o único grifinório aqui!" Ele gritou de volta.

"James!" Gritamos em uníssono.

"Tudo bem!" Ele respondeu.

O basilisco estava dependendo agora apenas do seu olfato e audição. James


olhou para nós e assentiu, corajosamente. O resto de nós quatro voou de
encontro ao outro. Remus quase deu um encontrão com a vassoura de Sirius,
voando rápido para verificar se ele estava bem. Se algo ruim acontecesse,
estaríamos juntos. Segurei forte a mão de Pandora e Sirius e Remus fizeram
o mesmo. Estávamos em silêncio. Queríamos que a cobra se concentrasse
apenas em James.

James voou até o topo da cabeça de Salazar, com a espada de Godric


empunhada em sua mão. Ele estava com uma postura brava e corajosa, com
os olhos fulmegantes e justiceiros, pronto para matar. O basilisco foi
sorrateiramente em direção à ele, vimos o corpo imenso, as órbitas
ensanguentadas, a boca escancarada, indo em direção à James.

Sirius me olhou tão assustado que, por um segundo, pareceu o mesmo garoto
de quinze anos que tinha medo dos próprios pais. Odiei ver aquele olhar mais
uma vez. Sussurrei um 'vai ficar tudo bem' para ele. E ele assentiu, com os

136
olhos cheios de lágrimas. Se perdêssemos James, não sei do que Sirius seria
capaz.

"Isso é pela mulher que eu amo, seu desgraçado!" James gritou, enquanto o
basilisco abria a boca para atacá-lo às cegas, James subiu um pouco mais de
onde estava e colocou todo o seu peso na espada, a enfiando no céu da boca
da cobra. O basilisco sibilou alto de dor, enquanto tombava para o lado. Até
que finalmente caiu, fazendo um barulho estrondoso no chão.

Ficamos em silêncio por um tempo, com os olhos arregalados, ofegantes.


James ainda no alto da estátua, no mesmo estado, com a espada
ensanguentada até a bainha.

"Conseguimos." Pandora sussurrou.

"Conseguimos." Concordei, sorrindo fracamente.

James voou até o chão rapidamente, onde estávamos, ainda cheio de


adrenalina. Abracei Sirius, e começamos a sorrir como crianças.
Conseguimos. Conseguimos de verdade.

"Eu amo você." Remus disse, alto e em bom som, segurando o rosto de Sirius
com as mãos e o beijando. Todos aplaudimos, sorridentes, e eu passei um
braço por trás de Pandora, que tinha os olhos molhados de emoção, e o outro
braço por trás de James que estava... estava....

"James!" Gritei, quando ele começou a cair devagar no chão, com os olhos
quase fechando.

"Prongs!" Sirius gritou, com os olhos aterrorizados, ele e Remus vindo até
onde ele estava.

"O braço dele." Pandora disse, rasgando a manga da camisa de James. "O
basilisco deve ter conseguido enfiar o dente na hora que ele o matou!"

O braço de James estava em sangue vivo. E ele gritava de dor, agonizando


no chão. Os olhos fechados, impossíveis de ser abertos. O veneno estava se
espalhando pelo corpo dele e não podíamos fazer nada. Como eu olharia Lily
nos olhos voltando para casa sem o homem que ela amava? Ela viveria bem
sabendo que James havia morrido como um herói? Sirius viveria bem? Me
lembrei, por um segundo, de James me pedindo, com um sorriso, para não
deixá-lo morrer. Sinto muito, Lily, sinto muito, sinto muito...

137
"Alguém faz alguma coisa!" Sirius gritava, desesperado. "Prongs... Prongs,
você vai ficar bem, ok?! Não vou voltar para casa sem você, seu bastardo!"
Ele segurava James nos braços, enquanto gritava e chorava ao mesmo tempo.

"Pandora, extraia o veneno do basilisco." Sussurrei para ela. "Temos que ir


rápido." Ela assentiu e foi.

"Prongs, ei," Remus disse, enquanto segurava a mão de James. "Vai ficar
tudo bem com você, você... você ainda tem que se casar e... e ter filhos com
Lily. Você precisa... precisa ficar vivo, ok?! Por favor... só..." Ele não
conseguiu terminar, porque começou a chorar também.

"Prongs!" Sirius gritou alto quando James começou a fechar os olhos.

E então minha mente clareou. Eu não queria ir até lá no início porque não
achava que era preciso, mas agora não tínhamos escolha. Era isso ou nada.

"Vamos levá-lo até Dumbledore!" Gritei. "Agora!"

Sirius e Remus assentiram apressadamente, colocando James apoiado no


ombro de cada um.

"James, escute," Falei, olhando para o rosto atordoado dele. "Segure isso."
Entreguei o cristal que Pandora havia me dado quando nos conhecemos.
"Não solte. Vai amenizar a dor até chegarmos na sala de Dumbledore. É algo
muito importante para mim e me ajudou diversas vezes... Você vai ficar bem,
cara, ok?! Você chegou até aqui e não vou deixar você morrer agora. Você
ainda tem muitas piadas para fazer sobre o meu mergulho, hein?!" Falei
tentando sorrir e ele sorriu fracamente, tossindo logo depois.

"Aqui, Reg!" Pandora veio até mim, com um frasco grande cheio. "Encontrei
isto no chão, acho que foi o que entrou no braço de James." Ela disse, com
uma presa enorme e pontiaguda na mão.

"Pandora, isso... isso pode destruir uma horcrux." Disse, ansioso, retirando o
medalhão do meu bolso e Pandora assentiu.

"Reg, vamos!" Gritou Remus.

"Me deem um segundo!" Gritei, posicionando o medalhão no chão e dando


adeus à última lembrança que eu tinha do inferno que passei. Levantei a presa
do basilisco no alto e pus toda a força contra à horcrux, perfurando o

138
pingente. Todos nós olhamos aterrorizados quando uma sombra negra de
mais de dez metros começou a ocupar a câmara, vinda de dentro do
medalhão.

"Vamos!" Gritou Pandora, me puxando para a saída. "Temos que sair daqui
agora!"

***

Nunca havia pagado tanto a minha língua como quando chamei aquele mapa
de pergaminho qualquer. Sem ele, teria sido bem mais difícil acertar a sala
de Dumbledore de primeira. O mapa do maroto salvou a vida de James.

"Professor Dumbledore!" Sirius gritou, com James ainda em seu pescoço,


assim que chegamos à sala dele. "Professor Dumbledore, precisamos de
ajuda!"

Dumbledore, que estava sentado em sua mesa, franziu o cenho quando viu
seus cinco ex alunos entrando repentinamente em seu escritório e se levantou
rápido quando viu o estado de James.

"O que houve com ele?!" Perguntou Dumbledore, enquanto Remus e Sirius
colocavam James em uma cadeira almofadada.

"O braço dele está sangrando, o senhor não está vendo?!" Perguntei, irritado.

"Professor, é veneno de basilisco." Pandora disse, tomando a frente, eu


estava nervoso demais para ser gentil como ela.

"Professor, por favor," Disse Remus, com o rosto molhado. "Tem que ajudá-
lo."

"James, não feche os olhos," Disse Sirius, com a voz trêmula de tanto chorar,
olhando para James. "Tem que ficar acordado, ok?!" E então ele se levantou
e olhou Dumbledore nos olhos. "Não vou voltar para casa sem meu melhor
amigo, Professor."

"Tudo bem, tudo bem, me deixem vê-lo." Dumbledore disse, nos afastando
de James. "Por que não foram à Madame Pomfrey?!"

"Ah, claro!" Falei, realmente irritado. "Olá, Madame Pomfrey, lembra mim?
Acabei de matar a porra de um basilisco de quase dez metros e destruir uma

139
droga de horcrux, mas meu amigo foi envenenado quando tentou matar a
coisa e está morrendo e agonizando, está com a agenda livre para ajudá-lo?
Pelo amor de Deus!"

"Regulus, por favor!" Pandora disse, tentando me acalmar. "Você tem que
pensar com a cabeça, ok? Não adianta tratar ninguém assim!"

"Professor, rápido!" Remus gritou.

Dumbledore foi até uma gaiola grande e dourada ao lado de sua mesa. Havia
uma ave grande e com asas vermelho vivo. Ele abriu a gaiola e ela voou
lindamente pela sala. Teria sido um espetáculo e tanto se não estivéssemos
todos à flor da pele. E então, ela pousou no braço da poltrona e começou a
pingar lágrimas pequenas no ferimento de James.

"O que ela está fazendo?!" Sirius perguntou, confuso.

"É claro..." Pandora disse sorrindo, chegando perto da ave e a acariciando.

"Uma fênix." Remus disse, admirado. "Lágrimas com poderes curativos."

James parou de agonizar imediatamente. Ele ficou calmo e a parte perfurada


do seu braço que antes sangrava descontroladamente, começou a se fechar
devagar.

"Está funcionando?!" Perguntei, ficando ao lado da cadeira.

"Sim, é... é incrível!" Remus disse, ainda admirado.

"Não vá se apaixonar mais pela ave do que por mim, Moony." Sirius brincou,
sorrindo fracamente.

"James, como você está se sentindo?" Pandora perguntou, e todos olhamos


preocupados esperando ele dizer alguma coisa.

"Estão... quebrados." James disse, em um sussurro.

"Do que ele está falando?!" Perguntei.

"Meus óculos... estão quebrados." Ele disse, sorrindo. "Lily vai me matar."

140
Todos sorrimos de alívio. E Dumbledore colocou a ave de volta na gaiola,
com carinho e cuidado. Sirius ajudou James a se sentar direito e tudo pareceu
estar bem novamente.

"Como está se sentindo, senhor Potter?" Perguntou Dumbledore,


calmamente.

"Preciso de uma cerveja amanteigada." Afirmou James, seriamente.

"Me contem o que aconteceu." Dumbledore pediu. E então contamos.

Todos contamos tudo desde o momento em que chegamos à Hogwarts.


Contamos sobre Murta, sobre a pia e a entrada para a câmara, sobre o
basilisco e sobre como James o cegou e o matou e como eu destruí o
medalhão com a presa da cobra.

"Por que não vieram me procurar quando chegaram?" Dumbledore


perguntou.

"É, Regulus, por que não viemos?!" Pandora disse ironicamente, cruzando
os braços e se virando para mim. Todos me olharam, esperando uma
resposta.

"Vejo que você ainda tem uma certa dificuldade em pedir ajuda, não é,
Regulus?" Dumbledore perguntou, com um sorriso calmo.

"Estávamos sem tempo. Só isso." Respondi, apenas.

"Bem, a câmara não ia sair do lugar." Pandora disse, com reprovação.

"Pelo menos, eu estou vivo." James disse, olhando para a frente. "Agonizar
é uma merda."

"Tenho uma coisa para mostrar à vocês." Dumbledore disse. "Pandora, você
está com o cristal aí, não está?"

"Sim, professor." Ela assentiu.

E então, Dumbledore colocou no meio de sua mesa um anel que aparentava


ser feito de ouro e encravado com um pedra preta em seu centro.

141
"O que é isso, professor?" Sirius perguntou, enquanto cercávamos a mesa de
Dumbledore.

"Este," Dumbledore disse, segurando o anel. "É o anel de Servolo Gaunt. Eu


o encontrei nas ruínas da casa dos Gaunt."

"Quem é Servolo Gaunt?" Perguntei.

"Avô de Tom Riddle." Dumbledore disse, seriamente. "Avô de Voldemort."

"Merda, até o nome dele parece ser de alguém do mal." Sirius comentou.

"Filha, pegue o seu cristal, por gentileza." Dumbledore pediu à Pandora que
assentiu e o deu à ele. Não levou muitos segundos para o cristal assumir sua
cor vermelho vivo. "É uma horcrux." Afirmou Dumbledore.

"Então, vamos destruir!" James disse, ansioso.

"Sim, James, certamente." Disse Dumbledore. "Mas gostaria que me


deixassem fazer isto, se for possível."

"Por quê?!" Perguntei, curioso.

"Este anel, infelizmente, afetou minha saúde drasticamente, Regulus." Disse


Dumbledore. "Não acho que tenho mais tantos anos pela frente."

"Sinto muito, professor." Disse Pandora, tristemente.

"Está tudo bem, Pandora." Dumbledore disse, sorrindo. "James, você


poderia. por favor, me passar a espada para eu poder pôr um fim neste anel?"

James retirou a espada reluzente da bainha e a entregou à Dumbledore, que


a segurou com força e dignidade. Chegamos para trás, enquanto Dumbledore
posicionava o anel no meio do chão da sala e se preparava para parti-lo ao
meio. Ele pegou o frasco com o veneno do basilisco e mergulhou a ponta
fina da espada dentro, deixando-a encharcada de veneno.

Foi horrível. Afinal, os objetos não eram apenas objetos comuns. A energia
ruim que emanava no local assim que Dumbledore partiu o anel era
inexplicável. Eu e James abraçamos Pandora e Remus cobriu o rosto de
Sirius quando o anel foi destruído. A sensação que tínhamos era de que

142
precisávamos proteger quem quer que estivesse perto daquela coisa. Era
assustador.

"Duas horcruxes em uma noite." James suspirou, com as mãos na cintura.


"Progresso, pessoal."

"Talvez, três, senhor Potter." Disse Dumbledore. "Se forem... espertos!" Ele
disse a última parte sorrindo e fixando os olhos em Pandora.

"Como assim, três?!" Perguntei, rapidamente. "São quantas, afinal?!"

"Regulus, lembra que lhe disse que devia procurar por objetos que tenham
algo a ver com as casas de Hogwarts?" Dumbledore perguntou e eu assenti.
"O medalhão era de Salazar como podemos ver, então o da Corvinal poderia
ser..."

"O diadema perdido." Pandora disse, rapidamente, arregalando os olhos.

"O que diabos é um diadema?!" Perguntou Sirius, olhando para James que
deu de ombros porque também não sabia.

"É uma tiara, Padfoot." Remus explicou. "Algo como uma tiara, uma coroa,
algo para se pôr na cabeça."

"O diadema era de Rowena Ravenclaw?!" Perguntei, intrigado e Pandora


assentiu. "E onde está?! Vamos destruí-lo agora!"

"Vocês, obviamente, precisarão do cristal de Pandora para ter certeza,"


Dumbledore disse. "Mas podem começar falando com o fantasma da torre
da Corvinal."

"A Dama Cinzenta." Pandora disse.

"Vamos." Falei, rapidamente, enquanto abria a porta para que todos


saíssemos. Assim que todos já estavam fora, dei uma olhada para
Dumbledore que nos encarava, orgulhoso.

"Você soube no momento em que chegamos, não é?" Perguntei.

"Certamente." Dumbledore respondeu, sorrindo e me olhando por cima dos


óculos meia lua, enquanto eu saia da sala.

143
***

A Dama Cinzenta era o fantasma de Helena Ravenclaw, filha da fundadora


da casa. Pandora havia nos dito que ela costumava ser muito fechada e quieta.
Então, não seria tão fácil fazê-la falar onde estava o tal diadema. Mas
tínhamos que tentar, não podíamos sair daqui sem tentar.

"Helena não gosta muito que a incomodem." Disse Pandora, enquanto


andávamos até à torre da Corvinal. "Acho melhor não irmos todos juntos, ela
pode ficar irritada."

"Posso ir com você." Disse. "Nós vamos e tentamos falar com ela."

"Uma horcrux! Não posso acreditar que ele desrespeitou tanto assim um
objeto valioso da Corvinal!" Pandora disse, irritada. "Aquele diadema é uma
relíquia."

"Acho que Voldemort não liga muito para valor sentimental." Sirius disse.

"E como ligaria? O cara nem tem sentimentos." James completou.

"Vamos, é logo ali." Disse Remus, com o mapa na mão, enquanto virávamos
o corredor até à torre da Corvinal.

A única vez em que estive aqui foi quando eu tinha onze anos e falei com
Pandora pela primeira vez. A Corvinal sempre seria fascinante para mim,
nunca deixou de ser mesmo depois de todos esses anos. Se eu tivesse tido a
coragem que tive atualmente para confrontar meus pais, talvez tivesse vindo
para cá. Mas seria sempre apenas um sonho de criança.

James, Remus e Sirius ficaram vigiando do lado de fora, para garantir que
ninguém apareceria e eu e Pandora entramos.

"Reg, não a chame de Dama Cinzenta, ok?" Pandora sussurrou enquanto a


procurávamos. "Ela prefere Helena."

Depois de andarmos um pouco pela torre, a encontramos. No fim de um


corredor escuro, uma jovem alta, de cabelos longos e escuros, ela nos olhou
nos aproximando e levantou uma sobrancelha, atravessando a parede ao seu
lado.

"Ei! Espere aí!" Eu a chamei, indo atrás dela.

144
"Seja gentil, Reg." Pandora me alertou.

"Sempre sou." Revirei os olhos.

Helena parou, flutuando a alguns centímetros do chão. Ela era muito bonita,
seus cabelos batiam até à cintura e seu vestido batia no chão, apesar de ter
um ar arrogante e orgulhoso.

"A senhora é Helena Ravenclaw?" Perguntei, calmamente.

Ela assentiu, sem dizer nada.

"Por favor, eu..." Comecei. "Preciso da sua ajuda. Preciso que me diga
qualquer coisa que saiba sobre o diadema perdido."

"Não vou poder ajudá-lo." Ela disse, diretamente. E virou-se para ir embora.

"Espere!" Fui atrás dela novamente. "Eu preciso achá-lo!"

"Você não é o primeiro sonserino a vir me importunar por causa do diadema


de minha mãe." Ela respondeu, desdenhosamente. "Não posso ajudá-lo."

"Helena, não queremos abusar da magia que existe nele." Pandora disse,
suavemente. Ninguém era mais gentil que Pandora. "É sobre Lord
Voldemort... sobre derrotá-lo."

Ela claramente confiava mais em Pandora. Helena tomou uma postura


diferente. Se estivesse viva, estaria corando. "Duvido que ele seja útil para
derrotar o Lorde das Trevas."

"Não vamos usá-lo. É uma longa história, mas você precisa nos contar o que
sabe." Pandora respondeu.

Helena ficou quieta por um tempo, até que finalmente começou a falar.
Parecendo muito desamparada, ela contou sobre ter roubado o diadema de
sua mãe quando ainda era viva. Ela queria ser melhor que ela, então o roubou
e fugiu de Hogwarts. A mãe, na vontade de vê-la pela última vez, mandou
o Barão Sangrento ir atrás dela, mas ele, em um ataque de fúria a matou e
logo depois, se suicidou.

145
"Escondi o diadema de minha mãe no oco de uma árvore." Ela disse,
terminando a história.

"Uma árvore?!" Perguntei. "Onde?!"

"Na Albânia." Ela respondeu. Ela estava mais aberta a mim, como estava
com Pandora. E só então depois entendi o porquê ela não confiara de
primeira em mim.

"Helena... você contou essa história à outro estudante da Sonserina?"


Perguntei. Ela fechou os olhos e assentiu.

"Eu não fazia ideia... ele era... lisonjeador... Parecia realmente se solidarizar.
Realmente entender..."

"A senhora não foi a primeira. Voldemort é persuasivo o suficiente quando


quer." Respondi.

"Espere aí, Reg," Pandora me puxou, sussurando. "Depois dele transformar


o diadema em uma horcrux, ele não deixou naquela floresta qualquer... o
diadema foi devolvido à sua verdadeira casa..."

"Hogwarts!" Eu disse, entendendo o pensamento. Aí estava, tudo se


encaixava. "Dumbledore disse... Dumbledore disse que Voldemort veio ao
castelo uma noite pedir um emprego de professor..."

"Ele deve ter escondido essa noite! À caminho do escritório de Dumbledore


ou no caminho quando saiu de lá!" Pandora disse, animadoramente.

"Pandora, eu amo você!" Gritei, dando um beijo na testa dela com força.
"Obrigado, Helena! Muito obrigado!" Nos despedimos, saindo da torre
correndo de volta para os meninos.

"Se nenhum estudante achou, não está na torre da Corvinal, então em que
parte do castelo está?!" Sirius perguntou, depois que contamos aos três o que
descobrimos.

"Tem que ser um lugar que Voldemort realmente achou que nunca seria
encontrado." Remus disse, pensativo.

146
"Temos que pensar!" Falei, enquanto andávamos apressadamente por
Hogwarts, para onde, eu realmente não sabia. "Um lugar onde Voldemort
achava que ninguém descobriria..."

"Um lugar que nem os professores conhecem?!" James perguntou.

"Não, nem os professores." Pandora respondeu, ainda andando pelos


corredores.

"Marotos!" James parou, na frente de todos nós. "Pensem comigo.


Vasculhamos Hogwarts inteira para montarmos o mapa..." Remus e Sirius
apenas assentiram. "Qual o único lugar... o único... que não colocamos
porque simplesmente não eram todos que conseguiam ver?!"

Os outros dois pensaram por alguns segundos, eu e Pandora esperamos eles


falarem algo. E então, gritaram em uníssono. "A Sala Precisa!"

Minha mente clareou completamente. Como eu não pensei nisso?!

"James, eu beijaria você agora se você não estivesse noivo!" Falei, passando
correndo por James, que corou bastante, sendo seguido pelos quatro.
Descemos as escadas até onde ficava a Sala Precisa.

Assim que chegamos ao trecho da parede em que a Sala Precisa aparecia,


mentalizei as palavras 'Preciso do lugar onde se esconde tudo' e então, a
porta se materializou na nossa frente. Assim que entramos, tudo ficou
silêncio. A sala era enorme, haviam vários objetos diferentes escondidos por
alunos que não sabiam onde guardar.

"Voldemort não sabia que qualquer um que precisasse poderia entrar?!"


Sirius perguntou, enquanto entrávamos.

"Ele é presunçoso o suficiente para achar que só ele sabia." Falei, olhando
para o meu relógio. "Está quase amanhecendo, precisamos acabar com isso
antes que os alunos acordem."

"Accio diadema!" Remus tentou, mas em vão. Acho que aqui as coisas
funcionam de maneira diferente.

Passamos por muitos objetos estranhos, pilhas de tralhas e coisas que já não
tinham mais utilidade. Até que passamos por um armário velho e

147
empoeirado, com uma estátua de um rosto acima dele e uma tiara linda e
reluzente, com uma safira azul em uma forma oval.

"Lá está ele." Pandora disse, apontando para a tiara.

"Pandora, pegue o cristal!" Falei, enquanto Remus, que era o mais alto, subia
em cima das tralhas tentando pegar o diadema. Estava aqui, na nossa frente,
eu mal podia acreditar.

"Essa coisa fede." Remus disse, coçando o nariz depois de me entregar,


obviamente falando sobre a magia negra contida no objeto.

"Pandora, tem que ser você." Falei, entregando à ela.

"O quê?!" Ela disse, com os olhos arregalados. "Não, Reg, você..."

"Pandora, faça justiça pela sua casa." Falei, a olhando diretamente nos olhos.
"Destrua essa coisa."

E então, ela assumiu uma postura altamente corajosa, quase assustadora. Ela
pegou o diadema da minha mão e olhou para cada um de nós. Nós assentimos
e ela pegou a presa do basilisco do meu bolso, ainda me encarando. Eu estava
começando a ficar intimidado. Com ódio nos olhos, ela pôs o diadema no
chão e se ajoelhou em sua frente.

"Por Rowena Ravenclaw!" Ela gritou alto e bravamente, desferindo um


golpe forte contra a tiara que começou a emanar uma névoa negra de dentro
de si. Olhei rápido para o relógio, faltavam dez minutos para amanhecer.

"Temos que ir! Agora!" Falei, os empurrando para fora, enquanto a sala era
tomada pela névoa escura e maligna. Três horcruxes foram destruídas.
Estamos chegando perto, Voldemort. Vamos matar você. Isso é uma
promessa.

Corremos pelos corredores até alcançarmos o grande portão. Não podíamos


deixar que alunos nos vissem. Chegamos do lado de fora com o sol já quase
iluminando o céu de Hogwarts. Dei uma última olhada para o meu lugar
favorito no mundo, antes de todos subirmos nas vassouras.

"Ei, Reg," James me chamou. "Obrigado." Ele sorriu, me devolvendo o


cristal que eu havia dado à ele e eu sorri de volta, assentindo.

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"Ei, gente," Falei, chamando a atenção deles, e todos me olharam, prestes à
voar. "Quando chegarmos em casa, eu preciso ficar bêbado para caralho."

149
Capítulo 17: Aceito

Nunca fui muito fã de casamentos. Os espaços lotados, a quantidade


exagerada de flores, mulheres cheias de inveja da noiva e homens cheios de
pena do noivo. Fora que, não me lembro de já ter ido em algum casamento
que foi selado por amor. E eu acho que quando você gasta uma fortuna em
uma festa para pessoas que nem estão realmente felizes por você, no mínimo
precisa ter amor. Pensando bem, talvez eu não odeie casamentos. Talvez eu
só odiasse os casamentos dos Black.

Então, acho que o casamento de James e Lily seria o primeiro de verdade


que eu iria, porque o deles tinha amor.

"Padfoot, vamos!" Remus gritou, dos corredores. "Você não é a noiva!"

"Sou o padrinho, Moony! Sou talvez até mais importante!" Sirius gritou, de
volta. "Reg, você está pronto?!"

"Não demora muito para se colocar um terno," Respondi, indo até o quarto
dos dois. "Não sei porquê você está demorando tanto, Sirius!"

"É por causa..." Disse Sirius, se virando para nos mostrar seu rosto. "Disso."
Ele deu um sorriso de orelha a orelha, mostrando que havia passado alguma
coisa preta na parte de cima do olho.

"O que diabos é isso?!" Perguntei, confuso.

"É um delineador, Reg." Respondeu ele, revirando os olhos. "Você tem os


mesmos traços que eu, ficaria quase tão bonito quanto."

"Fica melhor em você." Sorri fracamente.

"Você está lindo, Pads. Como sempre..." Disse Remus, o abraçando por trás
e tentando arrastá-lo da frente do espelho.

"É melhor irmos, ainda temos que passar na casa de James e a cerimônia é
às cinco horas!" Disse, chamando a atenção dos dois.

"Tudo bem, tudo bem!" Sirius se rendeu, saindo do quarto, sendo seguido
por Remus e depois por mim. "Esperem aí, esperem aí..." Ele arregalou os

150
olhos, com a mão na maçaneta da porta e nós o encaramos. "Acham que eu
deveria mudar o cabelo?!"

"Sirius!" Eu e Remus gritamos, em uníssono.

"Tá bom!" Sirius resmungou, enquanto saíamos pela porta.

Nas semanas que se passaram depois que fomos à Hogwarts, não tivemos
nenhuma pista do que poderia ser a horcrux da Lufa-Lufa. Eu planejava falar
com o marido de Andrômeda sobre isso. O problema é que eu não fazia ideia
se Ted fazia parte das pessoas que eram gentis comigo apesar da marca ou
das pessoas que me olhavam torto sempre que eu estava por perto. Espero
que a primeira opção.

Mas hoje era um dia diferente. Hoje não estávamos em guerra.

Aparatamos para a casa de James depois que Sirius finalmente decidiu sair
pela porta de casa. O jardim estava todo decorado com mesas cobertas com
panos brancos de seda e arranjos de flores vermelhas em cada uma, o altar
era logo depois das mesas com lírios flutuando formando uma curva em cima
de quem estivesse lá, havia uma banda tocando David Bowie e o senhor e a
senhora Potter estavam recebendo carinhosamente todas as pessoas que
chegavam.

"Sirius, meu bem!" A senhora Potter disse, colocando a mão em seu rosto.
"Graças à Merlim, vocês chegaram!"

"James não sai do quarto de jeito nenhum." O senhor Potter disse.

"O quê?! Por quê?" Perguntou Remus.

"Achei que ele estaria cantando com a banda de tão empolgado." Comentei,
sorrindo.

"Nós também achamos, querido," A senhora Potter disse, segurando o meu


rosto agora. "Mas ele não sai de jeito nenhum, mal sabemos se está vivo."

"Vamos lá." Sirius disse, enquanto passávamos pelos Potter e entrávamos na


casa, à procura de James. Não consigo nem pensar no que está fazendo ele
não querer sair do quarto no seu casamento com Lily Evans. O terno dele
deve ter rasgado, ou algo assim. É a única explicação.

151
"Ei, Prongs," Remus disse, batendo na porta do quarto de James. "Somos
nós, podemos entrar?"

"Sim." James respondeu, quase num sussurro.

"Vou deixar vocês conversarem." Falei, fechando a porta enquanto Remus e


Sirius entravam.

"Não! Reg, eu... eu quero que você fique..." James disse, o que me deixou
surpreso, mas eu apenas fechei a porta e entrei.

James estava sentado na cama, sem seu paletó. Ele estava com os braços
apoiados no joelho e encarava o chão como se sua vida dependesse disso.
Tinha alguma coisa errada.

"Ei, cara," Chamei, pondo a mão em seu ombro. "Você está bem?!"

Ele não respondeu.

"Prongs, está me assustando." Disse Sirius.

"Se você estiver desistindo, chuto seu saco até você dizer já chega." Remus
disse, seriamente. O comentário fez James finalmente levantar a cabeça,
como se a ideia de desistir de se casar com Lily o ofendesse mais que
qualquer coisa.

"É obvio que não, Remus." Ele respondeu. Acho que fui o único que percebi
que ele não o chamou de Moony, mas preferi ficar quieto. Definitivamente
ele estava estranho.

"Então o que é?!" Perguntei.

"Sabem, eu sempre soube que casaria com ela," Ele começou, sorrindo
fracamente. "Planejo este dia desde a primeira vez que a vi no trem. Eu tinha
só onze anos, mas... eu simplesmente sabia, entendem? Por isso nunca
desisti, não importava quantos nãos eu recebesse..."

"Sabemos disso, Prongs." Sirius disse franzindo a testa, indo se sentar ao


lado dele. "Mas então, qual é o problema?"

152
"Quando eu pensava neste dia, imaginava tudo..." James disse. "Que cor
seriam as flores, quem seria convidado, a banda que tocaria, até as roupas de
cada um nós..."

"Imaginou que eu estaria aqui?!" Perguntei, dando um sorriso.

"Nem por um segundo." Ele respondeu, sorrindo de volta, mas logo o sorriso
se desfez. "Eu não estou reclamando de quem está aqui, sabem?! Estou
falando de... estou falando de quem não está."

"Wormtail." Remus disse e minha mente deu um estalo. James assentiu.

"Não me entendam mal, eu não quero ele aqui." Ele disse, ferozmente.
"Mas... mas não consigo não pensar que sempre imaginei este dia com meus
melhores amigos, entendem? Sempre imaginei que Pads seria o meu
padrinho e que Moony seria o de Lily e eu torcia para que você e Padfoot se
resolvessem até lá para eu poder chamá-lo, Reg." Os olhos dele estavam
brilhando agora. "Mas não... nunca passou pela a minha cabeça que ele não
estaria aqui. Porque... porque ele era, tipo, um de nós, não é?! Colocamos o
nome dele no mapa e... e ajudamos Moony nas luas cheias, passamos anos
tentando nos transformar em animagos juntos, e... e nos escondíamos do
Filch..." Ele começou a sorrir, em meio as lágrimas. "Não pude deixar de
pensar nisso desde que devolvemos o mapa naquela noite e não consigo parar
de pensar agora que... que este é o melhor dia da minha vida e que uma das
pessoas que eu mais acreditei que estaria aqui nos traiu desse jeito..."

"Ah, Prongs..." Sirius o abraçou. "Seu bastardo sentimental."

"Prongs, Wormtail não merece que você fique assim, sabe?! Hoje é um dia
especial. Não deixe ele tirar isso de você." Remus disse, se abaixando na
frente de James.

"Se Peter aparecesse aqui, acho que eu o mataria." Comentei, apenas. Não
sou bom em consolar as pessoas.

"A pior parte é que eu não acho que eu conseguiria." Disse James, olhando
com raiva para frente.

"Você não precisa se sentir mal por isso." Falei, sem hesitar. "Sabe, eu acho
que isso só é quem você é, James. Você é do tipo que não deixa as pessoas
mudarem seu coração. Você é bom. Eu queria ser assim."

153
"Ei, você não é mal, Reg." James disse, sorrindo fracamente. "É assustador
quando fica nervoso, mas não é mal."

"Acho que essa é a coisa mais legal que já me disseram." Respondi, sorrindo.
"Obrigado."

"Padfoot, você passou tinta no olho?!" Disse James, enxugando as lágrimas


e sorrindo.

"É delineador, seu idiota." Sirius respondeu. "Não me surpreende vocês se


vestirem tão mal."

"Tudo bem, tudo bem, Pads!" Remus disse, o puxando da cama. "Pegue o
paletó de James ou ele vai chegar depois da noiva!"

James vestiu o paletó e finalmente respirou fundo, sorrindo para o seu


reflexo. "Vamos me casar, rapazes!"

Descemos as escadas até o jardim, ao lado de James. Ele se desculpou com


todos os convidados que já haviam chegado e foi até seus pais para ajudá-los
a receber quem estava chegando. Todos estavam bem arrumados, mas nada
preto e sem vida como as festas da mansão. Todos de cores claras, até James
tinha o terno todo branco. Andrômeda e Ted estavam lá, com a filha. Alice
e Frank Longbottom também. Até Dumbledore, que me olhou de longe e
piscou. Alastor Moody, os Weasley que, à propósito, estavam esperando
mais um filho e até os professores de Hogwarts, McGonagall, Madame
Pomfrey e Slughorn. A festa estava linda e não havia ninguém que não estava
sorrindo.

De repente, Mary apareceu na entrada, correndo em minha direção e


agarrando forte no meu braço. "Reg, precisamos de você!"

"Por quê?!" Falei, enquanto ela me puxava para fora do jardim. "Aconteceu
algo?! Você está bem?!"

"Estou à beira de um colapso, na verdade!" Mary disse, rindo de uma forma


nervosa. "Lily quase queimou o vestido com ferro de passar, a irmã de Lily
acabou de chegar, o buquê de flores não é tão cheio quanto o necessário, Lily
já se emocionou três vezes e se houver uma quarta não conseguirei consertar
sua maquiagem.."

154
"Ei!" Falei, a segurando nos ombros. "Você vai explodir desse jeito, Mary!
Você precisa se acalmar."

"Não temos tempo para isso, Lily quer falar com você!" Ela disse, me
puxando novamente. Quando chegamos do outro lado da rua, havia um carro
grande estacionado e Mary praticamente me jogou dentro do veículo.
Marlene estava dirigindo, uma senhora ruiva que acho que era a mãe de Lily
estava no banco de carona e Lily estava sentada no banco de trás, apenas
comigo. Mary havia ficado do lado de hora, como uma segurança de noivas.

"Hm... Lily, está tudo bem?" Perguntei, um pouco confuso.

"Não." Lily disse, seriamente. "Preciso que você me leve até o altar."

"O quê?!?!" Meu queixo caiu.

"Meu pai não aprova meu casamento com James..." Ela disse tristemente,
quase sussurrando. "Ele não veio."

"Lily, você... sabe, você tem certeza disso?! Porque isso é algo realmente
importante." Respondi, ainda nervoso.

"Você não quer?!" Ela perguntou.

"Não! Não é isso! É só que... não quero me intrometer demais... Se eu não


for o adequado e você só estiver desesperada, podemos conseguir outra
pessoa..." Comecei.

"Seu idiota! A noiva está pedindo para você levantar sua bunda da aí e levá-
la até o altar, então você vai lá e faz o que ela está dizendo!" Marlene disse
irritada, se virando para trás.

"Olhe a boca, Marlene." A mãe de Lily a repreendeu e depois me encarou.

"Tudo bem. Vamos." Falei, abrindo a porta do carro e ajudando Lily a sair.
Mary arrumava o vestido dela na parte de trás e a mãe arrumava os fios soltos
do seu coque. Seu vestido era lindo, não tinha alças e arrastava no chão o
tempo inteiro. O buquê era feito de lírios e algumas pétalas flutuavam em
sua cabeça, formando uma coroa.

"Você está linda, Lily." Elogiei, sorrindo e dando meu braço à ela.

155
"Vou entrar e avisar que você já está aqui." A mãe dela disse, a beijando na
testa e entrando no jardim. Mary e Marlene foram para a nossa frente, com
as alianças nas mãos.

"Reg, você pode ajeitar o meu colar? Acho que ele soltou..." Mary pediu à
mim, que estava atrás dela.

"Hm... tudo bem." O vestido vermelho de Mary deixava sua costa


completamente nua, então não acho que ela tenha me pedido isso por acaso.
"Prontinho."

"Obrigada." Ela disse, piscando para mim.

"Não sei como ela não fisgou você ainda." Lily sussurou.

"Mary?! Ah, pare com isso..." Sussurrei de volta. "Somos apenas amigos."

E então, a banda começou a tocar a música padrão de casamentos.

"Pronta?!" Perguntei à Lily.

"Não me deixe cair, Black." Ela respondeu, seriamente, segurando o meu


braço.

Mary e Marlene foram as primeiras a entrar. Elas estavam lindas e sorriam


radiantes, com as alianças nas mãos. E então, Lily e eu entramos. Alguns
olhares confusos foram jogados para nós, mas eu quase não notei. O
momento era mágico. Os pais de James e a mãe de Lily estavam no altar, um
de cada lado, Sirius estava sorridente do lado esquerdo do altar e parecia se
segurar para não gritar de emoção, Remus, que era padrinho de Lily, estava
no lado direito, com seu sorriso tímido, mas ainda cheio de amor. James
estava no meio, se me dissessem que ele não me percebeu ao lado dela, eu
acreditaria. Ele estava hipnotizado. Os olhos deles brilhavam, enquanto ele
sorria como um bobo apaixonado. Ele ainda olhava para Lily do mesmo jeito
mesmo depois de anos. Vi Sirius e Remus se olharem sorrindo também, por
trás de James.

Assim que chegamos, entreguei Lily à James e ele sussurrou um 'obrigado'


para mim. Eu pisquei para ele e fui para o meu lugar, e então a cerimônia
começou.

156
"Lily J Evans," James começou seus votos. "Descobri que amava você
quando eu ainda nem tinha idade o suficiente para saber o que era isso. Você
poderia ter negado o meu amor o quanto quisesse, mas eu ainda seria seu.
Você é linda, gentil, bondosa e me faz sentir mais amado do que já fui em
toda a minha vida. Não amei ninguém na minha vida como amo você. E eu
espero por este dia desde que a vi no trem pela a primeira vez. Remus e Sirius
escutaram tanto seu nome no nosso dormitório que toda noite eu era atacado
por almofadas na minha cara. Quero apenas que você saiba que, apesar dos
nãos que você me dava, eu sabia que o dia de você dizer sim chegaria. E
chegou. Eu amo você. Com toda a minha alma e todo o meu coração. Até
depois que a morte nos separar."

"James Fleamont Potter," Lily, emocionada, começou. "Você é o idiota mais


incrível que conheço. Eu admiro a sua coragem. A sua determinação. O amor
que você coloca em tudo que faz. Você é tão lindo por fora quanto por dentro.
Você me mostrou uma vida que eu nem sabia que era para mim. E eu amo
você por isso. Porque você não desiste das coisas, você luta. Você não foge,
você enfrenta. E eu espero que eu não tenha cansado você com os meus nãos
porque... eu não sei o que seria de mim se você não aceitasse o meu sim. Eu
fui sua mesmo antes de eu perceber. E eu vou ser sua para sempre. Até depois
que a morte nos separar."

"James Potter," Perguntou o juiz de paz. "Você aceita Lily Evans como sua
esposa?"

"Com certeza." James disse, sorrindo, ainda olhando para Lily.

"Lily Evans," Perguntou o juiz de paz novamente. "Você aceita James Potter
como seu marido?"

"Finalmente, sim." Ela respondeu, sorrindo.

"Pode beijar sua noiva, senhor Potter."

E então, James carregou Lily nos braços e a beijou no altar. Todos


aplaudiram e gritaram, Sirius os abraçava enquanto eles se beijavam
apaixonadamente e Remus estava sorrindo e aplaudindo quando, de repente,
ele me puxou para perto deles e sorriu para mim.

"Você não vai se livrar de nós nunca mais, Reg." Remus sussurrou para mim,
sorrindo. E todos nós abraçamos James e Lily, enquanto Mary e Marlene

157
subiam no altar para fazer o mesmo. James correu para o meio da passarela
em frente ao altar e gritou no meio de todos.

"CONSEGUI!" E todos riram. Mas ele não podia estar falando mais sério.

A festa foi impecável. Havia mais comida do que qualquer outra festa que já
fui. Tocava Queen, ABBA, David Bowie, Marc Bolan e todo tipo de cantor
realmente bom. Depois de um tempo, todos estávamos bêbados e felizes.
Cantando juntos e abraçados as letras erradas da músicas que a banda tocava.

"Ei, eu quero um!" Falei para Remus, que acendia um cigarro do meu lado.

"Nada disso, pirralho!" Sirius apareceu, tonto, me tirando de perto de Remus.


"Você não vai começar a fumar."

"Qual é, Sirius!" Respondi. "É uma festa!"

"Olhe ali," Ele disse, apontando para Ted, "Vá falar com ele, marquem de se
encontrar. Vai me agradecer por isso amanhã."

E então eu fui. Não me lembro muito bem da conversa porque eu estava


realmente muito bêbado. Mas Ted disse que me mandaria uma carta para
marcarmos um encontro nesta mesma semana. Espero que seja isso mesmo
que entendi. Não sei, eu estava louco demais.

Sirius começou a dançar bêbado em cima de uma mesa logo depois e ajudou
James a subir com ele, e os dois cantaram ABBA até a garganta estourar.
Remus e Lily gargalhavam em baixo deles e eu sorri. Sorri porque estava
feliz. Sorri porque James me deixou entrar no quarto, quando eu achava que
ele só queria seus amigos. Sorri porque Lily me pediu para levá-la ao altar,
mesmo eu não fazendo ideia que eu significava tanto assim. Sorri porque eu
destruí três horcruxes em uma noite. Sorri porque Sirius e eu estávamos bem.
Sorri porque eu era jovem e bêbado e porque Mary estava me puxando para
dançar com ela. A vida era boa.

Dançamos juntos por um bom tempo. Eu estava bêbado, ela não. Eu nunca
faria nada com alguém bêbado. Mary e eu estávamos dançando com as testas
coladas. As mãos dela estavam no meu cabelo e as minhas mãos passeavam
pela cintura dela. E ela estava tão perto do meu rosto, que meus cabelos da
nuca se arrepiaram. Ela sorria e eu sorria porque ela estava sorrindo. Mary
estava tão linda que eu poderia beijá-la agora mesmo.

158
"Estou cansada." Ela sussurrou no meu ouvido. "Quer se sentar?!" Eu assenti
e nós dois sentamos no sofá da casa de James. Um do lado do outro, a sua
coxa tocando na minha.

"Você gostou da festa?" Ela perguntou, sorrindo.

"Sim, sim! Eu, hm... eu gostei bastante." Respondi. "Mas você não deveria
estar aqui comigo, deveria estar se divertindo!"

"Não queria deixar você sozinho." Mary disse rindo, e colocou a mão na
minha perna, ou eu estou muito bêbado ou ela está subindo a mão para um
lugar muito, muito perigoso.

"Obrigado pela companhia, então..." Agradeci, e ela se inclinou para mim,


beijando suavemente os meus lábios. A mão dela estava subindo. Ok, eu
definitivamente queria fazer isso.

"Vem aqui." Eu levantei do sofá, dando a mão à ela e a conduzindo escada


acima até um dos quartos.

Eu poderia ser jovem e irresponsável hoje. Eu merecia isso.

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Capítulo 18: Feliz

Sirius não me deixava em paz sobre Mary nenhum minuto sequer.

A semana que se passou após o casamento de James e Lily, acho que a vi


quase todos os dias. As únicas coisas que me lembro do dia da festa, depois
de beber para cacete, são flashes. Lembro de Sirius em cima de uma mesa
que ele jurou a semana inteira que não subiu, lembro de Remus virando dez
doses de whiskyfire uma atrás da outra e de James bêbado cantando músicas
erradas enquanto carregava Lily em seu colo e Marlene derramava uma
garrafa inteira de bebida direto na boca.

Sobre Mary, lembro apenas de flashes também. Lembro de levá-la para o


quarto de James - desculpe, James -, lembro dela de vestido vermelho e com
toda a certeza me lembro dela sem ele. Depois disso, não lembro de muita
coisa. Sirius não soube falar de outra coisa no dia seguinte.

"Achei que você ia se fazer mais de difícil, Reg." Ele disse, sorrindo, na
manhã após a festa, enquanto eu saía do quarto.

"Não enche o saco." Respondi. Minha cabeça doía como se tivessem batido
com um martelo. "Pandora escreveu. Disse que sente muito por não poder
ter ido ao casamento. Ela está viajando com Phil, algo assim."

"Eles merecem, depois de tudo que passaram." Remus comentou, deitado no


sofá.

"É, acho que sim." Respondi, distraído, enquanto me sentava para tomar
café. Sirius não parava de sorrir para mim, estava ficando assustador. "O que
é que você quer?!"

"Ele quer saber sobre Mary." Remus disse, com os olhos em seu livro.

"Quero saber tudo sobre Mary!" Sirius exclamou, ansioso.

"O que é que você quer saber? Acho que não lembro de muita coisa..."
Perguntei, passando geleia no pão. "E não vou conversar com você sobre
isso."

"Por quê não?!" Ele perguntou, realmente ofendido. "Eu sou seu irmão mais
velho, seu bastardo! Preciso saber dessas coisas!"

160
"Não, você não precisa." Respondi, sorrindo.

"Foi sua primeira vez?" Ele perguntou, ansioso e ainda com um sorriso
assustador. Merlin, Sirius era inacreditável.

"Não, Sirius, não foi." Respondi, suspirando, queria que essa conversa
acabasse de uma vez.

"O quê?! E por quê eu não sabia disso?!" Ele perguntou, ofendido
novamente.

"Talvez porque aconteceu em um período da minha vida em que você estava


me ignorando." Respondi, mordendo o pão.

"Justo." Sirius disse, dando de ombros. "E foi com quem?!"

"Pads, deixe ele em paz." Remus repreendeu, ainda com os olhos no livro.
Grande ajuda, Lupin.

"Você quer mesmo saber?" Perguntei, e ele assentiu ansiosamente. "Sexto


ano. Jacob Falk."

"Foi um cara?!" Sirius e Remus perguntaram em uníssono, Lupin se sentou


rapidamente no sofá.

"Vocês dois estão me julgando?! Tipo, vocês dois?!" Respondi, olhando para
os dois. "Eu escuto do meu quarto a cama de vocês batendo na parede todas
as noites! Todas as noites!" Lupin corou, e voltou ao seu livro.

"Só estou surpreso." Sirius respondeu. "Achei que você tivesse demorado
para aceitar que gostava de meninos também. Eu demorei."

"Era a única coisa que eu era e que nossa mãe não podia tirar de mim."
Respondi, dando de ombros. "No fim, por mais que seja assustador, vale à
pena quando você se olha no espelho e se reconhece. E gosta de quem é."

"Ok, ok," Sirius continuou. "Mas e Mary?! Você não vai escapar de mim,
não depois de voltar para casa sem o paletó e com todos os botões da camisa
estourados!"

161
"E o pescoço de Mary também está bem ruim." Remus comentou, sem olhar
para nós. Grande ajuda de novo, Lupin. Obrigado.

"Não tenho tempo para isso, Sirius," Respondi, me levantando. "Preciso


escrever para Ted."

"Qual é, Reg?! Você tem dezoito anos, vá atrás de Mary e namore com ela!
Transem em uma cabine telefônica, eu sei lá! Essas horcruxes estão te
deixando estressado demais." Sirius disse.

"Você está louco se acha que eu vou namorar uma nascida trouxa sendo
procurado por comensais da morte." Respondi, pegando o pergaminho.
"Preciso focar no que é importante agora."

"Você usou camisinha, não é? Porque, olha, eu sou muito novo para ser t-"
Sirius começou.

"Estou indo para o quarto!" Gritei, saindo da cozinha. Meu Deus.

Escrevi para Ted naquela manhã, mas ele demorou dias para escrever de
volta. Dois dias depois, Mary escreveu para eu ir até à casa dela porque ela
estava sozinha. Eu não contei à Sirius, obviamente. Ele faria um escândalo.
De qualquer forma, eu não achei que eu sairia vivo daquela casa, porque
Mary esqueceu que seus pais chegariam de viagem naquela tarde.

"Vem, fique aqui!" Ela me puxou, me levando para o banheiro e entrando


junto comigo. "Faça silêncio!"

"E se eles quiserem usar o banheiro?!" Sussurrei.

"Então, acho melhor fazermos silêncio dessa vez..." Ela respondeu,


colocando os braços por volta do meu pescoço e eu a beijei fortemente.
Apertei as minhas mãos na cintura dela e ela mordeu forte o meu lábio
inferior. Ela começou a tirar a minha camisa e eu enrolei as pernas dela na
minha cintura, sentando ela na pia. Ela começou a brincar com o fecho do
meu cinto depois de passar as unhas pelas as minhas costas, e quando eu
apertei as coxas dela por baixo da saia, ela arfou alto.

"Shhh, você disse 'sem barulho', não é?!" Falei, sorrindo ironicamente,
colocando o indicador no meio dos seus lábios. "Se você fizer barulho..."
Comecei a beijar o pescoço dela. "Vou ter que parar."

162
"Eu mato você se parar." Ela respondeu ofegante, conseguindo abrir o fecho
do meu cinto. Ficou absurdamente difícil não fazermos barulho, depois que
ela conseguiu tirar a minha calça e minha cueca e me deixou descer a
calcinha dela por baixo da saia. Enquanto ela ainda estava sentada na pia,
com as pernas ainda enroladas na minha cintura, eu segurei com força o
pescoço dela e passei a língua de lá até à orelha, enquanto cada centímetro
de tudo que ficava à baixo da nossa cintura entrava em atrito.

"Você é realmente mal, Regulus Black." Ela sussurrou, arfando, quando eu


a olhei nos olhos.

"Você não faz ideia, Mary." E voltei a beijá-la.

Passei os próximos dias da semana com ela. Eu ajudava ela a fazer compras
sempre que podia e ela gostava de me ver ler em uma cafeteria que ficava
perto da casa de Sirius. Fugia da casa dele todas as noites de madrugada para
ver ela em algum lugar escondido, ou então apenas para conversarmos em
seu quarto. Tudo bem, raramente apenas conversávamos. Mas de qualquer
forma, era bom. Eu estava feliz.

"Isso doeu?" Ela perguntou, passando a mão no meu pulso, uma noite quando
estávamos no quarto dela às três da manhã e eu estava sem a minha camisa.
"Desculpe por perguntar..."

"Não, hm... não tem problema perguntar." Respondi, apesar de estar puxando
devagar meu braço para longe dela. "Sim. Doeu bastante. Senti que ia perder
o meu braço."

"Você demorou para se arrepender?" Ela perguntou, levantando os olhos


para mim, deitada no meu peito.

"Acho que eu demorei mais para aceitar que eu tinha me arrependido."


Respondi. "Eu posso cobrir se você... não sei, se sentir incomodada." Tentei
pôr o braço debaixo do travesseiro.

"Não, está tudo bem," Ela sorriu fracamente para mim, puxando meu braço
de volta. "Confio em você."

"Que bom." Sorri de volta e ela se acomodou no meu pescoço de novo. Que
bom.

163
Fomos almoçar juntos em um outro dia naquela mesma semana. O dia estava
lindo e todos os lugares estavam cheios de gente, sorrindo e conversando.
Caminhamos pelos parques da cidade, ela me mostrou como os trouxas
usavam a cabine telefônica e ela riu quando eu continuei sem entender a
tecnologia estranha deles.

"Reg, você só precisa digitar o número e ligar!" Ela disse sorrindo, enquanto
caminhávamos. "Não é tão difícil!"

"Nós sabemos aparatar, Mary! Por que eu apenas ligaria para você se posso
chegar até onde você está em um segundo?" Perguntei, me virando para dar
um beijo nela.

"Puro-sangue arrogante." Ela respondeu sorrindo, e me beijou de volta.

"Ai!" Exclamei, sentindo alguma coisa arder no meu braço.

"O que foi?! Você está bem?!" Ela perguntou, preocupada.

"Sim, acho que foi só... não sei, algum inseto." Respondi, mas sabia
exatamente o que era. "Vamos, vamos para outro lugar."

Eu tinha que tirar Mary de onde estávamos. Eles estavam perto, eu podia
sentir. Quase aparatei com ela para o outro lado da cidade de tão assustado
que eu fiquei. Eu não havia dito nada à ela, é claro. Mary parecia gostar de
toda essa coisa de mocinha e vilão redimido. Ela gostava da ideia de estar
ficando com alguém como eu. Ela achava perigoso e sexy. Eu achava só
perigoso. Mary não fazia ideia de onde estava se metendo.

"Vamos, eu deixo você em casa." Me ofereci. "Sirius deve estar me


esperando."

"Tem certeza que você está bem?" Ela perguntou, franzindo a testa, parando
e se virando para mim, segurando no meu rosto.

"Sim, eu... eu acho que só estou cansado." Menti. E então, uma chuva forte
começou a cair e nós dois ficamos encharcados, dos pés até à cabeça.

"Merlin! Vem, vamos encontrar algum lugar coberto..." Ela disse, me


puxando pelo braço.

164
"Não, espere aí!" Falei, sorrindo, a puxando de volta para o meio da calçada.
E então, a beijei. Estávamos encharcados e o beijo me deu a sensação de
estar sendo afogado, mas valeu a pena. Mary era incrível. "Tudo bem, agora
vamos!"

Deixei Mary em casa naquela tarde, e então aparatei de volta. Mas não fui
para casa. Aparatei até Hogsmead para me encontrar com Ted Tonks naquele
fim de tarde. Ele finalmente havia respondido a minha carta e depois de sentir
o que senti nesta tarde, eu precisava achar a próxima horcrux o mais rápido
possível. Mesmo eu não fazendo ideia do que era ou de onde encontrá-la.

"Ei, Regulus!" Ted me cumprimentou com um sorriso, assim que cheguei ao


Três Vassouras. "Tudo certo com você?"

"Sim, estou bem." Respondi, me sentando. "Como está minha prima?"

"Bem! Nymphadora também está ótima! Não vemos a hora dela começar a
frequentar Hogwarts!" Ele respondeu, sorridente e eu sorri de volta. "Então,
sobre o que você queria falar?"

"Ted, eu escrevi para você porque você é a única pessoa que conheço que foi
da Lufa-Lufa e, bem, o que eu preciso saber tem a ver com isso."

"Pode falar." Ele respondeu, interessado. "Vou ajudar no que eu puder."

"Bom, eu estou em uma... uma missão para a Ordem, se é que você me


entende," Ele assentiu. "Eu preciso saber... se existe algum objeto, ou algo
do tipo, que é importante para a casa de vocês. Algo que possa ter pertencido
à Helga Hufflepuff, mais especificamente. Algo realmente importante."

"Bom..." Ele refletiu. "Helga não era uma pessoa muito materialista, pelo
que sabemos dela. Ela valorizava mais as relações e as pessoas. Você já
tentou ler algo sobre ela?"

"Sim, li um monte de coisas. Mas não consegui achar nada realmente


importante. Tem que ser um objeto mágico muito poderoso..." Respondi.

"Você leu sobre a taça?" Ele perguntou.

"Na verdade, sim." Respondi. "Mas não achei nada de interessante."

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"Bom, a taça era de Helga. É uma taça dourada, com duas alças e um texugo
na frente." Ele disse. "É um objeto muito poderoso, e está perdida à muito
tempo."

"Muito tempo, tipo... desde os anos 40?!" Perguntei, ansioso.

"Na verdade, sim." Ele disse. "Exatamente."

Peguei você de novo, Voldemort.

"Ted, eu... eu, de verdade, não sei como agradecer!" Falei, apertando a mão
dele.

"Ah, não foi nada, Reg. Você é da família." Ela disse, sorrindo e as palavras
esquentaram meu coração.

Aparatei de volta para casa com o humor ótimo. Finalmente, alguma pista
depois de semanas. E tenho certeza que quando eu contar à eles, vamos
conseguir encontrar.

James e Lily estavam lá quando cheguei. Todos os quatro estavam muito


sorridentes.

"Reg! Você chegou!" Sirius disse, da cozinha. "Achei que não ia mais largar
Mary!"

"Cala a boca." Falei, sorrindo. "Ei, vocês! Como foi a lua de mel?" Perguntei,
cumprimentando James e Lily.

"Fomos à Cornwall e ficamos em um chalé na praia, você acredita?!" Lily


disse, animada.

"Banhei tanto no mar que deve ter sal até agora até onde Deus duvida, Reg."
James disse, batendo no meu braço.

"Fico feliz por vocês dois!" Disse, sorrindo para os dois.

"Então, acho que você vai ficar mais feliz com o que temos para contar."
Remus disse, vindo até mim.

"O quê?!" Perguntei.

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"Pandora não está viajando à diversão, Reg." Sirius disse. "Ela está
procurando uma horcrux."

"Como assim?!" Falei, me levantando de uma vez. "É muito perigoso ela
fazer isso sozinha! Onde ela está?! Vou arrumar minhas coisas, ela está doida
se acha..."

"Reg." Lily me chamou, me fazendo parar e olhar para ela. "Acho que ela
encontrou."

"Ela escreveu para nós para contar e disse para mostrar à você!" James disse,
sorridente. "Espero que eu não precise quase morrer dessa vez."

"Pegue." Remus me deu a carta.

Reg, Sirius, James, Remus e Lily,

Leiam todos essa carta, ela é importante.

Fui à vários lugares por aqui, inclusive na floresta da Albânia que o


fantasma de Helena falou para mim e Regulus naquela noite em Hogwarts.
Estou falando com várias pessoas e imaginei que Reg estivesse procurando
por algo relacionado à Lufa-Lufa, então decidi procurar por algo que tivesse
haver com o passado de Voldemort.

Descobri que enquanto ele estudava, ele tinha um valor sentimental enorme
pelo próprio diário. Um caderno preto com o nome verdadeiro dele na capa.
Ainda não tenho nenhum pista de onde ele está, mas espero conseguir.

Se cuidem. E digam à Regulus para não entrar em colapso quando souber


disso. Eu estou bem e segura. Sei me cuidar.

Abraços em todos,

Pandora.

"Não acredito." Falei, surpreso.

"Está vendo?!" Lily disse. "Nunca duvide de uma mulher."

167
"Não acredito que estamos realmente conseguindo..." Falei, ainda surpreso e
sorrindo. E todos sorriram também.

Eu estava prestes à contar sobre a minha conversa com Ted e sobre o que eu
descobri. E então, de repente, um patrono reluzente apareceu perto da lareira,
com a voz de Marlene, trêmula e em completo desespero.

"Venham para a casa de Mary! Os comensais estiveram aqui atrás de


Regulus! Peter estava com eles! Por favor, precisamos de vocês agora!"

168
Capítulo 19: Despedidas

Mary era diferente. Ela é esperta, mas nunca arrogante. Ela é enérgica, mas
não de um jeito cansativo. Ela é simples e fácil de se ler, mas ainda
interessante. Acho que a forma com que ela não tinha medo de estar comigo
ou de como isso a afetaria me atraiu instantaneamente, porque durante a
minha vida, eu sempre senti medo.

Ela sorria de uma forma que me fazia sentir amado e feliz, mesmo que a
guerra destruísse o mundo lá fora. Ela tinha esperança nos olhos. Era tão
segura de si e parecia ser tão confiante que me deixava com inveja. Eu
poderia ter passado mais um milhão de horas ouvindo ela falar sobre a
tecnologia trouxa ou vendo a forma com que os cachinhos pequenos do seu
cabelo balançavam de acordo com que ela virava o rosto quando estava com
vergonha do quanto eu estava a observando. Ela era linda. Deus, como ela
era linda.

E boa demais para mim.

Talvez se fôssemos outras pessoas, eu poderia facilmente ter me apaixonado


por ela. Sirius encheria o meu saco quando eu decidisse a pedir em namoro
e Remus diria para ele me deixar em paz, mas piscaria para mim depois. Lily
e Marlene ficariam tão animadas que James provavelmente iria propor uma
festa para comemorar. Eu a beijaria na frente de todos, sem me preocupar
com sangue, comensais da morte ou horcruxes. Eu me preocuparia apenas
com ela.

Eu estava com tanta raiva. Tanta raiva por terem tentado a machucar. Parece
que não importa o quanto eu tente evitar que as pessoas se machuquem, sou
eu quem sempre provoco isso. Sirius, Pandora, e agora Mary. É o castigo que
eles levam por serem importantes para mim. E o castigo que eu levo por
achar que posso me dar ao luxo de ter alguém importante para mim.

Eu esperava que ela não insistisse em se manter perto de mim quando eu


chegasse até a casa dela. Porque aí eu teria que dar um jeito de fazê-la me
odiar. E me partiria o coração saber que eu a deixei triste. Facilite as coisas,
por favor, Mary.

Todos nós aparatamos para a casa dela, depois de Lily escrever para Pandora
voltar imediatamente porque um ataque havia acontecido e não era seguro
estarmos longe uns dos outros. James mandou um patrono para Moody para
avisar sobre o ataque, ele chegaria lá um pouco depois de nós. Sirius e Remus

169
colocaram mais feitiços protetores na casa do que já haviam, agora que
Voldemort havia dado seu primeiro passo em direção à mim.

Isso era a guerra.

A casa de Mary estava completamente destruída por dentro. Ela estava


sozinha quando aconteceu, os pais dela não estavam na cidade de novo e
Marlene estava à caminho de sua casa. Não precisamos bater na porta porque
não havia mais uma, ela havia sido completamente explodida pelos
comensais. Me lembraria mais tarde de agradecer Marlene por estar com
Mary e por ter se especializado em ser uma curandeira, caso ela tivesse se
machucado. E havia.

Fui o primeiro a entrar. Ela estava deitada no chão, em cima de algumas


almofadas que não haviam sido destruídas, Marlene estava com a cabeça dela
deitada em seu colo e parecia muito preocupada. Meus olhos encontraram os
de Mary assim que entrei, mas os dela estavam atordoados, quase fechando
e ela estava suando.

"O que fizeram com ela?!" Perguntei à Marlene, indo correndo até Mary e
me ajoelhando para trocar a cabeça dela para o meu colo, enquanto Sirius,
Remus, James e Lily chegavam perto.

"Eu... eu não sei direito..." Marlene disse, parecendo muito nervosa. "Quando
eu cheguei, ela estava no chão e... e tremia muito..." Ela estava com a voz e
as mãos trêmulas. "Ela estava suando e com dor... e então ela apagou, mas
não antes de dizer que... que ele esteve aqui."

"Peter." Sirius disse, em uma expressão sombria. Lily pôs a mão no ombro
de James.

"O que você acha que foi, Marls?" Perguntou Remus, calmamente, mas ainda
muito nervoso. "Você é boa nisso."

Marlene fechou os olhos com força e eu quase consegui ler o que ela estava
pensando. Sabia exatamente o que ela diria porque eu sei o que eles fazem
nesses ataques quando não matam a pessoa, eu só não conseguia entender o
que fez eles não quererem a matar. E então ela disse. "Acho
que... Cruciatus."

Sirius virou com raiva para trás e se afastou para respirar, Remus foi atrás
dele. Lily cobriu a mão com o rosto e James a abraçou, fechando os olhos

170
também. Eu abracei Mary com tanta força que esqueci o quanto ela ainda
poderia estar com dor, mesmo sonolenta e cansada. Fui tomado por uma onda
de raiva enorme. Tudo dentro de mim pegava fogo. Eu senti que ia explodir.

"Marlene, quem mais estava aqui?" Perguntei, sombriamente.

"Eu realmente não sei, Reg, eu... eu acho que a única pessoa que pode
responder isso é Mary." Ela respondeu, ainda nervosa. "Eu curei ela com
alguns feitiços, isso deve... isso deve fazê-la melhorar mais rápido."

"Se Peter estava aqui, então eu mesmo irei atrás dele e vou matar o
desgraçado." Remus disse, furioso e James arregalou os olhos.

"Não," Sirius disse, mais furioso ainda. "Eu vou. Vou fazer ele sofrer tanto
que ele vai me implorar para morrer."

"Haviam outros comensais também." Lily disse, quase sussurrando e James


assentiu, ainda calado.

"Eu quero que se dane se haviam outros comensais!" Sirius gritou. "E onde
está Moody, afinal?!"

"Padfoot, gritar não vai ajudar Mary." James disse, enquanto eu os observava
em silêncio, com Mary ainda no meu colo.

"Nada pode ajudar Mary, Prongs." Remus disse. "Droga, Peter não é mais
um de nós! Você não vê?! Ele mataria você sem pensar duas vezes, se tivesse
a chance!"

"Me desculpe se não é tão fácil para mim quanto é para você matá-lo,
Remus!" James gritou.

"O que está querendo dizer?! Que é mais fácil para mim matá-lo porque eu
sou o que eu sou?!" Remus gritou mais alto ainda, arregalando os olhos. Vi
Marlene perguntar para Lily do que ele estava falando e Lily apenas balançou
a cabeça.

"Como... como você pode pensar que eu insinuaria isso, Moony?" James
perguntou, quase num sussurro.

"Parem com isso." Falei para eles, num tom baixo. Mas eles me ignoraram e
continuaram a discutir. Sirius com o olhos fixos no chão, com um expressão

171
de puro ódio, Remus e James brigando e Marlene tremia abraçada à Lily.
Mary ainda deitada do meu colo, se mexendo às vezes. Não aguentava mais
isso. Não aguentava mais os gritos deles. "PAREM COM ISSO!"

Eles me olharam assustados, e pararam de falar. Eu deitei Mary nas


almofadas de novo e Marlene correu para sentar ao lado dela. Eu me levantei
e comecei a andar pela sala de um lado para o outro enquanto eles me
olhavam, como se esperassem alguma reação minha. Eu queria me trancar
em um quarto e chorar até meus pulmões não aguentarem mais de tanto
soluçar.

"Não devia ter colocado vocês nisso." Sussurrei para mim mesmo, enquanto
ainda andava na sala.

"O quê?!" Sirius perguntou, chegando perto de mim.

"Não devia ter colocado vocês nisso!" Falei tão alto dessa vez que fiquei
ofegante. "Mary... Mary quase morreu!"

"Você não podia imaginar isso, Reg..." James disse, chegando perto de mim,
mas eu me esquivei rápido, deixando ele confuso.

"É claro que eu podia, James!" Gritei. "Tudo isso! Eu podia imaginar tudo
isso!"

"Regulus, você não pode resolver as coisas sozinho." Remus disse. "Você
sabe o que aconteceu da última vez."

"Da última vez, apenas eu corria perigo! Apenas eu ia morrer, você não
entende?! Ninguém estava em perigo, só eu!" Respondi. "Se eu não achasse
que ia morrer, aquelas cartas nunca existiriam e eu nunca teria contado nada
à nenhum de vocês! Não até ele ser destruído!"

"Você é um idiota!" Sirius disse, me empurrando. "Como você tem coragem


de falar isso na minha frente?!"

"Porque é a verdade, Sirius!" Respondi, ficando cara a cara com ele. "Você
só é infantil demais para enxergar!"

"Caralho, você se odeia tanto que não consegue aceitar a ideia de alguém se
importar com você?!" Ele gritou.

172
"Mary foi atacada porque eu me descuidei e deixei eles saberem que eu
estava com ela! Como você se sentiria se algo acontecesse à Remus por
alguma besteira que você fez e não tem como consertar?!" Sirius sentiu a
última parte. Como se eu tivesse conseguido pegar em um ponto que doía
nele, como se houvesse alguma história nisso. Então continuei. "Você
sempre foi bom, Sirius. Sempre. Eu não! Eu tento todos os dias... todo santo
dia! Porque eu já fui em ataques como esse, Sirius! Como um deles! Eu sei
exatamente o que eles fazem e... e imaginar eles fazendo tudo isso com
Mary..." Dei uma pausa e engoli em seco. "Não sei o que faria se alguma
coisa pior acontecesse com um de vocês."

"Você vai acabar se matando pensando assim." Ele disse, sombriamente.

"Talvez eu seja melhor morto." Respondi, e ele me encarou perplexo.

Moody desaparatou no momento em que Sirius ia responder. Ele


rapidamente entrou na casa e deu uma rápida olhada para todos nós, se
certificando de que todos estavam bem.

"Senhores." Ele assentiu para todos os nós. "Mary já acordou?" Ele foi até
onde Marlene estava.

"Não," Marlene respondeu. "Mas deve acordar logo."

"Vamos esperar. Ela vai ter informações úteis quando acordar." Moody
disse, e então apontou a varinha para os destroços, recriando totalmente o
sofá de Mary. Remus ajudou Marlene a colocar Mary no sofá, e então
esperamos.

Ficamos todos sem conversar uns com os outros enquanto Mary não acordou.
Eu sabia que tinha magoado Sirius, mas eu não estava nenhum pouco no
clima de pedir desculpas. Eu só queria que Mary acordasse e que eu me
certificasse de que ela estava bem, viva, respirando, com o coração batendo.
E então eu prometeria não colocá-la em perigo nunca mais.

Uma hora depois, Mary começou a se mexer no sofá e a abrir os olhos. Fui
correndo até ela e me ajoelhei ao seu lado, segurando a sua mão.

"Reg..." Ela sussurrou, antes de abrir os olhos. Que saudade eu ia sentir de


ouvir ela falar o meu nome.

173
"Ei..." Respondi sorrindo fracamente, com a mão no rosto dela. "Como você
está, huh?!"

"Está com dor, Mary?" Marlene perguntou, preocupada, ajeitando as


almofadas.

"Não, só... só dor de cabeça." Ela respondeu, querendo se levantar.

"Nem pense nisso." Falei, a fazendo sentar de novo. "Você precisa


descansar."

James, Sirius, Remus e Lily estavam ao redor do sofá, esperando Mary


realmente contar o que havia acontecido na casa.

"Mary, você acha que está em condições de falar, hein?" Moody disse, se
inclinando para olhá-la nos olhos.

"Se você não quiser, não precisa, Mary." Falei, sem hesitar e ela apertou a
minha mão, e então assentiu.

"Preciso que você conte exatamente o que lembra que aconteceu aqui."
Moody disse, diretamente.

"Eu estava sozinha." Ela começou, e nós ouvimos atentamente. "Eu estava
esperando Marlene para saírmos. E eu estava aqui, nesse mesmo sofá
quando... quando eles explodiram a porta." Ela disse, olhando em direção
aonde a porta ficava. "Eram cinco, Voldemort não estava com eles..." Ela
respirou fundo, engolindo em seco.

"Você reconheceu algum deles, além de Peter?!" Sirius perguntou, ainda


com raiva.

"Sim..." Ela disse, passando os olhos entre mim e Sirius. "A prima de vocês
dois. Bellatrix Lestrange." Sirius assumiu uma postura tão furiosa que
Remus e James colocaram uma mão em seu ombro. "Eu estava com a minha
varinha, então eu tentei lutar com eles, mas... mas eram muitos e... e quando
eu vi Peter, eu acabei de me distraindo..." Ela deu uma pausa.

"Se você não estiver bem para continuar a falar, você realmente não precisa,
Mary." Falei, ainda segurando a mão dela.

174
"Na verdade, ela precisa, rapaz," Moody disse. "Precisamos de todos os
detalhes que ela lembrar."

"Comensais vieram aqui. Ela só reconheceu dois. Foi isso." Respondi,


encarando Moody. "Não vou deixar você forçá-la à fazer nada."

Moody me analisou de cima à baixo. "Muito intrigante logo você não querer
que Mary dê detalhes sobre o ataque, não é, rapaz?"

"Moody, Regulus é nosso amigo." James se intrometeu. "Confiamos nele."

"Foi confiando que Pettigrew fez o que fez, não foi, Potter?" Moody
vociferou.

"Se você me comparar com ele de novo-" Respondi, com raiva, mas Mary
pôs a mão no meu ombro me interrompendo.

"Tudo bem, Reg, eu posso falar." Ela disse, e eu assenti. "Quando eu me


distrai, eles me desarmaram. E então, Bellatrix começou a rir como uma
louca e me amaldiçoou. Peter ficou apenas atrás deles, vendo tudo, mas não
fez nada. E então... os outros três comensais ficaram ao meu redor e... e a
imitaram." Ela respirou fundo, com a voz trêmula. "Dóia tanto que eu achei
que fosse morrer, e eu... eu quis tanto que parasse que quase implorei por
isso. A risada horrível de Bellatrix não sai da minha cabeça de jeito nenhum."

"O que eles falaram para você?" Remus perguntou, a encarando.

"Bellatrix foi a que mais falou. Ela entrou rindo histericamente, e perguntou
por Regulus quando eu já estava no chão. Eu falei que não sabia onde ele
estava, mas... mas eles me viram com você." Ela disse, me olhando. "Eu
jamais te entregaria, Reg! Nunca! Então, eles me torturavam e quando eu
voltava a ficar consciente, eles perguntavam outra vez... até que eu não
consegui mais ouvir nada." Eu sentei ao lado dela e juntei seu corpo ao meu.
A lealdade de Mary quase a matou.

"Tem alguma ideia do porquê eles deixaram você viva?" Moody perguntou.

"Eles queriam mandar um recado." Mary disse, sombriamente. "Eles


queriam que eu contasse o que aconteceu. Bellatrix disse que se Regulus não
se render ao Lorde das Trevas, da próxima vez ela mataria. Queriam que
você soubesse..." Ela me olhou. "Que eles estão vindo."

175
"Mary, você pode ficar em nossa casa, se quiser." Lily disse, sorrindo
fracamente. "Eu e James não nos importamos."

"Com certeza!" James disse, colocando a mão no ombro de Mary. "Você é


da família, sabe disso."

"Obrigada, gente," Mary agradeceu. "Mas Marlene é curandeira. Acho


melhor eu ficar com ela." Ela e Marlene trocaram olhares carinhosos.

"Preciso levar isto até Dumbledore." Moody disse, se levantando. "Escrevam


para os pais de Mary ou... usem aquele aparelho estranho que os trouxas se
comunicam. Avisem eles que Mary precisará ficar sob cuidados bruxos."

"E o que nós fazemos, Moody?!" Sirius perguntou. "Ficamos parados


enquanto eles nos atacam?!'

"Protejam suas casas." Moody disse. "Se certifiquem de que estão bem
escondidos. É o que podemos fazer, por hora." E então aparatou.

"Mary, você precisa de alguma coisa?" Marlene ofereceu.

"Não, Marls, está tudo bem," Ela disse, sorrindo para Marlene. "Estou bem
agora." Ela me abraçou mais forte. Droga.

"Você tem certeza que está bem?!" Perguntei, levantando o rosto dela. "Eu
sei como essas maldições são... mamãe usou elas em mim mais vezes do que
eu me lembro."

"Estou melhor agora que você está aqui." Ela disse, sorrindo fracamente e
me abraçando de novo. Eu não conseguiria fazer isso agora. Eu precisava
sair de lá imediatamente.

"Eu, hm... preciso ver se Pandora chegou de viagem..." Falei, me levantando


do sofá. "Mandem um patrono, se precisarem de mim. Preciso ver se ela...
hm, se ela está bem..." Sirius me olhou desconfiado, ele sabia que eu estava
fugindo.

"Tudo bem, Reg..." James disse, assentindo. Mas acho que ele também sabia.

Assenti para todos e dei um beijo na bochecha de Mary antes de ir embora,


mas assim que saí da casa e atravessei a rua, Sirius veio atrás de mim.

176
"Eu sei o que você vai fazer." Sirius disse, me fazendo virar para ele. "Vai
afastá-la de você, não vai?!"

"E você acha que eu tenho escolha?!" Perguntei, irritado. "Se Mary não
estivesse comigo, ela estaria bem agora! Isso é uma lógica fácil até para você,
Sirius! Você sempre age como se eu tivesse escolha, como se eu ficasse em
uma situação difícil porque eu quero!"

"Isso... isso não é verdade..." Ele disse, perplexo.

"Claro que é!" Respondi. "Você agiu exatamente assim quando nos
afastamos da primeira vez! Agiu como se eu tivesse escolhido aquilo porque
quis! Adivinha?! Ou era aquilo ou então eu morreria! Não acho que eu sou
uma pessoa cheia de escolhas, não é?!"

"Isso é uma guerra, Regulus!" Sirius gritou. "As pessoas vão morrer! Já estão
morrendo! Tudo que podemos fazer é permanecermos juntos porque assim
nós ficamos mais fortes! Você não consegue ver isso porque sempre agiu por
si mesmo como o idiota que você é!"

"Você não está me chamando de egoísta, está?!"

"Você sempre faz isso, você sempre cria o problema na própria cabeça e
afasta as pessoas que são boas com você!" Sirius disse. "Igual você fez
comigo."

"Na minha cabeça?!" Respondi alto. "Esse ataque por acaso aconteceu na
minha cabeça?!" Fui até ele, e fiquei de frente com ele. "Lá dentro, eu vi
como você ficou quando eu falei sobre você cometer algum erro com Remus
e não poder consertar, você já deve ter feito isso, não é?! Então, sabe como
eu me sinto!"

"Isso é diferente..." Ele respondeu, com a voz falhando. "Ela vai odiar você
se você fizer isso."

"Tudo bem. Já estou acostumado." Falei, me virando de costas.

"Se você não ia querer que eu te ajudasse," Sirius disse, quando eu já tinha
me virado de costas. "Então acho que nós não devíamos ter nos aproximado
de novo."

"Talvez não mesmo." E então aparatei.

177
Eu sabia que estava magoando Sirius, e eu não pretendia me afastar dele.
Mas se ele pudesse ao menos compreender que eu não quero realmente fazer
isso. Ele age como se eu estivesse escolhendo algo, como agiu quando eu e
ele brigamos da primeira vez. A última coisa que eu queria era ficar longe
de Mary agora, mas o que mais eu posso fazer?! Ela já corre perigo o
suficiente só pelo sangue que carrega e ficar perto de mim piora tudo.

Aparatei para a casa de Pandora. Ela provavelmente ainda não havia chegado
de viagem, talvez ainda nem recebeu a carta de Lily. Mas eu não ligo. Preciso
apenas ficar sozinho. Me encostei em frente à porta e me sentei ali.
Finalmente sozinho e sentado na porta daquela casa vazia, com o rosto nas
minhas mãos, eu me deixei chorar. Me deixei sentir tudo que vinha
guardando. Até que comecei a chorar de verdade e a não conseguir parar de
soluçar. Ficaria ali até Pandora chegar. Não voltaria para casa, se é que tenho
uma. Não contaria à Sirius, nem ninguém sobre minha conversa com Ted.
Precisava falar com Pandora, e apenas com ela.

Devo ter passado horas ali sentado. Estava quase caindo de sono, quando
tomei um susto com um barulho de aparatação.

"Reg! O que você está fazendo aqui fora?!" Pandora perguntou, indo até
mim. "Venha, vamos entrar!"

"Eu estava esperando por você." Respondi, seriamente.

"E não podia fazer isso em casa?!" Ela perguntou, rindo. "Estava parecendo
um mendigo aí na frente, deve estar morrendo de frio! Você pode acender a
lareira, se quiser!"

"Você está de bom humor." Respondi, sorrindo fracamente. "Como foi a


viagem?"

"Foi ótima!" Ela respondeu, trazendo duas xícaras de chá. "Você não vai
acreditar nas coisas que..." Ela parou quando viu meu rosto. "Espere, você
não está bem, está?"

"Não, eu só..." Tentei parecer firme, mas não aguentei. Minha voz começou
a ficar trêmula. "Mary foi atacada."

"Ah, meu Deus, então o ataque foi com ela?! E ela está bem?!" Pandora
perguntou, preocupada. "Por que foram justamente até ela, afinal?!" Ela

178
começou a andar de um lado para o outro. "Deve ser sido pelo sangue, é
claro. Malditos comensais da morte!"

"Pandora." Falei, chamando sua atenção. As lágrimas estavam implorando


para sair de uma vez, mas segurei e engoli em seco. "Eu e Mary estávamos...
estávamos juntos, mais ou menos."

"Vocês estavam juntos e eles acharam vocês, então?!" Pandora perguntou,


claramente não entendendo.

"Não, eu... eu e ela estávamos juntos, tipo, juntos, sabe?!" Tentei explicar,
mas na verdade nem eu sabia o que éramos. "Estávamos saindo desde o
casamento. Um pouco mais de uma semana, eu acho."

"Seu filho da mãe!" Arregalei os olhos, não esperava que ela fosse me julgar
por correr esse risco. "E você não me escreveu?! Estava transando com
alguém e eu atrás de uma maldita horcrux e você não me contou?!"

"Não era só... só sexo." Respondi, timidamente. "Nós conversávamos muito.


Eu esquecia quem eu era quando estava com ela, entende?! E ela gostava de
estar comigo, apesar de eu ser quem eu sou e... e ela ser quem é." Estava
ficando extremamente difícil não chorar.

"Você não está apaixonado, está?!" Ela perguntou, surpresa.

"Não! Merlin, não!" Respondi, alto. "Isso só complicaria tudo... Eles a


atacaram porque me viram com ela... disseram que na próxima a matariam e
eu... eu..." As lágrimas começaram a escapar.

"Agora você se culpa." Ela disse, terminando minha frase, de braços


cruzados.

"Não estou me culpando à toa, Pandora." Respondi. "Sei que faço isso às
vezes, mas dessa vez não. Eu andava por aí com ela como se não tivesse uma
guerra acontecendo! Baixei a guarda por cinco minutos e isso aconteceu!"

"Então, agora você vai afastar ela, não vai?" Pandora perguntou,
indecifrável.

"Eu preciso." Respondi.

179
"Vou dar um palpite do que está acontecendo aqui, ok?!" Ela disse, se
sentando ao meu lado. "Acho que você gosta dela. E mal consegue admitir
isso porque você não consegue gostar de quem você é, pelo menos não ainda.
E está usando tudo isso que aconteceu para se afastar porque acha que ela é
boa demais para você."

"Pandora, eu não..." Comecei, e ela me interrompeu.

"Você não precisa dizer para mim, Reg." Pandora respondeu. "Conheço
você. Está com aquela cara de quando sente alguma coisa que não queria
estar sentindo."

"Não estou com cara nenhuma." Respondi, emburrado.

"Você sabe o que penso sobre você se tratar assim, não é? Não gosto nenhum
pouco." Ela disse. "Mary vai ficar com raiva e talvez nunca mais queira falar
com você, sabe disso, não é?!"

"Essa é a intenção, Pandora." Respondi.

"Não posso decidir nada por você, Reg." Ela disse, suspirando. "Mas acho
que o cuidado que você toma com as pessoas, você deveria tentar com você
mesmo às vezes, sabe?"

"É. Talvez." Respondi, olhando para as minhas mãos. "Não quero que ela se
machuque outra vez."

"Acho que você não pode controlar tudo, Reg." Pandora disse, e então me
abraçou. Chorei por uns minutos consideráveis no seu ombro. Ainda bem
que ela não vai contar disso para ninguém, foi vergonhoso.

"Posso ficar aqui?" Perguntei, me soltando dela. "Sirius e eu brigamos."

"Tudo bem." Ela respondeu, se levantando. "Vamos! Vamos preparar


alguma coisa para a gente comer e você me conta quais os seus problemas
fraternais da vez, huh?!" Ela me deu o braço, sorrindo. "Remus me deu a
receita de um doce de chocolate que ele e Sirius fizeram!"

"Brigadeiro?" Perguntei, levantando a sobrancelha.

"Dizem que é a cura de todos os problemas." Ela disse sorrindo, pegando


uma panela.

180
***

Passei semanas na casa de Pandora. Não sabia como encarar Sirius desde as
coisas que dissemos um ao outro. E estava adiando conversar com Mary
porque sabia que seria ruim demais. Não respondi nenhuma das cartas de
James ou Lily. Sirius não escreveu, Remus também não. A coisa da lealdade
entre eles.

Passei o tempo inteiro com Pandora. Ela havia descoberto sobre o diário que
Voldemort tinha na época que estudava em Hogwarts, mas não fazíamos a
menor ideia de onde estava. Nenhuma pista mesmo. Lemos todo livro de
todas as livrarias sobre Helga Hufflepuff e a taça da Lufa-Lufa, mas ainda
sem nenhuma pista sobre onde estava. Isso era mais fácil quando havia mais
de duas cabeças pensando.

"Tenho certeza que um dos comensais guarda para ele!" Pandora disse, uma
madrugada em que viramos pesquisando. Mas a verdade era que tínhamos
que ter certeza, se íamos correr um risco para achar aquela coisa.

Eu estava tentando me concentrar ao máximo nas horcruxes, para não pensar


no caos que a minha relação com as pessoas da minha vida estava.

"Eu sei o que você está fazendo!" Pandora disse, me derrubando do sofá em
uma manhã.

"Ai!" Exclamei. "Sim, eu estava dormindo!"

"Você está evitando!" Ela respondeu. "Está fazendo aquela sua coisa de focar
em coisas racionais que você entende para esquecer as emocionais que você
não entende!"

"Estou fazendo aquela minha coisa de fechar os olhos e dormir, Pandora."


Respondi, deitando no sofá de novo.

"Ah, não, não, não!" Ela me puxou de novo. "Você vai falar com ela!"

"Ok, só preciso de mais cinco minutos." Respondi, sonolento. "Ou cinco


anos." Deitei de novo.

"Regulus Black!"

"Tudo bem!" Levantei de uma vez. "Estou indo me vestir!"

181
"Ótimo." Ela cruzou os braços, satisfeita.

As coisas que eu queria dizer à Mary estavam na ponta da minha língua


quando saí da casa dela, há semanas atrás. Mas hoje, eu havia esquecido
tudo. Eu queria pensar antes de chegar até a casa de Marlene, então fui pelo
caminho mais longo. Peguei um metrô até onde ela morava. Experiência
horrível. Não tenho mais nada a dizer. Mary me chamaria de puro-sangue
mimado se me visse agora.

Caminhei pelos quarteirões até à casa dela e então, passei em frente uma
barraca pequena com um senhor vendendo flores de todos os jeitos. Mary
amava flores.

"Ei, rapaz," O senhor me chamou, percebendo que eu estava observando as


flores. "Comprando flores para a namorada, huh?"

"Na verdade, ela não é minha namorada." Respondi, sorrindo fracamente.

"Ah, mas você quer que ela seja, não quer?" Ele perguntou, sorrindo
bondosamente. "Não perca tempo, rapaz! Quantos anos você tem?!"

"Tenho dezoito." Respondi, assentindo.

"Aproveite o broto que você gosta! A juventude não dura para sempre, você
sabe." Ele disse, pensativo. "Compre uma flor à ela e diga os seus
sentimentos pela moça!"

"Na verdade, eu..." Falei, constrangido. "Eu estava indo dizer à ela que não
podemos estar juntos."

"Ah." O senhor pareceu decepcionado. "Neste caso, você pode pegar uma. É
por conta da casa."

"Tem certeza?!" Perguntei, surpreso.

"Sim," Ele respondeu, me dando uma rosa grande e vermelha. "Ela vai querer
algo para alegrá-la quando estiver de coração partido."

"Não acho que ela gosta tanto assim de mim para ficar de coração partido,
senhor." Respondi, segurando a rosa.

182
"Ah, mas você gosta, não é?!" Ele disse. "Se está fazendo isso então, é por
algo muito maior que você. E se consegue deixá-la para o bem dela, então
você é um bom rapaz. E ela gosta de você por isso."

"Como o senhor sabe disso?!"

"Tenho 78 anos, meu rapaz. Sei de muitas coisas." Ele disse, sorrindo.

"Obrigado pela flor." Acenei com a cabeça, me despedindo e segui para a


casa de Marlene.

Nunca havia vindo até aqui, não sou muito próximo de Marlene. Nem sei se
ela gosta de mim. Espero pelo menos que ela não me odeie.

Assim que cheguei, pensei por cinco segundos antes de bater na porta. Mas
agora não havia mais volta. Marlene foi quem atendeu.

"Ei, Regulus!" Ela disse, me vendo. "Você sumiu!"

"É, eu... eu estava ficando uns tempos com Pandora, sabe?!" Respondi,
constrangido.

"É meio chato fazer isso, mas sabe, é o protocolo e tudo mais..." Ela disse.

"Claro! Sim, hm... pode me perguntar." Respondi.

"O quão bêbada eu estava no casamento de James e Lily?!" Ela perguntou,


sorrindo.

"Merlin, Marlene! Você virou três garrafas de uísque de fogo e foi apenas o
que eu vi! Porque eu também estava muito louco!" Respondi, sorrindo
também e ela deu espaço para eu entrar.

"Você veio falar com ela, não é?" Ela perguntou, percebendo a flor, e eu
assenti. "Ela está lá em cima. Segundo quarto à esquerda."

"Obrigado." Agradeci e subi as escadas.

A casa de Marlene era comum. Como a de Mary. Era pequena e acolhedora,


nada como a que eu cresci. Sempre imaginei como seria morar em uma casa
assim. Não sei se um dia vou ter a chance.

183
"Mary?!" Chamei, batendo na porta do quarto. "Posso entrar?!"

"Sim, claro!" Ela respondeu, e eu entrei. "Você sumiu."

"Sim, eu estava... estava resolvendo umas coisas sobre a Ordem." Respondi,


desconversando. "Isso é para você." Entreguei a flor, me sentando na ponta
da cama.

"Ela é linda! Você é tão gentil." Ela disse, sorrindo para mim. Foco, Regulus.

"Como você está se sentindo?!" Perguntei, enquanto ela levantava e colocava


a flor em um jarro na mesa. "Está melhor?!"

"Estou melhor. Marlene cuidou de mim essas últimas semanas..." Ela subiu
a cama, vindo até mim. "Mas eu estava com saudades de você..."

"Eu... eu também estava." Respondi, enquanto ela me abraçava e beijava meu


pescoço. "Hm... Mary, eu... eu preciso falar uma coisa com você."

"O quê?! Você está bem?! Eles não fizeram nada com você, fizeram?!" Ela
perguntou, preocupada.

"Não comigo. Fizeram com você." Respondi, segurando os ombros dela.

"Não estou entendendo." Ela respondeu, confusa. "Isso faz semanas."

"Foi por isso que estava evitando você, Mary. Porque... porque estava com
medo de fazer o que preciso fazer." Respondi.

"Não." Ela disse, seriamente. "Você não vai fazer isso. Regulus, eu juro por
Deus que se você..."

"Mary." Eu a interrompi. "Você é provavelmente a mulher mais incrível que


existe. Você vai se casar um dia e... e ter filhos." A imagem partiu o meu
coração. "Você tem a vida inteira pela frente. As coisas vão se resolver mais
facilmente se eu me afastar agora."

"Você... você não pode fazer isso." Ela respondeu, com a voz trêmula.
"Regulus, olhe para mim." Ela disse segurando meu rosto. "Se é por causa
de quem você acha que é, ou por causa do que aconteceu comigo, você pode
parar. Isso não importa pra mim, ok?"

184
"Mary, por favor..." Me soltei das mãos dela. "Você não faz ideia de como
foi difícil para mim vir até aqui e ter que dizer isso à você. Você conseguiu...
conseguiu me fazer sentir algo que eu nem sabia que ainda era capaz de
sentir... eu não me sentia tão feliz há muito tempo... mas eu não posso
continuar com você e correr o risco de colocar você em perigo outra vez."

"Olha nos meus olhos." Ela disse, com os olhos marejados, com o rosto
muito perto do meu. "Olha nos meus olhos e diz que você quer ir embora
dessa casa e não encostar em mim nunca mais."

"Mary, não faça isso..." Respondi, me levantando de uma vez.

"Não faça você!" Ela levantou, irritada agora. "Eu não preciso que você me
proteja de nada! Sou forte o suficiente para cuidar de mim mesma, Regulus!
Eu já passei por muita coisa! Negra, nascida-trouxa, mulher! Vivi uma vida
antes de você e cheguei até aqui, não pense que você pode decidir o que é
bom para mim ou não. Eu posso decidir isso sozinha."

"Se eu deixar você decidir, você provavelmente vai morrer da próxima vez!"
Respondi. "Por que não consegue ver que não faço bem à você?!"

"É você quem não consegue ver as coisas, Regulus." Ela disse, seriamente.
"Eu sei quem você é! Eu vi isso! Acha que essa droga de marca me
incomoda?!" Ela foi até mim e agarrou meu pulso com força. "O que me
incomoda é você se odiar por causa de algo que você não é! Porra, eu confio
em você! Não faz ideia do quanto é difícil gostar de alguém que acha que
não merece o que eu sinto."

"Não tenho coragem de continuar com você sabendo que eu posso causar sua
morte, Mary." Respondi, balançando a cabeça. "Eu queria... queria muito..."

"Então, fique." Ela disse, com a testa encostada na minha, as lágrimas


escorrendo, encostando os lábios nos meus. "Fique comigo, por favor..."

"Sinto muito, Mary." Respondi, sussurrando, com o rosto molhado também.


"Não posso..."

"Gostar de você partiu meu coração mais do que eu pensei que fosse." Ela
disse, engolindo em seco e se afastando. "Está tão concentrado em quem
você era que nem percebe quem você conseguiu se tornar."

185
"Não posso me concentrar em nada com comensais atrás de mim, Mary!"
Respondi, alto.

"O engraçado, Regulus," Ela disse, sorrindo fracamente. "É que eles nem
mataram você, mas já conseguiram com que você desista de viver."

"Mary, eu..."

"Regulus, só..." Ela me interrompeu. "Só vai embora, por favor..."

"Sinto muito." Respondi, antes de passar pela porta. Passei direto por
Marlene e saí. Aqui, do lado de fora, sem ninguém ver, eu poderia chorar
como uma criança se quisesse.

Ela vai ficar bem. Eu sei que vai. Ela merece uma vida longe disso, longe de
mim e de qualquer perigo que eu possa colocá-la. Talvez eu não consiga
afastar Sirius porque estou preso à ele pelo meu próprio sangue, mas Mary
eu posso. Vou esquecer ela e ela vai se esquecer de mim. Fácil assim. Como
se nada nunca tivesse acontecido entre nós.

"Cheguei." Falei, quando voltei à casa de Pandora. Ela estava na cozinha,


com uma carta nas mãos. "O que é isso?!"

"É uma carta de Remus." Ela disse, pálida. "Ele disse para você voltar
imediatamente. Sirius precisa de você."

"Pelo amor de Merlin, Pandora, você está me assustando," Respondi. "O que
ele disse?!"

"James." Pandora disse, com a voz trêmula. "Os pais de James morreram."

186
Capítulo 20: Inverno 1980

Começamos os anos 80 em um funeral.

Não posso dizer que conhecia muito Fleamont e Euphemia Potter. Eles
estavam sempre em todas as reuniões da Ordem e não pareciam ter distinção
entre um e outro quando se tratava de James e Sirius. Mamãe sempre dizia
que os Potter eram traidores de sangue, que sujaram a própria linhagem por
confraternizar com nascidos trouxas. Eu queria ter tido a chance de conhecê-
los melhor porque, se eles irritavam a minha mãe, provavelmente eram boas
pessoas.

"Você está pronto?" Pandora me perguntou, entrando no quarto de visitas.


Ela estava com um vestido preto simples e com um coque no cabelo bem
puxado para trás.

"Estou." Assenti. "Todos de preto... isso me lembra os jantares formais dos


Black." Sorri fracamente, parecia algo tão distante agora.

"Você vai voltar para a casa de Sirius?" Ela perguntou, dando o nó na minha
gravata. "Acho que ele vai precisar de você..."

"Se ele me quiser lá," Respondi. "Eu volto."

"Os pais dele morreram." Pandora disse, me fazendo encará-la. "Ele e James
precisam das pessoas que os amam mais do que nunca."

"É, acho que sim." Respondi, me olhando no espelho.

"Você já foi à algum funeral antes?" Ela perguntou.

"Apenas do meu tio Alphard... mas eu e Sirius éramos muito pequenos, então
não me lembro de muita coisa." Respondi. "É muito ruim?"

"Acho que não tão ruim como vai ser para eles dois." Ela disse, suspirando.

A verdade é que eu não sabia se Sirius ou James me queriam lá. Era Remus
quem havia mandado a carta, e ele faz qualquer coisa que acha que vai fazer
Sirius melhorar. Mas na realidade, apenas Sirius sabe do que precisa. Então,
eu não estava indo esperando abraços ou nenhuma recepção calorosa, eu só
queria me certificar que Sirius e James estavam conseguindo ficar de pé.

187
O funeral aconteceria em uma casa de campo da família Potter. O dia estava
nublado, o que eu acho mais adequado para um funeral do que um dia
ensolarado. O lugar, apesar disso, era bonito. A grama era muito verde e o
lugar era cercado por um cerca branca. No fundo, havia uma casa grande e
bonita de altos e baixos, revestida de madeira branca. E do lado, haviam
várias cadeiras enfileiradas e dois caixões brancos na frente de um pequeno
altar. Havia duas fotos grandes em movimento, a senhora Potter e o senhor
Potter sorrindo um para o outro em uma delas e na outra eles mais jovens e
mais saudáveis, mas ainda sorrindo. James tinha o mesmo sorriso dos pais.
Mas acho que não hoje.

Várias pessoas estavam lá. Alice ajudava Lily a colocar as comidas na mesa
e vi Frank cumprimentar Remus perto delas. Os Weasley haviam ido, Molly
estava agora com a barriga maior do que a última vez que a vi. Marlene
estava sentada com Mary nas cadeiras. Senti meu estômago gelar quando a
olhei, ela conseguia estar linda até mesmo em um funeral.

"Vamos fazer isso." Falei, dando o braço para Pandora segurar enquanto
chegávamos mais perto.

"Ei, vocês!" Lily disse, surpresa, mas seus olhos pareciam cansados. "Senti
sua falta, Reg." Ela sorriu fracamente, me abraçando.

"É, eu estava..." Comecei. "Eu estava dando um tempo de algumas coisas."

Lily assentiu. "Eu imaginei."

"Você quer ajuda, Lily?!" Pandora se ofereceu, indo em direção à mesa e


Lily assentiu.

"Onde eles estão?" Perguntei baixo, para ela.

"Estão sentados ali, na primeira fileira..." Lily disse, apontando. "Está sendo
bem difícil para os dois..." Ela disse, tristemente.

"Você acha que eu deveria..."

"Sim." Ela disse, dando um meio sorriso, antes de eu terminar. "Com certeza,
você deveria."

Sirius e James estavam sentados um ao lado do outro, de mãos dadas. Antes


de chegar até eles, meu olhar se encontrou com o de Mary por meio segundo.

188
Ela também havia chorado um pouco. Eu quis tanto ir até ela e abraçá-la
nesse dia tão ruim e triste, e dizer que ficaria tudo bem porque eu estaria com
ela. Mas eu teria que aprender a protegê-la de longe.

"Hm..." Murmurei, perto de James e Sirius, e eles levantaram o olhar para


mim, os olhos dos dois estavam vermelhos e inchados, como se já estivessem
chorando à horas. "Meus pêsames por eles... eu... eu não sabia se eu deveria
vir, mas..."

"Claro que deveria, Reg." James disse, levantando. "Você é da família." E


me abraçou. Era a segunda vez que alguém me dizia isso. Quando James me
soltou, Sirius se levantou, com o rosto indecifrável.

"Eu, hm... eu sinto muito pelo o que..." Eu comecei a falar, constrangido. E


então ele me deu um abraço de uma vez, interrompendo o que eu estava
falando. Ele me abraçou forte e enterrou o rosto no meu ombro, molhando o
meu terno com as lágrimas.

"Você pode... pode sentar aqui, se quiser." Sirius disse, com a voz trêmula.
E eu assenti.

Os Potters eram queridos por muitas pessoas. Vários parentes e amigos se


levantaram para falar sobre eles e relembrar os bons momentos que eles
tiveram em vida. Uma boa lembrança que tenho da senhora Potter é que,
apesar dela não me conhecer direito, ela sempre me perguntava se eu estava
bem quando me via. Mas ela perguntava de verdade, como se realmente se
importasse comigo. E o senhor Potter, ele era engraçado e animado, como
James.

Sirius e James subiram juntos para falar. Olhei para Sirius antes dele levantar
e sussurrei um 'vai ficar tudo bem'. Ele assentiu e subiu ao lado de James.
Sirius foi o primeiro a falar.

"Hm, boa tarde à todos." Ele começou, com a voz trêmula. "Eu não... não
tenho certeza se vou conseguir terminar o que eu disser aqui, mas eu gostaria
de apenas... apenas de agradecer ao senhor e a senhora Potter por... por terem
me acolhido na vida deles quando eu ainda era um adolescente idiota e não
tinha para onde ir..." Ele deu uma pausa para respirar, James pôs a mão no
ombro dele. "Eu lembro de uma vez em que eu estava doente e... e eu estava
delirando em febre, não saía da cama por nada, e então," Ele conseguiu sorrir
fracamente. "E então, eu lembro que estava triste porque James entrava no
quarto o tempo inteiro com um pomo de ouro nas mãos querendo saber se eu

189
já podia jogar e a senhora Potter apenas negava com a cabeça," Todos riram
fracamente. "E então, ela usou um feitiço de cura em mim tão forte que a
minha febre passou em questão de minutos... eu consegui levantar e me sentir
finalmente disposto e... e eu fui agradecê-la..." Ele engoliu em seco. "Eu fui
agradecê-la e a chamei de mãe, sem querer." Ele sorriu para si mesmo, as
lágrimas descendo no seu rosto. "Não é justo... não é justo que pessoas tão
boas morram tão cedo... e sempre vou ser grato à eles por terem me amado
como um filho e por terem me deixado amá-los como meus pais. Não vou
fingir que consigo me despedir deles porque isso seria uma mentira, mas...
mas a senhora Potter me disse uma coisa uma vez quando começou a ficar
doente e... e eu nunca a esqueci... Tenho certeza que essa coisa é o que vai
me manter em pé no resto da minha vida sem eles..."

Todos estavam em silêncio, esperando Sirius dizer. Mas ele parecia se


controlar muito para conseguir falar sem desmoronar. Até que ele finalmente
disse.

"Aqueles que nos amam nunca nos deixam de verdade."

E então ele começou a chorar muito, e James acenou com a cabeça para
Remus. Ele rapidamente se levantou e subiu no altar, tirando Sirius de lá e o
trazendo de volta à cadeira. Sirius enterrou o rosto no ombro de Remus e
soluçava como um bebê.

"Não acho que eu vou ser muito melhor que Padfoot nisso..." James
começou, com a voz trêmula. "Pai, tudo... tudo que existe de bom dentro de
mim veio de você... eu queria muito, muito que você tivesse conseguido ver
eu ser um pai tão bom quanto você... mas eu juro, eu juro para o senhor que
quando esse dia chegar, eu darei o meu máximo para ser igual à você." James
disse firmemente, mas ainda se segurando para não chorar. "Não havia nada
no mundo que você não fazia por mim, então... então, não haverá nada no
mundo que eu não farei pelo o meu filho quando chegar à hora..." Ele
respirou fundo. "E mãe... eu, eu não faço a menor ideia de como falar sobre
quem você foi..." James começou a chorar de verdade e Lily subiu para ficar
ao lado dele. "Mãe, uma parte de mim... uma parte de mim foi embora junto
com você e... e eu sinto muito se de onde você estiver talvez você não goste
de quem eu me torne... mas eu juro, juro que todos os dias eu vou tentar
deixar você orgulhosa de mim..." Ele respirou fundo mais uma vez. "Vocês
foram as melhores pessoas que passaram nesse mundo. E eu vou vencer essa
guerra por vocês dois."

190
Todos aplaudiram quando James terminou o discurso e desceu do altar. Mas
ele não foi sentar ao lado de Sirius quando desceu, ele passou direto pelas
pessoas com a mão cobrindo o rosto e todos nós fomos atrás dele quando ele
foi para longe de onde estava acontecendo o funeral.

"James!" Lily o chamou, tentando alcançá-lo.

"Prongs, você quer ir para casa?" Remus perguntou. "Nós podemos ir todos
juntos."

"Eu... eu não posso mais ficar aqui." James disse, passando as mãos pelo
cabelo. "Eu... eu não..." James ficou pálido e quase desmaiou ali mesmo.
Sirius e eu colocamos os braços de James nos nossos ombros.

"Vamos aparatar para onde?!" Perguntei.

"Vamos levar ele para a nossa casa..." Sirius respondeu. "Prongs não vai
aguentar ficar na casa dos pais."

Aparatamos todos juntos para a casa de Sirius. O resto do dia foi horrível.
James estava tão triste que ficou realmente doente. Ele ficou com febre,
muita dor de cabeça e não saiu do quarto de jeito nenhum até a hora de ir
embora. Sirius se ofereceu para cuidar de James e deixá-lo ficar com ele o
resto da semana, mas Lily disse que era melhor ele voltar com ela para casa.
Eles discutiram um pouco sobre isso porque Sirius realmente consegue ser
teimoso quando quer. Foram preciso horas para Lily convencê-lo de que ela
podia cuidar melhor de James em casa e vários sermões de Remus de que
Sirius deveria deixar Lily fazer o que era melhor, até que ele finalmente
cedeu.

"Você vai... voltar para cá?!" Sirius perguntou para mim, depois de Lily e
James terem ido embora.

"Não quero incomodar." Respondi.

"Ah, pelo amor de Merlin!" Remus apareceu, com três xícaras de chá. "É
quase meia noite, nós tivemos um dia de merda, vocês podem resolver o
drama de vocês dois outro dia, hoje somos todos amigos, ok?!" Ele pôs a
bandeja na mesa da sala. "Quem quer chá?"

"Tem certeza que não vou-" Comecei.

191
"Regulus, vou socar você." Remus disse, me interrompendo e nos fazendo
sorrir.

Nós três tomamos chá e conversamos por um bom tempo. Sirius estava
nostálgico e falou sobre os Potters várias vezes, contou sobre os natais e
verões que passou lá enquanto estava em Hogwarts, contou sobre a noite em
que fugiu e eles o abrigaram tão calorosamente, contou sobre as tortas
salgadas da senhora Potter e sobre os treinos de quadribol com o senhor
Potter.

Eu e Remus deixamos ele falar porque era disso que ele precisava,
lembranças boas. Não pude deixar de pensar em como nunca havia parado
para perceber que na noite em que eu estava no meu quarto culpando Sirius
de todas as formas possíveis por ter me deixado, ele havia finalmente
encontrado amor em outro lugar. Pensar nisso me deixou estranhamente
feliz.

Sirius falou, falou, falou, até que finalmente adormeceu no sofá. A cabeça
no braço do sofá e as pernas por cima de Remus, eu estava sentado na
poltrona em frente eles.

"Você acha que eu deveria voltar?" Perguntei, de repente. "Digo, voltar a


morar com vocês dois. Mesmo depois das coisas que eu disse à Sirius?"

"Acho que você tem que deixar as pessoas que você machuca decidirem se
querem ou não você de volta, Reg." Ele respondeu, olhando para o teto.

"O que você quer dizer?!" Perguntei, confuso.

"Você faz isso às vezes." Ele respondeu. "Decidir pelos outros o que é o
melhor. E olha que você é o mais novo de todos nós." Ele sorriu, o que me
fez sorrir também.

"Espere, você está falando isso por causa de Mary?!" Perguntei.

"Bom, sim e não," Ele respondeu, me olhando. "Às vezes, você sem querer
age como se só você entendesse o que você sente, sabe? Como quando
estávamos na casa de Mary e você disse à Sirius que ele não fazia ideia de
como você estava se sentindo por ter a colocado em perigo, mesmo quando
só queria protegê-la."

192
"Mas eu estava falando a verdade." Respondi, seriamente. "Sirius nunca fez
nada para pôr sua vida em risco."

Remus sorriu ironicamente, acendendo um cigarro, e voltando a olhar para o


teto, "Sim, Reg, ele já fez sim."

"O quê?!" Perguntei, surpreso. "Isso não pode ser verdade, ele ama você mais
do que ama esse cabelo!"

"Você se lembra do ano em que ele fugiu de casa? Nós estávamos no quinto
ano e você no quarto..." Ele começou e eu assenti. "Padfoot estava muito
feliz por estar com a família de James e, bem, eu e ele não estávamos juntos,
mas eu... eu já sabia que o amava."

"E então o quê?! Ele ficou com alguém na sua frente?" Perguntei, ansioso.

"Nah, isso parou de me magoar com o tempo... Padfoot fazia isso o tempo
todo naquela época para fingir que gostava de meninas," Ele tragou o cigarro.
"A questão é que Sirius sempre fez tudo para proteger quem ele se importa,
igual à você. A diferença entre vocês dois é que ele pode ser muito
imprudente às vezes."

"Isso é verdade." Respondi e ele sorriu.

"Houve uma noite..." Ele começou, tragando o cigarro mais uma vez e
desfazendo o sorriso. "Uma noite de lua cheia, mais especificamente. Em
que eu estava na Casa dos Gritos pronto para me transformar no lobo... e
então, quando a transformação já havia acontecido, Snape apareceu."

"Snape?!" Perguntei, realmente confuso. "Ele sabia que você era um


lobisomem?!"

"Ele desconfiava." Remus disse, fixando o olhar no chão. "Snape era muito
inteligente, apesar de ser um desgraçado preconceituoso." Ele tragou o
cigarro mais uma vez. "De qualquer forma, Snape apareceu e eu quase o
matei. Com certeza, eu teria o matado se James não tivesse aparecido e
colocado ele dentro da capa."

"James salvou a vida de Snape?!" Perguntei, quase sorrindo. "Estamos


falando do mesmo James?!"

193
Remus sorriu. "Prongs é um herói incorrigível, Reg. Ele podia ser um pouco
arrogante, mas nunca perdeu a chance de salvar alguém." Ele voltou a ficar
sério. "Sempre que penso naquela noite, eu... eu me sinto mal, me sinto
como... como um monstro. Mesmo depois de já ter aceitado isso em mim."

"Mas como Snape sabia?!" Perguntei. "Como ele sabia que era lá que você
estava?!"

"Sirius." Ele disse, seriamente.

"O quê?!" Perguntei alto, quase acordando Sirius, que se mexeu no sofá.
"Sirius contou à Snape?! Está me dizendo que Sirius dedurou você ao cara
que vocês mais odiavam e James o salvou da morte?! Essa história fica mais
estranha a cada minuto que você conta, Lupin."

"Sirius estava com raiva porque naquela mesma manhã, Snape havia
tentando me azarar no corredor." Ele começou. "Eu fui mais rápido e o feitiço
dele ricocheteou, mas eu cheguei a cair. Sirius correu para me ajudar a
levantar e olhou para Snape, furioso. Eu pedi para ele não revidar porque só
traria mais problemas, mas... Sirius é teimoso, você sabe." Assenti. "Então,
ele achou que poderia dar uma lição em Snape o mandando ir até à Casa dos
Gritos para eu dar um susto nele."

"Mas você quase o matou." Afirmei, para que ele continuasse.

"Eu quase o matei." Remus disse, sombriamente, olhando para o nada, como
se as imagens daquele dia passassem em sua mente. "Aquilo me assombrou
por muito tempo. Você não faz ideia do quanto eu demorei para perdoar
Sirius. Eu poderia ter ido parar em Azkaban ou, não sei, talvez até morto. Eu
não conseguia ver o que ele havia feito como uma coisa boa, só conseguia
pensar que ele havia traído a minha confiança. E, sabe, estar apaixonado por
ele ao mesmo tempo não facilitou nada."

"E você conseguiu perdoar ele? Totalmente?" Perguntei.

"Sim." Ele respondeu, sem hesitar. "Porque, no fim, ele me amava. Às vezes,
isso não é o suficiente, mas naquele caso era. Ele me magoou e eu quase não
conseguia olhar nos olhos dele, mas quando vi o quanto ele me amava... eu
apenas entendi que não é porque você ama uma pessoa que você está imune
de machucá-la... Sirius não fez aquilo para me atingir, assim como você não
fez nada para atingir Mary, ou Pandora, ou qualquer outra pessoa que você
carrega a culpa de ter machucado. Às vezes, as pessoas que você ama se

194
machucam e você não pode fazer nada para evitar, Reg. Nada, a não ser amá-
las."

"Mas, Remus," Perguntei. "Mesmo que a intenção seja boa, e se o erro for
tão grande que você simplesmente não possa ser perdoado?"

"Foi o que acabei de te dizer, Reg," Remus disse. "Você tem que deixar a
pessoa que você machucou decidir isso. Eu decidi perdoar Padfoot, porque
a raiva que eu estava dele não era grande o bastante para me fazer parar de
amá-lo. Se ele não tivesse me dado espaço, talvez eu nunca tivesse percebido
isso." Ele apagou o cigarro. "O ponto é que não é você quem decide se deve
ser perdoado ou não. Você não pode decidir pelos outros."

"Droga." Resmunguei. "Eu vi a cara dele quando insinuei que ele já tinha
machucado você... não acredito que fui tão insensível."

"Não se preocupe, você vai ter tempo para consertar isso." Ele respondeu,
sorrindo, tentando se levantar do sofá. "Acho que vou levá-lo para o quarto,
ou ele vai acordar todo dolorido e não estou com paciência para fazer
massagem em ninguém."

"Você vai fazer a massagem de qualquer jeito." Disse, tirando uma com ele
e ele sorriu.

"É, provavelmente."

***

No fim, eu acabei voltando para a casa deles. Fomos à algumas reuniões da


Ordem naquela semana, mas James e Lily não estavam lá. Não os víamos há
um bom tempo e Sirius e Remus estavam começando a ficar realmente
preocupados. Contei aos dois sobre o que Pandora e eu descobrimos sobre
as horcruxes, mas não conseguimos chegar em nada sólido para realmente
procurá-las. Parecia um beco sem saída. Onde diabos você procura algo que
pode estar em qualquer lugar do mundo?!

"Lily escreveu." Remus disse, naquela manhã. "Quer que vamos até lá esta
tarde."

"Ela disse se Prongs está bem?" Sirius perguntou, ansioso.

195
"Ela disse que ele está bem melhor, mas que precisa urgentemente de nós
três lá." Ele respondeu.

"Urgentemente?" Perguntei. "James está o quê?! Morrendo?!"

"Acho melhor irmos, de qualquer jeito." Sirius disse, antes de terminar seu
cereal.

"Vocês acham que ela chamou Mary?" Perguntei, tentando soar distraído.

"Vocês ainda estão sem se falar?!" Sirius perguntou, arqueando a


sobrancelha.

"Não estamos sem nos falar!" Respondi, na defensiva. "É só que... nunca
mais nos falamos desde aquele dia, então não sei como vai ser se estivermos
no mesmo lugar."

"Isso é estar sem se falar, Reg." Remus disse, da cozinha.

"Tanto faz." Respondi, deixando o assunto de lado.

Naquela tarde, aparatamos para a casa de James e Lily, como ela havia
mandado. James estava do lado de fora, jogando um balaço de quadribol no
gramado.

"Vou falar com ele." Sirius disse, dando um beijo em Remus. "Vocês podem
entrar."

"Lily?!" Remus chamou, batendo na porta.

"Ei!" Lily sorriu ao nos ver. "Hm... ok, odeio fazer isso, mas... qual de vocês
me levou até o altar no dia do meu casamento?"

"Claro que fui eu, Lily!" Respondi, sorrindo e entrando, colocando os braços
em volta dos ombros dela. "Lupin não tem o mesmo charme que eu."

"Ha ha, muito engraçado, Reg." Remus respondeu, e Lily e eu sorrimos.

"Lily." Remus disse, se virando para nós. "Você está fazendo algo no
forno?!"

196
"Hm, não," Lily disse, se virando para a chaleira. "Por que está perguntando
isso?!" Ela parecia nervosa.

"Senti um cheiro estranho." Remus disse, desconfiado.

"Você está bem, Lily?" Perguntei. "Você está meio... diferente."

"Lily, agora é serio." Remus disse, seriamente e com os olhos arregalados.


"Acho que tem outra pessoa nessa casa."

"Não, Remus," Ela respondeu, sem olhá-lo nos olhos. "Não há ninguém."

"Alguém pode me explicar o que está acontecendo?!" Perguntei, confuso.

"Espere aí," Remus disse, chegando mais perto ainda de Lily. "Está vindo de
você..."

"O quê?!" Lily disse, nervosa. "Você está louco."

"Lily, se você for um comensal da morte, nos poupe e se revele logo."


Respondi ironicamente, mas estava ficando realmente assustado.

"Ah. Meu. Deus!" Remus gritou, e Lily virou de uma vez com os olhos
arregalados. "Você está grávida!"

"O QUÊ?!" Eu realmente gritei dessa vez.

"Lily, isso é incrível!" Remus disse, a abraçando e a carregando no ar.

"Meu Deus, Lily!" Exclamei sorrindo. "Meus parabéns! Mal posso acreditar
nisso!"

"Eu descobri a pouco tempo," Ela disse, sorrindo de orelha à orelha. "Mas
não digam n-"

"Por que estão todos gritando?!" Sirius apareceu na porta, seguido por James.

"Lily está grávida!" Eu e Remus gritamos em uníssono, muito animados.

197
"O QUÊ?!" Sirius e James gritaram, também em uníssono. O rosto de James
ficou pálido e Sirius teve que largar o balaço e segurá-lo porque ele
definitivamente estava desmaiando.

"Seus idiotas!" Lily disse, dando um tapa na minha cabeça e na de Remus.


"Peguem água, pelo amor de Deus!" Ela gritou, ajudando Sirius a levantar
James.

"Você está grávida?!" Sirius perguntou, com os olhos arregalados. "Como


isso aconteceu?! Não! Não me conte! Não vou conseguir dormir à noite!"

"Vocês podem ajudar aqui, por favor?!" Lily pediu, claramente sem forças
para tirar James do chão. Corremos para segurar os pés de James, enquanto
Sirius segurava na sua cabeça para colocarmos no sofá, ele ainda estava
apagado e Lily colocava água gelada na testa dele.

"Quem diria!" Sirius disse, sorrindo, com a mão na cintura. "Isso merece
uma comemoração! Bebê Prongs está à caminho!"

198
Capítulo 21: Vulnerável

TW: Assédio Sexual

Fomos todos aos Três Vassouras naquela noite comemorar a notícia da


gravidez de Lily. Depois que James acordou, é claro. Ele ficou desmaiado
por alguns minutos consideráveis.

"Vocês acham que é um menino ou uma menina?!" Perguntei sorrindo,


terminando a cerveja amanteigada.

"Tomara que seja um menino!" Sirius disse. "Vou ensinar para ele todos os
truques de quadribol possíveis e quando chegar em Hogwarts, ele vai ser o
melhor jogador da Grifinória!"

"Nem sabemos se ele vai para a Grifinória!" Lily disse, repreendendo Sirius.

"É claro que ele vai para a Grifinória!" James disse, levantando a caneca de
cerveja no ar. "Ele é um Potter!"

"Se ele for para a Sonserina," Disse, sorrindo. "Eu vou comprar a primeira
gravata verde dele e vamos sorrir da cara de todos vocês!"

"Ah, ele não teria o seu azar, Reg!" Remus disse, sorrindo também e eu dei
um soco no braço dele.

"Ei, Padfoot, você chamou Mary e Marlene?!" James perguntou, e eu tentei


parecer desinteressado.

"Chamei, mas acho que elas estão-" Sirius se interrompeu, abrindo um


sorriso. "Estão ali!"

Mary e Marlene estavam vindo na direção da nossa mesa, sorridentes como


sempre. Ok, eu tinha que pensar rápido agora. Eu poderia tratá-la
normalmente como se nada houvesse acontecido, mas talvez isso a irritasse.
Ou poderia tratá-la diferente mostrando que sim, o que aconteceu me afetou.
Mas talvez isso também a irritasse.

Garotas são tão mais complicadas que garotos, por que diabos continuo
gostando delas?!

199
"Lily!" Marlene apareceu, Lily levantou para abraçá-la. "Mal consegui
acreditar quando você me escreveu! James será o papai do ano!" Marlene
disse, bagunçando o cabelo de James e se sentando ao seu lado.

"Você vai ter que superar sua aversão por moda agora, Lily!" Era a voz de
Mary, tentei não olhá-la diretamente. "Temos que comprar vestidos, saias,
sandálias, e tudo que se adeque à quando a barriga crescer!"

"Merlin, MacDonald, respire!" Remus disse, sorrindo.

"Estou tão feliz por você." Mary sorriu e abraçou Lily.

Logo atrás de Mary, estava um cara alto, loiro e com um corpo atlético, mas
ele tinha uma cara de quem nunca havia nem entrado em um bar antes. E,
bem, ela estava segurando a mão dele. Mas talvez não fosse nada, talvez eles
fossem primos? Eu costumava andar de mãos dadas com Narcissa. Bom,
quando tínhamos cinco anos, eu acho. Mas isso não pode ser tão diferente.

"Gente, esse aqui é o Connor," Mary o apresenteu e ele abriu um sorriso com
aquela fileira exagerada de dentes. "Nós estamos saindo."

Quase engasguei com a cerveja amanteigada, mas tudo bem, ninguém


conseguiu realmente ver. Eu espero.

"Ei, cara," James o cumprimentou, receptivo como sempre. "Você é


familiar... você estudava em Hogwarts também?!"

"Sim!" O tal do Connor respondeu, exageradamente gentil. "Eu era da


Corvinal, na verdade. Talvez por isso, não nos encontramos muito."

"Caramba!" Sirius exclamou. "Reg, você lembra que queria ser da Corvinal
quando éramos crianças?!"

Levantei os olhos pela primeira vez e assenti. "Sim, me lembro." Vou matar
você, Sirius.

Mary e eu nos encaramos por dez segundos seguidos. Se aquilo era para me
provocar, eu não sabia dizer. Bom, de qualquer forma, não estava
funcionando. Droga, estamos no meio de guerra e Mary quer começar a
namorar agora?! E por que todo mundo está sendo tão gentil com um
desconhecido?!

200
"Você pode sentar aqui, Connor!" Lily disse, puxando uma cadeira para ele
e ele agradeceu, se sentando ao lado de Mary.

"Ah! Remus!" Mary disse, alto. "Connor gosta muito de ler, sabia? Igual à
você!"

"É mesmo?" Remus perguntou, interessado. "O que você lê?!"

"Ah, não consigo escolher um escritor favorito, na verdade." Ele respondeu,


ainda sorrindo. Qual a necessidade de sorrir tanto?! "Mas meu gênero
preferido com certeza são tragédias! Não tem nada que me prenda mais do
que isso."

Soltei uma risada abafada dentro da caneca de cerveja e Mary me encarou.


"Algum problema, Black?!"

"Ah, não, claro que não!" Respondi, ironicamente. "Só achei engraçado você
estar namorando um cara que curte tragédias, porque você geralmente não
entende muito quando alguém tenta te proteger de uma."

Sirius me chutou por de baixo da mesa, Mary cerrou os olhos e voltou sua
atenção à Connor. Remus havia acendido um cigarro.

"Você fuma?!" Connor perguntou.

"Sim." Remus respondeu, dando de ombros e tragando o cigarro.

"Essa coisa vai te matar, cara." Connor respondeu, franzindo a testa.

"Estamos no meio de uma guerra." Remus respondeu. "Se eu morrer, não vai
ser por isso, você não acha?"

Ele se meteu nos cigarros de Remus, então ele deve estar o odiando
internamente agora. Ponto para mim.

"Você gosta de quadribol, Connor?" James perguntou.

"Na verdade, não muito." Ele respondeu. "Acho um pouco violento demais."
James e Sirius franziram a testa, parecendo um pouco ofendidos. "Também
não vejo muito sentido no jogo."

201
"Nós jogávamos para o time!" Marlene disse, apontando para mim, James e
Sirius.

"Sirius e Marlene eram batedores," Remus começou. "James e Regulus


apanhadores."

"É, mas Regulus não era tão bom assim." Mary disse sorrindo, arqueando a
sobrancelha na minha direção. Ela estava me desafiando?! "Não é à toa que
a Sonserina perdia para a Grifinória, na maioria dos jogos."

"Vocês não eram da mesma casa, então?" Connor perguntou.

"Eu era da Sonserina." Respondi, e notei os olhos de surpresa dele.

"Nossa." Ele respondeu. "Achava que todos os sonserinos haviam se juntado


à Você-Sabe-Quem..."

"Ah, mas eu me juntei!" Respondi, e todos viraram os olhos para mim


alarmados, eu queria causar medo nele. "Eu era um comensal da morte, cara.
E um dos mais próximos do Lorde das Trevas, na verdade. Mas sabe, eu
estava cansado daquela encheção de saco de Milorde para cá, Milorde para
lá... então, decidi, quer saber?! Que se dane, e então, explodi a casa da minha
família com esses caras e me juntei à Ordem."

Sirius deu uma risada abafada, a expressão de Connor era de puro


nervosismo, Mary parecia furiosa.

"E-e você tem a..." Connor disse, apontando para o próprio braço.

"A marca?!" Perguntei, sorrindo. "Mas é claro que sim! Essa coisa arde como
fogo, amigo! Consigo matar alguém só levantando a manga do meu casaco
agora, você quer ver?!"

"Não, obrigado!" Ele respondeu, muito rápido e nervosamente. Todos na


mesa se seguravam para não gargalhar.

"Acho que já chega de falar sobre isso, não é?!" Mary sugeriu, irritada.

"Por que, Mary?!" Perguntei, sorrindo. "Você não parecia se importar com a
minha marca quando segurava meus pulsos daquele jei-"

202
"Regulus!" Mary exclamou, me interrompendo. "Vamos pegar uma bebida,
por favor?!" Ela me olhou, arregalando os olhos.

Assim que levantamos da mesa, vi Remus sussurrar alguma coisa no ouvido


de Sirius, os dois franziram a testa, parecendo preocupados com alguma
coisa, me lembraria depois de perguntar o que era.

"O que você pensa que está fazendo?!" Mary perguntou, furiosa, quando
chegamos ao balcão.

"E o que você pensa que está fazendo?!" Respondi. "Nós nem conhecemos
ele! Como você traz um desconhecido para cá na situação em que estamos?!"

"Ele não é um desconhecido! Eu o conheço!" Mary respondeu. "E as coisas


são bem mais calmas e tranquilas com ele, se você quer saber! Ele não fica
o tempo todo me lembrando de que não consigo me defender sozinha."

"Ah, claro!" Respondi, ironicamente. "O cara é uma piada. Achei que seu
gosto era mais refinado do que isso, MacDonald."

"Bom, eu saí com você. Meu gosto deve ser realmente duvidoso!" Ela disse,
desafiadoramente.

"Por que é que você está com raiva de mim?!" Perguntei, erguendo as mãos.

"Porque você acha que pode fazer uma cena só porque está com ciúmes!"
Ela respondeu, zangada.

"Eu não estou com ciúmes!" Falei, ofendido. "Você está doida se acha isso,
sinceramente! Ciúmes! Pelo amor de Merlin..."

"Que bom, porque se você não está lembrado, foi você quem terminou as
coisas entre nós!" Mary disse, apontando o dedo para mim.

"Porque eu queria proteger você, Mary! Quantas vezes eu vou precisar dizer
isso?!" Perguntei, furioso.

"Ugh! Você é insuportável!" Ela resmungou alto, revirando os olhos.

"E você é implicante demais!"

203
"Você é tão cheio de si achando que fiz isso só para te deixar com ciúmes,
não é?!" Ela disse, olhando bem nos meus olhos.

"Não sou cheio de mim!" Respondi, na defensiva, também a encarando.


"Você é quem é querendo me provocar com um cara desconhecido!"

Nos encaramos com raiva por alguns segundos muito longos. Meu Deus,
Mary era inacreditavelmente irritante, e irritantemente linda...

Ela se inclinou para pegar as cervejas amanteigadas que havia pedido,


ficando muito perto de mim, e eu consegui sentir o cheiro do perfume dela
atravessar as minhas narinas como uma lâmina. Implorando para que eu
apenas a arrastasse para o banheiro e arrancasse sua roupa de uma vez. Eu
estava tão irritado com ela que poderia beijá-la agora mesmo.

"Eu duvido que você grite o nome dele como gritava o meu." Sussurrei no
ouvido dela, enquanto ela ainda estava inclinada.

Consegui sentir a respiração dela falhar por alguns segundos, ela pegou a
bandeja de cervejas e se aproximou do meu rosto, sussurrando. "Cheio de
si." E então, voltou para a mesa.

Não era possível que alguém conseguisse ser tão teimosa como ela. Eu,
claramente, fiz tudo que fiz para mantê-la segura e ela me agradece trazendo
um cara qualquer para um lugar com os nossos amigos. Não é possível que
ela realmente esteja gostando desse cara. E não é possível que eu esteja tão
preocupado com isso tendo um milhão de outras coisas para me preocupar.

Fui direto do balcão até o banheiro, passando pela mesa em que estavam
todos juntos.

"Reg," Remus me chamou, parecendo nervoso. "Onde você está indo?!"

"Banheiro."

"Hm... ok, mas não demore muito, certo?!" Remus disse, e eu assenti, um
pouco confuso.

O banheiro do Três Vassouras estava vazio. Me inclinei na pia, liguei a


torneira e passei as mãos molhadas no meu rosto. Passei um tempo
encarando meu próprio reflexo. Eu precisava tirar Mary da cabeça. Eu sabia
que precisava urgentemente porque a única coisa que eu estava conseguindo

204
pensar, naquele banheiro, era ela entrando lá comigo e não se importando
com o tal do Connor ou com as outras pessoas que veriam nós dois entrando
juntos. Deixaríamos o bar inteiro com inveja.

Assim que mergulhei meu rosto na pia para molhar de novo, escutei um
barulho atrás de mim. Mesmo com os olhos fechados, minha mão foi direto
até à minha varinha. Quando se é procurado por comensais da morte, esse
tipo de coisa vira instinto.

"Quem está aí?!" Perguntei, virando de uma vez para trás.

"Você sabe muito bem que gosto de fazer uma boa entrada, Reg." Essa voz.
Não, não, não, não pode ser.

"Barty?!" Perguntei, agora assustado, com a varinha ainda levantada, depois


que ele saiu de trás da porta de um dos boxes. "O-o que você está fazendo
aqui?!"

"Não precisa se preocupar, Reg," Ele disse, sorrindo como um maníaco.


"Você não sentiu a minha falta?!" Ele completou, fingindo tristeza.

"Se você fizer qualquer coisa, eu mato você." Respondi, com a varinha
apontada para ele.

"Ah, Reg, você precisa relaxar!" Ele estava brincando com a varinha nos
dedos, andando em círculos pelo banheiro. "Eu conseguia fazer você relaxar
direitinho quando dormíamos no mesmo dormitório, você não lembra?" Ele
sorria como um louco.

"Onde estão os outros?!" Perguntei. "Não me diga que o Lorde das Trevas
foi burro o suficiente para mandar só você atrás mim." Falei,
sarcasticamente, porque essa era a única língua que Barty entendia.

"Eles nem sabem que eu estou aqui, seu idiota, apesar de que Bella ia adorar
saber como foi fácil te pegar..." Barty disse. "Eu vim por mim mesmo,
porque você tem nos dado muito trabalho ultimamente, sabia disso?!" Ele
disse, ainda sorrindo. "Fiquei sabendo do seu casinho com a sangue-ruim lá
fora, confesso que fiquei com ciúmes." Ele disse, cinicamente.

"Se você ousar encostar nela, vou fazer você sofrer tanto que esse sorrisinho
finalmente vai sumir do seu rosto, seu desgraçado." Respondi, furioso.

205
"Ah, Reg, você foi um menino muito mal, sabia?! Nos virando as costas
desse jeito... virando as costas para mim!" Barty gritou agora. "Eu é quem
sou seu melhor amigo! Você achou que ia fazer isso comigo e eu não ia
reagir?!" Ele voltou a sorrir. Barty sorria como um maníaco, e seus olhos
lacrimejavam o tempo inteiro, como se ele estivesse o tempo todo chapado.

"Reducto!" Lancei da minha varinha, mas ele foi mais rápido e se protegeu.

"Ah, Reg, não procure uma briga que você vai obviamente perder..." Barty
disse, com um olhar sombrio. "Eu enfeiticei o banheiro. Ninguém lá fora
pode nos ouvir. Você pode fazer quanto barulho quiser..."

"Diga logo o que você quer." Ordenei, ainda com a varinha apontada. "Se
você quisesse me matar, já teria matado."

"Vim levar você de volta, Reg," Ele respondeu, dando de ombros. "Até
aquele amigo do seu irmão está com a gente agora, mesmo ele sendo
praticamente inútil. Vim levar você de volta para o lugar que você realmente
pertence. Com os comensais, com o Lorde das Trevas, e comigo."

"Você só pode estar brincando!" Respondi, sorrindo também. "Sua viagem


foi em vão, amigo. Você pode voltar e dizer para aqueles vermes que eu só
volto morto."

"Ah, Reg, você sabe que eu não teria coragem de te matar!" Ele disse,
fingindo um sorriso amigável. "Você sabe que eu não consigo viver sem
você..." Barty sorriu, chegando perto de mim.

"Se você encostar um dedo em mim," Respondi, me afastando. "Ele terá um


comensal à menos."

"Isso é por causa do seu irmãozinho traidor?! Ou por causa daquela sangue-
ruim?!" Barty debochou. "Você não costumava me rejeitar assim, Reg..." Ele
ficou sério de novo. "Tudo bem, vamos fazer um trato, ok?! Eu largo a minha
varinha se você largar a sua."

"Nem fudendo." Respondi, quase cuspindo.

"Ah, qual é," Ele disse, abaixando a mão e colocando a varinha em cima da
pia. "Está vendo?! Você pode confiar em mim... Não estou mais com a minha
varinha."

206
Eu continuei armado, mas estava mais nervoso do que não me sentia há
muito tempo. Eu conhecia Barty, ele não era misericordioso. E não aceitava
um não como resposta, em qualquer que seja o sentido.

"Vamos, Barty," Disse. "Qual é o seu jogo?! Eu conheço você, você sempre
joga."

"Ai." Ele disse, pondo a mão no peito. "Assim você me ofende, Reg." Ele
ficou sério novamente. "Olhe, só quero conversar com você, ok? Nós somos
amigos, você sabe disso!"

Barty foi rápido demais. Eu estava concentrado nas palavras dele, quando
ele puxou a varinha de uma vez da pia e conseguiu me desarmar, me pegando
desprevenido.

"Opa." Barty disse, sorrindo. "Acho que agora vai ter que ficar sem a varinha,
de um jeito ou de outro." Ele me lançou um feitiço que me deixou grudado
na parede, sem conseguir sair de jeito nenhum e depois colocou as duas
varinhas em um canto no chão. "Agora nós podemos conversar como pessoas
normais, não é?"

"Barty, me dá a minha varinha." Disse, não conseguia mais mascarar o meu


medo. Eu estava tão assustado. Conheço Barty, conheço Barty...

"Relaxa, Reg..." Barty disse, chegando perto de mim. "A gente costumava se
divertir tanto antigamente..."

"Eu sei disso, Barty," Respondi, sussurrando. "Mas as coisas mudaram."

"Por causa dela?!" Ele perguntou, chegando perto demais e eu não tinha para
onde correr, eu estava na parede e ele estava bem na minha frente. "Ah,
Reg..." Ele passou a mão no meu rosto. "Você sabe que não gosto quando
você me diz não."

"Não encosta essa sua mão em mim." Falei, virando o rosto de uma vez
quando ele tocou. "Ou você aceita o não ou você vai ter que me matar."

"Você não quer brincar?!" Barty disse, sorrindo e me olhando de cima à


baixo, passando a mão do meu peito até a minha barriga.

"Não, Barty, não quero." Respondi, seriamente. Nunca fiquei tão assustado
na minha vida.

207
"Shhh." Ele cobriu a minha boca com a mão. "Se o único jeito de te trazer de
volta for te lembrando o quanto você sente a minha falta... Então, por mim,
não tem problema."

A mão livre dele abriu os botões da minha camisa e ele começou a passear
com ela pela minha barriga. Eu quis gritar, mas a mão dele apertou tanto a
minha boca que eu tinha certeza que se ele me deixasse vivo, eu ficaria com
o rosto roxo por dias. Queria ter feito alguma coisa, queria ter conseguido
fazer, mas eu estava tão, tão, tão assustado.

Ele começou a passar a língua no meu pescoço e o corpo dele estava tão
colado no meu que eu conseguia sentir ele enrijecido contra a minha perna.
Até que ele tirou a mão da minha boca e me beijou, me impedindo de dizer
qualquer coisa.

"Se você reclamar, mato todo mundo que está nesse bar." Barty disse,
olhando dentro dos meus olhos. "Inclusive, seu irmãozinho." Ele arqueou a
sobrancelha. "Você vai voltar, Reg. Você vai ver..."

Eu estava com os olhos arregalados, sabia que Barty estava falando sério. Se
eu o impedisse, ele faria uma massacre. E o pior, provavelmente chamaria
reforços para ajudá-lo. Eu não podia fazer nada.

Ele voltou a me beijar, até que o beijo ficou molhado demais porque eu
estava chorando. E então ele abriu a minha camisa e passou as duas mãos
por todo o meu corpo, enquanto beijava o meu pescoço. "Tinha me esquecido
de como você é lindo." Ele sorriu e me beijou outra vez, descendo a mão
para o meu cinto e tentando abrir. Até que finalmente, conseguiu.

"Barty." O chamei, mas sabia que ele não escutaria. Ele começou a passar a
língua no meu pescoço e abriu o zíper da minha calça, enfiando a mão dentro,
por cima da cueca. Meu corpo inteiro foi tomado por um medo absurdo. Um
medo diferente do medo que eu sentia da minha mãe, diferente do que eu
sentia até de mim mesmo.

"Você é meu, Regulus." Ele sussurrou no meu ouvido. E brincou com os


dedos na borda da minha cueca, pronto para finalmente colocar a mão por
dentro dela.

Mas antes que ele conseguisse, a porta do banheiro foi totalmente explodida.
Barty teve que se abaixar para os pedaços de madeira não machucarem o

208
rosto dele. As pessoas do bar começaram a aparecer na porta, assustadas.
Algumas aparatando por medo.

"O que você está fazendo com o meu irmão, seu filho da puta?!" Sirius
entrou, cego de ódio, com a varinha nas mãos, seguido de Remus e James,
lançando um feitiço em Barty que o deixou atordoado.

"Regulus!" Era a voz desesperada de Mary. "Ah, meu Deus! Lily, pelo amor
de Deus, venha aqui!" Lily correu até a parede onde eu estava e fez um feitiço
que me tirou de lá. Eu caí para frente, fraco de tanto medo, mas Mary me
segurou, beijando a minha testa. "Tudo bem, você está bem agora, você está
bem agora..."

"Não se preocupe, Reg," Marlene veio até mim, vendo meu rosto roxo.
"Vamos tirar você daqui e eu mesma vou cuidar de você!"

"Por que suas roupas estão abertas assim?!" Lily perguntou, preocupada, eu
não sabia como responder.

"Lily." Mary disse, olhando para Lily e apenas balançou a cabeça, Lily
pareceu entender.

Sirius parecia ter preferido resolver as coisas do modo trouxa. James segurou
com força os braços de Barty para trás e Sirius o acertava um soco atrás do
outro, ele socava tanto o rosto dele que achei que ele perderia todos os dentes,
Remus pegou ele pela gola do casaco e o jogou no chão, dando um chute na
sua costela.

"Se você chegar perto dele outra vez, eu mato você com as minhas próprias
mãos." Remus disse, cuspindo no pé de Barty, que estava com o rosto todo
quebrado agora.

"Esperem aí." Falei, me soltando dos braços de Mary. Fui até o canto do
banheiro onde Barty havia jogado nossas varinhas. Depois de guardar a
minha, peguei a dele e segurei na frente dele. "Você tá vendo isso aqui, seu
filho da puta?!" E a quebrei no meio, em dois pedaços diferentes. "Espero
que Azkaban parta você ao meio desse jeito!" Joguei a varinha quebrada fora
e dei um chute forte no saco dele, enquanto ele ainda estava deitado.

"Ele vai pegar você, Regulus!" Barty disse, com a voz abafada de dor, ainda
conseguindo sorrir como um psicopata. "Ele sabe que você está tentando
destruí-lo! O Lorde das Trevas sabe!"

209
"Cala a boca, seu merda!" James gritou, apontando a varinha para ele. Mary
correu até onde eu estava e me abraçou forte outra vez. Lily pôs a mão no
meu ombro direito e Marlene no esquerdo.

Vários aurores aparataram de todos os lados no bar, entrando rapidamente


dentro do banheiro e pegando Barty. Ele ainda sorria, mesmo sendo preso.

"Ele vai matar todos vocês!" Ele dizia, gargalhando. "Ele vai matar todos,
um por um!"

E então, aparataram com ele.

"Reg!" Sirius disse, assim que Barty sumiu. "Merlin, você está bem?! Pegue
isso!" Ele enrolou o casaco dele em mim.

"Eu sabia que havia algo de errado!" Remus exclamou. "E quando você
demorou, eu imaginei que algo estava acontecendo."

Mary não soltava a minha cintura de jeito nenhum.

"Ele machucou você, Reg?!" Lily perguntou, preocupada, segurando meu


ombro, "Nós vamos cuidar de você, não se preocupe..."

"Vocês podem só não..." Falei, tentando não parecer grosso. "Não me tocar
muito."

Lily arregalou os olhos para mim, entendendo perfeitamente o que eu queria


dizer. Mary quase me soltou, mas eu a segurei, a impedindo de sair. Por
algum motivo, o toque dela era o único que não me incomodava.

"Vamos!" Marlene disse. "Vamos aparatar para a casa de Sirius!"

***

Passei alguns dias sem sair do quarto. Sirius e Remus traziam o almoço e o
jantar. Marlene vinha checar meus machucados dia sim dia não. Lily e James
estavam aqui todos os dias para se certificar de que eu estava bem. Pandora
estava indignada.

210
"Eu teria o matado!" Pandora gritou, em uma tarde em que foi me ver. "Eu
teria o torturado e cortado aquela coisa que ele tem no meio das pernas em
pedacinhos e dado para cachorros comerem!"

"Eu sei que você teria." Respondi, sorrindo fracamente.

"Ah, Reg," Pandora disse, encostando a cabeça no meu ombro. "Não consigo
nem pensar em alguém machucando você dessa maneira."

Pandora foi a única para quem contei em detalhes o que aconteceu. Eu tive
inúmeras crises de pânico sozinho no quarto durante os dias em que passei
sem sair. Não conseguia parar de pensar em que ponto as coisas chegaram
para Barty ter me procurado e feito isso. Sirius tentou me abraçar algumas
vezes, mas eu simplesmente não conseguia. Qualquer outra pessoa
encostando em mim, eu me lembrava dele. Sempre dele.

"Ei, Reg," Remus disse, batendo na porta. "Mary está aqui."

"Hm, tudo bem," Respondi. "Ela pode entrar."

Ver Mary passar pela porta foi com certeza o ponto alto da semana. Ela
estava linda, como sempre. Com os cachos bem formados e um vestido
laranja com detalhes brancos.

"Oi." Ela disse, sorrindo um pouco. "Trouxe isso para você." Ela estendeu a
mão e me deu uma flor.

"Que irônico." Respondi, soltando um sorriso fraco e pondo a flor na mesa


ao lado. "Como você está?"

"Como eu estou?!" Ela sorriu, se sentando do meu lado na cama, bem perto
de mim. "Você é quem está aí de cama e pergunta como eu estou?"

"Eu me preocupo com você." Respondi, simplesmente.

"Quero saber como você está." Ela disse, pondo a mão na minha. "É minha
vez de cuidar de você."

"Eu... eu não sei," Respondi, engolindo em seco. "Acho que eu me sinto um


pouco estranho."

211
"Eu sei o que aconteceu." Mary disse, com os olhos fixos nas nossas mãos.
"Soube no momento em que vi você."

Ficamos em silêncio por um tempo.

"Ele não chegou a... a realmente me tocar," Falei, de repente. "Mais um


minuto, e ele teria conseguido, mas... mas não conseguiu."

"Entendi." Mary disse, afirmando com a cabeça. "Mas eu sei como é difícil
pensar nesse tipo de coisa, mesmo que ele tenha apenas tentado..."

De repente, minhas entranhas gelaram. "Você... sabe?!"

"Caras são idiotas, Reg." Mary disse, sem olhar para mim. "Não acho que
exista uma mulher que nunca passou por algo parecido."

"Quem foi?!" Perguntei, sentindo a raiva crescer. A ideia de Mary ter


passado por aquilo me deu energia para matar alguém se fosse preciso.

"Um babaca da Grifinória." Mary disse, revirando os olhos. "Eu estava no...
no quinto ano. E, você sabe, eu gostava de namorar. Gostava de me vestir
como queria, de eu mesma decidir o tamanho da minha saia ou o tamanho
do meu decote. Eu gostava de saber que tinha o controle das coisas até que...
até que um dia eu não tive."

"Ele foi longe demais com você?" Perguntei, tentando não parecer invasivo.

"Eu consegui correr." Mary disse, afirmando com a cabeça. "Eu estava à fim,
entende? Eu queria no início, então... então, quando, de repente, eu não me
senti mais confortável... ele ficou furioso e não admitiu que eu o rejeitasse.
Ele começou a me xingar e dizer que eu tinha que deixá-lo fazer o que ele
quisesse porque eu era fácil e sempre deixava os garotos fazerem esse tipo
de coisa."

"Tirando vocês," Disse. "Odeio grifinórios"

Mary sorriu fracamente. "Como você está se sentindo? Digo... de verdade."

"É estranho..." Eu comecei. "Eu acho que fiquei em choque nos primeiros
dias porque não tive noção do que tinha acabado de acontecer... mas depois,
eu... eu tive essas crises e não sabia direito como reagir," Mary levantou os

212
olhos para mim. "Eu me senti vulnerável. Como se... como se meu próprio
corpo..."

"Não fosse mais meu." Eu e Mary falamos em uníssono e eu a encarei.

"Isso." Confirmei. "Exatamente isso. Não consegui tocar muito em ninguém,


porque lembro das mãos dele em mim o tempo todo... E só contei realmente
o que aconteceu à Pandora porque, sabe, é Pandora. Fico pensando que não
consegui pará-lo ou me defender... e que se tivesse tido mais coragem e
menos medo, poderia ter feito algo... Não sei, acho que não sei ainda como
me sinto."

"Você e ele tinham alguma coisa?" Mary perguntou, ainda me olhando.

Demorei um pouco a responder, porque não havia contado disso para muitas
pessoas. "Sim." Assenti. "Sim, nós... nós tínhamos. Mas fazia muito tempo."

"Você gostava dele?" Ela perguntou.

"Na época, eu achava que sim," Falei. "Eu era muito novo e deixava Barty
fazer o que quisesse comigo. Eu achava ele um máximo."

"Isso deve ter o irritado." Mary disse. "Saber que ele tinha você na palma da
mão e agora simplesmente não tem mais."

"É, acho que sim." Assenti.

"Sabe, Reg," Ela disse. "Você só precisa saber que isso não foi sua culpa,
entende? Não importa se você não conseguiu se defender, ou não conseguiu
parar ele, a culpa continua sendo dele, ok? Não existe explicação para o que
ele fez, ele apenas é uma pessoa ruim que está no lugar que merece agora."
Ela segurou meu rosto com as mãos. "Você é uma pessoa boa e isso que
aconteceu está longe de definir algo sobre você."

Sem eu nem mesmo perceber, meu rosto começou a ficar molhado com
lágrimas e eu afundei o rosto no ombro dela. Ficamos ali um bom tempo,
apenas aproveitando a companhia um do outro.

"Ei, Mary." Chamei, fazendo-a me olhar.

"Hm?!"

213
"Eu sinto muito." Falei. "Também não foi culpa sua."

Ela sorriu fracamente e voltou a me abraçar. E se eu pudesse pedir uma única


coisa na minha vida inteira, eu pediria para poder ficar ali com ela para
sempre.

***

"Bom dia, Six!" Exclamei, saindo do quarto um dia após ver Mary. "O que
tem para o café?!"

"Você está bem, Reg?!" Sirius perguntou, se levantando e indo até mim.

"Sim." Respondi, simplesmente. "Onde Remus está?!"

"Ele foi em uma missão ontem à noite, estou esperando ele chegar." Sirius
disse, um pouco preocupado.

"Missão?!" Perguntei, colocando o café na xícara. "Espere, mas ontem foi


lua cheia, não foi?!"

Sirius assentiu, sombriamente.

"Eu achei que vocês passavam todas as luas juntos." Disse. "Você, ele,
James..."

"E passamos... mas Dumbledore tem enviado Moony em algumas missões


durante a lua cheia, sabe... para ele espionar os lobisomens." Sirius disse.

"Você tá brincando comigo que aquele cara manda Lupin, um cara de


dezenove anos, para pegar informações com Greyback?!" Falei, quase
cuspindo o café.

"Você o conhece?!" Sirius perguntou, surpreso.

"Ele é aliado dos comensais." Falei, pondo a xícara na mesa. "O cara é
sinistro."

"Foi ele quem mordeu Remus." Sirius disse, parecendo um pouco triste.

214
"Uou, uou, uou! Espere aí, outra vez!" Falei, agora largando o café. "Remus
vai à missões em forma de lobo para ganhar a confiança do cara que
transformou ele?! Isso é doentio, Sirius!"

"Eu também não gosto disso, Reg." Sirius disse. "Mas Dumbledore e Moody
dizem que é necessário e..."

"Dumbledore e Moody podem chupar o meu pau, Sirius!" Exclamei. "Deus,


como é que vocês deixam eles fazerem esse tipo de coisa com vocês?! Os
ataques continuam acontecendo, Remus arriscar a vida não está ajudando em
nada! Nós nem temos idade para isso!"

"Espero que ele esteja bem, apenas isso." Sirius disse, ainda triste, como se
já tivesse passado várias outras noites preocupado se Remus voltaria ou não
vivo para casa. "Mas e você? O que vai fazer para achar o diário e a taça?"

"Pandora acha que está com um dos comensais."

"Você não vai nem chegar perto de nenhum deles outra vez, mocinho." Sirius
disse. "Nem por cima do meu cadáver."

"Não perto de qualquer um, Sirius." Respondi. "Tem alguém que, com toda
a proteção da Ordem, é claro, eu até poderia tentar me encontrar."

"Regulus, nenhum comensal vai ajudar você." Sirius disse, seriamente. "Não
seja idiota."

"Essa pessoa nem tem realmente a marca, Sirius." Respondi. "E ela não é
totalmente leal ao Lorde das Trevas, ela é leal ao que interessa à ela."

"Você não está pensando em..."

"Sim." Respondi. "Estou falando da nossa prima, Narcissa."

215
Capítulo 22: Dezenove

"Você está louco!" Sirius exclamou, andando de um lado para o outro na


sala. "Dumbledore nunca vai concordar com você se encontrando com
Narcissa!"

"Eu não ligo." Respondi, dando de ombros. "Honestamente, a permissão dele


ou de Moody é a última coisa com que me importo agora, Sirius."

"Moony, diga alguma coisa!" Sirius disse, pedindo a ajuda de Remus.

"Acho que o tempo está passando e precisamos destruir logo todas as


horcruxes que conseguirmos." Remus disse, seriamente. "Desculpe, Pads."

"Não acredito nisso." Disse Sirius, erguendo as mãos.

"Vocês podem ir comigo, Sirius," Comecei. "Vocês podem se esconder, e se


eu precisar de ajuda, vocês vão ver. Então, nós apenas aparatamos e saímos
de lá."

"Estou com você, Reg, de verdade," Remus disse. "Mas não me leve à mal,
talvez você devesse realmente falar com Dumbledore. A proteção que a
Ordem pode te oferecer é muito maior."

"Me admira você, Lupin, confiar tanto nele." Falei, estreitando os olhos.
"Sirius me disse onde você passou a lua cheia a algumas semanas. Você não
pode realmente achar que isso é justo."

"É a guerra." Ele deu de ombros. "Certas coisas são necessárias."

"É o Greyback!" Exclamei. "Até Bellatrix não gosta do cara!"

"Ele deve ser realmente bizarro, então." Sirius disse.

"Você não devia ir nessas missões só porque eles mandam." Falei. "Você
não precisa."

"É engraçado você dizer isso, Reg," Remus disse. "Você é mais novo que
todos nós e quer se encontrar com uma comensal da morte."

216
"Porque isso sim vai ter algum efeito, Remus! Você arriscar a vida não vai."
Expliquei.

"Falando assim, parece até que você está preocupado comigo." Remus disse,
sorrindo.

"Não estou afim de ouvir Sirius chorando pela a sua morte o resto da minha
vida." Disse, dando de ombros.

"Também não quero chorar a sua, Reg!" Sirius exclamou. "Não salvei você
naquela caverna à toa!"

"Está achando que Cissy vai me matar?!" Perguntei, sorrindo. "Garanto à


você que não."

"Talvez, ela não, mas e o Malfoy?!" Remus perguntou. "Ele mataria, com
certeza."

"Se você for, eu vou com você." Sirius disse, terminantemente.

"Ótimo, vocês podem ficar escondidos e..."

"Não." Sirius me interrompeu. "Eu vou encontrar ela com você."

"Sirius, sua situação com a nossa família ainda consegue ser pior do que a
minha." Disse. "Eu sempre fui mais próximo de Narcissa, você sabe. Era
você com Andy, eu com Cissy e Bella com... não sei, o diabo, eu acho. A
questão é que se ela ver você, talvez as coisas fiquem complicadas."

"Não gosto disso, Regulus." Sirius resmungou, se levantando.

Sirius estava irredutível quanto à ideia de eu ver Narcissa. Ele passou dias
me seguindo pela casa, listando todos os motivos existentes do porquê eu
não deveria fazer isso. De como era perigoso eu me encontrar com uma
aliada do Lorde das Trevas em pleno lugar público. Qualquer passo errado e
o lugar poderia virar um massacre.

Pandora era mais racional quanto ao assunto.

217
"Você precisa de toda proteção possível." Ela disse, quando fui até à casa
dela para contar. "Você não tem como saber se ela também não vai levar
alguém."

"Ela precisa achar que estou lá sozinho." Disse. "Precisa achar que confio
nela, para que ela possa confiar em mim."

"Narcissa é esperta, ela não vai confiar em você se você não der motivos."
Pandora disse. "Você precisa ter alguma carta na manga para convencê-la.
Precisa de uma moeda de troca."

"Merlin, Pandora, falando assim, parece que eu vou fazer um pacto com o
diabo."

"É literalmente o que você vai fazer, Reg." Ela completou. "Narcissa vai
precisar ser muito bem persuadida para dar alguma informação que você
precise."

"Vou pensar em alguma coisa." Disse, pensativo.

"Tem certeza de que você não quer falar com Dumbledore?!" Ela insistiu
"Você estaria bem mais protegido se deixasse ele ajudar você."

"Não quero." Respondi. "Ele está mandando Remus em missões com


lobisomens, você acredita?!"

"E por isso você não vai procurá-lo?!" Pandora perguntou.

"Sim." Respondi, dando de ombros. "Lealdade."

"E Sirius? Ele está de acordo com isso?" Pandora perguntou.

"Não mesmo." Respondi. "Mas ele sabe que não tem escolha, não consigo
ver outro jeito para fazermos isso."

"Isso é uma merda." Pandora disse, se jogando em seu sofá.

Eu só precisava falar com James e Lily agora. Eu não estava esperando que
eles se oferecessem para ir comigo também, porque James agora seria pai e
a minha cota de mulheres perdendo o filho porque estavam tentando me

218
ajudar já acabou por essa vida. Apesar de eu não estar indo pedir permissão,
eu gostaria de saber o que eles achavam sobre o assunto.

"Ei, cara! Que bom ver você!" James abriu a porta. "Hm... ok, vamos fazer
isso. Qual foi a minha reação quando descobri que Lily estava grávida?"

"Você ficou pálido como uma parede e tivemos que segurar você para não
bater com a cabeça no chão." Respondi, sorrindo.

"Pode entrar!" James disse com um sorriso, dando espaço para eu entrar.

"Reg!" Lily veio da cozinha, a barriga dela já estava aparecendo, era incrível
como ela parecia tão diferente, mas ao mesmo tempo tão feliz. "Que bom
que está aqui! Você quer chá?"

"Sim, quero sim, obrigado." Agradeci. "Como você está Lily?" Perguntei me
sentando na mesa da cozinha.

"Muito feliz!" Ela estava radiante, enquanto esquentava a água quente. "É
um pouco cansativo, a barriga e tudo mais... mas definitivamente nunca
estive tão feliz!"

James veio até a cozinha, sorrindo ao ouvir Lily tão feliz. E a deu um abraço
por trás, beijando o seu rosto. Acho que nunca vi os dois tão felizes. Eles
eram absolutamente feitos um para o outro. Como se cada parte de James
tivesse sido criada para amar cada parte de Lily e vice-versa. O bebê deles
seria a criança mais amada do mundo.

"E então, Reg?" James disse, puxando uma cadeira para se sentar. "A que
devo a honra?!"

"Queria saber o que vocês dois acham sobre uma coisa." Respondi,
diretamente, Lily sentou com o chá na mesa e os dois me encararam
seriamente. "Preciso de pistas sobre onde as próximas horcruxes estão... e
decidi falar com alguém que eu sei que realmente vai ter informações úteis
para mim."

"Não consigo pensar em nenhum comensal que você possa realmente


confiar, Reg." Lily disse. "Além disso, Sirius surtaria completamente."

"Vocês lembram da minha prima?! Narcissa Black." Me corrigi. "Bom,


Malfoy agora."

219
"Você não está pensando em..." James começou.

"Sim, é exatamente isso." Respondi. "Mas me deixem explicar. Eu não iria


sozinho, Pandora, Sirius e Remus estariam escondidos, prontos para me
ajudar se algo acontecesse. E eu teria algo para negociar com ela, algo como
uma moeda de troca."

James e Lily se entreolharam preocupados, e ele disse. "Eu vou com vocês."

"Não posso te pedir isso, James." Balancei a cabeça. "Lily está grávida, não
vou tirar de você de casa para te colocar em perigo."

"Regulus." James disse, seriamente. "Eu não deixo meus amigos lutarem
suas guerras sozinhos. Eu vou com você."

"E você, Lily?!" Me virei para ela. "Se você não estiver confortável com isso,
você pode me dizer."

Lily olhou para James e depois para mim, e segurou na minha mão, sorrindo
fracamente. "Família, Reg. É isso que fazemos uns pelos outros."

***

"Reg! Reg! Reg! Acorde!" Sirius entrou no meu quarto, transbordando


animação e se jogando na minha cama. "Feliz aniversário!"

Tudo bem, vamos falar sobre isso. Eu gosto de aniversários, não sou tipo
aquelas pessoas amarguradas que dizem 'não gosto de aniversários'. Mas o
problema é o meu aniversário. Nunca vi muito sentido em comemorar, ainda
mais quando ainda morava na mansão. Meus aniversários nunca foram do
jeito que eu queria e mamãe sempre me obrigava à convidar pessoas que eu
nem conhecia direito, familiares que eu nem sabia o segundo nome. A única
parte boa era que eu e Sirius tínhamos uma tradição de sempre irmos ver as
constelações do parapeito do quarto dele quando todos já tivessem ido
dormir. Fazíamos isso tanto no aniversário dele quanto no meu, em
homenagem aos nossos nomes.

Naquela manhã, Andrômeda me mandou uma carta de aniversário.

"Reg,

Feliz aniversário, primo! Estou morrendo de saudades!

220
Perguntei à Sirius o que você gostaria de ganhar de aniversário e ele me
deu algumas ideias, espero que você goste do que mandei à você!

Se precisar de mim para qualquer coisa, não hesite em escrever. Somos


família. Eu, você e Sirius precisamos ficar juntos, principalmente esses
tempos.

Venha nos visitar quando você puder, você é sempre bem vindo!

Mande um beijo para Sirius e Remus.

Com amor e carinho,

Andy."

Andrômeda havia me dado um par de coturnos trouxas, coincidentemente


muito parecidos com os de Sirius. De repente, minha mente deu um estalo.
Como diabos eu não pensei nisso?! Peguei um pergaminho e comecei a
escrever imediatamente.

"Andy,

Muito obrigada pela carta e pelo presente! Também estou com muita
saudade!

Na verdade, há sim algo em que queria que você me ajudasse. Mas acho que
precisamos conversar pessoalmente sobre isso.

Tem a ver com Narcissa.

Sei que vocês duas não se falam há bastante tempo, então se você não se
sentir confortável em me ajudar, eu vou entender, sem nenhum problema.

Irei até a sua casa ao meio dia.

Obrigada de novo pelo presente! Eu adorei! Apareça quando puder!

Dê lembranças minhas à Ted e Nymphadora.

Com amor,

221
R.A.B."

Talvez eu estivesse pedindo muito à ela. A briga dela com Narcissa foi
horrível, pelo o que me lembro. Acho que o motivo de ter sido tão ruim é
que Narcissa e Andy eram mais próximas uma da outra do que qualquer outra
pessoa na família. Bella sempre foi louca, e sua lealdade sempre esteve mais
com Voldemort do que com qualquer outro ser humano. Mas Cissy e Andy
eram diferentes. Eram como eu e Sirius. E eles conseguiram destruí-las,
como fizeram com nós dois.

Mas se elas significavam tanto uma para outra como eu imagino, então havia
um jeito. Se tem alguém que Narcissa pode ouvir além de mim, esse alguém
é Andrômeda. Se houve um jeito para mim e Sirius, então existe um jeito
para elas. Narcissa só tem que escutar.

"Ei, Six!" Falei, pegando o meu casaco. "Eu vou até à casa de Andy, ok?"

"Que horas você volta?!" Sirius perguntou, parecendo alarmado.

"Hm... não sei, antes do sol se pôr, acho." Respondi, dando de ombros. "Por
quê?!"

"Por nada!" Ele respondeu, sorrindo. "Até logo, tome cuidado."

Nunca havia ido na casa de Andrômeda, Sirius com certeza já havia, mas eu
não. Era uma casa simples, comparada à casa que ela cresceu. A ideia dos
meus tios entrando em colapso vendo a vida que ela leva me fez rir.

"Regulus!" Ted foi quem abriu a porta, com um sorriso. "Feliz aniversário!"

"Obrigado!" Agradeci, sorrindo.

"Hm... não sei muito bem o que perguntar à você..." Ele disse, reflexivo.

"Pergunte à ele qual foi a brincadeira trouxa que eu o ensinei escondido dos
nossos pais quando éramos crianças!" Andy gritou, vindo com um sorriso
até a porta.

"Você desenhava números no chão dentro de quadrados e tínhamos que pular


dentro deles até chegar no fim!" Respondi, sorrindo com a memória. "Nunca
entendi o sentido daquilo."

222
Andy bagunçou meu cabelo e pôs a mão nos meus ombros. "Venha! Temos
muito assunto para colocar em dia!"

Assim que entrei na sala de estar, Nymphadora passou correndo pela sala,
com uma energia caótica e animada, com os cabelos cor de rosa bagunçados.

"Ei, Dora! Olhe só quem veio nos ver!" Andrômeda disse, apontando para
mim.

"Tio Reg!" Ela correu até mim, e envolveu os braços pequenos na altura da
minha cintura, me pegando desprevenido. "Feliz aniversário!"

"Ei, você!" Respondi, a abraçando de volta e me agachando na sua frente.


"Como você está, huh?"

"Bem!" Ela respondeu, sorrindo para mim. "Quantos anos você tá fazendo?!"

"Dezenove." Respondi. "E você, hein? Já tem quantos?" Ela levantou sete
dedos nas mãos. "E está ansiosa para ir à Hogwarts?"

"Muito!" Ela exclamou, radiante. "Mas mamãe disse que é para eu tomar
cuidado com crianças más que queiram mexer comigo por causa do meu
cabelo, ou porque sou diferente..." Ela disse, um pouco triste.

"Ei." Eu segurei o seu queixo. "Se alguma criança mexer com você lá,
escreva uma carta para mim, ok?! Você promete?!" Disse, sorrindo,
levantando o mindinho para ela.

"Sim!" Ela se alegrou novamente, entrelaçando o mindinho no meu, e depois


indo correndo para os braços de Ted.

"Ela é incrível." Elogiei-a para Andy, que se sentou em um banco de madeira


na varanda da casa.

"Sim, ela é maravilhosa." Andy disse, sorrindo. "Eu recebi sua carta."

Engoli em seco e me sentei ao seu lado. Vamos fazer isso.

"O que você achou?" Perguntei, um pouco nervoso.

223
"Fiquei curiosa para saber porquê você está querendo ver Narcissa,
levantando em conta à situação atual." Ela respondeu, arqueando a
sobrancelha.

"Tudo bem, hm..." Comecei, tentando encontrar as palavras. "Eu estou


fazendo uma coisa. Uma coisa que poucas pessoas sabem porque não é
seguro que a Ordem inteira saiba. Então, você tem que me ouvir com bastante
atenção, ok?!"

Ela assentiu e eu contei tudo. Contei que estava atrás das horcruxes desde
muito antes da noite em que fui até à caverna, e de como foi preciso irmos
até Hogwarts para conseguir pegá-las e destruí-las, contei sobre Barty no
Três Vassouras - não necessariamente tudo - e contei cada detalhe de cada
coisa que havia acontecido desde o ano passado, qualquer coisa que pudesse
convencê-la de me ajudar. Ela escutou tudo atentamente, sem me
interromper.

"E agora você quer que eu ajude você a falar com Narcissa." Ela completou
e eu assenti.

"Sim."

"Olha, Reg, isso não vai ser fácil," Ela começou. "Você precisa de algo que
realmente interesse ela para fazê-la confiar em você. É quase como um tiro
no escuro."

"Isso quer dizer que você vai me ajudar?!" Perguntei, animado.

Ela pensou por um minuto, e então revirou os olhos e disse. "Tudo bem! Eu
vou com você!"

"Isso!" Comemorei. "Então, o que você acha que podemos usar?!"

"Estou com uma coisa em mente..." Ela disse, pensativa. "Mas pode dar ou
muito certo ou muito errado... também não sei se é certo fazer isso..."

"Andy, não tenho tempo para fazer o certo." Falei. "Preciso agir agora."

"Tudo bem, tudo bem!" Ela disse, erguendo as mãos. "Você está sabendo
que ela está grávida?"

"Grávida?!" Perguntei, alarmado. "Espere aí, o quê?!"

224
"Merlin, você e Sirius não leem o Profeta Diário naquela casa?!" Ela
perguntou. "Lucius e Narcissa saíram na primeira página, anunciando a
gravidez. Se o ministério soubesse quem Lucius é de verdade..."

"Coitado do filho de James e Lily." Lamentei. "Eles provavelmente irão


juntos para Hogwarts, então."

"O ponto é que," Andy continuou. "Se você usar isso, usar algo que beneficie
ela e o filho..."

"Vou ter ela na minha mão." Completei, abrindo um sorriso, as ideias


clareando na minha mente.

"Exatamente." Ela respondeu, satisfeita. "Mas temos que pensar com


cuidado no que vamos propor à ela, não podemos achar que ela vai largar
Lucius e se aliar à nós. Já vai ser um milagre se ela responder nossa carta."

"E eu digo à ela que você também estará lá?" Perguntei.

Andrômeda pareceu entristecer por alguns segundos, mas logo levantou a


cabeça novamente. "Não, não diga. Mesmo você tendo virado as costas para
eles, ela tem mais mágoas comigo do que com você." Ela disse. "Quem
definitivamente não pode aparecer é Sirius."

"Eu disse à ele." Expliquei. "Ele não concorda em eu ir vê-la, mas concordou
em ficar escondido caso algo dê errado."

Andrômeda assentiu e me encarou por alguns segundos. "É bom estar com
você de novo, Reg." E então me abraçou forte e demoradamente. O que me
deixou ansioso e um pouco desconfortável. E passou a mão no meu rosto. O
que me provocou flashes de Barty fazendo exatamente a mesma coisa. Me
senti preso e sufocado.

"Hm... Sirius não quer que eu chegue tarde em casa," Disse, levantando o
mais rápido que podia. "Tenho que ir agora."

"Está tudo bem?!" Ela perguntou, confusa. Mas eu já estava à caminho da


porta, eu precisava urgentemente de ar puro.

"Sim! Eu... eu preciso realmente voltar para casa." Respondi, um pouco


rápido demais.

225
"Tudo bem..." Ela abriu a porta, ainda confusa e me deu um beijo na
bochecha, que eu quase não consegui sentir porque saí rápido de mais.
"Qualquer coisa, me escreva."

"Tudo bem." Respondi, e rapidamente aparatei de volta.

Não sei se algum dia vou conseguir deixar que outra pessoa encoste em mim
dessa forma.

Assim que desaparatei de volta para casa, respirei mais fundo do que nunca
tinha respirado antes. Não sei se eu aguentaria mais alguns minutos se eu não
tivesse saído correndo. Já fazem semanas, isso já deveria ter passado. Tudo
bem, não tenho tempo para pensar nisso agora. Preciso focar em coisas
realmente importantes. Meu estresse pós traumático pode esperar.

Enfiei a chave na porta e girei, pronto para ir direto para o meu quarto e só
sair de lá no ano que vem. Mas não foi o que aconteceu.

"SURPRESA!"

A casa estava cheia de pessoas, James e Lily obviamente, Pandora carregava


o bolo, Marlene e Mary, e o tal do Connor - honestamente, é meu aniversário,
o que esse cara faz aqui?! - Frank e Alice também, e, uau, acho que Alice
também está grávida porque a barriga dela parece estranhamente com a de
Lily. Emmeline Vance também estava lá, eu não a via a muito tempo. Sirius
e Remus eram os mais sorridentes de todos.

"O que é tudo isso?!" Perguntei, sorrindo. Não pude deixar de me sentir
emocionado.

"Isso, irmãozinho," Disse Sirius, vindo me abraçar. "É a sua festa de


aniversário trouxa!"

"Como assim trouxa?" Perguntei, confuso. "E que roupas estranhas são
essas?!" Deus, Mary quer me matar com esse vestido.

"São roupas trouxas, Reg!" Pandora disse, vindo até mim. "Agora vá colocar
a sua!"

"Mas eu não tenho roupas trouxas!" Respondi, ainda confuso.

226
"E por que você acha que pedi para Andy te dar de presente um par de
coturnos?!" Sirius perguntou, sorrindo, o que me fez gargalhar muito.

Todos começaram a gritar 'veste, veste, veste, veste!' até que eu finalmente
fui. Quando cheguei no quarto, havia uma roupa completa em cima da cama.
E um bilhete de Sirius dizendo 'se você não usar os coturnos, arrebento você',
o que me fez rir. Seria o primeiro aniversário que eu passaria com pessoas
de quem realmente gosto e que realmente considero como a minha família.
Eu, sinceramente, não podia estar mais feliz.

Eu estava vestido com uma camisa fina preta com as mangas compridas, um
jeans preto um pouco puído em alguns lugares e os famigerados coturnos
que Sirius tanto quis que eu usasse. Eu parecia um cantor jovem de uma
banda de rock que não fez sucesso.

"Ah, não!" Sirius apareceu na porta. "Suba essas mangas! Você está
parecendo um paciente de hospital!"

"Não posso subir a manga, Six." Respondi, arregalando os olhos.

"Mas todo mundo sabe quem você é, Reg!" Sirius insistiu. "E com a marca
e isso aqui," Ele retirou do bolso da jaqueta de couro preta um cordão
prateado com um cadeado como pingente e uma pulseira preta de couro.
"Você vai dar um medo danado em Connor..."

"Ok, passa essa coisa para cá." Concordei, subindo a manga e pondo a
pulseira grossa de couro preto e o cordão de Sirius.

"Se você deixasse eu maquiar você..." Sirius começou.

"Tudo tem um limite." Respondi, ele revirou os olhos. "Ok, estou pronto."

Assim que saí do quarto, todos aplaudiram e foram me cumprimentar.


Tocava Marc Bolan na festa e todos estavam conversando e rindo. Havia
tanta comida que ocupava a mesa da cozinha inteira e eu não daria nem meia
hora para Remus estar tendo que descer Sirius de alguma mesa. Mary era a
pessoa mais linda da festa, mas ela estava dançando com Connor, então
preferi deixar para lá. Pandora veio até mim e fez uma piada sobre bandas
de rock por casa da minha roupa, o que me fez rir muito, como quase tudo
que ela diz. James e Lily cantavam juntos as músicas do Bolan, mesmo que
com as letras erradas. Nunca fui muito bom em expressar o que eu sentia,
mas se fosse possível felicidade correr nas veias, eu sangraria apenas isso.

227
"Regulus?!" Conheço essa voz.

Me virei, curioso. "Emmeline?!" Perguntei, sorrindo quando a vi. "Merlin,


por onde você andou?!"

"Eu estive por um tempo na Suíça!" Ela disse tentando falar mais alto que a
música. "Depois Itália, África do Sul..."

"Uau!" Sorri admirado. "E o que você tem feito?!"

"Agora que voltei, tenho ajudado a Ordem com algumas coisas, sabe?!" Ela
disse e eu assenti. "Você está diferente."

"Diferente... bom?!" Brinquei, fazendo ela rir.

"Sim!" Ela gargalhou. "Você está muito bonito."

"Ah!" Exclamei, ainda sorrindo. "Você está linda também!" Eu não menti,
ela era realmente linda, Emmeline. Mas não tanto quanto aquele demônio de
vestido vermelho que me assombrava o tempo todo chamado Mary
MacDonald.

"Você quer..." Ela começou, sorrindo e pondo a mão no meu ombro. "Não
sei, sair daqui?"

"Agora?!" Perguntei. "Com você?!" Ela assentiu, ainda sorrindo. "Acho que
Sirius vai ficar chateado se eu sair..."

"Acho que ele vai entender." Ela disse, decidida. O braço dela no meu ombro
estava começando a me incomodar.

"Hm... talvez uma outra hora!" Respondi, me esquivando rapidamente para


a cozinha, onde Pandora, Lily e James estavam organizando as comidas.

"Fugindo de alguém, Reg?!" James perguntou, sorrindo.

"Nem me pergunte!" Respondi, dando um gole no meu copo.

"E nem é preciso." Pandora disse. "Emmeline estava praticamente comendo


você com os olhos!" Ela e Lily gargalharam.

228
"Não enche, Pandora." Revirei os olhos. "Vocês acham que Mary viu?!"

"Se quer saber, ela está sozinha agora," James disse, apontando para Mary
sentada sozinha no sofá. "Você pode ir até lá e perguntar."

E foi o que eu fiz. Atravessei as pessoas que estavam dançando no meio da


sala, consegui até passar despercebido por Sirius que já estava claramente
alterado. E cheguei até ela.

"Posso ficar aqui?" Perguntei e ela assentiu.

"Então," Mary começou. "Acho que estamos empatados agora, não é?"

"Empatados?!" Perguntei, confuso.

"Ah, Regulus, não preciso que você negue." Ela disse, sorrindo
sarcasticamente. "Se você quer ficar com Emmeline, você pode."

"O-o quê?!" Perguntei. "Isso não é um jogo!"

"Tudo bem!" Ela exclamou. "Só estou dizendo para não se sentir preso por
causa de mim, porque nós somos apenas amigos."

"Amigos." Afirmei. "Sim! Com certeza!"

"Você está sendo irônico?" Ela perguntou, desconfiada.

"Não!" Respondi. Nem eu sabia se estava. "Só estou confirmando o que você
disse."

"Ah." Ela respondeu, arqueando a sobrancelha. "Você está muito bonito, à


propósito."

"Obrigado." Agradeci, assentindo. "E onde está Connor, afinal?!" Perguntei.

"Foi pegar whisky de fogo para nós!" Ela respondeu, sorridente.

"Ah, sim!" Respondi, "Acho que vou pegar um para Emmeline, então."

"Você está falando sério?!" Mary perguntou, parecendo com raiva.

229
"Você acabou de dizer que está tudo bem!" Disse, confuso. "Nós somos só
amigos, não somos?" Se esse era o jogo que ela queria fazer, então faríamos.

"Você é inacreditável." Mary disse, revirando os olhos.

"Tudo bem, então."

"Tudo bem." Ela disse de volta.

"Ok." Assenti.

"Ok!" Ela exclamou.

"Você está linda."

"O quê?!"

"Nada." Balancei a cabeça. "Eu vou pegar outro desse aqui para mim."

"Tudo bem." Ela respondeu.

"Tudo bem! O que tantos 'tudo bem' querem dizer, afinal?!" Resmunguei
para mim mesmo, me levantando do sofá e indo até onde ficavam as bebidas.
Mulheres são tão estranhas.

"Grande Connor!" Exclamei, quando o encontrei. "Como você está, huh?"

"Estou bem, obrigado." Ele sorriu, me olhando por cima do copo. "Vi você
com Emmeline, vocês estão juntos ou algo assim?"

"Emmeline? Nah!" Respondi. "Somos só amigos."

"Então você gosta de Mary?" Ele perguntou, calmo até demais.

"Não." Menti. "Ela é sua namorada, cara."

"Sim, ela é." Ele disse, bebendo um gole da sua bebida. "Então, você não
gosta de ninguém?"

"Hm... na verdade, não." Menti outra vez.

230
"Mas com certeza alguém deve gostar de você, não é?!" Ele disse, sorrindo
e pondo a mão no meu ombro. "Quero dizer, você é muito bonito, realmente
bonito."

"Hm... obrigado." Agradeci, constrangido. "Mas não, não acho que alguém
goste de mim."

"Isso é bom, então," Ele disse, me olhando de um jeito estranho. "Acho que
agora entendi porquê você fica tentando me provocar quando estou com
Mary."

"Eu não tento provocar você." Respondi, franzindo a testa.

"Se não é por causa de Mary..." Ele passou os dedos pela minha clavícula.
"É por minha causa?"

"Do que você está falando?" Perguntei, confuso.

"Você sabe do que eu estou falando." Ele disse, se aproximando de mim. "A
gente pode sair daqui se você quiser."

Honestamente, a cena teria sido melhor se eu tivesse me aguentado. Deus


sabe que eu tentei, mas foi mais forte do que eu. Eu sorri tão alto na cara dele
que ele ficou muito confuso o tempo inteiro. Não conseguia parar de sorrir,
mesmo que tentasse. Minha barriga já estava começando a doer e meu peito
também. Ainda bem que é impossível morrer de rir, porque se não, eu
morreria na minha própria festa de aniversário.

"Cara!" Falei, ainda sorrindo. "Ai... calma..." Respirei fundo. "Você é um


babaca mesmo." Devia ter saído como um xingamento, mas eu estava rindo
muito ainda.

"Acho que não entendi." Ele respondeu, confuso.

"Você é um grandissímo idiota e aquela mulher ali é demais para você."


Falei, apontando para Mary. "E, aliás, você não é nem de longe o meu tipo."
Depois virei as costas, ainda sorrindo e ele ficou lá parado, com cara de quem
tinha visto um fantasma.

Sirius me puxou para o meio da sala desta vez, gritando a música no meu
ouvido. Marlene veio com uma garrafa grande de bebida na minha direção.

231
"Não, eu não vou fazer isso!" Falei, sorrindo.

"Ah, você vai sim!" Marlene disse, já virando a garrafa dentro da minha
boca.

Pandora me puxou para dançar quando as músicas do Queen começaram a


tocar, Sirius e Remus começaram a se beijar no meio de todos e cantar ao
mesmo tempo, Marlene estava tão bêbada que mal ficava em pé. E então,
começou a tocar Metal Guru do T-Rex e James, Sirius e Remus me puxaram
pela camisa e me subiram em cima de uma mesa, e nós quatro começamos a
cantar, bêbados, a melhor música que eu já tinha ouvido na vida.

"Metal Guru is it you, Metal Guru is it you

Sitting there in your armor plated chair, oh yeah

Metal Guru is it true, Metal Guru is it true

All alone without a telephone, oh yeah"

"Vamos, Reg, o mais alto que você conseguir!" Remus gritou, claramente
tão bêbado quanto todos nós. E então, cantamos alto até nossas gargantas
doerem, fazendo o próprio som do toca-discos parecer baixo perto da nossa
voz.

"Metal Guru could it be you're gonna bring my baby to me

She'll be wild you know a rock and roll child, oh yeah

Metal Guru has it been, just like a silver-studded sabre-tooth dream

I'II be clean you know pollution machine, oh yeah"

Eu estava atordoado com tanto barulho, mas sóbrio o suficiente para saber
que esse momento entraria para lista dos melhores da minha vida. Pela
primeira vez, em muito tempo, me senti acolhido e em paz. Eu era eu mesmo
e aquelas pessoas dançando e cantando à minha volta me amavam mesmo
assim. Era uma coisa surreal demais para se imaginar.

Consegui sair do meio de todos que estavam dançando, para poder encher
meu copo outra vez. Mary estava lá, sozinha mais uma vez.

232
"Sozinha outra vez?!" Perguntei, me intrometendo.

"Connor está estranho." Ela disse, franzindo a testa. "Ele disse que queria ir
embora e eu não entendi nada."

"Eu entendi." Respondi, sorrindo. "É porque ele é gay."

"O quê?!" Mary gritou, quase derrubando o copo.

"Ele é tipo, muito gay!" Respondi, sorrindo ainda mais. "Ele achou que eu
estava dando em cima dele."

"E você estava?!" Ela perguntou, arqueando a sobrancelha.

"Até parece." Zombei. "Aquele cara é um idiota completo."

"É, realmente." Ela concordou. "Mas não é como se fosse o primeiro idiota
que me aparece." Ela disse, me provocando.

"Dos dois idiotas, o mais bonito então." Disse, me aproximando dela. Merlin,
ela era tão cheirosa.

"Seu ego é maior do que a sua cara de pau, Regulus Black." Ela respondeu,
me provocando de volta.

"Não seja chata comigo." Disse, choramingando. "Estou morrendo."

"Chata?!" Ela perguntou. "Você que é insuportável!"

"E você me dá nos nervos de tanta raiva, ás vezes." Respondi, muito perto
do rosto dela.

"Às vezes, preciso me segurar para não socar você no meio das pessoas."
Mary disse, eu conseguia sentir a respiração dela no meu rosto.

Então, ela me pegou pelo pulso e me arrastou da sala, fazendo eu derrubar o


copo na minha mão. Ela me levou para o meu quarto e trancou a porta atrás
de nós. De repente, ela pegou meu rosto com as mãos e me beijou fortemente.
Fazendo todos os pelos da minha nuca se arrepiarem.

233
"Você está bem?" Ela perguntou, ofegante. "Se você não estiver pronto para
isso..."

E eu realmente não achei que estaria, não achei que estaria tão cedo com
nenhuma pessoa. Mas Mary estranhamente me confortava de um jeito
avassalador. Eu sabia que nada aconteceria comigo enquanto eu estivesse
com ela. Mesmo com um monte de comensais da morte atrás de mim, mesmo
com meus pais querendo me ver morto, mesmo com o bruxo das trevas mais
poderoso do mundo me caçando, ela me fazia sentir como se eu fosse a
pessoa mais segura do mundo. E eu nunca me senti seguro com nada. Então,
não precisei pensar muito. Porque tudo que eu queria era Mary, tudo em mim
queria tudo que havia nela. Cada parte, cada molécula, cada átomo do meu
corpo implorava por ela. Então, apenas a beijei de volta.

Mary entendeu o recado. Ela me empurrou contra a porta, me beijando com


força. Então, eu a virei e segurei aqueles pulsos finos e perfeitos contra a
porta, enquanto beijava e mordia o pescoço dela. Mary moveu o quadril
lentamente, pressionando a minha parte enrijecida ainda por cima da calça -
parecia eletricidade. Eu quase perdi o controle.

"Você estava se segurando esse tempo todo, seu idiota." Mary ofegou,
sorrindo, imponente nas minhas mãos.

"Você não faz ideia..." Respondi, encarando os olhos dela, atordoado de


desejo.

Eu voltei a beijá-la, e desci toda a sua calcinha por debaixo do vestido


vermelho, a jogando para um canto qualquer no quarto. Parei de beijar sua
boca, e beijei o seu pescoço, e depois a sua clavícula, e depois entre os seios,
e depois a barriga, até chegar onde queria. Apoiei uma das pernas dela no
meu ombro, e ela estremeceu quando passei a minha língua na parte de
dentro da perna dela. Levantei o rosto, e a olhei. Ajoelhado na sua frente.

"Eu só faço se você pedir." Disse, com um sorriso no rosto.

"Eu vou matar você se não fizer." Ela respondeu, ofegante. E então, eu subi
de volta para ficar na direção dela, e sussurrei no seu ouvido.

"Pede para mim." Sussurrei, sorrindo. "Quero ouvir você gritando o meu
nome e pedindo para eu chupar você."

"Regulus..." Ela ofegou, segurando forte meu rosto. "Agora!"

234
Eu sorri de lado, e me ajoelhei outra vez na frente dela, colocando de novo a
perna dela em cima do meu ombro. Mary gemeu alto quando finalmente
empurrei a minha língua dentro dela, a costa dela se arqueava contra a porta,
e ela usava uma das mãos para segurar no meu cabelo. Enquanto uma das
minhas mãos trabalhava em um dos seus seios e a outra ajudava o que eu
estava fazendo com a língua.

De repente, era Mary quem estava no controle. Ela tirou a perna de cima de
mim e me subiu de uma vez, arrancando a minha camisa fora. Eu tirei todo
o vestido dela mais rápido do que eu achei que era capaz. Ela me empurrou,
me fazendo cair sentado na cama, e sentou em cima de mim, olhando nos
meus olhos.

"Preciso de você..." Eu disse, atordoado por ter ela na minha frente, "Preciso
de você."

Mary gemeu quando os nossos corpos sem mais nenhuma peça de roupa se
encontraram, e eu fechei os olhos e estremeci. Qualquer sentimento de raiva,
preocupação ou ressentimento sumiu de dentro de nós. Eu não estava
pensando em mais nada, enquanto arqueava meu corpo e me empurrava
contra Mary, que sussurrava febrilmente. "Ah, Regulus, Regulus..." sem
parar. Nosso ritmo aumentou ferozmente quando começamos a ficar mais
ofegantes e mais tensos.

Tivemos que fazer mais duas ou três vezes antes que Mary cansasse, mesmo
eu sabendo que nunca me cansaria dela.

"Vou precisar que você me avise antes," Falei roucamente. "Quando quiser
fazer isso outra vez."

"Está muito cansado?" Ela perguntou, enrolando o braço e a perna em cima


de mim.

"Não, mas," Respirei fundo. "Quero dizer... caralho."

"Você estava tenso no início." Mary disse, franzindo a testa. "É por causa do
que aconteceu?"

"Na verdade, não," Respondi, sinceramente. "Não é por isso."

"E vai me contar ou não?" Mary disse, se apoiando nos cotovelos.

235
Suspirei pesadamente.

"Não estou sendo caçado só porque traí o Lorde das Trevas."

"Por que é, então?!"

"Eu sei como destruí-lo."

Mary se sentou imediatamente, franzindo a testa, e me olhando muito séria.

"Me conte tudo."

E eu contei.

O mundo poderia explodir, não me importo, desde que ela estivesse comigo.

236
Capítulo 23: Primavera 1980

"Você não vai mesmo me contar?" Sirius disse, sentado a mesa no café da
manhã, me encarando de olhos cerrados e braços cruzados.

"Não." Respondi, sentado na sua frente, imitando a sua posição.

"Vamos jogar um jogo, então." Ele disse. "Verdade ou desafio, mas sem o
desafio."

"Então, é só verdade, Sirius."

"Vamos ou não?!"

"Ok."

"Qual a sua cor favorita?" Ele perguntou, estreitando os olhos.

"Preto." Respondi. "Banda favorita?"

"Fácil. Queen." Ele disse. "Pessoa favorita?"

"Fácil. Pandora."

"Ei!" Ele exclamou, ofendido. "Eu salvei você da morte!"

"Como você percebeu que estava apaixonado por Remus?" Perguntei.

"Ah, meu Deus! Está me perguntando isso por causa dela, não é?!" Sirius
exclamou.

"Sirius. O jogo." Disse, ainda sério.

"Ok, ok, tudo bem," Ele voltou a postura anterior na cadeira. "Achei que ele
gostava de Lily. Foi a única vez que senti vontade de amaldiçoar o dever de
casa dela." Ele respondeu, depois perguntou. "Você já se apaixonou por
alguém?"

"Não." Respondi. "Como você soube que Remus gostava de você também?"

237
"Quando ele conseguiu me perdoar pela pegadinha com Snape. E então, eu
simplesmente soube." Ele respondeu. "Você está apaixonado agora?"

"Não." Respondi, outra vez. "Você ficou assustado quando percebeu os seus
sentimentos?"

"Bom, sim. Eu podia jurar na época que gostava de meninas, então foi meio
difícil aceitar à mim mesmo." Ele respondeu. "Você e Mary voltaram?!" Ele
perguntou, ansioso.

"Não." Respondi, mais uma vez. "Quem disse eu te amo primeiro?"

"Por incrível que pareça, foi Moony." Ele respondeu. "Eu sei que você gosta
dela, Reg."

"Você não está jogando direito." Falei, descruzando os braços. "Isso não foi
uma pergunta."

"Então vocês acabaram?! Graças à Deus!" Remus disse, deitado no sofá.


"Não estava aguentando mais vocês dois falando sobre mim como se eu não
estivesse aqui."

"Não estamos falando sobre você, Moony," Sirius disse, e me encarou.


"Estamos falando sobre Mary."

"Estamos falando sobre Remus." Afirmei, cerrando os dentes.

"Mary."

"Remus!"

"Mary!"

"Meu Deus!" Remus se levantou de uma vez, vindo até nós e puxando uma
cadeira. "Ok, tudo bem, vamos fazer isso. Regulus, você está apaixonado por
Mary?"

"Não!" Respondi, os dois me encararam e arquearam a sobrancelha ao


mesmo tempo. "Por que estão me olhando assim?!"

"Porque está na sua cara!" Remus e Sirius disseram, em uníssono.

238
"Não tem nada na minha cara!" Respondi, me levantando. "Não posso estar
apaixonado. Principalmente por ela! Vocês dois sabem como isso terminou."

"Você não pode controlar tudo, Reg," Sirius disse. "Uma hora, você vai ter
que ceder."

A verdade era que eu sabia que gostava de Mary. Mas estar apaixonado?!
Como vou saber se eu estou apaixonado se nunca estive?! Eu gostava dela.
Gostava dos tiques no canto da boca dela enquanto ela me olhava, gostava
de ouvir ela falar por horas sobre algo que gostava, gostava de como era
perfeita a forma que nos encaixávamos tão bem, de discutir com ela e depois
jogá-la na minha cama, gostava do que ela fazia eu pensar sobre mim mesmo
e de como ela parecia maravilhada quando eu contava sobre coisas que já
vivi, gostava do cheiro dela, da voz dela, do cabelo, do corpo. Não havia uma
parte do meu dia em que eu não pensasse nela, por mais que eu tentasse não
pensar. Mas como é que eu ia saber se isso era exatamente amor?!

"Isso eu vou ter que controlar, Six." Respondi, indo para o quarto.

Mary escutou atentamente tudo que eu disse sobre as horcruxes e prometeu


guardar segredo pelo tempo que fosse preciso. Talvez eu devesse ter contado
à ela desde o início, isso teria sido uma explicação melhor quando
terminamos. Eu esperava de verdade não estar a colocando em risco com
isso. Outra vez, não.

Agora eu tinha outro trabalho a fazer.

Respirei fundo. "Ok, Regulus, faça isso." Disse para mim mesmo, pegando
o pergaminho e uma pena ao lado da cama.

"Cissy,

"Cissy?! Você está louco?!" Rasguei o pergaminho e peguei outro.

"Narcissa,

Fiquei sabendo da sua gravidez. Meus parabéns.

Eu sei que você pode não querer me responder. Mas tenho propostas que
talvez interessem à você. Precisamos nos encontrar sozinhos.

239
Conheço você. E sei que você é leal apenas a uma coisa. Sangue do seu
sangue.

Tenho certeza de que você pensará com clareza.

Pense no seu filho e em até onde você está disposta a ir para ele ter uma boa
vida.

Não vou colocar o meu endereço por motivos óbvios, mas amarre uma carta
à coruja que mandei se quiser me encontrar. E se armar uma armadilha, eu
vou saber.

R.A.B."

Corri de volta para a cozinha, onde Sirius e Remus estavam. "Escrevi a


carta."

"Deixe-me ver!" Sirius disse, arregalando os olhos. Eu dei a carta na mão


dele e ele percorreu os olhos rapidamente, depois a passando para Lupin.

"E então?!" Perguntei, ansioso.

"Espero que esteja mesmo pronto para vê-la, Reg," Remus disse, me
devolvendo a carta. "Porque você está recorrendo à algo muito delicado."

"Não tenho outra saída." Disse, amarrando a carta ao pé da coruja.

***

Narcissa realmente demorou para me responder, foram questões de semanas.


Sirius achava que ela havia apenas jogado a carta pela janela e ignorado
como a 'vadia que era'. Remus disse que ela poderia estar armando um plano
para me pegar. James acha que ela está apenas confusa. Pandora diz que ela
está com medo. Andrômeda disse para eu não esperar muito.

Eu era próximo de Narcissa antes. Não tanto quanto Andrômeda, é claro.


Mas eu e ela nos dávamos melhor do que ela e Sirius, pelo menos. Apesar
disso, não acho que eu a conheça o suficiente para premeditar a sua reação.
Acho que eu espero por qualquer coisa, então não vou ficar surpreso com
nada.

240
"Você está com medo?" Mary perguntou, deitada em meu peito, em uma
madrugada que me esgueirei pela janela de seu quarto. "Tudo bem se
estiver."

"Na verdade, não," Respondi, passeando meus dedos pelo braço dela. "Só
me sinto... ansioso."

"Sente isso sempre?" Ela perguntou, franzindo a testa.

"Acho que sim." Respondi. "Na maioria das vezes, é só uma sensação ruim...
nos piores casos, meu peito começa doer um pouco e eu sinto que vou
desmaiar."

"Está sentindo agora?" Ela perguntou, colocando a mão no eu peito.

"Hm...não," Balancei a cabeça. "Pelo menos, não tão forte. A única vez que
senti foi quando... aquilo aconteceu."

"Você pode conversar comigo." Ela disse, brincando com meu cabelo.

"É só que... às vezes, sinto essa necessidade de resolver tudo, essa minha
coisa de querer sempre fazer as coisas sozinho," Comecei, engolindo em
seco. "Talvez seja porque eu sinto que preciso me provar o tempo inteiro.
Sinto que se não... se não provar que eu sou digno de ser alguém bom, então
não mereço você, ou Sirius, ou qualquer outra coisa boa que tenha me
acontecido..."

"Odeio que se sinta assim." Ela disse, acariciando o meu rosto. "Odeio as
pessoas que fizeram você achar que não é bom quando claramente é."

"Eu também odeio." Respondi, olhando para o teto.

"Eu sinto isso ás vezes," Ela disse. "Vontade de me provar."

"Por quê?!" Perguntei, surpreso. "Você é perfeita!"

"É bom saber que você acha isso." Ela disse, sorrindo, mas um pouco triste.

"Conta para mim." Respondi, levantando o rosto dela.

241
"Você sabia que antes de ir para Hogwarts, eu estudei até os onze anos em
uma escola trouxa?!" Ela perguntou e eu neguei com a cabeça. "Claro que
não sabe... puro-sangue idiota." Ela disse, e eu sorri. "Bom, talvez isso não
faça muito sentido para você porque você cresceu em um mundo diferente
do meu... mas você consegue imaginar como era difícil ser a única criança
negra em uma escola com um monte de gente branca?"

"Mas por que isso faz diferença?" Perguntei, confuso. "Você tem os olhos
castanhos e eu tenho olhos acinzentados, você tem cachos e o meu cabelo é
liso, eu sou branco e você é negra... não entendo porquê isso deveria mudar
alguma coisa."

"Quem dera todo mundo pensasse assim." Ela disse. "A questão é que em
escolas trouxas, Reg... ser negro é realmente uma merda. Te olham estranho
na sala de aula, te olham estranho na hora do almoço, não gostam de te
emprestar nada porque acham que você vai roubar... nem na rua você tem
paz, porque até os policiais são seus inimigos."

"Isso é horrível, Mary." Respondi, realmente horrorizado. "Eu sinto muito..."

"Eu acabei criando essa... essa vontade de querer provar que eu sou mais do
que a cor da minha pele ou a textura do meu cabelo, entende?" Ela disse.
"Então, quando fui para Hogwarts, eu decidi que seria quem eu quisesse ser.
Que não abaixaria a cabeça quando alguém me olhasse diferente, que não
me importaria se falassem mal de mim, eu seria apenas eu. Então, eu usava
a roupa que queria, ficava com os garotos que eu queria, tinha amigos
legais... e com o tempo, as coisas melhoraram."

"É horrível saber que eu não posso proteger você do que você pensa de si
mesma..." Fali, um pouco triste. "Então... eu sinto muito. Sinto muito se fiz
você se sentir assim quando afastei você... como se não pudesse me proteger
do que eu penso de mim..."

"Está tudo bem." Ela disse. "Só quis que você soubesse."

"Odeio quem fez você se sentir assim." Falei, me virando para ficar de frente
com ela na cama, passando a mão no seu rosto. "Eu acho você perfeita. Sua
pele," Passei os dedos pelo braço dela. "Seu cabelo..." Acariciei os cachos
dela. "Seu rosto..." Passei o dedo ao redor do rosto dela. "Eu adoro tudo que
eles odiavam em você."

242
"Queria que você conseguisse se achar tão lindo quanto você me acha, Reg,"
Ela disse, sorrindo fracamente. "Não tem nada em você que não seja lindo."

"É diferente." Respondi, franzindo a testa. "O que não gosto em mim, está
por dentro."

"O que mais gosto em você também." Ela respondeu, olhando para mim.
"Você não precisa se provar para mim. Eu sei quem você é."

Eu a encarei por um tempo, processando tudo que ela havia dito. E então, a
beijei.

E por alguns segundos, enquanto a beijava. Senti que podia fazer qualquer
coisa no mundo, que poderia matar qualquer pessoa que tenha dito alguma
vez à ela que ela não era boa. Eu senti que não só a merecia, como merecia
tudo que havia conquistado até agora. Não me senti culpado por causa das
coisas que fugiram do meu controle, nem estava me olhando como
geralmente me olho. Se fiz Mary ficar como eu fiquei agora sabendo que ela
em algum momento não gostou de quem ela é, então eu havia cometido um
erro gigante. Porque se alguém como Mary gostava de quem eu era, então
eu poderia gostar também. Porque se as pessoas estavam erradas sobre Mary,
eu também podia estar errado sobre mim. Pela primeira vez na vida, eu me
senti bom. Realmente bom.

Talvez eu realmente estivesse apaixonado.

***

"Six!" Chamei, chegando em casa no outro dia de manhã, "Você está em


casa?!"

Não havia nem sinal dele.

"Lupin!" Chamei outra vez, indo até o quarto deles. "Vou entrar! Se vocês
estiverem sem roupa, se vistam, pelo amor de Deus!"

Mas não havia ninguém no quarto também.

Ouvi um barulho de desaparatação do lado de fora, e logo depois bateram na


porta. Senti uma sensação ruim. Então perguntei quem era, antes de abrir a
porta.

243
"Reg, somos nós!" Era a voz desesperada de James.

"O que estão fazendo aqui?!" Perguntei, abrindo a porta, vendo ele e Lily
com um olhar aflito. "Hm, esperem aí... James, que música cantamos juntos
no meu aniversário?"

"Metal Guru, Reg." Ele disse, ansioso e eu abri mais a porta para eles
passarem.

"O que aconteceu?!" Perguntei, puxando uma cadeira para Lily se sentar.
"Por que estão assim?!"

"Padfoot?!" James gritou, procurando Sirius de um lado para o outro na casa.


"Ele não está aqui?!"

"Não, eu... eu não passei a noite em casa..." Respondi, confuso. "James, o


que está acontecendo?!"

"Reg, ontem foi noite de lua cheia," Lily disse, pegando na minha mão.
"Remus foi à outra missão com os lobisomens, mas Sirius não aguentou
esperar ele dessa vez."

"O quê?!" Perguntei, assustado, ficando extremamente nervoso, "Não...


não.... Porra, Sirius, você não fez isso!"

"Precisamos chamar alguém." James disse, ainda aflito, andando de um lado


para o outro. "Precisamos... precisamos de..."

"Ei, James," Lily disse, indo até ele. "Sirius e Remus estão bem... eles sempre
ficam bem, você sabe disso. Eles já vão chegar, você vai ver."

Ouvimos um barulho do lado de fora, alguma coisa pesada caindo na grama.


Nos entreolhamos nervosos e corremos até à porta para ver o que era. Queria
conseguir tirar da minha mente a cena que vi. Remus estava bem, apenas
com algumas cicatrizes à mais. Mas Sirius estava destruído. Ele tinha um
corte enorme e profundo que ia desde acima do seu peito direito até o fim da
sua cintura esquerda, ele estava perdendo sangue demais. E seus braços
estavam cheios de cortes menores, mas que ainda sangravam. Remus parecia
completamente atordoado, sem saber o que fazer.

244
"Me ajudem a carregar ele, por favor!" Remus gritou, com Sirius nos ombros,
que aparentava estar fraco pela perda de sangue. Nós corremos até ele e o
ajudamos a colocar Sirius para dentro de casa, o deitamos em cima do sofá.

"Alguém chame Marlene, pelo amor de Deus!" James disse, com as mãos na
cabeça, tremendo de tão desesperado.

"Eu vou chamar!." Lily disse, se afastando para enviar um patrono à ela.

"Ei, Pads," Remus dizia, ajoelhado ao lado de Sirius. "Não feche os olhos,
ok?! Você perdeu sangue demais... não... não durma, está bem?! Não posso
perder você... não posso..."

"O que diabos aconteceu?!" Perguntei à Remus, assustado. "Deixei Sirius em


casa quando saí, ele parecia bem!"

"Ele ficou preocupado..." Remus tentou explicar. "Ele foi até lá como
Padfoot, eu o reconheci, mesmo em forma de lobo... ele achou que em forma
de cachorro, conseguiria me acompanhar na missão, mas... mas eles sentiram
o cheiro humano de Sirius... eles souberam na mesma hora..." Ele estava
começando a chorar.

"Moony, você precisa se acalmar." James disse, pondo a mão nos ombros
dele. "Ele vai ficar bem, é Padfoot... ele precisa ficar!"

"Sirius, você não tem o direito de morrer, ok?!" Falei, me ajoelhando ao lado
dele também. "Seu idiota, você não vai sair de casa nunca mais! Não vai
acontecer nada com você, não vai..."

"Marlene está vindo!" Lily disse, vindo de onde estava.

Passamos alguns minutos tentando manter Sirius de olhos abertos, Lily fez
alguns feitiços de cura que sabia, mas nenhum seria tão bom quanto os de
Marlene que havia estudado isso.

"Abram para mim!" Marlene disse, da porta. Eu corri para abrir e ela me
olhou ansiosa, esperando eu perguntar algo.

"O quê?!" Perguntei, agoniado.

"O protocolo, Reg." Ela disse, esperando.

245
"O protocolo pode ir para o inferno, Marlene! Meu irmão está morrendo!"
Gritei, a empurrando para dentro e ela foi direto até onde Sirius estava.

"Tudo bem, tudo bem, Remus preciso que você saia de cima dele..." Ela
disse, afastando Remus e olhando para Sirius. "Ei, cara... você não está
bonito, hein? Tudo bem, vou dar à você algo para dormir e vou curar você,
eu prometo, Sirius." Marlene dizia, enquanto colocava Sirius para dormir.

Demorou algum tempo para Marlene conseguir fechar o corte do peito dele
completamente. Sirius havia perdido tanto sangue que o sofá estava
encharcado. Tudo que podíamos fazer era confiar em Marlene, era o que nos
restava. Não cheguei até aqui para ver meu irmão morto por causa de um
monte de lobisomens desgraçados. Juro por Deus que se Dumbledore
mandar Remus á outra missão daquela, eu mesmo vou e mato cada um
daqueles lobos malditos.

"Tudo bem..." Marlene disse, se levantando. "Agora só precisamos esperar


ele acordar."

"Ele vai acordar, não vai?!" Eu perguntei.

"Eu espero que sim, Reg." Ela disse, seriamente.

Foram os piores trinta e oito minutos da minha vida. Eu nunca havia ficado
tão agoniado e ansioso em toda a minha vida. Não podia ser tão fácil assim
perder alguém que você ama. Como você vira as costas e dá tchau para
alguém, mas não tem certeza se a verá de novo quando voltar para casa?
Como as coisas funcionam assim?

"Ele está acordando!" Remus exclamou, indo até Sirius. "Ei, Pads... você
consegue me ouvir?"

"Moony?" Sirius respondeu, sonolento.

"Seu idiota!" Exclamei, indo até Sirius. "Você é louco de fazer isso
comigo?!" E então, o abracei.

"Padfoot, eu amo você, mas porra!" James exclamou. "Você vai me matar e
meu filho ainda nem nasceu!"

"Está se sentindo bem, Sirius?" Lily perguntou, franzindo a testa e passando


a mão na cabeça dele.

246
"Acho que sim..." Ele disse, ainda sonolento, e olhou para a barriga, que
agora estava apenas com uma cicatriz grande e branca. "Você fez um milagre
aqui, não é, Lene"

"Vê se não se mete em outro problema, seu idiota." Ela disse, com as mãos
na cintura.

"Não posso prometer." Ele disse, sorrindo e dando um soco na mão dela.

"Não vou deixar você sozinho em casa nunca mais!" Eu disse. "Nunca mais!"

"E onde você estava, afinal?!" Lily perguntou para mim.

"Hm... eu fui ver Pandora e acabei perdendo a hora," Respondi, tentando soar
convincente. "Decidi dormir por lá."

"Pads, por que você fez aquilo?!" Remus perguntou. "Você sabia que era
perigoso! Eu tinha as coisas sobre controle, você não tinha que se
preocupar..."

"É claro que tinha, Moony! Droga, você vai à essas missões e eu nunca sei
se vou ver você de novo ou não!" Sirius disse, segurando o rosto de Remus.
"Não posso perder você, Moony... eu amo você."

E então Remus beijou Sirius, o que me fez lembrar de Mary. E o que também
me fez entender Sirius imediatamente. Até onde ele iria para proteger a
pessoa por quem ele era apaixonado.

"Se Dumbledore meter vocês nisso outra vez," Eu disse. "Eu sou capaz de..."

Mas fui interrompido quando uma coruja bateu na janela de vidro da cozinha
com as correspondências. Fui até a janela e haviam três cartas, mas nenhuma
era mais importante do que a última que li.

"Regulus,

Hogsmead. Às onze da noite de amanhã. Sem atrasos.

Narcissa Malfoy."

247
Capítulo 24: Irmãs Black

FLASHBACK - 1970 - Largo Grimmauld

Eventos familiares sempre tem um algum drama e na Casa dos Black's,


principalmente, isso não era de outra forma. Mas aquela noite foi diferente.
Regulus sempre lembraria daquela noite.

Regulus, Sirius e seus pais eram os anfitriões e seus tios, Druella e Cygnus,
haviam chegado com Bellatrix, Narcissa e Andrômeda. Kreacher havia
preparado toda a comida do jantar e a mesa estava cheia e bonita. Eles quase
pareciam uma família feliz.

"Six!" Regulus gritou animadamente, entrando no quarto de Sirius e se


jogando em sua cama. "Você está pronto? Mamãe vai ficar uma fera se nos
atrasarmos para descer."

"Se preciso ir à esse jantar horrível," Disse Sirius, em frente ao espelho. "Ela
tem que me deixar pelo menos arrumar o cabelo."

"Acho que as meninas chegaram," Disse Regulus. "Estou louco para ver
Cissy!"

"Não sei como você e Andy gostam dela, Reg," Sirius disse, ainda arrumando
o cabelo. "Ela e Bella são farinha do mesmo saco, você sabe."

"Não diga isso, Six," Regulus disse, levantando da cama. "Você sabe que
Cissy é muito diferente de Bella, Cissy só é um pouco... Ah, olhe, você
deveria ao menos tentar..."

"Não, Reg." Sirius disse, finalmente pronto. "Andy é a única de quem gosto.
Cissy me olha como se tivesse algo no meu dente sempre que me vê."

"Talvez ela só ache também que você a odeia." Regulus disse, dando de
ombros.

"E eu odeio." Sirius disse, sorrindo sarcasticamente, enquanto bagunçava o


cabelo de Regulus e os dois saíam do quarto.

Regulus sabia que Sirius, teimoso como era, nunca se permitia dar uma
chance à qualquer um que tivesse o nome Black como sobrenome. A não ser

248
Regulus e Andrômeda, Sirius não tolerava ninguém da família, mesmo que
houvessem consequências depois. Mas Regulus sabia que, mesmo Sirius
sendo como era e, bom, mesmo seus pais sendo como eram, Sirius sempre
estaria por perto. Porque mesmo que sua aversão pelos ideais familiares
existisse, Sirius nunca seria capaz de deixar Regulus por isso.

"Cissy!" Regulus disse, descendo rápido pelas escadas, em direção à


Narcissa.

"Reg! Você está enorme!" Ela respondeu, relaxando o rosto severo e


abraçando Regulus.

"Regulus, por favor! Não amasse a sua roupa!" Walburga o repreendeu,


puxando Regulus do abraço e ajeitando sua camisa social.

"Narcissa." Sirius disse, acenando com a cabeça.

"Sirius." Ela respondeu, imitando o gesto e ele deu de ombros.

"Tia Druella. Tio Cygnus." Sirius cumprimentou os dois, gentilmente, até


ver Andrômeda. "Andy! Você está aí!"

"Ei, você!" Andrômeda exclamou sorridente, indo abraçá-lo. Bellatrix, que


estava sentada ao lado dela, revirou os olhos quando Sirius apareceu.

"Não vai me cumprimentar, Sirius?!" Bellatrix perguntou, presunçosamente.

"Na verdade, não." Sirius respondeu, e voltou a abraçar Andrômeda.

"Sirius!" Orion o repreendeu, dando um puxão na sua camisa. Sirius revirou


os olhos e, contrariadamente, deu um beijo na bochecha de Bellatrix. Parecia
que ele ia vomitar por simplesmente tocá-la.

"Vamos comer, então!" Walburga disse, sorrindo forçadamente, enquanto


sussurrava alguma coisa sobre a postura ruim de Druella para Orion.

A comida era a melhor parte dos jantares para Regulus. Em geral, Sirius
acabava brigando com os seus pais ou com os seus tios, então isso não
demoraria para acontecer. Mas a comida sempre era boa, Kreacher fazia os
pratos exatos que sabia que Regulus mais gostava. Tudo bem se houvesse
uma briga ou outra durante o jantar, porque no final da noite, Sirius iria até
o quarto de Regulus quando todos estivessem dormindo e os dois

249
conversariam à noite inteira sobre seus planos quando finalmente fossem à
Hogwarts. Sirius era tudo que Regulus tinha.

"Bella," Walburga a chamou, enquanto comia. "Cygnus me disse que você


está prestes a se casar com o senhor Lestrange, não é?"

"Sim, tia," Ela respondeu, empinando o nariz. "Vamos nos casar no final
deste ano. Faremos uma cerimônia grande para que todas as famílias puro-
sangue possam ir!"

"Isso parece bom." Orion comentou. "Assim que Sirius e Regulus chegarem
aos doze, vamos começar à procurar por duas boas moças para os dois
também."

"Doze?!" Regulus sussurrou assustado para Sirius, que revirou os olhos,


parecendo não dar importância para o que foi dito, mas claramente isso havia
o perturbado também.

"E você, Narcissa?!" Orion perguntou, a encarando. "Você já tem quinze,


você já deve procurar por um bom rapaz para se casar no futuro."

"Ah, mas ela tem sim!" Druella disse, antes que Narcissa pudesse responder.
"Minha Cissy está prometida com Lucius Malfoy, um bruxo rico e puro-
sangue, aliado das mesmas causas que nós."

Regulus nunca entendia o que seus pais e tios queriam dizer quando falavam
sobre 'causas'.

"Malfoy?!" Walburga perguntou, interessada.

"Nós estamos apenas nos conhecendo, na verdade..." Narcissa disse, com um


meio sorriso no rosto.

"Besteira, Narcissa." Cygnus se intrometeu. "Abraxas e eu tivemos uma


ótima conversa a algumas semanas. Você e o filho dele terão um casamento
muito bem constituído assim que você chegar aos dezessete."

"Você gosta dele, Cissy?" Regulus perguntou na mesa, sorrindo para


Narcissa.

"Sim, Reg," Narcissa disse, feliz por ser perguntada sobre algo. "Ele é um
rapaz muito interessante e eu realmente..."

250
"Ah, mas que besteira!" Walburga disse, erguendo as mãos. "Se ele é de uma
boa família e compartilha dos mesmos princípios e valores que você, então
é isto, gostando dele ou não."

"Eu não acho." Andrômeda disse, sem erguer os olhos da sua comida.

"Como?" Walburga perguntou, desacreditada por ter sido interrompida.

"Não acho que isso seja importante." Andrômeda respondeu, dando de


ombros.

"Vai começar, não vai?" Regulus sussurrou para Sirius.

"Ah, vai sim!" Sirius sussurrou de volta, claramente se divertindo.

"Andrômeda, chega." Druella a interrompeu, a encarando seriamente.

"Como eu estava dizendo..." Walburga continuou. "Há coisas mais


importantes para você valorizar do que tolices como o amor, Narcissa. Você,
Bellatrix, como a mais velha deveria ensinar isso às suas irmãs."

"Sim, tia," Bellatriz disse, assentindo. "Eu sempre digo isso à elas."

"Diz tanto que já até decorei." Andrômeda disse, tomando a sua taça de
vinho.

"Andy, não faça isso..." Narcissa sussurrou preocupada para ela.

"Talvez você precise mesmo ouvir, não é, Andrômeda?" Cygnus disse, a


fuzilando o olhar. Ela revirou os olhos.

"E você?" Walburga perguntou, olhando desdenhosamente para Andrômeda.


"Já tem dezessete anos, tenho certeza que seus pais já arranjaram alguém,
não é?" Cygnus e Druella se entreolharam.

"Agora sim, Reg." Sirius sussurrou para Regulus, que estremeceu.

"Na verdade, tia," Andrômeda disse, sorrindo. "Eu tenho sim alguém. E
assim que esse último ano em Hogwarts acabar, nós dois vamos nos casar."

251
"APENAS COMIGO MORTO!" Cygnus gritou, batendo na mesa e
derrubando os talheres.

"Você não pode me impedir." Andrômeda disse, desafiadoramente. "Não


vou deixá-lo só porque ele tem o sangue diferente do seu."

"Sangue diferente?!" Orion perguntou, exasperado.

"Esta insolente quer se juntar à um sangue-ruim!" Cygnus esbravejou.

"Lá vamos nós..." Narcissa disse, revirando os olhos. A discussão já era


velha.

"Um sangue-ruim?!" Orion e Walburga exclamaram, com os arregalados.

"O nome dele é Ted Tonks." Afirmou Andrômeda, confiantemente. "Eu o


conheci em Hogwarts e assim que terminarmos o sétimo ano, eu vou me
casar com ele."

"Já chega, Andrômeda!" Druella gritou. "Você não vai se casar com nenhum
sangue-ruim imundo enquanto o meu sangue correr dentro das suas veias!"

"Andy, acho que já chega por hoje." Bellatrix se intrometeu, a olhando


seriamente.

"Não, Bella!" Andrômeda exclamou, se levantando da cadeira. "Eu o amo!


Não é nenhum segredo! Eu o amo e me casarei com ele!"

"Você é uma ingrata!" Cygnus disse, se levantando também e indo até ela.
"Depois de tudo do bom e do melhor que demos à você! Você vai trair a sua
família para se contaminar com esta escória!"

"Não fale dele assim!" Andrômeda gritou. "Ele é muito mais homem do que
você jamais será."

Tudo aconteceu em questão de meio segundo. Cygnus desferiu um tapa forte


no rosto de Andrômeda e ela caiu no chão, tonta e assustada.

"Andy!" Narcissa, Sirius e Regulus gritaram em uníssono e se levantaram


para ajudá-la. Bellatrix arregalou os olhos, mas não teve coragem de

252
levantar. Nem mesmo Druella, que claramente se assustou com o ato de
Cygnus, não se levantou.

"Sirius! Regulus!" Walburga os repreendeu. "Não se metam nisso! A prima


de vocês precisa ser disciplinada."

"Qual o problema de ela querer se casar com alguém que ela ama?!" Sirius
gritou, desesperado por ver Andy daquele jeito. Regulus estava paralisado.
"Isso não vai matar ninguém!"

"Sirius!" Walburga gritou, o olhando mortalmente. "Sente nesta cadeira."

Regulus e Sirius voltaram à se sentar, relutantemente. Sirius parecia tão


furioso que poderia amaldiçoar alguém. Regulus se sentia estranho. Por que
Andrômeda iria querer irritar seus pais? Por que ela não havia se apaixonado
por alguém como Lucius, igual Narcissa? As coisas teriam se facilitado.
Regulus não entendia o porquê. Ele nunca se atreveria a se apaixonar por
uma nascida-trouxa, quando tivesse idade. Ir contra seus pais seria como uma
sentença de morte. O amor não pode valer tanto à pena, a ponto de custar
tanto.

"Você não fará nada que suje o nome desta família!" Cygnus gritou,
Andrômeda ainda no chão. "Você casará com quem nós mandarmos e viverá
a vida que nós planejamos para você! Ora, sua insolente! Nunca mais ouse
falar comigo dessa maneira, você está me ouvindo?!"

"Pai, por favor..." Narcissa disse, abraçando Andrômeda no chão.

"Não se meta nisso, Narcissa!" Cygnus gritou, puxando Narcissa pelo braço
para longe de Andrômeda. "Sua vida já está resolvida! É a sua irmã o
problema!"

"Se eu sou o problema, então por quê vocês ainda me seguram aqui?!"
Andrômeda esbravejou, com a mão na bochecha machucada. "Me deixem ir
e eu juro à vocês que nunca mais vão me ver na vida!"

Regulus agarrou na manga da camisa de Sirius, preocupado com o rumo que


tudo aquilo iria tomar. Narcissa arregalou os olhos e levou a mão à boca.

"É isso que você quer?" Druella perguntou, sombriamente.

"Não vou deixar que vocês estraguem a minha vida." Andrômeda respondeu.

253
Cygnus a agarrou pelos dois braços, a levantando do chão de uma vez. E
sussurrou no seu ouvido, cruelmente. "Se desconsidere minha filha, sua
traidora."

"NÃO!" Narcissa gritou, se levantando outra vez, as lágrimas rolando no seu


rosto. "Andy, peça desculpas!"

"Pois bem, Cygnus." Andrômeda rosnou, se desgrudando dos braços dele.


"Se desconsidere meu pai."

"Andy, você... você vai embora?" Sirius perguntou, com a voz trêmula, os
olhos marejados.

Andrômeda olhou para Sirius, depois para Regulus e, por fim, para Narcissa.

"Sinto muito." Ela sussurrou para os três, tristemente. "Não vai me dizer
nada, Bella?"

Bellatrix parecia chocada, mas era difícil dizer se realmente estava triste. Ela
abriu a boca algumas vezes, parecendo que ia dizer alguma coisa. Mas no
fim, ela apenas ficou séria e sem expressão.

"Você já fez sua escolha." Ela disse, por fim. E então, abaixou a cabeça.

"Andy!" Narcissa a chamou, a segurando pelos braços, com os olhos


marejados. "Você... você não vai realmente embora, não é? Não, não vai."

"Cissy..." Andrômeda disse, com a voz trêmula. "Você vai ficar bem, ok?
Nós duas podemos sempre manter contato, eu não vou me afastar de você.
Você precisa me deixar ir..."

Andrômeda deu uma última olhada em todos nós e sorriu para Sirius, que
tentava engolir o choro. Ela passou direto por Cygnus, em direção à porta,
mas Narcissa foi atrás dela, ainda em lágrimas.

"Não posso acreditar que você está fazendo isso comigo." Narcissa disse,
fazendo Andrômeda dar meia volta. "Você prometeu!"

"Eu não estou fazendo nada com você, Cissy," Respondeu Andrômeda. "Nós
somos irmãs. Você sabe que eu nunca deixaria você."

254
"Você está escolhendo ele ao invés de mim! Ao invés de nós duas!" Narcissa
esbravejou. "Você não prometeu que ia me mandar cartas de vez em quando,
Andrômeda! Você me prometeu que nunca me deixaria sozinha! Nem
fisicamente, nem de qualquer outro jeito!"

"E o que você quer que eu faça, huh?!" Andrômeda perguntou, com a voz
áspera. "Quer que eu faça igual à você e me limite à um casamento arranjado
para manter a porra do sangue-puro nesta família de merda?! Quer que eu
tamném arranje um homem rico e bem-sucedido de cabelo platinado que
minha família vai amar e idolatrar?! E então ter filhos com ele e ser infeliz
pelo resto da minha vida?! Eu mereço mais que isso, Narcissa!"

"Eu amo Lucius, você sabe disso." Narcissa disse, furiosa. "Não aja como se
a minha vida não fosse terminar melhor do que a sua! Eu escolhi alguém que
vai dar tanto o que eu quero quanto o que minha família quer! E mesmo se
Lucius me pedisse de joelhos, eu nunca casaria com ele se isso significasse
perder você!"

Andrômeda ficou em silêncio por um minuto, encarando Narcissa, com os


olhos marejados. "Não quero terminar igual à você, Narcissa." Narcissa
pareceu chocada e extremamente magoada. Andrômeda continuou. "Estou
tentando ficar do seu lado jeito que posso, mas seu ciúmes não está deixando.
Não posso ficar com você se você não deixar."

"Se sair por essa porta," Narcissa disse, cerrando os dentes, encarando
Andrômeda. "Pode se desconsiderar minha irmã também."

Andrômeda fitou Narcissa por um tempo. Os olhos tristes e cheios de


lágrimas, mas também cheios de amor pela irmã que estava prestes a deixar.

"É uma pena, Cissy." Andrômeda disse, e então caminhou até a porta que
Kreacher abriu e saiu.

Naquela madrugada, Sirius foi até o quarto de Regulus. Os dois não estavam
conversando felizes dessa vez. Sirius estava muito triste e se nem mesmo ele
conseguia entender o que havia acontecido, Regulus muito menos.

"Eu não entendo!" Sirius exclamou, deitado na cama de Regulus, com os pés
na cabeceira. "O que de tão errado Andy fez para merecer isso?!"

"Não sei, Six," Regulus disse, balançando a cabeça. "Mas Cissy pareceu
realmente magoada."

255
"Narcissa não entende que Andrômeda precisa seguir o próprio coração."
Sirius disse, seriamente. "Se ela realmente a amasse como diz que ama, ela
entenderia."

"Mas Cissy ama Andy! Elas são irmãs!" Regulus disse, exasperado. "Cissy
está magoada porque Andrômeda está colocando ela mesma acima da
relação das duas."

"E ela está errada?!" Sirius exclamou.

Regulus o encarou seriamente. "Bom, eu ficaria magoado se você fizesse


isso comigo."

"Eu não deixaria você sozinho com eles." Sirius respondeu, se levantando
para encarar Regulus nos olhos. "Você sabe disso."

"Você pode prometer isso?" Regulus perguntou, tristemente.

"Claro que prometo, Reg!" Sirius exclamou. "Pode confiar em mim."

Eram promessas maravilhosas, mas não era para ser. Regulus não
conseguiria seguir seu irmão até onde ele fosse e Sirius não conseguiria se
manter perto de Regulus por tanto tempo como prometeu.

Alguns anos depois - depois que Sirius saísse de casa - Regulus se


perguntaria se as coisas poderiam ter sido diferentes se ele e Sirius tivessem
fugido juntos. Se tivessem impedido que terminassem como Narcissa e
Andrômeda. Talvez pudessem ter mantido um ao outro ou as outras pessoas
que eles amavam mais seguras.

De qualquer forma, isso não aconteceu e a promessa não foi cumprida.

Depois que Sirius se afastasse e Regulus finalmente recebesse a marca,


Regulus ficaria apenas com as memórias dos últimos anos que passou ao
lado do irmão, quando eles não precisavam lutar em nenhuma guerra e
ainda eram crianças estúpidas e ingênuas, mas extremamente felizes sem
nem mesmo saberem.

1980

No meu sonho, eu estava no meu quarto. Mas não na casa de Sirius, e sim no
meu antigo quarto. Eu estava assustado e com medo da minha mãe. Ela

256
estava me procurando e eu estava escondido dentro do guarda roupa, eu era
muito pequeno então conseguia me esconder em lugares assim. Eu sabia que
se ela me encontrasse, ela ia querer fazer aquele desenho estranho e feio no
meu braço e eu sabia que doeria muito.

Ela faria alguma coisa muito ruim comigo, eu sabia isso. Sirius estava no
quarto dele, eu queria muito chamá-lo para me ajudar, mas eu teria que sair
do armário e mamãe com certeza me pegaria. Será que Sirius deixaria ela
fazer isso comigo? Ele estava no quarto ao lado, não conseguia ouvir dos
corredores eu correndo assustado? Por que ele não veio me procurar?

Eu estava tão, tão, tão assustado.

Até que ela finalmente me achou. Ela escancarou a porta do guarda roupa,
com aquele sorriso maníaco e sem alma.

"Achei você!" Ela exclamou, cruelmente, enquanto me puxava pela ponta da


orelha, me fazendo gritar de dor.

"Reg! Reg! Você está gritando!" Ouvi a voz de Mary no fundo da minha
cabeça, distante. "Reg, acorde!"

Então, abri os olhos arregalados. Me sentei na cama, eu estava ofegante,


como se tivesse corrido por horas, meu rosto estava molhado, lágrimas
misturadas com suor, meu corpo tremendo e muito gelado.

"Ela... eu estava... ela estava tentando me pegar..." Falei, ofegante. "Ela


conseguiu me achar."

"Shh, está tudo bem, Reg," Mary sussurrou preocupada, pondo a mão no meu
rosto. "Foi um pesadelo. Não tem ninguém aqui, apenas eu e você."

"Preciso... preciso sair daqui..." Falei, ainda ofegante, me levantando da


cama de Mary e indo até o banheiro. Fui até o chuveiro e liguei a água gelada
na minha cabeça, meu peito doía muito e parecia que meus pulmões haviam
desistido de tentar funcionar. Me sentei no chão do banheiro, abraçando os
joelhos com os braços e enterrando minha cabeça neles, ainda ouvindo a voz
da minha mãe no fundo da minha cabeça. Sempre puro, Regulus, sempre
puro...

257
"Reg..." Mary me chamou, entrando no banheiro. "Você quer... ficar
sozinho?"

"Não." Respondi, sinceramente.

Ela abriu a cortina do boxe, lentamente. Levantei o rosto para olhar para ela
e ela me deu um meio sorriso, entrando e se sentando do meu lado.

"Você vai se molhar." Falei, sem pensar muito.

"Não me importo." Ela respondeu. "Quer me contar com o que sonhou?"

"Na verdade, não," Respondi, balançando a cabeça. "Você se importa se só


ficarmos... em silêncio?"

Ela sorriu e deitou a cabeça no meu ombro, ainda embaixo do chuveiro.


Segurei a mão dela e apertei, respirando fundo. Não era a primeira vez que
eu sonhava com algo assim, então eu sabia que ficaria bem. Eu só precisava
respirar e me acalmar. Com Mary, isso seria mais rápido, mas não mais fácil.
Vou ficar bem, sei que vou.

***

Fui embora da casa de Mary antes do sol clarear. Se os pais dela vissem um
garoto desconhecido sem camisa na cama dela quando a chamassem para
tomar o café da manhã, não tenho certeza se eu conseguiria conter minha
risada.

"Noite agitada, Reg?!" Sirius perguntou, sorrindo sarcasticamente, quando


me viu passar por ele na cozinha.

"Você não faz ideia, Six." Respondi, pegando uma xícara de café.

"Não esqueça que temos que ir à reunião da Ordem às nove." Sirius disse.
"Remus vai acordar logo. Você vai com nós dois?"

"Hm... acho que não," Respondi. "Combinei de ir com Pandora, encontro


vocês dois lá."

Pandora estava tentando me convencer à contar à Moody sobre meu encontro


com Narcissa esta noite. Eu não estava muito certo sobre isso, porque

258
conheço Narcissa e sei que o que vai fazer ela confiar em mim é ver que eu
e Andrômeda estamos confiando nela também. Não confio na Ordem ser
discreta o suficiente para não dar a entender que estão à espreita. Eles podem
interpretar algum momento errado como uma insinuação de ataque e partir
para cima. Não acho que exista alguém no mundo que seja capaz de lidar
com Narcissa melhor que eu e Andrômeda.

"Que horas temos que estar em Hogsmead?" Pandora perguntou, quando fui
até sua casa buscá-la para ir para a reunião. "Não podemos atrasar para
Narcissa não achar que estamos tentando algo e ir embora."

"Vamos tentar chegar meia hora antes das onze." Respondi. "Sirius e James
vão estar em um canto, debaixo da capa de invisibilidade, não sei bem como
eles vão fazer isso funcionar, mas eu não costumo questionar muito os planos
dos dois, apenas concordo," Falei, dando de ombros. "Você e Remus também
estarão escondidos, mas do lado de fora do bar, se algum tipo de magia negra
chegar perto, ele vai sentir o cheiro e quanto mais perto chegar, mais fácil
dele saber quem é. E você, leve o cristal, porque ele também vai nos ajudar
a perceber se algum comensal aparecer lá."

"Mas o cristal já vai ficar vermelho por causa de Narcissa, Reg." Pandora
disse.

"Não," Respondi. "Narcissa não tem a marca. Acho que ela nem é comensal
de verdade, apenas está com eles. Isso até facilita alguma coisa, eu acho."

"Você pensou em tudo, não é?" Pandora disse, arqueando as sobrancelhas.


"E se Narcissa não aceitar e contar aos outros o que você propôs?"

"Já estou sentenciado de morte, Pandora," Respondi, dando de ombros.


"Acho que pior do que está não fica."

"Seu otimismo é contagiante." Pandora ironizou, sorrindo. "Será que Moody


vai dizer algo de importante na reunião de hoje?"

"Ele eu não sei," Respondi. "Mas eu sim."

"O que você vai dizer?!" Pandora disse, arqueando a sobrancelha. "Por favor,
Reg, gentileza."

"Você vai ver." Respondi, sorrindo de lado. "Não é só Dumbledore que sabe
usar as palavras."

259
"Você e sua implicância com ele." Pandora revirou os olhos.

"Vamos logo," Eu disse, me levantando. "Precisamos passar na casa de Mary


antes."

"Você tem sorte que Phil odeia você," Pandora disse, se levantando também.
"Se não, eu faria você segurar vela também."

"Você está doida." Falei, franzindo a testa. "Mary e eu somos amigos."

"Amigos não se beijam, Reg." Pandora disse, com as mãos na cintura.

"Somos muito amigos." Falei, sorrindo. "Não quero que tenhamos nada
enquanto essa guerra não acabar, Dora."

"Então por que você pula a janela dela todas as madrugadas?! Para jogar
xadrez?!" Pandora perguntou.

"Você é inacreditável." Revirei os olhos.

Aparatamos para a casa de Mary alguns minutos depois. Os pais dela


estavam em casa e quase me esqueci que estava de dia e eu não precisava
entrar escondido pela janela do quarto dela. Foi ela quem abriu a porta para
nós.

"Ah!" Mary exclamou, sorridente. "Vocês chegaram! Deixem eu apenas ir


pegar meu casaco. Vocês podem entrar, se quiserem! Só me deixem pensar
em alguma coisa..." Ela pensou. "Reg, na noite passada, quantas vezes nós..."

"Pelo amor de Deus, não!" Pandora choramingou. "Qualquer outra pergunta,


menos-"

"Quatro." Respondi. "Você quase me matou."

"Vou precisar de terapia depois disso." Pandora disse, fazendo cara feia.
"Definitivamente, vou precisar."

"Tudo bem," Mary disse, sorrindo. "Podem entrar!"

"É estranho entrar pela porta da frente." Eu disse, passando por ela, a fazendo
corar.

260
"Não comecem com isso, por Deus." Pandora disse, revirando os olhos,
entrando atrás de mim. "Como você está, Mary?"

"Estou bem, eu..." Mary começou, mas foi interrompida.

"Mary?" Um homem alto, negro, vestido de roupas trouxas, com alguns fios
grisalhos no cabelo, a barba rala e o sorriso idêntico ao de Mary a chamou,
atrás dela. "São seus amigos?"

"Pai! Esses são Regulus e Pandora," Mary nos apresentou. "Eles também
estudaram em Hogwarts comigo! Gente, esse é o meu pai."

"Ah!" Ele exclamou, sorridente. "É um prazer conhecer os dois! Querem


ficar para o café da manhã?"

"Hm... obrigada, senhor," Pandora agradeceu. "Nós já comemos antes de


vir."

"Tenho certeza que vamos ter outra oportunidade, senhor MacDonald."


Respondi, com um sorriso.

"Claro! Os amigos de Mary são sempre bem-vindos aqui!" Ele disse, a


abraçando. "Vocês podem aparecer a hora que quiserem. Principalmente
agora, como soube que as coisas estão no mundo bruxo... vamos sempre estar
dispostos a acolher as pessoas queridas."

"Vou pegar meu casaco e então vamos, ok?" Mary disse, dando um beijo na
bochecha do pai e subindo as escadas.

"Querido, você comprou as frutas que pedi para você comprar no..." Uma
mulher veio da cozinha, com um pano na mão, ela era alguns centímetros
mais alta que Mary e tinha a pele mais clara que o marido, mas ainda escura.
Ela tinha o cabelo curto, preso em um rabo de cavalo um pouco frouxo e
bagunçado. "Oh! E quem são vocês dois?"

"Sou Pandora, senhora, sou amiga de Mary" Pandora se apresentou, sorrindo


e estendendo a mão. "É um prazer conhecê-la."

"É um prazer conhecer você também!" Ela disse, dando a mão à ela. "E esse
rapaz tão bonito?! Quem é?"

261
"Me chamo Regulus, senhora MacDonald," Me apresentei, também
estendendo a mão à ela. "Regulus Black."

"Você se parece com um amigo de Mary que veio aqui uma vez, um alto,
com o cabelo rebelde, uma energia um pouco caótica," Ela disse, estreitando
os olhos. "Os olhos iguaizinhos aos seus."

"Esse com certeza é o meu irmão. Sirius." Respondi, sorrindo. "Eu moro com
ele e Remus há algum tempo."

"Ele morava com um amigo antes?" O pai de Mary perguntou, franzindo a


testa.

"Hm... sim," Eu respondi, um pouco confuso. "Eles moram juntos porque


estão juntos."

"É cada uma que se vê hoje em dia, não é meu amor? Os anos 80 estão
modernos demais para mim." Ele disse, olhando para a esposa. "Creio que
você não seguiu o mesmo exemplo."

Pandora e eu nos entreolhamos. Mary não estava brincando quando disse que
os preconceitos trouxas eram com coisas totalmente diferentes dos do mundo
bruxo. Já beijei mais caras do que você pode contar nesses seus dedos
enrugados, seu velho preconceituoso.

"É um prazer, Regulus," A mãe de Mary respondeu, claramente vendo como


eu e Pandora ficamos incomodados, agarrando a minha mão. "Vocês
deveriam aparecer mais vezes por aqui, Mary quase nunca traz alguém
que..."

Eu estava distraído, rindo internamente, com a ironia da mãe de Mary dizer


que eu deveria aparecer lá mais vezes quando eu estou na casa dela quase
todas as noites sem ela saber. Estava tão distraído, que não notei que quando
estendi a mão para cumprimentar a mãe de Mary, a manga o meu casaco
subiu alguns centímetros, o suficiente para aparecer o fim da marca no meu
pulso.

"O que é isso?!" O pai de Mary exclamou, pegando meu braço com força,
me fazendo largar a mão da esposa abruptamente. "O que significa isso?!"

"Senhor MacDonald, ele não..." Pandora tentou se intrometer, tentando pegar


meu braço de volta.

262
"Senhor, eu posso explicar..." Tentei dizer, depois que ele apertou meu pulso
com mais força. "Eu não sou um deles."

"Então por que é que você tem isto?!" A mãe de Mary perguntou, com os
olhos arregalados.

"Eu quero você fora da minha casa." O pai de Mary disse, muito sério.

"Isso não é justo!" Pandora interveio. "O senhor não o conhece!"

"Não estou do lado deles, senhor," Expliquei. "Minha família está, recebi a
marca quando tinha dezesseis anos. Mas estou com a Ordem agora, eu juro."

"Meu marido disse que quer que você saia." A senhora MacDonald disse, tão
seriamente quanto o marido.

Mary estava descendo as escadas, dispersa do que estava acontecendo. "Eu


não sabia onde havia deixado o casaco, procurei em todos os lugares e
finalmente..." Ela olhou para nós quatro, e sentiu o clima pesado pairar. "O
que está acontecendo?!"

"Você trouxe um deles para dentro da nossa casa!" O pai dela esbravejou.

"Eu já disse que não sou um deles!" Disse, realmente zangado agora.

"Pai, Regulus é meu amigo! Ele realmente está conosco agora!" Mary
exclamou, vindo até o pai. "Dê uma chance."

"Uma chance?!" Ele exclamou, alto. "Você foi ferida por um deles, Mary!
Eles machucaram você, minha filha! É por culpa dele! Eles matam pessoas
como nós e quer que eu aceite isso?!"

"Foi por isso que eles vieram, senhor!" Pandora tentou explicar.

"Exatamente! Eles vieram porque sabem que eu os trai e queriam me pegar."


Completei o que ela disse.

"Está me dizendo," A mãe de Mary disse, cerrando os dentes, "Que a minha


filha foi machucada porque estava protegendo você?! A minha filha foi um
dano colateral?!"

263
"Mãe!" Mary gritou. "Vocês não estão entendendo as coisas direito."

"Você não vai à lugar nenhum com ele, Mary. Suba para o seu quarto." A
mãe de Mary ordenou severamente.

"Não, mãe! Eu vou com ele sim!" Ela disse, se pondo do meu lado.

"Mary, você não precisa..." Comecei, mas ela me interrompeu.

"Cala a boca, Regulus." Ela disse., e se virou para os pais. "Vocês não o
conhecem de verdade. Confio nele mais do que confio em qualquer outra
pessoa no mundo. Sei que Regulus vai me proteger se acontecer qualquer
coisa. Vocês julgarem ele por algo que está na pele dele faz ele se sentir
como eu mesma me sentia sendo julgada pela minha. E se vocês não
entendem isso, procurem entender. O que tem no braço dele não diz nada
sobre quem ele é."

"Mary, não saia por essa-" O pai dela começou.

"Estou indo, pai," Mary disse, abrindo a porta. "Vejo você no jantar." E então
fechou a porta atrás de nós.

"Isso foi incrível, Mary!" Pandora elogiou. "Você usa as palavras muito
bem."

"É, isso foi..." Falei, sem conseguir encontrar palavras o suficiente para
demonstrar a sensação que foi ser defendido por Mary assim. "Foi incrível
mesmo." Sorri fracamente.

"Ah, não foi nada," Ela disse, corando. "Apenas fiz o que qualquer um faria...
Vamos, é melhor irmos logo antes que Moody tenha um troço por nos
atrasarmos." Ela falou, saindo na nossa frente.

"Espere aí," Puxei ela pelo braço, finalmente encontrando um jeito de


agradecer. Dei um selinho demorado nela e sussurrei. "Obrigado."

"Vocês são nojentos e estamos atrasados!" Pandora exclamou, puxando nós


dois pelo braço.

As reuniões da Ordem eram sempre na casa dos Longbottom. Na primeira


vez que eu havia ido, eu não fazia ideia que essa era a casa deles porque eles
não me disseram muito. Na época, eu podia jurar que era porque eu ainda

264
não era confiável o bastante, mas na verdade, acho que é porque não era
seguro nem para nós mesmos sabermos quem morava lá.

Alice Longbottom estava grávida, a barriga praticamente do mesmo tamanho


que a de Lily. Não me surpreenderia nenhum pouco se o bebê das duas
nascesse ao mesmo tempo. A casa estava cheia de bruxos e bruxas, alguns
mais velhos e outros mais novos. Senti falta de alguns rostos que costumava
ver, mas que nunca me aprofundei para saber quem realmente eram. Não
gosto nem de imaginar o motivo que os fez não estarem aqui hoje.

A mesma mesa de madeira comprida de sempre estava na parte de trás da


cozinha dos Longbottom. Dumbledore sentado na ponta da mesa e Moody
sentado na lateral da sua esquerda. Hagrid estava em pé atrás de Dumbledore.
Sirius, Remus, James, Lily e Marlene estavam amontoados no outro lado da
mesa, conversando entre si. Eles levantaram o olhar e sorriram quando viram
eu, Mary e Pandora chegarmos.

"Por que vocês demoraram?!" Lily perguntou. "A reunião está prestes a
começar."

"Tivemos um imprevisto na casa de Mary." Respondi, puxando uma cadeira


ao lado deles. "Digamos que os pais dela não gostaram de saber quem eu
era."

"Eles disseram algo ruim para você?!" Sirius perguntou.

"Nada que eu já não ouça de outras pessoas." Respondi, dando de ombros.

"Babacas." Remus disse, revirando os olhos. "Desculpe, Mary."

"Está tudo bem," Ela disse. "Falei algumas coisas para eles que acho que
realmente pesaram mais do que isso."

"Você defendeu Regulus?!" Marlene perguntou, cutucando Mary, com um


sorriso no rosto.

"Não só defendeu," Pandora disse. "Ela arrasou completamente!"

"Não exagere, Dora," Mary corou. "Eu apenas fiz o que vocês fariam."

"Não, Pandora tem razão," Respondi, sorrindo de lado. "Você foi incrível."

265
"Dumbledore vai começar a falar," James disse. "Prestem atenção."

Dumbledore se levantou na cadeira e todos que estavam em pé se sentaram


em seus lugares.

"Bom dia à todos vocês," Dumbledore começou, com um sorriso amigável.


"Obrigado pela presença de vocês hoje, temos vários assuntos a tratar.
Alastor vai passar à vocês as suas respectivas missões do mês e dar as
informações necessárias que cada um precisa." Ele disse, se dirigindo à
Moody. "Alastor, quando quiser."

"Bom," Moody se levantou rudemente, balançando um pouco a mesma.


"Vamos começar então."

Foram muitos relatórios lidos e muitas missões avaliadas sobre o último mês.
Ele leu a lista de desaparecidos como fazia em todos os meses, e como
sempre um minuto de silêncio foi dado em respeito. Moody começou dando
as missões aos mais velhos e experientes na Ordem, eram missões mais
perigosas, como espionagem e infiltração. De acordo com que a idade ia
diminuindo, as missões iam ficando mais leves, como apenas guarda e
segurança de algum lugar ou alguma família.

Até que Moody chegou à nós. James e Sirius deveriam ir na semana que vem
até o Beco Diagonal, para montar guarda enquanto ele estava sendo
reconstruído depois do ataque. Mary e Marlene deveriam ajudar Frank em
uma missão que ele mesmo as contaria depois. E então, Moody chegou à
Remus.

"Lupin," Ele começou. "Vamos conversar sobre sua próxima missão em um


lugar mais reservado depois."

"Hm, Moody?!" Chamei, me levantando. "Desculpe, mas não acho que isso
seja bom."

"Reg, não faça isso." Remus disse, puxando a manga do meu casaco.

"Moody," Falei, ignorando Remus. "Da última vez, alguém que não tinha
nada a ver com o assunto se machucou. Se você dá as missões de acordo com
as idades, então por que Remus faz esse tipo de coisa tendo apenas dezenove
anos?"

266
"Faço vinte mês que vem." Remus disse, tentando me convencer a sentar
novamente.

"Isso não importa," Falei, balançando a cabeça. "Não acho que ele deva ir."

Haviam algumas pessoas confusas na mesa, porque nem todos sabiam que
tipo de missão Remus ia. Acho que nem mesmo todos sabiam que Remus
era um lobisomem. Moody me analisou, com o olho bom e o olho mecânico
percorrendo dos meus pés até a cabeça.

"Remus terá mais segurança dessa vez, Regulus." Dumbledore disse. "O que
aconteceu foi apenas um descuido de Sirius, que não e repetirá outra vez.
Remus voltou intacto, como todas as outras vezes."

"Até quando?!" Perguntei. "Até quando vocês vão esperar algum de nós
morrer para verem que não é assim que se ganha uma guerra?! Matando os
próprios soldados?!"

"Então, como se ganha uma guerra, Regulus?!" Moody vociferou. "Lupin é


o único que pode fazer isso e precisamos de informações sobre..."

"E o que vocês estão fazendo com as informações?!" Falei, alto. "Os ataques
continuam acontecendo e pessoas continuam morrendo! Não há sentido em
continuar arriscando a vida dele porque vocês não sabem outra maneira de
fazer isso!"

"Não podemos impedir os ataques, se não eles vão saber que Lupin está
infiltrado." Moody disse, ferozmente.

"Então, que se dane, Alastor!" Vociferei. "Remus não vai mais à lugar
nenhum."

"Regulus, guerras exigem sacrifícios." Dumbledore disse, calmamente.


"Posso assegurar à você que Remus estará completamente seguro em suas
próximas missões."

"Se vocês o mandarem," Falei, seriamente. "Eu vou também."

Sirius assumiu uma postura desafiadora imediatamente, e se levantou de uma


vez da cadeira. "Eu também vou."

"Eu também." James disse, com a mesma postura, se levantando.

267
"Eu também vou." Lily disse, furiosamente.

"Nós também." Mary, Marlene e Pandora levantaram, encarando Moody e


Dumbledore.

Remus sorriu, emocionado, e se levantou também. Houve um silêncio longo,


acompanhado de alguns olhares entre Dumbledore e Moody. Nós nos
entreolhamos algumas vezes, hesitantes.

"Pois bem," Dumbledore disse, por fim, "Lupin não irá mais as missões."

"Alvo!" Moody exclamou.

"Eles são crianças, Alastor." Dumbledore disse, erguendo o queixo. "A


guerra já os prejudica o suficiente."

Moody nos olhou relutantemente e finalmente cedeu, dando fim a reunião.

"Vocês são loucos!" Remus suspirou, aliviado. "Achei que Moody


amaldiçoaria você, Reg."

"Qualquer coisa pelo nosso Moony." Sirius disse, sorrindo e dando um beijo
rápido em Remus.

Depois disso, todos nos preparamos para voltar. Vi Mary indo falar alguma
coisa com Pandora, e então as duas se despediram de mim, Pandora disse
que ela e Mary iam tomar um café juntas e que à noite ela me encontraria
para irmos à Hogsmead. Não sabia se eu me sentia feliz ou assustado pelas
duas serem amigas.

***

Hogsmead era meu segundo lugar favorito no mundo, perdendo apenas para
Hogwarts. Então, já dá para se imaginar como eu ficava feliz quando
chegavam os finais de semana que íamos até lá. Eu era tão feliz em Hogwarts
que até conseguia esquecer por alguns momentos como as coisas eram em
casa.

Sirius, Remus, James, Pandora e eu aparatamos para lá exatamente às dez e


meia. Meia hora antes do horário que Narcissa escreveu na carta.

268
"Acho que somos nós cinco outra vez, hein?" James disse, com as mãos na
cintura.

"Espero que não haja nenhuma cobra gigante desta vez." Sirius disse.

"Acho que Narcissa é pior que o basilisco." Respondi, simplesmente.

"Vamos, então." Pandora disse, indo em direção ao Três Vassouras.

"Espere aí," Chamei, a puxando pela mão. "Você tem certeza que quer ficar
aqui?"

"Não comece com a super proteção outra vez, Reg." Pandora disse revirando
os olhos. "Eu sei me cuidar."

"Não consigo evitar." Respondi. "Não quero que você se machuque."

"É um pouco machista você falar isso apenas para a única mulher aqui." Ela
disse, com um olhar de reprovação.

"Me preocupo mais com você do que com eles." Respondi, dando de ombros.

"Ei!" Sirius exclamou, ofendido.

"Vai ficar tudo bem, Reg." Pandora disse. "Vamos, Remus, vamos achar um
lugar para ficarmos escondidos aqui fora." Ela falou, se desprendendo do
meu braço, Lupin foi atrás dela.

"Remus," Chamei, fazendo ele virar para trás. "Cuide dela."

"Não a subestime, Reg." Remus disse, dando um tapinha no meu ombro e se


afastando.

Depois que Remus e Pandora se afastaram, houve um barulho de


desaparatação e Andrômeda apareceu atrás de nós.

"Todos prontos?!" Ela perguntou, parecendo um pouco agitada.

"Você está bem, Andy?" Sirius perguntou, com a mão no ombro dela.

"Sim..." Ela respondeu. "Só um pouco nervosa."

269
"Eu e Padfoot vamos entrar primeiro," James disse. "Ele vai entrar como
cachorro, vai facilitar para ele ficar embaixo da capa comigo. Vamos achar
uma mesa escondida para ficarmos."

"Tudo bem," Assenti, e olhei para Andrômeda. "Vamos fazer isso."

Sirius imediatamente se transformou em Padfoot, e ele e James entraram no


bar. Eu e Andrômeda entramos alguns minutos depois, nos sentando em uma
mesa perto da porta, caso algo acontecesse.

"Você está bem?" Ela perguntou, segurando na minha mão.

"Acho que sim," Respondi. "Não faz muito tempo desde a última vez que a
vi, pelo menos não tanto tempo como você."

"Espero que ela não dê meia volta quando me ver." Ela disse, com a voz um
pouco tensa.

Esperamos alguns minutos que pareceram horas. Andrômeda estava tensa o


tempo todo, batendo as mãos na mesa. Eu estava ficando um pouco
incomodado, mas não queria reclamar porque sabia como isso era difícil para
ela.

"Você pode respirar fundo algumas vezes." Falei, de repente.

"O quê?" Ela perguntou, distraída.

"Você está meio... acelerada," Expliquei. "Quando eu me sinto assim, tento


respirar fundo. Isso ajuda a fazer meu peito parar de doer."

Ela respirou algumas vezes, e eu assenti para ela, indicando que ela estava
fazendo certo. Então, a porta do bar se abriu, e ela ficou agitada outra vez.

"Lembre de respirar." Sussurrei, segurando no braço dela.

Narcissa não havia mudado tanto. Ela ainda era linda. O cabelo platinado
igual o de Lucius e o corpo magro e esguio, a postura de uma princesa,
emanando nobreza. A pele pálida herdada dos Blacks e os traços do rosto
bem marcados, também parecidos com os da nossa família. O nariz
empinado e as roupas impecáveis. A única coisa diferente era que ela estava
grávida agora.

270
Ela olhou ao redor do bar, procurando por mim, até que seus olhos
encontraram os meus e ela arqueou uma sobrancelha, então seu olhar parou
em Andrômeda e suas sobrancelhas relaxaram, fazendo-a assumir uma
expressão assustadoramente raivosa. Antes que ela conseguisse dar meia
volta, eu me levantei da mesa e fui rápido até ela.

"Narcissa!" Chamei, a puxando pelo braço. "Escute."

"Não encoste em mim." Ela respondeu, puxando o braço de volta. "Você


disse que seríamos apenas nós dois."

"Ela não quer brigar." Respondi. "Ela só está aqui porque queria ver como
você estava."

"Ela não se importa com isso."

"Ela se importa sim." Respondi. "Apenas se sente e escute."

Narcissa hesitou por alguns segundos, eu podia jurar que ela daria meia volta
e eu teria que arranjar sabe-se lá Deus qual outro jeito para achar aqueles
infernos de horcruxes. Até que ela passou por mim, ainda com a expressão
autoritária, indo até a mesa em que estávamos. Eu a segui.

"Cissy." Andrômeda assentiu, claramente nervosa.

"É Narcissa." Ela corrigiu. "Boa noite, Andrômeda." E se sentou de frente


para ela.

Eu me sentei entre as duas, nervoso com o rumo que aquilo tomaria.

"Parabéns pela gravidez." Andrômeda disse, cautelosamente.

"Obrigada." Narcissa agradeceu, secamente. "Eu e Lucius estamos


procurando algum nome astrológico. Quero seguir a tradição da família."

"Eu imaginei," Respondi. "Sei como você valoriza seus laços familiares."

A expressão severa de Narcissa pareceu falhar, mas rapidamente voltou ao


normal. "Sim, valorizo."

271
"Então," Comecei. "Eu escrevi a você porque acho que nós dois podemos
ajudar um ao outro de alguma forma."

"Eu duvido muito, Regulus." Ela respondeu. "Mas fiquei curiosa para saber
porquê depois de tudo que fez, você quis me procurar."

"Você sabe que estou sendo procurado por eles, não sabe?" Falei, a
encarando seriamente. "E deve saber o motivo."

"Quer matá-lo." Ela respondeu, indecifrável.

"Sim." Assenti. "Não tenho motivos para não querer."

"Por que acha que não vou contar à eles o que está acontecendo aqui?" Ela
perguntou, correndo os olhos entre mim e Andrômeda.

"Porque não sou idiota de contar à você nada que eles possam usar contra
mim." Respondi, friamente. "Não vou fingir que ainda somos as mesmas
crianças de antes."

"E você?!" Ela perguntou, se dirigindo à Andrômeda. "Por que está aqui?!"

"Queria saber como você estava." Andrômeda disse. "Soube da sua gravidez
e quase não acreditei. Você deve estar muito feliz."

"Sim, estou." Ela respondeu, assentindo. "Então, não me façam perder


tempo."

"Queremos que você nos diga se o Lorde das Trevas pediu para algum dos
comensais guardar algo importante para ele. Algo realmente valioso para
ele." Comecei, e pude jurar que vi o olhar de Narcissa mudar. "Preciso que
você me diga onde está se souber."

"E por que eu o trairia assim?!" Ela perguntou, desconfiada. "Ele mataria a
mim e ao meu filho sem pensar duas vezes. Não vou colocá-lo em risco dessa
maneira."

"Você vai estar o colocando em risco de qualquer maneira, Narcissa,"


Andrômeda começou. "Pense em como vai ser criar uma criança perto deles.
Pense em como seu filho vai crescer cercado do mesmo ódio que nós três
crescemos."

272
"Meu filho vai crescer com os mesmos princípios que eu." Ela respondeu,
parecendo que estava tentando convencer mais a si mesma do que nós.

"Mesmo que isso custe a vida dele?!" Perguntei, a olhando nos olhos.
"Narcissa, eu quase fui morto há alguns meses em uma caverna cheia de
magia negra. Tudo porque estava tentando provar que não sou o que minha
família me criou para ser. Sirius fugiu de casa. Andrômeda foi embora. Eu
os trai e agora eles estão atrás de mim. Essa família tem um histórico enorme
de desertores, isso sem falar em tio Alphard. O que faz você pensar que seu
filho não fará o mesmo se você o pressionar a acreditar em algo que você
acredita?!"

"Ele vai nos matar, Regulus!" Ela disse, exasperada. "Você não entende?!"

"A Ordem vai proteger você." Andrômeda disse. "Regulus está sob proteção
deles e até agora não o pegaram, mesmo ele estando tentando matar o próprio
Lorde das Trevas, Narcissa. Você só precisa fazer a escolha certa. Faça isso
pelo o seu filho."

"Não fale do meu filho," Narcissa vociferou. "Vocês não sabem nada sobre
como vou criá-lo."

"Mas sabemos que você o ama!" Exclamei. "Narcissa, você viu o que
aconteceu comigo. Eu fui igual a eles por muitos anos. Eu era um idiota
completo. Até aceitei esta droga de marca que mais atrapalha a minha vida
do que ajuda. Perdi minha infância e parte da minha adolescência por causa
disso. Eles destruíram a minha vida e eu só era uma criança."

Narcissa estava em silêncio, então continuei.

"Se você permitir, eu mesmo protejo a criança." Falei, seriamente.

"Draco." Narcissa disse, a voz falhando um pouco. "O nome dele é Draco."

"Draco." Repeti. "Se você puder confiar em mim, eu mesmo vou proteger e
ensinar Draco a ser uma pessoa boa e decente. Ele não vai precisar passar
pelo o que eu passei para aprender nada, Narcissa. Ele vai crescer com amor.
Com o amor que nós três não tivemos a chance de conhecer, mas que ele
ainda tem. Se você o ama, não deixe Draco crescer como nós crescemos."

"Nós vamos amá-lo, Cissy," Andrômeda disse, amigavelmente. "Ele será um


de nós."

273
"O que você entende sobre amor?!" Narcissa disse para Andy, com a voz
carregada de mágoa. "Há dez anos atrás, você deixou de me amar e virou as
costas para mim! Como você tem coragem de falar sobre amor comigo?!"

"Eu não virei as costas para você!" Andrômeda disse. "Você foi quem virou
quando colocou seu ciúmes na frente de nós duas! Eu penso em você todos
os dias, Narcissa! Não há um dia que eu não sinta vontade de escrever para
você, ou que não imagine você conhecendo a minha filha e fazendo parte da
minha vida!"

"Não é hora de vocês brigarem." Disse, tentando acalmar as duas.

"Você estava tão ocupada pensando na própria felicidade que não pensou em
nenhum momento que eu poderia sentir o mesmo." Narcissa disse, com a voz
trêmula. "Eu também senti a sua falta, Andrômeda. Senti tanto que mal
consigo dizer o quanto. Mas você partiu meu coração quando escolheu ele
ao invés de mim."

Abaixei a cabeça por alguns instantes, lembrando de como eu já estive no


lugar de Narcissa. Sozinho e magoado. Com raiva de Sirius por ele ter
escolhido outra pessoa que não fosse eu. Com raiva por ele ter colocado a
própria felicidade na frente de mim e me deixado sozinho. Era engraçado
estar vendo isso do outro lado. Mas me dá uma sensação ruim saber que já
fiz ele se sentir da forma que Andy se sente agora.

"Isso não vai funcionar, Reg." Andy disse, se encostando na cadeira.

"Narcissa," Chamei, fazendo-a olhar para mim. "Preciso de você. Nós


precisamos. Até Sirius precisa, mas é orgulhoso demais para admitir. Não
vamos conseguir sem você, por favor."

Ela suspirou e posso jurar que até entristeceu um pouco, mas então balançou
a cabeça. "Não posso, Regulus. Não posso correr esse risco." E então, se
levantou. "Boa noite à vocês."

Vimos Narcissa sair do bar junto com nossa última carta na manga. Eu não
fazia ideia do que eu iria fazer agora. Eu podia ter certeza que isso iria
funcionar. Eu vi o olhar dela vacilar, eu vi! Como, de repente, ela andou para
trás?!

274
"E então?!" James saiu debaixo da capa, com Sirius ao seu lado, ainda em
forma de cachorro. Remus e Pandora entraram rapidamente no bar, vindo até
nós.

"O que ela disse?!" Pandora perguntou, animada.

"Vimos ela sair ainda agora," Remus falou, agitado. "Ela vai nos ajudar?!"

Troquei um olhar com Andrômeda e nós dois suspiramos pesadamente,


completamente frustrados e todos entenderam perfeitamente o que aquilo
significava. Tudo deu errado. Sirius se transformou de volta.

"Vadia." Ele resmungou, furiosamente.

***

"Já vai dormir, Reg?" Sirius perguntou, deitado no sofá, Remus dormindo
com a cabeça em seu colo, enquanto eu passava para pegar água na cozinha.

"Acho que sim," Respondi. "Minha cabeça está me matando."

"Não se preocupe," Ele disse. "Vamos encontrar outro jeito."

"Espero que sim, Six," Respondi, bocejando. "Realmente espero."

"Andy está bem?" Sirius perguntou. "Ela e Narcissa não se falavam desde
aquela noite, fiquei preocupado com as merdas que ela poderia dizer à
Andy."

"Acho que ela está bem," Respondi. "Melhor, pelo menos. Narcissa não
pegou nada leve."

"Imaginei." Ele disse, assentindo.

"Six." Chamei, e ele levantou o olhar para mim. "Sei que essa história é velha
e que já nos desculpamos, mas o que aconteceu entre Andy e Cissy hoje me
fez ter vontade de dizer uma coisa que não dizia a muito tempo para você."

"O quê?!" Ele perguntou, confuso.

Fui até ele sorrindo, com um copo de água na mão, e baguncei o seu cabelo.

275
"Eu amo você, seu idiota."

Os olhos dele ficaram brilhantes e ele ficou em silêncio enquanto eu voltava


para o meu quarto, antes que eu pudesse abrir a porta, ele disse do sofá.

"Também amo você, seu pirralho arrogante."

Sorri para ele, um sorriso de verdade e entrei para o quarto. Não acho que eu
tenha dito isso à Sirius vezes o suficiente. Mas vou me lembrar de dizer
sempre agora, porque não faço ideia de quando as coisas vão começar a fugir
do meu controle e darem errado outra vez. Preciso que Sirius saiba que eu o
amo e que tenho orgulho de nós dois. Acho que vou começar a dizer isso
mais vezes para as pessoas. É realmente libertador.

Fui dormir com o coração leve, apesar de tudo ter dado errado hoje. Tão leve
que quase não notei que Mary não me mandou um patrono como faz todas
as noites, dizendo se está bem ou se quer que eu vá até lá. Mas talvez seja
pelo o que aconteceu com os pais dela hoje de manhã. Não preciso me
preocupar tanto. Mary está bem.

Tem que estar.

276
Capítulo 24.1: Mary

A última coisa que eu queria era voltar para casa, depois do que aconteceu
com os meus pais. Então, quando Pandora me chamou para sair com ela
depois da reunião na casa dos Longbottom, não pensei duas vezes antes de
aceitar. Pandora era definitivamente o tipo de pessoa que alegra o ambiente
em que está, qualquer que seja ele. Consigo ver claramente o porquê de
Regulus a amar tanto.

Nós duas fomos até um café que ficava duas ruas depois da casa de Frank e
Alice. Ela pediu um chocolate quente e eu pedi um café gelado.

"Não sei como você consegue tomar café gelado, Mary," Pandora disse, se
sentando em uma mesa. "É literalmente um insulto à todas as bebidas
quentes."

"Bom, eu vejo mais como uma exceção muito boa!" Respondi, sorrindo e me
sentando também. "Aliás, sinto muito pelo o que aconteceu hoje em casa...
meus pais ficaram realmente muito assustados depois do que aconteceu da
última vez."

"Ah, não se preocupe com isso," Pandora disse, mexendo as mãos. "Você
não tem culpa do que aconteceu. Regulus também entende."

"Não consigo acreditar que ainda hajam pessoas que não acreditam nele,"
Comentei. "Odeio que pensem nele dessa forma."

"Bom," Pandora respondeu. "Eu também não gosto nada disso... passei a
nossa vida inteira tentando encorajá-lo a ser quem ele está tentando ser hoje,
entende? Eu não poderia prometer que seria fácil, mas eu sempre soube que
ele conseguiria."

"Vocês dois são amigos a bastante tempo, não é?" Perguntei, dando um
sorriso a ela.

"Sim, nós somos," Ela respondeu, sorrindo orgulhosa. "Desde os onze anos,
na verdade. Regulus precisava de alguém que não fossem aqueles sonserinos
idiotas no pé dele o tempo inteiro."

"Ele conversava com você sobre as coisas que aconteciam em casa?"


Perguntei.

277
"Ah, as 'coisas em casa'," Ela relembrou, dando ênfase na frase. "Sei bastante
sobre isso... Não gosto de pensar no que Regulus poderia ter feito se não
tivesse ninguém para conversar, principalmente depois que ele e Sirius
brigaram... Merlin, houve um tempo em que Regulus se afundou
completamente."

"Na outra noite," Comentei, franzindo a testa. "Nós estávamos dormindo e


ele... bem, ele teve esses... pesadelos."

"Um pesadelo?!" Pandora perguntou, realmente interessada. "Eles


voltaram?!"

"Ele costuma ter isso sempre?!" Perguntei, preocupada.

"Eu achei que isso tivesse parado depois que ele saiu da casa dos pais..." Ela
refletiu, franzindo o cenho. "Ele costumava ter antes, mas me disse que
haviam parado."

"Bom, foi a primeira vez que ele teve um quando estava comigo," Eu disse.
"Eu acho que foi algo muito ruim porque... porque ele acordou gritando e
com o rosto todo molhado. Ele mal conseguiu ficar deitado e foi para o
chuveiro na mesma hora em que acordou."

"Isso deve ter tido algo a ver com a mãe dele, com certeza," Pandora disse,
pondo a mão na testa. "Aquela vadia egoísta."

"Queria conseguir ajudar ele, mas..." Falei, suspirando. "Mas não faço ideia
de como fazer isso."

"Você gosta mesmo dele, não é?" Pandora perguntou, sorrindo para mim.

"Ahg!" Suspirei, cobrindo o rosto com as mãos. "Me sinto tão idiota por ter
gostado dele tão fácil!"

"Ah, não se sinta assim!" Pandora disse, pondo a mão no meu braço. "Sabe,
Mary, Regulus nunca teve um relacionamento realmente saudável na vida
dele. Nem com os pais, nem com Sirius por um longo tempo, ou com as
primas, os amigos... e nem mesmo com pessoas de quem ele se interessava.
Você deve saber sobre ele e aquele filho da puta do Crouch."

"Ele me contou sobre isso quando conversamos sobre o que aconteceu


naquele dia..." Respondi, me esforçando para não pensar muito naquilo

278
porque ainda me dava ânsia de vômito. "Mas não entrou muito em detalhes
sobre nada."

"Acho que é porque não foi apenas o primeiro 'coração partido' dele," Ela
começou. "Vou contar isso à você porque eu sei que você se importa com
ele tanto quanto eu."

"Me conta." Insisti, hesitante.

"Regulus gostava de Barty, realmente gostava," Ela disse, um pouco enojada.


"Eu sempre dizia à ele que Barty não o merecia e que ele merecia alguém
que realmente se importasse com ele, mas ele estava tão convencido que de
que Barty era apenas 'alguém difícil'... Então, sempre que Barty fazia alguma
besteira, Regulus perdoava porque achava que ele era uma boa pessoa no
fundo."

"Besteira?" Perguntei, curiosa. "Besteira como ficar com outra pessoa ou


algo do tipo?"

"Não apenas isso, quem dera fosse apenas isso, Mary," Pandora disse,
franzindo a testa. "Barty colocava na cabeça de Regulus que todas as coisas
ruins que ele fazia eram, de alguma forma, culpa dele. Que se Regulus não
fosse tão focado nos estudos, então Barty não teria que procurar alguém que
dava mais tempo à ele... Que se Regulus não fosse tão sensível, Barty não o
machucaria tão facilmente... Coisas desse tipo."

"Que filho da puta!" Exclamei, furiosa.

"Sim." Pandora continuou. "Regulus se sentia tão... tão culpado por tudo na
época. Ele já se culpava o suficiente por tudo que aconteceu com Sirius, e
então Barty vinha e jogava toda essa carga em cima dele. Regulus começou
a querer agradar Barty de qualquer maneira que fosse, era quase como se ele
estivesse desesperado para ser amado por ele."

"E como Regulus se livrou dele?!" Perguntei. "Ele terminou com ele, não
é?!"

"Na verdade, não foi bem assim..." Pandora disse. "Os dois não namoravam
de verdade, Barty dizia que eles eram apenas 'melhores amigos com
benefícios', mas Reg realmente gostava dele e isso o machucava. Barty vivia
dizendo para Reg que quando os dois recebessem a marca negra, eles seriam

279
invencíveis e extraordinariamente poderosos. Regulus ficou fascinado pela
ideia de Barty querer tanto fazer algo com ele."

"E o que você disse à ele?!" Perguntei. "Como você conseguia ver ele se
destruir assim?!"

"Você sabe que ninguém consegue fazer Regulus mudar de ideia quando ele
põe algo na cabeça," Pandora disse, tristemente. "Eu fiz o que eu pude para
Regulus não aceitar a marca, avisei que ele se arrependeria... mas ele estava
com tanto medo da mãe, e com tanta raiva de Sirius e tão fascinado pela ideia
de Barty gostar dele... Isso continuou por muito tempo, até que um dia passou
dos limites."

"O que Barty fez à ele que foi pior do que as outras coisas, por Merlin?!"
Perguntei, exasperada.

"Barty sempre foi louco, um maníaco psicopata," Pandora disse, com nojo.
"Mas houve um dia, algum tempo depois dos dois receberem a marca, que
Barty fez Regulus finalmente perceber que não havia salvação nenhuma para
ele. Barty queria que ele e Regulus atacassem uma família inteira de trouxas,
em plena noite de natal. Dizendo Barty, isso seria simbólico, quase como
uma oferenda ao Lorde das Trevas. Regulus recusou na hora e disse que ele
estava louco, que ele não ia fazer isso e que, além de tudo, era natal. Barty
ficou furioso pelo sentimentalismo de Regulus. Ficou realmente furioso...
Ele estava com tanta raiva que simplesmente decidiu lidar com isso do jeito
trouxa." Pandora pareceu respirar fundo, se preparando para terminar a
história. "Mary, Barty bateu tanto nele que Regulus quase não conseguiu
aparatar para a minha casa de tão fraco que ficou."

"O quê?! Ele não... você está me dizendo que Barty bateu nele porque ele
não quis massacrar uma família inteira?!" Questionei, furiosa. "Aquele
babaca desgraçado!"

"Eu mesma quis ir pessoalmente confrontar Barty, mas Regulus disse que
era perigoso demais." Ela continuou. "Regulus se desligou emocionalmente
para as coisas depois disso. Ele fingia firmemente que não sentia falta de
Sirius, fingia que talvez não fosse tão ruim assim ser um comensal da morte,
fingia que não se importava quando a mãe torturava ele por nada... mas ele
se importava, ele ainda se culpava. É o ponto fraco dele. A culpa."

"E depois?! Depois do que aconteceu com Barty, como ele... voltou a
melhorar?!"

280
"Não sei se eu saberia te dizer o momento exato, Mary, porque quando ele
decidiu ir atrás das horcruxes, as coisas na cabeça dele já estavam em uma
ordem melhor," Ela disse. "Regulus tentou machucar o próprio braço uma
vez... tentando se livrar da marca. Não funcionou. Foi quando percebi que
ele não aguentava mais nenhum segundo daquela vida. Eu tentei falar com
Dumbledore ou com alguém que pudesse tirá-lo daquela casa, mas não
consegui nada. Eles diziam que se Regulus já tinha dezessete e não queria
sair de lá, então não adiantava fazer nada."

"É por isso que ele não confia neles, não é?!" Falei, finalmente me tocando.
"Por isso, ele não confia em Dumbledore ou Moody, ou em qualquer adulto
na Ordem. Porque eles não fizeram nada."

"Reg tem consciência que se ele mesmo tivesse pedido ajuda e mostrado que
queria sair de lá, teria sido mais fácil. Mas você não faz ideia do que ela
poderia fazer com ele se ele tentasse fugir ou demonstrasse que não
concordava com ela, Mary," Pandora disse. "Ele era o único herdeiro Black
que restava. Ele não conseguiria sozinho, nem mesmo apenas nós dois. Ele
precisava de Dumbledore ou alguém tão poderoso quanto, mas eles não
fizeram nada."

"Como uma mãe pode fazer esse tipo de coisa com o próprio filho?! Como
ela não conseguia ver que ele merecia mais do que aquilo?!" Disse,
completamente horrorizada. "Não é à toa que ele tem pesadelos, Pandora."

"É por isso que ele gosta de você, Mary," Pandora disse, me fazendo encará-
la. "Porque você fez ele se sentir uma pessoa completamente diferente de
como ele foi visto a vida toda. Ele deixou você entrar e Regulus não deixa
ninguém entrar. Você não tem ideia de como foi difícil para ele se afastar de
você, mas mesmo assim, ele fez. Ele faria qualquer coisa para proteger você
porque se ele perder você, ele vai se perder de novo. E eu não sei se ele
aguentaria isso outra vez."

"E se eu não conseguir protegê-lo, Pandora?!" Perguntei, com os olhos


desesperados. "E se eles conseguirem pegar ele?! Ou se algo der errado
quando vocês forem ver a prima dele hoje à noite e isso tudo for uma
armadilha?! Só de imaginar eles o fazendo sofrer... ou eles o torturando... me
dá vontade de trocar de lugar com ele! De implorar para me levarem e
deixarem ele em paz para ele finalmente ter a vida que merece!"

"Você sabia que tirando eu e Sirius, ninguém nunca protegeu Regulus de


nada?" Pandora disse, sorrindo fracamente. "Ninguém nunca nem cogitou.

281
Sempre achavam que ele gostava de ser quem ele era. Ele sempre se virou
sozinho com o que tinha. Por isso, ele não gosta de pedir ajuda para os outros
e acha que pode resolver tudo sozinho, quando claramente está errado.
Porque ele fez isso a vida toda. Pelo menos, até você aparecer."

"Eu?!" Perguntei. "Se eu realmente conseguisse protegê-lo, ele não estaria


na situação em que está, Pandora."

"Tenho certeza que não existe ninguém que faça Regulus se sentir mais
seguro do que você faz, Mary." Ela disse, sorrindo amigavelmente. "Na
verdade, não acho que ninguém faça ele sentir qualquer coisa como você faz.
Acredite em mim, você não precisa fazer muita coisa para Regulus continuar
apaixonado por você."

"Apaixonado?!" Perguntei, arregalando os olhos. "Você acha que ele está...


apaixonado?"

"Merlin, vocês dois realmente se merecem!" Pandora exclamou, revirando


os olhos. "Regulus arrasta um caminhão por você, Mary, pelo amor de
Deus."

"Não é verdade..." Respondi, corando. "Quero dizer, Regulus tem sorte


porque, sinceramente, eu sou incrível." Pandora gargalhou. "Mas...
apaixonado? Eu nunca havia realmente considerado isso."

"Você não pode estar pensando que só você é quem está!" Pandora disse,
revirando os olhos outra vez.

"Não estou apaixonada!" Exclamei. "De onde você tirou isso?!"

"Ah, Mary..." Pandora disse, tomando um gole do seu chocolate. "Acho que
já somos amigas o bastante para você saber uma coisa muito importante
sobre mim que o próprio Regulus demorou anos para aceitar, e até hoje ás
vezes questiona."

"O quê?!" Perguntei, confusa.

"Estou sempre certa." Ela disse, arqueando as sobrancelhas e dando um


sorriso travesso.

Eu e Pandora fomos almoçar juntas depois que saímos do café. Não quis
tomar muito o tempo dela porque ela tinha que se preparar para hoje à noite,

282
então assim que saímos do restaurante, eu voltei para casa. Agora, mais do
que antes, consigo ver perfeitamente o porquê Regulus ama tanto Pandora.
Vou lembrar de agradecer todas as noites por Pandora existir e por ela ter
tido a chance de estar com ele quando ele não tinha mais ninguém.

Às vezes, é engraçado lembrar de Regulus em Hogwarts, andando distraído


pelos corredores do castelo ou lendo algum livro ao ar livre, sentado em uma
árvore. Eu costumava pensar nele apenas como um puro-sangue rico,
arrogante e supremacista. Então, quando lembro desses momentos em que
eu só precisava ter prestado mais atenção. Só precisava ter olhado um pouco
mais de perto e, então, conseguiria entender perfeitamente quem ele era.
Quando lembro disso, fico com raiva em pensar em quanto tempo perdemos.
E em quanto tempo eu mesma perdi achando que ele era como as pessoas
costumavam dizer.

Queria conseguir protegê-lo da mesma forma que ele faz por mim. Queria
conseguir ler a mente dele para saber se eu faço ele sentir o mesmo que ele
faz ou se eu causo nele o mesmo efeito que ele me causa. Queria conseguir
saber se ele também presta atenção nos mínimos detalhes das coisas que eu
faço, como eu presto nas dele. Se ele sabe sobre quando eu o espero dormir
antes de mim, para ver ele no estado mais tranquilo, vulnerável e lindo, com
os cabelos escuros jogados no travesseiro, os olhos relaxadamente fechados
e a boca avermelhada entreaberta fazendo contraste com a pele pálida do
rosto dele. Se ele sabe que me deixa completamente extasiada quando sorri
para mim e os olhinhos azuis acinzentados dele cintilam como se ele
estivesse olhando para alguma coisa muito iluminada, ou quando chega perto
de mim e passa levemente a costa do indicador na minha bochecha, e então
me olha nos olhos e me faz ter certeza de que não existe nenhum lugar que
eu queira estar mais do que perto dele.

Vou protegê-lo até minhas forças se esgotarem totalmente. Isso é uma


promessa.

"Filha,

Eu e sua mãe fomos visitar sua Tia Martha no interior esta tarde, tem frango
no congelador e deixamos dinheiro para você comprar algo para comer se
quiser. Nós voltamos amanhã de manhã.

Preferimos que você não saia de casa enquanto não voltarmos, não é seguro.
Podemos conversar quando voltarmos.

283
Amo você,

Papai."

"Hum." Falei sozinha, depois que li o bilhete que meu pai deixou. Ótimo,
pelo menos vou poder chamar Regulus aqui esta noite quando o encontro
com Narcissa acabar. Tenho quase certeza que ele vai precisar conversar
quando aquela sessão de tortura terminar.

Passei o resto da tarde em casa, ansiosa e comendo tudo que estava na


geladeira. Li alguns livros da minha prateleira que ainda não havia lido e
assisti à um seriado novo na televisão que estava passando. O dia escureceu
e quando estava perto das onze, comecei a ficar mais nervosa ainda. A ideia
de acontecer algo com ele estava me matando, mesmo sabendo que ele não
estaria sozinho.

Quando deu onze, eu estava a mil. Andando de um lado para o outro, quase
abrindo um buraco no chão da sala. Ele havia me dito que eu poderia mandar
um patrono até à casa dele às uma da manhã, porque até lá ele estaria em
casa se tudo ocorresse bem. Tudo tinha que ocorrer bem.

Quando deu meia noite, ouvi uma batida na porta. Só poderia ser ele. Tinha
que ser ele.

"Regulus?!" Perguntei, hesitante, antes de abrir.

"Sou eu!" Ele respondeu. Era a voz dele. Merlin, eu não poderia estar mais
feliz.

"Eu estava tão preocupada!" Respondi, aliviada, abrindo a porta e vendo ele
na minha frente. "Você está bem?!"

"Sim, estou." Ele respondeu, sorrindo. "Por que estava preocupada?!"

"Pare de falar." Respondi, e joguei meus braços em volta do pescoço dele, o


beijando fortemente.

"Uau." Ele suspirou. "Você estava mesmo com saudades."

"Você não faz ideia..." Respondi, sorrindo fracamente. "Ah, droga... quase
me esqueci."

284
"O quê?!" Ele pareceu um pouco nervoso, a voz falhando um pouco.

"O protocolo." Respondi. "Não sei o que perguntar..."

"Qual é," Ele disse, despreocupadamente. "Se você não me reconhece me


beijando, vou fazer você reconhecer de outra forma..." E então, ele me beijou
mais forte outra vez, entrando em casa e fechando a porta atrás de nós com
o pé.

"Tem certeza de que você está bem?" Perguntei, enquanto ele beijava meu
pescoço. "Você nunca entra em lugar nenhum sem o protocolo."

"Pareço não estar bem?!" Ele perguntou, sorrindo e me beijando outra vez.

Tinha alguma coisa errada. O beijo dele estava diferente. Regulus não ignora
o protocolo dessa maneira, principalmente porque sabe que muitas pessoas
não confiam nele. Ele não viria até aqui depois do encontro com Narcissa,
seria perigoso demais. Ele é esperto, sabe que poderiam segui-lo. E Regulus
estaria cheio de coisas para contar e desabafar, ele não é do tipo que usa sexo
para resolver os problemas.

Abaixei lentamente a minha mão para o bolso traseiro da minha saia, onde
estava a minha varinha. Em um movimento rápido, empurrei ele para longe
de mim e a apontei para ele.

"Quem é você?!" Gritei, furiosa. "Você não é ele! Mostre quem você é,
agora!"

"Mary..." Ele sussurrou, com as mãos para cima. "Sou eu. Reg. Por que está
apontando a varinha para mim?!"

"QUEM É VOCÊ?!" Gritei, mais uma vez.

E então, uma névoa negra passou pelo jardim da minha casa, e um riso fino
e cortante pôde ser escutado lá de fora. Meus olhos se arregalaram quando
eu entendi o que estava acontecendo.

"Achei que você era mais burra." O homem na minha frente disse, passando
a varinha pelo rosto e revelando quem realmente era. Era um homem alto,
com não mais que trinta e cinco anos. "Você não beija nada mal para uma
sangue ruim."

285
"Expelliamus!" Lancei da minha varinha, desarmando-o.

"Opa." Ele disse, fingindo preocupação. "Acho que você é burra sim. Eu
desfiz o feitiço de proteção dessa casa assim que você me deixou passar por
aquela porta. Sua vontade de dar para aquele traidor desgraçado quase matou
você, sabia disso?!"

"Reducto!" Lancei outra vez, fazendo ele cair com força contra a parede atrás
dele.

"Shhhh." Uma voz sussurrou no meu ouvido, e em questão de segundos


alguém me agarrou por atrás, colocando a varinha no meu pescoço. "Solte
essa varinha, sua vadia. Ou eu vou matar você agora."

"Bellatrix." Reconheci. Eu reconheceria em qualquer lugar a voz dela.

Ela riu loucamente. "É bom saber que você não esqueceu de mim... Largue
a varinha agora!" Eu soltei a varinha, relutantemente. "Ah... boa menina!
Está mais obediente desde a última vez que vi você, huh?!"

"Achei que você não ia aparecer nunca, Bella!" O homem resmungou,


irritado, se levantando e pegando a sua varinha.

"Achei que você não ia mais largar a boca dela, querido!" Bellatrix reclamou.
"Eu deveria matar você por beijar meu marido, sua sangue-ruim."

"O que você quer?!" Perguntei, sorrindo. "Se veio atrás de Regulus outra vez,
não perca seu tempo e me mate de uma vez. Porque eu não vou dizer nada!
Não vou deixar você machucá-lo!"

"Sua lealdade vai te matar, meu amor." Bellatrix disse, com crueldade em
sua voz. "Vamos fazer uma coisinha diferente hoje Vou levar você para
conhecer a minha casa!"

"O quê?!" Exclamei, exasperada. "Por quê isso?! Se quer me matar, pode me
matar aqui mesmo!"

"Você realmente se acha tão importante a ponto de achar que queremos matar
você?! " O marido dela disse, com a varinha apontada para mim. "Teríamos
matado você facilmente da última vez se o caso fosse esse! Chame isso de...
dano colateral."

286
A voz da minha mãe dizendo a mesma coisa veio à minha mente.

"Reggiezinho não vai hesitar nem dois segundos antes de vir atrás de você!"
Bellatrix sussurou no meu ouvido. "Vou escrever um bilhete para ele dizendo
exatamente onde te encontrar ou então você morre!" Ela riu mais uma vez.
"O Lorde das Trevas vai nos agradecer muito quando entregarmos o menino
de bandeja para ele!"

"NÃO!" Gritei, desesperada, tentando me soltar. "VOCÊS NÃO VÃO


MATÁ-LO!"

"Garota idiota!" Ela me empurrou e o marido dela me pegou pelo braço.


"Está apaixonada por ele, não está?! Oh, o amor jovem! Eu amo quando
acabam em tragédia!"

"Regulus é esperto!" Gritei. "Vocês não vão matá-lo facilmente!"

"Não somos nós que vamos, meu amor," O homem disse, no meu ouvido.
"Lord Voldemort é quem vai."

"Leve ela, Rodolphus!" Bellatrix disse. "Vou escrever esta droga de bilhete
e aparato em um segundo de volta! Não a perca de vista! Tranque ela em
algum lugar, não me importo!"

E então, tudo ficou borrado. Enquanto aparatava, só conseguia pedir muito


que Regulus não viesse atrás de mim. Que não se enfiasse na cova dos leões
por minha causa e me deixasse morrer. Sou tão idiota. Regulus nunca faria
isso. Ele estaria disposto a entrar na frente de qualquer feitiço por mim.

Mas eu também estou disposta a morrer por você, Regulus. Eu também


estou.

287
Capítulo 25: Vingança

FLASHBACK - Uma semana atrás

"Vem!" Mary disse, sorrindo, puxando Regulus para a sala. "Você tem que
fazer isso! Por mim!"

"Ainda não faço ideia do que você está falando." Regulus disse, confuso.

"Você já vai ver." Mary disse, com um sorriso travesso no rosto, enquanto ia
até o tocador de discos da sua casa.

"E se algum vizinho ouvir e contar para os seus pais?!" Regulus perguntou,
preocupado. "Já está de madrugada, isso pode dar algum problema."

"Já fizemos barulhos bem maiores que esse, você não acha?!" Ela disse,
arqueando uma sobrancelha. "Rá! Consegui!"

Era a música mais linda que Regulus já tinha escutado. Ou talvez só era linda
porque ele estava olhando para Mary de pijama, dançando sozinha de olhos
fechados na frente dele. Merlin, Regulus pensou, esta mulher é demais para
mim.

"Vem cá!" Ela disse, puxando ele pelo braço para bem perto dela. "Você
lembra da primeira vez que dançamos? No casamento de James e Lily?"

"Como eu conseguiria esquecer?!" Respondeu Regulus, sorrindo. "Foi a


primeira vez que me diverti em não sei quanto tempo."

"Bom," Ela disse. "Esta é a segunda!" E então ela girou o braço de Regulus
por cima da sua cabeça, fazendo-o dançar animadamente, enquanto ele
tropeçava nos próprios pés e fazia ela gargalhar tão alto que ultrapassava o
barulho da música. Eles rodavam pela sala, sorrindo e cantando juntos.
Regulus carregou Mary nos braços e a girou várias vezes, os dois
gargalhando até as próprias barrigas doerem. Ele nunca havia se sentido tão
vivo.

Eles dançaram e pularam por um longo tempo, subiram em cima do sofá e


depois encenaram um pedido de casamento em cima da mesa de jantar ao
som da música do toca discos. Regulus caiu no chão de madeira,
completamente exausto, e Mary continuou dançando em cima da mesa
enquanto a música não acabava, cantando alto a música à plenos pulmões.

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"Você é linda!" Regulus gritou, mais alto do que a música, deitado no chão
e apontando para ela enquanto ela cantava. "Sabia disso?!"

"É claro que eu sabia!" Mary gritou de volta, fazendo-o rir mais ainda e
voltou a cantar descontroladamente, até que a música acabou e ela caiu ao
lado dele no chão.

"Eu poderia dançar com você para sempre." Ela disse, se virando para ele,
os dois sorriram. Outra música começou a tocar depois que a outra acabou,
Regulus conhecia essa, ela era mais calma e lenta.

Regulus se levantou, sorrindo e ficando de pé em frente Mary, levantando


uma mão à ela. "Quer dançar comigo?"

Mary sorriu, e não hesitou em dar a mão à ele, se levantando do chão. "Não
sei dançar à dois."

"Essa é a vantagem de ser um Black," Ele disse, posicionando a mão direita


na sua cintura e a esquerda segurando a mão dela. "Eles te obrigam a saber
dançar essas coisas."

"Que horrível." Ela ironizou, fazendo-o sorrir. "Você vai ter que me ensinar
então, Black."

Regulus puxou ela para mais perto do seu corpo. Quando eles começaram a
dançar, Mary encarava seu peito, concentrada em não errar os passos que ele
ensinava. Regulus a encarava o tempo inteiro, certo de que amava o jeito que
ela pisava em seus pés quando errava alguma coisa. Cada centímetro do
corpo deles que se tocava era pura eletricidade. Regulus poderia morar
naquele momento para sempre.

Quando ela pegou o jeito, ela finamente subiu o olhar para encará-lo. Os dois
dançavam tão bem juntos que pareciam estar flutuando pela sala enquanto a
música tocava. Com os olhos concentrados um no outro, Regulus deu um
meio sorriso, o que fez Mary sorrir também. Então, ele a girou de uma vez,
os cachos compridos dela voando no ar e depois a trouxe de volta para perto
do seu corpo. Ele encostou a testa na dela, os dois com os olhos fechados,
enquanto sentiam apenas a presença um do outro e seus corpos balançando
em sintonia.

Quando eles se encararam outra vez, eles se perderam completamente nos


olhos um do outro, concentrados em nada, a não ser os dois, como se não

289
houvesse nada no mundo além deles. E se existisse mesmo algum tipo de
Deus nesse universo que controla todas as coisas, Regulus pensou, ele seria
capaz de fazer qualquer oferenda à ele se aquela música durasse pela
eternidade.

Quando a música acabou, eles não se soltaram e continuaram se encarando


por alguns segundos, imersos e perdidos nos olhos um do outro. Então,
Regulus a beijou, um beijo calmo e demorado. E, naquele momento, Regulus
pensou que nada no mundo poderia ser tão ruim se ele ainda tivesse a chance
de segurá-la daquele jeito.

HOJE

"Acho que você está sendo paranóico, Reg," Sirius disse, me vendo andar de
um lado para o outro na sala. "Sabe, não faz nem vinte e quatro horas que
você a viu..."

"Sirius, eu e ela passamos mal doze horas sem notícias um do outro."


Respondi, ainda andando. "Vinte e quatro horas são definitivamente
preocupantes."

"Merlin, se desgrudem um pouco, ainda são seis da manhã!" Ele disse,


fazendo uma careta. "Vocês dois nem estão namorando!"

"Não importa," Falei, balançando a cabeça. "Sirius, alguma coisa está


acontecendo, posso sentir isso."

"Você realmente está preocupado?!" Sirius perguntou, franzindo a testa e eu


assenti nervosamente. "Tudo bem, me desculpe... olhe, tenho certeza que ela
está bem, Reg, tenho certeza."

"Acabei de falar com Pandora," Remus disse, entrando na sala. "Ela disse
que a última vez que viu Mary foi ontem no almoço... depois disso, ela voltou
para casa."

"A casa de Mary tem feitiços protetores, não tem?!" Sirius disse. "Não dá
para entrar lá se os próprios donos da casa não permitirem e... e, bom, há o
protocolo, não é? Mary está segura na própria casa."

"Eu vou até lá." Falei, indo pegar meu casaco, mas Remus me impediu.

290
"Não acho que seja uma boa ideia," Remus disse, franzindo o cenho. "Os
pais de Mary não gostam de você, e se realmente aconteceu algo com ela e
você aparecer de repente sem ser chamado, eles vão se perguntar como você
soube tão rápido. Você não pode dar motivos para eles desconfiarem mais
ainda de você."

"E você quer que eu faça o quê, Lupin?!" Perguntei, empurrando a mão dele
com força. "Que fique parado?! Eu estou pouco ligando para os pais de Mary,
se vão achar que eu tenho alguma coisa a ver com isso, ou se o Ministério ou
Moody ou Dumbledore ou sabe lá qual daqueles palhaços vai querer me
prender em Azkaban! Não vou ficar aqui sem fazer nada!"

"Reg, você precisa se acalmar," Sirius disse, se levantando. "Não é assim que
se resolve esse tipo de..."

Sirius foi interrompido quando um patrono reluzente em forma de fênix


surgiu dentro da sala de estar, fazendo nós três virarmos o rosto. Já havia
visto isso antes. Era Dumbledore.

"Rapazes," A fênix abriu a boca e a voz de Dumbledore ecoou através dela.


"Compareçam até a casa dos MacDonald, por favor. Houve um ataque."

Arregalei os olhos para Sirius e Remus, que me olhavam boquiabertos,


franzindo o cenho.

"Eu falei para vocês dois!" Gritei, os empurrando e pegando o meu casaco.
"Estou indo até lá agora, vocês me acompanham se quiserem."

"Para de ser idiota, Regulus." Remus disse, pegando o casaco dele e de


Sirius. E então, aparatamos.

Era estranho. A casa de Mary estava intacta. Não haviam portas quebradas,
as janelas também estavam inteiras e não havia nenhum sinal de luta. Quem
não tinha conhecimento do que havia acontecido, diria que não havia
ocorrido ataque nenhum. Mas é claro que os pais de Mary souberam na
mesma hora em que não encontraram a filha em casa. Eles souberam na
mesma hora que Mary estava em perigo.

"Você." O pai de Mary disse, sombriamente, quando abriu a porta para mim.
Seus olhos estavam inchados e vermelhos, com uma expressão cansada e
exausta. "Como se já não me bastasse tudo que aconteceu, você ainda tem
coragem de aparecer aqui!"

291
"Senhor MacDonald." Assenti, tentando ser educado. "Pode me perguntar o
que quiser."

"O que eu disse à você da última vez que nos vimos?!" Ele perguntou,
seriamente.

"Disse que... que queria que eu ficasse longe dela." Respondi, abaixando
cabeça.

"Ótimo." Ele respondeu, dando espaço para eu entrar. "Tente não fazer mais
estrago do que você já fez."

Dumbledore e Moody já estavam presentes na casa. James e Andrômeda


também estavam lá, confortando a senhora MacDonald, que estava tão
nervosa que teve que se sentar.

"Rapazes." Moody assentiu para mim, Sirius e Remus. "Creio que nosso
encontro hoje não seja em uma ocasião muito boa."

"O que aconteceu aqui, Moody?!" Remus perguntou, indo até ele.

"Vocês sabem onde ela está?!" Perguntei, com a voz desesperada. "Me
digam e eu vou até lá agora mesmo!"

"Na verdade, senhor Black," Dumbledore disse, com um pedaço de


pergaminho na mão. "Sabemos com quem ela está."

"E por que nós estamos aqui?!" Sirius vociferou. "Vamos até lá!"

"Acho que você vai querer ler isso antes, Regulus." James disse, apontando
para o papel na mão de Dumbledore, trocando um olhar nervoso com
Andrômeda.

"Não quero ler nada!" Gritei, agoniado. "Me digam apenas o lugar!"

"Regulus!" Andrômeda gritou, me fazendo encará-la. "Você vai querer ler.


Confie em mim."

Peguei o papel da mão de Dumbledore com força. Se eles achavam que


alguma coisa no papel ia me convencer a não procurá-la, eles estavam muito
enganados. Não vejo motivo para ler nada, se a cada minuto que passa, Mary

292
corre mais perigo. Abri o pergaminho na minha mão e comecei a ler em
silêncio.

"Olá, priminho!

Sentiu a minha falta? Tenho certeza que sim!

Se você achou isso, então deve saber que levei sua namorada para dar um
passeiozinho comigo, não é? Mas não se preocupe, querido, ela está viva.
Pelo menos, por enquanto.

Você não vai deixá-la morrer, vai? Sugiro que se apresse e venha antes que
seja tarde. Você sabe que meu temperamento não é dos melhores, não sabe,
Reg? Você sabe que isso é tudo culpa sua, seu traidor sujo. Se você não vier
sozinho, faço questão de matá-la com as minhas próprias mãos! Você sabe
onde me encontrar.

Seja inteligente, querido. Se entregue ao Lorde das Trevas, ou vamos


continuar atacando aqueles que importam para você, o próximo pode ser
aquele outro traidorzinho imundo que você chama de irmão.

Mande lembranças à Sirius e Andy, por favor, estou morrendo de saudades!

B. Lestrange."

"Isso não... isso não está acontecendo..." Minha respiração começou a falhar.
"Não está..."

"Pelo amor de Deus, o que está escrito?!" Sirius perguntou, arrancando o


papel da minha mão, correndo os olhos rapidamente pelo papel. "Filha da
puta!"

Aquela sensação ruim atingiu meu peito em cheio outra vez. Não era mais
apenas um pressentimento, uma coisa muito ruim, muito, muito ruim estava
acontecendo e eu não sabia o que fazer. O ar começou a faltar nos meus
pulmões e o rosto de Mary sorrindo para mim passava pela a minha cabeça
como um filme. A dúvida se eu a veria novamente fez minhas entranhas se
arrepiarem. Meu peito começou a doer, doer de verdade.

"Regulus, é melhor você se sentar." Remus disse, pondo a mão no meu


ombro. "Prongs, pegue água para ele!"

293
"Reg, vai ficar tudo bem, ok?! Nós vamos salvá-la." Sirius disse, segurando
meu rosto com as mãos.

"É isso." Falei, ainda ofegante. "É isso, Sirius. Acabou."

"Do que você está falando?!" Andrômeda perguntou, confusa,

"Sobre tudo, Andrômeda!" Vociferei. "As horcruxes, o plano para matá-lo...


não deu certo. Nós falhamos."

"E você vai fazer o quê?!" Remus perguntou. "Se entregar?!"

"É a única coisa que eu posso fazer!" Gritei. "Sou eu ou ela, Remus! E não
vou deixá-la morrer de jeito nenhum!" Me virei para os pais de Mary, que
me olhavam atordoados. "Prometo à vocês que eu vou trazê-la de volta... eu
prometo à vocês."

"Aqui está sua água, Reg," James disse, vindo até onde eu estava. "Merda,
você está pálido."

"Não quero água nenhuma, James." Falei, me levantando. "Preciso pegar


Mary de volta."

"A sua coragem é louvável, mas creio que isso não será necessário, Regulus."
Dumbledore disse. "A Ordem já foi informada, estamos juntando aurores
para irem resgatar Mary."

"Mas vocês nem sabem de que lugar Bellatrix está falando!" Respondi,
furioso. "Ela levou Mary para a mansão Lestrange, nesse exato minuto, Mary
pode estar sendo torturada e você está me pedindo para esperar?!"

"Regulus, Bellatrix Lestrange não vai matá-la," Moody disse. "Ela precisa
de Mary para atrair você."

"Vocês não conhecem Bellatrix como Reg e eu," Sirius disse. "Ela vai matar
Mary apenas por estar entendiada."

Os pais de Mary estremeceram e a senhora MacDonald enterrou o rosto no


ombro do seu marido.

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"Eu também a conheço, Sirius," Andrômeda disse. "Talvez até mais do que
vocês. Mas vocês deveriam ouvir o que Dumbledore está dizendo. Regulus,
se você for impulsivamente, corre o risco de não conseguirmos salvar
nenhum de vocês!"

"Você precisa fazer alguma coisa!" Vociferei para Dumbledore e James pôs
a mão no meu ombro. "Como consegue ver esse tipo de coisa e pensar
racionalmente?! Seu sangue é tão frio assim?! Por que é que você nunca faz
nada?!?!?!"

"Reg." Remus sussurrou.

"Não!" Gritei de volta. "Eu não posso deixar isso acontecer, Lupin! Ela não
pode morrer! Não posso perdê-la!"

"Eu também não posso perder você, Reg." Sirius sussurrou, me fazendo
encará-lo. "Não outra vez."

"Sirius... eu não..." Suspirei. "Olhe, eu não sei o que fazer, ok? Sei
exatamente onde Mary está, mas vocês não me deixam procurá-la!"

"Você estará dando exatamente o que eles querem." Moody disse.

Encarei Moody furiosamente, desacreditado que ele ainda insistia na mesma


coisa. Como se nada que eu falasse adiantasse.

"Vai se foder." Vociferei para ele, saindo da casa de Mary logo depois.
Sirius, James e Remus foram atrás de mim, como eu já previa.

"Ei, Reg!" Sirius gritou. "Espere aí!"

"Me deixem em paz!" Gritei de volta.

"Dá para parar um pouco, seu idiota?!" Remus disse, puxando o meu braço.

"Você não vai salvar ninguém com a cabeça quente assim." James disse,
arqueando as sobrancelhas. "Pelo menos, não sozinho."

"Vocês não vão me deixar salvar ninguém com a cabeça quente ou não, então
do que adianta?!" Falei, revirando os olhos.

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"Bom," James disse. "Eu também não disse isso."

"O quê?!" Perguntei, confuso. Os três se entreolharam com o mesmo sorriso


de quando estavam prestes a fazer alguma besteira. "Conheço esse sorriso.
O que está acontecendo?!"

"Vamos precisar de Pandora, obviamente," Remus disse. "Não somos nada


sem ela."

"Precisar de Pandora para quê?!" Perguntei, ainda confuso.

"Já estou começando a me acostumar com nós cinco, sabia, Moony?!" James
disse, com um sorriso, apoiando o cotovelo no ombro de Remus.

"Merlin, do que é que estão falando?!"

"Reg, irmãozinho," Sirius disse, pondo o braço ao redor do meu ombro.


"Você sabe no quê os marotos são tão bons quanto pregar pegadinhas nos
outros?!"

"Não sei, me tirar do sério?!" Perguntei, começando a me irritar.

Os três se olharam entre si outra vez, com um sorriso malicioso no rosto. E


Remus disse, com aquele olhar que apenas os três tinham quando estavam
prestes a explodir alguma coisa.

"Vingança."

***

Não armávamos um plano daqueles desde que fomos à Hogwarts matar o


basilisco. Depois de explicarmos cada detalhe para Pandora sobre o que
havia acontecido, ela montou um plano inteiro na própria cabeça mais rápido
do que todos nós.

"Certo, vamos fazer o seguinte," Ela começou. "Regulus, você vai fingir que
vai sozinho."

"Mas como vocês vão entrar?!" Perguntei.

296
"James." Pandora chamou, James se levantou rapidamente. "A capa. Está
com você?!"

"Está na minha casa." Ele respondeu. "Mas não é grande o suficiente para
caber quatro pessoas."

"Não serão quatro." Ela disse. "Apenas duas. Bom, duas e meia."

"Como assim?!" Sirius perguntou, enquanto Pandora andava de um lado para


o outro.

"Ela quer que você entre como Padfoot." Remus deduziu, imediatamente.
"Mas ainda sim, seriam muitas pessoas embaixo da capa."

"Reg, você lembra do quinto ano?" Pandora perguntou, ainda sem olhar para
mim. "Quando tentei fazer aquele feitiço para me teletransportar de um lugar
para o outro porque eu queria logo saber aparatar?!"

"Ah, com certeza," Assenti. "Tudo que você conseguiu foi sumir por quinze
minutos. Achei que você tinha se perdido em outra dimensão ou coisa do
tipo."

"Que horror." James disse, assustado.

"A questão é que eu não sumi." Pandora disse.

"Você ficou invisível." Eu disse, iluminando os olhos. "Ah, meu Deus!"

"Exatamente!" Pandora exclamou. "James, vá pegar a capa. Não temos


tempo para discutir."

"Ok, tudo bem, volto em alguns minutos." James disse, e então aparatou.

"Ok, deixa eu ver se entendi," Sirius disse. "Prongs, Moony e eu, como
Padfoot, vamos estar embaixo da capa e você vai estar... invisível?!"

"Você não precisa de magia demais para segurar isso, Dora?!" Perguntei,
preocupado. "Você tem certeza que consegue?"

297
"É claro que consigo, não seja idiota." Ela respondeu, revirando os olhos.
"Assim que abrirem os portões para você passar, nós passaremos também
com você, mas eles vão pensar que você foi sozinho."

"Mas e quando estivermos dentro?!" Sirius perguntou. "Qual é o plano?!"

"Eu tenho um plano para isso também," Pandora disse. "Mas vai ser mais
difícil."

James desaparatou de volta para a casa de Pandora, desta vez com a capa de
invisibilidade na mão. "Ok, tudo certo."

"Lily não viu você?!" Remus perguntou, franzindo a testa.

"É claro que viu, Lily vê tudo," Ele respondeu, dando de ombros. "Marlene
está com ela. A gravidez está quase no final então Lily não pode fazer muito
esforço para brigar comigo."

"Espero que seu filho não nasça enquanto estivermos lá." Eu disse,
distraidamente.

"Você não deveria ter colocado essa ideia na minha cabeça, Reg." James
disse, preocupadamente, se sentando no sofá.

"E então?!" Remus perguntou à Pandora. "Qual o plano para quando


entrarmos?!"

Realmente seria difícil, mas não impossível. Basicamente, o plano era eu


segurar a atenção deles enquanto James, Sirius e Remus procuravam por
Mary. Pandora estaria do meu lado, caso eu perdesse o controle de alguma
coisa. O objetivo era impedir que eles chamassem Voldemort, para
ganharmos tempo para achar Mary. Como nós faríamos isso é que era a
questão.

Pandora deixou claro que todos nós tínhamos que voltar vivos e que não era
para ninguém bancar o herói. Ela me encarou diretamente quando disse isso.
Não tenho certeza do que sou capaz de fazer para tirar Mary de perigo.

***

Achei que eu nunca mais teria que colocar os pés naquela mansão horrível
desde o casamento de Bellatrix. Parecia mais uma casa mal assombrada de

298
um filme de terror muito ruim, com portões com grades de ferro. Apesar de
eu saber que Pandora estava caminhando do meu lado e que os três estavam
embaixo da capa do meu outro lado, a visão de estar andando sozinho para
dentro daquele lugar não deixava de me dar arrepios.

"Você está bem?" Pandora sussurrou, enquanto andávamos até o portão e eu


apenas assenti.

Assim que cheguei no portão, eu soube que não havia apenas um ou dois
comensais esperando para que eu aparecesse. Mulciber e Avery caminharam
até perto dos portões, eu reconheceria os dois filhos da puta em qualquer
lugar.

"Olhe só quem finalmente deu as caras!" Mulciber ironizou, com um sorriso


cruel. "Sentiu saudade dos velhos amigos?!"

"Ou foi da sua sangue-ruim de estimação?!" Avery completou, sorrindo


também.

"Deve ser difícil para vocês, não?!" Falei, com o mesmo tom de crueldade.
"Saber que até eu fui mais próximo e mais privilegiado pelo Lorde das
Trevas do que vocês que vivem no pé dele como ratos."

"Em breve, esse sorrisinho vai sair do seu rosto, Regulus." Mulciber disse.
"Você vai ver."

"Quero ver a minha prima." Falei, em um tom desafiador. "Vão abrir os


portões ou não?!"

Mulciber e Avery se entreolharam com desgosto, provavelmente odiando o


fato de que eu ainda conseguia tirá-los do sério, mesmo estando tecnicamente
caminhando para morrer. Eles balançaram as varinhas, abrindo cada lado dos
portões de ferro pretos, gigantes e enferrujados. Mulciber me pegou pelo
braço direito e Avery pelo esquerdo.

"Bem vindo de volta, Reggiezinho." Mulciber sussurrou.

Conseguimos entrar.

Os dois me empurraram pelos portões, à caminho da porta da mansão. Eu


conseguia sentir Pandora, Sirius, James e Remus perto de mim o tempo
todos. Esperava que eles não sentissem o mesmo. Assim que chegamos à

299
porta da frente, ouvi uma fria voz masculina. Soube perfeitamente que era
Rodolphus.

"É ele?!" Ele perguntou, ainda sem abrir a porta.

"Sim, senhor Lestrange," Avery respondeu. "É Regulus Black."

Rodolphus abriu a porta de uma vez, Mulciber e Avery me empurraram para


frente, me fazendo cair em cima dele, que me agarrou e segurou o meu cabelo
com força, puxando a minha cabeça para trás e tirando a minha varinha do
meu bolso.

"Bella vai amar ver você." Ele disse, cruelmente, enquanto Mulciber e Avery
fechavam a porta atrás de nós, orgulhosos por terem sido eles a me levar até
lá.

Rodolphus me empurrou e me chutou na subida dos largos degraus de pedra


da mansão, e entramos em uma sala grande e mal iluminada, com uma lareira
grande e com paredes cobertas por retratos de Bellatrix com Rodolphus.
Havia um lustre horrível e antigo no teto e Bellatrix estava sentada em uma
poltrona ornamentada perto da lareira quando eles me empurraram sala
adentro.

"Ah!" Ela disse, lambendo os dentes e dando um pulo da cadeira. "Tenho


que admitir que não achei que você fosse demorar tanto para aparecer."

"Onde ela está?!" Perguntei, furiosamente, o que a fez dar uma gargalhada
fina e cortante.

Não estava mais sentindo nada à minha esquerda. James, Sirius e Remus já
deviam ter saído de lá ou então estavam indo. Eu precisava de tempo, apenas
isso.

Francamente, o plano era bom. Pandora sempre foi boa com planos. Eu tenho
certeza que ela havia pensado em tudo, menos no que aconteceu em seguida.
E tenho certeza que ela se sentiu tão estúpida como eu me senti quando me
dei conta de que deveria ter previsto que aquilo provavelmente aconteceria.
Como diabos eu não havia pensado nisso?! Como?!

Pettigrew estava do outro lado da sala e começou a olhar ao redor, sentindo


alguma coisa.

300
"Tem alguma coisa aqui." Peter disse, levantando a mão no ar. "Conheço
isso."

Meu sangue gelou e Bellatrix o olhou desdenhosamente. "Besteira,


Wormtail! Pare de ser um inútil, eu preciso chamar o Lorde das Trevas!" Ela
disse, puxando a manga do braço.

"Você não acha que eu deveria chamá-lo, querida?!" Rodolphus segurou o


braço dela antes que ela pudesse chamar. "Eu fui quem me disfarcei deste
moleque para pegarmos a garota - eu deveria ter a honra de entregá-lo ao
Lorde das Trevas."

"Há alguma coisa aqui!" Pettigrew exclamou novamente.

"Cale a boca, Wormtail!" Mulciber e Avery gritaram em uníssono, mas ele


continuou procurando por algo no ar.

"Sou eu quem irei chamá-lo!" Bellatrix rosnou. "Eu tive a ideia que trouxe o
garoto até aqui!"

"Com licença, mas nós dois quem trouxemos ele até aqui," Mulciber disse,
se intrometendo. "Então nós é quem devíamos..."

"Cale a boca, seu idiota!" Rodolphus rugiu, o que me fez soltar uma risada
fraca. "Do que é que você está rindo, seu imbecil?!"

"Vocês são muito burros." Falei, despretensiosamente. "Olhem para vocês,


brigando como duas crianças pelo mesmo brinquedo! Eu não fazia ideia que
eu era tão valioso assim!"

"Quem você pensa que é para falar assim comigo, seu traidorzinho?!"
Bellatrix sibilou, apontando a varinha para o meu pescoço. "Se o Lorde das
Trevas não fizesse tanta questão de matar você pessoalmente, eu mesma..."

Bellatrix foi interrompida quando Pettigrew fez um barulho de susto,


revelando James, Sirius e Remus quando ele puxou a capa. Os três estavam
com uma expressão completamente furiosa e assassina no rosto, enquanto
apontavam as varinhas, nunca havia os visto tão assustadores. Remus
apontava a varinha para Mulciber e Avery, Sirius apontava para Bellatrix e
seu marido e James apontava para Pettigrew, que estava com os olhos quase
saltando fora de tão arregalados.

301
"O que é que significa isso?!" Bellatrix gritou, me virando e colocando a
varinha no meu pescoço. "Eu avisei para você vir sozinho!"

"Bom, isso é uma pena," Pandora disse, se materializando na minha frente.


"Regulus nunca está sozinho."

Pandora lançou um feitiço contra Bellatrix, que me jogou no chão e se


defendeu. As duas começaram a lançar feitiços uma à outra. Pandora era
realmente muito boa, eu esperava que ela fosse melhor que Bella. Sirius
partiu para cima de Mulciber com tudo e Remus para cima de Avery. James
pressionava Pettigrew contra a parede e o xingava de todos os nomes
possíveis. Eu precisava da minha varinha de volta.

Em um movimento rápido, avancei em cima de Rodolphus enquanto ele


estava distraído tentando proteger Bellatrix, e antes que ele pudesse se virar
para mim e me atacar, Sirius foi mais rápido de onde ele estava e azarou
Rodolphus, me dando tempo o suficiente para pegar a minha varinha da mão
dele.

"SEU FILHO DA PUTA!" Eu ouvia James gritar para Pettigrew. "COMO


VOCÊ PÔDE?! EU ERA SEU AMIGO! EU AMAVA VOCÊ!"

Remus tentava segurar Mulciber e Avery, enquanto eles tentavam o


encurralar contra a parede.

"Oi, priminha!" Sirius ironizou, vendo Bellatrix perder para Pandora. "Sentiu
minha fal..."

"CRUCIO!"

Ouvi a voz de Bellatrix gritar. Olhei rapidamente para Pandora, assustado,


mas não, não havia sido nela. Eu estava intacto, Sirius também. James ainda
gritava com Pettigrew e o empurrava contra a parede. Só podia ser...

"NÃO!" Sirius gritou, desesperadamente. "MOONY!"

Remus se distraiu com Mulciber e Avery e não viu quando Bellatrix o


amaldiçoou. Ele gritava no chão, se contorcendo de dor, os olhos cheios de
lágrimas, enquanto ele gritava o nome de Sirius.

"REDUCTO!" Sirius gritou com ódio para Mulciber e Avery, fazendo os dois
caírem para trás, batendo com a cabeça nas colunas de mármore, fazendo-os

302
desmaiar. "Moony, por favor... eu sei como é, eu sei o que você está
sentindo... isso vai passar, eu prometo..." Sirius chorava, ajoelhado ao lado
de Remus.

"Onde ela está?!" Esbravejei em cima de Bellatrix. "ONDE ELA ESTÁ?!"

"Wormtail!" Bellatrix chamou, sorrindo entredentes. "Vá buscar aquela


sangue ruim!"

Peter saiu, assustado ainda com tudo que estava acontecendo. Mulciber e
Avery ainda estavam apagados, Rodolphus estava atordoado. Eu, James e
Pandora ficamos em volta de Bellatrix, com as varinhas apontadas para ela.

"Bella?!" Uma voz mais doce, mas ainda um pouco fria a chamou das
escadas. "O que está acontecendo?!"

"Narcissa?!" Eu e Sirius dissemos em uníssono, virando os olhos para ela.


Foi a distração que Bellatrix precisava para nos atacar. Remus ainda gritava
de dor no chão e Sirius tentava se proteger e não deixar tocarem nele ao
mesmo tempo. Rodolphus finalmente acordou e me agarrou com os braços
por trás. Bellatrix prendeu Pandora contra a parede, com a varinha apontada
no seu pescoço e James estava tentando ajudar Sirius com Remus.

"Bella, o que é isso?!" Narcissa perguntou, com os olhos arregalados.

"Você está grávida, Cissy." Ela respondeu. "Você não devia estar aqui."

Peter subiu de volta com Mary, que estava com as mãos amarradas atrás do
seu corpo. Seu cabelo estava bagunçado, e ela tinha marcas vermelhas no
rosto, suas roupas estavam rasgadas em algumas partes e seu olhar estava
exausto. Um ódio gigante irradiou de dentro de mim e eu empurrei
Rodolphus com um chute na sua perna, apontando minha varinha para ele.

"Se algum de vocês quatro tentar qualquer coisa," Bella disse, com a varinha
no pescoço de Pandora. "Eu a mato sem piedade alguma."

"Bella!" Narcissa gritou, horrorizada. "Nós nem a conhecemos!"

"CRUCIO!" Uma luz saiu da varinha de Rodolphus em direção a mim.

Eu ouvi o grito de Mary ecoar na minha cabeça. De repente, tudo ficou


borrado e eu me senti com quinze anos outra vez. Quando minha mãe me

303
punia por coisas tão fúteis como deixar meu quarto bagunçado ou não ter
usado o talher certo no jantar. Uma dor insuportável começou a me partir ao
meio.

"Reg!" Mary gritou, impedida de poder me ajudar. "Não, por favor! Não o
machuquem!"

"Diga adeus à sua namorada..." Rodolphus disse, indo até Mary, com a
varinha apontada para ela. "Uma pena que vocês não tenham tido mais
tempo."

"Mary..." Eu sussurrei, sem força nenhuma. "Eu... eu..."

Se íamos morrer hoje, então eu queria que ela soubesse. Eu queria que ela
soubesse. Eu queria que ela soubesse. Eu queria que ela soubesse...

"Eu sei." Ela sussurrou, com os olhos marejados, enquanto ele se preparava
para atacá-la. "Eu também, Reg..."

"EXPELLIARMUS!" Ouvi Remus gritar na direção de Rodolphus, o


desarmando completamente.

"Ora, seu moleque idiota!" Rodolphus avançou. "Você ainda está vivo!"

James, Sirius e Remus ficaram lado a lado, com as varinhas apontadas para
Rodolphus.

"Você não faz ideia de com quem se meteu, seu filho da puta!" James
exclamou, com a varinha apontada para ele.

"Regulus!" Narcissa gritou, me vendo no chão. "Bella, o que é isso?!"

"Cale a boca, Cissy!" Bella disse, ainda com a varinha no pescoço de


Pandora, Narcissa se assustou e correu de volta subindo as escadas. "Vou
fazer o que é necessário!" Gritou Bella.

Assim que Bellatrix levantou a manga da camisa, prestes a chamar o Lorde


das Trevas, ouvi um barulho de desaparatação no meio da sala. Eu estava um
pouco atordoado ainda, com a visão um pouco turva, mas eu o reconheceria
em qualquer lugar do mundo.

304
"Kreacher!" Exclamei, ainda um pouco fraco. "Você... O que você está
fazendo aqui?!"

"Kreacher veio salvar Regulus Black, é claro!" Ele disse, orgulhosamente.


"Kreacher sempre vai salvar Regulus Black!"

"Seu elfo insolente, como você ousa?!" Bellatrix disse, soltando Pandora e
apontando a varinha para Kreacher, que estalou os dedos, e em questão de
segundos, desarmou Bellatrix. James, Remus e Pandora correram até onde
Mary estava, empurrando Peter.

"Espero que você morra aqui, seu filho da puta." Remus disse à ele, de pé
em frente ele, enquanto James desamarrava Mary. Sirius correu até onde eu
estava, me ajudando a levantar.

Sem que nós pudéssemos ver, Bellatrix tirou uma adaga da parte de trás da
sua roupa e pegou impulso para jogá-la em mim e Sirius, mas Narcissa
apareceu na nossa frente, de repente, com um tipo de caderno preto e velho
nas mãos.

"Não vou deixar você machucá-los nem mais um minuto, Bella!" Ela gritou,
com a voz trêmula. "Se você tem coragem de matá-los, como... como eu vou
saber se você não vai ter coragem de fazer o mesmo com Draco?! Como,
Bella?!"

"Saia da minha frente, Narcissa!" Bellatrix gritou, enquanto Rodolphus ia


para o lado dela. "Você está de que lado, afinal?!"

"Do lado que mantém o meu filho vivo!" Ela gritou de volta, enquanto eu e
Sirius nos aproximávamos de James, Remus, Mary e Pandora.

"Mary!" Exclamei, finalmente a segurando nos meus braços. "Você... você


está bem? Meu Deus, eu fiquei tão preocupado!"

"Estou..." Ela disse, sorrindo e passando a mão no meu rosto. "Eu sabia que
você acabaria vindo me buscar, seu idiota."

"É claro que eu viria." Eu respondi, seriamente. "Eu sempre vou vir."

"Hm... acho que vocês podem fazer isso depois," James disse. "Temos
problemas maiores aqui."

305
"Você consegue aparatar com todos nós, Kreacher?!" Pandora perguntou,
segurando em seus braços.

"Mas é claro!" Ele respondeu. "Vocês todos! Segurem em mim!"

"Espere aí!" Sirius exclamou, olhando para Narcissa. "Narcissa!"

Narcissa levantou a varinha para Bellatrix e Rodolphus e os jogou para


longe, fazendo-os voar pela sala. Ela correu até nós, segurando a borda do
vestido com uma mão e o livro preto na outra. Ela olhou para mim e Sirius,
e sorriu. Nós sorrimos de volta.

Eu simplesmente soube que ela estava do nosso lado agora.

"Tenha uma boa vida, irmãzinha." Narcissa disse olhando em direção à


Bellatrix, e então Kreacher aparatou conosco para a casa de Sirius.

Em menos de um segundo, todos nós caímos no chão em frente a casa. Todos


muito cansados e alguns machucados, mas todos vivos. Eu me levantei para
agradecer Kreacher antes de qualquer coisa. Ainda era impressionante como
ele ainda continuava salvando a minha vida.

"Regulus Black está bem?" Ele perguntou, olhando para mim. "Kreacher
prometeu que sempre viria."

"Sim, Kreacher," Eu sorri, pondo a mão no ombro dele. "Você realmente..."

Fui interrompido quando Narcissa gritou alto atrás de nós, fazendo todos nos
assustarmos. Deuses, ela estava morrendo?!

"Chamem Marlene!" Pandora gritou, segurando Narcissa nos ombros. "Ela


vai ter o bebê!"

306
Capítulo 26: Verão 1980

Draco deve ter sido o primeiro Black a nascer rodeado de amor.

Na noite em que ele nasceu, Sirius mandou um patrono á Andy para ela ir
urgentemente até à casa dele e Mary mandou um à Marlene a chamando
imediatamente. Assim que as duas chegaram, a casa virou um verdadeiro
caos. Marlene entrou correndo no quarto em que Narcissa estava. Merlin, ela
não parava de gritar.

"Onde ela está?!" Andy perguntou, com os olhos desesperados e nós


apontamos para o quarto. "Converso com os dois mocinhos depois,
ouviram?!" Ela disse apontando para mim e Sirius, enquanto entrava no
quarto.

Ficamos todos esperando por bastante tempo na sala. Remus colocou mais
feitiços de proteção na casa, principalmente depois de termos fugido da
mansão de Bellatrix. A casa era provavelmente o lugar mais seguro do
mundo agora. James teve que voltar para ver como Lily estava, mas não antes
de fazer suas apostas com Sirius.

"Aposto cinco galeões que ela coloca Malfoy." Sirius sussurrou para James.

"Apostado." James deu de ombros. "Ela deixa o Black, com certeza."

"Insensíveis." Pandora disse, dando um tapa na cabeça de cada um.

Na verdade, estávamos todos muitos curiosos para saber o que Narcissa faria
com o sobrenome dele. Se permaneceria Malfoy, como o pai de sangue. Ou
se ela iria ter coragem de abandonar a irmã e o marido no mesmo dia, e
colocar apenas o próprio sobrenome no filho. Francamente, eu não fazia
ideia. Mas acho que já superamos essa coisa de achar que um nome
influencia em quem uma pessoa vai se tornar.

James voltou para casa, de volta para Lily. Eu disse à Mary para voltar
também, porque seus pais definitivamente estavam precisando mais dela do
que eu.

"Não se afaste de mim outra vez." Ela disse seriamente, enquanto eu a levava
à porta.

307
"Mesmo se eu quisesse," Respondi, colocando um cacho do seu cabelo para
trás da orelha. "Realmente não acho que eu conseguiria."

Ela sorriu, se afastando da porta. "Me mande notícias!"

Eu estava começando a achar que as mulheres haviam combinado de todas


terem filhos naquele mesmo ano. O filho dos Weasley havia nascido em
março e Arthur disse que Molly não pararia até ter uma menina. Se minhas
contas estivessem certas, Lily e Alice dariam à luz no mesmo mês. E então,
agora Narcissa. Dou graças à Deus que Sirius não pode engravidar, se não
essa casa já estaria cheia de crianças levando em conta como ele é.

Ficamos apenas eu, Sirius, Remus e Pandora na sala. Ela estava um pouco
mais inquieta que todos nós, com os pés balançando e os dedos batendo na
mesa. Me levantei para pegar um copo de água para mim.

"Reg." Ela me chamou, de repente, me fazendo encará-la. "Preciso falar com


você."

"Se for sobre o diário," Respondi, voltando para o sofá com o copo. "Não se
preocupe, vamos destruí-lo assim que..."

"Não, não é sobre o diário," Ela disse sussurrando, parecendo nervosa. "É
sobre outra coisa."

"Sabe, mesmo se você sussurrar, nós ainda conseguimos ouvir." Remus


disse, arqueando uma sobrancelha.

"Vamos lá fora." Falei, me levantando e a pegando pela mão até o jardim do


lado de fora da casa. "E então? Está tudo bem?"

"Estou com medo." Ela disse, franzindo a testa.

"Medo do quê?" Perguntei, confuso. "Narcissa vai ficar bem, Marlene é


muito boa no que faz e..."

"Não, Regulus, não é por isso." Ela disse, balançando a cabeça.

"Então, o quê...?!"

"Estou grávida!"

308
Meu queixo caiu. O copo de vidro caiu da minha mão direto no chão.
Definitivamente, todas as mulheres decidiram engravidar no mesmo ano.

"Você..." Comecei, engolindo em seco, com os olhos arregalados. "Você está


grávida?! Por que é que você não me disse?!"

"Eu sei! Eu sei que deveria ter te contado!" Ela exclamou. "Mas você não
deixaria que eu fosse com vocês se eu tivesse dito!"

"É claro que eu não deixaria!" Exclamei, ainda chocado.

"Eu sei que eu deveria ter falado!" Ela disse, começando a andar de um lado
para o outro. "Eu estava com medo de você não me deixar ir, e estava com
medo de encarar isso de frente e perder tudo outra vez..." Ela começou a ficar
ofegante, ainda andando de um lado para o outro. "E eu não sabia se estava
pronta para aceitar isso por causa do que aconteceu no ano passado..."

"Pandora." Chamei, tentando chamar a sua atenção.

"Mas eu também não queria conversar sobre isso com você porque eu sei
que você se sente culpado pelo o que aconteceu e tudo que eu tenho feito
durante toda a nossa amizade é garantir que você não se sinta assim," Ela
falava tanto, sem vírgulas, quase sem tempo para respirar. "E também estou
com medo de contar à Phil porque ele com certeza vai ficar muito feliz, mas
e se isso der errado outra vez?! E se algo acontecer e eu perder esse bebê?!
Phil não aguentaria, eu não aguentaria! Não posso passar pela a mesma coisa
que passei, não posso! Queria ter dito alguma coisa, mas..."

"Pandora, respire, pelo amor de Deus," Falei, a segurando pelos ombros,


finalmente a fazendo parar de andar. "Merda, que tipo de amigo eu tenho
sido ultimamente para você pensar que não pode conversar comigo sobre
alguma coisa?!"

"A última coisa que nós precisamos, com toda essa história das horcruxes, é
que você se sinta culpado por eu me sentir tão mal com o que aconteceu,"
Ela disse, com os olhos tristes. "Nunca consegui realmente conversar sobre
isso, nem mesmo com Phil. Não sei se eu aguento isso outra vez, Reg."

"Ok, vamos do início," Falei, me sentando com ela na frente da casa.


"Primeiro, não quero que você pense que não pode me dizer alguma coisa
que está sentindo porque está com medo de alguma coisa que eu vou sentir!"
Ela assentiu. "E, segundo, eu queria que você falasse comigo sobre aquilo

309
porque a única coisa que eu podia fazer para ajudar seria ouvir você. Dora,
isso não vai acontecer outra vez... confie em mim, você vai ficar bem."

"Como você pode ter certeza disso?!" Ela disse, afundando o rosto nas mãos.
"Estou com tanto medo de falhar outra vez, de perder essa criança outra
vez..." A voz dela ficou trêmula. "De não ser uma boa mãe."

"Você?! Qual é, você vai ser uma mãe incrível!" Exclamei, pondo o braço
ao redor do ombro dela. "Acredite em alguém que conhece você desde
sempre, se tem alguém que vai saber fazer isso, esse alguém é você. E
também... você tem a mim. Você sempre vai ter a mim."

"Sabe," Pandora disse, sorrindo fracamente, "Se você não estiver planejando
morrer ou se enfiar sozinho outra vez em uma caverna assassina... bom, se
você quiser..."

"É claro que eu quero ser o padrinho!" Respondi, com um sorriso largo. "Vou
ser o padrinho mais foda que você já viu na sua vida! E vou dar doces para
ela todos os dias escondido de você! Vou colocá-la na cama às nove, mas
vou contar todas as nossas histórias sobre Hogwarts para ela até às onze! E
vou levá-la ao Beco Diagonal para comprar a vassoura mais cara que ela
quiser, também vou levá-la à estação de trem no seu primeiro dia em
Hogwarts e..."

"Merlin, parece que você é quem está grávido!" Ela disse, sorrindo. "Você
acha que é 'ela'?"

"Olhe, nunca fui muito bom em Adivinhação, você sabe," Respondi. "A
matéria é vaga demais... mas, bem, se eu tivesse que adivinhar agora... eu
diria que é uma menina."

Pandora encarou o céu estrelado acima de nós. "Regulus é uma estrela, não
é?!"

"A família Black e suas tradições esquisitas..." Falei, também olhando para
o céu.

"Bom, se for menina," Ela disse, ainda olhando para cima. "Quero que se
chame Luna."

"Luna Lovegood." Falei, vendo como o nome soava. "Por quê Luna?!"

310
"Porque eu quero que vocês dois estejam sempre juntos," Ela disse, sorrindo
para mim. "Como a lua e as estrelas."

Eu a encarei, atônito com o que acabara de ouvir. Não consegui evitar que
meus olhos ficassem molhados. Enxuguei eles rapidamente com os dedos,
antes de responder.

"Ah, Regulus Black está chorando?!" Ela disse, tirando sarro de mim.

"Cale a boca." Respondi, emburrado, mas ainda sorrindo. "Eu só... eu apenas
não esperava por isso."

E então, nós nos abraçamos. Um dia, eu poderia contar à Luna o porquê do


seu nome. E me perguntava se ela ficaria tão feliz e emocionada como eu
fiquei quando a mãe dela me contou. e perguntava se ela me amaria tanto
quanto a mãe dela me amava. E se conseguiria protegê-la, tanto quanto
sempre tentei proteger Pandora por toda a minha vida.

"Reg! Pandora!" Sirius apareceu na porta atrás de nós, os olhos brilhando, o


sorriso de orelha à orelha." Ele nasceu! Draco nasceu!"

***

"E então?!" James perguntou. "Quem vai fazer isso?!"

Levamos o diário para uma floresta qualquer. Não queríamos destruir aquela
coisa dentro de casa e ao ar livre era o melhor jeito de fazer isso. Ao que
parece, o diário estava com Lucius o tempo todo. O que me surpreende
porque ele é quase tão imbecil como uma porta, então por que diabos
Voldemort confiou algo tão valioso à ele?! E como diabos ele nunca se
perguntou o que era aquela coisa?! Colocamos o diário no chão da mata e
ficamos todos ao redor dele, o encarando.

"Bom, eu já destruí uma," Pandora disse. "Deixo essa para vocês."

"Eu também já," Respondi, dando de ombros. "A sensação é horrível. Eu


passo."

"Não olhem para mim." James disse, erguendo as mãos. "Eu matei a porra
de um basilisco."

311
"Eu faço." Remus disse seriamente, depois de um curto silêncio, nos fazendo
encará-lo. "Aquela filha da puta me fez sentir tanta dor que eu achei que
fosse morrer. Eu mereço isso."

"Você tem certeza, Moony?!" Sirius perguntou, franzindo a testa.

"Trouxeram a espada?" Remus perguntou, sem tirar os olhos do diário.

"Achei que ela chamaria muita atenção na floresta, achei melhor a presa do
basilisco." Respondi, mexendo no meu bolso de trás. "Aqui, Remus."

"Sabe, Reg," Remus disse, pegando a presa da minha mão. "Eu já fui até uma
caverna salvar você, já explodimos uma casa, matamos um basilisco e fomos
até uma mansão cheia de comensais da morte... acho que você pode me
chamar de Moony, se quiser."

"Pode me chamar de Prongs também," James disse, levantando uma das


mãos. "Eu particulamente prefiro."

Eu sorri, um pouco envergonhado. "Tudo bem, então... Moony, acabe com


essa coisa."

Todos nos afastamos alguns passos do diário, dando espaço para Remus. Ele
segurou firmemente com as duas mãos a presa do basilisco, a levantando no
alto para pegar impulso. Em questão de segundos, ele desferiu um golpe bem
no meio do diário, que começou a literalmente sangrar. Sangrar como se
fosse uma pessoa de verdade.

"Que porra é essa?!" Sirius gritou, com os olhos arregalados.

"Não sou apenas que estou vendo esse livro sangrar, não é?!" James disse,
tão assustado quanto.

Um vento forte e frio bateu em todas as árvores fazendo-as ficarem


inclinadas, tivemos que segurar uns nos outros para não sairmos voando.

"É por causa da alma dele." Pandora disse, se segurando em mim. "O diário
guardava uma parte dele, não é?! Não me surpreendo de estar literalmente
sangrando."

"Que cara bizarro." Remus disse, envolvendo Sirius com os dois braços.

312
De repente, o vento forte parou, as árvores voltaram ao seu lugar e nós
chegamos perto do diário, lentamente. Ele agora parecia apenas um livro
antigo e empoeirado, sem nada de muito interessante para se ver. A não ser
pelo buraco grande e chamuscado no meio da capa preta e encourada.

"Tom Marvolo Riddle." Sirius leu, na frente do diário. "Parece que a mãe do
cara já sabia que ele seria do mal."

"Pelo menos, destruímos outra," Falei, pegando-o nas minhas mãos. "Assim
que Narcissa estiver disposta, precisamos falar com ela."

"Eu não acho inteligente todos nós fazermos isso." Pandora disse, olhando
para todos nós. "Ela pode não querer falar com todos nós."

"Acho que vocês dois deveriam fazer isso." James disse, apontando para mim
e Sirius, enquanto íamos embora da floresta. "Sabe, vocês são primos dela."

"Eu também concordo com isso." Remus disse, analisando a reação de Sirius.
"Acho mais fácil ela falar com algum de vocês dois."

"Bom, ela me odeia," Sirius deu ombros, enquanto andava. "Com certeza vai
ouvir apenas Regulus."

"Você me pareceu feliz ontem quando o filho dela nasceu!" Exclamei. "Não
acho que ódio seja a palavra para isso."

"Isso é porque eu adoro bebês, Reg," Sirius disse. "E, pelo amor de Merlin,
o menino é meu sobrinho, não é? Ele não tem culpa da mãe dele me odiar."

"Você a odeia?" Pandora perguntou, cruzando os braços.

"É de Padfoot que estamos falando, Pandora" Remus disse, sorrindo. "Não
tem um pingo de ódio no coração dele, a não ser no dia em que derramei café
na jaqueta de couro que ele tinha acabado de comprar."

"Por é que você me lembrou disso?!" Sirius exclamou, irritado. "Agora estou
com vontade de matar você outra vez!"

"Você precisa me pegar antes!" Remus exclamou, saindo correndo na nossa


frente.

313
"Eu sou menor e mais rápido do que você, Moony!" Sirius gritou, indo atrás
dele.

"Pelo amor de Deus," Pandora revirou os olhos. "Se vocês dois se perderem,
eu não vou tentar encontrar vocês!" E então, andou mais na frente para não
perdê-los de vista.

"Você está bem?" Perguntei para James, ficando sozinho ao lado dele. "Você
está meio... quieto."

"Não, estou apenas pensando em Lily... estou bem." Ele respondeu, tentando
soar convincente.

"Qual é, você sempre fica feliz quando está pensando em Lily!" Respondi.
"O que está acontecendo realmente?"

"Você acha que eu deveria tê-lo matado?" Ele perguntou, eu o olhei com
uma expressão confusa. "Wormtail."

"Bom..." Tentei responder com cuidado. "Eu teria o matado se não estivesse
ocupado tentado impedir Bellatrix de me matar."

"Então, você acha que eu deveria?"

"Eu acho que se você não o matou," Respondi, franzindo o cenho. "É porque
você é melhor que ele, você não acha?!"

"Ter o coração melhor do que o dele não vai me ajudar a ganhar esta guerra,
Regulus." Ele disse, seriamente. "Eu deveria ter tido coragem de matá-lo,
mas... mas eu simplesmente não consegui. Eu teria coragem de fazer
qualquer coisa, de entregá-lo, de vê-lo ser preso em Azkaban... Mas por que
é que eu não consigo me ver matando ele?!"

"Eu não sou a pessoa mais bondosa do mundo, Prongs... fiz algumas coisas
bem ruins quando eu estava do lado deles, se você quer saber," Respondi.
"Mas se alguém me perguntasse quem é a pessoa que merece esse título, eu
com certeza diria você." Ele me encarou. "Acho que a questão não é o motivo
para você não conseguir matá-lo, a questão é que se o seu senso de lealdade
é tão grande que simplesmente não consegue fazer isso com isso com alguém
que você amou tanto... então sim, é assim que você vai ganhar esta guerra."

314
"Você é bem inteligente, Reg, sabia disso?!" Ele perguntou, sorrindo para
mim.

"Claro que eu sei!" Respondi, sorrindo de volta, pondo o braço ao redor do


ombro dele, descontraidamente. "Acho que você finalmente está começando
a me conhecer."

"Você acha que a nossa vida seria assim se eu tivesse chamado você para
sair quando estávamos em Hogwarts e você tinha uma queda por mim?!" Ele
perguntou, tirando sarro de mim.

"Ah, pelo amor de Deus!" Falei, o empurrando. "Para quê lembrar disso?!"

"Você pode falar, Reg, eu não me importo" James disse, gargalhando. "Você
me acha irresistível."

"Vai se foder, James." Respondi, sorrindo, enquanto tentávamos alcançar


Pandora, que brigava com Sirius e Remus por terem caído enquanto corriam
e batido um contra o outro.

***

"Estou indo até à casa de Pandora," Falei, me despedindo depois do jantar.


"Não me esperem acordados."

"Nós nunca esperamos você acordado." Remus disse, dando de ombros,


enquanto lia o seu livro.

"Você deve achar que somos burros se acha que não sabemos que você vai
passar a noite com Mary." Sirius disse, deitado no sofá, com a cabeça apoiada
no colo de Remus.

"Deixe ele paz, Padfoot," Remus disse, lendo o seu livro. "Se você for dormir
na casa de Mary, lembre-se que amanhã de manhã você e Padfoot tem que ir
até à casa de Andy para ver Narcissa."

"Merlin, não estou indo até à casa de Mary!" Exclamei, revirando os olhos.
"Já falei à vocês dois que somos apenas amigos."

"Amigos que transam não são apenas amigos." Sirius disse, sorrindo para
mim.

315
Balancei a minha varinha um centímetro e o livro grande que Remus estava
segurando acima da cabeça de Sirius caiu com tudo em cima do seu rosto.

"Ai!" Sirius exclamou, com a mão no nariz. "Eu vou matar você!" Ele
levantou rapidamente do sofá, com a varinha na mão.

"Tchau, Six! Tchau, Moony!" Me despedi rapidamente, antes que Sirius me


amaldiçoasse.

Bom, é claro que eu estava indo ver Mary. Com toda a história de Narcissa
tendo um filho na casa em que eu moro e também a história de destruir o
diário, tudo que eu queria no fim do dia era ver Mary. Era tudo que eu
precisava.

"Se seus pais acordarem e me verem no seu quarto, eles vão acabar comigo."
Falei, entrando pela sacada do quarto dela.

"Bom, eles não podem me impedir de ver você." Ela disse, me beijando logo
em seguida, um beijo longo e demorado. "Eu estava com tanta saudade." Ela
sussurrou, encostando a testa na minha.

"Você não faz ideia de como eu fiquei preocupado." Respondi, suspirando


de alívio. "Eu fiquei com medo de nunca mais... nunca mais ver você..."

"Eu estou aqui agora." Ela disse, levantando os olhos para mim. "Não vou
sair de perto de você."

"Que bom, então..." Deslizei a mão que estava em seu pescoço até a sua
cintura, a puxando com força para perto de mim. "Porque preciso de você
agora."

Quando a minha boca encontrou a dela, o mundo deixou de existir. O beijo


foi frenético e excitante, cheio de saudades e alívio. Eu não tinha palavras
para isso.

Mary jogou os braços ao redor de mim, me pressionando o mais perto que


podia. Ela me puxou para dentro do quarto, sem parar de me beijar, as mãos
brincando com o fecho do meu cinto. Deslizei a mão no seu cabelo, a outra
em volta da sua cintura, puxando ela contra mim. Ela não disse nada
enquanto eu abaixava a cabeça em direção ao seu pescoço, dando beijos
molhados na parte de baixo da sua orelha. Ela fechou os olhos quando eu
passei minha língua levemente desde a sua clavícula até a sua orelha. A

316
forma com que eu sentia a respiração ofegante dela no meu rosto quase
acabou comigo.

Ela me empurrou para a cama, me jogando com força em cima dos lençóis.
Ela estava de vestido, o que me fez estremecer quando ela se sentou em cima
de mim e tudo abaixo das nossas cinturas entrou em atrito, ainda com as
roupas atrapalhando. As mãos dela estavam enterradas no meu cabelo e as
minhas deslizaram por baixo do seu vestido, apertando ela com força.

Minha boca continuou devorando a dela, dizendo tudo que eu ainda não
podia expressar, mas um dia, talvez em breve, eu poderia. Por ela, eu lutaria
para encontrar a coragem de poder dizer.

Eu interrompi o beijo para cuidar das suas roupas, passando os dedos


lentamente pela costa do vestido dela, enquanto nós dois nos encarávamos e
eu desabotoava cada botão da parte de trás da sua roupa. Abaixei as duas
alças do vestido dela juntamente das duas alças finas do seu sutiã, deixando-
a completamente sem nada da cintura para cima. Ela desceu as mãos até a
minha cintura, e subiu a minha camisa devagar até tirá-la completamente.

Enquanto eu a beijava outra vez, eu a virei de repente, jogando-a na cama e


me colocando em cima dela, usando as minhas mãos livres para descer todo
o vestido dela junto com a sua calcinha, deixando ela completamente nua na
minha frente. Ela me virou outra vez, ficando por cima de mim e deu um
beijo no meu pescoço. E então, outro mais baixo, perto da minha clavícula.
Eu estremeci, e ela lambeu o nó no centro da minha garganta.

Eu me mexi na cama, gemendo baixo. Subi a minha mão para agarrar o seu
quadril, mas ela as removeu.

"Mary..." Chamei o nome dela, ofegante e de olhos fechados.

"Sem as mãos." Ela sussurrou perto do meu pescoço, sentada sem roupa
nenhuma em cima de mim, apenas a porra de uma calça separando nós dois.

Eu não a impedi, então Mary me beijou novamente, se movendo para o outro


lado do meu pescoço. Alcançando aquele ponto logo abaixo da minha orelha
enquanto seu cabelo comprido roçava nos meus braços. Ela não beijou mais
a minha boca.

Ela desceu seus beijos para o peito, e depois para minha barriga, até que
mordeu a borda da minha calça com a boca me fazendo quase perder o

317
controle completamente. Ela alcançou o meu zíper e o abriu, eu senti que ia
explodir se ela não tirasse toda a minha roupa de uma vez.

"Mary..." Foi tudo que eu consegui dizer, mordendo meus próprios lábios,
ofegante.

Os dedos dela estavam firmes enquanto ela desabotoava a minha calça e a


descia devagar junto com a minha cueca. A minha respiração ficou presa.
Meus olhos se arregalaram levemente. Os músculos da minha coxa se
moveram contra ela quando ela me puxou para dentro da própria boca,
fazendo meu peito arquear.

"Porra!" Exclamei, jogando a cabeça para trás.

"Você não pode fazer barulho..." Ela disse, sorrindo para mim, pondo uma
mão na minha boca. "Ou eu vou ter que parar..."

"Pelo amor de Deus..." Ofeguei, levando as mãos até o seu cabelo. "Vou
morrer se você parar."

Eu estremeci quando ela levou as mãos para ajudá-la no que estava fazendo
com a boca. Ela ergueu o olhar para encontrar o meu olhar fixo nela o tempo
todo. Ela passava a boca levemente, quase como se estivesse com medo de
quebrar.

"Mary, pelo amor de Deus..." Arfei, completamente atordoado.

Ela entendeu o que eu quis dizer, sorrindo de um jeito travesso para mim. E
quando ela pôs a boca novamente, ela foi mais forte e mais rápido, deixando
seus dentes roçarem de leve, meu quadril arqueou para frente e ela prendeu
a mão na minha barriga, me forçando a ficar quieto.

Com mais força ainda, girando as suas mãos por toda aquela região, ela
voltou ao ritmo rápido de antes. Eu joguei a cabeça para trás, completamente
atordoado e ofegante.

"Mary." Eu implorei, desesperado para estar completamente dentro dela. A


minha mão cravou no seu cabelo, agarrando, eu estava me contendo para não
machucá-la.

Não queria me chocar tão forte contra ela, machucá-la ou desagradá-la, mas
pelo visto isso não funcionaria. De jeito nenhum. Mary me queria

318
completamente rendido, eu conseguia sentir. Então, quando Mary me levou
em sua boca novamente, a mão trabalhando, ela arrastou os dentes mais uma
vez. Levemente o suficiente para doer - só um pouco.

"Não faça isso comigo." Sussurrei, ainda com as mãos em seu cabelo.

Mary me apertou com a mão o suficiente para dizer que ela queria isso,
queria que eu me soltasse. Ela levou seus lábios até ponta, rolando sua língua
ao redor, e olhou para mim por debaixo de seus cílios. Meus olhos estavam
sobre ela, brilhantes e vidrados. E quando eu encontrei o seu olhar e a vi
olhando para mim daquele jeito, eu não aguentei.

Era uma tortura, um tipo especial de tortura, ter Mary em cima de mim, nua
e comigo em sua boca e não poder gritar de prazer para não acordar ninguém.
Mas então Mary olhou para mim através de seus cílios, e a visão dela comigo
entre os próprios lábios estalou algo. Eu não me importei que nós estávamos
no quarto dela ou que apenas uma parede fina nos separava do quarto dos
seus pais. Eu deslizei a outra mão em seu cabelo, os dedos entrelaçados em
seus cachos grandes e compridos, e empurrei em sua boca.

Ela me tomou profundamente, gemendo tão alto que eu me surpreenderia se


o pai dela não entrasse por aquela porta daqui a quinze segundos. Ela se
aprofundou ainda mais, o que me fez arquear em sua boca novamente. Eu
estava totalmente à mercê dela, em todos os sentidos.

Mary gemeu mais uma vez, um incentivo suave, e eu não precisava de mais
nada. Agarrando seu cabelo, segurando-a no lugar, eu empurrei meus
quadris. Ela me encontrou com cada golpe, boca e mão trabalhando em
uníssono, até o cabelo dela nas minhas mãos, os dentes que às vezes me
roçavam, me provocavam - eles eram insuportáveis, eram tudo o que
importava. Mary queria que eu terminasse em sua boca, mas os seus gemidos
me fizeram decidir que eu não queria terminar nada antes de estar dentro
dela.

Eu tentei sair, mas Mary se recusou a se mover. Meus dedos seguraram a sua
cabeça para pará-la. "Eu quero você." Eu conseguiu dizer, minha voz trêmula
e falha. Mary olhou para mim novamente por baixo de seus cílios, e eu vi o
comprimento inteiro desaparecer em sua boca mais uma vez. A ponta bateu
bem no fundo da sua garganta.

"Porra!" Ofeguei, fechando os olhos com força. "Eu preciso de você agora!"
Exclamei, atordoado, e ela bufou uma risada.

319
Os lábios de Mary se curvaram para cima, sorrindo como uma rainha
triunfante. Eu sorri maldosamente de volta para ela por meio segundo, antes
de agarrar seus quadris com força e me sentando, para ficar de frente com
ela. Ela estava sentada em cima de mim e com as mãos no meu cabelo, a
minha mão que estava na sua cintura desceu para segurar a sua bunda e os
meus dedos desceram por entre as pernas dela, sentindo-a de verdade. Meus
dedos roçaram ali, e ela gemeu alto, tão alto quanto eu há alguns minutos
atrás. E então, eu os acelerei. Mary jogava a cabeça para trás e enterrava as
unhas nas minhas costas, ofegando de prazer.

"Eu quero você..." Ela disse, em meio aos gemidos, olhando nos meus olhos.
"Eu quero você para sempre, Regulus Black."

Os olhos dela brilharam para mim quando eu levei meus dedos até a boca
dela, e ela os lambeu, um por um. Meu corpo doía, pulsando tão perto dela,
desesperado por ela. Ela inclinou a boca na minha. Foi um beijo intenso e
provocador. Ela mordeu o meu lábio inferior. E então eu finalmente a
encaixei em mim, esmagando nossos corpos juntos, ambas as mãos agora
segurando a sua bunda enquanto eu apressionava contra mim. Nossas bocas
abertas se chocaram e se encontrariam, e ela sesaboreou na minha língua,
seus dedos agarrando meu cabelo.

No primeiro golpe, parecia fogo estourando dentro de nós. Ela ofegou na


minha boca, mordendo meu lábio inferior enquanto eu me acomodava
devagar. Eu tremi, me segurando dentro dela, não colocando tudo de uma
vez. Minha hesitação e meu cuidado em não machucá-la pareceram ter o
efeito contrário nela, a fazendo se livrar de qualquer restrição. Mary agarrou
meus ombros, sentada em cima de mim, os músculos flexionando sob as
pontas dos dedos, eme puxou para ela, me afundando mais dentro de si. Eu
apoiei os braçoscontra a cama, puxando o quadril um centímetro para trás.

"Vou machucar você." Sussurrei baixo para ela.

"Eu não me importo." Ela disse, passando a língua na minha mandíbula.

Meus quadris flexionaram e eu deslizei mais um centímetro - então recuei


quase até a borda dela. A nossa respiração sincronizou e Mary movia seus
quadris novamente com a ajuda das minhas mãos, e eu empurrei de volta,
um pouco mais longe desta vez.

Eu sustentei seu olhar através de cada pequeno impulso, cada retirada. Eu


estiquei seu corpo, enchendo-a centímetro a centímetro, recuando e

320
avançando. Nós não dissemos nada, apenas compartilhamos a respiração,
nossos olhos brilhando em excitação enquanto nos olhávamos.

Eu puxei para fora novamente, o movimento longo o suficiente desta vez


para que ela soubesse que eu estava quase totalmente dentro. Eu parei, mal
dentro dela, e estudei seu rosto. Uma deusa feita especialmente para mim. Se
eu era um pecador nesta Terra, ela era a minha salvação.

Eu me inclinei para beijá-la. E quando minha língua deslizou em sua boca,


eu me empurrei para dentro dela em um impulso forte. Mary gemeu quando
eu finalmente coloquei tudo, e o impacto a atingiu, ela se arqueou em cima
de mim e nós não conseguíamos respirar rápido o suficiente.

Eu me retirei novamente e empurrei de volta nela, empurrando nossos corpos


ainda mais um contra o outro. Ela gemeu choramingando desta vez, e osom
foi a minha ruína. Ela envolveu as minhas costas com as pernas e ergueu os
quadris para frente para encontrar os meus com mais força. Eu afundei ainda
mais, e ela cravou as unhas em meus ombros. Deuses - nada nunca foi tão
bom, tão completo, tão certo. Nada nunca foi assim, nada.

Eu defini o ritmo, suave e profundo e, por um momento, tudo que Mary pôde
fazer foi se igualar à mim. Eu senti os músculos internos dela ao redor de
mim me apertando com mais força e rosnei. "Porra, Mary."

E ela gostou de me ver destruído o suficiente para que ela fizesse isso
novamente, agarrando-se a mim assim que ela se sentou completamente. Eu
me arqueei, os dedos cavando na cama. Não foi o suficiente, no entanto. Não
estava perto do suficiente. Eu queria Mary rugindo, queria ela tão perdida
que nãoconseguisse se lembrar de seu próprio nome, apenas do meu.

Mary me parou com uma mão em meu peito. Apenas uma mão, e eu parei,
totalmente ao seu comando. Se ela quisesse que acabasse aqui, acabaria. Isso
a suavizou o suficiente para que ela não conseguisse evitar o tremor em sua
voz quando disse. "Eu quero mais."

Eu poderia ter explodido.

Eu ofeguei, os olhos selvagens, enquanto ela rastejava para fora dos meus
braços. Quando ela se virou de bruços e se ergueu de costas para mim. Eu
fiz um som baixo de necessidade. Ela arqueou os quadris mais para cima, me
convidando. Minha restrição se quebrou completamente.

321
Eu estava sobre ela em um instante, levantando seus quadris mais alto
enquanto me empurrei dentro dela em um único impulso. Mary gritou, um
som de tanto prazer que eu sabia que acordaria até quem estivesse em outro
quarteirão, me sentindo atingir o ponto mais profundo dela. Desferi um tapa
nela, uma das minhas mãos se movendo do seu quadril para seu cabelo,
puxando sua cabeça para trás, mostrando a sua garganta. Ela se entregou para
mim, e a falta de controle era inebriante, tão prazerosa que eu mal conseguia
suportar.

Eu empurrei com mais força, tão fundo que ela gritou novamente, poderia
estar soluçando. Minha outra mão vagou nos seus quadris, me empurrando
nela, seucabelo agarrado como cordas em uma das minhas mãos. Ela estava
totalmente à minha mercê, e eu sabia - eu estava rosnando de desejo, batendo
com tanta força que o som das nossas peles se chocando já era alto o bastante.

Eu me retirei de dentro dela, a virando para cima e batendo com suas costas
no colchão, me colocando em cima dela. Meus olhos encontraram os dela. E
então eu a beijei profundamente enquanto me deslizava outra vez para
dentro, ela enrolou as pernas na minha cintura, me pressionando mais fundo.
Eu ofeguei alto.

Não porque estava dentro dela - mas por causa daquela coisa no meu peito.

A coisa que trovejou e bateu descontroladamente no meu coração quando ela


olhou para mim novamente, enquanto eu deslizava quase até a ponta
eempurrava de volta. No primeiro impulso, a coisa em meu peito - meu
coração... No segundo impulso, eu cedi inteiramente à ela. No terceiro, eu a
beijei novamente. No quarto, Mary entrelaçou os braços em volta da minha
cabeça e do meu pescoço e me segurou ali enquanto me beijava, beijava e
beijava. No quinto, as paredes daquele quarto, que havia virado uma
fortaleza apenas nossa, caíram.

Mary se afastou, como se também sentisse isso, e seus olhos brilharam


quando encontraram os meus. Mas eu continuei me movendo dentro dela,
tendo ela para mim completamente,sem pressa. Então eu deixei tudo o que
estava além daquelas paredespara trás. Que se foda Voldemort, que se fodam
as horcruxes e que se foda todo o mundo bruxo. Tudo que importa é ela.

A vida era linda e brilhava como o fogo das estrelas, e eu nunca tinha visto
nada mais bonito, nem sentido nada mais lindo. Eu nunca queria que isso
acabasse, essa ligação entre nós, a sensação de eu me movendo tão
profundamente nela que eu a queria grudada em mim para o resto da vida.

322
A liberação explodiu através dela, obliterando cada pedaço daquele quarto,
arrasando qualquer coisa menos digna do que nós dois, limpando o mundo
com luz e prazer, estrelas caindo do céu. Eu rugi quando cheguei ao clímax
depois dela. Houve apenas esse momento, essa coisa compartilhado entre
nós, e durou uma eternidade.

O tempo não importava. O tempo sempre parou ao redor de nós dois.

Mary estendeu a mão para me beijar. Um beijo levou a outro e outro, e a


fome aumentou entre nós. E então eu estava me movendo dentro dela
novamente, mais rápido e mais forte, e o tempo deixou de existir mais uma
vez.

Nos derramamos um no outro, por mais tempo do que nunca, como se


tivéssemos nos contido todas as vezes antes, como setivéssemos nos
permitido desabar na frente um do outro. Para sempre, para sempre, para
sempre. A palavra ecoou na minha mente, em cada respiração, cada batida
dos nossos corações, tão em sincronia que pareciam bater como um só.

Quando nós dois finalmente estávamos exaustos, eu desabei contra a cama


ao seu lado.

"Isso foi..." Falei, ofegante, com a voz falha.

"É." Ela disse, olhando para o teto, ainda tentando controlar a respiração.
"Foi."

"Vem aqui." Disse, a puxando para perto de mim, fazendo-a deitar no meu
peito e entrelaçar o braço ao meu redor. "Gosto quando você me abraça
assim."

"Como Narcissa e o bebê estão?" Mary perguntou. "Draco parece ser


incrível"

"Sim, ele é!" Respondi, com um sorriso. "Eu e Sirius vamos vê-la amanhã,
ela está ficando na casa de Andy por enquanto."

"Ela e Andy estão bem juntas?!" Ela disse. "Achei que as duas eram brigadas,
ou algo do tipo."

"Andrômeda nunca vira as costas para ninguém, nem para as pessoas que ela
tem algum atrito," Respondi. "Ela é assim desde que me lembro."

323
"E Sirius?! Conheço aquele idiota desde os meus onze anos, ele pode ser
muito teimoso quando alguém que não é do mesmo círculo de pessoas que
ele entra em cena."

"Sirius é Sirius." Respondi, suspirando. "Ele não morre de amores por Cissy,
mas pode conviver com ela se ela prometer fazer a coisa certa. E também,
você não viu a cara dele carregando Draco pela primeira vez, ele quase
chorou! Fico imaginando quando Lily der à luz... ele vai querer dar uma festa
de comemoração."

"Sim, ele vai!" Mary afirmou, sorrindo.

"E você?" Perguntei. "Você e Pandora estão bem próximas agora, não é?!
Não vou me surpreender se vocês duas decidirem ficar juntas e esquecerem
que eu existo."

"Não seja idiota!" Ela respondeu, sorrindo. "Nós apenas almoçamos juntas
naquele dia e... bom, ela me disse umas coisas."

"Que tipo de coisas?!"

"Ela me contou sobre você e ela, quando estavam em Hogwarts e..." Mary
deu uma pausa, parecendo com medo de falar o resto. "E sobre você e Barty."

Estremeci ao ouvir aquele nome, quase consegui sentir as mãos nojentas dele
em cima de mim outra vez. "Hm."

"Sabe, se você decidir que quer conversar sobre isso um dia..." Ela disse,
hesitante. "Bem, você pode falar comigo."

"Não. Não quero."

"Eu fico preocupada com você guardando tantas coisas para si, Reg," Ela
disse, se mexendo na cama. "Isso pode enlouquecer você. E você não é
sozinho, você tem a mim, e à Sirius e..."

"Não quero falar sobre isso, Mary." Falei, asperamente. "Podemos mudar de
assunto?"

Ela pareceu hesitante, mas cedeu. "Tudo bem."

324
"Obrigado."

"Reg, você nunca pensou em... não sei, sair daqui?" Ela perguntou, de
repente, sem olhar para mim.

"De onde?! Sair de Londres?!"

"Sim." Ela disse, em um tom sonhador. "Visitar outros lugares, conhecer


outras pessoas... comidas diferentes, músicas diferentes, roupas diferentes...
sabe, a vida é mais do que apenas isso, Reg."

"Acho que nunca considerei isso antes..." Falei, acariciando o cabelo dela.
"De qualquer forma, não posso ir à lugar nenhum enquanto não vencermos
esta guerra..."

"Mas nós vamos vencer alguma hora, não vamos?!" Ela disse,
animadamente. "Então, quando tudo isso acabar, podemos viajar para
qualquer lugar que quisermos!"

"Eu adoro quando você se anima assim." Falei, dando um meio sorriso.

"Para onde nós vamos, então?!" Ela perguntou, se levantando do meu peito
para me encarar, os cachinhos escuros balançando. "Temos a Europa inteira,
e temos a Ásia... e isso são apenas os continentes! Sempre quis ir à Nova
York, ou então à um país que falasse uma língua diferente... como a Itália ou
a Suécia!"

"Nós devíamos ir para o Brasil." Respondi, distraidamente.

"O Brasil?" Ela respondeu, pensando no assunto. "Sim... sim, sim, sim! Com
certeza, o Brasil! Tem as festas, as praias, o carnaval! Você vai ficar um gato
vestindo uma camisa de time de futebol!"

"Camisa de futebol não!" Falei, fazendo uma careta. "Isso já é demais!"

"Ah, qual é?!" Ela disse, fazendo uma cara triste. "Temos que ter a
experiência toda! Por mim!"

"Tudo bem! Tudo bem!" Respondi, me rendendo. "Mas não vou jogar
futebol!"

325
"Agora só falta meus pais deixarem eu ir com você..." Ela disse, suspirando.

"Bom, diga à eles que eu sou seu amigo e que eu vou cuidar de você quando
estiver longe deles." Respondi, simplesmente.

"Não posso começar mentindo para eles, Reg." Ela respondeu, sorrindo.

"Mas não é mentira," Eu respondi, confuso. "Eu fui até à uma casa cheia de
comensais da morte resgatar você, você acha que estou mentindo quando
digo que vou cuidar de você?!"

"Estou falando de você ser meu amigo." Ela respondeu, seriamente.

"Mas eu sou seu amigo."

"Você..." Ela disse, a raiva se formando nos seus olhos. "Você não está
falando sério."

"Não estou entendendo você." Respondi, quando ela se levantou de uma vez
da cama, vestindo um pijama. "Está com raiva por eu ser seu amigo?!"

"Estou com raiva porque você tem coragem de me dizer isso." Ela
esbravejou, os olhos furiosos.

"Seus pais vão acordar." Avisei.

"Não seja idiota, coloquei um feitiço silenciador no quarto antes de você


chegar aqui." Ela respondeu, cruzando os braços.

"Olha, Mary," Comecei, me levantando da cama, tentando não soar irritado.


"Não sei o que você quer que eu diga. O que é que você acha que somos?!"

"Me diga você!" Ela esbravejou outra vez. "O que somos, Regulus?! O que
nós somos?!"

"Bom, eu não sei!" Falei mais alto desta vez.

"Eu sou apenas uma distração para você?! Uma distração para te desestressar
porque você precisa salvar o mundo o tempo inteiro?!" Ela disse, furiosa.

"Pare de falar isso, Mary." Exigi, realmente irritado agora.

326
"Ou eu sou apenas um ato de rebeldia para sua família?! Apenas algo para
você mostrar por aí e dizer que finalmente está do lado do bem agora porque
está transando com uma sangue-ruim?!"

"Por que é que você está falando essas coisas?!" Esbravejei. "Você realmente
acha que sou assim?! Que eu usaria você desse jeito?!"

"Então, me diga," Mary disse, com os olhos marejados. "O que eu sou para
você?! Porque estou cansada de você nunca deixar claro o que sente por mim
quando sai por essa janela!"

"Eu salvei você! Não é o suficiente?!"

"Não é questão de não ser suficiente!" Ela gritou. "Nem o seu irmão sabe que
você está aqui! Que nós estamos aqui, agora!"

"Mary, você precisa entender que eu não posso ter nada com você enquanto
a minha situação estiver como está!" Respondi, tentando me explicar. "Já é
um perigo enorme eu estar aqui com você depois do que aconteceu, mas eu
estou mesmo assim!"

"E por que você está, então?!" Ela gritou outra vez.

"Porque não consigo ficar longe de você, Mary!" Vociferei, ofegante. "Porra,
não consigo ficar longe de você nem mesmo que eu tente! Mesmo que eu
tente muito, eu sempre volto para você! Você não tem ideia do que eu faria
para manter você viva! Chega a ser perigoso o quanto me preocupo com você
e o quanto você me afeta de uma forma que eu nem sabia que era
humanamente possível!"

"Então, vamos ficar juntos! Mande tudo isso para o inferno, destrua as
horcruxes e fique comigo!" Ela disse, tristemente. "Me diga o que você sente
por mim."

"Eu estou dizendo!"

"Não, Reg," Ela respondeu, seriamente. "O que você realmente sente.
Preciso que você diga, porque se não, não sei se eu aguento ter você apenas
pela metade."

Eu sabia do que ela estava falando. Por um segundo, todos os meus neurônios
entraram em curto. Se houvesse um jeito de eu sumir e não ter que continuar

327
esta conversa, eu sumiria. Eu nunca falei isso para ninguém, não é errado
alguém te pressionar para falar esse tipo de coisa?! Aquelas palavras. A porra
daquelas três palavras.

"Preciso ir para casa." Respondi, me vestindo, sem olhá-la nos olhos. Se você
soubesse o desespero que estou sentindo agora, Mary.

Eu estava à caminho da sacada, pondo o meu casaco, quando ela disse, me


fazendo parar. "Você não precisa voltar aqui."

Eu só queria aparatar de volta para casa e chorar até esquecer o meu próprio
nome. O que é que tem de errado comigo?! Por que eu não consigo
simplesmente dizer?! Por que não consigo dizer que a amo como Sirius diz
todos os dias para Remus, ou James diz todos os dias para Lily?!

"Você voltou cedo." Remus disse, me vendo chegar em casa. "Sirius já está
dormindo."

"Vou para o meu quarto." Respondi, passando rápido pela sala.

"Você está bem?" Remus disse, franzindo a testa. "Você parece ter...
chorado?!"

"Você acha que eu poderia ser bom para alguém, Moony?!" Perguntei,
parando no meio da sala. "Que eu poderia... ah, deixe isso pra lá."

"Isso é sobre Mary?" Ele perguntou, preocupado. "Posso fazer um café para
nós se você quiser convers..."

"Boa noite, Moony." Falei, indo para o meu quarto.

Acho que finalmente entendi porquê não consigo dizer. Não é porque não a
amo.

É porque não acho que eu consiga fazê-la feliz.

***

"Ei, vocês chegaram cedo!" Andy disse, abrindo a porta para mim e Sirius,
na manhã seguinte. "Bom, vamos ver... qual dos dois aprendeu a pronunciar
o meu nome mais cedo?!"

328
"Claro que fui eu!" Respondi, sorrindo. "Sirius demorou tanto tempo que
achei que ele nunca conseguiria!"

"Ei" Ele disse, ofendido. "Bom, realmente, é verdade."

"Entrem, entrem!" Andy disse, abrindo espaço para entrarmos. "Ted foi
passear com Dora esta manhã, Cissy está no quarto com Draco, vocês podem
ir até lá!"

Eu e Sirius fomos até o quarto no final do corredor, para onde Andrômeda


apontou. O quarto era verde claro e branco, com um berço verde água no
canto e uma cama de solteiro com a cabeceira branca. Narcissa estava
sentada na cama, com Draco no colo.

"Cissy." Assenti. "Como você está?"

"Estou bem, Reg," Ela respondeu, sorrindo fracamente. "Olá, Sirius."

Sirius estava sério, mas eu dei um soco no seu braço e ele finalmente cedeu.
"Olá, Narcissa."

"Bom," Andy veio até o quarto, fechando a porta atrás de nós. "Nós quatro
precisamos conversar."

Foi uma longa conversa, até chegarmos no ponto realmente importante.


Narcissa e Andy contaram sobre a conversa sincera que tiveram e de como
se reconciliaram uma com a outra. Narcissa disse que não pretendia pôr o
nome de Lucius em Draco, mas que não sabia como faria para se esconder
dele agora.

"Não se preocupe, Cissy," Falei, pondo a mão sobre a mão dela. "Nós vamos
proteger vocês. Há inúmeros feitiços de proteção nesta casa, não é, Andy?"

"Sim, com certeza!" Andy disse, soando convicente.

"Bom, Moony também sabe alguns muito bons," Sirius disse para Cissy,
timidamente. "Posso ajudar, se você quiser."

"Moony?!" Ela perguntou, confusa.

"Meu namorado." Sirius respondeu, orgulhosamente. "Remus Lupin."

329
"Ah. Lupin." Ela respondeu. "Havia me esquecido disso."

"A questão é que você pode contar com a gente, Cissy," Andy disse,
segurando a mão dela. "Nós somos uma família."

"Exatamente." Assenti, confirmando. "Não é, Sirius?!"

"Olhe, eu realmente odiava você, Narcissa, não posso negar." Sirius disse
simplesmente.

"Sirius!" Eu e Andy gritamos em uníssono.

"Não, está tudo bem," Cissy disse, sorrindo timidamente. "Ele pode ser
sincero."

"Mas se não fosse por você, não teríamos pego o diário," Sirius disse. "E
acho que nem teríamos saído vivos de lá. Então... sabe, obrigado." Ele deu
um sorriso de lado.

"Tudo bem, Six... Sirius." Ela disse, rapidamente "Desculpe."

"Pode me chamar de Six." Ele disse, dando de ombros. "Afinal, você é da


família."

Narcissa sorriu, quase consegui ver os olhos dela marejados. Mas Cissy é
durona demais para chorar, então rapidamente se recompôs.

"Agora, Cissy..." Falei, a encarando. "Preciso saber se você sabe de mais


alguma coisa que possa me ajudar. Nós já destruímos quatro, devemos estar
perto de..."

"Eu sei onde está." Ela disse, chamando a atenção de todos nós. "Está no
cofre de Bella. Em Gringotes."

"Você... você tem certeza?!" Sirius perguntou, alarmado.

"É a taça da Lufa-Lufa." Ela respondeu, se levantando para pôr Draco no


berço.

"Eu sabia!" Exclamei. "Estou procurando por ela há meses!"

330
"Espere aí..." Andy disse. "Se está no cofre, apenas Bella consegue entrar..."

"Exatamente." Narcisa disse, franzindo a testa e pondo as mãos na cintura.


"Por isso, quando subi de volta naquela noite para pegar o diário, aproveitei
para ir até o quarto de Bella e pegar uma outra coisa."

"O quê?!" Sirius perguntou, confuso.

Narcissa foi até a mobília branca do lado do berço e retirou de dentro da


gaveta um frasco de vidro com um fio de cabelo dentro. "Vocês vão precisar
disso."

"Para quê vamos precisar de cabelo para entrar em um cofre?!" Sirius


perguntou, ainda confuso.

"Você não prestava atenção nas aulas de Poções, Six?!" Andy o repreendeu.

"Quem é que gosta de Poções?!" Sirius disse, fazendo uma careta. "Ou de
aulas?!"

"Reg, você sabe o que fazer," Narcissa disse, entregando o frasco para mim.
"Você era o preferido de Slughorn, você é o melhor em poções."

"Na verdade, Evans era a preferida de Slughorn..."

"Não, era eu." Falei, olhando feio para Sirius. "O que você acha, Andy?!"

"Acho que você vai ter que arranjar alguém que realmente consiga se passar
por ela," Andy disse. "Porque Bella não é uma pessoa muito comum, se é
que você me entende."

"É porque ela é louca." Sirius disse, simplesmente.

"Exatamente." Cissy concordou. "Você decide o que fazer, Reg."

"Sirius," Chamei, fazendo-o olhar para mim. "Diga à James que preciso ver
Lily urgentemente. Temos uma poção nada fácil para preparar o mais rápido
possível."

331
Capítulo 27: Alguns Minutos

"Descuraínia?"

"Confere."

"Pele de ararambóia?"

"Confere."

"Dracmas de sal amoníaco?"

"Confere."

"Hermeróbios?"

"Confere."

"Chifre de bicórnio?"

"Confere."

"Como conseguiu?!" Perguntei, franzindo a testa. "Precisa ser colhido na lua


cheia, você sabe."

"Pedi à James para conseguir isso para mim quando fosse acompanhar
Remus na última lua cheia." Lily respondeu. "Sirius teve que se virar para
distrair Remus em forma de lobo, se não James não teria conseguido."

"E onde James está, afinal?!"

"Ele está na sua casa, na verdade," Lily respondeu, arqueando as


sobrancelhas. "Ele e Remus estão tentando segurar Sirius quieto, porque ele
está louco para ver como vamos fazer isso."

"Espere aí," Falei, lendo o pergaminho amarelado na bancada da cozinha.


"Esquecemos uma coisa."

"O quê?!"

"Sanguessugas." Respondi. "Você não pegou?!"

332
"Estou grávida, Reg, não posso correr o risco de ter nenhum animal que suga
sangue tão perto de mim," Ela respondeu, indo pegar um caldeirão no
armário. "Mas eu não esqueci, obviamente. Pedi para Carter trazer aqui para
mim, ele deve chegar logo."

"Carter?!" Perguntei, confuso. "Carter Wood?!"

"Sim, acho que você se lembra dele," Lily disse, distraidamente. "Ele era da
Lufa-Lufa quando estávamos em Hogwarts, mas era do mesmo ano que nós."

"Não sabia que você era amiga dele," Respondi, franzindo o cenho. "Não
tanto a ponto de envolvê-lo nisso."

"Ele não sabe o que estamos fazendo," Ela explicou. "Eu apenas pedi para
que ele a trouxesse aqui para mim."

"E ele fez um favor à você assim tão facilmente?!" Perguntei, ironicamente,
me sentando na bancada da cozinha. "Acho que James tem um concorrente,
huh?!"

"Não seja idiota, Reg," Ela disse, revirando os olhos. "Carter nem mesmo
gosta de mulheres."

"O quê?!" Exclamei, desacreditado. "Está falando sério?!"

"Sim, você nunca ouviu o que diziam pela escola?!" Lily disse, abaixando o
tom da voz. "Parece que ele teve um caso com Lockhart."

"Ugh! Que nojo!"

"Pois é, não é?!" Ela disse, cruzando os braços. "Carter é um ótima pessoa,
não entendo o que ele viu no arrogante do Lockhart, ele nem mesmo falava
com Carter em público!"

"Acho que às vezes pessoas boas se apaixonam por pessoas que só não
podem dar o que elas merecem." Falei, olhando para o chão. "Acontece
bastante."

"Hum." Ela respondeu, estreitando os olhos. "Ainda estamos falando sobre


Carter e Lockhart?!"

333
"Garota esperta." Sorri fracamente.

"Eu tento." Ela disse, dando de ombros, com um sorriso presunçoso. "Então,
é sobre Mary?"

"Ela está com raiva de mim porque eu disse que somos amigos." Respondi,
ainda encarando o chão. "Acho que ela quer sejamos mais do que isso."

"É claro que ela quer, Reg!" Lily exclamou, arregalando os olhos. "Como
você pode achar que uma garota como Mary vai se contentar com tão
pouco?"

"A questão é que não posso dar à ela o que ela precisa agora, Lily," Respondi,
a encarando. "Que droga, não tem muito tempo desde que ela foi literalmente
usada como isca para me pegar! Você quer mais algum motivo, além
desse?!"

"Se você não acha que podem ficar juntos agora," Lily disse. "Então por que
continua a procurando?!"

"Como assim?!"

"Mary e Marlene são minhas melhores amigas, Reg," Ela disse, sorrindo.
"Acredite, eu sei para onde você vai depois que dá boa noite à Sirius."

"Ela fala sobre mim?!" Perguntei, curioso. "Tipo, ela fala muito?!"

"Você não respondeu a minha pergunta," Ela disse, arqueando uma


sobrancelha. "Se é isso que você pensa, por que a procura?"

"Porque não consigo ficar longe dela, Lily," Respondi, com a voz triste. "Não
consigo ficar longe dela nem que alguém coloque uma varinha na minha
garganta e me obrigue."

"Você quer saber o que acho?" Ela perguntou, e eu assenti. "Acho que Mary
é um ser humano. E que se essa guerra, que Deus livre, não for o que vai
matá-la, algum dia, alguma outra coisa vai."

"Isso era para me confortar?!" Perguntei, fazendo uma cara feia.

334
"Estou dizendo à você que acidentes acontecem, Reg." Ela disse, pondo a
mão no meu braço. "Podemos acordar felizes em um dia e assim que sairmos
de casa, sermos atropelados por um carro. Um pedaço de comida pode ficar
entalado na nossa garganta, um raio pode cair na nossa cabeça, podemos ter
um ataque cardíaco, eu não sei! A questão é que tudo pode acontecer,
entende? E se você a quer protegida de algo, então devia fazer isso ao lado
dela porque você não tem como saber o dia de amanhã."

"Ela quer que eu diga como eu me sinto." Sussurro, encarando minhas mãos.

"E por que você não diz?" Ela perguntou, ainda com a mão no meu ombro.

"Porque tenho medo de dizer e..." Fiz uma pausa e respirei fundo. "Tenho
medo de me permitir sentir isso de verdade e um dia ela acabar percebendo
que não sou tão bom quanto ela acha que sou... quando brigamos, ela me
disse que achava que eu estava a usando para provar que estou do lado certo
agora, que achava que eu estava apenas a usando para desafiar a minha
família... eu fui embora porque não suportei a ideia dela me ver dessa forma,
Lily."

"Tenho certeza que Mary não acha isso de verdade, Reg," Lily disse. "Ela
está magoada porque quer que você tenha coragem de assumir o que sente
por ela. Mary é assim. Ela não é do tipo que aceita qualquer coisa. Ela é
extraordinariamente maravilhosa e sabe disso. Então, não acho que ela vá
aceitar se sentir mal por você porque ela sabe que ela não merece."

"Sim, ela é maravilhosa..." Disse, quase em um sussurro, sorrindo


involuntariamente. "Tão maravilhosa que não consegui evitar começar a
senti o que eu sinto. Quando eu vi, já estava lá. Aquela... coisa no meu peito
toda vez que a vejo... não sei, tenho medo que um dia ela me veja como eu
costumava me ver."

"Costumava?!" Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha. "Você não se


sente mais assim?"

"Não, não depois que percebi como ela mesma me vê..." Respondi, com os
olhos brilhando. "Ela acredita tanto em mim que parece um insulto eu não
acreditar também."

"Reg?"

"Hm?"

335
"Isso é amor."

Abri a boca algumas vezes, tentando expressar alguma coisa que a minha
mente ainda não conseguia processar. Mas antes que eu respondesse, a
campainha tocou.

"Carter!" Lily exclamou sorridente, abrindo a porta.

"Ei, Lils! Parabéns pela gravidez!" Carter respondeu, ainda do lado de fora,
com uma bolsa grande e encourada nas mãos. "Merlin, achei que nunca fosse
conseguir achar essas belezinhas para você!"

"Hm... ok, certo, não tenho a menor ideia do que perguntar à você..." Lily
disse, pensativa. "Ah! Quando eu e James éramos monitores, onde achamos
você e Gilderoy uma vez?!"

"Ugh, não me lembre!" Carter exclamou. "Eu detestava o armário de


vassouras!"

"Você pode entrar!" Lily disse, depois de gargalhar com a resposta dele.

Carter era alguns centímetros maior do que Lily, mais ou menos do mesmo
tamanho que eu. Ele era magro e tinha o cabelo loiro escuro e encaracolado,
com uma pequena mecha azul escuro desbotada na parte da frente. Ele tinha
os olhos verdes e usava um suéter preto um pouco desgastado.

"Cara, eu adorei a sua camisa!" Carter disse com um sorriso grande, no


momento em que passou pela porta e me viu com uma camisa simples e fina,
com o nome do Queen na frente.

"Hm, obrigado," Respondi, timidamente. "Gostei do cabelo."

Ele assentiu, sorrindo sem os dentes, pondo a bolsa na bancada. "Aqui está,
Lily! Sanguessugas do melhor tipo!"

"Como você sabe que são do melhor tipo?!" Perguntei, confuso.

"Sei reconhecer uma coisa boa quando vejo." Ele respondeu, arqueando a
sobrancelha.

336
"Exceto que sanguessugas nunca são boas, Carter!" Lily disse sorrindo,
pegando o vidro cheio delas. "Que nojo."

"Não vou nem perguntar para quê precisam delas!" Carter disse, sorrindo
fracamente.

"Quanto tempo você vai ficar em Londres?!" Lily perguntou.

"Hm... acho que volto para Nova York daqui a algumas semanas," Ele
respondeu. "Vim apenas visitar meus pais, então não tenho mais muita coisa
para fazer..."

"Você mora em Nova York?" Perguntei, franzindo o cenho.

"Sim, desde que terminei Hogwarts," Ele respondeu. "Meus pais não
queriam que eu estivesse por perto com a guerra e tudo mais... eu também
não estava com muita vontade de ficar aqui, para falar a verdade."

"Sempre quis saber como é a Times Square." Comentei, distraidamente.

"É realmente fascinante." Ele disse, com um meio sorriso. "Você deveria vir
algum dia."

"Você pode vir para o aniversário de Remus amanhã à noite, se quiser!" Lily
disse, sorridente. "Sirius está dizendo que a festa vai ser a melhor do século."

"Sirius sempre deu as melhores festas, se bem me lembro!" Carter exclamou,


sorrindo também. "Tudo bem, acho que consigo vir sim."

"Ótimo!" Lily comemorou, levando Carter até à porta. "Vejo você aqui
amanhã então."

"Ok!" Ele assentiu, depois levantou a mão para mim. "Tchau, Regulus!"

"Tchau." Levantei a mão de volta, e Lily fechou a porta depois que ele saiu.
"Por que você chamou ele?!"

"Bom, porque ele é legal!" Ela disse, voltando até onde eu estava. "Qual é o
problema?"

337
"Não sei, tanto faz." Respondi, dando de ombros. "Ele não sabe que antes eu
era...?"

"É claro que ele sabe." Lily respondeu. "Por quê?!"

"Não sei, ele só... bom, ele não me olhou daquele jeito estranho que
costumam olhar para mim."

"Acho que ele flertou com você." Ela disse, levantando uma sobrancelha.

"Já tenho problemas demais, Lily." Respondi, me levantando da bancada.


"Vamos logo começar isso, ainda temos que esperar vinte e um dias para isso
ficar pronto."

***

Sirius não estava brincando quando disse que a festa seria épica.

Haviam luas cintilantes penduradas no teto e James teve que convencê-lo a


não fazer um bolo em formato de lobo porque seria óbvio demais. Haviam
letras grandes flutuando atrás do bolo que formavam 'FELIZ
ANIVERSÁRIO, MOONY' e Lily enfeitiçou o toca discos para tocar a
música preferida de Remus assim que ele passasse pela porta. Mary fez
questão de passar a tarde inteira procurando por algo para Remus vestir e
Marlene se encarregou de conseguir todas as bebidas da festa. Eu e Sirius
passamos a tarde decorando a casa de James e Lily inteira, enfeitiçando
enfeites e decorando paredes.

"REG!" Sirius gritou desesperado da cozinha.

"Pelo amor de Deus, Sirius, o que foi?!" Respondi, indo correndo até lá.

"Não tem chocolate o suficiente!" Ele exclamou. "Precisamos de mais!"

"Você vai matar Moony de glicose alta assim, Pads!" James disse, passando
pela sala com os discos na mão.

"Sabe, Six, eu não acho que Moony vá se importar se tem muito chocolate
ou não." Falei, dando de ombros.

338
"Você não sabe como ele é!" Sirius exclamou. "Chocolate é a coisa que
Remus mais ama depois de mim!"

"Você precisa relaxar, Sirius," Lily disse, prendendo mais luas na parede.
"Remus vai gostar de qualquer jeito."

"E com quem Moony está?!" James perguntou.

"Marlene e Pandora foram levá-lo para conhecer uma biblioteca nova que
abriu na cidade." Respondi, indo ajudar Lily. "Elas voltam com ele às nove,
eu acho."

A campainha tocou e James foi atender a porta. Era Mary trazendo as roupas
que havia comprado para Remus. Depois que James fez o protocolo de
segurança, ela entrou cheia de sacolas nas mãos.

"Onde posso pôr isso?!" Ela perguntou, quando quase uma das sacolas
escapou do seu dedo.

"Pode colocar no quarto, Mary!" Lily disse, apontando para o corredor.


"Coloque em cima da cama."

"Obrigada!" Mary agradeceu, correndo até o quarto para se livrar do peso


das sacolas.

"Merlin, quantas roupas será que ela comprou?!" James disse, franzindo a
testa.

"Não a julgue, Mary entende sobre roupas," Sirius disse, dando de ombros.
"Foi ela quem me ajudou a comprar o meu primeiro Doc Martens."

"Você precisa falar com ela." Lily sussurrou para mim, enquanto
arrumávamos a parede e James e Sirius começaram a discutir sobre roupas
atrás de nós. "Sabe que precisa."

"Acha que eu devo..."

"Sim!" Ela exclamou, um pouco mais alto. "Ande logo com isso!"

Hesitei algumas vez antes de ir até o quarto. Haviam duas opções. Ou Mary
estaria tão chateada que não ia querer falar comigo nunca mais ou ela está

339
sentindo minha falta tanto quanto eu sinto a dela. Espero de verdade que seja
a segunda opção.

Bati na porta levemente. "Posso entrar?"

"Pode." Ela respondeu, depois de uma pausa. Era um começo.

"Oi." Falei, fechando a porta atrás de mim. "Quantas sacolas."

"Fiquei indecisa na hora de escolher." Ela disse, arrumando as roupas em


cima da cama. "Então, trouxe várias."

"Eu gosto do marrom de sempre que Moony usa." Falei, pondo as mãos no
bolso. "Acho que ele ia gostar de algo dessa cor."

"Sim, eu pensei nisso," Ela disse ainda sem olhar para mim, com os olhos
analisando as roupas e com um dos dedos na boca. "Ele precisa de algo que
seja a cara dele, mas que seja diferente também."

"Você é boa nisso." Falei hesitante, a vendo pegar mais roupas da sacola.
"Devia estudar isso se não quiser seguir uma carreira no mundo bruxo."

"É, talvez." Ela respondeu, combinando uma calça jeans clara com uma das
camisas da sacola. "Acho que posso pensar sobre isso."

"No Brasil, há várias faculdades com cursos assim, eu ouvi dizer," Falei,
tentando soar amigável. "Você deveria ver isso quando..."

"O que você está fazendo?" Ela perguntou de repente, finalmente virando os
olhos para mim. "Você nem gosta de falar dessas coisas."

"Não," Respondi. "Mas gosto de falar com você."

Ela me encarou. "Não, não faça isso."

"Fazer o quê?!" Perguntei, tirando as mãos do bolso. "Mary, eu estou


tentando..."

"Não venha até aqui com esse seu jeitinho e ache que pode me ganhar tão
fácil assim" Ela disse, balançando a cabeça. "Conheço o seu jogo."

340
"Jogo?! Que jogo?!" Eu perguntei, fazendo uma cara feia. "Por que você tem
dito essas coisas sobre mim ultimamente se há algumas semanas você disse
que gostava da pessoa que eu sou?!"

"Achei que você fosse corajoso." Ela disse, quase num sussurro, enquanto
mexia nas roupas novamente.

"Você... você está dizendo para mim que depois de tudo que nós passamos,
você não me acha corajoso?!" Disse, irritado. "Você está doida?!"

"Você tem coragem para tudo, não é?!" Ela disse, andando na minha direção.
"Você teve coragem de trair um bruxo das trevas super perigoso e de se enfiar
em uma caverna sozinho sabendo que ia morrer, teve coragem de entrar em
uma casa cheia de gente que queria acabar com você para salvar a minha
vida e até Dumbledore você enfrenta se precisar, não é?!"

"Bom, sim!" Respondi, ainda irritado. "Acho que eu sou muitas coisas, mas
covarde não é uma delas!"

"Então, por que não tem coragem de me olhar nos olhos quando pergunto à
você o que sente por mim de verdade?" Ela perguntou, bem perto do meu
rosto. "É mais fácil fugir da morte do que estar comigo?"

"Porque a única coisa que me dá medo sou eu mesmo." Respondi,


firmemente. "E do que vai acontecer se eu me permitir deixar isso vir. Como
eu vou viver comigo mesmo se você morrer porque eu decidi priorizar meus
próprios sentimentos, Mary?!"

"Então, por que está aqui?!" Ela perguntou. "Enquanto você não me disser o
que sente por mim e deixar claro o que quer, eu não quero ficar perto de
você."

"Então, está me dizendo que não podemos nem mesmo ser amigos?!" Disse,
enquanto ela voltava para perto das roupas na cama. "Eu vim até aqui para
me desculpar e dizer que não quero ficar longe de você, apesar de não poder
dar o que você quer agora."

"Regulus." Ela disse, com a voz áspera. "Você pode guardar o seu complexo
de herói para você. Eu não preciso e nunca precisei aceitar alguma coisa só
porque não posso ter o que realmente mereço. Então, se não posso ter você
como eu quero, não quero ter você de jeito nenhum."

341
"Você não..." Sussurrei, tentando formar as palavras na minha boca. "Não
me quer por perto?"

"Não." Ela respondeu, sem olhar para mim.

Houve um curto silêncio antes de eu responder. "Tudo bem." Falei, dando


meia volta até à porta. "Não vou incomodar mais você, eu prometo."

Então, eu acho que é isso.

"Ei, Reg," James disse, me vendo sair do quarto. "Tudo bem aí?!"

"Hm, sim, sim," Respondi, passando rapidamente a mão nos olhos. "Vamos
terminar logo isso."

Lily me lançou um olhar e eu balancei a cabeça negativamente, enquanto


voltava à ajudá-la.

É. Era isso.

***

Se eu tivesse ido à mais festas que os rapazes organizavam em Hogwarts, eu


definitivamente teria sido mais feliz. A casa estava cheia dos nossos amigos,
apenas Marlene e Pandora não estavam lá porque estavam com Remus ainda.
Eu não fazia ideia da roupa que Mary havia escolhido porque não conversei
mais com ela depois daquilo.

Quando a festa começou, Remus ficou definitivamente emocionado. Acho


que eu nunca tinha visto ele tão perto de chorar como quando gritamos
'surpresa' e Sirius apareceu no meio de todos nós com uma camisa escrita
'Padfoot & Moony' na frente. Ele deu um beijo longo em Sirius enquanto
todos cantavam o parabéns e depois eu e James abraçamos os dois por trás,
mesmo que eles ainda estivessem se beijando. Foi engraçado e muito, muito,
muito bom.

Mary realmente havia se superado na escolha da roupa porque, meu irmão


que me perdoe, mas Remus estava um gato com os jeans muito rasgados e
um coturno preto encourado, uma camisa branca com a gola aparecendo por
cima do suéter preto de veludo. Sirius estava grudado no pescoço dele o
tempo inteiro, impedindo que qualquer um o olhasse com segundas
intenções.

342
"Moony não vai fugir, Six!" Falei sorrindo, enquanto passava pelos dois. "Se
quer marcar território, vai ter que se transformar em Padfoot!"

"Rá! Muito engraçado, Reg," Sirius disse, enquanto Remus sorriu. "Eu gosto
dele desse jeito, assim todo mundo vai ficar com inveja por eu ser a única
pessoa no mundo com o privilégio de poder beijar Remus Lupin." E então,
ele o beijou.

"Que nojo! Procurem um quarto!" Fiz uma careta, sorrindo. "Feliz


aniversário, Moony!" Disse, pondo a mão no ombro de Remus e indo pegar
mais bebida para mim.

"Obrigado, Reg!" Ele assentiu, sorrindo para mim.

Remus e Sirius com certeza estariam muito bêbados até o fim da noite. Se
eu conseguisse ficar pelo menos a metade do que eles provavelmente
ficariam, eu estava completamente satisfeito. Eu só precisava de algo que me
fizesse esquecer que Mary e eu estávamos na porra do mesmo lugar e eu não
podia encostar a porra de nenhum dedo nela porque não estamos nos falando
neste inferno de vida.

Quando fui até a cozinha encher meu copo outra vez, Carter estava lá fazendo
a mesma coisa.

"Ah, oi." Falei, assentindo para ele.

"Oi!" Ele respondeu, assentindo de volta. "Quer que eu encha seu copo para
você?"

"Não, obrigado," Respondi, franzindo a testa. "Sei fazer isso sozinho."

"Só estava sendo gentil." Carter deu de ombros, bebendo um gole do seu
copo. "Noite ruim?"

"Mais ou menos isso." Respondi, enchendo o meu copo.

"Bom, Remus parece muito feliz," Ele disse, vendo Remus ser levantado por
James e Frank. "Então, acho que devíamos beber o mesmo tanto que ele para
ficarmos do mesmo jeito."

343
"É, acho que sim," Respondi, dando um gole na minha bebida. "De qualquer
forma, fizemos essa festa por ele, então fico feliz que ele esteja feliz. É como
Sirius diz, qualquer coisa pelo nosso Moony."

"Nunca entendi porquê o chamam de Moony." Carter disse, sorrindo.

"Acho que nem eu." Respondi, tentando soar convincente.

"Está ouvindo a música?!" Carter exclamou, arregalando os olhos, e eu fiz


uma expressão confusa. "Queen! Sua camisa! Aquela que você estava
vestindo ontem de manhã!"

"Você lembra dela?!" Perguntei, sorrindo fracamente. "Não sabia que tinha
gostado tanto."

"Bom, eu falei que gostei, não falei?!" Ele disse, dando de ombros. "Além
do mais, eu adoro Queen!"

"É, eu também." Respondi, simplesmente.

Ele de repente arregalou os olhos e a boca, como se tivesse acabado de ter


uma ideia brilhante. "Você vai dançar!"

"O quê?! Não mesmo!" Falei, balançando a cabeça. "Você está louco se acha
que vou dançar ainda sóbrio!"

"Vou considerar como um desafio!" Ele disse, com um tom corajoso,


batendo o copo na mesa. "Você vem comigo. Agora."

"Vai sonhando." Revirei os olhos, mas antes que eu pudesse levar meu copo
à boca de novo, Carter me puxou pelo pulso até o meio da sala escura,
iluminada apenas pelos globos de luz que Pandora havia comprado em uma
loja trouxa. Coloquei meu copo em uma mesa e me virei para ele, me
segurando para não rir.

"O quê?!" Ele perguntou, tentando falar mais alto do que a música. "Você
não pode ter uma camisa do Queen no seu guarda roupa e não ficar nem um
pouco animado quando uma música deles toca em uma festa que você está!"

"Não sou do tipo que dança em festas!" Falei, perto do seu ouvido, para que
ele escutasse melhor.

344
"Isso é porque você é sem graça!" Ele disse, começando a gargalhar, o sorriso
de orelha à orelha, tão puro quanto o de uma criança. "Vamos, você não pode
ser tão ruim!" Ele disse, pegando cada um dos meus pulsos e balançando
conforme os dele.

"Não vai funcionar, Wood." Falei, arqueando uma sobrancelha. "Não vai me
vencer nessa."

"É a segunda vez que você me desafia apenas hoje." Ele disse, também
arqueando a sobrancelha, passando um dos meus braços por cima da cabeça
dele. "Está vendo?! Você está dançando!"

"Você é inacreditável!" Exclamei, sorrindo involuntariamente. "Foi você


quem pediu por isso!"

Carter sorriu para mim e então, eu o girei outra vez e depois ele mesmo me
girou, e passamos pelos braços um do outro tantas vezes que ficamos tontos.
Carter não dançava bem, mas ele não tinha vergonha. Na verdade, ele parecia
ser o tipo de pessoa que não tinha vergonha de nada. Dançamos por um bom
tempo enquanto descíamos um copo atrás do outro, o álcool tomando conta
do nosso corpo de uma vez só. Carter gargalhava e tropeçava nos meus pés,
tombando para frente várias vezes e me fazendo gargalhar também, enquanto
ele cantava a letra de todas as músicas erradas.

Não me lembro bem de como passei dos braços de Carter para os braços de
Pandora, e então para os de Marlene que já estava no céu de tão bêbada, e
então parei nos de Sirius. Todos dançamos por um longo tempo, as vozes já
exaustas e roucas de tanto gritar as músicas. Remus já estava sem o suéter,
apenas com as duas mangas enroladas em volta do pescoço. Sirius e James
usavam uma garrafa de bebida como microfone e Marlene e Pandora
estavam de pé em cima do sofá dançando e cantando, apesar de Pandora estar
sóbria por causa do bebê.

Olhei ao redor e procurei a única pessoa que eu realmente queria ver em


algum lugar. Ela não estava lá.

"Ei, Lily!" Chamei, indo até ela, um pouco tonto. "Você viu Mary em algum
lugar?!"

"Hm... não sei, acho que ela foi embora," Lily disse, franzindo o cenho.
"Também não a vi mais em lugar nenhum."

345
"Hm, ok," Respondi. "Obrigado!"

Talvez ela estivesse cansada, ou tivesse bebido e estava com dor de cabeça.
Ou então, comeu alguma coisa que a fez mal. Se estivéssemos bem, eu
provavelmente teria sido o primeiro a saber. Eu com certeza a levaria para
casa e ficaria com ela à noite inteira se ela quisesse, eu seguraria o cabelo
dela se ela tivesse bebido muito, prepararia um banho e depois iria até a
cozinha e faria um chá quente do jeito que ela gosta. Depois, eu me deitaria
ao lado dela e ela se aconchegaria no meu peito, o rosto enterrado no meu
pescoço. E ficaríamos embaixo dos lençóis até o dia amanhecer. Ou para
sempre. Eu ficaria deitado no mesmo lugar com Mary para sempre se
pudesse.

Minha cabeça havia começado a doer com a música alta, então subi as
escadas da casa de James e Lily e entrei em um dos quartos da parte de cima.
A janela tinha um parapeito grante, que dava vista para o céu escuro inteiro.
Fiquei sentado lá, com a cabeça encostada na janela por um longo tempo.

Alguém abriu a porta, me assustando dos meus próprios pensamentos.

"Ah! Desculpe, eu estava só procurando o banheiro, hm... vou deixar você


sozinho." Carter disse, quase fechando a porta outra vez.

"Não, você... sabe, você pode ficar se quiser." Falei, sorrindo fracamente.
"Tem um banheiro aqui dentro."

"Ah, tudo bem, então." Carter assentiu, entrando e indo em direção ao


banheiro do quarto. Depois de alguns minutos, ele saiu e me olhou. "Tem
certeza que você quer que eu fique?"

"Tenho." Assenti, apontando para o espaço do meu lado. "Senta aqui."

Carter se sentou no parapeito, com os joelhos juntos ao corpo, encarando o


céu. "Eu gosto de estrelas."

"Eu também." Respondi, também as olhando. "Gostei de dançar com você."

"Gostei de ter conseguido fazer você dançar." Ele respondeu, sorrindo


travessamente.

Eu sorri também, e disse "Posso perguntar uma coisa para você?"

346
"Manda." Ele respondeu, dando de ombros.

"Por que você me tratou tão bem quando me viu ontem de manhã se você...
bom, sabia de mim?"

"Se sabia que você era um comensal do morte?!" Ele perguntou e eu assenti
nervosamente. "Talvez porque você não seja mais um."

"É, mas já fui." Respondi.

"Se você diz que não é mais, então não é mais." Ele disse, simplesmente.
"Não gosto da ideia de julgar alguém por quem ela foi um dia. Já senti a
sensação de... ser julgado por quem sou. E é uma merda."

"E você acredita em mim? Assim tão facilmente?"

"Se você não pode dizer quem é, então quem pode?!" Ele disse, encolhendo
um pouco os ombros.

"É... acho que você está certo," Admiti. "Mas às vezes não acho que sei quem
sou de verdade."

"Eu me sinto assim também." Ele disse. "Sabe, meus pais não me mandaram
para longe apenas por causa da guerra. Eles odiavam ter um filho gay, eu
podia sentir. Mal podiam esperar para eu atingir a maioridade e eles poderem
me tirar de casa sem o peso na consciência de estarem pecando por rejeitar
um filho. Por isso, eu fui para Nova York. Eu amo estar lá porque ninguém
me conhece, então posso ser quem eu quiser, não preciso fingir nada como
na frente dos meus pais."

"Isso é uma merda, Carter," Falei. "Eu também tinha pais controladores.
Você fez bem em sair de casa, pode ter certeza. Eu fiz o mesmo, exceto que
eu explodi a minha casa depois que saí."

"Você tá brincando!" Ele exclamou, gargalhando. "Vou precisar da história


disso depois, saiba disso!"

"Tudo bem, tudo bem!" Respondi, gargalhando também.

"A questão é que às vezes, por mais que eles me amem no fundo, eu não
sinto que eles gostam de quem eu sou. Sinto que nunca vou ser um bom filho
para eles, você me entende?" Ele disse, um pouco tonto por causa da bebida.

347
"E eu só queria... só queria que eles ficassem orgulhosos de mim pelo menos
uma vez."

"Uma vez, Carter," Comecei, respirando fundo. "Eu quase morri tentando
provar uma coisa. Eu quase morri tentando deixar meus pais orgulhosos
também. E quase perdi meu irmão no processo."

"E você conseguiu provar o que queria?" Ele perguntou, me encarando.

"Às vezes, acho que não," Falei, dando de ombros. "Bom, pelo menos não
para quem mais importa."

"Você está apaixonado por alguém, não está?" Ele perguntou.

"Sim." Respondi, simplesmente. "Mais do que conseguiria te explicar."

"E a pessoa também está?"

"Não sei, Carter," Respondi, suspirando pesadamente. "Realmente não faço


ideia."

"Você deveria dizer isso á ela." Ele disse, voltando a olhar para o céu. "Se
você gosta de alguém, você tem que dizer."

"Não sei se posso fazer isso." Expliquei, olhando para as minhas mãos.
"Acho que ela não gosta muito de quem eu sou."

"Isso é uma pena," Ele disse, arqueando as sobrancelhas. "Porque você é


lindo para caralho."

"Você acha?!" Perguntei, sorrindo fracamente.

"Com certeza, acho." Ele disse, assentindo.

"Você acha que um dia..." Comecei, chegando mais perto dele. "Que um dia
nós dois vamos descobrir quem somos de verdade?"

"Espero que sim, Black," Ele sussurrou, mais perto de mim. "Ainda estou
tentando descobrir."

348
"Bom, seja lá quem você for," Eu disse, sorrindo fracamente. "Não deve ser
tão ruim."

"Como você pode saber disso?" Ele perguntou, franzindo o cenho.

"Apenas sei."

Não sei ao certo por quanto tempo encarei Carter e ele me encarou, O álcool
faz isso com as pessoas, deixa a gente tão doido que até encarar uma pessoa
por meia hora se torna normal. Eu o encarei, ele me encarou de volta, eu o
encarei, ele me encarou de volta, eu o encarei, ele me encarou de volta...

Decidi que gosto de ficar bêbado. Porque tudo fica bem, por alguns minutos.

Tudo estava bem por alguns minutos porque o céu estava mais lindo do que
nunca, tudo estava bem por alguns minutos porque eu estava conversando
com alguém legal que dizia coisas muito legais, tudo estava bem por alguns
minutos porque eu ajudei a fazer uma festa de aniversário para alguém que
eu amo muito por mais que ele não saiba disso porque eu estou começando
a achar que tenho um problema muito grande com aquela frase de três
palavras, tudo estava bem por alguns minutos porque eu estava beijando
Carter agora e porque ele subiu em cima do meu colo e estamos nos beijando
e sorrindo ao mesmo tempo.

Tudo estava bem. Eu merecia estar bem. Mesmo que apenas pela porra de
alguns minutos.

***

"Finalmente!" Eu exclamei, retirando o caldeirão e pondo em cima da


bancada. "Esses vinte e um dias pareceram uma vida inteira, Lily!"

"Não seja tão dramático, Reg," Ela disse, revirando os olhos. "Vamos,
precisamos ainda cozinhar algumas coisas para a poção funcionar direito."

"Vou pegar para você," Falei, indo pegar a sacola com o restante dos
ingredientes. "Espere aí."

"Você já decidiu quem vai tomar?" Lily perguntou. "Sabe, a porção não
funciona em Remus porque ele é um lobisomem, não sei se isso se aplica à
Sirius e James por eles serem animagos."

349
"Hm... bom, eu não havia pensado isso, para falar a verdade," Respondi,
franzindo o cenho. "Vou pensar nisso depois."

"É, Reg, você ultimamente está deixando muitas coisas para pensar apenas
depois, não é?!" Sirius disse, sentado na cadeira da mesa de jantar.

"Sirius, eu deixei você vir para você parar de me irritar, então não me irrite."
Falei, o encarando. "E não faço ideia do que você está falando."

"Estou falando de Mary!" Sirius exclamou. "Estou falando de você e ela não
estarem se falando desde o aniversário de Moony e de você e Carter estarem
se pegando um com o outro!" Ele fez uma pausa e baixou o tom da voz.
"Bom, apesar de eu não culpar você porque Carter é realmente um gato."

"Espere aí!" Lily disse, arregalando os olhos. "Se 'pegando'?! Aconteceu


mais de uma vez?!"

"Claro que sim, Lily!" Sirius disse. "E agora Regulus não quer falar sobre
isso porque ele não está sabendo lidar com o fato de que está transando com
uma pessoa e pensando em outra!"

"Foram só quatro vezes, ok?!" Falei, batendo na mesa. "E somos amigos,
foram apenas... não sei, impulsos."

"Reg, você tem que parar de ficar chamando as pessoas que você transa de
amigos." Sirius disse, seriamente.

"Isso é verdade." Lily concordou. "Não vou me meter nisso, mas é melhor
Mary saber de você do que pelos outros."

"Não tem o que saber, não tem nada acontecendo!" Exclamei, irritado.
"Vamos logo com isso, Lily, ou vou acabar matando Sir..."

Antes de eu conseguir terminar a frase, Lily derrubou a tampa do caldeirão


no chão, fazendo um barulho enorme ecoar pela casa inteira. O som foi
seguido de um grito agudo e alto, que fez Sirius se levantar imediatamente e
correr até nós.

"Lily!" Ele disse, assustado. "Pelo amor de Merlim, o que você tem?!" Sirius
perguntou, mas Lily respondeu com outro grito, se apoiando em mim.

350
"Você é idiota?!" Perguntei, dando um tapa na cabeça dele. "Lily está tendo
o bebê!"

"O quê?!" Sirius perguntou, os olhos cheios de pavor. "PRONGS! PRONGS,


PELO AMOR DE MERLIM, DESÇA AQUI AGORA!"

Lily gritou mais uma vez, eu coloquei o braço dela em volta do meu pescoço
e a levei até o sofá. Ela estava ofegante, respirando fundo e começando a
suar.

"Reg..." Ela ofegou. "Chame Marlene..." E gritou mais uma vez. "E Remus,
chame Remus! Não vou ter esse filho sem ele aqui!" E então, outro grito.

"Sirius foi chamar Prongs, ok?!" Falei, segurando a mão dela. "Vai ficar tudo
bem, Lily, não vou sair de perto de você, você só precisa se acalmar...
SIRIUS, PELO AMOR DE DEUS!"

James desceu as escadas correndo, Sirius vindo atrás, tropeçando nos


próprios pés.

"Lily!" James correu e se ajoelhou ao lado dela, depois se virou para nós.
"Chamem Marlene! E Remus, e Mary, e Pandora!"

"Ele está vindo, James..." Lily disse fracamente, com as mãos no rosto de
James, enquanto os dois sorriam. "Nosso filho está vindo."

351
Capítulo 28: Tarefa

Eu não acho que vá existir alguma coisa que eu não goste mais do que gritos
de mulheres que estão dando a luz.

Eu sempre acho que elas estão morrendo, mas todo mundo ao mesmo tempo
está muito feliz. Meu cérebro processa os gritos de dor como uma coisa ruim,
mas pelo o que Pandora me explicou uma vez, são um bom sinal, na verdade.
Mesmo assim, detesto ver Lily nesse estado, porque ela é minha amiga e não
gosto de ver meus amigos gritando de dor.

A lareira da casa era usada somente para amigos ou pessoas da Ordem, era
sempre bom em alguma emergência que não tínhamos tempo para seguir o
protocolo de segurança, essa com certeza era uma delas. Um pouco depois
de Sirius mandar um patrono chamando Marls e os outros, Remus, Pandora,
Mary e ela irromperam dentro da casa pela lareira.

"Onde ela está?!" Mary apareceu, os olhos cheios de preocupação quando


viu Lily no sofá segurando as mãos de James. "Lily! Ah, meu deus, Marls,
você precisa vir aqui agora!"

"Lily!" Remus apareceu, correndo até ela depois que ela gritou mais uma
vez. "Vai dar certo, ok? Apenas tente respirar."

"Vocês precisam levá-la para o quarto!" Pandora exclamou, colocando mais


um travesseiro nas costas de Lily. "Agora!"

"Saiam da frente!" Marlene irrompeu na sala, com uma maleta grande e


marrom nas mãos. "Lily, amor, não precisa se preocupar com nada, ok? Você
pode confiar em mim."

"Me ajudem a levantá-la!" James disse, se levantando do chão. Eu coloquei


um braço de Lily ao redor do meu pescoço e Remus colocou o outro ao redor
do dele, e ela gritou mais uma vez.

"Droga, Marlene!" Sirius exclamou, indo na frente para abrir a porta do


quarto. "Você tem certeza que isso é normal?!"

"Coloquem ela na cama!" Marlene respondeu, entrando no quarto. "Com


cuidado!"

352
Todos nós entramos preocupados no quarto, James se ajoelhou ao lado de
Lily, segurando a sua mão e Sirius subiu no outro lado da cama colocando o
máximo de travesseiros que conseguiu atrás de Lily. Ela deu mais um grito
e Marlene pediu para Mary encher uma bacia de água quente e trazer até o
quarto, e ela assim o fez.

"Merda." Marlene sussurrou, depois de examinar entre as pernas de Lily.

"O quê?!" Perguntei, assustado.

"O quê, Marlene, o que foi?!" James perguntou, mais desesperado ainda.

"Ela está perdendo sangue, isso não deveria acontecer antes dela ter o
bebê..." Ela respondeu, os olhos correndo por Lily. "Sirius, pegue a minha
maleta e abra aqui agora!"

Sirius correu e a abriu em cima da cama, ao lado de Lily. Marlene respirou


fundo. "Todos vocês precisam sair daqui! Apenas James e eu vamos ficar!"

"O quê?!" Remus disse, exasperado. "Não! Não vou deixar Lily aqui!"

"Moony," Coloquei a mão no seu ombro. "É Lily. Ela vai ficar bem."

Todos nós, exceto James e Marlene, saímos do quarto. Sirius foi levar Remus
até à cozinha porque ele estava quase tão nervoso quanto James.

"Se for assim quando você der a luz, Pandora," Falei, enquanto me sentava
no sofá. "Quero avisar sobre o meu possível desmaio antecipadamente."

"Essas coisas são assim, Reg," Pandora disse, se sentando ao meu lado. "É
apenas uma das muitas coisas que passamos por sermos mulheres."

Mary estava andando de um lado para o outro, esfregando uma mão na outra
e sua respiração estava tão alta e ofegante que eu consegui escutar de onde
eu estava.

"Ei," Falei, me levantando e indo até ela. "Você está bem?!"

"Eu só..." Ela disse, respirando fundo. "Só estou preocupada com ela porque
Marls está certa... ela não deveria estar sangrando tanto, Reg."

353
"Ei, Mary," Pandora disse, se levantando também. "Partos são realmente
complicados, esse tipo de coisa não é tão difícil de acontecer..."

"Exatamente." Respondi, balançando a cabeça e notando que ela estava


tremendo. "Merlin, Mary! Você está tremendo!" Peguei as duas mãos dela
nas minhas.

"Eu... eu estou só muito nervosa," Ela disse, a voz começando a ficar trêmula,
ela parecia prestes a chorar. "Apenas quero que a minha amiga fique bem,
Reg... apenas isso..."

"Ei..." Falei, pondo um braço em volta dela. "Ela vai ficar, eu prometo à
você."

Depois que Sirius e Remus voltaram para sala, Remus estava mais calmo,
mas ainda nervoso. Ficamos lá por um bom tempo escutando apenas os gritos
de Lily, até que eles finalmente pararam de repente. Todos notamos, mas
ninguém queria dizer nada para não presumirmos o pior. A coisa toda
demorou cerca de três horas. Durante a primeira hora, eu estava ocupado
tentando manter Mary calma. Durante a segunda, eu estava tendo que me
manter calmo porque nunca fui uma pessoa muito paciente. Na terceira, eu
estava prestes a entrar no quarto e tirar aquele bebê de dentro de Lily eu
mesmo.

"Eles já tem alguma ideia para o nome?" Perguntei, tentando distrair o clima
tenso na sala.

"Acho que não..." Mary disse. "Acho que vão pôr algum nome de família,
ou algo assim..."

"Pode ser qualquer um," Sirius disse. "Mas que eles chamem a pobre criança
de um nome normal. Sem constelações, pelo amor de Merlin."

Se aquilo tivesse durado mais uma hora, Remus teria entrado no quarto com
ou sem a permissão de Marlene. Ele quase se levantou, quando James saiu
de repente do quarto, um pouco atordoado e muito suado, indo até à sala.
Todos levantamos de uma vez, os olhos arregalados.

"E então?!" Pandora perguntou, apressada.

James respirou fundo, um sorriso se formando no seu rosto, os olhos


marejados. "É um menino... É um menino! O meu garoto!"

354
Mary suspirou de alívio e se jogou no sofá pesadamente, Pandora levou as
mãos ao rosto. Eu, Remus e Sirius fomos até James e nos abraçamos,
enquanto sorríamos e James chorava emocionado.

"Vocês querem conhecer ele?" James perguntou, enxugando o nariz.

"É claro!" Respondi. "Estou curioso para ver a cara desse garoto que quase
estourou meus ouvidos!"

"Espere até as madrugadas, Reg," Pandora disse, pondo a mão no meu


ombro. "Aí sim vocês vão saber o que são ouvidos estourados."

James foi na frente para abrir a porta do quarto e todos nós fomos atrás.
Quando entramos, Marlene estava acabando de entregar o bebê à Lily, que
sorria tão radiante como eu nunca mais tinha visto à meses.

"Padfoot?!" James disse, chegando perto de Lily. "Você quer segurá-lo?"

Sirius assentiu apressadamente e então foi até Lily, com todo o cuidado do
mundo, e colocou o bebê em seus braços. Ele era tão pequeno que qualquer
um teria medo de quebrá-lo. Os olhos dele eram assustadoramente iguais aos
de Lily.

"Você é o padrinho." James sussurrou. Sirius virou a cabeça para James,


perplexo. Os olhos molhados, e sua boca se curvou em um sorriso.

Ele encarou o bebê novamente, brincando com a boca da criança com o dedo
indicador. "Caramba... eu realmente espero não fazer nenhuma besteira."

"Você está bem, Lils?!" Perguntei, indo até Lily, que segurava a mão de
Remus. "Tudo ocorreu bem?"

"Sim, Reg," Ela respondeu, sorrindo fracamente. "Está tudo bem."

"Talvez ele seja um apanhador como eu!" James exclamou, sorrindo como
nunca.

"Preciso de uma bebida." Marlene disse, suspirando pesadamente. "A mais


forte que tiver nesta casa." E então, foi até à cozinha.

355
Ficamos um tempo com James e Lily, e seu filho. James e Sirius sussurraram
várias coisas um para o outro enquanto ele carregava o bebê. Depois de
Remus carregá-lo, Lily perguntou se eu queria também. Seria muita grosseria
da minha parte negar, mesmo eu estando morrendo de medo de deixar aquela
coisa tão pequena cair. Eu não esperava que carregar a criança dos Potter
fosse causar o efeito que causou em mim. É como se todo aquele amor que
havia naquele lar e naquelas pessoas que me acolheram tão bem à mais de
um ano, tivesse se concentrado e se materializado em uma pessoa só. E eu
estava carregando o símbolo de todo aquele amor nos meus braços.

"Vamos deixar eles um tempo à sós," Mary disse sorridente, enquanto estava
abraçada à Pandora. "Depois nós voltamos, tudo bem?"

Deixamos Lily e James no quarto sozinhos, e fomos todos para a sala.


Marlene havia se jogado pesadamente no sofá, com um copo de bebida na
mão.

"Três horas de parto!" Ela exclamou, levantando o copo na mão. "Eu sou
realmente uma lenda."

"Sim, Marls, você é!" Pandora disse, se jogando ao lado dela.

Sirius se encostou na bancada da cozinha, encarando o chão. Ele sorriu


lentamente e disse, muito baixo. "Harry Potter."

"Harry é um nome realmente bonito." Falei, indo até ele e pondo a mão no
seu ombro. "Nada de constelações, huh?"

"Nada de constelações." Ele respondeu, sorrindo para mim.

"Acho que é melhor que Neville, não é?" Remus disse, abafando uma risada.
"Quando Frank me disse, eu tive que cobrir a boca com as mãos para não
sorrir."

Todos nós sorrimos alegremente, anestesiados com toda aquela felicidade e


euforia. A prova da quantidade de amor que tinha naquele espaço tão
pequeno.

Harry Potter. Pensei comigo mesmo. Você não faz ideia do quanto você vai
ser amado.

***

356
Uma semana se passou depois do nascimento de Harry. Carter foi visitar
James e Lily algumas vezes, e eu torci para que ele não aparecesse no mesmo
dia em que Mary. Deus, por favor, não faça isso comigo.

Cuidar de uma criança era realmente exaustivo. Nós nos revezávamos para
ir até à casa de James e ajudá-los durante a madrugada, para que ele e Lily
pudessem dormir um pouco. James havia sido mandado em uma missão uma
noite e pediu, preocupado, para que nós três estivéssemos com Lily e Harry
naquela noite.

"Moony!" Sirius disse, com a voz embriagada de sono às quatro da manhã.


"Harry está chorando, é a sua vez."

"Minha vez o cacete." Remus resmungou, a cabeça afundada no travesseiro.


"Regulus só acordou uma vez."

"Vocês são dois idiotas," Resmunguei, atordoado de sono. "Sirius, você é o


padrinho!"

"Eu busquei água para você ontem quando você não queria se levantar, Reg,"
Sirius choramingou. "Você me deve."

E então, eu fui pegar Harry. As noites foram assim desde o dia em que ele
nasceu. Mas Harry era íncrivel, realmente incrível. A cada dia que se
passava, todos nós ficávamos mais apaixonados por ele. Visitei Andrômeda
algumas vezes para ver Narcissa e Draco, que agora já estava um pouco
maior e com alguns cabelos bem finos e loiros crescendo na sua cabeça.
Percebi que eu não fazia ideia do quanto eu amava crianças até conviver com
elas.

Sirius estava totalmente apaixonado por Harry. Ele quase nunca saía de seus
braços quando estávamos lá, o que era um alívio para Lily e James, que
estavam suportando a pressão da paternidade combinada com seus deveres
para a Ordem.

"Diga Padfoot, Harry, vá em frente! Pa-d-foo-t..." Sirius disse uma noite,


enquanto balançava o menino de olhos verdes em seu colo.

"Eles não falam até que tenham pelo menos um ano," Eu sorri me sentando
no braço do sofá. "Eu pesquisei."

357
"Crianças normais não," Sirius jogou o cabelo para trás, gentilmente
segurando os pulsos gordinhos de Harry. "Mas Harry Potter não é um bebê
comum, ele é claramente muito avançado para sua idade. Vamos, Harry,
diga Pad-foot..."

"Você está querendo ele apenas para você, Padfoot!" Remus choramingou,
estendendo os braços. "Vamos, eu não o abracei ainda."

"Não é minha culpa que ele goste mais de mim!" Sirius respondeu,
mostrando a língua para Remus e depois para Harry, estufando as bochechas
e arregalando os olhos para que o bebê risse e borbulhasse contente.

"Vou te dar um abraço, Moony!" Eu brinquei.

"Lily, diga a ele!" Remus resmungou, cruzando os braços.

"Honestamente! Eu tenho um filho e isso é o bastante!" Lily riu, levantando-


se, "Sem brigas enquanto mamãe e papai estão fora, ok meninos?" Ela deu a
todos nós um olhar muito severo.

Eu estava dando esse tempo porque Harry havia acabado de nascer e


estávamos todos muito eufóricos com a ideia de um bebê em nossas vidas,
mas a poção polissuco havia finalmente ficado pronta e a Taça da Lufa-Lufa
não saía da minha cabeça. Na tarde em que eu ia escrever à Pandora sobre
isso, a coruja trouxe uma carta de Dumbledore. Revirei os olhos antes de
abrir, porque ultimamente, cartas dele ou de Moody nunca eram boa notícia.

"Olá Regulus, como vai?

Se for possível, gostaria que você me encontrasse no Três Vassouras esta


tarde. Quero perguntar uma coisa à você. Às cinco, se possível.

Mande minhas felicitações à James e Lily novamente por Harry!

Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore."

Abafei uma risada para mim mesmo. "Eu nunca vou conseguir não sorrir
lendo esse nome."

Naquele fim de tarde, eu aparatei até o Três Vassouras, como Dumbledore


havia me instrucionado. Hogsmead estava muito fria, mas pelo menos eu
encontraria um bom fogo quente e um gole de cerveja amanteigada me

358
esperando. Eu precisava disso com toda a história sobre a taça rodando na
minha cabeça. Sempre que alguém da Ordem me convocava, era para falar
sobre as horcruxes, então eu meio que já esperava por isso.

O pub estava meio vazio, o que era bom. Não suporto lugares lotados. Assim
que sentei em uma mesa, dois bruxos na mesa ao lado começaram a sussurrar
e me lançar olhares tortos.

"Ouvi que ele está com a Ordem agora." Um deles sussurrou, achando que
eu não estava ouvindo.

"Besteira!" O outro sussurrou de volta. "Não acredito que Dumbledore


confia nele nos tempos em que estamos - quero dizer, como ele sabe se ele
não está passando informações à Você-Sabe-Quem?!"

Antes que eu pudesse me virar e azará-los com todo o prazer, Rosmerta veio
sorridente até a minha mesa me oferecer uma bebida.

"Hm... você pode me trazer-"

"Duas cervejas amanteigadas, por favor." A voz familiar de Dumbledore


ecoou, me fazendo virar e dar de cara com ele.

"Oh, olá, professor." Falei, assentindo enquanto ele se sentava na cadeira na


minha frente.

"Regulus," Ele acenou com a cabeça. "Como você está?"

"Bom..." Respondi, um pouco nervoso. "Bem, eu acho."

"Tempos difíceis, senhor Black," Ele suspirou pesadamente, bebendo um


gole da cerveja que Rosmerta havia trazido. "Tempos muito difíceis."

Não me diga!

"Você não deve saber o motivo de eu ter chamado você aqui." Dumbledore
disse, me encarando.

"É sobre as horcruxes?!" Eu sussurrei, Dumbledore sorriu.

359
"Na verdade, não," Ele respondeu. "Temo que este seja um assunto um pouco
mais urgente."

"Mais urgente que as horcruxes?!" Falei, arregalando os olhos. "Ele está na


porta deste bar me esperando sair ou o quê?!"

"Preciso de alguém esperto como você para isso." Dumbledore disse, me


olhando por cima dos óculos meia lua. "Você costumava ler bastante em seu
tempo em Hogwarts, não?"

"Hm... acho que sim," Respondi, um pouco desconfortável na cadeira. "Mas


o que isso tem a ver?"

"Me diga," Dumbledore começou. "O que você sabe sobre profecias?"

"Profecias?!" Perguntei, confuso. "Bom, eu fiz Adivinhação apenas por um


ano... eu não gostava muito da matéria, para falar a verdade." Eu estava
realmente intrigado agora. "Mas eu vi sobre isso uma vez em Runas... então,
sim, é, acho que sei um pouco."

"Quero que você leia um pouco mais sobre isso, se possível," Dumbledore
disse, a voz um pouco mais grave. "E tudo que isso que eu estou lhe dizendo
e tudo que você aprender, deve ser mantido em sigilo total, você me
entendeu?"

"Hm... claro," Acenei com a cabeça, nervosamente. "O que exatamente você
quer que eu procure?"

"Por enquanto, estou apenas buscando uma compreensão mais completa da


natureza das profecias." Ele disse, me observando. "Eu gostaria de saber se
há alguma que pareça estar relacionada a Voldemort, ou a este momento
particular em que estamos vivendo."

"Espere aí," Falei, piscando. "Você acha que há uma profecia? Sobre como
a guerra termina?"

"É possível, senhor Black," Ele respondeu, brevemente. "Mas não devemos
nos precipitar."

"Eu achei que a guerra acabaria quando eu destruísse todas as horcruxes,


senhor." Falei, franzindo o cenho.

360
"Assim esperamos que seja," Ele assentiu. "Por isso chamei você aqui. Não
sabemos sobre a natureza da profecia, então eu acharia mais viável e mais
seguro que você destruísse as horcruxes à tempo o suficiente, mesmo que
não saibamos ainda do que ela se trata."

"Você está brincando comigo?!" Perguntei, irritado. "Você acha que


encontro uma delas todos os dias ou o quê?!"

"Estou apenas dizendo à você que não perca tempo se tiver pistas sobre
alguma coisa, Regulus." Dumbledore disse, calmamente. "Eu irei até você
em breve para tratarmos desse assunto de novo."

"Tudo bem." Acenei com a cabeça.

"E, Regulus," Dumbledore disse, se levantando. "Mais uma vez, não posso
exagerar na importância desta tarefa. Você não deve contar a ninguém, você
entende isso?"

"Entendo."

Isso significava não contar à Sirius, nem Remus ou James, ou Lily, ou


qualquer um dos meus amigos. Merlin, como eu iria esconder isso de
Pandora se a única vez que escondi algo dela, as coisas deram tão errado
daquele jeito?! Pensei por um momento, "Professor?"

"Sim?"

"Sempre há brechas, não é?" Falei, seriamente. "Se for algo ruim, há
brechas."

Dumbledore deu um pequeno sorriso. "Você é muito esperto, senhor Black."

***

Depois de pegar todos os livros sobre o assunto na biblioteca, eu me tranquei


no meu quarto durante a noite toda e os espalhei por toda a minha cama.
Sirius concordou em ser ele à passar a noite nos Potter desta vez, porque
Remus estava muito cansado da última lua cheia.

"Reg," Sirius apareceu na porta do meu quarto. "Marlene deixou uma poção
para Moony tomar que vai melhorar os machucados, ok? Você pode fazer
com que ele tome enquanto eu estiver fora?"

361
"Oh, sim, é claro," Acenei com a cabeça. "Não vou dormir cedo, com
certeza."

"Ainda na tarefa que Dumbledore deu à você?" Ele perguntou, eu apenas


assenti. "Se quiser ajuda, você pode apenas me contar."

"Não posso, Six," Respondi, balançando a cabeça. "Sinto muito."

"Tudo bem, então," Ele disse, dando de ombros. "Vejo você amanhã."

"Até." Falei, acenando com uma mão, com os olhos presos no livro no meu
colo.

Eu sempre gostei de ler, e embora eu sentisse falta da biblioteca de Hogwarts,


eu estava muito contente escondido no meu próprio quarto, com minha
própria xícara de café. Sirius e Remus entenderam que eu não poderia contar,
o que me surpreendeu porque Sirius não costuma ser compreensivo quando
algo afeta a sua curiosidade.

"Moony?" Entrei no quarto dele e de Sirius, com a poção nas mãos. "Sirius
disse que eu deveria trazer isso para você."

Remus estava deitado na cama, lendo um livro em suas mãos. "Oh, obrigado,
Reg... Tive um ferimento realmente ruim na noite passada."

"Aqui está." Dei à ele, depois me sentei na poltrona ao lado da cama. "Quer
que eu faça mais alguma coisa? Eu sei que as luas cheias devem ser
realmente muito ruins."

"Não, está tudo bem," Ele disse, pondo a poção na cabeceira depois de bebê-
la e se encostando lentamente na cama. "Vou melhorar, não é como se eu
não estivesse acostumado."

"Hm." Assenti com a cabeça.

"E você?" Ele perguntou, me observando. "Padfoot me disse que você está
com alguém."

"Agh! Sirius acha que eu estou ficando com todo mundo, Moony," Eu disse,
Remus sorriu. "Eu e Carter apenas ficamos juntos algumas vezes, ele é
realmente incrível."

362
"Você gosta dele?"

"Bom..." Falei, encarando o chão. "As coisas são fáceis com ele. Não há
cobranças ou... ou a pressão de não sabermos o que somos porque, bem, ele
vai voltar para Nova York em breve e, bom, ele é gato para caralho. Ele
passou por coisas parecidas que eu, sem a parte da quase morte, é claro, então
ele me entende."

"Mas você gosta dele?!"

"Ele me faz rir." Respondi, sorrindo fracamente. "E me trata como se eu fosse
algum tipo de, não sei, deus que ele finalmente conseguiu alcançar."

"Mas você não gosta dele." Remus disse, simplesmente e eu o encarei. "Você
está apaixonado por Mary."

"Não estou muito afim de falar sobre isso." Falei, em um tom baixo.

"Tudo bem," Remus disse, dando de ombros, eu o olhei confuso. "O quê?!
Não sou Padfoot, não sou tão curioso. Se você não quer falar sobre isso,
então não vamos."

"Obrigado." Acenei com a cabeça, sorrindo fracamente.

"Você precisa de ajuda?" Remus perguntou. "Com a tarefa de Dumbledore."

"Não, estou indo bem com isso," Respondi. "E também, não posso pedir
ajuda à ninguém."

"Odeio missões que preciso fazer sozinho." Ele disse, encostando a cabeça
na parede. "Odiava ter que ir sozinho para a floresta com os lobos naquelas
missões - então, sabe, obrigado por isso."

"Que isso, Moony," Falei, franzindo a testa. "Eu não deixaria você voltar lá
sozinho depois do que aconteceu a última vez."

"Os lobos não são ruins, sabe," Remus disse, encarando o teto. "Eu gostava
de estar com uma alcateia de lobos de verdade, como eu. Mas Greyback..."
A voz dele pareceu falhar. "Greyback os manipula de uma forma horrível,
ele é o verdadeiro mal."

363
"Não entendo muito de lobisomens, Moony... mas Greyback é realmente
sinistro, não posso negar isso."

"Eles estão com ele por medo," Remus disse. "O mundo os marginaliza
demais, então tudo que eles tem é Greyback."

"Isso parece ser uma merda."

"E é," Ele disse, olhando para mim. "Um dia, vou fazer com que os
lobisomens tenham uma vida melhor... sabe, que não tenham mais que viver
escondidos e com medo, que sejam realmente reconhecidos como pessoas de
verdade."

"Se você diz que vai, Moony," Falei, firmemente. "Então, eu realmente
acredito em você."

Ele sorriu. "Obrigado, Reg." Ele fez uma pausa antes de perguntar. "Então,
quando vamos à Gringotes?!"

"Na verdade, eu estava esperando um pouco, em respeito à Lily e James, e


Harry."

"Bom, acho que já passou tempo o suficiente," Ele disse, dando de ombros.
"Estamos apenas esperando o seu sinal."

"Não sei como teríamos feito isso se Cissy não tivesse pego o cabelo de
Bella," Falei, arqueando as sobrancelhas. "Seria literalmente impossível."

"Bom, você sempre dá um jeito," Ele disse. "Eu é quem não poderia ter
pensado nisso na hora, o cruciatus e Wormtail lá tiraram toda a minha
atenção."

"É, acho que me lembro disso." Nós sorrimos.

"Não sei se contei isso à você," Remus disse, de repente. "Mas quando
Prongs confrontou Peter, ele disse uma coisa estranha."

"O quê?!" Perguntei, um pouco intrigado demais. Agora tudo que envolvia
Voldemort ou os comensais da morte me faziam pensar na tarefa de
Dumbledore.

364
"Nós não sabemos muito bem o que ele quis dizer," Remus franziu a testa.
"Mas Prongs disse que Peter não falou com medo ou nervoso, ele apenas
disse, seriamente."

"Merlin, Moony, o quê?!"

Remus encarou a parede à sua frente, estreitando os olhos, e finalmente disse.

"Vocês não sabem da história inteira."

365
Capítulo 29: Seu

"Você deveria vir conhecer Nova York algum dia," Carter disse, deitado no
meu peito. Estávamos no gramado da casa de Sirius, deitados sob um pano
azul. "Você precisa de um tempo dessa pressão toda daqui."

"Eu iria com você agora mesmo se pudesse," Respondi, suspirando


pesadamente. "Tem horas que acho que vou explodir nesse lugar."

"Você pode vir quando esta guerra acabar," Carter disse, se virando e se
apoiando nos cotovelos para me olhar. "Não é como se você não tivesse um
lugar para ficar quando for."

Dei um sorriso à ele, ele se aproximou do meu rosto e me deu um beijo suave
na boca.

"Como seus pais estão?" Perguntei, arrumando a mecha azul do cabelo dele.
"Estão bem?"

"É, acho que sim," Ele respondeu, franzindo o cenho. "Visitamos meu irmão
essa semana... acho que eles ficam mais felizes de ver ele que mora no bairro
ao lado do que eu que moro em outro país."

"Não fale desse jeito," Repreendi. "Tenho certeza que eles gostam de ver
você."

"Bom, não tanto quanto eles gostam de ver o filho perfeitinho com uma casa,
um filho e seu lindo e perfeito casamento hétero."

"Ele tem um filho?!" Perguntei.

"Oh, sim, ele tem," Carter assentiu. "Oliver é realmente incrível... você
acredita que ele tem apenas cinco anos e já consegue subir em uma
vassoura?!"

"Merlin, se Harry for assim também," Eu disse. "Sirius e James vão ficar tão
emocionados que vão dar um jeito de colocá-lo no time de quadribol já no
primeiro ano de Hogwarts!"

"Espere aí," Carter exclamou. "Não foi você que no primeiro ano
impressionou Slughorn com um antídoto para veneno?!"

366
"Bom..."

"Você também é um prodígio!" Ele riu, zombando da situação.

"Acho que posso dizer que a poção que era fácil demais," Eu dei de ombros.
"E, bom, eu li muito sobre ela."

"Às vezes esqueço como você é inteligente," Carter sussurrou, com o rosto
bem perto do meu. "E bom demais para mim."

"Está dizendo que um ex comensal da morte procurado e marcado de morte


é bom demais para você?!" Eu sorri. "Você é o quê? Você-Sabe-Quem
disfarçado?"

"Não seja idiota," Ele sorriu, passando um dedo pelo meu rosto. "Você é
quem não enxerga o que eu enxergo."

"O que você enxerga?"

"Você é corajoso e... altruísta," Carter disse, estudando a minha boca com os
olhos. "Se tudo que você que me contou for verdade, você provavelmente é
o melhor ser humano do mundo, Reg."

"Acho que há coisas que... que eu deveria ter mais coragem." Franzi o cenho,
encarando o céu.

"Como o quê?"

"Como em falar sobre meus sentimentos," Respondi. "Ou em deixar as


pessoas saberem o que elas significam para mim."

"Isso deve ser por causa dos seus pais." Ele disse, simplesmente.

"O quê?!" Perguntei, confuso.

"Acho que vi isso em uma das matérias de Psicologia na universidade..." Ele


refletiu. "Eu também faço isso ás vezes. Evitar falar sobre o que eu sinto, ou
nem mesmo conseguir quando tento. Porque em casa ninguém ligava muito
para o que eu sentia, então eu achei que ninguém nunca se importaria de
verdade."

367
Pensei por um tempo em como aquilo fazia extremamente sentido. "Carter?"

"Hm?"

"Você é um gênio."

Ele sorriu, timidamente. "Não exagere... Estou apenas tentando dizer à você
para não anular todas as outras coisas boas que você fez porque não consegue
fazer apenas uma. Sabe, não é sua culpa que seus pais eram uns merdas que
faziam você pensar que o que você sentia não importava."

"Você é a primeira pessoa que diz isso para mim." Disse. "Que consegue me
explicar o motivo das coisas e não só me... questionar."

"Bom, então acho que você está certo," Ele sorriu. "Sou um gênio!"

"Sim, você é." Beijei ele suavemente nos lábios.

"Sabe de uma coisa?!" Ele exclamou. "Você deveria vir até a minha casa e
conhecer os meus pais!" Arregalei os olhos e Carter riu. "Pelo amor de Deus,
não vou pedir você em casamento, nem nada do tipo! Você não é tão atraente
assim, Black."

Eu sorri. "Então, por que você quer que eu vá?!"

"Eu apenas amaria ver a cara deles quando eu chegasse com um 'amigo' em
casa," Ele disse, ainda sorrindo. "Papai teria um infarto e mamãe
provavelmente iria colocar nós dois para rezarmos a droga do Pai Nosso
inteiro."

"Você está me dizendo que está me usando, Wood?!" Disse, arqueando as


sobrancelhas.

"Claro que não, seu idiota!" Ele respondeu, sorrindo outra vez. "É mais fácil
você estar fazendo isso comigo."

"O quê?!" Franzi a testa.

"Você ainda não me disse de quem estava falando na noite do aniversário de


Remus," Ele disse, arqueando as sobrancelhas. "E eu não desisto de descobrir
algo sem lutar."

368
"É mesmo?" Sussurrei, puxando o rosto dele para mim e dando uma mordida
leve na sua orelha. Ele subiu em cima do meu colo, me dando um beijo
demorado e provocador nos lábios e minha mão percorreu por de baixo da
sua camisa.

"Não podemos fazer isso aqui, Reg," Ele sussurrou, em meio à um sorriso.
"Seu irmão está literalmente do nosso lado."

"Sirius faz coisas piores no quarto ao lado do meu, se você quer saber," Olhei
para Carter. "Acredite, não sei como ele não quebrou a parede com a força
que aquela cabeceira bate."

"Nós somos piores." Ele riu, mordendo a ponta do meu indicador.

Nós nos beijamos outra vez e eu o tirei de cima de mim, me levantando e o


ajudando a se levantar também. Segurei uma de suas mãos, o levando para
dentro de casa.

"Faça silêncio." Sussurrei, fechando a porta atrás de nós. "Acho que Sirius e
Moony estão no quarto."

"Mas são quatro da tarde." Ele sussurrou de volta. "Eles não podem estar
dormindo."

"Acredite," Arqueei as sobrancelhas, pegando na mão dele e sussurrando


outra vez. "Não estão."

Fizemos o máximo de silêncio para não perceberem que estávamos lá. Não
consigo nem imaginar a quantidade de piadas Sirius faria se me visse
entrando no meu quarto com Carter. Fechei a porta atrás de nós e assim que
virei de novo, Carter jogou os braços ao redor do meu pescoço e me beijou
ferozmente, puxando o meu lábio inferior com os dentes.

Pressionei Carter contra a porta, colocando uma das minhas pernas entre os
joelhos dele. Ele estremeceu contra a minha boca quando sentiu, gemendo
roucamente.

Minha mente deu um estalo. Meu aniversário de dezenove anos. Eu estava


nesse mesmo lugar. Nesta mesma porta. Beijando alguém. Beijando Mary.

"Porra." Sussurrei, abaixando levemente a minha cabeça.

369
"O quê?" Carter franziu o cenho. "Você está bem?"

"Sim, eu só..." Respirei fundo, balançando a cabeça. "Não é nada."

Voltei a beijar ele, desta vez tirando ele da porta. Merlin, definitivamente não
naquela porta.

Nós dois subimos na cama e eu me sentei com as costas encostadas na


cabeceira. Carter sentou em cima do meu colo, dando beijos molhados no
meu pescoço. Minhas mãos brincaram na borda da camisa dele e eu a tirei
suavemente, o que fez ele sorrir contra o meu pescoço. Carter desceu os
beijos do meu pescoço até a minha clavícula, enquanto puxava a minha
camisa para cima. Ele passou a ponta da língua na linha da minha barriga,
me fazendo ofegar e jogar a cabeça para trás.

Ele chegou até a borda da minha calça e me olhou com um sorriso malicioso,
os fios de cabelo loiro misturados com os fios da mecha azul bagunçados na
frente de seu rosto, alguns grudados na testa devido ao suor. As bochechas
levemente coradas e o sorriso mordendo o lábio inferior, enquanto abria o
meu cinto e depois os botões e o zíper da minha calça, até chegar na minha
cueca.

Ele passou a língua por cima do tecido preto, me fazendo ofegar alto, "Porra,
Carter...". Isso fez ele sorrir outra vez e morder a borda da minha cueca,
abaixando ela tão lentamente com a boca que me fez ter vontade de matá-lo.
Levei minhas mãos até o cabelo bagunçado dele e quando ele passou a língua
do fim até a ponta, eu quase gemi alto o suficiente para chamar a atenção de
Sirius no outro quarto.

"Você está louco?" Carter sorriu fracamente.

"Não pare de fazer isso." Eu ofeguei, empurrando a cabeça dele com as


minhas mãos.

Carter começou suave e devagar, a boca tão leve e macia como uma pluma
encostando na minha pele. Até que começou a ir mais rápido e mais forte, eu
conseguia sentir a ponta batendo contra a garganta dele, incontáveis vezes,
uma atrás da outra. Aquilo foi demais para mim. As minhas costas se
arquearam na cama e eu segurei na cabeceira com uma das minhas mãos, a
outra segurava tão forte o cabelo de Carter que os nós dos meus dedos
estavam vermelhos.

370
Quando eu estava prestes a vir, Carter parou repentinamente, ofegante.
"Você não vai gozar ainda."

"O quê?!" Olhei para ele, atordoado. "Eu vou matar você, Carter, pelo amor
de Deus..."

Carter subiu para cima de mim e voltou a me beijar, me fazendo sentir meu
próprio gosto em sua boca. Mexendo o quadril o suficiente para roçar de leve
onde ele havia estado com a boca à uns minutos atrás. Enquanto ele estava
em cima de mim, eu abri a calça dele e enfiei a mão de uma vez por dentro
da cueca. Ele arfou alto contra a minha boca, quase choramingando de
desejo.

"Preciso de você agora." Ele sussurrou no meu ouvido.

Preciso de você agora. Já ouvi isso antes. Mas não importa.

"Você..." Engoli em seco, sem parar de estimulá-lo. "Você tem..."

Ele assentiu rapidamente, como se estivesse desesperado e procurou o bolso


da sua calça que agora estava na altura do seu joelho. Ele me entregou a
camisinha nas mãos e assentiu para mim, me dando permissão para eu fazer
o que eu queria.

Eu mudei nossas posições e me coloquei por cima dele, sem parar de beijá-
lo, me posicionando entre as suas pernas. Eu o encarei, os dois atordoados,
completamente ofegantes e suados. Carter era tão lindo que sua foto poderia
estar em um museu.

"Se isso doer muito," Franzi a testa. "Você pode me falar..."

Ele assentiu, com os braços enrolados no meu pescoço, eu encostei a minha


testa na dele. Na primeira vez que me empurrei contra ele, ele apertou os
olhos com força, as sobrancelhas franziram. "Tudo bem?" Perguntei, e ele
suspirou antes de assentir outra vez. Na segunda vez, ele arfou alto, as mãos
apertando as minhas costas. Na terceira, eu me empurrei mais fundo, e levei
uma das minhas mãos para estimulá-lo. Quando ele pareceu mais
confortável, eu acelerei os meus movimentos.

As costas dele se arquearam na cama quando ele sentiu que eu estava


completamente dentro dele. A minha mão livre percorreu da sua barriga até
o seu pescoço, envolvendo-o forte com os meus dedos. Quanto mais rápido

371
eu ia, mais Carter se segurava para não gemer alto, os olhos já cheios de
água, os lábios franzidos segurando os próprios gritos.

"E-espere aí..." Ele arfou, e eu diminuí os movimentos. Ele esticou o braço


para a cômoda ao lado da cama, pegando a sua varinha e apontando para a
porta. "Muffliatto."

"Bom garoto." Ofeguei, sorrindo fracamente e voltei à empurrá-lo com mais


força, agora que ele podia gritar à vontade.

Carter havia se entregado completamente agora. Cada vez que eu me


empurrava contra ele, ele gemia mais alto ainda. Ele havia me permitido ir
tão forte que ele teve que se segurar na cabeceira da cama para a sua cabeça
não bater contra ela. Eu apertava levemente o seu pescoço, os músculos do
meu braço tensionados.

Nós dois estávamos quase vindo quando escutamos alguém bater na porta do
quarto.

"Reg?! Você está aí?!" Era a voz de Sirius.

"Porra." Resmunguei baixo, Carter riu fracamente. Me estiquei para pegar a


minha varinha e desfiz o feitiço silenciador. "O que você quer?!"

"Mary está aqui!"

Se eu conseguisse ter arregalado os meus olhos mais do que eu os arregalei


naquela hora, eles teriam saltado para fora do meu rosto. Como o universo
pode ser tão cruel comigo a ponto de fazer Mary vir aqui no exato momento
em que eu estou nesse estado com Carter?!

"Merda, merda, merda, merda..." Saltei para fora da cama, vestindo rápido a
minha cueca.

"Merlin, Reg!" Carter exclamou, ainda deitado. "Por que você está assim?!"

"Um segundo, Six!" Gritei para a porta, me virando para Carter depois.
"Certo, você se lembra de quando falamos sobre alguém de quem eu
gostava...?"

372
"Bom, sim, mas..." Carter refletiu, vestindo as próprias calças. Ele arregalou
os olhos. "Não! Não me diga que eu acabei de transar com o namorado de
Mary MacDonald!"

"Ela não é a minha namorada!" Vociferei, abotoando a calça. "Bom, ela era,
eu acho... Eu não sei! O ponto é que ela não sabe de você!"

"Bom, não é como se você pudesse fazer algo agora, não é?!" Ele disse,
procurando a sua camisa. "Você é um idiota. Mary é incrível."

"Carter!"

"Tudo bem, tudo bem!" Ele disse, se levantando, completamente vestido.


"Porra, Regulus, sua camisa está do avesso!"

Tirei a camisa rápido com a ajuda de Carter, e a coloquei de volta, desta vez
do lado certo.

"Eu pareço alguém que acabou de transar?!" Perguntei, com os braços


abertos.

Carter sorriu, quase gargalhou. "Você não vai querer que eu responda isso."

"Merlin." Resmunguei, arrumando o meu cabelo e fazendo o mesmo com o


de Carter, que estava com as pontas molhadas de suor.

Respirei fundo antes de abrir a porta. Sirius estava encostado nela, os olhos
dele se arregalaram quando ele viu Carter atrás de mim e ele fez um 'O quê?!'
com os lábios. Carter deu de ombros, completamente confuso.

Quando cheguei até à sala, Mary estava em pé no meio dela. Ela estava
normal, não triste, nem com raiva. Apenas a Mary de sempre. Quando ela
me viu, sua boca quase se curvou em um sorriso, até Carter aparecer atrás de
mim. O sorriso se desfez completamente.

"Hm... Mary," Falei, timidamente. "Este é Carter, você deve... deve se


lembrar dele de Hogwarts."

"Wood." Ela acenou com a cabeça.

"MacDonald." Ele acenou de volta.

373
"Eu..." Ela começou. "Eu posso voltar depois, eu não... não quero atrapalhar
nada..."

"Não!" Eu exclamei, um pouco alto demais. "Você... você pode ficar! Nós
podemos conversar, se você quiser."

Ela sorriu fracamente, fechando os olhos e balançando a cabeça. "Não, eu...


eu volto depois, Reg." Ela caminhou até a porta. Ela não parecia com raiva,
parecia apenas... triste. Muito, muito triste.

"Mary, você não precisa..." Comecei, mas ela levantou uma mão para mim,
me impedindo de continuar. E saiu pela porta.

"Regulus!" Carter bateu na minha cabeça. "Vá atrás dela!"

"O quê?!" Perguntei, confuso. "Mas você..."

"Ah, pelo amor de Deus! Já disse que não pretendo pedir você em
casamento!" Ele revirou os olhos. "Eu disse à você! Se você gosta de alguém,
você tem que dizer!"

"Vocês são muito estranhos." Sirius disse, encostado na parede, com os


braços cruzados.

"Você acha que eu deveria..."

"Agora!" Sirius e Carter exclamaram em uníssono.

Eu assenti, nervosamente, saindo pela porta e deixando os dois para trás.


Mary ainda estava na frente da casa, parada de frente para a rua.

"Mary!"

Ela virou para mim, enxugando os olhos rapidamente. "Você não deveria vir
atrás de mim."

"É claro que eu deveria." Respondi, ainda um pouco longe dela. "O que você
veio me dizer?!"

374
"Eu vim me desculpar, Reg," Ela disse, com a voz trêmula. "Porque eu... eu
sei que fui egoísta com você. Eu sei que talvez eu estivesse exigindo muito
quando pedi para você ficar comigo de verdade."

"Não... não, Mary, você não estava exigindo muito. Não pense dessa
maneira."

"Não, eu..." Ela respirou fundo. "Eu apenas me senti... subestimada. Como
se você não acreditasse que eu mesma poderia me proteger. Eu me senti...
fraca."

"Você não é fraca!" Me aproximei dela. "Merlin, nunca mais diga isso!"

"Eu fui egoísta com você." Ela disse, com a voz trêmula. "E eu vi você com
Carter na festa de Remus, você estava... estava feliz. E eu amo ver você
assim. Então, eu... eu vim pedir desculpas por ter sido egoísta com você e
dizer que se você quiser ficar com ele, eu não vou atrapalhar. Eu nunca
atrapalharia uma chance de você ser feliz."

"Mary." Falei, com a voz firme, segurando o rosto dela com as mãos. "Não
existe nenhuma pessoa no mundo que eu queira ficar além de você."

Ela me encarou, os olhos brilhando. "Você..."

"Sim, sim, sim, sim..." Eu ofeguei, encostando a minha testa na dela. "É você,
Mary... É você, é só você."

Ela levantou o rosto, sorrindo fracamente, o rosto molhado. Ela passou a mão
no meu cabelo, tirando uma mecha do meu olho "Não preciso que você diga
isso de volta se você não quiser dizer. Mas eu amo você." Meus olhos se
arregalaram levemente. "Eu amo você, Regulus Black. Eu amo você mais do
que consigo suportar. Você é bom, Regulus. E você é brilhante, corajoso e
gentil. Eu poderia matar qualquer um que já fez você se sentir menosdo que
isso -menos do que você é.E eu sei que quase fiz parte desse grupo quando
exigi tudo aquilo de você. Mas eu quero que você saiba que eu amo você à
muito tempo. E que quando você estiver pronto para mim... eu vou estar
pronta para você."

O mundo deixou de existir completamente. Era surreal. As lágrimas começar


a rolar pelo meu rosto sem eu conseguir parar. Ninguém nunca havia dito
isso para mim, não nesse sentido. Ninguém nunca havia me visto desse jeito.

375
Ou me feito sentir desse jeito. Eu não tinha palavras para aquilo. Nada, nada,
nada nunca foi assim.

"Mary." Falei rapidamente, segurando o rosto dela com as minhas duas


mãos. "Amanhã. Amanhã à noite. Vou estar na sua casa. Vou estar na sacada
do seu quarto. Preciso fazer uma coisa antes. Mas vou estar na sua casa. Eu
prometo."

"O que você vai..."

"Só... só confie em mim, eu vou estar lá," Falei com a voz trêmula, ainda
segurando o seu rosto. "Eu sou seu, Mary. Não se esqueça disso. Eu sempre
fui seu."

Ela sorriu, as mãos segurando as minhas, ela se afastou para aparatar, ainda
segurando uma das minhas mãos. Até que ela soltou e aparatou, me deixando
sorrindo sozinho.

Voltei para dentro da casa correndo, abri e fechei a porta da frente rápido,
Carter já havia ido embora, Sirius estava na cozinha. Eu entrei em casa
agitado e ofegante, andando de um lado para o outro. "Moony! Moony!
Venha aqui!"

Sirius foi até mim. "Regulus, o que..."

"Lupin!" Gritei outra vez.

Remus apareceu na sala, ainda de pijama por não ter saído da cama com
Sirius o dia todo. "Droga, Reg, pare de gritar. O que é que você quer?!"

"Chamem James." Falei seriamente, batendo as mãos na mesa. "Vamos até


Gringotes amanhã."

"Espere aí, você ainda nem sabe quem vai beber..." Remus disse, franzindo
o cenho.

"Você é um lobisomem." Disse. "Sirius e James são animagos, não sabemos


se vai funcionar com eles e só temos uma dose, não podemos ficar testando."

"Está me dizendo que você vai se transformar na nossa prima?!" Sirius me


olhou horrorizado.

376
"Alguém chame James, pelo amor de Deus!" Exclamei.

"O que fez você ficar agitado assim?!" Remus disse.

Demorei alguns segundos para responder, os olhos correndo entre Sirius e


Remus, Remus estava pegando a varinha para mandar um patrono para
James, minha boca se curvou em um sorriso. "Ela me ama... Mary disse que
me ama."

"O QUÊ?!" Sirius e Remus gritaram em uníssono, Remus deixou a varinha


cair no chão.

"Mary me ama!" Eu exclamei, sorrindo como uma criança. "Então, eu vou


até Gringotes e vou destruir aquela droga de horcruxe ainda amanhã! Porque
à noite eu preciso ver a garota que me ama e dizer à ela que eu a amo
também!"

"VOCÊ A AMA?!" Sirius e Remus gritaram em uníssono outra vez, os olhos


arregalados.

"Remus, o patrono!" Exclamei, agoniado.

"Esperem aí, vocês precisam ver uma coisa antes." Sirius disse, mexendo nas
correspondências, enquanto Remus fazia o feitiço. Ele pegou uma carta, um
pergaminho amarelado, sem selo e sem carimbo. "Chegou quando você
estava lá fora com Mary."

"De quem é isso?!" Perguntei, franzindo a testa.

"Aí é que está." Sirius disse. "Não faço ideia. Não tem remetente."

"Leia em voz alta." Remus disse quando eu peguei a carta nas minhas mãos.

"Voldemort e Greyback estão planejando um ataque de lobisomens na


próxima lua cheia. Voldemort quer punir Narcissa por traí-lo fazendo
Greyback pegar o filho dela. Avisem a Ordem e à quem precisar."

Remus estremeceu. Ele desviou o olhar e cobriu o rosto com as mãos.


"Porra."

377
"Moony, não fique desse jeito," Sirius sussurrou, pondo os braços em volta
dele. "Isso não é culpa sua."

"Quem mandou isto?!" Remus disse. "Por que alguém nos avisaria, mas não
diria quem é?!"

"Vamos precisar enviar outro patrono." Falei, seriamente. "À Moody."

"Pensei que você não confiasse nele." Sirius disse.

"Não vou deixar que machuquem nenhum dos dois, Sirius." Olhei
furiosamente para a carta. "Vão ter que passar por cima de mim se quiserem
machucar Draco."

***

"James, você vai precisar da capa outra vez." Pandora disse, quando nós
quatro fomos à casa dela, naquela mesma tarde. "Remus, você é o inteligente.
Vou ensinar à você o feitiço de invisibilidade."

"Ei! Eu e Padfoot também somos inteligentes!" James reclamou. "É preciso


muita inteligência para conseguir formar um discurso que convença Lily à
me deixar fazer isso!"

"Marlene vai ficar com ela e Harry, Prongs," Falei. "Você não precisa se
preocupar."

"Vamos, Remus." Pandora puxou Remus para outro canto da sala.

"Você vai mesmo beber isso, Reg?!" Sirius perguntou, com uma cara feia.
"O gosto parece ser uma merda."

"Bom, Pandora não vai porque está grávida. Alguém tem que fazer isso, não
é?!"

Peguei o frasco com as mãos, o gosto não poderia ser pior do que o cheiro.
James me interrompeu. "Espere aí! Ajuda se você prender a respiração,
sabe?"

"Tudo bem." Assenti, prendi a respiração e virei o frasco na minha boca.


Merlin, o gosto era sim mais horrível do o cheiro. Meu estômago começou a

378
se revirar, parecia que eu ia vomitar. Depois uma sensação de queimação se
espalhou rapidamente da minha barriga até as pontas dos dedos dos pés e das
mãos – em seguida, eu caí no chão, sem ar e tive a sensação de que estava
derretendo, quando a pele de todo o meu corpo borbulhou como cera quente.

"Reg!" Ouvi a voz de Sirius me chamar, mas eu fechei os olhos com força,
minha cabeça doía muito.

E, antes que meus olhos se abrissem, os meus dedos afinaram, as minhas


unhas cresceram, os nós dos meus dedos também se diminuíram, os ombros
diminuíram e se afinaram dolorosamente e um formigamento na testa me fez
perceber que meus cabelos estavam crescendo e se formando em cachos
negros e rebeldes até os meus ombros. As minhas vestes ficaram apertadas
no peito quando ele cresceu repentinamente, os meus pés se tornaram
pequenos dentro dos sapatos quatro números maiores.

"Puta que pariu." James e Sirius disseram juntos, boquiabertos.

"O quê?!" Arregalei os olhos, assustado.

"Ai. Meu. Deus." Pandora disse, atrás de mim.

Remus caiu na gargalhada. "Você tem que me agradecer por eu não te azarar
agora, Reg, porque você tá com a cara da vadia que me amaldiçoou."

Eu corri para um espelho que ficava na parede da sala de Pandora.

"Meu Deus." Arregalei os olhos para mim mesmo.

"Isso deu tão certo que estou com vontade matar você." Sirius disse, sorrindo.

"Vamos, senhorita Lestrange," Pandora sorriu, enrolando o braço no meu.


"Vamos pegar algo para você vestir."

Depois de vários minutos tentando achar alguma coisa escura e sombria o


suficiente para eu vestir, Pandora finalmente achou a roupa certa. Não sei
como mulheres usam botas com saltos. Aquela merda doía e eu podia jurar
que ia cair a cada dois passos que dava. Apenas depois de Pandora me ensinar
como andar naquela droga e a falar de um jeito mais fino e feminino, e depois
de James, Sirius e Remus fazerem mais piadas do que fizeram em toda a sua
vida (o que é muito porque, afinal, eles são os marotos), e estava pronto.

379
"Você está pronta." Pandora disse, abafando uma risada.

"Ugh, vamos logo com isso," Resmunguei. "Dê o cristal para eles, não
garanto que não vou cair nessa coisa e quebrar."

Pandora deu o cristal na mão de Sirius. "Escutem, meninos, Sirius vai se


transformar em Padfoot." Sirius assentiu. "James, você vai entrar com ele
embaixo da capa." James assentiu. "E, Remus, faça como eu te ensinei."
Remus assentiu. "Vocês precisam conseguir entrar, depois de estarem
dentro, me prometam que só vão sair de lá com aquela droga de taça."

"Vai dar certo," Suspirei. "Vai dar."

"Eu te abraçaria, Reg," Pandora disse. "Mas sabe, eu realmente odeio


Bellatrix."

"Não se preocupe." Balancei uma mão. "Eu não me ofendo. Também a


odeio."

Ficamos todos juntos, os quatro segurando nos braços um do outro. Pandora


olhou para cada um de nós. "São seis da tarde. Vou esperar vocês até à meia
noite, no máximo. Se não voltarem..."

"Nós vamos voltar." Falei, confiantemente.

Pandora olhou de novo para todos nós e, por fim, acenou a cabeça para mim
e eu fiz o mesmo. E então, aparatamos.

380
Capítulo 30: Gringotes

O Beco Diagonal estava silencioso, apesar de algumas pessoas estarem


passando. A calçada de pedras estava muito diferente do lugar movimentado
que era quando eu havia ido a primeira vez quando ainda era um menino,
anos atrás. A guerra claramente havia destruído um dos lugares mais bonitos
e felizes que eu já havia pisado.

Quando começamos a andar pela rua, algumas pessoas me avistaram,


algumas se encolhiam nas portas. Mas é claro, não estavam me vendo.
Estavam vendo Bellatrix Lestrange. Eles pareciam desaparecer quanto mais
eu me aproximava, puxando os capuzes de suas capas para o rosto e fugindo
o mais depressa que conseguiam.

"Acho que ela não é muito querida, não é?" Ouvi James sussurrar do meu
lado, de baixo da capa.

Tentei me lembrar de todas as aulas de etiqueta que mamãe fazia a


governanta que cuidava de mim e Sirius nos ensinar. Postura reta,
Regulus, ela diria. Não olhe para o chão, mantenha sempre a cabeça
levantada. Não vire tanto o rosto para falar, vire apenas os olhos. Os braços
sempre atrás ou retos na lateral do corpo.

Seguimos pela rua de pedra até o final, onde Gringotes ficava. Quando
chegamos às escadas de mármore que levavam às grandes portas de bronze,
os duendes que normalmente ficavam na entrada tinham sido substituídos
por dois bruxos, ambos segurando longas e finas varas de ouro. Essa era a
parte difícil. Passar pelas varas, que detectavam feitiços de ocultamento ou
qualquer outra coisa que estivesse magicamente escondida.

Tínhamos apenas dois segundos, dois segundos que foram o suficiente para
James apontar a varinha para os guardas e murmurar "Confundus!", ainda
debaixo da capa. Os guardas apenas estremeceram quando o feitiço os
atingiu. E eu subi as escadas, sem olhar no rosto de nenhum dos dois.

"Madame Lestrange." Um deles disse, erguendo a vara de ouro. "Um


momento, por favor."

"Você acabou de fazer isso, seu idiota." Exclamei, em uma imitação muito
boa da voz de Bellatrix, a dose certa de arrogância e autoritarismo que só um
Black conseguiria. O guarda ficou confuso e acenou com a cabeça para o
outro, apenas. Eu continuei a subir.

381
"Estamos indo bem, Reg." Remus sussurrou, invisível ao meu lado. "Só mais
um pouco."

Dois duendes estavam diante das portas de dentro, que eram feitas de prata.
Eu ergui os olhos e de repente me ocorreu uma lembrança muito nítida:
parado naquele exato lugar, no dia em que completei doze anos e vim aqui
pela primeira vez com Sirius. Naquele dia, Gringotes me pareceu um lugar
assustador e nem por um instante poderia ter sonhado que voltaria aqui para
roubar.

Segundos depois, porém, nós estávamos no saguão de mármore do banco.

O longo balcão era ocupado por duendes sentados em banquinhos altos, que
atendiam os primeiros clientes do dia. Eu me dirigi a um velho duende que
escrevia alguma coisa em um pergaminho, com uma pena muito sofisticada.

"Madame Lestrange!" Disse o duende, evidentemente surpreso. "Céus!


Que... que posso fazer hoje pela senhora?"

"Quero entrar no meu cofre." Respondi, ríspida e friamente, com uma das
sobrancelhas arqueadas.

O duende pareceu se encolher ligeiramente. Apesar dos comensais da morte


não terem suas identidades reveladas à público, todos tinham quase certeza
que Bellatrix Lestrange era uma. É claro, ela era uma Black. Eles não
esperariam nada além disso. Porém, com todos os desaparecimentos, ataques
e mortes, ninguém tinha coragem de desafiar diretamente um possível
comensal da morte.

Seria mais perigoso eu aparecer por aqui como eu mesmo do que como
Bellatrix. Não era novidade que muitos bruxos e bruxas acreditavam que eu
colhia informações da Ordem para Voldemort e que Dumbledore era um tolo
por confiar em mim. Eu não era um herói para todo mundo, pelo visto.
Muitos acreditavam que se eu não tivesse passado para o outro lado,
provavelmente a guerra já teria acabado. É impressionante como as pessoas
realmente só veem o que querem ver.

E, afinal, o que agradaria mais o Lorde das Trevas a ponto dele deixar
qualquer um em paz do que a cabeça de Regulus Black em uma bandeja?

382
Eu olhei para os lados e não só alguns guardas estavam por perto observando,
mas vários outros duendes tinham levantado a cabeça do seu trabalho para
olhar para mim.

"A senhora tem... identificação?" Perguntou o duende.

Merda.

"Identificação?!" Exclamei rudemente, mascarando completamente o meu


nervosismo. Como assim identificação?! "Nunca me pediram identificação
antes!"

"A sua varinha será suficiente, madame." Disse o duende. Eu estremeci, não
podíamos ter chegado até aqui para dar errado tão facilmente.

"Vamos ter que fazer isso!" Sussurrou James, a voz cheia de pavor. "É o
único jeito!"

Sirius bufou baixo ao lado de James e eu agradeci por ele não estar na sua
forma humana, se não ele teria soltado um palavrão enorme. Consegui sentir
a presença de Remus se afastando de mim e alguns segundos depois, ele
sussurrou, provavelmente pela primeira vez na vida. "Imperius!"

"Ótimo, ótimo! Então, se quiser me acompanhar, madame Lestrange,"


convidou o velho duende, saltando do banquinho. "Levarei a senhora ao seu
cofre."

"Espere!" Outro duende contornou correndo o balcão. "Temos instruções."


Disse ele, se curvando para mim. "Me perdoe, madame Lestrange, mas
recebemos ordens especiais com relação ao cofre de sua família."

Ele cochichou ao ouvido do outro duende, mas ele sob o efeito da maldição
se livrou do empecilho rapidamente. "Estou ciente das instruções. Madame
Lestrange quer visitar o seu cofre, família muito antiga... velhos clientes...
acompanhem-me, por favor... "

Nos dirigimos a uma das muitas portas de saída do saguão. Quando a porta
bateu atrás de nós, James tirou a capa de invisibilidade, a espada reluzindo
na bainha da sua calça, e Sirius se transformou de volta. Remus retirou o
feitiço de invisibilidade de si mesmo. O duende não pareceu manifestar
nenhuma surpresa quando três jovens surgiram do nada na sua frente.

383
"Eles suspeitam." Remus disse. "Os guardas não tiram os olhos de você,
Reg."

"E o que vamos fazer?!" Perguntou Sirius. "Abortar o plano?!"

"Não é uma ideia ruim." James disse, olhando para a porta atrás de nós.

"De jeito nenhum!" Vociferei. "Chegamos até aqui e não estou me


aguentando nestes saltos à toa!"

"Você faz uma imitação de Bellatrix muito boa, Reg!" Sirius sorriu, dando
um tapinha no meu ombro.

"É verdade," James concordou. "Você tem... como se diz?... a delicadeza dos
Black."

"Calem a boca." Resmunguei, revirando os olhos.

Remus apontou a varinha para o duende, que assoviou para chamar o


carrinho que surgiu do escuro, sacudindo pelos trilhos, na nossa direção. O
duende foi na frente, eu, Sirius, Remus e James espremidos atrás. O carrinho
deu partida e começou a acelerar, depois o veículo começou a fazer curvas
por um verdadeiro labirinto, sempre descendo. James e Sirius se agarraram
um ao outro, aterrorizados, Remus tentava ver para onde o duende estava nos
levando.

Eu não conseguia ouvir nada com o barulho do carro sobre os trilhos. Nós
estávamos mais fundo do que eu jamais estive em Gringotes. Até que
fizemos uma curva em alta velocidade e vimos, tarde demais, uma cascata
gigante.

"Não, não, não, não!" Remus exclamou tentando ver com mais precisão o
que estava na frente, a voz desesperada.

"Porra!" Xinguei alto quando me dei conta. "Isso vai lavar todos os
encantamentos, todos os disfarces mágicos!"

"Eles sabem, Reg!" Sirius disse, aterrorizado. "Já sabem que somos
impostores! Por isso ativaram as defesas!"

"O que nós vamos-" James foi interrompido quando atravessamos disparados
pela água. A sensação da água enchendo meus olhos e a minha boca me

384
lembrou da sensação de estar me afogando. Não conseguia ver, nem respirar.
Era como se eu estivesse de volta à caverna outra vez.

Com uma guinada muito forte, o carrinho capotou e fomos atirados para fora.
Eu ouvi o veículo se despedaçar contra a parede do labirinto, ouvi Sirius
gritar alguma coisa e me senti flutuar de volta ao chão, como se não tivesse
peso, e aterrissar sem dor no piso de pedra, completamente encharcados.

"Feitiço Amortecedor." Gaguejou Sirius, quando Remus o ajudou a ficar de


pé, arrumando o cabelo molhado dele que caía sob os olhos de tão grande.

"Boa, Pads." James disse, dando um soquinho nas mãos de Sirius.

"Pandora me ensinou." Sirius sorriu fracamente. "Ela disse que poderia ser
útil, a filha da mãe esperta."

Depois que recuperei o fôlego, percebi que os cachos grandes e negros de


Bellatrix haviam sumido e meu cabelo havia voltado ao normal. Minhas
mãos cresceram e eu estava um pouco mais alto. As roupas tão apertadas que
eu tive que desamarrar o fio que apertava a roupa preta na minha cintura.
James, Sirius e Remus também perceberam e me olharam assustados,
enquanto eu voltava a ser eu mesmo, apalpando meu próprio rosto.

"Pelo menos você não está mais assustador." James encolheu os ombros.

Quando eu me virei, eu vi o duende sacudir a cabeça, confuso. A cascata


provavelmente desfez a maldição também. Sirius foi para o meu lado. "Reg,
não vamos conseguir entrar no cofre sem um duende de Gringotes!"

"Imperius!" Eu disse, sem quase nenhum esforço, apontando a minha varinha


para o duende. Ele voltou a se submeter à nós quatro, a expressão antes
confusa agora indiferente, enquanto James corria para pegar a bolsa de couro
com as ferragens de metal que o duende havia levado.

"Uau," Remus disse. "Você fez isso bem melhor do que eu."

"Foi sua primeira vez." Dei de ombros enquanto guardava a minha varinha.
Os três me olharam assustados. "O quê? Vocês acham que nunca fui
obrigado a fazer isso quando eu era um deles?"

"Caramba, Reg," James franziu a testa, pondo a mão no meu ombro. "Eu
sinto muito."

385
Balancei a mão no ar desdenhosamente. "Tanto faz." Me virei para o duende.
"Mostre-nos o caminho do cofre."

"Como vamos sair daqui?!" Sirius perguntou, enquanto andávamos pela


escuridão atrás do duende.

"Nos preocupamos com isso depois." Respondi, terminantemente. Eu estava


tentando escutar melhor, pensei ter ouvido alguma coisa metálica se
mexendo ali perto. "Ainda falta muito?"

"Não muito, senhor." O duende disse, alegremente, enquanto nos guiava.

E, ao virarmos um canto, nos deparamos com a coisa que eu estava tentando


escutar, mas que ainda assim fez nós quatro pararmos de repente.

"Mas que porra é essa?!" Remus exclamou, os olhos arregalados, como o de


todos nós.

Um dragão gigantesco estava acorrentado no chão à nossa frente, barrando


o acesso a quatro ou cinco dos cofres mais profundos do banco. A pele do
animal tinha se tornado pálida durante a longa prisão subterrânea, seus olhos
estavam rosa claro, as duas patas traseiras tinham pesadas argolas das quais
saíam correntes presas em enormes estacas enterradas no solo. Suas grandes
asas, fechadas junto ao corpo, teriam enchido a câmara inteira se ele as
abrisse, e quando virou a cabeça para nós, rugiu com um estrondo que fez a
rocha tremer, escancarou a boca e cuspiu um jato de fogo, fazendo nós quatro
retrocedermos rapidamente.

"Me dê a bolsa aqui, senhor." O duende disse virando para Sirius que jogou
a bolsa para ele rapidamente. Ele tirou de dentro pequenos instrumentos de
metal que, quando agitados, produziam um barulho como o de vários
martelos se chocando. Ele deu um a cada um de nós. "O dragão sabe que vai
sentir dor quando escuta. Ele vai recuar quando todos nós balançarmos."

"Isso é horrível!" James fez uma cara de pena.

"Prefere morrer queimado?" Perguntei, o encarando.

Ele suspirou. "Tudo bem, vamos."

Nós continuamos a avançar pelo canto, sacudindo os instrumentos, e os


ruídos ecoaram pelas paredes, brutalmente amplificados, a impressão que

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dava era de que os ossos da minha cabeça vibravam. O dragão soltou outro
rugido rouco e retrocedeu. Eu o vi tremer e, ao me aproximar, reparei nas
cicatrizes deixadas por cortes em sua cara, imaginei que ele aprendeu a temer
espadas em brasa quando ouvisse o som dos instrumentos. Aquilo não me
chocou, a disciplina através da dor não me era estranha.

"Faça ele pôr a mão na porta!" Remus insistiu comigo, apontei a varinha para
o duende que obedeceu, colocou a palma da mão contra a madeira, e a porta
do cofre se dissolveu, revelando uma espécie de caverna, repleta do chão ao
teto de moedas e taças de ouro, armaduras de prata, peles de estranhas
criaturas, poções em frascos cravejados de pedras e um crânio ainda usando
uma coroa.

"Nossa prima é encantadora, Reg." Sirius disse, com ironia.

"Nem me fale."

"Procurem rápido!" James disse, enquanto nós entrávamos dentro do cofre.


Eu descrevi a taça da Lufa-Lufa para os três, mas, se fosse a outra, a Horcrux
desconhecida, que estivesse guardada no cofre, eu não sabia que aparência
teria. Mal tivemos tempo de olhar ao redor, quando a porta reaparecera, nos
trancando ali dentro, e nós fomos mergulhados na mais absoluta escuridão.

"Não se preocupem, o duende pode nos soltar." Eu disse, ao mesmo tempo


que Sirius disse, surpreso.

"Será que não podem acender as suas varinhas?!"

"Lumos!" Eu girei a varinha acesa pelo cofre, a luz bateu nas joias cintilantes,
eu vi uma falsa espada da Grifinória em uma prateleira alta, entre um
emaranhado de correntes. James, Sirius e Remus tinham acendido as
varinhas também e agora examinavam as pilhas de objetos que os cercavam.

"Por que Bellatrix tem uma cópia da espada aqui?!" James disse, franzindo
o cenho.

"Reg, poderia ser...? Porra!" Remus gritou de dor e e eu o iluminei a tempo


de ver uma taça escorregando de sua mão, mas, ao cair, o objeto rachou e se
transformou em uma inundação de taças, e, um segundo depois, o chão ficou
coberto de taças idênticas rolando para todos os lados, a original agora
impossível de se encontrar. "Essa merda me queimou!" Remus xingou,
chupando os dedos vermelhos.

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"Eles juntaram dois feitiços!" Sirius exclamou, preocupado. "Tudo que
tocarmos vai queimar e multiplicar!"

"Ok, então não toquem em nada!" Recomendei, desesperado, mas, no


momento em que eu dizia isso, James acidentalmente empurrou uma das
taças caídas com o pé e mais vinte surgiram de repente e, enquanto ele saltava
no mesmo lugar, parte do seu sapato queimou ao contato com o metal.

"Fiquem parados, não se mexam!" Pediu Remus, segurando James. "Reg,


pegue o cristal! É a única coisa que vai nos ajudar a descobrir qual dessas
taças é a certa!"

"Tentem encontrar apenas com os olhos!" Eu disse, pegando o cristal no meu


bolso. "Lembrem-se, a taça é pequena e de ouro, tem uma gravação, duas
asas..."

Nós apontamos a luz da varinha para todos os cantos, nos virando


cautelosamente sem sair do lugar. Era impossível não roçar em nada, eu sem
querer fiz rolar para o chão uma cascata de galeões falsos que se juntaram às
taças, e agora quase não havia espaço para os meus pés, e o ouro reluzia,
quente, transformando o cofre em um forno.

A luz das nossas varinhas percorreu escudos e elmos feitos por duendes
guardados em prateleiras que iam até o teto. Sempre mais alto, eu erguia a
varinha até que, de repente, incidiu sobre um objeto que fez o meu coração
dar um salto e minha mão tremer. Eu me estiquei o máximo que pude, sem
dar nenhum passo de onde eu estava. Não foi preciso chegar muito perto para
o cristal de Pandora assumir uma cor vermelho vivo. Magia negra.

"Está lá, está lá em cima!"

James, Sirius e Remus apontaram suas varinhas para o lugar indicado


fazendo com que a pequena taça cintilasse. A taça que pertencera a Helga
Hufflepuff e passou ao poder de Hepzibá Smith, de quem fora roubada por
Voldemort.

"Não tem como chegar lá em cima sem tocar em nada, Reg!" Exclamou
Sirius.

"Accio taça!" Ordenou James, mas nada aconteceu.

"Não adianta!" Remus rosnou.

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"Espere! Posso tocar nas peças com a espada?!" Eu disse, arregalando os
olhos. "Prongs, me dê a espada aqui!"

"Mas, Reg, você é da Sonserina!" Sirius disse. "A espada não vai..."

"Bom, não tem outro jeito!" Vociferei. "Se qualquer um de vocês três der um
passo até onde eu estou, vamos morrer aqui dentro!"

James mexeu na bainha da calça, então tirou a espada brilhante e a jogou


para mim. Eu a segurei pelo punho incrustado de rubis. Era uma sensação
muito estranha, como se a espada estivesse empurrando a minha mão, como
se tivesse vontade própria e soubesse que não sou eu quem deveria empunhá-
la. Desculpe, Godric, é apenas dessa vez.

Eu encostei a ponta da lâmina em uma garrafa de prata próxima, que não se


multiplicou. "Se eu pudesse enfiar a ponta da espada em uma alça... mas
como vou chegar lá em cima?!"

A prateleira em que estava a taça estava fora de alcance, até mesmo para
Remus que era o mais alto de nós quatro. O calor pairava no ar, e o suor
escorria pelo meu rosto e pelas minhas costas enquanto eu procurava
encontrar um meio de chegar à taça.

"Vocês estão ouvindo isso?!" James disse, olhando para a porta. "Digam que
eu estou louco e que vocês não estão ouvindo isso!"

Ouvimos, então, o dragão rugir do outro lado da porta do cofre e o som dos
instrumentos sempre mais alto. Aparentemente, nós estávamos realmente
encurralados. Não havia saída exceto pela porta, e uma horda de duendes
vinha se aproximando pelo outro lado. Eu olhei para James, Sirius e Remus
e vi o terror em seus rostos.

"Isso não vai ser agradável, mas não tem outro jeito!" Remus disse, erguendo
a varinha imediatamente, a apontou para mim e sussurrou. "Levicorpus!"

Eu fui puxado para o alto pelo tornozelo, quando bati em uma armadura, as
réplicas encheram o espaço apertado. Com gritos de dor, James, Remus,
Sirius e o duende foram atirados contra outros objetos, que também
começaram a se replicar. Soterrados por uma onda crescente de tesouros
fervendo, eles se debateram e gritaram enquanto eu enfiava a espada na alça
da taça da Lufa-Lufa e a enganchava na lâmina.

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"Impervius!" Guinchou James, em uma tentativa de proteger a si, Remus,
Sirius e o duende do metal.

Assim que peguei a taça nas minhas mãos, a senti queimar na minha pele.
Mas não a soltei, mesmo quando incontáveis taças irromperam do meu
punho caindo sobre o meu corpo. Nesse instante, o cofre se abriu e todos
deslizamos, sem controle, sobre uma avalanche de ouro e prata
incandescente que carregava a mim, e a Sirius, Remus, James e o duende
para fora.

Sem tomar consciência da dor das queimaduras por todo o corpo, eu enfiei a
taça no bolso. O efeito da maldição havia passado naquele instante e ele
começou a gritar. "Ladrões! Ladrões! Socorro! Ladrões!". E sumiu entre a
multidão de duendes que avançava, todos armados com adagas.

"Vocês sabem que só tem um jeito, não é?!" Falei, encarando os três, que me
lançaram um olhar sério e desafiador.

"Vamos fazer isso." Sirius disse, assentindo com a cabeça.

"Estupefaça!" Eu berrei, e James, Sirius e Remus se juntaram a mim.

Jatos de luz vermelha voaram contra a multidão de duendes, alguns caíram,


mas outros continuaram a avançar e eu vi vários guardas bruxos aparecerem
correndo pelo canto da passagem.

"É ele!" Um dos guardas bradou. "É Regulus Black!"

O dragão preso soltou um rugido, e um jorro de chamas voou sobre as


cabeças dos duendes: os bruxos fugiram, curvados, voltando pelo caminho
que tinham vindo. E uma inspiração, ou loucura, me acometeu. "Vocês
confiam em mim?!"

Os três se entreolharam confusos, Sirius pôs a mão no meu ombro. "Com


toda a nossa vida, Reg."

Assenti com a cabeça. "É isso! É assim que vamos sair daqui!"

Remus franziu as sobrancelhas. "Do que você est-"

Apontando a varinha para as algemas que prendiam o dragão no chão, eu


berrei. "Relaxo!" As algemas se abriram imediatamente. "Venham!" Berrei

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outra vez e, ainda lançando feitiços contra os guardas, disparei em direção
ao dragão cego.

"Reg... Regulus! O que é que você está fazendo?!" Bradou James.

"Subam, subam, andem logo!" O dragão não percebeu que estava livre, o
meu pé encontrou a dobra de sua perna traseira e eu a usei para subir em seu
dorso. A pele do animal era dura como aço, ele nem mesmo pareceu sentir.
Eu estendi a mão e Sirius se guindou para o alto, ele deu a mão à Remus que
fez o mesmo e puxou James que montou atrás dos dois e, no segundo
seguinte, o dragão finalmente sentiu que estava livre.

Com um rugido, ele se empinou nas patas traseiras e eu firmei os joelhos


contra o seu corpo, agarrando-me com força e as asas do dragão se abriram,
derrubando, como pinos de boliche, os duendes aos berros, e o animal
levantou voo.

Eu na frente, Sirius segurando nas minhas costas, Remus preso à cintura dele
e James logo atrás. Deitados na costa do dragão, raspamos no teto quando o
animal foi para a abertura na passagem, perseguido pelos duendes que
atiravam adagas nele.

"Nunca sairemos daqui, é grande demais!" Gritou Remus, mas o dragão abriu
a boca e arrotou chamas explodindo o túnel cujos pisos e teto racharam e
desmoronaram. Usando a força, o dragão abria caminho com as garras e o
corpo.

Ensurdecidos pela explosão das pedras e os rugidos do dragão, só nos restava


nos agarrarmos na sua costa, nos protegendo de sermos atirados para longe
a qualquer momento. Então, eu ouvi Sirius berrar. "Defodius!"

Ele estava ajudando o dragão a alargar a passagem, cavando o teto, enquanto


o animal forçava para subir em direção ao ar fresco e se distanciar dos
duendes com seus guinchos e batidas de metal. O resto de nós o imitamos,
rompendo o teto a poder de feitiços.

"Por que sempre temos que explodir alguma coisa?!" James berrou, enquanto
o teto era estraçalhado.

"Bom, vocês três são os marotos, não são?!" Sorri, a varinha apontada para
cima.

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Sirius, que estava agarrado a mim, me encarou e sorriu. "Nós quatro somos."

Eu sorri, e a vontade de abraçar o meu irmão foi gigantesca. Mas não


tínhamos tempo para isso agora.

Nós passamos pelo lago subterrâneo e o dragão que rastejava e rosnava


pareceu sentir a liberdade e o espaço à sua frente, enquanto a passagem era
entupida pelo movimento da cauda comprida e por grandes pedaços de rocha.
O ruído metálico produzido pelos duendes foi ficando mais abafado e, à
frente, as chamas expelidas pelo dragão abriram espaço para passarmos.

Então, com a força dos nossos feitiços somada à força do dragão, nós
finalmente abrimos uma saída da passagem para o saguão de mármore.
Duendes e bruxos gritaram e correram para se proteger, e o dragão encontrou
espaço para abrir as asas. Era um caos completo agora.

Ele girou a cabeça para o ar fresco exterior que sentia além e partiu comigo,
Sirius, Remus e James ainda agarrados ao seu pescoço. Ele abriu caminho
pelas portas de metal, deixando-as dobradas e penduradas, e se encaminhou
para o Beco Diagonal, de onde se lançou em direção ao céu.

"Para onde essa coisa está indo?!" Remus bradou.

"Não faço a menor ideia!" Gritei de volta.

Não havia como conduzir o dragão, o animal não via aonde estava indo, e eu
sabia que, se ele desse uma guinada ou virasse de barriga para cima em pleno
voo, nós não poderíamos nos agarrar às suas costas largas. Apesar disso, à
medida que ganhávamos altitude, e Londres virava abaixo de nós apenas um
mapa verde e cinzento, eu sentia um avassalador sentimento de gratidão por
uma fuga que pareceria impossível.

Deitado sobre o pescoço do dragão, eu me segurava com toda a força do


mundo, e o vento fresco acalmava a ardência na minha pele, as asas do
dragão abanavam lindamente o ar. Nas minhas costas, fosse por prazer ou
medo, eu não saberia dizer, Remus não parava de xingar, e Sirius e James
pareciam que iam chorar.

A questão de como nós irámos desmontar começou a me apavorar. Eu não


fazia ideia de qual momento o dragão escolheria para pousar, se é que
pousaria. Eu olhava constantemente para os lados, imaginando se sentiria a
marca queimar alguma hora.

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Quanto tempo levaria para Voldemort saber que tínhamos arrombado o cofre
da família Lestrange? Quando os duendes de Gringotes avisariam Bellatrix?
Quando avisariam que fui eu?! Com que rapidez perceberiam o que foi
roubado? E quando dessem por falta da taça? Voldemort viria atrás de mais
alguém que eu amava?

Eu não fazia ideia de que horas eram. O céu já estava escuro e o dragão
continuava voando. Todo o meu corpo doía com o esforço que eu estava
fazendo para segurar no animal. Até que por um milagre, o dragão começou
a descer gradualmente.

"Vamos ter que saltar na água!" Eu gritei, a voz contra o vento. Os três
assentiram e quando estávamos à uma altura boa o suficiente para não
morrermos com a queda, eu gritei. "AGORA!"

Eu me estiquei e me joguei no lago e eu bati com violência na água, subindo


até a superfície com dificuldade. Quando James, Sirius e Remus subiram das
profundezas do lago, cuspindo e tossindo, o dragão já estava longe, as asas
batendo com força para algum outro lugar no mundo.

Nadamos até a parte com grama, na beirada do lago. Sirius desmontou,


tossindo e tremendo de frio. James também tremia e ficou deitado na grama
por um bom tempo. Remus estava sem fôlego e passava os braços ao redor
de Sirius, tentando o aquecer também.

"Não quero voar nunca mais." Eu disse, com a voz trêmula. "Nunca mais
vou subir em uma vassoura."

Todos nós tínhamos queimaduras pelos braços e estávamos completamente,


mas precisávamos reunir toda a força que conseguíssemos para aparatar de
volta à casa de Pandora. James respirou fundo. "Vamos, peguem no meu
braço, eu levo vocês."

"Você está brincando?!" Sirius disse. "Temos que aparatar todos juntos!"

"Sirius tem razão, Prongs," Falei. "Não estamos fortes nem para apatarmos
sozinhos, quem dirá levando o resto."

"Então..." Remus tossiu. "No três. Tudo bem?"

Nós assentimos, ainda encharcados, exaustos e machucados. Quando a


contagem acabou, nós aparatamos. A sensação foi horrível. Cair no chão da

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frente da casa de Pandora foi como um alívio por sabermos que não
precisaríamos mais aparatar para lugar nenhum.

Ela abriu a porta de uma vez, os olhos assustados quando nos viu deitados
no chão. "Meu Deus, o que foi que aconteceu?! Vocês.... vocês estão com a
pele toda machucada!" Pandora foi até nós e nos ajudou a levantar, nos
levando para dentro de casa. Eu e James nos jogamos em seu sofá, os olhos
pesados e cansados. Sirius se jogou em uma das poltronas e Remus na outra.

Pandora veio até cada um nós com sua varinha e essência de ditamno nas
mãos, para curar os machucados. "Me contem tudo. Agora."

Depois de contarmos como passamos por uma cascata, como destruímos


Gringotes montados em um dragão que voou conosco nas costas por muito
tempo e como quase morremos dentro do cofre, finalmente terminamos de
falar.

Eu respirei fundo. "Mas o lado bom..." Retirei a taça de dentro das vestes.
"Conseguimos."

"Isso!" Pandora deu um soco no ar em comemoração. "Não se preocupem,


as queimaduras não são sérias, vão cicatrizar rápido.."

"Você é brilhante, Pandora," James suspirou. "Realmente brilhante."

"Eu realmente preciso de um banho." Sirius disse, se levantando da poltrona.


"Meu cabelo está horrível."

"Eu preciso ver meu filho e minha esposa." James disse.

"E eu preciso ver Mary." Falei, firmemente.

"Podem ir vocês," Remus se afundou ainda mais na poltrona, coberto por um


lençol grosso e quente. "Eu só preciso de um cigarro e uma barra de
chocolate."

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Capítulo 31: Cicatrizes

É claro que eu sabia que era perigoso. Acabar de roubar uma horcruxe de um
lugar tão vigiado como Gringotes era como pedir para Voldemort e os
comensais da morte intensificarem sua busca por mim. Moody havia me
dado instruções muito precisas de que os únicos lugares em que eu deveria
estar era ou na casa de Sirius, ou na de James ou na de Pandora. E mesmo
assim, ele preferia que eu me mantivesse em casa, porque nenhum outro
lugar era seguro.

Então, é claro que eu sabia que era perigoso ir até a casa de Mary apenas
algumas horas depois de toda aquela confusão. Eles já haviam tentando
atacá-la duas vezes e por muito pouco não a mataram na última. Tudo isso
porque ela se recusou a dizer onde eu estava.

Mas, honestamente, o que não era perigoso no meu amor por Mary? O que
não era perigoso em ser um puro sangue procurado por comensais da morte
apaixonado por uma nascida trouxa que é um imã de perigo? O que, na minha
vida, não tem sido perigoso nos últimos dezenove anos?

Eu estava pronto para abrir todo o meu coração para ela. Estava pronto para
deixar vir à tona tudo que mantive trancado dentro de mim por toda a minha
vida. Para ela me amar como disse que amava, ela teria que conhecer todos
os meus lados. Só assim eu teria certeza. Só assim eu poderia confiar que ela
realmente não me deixaria. Eu precisava mostrar todos os demônios para ter
certeza de que, apesar deles, ela ainda via luz.

Desaparatei na sacada do quarto dela, à uma da manhã em ponto. "Mary?"


Bati no vidro da janela grande em seu quarto que dava para onde eu estava.
Ela abriu um sorriso enorme quando me viu, mas quando seus olhos
abaixaram para os meus braços, o sorriso se desfez e ela abriu a janela
rapidamente.

"Meu Deus, o que... o que aconteceu com você, Reg?!" Ela me puxou para
dentro do quarto, a voz carregada de preocupação enquanto examinava a
vermelhidão nos meus braços.

"Não foi nada demais, na verdade... Pandora disse que não é sério,"
Tranquilizei-a. "Vai curar rápido."

"Com o que você se queimou?!"

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"Eu fui à Gringotes hoje," Expliquei, enquanto ela me levava para sentar na
sua cama. "A taça estava no cofre de Bellatrix, mas... mas não poderia ser
tão fácil assim pegar, não é?" Sorri fracamente, mas Mary continuou séria.

"Foi muito difícil?" Ela perguntou, quase num sussurro, as sobrancelhas


franzidas de preocupação.

"Não se preocupe comigo," Acariciei a bochecha dela com o polegar. "Não


sou fácil de derrubar, você sabe."

Ela encostou suavemente os lábios nos meus, me deixando matar toda a


saudade que eu estava de poder tocá-la. Eu nem me lembrava mais de como
era estar triste. Quando ela abriu um pouco mais os lábios, convidando a
minha boca, a minha mente deu um estalo e eu recuei alguns centímetros.

"O que foi?!" Ela perguntou, confusa.

"Eu..." Hesistei um pouco. "Eu quero que você me escute, só... apenas me
escute."

Ela assentiu, um pouco hesitante. Eu me levantei da cama, ficando de pé


enquanto ela ainda estava sentada. Andei algumas vezes pelo quarto, um
pouco nervoso. Mary estava apenas me observando. Respirei fundo e,
encarando as minhas mãos porque olhá-la nos olhos tornaria a coisa toda
mais difícil, eu comecei.

"Eu tinha onze anos..." Engoli em seco. "Eu tinha onze anos quando o meu
pai me machucou pela primeira vez."

Os olhos dela se arregalaram levemente. "Reg, o que..."

"Só, por favor, me deixe continuar." Interrompi, ainda sem olhá-la nos olhos.
"Não foi uma maldição, não ainda. Eu havia pegado um galeão do bolso das
vestes dele sem ele ver porque queria comprar um... um doce, eu acho, não
me lembro direito. Era uma loja que ficava perto de casa e mamãe nunca
deixava eu ou Sirius comermos açúcar porque ela dizia que nenhum Black
deveria ser gordo. Ele ficou furioso e apagou um dos seus cigarros no meu
braço."

Me permiti olhar rapidamente para Mary e eu podia ver que ela estava
desesperada para dizer algo. Ela levou sua mão à boca, completamente
horrorizada, eu já conseguia ver os olhos dela molhados e eu ainda nem havia

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chegado na pior parte. Desviei o olhar do dela mais uma vez e, esfregando
minhas mãos, comecei a andar pelo quarto.

"Uma vez," Comecei de novo. "Mamãe ficou muito brava comigo, brava de
verdade. Eu tinha doze e Sirius treze. Ela me deixou sem comer por quase
vinte quatro horas, trancado dentro do meu quarto. Então, Sirius tentou me
dar um pouco do jantar escondido quando meus pais haviam ido dormir, mas
eles não... bom, eles não haviam realmente ido dormir." Fiz uma pausa.
"Quando nossa mãe viu, ela arrastou Sirius pela orelha para o quarto dele e
se trancou com ele lá dentro. Ele gritou por um tempo e depois apenas...
parou de gritar. Ele nunca me disse o que aconteceu lá dentro, ele nunca
conseguiu me dizer. Mas acho que no fundo, eu sabia."

Mary estava completamente assustada, os olhos cheios de pena e


preocupação. "Você não tinha ninguém para contar o que acontecia lá
dentro?!"

"Eu tinha Kreacher," Falei, arqueando as sobrancelhas. "Mas não é como se


ele fosse se rebelar contra os próprios senhores. Ele não tinha coragem, e
nem eu."

"E Pandora?"

Respirei fundo antes de continuar a história. "No ano em que entrei em


Hogwarts, mamãe me instruiu a não fazer amizades com ninguém que não
fosse da Sonserina. E apesar de Corvinal não ser tão ruim quanto Grifinória,
ainda era uma má ideia. Ser amigo de Pandora foi uma das coisas mais
perigosas que fiz no meu primeiro ano, porque a qualquer momento mamãe
poderia entrar em cena e fazer algo realmente ruim. Então, eu... eu apenas
nunca deixava ela fazer nada para me defender ou algo do tipo, porque tinha
medo do que minha mãe poderia fazer com ela."

"Que vadia." Mary rosnou. Eu sorri fracamente.

"Pandora tentou falar com Dumbledore algumas vezes, mas aparentemente


ele não podia fazer nada porque eu ainda era menor de idade e toda vez que
os Black eram investigados, eles nunca conseguiam provas de verdade."

"Por isso você não confia neles." Mary afirmou. "Por isso você nunca
informa Dumbledore quando acha alguma coisa."

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"Sim." Assenti. "Por isso sempre tento fazer tudo sozinho. Porque aprendi
que não posso confiar em ninguém mais do que em mim mesmo."

Ficamos em um curto silêncio e Mary sussurrou amigavelmente. "Você pode


continuar."

"Você sabe o que significa..." Engoli em seco, enojado com a frase.


"Toujours Pur?!"

"Sempre puro." Ela me olhou atentamente. "Fiz aulas de francês durante um


verão."

"Esse é meio que um... um mantra, pode-se dizer," Continuei a andar no


quarto. "Um mantra da Mais Nobre e Antiga Casa dos Black. Por isso Sirius
e Andy foram literalmente queimados da família, porque foram contra isso."
Fiz uma pausa. "Sempre puro quer dizer... quer dizer que você precisa
sempre se manter distante daqueles que "sujam" o próprio sangue. Sejam
eles nascidos trouxas, mestiços ou até puro sangues que se aliam a quem não
é puro sangue."

"Imagino que você nunca pensou na possibilidade disso acontecer." Ela


disse, gesticulando para nós dois.

"Não. Nunca." Balancei a cabeça. "Mary, as coisas em casa sempre foram


ruins, não posso negar isso. Mas Sirius era o herdeiro direto, o primeiro filho.
Então, eles meio que me deixavam em paz porque estavam preocupados em
destruir a vida dele, se é que você me entende." Me sentei na beira da cama,
pronto para chegar na parte ruim da história. Encarei as minhas mãos. "A
coisa piorou quando ele saiu de casa."

Mary viu a mudança repentina na minha voz e chegou perto de mim


rapidamente, apoiando o queixo no meu ombro e passando uma das mãos no
meu cabelo. "Tudo bem se você não quiser falar sobre isso, Reg..."

"Não, e-eu preciso..." Insisti, a voz um pouco trêmula. "Preciso que você
saiba de tudo."

"Não tem nada que você me conte que mude o que eu sinto por você." Ela
assentiu, ainda com o olhar preocupado. "Pode dizer."

"Quando Sirius saiu de casa," Voltei a dizer. "Minha mãe quis esquecer
totalmente da existência dele. Ela dizia para todo mundo que eu era filho

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único e que eu seria o maior orgulho da casa dos Blacks. Então, ela dedicou
todo o tempo possível para me transformar no herdeiro perfeito. Ela cortou
o meu cabelo, mudou todo o meu guarda roupa, me obrigou a passar mais
tempo com Bellatrix, cuidou da minha alimentação..."

"Da sua alimentação?" Mary franziu a testa.

"Lembra o que eu te disse sobre ela nunca deixar eu comer açúcar porque
queria que eu continuasse com o corpo perfeito?" Ela assentiu. "Quando eu
virei o herdeiro, isso piorou muito. Principalmente se eu sentisse aquela coisa
no meu peito que sinto às vezes. A falta de ar, a sensação que as paredes
estão diminuindo..."

"Ansiedade." Mary afirmou. "Você tem ansiedade, Reg."

"É, acho que... acho que Carter falou algo sobre isso," Falei. "Ele me ajudou
muito a entender essas coisas porque ele estuda sobre isso em Nova York.
Tem coisas que eu nem sabia que havia um nome, você acredita?"

Mary sorriu. "Fico feliz que vocês tenham virado amigos, mas ainda preferia
que não tivessem se pegado."

Isso me fez sorrir um pouco, mas meu sorriso se desfez quando voltei à
história. "Um dia, ela me disse que eu deveria apenas dar um jeito nisso
sozinho e que se eu quisesse comer, eu deveria apenas..." Fiz uma pausa.
"Deveria apenas enfiar um dedo na garganta e resolver isso do jeito fácil."

Mary levou uma das mãos a boca e uma lágrima escorreu do seu olho. "Reg,
você...?"

"Eu fiz." Admiti, rapidamente. "Eu fiz e me arrependo muito disso. Eu tinha
quinze anos e era um idiota. Eu achava que ser um herdeiro perfeito para os
meus pais e conseguir ser um comensal da morte ia ser o ponto máximo da
minha vida. Eu passei a achar isso depois que Sirius foi embora. Quando a
pessoa que eu mais admirava me deixou, eu comecei a achar que nada do
que eu acreditava ser o certo estava realmente certo. Então, sim, houve um
tempo em que eu realmente quis a marca."

"Eu já imaginava isso." Mary disse, quase num sussurro. "Lembro de você
em Hogwarts... Com Snape, Barty, Mulciber... Perdi as contas de quantas
vezes eles me chamaram de sangue-ruim nos corredores."

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"Eu me lembro." Disse, e Mary me encarou. "Me lembro de cada uma das
coisas ruins que eles fizeram na minha frente e eu não fiz nada. Me lembro
de você, de Lily... o que falavam de vocês pelas costas... Eu mesmo já falei
muitas daquelas coisas."

"Eu sei que não é o que você realmente pensa." Mary disse, seriamente.

"Mas não muda o fato de eu ter dito." Respondi. "De qualquer forma, quando
eu fiz dezesseis anos, um pouco antes de eu receber a marca... Eu tentei
escrever à Sirius, tentei dizer que precisava de ajuda para sair de lá."

"Você tentou?!" Mary arregalou os olhos. "Mas nós achávamos que você o
odiava."

"É o que nossos pais queriam que ele pensasse." Respondi, dando de ombros.
"Mas minha mãe conseguiu interceptar a carta e ela nunca chegou à Sirius.
Aquela noite foi a primeira vez que eles me torturaram de verdade."

"Houveram muitas vezes?" Mary disse, pondo uma mão no meu ombro, a
testa franzida de preocupação.

"Sim." Sussurrei, encarando minhas mãos. "Muitas."

"Mas quando você recebeu a marca..." Mary perguntou. "Eles não te deixara
em paz? Quero dizer, você já havia feito o máximo que podia..."

"Não existia 'máximo' para a minha mãe." Respondi, balançando a cabeça.


"Para ela, eu sempre tinha que fazer mais. E quando alguma dúvida surgia
na minha mente sobre querer ou não fazer isso, Barty estava lá para me
convencer que era isso que eu queria e que só assim nós dois estaríamos
juntos para sempre."

"Barty."Mary disse, sombriamente. "Achei que não gostasse de falar sobre


ele."

"E não gosto." Balancei a cabeça. "Mas preciso que você saiba. Apesar de
que Pandora deve ter contado a maior parte." Mary apenas assentiu. "Não
era amor. Nem da minha parte, muito menos da dele. Mas na época, eu não
tinha ninguém. E me agarrava ao que eu tinha com ele com toda a minha
força. Então, não foi fácil aceitar que mais uma pessoa que eu gostava fez
isso comigo."

400
"Barty e Sirius são completamente diferentes, Reg."

"Eu sei disso hoje." Disse, encarando-a. "Mas na época, não sabia. E quando
ele... quando ele me encontrou no Três Vassouras, eu quis que ele me
matasse. Eu quis que ele me matasse porque preferia isso do que ele
conseguir me ter daquela maneira de novo. Eu preferia que ele me matasse
do que encostasse aquelas mãos nojentas em mim outra vez."

"Você pensa muito nisso?"

"Quase todos os dias." Respondi, rapidamente. "Ele não chegou a realmente


fazer algo além de passar a mão em mim, mas... mas ainda sim, não consigo
não pensar nisso às vezes."

"Não foi sua culpa." Mary me encarou, seriamente. "Você sempre foi bom
demais para ele, Reg. Você é mais do que o que ele fez com você."

"Depois que fiz a marca, eu tive que ir a esses..." Fiz uma pausa, enxugando
rapidamente uma lágrima da bochecha. "A esses ataques."

Mary estremeceu um pouco, a mão no meu ombro tremeu.

"Eu já torturei pessoas, Mary." Disse, sem conseguir olhá-la nos olhos. "Era
elas ou eu. Nunca matei ninguém, mas já ajudei a sequestrar, a torturar... Já
invadi casas, bares, ruas... Já explodi vilas e lugares que pessoas inocentes
moravam..." Eu estava chorando agora, o nó na minha garganta maior do que
nunca. "Eu nunca disse isso à Sirius, mas eu sei que ele imagina. Eu nunca
gostei de fazer isso, eu juro. Mas a única vez que eu me neguei a fazer... a
minha mãe fez isso."

Subi uma das minhas pernas na cama e enrolei a barra da calça até o joelho,
mostrando toda a minha panturrilha. A parte de trás cheias de cicatrizes finas
e brancas horizontais. Todas perfeitamente uma embaixo da outra. Como se
tivessem feito com uma régua.

Mary passou a mão cuidadosamente pela minha perna, os olhos marejados e


cheios de tristeza. Eu sentia nojo de mim mesmo. "Eu já tinha as visto antes,
mas... mas não imaginei que..."

"É." Falei, abaixando a calça rapidamente. "Imagino que Sirius tem algumas
também..." Puxei a minha varinha de dentro do coturno que Andy havia me
dado de presente que eu estava calçando e a passei por cima do meu braço

401
esquerdo, revelando uma marca escura e circular, do tamanho de uma
bolinha de gude, bem em cima da minha mão. "Foi aqui que meu pai fez a
coisa do cigarro."

Mary pegou minha mão suavemente, passando o polegar por cima do círculo.
"Achei que não desse para cobrir cicatrizes com magia."

"Cicatrizes mágicas não, mas meus pais não se limitavam só a isso."


Respondi. "Meus pesadelos são sobre isso. Sempre que tenho pesadelos, eles
me colocam de volta na mansão, de volta às mãos deles. E tudo parece...
parece impossível de se escapar."

"Odeio que você tenha tido que passar por esse tipo de coisa." Ela disse.
"Ninguém deveria passar por isso."

"Por isso, não foi fácil dizer à você como... como eu me sentia de verdade.
Porque sempre que eu demonstrava isso à alguém, essa pessoa me mostrava
que eu estava errado. E eu não cresci sendo ensinado a confiar nas pessoas,
não cresci sendo ensinado a valorizar meus sentimentos. Estou dizendo tudo
isso à você porque quero que você tenha certeza se realmente me ama,
mesmo sabendo de tudo isso que acabei de contar sobre mim."

Mary virou o meu braço lentamente, expondo a marca negra apagada no meu
pulso e uma cicatriz pequena na pele, por cima da marca. Ela franziu a testa.
"Também nunca vi isso."

"Tentei tirar essa coisa uma vez." Expliquei. "Tudo que consegui foi muito,
muito sangue e uma bronca de Pandora porque isso poderia ter me matado."

Virei o rosto para o outro lado, envergonhado comigo mesmo. Tentei puxar
o meu braço, mas Mary o segurou e virou o meu queixo com uma das mãos.
Ela usou o polegar para enxugar uma lágrima no meu rosto. E levou,
lentamente, a minha mão à sua boca. Beijando suavemente a parte de cima
da minha mão com a cicatriz do cigarro. O rosto dela estava molhado, o que
molhou minha pele também. Ela levantou o rosto para mim e me olhou nos
olhos.

"Não precisa se envergonhar das suas cicatrizes, Reg. Elas são minhas
também agora."

Foi quando percebi. Foi quando finalmente percebi. Era ela. Sempre foi ela.

402
Segurei o rosto dela com uma das minhas mãos e sorri fracamente. "Como
eu posso merecer você?" Ela sorriu, levando uma mão para segurar a minha
que estava sob o seu rosto, encostei a testa na dela, nossos olhos fechados,
sentindo a respiração um do outro. "Me apaixonar por você foi tão fácil,
Mary... foi como cair de um penhasco, não precisei de esforço nenhum.
Tentar não amar você foi o oposto, foi como tentar subir de volta apenas com
as mãos, usando toda a força do mundo."

Mary se afastou do meu rosto, os olhos grandes castanhos, arregalados e


brilhando, enquanto eu ainda segurava seu rosto. "O que você disse?"

"Disse que tentar não amar você foi a coisa mais difícil que já tive que fazer.
E eu já fiz muitas coisas muito difíceis, para ser sincero." Falei, sorrindo.
Mary me olhava ainda com os olhos brilhando e as pálpebras tremendo.
Levei minha outra mão ao rosto dela, segurando-a agora com as duas. "Eu
amo você. Eu amei você desde que dançamos juntos e amei você em todas
as outras vezes que me fez dançar. Amei você quando você teve coragem de
me dizer o que sentia, mesmo que não tivesse certeza que eu diria de volta.
Amei você quando percebi que você estaria disposta a fazer a burrice de
morrer no meu lugar apenas para não me encontrarem. Amei você todas
essas vezes e amo você mais do que nunca agora."

Mary me deu um sorriso enorme e eu não pude evitar sorrir também. "Não é
burrice, seu idiota. Você até que vale o risco, às vezes."

Encostei meus lábios nos dela rapidamente, deixando claro a vontade que eu
estava todo esse tempo de tê-la nos meus braços outra vez. O beijo ficou
mais forte e feroz com o tempo, até eu dar um beijo no pescoço dela, fazendo
ela estremecer nos meus braços. Abaixei uma das alças do seu vestido e dei
um beijo no seu ombro nu. Ela desceu a mão do meu pescoço até o meu cinto
e me deu um sorriso malicioso.

"Você não vai fugir de mim nunca mais." Ela disse, voltando a me beijar e
abrindo a fivela do meu cinto.

Passei a noite no quarto de Mary. Eu estava tão cansado que apenas caí no
sono quando terminamos. Mary enrolou a perna por cima de mim e eu a
abracei enquanto dormíamos. Poderia ficar assim o resto da minha vida. Não
precisava de mais nada além dela.

403
Quando o dia começou a clarear na janela do quarto dela, eu acordei antes.
Ela estava lá, dormindo como um anjo feito apenas para mim. Dei um beijo
no topo da sua cabeça e ela se mexeu, ainda sonolenta.

"Dormiu bem?" Perguntei, sorrindo para ela.

"Mm..." Ela gemeu, se acomodando no meu pescoço. De repente, ela se


levantou de uma vez, os olhos arregalados. "Reg! Meus pais!"

"O quê?!" Meus olhos se arregalaram também. "Achei que eles não
estivessem aqui!" Me levantei rápido, procurando a minha calça. "Merlin,
preciso ir para casa!"

"Não." Mary disse, seriamente. Segurando o meu pulso. "Não quero que
você vá embora."

"Mas os seus pais..."

"Eles precisam aceitar você alguma hora." Ela disse, ainda me segurando.
"Mas, sabe, é melhor se vestir. Você não vai querer falar com eles de cueca,
eu suponho."

"Rá, rá! Muito engraçado!" Fiz uma cara feia, afivelando meu cinto. "Seu
pai me odeia e provavelmente vai me matar quando me ver."

"Meu pai não odeia ninguém." Ela sorriu. "Ele só precisa ver o quanto você
gosta de mim."

Mary deu alguns minutos antes de sairmos do quarto para não suspeitarem
que eu havia passado a noite lá. Meu coração estava quase saindo do peito
enquanto descíamos as escadas. Mary virou para mim algumas vezes e
gesticulou um 'Está tudo bem' com a boca, mas eu ainda estava sentindo que
ia morrer quando chegasse lá em baixo.

"Mary!" A mãe dela exclamou, pondo a mesa do café. "Pensei que você ia
acordar mais cedo hoj-" Ela parou quando me viu, a boca abrindo algumas
vezes, os olhos arregalados.

"Bom dia, senhora MacDonald." Acenei com a cabeça, educadamente. Ela


continuava atônita.

404
"Rose, você sabe onde está o meu-" O pai de Mary apareceu distraído atrás
de nós e parou quando me viu, as sobrancelhas se franzindo de raiva. "O que
ele está fazendo aqui, Mary?!"

"Bom dia, senhor, eu... eu apenas vim ver como Mary está, já estou indo para
casa..." Disse, timidamente.

"Não!" Mary me barrou, se virando para os seus pais. "Pai, Regulus é meu
namorado."

"O quê?!" Os pais de Mary e eu dissemos em uníssono.

"Mary, você está querendo que eu morra?!" Sussurrei no ouvido dela,


nervoso.

"Não vou permitir que você namore um comensal da morte!" Ele vociferou.
"Não vou permitir isso nunca!"

"Perdão, senhor," Me intrometi, arriscando minha garganta. "Eu não sou um


comensal da morte. Eu realmente me preocupo com Mary. E se o senhor
permitir, eu vou protegê-la com tudo que eu puder. O senhor tem a minha
palavra."

"Ela precisa de proteção de você!" Ele apontou o dedo para mim.

"Pai!" Mary gritou. "Se não fosse por ele, eu nunca teria saído da mansão
Lestrange! Eu nunca teria voltado viva! Regulus se arriscou por mim! Vocês
devem um voto de confiança à ele!"

"Querido," A mãe de Mary pôs a mão nos ombros do marido. "Talvez nós
devêssemos... dar uma chance ao rapaz, você não acha? Sabe que nossa
família é contra julgamento."

"Sim, pai!" Mary assentiu rapidamente. "Dê uma chance!"

O pai de Mary me analisou dos pés à cabeça, os olhos cerrados. Mary esperou
ansiosa por uma resposta. Até que ele ergueu os braços. "Tudo bem. Você
tem uma hora para me ganhar, garoto."

Respirei aliviado. "Não vou decepcioná-lo, senhor."

405
Mary deu pulinhos de alegria e jogou os braços ao redor do meu pescoço.
Todos nos sentamos na mesa do café, um pouco tímidos no início. Menos
Mary, que elogiava até como eu passava a geleia na torrada.

O pai dela estava na defensiva no início. Mas quando eu falei sobre minha
posição no time de quadribol da Sonserina, ele me deu mais espaço para
falar. Ele era louco por esportes e achava o quadribol impressionante. Eu
expliquei à ele tudo que ele tinha dúvidas sobre o jogo e não demorou muito
para ele finalmente sorrir para mim. Tudo correu tão bem que eles até
deixaram eu passar o resto do dia com Mary. O que foi ótimo porque eu não
queria desgrudar dela nunca mais.

"Preciso mandar um patrono à Sirius para ele não se preocupar comigo,"


Disse, quando subimos para o quarto. "Vou dizer que vou voltar à noite."

"Acho que ele não vai se importar." Mary disse, abraçando a minha cintura.
"Hoje é noite de lua cheia, não é? Ele e James vão estar com Remus."

"Na verdade, apenas ele e Remus," Respondi. "James vai estar com Lily e
Harry para compensar o nervoso que ele fez ela passar quando fomos à
Gringotes."

Passei o resto do dia com Mary. Nós não saímos de casa, porque levando em
conta a situação, era muito perigoso. Mas passamos o dia juntos, roubando
comida da geladeira, assistindo filmes na caixa mágica trouxa que ela tinha
sala. Subimos para o quarto de três em três horas porque ela começava a
querer tirar a minha camisa no meio da sala e não acho que isso ajudaria o
pai dela a simpatizar mais comigo.

Então descíamos novamente para a sala, mais sorridentes do que antes. E


tomávamos todo o sorvete da geladeira, fazíamos o jantar e preparamos a
sobremesa. Quando Mary se sentou na bancada da cozinha lambendo a
colher de chantilly, eu quase me desconcentrei com a visão.

"Se você continuar a me olhar enquanto lambe isso," Falei, mexendo na


panela no fogão. "Vou levar você para o quarto outra vez."

Ela sorriu e me puxou pela gola da camisa, me pondo de frente para ela. Ela
chegou para frente, ainda sentada na bancada, e me beijou ferozmente. Me
prendendo com as pernas enroladas na minha cintura e roçando em lugares
muito, muito sensíveis abaixo da minha cintura. Eu apertei uma das suas
coxas e subi a mão para a sua bunda, a empurrando para deixar ela mais

406
próxima de mim. Levei minha outra mão até o seu pescoço e ela gemeu baixo
quando o meu indicador passou por entre as pernas dela.

"Quarto..." Ela ofegou. "Agora."

E foi assim o dia inteiro. Eu sentia como se já estivéssemos casados. Eu


poderia passar o resto da minha vida dentro daquela casa com ela, eu não me
importaria.

Depois do jantar, eu me despedi dos pais dela. O seu pai,


surpreendentemente, apertou a minha mão e a sua mãe me deu um sorriso
caloroso. Acho que eu passei da passei da parte difícil.

"Não queria que você tivesse que ir..." Ela disse, abraçada à mim, quando
me levou até a porta. "Queria que você ficasse."

"Já são quase nove da noite. Sirius e Remus já saíram. Não é seguro deixar
a casa sem ninguém." Falei, esfregando a ponta do meu nariz no dela. "Mas
eu volto."

"Você promete?"

"Claro que prometo." Respondi. "É como você disse. Não consigo fugir de
você outra vez."

Ela sorriu, e me beijou outra vez, me deixando ir. Quando desaparatei em


casa, Sirius e Remus realmente já haviam ido. Pensei em como me sentiria
sozinho naquela casa vazia depois de passar o dia tão feliz com Mary. Tentei
ir dormir cedo depois de tomar banho para não ter que pensar muito, mas me
lembrei que precisava ler os livros para Dumbledore.

Merlin, eu me sentia na escola outra vez. Tendo que estudar se não o diretor
me dava detenções. Pelo menos, profecias não eram um assunto chato. Eram
muito interessantes na verdade, apesar de eu não ter achado nada que
Dumbledore esteja procurando realmente. Ler tanto me deu sono, então eu
consegui finalmente dormir.

Sem pesadelos dessa vez. Sonhei com Mary.

***

407
"Reg! Reg! Abra a porta!" Era a voz de Lily, batendo na porta do meu quarto.
"Reg, abra logo!"

Abri de uma vez, o rosto completamente atordoado de sono. "Deus, Lily,


como você-"

"A lareira, obviamente!" Ela disse. "Vá se vestir, você precisa vir comigo até
St. Mungus."

"Por quê?! O que aconteceu?!" Perguntei, confuso. "Harry está bem?!"

"Os lobos de Greyback..." Ela disse, a voz trêmula e cheia de pavor.


"Atacaram ontem à noite."

Meus olhos acordaram na mesma hora. "Não... não, eu avisei sobre o ataque
que aconteceria... Andrômeda se escondeu com Narcissa..."

"Não, Reg, Draco e Narcissa estão bem," Ela balançou a cabeça. "Deve ter
sido porque vocês foram até Gringotes, ou... eu não sei, Reg, não sei!" Ela
parecia completamente exausta e perdida.

"Lily." Segurei-a pelos ombros. "Quem se machucou?"

Lágrimas se formaram em seus olhos. "Greyback e os lobos atacaram Remus


e Sirius.".

408
Capítulo 32: Armadilha

Claramente Voldemort havia reagido com o roubo da taça do cofre de


Bellatrix. Ele não tinha como chegar à mim porque a casa de Sirius era
completamente cercada dos melhores feitiços de proteção e impossível de
ser localizada por outros feitiços, então pelo menos enquanto eu estava lá
dentro, eu estava seguro. Mas não significava que ele não poderia machucar
quem eu amava.

Remus não tinha a mesma sorte porque era obrigado a sair de casa uma vez
por mês e ir para a floresta à noite toda. Ele sempre insistia em ir sozinho
porque, no momento em que estávamos, não era seguro James e Sirius irem
com ele como faziam em Hogwarts. A guerra havia mudado tudo.

Depois que Lily e eu aparatamos para o St. Mungus naquela manhã, James
já estava lá. Sentado na recepção, os cotovelos apoiados nos joelhos e o pé
direito batendo sem parar no chão. Eles haviam deixado Harry com os pais
de Lily antes de virem para cá. Mary e Pandora apareceram logo depois, as
duas vieram correndo até nós, ansiosas por qualquer informação que
tivéssemos.

"Onde eles estão?!" Pandora perguntou, agitada.

"Não acordaram." James respondeu, sem levantar os olhos, encarando o


chão. Lily estava com um braço passado pelo seu ombro, mas ele mal parecia
sentir.

"E Marlene?!" Mary perguntou, franzindo as sobrancelhas. "O que ela diz?!"

"Ela está monitorando os dois, mas..." Engoli em seco. "Mas não faz ideia
de quando eles vão acordar."

"Já sabem o que aconteceu exatamente?!" Pandora perguntou.

"Não, apenas que foram lobisomens," Lily respondeu, finalmente desviando


os olhos de James. "Estão esperando eles acordarem para contarem. Moody
disse para avisá-lo assim que um dos dois abrir os olhos."

"Moody pode ir para o inferno." Resmunguei. "A primeira coisa que meu
irmão vai fazer quando abrir os olhos não é ser colocado contra a parede para
responder perguntas que provavelmente não mudarão em nada."

409
"Não seja difícil, Regulus." Pandora me repreendeu. "Foi um ataque. Ele está
apenas fazendo o trabalho dele."

"E o que Sirius ou Moony podem dizer que vai fazê-los magicamente achar
Greyback e prendê-lo em Azkaban?!" Vociferei, me levantando da cadeira
para encará-la nos olhos.

"Você está agindo como uma criança! Está sendo tão infantil quanto uma!"
Pandora respondeu, aumentando o tom da voz. "Sei que eles não ajudaram
você no passado, eu estava lá! Eu vi isso! Mas as coisas são completamente
diferentes agora!"

"Não estou sendo uma criança, Pandora!" Respondi, o tom de voz alto agora.
"Você está grávida, você mais do que ninguém deveria estar preocupada com
o fato deles não fazerem nada! Ou quer que sua filha cresça como eu?!"

"Não ouse meter minha filha nisso." Pandora me fuzilou com o olhar.

"Não ouse você dizer o que meu irmão deve ou não fazer quando acordar."
Fuzilei-a de volta.

"Regulus, pare de ser um idiota!" James gritou, nos assustando. "Cale a boca
e se sente!"

Bufei alto, me jogando com força na cadeira. Mary percebeu o quanto eu


estava preocupado quando eu enterrei meu rosto entre as minhas mãos, os
olhos apertados. Ela se sentou ao meu lado, apoiando o queixo no meu ombro
e arrumando uma mecha solta do meu cabelo.

"Foi uma reação. Porque roubamos a taça." Sussurrei para ela. "Ele está
tentando pegá-los porque não está conseguindo me encontrar. Ele quer que
eu me entregue."

Mary ficou séria. "Não é sua culpa."

"Sei disso." Assenti, ainda sussurrando. "Mas as coisas vão piorar agora. Ele
vai atingir qualquer um que for importante para mim e eu não vou ficar
parado. Isso pode acabar em uma guerra real, varinha contra varinha,
comensais contra nós."

"Então, que assim seja." Ela assumiu uma postura corajosa, quase furiosa.
"Nós vamos lutar."

410
Tudo o que sabíamos era que nenhum dos dois estava acordado. Sirius havia
batido forte com a cabeça e quebrado o braço esquerdo, mas nenhuma marca
de mordida no corpo, apenas alguns arranhões no braço. Marlene nos
assegurou que ela poderia cuidar disso rapidamente, assim que ele acordasse.
Ela vinha até nós o tempo todo dar notícias sobre os dois. A situação de
Remus era pior.

Marlene usou vários termos médicos que nenhum de nós compreendeu


totalmente, mas basicamente Remus havia perdido uma quantidade absurda
de sangue na floresta devido à demora que encontraram os dois. O corpo dele
estava coberto de cortes e o maior foi na lateral do seu rosto, que ia desde a
sua orelha esquerda até o queixo. Ele também havia batido a cabeça e
Marlene parecia aflita sempre que vinha nos dar alguma notícia sobre ele.

"Marls," Chamei-a, a puxando para um canto no hospital. "Tem algo que


você não está nos contando ou é apenas impressão minha?"

Ela suspirou, as testas franzindo, dando uma rápida olhada para ver se
ninguém iria ouvir. "Eles vão viver, Reg, se é isso que você quer saber..."

"Mas?!"

"Remus bateu a cabeça forte demais, sinceramente, não faço ideia de como
ele ainda está com o coração batendo, Reg." Ela me olhou seriamente. "Estou
com medo de que eu consiga consertá-lo por fora, mas não por dentro."

"Do que você está falando?!" Franzi a testa.

"Estou com medo dele acordar e não se lembrar de nada, Reg." Marlene
disse. "Se isso acontecer, ele terá que ficar aqui em St. Mungus por muito,
muito tempo."

Meus olhos se arregalaram. "Mas isso é realmente possível?! Q-Quero dizer,


ele pode esquecer de tudo?!"

"Talvez não tudo," Marlene respondeu. "Mas algumas coisas, sim. Não é
bom preocupar todos com isso, porque não sabemos se isso vai realmente
acontecer. Tenho quase certeza de que ele não vai se lembrar de quase nada
sobre o ataque. Essa é a melhor das hipóteses."

"E a pior?"

411
Marlene fez uma pausa, olhando mais uma vez se ninguém estava ouvindo.
"Na pior, ele não se lembra de nenhum de nós."

Eu estava aliviado que Sirius estava fora de perigo, mesmo sem entender
como o bastardo teve tanta sorte. Mas eu estaria mentindo se dissesse que
não estava preocupado com Remus. Eu não conseguia imaginar o horror que
seria se ele não se lembrasse de nada. Sirius não aguentaria a ideia de Lupin
não se lembrar que o amava. Ele simplesmente desmoronaria. James e Lily
não seriam diferentes. Seria quase como perdê-lo, mas ainda um pouco
melhor. Porém, ainda devastador.

E além disso, eu sentiria muito a falta dele.

Todos nós ficamos o dia inteiro no hospital. Pandora não me olhou nos olhos
nenhuma vez, mas eu poderia resolver isso depois. James continuava nervoso
e sem falar com ninguém. Lily também estava nervosa, mas tentava distrair
James às vezes. Mary não saía do meu lado. Fiquei me perguntando como
eles reagiriam se escutassem o que Marlene me disse. Se já estavam assim
sem saber, a suspeita de que a situação de Remus fosse pior do que
pensávamos pioraria tudo.

Já eram sete da noite quando Pandora voltou para casa porque Phil precisava
dela, depois de pedir para Lily avisá-la de qualquer coisa, e eu aparatei com
Mary até a casa dela, para garantir que ela chegasse em segurança.

"Não saia esta noite." Alertei, deixando-a na porta de casa. "O ataque foi
ontem e... bom, não quero que nada aconteça com você."

"Não se preocupe, vou ficar bem." Ela sorriu fracamente. "Você deveria se
desculpar com Pandora."

Revirei os olhos. "Não falei nada demais, ela é quem está sensível por causa
do bebê."

"Ela é sua melhor amiga, Reg," Mary me repreendeu. "Depois do que


aconteceu, me admira você estar tão disposto a brigar com seus amigos."

"Acho que você está certa." Sussurrei, olhando para baixo.

"Claro que estou." Ela sorriu, presunçosamente. "Me avise se algum deles
dois acordar, tudo bem?"

412
"Sim. Claro." Acenei com a cabeça, soltando a mão dela para deixá-la entrar.
"Eu te amo."

Ela virou a cabeça quando me ouviu, sorrindo. "Eu também amo você."

Depois que aparatei de volta para o hospital, não demorou muito tempo para
Marlene aparecer de novo na sala de espera do hospital. Os olhos fundos e
cansados, a roupa já amassada pelo dia longo de trabalho. Mas ainda sim, ela
conseguiu sorrir.

"Sirius está acordado."

Parecia que estávamos todos segurando o ar porque quando ouvimos a


notícia, suspiramos aliviados. James até se esqueceu que havia se irritado
comigo mais cedo e me puxou de repente para um abraço forte, quase
esmagador. O sorriso de Lily ia de uma orelha até a outra, mas ela o diminuiu
um pouco quando se direcionou à Marlene.

"E Remus?" Lily perguntou, a voz um pouco assustada. "Ele já..."

"Não." Marlene respondeu, rapidamente. "Ainda não."

Quando Lily se distraiu para olhar para James, Marlene e eu trocamos um


olhar rápido. Sabia o que ela queria dizer. Quanto mais cedo Remus
acordasse, mais cedo saberíamos como ele realmente estava. Era quase
tortura não poder dizer nada à James ou Lily.

"Vocês podem ver ele, se quiserem." Marlene sorriu, amigavelmente. Eu


assenti rapidamente, indo na frente. James pegou a mão de Lily e me seguiu.

Sirius e Remus estavam em salas separadas. O que era bom, eu acho. Porque
nós não conseguiríamos ver Remus tão imóvel e machucado e nem Sirius
conseguiria. O quarto era bem iluminado, tudo era branco e cheirava à álcool
e plástico de luvas de médicos. Sirius estava deitado, meio sentado, com o
braço esquerdo enrolado com uma atadura branca e alguns curativos no outro
braço e no pescoço. Nada do rosto. Ainda bem, Sirius ama o próprio rosto.

"Padfoot!" James gritou quando o viu, os olhos de Sirius pularam. "Ah,


cara!" Ele correu para abraçá-lo na cama, como uma criança.

413
"Ei, Prongs!" Sirius disse, a voz um pouco rouca. "Droga, cara, você poderia
ter trazido algo da Zonko's para mim ou algo assim, não é? A comida daqui
é uma merda."

"Seu idiota." Lily sorriu, bagunçando o cabelo de Sirius. "Você nos dá o


maior susto e pede por doces? Francamente."

Sirius deu de ombros sorrindo, até que seu olhar parou no pé da cama, onde
eu estava. "Reg!"

"Estou quase colocando uma coleira em você, seu bastardo!" Exclamei,


correndo para o lado dele para abraçá-lo. Deuses, fazia apenas dois dias que
eu não o via e estava quase morrendo de saudade.

Sirius gargalhou. "Cuidado aí, pirralho, ou vai quebrar meu outro braço!"

"Cale a boca!" Sorri de volta.

"E como está a cabeça, Padfoot?" James franziu um pouco a testa. "Marlene
disse que você realmente acertou ela com tudo."

Sirius levou a mão para sentir a parte de trás da sua cabeça. "Bom, acho que
ela resolveu isso. Estou sentindo apenas uma cicatriz agora."

"Isso é bom." Lily assentiu. "Quer dizer que você vai poder voltar logo para
casa."

"É, e nada de se meter em confusão outra vez!" Repreendi, encenando uma


cara brava.

"Diga isso para a moto que eu estou planejando comprar, Reg!" Sirius sorriu
travessamente.

"O quê?!" Exclamei, os olhos arregalados.

"Sim!" Sirius sorriu outra vez. Mas seu sorriso falhou e uma faixa de terror
passou pelos seus olhos. "Esperem um pouco, onde Moony está?! Nós
estávamos... estávamos na floresta juntos e..."

Coloquei uma mão no ombro de Sirius quando ele começou a ficar agitado.
"Não é bom você se mexer muito, Six."

414
"Vou avisar Mary e Pandora que ele acordou. E Moody também." Lily
sussurrou para James, eu a encarei fazendo uma cara feia. "Contem à ele."

Depois que Lily saiu, Sirius corria olhos entre mim e James, cheios de pavor.
"Regulus. Prongs. Onde Moony está?!"

"Ele está aqui também, Padfoot." James se apressou. "Está em outro quarto."

Os olhos de Sirius pareceram relaxar um pouco, como se pensasse 'Bom,


pelo menos ele está vivo'. Mas ele ficou tenso novamente. "O que Lily disse
para vocês me contarem?!"

Eu engoli em seco, pensando que eu sabia mais do que James, mas não podia
dizer. "Sirius, precisamos que você nos conte exatamente o que se lembra
que aconteceu na floresta." Disse, me sentando na beira da cama. "Remus
teve machucados mais sérios do que você, ele ainda não acordou."

"O- quê?! Mais sérios?!" Os olhos de Sirius se encheram de pavor. "Eu...


porra, eu deveria ter feito algo! Eu deveria tê-lo protegido!"

"Não, Pads," James assumiu uma voz triste. "Não foi sua culpa, você não
podia fazer muita coisa."

"Ele estava tentando me proteger." Sirius disse, quase num sussurro.

"Como assim proteger você?" Perguntei, atento. "O que exatamente


aconteceu?!"

"Eu me lembro perfeitamente." Sirius disse, os olhos distantes. "Nós


estávamos na floresta e Moony estava tendo uma lua cheia muito boa, na
verdade. Nós dois brincamos e corremos juntos, ele estava realmente feliz.
E eu também."

"Quando começou a dar errado?" James perguntou, tão atento quanto eu.

"Começou a dar errado quando ouvimos um uivo vindo de outro lugar da


floresta." Sirius respondeu. "Não me atraiu, é claro. Mas por mais que
Moony tenha cinquenta por cento do juízo perfeito quando está em forma de
lobo comigo ou com Prongs, ele ainda é um lobo. Ele simplesmente não
conseguiu evitar ir atrás."

"Uma armadilha." Conclui, olhando nos olhos de Sirius.

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"Uma armadilha." Sirius assentiu. "Quando nós chegamos lá, haviam quatro
lobos. Mais ou menos, do mesmo tamanho de Remus."

"E Greyback?!" James perguntou. "Ele estava lá?"

Sirius negou com a cabeça. "Apenas os lobos. Eles reconheceram Moony, é


claro. Pareciam furiosos por terem percebido que ele era um infiltrado de
Dumbledore naquela época, mas... Mas não avançaram nele."

"Eles avançaram em você." Falei, percebendo o que realmente havia


acontecido.

"Sim..." Sirius confirmou, sombriamente. "Era como se eles nem tivessem


visto Moony. Como se apenas eu estivesse lá. Eles foram direto para cima
de mim. Bom, exceto um... Teve um que não me atacou diretamente, parecia
estar hesitante, ou algo assim... Se Remus não tivesse se metido no meio, eu
poderia ser um lobisomem agora... Ou pior, poderia estar morto."

"Mas," Eu disse, franzindo o cenho. "Como você bateu a cabeça?! Se Remus


entrou no meio..."

"Moony tentou atacar eles e tirá-los de cima de mim," Sirius respondeu.


"Mas eles pareciam determinados a me matar. Então, Moony não teve
escolha. Ele me empurrou de uma vez para trás com uma das patas, para me
afastar dos outros lobos e enfrentá-los sozinho. Eu queria brigar, queria
proteger Remus deles! Mas quando ele me empurrou, eu bati com força em
uma árvore atrás de nós e... e eu simplesmente apaguei. Quando acordei, já
estava aqui. Com um braço quebrado e uma cicatriz na nuca."

"Eles estavam atrás de você porque você é meu irmão." Disse, seriamente.
"Tudo, tudo faz sentido."

"Era para eu estar machucado, não Moony." Sirius entristeceu, a voz trêmula.

"Não diga isso, Pads," James franziu as sobrancelhas. "Remus protegeu você
porque ele te ama. Ele sabe que você faria o mesmo por ele."

"Preciso achar a outra horcrux o mais rápido possível..." Comecei a falar


sozinho, me levantando da cama. "Preciso procurar mais, saber onde
procurar... Não tem mais nada sobre as casas de Hogwarts, ou sobre o
passado dele... Como se procura algo que você nem sabe o que é?!"

416
"Não se preocupe, Reg," James disse. "Nós vamos encontrar, como
encontramos todas as outras."

"Você destruiu a taça?" Sirius perguntou.

"Não, eu... eu passei o dia ontem com Mary, voltei para casa apenas a noite,"
Respondi. "Acordei com Lily batendo na porta do meu quarto feito louca."

"Não destrua." Sirius disse, raivosamente. "Eu vou destruir aquela coisa. Foi
o meu Moony quem saiu machucado disso."

"Moony vai ficar bem, Padfoot," James disse, amigavelmente. "Ele sempre
fica , você sabe."

"Mm, Prongs, você pode... me deixar a sós com Sirius um minuto?"


Perguntei, um pouco desconfortável.

"Sim, claro! Vou ver se Lily conseguiu falar com Moody." James disse, se
levantando e indo até a porta.

"Tudo bem, conheço você," Sirius estreitou os olhos. "Me diga, o que você
sabe que James não pode ouvir?"

"Sinceramente, não era nem para você saber disso," Respondi. "Marlene me
disse que não era bom preocupar todo mundo.

Sirius ficou tenso novamente. "Preocupar todo mundo? Regulus, se você


sabe algo sobre Moony..."

"Olhe," Comecei. "Marlene está preocupada. A batida na cabeça dele foi


muito forte. Ela... ela está preocupada que Remus não se lembre de algumas
coisas..."

"Que tipo de coisas, Regulus?" Sirius perguntou, seriamente.

"Ela acha que ele provavelmente não vai lembrar do ataque," Respondi,
devagar. "Mas, no pior dos casos, ele pode não se lembrar de nada."

"Não." Sirius disse, firmemente. "Não mesmo. Nada disso. Isso não vai
acontecer. Remus vai ficar bem, Regulus. Ele tem que ficar."

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"Sim, eu também acredito nisso, Six... Eu apenas achei que você deveria
saber."

Sirius ficou em silêncio por alguns minutos. "Reg?"

"Hm?"

"Você quer fazer uma coisa comigo?"

"Não acho que você pode fazer muitas coisas deitado nessa cama, Six." Sorri
fracamente, ele também sorriu, um pouco triste.

"Não, eu... eu posso fazer isso daqui." Ele disse, enxugando uma lágrima na
bochecha. "Não sei direito como fazer isso, é mais uma coisa trouxa que Lily
uma vez nos ensinou... mas é a única coisa que eu posso fazer por ele agora."

"Sirius, eu não acredito muito nessas..."

Sirius pegou a minha mão e me encarou com os olhos suplicantes. "Por favor,
Reg. Por ele."

Eu me sentei na beirada da cama, segurando as mãos de Sirius. Eu ainda


estava de olhos abertos quando Sirius fechou os dele. Os seus cílios estavam
molhados e mão dele tremia um pouco, mas nada disso era relevante agora.
Porque Remus precisava de toda a nossa esperança.

Dei uma última olhada para Sirius, que já estava de olhos fechados a algum
tempo. E então nós dois fizemos algo que não fazíamos havia muitos anos.

Sentados naquela cama de hospital, com as mãos trêmulas de nervosismo.


Nós rezamos.

***

Remus acordou apenas na noite do dia seguinte.

Moody escutou a história de Sirius sobre o ataque atentamente, sem nem


mesmo piscar ou interromper. Ele disse que levaria isso até Dumbledore e
que deveríamos convencer Remus à ir ao ministério pedir por uma cela para
ele se transformar nas luas cheias porque as florestas não eram seguras. O
problema era que Remus não era um lobisomem registrado, ele deveria ter

418
feito isso assim que completou dezessete e não agora com vinte. O ministério
não sairia da cola dele e talvez até desconfiassem dele por causa disso.

Mas nós tínhamos mais um mês inteiro até a próxima lua. Ela cairia apenas
alguns dias antes do Natal. Íamos pensar em alguma coisa até lá.

Quando Remus acordou, Marlene já havia deixado Sirius sair da cama. O


braço dele não demoraria mais do que três dias para sarar. Marls era
realmente muito boa com feitiços de cura. Até mesmo o corte novo no rosto
de Remus havia começado a cicatrizar e não faziam nem três dias ainda do
ataque.

Como Marlene previu, Remus não se lembrava de nada do ataque. Nós


tivemos que contar tudo. Não se lembrava de como os lobos eram, se eram
os lobos que ele conhecia ou se eram outros. Não se lembrava do corte. Não
se lembrava de ter empurrado Sirius e nem de como ele bateu a própria
cabeça.

"Veja só, mais uma para a minha adorável coleção!" Ele exclamou, na noite
em que acordou na cama do hospital, segurando um espelho pequeno em
frente o seu rosto. "Acho que ainda estou bonito, não é, Pads?"

"Ah, Moony!" Sirius o abraçou com cuidado, suspirando de alívio. "Você


não faz ideia de como eu fiquei preocupado!"

"Saia da aí, Sirius!" Lily bateu no braço bom dele, indo abraçar Remus. "Me
deixe abraçá-lo!"

"Nunca mais deixo vocês irem sozinhos em uma lua cheia!" James
exclamou, aliviado. "Não vou mais passar nenhuma lua cheia longe dos
dois!"

"Mas e Harry?!" Perguntei, sorrindo.

"Que bom que você não é um animago, não é, Reg?" James pôs a mão ao
redor dos meus ombros.

"Ah, não!" Reclamei. "Não mesmo!"

"Harry sempre para de chorar quando você o carrega!" James choramingou.


"Na próxima lua, você e Lily podem ficar com ele."

419
Revirei os olhos. "Tá! Tudo bem!"

"Isso se eu passar mais alguma lua com vocês, não é?" Remus disse. "Se eu
for para uma cela no ministério, vou ter que ir sozinho."

"Não vou deixar você sozinho, Moony." Sirius segurou o rosto de Remus
entre as mãos.

Remus precisou ficar o resto da semana em St. Mungus para ter certeza de
que estava tudo bem com a cabeça dele. Os médicos fizeram inúmeros
exames, mas no fim, nós conseguimos levar ele para casa com as instruções
de Marlene de não o deixar fazer nenhum esforço físico pelo menos até o
Natal, que seria daqui alguns dias.

Andy e Cissy foram visitá-lo com Draco várias vezes em casa. Eu perguntei
à Cissy se Lucius havia tentado entrar em contato com ela, mas ela apenas
balançou a cabeça negativamente. Talvez fosse melhor assim.

Algumas tardes, James e Lily traziam Harry para ver Remus e acabavam
encontrando Andy e Cissy também. Remus adorava colocar Harry e Draco
em cima da cama e ficar conversando com os dois, mesmo que eles ainda
não entendam nada. Alice e Frank também vieram algumas vezes, o que foi
muito bom porque eu nunca tive a chance de conhecer os Longbottom de
verdade. E eles eram incríveis.

Mary vinha todos os dias. Ela sempre conseguia fazer Remus sorrir e sair do
mau humor quando ele estava frustrado por não poder fazer muita coisa. Ela
passava mais tempo com ele no quarto conversando sobre livros e filmes do
que passava até mesmo comigo quando vinha para cá. Mas tudo bem. Porque
todos fazíamos qualquer coisa por Moony.

Uma tarde, quando o braço de Sirius já havia voltado ao normal, ele pegou a
taça da Lufa-Lufa de onde ela estava e pegou a presa do basilisco na outra
mão. Quando ele passou por mim na sala, eu dei um salto.

"Você não quer que eu vá com você?!"

"Não se preocupe." Ele respondeu, os olhos cheios de raiva, enquanto pegava


o seu casaco. "Volto em alguns minutos."

E então aparatou. Eu nunca havia visto Sirius tão preocupado como ele ficou
durante o dia que Remus passou desacordado. E também nunca havia o visto

420
tão vingativo quanto quando Remus já estava se recuperando e Sirius estava
decidido a vingar o homem que ele amava. Sirius devia ter destruído aquela
maldita taça com tanta força que a presa com certeza atravessou para o outro
lado.

Quando ele voltou, foi direto para o seu quarto e não disse mais nada.

"Reg!

Lily me contou sobre Remus e Sirius, eu espero realmente que já esteja tudo
bem quando esta carta chegar até você! Me dê notícias.

Desculpe não ter me despedido, eu achei que ficaria até o Natal, mas, bom,
talvez eu tenha passado um pouco dos limites em casa quando fiz Oliver usar
uma camiseta rosa escrita 'Jesus é gay'. Meu pai quase teve um ataque
cardíaco, mas meu irmão sorriu muito.

De qualquer forma, estou de volta à Nova York. As minhas aulas na


universidade estão de volta e esses dias eu saí com um aluno de Medicina,
você acredita?! Ele é meio chato porque fala demais, mas tem um corpo
legal. É melhor que um aluno de Filosofia que saí uma vez. Agh! Você ficaria
surpreso com o quanto conversar com alguém que só sabe falar sobre Marx
é irritante. Você sabe quem é Karl Marx? Porque eu não.

Mas, ei! Boa notícia! Agora tenho um telefone fixo em casa. Sabe aquela
coisa que lhe expliquei que faz os trouxas se comunicarem? Pois é! É um
máximo!

Como estão as coisas? Me diga que resolveu suas questões inacabadas com
Mary ou vou chutar o seu saco! Não me pergunte como vou fazer isso de
Nova York, apenas saiba que vou.

Meu número vai estar no verso da carta. Se você precisar de mim para
qualquer coisa, você pode apenas ir naquela cabine telefônica no fim da rua
e discar o número que eu estarei do outro lado. Não é incrível?!

Espero de verdade que você esteja bem, e se não estiver, não hesite em me
ligar.

Sinto muito a sua falta.

Seu,

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Carter Wood."

Fiquei muito feliz quando recebi a carta de Carter. Com todo o estresse das
pesquisas que Dumbledore me pediu para fazer e eu não conseguindo parar
de pensar na próxima horcrux, foi bom receber uma carta de alguém que
estava longe de toda essa confusão. Anotei o número dele rapidamente em
um bloco de notas perto do armário para me lembrar de ligar depois.

Foi em uma tarde muito fria que Dumbledore entrou pela lareira de casa,
depois de ter mandado uma carta avisando que vinha. Ele estava como
sempre, as vestes compridas e aveludadas, a barba longa e branca, o chapéu
pontudo e os óculos meia lua. Eu nunca deixaria de me sentir um garoto de
onze anos perto dele.

"Professor." Assenti, o cumprimentando. "O senhor quer chá?"

"Sim, Regulus, vou aceitar." Ele sorriu amigavelmente, se sentando no sofá


enquanto eu ia buscar a bandeja com o bule na cozinha. "Como está Lupin?"

"Ele está no quarto, senhor," Respondi, trazendo as xícaras. "Ele estará bom
no Natal, eu acho. Sirius não está, ele foi à uma missão da Ordem com
Alice."

"Foi um acontecimento muito infeliz, devo dizer," Ele disse, dando um gole
na xícara. Eu poderia fazer uma lista de todas as coisas que ele me diz que
eu já sei. "Creio que Remus vá se registrar agora, não é?"

"Ele ainda está decidindo isso, na verdade."

"Entendo." Dumbledore pôs a xícara na mesa. "É seguro conversarmos


aqui?"

"Oh, sim! Mm, eu usei um feitiço silenciador na sala," Respondi. "Ninguém


vai nos ouvir, nem mesmo fora de casa."

"Você é bom em feitiços silenciadores?"

Um flashe de Mary sentada em cima de mim, sem roupa e ofegante, gritando


o meu nome para o teto em plena madrugada com seus pais no quarto ao lado
passou na minha cabeça. Engasguei com o chá. "Mm... sim, eu... e-eu uso
para poder ler em paz, sabe?"

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"É uma boa ideia." Dumbledore disse. "Você descobriu alguma coisa nos
livros que indiquei à você?"

"Na verdade, professor," Falei, pondo a minha xícara na mesa. "Todas as


profecias que vi que tiveram algo a ver com o Lorde das Trevas foram
sempre interrompidas. Não são muitos os pesquisadores que acreditam na
arte da Adivinhação, o senhor deve imaginar."

"Sim, eu posso imaginar." Dumbledore concordou, pensativo. "Porém,


acredito que o Lorde das Trevas faria qualquer coisa para interromper essas
profecias, você não acha?"

"Bom, sim, com certeza," Concordei. "Mas se o senhor quer minha opinião,
depois de tudo que eu li naqueles livros... não acho que exista uma profecia
para o fim desta guerra. Eu simplesmente não consigo ver um fim para tudo
isso que não seja a destruição de todas as horcruxes."

"Tenho conversado muito com a senhorita Trelawney, Regulus, você a


conhece?" Eu assenti. "Mulher muito peculiar, devo admitir. Elas tem os
próprios achismos sobre o fim desta guerra."

"Ela sabe de alguma profecia?!"

"Não que ainda tenha me contado, mas eu diria que sim," Dumbledore disse,
me observando. "Vou lhe dizer a verdade, Regulus, acho que a destruição de
Voldemort virá com um preço muito caro. Se não for você quem vai destruí-
lo, então a suposta profecia pode se realizar e não sabemos no que ela vai
nos levar."

Obrigado pela pressão, Dumbledore. Muito obrigado.

"Eu deveria avisar os outros, professor," Disse, num tom baixo. "Eles
precisam saber o que o senhor suspeita."

"Se a natureza desta profecia não for ruim ou talvez nem existir, não devemos
causar nenhum alarde, Regulus," Dumbledore disse. "Devemos tratar desse
assunto sigilosamente."

"E o que o senhor acha, professor?" Perguntei, sinceramente. "O que o


senhor realmente acha?"

423
"Esta não é uma guerra fria, Regulus." Dumbledore respondeu, me olhando
por cima dos óculos. "Sangue foi derramado e não duvido que ainda será. O
que você faria se o preço para o Lorde das Trevas ser derrotado fosse a vida
de algum de seus amigos? Ou a vida do seu irmão?"

"Por que o senhor está dizendo isso?!" Meus olhos se arregalaram.

"São apenas palpites, Regulus." Dumbledore disse, se levantando do sofá.


"Posso continuar contando com você para isso?"

"Hm, claro," Respondi, apertando sua mão. "Vou continuar procurando,


professor."

Ele acenou com a cabeça e, em alguns segundos, saiu pela lareira.

Dumbledore pode ser muitas coisas, mas ele não era do tipo que blefava. Não
era do tipo que apenas dizia algo por dizer. Se alguém não soubesse ler as
entrelinhas do que ele diz, então nunca iria entendê-lo.

Sempre fui muito cético. Não tenho a mente aberta para coisas como
Adivinhação e profecias. Sinceramente, acho isso tudo muito incerto e
desnecessário. Mas e se realmente houver uma? Já houveram profecias que
se cumpriram no passado. E se ela tiver a ver alguém que conhecemos? E se
a guerra não acaba com as horcruxes e sim com a morte de algum de nós?

Não, não, não. Não posso deixar isso acontecer. Preciso acabar com todas as
horcruxes o mais rápido possível. Antes que qualquer profecia idiota se
cumpra. Como se já não tivesse que me preocupar com a localização, agora
tenho que me preocupar em correr contra o tempo. Se Dumbledore acha que
alguém vai ter que se sacrificar por esta guerra, não posso permitir isso.

Não é certo. Não é justo. Comecei a imaginar um mundo bruxo inteiro


comemorando o fim de Voldemort e alguma família em algum lugar tendo
que enterrar alguém querido ou... ou a nossa família enterrando alguém.

Não! Não posso permitir isso. Não posso!

"Reg?" Remus me viu pegando meu casaco, iquando foi até a cozinha pegar
um copo de água. "Onde você vai?!"

"Preciso sair." Respondi, rapidamente. "Não se preocupe comigo e volte para


a cama, está me ouvindo? Não vou demorar."

424
Assim que saí de casa, eu aparatei.

"O que você quer?" Pandora abriu a porta para mim, a voz orgulhosa, os
braços cruzados acima da barriga grande, provavelmente ainda ressentida
pelo o que aconteceu no hospital.

"Preciso falar com você." Falei, seriamente. "É sério."

Pandora estremeceu, a expressão mudando rapidamente. "O que


aconteceu?!"

"Vai me deixar entrar?"

Pandora abriu espaço para eu entrar, fechando a porta rapidamente atrás de


nós. Os olhos assustados e arregalados. "Vamos, Regulus! Não faça uma
mulher grávida esperar!"

"Acho que existe uma profecia." Disse, sem rodeios. "Sobre como a guerra
termina." Eu sabia que Pandora entenderia, ela era a pessoa com a mente
mais aberta que eu conhecia. "É sobre isso a tarefa que Dumbledore me deu.
Eu estava pesquisando sobre profecias. Ele não queria que eu contasse para
ninguém sem antes saber se era real."

"E você descobriu alguma coisa?!" Ela estava agitada agora.

"Não, na verdade, não," Respondi. "Mas Dumbledore foi em casa hoje."

"E?!"

"Pandora, acho que alguém vai se machucar e não faço ideia de como
impedir porque também não faço ideia do que vai acontecer exatamente."

Pandora me encarou em silêncio, os olhos arregalados, a boca entreaberta.

"Sente-se." Ela disse, apontando para o sofá. "Vou precisar de muito


chocolate para ouvir isso. Você vai me contar tudo."

425
Capítulo 33: Natal 1980

Apesar da guerra, da procura das horcruxes, dos comensais, dos ataques


frequentes, da minha cabeça estar literalmente pegando fogo com essa
história de profecia e de eu estar a ponto de ter um colapso nervoso por não
poder contar para ninguém, Lily ainda conseguia me fazer ficar ansioso pelo
Natal. Apesar de eu não saber direito como agir em um, porque o Natal nos
Black nunca era normal.

A lua cheia caía exatamente três dias antes do dia vinte e quatro, o que não
estava melhorando o humor de ninguém porque, afinal, já era dia dezoito.

"Então," Disse, às oito da manhã, quando todos tínhamos acabado de


acordar, enchendo uma xícara inteira de café. Tenho tomado muito café
ultimamente. Culpe a vadia da ansiedade, Carter diria. "O que vamos fazer
no dia vinte um?"

"Vocês vão ficar em casa, fora de perigo." Remus disse, sem tirar os olhos
de um livro, sentado em sua poltrona. "Sou eu que vou me transformar em
um monstro, não vocês."

"Ei!" Repreendi, levantando a xícara na minha mão. "Se você falar assim
comigo de novo, me acorrento junto com você quando acontecer."

Remus sorriu. "Eu não duvidaria. Você tem um chama para perigo."

"É o meu charme." Sorri de lado, bebendo um gole da xícara.

"Está calor no seu quarto?!" Remus franziu a testa.

"Hm?"

"Você nunca dorme sem camisa." Remus deu de ombros. "E agora está."

"Acho que acabei pegando no sono ontem enquanto lia e esqueci de pôr."
Bebi um gole do café. "E Sirius? Não acordou ainda?!"

"Ele acordou quando o dia não havia nem clareado," Respondeu Remus.
"Está trabalhando na moto."

426
Revirei os olhos, sorrindo. "Sirius é apaixonado por aquelas coisas com rodas
desde que éramos crianças. Nunca entendi realmente."

"Acho que ele também está usando como distração." Remus disse, olhando
para mim finalmente e fechando o seu livro. "Ele está um pouco distante
depois de... bom, do que aconteceu."

"Sério?" Franzi as sobrancelhas, me aproximando de Remus. "Quer dizer, eu


sei que ele havia realmente sentido aquilo, mas... bom, fazem semanas. E
você já está totalmente inteiro."

"Ele se culpa." Remus afirmou, com total certeza. "Por causa de toda aquela
coisa de 'era para ter sido eu' e tudo mais."

"Acho que ele também está preocupado com o que você vai fazer daqui a
alguns dias." Respondi, Remus abriu a boca para me contrariar, mas eu
levantei um dedo. "Hã, hã, você sabe que estou certo, Moony. Você precisa
decidir o que vai fazer. Sabe, se nós tivéssemos algum lugar aqui em casa
para você se transformar, eu seria o primeiro a me voluntariar para construí-
lo, mas infelizmente não temos."

"Sei disso, Reg," Remus suspirou. "Se é disso que Padfoot precisa para
relaxar, então acho que terei que visitar o ministério hoje, não é?" Ele sorriu,
mas de um jeito muito triste.

"Sirius e Prongs vão dar um jeito de ir com você, eu tenho certeza," Tentei
animá-lo. "Eu mesmo iria, mas não sou um animago e, bom, eu não estou
mais muito disposto a morrer."

Remus sorriu, mas o sorriso se desfez rapidamente. "Não estou preocupado


em ficar sozinho, eu sei que os dois dariam um jeito de irem também."

"Então, o que é?!"

"Se eu me registrar," Remus hesitou. "Todos vão saber. Tipo, todo mundo
mesmo. Antigos professores, alunos que estudavam em Hogwarts comigo e
achavam que eu era normal. E acho que me acostumei com a minha zona de
conforto em que só os meus amigos sabem... não sei se você entende."

"Acho que eu entendo..." Disse, realmente tentando entender. "Lembra


aquela vez que você me levou até a Casa dos Gritos?"

427
"Sim." Remus sorriu. "Você achou que eu ia matar você."

"Sim, achei." Confirmei, seriamente. "Mas você me disse naquele dia que
Sirius e Prongs ajudaram você a aceitar quem você era, lembra? Que você
não sentia mais que tinha que fugir porque aprendeu a enfrentar o lobo e...
bom, a escuridão."

"Sim, acho que me lembro disso..." Remus disse, quase num sussurro.

"Sabe, você me ajudou muito dizendo aquilo. Então, meio que é o que eu
estou dizendo agora. Vá lá e enfrente, porque você ainda tem Sirius e James
com você." Disse. "E, bom, posso não me transformar em um animal com
chifres ou com patas, mas... sabe, eu sou seu amigo também."

"Você é bem legal quando quer, Reg." Remus sorriu.

"Vou levar isso como um elogio." Sorri de volta, voltando à cozinha. "Sirius
contou à você sobre o único deles que hesitou na hora que atacaram vocês?!
Achei muito estranho, os lobos não costumam desobedecer Greyback, pelo
que eu me lembro."

"Não achei nada estranho." Remus disse, seriamente. "Eu disse à você que
nem todos eles estão realmente sendo leais à ele. O problema é que só eu
pareço acreditar nisso."

"Eu acredito em você, Moony, acredito mesmo." Disse, amigavelmente.


"Mas as coisas que já vi eles fazerem..."

"Apenas confie em mim." Remus me interrompeu. "Eles não são todos


assim."

"Ei, Reg... você sabe onde está o meu- Ah, meu Deus! Remus!"

"MARY?!" Remus ficou boquiaberto.

"Feche seus olhos agora, seu bastardo!" Gritei, apontando um dedo para
Remus e indo rápido para a frente de Mary que estava vestida apenas com a
minha camisa de dormir e a calcinha. "Se você os abrir, você é um homem
morto!"

Remus estava cobrindo os dois olhos com as mãos. "Regulus, seu idiota!"

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"Vocês não fazem ideia de como preciso de um banho..." Sirius entrou pela
porta da frente em menos de um segundo. "Moony, você pode pôr café p-
MARY?!"

"Você! Mãos nos olhos! Agora!" Apontei para Sirius, que levou as mãos ao
rosto, sorrindo descontroladamente.

"Eu nem gosto de mulheres, Reg!"

"Você me disse que eles provavelmente não teriam acordado ainda!" Mary
disse, furiosa.

"Apenas coloque um short, pelo amor de Deus!" Implorei, ainda pondo o


meu corpo na frente dela.

Depois que Mary voltou para o quarto, Remus estava se segurando para não
rir, mas Sirius caiu na maior gargalhada do mundo.

"Deixe-me ver se entendi," Sirius sorria tanto que mal conseguia respirar.
"Mary estava com a sua camisa e só de calcinha e você está... Ei, você nunca
dorme sem camisa!"

"Eu falei!" Remus exclamou do sofá, voltando a ler seu livro.

"Sabe, Reg, você deveria avisar quando Mary vier dormir aqui," Sirius disse,
lavando as mãos sujas de graxa na pia. "Nós quatro podemos fazer alguma
coisa de casais!"

"Meu Deus, Sirius." Sussurrei, absurdamente envergonhado.

Quando Mary saiu do quarto, ela havia colocado um short de pijama que ela
havia trazido ontem. E se Sirius e Remus não tivessem aversão a qualquer
ser da espécie feminina, eu daria um short meu para ela usar nesta casa.
Porque, Deus, Mary era surreal vestida em qualquer coisa.

Ela se jogou no sofá ao lado de Remus, vendo a capa do livro dele. "O Sol É
Para Todos?!"

"Você já leu?!"

429
"Sim." Ela respondeu. "Me diga o que achar depois. Eu honestamente não
gostei do final, se você quer saber."

"Você quer café, Mary?" Sirius perguntou, pegando mais uma xícara do
armário. Mary assentiu e Sirius pôs o café para ela. "Com leite ou sem?"

"Com." Ela respondeu, se levantando para ir até Sirius. Ela deu uma
batidinha nos ombros dele e um selinho rápido em mim. "Vocês já comeram
bolo de laranja?! Minha mãe foi quem me ensinou, e é simplesmente
incrível! Vou fazer um para vocês agora mesmo!"

"Acho que você deveria se vestir, Reg," Sirius sorriu, tirando graça. "Agora
você é o único semi nu aqui!"

Sirius e Mary riram juntos enquanto ele pegava tudo que ela precisaria para
fazer o bolo e ela pegava a forma e a manteiga. Eles começaram a conversar
entre si sobre alguma coisa a ver com coturnos, marcas de maquiagem e
suéteres que estariam em promoção no Natal. Às vezes, quase me esqueço
de que Mary esteve na vida de Sirius antes de estar na minha. Eu mal sabia
o nome dela na escola. Mas eu sempre soube que os dois eram muito
próximos. E, de alguma forma, ver os dois assim me trazia uma onda de afeto
enorme.

Percebi que se o Natal fosse assim, com Remus sentado no sofá, prestes a
acender um cigarro e ainda não são nem nove da manhã, mas seguro e bem.
Com o meu irmão cozinhando com a garota que eu amo como se os dois
fossem tão irmãos quanto eu e ele. E apenas James, Lily e Harry trazendo
um peru, Marlene o vinho e Pandora a sobremesa, eu não poderia pedir mais
nada além disso.

Sirius deixou Mary fazendo o bolo na cozinha e foi tomar um banho. Ele
estava com as mãos, o pescoço e os braços sujos de graxa pelo tanto de tempo
que passava se dedicando naquela moto. Aparentemente, ele queria fazer
com que ela voasse. Porque é claro que Sirius não poderia ter apenas uma
moto normal, ele é Sirius.

"Já que Sirius está no banho, então acho que posso dizer," Mary disse,
espiando o corredor, enquanto colocava um pano de cozinha nos ombros.
"Remus, se você não pode se transformar nas florestas, por que não volta à
Casa dos Gritos? Quero dizer, é melhor do que uma cela fria do Ministério,
não é?"

430
Eu e Remus nos entreolhamos. "Não dá para desaparatar em Hogwarts,
Mary. O único jeito de chegar lá é de trem e não tenho tempo e nem dinheiro
para isso todo mês."

"Mas a Casa dos Gritos não fica em Hogwarts, certo? Você pode aparatar
para Hogsmead e ir de lá." Mary disse, se aproximando de Remus no sofá.

"Não é uma ideia ruim." Refleti, com as sobrancelhas franzidas. "Quando


você me levou até lá, nós nem chegamos perto de Hogwarts e conseguimos
ir andando até à casa. Você só precisaria sair daqui mais ou menos uma hora
antes e nem precisaria ir sozinho."

Remus pareceu pensar nisso. "Não sei... pode ser perigoso para os alunos..."

"Avisaríamos Dumbledore, é claro," Mary disse. "Ele vai ter que concordar."

"E se não concordar?!" Remus franziu o cenho.

Eu não conseguia ver nenhum motivo para Dumbledore não concordar em


ajudar Moony. Mas caso ele não concordasse, eu infelizmente teria que
deixar escapar sem querer toda essa confusão sobre profecias.

"Ele vai." Confirmei, balançando a cabeça para os dois. "Deixe isso comigo."

***

No fim, não foi preciso usar nada sobre a profecia para convencer
Dumbledore à ajudar Remus. Ele pareceu muito satisfeito em receber Remus
outra vez nos arredores de Hogwarts, embora eu ache que ele apenas gostou
da ideia dele não se registrar porque seria mais fácil infiltrá-lo em alguma
outra missão futuramente. Ás vezes, Dumbledore nos olha como se fôssemos
projetos, não pessoas.

Então, quando o dia da lua cheia chegou, James e Sirius fizeram questão de
falar pessoalmente com Madame Pomfrey e pedir à ela para deixar com eles
dois tudo que Remus precisaria, caso se machucasse muito. Nós três
reunimos em uma bolsa grande e marrom remédios, ataduras e poções que
poderiam ajudar Remus a não se machucar se ele se sentisse preso em forma
de lobo dentro da casa depois de já ter se acostumado à floresta.

"Olhem, eu passei sete anos me transformando naquela casa," Remus disse,


olhando nós três arrumarmos a sua bolsa. "Vou ficar bem, é sério."

431
"Cale a boca, Moony." Nós três dissemos em uníssono e Remus apenas
desistiu.

Com a questão da lua cheia resolvida, Lily estava mais animada ainda pelo
Natal. Na noite em que fui até a casa dos Potter e fiquei com ela e Harry
porque James estava com Remus, ela me contou sobre tudo que tinha
planejado. E que como, apesar da guerra, ela queria fazer um Natal perfeito
porque seria o primeiro que James passaria sem os pais.

"Vou fazer a sobremesa que ele mais gosta!" Ela exclamou sorridente,
quando estávamos conversando no sofá, depois de Harry dormir. "Ele
merece depois de tudo o que passou no fim do ano passado."

"Ele matou um basilisco, Lily! É claro que ele merece uma sobremesa!" Eu
sorri de volta.

"E você?!" Lily disse, arqueando uma sobrancelha. "O que vai dar à Mary
de Natal?"

"Estou pensando em uma coisa..." Respondi, um pouco tímido. "Mas não sei
se ela vai gostar."

"Ah, tenho certeza que vai! Mary gosta de qualquer coisa que você faça."
Lily disse, com um sorriso. "Vamos, me conte!"

"Não se preocupe." Sorri. "Se eu der mesmo, você vai saber o que é."

"Ainda não faço ideia do que vou dar para James," Lily disse. "Tudo que ele
gosta parece ser relacionado à quadribol e eu não entendo nada de
quadribol!"

"Eu entendo, posso ajudar você se quiser."

"Isso seria ótimo." Lily sorriu. "Ele quer virar treinador em Hogwarts, você
sabia?"

"O quê?!"

"Sim! Depois que toda a guerra acabar e tudo ficar bem... ele quer realmente
tentar." Ela disse, orgulhosa. "Bom, teremos muito tempo para pensar nisso."

432
"É. Tempo." Franzi os lábios na tentativa de um sorriso, mas a ideia de que
a profecia poderia significar a morte de algum deles não saía da minha
cabeça. Me obrigando a pensar que talvez James não tivesse tanto tempo, ou
qualquer um de nós.

Ficamos quietos por um tempo, aproveitando o silêncio que provavelmente


Harry destruiria em alguns minutos. Lily disse de repente, com uma voz
preocupada.

"Acha que Remus está bem?"

"Ele está com Sirius e Prongs," Respondi, me virando para ela. "Tenho
certeza de que está bem. Talvez o lobo esteja até nostálgico."

"É, talvez," Lily sorriu fracamente. "Ele estava preocupado que Sirius
estivesse se culpando pelo ataque. Mas acho que agora que as coisas deram
relativamente certo, Sirius está encarando isso melhor."

"Sirius é muito intenso." Respondi. "Quando algo o atinge, atinge para valer.
Ele sempre foi assim. Eu perguntei à Remus se ele queria que eu conversasse
com ele, mas ele disse que Sirius precisava apenas de um tempo."

"Remus disse à você sobre o que ele acha sobre alguns dos lobos?" Perguntou
Lily, hesitante.

"Sim. Ele disse."

"E você acredita nele?" Lily me olhou.

"Você não?" Perguntei, franzindo a testa.

"Remus já sofreu tanto com algumas coisas, Reg," Lily entristeceu a voz.
"Apenas não quero que ele se decepcione com isso."

"Bom, na maior parte do tempo, Remus sempre está certo," Dei de ombros.
"Dessa vez pode ser igual, então."

"Espero que sim." Lily suspirou pesadamente. "Acho que vou tentar dorm-"

O choro de Harry interrompeu Lily antes mesmo que ela pudesse se levantar
para ir para a cama. Eu a olhei divertidamente e me pus a mão no braço dela.

433
"Não se preocupe," Disse, me levantando. "Pode ir dormir no quarto de
hóspedes para não incomodar seu sono. Eu cuido de Harry."

Ela me deu um sorriso amigável, seguido de um bocejo demorado.


"Obrigada, Reg."

Quando Lily foi se deitar, eu entrei no quarto de Harry. Merlin, bebês gritam
muito. Se Mary um dia quiser ter uma coisinha dessas, eu não chego aos
cinquenta com a audição intacta. Não que eu já pense em ter filhos com ela,
porque não tenho nem vinte anos ainda. Mas daqui a um tempo, acho que
seria legal.

"Shhh, ei," Peguei Harry nos braços, completamente enrolado nos lençóis
azuis, chorando alto. "Por que você está chorando, huh? Não tem motivo
para isso."

Comecei a balançá-lo e ele parou de chorar aos poucos, mas não fechava os
olhos de jeito nenhum. Ficava apenas me olhando com aqueles olhos grandes
e verdes e levantando um do bracinhos gorduchos para tentar tocar o meu
rosto.

"Por que você não dorme?" Perguntei, balançando uma de suas mãozinhas.
"Se eu tivesse o mesmo número de problemas que você, eu estaria dormindo
como um anjo, Harry."

Harry sorriu, fazendo um barulhinho na sua garganta.

"Você está rindo, é?" Sorri, levantando uma sobrancelha. "Que bom que
alguém consegue rir nisso tudo. E é bom que esse alguém seja você."

Harry fez outro som com a boca, ainda os olhos bem abertos para mim.

"É, cara, não é fácil," Disse, como se ele pudesse me entender. "Essa coisa
de salvar o mundo é do caralh- desculpe, Harry. É bem difícil. Se você tiver
que fazer isso um dia, não se preocupe, eu vou ensinar à você todos os
truques para lutar com bruxos do mal, ok?"

Harry sorriu mais uma vez.

"Ah, não se anime! Se você realmente se meter com bruxos do mal, vou dar
um cascudo em você." Disse, levantando um dedo para ele, que ainda sorria

434
para mim. "Se bem que se você for teimoso como eu, não vou poder fazer
muita coisa. Mas prometo à você que vou ajudá-lo, certo?"

Harry fez um barulho um pouco mais baixo, parecendo prestes a dormir.

"Pode dormir, Harry..." Sussurrei, dando um beijo no topo da sua cabeça com
apenas alguns fios escuros de cabelo. "Eu cuido das coisas por aqui enquanto
você não cresce para me ajudar."

***

And so this is Christmas (war is over)

And what have we done (if you want it)

Another year over (war is over)

And a new one just begun (ooh)

Happy Xmas (War Is Over) - John Lennon

Lily havia chamado todas as pessoas mais queridas para a ceia de Natal. Os
Longbottom e os Weasley, é claro. Andy, Ted e Cissy, que trariam Draco e
Dora, que aparentemente já eram melhores amigos devido ao tanto de tempo
que passavam brincando juntos. Dumbledore e Moody, o que eu fui
totalmente contra porque Natal e guerra não deviam se misturar e os dois não
representam nada para mim que não seja isso, mas é apenas o que eu penso.

Pandora não precisava de convite porque estava implicitamente convidada


para tudo e com certeza traria Phil com ela. Marlene viria com uma garota
com quem ela estava saindo. Pelo o que Sirius me contou, é a primeira vez
que ela se interessa por alguém depois de a morte de Dorcas, que realmente
a fez desmoronar na época. Fico feliz por ela, porque Marls merece ser feliz.

Tentei convencer Carter à vir para passar pelo menos uma noite, mas ele não
pareceu muito animado com a ideia.

"Vamos, Wood!" Implorei, grudado ao telefone da cabine. "Você é um


bruxo! Literalmente só precisa aparatar e em um segundo estará aqui!"

435
"Estou muito ocupado com a faculdade aqui, Reg," Ele respondeu, com a
voz triste. "E combinei de passar o Natal com a família de um amigo daqui,
realmente não posso furar."

"Amigo?" Perguntei, divertidamente.

"Mais ou menos isso." Ele gargalhou do outro lado. "De qualquer forma, não
sei se eu me sentiria bem indo até aí e não poder ir ver os meus pais..."

"Foi tão ruim assim?" Perguntei, preocupado.

"Apenas alguns gritos e algumas ofensas," Carter sorriu. "Bom, nada que já
não tenha acontecido antes, não é?"

"Bom, isso é uma pena," Respondi. "Realmente queria que você viesse."

"Não se preocupe, acho que não vou demorar a ir de novo." Carter disse.
"Mas até lá, mande Feliz Natal à Lily e aos outros por mim, ok?"

"Tudo bem, eu mando." Respondi, sorrindo. "Feliz Natal, Wood."

"Feliz Natal, Black." Ele respondeu e eu senti que ele estava sorrindo
também, e nós desligamos.

Lily ficou triste por Carter não poder ir, mas não demorou a se distrair
quando ela e Pandora começaram a distribuir tarefas para todos nós. Lily
passou uma lista de ingredientes para Sirius e Remus comprarem para ela
fazer a sobremesa da ceia. James saiu para comprar o peru. Marlene traria o
vinho, porque o gosto dela para isso era inegavelmente bom.

"Vocês dois!" Pandora apontou para mim e Mary. "Vão comprar os enfeites
de Natal. Há uma loja trouxa aqui perto. Tenho certeza que vocês vão
encontrar tudo lá."

"Sim, senhora." Eu disse, sorrindo, assumindo uma postura militar. Pandora


revirou os olhos.

"Não se preocupe, Pands," Mary disse, me agarrando pelo braço. "Nós


resolvemos isso."

436
Eu e Mary acabamos não indo em apenas uma loja. Mary se empolgou
totalmente com todos aqueles enfeites brilhantes e coloridos e eu amava ver
ela tão feliz.

"Reg, olhe esse aqui!" Ela me arrastou para dentro de uma loja, quando viu
uma estrela dourada e grande, cintilando brilho por ela toda. "É a estrela mais
linda que eu já vi!"

"Você gosta de estrelas?" Sorri, vendo ela tão encantada.

"Quem não gosta?! Elas são fascinantes!" Mary exclamou, sorridente, e se


virou para me olhar. "Mas você é a minha preferida."

Eu a puxei pela cintura e a beijei, no meio dos enfeites da loja.

Após uma hora, Mary e eu nos enchemos de sacolas com bolas, grinaldas e
pisca-piscas. Nós corremos de mãos dadas para atravessar a rua e eu a beijei
outra vez em baixo de uma árvore de galhos que escorria neve em cima de
nós. As lojas estavam todas enfeitadas com tons vermelho, verde e dourado
e Londres estava mais fria do que em qualquer época do ano. Havia coros de
Natal cantando nas calçadas e famílias felizes atravessando as ruas. Parecia
que até a guerra dava um tempo quando era Natal.

Mas apenas parecia.

"Agh!" Me afastei da boca dela, gemendo de dor.

"O que foi?!" Ela me olhou preocupada.

"Nada... apenas achei..." A dor veio mais forte outra vez, fazendo meu corpo
se curvar para frente. "Meu braço! Meu braço está queimando!"

Mary olhou ao redor e me levou rápido para um beco vazio, em uma rua
onde ninguém poderia nos ver. Ela puxou rápido a manga do meu casaco e
depois a manga do meu suéter, mostrando a marca negra no meu pulso
esquerdo, completamente viva.

"Eles estão aqui, Mary." Arregalei os olhos para ela. "Há comensais aqui!"

"Merda!" Ela sussurrou, a voz irritada. "Quem você acha que- Merlin! Meu
Deus, Reg, olhe!"

437
Mary apontou para a rua vazia e deserta que estávamos, tendo cuidado para
não sairmos do beco. Quatro comensais da morte saíam de um pub na
esquina da rua.

"Reconheço alguns deles pelas fotos que Moody nos mostrou..." Mary
sussurrou, a mão já na sua varinha. "São Karkaroff, Dolohov e... Não!"

Levei a mão a boca de Mary quando percebemos quem eram os outros dois.
Eu conhecia os quatro muito bem, mas os únicos que reconheceriam Mary e
saberiam que ela era nascida trouxa eram dois.

"Porra." Sussurrei baixinho. "Mulciber e Snape."

Mary agarrou o meu braço. "Precisamos sair daqui!"

"Nós vamos." Assenti para ela. "Eles provavelmente vão aparatar daqui em
alg-"

"Ahhh, trouxas!" Dolohov se aproximou alegremente do beco, com a varinha


levantada. "Acho que tenho tempo para brincar!"

"Porra." Sussurrei outra vez. Os outros três se juntaram a ele, sacando as suas
varinhas. Mary puxou a dela e eu segui o seu exemplo. "Vamos sair pelo
outro lado do beco, talvez possamos..."

"CONFRINGO!" Karkaroff chicoteou sua varinha em direção a um carro


estacionado em frente ao beco e as portas de metal foram arrancadas com um
som horrível de metal sendo esmagado. Puxei a cintura de Mary com força
para trás para desviá-la do estrago.

Mary gritou, mas manteve a varinha erguida. Eu a empurrei para trás,


protegendo-a com o meu corpo, esperando que por alguma sorte do destino,
eles simplesmente ficassem entediados e aparatassem de lá. Mas claro que
isso não aconteceu.

"Eles não são trouxas!" Era a voz de Mulciber. "São sangues-ruins!"

"Ainda melhor!" Dolohov gargalhou.

"IMPEDIMENTA!" Eu gritei, puxando Mary rápido para fora do beco.

438
"Pequeno Black, é você?!" Snape quem falava agora. "Que sorte! Sectumsc-
"

"PETRIFICUS TOTALUS!" Mary gritou com tanta emoção que eu quase


consegui ouvir os músculos de Snape se transformando em pedra, até que ele
só conseguia mexer os olhos, desesperados e cheios de pavor.

"Crucio!" Mulciber gritou, mirando em Mary, mas eu saltei rapidamente


com um feitiço de escudo.

"Estupefaça!" Mary pegou Mulciber, mas Karkaroff e Dolohov ainda


estavam avançando.

"Rápido, Mary!" Eu agarrei a mão dela e nós aparatamos.

Caímos no chão da frente da casa dos Potter, que era aonde todos estavam.
Quando entramos na casa, Lily correu para pegar um cobertor e uma
compressa de água quente para a dor de cabeça de Mary. Sirius se apressou
e convocou Moody através da lareira, e Moody chegou imediatamente,
interrogando eu e Mary o máximo que pôde.

Mary estava tremendo no sofá, eu estava com os meus dois braços ao redor
dela, nós dois enrolados em um cobertor, tomando um chá quente que James
havia preparado.

"Excelente trabalho, os dois," Moody acenou com a cabeça antes de sair.


"Continuem assim."

Eu me virei para Mary, segurando seu rosto entre as minhas mãos, a olhando
nos olhos.

"Você está bem?!" Ela perguntou, a voz trêmula. "O seu braço..."

"Não se preocupe com o meu braço." Eu a interrompi. "Você foi íncrivel!


Foi brilhante!"

"Eu não posso perder você para eles." Mary disse, seriamente. "Não posso
perder você de jeito nenhum."

"Não vai." Encostei a cabeça dela no meu peito e prometi. Mesmo sem saber
se era verdade.

439
Ela começou a chorar.

Quando anoiteceu, todos que compareceram à ceia dos Potter perguntaram


para mim e para Mary se nós havíamos nos machucado, quantos deles eram
e o que eles estavam fazendo lá. Desvíamos da maioria das perguntas porque
era frustante demais ficar lembrando disso em plena véspera de Natal.

Tirando isso, a casa estava realmente linda. Mary soube escolher


perfeitamente os enfeites certos e tudo estava muito lindo e bem decorado.

"Quando você vai parar de se meter em confusão, huh?" Pandora disse,


dando um tapa na minha cabeça. "Você não me dá um minuto se quer de
paz."

"Então somos dois, Pandora," Sirius apareceu do nosso lado. "Regulus vai
acabar me matando de susto um dia."

"Olhe quem fala!" Provoquei, sorrindo. "Você é quem foi parar no hospital
e ainda por cima comprou uma moto que está quase voando!"

"Ok, é justo." Sirius sorriu, dando de ombros.

"E como foi?" Pandora perguntou para Sirius. "Com Remus. Na Casa dos
Gritos."

"Sinceramente, eu achei que seria ruim, mas foi incrível," Sirius disse. "Foi
bom estar de volta aonde tudo começou. Remus também estava feliz... bom,
tirando a transformação e tudo mais."

"E você?" Perguntei, pondo a mão no ombro dele. "Está bem? Tipo, bem de
verdade."

"Eu não estava." Sirius suspirou, depois sorriu e olhou para Remus sorrindo
do outro lado da sala, enquanto conversava com Alice. "Mas agora estou."

Andy e Cissy chegaram logo depois. Ted estava logo atrás das duas,
segurando as mãos de Dora, e Cissy trazia um carrinho de bebê com Draco
enrolado em panos verde água.

"Ei, carinha! Venha aqui!" Sirius tirou Draco do carrinho e o carregou nos
braços, sorrindo. "Merlim, você está pesado! O que você anda dando à ele
para comer, Cissy?"

440
"Nada demais." Cissy deu de ombros, sorrindo também. "Meu Dray é um
menino muito especial."

Dora correu para a mesa de doces e Andy foi atrás dela, a impedindo de fazer
uma bagunça, mas Bill a pegou pela mão e os dois foram alegremente brincar
no sofá da sala. James e Lily estavam sendo ótimos anfitriões e ele havia
vestido Harry com um suéter vermelho vivo. Vermelho como a
Grifinória, ele dizia o tempo todo.

"Estou avisando Prongs," Eu disse. "Se este garoto for para a Sonserina, não
vou conseguir segurar a minha risada, que você fique bem avisado."

Mary estava deslumbrante. Ela estava com uma blusa gola alta de camurça
vermelha, uma mini saia marrom e botas que iam até abaixo do seu joelho,
os cachos soltos e rebeldes caiam pelas suas costas até a metade delas.
Faltava apenas uma coisa para ela ficar perfeita.

"Posso roubar ela por um instante?" Perguntei à Marlene, que conversava


com Mary em um canto da sala, provavelmente apresentando Liz, a nova
namorada. "Prometo que devolvo logo."

Marlene sorriu e eu puxei Mary para perto da árvore de Natal, onde não havia
ninguém, apenas nós dois.

"Quero dar uma coisa à você." Disse, colocando um dos seus cachos para
trás da orelha.

"O quê?!" Mary sorriu radiantemente. "Se você tiver comprado algo caro,
vou matar você."

"Não, na verdade, eu não gastei nada." Disse, retirando uma caixinha


quadrada e achatada do meu bolso. "E não se preocupe, não é um anel de
noivado."

"Ah, que alívio, então!" Mary encenou, sorrindo. "O que é, então?!"

Eu abri a caixa na frente dela e os olhos dela cintilaram. Era um colar


prateado, com um cristal azulado pequeno no pingente.

"Você gostou?"

441
"É claro que sim!" Mary sorria tanto que me fez sorrir involuntariamente.
"Mas você disse que não gastou nada e isso parece ser bem caro, Reg."

"Esse cristal," Disse, tirando o colar da caixa para pôr no pescoço dela. "Foi
uma coisa que alguém que eu amo me deu quando eu era criança. Me ajudou
muito com tudo que eu passei em casa."

"Pandora?"

"Sim." Sorri, assentindo com a cabeça. "Ela me deu quando nos conhecemos.
Ele ameniza qualquer dor que você sinta, desde que esteja em contato com
você. Eu tenho a metade dele agora. A outra metade é sua."

"Reg, isso é..." Mary falhou a voz, examinando o colar. "Isso é lindo."

"E tem outra coisa." Lembrei. "Pus um feitiço nele. Se você o colocar na luz
de alguma lâmpada ou lanterna, vai conseguir ver uma constelação por
dentro dele. Lembrei que você gosta de estrelas. E... bom, eu também sempre
gostei."

"Meu Deus, isso é incrível!" Mary disse, os olhos castanho brilhando. "Eu
realmente amo você."

"Sei disso." Sorri e a puxei para mim, encostando meus lábios nos dela.

Sirius apareceu e me puxou de perto de Mary e Remus fez o mesmo com ela,
nos levando para o meio da sala. Estava tocando a música de Natal preferida
de Sirius e ele exigia totalmente que todo mundo estivesse prestando atenção.
O que não foi muito difícil de fazer quando ele começou a dançar com Remus
e até Neville, que estava nos braços de Frank, sorriu.

A ceia que se seguiu foi tão boa quanto Lily havia planejado. James
agradeceu a presença de todos e fez um brinde aos amigos, à Ordem e à
Harry. Os Weasley mais velhos corriam pela sala, brincando com Dora.
Draco, Harry, Neville e Ron não tinham idade para correr ainda, mas sempre
gargalhavam quando se viam, como se já tivessem nascido se conhecendo.

E eu acho que o Natal era isso. Sentar em uma mesa e comer, com pessoas
que você ama mais do que tudo no mundo. Olhar para garota que você ama
e ter coragem de dizer que a ama. Rir com a risada das crianças que correm
pelo tapete e que provavelmente serão o melhor futuro que vamos ter.

442
Olhar para o meu irmão, sentado na minha frente, com um sorriso radiante
enquanto escuta James contar uma piada sobre diabretes, e ficar feliz por
aquela pontinha de culpa que existia em você pelo o que aconteceu entre
vocês dois, não existir mais. E saber que, apesar de qualquer profecia que
venha a acontecer, vocês dois estão juntos. Porque ele está ali, na sua frente,
e você o ama mais que qualquer coisa no mundo.

"Ei, Six," Sussurrei para ele, sem interromper a história que agora Alice e
Frank riam contando. "Feliz Natal."

Sirius me olhou e sorriu. E então eu soube que ele sabia o que eu estava
sentindo. Ele apenas soube. Ele assentiu, ainda sorrindo para mim. O mesmo
sorriso de quando tínhamos dez anos.

"Feliz Natal, Reg."

443
Capítulo 34: Solução

"O que você acha, Sirius?"

"Acho que precisava ser maior."

"Acho que não ficaria proporcional ao rosto dele." Mary analisou,


estreitando os olhos para mim. "E Remus?"

"Falta só mais uma coisa!" Sirius pulou, pegando um frasco cilíndrico na


mobília do quarto. "Ok, Moony, agora preciso que você olhe para cima e não
pisque, certo?"

"Não me deixe cego, Padfoot, pelo amor de Deus." Remus disse, obedecendo
Sirius, enquanto ele penteava os seus cílios.

"Quer dizer que eu posso olhar, então?" Perguntei, ansioso.

"Hã, hã," Mary negou. "Espere Remus ficar pronto, vocês dois tem que virar
ao mesmo tempo, se não, não tem graça."

"Prontinho!" Sirius exclamou, se colocando ao lado de Mary, os dois de


braços cruzados, analisando eu e Remus sentados um do lado do outro, na
frente deles. "Quem disse que não se pode estar bonito para lutar uma guerra,
huh?"

"Só estou deixando isso porque foi Mary que me pediu." Revirei os olhos.

"Você é tão chato, Regulus!" Sirius bufou. "Vamos, agora podem se virar!"

Eu e Remus arregalamos os olhos para o espelho, depois olhamos um pra o


outro de cima à baixo. Sirius e Mary haviam passado na pálpebra dos nossos
olhos aquela coisa preta que fazia uma listra e penteado nossos cílios com
um pincel que fez eles ficarem tão levantados que eu nem conseguia os sentir
se fechasse os olhos com força.

Remus não estava diferente. Ao invés de cobrir, Sirius ressaltou mais ainda
suas cicatrizes finas e brancas, porque disse que, Remus acreditando ou não,
eram uma das coisas mais bonitas em seu rosto.

444
Nossos olhos pareciam tão puxados que parecia que tínhamos feito alguma
cirurgia facial, ou coisa do tipo. Mas, de qualquer forma, foi um trabalho e
tanto. Eu e Remus estávamos lindos para caralho.

"Agora o próximo passo," Mary disse, entusiasmadamente. "É vocês saírem


sem tirar!"

"Sair sem tirar?!" Remus arregalou os olhos. "Mas há reunião da Ordem


hoje!"

"Eu sempre vou assim para as reuniões e não vejo problema algum!" Sirius
deu de ombros. "Tentei fazer James usar uma vez, mas não colou."

"Olha, Moony, isso ficou realmente muito bom e até fez eu me sentir bonito,
o que não é muito frequente, para falar a verdade." Disse, me olhando mais
uma vez.

"Está vendo?!" Sirius exclamou. "Até Reg, que geralmente é muito chato,
está considerando!"

"Vamos, Remus!" Mary insistiu. "Eu também uso se você aceitar!"

Remus me olhou, pedindo por ajuda. Eu dei de ombros, tentando deixá-lo


ciente que eu estava disposto a fazer qualquer coisa que Mary me pedisse,
até sair de casa para uma reunião da Ordem da Fênix com essa coisa na cara.

"Desculpe, cara, ela quem está me pedindo."

"Agh!" Remus resmungou. "Certo! Mas não vamos para nenhum lugar
depois de lá, ok? Já batsa falar com Dumbledore ou Moody assim."

"Não seja assim, Moony," Sirius disse, se sentando em uma das pernas de
Remus e dando um beijo em sua bochecha. "Você está lindo."

Pandora havia me chamado para ir até a casa dela antes da reunião. O que,
levando em consideração nosso último assunto mais frequente, não me
deixava muito tranquilo. Então, depois que deixei Mary em casa, eu fui até
lá ver o que ela queria.

Depois de dar as mesmas batidas de sempre na porta que indicam que sou
eu, Pandora abriu a porta rapidamente. Ela estava um pouco agitada, andando

445
de um lado para o outro, mesmo depois que me sentei no sofá, esperando ela
começar a falar. Ela nem mesmo percebeu a maquiagem.

"Você está começando a me assustar." Disse, apoiando os braços nos joelhos.


"Não me diga que descobriu do que a profecia se trata."

"Agh, quem me dera!" Pandora disse, com a mão na testa. "Bom, não é
exatamente uma notícia ruim. Mas talvez faça você se sentir um pouco
pressionado."

"Merlim, Pandora, diga logo!"

"Eu falei com Slughorn esta manhã." Ela disse rapidamente, sem vírgulas e
atropelando as palavras.

"Você..." Levei um tempo para assimilar. "Pandora. O que você disse à ele
exatamente?"

"Não falei nada sobre profecia nenhuma, se é o que está pensando." Ela
voltou a andar, passando a mão na barriga que já estava bem grande. "Mas
falamos sobre as horcruxes. Ele sabe que você está procurando por elas.
Dumbledore contou."

"Bom, não me surpreendo," Disse. "Slughorn era professor de Voldemort, se


há alguém que sabe de muita coisa é ele."

"Foi preciso muita conversa para ele chegar onde eu queria," Pandora
começou. "Slughorn parece bem envergonhado pelo passado... Ele ficava
repetindo o tempo todo que se ele soubesse, se ele houvesse percebido, talvez
as coisas tivessem sido diferentes e não estaríamos em guerra agora. Mas
depois de algumas cervejas amanteigadas, ele soltou algumas coisas."

"Que tipo de coisas?!"

"Coisas do tipo quantas são, Reg," Pandora disse, parando para me olhar.
"Quantas horcruxes."

"Mas como ele sabe disso?!" Perguntei, confuso. "Não teria como ninguém
saber!"

"Não é que ele tenha certeza," Pandora disse, finalmente se sentando. "Mas
quando Voldemort era mais novo e perguntou sobre horcruxes para

446
Slughorn, ele perguntou como criar uma. E depois que o professor explicou,
ele perguntou como ele poderia criar se fossem no caso de seis delas."

"Seis?!" Arregalei os olhos. "Mas se forem seis..."

"Se forem seis, falta apenas uma." Pandora disse rapidamente.

"Mas não temos como ter certeza..." Levantei do sofá, inquieto. "Quero
dizer, quem garante que ele não fez outras?!"

"Pense comigo," Pandora disse. "Há rumores de que Voldemort está


enfraquecendo, o que o torna mais perigoso ainda. Ninguém esperava que a
guerra fosse durar tanto, Reg. O que confirma os rumores são os ataques de
Comensais da Morte aumentando, os lobisomens tomando as florestas, mais
pessoas desaparecidas ou mortas e, vamos, você não acha estranho que você
tenha destruído um banco e pegado uma parte da alma dele, mas a única
reação dele foi mandar os lobos atrás de Sirius e mais nada?"

"Ele está com medo." Corri meus olhos de um lado para o outro, percebendo
onde Pandora quer chegar.

"Ele manda sempre apenas os lobos ou os comensais," Pandora continuou.


"Ele não vem até você em pessoa, porque sabe que você está quase o
destruindo."

"Voldemort não é do tipo que recua, Pandora." Disse, a encarando. "Ele


definitivamente me mataria se me encontrasse, sem nem precisar pensar."

"Sim, ele mataria." Pandora disse. "Mas e se ele está esperando pelo
momento certo? Ele é esperto, sabe que você tem bruxos como Alvo
Dumbledore do seu lado, ajudando você. Por isso está atacando as pessoas
que você gosta. Como quando invadiram a casa de Mary na primeira vez ou
quando Remus e Sirius foram atacados. Ele não está fazendo isso porque
quer que você se entregue voluntariamente, ele está fazendo isso porque quer
pegar você sozinho."

"E o que isso tem a ver com as horcruxes?"

"Tudo." Pandora disse, como se fosse óbvio. "Você mesmo disse que
Voldemort não é do tipo que recua. Então, se ele está tão cauteloso agora é
porque sabe que está perto de ser destruído e não quer arriscar. Ele não tem
medo de nada, apenas de morrer. O que nos volta à teoria de que falta apenas

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uma, Reg. Uma horcrux e você acaba com o desgraçado. Por isso ele está
jogando assim."

"Merlim, Pandora." Sorri fracamente. "Como é que você pensa em tudo


isso?!"

"Acho que as coisas só vem à minha cabeça." Ela deu de ombros. "De
qualquer forma, eu achei que você deveria saber. Tenho quase certeza que a
horcrux que você está procurando é a última, Reg."

"Isso deveria me tranquilizar, eu acho," Suspirei pesadamente. "Mas só me


deixou mais nervoso."

"Nós vamos achar, Reg." Pandora disse, pegando o casaco de cima do sofá.
"Vai dar certo, você vai ver."

A Ordem não se reuniu na casa dos Longbottom naquele fim de tarde, como
fazíamos todas as vezes. Nos reunimos em uma casa menor, do tamanho de
uma sala de estar. Mas acho que não fazia diferença, porque a Ordem agora
estava menor desde a primeira vez que eu estive em uma reunião. Muitas
pessoas haviam desaparecido ou morrido, outras haviam simplesmente
desistido de lutar.

James e Lily agora sempre levavam Harry porque não havia com quem
deixá-lo já que estávamos todos lá. Senti falta de Frank e Alice quando
cheguei, mas decidi perguntar por eles apenas depois da reunião ser
finalizada.

As reuniões agora pareciam mais uma homenagem para as pessoas que


havíamos perdido desde a última vez que nos encontramos. Quando Moody
começou a ler a lista de desaparecidos, que crescia a cada reunião, Mary
fechou os olhos e eu segurei a sua mão involuntariamente por baixo da mesa.
Queria que ela soubesse que apesar das pessoas que sumiam a cada instante,
eu ainda estava ali. Com ela.

Moody nos deu instruções para andar sempre em par quando sairmos e as
missões agora só eram dadas para três pessoas ou mais juntas. Porque não
era mais seguro andar em número pequeno. Falou para mantermos as casas
trancadas e que usássemos todo o tipo de feitiço protetor que existisse. Ele
alertou sobre as florestas que agora estavam sendo tomadas por Greyback e
pelos lobisomens, não apenas nas luas cheias, mas o tempo inteiro. E que,

448
apesar de termos o rosto de vários dos comensais, ainda era perigoso confiar
em qualquer um porque não sabíamos quem eram todos.

"Mas eu os conheço," Interrompi Moody, com a voz firme. "Consigo


reconhecer todos eles se eu ver, pode me mostrar qualquer um."

"Não é o bastante. Você não sabe se outros não se juntaram à ele depois de
você sair." Moody respondeu.

Mary me deu um olhar gentil e eu apenas me calei depois disso. Missões


foram distribuídas para grupos de três ou quatro pessoas. Algumas para mim,
Remus e Lily. Outras para Sirius, Mary e Marlene. James, Molly e Arthur
Weasley também.

Ninguém perguntou sobre onde Frank e Alice estavam, mesmo eles sendo
um dos membros mais assíduos da Ordem. Na última reunião, eles estavam
normais e sorriam orgulhosamente quando a foto de todos nós foi tirada e se
algo tivesse acontecido com eles, com certeza seria avisado à nós. Então
deduzi que Neville apenas estivesse doente ou coisa parecida.

No final da reunião, depois que todos haviam se levantado para voltarem às


suas casas, Dumbledore pediu a Lily e James para ficarem. E James,
obviamente, pediu a mim, Sirius e Remus que também ficássemos.

"Vá em casa quando liberarem você, ok?" Mary disse, se despedindo de mim.
"Mesmo se não acontecer nada, ainda quero ver você."

"Não se preocupe," Tranquilizei-a, acariciando seu rosto. "Vejo você mais


tarde."

Quando todos haviam ido embora, ficamos apenas nós no pequeno espaço.
James e Lily sentados em um sofá, com os rostos muito sérios. Harry estava
um pouco agitado, se mexendo bastante no colo de Lily. Ele agora estava
com sete meses, o que me surpreendia às vezes, porque parece que havia sido
ontem que ele nasceu.

"Me dê ele aqui," Sirius estendeu os braços para Lily. "Vamos brincar com
o tio Pads, Harry?" Ele segurou o menino no ar, fazendo ele soltar uma
risadinha encantada.

Harry ainda não sabia dizer nada. Apesar de James jurar que o ouviu dizer
'pongues' uma vez, as únicas coisas que ele sabia dizer eram algumas sílabas

449
sem sentido. Mas Harry conhecia Sirius. Ele definitivamente sabia
diferenciá-lo de todos nós.

Os dois se sentaram no chão da sala, Harry posicionado entre as pernas de


Sirius. Ele enfeitiçou um carrinho de brinquedo a andar para frente e para
trás sozinho, hipnotizando Harry completamente.

Dumbledore pigarreou, chamando nossa atenção.

"Serei direto porque acho que a situação exige." Dumbledore disse, bastante
calmo. "Temo que o foco do Lorde das Trevas vá mudar em breve."

Todos nós erguemos os olhos, mas principalmente eu. Ele sabia? Ele tinha
certeza agora?

"Recebi informações seguras e tive conhecimento de uma profecia. Uma


profecia que se refere diretamente à Voldemort."

"Uma profecia?" Remus disse. "Que profecia? Do que está falando?!"

Tentei olhar para Sirius, esperando por algum olhar que me confortasse, mas
o olhar dele queimava em fúria. E ele mal parecia perceber que todos
estávamos ali.

"Ele vai mudar de foco, então," James quebrou o silêncio. "O que diabos ele
pode querer agora?"

"Na verdade, Sr. Potter," Dumbledore disse, encarando James. "Seu filho."

Eu tive um espasmo. Lily voou sua mão para a boca, dando um suspiro
amedrontado e Remus pôs a mão no ombro dela, tão assustado quanto. James
se endireitou rapidamente na cadeira, os olhos arregalados e a boca
entreaberta pelo choque. Sirius pegou Harry nos braços e se levantou de uma
vez.

"O quê?!" Sirius disse.

"Sinto muito," Dumbledore disse, firmemente. "Mas eu recebi ajuda de


pessoas de muita confiança, pessoas que-"

"Que pessoas de confiança?" Lily perguntou, os olhos ainda aterrorizados.

450
"Não posso dizer." Dumbledore respondeu. "Esta é uma situação
extremamente delicada."

"Então, mais alguém sabia disso?" Remus disse, chegando perto de


Dumbledore. "Alguém além de nós?"

"Não posso dizer." Dumbledore repetiu.

"Então diga alguma coisa útil!" Eu falei pela primeira vez, quase gritando.

"O que você quer dizer com meu filho?!" James disse, tão alto quanto.
"Como Voldemort saberia da existência de Harry?!"

"Por que Harry?!" Lily perguntou, a voz cheia de pavor. "O que Harry tem a
ver com tudo isso?!"

"A profecia fala sobre uma criança nascida no fim de julho." Dumbledore
disse.

"Por isso, Frank e Alice não estão aqui, não é?" Disse, estreitando os olhos.
"Neville também nasceu no final de julho."

"Frank e Alice Longbottom ficarão afastados de tudo que tem a ver com a
guerra, de agora em diante." Dumbledore respondeu. "Não posso informar o
paradeiro deles, mas eles estão bem longe de Londres agora. Foi decisão dos
dois priorizar a segurança de Neville."

"Mas o que exatamente sobre a criança?!" Remus perguntou, os olhos


atentos.

"Harry crescerá para derrotar Voldemort um dia, Lupin." Dumbledore


afirmou, firmemente. "Ele não medirá esforços para atingi-lo quando
descobrir."

"Você vai ter que se esconder," Falei, diretamente para James. "Vocês três.
Existem mais feitiços... feitiços de proteção que ainda não testamos...
pesquisei sobre isso. A profecia pode ser parada se eu destruir as horcruxes
até lá."

"Espere um pouco," Sirius disse, sombriamente. "Você... pesquisou?"

451
"Sim."

"Você sabia disso?" Sirius assumiu uma postura absurdamente defensiva.

"É claro que não!" Respondi, ofendido. "Você acha que se eu soubesse que
havia uma profecia que colocaria Harry em perigo eu não contaria, Sirius?!"

"Espere, então era isso?!" Sirius estava quase gritando agora. "Era isso que
você lia todas as noites?! Pensei que era apenas uma tarefa qualquer, mas
você estava pesquisando sobre profecias! Você suspeitava que algo assim
podia acontecer e não disse nada! Mesmo eu entrando no seu quarto todos
os dias para perguntar!"

"Sirius, Regulus fez isso porque eu pedi." Dumbledore interveio. "Eu fui
pessoalmente pedir que ele não contasse à ninguém. Não era seguro."

"Nada nessa situação é seguro, Dumbledore." James disse, sombriamente.

"Não é hora para isso agora, Sirius," Disse, firmemente. "Pandora falou com
Slughorn e ela tem motivos para acreditar que a próxima horcrux é a última.
Só preciso achá-la e isso tudo acaba. Ela acha que com a destruição delas e
a profecia..."

"Pandora sabia sobre a profecia?!" Sirius estava gritando agora. "Seu


desgraçado de merda!"

"Padfoot." Remus levantou a sua mão. "Se acalme."

"Não vou me acalmar!" Sirius gritou, o rosto completamente vermelho. Por


uma fração de segundo, eu não o reconheci.

Harry começou a chorar e Lily o pegou nos braços, beijando sua cabeça, as
lágrimas começando a rolar pelo seu rosto.

"Eu não contei porque eu não achei que a profecia se tratava disso, seu
idiota!" Gritei de volta. "E eu não queria dizer nada sem ter certeza! O que
foi, Sirius?! A guerra fez você parar de confiar em mim outra vez?!"

"É o meu afilhado!" Ele vociferou, empurrando os meus ombros. "O meu
melhor amigo! A minha família! Como você pôde não me avisar que achava
que existia uma profecia?! Podia ser sobre qualquer um! Qualquer um,
Regulus! Ainda era algo grande!"

452
"Sirius!" Lily vociferou, olhando feio para ele. "Regulus também é da
família!"

"Sirius, eu disse à Regulus para não..." Dumbledore começou.

"Você não é o meu irmão, ele é!" Sirius apontou o dedo para mim. "Por que...
por que continua fazendo isso?"

"Fazendo o quê, exatamente?!" Estreitei os olhos, que queimavam de raiva.

"Regulus está certo." Dumbledore disse, antes que Sirius pudesse responder.
"Vocês três terão que se esconder. Já temos planos em andamento."

"Quando?" Perguntou James. "Iremos hoje se for preciso."

"Logo." Dumbledore disse. "Estamos em vantagem por enquanto porque


Voldemort não sabe. Mas eu irei até você."

"Ok." James acenou nervosamente com a cabeça. "Ok. Certo. Tudo bem."

"Permaneçam atentos," Dumbledore disse, começando o seu discurso,


olhando intensamente para cada um de nós. Quando ele encontrou os meus
olhos, eu fiz questão de fuzilá-lo com o olhar, transmitindo toda a raiva que
eu estava sentindo de tudo. Dumbledore deu um rápido aceno de cabeça para
James antes de sair da sala.

Todos nós saímos da pequena casa em silêncio e nos entreolhamos,


nervosamente. Harry tinha adormecido no ombro de Lily, a mão gordinha
agarrando o seu pescoço.

"É melhor irmos para casa." Remus disse, dando um beijo na cabeça de Lily.
"Regulus. Padfoot."

"Acho que vou ficar na casa de Mary hoje." Respondi, finalmente encarando
Sirius que ainda me olhava furiosamente.

"Não, Reg, você não precisa..." Remus tentou.

"Não se preocupe, Moony," Respondi, sem desviar os olhos de Sirius. "Não


sou bem vindo em casa hoje."

453
"Padfoot!" James disse, tentando fazer Sirius dizer algo.

"Mande um beijo para Mary." Sirius disse, a boca em uma linha reta. Pegou
na mão de Remus e aparatou, sem dar a chance de ninguém dizer mais nada.

"Reg, se você precisar de algo, você pode ficar na nossa casa," James disse,
pondo uma mão no meu ombro. "A guerra está sendo difícil para todos nós
e Sirius não está lidando com isso tão bem quanto aparenta. Ele não está com
raiva de você de verdade."

"E você? Não está com raiva?"

"Reg, você agora para mim é o que Remus e Sirius são." James disse,
olhando nos meus olhos. "Lily e eu confiaríamos a vida de Harry à você, se
precisasse."

"Sirius deveria pensar assim também."

"Tudo isso... os ataques, comensais da morte, faz ele lembrar da família de


vocês. Ele não sabe em quem confiar..." James passou a mão no cabelo
bagunçado.

"Ele deveria confiar em mim." Disse, firmemente. "Não se preocupe, Prongs,


Mary está me esperando. Me avise se algo acontecer, ok?"

Aparatei direito para a casa de Mary. Não queria passar em nenhum outro
lugar, ou ver qualquer outra pessoa. Meu coração estava tão pesado de um
jeito que eu não sentia a muito tempo. E na minha mente corria uma ideia
tão perigosa que eu mal podia acreditar que estava tendo. Mais uma vez eu
estava quase colocando a minha vida em risco para provar que Sirius podia
confiar em mim.

Depois que cumprimos o protocolo, Mary me deixou entrar, o sorriso largo


e brilhante de sempre quando ela me via.

"Como foi lá?" Mary perguntou, me levando para o seu quarto e fechando a
porta atrás de nós. Ela estava sorrindo, mas quando viu a minha cara, o
sorriso se desfez rapidamente. "O que houve?!"

"Eu..." Eu sorri fracamente, sentando na cama, encarando as minhas mãos.


"Eu não sei, parece que não consigo fazer nada direito."

454
"Ei, ei... Do que você está falando?" Mary disse, sentando rapidamente do
meu lado e passando um braço pelo meu ombro.

Eu a encarei, tentando segurar tudo dentro de mim, mas era como se não
houvesse mais espaço. Então, eu contei tudo à ela.

E comecei a chorar descontroladamente.

***

Passei dois dias fora de casa. O dia em que passei com Mary, ela chorou
quando se tocou do perigo que os Potter estavam correndo agora, então o
apoio foi mútuo porque eu estava tão acabado quanto ela.

"James! E Lily!" Ela dizia, em meio às lágrimas. "E, Deus, Harry?! Ele é só
uma criança!" E então enterrava a cabeça no meu ombro.

Contei à ela o que eu estava pensando em fazer, porque não queria esconder
nada dela. Mary obviamente surtou no início e tentou me convencer do
contrário, mas eu estava irredutível. No fim, ela apenas disse que sabia que
eu não mudaria de ideia porque eu era tão teimoso quanto ela. Então, apenas
me apoiou.

Mary estava começando a perceber o meu exagero em tomar café o tempo


todo, principalmente quando passei a noite em claro. Acho que eu tomava
tanto café porque dormir era um saco quando eu estava aflito, porque os
pesadelos sempre voltavam. Então, Mary começou a fazer chocolate quente
para mim e procurou receitas de todos os tipos de chá diferentes para
substituir o café.

"Você não precisa perder seu tempo com isso," Disse, vendo-a folhear um
livro de receitas. "O café pelo menos já está pronto na cafeteira."

"Shhh." Ela levantou um dedo para mim, sem tirar os olhos do livro. "Você
não vai virar um viciado em cafeína comigo por perto. Então, fique quieto."

No segundo dia, eu já havia pensado demais em tudo e minha cabeça estava


tão pesada que eu podia jurar que ia se desgrudar do meu pescoço. Fui ver
Pandora e dizer que eles já sabiam de tudo e não havia mais segredos a
esconder.

455
Eu não precisei chorar ou dizer que eu e Sirius havíamos brigado, Pandora
apenas me olhou e simplesmente soube. E eu acho, honestamente, que isso
é tudo que você pode esperar de uma amiga.

"Você tem certeza disso?" Pandora perguntou, quando contei à ela. "Quero
dizer, é realmente muito inteligente, mas... Porra, isso é perigoso para
caralho, Regulus."

"Tenho." Assenti, firmemente. "Vou falar com Dumbledore quando sair


daqui. Você pode vir comigo se quiser. Mas preciso fazer isso."

"Claro que eu vou com você." Ela disse, pegando a chave de casa na bancada
da cozinha.

Quando voltei para casa depois dos dois dias, torci para encontrar a casa
vazia. Eu faria qualquer coisa por um minuto em silêncio comigo mesmo.
Mas Sirius e Remus estavam em casa, os dois tinham marcas profundas e
escuras embaixo dos olhos. Remus veio correndo até à sala.

"Puta que pariu, Regulus!" Ele xingou quando me viu. "Por onde você
andou?! Onde é que você estava dormindo? Porra, eu fiquei tão preocupado!
Seu idiota!"

"Não se preocupe, eu dormi na casa de Mary," Falei, tirando o meu casaco.


Sirius apareceu, se encostando discretamente na parede, me observando com
os olhos estreitos sem dizer nada, a boca em uma linha reta. "Desculpe,
Moony."

Andei até à cozinha, em silêncio. Eu precisava beber alguma coisa. Peguei o


primeiro uísque que vi na cozinha e enchi um copo dele, virando-o de uma
vez, sentindo a garganta queimar. Remus esperou impacientemente atrás de
mim.

"Aconteceu," Eu disse, finalmente. "Eles estão escondidos."

"Lily e James?!" Remus arregalou os olhos.

Sirius rapidamente se endireitou na parede. "Como? Onde?!"

"Godric's Hollow." Respondi, calmamente. "Eu e Dumbledore resolvemos


tudo."

456
"Tem certeza que é seguro?!" Sirius veio até mim, parecendo esquecer toda
a briga que tivemos. "Eu passei um pergaminho cheio de feitiços de
segurança para James usar e..."

"Ah, eles não vão precisar disso." Eu acenei com a mão. "Dumbledore e eu
fizemos algo mais seguro do que isso."

"O quê?" Remus semicerrou os olhos.

"Feitiço Fidelius."

"Oh." Sirius franziu a testa. "É, isso com certeza vai bastar, eu acho. Mas por
que colocaram em Dumbledore?! Eu sou o melhor amigo deles, deveria ser
eu, não é?"

"Dumbledore se ofereceu." Eu respondi. "Mas decidimos que era melhor se


fosse um de nós."

"Um de..." Remus começou, e então um balde de água gelada pareceu ter
caído sobre ele. "Não." Ele balançou a cabeça.

"Não, espere aí," Sirius disse, me olhando. "Me diga que você não se
ofereceu!"

"Sim." Disse, simplesmente.

"É muito perigoso!" Sirius vociferou.

"Six..."

"Não! Sem Six!" Sirius disse, bruscamente. Ele começou a andar, a se mover
na cozinha. "Por que você?!"

"Vocês dois seria óbvio demais. Mary tem uma família trouxa, é mais
perigoso ainda. Pandora está esperando uma filha." Respondi. "Ninguém vai
desconfiar de um ex comensal da morte, nem mesmo Voldemort vai achar
que vocês confiaram tanto em mim para isso. É perfeito."

"Me diga que você não fez isso para provar alguma coisa, Regulus." Remus
disse, sombriamente.

457
"Fiz isso para ajudar meus amigos!" Eu disse, mais alto agora. "Fiz isso por
Harry! E para termos tempo de achar a horcrux!"

"Encontre outra pessoa!" Sirius gritou. "Qualquer um! Eu mesmo farei isso!"

"Você sabe que tem que ser eu."

"Não!"

"Já está feito." Dei de ombros. "Resolvi isso. Você pode voltar a falar comigo
agora que voltei a ser o herói da história."

"Seu idiota." Sirius murmurou.

"Vai dar certo. Tenho certeza." Eu disse, passando os olhos entre os dois.

Então foi feito. Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. Não houve
despedidas, Lily, James e Harry simplesmente desapareceram sem deixar
rastro nenhum.

458
Capítulo 35: Primavera 1981

Dissemos às pessoas que o sangue de Lily colocava ela, James e Harry em


perigo e isso fez com que a súbito desaparecimento deles fosse necessário.
Já Frank e Alice, Dumbledore convenceu as pessoas de que eles passariam
um tempo na casa de um parente distante, porque não achavam saudável
Neville crescer no meio de uma guerra.

Eram todas explicações muito boas, porque eram coisas que faziam as
pessoas pensarem que a qualquer hora eles estariam de volta. Quando a
guerra acabasse, então Frank e Alice poderiam voltar para Londres porque
não haveria mais perigo. Quando a guerra acabasse, James e Lily poderiam
voltar com Harry porque não haveria mais perigo.

E é aí que eu entro. Porque para a guerra acabar, eu preciso encontrar e


destruir uma horcrux que não faço ideia do que seja ou de onde está e que
provavelmente é a última. Então, talvez eu estivesse me sentindo meio
sobrecarregado.

"Reg, são quase uma da manhã," Remus colocou a cabeça para dentro do
meu quarto pela brecha da porta, vendo um monte de livros espalhados pelo
chão e pela cama e um papel enorme colado na parede com fotos, datas e
informações. "Você está com uma cara horrível. Deveria dormir."

"Não se preocupe, é o meu quinto copo de café. Não estou com sono."
Respondi, sem levantar os olhos de um livro na minha perna.

"Quinto?!" Remus arregalou os olhos. "Regulus, amanhã você continua com


isso."

"Não, estou bem," Respondi, balançando a mão, desdenhosamente. "Boa


noite."

"Reg, você não..."

"Porra, me deixe em paz!" Isso saiu mais alto do que eu realmente queria.
Remus congelou na porta, a mão imóvel na maçaneta. Me arrependi um
segundo depois que as palavras saíram da minha boca. "Droga... Olhe,
Moony, me desculpe, ok? Eu só... você sabe que preciso dar um jeito de
descobrir o que é essa coisa o mais rápido possível. Isso está realmente me
deixando louco."

459
"Não, tudo bem," Ele respondeu rapidamente. "Eu entendo. Mesmo. Boa
noite, Reg."

Respirei fundo e me joguei de costas na cama, levando as mãos ao meu


rosto.

Procurei em literalmente todos os lugares que pude. Li livros inteiros sobre


Hogwarts, dando ênfase nos anos 40, que foi o tempo em que Voldemort
estudou lá. Juntei datas, acontecimentos, tragédias que ocorreram quando ele
começou a ascender no mundo da magia. Conversei com Dumbledore mais
de uma vez e implorei para que ele me desse detalhes sobre o quê exatamente
Voldemort fazia nos seus dias de escola. Livros que ele lia, aulas de que mais
gostava e até qualquer mínimo acessório que ele usasse, coisas como o
medalhão ou o anel.

"Lamento, Regulus. Eu ajudaria você se soubesse de algo realmente útil."


Foi tudo o que ele disse. Antes de se virar e me deixar sozinho.

Eu dedico todo o meu tempo à procurar horcruxes, visitar Pandora que já


está no final da gravidez e ver Mary. Temos nos comunicado com James e
Lily por cartas. Ela diz que James mal para quieto em casa, fica o tempo todo
ansioso e dorme muito mal. Harry parece saber que algo de ruim está
acontecendo em volta deles, porque tem acordado chorando mais vezes do
que o normal. Lily está tentando cuidar de tudo o máximo que pode, mas o
medo de tudo dar errado está sempre à espreita.

Sirius ainda não fala comigo.

"Dê tempo a ele, Reg," Remus disse, quando Sirius estava no banho. "Ele se
sentiu realmente traído quando você disse que sabia que havia uma profecia."

"Eu achei que eu tivesse me redimido quando me ofereci para ser a porra de
um fiel do segredo!"

"Então você admite que foi por causa de Sirius que você fez isso?"

"O quê?! Olhe," Respirei fundo. "Não faço ideia do que Sirius quer de mim,
já fiz tudo o que podia ter feito. E eu já disse que não sabia sobre do que a
profecia se tratava, por Merlim!"

460
"Ele também está chateado porque você se ofereceu, acho." Disse Remus,
acendendo um cigarro. "Ele tem medo de perder você. E está sentindo falta
de James."

"Não defenda ele, Moony."

"Não estou." Remus ergueu as mãos no alto. "Só estou dizendo que vocês
dois não são tão diferente quanto pensam que são. Vocês lidam com as coisas
do mesmo jeito. Agindo, nunca conversando."

"Eu não faço isso!"

"Sim, você faz." Remus sorriu fracamente, tragando o cigarro na boca. "E é
melhor você parar de beber tanto café ou seu coração vai literalmente parar."

"Ótimo." Ergui a xícara no ar. "Assim ele faz companhia para o seu pulmão
no céu."

"Ai." Remus levou à mão ao peito, sorrindo. "Ele sentiu essa."

Antes de Sirius sair do banho, eu saí de casa. Em parte por não querer dar de
cara com ele, em parte porque havia recebido uma carta de Carter pedindo
para que eu ligasse para ele esta tarde. Ele disse que estava bem, mas do jeito
que as coisas estão ultimamente, nenhuma notícia no jornal ou carta de
alguém conhecido vem com algo realmente bom.

"Wood!" Exclamei, sorridente, brincando com o fio do telefone da cabine.

"Black!" Ele respondeu de volta e fiquei aliviado ao perceber no seu tom de


voz que estava tudo bem. Pelo menos com ele eu não precisava me
preocupar. "Como é que você está, huh?"

"Estressado para caralho." Revirei os olhos, me encostando cansadamente


no vidro. "Deus, Carter, se você soubesse o tanto de coisas que estão
acontecendo por aqui ultimamente."

"Espere, me deixe adivinhar," Ele disse. "Algo deu muito errado e você fez
algo radical para tentar consertar, não é?"

"Babaca esperto."

461
"É por isso que você me ama!" Carter gargalhou. "Acho que vou para
Londres no mês que vem. Então, você pode me contar tudo."

"Mas e seus pais?! Quer dizer, eles vão deixar você ficar lá?"

"Eu consigo me virar, você sabe," Ele respondeu. "Não se preocupe comigo."

"Eu diria para você ficar em casa se tivesse espaço. Mas não tem nenhum
quarto sobrando e não vou deixar você dormindo em um sofá."

"Falando em quarto," Carter disse, um tom brincalhão. "E você e Mary?"

"Ah, ela é realmente incrível!" Eu sorri para mim mesmo, como sempre fazia
quando pensava nela. "Acho que, no momento, ela é a coisa mais estável e
certa que eu tenho."

"Como assim?! E Sirius? James, Lily..."

"Sirius e eu não estamos bem." Respondi. "James e Lily estão passando,


digamos que, um tempo longe, eu acho."

"E Pandora?"

"Pandora está passando a maior parte do tempo com Phil. Acho que os dois
querem aproveitar o fim da gravidez." Respondi, pensativo. É claro que eu
ainda via Pandora quase todos os dias, mas sempre que estávamos juntos era
para ela me ajudar com a busca. Então, não tivemos tempo para conversar
de verdade.

"Você não está, tipo, se afastando de ninguém, não é?" Carter disse. "Quer
dizer, às vezes você faz isso, lembra? Se isolar."

"Não, eu juro," Respondi, rapidamente. "Eu só... não sei, talvez seja apenas
um momento ruim. Vai passar."

"Regulus Black, você está sendo positivo?!" Carter brincou, quebrando o


clima pesado do assunto. "Cuidado. Está perdendo sua marra de bad boy."

"Deus, você é inacreditável!" Eu gargalhei.

462
"Mas sério," Carter disse, terminando de sorrir. "Não se afaste... sabe? Não
faça isso. Ninguém é melhor sozinho."

Caminhei de volta para casa pensando muito nisso. 'Ninguém é melhor


sozinho'. Eu sabia disso. No último ano, eu aprendi que precisava mais das
pessoas que eu amava lutando comigo do que precisava protegê-las
mantendo distância. E sim, Sirius estava sendo um idiota sem falar comigo.
Mas talvez eu simplesmente tivesse aceitado isso fácil demais e não feito
nada à respeito porque o meu instinto ainda diz para eu manter as pessoas
longe de mim.

É quase como se eu tivesse medo de perder, então prefiro não ter.

Eu não podia conversar sobre isso com Mary porque ela tentaria me
convencer de que não devo me culpar porque sou uma pessoa boa. O que não
é exatamente um conselho ruim, eu apenas não acho que é o que eu preciso
ouvir. Pandora diria a mesma coisa. Remus já disse o que tinha para dizer.

Nunca senti tanta falta de James como senti naquela hora. Ele saberia
exatamente o que dizer porque conhece Sirius melhor do que qualquer um.
Melhor até que Remus. Melhor até que eu.

James saberia como lidar com a teimosia de Sirius e com o meu orgulho de
merda. Porque esse é o tipo de pessoa que James é. Ele é bom. E puro.
Raramente fica com raiva das pessoas por coisas que elas não podem
controlar e nunca nega ajuda à ninguém se essa pessoa tiver feito mal à ele
diretamente. Eu, Sirius e Remus mataríamos por ele, sem pensar duas vezes.

Mas James morreria por nós.

Quando entrei em casa, Sirius e Remus estavam sentados no sofá, de frente


para as duas poltronas. Dois rapazes estavam sentados na frente deles, lado
a lado. Eles pareciam ser amigos dos dois porque havia uma bandeja no meio
da mesa, com um bule de chá e quatro xícaras postas e todos estavam em um
clima bom e amigável.

"Reg!" Remus me olhou por cima dos dois meninos sentados. Sirius me
olhou, mas não disse nada, "Que bom que você chegou!"

"É, eu... eu fui apenas até à cabine na esquina da rua," Os dois na poltrona se
viraram para mim e sorriram, franzindo os lábios. "Hm... Olá."

463
Remus deu um salto do sofá. Ele parecia radiante. Andou até onde eu estava
com um sorriso no rosto. "Reg, estes são Lucian e Shade."

"É um prazer," Eu disse, assentindo e dando a mão para um deles. "Regulus


Black."

"É aquele que traiu o Lorde das Trevas, não é?" Shade disse, a voz curiosa,
quando se levantou para me cumprimentar.

"Ouvimos falar de você." Lucian me olhou, os olhos cintilantes.

Shade era mais alto e mais forte. Ele era branco e tinha o cabelo um pouco
bagunçado e uma barba rala. Lucien era menor, mas não tanto. Ele tinha a
pele escura e o cabelo raspado, os olhos verdes e parecia ser mais novo que
o outro.

"Acho que minha fama me precede." Sorri fracamente.

Foi quando notei algo em comum entre os dois. Eles tinham uma cicatriz na
lateral do rosto que de frente era difícil de ser vista. Como se tivessem sido
castigados por alguma coisa igualmente. E fora isso, haviam outras cicatrizes
menores espalhadas pelo rosto e pelo corpo deles. Eu já convivia com Remus
o suficiente para reconhecer.

Lobisomens. Porra.

"Eles são meus amigos." Remus disse, firmemente, se virando para me


encarar. "Estão do nosso lado agora."

"Você trouxe lobisomens para dentro de casa?" Perguntei, a voz áspera.


"Você ficou louco?!"

"Você não ouviu o que Remus disse?!" Sirius se intrometeu. "Eles estão do
nosso lado."

"Ah, e você decidiu falar comigo agora?!" Eu disse, Sirius se encolheu.


"Remus, isso não é seguro. Não quando temos dois dos nossos melhores
amigos correndo perigo e quando estamos tentando encontrar você-sabe-o-
quê."

"Eu confio neles, Regulus. Você sabe que lobos sentem esse tipo de coisa."
Remus me encarou.

464
"Somos leais à Remus Lupin." Lucien assentiu, corajosamente.

"Ele é nosso alfa agora." Shade disse, ele e Remus se encararam e alguma
espécie de conexão canina foi estabelecida entre eles dois.

"Moony, eu confio em você," Eu disse, com cuidado. "Mas você não espera
que eu confie tudo aos seus instintos de lobo, não é?"

"Isso não é confiar em mim." Respondeu Remus, indecifrável.

"Vocês eram dele, não é?" Passei os olhos entre os dois. "Greyback." Os dois
assentiram devagar, quase como se estivessem envergonhados. "Você traz
dois lobos de Greyback para dentro de casa e espera que eu confie neles de
primeira?! Você nem sabe o que a Ordem vai dizer sobre isso."

"Ei!" Sirius se intrometeu, se levantando do sofá e vindo até mim. "Não fale
assim com Moony. Ele é a pessoa mais responsável de todos nós. Se ele
confia em Lucien e Shade, então eu também confio."

"Vocês não entenderam que porra está acontecendo aqui?!" Perguntei,


aumentando a voz. "Eu estou quase ficando louco com tudo isso e vocês
colocam dois deles debaixo do nosso teto?! Eles não são tão diferentes deles!
Imaginem como seria se vocês confiassem em colocar um comensal da morte
dentro de casa por causa de intuição!"

"Nós já fizemos isso." Remus disse, estreitando os olhos. E eu desarmei.


Quis colocar todas as palavras de volta para dentro.

"Você está sendo um puta de um babaca." Sirius resmungou.

"Eu?!" Isso foi demais. "Vai se foder! Você é quem não fala comigo a
semanas porque é um mimado do caralho que acha que o mundo é preto e
branco! As pessoas cometem erros, Sirius! Lide com isso ou se afaste de
mim outra vez!"

"Agora eu entendi." Remus sorriu fracamente e se virou para os dois


lobisomens. "Peguem isto. É uma chave. Conversei com James e Lily sobre
tudo isso e eles ofereceram generosamente. Eles não estão por aqui agora,
vocês podem dormir na mansão se não tiverem para onde ir. Tem todo o tipo
de feitiço protetor lá, vão ficar seguros. Deixem que eu me resolvo com esses
dois."

465
"O quê?!" Arregalei os olhos. "Mas Moony..."

"Regulus, pare de reclamar." Ele me encarou. "Deus, você é muito irritante."

Depois que os dois lobos saíram de casa, Remus se virou de uma vez para
mim e Sirius. Não era lua cheia, mas Remus estava quase rosnando de tanta
raiva.

"Vocês dois! No sofá!" Remus esbravejou, assustando eu e Sirius, que


andamos devagar até o sofá e nos sentamos um em cada ponta. "O que porra
acabou de acontecer aqui?!"

"Moony, você sabe que eu estou do seu lado!" Sirius disse. "As coisas deram
errado quando ele decidiu se meter!"

"Não, as coisas estão dando errado a semanas, desde que você dois decidiram
agir como crianças imaturas no meio da droga de uma guerra!" Remus
vociferou, irritado. Ele respirou fundo e acendeu um cigarro entre os dedos.
"Regulus, o que... o que foi tudo isso?! Quando eu falei para você sobre trazer
eles para o nosso lado, você me apoiou. Eu achei que sua reação fosse ser
completamente diferente."

"Eu estou do seu lado, Moony. Estou de verdade. Mas isso foi antes de
descobrirmos sobre a profecia. Antes de termos que esconder James e Lily.
Antes de eu estar dormindo mal e quase não vendo a minha namorada ou
minha melhor amiga que está grávida, porque preciso procurar a droga
daquela coisa." Respondi. "Sinto muito se eu fui grosso com eles e sinto
muito se também não falei com você, Sirius, mas não estou tendo muito
tempo pra ser gentil ultimamente."

Remus tragou o cigarro mais uma vez e correu os olhos até Sirius. "Padfoot?"

Sirius ficou em silêncio por um tempo, até que finalmente suspirou. "Sei que
não estou totalmente justo, ok? Mas eu... porra, lealdade é uma coisa
realmente importante para mim. Quando eu percebi que você sabia, Reg, que
a profecia existia, fiquei com medo de termos nos distanciado de novo sem
eu perceber e por isso você decidiu não me dizer. E depois você se ofereceu
como fiel do segredo e eu... eu não soube como reagir. Perder James já é algo
impensável para mim. Mas perder vocês dois... Não sei se eu aguentaria.
Provavelmente não."

"Viu?" Remus disse, sorrindo. "Estamos conversando. Finalmente!"

466
Quando eu abri a boca para responder, fomos interrompidos por uma coruja
na nossa janela. O barulho fez Remus se virar rapidamente. Correndo até a
coruja com as correspondências, "É apenas o Profeta Diário..." Ele começou
a ler, os olhos correndo pelo papel. De acordo com que seus olhos iam
passando, eles iam se arregalando mais, ele sussurrou, "Puta que pariu..." E
apagou o cigarro em um cinzeiro na pia, ainda atento ao jornal.

Troquei um olhar com Sirius, e ele olhou para Remus. "Moony? Tudo bem
aí?"

"Acho que vocês dois deveriam ver isso." Remus veio até nós, nos
entregando o jornal na mão. Sirius e eu começamos a ler.

SENHOR E SENHORA BLACK CONFIRMADOS MORTOS

Orion e Walburga Black, donos legítimos da mansão do Largo Grimmauld,


foram confirmados mortos hoje. Casados desde 1945, os senhores tiveram
dois filhos que foram deserdados nos últimos anos. Eles foram encontrados
mortos em sua casa, sem nenhum rastro de quem foi o culpado. Não se sabe
na posse de quem a Mais Nobre E Antiga Casa dos Black ficará após a
tragédia.

Orion e Walburga deixaram seus últimos familiares, que comparecerão a


um serviço memorial privado no final da semana. A família solicitou
privacidade.

"Tem outra coisa." Remus disse, hesitante.

"O quê?" Sirius perguntou. Eu estava chocado demais para falar alguma
coisa.

"Lucien e Shade disseram que Voldemort ficou realmente furioso com os


pais de vocês por tudo que você estava fazendo, Reg. Eles não atacaram eu
e Sirius porque Voldemort mandou." Remus fez uma pausa. "Eles nos
atacaram porque Orion e Walburga mandaram."

***

Acho que eu estaria mentindo se eu dissesse que eu estava feliz. Mas estaria
mentindo mais ainda se dissesse que estava triste.

467
Eu me sentia estranho. Porque é estranho para qualquer um quando os pais,
as pessoas que viram você crescer, morrem. Quando as pessoas que amavam
você mais do que qualquer um se vão para sempre, uma parte sua vai junto
com eles. É assim que as coisas são.

Mas a questão é que eu nunca fui amado pelos meus pais. E acho que, em
certo momento da minha vida, eu percebi que eu simplesmente não podia
amá-los também. Porque não dá para amar alguém que você tem medo.
Então, eu acho que não me sentia estranho porque eles tinham morrido. Me
sentia estranho por não conseguir achar nenhuma parte dentro de mim que
se afetava com a morte dos próprios pais.

Sirius jogou o jornal na mesa e deu de ombros, "Bom, eles tiveram o que
mereceram. Vou cuidar da moto. Se precisarem de mim, vou estar na
garagem."

Eu e Remus trocamos um olhar. Eu sabia exatamente o que eu estava sentido.


Mas precisava saber o que o meu irmão sentia.

Fui até a garagem da casa. Sirius estava agachado em frente a moto, com a
varinha prendendo um nó no seu cabelo tão suado que grudava na testa. A
regata preta e o coturno já estavam todos sujos de graxa, mas ele não parecia
se importar muito. Bati na parede de madeira. "Six? Posso entrar?"

"Claro." Ele disse, distraído. Eu puxei um banquinho e me sentei em um


canto.

"Você está bem? Digo, está sentindo alguma coisa?"

"Quer saber se estou triste porque nossos pais torturadores de merda


morreram?" Sirius arqueou uma sobrancelha para mim. "Nem um pouco.
Você?"

"Nada também." Sorri fracamente. "Não é estranho? Nós crescemos na


mesma casa que eles, mamãe nos vestia e cuidava da nossa aparência, e
papai..."

"Nosso pai nos explicou como os filhos são feitos, você lembra?" Sirius me
olhou. "Quando eu tinha treze e você doze, ele nos sentou no sofá e
disse, 'Sirius, Regulus, arranjaremos noivas para vocês em breve. Então,
para vocês gerarem herdeiros, vocês precisam se deitar com as suas moças
e enfiar os seus...'

468
"Merlim, não! Não repita isso, por favor! Eu fiquei traumatizado. Não
cheguei perto de nenhuma menina por semanas. Pandora achou até que eu
estava com alguma doença contagiosa." Eu cobri o rosto com as mãos,
sorrindo. "Eles eram pais horríveis."

"Os piores." Sirius concordou, passando a varinha por cima de um dos pneus
da moto. "As únicas lembranças boas que tenho da nossa infância são com
você."

"As minhas também. Literalmente todas."

"Acabei de ter uma ideia." Sirius se levantou, ficando de pé na minha frente


e estendendo a mão para mim. "Segure a minha mão."

"O que você..."

"Ah, apenas segure!" Sirius agarrou a minha mão e um segundo depois,


estávamos aparatando.

Quando caímos em um gramado seco e amarelado, minha visão demorou


para voltar ao normal. Olhei ao redor e tudo ainda estava meio turvo. O jeito
de Sirius de aparatar é tão caótico quanto ele.

"Onde é que estamos?"

"Largo Grimmauld."

"O quê?! Sirius! Se virem nós dois aqui, os rumores de que eu não totalmente
leal à Ordem vão aumentar!"

"Dá para você se acalmar?!" Sirius disse, tirando a grama das calças. "A casa
é protegida, lembra? E além do mais, ninguém vem aqui, Reg."

Eu conseguia ver agora. A mansão enorme e assustadora à nossa frente. Os


mesmos portões, o mesmo gramado sem vida, o mesmo mármore escuro, as
mesmas estátuas de cobras na entrada...

"Eles arrumaram depois da explosão." Observei, encarando a mansão de


longe.

"Não sei porque." Sirius deu de ombros. "Eu preferia como a deixamos."

469
"Nós costumávamos vir muito para esse gramado antes de você sair de casa."

"Sim, eu me lembro." Sirius disse, se sentando na grama, cruzando as pernas.


"Sempre gostei do lado de fora. Quando éramos menores, era mais verde e
bonito."

Abaixei para me sentar ao lado dele, cruzando as pernas também, enquanto


encarávamos a mansão que ainda estava um pouco distante.

"Lembra de quando caí e me machuquei bem ali?" Apontei para uma parte
do gramado. "Fiquei puto porque você também tinha caído e se machucado,
mas levantou como se não estivesse sentindo nada quando o meu joelho
estava doendo para caralho."

"Vou te contar um segredo, Reg." Sirius sorriu. "O meu estava doendo
demais também. Eu só não demonstrei para parecer forte e corajoso para
você."

"Que tocante da sua parte. Estou lisonjeado." Levei a mão ao meu peito.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que Sirius quebrou o silêncio.
"Vocês os amou em algum momento?"

"Hm?"

"Mãe e pai. Vocês sentiu algo... como amor?"

"Eu sempre soube no fundo que eles eram incapazes de nos amar." Respondi,
encarando a mansão. "Na maior parte do tempo, eu queria que eles sentissem
orgulho de mim, mas... amor?! Não. Não acho que eles conseguiam."

"Eu achava que sim."

"Sério?"

"Sim. Até os meus treze anos, pelo menos." Sirius engoliu em seco. "Achava
que não existiam pais que não amavam seus próprios filhos e que eles eram
assim porque eram muito rígidos e intolerantes, mas não porque não nos
amavam. Acho que por isso foi mais fácil para mim ir embora."

"Mais fácil?"

470
"É. Você sempre foi o inteligente, você percebia tudo. Eu não." Sirius disse,
o olhar distante. "Você sempre soube como eles eram e não criava
expectativas que um dia eles iriam acordar e milagrosamente amar você, o
máximo que eles podiam sentir era satisfação se virássemos comensais da
morte. Você sabia disso."

"É. Eu sabia sim." Concordei com a cabeça. "Com certeza, sabia."

"Quando caiu a ficha para mim que eles nunca poderiam me amar como eu
era, foi fácil ir embora." Sirius deu de ombros.

"Acho que como eles nunca fizeram nada que eu já não esperava, eu achava
que todas as famílias eram assim." Respondi. "Não consegui ir embora com
você porque não entendia o que você via."

"Me desculpe, Reg," Sirius disse, quase num sussurro. "Sinto muito por ter
ficado bravo com você e chamado você de..."

"Desgraçado de merda." Eu sorri.

"Ei!" Sirius bateu no meu braço. "Você me chamou de mimado do caralho!"

"É porque você é!" Eu gargalhei e ele também. "Me desculpe também. Eu
deveria ter dito à você que sabia. Eu estava com medo de... de ter que ser eu
a te contar isso, eu acho. Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo, Six,
de verdade. Eu estava com raiva de você e, Deus, ainda descontei em Remus.
Não sei o que eu estava pensando."

"Tudo bem, eu... eu preciso entender que as coisas não são preto e branco,
como você mesmo me disse. Tenho que entender que as pessoas cometem
erros e que não sou eu quem posso decidir se elas merecem ou não serem
julgadas por isso. É só que... sempre que algo assim acontece entre nós dois,
eu fico com medo de nós dois nos afastarmos outra vez."

"O mundo não é dividido entre pessoas boas e comensais da morte, Six," Eu
disse, o encarando. Ele me encarou de volta. "Todos temos luz e trevas dentro
de nós."

Sirius assentiu, pegando a mensagem totalmente. "O que importa é o lado


que decidimos seguir. Isso é o que realmente somos."

471
Eu suspirei. "Vou destruir aquela coisa, Sirius. Vou encontrar e vou acabar
com isso de uma vez."

"Nós vamos." Sirius segurou minha mão e sorriu para mim. "Eu prometo.
Dessa vez, de verdade."

"Vamos lá," Disse, me levantando, e o ajudando a se levantar. "Vamos


acabar com isso."

Eu e Sirius chegamos perto da mansão e demos uma boa olhada. Nós dois
crescemos aqui com a família mais horrível que alguém poderia ter. Uma
infância e uma adolescência cheia de dores e traumas que refletiam ainda
hoje na nossa vida. Então, talvez não fosse tão estranho eu não sentir nada.
Na verdade, eu tinha certeza que estava feliz. Porque essa parte horrível da
nossa vida finalmente havia morrido.

Eu e Sirius levantamos nossas varinhas em direção à mansão. E colocamos


aquela droga à baixo, destruindo tijolo por tijolo.

472
Capítulo 36: Regresso

TW: Pensamentos autodestrutivos.

A destruição da mansão dos Black foi noticiada no Profeta Diário já na


manhã seguinte como um 'crime a ser investigado'. Cygnus deu uma breve
pronunciação, amaldiçoando quem tenha ousado mexer com uma das
famílias mais nobres e antigas da Grã-Bretanha. Sirius soltou uma risada
irônica quando viu a manchete.

"Esse cara sempre foi uma piada." Ele sorriu, depois de jogar o jornal em
cima da bancada da cozinha e ir preparar o almoço.

Escrevemos para Lily e James, como fazíamos agora todos os dias. As coisas
não haviam melhorado muito desde a última vez que falamos com os dois.
Era horrível ver Sirius passar noites acordado preocupado com os Potter e
não poder fazer nada para ajudar. Tudo que eu podia fazer era continuar
procurando. Continuar procurando, continuar procurando...

Então, quando finalmente decidi me dar uma folga, eu só precisava de uma


pessoa.

"Você estava se segurando mesmo, não é?" Mary sussurrou, a voz rouca,
quando eu abri a porta do meu quarto com um dos pés enquanto a segurava
pela cintura e beijava o seu pescoço. Eu precisava dela tanto que mal
conseguia aguentar.

Eu a joguei na cama, ficando por cima dela, e arranquei a minha própria


camisa, jogando-a em algum canto qualquer do quarto. Mary passou a ponta
dos dedos devagar do meu peito até o meu abdômen e eu estremeci apenas
com o atrito da ponta das suas unhas com a minha pele.

Eu a beijei outra vez, desta vez mais ferozmente. Ela levou as mãos até o
meu cabelo, puxando ele com as mãos enquanto eu desabotoava o shorts
dela. Quando consegui espaço o suficiente para colocar a mão por dentro
dele, eu o fiz com o maior prazer. Coloquei dois dos meus dedos em sua
boca, molhando-os o suficiente para colocá-los dentro dela e ela quase
rasgou os lençóis com as mãos quando eu fiz.

Eu não precisava que ela fizesse nada. Eu já estava totalmente pronto para
ela desde o momento que passei pela porta do seu quarto. Quando eu acelerei
meus dedos mais do que pensei que pudesse ser capaz, ela agarrou meu pulso

473
com força e me lançou um olhar assustadoramente faminto, me fazendo
parar.

"Eu quero mais..." Ela ofegou, a voz ainda rouca. "Eu quero algo maior do
que isso."

Eu sorri travessamente, com os dois dedos ainda dentro dela, mas agora
parados. "Vai ter que me pedir direito."

"Não vou implorar para você."

"Gosto quando você implora." Sussurrei no seu ouvido, mexendo mais uma
vez os dedos dentro dela.

Aquilo acendeu alguma coisa animal nos olhos de Mary. Ela puxou o meu
pescoço e me beijou com tanta força que eu senti o gosto metálico de sangue
no meu lábio inferior. Em questão de um segundo, ela já havia tirado o meu
short e me deixado só de cueca por cima dela.

Deitada na cama, eu a virei de uma vez, passando a duas mãos pelas costas
morenas e perfeitas até a bunda. Passei o indicador mais uma vez entre as
pernas dela, e ela afundou o rosto no travesseiro, amaldiçoando o meu nome.

Me posicionei em cima dela e, usando cada uma das minhas mãos, eu abri o
espaço que precisava para me pôr dentro dela, já que as pernas dela estavam
fechadas embaixo de mim. Quando me empurrei dentro dela, me inclinei
para frente, deixando nossos rostos próximos e envolvi a minha mão pela
frente do seu pescoço, a outra levantando um dos lados da sua bunda.

Por alguns minutos, tudo ficou bem. Até que não estava mais.

"Acho que vou ver Pandora esta tarde." Comentei, com Mary deitada em
meu ombro. "Eu e ela temos estado um pouco distantes."

"Por qual motivo?"

"Não faço ideia... talvez porque eu queria que ela e Phil tivessem um tempo
para os dois no fim da gravidez. Você sabe, sem o Regulus Maníaco por
Horcruxes Black por perto."

"Não fale assim de você," Mary fez uma cara feia, acariciando a minha
bochecha. "Se você quiser, posso ir com você até lá."

474
"É. Isso seria bom." Sorri, deixando um beijo em sua testa.

"Onde estão Sirius e Remus?! A casa só fica silenciosa assim quando eles
não estão." Mary sorriu, tirando um cacho da testa suada.

"Saíram para comprar um presente para Harry," Respondi. "Remus quer


comprar algo que uma criança possa brincar, mas Sirius está quase certo de
que vai convencer Moony a comprar uma vassoura."

"Uma vassoura?!" Mary gargalhou. "Não sei porquê estou surpresa, se Sirius
quiser usar a fortuna de vocês dois para contratar um time de quadribol para
jogar no aniversário de um ano de Harry, então ele vai."

"Eu entendo ele. Eu mesmo gastaria até o último centavo que eu tenho para
fazer qualquer coisa para você ou para algum filho nosso." Disse, virando o
queixo dela para mim com a mão.

Mary me observou cuidadosamente. "Regulus Black, está falando sobre


filhos comigo?!"

"Bom, eu amo você, não é?" Eu sorri, a observando. "Acho que é inevitável
pensar nesse tipo de coisa quando você ama alguém."

Ela se aconchegou no meu ombro, encarando o teto do quarto. "Então


imagine dois. Um menino e uma menina."

"Certo. Dois." Confirmei, também encarando o teto.

"A menina vai ter os seus olhos meio azuis meio cinzas. E... o menino, os
meus castanhos."

"Ele vai ter seus olhos, tudo bem," Confirmei, sorrindo. "Mas vai ter o meu
cabelo. Preto e liso. Ela vai ter a minha parte preferida sua. Seus cachos."

"Os dois irão para Hogwarts e vão para a Grif-"

"Nem termine essa frase!" A interrompi, levantando o dedo indicador. "Se


são meus filhos, então eles irão para a Sonserina. No máximo, Corvinal."

475
"Bom, serão dois. Um vai para a minha casa e o outro para a sua. Não vai ser
preciso você fazer nenhum escândalo." Mary sorriu, bagunçando o meu
cabelo.

"Então, nós vamos viajar para onde queremos," Suspirei, voltando a encarar
o teto. "E daqui a um ou dois anos, quando já tivermos conhecido tudo, eu
peço você em casamento e vamos ter nossos filhos. Tudo bem para você?"

"Tudo bem." Ela respondeu, com um sorriso no rosto. "Bom, não vamos ter
filhos agora, mas eu adoraria apenas continuar tentando..." Mary sorriu,
dando um beijo no meu pescoço e se levantando para subir em cima de mim,
sem desgrudar os lábios dos meus.

Um barulho de coruja pôde ser ouvido na cozinha.

"Preciso ir ver," Disse, me afastando dela. "Moony me pediu para verificar


sempre rápido quando as correspondências chegassem porque poderiam ser
de James e Lily."

"Não demore, então." Ela disse, se jogando na cama do meu lado, enquanto
eu saía do quarto.

Não haviam muitas coisas. Havia uma carta de Lily, é claro. Mas sem muitas
novidades, já que tudo que os Potters faziam agora era ficarem trancados no
chalé em Godric's Hollow. Havia uma de Carter, que deixei para abrir depois.
E o jornal do Profeta Diário que caía todos os dias na nossa janela.

Pela vidraça, consegui ver Sirius e Remus chegando na moto na garagem da


casa. Sirius carregava alguma coisa do seu tamanho embrulhada em papel de
presente da cor vermelha, é claro. Remus trazia uma sacola menor com a
logo de uma loja de chocolates que ficava perto de casa. Tudo parecia
normal, então enchi uma xícara de café para mim e comecei a ler o jornal.

FUGA DE AZKABAN!

"Filho de Bartemius Crouch Senior, chefe do Departamento de Execução


das Leis da Magia, preso em Azkaban por assassinato, tortura, retaliação e
por sua ávida participação no grupo de Comensais da Morte liderado pelo
Lorde das Trevas. A cela de Bartemius Crouch Júnior foi destruída com a
ajuda de outros Comensais da Morte e, possivelmente, com a ajuda do Lorde
das Trevas. Há suspeitas de que Você-Sabe-Quem está se aliando aos
dementadores que guardam a prisão.

476
A Ministra da Magia, Millicent Bagnold, pede calma e alega que não é
necessário alarde pois a situação será resolvida em breve, entre os próprios
termos no Ministério da Magia, e Crouch será pego rapidamente."

A xícara caiu da minha mão, se estilhaçando no chão.

"Reg?!" Ouvi a voz de Mary me chamar do quarto, mas distante. Minha


mente não estava mais lá.

"Merlim, Reg... mas que porra?!" Remus apareceu na porta, vendo os


estilhaços de vidro no chão, indo pegar uma vassoura na dispensa. Eu ainda
estava com o jornal nas mãos, encarando as letras. Nenhuma das vozes
conseguia me fazer tirar os olhos daquele papel.

"Regulus!" Mary apareceu na cozinha. "O que aconteceu aqui?! Por que você
está com essa cara?"

"Reg." Sirius veio até mim, e pôs a mão no meu ombro. "O que foi?"

Empurrei o jornal no peito de Sirius e Mary correu para o lado dele para ler.
Saí de perto dos dois e fui para a sala.

Barty estava solto. E a única coisa que ele queria tanto quanto agradar
Voldemort, era a mim. Ele se arriscou em vir sozinho atrás de mim no Três
Vassouras, tudo porque não aceitou o fato de que eu não o queria mais. De
que eu finalmente havia me livrado dele e não estava mais disposto a me
juntar a um grupo terrorista por sua causa.

E então, ele tentou me ter de volta à força.

"Por que está todo mundo com cara de quem viu um fantasma?" Remus
perguntou, voltando com a vassoura. "James e Lily estão bem?!"

"Hm... sim, Moony, eles tão bem." Sirius respondeu, a voz pausada, ainda
com os olhos no jornal.

Eu estava andando de um lado para o outro na sala. Tentando encontrar ar


em algum lugar dos meus pulmões, que claramente pareciam não querer
funcionar. Não podia estar acontecendo.

"Ele vai vir atrás de mim, ele vai vir atrás de mim..." Sussurrei para mim
mesmo, coçando a minha cabeça, enquanto andava de um lado para o outro.

477
"Ei," Mary veio até mim, tentando me parar. "Vai ficar tudo bem, ok? Nós
vamos pegá-lo se ele vir até nós. Você vai ficar bem."

"Você não conhece ele. Não viu o que ele... não sabe do que ele é capaz..."
Sussurrei, a voz baixa e desesperada.

"Eu vou matá-lo." Sirius disse, a voz furiosa, jogando o jornal no chão.
"Vamos encontrá-lo e cortá-lo em pedaços bem pequenos. É simples."

"Não é tão simples, na verdade, Padfoot." Remus disse, observando todos


nós, como se estivesse calculando em sua própria mente o que iríamos fazer.

"Bom, pegamos ele uma vez, não pegamos?!" Sirius disse para Remus,
depois me encarou. "Não precisa se preocupar assim, Reg."

"Você não conhece ele. Nenhum de vocês." Eu estava tão desesperado que
cheguei a sorrir. Mary me olhava com os olhos cheios de preocupação. Ela
era a única naquela sala que sabia o que Barty havia feito comigo durante
Hogwarts e quando ele me encontrou naquele bar.

"Não precisamos conhecer ele para matá-lo." Sirius disse, firmemente.


"Você mesmo pode fazer isso. Você mesmo pode matá-lo com as próprias
mãos, Reg."

"Não posso..." Minha respiração estava realmente falhando agora. Minha


mente começou a ficar turva, sempre que eu me imaginava no mesmo lugar
que ele. Sempre que eu imaginava ele me olhando com aqueles olhos
bizarros outra vez. Eu não conseguia nem me imaginar falando com ele,
porra. Não conseguia ler o nome dele em uma droga de jornal e não lembrar
das mãos dele em mim.

"Como assim, não pode?!" Sirius perguntou, confuso.

"Padfoot. Deixe ele." Remus disse, mas eu podia ver que ele também não
entendia.

"Reg, você precisa respirar, ok?" Mary disse, com as mãos no meu rosto.
"Você está tendo uma crise. Precisa se concentrar em coisas que você pode
tocar..."

"Crise?! Por que?!" Sirius perguntou, vindo até mim. "Barty fugiu, mas nós
vamos pegá-lo, Reg. Ele não vai..."

478
"Você não o conhece!" Gritei, assustando Sirius, que deu um passo para trás.
"Você não... não sabe o que ele fez comigo! Você nunca vai conseguir
entender! Nenhum de vocês!"

"Reg..." Remus começou a chegar perto.

"Não!" Gritei, tirando os braços de Mary do meu rosto. "Preciso ficar


sozinho."

Remus franziu o cenho. "Não pode sair sozinho. Moody disse que é..."

"Não vou sair de casa, Lupin! Mas que porra!" Vociferei, entrando no meu
quarto e batendo a porta atrás de mim.

Me sentei contra a porta, com os joelhos juntos ao meu corpo. E afundei o


rosto entre eles, com os braços envolvendo as minhas pernas. Eu parecia uma
criança de oito anos outra vez, assustada e ansiosa. Passei tanto tempo
tentando mudar quem eu era, e Barty conseguia me fazer sentir como o
mesmo adolescente idiota sem nem mesmo estar presente no mesmo lugar
que eu.

Droga, Regulus, pare de chorar, pare de chorar, pare de chorar... Por que é
que você está chorando, seu garoto idiota? Por que é que você deixa esse tipo
de coisa afetar você ainda? Para começo de conversa, a culpa foi sua por ter
deixado ele mandar e desmandar na sua vida. Foi sua culpa não ter segurado
seu pau nas calças e seu coração dentro do peito, e ter dado uma chance para
aquele psicopata doente de merda. Se ele achou que tinha direito de voltar e
se sentir dono de você outra vez, é porque você deixou que ele pensasse isso.

Então, de que porra você está reclamando?

"Reg?" Ouvi a voz baixa de Mary atrás da porta. "Sirius está na garagem
cuidando da moto. Remus está com ele. Podemos conversar?"

Me afastei da porta, dando espaço para ela entrar e fui me sentar na cama.
"Pode entrar."

"Oi." Mary forçou um sorriso, fechando a porta atrás dela. "Acho que
deveríamos conversar sobre... você sabe, isso."

479
"Não há o que dizer." Dei de ombros, enquanto ela se sentava do meu lado
na cama. "Barty está solto. Ele vai vir atrás de mim. Ou eu o mato, ou ele me
mata. É isso."

"Não estou falando disso," Mary disse, me observando. "Sei que você tem
medo de vê-lo outra vez por causa do que aconteceu. E tudo bem, você não
precisa. Mas você não acha que deveria talvez contar à Sirius o que
aconteceu?"

"Não." Balancei a cabeça rapidamente. "Não vou contar à ninguém. E não


quero que você se meta nisso."

"Não estou me metendo em nada. Estou apenas dizendo." Mary aumentou a


voz, fazendo uma cara feia. "Não é qualquer pessoa, Sirius é o seu irmão. E
a falta de comunicação já afastou vocês dois antes."

"Mas que porra você está falando?! O que uma coisa tem a ver com a outra?!"

"Não fale comigo desse jeito. Estou tentando ajudar você."

"Mas não pedi a sua ajuda!" Vociferei alto, me levantando da cama. "Não
pode entrar aqui e agir como se soubesse como estou me sentindo com o fato
do cara que abusou de mim física e mentalmente estar solto por aí! Porque
você não faz ideia de como é!"

"Se fosse ao contrário, você iria querer me ajudar, seu idiota!" Ela levantou
da cama, elevando a voz. "Estou tentando dizer à você que isso é algo que
você pode superar, é algo que se você conversar e colocar para fora pode te
fazer melhorar..."

"Está vendo?! Está fazendo de novo!" Eu disse, apontando para ela. "Olhe,
eu me virei sozinho com toda a merda que já aconteceu comigo, Mary.
Acredite, eu consigo lidar com isso sem colocar na porra do Profeta Diário
o que aconteceu comigo."

"Por que você está me tratando assim?!" Mary estava furiosa agora. "Se você
não quer ajuda, ótimo! Não é bom aguentar tudo isso sozinho, mas se você
quiser assim, então realmente não posso fazer nada à respeito! E não vou
ficar aqui para escutar você me odiar por amar você."

"Não foi isso o que eu-"

480
"Estou indo embora." Mary saiu pela porta do quarto e em poucos segundos,
bateu a porta da frente. Eu estava sozinho agora.

Brigar com Mary foi a gota d'água. Foi como se tivesse atingido algum tipo
de limite dentro da minha cabeça. E então eu gritei com toda a minha força.

"PORRA!"

Peguei o meu casaco e verifiquei se Sirius ou Remus estavam na cozinha, e


então saí sem que me vissem. Eu sabia que era perigoso andar por aí sozinho,
ainda mais eu sendo eu. Mas honestamente, eu não me importaria muito se
alguma coisa acontecesse comigo naquele dia. Não sentia isso desde a
caverna. E esperava nunca mais sentir outra vez.

Andei pelas ruas de Londres por mais de uma hora. Sirius deveria estar louco
de preocupação e Remus com certeza me daria um tapa quando eu
aparecesse. Já havia escurecido, o que tornava tudo mais perigoso. Se um
comensal me pegasse de surpresa agora, eu dificilmente teria como revidar.
Mas se eu não consegui nem mesmo parar Barty, como posso achar que
venceria de mais de um comensal da morte? Você é uma porra de uma piada,
Regulus. E ainda faz questão de brigar com a garota que você ama.

Andei por mais tempo e quando me dei conta de onde estava, percebi que
estava na rua da frente da casa de Carter. E apesar de saber que ele não estava
lá, senti uma vontade enorme de apenas me sentar ali e imaginar que ele
estivesse.

Então, eu fiz.

Me sentei na pequena escada em frente a porta e fiquei lá por um bom tempo.


Meu Deus, eu era tão estranho. Estar com Carter era bom porque ele me fazia
sentir de fora de toda essa merda. Mas a realidade é que essa era a minha
vida e haviam pessoas que dependiam de mim. Quem sou eu para mesmo
pensar em morrer quando James, Lily e Harry estão dependendo de mim para
continuarem protegidos?! Como posso ser tão egoísta assim?!

"Reg?!" Uma voz familiar. Levantei a cabeça e vi ele parado na minha frente.
Com uma mochila nas costas e as roupas um pouco amassadas. A mecha,
antes azul, agora estava roxa. Mas ele ainda era lindo.

"Carter?!" Franzi o cenho. "Não, espere aí... Onde exatamente nos


conhecemos? E quem foi que nos apresentou?"

481
"Casa dos Potter. Lily." Ele respondeu, revirando os olhos. "É claro que sou
eu, seu idiota."

"Mas você... Merlim, eu achei que você estava em Nova York." Falei,
desacreditado.

Ele jogou a mochila no canto, se sentando do meu lado em frente a porta.


"Eu mandei uma carta avisando que vinha, você não leu?"

"Ah, sim, hm... eu vi, mas aconteceram outras coisas hoje e eu acabei não
conseguindo ler. Desculpe."

"Tudo bem," Ele sorriu, batendo no meu braço com o cotovelo. "E por que
você está aqui?! Não diga que fez amizade com o senhor e senhora Wood!"

Sorri fracamente. "Não, eu... eu apenas precisava sair de casa. Eu não estava
querendo conversar com ninguém. Queria ficar sozinho."

"Péssima ideia vir até aqui. Eu nunca calo a boca, você sabe disso."

"Sim, eu sei." Sorri. De repente, alguma coisa se entristeceu dentro de mim.


E a vontade de chorar foi tão forte que eu senti como se não tivesse controle
de nada dentro de mim. Tentei levar a mão ao rosto para esconder, mas não
adiantou.

"Ei," Carter franziu a testa, tirando a minha mão do rosto. "Você está
chorando?! Merlim, o que diabos aconteceu, Regulus?!"

"Não, eu... eu só estou triste, mas vou melhorar." Enxuguei meus olhos, mas
as lágrimas não paravam de vir.

"Nada disso. Você vai me contar. Se não, vou dar um jeito de descobrir e
vou ajudar você, você querendo ou não. Então, sabe, é melhor que seja com
você querendo."

Encarei Carter por alguns segundos e então, eu o abracei forte. E lembro de


soluçar tanto no ombro dele que achei que não fosse parar nunca mais. Fiquei
minutos abraçando ele em silêncio, porque era disso que eu precisava. Não
precisava lidar com nada, ou dizer nada. Pelo menos, não agora.

Acho que que você só percebe como está exausto quando alguém aparece e
diz: "Tudo bem, se você desabar, eu te seguro."

482
Então eu desabei. E Carter me segurou.

Naquela noite, apesar de tudo, eu consegui me sentir feliz. Porque aquela


noite também foi a noite em que a minha Luna nasceu.

483
Capítulo 37: Luna Lovegood

Flashback - 1976

"Não olhe agora. Sirius está olhando para cá." Pandora sussurrou, com o
rosto metade escondido em um livro grande e grosso. Regulus estava sentado
ao lado dela na biblioteca, com o rosto também enfiado em um livro que ele
insistia em dizer que estava lendo. Mas na verdade, não estava.

"Ele ainda está olhando?" Regulus sussurrou de volta um tempo depois, sem
mover os olhos da páginas. Sirius estava sentado em uma mesa à frente, se
balançando nos pés traseiros da cadeira, com um braço nas costas da cadeira
de James. Peter e Remus estavam com eles também, é claro.

"Não, sem olhares." Pandora bufou, jogando o livro na mesa e abaixando


bruscamente o livro na mão de Regulus. "Até quando isso vai continuar?! Já
faz um ano, você não acha que vocês deveriam-"

"Não comece com isso, Pandora," Regulus a repreendeu, levantando a mão


entre eles. "Eu já disse. Sirius não se importa o suficiente para me pedir
desculpa, por que eu pediria se ele é quem está errado?"

"Você não está tendo uma visão muito inteligente da coisa, Black," Ela o
observou, sem quebrar o contato visual. Porque Regulus não conseguia ir
contra o que Pandora dizia se ela o encarasse por tanto tempo. "Você é um
idiota se acha que está certo."

"Não preciso dele." Regulus deu de ombros, pegando o livro novamente da


mesa. "Tenho você. Tenho Barty e-"

"Ah, por favor! Você e ele outra vez?!" Pandora aumentou o tom de voz e
uma lufana fez um sinal com o dedo para ela fazer silêncio. "Soube que
Emmeline está doida para chamar você para ir até Hogsmead, Reg. E você
não tinha uma queda pelo Potter?! Honestamente, qualquer um é melhor do
que Barty."

"Emmeline é legal, mas não faz exatamente o meu tipo. Talvez eu a chame
para sair algum dia." Dei de ombros. "E sem chance com Potter. Se você não
percebeu que James tem arrastado um caminhão por Evans desde o terceiro
ano, então o chapéu pôs você na casa errada."

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Pandora bateu com um livro na cabeça de Regulus e ele estremeceu.
Realmente havia doído. "Estou só tentando ajudar você. Barty sabe que você
gosta dele e usa isso para convencer você a se juntar à Você-Sabe-Quem. Da
última vez, tive que ver você chorando por ele por duas horas seguidas. E ele
nunca parece realmente disposto a assumir seja lá o que vocês tenham."

"Não seja assim," Regulus entristeceu, a voz mudando de entonação. "Barty


apenas não lida bem sob pressão, você sabe."

"Sim, eu sei. Ele não lida bem porque é um maníaco psicótico que surta até
se você usar uma roupa de uma cor que ele não goste."

"Ele não é ruim, Pan. Você apenas não o conhece como eu. Barty realmente
esteve lá para mim quando Sirius saiu de casa, eu disse à você." Regulus
insistiu, Pandora revirou os olhos, cruzando os braços.

"Com 'esteve lá para você' você quer dizer 'colocar você contra Sirius'?!
Porque foi isso o que ele tentou fazer! Merlim, como você não vê?!" Pandora
se inclinou para frente, sustentando o olhar decepcionado de Regulus. "Ele
gosta de ter você, mas não gosta de você de verdade."

"Pare de dizer essas coisas." Regulus desviou o olhar do dela rapidamente, e


voltou a se esconder atrás de seu livro. Os dois ficaram em silêncio por um
tempo, e ver Pandora tão calada estava acabando com Regulus, mesmo que
tenha durado apenas cinco minutos.

Regulus e Pandora quase sempre tinham opiniões diferentes sobre


basicamente qualquer assunto. Fosse sobre Barty, Sirius, a família dele, os
dois sempre chegavam à um impasse. Porque, apesar da preocupação dela,
Regulus não conseguia entender porque Pandora não concordava com as
coisas que ele dizia. Ela nunca nem mesmo havia dado uma chance para
Barty, mesmo sabendo que era dele de quem Regulus gostava. E se ela era
amiga de Regulus, então ela não deveria defender ele e não Sirius? Com
todos esses anos assistindo de perto o que a família dele era capaz de fazer,
ela não deveria entender que ele apenas não podia fazer nada para impedir
qualquer coisa? Que ele nunca poderia?

Eram muitas, muitas questões. Mas a maior delas era o que fazia os dois se
entenderem tão bem no fim do dia. Porque não havia nada no mundo que
Pandora não fosse capaz de fazer por ele. E Regulus a amava tanto que
enfrentaria mil dragões por ela se fosse preciso.

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Então, tudo ficava bem. Porque os dois sempre teriam um ao outro. Com
guerra ou sem guerra, eles eram imbatíveis e inseparáveis. Eram irmãos de
alma.

"Você não vai ficar chateada comigo, vai?" Regulus se esquivou por dentro
do livro de Pandora, piscando os olhos encenando uma cara suplicante.
Pandora revirou os olhos e passou a mão no rosto dele, o empurrando para
trás.

"Você é insuportável." Ela disse, Regulus sorriu triunfante. As discussões


nunca duravam. "Agora vamos, o jantar já vai ser servido e eu estou com
tanta fome que se você me fizer raiva outra vez, vou devorar seu braço."

Regulus sorriu mais uma vez, se levantando com Pandora. Os dois não
podiam sentar na mesma mesa na hora das refeições por serem de casas
diferentes, mas eles passavam o resto do dia inteiro juntos e era uma
verdadeira tortura quando eles tinham aulas diferentes e Regulus era
obrigado a ficar com pessoas de quem ele nem gostava tanto assim e Pandora
com pessoas que não perdiam a chance de caçoar dela por causa do seu jeito
diferente. Fora esses momentos, os dois não se separavam nunca.

Foi nessa mesma noite, quando os dois estavam voltando da biblioteca em


direção ao Salão Principal, distraídos um com o outro, que encontraram
Snape, Mulciber e Barty encostados em uma das colunas do corredor. Barty
ria de alguma coisa que Mulciber estava se gabando, Snape foi quem notou
que os dois passavam por lá.

"Ei, Black!" Snape gritou para Regulus, que tentou passar direto por eles,
mas em vão.

Regulus e Pandora se viraram devagar e ele forçou um sorriso para os três.


"Qual foi, Snape?"

"Vamos amaldiçoar a poção que aquela sangue ruim da Grifinória, a


MacDonald, fez na aula," Mulciber sorriu perversamente, balançando um
frasco pequeno na mão com um líquido de cor amarelada. "Aposto que ela
vai chorar. Pelo menos, espero. Quer vir?!"

Regulus olhou nervoso para Pandora, que balançou negativamente a cabeça


para ele, Barty percebeu a troca de olhares entre os dois e rapidamente pôs
um braço ao redor do pescoço de Regulus. "Vamos, Reg, por mim... Você
não vai querer passar o seu tempo com essa... Bom, ela."

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"Não estou falando com você, Crouch, então não se meta." Pandora
vociferou e fitou Regulus demoradamente. "Regulus. Vamos. Jantar."

Regulus engoliu em seco. "Barty, eu tenho que..."

"Tem que me dar atenção agora." Barty o interrompeu antes que ele
terminasse, colocando um fio bagunçado do cabelo de Regulus para trás da
orelha. "Não está me rejeitando por causa dela, está?"

Pandora revirou os olhos quando Mulciber e Snape começaram a andar ao


redor dela, analisando-a de cima à baixo. "Sabe, Barty, eu até entendo
Regulus." Mulciber disse, sorrindo.

"O que quer dizer?!" Barty perguntou.

"Até que ela é bem gostosinha..." Mulciber lançou, andando mais perto de
Pandora. Regulus sentiu Barty estremecer por meio segundo ao seu lado, ele
sabia que se passasse na cabeça dele que Regulus poderia ter algum interesse
nela, ele ficaria definitivamente perigoso. Pandora se afastou de Mulciber e
Regulus se esquivou bruscamente do braço de Barty.

"Você é nojento, Mulciber! E se tentar encostar em mim, faço sua varinha


descer guela à baixo, seu idiota!" Pandora gritou, enfurecidamente. Mulciber
se aproximou novamente, mas Regulus se pôs na frente de Pandora e ergueu
o pescoço, olhando-o por cima do nariz, como o verdadeiro Black que foi
ensinado a ser.

"Se falar com ela assim mais uma vez, arranco sua língua fora e faço você
mesmo engolir. Seu cretino de merda."

Barty ficou em silêncio, estreitando os olhos, observando minunciosamente


Regulus e Pandora. Mulciber e Snape caíram em gargalhadas, "Matar?! Por
ela?! Acho que sua mamãe não vai gostar de saber disso, Reggiezinho."
Snape ameaçou, a voz cheia de maldade.

Barty encontrou os olhos de Regulus por alguns segundos, como se estivesse


perguntando 'Que porra você está fazendo?!'. O olhar logo se transformou
em raiva e agora parecia que Barty dizia 'Vai se arrepender se não parar de
defendê-la.' E Regulus sabia que Barty faria com que Regulus sofresse
depois, mas nem mesmo isso foi capaz de impedi-lo de fazer o que fez em
seguida.

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"Vamos, Reg," Pandora puxou Regulus, que estava a um passo de avançar.
"Se não, o Salão vai ficar cheio e não teremos lugar para sentar."

Quando os dois deram as costas, os três riram mais uma vez e Mulciber
cantarolou, "Não se preocupe, Pandora, se quiser sentar em algo, meu quarto
está sempre com as portas bem abertas!"

Foi o que Regulus precisava para explodir. Uma espécie de gatilho foi
apertado dentro de sua cabeça e agora era impossível voltar atrás. Ele deve
ter se virado muito rápido, porque quando se deu conta, seu punho já estava
acertando em cheio a cara de Mulciber.

Ele cambaleou para trás, mas Snape e Barty o seguraram. Pandora estava
chocada. Regulus parecia anestesiado pela própria raiva.

"Qual a porra do seu problema?!" Barty gritou, isso fez Regulus despertar do
transe e olhar confuso para ele.

"O que... você..." Regulus engoliu em seco. "Você viu o que ele-"

"Quero que você suma da minha frente." Barty estava furioso agora. E
Regulus sabia muito bem que isso não tinha nada a ver com Mulciber. Barty
interpretou tudo aquilo apenas como uma coisa. Não como se Regulus
tivesse acabado de escolher outra pessoa ao invés dos três, mas como se
Regulus tivesse acabado de escolher outra pessoa ao invés dele.

E Barty nunca gostava quando Regulus dizia não.

"Vamos, Reg." Pandora sussurrou, enquanto Snape fazia um feitiço para


consertar o nariz de Mulciber. Ela puxou Regulus pelo braço, mas ele
insistiu.

"Não pode estar bravo comigo. Eu... eu não fiz nada para você." A voz dele
estava trêmula agora, o coração dele havia caído. Ele precisava de Barty. Se
alguém que ele amava deixasse ele mais uma vez, ele não aguentaria. "Eu
nunca faço."

"Você não me ouviu?!" Barty aumentou o tom da voz, e então esbravejou.


"Quero que você suma!"

Regulus estava tão imóvel que Pandora teve que quase arrastá-lo de lá. Ele
se recusava a chorar na frente das pessoas. Blacks não choram, Regulus, é o

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que diria a sua mãe, muito menos na frente de alguém. Barty nunca o veria
chorar, não importa o que fizesse. Mas isso não significava que Regulus não
podia fazer isso quando ele não estava olhando. Então quando ele se virou,
elas vieram descontroladamente. As lágrimas.

"Ah, Reg..." Pandora suspirou pesadamente, envolvendo um braço ao redor


do seu ombro. "Por quê?! Por que deixa ele fazer isso?!"

Regulus não sabia o que responder. Ele sabia que Barty era louco, agressivo
e narcisista. Mas quando ele estava nos seus dias bons, tudo era tão lindo que
Regulus mal podia acreditar. Quando os dois dormiam juntos, Barty o
acordava distribuindo beijos por todo o rosto dele e se Regulus estivesse
triste, Barty levava algo do café da manhã para ele comer escondido no
dormitório. Mas ele sabia que era preciso só um erro da parte dele ou que
Regulus discordasse de algo que ele quisesse, que tudo desmoronaria e Barty
ficaria descontrolado. Então, era realmente difícil gostar de alguém assim.

"Não sei, Pandora..." Regulus soluçou, a voz quase inaudível enquanto


andavam pelos corredores. "Talvez eu o ame."

"Se ele precisa partir o seu coração para você perceber que o ama, não é
amor." Pandora disse, seriamente. "Eu amo você. E você me ama. E nós
nunca fizemos um ao outro chorar. Mas você sabe que me ama. E eu sei que
amo você."

"Então como eu sei?" Regulus perguntou, erguendo os olhos perdidos e


marejados. "Como eu vou saber o dia que amar alguém?"

"Quando a pessoa fizer você se sentir feliz por estar vivo. E fizer você sentir
que ter passado por tanta coisa valeu a pena, porque você chegou até ela no
fim. Você entende?"

Regulus não sabia se entendia.

"Mas, ei, até lá você tem a mim, ok?!" Pandora o balançou animadamente,
tirando um sorriso fraco do rosto molhado de Regulus. "Sempre vamos ter
isso. Nós. Sabe disso, não é?"

E, sabe, havia uma guerra acontecendo. E comensais da morte entravam e


saíam da casa dele o tempo todo. E ele muito provavelmente estava
condenado a ser igual a eles se Barty continuasse insistindo tanto. E ele
gostava de alguém que era muito, muito, muito complicado e que às vezes o

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magoava mais que qualquer pessoa no mundo. E Sirius não falava mais com
ele. E algumas pessoas estavam começando a olhar feio para Pandora por
andar com alguém da família Black, ele notava. E seu corpo havia ganhado
mais algumas cicatrizes depois do último verão, obrigada, mamãe! E, sim,
às vezes ele tinha vontade de pôr um fim em tudo.

Mas Pandora era o suficiente para fazer Regulus se sentir feliz por ainda estar
vivo.

***

Sob nenhuma circunstância era seguro ficar fora de casa até tarde da noite.
Por mais que eu e Carter tivéssemos inúmeros assuntos para colocar em dia,
ele insistiu para que eu voltasse para casa naquela noite.

"Sirius e Remus vão se preocupar, principalmente com Barty solto por aí. É
melhor você voltar." Carter disse, depois de eu insistir incontáveis vezes para
ele me deixar ficar com ele, porque não estava nenhum pouco a fim de voltar
para o mundo real hoje. "Você precisa falar com Mary também. Não é porque
somos amigos que vou dizer que você estava certo. Você foi um idiota com
ela, sabe disso."

"São tantas coisas que eu preciso pensar ao mesmo tempo," Suspirei


pesadamente. "Sinto que vou enlouquecer."

Carter se ofereceu para aparatar comigo de volta para casa, porque o


protocolo dizia para sempre andarmos no mínimo em pares. Naquela noite,
eu e ele voltamos juntos até a minha casa e eu sabia que nem Sirius ou Remus
se importariam se eu o deixasse entrar, então eu deixei.

Foi quando entramos em casa que eu percebi imediatamente que não havia
nenhum sinal de nenhum dos dois no lugar. Mas andando de um lado para o
outro na sala, inquieta e roendo uma das unhas, estava a minha namorada.
Não era possível que ela só levou algumas horas para me perdoar.

"Você não disse que ela estava com raiva de você?" Carter sussurrou para
mim enquanto entrávamos na sala, eu dei de ombros.

"Mary?!" Ela levou um susto pequeno quando me viu, como se mal tivesse
percebido nós entrarmos. "Está tudo bem?! Onde Sirius está?"

490
Mary correu os olhos rapidamente entre mim e Carter, franzindo levemente
as sobrancelhas em uma expressão confusa, mas desviou o olhar logo em
seguida, pousando os olhos apenas em mim. "Achamos que você estava aqui,
então Phil mandou um patrono diretamente para cá avisando. Sirius e Remus
ouviram e foram para lá na mesma hora."

"O que Phil queria com - Espere aí, está me dizendo que Pandora..."

"Sim, Regulus, estou! Deus, ela está se recusando a ter esse bebê sem você
lá, onde é que você estava a essa hora?!" Mary estava agitada e claramente
preocupada.

"Isso foi culpa minha," Carter se intrometeu, antes que eu pudesse responder.
"Eu acabei segurando ele." Mentira.

"Tanto faz onde eu estava!" Me apressei, pegando o casaco que tinha


acabado de tirar e jogar em uma das poltronas da sala. "Temos que ir agora!
Pandora precisa de mim!"

Mary assentiu, sem dizer mas nada, e se apressou até a porta. Carter mexeu
no cabelo, um pouco desconfortável, "Acho que eu deveria voltar para
casa..."

"De jeito nenhum." Agarrei o braço dele com força. "Você não vai voltar
essa hora, não é seguro. Você pode ir comigo e Mary."

"Não sei, Reg..."

"Por favor." Implorei, o encarando suplicantemente. "Significaria muito para


mim."

Carter me observou, parecendo calcular na própria cabeça se deveria ir ou


não, mas algo em seus olhos pareciam querer trair sua cabeça. "Tudo bem,
tudo bem, tudo bem... Eu vou."

Nós três aparatamos imediatamente. O que não foi nada agradável para o
meu nervosismo, que estava a mil naquela noite. A filha de Pandora. Minha
afilhada. Porra, parecia que o meu coração ia sair pela boca.

Eu havia visto mais mulheres grávidas neste último ano do que vi na minha
vida inteira e, acreditem, Blacks gostam de gerar herdeiros, então as
mulheres da minha família nunca paravam até vir um menino. O que eu acho

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meio sexista, mas não entendo muito dessas coisas, então nunca questionei
muito.

Mas a questão é que agora não era só uma mulher grávida, não que o
nascimento de Harry, do filho dos Longbottom ou até mesmo de Draco não
tenham sido grande coisa porque foi, mas era Pandora quem estava dando a
luz. A pessoa que eu conheço desde os onze anos. Minha melhor amiga.
Como diabos eu deveria reagir?! Phil me deixaria ficar com ela? Mesmo
depois dela ter perdido a filha deles por minha culpa? E se ele simplesmente
decidisse que não me queria como padrinho? Alguém havia avisado James e
Lily?

Porra, eles deveriam estar aqui. Profecia de merda.

Não haviam muitas pessoas. Sirius e Moony, é claro, sentados no sofá da


sala de Pandora. Andy e Cissy também estavam lá, aparentemente Pandora
estava ajudando Cissy com alguns cristais energizados para acalmar Draco
que acordava chorando frequentemente, então acho que as duas eram amigas
agora. James e Lily podiam ser apenas dois, mas faziam falta no lugar como
se fossem dez.

Fui o primeiro a entrar na casa seguido por Mary e Carter, demorei para
perceber que estava literalmente suando de nervosismo. Andrômeda foi
quem abriu, eu passei direto por ela, "Ei, mocinho! Não pode entrar sem
responder o protocolo!" Ela exclamou.

"Sirius dorme com um calção com estampa de cachorrinhos todas as noites."


Respondi apressadamente, jogando meu casaco na poltrona.

"Ei!" Sirius exclamou, Moony riu baixinho.

"Quem é você?" Narcissa olhou para Carter desconfiada, os braços cruzados.

"Ele está comigo." Respondi, apressado outra vez. "Onde ela está?! Está no
quarto?! Eu vou até lá."

"Talvez você deva esperar, Reg," Carter disse. "Você não sabe como a
situação está lá dentro."

"Vou fazer um chá." Mary foi até a cozinha, Andrômeda e Narcisa foram
ajudá-la. Ficamos apenas eu, Sirius, Remus e Carter, que se sentou em uma
das poltronas.

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"Então," Sirius pigarreou, me vendo andar de um lado para o outro na sala.
"Você está melhor? Você saiu de casa meio... transtornado. Nós ficamos
preocupados depois do que aconteceu."

"Preocupados?! Eu fiquei puto!" Remus exclamou, colocando um cigarro na


boca e acendendo com magia. "Se você sumir de novo, coloco você para
dormir no quintal, seu pirralho."

"Sou só um ano mais novo!"

"Pirralho."

"Ele estava comigo," Carter disse. "Mas eles tem razão, Reg, não é
inteligente andar por aí sozinho com Comensais da Morte tomando conta de
Londres. Principalmente, você sendo você."

"Sim, Carter, ser eu é uma merda, obrigada por me lembrar." Suspirei


pesadamente. Eles não podiam estar querendo falar sobre mim quando eu
estava a ponto de explodir de nervosismo. "Olhem, vocês podem me deixar
à sós com Sirius? É apenas por um segundo."

"Vou ver se precisam de ajuda na cozinha!" Carter se levantou, dando um


pulo por cima da costa da poltrona.

"E eu vou com você." Moony foi atrás, depois de terminar de fumar um
cigarro e acender outro logo em seguida.

E então estávamos eu e Sirius, ele ficou me olhando andar de uma lado para
o outro em silêncio por um tempo considerável. Sempre havia sido assim, eu
era o irmão nervoso, Sirius sempre foi mais relaxado, eu era fechado demais
e para Sirius sempre foi fácil apenas dizer as coisas que sentia.

"Você não quer se sentar ou..."

"Não, estou bem." Respondi, sem olhar para ele. Ainda andando.

"Sabe, você está começando a me assustar."

"Sirius, você se lembra da vez em que você me perguntou com quem eu havia
perdido a minha virgindade? E ficou chocado por ter sido um cara?"

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Sirius sorriu com a memória. "Óbvio que sim. Fiquei morrendo de inveja por
você ter conseguido se descobrir tão cedo. E também, Jacob Falk não era
nada mal."

"É, não era." Respondi. "Mas eu menti. Não foi com ele."

"O quê?!" Ele franziu o cenho.

"Foi com outra pessoa. Alguém que me arrependo tanto que nunca contei à
ninguém, a não ser Pandora."

"Quem?"

Fiz uma pausa, engolindo em seco. "Barty."

Sirius arregalou os olhos. O queixo indo no chão. "Oh- Mas... Uau! Tipo,
que merda, mas... Porra, Reg!"

"É."

"Eu via vocês dois, mas... Bom, é óbvio que eu desconfiava que tinha alguma
coisa. Mas não a esse ponto." Sirius ainda estava boquiaberto. "É por isso
que você ficou daquele jeito hoje?!"

"Não, tem outra coisa."

"Pode me contar." Sirius se levantou, ficando de pé na minha frente e pondo


a mão no meu ombro. "Você é meu irmão. Pode me contar qualquer coisa."

"No dia que fomos até o Três Vassouras, comemorar a gravidez de Lily,"
Comecei, engolindo em seco. "Nós o pegamos. Ele foi preso. Mas você se
lembra de como fiquei? Não conseguia comer, ou sair do quarto, ou falar
com alguém, ou ser... ser tocado."

Fiquei nervoso outra vez e minhas mãos começaram a tremer. Sirius


percebeu imediatamente. "Sim, claro que me lembro. Mas do que você..."
Algo pareceu ter vindo à mente do meu irmão e ele ficou extremamente sério.
"Regulus, o que ele fez com você?"

Finalmente levantei os olhos para ele, encarando seu olhar preocupado e com
uma ponta de raiva. "Barty sempre odiou que eu o rejeitasse. Ele nunca

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aceitou 'não' como resposta, muito menos no tempo da escola. Seria
impossível eu contar à você tudo que aconteceu entre mim e ele, mas ele foi
a primeira pessoa por quem eu me apaixonei de verdade. E tudo o que você
precisa saber é que ele acabou comigo. De todas as maneiras que se pode
acabar com alguém. Eu amava ele e ele sabia disso, e usou isso para me
destruir."

"Destruir em que sentido, exatamente?"

"Ele ficou louco quando o abandonei. Quando traí o Lorde das Trevas, ele
levou para o lado pessoal. Como se eu tivesse traído ele próprio. Acontecia
sempre. Se eu me negasse a concordar com ele em algo, ele achava que eu
estava rejeitando ele, não a coisa em si. Então naquela noite, ele tentou me
convencer a voltar. Tentou me convencer a voltar... da pior forma possível."

Sirius estava em silêncio, as sobrancelhas tensas e franzidas e os olhos


concentrados em mim, esperando eu chegar lá.

Respirei fundo, porque depois que eu dissesse, não tinha mais como voltar
atrás. "Eu... eu mandei ele parar, mandei ele... mandei ele se afastar e parar
de encostar em mim, juro que mandei! Juro que eu não queria! Eu sei que
dei para ele a chance de acreditar que podia fazer isso comigo! Eu era um
adolescente arrogante, burro e magoado! E achava que ele era o único que
me entenderia! Então, ele achou que tinha o direito de tocar em mim, de...
de encostar em mim daquele jeito contra a minha vontade... Desculpe, eu sei
que isso é minha culpa. Mas eu só queria que você soubesse o que aconteceu
porque você é o meu irmão. E se algo do tipo acontecesse com você, eu
também ia querer saber."

"Quero que você me escute com bastante atenção, tudo bem?" Sirius disse
seriamente, e eu podia jurar que uma bronca viria por aí. "Você pode ter sido
um adolescente arrogante, burro e magoado. Eu também era. E tudo bem,
porque nós dois não crescemos na melhor casa do mundo. Mas ninguém
merece isso, Regulus. Pare de falar como se isso fosse um tipo de punição
por você ter confiado nele. Você não me vê com raiva de mim mesmo por
ter confiado em Wormtail a minha vida toda, vê?"

"Bom, não, mas..."

"Sem mas. Você não vê. Porque é culpa dele, não minha. Não foi minha
culpa ele ter sido um filho da puta. Não foi minha culpa ter ido para a
Grifinória. Não é minha culpa ser gay na porra dos anos 80 e ser apaixonado

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por um lobisomem mestiço. Não é minha culpa ter tido pais que me
torturavam e não foi minha culpa quando eles transformaram minha foto na
tapeçaria em churrasco. E não é sua culpa Barty ter feito o que ele fez. Nunca
mais pense assim."

"E se ele vier atrás de mim? Se ele me matar, o feitiço vai quebrar e James,
Lily e Harry estarão em perigo. E vocês vão ter que continuar a busca das
horcruxes sem mim. O que vai ser difícil já que eu..."

"Cale a boca, Regulus." Sirius me puxou para um abraço, me apertando forte.


"Ele não vai matar você. Porque vamos matá-lo antes disso."

Uma voz pigarreando soou atrás de nós e quando me virei, era Mary. "Queria
saber se vocês querem comer alguma coisa? Partos costumam demorar e
acho que vamos passar a madrugada aqui."

Dei uma olhada rápida para Sirius, e ele entendeu tudo. Porque esse era
Sirius, ele sempre entendia. E, em um flashe de memória, me lembrei de uma
coisa que me disseram a muito tempo. As pessoas que você ama não fazem
você chorar, elas fazem você sentir que você tem motivos para ainda estar
vivo. E acho que Sirius era uma dessas pessoas desde sempre e, por mais que
tenhamos nos odiado por um tempo, não acho que algum dia ele tenha
deixado de ser.

Quando ele nos deixou sozinhos, Mary quase deu meia volta para segui-lo
até à cozinha, mas eu a puxei pelo braço antes que ela fizesse.

"O que foi?" Ela franziu a testa, olhando para a minha mão no braço dela.

"Eu amo você."

"O que você... Deus, Black, você precisa se decidir ou vai acabar me
matando." Ela suspirou, se virando para mim. "Você falou com ele?"

"Sim. Graças à você."

"A mim?! Tem certeza que não foi por causa do seu amigo?"

"Carter?! Você não está com ciúmes dele, está?!" Sorri involuntariamente,
porque era completamente absurdo a ideia de eu querer outra pessoa que não
fosse ela.

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"Bom, você me afastou e foi procurar ele! Acho que tenho o direito de ficar
com ciúmes." Ela cruzou os braços, arqueando as sobrancelhas. Como
alguém conseguia ser tão linda até com raiva?

"Certo. Me desculpe por ter dito aquelas coisas para você. Você tinha razão.
Guardar tudo para mim já quase acabou comigo uma vez. Não vou repetir o
erro." Envolvi as mãos na cintura dela, encostando o seu corpo no meu. "Eu
amo você, sabe disso, não sabe? Amo você mais que qualquer coisa. Então,
não desista de mim ainda. Por favor." Disse a última parte quase num
sussurro, encostando a minha testa na dela.

"Você vai ter que se esforçar mais se quiser me afastar algum dia." Ela sorriu
para mim, levando as mãos até o meu pescoço. "Você sabe que não desisto
fácil de nada. Muito menos de você. Nunca de você."

"Nunca?" Levantei o rosto para encará-la, e ela me olhou de uma forma tão
pura e profunda, que eu senti vontade de morar naquele instante em que
olhava nos olhos marrons dela.

"Nunca."

Foi quando me toquei que Mary também era uma daquelas pessoas. E que
minha lista está bem maior do que quando tinha quinze anos e achava que
Barty era o mais perto que eu ia chegar do amor. Se eu pudesse contar para
o Regulus do passado que ele se apaixonaria de verdade por alguém um dia
que estava apenas a uma comunal de distância, e que esse amor iria consumir
tanto o seu coração que faria ele ter vontade de gritar no meio de uma rua
que a ama mais que qualquer coisa que já tenha amado na vida. E que o faria
perceber que tudo que ele já conheceu antes que achou ser amor, não era.
Porque ela sim, era algo pelo que se valia a pena estar vivo.

"Regulus Black! Você! Preciso de você agora!" Marlene apareceu de repente


na sala. Os olhos fundos de olheiras, os cabelos bagunçados e suados. O
restante que estava na cozinha ouviu e vieram correndo até a sala, Marlene
me pegou forte pelo pulso. "Pandora precisa de você agora. Espero que você
não tenha nenhum problema com sangue."

"B-bom, na verdade..."

"Regulus!" Todos na sala gritaram em uníssono e Marlene me arrastou da


sala até o corredor dos quartos. Deus, estava acontecendo. Estava realmente

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acontecendo. Ontem eu e Pandora éramos crianças e hoje caçamos horcruxes
juntos e ela vai ser mãe! Nem parecia real.

Phil estava no quarto com Pandora, é claro. Suado e nervoso, segurando a


mão dela com força. E Marlene estava certa quando disse que havia muito
sangue. Tipo, muito mesmo.

"Pan!" Corri até a lateral da cama onde ela estava e segurei a sua mão livre,
me ajoelhando no chão ao lado dela. Ela estava com o cabelo loiro grudando
no rosto de tão suada, o rosto muito vermelho e muito ofegante.

"Reg... Reg, vai ficar tudo bem, não vai? Preciso que você me diga que vai
ficar tudo bem. Preciso que você me diga, ninguém mais, que vai ficar tudo
bem dessa vez. Você precisa... precisa me dizer..." Ela estava chorando.
Nunca a vi tão assustada. Phil estava me olhando muito preocupado, Marlene
examinava a parte íntima de Pandora.

"Ei, ei, olhe para mim!" Virei o rosto suado dela para mim e meus olhos
ficaram marejados quando se encontraram com os dela, que também estavam
molhados. "Você é a pessoa mais forte que conheço. Você precisa acreditar
no que vou dizer agora, Pandora. Você vai conseguir. Nós vamos. Vamos
fazer isso dar certo. Você tem a mim, Phil, e uma família inteira na sala
esperando para conhecer a nossa Luna, ok? Você consegue. Vai dar certo.
Você só precisa respirar, tudo bem? Pode fazer isso por mim?! Respire agora,
vamos."

Ela assentiu nervosamente, e Marlene gritou, "Vamos, Pan, mais uma vez!",
Pandora fez tanta força que os meus dedos e os dedos de Phil ficaram
brancos. Mas honestamente, eu nem mesmo senti nada. Eu precisava estar
aqui por ela, independente de qualquer coisa. Como prometi que sempre
estaria.

"Marlene?!" Phil chamou, olhando para Marlene, oa olhos preocupados


procurando por respostas.

"Preciso de mais, Pan!" Marlene gritou. "Você consegue! Sabe que


consegue!"

"Eu amo você, ok? Amo você, amo você, amo você..." Phil sussurrou para
ela, encostando suas testas suadas uma na outra. "Você consegue, meu amor.
Você consegue qualquer coisa."

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"Exatamente." Assenti rapidamente, apertando a mão dela. "Vamos, de
novo, certo?"

Pandora respirou fundo e fez força novamente. Eu não sentiria nenhum


músculo da minha mão no dia seguinte, isso era um fato. E não acho que
com Phil seria diferente. Mas a questão é que dessa vez, Pandora fez força
de verdade e eu estava tão anestesiado e concentrado em dar força para ela,
que demorei um segundo, apenas um segundo, para notar que estava ouvindo
o choro de uma criança.

Era ela.

Marlene sorriu e começou a chorar, enrolando Luna em lençóis brancos e


limpos. Ela a levou até os braços de Pandora e no momento em que as duas
se encostaram, Luna parecia ter milagrosamente se acalmado. Ela era
absurdamente parecida com Pandora. Os exatos mesmos olhos azuis.
Pandora brincou com o indicador no rosto pequeno dela e Phil se ajoelhou
ao seu lado, beijando a cabeça da filha.

Phil carregou Luna por alguns minutos depois. Tudo parecia irreal. Como se
não estivéssemos vivendo isso de verdade porque era tudo lindo e puro
demais.

"Você quer segurá-la?" Pandora sussurrou para mim, quando Phil estava um
pouco longe balançando Luna nos braços.

"Não quero tirar ela dele." Respondi, sussurrando de volta. "Ele já não vai
com a minha cara."

"Ele está mudando isso, na verdade."

"Diga isso para o soco que ele me deu uma vez."

Pandora sorriu, e eu sorri por vê-la sorrir. "Phil, me dê ela aqui." Pandora
pediu, Phil trouxe Luna até ela e me encarou.

"Se você é o padrinho da minha filha, então acho que somos família agora,
não é?" Ele disse, estendendo uma mão para mim.

Eu estendi a minha e apertei a dele, sorrindo satisfeito. "Pode apostar que


sim."

499
Levou alguns segundos para eu acomodar Luna nos meus braços, a
cabecinha pequena tinha que se encaixar bem e o corpo minúsculo tinha que
ficar bem apoiado. Mas quando parei para olhá-la, o meu coração se encheu
de uma coisa inexplicável. Eu me apaixonei instantaneamente.

"Ei, Luna..." Sorri, levando o dedo indicador para a mão pequena dela
segurar. Ela me olhava com os os olhos grandes e azuis, iguais aos da mãe.
"Sou seu padrinho. O Tio Reg. Espero que você goste de mim, ok? Porque
eu amo você demais." Levei a boca até o topo da sua cabeça e beijei.

A lista havia acabado de crescer. Esse tipo de amor era diferente de tudo. Eu
tinha sensação de que qualquer coisa que eu fizesse, ainda não seria o
suficiente para mostrar o quanto eu já a amava. Eu faria qualquer coisa para
protegê-la e, naquele momento, jurei para mim mesmo que faria durante toda
a vida dela. E estar vivo não parecia mais tão exaustivo.

Porque levei vinte anos para sentir algumas coisas, mas Luna fez tudo valer
à pena em apenas alguns segundos.

500
Capítulo 38: Prisioneiro de Azkaban

O tempo pareceu voar depois que Luna nasceu. Todos os nossos amigos da
Ordem haviam ido visitar Pandora e Phil, com ênfase especial em Arthur e
Molly que também haviam acabado de dar à luz a primeira menina depois
de seis meninos. Sirius disse que eles pretendiam parar, mas não tenho tanta
certeza assim.

Durante o resto dos meses, todos voltaram ao normal. Pelo menos, o normal
da guerra. Porque quem dera que bebês fossem fofos o suficiente para
acalmar os nervos das pessoas a ponto da guerra acabar.

Quando setembro começou, Remus voltou toda a sua atenção para Lucien e
Shade, que agora o acompanhavam sempre nas luas cheias, o que deixou
Sirius extremamente enciumado, por mais que ele soubesse que ou era isso
ou Remus teria que passar as luas cheias preso naquela casa horrível. Com
os lobos sendo tão leais à ele, se tornava quase impossível serem atacados
nas florestas. E quando isso incentivou Remus a querer trazer mais lobos
para o nosso lado, ele começou a ficar realmente ocupado indo em missões
todo o tempo.

Sirius tentava se distrair ao máximo, agora que ele estava passando mais
tempo longe de Remus e James não estava mais por perto. Ele conseguia que
Moody o desse missões diariamente, fosse vigiando lugares suspeitos ou
investigando pessoas, ele fazia o possível para não ter que ficar parado e
pensar em Remus andando por aí atrás de lobisomens ou nos Potter trancados
e sozinhos em Godric's Hollow.

Voldemort parecia mais perigoso do que nunca, agora que os ataques à


famílias trouxas haviam aumentado. As pessoas estavam começando a achar
que lutar em uma guerra era perda de tempo porque ele parecia estar mais
forte a cada segundo. Mas eu sabia o que estava acontecendo. Porque passei
anos servindo à ele fielmente e sabia que quando ele estava fraco e se
sentindo ameaçado, ele era mais perigoso ainda. E com a maior parte da sua
alma destruída, não acho que ele esteja na sua melhor fase de poder.

"Sabe, você não precisa fazer isso," Eu sorri fracamente, vendo Mary afundar
o rosto em um dos livros enormes que estavam espalhados pela mesa. "Sei
como isso pode ser cansativo."

"Não se preocupe comigo, estou bem," Ela respondeu, sem tirar os olhos das
páginas. "Onde é que você consegue esses livros?!"

501
"Alguns Dumbledore me dá, outros eu consigo em bibliotecas bruxas... O
problema é só que nunca sei qual levar porque não é como se existisse um
livro falando especificamente sobre a relação do Lorde das Trevas com
horcruxes."

"Mas esse aqui fala sobre horcruxes." Ela disse, estreitando os olhos.

"Sim, mas não me dá nenhuma pista do que pode..."

"Espere aí," Mary se endireitou na cadeira, parecendo alarmada e me


encarou. "Você já considerou que horcruxes podem não ser só objetos e sim
coisas vivas?!""

"Vivas? Tipo... animais?!"

"Até pessoas, Reg." Ela jogou o livro na mesa, apontando para um parágrafo
específico. "Olhe aqui. 'Uma horcrux é algo criado por meio das Artes das
Trevas, a qual guardaria um pedaço da alma do bruxo que a criou.'"

"Bom, disso eu já sei," Respondi, franzindo as sobrancelhas. "Mas o que..."

"Não diz objeto," Mary bateu o dedo indicador no livro. E começou a pegar
outros livros que estavam em cima da mesa. "Em nenhum desses livros,
nenhum deles usa a palavra objeto, Reg! Quando eles dizem que pode ser
qualquer coisa, pode ser literalmente qualquer coisa! Até uma pessoa!"

"Oh... Oh! Deus, como é que não pensei nisso em nenhum momento?!" Algo
estalou na minha mente. Aquilo conseguiu ficar mais fácil e mais difícil ao
mesmo tempo. "Amo você, Mary! Definitivamente, amo você!"

"Obrigada." Ela sorriu satisfeita. "Você acha que ele poderia usar algum
Comensal, ou algo do tipo?!"

"Não tenho certeza..." Respondi, com os olhos presos em um os livros.


"Voldemort é esperto. Não sei se ele colocaria parte da alma dele em alguém
que pode morrer simplesmente atravessando a rua no sinal aberto. Temos
que pensar mais..."

"A não ser que seja alguém que esteja sempre com ele, que esteja sob
proteção dele o tempo inteiro."

502
"Bom, eu poderia dizer Bella, mas... Ele não é preocupado exatamente com
a segurança dela. Honestamente, acho que ele não dá a mínima. Mas se fosse
alguém, com certeza meu chute seria ela."

"Além dela, em quem mais ele confiava tanto assim? Você se lembra de
alguém que..."

"Sim. Eu." Respondi, olhando rapidamente para ele pelo canto do olho e
voltando a olhar para o livro na mesma velocidade. "Ele confiava em mim o
suficiente para usar o meu elfo para esconder o medalhão, mesmo sabendo
que ele poderia me contar tudo depois. Fora outras coisas absurdas que ele
já confiou a mim, que eu prefiro não contar."

"Bom, mas você não é uma horcrux. Pelo menos, eu espero."

"Sirius, eu já expliquei à você!" Remus entrou pela porta de casa, brigando


com Sirius que vinha atrás dele, parecendo extremamente irritado.

"Não, você não explicou nada!" Sirius gritou de volta, enquanto Remus ia
pegar uma xícara de café, tentando ignorar Sirius. "Não pode realmente achar
que eu ficaria bem com isso!"

"A questão é que isso é maior do que você!" Remus bateu a xícara na mesa,
irritado. "Mas você é mimado o suficiente para achar que não é!"

"Hm... Tudo bem aí?" Perguntei para os dois, trocando um olhar com Mary.

"Não, não está!" Sirius veio até nós, Remus virou os olhos atrás dele,
acendendo um cigarro. "Reg, Mary, preciso da opinião de vocês."

"Vai começar..." Suspirei pesadamente.

"Remus e eu marcamos de almoçar juntos hoje, mas ele disse que estava
cansado e que preferia almoçar em casa porque passou a manhã em uma
missão com os lobisomens." Sirius disse, olhando furiosamente para Remus.

"Eles tem nome, Sirius. Eles são pessoas também." Remus estreitou os olhos.

"Mas isso não é tão ruim, Sirius." Mary disse. "Ele só estava cansado, vocês
dois podem almoçar juntos em casa e..."

503
"Ah! Mas não foi esse o problema, MacDonald!" Sirius disse, sorrindo
ironicamente. "Conte a eles, Moony! Conte o que você fez!"

"Isso vai demorar muito?" Perguntei, coçando a cabeça. "Porque eu e Mary


estamos um pouco ocupados aqui..."

"Moony!"

"Tudo bem, eu vou contar!" Remus jogou o cigarro fora, vindo até nós. "Eu
realmente estava cansado e ia voltar para casa! Mas quando eu estava indo
encontrar Sirius para voltarmos juntos para cá, eu e Shade vimos Alexa
Colins, uma lobisomem que estamos vigiando a semanas, entrar em um dos
bares. Nós estamos tentando achar o momento certo para falar com ela
porque não sabemos se ela é fiel ou não à Greyback, então nós entramos e
nos sentamos em uma mesa no canto para vigiá-la de longe."

"E você não estava cansado e queria voltar para casa?!" Sirius disse, com as
mãos na cintura. "Olhe, Moony, eu entendo que você precisa ir nessas coisas.
Eu entendo e nunca digo nada. Mas nós quase não nos vemos mais e quando
vamos fazer algo juntos, você desmarca e eu encontro você no bar com ele!"

"Espere aí, você encontrou eles?!" Mary arregalou os olhos.

"Não pergunte se não eles não vão parar nunca." Eu revirei os olhos,
entediado.

"Eu não podia deixar a oportunidade passar, Sirius!" Remus gritou. "Pelo
amor de Deus, você precisa entender que todos nós estamos tendo que
sacrificar alguma coisa por esta droga de guerra! Então, pare de agir assim
só porque está sentindo falta de James!"

O meu queixo e o de Mary caiu, nós nos entreolhamos mais uma vez. Moony
havia pegado Sirius em um ponto muito delicado e agora não havia mais
como voltar atrás. Merlim, Moony, o que é que você disse?

"Pare de falar comigo como se eu fosse uma criança." Sirius cerrou os dentes,
a voz quase falhando de raiva. "Desde que a guerra começou, eu fui expulso
de casa e quase perdi meu irmão duas vezes. Peter virou a porra de um
Comensal da Morte. Tenho que ficar longe não só do meu melhor amigo,
como de Harry também. Perdemos amigos da Ordem todos os dias e quase
perdi você para os lobos porque você estava tentando me proteger. Então,

504
não me trate como se eu não soubesse como a guerra tira coisa de nós. Porque
eu sei."

"Pads, eu não..." Remus tentou, mas Sirius recuou.

"Preciso que você fique longe de mim agora." Sirius pôs a mão entre eles,
depois seguiu para o quarto.

Remus olhou para mim e Mary, que continuávamos em silêncio.

"Por que você falou sobre James?" Franzi o cenho.

"Não sei, eu... Não sei, Reg, apenas saiu!" Ele respirou fundo cansadamente,
se dirigindo para a porta que dava até a varanda. "Vou lá para fora, preciso
respirar."

"Eles são assim desde a escola," Mary suspirou, "Brigavam por qualquer
coisa, mas também se resolviam rápido. Não sabia que isso ainda acontecia."

"Na verdade, não acontece."

***

Uma das únicas coisas que me relaxaram daqueles livros durantes as últimas
semanas eram as vezes em que Pandora levava Luna para passar o dia
comigo. Para falar a verdade, havia uma parte de mim que torcia sempre para
que ela tivesse que ir em alguma missão da Ordem e Phil também estivesse
ocupado, assim eu poderia ficar com Luna o dia inteiro.

"Deus, como ela nunca chora com você?!" Pandora disse, me entregando
Luna nos braços, antes de ir para a cozinha fazer um chá. "Eu e Phil estamos
quase enlouquecendo nas últimas madrugadas!"

"Acho que ela gosta mais de mim, então." Sorri, enquanto Luna apertava
com as duas mãos pequeninhas o meu indicador.

"E Remus e Sirius? Onde estão?"

"Nem me fale nesses dois. Remus não está em casa e Sirius está trancado no
quarto. Eles estão brigando mais do que nunca, ultimamente." Disse,
ajeitando Luna, que havia começado a choramingar um pouco.

505
"Ainda pelos lobisomens?!" Pandora pôs a bandeja com o bule e as xícaras
no balcão.

"Isso também, mas no geral, Sirius só precisa que Remus dê mais atenção
aos dois." Respondi, dando de ombros. "Eu não o culpo por se sentir assim,
nós dois crescemos na mesma casa e acredite, atenção não era muito o forte
dos nossos pais."

"Isso vai melhorar quando as coisas se acertarem e os Potter voltarem,"


Pandora respondeu. "Foi o aniversário de um ano de Harry e Sirius não pôde
estar lá por causa dessa profecia estúpida, então isso com certeza deve tê-lo
magoado. Não existe nada que Sirius não faça por Harry, você sabe."

"Lily têm escrito bastante ultimamente," Comentei, vendo Luna tentar tirar
um dos meus anéis dos dedos. "Ela mandou uma carta agradecendo a
vassoura que Sirius deu a Harry, disse que ele quase matou o gato com ela.
Lily quase enlouqueceu, é claro! E James não poderia ter ficado mais
orgulhoso."

Pandora sorriu fracamente, pensativa. "Eles fazem falta por aqui, não é?
James e Lily."

"Com certeza, fazem."

"Mas e você?" Pandora perguntou, enquanto eu sentava no chão e colocava


Luna entre as minhas pernas. "Não tivemos tempo para falar sobre Crouch e
a fuga de Azkaban. Foram os Comensais, não foram?"

"Sim," Respondi, desviando os olhos para Luna. "Não fiquei surpreso por
ele ter fugido, Voldemort com certeza se uniu aos dementadores, ou algo
assim. Um comensal a mais, um comensal a menos. Dá no mesmo."

"Tudo bem, mas não estou falando de Barty Comensal da Morte Pirado
Crouch," Pandora disse me observando, quando eu encarei as minhas mãos.
"Estou falando de Barty, o filho da puta que fez merda com você a vida
inteira."

"O que eu deveria dizer, então?"

Pandora suspirou pesadamente. "Só não quero que você se feche sobre as
coisas como fazia antes. Isso nunca deu certo para você, não é agora que vai
começar a dar."

506
"Sei que posso falar com você." Assenti, curvando a boca em um sorriso
fraco.

"Que bom que sabe." Ela sorriu, satisfeita. "E então?! Quais as novidades
que você tem para me dizer sobre nossa muito provavelmente última
horcrux?!"

"Bom, eu estava falando com Mary esses últimos dias, procurando em alguns
livros e..." Fui interrompido quando a coruja chegou com o correio, me
levantando para dar Luna para Pandora. "Mm... Só um minuto. Pode ser algo
dos Potter."

A primeira carta era de James.

"Reg, Pads, Moony!

Merlim, vocês não fazem ideia do tédio que é isso aqui sem vocês três! Me
contem novidades, qualquer coisa! Como está Pandora? E Luna? Estou
louco para conhecê-la! E como vai a nossa busca? Já acharam alguma coisa
ou estamos sem sorte? De qualquer forma, não vamos desanimar, ok?
Vamos vencer esta guerra com ou sem sorte!

Estou tentando ensinar Harry a falar a palavra 'maroto' desde a semana


passada, mas ele continua repetindo apenas 'maôu'. Acho que estamos quase
lá.

Falando em Harry, algum de vocês pode nos mandar alguma foto de todos
nós? Acabei esquecendo de trazer alguma e seria bom para Harry conhecer
a família toda.

Quando eu voltar, os três vão me levar para tomar o maior porre que já
tomei na vida! Se não me fizerem sair no mínimo carregado do Três
Vassouras, eu mato vocês!

Sinto saudades.

Muito amor,

Prongs."

"Essa aqui é de James!" Exclamei, sorridente, dando a carta para Pandora


ler. "Sirius, venha aqui! Carta de James!"

507
Sirius apareceu em menos de um segundo na cozinha. Ele irrompeu pela
porta do quarto tão rápido que cambaleou quando parou. E sem dizer
nenhuma palavra, ele pegou a carta da mão de Pandora e sorriu, abraçando o
pedaço de pergaminho.

"Deus, se você não estivesse com Lupin e Potter não fosse casado," Pandora
disse, sorrindo da pressa de Sirius em abrir a carta. "Eu diria que é
apaixonado por ele!"

"Shhh," Sirius resmungou, os olhos concentrados na carta. "Me deixe ler."

Assim que peguei a outra carta para ler, Remus chegou em casa. Sirius
levantou os olhos da carta de James por alguns segundos, mas logo os
desviou de novo.

"Tudo bem, Pan?" Remus sorriu fracamente, e fez um carinho suave na


cabeça de Luna.

"Prongs escreveu." Eu apontei para Sirius, que se levantou, sem esboçar


nenhuma risada, e a entregou para Remus.

Suspirei cansadamente antes de abrir o resto. Deus, acho que vou precisar
sentar esses dois no sofá um do lado do outro e forçá-los a se desculpar um
com o outro.

"Que estranho..." Comentei, virando a carta do avesso. "Não tem remetente


nenhum."

"Não tenho tempo para explicar. Tirem os McKinnon de casa esta


madrugada. Há um ataque planejado para esta noite e eles pretendem matar
a família inteira. O Lorde está fraco. O que quer que estejam fazendo,
continuem."

Meu queixo caiu. Por meio segundo, senti uma onda de desespero, mas voltei
ao normal rapidamente. "Precisamos mandar um patrono para a casa de
Marlene. Agora."

"Marlene?!" Sirius franziu o cenho, vindo rápido até mim. "Por quê
Marlene?!"

Entreguei a carta à Sirius que começou a ler com Remus ao seu lado. "Que
porra é essa?!" Remus vociferou, os olhos arregalados.

508
"Reg?" Pandora me encarou, desconfiada.

"Alguém está tentando nos avisar que planejam matar os McKinnon essa
noite. Essa exata noite, Pan." Respondi, agitado. As mãos começando a suar.

"Quem diabos mandou isso?!" Sirius disse, batendo a carta na mesa. "Foi o
mesmo de quando Greyback queria atacar Cissy e Draco! Estão tentando
brincar com a gente ou o quê?!"

"Temos que tirar eles da casa. Temos que tirá-los agora!" Pandora se
levantou, com o olhar determinado.

"Podem ficar aqui!" Sirius exclamou, a sobrancelhas franzidas. "Seriam mais


do que bem-vindos, não é, Moony?"

"Bem vindos sim, mas..." Remus acendeu um cigarro, também nervoso.


"Nós só temos dois quartos aqui, Padfoot, e eles são uma família inteira."

"Acho... acho que Mary pode ficar com eles. Posso falar com ela sobre
isso...." Eu disse, com a voz nervosa. "Pan, mande o patrono, por favor."

Pandora se afastou, indo até a janela. Remus franziu o cenho, tragando o


cigarro. "Por que você mesmo não manda?!"

"Não. Não sou bom com patronos."

"Não é... bom?" Remus me olhou, confuso.

"Apenas não é meu melhor feitiço, ok?!" Respondi, irritado. "Merlim, esse
não é o ponto aqui."

Depois que Pandora mandou o patrono, deixamos Luna com Phil em casa e
seguimos os quatro para a cabana afastada onde ocorriam agora as reuniões
da Ordem. Antes elas aconteciam nos Longbottom, mas agora sem eles por
perto e com as coisas ficando mais perigosas a cada dia que se passava,
Moody havia colocado todos os feitiços de proteção e camuflagem ao redor
da cabana.

Perguntei se Carter queria vir em todas as reuniões que tivemos desde que
ele voltou de Nova York, mas ele diz sempre o mesmo. Que não gosta de
guerras e que acha que temos mais chance de vencer sem ele por perto, então
ele prefere ficar distante. Ele continua ocupado tentando descobrir como

509
conviver bem com os pais. Às vezes, eu o invejo por poder se dar ao luxo de
se manter distante dessa confusão. Porque eu mesmo estou metido até o
pescoço.

Eu já deveria ter imaginado que não precisaria pedir nada à Mary. Quando
chegamos, ela já estava sentada ao lado dos McKinnon.

"Ei," Pus a mão no ombro dela, que se virou e sorriu para mim. Olhei
diretamente para Marlene, que estava com a mãe e o irmão ao lado. O pai
estava conversando com Moody e Hagrid. "Tudo bem? Vocês já tem onde
ficar? Se precisarem, eu passo a noite em algum lugar e vocês podem ficar
no meu quarto, sem problema algum."

"É muito gentil da sua parte, Reg," Marlene sorriu, afetivamente. "Nós
vamos ficar com Mary essa noite... Os pais dela foram muito gentis em
deixar que nós ficássemos lá."

"Ora, deixar!" Mary exclamou, se ajeitando na cadeira. "Você iria de


qualquer jeito. É minha melhor amiga. Só não vai ter para onde ir quando eu
não existir mais."

Marlene sorriu suavemente e quando me sentei ao lado de Mary, ela


sussurrou para nós dois. "Por que acham que querem atacar a nós? Quer
dizer... O que temos a ver diretamente com Voldemort?!"

"Bom, ele parecia querer atacar pessoas próximas à você, não é?" Mary
sussurrou para mim.

"Mas eu não sou tão visto assim com você, Marlene," Respondi, sussurrando
de volta. "Não acho que tenha exatamente um motivo. O bilhete dizia que
ele estava fraco. Ele pode estar querendo assustar mais ainda as pessoas,
agora que não está tão poderoso. A questão aqui, na verdade, é outra."

"Qual?" Marlene franziu o cenho.

"Quem é o remetente." Disse, sendo interrompido quando Dumbledore


pigarreou, indicando que ia começar a falar. Todos se sentaram nos seus
lugares.

Dumbledore começou a explicar sobre o aviso que recebemos e informou


que os McKinnon seriam muito bem abrigados e protegidos pelos
MacDonald, que por serem trouxas, tinham a casa constantemente vigiada e

510
cercada de feitiços de proteção e ocultamento. Logo depois, Moody se
levantou e começou a distribuir as missões às suas devidas pessoas.

Apenas Remus, que tinha Lucien de um lado e Shade do outro, receberia as


missões em sigilo. O que não agradava Sirius, mas agora não havia muito o
que se fazer. Eles precisavam convencer outros lobos a deixarem Greyback.
Porque Remus estava determinado em travar uma guerra fria com toda a
sociedade bruxa que marginalizou os lobisomens desde que o mundo era
mundo. Ele mudaria a forma que eles eram vistos e tratados, ou morreria
tentando.

Depois que a lista de desaparecidos foi lida e Dumbledore propôs um minuto


de silêncio às famílias atacadas nos últimos meses, Moody chamou Remus,
Lucien e Shade para um canto e, com certeza, lançou um feitiço silenciador
entre eles, porque era impossível saber o que falavam. A reunião foi
encerrada e todos se levantaram e começaram a conversar entre si.

"Vamos para casa, Reg," Sirius passou o braço pelo meu pescoço. "Moony
provavelmente está ocupado demais para ir também."

"Senhor Black?" Dumbledore chamou, fazendo eu e Sirius nos virarmos e


nos entreolharmos. "O mais novo, suponho."

"Oh," Sirius entendeu, tirando o braço do meu pescoço. "Certo... Eu espero


você."

Dumbledore e eu nos sentamos na mesa, apenas nós dois. A cabana já estava


um pouco vazia e os bruxos que estavam lá estavam espalhados. Mas ele pôs
um feitiço silenciador na nossa conversa mesmo assim.

"Acho que você tem algo para me mostrar, não é, Regulus?" Dumbledore
perguntou com a voz calma, me observando por cima dos óculos meia lua.

Retirei o bilhete do bolso e entreguei à ele, que analisou frente e verso. "Por
que o senhor não falou sobre isso na reunião?!"

"Eu contei sobre o bilhete." Ele respondeu, franzindo as sobrancelhas.

"Não, estou perguntando por quê o senhor não levantou a questão de quem
é que nos mandou isso," Respondi, o encarando seriamente. "Nem disse nada
sobre a coincidência de termos recebido um aviso parecido meses atrás
quando a matilha de Greyback ia fazer um ataque."

511
"Não acho que descobrir isso vai nos beneficiar nesta guerra, Regulus."
Dumbledore disse, me devolvendo o bilhete.

"Como não?! O senhor não acha estranho terem mandado para nossa casa,
quando poderiam ter mandado para qualquer pessoa na Ordem?!"

"Certamente, é curioso," Dumbledore comentou. "Mas você deve se


concentrar em sua missão vagarosa sobre as horcruxes. Você, Regulus, mais
do que ninguém, tem uma tarefa indiscutivelmente difícil e perigosa. E se
concentrar em descobrir quem escreveu este bilhete não está em sua
responsabilidade."

"Esta droga foi mandada para minha casa!" Aumentei o tom de voz, já que
ninguém poderia nos ouvir. Mas Sirius percebeu meus movimentos,
começando a nos encarar. "E se for alguém que pode me ajudar?! Me ajudar
com as horcruxes?!"

"Regulus, você..."

"Por que é que você não me escuta?!" Bati forte na mesa, Sirius se endireitou
na poltrona rapidamente, parecendo prestes a interceder.

"Estou ouvindo você, Regulus." Ele disse, pacificamente, parecendo não ter
se afetado com o meu tom.

"Não, não está," Balancei a cabeça. Fui tomado por uma raiva absurda de
repente. "Não me ouviu quando eu era uma criança e não está me ouvindo
agora. Pessoas vão continuar morrendo e você não pretende fazer nada por
um bem maior?! Por causa da droga das horcruxes?! É por isso que você me
aceitou tão facilmente na Ordem?! Por que eu fui o primeiro a saber sobre
elas?! Você confia em mim ou só está me usando?!"

"Estou dizendo para você não interceder, mas não que não vamos fazer
alguma coisa," Ele respondeu, inabalável. "Sei que você tem certas mágoas.
Mas você deve me ouvir quando digo que se você se envolver com assuntos
sobre Comensais da Morte agora, as pessoas vão desconfiar de você e você
não vai poder fazer nada à respeito."

"Certas mágoas?!" Sorri fracamente, desacreditado. "Preste atenção no que


vou dizer, Professor. Eu ainda tenho a marca negra no meu braço. Fui
literalmente criado para ser um Comensal da Morte. As pessoas falam de
mim só por causa do meu sobrenome desde o dia em que eu nasci. Então, o

512
senhor me desculpe, mas se acha que isso vai me impedir de alguma coisa,
o senhor deveria ter procurado conhecer mais os seus alunos, Professor."

Desfiz o feitiço rapidamente e me levantei da cadeira, indo rápido em direção


à porta. Sirius me seguiu rapidamente. "Reg, está tudo..."

"Em casa." Respondi, terminantemente. E então aparatamos.

Assim que chegamos, Sirius nem mesmo tirou a jaqueta de couro, ele apenas
se virou e esperou que eu começasse a falar.

"Tem algo errado."

"Errado?!" Sirius franziu o cenho. "O que Dumbledore disse à você?!"

"Ele não quer que procuremos por quem está mandando os bilhetes. Disse
que ele mesmo vai resolver." Eu disse, tentando racionar o que havia
acontecido. "Preciso contar à Pandora."

"Nada disso. Está escuro. Você não vai sair por aí essa hora nem ferrando."
Sirius disse, seriamente. "Moony disse que não ia demorar. Vamos jantar e
dormir. E amanhã você volta a ser o herói da casa, ok?"

"Dormir? Está de brincadeira comigo?" Disse, sorrindo ironicamente.


"Dumbledore sabe de alguma coisa, Sirius. Tenho certeza que sabe."

"E por que ele não nos diria?!"

"Porque nos quer exatamente onde estamos agora." Eu disse, começando a


andar pela sala. "Como peças em um jogo de xadrez. É como se ele só nos
desse informações que ele julga serem necessárias, mas não todas, você
entende?"

"Não sei, Reg, acho que você está sendo paranóico." Sirius suspirou.
"Podemos confiar em Dumbledore e..."

Sirius foi interrompido quando alguém bateu na porta de casa. Nós nos
entreolhamos, porque nunca era seguro abrir a porta a essa hora.

"Quem é?!" Sirius perguntou, sem abrir a porta.

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"Ministério da Magia." A voz disse pelo lado de fora. "Em nome da ministra
da Magia, Millicent Bagnold."

"O ministério?!" Sussurrei, confuso. Sirius encolheu os ombros, também sem


entender. "Será que é algo a ver com Remus? O registro dele?"

Sirius arregalou os olhos. "Não vão prender o meu Moony!"

Eu ajeitei o cabelo e caminhei em direção à porta para abrí-la. E me assustei


quando vi quem era.

"Senhor Crouch?!" Exclamei, Sirius apareceu atrás de mim. "Mm... Eu não


esperava ver o senhor, na verdade."

"Sim, Regulus, faz muito tempo," Ele respondeu e levantou o selo do


Ministério que havia em sua varinha. "Apenas para não ser necessário
protocolos de segurança. Não é como se soubéssemos muito um sobre o
outro."

O pai de Barty me odiava. Uma vez ele me encontrou só de toalha na cozinha


da casa deles. Barty nunca me disse nada, mas os olhos do pai dele se
arregalaram e eu soube que ele não fazia ideia que o filho gostava de
meninos. E para o juiz dos Conselhos das Leis da Magia e diretor do
Departamento de, ter um filho "desviado" não era aceitável. Aquilo foi em
um verão. Quando as aulas voltaram, Barty voltou com um olho roxo para a
escola e nunca mais me chamou para ir até lá. Eu sabia como era passar por
aquilo. Então, mais uma vez, ele não disse nada, mas eu sabia.

"O senhor quer entrar?" Sirius perguntou.

"Não se incomode, senhor Black, serei breve." Ele respondeu, seriamente.


Sem entrar na casa, ele puxou um pergaminho grande e começou a ler para
nós. "A Ministra da Magia, Millicent Bagnold, manda que o juiz dos
Conselhos das Leis da Magia, Bartolomeu Crouch Sênior, efetue a prisão
imediata de Regulus Arcturus Black em Azkaban, para guardar julgamento
por tortura, retaliação e compactuação com o Lorde das Trevas."

Minhas pernas quase falharam. Mas que porra era aquela?!

"Você está louco?!" Sirius gritou, eu tive que segurá-lo pelos ombros. "Não
vai levar meu irmão para Azkaban!"

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"Senhor..." Eu pigarreei, tentando aparentar estar calmo. "Acho que houve
algum engano. Eu faço parte da Ordem da Fênix agora. O próprio Albus
Dumbledore pode confirmar isso."

O senhor Crouch balançou a varinha apontada para o meu pulso e minha


manga subiu rapidamente, deixando visível a marca negra quase apagada.
"O que me diz disso, Regulus?"

Foi quando entendi.

"Não estou sendo preso por algo que estou fazendo..." Eu sussurrei, Sirius
me olhou confuso, os olhos desesperados. "É pelas coisas que já fiz."

"Você não esperava que o Ministério absolvesse você de tudo que você fez
enquanto era um deles só porque você decidiu pedir desculpas, não é,
garoto?" O senhor Crouch disse, a voz áspera. Ele balançou a varinha mais
uma vez e algemas de ferro pesado apareceram nos meus dois pulsos.
Consegui sentir perfeitamente a magia me deixando, como se as correntes
me deixassem mais fraco.

"Regulus, você não... Mas você não torturou ninguém, você não..." Sirius
estava perdido nas próprias palavras. É claro que alguém que me amava tanto
como Sirius amava nunca conseguiria me ver fazendo aquelas coisas.

"Sirius." Eu o encarei, os olhos dele estavam molhados, cheios de desespero.


"Continue a busca sem mim, ok? Você consegue. Estou fora da jogada agora,
mas você consegue."

"Não, não! Você não..."

"Isso vai sair no Profeta Diário amanhã. Então, conte a versão certa para as
pessoas que importam. Conte à Pandora, Remus, James, Lily, Andy, Cissy,
Carter e... E Mary. Diga à ela que sinto muito."

"Não!" Sirius vociferou, me empurrando e gritando com o senhor Crouch.


"Alguém aqui chame Dumbledore agora! Ele não vai!"

"Acho melhor você vir comigo, Regulus. Não queremos dementadores na


porta da sua casa, certo?" Ele respondeu, ignorando Sirius.

"Regulus, diga à ele!" Sirius gritou para mim, os olhos banhados em


lágrimas. "Você não torturou ninguém! Não retaliou, não... Não é verdade!"

515
"Sinto muito, Six..." Eu respondi, a voz trêmula e baixa, enquanto saía e ia
para o lado do Senhor Crouch, que tirou a minha varinha do meu bolso
traseiro, guardando-a no próprio casaco. Sirius me olhava paralisado. Eu mal
conseguia sentir meu próprio corpo. Como não pensei nisso antes? Sempre
penso em tudo, então como não cogitei que não era só me meter na casa do
meu irmão e dar uma de herói que eu estaria salvo e perdoado? Eu ficaria
preso para sempre e nunca veria Luna, Harry e Draco crescerem e irem para
Hogwarts? Estava prestes a ser trancado no pior lugar do mundo e a única
que pensava era no rosto de Mary sorrindo para mim.

Eu veria aquele sorriso outra vez?

Olhei para Sirius pela última vez. Queria abraçá-lo, mas isso o faria chorar
ainda mais. Ele estava praticamente petrificado, me vendo me preparar para
aparatar, não conseguia mexer um músculo.

E vi uma vida inteira ser jogada fora nos segundos seguintes. Porque agora
eu era um prisioneiro de Azkaban.

516
Capítulo 38.1: Sirius

Quebrei todos os vasos de vidro que tinham em casa na porta quando eles
foram embora. Eu me senti exatamente do mesmo jeito de quando li a carta
que Regulus havia me deixado a dois anos atrás contando que pretendia
morrer. Devastado.

Exceto que agora, eu que queria morrer.

Não tinha forças para fazer nada sem ele. Já era difícil quando ele ainda era
um Comensal da Morte e morava com os nossos pais, agora que eu sabia que
ele não era assim, mas ainda não podíamos ficar juntos, conseguia doer mais
ainda. Então, como ele acha que eu vou conseguir procurar alguma coisa sem
ele? Como ele pode achar que vou conseguir fazer qualquer coisa sem ele?
Como vou passar em frente a porta do quarto dele e saber que ao invés de
estar lá dentro, ele está trancado em uma cela sendo torturado por
dementadores que vão fazer ele reviver as piores memórias? E, Deus,
Regulus tem algumas memórias realmente ruins.

Não podia estar acontecendo. Não, não, não, qualquer coisa, menos isso...

Moony ainda não havia chegado. Eu queria escrever para James, mas ele não
poderia fazer nada, além de se preocupar. Eu não sabia como encarar Mary
ou Pandora. A primeira pessoa que eu deveria falar era Moody ou
Dumbledore provavelmente. Mas não conseguia. Nenhum músculo do meu
corpo se mexia. Eu estava sentado no chão do canto da sala, com os joelhos
juntos ao corpo, a horas. Os estilhaços de vidro espalhados pelo chão da casa
e o casaco de Regulus ainda pendurado no cabide que eu não conseguia parar
de encarar.

A maçaneta se mexeu quando Moony chegou em casa.

"Sirius? Ainda acordado? Está quase amanhecendo." Ele franziu o cenho


quando me viu sentado, até que seu olhar parou nos vidros no chão e ele deu
um salto. "Puta que pariu! Você vai se machucar aqui, Pads! Quem foi que
fez isso?!"

"Eu." Respondi, baixo e trêmulo. "Nenhum desses vasos importa... Nada


importa..."

"Padfoot, o que aconteceu?" Remus ignorou os estilhaços quando notou o


tom da minha voz, pulando por cima deles e indo até onde eu estava. Ele se

517
ajoelhou na minha frente e ficou frente a frente comigo. "Você chorou?
Merda, você está tremendo... Pegue isso aqui, vamos." Moony enrolou o
casaco dele em mim e me levou até o sofá. "Me diga o que aconteceu. Onde
é que Reg está?"

Ouvir o nome dele foi demais. Eu caí em lágrimas outra vez e Remus
estremeceu, endurecendo a voz. "Padfoot. Onde Regulus está?"

"Levaram ele." Eu respondi, tremendo a voz que saiu muito fina e falhada.
"Levaram ele para Azkaban."

"O quê?! Azkaban?!" Remus levantou do sofá de uma vez, parecendo


atordoado e alarmado ao mesmo tempo. "Por que?! Isso não faz o menor
sentido, Sirius!"

"Crouch apareceu aqui... Com um mandato de prisão no nome dele, Moony."


Eu solucei, abraçado com uma almofada. "Ele disse que é por coisas que ele
fez enquanto ainda era um Comensal e... E Crouch disse que ele não se
safaria fácil só porque está com a Ordem agora."

"Temos que falar com Dumbledore, Sirius! Temos que avisar todos! Isso
estará no Profeta Diário amanhã! Precisamos avisar todos!" Remus pegou a
varinha. "Precisamos falar com Mary e Pandora. E com Deus e o mundo que
precisar!"

"Moony..." Chamei, em um sussurro, Remus se virou para mim. "Tem que


ajudar a trazê-lo de volta... Por favor..."

"Padfoot," Remus sentou do meu lado, pegando no meu rosto molhado. "Não
vou deixar Regulus naquele lugar. Vou fazer o possível e o impossível para
tirar ele de lá. Mas preciso que você me ajude, tudo bem? Vamos... Temos
patronos para mandar."

Em menos de uma hora, Mary e Pandora apareceram na nossa casa. Pandora


estava anestesiada, não conseguia falar com ninguém, apenas encarava o
chão e batia o pé no chão. Mary chorou tanto que teve que tomar uma garrafa
inteira de água. Ela foi até o quarto dele e se jogou em sua cama, abraçando
os lençóis e chorando, enquanto gritava 'Não!' repetidas vezes.

Carter chegou algum tempo depois, os olhos fundos e escuros, e ele tinha um
hematoma na parte inferior da bochecha, que eu decidi não perguntar.

518
"Eu mesmo vou buscá-lo." Ele disse, decididamente, quase saindo pela porta.
"Não vou esperar por ninguém. Estou indo agora."

"Isso é burrice." Remus o impediu, com a mão no peito dele. "Você não pode
simplesmente entrar em Azkaban, Carter."

"Ah, não?! Então, veja." Ele tentou passar por Remus de novo, mas ele o
segurou.

"Carter..." Mary o chamou, a voz pesada de tanto chorar. "Eu sei que está
preocupado, mas temos que ficar juntos. Regulus sabe que somos mais fortes
juntos."

Carter passou a mão no rosto e começou a chorar. Mary o envolveu em um


abraço forte e caloroso, como uma mãe abraçando um filho que teve um
pesadelo.

"Pan?" Tentei chamá-la. Ela estava andando de um lado para o outro,


estalando um dedo atrás d outro. "Você quer alguma coisa?"

"Sim. Meu melhor amigo de volta." Ela respondeu, sem me olhar. "Tem que
ter algo que nós possamos fazer... Tem que haver um jeito, Sirius! Porque
não existe chance de Regulus estar preso para sempre naquele lugar!"

Antes que eu respondesse, Moody e Dumbledore irromperam juntos através


da lareira assustando todos nós. Moody veio até mim e me segurou pelos
ombros com força, muito agitado, "Preciso que me diga. Quem veio buscar
Regulus ontem?!"

"Foi o senhor Crouch," Remus respondeu, porque viu que eu estava


assustado. "Ele veio buscá-lo."

Moody olhou para Dumbledore e começaram a sussurrar entre si. Mary


gritou, nervosa, "Posso saber o que está acontecendo?!"

Dumbledore pigarreou, "Senhores, Bartolomeu foi assassinado ontem em


sua casa. Sua varinha e algumas outras coisas foram roubadas da sua casa."

"Assassinado?!" Exclamei, confuso. Que merda está acontecendo?!

"Quem o matou?!" Remus perguntou.

519
"E se não era ele..." Pandora sussurrou.

"Então, quem diabos é que estava aqui ontem?!" Carter vociferou,


impaciente.

Dumbledore trocou mais um olhar com Moody. "Identificamos de que


varinha veio o feitiço que matou Bartolomeu, senhor Wood. Ele foi
assassinado pelo próprio filho."

"Você está me dizendo que aquele filho da puta esteve na minha casa ontem
e eu não fazia ideia?!" Gritei para Dumbledore.

"Está me dizendo que ele está com Regulus agora?!" Pandora gritou dessa
vez.

Dumbledore assentiu para nós. "Sim, exatamente isso."

"Então, o que estamos esperando?!" Remus gritou, batendo na mesa e indo


até Dumbledore. "Vamos matar aquele desgraçado!"

Moody levantou uma sobrancelha e encarou Remus. "Torça para ele não
matar Regulus antes, Lupin."

E quando ouvi isso, pude jurar que senti meu coração cair.

520
Capítulo 39: Cárcere

A família Black sempre apoiou a supremacia de sangue e os ideais de


Voldemort desde que ele ascendeu no mundo bruxo, mas ir parar em
Azkaban nunca foi um verdadeiro medo. Papai costumava dizer para mim e
Sirius que pessoas como nós não eram simplesmente presas como a ralé da
sociedade bruxa. Nossos infortúnios eram minunciosamente esquecidos se
oferecêssemos a quantidade certa de galeões ao Ministério. Isso, é claro,
desde que ninguém conseguisse provas reais de que os Blacks
compactuavam com magia das trevas.

Mas os rumores sempre estiveram lá, onde quer que fôssemos.

Foram poucas as coisas que meu pai me disse na vida que eu realmente
trouxe comigo, quase nenhuma. Mas existia uma parte em mim que
realmente nunca havia considerado isso, como ele me assegurou que nunca
aconteceria. Foi burrice achar que eu poderia ter levado a vida que levei, ter
a família que eu tive, deixado que implantassem na minha cabeça toda aquela
besteira sobre pureza de sangue e ainda sim nunca ter cogitado o que estava
acontecendo agora.

Eu não fazia a menor ideia de como era o lugar. Quer dizer, eu sabia que era
ruim. Muito ruim. Que o lugar era uma fortaleza no meio de uma ilha no
meio do Mar do Norte. Era escondido do mundo bruxo, completamente
ilocalizável. Protegido e guardado pelos dementadores, que se alimentavam
dos sentimentos bons dos prisioneiros.

Há alguns anos, eu não me importaria tanto. Porque não era como se eu fosse
uma pessoa radiante e cheia de alegria com milhares de sentimentos bons.
Eu era o cara que escreveu cartas de despedida porque estava indo se matar,
porra. Os dementadores iam ficar entediados comigo.

Mas agora, com Mary, Sirius, Luna... Eu estava desesperado com o fato de
que agora eles tinham algo para tirar de mim. Isso deveria ser bom. Ter algo
pelo o que lutar e amar. Me pergunto se Sirius está tentando lutar por mim
agora. Espero que não esteja.

Foram todas coisas que passaram pela minha cabeça durante os segundos
que durou a aparatação. O senhor Crouch me levaria até o Ministério? Ou eu
iria direto para uma cela em Azkaban? Me lembro dele dizer que eu
aguardaria um julgamento. Mas por que haveria um julgamento se nada do

521
que ele me acusou era mentira? E quando eu fosse à julgamento, meus crimes
teriam sido tão hediondos a ponto de eu merecer um beijo dos dementadores?

Quando desaparatamos, eu conseguia sentir o cheiro do mar. Azkaban ficava


em uma ilha, então acho que nada de Ministério primeiro por hoje. Quando
eu era criança, nossa governanta levava eu e Sirius até a praia para
brincarmos, eu voltaria a encostar os pés descalços no mar algum dia? Estava
escuro. E depois de sentir o cheiro da água salgada, senti uma sensação
horrível. Talvez a pior que já tenha sentido na vida.

Não havia nenhum pingo de magia em mim.

O senhor Crouch havia confiscado a minha varinha, o que já era de se


esperar. E em volta dos meus pulsos, pulseiras grossas de ferro pesadas
tinham se materializado. Elas enfraqueciam a minha magia, me impedindo
de aparatar, me impedindo de fazer qualquer feitiço mesmo se tivesse com a
varinha em mãos. Elas não prendiam meus braços um ao outro como a
polícia dos trouxas geralmente fazia, Mary me explicou. Mas me faziam
sentir pior do que preso. Me faziam sentir vulnerável.

Quando me dei a chance de olhar ao redor, ouvi o senhor Crouch dizer "Me
siga.", enquanto andava em direção à porta de uma casa. Mas por que
estamos em uma casa? Se Azkaban era uma prisão com tantos prisioneiros,
eles não caberiam em uma casa. Muito menos nessa, que parecia não ter mais
do que um quarto só. E onde estavam os dementadores, afinal?

"Onde é que estamos indo?" Sussurrei, enquanto o seguia. Ele me ignorou,


enquanto fazia um feitiço na maçaneta da porta em silêncio. Definitivamente,
não estávamos em Azkaban. Mas ainda estávamos cercados por água, o
único jeito de sair dali era aparatando. O que no momento, era impossível
para mim. Então, ainda era uma prisão.

Não era uma casa assustadora. Na verdade, era comum até demais. Era
pequena e sem graça. Quando se entrava, já estava dentro da sala de estar
pequena com um sofá velho e uma televisão. Mais dois passos para o lado,
era a cozinha. Estreita e mal iluminada. E só havia um quarto, com um
banheiro que só cabia uma pessoa dentro ao lado. A casa toda devia ser do
tamanho do meu quarto.

"Você pode ficar aqui." O senhor Crouch disse, a voz estranha, quase
diferente. "Por enquanto."

522
"Aqui?!" Franzi o cenho, olhando ao redor, confuso. "Isso não parece bem
uma prisão."

"É porque não é uma, seu idiota." Ele disse, em um tom familiar, como se
fôssemos amigos antigos. Ele se encostou na parede da sala, me observando
de um jeito esquisito. "Você não está sendo preso em Azkaban, Regulus."

"Não estou?" Estava realmente confuso agora. "Mas o senhor disse que... O
senhor leu o mandado. Isso é uma brincadeira, então? Posso tirar essa coisa
dos meus pulsos?"

"Não," Ele sorriu, um sorriso idêntico ao de Barty. Nunca havia prestado


atenção no quanto os dois se pareciam. "Acho que não pode."

"Não estou entendendo."

Ele retirou o sobretudo, jogando-o no sofá e começou a andar pela sala, com
um ar triunfante no rosto. "Você está com Dumbledore agora, não é?
Acredito que você e meu filho não são mais... próximos, estou certo?"

"Não." Respondi, seriamente. "Não somos."

"E não tem medo de que agora que ele fugiu, ele vá atrás de você?" Ele ainda
estava andando na sala, sem me olhar nos olhos. "Ou de alguém que você
gosta?"

"Sei me proteger. E proteger as pessoas que amo."

"Sabe, não é?" Ele sorriu mais uma vez, ainda sem olhar para mim. A língua
dele estava fazendo uma coisa estranha, mas decidi não dizer nada. "Sempre
achei que você e meu filho só se desgrudariam no dia que um dos dois
morresse. Foi uma surpresa para mim quando fiquei sabendo que o herdeiro
dos Blacks havia mudado de lado."

"Com todo respeito, mas o que o senhor quer de mim, exatamente?" Eu


estava impaciente. E um pouco assustado. "Se está tentando ter certeza se
sou confiável ou não, falar sobre Barty não vai ajudar. Porque o que eu sentia
por ele não tinha nada a ver com a guerra, apenas existia."

"Engraçado como coisas que "apenas existiam" como você diz, podem
"apenas deixar de existir" tão rápido." Ele sorriu mais uma vez, e finalmente
me olhou nos olhos. "Curioso, não é, Reg?"

523
Um segundo. Um exato segundo. Foi o tempo que demorou para eu entender
tudo. Meus olhos se arregalaram. Parecia que eu havia acabado de levar um
soco no estômago. E dentro desse mesmo segundo, o cabelo, o rosto, o corpo,
tudo nele começou a mudar. O cabelo, antes meio grisalho como o do pai,
agora lentamente voltava à sua cor castanho original. O rosto, antes com
algumas rugas e marcas de expressão, agora afinado e pálido, como sempre
foi. O corpo emagreceu e esticou alguns centímetros, dando altura à ele. Nós
dois tínhamos a mesma idade, mas Azkaban o mudou visivelmente. Ele
estava diferente, mas aquele rosto sempre me faria estremecer.

"Barty."

Ele caiu na gargalhada, como se ouvir o próprio nome sair da minha boca
fosse a melhor piada que ele já havia ouvido. "Posso ser louco, Reg, posso
sim. Mas você não pode negar que sou o maior gênio que você já viu!"

"Como é que você... E-eu vi a varinha do seu pai, com o selo do Ministério
e..." Um estalo ecoou na minha mente. É claro. "Você o matou."

"Ah, vamos, o velho já estava caindo aos pedaços," Ele se jogou no sofá,
esticando as pernas em uma mesa pequena. "E você sabe que ele sempre me
odiou. Ele mereceu aquilo."

"C-como você conseguiu as algemas?! E o mandado?!" Eu estava assustado,


mas confuso também. O que viria a seguir no show dele? Me entregar? Com
certeza sim.

"Foi tudo muito fácil depois que fritei o cérebro do meu pai, se você quer
mesmo saber," Ele sorriu mais uma vez, se divertindo com a situação.
"Depois que ele caiu mortinho no chão, eu tinha a casa inteira só para mim.
Peguei a varinha do desgraçado e, por Salazar, você consegue acreditar que
ele tinha essas algemas guardadas?! Sabe, quem é o psicopata que faz isso?!"

"Muito psicopata." Eu disse, com a voz irônica, paralisado e em pé, tentando


manter uma distância segura.

"E não é?!" Barty disse casualmente, como se estivesse em uma conversa de
bar. Como se ainda fôssemos dois adolescentes conversando no dormitório
da Sonserina. "Eu estava pensando em algum jeito de pegar você desde que
fugi de Azkaban, na verdade. Droga, Reg, você deveria ter visto! Os
dementadores se aliaram ao Lorde das Trevas e, não só eu, mas dezenas de
prisioneiros fugiram! Foi a porra de um espetáculo!" O olho dele brilhava

524
em maldade, e a língua dele ainda fazia aquela coisa estranha. "Você teria
adorado."

"O que faz você pensar que eu teria gostado disso?!" Franzi o cenho,
tentando manter a voz impassível. Porque Barty odiava se eu aumentasse o
tom de voz e ele parecia muito calmo agora.

"Você costumava gostar. Esqueci que você é um chato agora!" Ele revirou
os olhos, balançando uma das mãos. "Eu estava com saudades, só isso."

"Há! Saudades?!" Não consegui conter o riso. Barty ficou sério. "Vamos, me
conte. Vai me entregar ou o quê? Porque se for, vá em frente e acabe com
isso de uma vez."

"Você vai morrer se eu entregar você." Ele estava sério, pela primeira vez.
"Ele vai matar você sem nem pensar duas vezes."

"E você se importa?"

Barty me observou cautelosamente, depois se levantou de uma vez do sofá,


o que me fez dar um passo para trás. Ele ficou frente à frente comigo e soltou
uma risadinha. "Tenho motivos para acreditar que você é mais útil vivo."

Ele fez um gesto para o sofá com a mão. Pelo amor de Deus, esse cara é
louco. "Você pode se sentar."

"Estou bem aqui."

Ele se descontrolou em questão de segundos, e me segurou pelo pescoço, me


batendo contra a parede. "Olha, acho melhor você não me desobedecer
durante o tempo que passar aqui, Reg." Ele arqueou uma das sobrancelhas,
me olhando nos olhos, um olhar fulminante. "Não vai querer me irritar como
da última vez."

Eu estava sem a minha varinha. Era burrice tentar enfrentar ele. Ele acabaria
comigo em questão de segundos. Eu poderia fazê-lo acreditar que eu estava
o obedecendo. Poderia fingir, sempre fui bom nisso. Fingi a minha vida
inteira, posso fazer isso agora. Desde que ele não encostasse em mim.

Andei devagar até o sofá, sem quebrar o contato visual com ele. Assim que
me sentei, ele foi até a cozinha minúscula e vasculhou um dos armários
embaixo da pia, até achar uma garrafa de whisky de fogo e sorrir para mim,

525
"Você amava essa coisinha linda, lembra? Um gole disso aqui e eu nem
precisava me esforçar para fazer você tirar a roupa!" Se acalme, Regulus.
Conte até 3. Finja. Você é bom nisso.

"Sim, me lembro." Dei um sorriso forçado, comecei a olhar ao redor. "De


quem é essa casa, afinal?!"

"Se eu contar, vou ter que matar você!" Ele sorriu, como se tivesse acabado
de contar a piada mais engraçada do mundo. Como diabos ele tinha coragem
de brincar comigo sobre matar?! Ele se sentou no sofá, virando a garrafa de
uma vez na boca. "Quer?"

"Não, obrigado." Estávamos sentados um do lado do outro. Eu queria gritar.


Pular pelas janelas. Nadar até sair dali. E se morresse tentando, que se dane.
Ficar no mesmo lugar que ele era sufocante. Mas pela minha sobrevivência,
eu tinha que fingir. "Então, se você não vai me entregar... Por que exatamente
eu estou aqui?"

Ele deu outro gole. "Não vou entregar você. Porque você vai fazer isso
sozinho, raio de sol."

"O quê?!"

"O Lorde das Trevas precisa de um espião. Alguém que tenha contato direto
com Dumbledore. Ele sabe que você está tentando matá-lo e não vai hesitar
em matar você se te encontrar, mas não se você puder oferecer algo à ele..."
Ele deu mais um gole. "Você vai voltar a ser um Comensal da Morte."

Não pude segurar a minha risada. "Você não acha que vou trair a Ordem,
acha?! Deus, você nem sabe o que está dizendo. Está projetando suas
próprias fantasias de adolescente em uma guerra, Barty. E para quê?! Para
me ter de novo nas suas mãos?!"

"Se quiser tornar isso difícil, por mim tanto faz. Faça como quiser." Ele deu
de ombros, como se estivesse entediado. "Você não vai sair daqui até
aceitar."

"E se eu não aceitar?!" Desafiei, mesmo sabendo que era perigoso.

"Bom, neste caso," Ele endureceu a voz, brincando com a própria varinha
entre os dedos. "Talvez eu tenha que começar a matar. Me diga, devo
começar pela sua puta suja e sangue-ruim de cachichos?! Pelo irmão

526
traidor?! Ou melhor, talvez eu mexa com aquela ratinha que nasceu à pouco
tempo, como se chama mesmo? Luna!"

"Tire o nome dela da sua boca!" Vociferei, ficando de pé, quase perdendo o
controle.

"Há! Então, aí está ele!" Barty se levantou também, sorrindo. "Você fica tão
sexy quando está com raiva."

"Se você chegar perto de qualquer um deles, eu vou acabar com você."

"E como vai fazer isso sem magia e no meio do mar?!" Barty ironizou. "O
Lorde das Trevas não é burro, ele sabe que existe alguém que está passando
informações para Dumbledore. Bella desconfia de Snape, mas ele e o Lorde
são mais próximos do que qualquer um de nós. Então, ele precisa de alguém
que a Ordem confie cegamente. Alguém... Como você." Ele passou a costa
do indicador na minha bochecha. Aquilo me deu vontade de vomitar.

"Então, isso é um plano?! Um plano de vocês para me fazer mudar de lado?!"

"Vocês não, eu! Você, Regulus, é meu! Ninguém sabe que você está aqui
porque apenas eu me importo com você o suficiente para fazer algo à
respeito!" Ele aumentou a voz, os olhos vivos e arregalados. As pupilas
altamente dilatadas. "Eu disse a você que íamos ficar juntos de novo, não
disse?"

"Sirius vai me achar. Eles todos vão me achar. A essa hora, já se deram conta
que você matou o seu pai! E estão atrás de mim agora!" Exclamei, sentindo
os olhos ficarem molhados. "Você é burro se acha que Voldemort confiaria
em mim outra vez."

Barty pareceu vacilar por meio segundo, parecendo não ter certeza da própria
teoria, mas rapidamente voltou ao normal. "Você acha que eu não sei que
você sabe de algo? Conheço você a dez anos, meu amor, e sei quando está
escondendo alguma coisa. Ou alguém. Você pode facilitar tudo e me contar,
então nós podemos falar com Lord Voldemort. Mas se quiser fazer isso do
jeito difícil, eu não ligo."

Ele deu de ombros, virando de costas e indo em direção a porta. Franzi o


cenho. "Onde é que você vai?!"

527
"Não precisa ficar com saudades, amorzinho." Ele sorriu maliciosamente,
enquanto fazia um feitiço na maçaneta. "Eu volto amanhã, quando você tiver
dormido e pensado melhor se vai cooperar comigo ou não."

"Você não pode me deixar aqui, Barty! Não-" Antes que eu pudesse terminar,
ele saiu pela porta, me trancando lá dentro. Sozinho. Sem magia. Sem
esperança.

Quase quebrei a maçaneta tentando abrir à força, as minhas mãos ficaram


tão vermelhas que ardiam. Chutei todas as janelas, dei socos, até começar a
usar o meu corpo. Me joguei tantas vezes contra a porta que achei que havia
deslocado o ombro em um momento. Poderiam ter se passado horas, não
havia como dizer, eu não tinha noção nenhuma de tempo lá dentro.

Depois de chorar e gritar repetidas vezes, enquanto batia a mim mesmo


contra qualquer possível abertura que existia naquela casa, eu finalmente
desisti.

Barty estava definitivamente obcecado. O plano dele girava em torno apenas


de uma coisa: me ter de volta. E o pior de tudo, o mais nojento de tudo, é que
ele nem mesmo me amava. Era como a escola. Ele só não me queria fora do
controle dele. Ele gostava de saber que podia puxar as cordinhas sempre que
precisasse. E depois de um tempo, eu percebi que eu só sairia daquele lugar
de dois jeitos. Como um traidor, ou como um cadáver.

Jogado naquele chão frio, sozinho e fraco, pensei no rosto de todos eles.
Pensei em Mary e em como ela ficaria sem mim, se ela se apaixonaria de
novo e se permitiria ser feliz outra vez. Eu esperava que sim, por mais que a
ideia me partisse o coração. Pandora teria que explicar à Luna um dia e talvez
ela não sentisse tanto assim por mim, porque só passou cinco minutos
comigo. Carter se acertaria com os pais algum dia? Eles não o deixariam
sozinho? Porque eu odiaria isso. Odiaria de verdade. E então, James, Lily,
Remus...

Eu não podia pensar em Sirius. Não conseguia. Ele precisava descobrir quem
era o Comensal que estava mandando os bilhetes. Ele precisava ser adulto
agora e continuar tudo que eu havia começado. Porque não existia
possibilidade nenhuma de eu fazer o que Barty queria que eu fizesse.

***

528
Na segunda semana, eu acreditava seriamente que havia ficado louco. Barty
vinha todos os dias, como ele sempre prometia. Ele trazia comida e água. E
tentou no mínimo três vezes transar comigo durante esse tempo.

Eu perguntava sobre o que estava acontecendo lá fora, porque estava ficando


enlouquecido de preocupação, e ele apenas ria e dizia, "Se você quer
descobrir, você sabe o que fazer para eu deixar você sair."

Por isso, na manhã de algum dia qualquer que eu não tinha ideia de qual era,
eu senti que havia acabado de fazer a maior besteira do mundo.

"Posso perguntar uma coisa?" Eu estava deitado no sofá e Barty estava


reabastecendo a geladeira.

"Manda."

"Vocês atacaram os McKinnon?"

"Nah. Destruímos a casa, é claro, mas a família não estava..." Barty se


endireitou de repente, me observando com os olhos estreitos. "Como você
poderia saber disso?!" Eu fiquei em silêncio. Barty veio rapidamente até o
sofá e aumentou a voz em cima de mim. "Só vou perguntar mais uma vez,
como você sabe disso, Regulus?!"

"Descubra sozinho."

Ele me agarrou pelo pescoço, falando bem perto do meu rosto. "Não brinque
comigo, Regulus! Foi ele, não foi?! O sujo imundo que está ousando trair o
Lorde das Trevas!" Ele me soltou de uma vez, fazendo meu rosto tombar
para o lado e começou a andar em círculos pela sala. De repente, um estalo
pareceu vir à mente dele e ele começou a rir como um louco. "É claro! Como
eu não pensei nisso antes?!"

"Pensou no quê?!" Barty não me respondeu. Eu precisava encontrar uma


maneira de falar com alguém, mas sem magia, era impossível. E antes que
eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele já havia saído.

Eu estava sozinho de novo. E permaneci assim durante todo o mês.

529
Capítulo 40: Sobrevivência

TW: Não sei se isso que vai acontecer nesse capítulo se enquadra em
assédio, mas de qualquer forma, o aviso está aqui porque é sempre
importante.

A última vez que estive tão magro, ainda morava na mansão dos Blacks e
minha mãe queria desesperadamente que eu emagrecesse. Mas a questão é
que eu sempre fui magro, do tipo sem músculo nenhum. Está na genética dos
Blacks, eu acho. A pele pálida. Os cabelos negros. Os olhos cinzas.
Magérrimos. Traços marcados. O ar de elegância aristocrática que refletia na
personalidade.

Então, se você nasce magro, como a opinião de alguém poderia ser tão
avassaladora a ponto de você enxergar outra coisa quando se vê no espelho?
E o que havia de tão errado se eu engordasse, afinal? A gordura parecia vir
como uma placa de 'ei, você envergonha a sua família'. E adivinha só,
mamãe, eu envergonhei e continuo magro.

Acho que acabei fugindo do ponto. O que tem acontecido muito


ultimamente, agora que a única pessoa que tenho para conversar sou eu
mesmo. Então, que se dane se eu me perder no que estou falando. Ou
pensando, sei lá.

Continuando, estou comendo mal para caralho. Barty traz comida sempre, é
claro. E estou começando a achar que ele não tem a menor coragem de me
matar ou me deixar morrer naturalmente, mas ainda prefiro não arriscar. A
questão é que não sinto fome. Não sinto quase nada o dia todo.

Acho que vou acabar morrendo de insanidade se isso continuar. Não tenho a
menor coragem de tentar fugir, porque Barty pode não querer me matar, mas
está esperando apenas uma brecha para acabar com alguém que eu amo se
eu o irritar. Todo dia ele aparece e faz a mesma pergunta 'E então? Se
decidiu?', eu balanço a cabeça ou às vezes, nem mesmo respondo. Ele revira
os olhos e me deixa sozinho outra vez. Então, é. Não tenho esperanças de
sair daqui.

Pelo menos não até aquela manhã. Pensei em Sirius e se ele estava perto de
achar a última horcrux. Ou Pandora, que é definitivamente mais inteligente.
Eu saindo daqui vivo ou não, eles precisavam encontrar. Talvez com
Voldemort morto, esse pesadelo acabaria. Ou quando Barty descobrisse que
matamos o seu senhor, ele finalmente tivesse coragem de cortar a minha

530
garganta do jeito simples e trouxa. E foi pensando nisso que me toquei de
algo que mudou o rumo da minha esperança.

Se eu morresse, o que aconteceria com James, Lily e Harry? Se o feitiço


fosse quebrado, como eles saberiam que não estavam mais sob proteção até
alguém avisá-los? E se ninguém soubesse que eu havia morrido e eles
ficassem desprotegidos por tempo o suficiente para Voldemort matar os três?
Deus, como eu estava pensando em morrer com a vida deles dependendo de
mim?!

Não era como a última vez. Eu não podia apenas escrever cartas de despedida
e ir embora. Não, pessoas estavam contando comigo. Eu estava contando
comigo. Eu precisava sobreviver. E precisava arranjar um jeito de sair daqui.
Por eles e por mim. Claro que por mim. Porque, honestamente, estou cansado
de achar que mereço coisas ruins, porque não mereço. Não mereço nada
disso. Essa droga não é culpa minha, então por que eu deveria cruzar os
braços e esperar me matarem?

Não! Não vai acontecer! Por eles, por mim, por eles, por mim...

"Odeio lugares cercados por água." Barty entrou pela porta naquele dia e se
jogou no sofá, a roupa um pouco molhada. "Me lembram aquela prisão dos
infernos."

Nos dias em que eu estava disposto a ser inteligente, eu era gentil com ele.
Porque nada distraía Barty mais do que eu o tratando como ele queria ser
tratado.

"Quer chá?" Perguntei, em um tom amigável. Merlim, me ajude a fazer isso


parecer ser verdade.

Barty franziu as sobrancelhas, me olhando por cima do ombro. "Está de bom


humor hoje, raio de sol! Posso saber o motivo?!"

"Não sei," Dei de ombros, soando indiferente. "Só estou perguntando, se


você não quiser, não tem problema."

Ele me observou cautelosamente por um tempo, até que aceitou e se sentou


comigo no sofá da sala. Barty parecia calmo demais. O que parecia estranho
vindo de alguém que era mais impulsivo e explosivo do que qualquer outra
pessoa que eu conheça. Ele quase parecia uma pessoa normal naquele dia.
Perfeito para eu conseguir tirar algo dele.

531
"Sua roupa está molhada." Eu disse, quebrando o silêncio.

"É," Ele respondeu. "Se ainda não notou, tem bastante água ao redor daqui."

"Não, quero dizer... Achei que você aparatasse quando saía daqui."

"Não. Não dá para aparatar nesse lugar." Ele deu de ombros,


despreocupadamente. "Eu não ia prender você em um lugar que você poderia
sair facilmente se se livrasse das algemas."

"Mas nós chegamos aqui aparatando."

"Sim. Porque pus o feitiço depois que você já estava aqui."

Ótimo. Nova informação. Mesmo se eu me livrar das algemas, o que eu acho


quase impossível, ainda não iria conseguir sair daqui. Aparatar não era mais
uma opção. Eu precisava da minha varinha.

"Então, como você sai daqui?!" Perguntei, tomando um gole na xícara. "Não
me diga que é nadando!"

Barty sorriu. "Por que eu contaria isso à você?!"

"Não sei," Dei de ombros. "Só estou entediado."

"Você está diferente." Ele franziu o cenho. "Nas primeiras semanas, você
parecia um cão raivoso. Nem mesmo me deixava falar com você. Quase
quebrou as coisas dessa casa fazendo birra."

Ainda estou com raiva, seu desgraçado. Poderia matar você agora mesmo.
Eu só preciso parecer que estou bem para você abaixar a guarda e eu
conseguir a porra da minha varinha de volta.

"Só estou cansado," Suspirei pesadamente, deixando minha cabeça cair para
trás na costa do sofá, deixando à mostra o meu pescoço. Porque Barty sempre
adorou o meu pescoço. "Não estou com muita vontade brigar agora. Muito
menos com você."

"O que quer dizer com 'muito menos comigo'?" Ele estava com a voz fraca,
conseguia sentir os olhos dele pesando sobre o meu pescoço exposto, mesmo

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sem estar olhando para ele. Era a minha chance. Era a minha única chance.
Se eu queria sair daqui, se eu queria voltar, era a minha única alternativa.

"Independente do que você pensa, não gosto de brigar com você. Nunca
gostei."

"E você acha que eu gosto? Acha que eu queria fazer isso com você?!" Barty
exclamou, me fazendo encará-lo. "Eu fui obrigado! Você me obrigou! Estou
tentando fazer você voltar, mas você continua achando que eu sou louco."

É porque você é!

"Não quero falar sobre essas coisas," Suspirei mais uma vez, cansadamente.
"Mas isso sempre combinou com você. Ser louco. É por isso que o Regulus
de dezesseis anos era fascinado por você."

"E é por isso que o Barty de vinte quer você de volta."

Eu queria gritar todos os xingamentos possíveis na cara dele. Queria quebrar


a xícara na minha mão e usar os estilhaços para cortar a sua garganta. Porém
eu ainda precisava da minha varinha. E eu sabia que Barty carregava a dele
no bolso interno do sobretudo. Então era lá que a minha com certeza estaria,
mesmo porque sempre que ele estava aqui, ele nunca o tirava. Mas eu sabia
exatamente como fazer ele tirar.

"Você dorme aonde?" Perguntei.

"Também não vou contar isso."

"Por que não dorme aqui?" Deus, eu me sentia com dezesseis outra vez. Eu
realmente estava perguntando isso?! "Essa noite, pelo menos."

"Por que quer que eu durma aqui?!" Ele fez uma cara confusa. "Você nunca
pediu isso antes."

"Acho que estou me sentindo sozinho," Me estiquei, encostando a minha


cabeça no braço do sofá de uma forma que todo o meu pescoço descoberto
ficou exposto e minha camisa subiu alguns centímetros, deixando a mostra
uma faixa de pele pálida da minha barriga. "Se você não quiser vir, tudo
bem."

533
Barty parecia me devorar com os olhos, como se ele fosse um predador e eu
uma presa. Do jeito que ele era nojento, ele poderia facilmente estar excitado
só com a minha voz. Ele levantou a mão e passou o indicador levemente na
borda da minha camisa, levantando-a alguns poucos centímetros a mais do
que já estava. O toque dele era cortante. Como se as células que compunham
sua pele queimassem as minhas cada vez que ele encostava em mim. Mas
era necessário.

Vamos, Regulus, você sabe fingir quando quer. Você já teve que aguentar
coisas muito piores do que isso.

Ele levantou os olhos para mim, procurando na minha expressão algum sinal
de que eu estava incomodado. E eu estava. Mas fingi que não. Então, apenas
deixei.

Quando ele notou que eu não faria nada para impedir, ele sorriu triunfante.
"Eu volto hoje à noite, então."

Não sou de me gabar, mas se havia algo em que eu era bom, era em fazer
planos. Talvez por isso eu e Pandora trabalhamos tão bem juntos, porque ela
também é uma mestra em planejar. E por mais que eu estivesse me
arriscando, era o único jeito que eu tinha de sair dali. Eu tinha que ser
inteligente, tinha que empurrar todos os sentimentos ruins para dentro de
mim e fingir.

Tinha que parecer que eu estava cansado de ir contra ele e que agora eu só
queria um tempo para relaxar. Tinha que parecer que eu finalmente estava
abaixando a guarda para ele começar a abaixar a dele. E se não funcionasse
e ele percebesse que eu estava tentando enganá-lo, seria o fim. A única coisa
que Barty odiava mais do que rejeição, era traição. Não me surpreendia o
fato dele ficar tão transtornado pela ideia de um dos comensais estar traindo
Voldemort.

Eu tinha uma chance e não podia desperdiçar. Então, quando ele voltou, tudo
estava do jeito que eu havia planejado.

"Você quer beber?!" Barty franziu o cenho, vendo a garrafa de whisky de


fogo que eu havia posto em cima da mesa na sala.

"Não vou sair daqui mesmo," Dei de ombros, enchendo um copo. "Bêbado
ou não, não vai fazer muita diferença."

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"Onde achou esse disco?" Ele percebeu a música que eu havia colocado para
trocar em um toca discos velho que ficava no canto da sala.

"Estava junto com o toca discos," Me estiquei no sofá, confortável. "Estava


silêncio demais."

"E você confia em mim para ficar bêbado do meu lado na noite em que vou
dormir aqui?"

Porra. Talvez eu estivesse facilitando demais. Precisava ser mais difícil.

"Não enche o saco." Revirei os olhos. "Senta aí e bebe."

Barty se sentou devagar, me observando cautelosamente. Eu não podia


vacilar. Ele era esperto e sabia reconhecer quando eu mentia. Isso vai ser
mais fácil se ele estiver bêbado.

"Então," Comecei, rodando a bebida dentro do copo. "Posso ao menos saber


que dia é hoje? Ou não está dentro do regulamento do meu cativeiro
particular?"

Barty sorriu fracamente, dando um gole na sua bebida. "Não tenho certeza,
mas sei que o Halloween está chegando. Deve faltar uma semana, mais ou
menos."

"Sempre gostei do Halloween," Suspirei, pendurando a cabeça no braço do


sofá. Barty encostou as costas no braço do outro lado, me observando de
frente, enquanto eu encarava o teto. "As abóboras, os doces, as fantasias...
Em Hogwarts, principalmente."

"Não me lembro da última vez que realmente comemorei isso." Ele disse,
encarando o próprio copo.

"Como não?!" Levantei a cabeça para olhá-lo. "Se até os meus pais
gostavam, qualquer alma no mundo gostaria."

"Sinto muito sobre os seus pais, aliás. Eles sempre me trataram bem." É
porque você é louco igual a eles, seu idiota.

"Não finja que você não sabe que Voldemort teve a ver com a morte deles.
Até eu sei disso."

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"Você traiu o Lorde das Trevas, Regulus." Ele estreitou os olhos. "Alguém
tinha que ser punido por isso. Para começo de conversa, nada disso teria
acontecido se você não tivesse mudado de lado."

"É por isso que quer que eu volte? Você sabe que não vou conseguir nem dar
dois passos para dentro sem que ele me mate antes do terceiro. Eu
honestamente não tenho nada a ver com as crueldades dele, Barty." Levei o
copo até a boca dessa vez, mas sem engolir a bebida. "Ele já fazia essas
coisas antes mesmo de eu decidir me virar contra ele."

"Se eu quisesse que você morresse, eu mesmo já teria matado."

"E por que não matou?"

"Você é inteligente demais para acabar como o último comensal que traiu o
Lorde das Trevas." Barty levou o segundo copo à boca. "Está sendo comido
por vermes agora."

"Vocês o mataram?!" Não consegui esconder meu choque e torci para ele
não achar que eu sabia de alguma coisa. Porque realmente não sabia.

"Obviamente, sim." Ele deu de ombros, sem um traço de arrependimento. "O


Lorde das Trevas descobriu os bilhetinhos imundos que ele mandava e
deixou Nagini cuidar dele. Ela pareceu gostar muito disso, na verdade. Ele
tem cuidado dela ao extremo ultimamente, como se a vida dele dependesse
disso. De qualquer forma, cobras adoram ratos e aquele desgraçado era um,
de corpo e alma."

Pensei por um momento. Ratos?! Quando me toquei, parecia que haviam


jogado um balde de água gelada em mim. "Você não está me dizendo que
era Pettigrew, está?!"

"Filho da puta traidor." Barty sussurrou, encarando o copo, parecendo imerso


nos próprios pensamentos.

Peter, Peter, seu idiota. Por que você não apenas veio até nós? Se consegui
que confiassem em mim, você também acabaria conseguindo em algum
momento. Ninguém precisaria ter morrido. Senti uma pontada de empatia
por ele no fundo do meu peito e me perguntei se os meninos já haviam
descoberto.

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Barty já estava no quarto copo à essa altura, o que ele achava que também
era o meu caso. Mas na maioria das vezes, eu não colocava a bebida para
dentro, só molhava os lábios. E quando ele se distraía, eu virava um pouco
da bebida no carpete atrás do sofá. Mas para todos os efeitos, para ele eu
estava ficando tão bêbado quanto ele.

"Posso perguntar uma coisa para você?" Eu disse, quebrando o silêncio,


quando ele havia começado a ficar um pouco tonto.

"Manda." Ele ergueu o copo no ar.

"Você é feliz? Sendo um Comensal da Morte?" Eu precisava achar algum


ponto do emocional dele. Isso sempre faz as pessoas confiarem em você.

"Isso é uma sessão de terapia ou o quê?" Ele endureceu a voz. "Que porra,
Regulus."

"Foi só uma pergunta." Dei de ombros. "Eu não era feliz. Nunca fui. Nem
com Voldemort, nem com os comensais, nem com a minha família... Tenho
mais medo de voltar a ser o que eu era do que tenho medo de morrer, Barty."

Ele ficou em silêncio, encarando seu copo, enquanto passava o indicador


levemente ao redor da borda. "E comigo?"

"O quê?"

"Você era feliz?"

Você está brincando comigo?! Eu tinha medo de você! Você me colocava


em uma posição em que eu tinha que te defender até do que o meu
subconsciente me alertava! Você fez eu me odiar por amar você! E está
perguntando se eu era feliz?! Você é doente ou o quê?!

"Sim." Respondi, sem olhá-lo nos olhos, porque ele perceberia que eu estava
mentindo. "Eu era feliz com você."

"E por que você foi embora, então?"

"Porque precisava descobrir sozinho como ser feliz sem você." Essa parte
não era mentira. Houve um tempo em que tudo que eu conhecia e achava
bom para mim se resumia à ele. "E você?"

537
"O que tem eu?"

"Era feliz comigo?"

"Eu amava você."

Acho que vou vomitar agora.

"Não exagere!" Eu sorri, tomando um gole de verdade. Eu não queria ficar


bêbado, mas era difícil ter que aguentar tudo aquilo completamente sóbrio.
"Amor é uma coisa complexa demais para pessoas como nós dois. Se você
me amasse, por exemplo, eu não estaria preso aqui."

"Você só está aqui porque eu não quero que você morra na mão do Lorde
das Trevas."

"Mas quer que eu fique com você contra a minha vontade." Ergui as
sobrancelhas. "Isso não é amor."

Barty ficou em silêncio nos minutos que se seguiram, até que se levantou e
foi pegar mais uma garrafa no armário da cozinha. Ele já estava começando
a perder o equilíbrio enquanto andava e a voz estava ficando lenta e
arrastada. Antes dele se sentar no sofá de volta, o disco começou a tocar uma
música animada, que eu não fazia ideia de qual era. Mas veio no momento
certo.

"Porra, eu adoro essa música!" Exclamei, jogando a cabeça para trás e me


sentando para pôr o copo em cima da mesa. Barty sorriu quando me viu
levantar e começar a dançar na sala. Ótimo, estamos indo bem. Ele se sentou
no sofá com a segunda garrafa de whisky e descansou, me observando.

"Me dê isso aqui!" Puxei a garrafa da mão dele, dando um susto nele. E
quando virei ela na minha boca, a bebida escorregou pelos lados, molhando
um pouco a camisa branca que eu vestia. Barty encarou a camisa
transparente, agora pregada no meu corpo, como se estivesse se controlando
para não rasgá-la. Eu devolvi a garrafa e continuei dançando a música,
torcendo para que ele não aguentasse mais. Eu só precisava que ele tirasse
a porra daquele casaco.

"Quer dançar?" Ergui a mão para ele, que me olhou perplexo. "Vamos, pare
de ser chato! Amanhã nós voltamos a nos odiar e eu prometo que mando
você ir para puta que pariu com mais ênfase do que nos outros dias!"

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Barty não conseguiu evitar. Ele não dançava de verdade, uma das suas mãos
segurava a garrafa e a outra era guiada pela minha, que girava ele e sacudia
o seu corpo. Quando eu sair daqui, eu mereço um prêmio. Mereço um prêmio
por ter que interpretar todo esse show ridículo.

Em uma das vezes que eu o girei, esbarrei propositalmente na garrafa, que


derramou metade da bebida contida dentro, molhando boa parte do casaco
dele. Isso! Finalmente!

"Droga!" Fingi, passando a mão no casaco dele.

"Não se preocupe com isso," Ele sorriu, aparentando já estar bêbado. "Eu
ponho para secar em um minuto."

"Eu coloco para você." Ofereci, tentando soar sincero. Barty ficou em
silêncio, enquanto eu ia para trás dele e puxava o casaco devagar dos seus
braços. Fiz o possível para que ele sentisse a minha respiração na parte de
trás da sua cabeça. Eu estava ofegante de nervosismo, mas ele pensaria que
era outra coisa, obviamente.

"Gosto de você assim." Ele disse, quando eu levei o casaco até à cozinha e
estendi na ponta de um dos armários. Passei a mão pelo casaco e consegui
sentir. Duas varinhas. A minha e a dele. No bolso esquerdo. Uma parte já
estava feita. Agora eu precisava fazer ele dormir ou desmaiar de tanto beber.
E isso seria a parte mais fácil, porém mais torturante.

"Assim como?" Sorri fracamente, voltando para a sala, enquanto ele dava
mais um gole na garrafa. "Molhado?"

"Você não fica nada mal assim." Ele me olhou por baixo dos cílios, com uma
expressão selvagem no rosto. Eu me aproximei, voltando à dançar, e ficando
cada vez mais perto dele. A música mudou e nós dois começamos a dançar
no mesmo ritmo, os corpos indo na mesma direção. Eu conseguia sentir a
respiração dele no meu rosto.

Foi quando joguei tudo para o alto e, Merlim, que se foda a enrolação. Não
é como se ele fosse negar alguma coisa. Segurei o rosto dele com as duas
mãos e puxei o rosto dele, encostando os lábios dele nos meus
demoradamente.

Quando soltei, ele me olhou perplexo, depois sorriu. "Você está louco, tenho
certeza."

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"Estou a mais de um mês trancado aqui," Sussurrei, com a voz rouca.
"Preciso disso."

Barty jogou a garrafa em um canto qualquer da sala, sem se importar com a


bagunça e me puxou pelo pescoço, encostando mais uma vez a boca na
minha. Ele mordia a minha boca ferozmente e puxava a parte de trás do meu
cabelo, o que eu sempre odiei que ele fizesse, mas ele nunca se importou em
parar.

Eu tive que me desligar completamente. Essa era provavelmente uma das


coisas mais difíceis e torturantes que eu já havia tido que fazer. Tive tanto
medo por tanto tempo das lembranças de Barty encostando em mim e agora
ou era isso, ou não haveria outro jeito.

Tentei fechar os olhos e pensar em Mary. Mas parecia um insulto eu pensar


na garota que eu amava enquanto tinha que fingir gostar de beijar alguém tão
nojento. Me perguntei se Mary me perdoaria ou consideraria aquilo traição.
Bom, não era como se eu tivesse muita escolha. Passar o mês inteiro
afastando Barty não deu em nada. Eu tinha que tentar algo diferente se queria
voltar para ela. Mesmo que destruísse a minha alma por dentro.

Ele não desgrudou da minha boca até me levar até à cama do quarto. Eu não
iria transar com ele nem que ele colocasse uma varinha na minha garganta e
me obrigasse. Eu preferia morrer a fazer isso. Mas eu precisava fazer ele
relaxar tanto a ponto de dormir. Precisava que ele apagasse para pegar aquele
casaco e a minha varinha.

Sinceramente, posso nunca mais ter uma experiência tão horrível quanto
aquela. As mãos dele ainda me assustavam. Eu ser obrigado a tirar a roupa
dele, a permitir que ele tirasse a minha roupa, que passasse a mão onde
quisesse, era ainda pior do que da última vez. Me recuso a detalhar o que
aconteceu exatamente dentro daquele quarto. Me recuso de verdade. Acho
que não conseguiria detalhar nem para mim mesmo. Porque dóia demais.

Mas quando tudo terminou, ou melhor, ele havia terminado, porque eu não
senti nada além de nojo e repulsa, ele havia apagado. Dormiu segundos
depois de eu ter feito ele acabar. Tentei me recompor e tentei segurar o choro,
porque eu tinha trabalho a fazer e não era hora para isso. Havia uma guerra
para se vencer.

Mas quando me levantei e olhei as marcas roxas no meu ombro, as lágrimas


pareceram querer explodir pelos meus olhos.

540
"Pare de chorar, seu idiota..." Sussurrei para mim mesmo, enquanto vestia a
minha camisa. Respirei fundo e olhei para Barty, que parecia estar morto de
tão apagado.

Corri até a cozinha, com passos silenciosos, peguei o casaco e retirei a minha
varinha de dentro. Nunca pensei que iria sentir tanta falta dela. Quase chorei
de emoção quando a segurei nas minhas mãos de novo. Dentro do casaco,
havia uma chave pequena e dourada. Peguei ela de uma vez e abri as algemas
do meu pulso. Eu conseguia sentir a magia voltando ao meu corpo.
Conseguia sentir a magia da varinha na minha mão. Acho que a gente não
costuma perceber esse tipo de coisa até ser obrigado a passar mais de um
mês sem contato nenhum com magia.

Tentei aparatar, mas Barty tinha razão. Era impossível. Levantei a varinha e
murmurei, "Finite Incantatem!", para ver se o efeito do feitiço de anti
aparatação no lugar se perdia, mas não funcionou. Eu provavelmente não
sairia dali naquela noite.

Só tinha uma coisa a se fazer e eu definitivamente não estava em condição


nenhuma de fazer isso agora. Mas se eu não tentasse, tudo havia sido em vão.

Era um feitiço difícil. Mas eu já havia realizado feitiços bem mais difíceis.
Inclusive, já consegui realizar esse antes. Mas era sempre tão... Difícil.
Tentei pensar em Mary e no quanto a amava, em como ficaria feliz em vê-la
de novo, mas minha mente se voltava para o que eu havia acabado de fazer
com Barty. Pensei em Pandora, e surpreendentemente, não foi o suficiente
também. Nem mesmo Sirius foi, que é o responsável pela maior quantidade
de emoções fortes que senti por uma vida.

Então, como? Pensando em quê exatamente eu iria produzir um patrono?

Foi quando ela, de repente, me veio na mente. Eu não a tinha antes, por isso
era tão difícil. Sorri involuntariamente, sentindo o meu coração aquecer por
um segundo. Cheguei a esquecer o que havia feito, o que havia me disposto
a fazer. Me imaginei voltando e segurando ela no colo. Levando-a para
passear no parque ou contando uma história enquanto a colocava para
dormir. Meu peito se encheu de amor. O tipo de amor puro, genuíno e
sincero. Levantei a varinha e pensei em Luna.

"Expecto Patronum."

541
O brilho azul cintilante começou a sair da ponta da varinha, tomando a forma
de uma águia grande e deslumbrante que voava pela sala com uma leveza
impressionante.

"Sirius!" Comecei a falar, a águia parou, captando a minha mensagem. "Eu


estou vivo. Mas é impossível aparatar no lugar em que eu estou. É uma casa
em uma rocha grande em algum lugar do Mar do Norte. Preciso de ajuda.
Preciso de ajuda de verdade, porque não acho que eu consigo resolver isso
sozinho dessa vez. Vou enfeitiçar o patrono para mostrar à você o caminho,
mas você vai ter que dar um jeito sem envolver aparatação! Prometo que vou
tentar sobreviver por quanto tempo eu puder. Eu prometo."

A águia atravessou a janela de vidro e sumiu na escuridão.

Recoloquei as algemas e pus a chave a minha varinha no mesmo lugar que


achei. Quando voltei para o quarto, Barty ainda estava apagado. Me peguei
pedindo que ele não acordasse nunca mais. Pensando em como seria se eu
sufocasse ele com um daqueles travesseiros. Mas não, eu não era um
assassino. Eu não precisava sujar as minhas mãos, porque o meu irmão me
tiraria daqui.

Eu tinha certeza que ele viria.

542
Capítulo 41: Fantasma

Passei toda aquela noite em claro, sem fazer a menor ideia se o que eu fiz
havia dado certo ou não.

Sempre fui bom em feitiços. Feitiços de transfiguração, de ataque e defesa,


de azaração, de ocultamento. Modéstia parte, eu poderia facilmente me
considerar um dos melhores do meu ano. Então quando de repente tivemos
que aprender um feitiço novo de proteção que parecia simplesmente não
querer sair da ponta da minha varinha, eu fiquei curioso.

Quer dizer, eu poderia ter pensamentos felizes. Talvez tivesse que me


esforçar um pouco mais que os outros. mas eu poderia. Naquela época, eu
poderia pensar na minha amizade com Pandora, nas tardes brincando e
conversando com Kreacher ou até mesmo em alguns poucas lembranças boas
com Sirius. Mas nenhum parecia o suficiente. Porque não precisava ser
apenas feliz, tinha que ser o bastante para espantar um dementador de dois
metros de altura.

Pela minha falta de experiência na coisa, eu estava com medo. Eu não sabia
exatamente a hora que havia mandado o patrono, mas sabia que era muito
tarde. E já estava amanhecendo, o que significava que Barty logo acordaria.

Teria acontecido alguma coisa com algum deles? Pensei, enquanto


observava os feixes de luz do sol entrarem pela fresta da janela. Ou a Ordem
achou perigoso demais se arriscarem para vir até aqui? Não. Sirius nunca
obedece ordens. Mary é teimosa, ela nunca escuta nem à mim, quanto mais
eles. Remus fica literalmente assustador quando está com raiva. Pandora nem
se fala.

Mas eles ouvem Dumbledore. E Dumbledore nem sempre está à favor das
minhas questões.

Barty se mexeu do meu lado, gemendo de sono. Continuei virado para o


outro lado, sem me mexer. Ouvi ele bocejar alto e se sentar na cama.

"Reg?" Ele sussurrou. "Acordado?"

Para você, não. Pode fingir que estou morto.

543
"Mm..." Me mexi na cama, fingindo estar acordando naquela hora. Deus,
acho que atuei mais de ontem para hoje do que um ator de cinema de verdade.
"Me deixe dormir mais um pouco."

Senti a ânsia de vômito vir na minha garganta quando Barty se inclinou em


cima de mim e me deu um beijo no rosto.

"Você pode ficar aí, mas não demore para levantar," Ele disse, se levantando
da cama e vestindo sua calça. "Temos muita coisa para fazer hoje."

"Que coisas?!"

"Vamos até Lord Voldemort, é claro." Ele sorriu triunfante, saindo radiante
pela porta do quarto. Só consegui raciocinar quando ele já estava na cozinha
fazendo barulho com as xícaras de vidro. Ele havia decidido me entregar?!

"Acho que não entendi direito," Fui até à cozinha, nervoso, me atrapalhando
com a camisa. Fiz uma pausa, hesitante. "Você vai... me entregar?"

"O quê?!" Ele gargalhou, se encostando na pia, com uma xícara na mão. "Eu
admito que fiquei chateado por você não querer ter ido até o final comigo
ontem à noite, mas não a ponto de querer que você morra!" Ele tomou um
gole do café, correndo os olhos dos meus pés até a cabeça e se aproximou de
mim. "Você ainda sabe como me deixar feliz usando só as mãos, não é?"

Que nojo.

Sorri nervosamente, sem responder nada. Observei enquanto Barty pegava o


casaco, agora seco, e o vestia.

"Se você não vai me entregar," Eu disse, devagar. Tentando decifrá-lo.


"Então o que..."

"Ah, Reg, vamos lá! Você acha mesmo que me engana?!" Ele sorriu
ironicamente. "Você acha que não sei por que você fez todo aquele
showzinho ontem à noite?!"

Estremeci por alguns segundos, imóvel. Ele havia descoberto tudo. Agora eu
iria morrer pelas próprias mãos dele. Porque Barty odiava ser enganado.

"Não precisava de toda aquela enrolação, toda aquela coisa de roupa


molhada," Ele girou a varinha nos dedos, se divertindo. "Eu conheço você.

544
Sei quando está tramando alguma coisa. Mas, sabe, você só precisava ter me
dito."

"Dito o quê, exatamente?"

"Que você havia sido decidido!" Ele estava radiante. Se eu não o odiasse,
quase sentiria pena de estragar esse momento para ele. "Que finalmente caiu
em si e vai vir comigo e sair desse lugar! Não sei se você estava tentando
fazer disso um grande momento, mas você nunca precisou fazer muito
esforço para tirar minha roupa. Como eu disse, era só ter me pedido, raio de
sol." Ele sorriu, batendo com a ponta do indicador no meu nariz. Depois foi
em direção ao sofá e se jogou.

"Você não pensou que talvez eu só quisesse me... divertir um pouco?"


Perguntei, estreitando os olhos. "Ou até mesmo que só quisesse ficar um
tempo à sós com você? Sem essa história de comensais e Voldemort?" Eu
precisava desesperadamente de tempo.

Barty me observou cautelosamente, em silêncio por alguns segundos. "Se


você quis ficar comigo ontem à noite, então por que não faria o que estou
pedindo que faça durante todo esse último mês?"

"Não acho que uma coisa tem muito a ver com a outra." Me sentei devagar
no sofá ao lado dele, mantendo a voz calma à todo custo. Eu podia ver a
minha varinha marcada no tecido do casaco dele.

"Você não vai brincar comigo desse jeito." Ele estava começando a ficar
irritado, a voz começando a engrossar. "Você gostava de mim, Regulus.
Realmente gostava. Por isso, nós fizemos isso!" Ele agarrou meu pulso com
uma força absurda, virando-o para cima e mostrando a minha marca, agora
acinzentada e com a cor fraca. Ele levantou a manga do próprio casaco com
a boca e mostrou a dele, viva e quente. "Nós fizemos isso para podermos
fazer o que quiséssemos, você não lembra?! Nós éramos invencíveis! Eu,
você, Bella... Não havia ninguém mais fiel ao Lorde das Trevas do que nós!
Ninguém! Eu preciso de você e se não for ficar comigo, não vou permitir que
fique com ninguém."

Eu estava tão assustado que meus lábios tremiam. Barty ainda segurava meu
pulso com força, me olhando com aquelas pupilas altamente dilatadas. "Por
que não consegue aceitar que eu não sou assim?"

545
"Porque você é!" Ele empurrou meu pulso. "Você é como eu! Fomos criados
para isso, Regulus, para servi-lo até o dia em que morrermos. Não somos
pessoas boazinhas, Reg, sabe disso. Você não nasceu para seguir
Dumbledore! Eu duvido que ele confie em você. Ele não confia, não é?!"

Fiquei em silêncio, paralisado. Não sabia o que dizer.

"Está vendo?!" Ele uniu as sobrancelhas, falando muito perto de mim. "Eu
sou o único que estou aqui por você, Reg. Sempre fui eu. Você pode fingir
que não, pode voltar para sua Ordem estúpida, comer aquela vadia sangue-
ruim e achar que o mundo é cor de rosa, mas no fundo, você sabe a verdade.
Você sempre vai ser como nós."

Puxei toda a coragem que tinha do fundo do meu peito e gritei. "Não! Eu não
sou!" Me levantei bruscamente, Barty me observou com os olhos cerrados.
"Não sou como meus pais eram, não sou como Bella, Snape, Mulciber... E
com toda a certeza, não sou como você! Se você tivesse me dito isso a alguns
meses atrás, talvez eu tivesse acreditado, Barty, mas hoje não. Hoje eu sei
que eu sou bom. Sou uma pessoa boa que faz coisas boas. Acredito nisso
mais do que acredito em qualquer outra coisa no mundo."

Barty sorriu, uma risada fina, que mostrava quase todos os dentes na sua
boca. Ele se levantou, ficando de frente comigo, ainda sorrindo. Eu
continuava o encarando, mesmo sem chance nenhuma contra ele, eu não me
renderia nunca. "Eu gostava de você, Reg, gostava de verdade. Talvez tenha
até amado você. Mas você me decepcionou muito e agora..." Ele suspirou,
fingindo preocupação. "O que é que eu faço com você, huh?"

Dei um passo para trás e olhei pelo canto do olho para o bolso do casaco dele
onde estava a minha varinha. Barty estreitou os olhos e acompanhou meu
olhar. Foi tudo rápido demais e Barty só levou um segundo para me pegar
pelo pescoço e me jogar no chão de uma vez, me prendendo com o peso do
seu corpo. Ele bateu a minha cabeça no piso e minha visão ficou turva,
consegui sentir o sangue molhando os fios do meu cabelo e o gosto metálico
na minha língua.

"Você acha que pode me enganar, seu filho da puta?!" Ele sussurrou no meu
ouvido, sorrindo como um louco, mas eu ouvia a voz dele muito distante
porque a minha cabeça latejava de dor. "O que você aprontou ontem, hein?!
Descobriu onde eu guardo sua varinha? Uma pena que coragem nunca foi
uma das suas maiores qualidades, amor, e você não conseguiu fugir de mim!"

546
"Pode me matar..." Consegui dizer, as palavras trêmulas, mas firmes. "Você
tem que me matar. É sua única chance. Porque se me deixar viver, sou eu
quem vou matar você, raio de sol."

Os olhos de Barty se encheram de ódio e ele apertou as duas mãos ao redor


da minha garganta, batendo mais uma vez a minha cabeça no chão. Eu estava
quase inconsciente. As mãos dele estavam impedindo a passagem de ar na
minha traqueia, era como se ele estivesse a esmagando pouco a pouco. Ele
havia seguido meu conselho. Ele iria me matar.

"Últimas palavras, anjinho?" Ele sussurrou, sorrindo para mim.

"Não é preciso," Solucei, sem ar. "Vejo você no inferno, Crouch."

Quando estava prestes a apagar por causa da falta de ar, o sorriso de Mary
foi o último flashe que me veio à mente. Pedi perdão à ela em silêncio dentro
da minha própria cabeça.

E quando fechei os olhos, pronto para me deixar levar, a porta da frente da


casa foi literalmente explodida, jogando pedaços de madeira para todos os
cantos. Barty protegeu o rosto com uma das mãos, a outra ainda segurava o
meu pescoço.

Algo explodiu dentro de mim também. Esperança não era algo que eu sentia
muito, mas meu peito transbordava apenas isso agora. Sirius havia recebido
o meu patrono. Mesmo com a visão embaçada, eu reconheceria meu irmão
em qualquer lugar do mundo.

"Reg!" Ele gritou, a voz desesperada, passando pelos pedaços de madeira.


"Regulus!"

"Sirius..." Sorri fracamente, vendo ele entrar pela porta, desesperado e


transtornado. A varinha prontamente na mão, pronto para lutar com qualquer
um. Por mim.

Barty me levantou de uma vez, me prendendo com um braço e o outro


apontando a varinha para o meu pescoço. "Quanto tempo, Black! Foi um erro
ter vindo sozinho. Pelo visto você continua tão burro como quando era um
adolescente imprestável."

A minha cabeça latejava e eu estava começando a sentir sangue escorrer do


meu nariz. Mas quando os olhos de Sirius encontraram os meus, um certo

547
tipo de alívio correu pelo meu corpo. Porque mesmo se Barty me matasse,
Sirius me vingaria. Nada teria sido em vão.

Por um momento, ele pareceu emocionado ao me ver, mas logo seu rosto
encontrou o de Barty e ele assumiu uma postura furiosa, quase assassina, eu
diria. Ele levantou a varinha e a apontou para Barty. "Fique longe do meu
irmão, seu desgraçado! Ou vou te dar uma passagem só de ida para visitar o
seu papai!"

"Olha como fala comigo, Six," Barty sorriu maldosamente, apertando a


ponta da varinha no eu pescoço. Sirius pareceu estremecer quando notou o
movimento. Um raio de medo passou pelo seu olhar. "Não esqueça que sou
eu quem estou com o seu irmão nas minhas mãos e você é quem veio
sozinho."

"Ele não veio sozinho, na verdade." Mary apareceu de repente, a varinha


empunhada na mão. Senti um arrepio na hora. Um medo avassalador de que
algo acontecesse com ela. A expressão firme dela vacilou quando me viu,
mas logo voltou à sua postura anterior. Ela estava linda, como sempre. Os
cachos que batiam até o meio das suas costas estavam sujos nas pontas por
causa da explosão, porém não acho que ela já esteve tão bonita antes. Ela
rosnou, furiosa, "Acabou, Barty. Você já fez isso por tempo demais."

"O traidorzinho e a sua namoradinha sangue-ruim, Reg?!" Barty sorriu,


falando comigo com a boca grudada no meu ouvido. "Achei que você era
mais querido do que is-"

Barty não teve tempo de terminar. Remus e Pandora entraram na casa, logo
atrás. A energia canina que irradiava do olhar de Lupin era tão poderosa que
poderia ter feito qualquer um no lugar perceber que ele estava
definitivamente furioso. Pandora não estava diferente. O cabelo loiro dela
estava preso em um rabo de cavalo, o que deixou ela com a aparência mais
severa e raivosa ainda enquanto fulminava Barty, o encarando por de baixo
dos cílios.

Carter também estava lá, o que me surpreendeu porque ele é do tipo que foge
de guerras, o que significa que ele deve se importar mesmo comigo. Ele era
provavelmente a pessoa mais alegre e divertida que eu conhecia, mas agora,
nem mesmo a mecha colorida na franja do cabelo loiro que fazia ele
aparentar ser anos mais novo, não o fazia parecer gentil. Marlene entrou logo
após ele.

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Por último, Narcissa e Andrômeda se postaram à frente de todos, com as
varinhas erguidas. Andy com aquele olhar de quando eu tinha dez anos e vi
ela indo embora e desafiando meu tio. As duas estavam com aquele olhar
dos Black que faz suas entranhas se arrepiarem.

"Se machucar o meu primo," Andy rosnou, fulminando Barty com o olhar.
"Eu desfiguro a sua cara, seu desgraçado."

Barty gargalhou como um maníaco, "Se fizerem qualquer coisa comigo, eu


vou matá-lo! Sou praticamente intocável! Acho que a decisão é com o circo
de palhaços, não é?"

"Crouch." Narcissa o encarou, cerrando os olhos. Todos começaram a cercar


Barty, apontando as varinhas em direção à ele. "Solte-o. Agora."

"Pelo visto, você também amoleceu, Cissy," Barty fingiu tristeza, "Ponto
para mim, então. Fica mais fácil de matar você. Vai ser uma pena o pequeno
Draco crescer sem a mãezinha, não vai?"

"Expelliarmus!" Cissy esbravejou, quando um lampejo azul saiu da sua


varinha em direção à Barty. É claro que ele se defenderia. Ele foi mais rápido
e usou um contra-feitiço sem nem precisar pronunciar as palavras. Se eu ao
menos conseguisse me livrar das algemas, mas como?!

Pandora e Remus cercaram Barty por trás. Eles estavam calados, parecendo
observar alguma coisa milimetricamente. Como se estivessem procurando
um calcanhar de Aquiles. Eles não podiam atacar por trás sem ter certeza que
ele não teria tempo para revidar. Um movimento em falso e ele me mataria
sem pensar duas vezes.

"Não devia ter feito isso." Barty sorriu maldosamente e me jogou no chão,
minha costela bateu com força no piso frio. Eu tossi de dor, podia jurar que
algum osso havia quebrado.

"Reg!" Carter gritou, quase vindo até mim, mas Marlene pôs a mão na frente
dele, o impedindo de continuar.

"Ele vai matá-lo se avançarmos." Ela sussurrou, "Esse filho da puta tirou
toda a magia dele. Ele não pode nem mesmo se defender."

Pandora e Remus trocavam olhares atrás de Barty, e continuavam tentando


achar algo para detê-lo. E então, tudo aconteceu em questão de segundos.

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Remus pegou Barty pela cintura com um braço e o outro agarrou o braço
dele, forçando a varinha para o alto. Andrômeda, que era a mais alta, pegou
a varinha da mão imobilizada de Barty no alto, partindo-a bem ao meio.
Remus jogou Barty no chão, pondo o peso de seu corpo por cima dele e suas
mantendo suas duas mãos presas às costas.

Eu observava tudo extasiado, ainda fraco. Sirius se abaixou ao chão, me


dando um abraço desesperado. Ele segurou meu rosto entre as mãos,
lágrimas se formando nos seus olhos, "Sua cabeça está sangrando! Deus, no
que é você se meteu?!" E me abraçou forte mais uma vez. "Seu pirralho!"

"Você veio..." Sussurrei, a voz fraca. "E-eu não sabia se funcionaria..."

"Eu daria um jeito de encontrar você," Sirius disse a voz firme. "Com ou sem
ajuda, eu acharia você. Fiz isso uma vez, posso fazer de novo."

"Agora, Pan!" Remus gritou. Pandora retirou a minha varinha do bolso do


casaco de Crouch rapidamente e Mary gritou logo depois, com a varinha
apontada para ele.

"Impedimenta!"

Barty ficou fraco na hora, quase paralisado. Mas ele ainda tinha o sorriso
maníaco no rosto, mesmo com seu corpo preso ao chão por Remus. Carter
se aproximou dele, pondo o sapato encostado na bochecha de Barty, "E as
algemas?"

"Merlim, certo," Marlene se aproximou de mim, "Agora, Reg, me dê o seu


braço." Ela apontou a varinha para as algemas e murmurou, "Finite
Incantatem."

Senti a mesma sensação de ontem voltar. A sensação de ser preenchido por


algo incrivel e familiar. As algemas ainda estavam lá, mas agora não tinham
efeito algum. Me senti atordado com o choque de magia que o meu corpo
havia tomado. Cambaleei para trás e Mary e Sirius me seguraram, um
segurando cada braço meu. Consegui falar pela primeira vez,

"Obrigado..." Disse, em um tom baixo. "Sério. Muito obrigado mesmo,


Marls..." Ela sorriu para mim.

Olhei nos olhos de Mary finalmente, depois que Pandora jogou a varinha
para mim. Ela sorriu fracamente, encostando a testa na minha. Porra, eu

550
havia sentido tanto a falta dela que não conseguiria colocar em palavras. Não
queria me separar dela nunca mais. Nunca, nunca, nunca mais...

"Era a minha vez de salvar você, certo?" Ela disse, segurando os meus pulsos
que tocavam o rosto dela. Eu não sabia o que dizer. E não queria dizer nada.
Então, só a beijei.

"Temos que sair daqui!" Andy disse, nos tirando do transe, "Voltar e levar
Crouch ao Ministério."

"Ministério!" Cissy zombou, "Pense, Andy, o que eles podem fazer? Agora
que os dementadores se aliaram à Voldemort, Azkaban é praticamente
inútil!"

"Ou é isso ou vamos ter que matá-lo," Remus vociferou. "Porque não tem
chance desse psicopata ficar solto por aí!"

"Espere, espere aí," Eu interrompi Moony, "Como exatamente vocês


chegaram aqui?! Ele disse... disse que era impossível aparatar aqui."

"É impossível para bruxos, você quer dizer." Sirius deu um meio sorriso.

"Tivemos uma ajuda à mais." Carter sorriu dessa vez.

Todos olharam para a porta, que agora era apenas um buraco, e eu fiz o
mesmo. Não vi nada, até abaixar os olhos e ver uma criatura de setenta
centímetros de altura, parada do lado de fora, esperando por nós.

"Rápido!" Kreacher disse, "Este lugar deixa Kreacher muito, muito


assustado!"

"Ah, meu Deus! Kreacher!" Exclamei, indo até ele. "Como você... Como
você sabia?! Eu... Merlim, muito, muito, muito obrigado!"

"Regulus Black não precisa agradecer à Kreacher." Ele encolheu os ombros,


desajeitado. "Kreacher disse que sempre viria quando Regulus Black
precisasse de sua ajuda."

"Então," Cissy pigarreou. "O que vamos fazer com esse aqui?"

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Respirei fundo e me abaixei no chão, puxei o cabelo de Barty com a mão e
o forcei a olhar para mim. Ele estava imobilizado, até a respiração estava
enfraquecida, mas ainda irradiava uma quantidade absurda de loucura. E
ainda conseguia falar.

"Você não tem coragem de me matar," Ele sorriu, enquanto eu puxava a


cabeça dele para cima. Todos no lugar estavam em silêncio. "E se me matar
agora, não vai demorar para chegar a sua vez. Eles vão vir atrás de você. E
vou adorar assistir você ser morto, como eu devia ter feito na hora que você
chegou aqui. Eu já disse. Você é igualzinho à mim."

"Não quero que você passe nem mais um segundo falando sobre como eu
sou ou sobre como você queria que eu tivesse sido," Rosnei, o olhando nos
olhos. "Você destruiu partes minhas que eu infelizmente talvez nunca
recupere. Mas não vou dar à você a honra de levar o que tem de melhor em
mim. Não mesmo, Barty."

"Então, o que vai fazer?"

Peguei as chaves das algemas no bolso dele, o rosto dele fez uma expressão
de desgosto quando se tocou que eu já sabia onde ficavam. Depois de
finalmente tirar aquelas coisas de metal do meu pulso, juntei os dois braços
de Barty e encaixei as algemas. O olhar dele era de puro ódio, as pupilas
dilatas e a parte branca do olho avermelhada.

"Você vai ficar aqui." Me levantei, ficando de pé na frente dele. "Sem magia.
Sozinho. Ilocalizável. Vai morrer aos poucos. Devagar. E lentamente. Vai
morrer de fome, ou sede. Não me importo."

"Sabe que posso nadar, não sabe?" Ele estreitou os olhos.

"Vou pôr um feitiço aqui." Respondi, quase sorrindo triunfante. "Você não
passa por essa porta nunca mais, Crouch. Do jeitinho que você fez comigo.
O que você acha?"

Pela primeira vez, o sorriso dele se desfez. Quase pareceu desespero. Ele
ficou sério, impassível. "Isso torna você um assassino, raio de sol. Vai
finalmente assumir que nunca deixou de ser quem era?"

"Deixar você morrer," Disse, respirando fundo. O coração acelerado. "Vai


ser a minha forma de deixar morrer também tudo que eu já fui um dia. Tudo,
tudo aquilo. Vai morrer junto com você, Barty."

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Eu podia ver que ele sentiu a última parte, como se não tivesse ainda caído a
ficha que eu estava falando sério. Ele se desesperou quando fomos todos até
a porta, segurar em Kreacher, "Não! Reg, não! Você... você sabe que eu amo
você, não sabe? Sabe sim! Não pode fazer isso comigo, não pode!"

Antes de aparatarmos com Kreacher, Remus terminou de selar a casa e até o


som dos gritos de Barty ficaram abafados. Ele era um fantasma agora. Um
fantasma que representava tudo de ruim que já havia acontecido comigo. E
agora eu estava o deixando para morrer. No fundo, pude sentir um fio sendo
finalmente cortado. No fim, eu não precisava de Sirius, Mary ou qualquer
pessoa que eu amasse para me convencer que eu não era ruim. Só seria
suficiente quando eu enxergasse a mim mesmo. Eu era bom, e finalmente
acreditava cem por cento nisso agora.

Naquele dia, não fiquei livre apenas daquelas algemas, mas de várias outras.

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Capítulo 42: Família

Admito que houve momentos que eu não achei que fosse voltar a ver a minha
casa. Meu quarto. Minha cama. Meus amigos.

Há um mês atrás, parecia impossível.

Assim que chegamos, Marlene se dispôs prontamente a cuidar dos meus


machucados. Ela me levou até o meu quarto, impedindo que qualquer um
falasse comigo antes, e mandou que eu não fizesse muito esforço pelo menos
até o Halloween.

"Mais uma pancada na sua cabeça e não sei se eu conseguiria consertar isso,
Black." Ela passava a varinha pela minha cabeça, murmurando feitiços de
cura.

"Você conserta qualquer um, Marls." Sorri amigavelmente. Marlene usava


uma jaqueta de couro, muito parecida com as que Sirius gostava de usar, mas
a dela era vermelho sangue, contrastando com o cabelo loiro dela. Era
realmente muito bonita. "Gostei da sua jaqueta, aliás."

A expressão dela mudou um pouco. Não era triste, era mais como se ela
estivesse se lembrando de algo que sentia muita falta. Ela abaixou a varinha,
e olhou para a jaqueta, "Foi ela quem me deu. Dorcas."

"Oh," Fui pego de surpresa. "Mm, eu não cheguei a... hm, conhecer ela muito
bem." Marlene continuava olhando para a jaqueta. "Me conte dela."

Ela sorriu, os olhos brilhando, "Ah, ela... ela era a melhor pessoa que eu já
havia conhecido na vida! Não havia ninguém como ela. Ela era alegre,
engraçada, inteligente... Também era teimosa e nunca, nunca me deixava
comer o último pedaço da pizza!" Ela gargalhou, com o olhar distante. E eu
sorri, porque era contagiante.

"Você a amava." Disse. "Não é?"

"E como eu poderia não?" Ela sorriu fracamente, voltando a olhar para a
jaqueta. "Como eu conseguiria não amar Dorcas Meadows?"

"Eu sinto muito," Franzi o cenho, tentando achar as palavras. "Pelo o que
aconteceu com ela. Ela não... Vocês duas não mereciam."

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"Vou contar uma coisa," Ela disse, de repente, passando um antisséptico em
alguns machucados no meu braço. "No começo do seu namoro com Mary,
eu a disse para não se apegar a você."

"O que?! Por que?!"

"Porque eu não confiava em você." Ela deu de ombros.

"Uau." Franzi os lábios. "Obrigado pela sinceridade."

"Não, não estou falando que não confiava em você como quem diz "Você
era um comensal da morte."," Ela revirou os olhos, sorrindo. "Estou falando
como quem diz "Ele é um metido à herói que deixaria você morrer para
salvar o mundo, se for preciso."

"Meu Deus, Marls, que horror."

"Sei disso," Ela deu de ombros. "Dorcas achava que um dia ela mesma
colocaria um fim na guerra. Ela tinha esperança. Muita esperança. E quando
a perdi, a parte de mim que também tinha essa esperança se perdeu também.
Então quando percebi que minha melhor amiga estava apaixonada pelo cara
que declarou guerra oficialmente à Voldemort, eu fiquei assustada."

"Você deve ter me odiado quando foram atrás dela por minha causa."

"Eu não odeio ninguém, Regulus," Marlene sorriu. "Essa é uma das muitas
coisas que aprendi com a garota que eu amava. Mas é, naquela época, eu
realmente preferia que você ficasse longe dela. Não conte isso para
ninguém."

"Por que não?"

Ela suspirou, levantando os olhos para me encarar, "Porque eu estava errada.


Você nunca deixaria nada acontecer com ela. Você é uma pessoa boa e fico
feliz que Mary ame alguém como você."

"Certo." Assenti, levando a mão à cabeça, fazendo um gesto militar. "Não


vou decepcionar você, general."

Nós gargalhamos, e ela voltou a curar meus machucados. Marlene pediu para
eu tirar a camisa para facilitar e eu fiz. Ela franziu o cenho quando me viu,
"Você está todo roxo, Reg... Não deu tempo dele machucar seu corpo todo

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assim, a não ser que o desgraçado estivesse batendo em você durante todo o
último mês!"

"Não, ele não estava," Balancei a cabeça negativamente. "Não assim, pelo
menos."

"Como assim nã-" Ela parou e me encarou. Os olhos estavam cheios de


choque e pena. Ela havia percebido. "Merlim, Regulus, o que... O que você
teve que fazer para continuar vivo naquele lugar?"

Encolhi os ombros, sem saber o que dizer. "Não conto se você não contar."

"Tem certeza?" Ela insistiu mais uma vez. "Não quer falar sobre isso?"

"Definitivamente não."

"Certo."

Descobri que Marlene era uma pessoa muito compreensível. Qualquer um


surtaria e me encheria de perguntas, mas ela respeitou isso. Fico
genuinamente feliz que ele esteja com alguém agora, porque qualquer um
seria sortudo em ser amado por ela do jeito que Dorcas havia sido.

"Regulus Black precisa de alguma coisa?" Kreacher apareceu na porta


entreaberta, quando Marlene estava fechando a bolsa de curativos.

"Não é mais seu trabalho cuidar de mim, Kreacher." Me endireitei na cama,


sorrindo enquanto Kreacher entrava no quarto e subia na cama. Marlene nos
deixou à sós. "Como você veio parar aqui?!"

"Alvo Dumbledore ofereceu um emprego assalariado para Kreacher," Ele


explicou. "Kreacher agora trabalha na cozinha de Hogwarts durante a metade
do dia."

"Kreacher! Isso é incrível!" Exclamei, sorridente. "Mas... Então, foi


Dumbledore quem avisou você?"

"Foi a senhora Andrômeda, Alvo Dumbledore a encarregou de liderar o


resgate de Regulus Black. Kreacher não precisou pensar duas vezes."

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"É claro que não precisou," Pus a mão no ombro pequeno dele. "Você sempre
esteve lá quando precisei, não seria diferente agora, não é?"

"Regulus Black precisa saber de algumas coisas," Ele estremeceu um pouco.


"Rumores correram por aí durante o mês que Regulus Black passou
desaparecido. Houveram pessoas que disseram que estava enganando
Dumbledore, que havia fugido para se juntar de novo ao Lorde das Trevas...
Coisas terríveis! Hediondas!"

"É claro, eu já deveria imaginar," Suspirei pesadamente. "Sabe que já sou


acostumado com as pessoas falando o que não sabem sobre mim. Não é algo
que ainda me incomoda, para ser sincero."

"Kreacher está feliz de ver que Regulus Black está feliz," Ele disse, de
repente. "Kreacher se lembra da criança triste que era encarregado de cuidar.
E fica muito orgulhoso de ver quem Regulus Black se tornou."

"Eu também fico, amigão," Sorri amigavelmente. "Eu também fico."

A porta do quarto foi escancarada, a voz de Remus e a de Sirius sendo


ouvida, "Moody, ele literalmente acabou de voltar!" Remus dizia, seguindo
Olho-Tonto que entrou com tudo no meu quarto.

"Sinto muito, Lupin," Ele vociferou, mancando até a minha cama. "É assunto
da Ordem."

"Moody!" Sirius entrou também, "Ele precisa descansar! Por Godric, por que
isso não poderia ser amanhã?!"

"Está tudo bem, Six," Assenti, calmamente. "Posso fazer isso. Sério. Está
tudo bem."

Kreacher nos deixou sozinhos no quarto. Troquei um olhar com Sirius e


Remus e, mesmo relutantes, eles assentiram. "Nos deixem sozinhos." Moody
disse, puxando um banco de madeira para perto da minha cama.

"Está brincando, não é?!" Sirius exclamou.

"Sirius." Chamei, o encarando seriamente. "Não se preocupe. De verdade.


Moony, leve ele."

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Remus sabia que eu preferia me livrar logo disso, então entendeu
perfeitamente. Ele teve que quase arrastar Sirius para fora. Por fim, Moody
me encarou, com o olho bom e o mecânico. Ele era assustador, mas depois
do último mês, nunca mais vou me assustar com facilidade na vida.

"Então, rapaz, você passou muito tempo sumido."

"Sei disso."

"Está muito ferido?" Ele perguntou, mas não parecia que queria realmente
saber. "Consegue falar?"

"Sim. Prefiro acabar com isso de uma vez."

Então, eu contei à Alastor tudo que ele queria ouvir. Contei sobre as algemas
anti-magia, sobre como Barty orquestrou o assassinato do pai, sobre o que
ele me disse de Voldemort estar procurando alguém que se infiltre na Ordem
para ele porque Pettigrew havia falhado miseravelmente, contei que ele
queria que eu me juntasse de novo aos comensais e parecia ter certeza de que
eu não iria morrer se fizesse isso.

"Você tem certeza de que nenhum deles sabia que você estava lá?" Moody
perguntou.

"Sim," Respondi. "Barty não contou à ninguém porque sabia que eles iriam
atrás de mim e me matariam, e ele nunca conseguiria o que queria."

"Bom, Regulus," Moody suspirou. "A obsessão desse garoto por você parece
ter salvado a sua vida, então."

"Acredite. É totalmente o contrário."

Não contei à ele sobre o que fizeram com Peter ou sobre ele ser quem estava
nos dando informações. Não sei se ele já sabia, mas eu não disse. Alguma
coisa me dizia para não falar sobre isso com ninguém antes de ter a chance
de contar aos meus amigos. Afinal, não foi Moody quem havia ido até o fim
do mundo para me achar, foram eles.

"Se lembrar de qualquer outra coisa, basta mandar um patrono." Moody se


levantou, "Preciso ir até Dumbledore, já está na minha hora." Ele caminhou
até a porta e se virou antes de sair. "Bom trabalho, rapaz. Você é um
sobrevivente."

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Não respondi nada. Eu sabia que era um. Realmente sabia agora.

Fui até à sala depois que Moody foi embora. Sirius e Remus estavam lá e
Mary também.

"Ei!" Ela se levantou rapidamente, vindo até mim. "Você não devia estar em
pé. Marls disse para você passar o máximo tempo possível deitado."

"Ela está certa, Reg," Sirius também se levantou. "Você devia descansar
depois de tudo o que aconteceu."

"Não estou inválido," Dei de ombros. "Só um corte na cabeça. Não é nada."

"Há um milhão de cartas de Prongs e Lily para você," Sirius exclamou,


sorrindo. "Lily estava quase parindo outro filho de tanta preocupação!"

"Aqui," Remus me entregou alguns envelopes. "Pode ler."

O primeiro era de Lily.

"O que diabos querem dizer com "não sabemos onde ele está"???????

Ele não pode ter simplesmente sumido, Black! Deus, não me faça ir até aí!

Não dá para localizar ele ou algo do tipo?! Estou literalmente desesperada


e se não me derem alguma notícia boa, vou surtar nos próximos quinze
minutos.

Por favor, por favor, encontrem ele.

L. Potter."

A segunda era James.

"Moony, você é o inteligente! Faça alguma coisa! Godric, sabe Deus o que
aquele lunático está fazendo com ele agora!

Me deem notícias! Todos os dias! Todas as horas! Ou vou sair de onde estou
para procurá-lo eu mesmo e Crouch vai saber como dói a chifrada de um
cervo!

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Criamos a droga de um mapa que encontra qualquer pessoa em um castelo
do tamanho de uma floresta e não conseguimos encontrar o irmão mais novo
de Sirius???? Somos marotos ou o quê?!

Não percam as esperanças, por favor.

Prongs."

As outras eram coisas como "Me deem notícias!" ou "James deixou uma
mala pronta para no caso de precisar ir até aí e não estou conseguindo
convencê-lo do contrário!". Confesso que fiquei emocionado. As cartas me
deixaram com muita saudade dos dois,

"Onde estão os outros?" Olhei ao redor, abraçando Mary pela cintura. Queria
ficar o mais próximo dela que podia. "Foram para casa?"

"Pandora teve que voltar para Luna, mas disse que voltaria esta noite."
Remus explicou. "Os pais de Carter estavam explodindo de preocupação por
ele ter se envolvido em algo com a guerra, ele disse que voltaria assim que
eles o liberassem novamente."

"Andy e Cissy precisaram ir até Dumbledore, já que Andy estava


encarregada da missão." Sirius disse.

"Ainda bem que estamos sozinhos. Preciso falar com vocês," Corri os olhos
entre os três. "Queria muito que James e Lily estivessem aqui para ouvir
também. É realmente importante."

"É sobre Pettigrew?" Remus disparou. Mary se mexeu desconfortável. Eu


pisquei, surpreso.

"Como vocês... Como vocês sabem?"

"Ele escreveu." Mary disse. "Escreveu dizendo que era ele. Dizendo muitas
coisas, na verdade."

"Bom, então acho que vocês não sabem de uma coisa." Eles me encararam,
ansiosos. "Barty sabia. Todos eles sabiam. E Pettigrew está morto agora."

Sirius piscou, chocado. Remus se levantou devagar. E Mary me apertou


forte. "D-Do que você está falando?" Sirius gaguejou, os olhos arregalados.

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Respirei fundo, porque a conversa seria difícil. Eles me observaram enquanto
eu me sentei no sofá, pensando em como iria começar. "Não contei nada
disso à Moody, e nem pretendo. Acho que vocês tem o direito de saber antes.
Eles descobriram que Pettigrew estava passando informações para a Ordem.
Descobriram e o mataram. Barty me contou tudo."

"E por que ele contou isso para você?!" Remus exclamou, os olhos
arregalados.

"Porque ele é completamente louco e achava que eu só sairia vivo daquele


lugar se fosse para me juntar à ele." Respondi. "Ele não cogitou em momento
nenhum que vocês iriam até lá."

"Nós recebemos uma carta." Mary disse, correndo os olhos entre nós.
"Enquanto você estava fora. Recebemos uma carta dele."

"Pelo visto a última." Remus encarou o chão, acendendo um cigarro logo em


seguida.

Sirius não disse nada. Ele se sentou, ainda sem palavras. Mary me entregou
o bilhete nas mãos.

"O Lorde das Trevas sabe que Regulus está desaparecido. Ele pretende
encontrá-lo ele mesmo e fazê-lo pagar pelo o que está tentando fazer.

Tenho tentado ajudá-los da maneira que posso. Em breve, vocês saberão a


verdade inteira. Não posso prometer que ela virá de mim porque se minhas
suspeitas estiverem certas, eles estão desconfiados. E se for o caso, não
tenho muito tempo.

Mas saibam que sou eu. E que nem tudo que vocês acham ser verdade,
realmente é.

Malfeito feito, certo?

Wormtail."

"James e Lily estão sabendo disso?" Perguntei, sem tirar os olhos da carta.
Remus e Mary assentiram, Sirius continuava em silêncio. "E o que
disseram?"

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"Ele tinha esperança." Sirius disse, de repente. "Prongs tinha esperança e
estava certo. E agora que ele havia a recuperado e nos feito ter também, ela
se foi outra vez. É como ficar de luto pela morte de alguém que já era um
fantasma a muito tempo."

"James e Lily não estão em posição de correr o risco de confiar em ninguém."


Mary disse.

"Exatamente." Remus assentiu. "Afinal, por que Wormtail não nos procurou
pessoalmente, então? Por que demorou tanto para dizer?!"

"Tem alguma coisa muita errada... Eu vi a marca no braço dele. Ele era um
comensal da morte." Sussurrei para mim mesmo. "Alguma peça nisso não
está se encaixando direito..."

"A coisa errada, Regulus, é que Pete está morto." Sirius disse, a voz trêmula.
"Deus, eu... Eu nem mesmo me lembro a última coisa que disse para ele!"

"Pads..." Remus tentou.

"Não, Moony, sem Pads! Eu..." Sirius se levantou e começou a andar, os


olhos ficando molhados. "Eu não sei que porra está acontecendo! Sinto que
vou enlouquecer! Não aguento mais essa guerra, não aguento... Não aguento
ter que ficar longe da minha família por causa de uma profecia e não aguento
ter que passar um mês pedindo para deuses que eu nem mesmo sei se existem
que meu irmão esteja ao menos vivo! E agora... E agora Pete que era nosso
melhor amigo que virou um comensal da morte, mas que provavelmente
nunca deixou de ser nosso amigo, está morto! Então, sem Pads, ok?!"

"E não se esqueça das horcruxes." Eu disse e Mary me deu um tapa no braço.
"Desculpe."

"Olhem só," Mary começou. "Sei que as coisas não estão fáceis. Para
nenhum de nós. Meus pais são trouxas e meu namorado é praticamente
sentenciado de morte. Sirius e Remus sentem falta de James e você, Reg,
bom, eu te amo, mas ser você deve ser um porre."

"Você não faz ideia." Suspirei cansadamente.

"Mas se nós queremos que valha a pena tudo isso, temos que continuar
lutando, certo?" Ela continuou, correndo os olhos entre nós. "Sirius, James
faz parte da sua família, mas não é toda ela. Você tem a mim, Remus,

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Regulus que é seu irmão... Vamos fazer tudo isso dar certo por eles, ok? Sei
que é uma merda, mas não podemos jogar tudo para o alto agora. Se eles
quiserem atacar, então nós vamos nos defender."

"Tá legal, você acabou de me deixar muito excitado agora, Mary." Sorri
fracamente. Mas que porra, como ela conseguia fazer eu ficar mais
encantado ainda?! Ela se sentou no meu colo, sorrindo.

"Ela está certa. Venha cá, Pads..." Remus disse, dando um braço para Sirius
se sentar na sua perna. Ele pôs uma mecha do cabelo grande dele para trás
da orelha. "Vai ficar tudo bem, amor. Vamos aguentar isso. Já fomos bem
longe, não vamos desistir agora, certo?"

Sirius respirou fundo, correndo os olhos entre nós. "Certo. Tudo bem. Eu
só... Eu só queria que Dumbledore nos dissesse algo!"

"Como assim?" Me endireitei na poltrona. "Dumbledore não está dizendo


nada?!"

"Está assim desde que você desapareceu." Remus disse, dando uma tragada.
"Moody é quem procuramos. Dumbledore até saiu de Londres por uma
semana."

"Assuntos da Ordem, ele diz." Mary disse.

"Eu queria ter ido atrás de você na mesma hora em que recebemos o patrono,
mas Dumbledore disse que não era seguro." Sirius disse. "Passei o mês
inteiro insistindo para colocarmos até a polícia trouxa se possível atrás de
você! Mas ninguém me ouviu!"

"Bom, considerando que sou eu quem tenho que correr atrás de horcruxes,
Remus precisa manter a paz entre os lobisomens e que! Ele me disse que
resolveria a situação dos bilhetes e que eu não precisaria me preocupar com
isso," Eu arquei as sobrancelhas. "Então ele deveria estar fazendo alguma
coisa, porque apenas nesse meio tempo eu fui sequestrado e alguém morreu."

"Também teve os Longbottom," Mary disse. "Soube que quase foram


encontrados pelos Comensais. Conseguiram fugir com Neville literalmente
no último segundo."

Sirius bufou cansadamente, encostando a cabeça no ombro de Remus.


"Queria poder ver Harry."

563
Ficamos em silêncio por um tempo, observando o fogo da lareira queimar.
Haviam tantas coisas que queríamos que apenas não podíamos fazer. Mas
quando a guerra acabasse... Sim, quando ela acabasse. Então nós
poderíamos. Finalmente poderíamos.

"Você acha que pode dormir aqui hoje?" Sussurrei no ouvido de Mary,
afastando um cacho para trás. "Tudo bem para você?"

"Hm, sim, acho que sim," Ela respondeu. "Mas você precisa descansar de
verdade, então nada de você-sabe-o-quê, ouviu?"

Abafei uma risada, tomando cuidado para Remus e Sirius não ouvirem.
"Primeiro: eu não preciso nem mesmo me cansar para fazer isso, é apenas
um talento natural."

"Ah, sim! Ok, ok..." Ela gargalhou, balançando no meu colo.

"E segundo," Continuei, ficando um pouco mais sério. "Queria conversar


uma coisa com você, só isso."

Sirius acabou adormecendo no colo de Remus e o mesmo parecia tão


relaxado e tranquilo tão grudado assim com ele que acabou dormindo
também. Levei Mary até o quarto e tranquei a porta atrás de nós.

"Então," Ela disse, se sentando na cama. "O que você quer me dizer?"

"Ok, hm... Não tenho certeza se isso vai chatear você," Me sentei na ponta
da cama, de frente para ela, encarando os meus dedos. "Mas eu acho que
você precisa saber porque eu iria querer saber também se fosse ao contrário.
E eu sempre vou ser sincero com você, não importa o quê."

"Deus, Regulus, o que foi?" Ela se endireitou, olhando para mim.

"Você quer saber o motivo real de Barty não ter me matado? O porquê ele
me manteve vivo por mais de um mês quando poderia ter me matado a
qualquer hora?"

"Bom, achei que fosse porque ele queria que você voltasse a ser um
Comensal da Morte," Ela disse. "Não... foi isso?"

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"Sim, hm, foi sim," Pigarreei, engolindo em seco. "Mas ele não queria que
eu apenas voltasse para Voldemort. Ele, bom... Ele queria que eu voltasse
para ele."

"Oh." Ela arqueou as sobrancelhas. "Mas isso não tem importância, Reg.
Porque você não voltaria... não é?"

"Não! De jeito nenhum!" Me apressei antes dela entender errado. "Eu


definitivamente prefiro morrer, Mary. Inclusive, é exatamente isso. Para eu
conseguir sair de lá, tive... tive que fazer alguma coisa. Passar o mês apenas
sendo difícil me rendeu apenas perda de peso e traumas psicológicos e..."

"Reg." Mary me interrompeu. "Preciso que você respire, ok? Pode me contar
qualquer coisa. Falei para você uma vez que nada que você fizesse poderia
mudar o que eu sinto por você. Isso não mudou."

"Ok, ok. Certo. Hm... Eu estava algemado com aquelas algemas bizarras,
você sabe, não é?" Mary assentiu. "Então eu precisava de um jeito para tirar
as chaves dele, pegar a minha varinha, enviar o patrono e depois fingir que
nada aconteceu."

"Sim. Essa parte eu entendi." Ela disse, concordando com a cabeça.


"Continue."

"As chaves e a minha varinha ficavam no casaco dele o tempo inteiro, então
eu precisava que ele tirasse. O que não foi muito difícil depois que eu fingi
estar bêbado e embebedei ele."

"Certo..."

"E consegui que ele tirasse fingindo ter derramado bebida na roupa dele."

Mary sorriu divertidamente. "Você é realmente brilhante!"

"Sim..." Sorri fracamente. "Então, hm, eu precisava de um jeito para fazê-lo


apagar. Dormir, sabe? Então, eu deixei... Deixei ele fazer o que queria fazer
comigo."

Mary ficou em silêncio, olhando para mim. Eu não conseguia encará-la. Ela
suspirou, "Transou com ele?"

565
"Não! Bom, eu acho que não... Não teve... Bom, você sabe. Aquilo
exatamente..." Tentei me explicar. "Mas houveram outras coisas. Mas não
fiz nada porque queria, Mary! Não fiz! Fiz porque era o que ele queria e
porque precisava de tempo porque se não eu iria morrer naquele lugar! Quase
andei para trás porque uma parte minha preferia morrer do que fazer isso!
Fazer isso com você! Deus, eu... Eu realmente sinto muito, Mary. E entendo
perfeitamente se você... se você se sentir traída e... e não quiser estar mais
comigo e..."

"Regulus, vai me deixar falar ou não?" Ela me interrompeu, me fazendo


finalmente encará-la.

"O que? Vai me dizer que você também ficou com algum ex louco que queria
te matar?" Sorri, mas sem achar graça.

"Regulus, você sabia que quando você tem algum tipo de ato sexual com
alguém e você não está confortável e dá indícios disso, mas a pessoa insiste
até você ceder, ainda é estupro?"

"Não, mas... Não, eu não disse que não em nenhum momento, Mary. Eu
mostrei que queria. Precisava que ele acreditasse que eu queria."

"Ele passou um mês insistindo, Reg," Ela disse. "E você cedeu porque sabia
que seria pior se não cedesse. Ele sabia que você não queria e se aproveitou
porque achava que você estava bêbado também."

"Quando você coloca assim..." Refleti, franzindo o cenho.

"Que tipo de namorada eu seria se terminasse porque alguém idiota fez isso
com você?" Ela disse virando meu queixo com a mão. Quando Mary me fez
perceber o que havia realmente acontecido comigo, foi como um soco no
meu estômago. Mas o olhar que ela me deu. Aquele olhar. Me fez começar
a chorar como uma criança. "E-eu disse alguma coisa errada?!"

"Não, não, não..." Me apressei, enxugando o rosto com a costa da mão.


"Achei que fosse desistir de mim. Só isso."

Ela sorriu, me dando um beijo suave no rosto, "Nunca vou desistir de você,
Black. Vai ter que se esforçar mais."

Merlim. Aquela garota.

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"Mas tem uma coisa..." Ela se afastou um pouco. "O motivo para eu ter
perguntado se transou com ele. Não é por nada, é apenas..."

"O que?"

Mary me encarou. "Acho que a maioria de vocês, puro sangues, não fazem
ideia disso. Mas recentemente, eu e meus pais vimos na TV de casa que há
uma nova doença por aí. Uma doença trouxa que mata se você, bem, transar
com a pessoa errada."

"Está falando sério?!" Franzi as sobrancelhas. "Mas... mas será que bruxos
podem pegar? Ou morrer disso? Não tem uma cura?!"

"Não até agora," Ela respondeu. "Não sabemos muito, não sei se ela pode ser
transmitida com sexo oral ou alguma coisa assim, mas definitivamente pode
ser com o sexo tradicional."

"Acha que devíamos contar isso para os outros? Para quem não tem muito
contato com o mundo trouxa?"

"Acho que seria uma boa ideia," Ela suspirou, se jogando para trás na cama,
os cachos se esparramando no travesseiro. "Mas agora, vem aqui. Passei um
mês dormindo longe de você, não aguento mais uma noite."

Me deitei ao lado dela, passando um braço por trás do seu pescoço. Ela se
aconchegou no meu peito, encaixando perfeitamente o corpo no meu.
Respirei fundo o perfume dela, acariciando com a ponta dos dedos o seu
ombro, e pensei que se o perfume de Mary fosse oxigênio, eu nunca mais
pensaria em cogitar morrer.

"Senti sua falta." Sussurrei e ela ficou quieta, mas sabia que estava sorrindo.

***

Ninguém estava muito em clima de festa. Com James e Lily longe, eu


voltando à me focar nas horcruxes, Remus nos lobisomens e Sirius indo à
missões o tempo todo, o Halloween foi quase passado em branco. Quase.

"Eu nem sei cozinhar!" Exclamei, vendo Sirius andar de um lado para o outro
com uma lista de supermercado na mão. "Moony, me ajude aqui!"

"Não olhe para mim," Ele ergueu os braços. "Foi ideia de Padfoot tudo isso."

567
"É só pizza!" Sirius revirou os olhos.

"Você quer que chamemos nossos amigos para comer pizzas que nós
mesmos vamos fazer?" Perguntei. "Quer matar eles de intoxicação?!"

"Precisa parar de fazer piadas sobre morte, Reg," Remus disse. "É sinistro."

"Vamos, Reg!" Sirius se ajoelhou, juntando as mãos e fazendo beiço,


piscando os cílios. "Pelo seu irmãozinho que salvou sua vida!"

Então, na noite de 31 de outubro, Sirius abriu as portas de casa para quatro


dos nossos melhores amigos. Mary e Marlene trouxeram a bebida. Pandora
trouxe a sobremesa. Carter trouxe discos novos que Sirius quase roubou.

Era bom finalmente estar em casa.

"Seu idiota!" Pandora deu um tapa na minha cabeça, enquanto eu estava


montando uma pizza.

"Ai?!" Exclamei, irritado. "Qual o motivo disso?!"

"O molho de tomate vem antes do queijo!" Ela disse. "Vamos, me dê isso
aqui!"

"Você é muito chata."

"E você me fez ficar um mês inteiro preocupada e sem dormir." Ela disse,
jogando as rodelas de pepperoni na pizza, "Posso fazer o que quiser com
você durante um bom tempo."

"Até que eu senti a sua falta." Revirei os olhos, batendo com a cintura na
dela.

"Sei que sim." Ela sorriu, satisfeita.

"Merlim, Reg, é você quem está cozinhando?!" Carter apareceu, colocando


um braço no meu pescoço. "Que bom que Marls já está aqui se todos
passarmos mal!"

"Cale a boca, Wood!" Revirei os olhos, modelando uma massa com as mãos.

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"Admita que estava com saudades de me ouvir falar pelos cotovelos." Ele
sorriu divertidamente.

"A mecha é roxa agora, huh?"

"Vivo em constante mudança, Reg," Ele deu de ombros. "Não sou um


animal, nem um ser humano. Sou... um momento. Você entende?!"

"Não tenho tenho certeza." Gargalhei, porque só Carter para dizer algo
assim.

"E onde está Sirius?!" Ele perguntou, mexendo em um pote de azeitonas.

"Hm... Acho que ele está no quarto ainda..." Tirei as luvas, saindo da cozinha.
"Vou até lá."

Sirius estava em frente ao espelho. Veja bem, Sirius era a pessoa mais
vaidosa e confiante que eu conhecia. Eu mesmo o invejei por muito tempo
por isso. E ele nunca decepcionava quando era o anfitrião. Mas algo nele
parecia diferente no modo como olhava para si mesmo no espelho naquela
noite.

"Está tudo bem?" Entrei devagar no quarto, fechando a porta atrás de mim.
"Estão perguntando de você e você precisa me ajudar a fazer as..."

"Reg, você acha que eu seria bonito se fosse uma garota?" Ele perguntou, de
repente, me pegando desprevenido. Que pergunta era aquela?!

"Bom, sim, eu acho que sim, Six," Franzi o cenho. "Mas por que está
perguntando isso?!"

"Sabe, Reg, gosto de ser um cara," Ele se analisou no espelho. "Mas há dias
em que eu acordo e não me sinto um, você entende?"

"Não exatamente."

Ele suspirou pesadamente. "Não achei que fosse entender mesmo."

"Mas você pode me explicar se quiser."

569
"Sinto que tenho os dois dentro de mim, às vezes..." Sirius não parava de se
encarar. "Será que eu poderia ser... os dois?"

"Eu acho que se você se sente assim," Respondi, me levantando para olhar
para o espelho ao lado dele. "Então você pode ser o que quiser ser."

"Você tem certeza?" Ele parecia verdadeiramente preocupado. "Você não


acha que Moony..."

"Remus não tem nada a ver com isso." Interrompi. "Isso é sobre você e como
você se vê e se sente no próprio corpo. Você o ama mesmo ele virando um
animal toda lua cheia. Por que ele não amaria você só por isso?"

Ele suspirou, pensativo, "Será que há um nome para isso?"

"Se não existe, acho que algum dia vão dar."

"Espero estar vivo para ver isso." Ele sorriu, arrumando o cabelo com a mão.

Felizmente, ninguém teve intoxicação alimentar.

Marls até elogiou uma das pizzas que eu havia feito e lancei um olhar
triunfante para Carter, que havia duvidado das minhas habilidades culinárias
descaradamente.

A lareira estava acesa e a sala estava aquecida. Sirius estava sentado no


carpete entre as pernas de Remus e Marls estava deitada no chão, com a
cabeça apoiada na perna de Sirius. Eu estava deitado em cima de Mary e nós
assistíamos gargalhando Carter e Pandora rodarem e dançarem pela sala
cantando errado a música de ABBA que tocava no toca-discos.

Acho que no fim das contas, os Blacks acertaram em algo. Família é


tudo. Aquela família.

A campainha foi tocada quando ainda eram nove da noite de Halloween, em


tempos de guerra, você pode presumir que pode ser Voldemort batendo à sua
porta ou criancinhas pedindo doces.

Mas quando Remus abriu a porta, não era nenhum dos dois. Acho que
Voldemort teria me assustado menos do que aquilo.

570
Dumbledore estava na nossa porta, o olhar calmo e indecifrável de sempre.
E Snape estava postado ao seu lado, parecendo envergonhado e furioso ao
mesmo tempo.

"Que porra é essa?" Falamos todos em uníssono.

571
Capítulo 42.1: James

Eu não passava o Halloween longe dos meus amigos desde que eu tinha onze
anos. E o Dia das Bruxas, a noite em que ou você dá doces ou você está
automaticamente permitindo que crianças preguem qualquer tipo de peça em
você, era o dia de glória dos marotos.

Mas não éramos mais crianças. Havia uma guerra agora e todos estávamos
lutando arduamente e da sua própria maneira para que ela acabasse o quanto
antes.

No final do sétimo ano, eu não tinha dúvidas. Uma carreira, um emprego,


eram coisas que podiam esperar, honestamente. Eu sabia o que deveria fazer.
O que era o certo a se fazer. Eu lutaria ao lado da Ordem e morreria no lugar
de qualquer um deles se assim fosse necessário. Meus pais haviam me criado
para cuidar das pessoas que eu amava tão bem quanto eles haviam cuidado
de mim, tanto em vida quanto no pós. Porque, sim. Meus pais ainda
cuidavam de mim, sei que cuidavam.

E então, Harry. Quando soube que Lily estava grávida, eu sabia que agora
era a hora de crescer de verdade e firmar o pé no chão. E que alguém que eu
amaria incondicionalmente estaria chegando para me mostrar isso. Mas foi
o contrário. Harry me lembrava todos os dias de que, no meio de todas as
mortes e destruição que a guerra havia trazido, coisas puras ainda existiam.
Ele me lembrava diariamente do meu lado que se recusava a ficar velho e
ranzinza, e a não ver esperança quando ela é tudo que você pode se agarrar.

Eu faria qualquer coisa por ele. Até me isolar do mundo para manter ele e
Lily à salvo. Era apenas um pequeno preço a se pagar pela segurança das
pessoas que eu mais amava no mundo. O único momento em que sentimos
que não iríamos aguentar ficarmos trancados aqui foi quando recebemos a
carta de Remus, porque Sirius não conseguia nem mesmo segurar a pena,
contando o que havia acontecido com Regulus.

Não só porque não fazíamos ideia do que iria acontecer com Harry se
Regulus morresse, mas porque ele foi a pessoa que aceitou se pôr em risco o
suficiente para isso. Ele sabia o quanto era perigoso e que se Voldemort
descobrisse sobre a profecia e deduzisse que Regulus era quem estava nos
protegendo, ele o mataria. Mas ele fez mesmo assim, sem nem mesmo
hesitar. Porque Regulus era assim. E eu devia a minha vida à ele por isso.

572
Então quando ele sumiu, senti que precisava salvá-lo não importasse o que
custaria. Porque ele se pôs em perigo por nós sem pensar duas vezes e eu
nunca poderei recompensá-lo o suficiente por isso. Eu faria qualquer coisa
para salvá-lo porque ele me salva todos os dias. E eu acho que isso é tudo
que você pode esperar de um amigo.

"Quero que fique com isso." Regulus disse, me entregando um anel dourado
com um cristal pequeno vermelho sangue em cima, na noite em que nos
vimos pela última vez. Estávamos apenas eu, ele, Dumbledore e Lily com
Harry dormindo em seu colo. Prontos para partir.

"O que é?" Franzi o cenho, observando o anel. "Desculpe, Reg, mas meio
que já sou casado."

"Idiota." Reg sorriu, revirando os olhos. "Se houver magia negra por perto,
ele fica vermelho sangue. É o cristal que Pandora enfeitiçou para nos ajudar
com as horcruxes."

"Mas está vermelho agora, Reg."

"Sim, hm, isso deve ser porque estou perto demais," Ele respondeu, sem
jeito, dando um passo para trás. "Você sabe, a marca."

"Oh." Arqueei as sobrancelhas. "Mas, espere aí, se está me dando isso, como
é que você vai..."

"Não se preocupe com isso." Regulus me interrompeu. "Não é o único.


Pandora tem outros iguais a esse. Achei que você precisaria, já que está
prestes a se esconder do bruxo das trevas mais poderoso que existe. Se ficar
vermelho, aparatem na mesma hora. Não pensem duas vezes. Apenas vão."
Ele correu os olhos focados entre mim e Lily.

"Obrigado, Reg," Eu o encarei e ele fez o mesmo, e eu soube que ele sabia o
quanto eu era grato. "Obrigado de verdade. Você não faz ideia do que isso
significa para mim."

Regulus sorriu timidamente, "Fazemos tudo pela família." Ele olhou para
Lily e ela sorriu. "Certo?"

Sempre fui crédulo. Sempre acreditei no melhor das pessoas e nunca gostei
de cogitar o pior antes do melhor. Coisas ruins acontecem todos os dias,
pessoas boas morrem todos os dias. Então não há motivo para não querer

573
torcer para que o melhor aconteça. E quando Sirius escreveu contando sobre
as cartas que Peter havia mandado, uma parte minha se alegrou por nunca ter
deixado de ser como eu era. Porque havia uma esperança. Mesmo que fosse
perigoso acreditar, mas havia uma esperança.

E, honestamente, isso é tudo que podemos nos agarrar ultimamente.

"Nosso Hazz não quer dormir de jeito nenhum," Lily apareceu na sala de
estar, carregando Harry. "Acho que ele sabe que é Halloween."

"É claro que ele sabe," Sorri, pegando-o nos meus braços. "Meu Hazz é o
rapazinho mais inteligente do mundo e ele é um maroto, afinal de contas. É
claro que ele sabe que é Halloween."

Lily sorriu, sentando-se no sofá e esticando as pernas, cansadamente. "Acha


que estão todos juntos agora?"

"Com certeza estão," Me sentei no chão, com Harry entre as minhas pernas.
Ele estava finalmente conseguindo ficar em pé sozinho depois de muitas
tentativas frustradas. "Moony escreveu algo sobre Padfoot estar tentando
convencer Reg a semana inteira a cozinharem pizza! E é claro que Regulus
acha isso um absurdo porque nenhum deles sabe fazer pizza!"

"Consigo imaginar essa discussão facilmente!" Lily gargalhou, encostando a


cabeça na costa do sofá. "Sinto saudades. De todos eles."

"Sei disso. Também sinto." Respondi, tristemente. "Mas, não vamos ficar
assim, ok? Vocês são tudo o que importa para mim, Lils. Você e Harry. Nós
vamos sair daqui, não se preocupe."

Lily se levantou do sofá e se sentou no carpete ao meu lado, Harry ainda


brincava com as próprias pernas no meio de nós dois. "Queria que
pudéssemos estar por perto para ajudar Regulus a destruir a horcruxe que
falta."

"Sei que ele consegue fazer isso," Respondi. "Você conhece Regulus. Ele é
quase um super herói. Consegue fazer qualquer coisa."

"É, acho que é assim que Harry vai crescer," Lily sorriu, brincando com as
mãos gordinhas de Harry. "Vendo Reg como um super herói, ou algo do
tipo."

574
"E como você está?" Perguntei, acariciando o ombro dela. "Está precisando
de algo? Quer que eu faça alguma coisa?"

"Não, está tudo bem," Ela sorriu, cansadamente. "Estou apenas um pouco
cansada, mas vou melhorar. Tudo isso vai melhorar."

"Esse é o espírito." Assenti, com um sorriso. "Estamos seguros. O feitiço é


poderoso e só pode ser quebrado se Regulus contar para alguém. Não há o
que temer."

"Mas e você? No que tem pensado ultimamente?" Lily suspirou,


descansando a cabeça no meu ombro. "Tem pensado nas cartas sobre Peter?"

Respirei fundo, encostando a cabeça na parede. É claro que eu estive


pensando. "Vou dizer uma coisa, querida, às vezes eu consigo entender
completamente o porquê de Reg não confiar em ninguém."

"O que quer dizer com isso?!"

"Por que Dumbledore ou Moody não estão dizendo nada sobre isso, por
exemplo?!" Indaguei. "Reg disse que nem mesmo quando ele havia ido
pessoalmente até Dumbledore com uma das cartas de Wormtail nas mãos,
ele pareceu estranho. Como se não fosse importante o suficiente."

"Dumbledore pode estar com medo, Jay," Lily disse sem olhar para mim,
focada em ajudar Harry a não cair enquanto tentava andava no carpete. "Não
são todos que confiavam em Peter como você confiava, não é? E afinal, Reg
disse que viu a marca e esse tipo de coisa não tem volta."

"Eu honestamente não acho que seja uma questão de confiança, Lily,"
Respondi. "Remus está indo à missões todo o tempo para trazer lobisomens
para o nosso lado. E há literalmente um comensal mandando cartas para nós
e eles estão parados? E também não é como se fosse qualquer um. É Peter."

"Sei que isso é difícil para você," Lily me encarou, "Principalmente por se
tratar dele. Mas não estamos em uma posição muito boa para confiar tão
facilmente, Jay," Ela olhou ao redor, sorrindo de uma maneira cansada,
"Apenas espere. A verdade sempre aparece."

"É," Suspirei, "Acho que você tem razão."

575
Harry começou a bocejar logo em seguida e eu dei uma olhada no relógio na
parede da sala, "Já são quase onze, acho que está na hora de dormir, não é,
Hazz?"

"Eu concordo," Lily carregou Harry nos braços e ele descansou a cabeça em
seu ombro, sonolento, "Você já deveria estar na cama à muito tempo,
mocinho."

Eu e Lily subimos para o andar de cima, onde ficava o quarto de Harry. Era
um quarto simples, com um papel de parede vermelho suave e estrelinhas
grudadas no teto que brilhavam no escuro. Quando Lily pôs Harry no berço,
meu olhos encontraram a vassoura que Sirius havia dado no aniversário de
Harry encostada logo atrás dele. Pads, seu idiota, você é quem dá o presente
e sou eu quem levo bronca quando deixo Harry fazer o que quiser com ela!

Quase tivemos que preparar o funeral de um gato no último mês. Por Godric.

"Ele dormiu?" Sussurrei, chegando perto do berço que Lily balançava.

"Está quase lá," Ela respondeu, "Ele demora para cair no sono, igual a você."

Envolvi a cintura dela com um braço, ainda com os olhos em Harry. Gostava
de sentir ela sempre o mais perto possível. "Não acho que eu conseguiria
passar por isso sozinho," Sussurrei, apoiando o queixo em seu ombro, "Não
sem você."

"Ei, somos uma dupla, certo?" Ela franziu o cenho, virando o rosto para mim,
"Você não vai ter que passar por nada sozinho, nunca. Não enquanto eu
estiver aqui. E além disso, somos uma família. Nós três." Ela disse a última
parte com um sorriso.

"Você já está cansada de ouvir o quanto amo você?"

"Nunca." Lily sorriu e me beijou. Harry já havia adormecido à essa altura,


enrolado nos lençóis brancos do berço. Tudo estava calmo e quieto agora. Já
haviam se passado das onze, então as crianças pedindo doces por Godric's
Hollow já haviam saído das ruas e voltado às suas casas aconchegantes e
para o abraço quente de seus pais. Seria uma noite fria, então nenhum deles
queriam deixar seus filhos andarem por aí até muito tarde.

Tudo o que restava lá fora eram as abóboras iluminadas nas portas,


papéizinhos de doces deixados pelas crianças e morceguinhos pendurados

576
pelas árvores. Lily se sentou em um sofá azul água que ficava ao lado do
berço e se encolheu, abrindo um livro em suas pernas.

"Jane Austen outra vez?" Me sentei ao lado dela, passando um braço por trás
e ela descansou a cabeça em mim, "O Darcy ainda não se cansou?"

"Claro que não, ele nunca vai conhecer alguém como Elizabeth," Lily
respondeu, "E quem é você para dizer algo? Você me perseguiu por sete
anos!"

"Perseguição não," Levantei um indicador, "Eu diria ambição e


determinação. E de qualquer forma, você vence Elizabeth sem nem precisar
se esforçar."

"Não exagere," Ela sorriu, "Darcy tem motivos para estar tão apaixonado.
Ela é uma heroína da literatura."

"Você é minha heroína." Sussurrei, Lily virou o rosto para mim e


sorriu. Aquele sorriso.

Me inclinei para frente para beijá-la, mas ela recuou e franziu o cenho,
encarando a minha mão. "James, o anel."

"O qu-" Foi como sentir um balde de água gelada de repente. Os pelos da
minha nuca se arrepiaram e eu senti meu sangue gelar por baixo da pele. O
cristal no anel. O cristal estava vermelho.

"James." Lily engoliu em seco. "Isso quer dizer... Não quer dizer, quer?!"

Me levantei rápido, observando atentamente o anel. "Não se preocupe. A


casa está invisível para qualquer coisa, Lily. Eles podem... podem estar
literalmente na frente e nunca iriam saber, não é? Só saberiam se Reg
contasse ou se ele..."

Lily arregalou os olhos, se levantando também. "James. Você acha que


aconteceu alguma coisa com Regulus?"

"Não faço ideia, Lily, não tenho como saber," Eu levei a mão para enxugar
um pingo de suor na minha testa. "Ok, não vamos fazer nada. Não
precisamos fazer nada. Vamos apenas-"

*CRACK*

577
"O que foi isso?!" Lily arregalou os olhos mais uma vez. Algo lá fora havia
desaparatado. Ou melhor, alguém. O som era claro e inconfundível. Meu
corpo gelou outra vez. Quem quer que fosse, não era bem-vindo. Ela segurou
no meu braço e sussurrou, "E se for Regulus, James? Ele não é o único que
consegue ver a casa? E também, ele tem a marca."

"Não, Lily, ele deixou claro quando partimos que não tentaria nos ver,"
Respondi, sussurrando também, "Não se lembra? Disse que não era seguro e
que poderia nos colocar em risco. Reg é cuidadoso e não apareceria assim
sem nem ao menos avisar porque sabe que não correríamos o risco."

"E se alguma coisa aconteceu? Alguma coisa muito, muito séria, James. Tão
urgente que ele não teve opção a não ser aparecer." Ela estava preocupada.
E Harry começou a se mexer no berço, mas sem abrir os olhos, "E se ele
finalmente descobriu? Sobre a profecia, James. E se Voldemort está ciente
de tudo e nós três corremos mais perigo do que antes?"

"Dumbledore disse que os Longbottom foram atacados por Comensais da


Morte..." Corri os olhos pelo nada, andando de um lado para o outro. "Eles
fugiram à tempo, mas... mas disseram que eles não pareciam interessados
nos dois. Estavam procurando por algo..."

"Por alguém." Lily disse firmemente, me fazendo encará-la, "Eles estavam


procurando por Neville, James. Neville. A única criança que conhecemos
além de Harry que nasceu no final de julho."

Pareceu que uma parede havia me acertado em cheio. Levantei os olhos para
Lily e as palavras quase não saíram da minha boca. "Ele sabe."

"Ele sabe." Lily estava com os olhos perdidos e piscava rápido para secar a
água que parecia tentar se formar nas pálpebras deixando os olhos dela
brilhantes. A respiração dela começou a acelerar e o peito dela subia e descia.
Parecia que ela teria um ataque a qualquer momento.

"Ei, ei, ei, ei," Pus as duas mãos no rosto dela, falando bem de perto, "Você
precisa respirar, certo? Vai ficar tudo bem. Vou resolver isso."

"Você... Não! Você não vai resolver nada!" Ela agarrou com força meus dois
pulsos, "Não vai sair deste quarto, James Potter. Ou eu juro por Deus que
mato você!"

578
"Lily, há uma pequena, quase nenhuma, mas ainda há uma chance de ser
Reg," Respondi, "E se for, eu preciso ver. Se for, alguma coisa deu muito,
muito, muito errado. Eu preciso ir. Não vou sair da casa, não vou fazer nada.
Mas preciso saber quem está lá fora."

"James..." Ela insistiu, mas pude ver que sabia que não havia jeito, "Não saia
desta casa. Nem mesmo chegue perto daquela porta."

"Vou olhar pela fresta da cortina, só isso," Soltei o rosto dela, assentindo
logo em seguida, "Me espere aqui."

Desci as escadas rapidamente, com a varinha empunhada na mão. Não liguei


nenhuma luz para não aparentar que havia alguém em casa. Meu coração
estava acelerado. Parecia como ele ficava quando era lua cheia e eu e Padfoot
saíamos correndo por aí com Moony pelas florestas. Uma onda de adrenalina
absurda e avassaladora.

Conseguia sentir os meus dedos tremerem na base da varinha, mas tentei


segurar o mais firme que podia. Era uma das noites mais frias do ano e eu
estava soando como se o sol nascesse de dentro da porra daquela casa. Se
algo desse errado, eu teria que garantir que Lily e Harry tivessem tempo para
fugir. Mesmo que fosse a minha morte que o atrasasse.

Afinal, pelo o que mais James Potter poderia se sacrificar se não pelas
pessoas que ele amava?

Me esgueirei para perto da cortina e respirei fundo, usei a ponta da varinha


para levantar apenas dois centímetros do pano e poder ver através do vidro.
Apenas dois centímetros. Teria que ser o suficiente.

Ele estava lá.

579
Capítulo 43: Contratempo

"O que ele está fazendo na minha casa?!" Sirius disparou com o dedo
erguido, voando furiosamente até a porta, Remus segurou em seu braço para
pará-lo. "Como você ousa ficar parado na frente da minha porta?!" Ele tinha
ódio nas palavras. Se Remus soltasse o braço de Sirius, ele com certeza
avançaria em Snape sem ter que pensar duas vezes.

"Sugiro que se acalme, senhor Black," Dumbledore suspirou, "A situação vai
muito além do que sua mera rivalidade escolar."

"Rivalid- Ele é um comensal da morte!" Dessa vez, Remus esbravejou. Era


muito visível que Remus sempre tentava na maioria das vezes ficar mais
calmo que Sirius em situações assim, porque duas pessoas com a cabeça
quente não funcionam. Mas naquela noite, nenhum de nós poderia se dar ao
luxo de não ficar com a cabeça quente.

"Acredite, Black," Snape disse, levantando o olhar cínico entre os cabelos


negros e oleosos para Sirius. "O último lugar em que eu queria estar é nesta
barraca de acampamento que você chama de casa."

"Se você não quer ficar aqui, então vá embora." Pandora disse, firmemente.
"Não é bem-vindo e sabe disso."

Mary estava agarrada ao meu pulso, mas eu não sabia dizer exatamente o
que ela estava sentindo. Não conseguia olhar para o rosto dela porque era
impossível parar de encarar a cena na minha frente. O que de tão errado
aconteceu para Snape estar aqui e, pior, ao lado de Dumbledore?!

Marlene e Carter já haviam levado suas mãos até a varinha no bolso de trás,
eu pude ver. Estavam prontos para atacar se algo repentino acontecesse ou
se tudo não passasse de uma armadilha.

"Severus está aqui porque eu mesmo pedi pessoalmente que viesse."


Dumbledore disse, "Pode fazer o protocolo de segurança, senhor Lupin.
Creio que Sirius está um pouco alterado para se lembrar de qualquer coisa
para me perguntar."

"O que eu disse à você na última vez que conversamos?" Remus perguntou,
ainda mantendo um braço na frente de Sirius.

580
"Se me recordo bem, estava me dizendo sentiu raiva por muito tempo,"
Dumbledore respondeu, calmamente, "E que agora estava pronto para fazer
algo à respeito sobre os lobisomens."

"Patético." Snape revirou os olhos, as mãos enfiadas dentro do sobretudo


preto.

"Você é patético." Sirius sibilou, Snape o encarou com desprezo.

Dumbledore e Snape adentraram na casa e Remus fechou a porta atrás dele.


Agora que estavam dentro, todos ficamos em alerta. Mary soltou o meu braço
e estava com uma expressão de raiva no rosto, eu podia ver agora. O que não
me surpreendia em nada porque eu mesmo estive presente em todas as vezes
que Snape a insultou nos corredores de Hogwarts.

"Regulus." Snape assentiu para mim, eu o encarei em silêncio. Mas que


porra.

"Sinto muito atrapalhar este momento de reunião de todos vocês, mas não
vim em vão," Dumbledore começou, "Precisamos falar sobre James e Lily
Potter."

A expressão de Snape falhou e eu o encarei outra vez. Havia alguma coisa


errada. Sirius se eriçou, a expressão mudando imediatamente de fúria para
preocupação, "James? O-o que aconteceu? O que deu errado?!"

"Acha seguro falar disso aqui, professor?" Snape sussurrou para


Dumbledore, "Há pessoas aqui que podem não ser... confiáveis." Ele disse a
última parte lançando um olhar cortante para Mary.

"O que? Está falando que não sou confiável por que sou nascida trouxa?"
Mary disse, entre uma risada, "Me poupe, Snape, seu sangue é tão puro
quanto o meu. E não fui eu quem me aliei à um psicopata genocida. Vê se
não enche a porra do meu saco."

Snape se ofendeu, puxando a varinha em direção à Mary, "Ah, sua..."

"Nem mesmo pense nisso." Levantei a minha varinha rapidamente e a


apontei para o rosto dele, os olhos dele encontraram os meus e eu arqueei as
sobrancelhas, Snape abaixou lentamente o braço.

581
"Me lembro de você," Carter disse, dando um passo para frente, "Severus
Snape. Se tornou um Comensal da Morte depois da escola."

"Se tornou um traidor imundo, você quer dizer, Carter." Marlene disparou.

"Nunca devi nada a você, McKinnon." Snape respondeu, arqueando uma


sobrancelha.

"Então diz logo o que você quer ou se manda daqui." Pandora disse,
"Ninguém quer você por aqui."

"Não," Sirius disse, avançando para a frente de Snape. Ele o olhou nos olhos,
"Me diz. O que tem James e Lily?"

"Os Potter não estão mais tão seguros quanto antes, Sirius." Dumbledore
disse.

"Do que está falando?" Franzi o cenho, "O feitiço ainda existe, não pode ser
quebrado a não ser que eu conte ou que eu morra. O que pode ter dado
errado?!"

"Não estou falando do feitiço, Regulus," Dumbledore continuou, Snape


pareceu se encolher um pouco, "Severus veio pessoalmente esta noite porque
se prontificou a postar sua lealdade totalmente em mim de agora em diant."

"Está brincando comigo?" Remus sorriu, mas sem achar graça, "Não sabia
que você sabia o significado dessa palavra, Snivellus."

"Espere aí," Interrompi, sem desviar os olhos de Dumbledore, "Deixe-o


continuar, Remus." Eu estava atento. Eu obviamente odiava Snape. Deus, ele
era asqueroso. Mas se ele tinha algo a dizer sobre os Potters, que dissesse de
uma vez.

"Quando o esconderijo de Lily e James Potter foi providenciado e todas as


medidas foram tomadas, Lord Voldemort não tinha conhecimentosobre a
profecia," Dumbledore disse, olhando para todos nós, "Esta realidade
mudou, senhores."

"Quem foi?!" Sirius disparou, os olhos cheios de fúria, "Qual deles?! Me


diga e eu vou matá-lo agora mesmo!"

582
Pandora encarou Snape, que tinha a cabeça baixa e os cabelos oleosos
cobrindo o rosto, e algo pareceu passar pela a sua mente, "Foi você. Foi, não
foi? Por isso está aqui, por isso... Por isso está evitando falar. Você..."

"Eu quero que você fale." Remus disse, de repente, indo para frente de Snape
desafiadoramente, "Eu quero que você admita o que fez com a mesma voz
que você usa para falar as merdas que diz."

Estávamos todos em silêncio e Snape finalmente levantou a cabeça, correndo


os olhos por todos nós e parando em Remus, "Fui eu. Eu contei para o Lorde
das Trevas sobre a existência da profecia. Quando me dei conta de que era
sobre o filho de Lily, eu... Eu implorei para que ele a poupasse, mesmo
sabendo que ele nunca faria. Eu procurei o professor Dumbledore
imediatamente. Mas sim, fui eu. Eu fiz isso."

"Você está me dizendo..." Sirius estava com a voz rígida, como eu nunca
havia ouvido antes, quase cruel, "Que você pediu para poupar a vida de Lily
e não deu a mínima para o que iria acontecer com James?! Ou com Harry,
uma criança de um ano?!"

Snape ficou em silêncio e Sirius se descontrolou completamente. Ele


empurrou Snape e avançou em cima dele com tudo. Foi necessário que eu e
Carter segurássemos Sirius pelos ombros e Remus correu para sua frente,
segurando seu rosto, "Ei! Padfoot! Se acalme, ok? Vamos pensar direito!",
mas os olhos de Sirius estavam perdidos de raiva, por mais que Lupin
estivesse em sua frente, eu tinha certeza que ele não estava o enxergando de
verdade.

"Você entende o que ele acabou de dizer, Moony?!" Sirius vociferou,


tentando se soltar de mim e de Carter, que ainda o segurávamos pelos
ombros. "Ele praticamente disse que teria coragem de deixar James morrer
mesmo que ele tenha salvado a vida dele uma vez! Ele é um filho da puta
nojento e cínico!"

"Sirius!" Gritei, chamando a atenção dele, "Será que dá para você se


acalmar?! Mas que porra!"

"Não, ele está certo," Snape disse, "Eu não pensaria duas vezes antes de
deixar aquele verme covarde morrer."

583
"Severus." Dumbledore intercedeu, o encarando. Remus respirou fundo, e eu
pude ver o esforço que ele estava fazendo para não surtar completamente.
Mas então veio.

"E também não estou nem aí para aquele ratinho que com certeza vai puxar
a imbecilidade do Potter!"

Remus não aguentou. Ele praticamente voou de onde estava para perto de
Snape e acertou um soco com tudo no rosto dele, fazendo ele bater as costas
na parede com o impacto. Remus foi rápido e o pegou pela gola do casaco,
levantando-o meio centímetro do chão.

"Remus!" Pandora gritou, repreendo-o.

"Remus, não vale a pena." Marls disse em seguida, "Ele não merece seu
tempo."

"Não dê à ele o que ele quer." Mary disse.

Eu ainda estava segurando Sirius, que estava a ponto de ir ajudar Moony a


socar Snape. "Carter," Chamei, fazendo um sinal com a cabeça para Remus,
e ele entendeu, "Vai."

Carter se aproximou de Remus, que ainda suspendia Snape pela gola da


camisa e pôs a mão no seu ombro direito, "Ei, cara," Ele sussurrou, "Se
acalme um pouco, huh? Vamos ouvir o que o professor Dumbledore tem a
dizer, certo?"

Remus demorou ainda alguns segundos para soltar Snape no chão, mas
quando finalmente cedeu, Snape teve que levar um tempo para voltar a
respirar normalmente.

"Imaginei que houveria esse infortúnio," Dumbledore disse, "Então, sabem


que para eu ser obrigado a trazer Severus até aqui, foi por um motivo muito
plausível."

"Não vim até aqui para falar com nenhum de vocês," Snape cuspiu, "Vim
para falar com você."

Ele olhou para mim, e eu franzi as sobrancelhas. "O que diabos você quer
comigo?!"

584
"Tenho total conhecimento que você está tentando destruir o Lorde das
Trevas, Regulus. E sei perfeitamente como está fazendo isso."

"E?"

"Lord Voldemort está fraco, qualquer um pode ver. Você já destruiu quase
toda a alma dele e ele sabe disso. Mas ele não tem medo de você, não se
engane com isso," Ele disse, "Será que você tem alguma ideia do que seja a
última?"

"Você acha que se eu tivesse, eu já não a teria destruído, Severus?!"

Todos nos olhavam em silêncio, parecendo estarem apenas esperando que a


qualquer momento um de nós perdesse o controle e avançasse, como Remus
fez. Mas eu não era assim. Eu queria saber exatamente tudo o que levou
Snape a vir até aqui e o que ele queria me dizer.

"Vamos, Reg, você é inteligente." Snape disse.

"Não o chame assim." Sirius cerrou os dentes, mas Snape ignorou.

"Você também era um Comensal da Morte, sabe como as coisas funcionam


lá dentro," Ele me encarou de um jeito estranho, eu estreitei os olhos, "Você
já destruiu artefatos das casas de Hogwarts, já destruiu coisas de apego
pessoal. O diário, o anel..."

"O que tudo isso tem a ver?" Mary disse, em pé ao meu lado.

"Você não teria como saber," Snape lançou um olhar de desprezo para Mary,
"Mas Regulus sabe. Me diga, o que nunca sai de perto do Lorde das Trevas?"

Não conseguia pensar em nada. Tudo eu já havia destruído. Coisas sobre o


próprio passado de Voldemort. O que? O que eu estava deixando passar?

E então, duas memórias me vieram à mente. A primeira foi da tarde em que


eu e Mary estávamos lendo livros antigos na sala de casa e ela mencionou
uma passagem que dizia especificamente sobre horcruxes não serem apenas
objetos. Também poderiam ser coisas vivas. E a segunda, foi a de anos atrás,
antes da caverna. Uma vaga memória de todas as vezes em que fui à reuniões
dos comensais e Voldemort não se desgrudava apenas de uma coisa.

585
Foi quando percebi que a última horcrux só seria destruída se o
enfrentássemos.

"É a cobra." Arregalei os olhos, trocando um olhar com Pandora, "É a cobra.
A última horcrux é... é a cobra."

"Uma horcrux pode ser qualquer coisa, viva ou morta..." Mary sussurrou para
si mesma, se lembrando da nossa conversa.

Dumbledore assentiu, "Correto."

"Por isso o senhor esteve sumido," Marlene percebeu, "Estava com... ele?!"

"E por que acreditaríamos em você?!" Carter ponderou, arqueando uma


sobrancelha, "Quem pode garantir que você não está nos enganando?!"

"Exatamente," Pandora rodeou Snape, o olhando de cima à baixo, "Como


sabemos se isso tudo não é uma armadilha, professor?"

"Posso garantir que não, Pandora," Dumbledore disse, "Severus tem seus
motivos para querer que o Lorde das Trevas seja derrotado."

"Com "seus motivos", você quer dizer uma obssessão doentia por Lily, no
caso?" Mary provocou, Snape rosnou como um animal.

"O único jeito de destruir a cobra é chegando perto dele, professor," Encarei
Dumbledore intensamente, "Estamos prontos para isso? Para uma batalha
real?"

"Voldemort estará quase intocável, Regulus." Dumbledore disse, "Ele terá


guerreiros com ele. Você precisará dos seus. Precisará da Ordem."

"Certo" Assenti, firmemente. "Eu tenho um plano."

"O que?!" Mary franziu o cenho, "Um plano?!"

"Reg," Sirius se aproximou, "Acabamos de descobrir sobre isso. Não é


possível que você já tenha pensado em algo."

"Temos que pensar melhor, Regulus," Remus disse, "Não vamos nos
precipitar."

586
"Sei o que você quer fazer." Pandora disse, vindo para perto de mim. Ela
trocou um olhar comigo, e eu soube que ela havia entendido tudo. Eu já havia
comentado com ela sobre ter que fazer isso em algum momento. "É perigoso.
Mas se fizer tudo com cuidado e, bem, com muita coragem, vai dar certo."

"Preciso que alguém avise a Ordem." Eu disse.

"Eu posso ir." Marlene se prontificou, "Mas avisar o que, exatamente?"

"Que nós lutaremos." Respondi, respirando fundo. "Lutaremos ainda nesta


madrugada. Nesta mesma noite de Halloween. Diga que se preparem e
aguardem o sinal."

Marlene assentiu e saiu pela porta, aparatando logo em seguida. Dumbledore


deu um passo a frente, "Vou precisar que me explique o que tem em mente,
Regulus."

"Ele vai explicar para o senhor," Sirius disse, depois se virando para Snape,
"Não para ele."

"O que?!" Snape franziu o cenho.

"Você não vai lutar, Snape," Eu disse, "Nós não confiamos em você."

"Você vai embora desse lugar." Remus vociferou, bem perto de Snape. "Não
dessa casa. Mas de Londres. Não vai voltar nunca mais."

Snape ficou enfurecido," E quem você pensa que é para-"

"Se pisar aqui outra vez," Sirius interrompeu, "Vou garantir eu mesmo que
não dure nem para ver o dia de amanhã."

Snape hesitou, "Você pode me garantir que Lily vai sobreviver?"

"Nós vamos fazê-la sobreviver," Remus disse, "Não você."

Snape correu os olhos entre todos nós, e levantou o rosto, empinando o nariz
grande, "Boa luta para vocês. Se deixarem-a morrer e Voldemort não os
matar, eu mesmo farei isso."

587
Snape se encaminhou para a porta e a bateu atrás de si quando saiu. Todos
olharam para mim, esperando minhas coordenadas. Carter se aproximou,
"Reg?"

"Preciso ir à um lugar." Disse, "Volto em menos de cinco minutos. Me


esperem aqui."

"Reg, o que você..." Mary começou, me vendo pegar meu casaco depressa.

"Não se preocupe," Dei um beijo rápido nela, "Vou ficar bem. Não vou para
nenhum lugar perigoso. É apenas..."

"Ele vai resolver o que precisa para executar o que está planejando." Pandora
disse, "Não morra, seu idiota. Ainda preciso de você vivo."

"Reg." Sirius tentou, mas eu o parei.

"Eu vou voltar." Disse. "Menos de cinco minutos. Eu prometo."

Eu não sabia se realmente seriam apenas cinco minutos, mas não poderia
durar mais do que isso. Uma guerra estava prestes a ser travada. Voldemort
não deixaria a cobra vulnerável agora que ela era seu último bote salva-vidas.
Eu tinha um plano e ele precisava ser seguido. Tudo dependia disso agora.

Desaparatei à meia noite em ponto. A rua estava silenciosa e tudo o que havia
nela eram as decorações de Halloween nas casas pequenas e iguais. As
pessoas deveriam estranhar que apenas um local específico que deveria ter
uma casa construída, não havia. Porém, para mim sim. Eu era o único que
podia ver.

Bati na porta e ele abriu-a imediatamente, "Regulus!" Seus olhos brilharam,


podia ver as lágrimas se formando.

"James!" Não sou uma pessoa muito sentimental. Mas Deus sabe o quanto
eu estava com saudade do filho da mãe. "Vamos, me pergunte alguma coisa!"

"O que você me deu da última vez que-"

"Um anel! Um anel com o cristal!" Exclamei, entrando de uma vez na casa
e James fechou a porta atrás de nós. Antes que eu pudesse me virar, ele pulou
em cima de mim e me abraçou com toda a força do mundo, me fazendo rir e
quase me derrubando no chão. "Merlin, você vai me matar assim!"

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"Seu idiota!" Ele me soltou, ofegante, "Quando o cristal ficou vermelho,
pensei que havia acontecido algo. Pensei que estavam aqui e que... Que havia
acontecido alguma coisa com você, seu pirralho!"

"James?" Ouvi a voz de Lily descendo as escadas, e meu coração se alegrou


outra vez. Ela desceu e quando me viu, o rosto se iluminou, "Reg! Ah, meu
Deus!" Ela correu e se jogou no meu pescoço, meu rosto enterrando no seu
cabelo ruivo e me tirando um sorriso instantaneamente. "Eu sabia! Sabia que
era você!"

"Vocês dois não tem ideia do quanto fazem falta." Eu disse, quando a soltei.
"Mas, agora, as coisas ficaram um pouco mais sérias."

Lily e James se entreolharam, e ele me encarou, "Pode nos contar."

Tentei dar um resumo rápido de tudo o que Snape havia contado, da horcruxe
final e de que agora possivelmente haveria uma batalha de corpo à corpo
contra Voldemort e os seus Comensais da Morte.

"E Peter?" James perguntou, "Alguma notícia?!"

Merda. Ele não sabia. E eu quem teria que contar. E eu não tinha muito tempo
para ser sensível.

"James, preciso contar uma coisa." Respirei fundo, "Quando eu fui


sequestrado, Barty me contou algumas coisas."

"Que coisas?!" Ele correu os olhos por mim.

"Não sei como contar isso para você," Apertei os olhos e tentei olhar para
Lily, porque não aguentaria a cara de James, "Eles descobriram que Peter
estava se contactando com a Ordem. E eles..."

"Mataram ele, não é?" James ficou sem expressão, o rosto pálido e sem vida,
os olhos brilhantes, "Eu deveria ter adivinhado que isso aconteceria." Ele
passou rápido as mãos nos olhos.

"Pete, seu idiota." Lily sussurrou, ela me encarou, enquanto James ainda
pensava em silêncio, "Mas Reg, o feitiço ainda existe. Mesmo que ele saiba
da profecia agora, por que você veio até aqui? Poderia ter nos contado tudo
em uma carta."

589
"Porque tenho um plano para resolver tudo isso ainda hoje." Respondi, "E
para esse plano dar certo, vocês três não podem mais ficar aqui porque o
feitiço vai deixar de existir."

"O quê?" James franziu a testa, "Que plano, Reg?!"

"Não está planejando se matar, está?!" Lily me repreendeu.

"Não, claro que não, eu... Apenas tirem Harry daqui. Nós vamos aparatar
para a casa de Sirius e lá eu explico tudo. Eu prometo."

"Mas se você não vai morrer," James disse, "Então como vai quebrar o
feitiço?!"

Corri os olhos entre os dois, "Eu vou trair vocês dois."

590
Capítulo 44: Preparação

I'm doing it all for love


(Estou fazendo tudo por amor)
I'm doing it all
(Estou fazendo tudo)
I'm doing it all for love
(Estou fazendo tudo por amor)

Taking it all for us


(Tomando tudo para nós)
Doing it all for love
(Fazendo tudo por amor)
Yeah, yeah, yeah, yeah
(Sim, sim, sim, sim)

All For Us - Labirinth

Óbvio que o plano era perigoso, como literalmente tudo que eu vinha
fazendo nos últimos três anos. Óbvio que quando eles escutassem o que eu
tinha em mente, iriam querer me prender em casa. A única que
compreenderia era Pandora, mas apenas porque dela eu já havia cuidado à
mais tempo.

"Você está louco!" Ela gritou, no dia em que conversamos sobre a


possibilidade de eu ter que fazer isso em algum momento, "Se está tentando
se matar, aponte a própria varinha para a cabeça e pronto! É mais rápido! Se
acha que vai sair vivo disso, está sendo idiota."

"Pan, é apenas uma possibilidade," Respondi, "É claro que vamos tentar ao
máximo fazer com que não chegue a esse ponto, mas..."

"Você vai morrer!" Ela gritou mais uma vez, "Não ajudei você com as
horcruxes todo esse tempo para você morrer agora!"

"Merlim, pare de gritar!" Gritei de volta, ficando irritado, "Estou vivo até
agora, não estou?! Tenho literalmente tudo pensado se tiver que recorrer à
isso."

"Você não deveria nem mesmo considerar, Regulus." Ela resmungou,


organizando os livros em sua estante com a varinha.

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"Pan." Pus a mão no seu ombro, ela me encarou, "Precisa confiar em mim.
Preciso que fique do meu lado em qualquer decisão que eu tomar. Porque eu
sei que há coisas que nem todos vão concordar comigo e aprendi que não se
vence uma guerra sozinho. Preciso de você."

Ela respirou fundo, me observando cautelosamente, e então relaxou os


ombros, "Você é um idiota."

O que na língua das mulheres acho que quer dizer, 'Você só faz merda, mas
infelizmente ainda gosto de você', então tudo bem.

Não era uma missão suicida, por mais que às vezes parecesse que esse era o
meu forte. Não era como quando eu tinha dezoito anos e era burro o
suficiente para achar que me matar em uma caverna era a melhor solução.
Meu objetivo agora era sobreviver. E garantir que meus amigos também
sobrevivessem.

Voldemort deveria estar protegendo aquela cobra mais do que havia


protegido qualquer uma outra horcrux. Se estiver esperando por uma luta,
ele vai se preparar e seria impossível matarmos ela. Precisávamos pegá-lo
desprevenido. Mas como se pega desprevenido o bruxo mais perigoso do
mundo?

Acho que tenho a resposta para isso. E, Merlim, espero que ela esteja correta.

Lily havia enrolado Harry nos próprios lençóis, haviam umas três camadas
de pano protegendo-o. Quando os dois seguraram em mim para aparatarmos,
Lily apertou Harry com mais força contra o corpo, como se estivesse com
medo de deixá-lo escapar. Foi bom ver isso. Harry sempre despertava o
melhor em todos nós, mesmo com o clima pré guerra.

Quando chegamos, Sirius não demorou nem um segundo inteiro para abrir
de uma vez, "Reg, foram bem mais do que cinco min-" Ele parou quando viu
James, seus olhos se arregalaram e começaram a ficar molhados, ele correu
os olhos para Lily e então os pousou em Harry, curvando a boca em um
sorriso. Ele olhou para James outra vez, "Lily, Prongs, o que... O que
vocês..."

"É uma longa história, Pads," James suspirou, passando um braço pelo meu
ombro, "Mas Reg vai explicar tudo."

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"Lily?" A voz de Remus foi ouvida de dentro da casa e ele apareceu na porta.
Sua boca abriu levemente de surpresa quando viu os Potter do meu lado, ele
passou a mão rápido pelos olhos, "Ah, Merlim, é uma das noites mais frias
do ano! Entrem logo, entrem logo!"

"Você costuma ser mais cuidadoso, Remus," Lily sorriu, "Não vai perguntar
nada?"

"Conheço você em qualquer lugar, Evans." Moony sorriu de volta, Lily


entregou Harry para mim e pulou no pescoço de Remus, que cambaleou para
trás.

"Então, Padfoot?" James disse, arqueando uma sobrancelha, com as mãos na


cintura, "Como tem se divertido por aqui sem mim, huh?"

"Seu idiota." Sirius sorriu e puxou James para dentro, abraçando-o com força
e muito provavelmente molhando o casaco de Prongs de lágrimas. Depois
que entreguei Harry à Lily, James logo puxou Remus e depois à mim,
formando um grande abraço entre nós quatro.

"Seus idiotas," James suspirou, depois de nos soltar, "Não fazem ideia de
como senti falta disso."

Lily estava abraçando Mary, Pandora e Carter, e cumprimentando


Dumbledore, que sorriu ao vê-la. Remus estremeceu um pouco, "Hm,
Prongs? Você... Você precisa saber de uma coisa..."

"É sobre Worm?" James relaxou o rosto.

"Você sabe?!" Sirius franziu o cenho.

"Eu contei," Disse, "Achei que seria melhor se ele soubesse de uma vez."

Remus olhou para James, "E como você..."

"Acho que, no fundo, eu sabia que isso aconteceria," James desviou o olhar,
"Mas, no fim, ele ainda era nosso Pete, não é?" Remus e Sirius sorriram e
assentiram carinhosamente.

Era estranho para mim, às vezes. Falar sobre Pettigrew. Quando o conheci,
ele era apenas um garoto baixinho que andava sempre atrás de James e então
quando o conheci novamente, ele era alguém totalmente diferente. Ele tinha

593
uma marca negra no pulso e cuspia palavras cheias de crueldade. Como tudo
isso mudou tão rápido?

"Ei," Mary me puxou levemente, enquanto todos estavam distraídos


cumprimentando os Potters, "Conheço essa cara. O que você tem em mente?"

"Vou explicar," Respondi, "Vão ter que confiar em mim."

"Todos eles confiam," Ela segurou meu rosto com as mãos, encostando as
nossas testas, "Eu confio."

Fomos interrompidos quando o fogo da lareira na sala começou a se agitar


e, em questão de segundos, Moody apareceu das chamas.

"Senhores," Ele assentiu, antes de se dirigir à Dumbledore, "Alvo."

"Certo." Assenti firmemente, "Vamos começar. Pan, o mapa."

"Mapa?" Moody perguntou.

"Sim," Pandora agitou a varinha e uma mapa grande se materializou em cima


da mesa, todos ficamos em volta dela, eu fiquei na ponta, Sirius, Remus e
Carter de um lado e Pandora, James e Lily de outro, "Um mapa."

"Espere, é Godric's Hollow," Carter franziu o cenho, observando o


pergaminho, "Por que você tem um mapa de Godric's Hollow?"

"Eu e Pandora achamos que seria necessário, se algo acontecesse," Dei de


ombros, Pan assentiu, "Precaução."

"Merlim, vocês dois poderiam matar Voldemort sozinhos e eu não me


surpreenderia." Sirius disse.

"Então," Dumbledore me olhou por cima dos óculos meia lua, "O que você
tem em mente, Regulus?"

"Antes de começar, professor," Eu disse, "Preciso que o senhor e Moody


sejam os que mais prestem atenção de todos. Preciso que vocês informem
exatamente tudo que eu falar para o resto da Ordem. A Ordem inteira. Até
mesmo apenas aliados. Voldemort tem muitos Comensais da Morte, mas ele

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também tem aliados sem a marca, eu me lembro bem. Como por exemplo,
meus pais eram. Precisamos ter o máximo de pessoas que conseguirmos."

Moody me encarou com o olho de vidro, "Certo, rapaz."

"Estão vendo esta parte do mapa?" Apontei para o lado oeste, todos
observaram atentamente, "É a parte oeste de Godric's Hollow. Lily, preciso
que você lidere metade da Ordem para esse lado e preciso que vocês lancem
feitiços que impeçam quem entrar de sair. E Mary," apontei para o outro
lado, virando o mapa para que todos pudessem ver, "Você fica com a parte
leste. Quero que faça exatamente a mesma coisa com a outra metade da
Ordem. Preciso saber se vocês duas podem fazer isso."

Lily e Mary se olharam, e algo passou entre elas. Algo que somente as duas
entenderiam. Elas assumiram uma postura firme, falando em uníssono,
"Vamos fazer isso."

"E os moradores, Reg?" Sirius perguntou, "O que fazemos com todo mundo
que mora lá? Se isso vai virar um campo de batalha, não vai sobrar uma casa
se quer."

"É aí que você e James entram," Virei o mapa mais uma vez, apontando para
a parte inferior, "Estão vendo isso? É a parte subterrânea de Godric's Hollow.
Assim que sairmos daqui, vocês dois precisam ir direto para a vila e conduzir
todos os moradores para fora de lá por esse lugar. Uma movimentação tão
grande assim chamaria atenção e Voldemort descobriria imediatamente o
que estamos fazendo."

"E se quiserem lutar?"

"Então, melhor ainda," Respondi, "Mas deem a escolha, expliquem o que


está em jogo. Não vamos forçar ninguém a entrar nisso."

"Então você está literalmente me pedindo para entrar em um esgoto?!" James


fez uma careta.

"Não," Sorri ironicamente, relaxando o rosto em seguida, "Estou mandando."

"Procurem Batilda Bagshot quando chegarem," Dumbledore disse, fazendo


todos olharmos para ele que estava na outra ponta da mesa, "É uma velha
amiga. E ela vai os ajudar a conduzir as pessoas para fora."

595
"Bagshot?" Remus perguntou, "A autora de História da Magia?"

"Ela mesma," Moody respondeu à ele, "Podem confiar nela. Os moradores a


respeitam por lá e com certeza se a mulher os mandar fugirem pelo esgoto,
então eles irão sem questionar."

"Espere um pouco," Carter interviu, "Se a Ordem inteira e seus aliados


estarão na vila, Voldemort vai perceber antes mesmo de desaparatar. Serão
muitas pessoas, principalmente ao redor da vila, com Mary e Lily cercando
tudo."

"Pan." Encenei uma reverência para Pandora, que sorriu satisfeita.

"Certo," Ela começou, "Quando eu, Reg, Remus, James e Sirius fomos
resgatar Mary na mansão Lestrange, tivemos que dar um jeito de não sermos
vistos, porque ela havia exigido claramente que ele estivesse sozinho."

"Sim..." Carter acompanhou.

"Remus e James entraram com Sirius como Padfoot embaixo da capa," Ela
continuou olhando para todos, "Eu me tornei invisível."

"Invisível?!" Moody uniu as sobrancelhas, "Isso é ensinado em Hogwarts,


Alvo?!"

"Creio que, com a mente tão criativa de Pandora, ela nunca se limitou apenas
às técnicas ensinadas pelos professores, estou certo?" Dumbledore sorriu
amigavelmente.

"Está mais do que certo," Pandora sorriu, "A questão é que posso fazer isso.
E vim praticando desde aquele tempo como fazer mais. Em uma quantidade
maior. Sei que posso fazer isso. Ao menos, com a maioria."

"Exatamente," Assenti, pondo a mão no ombro dela, "E se não conseguir


com algumas pessoas, a vila estará sem nenhum morador. Podem entrar em
qualquer casa. Fiquem longe apenas da casa em que James e Lily estavam,
porque é para lá que ele vai. E tenho um plano para isso também."

"Deus, quantos planos cabem na sua cabeça?!" Remus perguntou.

"Fez muito bem você me perguntar, Moony," Comecei, "Quantos


lobisomens você conseguiu trazer para o nosso lado durante esse tempo?"

596
"Bom, além de Lucien e Shade," Ele pensou, olhando para o mapa, "Não
foram muitos, mas o suficiente para enfrentar uma alcateia se nos
esforçarmos."

"Excelente," Disse, "Vamos precisar de todos vocês. Lutar contra Greyback


é realmente difícil para bruxos normais. Lobisomens conseguem usar magia
não-verbal e Greyback é realmente habilidoso. Sei o que ele fez com você e
me diga se eu estiver pedindo muito..."

"Reg." Remus me parou, me fazendo encará-lo, "Pelo contrário. Você não


sabe há quanto tempo eu espero para matar aquele filho da puta."

Assenti firmemente, ele deu um tapinha nas minhas costas. Me virei para
James e Sirius novamente, "James, você precisa estar com a espada. E,
Sirius, pegue o dente de basilisco."

"Você não vai usar?" Sirius franziu o cenho.

"Não," Balancei a cabeça, "Quando a cobra for morta, Voldemort não vai
simplesmente sumir. Ele vai voltar a ser mortal. Alguém precisa estar lá com
a varinha em mãos para matá-lo."

"Acho que você está esquecendo de uma coisa, garoto." Moody me encarou.
"Como pretende levar Voldemort para Godric's Hollow?"

James e Lily me lançaram um olhar nervoso, Pandora também. Apenas eles


sabiam o que eu tinha em mente.

"O que?" Sirius disse, percebendo, "O que não está contando?"

"Reg?" Mary disse agora.

"Não, Moody, não esqueci disso," Respondi, respirei fundo e comecei a


explicar. "O único jeito de atrair Voldemort para Godric's Hollow para matar
a cobra é fazendo ele acreditar que Harry vai estar lá. Ele não perderia a
oportunidade de matá-lo, nem em mil anos." James agarrou a mão de Lily
quando eu disse isso, e eu dei uma olhada para Harry que dormia como um
anjo no sofá, "Eu irei até ele e vou contar tudo. Contar que eu era o fiel do
segredo por isso ele não conseguia os localizar, contar que sei onde James e
Lily estão escondidos e implorar para que ele me aceite de volta. A sede
deles é na mansão de Bellatrix agora, então sei onde fica."

597
"O que?! Você ficou louco?!" Sirius gritou, arregalando os olhos, "Isso é
uma missão suicida!"

"Ele nunca vai acreditar em você! Vai te matar assim que souber onde James
e Lily estão! Você destruiu as horcruxes dele! " Mary me olhou desesperada,
"Regulus, você não vai fazer isso."

"Mary," Pandora disse, "Eu também não gostei nada disso. Mas se algo der
errado, Regulus pode se defender. E então pensamos em outra coisa. Temos
que confiar nele."

"Escutem, Barty me disse que depois que Peter morreu, Voldemort estava
procurando alguém para se infiltrar na Ordem e conseguir informações,"
Expliquei, "Que prova de lealdade maior do que denunciar James e Lily e
praticamente entregar a cabeça deles dois de bandeja?!"

"Essa é com certeza a pior parte desse plano." Remus começou a andar pela
sala, inquieto, acendendo um cigarro.

"O que impede exatamente ele de matar você?!" Carter perguntou, "Porra,
eu detesto guerras."

"Tenho que fazer isso. Tenho que tentar. Comigo morto ou não, ele ainda vai
para Godric's Hollow e a batalha ainda vai acontecer. E vocês ainda
destruirão as horcruxes."

"É muito corajoso, Regulus," Dumbledore elogiou. "É um ato de extrema


honra. Você carrega o dom da coragem no coração."

"Estou começando a achar que é mais um fardo do que um dom, professor."


Cocei a testa, inquieto. Mary não olhava para mim, o contrário de Sirius que
me olhava com raiva. "Agora, James, Lily, não podemos deixar Harry aqui.
Voldemort vai usar feitiços localizadores para confirmar o que eu vou contar.
Quando ele perceber que é uma armadilha, vai direto para onde Harry está."

Lily olhou assustada para James, ele me encarou, "O que quer fazer,
Regulus?"

"Sei de um lugar, longe disso tudo," Comecei, "Um lugar fora de Londres,
fora até mesmo do país. Um lugar onde é impossível se localizar, repleto de
feitiços protetores. Onde literalmente a guerra não alcança. Porque quem
mora lá odeia guerras."

598
"Está falando..." Carter me encarou.

"Sim." Confirmei rápido, "Quero que leve Harry com você."

Carter pareceu perdido por um momento, correndo os olhos entre mim, que
o encarava seriamente, e Lily e James que sussurravam entre si, parecendo
extremamente preocupados.

"Quero falar com você." Eu disse, me levantando e indo até o quarto. Carter
me seguiu. "Volto em um segundo."

Quando fechei a porta atrás de nós, Carter se virou imediatamente, "Na


minha casa?! Reg, eu não sei cuidar de uma criança! Nunca nem mesmo
cogitei ter filhos! Até onde eu sei, isso é impossível para mim."

"Escuta," Dei um passo na direção dele, "Eu meio que meti você nisso. Você
escolheu viver longe da guerra. E honestamente você não poderia ter tido
uma escolha melhor. Você não quer ir para a guerra, quer?"

"Nós somos amigos! Eu iria para a guerra por você!" Carter exclamou.

"É aí que está! Se quer fazer algo por mim, faça isso!" Respondi, "Carter,
você deve amar Oliver mais do que o próprio pai dele. Você é ótimo. Você
vai ficar bem com Harry. Vai ser o seu jeito de lutar também."

Carter me observou por um momento em silêncio, depois se sentou na borda


da cama e sussurrou, "Merlim, você deve ser mesmo encantador."

"Como assim?!" Franzi o cenho.

"Qual é, Regulus, não finja que não sabe," Carter sorriu, "Eu nem mesmo
pisava em Londres mais de uma vez por ano quando não era seu amigo. E
olhe para mim, me metendo em uma guerra. E gostando de fazer isso por
você."

"Acho que não entendi."

"Eu gosto de você, Regulus. E você meio que sabe disso, não é?"

Sim, óbvio que eu sabia disso. Mas não respondi com tanta certeza para não
soar presunçoso. "Você gosta?"

599
Carter sorriu tristemente, "O engraçado é que quando vi você com Mary a
primeira vez, eu nem estava com raiva. Eu apenas pensei 'Eles parecem tão
bonitos juntos'", a voz dele falhou por um momento. "Eu apenas pensei 'É
assim que deve ser."

"Assim como?" Sussurrei, me sentando devagar ao lado dele.

"Certo." Ele respirou fundo, sorrindo em seguida, "Quero dizer, nunca vai
ser assim para mim. Não gosto de mulheres e o mundo odeia isso em mim.
Meus pais odeiam isso em mim. Nunca vou parecer certo, sabe? Ninguém
olharia para nós dois como olham para vocês."

"Eu não dou a mínima para como olhariam para nós dois," Eu disse, "Fala
sério, eu sou um ex comensal da morte. Acho que falarem por aí que estou
com um cara é a coisa menos ruim que vão falar de mim."

Carter sorriu fracamente, "É, acho que sim."

"Todo mundo tem alguém, Wood," Eu o encarei, mas ele encarava as


próprias mãos, "Eu não sou tão bonito assim para você sentir isso por mim
para sempre. Todo mundo sempre se apaixona por pessoas como você."

"Como eu?"

"Sim," Respondi, "Acho que você é meu melhor amigo. E acho que você é
com certeza uma das minhas pessoas favoritas no mundo. E sou bem
seletivo, se você quer saber."

Carter sorriu de novo, e depois de uns minutos de silêncio, James e Lily


entraram pela porta.

"Carter?" Lily disse, nós dois nos levantamos.

"Bom, nós..." James começou, "Bom, queríamos dizer que se você estiver
disposto a fazer isso por nós, nós concordamos. Nós confiamos em você."

Carter olhou para mim e eu assenti, encorajando-o. Ele olhou para James,
firme e sério, "Podem confiar em mim. Vou proteger Harry com a minha
vida, não importa o quê."

Retirei um frasco de vidro pequeno e um alfinete do bolso, "Peguem."

600
"Para o que é?!" James perguntou.

"Como eu disse, Voldemort vai tentar localizar Harry, mas não vai achá-lo,"
Respondi, "Ele faz isso pelo sangue. Preciso que deixem uma gota de sangue
de Harry nesse frasco e então levem para a casa de vocês em Godric's
Hollow."

"Que horror, Reg!" Carter fez uma careta.

"É só uma espetadinha no dedo, ele mal vai sentir," Revirei os olhos. "É
muito importante."

Quando saímos do quarto, Dumbledore e Moody já haviam ido, Ótimo.


Quanto antes eles avisassem à todos, melhor. Lily enrolou Harry nos lençóis,
ainda dormindo, e deu um beijo no topo de sua cabeça. James estava ao seu
lado, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Lily sussurrou, a boca colada na cabeça de Harry cheia de cabelos pretos


como os de James, "Harry, você é tão amado... tão amado. Harry, fique
seguro. Seja forte."

Sirius estava praticamente se desmanchando no ombro de Remus, ele nunca


foi bom em se despedir das pessoas, mesmo que apenas por um tempo. Ele
deu um beijo em Harry, "É bom que se lembre de tudo, ouviu? Quero saber
tudo sobre a Times Square, seu pirralho."

"Harry vai conhecer os Estados Unidos antes do papai." James sorriu, entre
as lágrimas.

Lily entregou Harry à Carter, que o segurou tão delicadamente como se ele
fosse feito de diamante. Ele assentiu para James e Lily e eles assentiram de
volta. Eu pus a mão no ombro dele, "Se esconda o máximo que puder.
Aumente os feitiços de segurança. E não se esqueça, qualquer sinal de
perigo, aparate imediatamente."

Carter assentiu.

Demorou muito tempo para que todos se despedissem de Harry. Foram


muitos beijos e lágrimas antes de deixarem Carter levá-lo. Mas no fim
aconteceu. Carter saiu da casa e aparatou com Harry, sumindo na nossa
frente.

601
"Certo," Comecei, "Remus, você pode ir avisar os lobisomens. Explique tudo
à eles exatamente como falei."

Remus assentiu, e antes de sair, me puxou para um abraço, sussurrando com


o rosto enterrado no meu ombro, "Não morra."

James e Lily também haviam ido e me deram praticamente uma lista de


feitiços que eu poderia usar para escapar se algo desse errado. Eles pareciam
que haviam nascido para serem pais.

Pandora foi cuidar do feitiço de grande magnitude que iria precisar executar
esta noite, e apenas me olhou, "Não vou abraçar você. Só vou abraçar você
quando voltar são e salvo."

"É esse o plano?" Sorri fracamente.

"Sim, é esse o plano." Ela assentiu, dando de ombros. "Vou me fazer de louca
e simplesmente fingir que você não está indo para aquele lugar."

"Tudo bem." Assenti, sorrindo.

"Idiota."

Depois que ela aparatou, Sirius não demorou para pegar o casaco, eu estava
parado, esperando ele fazer alguma coisa, "Não vai me dizer nada?"

Ele parou, "Salvei sua vida uma vez. Não quero ter que salvar outra vez,
Reg."

"Não vai." Não quis dizer mais nada. Apenas o abracei, ele ficou parado por
um tempo, até que largou o casaco no chão e me abraçou com mais força
ainda. Não era uma despedida. Nem de Harry. Nem de mim. Ia dar certo.

"E você?" Me virei para Mary, que estava sentada no sofá. Estávamos apenas
nós dois agora. "Quer dizer alguma coisa?"

"Odeio você."

"Certo." Assenti. "Acho que é justo."

602
"Bendito o dia que eu me apaixonei por você, Regulus Black." Ela suspirou,
se levantando. "Bendito o dia."

"Vai, você gosta de ser apaixonada por mim," Sorri travessamente. "Deve
ser divertido."

"Ah, claro," Ela revirou os olhos, de braços cruzados. "Muito divertido com
você tentando se matar de cinco em cinco minutos."

"Olhe, preciso fazer isso. Tem que ser eu, você entende?"

Mary suspirou pesadamente, "Tenho medo todos os dias de perder você.


Quando você é obrigado a recorrer a coisas assim..."

"Vou ficar bem." Interrompi, pondo as duas mãos no rosto dela, "Vou pensar
em você e então vou ficar bem automaticamente."

"Não faça nenhuma besteira. Não... sei lá, dê uma de herói e tente fazer tudo
sozinho. Prometa para mim."

"Eu não faço isso!" Sorri para ela. "Tudo bem. Prometo. Prometo que vou
voltar para você." Ela se aconchegou no meu peito, e eu acariciei os cachos
dela, sussurrando, "Sempre vou voltar por você."

Mary chorou. E eu chorei por vê-la chorar por minha causa. E me perguntei
se ela choraria assim se eu morresse. Provavelmente não. Provavelmente
seria muito pior.

Queria ter mais tempo para abraçá-la. Mas o tempo era valioso demais agora.
Então apenas a beijei e disse que a amava mais vezes naquele segundo do
que já tinha dito desde que a conheci. Nunca seria suficiente a quantidade de
vezes.

Ela foi a última pessoa que eu vi. A garota que eu amava foi a última pessoa
que eu vi antes de aparatar para a mansão dos Lestrange.

603
Capítulo 45: O’Children

FLASHBACK - MESES ANTES

Regulus não fazia ideia que crianças poderiam chorar tanto. E nem o motivo,
já que elas não tinham a menor noção nem da guerra ou de qualquer outra
coisa ruim que acontecia ao redor.

Na noite em que Phil precisou visitar a mãe que estava doente, Regulus
aparatou até a casa de Pandora apenas com a roupa do corpo, um cobertor e
um travesseiro. Eram nove da noite, mas poderiam ser duas da manhã, ele
ainda iria mesmo assim.

"Onde está minha Luna, huh?" Ele sorriu, jogando o cobertor e o travesseiro
no sofá, "Tenho certeza que ela só precisa de mim para dormir."

"Ei, Luna, olha só quem chegou!" Pandora sorriu, com Luna no colo,
imitando uma voz de criança. Ela estava chorando sem parar desde que Phil
atravessou a porta. Luna se inclinou para frente, se pendurando no pescoço
de Regulus quando ele se aproximou. Ele a pegou cuidadosamente nos
braços, brincando com os bracinhos gordinhos dela.

"Ela demora para dormir quando Phil não está em casa," Pandora disse,
arrumando os fios loiros na cabeça da filha, "Ela tem uma sensibilidade
enorme de perceber as coisas. E tem uma conexão com o pai que nem mesmo
eu entendo."

Pandora estava vestida com uma calça de pijama, uma blusa curta vermelha
que mostrava toda a barriga e o cabelo loiro preso com a varinha, os fios
bagunçados caindo no seu rosto. Ela tinha círculos escuros em volta dos
olhos e Regulus podia jurar que havia uma ruga nascendo no canto de seus
olhos, mesmo ela ainda estando nos seus vinte anos.

"Você está bem?" Regulus franziu o cenho, balançando Luna nos braços.

"Oh. Sim, sim," Pandora respondeu, sem encará-lo, trabalhando com a


varinha para arrumar a sala que tinha brinquedos espalhados por todo lugar,
"Só estou um pouco cansada, mas... mas tudo bem, está tudo bem."

"Fale tudo bem mais uma vez e eu quase acredito em você," Ele sorriu, mas
sem entusiasmo, "Algum avanço com as horc-"

604
"Não, Reg, nenhum." Pandora passou por ele até a cozinha como um foguete,
ainda sem encará-lo. Ele a observou cautelosamente.

"Fiz alguma coisa errada?"

"O que?" Pandora piscou, "Não, claro que não, do que está falando?"

"Bom, estou aqui há uns quinze minutos com a sua filha no colo e você ainda
não me olhou nos olhos," Ele respondeu, encostando-se no balcão da
cozinha, observando Pandora andar de um lado para o outro na cozinha,
balançando a varinha por todos os lugares, "Quer ajuda aí?"

"Não, fique com Luna agora," Ela respondeu, enquanto colocava o jantar
para esquentar em uma das panelas, "Preciso fazer o jantar."

Regulus assentiu devagar, levando Luna para o quarto. Ele cuidaria de


Pandora depois, agora ele tinha trabalho a fazer. Ele passou alguns minutos
consideráveis balançando Luna nos braços e contando histórias para dormir.
Ele até mesmo cantou. Merlim, que Sirius nunca o ouvisse ou ele seria
atormentado pelo resto da vida.

Eles conversaram e conversaram, Regulus contando histórias e Luna fazendo


barulhinhos enquanto sorria. Até que ela finalmente adormeceu em seus
braços, no meio de uma das histórias sobre uma vez em que ele e Pandora
fugiram dos dormitórios de madrugada. Ele a pôs cuidadosamente no berço
azul, enrolando os lençóis brancos ao redor dela, como um casulo. E depois
de dar um beijo em sua cabeça e apagar a luz, deixando apenas o abajur
aceso, ele voltou para a cozinha.

"Prontinho," Ele sorriu triunfante, voltando e dando batidinhas pela parede


do corredor até a cozinha, "Está dormindo como um anjo agora. Eu disse que
ela precisava apenas de mim."

"Há," Pandora estava sentada na mesa, mexendo com o garfo no prato de


comida. Fazendo tudo, menos realmente comendo.

Regulus bufou, puxando uma das cadeiras da mesa e virando-a de costas, se


sentando e apoiando os braços na costa da cadeira, com o rosto em cima
deles. "Vamos. O que está acontecendo?"

Pandora suspirou, largando o garfo e se encostando na cadeira, "Você é tão


bom nisso." Ela não o olhou.

605
"Bom no quê?"

"Tudo isso," Ela gesticulou ao redor, "Com as horcruxes, a guerra, a Ordem,


namorada, amigos... Luna."

"Acho que você deve estar me confundindo," Regulus sorriu fracamente,


"Sou a pessoa mais anti-social do mundo."

"Não com quem realmente importa." Ela encarou as próprias mãos. Regulus
estava confuso.

"Bom, mas não sou especial, nem nada assim," Regulus deu de ombros,
"Estamos todos tentando dar o nosso melhor."

"Acredite, eu sei," Pandora usou um tom estranho, "O problema é quando


você dá o seu melhor, mas não sente que é suficiente. Sente que qualquer um
faria isso melhor do que você."

Regulus franziu as sobrancelhas, "Do que está falando?"

Ela finalmente o encarou, e ele pôde perceber que seus olhos estavam
molhados agora. Isso partiu seu coração, vê-la assim.

"Às vezes, Reg," Ela respirou fundo, "Sinto que não sou uma boa mãe. Sinto
que não sou tão boa quanto Phil, ou até mesmo quanto você. Às vezes sinto
que nunca vamos conseguir vencer esta guerra, que isso nunca vai acabar,
que estamos cada vez mais longe da última horcrux. Preciso acabar com esse
inferno para que a minha filha viva em um mundo liderado por pessoas boas,
não por comensais da morte. E nem mesmo isso consigo fazer."

"Ei, não faça assim," Regulus pôs a mão em cima da dela e isso a fez chorar
mais, "Olha, sei que não entendo muito de mães boas e tudo mais. Mas você
com certeza é uma. Só pelo fato de estar tentando. Não fique se torturando
pensando assim, você não merece."

"Você acha que vai acabar?" Pandora disse, a voz falhando um pouco, seus
dedos se mexendo para apertar a mão de Regulus com mais força, "Acha que
vamos vencer?"

Regulus não respondeu imediatamente. Ele correu os olhos pela sala, vendo
um toca-discos na mesinha de centro. Uma música baixa soava dela, ele pôde
ouvir claramente. Ainda em silêncio, ele se levantou da cadeira e foi até o

606
toca-discos para aumentar o volume. A música era linda e a letra era mais
ainda. Mas ainda se não fosse, não importava.

Pandora o observou caminhar de volta até ela e estender a mão, convidando-


a para dançar. Ele tinha um sorriso carinhoso no rosto. O tipo de sorriso que
poucas pessoas puderam ter a chance de ver no rosto de Regulus Black.

Ele a arrastou para o meio da sala, segurando suas mãos e guiando seu corpo
devagar, balançando-a divertidamente no início.

O children

Lift up your voice, lift up your voice

Children

Rejoice, rejoice

Regulus acelerou os passos, passando o braço de Pandora por cima da sua


própria cabeça três vezes seguidas. E então ela finalmente estava sorrindo.
Ele a girou também, e sorriu por vê-la sorrir. Regulus sabia dançar, é claro
que sabia. Ele e Sirius haviam sido ensinados desde muito cedo. Mas não era
hora de fazer nada organizado e planejado. Ela pôs uma mão no seu ombro
e ele na sua cintura e eles começaram a dançar desengonçadamente pela
sala.

Hey! Little train, we are all jumping on

The train that goes to the Kingdom

We're happy, Ma, we're having fun

And the train ain't even left the station

Os passos errados, as risadas atrapalhando o ritmo da música. Eles se


sentiram com quinze anos outra vez. Quando ainda eram adolescentes tão
diferentes um do outro, mas ao mesmo tempo tão conectados. Eles se
balançaram e rodaram pelo cômodo, cambaleando às vezes em cima dos
próprios pés e se inclinando um sob o outro quando sorriam.

Hey, little train! Wait for me!

607
I once was blind but now I see!

Have you left a seat for me?

Is that such a strech of imagination

A música foi ficando mais lenta e os passos dos dois também. A cabeça de
Pandora apoiada no ombro de Regulus e o queixo dele pousado sob o topo
da cabeça dela. A guerra não pararia porque eles simplesmente haviam
decidido que era hora de respirar. Mas a música só durava alguns minutos.
E eles podiam se dar esse luxo.

We're happy, a música dizia, we're having fun. Nós estávamos felizes, nós
estávamos nos divertindo. And the train ain't even left the station. E o trem
nem ao menos havia saído da estação. Nós nem ao menos precisávamos de
algo para comemorar ou de alguma batalha vencida. Não precisávamos ter
achado alguma horcrux ou ela ter encontrado uma poção mágica que a
transformasse na mãe do ano. Não precisávamos de nada disso para termos
esses minutos tão valiosos.

"Somos jovens demais para isso, não somos?" Pandora sussurrou enquanto
ainda se balançavam, com a cabeça ainda no ombro de Regulus.

E ele apertou mais ainda os braços ao redor dela.

DIAS ATUAIS

Os anos que eu havia passado com os Blacks fingindo ser alguém que eu não
era finalmente valeriam para alguma coisa, eu acho. Eu teria que me esforçar
ao máximo para parecer verdade. Eu teria que fingir ódio, arrependimento,
culpa e implorar com os joelhos grudados no chão pelo perdão do monstro
que quer destruir a minha vida e a vida das pessoas que eu amo.

A última vez que havia vindo até aqui foi para salvar a vida de Mary, com
Remus e Sirius de um lado e Pandora e James do outro. Mas agora eu estava
sozinho. Sozinho de frente para os portões que eu havia jurado nunca mais
ultrapassar.

Mas a situações desesperadas, pedem medidas desesperadas.

608
Dolohov e Avery estavam postados atrás dos portões, guardando a mansão
como dois soldadinhos de chumbo. Merlim, e pensar que já me prestei a esse
papel.

Respirei fundo e segui caminho até as grandes grades de ferro, repassando


todo o plano a minha cabeça. Me perguntando se havia explicado tudo
corretamente. Se Carter e Harry conseguiram se esconder e ficarem seguros.
Se a Ordem havia entendido e todos já estavam a caminho de Godric's
Hollow. Se Mary e Lily haviam conseguido enfeitiçar os dois lados da vila
para quem entrar, não conseguir sair. Elas haviam se lembrado do bosque ao
redor da vila? Madrugada e árvores são uma combinação ótima para
esconderijos. Mas Pandora lembraria disso, é claro. Nada, nada poderia dar
errado.

"Black?" Dolohov apertou os olhos através das grades, tentando me


enxergar, "Mas quem diria, é você mesmo na minha frente?!"

"O que você acha?" Dei de ombros, soando despreocupado. Avery, que
estava ao lado dele, me observava de cima à baixo. Não soltou nenhuma
piada, nem tirou nenhum sarro sobre a situação. Era quase como se
estivesse... com medo.

"Não veio até aqui para dar uma de arrogante, veio?" Dolohov arqueou uma
sobrancelha, me encarando por cima do nariz. "Seria muita burrice da sua
parte vir encontrar o Lorde das Trevas pessoalmente."

Avery se inclinou para ele e sussurrou em seu ouvido, eu pude ler em seus
lábios, "Ele é perigoso. É assunto apenas para o Lorde das Trevas."

"Não foi você quem quis dar uma de espertinho para cima de mim na última
vez em que estive aqui, Ave?!" Sorri ironicamente, "Qual é, não é possível
que eu te faça molhar as calças de tanto medo!"

Ele não respondeu. Apenas continuava me encarando, sem dizer uma


palavra. Dolohov foi o único a se pronunciar, "Vou chamar o senhor
Lestrange."

Avery deu um olhar para ele, parecendo implorar para que não o deixasse
sozinho, mas ele caminhou mansão à dentro. Deixando apenas a mim e
Avery sozinhos, separados pelas barras enferrujadas.

609
"Então, amigão," Comecei a andar na frente do portão com as mãos nos
bolsos, em um tom irônico, "Por que é que você está com tanto medo de
mim, huh?"

"Você está tentando matar o Lorde das Trevas." Avery disse sombriamente,
a voz saindo entredentes, enquanto ele me observava andar do lado de fora
das grades, "E v-você matou Barty. Você matou, não matou?"

"Bom, matar é uma palavra forte, eu acho," Dei de ombros, acariciando o


queixo, "Digamos que eu o deixei apodrecer no meio do Mar Oeste sem água
e nem comida. Então, é, acho que o matei. Saudável é que ele não deve estar."

"Ele era seu amigo. Nós dois crescemos com ele." Ele engoliu em seco, a
voz trêmula de ódio, "Como... Como você... Como você teve coragem?"

"Sentimentalismo não combina com você, Ave," Imitei uma voz triste,
depois sorri para ele, "Ele me deu um trabalhinho, para ser sincero. Não foi
tão fácil quanto seria matar você, por exemplo."

Ele deu um passo para trás, arregalando levemente os olhos. Quem diria que
vir até aqui me divertiria assim?! Esse cara era uma piada de Comensal da
Morte.

Dolohov surgiu novamente, caminhando de volta para o portão. Mas agora


Rodolphus caminhava à sua frente à passos largos, varinha empunhada na
mão direita. Avery se afastou para o lado para ele passar e Rodolphus se
inclinou entre as grades, "É você? Regulus Black?"

Hesitei antes de responder. Vamos, Regulus, está começando.

Levantei a barra do casaco bruscamente, mostrando completamente a marca


negra quase apagada no meu pulso. Mesmo depois de anos longe de tudo
isso, ainda me embrulhava o estômago ver que ela ainda estava lá, pregada
na minha pele, "O que você acha?"

Rodolphus soltou uma risada fina, os olhos brilhando em direção ao meu


pulso, "Está se apresentando como um Comensal da Morte, Black? Por
quê?!"

"Estou aqui para o Lorde das Trevas."

Dolohov caiu na risada, "Deve estar de brincadeira!"

610
"Cale a boca," Rodolphus levantou uma mão, o que calou Dolohov
imediatamente. Ele estava sério agora, e me observou cautelosamente de
cima à baixo, "Por que você viria até aqui?"

"Acho que isso não é assunto seu, Lestrange," Respondi, "Vai me deixar
passar ou vai recusar ao Lorde das Trevas a chance de conseguir o que quer?"

Rodolphus parecia desconfiado, e hesitou antes de começar a agitar a


varinha, murmurando o feitiço para abrir os portões. Enquanto balançava a
varinha, ele não tirou os olhos semicerrados de mim nem por um minuto.

Uma vez que o portão estava aberto, tudo aconteceu em questão de segundos.
Rodolphus me agarrou forte pelo pescoço e gritou, "Avery, a varinha dele!"

"A-a varinha?!" Ele parecia aterrorizado, "Mas ele..."

"Seu idiota!" Dolohov esbravejou, segurando meus dois braços com uma
mão e passando a outra pelo meu corpo, tentando encontrar a varinha, "Você
se manteve bem, não é, Reg? Estou começando a entender porquê Barty
ficava de pau duro só por tocar no seu nome."

"Tira a sua mão de mim, seu babaca nojento!" Tentei me mexer, mas a mão
de Rodolphus segurou forte o meu pescoço e se eu me movimentasse mais
um pouco, ele poderia facilmente torcê-lo.

"A-há!" Dolohov riu, sentindo a varinha enfiada na minha bota, "Nada


original, Reg. Nada original." Ele a pôs no próprio bolso e agarrou meu braço
direito para trás, "Vamos, Avery, guarde isto e agarre o outro braço!"

Lancei um olhar para Avery e pude ver ele estremecendo. Ele desviou o olhar
e agarrou meu braço esquerdo, tentando imitar Dolohov. Pude sentir a mão
dele tremendo sob a minha pele.

"O Lorde das Trevas vai adorar ter uma conversinha com você, pequeno
Black." Rodolphus riu, bem perto do meu rosto e empurrou meu pescoço
para baixo bruscamente, começando a caminhar até a porta da mansão
comigo preso em sua mão.

Idiotas, pensei enquanto eles me seguravam, estão exatamente onde eu


quero.

611
Eles me levaram em silêncio mansão adentro, até o salão principal da casa.
Ela estava igual a última vez. Fria, escura e assustadora. Quadros grandes de
Bellatrix e Rodolphus espalhados pelas paredes e lustres exageradamente
brilhosos e bizarros no teto de cada cômodo que passávamos.

Quando Dolohov e Avery me soltaram, Rodolphus me empurrou pelo


pescoço para entrar no salão, o que me fez cambalear e cair no chão. Dolohov
sorriu e cruzou os braços, "Levanta, Black, é falta de educação se sentar antes
dos anfitriões oferecerem."

"Vai se foder." Murmurei, me levantando do chão e tirando a poeira da calça.

"Quem está..." A voz esganiçada de Bellatrix pode ser ouvida claramente,


quando ela apareceu, seus olhos se arregalaram, "Oh! O que temos aqui...?"

Haviam outros rostos conhecidos no salão. Evan Rosier, que andava comigo
e Barty nos tempos de Hogwarts, estava postado em um canto e pareceu
confuso ao me ver. Greyback também estava lá, os mesmos dentes pontudos
e unhas amareladas, aumentando a aparência bestial que ele fazia questão de
reafirmar. Karkaroff, Nott, Mulciber... Todos eles me encararam quando eu
corri os olhos por todos, até que meu olhar caiu sobre ele.

Lucius.

Ele costumava ser muito bonito no início do namoro com Cissy. Ele
frequentava a mansão dos Blacks diariamente e, em apenas uma semana, já
havia conquistado meus pais e meus tios. Mas ele tinha uma aparência
cansada agora. Uma aparência que alguém com apenas vinte e sete anos não
deveria ter. E apesar de que seu ar de elegância e superioridade não tivessem
mudado, seus cabelos, antes tão platinados que reluziam, agora pareciam
opacos e sem vida alguma. Ele também tinha círculos escuros ao redor dos
olhos e uma barba rala mal feita.

Ele não me olhou com medo, como Avery. Nem com desprezo, como
Dolohov. Nem com surpresa, como Bellatrix. Então, o que ele estava
pensando? Ele se endireitou quando me viu, levantando a cabeça alguns
centímetros. Como se dissesse: 'Não deveria ter feito isso'. Parecia até...
pena.

"Já se cansou de ser o bonequinho de Dumbledore, priminho?" Bellatrix


sorriu maldosamente, "Ou sentiu falta dos seus velhos amigos?"

612
"Tenho um assunto para tratar com Lorde Voldem-"

"Como se atreve a dizer o nome dele?!" Bellatrix esbravejou, balançando sua


varinha na minha direção e me arrastando para frente dela, forçando meus
joelhos a caírem no chão na sua frente, "Como se atreve a chamar o Lorde
das Trevas pelo nome?! Você não merece a honra! Você merece morrer!"

"Me deixe brincar com ele, Bella," Greyback murmurou, passando a língua
pelos lábios, "Você sabe como gosto de meninos como ele."

"Não toque nele!" Bellatrix me fulminou com os olhos, "Ele é do Lorde das
Trevas!"

"Ah, a genética dos Blacks... Os cabelos impecáveis, os corpos esguios, os


olhos azuis tempestade..." Greyback começou a andar em círculos ao meu
redor, me observando de cima à baixo. "Tão jovem, tão bonito..." Ele passou
o indicador na minha bochecha e eu estremeci, virando bruscamente o rosto
para o lado, "Essa pele macia, sem nenhuma marca... Eu poderia me divertir
muito com ele, se você deixasse, Bella."

"O garoto não é um objeto para as suas perversões nojentas, Fenrir," Lucius
interferiu, ainda parado onde estava, "Se algum de nós matá-lo ao invés do
Lorde das Trevas, então nós é quem seremos mortos."

"É realmente uma pena," Greyback sibilou, "Me diga, como está o meu
filhote? Remus Lupin. Ainda com a ideia tola de derrotar quem o criou?"

Cerrei os punhos com força, quase machucando a pele da minha mão. Não
ouse falar de Remus Lupin na minha frente, seu filho da puta.

"Tome, fique com isto," Avery tirou a minha varinha do bolso e entregou
para Lucius, "N-não quero nada que seja dele comigo."

"Ainda está com medo de mim, Ave?!" Sorri fracamente, vendo-o se afastar.
Bellatrix desceu a mão no meu rosto, me dando um tapa forte que fez minhas
entranhas queimarem em fúria. Respire, Regulus, disse a mim mesmo, deixe
eles acharem que não é sua intenção revidar.

"Cale a boca, seu traidor sujo!" Ela sibilou, as pupilas dilatadas me


encarando.

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"Você não faz ideia do porquê estou aqui, não é, Bella?" Sorri ironicamente,
limpando a gota de sangue que senti escorrer da minha boca, ainda ajoelhado
na frente dela. Devia ser algum feitiço de imobilização, ou coisa do tipo.
"Acho que você vai gostar quando descobrir."

"Me deixe adivinhar..." Ela começou a andar ao meu redor, "A sangue-ruim
cansou de dar para você? Há! Não, deve ter sido o seu irmãozinho. Aquele
traidor odeia o próprio sangue e você deve ter notado que ele logo perceberia
que também não suporta ficar perto de você."

Engoli em seco, puxando todo o ar que tinha dentro de mim. Senti meus
olhos queimarem. Quem ela pensava que era?! Como ela ousava usar o nome
de Sirius para me intimidar?! O nome do meu irmão!

Mas eu conseguiria fingir. Merlim, eu tinha que conseguir fingir.

"Sirius sempre nos odiou," Respondi, dando de ombros, "As chances dele
me perdoar eram as mesmas dele perdoar você."

"Oh! Algo de errado no paraíso, então?" Ela ironizou, "O que?! Os dois estão
brigando para ver quem é mais irritante? Porque seria extremamente
acirrado!"

"Mais irritante, eu não sei," Murmurei, "Porém, mais idiota com certeza eu
ganharia. Por achar que... Por achar que ele poderia..."

Bellatrix se agachou à minha frente, me olhando por entre os cachos negros,


"Está me achando com cara de idiota? Quer mesmo que eu acredite que você
e ele não são aliados?!"

Me inclinei na frente dela, falando perto de seu rosto, "Quero falar com Lord
Voldemort."

"E por que você iria querer isso?" Ela estreitou os olhos, "Conheço você
desde que era um bebêzinho irritante. Você pode ser tudo, mas não é nenhum
pouco burro."

"Quero falar com Lord Voldemort."

Ela me deu outro tapa no rosto, "Me diga agora!"

614
Eu a encarei por baixo dos cílios, deixando escapar um sorriso, "Quero falar
com Lord Voldemort."

Ela estava prestes a virar a mão mais uma vez, mas Rodolphus agarrou o seu
braço no ar, "Não desperdice sua energia, querida. Ele é do Lorde das Trevas,
se esqueceu?"

Ela abaixou o braço lentamente, me fulminando com os olhos. Inclinei o


rosto alguns centímetros, "Melhor ouvir seu namorado, Bella."

"Vai chamar o Lorde das Trevas ou eu chamo?" Rodolphus sussurrou do


lado esquerdo de Bellatrix, "Não vamos brigar como da última vez e acabar
dando tempo para esse idiota fugir."

Ela sorriu maldosamente, ainda olhando para mim, "Tenho uma ideia muito
melhor, querido."

"Do que est-"

"Greyback! Lucius! Segurem ele!" Ela gritou para os dois, e eles vieram até
mim, me prendendo pelos braços.

"Que porra é essa?!" Tentei me soltar, enquanto ela caminhava até mim e se
abaixava na minha frente.

"Já que está com tanta saudade dos velhos tempos, vou usar você para
chamá-lo, priminho," Ela sorriu, "Vou adorar ver a sua marca queimando na
pele outra vez!"

Não sou uma pessoa medrosa, mas aquilo me assustou em um nível absurdo.
A marca estava fraca no meu pulso, faziam dois anos que eu começara a
fingir que ela não existia mais. Mas a questão é que ela existia. Ela nunca
deixaria de estar lá. Me lembrando sempre das péssimas escolhas que eu fiz
quando era mais jovem.

Então, se posso dar um conselho à alguém, aqui vai: Não façam nada
permanente até pelo menos terem vinte anos. Se você que tem dezesseis anos
está me ouvindo de algum lugar e ficando puto comigo porque acha que é
maduro para sua idade e que pode decidir algo que vai durar para o resto da
sua vida, é por isso que você precisa seguir o conselho. Eu não gostaria que
ninguém cometesse os mesmos erros que eu quando tinha dezesseis.

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"Segure ele direito, Lucius!" Rodolphus vociferou, "Vocês dois aí," Ele
apontou para Evan e Mulciber, "Venham ajudar porque Lucius não está
fazendo o trabalho dele direito!"

E realmente não estava. Ele estava me prendendo pelo ombro, como haviam
mandado, mas se realmente fosse minha intenção escapar, não seria difícil.
Para alguém que estava ajudando a me entregar à Voldemort, Lucius estava
fazendo um péssimo trabalho.

Evan e Mulciber ajudaram a me manter parado. E, porra, Merlim sabe o


quanto eu quis gritar e lutar para que não fizessem aquilo. Tudo de dentro de
mim gritava 'Não deixe eles fazerem isso! Você sabe como é a sensação!
Você sabe como se sente depois!'.

Mas eu não podia parar. Não podia.

"Está sendo tão obediente que estou quase acreditando que veio em missão
de paz, pequeno Black." Rodolphus deu um sorriso maldoso e Bella rasgou
a manga comprida da minha camisa, os olhos brilhando quando viu a marca
no meu pulso. Ela me olhou por baixo dos cílios e eu apenas a encarei de
volta. Bellatrix encostou a ponta da varinha na minha pele e fez questão de
apertar com força a base contra o meu braço, como se apenas a dor da marca
reascendendo não fosse o suficiente para mim.

No início, eu tentei aguentar. A dor era familiar. Ardia, mas não tanto. Era
como um formigamento. Mas quando a marca tomou a sua cor original e
começou a se destacar na minha pele, parecia que eu havia enfiado o meu
braço inteiro em um forno em brasa.

Não adiantava gritar. Bella riu quando gritei. A sensação era como se alguém
estivesse marcando com ferro quente a minha pele. Como se eu fosse algum
tipo de animal marcado para sempre e incapaz de fugir dali em diante. Eu
me contorcia, com eles ainda me segurando, e gritei tão alto que minha voz
ecoou em toda a mansão. E eles riram de mim como se não fosse nada. Mas
que se dane. Eu tinha que seguir o plano e fingir que estava de acordo. Não
podia revidar.

Mas apenas por um segundo. Um segundo muito, muito egoísta. Eu pensei


em desistir de tudo. Pegar Mary e levá-la para longe. Mandar Dumbledore e
a guerra à merda. E viver minha vida longe de tudo que me lembrasse tudo
o que eu passei.

616
Não somos jovens demais para isso?

Quando eu tinha certeza de que o meu braço iria começar derreter, Bella
parou.

Todos ficaram um minuto em silêncio e, de repente, a atmosfera mudou. O


salão principal pareceu escurecer e o fogo da lareira foi apagado com o vento
frio que passou pelo cômodo. Uma sombra grande e preta atravessou a janela
grande do salão e pousou no meio do lugar, fazendo meus pelos da nuca se
arrepiarem.

Todos que estavam me segurando me largaram imediatamente e se curvaram


à figura à nossa frente. Com todos de joelhos e com as cabeças abaixadas,
Voldemort se materializou e se fez presentem em questão de segundos,
vestido em suas vestes compridas e negras. Nagini ao seu lado. A energia de
a magia negra que emanava dele era horrível. Se alguém com o olfato
aguçado como Remus estivesse aqui, ele teria vomitado. Sua visão correu
pelo salão inteiro. Até que pousou em mim.

Tive que controlar a vontade de matá-lo com minhas próprias mãos, porque
seria em vão. A última vez que o havia visto eu o enganei e roubei uma de
suas horcruxes. Eu poderia enganá-lo de novo, se me esforçasse. Então, fiz
a única coisa que eu poderia fazer naquele momento.

Pregando os joelhos no chão, eu me curvei à ele.

617
Capítulo 46: A Batalha de Godric’s Hollow

Existe um mito grego que conta como Hades, o deus do submundo, raptou
Perséfone para viver com ele no submundo. Então a mãe dela, a deusa da
natureza, confrontou Hades e Zeus exigindo que tivesse a sua filha de volta
e que ela não pagasse pela vaidade do deus do inferno.

Hades, por sua vez, concedeu à Perséfone a chance de voltar para a sua mãe,
contando que passasse a metade do ano com ele no Mundo Inferior. Ele a
coagiu a comer quatro romãs do lugar, o que, em algum termo mitológico,
significava que ela seria obrigada a voltar, mesmo se não quisesse.

Hades era louco por fazê-la passar por tudo aquilo. Mas penso que Perséfone
era ainda mais. Porque ela ainda o amou, apesar de tudo que foi forçada a
abrir mão.

Me pergunto se quando comecei a ser procurado por Comensais da Morte e


coloquei a vida de todos que estavam perto de mim em risco, não estava
agindo igual Hades. E se a romã fosse o meu próprio amor? E ele fosse o que
condenasse todos que o tem ao inferno? Meu medo de ficar sozinho, minha
vaidade, minha romã. Não condenam as pessoas que eu amo?

Hades foi amado de volta, afinal. Eu fui amado. Mas a que preço?

Se Hades morresse, Perséfone seria feliz novamente? Ela poderia voltar para
a sua mãe e, por mais que perdesse o seu amado, nunca mais teria que passar
pelo Mundo Inferior.

Tudo seria melhor no final?

Não estou dizendo isso porque quero morrer. Nunca mais senti vontade
desde que comecei a viver com Sirius. Pelo contrário, quero
desesperadamente viver. Tanto que me deixa sem fôlego, tanto que me faz
querer gritar. Mas preciso contar uma coisa.

Posso não sair vivo desse lugar.

Eu nunca diria isso à Mary, Pandora, Remus. Ou Sirius. Eles querem que eu
viva. E eu quero viver. Nunca quis tanto algo na vida como quero isso agora.
Mas executei o plano na minha cabeça tendo como objetivo levar Voldemort
até Godric's Hollow, porque seria burrice contar com a misericórdia dele para
que eu sobreviva.

618
Preciso saber se sou Hades. Se as pessoas que amo são Perséfone. E se meu
amor por cada uma delas é a romã. Preciso saber disso porque se eu acabar
morrendo hoje, preciso saber que as pessoas que me amam vão superar e
encontrar outras coisas pelo o que lutar.

A vida de Perséfone não acaba se Hades se for, ela tem a mãe e a natureza.
A guerra não acaba se eu for também, eles precisam continuar lutando.

E ali, enquanto me ajoelhava aos pés de Voldemort, comecei a entender o


motivo de Perséfone passar pelo próprio inferno depois de se apaixonar por
Hades.

Não era por isso tudo o que fazemos? Não é esse o grande motivo?

Amor.

Voldemort pousou os olhos em mim antes de olhar para qualquer um que


estava na sala e soltou uma risada, aquela sua risada aguda, fria e sem alegria.

"Quão corajoso você é para se atrever a aparecer na minha frente sozinho?"


Murmurou ele, fixando seus olhos em mim, "E quão tolo você é para
acreditar que pode lutar contra mim e viver?"

Fiquei parado, levantando apenas os olhos para ele e deixando a minha


cabeça ainda inclinada para baixo. Voldemort começou a andar de um lado
para o outro diante de todos os Comensais, seus olhos parados em mim todo
o tempo.

"Milorde..." Bellatrix sussurrou, aos pés dele, "Pegamos... Pegamos o


garoto."

"Pegaram o garoto? Vocês não chegaram nem perto!" Ele vociferou, "Ele
estaria amarrado se isso fosse uma captura, não ajoelhado como vocês, bando
de inúteis."

Bella gemeu tristemente, "Sim, Milorde."

Ele parou na minha frente, e esboçou um sorriso cruel, deformando seu rosto
pálido, "Regulus Black teve a gentileza de se reunir à nós novamente nesta
noite de Halloween. Poderíamos até chamá-lo de meu convidado de honra."

619
Fez-se silêncio. Eu me pus de pé e o encarei frente à frente, "Boa noite,
Milorde."

Ele sorriu mais uma vez e caminhou descansadamente até mim, parando na
minha frente, fazendo com que todos os olhos se voltassem para nós dois. A
cobra continuava rastejando em círculos.

"Vocês devem saber, naturalmente, que muitos dizem que este garoto é o
motivo para o Lorde das Trevas estar enfraquecendo!" Voldemort disse perto
do meu rosto, os olhos fixos em mim, "Vocês todos sabem que Regulus
Black era um dos meus servos que mais exagerava de minha confiança, e
que fui friamente traído." Ele começou a andar ao meu redor, "Ele correu
para os braços de Dumbledore e ficou sob proteção de feitiços que me
impediram de chegar até ele. Eu não pude nem mesmo chegar perto."

Voldemort continuou, "Eu calculei mal, meus amigos, admito. Confiei na


pessoa mais errada possível. Eu! Que cheguei mais longe do que qualquer
outro no caminho que leva à imortalidade. Vocês conhecem o meu objetivo,
vencer a morte. E fui muito bem sucedido, porque Regulus Black tem tentado
me destruir desde que se tornou um traidor. Mas eu não morri. Posso ter
enfraquecido, mas não morri. E agora, estamos todos aqui, nesta linda noite
de outubro, não é, Regulus?"

"De fato," Engoli em seco, "Fui tolo. Minha vaidade e inveja foram maiores
do que meu senso, Milorde. Demorei para perceber que eu nunca poderia
derrotá-lo porque não possuía nem a metade do seu poder."

Voldemort riu de mansinho, virando de costas para mim. Em seguida, seu


braço se virou lentamente, erguendo a varinha na minha direção, "Crucio!"

Meu corpo despencou direto para o chão quando a luz vermelha me atingiu.
Meus próprios ossos pareciam estar pegando fogo; minha cabeça, sem
dúvida alguma, estava rachando ao meio. Meus olhos começaram a girar
descontrolados. Eu quis que tudo terminasse, que eu perdesse os sentidos de
uma vez. Ou que morresse.

E então passou. Sem força e tremendo, eu fiquei no chão. Conseguindo olhar


apenas os olhos brilhantes vermelhos de Voldemort, que se inclinou em cima
de mim. O eco na mansão ressoava com as risadas dos Comensais da Morte,
agora já levantados.

620
"Estão vendo a tolice que foi alguém supor que este garoto algum dia pudesse
me destruir?" Voldemort ponderou, "Mas não quero que reste nenhum
engano na mente de ninguém. Você tem me escapulido pelas mãos, Regulus
Black. E vou provar que sou mais forte matando-o, aqui e agora, diante de
todos os meus servos, onde não há Dumbledore para ajudá-lo nem
irmãozinho para salvar você."

"Milorde, e-eu..."

"Crucio!"

Foi ainda pior da segunda vez. Eu podia literalmente sentir os nervos da


minha cabeça se partindo, de novo e de novo. A dor foi tão grande que eu
percebi, depois de um tempo, que estava batendo a cabeça no piso repetidas
vezes, tentando me livrar da sensação. Como eu iria falar alguma coisa se
esse psicopata não me deixava completar nenhuma frase?

"Paciência, Nagini..." Voldemort acariciou a cobra, que avançou alguns


centímetros na minha direção, "Ele precisa sofrer antes de ser seu."

"Se me permite, Milorde," Greyback se aproximou, "Antes do senhor chegar,


o garoto deu a entender que estava tendo desavenças com o outro lado."

"O senhor acha que é verdade, Milorde?" Bellatrix ponderou, "Acha que ele
diz a verdade?"

Voldemort me encarou, enquanto meu corpo voltava ao normal,


"Dumbledore se cansou do Black mais novo? Ou cometeu a tolice de mandar
mais um espião para mim?"

"Tenho informações..." Minha voz estava trêmula de dor, "Informações que


comprovam que não estou do lado deles."

"Mentiras!" Bellatrix gritou como uma louca, os cachos rebeldes caindo no


rosto.

"Querida." Rodolphus pôs a mão em seu ombro, "O Lorde das Trevas sabe
o que fazer."

"E o que faz você achar que vou deixar que sobreviva depois que me disser
que informações são essas?" Voldemort andou ao meu redor, o tempo inteiro

621
com a varinha erguida. "Depois de ter traído seu senhor! Depois de ter
desonrado o nome de sua família! Traído a mim!"

"Sei que está tentando achar os Potter," Murmurei, levantando o olhar,


apoiado no chão pelos cotovelos, "Que está tentando achar Harry Potter, e
não está conseguindo."

"E como diabos você pode saber disso?" Rosier estremeceu de repente,
encostado em uma coluna do salão.

"O senhor precisa melhorar sua garantia de sigilo, Milorde." Deixei escapar
um sorriso. E é claro que ele não deixaria barato. Quando o terceiro Cruciatus
veio, eu tive um medo real de perder a sanidade. Eu precisava me manter são
para seguir com o plano corretamente. Merlim, Regulus, não perca a cabeça
agora, você teve a vida inteira para isso.

Bellatrix gargalhou cruelmente, "Acha que pode desrespeitar o Lorde das


Trevas em seu próprio templo?!"

"Agora que já sentiu a dor necessária," Voldemort girou nos calcanhares, as


vestes negras sobrevoando, "Estou curioso para saber qual serão suas últimas
palavras antes de morrer, Regulus. Nos dê a honra de ouvir."

Tentei me levantar, cambaleando para trás, tendo que encostar em uma


coluna de mármore para manter equilíbrio, "O senhor não está achando os
Potter porque eles estão protegidos por um feitiço muito poderoso,"
Consegui fôlego para empurrar as palavras para fora, "O Feitiço Fidelius."

Bellatrix sorriu, "Milorde, não vai acred-"

"Calada!" Voldemort levantou uma mão, sem tirar os olhos de mim. Eu tinha
a atenção dele. "O Feitiço Fidelius precisa de algum portador para o segredo,
naturalmente. Quem é? Remus Lupin? Sirius Black?" Ele fez uma pausa,
"Alvo Dumbledore?"

Me endireitei, adquirindo o tom de voz que Walburga Black se orgulharia


em me ver usar, "Sou eu." Todos no salão ficaram em silêncio, até
Voldemort, que me observava cautelosamente, "James e Lily Potter estão
escondidos em Godric's Hollow, é uma casa pequena, uma vila pequena.
Poucos moradores, não chama muita atenção."

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"E como sei se está falando a verdade?" Voldemort ponderou, "Afinal, você
já mentiu para mim uma vez, se bem me recordo."

Retirei um frasco de vidro do bolso, com sangue contido dentro, "Este é o


sangue de Harry Potter. Foi deixado comigo caso algo acontecesse com os
Potter e a Ordem precisasse encontrá-los. Com o Feitiço Fidelius, ninguém
poderia encontrá-lo. Mas agora que está quebrado, basta alguém bom em
feitiços de rastreamento, e o senhor, Milorde, vai saber que estou falando a
verdade."

À essa altura, Carter já teria se escondido atrás de feitiços inimagináveis com


Harry. Carter nunca foi encontrado onde morava, ele era cuidadoso e
determinado a não se envolver em guerra nenhuma. Seria impossível rastreá-
lo nos Estados Unidos, o feitiço indicaria certamente o único lugar que ainda
tem vestígios de Harry. A casa em Godric's Hollow.

Voldemort caminhou até mim lentamente, pegando o frasco das minhas


mãos e observando o sangue dentro do vidro, "Então, este é o sangue de uma
mera criança que dizem que crescerá para me derrotar... Deve ter puxado à
você isso, Regulus, não concorda?"

Encarei o chão, me mantendo em silêncio, enquanto Voldemort examinava


o frasco em suas mãos. Bellatrix quebrou o silêncio, "Milorde, e se for uma
armadilha? E se o garoto estiver armando alguma coisa?"

Contive a vontade de voar no pescoço daquela vadia.

Voldemort pareceu considerar, porque se virou para mim e deu um sorriso


cínico que quase me fez pensar que eu morreria naquele minuto, "Não
preciso mais de você, Regulus. Já me deu a informação que eu queria. Não
tenho a menor intenção de deixar você viver depois disso."

Poderia ter sido o fim da linha, como poderia. Mas eu ainda não havia jogado
todas as minhas cartas.

"Certamente, Milorde, não mereço viver," Comecei, com os olhos na altura


dos pés dele, "Não mereço tal misericórdia. Se vou morrer, quero morrer
sabendo que ajudei o Lorde das Trevas a alcançar seu objetivo. Mas se me
permite, me deixe colocar uma coisa em pauta."

"Nos dê a honra." Voldemort ironizou.

623
"Se estiver cogitando que seja uma armadilha, me leve como seu prisioneiro
de guerra. Se alguém o atacar, me mate imediatamente. Use a minha vida
como escudo caso queiram tocá-lo. Nenhum deles sabe que estou aqui.
Nenhum deles sabe que os traí. Se ameaçar a minha vida, eles irão recuar.
Me use, Milorde... Me use, eu imploro. Se morrer, morrerei sabendo que fiz
o certo."

Voldemort ficou em silêncio, me observando com os olhos vermelhos


semicerrados. Ele abriu a boca algumas vezes, aparentando que pretendia
falar alguma coisa, mas hesitava.

E quando Bella ia se intrometer mais uma vez, Voldemort finalmente falou,


"Tranquem-o. Joguem nas masmorras."

Greyback e Mulciber me agarraram bruscamente pelos braços, me


carregando para fora do salão. Mas que porra! O que significava "Tranquem-
o"? Ele iria sem mim? Não, ele não iria. Ele é esperto e sabe que há
possibilidade de ser uma armadilha. Sabe que sou a única chance. Eu havia
conseguido jogar as cartas que eu queria contra a própria inteligência dele.
Ele vai pensar. Analisar os prós e contras. E é isso que vai me manter vivo.

Preciso ficar vivo. Preciso ficar vivo. Preciso ficar vivo.

"Eu até faria companhia para você, garoto, poderíamos nos divertir muito,"
Greyback sorriu maldosamente, quando me jogou no chão, "Mas sua morte
ainda está sendo discutida."

Ele trancou as grades e subiu escada à cima, voltando para o salão e e


deixando sozinho, quase no escuro, apenas a luz de duas lamparinas na
masmorra iluminando o lugar. Me encostei na parede, respirando fundo. Eu
estava exausto. Passei a adolescência recebendo maldições dentro de casa,
mas acho que havia perdido o jeito porque três daquelas e eu já estava
querendo ficar no chão para sempre.

Quando parei para dar uma boa olhada no lugar, me dei conta de que com
certeza Bellatrix dificilmente descia até aqui. Bella sempre foi uma louca
compulsiva e se as coisas não estivessem em ordem, ela literalmente surtaria.
Ela odiava lugares bagunçados, coisas fora do lugar e até pessoas que não
abotoavam um dos botões da camisa. E o lugar era literalmente horrível. Era
sujo, úmido e fedia à limo.

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"Caralho!" Dei um salto quando pude jurar que vi um rato passar pelas
minhas pernas, "Merlim, que porra-"

"Regulus?" Uma voz de um canto escuro do lugar ecoou. Era familiar, mas
eu não conseguia distinguir de quem era.

"Quem está aí?!" Tentei chegar perto para enxergar e quando a silhueta foi
se formando melhor, um balde inteiro de água gelada pareceu ter caído na
minha cabeça. As maldições devem ter afetado a minha cabeça. Acho que
finalmente fiquei louco.

"Regulus! E-eu achei que estivesse morto!" Peter saltou da escuridão, os


olhos arregalados, me agarrando pelos ombros, "Você... você está vivo!"

"Espere aí!" Me soltei, assustado, "Eu achei que você estivesse morto!
Como... Que porra está acontecendo aqui?!"

"Morto?! Eu?! Não, eu... Eu estava preso! Por que achou que eu havia
morrido? Você enlouqueceu?"

"Se eu enlouqueci?!" Arqueei as sobrancelhas, "Você é o fantasma, porra, e


eu é quem sou louco?! Pelo amor de Deus!"

"Espere, por que você achava que eu estava morto?"

"Barty. Barty disse que você estava. Deu detalhes de como você morreu,
Peter! Disse que você foi pego e Voldemort mandou Nagini matar você."
Tentei explicar, ainda sem fôlego pelo susto, "Como... como você está vivo,
porra?!"

"Sinceramente, Reg, eu- Desculpe. Regulus. - Eu também não faço a menor


ideia." Ele respondeu cansadamente, se sentando no chão, encostando na
parede, "Achei que eles iriam me matar quando descobriram. Quando Lord
Voldemort descobriu. Mas eles me jogaram aqui e nunca mais me disseram
nada. Era como se..."

"Como se estivessem esperando por algo." Completei, rapidamente. É claro!


"Isso! É exatamente isso! Eu consegui!" Comecei a gargalhar, "Merlim! Eu
não acredito!"

"Acho que você enlouqueceu sim."

625
"Peter, ele não matou você porque está pensando em usá-lo para ameaçar
Dumbledore! Eu propus a ele que fizesse o mesmo comigo e ele me jogou
aqui, igual fez com você!" Eu estava com a voz extremamente acelerada,
"Você faz ideia de que eu consegui propor exatamente o que ele já estava
pensando em fazer?! Significa que vai funcionar!"

"Seja o que for, me deixe fora disso," Peter revirou os olhos, "Não aguento
mais a guerra. Não aguento mais nada disso. Quero morrer em paz."

"Peter." Me sentei apressadamente ao lado dele, "Preciso que me conte tudo.


Preciso que me conte porquê se juntou à eles. E por que não simplesmente
voltou para casa. Merlim, quando eles verem você..."

"Vão me odiar." Ele respondeu, de repente, "Vão me odiar porque não vão
entender."

"Ninguém vai odiar você." Respondi, "Você tinha que ver Sirius, Remus,
Lily... James! Ele... ele manteve as esperanças sobre você até o fim, Peter!
Até o fim! Preciso que me conte tudo, preciso da verdade!"

Peter me encarou por um instante, os olhos parecendo cheios de medo e


vergonha. Ele havia emagrecido tanto desde a última vez que o vi, os olhos
estavam fundos e a pele dele, antes avermelhada, agora estava pálida e sem
vida.

"Se lembra de dois anos atrás?" Ele começou, engolindo em seco, "Quando
você descobriu sobre mim?"

"Sim."

"Quase contei tudo à você naquela noite. Foi por pouco, mas não contei. Não
contei porque isso estragaria tudo."

"Estragaria?"

"Minha chance de me provar." Ele me encarou, os olhos brilhando, "Regulus,


eu sei que ninguém achava que eu era capaz de fazer algo tão grande. Eu
queria mudar isso. Precisava mudar. Quando vi a chance, agarrei sem pensar
duas vezes."

"Que chance, Peter?" Corri os olhos por ele, "Do que está falando?!"

626
"Estou falando da noite em que Dumbledore, pela primeira vez na vida,
precisou de mim para alguma coisa e me deu uma missão mais perigosa e
importante do que qualquer outra que havia dado a qualquer um." Ele
praticamente atropelou as palavras, "Ele sabia de tudo, desde o início. Ele e
Moody sabiam. Disse que eu deveria estar disposto, porque era muito
arriscado. Quando você descobriu, Dumbledore me disse para não abandonar
a missão e me afastar da Ordem por enquanto. Eu passei à ele todas as
informações que conseguia e quando algo acontecia, o único jeito que eu
tinha de avisar era com os bilhetes, Reg – Desculpe de novo. Regulus."

"Não, pode me chamar de Reg." Eu estava chocado, só consegui dizer isso.

"Boa parte foi minha culpa, Reg. Porque sim, eu poderia ter voltado.
Dumbledore disse que era minha escolha. Mas eu preferi fazer as coisas
assim, porque na minha mente quanto mais longe eu conseguisse ir... Mais
corajoso eu seria." Ele sorriu fracamente, "Já me imaginou? Corajoso como
Remus que enfrenta a lua cheia todo mês? Como Sirius que desafiava a
família que torturava ele? Como James que literalmente é James?!" Ele fez
uma pausa, "Como você."

"Mas, Pete," Pisquei, "E a marca? Ela é permanente. Não vai sair nunca mais.
Dumbledore não obrigou você a isso, obrigou?!"

"Ele não me obrigou a nada, Reg," Peter encostou a cabeça na parede,


"Ninguém me obrigou. Eu aceitei tudo. Quando me imaginei sendo aquele
que ajudaria a vencer a guerra, aquele que... que seria o herói. Minha
ambição foi maior e... Eu não sei, eu não sei onde estava com a cabeça em
achar que poderia..."

"Puta que pariu." Descansei as costas na parede, "Você deve estar me


zoando, não é possível. É por isso que ele nunca me ouvia quando eu falava
sobre os bilhetes. Eu sabia que ele sabia de algo! Eu sabia! Merlim, que
merda está acontecendo aqui?"

"Barty deve ter dito à você que eu estava morto para ver sua reação, ele
achava que você sabia. Chegou aqui embaixo uma noite me acusando de ter
contado à você sobre o ataque aos McKinnon e ficou louco. Disse que
estávamos juntos nisso e algumas outras coisas malucas." Peter continuou,
"Ele ficou louco de ciúmes."

"Babaca idiota," Revirei os olhos, "Ainda bem que me livrei dele."

627
"Muitos aqui, pode não parecer, mas tem medo de você, Reg," Peter se virou
para mim, "Eles sabem o que você conseguiu até agora. Sabem que não é
fraco. Quando Narcisa foi embora com você, isso aumentou mais ainda o
medo deles. Quando Barty desconfiou que eu estava com você nisso, me
disse que você estava morto. Eu achava que você havia sido morto por eles."

"E Snape?" Me virei para ele, "Ele foi quem nos contou que Voldemort sabia
sobre a profecia."

"Snape está desaparecido desde ontem." Peter respondeu, "Vieram me


perguntar se eu sabia de algo, mas... bom, claro que eu não sabia. Um maroto
e Snivellus nunca vão se entender bem. Se é que ainda sou um."

"Claro que você é. Até parece que não."

"Como eles estão?" Peter sorriu, "Sirius e Remus? James e Lily? Ah, Harry
deve ser incrível! Merlim, eu fiquei sabendo de Dorcas e... Marlene deve ter
ficado horrível. E você... Você e Mary estão juntos, certo? Como ela está?!"

"Todos vivos, ao menos," Balancei a cabeça, "Você finge bem. Quando


viemos aqui resgatar ela, não desconfiei nem por um segundo que não estava
falando sério. Apenas quando Remus me contou o que você havia dito à
James."

"Vocês não sabem da história toda." Ele relembrou, "Me lembro


perfeitamente."

"Peter, preciso que me escute," Endireitei o corpo, fixando os olhos nos


deles, "Vou contar o que está acontecendo aqui para você. E prometo que
vou nos tirar vivos daqui. Eu prometo à você."

Peter estufou o peito, assentindo nervosamente, mas ainda parecia cheio de


coragem. Expliquei à ele tudo que havia acontecido desde que Snape bateu
na porta da casa de Sirius até o momento que me jogaram nas masmorras
daquela mansão. Expliquei o plano inteiro que estávamos executando e como
era importante conseguirmos tempo.

"Mas, Reg," Peter ponderou, "Mesmo se formos para Godric's Hollow como
prisioneiros... vamos estar sem as varinhas. Ele vai nos matar quando ver que
a Ordem estará lá."

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"Temos que correr o risco, Pete," Franzi o cenho, "Não havia ninguém além
de mim que pudesse fazer isso porque fui o único que já estive ao lado de
Voldemort e sei como ele age. Mas agora você também esteve. Nós corremos
na hora, eu não sei, mas não tem a menor chance de eu deixar esse plano dar
errado."

Peter sorriu, "Filho da puta ardiloso."

"Já me chamaram de coisa pior," Dei de ombros, sorrindo, "Então, está


comigo?"

Ele me encarou por um tempo, então assentiu, "Pode apostar que sim,
Black."

Eu não tinha o menor tempo para digerir tudo que havia acabado de
acontecer. Tinha que deixar isso para depois. Depois eu lidaria com toda a
história de agente duplo. Não queria nem imaginar a reação dos meninos
quando eu contasse, meu Deus.

A grade enferrujada fez um barulho e Rosier e Lucius apareceram,


sussurrando entre si. Rosier falou primeiro, "Vamos dar um passeio, idiotas.
O Lorde das Trevas quer plateia para matar aquele monstrinho."

Plateia o cacete, pensei, ele quer uma carta na manga.

Rosier ficou na porta, enquanto Lucius vinha até nós colocar algemas nas
nossas mãos. Conhecia aquelas algemas. Eram as mesmas que Barty usou
em mim para me deixar inapto de usar magia. Peter também pareceu saber o
que eram, porque seus olhos ficaram desesperados quando Lucius se abaixou
até nós.

Enquanto ele prendia as duas pulseiras de ferro nos meus pulsos, seu olhar
não se levantou para me encarar, mas ele sussurrou, quase inaudivelmente,
"Eles estão vivos? Draco e Narcisa?"

Troquei um olhar confuso com Peter, mas quando Lucius finalmente me


encarou, eu assenti, "Sim."

"Anda logo com isso, Malfoy!" Evan gritou da porta.

Lucius começou a prender as algemas de Peter com uma mão, e a outra


sutilmente, puxou duas varinhas do bolso. Se não fosse pelo escuro no lugar,

629
Evan teria visto tudo. Ele enfiou a minha na bainha da minha calça, deixando
a camisa por cima para esconder e fez o mesmo com a de Peter, "Não
enfeiticei as algemas. Ainda podem usar magia." Ele sussurrou, e nos
segurou pelos braços, nos levantando bruscamente. Peter me lançava olhares
de confusão o tempo todo.

Mais uma vez, eu não tinha o menor tempo para raciocinar o que tinha
acabado de acontecer.

Quando subimos de volta para a mansão, ninguém nos disse nada. Fomos
levados direto para o jardim, onde Voldemort e os outros comensais nos
esperavam. A quantidade havia aumentado. Greyback estava com uma
matilha agora. Haviam mais bruxos das trevas, muito mais.

"Sabem o que fazer, meus amigos," Voldemort disse, dando uma olhada para
Rosier e Lucius, que pareciam estar encarregados de nos vigiar, "Está na
hora."

***

Godric's Hollow estava tão tranquila que, se eu não soubesse de nada, nunca
desconfiaria que haviam bruxos da Ordem escondidos por todos os lugares,
esperando para atacar. Peter parecia aterrorizado.

Não havia nenhum morador espreitando pelas janelas, o que significava que
Sirius e James haviam conseguido tirar eles de suas casas. Estava tudo
quieto. E quando chegamos á uma rua específica, eu apontei para a casa.

"O Lorde das Trevas sabe qual casa é," Bellatrix lançou, "Ele é um dos
melhores executores de feitiços de rastreamento."

Então, o sangue havia funcionado. Perfeito.

Por um momento muito ingênuo, pensei que ele ia bater. Mas Voldemort
ergueu sua varinha no ar e destrancou a porta da frente com um feitiço
simples. Tudo ainda estava calmo.

Ele entrou sozinho casa, apenas com Nagini ao seu lado, e todos esperamos
do lado de fora da porta, enquanto ele examinava todos os cômodos. Ele
subiu as escadas e nos deixou do lado de fora, esperando por ele por alguns
minutos que pareceram uma eternidade. Peter e eu não parávamos de trocar

630
olhares nervosos um com o outro. Ele logo perceberia que a casa estava
vazia.

E assim que Voldemort pôs a ponta do pé para fora, eu soube que ele havia
percebido tudo.

"Garoto idiota." Ele riu cruelmente, levantando a varinha em minha direção.


Eu tinha certeza que ia morrer. Eu não teria tempo para pegar nenhum
varinha. Eu quase cheguei a ver a luz verde saindo da ponta da varinha dele.

"Boa noite, Tom." A voz de Dumbledore ressoou e ele apareceu de repente,


fazendo todos os comensais entrarem em modo de defesa completa.

Voldemort parecia furioso e prestes a matar alguém. Ele vociferou para mim,
"Você mentiu!"

Voldemort lançou um feitiço para Dumbledore, que rebateu com a varinha


rapidamente. Os dois começaram um duelo e nenhum de nós sabia como
reagir. Até que Karkaroff e Mulciber puxaram as varinhas e pegaram eu e
Peter pelas costas, apontado-as para os nossos pescoços.

O duelo entre Voldemort e Dumbledore se cessou quando ele viu à nós


dois. "Agora, Dumbledore, seus dois espiõezinhos imundos vão morrer por
sua culpa. Como você se sente com isso, Regulus?" Ele me encarou,
"Sabendo que foi burro o bastante para confiar tudo à este homem."

Fez-se um silêncio, enquanto todos encaravam nós dois.

"Quer saber como eu me sinto, Milorde?" Falei a última palavra com


desdém, enquanto Mulciber ainda empurrava a ponta da varinha na minha
garganta, "Acho que você está errado. Harry Potter não é sua ruína. Eu sou."

"Reg! Agora!" Peter gritou, sacando a varinha do bolso, "Confringo!"

Eu retirei a minha varinha e empurrei Mulciber para longe, lançando o


mesmo feitiço. De repente, vários membros da Ordem começaram a aparecer
de todos os lugares. Desde amigos que iam à todas as reuniões até pessoas
distantes. Os Longbottom, os Weasleys, todas as famílias aliadas. Remus,
Lily, Pandora, Mary, Marlene, James. E na frente de todos, meu irmão estava
postado, com a varinha levantada.

631
Uma verdadeira guerra foi travada. Comensais e membros da Ordem
começaram a lutar entre si, se misturando um entre os outros, vários feixes
de luz entre as varinhas se cortando. E antes de eu ter tempo de falar com
qualquer um, Voldemort aparatou com Nagini, saindo completamente da
minha vista.

"Reg! Reg! Ah, meu Deus!" Sirius correu à minha direção, me empurrando
para trás de uma casa, "Você está bem, está bem... Graças à Deus!"

"Sirius, o feitiço de Mary e Lily deu certo? Ninguém pode sair de Godric's
Hollow?!" Segurei-o pelos ombros, tentando fazê-lo parar de beijar meu
rosto.

"Sim, sim... Deu certo. Ninguém sai daqui, Reg." Sirius recuperou fôlego,
"Reg, aquele era Pet-"

"Não temos tempo. Depois." Respirei fundo, "A cobra precisa ser morta, Six.
Se ela for morta, ele será mortal outra vez e eu poderei matá-lo. Se nos
enfrentarmos antes dela ser morta, eu provavelmente vou morrer, você
entende isso?"

"Sim." Ele assentiu firmemente, "Vamos conseguir, Reg." Ela encostou a


testa na minha, a beijando logo em seguida "Vamos conseguir."

A batalha havia começado.

632
Capítulo 46.1: Back to Black

We only said goodbye with words


(Nós apenas dissemos adeus com palavras)

I died a hundred times


(Eu morri umas cem vezes)

You go back to her


(Você volta para ela)

And I go back to black


(E eu volto para a escuridão)

Back to Black - Amy Winehouse

- Regulus -

A madrugada de 31 de outubro estava escura e salpicada por estrelas, e


abaixo daquele mesmo céu, centenas de pessoas lutavam entre si. Aqui e ali,
brilhavam os feitiços nas pontas das varinhas de bruxos e bruxas um contra
o outro, protegendo suas causas.

“Para onde ele pode ter ido?!” Sirius murmurou, enquanto ainda estávamos
abaixados atrás de um pequeno chalé.

“Não faço ideia,” Balancei a cabeça, “Mas ele sabe que se pegarmos a cobra,
ele está perdido. Vai fazer o possível para me enfrentar sozinho. Por isso, ele
se mandou. Ele sabe que sozinho, não tenho chance nenhuma.”

“Mas você não pode! Se for sozinho, ele vai-”

“Sei disso, Sirius.” Interrompi, o encarando, “Não vou fazer isso. Não
quando há um monte de bruxos em uma batalha que eu tive a ideia de
começar.”

“Não só por isso, seu idiota!” Ele deu um tapa na minha testa, “Você não
pode fazer isso em hipótese alguma. Não dê uma de herói altruísta, nem nada
do tipo, ouviu? Você é meu irmão. Não ouse morrer.”

Minha visão corria entre toda a multidão, procurando por quem eu conhecia.
Reconheci vários professores de Hogwarts. Slughorn, que costumava ser o

633
meu favorito, lutava bravamente ao lado de Frank, contra dois Comensais da
Morte. A professora McGonagall, é claro, ajudava Molly à derrubar um
deles. Dumbledore estava em algum lugar que eu não conseguia ver. Meu
alvo também não estava em lugar nenhum.

“Sirius,” Chamei, sem encará-lo, “Você sabe onde Mary...”

Minhas palavras, no entanto, foram abafadas por outra voz que ecoou pelas
ruas. Era aguda, clara e fria. Impossível de identificar de onde vinha, parecia
sair de todos os lugares. Fazia os nervos latejarem da cabeça.

“Seus esforços são inúteis.”

Todos pararam imediatamente o que estavam fazendo. Ouviram-se gritos de


algumas pessoas, aterrorizados, enquanto procuravam ao redor de onde
vinha o som.

“Não podem lutar contra mim. Não tenho intenção de matar nenhum de
vocês. Não quero derramar nenhum sangue mágico.”

Fez-se, então, um tipo de silêncio ensurdecedor. O tipo de silêncio capaz de


estourar os tímpanos.

“Entreguem-me Regulus Black,” Disse a voz de Voldemort, “E mandarei


meus reforços recuarem. Entreguem-me Regulus Black e não machucarei
suas famílias. Entreguem-me Regulus Black e serão recompensados.”

Sirius agarrou forte o meu braço, e me encarou com olhos desesperados e


marejados. Eu agarrei a mão dele e pude sentir ele tremendo, “Sei o que ele
está fazendo. Espera que alguém me entregue em troca de misericórdia. Mas
ainda quer que eu vá sozinho.”

“Terão até o sol começar a surgir.”

O silêncio tornou a engolir o lugar, todos ainda estavam quietos, até mesmo
os bruxos das trevas. De repente o chalé que nos protegia foi atingido, quase
não dando tempo de eu e Sirius corremos. Nós sumimos através da fumaça,
desatando a correr pelas ruas cheias de pessoas que voltaram a lutar,
protegendo à nós mesmos de qualquer feitiço que fosse lançado à nós dois.

Nós corremos sem olhar para trás, apenas agitando as varinhas, tentando nos
proteger de qualquer feitiço. Karkaroff tentou me estuporar pelas costas

634
enquanto corríamos, e teria conseguido. Sirius não estava vendo, e muito
menos eu. Até ouvirmos atrás de nós,

“Petrificus Totalus!” Pandora exclamou, transformando o corpo de


Karkaroff apenas em um saco de ossos, imóvel e estático. Ela correu até nós,
“Seus idiotas!” Segurou nos nossos braços e aparatou sem mais nem menos.

Estávamos dentro de uma casa velha, em um lugar afastado do vilarejo.

“Você está doida?!” Soltei meu braço bruscamente da mão dela, “Eu podia
ter estrunchado!”

“O que foi?!” Sirius a agarrou pelos ombros, “Moony está bem?! Lily?
Prongs?!”

Empurrei Sirius, me pondo na frente dela, “Mary. Onde Mary está? Você a
viu em algum lugar depois que cheguei?!”

“Pelo amor de Deus, me deixem respirar!” Ela exclamou, se soltando de nós


dois, “Não vi ninguém. A última vez que vi Remus, ele estava com a matilha,
então não se preocupe porque ele não está sozinho. James e Lily eu não vi
em lugar algum, sinto muito.”

“E Mary?! Me diga onde ela está, Pandora!”

“Não sei, Regulus!” Pandora gritou, me empurrando, “Não sei onde estão os
namorados de vocês dois! Não sei de nada! Droga, quando você demorou,
eu achei que você estivesse morto, seu idiota! É a segunda vez durante a
nossa amizade que eu acho que você morreu e você age como se
estivéssemos passado a tarde tomando chá?! Vai se foder!”

Ela ficou ofegante de tanto falar. Sirius correu os olhos entre nós dois, até
quebrar o silêncio, “Acho que você mandou mal, Reg.”

"Desculpe, eu... eu não sei, porra, acho que não estou pensando direito
agora..."

"Você precisa tomar cuidado." Pandora disse, seriamente, "Voldemort


declarou que se alguém entregar você, ele recua. Isso pode mexer com a
cabeça das pessoas."

"Ninguém da Ordem nos trairia." Sirius franziu as sobrancelhas.

635
"Sirius, pessoas vão morrer hoje. Não existe e nem nunca existiu uma guerra
sem mortes. Ninguém quer perder a família. Então pare de confiar cegamente
em todo mundo só porque dói acreditar no contrário." Ela estava
definitivamente muito estressada.

Sirius abriu a boca algumas vezes, desistindo de falar em todas elas, até se
virar na minha direção, "E Wormtail? Como ele está aqui?! Como isso
aconteceu?!"

"Sobre isso..."

"Você explica isso depois." Pandora interveio, me encarando. Ela ficou em


silêncio, e jogou os braços ao redor do meu pescoço, me abraçando rápido,
"Obrigada por não morrer."

Assenti, firmemente, dando um sorriso para ela.

"Certo, é o seguinte," Comecei, "O único jeito de achar a cobra, é


descobrindo onde ele está. Ele vai protegê-la à todo custo, até não ter mais
escolha a não ser entrar em batalha. Quanto mais tempo passar sem ninguém
me entregar, mais chances disso acontecer. É disso que precisamos."

"Dumbledore não vai permitir que ninguém entregue você, Reg," Sirius
disse, e eu estremeci por um segundo, "Ele é a única pessoa que Voldemort
tem medo. Se ele estiver por perto, você é intocável."

"O que não garante que ele não pode armar nenhuma armadilha, Sirius,"
Pandora ressaltou, "Regulus já enganou ele várias vezes, ele não hesitaria em
fazer o mesmo."

Eu podia ouvir do lado de fora o movimento nas ruas; gente correndo, gritos,
pelas janelas de vidro dava para se ver os clarões nos jardins escuros. Quando
estávamos prestes a sair da casa, o lugar inteiro sacudiu e eu percebi, quando
o lustre preso ao teto caiu com um estrondo no chão e todos os móveis
começaram a tremer, que estávamos nas garras de feitiços das trevas.

"Temos que sair daqui!" Sirius gritou, empurrando à mim e Pandora para
fora da casa, com toda a pressa.

"Ache os outros." Segurei-a pelos ombros, "Por favor, Pan, fique segura. Não
consigo imaginar o que eu faria se algo acontecer com você."

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"Eu vou." Ela assentiu nervosamente, "Não se preocupe, v-vou ficar bem."
Ela estava tremendo muito e apertou a minha mão com força, aparatando
logo em seguida.

- Andromeda –

"Seu desgraçado!" Narcissa gritou, a varinha empunhada em direção ao


Comensal da Morte, "Estupore!"

Ele caiu inconsciente e Cissy cortou o ar com a varinha, na direção do bruxo,


abrindo um corte fino na sua garganta, ela empurrou o rosto dele com a ponta
do salto fino da bota, "Isso foi por ousar encostar na minha irmã."

Ele havia tentando me amaldiçoar com um Cruciatus, mas o feitiço pegou de


raspão, quando Narcissa se pôs entre nós, arremessando-o para longe.

"Você está bem?" Cissy me estendeu a mão, me ajudando a levantar, "Aquele


filho da puta. Ele não tinha toda essa marra para me desafiar quando eu ainda
estava naquela mansão."

"Por falar nisso," Engoli em seco, "Já viu Lucius em algum lugar?"

Eu queria perguntar isso há muito tempo. Mas, no momento, no meio de toda


aquela confusão, eu apenas não havia encontrado a maneira de chegar até lá.
Já fazia um pouco mais de um ano que Draco havia nascido e Lucius não
havia tentado procurá-la, ao menos não diretamente. Draco, no entanto, era
perfeito. O menino havia puxado fielmente a pele pálida e os olhos azuis
acinzentados dos Black. O cabelo era loiro-branco, idêntico ao de Cissy, e
idêntico ao da nossa mãe. As feições eram tão perfeitas que pareciam ter sido
esculpidas por algum deus. Eu o amei desde o momento em que o vi. E,
diferente de todo o resto de nós, Draco foi envolvido em uma bolha de amor
e carinho desde o dia em que nasceu.

Ted era completamente apaixonado pelo garoto. Quando Cissy nos chamou
para sermos os padrinhos, Ted se alegrou de um jeito que não se alegrava
desde o nascimento de Dora. E todas as vezes que Draco chorou durante a
noite e Narcissa se levantava para ir até o quarto, Dora também acordava.
Não havia quem a fizesse ficar na cama. Ela se encolhia na poltrona ao lado
do berço e não adormecia até Draco dormir também.

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Apesar de tudo, nunca duvidei do que Lucius sentia por Narcissa, então eu
não me surpreenderia se em algum momento ele aparecesse. Mas talvez falta
de coragem seja um sentimento que supere muitos outros, afinal.

Cissy apenas negou com a cabeça, engolindo em seco.

"E Regulus?" Ela perguntou, "Onde diabos esse pirralho se meteu?"

"Espero que em algum lugar escondido," Olhei ao redor, sem abaixar a


guarda, "Se entendi certo, ele precisa de todo tempo que conseguir."

Nós duas avançamos rapidamente pelas passagens entre as casas, as varinhas


em posição, e ao longo de uma das ruas, vimos Dumbledore agitando a sua
varinha, derrubando três Comensais da Morte de uma só vez. Nós duas
corremos até a rua, que estava já quase completamente destruída.

"Professor!" Gritei, e ele se virou para me encarar, "O senhor sabe onde
Regulus está?!"

"Não, Andrômeda, não o vi em lugar nenhum," Dumbledore balançou a


cabeça, "Ele deve estar com o irmão, com toda a certeza. Se encontrar Sirius,
achará Regulus também."

"Professor Dumbledore!" Hagrid apareceu, correndo em nossa direção,


"Olhe! Olhe!" Ele apontou para longe, onde um exército de centenas de elfos
domésticos vinha sendo liderada por Kreacher.

"Sempre gostei desse elfo." Narcissa sorriu, satisfeita.

Ele caminhava à frente de todos eles, gritando em alto e bom som, "Lutem!
Lutem pelo meu mestre, o defensor dos elfos domésticos! Lutem contra o
Lorde das Trevas, em nome do bravo Regulus Black! Lutem!"

Minha espinha se arrepiou por um momento, e quando olhei para o céu, uma
orda inteira de dementadores adentrou em Godric's Hollow. Eram centenas,
milhares de criaturas das trevas, deixando a noite mais fria e gelada do que
já estava.

"Preciso achar meus primos!" Tentei falar em meio aos gritos, "Cissy,
precisamos-"

638
"Andy, cuidado!" Narcissa gritou, quando vários dementadores voaram em
nossa direção, prontos para atacar. Eu nunca havia visto uma quantidade tão
grande de dementadores juntos. Todos empunhamos as varinhas, mas eu não
tinha certeza se os nossos patronos seriam o suficiente para tantos deles.

Dumbledore assumiu, se pondo a frente de todos nós. Eu, Cissy e Hagrid


ficamos atrás, ainda sem abaixar as varinhas. Ele se posicionou e gritou,
"Expecto Patronum!", e uma fênix enorme e reluzente, quase do tamanho da
rua inteira, saiu da ponta da sua varinha iluminando todo o local escurecido
pela noite. Os dementadores foram imediatamente repelidos com um poder
tão grande como aquele.

"Achem Regulus," O professor Dumbledore pôs a mão no meu ombro e a


outra no de Narcissa, "O primo de vocês gosta de trabalhar sozinho. E, em
parte, sei que tenho certa culpa pela falta de confiança que ele deposita em
mim. Mas não deixem que ele lute sozinho. Encontrem-o."

Eu e Cissy avançamos outra vez pela rua, criando escudos com feitiços de
proteção por onde passávamos. Nos precipitamos em um canto e avistamos
Arthur, juntamente de Frank, liderando um grupo de cinco pessoas, que
incluía Alice Longbottom, Marlene McKinnon, James Potter, Lily Evans e
Mary MacDonald. Eles estavam com as varinhas empunhadas, e Arthur e
Frank gesticulavam com as mãos para os lados que cada um deveria ir.

"Mary é a namorada de Regulus, não é?" Cissy indagou, "Talvez ela saiba
onde ele está."

"Acredite em mim, se esses dois soubessem aonde o outro está,


eles nunca estariam separados," Respondi, "Regulus deve estar perdendo a
cabeça sem saber onde Mary está."

De repente, uma casa ao lado foi explodida. Mais uma para a conta de
dezenas que já haviam sido destruídas. Por mais outra rua, eu e Cissy
disparamos, ainda avistando alguns dementadores; alguns membros da
Ordem tentando contê-los. Estuporamos três Comensais da Morte no
caminho. A coisa estava realmente difícil.

"Regulus!" Cissy gritou, e eu me virei, finalmente avistando Regulus à


alguns metros de nós. Ele e Sirius estavam lutando contra dois Comensais
da Morte. Ou melhor, destruindo dois Comensais da Morte.

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Sirius era ótimo em manusear a própria varinha, era visível. Mas Regulus era
quase uma máquina de matar bruxos das trevas. Ele duelava com a facilidade
que um pintor cria uma arte. Tinha sangue nos olhos, enquanto lançava
feitiço atrás de feitiço, não dando o menor espaço para eles terem tempo de
ao menos pronunciarem alguma coisa.

"Ele sabe melhor do que qualquer um aqui como lutar contra eles, não é?"
Comentei, observando ele e Sirius apagarem totalmente os dois Comensais
da Morte.

"Andromeda!" Sirius exclamou, correndo até mim atrás de uma casa de altos
e baixos que ainda estava de pé, com um sorriso largo no rosto. O grito dele
fez Regulus se virar também. A diferença dos dois era nítida. O olhar de
Sirius era brilhante, como o de uma criança feliz por finalmente encontrar
alguém que conhece. Regulus era mais focado, um soldado completo com
sentidos perfeitos. O olhar dele era como se dissesse, "Bom demais para ser
verdade. Fácil demais para ser verdade."

A vida havia tirado muito dele vezes demais.

"Six!" Envolvi os braços ao redor do pescoço dele, dando beijos por todo o
seu rosto, passando depois para o rosto de Regulus, "Merlim, eu estava tão
preocupada! Com os dois!"

"E você!" Cissy agarrou Regulus, puxando-o para um abraço, "Não


achávamos você em lugar nenhum!"

"Eu sei, estamos tentando ganhar tempo..." Disse Regulus, ainda um pouco
ofegante pela luta, "Voldemort está..."

"...atacando porque eles ainda não entregaram você, nós sabemos," Narcissa
completou, "Deu para perceber, toda Godric's Hollow o ouviu."

"Do que você precisa, Reg?" Perguntei seriamente, "Para matar a cobra."

"Infelizmente, nada de você, nem de Cissy."

"Ei!" Narcissa se ofendeu, cruzando os braços.

"Não, não... Regulus quer dizer que não pode ser alguém da Sonserina,"
Explicou Sirius, "Por causa da espada"

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"Mas e o dente do basilisco? Não foi o que você usou para destruir o
medalhão?!" Indaguei, me lembrando do que Regulus havia contado há um
tempo atrás quando eles foram até Hogwarts.

"Para matar uma cobra?!" Regulus sorriu ironicamente, "É a espada ou nada,
Andy. É o motivo para eu não ter ido sozinho até ele ainda."

"Um dos motivos, você quer dizer," Sirius fez uma cara feia, "O outro é que
você tem um irmão que só vai sair do seu pé se acertarem um feitiço bem no
meio do peito dele!"

"Merlim, pare de dizer isso, Sirius!" Narcissa revirou os olhos, "Vou colocar
um feitiço de silenciamento em você, isso sim."

"Já te disseram que você é muito irritante?!" Sirius pôs as mãos na cintura,
Narcissa imitou o gesto.

"Já te disseram que temos o mesmo gene?!" Ela fingiu um sorriso.

Regulus revirou os olhos, ignorando os dois e se virando para mim, "Andy,


você viu alguém? James, Lily... Mary?!"

"Sim, Reg, vi todos eles," Assenti, "Não se preocupe, todos eles estão bem.
Arthur e Frank estavam com eles o tempo inteiro..."

"Você tem certeza que Mary está bem? Eu sei que ela está viva, mas ela está
machucada ou algo assim?! Ela estava normal ou parecia cansada?!"

"Merlim, Reg, fique calmo!" Exclamei, dando um tapinha no ombro dele,


"Você vai encontrá-la logo, não se preocupe."

Regulus assentiu, mas não pareceu convencido sobre nada do que eu disse.
A própria intuição foi tudo o que ele teve durante muito tempo, então agora
ele nunca conseguia abaixar a guarda.

Antes dele conseguir responder, houve mais uma explosão: nós quatro
olhamos para a a fumaça que inundou o lugar e mais gritos puderam ser
ouvidos. A casa que nos escondíamos começou a estremecer e nós desatamos
a correr outra vez.

Ficou evidente, quando nós passávamos pelas ruas, que, nos poucos minutos
que havíamos nos distraído, a situação em Godric's Hollow havia deteriorado

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seriamente: a maioria das casas e chalés estava destruída e os que ainda se
mantinham em pé, estavam sacudindo ou se desmontando tijolo por tijolo; a
poeira e a fumaça enchiam o ar, e para toda direção que olhássemos, víamos
clarões verdes e vermelhos correndo pelos bruxos que lutavam.

Sirius se virou e viu Rodolphus e Mulciber, os dois brandindo as varinhas


em direção a nós, ele sorriu ironicamente, erguendo a própria varinha, "Vão
se meter em um dois contra quatro? Estou profundamente decepcionado!
Reg, maninho, você me prometeu uma luta difícil, não uma brincadeira de
criança."

Eu e Narcissa nos entreolhamos – era burrice subestimar os dois, era


perigoso. Então, quando Regulus, esperto como ele era, deu um sorriso
sarcástico e um passo à frente para ficar ao lado de Sirius, encenando sua voz
mais teatral possível, eu me surpreendi, "Minhas profundas desculpas, Six,
minhas mais profundas desculpas. Acho que superestimei nossos adversários
e criei expectativas altas demais que eles não seriam completos idiotas."

Seria ótimo se fossem apenas os dois. Nós quatro acabaríamos com eles sem
nenhum esforço. Mas não podia ser tão fácil.

Bellatrix caminhou entre dos dois, abrindo espaço entre eles, enrolando a
varinha em um cacho de cabelo e carregando um sorriso cruel no rosto,
"Achei que você queria uma guerra, Reg. Não uma reunião familiar." Ela
correu os olhos por todos nós, até parar em Narcissa, "Cissy."

"Não me chame assim," Narcissa rosnou, a varinha empunhada, "Não depois


de tentar matar a minha família."

"Não era o mais importante enquanto crescíamos, Bella?" Regulus indagou,


observando-a cautelosamente, "Lealdade à família? Onde está a sua?"

"Como você ousa falar de lealdade à família para mim?" Ela vociferou,
"Você foi o primeiro a nos dar as costas! Lembra-se disso, Narcissa? Ou os
perdoou rápido?"

"Ei, dê os créditos ao original, ok?" Sirius ironizou, "Eu irritei aqueles


palhaços muito antes."

Dei um passo à frente, "Nenhum de vocês fez isso antes de mim. Então se
quer enfrentar alguém, Bella, estou aqui. Vamos resolver isso de uma vez
por todas."

642
"Vai lutar contra suas duas irmãs e seus dois primos, Bella?" Narcissa
lançou, "E ainda com esses dois idiotas?"

"Sua traidorazinha suja." Rodolphus cuspiu, levantando a varinha em direção


à Cissy.

Antes que qualquer um se mexesse, Regulus teve o reflexo mais rápido de


todos nós, cortando o feitiço de Rodolphus antes de alcançar Narcissa. Ela
poderia ter conseguido se defender, se não tivesse se distraído
completamente com Malfoy, que apareceu ao lado de Bellatrix.

- Sirius -

"Lucius?" Narcissa falhou por um momento, o suficiente para Bellatrix


tentar me estuporar, lançando o feitiço três vezes seguidas e quase me
pegando na terceira. Regulus puxou Narcissa para trás pela cintura
rapidamente, despertando-a do transe.

Eram quatro para cada um. Eu estava lutando contra Lucius, Regulus
tentando pegar Mulciber, Narcissa se defendendo de Rodolphus e Bella e
Andy batalhavam arduamente uma contra a outra.

Regulus lançava olhares estranhos para Lucius e para mim o tempo todo,
enquanto lutávamos. Os olhos dele corriam rapidamente por nós dois, antes
de voltar a sua atenção para Mulciber novamente. Também não era como se
eu tivesse muito tempo para perguntar na hora.

Jorros de luz voavam em todas as direções e Lucius mal me dava tempo de


pensar em um feitiço. Mas eu ainda era melhor do que ele. Durante toda a
luta, tive a sensação de que ele não estava lutando de verdade. Ou pelo
menos, não para me matar.

"Isso é tudo que você pode fazer, Malfoy?!" Sorri, enxugando uma gota de
sangue que escorreu do meu nariz, "Não precisa ficar com pena. Eu sempre
fui melhor que você."

Ele revirou os olhos rudemente, "Impedimenta!" Ele gritou na minha


direção. Sério?!

"Como Comensal da Morte, você é um ótimo funcionário do Ministério da


Magia," Eu atirei, com um sorriso afiado no rosto. Lucius estava queimando

643
em raiva, o rosto, normalmente branco feito um fantasma, estava vermelho
de fúria. Então por que diabos ele não estava tentando me matar?!

E, então, de repente, um clarão forte veio da direção de Regulus e Mulciber,


me fazendo contorcer de medo por dentro. Merlim, pedi falando comigo
mesmo, que tenha vindo da varinha de Regulus, pelo amor de Deus.

Mas não havia.

Quando os feitiços de Mulciber colidiram com um pequeno chalé ao lado de


onde estávamos lutando, atingiu a madeira da parte de trás, explodindo tudo
bem aonde Regulus e Mulciber enfrentavam um ao outro. Pedaços de
madeira voaram de todos os lugares e a fumaça me impedia de ver Regulus
claramente.

"Reg!" Gritei, a voz cheia de terror, trocando um olhar rápido com Andy,
que tentava, sem sucesso, derrotar Bellatrix. Lucius parecia ter parado para
ver o show também, porque curiosamente parou de me lançar feitiço atrás de
feitiço quando a explosão ocorreu. "Regulus! Regulus, onde voc-"

Mas Bella agitou sua varinha na minha direção antes de eu sair do lugar, me
derrubando e me impedindo de ir até o meu irmão, "Filha da puta!" Rosnei,
o ódio subindo pelo meu pescoço. Eu realmente queria matá-la, queria vê-la
deixar de existir para sempre. Ódio e medo se misturaram dentro de mim e
eu quis gritar.

Andromeda voltou a enfrentar Bella, e Lucius saiu do transe, voltando a me


atacar. Narcissa tentou correr até onde a casa havia explodido, mas
Rodolphus a bloqueou. Regulus e Mulciber haviam sumido entre os
escombros, nenhum dos dois podia ser visto. Pedi, em silêncio, à todos os
deuses possíveis que meu irmão não estivesse... não, ele não estava. Não
podia estar.

Essa guerra era dele.

Abaixei a minha varinha bruscamente, puxando o braço de Lucius com força


e falando próximo ao seu rosto, ele paralisou, arregalando os olhos para mim,
"O que está acontecendo? Você não está me atacando de verdade. Mas não
me deixa ver se meu irmão está vivo. Não me fode, Malfoy, qual é a sua?!"

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Lucius abriu e fechou a boca algumas vezes, parecendo prestes a falar, mas
desistindo no meio do caminho. Minha mente estava em Regulus o tempo
todo, mal conseguia enxergar o que estava na minha frente.

De repente, um clarão verde emanou da direção de Narcissa e Rodolphus,


iluminando todo o local escurecido pela fumaça. Sabia que feitiço era. Sabia
que era uma imperdoável. E sabia exatamente qual delas.

Todos nós paralisamos, até mesmo Bellatrix, que parecia absolutamente


focada em destruir Andromeda. Minha mente, ainda em Regulus, deu um
estalo. Não me tiraram meu irmão e minha prima na mesma noite. Eu mataria
qualquer um que houvesse feito isso. Eu faria em pedaços. Eles
simplesmente não podiam, não podiam estar...

Mas quando meus olhos pararam no lugar de onde veio o clarão, pude ver
que Cissy estava de pé, alguns machucados, o cabelo platinado sujo, a
jaqueta verde escuro lascada em alguns lugares, mas perfeitamente bem.
Quem estava paralisado no chão, com os olhos arregalados e sem vida, era
Rodolphus Lestrange.

"Cissy..." Andromeda arregalou os olhos. Narcissa segurava a varinha ainda


apontada, os olhos igualmente arregalados. Merlim, onde Regulus estava?!

Bellatrix estava paralisada, tremendo de fúria, tanto que os fios de cabelo


desgrenhados balançavam. Não havia nenhuma lágrima em seus olhos,
nenhum traço de tristeza real. Mas havia ódio. Deus, havia tanto ódio que ela
poderia ter explodido.

Ainda com os olhos pregados no corpo do marido, ela não percebeu quando
um pedaço de madeira se mexeu, arrastando-se para o lado bruscamente. E
uma mão cheia de anéis prateados que eu reconheceria em qualquer lugar
apareceu, fazendo o meu coração acelerar de alívio e felicidade.

Regulus se levantou, cambaleando levemente por um segundo, a varinha


ainda em mãos. Sangue escorria pela sua testa, parecendo vir de dentro do
cabelo. E seu lábio inferior estava cortado, sangrando igualmente. Ele estava
com as roupas levemente chamuscadas e o rosto sujo de poeira. E, Merlim,
eu tenho que dizer. Com o olhar que ele estava, eu não tinha a menor dúvida
de que ele poderia destruir aqueles quatro sem nem mesmo soar.

"Mulciber está morto." Regulus avisou, sem olhar nos olhos de ninguém,
apenas encarando Bellatrix, que ainda olhava para o corpo do marido.

645
Lucius ainda estava sendo segurado por mim, que o soltei bruscamente,
fazendo-o cambalear para trás. Caminhei até o lado de Regulus, que, apesar
de machucado, tinha a postura ereta e desafiadora. Fiz o mesmo quando me
postei ao lado do meu irmão, aulas de etiquetas dos infernos quando éramos
crianças deviam servir para alguma coisa.

Narcissa, depois de conseguir sair do choque, foi para o outro lado de


Regulus. E Andy, como fez a vida inteira, ficou do meu. Os quatro com as
varinhas em mãos, encarando Bellatrix e seu olhar fulminante para nós,
Lucius logo atrás dela.

Bella lançou o primeiro feitiço - Narcissa rebateu elegantemente. No


segundo, vieram dois seguidos e Andromeda cuidou disso da melhor
maneira. Bellatrix dava passos minúsculos para trás, enquanto avançamos
para ela e Lucius, que apenas observava tudo, sem nem mesmo se mexer.

Na terceira vez, Regulus executou um Protego impecavelmente brilhante. E


eu atirei um Estupefaça que a fez cair no chão.

"Está se rendendo, irmãzinha?" Andromeda se agachou, dizendo a última


palavra como um insulto, "Se cansou?"

Não pude deixar de soltar uma risada. Era satisfatoriamente bom ver
Bellatrix, a minha prima que estava lá no dia em que me expulsaram de casa
à torturas e surras, no dia em que Andy levou um tapa no rosto do nosso tio
por ter se apaixonado por Ted, nas vezes em que Regulus estava tão no limite
que quase desistiu de si mesmo e em todas as vezes que Narcissa precisou
de alguém depois de ter perdido Andromeda e teve que se consolar com
Lucius, porque Bellatrix estava ocupada demais chupando a porra do pau de
Voldemort.

Era ótimo.

No entanto, depois disso, tudo aconteceu rápido demais.

- Narcissa -

Tudo aconteceu tão rápido. Tão rápido que meus olhos quase não
conseguiram acompanhar.

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Bella, mesmo caída no chão, desviou o olhar para o corpo estirado de
Rodolphus atrás de nós. Ela o encarou demoradamente, o que intrigou nós
quatro, que nos viramos para olhar também.

De repente, Regulus gritou. Ele havia se virado de volta antes de nós.

Tudo aconteceu tão, tão rápido...

Bellatrix estava no meio de uma maldição. Com a varinha levantada, no meio


da pronúncia, "Avad...", e, Deus, juro que tudo aconteceu em menos de um
mísero segundo.

Eu congelei. A varinha estava apontada diretamente para mim. E no minuto


em que Regulus gritou, eu pude ver o começo da luz verde na ponta da
varinha dela. Fechei os olhos com força, o grito dos meus primos ecoando
no fundo. A última imagem que vi foi o som da risada de Draco em minha
mente. O meu menino de olhos acinzentados. Meu menino lindo.

E então mais um grito. Dessa vez, era a voz de Lucius gritando, "Narcissa!".
E era vívido demais para ser apenas na minha imaginação.

Um segundo.

Lucius correu de onde estava e se pôs entre a varinha de Bellatrix e o meu


corpo no momento em que ela pronunciava as palavras, o clarão forte e verde
atingindo seu peito em cheio, com um barulho estrondoso e aterrorizante.

Meu coração foi esmagado, quando o corpo de Lucius caiu inerte no chão.
Morto.

"Não!" Minha voz era estridente, quando me joguei ao lado dele, segurando
a sua cabeça em meu colo. "Lucius, não! Não, por favor, não!" Tudo se
resumiu a dor. Como se algo me cortasse por dentro, um pedaço de cada vez.
Os olhos sem vida do homem que eu amava estáticos e parados, o rosto sendo
molhado pelas minhas lágrimas que caíam uma por uma na sua pele pálida e
cansada.

Ele havia morrido tentando me proteger. Por que? Por que ele não teve
coragem o bastante para vir até mim? Para se virar contra eles como eu fiz?
Tudo poderia ser sido diferente. Poderíamos ter tido tudo.

647
Andromeda se abaixou até nós, envolvendo seus braços ao meu redor,
beijando a minha testa. A dor era tão grande que me fazia tremer. "Se acalme,
Cissy, se acalme..."

"Eu quero que ela morra." Agarrei o braço de Andy com força. Uma raiva
avassaladora crescendo no meu peito. "Eu quero que ela morra, Andromeda.
Ela não merece viver. Ela não merece nada!"

"Regulus e Sirius estão cuidando disso," Andromeda olhou para frente e eu


segui o seu olhar até os dois, que lançavam feitiço atrás de feitiço contra
Bellatrix, agora sozinha, "Ela não vai aguentar os dois por muito mais
tempo."

Bella tentou matar diretamente os dois, como havia feito com Lucius. Mas
eles eram espertos, usando pedaços de escombros das casas destruídas como
barreiras físicas e desviando do feitiço.

Até que Regulus finalmente a pegou, "Petrificus Totalus!". Bella paralisou


na posição em que estava. Ainda com a varinha erguida, mas incapaz de usá-
la.

Sirius trocou um olhar com Regulus e algo intenso foi passado entre os dois,
Sirius gritou, "Reducto!".

Em questão de segundos, o corpo inteiro de Bellatrix se reduziu ao pó, não


restando nem mesmo os ossos depois da explosão. Andy segurou forte a
minha mão, mas eu não sentia nada. Não senti nenhuma tristeza por ela. Ela
estava morta. E eu só poderia pedir que, se existisse algo depois da morte,
que não colocasse Lucius e o monstro que aquela mulher havia se tornado
no mesmo lugar. Ele merecia paz.

Apesar de tudo, meu Lucius merecia a paz.

- Regulus -

Não dá para lutar uma guerra sem matar ninguém. O sangue de alguém
provavelmente vai estar nas suas mãos e tudo o que você pode fazer é se
consolar com o fato de que ou era ela ou você.

E eu já deveria esperar que, com a sorte que eu havia sido abençoado a vida
toda, era óbvio que seria alguém da família Black. Claro que seria. Destino
desgraçado.

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"Tudo bem?" Sirius ofegou, cansado, "Deixa eu ver sua cabeça."

"O qu- Não, eu..." Desviei, balançando a cabeça. Eu mal me lembrava que a
porra de uma casa havia explodido em mim à alguns minutos atrás. A
adrenalina era tanta que eu nem mesmo sentia dor nenhuma. Mulciber, burro
e idiota como ele era, provocou a explosão que o matou. "Eu estou bem, Six.
Vou sobreviver, pelo menos."

Sirius assentiu devagar, desviando o olhar para Narcissa, que ainda estava
ajoelhada, com a cabeça de Lucius em cima de seu colo.

Lucius havia me ajudado na mansão. Eu não sabia o motivo e agora eu acho


que nunca saberia. Para ser honesto, se ele não tivesse devolvido a minha
varinha, eu provavelmente teria morrido. Sempre odiei o cara, não era
nenhum segredo. Mas ainda assim, quando eu e Sirius nos ajoelhamos com
Andy e Cissy, que ainda soluçava no ombro da irmã, eu passei a mão no
rosto de Lucius, fechando os seus olhos opacos.

"Ele não estava tentando me matar," Sirius disse, de repente, todos os


encaramos, "Fiquei irritado porque ele não me disse o que estava
acontecendo. Ele não estava lutando para valer."

Depois de um minuto em silêncio, eu comecei, "Ele me ajudou na mansão.


Me tiraram a minha varinha e entregaram para ele. Ele me devolveu. Se não
fosse por isso, eu teria morrido no momento em que Voldemort percebeu que
havia sido enganado."

"Ele estava pensando em Draco," Narcissa conseguiu dizer, em meio ao


soluço, "Eu sei que ele estava."

"Ninguém é apenas bom, ou apenas mal, eu acho." Andy sussurrou, beijando


o topo da cabeça de Cissy, que ainda chorava.

"O mundo não é dividido entre pessoas boas e Comensais da Morte." Sirius
me encarou, e eu o encarei de volta. E mesmo em um tom normal, consegui
sentir o peso das palavras como se tivessem sido arremessadas em mim.
"Todos temos luz e trevas dentro de nós."

"Temos que sair daqui," Andy olhou ao redor, os berros e gritos aumentando
cada vez mais, mais explosões e destruição, não podíamos ficar muito tempo
parados. "Ou vamos acabar sendo atacados outra vez."

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"Vem, Cissy..." Segurei delicadamente o braço dela, tentando levantá-la. Ela
cambaleou, ainda trêmula, se apoiando em Andromeda.

Saímos apressados pela rua, passando por entre becos para não sermos
vistos. Procurando por algum de nós. Sirius estava correndo ao meu lado,
correndo os olhos por todos os lugares, certamente procurando por Remus.
Eu não era diferente. Minha mente estava em Mary o tempo todo. Eu
precisava vê-la na minha frente, tocar nela, sentir que ela estava ali. Diante
dos meus olhos e viva.

Havia mais gente duelando por todo o caminho que corríamos, havia
Comensais da Morte para qualquer lugar que eu olhasse: Avery, próximo aos
detroços de uma casa, dava combate à Arthur Weasley; um Comensal da
Morte mascarado duelava com Slughorn. Aliados corriam em todas as
direções, alguns carregando ou arrastando amigos feridos.

Sirius mirou um Feitiço Estuporante em um Comensal mascarado que tentou


nos deter. Vidros estilhaçaram à nossa esquerda de repente, provavelmente
de alguma construção explodida. Andromeda gritou, mais alto que a gritaria
real, "É impossível procurar alguém no meio disso!"

Então, nós quatro derrapamos ao virar um último canto e, com um berro que
misturava alívio e fúria, nós os vimos: James e Lily na frente, Marlene e
Pandora logo atrás, que bateram nos dois com a força com que pararam
quando nos viram, e Peter, que abriu um sorriso quando nos viu.

"Onde diabos vocês se meteram?!" Reclamou James, ofegante e soado,


parecendo ter acabado de lutar. "Godric, Reg, você está sangrando!"

"Bellatrix." Respondi, seriamente, "Muito difícil. Mortes. Comensais. Uma


casa explodindo em mim. Nada bonito."

"Eu vou tentar achar algum beco ou alguma casa para acalmá-la," Andy
sussurrou no meu ouvido, Narcissa havia parado de chorar, mas estava com
um rosto vazio e distante, os olhos tremendo, "Eu encontro vocês."

Balancei a cabeça, e elas aparataram. Lily interveio, "O que houve com
Narcissa?!"

"Lucius está morto. Bellatrix também." Respondi rápido, me virando para


James de novo, "Por que Mary não está com vocês? Onde ela está?"

650
"Ela estava, Reg," Lily respondeu, me fazendo mudar o olhar de James para
ela, "Ela estava lutando com a gente, depois saiu com Frank e Alice."

"Regulus," Pandora passou entre os dois, chamando a minha atenção, "Mary


está bem, eu mesma a vi. Você tem outras coisas para se preocupar.
Voldemort deu um ultimato. Você tem até o dia clarear para se entregar. Não
vai demorar muito."

"É o plano. Lutar para chegar até ele. Não me entregar para que o tempo
acabe, ele apareça e matemos a cobra." Respondi, "Ele acha que não precisa
procurar por mim. Quer fazer os Comensais matarem o maior número de
todos nós para que eu acabe indo procurá-lo sozinho. O que não vai acontecer
porque vamos matá-los antes."

"Ele acha que você vai..." Marlene pensou, "Espere, você está me dizendo
que ele não... ele não está nem lutando?!"

"Ele acha que não precisa lutar." James afirmou, entendendo o que eu disse,
"Ele acha que Regulus vai procurá-lo."

"Ele sabe que destruí todas as outras Horcruxes... ele está mantendo Nagini
junto dele... obviamente para me aproximar daquela coisa, eu vou ter que
enfrentá-lo alguma hora..." Respondi, correndo os olhos entre todos eles.
"Está tudo sob perfeito controle, Pan. Nada fora do plano. Nada que eu já
não tenha pens-"

"Não se você matou Bellatrix." Peter disse, de repente, "Ela é a mais fiel,
Reg, você sabe disso. Não que ele tenha algum carinho por ela, mas quando
souber que ela está morta, nós não sabemos o que ele vai exatamente..."

"Pete?" A voz de Sirius tremeu. Por um momento, eu esqueci que a situação


de Peter não havia sido explicada. Peter franziu os lábios em um sorriso
nervoso, quando Sirius chamou sua atenção.

"Ei, Padfoot." Ele pôs as mãos no bolso timidamente, "Você..."

"Dane-se," Sirius bufou, puxando Peter pelo ombro e o envolvendo em um


abraço forte, pegando-o de surpresa. Peter pareceu demorar para cair em si,
esperando um segundo para também fechar os braços ao redor de Sirius.
"Senti muito a sua falta." Ele conseguiu dizer, o rosto enterrado no ombro de
Peter.

651
Peter o apertou, os olhos bem fechados, "Eu também, Padfoot. Eu também."

James envolveu os dois carinhosamente com os braços, o que nos fez rir. Ele
parecia uma criança. "Do que você está rindo, Reg? Seu grande idiota." E
me puxou pela camisa, me obrigando a me juntar à eles.

Sirius fungou, ainda sorrindo, "Ok, ok... Mas e o meu Moony, huh? Está
faltando ele nesse abraço, não está?"

James franziu o cenho, "Bom, eu não o vejo desde..."

"Espere aí." Pandora olhou para longe, cerrando os olhos.

"O que houve, Pan?" Fui até ela, seguindo seu olhar, mas não enxergando
nada realmente no meio de tanta luta e destruição.

Ela ficou em silêncio, até que sua expressão mudou. E, naquela fração de
instante, senti que meus pés não estavam mais no chão. Tudo pareceu sumir
em volta do que estávamos olhando.

Estava longe, mas eu reconheceria em qualquer lugar. Olhei para Sirius e, no


mesmo segundo, eu o ouvi gritar, a voz estridente e cheia de terror. Era o
corpo inerte de Remus estirado no chão.

652
Capítulo 46.2: Remus, o Alfa

TW: Violência e sangue.

As lutas entre bruxos geralmente são através de feitiços. Os lobisomens


podem resolver de jeitos diferentes. É sempre bom avisar, cuidem de
vocês mesmos.

O caos foi completamente instalado depois que Voldemort se pronunciou -


aquela voz asquerosa e cortante ecoando no fundo das nossas cabeças. Sirius
saiu correndo atrás de Regulus, me fazendo perdê-lo em meio à multidão de
bruxos que começaram a se enfrentar avidamente.

"Remus," Shade apareceu ao meu lado, Lucien parado perto dele, olhando
para os lados, "O que devemos fazer?"

"Junte os outros e me encontrem do outro lado da vila. Depois disso, temos


que achar o alvo," Fiz uma pausa antes de continuar, para ter certeza de que
eles sabiam de quem eu falava, "E matar."

Shade assentiu, trocando um olhar com Lucien e aparatando em seguida. Foi


algo que eu tive que ensiná-los ao longo tempo, juntamente com o jeito certo
de se manusear uma varinha, que James havia gentilmente se oferecido para
comprar para cada um deles, e como pronunciar os feitiços corretamente.

Quando os dois abandonaram o bando de Greyback, outros nos acharam,


procurando a proteção e a segurança que não teriam depois de traí-lo.
Greyback era o verdadeiro mal. Os lobos do seu bando, ou melhor,
seus filhotes, eram iguais à mim. Eram pessoas normais que em algum
momento foram mordidas e tiveram a vida virada do avesso. A diferença é
que eu havia tido a sorte de encontrar pessoas boas que me acolheram como
eu era. Eles não. Greyback era tudo que eles tinham. E como ser forte o
suficiente para viver sozinho em um mundo que odeia você?

Sirius odiou a ideia no início. Foram dias e dias de conversa e, às vezes,


brigas. Eu estava com raiva por ele não entender o meu papel nisso tudo.
Não entender que eu precisava fazer isso. Se não havia ninguém para lutar
por nós, então eu deveria fazer. Ele estava com raiva porque achava que eu
não era igual à eles, que era melhor, superior. Eu discordava. O que quer que
tenha no coração de cada um de nós é uma coisa, mas as circunstâncias que
levaram à isso são iguais para todos nós.

653
Makenna foi a primeira lobisomem a se juntar à nós depois de Lucien e
Shade. Ela tinha a minha idade. Era negra, os olhos se misturavam entre o
verde e o âmbar e os cabelos trançados e longos, que iam até o seu quadril.
Ela era esperta e desconfiada, não deu o braço à torcer facilmente. Mas queria
uma vida melhor, eu pude ver. Pude sentir. Ela queria desesperadamente
uma vida melhor do que aquela, por mais que não tenha se permitido ficar
vulnerável o suficiente para usar essas palavras.

Os próximos foram os gêmeos, Ansel e Aspen. Aspen era alto, os olhos


muito escuros, impossíveis de ver a íris e os cabelos eram meio compridos,
o que me lembrava os de Sirius, mas não eram nada bem cuidados como os
dele. Ansel era muito bonita, tinha os mesmos olhos do irmão gêmeo e os
cabelos, embora mais compridos, eram da exata mesma cor. Aspen tinha uma
cicatriz profunda no meio do rosto, que ganhou por tentar proteger a irmã da
ira de Greyback. Fugiram na mesma noite que aconteceu e nos procuraram.

Theo era o mais novo. Ele tinha dezoito e havia sido transformado com
quatorze. Era o que tinha menos tempo de experiência. No entanto, ele me
lembrava Regulus às vezes, o que me fez gostar dele de primeira. Talvez
fosse o coração maior do que seu corpo podia aguentar. E a coragem tão
intensa que o tornava idiota. Regulus tinha a idade dele quando se meteu
naquela caverna sem pensar duas vezes. Então eu acreditava em Theo,
acreditava de verdade. Ele era capaz de coisas enormes.

Eve era um ano mais velha que eu, e usava isso sempre para tentar tomar a
liderança. Ela tinha a lateral do cabelo completamente raspada e um olhar
muito desafiador. Ela era ousada, mas nunca, nunca era injusta. Ela poderia
rasgar com os próprios dentes qualquer um que fizesse mal para o bando
dela. Quando Greyback torturou Caius, seu melhor amigo, ela não aguentou
a ideia de que nunca poderia matá-lo. Então os dois se juntaram à nós.

Félix foi o último a se juntar ao bando. Ele era meio quieto na maioria das
vezes, não era de conversar muito. Mas lutava como ninguém. Ele tinha
músculos que sobressaiam por todo o corpo e um soco era o bastante para
apagar um oponente. Acho que vi ele sorrir uma vez, mas não tenho certeza.

Eu os ensinei a lutar como bruxos. Eles me ensinaram a lutar como um lobo.


E me mostraram coisas que eu era capaz de fazer quando outros lobisomens
estavam por perto, que eu não tinha ideia que eram possíveis antes por nunca
ter interagido com outros iguais à mim. Foi um choque e tanto quando
descobri que era possível que nos comunicássemos uns com os outros através

654
dos pensamentos. A primeira vez que Makenna fez isso comigo, senti que
minha mente havia rodado 360 graus.

Godric's Hollow estava um caos completo, era quase impossível se esgueirar


pelos becos ou pelas passagens entre as casas. Andar pelas ruas nem pensar,
elas estavam infestadas de Comensais da Morte. Procurei por Sirius por todo
lugar, mas sem sucesso. Ele estaria com Regulus, obviamente, ele nem
mesmo cogitaria sair do seu lado - meu Padfoot, tão estupidamente leal.

"Remus!" Mary saiu de dentro de uma das casas, quando me viu abaixado
atrás de um pedaço de madeira grande, provavelmente de alguma casa
destruída, "Graças à Deus! Graças à Deus!" Ela jogou os braços no meu
pescoço.

"Mary!" Eu a apertei de volta, aliviado em vê-la, "Você viu os outros?! Sabe


onde algum deles está?! Viu Sirius?!"

"Não, eu... não, eu não vi ninguém depois que a luta começou, eu..." Ela
estava ofegante, parecendo atordoada, "Eu tenho que encontrá-lo, Remus,
eu..."

"Eu sei, eu sei, eu também estava..."

"Não, Remus," Mary endureceu a voz, me encarando intensamente,


"Eu tenho que encontrá-lo."

"Mary, Regulus sabe se defender, ele é um dos mais fortes que temos - o
filho da mãe," Sorri fracamente, mas sem entusiasmo, "Ele foge da morte
desde que se juntou à Ordem. Escapulindo pelas beiradas todas as vezes. Ele
não vai..."

"Mas você o ouviu. Você o ouviu, não ouviu?" Ela me interrompeu, a voz
tremendo, "Sabe do que eu estou falando. Regulus o traiu duas vezes, Remus.
Se ele o pegar sozinho, se Regulus se descuidar por um minuto se quer..."

"Ele não vai." Respondi, incisivamente, "Ele nunca se descuida, não é agora
que vai."

"Não posso perder ele, não depois de tudo," Mary sussurrou, os olhos
perdidos, a voz fraca, "Não posso perder ele de jeito nenhum."

Ela estava com medo. Medo de verdade.

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Se Mary estava assim, eu não gostaria nem mesmo de pensar em como Sirius
estaria, mesmo estando com Regulus. Ele com certeza estaria lutando com o
peito apertado de preocupação, eu imaginava. Ao contrário de Regulus, a
pessoa com mais senso autodestrutivo que eu conhecia, que estaria com a
varinha em mãos e a estúpida coragem exagerada fazendo-o lutar no
automático completo.

"Olhe, Mary, ele não v-"

"Remus!" Makenna apareceu de repente, desaparatando do nosso lado,


assustando Mary e à mim, "Precisamos de ajuda. Caius está ferido."

Ela geralmente era séria, o rosto impossível de expressar o que ela estava
sentindo realmente. Mas, com todas as coisas que me ensinaram sobre
compartilhar pensamentos e emoções entre si, eu podia ver. Makenna estava
assustada.

"Ferido?! Como ferido?!" Perguntei, franzindo o cenho, "A batalha mal


começou. Ele estava lutando sozinho?!"

Makenna se abaixou bruscamente quando uma explosão aconteceu perto de


onde estávamos, "Foi um deles, Remus," Ela murmurou seriamente, os olhos
verdes vivos em fúria, "Um dos de Greyback."

É claro que havia sido um deles. Era óbvio que Voldemort - que não se
importava nem um pouco com os lobisomens - havia instruído Greyback a
se concentrar nos lobos traidores, porque não o julgava capaz ou digno de
combater outros bruxos. Como diabos eles não percebiam que tudo não
passava de uma farsa? Uma marginalização mascarada por uma falsa ideia
de segurança e proteção?

"Vá, Remus," Mary soltou meu braço, que ainda segurava com força, "Eles
precisam de você. Só você pode fazer isso."

"Tem certeza que vai ficar bem?"

Ela assentiu com a cabeça, "Vou tentar achar os outros. Vou ficar bem,
prometo."

Deixar Mary ir foi difícil. Eu queria ficar o mais perto possível das pessoas
que eram importantes para mim, das pessoas que eram a minha família. Mas
eu não estava louco de deixar qualquer um deles chegar perto de Greyback

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e dos seus lobos, eu lutaria sozinho e se não o matasse, então morreria
tentando.

"Certo, onde ele está?!" Me virei rapidamente para Makenna, que olhava
para os lados e acima do pedaço grande madeira, nunca abaixando a guarda.

"Ele está em um lado afastado da vila e não acorda de jeito nenhum," Ela
bufou, "Devem ter batido a cabeça dele, com certeza."

Makenna segurou no meu braço firmemente e aparatou, me levando consigo.


Ela era boa nisso. Havia aprendido mais rápido do que os outros, que quase
estruncharam tentando aprender aparatação. Ela era focada o suficiente para
conseguir na primeira tentativa.

A parte da vila era realmente afastada. De onde estávamos, os feixes de luzes


verde e vermelha que corriam nas ruas entre bruxo e bruxo pareciam
pequenos pontos iluminados e a gritaria parecia abafada e distante, como um
barulho dentro de um sonho. Caius estava deitado no chão, a cabeça sangrava
na parte de trás e Eve o tinha deitado em suas pernas, sem derramar nenhuma
lágrima se quer.

"Alguém viu quem fez isso com ele? Viram o rosto?" Me sentei rapidamente
ao lado dele, preparando a varinha para fazer os feitiços de cura pela sua
nuca machucada.

"É claro que não, Lupin." Eve rosnou, "Se eu tivesse visto, teríamos outro
lobisomem sangrando estirado nesse chão, você pode acreditar."

Aspen, que estava em pé com a mão no ombro da irmã, deu um passo à


frente, "Não acho que tenha sido o próprio Greyback. O tipo de ataque dele
é diferente. É mais para..."

"Matar," Ansel interrompeu, completando o pensamento do irmão,


"Greyback nunca ataca sem matar."

"Remus," Theo se abaixou ao meu lado, falando suavemente, "Posso ajudar


você com isso. Estou realmente melhorando com feitiços de cura. Consegui
curar uma cicatriz enorme na última lua cheia."

"Deixe ele, Theo." Felix estava em pé de braços cruzados, ele usava uma
regata que deixava os músculos à mostra e calças de estampa camuflada,
"Lupin sabe o que está fazendo."

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"Não, não, você pode tentar, claro que pode," Me afastei para o lado quando
Theo sorriu gentilmente, respirando fundo e sussurrando os feitiços sob o
corpo desacordado de Caius.

Era estranho que algum lobisomem houvesse atacado Caius e deixado ele
aqui, ainda respirando e com o coração batendo. Se a intenção de Greyback
era matar, por que deixá-lo vivo? E por que aqui, tão afastado de onde tudo
estava acontecendo?

De repente, Shade apareceu, desaparatando no meio de todos nós, ofegante


e suado, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Eu me inclinei,
pondo a mão em seu ombro, fazendo-o me encarar, "O que houve? Me conte.
O que diabos aconteceu?!"

"Pegaram ele... Pegaram..." A voz estava trêmula e ele parecia estar fazendo
uma força absurda para fazê-la sair, os pulmões tão cansados que qualquer
lobisomem poderia ouvir tentando desesperadamente funcionar, "Pegaram
Lucien, Remus! Isso tudo é uma armadilha! Atacaram... atacaram Caius para
atrair você para cá! Para atrair todos nós para cá! Para um lugar em que ele...
em que ele possa fazer o showzinho de merda dele em paz, sem
interrupções..."

Claro. Claro. Claro. Aí estava a resposta que eu tanto procurava. "Eles o


mataram? Mataram Lucien?" Shade começou a chorar, mal conseguindo
respirar, os outros observavam cautelosamente, "Shade! Preciso que me
responda! Ele está morto?!"

"Pare de fazer perguntas idiotas, Lupin!" Eve se levantou do cão, recostando


a cabeça de Caius no chão, "É óbvio que ele está morto! Você pode não saber
porque sempre viveu sob a proteção de bruxos a vida inteira, mas nós
sabemos porque já estivemos com ele! Lucien não vai voltar, vai, Shade?"

Shade tremeu, demorando até balançar a cabeça nervosamente, os olhos


traumatizados, "Eles..." Ele apertou os olhos, sacudindo a cabeça, parecendo
tentar esquecer de algo, "Eles r-rasgaram a garganta dele na minha frente.
Bem diante dos meus olhos e eu... eu não consegui fazer nada porque... eram
muitos e e-eu estava... estava sozinho, Remus, eu estava sozinho, você
entende? Eu não podia ter feito nada, não consegui..."

Imaginar tudo me deu vontade de vomitar. Lucien havia sido o primeiro a


me procurar, juntamente com Shade. Eu já o conhecia o suficiente para sentir
que precisava protegê-lo, para sentir que ele era parte de nós e parte de mim

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também. E agora ele se foi. "Não foi sua culpa, Shade, não... porra, não era
assim que deveria ser, porra, porra, porra...."

Caius começou a se mexer no chão, Theo ainda estava ajoelhado ao seu lado
ajudando com que ele conseguisse se sentar, Eve correu de volta para ajudá-
lo. Ele apertou os olhos, levandoa mão a cabeça, "Que merda aconteceu?"

"Caius," Me abaixei, ficando de frente com ele, "Você consegue se lembrar


do rosto de quem fez isso com você?! Consegue se lembrar quem foi?!"

Ele assentiu firmemente, "Foram dois lobos." Ele olhou para Eve quando
continuou a falar, "Poldark e Paxon."

"Filhos da puta." Makenna murmurou atrás de nós. Eu a encarei.

"Se lembra deles?"

"Todos nós nos lembramos deles." Aspen interrompeu, a voz rígida, "São os
piores de Greyback. Tem quase o mesmo tanto de crueldade e frieza."

Respirei fundo, olhando para Caius novamente, "Você precisa saber. Lucien
foi pego por Greyback em menor número. Ele..."

"Está morto, não está?" Caius sorriu friamente, com dor na voz, "Diga a
verdade."

"Vamos vingá-lo, Caius," Theo afirmou, encarando-o, "Vamos vingar a


morte de Lucien, pode ter certeza."

Em um instante, a atmosfera mudou. Pude sentir os pelos no meu braço se


eriçarem e todos os meus sentidos serem aguçados. O mesmo aconteceu com
os outros, eu pude ver. Eles se alarmaram, assumindo uma postura de ataque
imediatamente. E uma voz ecoou, me fazendo ficar de pé outra vez.

"Procurando por isto, Lupin?" Era Greyback. Com o corpo completamente


sem vida de Lucien jogado nos seus ombros. Outros lobos estavam atrás dele,
todos com o sorriso orgulhoso no rosto. Estavam com orgulho do seu pai, eu
quase podia sentir irradiando deles. Greyback jogou o corpo de Lucien no
chão com o peito para cima, deixando exposta a marca profunda e
ensanguentada em seu pescoço de três garras atravessadas em sua pele. Ele
tinha marcas ao redor do corpo também. Eles o destruíram.

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"Desgraçado!" Eve gritou, avançando em direção à ele, que gargalhou
cruelmente. Eu a segurei pela cintura, empurrando para atrás.

"Menina tola, menina tola..." Ele rosnou, "Tem a burrice de virar as costas
para mim e acha que ainda pode me derrotar. Que vergonha. Nem mesmo
parece que fui eu quem a criei."

"Porque não foi. Você não fez absolutamente nada além de tentar destruí-
la." Atirei, com ódio na voz. Os lobos de Greyback riram junto com ele.
Eram todos muito mal cuidados na aparência, mas Greyback era o pior. Ele
tinha dentes pontudos e longas unhas amareladas que, assim como o de seus
lobos, estavam sujas de sangue seco. Ele não tinha a marca negra, apesar da
associação com os Comensais da Morte. Provavelmente não o julgavam
digno.

"Me magoa que você tenha crescido com tanto ódio de mim, filhote,"
Greyback fingiu uma voz triste, "Me decepciona muito que eu tenha tido
tanto carinho em criar você e você tenha se virado contra mim com tanta
petulância. De qualquer forma, tendo sido criado por aquele bruxo imundo,
você não poderia ter sido muito diferente."

Respirei fundo, os dentes apertados e os punhos cerrados ao lado do


corpo. Não caia nessa, Remus, não dê a ele o que ele quer. "Não ouse falar
do meu pai. Tire o nome dele da sua boca asquerosa."

" Se acalme, Poldark," Greyback levantou uma mão desdenhosamente,


"Talvez eu deva fazer uma visita à ele, não é? Há tanto tempo que não nos
vemos! Diga-me, você não mora mais com ele apenas pela segurança dele
ou foi Lyall quem expulsou você pelo o que você é como o inseto que ele
sempre foi?!"

Ele estava errado. Meu pai nunca, nem em um milhão de anos, me tiraria de
casa. Nem mesmo quando eu cresci e as coisas ficaram realmente difíceis.
Tendo que nos mudar frequentemente para as pessoas não perceberem o que
acontecia todo mês e tendo que procurar por lugares seguros para as minhas
transformações. Seguros o suficiente para que eu não machucasse ninguém.

Meu pai tentou, sei que tentou. E ele conseguiu muito por um tempo, ele
nunca desistiu de mim. Ele era o meu único amigo durante a minha infância
antes de entrar em Hogwarts. Mas por amá-lo tanto, quando eu fiz dezessete,
decidi que era hora de me virar sozinho e deixá-lo viver uma vida pacífica e
sem complicações. Eu o visito com Sirius às vezes. Na primeira vez, ele ficou

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preocupado por Sirius ser um Black e a fama ruim o preceder. Mas ele o
conquistou muito rápido depois disso.

"Pare de falar do meu pai." Repeti, Theo pôs a mão no meu ombro, que estava
rígido como pedra, "Você não tem o direito de falar qualquer coisa
relacionada à ele. Ele é um homem bom, ele cuidou de mim o máximo que
pôde, pelo tempo que conseguiu depois que você se meteu em nossas vidas.
Ele foi forte e corajoso. Meu pai é tudo que você jamais será."

"Talvez eu devesse visitar Hope, então?" Greyback disse, totalmente alheio


à minha tentiva de ofendê-lo. Meu estômago se revirou, a bile vindo até a
minha garganta, quando ouvi o nome da minha mãe na voz daquele monstro.
"Apesar de que eu não poderia vê-la, é claro. Não está dentro das minhas
habilidades como lobisomem falar com os mortos."

Respirei fundo mais uma vez, o encarando diretamente. Eu não deixaria ele
notar que estava me afetando. Eu nunca deixaria ele perceber o que estava
fazendo comigo. Minha mãe era a pessoa mais gentil que eu um dia
conhecera. Ela era trouxa, mas possuía mais magia em seu interior do que
qualquer outro bruxo. "Não adianta. Não tem ninguém para você ameaçar.
Sua luta é comigo, e apenas comigo. Pare de tentar envolver terceiros para
me atingir."

"Fale direito com o nosso pai, seu traidor sujo!" Um dos lobisomens ao lado
de Greyback sibilou, os olhos castanhos brilhando em raiva, "Ele fez de você
quem você é! Deveria ser grato!"

"O lobo não é quem você é, só é o que você é." Makenna disse firmemente,
postada ao meu lado direito, "Somos quem somos por nossa causa, não
devemos nada à você."

Senti uma pontada na parte de trás da cabeça de repente, como se um


músculo estivesse tomado um choque elétrico. "Desista dessa tolice,
filhote..." A voz de Greyback ecoou, mais fria e cortante que de costume,
dentro da minha cabeça. "Você diz que não tenho ninguém para ameaçá-
lo, mas você mente. Consigo vê-lo muito claramente dentro da sua
cabeça..."

Não, não, não, não, não. Empurre ele para fora, Remus, desvie ele da aí. Não
deixe ele chegar lá.

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"Ele é magnífico. Lindo, tão lindo... Que pele macia e perfeita... Já vi
isso antes, ele parece com alguém que... Ah! Não me diga! Não me diga
que é um Black!"

"Não!" Gritei, apertando as duas mãos na cabeça, "Saia, saia daqui! Saia!"
Doía, doía muito.

"Remus, se concentre!" Makenna pôs as mãos nos meus ombros, "Lembre-


se do que eu disse à você! Tente colocar outros pensamentos no lugar! Tente
substituir e levá-lo para onde você quer!"

Greyback e os lobisomens riram, zombando dela. Eu tentei fazer o que ela


disse, mas era impossível. Eu estava com tanto medo dele ver o rosto de
Sirius na minha mente, não conseguia me concentrar o suficiente. A voz dele
ecoou mais uma vez, "Sempre quis um dos Black, sempre quis... São
todos tão perfeitos, tão bonitos, a estrutura óssea tão impecável... Quis
pegar o mais novo logo quando atingiu os quinze, mas não me
permitiram..."

"Saia da minha cabeça! Pare com isso!" Pareciam martelos batendo contra o
meu crânio agora, tudo sacudia e doía. E apenas a voz dele podia ser ouvida.

"Se não se render e desistir desta ideia tola de me derrotar, se não


aceitar sua natureza e abandonar os bruxos, se não me aceitar como seu
criador e pai, vou ser obrigado a matar... A matar... Eu vou matar Sirius
Black."

Isso era demais - era demais para caralho. Eu perdi completamente o


controle. Pegue o que você quiser de mim, pensei, mas não se atreva a
encostar nele.

Me soltei do braço de Makenna bruscamente e corri na direção de Greyback,


sem pensar duas vezes. Dois de seus lobisomens entraram em sua frente, me
barrando e tentando me acertar um golpe. Foi a deixa para que Makenna,
Eve, Theo e todos os outros atacassem de volta. Eles não usavam magia, não
usavam em nenhum ataque. Todos usavam apenas a força física e os instintos
aguçados.

Greyback estava parado, sorrindo cruelmente, enquanto seus lobos tornavam


impossível que ele fosse tocado. Felix conseguia facilmente derrubar dois de
uma vez sozinho, ele acertava soco atrás de soco, fazendo o sangue deles
espirrar pelo ar, mas quando perceberam sua vantagem, tentaram

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sobrecarregá-lo ainda mais. Ansel e Aspen lutavam contra dois lobisomens
e Makenna derrubou um com um chute certeiro na nuca e Shade terminou o
trabalho, quebrando os braços do cara para trás. Theo, Caius e Eve lutavam
quatro de uma vez, os rostos claramente cansados, mas eles nem mesmo
tremiam enquanto acertavam os golpes, quebrando o corpo dos inimigos
completamente.

Greyback com certeza fez de propósito quando ordenou que seus lobisomens
mais cruéis, Poldark e Paxon, viessem diretamente na minha direção. Eles
eram bons, muito bons. Era definitivamente difícil me concentrar em
derrubar um quando o outro estava vinha logo atrás com um golpe. Dei um
soco em Poldark, fazendo-o cambalear e Paxon avançou, enrolando os
braços no meu pescoço por trás, imobilizando meu corpo.

"Seria muito fácil quebrar seu pescoço agora, Lupin." Ele sussurrou atrás de
mim, rindo friamente no meu ouvido.

"Hoje não, cara."

Minhas pernas livres chutaram Poldark, que avançava para mim enquanto
Paxon me enforcava, fazendo ele cair. Quando Paxon se distraiu, eu agarrei
o seu pescoço e usei toda a força que tinha para girar o seu corpo por cima
de mim e batê-lo contra o chão. Consegui ouvir o barulho das suas costelas
quebrando com o impacto e ele urrou de dor quando começou a tossir o
próprio sangue. Paxon me encarou com ódio, os olhos brilhantes em raiva e
me deu um soco, me fazendo sentir o gosto metálico de sangue na boca.

Ele não erraria um golpe se estivesse disposto a realmente machucar. Mas


eu também não erraria. Ele tentou golpear meu rosto várias vezes, acertando
algumas e errando em outras. Conseguia sentir os olhos de Greyback em
cima de nós, como se estivéssemos em meio a um teste. Como
se eu estivesse.

Paxon estava concentrado na minha cabeça. Como um soldado, ele havia


provavelmente sido ensinado que um golpe no lugar certo do pescoço para
cima e você pode apagar alguém de uma vez. Mas ele era apressado demais,
querendo me derrotar tão rápido. Quando percebi o jeito que ele lutava, o
convenci de que também queria acertar sua cabeça. E em um momento de
distração, eu acertei o seu estômago fazendo ele se curvar e quando sua
cabeça abaixou, o meu joelho golpeou a sua testa. Ele estava atordoado
demais para revidar imediatamente, então não parei.

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Acertei um soco atrás do soco no rosto, fazendo ele sangrar cada vez mais.
Quando ele caiu no chão, ele riu, "Você é mesmo um de nós, Remus Lupin."
Ele tossiu, sangue escorrendo pela sua boca, "Nosso pai está certo. Você tem
um talento nato para machucar."

"Não quero matar você."

"Mas vai matar." Ele balançou a cabeça, "Vai matar porque se não eu vou
matar você."

Quando dei mais um soco no seu rosto, ele apagou. Eu não sabia se ele ainda
respirava ou não, mas também não queria descobrir. Não teria saber se
tivesse acabado de tirar a vida de alguém. Por mais nojento e repulsivo que
ele fosse, ainda era um lobisomem. Uma pessoa que em algum momento foi
mordida por Greyback e teve a vida arruinada depois disso.

Haviam mais corpos no chão agora. Dei uma rápida olhada ao redor e vi que
não era nenhum dos meus. Todos que estavam abatidos agora eram do lado
de Greyback, mas ainda não havia acabado. Depois de derrubar Paxon, eu
avancei novamente na direção de Greyback e ninguém tentou me impedir
dessa vez.

Quando levantei o braço para dar o primeiro soco, ele agarrou meu punho,
torcendo-o para o lado. Engoli a dor, empurrando-a para dentro, e quando
tentei com a outra mão, ele também a segurou e usou a própria cabeça para
acertar a minha. O impacto fez o meu corpo cambalear e a minha visão ficar
turva, minha cabeça parecia que ia explodir.

"Você é patético, Remus Lupin, nem mesmo consegue acertar um soco em


mim," Ele sorriu, quando limpei o sangue que escorreu da minha testa,
"Vamos, tente outra vez."

Dessa vez, tentei acertar um chute na sua lateral, mas ele nem mesmo pareceu
sentir. Greyback me agarrou pelo pescoço com uma das mãos, suspendendo
meu corpo no ar. "Filhote mau, muito mau... Criei você para ser mais
inteligente do que isso, Remus Lupin."

"Você não me criou!" Rosnei alto, tentando me soltar das suas mãos, mas ele
continuava a me suspender, apertando cada vez mais a mão em volta do meu
pescoço, a ponta de suas unhas afiadas ardendo na minha pele.

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Greyback me atirou contra o chão, sem soltar o meu pescoço. Theo gritou de
onde estava, "Remus!" Mas outro lobisomem o pegou, impedindo-o de ir até
mim. Greyback agora estava em cima de mim, forçando os dedos ao redor
do meu pescoço e sorrindo.

"Implore pelo meu perdão, filhote, implore!" Ele rosnou, batendo a minha
cabeça no chão com força. Meus olhos quiseram fechar, o meu cérebro
parecendo que ia explodir de dor. Carreguei toda a força de dentro do meu
peito para gritar de volta.

"Nunca!" Exclamei, ele apertou mais o meu pescoço, "Nunca vou implorar
nada para alguém como você. Nunca!"

Ele bateu minha cabeça mais uma vez, me fazendo quase perder os sentidos.
Pelo canto do olho, consegui ver a cor do meu sangue escorrer no chão.
Pensei em Sirius. Pensei que se eu morresse, ele se culparia por ter tentado
me afastar de outros lobisomens e não ter conseguido. Ele tentaria matar
Greyback, o que muito provavelmente resultaria em sua morte. Eu precisava
viver por ele. Sempre que eu pensei em desistir durante todos esses anos, ele
esteve lá e me convenceu que ficar vivo era sempre melhor. E por Sirius,
pelo meu Pads... Valia à pena sobreviver. Por ele, tudo valia à pena.

À essa altura, eu já havia perdido a conta de quantas vezes Greyback havia


batido a minha cabeça contra o chão. Então em uma fração de segundos que
ele não estava esperando, levei o meu joelho até a sua barriga, colocando
toda a força que conseguia. Ele vacilou pela surpresa de que eu ainda estava
em condições de me mexer, e eu usei esse momento para dar outro chute
antes que ele pudesse me atacar outra vez.

Quando as mãos dele afrouxaram em torno do meu pescoço, Felix apareceu


atrás dele, agarrando um de seus braços e Makenna agarrou o outro. Os dois
estavam usando toda a sua força para o segurarem e no momento em que
Greyback foi pego, os lobos que lutavam à favor dele pararam de lutar
abruptadamente. Nenhum deles se moveu, encarando Greyback enquanto
Makenna e Felix o imobilizavam pelos braços.

Ele tentou derrubá-los com as pernas, mas Theo e Caius correram,


agarrando-as e tentando deixá-las paradas. Felix gritou, "Remus, agora!"

Me despertei do transe e dei um salto pelo corpo grande de Greyback que


agora estava não intencionalmente ajoelhado com Theo e Caius forçando

665
suas pernas para baixo. A adrenalina estava me impedindo de sentir a dor na
minha cabeça, o que era bom, porque eu não tinha tempo para sentir dor.

Subi nos ombros dele, posicionando firmemente minhas duas mãos em seu
queixo que se balançava, lutando para sair dali. Eve, Ansel e Aspen, e Shade
seguravam os poucos lobisomens que tentavam intervir.

"Vai ser assim então, Remus Lupin?" Greyback sibilou, a voz ainda
carregada de crueldade, "Você realmente é meu filho."

"Meu pai é Lyall Lupin. Foi ele quem me salvou quando você me destruiu.
Não vou permitir que faça isso pela segunda vez. Nem comigo, nem com
ninguém." Apertei as mãos em voltas do seu queixo e Makenna e Felix
viraram seus braços para um lado quando eu torci sua cabeça para o outro,
quebrando os ossos do seu pescoço lenta e dolorosamente. Ele gritou de dor
nas minhas mãos, até finalmente cair no chão.

Um corpo agora sem vida e estático.

Tudo ficou em silêncio por um instante, a respiração de todos acelerada. Eu


não conseguia descrever o que eu sentia. Eu não era uma pessoa vingativa.
Não mesmo. Mas aprendi uma coisas e outras nessa vida, e uma delas era
que algumas pessoas apenas não tinham conserto nenhum. Não eram dignas
de serem consertadas. Haviam feito estrago demais. E Greyback era uma
delas.

Naquele instante, o Remus Lupin de cinco anos pegou na minha mão, e disse:
Obrigada por fazer isso por mim. Você é o meu herói.

Fui distraído dos meus pensamentos quando percebi que metade dos
lobisomens que ainda estavam ali começaram a por um joelho no chão. Um
à um, até mesmo os que lutaram ao lado de Greyback. Até chegar nos do
meu próprio bando, que sorriam triunfantemete, se ajoelhando juntamente
aos outros.

"O que é isso?" Franzi o cenho, sem entender.

"Eles estão reverenciando você," Makenna disse, agora também ajoelhada,


"Você derrotou o mais forte de todos para eles. Agora você é o mais forte."

Um dos lobisomens de Greyback - agora não mais - levantou a cabeça, "Nós


entendemos se não formos merecedores da sua piedade. Mas você é quem

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decide." Ele fez uma pausa antes de continuar, "Você é o nosso alfa agora,
Remus Lupin."

O meu sangue estava começando a esfriar, o corpo começando a se acalmar.


As palavras rodando na minha mente "Alfa, alfa, alfa..." e a dor e o cansaço
começando a tomar conta.

Theo sorriu para mim, "Agora acho que você precisa dizer alguma coisa,
Remus."

"Mm, é, eu... Eu fico muito... Muito lisongeado por..." As palavras


começaram a cortar e minha mente ficou cansada, a dor na cabeça vindo com
força, meu corpo começou a cambalear e meus olhos pesaram, implorando
para fechar, "Vocês se importariam se eu... Se eu descansasse só..."

Depois disso, tudo ficou escuro. A dor e o cansaço me engoliram e eu mal


senti meu corpo bater no chão.

***

"Moony! Moony! Moony, por favor!"

"Ele está respirando?!"

"Claro que está, Reg, olha só a barriga dele!"

"Remus!" Ouvi uma voz feminina no fundo da minha cabeça, "Remus,


acorda!"

Meus olhos se abriram com dificuldade. Parecia que havia se passado dias,
mas a gritaria e os barulhos de feitiços me trouxeram de volta para a realidade
e a batalha ainda estava acontecendo.

Mas ele estava lá, bem na minha frente. Merlim, parecia que beijá-lo não
seria o suficiente naquele momento.

"Moony..." Sirius chorou, quando me sentei para abraçá-lo. Ele estava tão
assustado, tão assustado.

O corpo de Greyback ainda estava lá. Quando Sirius me soltou, eu perguntei


para onde os lobisomens haviam ido e James contou que Sirius pediu que

667
todos me deixassem com ele para que ele cuidasse de mim. Todos eles
estavam lá. Regulus e James de um lado, Lily, Marls e Pandora do outro,
Sirius agachado na minha frente e...

"Worm?!" Me assustei, passando os olhos entre Sirius e James. Os dois


estavam com um sorriso de orelha à orelha. "Porra, acho que bati a cabeça
muito forte..."

"Ei, Moony," Peter sorriu timidamente, acenando com uma mão, a outra
enfiada no bolso da calça.

"Você perdeu algumas coisas, Moony," Regulus sorriu, ajudando Sirius a me


levantar, "Mas nada que não possa ser atualizado."

"Vai precisar de um bom feitiço de cura, hein, Lupin?!" Marlene deu uma
cotovelada divertida na minha cintura, "Você tem sorte por eu ser tão boa
nisso."

"Ei, Moony também é bom, ok?" James bagunçou meu cabelo, jogando um
braço no meu ombro, "Ele ensinou para aquele bando inteiro a fazer esses
feitiços."

"Idiota!" Lily bateu no meu ombro, me abraçando logo em seguida, "Como


você me faz ver você caído no chão assim?"

Pandora estava encarando o corpo de Greyback, com curiosidade no olhar,


"Caramba, Remus, você é foda para caralho."

"Claro que é," Sirius beijou o meu rosto, enrolando os braços em volta da
minha cintura, "Eu sabia que você conseguiria."

"Eu sei que estamos em um momento aqui, mas precisamos ir agora,"


Regulus olhou ao redor, sem tirar a varinha das mãos, "Não é seguro
ficarmos no mesmo lugar por muito tempo."

"Quero falar com Sirius um minuto, Reg," Eu disse, Regulus me repreendeu


com o olhar, "Vai ser rápido. Prometo."

Regulus bufou, cedendo logo em seguida, "Tudo bem. Mas rápido. Vamos
fazer guarda para vocês. Vocês tem um minuto. Sessenta segundos, Lupin."

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"Meu Deus, você é chato demais," Sirius revirou os olhos e Regulus deu
língua para ele, virando-se de costa e se afastando, "Então, o que você
quer..."

Não pensei duas vezes e puxei o rosto dele para o meu, grudando nossos
lábios um no outro. Eu poderia ficar assim para sempre. Eu queria ficar assim
para sempre.

"Uau, Moony..." Sirius ofegou, com a testa ainda encostada na minha, "Se
você vai fazer isso sempre que estivermos em guerra, acho que não é tão
ruim assim..."

"Eu amo você..." Dei vários beijos no rosto dele, repetindo sempre, "Amo
você, amo você, amo você..."

Sirius sorriu contra o meu rosto, os olhos brilhando quando eu de repente


parei e o encarei demoradamente, "O que foi?"

"Você é o amor da minha vida. Você sabe disso, não sabe?" Acariciei a
bochecha dele com um dedo, ele assentiu, sorrindo de um jeito lindo para
mim. "Eu estava pensando em você. Foi o que me deu forças para lutar contra
ele. Eu pensei que deveria ser forte. Porque ultimamente tem sido difícil
sobreviver em meio à tudo isso, mas por você, vale à pena o esforço. A ideia
de uma vida com você... De uma vida inteira... Me dá vontade de querer
viver."

Sirius estava com os olhos azuis brilhando agora, um pouco trêmulos, mas
ainda linods. Deus, aqueles olhos. Eu sempre me apaixonaria por eles como
na primeira vez, todas vezes que visse. E então as palavras simplesmente
vieram.

"Quero me casar com você."

"Você... você o quê?!" O queixo dele caiu, os olhos realmente molhados


agora.

"Vinte segundos!" Regulus gritou.

"Cala a boca, Reg!" Sirius gritou de volta, mas sem tirar os olhos de mim,
"V-você está falando sério?"

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"Nunca falei tão sério como agora, Pads," Segurei o rosto dele entre as
minhas mãos, encostando nossas testas, pondo uma mecha do seu cabelo
grande para trás da orelha, "Sei que isso não acontece muito, que vão haver
pessoas que vão olhar estranho para nós dois... Mas eu não me importo. Não
sei se vamos sair vivos daqui, mas eu quero fazer isso. Quero uma vida com
você. Eu te amo, amo tanto que não tem nada que eu possa fazer que expresse
o suficiente. Você salvou minha alma, Pads. Não vejo a hora de passar o
resto da minha vida com você."

"Eu... eu não sei o que dizer, Moony..." Ele ofegou, sorrindo fracamente.

"Você pode dizer sim, talvez?"

Ele me encarou e me deu um selinho demorado, sussurrando contra a minha


boca, "Sim... sim, sim, sim, sim..."

Regulus apareceu e puxou nós dois pelo braço bruscamente, "Não estou
tendo todo esse trabalho para vocês dois se agarrarem no meio disso, tem
uma guerra rolando aqui!"

Nós sorrimos, ainda absortos pelas palavras que haviam sido postas para
fora. Eu ia me casar. Ia me casar com Sirius Black. Porra, o Remus de quinze
anos estaria com tanta inveja.

Desatamos a correr pelas ruas outra vez, desta vez todos nós estávamos
juntos. A guerra não havia mudado de estado. Ainda haviam corpos pelo
chão e muitos bruxos lutando contra si. Casas destruídas e pedaços de
madeira pegando fogo. Um dos corpos, todos nós conseguimos reconhecer.
Alastor Moody estava estirado no chão, os olhos abertos e sem vida. Não
havia tempo para ficar chocado, mas eu fiquei. Ele era um homem bom,
apesar dos meios. Ele seria lembrado. Assim como outros que a guerra
acabaria levando.

"Black!" Dois Comensais da Morte mascarados apareceram, olhando para


Regulus, mas antes que pudessem erguer suas varinhas, Lily ordenou.

"Estupore!" Um feixe de luz saiu de sua varinha e os Comensais foram


jogados com força para trás, para longe de nós.

Voltamos a correr, e mais Comensais começaram a aparecer, uma quantidade


enorme, parecia que eles brotavam de todos os lugares. Um monte deles nos
cercou, nos impedindo de sair de onde estávamos. Marlene lançou um feitiço

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para um deles, Peter fez o mesmo com outro. Regulus e eu erguemos
imediatamente as varinhas, prontos para atacar, Sirius e James imitaram,
juntamente com Lily.

Mas os adversários zanzavam por aqui e por ali de um modo que, se nós
disparássemos algum feitiço, poderíamos acertar uns aos outros. Eles
queriam nos confundir. E estavam conseguindo. Até que de repente se
transformaram em sombras pretas, atravessando por nós, escurecendo nossas
visões. Eu gritei por Sirius e fiquei aliviado quando o senti segurar a minha
mão.

Quando as sombras sumiram, olhei ao redor, para conferir se estavam todos


bem. Sirius estava lá, agarrado à mim. Regulus ainda estava conosco, não
haviam o pegado. James e Lily. Pete e Marls, e...

"Pandora?!" O grito de Regulus foi aterrorizador, cheio de medo e pesar,


"Pan, pelo amor de Deus!" Ele virava para todos lados desesperadamente.

"Reg," Sirius tentou chamá-lo, mas ele não ouviu.

"Onde ela está?! Para onde ela foi?!" Ele gritou, empurrando a mão de Sirius
para longe dele, "Pan! Pandora!"

Estávamos todos em choque, paralisados, encarando Regulus virar para


todos os lados, perdido e angustiado, até que uma voz aguda e fria falou tão
perto que Regulus se endireitou, parando abruptadamente.

A voz de Voldemort ressoou novamente no ar, e eu percebi que ele estava se


dirigindo a todos que lutavam ali, para que todos que ainda estivessem no
meio disso o ouvissem tão claramente como se estivesse ao nosso lado,
bafejando em suas nucas, à distância de um golpe mortal.

"Vocês lutaram corajosamente," Disse a voz, "Lord Voldemort sabe


valorizar a bravura."

"Se continuarem a resistir a mim, todos vocês morrerão, um a um. Não quero
que isto aconteça. Cada gota de sangue mágico derramado é uma perda e
um desperdício. Lord Voldemort é misericordioso. Ordeno que as minhas
forças se retirem. Já está quase amanhecendo. Cuidem de seus feridos, deem
um destino digno aos seus mortos."

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Vários Comensais começaram a sumir, transformando-se em sombras
negras, um por um, foram evaporando no ar. Deixando o campo de batalha
para trás.

"Eu me dirijo agora diretamente à você, Regulus Black. Você orquestrou e


permitiu que os seus amigos lutassem e morressem por você ao invés de me
enfrentar sozinho. Esperarei durante uma hora na Floresta ao redor da vila.
Se ao fim do prazo, você não vir até mim, não se entregar, ou trouxer alguém
com você, a batalha recomeçará. Eu começarei por Mary MacDonald e por
Pandora Lovegood que me deram a honra de estarem em minha presença
esta noite. Desta vez, eu participarei da luta, Regulus Black, e o encontrarei.
Castigarei até o último homem, mulher e criança que tentou escondê-lo de
mim. Uma hora."

672
Capítulo 46.3: Cobra com Coração de Leão

Não era real.

Simplesmente não podia ser.

"Regulus," A voz de Sirius ecoava no fundo, mas eu não conseguia focar


nela. Era como um som distante e abafado.

"Regulus, olhe para mim..." Acho que era James. Poderia ser Remus, mas
não tenho certeza.

Parecia que meu coração ia parar. Ao mesmo tempo, parecia que nunca mais
iria parar de bater tão rápido. Devia faltar pouco mais de uma hora para
amanhecer, mas estava escuro. Godric's Hollow estava anormalmente
silenciosa. Não havia clarões agora, nem explosões, nem gritaria. As poucas
casas que sobraram inteiras estavam manchadas de sangue. As pessoas
estavam em grupos, abraçando uns aos outros. Haviam outras pessoas
passando, carregando macas com pessoas machucadas.

Os feridos estavam recebendo o atendimento de curandeiros, entre eles


Marlene, que estava agachada sobre o corpo de um bruxo que tinha o braço
completamente dilacerado, recebendo a ajuda de Alice e Molly com os
feitiços. Eu comecei a andar, sem rumo, sem conseguir mexer muitas partes
do meu corpo, a não ser as pernas. Meus olhos tremiam, mas eu não
conseguia chorar. Sabia que haviam vozes chamando pelo meu nome lá
atrás. Sabia que eles queriam me ajudar. Sabia que eles queriam continuar
lutando.

Você permitiu que os seus amigos lutassem e morressem por você no lugar
de me enfrentar sozinho. Esperarei uma hora... uma hora...

Os mortos estavam enfileirados no meio da rua.

Eu quase não vi o corpo de Alastor Moody, porque estava rodeado de


pessoas, como Dumbledore, Slughorn, Hagrid e Arthur. Deus, Moody.
Como a guerra havia conseguido levar alguém tão forte como ele? Lucien,
um dos lobisomens de Remus, estava logo depois. Shade estava ajoelhado à
sua cabeça, uma das lobisomens estava deitada sob o seu peito, as lágrimas
rolando pelo o seu rosto. Quando avancei mais, pude ver claramente o corpo
de Edgar Bones e Benjy Fenwick, pálidos e imóveis, um ao lado do outro.
Eles eram melhores amigos.

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Narcissa estava chorando sob o corpo de Lucius, enquanto Andromeda a
abraçava por trás, os olhos apertados com força. Caradoc Dearborn estava
logo depois, algo parecia ter acertado sua cabeça com força, porque sangrava
muito. Seus olhos estavam opacos, estáticos. E então Dedalus Diggle,
Sturgius Podmore e Mundugus Fletcher. O chão pareceu se abrir quando
meus olhos se postaram sob o corpo de Emmeline Vance. O lugar pareceu
ficar menor, se encolher.

Ela havia estudado no mesmo ano que eu, era ótima em Defesa Contra as
Artes das Trevas. Ela era inteligente e tão, tão bonita. Quase consegui sorrir
com a lembrança de quando eu tinha quinze anos e consegui beijá-la em
Hogsmead. Na época, eu era um adolescente idiota e não sabia o quanto
Emmeline era especial. Tão especial...

Eu não conseguia respirar. Não conseguia suportar a visão dos outros corpos,
que pareciam não acabar nunca, saber quem mais havia morrido por causa
da batalha que eu iniciei. Eu não conseguiria chegar perto de Xenophilius
novamente, não conseguiria chegar perto de Luna. Eu não conseguiria pedir
perdão aos pais de Mary quando eles não a encontrassem, eu não conseguiria
olhar em seus olhos. Se eu tivesse morrido à dois anos atrás naquela caverna
e não tivesse iniciado tudo isso em primeiro lugar, talvez ninguém haveria
morrido.

Era meu dever dar um fim nisso. A guerra continuaria até ele conseguir me
matar. Eu precisava salvar aquelas pessoas, não aceitaria mais nenhuma
morte. Nenhuma se quer.

Dei as costas para a fileira de corpos, ainda sem enxergar muito à minha
frente, e corri rápido no sentido contrário, no sentido da floresta em volta da
vila... Moody, Emmeline, Lucien... Eu não queria mais sentir... Mary, minha
Mary... Pan, sinto muito... Queria arrancar o meu coração, minhas entranhas,
tudo que gritava dentro de mim...

"Regulus!" Pisquei assustado, quando James me agarrou pelos ombros,


correndo os olhos pelos meus, "Me escute, você tem que escutar!"

"Reg!" A voz de Sirius atrás de mim soava calorosa e afetuosa. Eu não


merecia, não merecia, não merecia...

"Eu preciso ir... elas estão..." Minha voz tremia de culpa e pesar, enquanto
eu tentava sair dos braços de James, "Preciso ir até à floresta... preciso..."

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"Reg, você é o único que pode pôr um fim nisso! Por favor, por favor, Reg..."
Sirius disse, se pondo ao lado de James, "Precisamos da cobra, temos que
matar a cobra!"

"Eu não quero matar cobra coisa nenhuma, Sirius!" Empurrei a mão de James
furioso, Sirius e ele piscaram chocados, "Se eu fizer qualquer coisa, ele vai
matá-las, você entende isso?! Não posso deixar isso acontecer! Se eu não
fizer o que ele está mandando, ele vai matar as duas! Eu não... Não posso..."

"Então o que você pretende?! Morrer?!" Sirius vociferou, os olhos molhados


de raiva, "Nós podemos salvá-las juntos! Se você morrer, não vamos
conseguir sem você! Eu não vou! Vamos continuar vivendo em um mundo
ameaçado por eles! E eu... eu não posso perd-"

"Vocês não precisam de mim! Eu nem mesmo posso usar a espada, Sirius!"
Vociferei de volta, interrompendo-o, "Eu prefiro morrer do que viver
sabendo que elas morreram por minha causa! Não aguento mais isso, Sirius!
Não aguento mais nada disso!"

Sirius me encarou perplexo, James sussurrou, "Reg..."

"Não, James, pare com isso! Já chega! Pare de agir como se todo mundo
tivesse que ser um herói digno e honroso como você! Você não sabe a metade
das coisas que eu tive que suportar, você não... Você não sabe! Você nem
me conhece, porra!"

"Eu conheço você," James afirmou, olhando nos meus olhos, "Você sabe que
conheço, não finja que não."

"Me poupe," Atirei friamente, apesar de que eu não queria machucá-lo. Não
queria que mais ninguém se machucasse. "Nem todo mundo teve uma vida
linda e feliz com pais amorosos, um lar para voltar e os marotos para serem
seus amigos! Eu não aguento mais continuar, você está me entendendo?! Eu
não... eu não aguento mais... não aguento mais..."

Minha respiração parecia não acompanhar meus pulmões, o oxigênio


faltando na minha cabeça. Parecia que eu ia desmaiar. Uma parte minha
talvez ansiasse por isso. Conseguir desligar, apagar, não sentir. Eu estava tão
exausto de sentir. E se a melhor forma de não se sentir mal fosse não sentir
mais nada nunca mais?

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Sirius ainda me olhava em silêncio, os olhos cautelosos, parecendo estar se
esforçando para captar exatamente o que eu queria dizer. Eu esperava que
ele conseguisse o quanto antes.

"Eu não acho que você esteja pensando direito, Reg," James respirou fundo,
voltando as mãos ao meu ombro, "Eu acho que você deveria agir com
cuidado. Nós... nós vamos ajudar você, sempre ajudamos."

"Minha namorada, James! Minha namorada e minha melhor amiga! Você


sabe o que significa isso?!" Ele estava me deixando irritado. Que droga, ele
achava mesmo que eu estava escolhendo alguma coisa?! "Pense se fossem
Lily e Sirius! Você não hesitaria nem por um segundo! Não minta para mim
dizendo que você esperaria por um plano que com certeza daria errado! Você
iria sem pensar duas vezes!"

"Qual dos seus planos deu errado até agora, seu idiota?!" James aumentou o
tom agora, tentando falar mais alto que eu, "Nenhum deles, Regulus! Você
conseguiu salvar todos nós! Você conseguiu se salvar!"

"Você chama isso de estar à salvo?!" Gesticulei ao redor, James correu os


olhos pelos corpos enfileirados na ruas e pelas casas destruídas, "Você acha
que Mary e Pandora estão à salvo por minha causa?!"

"Mas que porra," Remus apareceu atrás de mim, a cabeça enrolada em um


curativo, Peter estava ao seu lado, "Eu saio por dois minutos e vocês já
começaram a discutir?"

"Acho que as coisas não mudaram muito," Peter comentou, dando um sorriso
fraco.

Corri os olhos por cada um deles. James ainda me encarava com um olhar
afetuoso e preocupado, como se nada do que eu havia dito tivesse realmente
sido entendido por ele. Sirius era diferente, ele me olhava com os olhos
semicerrados, a mandíbula contraída e a boca em linha reta. Remus e Peter
estavam confusos, olhando de mim para eles o tempo todo.

Eles ficavam bem juntos, os quatro. Algo ali se equilibrava. Como se


houvesse uma gangorra com dois de cada lado e se um deles saísse, ela
simplesmente sairia do eixo correto. Nem mesmo quando Peter sumiu, nem
mesmo quando achavam que ele era um traidor. Eu ainda podia ver o brilho
de esperança na ponta dos olhos de cada um deles cada vez que um bilhete
anônimo aparecia.

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"Eu vou até lá. Já está decidido." Eu disse, firmemente. Eu não aceitaria
nenhuma contradição.

"O quê?!" Peter arregalou os olhos, "M-mas Regulus, você me salvou! Você
tirou nós dois de lá e... e disse que tinha um plano e que íamos vencer juntos!"

"O que quer que aconteça comigo, não significa que vocês vão perder, Peter,"
Respondi, "Vocês vão matar a cobra. Eu preciso fazer a minha parte."

"E como espera que façamos isso sem você?!" Remus vociferou, dando um
passo para frente, "Você deve estar brincando! Droga, Regulus, precisamos
de um plano! Você não pode simplesmente..."

"Está fazendo de novo." Sirius disse de repente, encarando o chão, sem


levantar os olhos para mim, "Não é como quando você se mete em algum
problema, e apenas acha que pode não voltar vivo. Não. É como há dois anos
atrás, não é?" Ele levantou os olhos para mim e meu coração deu um estalo
quando eu notei que ele estava com eles completamente molhados, "Você
sabe que não vai voltar, mas está indo mesmo assim. Outra vez."

"Pads..." Remus tentou, mas Sirius recuou, sem tirar os olhos dos meus.

Era verdade. Eu nunca poderia olhar nos olhos do meu irmão e dizer que não
era, porque seria uma mentira cruel. Sirius nunca entenderia que, desde o
início, eu não deveria ter sobrevivido. Minha tarefa era morrer pelo
medalhão, Voldemort nunca saberia e nunca iria ameaçar a vida deles
diretamente para me atingir. Eles poderiam caçar as horcruxes sem ninguém
os vigiando e nenhum deles sendo procurado e marcado de morte. Pelo
menos, até Voldemort descobrir, o que levaria tempo, obviamente. Tempo
esse o suficiente para eles acharem todas.

Sirius nunca entenderia tudo isso.

"Era para ter sido assim, Sirius," Eu o encarei, os lábios tremendo, "Desde o
início."

Sirius piscou chocado, como se eu tivesse acabado de falar a maior


atrocidade que ele já ouviu. Ele abriu a boca algumas vezes, mas não
conseguiu dizer nada. Até que engoliu em seco, a boca voltando a uma linha
reta, "Não aguento nem olhar para você." E virou de costas, afastando-se de
nós. Não fui atrás dele. Eu não tinha o direito.

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James me olhou, os olhos também molhados agora, ele explodiu, "Eu vou
com você! Você não vai sozinho! Não vou permitir! Sirius pode ser
orgulhoso, mas eu estou implorando, Reg! Nós podemos criar um plano,
fizemos isso todas as vezes, por favor!"

"Quando Voldemort conseguir o que ele quer..."

"Mas ele não vai!" James gritou desesperadamente, passando os olhos por
mim, e por Remus e Peter, que tinham olhares tristes em seus rostos, "Ele
não vai conseguir o que quer!"

"Prongs." Remus o repreendeu, a voz rígida e firme, mas ainda trêmula e


cheia de tristeza.

"Quando ele conseguir o que quer..." Continuei, as palavras pareciam sair


como facas na minha traqueia, "Vai achar que venceu. Quando derrotar quem
ousou desafiá-lo em primeiro lugar, vai me usar como exemplo de que
ninguém é capaz de fazer isso, porque eu tentei e perdi. Vai querer causar
medo em todos vocês, me expondo como se eu fosse uma espécie de
criminoso em praça pública. O defeito fatal de Voldemort é o ego, a
presunção, a vaidade. E é aí que vão pegar ele. Mas não podem hesitar, ele
não vai medir esforço nenhum para ir atrás de Harry depois de se livrar de
mim. Se querem um plano, então aí está."

"Você não vai se entregar!" James me sacudiu pelos ombros, pareia que os
olhos iam saltar fora do rosto, "Pare, pare, pare de criar planos com isso! Não
é o que vai acontecer! Não vou permitir que ele mate ninguém que eu amo!"

"Reg, nós podemos ir com você," Remus tentou dizer, a voz tentando soar
calma, apesar dos olhos dele dizerem o contrário. "Podemos ir e nos
esconder. Pegá-lo de surpresa, é o que sempre fazemos. Você não precisa..."

"E juntar vocês à Mary e Pandora?! Pelo amor de Merlim, Moony, nós contra
Comensais da Morte é uma coisa. Contra ele?! Não temos chance nenhuma."
Respondi secamente, "Eu vou tirar as duas de lá. Isso eu posso prometer.
Estou fazendo isso por todos vocês."

"Mas você não vai sair de lá, Reg," Peter me olhou tristemente, "Eu sei o que
eles fazem com traidores. E-eu senti a raiva deles e eu nem mesmo tentei
matá-lo! Você é quem começou a guerra, você é quem está tentando matá-
lo... O que vai acontecer com você vai ser..."

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"Não vai ser nada!" James gritou, "Regulus, você precisa me ouvir! Depois
de tudo que passamos, você não pode fazer isso! Nós tiramos você daquela
caverna juntos, nós fomos até uma mansão infestada de Comensais e até
resgatamos você de um sequestro! Nós vamos tirar Mary e Pandora de lá
juntos!"

"Me deixe ir com você, Reg, eu posso ir... posso ir como um rato, nenhum
deles saberia que estou lá!" Peter se apressou, "Me deixe fazer isso por você,
eu devo isso."

"Mas ele já se decidiu," Remus disse, a voz trêmula, James ficou agitado
novamente. Remus andou até mim, passando por James. Ele era o mais alto
de nós, e era tão magro e esguio que parecia mais alto do que realmente era,
mas me olhando como ele me olhava, tive a sensação de que éramos do
mesmo tamanho. Remus puxou meu pescoço até o seu ombro, me abraçando
tão forte que eu prendi a respiração, ele sussurrou no meu ouvido, "Lembra
do que disse uma vez? Do quanto eu admirava você por ter uma escuridão
dentro de si mesmo e por arcar com ela ao invés de fingir que ela não existe?"

Balancei a cabeça no seu ombro, e ele continuou, "Ainda admiro você. Vou
admirar até o dia que eu morrer, Regulus."

Quando ele me soltou e o olhei nos olhos, ele estava chorando. Não
soluçando ou algo assim, porque Moony não era tão expressivo como James.
Mas nesses anos morando no mesmo teto que ele e convivendo com ele como
se fosse meu outro irmão, eu podia afirmar: Remus podia sentir uma
imensidão de coisas dentro de si e ainda conseguir guardar cada uma delas
dentro de um único olhar.

Eu abri a boca para responder, mas fui impedido quando Sirius empurrou
Remus da minha frente bruscamente, me agarrando pela gola da camisa,
"Você não vai! Nós vamos para casa agora!"

"O quê? Para casa?! Você está de brincadeira comigo?!" Empurrei a mão
dele para baixo, "Pela primeira vez na vida, tente pensar como um adulto,
Sirius!"

"Quer que eu seja adulto?! Certo! Eu sou seu irmão mais velho e você tem
que me obedecer." Sirius disse, tentando respirar fundo, "Então você não vai
à lugar nenhum! Não vai tentar se matar outra vez e deixar as pessoas
chorando por você! Pare de ser egoísta!"

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"E vou fazer o quê?! Sentar e fingir que não posso fazer nada quando alguém
que eu amo está se machucando?!" Vociferei, totalmente sem paciência
agora, "Espere, me desculpe, eu realmente esqueci que você já fez isso
comigo antes!"

Em um minuto, o controle foi perdido. E Sirius e eu avançamos um no outro,


completamente cegos pela raiva. Nenhum dos dois estava pensando direito.
Eu sabia que Sirius estava apenas se preocupando, mas não havia nada que
eu pudesse fazer. Ele estava agindo exatamente igual quando éramos mais
novos, como se eu tivesse escolha de alguma coisa ou pudesse magicamente
mudar o jeito como as coisas realmente são. Depois de todos aqueles anos,
ele ainda era o mesmo garoto impulsivo e imprudente.

No entanto, Sirius nunca teve uma infância adequada, então como alguém
poderia esperar que ele crescesse tão rapidamente?

"Pelo amor de Deus, por que vocês dois estão brigando?!" Lily havia
aparecido, quando James puxou Sirius de cima de mim. Dumbledore estava
ao lado dela, com as mãos juntas na frente do corpo.

"Conte à ela, Regulus!" Sirius gritou, ainda com James o segurando, "Conte
à ela o que você vai fazer!"

"Creio que todos sabemos o que Regulus tem em mente, Sirius."


Dumbledore disse, sem tirar os olhos cautelosos de mim. Uma ponta de raiva
bem no fundo do meu peito pareceu crescer quando eu o vi.

"Então, já temos um plano?" Lily sorriu para mim, esperançosa, "Já temos
um plano para resgatar Mary e Pandora? O que estamos esperando, então?!"

Dumbledore interveio mais uma vez, "Quero que me deixe ajudá-lo,


Regulus. Conheço Lord Voldemort há mais tempo do que você e posso
ajudá-lo se me permitir."

A raiva pareceu ter vindo com tudo agora, meu peito parecia que ia explodir,
"Eu não quero a porra da sua ajuda! O senhor nunca quis me ajudar, nem
mesmo confiava em mim! O senhor apenas me queria na Ordem porque sabia
que era um Comensal da Morte à menos!" Eu andei até ele, ficando de frente
com ele, e murmurei apenas para ele ouvir, "Eu sei o que Peter fez. E eu sei
que você sabia."

680
Dumbledore respirou fundo, nenhum pouco surpreso com o que eu havia
dito, "Se importariam de me deixar à sós com Regulus, por gentileza?"

"O que está acontecendo?" Lily franziu o cenho, James a puxou para si,
beijando o topo de sua cabeça e levando-a para longe de nós, enquanto ela
sussurrava para ele, questionando-o sobre o que estávamos falando.

Peter passou por nós, seguido de Remus, que tinha Sirius dentro de seus
braços. Quando meu irmão passou por Dumbledore, ele parou e o encarou,
suplicantemente, "Convença ele. Por favor, por favor, convença ele."

Dumbledore voltou a levantar os olhos para mim quando todos se afastaram


e nós nos afastamos da rua para uma passagem vazia entre duas casas, antes
que ele falasse qualquer coisa, eu comecei, "Você sabe o que vou fazer. Não
tente me impedir como eles."

"Não tenho intenção nenhuma de tentar impedi-lo, Regulus," Dumbledore


disse, com a voz branda, "Vi cada membro de sua família passar por
Hogwarts e se há algo que todos vocês tem em comum é a persistência."

"Não estou afim de ouvir elogios," Revirei os olhos, "Principalmente vindos


do senhor."

"Não estou certo de que você compreende o que está prestes a fazer,
Regulus," Ele continuou, "Você está se sacrificando pelas pessoas que você
ama, você entende o quão isso é poderoso? Principalmente, no mundo da
magia."

"Não sei do que o senhor está falando."

"Amor e sacrifício, quando juntos, podem fazer coisas extraordinárias,


inimagináveis. Posso apenas lhe assegurar de que se o seu sacrifício se
concretizar, absolutamente nada conseguirá nos tocar." Dumbledore disse,
"Eu sempre soube que seria você, evidentemente."

Aquilo pegou em um ponto. "Como assim você sempre soube?!"

"Eu já imaginava que você se sacrificaria. Você, dos Blacks que conheci, é
o menos persistente. Imaginei que não demoraria a se entregar."

"Você... Vai se foder! Menos persistente?! Você tá de brincadeira comigo?!"


De que porra ele estava falando?! Ele estava tentando me irritar?! "Vai se

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foder você e sua falsa moral! Se foi para isso que quis falar comigo, então
me deixe em paz!"

"E aí está, você está fazendo outra vez." Ele parecia calmo e irritantemente
sincero.

"Fazendo o quê?!"

"Está se sentindo acuado, então não está nem tentando se defender. Está
apenas aceitando o que eu disse." Dumbledore suspirou, "Isso é uma grande
decepção."

"Decepção?! Você já viu a minha vida?! Eu não preciso provar para você
que eu sou capaz de nada!" Eu estava tão irritado que a mão na minha varinha
estava coçando. Dumbledore nunca havia falado comigo assim, nunca havia
falado com ninguém assim. Então por que agora?!

"Aposto que nem mesmo irá lançar um feitiço quando estiver frente à frente
com Lord Voldemort, estou certo?" Ele me olhava como se eu fosse uma
criança, como se eu tivesse onze anos outra vez na sua sala de diretor, "Vai
apenas se render."

Ficamos em silêncio nos encarando. Eu me sentia tão ofendido que as


palavras chegaram a sumir na minha boca. Como ele ousava?! Depois de
tudo que eu tive que fazer! Depois de tudo que eu tive que sobreviver! Como
ele se atrevia a me dizer aquelas coisas?!

Parecia que estava tentando intencionalmente me deixar com raiva. Mas por
quê?

"Eu poderia lançar um feitiço, se eu quisesse," Semicerrei os olhos, "Não é


como se o senhor tivesse sido um professor bom o suficiente para
acompanhar meu desempenho, mas o senhor deveria saber disso."

Dumbledore deu um meio sorriso, parecia irônico e ao mesmo tempo


satisfeito. Ele deu um passo para trás, abrindo os dois braços com a varinha
em mão, "Me mostre, então."

"Há. Muito engraçado," Revirei os olhos, dando as costas para ele, "Não
tenho o menor tempo para isso."

"Então está provando que estou certo."

682
Eu já tinha virado de costas. Aquilo era uma besteira. Uma completa perda
de tempo. Então por que as palavras dele haviam atingido um ponto tão
fundo? E por que ele havia escolhido aquelas palavras, para início de
conversa?

Quando me virei novamente, levei minha mão com a varinha em sua direção,
tentando pegá-lo de surpresa com um Feitiço Estuporante. Dumbledore se
defendeu facilmente, quase sem fazer esforço algum. O choque de clarões
causando uma luz forte da onde estávamos chamaria atenção das outras
pessoas em breve. Mas agora ele havia pegado em um ponto delicado meu e
não havia mais como voltar atrás.

"Tente outra vez." Ele disse, tão calmo e e brando quanto um oceano, "Se
conseguir, é claro."

Tentei outro Feitiço Estuporante, mas agora três vezes seguidas, sem espaço
de tempo entre um e outro. Ele repeliu todos eles, cada um dos três em uma
velocidade absurda e uma precisão quase sobre humana. A varinha de
Dumbledore parecia ser tão habilidosa quanto ele. Não como se ele a
comandasse, mas como se ela soubesse exatamente o que vai fazer para me
deter por conta própria e ele só precisava movê-la.

"Você não está pensando direito, Regulus," Dumbledore me olhou por cima
dos óculos, "Pense bem. Você não é burro."

Os comentários dele estavam me deixando mais irritado ainda. Então, como


um estalo na minha cabeça, o pensamento me acertou em cheio. Movimentei
a minha varinha como se fosse tentar estuporá-lo outra vez, mas quando ele
ergueu a mão para me repelir outra vez, eu gritei de uma vez,
"Expelliarmus!"

A varinha de Dumbledore pulou imediatamente da sua mão até a minha.


Como se puxada por alguma espécie de imã invisível, ela pousou na minha
mão e um choque rápido percorreu pelo meu corpo, eriçando os pelos do
meu braço e da minha nuca. Eu me senti bizarramente poderoso por cerca
dos cinco segundos em que passei segurando-a entre os dedos.

"Muito bem, Regulus," Dumbledore me retirou do meu transe, ele parecia


estar satisfeito, com um sorriso agora nada irônico, mas orgulhoso, "Creio
que estou convencido agora."

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Respirei fundo, dando uma última olhada para a varinha dele nas mãos.
Aquilo não tinha importância. "Pegue," Entregando ela novamente à ele, eu
encarei a minha própria com a cabeça baixa, "Estou cansado. Estou cansado
de guerras. De ser caçado. De ter que criar planos para não morrer e para não
levar quem eu amo junto comigo. Quero descansar."

"Saiba que não acredito verdadeiramente nas coisas que disse à você," Ele
guardou a varinha nas vestes.

Franzi o cenho, confuso, "Então por que disse elas?!"

Dumbledore deu um sorriso para mim, "Apenas acredite que tive meus
motivos para querer que você reagisse à elas."

Não fazia ideia do que ele estava tentando me dizer, mas também não me
importava o suficiente para querer saber.

"Você não pretende me deixar ir com você," Dumbledore disse, pegando a


varinha de volta, "Por que não quer que alguém mais além de você corra
perigo ou por que não confia em mim?"

"Os dois."

Dumbledore suspirou pesadamente, aproximando-se de mim, "Você não tem


motivos para confiar em mim, Regulus. Mas posso garantir à você que Peter
Pettigrew não foi forçado à nada. Ele estava disposto a ser nosso infiltrado.
E você deve saber, Regulus, que se não fosse o senhor Pettigrew, mais
tragédias teriam vindo a acontecer. O ataque à Narcissa e Draco, o ataque
aos McKinnon..."

"Então é assim?!" Vociferei, correndo os olhos pelos olhos azuis de


Dumbledore, "Tudo está bem?! Você ferrou a vida dele e nos fez acreditar
que ele era um traidor, mas está tudo bem?! Os fins apenas justificam os
meios?!"

"Não é o que você está fazendo?" Ele semicerrou os olhos, me observando


por cima dos óculos meia lua, "Não está escolhendo um meio hediondo para
um fim bom para aqueles que ama?"

Aquilo me deixou em silêncio. No fim das contas, acho que o fato de ser
apenas eu que me prejudicaria, não significava que não era egoísta. Ninguém
é perfeito. As coisas são do jeito que são.

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"Eu não sou o vilão, Regulus, não me veja como um," Continuou
Dumbledore, "Compreendo que muitas vezes durante seu tempo em
Hogwarts, eu poderia ter intervido e impedido que você passasse por tanto
sendo tão jovem. Você carregou fardos muito pesados para apenas um garoto
e eu peço perdão por não ter feito algo para impedir isso. Mas não me veja
como um vilão, me veja apenas como alguém que precisava fazer as coisas
do jeito que tinham que ser feitas."

"Não acho que o senhor seja o vilão, professor, eu seria hipócrita se achasse,"
Respondi, sabendo que minha voz soava cansada agora, "Não me lembro da
última vez em que fiz algo que não fosse o que precisava ser feito."

"O sucesso não tem nada a ver com vencer ou perder, viver ou morrer,
Regulus. Tem haver com o quão fiel você foi ao seu coração na hora de suas
escolhas." Dumbledore disse, e eu o encarei, "Não se esqueça do que eu disse
à você. Amor e sacrifício é uma combinação que, principalmente no mundo
da magia, pode fazer coisas extraórdinárias."

Fiquei em silêncio por um tempo. Eu não queria brigar. Então a pergunta


infantil que tanto pairava na minha cabeça escapou dos meus lábios antes
que eu pudesse contê-la.

"O senhor acha que dói? Morrer?"

Dumbledore pôs uma mão no meu ombro e me deu um sorriso amigável, o


sorriso que ele deveria ter dado ao meu eu de quinze anos, "Mais rápido e
mais fácil do que adormecer."

Quando voltamos à rua de Godric's Hollow, Kreacher estava agachado ao


lado de um corpo de um elfo, com vários outros em volta. Meu coração deu
um salto. Eu nem mesmo sabia que Kreacher estava na vila. Apesar de que
eu deveria ter adivinhado, aquele elfo nunca conseguiu me ver lutando uma
batalha sem se jogar na frente de uma varinha por minha causa.

"Regulus Black!" Ele se virou, correndo até mim. Dumbledore deu um


tapinha no meu ombro, nos deixando sozinhos. Eu me agachei para ficar da
mesma altura que ele, possibilitando que ele me abraçasse. "Kreacher ouviu
tudo o que o Lorde das Trevas disse."

Engoli em seco, não conseguindo encará-lo, "E você sabe o que isso quer
dizer, não sabe?"

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"Kreacher cuidou de Regulus Black desde que ele era um pequeno e frágil
bebê, tão pequeno que cabia em cima de uma almofada de marfim," Ele
disse, e meus olhos encheram de lágrimas repentinamente, "Kreacher esteve
presente na formação da pessoa que Regulus Black é hoje. E Kreacher o
conhece o suficiente para saber o que Regulus Black vai fazer."

"Há dois anos," Eu comecei, passando a mão rapidamente pelos olhos, "Você
me ajudou a fazer uma coisa muito importante, Kreacher. Você estava do
meu lado no início de tudo e não saiu nenhum minuto se quer. Mesmo depois
de todo esse tempo, e-eu nunca vou saber como realmente agradecer..."

"Kreacher estava no início e também vai estar no fim," Ele pôs a mão
pequena no meu ombro direito, "Kreacher sempre vai estar com Regulus
Black."

Eu o abracei mais uma vez, apertando-o forte contra mim. Por um segundo,
eu me senti com oito anos outra vez. Exausto e cansado, física e
mentalmente, até Kreacher entrar no meu quarto com torradas e geleia, e um
chá de hibisco que ele sempre sabia fazer como eu gostava. E, para um
menino de oito anos, tudo ficava bem por alguns minutos por causa daquilo.

"Quero que fique com isso," Retirei a minha varinha das vestes, entregando
à ele, "Quero que guarde e não dê para ninguém."

"Mas Kreacher não precisa de varinha," Ele disse, confuso enquanto a


observava em suas mãos, "Regulus Black tem certeza disso?"

"Você estava comigo quando eu a comprei, se lembra?" Sorri fracamente


com a lembrança, "Fomos ao Ollivander's e tivemos que testar mais de cinco
varinhas para achar a certa."

"Claro que Kreacher se lembra, é como se tivesse sido ontem mesmo!" Ele
exclamou, sorrindo também, "Kreacher promete à Regulus Black que
cuidará dela com a sua vida." Kreacher enrolou os braços ao redor do meu
pescoço de novo, me abraçando pelo o que seria a última vez.

"Diga à Pandora quando ela voltar para dizer à Luna que eu amaria tê-la visto
crescer," Sussurrei para Kreacher, "Diga para James e Lily que cuidem de
Harry com toda a força que puderem porque ele vai ser grande, não sei
exatamente como, mas sei que ele vai ser. E diga... Diga à Mary apenas que
eu sinto muito. E que eu amei ela até o último segundo em que eu estive por
aqui."

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"E Sirius Black?" Kreacher se desprendeu, pude ver seus olhos molhados
agora, "Regulus Black não vai se despedir de seu irmão?"

Suspirei pesadamente, olhando para além de Kreacher. Pude ver todos eles
no fim da rua, amontoados. James e Lily em pé, abraçados um ao outro. Peter
estava sentado, com as mãos na cabeça. E Remus ainda abraçava Sirius, que
tinha a cabeça afundada em seu ombro. Dei uma boa olhada em cada um
deles. Dei uma boa olhada em Sirius.

Eu não queria despedidas. Já havia dito tudo que eu tinha para falar. Se eu
fosse até lá, eles nunca me deixariam realmente ir. E eu precisava ir.

"Diga à ele que eu nem sempre fui totalmente justo com ele," Comecei, sem
tirar os olhos de Sirius, à metros de distância de mim, "E que nem sempre as
coisas foram fáceis para nós dois. Mas peça para ele não me odiar. Diga que
eu o amo e que uma parte de mim sempre vai viver dentro dele, eu garanto."

Kreacher me encarou, "Regulus Black é a pessoa mais corajosa que Kreacher


já conheceu, apesar de por fora as pessoas terem visto tão mal dele durante
um bom tempo. Regulus Black é uma cobra com o coração de um leão."

Assenti amigavelmente para Kreacher, antes de me afastar dele. Passando


por entre as casas para não ser visto e me esgueirando por partes escuras da
vila, o que era difícil porque estava prestes a amanhecer.

Andando à caminho da floresta ao redor da vila, com nenhuma varinha sendo


carregada comigo e apenas com o desejo ardente de evitar que mais pessoas
morressem para que eu não fosse entregue, eu compreendi que eu nunca
deveria ter chegado tão longe. Minha tarefa sempre havia sido seguir
calmamente para os braços abertos da morte. Como deveria ter acontecido
no início.

Eu senti o coração bater violentamente contra o meu peito. Era estranho que
mesmo que eu estivesse prestes a morrer, ele bombeasse com mais força,
mantendo-se vivo. Teria que parar em breve. Meus batimentos estavam
contados. Me perguntei novamente, enquanto andava, se doeria morrer.
Todas as vezes que eu achei que isso aconteceria, eu havia escapado, então
eu não havia pensado na morte em si desde a caverna.

Nos últimos anos, minha vontade de viver se tornou maior que o medo de
ser morto. Mary havia me feito sentir assim. Sirius, Remus, James, Pandora.
Todos aqueles que me amavam. No entanto, agora eu não tinha vontade de

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fugir. Era o fim para mim, eu sabia. Mas não era para aqueles que eu amava,
então tudo valeria à pena.

Os fins justificariam os meios.

Meu coração praticamente saltava contra as costelas. Talvez ele soubesse


que havia muito pouco tempo e havia decidido completar os batimentos
inteiros de uma vida antes de parar. Eu não conseguia controlar os tremores
pelo meu corpo. Afinal, não era tão fácil morrer. Cada segundo que eu
respirava, o cheiro das folhas, o ar fresco batendo no rosto enquanto eu
caminhava, tudo era precioso demais. E pensar que, atrás de mim, as pessoas
tinham anos pela frente, tempo para desperdiçar, e eu me apegando a cada
segundo.

Quase pensei que não conseguiria continuar, mas sabia que devia. Quando
cheguei à orla da floresta, meu corpo quis se virar, mas não o fiz.

Não ousaria olhar para trás.

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Capítulo 47: Black x Riddle

Flashback - 1975
(Pouco tempo antes de Sirius sair de casa. Sirius está no quinto ano e
Regulus no quarto. Os dois estão passando o recesso de Natal em casa.)

"Remus Lupin?!" Regulus exclamou, encostado na cômoda de Sirius, seu


queixo havia caído no chão, "Você gosta, tipo, do seu melhor amigo?!"

"Eu sei! Eu sei!" Sirius se jogou de costas na cama, suspirando pesadamente,


"Quer dizer, Merlim, de onde eu tirei uma coisa dessas?!"

"Bom, também não é um absurdo tão grande," Regulus deu de ombros,


cruzando os braços, "Eu já fui à alguns grupos de estudo em que Lupin ensina
e ele é surpreendentemente inteligente. Fora que ele não é nada mal."

"Nada mal?!" Sirius se sentou rapidamente, "Reg, ele é absolutamente


perfeito. Não faço ideia de como ele consegue, mas ele é. Ele é tão legal!
Quando ele usa aquelas botas trouxas e, Merlim, o suéter! Será que existe
algum feitiço que coloque o cheiro dele nas minhas coisas também?!"

Regulus não se aguentou. Ele gargalhou tanto que seu corpo se curvou para
frente, levando sua mão para segurar a barriga enquanto Sirius revirava os
olhos e jogava o corpo novamente na cama. Quando ele finalmente parou de
sorrir e conseguiu respirar, ele disse, "Mas espere um pouco... eu vejo você
na escola, não pense que eu não reparo. Você está com uma menina diferente
todo dia, Six, então como você pretende mostrar que gosta dele?!"

"Preciso pensar em um plano para isso também," Sirius bufou, "O que vai
ser complicado se nossa mãe continuar fazendo aquela coisa de vasculhar
nossa cabeça. É quase impossível esconder algo dela."

Regulus não respondeu a isso. Ele sabia que era verdade. Não havia nada o
que se fazer em relação a isso. Oclumência era algo que ele e Sirius ainda
demorariam para aprender, porém os dois já viviam naquela casa há um bom
tempo para saber empurrar certos pensamentos para uma caixinha guardada

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no canto de sua mente quando sua mãe decidia que era hora de verificar se
estava "tudo em ordem" ali dentro.

"O que está procurando?" Sirius perguntou distraidamente, quando Regulus


começou a vasculhar algumas estantes do quarto de Sirius.

"Estou procurando seus livros de Poções," Regulus respondeu sem parar de


mexer nos livros bagunçados de Sirius, "Merlim, você precisa urgentemente
ser mais organizado com as suas coisas ou mamãe vai acabar tendo um
ataque do coração."

Sirius se apoiou nos cotovelos na cama para olhar para Regulus, "Por que
você precisa dos meus? Você ainda nem está dando o assunto deles."

"Oh, hm... Estou ajudando James com Poções nesse semestre," Regulus
disse, muito apressadamente, "Pensei que seus livros poderiam me ajudar a
entender melhor no que ele tem dificuldade."

"James?!" Sirius se sentou rapidamente, "Espere, desde quando você o


chama de James?!"

"Esse é o nome dele, Sirius."

"Pare de se fazer, seu cínico!" Sirius jogou uma almofada em Regulus que
se encolheu para se defender, "Você sempre o chamou pelo sobrenome!"

"E o que isso tem haver?!" Regulus revirou os olhos, voltando às estantes,
"Nós só estamos passando mais tempo juntos agora então seria estranho
chamar ele pelo sobrenome o tempo todo."

"Ai meu Deus, Regulus."

"Que?!" Regulus se virou, confuso.

"Você gosta dele! Conheço essa cara!" Sirius exclamou, apontando para
Regulus, "Você está todo vermelho agora, deveria se ver!"

"Não estou não!" Regulus jogou a almofada caída no chão no rosto de Sirius,
que agora havia começado a sorrir descontroladamente, "E isso também não
é da sua conta!"

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"Tudo bem, tudo bem..." Sirius se recompôs, tentando parar de sorrir, "Mas
tome cuidado, certo?"

Regulus se endireitou, tentando parecer desinteressado, mas falhando


miseravelmente, "Cuidado?"

"É, você sabe," Sirius continuou, "Prongs está apaixonado por Evans desde
que eu me lembro. Eu o escuto falar dela desde o dia em que o conheci. Não
quero que você se machuque, ou algo assim."

Claro que Regulus sabia. Não havia ninguém em Hogwarts que não soubesse
do quão apaixonado James Potter era por Lily Evans. E Regulus não era
idiota a ponto de achar que isso mudaria por conta de algumas aulas de
Poções. Mas sonhar nunca foi proibido.

"Bom, pelo menos eu não gosto do meu melhor amigo," Regulus provocou,
fazendo Sirius lançar uma cara feia para ele, "Eu nem consigo imaginar me
apaixonar por Pandora, seria, tipo, muito, muito nojento!"

"Não, você não está apaixonado pelo seu melhor amigo," Sirius se sentou,
segurando o riso, "Está apaixonado pelo meu!"

Regulus foi para cima de Sirius, que ainda sorria descontroladamente. Os


dois começaram a brincar de brigar, enquanto Sirius repetia "Reg está
apaixonado!" e Regulus tentava tampar a sua boca. Regulus escorregou e
caiu na cama ao lado de Sirius, ainda dando tapas pelos braços dele. Os dois
gargalhavam e brincavam juntos como se fossem crianças de novo.

"Quem está apaixonado?" A mãe dos dois apareceu à porta, com a postura
ereta, as mãos juntas atrás do corpo, vestida em um vestido preto com a gola
alta e com as mangas que iam até a metade da sua mão, "Posso saber qual o
motivo de tanta risada?"

Regulus ficou em pé rapidamente, o sorriso saindo do seu rosto


imediatamente e assumindo uma postura parecida com a de sua mãe, a
coluna tão reta quanto uma régua e o pescoço tão endurecido quanto uma
pedra. Sirius não se deu ao trabalho, ele apenas se sentou na beirada da cama,
suspirando cansadamente.

"Eu e Sirius estávamos falando sobre a escola, mãe," Regulus explicou, a


voz agora nada leve e descontraída como antes, "Estávamos falando sobre
como estamos gostando e nos dando bem no Quadribol, não é, Sirius?"

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Sirius hesitou antes de responder, e Regulus sentiu vontade de voar no seu
pescoço quando ele fez, "Claro, o Quadribol tem sido uma das melhores
partes de estar em Hogwarts."

"É claro que em uma escola que serve para você aprender a ser um bruxo
competente e para se aliar à pessoas de boas famílias, você acha esse esporte
idiota a coisa mais interessante, Sirius." Ela caminhou pelo quarto, olhando
ao redor para as coisas de Sirius com desprezo, "Mas você me surpreende,
Regulus. Você deve saber que seu foco não pode ser esse passatempo
ridículo que Dumbledore permite para tirar a atenção dos alunos daquilo que
realmente importa."

Sirius abriu a boca para responder, mas Regulus o encarou seriamente,


implorando pelo olhar que ele apenas parasse de falar ou as coisas poderiam
ficar muito ruins.

"No entanto, não estou convencida de que os dois estão dizendo a verdade
sobre o que estavam falando," Ela se aproximou deles, encarando Regulus
em pé e Sirius ainda sentado, "Vocês sabem que não admito nenhuma
distração dos dois. Paixonites insignificantes não serão toleradas."

Regulus tentou, "Mãe, nós não estávamos..." Antes que ele terminasse, sua
mãe levou a costa da mão até seu rosto, desferindo um tapa na sua bochecha
direita. Sirius ficou em pé rapidamente, a expressão de fúria transbordando
pelos seus olhos.

"Não ouse mentir para mim," Ela sussurrou em uma voz cortante para
Regulus, que agora estava com os olhos pregados no chão. Ela voltou a andar
pelo quarto, "Regulus, você ainda possui algum tipo de relação com aquela
garota da Corvinal?"

"N-não, mãe!" Regulus se apressou, "Toda a nossa relação é somente para


fins escolares. Não temos nada com nenhum teor afetivo."

"Ótimo. Me ocorreu por um momento que você estava falando sobre ela com
seu irmão quando eu entrei," Ela continuou a andar, interrogando os dois,
"Me diga, Regulus, Sirius está com essa tolice sobre paixão por alguém?"

Regulus hesitou dessa vez, Sirius engoliu em seco, "Por que está
perguntando para ele? Eu estou bem aqui na sua frente, se quiser saber algo
sobre mim, basta me perguntar."

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"Regulus," A mãe deles parou na frente dele, olhando-o no fundo dos olhos,
ignorando Sirius, "Há algo sobre o seu irmão que você deveria me contar?"

Regulus sabia o que ela ia fazer. Ele só podia pedir muito para que Sirius
conseguisse esconder isso dela. Se ela soubesse que não só Sirius, mas
Regulus também estava mentindo, alguma coisa muito ruim iria acontecer
com os dois.

"Não, senhora." Ele negou, tentando não tremer a voz e apertando a ponta
dos dedos contra a palma da mão de nervosismo.

Apesar de que Sirius não pareceu relaxar depois disso, porque a mãe deles
não parecia nada convencida. Ela retirou sua varinha das vestes, andando até
a direção de Sirius agora, "Sente-se, Sirius," Ele sabia o que ela ia fazer. Ele
sabia que ela nunca confiaria apenas na palavra dos dois. Sirius e Regulus
trocaram olhares nervosos um entre o outro antes de Sirius obedecê-la.

Sirius fechou os olhos quando a mãe deles fez o mesmo, e quando ela
levantou a varinha em direção à sua cabeça sussurrando "Legillimens!",
Regulus virou o rosto para não assistir Sirius se contorcer com a dor da mãe
deles adentrando as paredes da sua mente. Regulus torceu muito para que
Sirius conseguisse esconder. Pense em qualquer outra coisa, Regulus
implorou silenciosamente, pense nas meninas, pense nos seus amigos, pense
no Quadribol, mas não pense em Remus Lupin. Esconda ele.

Sirius ficou fraco quando acabou, o cabelo comprido suado pregado na testa
e seus dentes se batendo em meio aos tremores pelo corpo. Quando sua mãe
se virou, Regulus sabia que era a sua vez.

"Não há nada de novo por aqui, ao que parece," Ela disse, "Nada além da
vergonha que Sirius normalmente faz sua família passar."

Sirius havia conseguido. Havia empurrado Remus para uma parte segura de
sua mente. Regulus precisava fazer o mesmo agora. Ela não precisou
mandar, Regulus já havia se sentado ao lado de Sirius naquela altura.
Esperando pela sua vez.

"Legillimens!"

Regulus sentiu sua mãe ultrapassar cada camada da sua mente. Passando por
coisas rasas como aulas das quais ele gostava, conversas jogadas fora na
comunal da Sonserina e idas à Hogsmead. Quanto mais fundo ela ia, mais

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doía. Como se a cabeça de Regulus estivesse dentro de um sino sendo tocado
repetidas vezes.

Ele se esforçou o máximo que pôde quando ela chegou às aulas de Poções
com o professor Slughorn. Porque aquilo lembrava James. E se ela ao menos
visse algum resquício do garoto na mente de Regulus, ele amanheceria no
outro dia com dores por todo o corpo.

Esconder Pandora foi mais difícil ainda. Ela estava em quase todas as
memórias. Afinal, Regulus nunca ia à lugar nenhum sem Pandora. Ele tentou
redirecioná-la para onde ele queria, mostrando conversas com alunos da
Sonserina, mostrando conversas com Snape, Mulciber, Barty.

Merlim, isso tudo enquanto a cabeça dele latejava como um martelo contra
um prego.

Quando ela o soltou, Regulus percebeu que estava prendendo a respiração.


Sirius pôs o braço em volta de seu ombro, afim de tentar conforta-lo da dor.
Ele soltou o ar tão forte que até a sua garganta fez um barulho. O esforço
havia sido tão grande que ele estava cansado como se tivesse acabado de ter
um treino de Quadribol.

"Se eu fosse você, teria cuidado com Crouch, Regulus," Sua mãe ponderou,
guardando a varinha nas vestes, "Ele é impulsivo e autodestrutivo, apesar de
ser uma boa família. Você não precisa de uma bomba-relógio. Tenha certeza
que as pessoas com quem você anda trarão algum benefício para sua
formação."

"Sim, mãe." Regulus assentiu, ainda um pouco ofegante.

"Kreacher servirá o jantar em uma hora." Ela avisou, já na porta do quarto,


saindo em direção às escadas.

Quando a porta foi fechada, Sirius se levantou, lançando um feitiço


silenciador no quarto e chutando a porta com o pé logo em seguida, "Isso é
errado para caralho! Nós não podemos nem pensar em paz!"

"Ela não faz isso sempre, Sirius, só de vez em quando," Regulus ofegou,
ainda um pouco cansado, "E nós conseguimos desviar ela, não tem motivo
para ficar..."

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"Não tem motivo?!" Sirius vociferou, andando de um lado para o outro, "Isso
não pode continuar, Reg, não está certo!"

"E você vai fazer o quê?" Regulus sorriu fracamente, "Ela é nossa mãe. Nós
moramos aqui. Nossa vida é aqui. Não existe outra opção."

Sirius não respondeu. Seu rosto permaneceu sério e indecifrável. Regulus


pensou que o conhecia o suficiente para saber que isso significava apenas
que ele estava com raiva, mas que amanhã as ideias estúpidas de Sirius de
achar que podia fugir daquilo sumiriam e os dois apenas fingiriam que estava
tudo bem, como faziam todas as vezes.

Regulus estava errado.

DIAS ATUAIS

Estava frio. Enquanto eu andava entre as árvores que haviam crescido muito
juntas, com ramos emaranhados e as raízes repletas de nós, o ar gelado do
início de novembro batia no meu rosto e se eu fechasse os olhos, até
conseguiria me imaginar em algum lugar muito bonito. Em uma outra
realidade, ou em alguma outra vida que não fosse aquela.

Adentrei cada vez mais na floresta, sem fazer ideia do lugar exato em que
Voldemort estava, mas eu sabia que o encontraria. Naquela altura, eu senti
meu corpo e a minha mente estranhamente desvinculados agora, minhas
pernas não pareciam agir com um comando consciente. Como se eu fosse o
passageiro, não o motorista.

À medida que eu seguia, as pessoas que ficaram para trás agora pareciam
fantasmas. Eu ficava cada vez mais e mais distante delas, e em certo ponto,
eu quase não me sentia mais realmente vivo.

Algo se mexeu ali perto, um baque e um sussurro.

"Acho que tem alguém..." Eu ouvi uma voz rouca, "Será que é..."

Eu pude enxergar, através das árvores, dois vultos. Quando a ponta das
varinhas se iluminaram, eu consegui ver Dolohov e Karkaroff examinando a
escuridão do outro lado. Aparentemente sem conseguir ver nada.

"Com certeza ouvi alguma coisa," Dolohov disse, "Será que foi algum
animal?"

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"Eu não me surpreenderia," Karkaroff comentou, espiando por cima do
ombro, "Eu nunca havia vindo nesse fim de mundo até hoje."

Dolohov consultou o relógio, "O tempo já está quase acabando. Black já


passou da hora dele. Tenho certeza que ele não vem."

"E Lord Voldemort tinha certeza que ele apareceria," Karkaroff bufou, "Ele
não vai ficar nada feliz."

"É melhor voltarmos," Dolohov abaixou a varinha, "Temos que descobrir


qual é o plano agora."

Quando os dois deram meia-volta e se embrenharam na floresta, eu os segui


sem ser visto. Eu sabia que eles me levariam para onde eu deveria ir. Foram
apenas alguns minutos andando quando eu vi uma luz, e Karkaroff e
Dolohov pararam em uma parte da floresta sem árvores. A lua não estava
cheia, obviamente, mas ainda estava grande o suficiente para iluminar uma
multidão completamente silenciosa de Comensais da Morte. Alguns ainda
usavam suas máscaras e seus capuzes, outros já mostravam o rosto.

Meu coração parou quando vi as duas, uma amarrada em cada árvore. Meu
peito parecia que ia explodir, o ar voltando a faltar. Evan Rosier, um antigo
colega de classe, estava vigiando Mary, que estava com os braços amarrados
para trás e um corte na testa, o que me fez meu sangue ferver, como se fosse
entrar em erupção; Nott estava no lado contrário, vigiando a árvore que
Pandora estava amarrada, os cabelos loiros e brilhosos, agora estavam sujos
e opacos e haviam alguns roxos pelo seu corpo, apertei o punho com força,
descontando na pele fina da palma da minha mão a fúria e o ódio assassino
que penetraram meu corpo.

Vi Dolohov e Karkaroff voltarem aos seus lugares, atrás do seu senhor.


Todos os olhares estavam fixos em Voldemort, que estava em pé com a
cabeça curvada e as mãos cruzadas sobre a varinha. Poderia pensar que
estava rezando, ou então contando mentalmente como uma criança em uma
brincadeira de esconde-esconde. Ainda parado à margem da cena, pude ver
claramente atrás de sua cabeça, girando e se enroscando, a cobra grande e
escura pairando por todos.

Quando Karkaroff e Dolohov se uniram de volta à eles, Voldemort ergueu a


cabeça, "Não há sinal dele, milorde." Dolohov informou.

A expressão de Voldemort não se alterou.

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"Pensei que ele viria," Voldemort comentou com uma voz clara e aguda, seus
olhos postados ao chão, "Esperava que viesse."

Ninguém respondeu. Todos pareciam tão nervosos quanto eu, que agora
tinha o coração saltando tão forte como se quisesse escapar do corpo. Minhas
mãos estavam suadas e por um segundo, eu agradeci por ter me livrado da
minha varinha. Não queria me sentir tentado a lutar.

"Aparentemente... me enganei." Voldemort disse.

"Não se enganou."

Eu falei o mais alto que pude, com toda força que consegui. Não queria
parecer assustado.

Os Comensais da Morte se ergueram juntos, e ouviram-se muitos gritos,


exclamações e até risadas. Voldemort se imobilizou, mas seus olhos focaram
em mim e me observaram enquanto eu caminhava ao seu encontro. Então,
uma voz berrou.

"REGULUS! NÃO!" Eu me virei para ver Mary se debatendo desesperada,


o rosto molhando em lágrimas quando nossos olhares se encontraram. Ver
ela foi como ter um milhão de estilhaços de vidro perfurando o meu coração.

"Sinto muito." Gesticulei com a boca a frase, não saiu som algum, mas eu
sabia que as palavras saíam como gritos.

"NÃO! NÃO! REGULUS, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!" Pandora


gritou agora, do outro lado. Ela parecia enfurecida, mas seus olhos azuis
brilhavam para mim. Eu sabia que ela estava chorando.

"Calada!" Nott berrou e, com um aceno de varinha, ele silenciou Pandora.


Evan fez o mesmo com Mary logo em seguida.

Meu olhar pousou sobre a cobra novamente, se enrolando e desenrolando


atrás de Voldemort. Eu sabia que ela estava muito bem protegida, sabia que,
mesmo se estivesse com a minha varinha e conseguisse apontar para a cobra,
cinquenta feitiços me atingiriam primeiro. Eu e ele continuamos a nos
encarar, e agora ele havia inclinado a cabeça para o lado, me examinando
parado à sua frente, e um sorriso cruel e sem alegria estampou em sua boca.

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"Regulus Black." Ele disse, suavemente. Sua voz poderia cortado o vento de
tão afiada. "O menino que se atreveu a me desafiar."

Nenhum dos Comensais da Morte se moveu. Todos eles aguardavam -


sabiam o que iria acontecer. Pandora ainda se debatia, apesar de não
conseguir falar. Eu encarei Mary outra vez, meus olhos encontraram o seu
olhar, antes tão enérgico e brilhante, agora tristes e pesarosos. Pensei em
algum dia bom que passamos juntos e na sensação dos lábios dela nos meus.

"Eu estou aqui," A voz escapou de mim, "Solte elas."

Voldemort não respondeu. Sua varinha estava erguida e sua cabeça ainda
estava inclinada para o lado, como a de uma criança curiosa, imaginando o
que aconteceria se prosseguisse. Eu encarei os seus olhos e desejei que
acontecesse de uma vez, naquele instante, rapidamente, enquanto eu ainda
me mantinha em pé.

"Antes quero que me responda uma coisa," Voldemort disse, ainda me


examinando, "Uma coisa crucial."

"Vai ter que me matar," Respondi, "Vai me ver morto antes de me ver dizer
qualquer coisa para você."

Voldemort deu um sorriso cruel, começando a andar em círculos em volta


de mim, "Não seja tolo, Regulus. Eu tenho duas de suas amigas comigo.
Antes de eu matar você, eu posso matar uma de cada vez na sua frente até
você decidir me dar o que quero."

"Eu vim desarmado, não tenho intenção nenhuma de fugir ou lutar. Por que
não termina isso de uma vez e as deixa ir?"

Os Comensais riram outra vez quando Voldemort parou à minha frente,


"Você não vai morrer antes de me dizer onde Harry Potter está."

"Harry Potter?" Franzi o cenho, fingindo confusão, "Seus feitiços de


rastreamento não eram os melhores? Ou minha prima querida estava errada
sobre isso?"

A expressão de Voldemort não vacilou. Ele voltou a me rodear, como se eu


fosse um manequim de uma loja e ele um cliente interessado na roupa. De
repente, ele agitou a varinha e o tecido da minha calça na região abaixo do
joelho direito foi rasgada, juntamente com a minha pele.

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"Ah!" Meu joelho falhou, caindo no chão pela dor. Conhecia o feitiço, era
um dos preferidos da minha mãe. Ele pretendia me cortar em pedaços e me
fazer sangrar até tirar de mim o que ele queria.

"Vou perguntar outra vez," Voldemort parou na minha frente novamente,


abaixando para ficar na minha altura, que tinha um joelho apoiado no chão,
"Onde Harry Potter está escondido?"

Se proteja, Carter, pensei rapidamente, fiquem seguros, por favor, tomem


cuidado.

Fiz toda a força para me levantar, voltando a encará-lo de pé. Um corte na


perna não seria o suficiente. Nada seria. Ele me mataria de tanto me fazer
sangrar, mas nunca ouviria nenhuma palavra de mim.

"Ah, Regulus, eu tenho tantos meios para fazer você falar," Voldemort sorriu
outra vez, agitando a varinha mais uma vez, "Fazer você sangrar é apenas o
meu preferido."

Um corte ainda maior foi aberto no meu braço esquerdo, que foi do fim da
marca até o meu cotovelo, abrindo um rasgo na manga da minha camisa. Eu
não caí dessa vez, mas sufoquei um grunhido de dor, empurrando guela à
baixo. Mary e Pandora se debatiam nas árvores, assistindo ao show de tortura
de Voldemort.

"Você vai me matar de qualquer jeito," Eu disse, tentando esconder minha


voz trêmula de dor, "Rápido ou sangrando aos poucos, tanto faz. Isso tudo
não faz sentido."

"O que eu não acho que você entende, Regulus," Voldemort ponderou, "É
que se você morrer, eu torturarei o próximo que me omitir a localização de
Harry Potter. E se este morrer, torturarei o próximo, e então mais outro e
outro. Você mais uma vez está colocando a vida daqueles que gosta em risco.
Não se cansa?"

Engoli em seco, tentando tirar da minha mente a imagem de Sirius e do resto


sendo torturados por informações. Eles nunca se renderiam. Por um
momento, eu pensei em dizer. E se eles conseguissem matar a cobra a tempo?
Não. Não. A profecia dizia que Harry derrotaria Voldemort. Se ele for morto,
não tínhamos esperança alguma. Eu estava fazendo o que todos eles fariam
no meu lugar. Se nós não vencêssemos a guerra, o destino se encarregaria de
fazer Harry cumprir esse papel.

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Harry Potter tinha que ser protegido, custe o que custar.

"Eu não sei onde ele está," Menti, tentando estancar o sangue que teimava
em jorrar do meu braço, "Os Potter não disseram para ninguém. Nenhum de
nós sabe."

"Mentiras!" Voldemort vociferou, agitando a varinha duas vezes seguidas


desta vez. A dor me atingiu como um choque. Dois cortes enormes foram
desferidos bem no meio do meu peito, rasgando minha blusa como se fossem
garras de algum animal enorme, com unhas grandes e afiadas. Minhas pernas
falharam inevitavelmente dessa vez, fazendo meu corpo de curvar no chão,
meu sangue sujando a terra e se misturando com a cor.

Eu não gritei. Sufoquei tudo dentro de mim. Eu já estava aqui para morrer,
ele não conseguiria tirar algo mais de mim do que isso. Nenhuma
demonstração de medo se quer.

"Eu entrei na mente das duas, obviamente, mas não vi nada muito
claramente," Voldemort ainda andava em círculos ao meu redor, meu corpo
ainda estava curvado com a dor, "Vi um garoto loiro... uma mecha azul
ridícula na franja... olhos verdes... mas não, elas não tem nenhum laço afetivo
com ele, não pude ver com clareza... então quem é o garoto?"

"Não conheço ninguém assim." Consegui falar, tossindo logo em seguida,


"Você deve ter se enganado, não seria a primeira vez."

Comentário errado. Outro corte. Dessa vez na minha costa, fatiando o tecido
da minha blusa e arqueando o meu corpo para cima com a dor. Eu tossi outra
vez, sangue saindo da minha garganta dessa vez, o que fez os Comensais ao
redor sorrirem do quão fraco eu estava pela dor e pela perda de sangue.

Voldemort agarrou meu pulso, agora descoberto por conta do rasgo na


manga da camisa, e apontou a varinha para a marca quase apagada.
Apertando a ponta forte contra a minha pele, fazendo-a queimar de novo no
meu braço. O crânio com a cobra saindo da boca se mexeu na minha pele e
parecia fogo. Deus, aquilo era fogo.

Eu segurei o quanto consegui, mas doía demais. Um grito de dor escapou da


minha boca, enquanto ele apertava o meu pulso, acendendo de volta a minha
marca. O sorriso cruel estampado no seu rosto e as gargalhadas dos
Comensais ecoando pelo lugar. Não ousei olhar para Mary ou Pandora. Fraco

700
e sendo exposto como um Comensal da Morte, eu não teria coragem de olhar
para nenhuma delas.

"Vamos tentar outra coisa então," Voldemort soltou meu pulso bruscamente,
"Dolohov, Karkaroff, segurem-o."

"Não é necessário, milorde," Eu fiz força para me levantar, ficando em pé


com dificuldade. Meu corpo inteiro sangrava, "Eu não vou para lugar
nenhum."

Voldemort empurrou meu ombro para baixo, me fazendo ajoelhar na sua


frente, "Você me tirou minha mais fiel soldada. Deixou outro de minha total
confiança para apodrecer no meio do mar. Snape desapareceu e libertou
Wormtail. Você achou que poderia me vencer tirando algo de mim, mas você
tem muito mais a perder que eu, Regulus Black."

Eu o encarei friamente, enquanto ele segurava meu ombro com força,


forçando para baixo, "Vou partir cada parede da sua mente até você perder a
sanidade se for preciso. E depois, vou fazer pior. Se estiver vivo ainda, você
verá."

"Me mate de uma vez!" Vociferei, o que causou dor por todo o meu corpo.
Fazer o mínimo de esforço em qualquer músculo fazia eu sentir dor por toda
a parte.

"Legillimens!" Voldemort bradou, e os meus olhos se arregalaram por


poucos segundos antes dele adentrar totalmente a minha mente.

Fazia tempo que eu não precisava me defender desse feitiço. A última vez
havia sido há tanto tempo e eu nunca procurei aprender Oclumência porque
achei que estava livre disso. Eu não poderia ter sido mais burro.

Voldemort viu muitas coisas. Viu aniversários, nascimentos, natais. Ele viu
o dia em que Dumbledore nos contou da profecia. Ele estava determinado a
achar Harry. Como se estivesse dentro da minha cabeça com um mapa do
tesouro e Harry estava bem no X. Ele viu seu nascimento, viu os presentes
que compramos para o seu primeiro aniversário e viu o momento em que me
tornei fiel do segredo dos Potter.

"Você tem certeza disso, Regulus? Não é algo simples. Você pode ser caçado
e torturado se algo der errado. Você tem consciência disso?" A voz de
Dumbledore ecoando na memória.

701
"Tenho," Era a minha voz, "Preciso fazer alguma coisa para protegê-los.
Qualquer coisa. Eu farei."

"Então você não estava mentindo sobre isso," Voldemort murmurou, ainda
na minha mente, "Vamos ver o que mais você tem."

Eu não podia deixá-lo chegar lá. Esconda, Regulus, esconda. Você já fez
isso antes, Sirius ensinou à você. Você só precisa mostrar a ele tudo que
pareça que é contra a sua vontade e guardar dentro de uma caixa mental a
informação que não pode ser descoberta. Tente, tente, não pare de tentar,
morra tentando, a vida de Harry depende disso, ele não é só o garoto da
profecia, ele é o filho dos seus melhores amigos...

Voldemort havia chegado em Carter. Ele viu quando eu o conheci. Viu


quando nos beijamos no aniversário de Remus e quando nos beijamos todas
as outras vezes. Viu quando ele me fazia rir, quando ele me viu chorar,
quando ligávamos uma para outro e todas as vezes em que ele passou pela
minha mente quando não estava em Londres.

Mas ele não viu o essencial. Ele não viu onde Carter estava, e nem a
confirmação de que estava com Harry. Eu escondi isso, mostrei tudo à ele,
mas escondi isso. Usei toda a força que eu já não tinha mais no meu corpo
para proteger Harry. Não sou exibido, nem um pouco. Mas quando eu
morrer, quero que alguém conte isso à ele. Que morri tentando protegê-lo.
Que preferi morrer a mostrar qualquer coisa que o colocasse em perigo.

Voldemort parou o feitiço, soltando meu ombro bruscamente. Suspirei


aliviando, como se tivesse acabado de me livrar de um peso enorme, o
esforço finalmente aliviando nos meus músculos.

"Onde você aprendeu isso? Por causa de sua mãe?" Voldemort perguntou,
semicerrando os olhos na minha direção. Eu não estava esperando por aquilo.
Havia me pegado de surpresa que ele soubesse disso.

"Não sei do que está..." Tentei, mas ele me calou, agitando a varinha mais
uma vez e abrindo um corte pequeno, mas profundo, na minha bochecha
direita.

"Seus pais eram ótimos aliados, Regulus, tão habilidosos..." Ele examinou a
sua varinha, descontraidamente, "Conhecia sua mãe e ela era uma ótima
Legillimens. Mas quando o herdeiro dela se rebelou contra mim, eu fui
obrigado a fazer algo, não é? Quero dizer, eles tentaram contornar o erro

702
mandando lobos atrás do seu irmão para matá-lo porque ainda achavam que
você tinha salvação, ainda se importavam com a sua vida, ao contrário de
Sirius que eles não tinham qualquer afeição ou preocupação. Mas então, deu
errado e eles pagaram pelo o que fizeram. Você matou seus pais e metade
das pessoas que obrigou a lutarem para esconder você de mim. Como você
se atreve a falar de mim quando é uma pessoa tão podre por dentro?"

"Meus pais não me viam como um filho," Respondi, enojado com as


lembranças, "Eu não tenho motivo nenhum para vê-los como pais."

Voldemort sorriu friamente, "Desamarrem as duas."

"O quê?!" Um choque percorreu pelo meu corpo, ele não havia envolvido
Mary e Pandora em nada até agora, "Você... Não, não, você disse que se eu
me entregasse..."

"Eu vou matar você, Regulus. Vai ser a melhor coisa que vou fazer em anos,"
Ele respondeu, enquanto Evan e Nott desamarravam as duas das árvores, ele
chegou perto do meu rosto e sussurrou, "Mas você não pode ser tolo de
pensar que seria o único."

"Mas você disse!" Tudo em mim gritava. Não, não, não. "Deixe elas irem!
Sou eu quem você quer matar! Elas duas não tem nada a ver com isso!"

"Esta aqui é uma nascida trouxa, não é?" Voldemort, com nojo no rosto,
apontou para Mary, que era segurada por Evan, "Esta aqui deveria morrer
apenas pelo fato de ter nascido. E esta aqui..." Ele apontou para Pandora, "Eu
admiro a lealdade que ela tem à você. Seria muito bem aproveitada se tivesse
sido depositada na pessoa certa."

Pandora e Mary ainda se debatiam, sem poder falar. Isso só podia ser um
pesadelo. Era pior do que qualquer outra coisa.

"Então é isso?" Minha voz estava tremendo, não havia como disfarçar o meu
desespero, "Me chamou até aqui para matar nós três?"

"Ah, mas não aqui! Não, não... Se você não quer me dar as informações que
preciso, então seus amigos podem dar. Vou entrar a cabeça de um por um
até descobrir o que quero. Nem que para isso eu precise matar todos naquela
vila." Voldemort se aproximou de novo, as vestes escuras voando de acordo
com que andava, "Você não é o único que sabe mentir."

703
"Então por que me chamar aqui?! Você não lutou e mandou seus Comensais
lutarem por você, por quê?!" Vociferei, com raiva, "Eu estou pronto para
morrer! Se livre de mim de uma vez e deixe-as ir!"

"Quero matar você na frente de todos." Ele disse, "Quero matar você na
frente de Albus Dumbledore. Na frente do seu irmão traidor. Quero mostrar
que eles não puderam fazer nada para me impedir porque você se entregou
como um covarde. Vou exibir você como uma escória, um nada." Dolohov
e Karkaroff deram a entender que iam me segurar, mas Voldemort os parou
com um aceno de mão, "Regulus vai andar sozinho, não vai estar amarrado
e nem preso. Vai andar à nossa frente, sabendo que se correr, estará
assinando a sentença das duas atrás dele. Quero que ele saiba que pode correr
e fugir a hora que quiser, mas que simplesmente não vai. Quero se sinta
impotente. Que saibam que o salvador deles morreu porque se entregou à
mim."

Dei uma olhada para Mary e Pandora, que haviam parado de se debater. Pela
primeira vez, eu não fazia ideia do que estava prestes a acontecer. Eu estava
perdido e elas também. Eu só podia pedir que com Voldemort voltando à
vila, eles aproveitassem a chance para matar a cobra. Depois que ele me
matasse, a guerra recomeçaria e tudo isso poderia ser usado à favor deles.

"Agora," Voldemort continuou, "Vamos à vila de Godric's Hollow mostrar


o que restou do seu herói."

Houve uma explosão de risadas e insultos, quando Voldemort chutou meu


joelho machucado, me fazendo soltar um grunhido de dor e me curvar no
chão. Mas Dolohov me puxou pelos braços bruscamente, me obrigando a
ficar em pé.

"Ande." Ordenou Voldemort, postado na minha frente, e eu avancei logo


atrás dele. Dolohov e Karkaroff atrás de mim e logo atrás Mary e Pandora,
sendo seguradas por Evan e Nott. E mais atrás, uma multidão inteira de
Comensais da Morte seguindo todos nós.

Voldemort abria passagem com a varinha entre as árvores muito juntas, em


direção a saída da Floresta. Os galhos prendiam no meu cabelo e nas minhas
vestes, mas eu continuei caminhando, os músculos doendo, cambaleando às
vezes pela fraqueza, o sangue seco por toda a minha roupa e cortes
espalhados por todo o meu corpo.

704
Tentei olhar para trás, para Mary e Pandora, mas não deixaram. Viraram
bruscamente a minha cabeça, me impedindo de fazer qualquer contato visual
com elas. Andando, eu compreendi o que estava acontecendo. Voldemort
não estava tão confiante quanto parecia. Ele sabia que mesmo me matando,
Harry e a profecia ainda existiriam. Estava desesperado para descobrir onde
ele estava. Então o que ele faria? Até onde iria? Usaria minha vida como
moeda de troca pela informação? Não faria sentido. Eu já havia mostrado
que não me importava de morrer. Então por isso ele queria na frente de
todos? Por que sabia que eles não me deixariam morrer? Que Sirius não me
deixaria? E Mary e Pandora? O que elas estavam fazendo aqui, então?

As árvores faziam tanto barulho que os pássaros levantaram voo, aos gritos,
abafando até as caçoadas dos Comensais. Como uma procissão da vitória,
todos marchamos para campo aberto, e depois de algum tempo, as árvores
começaram a rarear. Pouco depois, nós chegamos à orla da floresta.

"Parem." Voldemort ordenou, falando logo em seguida, sua voz


magicamente amplificada de modo a se propagar por toda a vila, ecoando
nos tímpanos de qualquer um, "A batalha está ganha. Vocês perderam
muitos de seus combatentes. Os meus Comensais da Morte são mais
numerosos e o herói de vocês não tem nenhuma chance. A guerra não deve
continuar. Quem continuar a resistir, seja quem for, será morto. Ajoelhem-
se diante de mim e serão poupados. Serão perdoados e se unirão a mim no
novo mundo que construiremos juntos."

Houve silêncio após isso. Eu imaginei os rostos de Sirius, Remus, James,


Lily, ouvindo a mensagem. A imagem me causou mais dor do que os
próprios ferimentos.

"Venham." Ordenou Voldemort novamente e todos começamos a avançar


outra vez. Um Comensal ou outro chutando minhas pernas, zombando de
mim. A cobra estava em torno dos ombros de Voldemort, se enroscando e se
enrolando asquerosamente.

A luz do sol foi clareando o lugar, já era primeiro de novembro. E de acordo


com que avançávamos, eu pude enxergar as pessoas na vila. Consegui
enxergar cada um a medida que avançávamos e quando finalmente nos
tornamos visíveis, adentrando na rua repleta de pessoas, o grito de
Andromeda ecoou, terrível e aterrorizado, quando ela me viu tão machucado
e quase sem conseguir andar atrás dele.

"NÃO!"

705
Os Comensais da Morte sorriram com o desespero. Todos começaram a se
reunir, a se amontoar. Todos encarando com os próprios olhos a realidade.
A cobra se desenrolou do pescoço de Voldemort, rastejando-se no chão ao
lado dele. Vi Narcissa do lado de Andromeda, e vi Alice e Frank
Longbottom, vi os Weasley e Kreacher, rodeado de outros elfos domésticos.
Vi Dumbledore à frente de todos, que não tirava os olhos de mim o tempo
inteiro. Até que James e Lily apareceram. Remus apareceu logo depois e,
abrindo espaço desesperadamente entre as pessoas, Sirius se fez presente,
parando abruptadamente quando me viu.

"REGULUS!" Sirius tentou correr, mas Remus o segurou, o olhar mais triste
do que nunca direcionado a mim, "NÃO! NÃO, REGULUS!"

Tudo que eu queria era gritar em resposta, mas me mantive quieto e calado.
O grito de Sirius fez com que todos gritassem e berrassem insultos aos
Comensais da Morte, transformando o lugar em um falatório enorme.

"SILÊNCIO!" Voldemort disse, então me agarrou pelo braço e me jogou de


joelhos à sua frente, puxando a minha cabeça para trás pelo cablo para
encarar à todos na minha frente, "Este é o seu herói. Regulus Black não é
nada, jamais foi. É apenas um garoto tolo e arrogante. Confiante de que
poderia derrotar o Lorde das Trevas!"

"Ele derrotou você!" Remus berrou, e todos voltaram a gritar e a insultar até
que outro grito de Voldemort tornou a calá-los mais uma vez. Sirius e eu
trocamos um olhar. Ele examinou meu corpo, as roupas rasgadas, o sangue
por toda parte. E balançava a cabeça negativamente, parecendo não querer
acreditar no que estava vendo.

"Ele será morto na sua frente, como um exemplo de que nenhum ser vivente
é capaz de me derrotar! Nenhum!" Voldemort vociferou, pondo os olhos na
direção de Dumbledore, "Nem mesmo você."

Dumbledore apenas o encarou, os olhos cerrados, sem desviar nenhum


momento. Fiquei curioso para saber no que ele estava pensando.

"Porém, antes disso, Regulus finalmente vai nos dar a informação que tanto
venho pedindo à ele," Voldemort soltou minha cabeça, fazendo meu corpo
tombar para frente, "Venho pedindo gentilmente que ele me diga onde Harry
Potter está escondido, mas ele se recusa me deixar penetrar a sua mente. Ele
a torna intocável para mim."

706
"NÃO FALE O NOME DO MEU FILHO!" Lily gritou, quase avançando
em direção à Voldemort que começou a gargalhar junto aos Comensais da
Morte, James a segurou, com a mesma expressão de fúria no rosto.

"Seria muito fácil para mim torturar cada um de vocês até me dizerem onde
Harry Potter está, porém eu serei misericordioso e darei uma escolha à
Regulus," Todos ficaram em silêncio e eu, confuso, virei a cabeça na direção
dele, "Regulus pode me contar o que está escondendo, ou então vai ser
obrigado a escolher entre a namorada sangue-ruim e a amiguinha, qual vai
morrer."

Tudo fez sentido. Por isso elas. Era o plano o tempo todo. Me fazer escolher
entre as duas. Ele não queria que eu me entregasse para salvá-las, não. Ele
as estava usando para me deixar sem caminho, sem ter para onde ir. Se eu
não escolhesse, ele mataria as duas. Esse era o plano desde o começo.

Voldemort desilenciou Mary e Pandora com um aceno da varinha e as duas


foras jogadas de joelhos no chão, igualmente a mim. Pandora gritou,
"Regulus, olhe para mim! Olhe para mim!" Eu a encarei, os meus lábios
tremendo, sem conseguir me mexer quase nada, "E-está tudo bem... De
verdade, está tudo bem... Mary é filha única, os pais precisam dela. Eu já
perdi uma filha, a dor é insuportável, Regulus. Luna tem Phil, tem você...
Ela nunca vai estar sozinha, eu confio em você para isso. Não conte nada a
ele, não faça isso..."

Como ela achava que eu escolheria ela? Depois de toda uma vida juntos, sem
nunca desgrudar um do outro. Depois de eu virar um Comensal da Morte,
brigar com Sirius, ela perder um bebê, acharmos horcruxes... Depois de tudo
isso, e ela foi a única que nunca me virou as costas... Como ela achava que
eu a escolheria? Como Pandora ao menos cogitava isso tão rapidamente?

E quando olhei para o lado, Mary estava me olhando. E eu entendi porquê


Pandora pensara isso tão rapidamente. Ela não queria que eu perdesse a
pessoa que eu amava. A pessoa que, por tanto tempo, Pandora esperou que
aparecesse para mim. Que me fizesse querer sobreviver, querer viver.

"Reg," Mary engoliu em seco, "Sei que isso é difícil... Mas pense direito,
Pandora tem uma filha. Você é o padrinho, como vai explicar para Luna que
escolheu a mãe dela para morrer? Meus pais vão entender, eles vão...
Regulus, está tudo bem... Eu vou morrer sabendo que você me ama. Vou
morrer feliz sabendo disso..."

707
Minha mente parecia que ia explodir. Eu não conseguia me mexer. Nenhum
músculo sequer. Meus olhos estavam arregalados, correndo entre as duas
desesperadamente. Não havia escolha certa. Pelo amor de Deus, é claro que
não havia nenhuma escolha. Aquilo era puramente para me torturar. No fim,
ele ainda acabaria matando as duas. Porque nenhuma diria onde Harry está.

Então essa era a profecia? Todos nós morreríamos de qualquer jeito. A


primeira guerra bruxa seria perdida, para que Harry crescesse e vencesse a
segunda que viria? Todos nós seríamos apenas memórias, nomes em uma
lápide para Harry, Luna, Neville, Draco, os filhos dos Weasley visitarem?
Era assim que a profecia se cumpria, afinal de contas?

Porém, o show de Voldemort foi interrompido, quando Sirius se destacou na


multidão, dando um passo na direção dele.

"Sirius! Volte para lá! Agora!" Gritei, mas em vão. Ele nem mesmo olhava
para mim. Tinha os olhos postados em Voldemort.

"Sirius Black." Voldemort pronunciou seu nome prazerosamente, "Você


demonstra coragem, e descende de uma linhagem altamente nobre, o sangue
mais puro que muitos. Você dará um valioso Comensal da Morte. Seus pais
sabiam disso, apesar de não saberem como fazer você progredir. Precisamos
de gente como você para construir nosso mundo novo."

"Não me junto à você nem que me torture até perder a consciência." Sirius
atirou, desafiando-o, "Regulus já derrotou você. Regulus derrotou você todos
os dias. Todos os dias em que ele passou depois que traiu você, lutando pela
própria vida, escapulindo das suas mãos, fugindo da morte. Regulus derrota
você todas as vezes que consegue acordar vivo de manhã."

"Sirius, o que está fazendo?!" Implorei, suplicando que ele parasse.


Voldemort só precisava balançar a varinha uma vez e Sirius cairia morto.

De repente, James deu um passo a frente, pondo uma mão no ombro de


Sirius. Voldemort e os Comensais começaram uma risada, "Você veio exibir
seu prêmio em vão. Regulus nunca será um exemplo de que você é
invencível. Pelo contrário, pessoas em todos os lugares do mundo
mencionaram o nome dele com respeito. Mesmo se..." A voz dele pareceu
vacilar, "Mesmo se o perdermos hoje, ele ainda estará vivo dentro de todos
nós."

708
"Nada vai acabar apenas porque você o matou," Remus disse agora, se pondo
do outro lado de Sirius, "Nunca vamos desistir. Com ele ou sem ele, não
vamos deixar nada do que ele fez ser em vão. Se ele não o matar, nós o
mataremos. Você não tem chance alguma."

Então, muitas coisas aconteceram no mesmo instante.

Como se brotasse do chão, como se se materializasse de repente, como um


vulto que acabara de pegar forma humana, Peter apareceu ao lado de Nagini,
se destransformando de um rato minúsculo para uma pessoa em questão de
segundos, com a espada de Godric Gryffindor em sua mão. Ele havia
aproveitado o momento que todos estavam prestando atenção em Sirius,
James e Remus para agir. E com um único movimento rápido e um único
golpe, Peter decepou a cabeça de Nagini que girou no alto em agonia.

Ao mesmo tempo em que isso acontecia, Dumbledore chamou minha


atenção e jogou sua própria varinha para mim. Eu não tinha como questionar
naquele momento. Mas alguma coisa acendeu dentro de mim. Eu me senti
poderoso, mais poderoso do que quando segurava minha própria varinha.
Que tipo de varinha era aquele? Eu a sentia irradiando magia por cada parte
do meu corpo.

Quando me virei novamente, a boca de Voldemort se abriu em um berro de


fúria. Mas então aconteceu tão rápido. Quando o corpo da cobra bateu com
um baque aos seus pés, Voldemort levantou a varinha em direção à Peter e
bradou, "Avada Kedrava!" Um clarão verde saiu de sua varinha e Peter foi
atingido, o corpo caindo no chão como um saco de ossos, os olhos
arregalados.

"NÃO!" Eu ouvi o grito de James em meio ao caos. Não havia o que se fazer.
Peter estava morto. A coisa toda havia acontecido em menos de dois
segundos.

O caos reinou completamente. A Ordem da Fênix investiu contra os


Comensais da Morte, Mary e Pandora correram de onde estavam pois não
havia mais Comensal nenhum prestando atenção nas duas. A multidão se
misturou, Voldemort me perdeu de vista entre as pessoas. Bruxos e
Comensais da Morte lutavam feito guerreiros. Eu lançava feitiços contra
cada Comensal da Morte à vista, e eles caíam sem saber quem ou o que os
atingira, e seus corpos eram pisoteados pela multidão em retirada. A varinha
de Dumbledore, que agora usava a minha para se defender, se orquestrava

709
com uma facilidade enorme nas minhas mãos. Eu nem mesmo precisava me
esforçar, ela parecia me obedecer com uma maestria perfeita.

Peter, minha mente pensou, Peter, seu idiota, como vou poder agradecer
agora... como vou poder...

Com a multidão brigando entre si, eu empurrei alguns, atingindo outros:


procurei Voldemort e o vi do outro lado, a varinha disparando feitiços para
todo lado, ainda berrando ordens para os seus seguidores. Eu lancei Feitiços
Escudo em Molly Weasley e Alice Longbottom, que passaram por
Voldemort correndo, se perdendo na multidão.

E agora havia mais, mais Comensais á mando de Voldemort atacando sem


parar e eu vi Andromeda alcançar Dumbledore, os dois pareciam ter
assumido a liderança de dois grupos diferentes da Ordem e de seus aliados.
Uma enxurrada de elfos domésticos adentrou entre todos, gritando e
brandindo, e à frente deles, vinha Kreacher, sua voz alta e audível, "Lutem!
Lutem! Lutem contra o Lorde das Trevas, em nome do corajoso Regulus!
Lutem!"

E por onde quer que eu olhasse, os Comensais estavam perdendo, apesar da


superioridade dos números. Vencidos pelos feitiços, sendo atingidos e
caindo do chão, ou simplesmente tentanto fugir, mas engolidos pela
multidão. A Ordem, pelo contrário, parecia mais protegida do que nunca.
Nenhum feitiço os atingia diretamente, como se houvesse um escudo
invisível em volta de todos.

A batalha, contudo, ainda não havia terminado. Eu disparei pelos duelistas,


passando por Comensais capturados que se debatiam e chegando mais perto
de onde Voldemort estava. Ele estava no centro, atacando e fulminando tudo
ao seu alcance. Eu não consegui um ângulo livre para mirar, então lutei para
me aproximar, porque todos estavam juntos no mesmo lugar, lutando em
todos os cantos.

Eu vi Dolohov ser nocauteado por Sirius e James, vi Karkaroff cair com um


grito às mãos de Lily, vi Nott ser atirado do outro lado por Remus, vi Mary
e Pandora abaterem Evan Rosier, Marlene estuporar Carrow, Narcissa e
Frank derrubarem Rowle e alguns outros Comensais apenas abandonando a
luta, deixando tudo para trás.

Voldemort agora duelava com Andromeda, Slughorn e Dumbledore ao


mesmo tempo, e seu rosto transparecia um ódio frio ao vê-los se proteger

710
com tanta facilidade, incapaz de atingí-los. Quando ele ergueu a varinha mais
uma vez e apontou-a para Andromeda, eu berrei, "Protego!", e o Feitiço
Escudo expandiu-se ao meio, Voldemort olhou ao redor procurando de onde
havia vindo.

A multidão caiu em silêncio quando Voldemort me viu, quando nós nos


encaramos e começamos no mesmo instante a nos rodear.

"Ninguém mais vai lutar!" Eu disse em voz alta, "Tem que ser eu."

"Regulus não está falando sério," Voldemort sibilou, "Não é assim que ele
luta, não é? A vida de quem você vai pôe em risco hoje, Regulus?"

"Ninguém." Eu respondi, com simplicidade, "As horcruxes acabaram.


Somos apenas você e eu. E um de nós vai morrer hoje."

"E você acha que vai ser quem? Eu?" Caçoou Voldemort, mas todo o seu
corpo estava claramente tenso e seus olhos atentos, "Não seria você? O
garoto que precisou ficar debaixo da asa da Ordem e de Dumbledore para
não ser pego por mim?"

"Eu estava debaixo da asa de alguém quando fui pessoalmente até aquela
caverna e destruí o seu medalhão?" Eu o desafiei. Nós continuávamos nos
movimentando de lado em um círculo, e para mim, só existíamos eu e ele,
"Eu estava debaixo da asa de alguém quando fui até Hogwarts e destruí três
das suas horcruxes na mesma noite? Eu estava debaixo da asa de alguém
quando enganei você tão facilmente para achar que eu estava traindo meus
amigos? Eu estava debaixo da asa de alguém quando fui desarmado me
sacrificar por essas pessoas?"

"Estava!" Voldemort berrou, mas ainda não atacou, e todos ao redor


permaneceram imóveis , ninguém parecia nem mesmo respirar, a não ser nós
dois, "Estava quando você usou todas essas pessoas para lutarem para você
não se entregar e me permitiu matá-los todos e seu lugar!"

"Mas você não vai matar mais ninguém hoje. Você tirou demais de mim."
Eu disse, enquanto ainda nos rodeávamos e nos encarávamos, "Você não vai
matar ninguém, nunca mais. Você não entendeu? Eu estava disposto a morrer
para impedir que você os ferisse."

"Mas não morreu!"

711
"Mas tive a intenção. Eu os protegi de você. Vamos, Tom, você não reparou
que nenhum dos feitiços que lançou estão funcionando? Não pode torturá-
los. Não pode atingi-los. Você sempre coloca a arrogância de achar que sabe
tudo na frente, não é?"

"Como você se atreve..."

"Mas é claro que me atrevo," Eu sorri maldosamente, "Eu sempre estive a


um passo a frente seu, Tom Riddle. Eu enganei você duas vezes e veja onde
estamos agora."

Voldemort continuou a rondar em círculo, ele zombou, "Está me dizendo


que você pensar em se sacrificar foi a solução?"

Eu olhei de canto para Dumbledore, que acenou com a cabeça


confiantemente, eu confirmei, "Exatamente."

"Se isso protege todas essas pessoas," Voldemort ponderou, "O que impede
que você morra agora quando eu o atacar?"

"Uma coisinha de nada." Eu sorri outra vez, e nós continuamos a nos rodear,
atentos um ao outro. A verdade é que eu já sabia o que estava acontecendo.
Como é que não havia pensado antes? As histórias. Os contos. O livro de
Beddle e Bardo. Os Irmãos Peverell. Eu e Sirius ouvimos essas histórias mais
vezes do que podíamos realmente contar.

"Você deve acreditar que possui uma magia que eu não tenho, eu presumo?"
Retrucou Voldemort.

"Acredito que sim." Eu respondi, e vi o choque passar pelo seu rosto e então
sumir na mesma velocidade. "Você é apenas mortal agora. Tão fácil de matar
quanto qualquer outro." Ele começou a rir, um som sem humor e sem
sanidade, ecoando pelas ruas.

"Você não pode achar que é mais poderoso do que eu! Eu, Lord Voldemort!"
Ele bradou, "Não seja tolo! Vidas foram perdidas pela sua tolice!"

"Não sou mais poderoso do que você," Eu dei de ombros, "Sou mais
inteligente do que você. Um bruxo melhor e uma pessoa melhor."

Aquilo foi o fim para Voldemort. E quando o sol nasceu por completo, nós
dois berramos, apontando as varinhas na direção um do outro. O choque foi

712
como um tiro e chamas brilhantes jorravam entre as duas varinhas, no centro
do círculo, foi marcado o ponto em que as nossas varinhas colidiram. E então
a luz que irradiava da minha varinha se chocou contra Voldemort com uma
força brutal, com uma explosão de luzes e clarões, Tom Riddle bateu com o
corpo no chão, um corpo fraco e encolhido.

Voldemort estava morto.

Eu fiquei parado, ofegante, contemplando o corpo do meu inimigo.

Houve um segundo de silêncio, o choque do momento pairando no ar. E


então os gritos e vivas rasgaram o ar, o nascer do sol iluminou toda a vila e
todos correram até mim. Os primeiros a me alcançar foram James, Sirius,
Remus e Pandora, e foram os braços deles que me envolveram, seus gritos
tão altos que quase me deixaram surdo.

Pandora demorou quase um minuto inteiro para me soltar. Mas não me


importei, eu nuca mais reclamaria de nenhum abraço que ela me desse.

Sirius se jogou nos meus braços, as lágrimas molhando minha blusa. Naquele
momento, eu nem mesmo sentia os cortes pelo meu corpo. Tudo que
importava era abraçar o meu irmão.

"Seu idiota!" Ele sacudiu meu rosto, enquanto nós dois chorávamos e
sorríamos, "Você nunca me escuta, não é?!"

"Não mesmo." Eu sorri, encostando as nossas testas.

"Obrigado por não escutar." Ele disse, "Obrigado por ser quem você é e
seguir sua própria intuição sempre."

E então Mary apareceu. Em meio à todos, ela estava parada na minha frente.
Tudo havia acabado, finalmente tudo havia acabado. Não havia mais perigo.
A guerra havia terminado. O mundo bruxo estava em paz. E a garota que eu
amava estava bem na minha frente. Eu corri até ela e a puxei rapidamente,
beijando ela como se não fosse haver um dia depois daquele.

Mas havia. Agora principalmente, haveria uma amanhã.

"Eu amo você," Eu ofeguei, separando nossos lábios com dificuldade, "Eu
amo você mais do que qualquer outra coisa. Nunca mais me peça para abrir
mão de você. Eu não teria coragem nem em um milhão de anos. Você é a

713
minha vida agora. Não tem nada que eu seja hoje que não tenha a ver com
você também. Você é parte de mim."

Mary sorriu, os olhos brilhando, "Eu amo você, Regulus Black, vou amar
você para sempre." E se jogou no meu pescoço outra vez, me beijando de
novo.

Depois Andromeda, Narcissa e Marlene estavam ali, e os Weasley e os


Longbottom e o professor Slughorn, e eu nem consegui mais ouvir nada com
tantas comemorações vindo de todos os lugares.

O sol iluminava o lugar e o mundo bruxo agora espelhava vida e luz. E então
Dumbledore me pegou pelo ombro e me afastou um pouco da multidão de
pessoas que queriam apertar a minha mão, das pessoas que não tinham se
deixado ocorrer que eu havia passado a noite em claro, e que estava cheio de
cortes, e que, na verdade, eu queria muito, muito a minha cama.

"Alguns Comensais da Morte foram capturados, outros fugiram e estão


sendo procurados," Dumbledore explicou, "Imagino que você tenha
descoberto o que tem em mãos, Regulus."

"Sim, eu..." Engoli em seco, um pouco nervoso, "Na verdade, professor, o


senhor realmente acha que eu devo ficar com isso? Quero dizer, é a Varinha
das Varinhas. A mais poderosa do mundo todo. Eu mesmo achava que ela
nem existia!"

"Se você é humilde o suficiente para se perguntar se deve ficar com ela,
Regulus," Dumbledore sorriu gentilmente, "Então você é merecedor."

"O senhor tem certeza?" Hesitei, observando a varinha nas minhas mãos.

Dumbledore pôs as duas mãos nos meus ombros e me encarou, "Você é o


senhor da Varinha das Varinhas, Regulus."

Fiquei em silêncio por um minuto. Acho que era uma baita responsabilidade
e que eu não fazia ideia do que estava me metendo, mas ainda assim.

"O senhor sabe que vou ter que contar à eles, não sabe?" Eu o encarei de
novo, "Sobre Peter. Eles merecem saber."

"Certamente." Dumbledore assentiu, sem preocupação no rosto.

714
Todos estavam sentados com as suas famílias, conversando e rindo entre si.
Quando caminhei mais a frente, James, Remus e Sirius estavam ao lado do
corpo de Peter, terminando de se despedir. Quando me aproximei, Remus
me deu um sorriso sem mostrar os dentes e todos nós fizemos um minuto de
silêncio.

James e Sirius estavam chorando. E eu dei uma última olhada para o rosto
de Peter, antes de Remus o cobrir com um lençol branco.

"Venham," Passei a mão nas costas de Sirius e James, "Vamos caminhar um


pouco."

Enquanto caminhávamos, James foi o primeiro a falar, "Ele foi um herói,


não foi?"

"Claro que foi, Prongs," Eu o confortei, "Ninguém imaginaria que ele faria
isso. Ele surpreendeu todo mundo."

"A felicidade do fim da guerra ainda vai vir," Remus ponderou, os braços ao
redor de Sirius, "Agora, todos nós perdemos muitas pessoas. Mas ela vai
vir."

"E quando ela vier, vamos estar juntos." James completou, sorrindo para
cada um de nós, "Você prometem, não é?"

"Pare de ser tão sentimental, Prongs!" Sirius o empurrou com o braço,


sorrindo.

"Claro que vamos," Eu olhei para frente, encarando o sol daquela hora da
manhã, "Malfeito feito, não é?"

Todos eles me olharam e algo foi passado ali, algo que talvez há alguns anos
atrás eu não compreenderia, mas agora eu compreendia.

Era amor.

"Malfeito feito." James assentiu, sorrindo carinhosamente

"É estranho," Sirius sorriu fracamente, "Estamos nisso a tanto tempo que
agora vai ser estranho não ter mais que correr para sobreviver."

715
"Fale por você!" Eu sorri, "Tudo que eu quero agora é ir para casa e dormir
até o ano que vem!"

"Moony," Sirius o chamou, e Remus se virou para ele, "Você acha que agora
que a guerra acabou, é hora de contar para eles?"

Eu e James nos entreolhamos, confusos, "Contar o quê?"

Capítulo 48: Reparação

3 de novembro de 1981, quinta-feira

"Padfoot, eu acho sinceramente que você deveria pensar antes de fazer isso!"
Remus tentava acompanhar os passos rápidos e furiosos de Sirius pelo
corredor, "Na verdade, eu acho que você deveria começar a pensar mais antes
de fazer qualquer coisa!"

"Prongs!" Eu tentei alcançar James, que andava ao lado de Sirius, os dois


nem mesmo pareciam nos ouvir, "Os alunos estão em aula, não é hora para
um escândalo!"

Remus tentou outra vez, quando viramos mais um corredor, "Olhe, eu sei
que estão com raiva, eu também estou, mas será que vir até aqui não foi..."

"Precipitado." Completei, ainda tentando alcançá-los, "Foi muito


precipitado, vocês nem me deixaram terminar!"

Não houve conversa. Sirius e James não viraram as cabeças para nos olhar
em momento nenhum. Eles estavam com tanta raiva que poderiam ter
passado por cima de algum aluno e nem teriam percebido. Os corredores de
Hogwarts me lembraram da última vez em que havia estado na escola, em
uma madrugada caçando três horcruxes. Mas naquele momento eu não podia
apenas parar e refletir sobre nada, porque eu e Remus precisávamos conter
dois vulcões prestes a entrar em erupção que agora haviam adentrado a sala
de Dumbledore como um furacão.

716
"Como é que você pôde?!" James entrou primeiro, com o dedo apontado em
direção a mesa do professor Dumbledore, que lia um livro muito calmamente
em sua cadeira, "Me responda! Como você pôde?!"

"Nós confiamos em você! Você viu como ficamos quando achamos que ele
tinha nos traído! E você não nos disse nada!" Sirius vociferou, posto ao lado
de James, a voz alterada e muito irritada, a frente da mesa de Dumbledore,
"Por que?! Por que não apenas nos contou do seu plano sujo?! Por que?!"

Dumbledore suspirou, pousando o livro na sua mesa. Eu e Remus nos


entreolhamos, "Eu já havia imaginado que este encontro aconteceria. Posso
assegurar aos senhores que nada foi feito forçadamente. Pettigrew aceitou
fazer parte deste plano de infiltração porque queria fazer algo para nos ajudar
a conseguir informações."

"Você não deveria nem ter cogitado!" James avançou na mesa de


Dumbledore, e eu e Remus corremos para agarrá-lo pelos braços, "Nós
tínhamos acabado de sair da escola! Acabado de entrar na Ordem!"

"E quando ele foi descoberto?!" Sirius disse, "Regulus disse que quando ele
o encontrou nas masmorras, ele já havia desistido! Estava pronto para
morrer! Você não pensou em ir buscá-lo?!"

"Voldemort ia querer usá-lo como moeda de troca, Sirius, por isso ele o
manteve vivo," Dumbledore explicou, "Voldemort pretendia usá-lo para me
desafiar. Eu sabia que ele não o mataria."

"Mas ele está morto agora!" James gritou, tentando se soltar, sua voz trêmula
agora, "Nós passamos mais de um ano pensando que ele havia nos traído e
agora ele está morto! Como se reverte isso?! Como?!"

Dumbledore se levantou da cadeira, ficando de pé agora, "Peter evitou a


morte de muitos da Ordem. A sua amiga McKinnon foi uma delas. E
enquanto estava sob meus planos, ele estava vivo. Quando decidiu se
sacrificar, Peter fez isso por conta própria. Ele decidiu morrer como um
herói. Eu não poderia evitar isso, James."

"E por que não nos contou?" Remus disse agora, eu podia ver que ele estava
tentando ficar calmo por Sirius e James, "Você podia ter nos avisado que
tudo era um plano. Podia ter contado apenas para nós, a família dele. Não
éramos confiáveis ou o quê?"

717
"Não contar para vocês foi ideia do próprio Pettigrew, Lupin, não minha."
Dumbledore afirmou, fazendo com que nós quatro o encarássemos, "Na
noite em que Peter aceitou a missão, ele pediu para mim e Alastor que não
contássemos porque vocês tentariam impêdi-lo. E na noite em que ele veio
até mim para contar que Regulus havia descoberto e Lily escreveu para mim
contando que Regulus havia ido até a casa dos Potters para contar, nós
decidimos que ele deveria ou desistir da missão ou se afastar da Ordem. E
vocês sabem o que ele escolheu."

"Ele queria se provar." Eu sussurrei, mais para mim mesmo do que para
alguém escutar. Eu conhecia bem a vontade ensurdecedora de querer provar
que é bom o bastante a todo momento.

Todos ficamos em silêncio por um momento. Dumbledore havia voltado a


se sentar em sua mesa. Sirius andava em círculos pela sala, James estava
parado encarando o chão com os olhos vividamente abertos. Remus estava
pensativo. Eu só queria voltar para casa.

"E Snape?" Eu perguntei, quebrando silêncio, Dumbledore ergueu os olhos,


"Onde ele está?"

"Muito longe de Londres," Dumbledore respondeu, "Eu tenho escrito para


ele avisando que Lily está bem e que ela não corre mais perigo algum. Creio
que é tudo que ele procura saber. Ele tem medo de voltar e fazê-la passar por
algo ruim outra vez."

James sorriu sem humor, "Pare de escrever sobre a minha esposa para esse
imbecil. Snivellus não precisa saber nada sobre ela, nunca mais."

"Olhe, eu sei que Peter foi quem decidiu a maioria das coisas sobre esse
plano idiota," Remus disse de repente, retirando as mãos dos bolsos e
cruzando os braços, "E também sei que o sacrifício dele foi porque ele sabia
que a sua escolha tinha nos feito sofrer. E também sei que por causa dele,
muitos ataques foram evitados."

"Mas?" Dumbledore arqueou as sobrancelhas.

"Mas nós entramos nisso, na... guerra, na Ordem, em tudo isso," Remus
continuou, "Confiando cegamente em você. Nós discutimos com Regulus
várias vezes por conta disso. Todo mundo aqui sabe que você nunca planejou
o mal de nenhum de nós. E eu sinto muito por isso, mas eu não acho que nós

718
vamos conseguir perder um amigo e esquecer o que você fez, tudo ao mesmo
tempo. É demais. É demais para se pedir para alguém, professor."

"Eu entendo perfeitamente, Lupin," Dumbledore assentiu, "Eu não pediria


isso à nenhum de vocês."

"Mas eu vou pedir uma coisa ao senhor," James disse, pela primeira vez com
a voz calma, "Vou pedir e espero que o senhor faça porque é o mínimo depois
de tudo o que aconteceu."

Dumbledore se endireitou na cadeira, dando abertura para James continuar.

"Harry vai vir para Hogwarts quando fizer onze. Ele vai vir para o mesmo
lugar em que os pais se conheceram, em que os pais foram extremamente
felizes e que conheceram as pessoas mais especiais de suas vidas," James
continuou, "E eu vou pedir isso porque quero que ele seja tão feliz quanto
nós fomos dentro dessas paredes. Não quero que o senhor se aproxime do
meu filho para nada que não seja escolar."

Sirius se endireitou, completando o pensamento de James, "Sem conselhos,


sem metáforas, sem frases de efeito. Sem nada que interfira na vida de Harry,
que não seja sobre a escola."

Aquilo havia me pegado de surpresa. Remus parecia já esperar por isso, mas
eu fiquei surpreso. Eu sabia que eles estavam irritados, mas uma parte minha
achava que eles ainda julgariam Dumbledore como alguém importante para
a formação de Harry.

"Não há mais uma profecia, James, Harry será uma criança normal com uma
vida normal," Dumbledore respondeu, "Não vejo motivo algum para eu não
conceder esse pedido se é o que você e Lily quiserem."

"Certo..." James assentiu, caminhando em direção a porta, seguido de Sirius


e Remus, "Você vem, Reg?"

"Eu estou indo," Respondi, com os olhos ainda em Dumbledore, "Vou em


um minuto."

James, Sirius e Remus saíram da sala e Dumbledore virou para mim, "Sim,
Regulus?"

719
Havia muito que eu queria dizer, mas no momento, algo em mim parecia não
julgar nenhuma daquelas coisas necessárias. A guerra havia acabado, o foco
deveria ser apenas na reparação dos danos causados e no conforto das
famílias que perderam entes queridos. Não adiantava querer retratar assuntos
que já estavam resolvidos, mas ainda sim.

"Como o senhor sabia?" Me aproximei da sua mesa, "Foi um tiro no escuro


ou o senhor sabia que Voldemort não ia me matar na floresta? Porque se ele
tivesse me matado, eu nunca teria a chance de usar a varinha das varinhas. E
por que o senhor não me disse no momento em que eu o desarmei?"

"Se você tivesse ido até a floresta com a intenção de lutar, antes de lançar o
primeiro feitiço em Voldemort, os Comensais da Morte lançariam cinquenta
em Mary e Pandora. Você estava em uma armadilha, Regulus. Qualquer
passo para fora e ele tiraria algo de você."

Franzi o cenho, "Certo, mas como o senhor sabia que ele me levaria de volta
para a vila com vida?"

"Regulus, só havia uma pessoa além de você que poderia destruir Voldemort
e eu sabia que ele faria o que pudesse para descobrir seu paradeiro, mesmo
que isso significasse não matar você imediatamente," Dumbledore pareceu
refletir por um momento, "Regulus, conheço Tom Riddle desde que ele era
uma criança, desde que adentrou pelos portões desta escola pela primeira
vez. Eu o vi crescer e desenvolver cada parte maligna e cruel do seu ser. Eu
o vi usar de sua persuasão e beleza para conseguir coisas que você nunca
nem mesmo consideraria imaginar. E também conheci de perto o seu defeito
mortal."

Eu sabia a resposta. Havia usado isso a meu favor milhares de vezes.

"Presunção."

"Exatamente." Dumbledore assentiu, "Quando Voldemort não conseguisse o


que queria na floresta, ele levaria você de volta à vila para humilhá-lo na
frente daqueles que depositavam a fé em você. Ele ia querer mostrar que
você morreu tentando derrotá-lo porque ele nunca poderia ser vencido. Não
foi um palpite. Eu tinha certeza que ele agiria assim."

Fiquei em silêncio, até pousar os olhos na mão esquerda de Dumbledore,


pousada no braço de sua cadeira, "O que é isso?", a mão estava escurecida e

720
enrugada, como se aquela pequena parte do corpo dele estivesse em
decomposição.

Dumbledore suspirou, sem abalar sua expressão, "Creio que todos temos um
preço a ser pago."

Ele não respondeu minha pergunta, mas sinceramente, naquela altura do


campeonato, eu já havia me acostumado com esse tipo de coisa. Dei meia
volta, caminhando de volta até a porta, até parar no meio do caminho e me
virar de novo para Dumbledore, "Tudo que aconteceu... você não ter me
ajudado quando eu era mais novo, eu ter visto Peter na minha casa naquela
noite, as horcruxes, eu ter me metido em tanta confusão... tudo isso... era
para ser assim, não é?"

"Certamente." Dumbledore assentiu, dando um sorriso amigável através da


barba branca.

Quando eu tinha onze anos e olhei Dumbledore pela primeira vez, eu achei
ele estranho. E pensei que tudo bem, porque eu não tinha visto muitas
pessoas que não fossem da minha família naquela época. Agora com vinte,
eu já havia conhecido muitas pessoas diferentes. Mas ele ainda era estranho
para mim.

O memorial dos membros da Ordem aconteceu naquele mesmo dia, no final


da tarde. James ofereceu gentilmente a casa de campo da família Potter para
a ocasião e Lily e Alice cuidaram de tudo que envolvia decoração e comida.
Todos estavam lá, família, amigos, professores, os lobisomens. Carter
também estava lá. Ele havia devolvido Harry no primeiro dia de novembro,
sem nenhum atraso.

"Eu mal consigo acreditar que você está vivo!" Ele sorriu, se jogando no meu
pescoço quando nos vimos naquele dia. E eu respondi que nem eu acreditava.
Porque era verdade.

Desde então, Lily e James levavam Harry para todos os lugares. Ele estava
sentado em um banco branco e ornamentado, brincando com um caminhão
entre suas pernas e Draco com outro, também sentado ao seu lado. Também
houve um memorial para Lucius, apesar de ele não ser da Ordem. Por
respeito à Narcissa, que havia perdido o pai do seu filho. Na foto, ele estava
bem mais jovem, o cabelo branco mais brilhoso e ele até estava sorrindo.

721
Dumbledore e Arthur Weasley estavam perto do memorial para Alastor
Moody, que também tinha uma foto onde estava sentado em uma cadeira
com a sua bengala e a perna mecânica apoiada. Ele não sorria, mas parecia
feliz. Arthur terminava de pôr uma flor branca onde estava sua foto e
Dumbledore dava tapinhas amigáveis nas suas costas.

Remus estava com os lobisomens, todos em volta do memorial para Lucien.


E em baixo de seu nome, havia um símbolo de uma lua nova. Que, na
astronomia, significava que um ciclo lunar havia acabado e outro começava.
Era basicamente a junção do Sol com a Lua, um período de novos começos,
novas possibilidades, criações e realizações. Toda a matilha de Remus agora
tinha esse símbolo, tatuado permanentemente na clavícula por um feitiço,
para representarem a si mesmos.

"Tudo bem?" Mary se aproximou gentilmente, com a mão acariciando o meu


ombro.

Respirei fundo, segurando a mão dela, "Sim, tudo bem."

Pandora apareceu de repente, seguida por Phil que carregava Luna em seu
braço. Ela correu para onde eu e Mary estávamos, com um sorriso amigável
no rosto. Quando eu cumprimentei Phil, Luna se inclinou para os meus
ombros, agarrando-os e jogando o peso em mim.

"Merlim, você está pesada, huh?" Balancei ela, fazendo-a sorrir, "O que sua
mãe tem te dado para comer?"

"Nunca se diz à uma dama que ela está pesada, Reg." Mary me repreendeu,
brincando com as mãozinhas de Luna.

"Vou falar com Sirius e James," Phil deu um beijo no rosto de Pandora, "E
guardar um lugar para sentarmos."

"Você foi à Hogwarts hoje?" Pandora perguntou, quando Phil se afastou.

"Sim," Respondi, "Acho que eles precisavam disso. Sabe, para pôr um ponto
final no assunto. Agora eles podem seguir em frente."

"Espero que todos nós sigamos," Mary suspirou, olhando para as pessoas no
memorial, "Espero que não tenhamos perdido o jeito de sermos felizes."

722
Pandora pôs uma mão carinhosa no braço de Mary, "As coisas que perdemos
sempre voltam para nós em algum momento."

O resto da cerimônia foi triste, porém bonita. Eu, Sirius, James e Remus
sentamos um do lado do outro. E quando o nome de Peter foi citado, os três
subiram e contaram histórias sobre sua adolescência e sobre como Peter era
quando mais novo. Sirius contou sobre como Peter era bom em escapar de
uma pegadinha, Remus contou das vezes em que ele o ajudou a passar de
ano e James falou sobre as férias de verão e os Natais.

No final, quando uma boa parte das pessoas havia ido embora, eu me
aproximei do memorial para Peter, que agora estava cheio de flores ao redor
de sua foto. E deixei uma flor em cima do seu nome. E pensei que, por mais
que eu nunca tenha tido a chance de conhecê-lo melhor, ele fez mais por mim
do que pessoas que me conheceram a vida inteira. Eu nunca poderia
agradecer a ele. Mas faria valer à pena o que ele fez, todos os dias.

E acho que tudo se resumia aquilo, afinal. Um período de novos começos,


novas possibilidades, criações e realizações. A felicidade chegaria. Como a
Lua Nova, que não podia ser vista no momento em que aparecia, mas que
com o passar dos dias, se tornaria cada vez mais visível, até a fase seguinte.

15 de novembro de 1981, domingo

"Conte de novo, Moony!" Sirius estava um poço de animação, dando pulos


de felicidade, "Conte como foi!"

Remus sorriu, sentando-se na poltrona da sala, acendendo um cigarro entre


os dedos, "Eu estava no Ministério da Magia, saindo da sala da Ministra, e
então o Profeta Diário veio me entrevistar sobre mim e os lobisomens."

"E?!" Sirius deu outro pulinho, sentando-se no braço da poltrona de Remus,


"E o que mais?!"

"E então a Ministra apareceu e pediu para que tirássemos uma foto apertando
nossas mãos," Remus continuou, pondo os braços ao redor da cintura de
Sirius, "A foto provavelmente vai sair no jornal de amanhã, eu acho."

"É claro que vai," Eu disse, deitado relaxadamente no sofá com os pés
esticados sob as pernas de Lily, "A população bruxa te acha um máximo

723
agora por ter matado Greyback. Eles não perderiam a chance de exibir que o
ministério e os lobisomens "fizeram as pazes."

"Vamos, Moony, mas você não contou a melhor parte!" James exclamou,
sentado no chão, com Harry entre suas pernas, "O que você e a Ministra
decidiram exatamente?!"

Remus suspirou, fazendo uma pausa antes de falar, "Nós conversamos por
horas e ela reconheceu que os bruxos marginalizaram os lobisomens por
muito tempo. Eu expliquei a ela que tudo isso acarretou ao isolamento deles
do mundo bruxo, forçando eles a se juntarem à forças das trevas porque não
tinham outra escolha."

"E então...?!" Lily se inclinou para frente, ansiosa. Todos prestamos atenção
em Remus.

"E então..." Remus fez uma careta, desanimando todos nós por um momento,
"Foi feito. Agora há uma lei no Estatuto da Magia que proíbe qualquer tipo
de preconceito ou ofensa à bruxos com condições de licantropia."

"Isso!" James comemorou, dando um soco no ar. Harry começou a gargalhar,


batendo as mãozinhas uma na outra. Lily e eu nos abraçamos e Sirius puxou
o rosto de Remus para beijá-lo na poltrona.

"Ei, vocês dois!" Apontei para Remus e Sirius atracados uns ao outro,
"Podem ir com calma, ok? Eu não dei a minha benção ainda."

"Mas eu sou mais velho que você!" Sirius resmungou.

"Apenas no papel," Respondi, dando de ombros, "Mentalmente, você é tipo


uns cinco anos mais novo que eu."

Sirius jogou uma almofada no meu rosto e Lily sorriu, "E a data? Já
decidiram?!"

"Nós estamos pensando em janeiro," Remus explicou, "Como não vai ser
nada muito grande e com muitas pessoas, não é preciso de tanto tempo para
planejar."

"Claro que precisa!" Sirius e James exclamaram em uníssono, se levantando


imediatamente.

724
"Precisamos achar uma banda, precisamos do lugar e, pelo amor de Merlim,
eu preciso de uma roupa impecável!" Sirius contou nos dedos, como se nem
mais estivesse lá, "Eu sou Sirius Black ou o quê?!"

"Exatamente!" James pôs o braço ao redor dos ombros dele, "Tudo precisa
ser perfeito e bem planejado! Eu não fui torturado durante dois anos
dormindo na cama ao lado da de vocês dois para esse casamento não ser no
mínimo um puta evento! Vocês praticamente me devem isso!"

"Eu acho que tenho uma ideia..." Lily sorriu travessamente, olhando para
todos nós, "James, se lembra de onde nós passamos nossa lua de mel?!"

James demorou dois segundos para se tocar de que lugar Lily estava falando,
"Mas é claro! Cornualha! Lá tem um monte de ruínas antigas! Você tem que
ver, Padfoot, parecem um castelo!"

"Você acha que poderíamos usar um desses lugares para o casamento?"


Remus perguntou à Lily, "Não são pontos turísticos? Não precisamos ligar
para alguém?"

"Ligar?" Sirius franziu o cenho, "Ligar o quê?!"

"Ligar por um telefone, Sirius. Para falar com alguém que está longe." Eu
sorri, todos me olharam com surpresa, "O quê? Eu sou um puro sangue muito
bem educado pela minha namorada nascida trouxa, muito obrigado."

"Eu e James podemos resolver isso para vocês dois," Lily disse
carinhosamente, pondo a mão sobre a mão de Remus, "E Sirius, tenho
certeza que com o talento de Mary para roupas e com uma ajuda de Marlene
que tem exatamente o mesmo gosto para roupas que você, você não vai
precisar se preocupar com isso."

"Mas Regulus vai ser meu bruxo-padrinho!" Sirius sorriu, "Ele quem vai
cuidar da minha roupa com a sua varinha de..."

"Juro por Deus que se você fizer essa piada da varinha de condão e da
Varinha das Varinhas mais uma vez, eu mato você." Eu o interrompi,
lançando um olhar furioso para ele, que estendeu as mãos no ar.

"Certo, mas falta uma coisa," James disse, "Reg, você precisa abençoar esse
casamento. Formalmente. Andromeda e Narcissa praticamente se

725
ofereceram para pagar a festa inteira! Dos parentes de Sirius, só falta você
que é literalmente o mais importante!"

Cruzei os braços, fingindo indiferença, "Não sei não."

Eu estava brincando obviamente, é claro que eu abençoaria o casamento dos


dois. Eu escutava Sirius falar sobre Remus desde muito antes dele sair de
casa. Posso não ter estado por perto quando os dois começaram a namorar,
mas definitivamente posso dizer que vi Sirius se apaixonar por Moony bem
na minha frente. Enquanto eu ainda estava decidindo se tinha uma queda ou
não por James, ou indo e voltando com Barty o tempo todo, Sirius estava
perdidamente apaixonado por Remus desde os quinze anos.

"Reg!" Remus exclamou, correndo para minha frente, colocando um joelho


no chão, com as mãos entrelaçadas perto do rosto, "Por favor, por favor, você
me daria a honra de deixar seu irmão casar comigo?"

"Bom, Sirius ainda é muito novo, sabe? Não sei se..."

"Reg!" Todos gritaram em uníssono. Sirius me olhando furiosamente.

"É," Dei de ombros, sorrindo divertidamente para Remus ajoelhado na minha


frente, "Então bem vindo à família Black, Moony. Você vai odiar."

Todos gritaram em comemoração e Remus me puxou para um abraço


apertado. E começamos todos a conversar sobre o casamento, sobre quem os
dois convidariam, sobre as cores da festa e sobre as madrinhas e padrinhos.
Sirius estava tentando convencer Remus a chamar o seu pai para a cerimônia.
Com o perigo da guerra e o medo de envolver seu pai em perigo, Remus não
o via a um bom tempo.

"Vamos, Moony, você sabe que ele gosta de mim," Sirius insistiu, "Nós
podemos ir até lá e contar pessoalmente."

"Sirius está certo, Remus," Lily completou, "Não há perigo nenhum agora.
Imagine o orgulho dele quando ver você no Profeta Diário!"

"Ele vai ficar tão orgulhoso que vai mandar emoldurar o jornal para pôr na
sala de estar da casa!" James exclamou animadamente.

"Ele poderia comprar uma casa aqui perto, vocês se veriam bem mais." Eu
disse.

726
Remus balançou a cabeça, "Meu pai não tem dinheiro para esse tipo de coisa,
Reg."

"Mas eu e Sirius temos!"

"Eu não pediria isso à vocês dois."

"Qual é, Moony, você vai se casar comigo," Sirius deu um empurrão com o
braço em Remus, "Tudo o que é meu vai ser seu também."

"É, e além do mais," Continuei, "Eu e você também vamos ser meio que
irmãos agora. E é isso que a gente faz pela família."

"Vamos, Moony!" James o sacudiu, "Chame ele para o casamento!"

Remus ficou em silêncio, parecendo considerar.

"Vamos, Moony!" Lily exclamou, e então eu logo depois, "É, vamos,


Moony!"

"Mooooony!" Sirius choramingou no ombro de Remus que começou a sorrir.

"Moon!" A voz de Harry sorrindo sentado no chão ecoou na sala, e nós


ficamos paralisados por um momento.

"Ele acabou de dizer..." Remus estava com o queixo no chão, os olhos


pregados em Harry.

"Seu traidorzinho!" Sirius explodiu, correndo para levantar Harry no ar e


balançá-lo como um brinquedo, "Eu sou seu padrinho! Por que você não diz
Padfoot?! Vamos, Harry! Pad - fo - ot, diga!"

Harry gargalhava nos braços de Sirius, claramente se divertindo, James


cruzou os braços com a cara emburrada, "Isso é por que você não é o pai!
Estou tentando fazê-lo falar Prongs há meses e ele só fala papai!"

"Ele é o seu filho, James," Lily revirou os olhos, "Você quer que ele te chame
do que exatamente?!"

727
"Se vocês acham que estão sendo injustiçados," Eu disse, "Tentem quase
morrer em uma floresta por não dizer onde esse pestinha está e ele não ter
dito seu nome que só tem três letras!"

"É, acho que você ganhou, Reg," Remus sorriu, se levantando para pegar
Harry de Sirius, "Agora dê ele para o seu tio preferido, Padfoot, anda."

Sirius entregou Harry e olhou para o relógio pregado na parede, "Reg, acho
que deveríamos ir, já está ficando tarde."

"Onde vocês vão?" Lily perguntou, vendo eu e Sirius pegarmos nossos


casacos.

"Vamos até Gringotes," Expliquei, "Sacar o dinheiro para as famílias de


Godric's Hollow."

Eu e Sirius havíamos entrado em acordo que usaríamos uma parte da nossa


herança para ajudar as famílias que haviam perdido casas, móveis e outras
coisas de valor na batalha. O dinheiro não faria nenhuma diferença para nós
dois, mas para as famílias que foram pegas no fogo cruzado do caos, seria de
grande importância. Eu não havia achado nenhum meio melhor para
recompensá-las por deixarem suas casas para trás para que pudéssemos usar
o lugar como campo de batalha.

"Nós voltamos antes do jantar!" Sirius gritou, já fechando a porta atrás de


nós dois.

Na manhã seguinte, a notícia já estava no Profeta Diário.

"Sirius Orion Black e Regulus Arcturus Black, os irmãos da mais Nobre e


Antiga Casa dos Blacks, doaram uma quantia considerável para a
reconstrução das famílias e da vila de Godrics Hollow que foi recentemente
destruída pela batalha contra o Lorde das Trevas. Os irmãos desejam que o
dinheiro seja totalmente destinado às pessoas que precisam e pedem que se
não for o suficiente, os avisem imediatamente."

Entretanto, isso era apenas mais uma das notícias do dia. Porque na capa do
jornal, estampado para todos verem na primeira página, estava Remus
apertando a mão da Ministra Millicent Bagnold, com a lei que protegia os
lobisomens aprovada e escrita em baixo.

N°36 Art. 7 Lei Remus John Lupin

728
10 de dezembro de 1981, quinta-feira

A noite antes da lua cheia eram sempre as mais difíceis para Remus. Ele
basicamente só queria ficar sozinho porque estava no limite demais para
qualquer tipo de interação social. A única pessoa que ele gostava de ter por
perto nos dias que se precediam era Sirius. E por mais que ele nunca tenha
dito em voz alta, eu sabia que durante aqueles dias ele preferia que eu
estivesse longe. Então quando Andromeda me disse que ela e Ted iriam sair
à noite com Cissy para distraí-la um pouco e precisavam que alguém ficasse
com Draco e Dora, eu vi a chance perfeita no dia perfeito para passar a noite
fora de casa.

"Você não precisa ir." Remus murmurou, deitado no sofá, com os olhos
fechados e um cigarro entre o dedos, "Não quero que você vá só porque eu
estou naquela fase."

"Remus, hoje de manhã você quase pulou no meu pescoço porque eu disse
bom dia alto demais."

"Agh, desculpe..." Ele resmungou, massageando a têmpora, "Minha audição


fica sensível demais, principalmente um dia antes."

"Está tudo bem," Sorri fracamente, "E os outros lobisomens? Vão passar a
lua com você?"

"Sim, vão," Remus respondeu, ainda de olhos fechados, "Eu disse que eles
poderiam viver suas vidas normalmente, sem precisar ficarem colados em
mim como ficavam em Greyback o tempo todo. Mas durante as luas, era bom
que ficássemos juntos."

"Entendi," Peguei meu casaco, indo até a porta, "Diga a Sirius que estarei de
volta amanhã de manhã."

Andromeda me explicou tudo que Dora precisava fazer antes de dormir,


explicou que ela só conseguia dormir depois de Draco então não adiantava
colocá-la para dormir antes disso porque ela apenas não pregava os olhos e
me deu um pergaminho com a receita exata do chocolate que ela gostava de
beber antes de ir para cama.

729
Narcissa conseguiu ser mais específica ainda. Ela cuidava de Draco com
tanta proteção que ele parecia feito de vidro e que ia quebrar a qualquer
momento. Ela disse a temperatura exata do leite que ele bebia antes de
dormir, não poderia estar nem mais quente nem mais frio porque ele tinha
lábios sensíveis. E disse para que caso ele chore, não o balance porque ele
ficava irritado, bastava conversar com ele e acariciar a sua cabeça um pouco.

"Esse garoto quer mais o que? Que eu me transforme no super herói favorito
dele?" Brinquei, mas Narcissa apenas me repreendeu com o olhar.

Não foi tão difícil quanto eu pensei, no final. Dora estava vidrada em um
filme que passava na TV que Ted havia comprado, então eu só precisei dar
à ela uma caneca do chocolate que ela tanto gostava.

"Você está com sono?" Perguntei à ela, sentado ao seu lado no sofá. Draco
estava brincando no carpete perto da mesinha de centro.

"Draco já vai dormir?" Ela perguntou, as duas mãos segurando firmemente


a caneca, os pézinhos balançando para fora do sofá.

"Sim, sua tia me pediu para pôr ele para dormir às nove." Respondi,
checando o relógio na parede.

"Eu vou daqui a pouco então," Dora pôs uma mecha do cabelo rosa para trás
da orelha, "Quando ele dormir, eu desligo a TV e vou para a cama, tio Reg."

"Por que é que você só dorme depois dele?"

"Porque uma vez mamãe me disse que pessoas ruins tentaram afastar ela e
tia Cissy uma da outra, fizeram de tudo e conseguiram, você acredita?!" Dora
arregalou os olhos, como se estivesse me contando a maior fofoca de todas,
e eu agi como se não soubesse, arregalando os olhos também, "Então eu
nunca durmo antes porque se ele precisar mim, não quero estar dormindo.
Se alguém ruim tentar pegar ele, eu quero estar acordada para salvar ele, tio
Reg."

Observei Dora voltar ao seu filme distraidamente, voltando a tomar seu


chocolate quente. E dei um beijo no topo da sua cabeça, pensando em como
algumas coisas não precisam ser necessariamente ensinadas, algumas coisas
apenas nascem com você.

730
"Certo, Draco, sua mãe me disse que você não gosta de ser balançado," Pus
ele no berço com cuidado, "Então vou só colocar você aqui e..."

Draco começou a choramingar, apontando para a cama cheia de almofadas e


cobertores de Narcissa.

"O que? Você quer dormir lá?" Perguntei, apontando para a cama também,
Draco balançou a cabeça em afirmação.

Foi toda uma cerimônia para arrumar a cama do jeito certo. Eu coloquei
vários travesseiros e almofadas ao redor para que ele não caísse e troquei
todos os lençóis do berço para a cama de Narcissa, para deixá-lo confortável
o suficiente.

"Você é um mimado igual a sua mãe." Eu sorri, deitado na ponta da cama,


esperando que ele fechasse os olhos.

"Mamãe?" Draco disse, mordendo dois de seus dedos, enquanto me olhava


com os olhos grandes e azuis acinzentados.

"Sim, e pare de me olhar assim porque seus olhos são idênticos aos dela,"
Passei o dedo na ponta do seu nariz, "Que são iguais aos meus, que são iguais
aos de Andromeda, que são iguais aos de Sirius..."

"Tia Andy." Draco murmurou suavemente.

"Isso, tia Andy," Eu sorri fracamente, acariciando sua cabeça cheia de fios
loiros, "Você gosta dela?"

Draco acenou com a cabeça, um pouco sonolento.

"E de mim?"

Ele acenou a cabeça novamente.

"Bom, isso é muito bom," Respondi, encarando o teto do quarto decorado


com várias estrelas, "É bom que eu seja o favorito de todos vocês quando
crescerem, ouviu? Eu passei por um perrengue absurdo para manter vocês
vivos."

"Peengue?" Draco murmurou.

731
"Isso, perrengue," Confirmei, "Você, amiguinho, não nasceu no mesmo
lugar que eu por um triz. Você quase cresceu naquele lugar assustador e seria
outro perrengue ter que tirar você disso quando você fosse mais velho."

Draco ficou em silêncio, ainda me olhando com os olhos brilhantes.

"Então me prometa que você vai ser bom, ok?" Me endireitei na cama,
ficando de frente com ele, "Eu sei que o histórico do nosso sangue não é nada
bom, mas me prometa que você vai ser. Me prometa que você vai ser
qualquer coisa, mas que nunca vai ser como eu quase fui. Tudo bem?"

Draco balançou a cabeça milimetricamente, os olhos se fechando devagar,


enquanto ele caía em um sono profundo.

A campainha tocou logo depois que eu pus Dora na cama. Ela já tinha oito
anos, então gostava de fingir que era corajosa o bastante para dormir sozinha
e sem ninguém no quarto. Eu deixei apenas um abajur pequeno aceso, para
caso ela ter medo e só não querer demonstrar para mim. Ela havia puxado o
orgulho dos Blacks.

"Carter?" Franzi o cenho, confuso, quando abri a porta, "O que você está
fazendo aqui? Já está tarde."

"Fui até sua casa e Sirius me disse que você estava aqui cuidando das
crianças," Carter coçou a cabeça timidamente, "Posso entrar?"

"Ah! Claro!" Me afastei, dando espaço para ele entrar, "Aconteceu alguma
coisa? Você quer chá ou..."

"Não, Reg, na verdade eu..." Carter mexeu no cabelo, o que ele sempre fazia
quando estava nervoso, "Eu vim me despedir, estou voltando para os Estados
Unidos amanhã."

"Amanhã?!" A notícia veio como um balde de gelo, "Mas... mas e o Natal?!


E as festas de fim de ano?! Merlim, Sirius vai ter um colapso se você não for
ao casamento, Carter!"

Ele sorriu, olhando para os próprios pés, "Um cara que estou saindo me
chamou para passar o Natal com ele em Nova York."

"E você vai me trocar por um ficante?!" Eu sorri, cruzando os braços.

732
"Não," Carter ficou quase sério, "Eu nunca trocaria."

"Então por que?"

"Não estou com muita vontade de passar o Natal aqui, eu... eu briguei com
meus pais de novo e..." Carter engoliu em seco, pondo a mecha rosa do
cabelo para trás, "Eu me sinto bem lá. Me sinto em casa. De um jeito que eu
não me sinto na casa dos meus pais. E mesmo que eu tenha vocês, eu ainda
estaria triste de estar em Londres e não poder passar o Natal com eles."

"Foi tão ruim assim?" Perguntei, começando a ficar preocupado de verdade,


"A briga."

"Digamos que eles deixaram claro que o Natal é uma data sagrada e
abençoada," Carter sorriu, mas sem humor, "E para eles, eu sou bem o oposto
disso, se você me entende."

"Eles são uns idiotas."

"É, eu sei."

"Mas, sabe, se mudar de ideia," Eu disse, "Você pode ficar lá em casa. Sirius
e Remus não se importariam."

"E dormir no seu quarto todas as noites sem fazer nada?" Carter gargalhou,
"Você está exigindo demais da minha força de vontade, Reg!"

"Estou falando sério!" Revirei os olhos, dando um soco no seu ombro, "Eu
sei que Londres é difícil para você, mas você tem um lar aqui. Espero que
você saiba disso."

"Então o que estou ouvindo é que o famoso Regulus Black, aquele que
derrotou o Lorde das Trevas e que é o assunto de todos os jornais está me
oferecendo abrigo?" Carter levou a mão ao peito, fingindo admiração, "Eu
não mereço a honra!"

"Pare de ser idiota," Eu gargalhei, dando um empurrão nele de leve, "Me


prometa que vai tentar vir pelo menos para o casamento."

"Tudo bem, tudo bem," Ele se rendeu, "Até lá espero que você tenha
arranjado um emprego melhor do que ser babá!"

733
"Ei, você foi quem ficou com Harry para os adultos irem para a guerra, ok?
Eu não sou a única babá aqui."

"E não me arrependo nem um pouco," Carter sorriu, "Harry é incrível. Ele
passou quase a noite toda entretido com as mechas coloridas do meu cabelo."

"Sim, ele é incrível," Sorri de volta, "Escreva para mim, ok? Ou então me
ligue daquela cabine vermelha que os trouxas usam, aquela coisa esquisita e
sufocante."

"Se você está disposto a usar a cabine telefônica para se comunicar comigo,
então eu estou me sentindo realmente importante!" Ele brincou, "E se algo
acontecer, você pode me avisar que eu venho correndo. Você sabe disso."

"Eu sei," Acenei com a cabeça, "Acho que nunca agradeci o suficiente por
isso. Então estou agradecendo agora."

"Pelo o quê?"

"Acho que conhecer você, alguém que já viajou para outros lugares, alguém
que não tinha nada a ver com a guerra, que me provou que o meu mundo
caótico e barulhento não era o único que existia," Expliquei, "Não sei, me
fez ter esperança. Eu precisava disso mais do que você imagina."

Carter fez uma pausa, me olhando com os olhos verdes brilhantes, "Vou
sentir muito a sua falta."

"Também vou sentir a sua." Puxei Carter para mim, dando um abraço forte
e demorado nele, que enterrou o rosto no meu ombro como uma criança. Ele
me apertou mais ainda ao redor da cintura e, por um momento, parecia que
não ia soltar nunca mais.

"Obrigado também," Carter murmurou com a boca contra o meu ombro, "Por
aparecer."

Eu fiquei em silêncio, porque como seria possível eu pôr em palavras todos


os motivos a que eu era agradecido à ele?

31 de dezembro de 1981, quinta-feira

734
Eu estava em uma sala cheia de espelhos. E eu olhava para o meu corpo e
me via, porém no meu reflexo eu tinha cerca de onze anos novamente. E
então a voz da minha mãe chamando pelo meu nome ecoou e eu me assustei,
começando a correr como um louco.

A voz dela ficava cada vez mais distante, mas os espelhos não acabavam
nunca. Até que parei novamente e no reflexo agora eu estava mais velho do
que antes. Pelo meu cabelo cortado tão alinhadamente na época, eu chutaria
que eu tinha dezesseis. O meu reflexo me encarou e levantou a manga da
camisa, mostrando a marca negra viva e pulsante no braço, com um sorriso
cruel e frio no rosto.

"Não, não, não, não..." Eu repetia, tentando me livrar da imagem, "Quem é


você?!"

"Eu sou você." O meu eu no espelho dizia. Até que de repente, Barty
apareceu ao lado dele. Mas não havia ninguém do meu lado de verdade.

O meu reflexo o agarrou pelo pescoço e o beijou ferozmente, os dois parando


apenas para me olhar com malícia no olhar. E então outra voz ecoou por onde
eu estava. Era Sirius. Chamando pelo meu nome desesperadamente.

"Sirius?! Onde você está?!" Eu gritei, sem sucesso.

"Ele não vai vir te procurar," O meu reflexo disse, me observando.

"Ninguém vai." Barty sorriu friamente, agarrando a mão do meu reflexo. Eu


conseguia estranhamente sentir a pele dele na minha.

E quando me virei para o lado, realmente havia alguém segurando a minha


mão. Mas não era Barty. Era Voldemort.

Acordei em um susto, me sentando na cama, ofegante e suado, a respiração


sem conseguir acompanhar os pulmões, nem vice versa. Mary, que dormia
em cima do meu peito, acordou com o meu impulso repentino.

"Regulus?" Ela se sentou, tirando os cachos bagunçados do campo de visão,


"O que aconteceu? Tudo bem?"

"Foi... foi um pesadelo, eu acho," Eu esfreguei o rosto com as mãos,


passando-as pelo meu cabelo, "Eu era mais novo e... e Barty estava lá,
Voldemort também... eu não sei, estava tudo muito confuso..."

735
"Voldemort?" Mary franziu o cenho e pôs a mão na minha testa, "Deus, você
está soando, não quer que eu pegue água ou..."

"Não, não, eu... eu acho que só quero ficar aqui," Acariciei a mão dela,
pousada sobre o meu rosto, "Com você."

Eu me deitei novamente, e Mary se encostou no meu peito. Já estava quase


amanhecendo e o quarto dela estava um pouco iluminado, mas não claro o
suficiente para eu enxergar completamente o seu rosto. Enrolei minha mão
nos cachos macios dela, desenliando fio por fio, enquanto ela desenhava
círculos no meu peito com as pontas do dedos.

"Você não tinha um sonho assim há muito tempo," Mary disse de repente,
"Não quer conversar sobre isso?"

"Não acho que tenha muito o que dizer," Respondi, ainda acariciando o
cabelo dela, "Acho que é estresse pós reumático."

"Traumático. Você quer dizer estresse pós traumático." Mary gargalhou,


tremendo o corpo colado no meu.

"Não me julgue por não saber, foi Carter quem me explicou isso, parece que
é algo que os trouxas costumam ter depois de passarem por um evento
emocional muito forte," Eu expliquei, "Algo a ver com psicologia e essas
coisas."

"Reg, vou dizer uma coisa, eu amo você," Ela levantou o rosto, apoiando os
cotovelos na cama agora e o queixo em cima das mãos, "Mas acho que você
nunca vai deixar de ser um puro sangue metido e arrogante."

"Ei!"

"Não é uma coisa que só trouxas costumam ter, seu idiota!" Mary sorriu,
dando um tapinha na minha testa, "Todo mundo tem isso. Eu já tive. Você,
Merlim, eu ficaria surpresa se você não tivesse."

"E o que diabos eu faço para isso parar?!" Exclamei, levando as mãos no
rosto, "É um saco!"

"Não sei, acho que você deveria tentar caminhar, ler, ouvir música,
trabalhar..." Ela sugeriu, "Fazer alguma coisa que faça você parar de pensar,
entende?"

736
De repente, algo passou pela minha mente, me fazendo deixar escapar um
sorriso fraco. Mary percebeu, "O quê?"

"Nada, eu só..." Sorri outra vez, brincando com os dedos dela, "Eu pensei em
uma coisa, mas... não sei, não tenho certeza."

"Godric, Reg, diga logo!" Mary insistiu, dando uma batidinha no meu braço.

"Você se lembra de uma vez que falamos sobre viajar?" Perguntei, sem olhar
diretamente nos olhos dela, "Você me disse que queria conhecer o Brasil e
nós... bom, eu levei à sério na época, sabe? Seria bom passar um tempo longe
daqui. E também, você sabe que dinheiro não é um problema para mim. Eu
não sei, eu só pensei que talvez..."

"Sim!" Mary gritou, me fazendo olhar para ela agora, ela parecia uma estrela
de tão brilhante, "Sim! Sim! Sim! Merlim, é claro que sim!"

"Então você quer..."

"Claro que eu quero! Vai ser incrível!" Ela se levantou rapidamente ficando
em pé na cama, com o corpo enrolado em um lençol como se fosse um
vestido, "Nós podemos ir para o Rio! E conhecer o Cristo! Ou em São Paulo
e visitar a Avenida Paulista! E não temos que parar por aí, de jeito nenhum!
Podemos ir para outro país, e depois outro, até conhecer o mundo todo!"

"E quando sairmos do Brasil, nós podemos conhecer o Egito! Ou a Grécia!


Merlim, eu sempre quis conhecer as pirâmides, ou ver de perto os lugares
dedicados aos deuses gregos!" Eu fiquei de pé na cama também, de frente
para ela, que sorria radiante com cada ideia minha, "Há a América do Norte
inteira! E então, a Ásia!"

"Regulus Black, eu preciso conhecer o Japão! Juro por Deus que se eu não
for até lá e comer uma daquelas comidas incríveis, eu não vou poder morrer
em paz!" Ela revirou os olhos de empolgação, o sorriso batendo de orelha
em orelha.

"E o melhor de tudo é que nós podemos chegar em todos os lugares muito
rápido porque podemos..."

"Nem termine essa frase!" Ela pôs o dedo na minha boca, "Nós vamos viajar
como pessoas normais, sem aparatar. Vou levar você para ver um aeroporto

737
pela primeira vez. Você não gosta de voar?! Então vai adorar andar de
avião!"

"Certo, certo, eu vou subir nessa coisa estranha e perigosa controlada por
outra pessoa e que pode cair a qualquer momento, mas apenas! Porque eu
amo você." Eu sorri, puxando ela para perto de mim pela cintura, colocando
nossos corpos ainda em pé na cama, "E vou amar viajar o mundo todo com
você."

Mary me beijou demoradamente, o corpo enrolado em um lençol branco


colado no meu. Não eram muitas as coisas que me deixavam animado, mas
a ideia de viajar com Mary definitivamente havia me deixado em um estado
de empolgação que eu não sentia há muito tempo. E vê-la tão feliz me deixou
feliz também. Parecia uma realidade totalmente diferente. Poder ser jovem,
feliz e despreocupado. Se eu pudesse contar ao meu eu do passado que todo
aquele inferno acabaria e que eu seria feliz de verdade algum dia, eu contaria.
Ele provavelmente riria na minha cara. Mas eu contaria, porque esse tipo de
coisa faz a gente ter esperança.

Mary estava brilhante - não brilhante como uma estrela qualquer. Por muito
tempo, pensei que minha estrela favorita fosse a do meu próprio nome. Mas
eu estava errado. Era o Sol. Porque quando Mary sorria para mim daquele
jeito, era tão lindo e radiante que me fazia enxergá-lo nela sempre que a
olhava. Deus, pensei, tire tudo que quiser de mim, mas nunca me obrigue a
voltar a viver sem a luz desta garota.

Era o último dia do ano. E a festa de ano novo aconteceria na mansão dos
Potter, que haviam aberto as portas da sua casa para todos os amigos que
conseguissem pôr dentro. James e Frank fizeram um acordo que o Natal seria
na casa dos Longbottom e o ano novo na casa de James. Arthur e Molly
quase não aceitaram e insistiram que fôssemos todos para a sua casa, apesar
de que não acho realmente que todos caberiam lá.

Eles tinham sete filhos agora. O mais velho, Bill, que havia começado o
primeiro ano em Hogwarts em setembro deste ano. Carlinhos, que era dois
anos mais novo que Bill, com nove anos. Percy, o mais sério e quieto dos
sete que pareciam ligados na tomada, havia feito cinco anos em agosto. E
então os gêmeos, Fred e George. Os dois derrubaram a mesa de doces no
Natal do ano passado e eles só tinham um ano de idade na época. No ano
passado, Molly e Arthur tiveram Ronald, que agora tinha a mesma idade de
Harry, Draco e Neville. E finalmente a menina que eles tanto desejavam,
Ginevra, ou mais fácil, Ginny Weasley, que era uma menininha linda com

738
os cabelos cor de fogo e os olhos castanho-escuro. Ela tinha a mesma idade
de Luna.

"Você acha que eles finalmente vão parar?" Perguntei à Mary naquela tarde,
enquanto andávamos no centro de Londres atrás da lista de coisas que Lily
havia pedido, "Quero dizer, são sete, não é possível que eles queiram mais,
não é?"

"Eu acho que você não deveria duvidar do útero de Molly Weasley,
Regulus." Mary respondeu.

"Olha só aquilo!" Parei bruscamente na calçada, em frente a vitrine de uma


loja trouxa de presentes, "É o presente perfeito para Luna! Você não acha?!
É a cara dela!"

"Mas é um óculos, Reg," Mary disse, confusa, observando a vitrine também,


"O que uma criança de um ano faria com um óculos?"

"Você não está pensando comigo, Mary!" Reclamei, fazendo ela chegar mais
perto, "Eu vou comprar esses óculos para ela e vou pôr algum feitiço que
deixe eles inquebráveis ou algo assim. Ela vai adorar porque é colorido e
quando ela crescer, vou dizer que os óculos protegem ela de Zonzóbulos."

"Zonzóbulos?" Mary ficou mais confusa ainda, "Eu acho que isso nem
mesmo existe, Reg."

"Você não tem imaginação, Mary, sabia disso? Quando eu era pequeno,
Sirius ficava me atormentando dizendo que Zonzóbulos iriam invadir meu
quarto à noite e embaralhar a minha mente. Eu ficava apavorado e nem podia
contar para minha mãe porque ela era uma louca temperamental. Acontece
que até hoje eu não faço ideia se esses filhos da puta existem ou não," Revirei
os olhos, puxando ela pela mão para dentro da loja, "Vem, vamos entrar!"

Estava lá. E era o presente perfeito. Os óculos eram cor de rosa com uma
lente azul e a outra púrpura, as laterais imitavam asinhas e tinham pequenos
pontos coloridos no meio de cada lente. Talvez eu não soubesse explicar o
motivo, mas aqueles óculos apenas precisavam ser de Luna.

Eu estava distraído, quando Mary me cutucou, me tirando dos meus


pensamentos. E apontou para uma menininha no canto da loja, sentada no
chão brincando com as páginas de um livro infantil, "Onde será que estão os
pais dela?"

739
"Eles não devem estar longe," Dei uma olhada em volta na loja, "Mas é muito
estranho que deixem ela sozinha, não é? Ela não parece ser muito mais velha
que Harry."

Eu e Mary fomos até a menina, que folheava as páginas ilustradas do livro


colorido. A menina tinha a pele parda, muito parecida com a de James, e os
cabelos cacheados e rebeldes, que caíam sobre o seu campo de visão o tempo
todo. Eu me abaixei, ficando na sua altura e sorri carinhosamente para ela,
"Está gostando do livro?"

A menininha me olhou e sorriu, batendo as mãozinhas pequenas na página e


afirmando com a cabeça. Mary se abaixou ao meu lado, vendo a capa do
livro, "Hum, então você gosta de... Peter Pan? É o meu conto de fadas
preferido também!"

"Quem é Peter Pan?!" Franzi o cenho, confuso. Merlim, trouxas e seus livros
esquisitos.

Mary revirou os olhos, começando a explicar sobre um menino que voava e


que morava numa ilha onde nenhuma criança crescia. A menininha virou o
livro para mim, me mostrando as ilustrações do menino vestido de verde
voando ao lado de uma menina de pijama azul.

"Pan!" A menininha exclamou sorridente, apontando para a imagem no


papel. E quando ela se empolgou, uma pilha de livros que estava ao lado dela
saiu voando como se um vento forte tivesse batido no lugar. Os livros não
caíram, eles literalmente voaram para fora da pilha. Como magia.

Troquei um olhar desconfiado com Mary, para ver se ela estava pensando o
mesmo que eu. Todos nós quando éramos crianças fizemos em algum
momento algum tipo de magia involuntária que provou que realmente
éramos bruxos. Toda criança bruxa era assim. E se ela...

"Ah! Aí está você!" Uma mulher baixa, muito parecida com a menina,
seguida de um homem de aparência amigável apareceu atrás de nós, "Nós
procuramos você por toda a loja!"

O homem, que deveria ser o pai, carregou a menina no colo que ainda
segurava o livro colorido, e deu um beijo em sua cabeça, "Nunca mais faça
isso, ouviu? Ou você vai acabar me matando do coração antes dos
cinquenta."

740
"Você deveria comprar o livro," Mary sorriu gentilmente, fazendo os dois
perceberem que estávamos lá, "Ela parecia estar gostando muito."

"É claro que estava," A mãe sorriu, fazendo carinho na ponta do nariz da
filha, "Minha Hermione é a menina mais inteligente que existe."

"Muito obrigado por terem visto ela," O pai nos agradeceu, "Ela fica
realmente em outro mundo quando encontra livros em algum lugar."

"Ah, eu entendo, um dos meus melhores amigos é exatamente igual, você


deveria ver." Eu sorri.

"Hermione, você foi quem fez essa bagunça?" A mãe perguntou, vendo os
livros jogados no chão da pilha, trocando um olhar com o marido.

"Na verdade, a pilha caiu sozinha, sem ela nem mesmo se mexer," Mary
comentou, tentando jogar verde, "Curioso, não é?"

"Hermione é uma menina muito especial." O pai sorriu, orgulhoso, "Vocês


nem imaginam o quanto."

"Sim, eu imagino," Respondi, pigarreando logo em seguida, "E ela puxou


essa "coisa especial" de alguém da família ou..."

A mãe franziu as sobrancelhas, "Do que você está...", e então seus olhos
desceram para o bolso interno do meu casaco, que eu havia deixado aparecer
propositalmente. E os olhos dela e do marido se arregalaram quando viram
a varinha, "Você é um!"

Eu e Mary sorrimos, e ela respondeu, "Nós dois somos. E acho que Hermione
também, não é?"

O pai sorriu satisfeito, parecendo prestes a discursar algo com muito orgulho,
"A minha mãe era uma. Era uma mulher extraordinariamente inteligente. Eu
não sou um, no entanto. Nem a minha esposa. Mas nossa Hermione mostra
o quão especial ela é desde que completou seu primeiro ano."

"Como sabiam que podiam nos dizer que são bruxos?!" A mãe perguntou,
"Achei que era proibido."

"E é." Eu respondi, "Mas um bruxo reconhece o outro, senhora..."

741
"Granger." Ela completou, gentilmente.

"Senhora Granger," Eu acenei com a cabeça, "Meu nome é Regulus. E


Hermione não é muito diferente de como eu era quando era criança, ou como
meu irmão era. Ou como minha namorada e qualquer um dos meus amigos."

"E seus pais? Também são trouxas?" O pai perguntou, "Os de vocês dois?"

"Os meus pais? Hm... na verdade, eles eram o pior tipo de puro sangue que
existe, para ser sincero," Eu sorri fracamente, "Mas eles faleceram, há um
tempo atrás."

"E os meus são trouxas também," Mary respondeu, "Sou nascida trouxa igual
essa garotinha linda e esperta."

"E vocês estão juntos? Minha mãe me contava sobre como era raro que
sangues puros e nascidos trouxas se misturassem..." O pai disse, "É o nosso
maior medo. Que nossa Hermione se sinta deslocada quando chegar a hora."

"Essa coisa de supremacia de sangue sempre foi uma besteira, senhor


Granger, Mary é nascida trouxa e minha melhor amiga é mestiça, e a verdade
é que as duas juntas acabariam comigo." Todos nós sorrimos, "E Hermione
vai ficar bem. Se for para o lugar certo."

"A avó foi para a Beauxbatons quando era jovem," A mãe comentou, "Eu
estava pensando se..."

"Não!" Eu e Mary exclamámos em uníssono, eu continuei, "Quer dizer, não


quero interferir em nada, mas... Já ouviram falar em Hogwarts? É a melhor
escola de magia do mundo inteiro. Não existe lugar melhor. Albus
Dumbledore é o diretor. Nós estudamos lá desde o início e... bom, é só a
minha opinião, mas deveriam considerar."

"Nós vamos." O pai sorriu, apertando a minha mão logo em seguida, "Com
certeza, vamos considerar."

"Bom, temos que ir," Eu me apressei, pegando na mão de Mary e me


direcionando à saída da loja, com o presente de Luna em uma sacola, "Feliz
ano novo, senhor e senhora Granger! E feliz ano novo, Hermione!"

"Você sabe que se ela for para Hogwarts, provavelmente vai estudar com
Harry, não é?" Mary disse, enquanto caminhávamos de volta para casa,

742
"E Draco, e Neville, e Ronald..." Conferi nos dedos, sorrindo logo em
seguida, "Acho que estamos montando um time de Quadribol inteiro, Mary."

A casa de James e Lily estava lotada naquela noite, como era de se esperar.
Porém a casa que ele cresceu era grande o suficiente para duas famílias
Weasley inteiras dormirem se forem preciso, mesmo que James tenha sido
filho único.

Eu, Sirius e Remus fomos antes do horário marcado, obviamente. Porque


James estava quase enlouquecendo com as ordens de Lily sozinho. E então
Marlene chegou, com mais garrafas de whisky de fogo do que eu já vi em
toda a minha vida. Frank e Alice trouxeram doces e sobremesas que eles
mesmos haviam preparado e Andromeda e Narcissa trouxeram um frango
assado com batatas que eu conseguia me lembrar vagamente de já ter comido
quando era criança.

Os Weasley também vieram, os lobisomens de Remus e também todas as


crianças que agora estavam sempre correndo entre nós. Dora corria pela casa,
junto com Bill e Carlinhos e Harry, Draco e Neville brincavam sentados no
sofá, antes de Ronald chegar e se juntar aos três.

Mary estava linda - mais do que o normal. Ela usava um vestido prateado de
alças finas e um batom cor de sangue. Os cachos todos jogados para um lado
só e o pescoço cheio de colares da cor do vestido. Ela parecia um anjo.

"Você está parecendo um príncipe vestido todo de branco." Mary sussurrou


contra a minha boca e sorriu.

"Não estou tão bonito quanto você..." Eu sorri de volta, beijando ela
novamente.

"Deus, arrumem um quarto!" Pandora nos empurrou, aparecendo com Luna


ao seu lado, "Há crianças aqui!"

"Pan, você está linda!" Eu a abracei alegremente, "E a minha Luna, como
está?!" Eu a carreguei no colo, balançando-a nos braços e fazendo ela soltar
uma risada enquanto brincava com os meus anéis.

"Vou até o sofá falar com Marls," Mary disse, abraçando Pandora logo em
seguida, "Você está realmente linda, Pan!"

743
"E então? O que você me conta?" Pandora se encostou na parede, com uma
taça na mão, "Conheço você. Está com cara de "eu tenho novidades, mas não
vou contar agora."

"Eu não tenho uma cara assim!" Retruquei, fazendo ela rir, "Mas sim, tenho
novidades."

"Me conte então!"

"Antes disso, eu tenho uma coisa para essa garotinha!" Balancei Luna nos
braços, e peguei a sacola no balcão com o óculos cor de rosa dentro e o
entreguei à ela, "Quando você crescer, vou contar para o que ele serve de
verdade, ok?"

Luna sorriu, brincando com os arcos. Ver ela brincar era uma das minhas
coisas preferidas no mundo.

"Certo, agora me conta," Pandora insitiu, "O que está escondendo?!"

"Ok, ok..." Revirei os olhos, e decidi apenas dizer, "Depois que Sirius e
Remus se casarem, e depois que tudo estiver mais calmo... bom, eu e Mary
estávamos pensando e acho que vamos dar um tempo daqui, passar uns
meses viajando, conhecendo outros lugares..."

"Regulus Arcturus Black, quem é você e o que fez com meu melhor amigo?"
Pandora me deu um soco leve no ombro, "Há alguns meses atrás você nem
pensava em sair de Londres."

"Há alguns meses atrás eu estava sendo caçado e não sabia nem se ia acordar
vivo amanhã," Eu lembrei, "E também, eu ainda tenho alguns sonhos ruins,
você sabe. Você via os que eu tinha antigamente."

"Eles voltaram?!" Pandora franziu o cenho.

"Uma vez ou outra, de vez em quando," Respondi, pondo Luna sentada em


uma poltrona para brincar com o óculos, "Acho que sair daqui seria bom por
um tempo. É claro que eu voltaria logo, não demoraria muito. Eu preciso
respirar."

"Olha só para nós dois," Pandora suspirou, pondo o braço ao redor do meu
ombro, "Ontem nós éramos dois adolescentes metidos à heróis atrás de
horcruxes e hoje eu sou mãe e você vai viajar com a sua namorada."

744
"Isso é crescer, não é?" Eu encolhi os ombros.

"Nah, você nunca cresce," Pandora balançou a cabeça, "Vai ser sempre uma
criança que eu tenho que tomar conta para não fazer besteira."

"E você vai sempre ter que juntar meus caquinhos porque eu obviamente vou
fazer alguma besteira." Respondi seriamente, soltando o riso logo depois.

"Você é um idiota." Pandora bagunçou o meu cabelo.

Nenhuma namorada havia me ensinado isso. Eu havia aprendido com a


minha melhor amiga. Quando uma mulher diz que você é um idiota, é porque
ela te ama muito. E tudo bem, porque eu também a amava demais. Sempre
amaria.

Remus estava bêbado antes da meia noite, e honestamente você pode culpar
Marlene por isso. James e Mary cantaram a versão mais ruim e desafinada
de uma música que era originalmente muito boa e Lily subiu nas costas de
Sirius, quando ele a obrigou a dançar sua música preferida. Sinceramente, eu
acho que todo mundo estava meio bêbado. Até Narcissa, que nunca bebia.
Ou Alice que também nunca bebia.

Acho que todos nós merecíamos isso. Eu merecia.

Eu merecia para caralho.

Não havia nada a temer. Nem mesmo parecia real. Eu estava em casa,
dançando do lado da garota que eu amava, com os meus amigos em volta.
Com a minha família. Eu provavelmente estava bêbado, eu não saberia dizer.
Mas não importava. A felicidade finalmente havia chegado e a vida era boa
demais.

"Ei, Moony," Eu o chamei, quando ele quase se desequilibrou em cima de


mim, "Você viu Sirius?"

Remus deu uma olhada em volta, "Não vi ele em lugar nenhum, Reg."

Faltavam vinte minutos para a meia noite e eu, não tão surpreendentemente,
sabia perfeitamente onde Sirius estava.

Eu saí do meio das pessoas, subindo as escadas da casa de James em direção


ao corredor dos quartos. Eu tive que abrir a porta de cada um até achar o que

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eu sabia que Sirius estava. Quando achei o certo, eu sabia que havia chutado
corretamente.

Sirius estava sentado no parapeito, sozinho e silencioso. O que ele


geralmente não era muito. Suas pernas juntas ao corpo e o olhar distante,
fixado nas estrelas no céu que estavam absurdamente brilhantes naquele
último dia do ano.

"Quer ficar sozinho?" Perguntei, mas já entrando no quarto e fechando a


porta atrás de mim.

"Não, você pode ficar," Sirius sorriu fracamente, enquanto eu me sentava ao


seu lado, "Se lembra de como gostávamos de fazer isso quando éramos
crianças? Sentar juntos e sozinhos em algum lugar alto e ver as estrelas?"

"Claro que eu me lembro," Respondi, o olhar agora preso no céu, "Fiz isso
por um tempo também quando você foi embora."

"Sério?"

"Sim," Acenei com a cabeça, "Eu sentia que lá em cima, nós ainda estávamos
juntos. Você e eu. Sentia que sempre estaríamos, se eu olhasse para o ponto
certo no céu."

"Por que você nunca me disse?" Perguntou Sirius, olhando para mim agora.

"Talvez porque você me odiava?" Eu atirei, Sirius sorriu com a lembrança,


"Mas tudo bem. Eu também não gostava nada de mim."

"É engraçado, não é?" Ele disse, o olhar distante, "O tanto de coisas que
aconteceram em um período tão curto de tempo. Mesmo naquela época,
mesmo odiando você e você me odiando, eu não precisava olhar para o céu,
Reg. Eu sabia que nós estávamos juntos."

"E veja agora, eu estou tendo que pedir ajuda à Mary para escolher meu traje
de padrinho para o seu casamento com Remus," Sorri, tirando uma
gargalhada de Sirius, "Algo de certo nós fizemos, pelo menos."

"Casar," Sirius disse a palavra como uma oração, "Alguma vez você pensou
que eu me casaria? Merlim, Moony realmente virou minha vida de cabeça
para baixo."

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"Na verdade, a única vez que eu achei que você se casaria foi quando nossos
pais quiseram te prometer para a filha daquele amigo francês deles," Eu
disse, "Eu realmente achei que fosse ter que ver você se casar com aquela
nariz empinado de cabelo aguado."

"Ugh, acho que eu teria me matado, Reg, pelo amor de Deus," Sirius e eu
sorrimos, "Eles eram pais horríveis, não é?"

"Os piores." Confirmei, rapidamente, "Mas nós tínhamos um ao outro. Isso


sempre facilitou as coisas."

"Pelo menos agora, nós não vamos mais ficar longe," Sirius continuou, ainda
sem olhar para mim, "Nunca mais."

"Na verdade, tem algo que eu queria dizer para você," Eu pigarreei e Sirius
me olhou, "Depois do casamento, acho que vou passar uns meses com Mary.
Sabe, viajando. Eu ando meio estressado, tendo uns sonhos... sonhos ruins.
Acho que vai ser bom sair um pouco daqui. E com ela, vai ser melhor ainda."

"Sair? Mas sua casa é aqui, Reg." Sirius franziu o cenho.

"Eu sei, Six, e eu vou voltar, não vai durar nem um ano inteiro, eu prometo,"
Eu insisti, "Eu só... eu preciso fazer isso. Preciso viver mais e esquecer
desse... passado horrível. E fazer isso com ela vai ser ainda melhor."

"Godric, você realmente a ama, não é?"

"Você ainda tem alguma dúvida?!" Eu sorri fracamente, balançando a


cabeça, "Não sei o que ela fez comigo, Sirius, mas eu faria qualquer coisa
por ela."

"Esses sonhos..." Sirius disse, preocupado, "São tão ruins assim?"

"Assustadores." Respondi seriamente, "Mas já foram piores, bem piores. E


também, depois que você se casar, preciso arranjar um lugar para morar, não
é? Não posso ficar morando com você e Remus."

"O quê?! Por quê?!" Sirius se endireitou, ofendido, "Você é meu irmão! Nós
moramos juntos a vida toda!"

"Sirius, você vai casar." Eu sorri fracamente, "E, mesmo que daqui a um
tempo, eu também pretendo fazer isso algum dia. Sabe, nossa relação perfeita

747
e linda de irmãos não vai se abalar porque nós vamos morar em bairros
diferentes."

"Casas diferentes." Sirius ressaltou, com a cara emburrada, "Você não vai
para outro bairro nem ferrando."

"Tudo bem, tudo bem," Eu gargalhei, "Talvez James tenha um colchão


sobrando aqui para quando eu sair de lá e ainda não tiver me virado."

Sirius gargalhou, "Certo, se o seu eu de quinze anos estivesse ouvindo você


cogitar em passar a noite na mesma casa de James, ele estaria morrendo do
coração."

"Pare, eu não era tão desesperado assim!" Eu o empurrei, sorrindo.

"Claro que era!" Sirius exclamou, "Você morria apenas para que ele olhasse
para você!"

"Eu não precisei me esforçar muito, na verdade."

"O quê?" Sirius piscou.

"Sirius." Sorri fracamente, "Você sabe que eu fiquei com James naquela
época, não sabe?"

"O QUÊ?" Sirius gritou, o queixou batendo no chão, "QUANDO- O QU-


ONDE EU ESTAVA QUANDO ISSO ACONTECEU?!"

"Foram no máximo três vezes, ele começou a namorar com Lily logo no ano
seguinte, e eu com Barty," Eu dei de ombros, despretensiosamente, "Eu achei
que você soubesse depois de todo esse tempo."

Sirius esfregou os olhos com as mãos, "Acho que não vou dormir nunca
mais."

Os feitiços de fogos de artifício estouraram no céu, provocando vários feixes


de luzes e o nome Feliz Ano Novo escrito em letras grandes e brilhantes que
constrastavam com as estrelas daquela noite.

"Feliz Ano Novo, Six." Eu sorri para ele.

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"Feliz Ano Novo, Reg." E ele sorriu de volta para mim.

Nós voltamos a olhar para o céu, hipnotizados com o barulho e os fogos da


virada para 1982. Tudo era diferente agora. Não só o ano, mas tudo. A vida
de cada um de nós. Os sonhos, os desejos. Eu sentia que tudo era possível
dali em diante. Se alguma vez havíamos pensado que algo não era possível,
depois de tudo que nós passamos, eu tenho que dizer. Por mais que demore
e a espera confunda você, as coisas ainda são possíveis e você ainda é capaz
de ser quem você quiser ser.

"Ei, Reg."

"Hm."

"Tudo bem você ter ficado com James, não estou bravo." A voz dele era
relaxada até demais.

"Sério?" Franzi o cenho, confuso.

"Sim," Sirius deu de ombros, "Porque antes de começar a namorar com


Moony, eu beijei Mary mais vezes do que me lembro."

Eu pisquei, chocado. "VOCÊ O QUÊ?" Sirius sorriu travessamente, saindo


correndo do parapeito. E eu corri atrás dele, "SEU DESGRAÇADO!". Sirius
se enfiou por entre as pessoas na festa, ainda fugindo de mim, que à essa
altura, já estava sorrindo tanto quanto ele enquanto corria esbarrando em
cadeiras e em pessoas atrás do meu irmão, como duas crianças outra vez.

A vida era boa.

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Capítulo 49: Padfoot & Moony, 1982

"Já é quase seis da tarde, onde aquelas duas estão?!" Sirius andava de um
lado para o outro na sala, enrolando as mãos umas nas outras, enquanto eu
estava sentado no sofá, o observando, "James disse que estaria aqui há meia
hora atrás, e você está vendo aquele bastardo em algum lugar? Eu também
não! Mary e Marlene estão com a minha roupa e não estão aqui ainda! Até
você está vestido e eu não, Reg! Não faço ideia se Moony já chegou lá ou
não e..."

"Sirius, eu juro por Deus que se você não me der um minuto de paz," Eu
massageei as têmporas, respirando fundo, "Eu vou largar você e adotar um
gato para pôr no seu lugar."

Sirius fez um som de ofensa, jogando uma almofada da poltrona em mim,


"Como você ousa me dizer isso no dia do meu casamento?!"

"Não vejo motivo para você estar tão nervoso, tenho certeza que Remus já
está lá esperando por você. E aparatando, não vai levar nem um segundo para
casarmos você e finalmente você voltar a pensar na velocidade de uma
pessoa normal."

"E James? Onde está?!" Sirius insistiu, aparentando não ter ouvido nada do
que eu disse, "Ele disse que deixaria Lily com Remus e viria para cá! Ele não
está aqui e você me pede para ficar calmo?!"

"Eu não sei, Sirius, ele pode ter tido um imprevisto, talvez?!"

"Imprevisto?!" Sirius arregalou os olhos, "Ah, Merlim, está vendo? Eu nem


mesmo estou vestido e tudo já começou a dar errado. E o fato de eu não estar
vestido é culpa de Mary e Marlene que não está aqui. É isso. Acho que estou
amaldiçoado, Reg."

"Não, não está," Revirei os olhos, "Você é apenas dramático."

"Espere, mas e se James não chegou porque realmente aconteceu alguma


coisa?" Ele parou, me olhando desesperadamente, "E se Remus..."

"Você está me deixando louco, Sirius!" Exclamei, imprensando uma


almofada no rosto para a voz de Sirius que não parava de falar ficasse mais
baixa dentro da minha cabeça.

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Sirius e Remus haviam decidido seguir as tradições, e não se viam desde
ontem de manhã. O que, para duas pessoas que estavam perdidamente
apaixonadas desde os quinze anos e passavam todos os dias juntos desde os
onze anos, foi uma tortura dramaticamente ruim. Remus estava com os Potter
e Sirius ficou em casa comigo. O que eu havia me arrependido
imediatamente de fazer quando na primeira hora longe de Moony, Sirius
estava aos prantos no sofá, abraçado à um suéter marrom dele.

Foi difícil. Mas as coisas que mais valem à pena são.

Quando finalmente James bateu na porta, não foi necessário uma segunda
batida, porque James já estava do outro lado da sala, como em um salto,
abrindo a porta para ele.

"Seu idiota!" Sirius empurrou James para dentro, "Onde diabos você
estava?!"

"Ah, graças à Merlim você chegou!" Agradeci, me pondo de pé, "Eu estava
começando a considerar usar um feitiço silenciador nele, honestamente."

"Você... vocês dois..." James estava ofegante, passando a mão na testa suada,
e estava vestido em trajes formais, "Vocês dois não fazem ideia de quantas
vezes eu aparatei apenas hoje! Eu preciso... preciso sentar ou vou acabar
desmaiando!"

"Me diga! O que está acontecendo lá?! Moony já chegou?! Todos já


chegaram?!" Sirius atropelou as palavras, sem parecer pensar antes de dizer
nenhuma delas.

"Deus, Six, deixe o homem respirar!"

"Sim, Pads, todos estão lá, inclusive Moony," James disse, entre um suspiro,
enquanto se sentava no sofá, "Ele também está bem ansioso."

"E ele está bonito?" Sirius sorriu apaixonadamente, "Ah, claro que está...
meu Moony está sempre bonito..."

Ouviu-se outra batida na porta e desta vez eu corri para abri-la, para ver
Marls entrar com uma roupa em uma espécie de plástico ao redor, seguida
de Mary que carregava os sapatos e uma caixa de madeira com jóias dentro,
as duas mal olhando para mim enquanto passavam.

751
"Ei, amor," Mary me deu um selinho rápido, desviando sua atenção para
Sirius rapidamente que correu para pegar a roupa na mão de Marlene,
"Desculpe a demora, mas não é só você que precisava se arrumar, Sirius."

"Ah, você precisa me amar muito, Sirius, está me ouvindo?" Marlene disse,
arrumando os fios de cabelo loiros, "Você está nos fazendo aparatar de salto,
seu bastardo."

Mary estava deslumbrante, era incrível como ela nunca errava. Ela usava um
vestido vermelho sangue que colava no seu corpo até o início da coxa e
soltava na ponta. Um salto que ela poderia usar para me matar se quisesse e
os cabelo solto nas costas com os cachos bem enrolados entre si. Sirius tinha
sorte que ele era o meu irmão, porque se não, eu faria Mary se
atrasar muito para chegar na cerimônia.

Sirius entrou direto para o quarto, Mary e Marlene indo atrás dele
animadamente com sacolas nas mãos. James e eu trocamos um olhar, e
começamos a sorrir.

"Eu acho que é o momento mais silencioso nesta casa há dias." Eu relaxei na
poltrona na frente de James, "Mas me diga, realmente está tudo bem? Sirius
estava tão paranóico que eu comecei até eu comecei a acreditar que tinha
algo errado."

"Moony não está só um pouco nervoso," James sussurrou, inclinando-se para


mim, "Merlim, Reg, ele está uma pilha de nervos, parece que vai explodir.
Fica perguntando por Padfoot o tempo todo e Lily e Pandora precisam dar
água para ele de cinco em cinco minutos. E só piorou depois que o pai dele
apareceu."

"Eu pensei que ele quisesse ele lá."

"E ele quer, claro que quer," James disse, "Mas Moony sempre quis deixar o
pai orgulhoso, você sabe, a coisa da licantropia e tudo... Acho que ele só quer
mostrar que conseguiu ser feliz de verdade, apesar disso. E não quer que
nada dê errado."

Eu conhecia a sensação de querer deixar alguém orgulhoso em uma


intensidade tão forte, minha adolescência foi marcada pelo sentimento. Mas
às vezes não tem a ver com insegurança, como era no meu caso. Às vezes só
tem a ver com amor.

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Levou um pouco mais de meia hora para a porta do quarto de Sirius se abrir
e Mary e Marlene saírem de braços dados uma na outra de dentro, com
sorrisos satisfeitos no rosto. Marlene pigarreou, "Sabem, não gosto muito de
puxar o saco de Sirius, mas..."

"Ele está perfeito!" Mary exclamou, dando pulinhos de felicidade no chão,


"Acho que eu e você somos gênias da moda, Marls."

"Certamente, MacDonald." Marlene disse, em uma voz exageradamente


educada.

"Ah, vamos! Onde ele está?!" James exclamou, "Estou curioso!"

"Siriuuuus!" Mary e Marlene cantarolaram juntas, desfazendo o nó nos


braços e ficando uma de cada lado, abrindo espaço no meio delas.

Francamente, Sirius sempre se vestiu bem, o idiota - mas, Deus, hoje ele
simplesmente havia se superado. Ele saiu do quarto devagar, com um sorriso
orgulhoso no rosto porque ele tinha completa noção do quanto estava bonito.
Sirius usava uma calça de seda preta com os cós alto que marcava a sua
cintura e com dois botões na frente. A camisa era de outro mundo. Era preta,
mas completamente transparente e descolada do corpo, para dentro da calça.
Apenas com os punhos fechados nos pulsos dele, o resto da manga era
completamente solta. A camisa tinha um detalhe em pano preto que descia
do pescoço dele até a metade da barriga, one haviam botões pequenos e
dourados.

Mary e Marlene haviam feito algo em seus olhos, porque ele tinha linhas
pretas esfumaçadas na pálpebra, que terminavam na ponta do olho, dando a
impressão que seus olhos eram puxados e seus lábios brilhavam também. Ele
usava uma gargantilha prateada, fina e delicada e, na sua cabeça, enfeitando
seu cabelo solto e brilhoso, estava uma espécie de coroa com flores pequenas
e brancas, iguais as flores do buquê que ele segurava firmemente com as duas
mãos, em frente ao corpo.

"Digam alguma coisa!" Sirius exclamou, tirando eu e James do transe.

"Six, você tá incrível. Tipo, realmente incrível," Eu disse, ainda observando


a camisa dele, "E você sabe que eu raramente elogio você."

Sirius sorriu satisfeito, olhando para James, "Prongs?"

753
"Acho melhor casarmos você de uma vez, Pads, porque a qualquer momento
posso roubar você de Moony daquele altar e levar você comigo."

"Acho que isso é o suficiente, então." Sirius sorriu, dando uma volta,
parecendo transbordar felicidade por todos os poros do corpo, enquanto nós
aplaudíamos a sua exibição orgulhosa.

Marlene teve que pôr um feitiço em Sirius, que eu nunca saberia qual era,
que impedisse que sua maquiagem e roupa amassassem com a aparatação.
Mary segurou o buquê para ele e, em alguns segundos depois, nós cinco
pousamos na praia da Cornualha, com o mar às nossas costas e um
amontoado de ruínas antigas à nossa frente. Uma delas estava cheia de gente,
com uma música alta vinda de dentro.

"Tudo bem?" James perguntou à Sirius, que parecia muito que ia chorar a
qualquer momento.

"Sim. Acho que nunca estive melhor." Sirius sorriu, olhando para todos nós.

Quando chegamos perto da ruína, Marlene parou Sirius para ajeitar a sua
roupa e Mary refez o feitiço em seu buquê para as flores ficarem sempre
impecáveis e na mesma posição. Eu dei uma espiada para dentro do lugar,
onde eu pude enxergar todos os convidados enfileirados perfeitamente,
conversando entre si, a família de Cissy e Andy, todos os Weasleys, os
Longbottom, professores de Hogwarts, membros da Ordem. Uma música
instrumental ressoava pelo lugar e nada poderia estar mais perfeito do que
estava.

"Ei, você!" Alguém veio por trás de mim, me dando um susto tão grande que
eu quase caí para trás, "O que está espiando?!"

"Puta que pariu! Você..." Mas quando me virei, meus olhos se arregalaram,
meu sorriso se alargando, "Carter! Ah, meu Deus! Ah, meu Deus, meu Deus,
meu Deus! Você realmente está aqui! Eu achei que você estava brincando
quando disse que viria!"

"Ah, Reg, mas eu sempre falo sério, você sabe. Não tenho escrito para você
todo esse tempo para não aparecer em uma data tão importante," Carter
sorriu, me abraçando logo em seguida, "Você viu Remus?"

"Remus? Não, eu... eu acabei de chegar, ele não está lá dentro?"

754
"Bom, eu estava lá dentro o tempo todo e não vi ele," Carter franziu o cenho,
"Achei que estivesse com algum de vocês ou..."

"Shhh, fale baixo," Eu pus a mão na sua boca, olhando de canto para Mary e
Marlene arrumando Sirius um pouco longe de nós, enquanto James
conversava com ele, "Se Sirius ouvir que Remus não está onde deveria estar,
ele vai entrar em colapso mental. Deus, eu deixei Lily e Pandora cuidando
disso..."

"Reg!" Lily e Pandora exclamaram em uníssono quando me viram, elas


estavam saindo pela porta e nos olhando preocupadamente.

"Vou perguntar apenas uma vez," Respirei fundo, "Me digam. Que vocês.
Estão. Com o bastardo. Do Lupin."

Lily e Pandora se entreolharam, e não precisavam me responder. Eu passei a


mão pelo rosto, nervoso. Deus, Lupin, você não é louco. Você não é, porra.
Não me faça matar um lobisomem no dia do casamento do meu irmão.

"James, pode vir aqui um instante?" Exclamei, James subiu os degraus


deixando Sirius para trás com as garotas.

Sirius franziu a testa, "Algum problema?"

"Não, nenhum, apenas organizando sua entrada, Six!" Eu disse, me


esforçando para soar como verdade, e me vire para James imediatamente,
"Remus não está aqui. Temos que resolver isso."

James arregalou os olhos, "O qu- não, Reg, claro que está, não é possível."

"Carter, preciso de uma favor seu," Eu me virei para ele, tentando pensar em
algo enquanto James ainda encarava o chão em choque, "Preciso que entre
lá e diga à Andromeda para vir até aqui e enrolar Sirius. Diga a ela o que está
acontecendo,e diga que Sirius não pode saber. Ele vai entrar com ela, então
se ela... não sei, inventar qualquer coisa para atrasá-lo, vai ser de bom
tamanho."

Carter acenou com a cabeça e correu de volta para a ruína, Lily me olhou,
"Acha que isso vai funcionar, Reg?"

"Não acho, precisa funcionar," Afirmei, "Vocês duas vão ajudar Andy e
Carter com isso. Não sei, inventem alguma coisa, qualquer coisa... nós

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vencemos uma guerra! Não é possível que não conseguimos atrasar um
casamento!"

"Acho que sei onde ele está, Reg," James disse finalmente caindo em si,
puxando o meu braço, "Precisamos ir logo, Moony precisa de nós."

Lily e Pandora se aproximaram de Sirius, enchendo ele de perguntas e


saudações, elogiando sua roupa e seu cabelo impecável. Ele com certeza
estranharia, mas qualquer coisa já era o bastante. Tinha que ser.

Moony, Moony, Moony...

Eu e James passamos por trás das ruínas, tentando não sermos vistos por
Sirius. Talvez Remus estivesse em alguma delas, mas não estava. Tentamos
em todos os lugares, até os sapatos começarem a doer de tanto andar. Até
que James me agarrou forte pelo braço e me sacudiu, apontando para um
ponto na praia,

"Olhe, Reg, bem ali!" Ele disse, e eu estreitei os olhos.

Lá estava ele. Sentado de frente para o mar, os sapatos ao lado e as pernas


juntas ao corpo. Imóvel e pensativo, parecendo tranquilo até demais, o que
com certeza não era verdade. Eu e James trocamos um olhar, e então
descemos pelos relevos na grama, tentando não escorregar até chegar na
praia.

Remus estava tão bonito quanto Sirius. Ele usava um terno amarronzado,
mas não um marrom escuro, apenas o marrom de sempre que Moony usava.
O cabelo loiro escuro penteado para trás, fazendo ondas na sua cabeça. E, no
por do sol, suas cicatrizes se destacam na luz, parecendo desenhos na sua
pele branca e delicada. Ele tinha um cigarro entre os dedos, dando tragadas
enquanto olhava diretamente para o mar à sua frente.

"Me diga que há uma boa razão para você estar aqui e nao lá dentro,
esperando pelo meu irmão." Eu disse, assustando ele, que se virou para olhar
para mim e para James, se virando de volta logo depois.

"O que houve, Moony?" James se agachou ao seu lado, preocupado, com a
mão em suas costas, "Sou eu, Prongs. Você pode me contar qualquer coisa.
Se lembra? Quando tínhamos treze e eu decobri sobre você? O nosso pacto
era: contar desde as coisas mais geniais que valem ser exibidas, até as mais
horríveis que não valem ser postas para fora."

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"É," Eu concordei, indo para o outro lado dele, "E lembra do nosso? Aquele
em que você se ajoelhou na minha frente e pediu a mão de Sirius? Aquele
em que eu jurei cortar a sua cabeça e servir lobisomem assado no Natal se
você fizesse alguma besteira com ele?"

"Reg." James repreendeu, seriamente e eu revirei os olhos. Moony ainda


estava em silêncio, tragando o seu cigarro.

"Vocês acham que isso é o melhor para Sirius?" Moony murmurou, olhando
para a areia, olhos baixos, "Casar comigo e ter que cuidar de um lobisomem
machucado todo mês, ter que viver com cuidado todos dias, para sempre, por
causa de quem eu sou."

"Não é o que ele já faz?" Franzi o cenho.

"É diferente agora," Remus abaixou ainda mais a cabeça, "Vai ser para
sempre. Ele está entrando nessa sem olhar para trás, sem olhar para como a
vida dele vai ser. Sirius é lindo e... inteligente, extraordinariamente gentil...
Alguém como ele não merece ter que viver preso à alguém como eu a vida
toda."

Moony passou rápido as mãos no rosto, enxugando as lágrimas que lutavam


para cair, dando outra tragada no cigarro.

"Ouça, Moony, eu pensava o mesmo de mim e Mary," Eu insisti, trocando


um olhar com James, "E olhe onde estamos! Não dá para adivinhar se algo
vai funcionar ou não, você precisa tentar."

Antes que Remus pudesse responder, um homem alto e magro, muito


parecido com Remus, veio correndo até a praia, chamando pelo nome de
Remus atrás de nós. Moony virou a cabeça alguns centímetros, sem olhar de
verdade para quem era, parecendo já saber.

"James, Reg," Foi apenas o que ele disse, "Estão prestes a conhecer o meu
pai."

"Remus, você... o que você está fazendo aqui?" O pai de Remus disse,
quando chegou até nós, "Estão todos esperando por você, Sirius está na
frente."

"Ele está?" Remus se virou bruscamente, Lyall afirmou com a cabeça.

757
"Qual o problema, então?" Seu pai perguntou.

"Remus está considerando," Eu suspirei pesadamente, honestamente, aquilo


não podia estar realmente acontecendo, "Não quer se casar com Sirius
porque acha que fazer ele viver para sempre com um lobisomem é ruim.
Como se Sirius não tivesse vontade própria."

"O quê?" Lyall franziu as sobrancelhas, se agachando conosco perto de


Remus, "Remus, fale comigo, o que está realmente acontecendo?"

James pôs os olhos em Remus outra vez, "Você não quer se casar, Moony?"

Moony se enrijeceu, parecendo ofendido agora, ele se pôs de pé na nossa


frente rapidamente, "Não quero me casar?! Pelo amor de Deus, eu amo Sirius
desde os onze anos, James! Você sabe, você estava lá! Eu... eu não acho que
tenha nada que eu queira mais do isso, do que o que está acontecendo hoje!
Porra, ele é o amor da minha vida, e é exatamente por isso que eu não posso
arruiná-lo! Não posso ser egoísta assim!"

James tentou dizer algo, mas Lyall o interrompeu dando um passo na direção
de Remus, "Ouça, filho, eu sei que você acha que está fazendo algo de ruim
para ele. Você é assim desde criança, tão preocupado em ser um fardo, em
ser um peso. Mas você não é, Remus. Você está pronto para isso. Sirius está
pronto para isso. Ele escolheu você, Remus. Você sendo quem é."

"E se eu acabar..." Moony engoliu as lágrimas, "Perdendo ele?"

"Você não vai perder ninguém, Remus."

"Eu perdi a mamãe," Remus encarou o pai, que enriijeceu, e, Deus, algo
grande estava vindo, "Não foi minha culpa, mas ela não está mais aqui, de
qualquer forma. Eu só... eu só não quero perder ninguém, não quero que um
dia ele acorde daqui dez anos e se veja cansado de mim. E veja que ser amigo
de um lobisomem não é o mesmo que estar casado."

"Remus," Lyall o segurou pelo rosto, firmemente, "Eu tenho orgulho de


você. Você merece amar e deixar alguém amar você de volta. Você não é um
problema. Se há um problema aqui, sou eu. É culpa minha isso ter acontecido
com você. Então o meu jeito de me redimir é ficando ao seu lado naquele
altar e assistindo a sua felicidade. Porque você é a minha, filho. Você é a
minha felicidade."

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"Você é um alfa, Moony," James se levantou, e eu me levantei logo em
seguida, falando também.

"Um alfa nunca vai estar sozinho."

Remus agarrou o pai em um abraço desesperado, que o apertou de volta. Os


dois ficaram um tempo assim, até Lyall abrir os braços e puxar eu e James
junto deles.

"Certo, agora, você tem um Black para se casar," Eu dei um tapinha nas
costas dele, que enxugou as lágrimas do rosto, "E logo você vai ver que o
difícil mesmo é aguentar Sirius, não o contrário."

Remus sorriu, "Estou ansioso por isso."

Voltamos para a ruína pelos fundos, para que Sirius não visse Remus entrar.
De perto, o lugar estava mais bonito ainda. Completamente decorado, com
flores pelo lugar e um tapete vermelho esticado da entrada até o altar. Carter
estava na porta, e quando os nossos olhares se encontraram, ele assentiu,
saindo para pegar Sirius.

Remus abraçou o pai mais uma vez, e se posicionou no meio. Lily e Mary
entraram correndo, Mary vindo para o meu lado, e Lily indo para o de James,
um casal de cada lado de Remus. Seu pai também estava lá, sorrindo
orgulhoso enquanto olhava o filho. Pandora, Carter e Marlene entraram por
útimo, indo para os seus lugares.

Então a música começou a tocar. Can't Help Falling in Love do Elvis Presley
ressoando por todo o lugar, combinando perfeitamente com o eco, que
deixava tudo mais bonito e simbólico. Draco e Harry entraram na frente,
Draco com a aliança de Remus em cima de uma almofada e Harry com a de
Sirius. E então, bem atrás, Andy estava de braços dados com Sirius, que
parecia estar fazendo um esforço enorme para não chorar e borrar a
maquiagem.

Quando seu olhar subiu do chão para Remus, a sensação era que não existia
mais nenhum convidado. Haviam apenas os dois. Os olhos de Sirius
tremeram e ele abriu um sorriso tão largo que iluminaria qualquer céu escuro,
e Remus, eu pude ver, não estava diferente. Ele estava totalmente imerso em
Sirius. Tão perdidamente apaixonado e encantado, que seu corpo tremia e
seus olhos brilhavam tanto quanto estrelas.

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Era intenso, avassalador e até um pouco assustador - o que resumia o amor
dos dois perfeitamente.

Sirius caminhou até Remus, sem desviar o olhar nem por um segundo. Harry
e Draco entregaram as alianças, e então logo depois Andromeda entregou a
mão de Sirius à Remus, o olhar ainda sem ser quebrado. Era impressionante
de se ver. Todos naquele dia, todos naquele lugar, estavam sendo
testemunhas de como o amor de Remus e Sirius era como uma tempestade -
barulhenta, linda e arrasadora.

O juiz de paz disse algumas palavras antes, palavras sobre como o amor é a
arma mais poderosa de todas e que quem a possui, está imune de todos os
outros males da vida. O meu eu do passado poderia achar isso besteira, mas
hoje eu sabia que era verdade.

O amor havia salvado a minha vida mais vezes do que eu podia contar.

E então, o juiz deu o espaço para os dois, que ainda não haviam parado de se
olhar em nenhum momento, falarem.

"Remus, Moony, meu Moony..." Sirius começou, sorrindo com os olhos


molhados, "Preciso que você saiba que salvou minha vida. Eu estava perdido
no meio do mar aberto e você jogou a corda para me salvar, quando eu tinha
certeza que iria afundar. Você me encontrou em todas as vezes que eu me
perdi. E eu não acho que exista tempo o suficiente para compensar tudo que
você já me fez sentir, mas eu quero tentar. Todos os dias. Preciso que você
saiba que sempre que você precisar ser salvo, eu estarei lá. Não vou deixar
você cair, nunca. Eu sei que você é o meu Moony, mas agora, eu não sinto
que você seja a lua. Eu acho que você é um céu inteiro, Remus. E se eu sou
sua estrela, como você diz, então você é o meu lar. Nenhum outro lugar,
nenhuma outra casa... Você, Moony. Você é a minha casa."

Remus demorou alguns segundos para falar, abrindo a boca algumas vezes,
até finalmente conseguir, "Padfoot, se você quer falar sobre sobreviver, então
vamos lá. Você fez o que eu acha que era impossível para mim. Me fez amar
estar vivo, Sirius. Me fez amar respirar. Porque eu sabia que estar vivo, era
estar com você. E isso superou tudo, isso sempre superou tudo. Você não
jogou a corda para me salvar no mar aberto, Sirius, você jogou a si mesmo.
Sem proteção, sem colete, sem bóias... Você se jogou sem hesitar para me
salvar e, Merlim, você não faz ideia do que isso é para mim. Do que você é
para mim. Eu amo você desde que eu era uma criança, e provavelmente vou

760
amar você até o último segundo em que você me fizer querer estar vivo,
Padfoot. Então, obrigada. Obrigada por se jogar por mim."

"Sirius Orion Black," O juiz de paz disse, "Você aceita Remus Lupin como
seu marido, para amá-lo e respeitá-lo enquanto viverem?"

"Totalmente." Sirius sorriu, o corpo tremendo de felicidade.

"Remus John Lupin," Ele disse, "Você aceita Sirius Black como seu..."

"Sim." Remus disse imediatamente, sem espera, "Sim, eu aceito."

E quando os dois foram declarados casados, Remus puxou Sirius para si com
toda ânsia do mundo e o beijou intensamente, curvando o corpo de Sirius
para trás. Todos vibraram em gritos e aplausos, James saiu correndo de onde
estava no altar para abraçar os dois, enquanto ainda se beijavam.

Mary e eu nos olhamos no meio de tudo aquilo, algo sendo passado de um


passado de um para o outro. Eu não fazia ideia do que ela estava pensando
enquanto sorria para mim. Mas eu sabia o que eu estava. Merlim, eu sabia.
E como eu sabia.

James e eu estávamos abraçando Sirius e Remus segundos depois, e então


Lily, Mary, e todos os nossos amigos. Eu não me lembrava da última vez em
que vi todos tão felizes, tão em paz. Aquele momento em que você está com
as pessoas que você mais ama, e olha ao redor, e pensa que nada pode acabar
com isso, porque o que existe ali é amor. E era bom. Era realmente bom se
sentir tão leve.

A festa do casamento aconteceu na mansão de James. Todos bêbados,


dançando, com as roupas bagunçadas e as maquiagens borradas. Sorrindo
um com os outros e se abraçando. Eu e Carter dançamos juntos
desengonçadamente, e então eu dancei com Pan e, Deus, dancei uma valsa
muito ruim com Sirius, mas que o álcool tornou muito engraçada. Mary e eu
dançávamos com os corpos colados um no outro e Marls subiu em uma mesa
com uma garrafa de whiskyfire na mão, derramando em todos em baixo dela.
James girava Lily pelo salão todo, a pondo nas suas costas, enquanto ela
gargalhava e mandava ele soltá-la. Sirius e Remus não poupavam nada em
se agarrar na frente de todos, enquanto nossos amigos gritavam e faziam uma
roda em volta deles, comemorando o amor dos dois.

761
Entreguei Mary à Sirius, para me sentar em uma das mesas e descansar. Eu
só precisava de alguns minutos ou eu ia acabar desmaiando com tanto
barulho e bebida.

"E aí, cunhado," Remus se sentou ao meu lado, com um copo de whiskyfire
na mão, "Acho que posso te chamar assim agora, não é?"

"Qual é, nós salvamos o mundo bruxo juntos," Eu dei uma cotovelada no


braço dele, "Acho que podemos dizer que você é praticamente meu irmão."

Remus sorriu timidamente, falando depois de uma pausa, "Obrigado. Por me


procurar, sabe. Eu não sei o que estava pensando. Então obrigado por ir até
lá."

"Disponha," Brindei com ele, dando um gole na minha bebida, "Olhe,


Moony, você se lembra há muito tempo, quando você me disse toda aquela
coisa sobre todos nós termos luz e escuridão dentro de nós e que você me
admirava porque eu sabia conviver com os dois ao mesmo tempo, porque
você não sabia?"

"Sim."

"Eu não acho que o certo seja conviver com os dois, sabe," Eu disse,
observando as pessoas dançarem, "Acho que o certo é você tentar todos os
dias escolher o lado bom. Nunca desistir, ou se render ao seu lado ruim. E
isso é o que você faz. É o que eu fiz. Não aceite os dois. Lute para ser bom."

Remus respirou fundo, "Então é uma escolha? Luz ou escuridão?"

"Com certeza, é."

"E o que você escolhe?" Remus me encarou.

E vendo todas as pessoas que eu amava juntas no mesmo lugar, vendo a


garota que eu amava e que eu planejava pedir em casamento o mais rápido
possível dançar com o meu irmão que eu achava que nunca mais falaria na
vida. Vendo James e Lily juntos, vivos e felizes mesmo depois de toda a
profecia e de toda a guerra. Vendo Cissy finalmente do lado certo, ao lado
de Andy. Vendo minha melhor amiga, que acreditou em mim por tantos
anos, sem duvidar nenhuma vez se quer, sorrindo para mim porque sabe que
ela estava certa. Eu realmente havia conseguido.

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Vendo tudo aquilo, eu não podia dizer outra coisa.

"Luz," Eu assenti, Remus sorriu para mim, "Com certeza, luz, Moony."

763
Capítulo 50: Epílogo

10 anos depois

1 de setembro de 1992, terça-feira

Fazia tempo que Londres não passava por um outono tão bonito como
aquele. A manhã do dia primeiro de setembro estava tão bonita quanto a
manhã do dia em que eu mesmo havia atravessado os portões de Hogwarts
pela primeira vez. Ou talvez fosse apenas eu sendo nostálgico.

"Amor, você viu a minha varinha em algum lugar?!" Eu revirei as almofadas


do sofá, "Mary!"

"Um minuto, estou trocando de roupa!" Mary gritou do quarto.

"Está aqui, papai!" Liz apareceu atrás de mim, com a minha varinha em suas
mãos e com um sorriso travesso no rosto. O cabelo cacheado e rebelde, igual
ao de Mary, caindo pelo seu olho.

"O que eu falei sobre pegar a varinha do papai ou da mamãe, huh?" Eu a


carreguei no colo, pegando a minha varinha da sua mão e pondo uma mecha
do seu cabelo para trás, "O combinando é nada de varinhas antes de
Hogwarts. E além disso, para que você queria?"

Liz gargalhou no meu braço, escondendo o rosto entre as mãos, "Acho que
você vai descobrir."

"PAI!" Ben gritou do seu quarto, e Liz riu mais ainda, quando eu deixei meu
rosto cair, sabendo exatamente para o quê ela queria a varinha.

"Você é igualzinha ao seu tio, sabia disso?" Eu baguncei o cabelo dela e


peguei a sua mão, indo em direção ao quarto de Ben.

"Eu amo o tio Sirius!" Liz exclamou sorridente, enquanto andava comigo.

"O qu- Uou." Eu parei, vendo Ben de braços cruzados no meio do quarto,
batendo o pé direito no chão e olhando para Liz com uma das sobrancelhas
arqueadas. Metade do seu cabelo, que era preto como o meu, estava
vermelho. Não ruivo, vermelho de verdade.

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"Pelo menos agora você está bonito." Liz gargalhou.

"Pai!" Ben resmungou, olhando para mim e apontando para ela.

"Mary, eu realmente preciso que você venha aqui!" Gritei, sem tirar os olhos
do cabelo de Ben, "Merlim, você não pode fazer isso com o seu irmão, Liz,
você poderia ter feito um estrago permanente."

"Certo, estou aqui!" Mary apareceu, passando a mão no cabelo para arrumar
os cachos, até bater os olhos em Ben, "O que aconteceu com você?!"

"Liz pegou a minha varinha e pintou metade do cabelo dele." Eu suspirei


pesadamente, retirando a varinha do bolso e transformando o cabelo de Ben
de volta.

Benjamin era o mais velho dos dois. Ele tinha oito anos e era dois anos mais
velho que sua irmã. Os olhos dele e de Elizabeth eram uma cópia exata dos
meus, era quase assustador a semelhança da cor e do formato. Quando ele
nasceu, Mary pôs os olhos nele pela primeira vez e não levou dois segundos
para dizer, "Ele vai ter o seu nome. Benjamin Regulus Black."

Com o tempo, Ben cresceu mais parecido ainda comigo. Remus e Pandora
eram seus tios preferidos, não havia dúvida. Ben era quieto e nada barulhento
- o contrário de Liz, que chegou dois anos depois como um furacão em forma
de ser humano.

Seus olhos também eram iguais aos meus, mas de resto, ela era a cópia exata
e perfeita de Mary. Os cachos rebeldes e perfeitamente formados, a teimosia
e o sorriso brilhante, transbordando caos de uma maneira linda. Ela também
me lembrava Sirius. Então não foi uma surpresa ela ter se apegado à ele e
James tão rapidamente.

Ela tinha o nome da mãe. Elizabeth Mary Black.

"Ele estava sendo rude comigo!" Liz gritou, eu e Mary nos entreolhamos,
"Me disse que eu não seria uma boa bruxa quando fosse à Hogwarts!"

"É porque você não vai ser!" Ben deu língua à ela.

"Ben!" Mary e eu exclamamos em uníssono.

765
"Está vendo, mamãe?" Liz se agarrou a cintura de Mary, "Eu mostrei que ele
estava errado!"

"Querida, não é assim que nós provamos para as pessoas que somos bons,"
Mary se agachou para ficar na altura de Liz, "Lembra da história que contei
à você sobre como a mamãe ouvia brincadeiras chatas por conta do vovô e
da vovó serem trouxas? Você será uma bruxa excelente e vai provar isso de
maneira justa e honesta."

"E você, mocinho," Baguncei o cabelo de Ben, que cruzou os braços,


emburrado, "Nós não falamos essas coisas das outras pessoas,
principalmente se essa pessoa for sua irmã. Irmãos não devem magoar um
ao outro, nunca. Agora vá e peça desculpas, vamos."

Ben suspirou, dando um passo adiante e desarmando a carranca, "Desculpe,


Liz," Ele olhou para os próprios pés, "Eu não quis dizer isso. Acho que você
vai ser uma bruxa incrível."

"Desculpe ter pintado seu cabelo de vermelho." Liz murmurou, "É que gosto
muito dessa cor."

Ben sorriu e os dois se abraçaram, sorrindo juntos.

"Certo, certo, agora vão se arrumar!" Mary disse, batendo as mãos, "É o
primeiro dia de aula e temos que levar os primos de vocês para a estação,
então se apressem! Vamos, vamos!"

Os dois saíram correndo porta à fora em direção ao banheiro, para escovarem


os dentes. Mary sorriu, se aproximando de mim para ajeitar a minha gravata.

"Fizemos um bom trabalho aqui, não fizemos?" Eu sorri, a observando


arrumar minha roupa.

"Com certeza, fizemos," Ela deu uma batidinha no meu ombro quando
terminou, "Uma ótima equipe, eu diria."

"Sempre sou bom com você." Eu a puxei para mim, dando um beijo
demorado nela.

Dez anos haviam se passado e eu nunca me cansaria de Mary MacDonald.

766
Nós nos casamos no início de 1983, quando voltamos de viagem. Eu sabia
que queria me casar com ela desde antes de entramos no avião para o
primeiro país, mas esperei que estivéssemos no lugar mais bonito para pedir
formalmente. Ela merecia tudo.

O pedido aconteceu na Grécia, no final de uma das tardes que passamos


juntos. Eu já havia comprado o anel - um dourado, contornado com
diamantes minúsculos ao redor. Mary usava um vestido verde claro e ela,
por impossível que pareça, parecia estar mais bonita do nunca. Eu estava tão
nervoso que falei a frase inteira atropelando as palavras, quase engasgando
a voz. Ela me beijou logo em seguida, e disse que não existia nada que ela
quisesse mais do que à mim.

Tirando o dia que nossos filhos nasceram, eu não acho que eu tenha vivido
um dia mais feliz do que aquele.

Grécia foi o segundo país que fomos, logo depois que saímos do Brasil. Eu
não acho que teria conseguido fazer o pedido lá porque voltávamos bêbados
para os hotéis quase todas as noites. Mary amava as festas do Rio, e me
ensinou a amar também. Regulus Black nunca foi de festas. Mas tudo ao lado
dela parecia tão divertido e tentador, que antes de eu cair em mim, eu estava
com uma camisa de futebol e dançando músicas que eu não fazia ideia do
que diziam.

De qualquer forma, ainda foi especial. Foi uma cerimônia grande - com
direito à banda e um bolo de casamento de cinco andares. Alguns meses antes
de Mary entrar para a faculdade de moda em Londres. Sirius e Pandora
choraram no discurso de padrinho e madrinha de casamento e Marlene me
passou um sermão sério e muito preciso de todas as maneiras que ela tinha
de me encontrar onde quer que eu estivesse e me matar se eu fizesse alguma
besteira. Então sorriu e me abraçou.

"Você já respondeu a carta?" Mary perguntou.

"Não sei do que você está falando." Dei de ombros, "A única carta que recebi
foi de Carter avisando que vinha para deixar Oliver na estação, é o último
ano dele e..."

"Reg." Mary repreendeu, me encarando com a mesma teimosia que Liz


havia, "Você sabe de qual carta estou falando."

Sim, eu sabia. Mas não vamos falar sobre isso.

767
"Não posso responder, Mary."

"Você tem um pergaminho e uma pena," Mary disse, "Não estou


encontrando muito bem a dificuldade."

"Não, eu não posso responder porque não faço a menor ideia do que dizer."

"Tudo bem," Mary deu de ombros, "Mas você sabe que vai ter que responder
alguma hora."

"Não vou me aborrecer com nada hoje," Eu respirei fundo, sorrindo logo em
seguida, "É o primeiro dia de Luna e eu quero garantir que seja perfeito. Vai
ser perfeito. Pandora já deve estar nos esperando."

"Mas o trem não sai às..." Mary olhou o relógio da parede, "Ah, meu Deus,
são dez horas! O trem sai às onze!"

"Exatamente! Ben! Liz! Vamos sair daqui cinco minutos!" Eu gritei,


vestindo o sobretudo rapidamente e dando um selinho rápido em Mary,
"Amo você."

Luna havia passado o verão inteiro falando sobre como estava ansiosa para
Hogwarts. Quando todos fomos ao Beco Diagonal para comprarmos os
livros novos dela e de Harry, ela saltitava feliz pelas calçadas e rodopiava
entre nossos braços de excitação. Harry, por sua vez, já ia para o seu segundo
ano e fez questão de explicar para Luna como as coisas funcionavam em
Hogwarts. E Draco disse à ela para não se preocupar com os alunos da
Sonserina, porque se algum deles a incomodasse, ele e Harry colocariam
diabretes em seus dormitórios à noite.

Quando chegamos à casa de Pandora, Luna estava sentada no sofá, vestida


perfeitamente com o uniforme e com os óculos cor-de-rosa enfiados no topo
da sua cabeça.

"Tio Reg!" Ela correu do sofá, se jogando no meu pescoço, com um sorriso
no rosto.

"Phil, Regulus e Mary chegaram!" Pandora gritou da sala, e Ben e Liz


correram para abraçá-la, enrolando os braços em sua cintura, "Vocês
crescem uns cinco centímetros a cada minuto, como isso é possível?!"

768
"Acredite, Pan," Mary sorriu, a abraçando, "Qualquer coisa é possível para
esses dois."

"E você? Como está? Nervosa?" Eu me agachei na frente de Luna, "Tudo


bem se estiver. Na minha vez, eu não consegui nem dormir um dia antes."

"Acho que está tudo bem," Luna deu de ombros, "Mamãe disse que se algo
acontecer, posso escrever para ela e para o papai. Ou para você."

"Sim, exatamente," Balancei a cabeça, "Basta me mandar uma carta, ok? Eu


vou até lá pessoalmente, se você quiser."

Luna sorriu e me abraçou carinhosamente. Não vou mentir que eu não estava
nervoso. Luna era muito parecida com Pandora quando tinha a idade dela,
não só a aparência, mas na personalidade principalmente. Ela era excêntrica
e original, tinha o próprio jeito de enxergar as coisas ao seu redor. O que me
conquistou de primeira, porque na época tudo que eu queria era fugir da
minha realidade.

Luna era igual à ela. Ela havia firmemente e completamente acreditado


quando eu contei sobre os Zonzóbulos, o que foi um máximo, porque eu
nunca havia conhecido alguém que acreditasse neles além de mim. Luna era
extremamente inteligente, sua mente funcionava em um parâmetro que
outras mentes não conseguiriam alcançar. Ela adorava ler as coisas de cabeça
para baixo e dizia que talvez o mundo ao redor que estivesse errado. E ela só
tinha onze anos ainda.

"Certo, estamos todos prontos?!" Phil apareceu na sala, carregando o malão


de Luna com esforço, "Não queremos chegar atrasados para o primeiro dia
da minha Luna."

"Não, claro que não." Eu disse, enquanto Mary e Phil passavam pela porta
com Luna, Ben e Liz. Eu e Pandora fomos os últimos a sair, enquanto eu
esperava ela trancar a porta de casa.

"Então," Ela murmurou para mim, aproveitando o barulho das crianças, "Já
sabe o que vai responder? Para a carta que recebeu?"

"Ah, pelo amor de Deus," Revirei os olhos, "Parem de me perguntar sobre


isso, eu não faço a menor ideia, Pan."

"Mas você quer, não quer?" Ela sorriu, estreitando os olhos, "Ah, você quer."

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"Eu não sei, talvez sim, mas..."

"Vamos, querida, o trem sai às onze!" Phil gritou, nos interrompendo. E não
tocamos mais no assunto.

A Estação de King's Cross era exatamente como eu me lembrava. As


crianças saltitando de felicidade, enquanto empurravam seus malões e
gaiolas em cima dos carrinhos, a fumaça e o barulho vindo do trem, os
passageiros olhando curiosos para nós, duas famílias estranhas com malões
estranhos e roupas estranhas, até passarmos pela barreira entre a plataforma
nove e dez.

A voz de Harry chegou aos nossos ouvidos apesar do barulho, ele e Draco
estavam discutindo sobre alguma coisa, o que não era estranho. James e Lily
estavam ao lado de Harry e Narcissa e Andromeda também estavam lá.
Remus e Sirius foram os primeiros a se virar, encontrando os olhares em nós.

"Reg!" Sirius exclamou, tirando o braço que estava ao redor do ombro de


Harry e me puxando para um abraço, "Vocês quase não chegaram à tempo!"

"É, achamos que vocês tinham perdido a hora, ou algo assim." Remus disse
ao lado de Sirius, segurando a sua mão.

"Foi porque alguém brigou esta manhã e nos atrasou, não é?" Mary deu um
olhar para Liz e Ben, que fingiram que não estavam ouvindo. Sirius pegou
Liz no colo e Remus foi para o lado de Ben, pondo um braço ao redor do seu
ombro.

"Mãe, onde Ginny está?" Luna puxou a mão de Pandora, procurando ao


redor.

"Ela já deve estar chegando, tenho certeza," Harry respondeu antes de


Pandora, bastante interessado, "A qualquer momento."

"Mm, e por que você está tão interessado, Potter?" Draco sorriu, dando um
soco de leve no braço de Harry, "Acho que alguém tem namorada!"

"Cale a boca, Malfoy!" Harry sorriu, empurrando-o de volta. Os dois


estavam uniformizados, Harry com as vestes vermelhas e Draco com as
verdes.

770
"Sem brigas, meninos, já não basta o verão inteiro que vocês não nos deram
folga!" Lily disse, o corpo entrelaçado ao de James.

"Ah, você não pode culpá-los, Lils," James sorriu, "Desculpe, Draco, mas
meu Harry está certo quando diz que a Grifinória vai ganhar a Taça de
Quadribol este ano."

"Há! Vai sonhando, Potter!" Narcissa sorriu ironicamente ao lado de


Andromeda, "Este ano, a Sonserina vai ganhar com pontos de sobra!"

"Apenas comigo morto!" Oliver apareceu de repente, com um sorriso no


rosto. James o abraçou na mesma hora, e Harry logo em seguida. Seu pai e
sua mãe ao seu lado, e mais atrás, Carter vinha com a gaiola da coruja de
Oliver dentro.

"Carter!" Exclamei, quando ele me abraçou forte, dando a gaiola para Oliver
segurar, "Merlim, finalmente estou falando com você sem ser através de um
pergaminho!"

"Eu e Adam temos estado muito ocupados com a clínica de psicologia, eu


mal tenho tempo para fazer qualquer coisa, você nem imagina!" Carter
sorriu, olhando para todos ao redor, "Deus, essas crianças estão crescendo
rápido demais!"

Não demorou muito para Alice e Frank aparecerem com Neville, que tinha
uma amizade especial com Luna, juntamente com Ginny. Eles eram tão
próximos entre si quanto Harry, Ron, Hermione e Draco eram. Os três
haviam conhecido Hermione no primeiro dia do primeiro ano e quando eu
soube do nome da nova amiga deles quando voltaram no recesso de Natal,
eu honestamente mal pude acreditar. Hermione era muito nova na época para
lembrar de mim, mas eu não esqueceria do seu rosto.

"E Marls, onde está?" Mary perguntou, franzindo o cenho.

"Marlene teve que ir correndo para o St. Mungus esta manhã," Lily explicou,
"Eu estava fazendo turno com ela na noite passada e ela mandou dizer boa
sorte para todos hoje!"

Uma família de sete cabeças ruivas vinha amontoada na nossa direção, a voz
barulhenta de Molly ecoando alguma coisa para os gêmeos que vinham rindo
um ao lado do outro. Arthur vinha na frente com Ginny de um lado e Ron do
outro, e então Percy logo atrás. Ron vinha discutindo incessavelmente com

771
Hermione, que provavelmente havia encontrado no caminho para cá,
juntamente com seus pais.

"Você é irritantemente grosso, honestamente, Ronald!" Hermione


exclamava, com uma carranca.

"E você nunca, em nenhuma hipótese, me escuta!" Ron disse de volta,


revirando os olhos.

"Acho que não temos nada novo este ano, não é, Malfoy?" Harry sorriu,
apoiando o cotovelo no ombro de Draco.

"Provavelmente não." Draco sorriu de volta, cruzando os braços.

Ginny correu para abraçar Luna e Neville. E Hermione fez o mesmo com
Harry e Draco, Ron vindo logo atrás. Ginny parou na frente de Harry, sem
jeito, e o abraçou muito cautelosamente, um sorriso fraco saindo de Harry.

"Namoradaaaaa!" Draco cantarolou no ouvido de Harry, que revirou os


olhos.

"O quê?!" Ron arregalou os olhos.

"Garotos." Hermione revirou os olhos, balançando a cabeça.

Andromeda consultou o relógio, "São quase onze horas, é melhor embarcar."

Lily deu um beijo no topo da cabeça de Harry e James bagunçou o seu


cabelo, o puxando para um abraço. Ele também abraçou Remus e Sirius, que
por sua vez, parecia que ia chorar de emoção mesmo que já fosse o segundo
ano de Harry.

Narcissa e Andromeda fizeram o mesmo com Draco, que abraçou as duas


juntas ao mesmo tempo. Ele e Harry vieram na minha direção, envolvendo
os braços na minha cintura.

"Juízo, os dois, ouviram?" Eu disse, apontando para os dois, "E Harry, tenho
que te dizer uma coisa muito importante."

"O quê?!" Ele franziu o cenho, curioso.

772
Fiz uma pausa dramática antes de dizer, "A Sonserina vai arrasar esse ano.
Sinto muito."

Draco gargalhou, dando um tapinha na minha mão enquanto Harry revirou


os olhos, segurando a risada também. Depois os dois saltaram juntos para o
trem, seguidos de Ron e Hermione.

Sirius e James estavam ao lado de Fred e George, explicando alguma coisa


em detalhes para eles, que o ouviam atentamente.

"...não fazer nada de bom." Sirius murmurou, "Depois de dizer isso, vocês
poderão ver qualquer coisa."

"Em literalmente qualquer lugar do castelo!" James exclamou, "Está na


terceira gaveta à direita, na sala do Filch, sejam cuidadosos."

"E, pelo amor de Deus," Remus implorou, "Não se esqueçam de dizer "Mal
feito-feito", se não..."

"Se não qualquer um pode ver." Eu disse, assustando eles como se tivessem
acabado de ser pegos em flagrante.

"Exatamente." James sorriu.

Fred e George bateram nas mãos dos três, antes de subirem no trem
animadamente, seguidos pelo irmão Percy, a quem Molly estava acabando
de beijar.

Neville e Ginny estavam na porta do trem, mas Luna ainda não havia soltado
a mão de Pandora e de Phil. Eu fui até ela e Phil estava murmurando algo
para Luna, enquanto Pandora acariciava seu cabelo.

"O que tem de errado?" Eu perguntei, Pandora apenas trocou um olhar


comigo. Eu me agachei, ficando de frente com Luna, "Ei, amor, que foi? O
trem está quase saindo."

"Você lembra que me contou uma vez que na escola as pessoas falavam de
você, tio Reg? Que as pessoas falavam...mal?" Luna sussurrou para mim,
"Você acha que vai acontecer o mesmo comigo?"

"Acredite em mim, Luna, você é bem diferente de como eu era na sua idade,"
Sorri fracamente, "É normal se sentir assim no primeiro dia, mas você não

773
precisa se preocupar. Eu disse que era só me avisar quando precisasse de
algo."

"Mas e se..."

"Se alguém disser qualquer coisa, não importa. Você não precisa provar nada
para nenhum deles, entende? Você sabe que é incrível e tem que ter orgulho
disso. Só você pode dizer quem você é."

"Eu queria que você estivesse lá." Luna me abraçou, falando contra o meu
ombro.

"Você queria?"

"Sim. Com certeza."

"Escute," Eu a olhei nos olhos, "Você vai ter um ano incrível e as pessoas
vão adorar você. E se alguém te incomodar, você pode usar aquele feitiço
que ensinei à você, lembra? Aquele que faz um monte de espinhas crescerem
na cara da pessoa!"

Luna gargalhou e Pandora disse, "Nem pense nisso, viu, mocinha!"

Um grande número de rostos, tanto dentro quanto fora do trem, pareciam


estar virados para mim.

"Por que está todo mundo nos encarando?" Luna perguntou, olhando ao
redor.

"Você sabe, filha," Pandora disse, com um sorriso divertido, "Regulus é


praticamente uma celebridade, não é?"

"Cale a boca, Pandora." Eu murmurei, sem graça.

Luna me abraçou mais uma vez, com um sorriso no rosto agora. Ela abraçou
Ben e Liz, que estavam ao lado de Mary e seguiu para dentro do trem, logo
atrás de Ginny e Neville, acenando para nós.

"Então, Reg," Sirius se aproximou de mim, observando o trem, "E quanto


aquela carta?"

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"Vocês não vão me deixar em paz, não é?" Eu suspirei.

"Nunca." Remus disse.

"Jamais." James agora.

"Eu vou responder."

"Espere aí," Mary se aproximou, "Então você já sabe o que vai dizer?"

"Exatamente."

"E o que é?!" Eles gritaram em uníssono.

"Sim, vou dizer que sim," Respirei fundo, vendo o trem começar a se
deslocar, "Vou aceitar a oferta de Dumbledore, e ser professor de Poções em
Hogwarts."

"Eu sabia!" Sirius exclamou, virando para James, "Você me deve cinco
galeões agora."

"Idiota." James revirou os olhos, "Tem certeza, Reg? É o que você quer?"

"É algo realmente importante, você sabe." Remus disse, me observando.

"E se você não estiver confortável em ir..." Mary ponderou.

"Não, eu quero," Eu afirmei, "Eu quis desde o momento que a carta chegou.
Acho que eu estava com medo, mas... mas eu preciso fazer isso. Hogwarts é
nossa casa, minha casa."

"Quem diria que você sucederia seu professor favorito, Reg." Sirius disse,
enrolando um braço ao redor do meu ombro.

O trem já estava andando, e eu o acompanhei, olhando o rosto de Luna na


janela brilhando em excitação. Ben e Lix se agarraram a mim e continuamos
a sorrir e acenar, todos nós na estação.

O último vestígio de vapor se dispersou no ar. O trem fez uma curva, a minha
mão erguida ainda acenava adeus.

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"Ela vai ficar bem." Pandora murmurou ao meu lado.

Observei todos ao meu redor, que ainda olhavam o caminho que o trem havia
percorrido. Observei as pessoas que eu amava, todas juntas depois de todos
aqueles anos. Tanto tempo havia passado e eu ainda acordava sem acreditar
que eu havia realmente conseguido tudo aquilo.

Pai, marido, professor de Hogwarts. Tantas coisas que eu seria grato para
sempre.

Eu abaixei a mão discretamente e toquei levemente o meu pulso esquerdo


por cima da roupa.

"Sim, ela vai."

A marca não doía nos últimos dez anos. Tudo estava bem.

776

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