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Capítulo 1: Vazio
Eu lembro que me sentia mal. Vazio. Minha cabeça dizia coisas que meus
ouvidos podiam ouvir claramente, mas meu coração gritava pedidos de
socorro que eu me negava a escutar.
Toda noite de "jantar especial" no Largo Grimmauld eu me sentia assim.
Eram só algumas famílias puro-sangue e ricas que se vestiam de preto o
tempo inteiro e pareciam estar de mal humor o tempo todo. Fora, é claro,
quando estavam falando sobre si mesmas. Quando eu era pequeno, mamãe
dizia que quando eu tivesse idade o suficiente eu poderia participar das
conversas porque éramos todos iguais buscando o mesmo propósito.
Caralho, não somos iguais. Eu tinha sete anos e não entendia sobre o que ela
falava. Agora eu tenho dezessete e queria ter continuado sem entender.
Ah, maldito James Potter! Tudo ia bem até ele e Sirius serem amigos. Tudo
ia bem até Sirius se apaixonar por aquele bastardo lobisomem! Agora eu
preciso ficar sozinho nesta maldita casa onde todos acham que eu nasci para
algo que eu claramente não quero fazer. Não era mais fácil ter obedecido
nossos pais, Sirius? Não era mais fácil não ter ido embora? Não era mais
fácil não ter me deixado sozinho?
Dane-se essa merda. Sirius não merece meu tempo, nem a minha mãe e nem
aqueles comensais com mal gosto para roupa lá em baixo.
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"Reg, meu querido, venha falar com o sua prima e o senhor Lestrange!"
Minha mãe me chamou, me puxando pelo braço até eles.
"Ah, sim, claro, mãe." Que porra é essa? Por que ela está sorrindo se a cinco
segundos atrás foi me chamar no meu quarto com um olhar terrível?
"Reggie! O que anda fazendo, huh?" Perguntou Bellatrix.
"Ah, você sabe, não tenho feito nada demais e..."
"Ele está bem ocupado! Cheio de compromissos com a família e com a causa.
Inclusive, Bella, o próprio Voldemort em pessoa disse que queria falar com
Regulus, não é, querido? Ele é tão dedicado!" Minha mãe mentia tão bem
quando estava disposta a isso.
"Isso é verdade, Regulus?" Bella me perguntou, me olhando nos olhos. Eu
conseguia sentir o olhar fulminante da minha mãe do meu lado, dizendo para
eu apenas confirmar o que ela dizia.
"Oh...sim, claro. Eu acho que Voldemort me considera um de seus comensais
mais fiéis. Mas claro, olhe pra mim, eu sou um Black. Acho que sou especial
para qualquer um." Dizer isso me embrulhou o estômago. Eu vi minha mãe
sorrir de satisfação por cima do meu ombro. Que droga é essa? Por que a
necessidade de passar essa imagem para as pessoas? Todo mundo sabe que
os Black's são todos comensais da morte, aliados de você-sabe-quem. Para
quem é esse showzinho todo? Francamente.
O salão principal estava lotado de bruxos das sagradas vinte oito. Depois que
peguei algo para beber, eu consegui identificar com mais facilidade cada um.
Eu vi Cissa e o Malfoy sentados no sofá conversando com Bella e o
Lestrange. Odeios esses caras. Do outro lado da sala, estavam os Nott,
conversando sobre alguma coisa com os Avery. E tinha os Parkinson, os
Abott, os Burkes...Era um circo de palhaços ostentando as próprias
conquistas com o Lorde das Trevas.
E é claro, havia a minha mãe e meu pai, conversando entre si. Franzi a testa
quando li nos lábios da minha mãe o meu nome. Regulus.
Percebi imediatamente que aquele showzinho para Bella mais cedo não era
encenação. Voldemort queria a mim. Qualquer outro pai ou mãe ficaria
preocupado, os meus não. Minha mãe cheirava a orgulho de longe e meu pai
não tirou o sorriso de satisfação do rosto o resto da festa.
Eu não tive muito tempo para ficar preocupado. Meus pais e meus tios,
Cygnus e Druella, vieram na minha direção e eu tive que fingir que não
estava pensando no que minha mãe disse mais cedo. O próprio Voldemort
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em pessoa disse que queria falar com ele. O que diabos está acontecendo? E
por que comigo?
"Regulus, como você está?" Eles nunca realmente queriam saber. "Sua mãe
disse que você está sendo muito fiel à nossa causa ultimamente. Isso é ótimo,
levando em conta o último desastre que vocês tiveram nesta casa, Walburga!
Francamente, aquele traidorzinho..."
"O nome dele é Sirius." Eu senti uma indignação absurda crescer na parte
esquerda do meu peito. Eu interrompi minha tia, sem pensar. Porra. Por que
eu fiz isso? Mamãe vai me matar. Sirius não merece, então o que eu estou
fazendo? Cale a boca, Regulus, seu bastardo.
"Como?" Meu tio perguntou, fitando os olhos em mim. Minha mãe e meu
pai me lançavam olhares tão cortantes que me fizeram arrepiar por dentro.
Eu não sabia o que dizer. Então fiquei parado lá olhando para os quatro.
"Ele está cansado, Druella...não é, querido?" Mamãe disse, sorrindo para
meus tios, mas me lançando olhares mortais. Eu sabia o que ia acontecer.
"É claro que, em perfeita consciência, Regulus nunca falaria o nome daquele
traidor de sangue dentro de nossa casa. Ele só precisa descansar, não é?"
Merda.
"O que você estava pensando, huh? Defendendo aquele traidor para sua tia!
Desafiando seu próprio sangue! Você tem alguma ideia da impressão que
isso passa, garoto? Você é um Black! Aja como tal! Você segue o Lorde das
Trevas e assim será até o dia em que você morrer! Não ouse mencionar o
nome daquele verme que um dia você chamou de irmão! E muito menos
defendê-lo! Você não faz ideia do que eu sou capaz de fazer para punir
você..."
"Mãe, eu..." Agora você trate de falar, Regulus. "Eu não queria ter dito
aquilo. Eu...é claro que eu não estou do lado dele. É claro que eu não trairei
o Lorde e nem o meu sangue. Eu só acho que..."
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"Você não tem que achar nada!" Desta vez, era meu pai esbravejando em
cima de mim. "Chega de desculpas! Não pedimos para que você falasse nada,
você vai apenas aceitar o que dissermos."
Passei alguns segundos parado olhando para os dois. Quando eles estavam
prestes a sair da biblioteca, eu tomei minha dose de coragem e falei.
"O que Voldemort quer comigo?"
"Eu sei que ele quer falar comigo. Eu ouvi." Eu estava falando com minha
mãe agora. "Mãe, o que Voldemort quer de mim?"
"Você fará o que ele mandar, dirá o que ele lhe pedir e até matará quem ele
odiar! Se o Lorde da Trevas pede algo a você, você faz. Sem discussões."
Eles se viraram novamente em direção às portas da biblioteca. E, merda, eu
deveria saber que dar uma de corajoso com eles não era boa ideia. O corajoso
da casa era Sirius. E ele não está mais aqui. O quê, Regulus? Você se acha
corajoso? Francamente, não me faça rir.
Eu me lembro de uma luz forte sair da varinha da minha mãe antes que eu
pudesse terminar a frase. E me lembro de cair no chão com tanta dor que eu
mal conseguia respirar. Tudo dentro de mim ardia e se partia ao meio, como
se eu estivesse sendo esmagado de dentro para fora. E eu pensei em Sirius.
E em todas as vezes que ele se pôs na minha frente quando éramos menores
e recebeu as punições por mim. E, de repente, nada doeu mais do que isso.
O meu corpo se partindo ao meio, minha cabeça explodindo em dor, meus
músculos querendo explodir de tanto se contorcer. Nada doeu mais que
pensar em Sirius. Nada.
Por que você tinha que me deixar, Sirius? Eu não fui o suficiente para você?
E se eu não fui, por que James Potter é? Droga, você é um idiota.
Quando eu recuperei a consciência, eu já estava sozinho na biblioteca. Meus
pais já tinham ido e não fizeram questão de me levar de volta para o salão.
Acho que eles não queriam me ver por lá e ter que resistir à vontade de me
torturar por ter insinuado ir contra eles.
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Eu levei um tempo para levantar do chão. Tentei me sentar na poltrona ao
lado da estante de livros, mas minhas pernas doíam tanto que eu mal
consegui me acomodar. Eu sentei e olhei para frente. Para o nada. Nada, nada
nada...Pensando em como o silêncio era bom, em como o "nada" era
confortável quando o seu "tudo" era viver no meio de pessoas que deveriam
te amar, mas que não querem o seu bem de verdade. Eu deveria só desistir
da próxima vez e deixar a dor me levar. Não lutar. É, talvez fosse uma boa
ideia. Eu não quero mais ter que tentar sobreviver. Eu fui destruído tantas
vezes. Eu deveria apenas desistir de toda essa merda.
Meu joelho estava doendo muito e quando eu levei a mão para ver se ele
tinha quebrado ou algo do tipo, eu acabei batendo em um livro na mesa ao
lado da poltrona. Quando eu juntei o livro do chão para colocar de volta na
mesa, um pedaço de pergaminho caiu. Era uma lista. Uma lista com todos os
comensais que estariam amanhã aqui em casa para a reunião com o Lorde
das Trevas. Haviam tantos nomes conhecidos. Ler meu nome me embrulhou
o estômago. Dei uma rápida olhada no meu braço. O braço com a marca. A
marca que morreria comigo. A marca pela qual se eu tivesse que morrer por
ela, eu deveria morrer. Mas acho que isso não faz muito sentido porque, na
verdade, Regulus Black morreu no momento em que foi marcado. Ele já está
morto a muito tempo e ninguém parece perceber. Sirius perceberia.
Sirius, cuidado...
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Capítulo 2: Kreacher
Não preguei o olho a noite inteira.
Peter era amigo de Sirius, não? Ele era aquele garoto gordinho que vivia atrás
dele, e de Remus e James também. E eles todos são da tal Ordem, se não
estou enganado.
De qualquer forma, naquele dia eu levei um tombo feio. Sirius sempre corria
mais rápido que eu e eu sempre tentava alcançá-lo para provar que podia ser
tão bom quanto ele. Não levou muito tempo para nós dois esbarrarmos um
no outro e cairmos no chão. Eu ralei quase toda a parte de trás do meu braço
e Sirius estava com a testa sangrando um pouco. Kreacher veio rapidamente,
com um olhar muito preocupado, pronto para cuidar de nós. E Sirius, é claro,
não permitiu. Sirius sempre foi presunçoso demais para deixar as pessoas o
ajudarem, principalmente nesta casa. Ele sempre foi corajoso. Bem mais que
eu. Então não deixou Kreacher encostar nele e disse que poderia resolver
isso sozinho porque não era mais uma criança e depois saiu de lá. Eu lembro
de seguir com o olhar meu irmão entrar em casa e desejar tanto, tanto, tanto
ser tão forte e corajoso quanto ele. Lembro de me perguntar se um dia não
precisaria de ninguém igual a ele. Se um dia não precisaria mais dele.
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Bom, Sirius, eu não preciso de você.
Talvez eu estivesse errado porque, apesar dos anos, Kreacher nunca parou
de fazer reverência quando fala comigo. Mas ainda assim, era meu amigo.
Já eram sete da manhã quando ele bateu à porta do meu quarto e entrou
devagar, se certificando que eu havia permitido.
"Senhor Regulus deseja que Kreacher faça algo para ele comer?"
"Eu irritei minha mãe ontem. Você sabe, o de sempre. De qualquer forma,
ela ficou muito brava e meu joelho pagou o preço dessa vez. Você poderia
fazer algo para...não sei, diminuir a dor, talvez?", falei enquanto ele me ouvia
atentamente, "Eu mesmo faria, mas mamãe me tirou a varinha ontem à
noite."
"Senhor Regulus está bem? Foi apenas o joelho? Kreacher pode ajudar em
outros ferimentos também." Ele respondeu já esticando minha perna na cama
e passando a mão sobre ela.
"Bom, já houve vezes piores, nada que já não tenha acontecido antes, não
é?" Falei com um sorriso irônico no rosto, mas Kreacher estava sério. "Você
sabe como ela é."
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"Se precisar de algo mais, Kreacher está disposto a ajudar. Kreacher
percebeu que senhor Regulus tem estado muito calado ultimamente. Os
senhores comentam entre eles quando vou servir o chá.", ele parou de falar
e me olhou como se pedisse permissão para continuar, eu assenti com a
cabeça e ele continuou, "Senhor Orion tem estado ansioso ultimamente, acho
que o Lorde das Trevas quer falar algo com o senhor. Mas ninguém sabe o
quê. Senhora Walburga está ficando paranóica com as possibilidades."
"Às vezes, sim. Faz apenas três meses que acabou, então eu ainda sinto falta
de algumas coisas. Principalmente, de poder passar um tempo fora de casa."
"Se o senhor Regulus não quiser falar sobre isso, tudo bem. Kreacher
entende. Mas Kreacher fica preocupado se o senhor não precisa falar com
alguém, acho que o senhor guarda a maioria dos pensamentos para si e isso
não faz bem. Quando o senhor Sirius morava nesta casa, senhor Regulus ao
menos tinha seu irmão para..."
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"Sirius nunca esteve comigo de verdade!" Esbravejei mais alto que do
percebi e Kreacher se encolheu. "Ele está bem sem mim e eu estou bem sem
ele. Eu nunca o tive. Como irmão e nem como amigo. Sirius não era
verdadeiro em nenhuma palavra."
"Kreacher, não é culpa sua. Minha cabeça está cheia com esses comensais
vindo aqui hoje e não estou pensando direito. Me desculpe."
***
Veremos.
"Já estou indo.", desviei o olhar do espelho e falei olhando para o elfo, "Você
vai estar lá?"
"Não, senhor, senhora Walburga disse para Kreacher aparatar para ir buscar
algo que ela me pediu."
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"Ela provavelmente não quer que você escute nada. Acredite, se eu pudesse
ir com você, eu iria.", falei voltando o olhar para o espelho, olhando bem
para mim naquela roupa, "Na verdade, há tantas coisas que se eu pudesse
fazer, eu faria, Kreacher..."
No meio do salão principal, havia uma mesa comprida com várias cadeiras
ao redor e uma cadeira grande na ponta. Nagini passava por entre as pessoas
como se fosse o nosso bichinho de estimação. Para que diabos esse cara
carrega essa coisa para todo lado?
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E quando me distraí dos meus pensamentos e levantei o olhar de volta à
mesa, meus olhos se arregalaram. O que porra está acontecendo? Isso não
pode ser real. Percebi que passei tempo demais olhando para minhas próprias
mãos e pensando sobre estar ficando louco. Tanto tempo que não reparei nas
pessoas que chegaram no salão depois de mim.
Ele estava lá. Sentado na minha frente. Aquele bastardo covarde...Senti uma
raiva imensurável preencher todo o meu peito. Não sei de onde ela vinha ou
o porquê ela vinha. Mas estava lá. Tão real quanto ele sentado na minha
frente.
"Oi, Reggie."
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Capítulo 3: Perigo
***
A reunião durou por quase duas horas. Não desgrudei os olhos de Pettigrew
nem por um minuto. Eu esperava que ele vacilasse, que em alguma parte do
discurso de Voldemort ele caísse em si e aparatasse daqui antes que desse
tempo deles o matarem.
Mas ele ficou lá. Sentado. Ouvindo tudo. Que nojo, Pettigrew. Que nojo.
Isso é baixo demais até para você.
Minha mãe e meu pai seguiram Voldemort para a biblioteca e minha mãe
fitou o olhar em mim por cima dos ombros. Eu sei o que ela queria dizer.
Queria que eu os seguisse. E eu deveria. Mas, droga, Pettigrew estava bem
na minha frente. Eu não podia perder essa chance. Mamãe me amaldiçoaria
se soubesse o que estou pensando agora, mas o Lorde das Trevas pode
esperar.
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Ele estava quase saindo do salão, quando eu corri e me pûs na frente dele o
impedindo de passar pela porta.
"Para você, é Regulus." Falei mantendo uma postura reta e o olhando por
cima do nariz. Minha mãe sempre diz: a postura de um homem é o que
define seu valor perante qualquer situação. Isso me fez ficar mais alto que
ele e parecer mais velho. O que era estranho, porque eu era claramente
mais jovem.
"Oh. Tudo bem. Como vai, Regulus?" Ele perguntou forçando um sorriso.
"Ah, por favor!" O agarrei pela manga do casaco e o arrastei para outra
sala, os outros no salão estavam ocupados demais se exibindo uns aos
outros para notar alguma coisa.
"Pettigrew, eu vou perguntar uma vez só." Falei ainda o segurando pela
gola da camisa. "O que você está fazendo aqui?"
"Eu sei. Se não, eu não teria perguntado, não acha?" Que cara burro.
"Você não faz ideia das armas que o Lorde das Trevas possui, se você
soubesse... Eu não tive outra opção, ele queria alguém de dentro da Ordem
e...e bem, não posso dizer que a Ordem está realmente ganhando essa
guerra. Depois da morte dos Prewetts, as coisas pioraram. James está com
medo pelos pais que estão doentes, Sirius está nervoso o tempo inteiro e..."
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"Como você ous-"
"Ah, vamos, Reggiezinho. O que você vai fazer? Contar à Padfoot que seu
melhor amigo virou comensal? Logo você que sempre quis que ele se
afastasse de nós? Ele nunca acreditaria em você. Pobre Reg, sempre a
segunda opção, para os pais e para Sirius..."
"Cala a boca, Pettigrew! Você não tem dignidade alguma para falar sobre
mim. Pelo menos eu sou uma opção, você nem isso. Ou você acha mesmo
que se você não estivesse dando uma de agente secreto, você teria alguma
ultilidade por aqui?" Disse sarcasticamente. "Fala sério, você não duraria
cinco minutos! Você era inútil para a Ordem e quando perder a utilidade
aqui, vou adorar assistir a sua morte, seu covarde de merda."
A última parte fez ele estremecer. Eu estava com tanta raiva que poderia
matá-lo agora mesmo. Mas eu teria que explicar aos meus pais, e isso com
certeza seria difícil.
"Bem, parece que este covarde é mais irmão para Sirius do que você." Que
se foda, ele vai morrer agora.
Eu quis morrer. Como eu saberia se isso não é verdade? Sirius já havia dito
que me odiava antes, mas irmãos não falam isso da boca para fora? Sirius,
você realmente me odeia?
"Vai embora daqui! E aproveite seus últimos dias porque quando eu contar
a verdade, pode dar adeus aos seus marotos e sua utilidade aqui, seu egoísta
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de merda." Eu falei o encarando raivosamente enquanto ele saía da mansão
tropeçando e tremendo.
Quando voltei para o salão, só meus pais estavam sentados, todos haviam
ido embora, inclusive Voldemort.
"Mm, estava procurando Kreacher, acho que ele não voltou ainda."
"De qualquer forma, o Lorde nos disse que precisava falar com você, mas
apenas quando o elfo estivesse presente. Eu não entendi, obviamente. Por
que ele precisaria de uma criatura inútil daquela?"
Droga, droga, droga. Eles sabem. Não vou conseguir contar para Sirius.
Meu joelho nem está bom ainda para outra sessão especial daquelas na
biblioteca. Provavelmente, vou ficar sem andar. Cicatrizes novas e
Kreacher vai precisar de feitiços maiores para me ajudar. Ou talvez eu
apenas morra desta vez. Quem me dera ter a sorte.
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"Se lembre sempre que eu sei de tudo que acontece nesta casa. Não ouse
me esconder nada." Ela disse acusadoramente.
Ok. Certo, acho que ela não sabe. Ela não teria se controlado se soubesse
que defendi Sirius daquela forma debaixo do mesmo teto que ela. Eu
mesmo não entendia porque continuava fazendo isso. Sirius odeia você.
Sirius odeia você. Sirius odeia você...
Eu não podia deixar as coisas assim. Se Peter teve coragem de fazer isso, o
que mais ele teria? Teria coragem de entregá-los, de matá-los? Ótimo,
Regulus, agora você está falando no plural. Como se você ligasse para
aquele lobisomem mestiço e para o santo Potter! Merlim, e pensar que já
tive uma queda pelo bastardo. Talvez você seja mesmo louco, Regulus.
Então, é isso.
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Capítulo 4: Retrato
James era rico. Eu não sabia bem o porquê, mas ele era. Mas eu também não
sabia porque eu era rico, então.
A casa era grande e espaçosa como a minha, mas também era aconchegante
e cheirava à biscoitos recém saídos do forno. O que não era nada como a
minha. Posso ver porque Sirius gosta tanto daqui. A casa cheira à amor.
Mamãe vomitaria.
A segunda é de James indo para Hogwarts na estação nove três quartos. Ele
sorri igual a primeira, seu sorriso não mudou desde os oito anos. Ele segura
uma coruja e acena para a foto e aponta para coruja ao mesmo tempo.
E Sirius está sentado no chão aos pés da mãe de James enquanto ela o abraça
pelos ombros. Ele está radiante, os olhos brilhando, uma tatuagem nova perto
do pescoço, um brinco que mamãe faria questão de arrancar sem magia se
visse, o cabelo solto com um lado atrás da orelha, um suéter preto e coturnos
de couro. Ele está tão diferente. Sirius sempre odiou as roupas que mamãe o
obrigava a usar. Ele sempre gostou de roupas mais soltas e descoladas. Nada
de blaizers ou gravatas, ou sapatos sociais. Ele era assim. Acho que nunca o
conheci de verdade. A senhora Potter abraça Sirius com tanto amor que, se
eles não fossem completamente diferentes de aparência, qualquer um juraria
que são mãe e filho. Nossa mãe nunca abraçou Sirius assim. Nem a mim.
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Pettigrew está em pé do lado de Remus. Maldito Peter. Ele já era.
Antes de eu conseguir ver o que tinha na quarta foto, ouço uma voz vindo
dos corredores. Claro que alguém me escutaria chegando às três da manhã
pela lareira, não sou idiota de pensar que não. Queria muito que fosse Sirius,
para eu apenas contar tudo de uma vez e poder ir embora. Mas não é ele.
"Quem está aí?" Diz a voz de James no escuro. Ele faz um feitiço de luz com
a varinha que ilumina a sala de uma vez. Ele pula para trás quando me vê.
"O que você está fazendo aqui, Regulus? Você está bem? Isso não é bom...
Vou acordar meu pais e..."
"Olha, Regulus, sinto muito. Mas você não é bem vindo aqui." James diz
com firmeza, mas tristeza aparece em seus olhos quando ele os desce até a
marca no meu pulso. "Eu não queria ser aquele que te manda embora
porque... Bem, eu não sou assim. Queria que você pudesse ficar e que
conversássemos como antes, mas... Você está diferente agora. E Sirius vai
ter um ataque se ver você aqui, então, se não se incomoda..." Ele diz
caminhando para a porta. "Não posso ter um comensal da morte dentro de
casa."
"Eu não vou embora, James. Não até falar com Sirius." Digo com firmeza.
"Você não era assim, James. Não costumava expulsar as pessoas da sua
casa."
"Você também não era assim, Regulus." Ele diz decepcionado, me olhando
da cabeça aos pés. "Não era."
"Acho que mudei quando você decidiu tirar meu irmão de mim e fazê-lo
esquecer completamente de quem era seu irmão de verdade." Vamos, James,
revide. Tenho uma lista de insultos esperando por você.
"Não vou fazer isso, Regulus. Quero que você vá embora. Você não pode ter
ficado mais teimoso do que antes."
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"Escuta, eu não quero brigar. Mas você não deveria aparecer aqui assim.
Droga, Regulus, me diga logo o que você tem para dizer e acabamos com
isso."
"Não estamos só nós dois aqui." James disse isso quase num surrusso. Não
é possível que Peter estivesse lá, não depois de sair da minha casa. Ele não
seria tão descarado. Porra, mas se ele estivesse, tudo estaria acabado, Sirius
não acreditaria em mim e todo esse esforço havia sido em vão.
"Cacete, tudo bem! Mas faça silêncio. Sirius já vai gritar o suficiente." Ele
diz me guiando para o segundo quarto à esquerda no corredor.
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"Potter, são quase quatro da manhã, o que voc-" Ela para quando me vê.
"Regulus?"
"Lily." Respondo.
"O que você faz aqui?" Ela pergunta, mas não olha para mim, e sim para
James. "James, péssima ideia. Sirius vai..."
"Ele disse que tem uma coisa para falar. Não acho que ele viria até aqui se
não fosse sério, Lily." Ele diz olhando para mim.
Lily me estuda em silêncio por um minuto inteiro. Ela é inteligente. Sabe que
não vim procurando guerra. Mas também é cuidadosa e nunca confiaria em
um comensal. Boa escolha.
"Está bem. Mas é você quem vai chamar Sirius. Ele já vai odiar você por
estar o acordando essa hora, quando ele ver o motivo, não quero nem pensar
na reação dele." Ela diz para James soando como a mãe dele, não conheço a
mãe dele, mas acredite, ela soava como ela.
"Já volto." Ele diz saindo do quarto e me deixando sozinho com ela. Ela me
encara o tempo inteiro.
"Ai." Eu enceno uma cara de dor. E nós rimos. Mas o meu sorriso se desfaz
primeiro, porque percebo que ela está olhando meu braço. Será que as
pessoas nunca vão parar de olhar?
"Você fez isso porque quis?" Ela pergunta, sem rodeio nenhum.
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"Com a mãe que eu tenho, era melhor do que não fazer." Respondo, quase
num sussurro.
"Do que você está falando?" Eu pergunto e ela suspira logo depois.
"Regulus, eu sou uma nascida trouxa. Não sou idiota. Sei que pessoas como
eu, entre todos, são os alvos principais deles. Mas eu estou sozinha com você
nesse quarto e não estou assustada." Ela diz e eu fico em silêncio, porque não
sei o que dizer. "Sabe, Reg, não sei se alguém já te disse isso antes, mas você
pode ser o que quiser. Não precisa da permissão de ninguém para ser feliz."
"Exatamente." Ela diz e eu finalmente a encaro. Entendo o que ela quis dizer.
"Você se parece com ele."
Não tenho tempo para responder Lily porque escuto James bater na porta e
entrar devagar no quarto, fazendo completo silêncio. A reação dos pais dele
realmente seria horrível se me vissem aqui.
"Eles estão vindo. Não contei para Sirius, mas disse para Moony, eu podia
jurar que ele ia me socar, mesmo no escuro..." James conta com uma cara
assustada.
E então a porta se abre e Lupin aparece. Remus é bem mais alto que eu, mais
alto até que James. Ele tem o rosto calmo, mas as cicatrizes fazem ele parecer
assustador. Ele me olha dos pés à cabeça.
"Você também gritou!" Ela começa a brigar com ele e ele visivelmente
desiste e se senta na cama com as mãos no rosto.
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Remus me encara novamente e entra no quarto. Escuto a voz de Sirius e meu
sangue some do rosto, sinto que vou passar mal. Ele entra no quarto coçando
os olhos.
"Droga, Prongs, se você tiver me acordado à essa hora para treinar quadribol,
eu juro por Merlim que eu-" Ele para quando me vê.
Lá estava ele. Parado na minha frente. Ele estava tão diferente da última vez
que o vi. Ele me encara e o primeiro olhar que ele me dá mareja os seus
olhos. Sirius me olha com preocupação de verdade por cerca de um segundo
e meio. E parece que ele está me olhando dos pés à cabeça para checar se
ainda estou inteiro. Por fora, talvez. Por dentro, já não sei mais.
Ele logo assume um olhar de raiva. E então olha para James e abre a boca
como se fosse soltar um palavrão enorme.
"O que caralho ele está fazendo aqui?" Ainda bem que James colocou o
feitiço no quarto, porque Sirius está realmente gritando.
"Eu não tenho nada para dizer à ele, Prongs. Achei que você entendia isso.
Como você pôde fazer isso comigo? Você sabe o que eles são. E o que
fizeram comigo..." Ele está tão puto em me ver que está com raiva de James.
E ele nunca fica com raiva de James.
Remus põe a mão no ombro de Sirius e ele se acalma quando vê que ele está
do lado dele. Lupin desce a mão do ombro de Sirius até a sua mão e sussurra
para ele, quase inaudível.
"Está tudo bem, Pads..." E depois sorri de lado. "Estou com você."
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Sirius claramente se acalma. As veias da sua testa relaxam e eu quase o vejo
sorrir. Ele realmente o ama. Remus significa tudo para Sirius. Ele não o deixa
afundar em sua personalidade autodestrutiva. Ele está sempre lá. Impedindo
que Sirius caia. Parece que Sirius consegue amar todo mundo, menos à mim.
"Por que você não volta para a sua querida Mais Antiga e Nobre Casa dos
Black, huh? Volte para os seus comensais da morte e para aquele desgraçado
que vocês chamam de Lorde! Eu não preciso de você aqui. Não no único
lugar em que me sinto em casa." Ele explode na minha direção. As palavras
dele cortam como facas.
"Acredite, Sirius, eu não queria estar aqui! Na verdade, eu pensei muito antes
vir aqui!" Minto descaradamente. Não pensei duas vezes. "Você é a última
pessoa que eu queria ver agora!"
"Então, vá embora!"
Sirius não merece que eu conte o que eu sei. Talvez até James mereça mais,
até Remus. Com certeza, Lily. Mas Sirius não. Ele é um babaca mimado. Se
ele está tão melhor sem mim, que se dane. Olho para todos no quarto e passo
por Sirius até a porta. Que se foda essa merda. Se ele me quer longe, vai me
ter longe. Não vai me ver nunca mais.
"O que aconteceu?" Ele me olha nos olhos. Ele sabe que vim por algo
importante. Lupin parece com Lily. Ele é esperto. Além dos sentidos de lobo,
ele tem uma habilidade ótima para desvendar pessoas complicadas, não é a
toa que é apaixonado por Sirius.
Eu volto à olhar para eles e me sento na cama de James. Todos eles estão me
olhando.
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"E por que te responderíamos qualquer coisa sobre a Ordem?" Sirius
pergunta de braços cruzados, mas eu ignoro. Porque James, Lily e Lupin
estão tão vidrados em mim que tenho certeza que sabem do que estou
falando. James olha para Lily e depois para Remus. E eu entendo. Eles
notaram sim. Então, continuo.
"Eu não deveria contar isto, mas tenho certeza que se eu não disser, vocês
não saberão nunca e provavelmente a falta de informações vai acabar
causando a morte de vocês se esse for o caso." Faço uma pausa. "Há um
espião na Ordem e eu sei que vocês sabem disso porque não são burros.
Quando o vi hoje, não pude acreditar que era ele..."
"Regulus, você precisa nos dizer quem é." Lily diz me olhando
profundamente e colocando a mão no meu ombro. Me afasto, porque não
preciso de ninguém fingindo que se importa para tirar informação de mim.
Por mais que Lily não pareça ser alguém capaz disso. Mesmo assim. Não
gosto de ser tocado.
Olho para cada um deles por vez. Sirius me olha com desconfiança, pronto
para ir contra qualquer coisa que eu disser. James me olha com compreensão,
levando à sério tudo que estou dizendo, ele é tão bom que deve ser fácil
enganá-lo. Remus está indecifrável, ele só quer que eu diga de uma vez.
Prefiro nem falar de Lily, parece que a qualquer momento ela vai me abraçar.
Não gosto nem de pensar na ideia.
E então digo.
"É Peter."
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"Você não pode estar falando sério." E então ele ri. "É o Pete. Nosso
Wormtail. Ele nunca faria isso com a gente, Regulus. Nunca."
"Eu estou falando o que vi, James." E então conto tudo que Pettigrew me
disse quando o confrontei e eles ficam em silêncio por mais tempo que da
primeira vez.
"Você não espera que realmente acreditemos em você, não é?" Ele diz, quase
sorrindo. "Você é a porra de um comensal! Você é um deles! Está tentando
nos separar para nos enfraquecer? Não vai funcionar."
"Pare de mentir! Wormtail esteve mais presente para mim em sete anos do
que você à vida toda! Não venha até à minha casa e fale do meu melhor
amigo como se tivesse alguma porra de moral!"
"Não me chame de Reg. Não sou seu amigo. Nunca fui." Quem ele pensa
que é? "Espero que vocês não acreditem em mim quando for tarde demais."
Saio pela porta do quarto rápido em direção à lareira, porque não quero olhar
para trás e ver a cara de Sirius de novo. De nenhum dos quatro. Se eles não
acreditam em mim, se Sirius não acredita, eu os farei acreditar. Mesmo que
27
para isso eu tenha que destruir Voldemort eu mesmo. Mesmo que isso me
mate.
Agora, de frente para a lareira, finalmente vejo o que tem no quarto retrato.
É uma foto de Sirius e James abraçados e sorrindo com o uniforme de
quadribol. Nunca vou ter esse lugar de volta. Talvez eu nunca nem mesmo
tive. Olho para a foto por mais um segundo, para gravar na memória que
Sirius não me quer por perto.
Vou te provar o contrário, Sirius. Não importa o que custe. Vou fazer você
acreditar em mim.
28
Capítulo 4.1: James
Ficamos algum tempo em silêncio depois que Regulus foi embora. Não
sabíamos o que dizer um ao outro, porque qualquer coisa que disséssemos
não parecia certa. Regulus não era mentiroso. Eu o conhecia. Até o nosso
quinto ano, quando Sirius fugiu de casa, Regulus era bom. Ele sempre foi
meio arrogante, mas Sirius também era às vezes, então. Nós dois
costumávamos conversar muito, ele gostava de quadribol e pensava em
entrar para o time da Sonserina. Acho que ele era o único sonserino que eu
gostava. Ele era engraçado, mas não tão aberto quanto Sirius. Era
inteligente, mas não esperto o suficiente para ir contra à própria mãe. Uma
vez, Sirius me disse que achava que ele tinha uma queda por mim. Talvez
até tivesse mesmo, mas mesmo assim, eu nunca me afastaria dele por isso.
Eu gostava dele por perto.
Regulus passava direito por Sirius nos corredores. E por mim também.
Nunca mais ficamos sozinhos no mesmo lugar depois disso. Regulus ficou
realmente chateado pelo o que Sirius fez. E Padfoot tentou muito consertar
as coisas, por um tempo. Mas Regulus estava impenetrável. Ele estava tão
magoado que uma vez, o vi no banheiro dos monitores, chorando em
silêncio. Não sei se o motivo era Sirius, mas ele definitivamente estava
diferente. Eu quis chegar perto e perguntar se ele estava bem, mas eu sabia
que ele me afastaria.
Até que Sirius desistiu. Levou um bom tempo, porque Sirius realmente
amava Reg. Tipo, ele amava de verdade. Eu acho que existem pessoas que
amamos, mas que não conseguimos gostamos de verdade.
Depois que Moony e ele ficaram juntos, as coisas melhoraram para Sirius.
Ele não falava mais sobre Regulus ou qualquer outro Black. Ele estava
feliz. Feliz como eu nunca tinha visto antes. Cacete, Moony fazia Sirius tão
feliz. Eles pareciam ter sido criados estritamente um para o outro. Era
surreal.
29
Depois que Regulus virou comensal, foi o fim. A questão é que Reg e
Padfoot tem assuntos mal resolvidos que nenhum dos dois é maduro o
suficiente para tratar. Regulus é ressentido por Sirius ter o deixado sozinho
naquela casa, mas eu sei e ele também deveria saber que Sirius precisou de
muita coragem para isso. E Sirius guarda rancor por Regulus nunca ter
dado à chance de escutá-lo e, claro, por virar um deles, penso que talvez
também há coisas na mente de Regulus que Sirius não se esforça muito
para entender.
"Padfoot, você está bem?" Pergunto, colocando a minha mão no seu ombro.
"Vamos, eu vou com você." Remus se ofereceu. Eles estavam quase saindo
do quarto quando Lily falou.
"Precisamos conversar sobre isso." Ela estava séria. Droga, ele era tão linda
séria. Acho que eu nunca deixaria de me sentir nervoso perto dela.
"Conversar sobre o que, Lily?" Sirius disse virando para trás para olhar
para ela. "Você não pode ter acreditado nisso."
"Olha, Sirius, ninguém aqui está contra você, está bem? Que droga, isto é
uma guerra! Pessoas morreram, Sirius! Você não pode ignorar o que
Regulus nos contou porque está irritado demais para ver a verdade."
"Lily, sou seu melhor amigo. Você sabe disso. Mas é de Wormtail que
estamos falando. Nosso amigo desde o primeiro ano!" Remus diz. "Ele...
Ele é um maroto."
"Eu sei, Rem. Mas não podemos deixar nada passar." Ela diz olhando para
todos nós. "Acho que devíamos levar isso até Dumbledore. Se Regulus
estiver mentindo ótimo, se não, estaremos preparados."
Eu e Remus nos entreolhamos por um tempo. Sirius não diz nada e não
olha para nós.
"Temos que contar à Ordem o que seu irmão disse, Sirius." Lily diz,
decididamente.
30
Sirius olha para o chão por um minuto. Não sei no que ele está pensando,
mas posso imaginar. Sirius é tão teimoso.
"Acho que Sirius é intenso demais e que ama e odeia Regulus na mesma
intensidade." Respondo, e suspiro logo em seguida.
"Não posso ficar parada, James." Ela diz e eu entendo o que ela quer dizer.
"Vou escrever para Dumbledore."
31
Capítulo 5: Herói
Fiquei acordado até o dia clarear. Por incrível que pareça, não era Sirius
que estava na minha cabeça. Precisava fazer alguma coisa. Não é como se
eu tivesse muito a perder. Não tenho pais de verdade, nem um irmão de
verdade. Se minha vida for o que precisarei dar para pará-lo, que assim
seja. Se não posso parar Pettigrew, então pararei quem puxa suas cordas.
Lord Voldemort.
Passei todos os anos da minha vida com medo. Porque sabia que ir contra o
que meus pais acreditavam era uma sentença de morte. Por muito tempo,
eu quis isso, porque fui ensinado que Lord Voldemort era o único caminho
para a grandeza. Tive inúmeras brigas com Sirius por causa disso, ele dizia
que eu era bom e que eu não queria isso de verdade. Eu, honestamente, não
acho que eu seja uma boa pessoa. Não gosto que me defendam, que
demonstrem afeto por mim ou até mesmo que cheguem perto demais
porque eu realmente não acho que eu mereça esse tipo de coisa. Mas Sirius
não estava totalmente errado. Eu não queria isso de verdade.
Estou tão longe disso quanto estou de fazer ele acreditar no que eu digo.
A minha ficha caiu ontem para algo que eu estava me negando a querer ver.
"Pandora,
32
Precisamos conversar. Vi Sirius esta madrugada. Preciso de ajuda em uma
coisa muito importante. Não é seguro falar o assunto por aqui, como você
deve imaginar. Mas irei até à sua casa no fim desta tarde. Me retorne se
estiver tudo bem para você.
Com amor,
R.A.B"
Ela dizia que não se importava com a marca no meu pulso porque conhecia
a marca no meu coração. E que acreditava em mim o suficiente para saber
que quando chegasse a hora, eu faria a coisa certa. Ela acreditava em mim.
Assim que começou à clarear lá fora, Kreacher entrou no meu quarto. Não
o via desde antes da reunião aqui em casa. Foi bom ver alguém que eu
gostava depois de confrontar Pettigrew e ir parar na casa dos Potter no
meio da madrugada.
"O que quiser, pode chamar Kreacher que ele virá." Ele respondeu,
virando-se para a porta novamente.
33
"Mamãe falou algo sobre... Sobre mim hoje no café? Mais especificamente
algo que envolva o Lorde das Trevas?"
"Kreacher não ouviu nada. Senhora Walburga não deixou Kreacher ficar
perto na hora do café. Senhor Regulus está falando sobre o que?"
"Acho que ele quer algo comigo..." Disse, pensativo. "Acho que precisa de
mim para alguma coisa, mas não sei o quê. E ele não me convocou ontem
porque você não estava aqui." Falei apontando para ele.
"Estou te dizendo, Kreacher. Tem algo acontecendo e não sei o que é."
Falei. "Eu vou ver Pandora esta tarde, se mamãe perguntar algo, diga que
saí com Barty ou Snape, tanto faz."
"Temo que senhora Walburga não vá gostar..." Ele diz assustado enquanto
eu me levanto em direção ao banheiro.
***
"Reggie,
Venha! Estou com saudades! Você sabe que é sempre bem-vindo, seu
idiota.
Com amor e abraços que você não gosta, mas que dou mesmo assim,
Dora."
Ler o bilhete me fez sorrir. Peguei meu casaco e minha varinha, espiei pela
porta do quarto para ver se alguém estava vindo e aparatei. Teria sido mas
fácil chegar até à casa de James aparatando, mas a casa dos Potter está com
algum feitiço anti-aparatação, por motivos de segurança, eu acho.
Consequências de uma guerra.
34
Pandora mora sozinha. A casa dela é alegre, com flores azuis na frente e
cristais energizados espalhados pelo jardim. Sei que ela pretende trazer
Xenophilius para morar com ela algum dia, mas por enquanto, preciso da
minha melhor amiga apenas para mim. Um cara pode esperar. Não é como
se eles fossem casar, ter filhos, ou algo do tipo.
"Meu Deus, Reg, você está horrível. Aparatar te deixa com uma aparência
péssima." Ela diz arrumando meu cabelo.
"Bom te ver também, Dora!" Digo tirando a mão dela da minha cabeça.
"Não seja idiota, claro que eu sei que você estava com saudades! Você não
aguenta muito tempo sem mim!" Ela diz fechando a porta atrás de nós e
sorrindo, enquanto eu tiro o casaco.
"E então? O que você tem de novidades para mim?" Pergunto me jogando
no sofá.
"É impressionante e muito útil, na verdade, levando em conta tudo que tem
acontecido..." Ela diz enquanto me leva até à sala onde faz seus
experimentos. A sala é repleta de livros, cristais, plantas e poções. Pandora
é realmente muito esperta quando se trata de criar coisas.
"Aqui está. Pegue!" Ela joga para mim e eu pego rápido, com medo de
quebrar.
35
sua cor foi completamente embora e um vermelho vivo, cor de sangue,
tomou conta de todo o cristal.
Claro. A marca.
"Mm, acho melhor você ficar com isso..." Falei devolvendo o cristal para
ela, que voltou a ficar azul em suas mãos. "Acho que fica melhor com
você."
"Você não tem magia negra, Reg. Já te disse que essa marca..."
"Não faz parte de quem você é." Falamos em uníssono. Ela sempre dizia
isso. "Já sei disso. Mas é meio difícil acreditar quando ela está grudada na
porra do no meu braço."
"Bom, de qualquer forma, se não fosse pela marca, esse cristal não
mudaria. Você sabe disso."
"Isso com certeza, Reg." Ela começa a rir, o que me faz rir também. "E
então? O que trouxe você até aqui? E não diga que foi saudades de mim,
porque sei quando você quer me contar algo sério. Você está com aquela
cara de quando me contou no quinto ano que achava que gostava de
meninos tanto quanto gostava de meninas."
"Meu deus, Reg, eu não precisava ouvir os detalhes disso de novo!" Nós
gargalhamos. "Já não me basta os detalhes que você me fazia ouvir sobre
James! Ah, Pandora, ele é tão bonito jogando quadribol, ele é tão bonito
arrumando os óculos, ele é tão gost-" Coloco a mão na boca dela para
impedir ela de continuar me humilhando.
"Acho que já chega de lembrar sobre casos passados, Dora. Não se esqueça
que você teve uma queda por Mulcilber no quarto ano!" Falei, gargalhando.
36
"Mm, sim..." Respondi, ficando sério. "Fui até os Potter ontem."
"Os Potter?" Ela respondeu, arregalando os olhos. "Mas e sua mãe? Como
ela... Meu deus, Regulus, ela fez algo com você? Ela fez, não fez? Ela
sempre faz. Você está machucado? Ah, aquela..."
"Pois é."
"Mas, Reg, você sabe que... Sabe que Sirius não quis realmente dizer tudo
aquilo, não sabe?" Ela diz colocando a mão no meu braço.
"Ah, eu acho que ele quis sim, Dora." Digo, sorrindo, mas sem nenhum
traço de felicidade.
"Ele está com raiva porque acha que o irmão que ele ainda ama não está
mais aí. Ele acha que ama alguém que não existe mais, Reg." Ela fica de
frente para mim, olhando nos meus olhos, e coloca uma mão em cada
ombro meu. "Regulus, presta atenção, você não pode destruir Você-Sabe-
Quem só por querer salvar Sirius ou provar algo para ele, faça isso por
você! Você não pode também esperar que Sirius apareça na sua porta
37
dizendo que quer voltar a ser seu irmão e tirando você daquela casa de
merda. Droga, Regulus, você tem que achar algo pelo que você mesmo
acredita e lutar por isso! Se está disposto a arriscar sua vida, não espere que
Sirius, eu, nem ninguém banque o herói e te salve de tudo isso. Seja você
seu próprio herói."
"Cacete. Onde você aprendeu tudo isso?" Disse, mas foi da boca para fora,
porque esta sempre foi a Pandora, gentil, mas sempre, sempre sincera.
Seja você seu próprio herói. Eu pensaria no que Pandora disse mais tarde.
Eu, sem dúvidas, pensaria. Mas eu precisava dela para outra coisa mais
importante agora.
"Não. Quer dizer, antes eu acreditava que sim. Mas, quando comecei a
entender mais as coisas, escutei conversas entre meus pais. Eles
conversavam sobre como ele era poderoso e como ninguém conseguia
matá-lo. Nem Alvo Dumbledore. Houveram vezes... Houveram vezes em
que tentaram, mas foi um erro fatal. Precisa de mais do que só um feitiço
para matá-lo. É como se... Como se a alma dele estivesse ligada à alguma
coisa que não pode morrer."
"Espere aí, o que você disse?" Ela levantou os olhos para mim.
"Ai. Meu. Deus. Regulus Arcturus Black!" Ela gritou. E saiu correndo para
trás da bancada, pegando um livro grosso de uma prateleira cheia deles. Ela
folheava as folhas do livro tão rápido que me deixou atordoado.
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"Dora, o que foi?" Perguntei, mas não tive resposta. "Pandora, o que está
acontecendo? O que você está procurando?"
"Onde está? Onde está?" Ela sussurrava enquanto folheava o livro mais
rápido, sem olhar para mim nenhuma só vez.
"Achei!" Ela gritou mais alto ainda. "Divide sua alma... Se você tirar uma
vida..." Ela estava lendo as frases do livro sussurrando. Merlim, ela nunca
esteve tão estranha.
39
Capítulo 6: Horcrux
"Leia isto, Regulus!" Pandora estava muito acelerada. "Leia em voz alta, por
favor." Ela disse, me dando o livro nas mãos enquanto andava de um lado
para o outro.
"Não sei, Dora, isso parece coisa de filme de terror... Por que ele teria todo
esse trabalho se é mais poderoso que qualquer bruxo e pode se proteger do
que quiser?"
"Maldade não é poder, Regulus." Ela diz séria, tirando o livro da minha mão.
"E se por isso ele parece ser tão poderoso? Porque mesmo que não seja de
verdade, ele não pode morrer. Ele é intocável, indestrutível, mas... Se ele
fosse mortal..."
40
"Mas...Mas Pandora, se ele realmente tiver criado uma horcrux, pode ser
qualquer coisa. Literalmente, qualquer coisa. Um livro, uma chave, até
mesmo alguma coisa que ele usa..."
"Duvido que seja algo tão fácil assim, Reg." Ela diz pensativa. "São coisas
com significados, coisas importantes..."
"Pandora?"
"Mm?"
"Regulus, você tem que falar com Dumbledore." Ela só podia estar de
brincadeira.
"Pandora, minha querida," Respondi. "O máximo que Dumbledore vai fazer
é dizer uma frase de efeito e um sorriso cínico de merda."
"Isso não é verdade, Reg. Se ele tiver alguma informação útil, ele vai
ajudar..."
"Não. Não. Não vou recorrer à ele. Sinto muito." Eu sabia que deixaria ela
irritada, mas Dumbledore nunca me ajudou muito quando eu estava em
Hogwarts. Talvez porque eu era um Black e estivesse com o destino
marcado. Mas ele me conheceu com onze anos. Se ele em algum momento
achou que eu precisava de ajuda, ele só continuou achando. Porque nunca
fez nada. Nem quando mamãe mandou um berrador no meio do jantar
chamando Sirius de 'traidorzinho' e me chamando de ingrato por fazer
41
amizade com uma corvina. Mamãe odeia Pandora. Mas tudo bem, porque eu
acho que o sentimento é mútuo. Mas a questão é que Dumbledore sempre
sabe das coisas, mas prefere colocar os outros para cuidar de assuntos que
ele resolveria muito mais facilmente. Ele não era uma pessoa ruim, mas
ninguém pode me culpar por não confiar no cara.
Mas não tinha apenas Dumbledore. Eu conhecia outra pessoa que conheceu
Voldemort na escola. Nele eu confiava. É o cara mais genial que conheço.
Fazia qualquer poção em um piscar de olhos e como se fosse uma obra de
arte, ele me ensinou tudo que eu sei sobre elas. Eu e Evans éramos os alunos
preferidos dele. Bom, eu era melhor que ela, obviamente. Mas sim, nele eu
poderia confiar. Eu sabia que podia, ele só precisava querer me contar.
"Pandora, tem outra pessoa." Eu disse e ela me olhou intrigada. "O professor
Slughorn." Os olhos dela se arregalaram na hora. E ela correu para pegar um
pergaminho e uma pena.
"Aqui!" Ela disse, me dando nas mãos. "Escreva para ele e diga para ele
encontrar você no Três Vassouras amanhã."
E eu escrevi. Eu sei que ele iria porque sempre me disse que se eu precisasse
de algo quando fosse embora de Hogwarts, eu poderia sempre contatá-lo. Ele
era o único adulto em quem eu confiava. Pandora amarrou a carta em sua
coruja e a mandou.
"Regulus, Sirius vai te ajudar. Ele só precisa de uma prova. Todos eles vão,
Reg. Ele, os meninos, Lily... E Marlene e Dorcas? Ouvi que elas estão
morando juntas, talvez você pudesse falar com elas... Ah, e Mary! Ela
ajudaria com certeza, eu acho até que ela gostava de você."
"Isso não é nada para mim!" Ela pega meu pulso com força e o joga para o
lado.
42
"É uma pena, Reg." Ela diz, sem expressão.
"O quê?"
"É uma pena você achar que isso diz mais sobre você do que você mesmo."
"Porque eu vi quem você é, Reg." Ela responde, séria. "Eu acredito em você
porque você nunca mentiu para mim sobre quem era. Porque era você quem
me protegia nos corredores de outros sonserinos que me chamavam de
esquisita por causa dos meus cristais. Porque você deu um soco em Mulcilber
no quinto ano, quando ele tentou...tocar em mim. Porque você foi meu amigo
desde os meus onze anos e, mesmo quando ganhou essa coisa no seu braço,
você me olhou nos olhos e se deixou chorar na minha frente porque achava
que seu irmão o odiaria para sempre. Porque no dia em que você me mostrou
que tentou tirar a droga dessa marca com..." Ela fez uma pausa, porque ela
tocou em assunto que nunca mais tínhamos tocado. "Com uma lâmina, Reg.
Você se machucou, porque não queria mais fazer isso. Você estava com tanta
vergonha e eu podia ver. Você me deixou te enxergar e, droga, Black, você
é lindo. E se você diz agora que quer matá-lo. Então eu vou matá-lo com
você." Ela encosta a testa na minha. "Porque você vale o risco."
***
Não sei se um dia serei capaz de agradecer Pandora dignamente. Mas vou
tentar, enquanto eu viver, vou tentar.
Mamãe mãe não me perguntou sobre onde eu fui ontem. Ela deve ter
acreditado na história de Kreacher. Eu me encontraria com Slughorn naquela
tarde e eu daria um jeito de descobrir tudo. Mesmo que para isso, eu
precisasse usar a poção da verdade que Pandora me deu ontem. Uma gota na
bebida dele e ele me diria qualquer coisa que eu perguntasse. Eu estaria
encrencado, mas era melhor do que ficar sem saber. E, aliás, ele nem era
mais meu professor, ele não poderia me dar uma detenção ou algo do tipo.
Pelo menos, eu espero que não.
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Aparatei para o Três Vassouras no fim daquela tarde. Esperei por alguns
minutos até vê-lo passar pela a porta do bar. E quando ele me viu na mesa,
abriu um sorriso gigante. Eu já havia pedido a bebida dele, obviamente. Eu
precisava colocar a poção sem ele ver e esse foi o único jeito que eu
achei. Merlim, eu vou para o inferno.
"Regulus Black! Meu aluno favorito!" Disse ele, se sentando. "O que traz
você aqui? Você está jovem! Deveria estar com alguma bela moça e não com
um antigo professor velho como eu." Ele diz, dando um gole na bebida. Por
que as pessoas sempre cogitavam mulheres primeiro?
"O senhor sabe que gosto das nossas conversas." Falei, rindo e bebendo
também. Ótimo, ele já havia bebido, era agora ou nunca. "Na verdade, eu
queria perguntar algo ao senhor."
"O quê, Regulus?" Ele perguntou, dando mais um gole na bebida. Isso, isso,
isso.
"Eu estava lendo uns livros antigos ultimamente... E me intriguei muito com
uma coisa que li. Nenhum professor nunca nos ensinou sobre isso antes,
então achei que devia ser algo muito complicado de se executar. O senhor
sabe o que são horcruxes, não sabe?" Os olhos dele se arregalaram, mas o
seu cérebro pareceu não estar acompanhando a língua, porque ele respondeu
na mesma hora.
"São objetos das trevas. Um bruxo cria uma matando alguém e então ele não
pode morrer porque a alma fica presa à isso." Ele parecia confuso. "Eu não
deveria estar dizendo essas coisas para você, Regulus. Há um motivo para
isso não ser ensinado nas aulas..."
"Sim. Espere, por que está me perguntando isso?" Ele parecia realmente
confuso agora.
"Ele alguma vez falou com o senhor sobre isso? O senhor disse à ele o que
está me dizendo agora?" Era inevitável não parecer interessado.
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soubesse, poderia ter feito algo, eu sei que poderia! Você tem que entender
que não foi minha culpa." Droga, eu era uma pessoa horrível.
"Eu sei disso, professor. Eu sei," Falei tentando confortá-lo. Nunca fui bom
nisso. "Eu...hm...eu preciso ir agora! O senhor conhece a minha mãe, hm..."
Falei me levantando e querendo ir embora logo. "Ela não gosta que eu saia
muito. mas vou escrever para o senhor, não se preocupe! Se cuide!" Falei da
porta do bar.
Não queria estar perto quando ele percebesse que tomou aquela poção.
Parabéns, Evans, acho que você é a única favorita agora.
Aparatei de volta para casa para escrever para Dora o que eu descobri.
Finalmente, eu tinha algo. Ela não vai acreditar quando escutar as coisas que
Slughorn me contou. Ela estava certa, Voldemort criou horcruxes, como eu
nunca li sobre isso? E se ele criou, o que poderiam ser?
"Regulus,
Preciso falar com você, Padfoot não pode saber. É urgente. Não posso mais
ignorar as coisas que ouvimos de você naquela noite. Por favor, me escreva
de volta.
R.J. Lupin"
45
Capítulo 7: Escuridão
Na verdade, eu acho que só falei com ela umas três vezes na escola. Ela era
do ano de Sirius. Era um menina muito bonita. Era alta, negra, com os
cabelos crespos e os olhos castanhos escuros. Pandora dizia que ela era muito
gentil e que sempre se interessava pelos assuntos sobre energia, cristais e
essas coisas que Dora sempre gostou, mas também não era muito próxima
dela. Dorcas estava sempre andando com Marlene McKinnon. Uma vez vi
as duas se beijando em um corredor depois de uma festa da Grifinória, mas
nunca contei para ninguém. Eu não gostaria que ninguém contasse se me
vissem beijando um cara na escola. Porque são os anos setenta e as pessoas
simplesmente não aceitam esse tipo de amor.
Mas Dorcas era amada. Por todo tipo de amor, ela era muito amada.
A família dela foi atacada por comensais. Não sobrou ninguém. O que me
faz pensar que Lupin deveria estar com Sirius e James agora, com Marlene
principalmente, que deve estar inconsolável. Mas ali estava a carta do
namorado do meu irmão, que me odeia, dizendo que queria falar comigo.
Parecia até piada. Talvez eles estejam com raiva dos comensais da morte e
finalmente decidiram me matar.
Mas, pensando bem, eu não tinha nada a perder. Peguei a pena e escrevi
primeiro para Pandora.
"Dora,
Falei com Slughorn. Você não faz ideia do quanto estava certa! Eu
provavelmente irei para o inferno por ter meio que drogado meu antigo
professor para ele me contar o que sabia, mas tudo bem! Porque eu descobri
que tudo que eu e você conversamos é verdade. Quando posso ir ver você de
novo?
Não sei se você está sabendo sobre Dorcas Meadows, mas comensais
atacaram ela e a família na noite passada. Odeio isso. Queria não me sentir
culpado por essas merdas.
46
Com muito amor,
R.A.B."
"Lupin,
É um pouco estranho você querer conversar comigo. Mas se isso não for
mesmo um plano homicida muito ruim, tudo bem. Me encontre em
Hogsmead essa tarde.
R.A.B."
Essa coisa de tentar ser um herói dava trabalho. Já era o terceiro dia seguido
que eu passava fora de casa e não tinha nenhuma parte do meu corpo doendo
ou sangrando. Acho que mamãe está perdendo o jeito. Ou ela só não se
importa o suficiente porque acha que estou "cumprindo meus deveres pelo o
que acredito".
***
Não tive tempo para reparar em como Hogsmead estava bonita ontem. Cheia
de neve, como sempre. Os bares lotados, alunos de Hogwarts comprando
doces para o Natal, muitas conversas e risadas ao mesmo tempo. Eu amava
vir aqui com Pandora, os dias de passeio em Hogsmead eram os melhores.
Afinal, não existe nada melhor do que a neve.
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Eram tantas lembranças que eu tinha por lá. Uma vez, eu e Dora comemos
tantos doces na Dedos de Mel que eu segurei o cabelo dela por meia hora no
banheiro. Foi nojento, mas divertido. Beijei Emmeline Vance uma vez na
frente do Três Vassouras, ela beijava esquisito, mas não importava, porque
quem eu queria beijar era um lufano de olhos azuis que não parava de nos
encarar. Alguns meses depois, eu o beijei, mas nem era tudo isso.
Eu estava distraído com tantas memórias enquanto andava pela vila que não
notei quando Snape saiu do Três Vassouras com Mulcilber e me viu. Merda,
merda, merda, merda.
"Snape. Mulcilber." Acenei com a cabeça para os dois. "O que estão fazendo
aqui?"
"O Lord mandou que checássemos o que estavam falando sobre a família de
ontem." Snape respondeu, indiferente. "Mas e você? Veio fazer o que?"
"E por que eu contaria? Você sabe que Lord Voldemort me dá missões mais
importantes do que só escutar fofocas em um bar, não é, Snape?" Falei,
enojado por me gabar disso, mas era necessário para fazer Snape se mandar
daqui. "Acho que vocês dois estão perdendo a credibilidade."
"Olha como você fala, Mulcilber," Me pus na sua frente. "Quer que o Lord
saiba que você atrapalhou algo que ele pediu diretamente à mim?"
"Lord Voldemort não mandou você aqui." Ele disse, desconfiado. "Não me
diga que veio ver o irmãozinho traidor..." Ele começou a rir junto com
Mulcilber.
"O quê?! Ah, Reg, a mamãezinha não vai gostar de saber que você fugiu de
casa para ver o Black renegado..." Mulcilber diz rindo. Eu poderia matá-los
agora mesmo.
48
"Ela não costuma punir você, Reg?" Snape ria agora, com aqueles dentes
amarelados. "Ou você que é muito fraco para se defender?"
"Você não sabe nada sobre mim." Rosnei, enquanto colocava a mão na
minha varinha.
"Claro que sim, não é de hoje que Snape me irrita." Ele diz, ainda sorrindo.
"Um maroto nunca conta seus segredos, jovem Black." Ele diz sorrindo,
guardando varinha no bolso do casaco e acendendo um cigarro. "Vamos
caminhar."
"Regulus, você sabe que eu não odeio você, não é?" Ele perguntou, de
repente, jogando o cigarro fora.
"Na verdade, eu não sei." Respondi, sinceramente, o que fez ele sorrir.
"Não odeio. Na verdade, eu até gosto de você." Ele disse e eu não disfarcei
a minha surpresa. "Qual é, não fique tão surpreso."
"Bom, a última vez que nos vimos, você ia mandar eu enfiar minha varinha
em um lugar horrível se Evans não tivesse interrompido você, então... Sua
definição de gostar é meio estranha." Ele riu, mas eu estava falando sério.
49
"Fiz aquilo por Padfoot. Lealdade, sabe?" Ele diz, sorrindo ao pensar em
Sirius.
"Não, não sei, não é algo que eu e Sirius temos muito." Eu disse, esperando
ele rebater, mas ele ficou em silêncio, então continuei. "Posso perguntar uma
coisa?"
"Você o ama?"
"Onde está me levando? Não vai me levar para um cativeiro, não é?!"
"Droga, Black, como adivinhou?" Ele responde rindo, mas eu estou nervoso
de verdade.
Caminhamos por algum tempo até chegarmos à uma parte deserta e cheia de
neve, com uma cerca de arame farpado na nossa frente.
"Você sabe o que é aquilo?" Lupin pergunta, apontando para o que tem além
da cerca.
"Não sei, acho que é assombrada, sei lá... Qual o objetivo disso?" Pergunto,
um pouco irritado.
"Sabe, Reg, é isso que admiro em você," Ele começou, dando uma tragada
no cigarro. "Você tem claramente uma escuridão dentro de você, mas você
nunca fugiu dela. Não estou falando dessa porra de marca no seu braço ou
de você ser um Black, estou falando de quem você é. Você tem esse lado
obscuro e, às vezes, ele domina você, não é?" Ele pergunta, olhando para a
casa.
50
"Sim." Respondo sinceramente, também olhando para a casa.
"Claro que sei. Você é todo, sei lá, cortado na cara e eu nunca via você no
café depois de uma noite de lua cheia! E, pelo amor de Deus, se isso era para
ser segredo, por que diabos chamam você de Moony?!" Isso ele fez
gargalhar.
"Você é esperto." Ele parou de rir e voltou à olhar para a casa. "Eles me
colocavam lá. Sozinho. Eu me transformava todo mês em um monstro que
rasgava meu corpo de dentro para fora e eu ficava sozinho."
"Sim." Ele tragou o cigarro mais uma vez. "É disso que eu estou falando,
Reg. Eu tenho essa escuridão em mim também. Eu sou considerado uma
criatura das trevas, na visão da maioria. E eu passei muito tempo tentando
colocar na minha cabeça que isso não era eu e que eu podia simplesmente
ignorar essa parte minha. Você não é assim, você consegue aceitar seus
demônios e viver com isso. Por mais que tenha perdido alguém que amou
muito. Por mais que às vezes acredite na coisa errada, você nunca abandonou
seu lado imperfeito, você assumiu ele e arcou com as consequências."
"Você não vê? Regulus, Sirius me mostrou isso. Sirius conseguiu me amar
não apesar disso, mas por causa disso. Sirius não se assusta com monstros.
Ele não está nem aí para escuridão nas pessoas ou coisa do tipo, ele mesmo
tem a própria. Ele não é assim. Ele liga para amor, lealdade e coragem. Ele
não quer que você deixe de ser quem é, ele quer que você o mostre que ele
pode se sentir seguro em amar você porque você não vai deixar os seus
51
demônios o afetarem." Ele joga o cigarro fora. "Então, sim. Eu o amo por
isso. Você não faz ideia do quanto."
"Você acha que Sirius ainda pode me perdoar?" Perguntei, quase num
sussuro.
"Você precisa acreditar em mim, Lupin. Tudo que eu disse. Era tudo
verdade." Eu digo e ele me olha pelo canto dos olhos.
"O que?! Como assim?!" Fico realmente chocado. "Pelo amor de Deus, como
vocês conseguem essas coisas desde a escola, Lupin?" Ele começa a rir.
"Eu já disse, um maroto nunca conta seus segredos!" Ele para de rir. "Vamos
até a minha casa. Quero que você me mostre tudo."
***
A casa de Lupin e Sirius era comum. Lupin não deve ter deixado Sirius gastar
toda a herança de tio Alphard nas decorações. É uma casa branca e com muita
grama. E uma casa de cachorro, o que é estranho, porque eles não tem um
cachorro.
"Ei!," Chamo Lupin enquanto ele fecha a porta atrás de nós. "Por que você
tem uma casa de cachorro lá fora?" Lupin gargalha tão alto que ecoa pela
casa inteira.
"Sirius é um animago, Reg. Ele é um cachorro." Ele ri. "Desde o quinto ano,
na verdade."
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"Certo... Mm, a penseira...?" Digo, querendo parar de falar de Sirius logo.
"Certo, certo, vamos, é por aqui, eu só tenho que pegar um-" Ele é
interrompido por um barulho de chave abrindo a porta da frente.
Porra.
"Moony, eu comprei chocolate para fazermos aquele doce trouxa que vimos
no-" Sirius chega alegre e para quando me vê, igual na casa dos Potter. "O
que. Porra. Você. Está. Fazendo. Aqui?!"
"Pads, calma, fui eu quem chamei ele. Tá tudo bem, eu..." Lupin se
intromete, eu permaneço calado.
"Você o que?!" Ele olha com raiva para mim. "Vai embora! Agora!" E depois
olha para Lupin. "Dorcas morreu por causa deles, Remus! Marlene está
inconsolável! O que você estava pensando?"
"Olha, eu não quero começar uma briga entre vocês..." Pego meu casaco e
me dirijo à Lupin. "Estou indo, Lupin. Quando quiser continuar a conversa,
me mande uma carta e eu virei."
"Pode me chamar de Remus, Reg." Ele diz, passando a mão no meu braço.
"Como é que é?!" Sirius parece indignado. "Vai deixar ele chamar você de
Moony agora também?!"
Eu estava feliz. Remus acreditava em mim. Ele queria uma prova, porque,
bem, estamos numa guerra e eu sou um comensal. Mas ele me ouviu,
considerou as coisas que eu disse. Se consegui fazer Remus acreditar, então
Sirius não está tão longe. Me sinto com esperança, como se finalmente tudo
estivesse indo para o caminho que deveria ir. Tenho a escuridão dentro de
mim, mas também tenho luz. Eu mesmo posso decidir quem quero ser. Eu
mereço algo bom. Eu mereço. Tenho que acreditar porque ninguém vai
acreditar em mim se eu mesmo não fizer isso.
53
Tenho que escrever para Pandora e contar, mas ela ainda não respondeu a
carta que mandei. Quando estou quase subindo as escadas, ouço a voz da
minha mãe chamar.
A voz dela vinha da biblioteca, onde Kreacher estava na porta com uma cara
completamente assustada.
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Capítulo 7.1: Remus
"Não consigo acreditar que você fez isso comigo!" Sirius estava
transtornado.
"Como você pode achar que eu fiz isso para atingir você?! Droga, Black, são
atitudes como essas que fizeram a gente se descuidar e perder Dorcas, não
Regulus!" Gritei de volta enquanto ele andava de um lado para o outro na
sala.
"Você está querendo me dizer que eu não querer ele por perto porque ele é a
porra de um comensal foi o que a matou?!" Sirius disse. "Ah, Remus, me
poupe!"
"Sirius... O que estou tentando dizer, é que você deveria pensar com a cabeça,
não com o seu coração. Pense. Não vimos Wormtail desde..."
"Ah, meu Deus!" Sirius gritou de verdade, me interrompendo. "Por que é que
você não confia em ninguém?!"
"Não posso fazer isso agora." E então ele entrou no quarto, batendo a porta.
Eu não sabia mais o que fazer com Sirius. Ele era impossível quando o
assunto se tratava de Regulus. Eu sabia que havia o magoado trazendo o seu
irmão até aqui, eu trouxe para o lar que Sirius construiu uma lembrança da
vida que ele odiava. Eu odiava saber que ele estava triste por minha causa.
Mas Padfoot estava com tanto medo de perder as poucas pessoas que ainda
podia confiar durante a guerra, que estava fechando os olhos para o que
estava na sua frente.
Não víamos Peter desde a noite em que Regulus apareceu na casa de Prongs.
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passasse e aconselhou Sirius a me dar mais espaço quando eu não queria
aceitar meus próprios sentimentos por ele.
"Me desculpe por ter gritado com você." Ele sussurrou, com a voz trêmula,
sem olhar para mim.
"Me desculpe por agir pelas suas costas." Respondi. "Fui um idiota."
"Ei!" Empurro o braço dele e nós rimos. Mas o sorriso dele se desfaz e ele
encosta a cabeça no meu peito.
"É só que... Eu não sei se consigo, Moony." Ele começa, com a cabeça ainda
encostada em mim. "Eu olho para ele e sinto vontade de abraçá-lo e pegar na
mão dele e tirá-lo daquela casa... Mas quando lembro que isso foi pelo o que
ele escolheu lutar. Quando lembro das vezes que..." Ele está chorando agora.
"Das vezes em que chamei por ele nos corredores e ele fingia que não sabia
quem eu era... Não sei se eu aguentaria passar por isso de novo, Moony."
"Pads, eu amo você..." Digo, passando a mão no cabelo dele. "Mas às vezes
você é muito burro."
"Se você não tivesse nos conhecido, ou tivesse, sei lá, ido parar em
Durmstrang ao invés de Hogwarts. Se não tivesse ido para a Grifinória e que,
Merlim nos livre, mas se você tivesse cedido ao que seus pais tentaram te
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impor por muito tempo, você acha que estaria feliz?" Pergunto o olhando nos
olhos.
"Vocês dois tiveram a mesma criação, você, melhor do que ninguém, sabe o
que acontece dentro daquela casa. O que te faz acreditar tanto que Regulus
está nisso porque quer?" Ele não me responde e encara o chão. Aproveito
que ele não está falando, o que é raro, e continuo falando. "O que te faz
pensar que as coisas não ficaram tão ruins para ele naquela casa que chegou
um momento em que ele não aguentou e apenas cedeu?"
"Mas então... Por que ele se distanciou de mim?! Por que ele me afastou?!
Eu podia tê-lo ajudado, Moony! Eu podia ter tirado ele de lá, ou não sei, eu
teria dado um jeito!" Os olhos dele começaram a ficar marejados.
"Eu sei que você teria..." Respondo, segurando o rosto dele com minhas duas
mãos e encostanto minha testa na dele. "Mas nem todo mundo consegue ser
tão corajoso como o meu Padfoot."
"Não fui corajoso o suficiente para tirar ele de lá." Ele responde sussurrando.
"Eu deixei ele... E ele só tinha quinze anos, Moony! Droga, por que ele não
me pediu ajuda?! Eu teria feito qualquer coisa por ele!"
"Você ainda pode fazer, Sirius..." Virei o rosto dele para mim e o encarei
seriamente. "Você pode acreditar no que ele diz."
"Mas se for verdade... Moony, é de Worm que estamos falando. Você precisa
entender porque me recuso tanto a acreditar nisso." Ele responde.
"Eu sei, Pads," Respondo, rindo da maneira como ele diz. "É disso que estou
falando. Não podemos perder mais ninguém."
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"Então... O que eu faço, Moony?" Sirius pergunta para mim, com os olhos
tristes.
"Você começa escrevendo para o seu irmão. E a partir da aí, veremos." Digo,
com firmeza.
"Mas antes!" Aponto para os chocolate aberto na mão dele. "Vamos fazer
aquele doce! Porque eu estou realmente com vontade de comer aquilo."
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Capítulo 8: Culpa
I fear there's no one to save me/Eu temo que não haja ninguém para me
salvar
"O-que você está fazendo?!" Parecia que alguém tinha dado um soco no meu
estômago. "Solta ela! Agora!" Pandora estava com tanta dor que não
conseguia falar. Fui correndo até onde ela estava, mas mamãe foi mais rápida
e me lançou um feitiço me jogando para o outro lado da sala. Minha cabeça
bateu tão forte na parede de madeira que começou a sangrar na parte de trás.
Quando tentei me levantar de novo, mamãe me prendeu na parede. Eu fiquei
imóvel, não conseguia mexer um músculo sequer do meu corpo. Como eu
achei que seria capaz de salvar alguém?
"Reg..." Foi a única coisa que Pandora conseguiu falar, ela levantou a mão e
disse meu nome. Eu acho que nunca chorei tanto em toda a minha vida.
"Mãe, por favor!" Gritei. "Eu estou implorando! Deixe ela ir! Eu prometo
que faço o que você quiser, só... Só por favor! Deixe Pandora ir!"
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"Sabe, Regulus," Ela começou a andar em círculos na minha frente, se
divertindo com aquilo. "Eu nunca entendi esse seu carinho por essa menina
insignificante. Ela é tão burra que não foi nada difícil achá-la naquela escória
que ela chama de casa."
"Crucio!"
Tudo começou a rasgar dentro de mim. Minha visão ficou turva e meu corpo
inteiro se contorcia no chão. Eu estava tão desesperado e eu achava que
nunca mais iria parar de gritar. Minha mãe se revezava entre mim e Pandora
o tempo inteiro. Enquanto eu ouvia os gritos dela, pensei na voz dela me
falando "Seja seu próprio herói.". Me desculpe por não conseguir ser um,
Dora. Sinto muito, sinto muito, sinto muito...
Eu queria morrer. Sirius nunca mais me veria, como ele tanto deseja. Eu
nunca veria ele se casar com Remus e construir a família feliz que ele sempre
quis. Eu perderia todas essas coisas porque não tive coragem para ir embora
quando deveria ter ido. Ele estava certo. A culpa era minha. Se saísse disso
vivo hoje, nunca mais o procuraria. É uma promessa, Sirius. Você não vai
me ver nunca mais.
Eu prefiro morrer do que olhar nos olhos de Pandora de novo. Não vou
conseguir viver comigo mesmo sabendo que isso aconteceu com ela por
minha culpa. Eu meti ela nisso e agora não consigo tirar. Mamãe não vai
pensar duas vezes em matá-la. Eu prefiro morrer à viver sem ela. Sinto muito,
Dora, eu sinto tanto...
"Mãe, p-por favor..." Falei tossindo, quase sem força nenhuma. "N-não mate
ela... Eu estou implorando..."
"E por que não, Regulus?! Ela é uma distração! Lord Voldemort virá aqui à
meia noite para falar com o meu filho e ele está preocupado com uma
qualquer sem valor algum! Francamente! Eu deveria matá-la e fazer você
assistir para disciplinar você!" Ela dizia, com raiva e nojo.
"Eu não mentirei mais para você, mãe. Eu juro. Eu não a verei mais. Eu..."
Comecei a tossir de novo. "Eu me dedicarei ao Lorde das Trevas! Eu vou
fazer o que ele mandar, eu prometo! Só... Por favor..."
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"Você vai fazer o que ele mandar de um jeito ou de outro, seu garotinho
estúpido!" Ela diz, se abaixando até onde eu estava. "Ou eu mesma vou matar
cada uma das suas distraições."
"Você acha que não desconfio que você tem visto o traidor do seu irmão?!"
Ela estava gritando bem na minha cara. "Eu juro à você, Regulus Arctutus
Black, eu dei a vida aquele bastardo e eu a tirarei em um piscar de olhos! E
a culpa será toda sua!"
"Mas vamos começar por esta aqui..." Ela sorriu maliciosamente e virou de
costas para mim, andando até Pandora.
"Mãe..." Eu mal conseguia gritar. Ela estava com a varinha na mão. Pronta
para matar Pandora bem na minha frente sem piedade alguma. Não sei de
onde Pandora conseguiu tirar forças para gritar.
"Regulus, você engravidou essa mestiça imunda?!" Ela virou para mim.
"Não é dele." Ela estava juntando todas as forças para conseguir falar. "Não
é de Regulus."
Ela soltou Pandora da mesa e depois à mim. Tudo em mim doía, todo
músculo, toda terminação nervosa. Mesmo assim, corri até onde Pandora
estava e coloquei o braço dela por cima de mim. Ela estava fraca e mal
conseguia falar.
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"Pandora! Vem cá, segura em mim!" Joguei todo o peso dela em cima de
mim.
"Eu não ligo para mim! Vamos, eu vou levar você para casa. Não solte meu
pescoço." Dou uma pausa e digo, sem conseguir deixar de chorar. "Eu sinto
muito, sinto muito, sinto muito. Eu tive tanto medo de você... Não vou deixar
nada acontecer com você nunca mais, eu prometo."
Empurro a mão dela com o rosto com uma expressão de nojo. Aquela mulher
não é minha mãe. Ela nunca foi. Ela nunca me amou e a última vez que a
amei foi dentro de sua barriga. Ela era tudo de ruim que existia no mundo.
Como me deixei ser manipulado por alguém assim? Como julguei Sirius por
ir embora? Essas coisas não importavam mais. Nada importava mais.
Horcruxes, Sirius, minha escuridão... Não podia deixar ninguém se
machucar por minha causa. Farei o que ela disser porque fui idiota em achar
que podia ir contra a decisão que fiz há muito tempo. Não deixarei ela
encostar em nenhum fio de cabelo das pessoas que eu amo, mesmo que para
isso tenha que viver preso para sempre.
Chego perto de Kreacher com Pandora nos braços e ele parece estar tão
assustado quanto eu. Isso não é culpa dele, ele não pode evitar obedecê-la. E
então aparatamos.
"Vamos. Vou deixar você lá dentro." Levo Pandora até sofá e a deito com
cuidado, sem olhar diretamente nos seus olhos.
"Não, Pandora." Levanto a mão para pará-la. Eu não mereço que ela seja
gentil. Não depois de hoje. Começo a arrumar os travesseiros ao redor dela
para não ter que ficar cara a cara com ela.
"Regulus." Ela segura a minha mão e encara meus olhos, me fazendo parar.
"Não faça o que ele mandar."
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Me levanto sem dizer nada e ando até Kreacher para aparatar de volta. Nunca
vou conseguir me perdoar por hoje.
Queria poder ter ficado e conversado com ela a tarde inteira sobre o bebê.
Ela me contaria sobre como Phil quase desmaiou quando soube e nós dois
riríamos até a barriga doer. Pensaríamos nos nomes mais engraçados para
bebês e nos certificaríamos que nenhum deles fosse escolhido. Eu diria que
ele iria para a Sonserina porque seria um bebê do caralho e ela me bateria e
diria que ele pode ser 'do caralho' na Corvinal. Ele ainda nem nasceu e eu já
o coloquei em perigo. Faço o que for preciso para que ele e Pandora fiquem
seguros.
"Se tocar nela outra vez," Pauso e a olho nos olhos. "Eu vou matar você."
Ela não responde nada. Me viro e subo para o meu quarto.
Reg,
Eu sei que demorei para perceber, mas você é meu irmão. Você nunca
deixou de ser. Eu estava tão magoado e via as coisas apenas como eu queria
ver. Eu vou entender se você não quiser falar comigo nunca mais depois da
forma como tratei você, mas eu precisava tentar.
Quando quiser me ver e conversar, apenas venha aqui. Você não precisa
nem avisar. Eu e Moony aprendemos a fazer um doce de chocolate trouxa
em uma panela, você acredita? É a melhor coisa que já comi! Senti
literalmente que lambi as próprias bolas de Merlim! Você precisa provar.
Six.
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Eu nunca mais tinha chamado ele de Six. Nem consigo me lembrar quando
foi a última vez.
Vou para a janela e finalmente consigo encontrar o ar. Pelo menos, ele não
me odiava. Pandora realmente estava certa quando me disse isso. Mas eu e
Sirius nunca mais poderíamos nos ver. Nunca me perdoaria se algo
acontecesse com ele por minha culpa. Terei que viver apenas com o perdão
dele, mas não com ele na minha vida. Perdi meu irmão no dia em que decidi
me tornar o que eu sou. Essa carta não muda isso.
Amassei a carta e lancei um feitiço para queimá-la. Não poderia ter vestígio
nenhum dela aqui.
Enquanto me arrumava, encontrei jogado na minha gaveta algo que não via
há muito tempo. Era uma réplica exata do medalhão de Salazar Slytherin.
Mamãe deu um para mim e para Sirius. Ele, obviamente, tirou o medalhão e
colocou a cabeça de um leão vermelha e extravagante no lugar. Mas eu deixei
assim, porque eu já era da Sonserina e tirar o pingente não mudaria em nada.
Kreacher foi até meu quarto para me acompanhar até lá embaixo. Afinal,
Voldemort queria falar comigo e com Kreacher presente, o que é estranho
porque ele nunca se importou com elfos domésticos.
"Estou aqui, Milorde." Falei, me curvando. Quero morrer. "O senhor precisa
de mim para alguma coisa?"
"Na verdade, como você sabe, você é um dos comensais que mais confio.
Sua família tem sido leal à mim há gerações e você não é diferente." Ele diz,
calmo até demais.
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"Então, eu precisava de alguém confiável para isso. Quero o seu elfo
emprestado." Ele diz, olhando para Kreacher. Que porra está acontecendo?
"Sim. Preciso de um elfo e você é o meu seguidor com um que mais goza de
minha confiança." Ele responde. "Preciso dele agora."
"Tudo bem, Milorde. Deixe-me dar a ordem à ele, então." Kreacher me olha
assustado e eu me abaixo para falar com ele, sussurrando. "Kreacher, não se
preocupe. Eu quero que você volte. Sou seu mestre e estou mandando você
voltar, ok? Você não vai morrer. Me conte tudo quando voltar." Então
levanto e encaro Voldemort.
Dou uma última olhada para Kreacher e ele entende o que quero dizer. E
então, os dois aparatam.
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Capítulo 9: R.A.B
Tudo estava escuro. A caverna não permitia que nenhum raio de luz
alcançasse seu interior. Era grande e repleta de rochas cristalinas. Voldemort
não permitiria que o esconderijo do seu maior segredo fosse tão fácil de se
adentrar. Tivemos que desaparatar do lado de fora, em uma rocha grande e
larga, porque não se pode aparatar dentro da caverna. Então, só depois de
usar meu sangue, eu e Kreacher conseguimos passar para a parte de dentro.
Ele estremecia a cada passo que dávamos, sua mente provavelmente
recordando a agonia que havia passado aqui dentro.
Boa parte da caverna era composta apenas de rochas brilhosas e água. Muita,
muita água. Eu e Kreacher precisaríamos convocar um barco para acharmos
a cripta com o medalhão. Não foi difícil achar a corrente do barco depois que
ele me mostrou exatamente o local em que Voldemort achou. Você é burro
demais para um Lorde das Trevas, Milorde.
"É ali, senhor Regulus," Kreacher disse, apontando para uma cripta repleta
de rochas cristalinas. "O Lorde das Trevas colocou ali."
"Tudo bem, Kreacher," Comecei a remar naquela direção. "Você sabe o que
fazer, certo?"
"Sim, senhor Regulus, Kreacher sabe exatamente o que fazer." Ele assentiu,
cabisbaixo. Elfos são criaturas mais inteligentes do que a maioria dos bruxos
pensam. Kreacher sabia. Eu sei que que ele sabia. Mas ainda assim, ele estava
aqui. Ele estava comigo desde o começo da minha vida e é a última pessoa a
estar comigo no fim.
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Espero que, no futuro, alguém tenha coragem o suficiente para pôr um fim
na servidão deles e lutar pela sua liberdade. Eles são melhores que os seres
humanos, sempre foram.
Remei até à cripta que ele apontou. Ela era cercada por água e em seu centro
havia uma pedra comprida com uma concha branca apoiada no canto. Eu e
Kreacher descemos do barco e subimos na cripta, com cuidado para não
cairmos na água escura.
"Tudo bem, Kreacher, como combinamos," Digo à ele. "Eu vou beber toda
a poção. E mesmo que eu peça para parar ou implore para morrer, você não
pode deixar isso acontecer. Tem que me fazer beber, mesmo se eu não quiser
mais, mesmo se eu esquecer o porquê de eu estar aqui. E depois, você não
pode contar isso para ninguém, nem para a minha mãe. Não importa o que
aconteça, você tem que me fazer beber até a última gota. E então, você vai
trocar os medalhões."
"Kreacher... Kreacher sabe o que senhor Regulus tem em mente." Ele diz,
olhando para mim.
"Eu sei que você sabe, Kreacher," Dou um meio sorriso. "Você me conhece
desde criança. Você sabe que sou ambicioso. Não ia desistir dessa tão fácil,
você não acha?"
"Kreacher quer que senhor Regulus saiba..." Ele diz, estufando o peito e
levantando o semblante, me olhando como igual, pela primeira vez. "Que foi
uma honra servi-lo."
"Foi uma honra ser seu amigo, Kreacher." Digo, sorrindo para ele, que agora
estava com os olhos marejados.
Finalmente, pego a concha e a encho com a poção. Dou uma última olhada
ainda são para Kreacher e aceno com a cabeça para ele, ele faz exatamente o
mesmo. Ele sabe o que quero dizer. Kreacher não poderia cuidar de mim
hoje como cuidou a vida inteira. Ele teria que me deixar ir.
Não estou com medo como achei que estaria. Me sinto em paz, sabendo que
estou fazendo isso pelos motivos certos. Quando ouvi que eu deveria achar
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algo que eu acreditasse e lutar por isso, não fazia ideia que acabaria aqui.
Mas tudo isso valerá à pena, porque Sirius e Pandora destruirão o resto das
horcruxes que faltam e nada terá sido em vão. Serei lembrado.
"Não, Kreacher, por favor... Por favor..." Não me lembro mais o que eu estou
fazendo. Apenas quero que isso pare.
"Senhor Regulus fez Kreacher prometer que faria isso." Ele diz em meio as
lágrimas, enquanto vira a concha novamente na minha boca. "Perdoe
Kreacher, senhor Regulus, perdoe Kreacher..."
Ele está vindo com a quarta concha. Já não me lembro mais o porquê estou
aqui, não faço ideia de quem sou ou de onde eu estou. Não sei como cheguei
até aqui. Coisas horríveis começam à vir a tona, minha mãe me torturando,
meu pai rindo de toda aquela diversão. Fecho os olhos e vejo Sirius, na noite
em que fugiu, o vejo sair pela porta e me deixar. Me vejo virando as costas
para Pandora, como eu pude? A culpa invade minha mente de acordo com
que a poção invade minha garganta. Meu corpo está queimando, posso sentir.
Minha visão começa a escurecer, mas ele vira meu rosto para me fazer beber
novamente.
"Por favor..." Eu estou chorando, ele não vê que está doendo? "Por favor, me
deixe morrer... Por favor..."
"Kreacher já está fazendo isso, senhor..." Ele começa a soluçar dessa vez e
força a quarta concha na minha boca.
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"Vamos, senhor Regulus, é a última..." Ele traz a quinta concha. "Kreacher
promete que é a última."
"Por que está fazendo isso?" Pergunto, fraco demais para gritar. "Me mate
de uma vez... Eu... Eu estou implorando..."
"Apenas mais essa, senhor..." Ele força a última concha na minha boca. "Por
favor..."
Ele cambaleia de volta para perto da pedra e se vira para ela, retirando o
medalhão de dentro. As coisas voltam a fazer sentido na minha mente. Me
lembro o porquê de estar aqui, o porquê de tomar a poção e o porquê de não
conseguir voltar.
"Veja, senhor Regulus," Ele levanta o medalhão verdadeiro para mim. "Nós
conseguimos!" Estou fraco demais para levantar, fraco demais para dizer
qualquer. Apenas sorrio para ele. É isso. Eu consegui.
Criaturas escuras saem de dentro da água por todos os lados. De repente, não
sou mais puxado apenas pela perna e sim por todos os membros do meu
corpo. A frieza das mãos dos inferi cortam como navalha na minha pele. Eles
me puxam para baixo, mas resisto, por enquanto, para dizer à Kreacher
exatamente o que ele precisa fazer.
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Foi um belo fim, Reg. Curto, mas bonito.
Tudo deveria estar preto. Tudo deveria estar escuro. Estou de olhos fechados,
mas não enxergo nenhuma escuridão. Mesmo de olhos fechados, tudo parece
avermelhado. Tento abrir os olhos embaixo d'água, os Inferi não estão mais
me empurrando, eles estão pegando fogo. Pegando fogo embaixo da água.
Não faz o menor sentido. Olho para cima e não consigo acreditar no que eu
estou vendo. É a silhueta de Sirius, a silhueta de Sirius estendendo a mão
para mim em um barco.
Estico minha mão para sentir o quão vívido esse sonho é. Mas o sinto. Eu o
sinto na minha pele. Não é possível que não seja real.
"Eu perco você de vista por um minuto e você resolve dar um mergulho sem
mim, seu idiota?!" Ouço a voz dele. Só pode ser ele para dizer algo tão
estúpido para alguém que quase morreu.
Ele me puxa pelo braço para dentro do barco. Há fogo por todo lado,
Dumbledore está bem em cima da cripta com a varinha levantada no alto por
onde saem chamas vivas que queimam os Inferi. Enquanto a água pega fogo,
Dumbledore entra no barco e me olha.
"Você está bem, filho?!" Ele tira o manto por cima de si mesmo e me cobre.
"Pronto, agora está."
"Vamos! Temos que sair daqui!" Essa voz. Não é a de Sirius. Remus está
aqui. Ele está aqui por mim. Não faço a menor ideia do que está acontecendo.
"Pads, tudo bem aí?!"
"Tente remar para longe das chamas!" Outra voz. "Não posso ficar noivo e
morrer no mesmo dia, Moony!" A única pessoa que seria capaz de fazer uma
piada com noivado e morte na mesma frase. James.
"O que... O que estão fazendo aqui?!" Me levanto e olho para Sirius.
"O que você acha?!" Ele responde, sorrindo. "Não vou perder você outra vez,
irmão." Ele encosta a testa na minha.
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agora, o abraçando de verdade, percebo o quanto quis ele de volta. Ele me
abraça forte. Meu cabelo molhado está molhando ele inteiro, mas não me
importo. E nem ele. Somos nós dois outra vez e nada vai desfazer isso.
"Eu estava tão preocupado com você, seu babaca! Como pôde decidir morrer
e não me avisar?" Ele me solta, furioso.
"Nunca mais faça isso de novo, seu pirralho!" Ele responde. "Se você não
morreu hoje, tenho certeza que Pandora é quem vai matar você!"
E então Sirius me abraça de novo. Mas não reclamo. Não sou fã de abraços,
mas acho que nunca mais terei coragem de negar algum. Muito menos os de
Sirius. Mas então, algo estala na minha cabeça.
"Não, seu idiota," Digo. "O medalhão. Está com Kreacher agora."
"Tudo bem, vamos voltar para casa e amanhã-" Ele começa, mas eu o
interrompo.
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"Não acredito que você vai me meter naquele lugar outra vez." Sirius diz.
"Ei, marotos!"
"Você está louco se acha que vou perder meu irmãozinho de vista de novo!"
Sirius diz.
"Ei, cara, relaxa aí," James me cutuca com o braço, sorrindo. "Você é um de
nós agora."
"Você só vai precisar dar um jeito de entrarmos," Sirius sussura para mim.
"Porque não acho que ela vai me deixar passar pela porta da frente,
irmãozinho."
"Quebro aquela casa inteira, se precisar." Respondo, com sangue nos olhos.
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Capítulo 11: Invasão
Eu estava pronto para morrer. Eu tinha certeza que ia morrer. Não havia saída
para mim. Eu sabia onde estava me metendo quando decidi destruir o
medalhão por minha própria conta e risco. Eu jamais pensaria que Sirius
chegaria à tempo de me salvar dos inferi. Mas estou vivo. Mais vivo do que
nunca. E vou destruir aquela horcrux, mesmo que tenha que pôr aquela
mansão abaixo para entrar.
"Lar, doce lar..." Sirius diz, com as mãos na cintura, assim que aparatamos
no Largo Grimmauld.
"Sirius, você tem certeza que quer fazer isso?" Pergunto. "Sabe, mamãe não
vai ficar muito feliz quando ver você..."
"Sabe, você não precisava..." Tento dizer à James, mas tomo outro susto logo
em seguida.
"Achava que vocês não estavam falando sério quando disseram que iam
acompanhar Sirius e eu até aqui." Digo, sinceramente.
Ainda era madrugada, não havia ninguém nas ruas, apenas as luzes amarelas
piscando nos postes. Parecia até calmo do lado de fora, a mansão realmente
parecia uma casa se vista daqui. Embora ela nunca houvesse sido realmente
um lar, nem para mim e nem para Sirius. Meus pais estariam dormindo, com
certeza. Então seria mais fácil entrar, porém eu precisava que alguém abrisse
73
a porta porque mamãe ordena Kreacher a não abrir para ninguém durante a
madrugada.
"Você não tem uma chave ou, sei lá?!" James perguntou, me vendo andar de
um lado para o outro.
"Eu ia morrer, James." Digo, parando e olhando para ele. "Por que eu levaria
a chave de casa?!"
"Eu levaria uma chave se fosse morrer." Sirius diz, fazendo todos olharmos
para ele confusos. "Uma chave e um papel com meu endereço, eu ia querer
que soubessem onde eu moro para levar o corpo para a minha casa."
"Por que você ia querer que um estranho soubesse onde você mora?!" Remus
pergunta. "Isso é perigoso!"
"Pelo amor de Merlim!" Grito, impaciente, fazendo eles olharem para mim.
"Estou tentando ter uma ideia aqui, seus idiotas!"
Os três se olham antes de responder. Eles estão tristes, posso ver. Mas nunca
demonstrariam isso agora, quando sabem que ele é um traidor. Faço uma
nota mental para perguntar sobre isso à Sirius mais tarde, porque não acho
que eles vão me responder agora.
"Então, Reg," Remus diz, chegando perto de mim. "Como vamos entrar
nessa prisão?"
74
"Mm... Eu poderia usar Alohomora para abrir as fechaduras..." Digo,
pensativo. "Mas a casa está enfeitiçada para esse tipo de feitiço não
funcionar..."
"Mamãe dá ordens para ele não abrir a essa hora." Respondo, ainda
pensativo.
"Ai!" Sirius grita. Muito alto. Mais alto do que o tom seguro para se gritar
em um momento assim.
"Shhhh!" Digo, colocando a mão na boca dele. "Você tá louco?! O que foi
agora?!"
"Não gosto de insetos, Reg," James diz, assustado. "É melhor irmos logo
com isso."
"Você quer que ela escute a gente?!" Repreendo os dois. Meu Deus, eles
parecem duas crianças.
"Eu não quero ouvir isso!" Digo, soltando ele rápido. "Merlim, como você
os aguenta?!" Pergunto indo até Remus de novo.
"Não quero ir para Azkaban por matar dois bruxos." Remus diz, dando de
ombros.
Estamos os quatro em frente à casa quando uma voz alta e esganiçada vem
de uma das janelas da mansão.
"Regulus, não pense que vou deixar você entrar nesta casa!" Minha mãe
grita, da janela de seu quarto. "Você acha que é quem para ficar fora até essa
hora, seu garoto insolente?! Quem está com você?!" Ela vai ter um ataque,
posso até ver.
75
"Encantadora." Ele responde.
"Me deixe entrar." Digo, seriamente. E então meu pai aparece na janela ao
lado dela e sussurra algo no seu ouvido. E aí vem os gritos...
"Oi, mãe!" Sirius entra na minha frente, acenando com as mãos e um sorriso
no rosto. "Sentiu saudades?!"
"Entre em casa agora, Regulus!" Ela me chama. "Você tem dois segundos
ou eu farei você não querer colocar os pés para fora nunca mais!"
"Sem a gente, ele não sai daqui, senhora Black." E então Remus se põe ao
lado de James.
"Acho que você tem um problema, mamãe." Sirius vai para o lado de Remus.
"E então?!" Vou para a frente dos três. "Como vai ser?"
Mamãe está soltando fumaça pelos ouvidos. Posso jurar que vi uma veia
saltar na testa dela. Estou com um mestiço, um Potter e com meu irmão na
porta da casa dela. Consegui transformar os piores pesadelos da mulher em
realidade. Tenho certeza que esse é o bicho papão dela. Ela desaparece da
janela do seu quarto e não a vimos mais.
"Tenho uma ideia." Digo para os três. "Mas vai fazer muito estrago."
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"É nossa especialidade." Sirius diz, com um sorriso no rosto, enquanto James
e Remus batem as mãos por trás dele.
"O que vamos fazer, Reg?!" James me pergunta, com um sorriso diabólico
no rosto. Hesito em responder, porque ainda não acredito que estou mesmo
fazendo isso.
"O "Juro Solenemente Não Fazer Nada De Bom" nunca foi tão literal como
agora." Remuz diz preocupado, mas empolgado.
"Quando você mandar, Reg." James prepara a varinha. Todos estão com as
varinhas na mão e aqui, no meio dos três, percebo há quanto tempo eu estava
com vontade de fazer isso.
"Dois..."
"Bombarda!"
77
"Kreacher!" Entro, passando por cima dos pedaços de madeira pulverizados.
"Kreacher, sou eu! Onde você está?"
"Reg, seus pais gostam bastante de preto, não é?" James diz, observando ao
redor.
"Não senti nenhuma falta desse lugar." Diz Sirius, derrubando uma estátua
pequena de uma serpente no chão.
"Ainda bem que não deixei você decidir a decoração da nossa casa," Diz
Remus, para Sirius. "Se isso estiver no sangue, eu teria dificuldade para
enxergar mesmo com os olhos de lobo."
"Saiam da minha casa!" Minha mãe vem em nossa direção, com os olhos
pegando fogo, com meu pai atrás dela.
"Ah, seu..." Papai começa, levantando a varinha para mim. Mas antes que
ele consiga completar o feitiço, James aparece.
"Expelliarmus!"
"Como você ousa?!" Minha mãe esbraveja. "Seu traidor de sangue sujo!"
"Eu não traio a minha própria família, senhora Black," James diz, soando
como se já tivesse rancores antigos com a minha mãe. Penso em quantas
vezes James ouviu os choros de Sirius por causa da mulher que está na frente
dele. "E eu não os torturo ou os puno como animais! Se há alguém suja aqui,
esse alguém é você!"
"Onde o meu elfo está?!" Pergunto. "Não vou perguntar outra vez."
78
"Ah, sou Remus," Remus se apresenta. "Remus John Lupin. Mas pode me
chamar só de.-"
"O namorado gostoso para caralho de Sirius Black." Sirius aparece, dizendo
essas exatas palavras na frente dos nossos pais. "Oi, mãe. Oi, pai." Ele sorri.
"Eu quero vocês fora da minha casa agora!" Minha mãe grita mais uma vez.
"Não vai dar não, Black pai," James responde, sarcasticamente. "Não até
acharmos o elfo."
"Regulus!" Minha mãe grita meu nome, me fazendo encará-la. "Se você não
tirar essas pessoas da minha casa agora, você terá o mesmo fim indigno do
seu irmão."
"Você não vai falar com ele assim na minha frente." Sirius se põe na minha
frente. "Não vai tratar ele como me tratou durante anos. Não vou deixar você
ferrar com a cabeça dele nunca mais, sua filha da puta!"
"Ora, seu..." Meu pai esbraveja em cima de Sirius, mas eu seguro seu braço.
"Você está escolhendo o seu caminho, Regulus Arcturus Black." Minha mãe
diz, me olhando ameaçadoramente.
"Sim, mãe, eu estou," Digo me soltando do meu pai e indo até ela. "Eu cansei
dessa merda. Cansei de você. Cansei da porra dos comensais, da porra dos
jantares formais, da porra da supremacia e da porra do Voldemort!" Estou
gritando agora. "Eu quase... Eu quase morri hoje, mãe! Eu quase morri
porque estava lutando por algo que você nunca vai enxergar! Você não vai
mais me manipular e eu não deixarei que você me diga o que eu posso ou
não fazer, o que eu posso ou não vestir, o que eu posso ou não comer... Eu
vou vencer esta guerra, mãe. Mas vou vencer do lado certo, vou vencer..."
Digo me aproximando de Sirius e pegando em sua mão. "Vou vencer com o
meu irmão."
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pessoa favorita no mundo. Como era quando eu tinha doze anos e como
nunca deixou de ser, por mais que eu quisesse. Levanto a manga da minha
camisa, pela primeira vez sem vergonha alguma, porque o que está no meu
braço não significa nada para mim.
"Isso," Digo mostrando o pulso para os meus pais. "Nunca definiu quem eu
sou. Sou eu quem defino." Olho para Remus de relance e ele pisca para mim,
porque lembra que ele quem me ensinou isso.
"Senhor Regulus?!" Ouço a voz de Kreacher no canto da sala e corro até ele.
"Kreacher!" Digo, com os olhos marejados. Nunca foi tão bom ver o meu
amigo.
"Eu estou aqui, Kreacher," Digo, o soltando. "Ele está com você?" Sussurro.
"Tire a meia."
80
"Tá!" Ele tira os sapatos e depois as meias, emburrado. "Aqui."
"Ah, ah, ah," James a interrompe, encenando que vai quebrar as varinhas se
ela fizer algo. "Nem pense nisso."
"Kreacher," Ele está chocado demais para me responder com palavras, mas
me olha bem nos olhos. "Pegue isto."
"Senhor Regulus..." Ele começa a chorar. "O senhor tem certeza disso?"
"Não sou seu senhor." Digo, seriamente. "Nunca fui. E não quero que você
tenha que ter um nunca mais."
"Você já fez tudo por mim..." Digo, sorrindo. "Agora, apenas me chame pelo
nome, ok? Você está livre."
"Livre..." Ele repete a palavra para si mesmo, para se convencer que é real.
"Kreacher é... Um elfo livre." Ele diz a última parte com convicção e se vira
com raiva para meus pais. "Kreacher não vai deixar encostarem nenhum
dedo em Regulus Black e seus amigos!"
E então Kreacher joga minha mãe e meu pai pelas paredes e todos nós saímos
correndo para fora da mansão, que está em sua boa parte destruída. Mas antes
que passemos pela porta, Sirius volta.
"Só mais uma coisinha!" E então ele agarra Remus pelo rosto e beija ele na
cara dos nossos pais. Tipo, ele beija ele de verdade. Tenho certeza que vi a
mão de Remus pegar na bunda dele. Mamãe e papai não podiam estar mais
paralisados. "Não que eu precise me assumir para vocês, mas eu sou gay!
Não só gay! Sou gay para caralho!" E então ele olha para mim e aponta. "E
o Reg aqui, ele também gosta de homem! Só que de mulher também, é algo
assim... Mas é! É isso aí"
81
"Sirius, pelo amor de Deus..." O puxo pelo braço para fora da mansão, mas
estou rindo por dentro. Porque não podia imaginar outra pessoa fazendo isso
além dele.
Nunca vou saber colocar em palavras as coisas que eu senti hoje. Mas eu sei
que o que quer que tenham sido, eu nunca as senti antes. Assim que
chegamos do lado de fora, aparatamos de volta para a casa de Sirius. Já está
quase amanhecendo e eu me despeço de Kreacher, dessa vez não para
sempre.
"Ei, amigo," Digo, sorrindo para ele. "Agora você pode ir para onde quiser."
"Kreacher sempre virá quando Regulus Black precisar dele." Ele diz,
orgulhoso. "É uma promessa."
E então eu o abraço. E ele aparata. Nasci com Kreacher, quase morri com ele
e agora estamos os dois livres, na mesma noite. Eu o verei de novo. Sei que
verei. Preciso mais dele do que ele precisa de mim.
"Eu estou indo para a casa, rapazes," James diz. "A noite foi divertida, mas
Lily deve estar à beira de um colapso."
"Eu direi... E, ah, só para vocês saberem," Ele diz, antes de aparatar. "Se na
minha despedida de solteiro, não explodirmos um prédio, abandono vocês
para sempre!" E então ele aparata, deixando eu, Sirius e Remus
gargalhando. Como pude um dia odiar James Potter?
"Depois de hoje, irmão," Digo, passando o braço pelo pescoço dele. "Não
reclamo de sermão nenhum."
Entramos na casa e apenas Andy está sentada no sofá. Faz tanto tempo que
não a vejo que quase não a reconheci.
"Ei, Andy! Quanto tempo não-" Digo, indo sorrindo até ela, mas ela levanta
do sofá rápido.
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"Graças à Merlim, vocês estão bem!" Ela me abraça e abraça Sirius, mas nos
solta.
"O que foi, Andy?!" Sirius percebe que ela está estranha.
"Do que você está falando?!" Pergunto, quase gritando porque estou ficando
realmente desesperado. "Ela está bem?!"
Andrômeda olha para cada um de nós três de cada vez e respira fundo.
Consigo quase ler a mente dela. Mas não pode ser, nunca me perdoaria se
fosse. As coisas não podem ter acabado de dar tão certo para isso acontecer
agora. Não, não, não...
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Capítulo 12: Juntos
FLASHBACK - 1972
Mas no fundo de sua mente, ele sabia. Ele sempre saberia que na sua
cerimônia de seleção, o chapéu seletor quis colocá-lo na Corvinal. A sua mãe
teria um ataque do coração e seu pai provavelmente o puniria de um jeito tão
horrível que ele teria que passar mais de uma semana com os curativos que
Kreacher fazia.
Definitivamente, não era uma opção, mas ele gostava de pensar na Corvinal
às vezes. Ele gostava mais de azul do que verde, isso era óbvio. Ele não
entendia porquê priorizar o poder ao invés da inteligência. Não achava que
ambição e orgulho eram virtudes maiores que inteligência e mente aberta, de
jeito nenhum.
Talvez a comunal da Corvinal fosse mais bonita. Ele teria que dar um jeito
de descobrir. Podia pedir emprestado a capa estranha que o amigo de Sirius
carregava sempre por aí, mas ele não achava que eles tinham intimidade o
suficiente para isso. Apesar de que, James e Sirius eram o tipo de pessoa que
podiam entrar em qualquer lugar e fazer o que quisessem sem ser pegos.
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Ele teve que seguir um aluno da Corvinal pelas escadas espirais que davam
até à sala. Assim que chegou perto da porta, ele se escondeu atrás de uma
parede e conseguiu ouvir o retrato dar um enigma para o aluno desvendar.
Se ele tivesse que fazer só isso para conseguir, não seria tão difícil. Regulus
era ótimo em descobrir as coisas.
"Ei," Ela disse, conseguindo vê-lo. "O que está fazendo aí?!"
"Não te interessa." Ele respondeu, porque precisava sair correndo dali se não
pegaria uma detenção e sua mãe o deixaria sem sair do quarto pelas férias
inteiras.
"Você podia ser mais gentil." Ela diz, cruzando os braços. "Afinal, não sou
eu que estou na porta de uma comunal que não é a minha e fora do horário
de recolher." Ela disse, arqueando as sobrancelhas.
"Bom..." A menina disse, pensativa com o dedo batendo no queixo. "E por
que você não vem até aqui e eu abro a porta, e então você pode ver melhor?"
"É sério?!" Regulus disse, arregalando os olhos, ele não entendia porquê
alguém que nem o conhecia estava sendo tão gentil.
"Sim!" Ela disse, sorridente. "Acho que não consigo que você entre porque
os outros alunos perceberiam... Mas com certeza posso abrir e então você
fica aqui onde eu estou e vê a parte de dentro, ok?"
Então, ele se pôs do lado da garota loira e ela não demorou muito para
conseguir desvendar o enigma que lhe foi dito. Assim que a porta se abriu,
Regulus se arrependeu por meio segundo de não ter deixado o chápeu colocá-
lo na Corvinal.
85
Era lindo. Era ampla, iluminada e graciosas janelas em arco pontuavam as
paredes, ladeadas por reposteiros de seda azul e bronze. O teto era pintado
com estrelas que se repetiam também no carpete. E ao contrário do lago
negro, os alunos conseguiam ter uma vista ampla das montanhas ao redor.
"Queria que você pudesse entrar para ver os dormitórios, eles são-" A menina
começou a falar empolgada e Regulus estava pronto para ouvir cada detalhe
do que ela iria contar, mas ela foi interrompida quando a professora
McGonagall apareceu dobrando o corredor.
"Vocês dois!" Ela estava vindo na direção deles. "O que vocês estão fazendo
nos corredores a essa hora da noite?!"
"Foi minha culpa, professora!" Ele disse. "Eu quis ver como era aqui e...
Bem, a culpa foi minha! Ela não fez nada a não ser estar aqui voltando para
a comunal."
"Volte para a sua comunal, senhor Black." Ela disse, os olhando por cima
dos óculos e depois indo embora, virando no fim do corredor.
"É porque você não a conhece." Regulus respondeu e se virou para ir embora.
86
No outro dia, Regulus saiu de sua última aula para ir até à detenção. Ele sabia
que receberia um berrador igual os que Sirius recebia quase toda semana,
mas ele não gostava de decepcionar as pessoas e sua mãe colocava
expectativas nele que ela não colocava no irmão mais velho. A ideia de
decepcioná-la era assustadora.
Regulus e a menina assentiram. Ele estava entediado e com sono, não via a
hora de poder voltar para o seu dormitório e dormir. E então, quando ele, a
professora e a menina estavam em completo silêncio, alguma coisa explodiu
do lado de fora da sala fazendo um barulho tão grande que os assustou.
"Quer apostar quanto que meu irmão está metido nisso?" Regulus sussurrou
para a menina, sorrindo.
"Quem é seu irmão?" Ela perguntou. E antes que ele pudesse responder, o
grito de McGonagall foi ouvido do corredor.
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"Sinto dizer que não acho que elas sejam o assunto das dele." Regulus disse,
sarcasticamente.
"Deixa para lá." Regulus respondeu. Ele estava muito cansado e decidiu se
espreguiçar na cadeira, o que foi uma péssima decisão porque as mangas do
seu uniforme abaixaram deixando seus braços à vista.
"O que é isso?!" A menina disse, segurando o braço dele e apontando para
uma série de cicatrizes finas e brancas na parte de cima do braço.
"Seus pais?" Ela perguntou e ele apenas assentiu com a cabeça. "É por causa
deles que você estava com tanto medo da detenção?"
"Mm, sim... Minha mãe... Ela não aceita muito bem esse tipo de coisa."
Regulus disse, olhando para baixo.
"Sim!" Ela respondeu. "E em troca, você pode não me meter mais em
problemas!" Ela disse, começando a gargalhar.
88
"Sou Pandora." Ela disse sorrindo, e segurando na mão dele.
1979
"Onde ela está?! Eu preciso ver ela agora!" Eu entrei aos berros pelas portas
do hospital.
Não podia estar acontecendo. Pandora foi torturada pela minha mãe e agora
perdeu uma filha sem nem mesmo conhecê-la porque estava preocupada
comigo bancando o herói. Ela estava nervosa por minha causa. Quantas
vezes eu vou arruiná-la assim? Eu sou um idiota. Eu não a mereço. Eu não
mereço a sua amizade ou a fé que ela passou todos esses anos tendo em mim.
Eu consegui destruir algo que ela amava. Como vou ser capaz de olhá-la nos
olhos? Como tenho coragem de ainda vir procurar por ela?
"Não encosta em mim!" Empurrei ele. "Não tenho tempo para isso agora."
Disse, entrando na recepção do hospital.
"Eu vou perguntar por ela." Remus se ofereceu, indo até uma enfermeira.
"Tentem não gritar em um local público, ok?"
"Você!" Ele veio até mim, com o dedo levantado. "Você fez isso! Você
destruiu tudo para ela!"
"Ei, cara, vai com calma aí!" Sirius disse, se colocando no meio de nós dois.
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"Acredite, Xenophilius," Eu disse à ele. "A única pessoa que me odeia agora
mais do que você sou eu mesmo."
"Isso não vai trazer minha filha de volta, seu babaca!" Ele continuou
gritando.
"Ei, Phil, vamos sentar ali," Remus o pegou pelo braço, o levando para outro
lugar. "Vem, cara."
"Vem cá," Sirius disse, segurando no meu rosto machucado. "Deixa eu ver
isso."
"Me solta!" Tirei a mão dele de mim. Eu não queria nenhum cuidado agora.
Não merecia.
"Por que você é assim?!" Agora Sirius estava falando alto. "Por que não
deixa as pessoas te ajudarem?!"
"Bom, foi por você pensar assim que eu quase perdi você hoje!" Ele diz, com
os olhos marejados.
"Eu tinha que estar aqui, Lupin!" Dane-se. Não ligo de gritar. "Eu devia estar
aqui! Com ela! Ela... Ela ficou comigo na história das horcruxes e... Ficou
comigo quando eu e Sirius brigamos..." Chorar e falar ao mesmo tempo não
90
fazia minha respiração melhorar. "Ela ficou comigo sempre! E eu não estava
aqui! Ela descobriu que eu ia morrer e não aguentou! Como vocês dois tem
coragem de me dizer que não foi minha culpa?!"
"Porque eu tenho certeza que ela não vai culpar você, seu idiota." Lupin me
disse, seriamente. Ainda me segurando. "Vão! Vocês dois lá para fora. Se
ela acordar eu aviso vocês. Vocês precisam esfriar a cabeça."
Eu saí do hospital logo atrás de Sirius, mas ainda sem falar com ele. Eu não
estava com raiva dele, eu não estava com raiva de ninguém além de mim
mesmo. Não acreditava na forma que a tratei quando fui embora da casa dela
naquela tarde. Na hora, pareceu a coisa certa a se fazer. Eu precisava magoá-
la para que ela me deixasse ir embora. Mas não a magoei o suficiente a para
ela parar de se preocupar comigo. Na verdade, acho que Pandora nunca vai
parar de se preocupar comigo.
"Eu nunca quis o seu mal, Sirius." Eu respondi. "Eu te odiei por ter ido
embora - não vou mentir. Mas eu te perdoei, então não posso continuar
guardando rancor. Desculpe por ter jogado isso na sua cara lá dentro."
Eu me senti um pouco atordoado enquanto dizia isso. Não era muita coisa,
mas nós dois sabíamos o peso daquelas palavras. Sirius sempre entendeu as
coisas que eu dizia.
"Mesmo assim," Sirius continuou. "Se você ainda estiver com raiva, tudo
bem. Ainda me sinto culpado por tratar você da forma que eu tratei, mesmo
quando sabia de tudo que acontecia dentro daquela casa. Acho que foi a pior
coisa que eu já fiz."
91
"Não precisamos falar sobre isso..." Eu me mexi, desconfortável. Eu estava
preocupado demais com Pandora para falar sobre algo assim.
Senti a perna de Sirius enrijecer do meu lado, vi sua mão tremer por um curto
momento.
Eu apenas acenei com a cabeça. Como eu poderia esquecer? Foi uma das
piores noites da minha vida junto com a noite em que achei que iria morrer
afogado. Sirius subiu as pernas para o banco, encolhendo elas junto aos
braços e continuou a falar, olhando para os próprios joelhos.
"Ela ameaçava me expulsar o tempo todo, você sabe. Ameaçava fazer todo
tipo de coisa. Mas até o momento em que eles começaram a se aprofundar
no Lorde das Trevas, eu nunca realmente acreditei nela."
Ele fez uma pausa, para respirar fundo algumas vezes. Eu estava prestando
muita atenção porque não queria perder nenhuma palavra, então ele
continuou bravamente.
"Eu sei que eles baniram Andy, mas mamãe sabia que nós ainda
mantínhamos contato e nunca tentou impedir. Então eu pensei - bem, eles
devem estar planejando perdoá-la algum dia, trazê-la de volta, porque ela era
da família. E foi arrogante da minha parte, mas eu nunca pensei que isso
fosse realmente acontecer comigo."
"Não, está tudo bem, não estou dizendo isso para dar alguma desculpa por
ter deixado você, ou algo do tipo. Eu só estou... Não sei, tentando explicar.
Depois eu fui morar com James, e tudo estava bem, sabe? Tipo... Eu me
92
sentia seguro e não tinha do que ter medo, Reg. Mas eu ainda sentia que ela
podia me pegar. Eu tive esses...pesadelos. Sei que parece estúpido."
"Então, eu senti que tinha que fazer algo para isso parar e não era como se
eu tivesse as melhores ideias. Você sabe como eu era - todo arrogante, agindo
como um idiota. Então eu achei que..." Ele apertou os olhos. "Eu achei que
se deixasse você... Se apenas deixasse você lá, eu pararia de me sentir assim.
Como se ela estivesse por perto o tempo todo. Eu odiei você quando você
aceitou a marca porque... Porque se eu não te odiasse, eu teria que me odiar
por deixar isso acontecer. E eu não ia conseguir viver comigo mesmo." Ele
me olhou timidamente. "Eu sei que isso não é desculpa e eu sinto muito, Reg.
Sinto de verdade. Foi... Egoísta."
Eu respirei fundo, olhando para frente agora e não para ele. Subi as pernas
no banco, como ele fez e me senti pela primeira livre para dizer exatamente
as coisas que eu sentia. Estava ouvindo de Sirius a explicação que sempre
quis e ele merecia ouvir a minha.
"Sempre foi a coisa mais importante, quando nós estávamos crescendo, não
é, Six? Lealdade à família." Comecei, ainda olhando para frente, mas vi que
ele percebeu que eu usei o apelido que eu costumava usar pela primeira vez
depois de muito tempo. "Eu sabia das coisas que mamãe fazia com você. Era
muito pior do que era comigo. Tinha os cortes e... Tudo aquilo. Mas - e eu
sei que parece estranho - eu nunca pensei que ela expulsaria você como
aconteceu naquela noite."
Respirei fundo de novo, porque não queria chorar dizendo aquelas coisas.
"Mas então ela expulsou. E eles já haviam nos punido tantas vezes que eu
pensei que sabia o que esperar. Eu achei que era como mais uma das
inúmeras outras punições e não faria diferença você sair de lá porque nós
continuaríamos sendo irmãos. Mas quando as aulas voltaram e eu vi você
com James... Senti que você não precisava mais de mim. E sei que isso sim
parece estúpido, mas eu me senti... Traído. Senti como se você não fosse
corajoso para aguentar tudo aquilo do meu lado, mas passaria por qualquer
coisa por James. Aquilo foi demais para mim."
Sirius estava olhando para mim e pôs a mão no meu ombro porque eu
claramente estava com os olhos brilhando e ele sabe que não gosto de ficar
assim na frente das pessoas. Então dei um sorriso forçado e continuei.
93
"E então veio a marca. No dia em que a recebi, eu nunca tinha ficado tão...
tão assustado." Eu estava olhando com raiva agora, para frente. "Eu odiava,
odiava me sentir daquele jeito e tudo que eu conseguia pensar, sozinho no
meu quarto, era como você teria se saído melhor, sido mais corajoso ou como
teria pensado em uma maneira de contrariá-los. Eu não deixei de contrariá-
los porque eu acreditava no que eles acreditavam, ou algo do tipo. Eu deixei,
porque... Porque eles eram a minha única família."
"Você não precisa me dizer isso, Reg..." Agora ele quem estava tentando
soar gentil.
Ficamos os dois em silêncio por uns minutos. Mas não foi um silêncio
desconfortável, era um tempo para a nossa cabeça absorver tudo que havia
sido dito e posto para fora.
"Sua desculpa é melhor que a minha." Sirius foi o primeiro a falar, dando um
sorriso e batendo com o braço no meu, me fazendo rir também. "Você sabe
que não foi sua culpa, não é, Reg?"
"Eu carrego comigo um... Um cristal que ela me deu quando nos
conhecemos. Ela sempre se metia em problemas por minha causa, mas eu
nunca deixava ninguém mexer com ela. Dei um soco em Mulcilber uma vez,
sabia disso?"
94
"Ele a chamou de vadia por não querer sair com ele. Filho da puta. Eu sempre
a protegi e ela sempre me protegeu. Eu a amo." Falei, sinceramente.
"Não, não é assim. Nós cuidamos um do outro. Como irmãos." Olhei para
ele. "Como eu e você." Ele deu um sorriso.
Pensei muito antes de realmente perguntar o que queria saber. Estava com
medo de tocar em um ponto delicado e não conseguir voltar atrás.
"O que vocês vão fazer?" Perguntei, tentando soar sutil. "Com Pettigrew."
"James sempre foi o elo. Nós quatro nos amávamos, mas James amava cada
um de nós mais do que nós mesmos podíamos imaginar. Então quando a
ficha dele sobre Peter caiu... Uma noite, fui até o quarto dele para fazê-lo
comer alguma coisa e ele estava chorando. Ele... Ele apenas me abraçou e
disse 'Padfoot, nunca minta para mim, por favor.' e então voltou a chorar. A
coisa afetou ele de verdade e tipo, pelo amor de Merlin... Quem é tão cruel a
ponto de magoar James Potter?"
"James não teria coragem de matá-lo. Ele é... Bom demais. Remus o mataria,
com certeza." Nós dois rimos, porque Remus é realmente sinistro quando
alguém ataca quem ele ama. "Mas eu... Eu não sei ao certo, acho que se ele
ameaçasse a vida de algum de nós, eu teria coragem de matá-lo... Tive
vontade quando vi suas memórias."
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"Você viu quando eu descobri." Afirmei.
"Sim. E quis matá-lo apenas por dizer à você que te odiava. Então acho que...
Que se a coisa tivesse ido mais longe e chegasse um momento em que ele
fosse culpado pela morte de algum de nós..." Ele fez uma pausa e assumiu
uma expressão furiosa. "Eu o mataria sem pensar duas vezes."
"Pode me chamar para a festa." Falei, tentando fazê-lo rir. "Eu adoraria
ajudar você com isso."
"Juntos, então, huh?" Ele disse rindo, mas senti que ele queria que eu
confirmasse.
Fomos distraídos quando Remus apareceu. Ele veio até nós no banco em que
estávamos.
"Pandora acordou."
"O que?!" Levantei de uma vez só. Esquecendo tudo e indo em direção ao
hospital.
"Reg," Remus segurou meu braço e respirou fundo. "Ela disse que não quer
ver você."
96
Capítulo 13: Mártir
Eu não me sentia estranho perto deles. O que era estranho é que eu me sentia
bem e completamente normal. Como se eu já estivesse ali há muito tempo.
Isso foi bom, porque me ajudou a aguentar a ideia de Pandora não querer
nunca mais falar comigo.
"E se ela não quiser falar comigo nunca mais?!" Pensei alto, em um tarde na
casa de Sirius, deitado em seu sofá.
"Moony, não seja mal!" Sirius gritou da cozinha, enquanto lavava a louça do
almoço..
"Não. Não vou fazer isso." Falei, balançando a cabeça. "Mesmo que me
deixe triste, é por um bem maior."
"Pare de ser um mártir." Remus levantou os olhos mais uma vez e os abaixou
de novo.
97
Remus não me respondeu. Eu sou um mártir? Acho que eu nem sei o que
isso significa. Continuei dentro dos meus próprios pensamentos auto-
destrutivos. Quase não percebi quando James e Lily apareceram na porta e
Sirius foi correndo abrir.
"Graças à Merlim, estava ficando difícil ouvir Regulus sem um desses." Ele
respondeu, pegando o chocolate. "Valeu, Prongs!"
"Lily," Chamei, fazendo-a olhar para mim. "Você acha que sou um mártir?!"
"Por que é que você acha isso?" Lily perguntou, se sentando no sofá e
colocando minha pernas por cima do joelho dela.
"Talvez você seja um pouco," Lily disse. "Mas isso não precisa ser algo ruim,
eu acho."
"Cara, você tá precisando relaxar, isso sim." James disse, passando por mim
e bagunçando meu cabelo. "Ei, Pads! Você sabe de Marlene e Mary? Não as
vejo desde o dia de mergulho de Reg." O comentário fez todos olharmos para
ele seriamente, até Sirius. "Muito cedo?"
"Não, está tudo bem," Eu respondi. "Não me importo com isso agora. Só
queria saber como ela está."
"O que você fez com o medalhão, Reg?" Sirius perguntou, vindo até nós.
"Dumbledore mandou uma carta. Haverá uma reunião da Ordem. Ele quer
saber sobre a horcrux."
"Tenho certeza que ele sabe até mais do que nós." Respondi. "Mas vai
esperar que falemos, para ele poder nos mandar resolver, então prefiro pular
para a última parte e resolver isso sozinho."
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"Não acho que devia fazer isso sozinho, Reg." James disse, me lançando um
olhar preocupado. "Quer dizer, sabe se lá o que essa coisa faz."
"Mesmo assim," Lily disse. "Acho que você deveria falar com Dumbledore
antes."
"Por que é que vocês confiam tanto nesse cara?!" Perguntei, me sentando no
sofá.
"Nós só achamos você por causa dele, Reg," Sirius disse. "E ele é o maior
bruxo que conheço."
"Só porque ele é velho e sabe frases motivacionais decoradas?!" Sabia que
eu estava sendo mal, mas o que Dumbledore poderia fazer que eu já não
tivesse pensado?
"Dê uma chance, Reg." Lily disse, sorrindo e batendo o braço no meu.
Posso ver porquê James gostava de Lily e passou todos aqueles anos atrás
dela. Lily não era só diferente de outras garotas, ela era diferente de todas as
outras pessoas. Ela tinha o dom de ver a bondade em outra pessoa até quando
ela mesma não via. Percebi isso na noite em que fui até os Potter. Ela foi a
única dos quatro que não insinuou que eu estava mentindo. Nunca esqueci
disso. Talvez porque eu não tenha entendido como ela viu tão fácil que eu
estava falando a verdade.
"Nem sei ainda como destruir aquela coisa." Respondi. "Tentei todos os
feitiços de destruição possíveis. Nada funciona."
"Bom, você deveria-" Remus começou a falar, mas foi interrompido quando
uma coruja apareceu na janela.
"Será que são as meninas dando notícias?!" Perguntou James, curioso. Sirius
se levantou para ir pegar a carta.
99
Remus levantou para ir até à janela e sua expressão ficou séria ao passar os
olhos pelo papel.
"Regulus,
Pandora."
"Ela me chamou pelo nome." Foi a única coisa que consegui dizer.
"Ela me chamou pelo nome. Ela nunca escreve para mim me chamando de
Regulus." Falei ainda olhando para a carta. "E sempre escreve 'com alguma
coisa' no final... você sabe, com amor ou coisa do tipo."
"É. Talvez."
Quando cheguei na frente da sua porta, não fazia ideia se deveria bater do
jeito que eu costumava bater. Provavelmente sim porque ainda é uma questão
de segurança. Mas parecia estar ultrapassando um limite, ou algo
assim. Odeio minha mente.
100
Decidi dar as batidas. Pandora acabou de perder uma filha, ela não vai ficar
com raiva da porra de umas batidas.
Xenophilius apareceu e eu estava pronto para outro soco na minha boca, mas
ele apenas olhou sério nos meus olhos e passou por mim. Ele estava triste. E
tudo bem ele me odiar. Tudo bem de verdade.
"Bem. Mm... quer dizer, eu acho." Meu Deus, eu estava tremendo. "Você...
está precisando alguma coisa? Vim correndo quando recebi sua carta."
"Bom, mas eu..." Comecei, indo sentar ao lado dela. "Eu sempre me
preocupo com você. Você sabe disso."
Não tive tempo para me sentar, antes mesmo de eu chegar perto da cadeira,
ela se esquivou.
"Por que não me deixa chegar perto?" Perguntei sinceramente. "Você... você
sabe que pode falar comigo sobre o que quiser."
"Sobre o que você quer falar?" Ela perguntou, quase sussurrando, olhando
para baixo.
"O que você quiser." Respondi, seriamente. "Eu... eu sinto muito pelo o que
aconteceu. Eu entendo se você me culpar ou não quiser me ver nunca mais
pelo o que fiz você passar... Entendo se me culpar pelo o que aconteceu com
ela." Falei, sem olhá-la nos olhos.
101
"Espere aí," Pandora me olhou de uma vez, com os olhos arregalados. "Você
acha que culpo você pelo o que aconteceu com ela?!"
"Ah, meu Deus, Regulus!" Pandora aumentou a voz. "Você acha que eu
culparia você por isso?! Droga, Regulus, você é inacreditável!"
"Então por que você não quis me ver no hospital?!" Eu estava realmente
confuso agora.
"Porque você me disse que não me queria por perto só para você ir lá e se
matar, Regulus! Você... você faz alguma ideia de como eu fiquei quando
você virou as costas e foi embora?!"
"Pandora, você tem que entender," Eu respondi. "Eu não fiz aquilo para
magoar você. Eu precisava fazer aquilo. Era necessário."
"Não." Ela levantou a mão e respirou fundo. "A gente se conhece desde o
primeiro ano. Eu cuidei dos machucados que a sua mãe fazia em você, fiquei
com você quando você perdeu Sirius e faria tudo de novo se precisasse. Eu
passei por cada merda com você que até Merlim duvidaria! Eu nunca saí do
seu lado. Nunca." Ela estava olhando nos meus olhos agora e minha voz
começou a ficar trêmula.
"Pandora," Comecei. "Eu não saí do seu lado, eu... eu nunca sairia do seu
lado, eu nunca deixaria você se não fosse preciso. Eu não tive escolha!"
"Mas eu tive, Regulus! Eu tive e escolhi ser sua amiga mesmo com essa coisa
no seu braço, mesmo você sendo parte de um grupo de bruxos das trevas que
mata pessoas como eu! Eu nunca cogitei a possibilidade de deixar você e
nem de ter que cobrar isso porque... porque eu achei que você sempre fosse
102
fazer o mesmo por mim." Ela começou a abaixar o tom da voz. "Você era o
meu melhor amigo e você partiu o meu coração."
"Eu acho que você achava que não tinha mais nada a perder, Regulus. Porque
você é assim. Você acha que não é merecedor das coisas e das pessoas e você
as afasta. Você fez isso com seu irmão e agora fez comigo." Ela respondeu,
sem olhar para mim.
"Eu juro, Pandora! Nunca mais vou fazer nada pelas suas costas. Vou te
mandar dez cartas por dia para avisar exatamente o que eu estou fazendo. Ou
se você quiser, vou todos os dias até a cabine telefônica da rua de Sirius e
ligo para você. Eu deixo você enfeitiçar todos os cristais que quiser por mim
e... e eu deixo você me ajudar em qualquer coisa! Só não... por favor, não
fique longe de mim."
"Eu sou." Afirmei. "Pense no estrago que eu faria sem você por perto."
Ela ficou pensativa por alguns minutos. Eu realmente não sabia se ela havia
me perdoado ou não. Eu precisava que ela perdoasse. Precisava de verdade.
103
"Destruir, talvez?! Espere um pouco," Ela disse. "Quando foi que você usou
além de hoje?"
"Regulus, você não vê?! Essa coisa mexe com você. Por isso você fez aquele
escândalo no hospital. Por isso você acreditou tanto que eu culpei você pelo
que aconteceu comigo. A culpa. Ela é seu ponto fraco." Ela explicou. "Isso
aqui deve trazer à tona algo no seu subconsciente... algo que realmente te
afeta."
"Eu não... eu não pensei dessa maneira." Eu realmente não havia pensado.
"Me dê isso aqui." Ela tirou o medalhão do meu pescoço e meu corpo pareceu
ter se livrado de uma carga de energia imensa. Como se algo estivesse
finalmente saído das minhas costas. "Se sente melhor?"
"Você precisa dar um jeito de destruir logo essa coisa. Precisamos achar as
outras." Ela disse, examinando o medalhão.
"Você vai levar anos para encontrar uma sem mim. E, bom," Ela abaixou a
voz e olhou para a própria barriga. "Não é como se eu tivesse algo para
proteger agora."
"Não. Não acho que eu consigo ainda." Ela disse, balançando a cabeça.
104
"Sirius diz que preciso falar sobre o medalhão com Dumbledore. O que você
sabe que eu acho uma perda de tempo, mas acho que vou tentar a sorte."
Digo, dando de ombros.
"É melhor tentar," Ela disse. "Até porque você não faz ideia de por onde
começar."
Pandora suspirou e olhou para a grama na nossa frente. Ela colocou um braço
por volta do meu ombro, deu um sorriso e disse. "Sim, Regulus Black, você
é a porra de um mártir."
***
Foi uma grande caminhada até a chave do portal, que acabou sendo um pato
de borracha amarelo, deixado no meio de um terreno de grama alta no final
de um dos campos ao redor de uma aldeia. Eu não me importava, eu gostava
de caminhar. Mas minhas pernas estavam começando a doer de verdade.
"Mal posso acreditar que você está aqui, Reg." Sirius disse maravilhado, mas
eu estava muito nervoso.
"Espero que eu não vomite até chegarmos onde quer que estejamos indo."
Comentei.
105
Quando levantamos, James nos levou para fora da sala por um corredor em
direção a uma cozinha. Frank e Alice Longbottom estavam na lá, preparando
várias xícaras de chá para quem viesse.
"Sim, obrigado." Ou ela era uma pessoa muito gentil, ou só não percebeu
quem eu era.
Ela serviu chá à todos, enquanto Frank preparava mais chá em vários bules,
e todos foram instruídos a irem para a parte de trás da cozinha para a reunião.
"É melhor não sabermos muito", respondeu James, "Vamos, eles estão
esperando!"
Eu não percebi muitas coisas, porque a sala estava lotada de pessoas. Deveria
haver vinte ou trinta bruxas e bruxos, reunidos em torno de uma grande mesa
de madeira, ou então de pé. Hagrid era o maior. Eu nunca tinha visto Hagrid
em lugar nenhum além de Hogwarts, que era tão grande que meio que
compensava o tamanho gigante dele.
"Regulus!" Mary veio até mim e me abraçou. Tipo, ela me abraçou mesmo.
"Você fica bem mais bonito do lado do bem, sabia?" Ela piscou para mim.
Ela... piscou para mim? Eu não tinha nenhum problema com isso,
obviamente. Mary era linda. Se ela quisesse me beijar, eu não iria reclamar
106
nenhum pouco. Mas achei que o tratamento seria diferente levando em conta
quem eu era. E levando em conta que ela era nascida trouxa.
"Ei, Regulus," Marlene também veio até nós. "Como você está? Ficamos
sabendo do que aconteceu.
"Ah, mm, estou bem, eu acho." Respondi, meio fora de lugar. "No fim, ficou
tudo bem,"
"Você deveria vir até em casa, Reg," Mary ofereceu. "Eu sou mais divertida
do que Sirius." Ela disse, dando língua para ele.
"Não me faça rir, ninguém é mais divertido que eu, Mary!" Sirius apareceu
por trás de mim, colocando os braços em volta do meu pescoço e sorrindo
para as duas.
Depois disso, alguém leu um pergaminho com o que foi falado na última
reunião. Eu não entendi nada. Todos pareciam falar em um código estranho,
e todos conversaram entre si, diferente das reuniões de Voldemort e que
apenas ele falava. Muitos nomes foram mencionados, pessoas em diferentes
cantos do país que eram aliadas ou que passaram para o outro lado.
Eu ousei olhar para Sirius, James e Remus, e fiquei aliviado ao ver que
estavam tão confusos quanto eu. Eles também não tinham muito tempo na
Ordem e não estavam familiarizados com tantos adultos fazendo coisa de
adultos. Em seguida, a lista de desaparecidos foi lida e Alice propôs um
minuto de silêncio.
Todos queriam saber o que Dumbledore estava fazendo, que progresso ele
havia feito. Progresso com o que exatamente eu não fazia ideia. Tarefas
também foram distribuídas, para Frank e Alice, para Andrômeda e Ted, para
107
Arthur Weasley. Todos acenaram com a cabeça enquanto Moody os
selecionava.
"Aqueles que têm que ir, vão", disse ele, calmamente, "Mandarei recado
pelos canais habituais em nossa próxima reunião. Precisarei me ocupar
agora, senhores." Ele se levantou com suavidade, as mãos sobre a mesa.
"Não fique tão nervoso, Reg, eu prometo que eles não vão torturar você."
108
"Como você está, Regulus?" Dumbledore perguntou.
"Você se sentiu bem hoje? Notei alguns olhares estranhos, fiquei apreensivo
de você ter se sentido desconfortável, talvez." Ele disse. "Apesar disso, a
senhorita MacDonald parece ter prestado bastante atenção em você."
"Eu, hm... acho que me senti normal," Menti. "E Mary é bem legal, apesar
de eu ser quem sou e ela ser quem é, ela foi gentil."
"Bom, Regulus, não há prêmios para adivinhar sobre o que quero conversar."
Ele disse, calmamente.
"É. Acho que ele gosta muito de mim para ter contado." Menti. Eu morreria
antes de contar que praticamente droguei um professor por informações.
"Imagino que sim." Ele continuou. "Regulus, espero que você entenda que a
tarefa que você está se disponibilizando a cumprir é algo muito importante e
muito perigoso também. Você será procurado por comensais da morte. Eles
o verão como um traidor, você entende isso?"
109
"Sim." Falei, sem hesitar. "Não vou pôr ninguém em risco, professor. Eu
prometo ao senhor."
"Sirius não deixaria eu fazer isso sozinho nem se eu quisesse, senhor. Não
depois do que aconteceu."
"Sim, me recordo. Isso não pode ocorrer de novo." Ele afirmou. "Além disso,
você vai precisar de alguém da Grifinória se quiser destruir essa horcrux e as
próximas que encontrar."
"Como assim?! Os únicos grifinórios que confio são Sirius e, bem, talvez
James e Lupin. E por quê preciso deles?!" Perguntei, confuso.
Então, Dumbledore puxou algo de baixo da cama em que eu estava. Era uma
capa grande e preta, com mais menos meio metro. Meus olhos se arregalaram
quando Dumbledore retirou de dentro uma espada grande e reluzente
vermelha e prata.
110
Capítulo 14: Plano
"E Reg," James disse. "Se você está dizendo que o herdeiro é o único capaz
de controlar o monstro... então, quem ele é?"
"Homens são tão lentos!" Pandora falou, pela primeira vez desde que chegou
aqui. "Vocês não entendem? É ele!"
111
"Voldemort. Lord Voldemort é o herdeiro de Salazar Slytherin." Ela
respondeu, nos encarando.
"Se for ele, tenho certeza que não vai ser fácil entrar. Deve ter algum tipo de
chave, código ou, sei lá... Com certeza, tem algo." Eu disse, ainda olhando
para a espada.
"Reg, você de todos nós é o que mais esteve na presença dele. Quer dizer, o
cara confiava em você, não é? Não tem ninguém melhor para fazer isso do
que você. Então, se conseguir lembrar de qualquer coisa... Podemos até sair
de lá com outra horcrux." Observou James.
"Reg, você não comentou uma vez comigo que Voldemort é ofidioglota?"
Pandora disse.
"Sim," Respondi. "Ele é. Ele carrega essa... cobra. Para tudo quanto é lado.
Nagini. Ele conversa com ela o tempo todo, já ouvi várias vezes."
"Salazar era ofidioglota também. Não pode ser uma coincidência." Remus
disse. "Você acha que consegue reproduzir alguma coisa?!"
"Não sei, talvez sim." Respondi. "Eu teria que tentar a sorte."
"Não sei se vou contar à Lily sobre isso." Disse James, seriamente. "Ela vai
querer ajudar e pelo o que você está dizendo, esse monstro matou uma
nascida trouxa e tenho certeza que não foi porque ele não gostou da roupa
dela."
112
"Não sei ainda. Talvez omitir. Não posso deixar que nada aconteça com ela."
Ele respondeu. "O casamento é daqui duas semanas. Por isso, se vamos fazer
isso, vamos fazer antes de eu me casar. Porque um namorado mentiroso é
uma coisa, um marido mentiroso? De jeito nenhum."
"É a Lily, Prongs. Você não vai mentir para ela." Remus prosseguiu. "Eu
conto. E a convenço a ficar. Sei que ela vai entender."
"Ok, ok," Sirius começou. "Vocês estão esquecendo duas coisas. Primeira,
como vamos tirar o veneno de um basilisco?"
"Isso." Assenti. "Vamos usar a espada de Godric. E além das varinhas, vamos
levar vassouras. Vai ser mais fácil fazer isso se pudermos sair do chão. E
vamos na madrugada, é mais seguro para os alunos... E tem mais uma coisa."
Dei uma pausa. "O basilisco pode matar alguém apenas olhando para a
pessoa."
"O quê?! Você tá brincando, né?!" Sirius arregalou os olhos. "Como vamos
lutar com uma coisa que não podemos ver?!"
Sirius estava certo. Isso seria mais difícil do que qualquer coisa que já
fizemos. Era perigoso - talvez até mais do que pegar o medalhão. Mas não
havia outra escolha. Precisávamos do veneno do basilisco se quiséssemos
que a espada funcionasse. Uma vez que conseguíssemos, destruir as
horcruxes seria fácil.
"Vamos dar um jeito, Sirius." Pandora falou. "Vamos ter que dar."
113
"Pode ser literalmente qualquer coisa..." Disse James, ainda correndo os
olhos pela espada.
"O que te mostrei a primeira vez que falamos sobre as horcruxes." Ela
respondeu. "Você lembra? Ele mudou de cor quando você o tocou, por causa
da marca."
"Não, funciona com objetos. Ele pode sentir quando algo impregnado com
magia negra está o tocando." Ela disse, se animando. "Vamos conseguir,
Reg."
***
Naquela tarde, fomos até o Beco Diagonal comprar uma vassoura nova para
Remus. Segundo ele, a dele acabou quebrando quando ele estava voando e
ela prendeu em uma árvore. James e Sirius tem uma teoria de que ele quebrou
de propósito apenas para não ter que treinar quadribol com os dois. O que
não me surpreenderia nenhum pouco porque James é o que se pode chamar
de obcecado. Eu diria que a única coisa que ele ama mais que quadribol é
Lily Evans. Bem, pensando bem, talvez não. Marlene, Mary e Lily nos
acompanharam até lá.
114
"Vocês estão sentindo esse cheiro?" Remus perguntou, o que nos deixou
confusos.
"Não sei, hm..." Remus continuou, distraído. "Deixa para lá, devem ser tantas
pessoas juntas no mesmo lugar."
"Ah, meu Merlim!" James gritou. "Lily, olha aquilo!" Ele estava apontando
para uma camiseta de quadribol autografada por sabe se lá Deus quem na
vitrine de uma loja.
"Potter, você deveria ir com calma, da última vez que entrou nessa loja, você
gastou todo o dinheiro que tínhamos acabado de pegar no Gringotes!" Lily
disse, o que fez eu, Marlene e Mary rirmos. Entramos todos na loja e James
foi correndo, igual a uma criança, até à camisa.
"Vou fazer nossos filhos usarem roupas de quadribol todos os dias, Lily."
Disse James, ainda admirando a blusa.
"Você não acha que deveria deixar eles escolherem os próprios times de
quadribol que vão torcer?!" Perguntou ela.
"Já vi que vou passar a tarde tendo que ouvir vocês dois falarem sobre
quadribol, mesmo eu não entendendo nenhuma palavra se quer." Mary disse,
sorrindo.
115
"Hm, sim," Respondi. "Tem mesmo um livro que preciso ver também..."
Eu estava andando no meio das duas, quando Lily cutucou meu braço e
sussurrou para mim. "Ei, Reg."
"Remus me contou que vocês pretendem ir à Hogwarts daqui a uns dias." Ela
disse, franzindo um pouco a testa. "Só queria dizer para tomar cuidado."
"Não se preocupe, não vou deixar nada acontecer com eles." Respondi,
seriamente.
"Eu estava falando de você." Ela disse, passando a mão no meu braço e
sorrindo amigavelmente.
"Ei," Mary nos chamou. "O que Remus quis dizer mais cedo com cheiro
diferente?!"
116
"Hm, tudo bem..." Eu não estava entendendo muito bem o que ela queria
dizer. "Ei, Mary! Não quero deixar Sirius andando por aí por muito tempo,
ele pode querer gastar toda a única herança que ainda temos."
"Eles estão ali." Falei para Lily e Mary, apontando para os dois.
Mas assim que demos o primeiro passo em direção aos dois, a Floreios e
Borrões que havia ficado um pouco atrás de nós explodiu completamente.
Vidro, madeira e tijolos voando por todos os lados e não demorou muito para
que uma gritaria de terror e horror da multidão começasse. O som de várias
pessoas aparatando ao mesmo tempo para longe do Beco Diagonal era
aterrorizante. Mas o pior ainda viria.
"Se abaixem!" Abracei Lily e Mary e joguei nossos corpos no chão, cobrindo
nossos rostos enquanto o Beco Diagonal era destruído.
Eu estava atordoado. Não sabia onde Sirius estava e nem os outros. Eu estava
com duas nascidas trouxas, se algo acontecesse à elas a culpa seria minha.
Eles estão me procurando? Eu estava confuso e completamente perdido,
apesar de saber exatamente o que estava acontecendo.
"Morsmorde!"
117
"São... são..." Mary estava agarrada à mim e não conseguia terminar a frase,
ela estava aterrorizada.
Segurei na mão de Mary e comecei a correr atrás de Lily que gritava o nome
de James por toda a rua. Minha marca estava ardendo no meu pulso. Se
algum deles a pegasse, ela estava morta. Eu não podia deixar nada acontecer
a nenhuma das duas.
"Reg... meu Deus, eu..." Sirius me abraçou com força e sussurrou no meu
ouvido. "Eu achei que eles tivessem vindo pegar você."
"Onde James está?!" Lily perguntou, gritando. Mas haviam muitos gritos.
"James? Ele não está com vocês?!" Sirius engasgou. "O que?! Não... ele...
James?!" Sirius começou a gritar, sua voz estranha e estrangulada de terror,
ele começou a querer correr e quase tropeçou. "Prongs?! James!" O grito
dele era quase tão alto quanto das outras pessoas.
"Sirius," Pus a mão nos ombros dele. "Não se preocupe. Vamos achá-los."
"Lily! Meu Deus... você... Não suma da minha vista de novo!" Remus a
abraçou forte. "Não posso perder você para eles... Nunca."
Haviam coisas horríveis escritas nas paredes como 'fora sangues ruins' e 'vida
longa à Lord Voldemort'. Senti vontade de vomitar quando minha marca
ardeu de novo. Sirius percebeu que eu estava mexendo no braço e apenas me
encarou. Não tínhamos tempo. Precisávamos achar os outros.
James e Marlene não haviam saído da loja de quadribol. Mas a loja não
existia mais. Apenas destroços e pedaços de madeira queimados. James
estava se escondendo atrás de um pedaço de madeira que havia se
desprendido do teto e estava segurando Marlene no colo, desacordada.
118
"Marlene!" Mary gritou, começando a chorar e se ajoelhando.
"Ela não está morta... ela desmaiou depois da explosão, acho que algo bateu
na cabeça dela, eu não sei..." James começou a explicar nervoso, e tremendo
também.
"James!" Lily apareceu, com alívio nos olhos, indo até ele.
"Regulus, acho que você vai querer ver aquilo..." Remus disse, da porta da
loja.
Uma parede que não havia sido totalmente destruída estava escrita.
***
119
"Tudo bem, tudo bem..." Pandora disse, os deixando entrar. "Ah, meu Deus,
você!" Ela se jogou no meu pescoço. "Você está bem?! Está machucado?!
Precisa de ajuda para andar?!"
"Eu senti o cheiro deles." Remus disse, olhando furioso para a frente. "Senti
o cheiro da magia negra deles, mas não quis acreditar que era isso."
"Regulus, sua marca, você..." Pandora veio até mim e segurou no meu braço.
"Ela está doendo? Você sentiu?"
"Eles escreveram que iam me matar." Pensei alto, não estava pensando em
falar de verdade. E todos me encararam.
"Lily!" Interrompi Pandora. "Se você estiver bem, aparate para onde Mary e
Marlene estão e nos mande notícias."
"E nós, Reg?" James disse, pondo a mão no meu ombro. "O que faremos?"
"Preparem as coisas de vocês," Falei, com ódio nos olhos. "Vamos voltar à
Hogwarts hoje."
120
Capítulo 15: Hogwarts
"Reg!" Gritou James, através do vento batendo contra nós. "Você sabe o que
vai fazer, não é?!"
"Que bom!" Ele respondeu. "Porque se eu morrer, acho que Lily vai matar
você!"
"Não, espere aí!" Falei, me soltando. "Por que eu deveria procurar ele?!
Temos tudo que precisamos!"
121
"Você está se esquecendo que foi Dumbledore quem te deu essa espada."
Disse Remus. "Dumbledore é o único em quem podemos confiar."
"Estamos aqui." James disse, vindo com duas vassouras e um cachorro preto
ao seu lado. "Sirius vai entrar como Padfoot, é mais fácil dele se esconder."
"Acho que galhos não são tão fáceis de esconder, Reg." James disse,
sorrindo. "Então, fazemos o que antes?"
"Não!" Pandora disse. "James, diga à ele para irmos até Dumbledore!"
"Por que não quer ir até lá, Reg?" Perguntou James, confuso. "Foi ele quem
te deu a espada."
"Tudo bem!" Falei, irritado. "Que droga, vocês parecem marionetes dele."
Resmunguei, e Pandora revirou os olhos. Sirius latiu.
"Mas se ele quase morreu, é porque fez alguma coisa errada." Remus disse.
"Quem garante que não vamos morrer hoje?!"
122
"Ah, pelo amor de Deus!" Sirius disse, voltando à sua forma humana.
"Somos cinco, dois querem ir até Dumbledore, dois não, então eu decido."
"Não, Moony, Prongs está certo... se foi Regulus quem arriscou a própria
vida para isso, então devemos seguir o que ele diz." Sirius respondeu.
"Remus também é mestiço e Sirius não está o impedindo de fazer nada!" Ela
respondeu, irritada.
"É porque nunca consigo impedir Moony de fazer nada, Pandora." Disse
Sirius.
"Pandora, amor," Falei, sorrindo e segurando em suas mãos. "Você pode, por
favor, apenas dessa vez, concordar comigo?"
Ela pensou antes de responder, e então disse. "Tudo bem! Mas vamos lá
assim que sairmos. Nenhum minuto a mais!"
"Se é que vamos sair..." Remus sussurrou, enquanto Sirius voltava a ser um
cachorro e nós entrávamos na escola.
123
Entramos pela parte dos fundos de Hogwarts, as portas principais estavam
fechadas durante à madrugada. Os corredores estavam escuros e tivemos que
tomar cuidado para não acordarmos os quadros.
"Acho que foi uma ideia ruim você vir como cachorro, Pads," Sussurrou
James. "Se Madame Norris ver você, teremos outro monstro para enfrentar
além do basilisco."
"Me sigam." Remus disse, tomando a frente. Passamos pelos corredores pelo
maior silêncio que conseguimos. James pisou em uma pata de Sirius sem
querer e o rosnado dele quase acordou um dos quadros. Que caos. Remus
nos guiou até uma sala no corredor do segundo andar. Era a sala de Filch.
"Chegamos."
"Por que estamos aqui?" Perguntei, ansioso. "Vamos logo com isso, Remus."
"Você não está pensando em..." James disse indo para o lado de Remus, com
um sorriso.
"Ainda não faço ideia do que estamos fazendo aqui." Falei, ainda apressado.
124
Pandora nos entreolhamos confusos. Não fazíamos ideia do que estava
acontecendo.
"Vocês nos fizeram vir até aqui por um pergaminho sem nada?!" Perguntei,
irritado.
"Regulus, meu cunhado," Remus disse suspirando, "Você está prestes a ver
nosso melhor trabalho."
"Então, vamos sair daqui, antes que ele acorde!" Pandora disse, saindo da
sala, nós fomos atrás. Assim que estávamos do lado de fora, ela perguntou.
"E então?!"
James deu um sorriso travesso e olhou para Sirius e Remus, apontando sua
varinha para o pergaminho amarelado e dizendo. "Eu juro solenemente não
fazer nada de bom!"
125
"Reg, não seja mal!" Pandora respondeu, ainda admirando o mapa. "É
simplesmente incrível!"
"Não tem como achar a câmara com ele, porque na época em que criamos
ele nem sabíamos da existência dela." Disse Remus. "Mas podemos achar o
banheiro feminino mais fácil nessa escuridão."
O mapa realmente era útil. Com ele, nós cinco podíamos ir a qualquer lugar
facilmente e sem nos perdermos. Não foi difícil chegar até o banheiro
feminino do segundo andar. Descemos as escadas mais próximas e seguimos
pelo corredor escuro até o banheiro. Ele não havia mudado nada. Eu esperava
que Murta fosse aparecer a qualquer momento como sempre fazia.
"Onde será que Murta está?!" Sirius perguntou, assim que chegamos.
"Ugh! Não fale comigo..." Ela me olhou, com raiva. "Me lembro de você no
ano passado... você e seus amigos sonserinos me chamaram de sangue-ruim
várias vezes!" Ela choramingou.
"O que?! Era isso ou Barty contaria aos meus pais." Falei, dando de ombros.
"Murta, eu preciso de um favor seu..."
"Não se preocupe, Moony, ainda sou todinho seu." Sirius disse, sorrindo
Sirius estava com as suas roupas de sempre. Ele estava com uma jaqueta de
couro, um jeans preto e seus coturnos. A varinha prendendo o nó feito no
126
cabelo e o mesmo sorriso travesso que ele tinha desde o dia em que nasceu.
Ele soltou o nó do cabelo, deixando ele solto e bagunçado, passou a mão por
ele jogando-o para trás e se encostou na porta do box, perto de Murta.
"Você sabe que sim, Murta... se eu pudesse, viria ver você todos os dias."
Ele disse, sorrindo e Murta estava absurdamente concentrada em sua boca.
"Murta, queria que você me respondesse uma coisa, você... pode fazer isso
por mim?"
"Pode me contar como foi que você morreu?" Sirius perguntou, parecendo
preocupado com ela.
"Foi aqui, neste banheiro mesmo!" Ela respondeu, parecendo como se ele
tivesse a elogiado. "Eu me lembro tão bem! Alguns alunos estavam caçoando
de mim... então eu vim para o banheiro feminino e me tranquei neste boxe
para chorar. E então ouvi alguém entrar... falando alguma coisa meio
engraçada, parecia em outra língua. Era um garoto. Quando fui dizer para ele
sair do banheiro feminino..." Murta, suspirou. "Morri."
127
"Não na pia..." Pandora disse, correndo até lá.
Examinamos toda a pia, por todos os lados, por dentro e por fora. E então eu
vi em uma das torneiras, uma cobra pequena gravada no cobre.
"Tudo bem. Regulus." Remus disse. "Você precisa lembrar agora. A língua
das cobras."
"Ei, Reg, olhe para mim," Sirius disse, segurando no meu rosto e me fazendo
olhá-lo. "Você é o cara que achou o medalhão, ok? Você é foda para caralho.
Você escapou de um monte de esqueletos e explodiu a casa dos Blacks! Você
vai conseguir, apenas... apenas tente."
"Vai ficar tudo bem, Reg." Pandora disse, segurando na minha mão. "Se isso
não der certo, vamos dar outro jeito. Sempre damos."
"Reg, se não for você, não vai ser ninguém." Remus disse, seriamente. "Nós
confiamos em você."
128
Olhei para todos os quatro de cada vez. Eles confiavam em mim. Eu tinha
que conseguir fazer isso. Não podia errar. Fechei os olhos e respirei fundo,
tentando lembrar das palavras que Voldemort usava para conversar com
Nagini. Abri os olhos e os fixei na torneira. Vamos, Regulus, diga...
"Abra." Foi o que eu escutei que disse na minha mente. Não deu certo. Falei
na nossa língua. Olhei para Sirius, esperando um olhar decepcionado. Mas
não foi isso que vi.
"Reg, isso foi assustador." Ele estava de olhos arregalados. "Nunca mais use
essa voz de novo."
A pia começou a se deslocar bem na nossa frente. Até que sumiu de vista,
deixando um cano enorme exposto, grande o suficiente para uma pessoa
passar por ele.
Sirius passou primeiro. Depois Remus, atrás dele. E então, James. Dei um
olhar preocupado para Pandora, e ela apenas assentiu e passou também.
Antes de eu ir, olhei para Murta que ainda estava no boxe do banheiro.
"Murta." Chamei, e ela apenas me olhou. "Eu sinto muito. Você não... não
merecia."
O cano era muito escorregadio e escuro. Parecia não ter fim nunca. Tinham
outros canos, mas nenhum tão largo assim.
129
"Vocês estão percebendo que o cano está indo cada vez mais baixo?!" Sirius
observou.
Até que nós cinco caímos em uma superfície úmida e viscosa em um chão
de um túnel escuro, mas grande o suficiente para ficarmos de pé. Estávamos
todos sujos de limo e cheirando mal. Começamos a andar pelo chão molhado
do túnel para ver até onde ele dava.
"Eu lavo para você depois, Padfoot. Vamos focar aqui." Remus disse.
"Se lembrem de que não se pode olhar nos olhos dele." Remus disse. "Então,
até darmos um jeito de cegá-lo, fechem os olhos."
"Alguém tem que voar por cima do basilisco e furar os olhos dele." Pandora
explicou. "É o único jeito."
"Tem que ser um de vocês três." Respondi. "A espada não vai responder à
mim ou à Pandora. Tem que ser alguém da Grifinória. O mais digno, algo
assim."
130
"Na verdade, eu estava pensando em você, James." Falei. E isso o deixou
sem palavras. Não era mentira. James era provavelmente a pessoa mais
heroica que eu conhecia. Se alguém um dia salvaria o mundo, esse alguém
era James Potter.
Assim que dobramos mais uma curva, encontramos uma parede com duas
cobras de pedra entrelaçadas e duas esmeraldas em seus olhos.
"Reg, acho que você vai precisar fazer aquilo de novo." Pandora disse, mais
séria do que o normal.
Era uma câmara muito comprida com várias colunas de pedra. O lugar era
decorado por estátuas de cobras e uma luz esverdeada iluminava o local, o
que me lembrava a comunal da Sonserina.
"Moony, acho que aquele cobra olhou para mim." Sirius sussurrou.
"Você está bem?" Sussurrei para Pandora, ainda segurando na sua mão.
"Estou, só... esse lugar tem uma energia estranha." Ela disse, pegando o
cristal em seu bolso. "Viu? Está vermelho. Tem muita magia negra aqui..."
131
"Não se preocupe. Vai ficar tudo bem." Tranquilizei, mas na verdade, não
fazia ideia.
Continuamos avançando até o último par de colunas, havia uma estátua alta
com um rosto esculpido nela. Com uma barba esculpida e longas vestes que
iam até o chão.
"Tudo bem, peguem as varinhas de vocês." Disse aos quatro. "E peguem as
vassouras. Não sei como isso aqui vai ser, mas temos que estar preparados."
"Reg, você disse que só o herdeiro pode controlar o basilisco..." Sirius disse.
"Sim."
"Então, se ele aparecer... ele estará sem controle algum?!" Ele continuou.
"Basicamente."
"E se ele estiver escondido," Remus falou. "E precisarmos chamá-lo, algo
assim?"
"Não sei que parte do 'eu não sou ofidioglota' vocês não entenderam, mas
vou repetir," Falei, ironicamente. "Não sou ofidioglota."
"E eu digo o quê?! 'Vem aqui, cobrinha bonitinha'?! Pelo amor de Merlin!"
Falei, irritado.
"Regulus." Sirius disse, pondo a mão no meu ombro. "É o único jeito."
132
Os próximos minutos que se seguiram foram estranhos. Tentei várias vezes,
e não consegui nada. Era engraçado pensar que eu estava tentando chamar o
provável motivo da nossa possível morte. Muitas palavras se formavam na
minha mente, algumas saíam em uma língua estranha, a maioria na nossa
língua. Até que o rosto de Salazar Slytherin começou a se mexer.
"É só eu que estou vendo esse cara abrir a boca?!" Sirius disse, aterrorizado.
"Acho que tem alguma coisa... alguma coisa dentro da boca dele..." Pandora
disse, chegando perto.
Era isso.
"Pra trás! Agora!" Gritei, quando uma coisa grande e comprida começou a
escorregar para fora da boca da estátua.
Remus, Sirius e James fizeram um toque com as mãos. Remus e Sirius deram
um beijo intenso e rápido. Olhei nos olhos de Pandora e ela apertou minha
mão, subindo na sua vassoura em seguida. Dei uma última olhada à Sirius e
assentimos um ao outro. Estava na hora.
"SIRIUS!" Gritei, minha voz estrangulada de terror, enquanto via meu irmão
cair no chão e a cobra se virando em direção à ele.
133
Capítulo 16: Três
"Regulus, não!" Pandora gritou. A voz dela ecoou no fundo da minha mente.
Nada importava agora. Tudo aconteceu dentro de apenas um único segundo.
"Sirius, volte para a sua vassoura!" Pandora gritou. "James e Remus não vão
conseguir fugir dele por tanto tempo!"
Não podíamos olhá-lo nos olhos, seguímos seu movimento apenas olhando
para o corpo e o ouvindo deslizar pelo chão molhado. Remus quase caiu da
vassoura três vezes, ele lançava olhares preocupados para Sirius o tempo
inteiro, devia estar o incomodando muito não poder correr até ele para se
certificar de que ele estava bem.
"É meio difícil quando não faço ideia de onde os olhos dele estão!" Ele gritou
de volta.
"Você pode voar por trás da cabeça dele, não vai precisar atacar pela frente!"
Remus gritou.
"Moony, saia da aí!" Sirius gritou, aterrorizado. "Prongs, você precisa acertá-
lo!"
134
"Estou tentando!" James gritou de volta.
Remus apertou os olhos e desviou tão rápido em sua vassoura que quase caiu
pela quarta vez. O basilisco mataria todos nós facilmente, mas ele parecia
não estar tão preocupado comigo, Sirius ou James. Ele estava mais focado
em Remus, e agora que ele havia desviado tão rápido, a cobra virou-se na
direção de Pandora, com a boca escancarada, grande o suficiente para engoli-
la inteira, cheia de dentes compridos e pontiagudos, cheios de veneno.
"Pandora! Ele está indo até você!" Gritei alto, me segurando para não ir até
ela. Precisávamos ficar todos o mais separados que pudéssemos. Mas não
consegui, não conseguia ver ela em perigo. Voei até onde ela estava e ela
gritou.
"Reducto!" Pandora apontou com a varinha para cobra, com os olhos fixados
em seu corpo. A cobra ficou atordoada por alguns segundos, e então voltou
à perseguir Remus na outra direção.
"Por que essa coisa está mais preocupada com eles dois?!" James gritou,
desesperado.
Sirius não pensou duas vezes. Ele foi, impulsivamente, de uma só vez em
direção à Lupin, que desviava da cobra sem fazer ideia de onde ela realmente
estava. Sirius estava com tanta raiva nos olhos, que o olhar dele estava quase
tão mortal quanto o do monstro. Sirius era muito imprudente se tratando de
quem ele amava. Um dos dois morreria.
135
"James, agora!" Eu e Pandora gritamos em uníssono. James assumiu uma
postura raivosa e voou bravamente até o basilisco que estava atrás de Remus
e Sirius. Ele pairou por cima da cabeça da cobra, tentando fixar os olhos em
qualquer lugar que não fosse seus olhos. Ele levantou a espada no ar no
momento em que a cobra escancarou a boca na direção de Sirius, e desferiu
um golpe em seu olho direito e logo depois, no seu olho esquerdo.
"Boa, Prongs!" Sirius disse, voando de volta até mim e Pandora. Os olhos do
basilisco se inundaram de sangue, o rabo da cobra chicoteou não acertando
James por pouco, e antes que eu pudesse fechar os olhos de novo, a cobra se
virou para mim - olhei direto para o seu rosto, e os dois olhos, antes amarelos
e vivos, estavam perfurados. O sangue escorria pelo chão e a cobra sibilava
de dor.
Sirius me olhou tão assustado que, por um segundo, pareceu o mesmo garoto
de quinze anos que tinha medo dos próprios pais. Odiei ver aquele olhar mais
uma vez. Sussurrei um 'vai ficar tudo bem' para ele. E ele assentiu, com os
136
olhos cheios de lágrimas. Se perdêssemos James, não sei do que Sirius seria
capaz.
"Isso é pela mulher que eu amo, seu desgraçado!" James gritou, enquanto o
basilisco abria a boca para atacá-lo às cegas, James subiu um pouco mais de
onde estava e colocou todo o seu peso na espada, a enfiando no céu da boca
da cobra. O basilisco sibilou alto de dor, enquanto tombava para o lado. Até
que finalmente caiu, fazendo um barulho estrondoso no chão.
"Eu amo você." Remus disse, alto e em bom som, segurando o rosto de Sirius
com as mãos e o beijando. Todos aplaudimos, sorridentes, e eu passei um
braço por trás de Pandora, que tinha os olhos molhados de emoção, e o outro
braço por trás de James que estava... estava....
"James!" Gritei, quando ele começou a cair devagar no chão, com os olhos
quase fechando.
"Prongs!" Sirius gritou, com os olhos aterrorizados, ele e Remus vindo até
onde ele estava.
"O braço dele." Pandora disse, rasgando a manga da camisa de James. "O
basilisco deve ter conseguido enfiar o dente na hora que ele o matou!"
137
"Alguém faz alguma coisa!" Sirius gritava, desesperado. "Prongs... Prongs,
você vai ficar bem, ok?! Não vou voltar para casa sem você, seu bastardo!"
Ele segurava James nos braços, enquanto gritava e chorava ao mesmo tempo.
"Prongs, ei," Remus disse, enquanto segurava a mão de James. "Vai ficar
tudo bem com você, você... você ainda tem que se casar e... e ter filhos com
Lily. Você precisa... precisa ficar vivo, ok?! Por favor... só..." Ele não
conseguiu terminar, porque começou a chorar também.
E então minha mente clareou. Eu não queria ir até lá no início porque não
achava que era preciso, mas agora não tínhamos escolha. Era isso ou nada.
"James, escute," Falei, olhando para o rosto atordoado dele. "Segure isso."
Entreguei o cristal que Pandora havia me dado quando nos conhecemos.
"Não solte. Vai amenizar a dor até chegarmos na sala de Dumbledore. É algo
muito importante para mim e me ajudou diversas vezes... Você vai ficar bem,
cara, ok?! Você chegou até aqui e não vou deixar você morrer agora. Você
ainda tem muitas piadas para fazer sobre o meu mergulho, hein?!" Falei
tentando sorrir e ele sorriu fracamente, tossindo logo depois.
"Aqui, Reg!" Pandora veio até mim, com um frasco grande cheio. "Encontrei
isto no chão, acho que foi o que entrou no braço de James." Ela disse, com
uma presa enorme e pontiaguda na mão.
"Pandora, isso... isso pode destruir uma horcrux." Disse, ansioso, retirando o
medalhão do meu bolso e Pandora assentiu.
138
pingente. Todos nós olhamos aterrorizados quando uma sombra negra de
mais de dez metros começou a ocupar a câmara, vinda de dentro do
medalhão.
"Vamos!" Gritou Pandora, me puxando para a saída. "Temos que sair daqui
agora!"
***
Nunca havia pagado tanto a minha língua como quando chamei aquele mapa
de pergaminho qualquer. Sem ele, teria sido bem mais difícil acertar a sala
de Dumbledore de primeira. O mapa do maroto salvou a vida de James.
Dumbledore, que estava sentado em sua mesa, franziu o cenho quando viu
seus cinco ex alunos entrando repentinamente em seu escritório e se levantou
rápido quando viu o estado de James.
"O que houve com ele?!" Perguntou Dumbledore, enquanto Remus e Sirius
colocavam James em uma cadeira almofadada.
"O braço dele está sangrando, o senhor não está vendo?!" Perguntei, irritado.
"Professor, por favor," Disse Remus, com o rosto molhado. "Tem que ajudá-
lo."
"James, não feche os olhos," Disse Sirius, com a voz trêmula de tanto chorar,
olhando para James. "Tem que ficar acordado, ok?!" E então ele se levantou
e olhou Dumbledore nos olhos. "Não vou voltar para casa sem meu melhor
amigo, Professor."
"Tudo bem, tudo bem, me deixem vê-lo." Dumbledore disse, nos afastando
de James. "Por que não foram à Madame Pomfrey?!"
"Ah, claro!" Falei, realmente irritado. "Olá, Madame Pomfrey, lembra mim?
Acabei de matar a porra de um basilisco de quase dez metros e destruir uma
139
droga de horcrux, mas meu amigo foi envenenado quando tentou matar a
coisa e está morrendo e agonizando, está com a agenda livre para ajudá-lo?
Pelo amor de Deus!"
"Regulus, por favor!" Pandora disse, tentando me acalmar. "Você tem que
pensar com a cabeça, ok? Não adianta tratar ninguém assim!"
Dumbledore foi até uma gaiola grande e dourada ao lado de sua mesa. Havia
uma ave grande e com asas vermelho vivo. Ele abriu a gaiola e ela voou
lindamente pela sala. Teria sido um espetáculo e tanto se não estivéssemos
todos à flor da pele. E então, ela pousou no braço da poltrona e começou a
pingar lágrimas pequenas no ferimento de James.
"Não vá se apaixonar mais pela ave do que por mim, Moony." Sirius brincou,
sorrindo fracamente.
"Meus óculos... estão quebrados." Ele disse, sorrindo. "Lily vai me matar."
140
Todos sorrimos de alívio. E Dumbledore colocou a ave de volta na gaiola,
com carinho e cuidado. Sirius ajudou James a se sentar direito e tudo pareceu
estar bem novamente.
"É, Regulus, por que não viemos?!" Pandora disse ironicamente, cruzando
os braços e se virando para mim. Todos me olharam, esperando uma
resposta.
"Vejo que você ainda tem uma certa dificuldade em pedir ajuda, não é,
Regulus?" Dumbledore perguntou, com um sorriso calmo.
"Pelo menos, eu estou vivo." James disse, olhando para a frente. "Agonizar
é uma merda."
"Tenho uma coisa para mostrar à vocês." Dumbledore disse. "Pandora, você
está com o cristal aí, não está?"
141
"O que é isso, professor?" Sirius perguntou, enquanto cercávamos a mesa de
Dumbledore.
"Merda, até o nome dele parece ser de alguém do mal." Sirius comentou.
"Filha, pegue o seu cristal, por gentileza." Dumbledore pediu à Pandora que
assentiu e o deu à ele. Não levou muitos segundos para o cristal assumir sua
cor vermelho vivo. "É uma horcrux." Afirmou Dumbledore.
Foi horrível. Afinal, os objetos não eram apenas objetos comuns. A energia
ruim que emanava no local assim que Dumbledore partiu o anel era
inexplicável. Eu e James abraçamos Pandora e Remus cobriu o rosto de
Sirius quando o anel foi destruído. A sensação que tínhamos era de que
142
precisávamos proteger quem quer que estivesse perto daquela coisa. Era
assustador.
"Talvez, três, senhor Potter." Disse Dumbledore. "Se forem... espertos!" Ele
disse a última parte sorrindo e fixando os olhos em Pandora.
"Regulus, lembra que lhe disse que devia procurar por objetos que tenham
algo a ver com as casas de Hogwarts?" Dumbledore perguntou e eu assenti.
"O medalhão era de Salazar como podemos ver, então o da Corvinal poderia
ser..."
"O que diabos é um diadema?!" Perguntou Sirius, olhando para James que
deu de ombros porque também não sabia.
"É uma tiara, Padfoot." Remus explicou. "Algo como uma tiara, uma coroa,
algo para se pôr na cabeça."
143
***
"Posso ir com você." Disse. "Nós vamos e tentamos falar com ela."
"Uma horcrux! Não posso acreditar que ele desrespeitou tanto assim um
objeto valioso da Corvinal!" Pandora disse, irritada. "Aquele diadema é uma
relíquia."
"Acho que Voldemort não liga muito para valor sentimental." Sirius disse.
"Vamos, é logo ali." Disse Remus, com o mapa na mão, enquanto virávamos
o corredor até à torre da Corvinal.
A única vez em que estive aqui foi quando eu tinha onze anos e falei com
Pandora pela primeira vez. A Corvinal sempre seria fascinante para mim,
nunca deixou de ser mesmo depois de todos esses anos. Se eu tivesse tido a
coragem que tive atualmente para confrontar meus pais, talvez tivesse vindo
para cá. Mas seria sempre apenas um sonho de criança.
James, Remus e Sirius ficaram vigiando do lado de fora, para garantir que
ninguém apareceria e eu e Pandora entramos.
144
"Seja gentil, Reg." Pandora me alertou.
Helena parou, flutuando a alguns centímetros do chão. Ela era muito bonita,
seus cabelos batiam até à cintura e seu vestido batia no chão, apesar de ter
um ar arrogante e orgulhoso.
"Por favor, eu..." Comecei. "Preciso da sua ajuda. Preciso que me diga
qualquer coisa que saiba sobre o diadema perdido."
"Não vou poder ajudá-lo." Ela disse, diretamente. E virou-se para ir embora.
"Helena, não queremos abusar da magia que existe nele." Pandora disse,
suavemente. Ninguém era mais gentil que Pandora. "É sobre Lord
Voldemort... sobre derrotá-lo."
"Não vamos usá-lo. É uma longa história, mas você precisa nos contar o que
sabe." Pandora respondeu.
Helena ficou quieta por um tempo, até que finalmente começou a falar.
Parecendo muito desamparada, ela contou sobre ter roubado o diadema de
sua mãe quando ainda era viva. Ela queria ser melhor que ela, então o roubou
e fugiu de Hogwarts. A mãe, na vontade de vê-la pela última vez, mandou
o Barão Sangrento ir atrás dela, mas ele, em um ataque de fúria a matou e
logo depois, se suicidou.
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"Escondi o diadema de minha mãe no oco de uma árvore." Ela disse,
terminando a história.
"Na Albânia." Ela respondeu. Ela estava mais aberta a mim, como estava
com Pandora. E só então depois entendi o porquê ela não confiara de
primeira em mim.
"Eu não fazia ideia... ele era... lisonjeador... Parecia realmente se solidarizar.
Realmente entender..."
"Pandora, eu amo você!" Gritei, dando um beijo na testa dela com força.
"Obrigado, Helena! Muito obrigado!" Nos despedimos, saindo da torre
correndo de volta para os meninos.
"Se nenhum estudante achou, não está na torre da Corvinal, então em que
parte do castelo está?!" Sirius perguntou, depois que contamos aos três o que
descobrimos.
"Tem que ser um lugar que Voldemort realmente achou que nunca seria
encontrado." Remus disse, pensativo.
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"Temos que pensar!" Falei, enquanto andávamos apressadamente por
Hogwarts, para onde, eu realmente não sabia. "Um lugar onde Voldemort
achava que ninguém descobriria..."
"James, eu beijaria você agora se você não estivesse noivo!" Falei, passando
correndo por James, que corou bastante, sendo seguido pelos quatro.
Descemos as escadas até onde ficava a Sala Precisa.
"Ele é presunçoso o suficiente para achar que só ele sabia." Falei, olhando
para o meu relógio. "Está quase amanhecendo, precisamos acabar com isso
antes que os alunos acordem."
"Accio diadema!" Remus tentou, mas em vão. Acho que aqui as coisas
funcionam de maneira diferente.
Passamos por muitos objetos estranhos, pilhas de tralhas e coisas que já não
tinham mais utilidade. Até que passamos por um armário velho e
147
empoeirado, com uma estátua de um rosto acima dele e uma tiara linda e
reluzente, com uma safira azul em uma forma oval.
"Pandora, pegue o cristal!" Falei, enquanto Remus, que era o mais alto, subia
em cima das tralhas tentando pegar o diadema. Estava aqui, na nossa frente,
eu mal podia acreditar.
"O quê?!" Ela disse, com os olhos arregalados. "Não, Reg, você..."
"Pandora, faça justiça pela sua casa." Falei, a olhando diretamente nos olhos.
"Destrua essa coisa."
E então, ela assumiu uma postura altamente corajosa, quase assustadora. Ela
pegou o diadema da minha mão e olhou para cada um de nós. Nós assentimos
e ela pegou a presa do basilisco do meu bolso, ainda me encarando. Eu estava
começando a ficar intimidado. Com ódio nos olhos, ela pôs o diadema no
chão e se ajoelhou em sua frente.
"Temos que ir! Agora!" Falei, os empurrando para fora, enquanto a sala era
tomada pela névoa escura e maligna. Três horcruxes foram destruídas.
Estamos chegando perto, Voldemort. Vamos matar você. Isso é uma
promessa.
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"Ei, gente," Falei, chamando a atenção deles, e todos me olharam, prestes à
voar. "Quando chegarmos em casa, eu preciso ficar bêbado para caralho."
149
Capítulo 17: Aceito
"Sou o padrinho, Moony! Sou talvez até mais importante!" Sirius gritou, de
volta. "Reg, você está pronto?!"
"Não demora muito para se colocar um terno," Respondi, indo até o quarto
dos dois. "Não sei porquê você está demorando tanto, Sirius!"
"É por causa..." Disse Sirius, se virando para nos mostrar seu rosto. "Disso."
Ele deu um sorriso de orelha a orelha, mostrando que havia passado alguma
coisa preta na parte de cima do olho.
"Você está lindo, Pads. Como sempre..." Disse Remus, o abraçando por trás
e tentando arrastá-lo da frente do espelho.
"É melhor irmos, ainda temos que passar na casa de James e a cerimônia é
às cinco horas!" Disse, chamando a atenção dos dois.
"Tudo bem, tudo bem!" Sirius se rendeu, saindo do quarto, sendo seguido
por Remus e depois por mim. "Esperem aí, esperem aí..." Ele arregalou os
150
olhos, com a mão na maçaneta da porta e nós o encaramos. "Acham que eu
deveria mudar o cabelo?!"
Nas semanas que se passaram depois que fomos à Hogwarts, não tivemos
nenhuma pista do que poderia ser a horcrux da Lufa-Lufa. Eu planejava falar
com o marido de Andrômeda sobre isso. O problema é que eu não fazia ideia
se Ted fazia parte das pessoas que eram gentis comigo apesar da marca ou
das pessoas que me olhavam torto sempre que eu estava por perto. Espero
que a primeira opção.
Aparatamos para a casa de James depois que Sirius finalmente decidiu sair
pela porta de casa. O jardim estava todo decorado com mesas cobertas com
panos brancos de seda e arranjos de flores vermelhas em cada uma, o altar
era logo depois das mesas com lírios flutuando formando uma curva em cima
de quem estivesse lá, havia uma banda tocando David Bowie e o senhor e a
senhora Potter estavam recebendo carinhosamente todas as pessoas que
chegavam.
"Sirius, meu bem!" A senhora Potter disse, colocando a mão em seu rosto.
"Graças à Merlim, vocês chegaram!"
"Achei que ele estaria cantando com a banda de tão empolgado." Comentei,
sorrindo.
151
"Ei, Prongs," Remus disse, batendo na porta do quarto de James. "Somos
nós, podemos entrar?"
"Não! Reg, eu... eu quero que você fique..." James disse, o que me deixou
surpreso, mas eu apenas fechei a porta e entrei.
James estava sentado na cama, sem seu paletó. Ele estava com os braços
apoiados no joelho e encarava o chão como se sua vida dependesse disso.
Tinha alguma coisa errada.
"Ei, cara," Chamei, pondo a mão em seu ombro. "Você está bem?!"
"Se você estiver desistindo, chuto seu saco até você dizer já chega." Remus
disse, seriamente. O comentário fez James finalmente levantar a cabeça,
como se a ideia de desistir de se casar com Lily o ofendesse mais que
qualquer coisa.
"É obvio que não, Remus." Ele respondeu. Acho que fui o único que percebi
que ele não o chamou de Moony, mas preferi ficar quieto. Definitivamente
ele estava estranho.
"Sabem, eu sempre soube que casaria com ela," Ele começou, sorrindo
fracamente. "Planejo este dia desde a primeira vez que a vi no trem. Eu tinha
só onze anos, mas... eu simplesmente sabia, entendem? Por isso nunca
desisti, não importava quantos nãos eu recebesse..."
152
"Quando eu pensava neste dia, imaginava tudo..." James disse. "Que cor
seriam as flores, quem seria convidado, a banda que tocaria, até as roupas de
cada um nós..."
"Nem por um segundo." Ele respondeu, sorrindo de volta, mas logo o sorriso
se desfez. "Eu não estou reclamando de quem está aqui, sabem?! Estou
falando de... estou falando de quem não está."
"Não me entendam mal, eu não quero ele aqui." Ele disse, ferozmente.
"Mas... mas não consigo não pensar que sempre imaginei este dia com meus
melhores amigos, entendem? Sempre imaginei que Pads seria o meu
padrinho e que Moony seria o de Lily e eu torcia para que você e Padfoot se
resolvessem até lá para eu poder chamá-lo, Reg." Os olhos dele estavam
brilhando agora. "Mas não... nunca passou pela a minha cabeça que ele não
estaria aqui. Porque... porque ele era, tipo, um de nós, não é?! Colocamos o
nome dele no mapa e... e ajudamos Moony nas luas cheias, passamos anos
tentando nos transformar em animagos juntos, e... e nos escondíamos do
Filch..." Ele começou a sorrir, em meio as lágrimas. "Não pude deixar de
pensar nisso desde que devolvemos o mapa naquela noite e não consigo parar
de pensar agora que... que este é o melhor dia da minha vida e que uma das
pessoas que eu mais acreditei que estaria aqui nos traiu desse jeito..."
"Prongs, Wormtail não merece que você fique assim, sabe?! Hoje é um dia
especial. Não deixe ele tirar isso de você." Remus disse, se abaixando na
frente de James.
"Se Peter aparecesse aqui, acho que eu o mataria." Comentei, apenas. Não
sou bom em consolar as pessoas.
"A pior parte é que eu não acho que eu conseguiria." Disse James, olhando
com raiva para frente.
"Você não precisa se sentir mal por isso." Falei, sem hesitar. "Sabe, eu acho
que isso só é quem você é, James. Você é do tipo que não deixa as pessoas
mudarem seu coração. Você é bom. Eu queria ser assim."
153
"Ei, você não é mal, Reg." James disse, sorrindo fracamente. "É assustador
quando fica nervoso, mas não é mal."
"Acho que essa é a coisa mais legal que já me disseram." Respondi, sorrindo.
"Obrigado."
"Tudo bem, tudo bem, Pads!" Remus disse, o puxando da cama. "Pegue o
paletó de James ou ele vai chegar depois da noiva!"
"Por quê?!" Falei, enquanto ela me puxava para fora do jardim. "Aconteceu
algo?! Você está bem?!"
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"Ei!" Falei, a segurando nos ombros. "Você vai explodir desse jeito, Mary!
Você precisa se acalmar."
"Não temos tempo para isso, Lily quer falar com você!" Ela disse, me
puxando novamente. Quando chegamos do outro lado da rua, havia um carro
grande estacionado e Mary praticamente me jogou dentro do veículo.
Marlene estava dirigindo, uma senhora ruiva que acho que era a mãe de Lily
estava no banco de carona e Lily estava sentada no banco de trás, apenas
comigo. Mary havia ficado do lado de hora, como uma segurança de noivas.
"Não." Lily disse, seriamente. "Preciso que você me leve até o altar."
"Meu pai não aprova meu casamento com James..." Ela disse tristemente,
quase sussurrando. "Ele não veio."
"Lily, você... sabe, você tem certeza disso?! Porque isso é algo realmente
importante." Respondi, ainda nervoso.
"Seu idiota! A noiva está pedindo para você levantar sua bunda da aí e levá-
la até o altar, então você vai lá e faz o que ela está dizendo!" Marlene disse
irritada, se virando para trás.
"Tudo bem. Vamos." Falei, abrindo a porta do carro e ajudando Lily a sair.
Mary arrumava o vestido dela na parte de trás e a mãe arrumava os fios soltos
do seu coque. Seu vestido era lindo, não tinha alças e arrastava no chão o
tempo inteiro. O buquê era feito de lírios e algumas pétalas flutuavam em
sua cabeça, formando uma coroa.
"Você está linda, Lily." Elogiei, sorrindo e dando meu braço à ela.
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"Vou entrar e avisar que você já está aqui." A mãe dela disse, a beijando na
testa e entrando no jardim. Mary e Marlene foram para a nossa frente, com
as alianças nas mãos.
"Reg, você pode ajeitar o meu colar? Acho que ele soltou..." Mary pediu à
mim, que estava atrás dela.
"Não sei como ela não fisgou você ainda." Lily sussurou.
"Mary?! Ah, pare com isso..." Sussurrei de volta. "Somos apenas amigos."
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"Lily J Evans," James começou seus votos. "Descobri que amava você
quando eu ainda nem tinha idade o suficiente para saber o que era isso. Você
poderia ter negado o meu amor o quanto quisesse, mas eu ainda seria seu.
Você é linda, gentil, bondosa e me faz sentir mais amado do que já fui em
toda a minha vida. Não amei ninguém na minha vida como amo você. E eu
espero por este dia desde que a vi no trem pela a primeira vez. Remus e Sirius
escutaram tanto seu nome no nosso dormitório que toda noite eu era atacado
por almofadas na minha cara. Quero apenas que você saiba que, apesar dos
nãos que você me dava, eu sabia que o dia de você dizer sim chegaria. E
chegou. Eu amo você. Com toda a minha alma e todo o meu coração. Até
depois que a morte nos separar."
"James Potter," Perguntou o juiz de paz. "Você aceita Lily Evans como sua
esposa?"
"Lily Evans," Perguntou o juiz de paz novamente. "Você aceita James Potter
como seu marido?"
"Você não vai se livrar de nós nunca mais, Reg." Remus sussurrou para mim,
sorrindo. E todos nós abraçamos James e Lily, enquanto Mary e Marlene
157
subiam no altar para fazer o mesmo. James correu para o meio da passarela
em frente ao altar e gritou no meio de todos.
"CONSEGUI!" E todos riram. Mas ele não podia estar falando mais sério.
A festa foi impecável. Havia mais comida do que qualquer outra festa que já
fui. Tocava Queen, ABBA, David Bowie, Marc Bolan e todo tipo de cantor
realmente bom. Depois de um tempo, todos estávamos bêbados e felizes.
Cantando juntos e abraçados as letras erradas da músicas que a banda tocava.
"Ei, eu quero um!" Falei para Remus, que acendia um cigarro do meu lado.
"Olhe ali," Ele disse, apontando para Ted, "Vá falar com ele, marquem de se
encontrar. Vai me agradecer por isso amanhã."
Sirius começou a dançar bêbado em cima de uma mesa logo depois e ajudou
James a subir com ele, e os dois cantaram ABBA até a garganta estourar.
Remus e Lily gargalhavam em baixo deles e eu sorri. Sorri porque estava
feliz. Sorri porque James me deixou entrar no quarto, quando eu achava que
ele só queria seus amigos. Sorri porque Lily me pediu para levá-la ao altar,
mesmo eu não fazendo ideia que eu significava tanto assim. Sorri porque eu
destruí três horcruxes em uma noite. Sorri porque Sirius e eu estávamos bem.
Sorri porque eu era jovem e bêbado e porque Mary estava me puxando para
dançar com ela. A vida era boa.
Dançamos juntos por um bom tempo. Eu estava bêbado, ela não. Eu nunca
faria nada com alguém bêbado. Mary e eu estávamos dançando com as testas
coladas. As mãos dela estavam no meu cabelo e as minhas mãos passeavam
pela cintura dela. E ela estava tão perto do meu rosto, que meus cabelos da
nuca se arrepiaram. Ela sorria e eu sorria porque ela estava sorrindo. Mary
estava tão linda que eu poderia beijá-la agora mesmo.
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"Estou cansada." Ela sussurrou no meu ouvido. "Quer se sentar?!" Eu assenti
e nós dois sentamos no sofá da casa de James. Um do lado do outro, a sua
coxa tocando na minha.
"Sim, sim! Eu, hm... eu gostei bastante." Respondi. "Mas você não deveria
estar aqui comigo, deveria estar se divertindo!"
"Não queria deixar você sozinho." Mary disse rindo, e colocou a mão na
minha perna, ou eu estou muito bêbado ou ela está subindo a mão para um
lugar muito, muito perigoso.
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Capítulo 18: Feliz
"Achei que você ia se fazer mais de difícil, Reg." Ele disse, sorrindo, na
manhã após a festa, enquanto eu saía do quarto.
"Não enche o saco." Respondi. Minha cabeça doía como se tivessem batido
com um martelo. "Pandora escreveu. Disse que sente muito por não poder
ter ido ao casamento. Ela está viajando com Phil, algo assim."
"É, acho que sim." Respondi, distraído, enquanto me sentava para tomar
café. Sirius não parava de sorrir para mim, estava ficando assustador. "O que
é que você quer?!"
"Ele quer saber sobre Mary." Remus disse, com os olhos em seu livro.
"O que é que você quer saber? Acho que não lembro de muita coisa..."
Perguntei, passando geleia no pão. "E não vou conversar com você sobre
isso."
"Por quê não?!" Ele perguntou, realmente ofendido. "Eu sou seu irmão mais
velho, seu bastardo! Preciso saber dessas coisas!"
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"Não, você não precisa." Respondi, sorrindo.
"Foi sua primeira vez?" Ele perguntou, ansioso e ainda com um sorriso
assustador. Merlin, Sirius era inacreditável.
"Não, Sirius, não foi." Respondi, suspirando, queria que essa conversa
acabasse de uma vez.
"O quê?! E por quê eu não sabia disso?!" Ele perguntou, ofendido
novamente.
"Pads, deixe ele em paz." Remus repreendeu, ainda com os olhos no livro.
Grande ajuda, Lupin.
"Vocês dois estão me julgando?! Tipo, vocês dois?!" Respondi, olhando para
os dois. "Eu escuto do meu quarto a cama de vocês batendo na parede todas
as noites! Todas as noites!" Lupin corou, e voltou ao seu livro.
"Só estou surpreso." Sirius respondeu. "Achei que você tivesse demorado
para aceitar que gostava de meninos também. Eu demorei."
"Era a única coisa que eu era e que nossa mãe não podia tirar de mim."
Respondi, dando de ombros. "No fim, por mais que seja assustador, vale à
pena quando você se olha no espelho e se reconhece. E gosta de quem é."
"Ok, ok," Sirius continuou. "Mas e Mary?! Você não vai escapar de mim,
não depois de voltar para casa sem o paletó e com todos os botões da camisa
estourados!"
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"E o pescoço de Mary também está bem ruim." Remus comentou, sem olhar
para nós. Grande ajuda de novo, Lupin. Obrigado.
"Qual é, Reg?! Você tem dezoito anos, vá atrás de Mary e namore com ela!
Transem em uma cabine telefônica, eu sei lá! Essas horcruxes estão te
deixando estressado demais." Sirius disse.
"Você está louco se acha que eu vou namorar uma nascida trouxa sendo
procurado por comensais da morte." Respondi, pegando o pergaminho.
"Preciso focar no que é importante agora."
"Você usou camisinha, não é? Porque, olha, eu sou muito novo para ser t-"
Sirius começou.
Escrevi para Ted naquela manhã, mas ele demorou dias para escrever de
volta. Dois dias depois, Mary escreveu para eu ir até à casa dela porque ela
estava sozinha. Eu não contei à Sirius, obviamente. Ele faria um escândalo.
De qualquer forma, eu não achei que eu sairia vivo daquela casa, porque
Mary esqueceu que seus pais chegariam de viagem naquela tarde.
"Shhh, você disse 'sem barulho', não é?!" Falei, sorrindo ironicamente,
colocando o indicador no meio dos seus lábios. "Se você fizer barulho..."
Comecei a beijar o pescoço dela. "Vou ter que parar."
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"Eu mato você se parar." Ela respondeu ofegante, conseguindo abrir o fecho
do meu cinto. Ficou absurdamente difícil não fazermos barulho, depois que
ela conseguiu tirar a minha calça e minha cueca e me deixou descer a
calcinha dela por baixo da saia. Enquanto ela ainda estava sentada na pia,
com as pernas ainda enroladas na minha cintura, eu segurei com força o
pescoço dela e passei a língua de lá até à orelha, enquanto cada centímetro
de tudo que ficava à baixo da nossa cintura entrava em atrito.
Passei os próximos dias da semana com ela. Eu ajudava ela a fazer compras
sempre que podia e ela gostava de me ver ler em uma cafeteria que ficava
perto da casa de Sirius. Fugia da casa dele todas as noites de madrugada para
ver ela em algum lugar escondido, ou então apenas para conversarmos em
seu quarto. Tudo bem, raramente apenas conversávamos. Mas de qualquer
forma, era bom. Eu estava feliz.
"Isso doeu?" Ela perguntou, passando a mão no meu pulso, uma noite quando
estávamos no quarto dela às três da manhã e eu estava sem a minha camisa.
"Desculpe por perguntar..."
"Não, hm... não tem problema perguntar." Respondi, apesar de estar puxando
devagar meu braço para longe dela. "Sim. Doeu bastante. Senti que ia perder
o meu braço."
"Não, está tudo bem," Ela sorriu fracamente para mim, puxando meu braço
de volta. "Confio em você."
"Que bom." Sorri de volta e ela se acomodou no meu pescoço de novo. Que
bom.
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Fomos almoçar juntos em um outro dia naquela mesma semana. O dia estava
lindo e todos os lugares estavam cheios de gente, sorrindo e conversando.
Caminhamos pelos parques da cidade, ela me mostrou como os trouxas
usavam a cabine telefônica e ela riu quando eu continuei sem entender a
tecnologia estranha deles.
"Reg, você só precisa digitar o número e ligar!" Ela disse sorrindo, enquanto
caminhávamos. "Não é tão difícil!"
"Nós sabemos aparatar, Mary! Por que eu apenas ligaria para você se posso
chegar até onde você está em um segundo?" Perguntei, me virando para dar
um beijo nela.
"Sim, acho que foi só... não sei, algum inseto." Respondi, mas sabia
exatamente o que era. "Vamos, vamos para outro lugar."
Eu tinha que tirar Mary de onde estávamos. Eles estavam perto, eu podia
sentir. Quase aparatei com ela para o outro lado da cidade de tão assustado
que eu fiquei. Eu não havia dito nada à ela, é claro. Mary parecia gostar de
toda essa coisa de mocinha e vilão redimido. Ela gostava da ideia de estar
ficando com alguém como eu. Ela achava perigoso e sexy. Eu achava só
perigoso. Mary não fazia ideia de onde estava se metendo.
"Tem certeza que você está bem?" Ela perguntou, franzindo a testa, parando
e se virando para mim, segurando no meu rosto.
"Sim, eu... eu acho que só estou cansado." Menti. E então, uma chuva forte
começou a cair e nós dois ficamos encharcados, dos pés até à cabeça.
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"Não, espere aí!" Falei, sorrindo, a puxando de volta para o meio da calçada.
E então, a beijei. Estávamos encharcados e o beijo me deu a sensação de
estar sendo afogado, mas valeu a pena. Mary era incrível. "Tudo bem, agora
vamos!"
Deixei Mary em casa naquela tarde, e então aparatei de volta. Mas não fui
para casa. Aparatei até Hogsmead para me encontrar com Ted Tonks naquele
fim de tarde. Ele finalmente havia respondido a minha carta e depois de sentir
o que senti nesta tarde, eu precisava achar a próxima horcrux o mais rápido
possível. Mesmo eu não fazendo ideia do que era ou de onde encontrá-la.
"Bem! Nymphadora também está ótima! Não vemos a hora dela começar a
frequentar Hogwarts!" Ele respondeu, sorridente e eu sorri de volta. "Então,
sobre o que você queria falar?"
"Ted, eu escrevi para você porque você é a única pessoa que conheço que foi
da Lufa-Lufa e, bem, o que eu preciso saber tem a ver com isso."
"Bom..." Ele refletiu. "Helga não era uma pessoa muito materialista, pelo
que sabemos dela. Ela valorizava mais as relações e as pessoas. Você já
tentou ler algo sobre ela?"
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"Bom, a taça era de Helga. É uma taça dourada, com duas alças e um texugo
na frente." Ele disse. "É um objeto muito poderoso, e está perdida à muito
tempo."
"Ted, eu... eu, de verdade, não sei como agradecer!" Falei, apertando a mão
dele.
"Ah, não foi nada, Reg. Você é da família." Ela disse, sorrindo e as palavras
esquentaram meu coração.
Aparatei de volta para casa com o humor ótimo. Finalmente, alguma pista
depois de semanas. E tenho certeza que quando eu contar à eles, vamos
conseguir encontrar.
"Reg! Você chegou!" Sirius disse, da cozinha. "Achei que não ia mais largar
Mary!"
"Cala a boca." Falei, sorrindo. "Ei, vocês! Como foi a lua de mel?" Perguntei,
cumprimentando James e Lily.
"Banhei tanto no mar que deve ter sal até agora até onde Deus duvida, Reg."
James disse, batendo no meu braço.
"Então, acho que você vai ficar mais feliz com o que temos para contar."
Remus disse, vindo até mim.
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"Pandora não está viajando à diversão, Reg." Sirius disse. "Ela está
procurando uma horcrux."
"Como assim?!" Falei, me levantando de uma vez. "É muito perigoso ela
fazer isso sozinha! Onde ela está?! Vou arrumar minhas coisas, ela está doida
se acha..."
"Reg." Lily me chamou, me fazendo parar e olhar para ela. "Acho que ela
encontrou."
"Ela escreveu para nós para contar e disse para mostrar à você!" James disse,
sorridente. "Espero que eu não precise quase morrer dessa vez."
Descobri que enquanto ele estudava, ele tinha um valor sentimental enorme
pelo próprio diário. Um caderno preto com o nome verdadeiro dele na capa.
Ainda não tenho nenhum pista de onde ele está, mas espero conseguir.
Abraços em todos,
Pandora.
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"Não acredito que estamos realmente conseguindo..." Falei, ainda surpreso e
sorrindo. E todos sorriram também.
Eu estava prestes à contar sobre a minha conversa com Ted e sobre o que eu
descobri. E então, de repente, um patrono reluzente apareceu perto da lareira,
com a voz de Marlene, trêmula e em completo desespero.
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Capítulo 19: Despedidas
Mary era diferente. Ela é esperta, mas nunca arrogante. Ela é enérgica, mas
não de um jeito cansativo. Ela é simples e fácil de se ler, mas ainda
interessante. Acho que a forma com que ela não tinha medo de estar comigo
ou de como isso a afetaria me atraiu instantaneamente, porque durante a
minha vida, eu sempre senti medo.
Ela sorria de uma forma que me fazia sentir amado e feliz, mesmo que a
guerra destruísse o mundo lá fora. Ela tinha esperança nos olhos. Era tão
segura de si e parecia ser tão confiante que me deixava com inveja. Eu
poderia ter passado mais um milhão de horas ouvindo ela falar sobre a
tecnologia trouxa ou vendo a forma com que os cachinhos pequenos do seu
cabelo balançavam de acordo com que ela virava o rosto quando estava com
vergonha do quanto eu estava a observando. Ela era linda. Deus, como ela
era linda.
Eu estava com tanta raiva. Tanta raiva por terem tentado a machucar. Parece
que não importa o quanto eu tente evitar que as pessoas se machuquem, sou
eu quem sempre provoco isso. Sirius, Pandora, e agora Mary. É o castigo que
eles levam por serem importantes para mim. E o castigo que eu levo por
achar que posso me dar ao luxo de ter alguém importante para mim.
Todos nós aparatamos para a casa dela, depois de Lily escrever para Pandora
voltar imediatamente porque um ataque havia acontecido e não era seguro
estarmos longe uns dos outros. James mandou um patrono para Moody para
avisar sobre o ataque, ele chegaria lá um pouco depois de nós. Sirius e Remus
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colocaram mais feitiços protetores na casa do que já haviam, agora que
Voldemort havia dado seu primeiro passo em direção à mim.
"O que fizeram com ela?!" Perguntei à Marlene, indo correndo até Mary e
me ajoelhando para trocar a cabeça dela para o meu colo, enquanto Sirius,
Remus, James e Lily chegavam perto.
"Eu... eu não sei direito..." Marlene disse, parecendo muito nervosa. "Quando
eu cheguei, ela estava no chão e... e tremia muito..." Ela estava com a voz e
as mãos trêmulas. "Ela estava suando e com dor... e então ela apagou, mas
não antes de dizer que... que ele esteve aqui."
"Peter." Sirius disse, em uma expressão sombria. Lily pôs a mão no ombro
de James.
"O que você acha que foi, Marls?" Perguntou Remus, calmamente, mas ainda
muito nervoso. "Você é boa nisso."
Marlene fechou os olhos com força e eu quase consegui ler o que ela estava
pensando. Sabia exatamente o que ela diria porque eu sei o que eles fazem
nesses ataques quando não matam a pessoa, eu só não conseguia entender o
que fez eles não quererem a matar. E então ela disse. "Acho
que... Cruciatus."
Sirius virou com raiva para trás e se afastou para respirar, Remus foi atrás
dele. Lily cobriu a mão com o rosto e James a abraçou, fechando os olhos
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também. Eu abracei Mary com tanta força que esqueci o quanto ela ainda
poderia estar com dor, mesmo sonolenta e cansada. Fui tomado por uma onda
de raiva enorme. Tudo dentro de mim pegava fogo. Eu senti que ia explodir.
"Eu realmente não sei, Reg, eu... eu acho que a única pessoa que pode
responder isso é Mary." Ela respondeu, ainda nervosa. "Eu curei ela com
alguns feitiços, isso deve... isso deve fazê-la melhorar mais rápido."
"Se Peter estava aqui, então eu mesmo irei atrás dele e vou matar o
desgraçado." Remus disse, furioso e James arregalou os olhos.
"Não," Sirius disse, mais furioso ainda. "Eu vou. Vou fazer ele sofrer tanto
que ele vai me implorar para morrer."
"Eu quero que se dane se haviam outros comensais!" Sirius gritou. "E onde
está Moody, afinal?!"
"Padfoot, gritar não vai ajudar Mary." James disse, enquanto eu os observava
em silêncio, com Mary ainda no meu colo.
"Nada pode ajudar Mary, Prongs." Remus disse. "Droga, Peter não é mais
um de nós! Você não vê?! Ele mataria você sem pensar duas vezes, se tivesse
a chance!"
"Me desculpe se não é tão fácil para mim quanto é para você matá-lo,
Remus!" James gritou.
"O que está querendo dizer?! Que é mais fácil para mim matá-lo porque eu
sou o que eu sou?!" Remus gritou mais alto ainda, arregalando os olhos. Vi
Marlene perguntar para Lily do que ele estava falando e Lily apenas balançou
a cabeça.
"Como... como você pode pensar que eu insinuaria isso, Moony?" James
perguntou, quase num sussurro.
"Parem com isso." Falei para eles, num tom baixo. Mas eles me ignoraram e
continuaram a discutir. Sirius com o olhos fixos no chão, com um expressão
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de puro ódio, Remus e James brigando e Marlene tremia abraçada à Lily.
Mary ainda deitada do meu colo, se mexendo às vezes. Não aguentava mais
isso. Não aguentava mais os gritos deles. "PAREM COM ISSO!"
"Não devia ter colocado vocês nisso." Sussurrei para mim mesmo, enquanto
ainda andava na sala.
"Não devia ter colocado vocês nisso!" Falei tão alto dessa vez que fiquei
ofegante. "Mary... Mary quase morreu!"
"Você não podia imaginar isso, Reg..." James disse, chegando perto de mim,
mas eu me esquivei rápido, deixando ele confuso.
"É claro que eu podia, James!" Gritei. "Tudo isso! Eu podia imaginar tudo
isso!"
"Regulus, você não pode resolver as coisas sozinho." Remus disse. "Você
sabe o que aconteceu da última vez."
"Da última vez, apenas eu corria perigo! Apenas eu ia morrer, você não
entende?! Ninguém estava em perigo, só eu!" Respondi. "Se eu não achasse
que ia morrer, aquelas cartas nunca existiriam e eu nunca teria contado nada
à nenhum de vocês! Não até ele ser destruído!"
"Porque é a verdade, Sirius!" Respondi, ficando cara a cara com ele. "Você
só é infantil demais para enxergar!"
"Caralho, você se odeia tanto que não consegue aceitar a ideia de alguém se
importar com você?!" Ele gritou.
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"Mary foi atacada porque eu me descuidei e deixei eles saberem que eu
estava com ela! Como você se sentiria se algo acontecesse à Remus por
alguma besteira que você fez e não tem como consertar?!" Sirius sentiu a
última parte. Como se eu tivesse conseguido pegar em um ponto que doía
nele, como se houvesse alguma história nisso. Então continuei. "Você
sempre foi bom, Sirius. Sempre. Eu não! Eu tento todos os dias... todo santo
dia! Porque eu já fui em ataques como esse, Sirius! Como um deles! Eu sei
exatamente o que eles fazem e... e imaginar eles fazendo tudo isso com
Mary..." Dei uma pausa e engoli em seco. "Não sei o que faria se alguma
coisa pior acontecesse com um de vocês."
"Senhores." Ele assentiu para todos os nós. "Mary já acordou?" Ele foi até
onde Marlene estava.
"Vamos esperar. Ela vai ter informações úteis quando acordar." Moody
disse, e então apontou a varinha para os destroços, recriando totalmente o
sofá de Mary. Remus ajudou Marlene a colocar Mary no sofá, e então
esperamos.
Ficamos todos sem conversar uns com os outros enquanto Mary não acordou.
Eu sabia que tinha magoado Sirius, mas eu não estava nenhum pouco no
clima de pedir desculpas. Eu só queria que Mary acordasse e que eu me
certificasse de que ela estava bem, viva, respirando, com o coração batendo.
E então eu prometeria não colocá-la em perigo nunca mais.
Uma hora depois, Mary começou a se mexer no sofá e a abrir os olhos. Fui
correndo até ela e me ajoelhei ao seu lado, segurando a sua mão.
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"Ei..." Respondi sorrindo fracamente, com a mão no rosto dela. "Como você
está, huh?!"
"Mary, você acha que está em condições de falar, hein?" Moody disse, se
inclinando para olhá-la nos olhos.
"Se você não quiser, não precisa, Mary." Falei, sem hesitar e ela apertou a
minha mão, e então assentiu.
"Preciso que você conte exatamente o que lembra que aconteceu aqui."
Moody disse, diretamente.
"Eu estava sozinha." Ela começou, e nós ouvimos atentamente. "Eu estava
esperando Marlene para saírmos. E eu estava aqui, nesse mesmo sofá
quando... quando eles explodiram a porta." Ela disse, olhando em direção
aonde a porta ficava. "Eram cinco, Voldemort não estava com eles..." Ela
respirou fundo, engolindo em seco.
"Sim..." Ela disse, passando os olhos entre mim e Sirius. "A prima de vocês
dois. Bellatrix Lestrange." Sirius assumiu uma postura tão furiosa que
Remus e James colocaram uma mão em seu ombro. "Eu estava com a minha
varinha, então eu tentei lutar com eles, mas... mas eram muitos e... e quando
eu vi Peter, eu acabei de me distraindo..." Ela deu uma pausa.
"Se você não estiver bem para continuar a falar, você realmente não precisa,
Mary." Falei, ainda segurando a mão dela.
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"Na verdade, ela precisa, rapaz," Moody disse. "Precisamos de todos os
detalhes que ela lembrar."
Moody me analisou de cima à baixo. "Muito intrigante logo você não querer
que Mary dê detalhes sobre o ataque, não é, rapaz?"
"Foi confiando que Pettigrew fez o que fez, não foi, Potter?" Moody
vociferou.
"Se você me comparar com ele de novo-" Respondi, com raiva, mas Mary
pôs a mão no meu ombro me interrompendo.
"Bellatrix foi a que mais falou. Ela entrou rindo histericamente, e perguntou
por Regulus quando eu já estava no chão. Eu falei que não sabia onde ele
estava, mas... mas eles me viram com você." Ela disse, me olhando. "Eu
jamais te entregaria, Reg! Nunca! Então, eles me torturavam e quando eu
voltava a ficar consciente, eles perguntavam outra vez... até que eu não
consegui mais ouvir nada." Eu sentei ao lado dela e juntei seu corpo ao meu.
A lealdade de Mary quase a matou.
"Tem alguma ideia do porquê eles deixaram você viva?" Moody perguntou.
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"Mary, você pode ficar em nossa casa, se quiser." Lily disse, sorrindo
fracamente. "Eu e James não nos importamos."
"Protejam suas casas." Moody disse. "Se certifiquem de que estão bem
escondidos. É o que podemos fazer, por hora." E então aparatou.
"Não, Marls, está tudo bem," Ela disse, sorrindo para Marlene. "Estou bem
agora." Ela me abraçou mais forte. Droga.
"Você tem certeza que está bem?!" Perguntei, levantando o rosto dela. "Eu
sei como essas maldições são... mamãe usou elas em mim mais vezes do que
eu me lembro."
"Estou melhor agora que você está aqui." Ela disse, sorrindo fracamente e
me abraçando de novo. Eu não conseguiria fazer isso agora. Eu precisava
sair de lá imediatamente.
"Tudo bem, Reg..." James disse, assentindo. Mas acho que ele também sabia.
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"Eu sei o que você vai fazer." Sirius disse, me fazendo virar para ele. "Vai
afastá-la de você, não vai?!"
"E você acha que eu tenho escolha?!" Perguntei, irritado. "Se Mary não
estivesse comigo, ela estaria bem agora! Isso é uma lógica fácil até para você,
Sirius! Você sempre age como se eu tivesse escolha, como se eu ficasse em
uma situação difícil porque eu quero!"
"Claro que é!" Respondi. "Você agiu exatamente assim quando nos
afastamos da primeira vez! Agiu como se eu tivesse escolhido aquilo porque
quis! Adivinha?! Ou era aquilo ou então eu morreria! Não acho que eu sou
uma pessoa cheia de escolhas, não é?!"
"Isso é uma guerra, Regulus!" Sirius gritou. "As pessoas vão morrer! Já estão
morrendo! Tudo que podemos fazer é permanecermos juntos porque assim
nós ficamos mais fortes! Você não consegue ver isso porque sempre agiu por
si mesmo como o idiota que você é!"
"Você sempre faz isso, você sempre cria o problema na própria cabeça e
afasta as pessoas que são boas com você!" Sirius disse. "Igual você fez
comigo."
"Na minha cabeça?!" Respondi alto. "Esse ataque por acaso aconteceu na
minha cabeça?!" Fui até ele, e fiquei de frente com ele. "Lá dentro, eu vi
como você ficou quando eu falei sobre você cometer algum erro com Remus
e não poder consertar, você já deve ter feito isso, não é?! Então, sabe como
eu me sinto!"
"Isso é diferente..." Ele respondeu, com a voz falhando. "Ela vai odiar você
se você fizer isso."
"Se você não ia querer que eu te ajudasse," Sirius disse, quando eu já tinha
me virado de costas. "Então acho que nós não devíamos ter nos aproximado
de novo."
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Eu sabia que estava magoando Sirius, e eu não pretendia me afastar dele.
Mas se ele pudesse ao menos compreender que eu não quero realmente fazer
isso. Ele age como se eu estivesse escolhendo algo, como agiu quando eu e
ele brigamos da primeira vez. A última coisa que eu queria era ficar longe
de Mary agora, mas o que mais eu posso fazer?! Ela já corre perigo o
suficiente só pelo sangue que carrega e ficar perto de mim piora tudo.
Aparatei para a casa de Pandora. Ela provavelmente ainda não havia chegado
de viagem, talvez ainda nem recebeu a carta de Lily. Mas eu não ligo. Preciso
apenas ficar sozinho. Me encostei em frente à porta e me sentei ali.
Finalmente sozinho e sentado na porta daquela casa vazia, com o rosto nas
minhas mãos, eu me deixei chorar. Me deixei sentir tudo que vinha
guardando. Até que comecei a chorar de verdade e a não conseguir parar de
soluçar. Ficaria ali até Pandora chegar. Não voltaria para casa, se é que tenho
uma. Não contaria à Sirius, nem ninguém sobre minha conversa com Ted.
Precisava falar com Pandora, e apenas com ela.
Devo ter passado horas ali sentado. Estava quase caindo de sono, quando
tomei um susto com um barulho de aparatação.
"Reg! O que você está fazendo aqui fora?!" Pandora perguntou, indo até
mim. "Venha, vamos entrar!"
"E não podia fazer isso em casa?!" Ela perguntou, rindo. "Estava parecendo
um mendigo aí na frente, deve estar morrendo de frio! Você pode acender a
lareira, se quiser!"
"Foi ótima!" Ela respondeu, trazendo duas xícaras de chá. "Você não vai
acreditar nas coisas que..." Ela parou quando viu meu rosto. "Espere, você
não está bem, está?"
"Não, eu só..." Tentei parecer firme, mas não aguentei. Minha voz começou
a ficar trêmula. "Mary foi atacada."
"Ah, meu Deus, então o ataque foi com ela?! E ela está bem?!" Pandora
perguntou, preocupada. "Por que foram justamente até ela, afinal?!" Ela
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começou a andar de um lado para o outro. "Deve ser sido pelo sangue, é
claro. Malditos comensais da morte!"
"Não, eu... eu e ela estávamos juntos, tipo, juntos, sabe?!" Tentei explicar,
mas na verdade nem eu sabia o que éramos. "Estávamos saindo desde o
casamento. Um pouco mais de uma semana, eu acho."
"Seu filho da mãe!" Arregalei os olhos, não esperava que ela fosse me julgar
por correr esse risco. "E você não me escreveu?! Estava transando com
alguém e eu atrás de uma maldita horcrux e você não me contou?!"
"Não estou me culpando à toa, Pandora." Respondi. "Sei que faço isso às
vezes, mas dessa vez não. Eu andava por aí com ela como se não tivesse uma
guerra acontecendo! Baixei a guarda por cinco minutos e isso aconteceu!"
"Então, agora você vai afastar ela, não vai?" Pandora perguntou,
indecifrável.
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"Vou dar um palpite do que está acontecendo aqui, ok?!" Ela disse, se
sentando ao meu lado. "Acho que você gosta dela. E mal consegue admitir
isso porque você não consegue gostar de quem você é, pelo menos não ainda.
E está usando tudo isso que aconteceu para se afastar porque acha que ela é
boa demais para você."
"Você não precisa dizer para mim, Reg." Pandora respondeu. "Conheço
você. Está com aquela cara de quando sente alguma coisa que não queria
estar sentindo."
"Você sabe o que penso sobre você se tratar assim, não é? Não gosto nenhum
pouco." Ela disse. "Mary vai ficar com raiva e talvez nunca mais queira falar
com você, sabe disso, não é?!"
"Não posso decidir nada por você, Reg." Ela disse, suspirando. "Mas acho
que o cuidado que você toma com as pessoas, você deveria tentar com você
mesmo às vezes, sabe?"
"É. Talvez." Respondi, olhando para as minhas mãos. "Não quero que ela se
machuque outra vez."
"Acho que você não pode controlar tudo, Reg." Pandora disse, e então me
abraçou. Chorei por uns minutos consideráveis no seu ombro. Ainda bem
que ela não vai contar disso para ninguém, foi vergonhoso.
180
***
Passei semanas na casa de Pandora. Não sabia como encarar Sirius desde as
coisas que dissemos um ao outro. E estava adiando conversar com Mary
porque sabia que seria ruim demais. Não respondi nenhuma das cartas de
James ou Lily. Sirius não escreveu, Remus também não. A coisa da lealdade
entre eles.
Passei o tempo inteiro com Pandora. Ela havia descoberto sobre o diário que
Voldemort tinha na época que estudava em Hogwarts, mas não fazíamos a
menor ideia de onde estava. Nenhuma pista mesmo. Lemos todo livro de
todas as livrarias sobre Helga Hufflepuff e a taça da Lufa-Lufa, mas ainda
sem nenhuma pista sobre onde estava. Isso era mais fácil quando havia mais
de duas cabeças pensando.
"Tenho certeza que um dos comensais guarda para ele!" Pandora disse, uma
madrugada em que viramos pesquisando. Mas a verdade era que tínhamos
que ter certeza, se íamos correr um risco para achar aquela coisa.
"Eu sei o que você está fazendo!" Pandora disse, me derrubando do sofá em
uma manhã.
"Você está evitando!" Ela respondeu. "Está fazendo aquela sua coisa de focar
em coisas racionais que você entende para esquecer as emocionais que você
não entende!"
"Ah, não, não, não!" Ela me puxou de novo. "Você vai falar com ela!"
"Regulus Black!"
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"Ótimo." Ela cruzou os braços, satisfeita.
Caminhei pelos quarteirões até à casa dela e então, passei em frente uma
barraca pequena com um senhor vendendo flores de todos os jeitos. Mary
amava flores.
"Ah, mas você quer que ela seja, não quer?" Ele perguntou, sorrindo
bondosamente. "Não perca tempo, rapaz! Quantos anos você tem?!"
"Aproveite o broto que você gosta! A juventude não dura para sempre, você
sabe." Ele disse, pensativo. "Compre uma flor à ela e diga os seus
sentimentos pela moça!"
"Na verdade, eu..." Falei, constrangido. "Eu estava indo dizer à ela que não
podemos estar juntos."
"Ah." O senhor pareceu decepcionado. "Neste caso, você pode pegar uma. É
por conta da casa."
"Sim," Ele respondeu, me dando uma rosa grande e vermelha. "Ela vai querer
algo para alegrá-la quando estiver de coração partido."
"Não acho que ela gosta tanto assim de mim para ficar de coração partido,
senhor." Respondi, segurando a rosa.
182
"Ah, mas você gosta, não é?!" Ele disse. "Se está fazendo isso então, é por
algo muito maior que você. E se consegue deixá-la para o bem dela, então
você é um bom rapaz. E ela gosta de você por isso."
"Tenho 78 anos, meu rapaz. Sei de muitas coisas." Ele disse, sorrindo.
Nunca havia vindo até aqui, não sou muito próximo de Marlene. Nem sei se
ela gosta de mim. Espero pelo menos que ela não me odeie.
Assim que cheguei, pensei por cinco segundos antes de bater na porta. Mas
agora não havia mais volta. Marlene foi quem atendeu.
"É, eu... eu estava ficando uns tempos com Pandora, sabe?!" Respondi,
constrangido.
"É meio chato fazer isso, mas sabe, é o protocolo e tudo mais..." Ela disse.
"Merlin, Marlene! Você virou três garrafas de uísque de fogo e foi apenas o
que eu vi! Porque eu também estava muito louco!" Respondi, sorrindo
também e ela deu espaço para eu entrar.
"Você veio falar com ela, não é?" Ela perguntou, percebendo a flor, e eu
assenti. "Ela está lá em cima. Segundo quarto à esquerda."
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"Mary?!" Chamei, batendo na porta do quarto. "Posso entrar?!"
"Ela é linda! Você é tão gentil." Ela disse, sorrindo para mim. Foco, Regulus.
"Estou melhor. Marlene cuidou de mim essas últimas semanas..." Ela subiu
a cama, vindo até mim. "Mas eu estava com saudades de você..."
"O quê?! Você está bem?! Eles não fizeram nada com você, fizeram?!" Ela
perguntou, preocupada.
"Foi por isso que estava evitando você, Mary. Porque... porque estava com
medo de fazer o que preciso fazer." Respondi.
"Não." Ela disse, seriamente. "Você não vai fazer isso. Regulus, eu juro por
Deus que se você..."
"Você... você não pode fazer isso." Ela respondeu, com a voz trêmula.
"Regulus, olhe para mim." Ela disse segurando meu rosto. "Se é por causa
de quem você acha que é, ou por causa do que aconteceu comigo, você pode
parar. Isso não importa pra mim, ok?"
184
"Mary, por favor..." Me soltei das mãos dela. "Você não faz ideia de como
foi difícil para mim vir até aqui e ter que dizer isso à você. Você conseguiu...
conseguiu me fazer sentir algo que eu nem sabia que ainda era capaz de
sentir... eu não me sentia tão feliz há muito tempo... mas eu não posso
continuar com você e correr o risco de colocar você em perigo outra vez."
"Olha nos meus olhos." Ela disse, com os olhos marejados, com o rosto
muito perto do meu. "Olha nos meus olhos e diz que você quer ir embora
dessa casa e não encostar em mim nunca mais."
"Não faça você!" Ela levantou, irritada agora. "Eu não preciso que você me
proteja de nada! Sou forte o suficiente para cuidar de mim mesma, Regulus!
Eu já passei por muita coisa! Negra, nascida-trouxa, mulher! Vivi uma vida
antes de você e cheguei até aqui, não pense que você pode decidir o que é
bom para mim ou não. Eu posso decidir isso sozinha."
"Se eu deixar você decidir, você provavelmente vai morrer da próxima vez!"
Respondi. "Por que não consegue ver que não faço bem à você?!"
"É você quem não consegue ver as coisas, Regulus." Ela disse, seriamente.
"Eu sei quem você é! Eu vi isso! Acha que essa droga de marca me
incomoda?!" Ela foi até mim e agarrou meu pulso com força. "O que me
incomoda é você se odiar por causa de algo que você não é! Porra, eu confio
em você! Não faz ideia do quanto é difícil gostar de alguém que acha que
não merece o que eu sinto."
"Não tenho coragem de continuar com você sabendo que eu posso causar sua
morte, Mary." Respondi, balançando a cabeça. "Eu queria... queria muito..."
"Gostar de você partiu meu coração mais do que eu pensei que fosse." Ela
disse, engolindo em seco e se afastando. "Está tão concentrado em quem
você era que nem percebe quem você conseguiu se tornar."
185
"Não posso me concentrar em nada com comensais atrás de mim, Mary!"
Respondi, alto.
"O engraçado, Regulus," Ela disse, sorrindo fracamente. "É que eles nem
mataram você, mas já conseguiram com que você desista de viver."
"Mary, eu..."
"Sinto muito." Respondi, antes de passar pela porta. Passei direto por
Marlene e saí. Aqui, do lado de fora, sem ninguém ver, eu poderia chorar
como uma criança se quisesse.
Ela vai ficar bem. Eu sei que vai. Ela merece uma vida longe disso, longe de
mim e de qualquer perigo que eu possa colocá-la. Talvez eu não consiga
afastar Sirius porque estou preso à ele pelo meu próprio sangue, mas Mary
eu posso. Vou esquecer ela e ela vai se esquecer de mim. Fácil assim. Como
se nada nunca tivesse acontecido entre nós.
"É uma carta de Remus." Ela disse, pálida. "Ele disse para você voltar
imediatamente. Sirius precisa de você."
"Pelo amor de Merlin, Pandora, você está me assustando," Respondi. "O que
ele disse?!"
"James." Pandora disse, com a voz trêmula. "Os pais de James morreram."
186
Capítulo 20: Inverno 1980
Não posso dizer que conhecia muito Fleamont e Euphemia Potter. Eles
estavam sempre em todas as reuniões da Ordem e não pareciam ter distinção
entre um e outro quando se tratava de James e Sirius. Mamãe sempre dizia
que os Potter eram traidores de sangue, que sujaram a própria linhagem por
confraternizar com nascidos trouxas. Eu queria ter tido a chance de conhecê-
los melhor porque, se eles irritavam a minha mãe, provavelmente eram boas
pessoas.
"Você vai voltar para a casa de Sirius?" Ela perguntou, dando o nó na minha
gravata. "Acho que ele vai precisar de você..."
"Os pais dele morreram." Pandora disse, me fazendo encará-la. "Ele e James
precisam das pessoas que os amam mais do que nunca."
"Apenas do meu tio Alphard... mas eu e Sirius éramos muito pequenos, então
não me lembro de muita coisa." Respondi. "É muito ruim?"
"Acho que não tão ruim como vai ser para eles dois." Ela disse, suspirando.
A verdade é que eu não sabia se Sirius ou James me queriam lá. Era Remus
quem havia mandado a carta, e ele faz qualquer coisa que acha que vai fazer
Sirius melhorar. Mas na realidade, apenas Sirius sabe do que precisa. Então,
eu não estava indo esperando abraços ou nenhuma recepção calorosa, eu só
queria me certificar que Sirius e James estavam conseguindo ficar de pé.
187
O funeral aconteceria em uma casa de campo da família Potter. O dia estava
nublado, o que eu acho mais adequado para um funeral do que um dia
ensolarado. O lugar, apesar disso, era bonito. A grama era muito verde e o
lugar era cercado por um cerca branca. No fundo, havia uma casa grande e
bonita de altos e baixos, revestida de madeira branca. E do lado, haviam
várias cadeiras enfileiradas e dois caixões brancos na frente de um pequeno
altar. Havia duas fotos grandes em movimento, a senhora Potter e o senhor
Potter sorrindo um para o outro em uma delas e na outra eles mais jovens e
mais saudáveis, mas ainda sorrindo. James tinha o mesmo sorriso dos pais.
Mas acho que não hoje.
Várias pessoas estavam lá. Alice ajudava Lily a colocar as comidas na mesa
e vi Frank cumprimentar Remus perto delas. Os Weasley haviam ido, Molly
estava agora com a barriga maior do que a última vez que a vi. Marlene
estava sentada com Mary nas cadeiras. Senti meu estômago gelar quando a
olhei, ela conseguia estar linda até mesmo em um funeral.
"Vamos fazer isso." Falei, dando o braço para Pandora segurar enquanto
chegávamos mais perto.
"Ei, vocês!" Lily disse, surpresa, mas seus olhos pareciam cansados. "Senti
sua falta, Reg." Ela sorriu fracamente, me abraçando.
"Estão sentados ali, na primeira fileira..." Lily disse, apontando. "Está sendo
bem difícil para os dois..." Ela disse, tristemente.
"Sim." Ela disse, dando um meio sorriso, antes de eu terminar. "Com certeza,
você deveria."
188
Ela também havia chorado um pouco. Eu quis tanto ir até ela e abraçá-la
nesse dia tão ruim e triste, e dizer que ficaria tudo bem porque eu estaria com
ela. Mas eu teria que aprender a protegê-la de longe.
"Você pode... pode sentar aqui, se quiser." Sirius disse, com a voz trêmula.
E eu assenti.
Sirius e James subiram juntos para falar. Olhei para Sirius antes dele levantar
e sussurrei um 'vai ficar tudo bem'. Ele assentiu e subiu ao lado de James.
Sirius foi o primeiro a falar.
"Hm, boa tarde à todos." Ele começou, com a voz trêmula. "Eu não... não
tenho certeza se vou conseguir terminar o que eu disser aqui, mas eu gostaria
de apenas... apenas de agradecer ao senhor e a senhora Potter por... por terem
me acolhido na vida deles quando eu ainda era um adolescente idiota e não
tinha para onde ir..." Ele deu uma pausa para respirar, James pôs a mão no
ombro dele. "Eu lembro de uma vez em que eu estava doente e... e eu estava
delirando em febre, não saía da cama por nada, e então," Ele conseguiu sorrir
fracamente. "E então, eu lembro que estava triste porque James entrava no
quarto o tempo inteiro com um pomo de ouro nas mãos querendo saber se eu
189
já podia jogar e a senhora Potter apenas negava com a cabeça," Todos riram
fracamente. "E então, ela usou um feitiço de cura em mim tão forte que a
minha febre passou em questão de minutos... eu consegui levantar e me sentir
finalmente disposto e... e eu fui agradecê-la..." Ele engoliu em seco. "Eu fui
agradecê-la e a chamei de mãe, sem querer." Ele sorriu para si mesmo, as
lágrimas descendo no seu rosto. "Não é justo... não é justo que pessoas tão
boas morram tão cedo... e sempre vou ser grato à eles por terem me amado
como um filho e por terem me deixado amá-los como meus pais. Não vou
fingir que consigo me despedir deles porque isso seria uma mentira, mas...
mas a senhora Potter me disse uma coisa uma vez quando começou a ficar
doente e... e eu nunca a esqueci... Tenho certeza que essa coisa é o que vai
me manter em pé no resto da minha vida sem eles..."
E então ele começou a chorar muito, e James acenou com a cabeça para
Remus. Ele rapidamente se levantou e subiu no altar, tirando Sirius de lá e o
trazendo de volta à cadeira. Sirius enterrou o rosto no ombro de Remus e
soluçava como um bebê.
"Não acho que eu vou ser muito melhor que Padfoot nisso..." James
começou, com a voz trêmula. "Pai, tudo... tudo que existe de bom dentro de
mim veio de você... eu queria muito, muito que você tivesse conseguido ver
eu ser um pai tão bom quanto você... mas eu juro, eu juro para o senhor que
quando esse dia chegar, eu darei o meu máximo para ser igual à você." James
disse firmemente, mas ainda se segurando para não chorar. "Não havia nada
no mundo que você não fazia por mim, então... então, não haverá nada no
mundo que eu não farei pelo o meu filho quando chegar à hora..." Ele
respirou fundo. "E mãe... eu, eu não faço a menor ideia de como falar sobre
quem você foi..." James começou a chorar de verdade e Lily subiu para ficar
ao lado dele. "Mãe, uma parte de mim... uma parte de mim foi embora junto
com você e... e eu sinto muito se de onde você estiver talvez você não goste
de quem eu me torne... mas eu juro, juro que todos os dias eu vou tentar
deixar você orgulhosa de mim..." Ele respirou fundo mais uma vez. "Vocês
foram as melhores pessoas que passaram nesse mundo. E eu vou vencer essa
guerra por vocês dois."
190
Todos aplaudiram quando James terminou o discurso e desceu do altar. Mas
ele não foi sentar ao lado de Sirius quando desceu, ele passou direto pelas
pessoas com a mão cobrindo o rosto e todos nós fomos atrás dele quando ele
foi para longe de onde estava acontecendo o funeral.
"Prongs, você quer ir para casa?" Remus perguntou. "Nós podemos ir todos
juntos."
"Eu... eu não posso mais ficar aqui." James disse, passando as mãos pelo
cabelo. "Eu... eu não..." James ficou pálido e quase desmaiou ali mesmo.
Sirius e eu colocamos os braços de James nos nossos ombros.
"Vamos levar ele para a nossa casa..." Sirius respondeu. "Prongs não vai
aguentar ficar na casa dos pais."
Aparatamos todos juntos para a casa de Sirius. O resto do dia foi horrível.
James estava tão triste que ficou realmente doente. Ele ficou com febre,
muita dor de cabeça e não saiu do quarto de jeito nenhum até a hora de ir
embora. Sirius se ofereceu para cuidar de James e deixá-lo ficar com ele o
resto da semana, mas Lily disse que era melhor ele voltar com ela para casa.
Eles discutiram um pouco sobre isso porque Sirius realmente consegue ser
teimoso quando quer. Foram preciso horas para Lily convencê-lo de que ela
podia cuidar melhor de James em casa e vários sermões de Remus de que
Sirius deveria deixar Lily fazer o que era melhor, até que ele finalmente
cedeu.
"Você vai... voltar para cá?!" Sirius perguntou para mim, depois de Lily e
James terem ido embora.
"Ah, pelo amor de Merlin!" Remus apareceu, com três xícaras de chá. "É
quase meia noite, nós tivemos um dia de merda, vocês podem resolver o
drama de vocês dois outro dia, hoje somos todos amigos, ok?!" Ele pôs a
bandeja na mesa da sala. "Quem quer chá?"
191
"Regulus, vou socar você." Remus disse, me interrompendo e nos fazendo
sorrir.
Nós três tomamos chá e conversamos por um bom tempo. Sirius estava
nostálgico e falou sobre os Potters várias vezes, contou sobre os natais e
verões que passou lá enquanto estava em Hogwarts, contou sobre a noite em
que fugiu e eles o abrigaram tão calorosamente, contou sobre as tortas
salgadas da senhora Potter e sobre os treinos de quadribol com o senhor
Potter.
Eu e Remus deixamos ele falar porque era disso que ele precisava,
lembranças boas. Não pude deixar de pensar em como nunca havia parado
para perceber que na noite em que eu estava no meu quarto culpando Sirius
de todas as formas possíveis por ter me deixado, ele havia finalmente
encontrado amor em outro lugar. Pensar nisso me deixou estranhamente
feliz.
Sirius falou, falou, falou, até que finalmente adormeceu no sofá. A cabeça
no braço do sofá e as pernas por cima de Remus, eu estava sentado na
poltrona em frente eles.
"Acho que você tem que deixar as pessoas que você machuca decidirem se
querem ou não você de volta, Reg." Ele respondeu, olhando para o teto.
"Você faz isso às vezes." Ele respondeu. "Decidir pelos outros o que é o
melhor. E olha que você é o mais novo de todos nós." Ele sorriu, o que me
fez sorrir também.
"Bom, sim e não," Ele respondeu, me olhando. "Às vezes, você sem querer
age como se só você entendesse o que você sente, sabe? Como quando
estávamos na casa de Mary e você disse à Sirius que ele não fazia ideia de
como você estava se sentindo por ter a colocado em perigo, mesmo quando
só queria protegê-la."
192
"Mas eu estava falando a verdade." Respondi, seriamente. "Sirius nunca fez
nada para pôr sua vida em risco."
"O quê?!" Perguntei, surpreso. "Isso não pode ser verdade, ele ama você mais
do que ama esse cabelo!"
"Você se lembra do ano em que ele fugiu de casa? Nós estávamos no quinto
ano e você no quarto..." Ele começou e eu assenti. "Padfoot estava muito
feliz por estar com a família de James e, bem, eu e ele não estávamos juntos,
mas eu... eu já sabia que o amava."
"E então o quê?! Ele ficou com alguém na sua frente?" Perguntei, ansioso.
"Nah, isso parou de me magoar com o tempo... Padfoot fazia isso o tempo
todo naquela época para fingir que gostava de meninas," Ele tragou o cigarro.
"A questão é que Sirius sempre fez tudo para proteger quem ele se importa,
igual à você. A diferença entre vocês dois é que ele pode ser muito
imprudente às vezes."
"Houve uma noite..." Ele começou, tragando o cigarro mais uma vez e
desfazendo o sorriso. "Uma noite de lua cheia, mais especificamente. Em
que eu estava na Casa dos Gritos pronto para me transformar no lobo... e
então, quando a transformação já havia acontecido, Snape apareceu."
"Ele desconfiava." Remus disse, fixando o olhar no chão. "Snape era muito
inteligente, apesar de ser um desgraçado preconceituoso." Ele tragou o
cigarro mais uma vez. "De qualquer forma, Snape apareceu e eu quase o
matei. Com certeza, eu teria o matado se James não tivesse aparecido e
colocado ele dentro da capa."
193
Remus sorriu. "Prongs é um herói incorrigível, Reg. Ele podia ser um pouco
arrogante, mas nunca perdeu a chance de salvar alguém." Ele voltou a ficar
sério. "Sempre que penso naquela noite, eu... eu me sinto mal, me sinto
como... como um monstro. Mesmo depois de já ter aceitado isso em mim."
"Mas como Snape sabia?!" Perguntei. "Como ele sabia que era lá que você
estava?!"
"O quê?!" Perguntei alto, quase acordando Sirius, que se mexeu no sofá.
"Sirius contou à Snape?! Está me dizendo que Sirius dedurou você ao cara
que vocês mais odiavam e James o salvou da morte?! Essa história fica mais
estranha a cada minuto que você conta, Lupin."
"Sirius estava com raiva porque naquela mesma manhã, Snape havia
tentando me azarar no corredor." Ele começou. "Eu fui mais rápido e o feitiço
dele ricocheteou, mas eu cheguei a cair. Sirius correu para me ajudar a
levantar e olhou para Snape, furioso. Eu pedi para ele não revidar porque só
traria mais problemas, mas... Sirius é teimoso, você sabe." Assenti. "Então,
ele achou que poderia dar uma lição em Snape o mandando ir até à Casa dos
Gritos para eu dar um susto nele."
"Eu quase o matei." Remus disse, sombriamente, olhando para o nada, como
se as imagens daquele dia passassem em sua mente. "Aquilo me assombrou
por muito tempo. Você não faz ideia do quanto eu demorei para perdoar
Sirius. Eu poderia ter ido parar em Azkaban ou, não sei, talvez até morto. Eu
não conseguia ver o que ele havia feito como uma coisa boa, só conseguia
pensar que ele havia traído a minha confiança. E, sabe, estar apaixonado por
ele ao mesmo tempo não facilitou nada."
"Sim." Ele respondeu, sem hesitar. "Porque, no fim, ele me amava. Às vezes,
isso não é o suficiente, mas naquele caso era. Ele me magoou e eu quase não
conseguia olhar nos olhos dele, mas quando vi o quanto ele me amava... eu
apenas entendi que não é porque você ama uma pessoa que você está imune
de machucá-la... Sirius não fez aquilo para me atingir, assim como você não
fez nada para atingir Mary, ou Pandora, ou qualquer outra pessoa que você
carrega a culpa de ter machucado. Às vezes, as pessoas que você ama se
194
machucam e você não pode fazer nada para evitar, Reg. Nada, a não ser amá-
las."
"Mas, Remus," Perguntei. "Mesmo que a intenção seja boa, e se o erro for
tão grande que você simplesmente não possa ser perdoado?"
"Foi o que acabei de te dizer, Reg," Remus disse. "Você tem que deixar a
pessoa que você machucou decidir isso. Eu decidi perdoar Padfoot, porque
a raiva que eu estava dele não era grande o bastante para me fazer parar de
amá-lo. Se ele não tivesse me dado espaço, talvez eu nunca tivesse percebido
isso." Ele apagou o cigarro. "O ponto é que não é você quem decide se deve
ser perdoado ou não. Você não pode decidir pelos outros."
"Droga." Resmunguei. "Eu vi a cara dele quando insinuei que ele já tinha
machucado você... não acredito que fui tão insensível."
"Não se preocupe, você vai ter tempo para consertar isso." Ele respondeu,
sorrindo, tentando se levantar do sofá. "Acho que vou levá-lo para o quarto,
ou ele vai acordar todo dolorido e não estou com paciência para fazer
massagem em ninguém."
"Você vai fazer a massagem de qualquer jeito." Disse, tirando uma com ele
e ele sorriu.
"É, provavelmente."
***
"Lily escreveu." Remus disse, naquela manhã. "Quer que vamos até lá esta
tarde."
195
"Ela disse que ele está bem melhor, mas que precisa urgentemente de nós
três lá." Ele respondeu.
"Acho melhor irmos, de qualquer jeito." Sirius disse, antes de terminar seu
cereal.
"Vocês acham que ela chamou Mary?" Perguntei, tentando soar distraído.
"Não estamos sem nos falar!" Respondi, na defensiva. "É só que... nunca
mais nos falamos desde aquele dia, então não sei como vai ser se estivermos
no mesmo lugar."
Naquela tarde, aparatamos para a casa de James e Lily, como ela havia
mandado. James estava do lado de fora, jogando um balaço de quadribol no
gramado.
"Vou falar com ele." Sirius disse, dando um beijo em Remus. "Vocês podem
entrar."
"Ei!" Lily sorriu ao nos ver. "Hm... ok, odeio fazer isso, mas... qual de vocês
me levou até o altar no dia do meu casamento?"
"Claro que fui eu, Lily!" Respondi, sorrindo e entrando, colocando os braços
em volta dos ombros dela. "Lupin não tem o mesmo charme que eu."
"Lily." Remus disse, se virando para nós. "Você está fazendo algo no
forno?!"
196
"Hm, não," Lily disse, se virando para a chaleira. "Por que está perguntando
isso?!" Ela parecia nervosa.
"Não, Remus," Ela respondeu, sem olhá-lo nos olhos. "Não há ninguém."
"Espere aí," Remus disse, chegando mais perto ainda de Lily. "Está vindo de
você..."
"Ah. Meu. Deus!" Remus gritou, e Lily virou de uma vez com os olhos
arregalados. "Você está grávida!"
"Meu Deus, Lily!" Exclamei sorrindo. "Meus parabéns! Mal posso acreditar
nisso!"
"Eu descobri a pouco tempo," Ela disse, sorrindo de orelha à orelha. "Mas
não digam n-"
"Por que estão todos gritando?!" Sirius apareceu na porta, seguido por James.
197
"O QUÊ?!" Sirius e James gritaram, também em uníssono. O rosto de James
ficou pálido e Sirius teve que largar o balaço e segurá-lo porque ele
definitivamente estava desmaiando.
"Vocês podem ajudar aqui, por favor?!" Lily pediu, claramente sem forças
para tirar James do chão. Corremos para segurar os pés de James, enquanto
Sirius segurava na sua cabeça para colocarmos no sofá, ele ainda estava
apagado e Lily colocava água gelada na testa dele.
"Quem diria!" Sirius disse, sorrindo, com a mão na cintura. "Isso merece
uma comemoração! Bebê Prongs está à caminho!"
198
Capítulo 21: Vulnerável
"Tomara que seja um menino!" Sirius disse. "Vou ensinar para ele todos os
truques de quadribol possíveis e quando chegar em Hogwarts, ele vai ser o
melhor jogador da Grifinória!"
"Nem sabemos se ele vai para a Grifinória!" Lily disse, repreendendo Sirius.
"É claro que ele vai para a Grifinória!" James disse, levantando a caneca de
cerveja no ar. "Ele é um Potter!"
"Se ele for para a Sonserina," Disse, sorrindo. "Eu vou comprar a primeira
gravata verde dele e vamos sorrir da cara de todos vocês!"
"Ah, ele não teria o seu azar, Reg!" Remus disse, sorrindo também e eu dei
um soco no braço dele.
Garotas são tão mais complicadas que garotos, por que diabos continuo
gostando delas?!
199
"Lily!" Marlene apareceu, Lily levantou para abraçá-la. "Mal consegui
acreditar quando você me escreveu! James será o papai do ano!" Marlene
disse, bagunçando o cabelo de James e se sentando ao seu lado.
"Você vai ter que superar sua aversão por moda agora, Lily!" Era a voz de
Mary, tentei não olhá-la diretamente. "Temos que comprar vestidos, saias,
sandálias, e tudo que se adeque à quando a barriga crescer!"
Logo atrás de Mary, estava um cara alto, loiro e com um corpo atlético, mas
ele tinha uma cara de quem nunca havia nem entrado em um bar antes. E,
bem, ela estava segurando a mão dele. Mas talvez não fosse nada, talvez eles
fossem primos? Eu costumava andar de mãos dadas com Narcissa. Bom,
quando tínhamos cinco anos, eu acho. Mas isso não pode ser tão diferente.
"Gente, esse aqui é o Connor," Mary o apresenteu e ele abriu um sorriso com
aquela fileira exagerada de dentes. "Nós estamos saindo."
"Caramba!" Sirius exclamou. "Reg, você lembra que queria ser da Corvinal
quando éramos crianças?!"
Levantei os olhos pela primeira vez e assenti. "Sim, me lembro." Vou matar
você, Sirius.
Mary e eu nos encaramos por dez segundos seguidos. Se aquilo era para me
provocar, eu não sabia dizer. Bom, de qualquer forma, não estava
funcionando. Droga, estamos no meio de guerra e Mary quer começar a
namorar agora?! E por que todo mundo está sendo tão gentil com um
desconhecido?!
200
"Você pode sentar aqui, Connor!" Lily disse, puxando uma cadeira para ele
e ele agradeceu, se sentando ao lado de Mary.
"Ah! Remus!" Mary disse, alto. "Connor gosta muito de ler, sabia? Igual à
você!"
"Ah, não, claro que não!" Respondi, ironicamente. "Só achei engraçado você
estar namorando um cara que curte tragédias, porque você geralmente não
entende muito quando alguém tenta te proteger de uma."
Sirius me chutou por de baixo da mesa, Mary cerrou os olhos e voltou sua
atenção à Connor. Remus havia acendido um cigarro.
"Estamos no meio de uma guerra." Remus respondeu. "Se eu morrer, não vai
ser por isso, você não acha?"
Ele se meteu nos cigarros de Remus, então ele deve estar o odiando
internamente agora. Ponto para mim.
"Na verdade, não muito." Ele respondeu. "Acho um pouco violento demais."
James e Sirius franziram a testa, parecendo um pouco ofendidos. "Também
não vejo muito sentido no jogo."
201
"Nós jogávamos para o time!" Marlene disse, apontando para mim, James e
Sirius.
"É, mas Regulus não era tão bom assim." Mary disse sorrindo, arqueando a
sobrancelha na minha direção. Ela estava me desafiando?! "Não é à toa que
a Sonserina perdia para a Grifinória, na maioria dos jogos."
"E-e você tem a..." Connor disse, apontando para o próprio braço.
"A marca?!" Perguntei, sorrindo. "Mas é claro que sim! Essa coisa arde como
fogo, amigo! Consigo matar alguém só levantando a manga do meu casaco
agora, você quer ver?!"
"Acho que já chega de falar sobre isso, não é?!" Mary sugeriu, irritada.
"Por que, Mary?!" Perguntei, sorrindo. "Você não parecia se importar com a
minha marca quando segurava meus pulsos daquele jei-"
202
"Regulus!" Mary exclamou, me interrompendo. "Vamos pegar uma bebida,
por favor?!" Ela me olhou, arregalando os olhos.
"O que você pensa que está fazendo?!" Mary perguntou, furiosa, quando
chegamos ao balcão.
"E o que você pensa que está fazendo?!" Respondi. "Nós nem conhecemos
ele! Como você traz um desconhecido para cá na situação em que estamos?!"
"Ah, claro!" Respondi, ironicamente. "O cara é uma piada. Achei que seu
gosto era mais refinado do que isso, MacDonald."
"Bom, eu saí com você. Meu gosto deve ser realmente duvidoso!" Ela disse,
desafiadoramente.
"Por que é que você está com raiva de mim?!" Perguntei, erguendo as mãos.
"Porque você acha que pode fazer uma cena só porque está com ciúmes!"
Ela respondeu, zangada.
"Eu não estou com ciúmes!" Falei, ofendido. "Você está doida se acha isso,
sinceramente! Ciúmes! Pelo amor de Merlin..."
"Que bom, porque se você não está lembrado, foi você quem terminou as
coisas entre nós!" Mary disse, apontando o dedo para mim.
"Porque eu queria proteger você, Mary! Quantas vezes eu vou precisar dizer
isso?!" Perguntei, furioso.
203
"Você é tão cheio de si achando que fiz isso só para te deixar com ciúmes,
não é?!" Ela disse, olhando bem nos meus olhos.
Nos encaramos com raiva por alguns segundos muito longos. Meu Deus,
Mary era inacreditavelmente irritante, e irritantemente linda...
"Eu duvido que você grite o nome dele como gritava o meu." Sussurrei no
ouvido dela, enquanto ela ainda estava inclinada.
Consegui sentir a respiração dela falhar por alguns segundos, ela pegou a
bandeja de cervejas e se aproximou do meu rosto, sussurrando. "Cheio de
si." E então, voltou para a mesa.
Não era possível que alguém conseguisse ser tão teimosa como ela. Eu,
claramente, fiz tudo que fiz para mantê-la segura e ela me agradece trazendo
um cara qualquer para um lugar com os nossos amigos. Não é possível que
ela realmente esteja gostando desse cara. E não é possível que eu esteja tão
preocupado com isso tendo um milhão de outras coisas para me preocupar.
Fui direto do balcão até o banheiro, passando pela mesa em que estavam
todos juntos.
"Banheiro."
"Hm... ok, mas não demore muito, certo?!" Remus disse, e eu assenti, um
pouco confuso.
204
pensar, naquele banheiro, era ela entrando lá comigo e não se importando
com o tal do Connor ou com as outras pessoas que veriam nós dois entrando
juntos. Deixaríamos o bar inteiro com inveja.
Assim que mergulhei meu rosto na pia para molhar de novo, escutei um
barulho atrás de mim. Mesmo com os olhos fechados, minha mão foi direto
até à minha varinha. Quando se é procurado por comensais da morte, esse
tipo de coisa vira instinto.
"Você sabe muito bem que gosto de fazer uma boa entrada, Reg." Essa voz.
Não, não, não, não pode ser.
"Se você fizer qualquer coisa, eu mato você." Respondi, com a varinha
apontada para ele.
"Ah, Reg, você precisa relaxar!" Ele estava brincando com a varinha nos
dedos, andando em círculos pelo banheiro. "Eu conseguia fazer você relaxar
direitinho quando dormíamos no mesmo dormitório, você não lembra?" Ele
sorria como um louco.
"Onde estão os outros?!" Perguntei. "Não me diga que o Lorde das Trevas
foi burro o suficiente para mandar só você atrás mim." Falei,
sarcasticamente, porque essa era a única língua que Barty entendia.
"Eles nem sabem que eu estou aqui, seu idiota, apesar de que Bella ia adorar
saber como foi fácil te pegar..." Barty disse. "Eu vim por mim mesmo,
porque você tem nos dado muito trabalho ultimamente, sabia disso?!" Ele
disse, ainda sorrindo. "Fiquei sabendo do seu casinho com a sangue-ruim lá
fora, confesso que fiquei com ciúmes." Ele disse, cinicamente.
"Se você ousar encostar nela, vou fazer você sofrer tanto que esse sorrisinho
finalmente vai sumir do seu rosto, seu desgraçado." Respondi, furioso.
205
"Ah, Reg, você foi um menino muito mal, sabia?! Nos virando as costas
desse jeito... virando as costas para mim!" Barty gritou agora. "Eu é quem
sou seu melhor amigo! Você achou que ia fazer isso comigo e eu não ia
reagir?!" Ele voltou a sorrir. Barty sorria como um maníaco, e seus olhos
lacrimejavam o tempo inteiro, como se ele estivesse o tempo todo chapado.
"Reducto!" Lancei da minha varinha, mas ele foi mais rápido e se protegeu.
"Ah, Reg, não procure uma briga que você vai obviamente perder..." Barty
disse, com um olhar sombrio. "Eu enfeiticei o banheiro. Ninguém lá fora
pode nos ouvir. Você pode fazer quanto barulho quiser..."
"Diga logo o que você quer." Ordenei, ainda com a varinha apontada. "Se
você quisesse me matar, já teria matado."
"Vim levar você de volta, Reg," Ele respondeu, dando de ombros. "Até
aquele amigo do seu irmão está com a gente agora, mesmo ele sendo
praticamente inútil. Vim levar você de volta para o lugar que você realmente
pertence. Com os comensais, com o Lorde das Trevas, e comigo."
"Ah, Reg, você sabe que eu não teria coragem de te matar!" Ele disse,
fingindo um sorriso amigável. "Você sabe que eu não consigo viver sem
você..." Barty sorriu, chegando perto de mim.
"Isso é por causa do seu irmãozinho traidor?! Ou por causa daquela sangue-
ruim?!" Barty debochou. "Você não costumava me rejeitar assim, Reg..." Ele
ficou sério de novo. "Tudo bem, vamos fazer um trato, ok?! Eu largo a minha
varinha se você largar a sua."
"Ah, qual é," Ele disse, abaixando a mão e colocando a varinha em cima da
pia. "Está vendo?! Você pode confiar em mim... Não estou mais com a minha
varinha."
206
Eu continuei armado, mas estava mais nervoso do que não me sentia há
muito tempo. Eu conhecia Barty, ele não era misericordioso. E não aceitava
um não como resposta, em qualquer que seja o sentido.
"Vamos, Barty," Disse. "Qual é o seu jogo?! Eu conheço você, você sempre
joga."
"Ai." Ele disse, pondo a mão no peito. "Assim você me ofende, Reg." Ele
ficou sério novamente. "Olhe, só quero conversar com você, ok? Nós somos
amigos, você sabe disso!"
Barty foi rápido demais. Eu estava concentrado nas palavras dele, quando
ele puxou a varinha de uma vez da pia e conseguiu me desarmar, me pegando
desprevenido.
"Opa." Barty disse, sorrindo. "Acho que agora vai ter que ficar sem a varinha,
de um jeito ou de outro." Ele me lançou um feitiço que me deixou grudado
na parede, sem conseguir sair de jeito nenhum e depois colocou as duas
varinhas em um canto no chão. "Agora nós podemos conversar como pessoas
normais, não é?"
"Relaxa, Reg..." Barty disse, chegando perto de mim. "A gente costumava se
divertir tanto antigamente..."
"Por causa dela?!" Ele perguntou, chegando perto demais e eu não tinha para
onde correr, eu estava na parede e ele estava bem na minha frente. "Ah,
Reg..." Ele passou a mão no meu rosto. "Você sabe que não gosto quando
você me diz não."
"Não encosta essa sua mão em mim." Falei, virando o rosto de uma vez
quando ele tocou. "Ou você aceita o não ou você vai ter que me matar."
"Não, Barty, não quero." Respondi, seriamente. Nunca fiquei tão assustado
na minha vida.
207
"Shhh." Ele cobriu a minha boca com a mão. "Se o único jeito de te trazer de
volta for te lembrando o quanto você sente a minha falta... Então, por mim,
não tem problema."
A mão livre dele abriu os botões da minha camisa e ele começou a passear
com ela pela minha barriga. Eu quis gritar, mas a mão dele apertou tanto a
minha boca que eu tinha certeza que se ele me deixasse vivo, eu ficaria com
o rosto roxo por dias. Queria ter feito alguma coisa, queria ter conseguido
fazer, mas eu estava tão, tão, tão assustado.
Ele começou a passar a língua no meu pescoço e o corpo dele estava tão
colado no meu que eu conseguia sentir ele enrijecido contra a minha perna.
Até que ele tirou a mão da minha boca e me beijou, me impedindo de dizer
qualquer coisa.
"Se você reclamar, mato todo mundo que está nesse bar." Barty disse,
olhando dentro dos meus olhos. "Inclusive, seu irmãozinho." Ele arqueou a
sobrancelha. "Você vai voltar, Reg. Você vai ver..."
Eu estava com os olhos arregalados, sabia que Barty estava falando sério. Se
eu o impedisse, ele faria uma massacre. E o pior, provavelmente chamaria
reforços para ajudá-lo. Eu não podia fazer nada.
Ele voltou a me beijar, até que o beijo ficou molhado demais porque eu
estava chorando. E então ele abriu a minha camisa e passou as duas mãos
por todo o meu corpo, enquanto beijava o meu pescoço. "Tinha me esquecido
de como você é lindo." Ele sorriu e me beijou outra vez, descendo a mão
para o meu cinto e tentando abrir. Até que finalmente, conseguiu.
"Barty." O chamei, mas sabia que ele não escutaria. Ele começou a passar a
língua no meu pescoço e abriu o zíper da minha calça, enfiando a mão dentro,
por cima da cueca. Meu corpo inteiro foi tomado por um medo absurdo. Um
medo diferente do medo que eu sentia da minha mãe, diferente do que eu
sentia até de mim mesmo.
Mas antes que ele conseguisse, a porta do banheiro foi totalmente explodida.
Barty teve que se abaixar para os pedaços de madeira não machucarem o
208
rosto dele. As pessoas do bar começaram a aparecer na porta, assustadas.
Algumas aparatando por medo.
"O que você está fazendo com o meu irmão, seu filho da puta?!" Sirius
entrou, cego de ódio, com a varinha nas mãos, seguido de Remus e James,
lançando um feitiço em Barty que o deixou atordoado.
"Regulus!" Era a voz desesperada de Mary. "Ah, meu Deus! Lily, pelo amor
de Deus, venha aqui!" Lily correu até a parede onde eu estava e fez um feitiço
que me tirou de lá. Eu caí para frente, fraco de tanto medo, mas Mary me
segurou, beijando a minha testa. "Tudo bem, você está bem agora, você está
bem agora..."
"Não se preocupe, Reg," Marlene veio até mim, vendo meu rosto roxo.
"Vamos tirar você daqui e eu mesma vou cuidar de você!"
"Por que suas roupas estão abertas assim?!" Lily perguntou, preocupada, eu
não sabia como responder.
"Lily." Mary disse, olhando para Lily e apenas balançou a cabeça, Lily
pareceu entender.
Sirius parecia ter preferido resolver as coisas do modo trouxa. James segurou
com força os braços de Barty para trás e Sirius o acertava um soco atrás do
outro, ele socava tanto o rosto dele que achei que ele perderia todos os dentes,
Remus pegou ele pela gola do casaco e o jogou no chão, dando um chute na
sua costela.
"Se você chegar perto dele outra vez, eu mato você com as minhas próprias
mãos." Remus disse, cuspindo no pé de Barty, que estava com o rosto todo
quebrado agora.
"Esperem aí." Falei, me soltando dos braços de Mary. Fui até o canto do
banheiro onde Barty havia jogado nossas varinhas. Depois de guardar a
minha, peguei a dele e segurei na frente dele. "Você tá vendo isso aqui, seu
filho da puta?!" E a quebrei no meio, em dois pedaços diferentes. "Espero
que Azkaban parta você ao meio desse jeito!" Joguei a varinha quebrada fora
e dei um chute forte no saco dele, enquanto ele ainda estava deitado.
"Ele vai pegar você, Regulus!" Barty disse, com a voz abafada de dor, ainda
conseguindo sorrir como um psicopata. "Ele sabe que você está tentando
destruí-lo! O Lorde das Trevas sabe!"
209
"Cala a boca, seu merda!" James gritou, apontando a varinha para ele. Mary
correu até onde eu estava e me abraçou forte outra vez. Lily pôs a mão no
meu ombro direito e Marlene no esquerdo.
"Ele vai matar todos vocês!" Ele dizia, gargalhando. "Ele vai matar todos,
um por um!"
"Reg!" Sirius disse, assim que Barty sumiu. "Merlin, você está bem?! Pegue
isso!" Ele enrolou o casaco dele em mim.
"Eu sabia que havia algo de errado!" Remus exclamou. "E quando você
demorou, eu imaginei que algo estava acontecendo."
"Vocês podem só não..." Falei, tentando não parecer grosso. "Não me tocar
muito."
***
Passei alguns dias sem sair do quarto. Sirius e Remus traziam o almoço e o
jantar. Marlene vinha checar meus machucados dia sim dia não. Lily e James
estavam aqui todos os dias para se certificar de que eu estava bem. Pandora
estava indignada.
210
"Eu teria o matado!" Pandora gritou, em uma tarde em que foi me ver. "Eu
teria o torturado e cortado aquela coisa que ele tem no meio das pernas em
pedacinhos e dado para cachorros comerem!"
"Ah, Reg," Pandora disse, encostando a cabeça no meu ombro. "Não consigo
nem pensar em alguém machucando você dessa maneira."
Pandora foi a única para quem contei em detalhes o que aconteceu. Eu tive
inúmeras crises de pânico sozinho no quarto durante os dias em que passei
sem sair. Não conseguia parar de pensar em que ponto as coisas chegaram
para Barty ter me procurado e feito isso. Sirius tentou me abraçar algumas
vezes, mas eu simplesmente não conseguia. Qualquer outra pessoa
encostando em mim, eu me lembrava dele. Sempre dele.
Ver Mary passar pela porta foi com certeza o ponto alto da semana. Ela
estava linda, como sempre. Com os cachos bem formados e um vestido
laranja com detalhes brancos.
"Oi." Ela disse, sorrindo um pouco. "Trouxe isso para você." Ela estendeu a
mão e me deu uma flor.
"Como eu estou?!" Ela sorriu, se sentando do meu lado na cama, bem perto
de mim. "Você é quem está aí de cama e pergunta como eu estou?"
"Quero saber como você está." Ela disse, pondo a mão na minha. "É minha
vez de cuidar de você."
211
"Eu sei o que aconteceu." Mary disse, com os olhos fixos nas nossas mãos.
"Soube no momento em que vi você."
"Entendi." Mary disse, afirmando com a cabeça. "Mas eu sei como é difícil
pensar nesse tipo de coisa, mesmo que ele tenha apenas tentado..."
"Caras são idiotas, Reg." Mary disse, sem olhar para mim. "Não acho que
exista uma mulher que nunca passou por algo parecido."
"Um babaca da Grifinória." Mary disse, revirando os olhos. "Eu estava no...
no quinto ano. E, você sabe, eu gostava de namorar. Gostava de me vestir
como queria, de eu mesma decidir o tamanho da minha saia ou o tamanho
do meu decote. Eu gostava de saber que tinha o controle das coisas até que...
até que um dia eu não tive."
"Ele foi longe demais com você?" Perguntei, tentando não parecer invasivo.
"Eu consegui correr." Mary disse, afirmando com a cabeça. "Eu estava à fim,
entende? Eu queria no início, então... então, quando, de repente, eu não me
senti mais confortável... ele ficou furioso e não admitiu que eu o rejeitasse.
Ele começou a me xingar e dizer que eu tinha que deixá-lo fazer o que ele
quisesse porque eu era fácil e sempre deixava os garotos fazerem esse tipo
de coisa."
"É estranho..." Eu comecei. "Eu acho que fiquei em choque nos primeiros
dias porque não tive noção do que tinha acabado de acontecer... mas depois,
eu... eu tive essas crises e não sabia direito como reagir," Mary levantou os
212
olhos para mim. "Eu me senti vulnerável. Como se... como se meu próprio
corpo..."
Demorei um pouco a responder, porque não havia contado disso para muitas
pessoas. "Sim." Assenti. "Sim, nós... nós tínhamos. Mas fazia muito tempo."
"Na época, eu achava que sim," Falei. "Eu era muito novo e deixava Barty
fazer o que quisesse comigo. Eu achava ele um máximo."
"Isso deve ter o irritado." Mary disse. "Saber que ele tinha você na palma da
mão e agora simplesmente não tem mais."
"Sabe, Reg," Ela disse. "Você só precisa saber que isso não foi sua culpa,
entende? Não importa se você não conseguiu se defender, ou não conseguiu
parar ele, a culpa continua sendo dele, ok? Não existe explicação para o que
ele fez, ele apenas é uma pessoa ruim que está no lugar que merece agora."
Ela segurou meu rosto com as mãos. "Você é uma pessoa boa e isso que
aconteceu está longe de definir algo sobre você."
Sem eu nem mesmo perceber, meu rosto começou a ficar molhado com
lágrimas e eu afundei o rosto no ombro dela. Ficamos ali um bom tempo,
apenas aproveitando a companhia um do outro.
"Hm?!"
213
"Eu sinto muito." Falei. "Também não foi culpa sua."
***
"Bom dia, Six!" Exclamei, saindo do quarto um dia após ver Mary. "O que
tem para o café?!"
"Você está bem, Reg?!" Sirius perguntou, se levantando e indo até mim.
"Ele foi em uma missão ontem à noite, estou esperando ele chegar." Sirius
disse, um pouco preocupado.
"Eu achei que vocês passavam todas as luas juntos." Disse. "Você, ele,
James..."
"Ele é aliado dos comensais." Falei, pondo a xícara na mesa. "O cara é
sinistro."
"Foi ele quem mordeu Remus." Sirius disse, parecendo um pouco triste.
214
"Uou, uou, uou! Espere aí, outra vez!" Falei, agora largando o café. "Remus
vai à missões em forma de lobo para ganhar a confiança do cara que
transformou ele?! Isso é doentio, Sirius!"
"Eu também não gosto disso, Reg." Sirius disse. "Mas Dumbledore e Moody
dizem que é necessário e..."
"Espero que ele esteja bem, apenas isso." Sirius disse, ainda triste, como se
já tivesse passado várias outras noites preocupado se Remus voltaria ou não
vivo para casa. "Mas e você? O que vai fazer para achar o diário e a taça?"
"Você não vai nem chegar perto de nenhum deles outra vez, mocinho." Sirius
disse. "Nem por cima do meu cadáver."
"Não perto de qualquer um, Sirius." Respondi. "Tem alguém que, com toda
a proteção da Ordem, é claro, eu até poderia tentar me encontrar."
"Regulus, nenhum comensal vai ajudar você." Sirius disse, seriamente. "Não
seja idiota."
"Essa pessoa nem tem realmente a marca, Sirius." Respondi. "E ela não é
totalmente leal ao Lorde das Trevas, ela é leal ao que interessa à ela."
215
Capítulo 22: Dezenove
"Estou com você, Reg, de verdade," Remus disse. "Mas não me leve à mal,
talvez você devesse realmente falar com Dumbledore. A proteção que a
Ordem pode te oferecer é muito maior."
"Me admira você, Lupin, confiar tanto nele." Falei, estreitando os olhos.
"Sirius me disse onde você passou a lua cheia a algumas semanas. Você não
pode realmente achar que isso é justo."
"Você não devia ir nessas missões só porque eles mandam." Falei. "Você
não precisa."
"É engraçado você dizer isso, Reg," Remus disse. "Você é mais novo que
todos nós e quer se encontrar com uma comensal da morte."
216
"Porque isso sim vai ter algum efeito, Remus! Você arriscar a vida não vai."
Expliquei.
"Falando assim, parece até que você está preocupado comigo." Remus disse,
sorrindo.
"Não estou afim de ouvir Sirius chorando pela a sua morte o resto da minha
vida." Disse, dando de ombros.
"Também não quero chorar a sua, Reg!" Sirius exclamou. "Não salvei você
naquela caverna à toa!"
"Talvez, ela não, mas e o Malfoy?!" Remus perguntou. "Ele mataria, com
certeza."
"Sirius, sua situação com a nossa família ainda consegue ser pior do que a
minha." Disse. "Eu sempre fui mais próximo de Narcissa, você sabe. Era
você com Andy, eu com Cissy e Bella com... não sei, o diabo, eu acho. A
questão é que se ela ver você, talvez as coisas fiquem complicadas."
Sirius estava irredutível quanto à ideia de eu ver Narcissa. Ele passou dias
me seguindo pela casa, listando todos os motivos existentes do porquê eu
não deveria fazer isso. De como era perigoso eu me encontrar com uma
aliada do Lorde das Trevas em pleno lugar público. Qualquer passo errado e
o lugar poderia virar um massacre.
217
"Você precisa de toda proteção possível." Ela disse, quando fui até à casa
dela para contar. "Você não tem como saber se ela também não vai levar
alguém."
"Ela precisa achar que estou lá sozinho." Disse. "Precisa achar que confio
nela, para que ela possa confiar em mim."
"Narcissa é esperta, ela não vai confiar em você se você não der motivos."
Pandora disse. "Você precisa ter alguma carta na manga para convencê-la.
Precisa de uma moeda de troca."
"Merlin, Pandora, falando assim, parece que eu vou fazer um pacto com o
diabo."
"É literalmente o que você vai fazer, Reg." Ela completou. "Narcissa vai
precisar ser muito bem persuadida para dar alguma informação que você
precise."
"Tem certeza de que você não quer falar com Dumbledore?!" Ela insistiu
"Você estaria bem mais protegido se deixasse ele ajudar você."
"Não mesmo." Respondi. "Mas ele sabe que não tem escolha, não consigo
ver outro jeito para fazermos isso."
Eu só precisava falar com James e Lily agora. Eu não estava esperando que
eles se oferecessem para ir comigo também, porque James agora seria pai e
a minha cota de mulheres perdendo o filho porque estavam tentando me
218
ajudar já acabou por essa vida. Apesar de eu não estar indo pedir permissão,
eu gostaria de saber o que eles achavam sobre o assunto.
"Ei, cara! Que bom ver você!" James abriu a porta. "Hm... ok, vamos fazer
isso. Qual foi a minha reação quando descobri que Lily estava grávida?"
"Você ficou pálido como uma parede e tivemos que segurar você para não
bater com a cabeça no chão." Respondi, sorrindo.
"Pode entrar!" James disse com um sorriso, dando espaço para eu entrar.
"Reg!" Lily veio da cozinha, a barriga dela já estava aparecendo, era incrível
como ela parecia tão diferente, mas ao mesmo tempo tão feliz. "Que bom
que está aqui! Você quer chá?"
"Sim, quero sim, obrigado." Agradeci. "Como você está Lily?" Perguntei me
sentando na mesa da cozinha.
"Muito feliz!" Ela estava radiante, enquanto esquentava a água quente. "É
um pouco cansativo, a barriga e tudo mais... mas definitivamente nunca
estive tão feliz!"
James veio até a cozinha, sorrindo ao ouvir Lily tão feliz. E a deu um abraço
por trás, beijando o seu rosto. Acho que nunca vi os dois tão felizes. Eles
eram absolutamente feitos um para o outro. Como se cada parte de James
tivesse sido criada para amar cada parte de Lily e vice-versa. O bebê deles
seria a criança mais amada do mundo.
"E então, Reg?" James disse, puxando uma cadeira para se sentar. "A que
devo a honra?!"
"Queria saber o que vocês dois acham sobre uma coisa." Respondi,
diretamente, Lily sentou com o chá na mesa e os dois me encararam
seriamente. "Preciso de pistas sobre onde as próximas horcruxes estão... e
decidi falar com alguém que eu sei que realmente vai ter informações úteis
para mim."
219
"Você não está pensando em..." James começou.
James e Lily se entreolharam preocupados, e ele disse. "Eu vou com vocês."
"Não posso te pedir isso, James." Balancei a cabeça. "Lily está grávida, não
vou tirar de você de casa para te colocar em perigo."
"Regulus." James disse, seriamente. "Eu não deixo meus amigos lutarem
suas guerras sozinhos. Eu vou com você."
"E você, Lily?!" Me virei para ela. "Se você não estiver confortável com isso,
você pode me dizer."
Lily olhou para James e depois para mim, e segurou na minha mão, sorrindo
fracamente. "Família, Reg. É isso que fazemos uns pelos outros."
***
Tudo bem, vamos falar sobre isso. Eu gosto de aniversários, não sou tipo
aquelas pessoas amarguradas que dizem 'não gosto de aniversários'. Mas o
problema é o meu aniversário. Nunca vi muito sentido em comemorar, ainda
mais quando ainda morava na mansão. Meus aniversários nunca foram do
jeito que eu queria e mamãe sempre me obrigava à convidar pessoas que eu
nem conhecia direito, familiares que eu nem sabia o segundo nome. A única
parte boa era que eu e Sirius tínhamos uma tradição de sempre irmos ver as
constelações do parapeito do quarto dele quando todos já tivessem ido
dormir. Fazíamos isso tanto no aniversário dele quanto no meu, em
homenagem aos nossos nomes.
"Reg,
220
Perguntei à Sirius o que você gostaria de ganhar de aniversário e ele me
deu algumas ideias, espero que você goste do que mandei à você!
Venha nos visitar quando você puder, você é sempre bem vindo!
Andy."
"Andy,
Muito obrigada pela carta e pelo presente! Também estou com muita
saudade!
Na verdade, há sim algo em que queria que você me ajudasse. Mas acho que
precisamos conversar pessoalmente sobre isso.
Sei que vocês duas não se falam há bastante tempo, então se você não se
sentir confortável em me ajudar, eu vou entender, sem nenhum problema.
Com amor,
221
R.A.B."
Talvez eu estivesse pedindo muito à ela. A briga dela com Narcissa foi
horrível, pelo o que me lembro. Acho que o motivo de ter sido tão ruim é
que Narcissa e Andy eram mais próximas uma da outra do que qualquer outra
pessoa na família. Bella sempre foi louca, e sua lealdade sempre esteve mais
com Voldemort do que com qualquer outro ser humano. Mas Cissy e Andy
eram diferentes. Eram como eu e Sirius. E eles conseguiram destruí-las,
como fizeram com nós dois.
Mas se elas significavam tanto uma para outra como eu imagino, então havia
um jeito. Se tem alguém que Narcissa pode ouvir além de mim, esse alguém
é Andrômeda. Se houve um jeito para mim e Sirius, então existe um jeito
para elas. Narcissa só tem que escutar.
"Ei, Six!" Falei, pegando o meu casaco. "Eu vou até à casa de Andy, ok?"
"Hm... não sei, antes do sol se pôr, acho." Respondi, dando de ombros. "Por
quê?!"
Nunca havia ido na casa de Andrômeda, Sirius com certeza já havia, mas eu
não. Era uma casa simples, comparada à casa que ela cresceu. A ideia dos
meus tios entrando em colapso vendo a vida que ela leva me fez rir.
"Regulus!" Ted foi quem abriu a porta, com um sorriso. "Feliz aniversário!"
"Hm... não sei muito bem o que perguntar à você..." Ele disse, reflexivo.
"Pergunte à ele qual foi a brincadeira trouxa que eu o ensinei escondido dos
nossos pais quando éramos crianças!" Andy gritou, vindo com um sorriso
até a porta.
222
Andy bagunçou meu cabelo e pôs a mão nos meus ombros. "Venha! Temos
muito assunto para colocar em dia!"
Assim que entrei na sala de estar, Nymphadora passou correndo pela sala,
com uma energia caótica e animada, com os cabelos cor de rosa bagunçados.
"Ei, Dora! Olhe só quem veio nos ver!" Andrômeda disse, apontando para
mim.
"Tio Reg!" Ela correu até mim, e envolveu os braços pequenos na altura da
minha cintura, me pegando desprevenido. "Feliz aniversário!"
"Bem!" Ela respondeu, sorrindo para mim. "Quantos anos você tá fazendo?!"
"Dezenove." Respondi. "E você, hein? Já tem quantos?" Ela levantou sete
dedos nas mãos. "E está ansiosa para ir à Hogwarts?"
"Muito!" Ela exclamou, radiante. "Mas mamãe disse que é para eu tomar
cuidado com crianças más que queiram mexer comigo por causa do meu
cabelo, ou porque sou diferente..." Ela disse, um pouco triste.
"Ei." Eu segurei o seu queixo. "Se alguma criança mexer com você lá,
escreva uma carta para mim, ok?! Você promete?!" Disse, sorrindo,
levantando o mindinho para ela.
"Sim, ela é maravilhosa." Andy disse, sorrindo. "Eu recebi sua carta."
223
"Fiquei curiosa para saber porquê você está querendo ver Narcissa,
levantando em conta à situação atual." Ela respondeu, arqueando a
sobrancelha.
Ela assentiu e eu contei tudo. Contei que estava atrás das horcruxes desde
muito antes da noite em que fui até à caverna, e de como foi preciso irmos
até Hogwarts para conseguir pegá-las e destruí-las, contei sobre Barty no
Três Vassouras - não necessariamente tudo - e contei cada detalhe de cada
coisa que havia acontecido desde o ano passado, qualquer coisa que pudesse
convencê-la de me ajudar. Ela escutou tudo atentamente, sem me
interromper.
"E agora você quer que eu ajude você a falar com Narcissa." Ela completou
e eu assenti.
"Sim."
"Olha, Reg, isso não vai ser fácil," Ela começou. "Você precisa de algo que
realmente interesse ela para fazê-la confiar em você. É quase como um tiro
no escuro."
Ela pensou por um minuto, e então revirou os olhos e disse. "Tudo bem! Eu
vou com você!"
"Estou com uma coisa em mente..." Ela disse, pensativa. "Mas pode dar ou
muito certo ou muito errado... também não sei se é certo fazer isso..."
"Andy, não tenho tempo para fazer o certo." Falei. "Preciso agir agora."
"Tudo bem, tudo bem!" Ela disse, erguendo as mãos. "Você está sabendo
que ela está grávida?"
224
"Merlin, você e Sirius não leem o Profeta Diário naquela casa?!" Ela
perguntou. "Lucius e Narcissa saíram na primeira página, anunciando a
gravidez. Se o ministério soubesse quem Lucius é de verdade..."
"O ponto é que," Andy continuou. "Se você usar isso, usar algo que beneficie
ela e o filho..."
"Eu disse à ele." Expliquei. "Ele não concorda em eu ir vê-la, mas concordou
em ficar escondido caso algo dê errado."
Andrômeda assentiu e me encarou por alguns segundos. "É bom estar com
você de novo, Reg." E então me abraçou forte e demoradamente. O que me
deixou ansioso e um pouco desconfortável. E passou a mão no meu rosto. O
que me provocou flashes de Barty fazendo exatamente a mesma coisa. Me
senti preso e sufocado.
"Hm... Sirius não quer que eu chegue tarde em casa," Disse, levantando o
mais rápido que podia. "Tenho que ir agora."
225
"Tudo bem..." Ela abriu a porta, ainda confusa e me deu um beijo na
bochecha, que eu quase não consegui sentir porque saí rápido de mais.
"Qualquer coisa, me escreva."
Não sei se algum dia vou conseguir deixar que outra pessoa encoste em mim
dessa forma.
Assim que desaparatei de volta para casa, respirei mais fundo do que nunca
tinha respirado antes. Não sei se eu aguentaria mais alguns minutos se eu não
tivesse saído correndo. Já fazem semanas, isso já deveria ter passado. Tudo
bem, não tenho tempo para pensar nisso agora. Preciso focar em coisas
realmente importantes. Meu estresse pós traumático pode esperar.
Enfiei a chave na porta e girei, pronto para ir direto para o meu quarto e só
sair de lá no ano que vem. Mas não foi o que aconteceu.
"SURPRESA!"
"O que é tudo isso?!" Perguntei, sorrindo. Não pude deixar de me sentir
emocionado.
"Como assim trouxa?" Perguntei, confuso. "E que roupas estranhas são
essas?!" Deus, Mary quer me matar com esse vestido.
"São roupas trouxas, Reg!" Pandora disse, vindo até mim. "Agora vá colocar
a sua!"
226
"E por que você acha que pedi para Andy te dar de presente um par de
coturnos?!" Sirius perguntou, sorrindo, o que me fez gargalhar muito.
Todos começaram a gritar 'veste, veste, veste, veste!' até que eu finalmente
fui. Quando cheguei no quarto, havia uma roupa completa em cima da cama.
E um bilhete de Sirius dizendo 'se você não usar os coturnos, arrebento você',
o que me fez rir. Seria o primeiro aniversário que eu passaria com pessoas
de quem realmente gosto e que realmente considero como a minha família.
Eu, sinceramente, não podia estar mais feliz.
Eu estava vestido com uma camisa fina preta com as mangas compridas, um
jeans preto um pouco puído em alguns lugares e os famigerados coturnos
que Sirius tanto quis que eu usasse. Eu parecia um cantor jovem de uma
banda de rock que não fez sucesso.
"Ah, não!" Sirius apareceu na porta. "Suba essas mangas! Você está
parecendo um paciente de hospital!"
"Mas todo mundo sabe quem você é, Reg!" Sirius insistiu. "E com a marca
e isso aqui," Ele retirou do bolso da jaqueta de couro preta um cordão
prateado com um cadeado como pingente e uma pulseira preta de couro.
"Você vai dar um medo danado em Connor..."
"Ok, passa essa coisa para cá." Concordei, subindo a manga e pondo a
pulseira grossa de couro preto e o cordão de Sirius.
"Tudo tem um limite." Respondi, ele revirou os olhos. "Ok, estou pronto."
227
"Regulus?!" Conheço essa voz.
"Eu estive por um tempo na Suíça!" Ela disse tentando falar mais alto que a
música. "Depois Itália, África do Sul..."
"Agora que voltei, tenho ajudado a Ordem com algumas coisas, sabe?!" Ela
disse e eu assenti. "Você está diferente."
"Ah!" Exclamei, ainda sorrindo. "Você está linda também!" Eu não menti,
ela era realmente linda, Emmeline. Mas não tanto quanto aquele demônio de
vestido vermelho que me assombrava o tempo todo chamado Mary
MacDonald.
"Você quer..." Ela começou, sorrindo e pondo a mão no meu ombro. "Não
sei, sair daqui?"
"Agora?!" Perguntei. "Com você?!" Ela assentiu, ainda sorrindo. "Acho que
Sirius vai ficar chateado se eu sair..."
"Acho que ele vai entender." Ela disse, decidida. O braço dela no meu ombro
estava começando a me incomodar.
228
"Não enche, Pandora." Revirei os olhos. "Vocês acham que Mary viu?!"
"Se quer saber, ela está sozinha agora," James disse, apontando para Mary
sentada sozinha no sofá. "Você pode ir até lá e perguntar."
"Então," Mary começou. "Acho que estamos empatados agora, não é?"
"Ah, Regulus, não preciso que você negue." Ela disse, sorrindo
sarcasticamente. "Se você quer ficar com Emmeline, você pode."
"Tudo bem!" Ela exclamou. "Só estou dizendo para não se sentir preso por
causa de mim, porque nós somos apenas amigos."
"Não!" Respondi. Nem eu sabia se estava. "Só estou confirmando o que você
disse."
"Ah, sim!" Respondi, "Acho que vou pegar um para Emmeline, então."
229
"Você acabou de dizer que está tudo bem!" Disse, confuso. "Nós somos só
amigos, não somos?" Se esse era o jogo que ela queria fazer, então faríamos.
"Ok." Assenti.
"O quê?!"
"Nada." Balancei a cabeça. "Eu vou pegar outro desse aqui para mim."
"Tudo bem! O que tantos 'tudo bem' querem dizer, afinal?!" Resmunguei
para mim mesmo, me levantando do sofá e indo até onde ficavam as bebidas.
Mulheres são tão estranhas.
"Estou bem, obrigado." Ele sorriu, me olhando por cima do copo. "Vi você
com Emmeline, vocês estão juntos ou algo assim?"
"Sim, ela é." Ele disse, bebendo um gole da sua bebida. "Então, você não
gosta de ninguém?"
230
"Mas com certeza alguém deve gostar de você, não é?!" Ele disse, sorrindo
e pondo a mão no meu ombro. "Quero dizer, você é muito bonito, realmente
bonito."
"Hm... obrigado." Agradeci, constrangido. "Mas não, não acho que alguém
goste de mim."
"Isso é bom, então," Ele disse, me olhando de um jeito estranho. "Acho que
agora entendi porquê você fica tentando me provocar quando estou com
Mary."
"Se não é por causa de Mary..." Ele passou os dedos pela minha clavícula.
"É por minha causa?"
"Você sabe do que eu estou falando." Ele disse, se aproximando de mim. "A
gente pode sair daqui se você quiser."
Sirius me puxou para o meio da sala desta vez, gritando a música no meu
ouvido. Marlene veio com uma garrafa grande de bebida na minha direção.
231
"Não, eu não vou fazer isso!" Falei, sorrindo.
"Ah, você vai sim!" Marlene disse, já virando a garrafa dentro da minha
boca.
"Vamos, Reg, o mais alto que você conseguir!" Remus gritou, claramente
tão bêbado quanto todos nós. E então, cantamos alto até nossas gargantas
doerem, fazendo o próprio som do toca-discos parecer baixo perto da nossa
voz.
Eu estava atordoado com tanto barulho, mas sóbrio o suficiente para saber
que esse momento entraria para lista dos melhores da minha vida. Pela
primeira vez, em muito tempo, me senti acolhido e em paz. Eu era eu mesmo
e aquelas pessoas dançando e cantando à minha volta me amavam mesmo
assim. Era uma coisa surreal demais para se imaginar.
Consegui sair do meio de todos que estavam dançando, para poder encher
meu copo outra vez. Mary estava lá, sozinha mais uma vez.
232
"Sozinha outra vez?!" Perguntei, me intrometendo.
"Connor está estranho." Ela disse, franzindo a testa. "Ele disse que queria ir
embora e eu não entendi nada."
"Ele é tipo, muito gay!" Respondi, sorrindo ainda mais. "Ele achou que eu
estava dando em cima dele."
"É, realmente." Ela concordou. "Mas não é como se fosse o primeiro idiota
que me aparece." Ela disse, me provocando.
"Dos dois idiotas, o mais bonito então." Disse, me aproximando dela. Merlin,
ela era tão cheirosa.
"Seu ego é maior do que a sua cara de pau, Regulus Black." Ela respondeu,
me provocando de volta.
"E você me dá nos nervos de tanta raiva, ás vezes." Respondi, muito perto
do rosto dela.
"Às vezes, preciso me segurar para não socar você no meio das pessoas."
Mary disse, eu conseguia sentir a respiração dela no meu rosto.
233
"Você está bem?" Ela perguntou, ofegante. "Se você não estiver pronto para
isso..."
E eu realmente não achei que estaria, não achei que estaria tão cedo com
nenhuma pessoa. Mas Mary estranhamente me confortava de um jeito
avassalador. Eu sabia que nada aconteceria comigo enquanto eu estivesse
com ela. Mesmo com um monte de comensais da morte atrás de mim, mesmo
com meus pais querendo me ver morto, mesmo com o bruxo das trevas mais
poderoso do mundo me caçando, ela me fazia sentir como se eu fosse a
pessoa mais segura do mundo. E eu nunca me senti seguro com nada. Então,
não precisei pensar muito. Porque tudo que eu queria era Mary, tudo em mim
queria tudo que havia nela. Cada parte, cada molécula, cada átomo do meu
corpo implorava por ela. Então, apenas a beijei de volta.
"Você estava se segurando esse tempo todo, seu idiota." Mary ofegou,
sorrindo, imponente nas minhas mãos.
"Eu vou matar você se não fizer." Ela respondeu, ofegante. E então, eu subi
de volta para ficar na direção dela, e sussurrei no seu ouvido.
"Pede para mim." Sussurrei, sorrindo. "Quero ouvir você gritando o meu
nome e pedindo para eu chupar você."
234
Eu sorri de lado, e me ajoelhei outra vez na frente dela, colocando de novo a
perna dela em cima do meu ombro. Mary gemeu alto quando finalmente
empurrei a minha língua dentro dela, a costa dela se arqueava contra a porta,
e ela usava uma das mãos para segurar no meu cabelo. Enquanto uma das
minhas mãos trabalhava em um dos seus seios e a outra ajudava o que eu
estava fazendo com a língua.
De repente, era Mary quem estava no controle. Ela tirou a perna de cima de
mim e me subiu de uma vez, arrancando a minha camisa fora. Eu tirei todo
o vestido dela mais rápido do que eu achei que era capaz. Ela me empurrou,
me fazendo cair sentado na cama, e sentou em cima de mim, olhando nos
meus olhos.
"Preciso de você..." Eu disse, atordoado por ter ela na minha frente, "Preciso
de você."
Mary gemeu quando os nossos corpos sem mais nenhuma peça de roupa se
encontraram, e eu fechei os olhos e estremeci. Qualquer sentimento de raiva,
preocupação ou ressentimento sumiu de dentro de nós. Eu não estava
pensando em mais nada, enquanto arqueava meu corpo e me empurrava
contra Mary, que sussurrava febrilmente. "Ah, Regulus, Regulus..." sem
parar. Nosso ritmo aumentou ferozmente quando começamos a ficar mais
ofegantes e mais tensos.
Tivemos que fazer mais duas ou três vezes antes que Mary cansasse, mesmo
eu sabendo que nunca me cansaria dela.
"Vou precisar que você me avise antes," Falei roucamente. "Quando quiser
fazer isso outra vez."
"Você estava tenso no início." Mary disse, franzindo a testa. "É por causa do
que aconteceu?"
235
Suspirei pesadamente.
E eu contei.
O mundo poderia explodir, não me importo, desde que ela estivesse comigo.
236
Capítulo 23: Primavera 1980
"Você não vai mesmo me contar?" Sirius disse, sentado a mesa no café da
manhã, me encarando de olhos cerrados e braços cruzados.
"Vamos jogar um jogo, então." Ele disse. "Verdade ou desafio, mas sem o
desafio."
"Vamos ou não?!"
"Ok."
"Fácil. Pandora."
"Ah, meu Deus! Está me perguntando isso por causa dela, não é?!" Sirius
exclamou.
"Ok, ok, tudo bem," Ele voltou a postura anterior na cadeira. "Achei que ele
gostava de Lily. Foi a única vez que senti vontade de amaldiçoar o dever de
casa dela." Ele respondeu, depois perguntou. "Você já se apaixonou por
alguém?"
"Não." Respondi. "Como você soube que Remus gostava de você também?"
237
"Quando ele conseguiu me perdoar pela pegadinha com Snape. E então, eu
simplesmente soube." Ele respondeu. "Você está apaixonado agora?"
"Não." Respondi, outra vez. "Você ficou assustado quando percebeu os seus
sentimentos?"
"Bom, sim. Eu podia jurar na época que gostava de meninas, então foi meio
difícil aceitar à mim mesmo." Ele respondeu. "Você e Mary voltaram?!" Ele
perguntou, ansioso.
"Por incrível que pareça, foi Moony." Ele respondeu. "Eu sei que você gosta
dela, Reg."
"Você não está jogando direito." Falei, descruzando os braços. "Isso não foi
uma pergunta."
"Mary."
"Remus!"
"Mary!"
"Meu Deus!" Remus se levantou de uma vez, vindo até nós e puxando uma
cadeira. "Ok, tudo bem, vamos fazer isso. Regulus, você está apaixonado por
Mary?"
238
"Não tem nada na minha cara!" Respondi, me levantando. "Não posso estar
apaixonado. Principalmente por ela! Vocês dois sabem como isso terminou."
"Você não pode controlar tudo, Reg," Sirius disse. "Uma hora, você vai ter
que ceder."
A verdade era que eu sabia que gostava de Mary. Mas estar apaixonado?!
Como vou saber se eu estou apaixonado se nunca estive?! Eu gostava dela.
Gostava dos tiques no canto da boca dela enquanto ela me olhava, gostava
de ouvir ela falar por horas sobre algo que gostava, gostava de como era
perfeita a forma que nos encaixávamos tão bem, de discutir com ela e depois
jogá-la na minha cama, gostava do que ela fazia eu pensar sobre mim mesmo
e de como ela parecia maravilhada quando eu contava sobre coisas que já
vivi, gostava do cheiro dela, da voz dela, do cabelo, do corpo. Não havia uma
parte do meu dia em que eu não pensasse nela, por mais que eu tentasse não
pensar. Mas como é que eu ia saber se isso era exatamente amor?!
"Isso eu vou ter que controlar, Six." Respondi, indo para o quarto.
Respirei fundo. "Ok, Regulus, faça isso." Disse para mim mesmo, pegando
o pergaminho e uma pena ao lado da cama.
"Cissy,
"Narcissa,
Eu sei que você pode não querer me responder. Mas tenho propostas que
talvez interessem à você. Precisamos nos encontrar sozinhos.
239
Conheço você. E sei que você é leal apenas a uma coisa. Sangue do seu
sangue.
Pense no seu filho e em até onde você está disposta a ir para ele ter uma boa
vida.
Não vou colocar o meu endereço por motivos óbvios, mas amarre uma carta
à coruja que mandei se quiser me encontrar. E se armar uma armadilha, eu
vou saber.
R.A.B."
"Espero que esteja mesmo pronto para vê-la, Reg," Remus disse, me
devolvendo a carta. "Porque você está recorrendo à algo muito delicado."
***
240
"Você está com medo?" Mary perguntou, deitada em meu peito, em uma
madrugada que me esgueirei pela janela de seu quarto. "Tudo bem se
estiver."
"Na verdade, não," Respondi, passeando meus dedos pelo braço dela. "Só
me sinto... ansioso."
"Acho que sim." Respondi. "Na maioria das vezes, é só uma sensação ruim...
nos piores casos, meu peito começa doer um pouco e eu sinto que vou
desmaiar."
"Hm...não," Balancei a cabeça. "Pelo menos, não tão forte. A única vez que
senti foi quando... aquilo aconteceu."
"Você pode conversar comigo." Ela disse, brincando com meu cabelo.
"É só que... às vezes, sinto essa necessidade de resolver tudo, essa minha
coisa de querer sempre fazer as coisas sozinho," Comecei, engolindo em
seco. "Talvez seja porque eu sinto que preciso me provar o tempo inteiro.
Sinto que se não... se não provar que eu sou digno de ser alguém bom, então
não mereço você, ou Sirius, ou qualquer outra coisa boa que tenha me
acontecido..."
"Odeio que se sinta assim." Ela disse, acariciando o meu rosto. "Odeio as
pessoas que fizeram você achar que não é bom quando claramente é."
"É bom saber que você acha isso." Ela disse, sorrindo, mas um pouco triste.
241
"Você sabia que antes de ir para Hogwarts, eu estudei até os onze anos em
uma escola trouxa?!" Ela perguntou e eu neguei com a cabeça. "Claro que
não sabe... puro-sangue idiota." Ela disse, e eu sorri. "Bom, talvez isso não
faça muito sentido para você porque você cresceu em um mundo diferente
do meu... mas você consegue imaginar como era difícil ser a única criança
negra em uma escola com um monte de gente branca?"
"Mas por que isso faz diferença?" Perguntei, confuso. "Você tem os olhos
castanhos e eu tenho olhos acinzentados, você tem cachos e o meu cabelo é
liso, eu sou branco e você é negra... não entendo porquê isso deveria mudar
alguma coisa."
"Quem dera todo mundo pensasse assim." Ela disse. "A questão é que em
escolas trouxas, Reg... ser negro é realmente uma merda. Te olham estranho
na sala de aula, te olham estranho na hora do almoço, não gostam de te
emprestar nada porque acham que você vai roubar... nem na rua você tem
paz, porque até os policiais são seus inimigos."
"Eu acabei criando essa... essa vontade de querer provar que eu sou mais do
que a cor da minha pele ou a textura do meu cabelo, entende?" Ela disse.
"Então, quando fui para Hogwarts, eu decidi que seria quem eu quisesse ser.
Que não abaixaria a cabeça quando alguém me olhasse diferente, que não
me importaria se falassem mal de mim, eu seria apenas eu. Então, eu usava
a roupa que queria, ficava com os garotos que eu queria, tinha amigos
legais... e com o tempo, as coisas melhoraram."
"É horrível saber que eu não posso proteger você do que você pensa de si
mesma..." Fali, um pouco triste. "Então... eu sinto muito. Sinto muito se fiz
você se sentir assim quando afastei você... como se não pudesse me proteger
do que eu penso de mim..."
"Está tudo bem." Ela disse. "Só quis que você soubesse."
"Odeio quem fez você se sentir assim." Falei, me virando para ficar de frente
com ela na cama, passando a mão no seu rosto. "Eu acho você perfeita. Sua
pele," Passei os dedos pelo braço dela. "Seu cabelo..." Acariciei os cachos
dela. "Seu rosto..." Passei o dedo ao redor do rosto dela. "Eu adoro tudo que
eles odiavam em você."
242
"Queria que você conseguisse se achar tão lindo quanto você me acha, Reg,"
Ela disse, sorrindo fracamente. "Não tem nada em você que não seja lindo."
"É diferente." Respondi, franzindo a testa. "O que não gosto em mim, está
por dentro."
"O que mais gosto em você também." Ela respondeu, olhando para mim.
"Você não precisa se provar para mim. Eu sei quem você é."
Eu a encarei por um tempo, processando tudo que ela havia dito. E então, a
beijei.
E por alguns segundos, enquanto a beijava. Senti que podia fazer qualquer
coisa no mundo, que poderia matar qualquer pessoa que tenha dito alguma
vez à ela que ela não era boa. Eu senti que não só a merecia, como merecia
tudo que havia conquistado até agora. Não me senti culpado por causa das
coisas que fugiram do meu controle, nem estava me olhando como
geralmente me olho. Se fiz Mary ficar como eu fiquei agora sabendo que ela
em algum momento não gostou de quem ela é, então eu havia cometido um
erro gigante. Porque se alguém como Mary gostava de quem eu era, então
eu poderia gostar também. Porque se as pessoas estavam erradas sobre Mary,
eu também podia estar errado sobre mim. Pela primeira vez na vida, eu me
senti bom. Realmente bom.
***
"Lupin!" Chamei outra vez, indo até o quarto deles. "Vou entrar! Se vocês
estiverem sem roupa, se vistam, pelo amor de Deus!"
243
"Reg, somos nós!" Era a voz desesperada de James.
"O que estão fazendo aqui?!" Perguntei, abrindo a porta, vendo ele e Lily
com um olhar aflito. "Hm, esperem aí... James, que música cantamos juntos
no meu aniversário?"
"Metal Guru, Reg." Ele disse, ansioso e eu abri mais a porta para eles
passarem.
"O que aconteceu?!" Perguntei, puxando uma cadeira para Lily se sentar.
"Por que estão assim?!"
"Reg, ontem foi noite de lua cheia," Lily disse, pegando na minha mão.
"Remus foi à outra missão com os lobisomens, mas Sirius não aguentou
esperar ele dessa vez."
"Ei, James," Lily disse, indo até ele. "Sirius e Remus estão bem... eles sempre
ficam bem, você sabe disso. Eles já vão chegar, você vai ver."
244
"Me ajudem a carregar ele, por favor!" Remus gritou, com Sirius nos ombros,
que aparentava estar fraco pela perda de sangue. Nós corremos até ele e o
ajudamos a colocar Sirius para dentro de casa, o deitamos em cima do sofá.
"Alguém chame Marlene, pelo amor de Deus!" James disse, com as mãos na
cabeça, tremendo de tão desesperado.
"Eu vou chamar!." Lily disse, se afastando para enviar um patrono à ela.
"Ei, Pads," Remus dizia, ajoelhado ao lado de Sirius. "Não feche os olhos,
ok?! Você perdeu sangue demais... não... não durma, está bem?! Não posso
perder você... não posso..."
"Ele ficou preocupado..." Remus tentou explicar. "Ele foi até lá como
Padfoot, eu o reconheci, mesmo em forma de lobo... ele achou que em forma
de cachorro, conseguiria me acompanhar na missão, mas... mas eles sentiram
o cheiro humano de Sirius... eles souberam na mesma hora..." Ele estava
começando a chorar.
"Moony, você precisa se acalmar." James disse, pondo a mão nos ombros
dele. "Ele vai ficar bem, é Padfoot... ele precisa ficar!"
"Sirius, você não tem o direito de morrer, ok?!" Falei, me ajoelhando ao lado
dele também. "Seu idiota, você não vai sair de casa nunca mais! Não vai
acontecer nada com você, não vai..."
Passamos alguns minutos tentando manter Sirius de olhos abertos, Lily fez
alguns feitiços de cura que sabia, mas nenhum seria tão bom quanto os de
Marlene que havia estudado isso.
"Abram para mim!" Marlene disse, da porta. Eu corri para abrir e ela me
olhou ansiosa, esperando eu perguntar algo.
245
"O protocolo pode ir para o inferno, Marlene! Meu irmão está morrendo!"
Gritei, a empurrando para dentro e ela foi direto até onde Sirius estava.
"Tudo bem, tudo bem, Remus preciso que você saia de cima dele..." Ela
disse, afastando Remus e olhando para Sirius. "Ei, cara... você não está
bonito, hein? Tudo bem, vou dar à você algo para dormir e vou curar você,
eu prometo, Sirius." Marlene dizia, enquanto colocava Sirius para dormir.
Demorou algum tempo para Marlene conseguir fechar o corte do peito dele
completamente. Sirius havia perdido tanto sangue que o sofá estava
encharcado. Tudo que podíamos fazer era confiar em Marlene, era o que nos
restava. Não cheguei até aqui para ver meu irmão morto por causa de um
monte de lobisomens desgraçados. Juro por Deus que se Dumbledore
mandar Remus á outra missão daquela, eu mesmo vou e mato cada um
daqueles lobos malditos.
Foram os piores trinta e oito minutos da minha vida. Eu nunca havia ficado
tão agoniado e ansioso em toda a minha vida. Não podia ser tão fácil assim
perder alguém que você ama. Como você vira as costas e dá tchau para
alguém, mas não tem certeza se a verá de novo quando voltar para casa?
Como as coisas funcionam assim?
"Ele está acordando!" Remus exclamou, indo até Sirius. "Ei, Pads... você
consegue me ouvir?"
"Seu idiota!" Exclamei, indo até Sirius. "Você é louco de fazer isso
comigo?!" E então, o abracei.
"Padfoot, eu amo você, mas porra!" James exclamou. "Você vai me matar e
meu filho ainda nem nasceu!"
246
"Acho que sim..." Ele disse, ainda sonolento, e olhou para a barriga, que
agora estava apenas com uma cicatriz grande e branca. "Você fez um milagre
aqui, não é, Lene"
"Vê se não se mete em outro problema, seu idiota." Ela disse, com as mãos
na cintura.
"Não posso prometer." Ele disse, sorrindo e dando um soco na mão dela.
"Não vou deixar você sozinho em casa nunca mais!" Eu disse. "Nunca mais!"
"Hm... eu fui ver Pandora e acabei perdendo a hora," Respondi, tentando soar
convincente. "Decidi dormir por lá."
"Pads, por que você fez aquilo?!" Remus perguntou. "Você sabia que era
perigoso! Eu tinha as coisas sobre controle, você não tinha que se
preocupar..."
"É claro que tinha, Moony! Droga, você vai à essas missões e eu nunca sei
se vou ver você de novo ou não!" Sirius disse, segurando o rosto de Remus.
"Não posso perder você, Moony... eu amo você."
E então Remus beijou Sirius, o que me fez lembrar de Mary. E o que também
me fez entender Sirius imediatamente. Até onde ele iria para proteger a
pessoa por quem ele era apaixonado.
"Se Dumbledore meter vocês nisso outra vez," Eu disse. "Eu sou capaz de..."
Mas fui interrompido quando uma coruja bateu na janela de vidro da cozinha
com as correspondências. Fui até a janela e haviam três cartas, mas nenhuma
era mais importante do que a última que li.
"Regulus,
Narcissa Malfoy."
247
Capítulo 24: Irmãs Black
Regulus, Sirius e seus pais eram os anfitriões e seus tios, Druella e Cygnus,
haviam chegado com Bellatrix, Narcissa e Andrômeda. Kreacher havia
preparado toda a comida do jantar e a mesa estava cheia e bonita. Eles quase
pareciam uma família feliz.
"Se preciso ir à esse jantar horrível," Disse Sirius, em frente ao espelho. "Ela
tem que me deixar pelo menos arrumar o cabelo."
"Acho que as meninas chegaram," Disse Regulus. "Estou louco para ver
Cissy!"
"Não sei como você e Andy gostam dela, Reg," Sirius disse, ainda arrumando
o cabelo. "Ela e Bella são farinha do mesmo saco, você sabe."
"Não diga isso, Six," Regulus disse, levantando da cama. "Você sabe que
Cissy é muito diferente de Bella, Cissy só é um pouco... Ah, olhe, você
deveria ao menos tentar..."
"Não, Reg." Sirius disse, finalmente pronto. "Andy é a única de quem gosto.
Cissy me olha como se tivesse algo no meu dente sempre que me vê."
"Talvez ela só ache também que você a odeia." Regulus disse, dando de
ombros.
Regulus sabia que Sirius, teimoso como era, nunca se permitia dar uma
chance à qualquer um que tivesse o nome Black como sobrenome. A não ser
248
Regulus e Andrômeda, Sirius não tolerava ninguém da família, mesmo que
houvessem consequências depois. Mas Regulus sabia que, mesmo Sirius
sendo como era e, bom, mesmo seus pais sendo como eram, Sirius sempre
estaria por perto. Porque mesmo que sua aversão pelos ideais familiares
existisse, Sirius nunca seria capaz de deixar Regulus por isso.
A comida era a melhor parte dos jantares para Regulus. Em geral, Sirius
acabava brigando com os seus pais ou com os seus tios, então isso não
demoraria para acontecer. Mas a comida sempre era boa, Kreacher fazia os
pratos exatos que sabia que Regulus mais gostava. Tudo bem se houvesse
uma briga ou outra durante o jantar, porque no final da noite, Sirius iria até
o quarto de Regulus quando todos estivessem dormindo e os dois
249
conversariam à noite inteira sobre seus planos quando finalmente fossem à
Hogwarts. Sirius era tudo que Regulus tinha.
"Sim, tia," Ela respondeu, empinando o nariz. "Vamos nos casar no final
deste ano. Faremos uma cerimônia grande para que todas as famílias puro-
sangue possam ir!"
"Isso parece bom." Orion comentou. "Assim que Sirius e Regulus chegarem
aos doze, vamos começar à procurar por duas boas moças para os dois
também."
"Ah, mas ela tem sim!" Druella disse, antes que Narcissa pudesse responder.
"Minha Cissy está prometida com Lucius Malfoy, um bruxo rico e puro-
sangue, aliado das mesmas causas que nós."
Regulus nunca entendia o que seus pais e tios queriam dizer quando falavam
sobre 'causas'.
"Sim, Reg," Narcissa disse, feliz por ser perguntada sobre algo. "Ele é um
rapaz muito interessante e eu realmente..."
250
"Ah, mas que besteira!" Walburga disse, erguendo as mãos. "Se ele é de uma
boa família e compartilha dos mesmos princípios e valores que você, então
é isto, gostando dele ou não."
"Eu não acho." Andrômeda disse, sem erguer os olhos da sua comida.
"Sim, tia," Bellatriz disse, assentindo. "Eu sempre digo isso à elas."
"Diz tanto que já até decorei." Andrômeda disse, tomando a sua taça de
vinho.
"Na verdade, tia," Andrômeda disse, sorrindo. "Eu tenho sim alguém. E
assim que esse último ano em Hogwarts acabar, nós dois vamos nos casar."
251
"APENAS COMIGO MORTO!" Cygnus gritou, batendo na mesa e
derrubando os talheres.
"Já chega, Andrômeda!" Druella gritou. "Você não vai se casar com nenhum
sangue-ruim imundo enquanto o meu sangue correr dentro das suas veias!"
"Você é uma ingrata!" Cygnus disse, se levantando também e indo até ela.
"Depois de tudo do bom e do melhor que demos à você! Você vai trair a sua
família para se contaminar com esta escória!"
"Não fale dele assim!" Andrômeda gritou. "Ele é muito mais homem do que
você jamais será."
252
levantar. Nem mesmo Druella, que claramente se assustou com o ato de
Cygnus, não se levantou.
"Qual o problema de ela querer se casar com alguém que ela ama?!" Sirius
gritou, desesperado por ver Andy daquele jeito. Regulus estava paralisado.
"Isso não vai matar ninguém!"
"Você não fará nada que suje o nome desta família!" Cygnus gritou,
Andrômeda ainda no chão. "Você casará com quem nós mandarmos e viverá
a vida que nós planejamos para você! Ora, sua insolente! Nunca mais ouse
falar comigo dessa maneira, você está me ouvindo?!"
"Não se meta nisso, Narcissa!" Cygnus gritou, puxando Narcissa pelo braço
para longe de Andrômeda. "Sua vida já está resolvida! É a sua irmã o
problema!"
"Se eu sou o problema, então por quê vocês ainda me seguram aqui?!"
Andrômeda esbravejou, com a mão na bochecha machucada. "Me deixem ir
e eu juro à vocês que nunca mais vão me ver na vida!"
"Não vou deixar que vocês estraguem a minha vida." Andrômeda respondeu.
253
Cygnus a agarrou pelos dois braços, a levantando do chão de uma vez. E
sussurrou no seu ouvido, cruelmente. "Se desconsidere minha filha, sua
traidora."
"Andy, você... você vai embora?" Sirius perguntou, com a voz trêmula, os
olhos marejados.
Andrômeda olhou para Sirius, depois para Regulus e, por fim, para Narcissa.
"Sinto muito." Ela sussurrou para os três, tristemente. "Não vai me dizer
nada, Bella?"
Bellatrix parecia chocada, mas era difícil dizer se realmente estava triste. Ela
abriu a boca algumas vezes, parecendo que ia dizer alguma coisa. Mas no
fim, ela apenas ficou séria e sem expressão.
"Você já fez sua escolha." Ela disse, por fim. E então, abaixou a cabeça.
"Cissy..." Andrômeda disse, com a voz trêmula. "Você vai ficar bem, ok?
Nós duas podemos sempre manter contato, eu não vou me afastar de você.
Você precisa me deixar ir..."
Andrômeda deu uma última olhada em todos nós e sorriu para Sirius, que
tentava engolir o choro. Ela passou direto por Cygnus, em direção à porta,
mas Narcissa foi atrás dela, ainda em lágrimas.
"Não posso acreditar que você está fazendo isso comigo." Narcissa disse,
fazendo Andrômeda dar meia volta. "Você prometeu!"
"Eu não estou fazendo nada com você, Cissy," Respondeu Andrômeda. "Nós
somos irmãs. Você sabe que eu nunca deixaria você."
254
"Você está escolhendo ele ao invés de mim! Ao invés de nós duas!" Narcissa
esbravejou. "Você não prometeu que ia me mandar cartas de vez em quando,
Andrômeda! Você me prometeu que nunca me deixaria sozinha! Nem
fisicamente, nem de qualquer outro jeito!"
"E o que você quer que eu faça, huh?!" Andrômeda perguntou, com a voz
áspera. "Quer que eu faça igual à você e me limite à um casamento arranjado
para manter a porra do sangue-puro nesta família de merda?! Quer que eu
tamném arranje um homem rico e bem-sucedido de cabelo platinado que
minha família vai amar e idolatrar?! E então ter filhos com ele e ser infeliz
pelo resto da minha vida?! Eu mereço mais que isso, Narcissa!"
"Eu amo Lucius, você sabe disso." Narcissa disse, furiosa. "Não aja como se
a minha vida não fosse terminar melhor do que a sua! Eu escolhi alguém que
vai dar tanto o que eu quero quanto o que minha família quer! E mesmo se
Lucius me pedisse de joelhos, eu nunca casaria com ele se isso significasse
perder você!"
"Se sair por essa porta," Narcissa disse, cerrando os dentes, encarando
Andrômeda. "Pode se desconsiderar minha irmã também."
"É uma pena, Cissy." Andrômeda disse, e então caminhou até a porta que
Kreacher abriu e saiu.
Naquela madrugada, Sirius foi até o quarto de Regulus. Os dois não estavam
conversando felizes dessa vez. Sirius estava muito triste e se nem mesmo ele
conseguia entender o que havia acontecido, Regulus muito menos.
"Eu não entendo!" Sirius exclamou, deitado na cama de Regulus, com os pés
na cabeceira. "O que de tão errado Andy fez para merecer isso?!"
"Não sei, Six," Regulus disse, balançando a cabeça. "Mas Cissy pareceu
realmente magoada."
255
"Narcissa não entende que Andrômeda precisa seguir o próprio coração."
Sirius disse, seriamente. "Se ela realmente a amasse como diz que ama, ela
entenderia."
"Mas Cissy ama Andy! Elas são irmãs!" Regulus disse, exasperado. "Cissy
está magoada porque Andrômeda está colocando ela mesma acima da
relação das duas."
"Eu não deixaria você sozinho com eles." Sirius respondeu, se levantando
para encarar Regulus nos olhos. "Você sabe disso."
Eram promessas maravilhosas, mas não era para ser. Regulus não
conseguiria seguir seu irmão até onde ele fosse e Sirius não conseguiria se
manter perto de Regulus por tanto tempo como prometeu.
1980
No meu sonho, eu estava no meu quarto. Mas não na casa de Sirius, e sim no
meu antigo quarto. Eu estava assustado e com medo da minha mãe. Ela
256
estava me procurando e eu estava escondido dentro do guarda roupa, eu era
muito pequeno então conseguia me esconder em lugares assim. Eu sabia que
se ela me encontrasse, ela ia querer fazer aquele desenho estranho e feio no
meu braço e eu sabia que doeria muito.
Ela faria alguma coisa muito ruim comigo, eu sabia isso. Sirius estava no
quarto dele, eu queria muito chamá-lo para me ajudar, mas eu teria que sair
do armário e mamãe com certeza me pegaria. Será que Sirius deixaria ela
fazer isso comigo? Ele estava no quarto ao lado, não conseguia ouvir dos
corredores eu correndo assustado? Por que ele não veio me procurar?
Até que ela finalmente me achou. Ela escancarou a porta do guarda roupa,
com aquele sorriso maníaco e sem alma.
"Reg! Reg! Você está gritando!" Ouvi a voz de Mary no fundo da minha
cabeça, distante. "Reg, acorde!"
"Shh, está tudo bem, Reg," Mary sussurrou preocupada, pondo a mão no meu
rosto. "Foi um pesadelo. Não tem ninguém aqui, apenas eu e você."
257
"Reg..." Mary me chamou, entrando no banheiro. "Você quer... ficar
sozinho?"
Ela abriu a cortina do boxe, lentamente. Levantei o rosto para olhar para ela
e ela me deu um meio sorriso, entrando e se sentando do meu lado.
***
Fui embora da casa de Mary antes do sol clarear. Se os pais dela vissem um
garoto desconhecido sem camisa na cama dela quando a chamassem para
tomar o café da manhã, não tenho certeza se eu conseguiria conter minha
risada.
"Você não faz ideia, Six." Respondi, pegando uma xícara de café.
"Não esqueça que temos que ir à reunião da Ordem às nove." Sirius disse.
"Remus vai acordar logo. Você vai com nós dois?"
258
conheço Narcissa e sei que o que vai fazer ela confiar em mim é ver que eu
e Andrômeda estamos confiando nela também. Não confio na Ordem ser
discreta o suficiente para não dar a entender que estão à espreita. Eles podem
interpretar algum momento errado como uma insinuação de ataque e partir
para cima. Não acho que exista alguém no mundo que seja capaz de lidar
com Narcissa melhor que eu e Andrômeda.
"Que horas temos que estar em Hogsmead?" Pandora perguntou, quando fui
até sua casa buscá-la para ir para a reunião. "Não podemos atrasar para
Narcissa não achar que estamos tentando algo e ir embora."
"Vamos tentar chegar meia hora antes das onze." Respondi. "Sirius e James
vão estar em um canto, debaixo da capa de invisibilidade, não sei bem como
eles vão fazer isso funcionar, mas eu não costumo questionar muito os planos
dos dois, apenas concordo," Falei, dando de ombros. "Você e Remus também
estarão escondidos, mas do lado de fora do bar, se algum tipo de magia negra
chegar perto, ele vai sentir o cheiro e quanto mais perto chegar, mais fácil
dele saber quem é. E você, leve o cristal, porque ele também vai nos ajudar
a perceber se algum comensal aparecer lá."
"Mas o cristal já vai ficar vermelho por causa de Narcissa, Reg." Pandora
disse.
"Não," Respondi. "Narcissa não tem a marca. Acho que ela nem é comensal
de verdade, apenas está com eles. Isso até facilita alguma coisa, eu acho."
"O que você vai dizer?!" Pandora disse, arqueando a sobrancelha. "Por favor,
Reg, gentileza."
"Você vai ver." Respondi, sorrindo de lado. "Não é só Dumbledore que sabe
usar as palavras."
259
"Você e sua implicância com ele." Pandora revirou os olhos.
"Você tem sorte que Phil odeia você," Pandora disse, se levantando também.
"Se não, eu faria você segurar vela também."
"Somos muito amigos." Falei, sorrindo. "Não quero que tenhamos nada
enquanto essa guerra não acabar, Dora."
"Então por que você pula a janela dela todas as madrugadas?! Para jogar
xadrez?!" Pandora perguntou.
"Vou precisar de terapia depois disso." Pandora disse, fazendo cara feia.
"Definitivamente, vou precisar."
"É estranho entrar pela porta da frente." Eu disse, passando por ela, a fazendo
corar.
260
"Não comecem com isso, por Deus." Pandora disse, revirando os olhos,
entrando atrás de mim. "Como você está, Mary?"
"Mary?" Um homem alto, negro, vestido de roupas trouxas, com alguns fios
grisalhos no cabelo, a barba rala e o sorriso idêntico ao de Mary a chamou,
atrás dela. "São seus amigos?"
"Pai! Esses são Regulus e Pandora," Mary nos apresentou. "Eles também
estudaram em Hogwarts comigo! Gente, esse é o meu pai."
"Vou pegar meu casaco e então vamos, ok?" Mary disse, dando um beijo na
bochecha do pai e subindo as escadas.
"Querido, você comprou as frutas que pedi para você comprar no..." Uma
mulher veio da cozinha, com um pano na mão, ela era alguns centímetros
mais alta que Mary e tinha a pele mais clara que o marido, mas ainda escura.
Ela tinha o cabelo curto, preso em um rabo de cavalo um pouco frouxo e
bagunçado. "Oh! E quem são vocês dois?"
"É um prazer conhecer você também!" Ela disse, dando a mão à ela. "E esse
rapaz tão bonito?! Quem é?"
261
"Me chamo Regulus, senhora MacDonald," Me apresentei, também
estendendo a mão à ela. "Regulus Black."
"Você se parece com um amigo de Mary que veio aqui uma vez, um alto,
com o cabelo rebelde, uma energia um pouco caótica," Ela disse, estreitando
os olhos. "Os olhos iguaizinhos aos seus."
"Esse com certeza é o meu irmão. Sirius." Respondi, sorrindo. "Eu moro com
ele e Remus há algum tempo."
"É cada uma que se vê hoje em dia, não é meu amor? Os anos 80 estão
modernos demais para mim." Ele disse, olhando para a esposa. "Creio que
você não seguiu o mesmo exemplo."
Pandora e eu nos entreolhamos. Mary não estava brincando quando disse que
os preconceitos trouxas eram com coisas totalmente diferentes dos do mundo
bruxo. Já beijei mais caras do que você pode contar nesses seus dedos
enrugados, seu velho preconceituoso.
"O que é isso?!" O pai de Mary exclamou, pegando meu braço com força,
me fazendo largar a mão da esposa abruptamente. "O que significa isso?!"
262
"Senhor, eu posso explicar..." Tentei dizer, depois que ele apertou meu pulso
com mais força. "Eu não sou um deles."
"Então por que é que você tem isto?!" A mãe de Mary perguntou, com os
olhos arregalados.
"Eu quero você fora da minha casa." O pai de Mary disse, muito sério.
"Não estou do lado deles, senhor," Expliquei. "Minha família está, recebi a
marca quando tinha dezesseis anos. Mas estou com a Ordem agora, eu juro."
"Meu marido disse que quer que você saia." A senhora MacDonald disse, tão
seriamente quanto o marido.
"Você trouxe um deles para dentro da nossa casa!" O pai dela esbravejou.
"Eu já disse que não sou um deles!" Disse, realmente zangado agora.
"Pai, Regulus é meu amigo! Ele realmente está conosco agora!" Mary
exclamou, vindo até o pai. "Dê uma chance."
"Uma chance?!" Ele exclamou, alto. "Você foi ferida por um deles, Mary!
Eles machucaram você, minha filha! É por culpa dele! Eles matam pessoas
como nós e quer que eu aceite isso?!"
"Foi por isso que eles vieram, senhor!" Pandora tentou explicar.
263
"Mãe!" Mary gritou. "Vocês não estão entendendo as coisas direito."
"Você não vai à lugar nenhum com ele, Mary. Suba para o seu quarto." A
mãe de Mary ordenou severamente.
"Não, mãe! Eu vou com ele sim!" Ela disse, se pondo do meu lado.
"Cala a boca, Regulus." Ela disse., e se virou para os pais. "Vocês não o
conhecem de verdade. Confio nele mais do que confio em qualquer outra
pessoa no mundo. Sei que Regulus vai me proteger se acontecer qualquer
coisa. Vocês julgarem ele por algo que está na pele dele faz ele se sentir
como eu mesma me sentia sendo julgada pela minha. E se vocês não
entendem isso, procurem entender. O que tem no braço dele não diz nada
sobre quem ele é."
"Estou indo, pai," Mary disse, abrindo a porta. "Vejo você no jantar." E então
fechou a porta atrás de nós.
"Isso foi incrível, Mary!" Pandora elogiou. "Você usa as palavras muito
bem."
"É, isso foi..." Falei, sem conseguir encontrar palavras o suficiente para
demonstrar a sensação que foi ser defendido por Mary assim. "Foi incrível
mesmo." Sorri fracamente.
"Ah, não foi nada," Ela disse, corando. "Apenas fiz o que qualquer um faria...
Vamos, é melhor irmos logo antes que Moody tenha um troço por nos
atrasarmos." Ela falou, saindo na nossa frente.
264
não era confiável o bastante, mas na verdade, acho que é porque não era
seguro nem para nós mesmos sabermos quem morava lá.
"Por que vocês demoraram?!" Lily perguntou. "A reunião está prestes a
começar."
"Está tudo bem," Ela disse. "Falei algumas coisas para eles que acho que
realmente pesaram mais do que isso."
"Não exagere, Dora," Mary corou. "Eu apenas fiz o que vocês fariam."
"Não, Pandora tem razão," Respondi, sorrindo de lado. "Você foi incrível."
265
"Dumbledore vai começar a falar," James disse. "Prestem atenção."
Foram muitos relatórios lidos e muitas missões avaliadas sobre o último mês.
Ele leu a lista de desaparecidos como fazia em todos os meses, e como
sempre um minuto de silêncio foi dado em respeito. Moody começou dando
as missões aos mais velhos e experientes na Ordem, eram missões mais
perigosas, como espionagem e infiltração. De acordo com que a idade ia
diminuindo, as missões iam ficando mais leves, como apenas guarda e
segurança de algum lugar ou alguma família.
Até que Moody chegou à nós. James e Sirius deveriam ir na semana que vem
até o Beco Diagonal, para montar guarda enquanto ele estava sendo
reconstruído depois do ataque. Mary e Marlene deveriam ajudar Frank em
uma missão que ele mesmo as contaria depois. E então, Moody chegou à
Remus.
"Hm, Moody?!" Chamei, me levantando. "Desculpe, mas não acho que isso
seja bom."
"Reg, não faça isso." Remus disse, puxando a manga do meu casaco.
"Moody," Falei, ignorando Remus. "Da última vez, alguém que não tinha
nada a ver com o assunto se machucou. Se você dá as missões de acordo com
as idades, então por que Remus faz esse tipo de coisa tendo apenas dezenove
anos?"
266
"Faço vinte mês que vem." Remus disse, tentando me convencer a sentar
novamente.
"Isso não importa," Falei, balançando a cabeça. "Não acho que ele deva ir."
Haviam algumas pessoas confusas na mesa, porque nem todos sabiam que
tipo de missão Remus ia. Acho que nem mesmo todos sabiam que Remus
era um lobisomem. Moody me analisou, com o olho bom e o olho mecânico
percorrendo dos meus pés até a cabeça.
"Remus terá mais segurança dessa vez, Regulus." Dumbledore disse. "O que
aconteceu foi apenas um descuido de Sirius, que não e repetirá outra vez.
Remus voltou intacto, como todas as outras vezes."
"Até quando?!" Perguntei. "Até quando vocês vão esperar algum de nós
morrer para verem que não é assim que se ganha uma guerra?! Matando os
próprios soldados?!"
"E o que vocês estão fazendo com as informações?!" Falei, alto. "Os ataques
continuam acontecendo e pessoas continuam morrendo! Não há sentido em
continuar arriscando a vida dele porque vocês não sabem outra maneira de
fazer isso!"
"Não podemos impedir os ataques, se não eles vão saber que Lupin está
infiltrado." Moody disse, ferozmente.
"Então, que se dane, Alastor!" Vociferei. "Remus não vai mais à lugar
nenhum."
267
"Eu também vou." Lily disse, furiosamente.
"Pois bem," Dumbledore disse, por fim, "Lupin não irá mais as missões."
"Qualquer coisa pelo nosso Moony." Sirius disse, sorrindo e dando um beijo
rápido em Remus.
Depois disso, todos nos preparamos para voltar. Vi Mary indo falar alguma
coisa com Pandora, e então as duas se despediram de mim, Pandora disse
que ela e Mary iam tomar um café juntas e que à noite ela me encontraria
para irmos à Hogsmead. Não sabia se eu me sentia feliz ou assustado pelas
duas serem amigas.
***
Hogsmead era meu segundo lugar favorito no mundo, perdendo apenas para
Hogwarts. Então, já dá para se imaginar como eu ficava feliz quando
chegavam os finais de semana que íamos até lá. Eu era tão feliz em Hogwarts
que até conseguia esquecer por alguns momentos como as coisas eram em
casa.
268
"Acho que somos nós cinco outra vez, hein?" James disse, com as mãos na
cintura.
"Espero que não haja nenhuma cobra gigante desta vez." Sirius disse.
"Espere aí," Chamei, a puxando pela mão. "Você tem certeza que quer ficar
aqui?"
"Não comece com a super proteção outra vez, Reg." Pandora disse revirando
os olhos. "Eu sei me cuidar."
"É um pouco machista você falar isso apenas para a única mulher aqui." Ela
disse, com um olhar de reprovação.
"Me preocupo mais com você do que com eles." Respondi, dando de ombros.
"Vai ficar tudo bem, Reg." Pandora disse. "Vamos, Remus, vamos achar um
lugar para ficarmos escondidos aqui fora." Ela falou, se desprendendo do
meu braço, Lupin foi atrás dela.
"Você está bem, Andy?" Sirius perguntou, com a mão no ombro dela.
269
"Eu e Padfoot vamos entrar primeiro," James disse. "Ele vai entrar como
cachorro, vai facilitar para ele ficar embaixo da capa comigo. Vamos achar
uma mesa escondida para ficarmos."
"Acho que sim," Respondi. "Não faz muito tempo desde a última vez que a
vi, pelo menos não tanto tempo como você."
"Espero que ela não dê meia volta quando me ver." Ela disse, com a voz um
pouco tensa.
Ela respirou algumas vezes, e eu assenti para ela, indicando que ela estava
fazendo certo. Então, a porta do bar se abriu, e ela ficou agitada outra vez.
Narcissa não havia mudado tanto. Ela ainda era linda. O cabelo platinado
igual o de Lucius e o corpo magro e esguio, a postura de uma princesa,
emanando nobreza. A pele pálida herdada dos Blacks e os traços do rosto
bem marcados, também parecidos com os da nossa família. O nariz
empinado e as roupas impecáveis. A única coisa diferente era que ela estava
grávida agora.
270
Ela olhou ao redor do bar, procurando por mim, até que seus olhos
encontraram os meus e ela arqueou uma sobrancelha, então seu olhar parou
em Andrômeda e suas sobrancelhas relaxaram, fazendo-a assumir uma
expressão assustadoramente raivosa. Antes que ela conseguisse dar meia
volta, eu me levantei da mesa e fui rápido até ela.
"Ela não quer brigar." Respondi. "Ela só está aqui porque queria ver como
você estava."
Narcissa hesitou por alguns segundos, eu podia jurar que ela daria meia volta
e eu teria que arranjar sabe-se lá Deus qual outro jeito para achar aqueles
infernos de horcruxes. Até que ela passou por mim, ainda com a expressão
autoritária, indo até a mesa em que estávamos. Eu a segui.
"Eu imaginei," Respondi. "Sei como você valoriza seus laços familiares."
271
"Então," Comecei. "Eu escrevi a você porque acho que nós dois podemos
ajudar um ao outro de alguma forma."
"Eu duvido muito, Regulus." Ela respondeu. "Mas fiquei curiosa para saber
porquê depois de tudo que fez, você quis me procurar."
"Você sabe que estou sendo procurado por eles, não sabe?" Falei, a
encarando seriamente. "E deve saber o motivo."
"Por que acha que não vou contar à eles o que está acontecendo aqui?" Ela
perguntou, correndo os olhos entre mim e Andrômeda.
"Porque não sou idiota de contar à você nada que eles possam usar contra
mim." Respondi, friamente. "Não vou fingir que ainda somos as mesmas
crianças de antes."
"E você?!" Ela perguntou, se dirigindo à Andrômeda. "Por que está aqui?!"
"Queria saber como você estava." Andrômeda disse. "Soube da sua gravidez
e quase não acreditei. Você deve estar muito feliz."
"Queremos que você nos diga se o Lorde das Trevas pediu para algum dos
comensais guardar algo importante para ele. Algo realmente valioso para
ele." Comecei, e pude jurar que vi o olhar de Narcissa mudar. "Preciso que
você me diga onde está se souber."
"E por que eu o trairia assim?!" Ela perguntou, desconfiada. "Ele mataria a
mim e ao meu filho sem pensar duas vezes. Não vou colocá-lo em risco dessa
maneira."
272
"Meu filho vai crescer com os mesmos princípios que eu." Ela respondeu,
parecendo que estava tentando convencer mais a si mesma do que nós.
"Mesmo que isso custe a vida dele?!" Perguntei, a olhando nos olhos.
"Narcissa, eu quase fui morto há alguns meses em uma caverna cheia de
magia negra. Tudo porque estava tentando provar que não sou o que minha
família me criou para ser. Sirius fugiu de casa. Andrômeda foi embora. Eu
os trai e agora eles estão atrás de mim. Essa família tem um histórico enorme
de desertores, isso sem falar em tio Alphard. O que faz você pensar que seu
filho não fará o mesmo se você o pressionar a acreditar em algo que você
acredita?!"
"Ele vai nos matar, Regulus!" Ela disse, exasperada. "Você não entende?!"
"A Ordem vai proteger você." Andrômeda disse. "Regulus está sob proteção
deles e até agora não o pegaram, mesmo ele estando tentando matar o próprio
Lorde das Trevas, Narcissa. Você só precisa fazer a escolha certa. Faça isso
pelo o seu filho."
"Não fale do meu filho," Narcissa vociferou. "Vocês não sabem nada sobre
como vou criá-lo."
"Mas sabemos que você o ama!" Exclamei. "Narcissa, você viu o que
aconteceu comigo. Eu fui igual a eles por muitos anos. Eu era um idiota
completo. Até aceitei esta droga de marca que mais atrapalha a minha vida
do que ajuda. Perdi minha infância e parte da minha adolescência por causa
disso. Eles destruíram a minha vida e eu só era uma criança."
"Draco." Narcissa disse, a voz falhando um pouco. "O nome dele é Draco."
"Draco." Repeti. "Se você puder confiar em mim, eu mesmo vou proteger e
ensinar Draco a ser uma pessoa boa e decente. Ele não vai precisar passar
pelo o que eu passei para aprender nada, Narcissa. Ele vai crescer com amor.
Com o amor que nós três não tivemos a chance de conhecer, mas que ele
ainda tem. Se você o ama, não deixe Draco crescer como nós crescemos."
273
"O que você entende sobre amor?!" Narcissa disse para Andy, com a voz
carregada de mágoa. "Há dez anos atrás, você deixou de me amar e virou as
costas para mim! Como você tem coragem de falar sobre amor comigo?!"
"Eu não virei as costas para você!" Andrômeda disse. "Você foi quem virou
quando colocou seu ciúmes na frente de nós duas! Eu penso em você todos
os dias, Narcissa! Não há um dia que eu não sinta vontade de escrever para
você, ou que não imagine você conhecendo a minha filha e fazendo parte da
minha vida!"
"Você estava tão ocupada pensando na própria felicidade que não pensou em
nenhum momento que eu poderia sentir o mesmo." Narcissa disse, com a voz
trêmula. "Eu também senti a sua falta, Andrômeda. Senti tanto que mal
consigo dizer o quanto. Mas você partiu meu coração quando escolheu ele
ao invés de mim."
Ela suspirou e posso jurar que até entristeceu um pouco, mas então balançou
a cabeça. "Não posso, Regulus. Não posso correr esse risco." E então, se
levantou. "Boa noite à vocês."
Vimos Narcissa sair do bar junto com nossa última carta na manga. Eu não
fazia ideia do que eu iria fazer agora. Eu podia ter certeza que isso iria
funcionar. Eu vi o olhar dela vacilar, eu vi! Como, de repente, ela andou para
trás?!
274
"E então?!" James saiu debaixo da capa, com Sirius ao seu lado, ainda em
forma de cachorro. Remus e Pandora entraram rapidamente no bar, vindo até
nós.
"Vimos ela sair ainda agora," Remus falou, agitado. "Ela vai nos ajudar?!"
***
"Já vai dormir, Reg?" Sirius perguntou, deitado no sofá, Remus dormindo
com a cabeça em seu colo, enquanto eu passava para pegar água na cozinha.
"Andy está bem?" Sirius perguntou. "Ela e Narcissa não se falavam desde
aquela noite, fiquei preocupado com as merdas que ela poderia dizer à
Andy."
"Acho que ela está bem," Respondi. "Melhor, pelo menos. Narcissa não
pegou nada leve."
"Six." Chamei, e ele levantou o olhar para mim. "Sei que essa história é velha
e que já nos desculpamos, mas o que aconteceu entre Andy e Cissy hoje me
fez ter vontade de dizer uma coisa que não dizia a muito tempo para você."
Fui até ele sorrindo, com um copo de água na mão, e baguncei o seu cabelo.
275
"Eu amo você, seu idiota."
Sorri para ele, um sorriso de verdade e entrei para o quarto. Não acho que eu
tenha dito isso à Sirius vezes o suficiente. Mas vou me lembrar de dizer
sempre agora, porque não faço ideia de quando as coisas vão começar a fugir
do meu controle e darem errado outra vez. Preciso que Sirius saiba que eu o
amo e que tenho orgulho de nós dois. Acho que vou começar a dizer isso
mais vezes para as pessoas. É realmente libertador.
Fui dormir com o coração leve, apesar de tudo ter dado errado hoje. Tão leve
que quase não notei que Mary não me mandou um patrono como faz todas
as noites, dizendo se está bem ou se quer que eu vá até lá. Mas talvez seja
pelo o que aconteceu com os pais dela hoje de manhã. Não preciso me
preocupar tanto. Mary está bem.
276
Capítulo 24.1: Mary
A última coisa que eu queria era voltar para casa, depois do que aconteceu
com os meus pais. Então, quando Pandora me chamou para sair com ela
depois da reunião na casa dos Longbottom, não pensei duas vezes antes de
aceitar. Pandora era definitivamente o tipo de pessoa que alegra o ambiente
em que está, qualquer que seja ele. Consigo ver claramente o porquê de
Regulus a amar tanto.
Nós duas fomos até um café que ficava duas ruas depois da casa de Frank e
Alice. Ela pediu um chocolate quente e eu pedi um café gelado.
"Não sei como você consegue tomar café gelado, Mary," Pandora disse, se
sentando em uma mesa. "É literalmente um insulto à todas as bebidas
quentes."
"Bom, eu vejo mais como uma exceção muito boa!" Respondi, sorrindo e me
sentando também. "Aliás, sinto muito pelo o que aconteceu hoje em casa...
meus pais ficaram realmente muito assustados depois do que aconteceu da
última vez."
"Ah, não se preocupe com isso," Pandora disse, mexendo as mãos. "Você
não tem culpa do que aconteceu. Regulus também entende."
"Não consigo acreditar que ainda hajam pessoas que não acreditam nele,"
Comentei. "Odeio que pensem nele dessa forma."
"Bom," Pandora respondeu. "Eu também não gosto nada disso... passei a
nossa vida inteira tentando encorajá-lo a ser quem ele está tentando ser hoje,
entende? Eu não poderia prometer que seria fácil, mas eu sempre soube que
ele conseguiria."
"Vocês dois são amigos a bastante tempo, não é?" Perguntei, dando um
sorriso a ela.
"Sim, nós somos," Ela respondeu, sorrindo orgulhosa. "Desde os onze anos,
na verdade. Regulus precisava de alguém que não fossem aqueles sonserinos
idiotas no pé dele o tempo inteiro."
277
"Ah, as 'coisas em casa'," Ela relembrou, dando ênfase na frase. "Sei bastante
sobre isso... Não gosto de pensar no que Regulus poderia ter feito se não
tivesse ninguém para conversar, principalmente depois que ele e Sirius
brigaram... Merlin, houve um tempo em que Regulus se afundou
completamente."
"Eu achei que isso tivesse parado depois que ele saiu da casa dos pais..." Ela
refletiu, franzindo o cenho. "Ele costumava ter antes, mas me disse que
haviam parado."
"Bom, foi a primeira vez que ele teve um quando estava comigo," Eu disse.
"Eu acho que foi algo muito ruim porque... porque ele acordou gritando e
com o rosto todo molhado. Ele mal conseguiu ficar deitado e foi para o
chuveiro na mesma hora em que acordou."
"Isso deve ter tido algo a ver com a mãe dele, com certeza," Pandora disse,
pondo a mão na testa. "Aquela vadia egoísta."
"Queria conseguir ajudar ele, mas..." Falei, suspirando. "Mas não faço ideia
de como fazer isso."
"Você gosta mesmo dele, não é?" Pandora perguntou, sorrindo para mim.
"Ahg!" Suspirei, cobrindo o rosto com as mãos. "Me sinto tão idiota por ter
gostado dele tão fácil!"
"Ah, não se sinta assim!" Pandora disse, pondo a mão no meu braço. "Sabe,
Mary, Regulus nunca teve um relacionamento realmente saudável na vida
dele. Nem com os pais, nem com Sirius por um longo tempo, ou com as
primas, os amigos... e nem mesmo com pessoas de quem ele se interessava.
Você deve saber sobre ele e aquele filho da puta do Crouch."
278
porque ainda me dava ânsia de vômito. "Mas não entrou muito em detalhes
sobre nada."
"Acho que é porque não foi apenas o primeiro 'coração partido' dele," Ela
começou. "Vou contar isso à você porque eu sei que você se importa com
ele tanto quanto eu."
"Não apenas isso, quem dera fosse apenas isso, Mary," Pandora disse,
franzindo a testa. "Barty colocava na cabeça de Regulus que todas as coisas
ruins que ele fazia eram, de alguma forma, culpa dele. Que se Regulus não
fosse tão focado nos estudos, então Barty não teria que procurar alguém que
dava mais tempo à ele... Que se Regulus não fosse tão sensível, Barty não o
machucaria tão facilmente... Coisas desse tipo."
"Sim." Pandora continuou. "Regulus se sentia tão... tão culpado por tudo na
época. Ele já se culpava o suficiente por tudo que aconteceu com Sirius, e
então Barty vinha e jogava toda essa carga em cima dele. Regulus começou
a querer agradar Barty de qualquer maneira que fosse, era quase como se ele
estivesse desesperado para ser amado por ele."
"E como Regulus se livrou dele?!" Perguntei. "Ele terminou com ele, não
é?!"
"Na verdade, não foi bem assim..." Pandora disse. "Os dois não namoravam
de verdade, Barty dizia que eles eram apenas 'melhores amigos com
benefícios', mas Reg realmente gostava dele e isso o machucava. Barty vivia
dizendo para Reg que quando os dois recebessem a marca negra, eles seriam
279
invencíveis e extraordinariamente poderosos. Regulus ficou fascinado pela
ideia de Barty querer tanto fazer algo com ele."
"E o que você disse à ele?!" Perguntei. "Como você conseguia ver ele se
destruir assim?!"
"Você sabe que ninguém consegue fazer Regulus mudar de ideia quando ele
põe algo na cabeça," Pandora disse, tristemente. "Eu fiz o que eu pude para
Regulus não aceitar a marca, avisei que ele se arrependeria... mas ele estava
com tanto medo da mãe, e com tanta raiva de Sirius e tão fascinado pela ideia
de Barty gostar dele... Isso continuou por muito tempo, até que um dia passou
dos limites."
"O que Barty fez à ele que foi pior do que as outras coisas, por Merlin?!"
Perguntei, exasperada.
"Barty sempre foi louco, um maníaco psicopata," Pandora disse, com nojo.
"Mas houve um dia, algum tempo depois dos dois receberem a marca, que
Barty fez Regulus finalmente perceber que não havia salvação nenhuma para
ele. Barty queria que ele e Regulus atacassem uma família inteira de trouxas,
em plena noite de natal. Dizendo Barty, isso seria simbólico, quase como
uma oferenda ao Lorde das Trevas. Regulus recusou na hora e disse que ele
estava louco, que ele não ia fazer isso e que, além de tudo, era natal. Barty
ficou furioso pelo sentimentalismo de Regulus. Ficou realmente furioso...
Ele estava com tanta raiva que simplesmente decidiu lidar com isso do jeito
trouxa." Pandora pareceu respirar fundo, se preparando para terminar a
história. "Mary, Barty bateu tanto nele que Regulus quase não conseguiu
aparatar para a minha casa de tão fraco que ficou."
"O quê?! Ele não... você está me dizendo que Barty bateu nele porque ele
não quis massacrar uma família inteira?!" Questionei, furiosa. "Aquele
babaca desgraçado!"
"Eu mesma quis ir pessoalmente confrontar Barty, mas Regulus disse que
era perigoso demais." Ela continuou. "Regulus se desligou emocionalmente
para as coisas depois disso. Ele fingia firmemente que não sentia falta de
Sirius, fingia que talvez não fosse tão ruim assim ser um comensal da morte,
fingia que não se importava quando a mãe torturava ele por nada... mas ele
se importava, ele ainda se culpava. É o ponto fraco dele. A culpa."
"E depois?! Depois do que aconteceu com Barty, como ele... voltou a
melhorar?!"
280
"Não sei se eu saberia te dizer o momento exato, Mary, porque quando ele
decidiu ir atrás das horcruxes, as coisas na cabeça dele já estavam em uma
ordem melhor," Ela disse. "Regulus tentou machucar o próprio braço uma
vez... tentando se livrar da marca. Não funcionou. Foi quando percebi que
ele não aguentava mais nenhum segundo daquela vida. Eu tentei falar com
Dumbledore ou com alguém que pudesse tirá-lo daquela casa, mas não
consegui nada. Eles diziam que se Regulus já tinha dezessete e não queria
sair de lá, então não adiantava fazer nada."
"É por isso que ele não confia neles, não é?!" Falei, finalmente me tocando.
"Por isso, ele não confia em Dumbledore ou Moody, ou em qualquer adulto
na Ordem. Porque eles não fizeram nada."
"Reg tem consciência que se ele mesmo tivesse pedido ajuda e mostrado que
queria sair de lá, teria sido mais fácil. Mas você não faz ideia do que ela
poderia fazer com ele se ele tentasse fugir ou demonstrasse que não
concordava com ela, Mary," Pandora disse. "Ele era o único herdeiro Black
que restava. Ele não conseguiria sozinho, nem mesmo apenas nós dois. Ele
precisava de Dumbledore ou alguém tão poderoso quanto, mas eles não
fizeram nada."
"Como uma mãe pode fazer esse tipo de coisa com o próprio filho?! Como
ela não conseguia ver que ele merecia mais do que aquilo?!" Disse,
completamente horrorizada. "Não é à toa que ele tem pesadelos, Pandora."
"É por isso que ele gosta de você, Mary," Pandora disse, me fazendo encará-
la. "Porque você fez ele se sentir uma pessoa completamente diferente de
como ele foi visto a vida toda. Ele deixou você entrar e Regulus não deixa
ninguém entrar. Você não tem ideia de como foi difícil para ele se afastar de
você, mas mesmo assim, ele fez. Ele faria qualquer coisa para proteger você
porque se ele perder você, ele vai se perder de novo. E eu não sei se ele
aguentaria isso outra vez."
281
Sempre achavam que ele gostava de ser quem ele era. Ele sempre se virou
sozinho com o que tinha. Por isso, ele não gosta de pedir ajuda para os outros
e acha que pode resolver tudo sozinho, quando claramente está errado.
Porque ele fez isso a vida toda. Pelo menos, até você aparecer."
"Tenho certeza que não existe ninguém que faça Regulus se sentir mais
seguro do que você faz, Mary." Ela disse, sorrindo amigavelmente. "Na
verdade, não acho que ninguém faça ele sentir qualquer coisa como você faz.
Acredite em mim, você não precisa fazer muita coisa para Regulus continuar
apaixonado por você."
"Você não pode estar pensando que só você é quem está!" Pandora disse,
revirando os olhos outra vez.
"Ah, Mary..." Pandora disse, tomando um gole do seu chocolate. "Acho que
já somos amigas o bastante para você saber uma coisa muito importante
sobre mim que o próprio Regulus demorou anos para aceitar, e até hoje ás
vezes questiona."
Eu e Pandora fomos almoçar juntas depois que saímos do café. Não quis
tomar muito o tempo dela porque ela tinha que se preparar para hoje à noite,
282
então assim que saímos do restaurante, eu voltei para casa. Agora, mais do
que antes, consigo ver perfeitamente o porquê Regulus ama tanto Pandora.
Vou lembrar de agradecer todas as noites por Pandora existir e por ela ter
tido a chance de estar com ele quando ele não tinha mais ninguém.
Queria conseguir protegê-lo da mesma forma que ele faz por mim. Queria
conseguir ler a mente dele para saber se eu faço ele sentir o mesmo que ele
faz ou se eu causo nele o mesmo efeito que ele me causa. Queria conseguir
saber se ele também presta atenção nos mínimos detalhes das coisas que eu
faço, como eu presto nas dele. Se ele sabe sobre quando eu o espero dormir
antes de mim, para ver ele no estado mais tranquilo, vulnerável e lindo, com
os cabelos escuros jogados no travesseiro, os olhos relaxadamente fechados
e a boca avermelhada entreaberta fazendo contraste com a pele pálida do
rosto dele. Se ele sabe que me deixa completamente extasiada quando sorri
para mim e os olhinhos azuis acinzentados dele cintilam como se ele
estivesse olhando para alguma coisa muito iluminada, ou quando chega perto
de mim e passa levemente a costa do indicador na minha bochecha, e então
me olha nos olhos e me faz ter certeza de que não existe nenhum lugar que
eu queira estar mais do que perto dele.
"Filha,
Eu e sua mãe fomos visitar sua Tia Martha no interior esta tarde, tem frango
no congelador e deixamos dinheiro para você comprar algo para comer se
quiser. Nós voltamos amanhã de manhã.
Preferimos que você não saia de casa enquanto não voltarmos, não é seguro.
Podemos conversar quando voltarmos.
283
Amo você,
Papai."
"Hum." Falei sozinha, depois que li o bilhete que meu pai deixou. Ótimo,
pelo menos vou poder chamar Regulus aqui esta noite quando o encontro
com Narcissa acabar. Tenho quase certeza que ele vai precisar conversar
quando aquela sessão de tortura terminar.
Quando deu onze, eu estava a mil. Andando de um lado para o outro, quase
abrindo um buraco no chão da sala. Ele havia me dito que eu poderia mandar
um patrono até à casa dele às uma da manhã, porque até lá ele estaria em
casa se tudo ocorresse bem. Tudo tinha que ocorrer bem.
Quando deu meia noite, ouvi uma batida na porta. Só poderia ser ele. Tinha
que ser ele.
"Sou eu!" Ele respondeu. Era a voz dele. Merlin, eu não poderia estar mais
feliz.
"Eu estava tão preocupada!" Respondi, aliviada, abrindo a porta e vendo ele
na minha frente. "Você está bem?!"
"Você não faz ideia..." Respondi, sorrindo fracamente. "Ah, droga... quase
me esqueci."
284
"O quê?!" Ele pareceu um pouco nervoso, a voz falhando um pouco.
"Tem certeza de que você está bem?" Perguntei, enquanto ele beijava meu
pescoço. "Você nunca entra em lugar nenhum sem o protocolo."
"Pareço não estar bem?!" Ele perguntou, sorrindo e me beijando outra vez.
Tinha alguma coisa errada. O beijo dele estava diferente. Regulus não ignora
o protocolo dessa maneira, principalmente porque sabe que muitas pessoas
não confiam nele. Ele não viria até aqui depois do encontro com Narcissa,
seria perigoso demais. Ele é esperto, sabe que poderiam segui-lo. E Regulus
estaria cheio de coisas para contar e desabafar, ele não é do tipo que usa sexo
para resolver os problemas.
Abaixei lentamente a minha mão para o bolso traseiro da minha saia, onde
estava a minha varinha. Em um movimento rápido, empurrei ele para longe
de mim e a apontei para ele.
"Quem é você?!" Gritei, furiosa. "Você não é ele! Mostre quem você é,
agora!"
"Mary..." Ele sussurrou, com as mãos para cima. "Sou eu. Reg. Por que está
apontando a varinha para mim?!"
E então, uma névoa negra passou pelo jardim da minha casa, e um riso fino
e cortante pôde ser escutado lá de fora. Meus olhos se arregalaram quando
eu entendi o que estava acontecendo.
"Achei que você era mais burra." O homem na minha frente disse, passando
a varinha pelo rosto e revelando quem realmente era. Era um homem alto,
com não mais que trinta e cinco anos. "Você não beija nada mal para uma
sangue ruim."
285
"Expelliamus!" Lancei da minha varinha, desarmando-o.
"Opa." Ele disse, fingindo preocupação. "Acho que você é burra sim. Eu
desfiz o feitiço de proteção dessa casa assim que você me deixou passar por
aquela porta. Sua vontade de dar para aquele traidor desgraçado quase matou
você, sabia disso?!"
"Reducto!" Lancei outra vez, fazendo ele cair com força contra a parede atrás
dele.
Ela riu loucamente. "É bom saber que você não esqueceu de mim... Largue
a varinha agora!" Eu soltei a varinha, relutantemente. "Ah... boa menina!
Está mais obediente desde a última vez que vi você, huh?!"
"Achei que você não ia mais largar a boca dela, querido!" Bellatrix reclamou.
"Eu deveria matar você por beijar meu marido, sua sangue-ruim."
"O que você quer?!" Perguntei, sorrindo. "Se veio atrás de Regulus outra vez,
não perca seu tempo e me mate de uma vez. Porque eu não vou dizer nada!
Não vou deixar você machucá-lo!"
"Sua lealdade vai te matar, meu amor." Bellatrix disse, com crueldade em
sua voz. "Vamos fazer uma coisinha diferente hoje Vou levar você para
conhecer a minha casa!"
"O quê?!" Exclamei, exasperada. "Por quê isso?! Se quer me matar, pode me
matar aqui mesmo!"
"Você realmente se acha tão importante a ponto de achar que queremos matar
você?! " O marido dela disse, com a varinha apontada para mim. "Teríamos
matado você facilmente da última vez se o caso fosse esse! Chame isso de...
dano colateral."
286
A voz da minha mãe dizendo a mesma coisa veio à minha mente.
"Reggiezinho não vai hesitar nem dois segundos antes de vir atrás de você!"
Bellatrix sussurou no meu ouvido. "Vou escrever um bilhete para ele dizendo
exatamente onde te encontrar ou então você morre!" Ela riu mais uma vez.
"O Lorde das Trevas vai nos agradecer muito quando entregarmos o menino
de bandeja para ele!"
"Não somos nós que vamos, meu amor," O homem disse, no meu ouvido.
"Lord Voldemort é quem vai."
"Leve ela, Rodolphus!" Bellatrix disse. "Vou escrever esta droga de bilhete
e aparato em um segundo de volta! Não a perca de vista! Tranque ela em
algum lugar, não me importo!"
287
Capítulo 25: Vingança
"Vem!" Mary disse, sorrindo, puxando Regulus para a sala. "Você tem que
fazer isso! Por mim!"
"Ainda não faço ideia do que você está falando." Regulus disse, confuso.
"Você já vai ver." Mary disse, com um sorriso travesso no rosto, enquanto ia
até o tocador de discos da sua casa.
"E se algum vizinho ouvir e contar para os seus pais?!" Regulus perguntou,
preocupado. "Já está de madrugada, isso pode dar algum problema."
"Já fizemos barulhos bem maiores que esse, você não acha?!" Ela disse,
arqueando uma sobrancelha. "Rá! Consegui!"
Era a música mais linda que Regulus já tinha escutado. Ou talvez só era linda
porque ele estava olhando para Mary de pijama, dançando sozinha de olhos
fechados na frente dele. Merlin, Regulus pensou, esta mulher é demais para
mim.
"Vem cá!" Ela disse, puxando ele pelo braço para bem perto dela. "Você
lembra da primeira vez que dançamos? No casamento de James e Lily?"
"Bom," Ela disse. "Esta é a segunda!" E então ela girou o braço de Regulus
por cima da sua cabeça, fazendo-o dançar animadamente, enquanto ele
tropeçava nos próprios pés e fazia ela gargalhar tão alto que ultrapassava o
barulho da música. Eles rodavam pela sala, sorrindo e cantando juntos.
Regulus carregou Mary nos braços e a girou várias vezes, os dois
gargalhando até as próprias barrigas doerem. Ele nunca havia se sentido tão
vivo.
288
"Você é linda!" Regulus gritou, mais alto do que a música, deitado no chão
e apontando para ela enquanto ela cantava. "Sabia disso?!"
"É claro que eu sabia!" Mary gritou de volta, fazendo-o rir mais ainda e
voltou a cantar descontroladamente, até que a música acabou e ela caiu ao
lado dele no chão.
"Eu poderia dançar com você para sempre." Ela disse, se virando para ele,
os dois sorriram. Outra música começou a tocar depois que a outra acabou,
Regulus conhecia essa, ela era mais calma e lenta.
Mary sorriu, e não hesitou em dar a mão à ele, se levantando do chão. "Não
sei dançar à dois."
"Que horrível." Ela ironizou, fazendo-o sorrir. "Você vai ter que me ensinar
então, Black."
Regulus puxou ela para mais perto do seu corpo. Quando eles começaram a
dançar, Mary encarava seu peito, concentrada em não errar os passos que ele
ensinava. Regulus a encarava o tempo inteiro, certo de que amava o jeito que
ela pisava em seus pés quando errava alguma coisa. Cada centímetro do
corpo deles que se tocava era pura eletricidade. Regulus poderia morar
naquele momento para sempre.
Quando ela pegou o jeito, ela finamente subiu o olhar para encará-lo. Os dois
dançavam tão bem juntos que pareciam estar flutuando pela sala enquanto a
música tocava. Com os olhos concentrados um no outro, Regulus deu um
meio sorriso, o que fez Mary sorrir também. Então, ele a girou de uma vez,
os cachos compridos dela voando no ar e depois a trouxe de volta para perto
do seu corpo. Ele encostou a testa na dela, os dois com os olhos fechados,
enquanto sentiam apenas a presença um do outro e seus corpos balançando
em sintonia.
289
houvesse nada no mundo além deles. E se existisse mesmo algum tipo de
Deus nesse universo que controla todas as coisas, Regulus pensou, ele seria
capaz de fazer qualquer oferenda à ele se aquela música durasse pela
eternidade.
HOJE
"Acho que você está sendo paranóico, Reg," Sirius disse, me vendo andar de
um lado para o outro na sala. "Sabe, não faz nem vinte e quatro horas que
você a viu..."
"Acabei de falar com Pandora," Remus disse, entrando na sala. "Ela disse
que a última vez que viu Mary foi ontem no almoço... depois disso, ela voltou
para casa."
"A casa de Mary tem feitiços protetores, não tem?!" Sirius disse. "Não dá
para entrar lá se os próprios donos da casa não permitirem e... e, bom, há o
protocolo, não é? Mary está segura na própria casa."
"Eu vou até lá." Falei, indo pegar meu casaco, mas Remus me impediu.
290
"Não acho que seja uma boa ideia," Remus disse, franzindo o cenho. "Os
pais de Mary não gostam de você, e se realmente aconteceu algo com ela e
você aparecer de repente sem ser chamado, eles vão se perguntar como você
soube tão rápido. Você não pode dar motivos para eles desconfiarem mais
ainda de você."
"E você quer que eu faça o quê, Lupin?!" Perguntei, empurrando a mão dele
com força. "Que fique parado?! Eu estou pouco ligando para os pais de Mary,
se vão achar que eu tenho alguma coisa a ver com isso, ou se o Ministério ou
Moody ou Dumbledore ou sabe lá qual daqueles palhaços vai querer me
prender em Azkaban! Não vou ficar aqui sem fazer nada!"
"Reg, você precisa se acalmar," Sirius disse, se levantando. "Não é assim que
se resolve esse tipo de..."
"Eu falei para vocês dois!" Gritei, os empurrando e pegando o meu casaco.
"Estou indo até lá agora, vocês me acompanham se quiserem."
Era estranho. A casa de Mary estava intacta. Não haviam portas quebradas,
as janelas também estavam inteiras e não havia nenhum sinal de luta. Quem
não tinha conhecimento do que havia acontecido, diria que não havia
ocorrido ataque nenhum. Mas é claro que os pais de Mary souberam na
mesma hora em que não encontraram a filha em casa. Eles souberam na
mesma hora que Mary estava em perigo.
"Você." O pai de Mary disse, sombriamente, quando abriu a porta para mim.
Seus olhos estavam inchados e vermelhos, com uma expressão cansada e
exausta. "Como se já não me bastasse tudo que aconteceu, você ainda tem
coragem de aparecer aqui!"
291
"Senhor MacDonald." Assenti, tentando ser educado. "Pode me perguntar o
que quiser."
"O que eu disse à você da última vez que nos vimos?!" Ele perguntou,
seriamente.
"Disse que... que queria que eu ficasse longe dela." Respondi, abaixando
cabeça.
"Ótimo." Ele respondeu, dando espaço para eu entrar. "Tente não fazer mais
estrago do que você já fez."
"Rapazes." Moody assentiu para mim, Sirius e Remus. "Creio que nosso
encontro hoje não seja em uma ocasião muito boa."
"O que aconteceu aqui, Moody?!" Remus perguntou, indo até ele.
"Vocês sabem onde ela está?!" Perguntei, com a voz desesperada. "Me
digam e eu vou até lá agora mesmo!"
"E por que nós estamos aqui?!" Sirius vociferou. "Vamos até lá!"
"Acho que você vai querer ler isso antes, Regulus." James disse, apontando
para o papel na mão de Dumbledore, trocando um olhar nervoso com
Andrômeda.
"Não quero ler nada!" Gritei, agoniado. "Me digam apenas o lugar!"
292
corre mais perigo. Abri o pergaminho na minha mão e comecei a ler em
silêncio.
"Olá, priminho!
Se você achou isso, então deve saber que levei sua namorada para dar um
passeiozinho comigo, não é? Mas não se preocupe, querido, ela está viva.
Pelo menos, por enquanto.
Você não vai deixá-la morrer, vai? Sugiro que se apresse e venha antes que
seja tarde. Você sabe que meu temperamento não é dos melhores, não sabe,
Reg? Você sabe que isso é tudo culpa sua, seu traidor sujo. Se você não vier
sozinho, faço questão de matá-la com as minhas próprias mãos! Você sabe
onde me encontrar.
B. Lestrange."
"Isso não... isso não está acontecendo..." Minha respiração começou a falhar.
"Não está..."
Aquela sensação ruim atingiu meu peito em cheio outra vez. Não era mais
apenas um pressentimento, uma coisa muito ruim, muito, muito ruim estava
acontecendo e eu não sabia o que fazer. O ar começou a faltar nos meus
pulmões e o rosto de Mary sorrindo para mim passava pela a minha cabeça
como um filme. A dúvida se eu a veria novamente fez minhas entranhas se
arrepiarem. Meu peito começou a doer, doer de verdade.
293
"Reg, vai ficar tudo bem, ok?! Nós vamos salvá-la." Sirius disse, segurando
meu rosto com as mãos.
"É a única coisa que eu posso fazer!" Gritei. "Sou eu ou ela, Remus! E não
vou deixá-la morrer de jeito nenhum!" Me virei para os pais de Mary, que
me olhavam atordoados. "Prometo à vocês que eu vou trazê-la de volta... eu
prometo à vocês."
"Aqui está sua água, Reg," James disse, vindo até onde eu estava. "Merda,
você está pálido."
"A sua coragem é louvável, mas creio que isso não será necessário, Regulus."
Dumbledore disse. "A Ordem já foi informada, estamos juntando aurores
para irem resgatar Mary."
"Mas vocês nem sabem de que lugar Bellatrix está falando!" Respondi,
furioso. "Ela levou Mary para a mansão Lestrange, nesse exato minuto, Mary
pode estar sendo torturada e você está me pedindo para esperar?!"
"Regulus, Bellatrix Lestrange não vai matá-la," Moody disse. "Ela precisa
de Mary para atrair você."
"Vocês não conhecem Bellatrix como Reg e eu," Sirius disse. "Ela vai matar
Mary apenas por estar entendiada."
294
"Eu também a conheço, Sirius," Andrômeda disse. "Talvez até mais do que
vocês. Mas vocês deveriam ouvir o que Dumbledore está dizendo. Regulus,
se você for impulsivamente, corre o risco de não conseguirmos salvar
nenhum de vocês!"
"Você precisa fazer alguma coisa!" Vociferei para Dumbledore e James pôs
a mão no meu ombro. "Como consegue ver esse tipo de coisa e pensar
racionalmente?! Seu sangue é tão frio assim?! Por que é que você nunca faz
nada?!?!?!"
"Não!" Gritei de volta. "Eu não posso deixar isso acontecer, Lupin! Ela não
pode morrer! Não posso perdê-la!"
"Eu também não posso perder você, Reg." Sirius sussurrou, me fazendo
encará-lo. "Não outra vez."
"Sirius... eu não..." Suspirei. "Olhe, eu não sei o que fazer, ok? Sei
exatamente onde Mary está, mas vocês não me deixam procurá-la!"
"Vai se foder." Vociferei para ele, saindo da casa de Mary logo depois.
Sirius, James e Remus foram atrás de mim, como eu já previa.
"Dá para parar um pouco, seu idiota?!" Remus disse, puxando o meu braço.
"Você não vai salvar ninguém com a cabeça quente assim." James disse,
arqueando as sobrancelhas. "Pelo menos, não sozinho."
"Vocês não vão me deixar salvar ninguém com a cabeça quente ou não, então
do que adianta?!" Falei, revirando os olhos.
295
"Bom," James disse. "Eu também não disse isso."
"Já estou começando a me acostumar com nós cinco, sabia, Moony?!" James
disse, com um sorriso, apoiando o cotovelo no ombro de Remus.
"Vingança."
***
"Certo, vamos fazer o seguinte," Ela começou. "Regulus, você vai fingir que
vai sozinho."
296
"James." Pandora chamou, James se levantou rapidamente. "A capa. Está
com você?!"
"Está na minha casa." Ele respondeu. "Mas não é grande o suficiente para
caber quatro pessoas."
"Não serão quatro." Ela disse. "Apenas duas. Bom, duas e meia."
"Ela quer que você entre como Padfoot." Remus deduziu, imediatamente.
"Mas ainda sim, seriam muitas pessoas embaixo da capa."
"Reg, você lembra do quinto ano?" Pandora perguntou, ainda sem olhar para
mim. "Quando tentei fazer aquele feitiço para me teletransportar de um lugar
para o outro porque eu queria logo saber aparatar?!"
"Ah, com certeza," Assenti. "Tudo que você conseguiu foi sumir por quinze
minutos. Achei que você tinha se perdido em outra dimensão ou coisa do
tipo."
"Ok, tudo bem, volto em alguns minutos." James disse, e então aparatou.
"Ok, deixa eu ver se entendi," Sirius disse. "Prongs, Moony e eu, como
Padfoot, vamos estar embaixo da capa e você vai estar... invisível?!"
"Você não precisa de magia demais para segurar isso, Dora?!" Perguntei,
preocupado. "Você tem certeza que consegue?"
297
"É claro que consigo, não seja idiota." Ela respondeu, revirando os olhos.
"Assim que abrirem os portões para você passar, nós passaremos também
com você, mas eles vão pensar que você foi sozinho."
"Eu tenho um plano para isso também," Pandora disse. "Mas vai ser mais
difícil."
James desaparatou de volta para a casa de Pandora, desta vez com a capa de
invisibilidade na mão. "Ok, tudo certo."
"É claro que viu, Lily vê tudo," Ele respondeu, dando de ombros. "Marlene
está com ela. A gravidez está quase no final então Lily não pode fazer muito
esforço para brigar comigo."
"Espero que seu filho não nasça enquanto estivermos lá." Eu disse,
distraidamente.
"Você não deveria ter colocado essa ideia na minha cabeça, Reg." James
disse, preocupadamente, se sentando no sofá.
Pandora deixou claro que todos nós tínhamos que voltar vivos e que não era
para ninguém bancar o herói. Ela me encarou diretamente quando disse isso.
Não tenho certeza do que sou capaz de fazer para tirar Mary de perigo.
***
Achei que eu nunca mais teria que colocar os pés naquela mansão horrível
desde o casamento de Bellatrix. Parecia mais uma casa mal assombrada de
298
um filme de terror muito ruim, com portões com grades de ferro. Apesar de
eu saber que Pandora estava caminhando do meu lado e que os três estavam
embaixo da capa do meu outro lado, a visão de estar andando sozinho para
dentro daquele lugar não deixava de me dar arrepios.
Assim que cheguei no portão, eu soube que não havia apenas um ou dois
comensais esperando para que eu aparecesse. Mulciber e Avery caminharam
até perto dos portões, eu reconheceria os dois filhos da puta em qualquer
lugar.
"Deve ser difícil para vocês, não?!" Falei, com o mesmo tom de crueldade.
"Saber que até eu fui mais próximo e mais privilegiado pelo Lorde das
Trevas do que vocês que vivem no pé dele como ratos."
"Em breve, esse sorrisinho vai sair do seu rosto, Regulus." Mulciber disse.
"Você vai ver."
Conseguimos entrar.
299
porta da frente, ouvi uma fria voz masculina. Soube perfeitamente que era
Rodolphus.
"Bella vai amar ver você." Ele disse, cruelmente, enquanto Mulciber e Avery
fechavam a porta atrás de nós, orgulhosos por terem sido eles a me levar até
lá.
"Onde ela está?!" Perguntei, furiosamente, o que a fez dar uma gargalhada
fina e cortante.
Não estava mais sentindo nada à minha esquerda. James, Sirius e Remus já
deviam ter saído de lá ou então estavam indo. Eu precisava de tempo, apenas
isso.
Francamente, o plano era bom. Pandora sempre foi boa com planos. Eu tenho
certeza que ela havia pensado em tudo, menos no que aconteceu em seguida.
E tenho certeza que ela se sentiu tão estúpida como eu me senti quando me
dei conta de que deveria ter previsto que aquilo provavelmente aconteceria.
Como diabos eu não havia pensado nisso?! Como?!
300
"Tem alguma coisa aqui." Peter disse, levantando a mão no ar. "Conheço
isso."
"Sou eu quem irei chamá-lo!" Bellatrix rosnou. "Eu tive a ideia que trouxe o
garoto até aqui!"
"Com licença, mas nós dois quem trouxemos ele até aqui," Mulciber disse,
se intrometendo. "Então nós é quem devíamos..."
"Cale a boca, seu idiota!" Rodolphus rugiu, o que me fez soltar uma risada
fraca. "Do que é que você está rindo, seu imbecil?!"
"Quem você pensa que é para falar assim comigo, seu traidorzinho?!"
Bellatrix sibilou, apontando a varinha para o meu pescoço. "Se o Lorde das
Trevas não fizesse tanta questão de matar você pessoalmente, eu mesma..."
301
"O que é que significa isso?!" Bellatrix gritou, me virando e colocando a
varinha no meu pescoço. "Eu avisei para você vir sozinho!"
"Oi, priminha!" Sirius ironizou, vendo Bellatrix perder para Pandora. "Sentiu
minha fal..."
"CRUCIO!"
"REDUCTO!" Sirius gritou com ódio para Mulciber e Avery, fazendo os dois
caírem para trás, batendo com a cabeça nas colunas de mármore, fazendo-os
302
desmaiar. "Moony, por favor... eu sei como é, eu sei o que você está
sentindo... isso vai passar, eu prometo..." Sirius chorava, ajoelhado ao lado
de Remus.
Peter saiu, assustado ainda com tudo que estava acontecendo. Mulciber e
Avery ainda estavam apagados, Rodolphus estava atordoado. Eu, James e
Pandora ficamos em volta de Bellatrix, com as varinhas apontadas para ela.
"Bella?!" Uma voz mais doce, mas ainda um pouco fria a chamou das
escadas. "O que está acontecendo?!"
"Você está grávida, Cissy." Ela respondeu. "Você não devia estar aqui."
Peter subiu de volta com Mary, que estava com as mãos amarradas atrás do
seu corpo. Seu cabelo estava bagunçado, e ela tinha marcas vermelhas no
rosto, suas roupas estavam rasgadas em algumas partes e seu olhar estava
exausto. Um ódio gigante irradiou de dentro de mim e eu empurrei
Rodolphus com um chute na sua perna, apontando minha varinha para ele.
"Se algum de vocês quatro tentar qualquer coisa," Bella disse, com a varinha
no pescoço de Pandora. "Eu a mato sem piedade alguma."
303
punia por coisas tão fúteis como deixar meu quarto bagunçado ou não ter
usado o talher certo no jantar. Uma dor insuportável começou a me partir ao
meio.
"Reg!" Mary gritou, impedida de poder me ajudar. "Não, por favor! Não o
machuquem!"
"Diga adeus à sua namorada..." Rodolphus disse, indo até Mary, com a
varinha apontada para ela. "Uma pena que vocês não tenham tido mais
tempo."
Se íamos morrer hoje, então eu queria que ela soubesse. Eu queria que ela
soubesse. Eu queria que ela soubesse. Eu queria que ela soubesse...
"Eu sei." Ela sussurrou, com os olhos marejados, enquanto ele se preparava
para atacá-la. "Eu também, Reg..."
"Ora, seu moleque idiota!" Rodolphus avançou. "Você ainda está vivo!"
James, Sirius e Remus ficaram lado a lado, com as varinhas apontadas para
Rodolphus.
"Você não faz ideia de com quem se meteu, seu filho da puta!" James
exclamou, com a varinha apontada para ele.
304
"Kreacher!" Exclamei, ainda um pouco fraco. "Você... O que você está
fazendo aqui?!"
"Seu elfo insolente, como você ousa?!" Bellatrix disse, soltando Pandora e
apontando a varinha para Kreacher, que estalou os dedos, e em questão de
segundos, desarmou Bellatrix. James, Remus e Pandora correram até onde
Mary estava, empurrando Peter.
"Espero que você morra aqui, seu filho da puta." Remus disse à ele, de pé
em frente ele, enquanto James desamarrava Mary. Sirius correu até onde eu
estava, me ajudando a levantar.
Sem que nós pudéssemos ver, Bellatrix tirou uma adaga da parte de trás da
sua roupa e pegou impulso para jogá-la em mim e Sirius, mas Narcissa
apareceu na nossa frente, de repente, com um tipo de caderno preto e velho
nas mãos.
"Não vou deixar você machucá-los nem mais um minuto, Bella!" Ela gritou,
com a voz trêmula. "Se você tem coragem de matá-los, como... como eu vou
saber se você não vai ter coragem de fazer o mesmo com Draco?! Como,
Bella?!"
"Do lado que mantém o meu filho vivo!" Ela gritou de volta, enquanto eu e
Sirius nos aproximávamos de James, Remus, Mary e Pandora.
"Estou..." Ela disse, sorrindo e passando a mão no meu rosto. "Eu sabia que
você acabaria vindo me buscar, seu idiota."
"É claro que eu viria." Eu respondi, seriamente. "Eu sempre vou vir."
"Hm... acho que vocês podem fazer isso depois," James disse. "Temos
problemas maiores aqui."
305
"Você consegue aparatar com todos nós, Kreacher?!" Pandora perguntou,
segurando em seus braços.
"Regulus Black está bem?" Ele perguntou, olhando para mim. "Kreacher
prometeu que sempre viria."
Fui interrompido quando Narcissa gritou alto atrás de nós, fazendo todos nos
assustarmos. Deuses, ela estava morrendo?!
306
Capítulo 26: Verão 1980
Na noite em que ele nasceu, Sirius mandou um patrono á Andy para ela ir
urgentemente até à casa dele e Mary mandou um à Marlene a chamando
imediatamente. Assim que as duas chegaram, a casa virou um verdadeiro
caos. Marlene entrou correndo no quarto em que Narcissa estava. Merlin, ela
não parava de gritar.
Ficamos todos esperando por bastante tempo na sala. Remus colocou mais
feitiços de proteção na casa, principalmente depois de termos fugido da
mansão de Bellatrix. A casa era provavelmente o lugar mais seguro do
mundo agora. James teve que voltar para ver como Lily estava, mas não antes
de fazer suas apostas com Sirius.
"Aposto cinco galeões que ela coloca Malfoy." Sirius sussurrou para James.
Na verdade, estávamos todos muitos curiosos para saber o que Narcissa faria
com o sobrenome dele. Se permaneceria Malfoy, como o pai de sangue. Ou
se ela iria ter coragem de abandonar a irmã e o marido no mesmo dia, e
colocar apenas o próprio sobrenome no filho. Francamente, eu não fazia
ideia. Mas acho que já superamos essa coisa de achar que um nome
influencia em quem uma pessoa vai se tornar.
James voltou para casa, de volta para Lily. Eu disse à Mary para voltar
também, porque seus pais definitivamente estavam precisando mais dela do
que eu.
"Não se afaste de mim outra vez." Ela disse seriamente, enquanto eu a levava
à porta.
307
"Mesmo se eu quisesse," Respondi, colocando um cacho do seu cabelo para
trás da orelha. "Realmente não acho que eu conseguiria."
Ficamos apenas eu, Sirius, Remus e Pandora na sala. Ela estava um pouco
mais inquieta que todos nós, com os pés balançando e os dedos batendo na
mesa. Me levantei para pegar um copo de água para mim.
"Se for sobre o diário," Respondi, voltando para o sofá com o copo. "Não se
preocupe, vamos destruí-lo assim que..."
"Não, não é sobre o diário," Ela disse sussurrando, parecendo nervosa. "É
sobre outra coisa."
"Então, o quê...?!"
"Estou grávida!"
308
Meu queixo caiu. O copo de vidro caiu da minha mão direto no chão.
Definitivamente, todas as mulheres decidiram engravidar no mesmo ano.
"Eu sei! Eu sei que deveria ter te contado!" Ela exclamou. "Mas você não
deixaria que eu fosse com vocês se eu tivesse dito!"
"Eu sei que eu deveria ter falado!" Ela disse, começando a andar de um lado
para o outro. "Eu estava com medo de você não me deixar ir, e estava com
medo de encarar isso de frente e perder tudo outra vez..." Ela começou a ficar
ofegante, ainda andando de um lado para o outro. "E eu não sabia se estava
pronta para aceitar isso por causa do que aconteceu no ano passado..."
"Mas eu também não queria conversar sobre isso com você porque eu sei
que você se sente culpado pelo o que aconteceu e tudo que eu tenho feito
durante toda a nossa amizade é garantir que você não se sinta assim," Ela
falava tanto, sem vírgulas, quase sem tempo para respirar. "E também estou
com medo de contar à Phil porque ele com certeza vai ficar muito feliz, mas
e se isso der errado outra vez?! E se algo acontecer e eu perder esse bebê?!
Phil não aguentaria, eu não aguentaria! Não posso passar pela a mesma coisa
que passei, não posso! Queria ter dito alguma coisa, mas..."
"A última coisa que nós precisamos, com toda essa história das horcruxes, é
que você se sinta culpado por eu me sentir tão mal com o que aconteceu,"
Ela disse, com os olhos tristes. "Nunca consegui realmente conversar sobre
isso, nem mesmo com Phil. Não sei se eu aguento isso outra vez, Reg."
309
porque a única coisa que eu podia fazer para ajudar seria ouvir você. Dora,
isso não vai acontecer outra vez... confie em mim, você vai ficar bem."
"Como você pode ter certeza disso?!" Ela disse, afundando o rosto nas mãos.
"Estou com tanto medo de falhar outra vez, de perder essa criança outra
vez..." A voz dela ficou trêmula. "De não ser uma boa mãe."
"Você?! Qual é, você vai ser uma mãe incrível!" Exclamei, pondo o braço
ao redor do ombro dela. "Acredite em alguém que conhece você desde
sempre, se tem alguém que vai saber fazer isso, esse alguém é você. E
também... você tem a mim. Você sempre vai ter a mim."
"Sabe," Pandora disse, sorrindo fracamente, "Se você não estiver planejando
morrer ou se enfiar sozinho outra vez em uma caverna assassina... bom, se
você quiser..."
"É claro que eu quero ser o padrinho!" Respondi, com um sorriso largo. "Vou
ser o padrinho mais foda que você já viu na sua vida! E vou dar doces para
ela todos os dias escondido de você! Vou colocá-la na cama às nove, mas
vou contar todas as nossas histórias sobre Hogwarts para ela até às onze! E
vou levá-la ao Beco Diagonal para comprar a vassoura mais cara que ela
quiser, também vou levá-la à estação de trem no seu primeiro dia em
Hogwarts e..."
"Merlin, parece que você é quem está grávido!" Ela disse, sorrindo. "Você
acha que é 'ela'?"
"Olhe, nunca fui muito bom em Adivinhação, você sabe," Respondi. "A
matéria é vaga demais... mas, bem, se eu tivesse que adivinhar agora... eu
diria que é uma menina."
Pandora encarou o céu estrelado acima de nós. "Regulus é uma estrela, não
é?!"
"A família Black e suas tradições esquisitas..." Falei, também olhando para
o céu.
"Bom, se for menina," Ela disse, ainda olhando para cima. "Quero que se
chame Luna."
"Luna Lovegood." Falei, vendo como o nome soava. "Por quê Luna?!"
310
"Porque eu quero que vocês dois estejam sempre juntos," Ela disse, sorrindo
para mim. "Como a lua e as estrelas."
Eu a encarei, atônito com o que acabara de ouvir. Não consegui evitar que
meus olhos ficassem molhados. Enxuguei eles rapidamente com os dedos,
antes de responder.
"Ah, Regulus Black está chorando?!" Ela disse, tirando sarro de mim.
"Cale a boca." Respondi, emburrado, mas ainda sorrindo. "Eu só... eu apenas
não esperava por isso."
***
Levamos o diário para uma floresta qualquer. Não queríamos destruir aquela
coisa dentro de casa e ao ar livre era o melhor jeito de fazer isso. Ao que
parece, o diário estava com Lucius o tempo todo. O que me surpreende
porque ele é quase tão imbecil como uma porta, então por que diabos
Voldemort confiou algo tão valioso à ele?! E como diabos ele nunca se
perguntou o que era aquela coisa?! Colocamos o diário no chão da mata e
ficamos todos ao redor dele, o encarando.
"Não olhem para mim." James disse, erguendo as mãos. "Eu matei a porra
de um basilisco."
311
"Eu faço." Remus disse seriamente, depois de um curto silêncio, nos fazendo
encará-lo. "Aquela filha da puta me fez sentir tanta dor que eu achei que
fosse morrer. Eu mereço isso."
"Achei que ela chamaria muita atenção na floresta, achei melhor a presa do
basilisco." Respondi, mexendo no meu bolso de trás. "Aqui, Remus."
"Sabe, Reg," Remus disse, pegando a presa da minha mão. "Eu já fui até uma
caverna salvar você, já explodimos uma casa, matamos um basilisco e fomos
até uma mansão cheia de comensais da morte... acho que você pode me
chamar de Moony, se quiser."
Todos nos afastamos alguns passos do diário, dando espaço para Remus. Ele
segurou firmemente com as duas mãos a presa do basilisco, a levantando no
alto para pegar impulso. Em questão de segundos, ele desferiu um golpe bem
no meio do diário, que começou a literalmente sangrar. Sangrar como se
fosse uma pessoa de verdade.
"Não sou apenas que estou vendo esse livro sangrar, não é?!" James disse,
tão assustado quanto.
"É por causa da alma dele." Pandora disse, se segurando em mim. "O diário
guardava uma parte dele, não é?! Não me surpreendo de estar literalmente
sangrando."
"Que cara bizarro." Remus disse, envolvendo Sirius com os dois braços.
312
De repente, o vento forte parou, as árvores voltaram ao seu lugar e nós
chegamos perto do diário, lentamente. Ele agora parecia apenas um livro
antigo e empoeirado, sem nada de muito interessante para se ver. A não ser
pelo buraco grande e chamuscado no meio da capa preta e encourada.
"Tom Marvolo Riddle." Sirius leu, na frente do diário. "Parece que a mãe do
cara já sabia que ele seria do mal."
"Pelo menos, destruímos outra," Falei, pegando-o nas minhas mãos. "Assim
que Narcissa estiver disposta, precisamos falar com ela."
"Eu não acho inteligente todos nós fazermos isso." Pandora disse, olhando
para todos nós. "Ela pode não querer falar com todos nós."
"Acho que vocês dois deveriam fazer isso." James disse, apontando para mim
e Sirius, enquanto íamos embora da floresta. "Sabe, vocês são primos dela."
"Eu também concordo com isso." Remus disse, analisando a reação de Sirius.
"Acho mais fácil ela falar com algum de vocês dois."
"Bom, ela me odeia," Sirius deu ombros, enquanto andava. "Com certeza vai
ouvir apenas Regulus."
"Você me pareceu feliz ontem quando o filho dela nasceu!" Exclamei. "Não
acho que ódio seja a palavra para isso."
"Isso é porque eu adoro bebês, Reg," Sirius disse. "E, pelo amor de Merlin,
o menino é meu sobrinho, não é? Ele não tem culpa da mãe dele me odiar."
"É de Padfoot que estamos falando, Pandora" Remus disse, sorrindo. "Não
tem um pingo de ódio no coração dele, a não ser no dia em que derramei café
na jaqueta de couro que ele tinha acabado de comprar."
"Por é que você me lembrou disso?!" Sirius exclamou, irritado. "Agora estou
com vontade de matar você outra vez!"
313
"Eu sou menor e mais rápido do que você, Moony!" Sirius gritou, indo atrás
dele.
"Pelo amor de Deus," Pandora revirou os olhos. "Se vocês dois se perderem,
eu não vou tentar encontrar vocês!" E então, andou mais na frente para não
perdê-los de vista.
"Você está bem?" Perguntei para James, ficando sozinho ao lado dele. "Você
está meio... quieto."
"Não, estou apenas pensando em Lily... estou bem." Ele respondeu, tentando
soar convincente.
"Qual é, você sempre fica feliz quando está pensando em Lily!" Respondi.
"O que está acontecendo realmente?"
"Você acha que eu deveria tê-lo matado?" Ele perguntou, eu o olhei com
uma expressão confusa. "Wormtail."
"Bom..." Tentei responder com cuidado. "Eu teria o matado se não estivesse
ocupado tentado impedir Bellatrix de me matar."
"Eu acho que se você não o matou," Respondi, franzindo o cenho. "É porque
você é melhor que ele, você não acha?!"
"Ter o coração melhor do que o dele não vai me ajudar a ganhar esta guerra,
Regulus." Ele disse, seriamente. "Eu deveria ter tido coragem de matá-lo,
mas... mas eu simplesmente não consegui. Eu teria coragem de fazer
qualquer coisa, de entregá-lo, de vê-lo ser preso em Azkaban... Mas por que
é que eu não consigo me ver matando ele?!"
"Eu não sou a pessoa mais bondosa do mundo, Prongs... fiz algumas coisas
bem ruins quando eu estava do lado deles, se você quer saber," Respondi.
"Mas se alguém me perguntasse quem é a pessoa que merece esse título, eu
com certeza diria você." Ele me encarou. "Acho que a questão não é o motivo
para você não conseguir matá-lo, a questão é que se o seu senso de lealdade
é tão grande que simplesmente não consegue fazer isso com isso com alguém
que você amou tanto... então sim, é assim que você vai ganhar esta guerra."
314
"Você é bem inteligente, Reg, sabia disso?!" Ele perguntou, sorrindo para
mim.
"Você acha que a nossa vida seria assim se eu tivesse chamado você para
sair quando estávamos em Hogwarts e você tinha uma queda por mim?!" Ele
perguntou, tirando sarro de mim.
"Ah, pelo amor de Deus!" Falei, o empurrando. "Para quê lembrar disso?!"
"Você pode falar, Reg, eu não me importo" James disse, gargalhando. "Você
me acha irresistível."
***
"Você deve achar que somos burros se acha que não sabemos que você vai
passar a noite com Mary." Sirius disse, deitado no sofá, com a cabeça apoiada
no colo de Remus.
"Deixe ele paz, Padfoot," Remus disse, lendo o seu livro. "Se você for dormir
na casa de Mary, lembre-se que amanhã de manhã você e Padfoot tem que ir
até à casa de Andy para ver Narcissa."
"Merlin, não estou indo até à casa de Mary!" Exclamei, revirando os olhos.
"Já falei à vocês dois que somos apenas amigos."
"Amigos que transam não são apenas amigos." Sirius disse, sorrindo para
mim.
315
Balancei a minha varinha um centímetro e o livro grande que Remus estava
segurando acima da cabeça de Sirius caiu com tudo em cima do seu rosto.
"Ai!" Sirius exclamou, com a mão no nariz. "Eu vou matar você!" Ele
levantou rapidamente do sofá, com a varinha na mão.
Bom, é claro que eu estava indo ver Mary. Com toda a história de Narcissa
tendo um filho na casa em que eu moro e também a história de destruir o
diário, tudo que eu queria no fim do dia era ver Mary. Era tudo que eu
precisava.
"Se seus pais acordarem e me verem no seu quarto, eles vão acabar comigo."
Falei, entrando pela sacada do quarto dela.
"Bom, eles não podem me impedir de ver você." Ela disse, me beijando logo
em seguida, um beijo longo e demorado. "Eu estava com tanta saudade." Ela
sussurrou, encostando a testa na minha.
"Eu estou aqui agora." Ela disse, levantando os olhos para mim. "Não vou
sair de perto de você."
"Que bom, então..." Deslizei a mão que estava em seu pescoço até a sua
cintura, a puxando com força para perto de mim. "Porque preciso de você
agora."
316
forma com que eu sentia a respiração ofegante dela no meu rosto quase
acabou comigo.
Ela me empurrou para a cama, me jogando com força em cima dos lençóis.
Ela estava de vestido, o que me fez estremecer quando ela se sentou em cima
de mim e tudo abaixo das nossas cinturas entrou em atrito, ainda com as
roupas atrapalhando. As mãos dela estavam enterradas no meu cabelo e as
minhas deslizaram por baixo do seu vestido, apertando ela com força.
Minha boca continuou devorando a dela, dizendo tudo que eu ainda não
podia expressar, mas um dia, talvez em breve, eu poderia. Por ela, eu lutaria
para encontrar a coragem de poder dizer.
Eu me mexi na cama, gemendo baixo. Subi a minha mão para agarrar o seu
quadril, mas ela as removeu.
"Sem as mãos." Ela sussurrou perto do meu pescoço, sentada sem roupa
nenhuma em cima de mim, apenas a porra de uma calça separando nós dois.
Ela desceu seus beijos para o peito, e depois para minha barriga, até que
mordeu a borda da minha calça com a boca me fazendo quase perder o
317
controle completamente. Ela alcançou o meu zíper e o abriu, eu senti que ia
explodir se ela não tirasse toda a minha roupa de uma vez.
"Mary..." Foi tudo que eu consegui dizer, mordendo meus próprios lábios,
ofegante.
"Você não pode fazer barulho..." Ela disse, sorrindo para mim, pondo uma
mão na minha boca. "Ou eu vou ter que parar..."
"Pelo amor de Deus..." Ofeguei, levando as mãos até o seu cabelo. "Vou
morrer se você parar."
Eu estremeci quando ela levou as mãos para ajudá-la no que estava fazendo
com a boca. Ela ergueu o olhar para encontrar o meu olhar fixo nela o tempo
todo. Ela passava a boca levemente, quase como se estivesse com medo de
quebrar.
Ela entendeu o que eu quis dizer, sorrindo de um jeito travesso para mim. E
quando ela pôs a boca novamente, ela foi mais forte e mais rápido, deixando
seus dentes roçarem de leve, meu quadril arqueou para frente e ela prendeu
a mão na minha barriga, me forçando a ficar quieto.
Com mais força ainda, girando as suas mãos por toda aquela região, ela
voltou ao ritmo rápido de antes. Eu joguei a cabeça para trás, completamente
atordoado e ofegante.
Não queria me chocar tão forte contra ela, machucá-la ou desagradá-la, mas
pelo visto isso não funcionaria. De jeito nenhum. Mary me queria
318
completamente rendido, eu conseguia sentir. Então, quando Mary me levou
em sua boca novamente, a mão trabalhando, ela arrastou os dentes mais uma
vez. Levemente o suficiente para doer - só um pouco.
"Não faça isso comigo." Sussurrei, ainda com as mãos em seu cabelo.
Mary me apertou com a mão o suficiente para dizer que ela queria isso,
queria que eu me soltasse. Ela levou seus lábios até ponta, rolando sua língua
ao redor, e olhou para mim por debaixo de seus cílios. Meus olhos estavam
sobre ela, brilhantes e vidrados. E quando eu encontrei o seu olhar e a vi
olhando para mim daquele jeito, eu não aguentei.
Era uma tortura, um tipo especial de tortura, ter Mary em cima de mim, nua
e comigo em sua boca e não poder gritar de prazer para não acordar ninguém.
Mas então Mary olhou para mim através de seus cílios, e a visão dela comigo
entre os próprios lábios estalou algo. Eu não me importei que nós estávamos
no quarto dela ou que apenas uma parede fina nos separava do quarto dos
seus pais. Eu deslizei a outra mão em seu cabelo, os dedos entrelaçados em
seus cachos grandes e compridos, e empurrei em sua boca.
Mary gemeu mais uma vez, um incentivo suave, e eu não precisava de mais
nada. Agarrando seu cabelo, segurando-a no lugar, eu empurrei meus
quadris. Ela me encontrou com cada golpe, boca e mão trabalhando em
uníssono, até o cabelo dela nas minhas mãos, os dentes que às vezes me
roçavam, me provocavam - eles eram insuportáveis, eram tudo o que
importava. Mary queria que eu terminasse em sua boca, mas os seus gemidos
me fizeram decidir que eu não queria terminar nada antes de estar dentro
dela.
Eu tentei sair, mas Mary se recusou a se mover. Meus dedos seguraram a sua
cabeça para pará-la. "Eu quero você." Eu conseguiu dizer, minha voz trêmula
e falha. Mary olhou para mim novamente por baixo de seus cílios, e eu vi o
comprimento inteiro desaparecer em sua boca mais uma vez. A ponta bateu
bem no fundo da sua garganta.
"Porra!" Ofeguei, fechando os olhos com força. "Eu preciso de você agora!"
Exclamei, atordoado, e ela bufou uma risada.
319
Os lábios de Mary se curvaram para cima, sorrindo como uma rainha
triunfante. Eu sorri maldosamente de volta para ela por meio segundo, antes
de agarrar seus quadris com força e me sentando, para ficar de frente com
ela. Ela estava sentada em cima de mim e com as mãos no meu cabelo, a
minha mão que estava na sua cintura desceu para segurar a sua bunda e os
meus dedos desceram por entre as pernas dela, sentindo-a de verdade. Meus
dedos roçaram ali, e ela gemeu alto, tão alto quanto eu há alguns minutos
atrás. E então, eu os acelerei. Mary jogava a cabeça para trás e enterrava as
unhas nas minhas costas, ofegando de prazer.
"Eu quero você..." Ela disse, em meio aos gemidos, olhando nos meus olhos.
"Eu quero você para sempre, Regulus Black."
Os olhos dela brilharam para mim quando eu levei meus dedos até a boca
dela, e ela os lambeu, um por um. Meu corpo doía, pulsando tão perto dela,
desesperado por ela. Ela inclinou a boca na minha. Foi um beijo intenso e
provocador. Ela mordeu o meu lábio inferior. E então eu finalmente a
encaixei em mim, esmagando nossos corpos juntos, ambas as mãos agora
segurando a sua bunda enquanto eu apressionava contra mim. Nossas bocas
abertas se chocaram e se encontrariam, e ela sesaboreou na minha língua,
seus dedos agarrando meu cabelo.
320
avançando. Nós não dissemos nada, apenas compartilhamos a respiração,
nossos olhos brilhando em excitação enquanto nos olhávamos.
Eu defini o ritmo, suave e profundo e, por um momento, tudo que Mary pôde
fazer foi se igualar à mim. Eu senti os músculos internos dela ao redor de
mim me apertando com mais força e rosnei. "Porra, Mary."
E ela gostou de me ver destruído o suficiente para que ela fizesse isso
novamente, agarrando-se a mim assim que ela se sentou completamente. Eu
me arqueei, os dedos cavando na cama. Não foi o suficiente, no entanto. Não
estava perto do suficiente. Eu queria Mary rugindo, queria ela tão perdida
que nãoconseguisse se lembrar de seu próprio nome, apenas do meu.
Mary me parou com uma mão em meu peito. Apenas uma mão, e eu parei,
totalmente ao seu comando. Se ela quisesse que acabasse aqui, acabaria. Isso
a suavizou o suficiente para que ela não conseguisse evitar o tremor em sua
voz quando disse. "Eu quero mais."
Eu ofeguei, os olhos selvagens, enquanto ela rastejava para fora dos meus
braços. Quando ela se virou de bruços e se ergueu de costas para mim. Eu
fiz um som baixo de necessidade. Ela arqueou os quadris mais para cima, me
convidando. Minha restrição se quebrou completamente.
321
Eu estava sobre ela em um instante, levantando seus quadris mais alto
enquanto me empurrei dentro dela em um único impulso. Mary gritou, um
som de tanto prazer que eu sabia que acordaria até quem estivesse em outro
quarteirão, me sentindo atingir o ponto mais profundo dela. Desferi um tapa
nela, uma das minhas mãos se movendo do seu quadril para seu cabelo,
puxando sua cabeça para trás, mostrando a sua garganta. Ela se entregou para
mim, e a falta de controle era inebriante, tão prazerosa que eu mal conseguia
suportar.
Eu empurrei com mais força, tão fundo que ela gritou novamente, poderia
estar soluçando. Minha outra mão vagou nos seus quadris, me empurrando
nela, seucabelo agarrado como cordas em uma das minhas mãos. Ela estava
totalmente à minha mercê, e eu sabia - eu estava rosnando de desejo, batendo
com tanta força que o som das nossas peles se chocando já era alto o bastante.
Eu me retirei de dentro dela, a virando para cima e batendo com suas costas
no colchão, me colocando em cima dela. Meus olhos encontraram os dela. E
então eu a beijei profundamente enquanto me deslizava outra vez para
dentro, ela enrolou as pernas na minha cintura, me pressionando mais fundo.
Eu ofeguei alto.
Não porque estava dentro dela - mas por causa daquela coisa no meu peito.
A vida era linda e brilhava como o fogo das estrelas, e eu nunca tinha visto
nada mais bonito, nem sentido nada mais lindo. Eu nunca queria que isso
acabasse, essa ligação entre nós, a sensação de eu me movendo tão
profundamente nela que eu a queria grudada em mim para o resto da vida.
322
A liberação explodiu através dela, obliterando cada pedaço daquele quarto,
arrasando qualquer coisa menos digna do que nós dois, limpando o mundo
com luz e prazer, estrelas caindo do céu. Eu rugi quando cheguei ao clímax
depois dela. Houve apenas esse momento, essa coisa compartilhado entre
nós, e durou uma eternidade.
"É." Ela disse, olhando para o teto, ainda tentando controlar a respiração.
"Foi."
"Vem aqui." Disse, a puxando para perto de mim, fazendo-a deitar no meu
peito e entrelaçar o braço ao meu redor. "Gosto quando você me abraça
assim."
"Sim, ele é!" Respondi, com um sorriso. "Eu e Sirius vamos vê-la amanhã,
ela está ficando na casa de Andy por enquanto."
"Ela e Andy estão bem juntas?!" Ela disse. "Achei que as duas eram brigadas,
ou algo do tipo."
"Andrômeda nunca vira as costas para ninguém, nem para as pessoas que ela
tem algum atrito," Respondi. "Ela é assim desde que me lembro."
323
"E Sirius?! Conheço aquele idiota desde os meus onze anos, ele pode ser
muito teimoso quando alguém que não é do mesmo círculo de pessoas que
ele entra em cena."
"Sirius é Sirius." Respondi, suspirando. "Ele não morre de amores por Cissy,
mas pode conviver com ela se ela prometer fazer a coisa certa. E também,
você não viu a cara dele carregando Draco pela primeira vez, ele quase
chorou! Fico imaginando quando Lily der à luz... ele vai querer dar uma festa
de comemoração."
"E você?" Perguntei. "Você e Pandora estão bem próximas agora, não é?!
Não vou me surpreender se vocês duas decidirem ficar juntas e esquecerem
que eu existo."
"Não seja idiota!" Ela respondeu, sorrindo. "Nós apenas almoçamos juntas
naquele dia e... bom, ela me disse umas coisas."
"Ela me contou sobre você e ela, quando estavam em Hogwarts e..." Mary
deu uma pausa, parecendo com medo de falar o resto. "E sobre você e Barty."
Estremeci ao ouvir aquele nome, quase consegui sentir as mãos nojentas dele
em cima de mim outra vez. "Hm."
"Sabe, se você decidir que quer conversar sobre isso um dia..." Ela disse,
hesitante. "Bem, você pode falar comigo."
"Eu fico preocupada com você guardando tantas coisas para si, Reg," Ela
disse, se mexendo na cama. "Isso pode enlouquecer você. E você não é
sozinho, você tem a mim, e à Sirius e..."
"Não quero falar sobre isso, Mary." Falei, asperamente. "Podemos mudar de
assunto?"
324
"Obrigado."
"Reg, você nunca pensou em... não sei, sair daqui?" Ela perguntou, de
repente, sem olhar para mim.
"Acho que nunca considerei isso antes..." Falei, acariciando o cabelo dela.
"De qualquer forma, não posso ir à lugar nenhum enquanto não vencermos
esta guerra..."
"Mas nós vamos vencer alguma hora, não vamos?!" Ela disse,
animadamente. "Então, quando tudo isso acabar, podemos viajar para
qualquer lugar que quisermos!"
"Eu adoro quando você se anima assim." Falei, dando um meio sorriso.
"Para onde nós vamos, então?!" Ela perguntou, se levantando do meu peito
para me encarar, os cachinhos escuros balançando. "Temos a Europa inteira,
e temos a Ásia... e isso são apenas os continentes! Sempre quis ir à Nova
York, ou então à um país que falasse uma língua diferente... como a Itália ou
a Suécia!"
"O Brasil?" Ela respondeu, pensando no assunto. "Sim... sim, sim, sim! Com
certeza, o Brasil! Tem as festas, as praias, o carnaval! Você vai ficar um gato
vestindo uma camisa de time de futebol!"
"Ah, qual é?!" Ela disse, fazendo uma cara triste. "Temos que ter a
experiência toda! Por mim!"
"Tudo bem! Tudo bem!" Respondi, me rendendo. "Mas não vou jogar
futebol!"
325
"Agora só falta meus pais deixarem eu ir com você..." Ela disse, suspirando.
"Bom, diga à eles que eu sou seu amigo e que eu vou cuidar de você quando
estiver longe deles." Respondi, simplesmente.
"Não posso começar mentindo para eles, Reg." Ela respondeu, sorrindo.
"Mas não é mentira," Eu respondi, confuso. "Eu fui até à uma casa cheia de
comensais da morte resgatar você, você acha que estou mentindo quando
digo que vou cuidar de você?!"
"Você..." Ela disse, a raiva se formando nos seus olhos. "Você não está
falando sério."
"Não estou entendendo você." Respondi, quando ela se levantou de uma vez
da cama, vestindo um pijama. "Está com raiva por eu ser seu amigo?!"
"Estou com raiva porque você tem coragem de me dizer isso." Ela
esbravejou, os olhos furiosos.
"Me diga você!" Ela esbravejou outra vez. "O que somos, Regulus?! O que
nós somos?!"
"Eu sou apenas uma distração para você?! Uma distração para te desestressar
porque você precisa salvar o mundo o tempo inteiro?!" Ela disse, furiosa.
326
"Ou eu sou apenas um ato de rebeldia para sua família?! Apenas algo para
você mostrar por aí e dizer que finalmente está do lado do bem agora porque
está transando com uma sangue-ruim?!"
"Por que é que você está falando essas coisas?!" Esbravejei. "Você realmente
acha que sou assim?! Que eu usaria você desse jeito?!"
"Então, me diga," Mary disse, com os olhos marejados. "O que eu sou para
você?! Porque estou cansada de você nunca deixar claro o que sente por mim
quando sai por essa janela!"
"Não é questão de não ser suficiente!" Ela gritou. "Nem o seu irmão sabe que
você está aqui! Que nós estamos aqui, agora!"
"Mary, você precisa entender que eu não posso ter nada com você enquanto
a minha situação estiver como está!" Respondi, tentando me explicar. "Já é
um perigo enorme eu estar aqui com você depois do que aconteceu, mas eu
estou mesmo assim!"
"E por que você está, então?!" Ela gritou outra vez.
"Porque não consigo ficar longe de você, Mary!" Vociferei, ofegante. "Porra,
não consigo ficar longe de você nem mesmo que eu tente! Mesmo que eu
tente muito, eu sempre volto para você! Você não tem ideia do que eu faria
para manter você viva! Chega a ser perigoso o quanto me preocupo com você
e o quanto você me afeta de uma forma que eu nem sabia que era
humanamente possível!"
"Então, vamos ficar juntos! Mande tudo isso para o inferno, destrua as
horcruxes e fique comigo!" Ela disse, tristemente. "Me diga o que você sente
por mim."
"Não, Reg," Ela respondeu, seriamente. "O que você realmente sente.
Preciso que você diga, porque se não, não sei se eu aguento ter você apenas
pela metade."
Eu sabia do que ela estava falando. Por um segundo, todos os meus neurônios
entraram em curto. Se houvesse um jeito de eu sumir e não ter que continuar
327
esta conversa, eu sumiria. Eu nunca falei isso para ninguém, não é errado
alguém te pressionar para falar esse tipo de coisa?! Aquelas palavras. A porra
daquelas três palavras.
"Preciso ir para casa." Respondi, me vestindo, sem olhá-la nos olhos. Se você
soubesse o desespero que estou sentindo agora, Mary.
Eu só queria aparatar de volta para casa e chorar até esquecer o meu próprio
nome. O que é que tem de errado comigo?! Por que eu não consigo
simplesmente dizer?! Por que não consigo dizer que a amo como Sirius diz
todos os dias para Remus, ou James diz todos os dias para Lily?!
"Você voltou cedo." Remus disse, me vendo chegar em casa. "Sirius já está
dormindo."
"Você está bem?" Remus disse, franzindo a testa. "Você parece ter...
chorado?!"
"Você acha que eu poderia ser bom para alguém, Moony?!" Perguntei,
parando no meio da sala. "Que eu poderia... ah, deixe isso pra lá."
"Isso é sobre Mary?" Ele perguntou, preocupado. "Posso fazer um café para
nós se você quiser convers..."
Acho que finalmente entendi porquê não consigo dizer. Não é porque não a
amo.
***
"Ei, vocês chegaram cedo!" Andy disse, abrindo a porta para mim e Sirius,
na manhã seguinte. "Bom, vamos ver... qual dos dois aprendeu a pronunciar
o meu nome mais cedo?!"
328
"Claro que fui eu!" Respondi, sorrindo. "Sirius demorou tanto tempo que
achei que ele nunca conseguiria!"
"Entrem, entrem!" Andy disse, abrindo espaço para entrarmos. "Ted foi
passear com Dora esta manhã, Cissy está no quarto com Draco, vocês podem
ir até lá!"
Sirius estava sério, mas eu dei um soco no seu braço e ele finalmente cedeu.
"Olá, Narcissa."
"Bom," Andy veio até o quarto, fechando a porta atrás de nós. "Nós quatro
precisamos conversar."
"Não se preocupe, Cissy," Falei, pondo a mão sobre a mão dela. "Nós vamos
proteger vocês. Há inúmeros feitiços de proteção nesta casa, não é, Andy?"
"Bom, Moony também sabe alguns muito bons," Sirius disse para Cissy,
timidamente. "Posso ajudar, se você quiser."
329
"Ah. Lupin." Ela respondeu. "Havia me esquecido disso."
"A questão é que você pode contar com a gente, Cissy," Andy disse,
segurando a mão dela. "Nós somos uma família."
"Olhe, eu realmente odiava você, Narcissa, não posso negar." Sirius disse
simplesmente.
"Não, está tudo bem," Cissy disse, sorrindo timidamente. "Ele pode ser
sincero."
"Mas se não fosse por você, não teríamos pego o diário," Sirius disse. "E
acho que nem teríamos saído vivos de lá. Então... sabe, obrigado." Ele deu
um sorriso de lado.
Narcissa sorriu, quase consegui ver os olhos dela marejados. Mas Cissy é
durona demais para chorar, então rapidamente se recompôs.
"Eu sei onde está." Ela disse, chamando a atenção de todos nós. "Está no
cofre de Bella. Em Gringotes."
330
"Espere aí..." Andy disse. "Se está no cofre, apenas Bella consegue entrar..."
"Você não prestava atenção nas aulas de Poções, Six?!" Andy o repreendeu.
"Quem é que gosta de Poções?!" Sirius disse, fazendo uma careta. "Ou de
aulas?!"
"Reg, você sabe o que fazer," Narcissa disse, entregando o frasco para mim.
"Você era o preferido de Slughorn, você é o melhor em poções."
"Não, era eu." Falei, olhando feio para Sirius. "O que você acha, Andy?!"
"Acho que você vai ter que arranjar alguém que realmente consiga se passar
por ela," Andy disse. "Porque Bella não é uma pessoa muito comum, se é
que você me entende."
"Sirius," Chamei, fazendo-o olhar para mim. "Diga à James que preciso ver
Lily urgentemente. Temos uma poção nada fácil para preparar o mais rápido
possível."
331
Capítulo 27: Alguns Minutos
"Descuraínia?"
"Confere."
"Pele de ararambóia?"
"Confere."
"Confere."
"Hermeróbios?"
"Confere."
"Chifre de bicórnio?"
"Confere."
"Pedi à James para conseguir isso para mim quando fosse acompanhar
Remus na última lua cheia." Lily respondeu. "Sirius teve que se virar para
distrair Remus em forma de lobo, se não James não teria conseguido."
"O quê?!"
332
"Estou grávida, Reg, não posso correr o risco de ter nenhum animal que suga
sangue tão perto de mim," Ela respondeu, indo pegar um caldeirão no
armário. "Mas eu não esqueci, obviamente. Pedi para Carter trazer aqui para
mim, ele deve chegar logo."
"Sim, acho que você se lembra dele," Lily disse, distraidamente. "Ele era da
Lufa-Lufa quando estávamos em Hogwarts, mas era do mesmo ano que nós."
"Não sabia que você era amiga dele," Respondi, franzindo o cenho. "Não
tanto a ponto de envolvê-lo nisso."
"Ele não sabe o que estamos fazendo," Ela explicou. "Eu apenas pedi para
que ele a trouxesse aqui para mim."
"E ele fez um favor à você assim tão facilmente?!" Perguntei, ironicamente,
me sentando na bancada da cozinha. "Acho que James tem um concorrente,
huh?!"
"Não seja idiota, Reg," Ela disse, revirando os olhos. "Carter nem mesmo
gosta de mulheres."
"Sim, você nunca ouviu o que diziam pela escola?!" Lily disse, abaixando o
tom da voz. "Parece que ele teve um caso com Lockhart."
"Pois é, não é?!" Ela disse, cruzando os braços. "Carter é um ótima pessoa,
não entendo o que ele viu no arrogante do Lockhart, ele nem mesmo falava
com Carter em público!"
"Acho que às vezes pessoas boas se apaixonam por pessoas que só não
podem dar o que elas merecem." Falei, olhando para o chão. "Acontece
bastante."
333
"Garota esperta." Sorri fracamente.
"Eu tento." Ela disse, dando de ombros, com um sorriso presunçoso. "Então,
é sobre Mary?"
"Ela está com raiva de mim porque eu disse que somos amigos." Respondi,
ainda encarando o chão. "Acho que ela quer sejamos mais do que isso."
"É claro que ela quer, Reg!" Lily exclamou, arregalando os olhos. "Como
você pode achar que uma garota como Mary vai se contentar com tão
pouco?"
"A questão é que não posso dar à ela o que ela precisa agora, Lily," Respondi,
a encarando. "Que droga, não tem muito tempo desde que ela foi literalmente
usada como isca para me pegar! Você quer mais algum motivo, além
desse?!"
"Se você não acha que podem ficar juntos agora," Lily disse. "Então por que
continua a procurando?!"
"Como assim?!"
"Mary e Marlene são minhas melhores amigas, Reg," Ela disse, sorrindo.
"Acredite, eu sei para onde você vai depois que dá boa noite à Sirius."
"Ela fala sobre mim?!" Perguntei, curioso. "Tipo, ela fala muito?!"
"Porque não consigo ficar longe dela, Lily," Respondi, com a voz triste. "Não
consigo ficar longe dela nem que alguém coloque uma varinha na minha
garganta e me obrigue."
"Você quer saber o que acho?" Ela perguntou, e eu assenti. "Acho que Mary
é um ser humano. E que se essa guerra, que Deus livre, não for o que vai
matá-la, algum dia, alguma outra coisa vai."
334
"Estou dizendo à você que acidentes acontecem, Reg." Ela disse, pondo a
mão no meu braço. "Podemos acordar felizes em um dia e assim que sairmos
de casa, sermos atropelados por um carro. Um pedaço de comida pode ficar
entalado na nossa garganta, um raio pode cair na nossa cabeça, podemos ter
um ataque cardíaco, eu não sei! A questão é que tudo pode acontecer,
entende? E se você a quer protegida de algo, então devia fazer isso ao lado
dela porque você não tem como saber o dia de amanhã."
"Ela quer que eu diga como eu me sinto." Sussurro, encarando minhas mãos.
"E por que você não diz?" Ela perguntou, ainda com a mão no meu ombro.
"Porque tenho medo de dizer e..." Fiz uma pausa e respirei fundo. "Tenho
medo de me permitir sentir isso de verdade e um dia ela acabar percebendo
que não sou tão bom quanto ela acha que sou... quando brigamos, ela me
disse que achava que eu estava a usando para provar que estou do lado certo
agora, que achava que eu estava apenas a usando para desafiar a minha
família... eu fui embora porque não suportei a ideia dela me ver dessa forma,
Lily."
"Tenho certeza que Mary não acha isso de verdade, Reg," Lily disse. "Ela
está magoada porque quer que você tenha coragem de assumir o que sente
por ela. Mary é assim. Ela não é do tipo que aceita qualquer coisa. Ela é
extraordinariamente maravilhosa e sabe disso. Então, não acho que ela vá
aceitar se sentir mal por você porque ela sabe que ela não merece."
"Não, não depois que percebi como ela mesma me vê..." Respondi, com os
olhos brilhando. "Ela acredita tanto em mim que parece um insulto eu não
acreditar também."
"Reg?"
"Hm?"
335
"Isso é amor."
Abri a boca algumas vezes, tentando expressar alguma coisa que a minha
mente ainda não conseguia processar. Mas antes que eu respondesse, a
campainha tocou.
"Ei, Lils! Parabéns pela gravidez!" Carter respondeu, ainda do lado de fora,
com uma bolsa grande e encourada nas mãos. "Merlin, achei que nunca fosse
conseguir achar essas belezinhas para você!"
"Hm... ok, certo, não tenho a menor ideia do que perguntar à você..." Lily
disse, pensativa. "Ah! Quando eu e James éramos monitores, onde achamos
você e Gilderoy uma vez?!"
"Você pode entrar!" Lily disse, depois de gargalhar com a resposta dele.
Carter era alguns centímetros maior do que Lily, mais ou menos do mesmo
tamanho que eu. Ele era magro e tinha o cabelo loiro escuro e encaracolado,
com uma pequena mecha azul escuro desbotada na parte da frente. Ele tinha
os olhos verdes e usava um suéter preto um pouco desgastado.
Ele assentiu, sorrindo sem os dentes, pondo a bolsa na bancada. "Aqui está,
Lily! Sanguessugas do melhor tipo!"
"Sei reconhecer uma coisa boa quando vejo." Ele respondeu, arqueando a
sobrancelha.
336
"Exceto que sanguessugas nunca são boas, Carter!" Lily disse sorrindo,
pegando o vidro cheio delas. "Que nojo."
"Não vou nem perguntar para quê precisam delas!" Carter disse, sorrindo
fracamente.
"Hm... acho que volto para Nova York daqui a algumas semanas," Ele
respondeu. "Vim apenas visitar meus pais, então não tenho mais muita coisa
para fazer..."
"Sim, desde que terminei Hogwarts," Ele respondeu. "Meus pais não
queriam que eu estivesse por perto com a guerra e tudo mais... eu também
não estava com muita vontade de ficar aqui, para falar a verdade."
"É realmente fascinante." Ele disse, com um meio sorriso. "Você deveria vir
algum dia."
"Você pode vir para o aniversário de Remus amanhã à noite, se quiser!" Lily
disse, sorridente. "Sirius está dizendo que a festa vai ser a melhor do século."
"Ótimo!" Lily comemorou, levando Carter até à porta. "Vejo você aqui
amanhã então."
"Ok!" Ele assentiu, depois levantou a mão para mim. "Tchau, Regulus!"
"Tchau." Levantei a mão de volta, e Lily fechou a porta depois que ele saiu.
"Por que você chamou ele?!"
"Bom, porque ele é legal!" Ela disse, voltando até onde eu estava. "Qual é o
problema?"
337
"Não sei, tanto faz." Respondi, dando de ombros. "Ele não sabe que antes eu
era...?"
"Não sei, ele só... bom, ele não me olhou daquele jeito estranho que
costumam olhar para mim."
"Acho que ele flertou com você." Ela disse, levantando uma sobrancelha.
***
Sirius não estava brincando quando disse que a festa seria épica.
"Pelo amor de Deus, Sirius, o que foi?!" Respondi, indo correndo até lá.
"Você vai matar Moony de glicose alta assim, Pads!" James disse, passando
pela sala com os discos na mão.
"Sabe, Six, eu não acho que Moony vá se importar se tem muito chocolate
ou não." Falei, dando de ombros.
338
"Você não sabe como ele é!" Sirius exclamou. "Chocolate é a coisa que
Remus mais ama depois de mim!"
"Você precisa relaxar, Sirius," Lily disse, prendendo mais luas na parede.
"Remus vai gostar de qualquer jeito."
"Marlene e Pandora foram levá-lo para conhecer uma biblioteca nova que
abriu na cidade." Respondi, indo ajudar Lily. "Elas voltam com ele às nove,
eu acho."
A campainha tocou e James foi atender a porta. Era Mary trazendo as roupas
que havia comprado para Remus. Depois que James fez o protocolo de
segurança, ela entrou cheia de sacolas nas mãos.
"Onde posso pôr isso?!" Ela perguntou, quando quase uma das sacolas
escapou do seu dedo.
"Merlin, quantas roupas será que ela comprou?!" James disse, franzindo a
testa.
"Não a julgue, Mary entende sobre roupas," Sirius disse, dando de ombros.
"Foi ela quem me ajudou a comprar o meu primeiro Doc Martens."
"Você precisa falar com ela." Lily sussurrou para mim, enquanto
arrumávamos a parede e James e Sirius começaram a discutir sobre roupas
atrás de nós. "Sabe que precisa."
"Sim!" Ela exclamou, um pouco mais alto. "Ande logo com isso!"
Hesitei algumas vez antes de ir até o quarto. Haviam duas opções. Ou Mary
estaria tão chateada que não ia querer falar comigo nunca mais ou ela está
339
sentindo minha falta tanto quanto eu sinto a dela. Espero de verdade que seja
a segunda opção.
"Eu gosto do marrom de sempre que Moony usa." Falei, pondo as mãos no
bolso. "Acho que ele ia gostar de algo dessa cor."
"Sim, eu pensei nisso," Ela disse ainda sem olhar para mim, com os olhos
analisando as roupas e com um dos dedos na boca. "Ele precisa de algo que
seja a cara dele, mas que seja diferente também."
"Você é boa nisso." Falei hesitante, a vendo pegar mais roupas da sacola.
"Devia estudar isso se não quiser seguir uma carreira no mundo bruxo."
"É, talvez." Ela respondeu, combinando uma calça jeans clara com uma das
camisas da sacola. "Acho que posso pensar sobre isso."
"No Brasil, há várias faculdades com cursos assim, eu ouvi dizer," Falei,
tentando soar amigável. "Você deveria ver isso quando..."
"O que você está fazendo?" Ela perguntou de repente, finalmente virando os
olhos para mim. "Você nem gosta de falar dessas coisas."
"Não venha até aqui com esse seu jeitinho e ache que pode me ganhar tão
fácil assim" Ela disse, balançando a cabeça. "Conheço o seu jogo."
340
"Jogo?! Que jogo?!" Eu perguntei, fazendo uma cara feia. "Por que você tem
dito essas coisas sobre mim ultimamente se há algumas semanas você disse
que gostava da pessoa que eu sou?!"
"Achei que você fosse corajoso." Ela disse, quase num sussurro, enquanto
mexia nas roupas novamente.
"Você... você está dizendo para mim que depois de tudo que nós passamos,
você não me acha corajoso?!" Disse, irritado. "Você está doida?!"
"Você tem coragem para tudo, não é?!" Ela disse, andando na minha direção.
"Você teve coragem de trair um bruxo das trevas super perigoso e de se enfiar
em uma caverna sozinho sabendo que ia morrer, teve coragem de entrar em
uma casa cheia de gente que queria acabar com você para salvar a minha
vida e até Dumbledore você enfrenta se precisar, não é?!"
"Bom, sim!" Respondi, ainda irritado. "Acho que eu sou muitas coisas, mas
covarde não é uma delas!"
"Então, por que não tem coragem de me olhar nos olhos quando pergunto à
você o que sente por mim de verdade?" Ela perguntou, bem perto do meu
rosto. "É mais fácil fugir da morte do que estar comigo?"
"Então, por que está aqui?!" Ela perguntou. "Enquanto você não me disser o
que sente por mim e deixar claro o que quer, eu não quero ficar perto de
você."
"Então, está me dizendo que não podemos nem mesmo ser amigos?!" Disse,
enquanto ela voltava para perto das roupas na cama. "Eu vim até aqui para
me desculpar e dizer que não quero ficar longe de você, apesar de não poder
dar o que você quer agora."
"Regulus." Ela disse, com a voz áspera. "Você pode guardar o seu complexo
de herói para você. Eu não preciso e nunca precisei aceitar alguma coisa só
porque não posso ter o que realmente mereço. Então, se não posso ter você
como eu quero, não quero ter você de jeito nenhum."
341
"Você não..." Sussurrei, tentando formar as palavras na minha boca. "Não
me quer por perto?"
"Ei, Reg," James disse, me vendo sair do quarto. "Tudo bem aí?!"
"Hm, sim, sim," Respondi, passando rapidamente a mão nos olhos. "Vamos
terminar logo isso."
É. Era isso.
***
342
"Moony não vai fugir, Six!" Falei sorrindo, enquanto passava pelos dois. "Se
quer marcar território, vai ter que se transformar em Padfoot!"
"Rá! Muito engraçado, Reg," Sirius disse, enquanto Remus sorriu. "Eu gosto
dele desse jeito, assim todo mundo vai ficar com inveja por eu ser a única
pessoa no mundo com o privilégio de poder beijar Remus Lupin." E então,
ele o beijou.
Remus e Sirius com certeza estariam muito bêbados até o fim da noite. Se
eu conseguisse ficar pelo menos a metade do que eles provavelmente
ficariam, eu estava completamente satisfeito. Eu só precisava de algo que me
fizesse esquecer que Mary e eu estávamos na porra do mesmo lugar e eu não
podia encostar a porra de nenhum dedo nela porque não estamos nos falando
neste inferno de vida.
Quando fui até a cozinha encher meu copo outra vez, Carter estava lá fazendo
a mesma coisa.
"Oi!" Ele respondeu, assentindo de volta. "Quer que eu encha seu copo para
você?"
"Só estava sendo gentil." Carter deu de ombros, bebendo um gole do seu
copo. "Noite ruim?"
"Bom, Remus parece muito feliz," Ele disse, vendo Remus ser levantado por
James e Frank. "Então, acho que devíamos beber o mesmo tanto que ele para
ficarmos do mesmo jeito."
343
"É, acho que sim," Respondi, dando um gole na minha bebida. "De qualquer
forma, fizemos essa festa por ele, então fico feliz que ele esteja feliz. É como
Sirius diz, qualquer coisa pelo nosso Moony."
"Você lembra dela?!" Perguntei, sorrindo fracamente. "Não sabia que tinha
gostado tanto."
"Bom, eu falei que gostei, não falei?!" Ele disse, dando de ombros. "Além
do mais, eu adoro Queen!"
"O quê?! Não mesmo!" Falei, balançando a cabeça. "Você está louco se acha
que vou dançar ainda sóbrio!"
"Vai sonhando." Revirei os olhos, mas antes que eu pudesse levar meu copo
à boca de novo, Carter me puxou pelo pulso até o meio da sala escura,
iluminada apenas pelos globos de luz que Pandora havia comprado em uma
loja trouxa. Coloquei meu copo em uma mesa e me virei para ele, me
segurando para não rir.
"O quê?!" Ele perguntou, tentando falar mais alto do que a música. "Você
não pode ter uma camisa do Queen no seu guarda roupa e não ficar nem um
pouco animado quando uma música deles toca em uma festa que você está!"
"Não sou do tipo que dança em festas!" Falei, perto do seu ouvido, para que
ele escutasse melhor.
344
"Isso é porque você é sem graça!" Ele disse, começando a gargalhar, o sorriso
de orelha à orelha, tão puro quanto o de uma criança. "Vamos, você não pode
ser tão ruim!" Ele disse, pegando cada um dos meus pulsos e balançando
conforme os dele.
"Não vai funcionar, Wood." Falei, arqueando uma sobrancelha. "Não vai me
vencer nessa."
"É a segunda vez que você me desafia apenas hoje." Ele disse, também
arqueando a sobrancelha, passando um dos meus braços por cima da cabeça
dele. "Está vendo?! Você está dançando!"
Carter sorriu para mim e então, eu o girei outra vez e depois ele mesmo me
girou, e passamos pelos braços um do outro tantas vezes que ficamos tontos.
Carter não dançava bem, mas ele não tinha vergonha. Na verdade, ele parecia
ser o tipo de pessoa que não tinha vergonha de nada. Dançamos por um bom
tempo enquanto descíamos um copo atrás do outro, o álcool tomando conta
do nosso corpo de uma vez só. Carter gargalhava e tropeçava nos meus pés,
tombando para frente várias vezes e me fazendo gargalhar também, enquanto
ele cantava a letra de todas as músicas erradas.
Não me lembro bem de como passei dos braços de Carter para os braços de
Pandora, e então para os de Marlene que já estava no céu de tão bêbada, e
então parei nos de Sirius. Todos dançamos por um longo tempo, as vozes já
exaustas e roucas de tanto gritar as músicas. Remus já estava sem o suéter,
apenas com as duas mangas enroladas em volta do pescoço. Sirius e James
usavam uma garrafa de bebida como microfone e Marlene e Pandora
estavam de pé em cima do sofá dançando e cantando, apesar de Pandora estar
sóbria por causa do bebê.
"Ei, Lily!" Chamei, indo até ela, um pouco tonto. "Você viu Mary em algum
lugar?!"
"Hm... não sei, acho que ela foi embora," Lily disse, franzindo o cenho.
"Também não a vi mais em lugar nenhum."
345
"Hm, ok," Respondi. "Obrigado!"
Talvez ela estivesse cansada, ou tivesse bebido e estava com dor de cabeça.
Ou então, comeu alguma coisa que a fez mal. Se estivéssemos bem, eu
provavelmente teria sido o primeiro a saber. Eu com certeza a levaria para
casa e ficaria com ela à noite inteira se ela quisesse, eu seguraria o cabelo
dela se ela tivesse bebido muito, prepararia um banho e depois iria até a
cozinha e faria um chá quente do jeito que ela gosta. Depois, eu me deitaria
ao lado dela e ela se aconchegaria no meu peito, o rosto enterrado no meu
pescoço. E ficaríamos embaixo dos lençóis até o dia amanhecer. Ou para
sempre. Eu ficaria deitado no mesmo lugar com Mary para sempre se
pudesse.
Minha cabeça havia começado a doer com a música alta, então subi as
escadas da casa de James e Lily e entrei em um dos quartos da parte de cima.
A janela tinha um parapeito grante, que dava vista para o céu escuro inteiro.
Fiquei sentado lá, com a cabeça encostada na janela por um longo tempo.
"Não, você... sabe, você pode ficar se quiser." Falei, sorrindo fracamente.
"Tem um banheiro aqui dentro."
346
"Manda." Ele respondeu, dando de ombros.
"Por que você me tratou tão bem quando me viu ontem de manhã se você...
bom, sabia de mim?"
"Se sabia que você era um comensal do morte?!" Ele perguntou e eu assenti
nervosamente. "Talvez porque você não seja mais um."
"Se você diz que não é mais, então não é mais." Ele disse, simplesmente.
"Não gosto da ideia de julgar alguém por quem ela foi um dia. Já senti a
sensação de... ser julgado por quem sou. E é uma merda."
"Se você não pode dizer quem é, então quem pode?!" Ele disse, encolhendo
um pouco os ombros.
"É... acho que você está certo," Admiti. "Mas às vezes não acho que sei quem
sou de verdade."
"Eu me sinto assim também." Ele disse. "Sabe, meus pais não me mandaram
para longe apenas por causa da guerra. Eles odiavam ter um filho gay, eu
podia sentir. Mal podiam esperar para eu atingir a maioridade e eles poderem
me tirar de casa sem o peso na consciência de estarem pecando por rejeitar
um filho. Por isso, eu fui para Nova York. Eu amo estar lá porque ninguém
me conhece, então posso ser quem eu quiser, não preciso fingir nada como
na frente dos meus pais."
"Isso é uma merda, Carter," Falei. "Eu também tinha pais controladores.
Você fez bem em sair de casa, pode ter certeza. Eu fiz o mesmo, exceto que
eu explodi a minha casa depois que saí."
"A questão é que às vezes, por mais que eles me amem no fundo, eu não
sinto que eles gostam de quem eu sou. Sinto que nunca vou ser um bom filho
para eles, você me entende?" Ele disse, um pouco tonto por causa da bebida.
347
"E eu só queria... só queria que eles ficassem orgulhosos de mim pelo menos
uma vez."
"Uma vez, Carter," Comecei, respirando fundo. "Eu quase morri tentando
provar uma coisa. Eu quase morri tentando deixar meus pais orgulhosos
também. E quase perdi meu irmão no processo."
"Às vezes, acho que não," Falei, dando de ombros. "Bom, pelo menos não
para quem mais importa."
"Você deveria dizer isso á ela." Ele disse, voltando a olhar para o céu. "Se
você gosta de alguém, você tem que dizer."
"Não sei se posso fazer isso." Expliquei, olhando para as minhas mãos.
"Acho que ela não gosta muito de quem eu sou."
"Você acha que um dia..." Comecei, chegando mais perto dele. "Que um dia
nós dois vamos descobrir quem somos de verdade?"
"Espero que sim, Black," Ele sussurrou, mais perto de mim. "Ainda estou
tentando descobrir."
348
"Bom, seja lá quem você for," Eu disse, sorrindo fracamente. "Não deve ser
tão ruim."
"Apenas sei."
Não sei ao certo por quanto tempo encarei Carter e ele me encarou, O álcool
faz isso com as pessoas, deixa a gente tão doido que até encarar uma pessoa
por meia hora se torna normal. Eu o encarei, ele me encarou de volta, eu o
encarei, ele me encarou de volta, eu o encarei, ele me encarou de volta...
Decidi que gosto de ficar bêbado. Porque tudo fica bem, por alguns minutos.
Tudo estava bem por alguns minutos porque o céu estava mais lindo do que
nunca, tudo estava bem por alguns minutos porque eu estava conversando
com alguém legal que dizia coisas muito legais, tudo estava bem por alguns
minutos porque eu ajudei a fazer uma festa de aniversário para alguém que
eu amo muito por mais que ele não saiba disso porque eu estou começando
a achar que tenho um problema muito grande com aquela frase de três
palavras, tudo estava bem por alguns minutos porque eu estava beijando
Carter agora e porque ele subiu em cima do meu colo e estamos nos beijando
e sorrindo ao mesmo tempo.
Tudo estava bem. Eu merecia estar bem. Mesmo que apenas pela porra de
alguns minutos.
***
"Não seja tão dramático, Reg," Ela disse, revirando os olhos. "Vamos,
precisamos ainda cozinhar algumas coisas para a poção funcionar direito."
"Vou pegar para você," Falei, indo pegar a sacola com o restante dos
ingredientes. "Espere aí."
"Você já decidiu quem vai tomar?" Lily perguntou. "Sabe, a porção não
funciona em Remus porque ele é um lobisomem, não sei se isso se aplica à
Sirius e James por eles serem animagos."
349
"Hm... bom, eu não havia pensado isso, para falar a verdade," Respondi,
franzindo o cenho. "Vou pensar nisso depois."
"É, Reg, você ultimamente está deixando muitas coisas para pensar apenas
depois, não é?!" Sirius disse, sentado na cadeira da mesa de jantar.
"Sirius, eu deixei você vir para você parar de me irritar, então não me irrite."
Falei, o encarando. "E não faço ideia do que você está falando."
"Estou falando de Mary!" Sirius exclamou. "Estou falando de você e ela não
estarem se falando desde o aniversário de Moony e de você e Carter estarem
se pegando um com o outro!" Ele fez uma pausa e baixou o tom da voz.
"Bom, apesar de eu não culpar você porque Carter é realmente um gato."
"Claro que sim, Lily!" Sirius disse. "E agora Regulus não quer falar sobre
isso porque ele não está sabendo lidar com o fato de que está transando com
uma pessoa e pensando em outra!"
"Foram só quatro vezes, ok?!" Falei, batendo na mesa. "E somos amigos,
foram apenas... não sei, impulsos."
"Reg, você tem que parar de ficar chamando as pessoas que você transa de
amigos." Sirius disse, seriamente.
"Isso é verdade." Lily concordou. "Não vou me meter nisso, mas é melhor
Mary saber de você do que pelos outros."
"Não tem o que saber, não tem nada acontecendo!" Exclamei, irritado.
"Vamos logo com isso, Lily, ou vou acabar matando Sir..."
"Lily!" Ele disse, assustado. "Pelo amor de Merlim, o que você tem?!" Sirius
perguntou, mas Lily respondeu com outro grito, se apoiando em mim.
350
"Você é idiota?!" Perguntei, dando um tapa na cabeça dele. "Lily está tendo
o bebê!"
Lily gritou mais uma vez, eu coloquei o braço dela em volta do meu pescoço
e a levei até o sofá. Ela estava ofegante, respirando fundo e começando a
suar.
"Reg..." Ela ofegou. "Chame Marlene..." E gritou mais uma vez. "E Remus,
chame Remus! Não vou ter esse filho sem ele aqui!" E então, outro grito.
"Sirius foi chamar Prongs, ok?!" Falei, segurando a mão dela. "Vai ficar tudo
bem, Lily, não vou sair de perto de você, você só precisa se acalmar...
SIRIUS, PELO AMOR DE DEUS!"
"Lily!" James correu e se ajoelhou ao lado dela, depois se virou para nós.
"Chamem Marlene! E Remus, e Mary, e Pandora!"
"Ele está vindo, James..." Lily disse fracamente, com as mãos no rosto de
James, enquanto os dois sorriam. "Nosso filho está vindo."
351
Capítulo 28: Tarefa
Eu não acho que vá existir alguma coisa que eu não goste mais do que gritos
de mulheres que estão dando a luz.
Eu sempre acho que elas estão morrendo, mas todo mundo ao mesmo tempo
está muito feliz. Meu cérebro processa os gritos de dor como uma coisa ruim,
mas pelo o que Pandora me explicou uma vez, são um bom sinal, na verdade.
Mesmo assim, detesto ver Lily nesse estado, porque ela é minha amiga e não
gosto de ver meus amigos gritando de dor.
A lareira da casa era usada somente para amigos ou pessoas da Ordem, era
sempre bom em alguma emergência que não tínhamos tempo para seguir o
protocolo de segurança, essa com certeza era uma delas. Um pouco depois
de Sirius mandar um patrono chamando Marls e os outros, Remus, Pandora,
Mary e ela irromperam dentro da casa pela lareira.
"Lily!" Remus apareceu, correndo até ela depois que ela gritou mais uma
vez. "Vai dar certo, ok? Apenas tente respirar."
352
Todos nós entramos preocupados no quarto, James se ajoelhou ao lado de
Lily, segurando a sua mão e Sirius subiu no outro lado da cama colocando o
máximo de travesseiros que conseguiu atrás de Lily. Ela deu mais um grito
e Marlene pediu para Mary encher uma bacia de água quente e trazer até o
quarto, e ela assim o fez.
"O quê, Marlene, o que foi?!" James perguntou, mais desesperado ainda.
"Ela está perdendo sangue, isso não deveria acontecer antes dela ter o
bebê..." Ela respondeu, os olhos correndo por Lily. "Sirius, pegue a minha
maleta e abra aqui agora!"
"O quê?!" Remus disse, exasperado. "Não! Não vou deixar Lily aqui!"
"Moony," Coloquei a mão no seu ombro. "É Lily. Ela vai ficar bem."
Todos nós, exceto James e Marlene, saímos do quarto. Sirius foi levar Remus
até à cozinha porque ele estava quase tão nervoso quanto James.
"Se for assim quando você der a luz, Pandora," Falei, enquanto me sentava
no sofá. "Quero avisar sobre o meu possível desmaio antecipadamente."
"Essas coisas são assim, Reg," Pandora disse, se sentando ao meu lado. "É
apenas uma das muitas coisas que passamos por sermos mulheres."
Mary estava andando de um lado para o outro, esfregando uma mão na outra
e sua respiração estava tão alta e ofegante que eu consegui escutar de onde
eu estava.
"Eu só..." Ela disse, respirando fundo. "Só estou preocupada com ela porque
Marls está certa... ela não deveria estar sangrando tanto, Reg."
353
"Ei, Mary," Pandora disse, se levantando também. "Partos são realmente
complicados, esse tipo de coisa não é tão difícil de acontecer..."
"Eu... eu estou só muito nervosa," Ela disse, a voz começando a ficar trêmula,
ela parecia prestes a chorar. "Apenas quero que a minha amiga fique bem,
Reg... apenas isso..."
"Ei..." Falei, pondo um braço em volta dela. "Ela vai ficar, eu prometo à
você."
Depois que Sirius e Remus voltaram para sala, Remus estava mais calmo,
mas ainda nervoso. Ficamos lá por um bom tempo escutando apenas os gritos
de Lily, até que eles finalmente pararam de repente. Todos notamos, mas
ninguém queria dizer nada para não presumirmos o pior. A coisa toda
demorou cerca de três horas. Durante a primeira hora, eu estava ocupado
tentando manter Mary calma. Durante a segunda, eu estava tendo que me
manter calmo porque nunca fui uma pessoa muito paciente. Na terceira, eu
estava prestes a entrar no quarto e tirar aquele bebê de dentro de Lily eu
mesmo.
"Eles já tem alguma ideia para o nome?" Perguntei, tentando distrair o clima
tenso na sala.
"Acho que não..." Mary disse. "Acho que vão pôr algum nome de família,
ou algo assim..."
"Pode ser qualquer um," Sirius disse. "Mas que eles chamem a pobre criança
de um nome normal. Sem constelações, pelo amor de Merlin."
Se aquilo tivesse durado mais uma hora, Remus teria entrado no quarto com
ou sem a permissão de Marlene. Ele quase se levantou, quando James saiu
de repente do quarto, um pouco atordoado e muito suado, indo até à sala.
Todos levantamos de uma vez, os olhos arregalados.
354
Mary suspirou de alívio e se jogou no sofá pesadamente, Pandora levou as
mãos ao rosto. Eu, Remus e Sirius fomos até James e nos abraçamos,
enquanto sorríamos e James chorava emocionado.
"É claro!" Respondi. "Estou curioso para ver a cara desse garoto que quase
estourou meus ouvidos!"
James foi na frente para abrir a porta do quarto e todos nós fomos atrás.
Quando entramos, Marlene estava acabando de entregar o bebê à Lily, que
sorria tão radiante como eu nunca mais tinha visto à meses.
Sirius assentiu apressadamente e então foi até Lily, com todo o cuidado do
mundo, e colocou o bebê em seus braços. Ele era tão pequeno que qualquer
um teria medo de quebrá-lo. Os olhos dele eram assustadoramente iguais aos
de Lily.
Ele encarou o bebê novamente, brincando com a boca da criança com o dedo
indicador. "Caramba... eu realmente espero não fazer nenhuma besteira."
"Você está bem, Lils?!" Perguntei, indo até Lily, que segurava a mão de
Remus. "Tudo ocorreu bem?"
"Talvez ele seja um apanhador como eu!" James exclamou, sorrindo como
nunca.
355
Ficamos um tempo com James e Lily, e seu filho. James e Sirius sussurraram
várias coisas um para o outro enquanto ele carregava o bebê. Depois de
Remus carregá-lo, Lily perguntou se eu queria também. Seria muita grosseria
da minha parte negar, mesmo eu estando morrendo de medo de deixar aquela
coisa tão pequena cair. Eu não esperava que carregar a criança dos Potter
fosse causar o efeito que causou em mim. É como se todo aquele amor que
havia naquele lar e naquelas pessoas que me acolheram tão bem à mais de
um ano, tivesse se concentrado e se materializado em uma pessoa só. E eu
estava carregando o símbolo de todo aquele amor nos meus braços.
"Vamos deixar eles um tempo à sós," Mary disse sorridente, enquanto estava
abraçada à Pandora. "Depois nós voltamos, tudo bem?"
"Três horas de parto!" Ela exclamou, levantando o copo na mão. "Eu sou
realmente uma lenda."
"Harry é um nome realmente bonito." Falei, indo até ele e pondo a mão no
seu ombro. "Nada de constelações, huh?"
"Acho que é melhor que Neville, não é?" Remus disse, abafando uma risada.
"Quando Frank me disse, eu tive que cobrir a boca com as mãos para não
sorrir."
Harry Potter. Pensei comigo mesmo. Você não faz ideia do quanto você vai
ser amado.
***
356
Uma semana se passou depois do nascimento de Harry. Carter foi visitar
James e Lily algumas vezes, e eu torci para que ele não aparecesse no mesmo
dia em que Mary. Deus, por favor, não faça isso comigo.
Cuidar de uma criança era realmente exaustivo. Nós nos revezávamos para
ir até à casa de James e ajudá-los durante a madrugada, para que ele e Lily
pudessem dormir um pouco. James havia sido mandado em uma missão uma
noite e pediu, preocupado, para que nós três estivéssemos com Lily e Harry
naquela noite.
"Eu busquei água para você ontem quando você não queria se levantar, Reg,"
Sirius choramingou. "Você me deve."
E então, eu fui pegar Harry. As noites foram assim desde o dia em que ele
nasceu. Mas Harry era íncrivel, realmente incrível. A cada dia que se
passava, todos nós ficávamos mais apaixonados por ele. Visitei Andrômeda
algumas vezes para ver Narcissa e Draco, que agora já estava um pouco
maior e com alguns cabelos bem finos e loiros crescendo na sua cabeça.
Percebi que eu não fazia ideia do quanto eu amava crianças até conviver com
elas.
Sirius estava totalmente apaixonado por Harry. Ele quase nunca saía de seus
braços quando estávamos lá, o que era um alívio para Lily e James, que
estavam suportando a pressão da paternidade combinada com seus deveres
para a Ordem.
"Eles não falam até que tenham pelo menos um ano," Eu sorri me sentando
no braço do sofá. "Eu pesquisei."
357
"Crianças normais não," Sirius jogou o cabelo para trás, gentilmente
segurando os pulsos gordinhos de Harry. "Mas Harry Potter não é um bebê
comum, ele é claramente muito avançado para sua idade. Vamos, Harry,
diga Pad-foot..."
"Você está querendo ele apenas para você, Padfoot!" Remus choramingou,
estendendo os braços. "Vamos, eu não o abracei ainda."
"Não é minha culpa que ele goste mais de mim!" Sirius respondeu,
mostrando a língua para Remus e depois para Harry, estufando as bochechas
e arregalando os olhos para que o bebê risse e borbulhasse contente.
Abafei uma risada para mim mesmo. "Eu nunca vou conseguir não sorrir
lendo esse nome."
358
esperando. Eu precisava disso com toda a história sobre a taça rodando na
minha cabeça. Sempre que alguém da Ordem me convocava, era para falar
sobre as horcruxes, então eu meio que já esperava por isso.
O pub estava meio vazio, o que era bom. Não suporto lugares lotados. Assim
que sentei em uma mesa, dois bruxos na mesa ao lado começaram a sussurrar
e me lançar olhares tortos.
"Ouvi que ele está com a Ordem agora." Um deles sussurrou, achando que
eu não estava ouvindo.
Antes que eu pudesse me virar e azará-los com todo o prazer, Rosmerta veio
sorridente até a minha mesa me oferecer uma bebida.
Não me diga!
"Você não deve saber o motivo de eu ter chamado você aqui." Dumbledore
disse, me encarando.
359
"Na verdade, não," Ele respondeu. "Temo que este seja um assunto um pouco
mais urgente."
"Me diga," Dumbledore começou. "O que você sabe sobre profecias?"
"Quero que você leia um pouco mais sobre isso, se possível," Dumbledore
disse, a voz um pouco mais grave. "E tudo que isso que eu estou lhe dizendo
e tudo que você aprender, deve ser mantido em sigilo total, você me
entendeu?"
"Hm... claro," Acenei com a cabeça, nervosamente. "O que exatamente você
quer que eu procure?"
"Espere aí," Falei, piscando. "Você acha que há uma profecia? Sobre como
a guerra termina?"
"É possível, senhor Black," Ele respondeu, brevemente. "Mas não devemos
nos precipitar."
360
"Assim esperamos que seja," Ele assentiu. "Por isso chamei você aqui. Não
sabemos sobre a natureza da profecia, então eu acharia mais viável e mais
seguro que você destruísse as horcruxes à tempo o suficiente, mesmo que
não saibamos ainda do que ela se trata."
"Estou apenas dizendo à você que não perca tempo se tiver pistas sobre
alguma coisa, Regulus." Dumbledore disse, calmamente. "Eu irei até você
em breve para tratarmos desse assunto de novo."
"E, Regulus," Dumbledore disse, se levantando. "Mais uma vez, não posso
exagerar na importância desta tarefa. Você não deve contar a ninguém, você
entende isso?"
"Entendo."
"Sim?"
"Sempre há brechas, não é?" Falei, seriamente. "Se for algo ruim, há
brechas."
***
"Reg," Sirius apareceu na porta do meu quarto. "Marlene deixou uma poção
para Moony tomar que vai melhorar os machucados, ok? Você pode fazer
com que ele tome enquanto eu estiver fora?"
361
"Oh, sim, é claro," Acenei com a cabeça. "Não vou dormir cedo, com
certeza."
"Tudo bem, então," Ele disse, dando de ombros. "Vejo você amanhã."
"Até." Falei, acenando com uma mão, com os olhos presos no livro no meu
colo.
"Moony?" Entrei no quarto dele e de Sirius, com a poção nas mãos. "Sirius
disse que eu deveria trazer isso para você."
Remus estava deitado na cama, lendo um livro em suas mãos. "Oh, obrigado,
Reg... Tive um ferimento realmente ruim na noite passada."
"Aqui está." Dei à ele, depois me sentei na poltrona ao lado da cama. "Quer
que eu faça mais alguma coisa? Eu sei que as luas cheias devem ser
realmente muito ruins."
"Não, está tudo bem," Ele disse, pondo a poção na cabeceira depois de bebê-
la e se encostando lentamente na cama. "Vou melhorar, não é como se eu
não estivesse acostumado."
"E você?" Ele perguntou, me observando. "Padfoot me disse que você está
com alguém."
"Agh! Sirius acha que eu estou ficando com todo mundo, Moony," Eu disse,
Remus sorriu. "Eu e Carter apenas ficamos juntos algumas vezes, ele é
realmente incrível."
362
"Você gosta dele?"
"Bom..." Falei, encarando o chão. "As coisas são fáceis com ele. Não há
cobranças ou... ou a pressão de não sabermos o que somos porque, bem, ele
vai voltar para Nova York em breve e, bom, ele é gato para caralho. Ele
passou por coisas parecidas que eu, sem a parte da quase morte, é claro, então
ele me entende."
"Ele me faz rir." Respondi, sorrindo fracamente. "E me trata como se eu fosse
algum tipo de, não sei, deus que ele finalmente conseguiu alcançar."
"Mas você não gosta dele." Remus disse, simplesmente e eu o encarei. "Você
está apaixonado por Mary."
"Não estou muito afim de falar sobre isso." Falei, em um tom baixo.
"Tudo bem," Remus disse, dando de ombros, eu o olhei confuso. "O quê?!
Não sou Padfoot, não sou tão curioso. Se você não quer falar sobre isso,
então não vamos."
"Não, estou indo bem com isso," Respondi. "E também, não posso pedir
ajuda à ninguém."
"Odeio missões que preciso fazer sozinho." Ele disse, encostando a cabeça
na parede. "Odiava ter que ir sozinho para a floresta com os lobos naquelas
missões - então, sabe, obrigado por isso."
"Que isso, Moony," Falei, franzindo a testa. "Eu não deixaria você voltar lá
sozinho depois do que aconteceu a última vez."
"Os lobos não são ruins, sabe," Remus disse, encarando o teto. "Eu gostava
de estar com uma alcateia de lobos de verdade, como eu. Mas Greyback..."
A voz dele pareceu falhar. "Greyback os manipula de uma forma horrível,
ele é o verdadeiro mal."
363
"Não entendo muito de lobisomens, Moony... mas Greyback é realmente
sinistro, não posso negar isso."
"Eles estão com ele por medo," Remus disse. "O mundo os marginaliza
demais, então tudo que eles tem é Greyback."
"E é," Ele disse, olhando para mim. "Um dia, vou fazer com que os
lobisomens tenham uma vida melhor... sabe, que não tenham mais que viver
escondidos e com medo, que sejam realmente reconhecidos como pessoas de
verdade."
"Se você diz que vai, Moony," Falei, firmemente. "Então, eu realmente
acredito em você."
Ele sorriu. "Obrigado, Reg." Ele fez uma pausa antes de perguntar. "Então,
quando vamos à Gringotes?!"
"Bom, acho que já passou tempo o suficiente," Ele disse, dando de ombros.
"Estamos apenas esperando o seu sinal."
"Não sei como teríamos feito isso se Cissy não tivesse pego o cabelo de
Bella," Falei, arqueando as sobrancelhas. "Seria literalmente impossível."
"Bom, você sempre dá um jeito," Ele disse. "Eu é quem não poderia ter
pensado nisso na hora, o cruciatus e Wormtail lá tiraram toda a minha
atenção."
"Não sei se contei isso à você," Remus disse, de repente. "Mas quando
Prongs confrontou Peter, ele disse uma coisa estranha."
"O quê?!" Perguntei, um pouco intrigado demais. Agora tudo que envolvia
Voldemort ou os comensais da morte me faziam pensar na tarefa de
Dumbledore.
364
"Nós não sabemos muito bem o que ele quis dizer," Remus franziu a testa.
"Mas Prongs disse que Peter não falou com medo ou nervoso, ele apenas
disse, seriamente."
365
Capítulo 29: Seu
"Você deveria vir conhecer Nova York algum dia," Carter disse, deitado no
meu peito. Estávamos no gramado da casa de Sirius, deitados sob um pano
azul. "Você precisa de um tempo dessa pressão toda daqui."
"Você pode vir quando esta guerra acabar," Carter disse, se virando e se
apoiando nos cotovelos para me olhar. "Não é como se você não tivesse um
lugar para ficar quando for."
Dei um sorriso à ele, ele se aproximou do meu rosto e me deu um beijo suave
na boca.
"Como seus pais estão?" Perguntei, arrumando a mecha azul do cabelo dele.
"Estão bem?"
"É, acho que sim," Ele respondeu, franzindo o cenho. "Visitamos meu irmão
essa semana... acho que eles ficam mais felizes de ver ele que mora no bairro
ao lado do que eu que moro em outro país."
"Não fale desse jeito," Repreendi. "Tenho certeza que eles gostam de ver
você."
"Bom, não tanto quanto eles gostam de ver o filho perfeitinho com uma casa,
um filho e seu lindo e perfeito casamento hétero."
"Oh, sim, ele tem," Carter assentiu. "Oliver é realmente incrível... você
acredita que ele tem apenas cinco anos e já consegue subir em uma
vassoura?!"
"Merlin, se Harry for assim também," Eu disse. "Sirius e James vão ficar tão
emocionados que vão dar um jeito de colocá-lo no time de quadribol já no
primeiro ano de Hogwarts!"
"Espere aí," Carter exclamou. "Não foi você que no primeiro ano
impressionou Slughorn com um antídoto para veneno?!"
366
"Bom..."
"Acho que posso dizer que a poção que era fácil demais," Eu dei de ombros.
"E, bom, eu li muito sobre ela."
"Às vezes esqueço como você é inteligente," Carter sussurrou, com o rosto
bem perto do meu. "E bom demais para mim."
"Não seja idiota," Ele sorriu, passando um dedo pelo meu rosto. "Você é
quem não enxerga o que eu enxergo."
"Você é corajoso e... altruísta," Carter disse, estudando a minha boca com os
olhos. "Se tudo que você que me contou for verdade, você provavelmente é
o melhor ser humano do mundo, Reg."
"Acho que há coisas que... que eu deveria ter mais coragem." Franzi o cenho,
encarando o céu.
"Como o quê?"
"Isso deve ser por causa dos seus pais." Ele disse, simplesmente.
367
Pensei por um tempo em como aquilo fazia extremamente sentido. "Carter?"
"Hm?"
"Você é um gênio."
Ele sorriu, timidamente. "Não exagere... Estou apenas tentando dizer à você
para não anular todas as outras coisas boas que você fez porque não consegue
fazer apenas uma. Sabe, não é sua culpa que seus pais eram uns merdas que
faziam você pensar que o que você sentia não importava."
"Você é a primeira pessoa que diz isso para mim." Disse. "Que consegue me
explicar o motivo das coisas e não só me... questionar."
"Bom, então acho que você está certo," Ele sorriu. "Sou um gênio!"
"Sabe de uma coisa?!" Ele exclamou. "Você deveria vir até a minha casa e
conhecer os meus pais!" Arregalei os olhos e Carter riu. "Pelo amor de Deus,
não vou pedir você em casamento, nem nada do tipo! Você não é tão atraente
assim, Black."
"Eu apenas amaria ver a cara deles quando eu chegasse com um 'amigo' em
casa," Ele disse, ainda sorrindo. "Papai teria um infarto e mamãe
provavelmente iria colocar nós dois para rezarmos a droga do Pai Nosso
inteiro."
"Claro que não, seu idiota!" Ele respondeu, sorrindo outra vez. "É mais fácil
você estar fazendo isso comigo."
368
"É mesmo?" Sussurrei, puxando o rosto dele para mim e dando uma mordida
leve na sua orelha. Ele subiu em cima do meu colo, me dando um beijo
demorado e provocador nos lábios e minha mão percorreu por de baixo da
sua camisa.
"Não podemos fazer isso aqui, Reg," Ele sussurrou, em meio à um sorriso.
"Seu irmão está literalmente do nosso lado."
"Sirius faz coisas piores no quarto ao lado do meu, se você quer saber," Olhei
para Carter. "Acredite, não sei como ele não quebrou a parede com a força
que aquela cabeceira bate."
"Faça silêncio." Sussurrei, fechando a porta atrás de nós. "Acho que Sirius e
Moony estão no quarto."
"Mas são quatro da tarde." Ele sussurrou de volta. "Eles não podem estar
dormindo."
Fizemos o máximo de silêncio para não perceberem que estávamos lá. Não
consigo nem imaginar a quantidade de piadas Sirius faria se me visse
entrando no meu quarto com Carter. Fechei a porta atrás de nós e assim que
virei de novo, Carter jogou os braços ao redor do meu pescoço e me beijou
ferozmente, puxando o meu lábio inferior com os dentes.
Pressionei Carter contra a porta, colocando uma das minhas pernas entre os
joelhos dele. Ele estremeceu contra a minha boca quando sentiu, gemendo
roucamente.
369
"O quê?" Carter franziu o cenho. "Você está bem?"
Voltei a beijar ele, desta vez tirando ele da porta. Merlin, definitivamente não
naquela porta.
Ele chegou até a borda da minha calça e me olhou com um sorriso malicioso,
os fios de cabelo loiro misturados com os fios da mecha azul bagunçados na
frente de seu rosto, alguns grudados na testa devido ao suor. As bochechas
levemente coradas e o sorriso mordendo o lábio inferior, enquanto abria o
meu cinto e depois os botões e o zíper da minha calça, até chegar na minha
cueca.
Ele passou a língua por cima do tecido preto, me fazendo ofegar alto, "Porra,
Carter...". Isso fez ele sorrir outra vez e morder a borda da minha cueca,
abaixando ela tão lentamente com a boca que me fez ter vontade de matá-lo.
Levei minhas mãos até o cabelo bagunçado dele e quando ele passou a língua
do fim até a ponta, eu quase gemi alto o suficiente para chamar a atenção de
Sirius no outro quarto.
Carter começou suave e devagar, a boca tão leve e macia como uma pluma
encostando na minha pele. Até que começou a ir mais rápido e mais forte, eu
conseguia sentir a ponta batendo contra a garganta dele, incontáveis vezes,
uma atrás da outra. Aquilo foi demais para mim. As minhas costas se
arquearam na cama e eu segurei na cabeceira com uma das minhas mãos, a
outra segurava tão forte o cabelo de Carter que os nós dos meus dedos
estavam vermelhos.
370
Quando eu estava prestes a vir, Carter parou repentinamente, ofegante.
"Você não vai gozar ainda."
"O quê?!" Olhei para ele, atordoado. "Eu vou matar você, Carter, pelo amor
de Deus..."
Carter subiu para cima de mim e voltou a me beijar, me fazendo sentir meu
próprio gosto em sua boca. Mexendo o quadril o suficiente para roçar de leve
onde ele havia estado com a boca à uns minutos atrás. Enquanto ele estava
em cima de mim, eu abri a calça dele e enfiei a mão de uma vez por dentro
da cueca. Ele arfou alto contra a minha boca, quase choramingando de
desejo.
Eu mudei nossas posições e me coloquei por cima dele, sem parar de beijá-
lo, me posicionando entre as suas pernas. Eu o encarei, os dois atordoados,
completamente ofegantes e suados. Carter era tão lindo que sua foto poderia
estar em um museu.
371
eu ia, mais Carter se segurava para não gemer alto, os olhos já cheios de
água, os lábios franzidos segurando os próprios gritos.
Nós dois estávamos quase vindo quando escutamos alguém bater na porta do
quarto.
"Merda, merda, merda, merda..." Saltei para fora da cama, vestindo rápido a
minha cueca.
"Merlin, Reg!" Carter exclamou, ainda deitado. "Por que você está assim?!"
"Um segundo, Six!" Gritei para a porta, me virando para Carter depois.
"Certo, você se lembra de quando falamos sobre alguém de quem eu
gostava...?"
372
"Bom, sim, mas..." Carter refletiu, vestindo as próprias calças. Ele arregalou
os olhos. "Não! Não me diga que eu acabei de transar com o namorado de
Mary MacDonald!"
"Ela não é a minha namorada!" Vociferei, abotoando a calça. "Bom, ela era,
eu acho... Eu não sei! O ponto é que ela não sabe de você!"
"Bom, não é como se você pudesse fazer algo agora, não é?!" Ele disse,
procurando a sua camisa. "Você é um idiota. Mary é incrível."
"Carter!"
Tirei a camisa rápido com a ajuda de Carter, e a coloquei de volta, desta vez
do lado certo.
Carter sorriu, quase gargalhou. "Você não vai querer que eu responda isso."
Respirei fundo antes de abrir a porta. Sirius estava encostado nela, os olhos
dele se arregalaram quando ele viu Carter atrás de mim e ele fez um 'O quê?!'
com os lábios. Carter deu de ombros, completamente confuso.
Quando cheguei até à sala, Mary estava em pé no meio dela. Ela estava
normal, não triste, nem com raiva. Apenas a Mary de sempre. Quando ela
me viu, sua boca quase se curvou em um sorriso, até Carter aparecer atrás de
mim. O sorriso se desfez completamente.
373
"Eu..." Ela começou. "Eu posso voltar depois, eu não... não quero atrapalhar
nada..."
"Não!" Eu exclamei, um pouco alto demais. "Você... você pode ficar! Nós
podemos conversar, se você quiser."
"Mary, você não precisa..." Comecei, mas ela levantou uma mão para mim,
me impedindo de continuar. E saiu pela porta.
"Ah, pelo amor de Deus! Já disse que não pretendo pedir você em
casamento!" Ele revirou os olhos. "Eu disse à você! Se você gosta de alguém,
você tem que dizer!"
"Mary!"
Ela virou para mim, enxugando os olhos rapidamente. "Você não deveria vir
atrás de mim."
"É claro que eu deveria." Respondi, ainda um pouco longe dela. "O que você
veio me dizer?!"
374
"Eu vim me desculpar, Reg," Ela disse, com a voz trêmula. "Porque eu... eu
sei que fui egoísta com você. Eu sei que talvez eu estivesse exigindo muito
quando pedi para você ficar comigo de verdade."
"Não... não, Mary, você não estava exigindo muito. Não pense dessa
maneira."
"Não, eu..." Ela respirou fundo. "Eu apenas me senti... subestimada. Como
se você não acreditasse que eu mesma poderia me proteger. Eu me senti...
fraca."
"Você não é fraca!" Me aproximei dela. "Merlin, nunca mais diga isso!"
"Eu fui egoísta com você." Ela disse, com a voz trêmula. "E eu vi você com
Carter na festa de Remus, você estava... estava feliz. E eu amo ver você
assim. Então, eu... eu vim pedir desculpas por ter sido egoísta com você e
dizer que se você quiser ficar com ele, eu não vou atrapalhar. Eu nunca
atrapalharia uma chance de você ser feliz."
"Mary." Falei, com a voz firme, segurando o rosto dela com as mãos. "Não
existe nenhuma pessoa no mundo que eu queira ficar além de você."
"Sim, sim, sim, sim..." Eu ofeguei, encostando a minha testa na dela. "É você,
Mary... É você, é só você."
Ela levantou o rosto, sorrindo fracamente, o rosto molhado. Ela passou a mão
no meu cabelo, tirando uma mecha do meu olho "Não preciso que você diga
isso de volta se você não quiser dizer. Mas eu amo você." Meus olhos se
arregalaram levemente. "Eu amo você, Regulus Black. Eu amo você mais do
que consigo suportar. Você é bom, Regulus. E você é brilhante, corajoso e
gentil. Eu poderia matar qualquer um que já fez você se sentir menosdo que
isso -menos do que você é.E eu sei que quase fiz parte desse grupo quando
exigi tudo aquilo de você. Mas eu quero que você saiba que eu amo você à
muito tempo. E que quando você estiver pronto para mim... eu vou estar
pronta para você."
375
Ou me feito sentir desse jeito. Eu não tinha palavras para aquilo. Nada, nada,
nada nunca foi assim.
"Só... só confie em mim, eu vou estar lá," Falei com a voz trêmula, ainda
segurando o seu rosto. "Eu sou seu, Mary. Não se esqueça disso. Eu sempre
fui seu."
Ela sorriu, as mãos segurando as minhas, ela se afastou para aparatar, ainda
segurando uma das minhas mãos. Até que ela soltou e aparatou, me deixando
sorrindo sozinho.
Voltei para dentro da casa correndo, abri e fechei a porta da frente rápido,
Carter já havia ido embora, Sirius estava na cozinha. Eu entrei em casa
agitado e ofegante, andando de um lado para o outro. "Moony! Moony!
Venha aqui!"
Remus apareceu na sala, ainda de pijama por não ter saído da cama com
Sirius o dia todo. "Droga, Reg, pare de gritar. O que é que você quer?!"
"Espere aí, você ainda nem sabe quem vai beber..." Remus disse, franzindo
o cenho.
376
"Alguém chame James, pelo amor de Deus!" Exclamei.
"Esperem aí, vocês precisam ver uma coisa antes." Sirius disse, mexendo nas
correspondências, enquanto Remus fazia o feitiço. Ele pegou uma carta, um
pergaminho amarelado, sem selo e sem carimbo. "Chegou quando você
estava lá fora com Mary."
"Aí é que está." Sirius disse. "Não faço ideia. Não tem remetente."
"Leia em voz alta." Remus disse quando eu peguei a carta nas minhas mãos.
377
"Moony, não fique desse jeito," Sirius sussurrou, pondo os braços em volta
dele. "Isso não é culpa sua."
"Quem mandou isto?!" Remus disse. "Por que alguém nos avisaria, mas não
diria quem é?!"
"Não vou deixar que machuquem nenhum dos dois, Sirius." Olhei
furiosamente para a carta. "Vão ter que passar por cima de mim se quiserem
machucar Draco."
***
"James, você vai precisar da capa outra vez." Pandora disse, quando nós
quatro fomos à casa dela, naquela mesma tarde. "Remus, você é o inteligente.
Vou ensinar à você o feitiço de invisibilidade."
"Marlene vai ficar com ela e Harry, Prongs," Falei. "Você não precisa se
preocupar."
"Você vai mesmo beber isso, Reg?!" Sirius perguntou, com uma cara feia.
"O gosto parece ser uma merda."
"Bom, Pandora não vai porque está grávida. Alguém tem que fazer isso, não
é?!"
Peguei o frasco com as mãos, o gosto não poderia ser pior do que o cheiro.
James me interrompeu. "Espere aí! Ajuda se você prender a respiração,
sabe?"
378
se revirar, parecia que eu ia vomitar. Depois uma sensação de queimação se
espalhou rapidamente da minha barriga até as pontas dos dedos dos pés e das
mãos – em seguida, eu caí no chão, sem ar e tive a sensação de que estava
derretendo, quando a pele de todo o meu corpo borbulhou como cera quente.
"Reg!" Ouvi a voz de Sirius me chamar, mas eu fechei os olhos com força,
minha cabeça doía muito.
Remus caiu na gargalhada. "Você tem que me agradecer por eu não te azarar
agora, Reg, porque você tá com a cara da vadia que me amaldiçoou."
"Isso deu tão certo que estou com vontade matar você." Sirius disse, sorrindo.
379
"Você está pronta." Pandora disse, abafando uma risada.
"Ugh, vamos logo com isso," Resmunguei. "Dê o cristal para eles, não
garanto que não vou cair nessa coisa e quebrar."
Pandora olhou de novo para todos nós e, por fim, acenou a cabeça para mim
e eu fiz o mesmo. E então, aparatamos.
380
Capítulo 30: Gringotes
"Acho que ela não é muito querida, não é?" Ouvi James sussurrar do meu
lado, de baixo da capa.
Seguimos pela rua de pedra até o final, onde Gringotes ficava. Quando
chegamos às escadas de mármore que levavam às grandes portas de bronze,
os duendes que normalmente ficavam na entrada tinham sido substituídos
por dois bruxos, ambos segurando longas e finas varas de ouro. Essa era a
parte difícil. Passar pelas varas, que detectavam feitiços de ocultamento ou
qualquer outra coisa que estivesse magicamente escondida.
Tínhamos apenas dois segundos, dois segundos que foram o suficiente para
James apontar a varinha para os guardas e murmurar "Confundus!", ainda
debaixo da capa. Os guardas apenas estremeceram quando o feitiço os
atingiu. E eu subi as escadas, sem olhar no rosto de nenhum dos dois.
"Você acabou de fazer isso, seu idiota." Exclamei, em uma imitação muito
boa da voz de Bellatrix, a dose certa de arrogância e autoritarismo que só um
Black conseguiria. O guarda ficou confuso e acenou com a cabeça para o
outro, apenas. Eu continuei a subir.
381
"Estamos indo bem, Reg." Remus sussurrou, invisível ao meu lado. "Só mais
um pouco."
Dois duendes estavam diante das portas de dentro, que eram feitas de prata.
Eu ergui os olhos e de repente me ocorreu uma lembrança muito nítida:
parado naquele exato lugar, no dia em que completei doze anos e vim aqui
pela primeira vez com Sirius. Naquele dia, Gringotes me pareceu um lugar
assustador e nem por um instante poderia ter sonhado que voltaria aqui para
roubar.
O longo balcão era ocupado por duendes sentados em banquinhos altos, que
atendiam os primeiros clientes do dia. Eu me dirigi a um velho duende que
escrevia alguma coisa em um pergaminho, com uma pena muito sofisticada.
"Quero entrar no meu cofre." Respondi, ríspida e friamente, com uma das
sobrancelhas arqueadas.
Seria mais perigoso eu aparecer por aqui como eu mesmo do que como
Bellatrix. Não era novidade que muitos bruxos e bruxas acreditavam que eu
colhia informações da Ordem para Voldemort e que Dumbledore era um tolo
por confiar em mim. Eu não era um herói para todo mundo, pelo visto.
Muitos acreditavam que se eu não tivesse passado para o outro lado,
provavelmente a guerra já teria acabado. É impressionante como as pessoas
realmente só veem o que querem ver.
E, afinal, o que agradaria mais o Lorde das Trevas a ponto dele deixar
qualquer um em paz do que a cabeça de Regulus Black em uma bandeja?
382
Eu olhei para os lados e não só alguns guardas estavam por perto observando,
mas vários outros duendes tinham levantado a cabeça do seu trabalho para
olhar para mim.
Merda.
"A sua varinha será suficiente, madame." Disse o duende. Eu estremeci, não
podíamos ter chegado até aqui para dar errado tão facilmente.
"Vamos ter que fazer isso!" Sussurrou James, a voz cheia de pavor. "É o
único jeito!"
Sirius bufou baixo ao lado de James e eu agradeci por ele não estar na sua
forma humana, se não ele teria soltado um palavrão enorme. Consegui sentir
a presença de Remus se afastando de mim e alguns segundos depois, ele
sussurrou, provavelmente pela primeira vez na vida. "Imperius!"
Ele cochichou ao ouvido do outro duende, mas ele sob o efeito da maldição
se livrou do empecilho rapidamente. "Estou ciente das instruções. Madame
Lestrange quer visitar o seu cofre, família muito antiga... velhos clientes...
acompanhem-me, por favor... "
Nos dirigimos a uma das muitas portas de saída do saguão. Quando a porta
bateu atrás de nós, James tirou a capa de invisibilidade, a espada reluzindo
na bainha da sua calça, e Sirius se transformou de volta. Remus retirou o
feitiço de invisibilidade de si mesmo. O duende não pareceu manifestar
nenhuma surpresa quando três jovens surgiram do nada na sua frente.
383
"Eles suspeitam." Remus disse. "Os guardas não tiram os olhos de você,
Reg."
"Não é uma ideia ruim." James disse, olhando para a porta atrás de nós.
"Você faz uma imitação de Bellatrix muito boa, Reg!" Sirius sorriu, dando
um tapinha no meu ombro.
"É verdade," James concordou. "Você tem... como se diz?... a delicadeza dos
Black."
Eu não conseguia ouvir nada com o barulho do carro sobre os trilhos. Nós
estávamos mais fundo do que eu jamais estive em Gringotes. Até que
fizemos uma curva em alta velocidade e vimos, tarde demais, uma cascata
gigante.
"Não, não, não, não!" Remus exclamou tentando ver com mais precisão o
que estava na frente, a voz desesperada.
"Porra!" Xinguei alto quando me dei conta. "Isso vai lavar todos os
encantamentos, todos os disfarces mágicos!"
"Eles sabem, Reg!" Sirius disse, aterrorizado. "Já sabem que somos
impostores! Por isso ativaram as defesas!"
"O que nós vamos-" James foi interrompido quando atravessamos disparados
pela água. A sensação da água enchendo meus olhos e a minha boca me
384
lembrou da sensação de estar me afogando. Não conseguia ver, nem respirar.
Era como se eu estivesse de volta à caverna outra vez.
Com uma guinada muito forte, o carrinho capotou e fomos atirados para fora.
Eu ouvi o veículo se despedaçar contra a parede do labirinto, ouvi Sirius
gritar alguma coisa e me senti flutuar de volta ao chão, como se não tivesse
peso, e aterrissar sem dor no piso de pedra, completamente encharcados.
"Pandora me ensinou." Sirius sorriu fracamente. "Ela disse que poderia ser
útil, a filha da mãe esperta."
"Pelo menos você não está mais assustador." James encolheu os ombros.
"Uau," Remus disse. "Você fez isso bem melhor do que eu."
"Foi sua primeira vez." Dei de ombros enquanto guardava a minha varinha.
Os três me olharam assustados. "O quê? Vocês acham que nunca fui
obrigado a fazer isso quando eu era um deles?"
"Caramba, Reg," James franziu a testa, pondo a mão no meu ombro. "Eu
sinto muito."
385
Balancei a mão no ar desdenhosamente. "Tanto faz." Me virei para o duende.
"Mostre-nos o caminho do cofre."
"Me dê a bolsa aqui, senhor." O duende disse virando para Sirius que jogou
a bolsa para ele rapidamente. Ele tirou de dentro pequenos instrumentos de
metal que, quando agitados, produziam um barulho como o de vários
martelos se chocando. Ele deu um a cada um de nós. "O dragão sabe que vai
sentir dor quando escuta. Ele vai recuar quando todos nós balançarmos."
386
dava era de que os ossos da minha cabeça vibravam. O dragão soltou outro
rugido rouco e retrocedeu. Eu o vi tremer e, ao me aproximar, reparei nas
cicatrizes deixadas por cortes em sua cara, imaginei que ele aprendeu a temer
espadas em brasa quando ouvisse o som dos instrumentos. Aquilo não me
chocou, a disciplina através da dor não me era estranha.
"Faça ele pôr a mão na porta!" Remus insistiu comigo, apontei a varinha para
o duende que obedeceu, colocou a palma da mão contra a madeira, e a porta
do cofre se dissolveu, revelando uma espécie de caverna, repleta do chão ao
teto de moedas e taças de ouro, armaduras de prata, peles de estranhas
criaturas, poções em frascos cravejados de pedras e um crânio ainda usando
uma coroa.
"Nem me fale."
"Lumos!" Eu girei a varinha acesa pelo cofre, a luz bateu nas joias cintilantes,
eu vi uma falsa espada da Grifinória em uma prateleira alta, entre um
emaranhado de correntes. James, Sirius e Remus tinham acendido as
varinhas também e agora examinavam as pilhas de objetos que os cercavam.
"Por que Bellatrix tem uma cópia da espada aqui?!" James disse, franzindo
o cenho.
387
"Eles juntaram dois feitiços!" Sirius exclamou, preocupado. "Tudo que
tocarmos vai queimar e multiplicar!"
A luz das nossas varinhas percorreu escudos e elmos feitos por duendes
guardados em prateleiras que iam até o teto. Sempre mais alto, eu erguia a
varinha até que, de repente, incidiu sobre um objeto que fez o meu coração
dar um salto e minha mão tremer. Eu me estiquei o máximo que pude, sem
dar nenhum passo de onde eu estava. Não foi preciso chegar muito perto para
o cristal de Pandora assumir uma cor vermelho vivo. Magia negra.
"Não tem como chegar lá em cima sem tocar em nada, Reg!" Exclamou
Sirius.
388
"Espere! Posso tocar nas peças com a espada?!" Eu disse, arregalando os
olhos. "Prongs, me dê a espada aqui!"
"Mas, Reg, você é da Sonserina!" Sirius disse. "A espada não vai..."
"Bom, não tem outro jeito!" Vociferei. "Se qualquer um de vocês três der um
passo até onde eu estou, vamos morrer aqui dentro!"
A prateleira em que estava a taça estava fora de alcance, até mesmo para
Remus que era o mais alto de nós quatro. O calor pairava no ar, e o suor
escorria pelo meu rosto e pelas minhas costas enquanto eu procurava
encontrar um meio de chegar à taça.
"Vocês estão ouvindo isso?!" James disse, olhando para a porta. "Digam que
eu estou louco e que vocês não estão ouvindo isso!"
Ouvimos, então, o dragão rugir do outro lado da porta do cofre e o som dos
instrumentos sempre mais alto. Aparentemente, nós estávamos realmente
encurralados. Não havia saída exceto pela porta, e uma horda de duendes
vinha se aproximando pelo outro lado. Eu olhei para James, Sirius e Remus
e vi o terror em seus rostos.
"Isso não vai ser agradável, mas não tem outro jeito!" Remus disse, erguendo
a varinha imediatamente, a apontou para mim e sussurrou. "Levicorpus!"
Eu fui puxado para o alto pelo tornozelo, quando bati em uma armadura, as
réplicas encheram o espaço apertado. Com gritos de dor, James, Remus,
Sirius e o duende foram atirados contra outros objetos, que também
começaram a se replicar. Soterrados por uma onda crescente de tesouros
fervendo, eles se debateram e gritaram enquanto eu enfiava a espada na alça
da taça da Lufa-Lufa e a enganchava na lâmina.
389
"Impervius!" Guinchou James, em uma tentativa de proteger a si, Remus,
Sirius e o duende do metal.
Assim que peguei a taça nas minhas mãos, a senti queimar na minha pele.
Mas não a soltei, mesmo quando incontáveis taças irromperam do meu
punho caindo sobre o meu corpo. Nesse instante, o cofre se abriu e todos
deslizamos, sem controle, sobre uma avalanche de ouro e prata
incandescente que carregava a mim, e a Sirius, Remus, James e o duende
para fora.
Sem tomar consciência da dor das queimaduras por todo o corpo, eu enfiei a
taça no bolso. O efeito da maldição havia passado naquele instante e ele
começou a gritar. "Ladrões! Ladrões! Socorro! Ladrões!". E sumiu entre a
multidão de duendes que avançava, todos armados com adagas.
"Vocês sabem que só tem um jeito, não é?!" Falei, encarando os três, que me
lançaram um olhar sério e desafiador.
Assenti com a cabeça. "É isso! É assim que vamos sair daqui!"
390
outra vez e, ainda lançando feitiços contra os guardas, disparei em direção
ao dragão cego.
"Subam, subam, andem logo!" O dragão não percebeu que estava livre, o
meu pé encontrou a dobra de sua perna traseira e eu a usei para subir em seu
dorso. A pele do animal era dura como aço, ele nem mesmo pareceu sentir.
Eu estendi a mão e Sirius se guindou para o alto, ele deu a mão à Remus que
fez o mesmo e puxou James que montou atrás dos dois e, no segundo
seguinte, o dragão finalmente sentiu que estava livre.
Eu na frente, Sirius segurando nas minhas costas, Remus preso à cintura dele
e James logo atrás. Deitados na costa do dragão, raspamos no teto quando o
animal foi para a abertura na passagem, perseguido pelos duendes que
atiravam adagas nele.
"Nunca sairemos daqui, é grande demais!" Gritou Remus, mas o dragão abriu
a boca e arrotou chamas explodindo o túnel cujos pisos e teto racharam e
desmoronaram. Usando a força, o dragão abria caminho com as garras e o
corpo.
"Por que sempre temos que explodir alguma coisa?!" James berrou, enquanto
o teto era estraçalhado.
"Bom, vocês três são os marotos, não são?!" Sorri, a varinha apontada para
cima.
391
Sirius, que estava agarrado a mim, me encarou e sorriu. "Nós quatro somos."
Então, com a força dos nossos feitiços somada à força do dragão, nós
finalmente abrimos uma saída da passagem para o saguão de mármore.
Duendes e bruxos gritaram e correram para se proteger, e o dragão encontrou
espaço para abrir as asas. Era um caos completo agora.
Ele girou a cabeça para o ar fresco exterior que sentia além e partiu comigo,
Sirius, Remus e James ainda agarrados ao seu pescoço. Ele abriu caminho
pelas portas de metal, deixando-as dobradas e penduradas, e se encaminhou
para o Beco Diagonal, de onde se lançou em direção ao céu.
Não havia como conduzir o dragão, o animal não via aonde estava indo, e eu
sabia que, se ele desse uma guinada ou virasse de barriga para cima em pleno
voo, nós não poderíamos nos agarrar às suas costas largas. Apesar disso, à
medida que ganhávamos altitude, e Londres virava abaixo de nós apenas um
mapa verde e cinzento, eu sentia um avassalador sentimento de gratidão por
uma fuga que pareceria impossível.
392
Quanto tempo levaria para Voldemort saber que tínhamos arrombado o cofre
da família Lestrange? Quando os duendes de Gringotes avisariam Bellatrix?
Quando avisariam que fui eu?! Com que rapidez perceberiam o que foi
roubado? E quando dessem por falta da taça? Voldemort viria atrás de mais
alguém que eu amava?
Eu não fazia ideia de que horas eram. O céu já estava escuro e o dragão
continuava voando. Todo o meu corpo doía com o esforço que eu estava
fazendo para segurar no animal. Até que por um milagre, o dragão começou
a descer gradualmente.
"Vamos ter que saltar na água!" Eu gritei, a voz contra o vento. Os três
assentiram e quando estávamos à uma altura boa o suficiente para não
morrermos com a queda, eu gritei. "AGORA!"
"Não quero voar nunca mais." Eu disse, com a voz trêmula. "Nunca mais
vou subir em uma vassoura."
"Você está brincando?!" Sirius disse. "Temos que aparatar todos juntos!"
"Sirius tem razão, Prongs," Falei. "Não estamos fortes nem para apatarmos
sozinhos, quem dirá levando o resto."
393
frente da casa de Pandora foi como um alívio por sabermos que não
precisaríamos mais aparatar para lugar nenhum.
Ela abriu a porta de uma vez, os olhos assustados quando nos viu deitados
no chão. "Meu Deus, o que foi que aconteceu?! Vocês.... vocês estão com a
pele toda machucada!" Pandora foi até nós e nos ajudou a levantar, nos
levando para dentro de casa. Eu e James nos jogamos em seu sofá, os olhos
pesados e cansados. Sirius se jogou em uma das poltronas e Remus na outra.
Pandora veio até cada um nós com sua varinha e essência de ditamno nas
mãos, para curar os machucados. "Me contem tudo. Agora."
Eu respirei fundo. "Mas o lado bom..." Retirei a taça de dentro das vestes.
"Conseguimos."
394
Capítulo 31: Cicatrizes
É claro que eu sabia que era perigoso. Acabar de roubar uma horcruxe de um
lugar tão vigiado como Gringotes era como pedir para Voldemort e os
comensais da morte intensificarem sua busca por mim. Moody havia me
dado instruções muito precisas de que os únicos lugares em que eu deveria
estar era ou na casa de Sirius, ou na de James ou na de Pandora. E mesmo
assim, ele preferia que eu me mantivesse em casa, porque nenhum outro
lugar era seguro.
Então, é claro que eu sabia que era perigoso ir até a casa de Mary apenas
algumas horas depois de toda aquela confusão. Eles já haviam tentando
atacá-la duas vezes e por muito pouco não a mataram na última. Tudo isso
porque ela se recusou a dizer onde eu estava.
Mas, honestamente, o que não era perigoso no meu amor por Mary? O que
não era perigoso em ser um puro sangue procurado por comensais da morte
apaixonado por uma nascida trouxa que é um imã de perigo? O que, na minha
vida, não tem sido perigoso nos últimos dezenove anos?
Eu estava pronto para abrir todo o meu coração para ela. Estava pronto para
deixar vir à tona tudo que mantive trancado dentro de mim por toda a minha
vida. Para ela me amar como disse que amava, ela teria que conhecer todos
os meus lados. Só assim eu teria certeza. Só assim eu poderia confiar que ela
realmente não me deixaria. Eu precisava mostrar todos os demônios para ter
certeza de que, apesar deles, ela ainda via luz.
"Meu Deus, o que... o que aconteceu com você, Reg?!" Ela me puxou para
dentro do quarto, a voz carregada de preocupação enquanto examinava a
vermelhidão nos meus braços.
"Não foi nada demais, na verdade... Pandora disse que não é sério,"
Tranquilizei-a. "Vai curar rápido."
395
"Eu fui à Gringotes hoje," Expliquei, enquanto ela me levava para sentar na
sua cama. "A taça estava no cofre de Bellatrix, mas... mas não poderia ser
tão fácil assim pegar, não é?" Sorri fracamente, mas Mary continuou séria.
"Eu..." Hesistei um pouco. "Eu quero que você me escute, só... apenas me
escute."
"Eu tinha onze anos..." Engoli em seco. "Eu tinha onze anos quando o meu
pai me machucou pela primeira vez."
"Só, por favor, me deixe continuar." Interrompi, ainda sem olhá-la nos olhos.
"Não foi uma maldição, não ainda. Eu havia pegado um galeão do bolso das
vestes dele sem ele ver porque queria comprar um... um doce, eu acho, não
me lembro direito. Era uma loja que ficava perto de casa e mamãe nunca
deixava eu ou Sirius comermos açúcar porque ela dizia que nenhum Black
deveria ser gordo. Ele ficou furioso e apagou um dos seus cigarros no meu
braço."
Me permiti olhar rapidamente para Mary e eu podia ver que ela estava
desesperada para dizer algo. Ela levou sua mão à boca, completamente
horrorizada, eu já conseguia ver os olhos dela molhados e eu ainda nem havia
396
chegado na pior parte. Desviei o olhar do dela mais uma vez e, esfregando
minhas mãos, comecei a andar pelo quarto.
"Uma vez," Comecei de novo. "Mamãe ficou muito brava comigo, brava de
verdade. Eu tinha doze e Sirius treze. Ela me deixou sem comer por quase
vinte quatro horas, trancado dentro do meu quarto. Então, Sirius tentou me
dar um pouco do jantar escondido quando meus pais haviam ido dormir, mas
eles não... bom, eles não haviam realmente ido dormir." Fiz uma pausa.
"Quando nossa mãe viu, ela arrastou Sirius pela orelha para o quarto dele e
se trancou com ele lá dentro. Ele gritou por um tempo e depois apenas...
parou de gritar. Ele nunca me disse o que aconteceu lá dentro, ele nunca
conseguiu me dizer. Mas acho que no fundo, eu sabia."
"E Pandora?"
"Por isso você não confia neles." Mary afirmou. "Por isso você nunca
informa Dumbledore quando acha alguma coisa."
397
"Sim." Assenti. "Por isso sempre tento fazer tudo sozinho. Porque aprendi
que não posso confiar em ninguém mais do que em mim mesmo."
"Não, e-eu preciso..." Insisti, a voz um pouco trêmula. "Preciso que você
saiba de tudo."
"Não tem nada que você me conte que mude o que eu sinto por você." Ela
assentiu, ainda com o olhar preocupado. "Pode dizer."
"Quando Sirius saiu de casa," Voltei a dizer. "Minha mãe quis esquecer
totalmente da existência dele. Ela dizia para todo mundo que eu era filho
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único e que eu seria o maior orgulho da casa dos Blacks. Então, ela dedicou
todo o tempo possível para me transformar no herdeiro perfeito. Ela cortou
o meu cabelo, mudou todo o meu guarda roupa, me obrigou a passar mais
tempo com Bellatrix, cuidou da minha alimentação..."
"Lembra o que eu te disse sobre ela nunca deixar eu comer açúcar porque
queria que eu continuasse com o corpo perfeito?" Ela assentiu. "Quando eu
virei o herdeiro, isso piorou muito. Principalmente se eu sentisse aquela coisa
no meu peito que sinto às vezes. A falta de ar, a sensação que as paredes
estão diminuindo..."
"É, acho que... acho que Carter falou algo sobre isso," Falei. "Ele me ajudou
muito a entender essas coisas porque ele estuda sobre isso em Nova York.
Tem coisas que eu nem sabia que havia um nome, você acredita?"
Mary sorriu. "Fico feliz que vocês tenham virado amigos, mas ainda preferia
que não tivessem se pegado."
Isso me fez sorrir um pouco, mas meu sorriso se desfez quando voltei à
história. "Um dia, ela me disse que eu deveria apenas dar um jeito nisso
sozinho e que se eu quisesse comer, eu deveria apenas..." Fiz uma pausa.
"Deveria apenas enfiar um dedo na garganta e resolver isso do jeito fácil."
Mary levou uma das mãos a boca e uma lágrima escorreu do seu olho. "Reg,
você...?"
"Eu fiz." Admiti, rapidamente. "Eu fiz e me arrependo muito disso. Eu tinha
quinze anos e era um idiota. Eu achava que ser um herdeiro perfeito para os
meus pais e conseguir ser um comensal da morte ia ser o ponto máximo da
minha vida. Eu passei a achar isso depois que Sirius foi embora. Quando a
pessoa que eu mais admirava me deixou, eu comecei a achar que nada do
que eu acreditava ser o certo estava realmente certo. Então, sim, houve um
tempo em que eu realmente quis a marca."
"Eu já imaginava isso." Mary disse, quase num sussurro. "Lembro de você
em Hogwarts... Com Snape, Barty, Mulciber... Perdi as contas de quantas
vezes eles me chamaram de sangue-ruim nos corredores."
399
"Eu me lembro." Disse, e Mary me encarou. "Me lembro de cada uma das
coisas ruins que eles fizeram na minha frente e eu não fiz nada. Me lembro
de você, de Lily... o que falavam de vocês pelas costas... Eu mesmo já falei
muitas daquelas coisas."
"Eu sei que não é o que você realmente pensa." Mary disse, seriamente.
"Mas não muda o fato de eu ter dito." Respondi. "De qualquer forma, quando
eu fiz dezesseis anos, um pouco antes de eu receber a marca... Eu tentei
escrever à Sirius, tentei dizer que precisava de ajuda para sair de lá."
"Você tentou?!" Mary arregalou os olhos. "Mas nós achávamos que você o
odiava."
"É o que nossos pais queriam que ele pensasse." Respondi, dando de ombros.
"Mas minha mãe conseguiu interceptar a carta e ela nunca chegou à Sirius.
Aquela noite foi a primeira vez que eles me torturaram de verdade."
"Houveram muitas vezes?" Mary disse, pondo uma mão no meu ombro, a
testa franzida de preocupação.
"Mas quando você recebeu a marca..." Mary perguntou. "Eles não te deixara
em paz? Quero dizer, você já havia feito o máximo que podia..."
"E não gosto." Balancei a cabeça. "Mas preciso que você saiba. Apesar de
que Pandora deve ter contado a maior parte." Mary apenas assentiu. "Não
era amor. Nem da minha parte, muito menos da dele. Mas na época, eu não
tinha ninguém. E me agarrava ao que eu tinha com ele com toda a minha
força. Então, não foi fácil aceitar que mais uma pessoa que eu gostava fez
isso comigo."
400
"Barty e Sirius são completamente diferentes, Reg."
"Eu sei disso hoje." Disse, encarando-a. "Mas na época, não sabia. E quando
ele... quando ele me encontrou no Três Vassouras, eu quis que ele me
matasse. Eu quis que ele me matasse porque preferia isso do que ele
conseguir me ter daquela maneira de novo. Eu preferia que ele me matasse
do que encostasse aquelas mãos nojentas em mim outra vez."
"Não foi sua culpa." Mary me encarou, seriamente. "Você sempre foi bom
demais para ele, Reg. Você é mais do que o que ele fez com você."
"Depois que fiz a marca, eu tive que ir a esses..." Fiz uma pausa, enxugando
rapidamente uma lágrima da bochecha. "A esses ataques."
"Eu já torturei pessoas, Mary." Disse, sem conseguir olhá-la nos olhos. "Era
elas ou eu. Nunca matei ninguém, mas já ajudei a sequestrar, a torturar... Já
invadi casas, bares, ruas... Já explodi vilas e lugares que pessoas inocentes
moravam..." Eu estava chorando agora, o nó na minha garganta maior do que
nunca. "Eu nunca disse isso à Sirius, mas eu sei que ele imagina. Eu nunca
gostei de fazer isso, eu juro. Mas a única vez que eu me neguei a fazer... a
minha mãe fez isso."
Subi uma das minhas pernas na cama e enrolei a barra da calça até o joelho,
mostrando toda a minha panturrilha. A parte de trás cheias de cicatrizes finas
e brancas horizontais. Todas perfeitamente uma embaixo da outra. Como se
tivessem feito com uma régua.
"É." Falei, abaixando a calça rapidamente. "Imagino que Sirius tem algumas
também..." Puxei a minha varinha de dentro do coturno que Andy havia me
dado de presente que eu estava calçando e a passei por cima do meu braço
401
esquerdo, revelando uma marca escura e circular, do tamanho de uma
bolinha de gude, bem em cima da minha mão. "Foi aqui que meu pai fez a
coisa do cigarro."
Mary pegou minha mão suavemente, passando o polegar por cima do círculo.
"Achei que não desse para cobrir cicatrizes com magia."
"Odeio que você tenha tido que passar por esse tipo de coisa." Ela disse.
"Ninguém deveria passar por isso."
"Por isso, não foi fácil dizer à você como... como eu me sentia de verdade.
Porque sempre que eu demonstrava isso à alguém, essa pessoa me mostrava
que eu estava errado. E eu não cresci sendo ensinado a confiar nas pessoas,
não cresci sendo ensinado a valorizar meus sentimentos. Estou dizendo tudo
isso à você porque quero que você tenha certeza se realmente me ama,
mesmo sabendo de tudo isso que acabei de contar sobre mim."
Mary virou o meu braço lentamente, expondo a marca negra apagada no meu
pulso e uma cicatriz pequena na pele, por cima da marca. Ela franziu a testa.
"Também nunca vi isso."
"Tentei tirar essa coisa uma vez." Expliquei. "Tudo que consegui foi muito,
muito sangue e uma bronca de Pandora porque isso poderia ter me matado."
Virei o rosto para o outro lado, envergonhado comigo mesmo. Tentei puxar
o meu braço, mas Mary o segurou e virou o meu queixo com uma das mãos.
Ela usou o polegar para enxugar uma lágrima no meu rosto. E levou,
lentamente, a minha mão à sua boca. Beijando suavemente a parte de cima
da minha mão com a cicatriz do cigarro. O rosto dela estava molhado, o que
molhou minha pele também. Ela levantou o rosto para mim e me olhou nos
olhos.
"Não precisa se envergonhar das suas cicatrizes, Reg. Elas são minhas
também agora."
Foi quando percebi. Foi quando finalmente percebi. Era ela. Sempre foi ela.
402
Segurei o rosto dela com uma das minhas mãos e sorri fracamente. "Como
eu posso merecer você?" Ela sorriu, levando uma mão para segurar a minha
que estava sob o seu rosto, encostei a testa na dela, nossos olhos fechados,
sentindo a respiração um do outro. "Me apaixonar por você foi tão fácil,
Mary... foi como cair de um penhasco, não precisei de esforço nenhum.
Tentar não amar você foi o oposto, foi como tentar subir de volta apenas com
as mãos, usando toda a força do mundo."
"Disse que tentar não amar você foi a coisa mais difícil que já tive que fazer.
E eu já fiz muitas coisas muito difíceis, para ser sincero." Falei, sorrindo.
Mary me olhava ainda com os olhos brilhando e as pálpebras tremendo.
Levei minha outra mão ao rosto dela, segurando-a agora com as duas. "Eu
amo você. Eu amei você desde que dançamos juntos e amei você em todas
as outras vezes que me fez dançar. Amei você quando você teve coragem de
me dizer o que sentia, mesmo que não tivesse certeza que eu diria de volta.
Amei você quando percebi que você estaria disposta a fazer a burrice de
morrer no meu lugar apenas para não me encontrarem. Amei você todas
essas vezes e amo você mais do que nunca agora."
Mary me deu um sorriso enorme e eu não pude evitar sorrir também. "Não é
burrice, seu idiota. Você até que vale o risco, às vezes."
Encostei meus lábios nos dela rapidamente, deixando claro a vontade que eu
estava todo esse tempo de tê-la nos meus braços outra vez. O beijo ficou
mais forte e feroz com o tempo, até eu dar um beijo no pescoço dela, fazendo
ela estremecer nos meus braços. Abaixei uma das alças do seu vestido e dei
um beijo no seu ombro nu. Ela desceu a mão do meu pescoço até o meu cinto
e me deu um sorriso malicioso.
"Você não vai fugir de mim nunca mais." Ela disse, voltando a me beijar e
abrindo a fivela do meu cinto.
Passei a noite no quarto de Mary. Eu estava tão cansado que apenas caí no
sono quando terminamos. Mary enrolou a perna por cima de mim e eu a
abracei enquanto dormíamos. Poderia ficar assim o resto da minha vida. Não
precisava de mais nada além dela.
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Quando o dia começou a clarear na janela do quarto dela, eu acordei antes.
Ela estava lá, dormindo como um anjo feito apenas para mim. Dei um beijo
no topo da sua cabeça e ela se mexeu, ainda sonolenta.
"O quê?!" Meus olhos se arregalaram também. "Achei que eles não
estivessem aqui!" Me levantei rápido, procurando a minha calça. "Merlin,
preciso ir para casa!"
"Não." Mary disse, seriamente. Segurando o meu pulso. "Não quero que
você vá embora."
"Eles precisam aceitar você alguma hora." Ela disse, ainda me segurando.
"Mas, sabe, é melhor se vestir. Você não vai querer falar com eles de cueca,
eu suponho."
"Rá, rá! Muito engraçado!" Fiz uma cara feia, afivelando meu cinto. "Seu
pai me odeia e provavelmente vai me matar quando me ver."
"Meu pai não odeia ninguém." Ela sorriu. "Ele só precisa ver o quanto você
gosta de mim."
Mary deu alguns minutos antes de sairmos do quarto para não suspeitarem
que eu havia passado a noite lá. Meu coração estava quase saindo do peito
enquanto descíamos as escadas. Mary virou para mim algumas vezes e
gesticulou um 'Está tudo bem' com a boca, mas eu ainda estava sentindo que
ia morrer quando chegasse lá em baixo.
"Mary!" A mãe dela exclamou, pondo a mesa do café. "Pensei que você ia
acordar mais cedo hoj-" Ela parou quando me viu, a boca abrindo algumas
vezes, os olhos arregalados.
404
"Rose, você sabe onde está o meu-" O pai de Mary apareceu distraído atrás
de nós e parou quando me viu, as sobrancelhas se franzindo de raiva. "O que
ele está fazendo aqui, Mary?!"
"Bom dia, senhor, eu... eu apenas vim ver como Mary está, já estou indo para
casa..." Disse, timidamente.
"Não!" Mary me barrou, se virando para os seus pais. "Pai, Regulus é meu
namorado."
"Não vou permitir que você namore um comensal da morte!" Ele vociferou.
"Não vou permitir isso nunca!"
"Pai!" Mary gritou. "Se não fosse por ele, eu nunca teria saído da mansão
Lestrange! Eu nunca teria voltado viva! Regulus se arriscou por mim! Vocês
devem um voto de confiança à ele!"
"Querido," A mãe de Mary pôs a mão nos ombros do marido. "Talvez nós
devêssemos... dar uma chance ao rapaz, você não acha? Sabe que nossa
família é contra julgamento."
O pai de Mary me analisou dos pés à cabeça, os olhos cerrados. Mary esperou
ansiosa por uma resposta. Até que ele ergueu os braços. "Tudo bem. Você
tem uma hora para me ganhar, garoto."
405
Mary deu pulinhos de alegria e jogou os braços ao redor do meu pescoço.
Todos nos sentamos na mesa do café, um pouco tímidos no início. Menos
Mary, que elogiava até como eu passava a geleia na torrada.
O pai dela estava na defensiva no início. Mas quando eu falei sobre minha
posição no time de quadribol da Sonserina, ele me deu mais espaço para
falar. Ele era louco por esportes e achava o quadribol impressionante. Eu
expliquei à ele tudo que ele tinha dúvidas sobre o jogo e não demorou muito
para ele finalmente sorrir para mim. Tudo correu tão bem que eles até
deixaram eu passar o resto do dia com Mary. O que foi ótimo porque eu não
queria desgrudar dela nunca mais.
"Acho que ele não vai se importar." Mary disse, abraçando a minha cintura.
"Hoje é noite de lua cheia, não é? Ele e James vão estar com Remus."
"Na verdade, apenas ele e Remus," Respondi. "James vai estar com Lily e
Harry para compensar o nervoso que ele fez ela passar quando fomos à
Gringotes."
Passei o resto do dia com Mary. Nós não saímos de casa, porque levando em
conta a situação, era muito perigoso. Mas passamos o dia juntos, roubando
comida da geladeira, assistindo filmes na caixa mágica trouxa que ela tinha
sala. Subimos para o quarto de três em três horas porque ela começava a
querer tirar a minha camisa no meio da sala e não acho que isso ajudaria o
pai dela a simpatizar mais comigo.
Ela sorriu e me puxou pela gola da camisa, me pondo de frente para ela. Ela
chegou para frente, ainda sentada na bancada, e me beijou ferozmente. Me
prendendo com as pernas enroladas na minha cintura e roçando em lugares
muito, muito sensíveis abaixo da minha cintura. Eu apertei uma das suas
coxas e subi a mão para a sua bunda, a empurrando para deixar ela mais
406
próxima de mim. Levei minha outra mão até o seu pescoço e ela gemeu baixo
quando o meu indicador passou por entre as pernas dela.
"Não queria que você tivesse que ir..." Ela disse, abraçada à mim, quando
me levou até a porta. "Queria que você ficasse."
"Já são quase nove da noite. Sirius e Remus já saíram. Não é seguro deixar
a casa sem ninguém." Falei, esfregando a ponta do meu nariz no dela. "Mas
eu volto."
"Você promete?"
"Claro que prometo." Respondi. "É como você disse. Não consigo fugir de
você outra vez."
Merlin, eu me sentia na escola outra vez. Tendo que estudar se não o diretor
me dava detenções. Pelo menos, profecias não eram um assunto chato. Eram
muito interessantes na verdade, apesar de eu não ter achado nada que
Dumbledore esteja procurando realmente. Ler tanto me deu sono, então eu
consegui finalmente dormir.
***
407
"Reg! Reg! Abra a porta!" Era a voz de Lily, batendo na porta do meu quarto.
"Reg, abra logo!"
"A lareira, obviamente!" Ela disse. "Vá se vestir, você precisa vir comigo até
St. Mungus."
Meus olhos acordaram na mesma hora. "Não... não, eu avisei sobre o ataque
que aconteceria... Andrômeda se escondeu com Narcissa..."
"Não, Reg, Draco e Narcissa estão bem," Ela balançou a cabeça. "Deve ter
sido porque vocês foram até Gringotes, ou... eu não sei, Reg, não sei!" Ela
parecia completamente exausta e perdida.
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Capítulo 32: Armadilha
Remus não tinha a mesma sorte porque era obrigado a sair de casa uma vez
por mês e ir para a floresta à noite toda. Ele sempre insistia em ir sozinho
porque, no momento em que estávamos, não era seguro James e Sirius irem
com ele como faziam em Hogwarts. A guerra havia mudado tudo.
Depois que Lily e eu aparatamos para o St. Mungus naquela manhã, James
já estava lá. Sentado na recepção, os cotovelos apoiados nos joelhos e o pé
direito batendo sem parar no chão. Eles haviam deixado Harry com os pais
de Lily antes de virem para cá. Mary e Pandora apareceram logo depois, as
duas vieram correndo até nós, ansiosas por qualquer informação que
tivéssemos.
"E Marlene?!" Mary perguntou, franzindo as sobrancelhas. "O que ela diz?!"
"Ela está monitorando os dois, mas..." Engoli em seco. "Mas não faz ideia
de quando eles vão acordar."
"Moody pode ir para o inferno." Resmunguei. "A primeira coisa que meu
irmão vai fazer quando abrir os olhos não é ser colocado contra a parede para
responder perguntas que provavelmente não mudarão em nada."
409
"Não seja difícil, Regulus." Pandora me repreendeu. "Foi um ataque. Ele está
apenas fazendo o trabalho dele."
"E o que Sirius ou Moony podem dizer que vai fazê-los magicamente achar
Greyback e prendê-lo em Azkaban?!" Vociferei, me levantando da cadeira
para encará-la nos olhos.
"Você está agindo como uma criança! Está sendo tão infantil quanto uma!"
Pandora respondeu, aumentando o tom da voz. "Sei que eles não ajudaram
você no passado, eu estava lá! Eu vi isso! Mas as coisas são completamente
diferentes agora!"
"Não estou sendo uma criança, Pandora!" Respondi, o tom de voz alto agora.
"Você está grávida, você mais do que ninguém deveria estar preocupada com
o fato deles não fazerem nada! Ou quer que sua filha cresça como eu?!"
"Não ouse meter minha filha nisso." Pandora me fuzilou com o olhar.
"Não ouse você dizer o que meu irmão deve ou não fazer quando acordar."
Fuzilei-a de volta.
"Regulus, pare de ser um idiota!" James gritou, nos assustando. "Cale a boca
e se sente!"
"Foi uma reação. Porque roubamos a taça." Sussurrei para ela. "Ele está
tentando pegá-los porque não está conseguindo me encontrar. Ele quer que
eu me entregue."
"Sei disso." Assenti, ainda sussurrando. "Mas as coisas vão piorar agora. Ele
vai atingir qualquer um que for importante para mim e eu não vou ficar
parado. Isso pode acabar em uma guerra real, varinha contra varinha,
comensais contra nós."
"Então, que assim seja." Ela assumiu uma postura corajosa, quase furiosa.
"Nós vamos lutar."
410
Tudo o que sabíamos era que nenhum dos dois estava acordado. Sirius havia
batido forte com a cabeça e quebrado o braço esquerdo, mas nenhuma marca
de mordida no corpo, apenas alguns arranhões no braço. Marlene nos
assegurou que ela poderia cuidar disso rapidamente, assim que ele acordasse.
Ela vinha até nós o tempo todo dar notícias sobre os dois. A situação de
Remus era pior.
Ela suspirou, as testas franzindo, dando uma rápida olhada para ver se
ninguém iria ouvir. "Eles vão viver, Reg, se é isso que você quer saber..."
"Mas?!"
"Remus bateu a cabeça forte demais, sinceramente, não faço ideia de como
ele ainda está com o coração batendo, Reg." Ela me olhou seriamente. "Estou
com medo de que eu consiga consertá-lo por fora, mas não por dentro."
"Estou com medo dele acordar e não se lembrar de nada, Reg." Marlene
disse. "Se isso acontecer, ele terá que ficar aqui em St. Mungus por muito,
muito tempo."
"Talvez não tudo," Marlene respondeu. "Mas algumas coisas, sim. Não é
bom preocupar todos com isso, porque não sabemos se isso vai realmente
acontecer. Tenho quase certeza de que ele não vai se lembrar de quase nada
sobre o ataque. Essa é a melhor das hipóteses."
"E a pior?"
411
Marlene fez uma pausa, olhando mais uma vez se ninguém estava ouvindo.
"Na pior, ele não se lembra de nenhum de nós."
Eu estava aliviado que Sirius estava fora de perigo, mesmo sem entender
como o bastardo teve tanta sorte. Mas eu estaria mentindo se dissesse que
não estava preocupado com Remus. Eu não conseguia imaginar o horror que
seria se ele não se lembrasse de nada. Sirius não aguentaria a ideia de Lupin
não se lembrar que o amava. Ele simplesmente desmoronaria. James e Lily
não seriam diferentes. Seria quase como perdê-lo, mas ainda um pouco
melhor. Porém, ainda devastador.
Todos nós ficamos o dia inteiro no hospital. Pandora não me olhou nos olhos
nenhuma vez, mas eu poderia resolver isso depois. James continuava nervoso
e sem falar com ninguém. Lily também estava nervosa, mas tentava distrair
James às vezes. Mary não saía do meu lado. Fiquei me perguntando como
eles reagiriam se escutassem o que Marlene me disse. Se já estavam assim
sem saber, a suspeita de que a situação de Remus fosse pior do que
pensávamos pioraria tudo.
Já eram sete da noite quando Pandora voltou para casa porque Phil precisava
dela, depois de pedir para Lily avisá-la de qualquer coisa, e eu aparatei com
Mary até a casa dela, para garantir que ela chegasse em segurança.
"Não saia esta noite." Alertei, deixando-a na porta de casa. "O ataque foi
ontem e... bom, não quero que nada aconteça com você."
"Não se preocupe, vou ficar bem." Ela sorriu fracamente. "Você deveria se
desculpar com Pandora."
Revirei os olhos. "Não falei nada demais, ela é quem está sensível por causa
do bebê."
"Claro que estou." Ela sorriu, presunçosamente. "Me avise se algum deles
dois acordar, tudo bem?"
412
"Sim. Claro." Acenei com a cabeça, soltando a mão dela para deixá-la entrar.
"Eu te amo."
Ela virou a cabeça quando me ouviu, sorrindo. "Eu também amo você."
Depois que aparatei de volta para o hospital, não demorou muito tempo para
Marlene aparecer de novo na sala de espera do hospital. Os olhos fundos e
cansados, a roupa já amassada pelo dia longo de trabalho. Mas ainda sim, ela
conseguiu sorrir.
Sirius e Remus estavam em salas separadas. O que era bom, eu acho. Porque
nós não conseguiríamos ver Remus tão imóvel e machucado e nem Sirius
conseguiria. O quarto era bem iluminado, tudo era branco e cheirava à álcool
e plástico de luvas de médicos. Sirius estava deitado, meio sentado, com o
braço esquerdo enrolado com uma atadura branca e alguns curativos no outro
braço e no pescoço. Nada do rosto. Ainda bem, Sirius ama o próprio rosto.
413
"Ei, Prongs!" Sirius disse, a voz um pouco rouca. "Droga, cara, você poderia
ter trazido algo da Zonko's para mim ou algo assim, não é? A comida daqui
é uma merda."
Sirius deu de ombros sorrindo, até que seu olhar parou no pé da cama, onde
eu estava. "Reg!"
Sirius gargalhou. "Cuidado aí, pirralho, ou vai quebrar meu outro braço!"
"E como está a cabeça, Padfoot?" James franziu um pouco a testa. "Marlene
disse que você realmente acertou ela com tudo."
Sirius levou a mão para sentir a parte de trás da sua cabeça. "Bom, acho que
ela resolveu isso. Estou sentindo apenas uma cicatriz agora."
"Isso é bom." Lily assentiu. "Quer dizer que você vai poder voltar logo para
casa."
"Diga isso para a moto que eu estou planejando comprar, Reg!" Sirius sorriu
travessamente.
"Sim!" Sirius sorriu outra vez. Mas seu sorriso falhou e uma faixa de terror
passou pelos seus olhos. "Esperem um pouco, onde Moony está?! Nós
estávamos... estávamos na floresta juntos e..."
Coloquei uma mão no ombro de Sirius quando ele começou a ficar agitado.
"Não é bom você se mexer muito, Six."
414
"Vou avisar Mary e Pandora que ele acordou. E Moody também." Lily
sussurrou para James, eu a encarei fazendo uma cara feia. "Contem à ele."
Depois que Lily saiu, Sirius corria olhos entre mim e James, cheios de pavor.
"Regulus. Prongs. Onde Moony está?!"
"Ele está aqui também, Padfoot." James se apressou. "Está em outro quarto."
Eu engoli em seco, pensando que eu sabia mais do que James, mas não podia
dizer. "Sirius, precisamos que você nos conte exatamente o que se lembra
que aconteceu na floresta." Disse, me sentando na beira da cama. "Remus
teve machucados mais sérios do que você, ele ainda não acordou."
"Não, Pads," James assumiu uma voz triste. "Não foi sua culpa, você não
podia fazer muita coisa."
"Quando começou a dar errado?" James perguntou, tão atento quanto eu.
415
"Uma armadilha." Sirius assentiu. "Quando nós chegamos lá, haviam quatro
lobos. Mais ou menos, do mesmo tamanho de Remus."
"Eles estavam atrás de você porque você é meu irmão." Disse, seriamente.
"Tudo, tudo faz sentido."
"Era para eu estar machucado, não Moony." Sirius entristeceu, a voz trêmula.
"Não diga isso, Pads," James franziu as sobrancelhas. "Remus protegeu você
porque ele te ama. Ele sabe que você faria o mesmo por ele."
416
"Não se preocupe, Reg," James disse. "Nós vamos encontrar, como
encontramos todas as outras."
"Não, eu... eu passei o dia ontem com Mary, voltei para casa apenas a noite,"
Respondi. "Acordei com Lily batendo na porta do meu quarto feito louca."
"Não destrua." Sirius disse, raivosamente. "Eu vou destruir aquela coisa. Foi
o meu Moony quem saiu machucado disso."
"Moony vai ficar bem, Padfoot," James disse, amigavelmente. "Ele sempre
fica , você sabe."
"Sim, claro! Vou ver se Lily conseguiu falar com Moody." James disse, se
levantando e indo até a porta.
"Tudo bem, conheço você," Sirius estreitou os olhos. "Me diga, o que você
sabe que James não pode ouvir?"
"Sinceramente, não era nem para você saber disso," Respondi. "Marlene me
disse que não era bom preocupar todo mundo.
"Ela acha que ele provavelmente não vai lembrar do ataque," Respondi,
devagar. "Mas, no pior dos casos, ele pode não se lembrar de nada."
"Não." Sirius disse, firmemente. "Não mesmo. Nada disso. Isso não vai
acontecer. Remus vai ficar bem, Regulus. Ele tem que ficar."
417
"Sim, eu também acredito nisso, Six... Eu apenas achei que você deveria
saber."
"Hm?"
"Não acho que você pode fazer muitas coisas deitado nessa cama, Six." Sorri
fracamente, ele também sorriu, um pouco triste.
"Não, eu... eu posso fazer isso daqui." Ele disse, enxugando uma lágrima na
bochecha. "Não sei direito como fazer isso, é mais uma coisa trouxa que Lily
uma vez nos ensinou... mas é a única coisa que eu posso fazer por ele agora."
Sirius pegou a minha mão e me encarou com os olhos suplicantes. "Por favor,
Reg. Por ele."
Dei uma última olhada para Sirius, que já estava de olhos fechados a algum
tempo. E então nós dois fizemos algo que não fazíamos havia muitos anos.
***
418
feito isso assim que completou dezessete e não agora com vinte. O ministério
não sairia da cola dele e talvez até desconfiassem dele por causa disso.
Mas nós tínhamos mais um mês inteiro até a próxima lua. Ela cairia apenas
alguns dias antes do Natal. Íamos pensar em alguma coisa até lá.
"Veja só, mais uma para a minha adorável coleção!" Ele exclamou, na noite
em que acordou na cama do hospital, segurando um espelho pequeno em
frente o seu rosto. "Acho que ainda estou bonito, não é, Pads?"
"Saia da aí, Sirius!" Lily bateu no braço bom dele, indo abraçar Remus. "Me
deixe abraçá-lo!"
"Nunca mais deixo vocês irem sozinhos em uma lua cheia!" James
exclamou, aliviado. "Não vou mais passar nenhuma lua cheia longe dos
dois!"
"Que bom que você não é um animago, não é, Reg?" James pôs a mão ao
redor dos meus ombros.
419
Revirei os olhos. "Tá! Tudo bem!"
"Isso se eu passar mais alguma lua com vocês, não é?" Remus disse. "Se eu
for para uma cela no ministério, vou ter que ir sozinho."
"Não vou deixar você sozinho, Moony." Sirius segurou o rosto de Remus
entre as mãos.
Remus precisou ficar o resto da semana em St. Mungus para ter certeza de
que estava tudo bem com a cabeça dele. Os médicos fizeram inúmeros
exames, mas no fim, nós conseguimos levar ele para casa com as instruções
de Marlene de não o deixar fazer nenhum esforço físico pelo menos até o
Natal, que seria daqui alguns dias.
Andy e Cissy foram visitá-lo com Draco várias vezes em casa. Eu perguntei
à Cissy se Lucius havia tentado entrar em contato com ela, mas ela apenas
balançou a cabeça negativamente. Talvez fosse melhor assim.
Algumas tardes, James e Lily traziam Harry para ver Remus e acabavam
encontrando Andy e Cissy também. Remus adorava colocar Harry e Draco
em cima da cama e ficar conversando com os dois, mesmo que eles ainda
não entendam nada. Alice e Frank também vieram algumas vezes, o que foi
muito bom porque eu nunca tive a chance de conhecer os Longbottom de
verdade. E eles eram incríveis.
Mary vinha todos os dias. Ela sempre conseguia fazer Remus sorrir e sair do
mau humor quando ele estava frustrado por não poder fazer muita coisa. Ela
passava mais tempo com ele no quarto conversando sobre livros e filmes do
que passava até mesmo comigo quando vinha para cá. Mas tudo bem. Porque
todos fazíamos qualquer coisa por Moony.
Uma tarde, quando o braço de Sirius já havia voltado ao normal, ele pegou a
taça da Lufa-Lufa de onde ela estava e pegou a presa do basilisco na outra
mão. Quando ele passou por mim na sala, eu dei um salto.
E então aparatou. Eu nunca havia visto Sirius tão preocupado como ele ficou
durante o dia que Remus passou desacordado. E também nunca havia o visto
420
tão vingativo quanto quando Remus já estava se recuperando e Sirius estava
decidido a vingar o homem que ele amava. Sirius devia ter destruído aquela
maldita taça com tanta força que a presa com certeza atravessou para o outro
lado.
Quando ele voltou, foi direto para o seu quarto e não disse mais nada.
"Reg!
Lily me contou sobre Remus e Sirius, eu espero realmente que já esteja tudo
bem quando esta carta chegar até você! Me dê notícias.
Desculpe não ter me despedido, eu achei que ficaria até o Natal, mas, bom,
talvez eu tenha passado um pouco dos limites em casa quando fiz Oliver usar
uma camiseta rosa escrita 'Jesus é gay'. Meu pai quase teve um ataque
cardíaco, mas meu irmão sorriu muito.
Mas, ei! Boa notícia! Agora tenho um telefone fixo em casa. Sabe aquela
coisa que lhe expliquei que faz os trouxas se comunicarem? Pois é! É um
máximo!
Como estão as coisas? Me diga que resolveu suas questões inacabadas com
Mary ou vou chutar o seu saco! Não me pergunte como vou fazer isso de
Nova York, apenas saiba que vou.
Meu número vai estar no verso da carta. Se você precisar de mim para
qualquer coisa, você pode apenas ir naquela cabine telefônica no fim da rua
e discar o número que eu estarei do outro lado. Não é incrível?!
Espero de verdade que você esteja bem, e se não estiver, não hesite em me
ligar.
Seu,
421
Carter Wood."
Fiquei muito feliz quando recebi a carta de Carter. Com todo o estresse das
pesquisas que Dumbledore me pediu para fazer e eu não conseguindo parar
de pensar na próxima horcrux, foi bom receber uma carta de alguém que
estava longe de toda essa confusão. Anotei o número dele rapidamente em
um bloco de notas perto do armário para me lembrar de ligar depois.
Foi em uma tarde muito fria que Dumbledore entrou pela lareira de casa,
depois de ter mandado uma carta avisando que vinha. Ele estava como
sempre, as vestes compridas e aveludadas, a barba longa e branca, o chapéu
pontudo e os óculos meia lua. Eu nunca deixaria de me sentir um garoto de
onze anos perto dele.
"Ele está no quarto, senhor," Respondi, trazendo as xícaras. "Ele estará bom
no Natal, eu acho. Sirius não está, ele foi à uma missão da Ordem com
Alice."
"Foi um acontecimento muito infeliz, devo dizer," Ele disse, dando um gole
na xícara. Eu poderia fazer uma lista de todas as coisas que ele me diz que
eu já sei. "Creio que Remus vá se registrar agora, não é?"
422
"É uma boa ideia." Dumbledore disse. "Você descobriu alguma coisa nos
livros que indiquei à você?"
"Bom, sim, com certeza," Concordei. "Mas se o senhor quer minha opinião,
depois de tudo que eu li naqueles livros... não acho que exista uma profecia
para o fim desta guerra. Eu simplesmente não consigo ver um fim para tudo
isso que não seja a destruição de todas as horcruxes."
"Não que ainda tenha me contado, mas eu diria que sim," Dumbledore disse,
me observando. "Vou lhe dizer a verdade, Regulus, acho que a destruição de
Voldemort virá com um preço muito caro. Se não for você quem vai destruí-
lo, então a suposta profecia pode se realizar e não sabemos no que ela vai
nos levar."
"Eu deveria avisar os outros, professor," Disse, num tom baixo. "Eles
precisam saber o que o senhor suspeita."
"Se a natureza desta profecia não for ruim ou talvez nem existir, não devemos
causar nenhum alarde, Regulus," Dumbledore disse. "Devemos tratar desse
assunto sigilosamente."
423
"Esta não é uma guerra fria, Regulus." Dumbledore respondeu, me olhando
por cima dos óculos. "Sangue foi derramado e não duvido que ainda será. O
que você faria se o preço para o Lorde das Trevas ser derrotado fosse a vida
de algum de seus amigos? Ou a vida do seu irmão?"
Dumbledore pode ser muitas coisas, mas ele não era do tipo que blefava. Não
era do tipo que apenas dizia algo por dizer. Se alguém não soubesse ler as
entrelinhas do que ele diz, então nunca iria entendê-lo.
Sempre fui muito cético. Não tenho a mente aberta para coisas como
Adivinhação e profecias. Sinceramente, acho isso tudo muito incerto e
desnecessário. Mas e se realmente houver uma? Já houveram profecias que
se cumpriram no passado. E se ela tiver a ver alguém que conhecemos? E se
a guerra não acaba com as horcruxes e sim com a morte de algum de nós?
Não, não, não. Não posso deixar isso acontecer. Preciso acabar com todas as
horcruxes o mais rápido possível. Antes que qualquer profecia idiota se
cumpra. Como se já não tivesse que me preocupar com a localização, agora
tenho que me preocupar em correr contra o tempo. Se Dumbledore acha que
alguém vai ter que se sacrificar por esta guerra, não posso permitir isso.
"Reg?" Remus me viu pegando meu casaco, iquando foi até a cozinha pegar
um copo de água. "Onde você vai?!"
424
Assim que saí de casa, eu aparatei.
"O que você quer?" Pandora abriu a porta para mim, a voz orgulhosa, os
braços cruzados acima da barriga grande, provavelmente ainda ressentida
pelo o que aconteceu no hospital.
"Acho que existe uma profecia." Disse, sem rodeios. "Sobre como a guerra
termina." Eu sabia que Pandora entenderia, ela era a pessoa com a mente
mais aberta que eu conhecia. "É sobre isso a tarefa que Dumbledore me deu.
Eu estava pesquisando sobre profecias. Ele não queria que eu contasse para
ninguém sem antes saber se era real."
"E?!"
"Pandora, acho que alguém vai se machucar e não faço ideia de como
impedir porque também não faço ideia do que vai acontecer exatamente."
425
Capítulo 33: Natal 1980
A lua cheia caía exatamente três dias antes do dia vinte e quatro, o que não
estava melhorando o humor de ninguém porque, afinal, já era dia dezoito.
"Vocês vão ficar em casa, fora de perigo." Remus disse, sem tirar os olhos
de um livro, sentado em sua poltrona. "Sou eu que vou me transformar em
um monstro, não vocês."
"Ei!" Repreendi, levantando a xícara na minha mão. "Se você falar assim
comigo de novo, me acorrento junto com você quando acontecer."
Remus sorriu. "Eu não duvidaria. Você tem um chama para perigo."
"Hm?"
"Você nunca dorme sem camisa." Remus deu de ombros. "E agora está."
"Acho que acabei pegando no sono ontem enquanto lia e esqueci de pôr."
Bebi um gole do café. "E Sirius? Não acordou ainda?!"
"Ele acordou quando o dia não havia nem clareado," Respondeu Remus.
"Está trabalhando na moto."
426
Revirei os olhos, sorrindo. "Sirius é apaixonado por aquelas coisas com rodas
desde que éramos crianças. Nunca entendi realmente."
"Acho que ele também está usando como distração." Remus disse, olhando
para mim finalmente e fechando o seu livro. "Ele está um pouco distante
depois de... bom, do que aconteceu."
"Ele se culpa." Remus afirmou, com total certeza. "Por causa de toda aquela
coisa de 'era para ter sido eu' e tudo mais."
"Acho que ele também está preocupado com o que você vai fazer daqui a
alguns dias." Respondi, Remus abriu a boca para me contrariar, mas eu
levantei um dedo. "Hã, hã, você sabe que estou certo, Moony. Você precisa
decidir o que vai fazer. Sabe, se nós tivéssemos algum lugar aqui em casa
para você se transformar, eu seria o primeiro a me voluntariar para construí-
lo, mas infelizmente não temos."
"Sei disso, Reg," Remus suspirou. "Se é disso que Padfoot precisa para
relaxar, então acho que terei que visitar o ministério hoje, não é?" Ele sorriu,
mas de um jeito muito triste.
"Sirius e Prongs vão dar um jeito de ir com você, eu tenho certeza," Tentei
animá-lo. "Eu mesmo iria, mas não sou um animago e, bom, eu não estou
mais muito disposto a morrer."
"Se eu me registrar," Remus hesitou. "Todos vão saber. Tipo, todo mundo
mesmo. Antigos professores, alunos que estudavam em Hogwarts comigo e
achavam que eu era normal. E acho que me acostumei com a minha zona de
conforto em que só os meus amigos sabem... não sei se você entende."
427
"Sim." Remus sorriu. "Você achou que eu ia matar você."
"Sim, achei." Confirmei, seriamente. "Mas você me disse naquele dia que
Sirius e Prongs ajudaram você a aceitar quem você era, lembra? Que você
não sentia mais que tinha que fugir porque aprendeu a enfrentar o lobo e...
bom, a escuridão."
"Sim, acho que me lembro disso..." Remus disse, quase num sussurro.
"Sabe, você me ajudou muito dizendo aquilo. Então, meio que é o que eu
estou dizendo agora. Vá lá e enfrente, porque você ainda tem Sirius e James
com você." Disse. "E, bom, posso não me transformar em um animal com
chifres ou com patas, mas... sabe, eu sou seu amigo também."
"Vou levar isso como um elogio." Sorri de volta, voltando à cozinha. "Sirius
contou à você sobre o único deles que hesitou na hora que atacaram vocês?!
Achei muito estranho, os lobos não costumam desobedecer Greyback, pelo
que eu me lembro."
"Não achei nada estranho." Remus disse, seriamente. "Eu disse à você que
nem todos eles estão realmente sendo leais à ele. O problema é que só eu
pareço acreditar nisso."
"Ei, Reg... você sabe onde está o meu- Ah, meu Deus! Remus!"
"Feche seus olhos agora, seu bastardo!" Gritei, apontando um dedo para
Remus e indo rápido para a frente de Mary que estava vestida apenas com a
minha camisa de dormir e a calcinha. "Se você os abrir, você é um homem
morto!"
Remus estava cobrindo os dois olhos com as mãos. "Regulus, seu idiota!"
428
"Vocês não fazem ideia de como preciso de um banho..." Sirius entrou pela
porta da frente em menos de um segundo. "Moony, você pode pôr café p-
MARY?!"
"Você! Mãos nos olhos! Agora!" Apontei para Sirius, que levou as mãos ao
rosto, sorrindo descontroladamente.
"Você me disse que eles provavelmente não teriam acordado ainda!" Mary
disse, furiosa.
Depois que Mary voltou para o quarto, Remus estava se segurando para não
rir, mas Sirius caiu na maior gargalhada do mundo.
"Deixe-me ver se entendi," Sirius sorria tanto que mal conseguia respirar.
"Mary estava com a sua camisa e só de calcinha e você está... Ei, você nunca
dorme sem camisa!"
"Sabe, Reg, você deveria avisar quando Mary vier dormir aqui," Sirius disse,
lavando as mãos sujas de graxa na pia. "Nós quatro podemos fazer alguma
coisa de casais!"
Quando Mary saiu do quarto, ela havia colocado um short de pijama que ela
havia trazido ontem. E se Sirius e Remus não tivessem aversão a qualquer
ser da espécie feminina, eu daria um short meu para ela usar nesta casa.
Porque, Deus, Mary era surreal vestida em qualquer coisa.
Ela se jogou no sofá ao lado de Remus, vendo a capa do livro dele. "O Sol É
Para Todos?!"
"Você já leu?!"
429
"Sim." Ela respondeu. "Me diga o que achar depois. Eu honestamente não
gostei do final, se você quer saber."
"Você quer café, Mary?" Sirius perguntou, pegando mais uma xícara do
armário. Mary assentiu e Sirius pôs o café para ela. "Com leite ou sem?"
"Com." Ela respondeu, se levantando para ir até Sirius. Ela deu uma
batidinha nos ombros dele e um selinho rápido em mim. "Vocês já comeram
bolo de laranja?! Minha mãe foi quem me ensinou, e é simplesmente
incrível! Vou fazer um para vocês agora mesmo!"
"Acho que você deveria se vestir, Reg," Sirius sorriu, tirando graça. "Agora
você é o único semi nu aqui!"
Sirius e Mary riram juntos enquanto ele pegava tudo que ela precisaria para
fazer o bolo e ela pegava a forma e a manteiga. Eles começaram a conversar
entre si sobre alguma coisa a ver com coturnos, marcas de maquiagem e
suéteres que estariam em promoção no Natal. Às vezes, quase me esqueço
de que Mary esteve na vida de Sirius antes de estar na minha. Eu mal sabia
o nome dela na escola. Mas eu sempre soube que os dois eram muito
próximos. E, de alguma forma, ver os dois assim me trazia uma onda de afeto
enorme.
Percebi que se o Natal fosse assim, com Remus sentado no sofá, prestes a
acender um cigarro e ainda não são nem nove da manhã, mas seguro e bem.
Com o meu irmão cozinhando com a garota que eu amo como se os dois
fossem tão irmãos quanto eu e ele. E apenas James, Lily e Harry trazendo
um peru, Marlene o vinho e Pandora a sobremesa, eu não poderia pedir mais
nada além disso.
Sirius deixou Mary fazendo o bolo na cozinha e foi tomar um banho. Ele
estava com as mãos, o pescoço e os braços sujos de graxa pelo tanto de tempo
que passava se dedicando naquela moto. Aparentemente, ele queria fazer
com que ela voasse. Porque é claro que Sirius não poderia ter apenas uma
moto normal, ele é Sirius.
"Já que Sirius está no banho, então acho que posso dizer," Mary disse,
espiando o corredor, enquanto colocava um pano de cozinha nos ombros.
"Remus, se você não pode se transformar nas florestas, por que não volta à
Casa dos Gritos? Quero dizer, é melhor do que uma cela fria do Ministério,
não é?"
430
Eu e Remus nos entreolhamos. "Não dá para desaparatar em Hogwarts,
Mary. O único jeito de chegar lá é de trem e não tenho tempo e nem dinheiro
para isso todo mês."
"Mas a Casa dos Gritos não fica em Hogwarts, certo? Você pode aparatar
para Hogsmead e ir de lá." Mary disse, se aproximando de Remus no sofá.
Remus pareceu pensar nisso. "Não sei... pode ser perigoso para os alunos..."
"Avisaríamos Dumbledore, é claro," Mary disse. "Ele vai ter que concordar."
"Ele vai." Confirmei, balançando a cabeça para os dois. "Deixe isso comigo."
***
No fim, não foi preciso usar nada sobre a profecia para convencer
Dumbledore à ajudar Remus. Ele pareceu muito satisfeito em receber Remus
outra vez nos arredores de Hogwarts, embora eu ache que ele apenas gostou
da ideia dele não se registrar porque seria mais fácil infiltrá-lo em alguma
outra missão futuramente. Ás vezes, Dumbledore nos olha como se fôssemos
projetos, não pessoas.
Então, quando o dia da lua cheia chegou, James e Sirius fizeram questão de
falar pessoalmente com Madame Pomfrey e pedir à ela para deixar com eles
dois tudo que Remus precisaria, caso se machucasse muito. Nós três
reunimos em uma bolsa grande e marrom remédios, ataduras e poções que
poderiam ajudar Remus a não se machucar se ele se sentisse preso em forma
de lobo dentro da casa depois de já ter se acostumado à floresta.
431
"Cale a boca, Moony." Nós três dissemos em uníssono e Remus apenas
desistiu.
Com a questão da lua cheia resolvida, Lily estava mais animada ainda pelo
Natal. Na noite em que fui até a casa dos Potter e fiquei com ela e Harry
porque James estava com Remus, ela me contou sobre tudo que tinha
planejado. E que como, apesar da guerra, ela queria fazer um Natal perfeito
porque seria o primeiro que James passaria sem os pais.
"Vou fazer a sobremesa que ele mais gosta!" Ela exclamou sorridente,
quando estávamos conversando no sofá, depois de Harry dormir. "Ele
merece depois de tudo o que passou no fim do ano passado."
"Ele matou um basilisco, Lily! É claro que ele merece uma sobremesa!" Eu
sorri de volta.
"E você?!" Lily disse, arqueando uma sobrancelha. "O que vai dar à Mary
de Natal?"
"Estou pensando em uma coisa..." Respondi, um pouco tímido. "Mas não sei
se ela vai gostar."
"Ah, tenho certeza que vai! Mary gosta de qualquer coisa que você faça."
Lily disse, com um sorriso. "Vamos, me conte!"
"Não se preocupe." Sorri. "Se eu der mesmo, você vai saber o que é."
"Ainda não faço ideia do que vou dar para James," Lily disse. "Tudo que ele
gosta parece ser relacionado à quadribol e eu não entendo nada de
quadribol!"
"Isso seria ótimo." Lily sorriu. "Ele quer virar treinador em Hogwarts, você
sabia?"
"O quê?!"
"Sim! Depois que toda a guerra acabar e tudo ficar bem... ele quer realmente
tentar." Ela disse, orgulhosa. "Bom, teremos muito tempo para pensar nisso."
432
"É. Tempo." Franzi os lábios na tentativa de um sorriso, mas a ideia de que
a profecia poderia significar a morte de algum deles não saía da minha
cabeça. Me obrigando a pensar que talvez James não tivesse tanto tempo, ou
qualquer um de nós.
"Ele está com Sirius e Prongs," Respondi, me virando para ela. "Tenho
certeza de que está bem. Talvez o lobo esteja até nostálgico."
"É, talvez," Lily sorriu fracamente. "Ele estava preocupado que Sirius
estivesse se culpando pelo ataque. Mas acho que agora que as coisas deram
relativamente certo, Sirius está encarando isso melhor."
"Sirius é muito intenso." Respondi. "Quando algo o atinge, atinge para valer.
Ele sempre foi assim. Eu perguntei à Remus se ele queria que eu conversasse
com ele, mas ele disse que Sirius precisava apenas de um tempo."
"Remus disse à você sobre o que ele acha sobre alguns dos lobos?" Perguntou
Lily, hesitante.
"Remus já sofreu tanto com algumas coisas, Reg," Lily entristeceu a voz.
"Apenas não quero que ele se decepcione com isso."
"Bom, na maior parte do tempo, Remus sempre está certo," Dei de ombros.
"Dessa vez pode ser igual, então."
"Espero que sim." Lily suspirou pesadamente. "Acho que vou tentar dorm-"
O choro de Harry interrompeu Lily antes mesmo que ela pudesse se levantar
para ir para a cama. Eu a olhei divertidamente e me pus a mão no braço dela.
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"Não se preocupe," Disse, me levantando. "Pode ir dormir no quarto de
hóspedes para não incomodar seu sono. Eu cuido de Harry."
Quando Lily foi se deitar, eu entrei no quarto de Harry. Merlin, bebês gritam
muito. Se Mary um dia quiser ter uma coisinha dessas, eu não chego aos
cinquenta com a audição intacta. Não que eu já pense em ter filhos com ela,
porque não tenho nem vinte anos ainda. Mas daqui a um tempo, acho que
seria legal.
"Shhh, ei," Peguei Harry nos braços, completamente enrolado nos lençóis
azuis, chorando alto. "Por que você está chorando, huh? Não tem motivo
para isso."
Comecei a balançá-lo e ele parou de chorar aos poucos, mas não fechava os
olhos de jeito nenhum. Ficava apenas me olhando com aqueles olhos grandes
e verdes e levantando um do bracinhos gorduchos para tentar tocar o meu
rosto.
"Por que você não dorme?" Perguntei, balançando uma de suas mãozinhas.
"Se eu tivesse o mesmo número de problemas que você, eu estaria dormindo
como um anjo, Harry."
"Você está rindo, é?" Sorri, levantando uma sobrancelha. "Que bom que
alguém consegue rir nisso tudo. E é bom que esse alguém seja você."
Harry fez outro som com a boca, ainda os olhos bem abertos para mim.
"É, cara, não é fácil," Disse, como se ele pudesse me entender. "Essa coisa
de salvar o mundo é do caralh- desculpe, Harry. É bem difícil. Se você tiver
que fazer isso um dia, não se preocupe, eu vou ensinar à você todos os
truques para lutar com bruxos do mal, ok?"
"Ah, não se anime! Se você realmente se meter com bruxos do mal, vou dar
um cascudo em você." Disse, levantando um dedo para ele, que ainda sorria
434
para mim. "Se bem que se você for teimoso como eu, não vou poder fazer
muita coisa. Mas prometo à você que vou ajudá-lo, certo?"
"Pode dormir, Harry..." Sussurrei, dando um beijo no topo da sua cabeça com
apenas alguns fios escuros de cabelo. "Eu cuido das coisas por aqui enquanto
você não cresce para me ajudar."
***
Lily havia chamado todas as pessoas mais queridas para a ceia de Natal. Os
Longbottom e os Weasley, é claro. Andy, Ted e Cissy, que trariam Draco e
Dora, que aparentemente já eram melhores amigos devido ao tanto de tempo
que passavam brincando juntos. Dumbledore e Moody, o que eu fui
totalmente contra porque Natal e guerra não deviam se misturar e os dois não
representam nada para mim que não seja isso, mas é apenas o que eu penso.
Tentei convencer Carter à vir para passar pelo menos uma noite, mas ele não
pareceu muito animado com a ideia.
435
"Estou muito ocupado com a faculdade aqui, Reg," Ele respondeu, com a
voz triste. "E combinei de passar o Natal com a família de um amigo daqui,
realmente não posso furar."
"Mais ou menos isso." Ele gargalhou do outro lado. "De qualquer forma, não
sei se eu me sentiria bem indo até aí e não poder ir ver os meus pais..."
"Apenas alguns gritos e algumas ofensas," Carter sorriu. "Bom, nada que já
não tenha acontecido antes, não é?"
"Bom, isso é uma pena," Respondi. "Realmente queria que você viesse."
"Não se preocupe, acho que não vou demorar a ir de novo." Carter disse.
"Mas até lá, mande Feliz Natal à Lily e aos outros por mim, ok?"
"Feliz Natal, Black." Ele respondeu e eu senti que ele estava sorrindo
também, e nós desligamos.
Lily ficou triste por Carter não poder ir, mas não demorou a se distrair
quando ela e Pandora começaram a distribuir tarefas para todos nós. Lily
passou uma lista de ingredientes para Sirius e Remus comprarem para ela
fazer a sobremesa da ceia. James saiu para comprar o peru. Marlene traria o
vinho, porque o gosto dela para isso era inegavelmente bom.
"Vocês dois!" Pandora apontou para mim e Mary. "Vão comprar os enfeites
de Natal. Há uma loja trouxa aqui perto. Tenho certeza que vocês vão
encontrar tudo lá."
436
Eu e Mary acabamos não indo em apenas uma loja. Mary se empolgou
totalmente com todos aqueles enfeites brilhantes e coloridos e eu amava ver
ela tão feliz.
"Reg, olhe esse aqui!" Ela me arrastou para dentro de uma loja, quando viu
uma estrela dourada e grande, cintilando brilho por ela toda. "É a estrela mais
linda que eu já vi!"
Após uma hora, Mary e eu nos enchemos de sacolas com bolas, grinaldas e
pisca-piscas. Nós corremos de mãos dadas para atravessar a rua e eu a beijei
outra vez em baixo de uma árvore de galhos que escorria neve em cima de
nós. As lojas estavam todas enfeitadas com tons vermelho, verde e dourado
e Londres estava mais fria do que em qualquer época do ano. Havia coros de
Natal cantando nas calçadas e famílias felizes atravessando as ruas. Parecia
que até a guerra dava um tempo quando era Natal.
"Nada... apenas achei..." A dor veio mais forte outra vez, fazendo meu corpo
se curvar para frente. "Meu braço! Meu braço está queimando!"
Mary olhou ao redor e me levou rápido para um beco vazio, em uma rua
onde ninguém poderia nos ver. Ela puxou rápido a manga do meu casaco e
depois a manga do meu suéter, mostrando a marca negra no meu pulso
esquerdo, completamente viva.
"Eles estão aqui, Mary." Arregalei os olhos para ela. "Há comensais aqui!"
"Merda!" Ela sussurrou, a voz irritada. "Quem você acha que- Merlin! Meu
Deus, Reg, olhe!"
437
Mary apontou para a rua vazia e deserta que estávamos, tendo cuidado para
não sairmos do beco. Quatro comensais da morte saíam de um pub na
esquina da rua.
"Reconheço alguns deles pelas fotos que Moody nos mostrou..." Mary
sussurrou, a mão já na sua varinha. "São Karkaroff, Dolohov e... Não!"
Levei a mão a boca de Mary quando percebemos quem eram os outros dois.
Eu conhecia os quatro muito bem, mas os únicos que reconheceriam Mary e
saberiam que ela era nascida trouxa eram dois.
"Nós vamos." Assenti para ela. "Eles provavelmente vão aparatar daqui em
alg-"
"Porra." Sussurrei outra vez. Os outros três se juntaram a ele, sacando as suas
varinhas. Mary puxou a dela e eu segui o seu exemplo. "Vamos sair pelo
outro lado do beco, talvez possamos..."
438
"Pequeno Black, é você?!" Snape quem falava agora. "Que sorte! Sectumsc-
"
Caímos no chão da frente da casa dos Potter, que era aonde todos estavam.
Quando entramos na casa, Lily correu para pegar um cobertor e uma
compressa de água quente para a dor de cabeça de Mary. Sirius se apressou
e convocou Moody através da lareira, e Moody chegou imediatamente,
interrogando eu e Mary o máximo que pôde.
Mary estava tremendo no sofá, eu estava com os meus dois braços ao redor
dela, nós dois enrolados em um cobertor, tomando um chá quente que James
havia preparado.
Eu me virei para Mary, segurando seu rosto entre as minhas mãos, a olhando
nos olhos.
"Você está bem?!" Ela perguntou, a voz trêmula. "O seu braço..."
"Eu não posso perder você para eles." Mary disse, seriamente. "Não posso
perder você de jeito nenhum."
"Não vai." Encostei a cabeça dela no meu peito e prometi. Mesmo sem saber
se era verdade.
439
Ela começou a chorar.
"Então somos dois, Pandora," Sirius apareceu do nosso lado. "Regulus vai
acabar me matando de susto um dia."
"Olhe quem fala!" Provoquei, sorrindo. "Você é quem foi parar no hospital
e ainda por cima comprou uma moto que está quase voando!"
"E como foi?" Pandora perguntou para Sirius. "Com Remus. Na Casa dos
Gritos."
"Sinceramente, eu achei que seria ruim, mas foi incrível," Sirius disse. "Foi
bom estar de volta aonde tudo começou. Remus também estava feliz... bom,
tirando a transformação e tudo mais."
"E você?" Perguntei, pondo a mão no ombro dele. "Está bem? Tipo, bem de
verdade."
"Eu não estava." Sirius suspirou, depois sorriu e olhou para Remus sorrindo
do outro lado da sala, enquanto conversava com Alice. "Mas agora estou."
Andy e Cissy chegaram logo depois. Ted estava logo atrás das duas,
segurando as mãos de Dora, e Cissy trazia um carrinho de bebê com Draco
enrolado em panos verde água.
"Ei, carinha! Venha aqui!" Sirius tirou Draco do carrinho e o carregou nos
braços, sorrindo. "Merlim, você está pesado! O que você anda dando à ele
para comer, Cissy?"
440
"Nada demais." Cissy deu de ombros, sorrindo também. "Meu Dray é um
menino muito especial."
Dora correu para a mesa de doces e Andy foi atrás dela, a impedindo de fazer
uma bagunça, mas Bill a pegou pela mão e os dois foram alegremente brincar
no sofá da sala. James e Lily estavam sendo ótimos anfitriões e ele havia
vestido Harry com um suéter vermelho vivo. Vermelho como a
Grifinória, ele dizia o tempo todo.
"Estou avisando Prongs," Eu disse. "Se este garoto for para a Sonserina, não
vou conseguir segurar a minha risada, que você fique bem avisado."
Mary estava deslumbrante. Ela estava com uma blusa gola alta de camurça
vermelha, uma mini saia marrom e botas que iam até abaixo do seu joelho,
os cachos soltos e rebeldes caiam pelas suas costas até a metade delas.
Faltava apenas uma coisa para ela ficar perfeita.
Marlene sorriu e eu puxei Mary para perto da árvore de Natal, onde não havia
ninguém, apenas nós dois.
"Quero dar uma coisa à você." Disse, colocando um dos seus cachos para
trás da orelha.
"O quê?!" Mary sorriu radiantemente. "Se você tiver comprado algo caro,
vou matar você."
"Ah, que alívio, então!" Mary encenou, sorrindo. "O que é, então?!"
"Você gostou?"
441
"É claro que sim!" Mary sorria tanto que me fez sorrir involuntariamente.
"Mas você disse que não gastou nada e isso parece ser bem caro, Reg."
"Esse cristal," Disse, tirando o colar da caixa para pôr no pescoço dela. "Foi
uma coisa que alguém que eu amo me deu quando eu era criança. Me ajudou
muito com tudo que eu passei em casa."
"Pandora?"
"Sim." Sorri, assentindo com a cabeça. "Ela me deu quando nos conhecemos.
Ele ameniza qualquer dor que você sinta, desde que esteja em contato com
você. Eu tenho a metade dele agora. A outra metade é sua."
"Reg, isso é..." Mary falhou a voz, examinando o colar. "Isso é lindo."
"E tem outra coisa." Lembrei. "Pus um feitiço nele. Se você o colocar na luz
de alguma lâmpada ou lanterna, vai conseguir ver uma constelação por
dentro dele. Lembrei que você gosta de estrelas. E... bom, eu também sempre
gostei."
"Meu Deus, isso é incrível!" Mary disse, os olhos castanho brilhando. "Eu
realmente amo você."
"Sei disso." Sorri e a puxei para mim, encostando meus lábios nos dela.
Sirius apareceu e me puxou de perto de Mary e Remus fez o mesmo com ela,
nos levando para o meio da sala. Estava tocando a música de Natal preferida
de Sirius e ele exigia totalmente que todo mundo estivesse prestando atenção.
O que não foi muito difícil de fazer quando ele começou a dançar com Remus
e até Neville, que estava nos braços de Frank, sorriu.
A ceia que se seguiu foi tão boa quanto Lily havia planejado. James
agradeceu a presença de todos e fez um brinde aos amigos, à Ordem e à
Harry. Os Weasley mais velhos corriam pela sala, brincando com Dora.
Draco, Harry, Neville e Ron não tinham idade para correr ainda, mas sempre
gargalhavam quando se viam, como se já tivessem nascido se conhecendo.
E eu acho que o Natal era isso. Sentar em uma mesa e comer, com pessoas
que você ama mais do que tudo no mundo. Olhar para garota que você ama
e ter coragem de dizer que a ama. Rir com a risada das crianças que correm
pelo tapete e que provavelmente serão o melhor futuro que vamos ter.
442
Olhar para o meu irmão, sentado na minha frente, com um sorriso radiante
enquanto escuta James contar uma piada sobre diabretes, e ficar feliz por
aquela pontinha de culpa que existia em você pelo o que aconteceu entre
vocês dois, não existir mais. E saber que, apesar de qualquer profecia que
venha a acontecer, vocês dois estão juntos. Porque ele está ali, na sua frente,
e você o ama mais que qualquer coisa no mundo.
"Ei, Six," Sussurrei para ele, sem interromper a história que agora Alice e
Frank riam contando. "Feliz Natal."
Sirius me olhou e sorriu. E então eu soube que ele sabia o que eu estava
sentindo. Ele apenas soube. Ele assentiu, ainda sorrindo para mim. O mesmo
sorriso de quando tínhamos dez anos.
443
Capítulo 34: Solução
"Não me deixe cego, Padfoot, pelo amor de Deus." Remus disse, obedecendo
Sirius, enquanto ele penteava os seus cílios.
"Hã, hã," Mary negou. "Espere Remus ficar pronto, vocês dois tem que virar
ao mesmo tempo, se não, não tem graça."
"Só estou deixando isso porque foi Mary que me pediu." Revirei os olhos.
"Você é tão chato, Regulus!" Sirius bufou. "Vamos, agora podem se virar!"
Remus não estava diferente. Ao invés de cobrir, Sirius ressaltou mais ainda
suas cicatrizes finas e brancas, porque disse que, Remus acreditando ou não,
eram uma das coisas mais bonitas em seu rosto.
444
Nossos olhos pareciam tão puxados que parecia que tínhamos feito alguma
cirurgia facial, ou coisa do tipo. Mas, de qualquer forma, foi um trabalho e
tanto. Eu e Remus estávamos lindos para caralho.
"Eu sempre vou assim para as reuniões e não vejo problema algum!" Sirius
deu de ombros. "Tentei fazer James usar uma vez, mas não colou."
"Olha, Moony, isso ficou realmente muito bom e até fez eu me sentir bonito,
o que não é muito frequente, para falar a verdade." Disse, me olhando mais
uma vez.
"Está vendo?!" Sirius exclamou. "Até Reg, que geralmente é muito chato,
está considerando!"
"Agh!" Remus resmungou. "Certo! Mas não vamos para nenhum lugar
depois de lá, ok? Já batsa falar com Dumbledore ou Moody assim."
"Não seja assim, Moony," Sirius disse, se sentando em uma das pernas de
Remus e dando um beijo em sua bochecha. "Você está lindo."
Pandora havia me chamado para ir até a casa dela antes da reunião. O que,
levando em consideração nosso último assunto mais frequente, não me
deixava muito tranquilo. Então, depois que deixei Mary em casa, eu fui até
lá ver o que ela queria.
Depois de dar as mesmas batidas de sempre na porta que indicam que sou
eu, Pandora abriu a porta rapidamente. Ela estava um pouco agitada, andando
445
de um lado para o outro, mesmo depois que me sentei no sofá, esperando ela
começar a falar. Ela nem mesmo percebeu a maquiagem.
"Agh, quem me dera!" Pandora disse, com a mão na testa. "Bom, não é
exatamente uma notícia ruim. Mas talvez faça você se sentir um pouco
pressionado."
"Eu falei com Slughorn esta manhã." Ela disse rapidamente, sem vírgulas e
atropelando as palavras.
"Você..." Levei um tempo para assimilar. "Pandora. O que você disse à ele
exatamente?"
"Não falei nada sobre profecia nenhuma, se é o que está pensando." Ela
voltou a andar, passando a mão na barriga que já estava bem grande. "Mas
falamos sobre as horcruxes. Ele sabe que você está procurando por elas.
Dumbledore contou."
"Foi preciso muita conversa para ele chegar onde eu queria," Pandora
começou. "Slughorn parece bem envergonhado pelo passado... Ele ficava
repetindo o tempo todo que se ele soubesse, se ele houvesse percebido, talvez
as coisas tivessem sido diferentes e não estaríamos em guerra agora. Mas
depois de algumas cervejas amanteigadas, ele soltou algumas coisas."
"Coisas do tipo quantas são, Reg," Pandora disse, parando para me olhar.
"Quantas horcruxes."
"Mas como ele sabe disso?!" Perguntei, confuso. "Não teria como ninguém
saber!"
"Não é que ele tenha certeza," Pandora disse, finalmente se sentando. "Mas
quando Voldemort era mais novo e perguntou sobre horcruxes para
446
Slughorn, ele perguntou como criar uma. E depois que o professor explicou,
ele perguntou como ele poderia criar se fossem no caso de seis delas."
"Mas não temos como ter certeza..." Levantei do sofá, inquieto. "Quero
dizer, quem garante que ele não fez outras?!"
"Ele está com medo." Corri meus olhos de um lado para o outro, percebendo
onde Pandora quer chegar.
"Sim, ele mataria." Pandora disse. "Mas e se ele está esperando pelo
momento certo? Ele é esperto, sabe que você tem bruxos como Alvo
Dumbledore do seu lado, ajudando você. Por isso está atacando as pessoas
que você gosta. Como quando invadiram a casa de Mary na primeira vez ou
quando Remus e Sirius foram atacados. Ele não está fazendo isso porque
quer que você se entregue voluntariamente, ele está fazendo isso porque quer
pegar você sozinho."
"Tudo." Pandora disse, como se fosse óbvio. "Você mesmo disse que
Voldemort não é do tipo que recua. Então, se ele está tão cauteloso agora é
porque sabe que está perto de ser destruído e não quer arriscar. Ele não tem
medo de nada, apenas de morrer. O que nos volta à teoria de que falta apenas
447
uma, Reg. Uma horcrux e você acaba com o desgraçado. Por isso ele está
jogando assim."
"Acho que as coisas só vem à minha cabeça." Ela deu de ombros. "De
qualquer forma, eu achei que você deveria saber. Tenho quase certeza que a
horcrux que você está procurando é a última, Reg."
"Nós vamos achar, Reg." Pandora disse, pegando o casaco de cima do sofá.
"Vai dar certo, você vai ver."
A Ordem não se reuniu na casa dos Longbottom naquele fim de tarde, como
fazíamos todas as vezes. Nos reunimos em uma casa menor, do tamanho de
uma sala de estar. Mas acho que não fazia diferença, porque a Ordem agora
estava menor desde a primeira vez que eu estive em uma reunião. Muitas
pessoas haviam desaparecido ou morrido, outras haviam simplesmente
desistido de lutar.
James e Lily agora sempre levavam Harry porque não havia com quem
deixá-lo já que estávamos todos lá. Senti falta de Frank e Alice quando
cheguei, mas decidi perguntar por eles apenas depois da reunião ser
finalizada.
Moody nos deu instruções para andar sempre em par quando sairmos e as
missões agora só eram dadas para três pessoas ou mais juntas. Porque não
era mais seguro andar em número pequeno. Falou para mantermos as casas
trancadas e que usássemos todo o tipo de feitiço protetor que existisse. Ele
alertou sobre as florestas que agora estavam sendo tomadas por Greyback e
pelos lobisomens, não apenas nas luas cheias, mas o tempo inteiro. E que,
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apesar de termos o rosto de vários dos comensais, ainda era perigoso confiar
em qualquer um porque não sabíamos quem eram todos.
"Não é o bastante. Você não sabe se outros não se juntaram à ele depois de
você sair." Moody respondeu.
Ninguém perguntou sobre onde Frank e Alice estavam, mesmo eles sendo
um dos membros mais assíduos da Ordem. Na última reunião, eles estavam
normais e sorriam orgulhosamente quando a foto de todos nós foi tirada e se
algo tivesse acontecido com eles, com certeza seria avisado à nós. Então
deduzi que Neville apenas estivesse doente ou coisa parecida.
"Vá em casa quando liberarem você, ok?" Mary disse, se despedindo de mim.
"Mesmo se não acontecer nada, ainda quero ver você."
Quando todos haviam ido embora, ficamos apenas nós no pequeno espaço.
James e Lily sentados em um sofá, com os rostos muito sérios. Harry estava
um pouco agitado, se mexendo bastante no colo de Lily. Ele agora estava
com sete meses, o que me surpreendia às vezes, porque parece que havia sido
ontem que ele nasceu.
"Me dê ele aqui," Sirius estendeu os braços para Lily. "Vamos brincar com
o tio Pads, Harry?" Ele segurou o menino no ar, fazendo ele soltar uma
risadinha encantada.
Harry ainda não sabia dizer nada. Apesar de James jurar que o ouviu dizer
'pongues' uma vez, as únicas coisas que ele sabia dizer eram algumas sílabas
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sem sentido. Mas Harry conhecia Sirius. Ele definitivamente sabia
diferenciá-lo de todos nós.
"Serei direto porque acho que a situação exige." Dumbledore disse, bastante
calmo. "Temo que o foco do Lorde das Trevas vá mudar em breve."
Todos nós erguemos os olhos, mas principalmente eu. Ele sabia? Ele tinha
certeza agora?
Tentei olhar para Sirius, esperando por algum olhar que me confortasse, mas
o olhar dele queimava em fúria. E ele mal parecia perceber que todos
estávamos ali.
"Ele vai mudar de foco, então," James quebrou o silêncio. "O que diabos ele
pode querer agora?"
"Na verdade, Sr. Potter," Dumbledore disse, encarando James. "Seu filho."
Eu tive um espasmo. Lily voou sua mão para a boca, dando um suspiro
amedrontado e Remus pôs a mão no ombro dela, tão assustado quanto. James
se endireitou rapidamente na cadeira, os olhos arregalados e a boca
entreaberta pelo choque. Sirius pegou Harry nos braços e se levantou de uma
vez.
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"Não posso dizer." Dumbledore respondeu. "Esta é uma situação
extremamente delicada."
"Então diga alguma coisa útil!" Eu falei pela primeira vez, quase gritando.
"O que você quer dizer com meu filho?!" James disse, tão alto quanto.
"Como Voldemort saberia da existência de Harry?!"
"Por que Harry?!" Lily perguntou, a voz cheia de pavor. "O que Harry tem a
ver com tudo isso?!"
"A profecia fala sobre uma criança nascida no fim de julho." Dumbledore
disse.
"Por isso, Frank e Alice não estão aqui, não é?" Disse, estreitando os olhos.
"Neville também nasceu no final de julho."
"Frank e Alice Longbottom ficarão afastados de tudo que tem a ver com a
guerra, de agora em diante." Dumbledore respondeu. "Não posso informar o
paradeiro deles, mas eles estão bem longe de Londres agora. Foi decisão dos
dois priorizar a segurança de Neville."
"Você vai ter que se esconder," Falei, diretamente para James. "Vocês três.
Existem mais feitiços... feitiços de proteção que ainda não testamos...
pesquisei sobre isso. A profecia pode ser parada se eu destruir as horcruxes
até lá."
451
"Sim."
"É claro que não!" Respondi, ofendido. "Você acha que se eu soubesse que
havia uma profecia que colocaria Harry em perigo eu não contaria, Sirius?!"
"Espere, então era isso?!" Sirius estava quase gritando agora. "Era isso que
você lia todas as noites?! Pensei que era apenas uma tarefa qualquer, mas
você estava pesquisando sobre profecias! Você suspeitava que algo assim
podia acontecer e não disse nada! Mesmo eu entrando no seu quarto todos
os dias para perguntar!"
"Sirius, Regulus fez isso porque eu pedi." Dumbledore interveio. "Eu fui
pessoalmente pedir que ele não contasse à ninguém. Não era seguro."
"Não é hora para isso agora, Sirius," Disse, firmemente. "Pandora falou com
Slughorn e ela tem motivos para acreditar que a próxima horcrux é a última.
Só preciso achá-la e isso tudo acaba. Ela acha que com a destruição delas e
a profecia..."
Harry começou a chorar e Lily o pegou nos braços, beijando sua cabeça, as
lágrimas começando a rolar pelo seu rosto.
"Eu não contei porque eu não achei que a profecia se tratava disso, seu
idiota!" Gritei de volta. "E eu não queria dizer nada sem ter certeza! O que
foi, Sirius?! A guerra fez você parar de confiar em mim outra vez?!"
"É o meu afilhado!" Ele vociferou, empurrando os meus ombros. "O meu
melhor amigo! A minha família! Como você pôde não me avisar que achava
que existia uma profecia?! Podia ser sobre qualquer um! Qualquer um,
Regulus! Ainda era algo grande!"
452
"Sirius!" Lily vociferou, olhando feio para ele. "Regulus também é da
família!"
"Você não é o meu irmão, ele é!" Sirius apontou o dedo para mim. "Por que...
por que continua fazendo isso?"
"Regulus está certo." Dumbledore disse, antes que Sirius pudesse responder.
"Vocês três terão que se esconder. Já temos planos em andamento."
"Ok." James acenou nervosamente com a cabeça. "Ok. Certo. Tudo bem."
"É melhor irmos para casa." Remus disse, dando um beijo na cabeça de Lily.
"Regulus. Padfoot."
"Acho que vou ficar na casa de Mary hoje." Respondi, finalmente encarando
Sirius que ainda me olhava furiosamente.
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"Padfoot!" James disse, tentando fazer Sirius dizer algo.
"Mande um beijo para Mary." Sirius disse, a boca em uma linha reta. Pegou
na mão de Remus e aparatou, sem dar a chance de ninguém dizer mais nada.
"Reg, se você precisar de algo, você pode ficar na nossa casa," James disse,
pondo uma mão no meu ombro. "A guerra está sendo difícil para todos nós
e Sirius não está lidando com isso tão bem quanto aparenta. Ele não está com
raiva de você de verdade."
"Reg, você agora para mim é o que Remus e Sirius são." James disse,
olhando nos meus olhos. "Lily e eu confiaríamos a vida de Harry à você, se
precisasse."
Aparatei direito para a casa de Mary. Não queria passar em nenhum outro
lugar, ou ver qualquer outra pessoa. Meu coração estava tão pesado de um
jeito que eu não sentia a muito tempo. E na minha mente corria uma ideia
tão perigosa que eu mal podia acreditar que estava tendo. Mais uma vez eu
estava quase colocando a minha vida em risco para provar que Sirius podia
confiar em mim.
"Como foi lá?" Mary perguntou, me levando para o seu quarto e fechando a
porta atrás de nós. Ela estava sorrindo, mas quando viu a minha cara, o
sorriso se desfez rapidamente. "O que houve?!"
454
"Ei, ei... Do que você está falando?" Mary disse, sentando rapidamente do
meu lado e passando um braço pelo meu ombro.
Eu a encarei, tentando segurar tudo dentro de mim, mas era como se não
houvesse mais espaço. Então, eu contei tudo à ela.
***
Passei dois dias fora de casa. O dia em que passei com Mary, ela chorou
quando se tocou do perigo que os Potter estavam correndo agora, então o
apoio foi mútuo porque eu estava tão acabado quanto ela.
"James! E Lily!" Ela dizia, em meio às lágrimas. "E, Deus, Harry?! Ele é só
uma criança!" E então enterrava a cabeça no meu ombro.
Contei à ela o que eu estava pensando em fazer, porque não queria esconder
nada dela. Mary obviamente surtou no início e tentou me convencer do
contrário, mas eu estava irredutível. No fim, ela apenas disse que sabia que
eu não mudaria de ideia porque eu era tão teimoso quanto ela. Então, apenas
me apoiou.
"Você não precisa perder seu tempo com isso," Disse, vendo-a folhear um
livro de receitas. "O café pelo menos já está pronto na cafeteira."
"Shhh." Ela levantou um dedo para mim, sem tirar os olhos do livro. "Você
não vai virar um viciado em cafeína comigo por perto. Então, fique quieto."
455
Eu não precisei chorar ou dizer que eu e Sirius havíamos brigado, Pandora
apenas me olhou e simplesmente soube. E eu acho, honestamente, que isso
é tudo que você pode esperar de uma amiga.
"Você tem certeza disso?" Pandora perguntou, quando contei à ela. "Quero
dizer, é realmente muito inteligente, mas... Porra, isso é perigoso para
caralho, Regulus."
"Claro que eu vou com você." Ela disse, pegando a chave de casa na bancada
da cozinha.
Quando voltei para casa depois dos dois dias, torci para encontrar a casa
vazia. Eu faria qualquer coisa por um minuto em silêncio comigo mesmo.
Mas Sirius e Remus estavam em casa, os dois tinham marcas profundas e
escuras embaixo dos olhos. Remus veio correndo até à sala.
"Puta que pariu, Regulus!" Ele xingou quando me viu. "Por onde você
andou?! Onde é que você estava dormindo? Porra, eu fiquei tão preocupado!
Seu idiota!"
456
"Tem certeza que é seguro?!" Sirius veio até mim, parecendo esquecer toda
a briga que tivemos. "Eu passei um pergaminho cheio de feitiços de
segurança para James usar e..."
"Ah, eles não vão precisar disso." Eu acenei com a mão. "Dumbledore e eu
fizemos algo mais seguro do que isso."
"Feitiço Fidelius."
"Oh." Sirius franziu a testa. "É, isso com certeza vai bastar, eu acho. Mas por
que colocaram em Dumbledore?! Eu sou o melhor amigo deles, deveria ser
eu, não é?"
"Um de..." Remus começou, e então um balde de água gelada pareceu ter
caído sobre ele. "Não." Ele balançou a cabeça.
"Não, espere aí," Sirius disse, me olhando. "Me diga que você não se
ofereceu!"
"Six..."
"Não! Sem Six!" Sirius disse, bruscamente. Ele começou a andar, a se mover
na cozinha. "Por que você?!"
"Vocês dois seria óbvio demais. Mary tem uma família trouxa, é mais
perigoso ainda. Pandora está esperando uma filha." Respondi. "Ninguém vai
desconfiar de um ex comensal da morte, nem mesmo Voldemort vai achar
que vocês confiaram tanto em mim para isso. É perfeito."
"Me diga que você não fez isso para provar alguma coisa, Regulus." Remus
disse, sombriamente.
457
"Fiz isso para ajudar meus amigos!" Eu disse, mais alto agora. "Fiz isso por
Harry! E para termos tempo de achar a horcrux!"
"Encontre outra pessoa!" Sirius gritou. "Qualquer um! Eu mesmo farei isso!"
"Não!"
"Já está feito." Dei de ombros. "Resolvi isso. Você pode voltar a falar comigo
agora que voltei a ser o herói da história."
"Vai dar certo. Tenho certeza." Eu disse, passando os olhos entre os dois.
Então foi feito. Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. Não houve
despedidas, Lily, James e Harry simplesmente desapareceram sem deixar
rastro nenhum.
458
Capítulo 35: Primavera 1981
Eram todas explicações muito boas, porque eram coisas que faziam as
pessoas pensarem que a qualquer hora eles estariam de volta. Quando a
guerra acabasse, então Frank e Alice poderiam voltar para Londres porque
não haveria mais perigo. Quando a guerra acabasse, James e Lily poderiam
voltar com Harry porque não haveria mais perigo.
"Reg, são quase uma da manhã," Remus colocou a cabeça para dentro do
meu quarto pela brecha da porta, vendo um monte de livros espalhados pelo
chão e pela cama e um papel enorme colado na parede com fotos, datas e
informações. "Você está com uma cara horrível. Deveria dormir."
"Não se preocupe, é o meu quinto copo de café. Não estou com sono."
Respondi, sem levantar os olhos de um livro na minha perna.
"Porra, me deixe em paz!" Isso saiu mais alto do que eu realmente queria.
Remus congelou na porta, a mão imóvel na maçaneta. Me arrependi um
segundo depois que as palavras saíram da minha boca. "Droga... Olhe,
Moony, me desculpe, ok? Eu só... você sabe que preciso dar um jeito de
descobrir o que é essa coisa o mais rápido possível. Isso está realmente me
deixando louco."
459
"Não, tudo bem," Ele respondeu rapidamente. "Eu entendo. Mesmo. Boa
noite, Reg."
"Dê tempo a ele, Reg," Remus disse, quando Sirius estava no banho. "Ele se
sentiu realmente traído quando você disse que sabia que havia uma profecia."
"Eu achei que eu tivesse me redimido quando me ofereci para ser a porra de
um fiel do segredo!"
"Então você admite que foi por causa de Sirius que você fez isso?"
"O quê?! Olhe," Respirei fundo. "Não faço ideia do que Sirius quer de mim,
já fiz tudo o que podia ter feito. E eu já disse que não sabia sobre do que a
profecia se tratava, por Merlim!"
460
"Ele também está chateado porque você se ofereceu, acho." Disse Remus,
acendendo um cigarro. "Ele tem medo de perder você. E está sentindo falta
de James."
"Não estou." Remus ergueu as mãos no alto. "Só estou dizendo que vocês
dois não são tão diferente quanto pensam que são. Vocês lidam com as coisas
do mesmo jeito. Agindo, nunca conversando."
"Sim, você faz." Remus sorriu fracamente, tragando o cigarro na boca. "E é
melhor você parar de beber tanto café ou seu coração vai literalmente parar."
"Ótimo." Ergui a xícara no ar. "Assim ele faz companhia para o seu pulmão
no céu."
Antes de Sirius sair do banho, eu saí de casa. Em parte por não querer dar de
cara com ele, em parte porque havia recebido uma carta de Carter pedindo
para que eu ligasse para ele esta tarde. Ele disse que estava bem, mas do jeito
que as coisas estão ultimamente, nenhuma notícia no jornal ou carta de
alguém conhecido vem com algo realmente bom.
"Espere, me deixe adivinhar," Ele disse. "Algo deu muito errado e você fez
algo radical para tentar consertar, não é?"
"Babaca esperto."
461
"É por isso que você me ama!" Carter gargalhou. "Acho que vou para
Londres no mês que vem. Então, você pode me contar tudo."
"Mas e seus pais?! Quer dizer, eles vão deixar você ficar lá?"
"Eu consigo me virar, você sabe," Ele respondeu. "Não se preocupe comigo."
"Eu diria para você ficar em casa se tivesse espaço. Mas não tem nenhum
quarto sobrando e não vou deixar você dormindo em um sofá."
"Ah, ela é realmente incrível!" Eu sorri para mim mesmo, como sempre fazia
quando pensava nela. "Acho que, no momento, ela é a coisa mais estável e
certa que eu tenho."
"E Pandora?"
"Pandora está passando a maior parte do tempo com Phil. Acho que os dois
querem aproveitar o fim da gravidez." Respondi, pensativo. É claro que eu
ainda via Pandora quase todos os dias, mas sempre que estávamos juntos era
para ela me ajudar com a busca. Então, não tivemos tempo para conversar
de verdade.
"Você não está, tipo, se afastando de ninguém, não é?" Carter disse. "Quer
dizer, às vezes você faz isso, lembra? Se isolar."
"Não, eu juro," Respondi, rapidamente. "Eu só... não sei, talvez seja apenas
um momento ruim. Vai passar."
462
"Mas sério," Carter disse, terminando de sorrir. "Não se afaste... sabe? Não
faça isso. Ninguém é melhor sozinho."
Eu não podia conversar sobre isso com Mary porque ela tentaria me
convencer de que não devo me culpar porque sou uma pessoa boa. O que não
é exatamente um conselho ruim, eu apenas não acho que é o que eu preciso
ouvir. Pandora diria a mesma coisa. Remus já disse o que tinha para dizer.
Nunca senti tanta falta de James como senti naquela hora. Ele saberia
exatamente o que dizer porque conhece Sirius melhor do que qualquer um.
Melhor até que Remus. Melhor até que eu.
James saberia como lidar com a teimosia de Sirius e com o meu orgulho de
merda. Porque esse é o tipo de pessoa que James é. Ele é bom. E puro.
Raramente fica com raiva das pessoas por coisas que elas não podem
controlar e nunca nega ajuda à ninguém se essa pessoa tiver feito mal à ele
diretamente. Eu, Sirius e Remus mataríamos por ele, sem pensar duas vezes.
"Reg!" Remus me olhou por cima dos dois meninos sentados. Sirius me
olhou, mas não disse nada, "Que bom que você chegou!"
"É, eu... eu fui apenas até à cabine na esquina da rua," Os dois na poltrona se
viraram para mim e sorriram, franzindo os lábios. "Hm... Olá."
463
Remus deu um salto do sofá. Ele parecia radiante. Andou até onde eu estava
com um sorriso no rosto. "Reg, estes são Lucian e Shade."
"É aquele que traiu o Lorde das Trevas, não é?" Shade disse, a voz curiosa,
quando se levantou para me cumprimentar.
Shade era mais alto e mais forte. Ele era branco e tinha o cabelo um pouco
bagunçado e uma barba rala. Lucien era menor, mas não tanto. Ele tinha a
pele escura e o cabelo raspado, os olhos verdes e parecia ser mais novo que
o outro.
Foi quando notei algo em comum entre os dois. Eles tinham uma cicatriz na
lateral do rosto que de frente era difícil de ser vista. Como se tivessem sido
castigados por alguma coisa igualmente. E fora isso, haviam outras cicatrizes
menores espalhadas pelo rosto e pelo corpo deles. Eu já convivia com Remus
o suficiente para reconhecer.
Lobisomens. Porra.
"Você não ouviu o que Remus disse?!" Sirius se intrometeu. "Eles estão do
nosso lado."
"Eu confio neles, Regulus. Você sabe que lobos sentem esse tipo de coisa."
Remus me encarou.
464
"Somos leais à Remus Lupin." Lucien assentiu, corajosamente.
"Ele é nosso alfa agora." Shade disse, ele e Remus se encararam e alguma
espécie de conexão canina foi estabelecida entre eles dois.
"Moony, eu confio em você," Eu disse, com cuidado. "Mas você não espera
que eu confie tudo aos seus instintos de lobo, não é?"
"Vocês eram dele, não é?" Passei os olhos entre os dois. "Greyback." Os dois
assentiram devagar, quase como se estivessem envergonhados. "Você traz
dois lobos de Greyback para dentro de casa e espera que eu confie neles de
primeira?! Você nem sabe o que a Ordem vai dizer sobre isso."
"Ei!" Sirius se intrometeu, se levantando do sofá e vindo até mim. "Não fale
assim com Moony. Ele é a pessoa mais responsável de todos nós. Se ele
confia em Lucien e Shade, então eu também confio."
"Eu?!" Isso foi demais. "Vai se foder! Você é quem não fala comigo a
semanas porque é um mimado do caralho que acha que o mundo é preto e
branco! As pessoas cometem erros, Sirius! Lide com isso ou se afaste de
mim outra vez!"
465
"O quê?!" Arregalei os olhos. "Mas Moony..."
Depois que os dois lobos saíram de casa, Remus se virou de uma vez para
mim e Sirius. Não era lua cheia, mas Remus estava quase rosnando de tanta
raiva.
"Moony, você sabe que eu estou do seu lado!" Sirius disse. "As coisas deram
errado quando ele decidiu se meter!"
"Não, as coisas estão dando errado a semanas, desde que você dois decidiram
agir como crianças imaturas no meio da droga de uma guerra!" Remus
vociferou, irritado. Ele respirou fundo e acendeu um cigarro entre os dedos.
"Regulus, o que... o que foi tudo isso?! Quando eu falei para você sobre trazer
eles para o nosso lado, você me apoiou. Eu achei que sua reação fosse ser
completamente diferente."
"Eu estou do seu lado, Moony. Estou de verdade. Mas isso foi antes de
descobrirmos sobre a profecia. Antes de termos que esconder James e Lily.
Antes de eu estar dormindo mal e quase não vendo a minha namorada ou
minha melhor amiga que está grávida, porque preciso procurar a droga
daquela coisa." Respondi. "Sinto muito se eu fui grosso com eles e sinto
muito se também não falei com você, Sirius, mas não estou tendo muito
tempo pra ser gentil ultimamente."
Remus tragou o cigarro mais uma vez e correu os olhos até Sirius. "Padfoot?"
Sirius ficou em silêncio por um tempo, até que finalmente suspirou. "Sei que
não estou totalmente justo, ok? Mas eu... porra, lealdade é uma coisa
realmente importante para mim. Quando eu percebi que você sabia, Reg, que
a profecia existia, fiquei com medo de termos nos distanciado de novo sem
eu perceber e por isso você decidiu não me dizer. E depois você se ofereceu
como fiel do segredo e eu... eu não soube como reagir. Perder James já é algo
impensável para mim. Mas perder vocês dois... Não sei se eu aguentaria.
Provavelmente não."
466
Quando eu abri a boca para responder, fomos interrompidos por uma coruja
na nossa janela. O barulho fez Remus se virar rapidamente. Correndo até a
coruja com as correspondências, "É apenas o Profeta Diário..." Ele começou
a ler, os olhos correndo pelo papel. De acordo com que seus olhos iam
passando, eles iam se arregalando mais, ele sussurrou, "Puta que pariu..." E
apagou o cigarro em um cinzeiro na pia, ainda atento ao jornal.
Troquei um olhar com Sirius, e ele olhou para Remus. "Moony? Tudo bem
aí?"
"Acho que vocês dois deveriam ver isso." Remus veio até nós, nos
entregando o jornal na mão. Sirius e eu começamos a ler.
"O quê?" Sirius perguntou. Eu estava chocado demais para falar alguma
coisa.
***
Acho que eu estaria mentindo se eu dissesse que eu estava feliz. Mas estaria
mentindo mais ainda se dissesse que estava triste.
467
Eu me sentia estranho. Porque é estranho para qualquer um quando os pais,
as pessoas que viram você crescer, morrem. Quando as pessoas que amavam
você mais do que qualquer um se vão para sempre, uma parte sua vai junto
com eles. É assim que as coisas são.
Mas a questão é que eu nunca fui amado pelos meus pais. E acho que, em
certo momento da minha vida, eu percebi que eu simplesmente não podia
amá-los também. Porque não dá para amar alguém que você tem medo.
Então, eu acho que não me sentia estranho porque eles tinham morrido. Me
sentia estranho por não conseguir achar nenhuma parte dentro de mim que
se afetava com a morte dos próprios pais.
Sirius jogou o jornal na mesa e deu de ombros, "Bom, eles tiveram o que
mereceram. Vou cuidar da moto. Se precisarem de mim, vou estar na
garagem."
Fui até a garagem da casa. Sirius estava agachado em frente a moto, com a
varinha prendendo um nó no seu cabelo tão suado que grudava na testa. A
regata preta e o coturno já estavam todos sujos de graxa, mas ele não parecia
se importar muito. Bati na parede de madeira. "Six? Posso entrar?"
"Nosso pai nos explicou como os filhos são feitos, você lembra?" Sirius me
olhou. "Quando eu tinha treze e você doze, ele nos sentou no sofá e
disse, 'Sirius, Regulus, arranjaremos noivas para vocês em breve. Então,
para vocês gerarem herdeiros, vocês precisam se deitar com as suas moças
e enfiar os seus...'
468
"Merlim, não! Não repita isso, por favor! Eu fiquei traumatizado. Não
cheguei perto de nenhuma menina por semanas. Pandora achou até que eu
estava com alguma doença contagiosa." Eu cobri o rosto com as mãos,
sorrindo. "Eles eram pais horríveis."
"Os piores." Sirius concordou, passando a varinha por cima de um dos pneus
da moto. "As únicas lembranças boas que tenho da nossa infância são com
você."
"Largo Grimmauld."
"O quê?! Sirius! Se virem nós dois aqui, os rumores de que eu não totalmente
leal à Ordem vão aumentar!"
"Dá para você se acalmar?!" Sirius disse, tirando a grama das calças. "A casa
é protegida, lembra? E além do mais, ninguém vem aqui, Reg."
"Não sei porque." Sirius deu de ombros. "Eu preferia como a deixamos."
469
"Nós costumávamos vir muito para esse gramado antes de você sair de casa."
"Lembra de quando caí e me machuquei bem ali?" Apontei para uma parte
do gramado. "Fiquei puto porque você também tinha caído e se machucado,
mas levantou como se não estivesse sentindo nada quando o meu joelho
estava doendo para caralho."
"Vou te contar um segredo, Reg." Sirius sorriu. "O meu estava doendo
demais também. Eu só não demonstrei para parecer forte e corajoso para
você."
"Que tocante da sua parte. Estou lisonjeado." Levei a mão ao meu peito.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que Sirius quebrou o silêncio.
"Vocês os amou em algum momento?"
"Hm?"
"Eu sempre soube no fundo que eles eram incapazes de nos amar." Respondi,
encarando a mansão. "Na maior parte do tempo, eu queria que eles sentissem
orgulho de mim, mas... amor?! Não. Não acho que eles conseguiam."
"Sério?"
"Sim. Até os meus treze anos, pelo menos." Sirius engoliu em seco. "Achava
que não existiam pais que não amavam seus próprios filhos e que eles eram
assim porque eram muito rígidos e intolerantes, mas não porque não nos
amavam. Acho que por isso foi mais fácil para mim ir embora."
"Mais fácil?"
470
"É. Você sempre foi o inteligente, você percebia tudo. Eu não." Sirius disse,
o olhar distante. "Você sempre soube como eles eram e não criava
expectativas que um dia eles iriam acordar e milagrosamente amar você, o
máximo que eles podiam sentir era satisfação se virássemos comensais da
morte. Você sabia disso."
"Quando caiu a ficha para mim que eles nunca poderiam me amar como eu
era, foi fácil ir embora." Sirius deu de ombros.
"Acho que como eles nunca fizeram nada que eu já não esperava, eu achava
que todas as famílias eram assim." Respondi. "Não consegui ir embora com
você porque não entendia o que você via."
"Me desculpe, Reg," Sirius disse, quase num sussurro. "Sinto muito por ter
ficado bravo com você e chamado você de..."
"É porque você é!" Eu gargalhei e ele também. "Me desculpe também. Eu
deveria ter dito à você que sabia. Eu estava com medo de... de ter que ser eu
a te contar isso, eu acho. Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo, Six,
de verdade. Eu estava com raiva de você e, Deus, ainda descontei em Remus.
Não sei o que eu estava pensando."
"Tudo bem, eu... eu preciso entender que as coisas não são preto e branco,
como você mesmo me disse. Tenho que entender que as pessoas cometem
erros e que não sou eu quem posso decidir se elas merecem ou não serem
julgadas por isso. É só que... sempre que algo assim acontece entre nós dois,
eu fico com medo de nós dois nos afastarmos outra vez."
"O mundo não é dividido entre pessoas boas e comensais da morte, Six," Eu
disse, o encarando. Ele me encarou de volta. "Todos temos luz e trevas dentro
de nós."
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Eu suspirei. "Vou destruir aquela coisa, Sirius. Vou encontrar e vou acabar
com isso de uma vez."
"Nós vamos." Sirius segurou minha mão e sorriu para mim. "Eu prometo.
Dessa vez, de verdade."
Eu e Sirius chegamos perto da mansão e demos uma boa olhada. Nós dois
crescemos aqui com a família mais horrível que alguém poderia ter. Uma
infância e uma adolescência cheia de dores e traumas que refletiam ainda
hoje na nossa vida. Então, talvez não fosse tão estranho eu não sentir nada.
Na verdade, eu tinha certeza que estava feliz. Porque essa parte horrível da
nossa vida finalmente havia morrido.
472
Capítulo 36: Regresso
"Esse cara sempre foi uma piada." Ele sorriu, depois de jogar o jornal em
cima da bancada da cozinha e ir preparar o almoço.
Escrevemos para Lily e James, como fazíamos agora todos os dias. As coisas
não haviam melhorado muito desde a última vez que falamos com os dois.
Era horrível ver Sirius passar noites acordado preocupado com os Potter e
não poder fazer nada para ajudar. Tudo que eu podia fazer era continuar
procurando. Continuar procurando, continuar procurando...
"Você estava se segurando mesmo, não é?" Mary sussurrou, a voz rouca,
quando eu abri a porta do meu quarto com um dos pés enquanto a segurava
pela cintura e beijava o seu pescoço. Eu precisava dela tanto que mal
conseguia aguentar.
Eu a beijei outra vez, desta vez mais ferozmente. Ela levou as mãos até o
meu cabelo, puxando ele com as mãos enquanto eu desabotoava o shorts
dela. Quando consegui espaço o suficiente para colocar a mão por dentro
dele, eu o fiz com o maior prazer. Coloquei dois dos meus dedos em sua
boca, molhando-os o suficiente para colocá-los dentro dela e ela quase
rasgou os lençóis com as mãos quando eu fiz.
Eu não precisava que ela fizesse nada. Eu já estava totalmente pronto para
ela desde o momento que passei pela porta do seu quarto. Quando eu acelerei
meus dedos mais do que pensei que pudesse ser capaz, ela agarrou meu pulso
473
com força e me lançou um olhar assustadoramente faminto, me fazendo
parar.
"Eu quero mais..." Ela ofegou, a voz ainda rouca. "Eu quero algo maior do
que isso."
Eu sorri travessamente, com os dois dedos ainda dentro dela, mas agora
parados. "Vai ter que me pedir direito."
"Gosto quando você implora." Sussurrei no seu ouvido, mexendo mais uma
vez os dedos dentro dela.
Aquilo acendeu alguma coisa animal nos olhos de Mary. Ela puxou o meu
pescoço e me beijou com tanta força que eu senti o gosto metálico de sangue
no meu lábio inferior. Em questão de um segundo, ela já havia tirado o meu
short e me deixado só de cueca por cima dela.
Deitada na cama, eu a virei de uma vez, passando a duas mãos pelas costas
morenas e perfeitas até a bunda. Passei o indicador mais uma vez entre as
pernas dela, e ela afundou o rosto no travesseiro, amaldiçoando o meu nome.
Me posicionei em cima dela e, usando cada uma das minhas mãos, eu abri o
espaço que precisava para me pôr dentro dela, já que as pernas dela estavam
fechadas embaixo de mim. Quando me empurrei dentro dela, me inclinei
para frente, deixando nossos rostos próximos e envolvi a minha mão pela
frente do seu pescoço, a outra levantando um dos lados da sua bunda.
Por alguns minutos, tudo ficou bem. Até que não estava mais.
"Acho que vou ver Pandora esta tarde." Comentei, com Mary deitada em
meu ombro. "Eu e ela temos estado um pouco distantes."
"Não faço ideia... talvez porque eu queria que ela e Phil tivessem um tempo
para os dois no fim da gravidez. Você sabe, sem o Regulus Maníaco por
Horcruxes Black por perto."
"Não fale assim de você," Mary fez uma cara feia, acariciando a minha
bochecha. "Se você quiser, posso ir com você até lá."
474
"É. Isso seria bom." Sorri, deixando um beijo em sua testa.
"Onde estão Sirius e Remus?! A casa só fica silenciosa assim quando eles
não estão." Mary sorriu, tirando um cacho da testa suada.
"Uma vassoura?!" Mary gargalhou. "Não sei porquê estou surpresa, se Sirius
quiser usar a fortuna de vocês dois para contratar um time de quadribol para
jogar no aniversário de um ano de Harry, então ele vai."
"Eu entendo ele. Eu mesmo gastaria até o último centavo que eu tenho para
fazer qualquer coisa para você ou para algum filho nosso." Disse, virando o
queixo dela para mim com a mão.
"Bom, eu amo você, não é?" Eu sorri, a observando. "Acho que é inevitável
pensar nesse tipo de coisa quando você ama alguém."
"A menina vai ter os seus olhos meio azuis meio cinzas. E... o menino, os
meus castanhos."
"Ele vai ter seus olhos, tudo bem," Confirmei, sorrindo. "Mas vai ter o meu
cabelo. Preto e liso. Ela vai ter a minha parte preferida sua. Seus cachos."
475
"Bom, serão dois. Um vai para a minha casa e o outro para a sua. Não vai ser
preciso você fazer nenhum escândalo." Mary sorriu, bagunçando o meu
cabelo.
"Então, nós vamos viajar para onde queremos," Suspirei, voltando a encarar
o teto. "E daqui a um ou dois anos, quando já tivermos conhecido tudo, eu
peço você em casamento e vamos ter nossos filhos. Tudo bem para você?"
"Tudo bem." Ela respondeu, com um sorriso no rosto. "Bom, não vamos ter
filhos agora, mas eu adoraria apenas continuar tentando..." Mary sorriu,
dando um beijo no meu pescoço e se levantando para subir em cima de mim,
sem desgrudar os lábios dos meus.
"Não demore, então." Ela disse, se jogando na cama do meu lado, enquanto
eu saía do quarto.
Não haviam muitas coisas. Havia uma carta de Lily, é claro. Mas sem muitas
novidades, já que tudo que os Potters faziam agora era ficarem trancados no
chalé em Godric's Hollow. Havia uma de Carter, que deixei para abrir depois.
E o jornal do Profeta Diário que caía todos os dias na nossa janela.
FUGA DE AZKABAN!
476
A Ministra da Magia, Millicent Bagnold, pede calma e alega que não é
necessário alarde pois a situação será resolvida em breve, entre os próprios
termos no Ministério da Magia, e Crouch será pego rapidamente."
"Regulus!" Mary apareceu na cozinha. "O que aconteceu aqui?! Por que você
está com essa cara?"
"Reg." Sirius veio até mim, e pôs a mão no meu ombro. "O que foi?"
Empurrei o jornal no peito de Sirius e Mary correu para o lado dele para ler.
Saí de perto dos dois e fui para a sala.
Barty estava solto. E a única coisa que ele queria tanto quanto agradar
Voldemort, era a mim. Ele se arriscou em vir sozinho atrás de mim no Três
Vassouras, tudo porque não aceitou o fato de que eu não o queria mais. De
que eu finalmente havia me livrado dele e não estava mais disposto a me
juntar a um grupo terrorista por sua causa.
"Por que está todo mundo com cara de quem viu um fantasma?" Remus
perguntou, voltando com a vassoura. "James e Lily estão bem?!"
"Hm... sim, Moony, eles tão bem." Sirius respondeu, a voz pausada, ainda
com os olhos no jornal.
"Ele vai vir atrás de mim, ele vai vir atrás de mim..." Sussurrei para mim
mesmo, coçando a minha cabeça, enquanto andava de um lado para o outro.
477
"Ei," Mary veio até mim, tentando me parar. "Vai ficar tudo bem, ok? Nós
vamos pegá-lo se ele vir até nós. Você vai ficar bem."
"Você não conhece ele. Não viu o que ele... não sabe do que ele é capaz..."
Sussurrei, a voz baixa e desesperada.
"Eu vou matá-lo." Sirius disse, a voz furiosa, jogando o jornal no chão.
"Vamos encontrá-lo e cortá-lo em pedaços bem pequenos. É simples."
"Bom, pegamos ele uma vez, não pegamos?!" Sirius disse para Remus,
depois me encarou. "Não precisa se preocupar assim, Reg."
"Você não conhece ele. Nenhum de vocês." Eu estava tão desesperado que
cheguei a sorrir. Mary me olhava com os olhos cheios de preocupação. Ela
era a única naquela sala que sabia o que Barty havia feito comigo durante
Hogwarts e quando ele me encontrou naquele bar.
"Padfoot. Deixe ele." Remus disse, mas eu podia ver que ele também não
entendia.
"Reg, você precisa respirar, ok?" Mary disse, com as mãos no meu rosto.
"Você está tendo uma crise. Precisa se concentrar em coisas que você pode
tocar..."
"Crise?! Por que?!" Sirius perguntou, vindo até mim. "Barty fugiu, mas nós
vamos pegá-lo, Reg. Ele não vai..."
478
"Você não o conhece!" Gritei, assustando Sirius, que deu um passo para trás.
"Você não... não sabe o que ele fez comigo! Você nunca vai conseguir
entender! Nenhum de vocês!"
Remus franziu o cenho. "Não pode sair sozinho. Moody disse que é..."
"Não vou sair de casa, Lupin! Mas que porra!" Vociferei, entrando no meu
quarto e batendo a porta atrás de mim.
Droga, Regulus, pare de chorar, pare de chorar, pare de chorar... Por que é
que você está chorando, seu garoto idiota? Por que é que você deixa esse tipo
de coisa afetar você ainda? Para começo de conversa, a culpa foi sua por ter
deixado ele mandar e desmandar na sua vida. Foi sua culpa não ter segurado
seu pau nas calças e seu coração dentro do peito, e ter dado uma chance para
aquele psicopata doente de merda. Se ele achou que tinha direito de voltar e
se sentir dono de você outra vez, é porque você deixou que ele pensasse isso.
"Reg?" Ouvi a voz baixa de Mary atrás da porta. "Sirius está na garagem
cuidando da moto. Remus está com ele. Podemos conversar?"
Me afastei da porta, dando espaço para ela entrar e fui me sentar na cama.
"Pode entrar."
"Oi." Mary forçou um sorriso, fechando a porta atrás dela. "Acho que
deveríamos conversar sobre... você sabe, isso."
479
"Não há o que dizer." Dei de ombros, enquanto ela se sentava do meu lado
na cama. "Barty está solto. Ele vai vir atrás de mim. Ou eu o mato, ou ele me
mata. É isso."
"Não estou falando disso," Mary disse, me observando. "Sei que você tem
medo de vê-lo outra vez por causa do que aconteceu. E tudo bem, você não
precisa. Mas você não acha que deveria talvez contar à Sirius o que
aconteceu?"
"Mas que porra você está falando?! O que uma coisa tem a ver com a outra?!"
"Mas não pedi a sua ajuda!" Vociferei alto, me levantando da cama. "Não
pode entrar aqui e agir como se soubesse como estou me sentindo com o fato
do cara que abusou de mim física e mentalmente estar solto por aí! Porque
você não faz ideia de como é!"
"Se fosse ao contrário, você iria querer me ajudar, seu idiota!" Ela levantou
da cama, elevando a voz. "Estou tentando dizer à você que isso é algo que
você pode superar, é algo que se você conversar e colocar para fora pode te
fazer melhorar..."
"Está vendo?! Está fazendo de novo!" Eu disse, apontando para ela. "Olhe,
eu me virei sozinho com toda a merda que já aconteceu comigo, Mary.
Acredite, eu consigo lidar com isso sem colocar na porra do Profeta Diário
o que aconteceu comigo."
"Por que você está me tratando assim?!" Mary estava furiosa agora. "Se você
não quer ajuda, ótimo! Não é bom aguentar tudo isso sozinho, mas se você
quiser assim, então realmente não posso fazer nada à respeito! E não vou
ficar aqui para escutar você me odiar por amar você."
480
"Estou indo embora." Mary saiu pela porta do quarto e em poucos segundos,
bateu a porta da frente. Eu estava sozinho agora.
Brigar com Mary foi a gota d'água. Foi como se tivesse atingido algum tipo
de limite dentro da minha cabeça. E então eu gritei com toda a minha força.
"PORRA!"
Andei pelas ruas de Londres por mais de uma hora. Sirius deveria estar louco
de preocupação e Remus com certeza me daria um tapa quando eu
aparecesse. Já havia escurecido, o que tornava tudo mais perigoso. Se um
comensal me pegasse de surpresa agora, eu dificilmente teria como revidar.
Mas se eu não consegui nem mesmo parar Barty, como posso achar que
venceria de mais de um comensal da morte? Você é uma porra de uma piada,
Regulus. E ainda faz questão de brigar com a garota que você ama.
Andei por mais tempo e quando me dei conta de onde estava, percebi que
estava na rua da frente da casa de Carter. E apesar de saber que ele não estava
lá, senti uma vontade enorme de apenas me sentar ali e imaginar que ele
estivesse.
Então, eu fiz.
"Reg?!" Uma voz familiar. Levantei a cabeça e vi ele parado na minha frente.
Com uma mochila nas costas e as roupas um pouco amassadas. A mecha,
antes azul, agora estava roxa. Mas ele ainda era lindo.
481
"Casa dos Potter. Lily." Ele respondeu, revirando os olhos. "É claro que sou
eu, seu idiota."
"Mas você... Merlim, eu achei que você estava em Nova York." Falei,
desacreditado.
"Ah, sim, hm... eu vi, mas aconteceram outras coisas hoje e eu acabei não
conseguindo ler. Desculpe."
"Tudo bem," Ele sorriu, batendo no meu braço com o cotovelo. "E por que
você está aqui?! Não diga que fez amizade com o senhor e senhora Wood!"
Sorri fracamente. "Não, eu... eu apenas precisava sair de casa. Eu não estava
querendo conversar com ninguém. Queria ficar sozinho."
"Péssima ideia vir até aqui. Eu nunca calo a boca, você sabe disso."
"Ei," Carter franziu a testa, tirando a minha mão do rosto. "Você está
chorando?! Merlim, o que diabos aconteceu, Regulus?!"
"Não, eu... eu só estou triste, mas vou melhorar." Enxuguei meus olhos, mas
as lágrimas não paravam de vir.
"Nada disso. Você vai me contar. Se não, vou dar um jeito de descobrir e
vou ajudar você, você querendo ou não. Então, sabe, é melhor que seja com
você querendo."
Acho que que você só percebe como está exausto quando alguém aparece e
diz: "Tudo bem, se você desabar, eu te seguro."
482
Então eu desabei. E Carter me segurou.
483
Capítulo 37: Luna Lovegood
Flashback - 1976
"Não olhe agora. Sirius está olhando para cá." Pandora sussurrou, com o
rosto metade escondido em um livro grande e grosso. Regulus estava sentado
ao lado dela na biblioteca, com o rosto também enfiado em um livro que ele
insistia em dizer que estava lendo. Mas na verdade, não estava.
"Ele ainda está olhando?" Regulus sussurrou de volta um tempo depois, sem
mover os olhos da páginas. Sirius estava sentado em uma mesa à frente, se
balançando nos pés traseiros da cadeira, com um braço nas costas da cadeira
de James. Peter e Remus estavam com eles também, é claro.
"Você não está tendo uma visão muito inteligente da coisa, Black," Ela o
observou, sem quebrar o contato visual. Porque Regulus não conseguia ir
contra o que Pandora dizia se ela o encarasse por tanto tempo. "Você é um
idiota se acha que está certo."
"Ah, por favor! Você e ele outra vez?!" Pandora aumentou o tom de voz e
uma lufana fez um sinal com o dedo para ela fazer silêncio. "Soube que
Emmeline está doida para chamar você para ir até Hogsmead, Reg. E você
não tinha uma queda pelo Potter?! Honestamente, qualquer um é melhor do
que Barty."
"Emmeline é legal, mas não faz exatamente o meu tipo. Talvez eu a chame
para sair algum dia." Dei de ombros. "E sem chance com Potter. Se você não
percebeu que James tem arrastado um caminhão por Evans desde o terceiro
ano, então o chapéu pôs você na casa errada."
484
Pandora bateu com um livro na cabeça de Regulus e ele estremeceu.
Realmente havia doído. "Estou só tentando ajudar você. Barty sabe que você
gosta dele e usa isso para convencer você a se juntar à Você-Sabe-Quem. Da
última vez, tive que ver você chorando por ele por duas horas seguidas. E ele
nunca parece realmente disposto a assumir seja lá o que vocês tenham."
"Sim, eu sei. Ele não lida bem porque é um maníaco psicótico que surta até
se você usar uma roupa de uma cor que ele não goste."
"Ele não é ruim, Pan. Você apenas não o conhece como eu. Barty realmente
esteve lá para mim quando Sirius saiu de casa, eu disse à você." Regulus
insistiu, Pandora revirou os olhos, cruzando os braços.
"Com 'esteve lá para você' você quer dizer 'colocar você contra Sirius'?!
Porque foi isso o que ele tentou fazer! Merlim, como você não vê?!" Pandora
se inclinou para frente, sustentando o olhar decepcionado de Regulus. "Ele
gosta de ter você, mas não gosta de você de verdade."
Eram muitas, muitas questões. Mas a maior delas era o que fazia os dois se
entenderem tão bem no fim do dia. Porque não havia nada no mundo que
Pandora não fosse capaz de fazer por ele. E Regulus a amava tanto que
enfrentaria mil dragões por ela se fosse preciso.
485
Então, tudo ficava bem. Porque os dois sempre teriam um ao outro. Com
guerra ou sem guerra, eles eram imbatíveis e inseparáveis. Eram irmãos de
alma.
"Você não vai ficar chateada comigo, vai?" Regulus se esquivou por dentro
do livro de Pandora, piscando os olhos encenando uma cara suplicante.
Pandora revirou os olhos e passou a mão no rosto dele, o empurrando para
trás.
Regulus sorriu mais uma vez, se levantando com Pandora. Os dois não
podiam sentar na mesma mesa na hora das refeições por serem de casas
diferentes, mas eles passavam o resto do dia inteiro juntos e era uma
verdadeira tortura quando eles tinham aulas diferentes e Regulus era
obrigado a ficar com pessoas de quem ele nem gostava tanto assim e Pandora
com pessoas que não perdiam a chance de caçoar dela por causa do seu jeito
diferente. Fora esses momentos, os dois não se separavam nunca.
"Ei, Black!" Snape gritou para Regulus, que tentou passar direto por eles,
mas em vão.
486
"Não estou falando com você, Crouch, então não se meta." Pandora
vociferou e fitou Regulus demoradamente. "Regulus. Vamos. Jantar."
"Tem que me dar atenção agora." Barty o interrompeu antes que ele
terminasse, colocando um fio bagunçado do cabelo de Regulus para trás da
orelha. "Não está me rejeitando por causa dela, está?"
"Até que ela é bem gostosinha..." Mulciber lançou, andando mais perto de
Pandora. Regulus sentiu Barty estremecer por meio segundo ao seu lado, ele
sabia que se passasse na cabeça dele que Regulus poderia ter algum interesse
nela, ele ficaria definitivamente perigoso. Pandora se afastou de Mulciber e
Regulus se esquivou bruscamente do braço de Barty.
"Se falar com ela assim mais uma vez, arranco sua língua fora e faço você
mesmo engolir. Seu cretino de merda."
487
"Vamos, Reg," Pandora puxou Regulus, que estava a um passo de avançar.
"Se não, o Salão vai ficar cheio e não teremos lugar para sentar."
Quando os dois deram as costas, os três riram mais uma vez e Mulciber
cantarolou, "Não se preocupe, Pandora, se quiser sentar em algo, meu quarto
está sempre com as portas bem abertas!"
Foi o que Regulus precisava para explodir. Uma espécie de gatilho foi
apertado dentro de sua cabeça e agora era impossível voltar atrás. Ele deve
ter se virado muito rápido, porque quando se deu conta, seu punho já estava
acertando em cheio a cara de Mulciber.
Ele cambaleou para trás, mas Snape e Barty o seguraram. Pandora estava
chocada. Regulus parecia anestesiado pela própria raiva.
"Qual a porra do seu problema?!" Barty gritou, isso fez Regulus despertar do
transe e olhar confuso para ele.
"O que... você..." Regulus engoliu em seco. "Você viu o que ele-"
"Quero que você suma da minha frente." Barty estava furioso agora. E
Regulus sabia muito bem que isso não tinha nada a ver com Mulciber. Barty
interpretou tudo aquilo apenas como uma coisa. Não como se Regulus
tivesse acabado de escolher outra pessoa ao invés dos três, mas como se
Regulus tivesse acabado de escolher outra pessoa ao invés dele.
"Não pode estar bravo comigo. Eu... eu não fiz nada para você." A voz dele
estava trêmula agora, o coração dele havia caído. Ele precisava de Barty. Se
alguém que ele amava deixasse ele mais uma vez, ele não aguentaria. "Eu
nunca faço."
Regulus estava tão imóvel que Pandora teve que quase arrastá-lo de lá. Ele
se recusava a chorar na frente das pessoas. Blacks não choram, Regulus, é o
488
que diria a sua mãe, muito menos na frente de alguém. Barty nunca o veria
chorar, não importa o que fizesse. Mas isso não significava que Regulus não
podia fazer isso quando ele não estava olhando. Então quando ele se virou,
elas vieram descontroladamente. As lágrimas.
Regulus não sabia o que responder. Ele sabia que Barty era louco, agressivo
e narcisista. Mas quando ele estava nos seus dias bons, tudo era tão lindo que
Regulus mal podia acreditar. Quando os dois dormiam juntos, Barty o
acordava distribuindo beijos por todo o rosto dele e se Regulus estivesse
triste, Barty levava algo do café da manhã para ele comer escondido no
dormitório. Mas ele sabia que era preciso só um erro da parte dele ou que
Regulus discordasse de algo que ele quisesse, que tudo desmoronaria e Barty
ficaria descontrolado. Então, era realmente difícil gostar de alguém assim.
"Se ele precisa partir o seu coração para você perceber que o ama, não é
amor." Pandora disse, seriamente. "Eu amo você. E você me ama. E nós
nunca fizemos um ao outro chorar. Mas você sabe que me ama. E eu sei que
amo você."
"Quando a pessoa fizer você se sentir feliz por estar vivo. E fizer você sentir
que ter passado por tanta coisa valeu a pena, porque você chegou até ela no
fim. Você entende?"
"Mas, ei, até lá você tem a mim, ok?!" Pandora o balançou animadamente,
tirando um sorriso fraco do rosto molhado de Regulus. "Sempre vamos ter
isso. Nós. Sabe disso, não é?"
489
magoava mais que qualquer pessoa no mundo. E Sirius não falava mais com
ele. E algumas pessoas estavam começando a olhar feio para Pandora por
andar com alguém da família Black, ele notava. E seu corpo havia ganhado
mais algumas cicatrizes depois do último verão, obrigada, mamãe! E, sim,
às vezes ele tinha vontade de pôr um fim em tudo.
Mas Pandora era o suficiente para fazer Regulus se sentir feliz por ainda estar
vivo.
***
Sob nenhuma circunstância era seguro ficar fora de casa até tarde da noite.
Por mais que eu e Carter tivéssemos inúmeros assuntos para colocar em dia,
ele insistiu para que eu voltasse para casa naquela noite.
"Sirius e Remus vão se preocupar, principalmente com Barty solto por aí. É
melhor você voltar." Carter disse, depois de eu insistir incontáveis vezes para
ele me deixar ficar com ele, porque não estava nenhum pouco a fim de voltar
para o mundo real hoje. "Você precisa falar com Mary também. Não é porque
somos amigos que vou dizer que você estava certo. Você foi um idiota com
ela, sabe disso."
Foi quando entramos em casa que eu percebi imediatamente que não havia
nenhum sinal de nenhum dos dois no lugar. Mas andando de um lado para o
outro na sala, inquieta e roendo uma das unhas, estava a minha namorada.
Não era possível que ela só levou algumas horas para me perdoar.
"Você não disse que ela estava com raiva de você?" Carter sussurrou para
mim enquanto entrávamos na sala, eu dei de ombros.
"Mary?!" Ela levou um susto pequeno quando me viu, como se mal tivesse
percebido nós entrarmos. "Está tudo bem?! Onde Sirius está?"
490
Mary correu os olhos rapidamente entre mim e Carter, franzindo levemente
as sobrancelhas em uma expressão confusa, mas desviou o olhar logo em
seguida, pousando os olhos apenas em mim. "Achamos que você estava aqui,
então Phil mandou um patrono diretamente para cá avisando. Sirius e Remus
ouviram e foram para lá na mesma hora."
"O que Phil queria com - Espere aí, está me dizendo que Pandora..."
"Sim, Regulus, estou! Deus, ela está se recusando a ter esse bebê sem você
lá, onde é que você estava a essa hora?!" Mary estava agitada e claramente
preocupada.
"Isso foi culpa minha," Carter se intrometeu, antes que eu pudesse responder.
"Eu acabei segurando ele." Mentira.
Mary assentiu, sem dizer mas nada, e se apressou até a porta. Carter mexeu
no cabelo, um pouco desconfortável, "Acho que eu deveria voltar para
casa..."
"De jeito nenhum." Agarrei o braço dele com força. "Você não vai voltar
essa hora, não é seguro. Você pode ir comigo e Mary."
Nós três aparatamos imediatamente. O que não foi nada agradável para o
meu nervosismo, que estava a mil naquela noite. A filha de Pandora. Minha
afilhada. Porra, parecia que o meu coração ia sair pela boca.
Eu havia visto mais mulheres grávidas neste último ano do que vi na minha
vida inteira e, acreditem, Blacks gostam de gerar herdeiros, então as
mulheres da minha família nunca paravam até vir um menino. O que eu acho
491
meio sexista, mas não entendo muito dessas coisas, então nunca questionei
muito.
Mas a questão é que agora não era só uma mulher grávida, não que o
nascimento de Harry, do filho dos Longbottom ou até mesmo de Draco não
tenham sido grande coisa porque foi, mas era Pandora quem estava dando a
luz. A pessoa que eu conheço desde os onze anos. Minha melhor amiga.
Como diabos eu deveria reagir?! Phil me deixaria ficar com ela? Mesmo
depois dela ter perdido a filha deles por minha culpa? E se ele simplesmente
decidisse que não me queria como padrinho? Alguém havia avisado James e
Lily?
Fui o primeiro a entrar na casa seguido por Mary e Carter, demorei para
perceber que estava literalmente suando de nervosismo. Andrômeda foi
quem abriu, eu passei direto por ela, "Ei, mocinho! Não pode entrar sem
responder o protocolo!" Ela exclamou.
"Ele está comigo." Respondi, apressado outra vez. "Onde ela está?! Está no
quarto?! Eu vou até lá."
"Talvez você deva esperar, Reg," Carter disse. "Você não sabe como a
situação está lá dentro."
"Vou fazer um chá." Mary foi até a cozinha, Andrômeda e Narcisa foram
ajudá-la. Ficamos apenas eu, Sirius, Remus e Carter, que se sentou em uma
das poltronas.
492
"Então," Sirius pigarreou, me vendo andar de um lado para o outro na sala.
"Você está melhor? Você saiu de casa meio... transtornado. Nós ficamos
preocupados depois do que aconteceu."
"Pirralho."
"Ele estava comigo," Carter disse. "Mas eles tem razão, Reg, não é
inteligente andar por aí sozinho com Comensais da Morte tomando conta de
Londres. Principalmente, você sendo você."
"E eu vou com você." Moony foi atrás, depois de terminar de fumar um
cigarro e acender outro logo em seguida.
E então estávamos eu e Sirius, ele ficou me olhando andar de uma lado para
o outro em silêncio por um tempo considerável. Sempre havia sido assim, eu
era o irmão nervoso, Sirius sempre foi mais relaxado, eu era fechado demais
e para Sirius sempre foi fácil apenas dizer as coisas que sentia.
"Não, estou bem." Respondi, sem olhar para ele. Ainda andando.
"Sirius, você se lembra da vez em que você me perguntou com quem eu havia
perdido a minha virgindade? E ficou chocado por ter sido um cara?"
493
Sirius sorriu com a memória. "Óbvio que sim. Fiquei morrendo de inveja por
você ter conseguido se descobrir tão cedo. E também, Jacob Falk não era
nada mal."
"É, não era." Respondi. "Mas eu menti. Não foi com ele."
"Foi com outra pessoa. Alguém que me arrependo tanto que nunca contei à
ninguém, a não ser Pandora."
"Quem?"
Sirius arregalou os olhos. O queixo indo no chão. "Oh- Mas... Uau! Tipo,
que merda, mas... Porra, Reg!"
"É."
"Eu via vocês dois, mas... Bom, é óbvio que eu desconfiava que tinha alguma
coisa. Mas não a esse ponto." Sirius ainda estava boquiaberto. "É por isso
que você ficou daquele jeito hoje?!"
"No dia que fomos até o Três Vassouras, comemorar a gravidez de Lily,"
Comecei, engolindo em seco. "Nós o pegamos. Ele foi preso. Mas você se
lembra de como fiquei? Não conseguia comer, ou sair do quarto, ou falar
com alguém, ou ser... ser tocado."
Finalmente levantei os olhos para ele, encarando seu olhar preocupado e com
uma ponta de raiva. "Barty sempre odiou que eu o rejeitasse. Ele nunca
494
aceitou 'não' como resposta, muito menos no tempo da escola. Seria
impossível eu contar à você tudo que aconteceu entre mim e ele, mas ele foi
a primeira pessoa por quem eu me apaixonei de verdade. E tudo o que você
precisa saber é que ele acabou comigo. De todas as maneiras que se pode
acabar com alguém. Eu amava ele e ele sabia disso, e usou isso para me
destruir."
"Ele ficou louco quando o abandonei. Quando traí o Lorde das Trevas, ele
levou para o lado pessoal. Como se eu tivesse traído ele próprio. Acontecia
sempre. Se eu me negasse a concordar com ele em algo, ele achava que eu
estava rejeitando ele, não a coisa em si. Então naquela noite, ele tentou me
convencer a voltar. Tentou me convencer a voltar... da pior forma possível."
Respirei fundo, porque depois que eu dissesse, não tinha mais como voltar
atrás. "Eu... eu mandei ele parar, mandei ele... mandei ele se afastar e parar
de encostar em mim, juro que mandei! Juro que eu não queria! Eu sei que
dei para ele a chance de acreditar que podia fazer isso comigo! Eu era um
adolescente arrogante, burro e magoado! E achava que ele era o único que
me entenderia! Então, ele achou que tinha o direito de tocar em mim, de...
de encostar em mim daquele jeito contra a minha vontade... Desculpe, eu sei
que isso é minha culpa. Mas eu só queria que você soubesse o que aconteceu
porque você é o meu irmão. E se algo do tipo acontecesse com você, eu
também ia querer saber."
"Quero que você me escute com bastante atenção, tudo bem?" Sirius disse
seriamente, e eu podia jurar que uma bronca viria por aí. "Você pode ter sido
um adolescente arrogante, burro e magoado. Eu também era. E tudo bem,
porque nós dois não crescemos na melhor casa do mundo. Mas ninguém
merece isso, Regulus. Pare de falar como se isso fosse um tipo de punição
por você ter confiado nele. Você não me vê com raiva de mim mesmo por
ter confiado em Wormtail a minha vida toda, vê?"
"Sem mas. Você não vê. Porque é culpa dele, não minha. Não foi minha
culpa ele ter sido um filho da puta. Não foi minha culpa ter ido para a
Grifinória. Não é minha culpa ser gay na porra dos anos 80 e ser apaixonado
495
por um lobisomem mestiço. Não é minha culpa ter tido pais que me
torturavam e não foi minha culpa quando eles transformaram minha foto na
tapeçaria em churrasco. E não é sua culpa Barty ter feito o que ele fez. Nunca
mais pense assim."
"E se ele vier atrás de mim? Se ele me matar, o feitiço vai quebrar e James,
Lily e Harry estarão em perigo. E vocês vão ter que continuar a busca das
horcruxes sem mim. O que vai ser difícil já que eu..."
Uma voz pigarreando soou atrás de nós e quando me virei, era Mary. "Queria
saber se vocês querem comer alguma coisa? Partos costumam demorar e
acho que vamos passar a madrugada aqui."
Dei uma olhada rápida para Sirius, e ele entendeu tudo. Porque esse era
Sirius, ele sempre entendia. E, em um flashe de memória, me lembrei de uma
coisa que me disseram a muito tempo. As pessoas que você ama não fazem
você chorar, elas fazem você sentir que você tem motivos para ainda estar
vivo. E acho que Sirius era uma dessas pessoas desde sempre e, por mais que
tenhamos nos odiado por um tempo, não acho que algum dia ele tenha
deixado de ser.
Quando ele nos deixou sozinhos, Mary quase deu meia volta para segui-lo
até à cozinha, mas eu a puxei pelo braço antes que ela fizesse.
"O que foi?" Ela franziu a testa, olhando para a minha mão no braço dela.
"O que você... Deus, Black, você precisa se decidir ou vai acabar me
matando." Ela suspirou, se virando para mim. "Você falou com ele?"
"A mim?! Tem certeza que não foi por causa do seu amigo?"
"Carter?! Você não está com ciúmes dele, está?!" Sorri involuntariamente,
porque era completamente absurdo a ideia de eu querer outra pessoa que não
fosse ela.
496
"Bom, você me afastou e foi procurar ele! Acho que tenho o direito de ficar
com ciúmes." Ela cruzou os braços, arqueando as sobrancelhas. Como
alguém conseguia ser tão linda até com raiva?
"Certo. Me desculpe por ter dito aquelas coisas para você. Você tinha razão.
Guardar tudo para mim já quase acabou comigo uma vez. Não vou repetir o
erro." Envolvi as mãos na cintura dela, encostando o seu corpo no meu. "Eu
amo você, sabe disso, não sabe? Amo você mais que qualquer coisa. Então,
não desista de mim ainda. Por favor." Disse a última parte quase num
sussurro, encostando a minha testa na dela.
"Você vai ter que se esforçar mais se quiser me afastar algum dia." Ela sorriu
para mim, levando as mãos até o meu pescoço. "Você sabe que não desisto
fácil de nada. Muito menos de você. Nunca de você."
"Nunca?" Levantei o rosto para encará-la, e ela me olhou de uma forma tão
pura e profunda, que eu senti vontade de morar naquele instante em que
olhava nos olhos marrons dela.
"Nunca."
Foi quando me toquei que Mary também era uma daquelas pessoas. E que
minha lista está bem maior do que quando tinha quinze anos e achava que
Barty era o mais perto que eu ia chegar do amor. Se eu pudesse contar para
o Regulus do passado que ele se apaixonaria de verdade por alguém um dia
que estava apenas a uma comunal de distância, e que esse amor iria consumir
tanto o seu coração que faria ele ter vontade de gritar no meio de uma rua
que a ama mais que qualquer coisa que já tenha amado na vida. E que o faria
perceber que tudo que ele já conheceu antes que achou ser amor, não era.
Porque ela sim, era algo pelo que se valia a pena estar vivo.
"B-bom, na verdade..."
497
acontecendo. Ontem eu e Pandora éramos crianças e hoje caçamos horcruxes
juntos e ela vai ser mãe! Nem parecia real.
"Pan!" Corri até a lateral da cama onde ela estava e segurei a sua mão livre,
me ajoelhando no chão ao lado dela. Ela estava com o cabelo loiro grudando
no rosto de tão suada, o rosto muito vermelho e muito ofegante.
"Reg... Reg, vai ficar tudo bem, não vai? Preciso que você me diga que vai
ficar tudo bem. Preciso que você me diga, ninguém mais, que vai ficar tudo
bem dessa vez. Você precisa... precisa me dizer..." Ela estava chorando.
Nunca a vi tão assustada. Phil estava me olhando muito preocupado, Marlene
examinava a parte íntima de Pandora.
"Ei, ei, olhe para mim!" Virei o rosto suado dela para mim e meus olhos
ficaram marejados quando se encontraram com os dela, que também estavam
molhados. "Você é a pessoa mais forte que conheço. Você precisa acreditar
no que vou dizer agora, Pandora. Você vai conseguir. Nós vamos. Vamos
fazer isso dar certo. Você tem a mim, Phil, e uma família inteira na sala
esperando para conhecer a nossa Luna, ok? Você consegue. Vai dar certo.
Você só precisa respirar, tudo bem? Pode fazer isso por mim?! Respire agora,
vamos."
Ela assentiu nervosamente, e Marlene gritou, "Vamos, Pan, mais uma vez!",
Pandora fez tanta força que os meus dedos e os dedos de Phil ficaram
brancos. Mas honestamente, eu nem mesmo senti nada. Eu precisava estar
aqui por ela, independente de qualquer coisa. Como prometi que sempre
estaria.
"Eu amo você, ok? Amo você, amo você, amo você..." Phil sussurrou para
ela, encostando suas testas suadas uma na outra. "Você consegue, meu amor.
Você consegue qualquer coisa."
498
"Exatamente." Assenti rapidamente, apertando a mão dela. "Vamos, de
novo, certo?"
Era ela.
Phil carregou Luna por alguns minutos depois. Tudo parecia irreal. Como se
não estivéssemos vivendo isso de verdade porque era tudo lindo e puro
demais.
"Você quer segurá-la?" Pandora sussurrou para mim, quando Phil estava um
pouco longe balançando Luna nos braços.
"Não quero tirar ela dele." Respondi, sussurrando de volta. "Ele já não vai
com a minha cara."
Pandora sorriu, e eu sorri por vê-la sorrir. "Phil, me dê ela aqui." Pandora
pediu, Phil trouxe Luna até ela e me encarou.
"Se você é o padrinho da minha filha, então acho que somos família agora,
não é?" Ele disse, estendendo uma mão para mim.
499
Levou alguns segundos para eu acomodar Luna nos meus braços, a
cabecinha pequena tinha que se encaixar bem e o corpo minúsculo tinha que
ficar bem apoiado. Mas quando parei para olhá-la, o meu coração se encheu
de uma coisa inexplicável. Eu me apaixonei instantaneamente.
"Ei, Luna..." Sorri, levando o dedo indicador para a mão pequena dela
segurar. Ela me olhava com os os olhos grandes e azuis, iguais aos da mãe.
"Sou seu padrinho. O Tio Reg. Espero que você goste de mim, ok? Porque
eu amo você demais." Levei a boca até o topo da sua cabeça e beijei.
A lista havia acabado de crescer. Esse tipo de amor era diferente de tudo. Eu
tinha sensação de que qualquer coisa que eu fizesse, ainda não seria o
suficiente para mostrar o quanto eu já a amava. Eu faria qualquer coisa para
protegê-la e, naquele momento, jurei para mim mesmo que faria durante toda
a vida dela. E estar vivo não parecia mais tão exaustivo.
Porque levei vinte anos para sentir algumas coisas, mas Luna fez tudo valer
à pena em apenas alguns segundos.
500
Capítulo 38: Prisioneiro de Azkaban
O tempo pareceu voar depois que Luna nasceu. Todos os nossos amigos da
Ordem haviam ido visitar Pandora e Phil, com ênfase especial em Arthur e
Molly que também haviam acabado de dar à luz a primeira menina depois
de seis meninos. Sirius disse que eles pretendiam parar, mas não tenho tanta
certeza assim.
Durante o resto dos meses, todos voltaram ao normal. Pelo menos, o normal
da guerra. Porque quem dera que bebês fossem fofos o suficiente para
acalmar os nervos das pessoas a ponto da guerra acabar.
Quando setembro começou, Remus voltou toda a sua atenção para Lucien e
Shade, que agora o acompanhavam sempre nas luas cheias, o que deixou
Sirius extremamente enciumado, por mais que ele soubesse que ou era isso
ou Remus teria que passar as luas cheias preso naquela casa horrível. Com
os lobos sendo tão leais à ele, se tornava quase impossível serem atacados
nas florestas. E quando isso incentivou Remus a querer trazer mais lobos
para o nosso lado, ele começou a ficar realmente ocupado indo em missões
todo o tempo.
Sirius tentava se distrair ao máximo, agora que ele estava passando mais
tempo longe de Remus e James não estava mais por perto. Ele conseguia que
Moody o desse missões diariamente, fosse vigiando lugares suspeitos ou
investigando pessoas, ele fazia o possível para não ter que ficar parado e
pensar em Remus andando por aí atrás de lobisomens ou nos Potter trancados
e sozinhos em Godric's Hollow.
"Sabe, você não precisa fazer isso," Eu sorri fracamente, vendo Mary afundar
o rosto em um dos livros enormes que estavam espalhados pela mesa. "Sei
como isso pode ser cansativo."
"Não se preocupe comigo, estou bem," Ela respondeu, sem tirar os olhos das
páginas. "Onde é que você consegue esses livros?!"
501
"Alguns Dumbledore me dá, outros eu consigo em bibliotecas bruxas... O
problema é só que nunca sei qual levar porque não é como se existisse um
livro falando especificamente sobre a relação do Lorde das Trevas com
horcruxes."
"Mas esse aqui fala sobre horcruxes." Ela disse, estreitando os olhos.
"Até pessoas, Reg." Ela jogou o livro na mesa, apontando para um parágrafo
específico. "Olhe aqui. 'Uma horcrux é algo criado por meio das Artes das
Trevas, a qual guardaria um pedaço da alma do bruxo que a criou.'"
"Não diz objeto," Mary bateu o dedo indicador no livro. E começou a pegar
outros livros que estavam em cima da mesa. "Em nenhum desses livros,
nenhum deles usa a palavra objeto, Reg! Quando eles dizem que pode ser
qualquer coisa, pode ser literalmente qualquer coisa! Até uma pessoa!"
"Oh... Oh! Deus, como é que não pensei nisso em nenhum momento?!" Algo
estalou na minha mente. Aquilo conseguiu ficar mais fácil e mais difícil ao
mesmo tempo. "Amo você, Mary! Definitivamente, amo você!"
"Obrigada." Ela sorriu satisfeita. "Você acha que ele poderia usar algum
Comensal, ou algo do tipo?!"
"A não ser que seja alguém que esteja sempre com ele, que esteja sob
proteção dele o tempo inteiro."
502
"Bom, eu poderia dizer Bella, mas... Ele não é preocupado exatamente com
a segurança dela. Honestamente, acho que ele não dá a mínima. Mas se fosse
alguém, com certeza meu chute seria ela."
"Além dela, em quem mais ele confiava tanto assim? Você se lembra de
alguém que..."
"Sim. Eu." Respondi, olhando rapidamente para ele pelo canto do olho e
voltando a olhar para o livro na mesma velocidade. "Ele confiava em mim o
suficiente para usar o meu elfo para esconder o medalhão, mesmo sabendo
que ele poderia me contar tudo depois. Fora outras coisas absurdas que ele
já confiou a mim, que eu prefiro não contar."
"Não, você não explicou nada!" Sirius gritou de volta, enquanto Remus ia
pegar uma xícara de café, tentando ignorar Sirius. "Não pode realmente achar
que eu ficaria bem com isso!"
"A questão é que isso é maior do que você!" Remus bateu a xícara na mesa,
irritado. "Mas você é mimado o suficiente para achar que não é!"
"Hm... Tudo bem aí?" Perguntei para os dois, trocando um olhar com Mary.
"Não, não está!" Sirius veio até nós, Remus virou os olhos atrás dele,
acendendo um cigarro. "Reg, Mary, preciso da opinião de vocês."
"Remus e eu marcamos de almoçar juntos hoje, mas ele disse que estava
cansado e que preferia almoçar em casa porque passou a manhã em uma
missão com os lobisomens." Sirius disse, olhando furiosamente para Remus.
"Eles tem nome, Sirius. Eles são pessoas também." Remus estreitou os olhos.
"Mas isso não é tão ruim, Sirius." Mary disse. "Ele só estava cansado, vocês
dois podem almoçar juntos em casa e..."
503
"Ah! Mas não foi esse o problema, MacDonald!" Sirius disse, sorrindo
ironicamente. "Conte a eles, Moony! Conte o que você fez!"
"Moony!"
"Tudo bem, eu vou contar!" Remus jogou o cigarro fora, vindo até nós. "Eu
realmente estava cansado e ia voltar para casa! Mas quando eu estava indo
encontrar Sirius para voltarmos juntos para cá, eu e Shade vimos Alexa
Colins, uma lobisomem que estamos vigiando a semanas, entrar em um dos
bares. Nós estamos tentando achar o momento certo para falar com ela
porque não sabemos se ela é fiel ou não à Greyback, então nós entramos e
nos sentamos em uma mesa no canto para vigiá-la de longe."
"E você não estava cansado e queria voltar para casa?!" Sirius disse, com as
mãos na cintura. "Olhe, Moony, eu entendo que você precisa ir nessas coisas.
Eu entendo e nunca digo nada. Mas nós quase não nos vemos mais e quando
vamos fazer algo juntos, você desmarca e eu encontro você no bar com ele!"
"Não pergunte se não eles não vão parar nunca." Eu revirei os olhos,
entediado.
"Eu não podia deixar a oportunidade passar, Sirius!" Remus gritou. "Pelo
amor de Deus, você precisa entender que todos nós estamos tendo que
sacrificar alguma coisa por esta droga de guerra! Então, pare de agir assim
só porque está sentindo falta de James!"
O meu queixo e o de Mary caiu, nós nos entreolhamos mais uma vez. Moony
havia pegado Sirius em um ponto muito delicado e agora não havia mais
como voltar atrás. Merlim, Moony, o que é que você disse?
"Pare de falar comigo como se eu fosse uma criança." Sirius cerrou os dentes,
a voz quase falhando de raiva. "Desde que a guerra começou, eu fui expulso
de casa e quase perdi meu irmão duas vezes. Peter virou a porra de um
Comensal da Morte. Tenho que ficar longe não só do meu melhor amigo,
como de Harry também. Perdemos amigos da Ordem todos os dias e quase
perdi você para os lobos porque você estava tentando me proteger. Então,
504
não me trate como se eu não soubesse como a guerra tira coisa de nós. Porque
eu sei."
"Preciso que você fique longe de mim agora." Sirius pôs a mão entre eles,
depois seguiu para o quarto.
"Não sei, eu... Não sei, Reg, apenas saiu!" Ele respirou fundo cansadamente,
se dirigindo para a porta que dava até a varanda. "Vou lá para fora, preciso
respirar."
"Eles são assim desde a escola," Mary suspirou, "Brigavam por qualquer
coisa, mas também se resolviam rápido. Não sabia que isso ainda acontecia."
***
Uma das únicas coisas que me relaxaram daqueles livros durantes as últimas
semanas eram as vezes em que Pandora levava Luna para passar o dia
comigo. Para falar a verdade, havia uma parte de mim que torcia sempre para
que ela tivesse que ir em alguma missão da Ordem e Phil também estivesse
ocupado, assim eu poderia ficar com Luna o dia inteiro.
"Deus, como ela nunca chora com você?!" Pandora disse, me entregando
Luna nos braços, antes de ir para a cozinha fazer um chá. "Eu e Phil estamos
quase enlouquecendo nas últimas madrugadas!"
"Acho que ela gosta mais de mim, então." Sorri, enquanto Luna apertava
com as duas mãos pequeninhas o meu indicador.
"Nem me fale nesses dois. Remus não está em casa e Sirius está trancado no
quarto. Eles estão brigando mais do que nunca, ultimamente." Disse,
ajeitando Luna, que havia começado a choramingar um pouco.
505
"Ainda pelos lobisomens?!" Pandora pôs a bandeja com o bule e as xícaras
no balcão.
"Isso também, mas no geral, Sirius só precisa que Remus dê mais atenção
aos dois." Respondi, dando de ombros. "Eu não o culpo por se sentir assim,
nós dois crescemos na mesma casa e acredite, atenção não era muito o forte
dos nossos pais."
"Lily têm escrito bastante ultimamente," Comentei, vendo Luna tentar tirar
um dos meus anéis dos dedos. "Ela mandou uma carta agradecendo a
vassoura que Sirius deu a Harry, disse que ele quase matou o gato com ela.
Lily quase enlouqueceu, é claro! E James não poderia ter ficado mais
orgulhoso."
Pandora sorriu fracamente, pensativa. "Eles fazem falta por aqui, não é?
James e Lily."
"Sim," Respondi, desviando os olhos para Luna. "Não fiquei surpreso por
ele ter fugido, Voldemort com certeza se uniu aos dementadores, ou algo
assim. Um comensal a mais, um comensal a menos. Dá no mesmo."
"Tudo bem, mas não estou falando de Barty Comensal da Morte Pirado
Crouch," Pandora disse me observando, quando eu encarei as minhas mãos.
"Estou falando de Barty, o filho da puta que fez merda com você a vida
inteira."
Pandora suspirou pesadamente. "Só não quero que você se feche sobre as
coisas como fazia antes. Isso nunca deu certo para você, não é agora que vai
começar a dar."
506
"Sei que posso falar com você." Assenti, curvando a boca em um sorriso
fraco.
"Que bom que sabe." Ela sorriu, satisfeita. "E então?! Quais as novidades
que você tem para me dizer sobre nossa muito provavelmente última
horcrux?!"
"Bom, eu estava falando com Mary esses últimos dias, procurando em alguns
livros e..." Fui interrompido quando a coruja chegou com o correio, me
levantando para dar Luna para Pandora. "Mm... Só um minuto. Pode ser algo
dos Potter."
Merlim, vocês não fazem ideia do tédio que é isso aqui sem vocês três! Me
contem novidades, qualquer coisa! Como está Pandora? E Luna? Estou
louco para conhecê-la! E como vai a nossa busca? Já acharam alguma coisa
ou estamos sem sorte? De qualquer forma, não vamos desanimar, ok?
Vamos vencer esta guerra com ou sem sorte!
Falando em Harry, algum de vocês pode nos mandar alguma foto de todos
nós? Acabei esquecendo de trazer alguma e seria bom para Harry conhecer
a família toda.
Quando eu voltar, os três vão me levar para tomar o maior porre que já
tomei na vida! Se não me fizerem sair no mínimo carregado do Três
Vassouras, eu mato vocês!
Sinto saudades.
Muito amor,
Prongs."
507
Sirius apareceu em menos de um segundo na cozinha. Ele irrompeu pela
porta do quarto tão rápido que cambaleou quando parou. E sem dizer
nenhuma palavra, ele pegou a carta da mão de Pandora e sorriu, abraçando o
pedaço de pergaminho.
"Deus, se você não estivesse com Lupin e Potter não fosse casado," Pandora
disse, sorrindo da pressa de Sirius em abrir a carta. "Eu diria que é
apaixonado por ele!"
Assim que peguei a outra carta para ler, Remus chegou em casa. Sirius
levantou os olhos da carta de James por alguns segundos, mas logo os
desviou de novo.
Suspirei cansadamente antes de abrir o resto. Deus, acho que vou precisar
sentar esses dois no sofá um do lado do outro e forçá-los a se desculpar um
com o outro.
Meu queixo caiu. Por meio segundo, senti uma onda de desespero, mas voltei
ao normal rapidamente. "Precisamos mandar um patrono para a casa de
Marlene. Agora."
"Marlene?!" Sirius franziu o cenho, vindo rápido até mim. "Por quê
Marlene?!"
Entreguei a carta à Sirius que começou a ler com Remus ao seu lado. "Que
porra é essa?!" Remus vociferou, os olhos arregalados.
508
"Reg?" Pandora me encarou, desconfiada.
"Alguém está tentando nos avisar que planejam matar os McKinnon essa
noite. Essa exata noite, Pan." Respondi, agitado. As mãos começando a suar.
"Quem diabos mandou isso?!" Sirius disse, batendo a carta na mesa. "Foi o
mesmo de quando Greyback queria atacar Cissy e Draco! Estão tentando
brincar com a gente ou o quê?!"
"Temos que tirar eles da casa. Temos que tirá-los agora!" Pandora se
levantou, com o olhar determinado.
"Acho... acho que Mary pode ficar com eles. Posso falar com ela sobre
isso...." Eu disse, com a voz nervosa. "Pan, mande o patrono, por favor."
"Apenas não é meu melhor feitiço, ok?!" Respondi, irritado. "Merlim, esse
não é o ponto aqui."
Depois que Pandora mandou o patrono, deixamos Luna com Phil em casa e
seguimos os quatro para a cabana afastada onde ocorriam agora as reuniões
da Ordem. Antes elas aconteciam nos Longbottom, mas agora sem eles por
perto e com as coisas ficando mais perigosas a cada dia que se passava,
Moody havia colocado todos os feitiços de proteção e camuflagem ao redor
da cabana.
Perguntei se Carter queria vir em todas as reuniões que tivemos desde que
ele voltou de Nova York, mas ele diz sempre o mesmo. Que não gosta de
guerras e que acha que temos mais chance de vencer sem ele por perto, então
ele prefere ficar distante. Ele continua ocupado tentando descobrir como
509
conviver bem com os pais. Às vezes, eu o invejo por poder se dar ao luxo de
se manter distante dessa confusão. Porque eu mesmo estou metido até o
pescoço.
Eu já deveria ter imaginado que não precisaria pedir nada à Mary. Quando
chegamos, ela já estava sentada ao lado dos McKinnon.
"Ei," Pus a mão no ombro dela, que se virou e sorriu para mim. Olhei
diretamente para Marlene, que estava com a mãe e o irmão ao lado. O pai
estava conversando com Moody e Hagrid. "Tudo bem? Vocês já tem onde
ficar? Se precisarem, eu passo a noite em algum lugar e vocês podem ficar
no meu quarto, sem problema algum."
"É muito gentil da sua parte, Reg," Marlene sorriu, afetivamente. "Nós
vamos ficar com Mary essa noite... Os pais dela foram muito gentis em
deixar que nós ficássemos lá."
"Bom, ele parecia querer atacar pessoas próximas à você, não é?" Mary
sussurrou para mim.
"Mas eu não sou tão visto assim com você, Marlene," Respondi, sussurrando
de volta. "Não acho que tenha exatamente um motivo. O bilhete dizia que
ele estava fraco. Ele pode estar querendo assustar mais ainda as pessoas,
agora que não está tão poderoso. A questão aqui, na verdade, é outra."
510
cercada de feitiços de proteção e ocultamento. Logo depois, Moody se
levantou e começou a distribuir as missões às suas devidas pessoas.
"Vamos para casa, Reg," Sirius passou o braço pelo meu pescoço. "Moony
provavelmente está ocupado demais para ir também."
"Acho que você tem algo para me mostrar, não é, Regulus?" Dumbledore
perguntou com a voz calma, me observando por cima dos óculos meia lua.
Retirei o bilhete do bolso e entreguei à ele, que analisou frente e verso. "Por
que o senhor não falou sobre isso na reunião?!"
"Não, estou perguntando por quê o senhor não levantou a questão de quem
é que nos mandou isso," Respondi, o encarando seriamente. "Nem disse nada
sobre a coincidência de termos recebido um aviso parecido meses atrás
quando a matilha de Greyback ia fazer um ataque."
511
"Não acho que descobrir isso vai nos beneficiar nesta guerra, Regulus."
Dumbledore disse, me devolvendo o bilhete.
"Como não?! O senhor não acha estranho terem mandado para nossa casa,
quando poderiam ter mandado para qualquer pessoa na Ordem?!"
"Esta droga foi mandada para minha casa!" Aumentei o tom de voz, já que
ninguém poderia nos ouvir. Mas Sirius percebeu meus movimentos,
começando a nos encarar. "E se for alguém que pode me ajudar?! Me ajudar
com as horcruxes?!"
"Regulus, você..."
"Por que é que você não me escuta?!" Bati forte na mesa, Sirius se endireitou
na poltrona rapidamente, parecendo prestes a interceder.
"Estou ouvindo você, Regulus." Ele disse, pacificamente, parecendo não ter
se afetado com o meu tom.
"Não, não está," Balancei a cabeça. Fui tomado por uma raiva absurda de
repente. "Não me ouviu quando eu era uma criança e não está me ouvindo
agora. Pessoas vão continuar morrendo e você não pretende fazer nada por
um bem maior?! Por causa da droga das horcruxes?! É por isso que você me
aceitou tão facilmente na Ordem?! Por que eu fui o primeiro a saber sobre
elas?! Você confia em mim ou só está me usando?!"
"Estou dizendo para você não interceder, mas não que não vamos fazer
alguma coisa," Ele respondeu, inabalável. "Sei que você tem certas mágoas.
Mas você deve me ouvir quando digo que se você se envolver com assuntos
sobre Comensais da Morte agora, as pessoas vão desconfiar de você e você
não vai poder fazer nada à respeito."
512
senhor me desculpe, mas se acha que isso vai me impedir de alguma coisa,
o senhor deveria ter procurado conhecer mais os seus alunos, Professor."
Assim que chegamos, Sirius nem mesmo tirou a jaqueta de couro, ele apenas
se virou e esperou que eu começasse a falar.
"Ele não quer que procuremos por quem está mandando os bilhetes. Disse
que ele mesmo vai resolver." Eu disse, tentando racionar o que havia
acontecido. "Preciso contar à Pandora."
"Nada disso. Está escuro. Você não vai sair por aí essa hora nem ferrando."
Sirius disse, seriamente. "Moony disse que não ia demorar. Vamos jantar e
dormir. E amanhã você volta a ser o herói da casa, ok?"
"Não sei, Reg, acho que você está sendo paranóico." Sirius suspirou.
"Podemos confiar em Dumbledore e..."
Sirius foi interrompido quando alguém bateu na porta de casa. Nós nos
entreolhamos, porque nunca era seguro abrir a porta a essa hora.
513
"Ministério da Magia." A voz disse pelo lado de fora. "Em nome da ministra
da Magia, Millicent Bagnold."
"Você está louco?!" Sirius gritou, eu tive que segurá-lo pelos ombros. "Não
vai levar meu irmão para Azkaban!"
514
"Senhor..." Eu pigarreei, tentando aparentar estar calmo. "Acho que houve
algum engano. Eu faço parte da Ordem da Fênix agora. O próprio Albus
Dumbledore pode confirmar isso."
"Não estou sendo preso por algo que estou fazendo..." Eu sussurrei, Sirius
me olhou confuso, os olhos desesperados. "É pelas coisas que já fiz."
"Você não esperava que o Ministério absolvesse você de tudo que você fez
enquanto era um deles só porque você decidiu pedir desculpas, não é,
garoto?" O senhor Crouch disse, a voz áspera. Ele balançou a varinha mais
uma vez e algemas de ferro pesado apareceram nos meus dois pulsos.
Consegui sentir perfeitamente a magia me deixando, como se as correntes
me deixassem mais fraco.
"Regulus, você não... Mas você não torturou ninguém, você não..." Sirius
estava perdido nas próprias palavras. É claro que alguém que me amava tanto
como Sirius amava nunca conseguiria me ver fazendo aquelas coisas.
"Isso vai sair no Profeta Diário amanhã. Então, conte a versão certa para as
pessoas que importam. Conte à Pandora, Remus, James, Lily, Andy, Cissy,
Carter e... E Mary. Diga à ela que sinto muito."
515
"Sinto muito, Six..." Eu respondi, a voz trêmula e baixa, enquanto saía e ia
para o lado do Senhor Crouch, que tirou a minha varinha do meu bolso
traseiro, guardando-a no próprio casaco. Sirius me olhava paralisado. Eu mal
conseguia sentir meu próprio corpo. Como não pensei nisso antes? Sempre
penso em tudo, então como não cogitei que não era só me meter na casa do
meu irmão e dar uma de herói que eu estaria salvo e perdoado? Eu ficaria
preso para sempre e nunca veria Luna, Harry e Draco crescerem e irem para
Hogwarts? Estava prestes a ser trancado no pior lugar do mundo e a única
que pensava era no rosto de Mary sorrindo para mim.
Olhei para Sirius pela última vez. Queria abraçá-lo, mas isso o faria chorar
ainda mais. Ele estava praticamente petrificado, me vendo me preparar para
aparatar, não conseguia mexer um músculo.
E vi uma vida inteira ser jogada fora nos segundos seguintes. Porque agora
eu era um prisioneiro de Azkaban.
516
Capítulo 38.1: Sirius
Quebrei todos os vasos de vidro que tinham em casa na porta quando eles
foram embora. Eu me senti exatamente do mesmo jeito de quando li a carta
que Regulus havia me deixado a dois anos atrás contando que pretendia
morrer. Devastado.
Não tinha forças para fazer nada sem ele. Já era difícil quando ele ainda era
um Comensal da Morte e morava com os nossos pais, agora que eu sabia que
ele não era assim, mas ainda não podíamos ficar juntos, conseguia doer mais
ainda. Então, como ele acha que eu vou conseguir procurar alguma coisa sem
ele? Como ele pode achar que vou conseguir fazer qualquer coisa sem ele?
Como vou passar em frente a porta do quarto dele e saber que ao invés de
estar lá dentro, ele está trancado em uma cela sendo torturado por
dementadores que vão fazer ele reviver as piores memórias? E, Deus,
Regulus tem algumas memórias realmente ruins.
Não podia estar acontecendo. Não, não, não, qualquer coisa, menos isso...
Moony ainda não havia chegado. Eu queria escrever para James, mas ele não
poderia fazer nada, além de se preocupar. Eu não sabia como encarar Mary
ou Pandora. A primeira pessoa que eu deveria falar era Moody ou
Dumbledore provavelmente. Mas não conseguia. Nenhum músculo do meu
corpo se mexia. Eu estava sentado no chão do canto da sala, com os joelhos
juntos ao corpo, a horas. Os estilhaços de vidro espalhados pelo chão da casa
e o casaco de Regulus ainda pendurado no cabide que eu não conseguia parar
de encarar.
517
ajoelhou na minha frente e ficou frente a frente comigo. "Você chorou?
Merda, você está tremendo... Pegue isso aqui, vamos." Moony enrolou o
casaco dele em mim e me levou até o sofá. "Me diga o que aconteceu. Onde
é que Reg está?"
Ouvir o nome dele foi demais. Eu caí em lágrimas outra vez e Remus
estremeceu, endurecendo a voz. "Padfoot. Onde Regulus está?"
"Levaram ele." Eu respondi, tremendo a voz que saiu muito fina e falhada.
"Levaram ele para Azkaban."
"Temos que falar com Dumbledore, Sirius! Temos que avisar todos! Isso
estará no Profeta Diário amanhã! Precisamos avisar todos!" Remus pegou a
varinha. "Precisamos falar com Mary e Pandora. E com Deus e o mundo que
precisar!"
"Padfoot," Remus sentou do meu lado, pegando no meu rosto molhado. "Não
vou deixar Regulus naquele lugar. Vou fazer o possível e o impossível para
tirar ele de lá. Mas preciso que você me ajude, tudo bem? Vamos... Temos
patronos para mandar."
Carter chegou algum tempo depois, os olhos fundos e escuros, e ele tinha um
hematoma na parte inferior da bochecha, que eu decidi não perguntar.
518
"Eu mesmo vou buscá-lo." Ele disse, decididamente, quase saindo pela porta.
"Não vou esperar por ninguém. Estou indo agora."
"Isso é burrice." Remus o impediu, com a mão no peito dele. "Você não pode
simplesmente entrar em Azkaban, Carter."
"Ah, não?! Então, veja." Ele tentou passar por Remus de novo, mas ele o
segurou.
"Carter..." Mary o chamou, a voz pesada de tanto chorar. "Eu sei que está
preocupado, mas temos que ficar juntos. Regulus sabe que somos mais fortes
juntos."
"Sim. Meu melhor amigo de volta." Ela respondeu, sem me olhar. "Tem que
ter algo que nós possamos fazer... Tem que haver um jeito, Sirius! Porque
não existe chance de Regulus estar preso para sempre naquele lugar!"
519
"E se não era ele..." Pandora sussurrou.
"Você está me dizendo que aquele filho da puta esteve na minha casa ontem
e eu não fazia ideia?!" Gritei para Dumbledore.
"Está me dizendo que ele está com Regulus agora?!" Pandora gritou dessa
vez.
Moody levantou uma sobrancelha e encarou Remus. "Torça para ele não
matar Regulus antes, Lupin."
E quando ouvi isso, pude jurar que senti meu coração cair.
520
Capítulo 39: Cárcere
Foram poucas as coisas que meu pai me disse na vida que eu realmente
trouxe comigo, quase nenhuma. Mas existia uma parte em mim que
realmente nunca havia considerado isso, como ele me assegurou que nunca
aconteceria. Foi burrice achar que eu poderia ter levado a vida que levei, ter
a família que eu tive, deixado que implantassem na minha cabeça toda aquela
besteira sobre pureza de sangue e ainda sim nunca ter cogitado o que estava
acontecendo agora.
Eu não fazia a menor ideia de como era o lugar. Quer dizer, eu sabia que era
ruim. Muito ruim. Que o lugar era uma fortaleza no meio de uma ilha no
meio do Mar do Norte. Era escondido do mundo bruxo, completamente
ilocalizável. Protegido e guardado pelos dementadores, que se alimentavam
dos sentimentos bons dos prisioneiros.
Há alguns anos, eu não me importaria tanto. Porque não era como se eu fosse
uma pessoa radiante e cheia de alegria com milhares de sentimentos bons.
Eu era o cara que escreveu cartas de despedida porque estava indo se matar,
porra. Os dementadores iam ficar entediados comigo.
Mas agora, com Mary, Sirius, Luna... Eu estava desesperado com o fato de
que agora eles tinham algo para tirar de mim. Isso deveria ser bom. Ter algo
pelo o que lutar e amar. Me pergunto se Sirius está tentando lutar por mim
agora. Espero que não esteja.
Foram todas coisas que passaram pela minha cabeça durante os segundos
que durou a aparatação. O senhor Crouch me levaria até o Ministério? Ou eu
iria direto para uma cela em Azkaban? Me lembro dele dizer que eu
aguardaria um julgamento. Mas por que haveria um julgamento se nada do
521
que ele me acusou era mentira? E quando eu fosse à julgamento, meus crimes
teriam sido tão hediondos a ponto de eu merecer um beijo dos dementadores?
Quando me dei a chance de olhar ao redor, ouvi o senhor Crouch dizer "Me
siga.", enquanto andava em direção à porta de uma casa. Mas por que
estamos em uma casa? Se Azkaban era uma prisão com tantos prisioneiros,
eles não caberiam em uma casa. Muito menos nessa, que parecia não ter mais
do que um quarto só. E onde estavam os dementadores, afinal?
Não era uma casa assustadora. Na verdade, era comum até demais. Era
pequena e sem graça. Quando se entrava, já estava dentro da sala de estar
pequena com um sofá velho e uma televisão. Mais dois passos para o lado,
era a cozinha. Estreita e mal iluminada. E só havia um quarto, com um
banheiro que só cabia uma pessoa dentro ao lado. A casa toda devia ser do
tamanho do meu quarto.
"Você pode ficar aqui." O senhor Crouch disse, a voz estranha, quase
diferente. "Por enquanto."
522
"Aqui?!" Franzi o cenho, olhando ao redor, confuso. "Isso não parece bem
uma prisão."
"É porque não é uma, seu idiota." Ele disse, em um tom familiar, como se
fôssemos amigos antigos. Ele se encostou na parede da sala, me observando
de um jeito esquisito. "Você não está sendo preso em Azkaban, Regulus."
"Não estou?" Estava realmente confuso agora. "Mas o senhor disse que... O
senhor leu o mandado. Isso é uma brincadeira, então? Posso tirar essa coisa
dos meus pulsos?"
Ele retirou o sobretudo, jogando-o no sofá e começou a andar pela sala, com
um ar triunfante no rosto. "Você está com Dumbledore agora, não é?
Acredito que você e meu filho não são mais... próximos, estou certo?"
"E não tem medo de que agora que ele fugiu, ele vá atrás de você?" Ele ainda
estava andando na sala, sem me olhar nos olhos. "Ou de alguém que você
gosta?"
"Sabe, não é?" Ele sorriu mais uma vez, ainda sem olhar para mim. A língua
dele estava fazendo uma coisa estranha, mas decidi não dizer nada. "Sempre
achei que você e meu filho só se desgrudariam no dia que um dos dois
morresse. Foi uma surpresa para mim quando fiquei sabendo que o herdeiro
dos Blacks havia mudado de lado."
"Engraçado como coisas que "apenas existiam" como você diz, podem
"apenas deixar de existir" tão rápido." Ele sorriu mais uma vez, e finalmente
me olhou nos olhos. "Curioso, não é, Reg?"
523
Um segundo. Um exato segundo. Foi o tempo que demorou para eu entender
tudo. Meus olhos se arregalaram. Parecia que eu havia acabado de levar um
soco no estômago. E dentro desse mesmo segundo, o cabelo, o rosto, o corpo,
tudo nele começou a mudar. O cabelo, antes meio grisalho como o do pai,
agora lentamente voltava à sua cor castanho original. O rosto, antes com
algumas rugas e marcas de expressão, agora afinado e pálido, como sempre
foi. O corpo emagreceu e esticou alguns centímetros, dando altura à ele. Nós
dois tínhamos a mesma idade, mas Azkaban o mudou visivelmente. Ele
estava diferente, mas aquele rosto sempre me faria estremecer.
"Barty."
Ele caiu na gargalhada, como se ouvir o próprio nome sair da minha boca
fosse a melhor piada que ele já havia ouvido. "Posso ser louco, Reg, posso
sim. Mas você não pode negar que sou o maior gênio que você já viu!"
"Como é que você... E-eu vi a varinha do seu pai, com o selo do Ministério
e..." Um estalo ecoou na minha mente. É claro. "Você o matou."
"Ah, vamos, o velho já estava caindo aos pedaços," Ele se jogou no sofá,
esticando as pernas em uma mesa pequena. "E você sabe que ele sempre me
odiou. Ele mereceu aquilo."
"Foi tudo muito fácil depois que fritei o cérebro do meu pai, se você quer
mesmo saber," Ele sorriu mais uma vez, se divertindo com a situação.
"Depois que ele caiu mortinho no chão, eu tinha a casa inteira só para mim.
Peguei a varinha do desgraçado e, por Salazar, você consegue acreditar que
ele tinha essas algemas guardadas?! Sabe, quem é o psicopata que faz isso?!"
"E não é?!" Barty disse casualmente, como se estivesse em uma conversa de
bar. Como se ainda fôssemos dois adolescentes conversando no dormitório
da Sonserina. "Eu estava pensando em algum jeito de pegar você desde que
fugi de Azkaban, na verdade. Droga, Reg, você deveria ter visto! Os
dementadores se aliaram ao Lorde das Trevas e, não só eu, mas dezenas de
prisioneiros fugiram! Foi a porra de um espetáculo!" O olho dele brilhava
524
em maldade, e a língua dele ainda fazia aquela coisa estranha. "Você teria
adorado."
"O que faz você pensar que eu teria gostado disso?!" Franzi o cenho,
tentando manter a voz impassível. Porque Barty odiava se eu aumentasse o
tom de voz e ele parecia muito calmo agora.
"Você costumava gostar. Esqueci que você é um chato agora!" Ele revirou
os olhos, balançando uma das mãos. "Eu estava com saudades, só isso."
"Há! Saudades?!" Não consegui conter o riso. Barty ficou sério. "Vamos, me
conte. Vai me entregar ou o quê? Porque se for, vá em frente e acabe com
isso de uma vez."
"Você vai morrer se eu entregar você." Ele estava sério, pela primeira vez.
"Ele vai matar você sem nem pensar duas vezes."
Ele fez um gesto para o sofá com a mão. Pelo amor de Deus, esse cara é
louco. "Você pode se sentar."
Eu estava sem a minha varinha. Era burrice tentar enfrentar ele. Ele acabaria
comigo em questão de segundos. Eu poderia fazê-lo acreditar que eu estava
o obedecendo. Poderia fingir, sempre fui bom nisso. Fingi a minha vida
inteira, posso fazer isso agora. Desde que ele não encostasse em mim.
Andei devagar até o sofá, sem quebrar o contato visual com ele. Assim que
me sentei, ele foi até a cozinha minúscula e vasculhou um dos armários
embaixo da pia, até achar uma garrafa de whisky de fogo e sorrir para mim,
525
"Você amava essa coisinha linda, lembra? Um gole disso aqui e eu nem
precisava me esforçar para fazer você tirar a roupa!" Se acalme, Regulus.
Conte até 3. Finja. Você é bom nisso.
"Se eu contar, vou ter que matar você!" Ele sorriu, como se tivesse acabado
de contar a piada mais engraçada do mundo. Como diabos ele tinha coragem
de brincar comigo sobre matar?! Ele se sentou no sofá, virando a garrafa de
uma vez na boca. "Quer?"
Ele deu outro gole. "Não vou entregar você. Porque você vai fazer isso
sozinho, raio de sol."
"O quê?!"
"O Lorde das Trevas precisa de um espião. Alguém que tenha contato direto
com Dumbledore. Ele sabe que você está tentando matá-lo e não vai hesitar
em matar você se te encontrar, mas não se você puder oferecer algo à ele..."
Ele deu mais um gole. "Você vai voltar a ser um Comensal da Morte."
Não pude segurar a minha risada. "Você não acha que vou trair a Ordem,
acha?! Deus, você nem sabe o que está dizendo. Está projetando suas
próprias fantasias de adolescente em uma guerra, Barty. E para quê?! Para
me ter de novo nas suas mãos?!"
"Se quiser tornar isso difícil, por mim tanto faz. Faça como quiser." Ele deu
de ombros, como se estivesse entediado. "Você não vai sair daqui até
aceitar."
"Bom, neste caso," Ele endureceu a voz, brincando com a própria varinha
entre os dedos. "Talvez eu tenha que começar a matar. Me diga, devo
começar pela sua puta suja e sangue-ruim de cachichos?! Pelo irmão
526
traidor?! Ou melhor, talvez eu mexa com aquela ratinha que nasceu à pouco
tempo, como se chama mesmo? Luna!"
"Tire o nome dela da sua boca!" Vociferei, ficando de pé, quase perdendo o
controle.
"Há! Então, aí está ele!" Barty se levantou também, sorrindo. "Você fica tão
sexy quando está com raiva."
"Se você chegar perto de qualquer um deles, eu vou acabar com você."
"E como vai fazer isso sem magia e no meio do mar?!" Barty ironizou. "O
Lorde das Trevas não é burro, ele sabe que existe alguém que está passando
informações para Dumbledore. Bella desconfia de Snape, mas ele e o Lorde
são mais próximos do que qualquer um de nós. Então, ele precisa de alguém
que a Ordem confie cegamente. Alguém... Como você." Ele passou a costa
do indicador na minha bochecha. Aquilo me deu vontade de vomitar.
"Vocês não, eu! Você, Regulus, é meu! Ninguém sabe que você está aqui
porque apenas eu me importo com você o suficiente para fazer algo à
respeito!" Ele aumentou a voz, os olhos vivos e arregalados. As pupilas
altamente dilatadas. "Eu disse a você que íamos ficar juntos de novo, não
disse?"
"Sirius vai me achar. Eles todos vão me achar. A essa hora, já se deram conta
que você matou o seu pai! E estão atrás de mim agora!" Exclamei, sentindo
os olhos ficarem molhados. "Você é burro se acha que Voldemort confiaria
em mim outra vez."
Barty pareceu vacilar por meio segundo, parecendo não ter certeza da própria
teoria, mas rapidamente voltou ao normal. "Você acha que eu não sei que
você sabe de algo? Conheço você a dez anos, meu amor, e sei quando está
escondendo alguma coisa. Ou alguém. Você pode facilitar tudo e me contar,
então nós podemos falar com Lord Voldemort. Mas se quiser fazer isso do
jeito difícil, eu não ligo."
527
"Não precisa ficar com saudades, amorzinho." Ele sorriu maliciosamente,
enquanto fazia um feitiço na maçaneta. "Eu volto amanhã, quando você tiver
dormido e pensado melhor se vai cooperar comigo ou não."
"Você não pode me deixar aqui, Barty! Não-" Antes que eu pudesse terminar,
ele saiu pela porta, me trancando lá dentro. Sozinho. Sem magia. Sem
esperança.
Jogado naquele chão frio, sozinho e fraco, pensei no rosto de todos eles.
Pensei em Mary e em como ela ficaria sem mim, se ela se apaixonaria de
novo e se permitiria ser feliz outra vez. Eu esperava que sim, por mais que a
ideia me partisse o coração. Pandora teria que explicar à Luna um dia e talvez
ela não sentisse tanto assim por mim, porque só passou cinco minutos
comigo. Carter se acertaria com os pais algum dia? Eles não o deixariam
sozinho? Porque eu odiaria isso. Odiaria de verdade. E então, James, Lily,
Remus...
Eu não podia pensar em Sirius. Não conseguia. Ele precisava descobrir quem
era o Comensal que estava mandando os bilhetes. Ele precisava ser adulto
agora e continuar tudo que eu havia começado. Porque não existia
possibilidade nenhuma de eu fazer o que Barty queria que eu fizesse.
***
528
Na segunda semana, eu acreditava seriamente que havia ficado louco. Barty
vinha todos os dias, como ele sempre prometia. Ele trazia comida e água. E
tentou no mínimo três vezes transar comigo durante esse tempo.
Por isso, na manhã de algum dia qualquer que eu não tinha ideia de qual era,
eu senti que havia acabado de fazer a maior besteira do mundo.
"Manda."
"Descubra sozinho."
Ele me agarrou pelo pescoço, falando bem perto do meu rosto. "Não brinque
comigo, Regulus! Foi ele, não foi?! O sujo imundo que está ousando trair o
Lorde das Trevas!" Ele me soltou de uma vez, fazendo meu rosto tombar
para o lado e começou a andar em círculos pela sala. De repente, um estalo
pareceu vir à mente dele e ele começou a rir como um louco. "É claro! Como
eu não pensei nisso antes?!"
529
Capítulo 40: Sobrevivência
TW: Não sei se isso que vai acontecer nesse capítulo se enquadra em
assédio, mas de qualquer forma, o aviso está aqui porque é sempre
importante.
A última vez que estive tão magro, ainda morava na mansão dos Blacks e
minha mãe queria desesperadamente que eu emagrecesse. Mas a questão é
que eu sempre fui magro, do tipo sem músculo nenhum. Está na genética dos
Blacks, eu acho. A pele pálida. Os cabelos negros. Os olhos cinzas.
Magérrimos. Traços marcados. O ar de elegância aristocrática que refletia na
personalidade.
Então, se você nasce magro, como a opinião de alguém poderia ser tão
avassaladora a ponto de você enxergar outra coisa quando se vê no espelho?
E o que havia de tão errado se eu engordasse, afinal? A gordura parecia vir
como uma placa de 'ei, você envergonha a sua família'. E adivinha só,
mamãe, eu envergonhei e continuo magro.
Continuando, estou comendo mal para caralho. Barty traz comida sempre, é
claro. E estou começando a achar que ele não tem a menor coragem de me
matar ou me deixar morrer naturalmente, mas ainda prefiro não arriscar. A
questão é que não sinto fome. Não sinto quase nada o dia todo.
Acho que vou acabar morrendo de insanidade se isso continuar. Não tenho a
menor coragem de tentar fugir, porque Barty pode não querer me matar, mas
está esperando apenas uma brecha para acabar com alguém que eu amo se
eu o irritar. Todo dia ele aparece e faz a mesma pergunta 'E então? Se
decidiu?', eu balanço a cabeça ou às vezes, nem mesmo respondo. Ele revira
os olhos e me deixa sozinho outra vez. Então, é. Não tenho esperanças de
sair daqui.
Pelo menos não até aquela manhã. Pensei em Sirius e se ele estava perto de
achar a última horcrux. Ou Pandora, que é definitivamente mais inteligente.
Eu saindo daqui vivo ou não, eles precisavam encontrar. Talvez com
Voldemort morto, esse pesadelo acabaria. Ou quando Barty descobrisse que
matamos o seu senhor, ele finalmente tivesse coragem de cortar a minha
530
garganta do jeito simples e trouxa. E foi pensando nisso que me toquei de
algo que mudou o rumo da minha esperança.
Não era como a última vez. Eu não podia apenas escrever cartas de despedida
e ir embora. Não, pessoas estavam contando comigo. Eu estava contando
comigo. Eu precisava sobreviver. E precisava arranjar um jeito de sair daqui.
Por eles e por mim. Claro que por mim. Porque, honestamente, estou cansado
de achar que mereço coisas ruins, porque não mereço. Não mereço nada
disso. Essa droga não é culpa minha, então por que eu deveria cruzar os
braços e esperar me matarem?
Não! Não vai acontecer! Por eles, por mim, por eles, por mim...
"Odeio lugares cercados por água." Barty entrou pela porta naquele dia e se
jogou no sofá, a roupa um pouco molhada. "Me lembram aquela prisão dos
infernos."
Nos dias em que eu estava disposto a ser inteligente, eu era gentil com ele.
Porque nada distraía Barty mais do que eu o tratando como ele queria ser
tratado.
531
"Sua roupa está molhada." Eu disse, quebrando o silêncio.
"É," Ele respondeu. "Se ainda não notou, tem bastante água ao redor daqui."
"Não, quero dizer... Achei que você aparatasse quando saía daqui."
"Então, como você sai daqui?!" Perguntei, tomando um gole na xícara. "Não
me diga que é nadando!"
"Você está diferente." Ele franziu o cenho. "Nas primeiras semanas, você
parecia um cão raivoso. Nem mesmo me deixava falar com você. Quase
quebrou as coisas dessa casa fazendo birra."
Ainda estou com raiva, seu desgraçado. Poderia matar você agora mesmo.
Eu só preciso parecer que estou bem para você abaixar a guarda e eu
conseguir a porra da minha varinha de volta.
"Só estou cansado," Suspirei pesadamente, deixando minha cabeça cair para
trás na costa do sofá, deixando à mostra o meu pescoço. Porque Barty sempre
adorou o meu pescoço. "Não estou com muita vontade brigar agora. Muito
menos com você."
"O que quer dizer com 'muito menos comigo'?" Ele estava com a voz fraca,
conseguia sentir os olhos dele pesando sobre o meu pescoço exposto, mesmo
532
sem estar olhando para ele. Era a minha chance. Era a minha única chance.
Se eu queria sair daqui, se eu queria voltar, era a minha única alternativa.
"Independente do que você pensa, não gosto de brigar com você. Nunca
gostei."
"E você acha que eu gosto? Acha que eu queria fazer isso com você?!" Barty
exclamou, me fazendo encará-lo. "Eu fui obrigado! Você me obrigou! Estou
tentando fazer você voltar, mas você continua achando que eu sou louco."
É porque você é!
"Não quero falar sobre essas coisas," Suspirei mais uma vez, cansadamente.
"Mas isso sempre combinou com você. Ser louco. É por isso que o Regulus
de dezesseis anos era fascinado por você."
"Por que não dorme aqui?" Deus, eu me sentia com dezesseis outra vez. Eu
realmente estava perguntando isso?! "Essa noite, pelo menos."
"Por que quer que eu durma aqui?!" Ele fez uma cara confusa. "Você nunca
pediu isso antes."
533
Barty parecia me devorar com os olhos, como se ele fosse um predador e eu
uma presa. Do jeito que ele era nojento, ele poderia facilmente estar excitado
só com a minha voz. Ele levantou a mão e passou o indicador levemente na
borda da minha camisa, levantando-a alguns poucos centímetros a mais do
que já estava. O toque dele era cortante. Como se as células que compunham
sua pele queimassem as minhas cada vez que ele encostava em mim. Mas
era necessário.
Vamos, Regulus, você sabe fingir quando quer. Você já teve que aguentar
coisas muito piores do que isso.
Ele levantou os olhos para mim, procurando na minha expressão algum sinal
de que eu estava incomodado. E eu estava. Mas fingi que não. Então, apenas
deixei.
Quando ele notou que eu não faria nada para impedir, ele sorriu triunfante.
"Eu volto hoje à noite, então."
Não sou de me gabar, mas se havia algo em que eu era bom, era em fazer
planos. Talvez por isso eu e Pandora trabalhamos tão bem juntos, porque ela
também é uma mestra em planejar. E por mais que eu estivesse me
arriscando, era o único jeito que eu tinha de sair dali. Eu tinha que ser
inteligente, tinha que empurrar todos os sentimentos ruins para dentro de
mim e fingir.
Tinha que parecer que eu estava cansado de ir contra ele e que agora eu só
queria um tempo para relaxar. Tinha que parecer que eu finalmente estava
abaixando a guarda para ele começar a abaixar a dele. E se não funcionasse
e ele percebesse que eu estava tentando enganá-lo, seria o fim. A única coisa
que Barty odiava mais do que rejeição, era traição. Não me surpreendia o
fato dele ficar tão transtornado pela ideia de um dos comensais estar traindo
Voldemort.
Eu tinha uma chance e não podia desperdiçar. Então, quando ele voltou, tudo
estava do jeito que eu havia planejado.
"Não vou sair daqui mesmo," Dei de ombros, enchendo um copo. "Bêbado
ou não, não vai fazer muita diferença."
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"Onde achou esse disco?" Ele percebeu a música que eu havia colocado para
trocar em um toca discos velho que ficava no canto da sala.
"E você confia em mim para ficar bêbado do meu lado na noite em que vou
dormir aqui?"
Barty sorriu fracamente, dando um gole na sua bebida. "Não tenho certeza,
mas sei que o Halloween está chegando. Deve faltar uma semana, mais ou
menos."
"Não me lembro da última vez que realmente comemorei isso." Ele disse,
encarando o próprio copo.
"Como não?!" Levantei a cabeça para olhá-lo. "Se até os meus pais
gostavam, qualquer alma no mundo gostaria."
"Sinto muito sobre os seus pais, aliás. Eles sempre me trataram bem." É
porque você é louco igual a eles, seu idiota.
"Não finja que você não sabe que Voldemort teve a ver com a morte deles.
Até eu sei disso."
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"Você traiu o Lorde das Trevas, Regulus." Ele estreitou os olhos. "Alguém
tinha que ser punido por isso. Para começo de conversa, nada disso teria
acontecido se você não tivesse mudado de lado."
"É por isso que quer que eu volte? Você sabe que não vou conseguir nem dar
dois passos para dentro sem que ele me mate antes do terceiro. Eu
honestamente não tenho nada a ver com as crueldades dele, Barty." Levei o
copo até a boca dessa vez, mas sem engolir a bebida. "Ele já fazia essas
coisas antes mesmo de eu decidir me virar contra ele."
"Você é inteligente demais para acabar como o último comensal que traiu o
Lorde das Trevas." Barty levou o segundo copo à boca. "Está sendo comido
por vermes agora."
"Vocês o mataram?!" Não consegui esconder meu choque e torci para ele
não achar que eu sabia de alguma coisa. Porque realmente não sabia.
Peter, Peter, seu idiota. Por que você não apenas veio até nós? Se consegui
que confiassem em mim, você também acabaria conseguindo em algum
momento. Ninguém precisaria ter morrido. Senti uma pontada de empatia
por ele no fundo do meu peito e me perguntei se os meninos já haviam
descoberto.
536
Barty já estava no quarto copo à essa altura, o que ele achava que também
era o meu caso. Mas na maioria das vezes, eu não colocava a bebida para
dentro, só molhava os lábios. E quando ele se distraía, eu virava um pouco
da bebida no carpete atrás do sofá. Mas para todos os efeitos, para ele eu
estava ficando tão bêbado quanto ele.
"Isso é uma sessão de terapia ou o quê?" Ele endureceu a voz. "Que porra,
Regulus."
"Foi só uma pergunta." Dei de ombros. "Eu não era feliz. Nunca fui. Nem
com Voldemort, nem com os comensais, nem com a minha família... Tenho
mais medo de voltar a ser o que eu era do que tenho medo de morrer, Barty."
"O quê?"
"Sim." Respondi, sem olhá-lo nos olhos, porque ele perceberia que eu estava
mentindo. "Eu era feliz com você."
"Porque precisava descobrir sozinho como ser feliz sem você." Essa parte
não era mentira. Houve um tempo em que tudo que eu conhecia e achava
bom para mim se resumia à ele. "E você?"
537
"O que tem eu?"
"Você só está aqui porque eu não quero que você morra na mão do Lorde
das Trevas."
"Mas quer que eu fique com você contra a minha vontade." Ergui as
sobrancelhas. "Isso não é amor."
Barty ficou em silêncio nos minutos que se seguiram, até que se levantou e
foi pegar mais uma garrafa no armário da cozinha. Ele já estava começando
a perder o equilíbrio enquanto andava e a voz estava ficando lenta e
arrastada. Antes dele se sentar no sofá de volta, o disco começou a tocar uma
música animada, que eu não fazia ideia de qual era. Mas veio no momento
certo.
"Me dê isso aqui!" Puxei a garrafa da mão dele, dando um susto nele. E
quando virei ela na minha boca, a bebida escorregou pelos lados, molhando
um pouco a camisa branca que eu vestia. Barty encarou a camisa
transparente, agora pregada no meu corpo, como se estivesse se controlando
para não rasgá-la. Eu devolvi a garrafa e continuei dançando a música,
torcendo para que ele não aguentasse mais. Eu só precisava que ele tirasse
a porra daquele casaco.
"Quer dançar?" Ergui a mão para ele, que me olhou perplexo. "Vamos, pare
de ser chato! Amanhã nós voltamos a nos odiar e eu prometo que mando
você ir para puta que pariu com mais ênfase do que nos outros dias!"
538
Barty não conseguiu evitar. Ele não dançava de verdade, uma das suas mãos
segurava a garrafa e a outra era guiada pela minha, que girava ele e sacudia
o seu corpo. Quando eu sair daqui, eu mereço um prêmio. Mereço um prêmio
por ter que interpretar todo esse show ridículo.
"Não se preocupe com isso," Ele sorriu, aparentando já estar bêbado. "Eu
ponho para secar em um minuto."
"Eu coloco para você." Ofereci, tentando soar sincero. Barty ficou em
silêncio, enquanto eu ia para trás dele e puxava o casaco devagar dos seus
braços. Fiz o possível para que ele sentisse a minha respiração na parte de
trás da sua cabeça. Eu estava ofegante de nervosismo, mas ele pensaria que
era outra coisa, obviamente.
"Gosto de você assim." Ele disse, quando eu levei o casaco até à cozinha e
estendi na ponta de um dos armários. Passei a mão pelo casaco e consegui
sentir. Duas varinhas. A minha e a dele. No bolso esquerdo. Uma parte já
estava feita. Agora eu precisava fazer ele dormir ou desmaiar de tanto beber.
E isso seria a parte mais fácil, porém mais torturante.
"Assim como?" Sorri fracamente, voltando para a sala, enquanto ele dava
mais um gole na garrafa. "Molhado?"
"Você não fica nada mal assim." Ele me olhou por baixo dos cílios, com uma
expressão selvagem no rosto. Eu me aproximei, voltando à dançar, e ficando
cada vez mais perto dele. A música mudou e nós dois começamos a dançar
no mesmo ritmo, os corpos indo na mesma direção. Eu conseguia sentir a
respiração dele no meu rosto.
Foi quando joguei tudo para o alto e, Merlim, que se foda a enrolação. Não
é como se ele fosse negar alguma coisa. Segurei o rosto dele com as duas
mãos e puxei o rosto dele, encostando os lábios dele nos meus
demoradamente.
Quando soltei, ele me olhou perplexo, depois sorriu. "Você está louco, tenho
certeza."
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"Estou a mais de um mês trancado aqui," Sussurrei, com a voz rouca.
"Preciso disso."
Ele não desgrudou da minha boca até me levar até à cama do quarto. Eu não
iria transar com ele nem que ele colocasse uma varinha na minha garganta e
me obrigasse. Eu preferia morrer a fazer isso. Mas eu precisava fazer ele
relaxar tanto a ponto de dormir. Precisava que ele apagasse para pegar aquele
casaco e a minha varinha.
Sinceramente, posso nunca mais ter uma experiência tão horrível quanto
aquela. As mãos dele ainda me assustavam. Eu ser obrigado a tirar a roupa
dele, a permitir que ele tirasse a minha roupa, que passasse a mão onde
quisesse, era ainda pior do que da última vez. Me recuso a detalhar o que
aconteceu exatamente dentro daquele quarto. Me recuso de verdade. Acho
que não conseguiria detalhar nem para mim mesmo. Porque dóia demais.
Mas quando tudo terminou, ou melhor, ele havia terminado, porque eu não
senti nada além de nojo e repulsa, ele havia apagado. Dormiu segundos
depois de eu ter feito ele acabar. Tentei me recompor e tentei segurar o choro,
porque eu tinha trabalho a fazer e não era hora para isso. Havia uma guerra
para se vencer.
540
"Pare de chorar, seu idiota..." Sussurrei para mim mesmo, enquanto vestia a
minha camisa. Respirei fundo e olhei para Barty, que parecia estar morto de
tão apagado.
Corri até a cozinha, com passos silenciosos, peguei o casaco e retirei a minha
varinha de dentro. Nunca pensei que iria sentir tanta falta dela. Quase chorei
de emoção quando a segurei nas minhas mãos de novo. Dentro do casaco,
havia uma chave pequena e dourada. Peguei ela de uma vez e abri as algemas
do meu pulso. Eu conseguia sentir a magia voltando ao meu corpo.
Conseguia sentir a magia da varinha na minha mão. Acho que a gente não
costuma perceber esse tipo de coisa até ser obrigado a passar mais de um
mês sem contato nenhum com magia.
Tentei aparatar, mas Barty tinha razão. Era impossível. Levantei a varinha e
murmurei, "Finite Incantatem!", para ver se o efeito do feitiço de anti
aparatação no lugar se perdia, mas não funcionou. Eu provavelmente não
sairia dali naquela noite.
Era um feitiço difícil. Mas eu já havia realizado feitiços bem mais difíceis.
Inclusive, já consegui realizar esse antes. Mas era sempre tão... Difícil.
Tentei pensar em Mary e no quanto a amava, em como ficaria feliz em vê-la
de novo, mas minha mente se voltava para o que eu havia acabado de fazer
com Barty. Pensei em Pandora, e surpreendentemente, não foi o suficiente
também. Nem mesmo Sirius foi, que é o responsável pela maior quantidade
de emoções fortes que senti por uma vida.
Foi quando ela, de repente, me veio na mente. Eu não a tinha antes, por isso
era tão difícil. Sorri involuntariamente, sentindo o meu coração aquecer por
um segundo. Cheguei a esquecer o que havia feito, o que havia me disposto
a fazer. Me imaginei voltando e segurando ela no colo. Levando-a para
passear no parque ou contando uma história enquanto a colocava para
dormir. Meu peito se encheu de amor. O tipo de amor puro, genuíno e
sincero. Levantei a varinha e pensei em Luna.
"Expecto Patronum."
541
O brilho azul cintilante começou a sair da ponta da varinha, tomando a forma
de uma águia grande e deslumbrante que voava pela sala com uma leveza
impressionante.
542
Capítulo 41: Fantasma
Passei toda aquela noite em claro, sem fazer a menor ideia se o que eu fiz
havia dado certo ou não.
Pela minha falta de experiência na coisa, eu estava com medo. Eu não sabia
exatamente a hora que havia mandado o patrono, mas sabia que era muito
tarde. E já estava amanhecendo, o que significava que Barty logo acordaria.
Mas eles ouvem Dumbledore. E Dumbledore nem sempre está à favor das
minhas questões.
543
"Mm..." Me mexi na cama, fingindo estar acordando naquela hora. Deus,
acho que atuei mais de ontem para hoje do que um ator de cinema de verdade.
"Me deixe dormir mais um pouco."
"Você pode ficar aí, mas não demore para levantar," Ele disse, se levantando
da cama e vestindo sua calça. "Temos muita coisa para fazer hoje."
"Que coisas?!"
"Vamos até Lord Voldemort, é claro." Ele sorriu triunfante, saindo radiante
pela porta do quarto. Só consegui raciocinar quando ele já estava na cozinha
fazendo barulho com as xícaras de vidro. Ele havia decidido me entregar?!
"Acho que não entendi direito," Fui até à cozinha, nervoso, me atrapalhando
com a camisa. Fiz uma pausa, hesitante. "Você vai... me entregar?"
"O quê?!" Ele gargalhou, se encostando na pia, com uma xícara na mão. "Eu
admito que fiquei chateado por você não querer ter ido até o final comigo
ontem à noite, mas não a ponto de querer que você morra!" Ele tomou um
gole do café, correndo os olhos dos meus pés até a cabeça e se aproximou de
mim. "Você ainda sabe como me deixar feliz usando só as mãos, não é?"
Que nojo.
"Ah, Reg, vamos lá! Você acha mesmo que me engana?!" Ele sorriu
ironicamente. "Você acha que não sei por que você fez todo aquele
showzinho ontem à noite?!"
Estremeci por alguns segundos, imóvel. Ele havia descoberto tudo. Agora eu
iria morrer pelas próprias mãos dele. Porque Barty odiava ser enganado.
544
Sei quando está tramando alguma coisa. Mas, sabe, você só precisava ter me
dito."
"Que você havia sido decidido!" Ele estava radiante. Se eu não o odiasse,
quase sentiria pena de estragar esse momento para ele. "Que finalmente caiu
em si e vai vir comigo e sair desse lugar! Não sei se você estava tentando
fazer disso um grande momento, mas você nunca precisou fazer muito
esforço para tirar minha roupa. Como eu disse, era só ter me pedido, raio de
sol." Ele sorriu, batendo com a ponta do indicador no meu nariz. Depois foi
em direção ao sofá e se jogou.
"Não acho que uma coisa tem muito a ver com a outra." Me sentei devagar
no sofá ao lado dele, mantendo a voz calma à todo custo. Eu podia ver a
minha varinha marcada no tecido do casaco dele.
"Você não vai brincar comigo desse jeito." Ele estava começando a ficar
irritado, a voz começando a engrossar. "Você gostava de mim, Regulus.
Realmente gostava. Por isso, nós fizemos isso!" Ele agarrou meu pulso com
uma força absurda, virando-o para cima e mostrando a minha marca, agora
acinzentada e com a cor fraca. Ele levantou a manga do próprio casaco com
a boca e mostrou a dele, viva e quente. "Nós fizemos isso para podermos
fazer o que quiséssemos, você não lembra?! Nós éramos invencíveis! Eu,
você, Bella... Não havia ninguém mais fiel ao Lorde das Trevas do que nós!
Ninguém! Eu preciso de você e se não for ficar comigo, não vou permitir que
fique com ninguém."
Eu estava tão assustado que meus lábios tremiam. Barty ainda segurava meu
pulso com força, me olhando com aquelas pupilas altamente dilatadas. "Por
que não consegue aceitar que eu não sou assim?"
545
"Porque você é!" Ele empurrou meu pulso. "Você é como eu! Fomos criados
para isso, Regulus, para servi-lo até o dia em que morrermos. Não somos
pessoas boazinhas, Reg, sabe disso. Você não nasceu para seguir
Dumbledore! Eu duvido que ele confie em você. Ele não confia, não é?!"
"Está vendo?!" Ele uniu as sobrancelhas, falando muito perto de mim. "Eu
sou o único que estou aqui por você, Reg. Sempre fui eu. Você pode fingir
que não, pode voltar para sua Ordem estúpida, comer aquela vadia sangue-
ruim e achar que o mundo é cor de rosa, mas no fundo, você sabe a verdade.
Você sempre vai ser como nós."
Puxei toda a coragem que tinha do fundo do meu peito e gritei. "Não! Eu não
sou!" Me levantei bruscamente, Barty me observou com os olhos cerrados.
"Não sou como meus pais eram, não sou como Bella, Snape, Mulciber... E
com toda a certeza, não sou como você! Se você tivesse me dito isso a alguns
meses atrás, talvez eu tivesse acreditado, Barty, mas hoje não. Hoje eu sei
que eu sou bom. Sou uma pessoa boa que faz coisas boas. Acredito nisso
mais do que acredito em qualquer outra coisa no mundo."
Barty sorriu, uma risada fina, que mostrava quase todos os dentes na sua
boca. Ele se levantou, ficando de frente comigo, ainda sorrindo. Eu
continuava o encarando, mesmo sem chance nenhuma contra ele, eu não me
renderia nunca. "Eu gostava de você, Reg, gostava de verdade. Talvez tenha
até amado você. Mas você me decepcionou muito e agora..." Ele suspirou,
fingindo preocupação. "O que é que eu faço com você, huh?"
Dei um passo para trás e olhei pelo canto do olho para o bolso do casaco dele
onde estava a minha varinha. Barty estreitou os olhos e acompanhou meu
olhar. Foi tudo rápido demais e Barty só levou um segundo para me pegar
pelo pescoço e me jogar no chão de uma vez, me prendendo com o peso do
seu corpo. Ele bateu a minha cabeça no piso e minha visão ficou turva,
consegui sentir o sangue molhando os fios do meu cabelo e o gosto metálico
na minha língua.
"Você acha que pode me enganar, seu filho da puta?!" Ele sussurrou no meu
ouvido, sorrindo como um louco, mas eu ouvia a voz dele muito distante
porque a minha cabeça latejava de dor. "O que você aprontou ontem, hein?!
Descobriu onde eu guardo sua varinha? Uma pena que coragem nunca foi
uma das suas maiores qualidades, amor, e você não conseguiu fugir de mim!"
546
"Pode me matar..." Consegui dizer, as palavras trêmulas, mas firmes. "Você
tem que me matar. É sua única chance. Porque se me deixar viver, sou eu
quem vou matar você, raio de sol."
Quando estava prestes a apagar por causa da falta de ar, o sorriso de Mary
foi o último flashe que me veio à mente. Pedi perdão à ela em silêncio dentro
da minha própria cabeça.
Algo explodiu dentro de mim também. Esperança não era algo que eu sentia
muito, mas meu peito transbordava apenas isso agora. Sirius havia recebido
o meu patrono. Mesmo com a visão embaçada, eu reconheceria meu irmão
em qualquer lugar do mundo.
547
tipo de alívio correu pelo meu corpo. Porque mesmo se Barty me matasse,
Sirius me vingaria. Nada teria sido em vão.
Por um momento, ele pareceu emocionado ao me ver, mas logo seu rosto
encontrou o de Barty e ele assumiu uma postura furiosa, quase assassina, eu
diria. Ele levantou a varinha e a apontou para Barty. "Fique longe do meu
irmão, seu desgraçado! Ou vou te dar uma passagem só de ida para visitar o
seu papai!"
Barty não teve tempo de terminar. Remus e Pandora entraram na casa, logo
atrás. A energia canina que irradiava do olhar de Lupin era tão poderosa que
poderia ter feito qualquer um no lugar perceber que ele estava
definitivamente furioso. Pandora não estava diferente. O cabelo loiro dela
estava preso em um rabo de cavalo, o que deixou ela com a aparência mais
severa e raivosa ainda enquanto fulminava Barty, o encarando por de baixo
dos cílios.
Carter também estava lá, o que me surpreendeu porque ele é do tipo que foge
de guerras, o que significa que ele deve se importar mesmo comigo. Ele era
provavelmente a pessoa mais alegre e divertida que eu conhecia, mas agora,
nem mesmo a mecha colorida na franja do cabelo loiro que fazia ele
aparentar ser anos mais novo, não o fazia parecer gentil. Marlene entrou logo
após ele.
548
Por último, Narcissa e Andrômeda se postaram à frente de todos, com as
varinhas erguidas. Andy com aquele olhar de quando eu tinha dez anos e vi
ela indo embora e desafiando meu tio. As duas estavam com aquele olhar
dos Black que faz suas entranhas se arrepiarem.
"Se machucar o meu primo," Andy rosnou, fulminando Barty com o olhar.
"Eu desfiguro a sua cara, seu desgraçado."
"Pelo visto, você também amoleceu, Cissy," Barty fingiu tristeza, "Ponto
para mim, então. Fica mais fácil de matar você. Vai ser uma pena o pequeno
Draco crescer sem a mãezinha, não vai?"
Pandora e Remus cercaram Barty por trás. Eles estavam calados, parecendo
observar alguma coisa milimetricamente. Como se estivessem procurando
um calcanhar de Aquiles. Eles não podiam atacar por trás sem ter certeza que
ele não teria tempo para revidar. Um movimento em falso e ele me mataria
sem pensar duas vezes.
"Não devia ter feito isso." Barty sorriu maldosamente e me jogou no chão,
minha costela bateu com força no piso frio. Eu tossi de dor, podia jurar que
algum osso havia quebrado.
"Reg!" Carter gritou, quase vindo até mim, mas Marlene pôs a mão na frente
dele, o impedindo de continuar.
"Ele vai matá-lo se avançarmos." Ela sussurrou, "Esse filho da puta tirou
toda a magia dele. Ele não pode nem mesmo se defender."
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Remus pegou Barty pela cintura com um braço e o outro agarrou o braço
dele, forçando a varinha para o alto. Andrômeda, que era a mais alta, pegou
a varinha da mão imobilizada de Barty no alto, partindo-a bem ao meio.
Remus jogou Barty no chão, pondo o peso de seu corpo por cima dele e suas
mantendo suas duas mãos presas às costas.
"Eu daria um jeito de encontrar você," Sirius disse a voz firme. "Com ou sem
ajuda, eu acharia você. Fiz isso uma vez, posso fazer de novo."
"Impedimenta!"
Barty ficou fraco na hora, quase paralisado. Mas ele ainda tinha o sorriso
maníaco no rosto, mesmo com seu corpo preso ao chão por Remus. Carter
se aproximou dele, pondo o sapato encostado na bochecha de Barty, "E as
algemas?"
Olhei nos olhos de Mary finalmente, depois que Pandora jogou a varinha
para mim. Ela sorriu fracamente, encostando a testa na minha. Porra, eu
550
havia sentido tanto a falta dela que não conseguiria colocar em palavras. Não
queria me separar dela nunca mais. Nunca, nunca, nunca mais...
"Era a minha vez de salvar você, certo?" Ela disse, segurando os meus pulsos
que tocavam o rosto dela. Eu não sabia o que dizer. E não queria dizer nada.
Então, só a beijei.
"Temos que sair daqui!" Andy disse, nos tirando do transe, "Voltar e levar
Crouch ao Ministério."
"Ministério!" Cissy zombou, "Pense, Andy, o que eles podem fazer? Agora
que os dementadores se aliaram à Voldemort, Azkaban é praticamente
inútil!"
"Ou é isso ou vamos ter que matá-lo," Remus vociferou. "Porque não tem
chance desse psicopata ficar solto por aí!"
"É impossível para bruxos, você quer dizer." Sirius deu um meio sorriso.
Todos olharam para a porta, que agora era apenas um buraco, e eu fiz o
mesmo. Não vi nada, até abaixar os olhos e ver uma criatura de setenta
centímetros de altura, parada do lado de fora, esperando por nós.
"Ah, meu Deus! Kreacher!" Exclamei, indo até ele. "Como você... Como
você sabia?! Eu... Merlim, muito, muito, muito obrigado!"
"Então," Cissy pigarreou. "O que vamos fazer com esse aqui?"
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Respirei fundo e me abaixei no chão, puxei o cabelo de Barty com a mão e
o forcei a olhar para mim. Ele estava imobilizado, até a respiração estava
enfraquecida, mas ainda irradiava uma quantidade absurda de loucura. E
ainda conseguia falar.
"Não quero que você passe nem mais um segundo falando sobre como eu
sou ou sobre como você queria que eu tivesse sido," Rosnei, o olhando nos
olhos. "Você destruiu partes minhas que eu infelizmente talvez nunca
recupere. Mas não vou dar à você a honra de levar o que tem de melhor em
mim. Não mesmo, Barty."
Peguei as chaves das algemas no bolso dele, o rosto dele fez uma expressão
de desgosto quando se tocou que eu já sabia onde ficavam. Depois de
finalmente tirar aquelas coisas de metal do meu pulso, juntei os dois braços
de Barty e encaixei as algemas. O olhar dele era de puro ódio, as pupilas
dilatas e a parte branca do olho avermelhada.
"Você vai ficar aqui." Me levantei, ficando de pé na frente dele. "Sem magia.
Sozinho. Ilocalizável. Vai morrer aos poucos. Devagar. E lentamente. Vai
morrer de fome, ou sede. Não me importo."
"Vou pôr um feitiço aqui." Respondi, quase sorrindo triunfante. "Você não
passa por essa porta nunca mais, Crouch. Do jeitinho que você fez comigo.
O que você acha?"
Pela primeira vez, o sorriso dele se desfez. Quase pareceu desespero. Ele
ficou sério, impassível. "Isso torna você um assassino, raio de sol. Vai
finalmente assumir que nunca deixou de ser quem era?"
552
Eu podia ver que ele sentiu a última parte, como se não tivesse ainda caído a
ficha que eu estava falando sério. Ele se desesperou quando fomos todos até
a porta, segurar em Kreacher, "Não! Reg, não! Você... você sabe que eu amo
você, não sabe? Sabe sim! Não pode fazer isso comigo, não pode!"
Naquele dia, não fiquei livre apenas daquelas algemas, mas de várias outras.
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Capítulo 42: Família
Admito que houve momentos que eu não achei que fosse voltar a ver a minha
casa. Meu quarto. Minha cama. Meus amigos.
"Mais uma pancada na sua cabeça e não sei se eu conseguiria consertar isso,
Black." Ela passava a varinha pela minha cabeça, murmurando feitiços de
cura.
A expressão dela mudou um pouco. Não era triste, era mais como se ela
estivesse se lembrando de algo que sentia muita falta. Ela abaixou a varinha,
e olhou para a jaqueta, "Foi ela quem me deu. Dorcas."
"Oh," Fui pego de surpresa. "Mm, eu não cheguei a... hm, conhecer ela muito
bem." Marlene continuava olhando para a jaqueta. "Me conte dela."
Ela sorriu, os olhos brilhando, "Ah, ela... ela era a melhor pessoa que eu já
havia conhecido na vida! Não havia ninguém como ela. Ela era alegre,
engraçada, inteligente... Também era teimosa e nunca, nunca me deixava
comer o último pedaço da pizza!" Ela gargalhou, com o olhar distante. E eu
sorri, porque era contagiante.
"E como eu poderia não?" Ela sorriu fracamente, voltando a olhar para a
jaqueta. "Como eu conseguiria não amar Dorcas Meadows?"
"Eu sinto muito," Franzi o cenho, tentando achar as palavras. "Pelo o que
aconteceu com ela. Ela não... Vocês duas não mereciam."
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"Vou contar uma coisa," Ela disse, de repente, passando um antisséptico em
alguns machucados no meu braço. "No começo do seu namoro com Mary,
eu a disse para não se apegar a você."
"Não, não estou falando que não confiava em você como quem diz "Você
era um comensal da morte."," Ela revirou os olhos, sorrindo. "Estou falando
como quem diz "Ele é um metido à herói que deixaria você morrer para
salvar o mundo, se for preciso."
"Sei disso," Ela deu de ombros. "Dorcas achava que um dia ela mesma
colocaria um fim na guerra. Ela tinha esperança. Muita esperança. E quando
a perdi, a parte de mim que também tinha essa esperança se perdeu também.
Então quando percebi que minha melhor amiga estava apaixonada pelo cara
que declarou guerra oficialmente à Voldemort, eu fiquei assustada."
"Você deve ter me odiado quando foram atrás dela por minha causa."
"Eu não odeio ninguém, Regulus," Marlene sorriu. "Essa é uma das muitas
coisas que aprendi com a garota que eu amava. Mas é, naquela época, eu
realmente preferia que você ficasse longe dela. Não conte isso para
ninguém."
Nós gargalhamos, e ela voltou a curar meus machucados. Marlene pediu para
eu tirar a camisa para facilitar e eu fiz. Ela franziu o cenho quando me viu,
"Você está todo roxo, Reg... Não deu tempo dele machucar seu corpo todo
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assim, a não ser que o desgraçado estivesse batendo em você durante todo o
último mês!"
"Não, ele não estava," Balancei a cabeça negativamente. "Não assim, pelo
menos."
Encolhi os ombros, sem saber o que dizer. "Não conto se você não contar."
"Tem certeza?" Ela insistiu mais uma vez. "Não quer falar sobre isso?"
"Definitivamente não."
"Certo."
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"É claro que não precisou," Pus a mão no ombro pequeno dele. "Você sempre
esteve lá quando precisei, não seria diferente agora, não é?"
"Kreacher está feliz de ver que Regulus Black está feliz," Ele disse, de
repente. "Kreacher se lembra da criança triste que era encarregado de cuidar.
E fica muito orgulhoso de ver quem Regulus Black se tornou."
"Sinto muito, Lupin," Ele vociferou, mancando até a minha cama. "É assunto
da Ordem."
"Moody!" Sirius entrou também, "Ele precisa descansar! Por Godric, por que
isso não poderia ser amanhã?!"
"Está tudo bem, Six," Assenti, calmamente. "Posso fazer isso. Sério. Está
tudo bem."
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Remus sabia que eu preferia me livrar logo disso, então entendeu
perfeitamente. Ele teve que quase arrastar Sirius para fora. Por fim, Moody
me encarou, com o olho bom e o mecânico. Ele era assustador, mas depois
do último mês, nunca mais vou me assustar com facilidade na vida.
"Sei disso."
"Está muito ferido?" Ele perguntou, mas não parecia que queria realmente
saber. "Consegue falar?"
Então, eu contei à Alastor tudo que ele queria ouvir. Contei sobre as algemas
anti-magia, sobre como Barty orquestrou o assassinato do pai, sobre o que
ele me disse de Voldemort estar procurando alguém que se infiltre na Ordem
para ele porque Pettigrew havia falhado miseravelmente, contei que ele
queria que eu me juntasse de novo aos comensais e parecia ter certeza de que
eu não iria morrer se fizesse isso.
"Você tem certeza de que nenhum deles sabia que você estava lá?" Moody
perguntou.
"Sim," Respondi. "Barty não contou à ninguém porque sabia que eles iriam
atrás de mim e me matariam, e ele nunca conseguiria o que queria."
"Bom, Regulus," Moody suspirou. "A obsessão desse garoto por você parece
ter salvado a sua vida, então."
Não contei à ele sobre o que fizeram com Peter ou sobre ele ser quem estava
nos dando informações. Não sei se ele já sabia, mas eu não disse. Alguma
coisa me dizia para não falar sobre isso com ninguém antes de ter a chance
de contar aos meus amigos. Afinal, não foi Moody quem havia ido até o fim
do mundo para me achar, foram eles.
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Não respondi nada. Eu sabia que era um. Realmente sabia agora.
Fui até à sala depois que Moody foi embora. Sirius e Remus estavam lá e
Mary também.
"Ei!" Ela se levantou rapidamente, vindo até mim. "Você não devia estar em
pé. Marls disse para você passar o máximo tempo possível deitado."
"Ela está certa, Reg," Sirius também se levantou. "Você devia descansar
depois de tudo o que aconteceu."
"Não estou inválido," Dei de ombros. "Só um corte na cabeça. Não é nada."
"O que diabos querem dizer com "não sabemos onde ele está"???????
Ele não pode ter simplesmente sumido, Black! Deus, não me faça ir até aí!
L. Potter."
"Moony, você é o inteligente! Faça alguma coisa! Godric, sabe Deus o que
aquele lunático está fazendo com ele agora!
Me deem notícias! Todos os dias! Todas as horas! Ou vou sair de onde estou
para procurá-lo eu mesmo e Crouch vai saber como dói a chifrada de um
cervo!
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Criamos a droga de um mapa que encontra qualquer pessoa em um castelo
do tamanho de uma floresta e não conseguimos encontrar o irmão mais novo
de Sirius???? Somos marotos ou o quê?!
Prongs."
As outras eram coisas como "Me deem notícias!" ou "James deixou uma
mala pronta para no caso de precisar ir até aí e não estou conseguindo
convencê-lo do contrário!". Confesso que fiquei emocionado. As cartas me
deixaram com muita saudade dos dois,
"Onde estão os outros?" Olhei ao redor, abraçando Mary pela cintura. Queria
ficar o mais próximo dela que podia. "Foram para casa?"
"Pandora teve que voltar para Luna, mas disse que voltaria esta noite."
Remus explicou. "Os pais de Carter estavam explodindo de preocupação por
ele ter se envolvido em algo com a guerra, ele disse que voltaria assim que
eles o liberassem novamente."
"Ainda bem que estamos sozinhos. Preciso falar com vocês," Corri os olhos
entre os três. "Queria muito que James e Lily estivessem aqui para ouvir
também. É realmente importante."
"Ele escreveu." Mary disse. "Escreveu dizendo que era ele. Dizendo muitas
coisas, na verdade."
"Bom, então acho que vocês não sabem de uma coisa." Eles me encararam,
ansiosos. "Barty sabia. Todos eles sabiam. E Pettigrew está morto agora."
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Respirei fundo, porque a conversa seria difícil. Eles me observaram enquanto
eu me sentei no sofá, pensando em como iria começar. "Não contei nada
disso à Moody, e nem pretendo. Acho que vocês tem o direito de saber antes.
Eles descobriram que Pettigrew estava passando informações para a Ordem.
Descobriram e o mataram. Barty me contou tudo."
"E por que ele contou isso para você?!" Remus exclamou, os olhos
arregalados.
"Nós recebemos uma carta." Mary disse, correndo os olhos entre nós.
"Enquanto você estava fora. Recebemos uma carta dele."
Sirius não disse nada. Ele se sentou, ainda sem palavras. Mary me entregou
o bilhete nas mãos.
"O Lorde das Trevas sabe que Regulus está desaparecido. Ele pretende
encontrá-lo ele mesmo e fazê-lo pagar pelo o que está tentando fazer.
Mas saibam que sou eu. E que nem tudo que vocês acham ser verdade,
realmente é.
Wormtail."
"James e Lily estão sabendo disso?" Perguntei, sem tirar os olhos da carta.
Remus e Mary assentiram, Sirius continuava em silêncio. "E o que
disseram?"
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"Ele tinha esperança." Sirius disse, de repente. "Prongs tinha esperança e
estava certo. E agora que ele havia a recuperado e nos feito ter também, ela
se foi outra vez. É como ficar de luto pela morte de alguém que já era um
fantasma a muito tempo."
"Exatamente." Remus assentiu. "Afinal, por que Wormtail não nos procurou
pessoalmente, então? Por que demorou tanto para dizer?!"
"Tem alguma coisa muita errada... Eu vi a marca no braço dele. Ele era um
comensal da morte." Sussurrei para mim mesmo. "Alguma peça nisso não
está se encaixando direito..."
"A coisa errada, Regulus, é que Pete está morto." Sirius disse, a voz trêmula.
"Deus, eu... Eu nem mesmo me lembro a última coisa que disse para ele!"
"E não se esqueça das horcruxes." Eu disse e Mary me deu um tapa no braço.
"Desculpe."
"Olhem só," Mary começou. "Sei que as coisas não estão fáceis. Para
nenhum de nós. Meus pais são trouxas e meu namorado é praticamente
sentenciado de morte. Sirius e Remus sentem falta de James e você, Reg,
bom, eu te amo, mas ser você deve ser um porre."
"Mas se nós queremos que valha a pena tudo isso, temos que continuar
lutando, certo?" Ela continuou, correndo os olhos entre nós. "Sirius, James
faz parte da sua família, mas não é toda ela. Você tem a mim, Remus,
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Regulus que é seu irmão... Vamos fazer tudo isso dar certo por eles, ok? Sei
que é uma merda, mas não podemos jogar tudo para o alto agora. Se eles
quiserem atacar, então nós vamos nos defender."
"Tá legal, você acabou de me deixar muito excitado agora, Mary." Sorri
fracamente. Mas que porra, como ela conseguia fazer eu ficar mais
encantado ainda?! Ela se sentou no meu colo, sorrindo.
"Ela está certa. Venha cá, Pads..." Remus disse, dando um braço para Sirius
se sentar na sua perna. Ele pôs uma mecha do cabelo grande dele para trás
da orelha. "Vai ficar tudo bem, amor. Vamos aguentar isso. Já fomos bem
longe, não vamos desistir agora, certo?"
Sirius respirou fundo, correndo os olhos entre nós. "Certo. Tudo bem. Eu
só... Eu só queria que Dumbledore nos dissesse algo!"
"Está assim desde que você desapareceu." Remus disse, dando uma tragada.
"Moody é quem procuramos. Dumbledore até saiu de Londres por uma
semana."
"Eu queria ter ido atrás de você na mesma hora em que recebemos o patrono,
mas Dumbledore disse que não era seguro." Sirius disse. "Passei o mês
inteiro insistindo para colocarmos até a polícia trouxa se possível atrás de
você! Mas ninguém me ouviu!"
"Bom, considerando que sou eu quem tenho que correr atrás de horcruxes,
Remus precisa manter a paz entre os lobisomens e que! Ele me disse que
resolveria a situação dos bilhetes e que eu não precisaria me preocupar com
isso," Eu arquei as sobrancelhas. "Então ele deveria estar fazendo alguma
coisa, porque apenas nesse meio tempo eu fui sequestrado e alguém morreu."
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Ficamos em silêncio por um tempo, observando o fogo da lareira queimar.
Haviam tantas coisas que queríamos que apenas não podíamos fazer. Mas
quando a guerra acabasse... Sim, quando ela acabasse. Então nós
poderíamos. Finalmente poderíamos.
"Você acha que pode dormir aqui hoje?" Sussurrei no ouvido de Mary,
afastando um cacho para trás. "Tudo bem para você?"
"Hm, sim, acho que sim," Ela respondeu. "Mas você precisa descansar de
verdade, então nada de você-sabe-o-quê, ouviu?"
Abafei uma risada, tomando cuidado para Remus e Sirius não ouvirem.
"Primeiro: eu não preciso nem mesmo me cansar para fazer isso, é apenas
um talento natural."
"Então," Ela disse, se sentando na cama. "O que você quer me dizer?"
"Ok, hm... Não tenho certeza se isso vai chatear você," Me sentei na ponta
da cama, de frente para ela, encarando os meus dedos. "Mas eu acho que
você precisa saber porque eu iria querer saber também se fosse ao contrário.
E eu sempre vou ser sincero com você, não importa o quê."
"Você quer saber o motivo real de Barty não ter me matado? O porquê ele
me manteve vivo por mais de um mês quando poderia ter me matado a
qualquer hora?"
"Bom, achei que fosse porque ele queria que você voltasse a ser um
Comensal da Morte," Ela disse. "Não... foi isso?"
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"Sim, hm, foi sim," Pigarreei, engolindo em seco. "Mas ele não queria que
eu apenas voltasse para Voldemort. Ele, bom... Ele queria que eu voltasse
para ele."
"Oh." Ela arqueou as sobrancelhas. "Mas isso não tem importância, Reg.
Porque você não voltaria... não é?"
"Reg." Mary me interrompeu. "Preciso que você respire, ok? Pode me contar
qualquer coisa. Falei para você uma vez que nada que você fizesse poderia
mudar o que eu sinto por você. Isso não mudou."
"Ok, ok. Certo. Hm... Eu estava algemado com aquelas algemas bizarras,
você sabe, não é?" Mary assentiu. "Então eu precisava de um jeito para tirar
as chaves dele, pegar a minha varinha, enviar o patrono e depois fingir que
nada aconteceu."
"As chaves e a minha varinha ficavam no casaco dele o tempo inteiro, então
eu precisava que ele tirasse. O que não foi muito difícil depois que eu fingi
estar bêbado e embebedei ele."
"Certo..."
"E consegui que ele tirasse fingindo ter derramado bebida na roupa dele."
Mary ficou em silêncio, olhando para mim. Eu não conseguia encará-la. Ela
suspirou, "Transou com ele?"
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"Não! Bom, eu acho que não... Não teve... Bom, você sabe. Aquilo
exatamente..." Tentei me explicar. "Mas houveram outras coisas. Mas não
fiz nada porque queria, Mary! Não fiz! Fiz porque era o que ele queria e
porque precisava de tempo porque se não eu iria morrer naquele lugar! Quase
andei para trás porque uma parte minha preferia morrer do que fazer isso!
Fazer isso com você! Deus, eu... Eu realmente sinto muito, Mary. E entendo
perfeitamente se você... se você se sentir traída e... e não quiser estar mais
comigo e..."
"O que? Vai me dizer que você também ficou com algum ex louco que queria
te matar?" Sorri, mas sem achar graça.
"Regulus, você sabia que quando você tem algum tipo de ato sexual com
alguém e você não está confortável e dá indícios disso, mas a pessoa insiste
até você ceder, ainda é estupro?"
"Não, mas... Não, eu não disse que não em nenhum momento, Mary. Eu
mostrei que queria. Precisava que ele acreditasse que eu queria."
"Ele passou um mês insistindo, Reg," Ela disse. "E você cedeu porque sabia
que seria pior se não cedesse. Ele sabia que você não queria e se aproveitou
porque achava que você estava bêbado também."
"Que tipo de namorada eu seria se terminasse porque alguém idiota fez isso
com você?" Ela disse virando meu queixo com a mão. Quando Mary me fez
perceber o que havia realmente acontecido comigo, foi como um soco no
meu estômago. Mas o olhar que ela me deu. Aquele olhar. Me fez começar
a chorar como uma criança. "E-eu disse alguma coisa errada?!"
Ela sorriu, me dando um beijo suave no rosto, "Nunca vou desistir de você,
Black. Vai ter que se esforçar mais."
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"Mas tem uma coisa..." Ela se afastou um pouco. "O motivo para eu ter
perguntado se transou com ele. Não é por nada, é apenas..."
"O que?"
Mary me encarou. "Acho que a maioria de vocês, puro sangues, não fazem
ideia disso. Mas recentemente, eu e meus pais vimos na TV de casa que há
uma nova doença por aí. Uma doença trouxa que mata se você, bem, transar
com a pessoa errada."
"Está falando sério?!" Franzi as sobrancelhas. "Mas... mas será que bruxos
podem pegar? Ou morrer disso? Não tem uma cura?!"
"Não até agora," Ela respondeu. "Não sabemos muito, não sei se ela pode ser
transmitida com sexo oral ou alguma coisa assim, mas definitivamente pode
ser com o sexo tradicional."
"Acha que devíamos contar isso para os outros? Para quem não tem muito
contato com o mundo trouxa?"
"Acho que seria uma boa ideia," Ela suspirou, se jogando para trás na cama,
os cachos se esparramando no travesseiro. "Mas agora, vem aqui. Passei um
mês dormindo longe de você, não aguento mais uma noite."
Me deitei ao lado dela, passando um braço por trás do seu pescoço. Ela se
aconchegou no meu peito, encaixando perfeitamente o corpo no meu.
Respirei fundo o perfume dela, acariciando com a ponta dos dedos o seu
ombro, e pensei que se o perfume de Mary fosse oxigênio, eu nunca mais
pensaria em cogitar morrer.
"Senti sua falta." Sussurrei e ela ficou quieta, mas sabia que estava sorrindo.
***
"Eu nem sei cozinhar!" Exclamei, vendo Sirius andar de um lado para o outro
com uma lista de supermercado na mão. "Moony, me ajude aqui!"
"Não olhe para mim," Ele ergueu os braços. "Foi ideia de Padfoot tudo isso."
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"É só pizza!" Sirius revirou os olhos.
"Você quer que chamemos nossos amigos para comer pizzas que nós
mesmos vamos fazer?" Perguntei. "Quer matar eles de intoxicação?!"
"Precisa parar de fazer piadas sobre morte, Reg," Remus disse. "É sinistro."
"O molho de tomate vem antes do queijo!" Ela disse. "Vamos, me dê isso
aqui!"
"E você me fez ficar um mês inteiro preocupada e sem dormir." Ela disse,
jogando as rodelas de pepperoni na pizza, "Posso fazer o que quiser com
você durante um bom tempo."
"Até que eu senti a sua falta." Revirei os olhos, batendo com a cintura na
dela.
"Cale a boca, Wood!" Revirei os olhos, modelando uma massa com as mãos.
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"Admita que estava com saudades de me ouvir falar pelos cotovelos." Ele
sorriu divertidamente.
"Não tenho tenho certeza." Gargalhei, porque só Carter para dizer algo
assim.
"Hm... Acho que ele está no quarto ainda..." Tirei as luvas, saindo da cozinha.
"Vou até lá."
Sirius estava em frente ao espelho. Veja bem, Sirius era a pessoa mais
vaidosa e confiante que eu conhecia. Eu mesmo o invejei por muito tempo
por isso. E ele nunca decepcionava quando era o anfitrião. Mas algo nele
parecia diferente no modo como olhava para si mesmo no espelho naquela
noite.
"Está tudo bem?" Entrei devagar no quarto, fechando a porta atrás de mim.
"Estão perguntando de você e você precisa me ajudar a fazer as..."
"Reg, você acha que eu seria bonito se fosse uma garota?" Ele perguntou, de
repente, me pegando desprevenido. Que pergunta era aquela?!
"Bom, sim, eu acho que sim, Six," Franzi o cenho. "Mas por que está
perguntando isso?!"
"Sabe, Reg, gosto de ser um cara," Ele se analisou no espelho. "Mas há dias
em que eu acordo e não me sinto um, você entende?"
"Não exatamente."
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"Sinto que tenho os dois dentro de mim, às vezes..." Sirius não parava de se
encarar. "Será que eu poderia ser... os dois?"
"Eu acho que se você se sente assim," Respondi, me levantando para olhar
para o espelho ao lado dele. "Então você pode ser o que quiser ser."
"Remus não tem nada a ver com isso." Interrompi. "Isso é sobre você e como
você se vê e se sente no próprio corpo. Você o ama mesmo ele virando um
animal toda lua cheia. Por que ele não amaria você só por isso?"
"Espero estar vivo para ver isso." Ele sorriu, arrumando o cabelo com a mão.
Marls até elogiou uma das pizzas que eu havia feito e lancei um olhar
triunfante para Carter, que havia duvidado das minhas habilidades culinárias
descaradamente.
Mas quando Remus abriu a porta, não era nenhum dos dois. Acho que
Voldemort teria me assustado menos do que aquilo.
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Dumbledore estava na nossa porta, o olhar calmo e indecifrável de sempre.
E Snape estava postado ao seu lado, parecendo envergonhado e furioso ao
mesmo tempo.
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Capítulo 42.1: James
Eu não passava o Halloween longe dos meus amigos desde que eu tinha onze
anos. E o Dia das Bruxas, a noite em que ou você dá doces ou você está
automaticamente permitindo que crianças preguem qualquer tipo de peça em
você, era o dia de glória dos marotos.
Mas não éramos mais crianças. Havia uma guerra agora e todos estávamos
lutando arduamente e da sua própria maneira para que ela acabasse o quanto
antes.
E então, Harry. Quando soube que Lily estava grávida, eu sabia que agora
era a hora de crescer de verdade e firmar o pé no chão. E que alguém que eu
amaria incondicionalmente estaria chegando para me mostrar isso. Mas foi
o contrário. Harry me lembrava todos os dias de que, no meio de todas as
mortes e destruição que a guerra havia trazido, coisas puras ainda existiam.
Ele me lembrava diariamente do meu lado que se recusava a ficar velho e
ranzinza, e a não ver esperança quando ela é tudo que você pode se agarrar.
Eu faria qualquer coisa por ele. Até me isolar do mundo para manter ele e
Lily à salvo. Era apenas um pequeno preço a se pagar pela segurança das
pessoas que eu mais amava no mundo. O único momento em que sentimos
que não iríamos aguentar ficarmos trancados aqui foi quando recebemos a
carta de Remus, porque Sirius não conseguia nem mesmo segurar a pena,
contando o que havia acontecido com Regulus.
Não só porque não fazíamos ideia do que iria acontecer com Harry se
Regulus morresse, mas porque ele foi a pessoa que aceitou se pôr em risco o
suficiente para isso. Ele sabia o quanto era perigoso e que se Voldemort
descobrisse sobre a profecia e deduzisse que Regulus era quem estava nos
protegendo, ele o mataria. Mas ele fez mesmo assim, sem nem mesmo
hesitar. Porque Regulus era assim. E eu devia a minha vida à ele por isso.
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Então quando ele sumiu, senti que precisava salvá-lo não importasse o que
custaria. Porque ele se pôs em perigo por nós sem pensar duas vezes e eu
nunca poderei recompensá-lo o suficiente por isso. Eu faria qualquer coisa
para salvá-lo porque ele me salva todos os dias. E eu acho que isso é tudo
que você pode esperar de um amigo.
"Quero que fique com isso." Regulus disse, me entregando um anel dourado
com um cristal pequeno vermelho sangue em cima, na noite em que nos
vimos pela última vez. Estávamos apenas eu, ele, Dumbledore e Lily com
Harry dormindo em seu colo. Prontos para partir.
"O que é?" Franzi o cenho, observando o anel. "Desculpe, Reg, mas meio
que já sou casado."
"Idiota." Reg sorriu, revirando os olhos. "Se houver magia negra por perto,
ele fica vermelho sangue. É o cristal que Pandora enfeitiçou para nos ajudar
com as horcruxes."
"Sim, hm, isso deve ser porque estou perto demais," Ele respondeu, sem
jeito, dando um passo para trás. "Você sabe, a marca."
"Oh." Arqueei as sobrancelhas. "Mas, espere aí, se está me dando isso, como
é que você vai..."
"Obrigado, Reg," Eu o encarei e ele fez o mesmo, e eu soube que ele sabia o
quanto eu era grato. "Obrigado de verdade. Você não faz ideia do que isso
significa para mim."
Regulus sorriu timidamente, "Fazemos tudo pela família." Ele olhou para
Lily e ela sorriu. "Certo?"
Sempre fui crédulo. Sempre acreditei no melhor das pessoas e nunca gostei
de cogitar o pior antes do melhor. Coisas ruins acontecem todos os dias,
pessoas boas morrem todos os dias. Então não há motivo para não querer
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torcer para que o melhor aconteça. E quando Sirius escreveu contando sobre
as cartas que Peter havia mandado, uma parte minha se alegrou por nunca ter
deixado de ser como eu era. Porque havia uma esperança. Mesmo que fosse
perigoso acreditar, mas havia uma esperança.
"Nosso Hazz não quer dormir de jeito nenhum," Lily apareceu na sala de
estar, carregando Harry. "Acho que ele sabe que é Halloween."
"É claro que ele sabe," Sorri, pegando-o nos meus braços. "Meu Hazz é o
rapazinho mais inteligente do mundo e ele é um maroto, afinal de contas. É
claro que ele sabe que é Halloween."
"Com certeza estão," Me sentei no chão, com Harry entre as minhas pernas.
Ele estava finalmente conseguindo ficar em pé sozinho depois de muitas
tentativas frustradas. "Moony escreveu algo sobre Padfoot estar tentando
convencer Reg a semana inteira a cozinharem pizza! E é claro que Regulus
acha isso um absurdo porque nenhum deles sabe fazer pizza!"
"Sei disso. Também sinto." Respondi, tristemente. "Mas, não vamos ficar
assim, ok? Vocês são tudo o que importa para mim, Lils. Você e Harry. Nós
vamos sair daqui, não se preocupe."
"Sei que ele consegue fazer isso," Respondi. "Você conhece Regulus. Ele é
quase um super herói. Consegue fazer qualquer coisa."
"É, acho que é assim que Harry vai crescer," Lily sorriu, brincando com as
mãos gordinhas de Harry. "Vendo Reg como um super herói, ou algo do
tipo."
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"E como você está?" Perguntei, acariciando o ombro dela. "Está precisando
de algo? Quer que eu faça alguma coisa?"
"Não, está tudo bem," Ela sorriu, cansadamente. "Estou apenas um pouco
cansada, mas vou melhorar. Tudo isso vai melhorar."
"Por que Dumbledore ou Moody não estão dizendo nada sobre isso, por
exemplo?!" Indaguei. "Reg disse que nem mesmo quando ele havia ido
pessoalmente até Dumbledore com uma das cartas de Wormtail nas mãos,
ele pareceu estranho. Como se não fosse importante o suficiente."
"Dumbledore pode estar com medo, Jay," Lily disse sem olhar para mim,
focada em ajudar Harry a não cair enquanto tentava andava no carpete. "Não
são todos que confiavam em Peter como você confiava, não é? E afinal, Reg
disse que viu a marca e esse tipo de coisa não tem volta."
"Eu honestamente não acho que seja uma questão de confiança, Lily,"
Respondi. "Remus está indo à missões todo o tempo para trazer lobisomens
para o nosso lado. E há literalmente um comensal mandando cartas para nós
e eles estão parados? E também não é como se fosse qualquer um. É Peter."
"Sei que isso é difícil para você," Lily me encarou, "Principalmente por se
tratar dele. Mas não estamos em uma posição muito boa para confiar tão
facilmente, Jay," Ela olhou ao redor, sorrindo de uma maneira cansada,
"Apenas espere. A verdade sempre aparece."
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Harry começou a bocejar logo em seguida e eu dei uma olhada no relógio na
parede da sala, "Já são quase onze, acho que está na hora de dormir, não é,
Hazz?"
"Eu concordo," Lily carregou Harry nos braços e ele descansou a cabeça em
seu ombro, sonolento, "Você já deveria estar na cama à muito tempo,
mocinho."
Eu e Lily subimos para o andar de cima, onde ficava o quarto de Harry. Era
um quarto simples, com um papel de parede vermelho suave e estrelinhas
grudadas no teto que brilhavam no escuro. Quando Lily pôs Harry no berço,
meu olhos encontraram a vassoura que Sirius havia dado no aniversário de
Harry encostada logo atrás dele. Pads, seu idiota, você é quem dá o presente
e sou eu quem levo bronca quando deixo Harry fazer o que quiser com ela!
Quase tivemos que preparar o funeral de um gato no último mês. Por Godric.
"Está quase lá," Ela respondeu, "Ele demora para cair no sono, igual a você."
Envolvi a cintura dela com um braço, ainda com os olhos em Harry. Gostava
de sentir ela sempre o mais perto possível. "Não acho que eu conseguiria
passar por isso sozinho," Sussurrei, apoiando o queixo em seu ombro, "Não
sem você."
"Ei, somos uma dupla, certo?" Ela franziu o cenho, virando o rosto para mim,
"Você não vai ter que passar por nada sozinho, nunca. Não enquanto eu
estiver aqui. E além disso, somos uma família. Nós três." Ela disse a última
parte com um sorriso.
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pelas árvores. Lily se sentou em um sofá azul água que ficava ao lado do
berço e se encolheu, abrindo um livro em suas pernas.
"Jane Austen outra vez?" Me sentei ao lado dela, passando um braço por trás
e ela descansou a cabeça em mim, "O Darcy ainda não se cansou?"
"Claro que não, ele nunca vai conhecer alguém como Elizabeth," Lily
respondeu, "E quem é você para dizer algo? Você me perseguiu por sete
anos!"
"Não exagere," Ela sorriu, "Darcy tem motivos para estar tão apaixonado.
Ela é uma heroína da literatura."
Me inclinei para frente para beijá-la, mas ela recuou e franziu o cenho,
encarando a minha mão. "James, o anel."
"O qu-" Foi como sentir um balde de água gelada de repente. Os pelos da
minha nuca se arrepiaram e eu senti meu sangue gelar por baixo da pele. O
cristal no anel. O cristal estava vermelho.
"James." Lily engoliu em seco. "Isso quer dizer... Não quer dizer, quer?!"
"Não faço ideia, Lily, não tenho como saber," Eu levei a mão para enxugar
um pingo de suor na minha testa. "Ok, não vamos fazer nada. Não
precisamos fazer nada. Vamos apenas-"
*CRACK*
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"O que foi isso?!" Lily arregalou os olhos mais uma vez. Algo lá fora havia
desaparatado. Ou melhor, alguém. O som era claro e inconfundível. Meu
corpo gelou outra vez. Quem quer que fosse, não era bem-vindo. Ela segurou
no meu braço e sussurrou, "E se for Regulus, James? Ele não é o único que
consegue ver a casa? E também, ele tem a marca."
"Não, Lily, ele deixou claro quando partimos que não tentaria nos ver,"
Respondi, sussurrando também, "Não se lembra? Disse que não era seguro e
que poderia nos colocar em risco. Reg é cuidadoso e não apareceria assim
sem nem ao menos avisar porque sabe que não correríamos o risco."
"E se alguma coisa aconteceu? Alguma coisa muito, muito séria, James. Tão
urgente que ele não teve opção a não ser aparecer." Ela estava preocupada.
E Harry começou a se mexer no berço, mas sem abrir os olhos, "E se ele
finalmente descobriu? Sobre a profecia, James. E se Voldemort está ciente
de tudo e nós três corremos mais perigo do que antes?"
Pareceu que uma parede havia me acertado em cheio. Levantei os olhos para
Lily e as palavras quase não saíram da minha boca. "Ele sabe."
"Ele sabe." Lily estava com os olhos perdidos e piscava rápido para secar a
água que parecia tentar se formar nas pálpebras deixando os olhos dela
brilhantes. A respiração dela começou a acelerar e o peito dela subia e descia.
Parecia que ela teria um ataque a qualquer momento.
"Ei, ei, ei, ei," Pus as duas mãos no rosto dela, falando bem de perto, "Você
precisa respirar, certo? Vai ficar tudo bem. Vou resolver isso."
"Você... Não! Você não vai resolver nada!" Ela agarrou com força meus dois
pulsos, "Não vai sair deste quarto, James Potter. Ou eu juro por Deus que
mato você!"
578
"Lily, há uma pequena, quase nenhuma, mas ainda há uma chance de ser
Reg," Respondi, "E se for, eu preciso ver. Se for, alguma coisa deu muito,
muito, muito errado. Eu preciso ir. Não vou sair da casa, não vou fazer nada.
Mas preciso saber quem está lá fora."
"James..." Ela insistiu, mas pude ver que sabia que não havia jeito, "Não saia
desta casa. Nem mesmo chegue perto daquela porta."
"Vou olhar pela fresta da cortina, só isso," Soltei o rosto dela, assentindo
logo em seguida, "Me espere aqui."
Afinal, pelo o que mais James Potter poderia se sacrificar se não pelas
pessoas que ele amava?
579
Capítulo 43: Contratempo
"O que ele está fazendo na minha casa?!" Sirius disparou com o dedo
erguido, voando furiosamente até a porta, Remus segurou em seu braço para
pará-lo. "Como você ousa ficar parado na frente da minha porta?!" Ele tinha
ódio nas palavras. Se Remus soltasse o braço de Sirius, ele com certeza
avançaria em Snape sem ter que pensar duas vezes.
"Sugiro que se acalme, senhor Black," Dumbledore suspirou, "A situação vai
muito além do que sua mera rivalidade escolar."
"Se você não quer ficar aqui, então vá embora." Pandora disse, firmemente.
"Não é bem-vindo e sabe disso."
Mary estava agarrada ao meu pulso, mas eu não sabia dizer exatamente o
que ela estava sentindo. Não conseguia olhar para o rosto dela porque era
impossível parar de encarar a cena na minha frente. O que de tão errado
aconteceu para Snape estar aqui e, pior, ao lado de Dumbledore?!
Marlene e Carter já haviam levado suas mãos até a varinha no bolso de trás,
eu pude ver. Estavam prontos para atacar se algo repentino acontecesse ou
se tudo não passasse de uma armadilha.
"O que eu disse à você na última vez que conversamos?" Remus perguntou,
ainda mantendo um braço na frente de Sirius.
580
"Se me recordo bem, estava me dizendo sentiu raiva por muito tempo,"
Dumbledore respondeu, calmamente, "E que agora estava pronto para fazer
algo à respeito sobre os lobisomens."
"Sinto muito atrapalhar este momento de reunião de todos vocês, mas não
vim em vão," Dumbledore começou, "Precisamos falar sobre James e Lily
Potter."
"O que? Está falando que não sou confiável por que sou nascida trouxa?"
Mary disse, entre uma risada, "Me poupe, Snape, seu sangue é tão puro
quanto o meu. E não fui eu quem me aliei à um psicopata genocida. Vê se
não enche a porra do meu saco."
581
"Me lembro de você," Carter disse, dando um passo para frente, "Severus
Snape. Se tornou um Comensal da Morte depois da escola."
"Se tornou um traidor imundo, você quer dizer, Carter." Marlene disparou.
"Então diz logo o que você quer ou se manda daqui." Pandora disse,
"Ninguém quer você por aqui."
"Não," Sirius disse, avançando para a frente de Snape. Ele o olhou nos olhos,
"Me diz. O que tem James e Lily?"
"Os Potter não estão mais tão seguros quanto antes, Sirius." Dumbledore
disse.
"Do que está falando?" Franzi o cenho, "O feitiço ainda existe, não pode ser
quebrado a não ser que eu conte ou que eu morra. O que pode ter dado
errado?!"
"Está brincando comigo?" Remus sorriu, mas sem achar graça, "Não sabia
que você sabia o significado dessa palavra, Snivellus."
582
Pandora encarou Snape, que tinha a cabeça baixa e os cabelos oleosos
cobrindo o rosto, e algo pareceu passar pela a sua mente, "Foi você. Foi, não
foi? Por isso está aqui, por isso... Por isso está evitando falar. Você..."
"Eu quero que você fale." Remus disse, de repente, indo para frente de Snape
desafiadoramente, "Eu quero que você admita o que fez com a mesma voz
que você usa para falar as merdas que diz."
"Você está me dizendo..." Sirius estava com a voz rígida, como eu nunca
havia ouvido antes, quase cruel, "Que você pediu para poupar a vida de Lily
e não deu a mínima para o que iria acontecer com James?! Ou com Harry,
uma criança de um ano?!"
"Não, ele está certo," Snape disse, "Eu não pensaria duas vezes antes de
deixar aquele verme covarde morrer."
583
"Severus." Dumbledore intercedeu, o encarando. Remus respirou fundo, e eu
pude ver o esforço que ele estava fazendo para não surtar completamente.
Mas então veio.
"E também não estou nem aí para aquele ratinho que com certeza vai puxar
a imbecilidade do Potter!"
Remus não aguentou. Ele praticamente voou de onde estava para perto de
Snape e acertou um soco com tudo no rosto dele, fazendo ele bater as costas
na parede com o impacto. Remus foi rápido e o pegou pela gola do casaco,
levantando-o meio centímetro do chão.
"Remus, não vale a pena." Marls disse em seguida, "Ele não merece seu
tempo."
Remus demorou ainda alguns segundos para soltar Snape no chão, mas
quando finalmente cedeu, Snape teve que levar um tempo para voltar a
respirar normalmente.
"Não vim até aqui para falar com nenhum de vocês," Snape cuspiu, "Vim
para falar com você."
Ele olhou para mim, e eu franzi as sobrancelhas. "O que diabos você quer
comigo?!"
584
"Tenho total conhecimento que você está tentando destruir o Lorde das
Trevas, Regulus. E sei perfeitamente como está fazendo isso."
"E?"
"Lord Voldemort está fraco, qualquer um pode ver. Você já destruiu quase
toda a alma dele e ele sabe disso. Mas ele não tem medo de você, não se
engane com isso," Ele disse, "Será que você tem alguma ideia do que seja a
última?"
"O que tudo isso tem a ver?" Mary disse, em pé ao meu lado.
"Você não teria como saber," Snape lançou um olhar de desprezo para Mary,
"Mas Regulus sabe. Me diga, o que nunca sai de perto do Lorde das Trevas?"
585
Foi quando percebi que a última horcrux só seria destruída se o
enfrentássemos.
"É a cobra." Arregalei os olhos, trocando um olhar com Pandora, "É a cobra.
A última horcrux é... é a cobra."
"Uma horcrux pode ser qualquer coisa, viva ou morta..." Mary sussurrou para
si mesma, se lembrando da nossa conversa.
"Por isso o senhor esteve sumido," Marlene percebeu, "Estava com... ele?!"
"Posso garantir que não, Pandora," Dumbledore disse, "Severus tem seus
motivos para querer que o Lorde das Trevas seja derrotado."
"Com "seus motivos", você quer dizer uma obssessão doentia por Lily, no
caso?" Mary provocou, Snape rosnou como um animal.
"O único jeito de destruir a cobra é chegando perto dele, professor," Encarei
Dumbledore intensamente, "Estamos prontos para isso? Para uma batalha
real?"
"Temos que pensar melhor, Regulus," Remus disse, "Não vamos nos
precipitar."
586
"Sei o que você quer fazer." Pandora disse, vindo para perto de mim. Ela
trocou um olhar comigo, e eu soube que ela havia entendido tudo. Eu já havia
comentado com ela sobre ter que fazer isso em algum momento. "É perigoso.
Mas se fizer tudo com cuidado e, bem, com muita coragem, vai dar certo."
"Ele vai explicar para o senhor," Sirius disse, depois se virando para Snape,
"Não para ele."
"Você não vai lutar, Snape," Eu disse, "Nós não confiamos em você."
"Você vai embora desse lugar." Remus vociferou, bem perto de Snape. "Não
dessa casa. Mas de Londres. Não vai voltar nunca mais."
"Se pisar aqui outra vez," Sirius interrompeu, "Vou garantir eu mesmo que
não dure nem para ver o dia de amanhã."
Snape correu os olhos entre todos nós, e levantou o rosto, empinando o nariz
grande, "Boa luta para vocês. Se deixarem-a morrer e Voldemort não os
matar, eu mesmo farei isso."
587
Snape se encaminhou para a porta e a bateu atrás de si quando saiu. Todos
olharam para mim, esperando minhas coordenadas. Carter se aproximou,
"Reg?"
"Reg, o que você..." Mary começou, me vendo pegar meu casaco depressa.
"Não se preocupe," Dei um beijo rápido nela, "Vou ficar bem. Não vou para
nenhum lugar perigoso. É apenas..."
"Ele vai resolver o que precisa para executar o que está planejando." Pandora
disse, "Não morra, seu idiota. Ainda preciso de você vivo."
Eu não sabia se realmente seriam apenas cinco minutos, mas não poderia
durar mais do que isso. Uma guerra estava prestes a ser travada. Voldemort
não deixaria a cobra vulnerável agora que ela era seu último bote salva-vidas.
Eu tinha um plano e ele precisava ser seguido. Tudo dependia disso agora.
Desaparatei à meia noite em ponto. A rua estava silenciosa e tudo o que havia
nela eram as decorações de Halloween nas casas pequenas e iguais. As
pessoas deveriam estranhar que apenas um local específico que deveria ter
uma casa construída, não havia. Porém, para mim sim. Eu era o único que
podia ver.
"James!" Não sou uma pessoa muito sentimental. Mas Deus sabe o quanto
eu estava com saudade do filho da mãe. "Vamos, me pergunte alguma coisa!"
"Um anel! Um anel com o cristal!" Exclamei, entrando de uma vez na casa
e James fechou a porta atrás de nós. Antes que eu pudesse me virar, ele pulou
em cima de mim e me abraçou com toda a força do mundo, me fazendo rir e
quase me derrubando no chão. "Merlin, você vai me matar assim!"
588
"Seu idiota!" Ele me soltou, ofegante, "Quando o cristal ficou vermelho,
pensei que havia acontecido algo. Pensei que estavam aqui e que... Que havia
acontecido alguma coisa com você, seu pirralho!"
"Vocês dois não tem ideia do quanto fazem falta." Eu disse, quando a soltei.
"Mas, agora, as coisas ficaram um pouco mais sérias."
Tentei dar um resumo rápido de tudo o que Snape havia contado, da horcruxe
final e de que agora possivelmente haveria uma batalha de corpo à corpo
contra Voldemort e os seus Comensais da Morte.
Merda. Ele não sabia. E eu quem teria que contar. E eu não tinha muito tempo
para ser sensível.
"Não sei como contar isso para você," Apertei os olhos e tentei olhar para
Lily, porque não aguentaria a cara de James, "Eles descobriram que Peter
estava se contactando com a Ordem. E eles..."
"Mataram ele, não é?" James ficou sem expressão, o rosto pálido e sem vida,
os olhos brilhantes, "Eu deveria ter adivinhado que isso aconteceria." Ele
passou rápido as mãos nos olhos.
"Pete, seu idiota." Lily sussurrou, ela me encarou, enquanto James ainda
pensava em silêncio, "Mas Reg, o feitiço ainda existe. Mesmo que ele saiba
da profecia agora, por que você veio até aqui? Poderia ter nos contado tudo
em uma carta."
589
"Porque tenho um plano para resolver tudo isso ainda hoje." Respondi, "E
para esse plano dar certo, vocês três não podem mais ficar aqui porque o
feitiço vai deixar de existir."
"Não, claro que não, eu... Apenas tirem Harry daqui. Nós vamos aparatar
para a casa de Sirius e lá eu explico tudo. Eu prometo."
"Mas se você não vai morrer," James disse, "Então como vai quebrar o
feitiço?!"
590
Capítulo 44: Preparação
Óbvio que o plano era perigoso, como literalmente tudo que eu vinha
fazendo nos últimos três anos. Óbvio que quando eles escutassem o que eu
tinha em mente, iriam querer me prender em casa. A única que
compreenderia era Pandora, mas apenas porque dela eu já havia cuidado à
mais tempo.
"Pan, é apenas uma possibilidade," Respondi, "É claro que vamos tentar ao
máximo fazer com que não chegue a esse ponto, mas..."
"Você vai morrer!" Ela gritou mais uma vez, "Não ajudei você com as
horcruxes todo esse tempo para você morrer agora!"
"Merlim, pare de gritar!" Gritei de volta, ficando irritado, "Estou vivo até
agora, não estou?! Tenho literalmente tudo pensado se tiver que recorrer à
isso."
591
"Pan." Pus a mão no seu ombro, ela me encarou, "Precisa confiar em mim.
Preciso que fique do meu lado em qualquer decisão que eu tomar. Porque eu
sei que há coisas que nem todos vão concordar comigo e aprendi que não se
vence uma guerra sozinho. Preciso de você."
O que na língua das mulheres acho que quer dizer, 'Você só faz merda, mas
infelizmente ainda gosto de você', então tudo bem.
Não era uma missão suicida, por mais que às vezes parecesse que esse era o
meu forte. Não era como quando eu tinha dezoito anos e era burro o
suficiente para achar que me matar em uma caverna era a melhor solução.
Meu objetivo agora era sobreviver. E garantir que meus amigos também
sobrevivessem.
Acho que tenho a resposta para isso. E, Merlim, espero que ela esteja correta.
Lily havia enrolado Harry nos próprios lençóis, haviam umas três camadas
de pano protegendo-o. Quando os dois seguraram em mim para aparatarmos,
Lily apertou Harry com mais força contra o corpo, como se estivesse com
medo de deixá-lo escapar. Foi bom ver isso. Harry sempre despertava o
melhor em todos nós, mesmo com o clima pré guerra.
Quando chegamos, Sirius não demorou nem um segundo inteiro para abrir
de uma vez, "Reg, foram bem mais do que cinco min-" Ele parou quando viu
James, seus olhos se arregalaram e começaram a ficar molhados, ele correu
os olhos para Lily e então os pousou em Harry, curvando a boca em um
sorriso. Ele olhou para James outra vez, "Lily, Prongs, o que... O que
vocês..."
"É uma longa história, Pads," James suspirou, passando um braço pelo meu
ombro, "Mas Reg vai explicar tudo."
592
"Lily?" A voz de Remus foi ouvida de dentro da casa e ele apareceu na porta.
Sua boca abriu levemente de surpresa quando viu os Potter do meu lado, ele
passou a mão rápido pelos olhos, "Ah, Merlim, é uma das noites mais frias
do ano! Entrem logo, entrem logo!"
"Você costuma ser mais cuidadoso, Remus," Lily sorriu, "Não vai perguntar
nada?"
"Seu idiota." Sirius sorriu e puxou James para dentro, abraçando-o com força
e muito provavelmente molhando o casaco de Prongs de lágrimas. Depois
que entreguei Harry à Lily, James logo puxou Remus e depois à mim,
formando um grande abraço entre nós quatro.
"Seus idiotas," James suspirou, depois de nos soltar, "Não fazem ideia de
como senti falta disso."
"Eu contei," Disse, "Achei que seria melhor se ele soubesse de uma vez."
"Acho que, no fundo, eu sabia que isso aconteceria," James desviou o olhar,
"Mas, no fim, ele ainda era nosso Pete, não é?" Remus e Sirius sorriram e
assentiram carinhosamente.
Era estranho para mim, às vezes. Falar sobre Pettigrew. Quando o conheci,
ele era apenas um garoto baixinho que andava sempre atrás de James e então
quando o conheci novamente, ele era alguém totalmente diferente. Ele tinha
593
uma marca negra no pulso e cuspia palavras cheias de crueldade. Como tudo
isso mudou tão rápido?
"Todos eles confiam," Ela segurou meu rosto com as mãos, encostando as
nossas testas, "Eu confio."
"Então," Dumbledore me olhou por cima dos óculos meia lua, "O que você
tem em mente, Regulus?"
594
também tem aliados sem a marca, eu me lembro bem. Como por exemplo,
meus pais eram. Precisamos ter o máximo de pessoas que conseguirmos."
"Estão vendo esta parte do mapa?" Apontei para o lado oeste, todos
observaram atentamente, "É a parte oeste de Godric's Hollow. Lily, preciso
que você lidere metade da Ordem para esse lado e preciso que vocês lancem
feitiços que impeçam quem entrar de sair. E Mary," apontei para o outro
lado, virando o mapa para que todos pudessem ver, "Você fica com a parte
leste. Quero que faça exatamente a mesma coisa com a outra metade da
Ordem. Preciso saber se vocês duas podem fazer isso."
Lily e Mary se olharam, e algo passou entre elas. Algo que somente as duas
entenderiam. Elas assumiram uma postura firme, falando em uníssono,
"Vamos fazer isso."
"E os moradores, Reg?" Sirius perguntou, "O que fazemos com todo mundo
que mora lá? Se isso vai virar um campo de batalha, não vai sobrar uma casa
se quer."
"É aí que você e James entram," Virei o mapa mais uma vez, apontando para
a parte inferior, "Estão vendo isso? É a parte subterrânea de Godric's Hollow.
Assim que sairmos daqui, vocês dois precisam ir direto para a vila e conduzir
todos os moradores para fora de lá por esse lugar. Uma movimentação tão
grande assim chamaria atenção e Voldemort descobriria imediatamente o
que estamos fazendo."
595
"Bagshot?" Remus perguntou, "A autora de História da Magia?"
"Certo," Ela começou, "Quando eu, Reg, Remus, James e Sirius fomos
resgatar Mary na mansão Lestrange, tivemos que dar um jeito de não sermos
vistos, porque ela havia exigido claramente que ele estivesse sozinho."
"Remus e James entraram com Sirius como Padfoot embaixo da capa," Ela
continuou olhando para todos, "Eu me tornei invisível."
"Creio que, com a mente tão criativa de Pandora, ela nunca se limitou apenas
às técnicas ensinadas pelos professores, estou certo?" Dumbledore sorriu
amigavelmente.
"Está mais do que certo," Pandora sorriu, "A questão é que posso fazer isso.
E vim praticando desde aquele tempo como fazer mais. Em uma quantidade
maior. Sei que posso fazer isso. Ao menos, com a maioria."
596
"Bom, além de Lucien e Shade," Ele pensou, olhando para o mapa, "Não
foram muitos, mas o suficiente para enfrentar uma alcateia se nos
esforçarmos."
Assenti firmemente, ele deu um tapinha nas minhas costas. Me virei para
James e Sirius novamente, "James, você precisa estar com a espada. E,
Sirius, pegue o dente de basilisco."
"Não," Balancei a cabeça, "Quando a cobra for morta, Voldemort não vai
simplesmente sumir. Ele vai voltar a ser mortal. Alguém precisa estar lá com
a varinha em mãos para matá-lo."
"Acho que você está esquecendo de uma coisa, garoto." Moody me encarou.
"Como pretende levar Voldemort para Godric's Hollow?"
"O que?" Sirius disse, percebendo, "O que não está contando?"
597
"O que?! Você ficou louco?!" Sirius gritou, arregalando os olhos, "Isso é
uma missão suicida!"
"Ele nunca vai acreditar em você! Vai te matar assim que souber onde James
e Lily estão! Você destruiu as horcruxes dele! " Mary me olhou desesperada,
"Regulus, você não vai fazer isso."
"Mary," Pandora disse, "Eu também não gostei nada disso. Mas se algo der
errado, Regulus pode se defender. E então pensamos em outra coisa. Temos
que confiar nele."
"Escutem, Barty me disse que depois que Peter morreu, Voldemort estava
procurando alguém para se infiltrar na Ordem e conseguir informações,"
Expliquei, "Que prova de lealdade maior do que denunciar James e Lily e
praticamente entregar a cabeça deles dois de bandeja?!"
"Essa é com certeza a pior parte desse plano." Remus começou a andar pela
sala, inquieto, acendendo um cigarro.
"O que impede exatamente ele de matar você?!" Carter perguntou, "Porra,
eu detesto guerras."
"Tenho que fazer isso. Tenho que tentar. Comigo morto ou não, ele ainda vai
para Godric's Hollow e a batalha ainda vai acontecer. E vocês ainda
destruirão as horcruxes."
Lily olhou assustada para James, ele me encarou, "O que quer fazer,
Regulus?"
"Sei de um lugar, longe disso tudo," Comecei, "Um lugar fora de Londres,
fora até mesmo do país. Um lugar onde é impossível se localizar, repleto de
feitiços protetores. Onde literalmente a guerra não alcança. Porque quem
mora lá odeia guerras."
598
"Está falando..." Carter me encarou.
Carter pareceu perdido por um momento, correndo os olhos entre mim, que
o encarava seriamente, e Lily e James que sussurravam entre si, parecendo
extremamente preocupados.
"Quero falar com você." Eu disse, me levantando e indo até o quarto. Carter
me seguiu. "Volto em um segundo."
"Escuta," Dei um passo na direção dele, "Eu meio que meti você nisso. Você
escolheu viver longe da guerra. E honestamente você não poderia ter tido
uma escolha melhor. Você não quer ir para a guerra, quer?"
"Nós somos amigos! Eu iria para a guerra por você!" Carter exclamou.
"É aí que está! Se quer fazer algo por mim, faça isso!" Respondi, "Carter,
você deve amar Oliver mais do que o próprio pai dele. Você é ótimo. Você
vai ficar bem com Harry. Vai ser o seu jeito de lutar também."
"Qual é, Regulus, não finja que não sabe," Carter sorriu, "Eu nem mesmo
pisava em Londres mais de uma vez por ano quando não era seu amigo. E
olhe para mim, me metendo em uma guerra. E gostando de fazer isso por
você."
"Eu gosto de você, Regulus. E você meio que sabe disso, não é?"
Sim, óbvio que eu sabia disso. Mas não respondi com tanta certeza para não
soar presunçoso. "Você gosta?"
599
Carter sorriu tristemente, "O engraçado é que quando vi você com Mary a
primeira vez, eu nem estava com raiva. Eu apenas pensei 'Eles parecem tão
bonitos juntos'", a voz dele falhou por um momento. "Eu apenas pensei 'É
assim que deve ser."
"Certo." Ele respirou fundo, sorrindo em seguida, "Quero dizer, nunca vai
ser assim para mim. Não gosto de mulheres e o mundo odeia isso em mim.
Meus pais odeiam isso em mim. Nunca vou parecer certo, sabe? Ninguém
olharia para nós dois como olham para vocês."
"Eu não dou a mínima para como olhariam para nós dois," Eu disse, "Fala
sério, eu sou um ex comensal da morte. Acho que falarem por aí que estou
com um cara é a coisa menos ruim que vão falar de mim."
"Como eu?"
"Sim," Respondi, "Acho que você é meu melhor amigo. E acho que você é
com certeza uma das minhas pessoas favoritas no mundo. E sou bem
seletivo, se você quer saber."
"Bom, nós..." James começou, "Bom, queríamos dizer que se você estiver
disposto a fazer isso por nós, nós concordamos. Nós confiamos em você."
Carter olhou para mim e eu assenti, encorajando-o. Ele olhou para James,
firme e sério, "Podem confiar em mim. Vou proteger Harry com a minha
vida, não importa o quê."
600
"Para o que é?!" James perguntou.
"Como eu disse, Voldemort vai tentar localizar Harry, mas não vai achá-lo,"
Respondi, "Ele faz isso pelo sangue. Preciso que deixem uma gota de sangue
de Harry nesse frasco e então levem para a casa de vocês em Godric's
Hollow."
"É só uma espetadinha no dedo, ele mal vai sentir," Revirei os olhos. "É
muito importante."
"Harry vai conhecer os Estados Unidos antes do papai." James sorriu, entre
as lágrimas.
Lily entregou Harry à Carter, que o segurou tão delicadamente como se ele
fosse feito de diamante. Ele assentiu para James e Lily e eles assentiram de
volta. Eu pus a mão no ombro dele, "Se esconda o máximo que puder.
Aumente os feitiços de segurança. E não se esqueça, qualquer sinal de
perigo, aparate imediatamente."
Carter assentiu.
601
"Certo," Comecei, "Remus, você pode ir avisar os lobisomens. Explique tudo
à eles exatamente como falei."
Pandora foi cuidar do feitiço de grande magnitude que iria precisar executar
esta noite, e apenas me olhou, "Não vou abraçar você. Só vou abraçar você
quando voltar são e salvo."
"Sim, é esse o plano." Ela assentiu, dando de ombros. "Vou me fazer de louca
e simplesmente fingir que você não está indo para aquele lugar."
"Idiota."
Depois que ela aparatou, Sirius não demorou para pegar o casaco, eu estava
parado, esperando ele fazer alguma coisa, "Não vai me dizer nada?"
Ele parou, "Salvei sua vida uma vez. Não quero ter que salvar outra vez,
Reg."
"Não vai." Não quis dizer mais nada. Apenas o abracei, ele ficou parado por
um tempo, até que largou o casaco no chão e me abraçou com mais força
ainda. Não era uma despedida. Nem de Harry. Nem de mim. Ia dar certo.
"E você?" Me virei para Mary, que estava sentada no sofá. Estávamos apenas
nós dois agora. "Quer dizer alguma coisa?"
"Odeio você."
602
"Bendito o dia que eu me apaixonei por você, Regulus Black." Ela suspirou,
se levantando. "Bendito o dia."
"Vai, você gosta de ser apaixonada por mim," Sorri travessamente. "Deve
ser divertido."
"Ah, claro," Ela revirou os olhos, de braços cruzados. "Muito divertido com
você tentando se matar de cinco em cinco minutos."
"Olhe, preciso fazer isso. Tem que ser eu, você entende?"
"Vou ficar bem." Interrompi, pondo as duas mãos no rosto dela, "Vou pensar
em você e então vou ficar bem automaticamente."
"Não faça nenhuma besteira. Não... sei lá, dê uma de herói e tente fazer tudo
sozinho. Prometa para mim."
"Eu não faço isso!" Sorri para ela. "Tudo bem. Prometo. Prometo que vou
voltar para você." Ela se aconchegou no meu peito, e eu acariciei os cachos
dela, sussurrando, "Sempre vou voltar por você."
Mary chorou. E eu chorei por vê-la chorar por minha causa. E me perguntei
se ela choraria assim se eu morresse. Provavelmente não. Provavelmente
seria muito pior.
Queria ter mais tempo para abraçá-la. Mas o tempo era valioso demais agora.
Então apenas a beijei e disse que a amava mais vezes naquele segundo do
que já tinha dito desde que a conheci. Nunca seria suficiente a quantidade de
vezes.
Ela foi a última pessoa que eu vi. A garota que eu amava foi a última pessoa
que eu vi antes de aparatar para a mansão dos Lestrange.
603
Capítulo 45: O’Children
Regulus não fazia ideia que crianças poderiam chorar tanto. E nem o motivo,
já que elas não tinham a menor noção nem da guerra ou de qualquer outra
coisa ruim que acontecia ao redor.
Na noite em que Phil precisou visitar a mãe que estava doente, Regulus
aparatou até a casa de Pandora apenas com a roupa do corpo, um cobertor e
um travesseiro. Eram nove da noite, mas poderiam ser duas da manhã, ele
ainda iria mesmo assim.
"Onde está minha Luna, huh?" Ele sorriu, jogando o cobertor e o travesseiro
no sofá, "Tenho certeza que ela só precisa de mim para dormir."
"Ei, Luna, olha só quem chegou!" Pandora sorriu, com Luna no colo,
imitando uma voz de criança. Ela estava chorando sem parar desde que Phil
atravessou a porta. Luna se inclinou para frente, se pendurando no pescoço
de Regulus quando ele se aproximou. Ele a pegou cuidadosamente nos
braços, brincando com os bracinhos gordinhos dela.
"Ela demora para dormir quando Phil não está em casa," Pandora disse,
arrumando os fios loiros na cabeça da filha, "Ela tem uma sensibilidade
enorme de perceber as coisas. E tem uma conexão com o pai que nem mesmo
eu entendo."
Pandora estava vestida com uma calça de pijama, uma blusa curta vermelha
que mostrava toda a barriga e o cabelo loiro preso com a varinha, os fios
bagunçados caindo no seu rosto. Ela tinha círculos escuros em volta dos
olhos e Regulus podia jurar que havia uma ruga nascendo no canto de seus
olhos, mesmo ela ainda estando nos seus vinte anos.
"Você está bem?" Regulus franziu o cenho, balançando Luna nos braços.
"Fale tudo bem mais uma vez e eu quase acredito em você," Ele sorriu, mas
sem entusiasmo, "Algum avanço com as horc-"
604
"Não, Reg, nenhum." Pandora passou por ele até a cozinha como um foguete,
ainda sem encará-lo. Ele a observou cautelosamente.
"O que?" Pandora piscou, "Não, claro que não, do que está falando?"
"Bom, estou aqui há uns quinze minutos com a sua filha no colo e você ainda
não me olhou nos olhos," Ele respondeu, encostando-se no balcão da
cozinha, observando Pandora andar de um lado para o outro na cozinha,
balançando a varinha por todos os lugares, "Quer ajuda aí?"
"Não, fique com Luna agora," Ela respondeu, enquanto colocava o jantar
para esquentar em uma das panelas, "Preciso fazer o jantar."
605
"Bom no quê?"
"Não com quem realmente importa." Ela encarou as próprias mãos. Regulus
estava confuso.
"Bom, mas não sou especial, nem nada assim," Regulus deu de ombros,
"Estamos todos tentando dar o nosso melhor."
Ela finalmente o encarou, e ele pôde perceber que seus olhos estavam
molhados agora. Isso partiu seu coração, vê-la assim.
"Às vezes, Reg," Ela respirou fundo, "Sinto que não sou uma boa mãe. Sinto
que não sou tão boa quanto Phil, ou até mesmo quanto você. Às vezes sinto
que nunca vamos conseguir vencer esta guerra, que isso nunca vai acabar,
que estamos cada vez mais longe da última horcrux. Preciso acabar com esse
inferno para que a minha filha viva em um mundo liderado por pessoas boas,
não por comensais da morte. E nem mesmo isso consigo fazer."
"Ei, não faça assim," Regulus pôs a mão em cima da dela e isso a fez chorar
mais, "Olha, sei que não entendo muito de mães boas e tudo mais. Mas você
com certeza é uma. Só pelo fato de estar tentando. Não fique se torturando
pensando assim, você não merece."
"Você acha que vai acabar?" Pandora disse, a voz falhando um pouco, seus
dedos se mexendo para apertar a mão de Regulus com mais força, "Acha que
vamos vencer?"
Regulus não respondeu imediatamente. Ele correu os olhos pela sala, vendo
um toca-discos na mesinha de centro. Uma música baixa soava dela, ele pôde
ouvir claramente. Ainda em silêncio, ele se levantou da cadeira e foi até o
606
toca-discos para aumentar o volume. A música era linda e a letra era mais
ainda. Mas ainda se não fosse, não importava.
Ele a arrastou para o meio da sala, segurando suas mãos e guiando seu corpo
devagar, balançando-a divertidamente no início.
O children
Children
Rejoice, rejoice
607
I once was blind but now I see!
A música foi ficando mais lenta e os passos dos dois também. A cabeça de
Pandora apoiada no ombro de Regulus e o queixo dele pousado sob o topo
da cabeça dela. A guerra não pararia porque eles simplesmente haviam
decidido que era hora de respirar. Mas a música só durava alguns minutos.
E eles podiam se dar esse luxo.
We're happy, a música dizia, we're having fun. Nós estávamos felizes, nós
estávamos nos divertindo. And the train ain't even left the station. E o trem
nem ao menos havia saído da estação. Nós nem ao menos precisávamos de
algo para comemorar ou de alguma batalha vencida. Não precisávamos ter
achado alguma horcrux ou ela ter encontrado uma poção mágica que a
transformasse na mãe do ano. Não precisávamos de nada disso para termos
esses minutos tão valiosos.
"Somos jovens demais para isso, não somos?" Pandora sussurrou enquanto
ainda se balançavam, com a cabeça ainda no ombro de Regulus.
DIAS ATUAIS
Os anos que eu havia passado com os Blacks fingindo ser alguém que eu não
era finalmente valeriam para alguma coisa, eu acho. Eu teria que me esforçar
ao máximo para parecer verdade. Eu teria que fingir ódio, arrependimento,
culpa e implorar com os joelhos grudados no chão pelo perdão do monstro
que quer destruir a minha vida e a vida das pessoas que eu amo.
A última vez que havia vindo até aqui foi para salvar a vida de Mary, com
Remus e Sirius de um lado e Pandora e James do outro. Mas agora eu estava
sozinho. Sozinho de frente para os portões que eu havia jurado nunca mais
ultrapassar.
608
Dolohov e Avery estavam postados atrás dos portões, guardando a mansão
como dois soldadinhos de chumbo. Merlim, e pensar que já me prestei a esse
papel.
"O que você acha?" Dei de ombros, soando despreocupado. Avery, que
estava ao lado dele, me observava de cima à baixo. Não soltou nenhuma
piada, nem tirou nenhum sarro sobre a situação. Era quase como se
estivesse... com medo.
"Não veio até aqui para dar uma de arrogante, veio?" Dolohov arqueou uma
sobrancelha, me encarando por cima do nariz. "Seria muita burrice da sua
parte vir encontrar o Lorde das Trevas pessoalmente."
Avery se inclinou para ele e sussurrou em seu ouvido, eu pude ler em seus
lábios, "Ele é perigoso. É assunto apenas para o Lorde das Trevas."
"Não foi você quem quis dar uma de espertinho para cima de mim na última
vez em que estive aqui, Ave?!" Sorri ironicamente, "Qual é, não é possível
que eu te faça molhar as calças de tanto medo!"
Avery deu um olhar para ele, parecendo implorar para que não o deixasse
sozinho, mas ele caminhou mansão à dentro. Deixando apenas a mim e
Avery sozinhos, separados pelas barras enferrujadas.
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"Então, amigão," Comecei a andar na frente do portão com as mãos nos
bolsos, em um tom irônico, "Por que é que você está com tanto medo de
mim, huh?"
"Você está tentando matar o Lorde das Trevas." Avery disse sombriamente,
a voz saindo entredentes, enquanto ele me observava andar do lado de fora
das grades, "E v-você matou Barty. Você matou, não matou?"
"Ele era seu amigo. Nós dois crescemos com ele." Ele engoliu em seco, a
voz trêmula de ódio, "Como... Como você... Como você teve coragem?"
"Sentimentalismo não combina com você, Ave," Imitei uma voz triste,
depois sorri para ele, "Ele me deu um trabalhinho, para ser sincero. Não foi
tão fácil quanto seria matar você, por exemplo."
Ele deu um passo para trás, arregalando levemente os olhos. Quem diria que
vir até aqui me divertiria assim?! Esse cara era uma piada de Comensal da
Morte.
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"Cale a boca," Rodolphus levantou uma mão, o que calou Dolohov
imediatamente. Ele estava sério agora, e me observou cautelosamente de
cima à baixo, "Por que você viria até aqui?"
"Acho que isso não é assunto seu, Lestrange," Respondi, "Vai me deixar
passar ou vai recusar ao Lorde das Trevas a chance de conseguir o que quer?"
Uma vez que o portão estava aberto, tudo aconteceu em questão de segundos.
Rodolphus me agarrou forte pelo pescoço e gritou, "Avery, a varinha dele!"
"Seu idiota!" Dolohov esbravejou, segurando meus dois braços com uma
mão e passando a outra pelo meu corpo, tentando encontrar a varinha, "Você
se manteve bem, não é, Reg? Estou começando a entender porquê Barty
ficava de pau duro só por tocar no seu nome."
"Tira a sua mão de mim, seu babaca nojento!" Tentei me mexer, mas a mão
de Rodolphus segurou forte o meu pescoço e se eu me movimentasse mais
um pouco, ele poderia facilmente torcê-lo.
Lancei um olhar para Avery e pude ver ele estremecendo. Ele desviou o olhar
e agarrou meu braço esquerdo, tentando imitar Dolohov. Pude sentir a mão
dele tremendo sob a minha pele.
"O Lorde das Trevas vai adorar ter uma conversinha com você, pequeno
Black." Rodolphus riu, bem perto do meu rosto e empurrou meu pescoço
para baixo bruscamente, começando a caminhar até a porta da mansão
comigo preso em sua mão.
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Eles me levaram em silêncio mansão adentro, até o salão principal da casa.
Ela estava igual a última vez. Fria, escura e assustadora. Quadros grandes de
Bellatrix e Rodolphus espalhados pelas paredes e lustres exageradamente
brilhosos e bizarros no teto de cada cômodo que passávamos.
Haviam outros rostos conhecidos no salão. Evan Rosier, que andava comigo
e Barty nos tempos de Hogwarts, estava postado em um canto e pareceu
confuso ao me ver. Greyback também estava lá, os mesmos dentes pontudos
e unhas amareladas, aumentando a aparência bestial que ele fazia questão de
reafirmar. Karkaroff, Nott, Mulciber... Todos eles me encararam quando eu
corri os olhos por todos, até que meu olhar caiu sobre ele.
Lucius.
Ele costumava ser muito bonito no início do namoro com Cissy. Ele
frequentava a mansão dos Blacks diariamente e, em apenas uma semana, já
havia conquistado meus pais e meus tios. Mas ele tinha uma aparência
cansada agora. Uma aparência que alguém com apenas vinte e sete anos não
deveria ter. E apesar de que seu ar de elegância e superioridade não tivessem
mudado, seus cabelos, antes tão platinados que reluziam, agora pareciam
opacos e sem vida alguma. Ele também tinha círculos escuros ao redor dos
olhos e uma barba rala mal feita.
Ele não me olhou com medo, como Avery. Nem com desprezo, como
Dolohov. Nem com surpresa, como Bellatrix. Então, o que ele estava
pensando? Ele se endireitou quando me viu, levantando a cabeça alguns
centímetros. Como se dissesse: 'Não deveria ter feito isso'. Parecia até...
pena.
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"Tenho um assunto para tratar com Lorde Voldem-"
"Me deixe brincar com ele, Bella," Greyback murmurou, passando a língua
pelos lábios, "Você sabe como gosto de meninos como ele."
"Não toque nele!" Bellatrix me fulminou com os olhos, "Ele é do Lorde das
Trevas!"
"O garoto não é um objeto para as suas perversões nojentas, Fenrir," Lucius
interferiu, ainda parado onde estava, "Se algum de nós matá-lo ao invés do
Lorde das Trevas, então nós é quem seremos mortos."
"É realmente uma pena," Greyback sibilou, "Me diga, como está o meu
filhote? Remus Lupin. Ainda com a ideia tola de derrotar quem o criou?"
Cerrei os punhos com força, quase machucando a pele da minha mão. Não
ouse falar de Remus Lupin na minha frente, seu filho da puta.
"Tome, fique com isto," Avery tirou a minha varinha do bolso e entregou
para Lucius, "N-não quero nada que seja dele comigo."
"Ainda está com medo de mim, Ave?!" Sorri fracamente, vendo-o se afastar.
Bellatrix desceu a mão no meu rosto, me dando um tapa forte que fez minhas
entranhas queimarem em fúria. Respire, Regulus, disse a mim mesmo, deixe
eles acharem que não é sua intenção revidar.
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"Você não faz ideia do porquê estou aqui, não é, Bella?" Sorri ironicamente,
limpando a gota de sangue que senti escorrer da minha boca, ainda ajoelhado
na frente dela. Devia ser algum feitiço de imobilização, ou coisa do tipo.
"Acho que você vai gostar quando descobrir."
"Me deixe adivinhar..." Ela começou a andar ao meu redor, "A sangue-ruim
cansou de dar para você? Há! Não, deve ter sido o seu irmãozinho. Aquele
traidor odeia o próprio sangue e você deve ter notado que ele logo perceberia
que também não suporta ficar perto de você."
Engoli em seco, puxando todo o ar que tinha dentro de mim. Senti meus
olhos queimarem. Quem ela pensava que era?! Como ela ousava usar o nome
de Sirius para me intimidar?! O nome do meu irmão!
"Sirius sempre nos odiou," Respondi, dando de ombros, "As chances dele
me perdoar eram as mesmas dele perdoar você."
"Oh! Algo de errado no paraíso, então?" Ela ironizou, "O que?! Os dois estão
brigando para ver quem é mais irritante? Porque seria extremamente
acirrado!"
"Mais irritante, eu não sei," Murmurei, "Porém, mais idiota com certeza eu
ganharia. Por achar que... Por achar que ele poderia..."
Me inclinei na frente dela, falando perto de seu rosto, "Quero falar com Lord
Voldemort."
"E por que você iria querer isso?" Ela estreitou os olhos, "Conheço você
desde que era um bebêzinho irritante. Você pode ser tudo, mas não é nenhum
pouco burro."
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Eu a encarei por baixo dos cílios, deixando escapar um sorriso, "Quero falar
com Lord Voldemort."
Ela estava prestes a virar a mão mais uma vez, mas Rodolphus agarrou o seu
braço no ar, "Não desperdice sua energia, querida. Ele é do Lorde das Trevas,
se esqueceu?"
Ela sorriu maldosamente, ainda olhando para mim, "Tenho uma ideia muito
melhor, querido."
"Greyback! Lucius! Segurem ele!" Ela gritou para os dois, e eles vieram até
mim, me prendendo pelos braços.
"Que porra é essa?!" Tentei me soltar, enquanto ela caminhava até mim e se
abaixava na minha frente.
"Já que está com tanta saudade dos velhos tempos, vou usar você para
chamá-lo, priminho," Ela sorriu, "Vou adorar ver a sua marca queimando na
pele outra vez!"
Não sou uma pessoa medrosa, mas aquilo me assustou em um nível absurdo.
A marca estava fraca no meu pulso, faziam dois anos que eu começara a
fingir que ela não existia mais. Mas a questão é que ela existia. Ela nunca
deixaria de estar lá. Me lembrando sempre das péssimas escolhas que eu fiz
quando era mais jovem.
Então, se posso dar um conselho à alguém, aqui vai: Não façam nada
permanente até pelo menos terem vinte anos. Se você que tem dezesseis anos
está me ouvindo de algum lugar e ficando puto comigo porque acha que é
maduro para sua idade e que pode decidir algo que vai durar para o resto da
sua vida, é por isso que você precisa seguir o conselho. Eu não gostaria que
ninguém cometesse os mesmos erros que eu quando tinha dezesseis.
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"Segure ele direito, Lucius!" Rodolphus vociferou, "Vocês dois aí," Ele
apontou para Evan e Mulciber, "Venham ajudar porque Lucius não está
fazendo o trabalho dele direito!"
E realmente não estava. Ele estava me prendendo pelo ombro, como haviam
mandado, mas se realmente fosse minha intenção escapar, não seria difícil.
Para alguém que estava ajudando a me entregar à Voldemort, Lucius estava
fazendo um péssimo trabalho.
"Está sendo tão obediente que estou quase acreditando que veio em missão
de paz, pequeno Black." Rodolphus deu um sorriso maldoso e Bella rasgou
a manga comprida da minha camisa, os olhos brilhando quando viu a marca
no meu pulso. Ela me olhou por baixo dos cílios e eu apenas a encarei de
volta. Bellatrix encostou a ponta da varinha na minha pele e fez questão de
apertar com força a base contra o meu braço, como se apenas a dor da marca
reascendendo não fosse o suficiente para mim.
No início, eu tentei aguentar. A dor era familiar. Ardia, mas não tanto. Era
como um formigamento. Mas quando a marca tomou a sua cor original e
começou a se destacar na minha pele, parecia que eu havia enfiado o meu
braço inteiro em um forno em brasa.
Não adiantava gritar. Bella riu quando gritei. A sensação era como se alguém
estivesse marcando com ferro quente a minha pele. Como se eu fosse algum
tipo de animal marcado para sempre e incapaz de fugir dali em diante. Eu
me contorcia, com eles ainda me segurando, e gritei tão alto que minha voz
ecoou em toda a mansão. E eles riram de mim como se não fosse nada. Mas
que se dane. Eu tinha que seguir o plano e fingir que estava de acordo. Não
podia revidar.
616
Não somos jovens demais para isso?
Quando eu tinha certeza de que o meu braço iria começar derreter, Bella
parou.
Tive que controlar a vontade de matá-lo com minhas próprias mãos, porque
seria em vão. A última vez que o havia visto eu o enganei e roubei uma de
suas horcruxes. Eu poderia enganá-lo de novo, se me esforçasse. Então, fiz
a única coisa que eu poderia fazer naquele momento.
617
Capítulo 46: A Batalha de Godric’s Hollow
Existe um mito grego que conta como Hades, o deus do submundo, raptou
Perséfone para viver com ele no submundo. Então a mãe dela, a deusa da
natureza, confrontou Hades e Zeus exigindo que tivesse a sua filha de volta
e que ela não pagasse pela vaidade do deus do inferno.
Hades, por sua vez, concedeu à Perséfone a chance de voltar para a sua mãe,
contando que passasse a metade do ano com ele no Mundo Inferior. Ele a
coagiu a comer quatro romãs do lugar, o que, em algum termo mitológico,
significava que ela seria obrigada a voltar, mesmo se não quisesse.
Hades era louco por fazê-la passar por tudo aquilo. Mas penso que Perséfone
era ainda mais. Porque ela ainda o amou, apesar de tudo que foi forçada a
abrir mão.
Hades foi amado de volta, afinal. Eu fui amado. Mas a que preço?
Se Hades morresse, Perséfone seria feliz novamente? Ela poderia voltar para
a sua mãe e, por mais que perdesse o seu amado, nunca mais teria que passar
pelo Mundo Inferior.
Não estou dizendo isso porque quero morrer. Nunca mais senti vontade
desde que comecei a viver com Sirius. Pelo contrário, quero
desesperadamente viver. Tanto que me deixa sem fôlego, tanto que me faz
querer gritar. Mas preciso contar uma coisa.
Eu nunca diria isso à Mary, Pandora, Remus. Ou Sirius. Eles querem que eu
viva. E eu quero viver. Nunca quis tanto algo na vida como quero isso agora.
Mas executei o plano na minha cabeça tendo como objetivo levar Voldemort
até Godric's Hollow, porque seria burrice contar com a misericórdia dele para
que eu sobreviva.
618
Preciso saber se sou Hades. Se as pessoas que amo são Perséfone. E se meu
amor por cada uma delas é a romã. Preciso saber disso porque se eu acabar
morrendo hoje, preciso saber que as pessoas que me amam vão superar e
encontrar outras coisas pelo o que lutar.
A vida de Perséfone não acaba se Hades se for, ela tem a mãe e a natureza.
A guerra não acaba se eu for também, eles precisam continuar lutando.
Não era por isso tudo o que fazemos? Não é esse o grande motivo?
Amor.
"Pegaram o garoto? Vocês não chegaram nem perto!" Ele vociferou, "Ele
estaria amarrado se isso fosse uma captura, não ajoelhado como vocês, bando
de inúteis."
Ele parou na minha frente, e esboçou um sorriso cruel, deformando seu rosto
pálido, "Regulus Black teve a gentileza de se reunir à nós novamente nesta
noite de Halloween. Poderíamos até chamá-lo de meu convidado de honra."
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Fez-se silêncio. Eu me pus de pé e o encarei frente à frente, "Boa noite,
Milorde."
Ele sorriu mais uma vez e caminhou descansadamente até mim, parando na
minha frente, fazendo com que todos os olhos se voltassem para nós dois. A
cobra continuava rastejando em círculos.
"Vocês devem saber, naturalmente, que muitos dizem que este garoto é o
motivo para o Lorde das Trevas estar enfraquecendo!" Voldemort disse perto
do meu rosto, os olhos fixos em mim, "Vocês todos sabem que Regulus
Black era um dos meus servos que mais exagerava de minha confiança, e
que fui friamente traído." Ele começou a andar ao meu redor, "Ele correu
para os braços de Dumbledore e ficou sob proteção de feitiços que me
impediram de chegar até ele. Eu não pude nem mesmo chegar perto."
"De fato," Engoli em seco, "Fui tolo. Minha vaidade e inveja foram maiores
do que meu senso, Milorde. Demorei para perceber que eu nunca poderia
derrotá-lo porque não possuía nem a metade do seu poder."
Meu corpo despencou direto para o chão quando a luz vermelha me atingiu.
Meus próprios ossos pareciam estar pegando fogo; minha cabeça, sem
dúvida alguma, estava rachando ao meio. Meus olhos começaram a girar
descontrolados. Eu quis que tudo terminasse, que eu perdesse os sentidos de
uma vez. Ou que morresse.
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"Estão vendo a tolice que foi alguém supor que este garoto algum dia pudesse
me destruir?" Voldemort ponderou, "Mas não quero que reste nenhum
engano na mente de ninguém. Você tem me escapulido pelas mãos, Regulus
Black. E vou provar que sou mais forte matando-o, aqui e agora, diante de
todos os meus servos, onde não há Dumbledore para ajudá-lo nem
irmãozinho para salvar você."
"Milorde, e-eu..."
"Crucio!"
"O senhor acha que é verdade, Milorde?" Bellatrix ponderou, "Acha que ele
diz a verdade?"
"Querida." Rodolphus pôs a mão em seu ombro, "O Lorde das Trevas sabe
o que fazer."
"E o que faz você achar que vou deixar que sobreviva depois que me disser
que informações são essas?" Voldemort andou ao meu redor, o tempo inteiro
621
com a varinha erguida. "Depois de ter traído seu senhor! Depois de ter
desonrado o nome de sua família! Traído a mim!"
"E como diabos você pode saber disso?" Rosier estremeceu de repente,
encostado em uma coluna do salão.
"O senhor precisa melhorar sua garantia de sigilo, Milorde." Deixei escapar
um sorriso. E é claro que ele não deixaria barato. Quando o terceiro Cruciatus
veio, eu tive um medo real de perder a sanidade. Eu precisava me manter são
para seguir com o plano corretamente. Merlim, Regulus, não perca a cabeça
agora, você teve a vida inteira para isso.
"Calada!" Voldemort levantou uma mão, sem tirar os olhos de mim. Eu tinha
a atenção dele. "O Feitiço Fidelius precisa de algum portador para o segredo,
naturalmente. Quem é? Remus Lupin? Sirius Black?" Ele fez uma pausa,
"Alvo Dumbledore?"
622
"E como sei se está falando a verdade?" Voldemort ponderou, "Afinal, você
já mentiu para mim uma vez, se bem me recordo."
Poderia ter sido o fim da linha, como poderia. Mas eu ainda não havia jogado
todas as minhas cartas.
623
"Se estiver cogitando que seja uma armadilha, me leve como seu prisioneiro
de guerra. Se alguém o atacar, me mate imediatamente. Use a minha vida
como escudo caso queiram tocá-lo. Nenhum deles sabe que estou aqui.
Nenhum deles sabe que os traí. Se ameaçar a minha vida, eles irão recuar.
Me use, Milorde... Me use, eu imploro. Se morrer, morrerei sabendo que fiz
o certo."
"Eu até faria companhia para você, garoto, poderíamos nos divertir muito,"
Greyback sorriu maldosamente, quando me jogou no chão, "Mas sua morte
ainda está sendo discutida."
Quando parei para dar uma boa olhada no lugar, me dei conta de que com
certeza Bellatrix dificilmente descia até aqui. Bella sempre foi uma louca
compulsiva e se as coisas não estivessem em ordem, ela literalmente surtaria.
Ela odiava lugares bagunçados, coisas fora do lugar e até pessoas que não
abotoavam um dos botões da camisa. E o lugar era literalmente horrível. Era
sujo, úmido e fedia à limo.
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"Caralho!" Dei um salto quando pude jurar que vi um rato passar pelas
minhas pernas, "Merlim, que porra-"
"Regulus?" Uma voz de um canto escuro do lugar ecoou. Era familiar, mas
eu não conseguia distinguir de quem era.
"Quem está aí?!" Tentei chegar perto para enxergar e quando a silhueta foi
se formando melhor, um balde inteiro de água gelada pareceu ter caído na
minha cabeça. As maldições devem ter afetado a minha cabeça. Acho que
finalmente fiquei louco.
"Espere aí!" Me soltei, assustado, "Eu achei que você estivesse morto!
Como... Que porra está acontecendo aqui?!"
"Morto?! Eu?! Não, eu... Eu estava preso! Por que achou que eu havia
morrido? Você enlouqueceu?"
"Barty. Barty disse que você estava. Deu detalhes de como você morreu,
Peter! Disse que você foi pego e Voldemort mandou Nagini matar você."
Tentei explicar, ainda sem fôlego pelo susto, "Como... como você está vivo,
porra?!"
625
"Peter, ele não matou você porque está pensando em usá-lo para ameaçar
Dumbledore! Eu propus a ele que fizesse o mesmo comigo e ele me jogou
aqui, igual fez com você!" Eu estava com a voz extremamente acelerada,
"Você faz ideia de que eu consegui propor exatamente o que ele já estava
pensando em fazer?! Significa que vai funcionar!"
"Seja o que for, me deixe fora disso," Peter revirou os olhos, "Não aguento
mais a guerra. Não aguento mais nada disso. Quero morrer em paz."
"Vão me odiar." Ele respondeu, de repente, "Vão me odiar porque não vão
entender."
"Ninguém vai odiar você." Respondi, "Você tinha que ver Sirius, Remus,
Lily... James! Ele... ele manteve as esperanças sobre você até o fim, Peter!
Até o fim! Preciso que me conte tudo, preciso da verdade!"
"Se lembra de dois anos atrás?" Ele começou, engolindo em seco, "Quando
você descobriu sobre mim?"
"Sim."
"Quase contei tudo à você naquela noite. Foi por pouco, mas não contei. Não
contei porque isso estragaria tudo."
"Estragaria?"
"Que chance, Peter?" Corri os olhos por ele, "Do que está falando?!"
626
"Estou falando da noite em que Dumbledore, pela primeira vez na vida,
precisou de mim para alguma coisa e me deu uma missão mais perigosa e
importante do que qualquer outra que havia dado a qualquer um." Ele
praticamente atropelou as palavras, "Ele sabia de tudo, desde o início. Ele e
Moody sabiam. Disse que eu deveria estar disposto, porque era muito
arriscado. Quando você descobriu, Dumbledore me disse para não abandonar
a missão e me afastar da Ordem por enquanto. Eu passei à ele todas as
informações que conseguia e quando algo acontecia, o único jeito que eu
tinha de avisar era com os bilhetes, Reg – Desculpe de novo. Regulus."
"Boa parte foi minha culpa, Reg. Porque sim, eu poderia ter voltado.
Dumbledore disse que era minha escolha. Mas eu preferi fazer as coisas
assim, porque na minha mente quanto mais longe eu conseguisse ir... Mais
corajoso eu seria." Ele sorriu fracamente, "Já me imaginou? Corajoso como
Remus que enfrenta a lua cheia todo mês? Como Sirius que desafiava a
família que torturava ele? Como James que literalmente é James?!" Ele fez
uma pausa, "Como você."
"Mas, Pete," Pisquei, "E a marca? Ela é permanente. Não vai sair nunca mais.
Dumbledore não obrigou você a isso, obrigou?!"
"Barty deve ter dito à você que eu estava morto para ver sua reação, ele
achava que você sabia. Chegou aqui embaixo uma noite me acusando de ter
contado à você sobre o ataque aos McKinnon e ficou louco. Disse que
estávamos juntos nisso e algumas outras coisas malucas." Peter continuou,
"Ele ficou louco de ciúmes."
627
"Muitos aqui, pode não parecer, mas tem medo de você, Reg," Peter se virou
para mim, "Eles sabem o que você conseguiu até agora. Sabem que não é
fraco. Quando Narcisa foi embora com você, isso aumentou mais ainda o
medo deles. Quando Barty desconfiou que eu estava com você nisso, me
disse que você estava morto. Eu achava que você havia sido morto por eles."
"E Snape?" Me virei para ele, "Ele foi quem nos contou que Voldemort sabia
sobre a profecia."
"Como eles estão?" Peter sorriu, "Sirius e Remus? James e Lily? Ah, Harry
deve ser incrível! Merlim, eu fiquei sabendo de Dorcas e... Marlene deve ter
ficado horrível. E você... Você e Mary estão juntos, certo? Como ela está?!"
"Mas, Reg," Peter ponderou, "Mesmo se formos para Godric's Hollow como
prisioneiros... vamos estar sem as varinhas. Ele vai nos matar quando ver que
a Ordem estará lá."
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"Temos que correr o risco, Pete," Franzi o cenho, "Não havia ninguém além
de mim que pudesse fazer isso porque fui o único que já estive ao lado de
Voldemort e sei como ele age. Mas agora você também esteve. Nós corremos
na hora, eu não sei, mas não tem a menor chance de eu deixar esse plano dar
errado."
Ele me encarou por um tempo, então assentiu, "Pode apostar que sim,
Black."
Eu não tinha o menor tempo para digerir tudo que havia acabado de
acontecer. Tinha que deixar isso para depois. Depois eu lidaria com toda a
história de agente duplo. Não queria nem imaginar a reação dos meninos
quando eu contasse, meu Deus.
Rosier ficou na porta, enquanto Lucius vinha até nós colocar algemas nas
nossas mãos. Conhecia aquelas algemas. Eram as mesmas que Barty usou
em mim para me deixar inapto de usar magia. Peter também pareceu saber o
que eram, porque seus olhos ficaram desesperados quando Lucius se abaixou
até nós.
Enquanto ele prendia as duas pulseiras de ferro nos meus pulsos, seu olhar
não se levantou para me encarar, mas ele sussurrou, quase inaudivelmente,
"Eles estão vivos? Draco e Narcisa?"
629
Evan teria visto tudo. Ele enfiou a minha na bainha da minha calça, deixando
a camisa por cima para esconder e fez o mesmo com a de Peter, "Não
enfeiticei as algemas. Ainda podem usar magia." Ele sussurrou, e nos
segurou pelos braços, nos levantando bruscamente. Peter me lançava olhares
de confusão o tempo todo.
Mais uma vez, eu não tinha o menor tempo para raciocinar o que tinha
acabado de acontecer.
Quando subimos de volta para a mansão, ninguém nos disse nada. Fomos
levados direto para o jardim, onde Voldemort e os outros comensais nos
esperavam. A quantidade havia aumentado. Greyback estava com uma
matilha agora. Haviam mais bruxos das trevas, muito mais.
"Sabem o que fazer, meus amigos," Voldemort disse, dando uma olhada para
Rosier e Lucius, que pareciam estar encarregados de nos vigiar, "Está na
hora."
***
Godric's Hollow estava tão tranquila que, se eu não soubesse de nada, nunca
desconfiaria que haviam bruxos da Ordem escondidos por todos os lugares,
esperando para atacar. Peter parecia aterrorizado.
Não havia nenhum morador espreitando pelas janelas, o que significava que
Sirius e James haviam conseguido tirar eles de suas casas. Estava tudo
quieto. E quando chegamos á uma rua específica, eu apontei para a casa.
"O Lorde das Trevas sabe qual casa é," Bellatrix lançou, "Ele é um dos
melhores executores de feitiços de rastreamento."
Por um momento muito ingênuo, pensei que ele ia bater. Mas Voldemort
ergueu sua varinha no ar e destrancou a porta da frente com um feitiço
simples. Tudo ainda estava calmo.
Ele entrou sozinho casa, apenas com Nagini ao seu lado, e todos esperamos
do lado de fora da porta, enquanto ele examinava todos os cômodos. Ele
subiu as escadas e nos deixou do lado de fora, esperando por ele por alguns
minutos que pareceram uma eternidade. Peter e eu não parávamos de trocar
630
olhares nervosos um com o outro. Ele logo perceberia que a casa estava
vazia.
E assim que Voldemort pôs a ponta do pé para fora, eu soube que ele havia
percebido tudo.
Voldemort parecia furioso e prestes a matar alguém. Ele vociferou para mim,
"Você mentiu!"
631
Uma verdadeira guerra foi travada. Comensais e membros da Ordem
começaram a lutar entre si, se misturando um entre os outros, vários feixes
de luz entre as varinhas se cortando. E antes de eu ter tempo de falar com
qualquer um, Voldemort aparatou com Nagini, saindo completamente da
minha vista.
"Reg! Reg! Ah, meu Deus!" Sirius correu à minha direção, me empurrando
para trás de uma casa, "Você está bem, está bem... Graças à Deus!"
"Sirius, o feitiço de Mary e Lily deu certo? Ninguém pode sair de Godric's
Hollow?!" Segurei-o pelos ombros, tentando fazê-lo parar de beijar meu
rosto.
"Sim, sim... Deu certo. Ninguém sai daqui, Reg." Sirius recuperou fôlego,
"Reg, aquele era Pet-"
"Não temos tempo. Depois." Respirei fundo, "A cobra precisa ser morta, Six.
Se ela for morta, ele será mortal outra vez e eu poderei matá-lo. Se nos
enfrentarmos antes dela ser morta, eu provavelmente vou morrer, você
entende isso?"
632
Capítulo 46.1: Back to Black
- Regulus -
“Para onde ele pode ter ido?!” Sirius murmurou, enquanto ainda estávamos
abaixados atrás de um pequeno chalé.
“Não faço ideia,” Balancei a cabeça, “Mas ele sabe que se pegarmos a cobra,
ele está perdido. Vai fazer o possível para me enfrentar sozinho. Por isso, ele
se mandou. Ele sabe que sozinho, não tenho chance nenhuma.”
“Sei disso, Sirius.” Interrompi, o encarando, “Não vou fazer isso. Não
quando há um monte de bruxos em uma batalha que eu tive a ideia de
começar.”
“Não só por isso, seu idiota!” Ele deu um tapa na minha testa, “Você não
pode fazer isso em hipótese alguma. Não dê uma de herói altruísta, nem nada
do tipo, ouviu? Você é meu irmão. Não ouse morrer.”
Minha visão corria entre toda a multidão, procurando por quem eu conhecia.
Reconheci vários professores de Hogwarts. Slughorn, que costumava ser o
633
meu favorito, lutava bravamente ao lado de Frank, contra dois Comensais da
Morte. A professora McGonagall, é claro, ajudava Molly à derrubar um
deles. Dumbledore estava em algum lugar que eu não conseguia ver. Meu
alvo também não estava em lugar nenhum.
Minhas palavras, no entanto, foram abafadas por outra voz que ecoou pelas
ruas. Era aguda, clara e fria. Impossível de identificar de onde vinha, parecia
sair de todos os lugares. Fazia os nervos latejarem da cabeça.
“Não podem lutar contra mim. Não tenho intenção de matar nenhum de
vocês. Não quero derramar nenhum sangue mágico.”
O silêncio tornou a engolir o lugar, todos ainda estavam quietos, até mesmo
os bruxos das trevas. De repente o chalé que nos protegia foi atingido, quase
não dando tempo de eu e Sirius corremos. Nós sumimos através da fumaça,
desatando a correr pelas ruas cheias de pessoas que voltaram a lutar,
protegendo à nós mesmos de qualquer feitiço que fosse lançado à nós dois.
Nós corremos sem olhar para trás, apenas agitando as varinhas, tentando nos
proteger de qualquer feitiço. Karkaroff tentou me estuporar pelas costas
634
enquanto corríamos, e teria conseguido. Sirius não estava vendo, e muito
menos eu. Até ouvirmos atrás de nós,
“Você está doida?!” Soltei meu braço bruscamente da mão dela, “Eu podia
ter estrunchado!”
“O que foi?!” Sirius a agarrou pelos ombros, “Moony está bem?! Lily?
Prongs?!”
Empurrei Sirius, me pondo na frente dela, “Mary. Onde Mary está? Você a
viu em algum lugar depois que cheguei?!”
“Não sei, Regulus!” Pandora gritou, me empurrando, “Não sei onde estão os
namorados de vocês dois! Não sei de nada! Droga, quando você demorou,
eu achei que você estivesse morto, seu idiota! É a segunda vez durante a
nossa amizade que eu acho que você morreu e você age como se
estivéssemos passado a tarde tomando chá?! Vai se foder!”
Ela ficou ofegante de tanto falar. Sirius correu os olhos entre nós dois, até
quebrar o silêncio, “Acho que você mandou mal, Reg.”
"Desculpe, eu... eu não sei, porra, acho que não estou pensando direito
agora..."
635
"Sirius, pessoas vão morrer hoje. Não existe e nem nunca existiu uma guerra
sem mortes. Ninguém quer perder a família. Então pare de confiar cegamente
em todo mundo só porque dói acreditar no contrário." Ela estava
definitivamente muito estressada.
Sirius abriu a boca algumas vezes, desistindo de falar em todas elas, até se
virar na minha direção, "E Wormtail? Como ele está aqui?! Como isso
aconteceu?!"
"Sobre isso..."
"Dumbledore não vai permitir que ninguém entregue você, Reg," Sirius
disse, e eu estremeci por um segundo, "Ele é a única pessoa que Voldemort
tem medo. Se ele estiver por perto, você é intocável."
"O que não garante que ele não pode armar nenhuma armadilha, Sirius,"
Pandora ressaltou, "Regulus já enganou ele várias vezes, ele não hesitaria em
fazer o mesmo."
Eu podia ouvir do lado de fora o movimento nas ruas; gente correndo, gritos,
pelas janelas de vidro dava para se ver os clarões nos jardins escuros. Quando
estávamos prestes a sair da casa, o lugar inteiro sacudiu e eu percebi, quando
o lustre preso ao teto caiu com um estrondo no chão e todos os móveis
começaram a tremer, que estávamos nas garras de feitiços das trevas.
"Temos que sair daqui!" Sirius gritou, empurrando à mim e Pandora para
fora da casa, com toda a pressa.
"Ache os outros." Segurei-a pelos ombros, "Por favor, Pan, fique segura. Não
consigo imaginar o que eu faria se algo acontecer com você."
636
"Eu vou." Ela assentiu nervosamente, "Não se preocupe, v-vou ficar bem."
Ela estava tremendo muito e apertou a minha mão com força, aparatando
logo em seguida.
- Andromeda –
"Por falar nisso," Engoli em seco, "Já viu Lucius em algum lugar?"
Ted era completamente apaixonado pelo garoto. Quando Cissy nos chamou
para sermos os padrinhos, Ted se alegrou de um jeito que não se alegrava
desde o nascimento de Dora. E todas as vezes que Draco chorou durante a
noite e Narcissa se levantava para ir até o quarto, Dora também acordava.
Não havia quem a fizesse ficar na cama. Ela se encolhia na poltrona ao lado
do berço e não adormecia até Draco dormir também.
637
Apesar de tudo, nunca duvidei do que Lucius sentia por Narcissa, então eu
não me surpreenderia se em algum momento ele aparecesse. Mas talvez falta
de coragem seja um sentimento que supere muitos outros, afinal.
"Professor!" Gritei, e ele se virou para me encarar, "O senhor sabe onde
Regulus está?!"
Ele caminhava à frente de todos eles, gritando em alto e bom som, "Lutem!
Lutem pelo meu mestre, o defensor dos elfos domésticos! Lutem contra o
Lorde das Trevas, em nome do bravo Regulus Black! Lutem!"
Minha espinha se arrepiou por um momento, e quando olhei para o céu, uma
orda inteira de dementadores adentrou em Godric's Hollow. Eram centenas,
milhares de criaturas das trevas, deixando a noite mais fria e gelada do que
já estava.
"Preciso achar meus primos!" Tentei falar em meio aos gritos, "Cissy,
precisamos-"
638
"Andy, cuidado!" Narcissa gritou, quando vários dementadores voaram em
nossa direção, prontos para atacar. Eu nunca havia visto uma quantidade tão
grande de dementadores juntos. Todos empunhamos as varinhas, mas eu não
tinha certeza se os nossos patronos seriam o suficiente para tantos deles.
Eu e Cissy avançamos outra vez pela rua, criando escudos com feitiços de
proteção por onde passávamos. Nos precipitamos em um canto e avistamos
Arthur, juntamente de Frank, liderando um grupo de cinco pessoas, que
incluía Alice Longbottom, Marlene McKinnon, James Potter, Lily Evans e
Mary MacDonald. Eles estavam com as varinhas empunhadas, e Arthur e
Frank gesticulavam com as mãos para os lados que cada um deveria ir.
"Mary é a namorada de Regulus, não é?" Cissy indagou, "Talvez ela saiba
onde ele está."
De repente, uma casa ao lado foi explodida. Mais uma para a conta de
dezenas que já haviam sido destruídas. Por mais outra rua, eu e Cissy
disparamos, ainda avistando alguns dementadores; alguns membros da
Ordem tentando contê-los. Estuporamos três Comensais da Morte no
caminho. A coisa estava realmente difícil.
639
Sirius era ótimo em manusear a própria varinha, era visível. Mas Regulus era
quase uma máquina de matar bruxos das trevas. Ele duelava com a facilidade
que um pintor cria uma arte. Tinha sangue nos olhos, enquanto lançava
feitiço atrás de feitiço, não dando o menor espaço para eles terem tempo de
ao menos pronunciarem alguma coisa.
"Ele sabe melhor do que qualquer um aqui como lutar contra eles, não é?"
Comentei, observando ele e Sirius apagarem totalmente os dois Comensais
da Morte.
"Andromeda!" Sirius exclamou, correndo até mim atrás de uma casa de altos
e baixos que ainda estava de pé, com um sorriso largo no rosto. O grito dele
fez Regulus se virar também. A diferença dos dois era nítida. O olhar de
Sirius era brilhante, como o de uma criança feliz por finalmente encontrar
alguém que conhece. Regulus era mais focado, um soldado completo com
sentidos perfeitos. O olhar dele era como se dissesse, "Bom demais para ser
verdade. Fácil demais para ser verdade."
"Six!" Envolvi os braços ao redor do pescoço dele, dando beijos por todo o
seu rosto, passando depois para o rosto de Regulus, "Merlim, eu estava tão
preocupada! Com os dois!"
"Eu sei, estamos tentando ganhar tempo..." Disse Regulus, ainda um pouco
ofegante pela luta, "Voldemort está..."
"...atacando porque eles ainda não entregaram você, nós sabemos," Narcissa
completou, "Deu para perceber, toda Godric's Hollow o ouviu."
"Do que você precisa, Reg?" Perguntei seriamente, "Para matar a cobra."
"Não, não... Regulus quer dizer que não pode ser alguém da Sonserina,"
Explicou Sirius, "Por causa da espada"
640
"Mas e o dente do basilisco? Não foi o que você usou para destruir o
medalhão?!" Indaguei, me lembrando do que Regulus havia contado há um
tempo atrás quando eles foram até Hogwarts.
"Para matar uma cobra?!" Regulus sorriu ironicamente, "É a espada ou nada,
Andy. É o motivo para eu não ter ido sozinho até ele ainda."
"Um dos motivos, você quer dizer," Sirius fez uma cara feia, "O outro é que
você tem um irmão que só vai sair do seu pé se acertarem um feitiço bem no
meio do peito dele!"
"Merlim, pare de dizer isso, Sirius!" Narcissa revirou os olhos, "Vou colocar
um feitiço de silenciamento em você, isso sim."
"Já te disseram que você é muito irritante?!" Sirius pôs as mãos na cintura,
Narcissa imitou o gesto.
"Sim, Reg, vi todos eles," Assenti, "Não se preocupe, todos eles estão bem.
Arthur e Frank estavam com eles o tempo inteiro..."
"Você tem certeza que Mary está bem? Eu sei que ela está viva, mas ela está
machucada ou algo assim?! Ela estava normal ou parecia cansada?!"
Regulus assentiu, mas não pareceu convencido sobre nada do que eu disse.
A própria intuição foi tudo o que ele teve durante muito tempo, então agora
ele nunca conseguia abaixar a guarda.
Antes dele conseguir responder, houve mais uma explosão: nós quatro
olhamos para a a fumaça que inundou o lugar e mais gritos puderam ser
ouvidos. A casa que nos escondíamos começou a estremecer e nós desatamos
a correr outra vez.
Ficou evidente, quando nós passávamos pelas ruas, que, nos poucos minutos
que havíamos nos distraído, a situação em Godric's Hollow havia deteriorado
641
seriamente: a maioria das casas e chalés estava destruída e os que ainda se
mantinham em pé, estavam sacudindo ou se desmontando tijolo por tijolo; a
poeira e a fumaça enchiam o ar, e para toda direção que olhássemos, víamos
clarões verdes e vermelhos correndo pelos bruxos que lutavam.
Seria ótimo se fossem apenas os dois. Nós quatro acabaríamos com eles sem
nenhum esforço. Mas não podia ser tão fácil.
Bellatrix caminhou entre dos dois, abrindo espaço entre eles, enrolando a
varinha em um cacho de cabelo e carregando um sorriso cruel no rosto,
"Achei que você queria uma guerra, Reg. Não uma reunião familiar." Ela
correu os olhos por todos nós, até parar em Narcissa, "Cissy."
"Como você ousa falar de lealdade à família para mim?" Ela vociferou,
"Você foi o primeiro a nos dar as costas! Lembra-se disso, Narcissa? Ou os
perdoou rápido?"
Dei um passo à frente, "Nenhum de vocês fez isso antes de mim. Então se
quer enfrentar alguém, Bella, estou aqui. Vamos resolver isso de uma vez
por todas."
642
"Vai lutar contra suas duas irmãs e seus dois primos, Bella?" Narcissa
lançou, "E ainda com esses dois idiotas?"
- Sirius -
Eram quatro para cada um. Eu estava lutando contra Lucius, Regulus
tentando pegar Mulciber, Narcissa se defendendo de Rodolphus e Bella e
Andy batalhavam arduamente uma contra a outra.
Regulus lançava olhares estranhos para Lucius e para mim o tempo todo,
enquanto lutávamos. Os olhos dele corriam rapidamente por nós dois, antes
de voltar a sua atenção para Mulciber novamente. Também não era como se
eu tivesse muito tempo para perguntar na hora.
"Isso é tudo que você pode fazer, Malfoy?!" Sorri, enxugando uma gota de
sangue que escorreu do meu nariz, "Não precisa ficar com pena. Eu sempre
fui melhor que você."
643
em raiva, o rosto, normalmente branco feito um fantasma, estava vermelho
de fúria. Então por que diabos ele não estava tentando me matar?!
"Reg!" Gritei, a voz cheia de terror, trocando um olhar rápido com Andy,
que tentava, sem sucesso, derrotar Bellatrix. Lucius parecia ter parado para
ver o show também, porque curiosamente parou de me lançar feitiço atrás de
feitiço quando a explosão ocorreu. "Regulus! Regulus, onde voc-"
Mas Bella agitou sua varinha na minha direção antes de eu sair do lugar, me
derrubando e me impedindo de ir até o meu irmão, "Filha da puta!" Rosnei,
o ódio subindo pelo meu pescoço. Eu realmente queria matá-la, queria vê-la
deixar de existir para sempre. Ódio e medo se misturaram dentro de mim e
eu quis gritar.
644
Lucius abriu e fechou a boca algumas vezes, parecendo prestes a falar, mas
desistindo no meio do caminho. Minha mente estava em Regulus o tempo
todo, mal conseguia enxergar o que estava na minha frente.
Mas quando meus olhos pararam no lugar de onde veio o clarão, pude ver
que Cissy estava de pé, alguns machucados, o cabelo platinado sujo, a
jaqueta verde escuro lascada em alguns lugares, mas perfeitamente bem.
Quem estava paralisado no chão, com os olhos arregalados e sem vida, era
Rodolphus Lestrange.
Ainda com os olhos pregados no corpo do marido, ela não percebeu quando
um pedaço de madeira se mexeu, arrastando-se para o lado bruscamente. E
uma mão cheia de anéis prateados que eu reconheceria em qualquer lugar
apareceu, fazendo o meu coração acelerar de alívio e felicidade.
"Mulciber está morto." Regulus avisou, sem olhar nos olhos de ninguém,
apenas encarando Bellatrix, que ainda olhava para o corpo do marido.
645
Lucius ainda estava sendo segurado por mim, que o soltei bruscamente,
fazendo-o cambalear para trás. Caminhei até o lado de Regulus, que, apesar
de machucado, tinha a postura ereta e desafiadora. Fiz o mesmo quando me
postei ao lado do meu irmão, aulas de etiquetas dos infernos quando éramos
crianças deviam servir para alguma coisa.
Não pude deixar de soltar uma risada. Era satisfatoriamente bom ver
Bellatrix, a minha prima que estava lá no dia em que me expulsaram de casa
à torturas e surras, no dia em que Andy levou um tapa no rosto do nosso tio
por ter se apaixonado por Ted, nas vezes em que Regulus estava tão no limite
que quase desistiu de si mesmo e em todas as vezes que Narcissa precisou
de alguém depois de ter perdido Andromeda e teve que se consolar com
Lucius, porque Bellatrix estava ocupada demais chupando a porra do pau de
Voldemort.
Era ótimo.
- Narcissa -
Tudo aconteceu tão rápido. Tão rápido que meus olhos quase não
conseguiram acompanhar.
646
Bella, mesmo caída no chão, desviou o olhar para o corpo estirado de
Rodolphus atrás de nós. Ela o encarou demoradamente, o que intrigou nós
quatro, que nos viramos para olhar também.
E então mais um grito. Dessa vez, era a voz de Lucius gritando, "Narcissa!".
E era vívido demais para ser apenas na minha imaginação.
Um segundo.
Meu coração foi esmagado, quando o corpo de Lucius caiu inerte no chão.
Morto.
"Não!" Minha voz era estridente, quando me joguei ao lado dele, segurando
a sua cabeça em meu colo. "Lucius, não! Não, por favor, não!" Tudo se
resumiu a dor. Como se algo me cortasse por dentro, um pedaço de cada vez.
Os olhos sem vida do homem que eu amava estáticos e parados, o rosto sendo
molhado pelas minhas lágrimas que caíam uma por uma na sua pele pálida e
cansada.
Ele havia morrido tentando me proteger. Por que? Por que ele não teve
coragem o bastante para vir até mim? Para se virar contra eles como eu fiz?
Tudo poderia ser sido diferente. Poderíamos ter tido tudo.
647
Andromeda se abaixou até nós, envolvendo seus braços ao meu redor,
beijando a minha testa. A dor era tão grande que me fazia tremer. "Se acalme,
Cissy, se acalme..."
"Eu quero que ela morra." Agarrei o braço de Andy com força. Uma raiva
avassaladora crescendo no meu peito. "Eu quero que ela morra, Andromeda.
Ela não merece viver. Ela não merece nada!"
Bella tentou matar diretamente os dois, como havia feito com Lucius. Mas
eles eram espertos, usando pedaços de escombros das casas destruídas como
barreiras físicas e desviando do feitiço.
Sirius trocou um olhar com Regulus e algo intenso foi passado entre os dois,
Sirius gritou, "Reducto!".
- Regulus -
Não dá para lutar uma guerra sem matar ninguém. O sangue de alguém
provavelmente vai estar nas suas mãos e tudo o que você pode fazer é se
consolar com o fato de que ou era ela ou você.
E eu já deveria esperar que, com a sorte que eu havia sido abençoado a vida
toda, era óbvio que seria alguém da família Black. Claro que seria. Destino
desgraçado.
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"Tudo bem?" Sirius ofegou, cansado, "Deixa eu ver sua cabeça."
"O qu- Não, eu..." Desviei, balançando a cabeça. Eu mal me lembrava que a
porra de uma casa havia explodido em mim à alguns minutos atrás. A
adrenalina era tanta que eu nem mesmo sentia dor nenhuma. Mulciber, burro
e idiota como ele era, provocou a explosão que o matou. "Eu estou bem, Six.
Vou sobreviver, pelo menos."
Sirius assentiu devagar, desviando o olhar para Narcissa, que ainda estava
ajoelhada, com a cabeça de Lucius em cima de seu colo.
"O mundo não é dividido entre pessoas boas e Comensais da Morte." Sirius
me encarou, e eu o encarei de volta. E mesmo em um tom normal, consegui
sentir o peso das palavras como se tivessem sido arremessadas em mim.
"Todos temos luz e trevas dentro de nós."
"Temos que sair daqui," Andy olhou ao redor, os berros e gritos aumentando
cada vez mais, mais explosões e destruição, não podíamos ficar muito tempo
parados. "Ou vamos acabar sendo atacados outra vez."
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"Vem, Cissy..." Segurei delicadamente o braço dela, tentando levantá-la. Ela
cambaleou, ainda trêmula, se apoiando em Andromeda.
Saímos apressados pela rua, passando por entre becos para não sermos
vistos. Procurando por algum de nós. Sirius estava correndo ao meu lado,
correndo os olhos por todos os lugares, certamente procurando por Remus.
Eu não era diferente. Minha mente estava em Mary o tempo todo. Eu
precisava vê-la na minha frente, tocar nela, sentir que ela estava ali. Diante
dos meus olhos e viva.
Havia mais gente duelando por todo o caminho que corríamos, havia
Comensais da Morte para qualquer lugar que eu olhasse: Avery, próximo aos
detroços de uma casa, dava combate à Arthur Weasley; um Comensal da
Morte mascarado duelava com Slughorn. Aliados corriam em todas as
direções, alguns carregando ou arrastando amigos feridos.
Então, nós quatro derrapamos ao virar um último canto e, com um berro que
misturava alívio e fúria, nós os vimos: James e Lily na frente, Marlene e
Pandora logo atrás, que bateram nos dois com a força com que pararam
quando nos viram, e Peter, que abriu um sorriso quando nos viu.
"Eu vou tentar achar algum beco ou alguma casa para acalmá-la," Andy
sussurrou no meu ouvido, Narcissa havia parado de chorar, mas estava com
um rosto vazio e distante, os olhos tremendo, "Eu encontro vocês."
Balancei a cabeça, e elas aparataram. Lily interveio, "O que houve com
Narcissa?!"
650
"Ela estava, Reg," Lily respondeu, me fazendo mudar o olhar de James para
ela, "Ela estava lutando com a gente, depois saiu com Frank e Alice."
"É o plano. Lutar para chegar até ele. Não me entregar para que o tempo
acabe, ele apareça e matemos a cobra." Respondi, "Ele acha que não precisa
procurar por mim. Quer fazer os Comensais matarem o maior número de
todos nós para que eu acabe indo procurá-lo sozinho. O que não vai acontecer
porque vamos matá-los antes."
"Ele acha que você vai..." Marlene pensou, "Espere, você está me dizendo
que ele não... ele não está nem lutando?!"
"Ele acha que não precisa lutar." James afirmou, entendendo o que eu disse,
"Ele acha que Regulus vai procurá-lo."
"Ele sabe que destruí todas as outras Horcruxes... ele está mantendo Nagini
junto dele... obviamente para me aproximar daquela coisa, eu vou ter que
enfrentá-lo alguma hora..." Respondi, correndo os olhos entre todos eles.
"Está tudo sob perfeito controle, Pan. Nada fora do plano. Nada que eu já
não tenha pens-"
"Não se você matou Bellatrix." Peter disse, de repente, "Ela é a mais fiel,
Reg, você sabe disso. Não que ele tenha algum carinho por ela, mas quando
souber que ela está morta, nós não sabemos o que ele vai exatamente..."
651
Peter o apertou, os olhos bem fechados, "Eu também, Padfoot. Eu também."
James envolveu os dois carinhosamente com os braços, o que nos fez rir. Ele
parecia uma criança. "Do que você está rindo, Reg? Seu grande idiota." E
me puxou pela camisa, me obrigando a me juntar à eles.
Sirius fungou, ainda sorrindo, "Ok, ok... Mas e o meu Moony, huh? Está
faltando ele nesse abraço, não está?"
"O que houve, Pan?" Fui até ela, seguindo seu olhar, mas não enxergando
nada realmente no meio de tanta luta e destruição.
Ela ficou em silêncio, até que sua expressão mudou. E, naquela fração de
instante, senti que meus pés não estavam mais no chão. Tudo pareceu sumir
em volta do que estávamos olhando.
652
Capítulo 46.2: Remus, o Alfa
"Remus," Shade apareceu ao meu lado, Lucien parado perto dele, olhando
para os lados, "O que devemos fazer?"
653
Makenna foi a primeira lobisomem a se juntar à nós depois de Lucien e
Shade. Ela tinha a minha idade. Era negra, os olhos se misturavam entre o
verde e o âmbar e os cabelos trançados e longos, que iam até o seu quadril.
Ela era esperta e desconfiada, não deu o braço à torcer facilmente. Mas queria
uma vida melhor, eu pude ver. Pude sentir. Ela queria desesperadamente
uma vida melhor do que aquela, por mais que não tenha se permitido ficar
vulnerável o suficiente para usar essas palavras.
Theo era o mais novo. Ele tinha dezoito e havia sido transformado com
quatorze. Era o que tinha menos tempo de experiência. No entanto, ele me
lembrava Regulus às vezes, o que me fez gostar dele de primeira. Talvez
fosse o coração maior do que seu corpo podia aguentar. E a coragem tão
intensa que o tornava idiota. Regulus tinha a idade dele quando se meteu
naquela caverna sem pensar duas vezes. Então eu acreditava em Theo,
acreditava de verdade. Ele era capaz de coisas enormes.
Eve era um ano mais velha que eu, e usava isso sempre para tentar tomar a
liderança. Ela tinha a lateral do cabelo completamente raspada e um olhar
muito desafiador. Ela era ousada, mas nunca, nunca era injusta. Ela poderia
rasgar com os próprios dentes qualquer um que fizesse mal para o bando
dela. Quando Greyback torturou Caius, seu melhor amigo, ela não aguentou
a ideia de que nunca poderia matá-lo. Então os dois se juntaram à nós.
Félix foi o último a se juntar ao bando. Ele era meio quieto na maioria das
vezes, não era de conversar muito. Mas lutava como ninguém. Ele tinha
músculos que sobressaiam por todo o corpo e um soco era o bastante para
apagar um oponente. Acho que vi ele sorrir uma vez, mas não tenho certeza.
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dos pensamentos. A primeira vez que Makenna fez isso comigo, senti que
minha mente havia rodado 360 graus.
"Remus!" Mary saiu de dentro de uma das casas, quando me viu abaixado
atrás de um pedaço de madeira grande, provavelmente de alguma casa
destruída, "Graças à Deus! Graças à Deus!" Ela jogou os braços no meu
pescoço.
"Não, eu... não, eu não vi ninguém depois que a luta começou, eu..." Ela
estava ofegante, parecendo atordoada, "Eu tenho que encontrá-lo, Remus,
eu..."
"Mary, Regulus sabe se defender, ele é um dos mais fortes que temos - o
filho da mãe," Sorri fracamente, mas sem entusiasmo, "Ele foge da morte
desde que se juntou à Ordem. Escapulindo pelas beiradas todas as vezes. Ele
não vai..."
"Mas você o ouviu. Você o ouviu, não ouviu?" Ela me interrompeu, a voz
tremendo, "Sabe do que eu estou falando. Regulus o traiu duas vezes, Remus.
Se ele o pegar sozinho, se Regulus se descuidar por um minuto se quer..."
"Ele não vai." Respondi, incisivamente, "Ele nunca se descuida, não é agora
que vai."
"Não posso perder ele, não depois de tudo," Mary sussurrou, os olhos
perdidos, a voz fraca, "Não posso perder ele de jeito nenhum."
655
Se Mary estava assim, eu não gostaria nem mesmo de pensar em como Sirius
estaria, mesmo estando com Regulus. Ele com certeza estaria lutando com o
peito apertado de preocupação, eu imaginava. Ao contrário de Regulus, a
pessoa com mais senso autodestrutivo que eu conhecia, que estaria com a
varinha em mãos e a estúpida coragem exagerada fazendo-o lutar no
automático completo.
Ela geralmente era séria, o rosto impossível de expressar o que ela estava
sentindo realmente. Mas, com todas as coisas que me ensinaram sobre
compartilhar pensamentos e emoções entre si, eu podia ver. Makenna estava
assustada.
É claro que havia sido um deles. Era óbvio que Voldemort - que não se
importava nem um pouco com os lobisomens - havia instruído Greyback a
se concentrar nos lobos traidores, porque não o julgava capaz ou digno de
combater outros bruxos. Como diabos eles não percebiam que tudo não
passava de uma farsa? Uma marginalização mascarada por uma falsa ideia
de segurança e proteção?
"Vá, Remus," Mary soltou meu braço, que ainda segurava com força, "Eles
precisam de você. Só você pode fazer isso."
Ela assentiu com a cabeça, "Vou tentar achar os outros. Vou ficar bem,
prometo."
Deixar Mary ir foi difícil. Eu queria ficar o mais perto possível das pessoas
que eram importantes para mim, das pessoas que eram a minha família. Mas
eu não estava louco de deixar qualquer um deles chegar perto de Greyback
656
e dos seus lobos, eu lutaria sozinho e se não o matasse, então morreria
tentando.
"Certo, onde ele está?!" Me virei rapidamente para Makenna, que olhava
para os lados e acima do pedaço grande madeira, nunca abaixando a guarda.
"Ele está em um lado afastado da vila e não acorda de jeito nenhum," Ela
bufou, "Devem ter batido a cabeça dele, com certeza."
"Alguém viu quem fez isso com ele? Viram o rosto?" Me sentei rapidamente
ao lado dele, preparando a varinha para fazer os feitiços de cura pela sua
nuca machucada.
"É claro que não, Lupin." Eve rosnou, "Se eu tivesse visto, teríamos outro
lobisomem sangrando estirado nesse chão, você pode acreditar."
"Deixe ele, Theo." Felix estava em pé de braços cruzados, ele usava uma
regata que deixava os músculos à mostra e calças de estampa camuflada,
"Lupin sabe o que está fazendo."
657
"Não, não, você pode tentar, claro que pode," Me afastei para o lado quando
Theo sorriu gentilmente, respirando fundo e sussurrando os feitiços sob o
corpo desacordado de Caius.
Era estranho que algum lobisomem houvesse atacado Caius e deixado ele
aqui, ainda respirando e com o coração batendo. Se a intenção de Greyback
era matar, por que deixá-lo vivo? E por que aqui, tão afastado de onde tudo
estava acontecendo?
"Pegaram ele... Pegaram..." A voz estava trêmula e ele parecia estar fazendo
uma força absurda para fazê-la sair, os pulmões tão cansados que qualquer
lobisomem poderia ouvir tentando desesperadamente funcionar, "Pegaram
Lucien, Remus! Isso tudo é uma armadilha! Atacaram... atacaram Caius para
atrair você para cá! Para atrair todos nós para cá! Para um lugar em que ele...
em que ele possa fazer o showzinho de merda dele em paz, sem
interrupções..."
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também. E agora ele se foi. "Não foi sua culpa, Shade, não... porra, não era
assim que deveria ser, porra, porra, porra...."
Caius começou a se mexer no chão, Theo ainda estava ajoelhado ao seu lado
ajudando com que ele conseguisse se sentar, Eve correu de volta para ajudá-
lo. Ele apertou os olhos, levandoa mão a cabeça, "Que merda aconteceu?"
Ele assentiu firmemente, "Foram dois lobos." Ele olhou para Eve quando
continuou a falar, "Poldark e Paxon."
"Todos nós nos lembramos deles." Aspen interrompeu, a voz rígida, "São os
piores de Greyback. Tem quase o mesmo tanto de crueldade e frieza."
Respirei fundo, olhando para Caius novamente, "Você precisa saber. Lucien
foi pego por Greyback em menor número. Ele..."
"Está morto, não está?" Caius sorriu friamente, com dor na voz, "Diga a
verdade."
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"Desgraçado!" Eve gritou, avançando em direção à ele, que gargalhou
cruelmente. Eu a segurei pela cintura, empurrando para atrás.
"Menina tola, menina tola..." Ele rosnou, "Tem a burrice de virar as costas
para mim e acha que ainda pode me derrotar. Que vergonha. Nem mesmo
parece que fui eu quem a criei."
"Porque não foi. Você não fez absolutamente nada além de tentar destruí-
la." Atirei, com ódio na voz. Os lobos de Greyback riram junto com ele.
Eram todos muito mal cuidados na aparência, mas Greyback era o pior. Ele
tinha dentes pontudos e longas unhas amareladas que, assim como o de seus
lobos, estavam sujas de sangue seco. Ele não tinha a marca negra, apesar da
associação com os Comensais da Morte. Provavelmente não o julgavam
digno.
"Me magoa que você tenha crescido com tanto ódio de mim, filhote,"
Greyback fingiu uma voz triste, "Me decepciona muito que eu tenha tido
tanto carinho em criar você e você tenha se virado contra mim com tanta
petulância. De qualquer forma, tendo sido criado por aquele bruxo imundo,
você não poderia ter sido muito diferente."
Ele estava errado. Meu pai nunca, nem em um milhão de anos, me tiraria de
casa. Nem mesmo quando eu cresci e as coisas ficaram realmente difíceis.
Tendo que nos mudar frequentemente para as pessoas não perceberem o que
acontecia todo mês e tendo que procurar por lugares seguros para as minhas
transformações. Seguros o suficiente para que eu não machucasse ninguém.
Meu pai tentou, sei que tentou. E ele conseguiu muito por um tempo, ele
nunca desistiu de mim. Ele era o meu único amigo durante a minha infância
antes de entrar em Hogwarts. Mas por amá-lo tanto, quando eu fiz dezessete,
decidi que era hora de me virar sozinho e deixá-lo viver uma vida pacífica e
sem complicações. Eu o visito com Sirius às vezes. Na primeira vez, ele ficou
660
preocupado por Sirius ser um Black e a fama ruim o preceder. Mas ele o
conquistou muito rápido depois disso.
"Pare de falar do meu pai." Repeti, Theo pôs a mão no meu ombro, que estava
rígido como pedra, "Você não tem o direito de falar qualquer coisa
relacionada à ele. Ele é um homem bom, ele cuidou de mim o máximo que
pôde, pelo tempo que conseguiu depois que você se meteu em nossas vidas.
Ele foi forte e corajoso. Meu pai é tudo que você jamais será."
Respirei fundo mais uma vez, o encarando diretamente. Eu não deixaria ele
notar que estava me afetando. Eu nunca deixaria ele perceber o que estava
fazendo comigo. Minha mãe era a pessoa mais gentil que eu um dia
conhecera. Ela era trouxa, mas possuía mais magia em seu interior do que
qualquer outro bruxo. "Não adianta. Não tem ninguém para você ameaçar.
Sua luta é comigo, e apenas comigo. Pare de tentar envolver terceiros para
me atingir."
"Fale direito com o nosso pai, seu traidor sujo!" Um dos lobisomens ao lado
de Greyback sibilou, os olhos castanhos brilhando em raiva, "Ele fez de você
quem você é! Deveria ser grato!"
"O lobo não é quem você é, só é o que você é." Makenna disse firmemente,
postada ao meu lado direito, "Somos quem somos por nossa causa, não
devemos nada à você."
Não, não, não, não, não. Empurre ele para fora, Remus, desvie ele da aí. Não
deixe ele chegar lá.
661
"Ele é magnífico. Lindo, tão lindo... Que pele macia e perfeita... Já vi
isso antes, ele parece com alguém que... Ah! Não me diga! Não me diga
que é um Black!"
"Não!" Gritei, apertando as duas mãos na cabeça, "Saia, saia daqui! Saia!"
Doía, doía muito.
"Saia da minha cabeça! Pare com isso!" Pareciam martelos batendo contra o
meu crânio agora, tudo sacudia e doía. E apenas a voz dele podia ser ouvida.
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sobrecarregá-lo ainda mais. Ansel e Aspen lutavam contra dois lobisomens
e Makenna derrubou um com um chute certeiro na nuca e Shade terminou o
trabalho, quebrando os braços do cara para trás. Theo, Caius e Eve lutavam
quatro de uma vez, os rostos claramente cansados, mas eles nem mesmo
tremiam enquanto acertavam os golpes, quebrando o corpo dos inimigos
completamente.
Greyback com certeza fez de propósito quando ordenou que seus lobisomens
mais cruéis, Poldark e Paxon, viessem diretamente na minha direção. Eles
eram bons, muito bons. Era definitivamente difícil me concentrar em
derrubar um quando o outro estava vinha logo atrás com um golpe. Dei um
soco em Poldark, fazendo-o cambalear e Paxon avançou, enrolando os
braços no meu pescoço por trás, imobilizando meu corpo.
"Seria muito fácil quebrar seu pescoço agora, Lupin." Ele sussurrou atrás de
mim, rindo friamente no meu ouvido.
Minhas pernas livres chutaram Poldark, que avançava para mim enquanto
Paxon me enforcava, fazendo ele cair. Quando Paxon se distraiu, eu agarrei
o seu pescoço e usei toda a força que tinha para girar o seu corpo por cima
de mim e batê-lo contra o chão. Consegui ouvir o barulho das suas costelas
quebrando com o impacto e ele urrou de dor quando começou a tossir o
próprio sangue. Paxon me encarou com ódio, os olhos brilhantes em raiva e
me deu um soco, me fazendo sentir o gosto metálico de sangue na boca.
663
Acertei um soco atrás do soco no rosto, fazendo ele sangrar cada vez mais.
Quando ele caiu no chão, ele riu, "Você é mesmo um de nós, Remus Lupin."
Ele tossiu, sangue escorrendo pela sua boca, "Nosso pai está certo. Você tem
um talento nato para machucar."
"Mas vai matar." Ele balançou a cabeça, "Vai matar porque se não eu vou
matar você."
Quando dei mais um soco no seu rosto, ele apagou. Eu não sabia se ele ainda
respirava ou não, mas também não queria descobrir. Não teria saber se
tivesse acabado de tirar a vida de alguém. Por mais nojento e repulsivo que
ele fosse, ainda era um lobisomem. Uma pessoa que em algum momento foi
mordida por Greyback e teve a vida arruinada depois disso.
Haviam mais corpos no chão agora. Dei uma rápida olhada ao redor e vi que
não era nenhum dos meus. Todos que estavam abatidos agora eram do lado
de Greyback, mas ainda não havia acabado. Depois de derrubar Paxon, eu
avancei novamente na direção de Greyback e ninguém tentou me impedir
dessa vez.
Quando levantei o braço para dar o primeiro soco, ele agarrou meu punho,
torcendo-o para o lado. Engoli a dor, empurrando-a para dentro, e quando
tentei com a outra mão, ele também a segurou e usou a própria cabeça para
acertar a minha. O impacto fez o meu corpo cambalear e a minha visão ficar
turva, minha cabeça parecia que ia explodir.
Dessa vez, tentei acertar um chute na sua lateral, mas ele nem mesmo pareceu
sentir. Greyback me agarrou pelo pescoço com uma das mãos, suspendendo
meu corpo no ar. "Filhote mau, muito mau... Criei você para ser mais
inteligente do que isso, Remus Lupin."
"Você não me criou!" Rosnei alto, tentando me soltar das suas mãos, mas ele
continuava a me suspender, apertando cada vez mais a mão em volta do meu
pescoço, a ponta de suas unhas afiadas ardendo na minha pele.
664
Greyback me atirou contra o chão, sem soltar o meu pescoço. Theo gritou de
onde estava, "Remus!" Mas outro lobisomem o pegou, impedindo-o de ir até
mim. Greyback agora estava em cima de mim, forçando os dedos ao redor
do meu pescoço e sorrindo.
"Implore pelo meu perdão, filhote, implore!" Ele rosnou, batendo a minha
cabeça no chão com força. Meus olhos quiseram fechar, o meu cérebro
parecendo que ia explodir de dor. Carreguei toda a força de dentro do meu
peito para gritar de volta.
"Nunca!" Exclamei, ele apertou mais o meu pescoço, "Nunca vou implorar
nada para alguém como você. Nunca!"
Ele bateu minha cabeça mais uma vez, me fazendo quase perder os sentidos.
Pelo canto do olho, consegui ver a cor do meu sangue escorrer no chão.
Pensei em Sirius. Pensei que se eu morresse, ele se culparia por ter tentado
me afastar de outros lobisomens e não ter conseguido. Ele tentaria matar
Greyback, o que muito provavelmente resultaria em sua morte. Eu precisava
viver por ele. Sempre que eu pensei em desistir durante todos esses anos, ele
esteve lá e me convenceu que ficar vivo era sempre melhor. E por Sirius,
pelo meu Pads... Valia à pena sobreviver. Por ele, tudo valia à pena.
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suas pernas para baixo. A adrenalina estava me impedindo de sentir a dor na
minha cabeça, o que era bom, porque eu não tinha tempo para sentir dor.
Subi nos ombros dele, posicionando firmemente minhas duas mãos em seu
queixo que se balançava, lutando para sair dali. Eve, Ansel e Aspen, e Shade
seguravam os poucos lobisomens que tentavam intervir.
"Vai ser assim então, Remus Lupin?" Greyback sibilou, a voz ainda
carregada de crueldade, "Você realmente é meu filho."
"Meu pai é Lyall Lupin. Foi ele quem me salvou quando você me destruiu.
Não vou permitir que faça isso pela segunda vez. Nem comigo, nem com
ninguém." Apertei as mãos em voltas do seu queixo e Makenna e Felix
viraram seus braços para um lado quando eu torci sua cabeça para o outro,
quebrando os ossos do seu pescoço lenta e dolorosamente. Ele gritou de dor
nas minhas mãos, até finalmente cair no chão.
Naquele instante, o Remus Lupin de cinco anos pegou na minha mão, e disse:
Obrigada por fazer isso por mim. Você é o meu herói.
Fui distraído dos meus pensamentos quando percebi que metade dos
lobisomens que ainda estavam ali começaram a por um joelho no chão. Um
à um, até mesmo os que lutaram ao lado de Greyback. Até chegar nos do
meu próprio bando, que sorriam triunfantemete, se ajoelhando juntamente
aos outros.
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decide." Ele fez uma pausa antes de continuar, "Você é o nosso alfa agora,
Remus Lupin."
Theo sorriu para mim, "Agora acho que você precisa dizer alguma coisa,
Remus."
***
Meus olhos se abriram com dificuldade. Parecia que havia se passado dias,
mas a gritaria e os barulhos de feitiços me trouxeram de volta para a realidade
e a batalha ainda estava acontecendo.
Mas ele estava lá, bem na minha frente. Merlim, parecia que beijá-lo não
seria o suficiente naquele momento.
"Moony..." Sirius chorou, quando me sentei para abraçá-lo. Ele estava tão
assustado, tão assustado.
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todos me deixassem com ele para que ele cuidasse de mim. Todos eles
estavam lá. Regulus e James de um lado, Lily, Marls e Pandora do outro,
Sirius agachado na minha frente e...
"Ei, Moony," Peter sorriu timidamente, acenando com uma mão, a outra
enfiada no bolso da calça.
"Vai precisar de um bom feitiço de cura, hein, Lupin?!" Marlene deu uma
cotovelada divertida na minha cintura, "Você tem sorte por eu ser tão boa
nisso."
"Ei, Moony também é bom, ok?" James bagunçou meu cabelo, jogando um
braço no meu ombro, "Ele ensinou para aquele bando inteiro a fazer esses
feitiços."
"Claro que é," Sirius beijou o meu rosto, enrolando os braços em volta da
minha cintura, "Eu sabia que você conseguiria."
Regulus bufou, cedendo logo em seguida, "Tudo bem. Mas rápido. Vamos
fazer guarda para vocês. Vocês tem um minuto. Sessenta segundos, Lupin."
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"Meu Deus, você é chato demais," Sirius revirou os olhos e Regulus deu
língua para ele, virando-se de costa e se afastando, "Então, o que você
quer..."
Não pensei duas vezes e puxei o rosto dele para o meu, grudando nossos
lábios um no outro. Eu poderia ficar assim para sempre. Eu queria ficar assim
para sempre.
"Uau, Moony..." Sirius ofegou, com a testa ainda encostada na minha, "Se
você vai fazer isso sempre que estivermos em guerra, acho que não é tão
ruim assim..."
"Eu amo você..." Dei vários beijos no rosto dele, repetindo sempre, "Amo
você, amo você, amo você..."
"Você é o amor da minha vida. Você sabe disso, não sabe?" Acariciei a
bochecha dele com um dedo, ele assentiu, sorrindo de um jeito lindo para
mim. "Eu estava pensando em você. Foi o que me deu forças para lutar contra
ele. Eu pensei que deveria ser forte. Porque ultimamente tem sido difícil
sobreviver em meio à tudo isso, mas por você, vale à pena o esforço. A ideia
de uma vida com você... De uma vida inteira... Me dá vontade de querer
viver."
Sirius estava com os olhos azuis brilhando agora, um pouco trêmulos, mas
ainda linods. Deus, aqueles olhos. Eu sempre me apaixonaria por eles como
na primeira vez, todas vezes que visse. E então as palavras simplesmente
vieram.
"Cala a boca, Reg!" Sirius gritou de volta, mas sem tirar os olhos de mim,
"V-você está falando sério?"
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"Nunca falei tão sério como agora, Pads," Segurei o rosto dele entre as
minhas mãos, encostando nossas testas, pondo uma mecha do seu cabelo
grande para trás da orelha, "Sei que isso não acontece muito, que vão haver
pessoas que vão olhar estranho para nós dois... Mas eu não me importo. Não
sei se vamos sair vivos daqui, mas eu quero fazer isso. Quero uma vida com
você. Eu te amo, amo tanto que não tem nada que eu possa fazer que expresse
o suficiente. Você salvou minha alma, Pads. Não vejo a hora de passar o
resto da minha vida com você."
"Eu... eu não sei o que dizer, Moony..." Ele ofegou, sorrindo fracamente.
Regulus apareceu e puxou nós dois pelo braço bruscamente, "Não estou
tendo todo esse trabalho para vocês dois se agarrarem no meio disso, tem
uma guerra rolando aqui!"
Nós sorrimos, ainda absortos pelas palavras que haviam sido postas para
fora. Eu ia me casar. Ia me casar com Sirius Black. Porra, o Remus de quinze
anos estaria com tanta inveja.
Desatamos a correr pelas ruas outra vez, desta vez todos nós estávamos
juntos. A guerra não havia mudado de estado. Ainda haviam corpos pelo
chão e muitos bruxos lutando contra si. Casas destruídas e pedaços de
madeira pegando fogo. Um dos corpos, todos nós conseguimos reconhecer.
Alastor Moody estava estirado no chão, os olhos abertos e sem vida. Não
havia tempo para ficar chocado, mas eu fiquei. Ele era um homem bom,
apesar dos meios. Ele seria lembrado. Assim como outros que a guerra
acabaria levando.
670
para um deles, Peter fez o mesmo com outro. Regulus e eu erguemos
imediatamente as varinhas, prontos para atacar, Sirius e James imitaram,
juntamente com Lily.
Mas os adversários zanzavam por aqui e por ali de um modo que, se nós
disparássemos algum feitiço, poderíamos acertar uns aos outros. Eles
queriam nos confundir. E estavam conseguindo. Até que de repente se
transformaram em sombras pretas, atravessando por nós, escurecendo nossas
visões. Eu gritei por Sirius e fiquei aliviado quando o senti segurar a minha
mão.
"Onde ela está?! Para onde ela foi?!" Ele gritou, empurrando a mão de Sirius
para longe dele, "Pan! Pandora!"
"Se continuarem a resistir a mim, todos vocês morrerão, um a um. Não quero
que isto aconteça. Cada gota de sangue mágico derramado é uma perda e
um desperdício. Lord Voldemort é misericordioso. Ordeno que as minhas
forças se retirem. Já está quase amanhecendo. Cuidem de seus feridos, deem
um destino digno aos seus mortos."
671
Vários Comensais começaram a sumir, transformando-se em sombras
negras, um por um, foram evaporando no ar. Deixando o campo de batalha
para trás.
672
Capítulo 46.3: Cobra com Coração de Leão
"Regulus, olhe para mim..." Acho que era James. Poderia ser Remus, mas
não tenho certeza.
Parecia que meu coração ia parar. Ao mesmo tempo, parecia que nunca mais
iria parar de bater tão rápido. Devia faltar pouco mais de uma hora para
amanhecer, mas estava escuro. Godric's Hollow estava anormalmente
silenciosa. Não havia clarões agora, nem explosões, nem gritaria. As poucas
casas que sobraram inteiras estavam manchadas de sangue. As pessoas
estavam em grupos, abraçando uns aos outros. Haviam outras pessoas
passando, carregando macas com pessoas machucadas.
Você permitiu que os seus amigos lutassem e morressem por você no lugar
de me enfrentar sozinho. Esperarei uma hora... uma hora...
673
Narcissa estava chorando sob o corpo de Lucius, enquanto Andromeda a
abraçava por trás, os olhos apertados com força. Caradoc Dearborn estava
logo depois, algo parecia ter acertado sua cabeça com força, porque sangrava
muito. Seus olhos estavam opacos, estáticos. E então Dedalus Diggle,
Sturgius Podmore e Mundugus Fletcher. O chão pareceu se abrir quando
meus olhos se postaram sob o corpo de Emmeline Vance. O lugar pareceu
ficar menor, se encolher.
Ela havia estudado no mesmo ano que eu, era ótima em Defesa Contra as
Artes das Trevas. Ela era inteligente e tão, tão bonita. Quase consegui sorrir
com a lembrança de quando eu tinha quinze anos e consegui beijá-la em
Hogsmead. Na época, eu era um adolescente idiota e não sabia o quanto
Emmeline era especial. Tão especial...
Eu não conseguia respirar. Não conseguia suportar a visão dos outros corpos,
que pareciam não acabar nunca, saber quem mais havia morrido por causa
da batalha que eu iniciei. Eu não conseguiria chegar perto de Xenophilius
novamente, não conseguiria chegar perto de Luna. Eu não conseguiria pedir
perdão aos pais de Mary quando eles não a encontrassem, eu não conseguiria
olhar em seus olhos. Se eu tivesse morrido à dois anos atrás naquela caverna
e não tivesse iniciado tudo isso em primeiro lugar, talvez ninguém haveria
morrido.
Era meu dever dar um fim nisso. A guerra continuaria até ele conseguir me
matar. Eu precisava salvar aquelas pessoas, não aceitaria mais nenhuma
morte. Nenhuma se quer.
Dei as costas para a fileira de corpos, ainda sem enxergar muito à minha
frente, e corri rápido no sentido contrário, no sentido da floresta em volta da
vila... Moody, Emmeline, Lucien... Eu não queria mais sentir... Mary, minha
Mary... Pan, sinto muito... Queria arrancar o meu coração, minhas entranhas,
tudo que gritava dentro de mim...
"Eu preciso ir... elas estão..." Minha voz tremia de culpa e pesar, enquanto
eu tentava sair dos braços de James, "Preciso ir até à floresta... preciso..."
674
"Reg, você é o único que pode pôr um fim nisso! Por favor, por favor, Reg..."
Sirius disse, se pondo ao lado de James, "Precisamos da cobra, temos que
matar a cobra!"
"Eu não quero matar cobra coisa nenhuma, Sirius!" Empurrei a mão de James
furioso, Sirius e ele piscaram chocados, "Se eu fizer qualquer coisa, ele vai
matá-las, você entende isso?! Não posso deixar isso acontecer! Se eu não
fizer o que ele está mandando, ele vai matar as duas! Eu não... Não posso..."
"Vocês não precisam de mim! Eu nem mesmo posso usar a espada, Sirius!"
Vociferei de volta, interrompendo-o, "Eu prefiro morrer do que viver
sabendo que elas morreram por minha causa! Não aguento mais isso, Sirius!
Não aguento mais nada disso!"
"Não, James, pare com isso! Já chega! Pare de agir como se todo mundo
tivesse que ser um herói digno e honroso como você! Você não sabe a metade
das coisas que eu tive que suportar, você não... Você não sabe! Você nem
me conhece, porra!"
"Eu conheço você," James afirmou, olhando nos meus olhos, "Você sabe que
conheço, não finja que não."
"Me poupe," Atirei friamente, apesar de que eu não queria machucá-lo. Não
queria que mais ninguém se machucasse. "Nem todo mundo teve uma vida
linda e feliz com pais amorosos, um lar para voltar e os marotos para serem
seus amigos! Eu não aguento mais continuar, você está me entendendo?! Eu
não... eu não aguento mais... não aguento mais..."
675
Sirius ainda me olhava em silêncio, os olhos cautelosos, parecendo estar se
esforçando para captar exatamente o que eu queria dizer. Eu esperava que
ele conseguisse o quanto antes.
"Eu não acho que você esteja pensando direito, Reg," James respirou fundo,
voltando as mãos ao meu ombro, "Eu acho que você deveria agir com
cuidado. Nós... nós vamos ajudar você, sempre ajudamos."
"Qual dos seus planos deu errado até agora, seu idiota?!" James aumentou o
tom agora, tentando falar mais alto que eu, "Nenhum deles, Regulus! Você
conseguiu salvar todos nós! Você conseguiu se salvar!"
"Acho que as coisas não mudaram muito," Peter comentou, dando um sorriso
fraco.
Corri os olhos por cada um deles. James ainda me encarava com um olhar
afetuoso e preocupado, como se nada do que eu havia dito tivesse realmente
sido entendido por ele. Sirius era diferente, ele me olhava com os olhos
semicerrados, a mandíbula contraída e a boca em linha reta. Remus e Peter
estavam confusos, olhando de mim para eles o tempo todo.
676
"Eu vou até lá. Já está decidido." Eu disse, firmemente. Eu não aceitaria
nenhuma contradição.
"O quê?!" Peter arregalou os olhos, "M-mas Regulus, você me salvou! Você
tirou nós dois de lá e... e disse que tinha um plano e que íamos vencer juntos!"
"O que quer que aconteça comigo, não significa que vocês vão perder, Peter,"
Respondi, "Vocês vão matar a cobra. Eu preciso fazer a minha parte."
"E como espera que façamos isso sem você?!" Remus vociferou, dando um
passo para frente, "Você deve estar brincando! Droga, Regulus, precisamos
de um plano! Você não pode simplesmente..."
"Pads..." Remus tentou, mas Sirius recuou, sem tirar os olhos dos meus.
Era verdade. Eu nunca poderia olhar nos olhos do meu irmão e dizer que não
era, porque seria uma mentira cruel. Sirius nunca entenderia que, desde o
início, eu não deveria ter sobrevivido. Minha tarefa era morrer pelo
medalhão, Voldemort nunca saberia e nunca iria ameaçar a vida deles
diretamente para me atingir. Eles poderiam caçar as horcruxes sem ninguém
os vigiando e nenhum deles sendo procurado e marcado de morte. Pelo
menos, até Voldemort descobrir, o que levaria tempo, obviamente. Tempo
esse o suficiente para eles acharem todas.
"Era para ter sido assim, Sirius," Eu o encarei, os lábios tremendo, "Desde o
início."
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James me olhou, os olhos também molhados agora, ele explodiu, "Eu vou
com você! Você não vai sozinho! Não vou permitir! Sirius pode ser
orgulhoso, mas eu estou implorando, Reg! Nós podemos criar um plano,
fizemos isso todas as vezes, por favor!"
"Mas ele não vai!" James gritou desesperadamente, passando os olhos por
mim, e por Remus e Peter, que tinham olhares tristes em seus rostos, "Ele
não vai conseguir o que quer!"
"Você não vai se entregar!" James me sacudiu pelos ombros, pareia que os
olhos iam saltar fora do rosto, "Pare, pare, pare de criar planos com isso! Não
é o que vai acontecer! Não vou permitir que ele mate ninguém que eu amo!"
"Reg, nós podemos ir com você," Remus tentou dizer, a voz tentando soar
calma, apesar dos olhos dele dizerem o contrário. "Podemos ir e nos
esconder. Pegá-lo de surpresa, é o que sempre fazemos. Você não precisa..."
"E juntar vocês à Mary e Pandora?! Pelo amor de Merlim, Moony, nós contra
Comensais da Morte é uma coisa. Contra ele?! Não temos chance nenhuma."
Respondi secamente, "Eu vou tirar as duas de lá. Isso eu posso prometer.
Estou fazendo isso por todos vocês."
"Mas você não vai sair de lá, Reg," Peter me olhou tristemente, "Eu sei o que
eles fazem com traidores. E-eu senti a raiva deles e eu nem mesmo tentei
matá-lo! Você é quem começou a guerra, você é quem está tentando matá-
lo... O que vai acontecer com você vai ser..."
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"Não vai ser nada!" James gritou, "Regulus, você precisa me ouvir! Depois
de tudo que passamos, você não pode fazer isso! Nós tiramos você daquela
caverna juntos, nós fomos até uma mansão infestada de Comensais e até
resgatamos você de um sequestro! Nós vamos tirar Mary e Pandora de lá
juntos!"
"Me deixe ir com você, Reg, eu posso ir... posso ir como um rato, nenhum
deles saberia que estou lá!" Peter se apressou, "Me deixe fazer isso por você,
eu devo isso."
"Mas ele já se decidiu," Remus disse, a voz trêmula, James ficou agitado
novamente. Remus andou até mim, passando por James. Ele era o mais alto
de nós, e era tão magro e esguio que parecia mais alto do que realmente era,
mas me olhando como ele me olhava, tive a sensação de que éramos do
mesmo tamanho. Remus puxou meu pescoço até o seu ombro, me abraçando
tão forte que eu prendi a respiração, ele sussurrou no meu ouvido, "Lembra
do que disse uma vez? Do quanto eu admirava você por ter uma escuridão
dentro de si mesmo e por arcar com ela ao invés de fingir que ela não existe?"
Balancei a cabeça no seu ombro, e ele continuou, "Ainda admiro você. Vou
admirar até o dia que eu morrer, Regulus."
Quando ele me soltou e o olhei nos olhos, ele estava chorando. Não
soluçando ou algo assim, porque Moony não era tão expressivo como James.
Mas nesses anos morando no mesmo teto que ele e convivendo com ele como
se fosse meu outro irmão, eu podia afirmar: Remus podia sentir uma
imensidão de coisas dentro de si e ainda conseguir guardar cada uma delas
dentro de um único olhar.
Eu abri a boca para responder, mas fui impedido quando Sirius empurrou
Remus da minha frente bruscamente, me agarrando pela gola da camisa,
"Você não vai! Nós vamos para casa agora!"
"O quê? Para casa?! Você está de brincadeira comigo?!" Empurrei a mão
dele para baixo, "Pela primeira vez na vida, tente pensar como um adulto,
Sirius!"
"Quer que eu seja adulto?! Certo! Eu sou seu irmão mais velho e você tem
que me obedecer." Sirius disse, tentando respirar fundo, "Então você não vai
à lugar nenhum! Não vai tentar se matar outra vez e deixar as pessoas
chorando por você! Pare de ser egoísta!"
679
"E vou fazer o quê?! Sentar e fingir que não posso fazer nada quando alguém
que eu amo está se machucando?!" Vociferei, totalmente sem paciência
agora, "Espere, me desculpe, eu realmente esqueci que você já fez isso
comigo antes!"
No entanto, Sirius nunca teve uma infância adequada, então como alguém
poderia esperar que ele crescesse tão rapidamente?
"Pelo amor de Deus, por que vocês dois estão brigando?!" Lily havia
aparecido, quando James puxou Sirius de cima de mim. Dumbledore estava
ao lado dela, com as mãos juntas na frente do corpo.
"Conte à ela, Regulus!" Sirius gritou, ainda com James o segurando, "Conte
à ela o que você vai fazer!"
"Então, já temos um plano?" Lily sorriu para mim, esperançosa, "Já temos
um plano para resgatar Mary e Pandora? O que estamos esperando, então?!"
A raiva pareceu ter vindo com tudo agora, meu peito parecia que ia explodir,
"Eu não quero a porra da sua ajuda! O senhor nunca quis me ajudar, nem
mesmo confiava em mim! O senhor apenas me queria na Ordem porque sabia
que era um Comensal da Morte à menos!" Eu andei até ele, ficando de frente
com ele, e murmurei apenas para ele ouvir, "Eu sei o que Peter fez. E eu sei
que você sabia."
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Dumbledore respirou fundo, nenhum pouco surpreso com o que eu havia
dito, "Se importariam de me deixar à sós com Regulus, por gentileza?"
"O que está acontecendo?" Lily franziu o cenho, James a puxou para si,
beijando o topo de sua cabeça e levando-a para longe de nós, enquanto ela
sussurrava para ele, questionando-o sobre o que estávamos falando.
Peter passou por nós, seguido de Remus, que tinha Sirius dentro de seus
braços. Quando meu irmão passou por Dumbledore, ele parou e o encarou,
suplicantemente, "Convença ele. Por favor, por favor, convença ele."
"Não estou certo de que você compreende o que está prestes a fazer,
Regulus," Ele continuou, "Você está se sacrificando pelas pessoas que você
ama, você entende o quão isso é poderoso? Principalmente, no mundo da
magia."
"Eu já imaginava que você se sacrificaria. Você, dos Blacks que conheci, é
o menos persistente. Imaginei que não demoraria a se entregar."
681
foder você e sua falsa moral! Se foi para isso que quis falar comigo, então
me deixe em paz!"
"E aí está, você está fazendo outra vez." Ele parecia calmo e irritantemente
sincero.
"Fazendo o quê?!"
"Está se sentindo acuado, então não está nem tentando se defender. Está
apenas aceitando o que eu disse." Dumbledore suspirou, "Isso é uma grande
decepção."
"Decepção?! Você já viu a minha vida?! Eu não preciso provar para você
que eu sou capaz de nada!" Eu estava tão irritado que a mão na minha varinha
estava coçando. Dumbledore nunca havia falado comigo assim, nunca havia
falado com ninguém assim. Então por que agora?!
"Aposto que nem mesmo irá lançar um feitiço quando estiver frente à frente
com Lord Voldemort, estou certo?" Ele me olhava como se eu fosse uma
criança, como se eu tivesse onze anos outra vez na sua sala de diretor, "Vai
apenas se render."
Parecia que estava tentando intencionalmente me deixar com raiva. Mas por
quê?
"Há. Muito engraçado," Revirei os olhos, dando as costas para ele, "Não
tenho o menor tempo para isso."
682
Eu já tinha virado de costas. Aquilo era uma besteira. Uma completa perda
de tempo. Então por que as palavras dele haviam atingido um ponto tão
fundo? E por que ele havia escolhido aquelas palavras, para início de
conversa?
Quando me virei novamente, levei minha mão com a varinha em sua direção,
tentando pegá-lo de surpresa com um Feitiço Estuporante. Dumbledore se
defendeu facilmente, quase sem fazer esforço algum. O choque de clarões
causando uma luz forte da onde estávamos chamaria atenção das outras
pessoas em breve. Mas agora ele havia pegado em um ponto delicado meu e
não havia mais como voltar atrás.
"Tente outra vez." Ele disse, tão calmo e e brando quanto um oceano, "Se
conseguir, é claro."
Tentei outro Feitiço Estuporante, mas agora três vezes seguidas, sem espaço
de tempo entre um e outro. Ele repeliu todos eles, cada um dos três em uma
velocidade absurda e uma precisão quase sobre humana. A varinha de
Dumbledore parecia ser tão habilidosa quanto ele. Não como se ele a
comandasse, mas como se ela soubesse exatamente o que vai fazer para me
deter por conta própria e ele só precisava movê-la.
"Você não está pensando direito, Regulus," Dumbledore me olhou por cima
dos óculos, "Pense bem. Você não é burro."
683
Respirei fundo, dando uma última olhada para a varinha dele nas mãos.
Aquilo não tinha importância. "Pegue," Entregando ela novamente à ele, eu
encarei a minha própria com a cabeça baixa, "Estou cansado. Estou cansado
de guerras. De ser caçado. De ter que criar planos para não morrer e para não
levar quem eu amo junto comigo. Quero descansar."
"Saiba que não acredito verdadeiramente nas coisas que disse à você," Ele
guardou a varinha nas vestes.
Dumbledore deu um sorriso para mim, "Apenas acredite que tive meus
motivos para querer que você reagisse à elas."
Não fazia ideia do que ele estava tentando me dizer, mas também não me
importava o suficiente para querer saber.
"Os dois."
Aquilo me deixou em silêncio. No fim das contas, acho que o fato de ser
apenas eu que me prejudicaria, não significava que não era egoísta. Ninguém
é perfeito. As coisas são do jeito que são.
684
"Eu não sou o vilão, Regulus, não me veja como um," Continuou
Dumbledore, "Compreendo que muitas vezes durante seu tempo em
Hogwarts, eu poderia ter intervido e impedido que você passasse por tanto
sendo tão jovem. Você carregou fardos muito pesados para apenas um garoto
e eu peço perdão por não ter feito algo para impedir isso. Mas não me veja
como um vilão, me veja apenas como alguém que precisava fazer as coisas
do jeito que tinham que ser feitas."
"Não acho que o senhor seja o vilão, professor, eu seria hipócrita se achasse,"
Respondi, sabendo que minha voz soava cansada agora, "Não me lembro da
última vez em que fiz algo que não fosse o que precisava ser feito."
"O sucesso não tem nada a ver com vencer ou perder, viver ou morrer,
Regulus. Tem haver com o quão fiel você foi ao seu coração na hora de suas
escolhas." Dumbledore disse, e eu o encarei, "Não se esqueça do que eu disse
à você. Amor e sacrifício é uma combinação que, principalmente no mundo
da magia, pode fazer coisas extraórdinárias."
Engoli em seco, não conseguindo encará-lo, "E você sabe o que isso quer
dizer, não sabe?"
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"Kreacher cuidou de Regulus Black desde que ele era um pequeno e frágil
bebê, tão pequeno que cabia em cima de uma almofada de marfim," Ele
disse, e meus olhos encheram de lágrimas repentinamente, "Kreacher esteve
presente na formação da pessoa que Regulus Black é hoje. E Kreacher o
conhece o suficiente para saber o que Regulus Black vai fazer."
"Há dois anos," Eu comecei, passando a mão rapidamente pelos olhos, "Você
me ajudou a fazer uma coisa muito importante, Kreacher. Você estava do
meu lado no início de tudo e não saiu nenhum minuto se quer. Mesmo depois
de todo esse tempo, e-eu nunca vou saber como realmente agradecer..."
"Kreacher estava no início e também vai estar no fim," Ele pôs a mão
pequena no meu ombro direito, "Kreacher sempre vai estar com Regulus
Black."
Eu o abracei mais uma vez, apertando-o forte contra mim. Por um segundo,
eu me senti com oito anos outra vez. Exausto e cansado, física e
mentalmente, até Kreacher entrar no meu quarto com torradas e geleia, e um
chá de hibisco que ele sempre sabia fazer como eu gostava. E, para um
menino de oito anos, tudo ficava bem por alguns minutos por causa daquilo.
"Quero que fique com isso," Retirei a minha varinha das vestes, entregando
à ele, "Quero que guarde e não dê para ninguém."
"Claro que Kreacher se lembra, é como se tivesse sido ontem mesmo!" Ele
exclamou, sorrindo também, "Kreacher promete à Regulus Black que
cuidará dela com a sua vida." Kreacher enrolou os braços ao redor do meu
pescoço de novo, me abraçando pelo o que seria a última vez.
"Diga à Pandora quando ela voltar para dizer à Luna que eu amaria tê-la visto
crescer," Sussurrei para Kreacher, "Diga para James e Lily que cuidem de
Harry com toda a força que puderem porque ele vai ser grande, não sei
exatamente como, mas sei que ele vai ser. E diga... Diga à Mary apenas que
eu sinto muito. E que eu amei ela até o último segundo em que eu estive por
aqui."
686
"E Sirius Black?" Kreacher se desprendeu, pude ver seus olhos molhados
agora, "Regulus Black não vai se despedir de seu irmão?"
Suspirei pesadamente, olhando para além de Kreacher. Pude ver todos eles
no fim da rua, amontoados. James e Lily em pé, abraçados um ao outro. Peter
estava sentado, com as mãos na cabeça. E Remus ainda abraçava Sirius, que
tinha a cabeça afundada em seu ombro. Dei uma boa olhada em cada um
deles. Dei uma boa olhada em Sirius.
Eu não queria despedidas. Já havia dito tudo que eu tinha para falar. Se eu
fosse até lá, eles nunca me deixariam realmente ir. E eu precisava ir.
"Diga à ele que eu nem sempre fui totalmente justo com ele," Comecei, sem
tirar os olhos de Sirius, à metros de distância de mim, "E que nem sempre as
coisas foram fáceis para nós dois. Mas peça para ele não me odiar. Diga que
eu o amo e que uma parte de mim sempre vai viver dentro dele, eu garanto."
Eu senti o coração bater violentamente contra o meu peito. Era estranho que
mesmo que eu estivesse prestes a morrer, ele bombeasse com mais força,
mantendo-se vivo. Teria que parar em breve. Meus batimentos estavam
contados. Me perguntei novamente, enquanto andava, se doeria morrer.
Todas as vezes que eu achei que isso aconteceria, eu havia escapado, então
eu não havia pensado na morte em si desde a caverna.
Nos últimos anos, minha vontade de viver se tornou maior que o medo de
ser morto. Mary havia me feito sentir assim. Sirius, Remus, James, Pandora.
Todos aqueles que me amavam. No entanto, agora eu não tinha vontade de
687
fugir. Era o fim para mim, eu sabia. Mas não era para aqueles que eu amava,
então tudo valeria à pena.
Quase pensei que não conseguiria continuar, mas sabia que devia. Quando
cheguei à orla da floresta, meu corpo quis se virar, mas não o fiz.
688
Capítulo 47: Black x Riddle
Flashback - 1975
(Pouco tempo antes de Sirius sair de casa. Sirius está no quinto ano e
Regulus no quarto. Os dois estão passando o recesso de Natal em casa.)
Regulus não se aguentou. Ele gargalhou tanto que seu corpo se curvou para
frente, levando sua mão para segurar a barriga enquanto Sirius revirava os
olhos e jogava o corpo novamente na cama. Quando ele finalmente parou de
sorrir e conseguiu respirar, ele disse, "Mas espere um pouco... eu vejo você
na escola, não pense que eu não reparo. Você está com uma menina diferente
todo dia, Six, então como você pretende mostrar que gosta dele?!"
"Preciso pensar em um plano para isso também," Sirius bufou, "O que vai
ser complicado se nossa mãe continuar fazendo aquela coisa de vasculhar
nossa cabeça. É quase impossível esconder algo dela."
Regulus não respondeu a isso. Ele sabia que era verdade. Não havia nada o
que se fazer em relação a isso. Oclumência era algo que ele e Sirius ainda
demorariam para aprender, porém os dois já viviam naquela casa há um bom
tempo para saber empurrar certos pensamentos para uma caixinha guardada
689
no canto de sua mente quando sua mãe decidia que era hora de verificar se
estava "tudo em ordem" ali dentro.
Sirius se apoiou nos cotovelos na cama para olhar para Regulus, "Por que
você precisa dos meus? Você ainda nem está dando o assunto deles."
"Oh, hm... Estou ajudando James com Poções nesse semestre," Regulus
disse, muito apressadamente, "Pensei que seus livros poderiam me ajudar a
entender melhor no que ele tem dificuldade."
"Pare de se fazer, seu cínico!" Sirius jogou uma almofada em Regulus que
se encolheu para se defender, "Você sempre o chamou pelo sobrenome!"
"E o que isso tem haver?!" Regulus revirou os olhos, voltando às estantes,
"Nós só estamos passando mais tempo juntos agora então seria estranho
chamar ele pelo sobrenome o tempo todo."
"Você gosta dele! Conheço essa cara!" Sirius exclamou, apontando para
Regulus, "Você está todo vermelho agora, deveria se ver!"
"Não estou não!" Regulus jogou a almofada caída no chão no rosto de Sirius,
que agora havia começado a sorrir descontroladamente, "E isso também não
é da sua conta!"
690
"Tudo bem, tudo bem..." Sirius se recompôs, tentando parar de sorrir, "Mas
tome cuidado, certo?"
"É, você sabe," Sirius continuou, "Prongs está apaixonado por Evans desde
que eu me lembro. Eu o escuto falar dela desde o dia em que o conheci. Não
quero que você se machuque, ou algo assim."
Claro que Regulus sabia. Não havia ninguém em Hogwarts que não soubesse
do quão apaixonado James Potter era por Lily Evans. E Regulus não era
idiota a ponto de achar que isso mudaria por conta de algumas aulas de
Poções. Mas sonhar nunca foi proibido.
"Bom, pelo menos eu não gosto do meu melhor amigo," Regulus provocou,
fazendo Sirius lançar uma cara feia para ele, "Eu nem consigo imaginar me
apaixonar por Pandora, seria, tipo, muito, muito nojento!"
"Não, você não está apaixonado pelo seu melhor amigo," Sirius se sentou,
segurando o riso, "Está apaixonado pelo meu!"
"Quem está apaixonado?" A mãe dos dois apareceu à porta, com a postura
ereta, as mãos juntas atrás do corpo, vestida em um vestido preto com a gola
alta e com as mangas que iam até a metade da sua mão, "Posso saber qual o
motivo de tanta risada?"
691
Sirius hesitou antes de responder, e Regulus sentiu vontade de voar no seu
pescoço quando ele fez, "Claro, o Quadribol tem sido uma das melhores
partes de estar em Hogwarts."
"É claro que em uma escola que serve para você aprender a ser um bruxo
competente e para se aliar à pessoas de boas famílias, você acha esse esporte
idiota a coisa mais interessante, Sirius." Ela caminhou pelo quarto, olhando
ao redor para as coisas de Sirius com desprezo, "Mas você me surpreende,
Regulus. Você deve saber que seu foco não pode ser esse passatempo
ridículo que Dumbledore permite para tirar a atenção dos alunos daquilo que
realmente importa."
"No entanto, não estou convencida de que os dois estão dizendo a verdade
sobre o que estavam falando," Ela se aproximou deles, encarando Regulus
em pé e Sirius ainda sentado, "Vocês sabem que não admito nenhuma
distração dos dois. Paixonites insignificantes não serão toleradas."
Regulus tentou, "Mãe, nós não estávamos..." Antes que ele terminasse, sua
mãe levou a costa da mão até seu rosto, desferindo um tapa na sua bochecha
direita. Sirius ficou em pé rapidamente, a expressão de fúria transbordando
pelos seus olhos.
"Não ouse mentir para mim," Ela sussurrou em uma voz cortante para
Regulus, que agora estava com os olhos pregados no chão. Ela voltou a andar
pelo quarto, "Regulus, você ainda possui algum tipo de relação com aquela
garota da Corvinal?"
"Ótimo. Me ocorreu por um momento que você estava falando sobre ela com
seu irmão quando eu entrei," Ela continuou a andar, interrogando os dois,
"Me diga, Regulus, Sirius está com essa tolice sobre paixão por alguém?"
Regulus hesitou dessa vez, Sirius engoliu em seco, "Por que está
perguntando para ele? Eu estou bem aqui na sua frente, se quiser saber algo
sobre mim, basta me perguntar."
692
"Regulus," A mãe deles parou na frente dele, olhando-o no fundo dos olhos,
ignorando Sirius, "Há algo sobre o seu irmão que você deveria me contar?"
Regulus sabia o que ela ia fazer. Ele só podia pedir muito para que Sirius
conseguisse esconder isso dela. Se ela soubesse que não só Sirius, mas
Regulus também estava mentindo, alguma coisa muito ruim iria acontecer
com os dois.
"Não, senhora." Ele negou, tentando não tremer a voz e apertando a ponta
dos dedos contra a palma da mão de nervosismo.
Apesar de que Sirius não pareceu relaxar depois disso, porque a mãe deles
não parecia nada convencida. Ela retirou sua varinha das vestes, andando até
a direção de Sirius agora, "Sente-se, Sirius," Ele sabia o que ela ia fazer. Ele
sabia que ela nunca confiaria apenas na palavra dos dois. Sirius e Regulus
trocaram olhares nervosos um entre o outro antes de Sirius obedecê-la.
Sirius fechou os olhos quando a mãe deles fez o mesmo, e quando ela
levantou a varinha em direção à sua cabeça sussurrando "Legillimens!",
Regulus virou o rosto para não assistir Sirius se contorcer com a dor da mãe
deles adentrando as paredes da sua mente. Regulus torceu muito para que
Sirius conseguisse esconder. Pense em qualquer outra coisa, Regulus
implorou silenciosamente, pense nas meninas, pense nos seus amigos, pense
no Quadribol, mas não pense em Remus Lupin. Esconda ele.
Sirius ficou fraco quando acabou, o cabelo comprido suado pregado na testa
e seus dentes se batendo em meio aos tremores pelo corpo. Quando sua mãe
se virou, Regulus sabia que era a sua vez.
"Não há nada de novo por aqui, ao que parece," Ela disse, "Nada além da
vergonha que Sirius normalmente faz sua família passar."
Sirius havia conseguido. Havia empurrado Remus para uma parte segura de
sua mente. Regulus precisava fazer o mesmo agora. Ela não precisou
mandar, Regulus já havia se sentado ao lado de Sirius naquela altura.
Esperando pela sua vez.
"Legillimens!"
Regulus sentiu sua mãe ultrapassar cada camada da sua mente. Passando por
coisas rasas como aulas das quais ele gostava, conversas jogadas fora na
comunal da Sonserina e idas à Hogsmead. Quanto mais fundo ela ia, mais
693
doía. Como se a cabeça de Regulus estivesse dentro de um sino sendo tocado
repetidas vezes.
Ele se esforçou o máximo que pôde quando ela chegou às aulas de Poções
com o professor Slughorn. Porque aquilo lembrava James. E se ela ao menos
visse algum resquício do garoto na mente de Regulus, ele amanheceria no
outro dia com dores por todo o corpo.
Esconder Pandora foi mais difícil ainda. Ela estava em quase todas as
memórias. Afinal, Regulus nunca ia à lugar nenhum sem Pandora. Ele tentou
redirecioná-la para onde ele queria, mostrando conversas com alunos da
Sonserina, mostrando conversas com Snape, Mulciber, Barty.
Merlim, isso tudo enquanto a cabeça dele latejava como um martelo contra
um prego.
"Se eu fosse você, teria cuidado com Crouch, Regulus," Sua mãe ponderou,
guardando a varinha nas vestes, "Ele é impulsivo e autodestrutivo, apesar de
ser uma boa família. Você não precisa de uma bomba-relógio. Tenha certeza
que as pessoas com quem você anda trarão algum benefício para sua
formação."
"Ela não faz isso sempre, Sirius, só de vez em quando," Regulus ofegou,
ainda um pouco cansado, "E nós conseguimos desviar ela, não tem motivo
para ficar..."
694
"Não tem motivo?!" Sirius vociferou, andando de um lado para o outro, "Isso
não pode continuar, Reg, não está certo!"
"E você vai fazer o quê?" Regulus sorriu fracamente, "Ela é nossa mãe. Nós
moramos aqui. Nossa vida é aqui. Não existe outra opção."
DIAS ATUAIS
Estava frio. Enquanto eu andava entre as árvores que haviam crescido muito
juntas, com ramos emaranhados e as raízes repletas de nós, o ar gelado do
início de novembro batia no meu rosto e se eu fechasse os olhos, até
conseguiria me imaginar em algum lugar muito bonito. Em uma outra
realidade, ou em alguma outra vida que não fosse aquela.
Adentrei cada vez mais na floresta, sem fazer ideia do lugar exato em que
Voldemort estava, mas eu sabia que o encontraria. Naquela altura, eu senti
meu corpo e a minha mente estranhamente desvinculados agora, minhas
pernas não pareciam agir com um comando consciente. Como se eu fosse o
passageiro, não o motorista.
À medida que eu seguia, as pessoas que ficaram para trás agora pareciam
fantasmas. Eu ficava cada vez mais e mais distante delas, e em certo ponto,
eu quase não me sentia mais realmente vivo.
"Acho que tem alguém..." Eu ouvi uma voz rouca, "Será que é..."
Eu pude enxergar, através das árvores, dois vultos. Quando a ponta das
varinhas se iluminaram, eu consegui ver Dolohov e Karkaroff examinando a
escuridão do outro lado. Aparentemente sem conseguir ver nada.
"Com certeza ouvi alguma coisa," Dolohov disse, "Será que foi algum
animal?"
695
"Eu não me surpreenderia," Karkaroff comentou, espiando por cima do
ombro, "Eu nunca havia vindo nesse fim de mundo até hoje."
"E Lord Voldemort tinha certeza que ele apareceria," Karkaroff bufou, "Ele
não vai ficar nada feliz."
Meu coração parou quando vi as duas, uma amarrada em cada árvore. Meu
peito parecia que ia explodir, o ar voltando a faltar. Evan Rosier, um antigo
colega de classe, estava vigiando Mary, que estava com os braços amarrados
para trás e um corte na testa, o que me fez meu sangue ferver, como se fosse
entrar em erupção; Nott estava no lado contrário, vigiando a árvore que
Pandora estava amarrada, os cabelos loiros e brilhosos, agora estavam sujos
e opacos e haviam alguns roxos pelo seu corpo, apertei o punho com força,
descontando na pele fina da palma da minha mão a fúria e o ódio assassino
que penetraram meu corpo.
696
"Pensei que ele viria," Voldemort comentou com uma voz clara e aguda, seus
olhos postados ao chão, "Esperava que viesse."
Ninguém respondeu. Todos pareciam tão nervosos quanto eu, que agora
tinha o coração saltando tão forte como se quisesse escapar do corpo. Minhas
mãos estavam suadas e por um segundo, eu agradeci por ter me livrado da
minha varinha. Não queria me sentir tentado a lutar.
"Não se enganou."
Eu falei o mais alto que pude, com toda força que consegui. Não queria
parecer assustado.
"Sinto muito." Gesticulei com a boca a frase, não saiu som algum, mas eu
sabia que as palavras saíam como gritos.
697
"Regulus Black." Ele disse, suavemente. Sua voz poderia cortado o vento de
tão afiada. "O menino que se atreveu a me desafiar."
Voldemort não respondeu. Sua varinha estava erguida e sua cabeça ainda
estava inclinada para o lado, como a de uma criança curiosa, imaginando o
que aconteceria se prosseguisse. Eu encarei os seus olhos e desejei que
acontecesse de uma vez, naquele instante, rapidamente, enquanto eu ainda
me mantinha em pé.
"Vai ter que me matar," Respondi, "Vai me ver morto antes de me ver dizer
qualquer coisa para você."
"Eu vim desarmado, não tenho intenção nenhuma de fugir ou lutar. Por que
não termina isso de uma vez e as deixa ir?"
698
"Ah!" Meu joelho falhou, caindo no chão pela dor. Conhecia o feitiço, era
um dos preferidos da minha mãe. Ele pretendia me cortar em pedaços e me
fazer sangrar até tirar de mim o que ele queria.
"Ah, Regulus, eu tenho tantos meios para fazer você falar," Voldemort sorriu
outra vez, agitando a varinha mais uma vez, "Fazer você sangrar é apenas o
meu preferido."
Um corte ainda maior foi aberto no meu braço esquerdo, que foi do fim da
marca até o meu cotovelo, abrindo um rasgo na manga da minha camisa. Eu
não caí dessa vez, mas sufoquei um grunhido de dor, empurrando guela à
baixo. Mary e Pandora se debatiam nas árvores, assistindo ao show de tortura
de Voldemort.
"O que eu não acho que você entende, Regulus," Voldemort ponderou, "É
que se você morrer, eu torturarei o próximo que me omitir a localização de
Harry Potter. E se este morrer, torturarei o próximo, e então mais outro e
outro. Você mais uma vez está colocando a vida daqueles que gosta em risco.
Não se cansa?"
699
Harry Potter tinha que ser protegido, custe o que custar.
"Eu não sei onde ele está," Menti, tentando estancar o sangue que teimava
em jorrar do meu braço, "Os Potter não disseram para ninguém. Nenhum de
nós sabe."
Eu não gritei. Sufoquei tudo dentro de mim. Eu já estava aqui para morrer,
ele não conseguiria tirar algo mais de mim do que isso. Nenhuma
demonstração de medo se quer.
"Eu entrei na mente das duas, obviamente, mas não vi nada muito
claramente," Voldemort ainda andava em círculos ao meu redor, meu corpo
ainda estava curvado com a dor, "Vi um garoto loiro... uma mecha azul
ridícula na franja... olhos verdes... mas não, elas não tem nenhum laço afetivo
com ele, não pude ver com clareza... então quem é o garoto?"
Comentário errado. Outro corte. Dessa vez na minha costa, fatiando o tecido
da minha blusa e arqueando o meu corpo para cima com a dor. Eu tossi outra
vez, sangue saindo da minha garganta dessa vez, o que fez os Comensais ao
redor sorrirem do quão fraco eu estava pela dor e pela perda de sangue.
700
e sendo exposto como um Comensal da Morte, eu não teria coragem de olhar
para nenhuma delas.
"Vamos tentar outra coisa então," Voldemort soltou meu pulso bruscamente,
"Dolohov, Karkaroff, segurem-o."
"Me mate de uma vez!" Vociferei, o que causou dor por todo o meu corpo.
Fazer o mínimo de esforço em qualquer músculo fazia eu sentir dor por toda
a parte.
Fazia tempo que eu não precisava me defender desse feitiço. A última vez
havia sido há tanto tempo e eu nunca procurei aprender Oclumência porque
achei que estava livre disso. Eu não poderia ter sido mais burro.
Voldemort viu muitas coisas. Viu aniversários, nascimentos, natais. Ele viu
o dia em que Dumbledore nos contou da profecia. Ele estava determinado a
achar Harry. Como se estivesse dentro da minha cabeça com um mapa do
tesouro e Harry estava bem no X. Ele viu seu nascimento, viu os presentes
que compramos para o seu primeiro aniversário e viu o momento em que me
tornei fiel do segredo dos Potter.
"Você tem certeza disso, Regulus? Não é algo simples. Você pode ser caçado
e torturado se algo der errado. Você tem consciência disso?" A voz de
Dumbledore ecoando na memória.
701
"Tenho," Era a minha voz, "Preciso fazer alguma coisa para protegê-los.
Qualquer coisa. Eu farei."
"Então você não estava mentindo sobre isso," Voldemort murmurou, ainda
na minha mente, "Vamos ver o que mais você tem."
Eu não podia deixá-lo chegar lá. Esconda, Regulus, esconda. Você já fez
isso antes, Sirius ensinou à você. Você só precisa mostrar a ele tudo que
pareça que é contra a sua vontade e guardar dentro de uma caixa mental a
informação que não pode ser descoberta. Tente, tente, não pare de tentar,
morra tentando, a vida de Harry depende disso, ele não é só o garoto da
profecia, ele é o filho dos seus melhores amigos...
Mas ele não viu o essencial. Ele não viu onde Carter estava, e nem a
confirmação de que estava com Harry. Eu escondi isso, mostrei tudo à ele,
mas escondi isso. Usei toda a força que eu já não tinha mais no meu corpo
para proteger Harry. Não sou exibido, nem um pouco. Mas quando eu
morrer, quero que alguém conte isso à ele. Que morri tentando protegê-lo.
Que preferi morrer a mostrar qualquer coisa que o colocasse em perigo.
"Onde você aprendeu isso? Por causa de sua mãe?" Voldemort perguntou,
semicerrando os olhos na minha direção. Eu não estava esperando por aquilo.
Havia me pegado de surpresa que ele soubesse disso.
"Não sei do que está..." Tentei, mas ele me calou, agitando a varinha mais
uma vez e abrindo um corte pequeno, mas profundo, na minha bochecha
direita.
"Seus pais eram ótimos aliados, Regulus, tão habilidosos..." Ele examinou a
sua varinha, descontraidamente, "Conhecia sua mãe e ela era uma ótima
Legillimens. Mas quando o herdeiro dela se rebelou contra mim, eu fui
obrigado a fazer algo, não é? Quero dizer, eles tentaram contornar o erro
702
mandando lobos atrás do seu irmão para matá-lo porque ainda achavam que
você tinha salvação, ainda se importavam com a sua vida, ao contrário de
Sirius que eles não tinham qualquer afeição ou preocupação. Mas então, deu
errado e eles pagaram pelo o que fizeram. Você matou seus pais e metade
das pessoas que obrigou a lutarem para esconder você de mim. Como você
se atreve a falar de mim quando é uma pessoa tão podre por dentro?"
"O quê?!" Um choque percorreu pelo meu corpo, ele não havia envolvido
Mary e Pandora em nada até agora, "Você... Não, não, você disse que se eu
me entregasse..."
"Eu vou matar você, Regulus. Vai ser a melhor coisa que vou fazer em anos,"
Ele respondeu, enquanto Evan e Nott desamarravam as duas das árvores, ele
chegou perto do meu rosto e sussurrou, "Mas você não pode ser tolo de
pensar que seria o único."
"Mas você disse!" Tudo em mim gritava. Não, não, não. "Deixe elas irem!
Sou eu quem você quer matar! Elas duas não tem nada a ver com isso!"
"Esta aqui é uma nascida trouxa, não é?" Voldemort, com nojo no rosto,
apontou para Mary, que era segurada por Evan, "Esta aqui deveria morrer
apenas pelo fato de ter nascido. E esta aqui..." Ele apontou para Pandora, "Eu
admiro a lealdade que ela tem à você. Seria muito bem aproveitada se tivesse
sido depositada na pessoa certa."
Pandora e Mary ainda se debatiam, sem poder falar. Isso só podia ser um
pesadelo. Era pior do que qualquer outra coisa.
"Então é isso?" Minha voz estava tremendo, não havia como disfarçar o meu
desespero, "Me chamou até aqui para matar nós três?"
"Ah, mas não aqui! Não, não... Se você não quer me dar as informações que
preciso, então seus amigos podem dar. Vou entrar a cabeça de um por um
até descobrir o que quero. Nem que para isso eu precise matar todos naquela
vila." Voldemort se aproximou de novo, as vestes escuras voando de acordo
com que andava, "Você não é o único que sabe mentir."
703
"Então por que me chamar aqui?! Você não lutou e mandou seus Comensais
lutarem por você, por quê?!" Vociferei, com raiva, "Eu estou pronto para
morrer! Se livre de mim de uma vez e deixe-as ir!"
"Quero matar você na frente de todos." Ele disse, "Quero matar você na
frente de Albus Dumbledore. Na frente do seu irmão traidor. Quero mostrar
que eles não puderam fazer nada para me impedir porque você se entregou
como um covarde. Vou exibir você como uma escória, um nada." Dolohov
e Karkaroff deram a entender que iam me segurar, mas Voldemort os parou
com um aceno de mão, "Regulus vai andar sozinho, não vai estar amarrado
e nem preso. Vai andar à nossa frente, sabendo que se correr, estará
assinando a sentença das duas atrás dele. Quero que ele saiba que pode correr
e fugir a hora que quiser, mas que simplesmente não vai. Quero se sinta
impotente. Que saibam que o salvador deles morreu porque se entregou à
mim."
Dei uma olhada para Mary e Pandora, que haviam parado de se debater. Pela
primeira vez, eu não fazia ideia do que estava prestes a acontecer. Eu estava
perdido e elas também. Eu só podia pedir que com Voldemort voltando à
vila, eles aproveitassem a chance para matar a cobra. Depois que ele me
matasse, a guerra recomeçaria e tudo isso poderia ser usado à favor deles.
704
Tentei olhar para trás, para Mary e Pandora, mas não deixaram. Viraram
bruscamente a minha cabeça, me impedindo de fazer qualquer contato visual
com elas. Andando, eu compreendi o que estava acontecendo. Voldemort
não estava tão confiante quanto parecia. Ele sabia que mesmo me matando,
Harry e a profecia ainda existiriam. Estava desesperado para descobrir onde
ele estava. Então o que ele faria? Até onde iria? Usaria minha vida como
moeda de troca pela informação? Não faria sentido. Eu já havia mostrado
que não me importava de morrer. Então por isso ele queria na frente de
todos? Por que sabia que eles não me deixariam morrer? Que Sirius não me
deixaria? E Mary e Pandora? O que elas estavam fazendo aqui, então?
As árvores faziam tanto barulho que os pássaros levantaram voo, aos gritos,
abafando até as caçoadas dos Comensais. Como uma procissão da vitória,
todos marchamos para campo aberto, e depois de algum tempo, as árvores
começaram a rarear. Pouco depois, nós chegamos à orla da floresta.
"NÃO!"
705
Os Comensais da Morte sorriram com o desespero. Todos começaram a se
reunir, a se amontoar. Todos encarando com os próprios olhos a realidade.
A cobra se desenrolou do pescoço de Voldemort, rastejando-se no chão ao
lado dele. Vi Narcissa do lado de Andromeda, e vi Alice e Frank
Longbottom, vi os Weasley e Kreacher, rodeado de outros elfos domésticos.
Vi Dumbledore à frente de todos, que não tirava os olhos de mim o tempo
inteiro. Até que James e Lily apareceram. Remus apareceu logo depois e,
abrindo espaço desesperadamente entre as pessoas, Sirius se fez presente,
parando abruptadamente quando me viu.
"REGULUS!" Sirius tentou correr, mas Remus o segurou, o olhar mais triste
do que nunca direcionado a mim, "NÃO! NÃO, REGULUS!"
Tudo que eu queria era gritar em resposta, mas me mantive quieto e calado.
O grito de Sirius fez com que todos gritassem e berrassem insultos aos
Comensais da Morte, transformando o lugar em um falatório enorme.
"Ele derrotou você!" Remus berrou, e todos voltaram a gritar e a insultar até
que outro grito de Voldemort tornou a calá-los mais uma vez. Sirius e eu
trocamos um olhar. Ele examinou meu corpo, as roupas rasgadas, o sangue
por toda parte. E balançava a cabeça negativamente, parecendo não querer
acreditar no que estava vendo.
"Ele será morto na sua frente, como um exemplo de que nenhum ser vivente
é capaz de me derrotar! Nenhum!" Voldemort vociferou, pondo os olhos na
direção de Dumbledore, "Nem mesmo você."
"Porém, antes disso, Regulus finalmente vai nos dar a informação que tanto
venho pedindo à ele," Voldemort soltou minha cabeça, fazendo meu corpo
tombar para frente, "Venho pedindo gentilmente que ele me diga onde Harry
Potter está escondido, mas ele se recusa me deixar penetrar a sua mente. Ele
a torna intocável para mim."
706
"NÃO FALE O NOME DO MEU FILHO!" Lily gritou, quase avançando
em direção à Voldemort que começou a gargalhar junto aos Comensais da
Morte, James a segurou, com a mesma expressão de fúria no rosto.
"Seria muito fácil para mim torturar cada um de vocês até me dizerem onde
Harry Potter está, porém eu serei misericordioso e darei uma escolha à
Regulus," Todos ficaram em silêncio e eu, confuso, virei a cabeça na direção
dele, "Regulus pode me contar o que está escondendo, ou então vai ser
obrigado a escolher entre a namorada sangue-ruim e a amiguinha, qual vai
morrer."
Tudo fez sentido. Por isso elas. Era o plano o tempo todo. Me fazer escolher
entre as duas. Ele não queria que eu me entregasse para salvá-las, não. Ele
as estava usando para me deixar sem caminho, sem ter para onde ir. Se eu
não escolhesse, ele mataria as duas. Esse era o plano desde o começo.
Como ela achava que eu escolheria ela? Depois de toda uma vida juntos, sem
nunca desgrudar um do outro. Depois de eu virar um Comensal da Morte,
brigar com Sirius, ela perder um bebê, acharmos horcruxes... Depois de tudo
isso, e ela foi a única que nunca me virou as costas... Como ela achava que
eu a escolheria? Como Pandora ao menos cogitava isso tão rapidamente?
"Reg," Mary engoliu em seco, "Sei que isso é difícil... Mas pense direito,
Pandora tem uma filha. Você é o padrinho, como vai explicar para Luna que
escolheu a mãe dela para morrer? Meus pais vão entender, eles vão...
Regulus, está tudo bem... Eu vou morrer sabendo que você me ama. Vou
morrer feliz sabendo disso..."
707
Minha mente parecia que ia explodir. Eu não conseguia me mexer. Nenhum
músculo sequer. Meus olhos estavam arregalados, correndo entre as duas
desesperadamente. Não havia escolha certa. Pelo amor de Deus, é claro que
não havia nenhuma escolha. Aquilo era puramente para me torturar. No fim,
ele ainda acabaria matando as duas. Porque nenhuma diria onde Harry está.
"Sirius! Volte para lá! Agora!" Gritei, mas em vão. Ele nem mesmo olhava
para mim. Tinha os olhos postados em Voldemort.
"Não me junto à você nem que me torture até perder a consciência." Sirius
atirou, desafiando-o, "Regulus já derrotou você. Regulus derrotou você todos
os dias. Todos os dias em que ele passou depois que traiu você, lutando pela
própria vida, escapulindo das suas mãos, fugindo da morte. Regulus derrota
você todas as vezes que consegue acordar vivo de manhã."
708
"Nada vai acabar apenas porque você o matou," Remus disse agora, se pondo
do outro lado de Sirius, "Nunca vamos desistir. Com ele ou sem ele, não
vamos deixar nada do que ele fez ser em vão. Se ele não o matar, nós o
mataremos. Você não tem chance alguma."
"NÃO!" Eu ouvi o grito de James em meio ao caos. Não havia o que se fazer.
Peter estava morto. A coisa toda havia acontecido em menos de dois
segundos.
709
com uma facilidade enorme nas minhas mãos. Eu nem mesmo precisava me
esforçar, ela parecia me obedecer com uma maestria perfeita.
Peter, minha mente pensou, Peter, seu idiota, como vou poder agradecer
agora... como vou poder...
710
com tanta facilidade, incapaz de atingí-los. Quando ele ergueu a varinha mais
uma vez e apontou-a para Andromeda, eu berrei, "Protego!", e o Feitiço
Escudo expandiu-se ao meio, Voldemort olhou ao redor procurando de onde
havia vindo.
"Ninguém mais vai lutar!" Eu disse em voz alta, "Tem que ser eu."
"Regulus não está falando sério," Voldemort sibilou, "Não é assim que ele
luta, não é? A vida de quem você vai pôe em risco hoje, Regulus?"
"E você acha que vai ser quem? Eu?" Caçoou Voldemort, mas todo o seu
corpo estava claramente tenso e seus olhos atentos, "Não seria você? O
garoto que precisou ficar debaixo da asa da Ordem e de Dumbledore para
não ser pego por mim?"
"Eu estava debaixo da asa de alguém quando fui pessoalmente até aquela
caverna e destruí o seu medalhão?" Eu o desafiei. Nós continuávamos nos
movimentando de lado em um círculo, e para mim, só existíamos eu e ele,
"Eu estava debaixo da asa de alguém quando fui até Hogwarts e destruí três
das suas horcruxes na mesma noite? Eu estava debaixo da asa de alguém
quando enganei você tão facilmente para achar que eu estava traindo meus
amigos? Eu estava debaixo da asa de alguém quando fui desarmado me
sacrificar por essas pessoas?"
"Mas você não vai matar mais ninguém hoje. Você tirou demais de mim."
Eu disse, enquanto ainda nos rodeávamos e nos encarávamos, "Você não vai
matar ninguém, nunca mais. Você não entendeu? Eu estava disposto a morrer
para impedir que você os ferisse."
711
"Mas tive a intenção. Eu os protegi de você. Vamos, Tom, você não reparou
que nenhum dos feitiços que lançou estão funcionando? Não pode torturá-
los. Não pode atingi-los. Você sempre coloca a arrogância de achar que sabe
tudo na frente, não é?"
"Se isso protege todas essas pessoas," Voldemort ponderou, "O que impede
que você morra agora quando eu o atacar?"
"Uma coisinha de nada." Eu sorri outra vez, e nós continuamos a nos rodear,
atentos um ao outro. A verdade é que eu já sabia o que estava acontecendo.
Como é que não havia pensado antes? As histórias. Os contos. O livro de
Beddle e Bardo. Os Irmãos Peverell. Eu e Sirius ouvimos essas histórias mais
vezes do que podíamos realmente contar.
"Você deve acreditar que possui uma magia que eu não tenho, eu presumo?"
Retrucou Voldemort.
"Acredito que sim." Eu respondi, e vi o choque passar pelo seu rosto e então
sumir na mesma velocidade. "Você é apenas mortal agora. Tão fácil de matar
quanto qualquer outro." Ele começou a rir, um som sem humor e sem
sanidade, ecoando pelas ruas.
"Você não pode achar que é mais poderoso do que eu! Eu, Lord Voldemort!"
Ele bradou, "Não seja tolo! Vidas foram perdidas pela sua tolice!"
"Não sou mais poderoso do que você," Eu dei de ombros, "Sou mais
inteligente do que você. Um bruxo melhor e uma pessoa melhor."
Aquilo foi o fim para Voldemort. E quando o sol nasceu por completo, nós
dois berramos, apontando as varinhas na direção um do outro. O choque foi
712
como um tiro e chamas brilhantes jorravam entre as duas varinhas, no centro
do círculo, foi marcado o ponto em que as nossas varinhas colidiram. E então
a luz que irradiava da minha varinha se chocou contra Voldemort com uma
força brutal, com uma explosão de luzes e clarões, Tom Riddle bateu com o
corpo no chão, um corpo fraco e encolhido.
Sirius se jogou nos meus braços, as lágrimas molhando minha blusa. Naquele
momento, eu nem mesmo sentia os cortes pelo meu corpo. Tudo que
importava era abraçar o meu irmão.
"Seu idiota!" Ele sacudiu meu rosto, enquanto nós dois chorávamos e
sorríamos, "Você nunca me escuta, não é?!"
"Obrigado por não escutar." Ele disse, "Obrigado por ser quem você é e
seguir sua própria intuição sempre."
E então Mary apareceu. Em meio à todos, ela estava parada na minha frente.
Tudo havia acabado, finalmente tudo havia acabado. Não havia mais perigo.
A guerra havia terminado. O mundo bruxo estava em paz. E a garota que eu
amava estava bem na minha frente. Eu corri até ela e a puxei rapidamente,
beijando ela como se não fosse haver um dia depois daquele.
"Eu amo você," Eu ofeguei, separando nossos lábios com dificuldade, "Eu
amo você mais do que qualquer outra coisa. Nunca mais me peça para abrir
mão de você. Eu não teria coragem nem em um milhão de anos. Você é a
713
minha vida agora. Não tem nada que eu seja hoje que não tenha a ver com
você também. Você é parte de mim."
Mary sorriu, os olhos brilhando, "Eu amo você, Regulus Black, vou amar
você para sempre." E se jogou no meu pescoço outra vez, me beijando de
novo.
O sol iluminava o lugar e o mundo bruxo agora espelhava vida e luz. E então
Dumbledore me pegou pelo ombro e me afastou um pouco da multidão de
pessoas que queriam apertar a minha mão, das pessoas que não tinham se
deixado ocorrer que eu havia passado a noite em claro, e que estava cheio de
cortes, e que, na verdade, eu queria muito, muito a minha cama.
"Se você é humilde o suficiente para se perguntar se deve ficar com ela,
Regulus," Dumbledore sorriu gentilmente, "Então você é merecedor."
"O senhor tem certeza?" Hesitei, observando a varinha nas minhas mãos.
Fiquei em silêncio por um minuto. Acho que era uma baita responsabilidade
e que eu não fazia ideia do que estava me metendo, mas ainda assim.
"O senhor sabe que vou ter que contar à eles, não sabe?" Eu o encarei de
novo, "Sobre Peter. Eles merecem saber."
714
Todos estavam sentados com as suas famílias, conversando e rindo entre si.
Quando caminhei mais a frente, James, Remus e Sirius estavam ao lado do
corpo de Peter, terminando de se despedir. Quando me aproximei, Remus
me deu um sorriso sem mostrar os dentes e todos nós fizemos um minuto de
silêncio.
James e Sirius estavam chorando. E eu dei uma última olhada para o rosto
de Peter, antes de Remus o cobrir com um lençol branco.
"Claro que foi, Prongs," Eu o confortei, "Ninguém imaginaria que ele faria
isso. Ele surpreendeu todo mundo."
"A felicidade do fim da guerra ainda vai vir," Remus ponderou, os braços ao
redor de Sirius, "Agora, todos nós perdemos muitas pessoas. Mas ela vai
vir."
"E quando ela vier, vamos estar juntos." James completou, sorrindo para
cada um de nós, "Você prometem, não é?"
"Claro que vamos," Eu olhei para frente, encarando o sol daquela hora da
manhã, "Malfeito feito, não é?"
Todos eles me olharam e algo foi passado ali, algo que talvez há alguns anos
atrás eu não compreenderia, mas agora eu compreendia.
Era amor.
"É estranho," Sirius sorriu fracamente, "Estamos nisso a tanto tempo que
agora vai ser estranho não ter mais que correr para sobreviver."
715
"Fale por você!" Eu sorri, "Tudo que eu quero agora é ir para casa e dormir
até o ano que vem!"
"Moony," Sirius o chamou, e Remus se virou para ele, "Você acha que agora
que a guerra acabou, é hora de contar para eles?"
"Padfoot, eu acho sinceramente que você deveria pensar antes de fazer isso!"
Remus tentava acompanhar os passos rápidos e furiosos de Sirius pelo
corredor, "Na verdade, eu acho que você deveria começar a pensar mais antes
de fazer qualquer coisa!"
Remus tentou outra vez, quando viramos mais um corredor, "Olhe, eu sei
que estão com raiva, eu também estou, mas será que vir até aqui não foi..."
Não houve conversa. Sirius e James não viraram as cabeças para nos olhar
em momento nenhum. Eles estavam com tanta raiva que poderiam ter
passado por cima de algum aluno e nem teriam percebido. Os corredores de
Hogwarts me lembraram da última vez em que havia estado na escola, em
uma madrugada caçando três horcruxes. Mas naquele momento eu não podia
apenas parar e refletir sobre nada, porque eu e Remus precisávamos conter
dois vulcões prestes a entrar em erupção que agora haviam adentrado a sala
de Dumbledore como um furacão.
716
"Como é que você pôde?!" James entrou primeiro, com o dedo apontado em
direção a mesa do professor Dumbledore, que lia um livro muito calmamente
em sua cadeira, "Me responda! Como você pôde?!"
"Nós confiamos em você! Você viu como ficamos quando achamos que ele
tinha nos traído! E você não nos disse nada!" Sirius vociferou, posto ao lado
de James, a voz alterada e muito irritada, a frente da mesa de Dumbledore,
"Por que?! Por que não apenas nos contou do seu plano sujo?! Por que?!"
"E quando ele foi descoberto?!" Sirius disse, "Regulus disse que quando ele
o encontrou nas masmorras, ele já havia desistido! Estava pronto para
morrer! Você não pensou em ir buscá-lo?!"
"Voldemort ia querer usá-lo como moeda de troca, Sirius, por isso ele o
manteve vivo," Dumbledore explicou, "Voldemort pretendia usá-lo para me
desafiar. Eu sabia que ele não o mataria."
"Mas ele está morto agora!" James gritou, tentando se soltar, sua voz trêmula
agora, "Nós passamos mais de um ano pensando que ele havia nos traído e
agora ele está morto! Como se reverte isso?! Como?!"
"E por que não nos contou?" Remus disse agora, eu podia ver que ele estava
tentando ficar calmo por Sirius e James, "Você podia ter nos avisado que
tudo era um plano. Podia ter contado apenas para nós, a família dele. Não
éramos confiáveis ou o quê?"
717
"Não contar para vocês foi ideia do próprio Pettigrew, Lupin, não minha."
Dumbledore afirmou, fazendo com que nós quatro o encarássemos, "Na
noite em que Peter aceitou a missão, ele pediu para mim e Alastor que não
contássemos porque vocês tentariam impêdi-lo. E na noite em que ele veio
até mim para contar que Regulus havia descoberto e Lily escreveu para mim
contando que Regulus havia ido até a casa dos Potters para contar, nós
decidimos que ele deveria ou desistir da missão ou se afastar da Ordem. E
vocês sabem o que ele escolheu."
"Ele queria se provar." Eu sussurrei, mais para mim mesmo do que para
alguém escutar. Eu conhecia bem a vontade ensurdecedora de querer provar
que é bom o bastante a todo momento.
James sorriu sem humor, "Pare de escrever sobre a minha esposa para esse
imbecil. Snivellus não precisa saber nada sobre ela, nunca mais."
"Olhe, eu sei que Peter foi quem decidiu a maioria das coisas sobre esse
plano idiota," Remus disse de repente, retirando as mãos dos bolsos e
cruzando os braços, "E também sei que o sacrifício dele foi porque ele sabia
que a sua escolha tinha nos feito sofrer. E também sei que por causa dele,
muitos ataques foram evitados."
"Mas nós entramos nisso, na... guerra, na Ordem, em tudo isso," Remus
continuou, "Confiando cegamente em você. Nós discutimos com Regulus
várias vezes por conta disso. Todo mundo aqui sabe que você nunca planejou
o mal de nenhum de nós. E eu sinto muito por isso, mas eu não acho que nós
718
vamos conseguir perder um amigo e esquecer o que você fez, tudo ao mesmo
tempo. É demais. É demais para se pedir para alguém, professor."
"Mas eu vou pedir uma coisa ao senhor," James disse, pela primeira vez com
a voz calma, "Vou pedir e espero que o senhor faça porque é o mínimo depois
de tudo o que aconteceu."
"Harry vai vir para Hogwarts quando fizer onze. Ele vai vir para o mesmo
lugar em que os pais se conheceram, em que os pais foram extremamente
felizes e que conheceram as pessoas mais especiais de suas vidas," James
continuou, "E eu vou pedir isso porque quero que ele seja tão feliz quanto
nós fomos dentro dessas paredes. Não quero que o senhor se aproxime do
meu filho para nada que não seja escolar."
Aquilo havia me pegado de surpresa. Remus parecia já esperar por isso, mas
eu fiquei surpreso. Eu sabia que eles estavam irritados, mas uma parte minha
achava que eles ainda julgariam Dumbledore como alguém importante para
a formação de Harry.
"Não há mais uma profecia, James, Harry será uma criança normal com uma
vida normal," Dumbledore respondeu, "Não vejo motivo algum para eu não
conceder esse pedido se é o que você e Lily quiserem."
James, Sirius e Remus saíram da sala e Dumbledore virou para mim, "Sim,
Regulus?"
719
Havia muito que eu queria dizer, mas no momento, algo em mim parecia não
julgar nenhuma daquelas coisas necessárias. A guerra havia acabado, o foco
deveria ser apenas na reparação dos danos causados e no conforto das
famílias que perderam entes queridos. Não adiantava querer retratar assuntos
que já estavam resolvidos, mas ainda sim.
"Se você tivesse ido até a floresta com a intenção de lutar, antes de lançar o
primeiro feitiço em Voldemort, os Comensais da Morte lançariam cinquenta
em Mary e Pandora. Você estava em uma armadilha, Regulus. Qualquer
passo para fora e ele tiraria algo de você."
Franzi o cenho, "Certo, mas como o senhor sabia que ele me levaria de volta
para a vila com vida?"
"Regulus, só havia uma pessoa além de você que poderia destruir Voldemort
e eu sabia que ele faria o que pudesse para descobrir seu paradeiro, mesmo
que isso significasse não matar você imediatamente," Dumbledore pareceu
refletir por um momento, "Regulus, conheço Tom Riddle desde que ele era
uma criança, desde que adentrou pelos portões desta escola pela primeira
vez. Eu o vi crescer e desenvolver cada parte maligna e cruel do seu ser. Eu
o vi usar de sua persuasão e beleza para conseguir coisas que você nunca
nem mesmo consideraria imaginar. E também conheci de perto o seu defeito
mortal."
"Presunção."
720
enrugada, como se aquela pequena parte do corpo dele estivesse em
decomposição.
Dumbledore suspirou, sem abalar sua expressão, "Creio que todos temos um
preço a ser pago."
Quando eu tinha onze anos e olhei Dumbledore pela primeira vez, eu achei
ele estranho. E pensei que tudo bem, porque eu não tinha visto muitas
pessoas que não fossem da minha família naquela época. Agora com vinte,
eu já havia conhecido muitas pessoas diferentes. Mas ele ainda era estranho
para mim.
"Eu mal consigo acreditar que você está vivo!" Ele sorriu, se jogando no meu
pescoço quando nos vimos naquele dia. E eu respondi que nem eu acreditava.
Porque era verdade.
Desde então, Lily e James levavam Harry para todos os lugares. Ele estava
sentado em um banco branco e ornamentado, brincando com um caminhão
entre suas pernas e Draco com outro, também sentado ao seu lado. Também
houve um memorial para Lucius, apesar de ele não ser da Ordem. Por
respeito à Narcissa, que havia perdido o pai do seu filho. Na foto, ele estava
bem mais jovem, o cabelo branco mais brilhoso e ele até estava sorrindo.
721
Dumbledore e Arthur Weasley estavam perto do memorial para Alastor
Moody, que também tinha uma foto onde estava sentado em uma cadeira
com a sua bengala e a perna mecânica apoiada. Ele não sorria, mas parecia
feliz. Arthur terminava de pôr uma flor branca onde estava sua foto e
Dumbledore dava tapinhas amigáveis nas suas costas.
Pandora apareceu de repente, seguida por Phil que carregava Luna em seu
braço. Ela correu para onde eu e Mary estávamos, com um sorriso amigável
no rosto. Quando eu cumprimentei Phil, Luna se inclinou para os meus
ombros, agarrando-os e jogando o peso em mim.
"Merlim, você está pesada, huh?" Balancei ela, fazendo-a sorrir, "O que sua
mãe tem te dado para comer?"
"Nunca se diz à uma dama que ela está pesada, Reg." Mary me repreendeu,
brincando com as mãozinhas de Luna.
"Vou falar com Sirius e James," Phil deu um beijo no rosto de Pandora, "E
guardar um lugar para sentarmos."
"Sim," Respondi, "Acho que eles precisavam disso. Sabe, para pôr um ponto
final no assunto. Agora eles podem seguir em frente."
"Espero que todos nós sigamos," Mary suspirou, olhando para as pessoas no
memorial, "Espero que não tenhamos perdido o jeito de sermos felizes."
722
Pandora pôs uma mão carinhosa no braço de Mary, "As coisas que perdemos
sempre voltam para nós em algum momento."
O resto da cerimônia foi triste, porém bonita. Eu, Sirius, James e Remus
sentamos um do lado do outro. E quando o nome de Peter foi citado, os três
subiram e contaram histórias sobre sua adolescência e sobre como Peter era
quando mais novo. Sirius contou sobre como Peter era bom em escapar de
uma pegadinha, Remus contou das vezes em que ele o ajudou a passar de
ano e James falou sobre as férias de verão e os Natais.
No final, quando uma boa parte das pessoas havia ido embora, eu me
aproximei do memorial para Peter, que agora estava cheio de flores ao redor
de sua foto. E deixei uma flor em cima do seu nome. E pensei que, por mais
que eu nunca tenha tido a chance de conhecê-lo melhor, ele fez mais por mim
do que pessoas que me conheceram a vida inteira. Eu nunca poderia
agradecer a ele. Mas faria valer à pena o que ele fez, todos os dias.
"E então a Ministra apareceu e pediu para que tirássemos uma foto apertando
nossas mãos," Remus continuou, pondo os braços ao redor da cintura de
Sirius, "A foto provavelmente vai sair no jornal de amanhã, eu acho."
"É claro que vai," Eu disse, deitado relaxadamente no sofá com os pés
esticados sob as pernas de Lily, "A população bruxa te acha um máximo
723
agora por ter matado Greyback. Eles não perderiam a chance de exibir que o
ministério e os lobisomens "fizeram as pazes."
"Vamos, Moony, mas você não contou a melhor parte!" James exclamou,
sentado no chão, com Harry entre suas pernas, "O que você e a Ministra
decidiram exatamente?!"
Remus suspirou, fazendo uma pausa antes de falar, "Nós conversamos por
horas e ela reconheceu que os bruxos marginalizaram os lobisomens por
muito tempo. Eu expliquei a ela que tudo isso acarretou ao isolamento deles
do mundo bruxo, forçando eles a se juntarem à forças das trevas porque não
tinham outra escolha."
"E então...?!" Lily se inclinou para frente, ansiosa. Todos prestamos atenção
em Remus.
"E então..." Remus fez uma careta, desanimando todos nós por um momento,
"Foi feito. Agora há uma lei no Estatuto da Magia que proíbe qualquer tipo
de preconceito ou ofensa à bruxos com condições de licantropia."
"Ei, vocês dois!" Apontei para Remus e Sirius atracados uns ao outro,
"Podem ir com calma, ok? Eu não dei a minha benção ainda."
Sirius jogou uma almofada no meu rosto e Lily sorriu, "E a data? Já
decidiram?!"
"Nós estamos pensando em janeiro," Remus explicou, "Como não vai ser
nada muito grande e com muitas pessoas, não é preciso de tanto tempo para
planejar."
724
"Precisamos achar uma banda, precisamos do lugar e, pelo amor de Merlim,
eu preciso de uma roupa impecável!" Sirius contou nos dedos, como se nem
mais estivesse lá, "Eu sou Sirius Black ou o quê?!"
"Exatamente!" James pôs o braço ao redor dos ombros dele, "Tudo precisa
ser perfeito e bem planejado! Eu não fui torturado durante dois anos
dormindo na cama ao lado da de vocês dois para esse casamento não ser no
mínimo um puta evento! Vocês praticamente me devem isso!"
"Eu acho que tenho uma ideia..." Lily sorriu travessamente, olhando para
todos nós, "James, se lembra de onde nós passamos nossa lua de mel?!"
James demorou dois segundos para se tocar de que lugar Lily estava falando,
"Mas é claro! Cornualha! Lá tem um monte de ruínas antigas! Você tem que
ver, Padfoot, parecem um castelo!"
"Ligar por um telefone, Sirius. Para falar com alguém que está longe." Eu
sorri, todos me olharam com surpresa, "O quê? Eu sou um puro sangue muito
bem educado pela minha namorada nascida trouxa, muito obrigado."
"Eu e James podemos resolver isso para vocês dois," Lily disse
carinhosamente, pondo a mão sobre a mão de Remus, "E Sirius, tenho
certeza que com o talento de Mary para roupas e com uma ajuda de Marlene
que tem exatamente o mesmo gosto para roupas que você, você não vai
precisar se preocupar com isso."
"Mas Regulus vai ser meu bruxo-padrinho!" Sirius sorriu, "Ele quem vai
cuidar da minha roupa com a sua varinha de..."
"Juro por Deus que se você fizer essa piada da varinha de condão e da
Varinha das Varinhas mais uma vez, eu mato você." Eu o interrompi,
lançando um olhar furioso para ele, que estendeu as mãos no ar.
"Certo, mas falta uma coisa," James disse, "Reg, você precisa abençoar esse
casamento. Formalmente. Andromeda e Narcissa praticamente se
725
ofereceram para pagar a festa inteira! Dos parentes de Sirius, só falta você
que é literalmente o mais importante!"
"Vamos, Moony, você sabe que ele gosta de mim," Sirius insistiu, "Nós
podemos ir até lá e contar pessoalmente."
"Sirius está certo, Remus," Lily completou, "Não há perigo nenhum agora.
Imagine o orgulho dele quando ver você no Profeta Diário!"
"Ele vai ficar tão orgulhoso que vai mandar emoldurar o jornal para pôr na
sala de estar da casa!" James exclamou animadamente.
"Ele poderia comprar uma casa aqui perto, vocês se veriam bem mais." Eu
disse.
726
Remus balançou a cabeça, "Meu pai não tem dinheiro para esse tipo de coisa,
Reg."
"Qual é, Moony, você vai se casar comigo," Sirius deu um empurrão com o
braço em Remus, "Tudo o que é meu vai ser seu também."
"É, e além do mais," Continuei, "Eu e você também vamos ser meio que
irmãos agora. E é isso que a gente faz pela família."
"Ele é o seu filho, James," Lily revirou os olhos, "Você quer que ele te chame
do que exatamente?!"
727
"Se vocês acham que estão sendo injustiçados," Eu disse, "Tentem quase
morrer em uma floresta por não dizer onde esse pestinha está e ele não ter
dito seu nome que só tem três letras!"
"É, acho que você ganhou, Reg," Remus sorriu, se levantando para pegar
Harry de Sirius, "Agora dê ele para o seu tio preferido, Padfoot, anda."
Sirius entregou Harry e olhou para o relógio pregado na parede, "Reg, acho
que deveríamos ir, já está ficando tarde."
Entretanto, isso era apenas mais uma das notícias do dia. Porque na capa do
jornal, estampado para todos verem na primeira página, estava Remus
apertando a mão da Ministra Millicent Bagnold, com a lei que protegia os
lobisomens aprovada e escrita em baixo.
728
10 de dezembro de 1981, quinta-feira
A noite antes da lua cheia eram sempre as mais difíceis para Remus. Ele
basicamente só queria ficar sozinho porque estava no limite demais para
qualquer tipo de interação social. A única pessoa que ele gostava de ter por
perto nos dias que se precediam era Sirius. E por mais que ele nunca tenha
dito em voz alta, eu sabia que durante aqueles dias ele preferia que eu
estivesse longe. Então quando Andromeda me disse que ela e Ted iriam sair
à noite com Cissy para distraí-la um pouco e precisavam que alguém ficasse
com Draco e Dora, eu vi a chance perfeita no dia perfeito para passar a noite
fora de casa.
"Você não precisa ir." Remus murmurou, deitado no sofá, com os olhos
fechados e um cigarro entre o dedos, "Não quero que você vá só porque eu
estou naquela fase."
"Remus, hoje de manhã você quase pulou no meu pescoço porque eu disse
bom dia alto demais."
"Está tudo bem," Sorri fracamente, "E os outros lobisomens? Vão passar a
lua com você?"
"Sim, vão," Remus respondeu, ainda de olhos fechados, "Eu disse que eles
poderiam viver suas vidas normalmente, sem precisar ficarem colados em
mim como ficavam em Greyback o tempo todo. Mas durante as luas, era bom
que ficássemos juntos."
"Entendi," Peguei meu casaco, indo até a porta, "Diga a Sirius que estarei de
volta amanhã de manhã."
729
Narcissa conseguiu ser mais específica ainda. Ela cuidava de Draco com
tanta proteção que ele parecia feito de vidro e que ia quebrar a qualquer
momento. Ela disse a temperatura exata do leite que ele bebia antes de
dormir, não poderia estar nem mais quente nem mais frio porque ele tinha
lábios sensíveis. E disse para que caso ele chore, não o balance porque ele
ficava irritado, bastava conversar com ele e acariciar a sua cabeça um pouco.
"Esse garoto quer mais o que? Que eu me transforme no super herói favorito
dele?" Brinquei, mas Narcissa apenas me repreendeu com o olhar.
Não foi tão difícil quanto eu pensei, no final. Dora estava vidrada em um
filme que passava na TV que Ted havia comprado, então eu só precisei dar
à ela uma caneca do chocolate que ela tanto gostava.
"Você está com sono?" Perguntei à ela, sentado ao seu lado no sofá. Draco
estava brincando no carpete perto da mesinha de centro.
"Sim, sua tia me pediu para pôr ele para dormir às nove." Respondi,
checando o relógio na parede.
"Eu vou daqui a pouco então," Dora pôs uma mecha do cabelo rosa para trás
da orelha, "Quando ele dormir, eu desligo a TV e vou para a cama, tio Reg."
"Porque uma vez mamãe me disse que pessoas ruins tentaram afastar ela e
tia Cissy uma da outra, fizeram de tudo e conseguiram, você acredita?!" Dora
arregalou os olhos, como se estivesse me contando a maior fofoca de todas,
e eu agi como se não soubesse, arregalando os olhos também, "Então eu
nunca durmo antes porque se ele precisar mim, não quero estar dormindo.
Se alguém ruim tentar pegar ele, eu quero estar acordada para salvar ele, tio
Reg."
730
"Certo, Draco, sua mãe me disse que você não gosta de ser balançado," Pus
ele no berço com cuidado, "Então vou só colocar você aqui e..."
"O que? Você quer dormir lá?" Perguntei, apontando para a cama também,
Draco balançou a cabeça em afirmação.
Foi toda uma cerimônia para arrumar a cama do jeito certo. Eu coloquei
vários travesseiros e almofadas ao redor para que ele não caísse e troquei
todos os lençóis do berço para a cama de Narcissa, para deixá-lo confortável
o suficiente.
"Sim, e pare de me olhar assim porque seus olhos são idênticos aos dela,"
Passei o dedo na ponta do seu nariz, "Que são iguais aos meus, que são iguais
aos de Andromeda, que são iguais aos de Sirius..."
"Isso, tia Andy," Eu sorri fracamente, acariciando sua cabeça cheia de fios
loiros, "Você gosta dela?"
"E de mim?"
731
"Isso, perrengue," Confirmei, "Você, amiguinho, não nasceu no mesmo
lugar que eu por um triz. Você quase cresceu naquele lugar assustador e seria
outro perrengue ter que tirar você disso quando você fosse mais velho."
"Então me prometa que você vai ser bom, ok?" Me endireitei na cama,
ficando de frente com ele, "Eu sei que o histórico do nosso sangue não é nada
bom, mas me prometa que você vai ser. Me prometa que você vai ser
qualquer coisa, mas que nunca vai ser como eu quase fui. Tudo bem?"
A campainha tocou logo depois que eu pus Dora na cama. Ela já tinha oito
anos, então gostava de fingir que era corajosa o bastante para dormir sozinha
e sem ninguém no quarto. Eu deixei apenas um abajur pequeno aceso, para
caso ela ter medo e só não querer demonstrar para mim. Ela havia puxado o
orgulho dos Blacks.
"Carter?" Franzi o cenho, confuso, quando abri a porta, "O que você está
fazendo aqui? Já está tarde."
"Fui até sua casa e Sirius me disse que você estava aqui cuidando das
crianças," Carter coçou a cabeça timidamente, "Posso entrar?"
"Ah! Claro!" Me afastei, dando espaço para ele entrar, "Aconteceu alguma
coisa? Você quer chá ou..."
"Não, Reg, na verdade eu..." Carter mexeu no cabelo, o que ele sempre fazia
quando estava nervoso, "Eu vim me despedir, estou voltando para os Estados
Unidos amanhã."
Ele sorriu, olhando para os próprios pés, "Um cara que estou saindo me
chamou para passar o Natal com ele em Nova York."
732
"Não," Carter ficou quase sério, "Eu nunca trocaria."
"Não estou com muita vontade de passar o Natal aqui, eu... eu briguei com
meus pais de novo e..." Carter engoliu em seco, pondo a mecha rosa do
cabelo para trás, "Eu me sinto bem lá. Me sinto em casa. De um jeito que eu
não me sinto na casa dos meus pais. E mesmo que eu tenha vocês, eu ainda
estaria triste de estar em Londres e não poder passar o Natal com eles."
"Digamos que eles deixaram claro que o Natal é uma data sagrada e
abençoada," Carter sorriu, mas sem humor, "E para eles, eu sou bem o oposto
disso, se você me entende."
"É, eu sei."
"Mas, sabe, se mudar de ideia," Eu disse, "Você pode ficar lá em casa. Sirius
e Remus não se importariam."
"E dormir no seu quarto todas as noites sem fazer nada?" Carter gargalhou,
"Você está exigindo demais da minha força de vontade, Reg!"
"Estou falando sério!" Revirei os olhos, dando um soco no seu ombro, "Eu
sei que Londres é difícil para você, mas você tem um lar aqui. Espero que
você saiba disso."
"Então o que estou ouvindo é que o famoso Regulus Black, aquele que
derrotou o Lorde das Trevas e que é o assunto de todos os jornais está me
oferecendo abrigo?" Carter levou a mão ao peito, fingindo admiração, "Eu
não mereço a honra!"
"Tudo bem, tudo bem," Ele se rendeu, "Até lá espero que você tenha
arranjado um emprego melhor do que ser babá!"
733
"Ei, você foi quem ficou com Harry para os adultos irem para a guerra, ok?
Eu não sou a única babá aqui."
"E não me arrependo nem um pouco," Carter sorriu, "Harry é incrível. Ele
passou quase a noite toda entretido com as mechas coloridas do meu cabelo."
"Sim, ele é incrível," Sorri de volta, "Escreva para mim, ok? Ou então me
ligue daquela cabine vermelha que os trouxas usam, aquela coisa esquisita e
sufocante."
"Se você está disposto a usar a cabine telefônica para se comunicar comigo,
então eu estou me sentindo realmente importante!" Ele brincou, "E se algo
acontecer, você pode me avisar que eu venho correndo. Você sabe disso."
"Eu sei," Acenei com a cabeça, "Acho que nunca agradeci o suficiente por
isso. Então estou agradecendo agora."
"Pelo o quê?"
"Acho que conhecer você, alguém que já viajou para outros lugares, alguém
que não tinha nada a ver com a guerra, que me provou que o meu mundo
caótico e barulhento não era o único que existia," Expliquei, "Não sei, me
fez ter esperança. Eu precisava disso mais do que você imagina."
Carter fez uma pausa, me olhando com os olhos verdes brilhantes, "Vou
sentir muito a sua falta."
"Também vou sentir a sua." Puxei Carter para mim, dando um abraço forte
e demorado nele, que enterrou o rosto no meu ombro como uma criança. Ele
me apertou mais ainda ao redor da cintura e, por um momento, parecia que
não ia soltar nunca mais.
"Obrigado também," Carter murmurou com a boca contra o meu ombro, "Por
aparecer."
734
Eu estava em uma sala cheia de espelhos. E eu olhava para o meu corpo e
me via, porém no meu reflexo eu tinha cerca de onze anos novamente. E
então a voz da minha mãe chamando pelo meu nome ecoou e eu me assustei,
começando a correr como um louco.
A voz dela ficava cada vez mais distante, mas os espelhos não acabavam
nunca. Até que parei novamente e no reflexo agora eu estava mais velho do
que antes. Pelo meu cabelo cortado tão alinhadamente na época, eu chutaria
que eu tinha dezesseis. O meu reflexo me encarou e levantou a manga da
camisa, mostrando a marca negra viva e pulsante no braço, com um sorriso
cruel e frio no rosto.
"Eu sou você." O meu eu no espelho dizia. Até que de repente, Barty
apareceu ao lado dele. Mas não havia ninguém do meu lado de verdade.
735
"Voldemort?" Mary franziu o cenho e pôs a mão na minha testa, "Deus, você
está soando, não quer que eu pegue água ou..."
"Não, não, eu... eu acho que só quero ficar aqui," Acariciei a mão dela,
pousada sobre o meu rosto, "Com você."
"Você não tinha um sonho assim há muito tempo," Mary disse de repente,
"Não quer conversar sobre isso?"
"Não acho que tenha muito o que dizer," Respondi, ainda acariciando o
cabelo dela, "Acho que é estresse pós reumático."
"Não me julgue por não saber, foi Carter quem me explicou isso, parece que
é algo que os trouxas costumam ter depois de passarem por um evento
emocional muito forte," Eu expliquei, "Algo a ver com psicologia e essas
coisas."
"Reg, vou dizer uma coisa, eu amo você," Ela levantou o rosto, apoiando os
cotovelos na cama agora e o queixo em cima das mãos, "Mas acho que você
nunca vai deixar de ser um puro sangue metido e arrogante."
"Ei!"
"Não é uma coisa que só trouxas costumam ter, seu idiota!" Mary sorriu,
dando um tapinha na minha testa, "Todo mundo tem isso. Eu já tive. Você,
Merlim, eu ficaria surpresa se você não tivesse."
"E o que diabos eu faço para isso parar?!" Exclamei, levando as mãos no
rosto, "É um saco!"
"Não sei, acho que você deveria tentar caminhar, ler, ouvir música,
trabalhar..." Ela sugeriu, "Fazer alguma coisa que faça você parar de pensar,
entende?"
736
De repente, algo passou pela minha mente, me fazendo deixar escapar um
sorriso fraco. Mary percebeu, "O quê?"
"Nada, eu só..." Sorri outra vez, brincando com os dedos dela, "Eu pensei em
uma coisa, mas... não sei, não tenho certeza."
"Godric, Reg, diga logo!" Mary insistiu, dando uma batidinha no meu braço.
"Você se lembra de uma vez que falamos sobre viajar?" Perguntei, sem olhar
diretamente nos olhos dela, "Você me disse que queria conhecer o Brasil e
nós... bom, eu levei à sério na época, sabe? Seria bom passar um tempo longe
daqui. E também, você sabe que dinheiro não é um problema para mim. Eu
não sei, eu só pensei que talvez..."
"Sim!" Mary gritou, me fazendo olhar para ela agora, ela parecia uma estrela
de tão brilhante, "Sim! Sim! Sim! Merlim, é claro que sim!"
"Claro que eu quero! Vai ser incrível!" Ela se levantou rapidamente ficando
em pé na cama, com o corpo enrolado em um lençol como se fosse um
vestido, "Nós podemos ir para o Rio! E conhecer o Cristo! Ou em São Paulo
e visitar a Avenida Paulista! E não temos que parar por aí, de jeito nenhum!
Podemos ir para outro país, e depois outro, até conhecer o mundo todo!"
"Regulus Black, eu preciso conhecer o Japão! Juro por Deus que se eu não
for até lá e comer uma daquelas comidas incríveis, eu não vou poder morrer
em paz!" Ela revirou os olhos de empolgação, o sorriso batendo de orelha
em orelha.
"E o melhor de tudo é que nós podemos chegar em todos os lugares muito
rápido porque podemos..."
"Nem termine essa frase!" Ela pôs o dedo na minha boca, "Nós vamos viajar
como pessoas normais, sem aparatar. Vou levar você para ver um aeroporto
737
pela primeira vez. Você não gosta de voar?! Então vai adorar andar de
avião!"
"Certo, certo, eu vou subir nessa coisa estranha e perigosa controlada por
outra pessoa e que pode cair a qualquer momento, mas apenas! Porque eu
amo você." Eu sorri, puxando ela para perto de mim pela cintura, colocando
nossos corpos ainda em pé na cama, "E vou amar viajar o mundo todo com
você."
Mary estava brilhante - não brilhante como uma estrela qualquer. Por muito
tempo, pensei que minha estrela favorita fosse a do meu próprio nome. Mas
eu estava errado. Era o Sol. Porque quando Mary sorria para mim daquele
jeito, era tão lindo e radiante que me fazia enxergá-lo nela sempre que a
olhava. Deus, pensei, tire tudo que quiser de mim, mas nunca me obrigue a
voltar a viver sem a luz desta garota.
Era o último dia do ano. E a festa de ano novo aconteceria na mansão dos
Potter, que haviam aberto as portas da sua casa para todos os amigos que
conseguissem pôr dentro. James e Frank fizeram um acordo que o Natal seria
na casa dos Longbottom e o ano novo na casa de James. Arthur e Molly
quase não aceitaram e insistiram que fôssemos todos para a sua casa, apesar
de que não acho realmente que todos caberiam lá.
Eles tinham sete filhos agora. O mais velho, Bill, que havia começado o
primeiro ano em Hogwarts em setembro deste ano. Carlinhos, que era dois
anos mais novo que Bill, com nove anos. Percy, o mais sério e quieto dos
sete que pareciam ligados na tomada, havia feito cinco anos em agosto. E
então os gêmeos, Fred e George. Os dois derrubaram a mesa de doces no
Natal do ano passado e eles só tinham um ano de idade na época. No ano
passado, Molly e Arthur tiveram Ronald, que agora tinha a mesma idade de
Harry, Draco e Neville. E finalmente a menina que eles tanto desejavam,
Ginevra, ou mais fácil, Ginny Weasley, que era uma menininha linda com
738
os cabelos cor de fogo e os olhos castanho-escuro. Ela tinha a mesma idade
de Luna.
"Você acha que eles finalmente vão parar?" Perguntei à Mary naquela tarde,
enquanto andávamos no centro de Londres atrás da lista de coisas que Lily
havia pedido, "Quero dizer, são sete, não é possível que eles queiram mais,
não é?"
"Eu acho que você não deveria duvidar do útero de Molly Weasley,
Regulus." Mary respondeu.
"Você não está pensando comigo, Mary!" Reclamei, fazendo ela chegar mais
perto, "Eu vou comprar esses óculos para ela e vou pôr algum feitiço que
deixe eles inquebráveis ou algo assim. Ela vai adorar porque é colorido e
quando ela crescer, vou dizer que os óculos protegem ela de Zonzóbulos."
"Zonzóbulos?" Mary ficou mais confusa ainda, "Eu acho que isso nem
mesmo existe, Reg."
"Você não tem imaginação, Mary, sabia disso? Quando eu era pequeno,
Sirius ficava me atormentando dizendo que Zonzóbulos iriam invadir meu
quarto à noite e embaralhar a minha mente. Eu ficava apavorado e nem podia
contar para minha mãe porque ela era uma louca temperamental. Acontece
que até hoje eu não faço ideia se esses filhos da puta existem ou não," Revirei
os olhos, puxando ela pela mão para dentro da loja, "Vem, vamos entrar!"
Estava lá. E era o presente perfeito. Os óculos eram cor de rosa com uma
lente azul e a outra púrpura, as laterais imitavam asinhas e tinham pequenos
pontos coloridos no meio de cada lente. Talvez eu não soubesse explicar o
motivo, mas aqueles óculos apenas precisavam ser de Luna.
739
"Eles não devem estar longe," Dei uma olhada em volta na loja, "Mas é muito
estranho que deixem ela sozinha, não é? Ela não parece ser muito mais velha
que Harry."
"Quem é Peter Pan?!" Franzi o cenho, confuso. Merlim, trouxas e seus livros
esquisitos.
Troquei um olhar desconfiado com Mary, para ver se ela estava pensando o
mesmo que eu. Todos nós quando éramos crianças fizemos em algum
momento algum tipo de magia involuntária que provou que realmente
éramos bruxos. Toda criança bruxa era assim. E se ela...
"Ah! Aí está você!" Uma mulher baixa, muito parecida com a menina,
seguida de um homem de aparência amigável apareceu atrás de nós, "Nós
procuramos você por toda a loja!"
O homem, que deveria ser o pai, carregou a menina no colo que ainda
segurava o livro colorido, e deu um beijo em sua cabeça, "Nunca mais faça
isso, ouviu? Ou você vai acabar me matando do coração antes dos
cinquenta."
740
"Você deveria comprar o livro," Mary sorriu gentilmente, fazendo os dois
perceberem que estávamos lá, "Ela parecia estar gostando muito."
"É claro que estava," A mãe sorriu, fazendo carinho na ponta do nariz da
filha, "Minha Hermione é a menina mais inteligente que existe."
"Muito obrigado por terem visto ela," O pai nos agradeceu, "Ela fica
realmente em outro mundo quando encontra livros em algum lugar."
"Hermione, você foi quem fez essa bagunça?" A mãe perguntou, vendo os
livros jogados no chão da pilha, trocando um olhar com o marido.
"Na verdade, a pilha caiu sozinha, sem ela nem mesmo se mexer," Mary
comentou, tentando jogar verde, "Curioso, não é?"
A mãe franziu as sobrancelhas, "Do que você está...", e então seus olhos
desceram para o bolso interno do meu casaco, que eu havia deixado aparecer
propositalmente. E os olhos dela e do marido se arregalaram quando viram
a varinha, "Você é um!"
Eu e Mary sorrimos, e ela respondeu, "Nós dois somos. E acho que Hermione
também, não é?"
O pai sorriu satisfeito, parecendo prestes a discursar algo com muito orgulho,
"A minha mãe era uma. Era uma mulher extraordinariamente inteligente. Eu
não sou um, no entanto. Nem a minha esposa. Mas nossa Hermione mostra
o quão especial ela é desde que completou seu primeiro ano."
"Como sabiam que podiam nos dizer que são bruxos?!" A mãe perguntou,
"Achei que era proibido."
741
"Granger." Ela completou, gentilmente.
"E seus pais? Também são trouxas?" O pai perguntou, "Os de vocês dois?"
"Os meus pais? Hm... na verdade, eles eram o pior tipo de puro sangue que
existe, para ser sincero," Eu sorri fracamente, "Mas eles faleceram, há um
tempo atrás."
"E os meus são trouxas também," Mary respondeu, "Sou nascida trouxa igual
essa garotinha linda e esperta."
"E vocês estão juntos? Minha mãe me contava sobre como era raro que
sangues puros e nascidos trouxas se misturassem..." O pai disse, "É o nosso
maior medo. Que nossa Hermione se sinta deslocada quando chegar a hora."
"A avó foi para a Beauxbatons quando era jovem," A mãe comentou, "Eu
estava pensando se..."
"Nós vamos." O pai sorriu, apertando a minha mão logo em seguida, "Com
certeza, vamos considerar."
"Você sabe que se ela for para Hogwarts, provavelmente vai estudar com
Harry, não é?" Mary disse, enquanto caminhávamos de volta para casa,
742
"E Draco, e Neville, e Ronald..." Conferi nos dedos, sorrindo logo em
seguida, "Acho que estamos montando um time de Quadribol inteiro, Mary."
A casa de James e Lily estava lotada naquela noite, como era de se esperar.
Porém a casa que ele cresceu era grande o suficiente para duas famílias
Weasley inteiras dormirem se forem preciso, mesmo que James tenha sido
filho único.
Mary estava linda - mais do que o normal. Ela usava um vestido prateado de
alças finas e um batom cor de sangue. Os cachos todos jogados para um lado
só e o pescoço cheio de colares da cor do vestido. Ela parecia um anjo.
"Não estou tão bonito quanto você..." Eu sorri de volta, beijando ela
novamente.
"Pan, você está linda!" Eu a abracei alegremente, "E a minha Luna, como
está?!" Eu a carreguei no colo, balançando-a nos braços e fazendo ela soltar
uma risada enquanto brincava com os meus anéis.
"Vou até o sofá falar com Marls," Mary disse, abraçando Pandora logo em
seguida, "Você está realmente linda, Pan!"
743
"E então? O que você me conta?" Pandora se encostou na parede, com uma
taça na mão, "Conheço você. Está com cara de "eu tenho novidades, mas não
vou contar agora."
"Eu não tenho uma cara assim!" Retruquei, fazendo ela rir, "Mas sim, tenho
novidades."
"Antes disso, eu tenho uma coisa para essa garotinha!" Balancei Luna nos
braços, e peguei a sacola no balcão com o óculos cor de rosa dentro e o
entreguei à ela, "Quando você crescer, vou contar para o que ele serve de
verdade, ok?"
Luna sorriu, brincando com os arcos. Ver ela brincar era uma das minhas
coisas preferidas no mundo.
"Ok, ok..." Revirei os olhos, e decidi apenas dizer, "Depois que Sirius e
Remus se casarem, e depois que tudo estiver mais calmo... bom, eu e Mary
estávamos pensando e acho que vamos dar um tempo daqui, passar uns
meses viajando, conhecendo outros lugares..."
"Regulus Arcturus Black, quem é você e o que fez com meu melhor amigo?"
Pandora me deu um soco leve no ombro, "Há alguns meses atrás você nem
pensava em sair de Londres."
"Há alguns meses atrás eu estava sendo caçado e não sabia nem se ia acordar
vivo amanhã," Eu lembrei, "E também, eu ainda tenho alguns sonhos ruins,
você sabe. Você via os que eu tinha antigamente."
"Olha só para nós dois," Pandora suspirou, pondo o braço ao redor do meu
ombro, "Ontem nós éramos dois adolescentes metidos à heróis atrás de
horcruxes e hoje eu sou mãe e você vai viajar com a sua namorada."
744
"Isso é crescer, não é?" Eu encolhi os ombros.
"Nah, você nunca cresce," Pandora balançou a cabeça, "Vai ser sempre uma
criança que eu tenho que tomar conta para não fazer besteira."
"E você vai sempre ter que juntar meus caquinhos porque eu obviamente vou
fazer alguma besteira." Respondi seriamente, soltando o riso logo depois.
Remus estava bêbado antes da meia noite, e honestamente você pode culpar
Marlene por isso. James e Mary cantaram a versão mais ruim e desafinada
de uma música que era originalmente muito boa e Lily subiu nas costas de
Sirius, quando ele a obrigou a dançar sua música preferida. Sinceramente, eu
acho que todo mundo estava meio bêbado. Até Narcissa, que nunca bebia.
Ou Alice que também nunca bebia.
Não havia nada a temer. Nem mesmo parecia real. Eu estava em casa,
dançando do lado da garota que eu amava, com os meus amigos em volta.
Com a minha família. Eu provavelmente estava bêbado, eu não saberia dizer.
Mas não importava. A felicidade finalmente havia chegado e a vida era boa
demais.
Remus deu uma olhada em volta, "Não vi ele em lugar nenhum, Reg."
Faltavam vinte minutos para a meia noite e eu, não tão surpreendentemente,
sabia perfeitamente onde Sirius estava.
745
eu sabia que Sirius estava. Quando achei o certo, eu sabia que havia chutado
corretamente.
"Claro que eu me lembro," Respondi, o olhar agora preso no céu, "Fiz isso
por um tempo também quando você foi embora."
"Sério?"
"Sim," Acenei com a cabeça, "Eu sentia que lá em cima, nós ainda estávamos
juntos. Você e eu. Sentia que sempre estaríamos, se eu olhasse para o ponto
certo no céu."
"Por que você nunca me disse?" Perguntou Sirius, olhando para mim agora.
"É engraçado, não é?" Ele disse, o olhar distante, "O tanto de coisas que
aconteceram em um período tão curto de tempo. Mesmo naquela época,
mesmo odiando você e você me odiando, eu não precisava olhar para o céu,
Reg. Eu sabia que nós estávamos juntos."
"E veja agora, eu estou tendo que pedir ajuda à Mary para escolher meu traje
de padrinho para o seu casamento com Remus," Sorri, tirando uma
gargalhada de Sirius, "Algo de certo nós fizemos, pelo menos."
"Casar," Sirius disse a palavra como uma oração, "Alguma vez você pensou
que eu me casaria? Merlim, Moony realmente virou minha vida de cabeça
para baixo."
746
"Na verdade, a única vez que eu achei que você se casaria foi quando nossos
pais quiseram te prometer para a filha daquele amigo francês deles," Eu
disse, "Eu realmente achei que fosse ter que ver você se casar com aquela
nariz empinado de cabelo aguado."
"Ugh, acho que eu teria me matado, Reg, pelo amor de Deus," Sirius e eu
sorrimos, "Eles eram pais horríveis, não é?"
"Pelo menos agora, nós não vamos mais ficar longe," Sirius continuou, ainda
sem olhar para mim, "Nunca mais."
"Na verdade, tem algo que eu queria dizer para você," Eu pigarreei e Sirius
me olhou, "Depois do casamento, acho que vou passar uns meses com Mary.
Sabe, viajando. Eu ando meio estressado, tendo uns sonhos... sonhos ruins.
Acho que vai ser bom sair um pouco daqui. E com ela, vai ser melhor ainda."
"Eu sei, Six, e eu vou voltar, não vai durar nem um ano inteiro, eu prometo,"
Eu insisti, "Eu só... eu preciso fazer isso. Preciso viver mais e esquecer
desse... passado horrível. E fazer isso com ela vai ser ainda melhor."
"O quê?! Por quê?!" Sirius se endireitou, ofendido, "Você é meu irmão! Nós
moramos juntos a vida toda!"
"Sirius, você vai casar." Eu sorri fracamente, "E, mesmo que daqui a um
tempo, eu também pretendo fazer isso algum dia. Sabe, nossa relação perfeita
747
e linda de irmãos não vai se abalar porque nós vamos morar em bairros
diferentes."
"Casas diferentes." Sirius ressaltou, com a cara emburrada, "Você não vai
para outro bairro nem ferrando."
"Claro que era!" Sirius exclamou, "Você morria apenas para que ele olhasse
para você!"
"Sirius." Sorri fracamente, "Você sabe que eu fiquei com James naquela
época, não sabe?"
"Foram no máximo três vezes, ele começou a namorar com Lily logo no ano
seguinte, e eu com Barty," Eu dei de ombros, despretensiosamente, "Eu achei
que você soubesse depois de todo esse tempo."
Sirius esfregou os olhos com as mãos, "Acho que não vou dormir nunca
mais."
748
"Feliz Ano Novo, Reg." E ele sorriu de volta para mim.
"Ei, Reg."
"Hm."
"Tudo bem você ter ficado com James, não estou bravo." A voz dele era
relaxada até demais.
749
Capítulo 49: Padfoot & Moony, 1982
"Já é quase seis da tarde, onde aquelas duas estão?!" Sirius andava de um
lado para o outro na sala, enrolando as mãos umas nas outras, enquanto eu
estava sentado no sofá, o observando, "James disse que estaria aqui há meia
hora atrás, e você está vendo aquele bastardo em algum lugar? Eu também
não! Mary e Marlene estão com a minha roupa e não estão aqui ainda! Até
você está vestido e eu não, Reg! Não faço ideia se Moony já chegou lá ou
não e..."
"Sirius, eu juro por Deus que se você não me der um minuto de paz," Eu
massageei as têmporas, respirando fundo, "Eu vou largar você e adotar um
gato para pôr no seu lugar."
"Não vejo motivo para você estar tão nervoso, tenho certeza que Remus já
está lá esperando por você. E aparatando, não vai levar nem um segundo para
casarmos você e finalmente você voltar a pensar na velocidade de uma
pessoa normal."
"E James? Onde está?!" Sirius insistiu, aparentando não ter ouvido nada do
que eu disse, "Ele disse que deixaria Lily com Remus e viria para cá! Ele não
está aqui e você me pede para ficar calmo?!"
"Eu não sei, Sirius, ele pode ter tido um imprevisto, talvez?!"
750
Sirius e Remus haviam decidido seguir as tradições, e não se viam desde
ontem de manhã. O que, para duas pessoas que estavam perdidamente
apaixonadas desde os quinze anos e passavam todos os dias juntos desde os
onze anos, foi uma tortura dramaticamente ruim. Remus estava com os Potter
e Sirius ficou em casa comigo. O que eu havia me arrependido
imediatamente de fazer quando na primeira hora longe de Moony, Sirius
estava aos prantos no sofá, abraçado à um suéter marrom dele.
Quando finalmente James bateu na porta, não foi necessário uma segunda
batida, porque James já estava do outro lado da sala, como em um salto,
abrindo a porta para ele.
"Seu idiota!" Sirius empurrou James para dentro, "Onde diabos você
estava?!"
"Ah, graças à Merlim você chegou!" Agradeci, me pondo de pé, "Eu estava
começando a considerar usar um feitiço silenciador nele, honestamente."
"Você... vocês dois..." James estava ofegante, passando a mão na testa suada,
e estava vestido em trajes formais, "Vocês dois não fazem ideia de quantas
vezes eu aparatei apenas hoje! Eu preciso... preciso sentar ou vou acabar
desmaiando!"
"Sim, Pads, todos estão lá, inclusive Moony," James disse, entre um suspiro,
enquanto se sentava no sofá, "Ele também está bem ansioso."
"E ele está bonito?" Sirius sorriu apaixonadamente, "Ah, claro que está...
meu Moony está sempre bonito..."
Ouviu-se outra batida na porta e desta vez eu corri para abri-la, para ver
Marls entrar com uma roupa em uma espécie de plástico ao redor, seguida
de Mary que carregava os sapatos e uma caixa de madeira com jóias dentro,
as duas mal olhando para mim enquanto passavam.
751
"Ei, amor," Mary me deu um selinho rápido, desviando sua atenção para
Sirius rapidamente que correu para pegar a roupa na mão de Marlene,
"Desculpe a demora, mas não é só você que precisava se arrumar, Sirius."
"Ah, você precisa me amar muito, Sirius, está me ouvindo?" Marlene disse,
arrumando os fios de cabelo loiros, "Você está nos fazendo aparatar de salto,
seu bastardo."
Mary estava deslumbrante, era incrível como ela nunca errava. Ela usava um
vestido vermelho sangue que colava no seu corpo até o início da coxa e
soltava na ponta. Um salto que ela poderia usar para me matar se quisesse e
os cabelo solto nas costas com os cachos bem enrolados entre si. Sirius tinha
sorte que ele era o meu irmão, porque se não, eu faria Mary se
atrasar muito para chegar na cerimônia.
Sirius entrou direto para o quarto, Mary e Marlene indo atrás dele
animadamente com sacolas nas mãos. James e eu trocamos um olhar, e
começamos a sorrir.
"Eu acho que é o momento mais silencioso nesta casa há dias." Eu relaxei na
poltrona na frente de James, "Mas me diga, realmente está tudo bem? Sirius
estava tão paranóico que eu comecei até eu comecei a acreditar que tinha
algo errado."
"E ele quer, claro que quer," James disse, "Mas Moony sempre quis deixar o
pai orgulhoso, você sabe, a coisa da licantropia e tudo... Acho que ele só quer
mostrar que conseguiu ser feliz de verdade, apesar disso. E não quer que
nada dê errado."
752
Levou um pouco mais de meia hora para a porta do quarto de Sirius se abrir
e Mary e Marlene saírem de braços dados uma na outra de dentro, com
sorrisos satisfeitos no rosto. Marlene pigarreou, "Sabem, não gosto muito de
puxar o saco de Sirius, mas..."
Francamente, Sirius sempre se vestiu bem, o idiota - mas, Deus, hoje ele
simplesmente havia se superado. Ele saiu do quarto devagar, com um sorriso
orgulhoso no rosto porque ele tinha completa noção do quanto estava bonito.
Sirius usava uma calça de seda preta com os cós alto que marcava a sua
cintura e com dois botões na frente. A camisa era de outro mundo. Era preta,
mas completamente transparente e descolada do corpo, para dentro da calça.
Apenas com os punhos fechados nos pulsos dele, o resto da manga era
completamente solta. A camisa tinha um detalhe em pano preto que descia
do pescoço dele até a metade da barriga, one haviam botões pequenos e
dourados.
Mary e Marlene haviam feito algo em seus olhos, porque ele tinha linhas
pretas esfumaçadas na pálpebra, que terminavam na ponta do olho, dando a
impressão que seus olhos eram puxados e seus lábios brilhavam também. Ele
usava uma gargantilha prateada, fina e delicada e, na sua cabeça, enfeitando
seu cabelo solto e brilhoso, estava uma espécie de coroa com flores pequenas
e brancas, iguais as flores do buquê que ele segurava firmemente com as duas
mãos, em frente ao corpo.
753
"Acho melhor casarmos você de uma vez, Pads, porque a qualquer momento
posso roubar você de Moony daquele altar e levar você comigo."
"Acho que isso é o suficiente, então." Sirius sorriu, dando uma volta,
parecendo transbordar felicidade por todos os poros do corpo, enquanto nós
aplaudíamos a sua exibição orgulhosa.
Marlene teve que pôr um feitiço em Sirius, que eu nunca saberia qual era,
que impedisse que sua maquiagem e roupa amassassem com a aparatação.
Mary segurou o buquê para ele e, em alguns segundos depois, nós cinco
pousamos na praia da Cornualha, com o mar às nossas costas e um
amontoado de ruínas antigas à nossa frente. Uma delas estava cheia de gente,
com uma música alta vinda de dentro.
"Tudo bem?" James perguntou à Sirius, que parecia muito que ia chorar a
qualquer momento.
"Sim. Acho que nunca estive melhor." Sirius sorriu, olhando para todos nós.
Quando chegamos perto da ruína, Marlene parou Sirius para ajeitar a sua
roupa e Mary refez o feitiço em seu buquê para as flores ficarem sempre
impecáveis e na mesma posição. Eu dei uma espiada para dentro do lugar,
onde eu pude enxergar todos os convidados enfileirados perfeitamente,
conversando entre si, a família de Cissy e Andy, todos os Weasleys, os
Longbottom, professores de Hogwarts, membros da Ordem. Uma música
instrumental ressoava pelo lugar e nada poderia estar mais perfeito do que
estava.
"Ei, você!" Alguém veio por trás de mim, me dando um susto tão grande que
eu quase caí para trás, "O que está espiando?!"
"Puta que pariu! Você..." Mas quando me virei, meus olhos se arregalaram,
meu sorriso se alargando, "Carter! Ah, meu Deus! Ah, meu Deus, meu Deus,
meu Deus! Você realmente está aqui! Eu achei que você estava brincando
quando disse que viria!"
"Ah, Reg, mas eu sempre falo sério, você sabe. Não tenho escrito para você
todo esse tempo para não aparecer em uma data tão importante," Carter
sorriu, me abraçando logo em seguida, "Você viu Remus?"
754
"Bom, eu estava lá dentro o tempo todo e não vi ele," Carter franziu o cenho,
"Achei que estivesse com algum de vocês ou..."
"Shhh, fale baixo," Eu pus a mão na sua boca, olhando de canto para Mary e
Marlene arrumando Sirius um pouco longe de nós, enquanto James
conversava com ele, "Se Sirius ouvir que Remus não está onde deveria estar,
ele vai entrar em colapso mental. Deus, eu deixei Lily e Pandora cuidando
disso..."
"Vou perguntar apenas uma vez," Respirei fundo, "Me digam. Que vocês.
Estão. Com o bastardo. Do Lupin."
James arregalou os olhos, "O qu- não, Reg, claro que está, não é possível."
"Carter, preciso de uma favor seu," Eu me virei para ele, tentando pensar em
algo enquanto James ainda encarava o chão em choque, "Preciso que entre
lá e diga à Andromeda para vir até aqui e enrolar Sirius. Diga a ela o que está
acontecendo,e diga que Sirius não pode saber. Ele vai entrar com ela, então
se ela... não sei, inventar qualquer coisa para atrasá-lo, vai ser de bom
tamanho."
Carter acenou com a cabeça e correu de volta para a ruína, Lily me olhou,
"Acha que isso vai funcionar, Reg?"
"Não acho, precisa funcionar," Afirmei, "Vocês duas vão ajudar Andy e
Carter com isso. Não sei, inventem alguma coisa, qualquer coisa... nós
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vencemos uma guerra! Não é possível que não conseguimos atrasar um
casamento!"
"Acho que sei onde ele está, Reg," James disse finalmente caindo em si,
puxando o meu braço, "Precisamos ir logo, Moony precisa de nós."
Eu e James passamos por trás das ruínas, tentando não sermos vistos por
Sirius. Talvez Remus estivesse em alguma delas, mas não estava. Tentamos
em todos os lugares, até os sapatos começarem a doer de tanto andar. Até
que James me agarrou forte pelo braço e me sacudiu, apontando para um
ponto na praia,
Remus estava tão bonito quanto Sirius. Ele usava um terno amarronzado,
mas não um marrom escuro, apenas o marrom de sempre que Moony usava.
O cabelo loiro escuro penteado para trás, fazendo ondas na sua cabeça. E, no
por do sol, suas cicatrizes se destacam na luz, parecendo desenhos na sua
pele branca e delicada. Ele tinha um cigarro entre os dedos, dando tragadas
enquanto olhava diretamente para o mar à sua frente.
"Me diga que há uma boa razão para você estar aqui e nao lá dentro,
esperando pelo meu irmão." Eu disse, assustando ele, que se virou para olhar
para mim e para James, se virando de volta logo depois.
"O que houve, Moony?" James se agachou ao seu lado, preocupado, com a
mão em suas costas, "Sou eu, Prongs. Você pode me contar qualquer coisa.
Se lembra? Quando tínhamos treze e eu decobri sobre você? O nosso pacto
era: contar desde as coisas mais geniais que valem ser exibidas, até as mais
horríveis que não valem ser postas para fora."
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"É," Eu concordei, indo para o outro lado dele, "E lembra do nosso? Aquele
em que você se ajoelhou na minha frente e pediu a mão de Sirius? Aquele
em que eu jurei cortar a sua cabeça e servir lobisomem assado no Natal se
você fizesse alguma besteira com ele?"
"Vocês acham que isso é o melhor para Sirius?" Moony murmurou, olhando
para a areia, olhos baixos, "Casar comigo e ter que cuidar de um lobisomem
machucado todo mês, ter que viver com cuidado todos dias, para sempre, por
causa de quem eu sou."
"É diferente agora," Remus abaixou ainda mais a cabeça, "Vai ser para
sempre. Ele está entrando nessa sem olhar para trás, sem olhar para como a
vida dele vai ser. Sirius é lindo e... inteligente, extraordinariamente gentil...
Alguém como ele não merece ter que viver preso à alguém como eu a vida
toda."
"James, Reg," Foi apenas o que ele disse, "Estão prestes a conhecer o meu
pai."
"Remus, você... o que você está fazendo aqui?" O pai de Remus disse,
quando chegou até nós, "Estão todos esperando por você, Sirius está na
frente."
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"Qual o problema, então?" Seu pai perguntou.
James pôs os olhos em Remus outra vez, "Você não quer se casar, Moony?"
James tentou dizer algo, mas Lyall o interrompeu dando um passo na direção
de Remus, "Ouça, filho, eu sei que você acha que está fazendo algo de ruim
para ele. Você é assim desde criança, tão preocupado em ser um fardo, em
ser um peso. Mas você não é, Remus. Você está pronto para isso. Sirius está
pronto para isso. Ele escolheu você, Remus. Você sendo quem é."
"Eu perdi a mamãe," Remus encarou o pai, que enriijeceu, e, Deus, algo
grande estava vindo, "Não foi minha culpa, mas ela não está mais aqui, de
qualquer forma. Eu só... eu só não quero perder ninguém, não quero que um
dia ele acorde daqui dez anos e se veja cansado de mim. E veja que ser amigo
de um lobisomem não é o mesmo que estar casado."
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"Você é um alfa, Moony," James se levantou, e eu me levantei logo em
seguida, falando também.
"Certo, agora, você tem um Black para se casar," Eu dei um tapinha nas
costas dele, que enxugou as lágrimas do rosto, "E logo você vai ver que o
difícil mesmo é aguentar Sirius, não o contrário."
Voltamos para a ruína pelos fundos, para que Sirius não visse Remus entrar.
De perto, o lugar estava mais bonito ainda. Completamente decorado, com
flores pelo lugar e um tapete vermelho esticado da entrada até o altar. Carter
estava na porta, e quando os nossos olhares se encontraram, ele assentiu,
saindo para pegar Sirius.
Remus abraçou o pai mais uma vez, e se posicionou no meio. Lily e Mary
entraram correndo, Mary vindo para o meu lado, e Lily indo para o de James,
um casal de cada lado de Remus. Seu pai também estava lá, sorrindo
orgulhoso enquanto olhava o filho. Pandora, Carter e Marlene entraram por
útimo, indo para os seus lugares.
Então a música começou a tocar. Can't Help Falling in Love do Elvis Presley
ressoando por todo o lugar, combinando perfeitamente com o eco, que
deixava tudo mais bonito e simbólico. Draco e Harry entraram na frente,
Draco com a aliança de Remus em cima de uma almofada e Harry com a de
Sirius. E então, bem atrás, Andy estava de braços dados com Sirius, que
parecia estar fazendo um esforço enorme para não chorar e borrar a
maquiagem.
Quando seu olhar subiu do chão para Remus, a sensação era que não existia
mais nenhum convidado. Haviam apenas os dois. Os olhos de Sirius
tremeram e ele abriu um sorriso tão largo que iluminaria qualquer céu escuro,
e Remus, eu pude ver, não estava diferente. Ele estava totalmente imerso em
Sirius. Tão perdidamente apaixonado e encantado, que seu corpo tremia e
seus olhos brilhavam tanto quanto estrelas.
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Era intenso, avassalador e até um pouco assustador - o que resumia o amor
dos dois perfeitamente.
Sirius caminhou até Remus, sem desviar o olhar nem por um segundo. Harry
e Draco entregaram as alianças, e então logo depois Andromeda entregou a
mão de Sirius à Remus, o olhar ainda sem ser quebrado. Era impressionante
de se ver. Todos naquele dia, todos naquele lugar, estavam sendo
testemunhas de como o amor de Remus e Sirius era como uma tempestade -
barulhenta, linda e arrasadora.
O juiz de paz disse algumas palavras antes, palavras sobre como o amor é a
arma mais poderosa de todas e que quem a possui, está imune de todos os
outros males da vida. O meu eu do passado poderia achar isso besteira, mas
hoje eu sabia que era verdade.
O amor havia salvado a minha vida mais vezes do que eu podia contar.
E então, o juiz deu o espaço para os dois, que ainda não haviam parado de se
olhar em nenhum momento, falarem.
Remus demorou alguns segundos para falar, abrindo a boca algumas vezes,
até finalmente conseguir, "Padfoot, se você quer falar sobre sobreviver, então
vamos lá. Você fez o que eu acha que era impossível para mim. Me fez amar
estar vivo, Sirius. Me fez amar respirar. Porque eu sabia que estar vivo, era
estar com você. E isso superou tudo, isso sempre superou tudo. Você não
jogou a corda para me salvar no mar aberto, Sirius, você jogou a si mesmo.
Sem proteção, sem colete, sem bóias... Você se jogou sem hesitar para me
salvar e, Merlim, você não faz ideia do que isso é para mim. Do que você é
para mim. Eu amo você desde que eu era uma criança, e provavelmente vou
760
amar você até o último segundo em que você me fizer querer estar vivo,
Padfoot. Então, obrigada. Obrigada por se jogar por mim."
"Sirius Orion Black," O juiz de paz disse, "Você aceita Remus Lupin como
seu marido, para amá-lo e respeitá-lo enquanto viverem?"
"Remus John Lupin," Ele disse, "Você aceita Sirius Black como seu..."
E quando os dois foram declarados casados, Remus puxou Sirius para si com
toda ânsia do mundo e o beijou intensamente, curvando o corpo de Sirius
para trás. Todos vibraram em gritos e aplausos, James saiu correndo de onde
estava no altar para abraçar os dois, enquanto ainda se beijavam.
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Entreguei Mary à Sirius, para me sentar em uma das mesas e descansar. Eu
só precisava de alguns minutos ou eu ia acabar desmaiando com tanto
barulho e bebida.
"E aí, cunhado," Remus se sentou ao meu lado, com um copo de whiskyfire
na mão, "Acho que posso te chamar assim agora, não é?"
"Sim."
"Eu não acho que o certo seja conviver com os dois, sabe," Eu disse,
observando as pessoas dançarem, "Acho que o certo é você tentar todos os
dias escolher o lado bom. Nunca desistir, ou se render ao seu lado ruim. E
isso é o que você faz. É o que eu fiz. Não aceite os dois. Lute para ser bom."
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Vendo tudo aquilo, eu não podia dizer outra coisa.
"Luz," Eu assenti, Remus sorriu para mim, "Com certeza, luz, Moony."
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Capítulo 50: Epílogo
10 anos depois
Fazia tempo que Londres não passava por um outono tão bonito como
aquele. A manhã do dia primeiro de setembro estava tão bonita quanto a
manhã do dia em que eu mesmo havia atravessado os portões de Hogwarts
pela primeira vez. Ou talvez fosse apenas eu sendo nostálgico.
"Está aqui, papai!" Liz apareceu atrás de mim, com a minha varinha em suas
mãos e com um sorriso travesso no rosto. O cabelo cacheado e rebelde, igual
ao de Mary, caindo pelo seu olho.
Liz gargalhou no meu braço, escondendo o rosto entre as mãos, "Acho que
você vai descobrir."
"PAI!" Ben gritou do seu quarto, e Liz riu mais ainda, quando eu deixei meu
rosto cair, sabendo exatamente para o quê ela queria a varinha.
"Eu amo o tio Sirius!" Liz exclamou sorridente, enquanto andava comigo.
"O qu- Uou." Eu parei, vendo Ben de braços cruzados no meio do quarto,
batendo o pé direito no chão e olhando para Liz com uma das sobrancelhas
arqueadas. Metade do seu cabelo, que era preto como o meu, estava
vermelho. Não ruivo, vermelho de verdade.
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"Pelo menos agora você está bonito." Liz gargalhou.
"Mary, eu realmente preciso que você venha aqui!" Gritei, sem tirar os olhos
do cabelo de Ben, "Merlim, você não pode fazer isso com o seu irmão, Liz,
você poderia ter feito um estrago permanente."
"Certo, estou aqui!" Mary apareceu, passando a mão no cabelo para arrumar
os cachos, até bater os olhos em Ben, "O que aconteceu com você?!"
Benjamin era o mais velho dos dois. Ele tinha oito anos e era dois anos mais
velho que sua irmã. Os olhos dele e de Elizabeth eram uma cópia exata dos
meus, era quase assustador a semelhança da cor e do formato. Quando ele
nasceu, Mary pôs os olhos nele pela primeira vez e não levou dois segundos
para dizer, "Ele vai ter o seu nome. Benjamin Regulus Black."
Com o tempo, Ben cresceu mais parecido ainda comigo. Remus e Pandora
eram seus tios preferidos, não havia dúvida. Ben era quieto e nada barulhento
- o contrário de Liz, que chegou dois anos depois como um furacão em forma
de ser humano.
Seus olhos também eram iguais aos meus, mas de resto, ela era a cópia exata
e perfeita de Mary. Os cachos rebeldes e perfeitamente formados, a teimosia
e o sorriso brilhante, transbordando caos de uma maneira linda. Ela também
me lembrava Sirius. Então não foi uma surpresa ela ter se apegado à ele e
James tão rapidamente.
"Ele estava sendo rude comigo!" Liz gritou, eu e Mary nos entreolhamos,
"Me disse que eu não seria uma boa bruxa quando fosse à Hogwarts!"
"É porque você não vai ser!" Ben deu língua à ela.
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"Está vendo, mamãe?" Liz se agarrou a cintura de Mary, "Eu mostrei que ele
estava errado!"
"Querida, não é assim que nós provamos para as pessoas que somos bons,"
Mary se agachou para ficar na altura de Liz, "Lembra da história que contei
à você sobre como a mamãe ouvia brincadeiras chatas por conta do vovô e
da vovó serem trouxas? Você será uma bruxa excelente e vai provar isso de
maneira justa e honesta."
"Desculpe ter pintado seu cabelo de vermelho." Liz murmurou, "É que gosto
muito dessa cor."
"Certo, certo, agora vão se arrumar!" Mary disse, batendo as mãos, "É o
primeiro dia de aula e temos que levar os primos de vocês para a estação,
então se apressem! Vamos, vamos!"
"Com certeza, fizemos," Ela deu uma batidinha no meu ombro quando
terminou, "Uma ótima equipe, eu diria."
"Sempre sou bom com você." Eu a puxei para mim, dando um beijo
demorado nela.
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Nós nos casamos no início de 1983, quando voltamos de viagem. Eu sabia
que queria me casar com ela desde antes de entramos no avião para o
primeiro país, mas esperei que estivéssemos no lugar mais bonito para pedir
formalmente. Ela merecia tudo.
Tirando o dia que nossos filhos nasceram, eu não acho que eu tenha vivido
um dia mais feliz do que aquele.
Grécia foi o segundo país que fomos, logo depois que saímos do Brasil. Eu
não acho que teria conseguido fazer o pedido lá porque voltávamos bêbados
para os hotéis quase todas as noites. Mary amava as festas do Rio, e me
ensinou a amar também. Regulus Black nunca foi de festas. Mas tudo ao lado
dela parecia tão divertido e tentador, que antes de eu cair em mim, eu estava
com uma camisa de futebol e dançando músicas que eu não fazia ideia do
que diziam.
De qualquer forma, ainda foi especial. Foi uma cerimônia grande - com
direito à banda e um bolo de casamento de cinco andares. Alguns meses antes
de Mary entrar para a faculdade de moda em Londres. Sirius e Pandora
choraram no discurso de padrinho e madrinha de casamento e Marlene me
passou um sermão sério e muito preciso de todas as maneiras que ela tinha
de me encontrar onde quer que eu estivesse e me matar se eu fizesse alguma
besteira. Então sorriu e me abraçou.
"Não sei do que você está falando." Dei de ombros, "A única carta que recebi
foi de Carter avisando que vinha para deixar Oliver na estação, é o último
ano dele e..."
767
"Não posso responder, Mary."
"Não, eu não posso responder porque não faço a menor ideia do que dizer."
"Tudo bem," Mary deu de ombros, "Mas você sabe que vai ter que responder
alguma hora."
"Não vou me aborrecer com nada hoje," Eu respirei fundo, sorrindo logo em
seguida, "É o primeiro dia de Luna e eu quero garantir que seja perfeito. Vai
ser perfeito. Pandora já deve estar nos esperando."
"Mas o trem não sai às..." Mary olhou o relógio da parede, "Ah, meu Deus,
são dez horas! O trem sai às onze!"
Luna havia passado o verão inteiro falando sobre como estava ansiosa para
Hogwarts. Quando todos fomos ao Beco Diagonal para comprarmos os
livros novos dela e de Harry, ela saltitava feliz pelas calçadas e rodopiava
entre nossos braços de excitação. Harry, por sua vez, já ia para o seu segundo
ano e fez questão de explicar para Luna como as coisas funcionavam em
Hogwarts. E Draco disse à ela para não se preocupar com os alunos da
Sonserina, porque se algum deles a incomodasse, ele e Harry colocariam
diabretes em seus dormitórios à noite.
"Tio Reg!" Ela correu do sofá, se jogando no meu pescoço, com um sorriso
no rosto.
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"Acredite, Pan," Mary sorriu, a abraçando, "Qualquer coisa é possível para
esses dois."
"Acho que está tudo bem," Luna deu de ombros, "Mamãe disse que se algo
acontecer, posso escrever para ela e para o papai. Ou para você."
Luna sorriu e me abraçou carinhosamente. Não vou mentir que eu não estava
nervoso. Luna era muito parecida com Pandora quando tinha a idade dela,
não só a aparência, mas na personalidade principalmente. Ela era excêntrica
e original, tinha o próprio jeito de enxergar as coisas ao seu redor. O que me
conquistou de primeira, porque na época tudo que eu queria era fugir da
minha realidade.
"Não, claro que não." Eu disse, enquanto Mary e Phil passavam pela porta
com Luna, Ben e Liz. Eu e Pandora fomos os últimos a sair, enquanto eu
esperava ela trancar a porta de casa.
"Então," Ela murmurou para mim, aproveitando o barulho das crianças, "Já
sabe o que vai responder? Para a carta que recebeu?"
"Mas você quer, não quer?" Ela sorriu, estreitando os olhos, "Ah, você quer."
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"Eu não sei, talvez sim, mas..."
"Vamos, querida, o trem sai às onze!" Phil gritou, nos interrompendo. E não
tocamos mais no assunto.
A voz de Harry chegou aos nossos ouvidos apesar do barulho, ele e Draco
estavam discutindo sobre alguma coisa, o que não era estranho. James e Lily
estavam ao lado de Harry e Narcissa e Andromeda também estavam lá.
Remus e Sirius foram os primeiros a se virar, encontrando os olhares em nós.
"É, achamos que vocês tinham perdido a hora, ou algo assim." Remus disse
ao lado de Sirius, segurando a sua mão.
"Foi porque alguém brigou esta manhã e nos atrasou, não é?" Mary deu um
olhar para Liz e Ben, que fingiram que não estavam ouvindo. Sirius pegou
Liz no colo e Remus foi para o lado de Ben, pondo um braço ao redor do seu
ombro.
"Mm, e por que você está tão interessado, Potter?" Draco sorriu, dando um
soco de leve no braço de Harry, "Acho que alguém tem namorada!"
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"Sem brigas, meninos, já não basta o verão inteiro que vocês não nos deram
folga!" Lily disse, o corpo entrelaçado ao de James.
"Ah, você não pode culpá-los, Lils," James sorriu, "Desculpe, Draco, mas
meu Harry está certo quando diz que a Grifinória vai ganhar a Taça de
Quadribol este ano."
"Carter!" Exclamei, quando ele me abraçou forte, dando a gaiola para Oliver
segurar, "Merlim, finalmente estou falando com você sem ser através de um
pergaminho!"
Não demorou muito para Alice e Frank aparecerem com Neville, que tinha
uma amizade especial com Luna, juntamente com Ginny. Eles eram tão
próximos entre si quanto Harry, Ron, Hermione e Draco eram. Os três
haviam conhecido Hermione no primeiro dia do primeiro ano e quando eu
soube do nome da nova amiga deles quando voltaram no recesso de Natal,
eu honestamente mal pude acreditar. Hermione era muito nova na época para
lembrar de mim, mas eu não esqueceria do seu rosto.
"Marlene teve que ir correndo para o St. Mungus esta manhã," Lily explicou,
"Eu estava fazendo turno com ela na noite passada e ela mandou dizer boa
sorte para todos hoje!"
Uma família de sete cabeças ruivas vinha amontoada na nossa direção, a voz
barulhenta de Molly ecoando alguma coisa para os gêmeos que vinham rindo
um ao lado do outro. Arthur vinha na frente com Ginny de um lado e Ron do
outro, e então Percy logo atrás. Ron vinha discutindo incessavelmente com
771
Hermione, que provavelmente havia encontrado no caminho para cá,
juntamente com seus pais.
"Acho que não temos nada novo este ano, não é, Malfoy?" Harry sorriu,
apoiando o cotovelo no ombro de Draco.
Ginny correu para abraçar Luna e Neville. E Hermione fez o mesmo com
Harry e Draco, Ron vindo logo atrás. Ginny parou na frente de Harry, sem
jeito, e o abraçou muito cautelosamente, um sorriso fraco saindo de Harry.
"Juízo, os dois, ouviram?" Eu disse, apontando para os dois, "E Harry, tenho
que te dizer uma coisa muito importante."
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Fiz uma pausa dramática antes de dizer, "A Sonserina vai arrasar esse ano.
Sinto muito."
"...não fazer nada de bom." Sirius murmurou, "Depois de dizer isso, vocês
poderão ver qualquer coisa."
"E, pelo amor de Deus," Remus implorou, "Não se esqueçam de dizer "Mal
feito-feito", se não..."
"Se não qualquer um pode ver." Eu disse, assustando eles como se tivessem
acabado de ser pegos em flagrante.
Fred e George bateram nas mãos dos três, antes de subirem no trem
animadamente, seguidos pelo irmão Percy, a quem Molly estava acabando
de beijar.
Neville e Ginny estavam na porta do trem, mas Luna ainda não havia soltado
a mão de Pandora e de Phil. Eu fui até ela e Phil estava murmurando algo
para Luna, enquanto Pandora acariciava seu cabelo.
"Você lembra que me contou uma vez que na escola as pessoas falavam de
você, tio Reg? Que as pessoas falavam...mal?" Luna sussurrou para mim,
"Você acha que vai acontecer o mesmo comigo?"
"Acredite em mim, Luna, você é bem diferente de como eu era na sua idade,"
Sorri fracamente, "É normal se sentir assim no primeiro dia, mas você não
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precisa se preocupar. Eu disse que era só me avisar quando precisasse de
algo."
"Mas e se..."
"Se alguém disser qualquer coisa, não importa. Você não precisa provar nada
para nenhum deles, entende? Você sabe que é incrível e tem que ter orgulho
disso. Só você pode dizer quem você é."
"Eu queria que você estivesse lá." Luna me abraçou, falando contra o meu
ombro.
"Você queria?"
"Escute," Eu a olhei nos olhos, "Você vai ter um ano incrível e as pessoas
vão adorar você. E se alguém te incomodar, você pode usar aquele feitiço
que ensinei à você, lembra? Aquele que faz um monte de espinhas crescerem
na cara da pessoa!"
"Por que está todo mundo nos encarando?" Luna perguntou, olhando ao
redor.
Luna me abraçou mais uma vez, com um sorriso no rosto agora. Ela abraçou
Ben e Liz, que estavam ao lado de Mary e seguiu para dentro do trem, logo
atrás de Ginny e Neville, acenando para nós.
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"Vocês não vão me deixar em paz, não é?" Eu suspirei.
"Espere aí," Mary se aproximou, "Então você já sabe o que vai dizer?"
"Exatamente."
"Sim, vou dizer que sim," Respirei fundo, vendo o trem começar a se
deslocar, "Vou aceitar a oferta de Dumbledore, e ser professor de Poções em
Hogwarts."
"Eu sabia!" Sirius exclamou, virando para James, "Você me deve cinco
galeões agora."
"Idiota." James revirou os olhos, "Tem certeza, Reg? É o que você quer?"
"Não, eu quero," Eu afirmei, "Eu quis desde o momento que a carta chegou.
Acho que eu estava com medo, mas... mas eu preciso fazer isso. Hogwarts é
nossa casa, minha casa."
"Quem diria que você sucederia seu professor favorito, Reg." Sirius disse,
enrolando um braço ao redor do meu ombro.
O último vestígio de vapor se dispersou no ar. O trem fez uma curva, a minha
mão erguida ainda acenava adeus.
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"Ela vai ficar bem." Pandora murmurou ao meu lado.
Observei todos ao meu redor, que ainda olhavam o caminho que o trem havia
percorrido. Observei as pessoas que eu amava, todas juntas depois de todos
aqueles anos. Tanto tempo havia passado e eu ainda acordava sem acreditar
que eu havia realmente conseguido tudo aquilo.
Pai, marido, professor de Hogwarts. Tantas coisas que eu seria grato para
sempre.
A marca não doía nos últimos dez anos. Tudo estava bem.
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