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PERIGOSAS

Paixões Gregas

Sempre te amei

1ª Edição
2017

NACIONAIS - ACHERON
PERIGOSAS

Copyright © - 2017 por Mônica Cristina

1ª edição
2017

Autora: Mônica Cristina


Capa: Thatyanne Tenório
Diagramação – Giovana C. Soares

É proibida a reprodução

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é


mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou
utilizada sob quaisquer meios existentes, sem a
prévia autorização por escrito do autor.
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Índice
Capítulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capitulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capítulo 14
Capitulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capitulo 18
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Capítulo 19
Capitulo 20
Capitulo 21
Capitulo 22
Capitulo 23
Capitulo 24
Capitulo 25
Capítulo 26
Capitulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capitulo 31
Capitulo 32
Capitulo 33
Capitulo 34
Capitulo 35
Capítulo 36
Capitulo 37
Capitulo 38

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Capitulo 39
Capítulo 40
Capitulo 41
Capitulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capitulo 45
Capitulo 46
Capítulo 47
Capitulo 48
Capitulo 49
Capitulo 50
Capítulo 51
Capitulo 52
Epílogo

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Para Rosimeire, que me alfabetizou,


ensinou a ler e amar romances. Você começou isso.
Para Thatyanne Tenório, pela amizade e
parceria. Irmã Virtual.

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Capítulo 1
Nick

— Simon, Ellen enviou as anotações do


Ulisses? A reunião começa em uma hora e nem
passei os olhos pelo material. – Pergunto a Simon,
meu assistente e amigo quando ele invade minha
sala sem bater.
— Acabei de passar pela mesa dela.
Ellen está enviando por e-mail. Não era o Ulisses
que tinha que estar nessa reunião?
Simon se acomoda na cadeira em frente
à mesa, suspiro erguendo os olhos das planilhas que
estudo.
— Sophia quebrou o braço na viagem.
Eles foram para Kirus. – A pequena e paradisíaca
ilha grega onde meu irmão mais velho mora e onde
todos nós, os quatro irmãos Stefanos, nascemos. Só
Leon, o mais velho, vive lá agora com a esposa
Lissa e os dois filhos, mas é para lá que sempre
vamos quando queremos reunir a família. – Ele
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pediu para cobri-lo.


— Você está sempre fazendo isso.
Assumindo tudo. Não fica esgotado?
— Simon, eu devo muito aos meus
irmãos, e além disso, gosto do meu trabalho.
— Não é seu trabalho. Você é advogado,
sei que odeia essas reuniões com os executivos.
Isso é trabalho dos seus irmãos. ─ Ele é sempre um
melhor amigo intrometido, nem dou ouvidos. ─
Acho que eles não pensam que deve nada a eles.
— Leon está em Kirus, não poderia vir a
Nova York substituir Ulisses. Heitor mora em
Londres, não pode deixar tudo e correr para cá. Eu
faço o que é preciso, sabe que não me importo. –
Ignoro sua opinião sobre mim.
— Ok. Eu vou para minha sala, se
precisar estou lá. Vim mesmo trazer isso, precisa
assinar esses papéis ainda hoje.
— Depois da reunião olho isso. – Simon
se ergue e caminha para a porta.
— Ah! Comecei a montar sua agenda
para aquela viagem, comecei com Palermo, depois
Turquia. Acha que Ulisses volta logo da Grécia?

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— Pelo que entendi sim. Isso foi só uma


emergência, se ele não fosse mostrar a todos que
Sophia está bem, a família entraria em colapso, não
vai afetar minha agenda. Continue os preparativos.
— Certo. Boa reunião. – Simon deixa a
sala e fico sozinho.
Simon Donavan é um bom amigo, o
único na verdade, desde os tempos de Harvard.
Fiquei feliz de ter aceito ser meu assistente quando
nos formamos e a parceria vem dando certo nos
últimos anos.
Não é fácil trabalhar para os Stefanos,
temos negócios pelo mundo afora e trabalho é o
que não falta. Principalmente depois de todos os
traidores terem se casado e procriado, agora como
único e solitário solteiro, eu tenho que além de
fazer meu trabalho, cobrir todos eles.
Isso inclui viajar mais do que gostaria,
mas nunca recusaria nada a eles, nunca diria não.
Meus três irmãos fizeram muito por mim, muito
mais do que imaginam.
Me recosto na cadeira e a mente viaja um
pouco para o passado. Tudo é nebuloso, não tenho
lembranças de quando minha mãe deixou meu pai,
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eu tinha dois anos, não me lembro de termos


deixado Kirus expulsos pelo amante dela e nem de
termos chegado aqui em Nova York sem saber falar
a língua com um pai alcoólatra.
Essas coisas eu sei por que eles me
contaram, um bebê de dois anos não sabe de nada.
Nem mesmo sei se senti falta deles quando uns
meses depois meu pai, sem ser capaz de me criar,
me entregou a um abrigo. O que sei é que eles
cresceram e nunca desistiram de mim, me caçaram
até me encontrarem com dezesseis anos e me
salvarem do inferno que eles não sabem que vivi.
Já fizeram tanto por mim que nunca vou
contar as coisas que passei, enche-los de culpa e
pena não muda o passado. O que importa para eles
é que me tiraram de lá, me encheram de
oportunidades. Agarrei todas elas com unhas e
dentes, fui para Harvard, me formei em primeiro
lugar com louvor, assumi meu lugar nos negócios
da família e todos os dias trabalho mais do que
qualquer um.
Quando cheguei eles já eram ricos, não
precisavam ter dividido comigo cada centavo como
fizeram, mas eles fizeram isso e pago com meu
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esforço. Os irmãos Stefanos nunca vão se


arrepender de terem me salvado.
Não é fácil me reunir com a família, com
aquele monte de crianças correndo e me lembrando
o passado, se posso fugir disso, eu fujo, mesmo que
eles não entendam muito bem. Amo toda essa
enorme família que tenho, com cunhadas e
sobrinhos, apenas não sou como eles, gosto de me
isolar, não me encaixo como os outros. Me esforço,
mas as vezes preciso me esconder um pouco de
tudo para não abrir as feridas.
Suspiro, balanço a cabeça quando o
passado começa a me dominar e as lembranças
perigosas querem surgir. Reúno os documentos e
sigo para minha reunião.
É claro que demora muito mais do que o
planejado, é noite quando volto para minha sala
com mais uma pilha de coisas para fazer. Simon
entra junto comigo.
— Vai ficar até mais tarde, pelo visto. –
Ele diz olhando minha mesa repleta de coisas pela
metade.
— Vou. Nada de drinks no final do
expediente hoje.
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— Tudo bem. Você nunca foi bom


nessa coisa de aproveitar a vida.
— Você podia ser um Stefanos de tanto
que se mete na minha vida. – Resmungo com ele
que ri despreocupado e se senta.
— Sua governanta ligou.
— A senhora Kalais? – Encaro Simon,
ela nunca liga, a mulher morre antes de me
incomodar, vive na mesma casa que eu e posso
passar dias sem notar sua existência de tão discreta
que é. – O que ela queria?
— Disse que vai espera-lo hoje, tem um
assunto importante.
— Problemas aposto.
— Acho engraçado como ela é formal,
podia só esperá-lo e conversar, mas ela liga para
avisar. Nem parece aquele povo divertido que
trabalha na casa do seu irmão Leon.
— Ela é mesmo muito formal, gosto
muito disso. Meu apartamento é meu santuário.
Gosto do silêncio e da solidão que só encontro lá,
mas de fato ela exagera.
— Ah! Sua cunhada ligou. Quer saber se
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vai para Kirus no fim de semana, disse que todos


estão lá.
— Lissa? – Pergunto e ele afirma. – Eles
esquecem que entre esse prédio e a ilha de Kirus
tem um oceano. Se me querem perto toda hora
porque não se mudam para o outro lado do Central
Park?
— Aí sim você reclamaria. ─ Um arrepio
percorre meu corpo, nunca mais teria um dia de
paz.
— Provavelmente. Eu ligo antes de ir
embora e aviso que não vou.
— Nesse caso acho que acabamos por
hoje.
— Pode ir, Simon, antes de ir embora
deixo esses papéis assinados na sua mesa. De
manhã vou estar na associação.
— Obrigado. Te vejo amanhã. Se
precisar de qualquer coisa na associação me avisa.
— Você trabalha para a empresa Simon,
não tem que fazer isso e sabe que não vou pedir.
— Você é tão certinho que irrita. Fico
me lembrando de quando queria copiar seus
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trabalhos e não deixava. Cara chato. Não quero


ganhar nada para te ajudar na associação, também
posso fazer trabalho voluntário as vezes.
— Sabe onde fica. É só ir lá e se oferecer
para ajudar. Tem sempre alguém precisando.
— Qualquer dia faço isso. Tenho que ir,
marquei uns drinks com duas gatas, mas claro que
vai me deixar na mão, isso é bem ruim, vou chegar
lá sem o último Sefanos solteiro e vou me dar mal.
Que adianta ter um amigo milionário se não serve
nem para me ajudar a pegar mulher?
— Você é patético!
— Tchau.
Fico sozinho, quase todo dia sou o
último a deixar o edifício, meu dia é sempre curto
perto de tudo que tenho que fazer.
Pego os papéis que tenho que assinar
para ler. Levo mais meia hora para assinar tudo,
então é hora de ligar para kirus, suspiro resignado.
Sei exatamente o que vai acontecer, o telefone vai
passar de mão em mão até todo mundo me dizer
qualquer coisa que não pode esperar.
A família está toda lá, mas o primeiro

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número que ligo é o de Leon, sempre faço isso,


nem me dou conta.
— Nick!
— Oi Leon.
— Não vem? – Ele pergunta sem
rodeios. É a segunda vez que desmarco meu
encontro com eles, logo vão organizar uma
excursão para me ver.
— Não. Muito trabalho.
— Ainda está no escritório? Não são
quase nove da noite? – Ele reclama, é muito
trabalho, mal sabe ele que continuo em casa.
— Acabei. Só parei para telefonar e já
vou para casa.
— Por que não pega um voo para cá? O
jato está em Atenas, mas pode vir num voo
doméstico.
— Leon eu não posso, sabe que estou me
organizando para fazer aquela viagem, saber como
as coisas estão na Itália, se Mark está lidando bem
com a nova função, Ziar me espera na Turquia.
Prometo que no fim da viagem vou encontrar vocês
e fico uns dias.
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— Uns dias? Duvido. Lissa quer falar


com você.
— Tudo bem. Tchau.
— Tchau. Se cuida. – Escuto ele avisar
Lissa que não vou, um bando de vozes por trás dele
e sei que a fila de gente querendo falar comigo vai
ser grande.
— Nick está todo mundo com saudade. –
A voz suave, mas decidida de Lisssa Stefanos soa
como uma ordem.
— Eu sei, Lissa. Muito trabalho.
— Os gêmeos perguntaram por você.
— Mande um beijo para eles. – A última
vez que estive na ilha foi no aniversário de cinco
anos de Alana e Luka.
— Ariana mandou preparar torta de
chocolate para você.
— Que pena que agora vai ter que comer
tudo sozinha. – Brinco e ela ri. – Quanto
sofrimento.
— Sozinha nada. Lizzie está aqui.
— Chegou todo mundo? – Pergunto já
sabendo a resposta.
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— Sim. Menos você. Para de fugir de


nós.
— Sophia está bem?
— Ótima. Ulisses disse que volta na
segunda-feira.
— Certo eu tenho que....
— Lizzie quer falar com você. – Ela me
corta quando tento me despedir. Lá vem a garotinha
de voz delicada. Acho que Lizzie é a única capaz
de me fazer pegar um avião para Kirus.
— Tio Nick.
— Oi Lizzie. Tudo bem?
— Tio, você não veio. – Que grande
constatação. Ela tem dez anos, não se pode esperar
demais.
— Não. Sinto muito Lizzie, tenho que
trabalhar.
— Eu sei, tio.
— Como estão as coisas? E seus irmãos,
dando muito trabalho?
— Harry está bem bonzinho como
sempre, mas tenho que ficar andando atrás dele

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toda hora. Emma está um bebê lindo, tio, e todo


mundo está respeitando os contratos.
— Que bom.
— Quando vamos a Disney de novo?
— Já fomos esse ano Lizzie, agora só
ano que vem. – Todo ano pego Lizzie e vamos
juntos a Disney, é divertido, uma semana eu e ela.
Depois a devolvo para os pais. Tem qualquer coisa
em Lizzie que me lembra ela e isso nos aproximou
desde sempre.
— Você vem para meu aniversário?
— Claro, Lizzie. Estarei aí.
— Meu pai quer falar com você. Tchau
tio.
— Tchau Lizzie. Estuda bastante se não,
nada de Disney. Da um beijo em seus irmãos.
— Tá bom. – Ela passa para Heitor.
— Nick?
— Oi Heitor. Tudo bem por aí?
Pensando em plantar mais árvores?
— Falta mais um. Mas temos que
esperar Emma completar ao menos um ano para

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retomarmos o projeto bebês.


— Nem preciso lembra-lo dos recursos
naturais não renováveis, não é? – Alerto mesmo
sabendo que é em vão. Ninguém me escuta nessa
família.
— Não me deixa esquecer. Escuta, essa
sua viagem não vai atrapalhar o aniversário da
Lizzie. Vai? Sabe que sem você aqui ela ficaria
arrasada.
— Tem dois meses até lá. Vai dar tempo.
— Só queria te lembrar disso.
— Recado dado. Fala para o Ulisses que
foi uma reunião bem difícil e mandei tudo para ele
por e-mail, manda ele dar uma olhada e por favor,
me livra de falar com o resto da fila.
— Tudo bem. Seja rápido, desligue
enquanto é tempo. Boa semana.
— Obrigado. – Desligo o telefone feliz
por ter feito o mais difícil.
Recolho alguns papéis, pego minha pasta
e passo na sala de Simon para deixar o que me
pediu. Depois pego o elevador privativo. O saguão
está vazio, todos os funcionários já foram. O
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segurança acena um boa noite quando passo pela


porta de vidro e deixo o edifício.
São três quarteirões até minha casa e em
dias que fico apenas no escritório faço o percurso a
pé. Gosto de assistir a cidade vibrando, gente indo e
vindo de todos os lugares para todos os lugares.
— Boa noite, Ted. – Cumprimento o
porteiro quando aperto o botão do elevador do meu
edifício. Ele balança a cabeça em resposta.
Normalmente é o porteiro da manhã, John é o da
noite. Devem ter trocado. Ted é carrancudo e
silencioso, John fala sem parar e preciso correr dele
ou tenho que ouvir todo tipo de histórias.
A porta do elevador se abre no hall da
minha cobertura. Adoro o silencio de estar em casa,
escuto os passos da senhora Kalais assim que chego
a sala. Ela surge vinda da cozinha com seu ar
austero e cabelos brancos presos num coque.
— Boa noite, senhor Stefanos.
— Boa noite. Precisava falar comigo?
— Sim. Desculpe incomoda-lo, mas é
importante. – Seu tom formal não lembra em nada
o jeito grego de ser.

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— Algo errado? Precisa de alguma


coisa?
— Minha irmã em Kirus, ela está doente.
— Sinto muito. É grave? Quer traze-la
para cá? Sabe que pode recebe-la aqui e cuidar dela
com os melhores médicos.
— Obrigada, senhor. Sei que é muito
generoso, não é necessário. Minha irmã está muito
idosa, seria uma viagem difícil, na verdade o que
preciso é cuidar dela por um tempo. Tenho que me
afastar por dois meses.
— Entendo.
— O senhor pode ficar à vontade para
me demitir se achar que é melhor.
— Que ideia! Claro que não. Está
comigo desde que cheguei aqui. É uma boa
funcionária, não vou demiti-la. Pode ir sem medo. –
Nunca faria algo assim.
— Obrigada, senhor. Eu tomei a
liberdade de conversar com algumas pessoas para
conseguir uma substituta. Sei que o senhor trabalha
demais e precisa manter esse apartamento em
ordem. – Ela é tão séria que quase sinto medo dela.

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– Consegui uma pessoa de confiança para ficar no


meu lugar.
— Que bom. Ela sabe que é temporário?
— Sim. Eu deixei claro isso. Preciso
partir em dois dias, por isso me adiantei. É muito
difícil encontrar pessoas de confiança.
— Fez bem. – Eficiência é algo que me
agrada.
— Mas tem um problema, ela é jovem,
tem vinte e três anos. – Jovem demais, não gosto
nada disso, pensei numa senhora como ela, séria,
não numa garota pouco mais jovem que eu.
— Não gosto nada da ideia, senhora
kalais. – Aviso sem rodeios.
— Imaginei que não gostaria, mas nesse
caso acho que o senhor terá que encontrar alguém
pessoalmente e ensinar o trabalho. Realmente não
posso ficar mais que dois dias para ensinar a jovem
o serviço da casa e como o senhor gosta de suas
coisas.
Suspiro resignado. Não tenho tempo
nem paciência para isso. A senhora Kalais foi
recrutada por Lissa quando meu apartamento ficou

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pronto, logo ela entendeu como eu sou e nos


acertamos bem. Eu perder tempo contratando e
treinando alguém não está em meus planos.
Fico preocupada, por que sei que não é
fácil achar alguém de confiança.
Realmente isso é um problema, tenho
coisas importantes aqui. Espionagem industrial e
venda de informações não são coisas de filme no
meu trabalho. Ando pela sala pensativo. Não é o
pior dos mundos, dois meses apenas. O que pode
dar errado? Posso me adaptar.
— Pode mandar a moça vir. Treine e
depois pode viajar tranquila, quando estiver pronta
seu emprego a espera. Precisa de dinheiro?
— Não senhor, não consigo nem mesmo
gastar tudo que o senhor me paga.
— Tudo bem. Vou pedir a Lissa para ir
ver sua irmã, qualquer coisa que precise quando
chegar lá procure por ela e o Simon vai
providenciar sua passagem.
— Obrigada, senhor Stefanos, sua
família não tem igual.
— Bobagem.

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— Sirvo o jantar em meia hora?


— Perfeito. Vou subir.
Depois do banho e de jantar sozinho
como todos os dias, me sento no escritório. Se for
capaz de ser bem honesto não precisava abrir a
pasta, o computador e continuar trabalhando, mas
faço isso.
Trabalhar espanta a solidão que me
imponho e o tédio. Além disso, afasta pensamentos.
Mergulho no trabalho até depois da meia noite.
Então decido que é hora de dormir.
Encaro a parede de vidro com vista para
as luzes de Nova York. Talvez tenha sido essa vista
panorâmica que me fez decidir por esse lugar. Não
importa que digam que é gigantesco, que um cara
sozinho não precisa de um apartamento de três
andares com tantos quartos e salas.
Eu gosto, sei como é estar fechado num
cubículo sem ar, escuro e sujo. Todo o lado norte
do apartamento é fechado por paredes de vidro do
chão ao teto, tenho luz dia e noite. Tudo é claro, os
móveis, as paredes, foi minha única exigência aos
decoradores. Espaço e claridade, o resto não
importa, não sei se gosto ou odeio, é só um lugar e
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acho que nesses anos que moro aqui nem decorei


muito a ordem das coisas. Tenho luz. Isso é tudo.
Não resolveu muito. A escuridão
claustrofóbica está dentro de mim e não fora.
Minha mente salta para o passado sem
que possa evitar, quando me dou conta estou de
novo andando por aquele lugar sujo, abandonado e
barulhento. Tem sempre alguém chorando, tem
sempre alguém mancando, tem sempre barulho de
violência.
Abrigo infantil Saint Peter. Que grande
ironia o inferno ter nome de santo. Aquele maldito
buraco que costumavam chamar de quarto da
disciplina me domina a mente com seu cheiro de
podre, sem luz, úmido e visitado por ratos.
O rosto infantil de olhos azuis
assustados, surge em minha mente e me arranca um
quase sorriso. Não tem meios de lembrar seu nome.
Sempre foi gatinha. Apenas isso.
Aquela garotinha assustada de voz suave
foi meu porto seguro durante boa parte do meu
tempo no inferno. Lembrava um gatinho manhoso e
cuidar dela me mantinha respirando.
Agora se foi para sempre, no dia que
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deixei aquele lugar perdi a única coisa que me


importava. Ninguém que viveu naquele inferno
sobreviveu muito do lado de fora. Eu tive sorte de
ter família e dinheiro, mas o resto só tinha um
caminho. O submundo, drogas, prostituição, crime.
Ajudei tantos depois que me formei e
pude assumir meu dinheiro e meu lugar na
empresa. Não ela. Minha gatinha já tinha deixado o
inferno e sabe Deus onde se enfiou todos esses
anos, se sobreviveu.
— Dormir Nick. Para de ruminar o
passado. – Balanço a cabeça afastando as
recordações. Deixo o escritório e subo para o
quarto. Tiro a camiseta e me deito com o velho
moletom. Acendo o abajur, mais uma marca do
passado. Não durmo no escuro.

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Capitulo 2
Annie

Um vento frio bate me fazendo


estremecer e ergo a gola da jaqueta, dobro os
joelhos me encolhendo um pouco, gosto desse
lugar. A escada de incêndio do pequeno
apartamento de Tracy.
Não tenho mais ninguém além dela e se
não estivesse na pior, não estaria aqui de modo
algum. Seu marido Ted me odeia com todas as suas
forças, se não fosse a culpa que Tracy carrega,
talvez não me recebesse.
Tracy e minha mãe eram amigas de
infância, mamãe foi a primeira a casar e nasci no
primeiro ano de casamento. Depois foi a vez de
Tracy se casar com Ted. Os dois não tiveram filhos
e acho que a humanidade agradece. Um filho de
Ted teria que carregar apenas os genes de Tracy
para ser aceitável.
O homem é intratável. Não é verdade,
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admito constrangida, seu ódio é dirigido apenas a


mim. Quando se casaram, Tracy teve que se afastar
da minha mãe e no fim ele estava certo. Quem quer
ter amizade com um casal que o marido é nada
além de um trapaceiro? John Keller era conhecido
por seus pequenos golpes, era assim que sustentava
a família e Ted afastou as duas amigas.
Quando minha mãe morreu e ficamos
apenas eu e meu pai Tracy tentou ajudar. Me
lembro de ser deixada em sua casa horas a fio
enquanto meu pai saía para seu trabalho de enganar
pessoas e limpar seus bolsos.
Eu tinha sete anos, amava meu pai, ele
me amava. Eu não entendia seu trabalho, ouvia Ted
esbravejar a cada vez que chegava do trabalho e me
via encolhida em seu sofá assistindo desenho e
ficava confusa sobre a razão de tanta raiva.
Como tinha medo dele, ainda tenho, no
fundo mesmo todos esses anos depois eu ainda
tenho e se tivesse qualquer outra opção não teria
batido justo nessa porta, mas não tem mais
nenhuma outra porta para mim.
Não tem nada para quem vem de onde eu
vim. A estadia no inferno não me fez mais forte, só
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mais solitária.
Ted fez o que tinha que fazer ou obrigou
Tracy a fazer. Entregaram meu pai, quando ele foi
preso me levaram para ser cuidado pelos auxiliares
do demônio e foi lá que cresci. Só uma vez Trace
se atreveu a me visitar, eu tinha onze anos, um olho
roxo e escoriações, ela não fez nada.
Quando saí me deu dinheiro. Trezentos
dólares que meu pai deixou como herança antes de
morrer de pneumonia na prisão. Eu tentei. Venho
tentando desde então. Um tempo aqui, outro em
Los Angeles, garçonete, ajudante de cozinha,
faxineira de motel, nunca dura muito e dessa vez eu
não tive escolha.
As garotas com quem dividia
apartamento há seis meses simplesmente me
mandaram sair e sem dinheiro e emprego só Tracy
me receberia.
Olho uma garota passando de mãos
dadas com um rapaz, os dois sorriem um para o
outro ao atravessarem a rua, acho bonito, mas não
para mim.
Annie Keller nunca vai ter essa chance.
Quem ficaria com uma garota com meu passado?
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Filha de um trapaceiro e criada em um abrigo? Sem


formação, emprego e família? Mas se isso não for o
bastante para fazer qualquer um correr, ainda tem
todos os traumas, pesadelos, insônia, claustrofobia.
Respiro fundo afastando todos os
pensamentos ruins. Não sou o tipo que se dobra e
se rende a infelicidade, gosto de sorrir, de tentar.
Sou um tanto atrapalhada, com duas mãos
esquerdas como Tracy diz, e uma das razões para
ter perdido pelo menos dois ou três empregos.
Mesmo assim não desisto de tentar.
— Vai congelar aí fora, Annie. – Tracy
surge na janela e me sorri. – Vem jantar, o Ted está
chegando.
— É tarde, ele está bem atrasado. –
Comento quando passo para dentro.
— O porteiro da noite teve um
contratempo, ele ficou substituindo o homem, mas
já está chegando.
— Eu coloco os pratos. – Me ofereço e
ela aceita. – Não vou quebrar nada.
Depois de arrumar a mesa me sinto
angustiada. Jantar mais um dia com Ted. Odeio
estar aqui, incomodando Tracy, sei que ela fica
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constrangida e tentando o tempo todo colocar panos


quentes.
— Tracy! – A voz grave de Ted soa
assim que ele abre a porta, Respiro fundo.
— Que bom que você chegou. ─ Tracy
abraça Ted, ele não se dá ao trabalho de
corresponder.
O homem me olha sem nenhum sinal de
qualquer coisa que não seja repulsa. Não queria,
mas entendo, foi ele que conviveu com a culpa que
Tracy carregou todos esses anos pelo que me
aconteceu e acha que eu sou a única culpada.
— Consegui um emprego para você, já
que não é capaz de fazer isso sozinha. – Ele diz de
modo direto.
— Querido, que notícia ótima! – Só
Tracy comemora, eu sempre fico nervosa diante
dele e me calo.
— Vai trabalhar de governanta na casa
de um milionário lá no prédio onde trabalho.
Ele disse governanta? Na casa de um
milionário? Fico muda. Nem sei o que dizer. Não
tenho a menor ideia do que uma governanta faz a

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não ser cara de brava em filmes.


— É temporário, mas com o salário vai
poder ajeitar sua vida. Espero que não me crie
problemas. – Ele me acusa antes mesmo de
qualquer coisa.
— Eles sabem que não tenho
experiência?
— A senhora Kalais vai treinar você.
São dois meses, ela me garantiu que o trabalho é
fácil e o homem é sozinho.
— Sozinho? ─ Trabalhar para um
homem sozinho me assusta um pouco.
— Não me venha com ataques. Vai ter
um bom salário, casa e comida, não reclame. – Ted
nunca entenderia. Nunca me daria ouvidos. Não
sabe o que passei e não se importa. Ninguém
realmente se importa.
— Casa? Disse casa? Vou morar lá?
— Vai. Amanhã saímos bem cedo. Já vai
levar suas coisas, a mulher parte em dois dias e
quer ensinar o serviço antes. – Ele esbraveja.
— Será uma boa oportunidade. Tenho
certeza que vai se dar muito bem. – Tracy tenta
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amenizar.
— Eu vou, Tracy, não se preocupe. –
Aviso sabendo que ela está angustiada.
— Claro que vai. Acha que vai ficar
mais tempo aqui? Que tenho alguma obrigação com
você?
— Ted não faça isso, as coisas deram
errado para ela por minha culpa. Eu devia ter
cuidado dela quando a mãe morreu, não podia ter
denunciado ele e depois que ele morreu eu podia...
— Tracy, está tudo bem. – Tento
acalma-la, ela chora.
— Vê o que faz com ela? Toda vez que
está aqui ela fica assim. Vou tomar um banho e
jantar no quarto.
Ted se retira. Encaro Tracy, ele tem
razão. Minha presença abre as feridas do passado e
isso é demais para ela.
— Você não tem culpa de nada, estou
bem, vou gostar do trabalho tenho certeza, se odiar
só tenho que aguentar dois meses. Posso viver com
um velho milionário por dois meses. – É meu jeito
de tentar ajeitar as coisas.

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— Tudo bem. Vamos comer, por favor


não diga que não está com fome. Depois arrumo o
sofá e tenta dormir.
Janto com Tracy, tentamos conversar,
mas no fundo não temos muito assunto. Depois ela
estica um lençol no sofá, me abraça em despedida e
fico sozinha. Acendo um abajur de canto, arrumo
minha mala. Tudo que tenho está ali.
Não é muito, apenas roupas, calças e
shorts jeans, umas blusinhas simples, tênis. Passei o
último ano em Los Angeles, as roupas são simples.
O que não é simples em mim?
Dobro minha camiseta dos Jets, beijo o
brasão do meu time querido.
— Logo vamos estar no estádio, sei que
está com saudade. – Enfio na mala a minha peça
preferida e companheira de jogos. Nada se compara
a emoção de estar no estádio em dia de jogo do
New York Jets. O melhor time de futebol do
mundo.
Me encolho no sofá, os olhos abertos
como se fosse meio dia, noite de insônia, melhor
não dormir que acordar gritando no meio de um
pesadelo e Ted ficar mais uma vez furioso.
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Me acostumei com a lentidão das horas


noturnas, não gosto delas, não gosto delas desde
sempre. No inferno as noites eram sempre piores,
as coisas que aconteciam, os barulhos. Um arrepio
percorre meu corpo. Não posso voltar lá. Tenho
que limpar a mente.
Ted surge na sala quando o dia
amanhece, me vê sentada e enrolada nas cobertas e
faz aquela cara de desprezo de sempre.
— Fique pronta, vamos sair em uma
hora, coloque uma roupa descente. Esses seus
shortinhos com essas blusinhas mostrando o ombro
que adora usar não é roupa para se apresentar.
— Eu sei disso, Ted.
Ele tem sorte, tenho uma única saia cinza
e uma camiseta branca que devem servir, coloco
uma sapatilha. Prendo os cabelos num rabo.
Tracy me abraça quando arrasto minha
mala para porta. Sinto pena de sua fraqueza, sinto
pena da minha fraqueza.
— Estou aqui se precisar. Isso é sério.
Tem que prometer que virá se precisar.
— Prometo. – É uma promessa vazia,

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por mim nunca mais pisaria nessa casa. Quem sabe


seja a última vez? Não custa sonhar. – Obrigada
por me receber Tracy. Vai ficar tudo bem.
Arrasto a mala atrás de Ted todo o
caminho, atropelo meia dúzia de pessoas no metrô
e mais umas duas ou três no caminho a pé até o
edifício. Ted faz questão de andar rápido só para
me irritar. A mala vai ficando cada vez mais pesada
com o tempo.
— Ajuda a moça, idiota! – Alguém grita
de um ônibus e sorrio para cara feia dele.
— Idiota por que ele nem te conhece,
imagina se conhecesse? – Não resisto, estamos no
meio da rua, o que ele pode fazer além dessa cara
de furioso de sempre?
O edifício é tão elegante que me dá um
frio na barriga só de olhar a entrada. Ted está em
seu uniforme de porteiro e sempre achei porteiros
divertidos e falantes, ele acaba com todos os
clichês.
— Pegue o elevador de serviço, a
senhora Kalais vai estar a sua espera. Não faça
tolices ou acabo por perder meu emprego. Está aqui
por que ela tem pressa e precisa de alguém de
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confiança.
— Eu sou de confiança. – Aviso
apertando o botão para chamar o elevador.
— Nesse ponto sou obrigado a admitir
que não puxou aquele safado. Por isso arrisquei,
não estrague tudo.
A porta do elevador se abre e entro, Ted
fica me olhando enquanto a porta fecha e quase
posso tocar em seu arrependimento.
O elevador sobe ao topo do edifício,
estou nervosa e respiro fundo. A porta se abre num
hall elegante, uma porta está aberta e uma mulher
surge quando a porta do elevador se fecha atrás de
mim.
— Bom dia. – Sorrio.
— Isso não vai nada bem. Nada bem. –
Ela balança a cabeça quando me encara. – Bonita
demais, jovem demais.
— Beleza é questão de gosto. Ele pode
me achar um dragão. – Tento defender o emprego
que parece que perdi mais uma vez. – Vai me
demitir antes mesmo de me contratar?
— Não posso, realmente não posso. –
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Ela faz sinal para que me aproxime. Arrasto a mala


por uma cozinha elegante e gigantesca. Gosto do
balcão que divide a área de trabalho entre a pia e
eletrodomésticos e a mesa de seis lugares.
— Sou Annie Keller.
— Bem-vinda, menina. Vou te mostrar a
casa e seu trabalho.
— Obrigada.
— Vamos começar por seu quarto, assim
deixa essa mala. – Eu a acompanho por outra porta,
saímos numa sala pequena com duas portas. – Essa
é a área dos empregados, essa e sua sala, com tevê
e tudo que precisa para seu tempo livre, esse é meu
quarto e aquele o seu. Deixe a mala lá.
Entro e é uma boa suíte, muito melhor
que pensei, confortável e bem arrumada.
— O senhor Nickolas Stefanos se
preocupa muito com o bem-estar dos funcionários.
Vou te dar um tempinho para arrumar suas coisas,
te espero na cozinha.
— Nickolas Stefanos? Nome diferente.
— Ele é grego, como eu. – Ela sai
fechando a porta atrás de mim.
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Me lembra ele. Eu conheci um grego, era


assim que todos o chamavam, grego, não me
lembro se alguma vez disse seu nome e de qualquer
modo, não faz diferença, meu príncipe nunca
estaria vivendo numa casa como essa, crescemos
num abrigo para crianças abandonadas.
A melhor pessoa que já conheci,
corajoso, inteligente, o rosto fica um pouco
nebuloso, me lembro do olhar cansado, do rosto
muito magro, dos cabelos quase raspados que
costumava deixar todos os meninos iguais, da
tristeza que sempre nos acompanhava. De como
ficamos amigos.
Eu estava tão apavorada e sozinha,
quando quebrei aquela louça e a bruxa me encarou
cheia de ódio, achei que ia me matar, mas ele
assumiu a culpa, nunca tínhamos nos falado, mas
ele disse que tinha sido ele e acabou na disciplina
no meu lugar.
Me sento na cama tentando lembrar se
alguma vez ouvi seu nome, acho que não, era só,
grego. Fui corajosa e cuspi num segurança só para
ser atirada lá com ele e levar água e um pedaço de
pão.
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Como senti medo daquele lugar. Se ele


não estivesse lá, eu teria feito uma loucura. E assim
nasceu a única coisa boa que levo do passado, a
amizade mais pura que existiu.
Até que um dia ele passou por mim
carregando sua mochila, me mandou ser forte e
nunca mais voltou. Foi quando o inferno ganhou
mais profundidade, fui tragada para o fundo do
poço sem volta. Eu tinha onze anos. Foi a segunda
vez que perdi tudo.
Vou ao encontro da mulher antes que
fique com fama de preguiçosa. Ela parece um
sargento do exército, me encara de pé com a mão
na cintura.
— Pronto, senhora Kalais.
— Ótimo. Vamos lá. Essa é a cozinha.
Nessa gaveta fica guardado mil dólares, para usar
no que precisar na casa, quando estiver acabando
vai ligar nesse número. – Ela balança um papel. ─
Simon, assistente do senhor Stefanos, ele manda
mais dinheiro.
— Mil dólares e acha que vai acabar?
— Pode ser. Venha. – Ela abre a porta
para a parte social e fico chocada, é o maior
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apartamento que já vi na vida. Tão elegante e claro


que assusta.
As paredes de vidro me encantam e
caminho até elas, dá para ver boa parte da cidade. É
lindo. O apartamento tem cara de revista de
decoração, não dá para saber nada sobre quem
mora nele. Tão impessoal como um showroom de
loja de decoração. O velho não tem muita
personalidade.
— É... grade e muito bonito.
— Sim. Foi decorado pela maior e mais
famosa empresa do mundo. Cada peça aqui custa
uma fortuna. Quando for mexer em algo tome
cuidado para colocar de volta no mesmo lugar.
— Sim senhora.
— A cada quinze dias, uma empresa de
limpeza faz a faxina, você só precisa manter em
ordem, mas o senhor Stefanos é muito organizado.
Aquele é o escritório dele, quando estiver lá, onde
ele passa boa parte do tempo, não o incomode de
jeito nenhum.
O velho é chato e sem personalidade.
— Sim senhora.

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— Aqui tem as salas, o escritório, aquela


salinha é onde ele descansa e vê tevê, mas isso é
raro. Vamos subir. – Subimos por uma escada de
cinema e gosto dela. Em cima são muitas portas. –
Esse é o quarto dele, depois que ele sai para o
trabalho você vem e arruma, pega as roupas sujas e
forra a cama, ajeita o banheiro, não terá quase
nenhum trabalho. Uma lavanderia vem buscar as
roupas toda segunda-feira e devolver na quarta-
feira.
Metódico. Vamos ver, o velho é chato,
metódico e sem personalidade.
— Sim senhora. – Repito mais uma vez.
— Os outros quartos ficam fechados, ele
nunca recebe hóspedes. – Subimos mais um lance
de escadas. Tem a maior academia que já vi, uma
piscina aquecida e uma varanda com jardim e
bancos.
— Nossa! Isso é mesmo Nova York?
— Eu sei, é lindo. Ele malha todas as
manhãs antes do trabalho, você sobe e organiza a
academia. Vamos descer e vou te explicar como as
coisas funcionam.
Voltamos para cozinha. Tudo é
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absurdamente grande e arrumado. Nos sentamos na


sala dos empregados.
— Ele acorda cedo e vai malhar, você
serve o café da manhã na sala de jantar as oito em
ponto, depois ele sai para o trabalho, você arruma a
academia, o quarto dele e o escritório, o resto ele
nunca usa. Então fica livre. Deixe o jantar pronto e
sirva sempre meia hora depois que ele chegar, não
é sempre que ele vem para jantar. Então ele se
fecha no escritório e não incomoda mais ele.
— Entendi. Eu tenho que cozinhar? –
Isso sim é um problema dos grandes que não vou
dizer a ela.
Sim. Tem muitos livros de receita, ele
adora comida italiana, mas não costuma reclamar
ou exigir nada. – Menos mal, vamos ver o que acha
de comida queimada ou crua. – Se ele precisar de
alguma roupa e for uma emergência temos uma
lavanderia.
— Sei lavar. – Sorrio vitoriosa, não que
pareça ser grande coisa ser capaz de apertar um
botão de máquina de lavar.
— Nos fins de semana ele costuma
trabalhar em casa ou viajar, sirva as refeições e o
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deixe em seu canto. Emergências fale com o


assistente dele.
— Sim senhora. O que faço com meu
tempo livre?
— O que quiser. Ele não vai querer
saber, se tudo estiver em ordem ele não vai se
importar. Tem folgas aos domingos, ele se vira na
casa e você evita ficar por aí, o Senhor Stefanos
não é obrigado a conviver com você.
Que homem chato. Cheio de frescuras.
Me concentro em prestar atenção, o serviço parece
fácil. Talvez eu consiga, a menos que a comida
estrague tudo.
— O telefone quase nunca toca. As
pessoas que importam ligam direto para o celular
dele, mas de vez em quando uma mulher descobre
o número e tenta a sorte. O senhor Stefanos não
tem uma mulher fixa então as vezes uma ou outra
descobre o telefone e se arrisca, nunca passe a
ligação para ele.
Um velho babão que gosta de trocar de
mulheres toda hora. Com tanto dinheiro não deve
ser nada difícil encontrar companhia.
— Sim senhora. Quando ele vai me
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entrevistar?
— Não vai. Ele não tem tempo a perder
com isso. Está contratada. Não vai conhece-lo hoje
por que ele não vem jantar, então deve chegar
tarde.
— Amanhã de manhã?
— Ele vai sair muito cedo, tem um café
marcado, coisa do trabalho dele, então você mesma
se apresenta a noite.
— Eu? Sem a senhora aqui? E se ele me
odiar?
— Seja uma boa moça e ele não vai
odiá-la, eu viajo amanhã à tarde. – Ela não tem
qualquer certeza, mas isso parece uma emergência.
Então eu devo ter uma boa chance.
— Certo.
— Agora ande por aí. Se familiarize com
tudo. Vou arrumar minha mala. Boa sorte.
— Obrigada. – Fico de pé e deixo a sala
de empregados, minha sala já que vou ser a única
empregada.
Nada de fotos pela casa, nada que conte
um pouco sobre ele, não entro no quarto e nem no
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escritório, a mulher fez tantas recomendações que é


melhor não me arriscar.
Janto com ela, vez por outra ela se
lembra de mais alguma recomendação, vou para
meu quarto, deito e no meio da noite acordo com
um sobressalto, fico esperando alguma reação,
silêncio, acho que dessa vez não gritei, fico grata.
Depois me sento, não quero dormir e
sonhar, não quero acordar gritando e perder o
emprego antes mesmo de começar. A senhora
Kalais deixa o jantar pronto, agradeço mentalmente
não ter que cozinhar no meu primeiro dia.
Fico pensando como será esse homem,
não pode ser jovem, tem muito dinheiro para um
jovem e é muito solitário também. Será que teve
filhos? Se teve foi um péssimo pai e eles o
abandonaram.
Quando a senhora caminha para a porta
com sua mala meu coração acelera de medo, e se
além de velho babão ele for um psicopata, engulo
em seco quando ela se despede de modo formal.
Fico sozinha de pé no meio da cozinha
as duas da tarde. Mordo o lábio pensando no que
fazer até o homem chegar. Tomo banho, visto meu
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short jeans, uma camiseta, deixo o cabelo solto e


coloco sobre a cama uma muda de roupa mais
apresentável para vestir quando ele estiver
chegando.
Caminho para sala principal, adoro pisar
no chão gelado descalça, e no tapete peludo da sala,
fico olhando a vista da cidade, é tão silencioso que
me sinto surda quando olho para todo aquele
movimento lá em baixo e não ouço nada.

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Capitulo 3
Nick

— Boa noite, John. – Cumprimento o


porteiro quando entro no saguão.
— Boa noite. Chegou cedo, senhor
Stefanos, bom descanso. A senhora Kalais já foi.
— Eu sei, John, vim trabalhar em casa
hoje. Bom trabalho. – O elevador chega e subo
olhando o celular. A porta se abre e entro na sala
ainda conferindo as dúzias de mensagens dos
insistentes Stefanos.
— Quem é você e o que faz aqui? Acho
que não é nada elegante subir sem ser anunciado. –
Ergo meus olhos e dou de cara com um anjo no
meio da minha sala. Tem qualquer coisa naquele
rosto e olhos que me lembra ela, é como um susto.
O que é claro só pode ser coisa da minha cabeça. A
senhora Kalais disse que era jovem, mas podia ter
dito que era também linda.
Olhos azuis como os dela, cabelos loiros
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e longos, pequena e delicada. Pisco encarando a


garota de braços cruzados no meio da minha sala.
— A pergunta devia ser, quem é você e o
que faz na minha casa? – Ela se espanta, abre a
boca chocada.
— Sua casa? Você é o senhor Stefanos?
– Afirmo para sua total surpresa. – Mas você não é
nenhum velho babão. – Ela exclama e ergo uma
sobrancelha. Essa é nova, mas Ulisses iria adorar.
— Velho depende do ponto de vista.
Meus sobrinhos diriam que sim. Sobre babão, terá
que me dizer como chegou a essa conclusão.
— Eu... eu... Achei que para ser rico
assim devia ser velho. – Ela faz um movimento
amplo mostrando o apartamento.
— Isso explica o velho, e quanto ao
babão? – Evito sorrir apesar de estar achando
aquele rosto confuso e assustado muito divertido.
— Você vai me obrigar a dizer? –
Afirmo para seu desespero. Ela suspira, descruza os
braços e a manga da camiseta cede mostrando o
ombro nu, como se não bastasse as pernas
torneadas e bronzeadas. – A senhora Kalais foi um
tanto indiscreta, disse que troca muito de
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namoradas ou coisa do gênero. Como eu achava


que era um velho...
— Concluiu que eu era um velho babão.
– Ela afirma desolada. – Qual seu nome? – Me dou
conta que ainda não sei como se chama minha nova
governanta.
— Annie Keller. Você está furioso. Não
é? – Ela tampa a boca com a mão, revira os olhos. –
Te chamei de você. Que começo ruim. Essa minha
boca grande, quando fico nervosa... desculpe,
senhor Stefanos.
Não gosto do modo formal vindo dela,
prefiro assim em todos os outros casos, mas quando
vem dela me irrita um pouco.
— Prefiro que me chame de Nick
apenas. Como todo mundo. – Só minha família e
mais duas ou três pessoas no mundo me chamam
assim, mas ela não precisa saber.
— Que bom! – Ela não esconde o alivio.
– É muito jovem para ser o senhor Stefanos. Já
basta essa casa de revista de decoração e sem
nenhuma.... – Annie se cala de modo abrupto.
— Continue? – Peço a ela que balança a
cabeça negando.
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— Deve querer jantar. Vou servir. – Ela


me sorri e aquilo é tão absurdo, o quanto me lembra
ela.
— Veio de onde?
— Eu? – Ela balança a cabeça. – Claro,
quem mais seria? Los Angeles. Fome? – Ela
pergunta mais uma vez e afirmo, não é ela. Claro
que não seria. Meu coração fica pulando e fico
tentando dizer a ele para parar porque
simplesmente não é ela.
— Vou subir. Vinte minutos e pode
servir. – Ela dá dois passos e depois olha para si
mesma. Linda, com sua pouca roupa e os pés
descalços, isso nem parece estar acontecendo. As
coisas aqui não vão ser nada fáceis.
— Aí meu Deus. Olha como eu estou?
Tinha uma roupa pronta para te esperar. Desculpe.
— Está ótimo Annie. Não se preocupe. –
Subo as escadas para longe de seus olhos.
Acho que minha gatinha seria uma
garota exatamente assim dez anos depois. Ela tinha
uns onze quando nos perdemos, sorrio com a ideia,
não posso ficar me lembrando dela toda hora nos
próximos dois meses, isso não é nada bom.
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Me sinto meio idiota desejando descer


logo e vê-la de novo. Quando chego a sala de jantar
a mesa está posta. Ela ainda descalça e com a
mesma roupa de pé ao lado da mesa. Normalmente
a senhora Kalais já teria sumido para sempre.
— Precisa de algo? Eu me esqueci de
perguntar a senhora Kalais se tinha que ficar aqui
de pé como nesses filmes de magnatas ou se te
deixo sozinho. Acho que deve ser chato ficar
sozinho, mas... – Ela se cala mais uma vez. Gosto
desse jeito espontâneo e atrapalhado, adicionado a
beleza estonteante, é um perigo em forma de gente.
— Normalmente eu fico sozinho, nem
vejo a cara da senhora Kalais, mas já que está aqui,
sente. – Convido e ela olha para a cadeira e depois
para mim. – Vamos. Já jantou? – Ela nega. –
Ótimo. Pegue talheres e venha jantar comigo.
— Tem certeza?
— Absoluta. Vai ficar aqui dois meses,
vamos nos conhecer. – Ela sorri. Não é nada bom
fazer isso. Annie some um momento, volta com
prato e talheres. Se senta ao meu lado e se serve.
— Obrigada pelo convite. – Meneio a
cabeça, até que gosto de ter companhia.
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— Agora me diga o que acha da casa,


começou a falar e não terminou. Quero saber.
— Vai me torturar até eu contar?
— Sim. Pode dizer. – Incentivo curioso.
— Sabe Nick. É assim que devo chama-
lo, não é?
— Exato. – Ela é toda delicadinha.
— Sabe Nick. Está tornando o que
poderia ser uma cordial relação de trabalho, numa
prematura e radical quebra de contrato.
— Vamos ter que arriscar, Annie. –
Gosto de pronunciar seu nome. Ela faz uma careta.
— Quando cheguei aqui achei esse lugar
incrível, é realmente perfeito, mas como capa de
revista de decoração, ele não... Vou dizer! – Afirmo
tomando um gole de água. – Ele não tem
personalidade, não se sabe nada sobre quem mora
aqui, do que gosta, quem é. Essas coisas. – Ela
suspira. – É agora que me demite?
— Não. Ainda não é dessa vez. – Sinto
seu alivio e sorrio. Ela pisca algumas vezes, me
olha mais fixamente parece levar um susto. Quase
fica pálida. Balança a cabeça como se estivesse
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negando algo.
— Tolice. – Diz para si mesma.
— Então veio trabalhar para um velho
babão sem personalidade? Me admira não ter
fugido.
— Preciso do emprego. E agora sabemos
que não é um velho babão. – Ela sorri e depois leva
o garfo a boca. Uma boca bem bonita alias.
— Sim, agora sou só um cara sem
personalidade.
— Talvez seja só um cara que não liga
para detalhes, que trabalha muito e deixou essas
coisas na mão de outra pessoa.
— Foi exatamente isso. Na época não
me passou pela cabeça me envolver em nada. Eu
estava deixando a universidade e só queria ser
rápido.
— Viu? Além disso tem essa vista
perfeita, o resto não importa.
— Foi por isso que escolhi o lugar, a
vista e o silêncio. – Ela olha para a vista,
continuamos a comer.
— O silencio me faz sentir surda, olho
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para todo esse movimento e não escuto nada.


— Faz sentido. A comida está ótima.
— Não mereço os créditos. A senhora
Kalais deixou pronto antes de partir.
— Ela sempre acerta. – Falamos um
pouco sobre minha governanta e a vista enquanto
vamos comendo. Descanso os talheres, eu bem
queria achar um motivo para apenas continuar ali,
acontece que sei que não é boa ideia. Então me
ponho de pé. – Bom Annie, eu tenho muito trabalho
pela frente. Boa noite.
— Boa noite. – Ela diz me olhando ainda
sentada. Então sigo para o escritório e abro meu
computador. Começo com as planilhas de Londres,
ainda tenho muito trabalho.
Ignoro as mensagens de toda a família
por quase uma hora. Depois quando finalmente
chega a de Leon eu sou obrigado a responder.
Respondo mentindo que estou num bar com
amigos, é noite e é onde eu deveria estar com meus
quase vinte e sete anos.
Acho que não vão acreditar, mas Ulisses
está lá e vai dizer a eles que não sou nenhum
monge. Saímos muitas vezes juntos. Então volto a
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me concentrar no trabalho, agora as três senhoras


Stefanos não vão mais tentar contato com medo de
estragar meu possível encontro com a quarta futura
senhora Stefanos.
Volto ao trabalho, de vez em quando
penso em ir à cozinha buscar um copo de água, mas
sei que isso é apenas desculpa para ver a garota que
dorme a alguns metros de mim.
Ela é divertida e foi um bom jantar. Não
é assim ruim chegar em casa e ter alguém para
trocar umas palavras amistosas.
Volto ao trabalho, o relógio marca onze
e quinze da noite. Mais pelo menos uma hora disso.
Amanhã tenho que entregar essas contas para
Simon fechar e ainda preciso estudar o caso dos
Wilsons, eles têm que conseguir manter a casa. Se
tivessem procurado a associação antes. Agora
perderam todos os prazos.
— Oi. – Ergo o olhar e Annie surge na
porta com uma bandeja. – Desculpe se atrapalho, é
que já está tarde e ainda está aí. Então eu fiz um
sanduiche e um suco.
— Entre. É uma ótima ideia. Jantei cedo
e estou com sono.
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— A senhora Kalais disse para nunca vir


aqui, mas resolvi arriscar.
— Odeio esse cara para quem a senhora
Kalais trabalha. Não tinha ideia que ela me via
assim. – Conto enquanto afasto algumas coisas e
ela deposita a bandeja.
— Ele é meio chato mesmo. – Annie
sorri. – Esse sanduiche de tudo que tem na
geladeira é minha especialidade. Espero que goste.
— O nome é ótimo.
— É, mas no seu caso não é verdade.
Tem muita coisa nessa geladeira, não coube tudo.
— Comeu?
— Não. Tomei o suco, está ótimo. – Ela
caminha até a vidraça enquanto mordo o sanduiche.
Encara a noite clara e viva de Nova York.
— Está muito bom. – Aviso depois de
dar a primeira mordida, tem de tudo ali, mas
misturado tem um gosto ótimo. – Depois disso
consigo terminar meu trabalho.
— Onde estudou? – Ela me pergunta.
Sinto sua curiosidade aflorada.
— Harvard, direito.
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— Inteligente. ― Ela parece quase


decepcionada.
— E você? Fez faculdade?
— Não. Acho melhor deixar você
trabalhar. Boa noite. Se precisar é só me chamar.
E ainda não calçou sapatos, eu penso
quando a assisto deixar a sala. É estranho como me
sinto bem perto dela. Termino o sanduiche, tomo o
suco enquanto leio o processo. Quando meu
trabalho chega ao fim, passa das duas da manhã.
Subo as escadas sem nenhuma vontade
de dormir. Me deito e claro ganho de presente uma
crise de insônia. Annie me traz lembranças demais.
Me lembro da porta da disciplina ser
aberta e a garotinha atirada lá. Me fingi de forte por
que tinha doze anos e não queria que me visse
chorar.
— Fiquei preocupada, a culpa foi minha.
Te trouxe pão e água.
— Obrigado. Seus olhos parecem de
gato.
— Eu sei, meu pai dizia. Vamos ficar
aqui até morrer?
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— Não gatinha. Uma hora eles abrem.


— Você me salvou daquela bruxa, é
como um príncipe.
— Quando fizer algo muito grave eles te
atiram aqui na disciplina um tempo, depois abrem,
vou tentar vir se te mandarem, mas se não der não
fica com medo.
— Ai. O que é isso? Passou algo no meu
pé. É muito escuro.
— Senta aqui do meu lado, são ratos,
não vão te morder.
— Tenho medo.
— Medo? É uma gatinha. Gatos
devoram ratos, eles é que tem medo de você.
— Vou te chamar de príncipe.
— Como fez para te mandarem aqui?
— Estava olhando que não saía nunca.
Eu escondi esse pedaço de pão e a água e cuspi no
segurança, ele me deu um tapa, me arrastou para
cá.
— Obrigado, mas fica longe deles, fica
longe dos meninos maiores, as coisas...

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As memórias me incomodam. Fico de


pé. Quase cinco da manhã.
Desço em busca de água gelada e quando
bebia o primeiro gole escuto Annie gritar. Sigo até
seu quarto, bato na porta, ela grita mais uma vez e
apenas entro.
A garota se senta pálida, me olha
assustada.
— Desculpe. Acordei você? – Está
pálida e de olhos arregalados.
— Não. Estava na cozinha. Pesadelo?
— É. – Ela me conta um pouco
envergonhada.
— Deve estar estranhando o ambiente
novo. Volte a dormir, não tenha medo, é seguro
aqui. Boa noite.
Ela afirma e deixo o quarto fechando a
porta. Volto para cama, talvez seja boa ideia ir
encontrar meus irmãos. Perto deles as lembranças
sempre diminuem um pouco.
— Sabe que não vai idiota. Por que fica
se enganando?
Acabo conseguindo dormir umas horas,
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depois quando entro na academia estou decidido a


correr o mais rápido que puder para não pensar em
nada. É inútil, acabo pensando um pouco na garota
que tenho lá em baixo. Depois de cinquenta
minutos de corrida aproveito para nadar, mais do
que em qualquer outro dia na vida, quando desço
para o café estou com dor no ombro e nas pernas.
A mesa está posta. Não é como a senhora
Kalais organiza as coisas, mas está ótimo. Mesmo
assim não quero sentar. Encaro a porta que leva a
cozinha. Por que tenho que comer sozinho se podia
encontrar Annie e quem sabe rir um pouco?
Além disso, ela teve um pesadelo e
realmente não seria nada educado sair sem saber se
ela está bem. Sirvo uma xicara de café e vou
bebendo para a cozinha. Observo enquanto ela
parece distraída arrumando coisas em um armário.
Usa roupas de ginastica e tem os cabelos
presos num rabo que balança quando ela se
movimenta de costas para mim.
— Bom dia. – Digo quando percebo que
não me viu, ela dá um pulo, meia dúzia de coisas
caem do armário e então ela se vira. – Desculpe. –
Peço rindo.
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— Acho que a senhora Kalais era uma


terrorista infiltrada, ela disse que você nunca entra
na cozinha.
— É verdade, mas ela assustava um
pouco. – Annie sorri. – Vai malhar?
— Deus me livre. Fui correr no Central
Park, faço isso todas as manhãs, acordo bem
cedinho e corro ao ar livre pelo menos uma hora.
— Pode usar a academia se quiser.
— Prefiro o Central Park. – Ela responde
guardando as coisas que derrubou.
— Já tomou café? – Eu estou me
sentindo bem idiota correndo atrás de companhia.
Não sou assim.
— Não. – Ela para o que está fazendo e
me olha.
— Então vem. Depois termina. – Annie
olha para a própria roupa mais uma vez. – Você se
veste como quiser, está bem? Só tem nós dois aqui.
— Ótimo. – Voltamos para a sala de
jantar. Ela se senta ao meu lado como na noite
anterior. – Gosta de café?
— Não começo meu dia sem uma dose
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de cafeína.
— Também não. Tem uma cafeteria bem
boa quando volto da minha corrida, vou começar a
trazer café.
— Tem dinheiro?
— Sim. Não, quer dizer, tem dinheiro
numa gaveta da cozinha, mil dólares, dá para
tomarmos café até enjoar.
— Se precisar de mais...
— Ligo para um senhor Simon e ele me
dá mais. Ela me disse. – Annie explica risonha.
— Senhor Simon. – Acabo rindo. – Ele
vai gostar de ouvir isso. Não precisa ligar para ele,
é só falar comigo, qualquer coisa que precisar. A
senhora Kalais era formal demais.
Como uma fatia de queijo e tomo meio
copo de suco, depois fico de pé.
— Já ia me esquecendo. Conseguiu
voltar a dormir?
— Desculpe, mais uma vez. Não queria
incomodar. Eu... só me desculpe.
— Está tudo bem. – Sorrio. Sei
exatamente como é ter um pesadelo. Talvez melhor
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que ela, mas aprendi a bloquear ou tinha aprendido.


Até ela chegar.
— Obrigada Nick. – O tom é mesmo de
gratidão, como se entender que teve um pesadelo
fosse algum grande feito.
— Tenho um dia cheio. Até a noite.
— Bom trabalho.
Aceno e deixo o apartamento. No
elevador fico pensando como ela vai passar o dia
sozinha. Dirijo para a associação, lá o trabalho é
dinâmico demais para pensar em qualquer coisa.
Depois quando dirijo para o escritório
passo pelo central Park, não sei se gosto de pensar
nela correndo sozinha muito cedo, aqui é Nova
York, pode ser bonitinho nos filmes, mas é bem
perigoso.
— Bom dia, senhor. – Ellen me
cumprimenta. – Seu irmão ligou, ele já olhou seus
e-mails e respondeu. Mandou avisar que Sophia
está ótima.
— E o que mais? – Pergunto enquanto
caminhamos juntos pelo corredor.
— É o Ulisses, o senhor não quer saber o
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resto.
— Ok Ellen. Obrigado.
Quando me sento em meu lugar, Simon
entra cantarolando.
— Que bom humor!
— Encontrei uma vizinha sua no bar.
Sarah. Conversei com ela meia hora.
— Sei quem é. Ficaram juntos? – Pelo ar
feliz ele teve uma boa noite.
— Não. Mas você podia me convidar
para jantar um dia desses. Quem sabe nos
encontramos de novo?
— Não. Liga para ela.
— Ela não me deu o telefone. Convida
ela para jantar também?
— Não. O que temos essa tarde? – Mudo
de assunto. Troquei meia dúzia de “Bom Dia” com
a mulher, não posso convida-la para jantar.
— Você não vai me ajudar, já entendi.
— Se ela quisesse te ver te daria o
telefone dela.
— Só por que todas as garotas do mundo
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te dão o telefone não quer dizer que aconteça com


todo cara. – Simon se senta e abre a pasta, depois
me olha um momento. – Se eu tivesse a sua cara, o
seu sobrenome e a sua conta bancária...
— Você seria eu e não acharia nada
divertido.
— Isso com certeza, então eu queria ser
o Ulisses, antes de casar é claro.
— A gente pode trabalhar um pouco,
claro se isso não for atrapalhar os seus devaneios.
— Por que somos amigos mesmo?
— Por que fomos forçados a dividir um
quarto uns anos atrás da faculdade.
— Ah! Agora me lembro. Você é o cara
que passava toda sexta à noite estudando.
— E você é o cara que chegava bêbado
de madrugada e cantando.
— Bons tempos. E mesmo assim, você
sempre ficava com as garotas mais bonitas.
— Eu refiz uns contratos que estavam
bem mal feitos, coisa que veio da Turquia. O Ziar
precisa rever aquele departamento.
— Sabia que reclamaria, até eu achei
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péssimo e nem sou tão exigente.


— É sim, ou não estaria aqui. – Simon é
muito bom no que faz.
— Um drink no fim do dia?
— Não. Tenho que ir cedo para casa.
— Tem? – Simon pergunta.
— Tenho? Não disse tenho, disse quero,
para terminar umas coisas da associação.
— Como vai a nova senhora Kalais?
— Deve estar bem. Não sei. – Por que
estou mentindo para o Simon feito um garoto
fazendo travessuras? - Chega de papo, vamos
trabalhar.

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Capitulo 4
Annie

Eu pensando que era um velho babão, do


tipo que aperta garotas por debaixo da mesa e o
homem é simplesmente lindo. Isso é até
desrespeito, ninguém devia ser bonito assim
impunimente, mas isso nem é o mais estranho.
Olho para ele e só penso em meu
príncipe. Quando sorriu quase desmaiei de emoção.
Parecia que ele estava ali e claro que isso é a coisa
mais estúpida do mundo. Meu príncipe rico e
poderoso? Como isso seria possível?
Ele achava que era grego por que todo
mundo chamava ele assim, então talvez seja por
isso, eles são do mesmo lugar e por isso se
parecem. Só etnia. Quem sabe nem se parecem?
São as memórias destorcidas de uma garotinha de
onze anos cheia de medo.
Me perdi dele para sempre, ele foi
embora, talvez, se estiver vivo, se estiver livre e
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não preso como quase todo mundo que saiu de lá,


ele possa ter ido buscar suas raízes na Grécia. É
melhor pensar nele bem e longe do que imagina-lo
preso, drogado ou morto.
Termino a cozinha. Nick é tão diferente
do que pensei. Tão legal, mas se ficar o tempo todo
pensando no passado eu não vou conseguir
aguentar. Foi o pior pesadelo que tive na vida.
A lembrança me faz estremecer e
derrubo uma panela. O barulho ecoa pelo
apartamento e me faz tremer de susto.
Guardo a panela e subo para seu quarto.
Abro a porta e está tudo quase igual. Até a cama
está forrada. Acho bonitinho. Ele tem jeito de bom
menino. A mãe deve ter ensinado a forrar a cama.
Ou a babá. Deve ter tido muitas. Crianças ricas
sempre tem.
Entro no closet que é quase do tamanho
da casa de Tracy. As roupas usadas estão sobre
uma cadeira. Quando descer eu as levo. O banheiro
é tipo coisa de cinema. Ele é mesmo um magnata
grego. A banheira é enorme e alguém podia se
afogar ali.
Arrumo uma bagunça ou outra. Coloco
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as roupas num cesto e pretendia descer quando


encontro uma parte literalmente mágica de seu
closet.
O chapéu seletor. Uma varinha. O vira-
tempo.
— Três voltas devem ser suficientes. –
Digo quando o giro. Coloco no lugar, tem mais.
Cachecol da “Grifinória”, taça “tribruxo”. Xadrez
bruxo. – Caramba! Que lugar legal. Será que ele
brinca com todas essas coisas? Eu bem que
brincaria. – Fico com a varinha na mão, olho para a
porta do banheiro. – “Alohomora”! – Nada, um dia
ainda vai funcionar.
Deixo tudo no lugar e saio antes que
fique ali até anoitecer. Aposto que ele tem todos os
livros, será que se importa de me emprestar? Faz
um ano que não leio e preciso ler tudo de novo.
Todo ano tenho que ler todos os livros. É assim que
a vida funciona.
A casa fica arrumada em uma hora, o
que é irritante porque não tenho ideia do que fazer
com o resto do dia. Olho a vista, ando de um lado
para outro sem tocar em nada.
Depois vou para cozinha folhear livros
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de receita. Escolho o cardápio, leio dez vezes a


receita. Se a comida ficar muito ruim e ele me
mandar embora será muito triste.
Como um sanduiche na hora do almoço.
Depois tomo banho. Gosto do ar condicionado da
casa, é quentinho e não gelado como todo mundo
que tem ar condicionado deixa.
Coloco um short jeans e uma camiseta.
Prendo os cabelos para cozinhar. Desfaço minha
mala. Não devia fazer isso tão rápido. Ele pode me
mandar embora a qualquer momento, é sempre
assim.
As garotas com quem dividia o
apartamento não tiveram a menor pena. Toda noite
uma crise de pânico, um pesadelo ou eu
perambulando pela casa. Logico que depois de um
tempo elas acharam que eu devia estar possuída.
Ligo a tevê, vasculho pelos canais e
acabo deixando em um desenho, no fim da tarde
vou para cozinha.
— Vamos lá garota. Você consegue.
Nem vejo o tempo passar, logo o frango
está no forno, os legumes do jeito que a receita
mostrava na frigideira. Confiro os temperos. Tudo
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parece estar bem confuso no momento. Duas


panelas ligadas ao mesmo tempo e mais o forno é
muito para mim.
— Oi. – Meu coração quase salta de
susto, dou um pulo e me viro. Lá está ele com
aquele olhar divertido depois de quase me matar do
coração. – Desculpe. – Ele deve me achar uma
idiota, não entende por que me assusto assim, nem
vai saber nunca, mas sempre acho que tem algo
ruim vindo, alguém chegando para me machucar e
isso nunca acaba.
— Já chegou? O jantar nem está pronto.
— Desculpe. Se quiser posso sair e
voltar mais tarde. – Ele diz num tom tranquilo.
— Eu sou bem idiota, não é? – Ele
continua parado ali me olhando e meu coração bate
descompassado e não sei bem o que isso significa,
mas me dá medo. A panela. – Ai meu Deus! Está
queimando.
— Estou te atrapalhando.
— Olha eu não preciso de ajuda para me
atrapalhar na hora de cozinhar. – Aviso desligando
e torcendo para não estar muito ruim. Que ideia
estúpida confessar que não tenho a menor ideia do
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que estou fazendo. – É agora que me demite?


— Não. Ainda não é agora. Vou
trabalhar um pouco enquanto termina. Coloque
mesa para dois.
— Vai receber visita? – Isso não é da sua
conta. Eu não paro nunca?
— Não. É para você. – Ele diz sumindo e
fico ali olhando para a porta.
Bem feito, ele vai me obrigar a comer
minha comida. Faço careta só de pensar. Termino
os legumes. Arrumo como na foto do livro. Não
parece ruim quando arrumadinho. Desligo o forno e
coloco a mesa. Quando volto para sala de jantar
com o frango ele me espera.
— Era para parecer com aqueles perus
de ação de graças. Não está feio, assim muito feio.
– Me defendo de futuras críticas.
— Já comi coisa pior. Não se preocupe.
— Não sabe. Ainda não comeu.
Eu me sento, Nick faz o mesmo. Fico
esperando ele comer.
— Não vai comer? – Me pergunta
educado.
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— Eu cozinhei isso, quer dizer, pode ser


que não seja lá muito bom, então estou esperando
você.
— Muito esperta. – Ele come um pedaço
do frango. – Vá em frente. É suportável.
— Então não é agora que me demite?
— Definitivamente não é agora. Não sou
nenhum gourmet, se fosse, teria contratado um chef
de cozinha para trabalhar aqui.
— Por que é um magnata grego. – Ele ri
com o comentário. – A senhora kalais cozinha bem.
Foi o que pareceu.
— Nem perto de como minhas três
cunhadas cozinham, ou Mira que trabalha para meu
irmão Leon.
— Achava que era sozinho, mas tem
uma família grande.
— Sim. Três irmãos. Ulisses que é
casado com Sophia, não tem filho e mora aqui
perto e trabalha comigo. Leon, que mora na Grécia
com a esposa Lissa e os filhos gêmeos, Luka e
Alana.
— Que fofura! Gêmeos. – Deve ser
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muito assustador ter dois filhos de uma vez. Me dá


medo só de pensar.
— Sim. Gêmeos. E o Heitor, ele mora
em Londres, com a esposa Liv, e os três filhos,
quatro se contar o cachorro que ele trata como
filho. Lizzie, Harry, Emma, e o cachorro Dobby.
— Família grande. Então todo mundo é
fã de Harry Potter?
— Como...
— Harry e Dobby, Emma, além disso eu
vi seu armário secreto, não estava vasculhando,
mas não resisti.
— Somos apenas eu e Lizzie. Lizzie é a
mais velha, escolheu os nomes dos irmãos, queria
que Emma se chamasse Hermione, eu a convenci a
colocar Emma como a atriz. Você gosta?
— Está brincando? Quem não gosta?
Você brinca com aquelas coisas?
— Claro que não, são apenas...
Relíquias. ─ Ele responde quase ofendido.
— Tentei “alohomora” na porta do seu
banheiro, não aconteceu. Ainda.
— Esperou sua carta? – Ele me pergunta
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e remexo a comida, estava ocupada demais


tentando sobreviver.
— Não. Quer dizer que você é o único
solteiro? ― Mudo de assunto apressada.
— Sou e vou continuar sendo. Casar não
está nos meus planos, isso é definitivo.
— Também não vou casar. – Conto a ele
depois de empurrar um pedaço de frango com gosto
de nada goela abaixo. Seu olhar parece incrédulo. –
O que? Aposto que pensa que todas as garotas do
mundo querem casar.
— E não querem?
— Não sei. Não conheço todas as
garotas do mundo, mas eu não vou casar. – Isso
nem é questão de querer, é um fato, mas não vou
entrar em detalhes com ele.
— Então é isso, não vamos casar.
— Nem vou ter filhos. As pessoas ficam
tendo um monte de filhos e não pensam como
crianças são sensíveis e frágeis, depois acontece
coisas ruins com elas e cadê que alguém se
importa? – Paro de falar quando noto seu olhar
surpreso, com uma família cheia de crianças ele

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deve estar horrorizado comigo, engulo em seco. –


Claro que eu não tenho nada contra quem faz essa
escolha, como por exemplo sua família grande. ─
Tento consertar.
— E nem chegamos nos recursos
naturais. – Ele diz concordando comigo e agora eu
fico surpresa.
— Você também pensa nisso? Por que
eu penso muito. Água, petróleo, nada disso é
renovável, mas ninguém liga.
— Estou sempre dizendo aos meus
irmãos, mas ninguém me ouve. Felizmente o
Ulisses e a Sophia não querem povoar o mundo,
não pensam em filhos, querem se aventurar pelo
mundo.
— Então alguém te ouviu. – Ele nega.
— Não. Isso é por que aqueles dois
vivem enfiados em aventuras. Sophi quebrou o
braço escalando montanhas no Himalaia.
— Que coisa! Queria ser corajosa assim,
não sou, tenho medo de tudo.
— Não é meu negócio também. Fico
com livros e filmes. E sua família como é?

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Ele me pergunta e claro que não vou


contar, dizer que meu pai era um trapaceiro que
morreu na prisão é pedir a demissão.
— Sou apenas eu, meus pais morreram e
não tenho parentes. – Evito seu olhar, descanso os
talheres. Deu para engolir. – Não tem porta-retratos
dessa sua família grande, por isso achei que era
sozinho.
— Verdade. – Ele diz olhando em volta
como se procurasse por um. – Nunca pensei nisso,
Sophia, minha cunhada é fotografa, ela me deu um
álbum, fez um para cada no natal, está no quarto.
Tem fotos de todos.
— Que trabalho legal.
— Ela escreve para uma revista, tem
uma coluna. Liv é praticamente uma executiva na
empresa, fala muitas línguas e quando não está
tendo bebês ela trabalha conosco. Lissa é pintora.
Seus quadros valem uma fortuna, mas ela diz que é
apenas passa tempo, ela gosta mesmo é de cuidar
da família. Todas dizem isso.
— Elas podem. E você é o magnata
grego.
— Sou advogado, trabalho na empresa e
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também faço um trabalho voluntário numa ong no


Harlem.
— Queria muito fazer algo assim.
— É só fazer, Annie, tem sempre alguém
precisando.
— Eu não sei fazer nada, não sou
advogada, médica, o que poderia fazer? – Isso as
vezes me faz sentir vergonha. Ele se encosta mais
na cadeira, acabou de comer faz tempo, mas
continua ali conversando comigo.
— Lá na associação precisamos de todo
tipo de ajuda. Gente para ajudar crianças com os
deveres escolares, coisa básica, temos uma
biblioteca, precisamos de gente para fazer
companhia a alguns idosos, ler para eles, conversar.
Servimos refeições também. Aposto que todo
mundo gostaria de experimentar esse seu frango
com gosto de nada.
Sorrio, eu posso fazer isso, boa parte do
dia que passo aqui é andando de um lado para
outro, consigo me organizar e ajudar.
— É só chegar e dizer que quero ajudar?
– Ele afirma. – Pode me dar o endereço?

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— Posso. Semana que vem eu vou estar


lá, pode ir comigo conhecer se quiser.
— Semana que vem está longe, pensei
em ir amanhã. Juro que não deixo nada aqui
desorganizar, é que... – Olho para ele um momento.
Decido ser honesta. – É que honestamente você não
precisa que uma pessoa fique aqui o dia todo, paga
uma fortuna por duas ou três horas de trabalho bem
leve.
— Querendo perder o seu emprego e o
da senhora Kalais? – Nick diz de modo tranquilo,
acho que no fundo ele sabe.
— Não. Coitada, a mulher me mata
quando voltar. Mas acontece que passei o dia
perambulando pela casa e já que disse que posso
ser útil eu quero tentar.
— Deixo o endereço para você pela
manhã. Divirta-se, acho que vai gostar e quanto a
casa, eu sei que a senhora Kalais não faz muito,
nem eu gostaria que fizesse, ela já é uma senhora.
— Obrigada.
— Vou trabalhar um pouco. –
Finalmente ele fica de pé, passamos um bom tempo
conversando, eu queria que fosse mais.
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Recolho a louça, lavo, deixo a cozinha


impecável, levo menos de uma hora. Não tem nada
para fazer e a ideia de dormir me assusta. Sei que
vou ter pesadelos e incomodar Nick mais uma vez.
Me sento na minha salinha e ligo a
televisão. Vasculho os canais um tempo, assisto um
filme pela metade e quando termina não entendo
nada. Encaro o relógio. Quase onze. Será que ele
quer um sanduiche? Talvez já tenha ido dormir.
Pego meu livro, comecei a ler faz duas
semanas e está absolutamente chato. Mesmo assim
me forço a ler. Quando ergo o olhar são quase meia
noite e então decido que ele pode sim estar com
fome. Vou até a sala e vejo a porta do escritório
aberta e a luz acesa.
Faço um sanduiche. Um suco natural e
levo para ele. Nick ergue o olhar quando me vê.
— Ainda acordada? – Afirmo quando ele
afasta as coisas para receber a bandeja. – Sabe que
não precisa fazer isso? Já passou muito do seu
horário de trabalho.
— Eu sei. – Fico um pouco chateada, é
só uma gentileza, não vou cobrar por isso. –
Desculpe ter vindo, é que não durmo cedo e não
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estava fazendo nada.


— Ficou chateada? – Eu nunca escondo
muito bem meus sentimentos.
— Um pouco. Foi apenas uma gentileza.
Não estava pensando nisso como trabalho.
— Obrigado Annie. Desculpe se me
expressei mal, gostei da gentileza. Apenas não
estou acostumado, sempre fico sozinho e quando...
Obrigado. – Nick desiste de explicar.
— Melhor eu ir. Boa noite.
— Gosta de chocolate? – Ele me
pergunta quando deixava o escritório.
— Acho que sim. Como todo mundo. –
Me volto para olhar para ele.
— Então não gosta como eu. Isso é
ótimo. – Acho aquilo estranho. – Pode guardar isso,
num lugar difícil?
— Quer que esconda de você? – Sorrio
quando vejo uma caixa elegante de bombons finos.
— Sim. A senhora Kalais fazia isso sem
eu precisar pedir, acho que esqueceu de te dizer. Eu
vou comer tudo se ficar aqui. Quando aquele
potinho ficar vazio você repõe. – Vejo um pequeno
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pote de cristal com quatro bombons.


— Tudo bem. Cuido disso.
— Obrigado. – Ele sorri mais uma vez,
gosto do sorriso dele, do jeito como os olhos
parecem sorrir junto.
Guardo os bombons num armário de
panelas na cozinha, me sinto meio ridícula em
esconder os chocolates dele, mas sei que tem gente
viciada nisso.
Vou para cama. Me encolho nas
cobertas. Repito meia dúzia de vezes que não vou
ter pesadelos para ver se meu cérebro registra.
Estou sozinha na disciplina, me
esqueceram aqui, sinto cede e calor, falta ar e
cheira a mofo. Tento bater na porta, mas estou
fraca, vou morrer sozinha aqui. Junto forças para
gritar por socorro, alguém vai ouvir e me salvar.
Grito com todas as minhas forças, uma vez, duas
vezes, não quero morrer aqui, sozinha e esquecida,
grito e tento bater na porta mais uma vez e então
uma mão se fecha em meu pulso e abro os olhos
num sobressalto.
Nick está de pé, ele segura ainda meu
braço e me sento pálida de vergonha do vexame.
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— Desculpe. – Ele solta meu braço. Se


afasta um pouco.
— Outro pesadelo? – Afirmo, passo a
mão pelos cabelos, que vergonha, olho para o
relógio ao lado da cama, uma e meia da manhã.
— Sinto muito. Por favor me desculpe.
Eu não devia ter dormido.
— Não dormir não parece ser o jeito
mais saudável de evitar pesadelos. – Ele diz
tranquilo. É o único jeito que conheço.
— Acordar o patrão toda noite também
não é muito saudável.
— Estava acordado, eu estava... Onde
guardou o chocolate? – Acabo sorrindo, afasto a
coberta e me levanto. Estou com uma camiseta
longa que parece um vestido, no meu quarto, de
noite, sozinha com ele e não estou com medo, isso
é estranho, o modo como ele me deixa segura.
— Eu pego. – Tive tanto trabalho para
esconder, se soubesse deixaria sobre a mesa. Ele
me segue para cozinha, abro o armário e pego a
caixa.
— É que acabei distraído e comi todos

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então... Quer?
— Não. Já escovei os dentes, vou ficar
com preguiça de escovar de novo.
— Certo. Fico com a caixa. Boa noite.
Ele some e fico me sentindo meio que
numa outra dimensão, o que foi isso?
Me encolho no sofá da salinha e ligo a
tevê, definitivamente vou tentar não dormir e
pronto. Acabo pegando no sono no sofá, acordo
com dor no corpo as seis da manhã. Tomo uma
ducha rápida e me visto para minha corrida. Deixo
o apartamento pelo elevador de serviço e assim que
passo pela portaria começo a correr.
Nova York não dorme, seis da manhã,
seis da tarde, tem sempre gente indo e vindo. Tento
limpar minha mente, não quero pensar no meu
príncipe, não quero pensar no passado, não quero
pensar em Nick.
Ele é meu patrão, nada além disso, em
dois meses vou estar fora de suas vistas para
sempre, não é meu emprego, não é minha casa, não
somos e nem vamos ser nada um para o outro e
preciso ter consciência disso antes que me
apaixone.
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Paro de correr no mesmo instante.


Paraliso de pé no meio do parque. O que é isso? Me
apaixonar? Pensei mesmo sobre isso? Claro que
não, nunca. De jeito nenhum, eu não posso me
apaixonar. Não devo. Não quero. Não consigo
evitar.
Volto a correr, era para limpar a mente
como sempre foi e não para ficar toda confusa.
Quando volto para casa ainda correndo só penso
em como me sinto confusa e envolvida. Nunca
aconteceu antes. Também nunca me deixei ficar
perto de ninguém, eu não dou espaço, não fico a
vontade com nenhum homem para isso.
Com ele eu fico, me sinto bem, sem
medo, como se perto dele coisas ruins não
acontecessem.
— Tolice! – Digo em voz alta para tentar
acreditar. Começo a andar quando me aproximo do
edifício e quando subia os degraus da portaria uma
jovem surge também entrando, carregava um
Yorkshire nos braços e é a coisinha mais doce do
mundo.
— Bom dia. – A moça diz educada.
— Como é lindo! – Acaricio a cabecinha
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dele enquanto vamos entrando. – Como se chama?


— Bob! – Ela sorri, como todo mundo
que tem cachorros faz quando fico assim
encantada. Amo muito cachorros.
— Oi Bob! Você é lindo. – Ergo meu
olhar e sorrimos uma para outra. – Bom dia, sou
Annie.
— Sarah. Moro no nono andar.
— Oi Sarah, trabalho para o senhor
Stefanos, substituindo a governanta.
— Boa substituição. – Ela sorri. Seu
elevador chega. – Vamos?
— Ah não eu vou pelo de serviço.
Sarah me puxa para dentro e a porta se
fecha, ri do meu susto.
— Que bobagem. Não liga para aquele
Ted. O Homem é um idiota.
— Ah eu sei disso, pode apostar. – Bob
se abana todo para mim. Pego ele dos braços de
Sarah. – Que lindo. Bob adorei você.
— Então está convidada para vir me
visitar. Quem sabe um chá? Bob vai adorar. Não é
filho?
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— Claro. Quando quiser. – A porta do


elevador se abre. Devolvo Bob.
— Eu ligo, pelo interfone, não tenho o
telefone do Senhor Stefanos, ele é bem recluso, fala
pouco.
Ela segura a porta, sorrio sem querer
discordar, acho ele bem-falante, mas não conheço
ele o bastante para ter certeza.
— Tchau. A gente se vê. – Ela solta a
porta que se fecha. Entro pela cozinha. Coloco a
mesa do café depois de lavar as mãos. Me esqueci
que pretendia trazer café. Uso a cafeteira e faço um
bom e forte café, isso eu faço bem.
Quando coloco o café na mesa Nick se
aproxima, mas claro que o perfume chega antes.
Que droga de homem todo perfeito!
— Bom dia. Conseguiu voltar a dormir?
— Sim. Obrigada. – Meus olhos
encontram os dele. Sinto vontade de perguntar se
por um acaso ele não foi criado num abrigo para
crianças abandonadas. Ele vai rir de mim, é claro.
Já me contou sobre a família. Um cara com um
monte de irmãos mais velhos não acabaria num
abrigo.
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De novo meu coração dispara, pisco


tentando não pensar em como ele me faz sentir.
— O endereço. – Ele me estende um
papel e volto a realidade.
— Obrigada. – Sorrio pensando na
possibilidade de ajudar. Nunca ninguém fez isso
por mim, se tivesse tido uma única chance. Não
tive, agora posso mudar a história de alguém e fico
um pouco emocionada. – Eu vou.
— Tudo bem. É que as pessoas lá, elas
são bem carentes, se for algo passageiro, quer dizer,
se for começar e depois perder o interesse, talvez
seja melhor pensar antes.
— Entendi. Obrigada. – Ele vai ver, não
preciso ficar dizendo a ele. – Seu café.
Mas Nick não se move, fica de pé, me
olhando de um modo estranho, parece pensar e não
sei bem o que passa por sua cabeça.
— Não... não posso ficar. Tenho... Estou
atrasado, desculpe ter te dado trabalho.
— Sem problemas. – Tento sorrir, o
sorriso se desfaz, sinto uma energia confusa correr
por meu corpo, ele está perto e me olha tanto e é

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bonito e gentil.
— Vou chegar bem tarde. Não se
preocupe com o jantar. – Nick me dá as costas e
some em direção ao elevador.
Noite de sexta-feira, ele é rico, bonito e
solteiro, claro que não vem jantar. Vai sair com
alguma mulher linda e ter uma noite incrível. Uma
mulher bem elegante e alta.
Guardo tudo, arrumo a casa correndo e
depois sigo para a associação. Vou de metrô, vinte
minutos e estou na frente da associação, é um
prédio bem cuidado, uma senhora me recebe com
um sorriso largo.
— Bom dia. Meu nome é Annie, eu vim
me oferecer para ajudar. Tenho muitas horas livres
todos os dias.
— Bom dia, Annie. Bem-vinda. Como
soube de nós?
— Ni... O Senhor Stefanos trabalha aqui.
— Ah! Sim. Isso não existiria mais sem
ele. Se ele te indicou é muito bem-vinda. Sou
Naomi, cuido das escalas.
Ela me mostra tudo, no local tem salas
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para crianças estudarem, com gente que ajuda com


os deveres e reforço escolar. Dentista, médico,
advogados, são três deles, Nick e mais dois. Então
chegamos a um jardim e vejo cinco idosos, uma
delas numa cadeira de rodas.
— Eles vivem aqui. Não era para ter
ninguém interno, mas essas pessoas viveram a vida
toda no bairro e acabaram abandonadas.
Reformamos um lado da associação e durante o dia
eles tomam sol, conversam, não é um trabalho
muito desejado, as pessoas preferem as crianças, de
noite ficam dois enfermeiros cuidando deles.
— Posso escolher?
— Prefere as crianças. – Ela diz tentando
sair e continuo parada ali.
— Não. Eu posso ficar com eles. Ler,
fazer companhia. Ajudar no que for preciso, vou
gostar muito.
— Certo Annie. Podemos tentar. Quando
pode começar?
— Agora. Posso vir todos os dias. Menos
nos fins de semana. Eu não sei bem como vai
funcionar minha vida nos fins de semana ainda.

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— Então, mais uma vez. Bem-vinda e


bom trabalho. Vá conhece-los.
Sorrio, me sinto bem importante fazendo
isso, da até vontade de chorar quando encaro
aqueles olhos tristes e meio perdidos. Me sento ao
lado de uma senhora. Mil coisas passam por minha
cabeça. Podia ser eu. Talvez um dia seja, eu não
tenho ninguém e se envelhecer talvez eu termine a
vida contando com a bondade de estranhos.

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Capítulo 5
Nick

Não posso e não quero ficar assim todo


envolvido, que coisa mais sem noção, não sou
como os outros. É só me comportar como o velho
Nick de sempre e tudo fica bem. Simples assim.
— Bom dia. – Simon invade minha sala
e desvio os olhos da tela do computador. – Agenda
pronta. Quer dar uma olhada?
— Pode ser. – Me arrumo na cadeira e
ele me mostra a tela do tablet. – Viaja na próxima
semana. Domingo que vem tem o jogo dos Jets, sei
que não vai perder de jeito nenhum. Por isso
marquei sua partida para depois.
— Nunca. É claro que vamos.
— Certo. Essa semana trabalhamos na
papelada que vai levar, domingo vai ao jogo,
segunda fecha suas atividades na associação, viaja
na terça para Palermo, toma cuidado com a máfia.
— Isso é com o Ulisses. Os caras estão
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presos. – Nós dois rimos. Que aventura se enfiou


aquele meu irmão.
— Fica uma semana, depois direto para
Turquia.
— Mais uma semana. – Resmungo
olhando a planilha. – Tudo isso de reunião?
— Fazer o que? Da Turquia vai estar
mais perto e segue para Kirus, separei a semana
toda para eles como me pediu.
— Certo. Três semanas fora.
— O que significa que vamos trabalhar
dobrado essa semana para dar conta de preparar
tudo.
— Ok.
— O que vai fazer esse fim de semana?
— Trabalhar, eu acho.
— Vou ver minha família. Não vou estar
aqui. Pode viver sem mim? – Simon me pergunta
de modo tranquilo.
— Pode apostar. Vamos sair hoje à
noite? Um bar quem sabe?
— Finalmente! Boa ideia. Eu ia de

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qualquer modo. – Tem tempo que não saio e ando


precisando ficar longe daquela garota e tudo que
ela me provoca.
— Ótimo, agora tenho que trabalhar.
— Tem uma reunião depois do almoço.
O dia corre longo e não pensar em Annie
é bem trabalhoso, pego o telefone meia dúzia de
vezes para ligar na associação e saber se foi
mesmo, devolvo na mesa sem ligar nenhuma vez.
Não quero saber. Não quero pensar. Não consigo
evitar.
— Pronto? – Simon surge mais uma vez,
ergo o olhar. – Você ainda vai acabar doente de
tanto trabalho, já desistiu?
— Não. Só me esqueci. Que horas são?
— Oito e meia. Já fui até meu
apartamento e me arrumei um pouco para competir
com você.
Acabo por rir, eu nunca teria notado, está
de terno como sempre. Desligo o computador e
pego minha pasta.
— Onde vamos? Veio de carro?
— Vim e não vou te dar carona, depois
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sai com uma mulher e me larga lá. Quantas vezes já


fez isso?
— Você parece uma garota reclamona! –
Aperto o botão do elevador. – Também já fez isso.
— Eu sei. Me segue com seu carro.
Tomei a liberdade de marcar com umas amigas.
— Boa ideia. – É isso mesmo que
preciso, assim tiro ela e o passado da cabeça.
— Boa ideia? Está doente? Nick você
anda muito esquisito essa semana.
Finjo não ouvir, com Simon é sempre
um bom método. Dirijo atrás dele pelas ruas de
Nova York e chegamos a um bar elegante, ele
adora isso, se estivesse com meus irmãos nos
sentaríamos num bar simples com pouco barulho e
cerveja gelada.
Simon escolhe uma mesa para ser visto,
ele sempre me diverte com esse jeito de ser. A
garçonete se aproxima sorrindo.
— Queremos Uísques.
— Ele quer, para mim água. – Olho para
Simon. – Veio dirigindo, não devia beber.
— É isso moça, um uísque e uma água. –
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A garçonete se afasta. – Você me envergonha as


vezes. Vai ficar bebendo água?
— Quero chegar vivo em casa, se morrer
meus irmãos me matam.
— Eu sei. Tira esse nó da gravata ao
menos. – Ele tenta desfazer o nó da minha gravata
empurro sua mão.
— Tira a mão de mim. Parece minha
mãe, cuida da sua vida. Já me arrependi.
— Não pode ir embora antes das garotas
chegarem, se não elas vão achar que menti e não
trouxe nenhum milionário.
— Você não tem amigas que gostem de
você pelo que é e não pelos amigos que tem?
— Tenho Nick, mas elas são feias.
— Nossa, isso foi ridículo. – Simon não
tem nada de útil na cabeça.
A garçonete volta. Agradeço e ela se
retira, tem gente andando de um lado para outro,
mesas com amigos rindo e bebendo e me sinto fora
do lugar. Tomo um gole de água.
— Aquela não é a Samantha? – Simon
me pergunta e sigo seu olhar.
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— É.
— Cada dia mais bonita. Sabia que eu a
vi na capa de uma revista? E você deixou ela ir.
— Ela é legal, Simon, só que quer
compromisso e eu não, foi bom.
— Saiu três vezes com ela, nem isso.
Não sabe se foi bom. As garotas estão vindo.
Ele olha para porta e quatro garotas
entram, claro que ele iria convidar um time delas.
Simon é muito sem noção.
— Seja legal. – Elas se aproximam, e
tem aquele momento chato de apresentações. –
Essas são, Amanda, Emma, Cindy, e acho que não
sei seu nome. – Simon pergunta a quarta mulher
que eu cumprimentava sem qualquer ânimo.
— Jane.
— Jane. Sentem. O que querem beber? –
Ele pergunta e lá está a garçonete anotando
pedidos, faço um esforço gigante para prestar
atenção na conversa. Começa com moda, os
melhores bares da cidade, viagens, gastronomia, e
então chega em quem está solteira e a quanto
tempo.

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Me distraio da conversa, começo a olhar


seus rostos sem ouvir muito o que dizem, acho que
usam maquiagem demais, e saltos muito altos, e
muitas joias, e parecem tão montadas que fico
imaginando se essas garotas se lembram quem são.
Penso em Annie. Sorrio quando imagino
que está descalça, com sua pouca roupa e os
cabelos soltos, sorrindo por que cozinha muito mal
e me perguntando se dessa vez está demitida.
Onze da noite confiro no celular, pode
ser que tenha ido dormir, e pode ter outro pesadelo,
talvez acorde bem assustada por estar sozinha. Eu
podia ir para casa. Não que não queira me divertir,
mas eu posso sair outro dia. Posso sair sempre que
quiser.
— É o único que não gosta de dançar? –
Sinto uma mão tocar meu braço e estou sozinho
com uma delas à mesa, não tenho a menor ideia de
qual delas, não gravei os nomes.
— Eu... – Olho em volta, Simon dança
com uma das suas amigas, as outras sumiram. –
Não definitivamente não gosto de dançar. – A
menos que seja para perturbar Ulisses, me lembro
dele com ciúme de Sophi. Foi um ótimo dia aquele.
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— Uma pena! – Ela se aproxima mais de


mim. – Podemos conversar apenas.
— Podemos. Se bem que a música está
bem alta agora.
— Quem sabe não podemos ir para um
lugar mais calmo?
— Acho que... – Ela é bonita Nick.
Admita. – Não vai dar, não quero deixar meu
amigo sozinho.
Olhamos os dois na direção de Simon e
lá está ele atracado com a garota aos beijos. Olho
para a mulher ao meu lado e sorrio sem graça.
— Acho que ele não está mais sozinho.
Jane está com ele.
Ao menos eu já sei que ela não é a Jane.
Se for por eliminação em umas horas eu descubro
seu nome. Não tenho umas horas, não quero ter.
Olho mais uma vez a tela do celular. Meia noite.
— Desculpe. Eu tenho que ir. Sinto
muito, amanhã tenho um compromisso muito cedo.
Fico de pé. Ela fica surpresa, nem
responde, nem poderia eu não espero por resposta,
só me apresso para sair dali, não tenho ideia de
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como vou parar isso, mas sinto urgência em voltar


para casa e simplesmente não luto mais.
— Ei. Onde vai? Deixou a Cindy na
mesa.
— Simon eu... isso está meio chato e
preciso... até segunda-feira, Simon. – Deixo o local
o mais rápido que posso. Me sinto idiota por ter
saído, idiota por ter entrado, um idiota de modo
geral.
Quando dirijo para casa me sinto melhor,
estranhamente melhor. Quando a porta do elevador
se abre a primeira coisa que vejo é Annie dormindo
no sofá abraçada com um livro.
Fico olhando para sua beleza natural
enquanto desfaço o nó da gravata e tiro o paletó.
Ela parece uma boneca, tenho pena de acorda-la,
está num sono profundo. É bonita. Muito mais
bonita do que seria seguro. Nem sei se tem alguma
segurança ainda.
O sono se agita. Ela se remexe um
pouco, fico indeciso se a acordo ou não.
— Não. Por favor. – Ela resmunga
quando tenta afastar algo ou alguém com a mão e o
livro cai no chão. Me abaixo para ficar perto dela,
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os traços são delicados. Toco seu ombro.


— Annie. – No primeiro toque ela salta
se encolhendo no sofá. Me vê e sinto o medo dar
lugar a seu alivio. Então ela olha em volta.
— Já chegou? – Ela passa a mão pelo
cabelo. – Óbvio que sim.
— Às vezes acho que não sou bem-
vindo. – Brinco e ela revira os olhos.
— Só me ignore. Dormi no seu sofá. Isso
é muito ruim?
— Depende. É confortável?
— Melhor que o da Tracy.
— De quem? – Pergunto me sentando a
seu lado.
— Nada demais. Eu sinto muito pelo
sofá. Fiquei sozinha e nunca tinha ficado sozinha
aqui à noite, me deu um pouco de medo, daí vim
me deitar aqui para ler. Eu sei que não devia, não
pretendia dormir. Já pensou se chega com alguém e
estou dormindo aqui?
— Não chegaria com ninguém. Nunca
trago ninguém, não aqui.
— Está com fome? – Ela me pergunta
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prendendo os cabelos com um elástico.


— Me viro, não se preocupe.
— Eu estou, não jantei, quer um
sanduiche de tudo que tem na geladeira?
— Pode ser. Eu te ajudo.
Sigo com ela para cozinha. Estou muito
mais feliz que estava antes. Isso me consola. Não é
nada demais. Só uma garota legal.
— Esse livro que estou lendo é tão chato.
Sempre durmo.
— Pode pegar o que quiser no escritório.
– Ela abre a geladeira. Pego pão, ela alguns potes e
pratos, sirvo suco para os dois enquanto ela vai
colocando coisas dentro do pão. – Olha esse molho
de queijo, coloca um pouco.
Ela pega da minha mão. Joga sobre um
monte de coisas que tentavam se equilibrar sobre o
pão.
— Gosta?
— Do molho? – Ela afirma. – Adoro.
— Eu devia ter colocado naquele frango
sem gosto, vou colocar em tudo agora, assim vai
achar tudo bom. Cozinho muito mal. – Annie me
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encara. – É agora que me demite?


— Não. Agora vamos comer aqui no
balcão. – Nos sentamos lado a lado nos bancos
altos do balcão. – Aqui é bom. Por que serve meu
café na sala de jantar?
— A senhora kalais que mandou. Oito
em ponto na sala de jantar.
— Vamos comer aqui agora, pelo menos
de manhã. Vou viajar. – Aviso e ela para com o
sanduiche no meio do caminho, devolve no prato. –
Três semanas.
— Sei. Trabalho?
— É. Depois ver minha família.
— Eu fico aqui?
— Sim.
— Quando? – Ela parece bem
desanimada com a notícia e eu não devia achar isso
tão bom quanto estou achando.
— Daqui uma semana. Não essa terça, a
outra. – Ela suspira e da mais uma mordida no
sanduiche. – Esse ficou melhor que o outro, foi
meu molho de queijo.
— Vou ter que concordar. – Annie,
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morde mais um pedaço. Mastiga olhando para o


nada. – Três semanas é um tempão.
— Eu sei. ─ Continuamos a comer em
silencio. Depois ela me olha, toma um gole de
suco.
— Passei o dia no abrigo. É muito
bonito.
— O dia todo? O que achou? O que fez?
Quando volta? – Até eu fico surpreso com meu
entusiasmo, imagino ela, mas ninguém nunca vai,
nem meus irmãos, nem Simon, as pessoas acham
legal e muito emocionante e depois seguem suas
vidas.
— Conheci tudo, Naomi me apresentou,
depois fiquei com os velhinhos. Agora vou ficar
com eles o dia todo, todos os dias de segunda a
sexta. São cinco. Tem uma senhora de noventa e
cinco anos, Ava. Ela é linda...
— Conheço eles, Annie, todos eles.
— Verdade.
— É difícil encontrar voluntários para
eles.
— A gente conversou e leu e outras
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coisas, nem vi o tempo passar. O senhor Fernandez


me pediu em casamento, mas eu recusei, Ava ficou
com ciúme.
— Ele sempre faz isso.
— E eu que estava me achando especial.
– Ela brinca. Não quero sair dali, quero ficar com
ela o resto da noite.
— Talvez dessa vez tenha sido sério.
— Pode ser. Quando estiver fora vou
passar mais tempo lá. Assim não fico sozinha.
Glória tem família. – Ela me conta e sei disso, mas
deixo que fale. – Mesmo assim vive sozinha lá,
ninguém vai visita-la. Ela é diabética, as pessoas
acham que dá trabalho. ─ Vejo sua tristeza. Uma
tristeza bonita. Vinda da mais pura empatia e nesse
mundo isso é tão difícil. ─ Fez um bom trabalho lá,
as pessoas gostam de você. Admiram.
— Não faço nada demais, eles fazem
mais por mim do que eu por eles. – Isso é a mais
pura verdade, me sinto útil, me sinto salvando um
pouco do garoto que não foi salvo quando era
pequeno, retribuo a sorte que tive. Divido um
pouco. – Não se preocupe com nada amanhã, quero
dormir um pouco mais e depois vou só trabalhar em
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casa.
— Está certo.
Deixamos o balcão, se pudesse a
convidaria para ficar um pouco mais conversando
na sala.
— Boa noite, Nick.
— Boa noite.
Não é nada fácil dormir, fico pensando
nela, imaginando Annie com os idosos da
associação. E desejando que a senhora Kalais
nunca mais queira voltar ao trabalho.
No meio da noite acordo num
sobressalto, um sono confuso e preocupado e penso
se não é por que Annie está lá em baixo. Tento
ouvir se está dormindo ou gritando. Será que dá
para ouvir daqui? E se não der? Ela vai ficar
agonizando até acordar sozinha? E quando eu
viajar?
— O que você tem com isso?
Escuto um barulho na cozinha e desço
apressado. Quando chego Annie está varrendo
cacos.
— Tudo bem?
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— Sim. Eu vim beber água e...


— Se machucou?
— Não. Te acordei com meus gritos? Eu
devia por uma mordaça para dormir.
— De novo? Isso está errado, precisa
descobrir por que está tendo tantos pesadelos.
— É eu sei, eu... Desculpe. ― Annie
recolhe apressada os cacos. ― Boa noite. – Ela se
esquiva claramente e sei que sabe muito bem
porque tem pesadelos, mas se não gosto de falar do
meu passado não posso reclamar com ela de não
falar do dela.
Nos separarmos mais uma vez. Acordo
depois das dez, isso é bem raro. A primeira coisa
que faço é olhar o celular, mensagens dos Stefanos
e de Simon. Leio algumas e ignoro outras, depois
ligo para todos.
Quando chego na cozinha, Annie está
folheando livros de receitas.
— Bom dia.
— Bom dia. As coisas estão sobre o
balcão. Já tomei café, acordei cedo.
— Dormiu?
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— Uhum. – Ela mente muito mal. –


Gosta de peixe?
— Gosto. Não tem nada que eu odeie.
— Tá. Hoje vou fazer massa, quer dizer,
vou tentar.
— Isso sim eu gosto. – Mastigo uma
torrada e tomo um gole de café. Uso bermuda e
camiseta, além do tênis de corrida.
— Vai malhar?
— Não. Dia de folga.
— Eu já corri.
— Você toma cuidado? Aquele lugar
não é tão seguro quanto parece.
— Eu sei. Mas fico atenta. Devia vir
comigo um dia.
— Pode ser. Vou trabalhar.
Me envolvo no trabalho, almoçamos
juntos, a comida é péssima e me faz rir mais que
qualquer outra coisa, prometo uma pizza para o
jantar. Volto para o trabalho, de noite a encontro
sentada no chão da sala olhando pela parede de
vidro a cidade.

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— Está cheio de gente de um lado para


outro. Noite de sábado.
— Sim. Quer descer? – O que eu estou
fazendo? – Quem sabe tomar alguma coisa?
— Quero. Pode ser sorvete? Está calor.
— Pode. – Ela calça chinelos e só. Me
olha sorrindo.
— Estou pronta. – E eu já estava
pensando em me vestir, mas a garota está com
aquelas roupinhas curtas e de chinelo, me vejo na
obrigação de sair de bermuda e tênis.
— Então vamos. – Entramos no
elevador.
— Eu devia ter ido pelo de serviço.
— Seria bem esquisito e tolo.
— Tudo bem. ― Ela da de ombros
concordando.
— Posso ser amiga de uma moradora?
Não vai achar estranho?
— Que ideia? Claro que não. – A porta
se abre e deixamos o prédio. – Quem?
— Sarah e o seu cachorrinho Bob. Ele é

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muito fofo.
— Vamos logo jantar. Pizza?
— Como o combinado. – É sua resposta
acompanhada de um sorriso.
Comemos numa pequena lanchonete,
simples e muito lotada, Annie adora, ainda saímos
pela rua tomando sorvete e não faço isso desde...
desde... Nunca fiz.
Gosto, me sinto bem, falamos de tudo,
livros, filmes, politica, rimos também e eu não sei
fazer muito isso sem ser com meus irmãos.
Subimos os degraus de volta em direção
ao elevador. Acho que foi o dia que menos
trabalhei na vida, o almoço demorado, passeios
pela noite. O que afinal está acontecendo comigo?
— Então Lizzie é a sua preferida? –
Annie pergunta depois de ouvir sobre os contratos.
— Não. Ela é a mais velha, só isso, tem
mais dialogo.
Paramos no meio da sala. Um de frente
para outro.
— Eu sei, vai trabalhar. Estou lá dentro
se precisar. Boa noite.
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Ela me deixa e faço o que sei fazer,


mergulho no trabalho, até não aguentar mais.
Adianto coisas que não precisava lidar até voltar da
viagem, só para não pensar nela, só para não correr
atrás dela. Quando pretendia deitar, depois de
apagar a luz e acender o abajur, escuto um pedido
de socorro, isso não tem o menor sentido.
Desço apressado, dessa vez pulo a parte
que bato na porta sem resposta e entro de uma vez,
toco Annie e ela senta. Agora os olhos estão
marejados.
— Agora sim me demite, não é? – Ela
seca as lágrimas, mas elas continuam a rolar e
quando chora parece mais ainda minha gatinha e
isso me deixa ali, olhando para ela imóvel. – Viu
como é agora? Está mudo. – Ela me desperta. Nego
primeiro com a cabeça voltando a realidade.
— Não. Você agora vai dormir lá em
cima, no quarto de hóspedes.
— Isso não tem o menor cabimento. –
Ela diz quando me assiste puxar o lençol e pegar o
travesseiro.
— O que não tem cabimento, é você
ficar gritando enquanto caminho cinco quilômetros
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do meu quarto até aqui.


— Mas aí que não vai dormir mesmo.
— Vem logo Annie, assim eu te acordo
mais rápido, talvez seja medo de ficar aqui em
baixo sozinha e isolada. Amanhã transfere suas
coisas.
Ela me obedece, será que sabe como fica
sensual com essa camiseta dois números maior?
Duvido. Isso é de algum modo uma tortura.
Balanço a cabeça para evitar esse tipo de
pensamento, não funciona.
Abro a porta do quarto de hóspedes que
provavelmente nunca entrei, é bem ao lado do meu.
— Pronto, agora deixa a porta aberta e
uma luz acesa, eu nunca durmo no escuro.
— Tem medo de escuro? – Ela me
pergunta quando entrego o lençol e o travesseiro a
ela na frente da cama.
— Tenho. Boa noite. Eu te acordo se
gritar.
Ela não grita mais, talvez funcione. O
domingo é quase igual ao sábado, tenho que me
obrigar a deixa-la e trabalhar ou passaria o dia com
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ela.
— Dormiu? – Pergunto na segunda-feira
quando tomamos café no balcão da cozinha.
— Uhum. – Ela desvia os olhos, vou
separar um tempo para pesquisar sobre distúrbios
do sono. – Vou ficar na associação o dia todo, mas
eu chego para deixar o jantar pronto.
— Tudo bem. Qualquer coisa pedimos
comida.
Me arrasto para o elevador. Quando
entro em minha sala Ulisses está lá com Simon.
— Chegou finalmente. – É meu jeito de
cumprimentar meu irmão junto com um aperto de
mãos.
— Sim. Obrigado por me cobrir aqui.
— Como está a Sophi?
— Bem, mais uns dias e tira o gesso. –
Não parece mesmo ter sido grande coisa. Ulisses
está tranquilo.
— Como aconteceu?
— Foi na montanha. Houve um pequeno
deslizamento de gelo, ela ficou pendurada e
descobri que amo a Sophia.
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— Achei que já soubesse disso.


— Não. É um outro tipo de amor, eu
nem sei dizer, ela é meu ar. A ideia de perde-la, ver
minha mulher ali. Odeio me lembrar. – Não me
lembro de ver nada tão intenso assim se refletir nos
olhos dele. É até bonito.
— Ela está bem mesmo? Não está
assustada?
— Não. Está rindo de mim, da minha
cara de pavor enquanto ela tentava subir. Que
absurdo. Mulher ingrata.
— Que bom que estão bem afinal. Como
estão os outros todos? – Pergunto sabendo que
estão bem.
— Todo mundo bem. Com saudade do
caçula queridinho. – Ele provoca.
— Quando der eu vou.
— Sophia quer que vá jantar lá em casa
hoje. Para ver as fotos da viagem.
— Não posso. – Eu digo desviando meus
olhos.
— Alguma reunião? O Simon não pode
te substituir?
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— Não, é que... – Encaro Ulisses com


uma sobrancelha erguida. Ele tem aquela cara de
cínico. Qualquer desculpa que invente vai deixa-lo
cheio de ideias.
— Eu não posso. Minha mãe está aqui e
por isso não posso substituir o Nick hoje. – Simon
me socorre e são essas coisas que me lembram por
que somos amigos.
— Então amanhã. Vou avisa-la. –
Ulisses deixa a sala sem esperar por uma nova
desculpa.
— Me deve mais essa. Lembre disso. –
Simon avisa rindo enquanto também me deixa.
Viajar será uma ótima ideia. Se eu não
fizer nenhuma tolice antes. O que parece cada vez
mais difícil. Encaro minha mesa. Eu bem que podia
dar um pulo na associação no fim da tarde e ver
como Annie está indo com os idosos.

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Capítulo 6
Annie

— Me alcança o espelho. – Ava pede


sentada em sua cama no fim da tarde.
— Nada disso mocinha. Só quando eu
acabar. – Termino o cabelo, saio de cima de sua
cama para olha-la de frente. – Está linda.
— Você que é linda. Agora deixa eu ver
seu trabalho. – Pego o espelho. Gosto de ver Ava
sorrir, ela fala pouco, mas tem olhos vivos.
— Está uma gata. Vai acabar arrumando
um namorado logo, logo.
Guardo o espelho. Ajudo Ava a se deitar,
cubro suas pernas. Beijo sua testa enrugada. Ela
aperta minha mão. Uma semana e já me apeguei.
— Bom descanso Ava, volto na segunda-
feira.
— Obrigada querida. – Não sei se ela
sabe quando é segunda-feira, não sei se sabe de

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qualquer coisa.
Me viro e dou de cara com Nick. Ele tem
um leve sorriso. Fico ali olhando para ele e
pensando que em poucos dias ele vai embora por
três semana e só de pensar meu coração se aperta.
Nunca me senti tão perto de alguém, só
uma vez, uma pessoa me fez tão bem. Me deu tanta
coragem, força e vontade de continuar. Meu
príncipe que me deixou e desapareceu para sempre.
— Não sabia que estava aqui.
— Houve uma emergência. Eu vim
resolver. Está de saída?
— Sim. Coloquei todos os meus
velhinhos na cama. – Sorrio orgulhosa, ele continua
me olhando.
— Soube que eles te adoram.
— É, acho que sim. Obrigada. Não sabia
que podia fazer algo assim.
— Pode. Acho que é perfeita para isso. –
Afirmo, acho que poderia sempre fazer isso, mas
sei que quando a senhora Kalais voltar e eu tiver
que deixar essa vida perfeita e passageira, não vou
mais ter tempo para nada disso. Mesmo assim vou
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achar um jeito de vir vê-los, nem que seja só uma


visita de vez em quando. – No que está pensando?
— Eu? – Desperto da distração de pensar
no futuro sombrio. - Nada demais. Ainda vai ficar
aqui?
— Não. Estou indo para casa.
— Já? – Olho no relógio do corredor.
Cinco e quinze. – Desculpe, é que sempre acho
que tem que chegar quando o jantar estiver pronto
ou parece que estou deixando meu trabalho de lado.
— Esse raciocínio não faz sentido. De
qualquer modo, não é como se estivesse ansioso
pela sua comida. – Faço uma careta.
— Eu sei. Não sei porque não me
demite.
— Agora não posso, Ava ficaria brava
comigo, e o senhor Fernandez, cruzei com ele mais
cedo. Ele disse que dessa vez é sério. Quer mesmo
se casar com você.
— Se não fosse essa minha decisão de
não casar eu bem que aceitava. – Chegamos do
lado de fora do prédio. Nick aperta um botão e o
carro faz barulho. – Carro de magnata grego.

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— É um bom carro. Só isso.


— Aposto que gosta um pouco da
velocidade. – Provoco, mas ganho um sorriso.
— Em Nova York? Não. Quem gosta
disso é o Ulisses.
— Casado com Sophia. – Adoro ficar
decorando as coisas sobre a família dele. Deve ser
bom ter uma família grande, um cuidado do outro.
Ninguém nunca se sente sozinho.
— Acertou. – Ele me indica a porta do
passageiro e apenas caminho para dentro do carro.
O carro ganha as ruas e me distraio com
a paisagem. De vez em quando olho para Nick.
Gosto das mãos dele ao volante. É charmoso, me
sinto bem ali, ao lado dele dentro de um ambiente
tão reduzido que é sempre tão íntimo.
— Por que foi chamado? Pode dizer?
— Uma questão jurídica. Uma família
está sendo despejada, por falta de pagamento.
— Conseguiu ajuda-los?
— Sim. Eu consegui um acordo, o
senhor Wilson começou num emprego novo há
umas semanas, ele só precisa de mais um prazo, eu
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consegui.
— Com o proprietário?
— É. Eles têm quatro crianças. Os dois
trabalham, são gente boa, as crianças passam a
tarde na associação.
— Então você pagou a dívida e o dono
da casa prometeu que quando receber vai devolver.
Para você ou para a associação? – Ele me olha
surpreso como se não esperasse que eu descobrisse
seu segredo.
— Como sabe?
— Foi um palpite. – Dou de ombros, o
modo como ele gosta desse lugar e dessas pessoas
simples sempre me emociona.
— Ele vai receber o dinheiro
normalmente para o senhor Wilson não se sentir
humilhado e vai doar para a associação. Não é nada
demais, eu doaria esse dinheiro a associação do
mesmo jeito, meus irmãos doam, meu assistente.
— Coloca todo mundo para ajudar.
— Não. Doar dinheiro quando sobra não
é grande coisa. Você ajuda. Cuida dos idosos. Com
seu tempo, seu esforço, mas claro que dinheiro é
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necessário e sou muito grato pelo que fazem. Meus


irmãos ajudam muitas instituições.
— Sua viagem está chegando. – Não
gosto muito de lembrar disso. - O que acontece se
tiverem um problema quando está fora?
— Somos três advogados, os outros dois
ajudam e qualquer coisa eles me ligam.
— O que quer jantar? – Pergunto quando
o carro entrava na garagem. Ele sorri.
— Faz alguma diferença? Seja o que for
vai queimar ou ficar cru.
— Você podia ao menos fingir.
— Se te consola meu irmão Ulisses não
sabe nem fazer café com ajuda da cafeteira.
— Consola. – Nick vai direto para o
escritório quando subimos, lavo minhas mãos e
começo o jantar. Carne assada. Gloria repetiu a
receita cinco vezes enquanto eu dava sopa a ela.
Não pode dar errado.
Uso os temperos que ela disse, coloco na
assadeira e cubro do jeitinho que ela falou, marco o
tempo e aproveito para tomar banho e depois
quando desço preparo purê de batatas.
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O relógio apita e tiro a assadeira do


forno, a carne está metade torrada.
— Ingrata. Te tratei com tanto carinho. –
Cruzo os braços encarando aquela casca preta.
Glória pode ter se confundido no tempo, ela tem
oitenta e sete anos. Nick para ao meu lado.
— Sushi? – Ele pergunta e suspiro. –
Não é agora. – Completa sabendo qual seria a
minha pergunta.
— Desculpe, mas acho que dessa vez a
culpa é da Glória. Aprendi a receita com ela.
— Não tem problema. – Ele nunca fica
bravo ou reclama quando erro a comida, nunca
acha ruim de me acordar quase toda noite dos meus
pesadelos, as vezes acho que ele é só um sonho,
que em algum momento vou acordar em algum
buraco escuro e solitário. – Eu ligo e peço o jantar.
— Obrigada Nick. É muito generoso.
Podia dizer mais, mas me calo, fico
chateada de não conseguir nunca acertar. Ele é tão
bom comigo, queria devolver de algum jeito.
— Eu vou ligar.
Fico sozinha, penso na saudade que vou
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sentir e se fosse um pouco esperta eu fugiria logo,


vou sofrer muito quando acabar. Ele é tão especial.
Queria fugir do que me faz sentir, de como sempre
fico com vontade de chegar mais perto, de tocar
nele.
Ninguém pode se apaixonar assim, isso
não pode estar acontecendo, eu não posso gostar
dele desse modo, ele não é especial por que sou eu,
ele é especial por que é ele, ele é assim com as
pessoas, ele cuida, se preocupa, é gentil.
Não posso interpretar isso errado. Ele é
milionário, nunca se envolveria comigo, não tenho
nem mesmo direito de sonhar com isso. O que
preciso fazer é me lembrar sempre de quem ele é e
quem eu sou.
Acontece que ele não ajuda. Ele é gentil
e preocupado demais para me permitir ignorar isso.
Comemos sushi juntos, aproveito para
saber mais da associação, conto dos meus
velhinhos. Nick tem os olhos atentos, ele me escuta
e isso é novo para mim, as pessoas nunca querem
me ouvir.
Depois ele volta para seu trabalho e acho
muito estranho que jovem, rico e bonito como é, ele
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passe a noite de sexta trabalhando, é a segunda


semana. Na outra ele saiu e chegou tão rápido que
duvido que tenha se divertido, eu sei que ele guarda
com ele alguma tristeza, da para ver em seu olhar.
Também sei o quanto ama e admira os
irmãos, sinto no tom orgulhoso quando fala deles,
principalmente Leon, mas ele não vai muito longe,
não fala sobre os pais, não sei nem mesmo se
morreram ou estão por aí.
Nem vou perguntar, apesar da
curiosidade, acho que preciso de um limite. Penso
na garota alta e elegante que deve estar bem brava
de não poder sair com ele na noite de sexta porque
ele tem que trabalhar. Com certeza essa garota
existe ou várias delas.
Isso até machuca um pouco, me encolho
mais na cama tentando pegar no sono enquanto só
fico esperando seus passos pela escada. Ele demora
a ir dormir. Queria poder ficar perto dele enquanto
trabalha. Eu podia só me sentar perto e ficar lendo
ou ouvindo música enquanto ele ficava lá com
aqueles papéis de letrinhas miúdas.

Acordo quando o dia amanhecia, estou


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suada e olho em volta em busca de Nick. Fico


aliviada quando me dou conta de que acordei antes
de gritar. Aquele maldito lugar nunca sai de dentro
de mim.
Dia e noite ele me assombra com
memórias. Sempre foi um inferno, mas quando o
príncipe estava lá ao menos eu tinha com quem
dividir meu medo, depois era só eu naquela
disciplina, repetindo que os ratos é que tinham
medo de mim. Era só eu me escondendo o dia todo
com medo de encrenca e então era noite e nos
recolhíamos nos quartos e ser uma garota só dava
mais elementos para a tortura.
Me enfio na água fria para não pensar.
Não vou voltar para cama e sonhar de novo. Saio
para corrida junto com o sol, quando volto Ted já
está na portaria. Ele me lança aquele olhar de
desprezo e penso em ligar para Tracy e avisar que
estou bem. Nem me atrevo a mandar recado por
ele.
Nick acorda depois das dez. Eu sinto
quando se aproxima só pelo perfume.
— Bom dia. – Tento sorrir, hoje estou
triste demais para isso.
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— Bom dia. – Ele sorri se sentando no


banco para o café. Se espanta quando olha tudo que
preparei. – O que...
— Pode comer sem medo, eu me
esforcei muito, tem bacon, panqueca, no singular
por que só essa deu certo, ovos mexidos, esses
foram fáceis.
— Estou impressionado. – Aquilo me
deixa bem feliz, até apaga um pouco a tristeza que
ando sentindo. Fecho o livro de receitas e vou me
sentar com ele para vê-lo comer. – Está tudo muito
bom.
— Obrigada. Vai trabalhar?
— Estou cheio de coisas para fazer.
Infelizmente não tenho escolha. E você, vai fazer o
que?
— Arrumar meu quarto. – Conto a ele
que mantem meus olhos presos.
— Dormiu bem?
— Uhm.
— Quando mente faz uhm. – Ele diz e
meu coração dá um leve pulo. Me lembro do
príncipe dizendo isso.
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— Foi tudo bem de noite gatinha.


Dormiu?
— Uhm?
— Sempre faz Uhm, quando não quer
contar. Daí parece mais ainda uma gatinha.
— Queria que as meninas pudessem
dormir perto dos meninos, de noite sinto falta de
ficar perto de você príncipe, as meninas choram as
vezes, entra gente lá.
— Se um dia forem perto de você, não se
rende sem lutar, mas não esquece, aqui só tem
crianças e não vamos ser crianças para sempre. Um
dia saímos daqui.
— Está tudo bem? Ficou pálida. – Nick
toca meu braço me despertando. Sua mão em mim
me acalma.
— Só... Obrigada por se preocupar, eu
estou realmente bem. – Minto e ele não parece
acreditar, mas também parece confuso. Nick fica de
pé, como que querendo fugir.
— Então a gente se vê no almoço. Vou
trabalhar.
Afirmo sem fala, demoro para me refazer
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e voltar ao trabalho, depois do almoço, que não fica


tão ruim, mas também não fica bom, eu ando por
toda casa em busca de algo fora do lugar. Encontro
um copo, um livro e um par de chinelos, tudo meu,
nada dele.
Nick me paga para arrumar minha
própria bagunça e a ideia me faz rir. Então o
telefone toca, tomo um susto, é a primeira vez que
ele toca desde que estou nessa casa há duas
semanas. Até demoro para decidir o que fazer, mas
pego o aparelho sem fio e levo ao ouvido.
— Alô.
— Boa tarde. – Uma voz sensual e
feminina me leva a uma careta. – Gostaria de falar
com o senhor Stefanos.
— Quem gostaria? – Pergunto educada,
penso que talvez seja uma das cunhadas,
internamente torço para ser.
— Diga a ele que é Cindy.
Está aí a garota alta e elegante que claro
só podia se chamar Cindy. Meu coração fica
apertado quando obrigo minhas pernas a levarem o
telefone para ele.

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— Aguarde um momento. – Meu tom é


quase grosseiro, mas não consigo evitar.
— Obrigada.
Entro em seu escritório sem pedir licença
ou bater, a porta nunca está fechada e eu sempre
entro de qualquer modo, ele não liga. Estendo o
telefone.
— A alta e elegante Cindy quer falar
com você.
— Quem? – Ele ainda se faz de
desentendido. Deve ter umas cinquenta “Cindys”
em sua agenda.
— Cindy. – Repito balançando o
telefone que queima meus dedos.
— Cindy? – Ele busca na memória.
Parece se lembrar. – Ah! Você a conhece? – Ele
quer bater papo enquanto Cindy espera na linha? –
Disse alta e elegante.
— Ela se chama Cindy, está ligando para
você, só pode ser alta e elegante.
— Você se acha baixinha? – Ele me
pergunta enquanto meu braço continua estendido e
Cindy aguarda.
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— Eu não sou baixinha, tenho um metro


e sessenta e oito. Se o salto for bem alto. Não deixe
a Cindy esperando. – Coloco o telefone na mesa já
que ele parece nada disposto a pega-lo. – Vou
visitar a Sarah.
— Eu devia estrangular o Simon. –
Ainda ouço ele dizer antes de sumir pela cozinha.
Aperto o botão do elevador com dedos trêmulos, a
porta se abre e quando fecha e aperto o nove as
lagrimas começam a correr e não consigo controlar.
— Annie. – Sarah diz assustada quando
a porta do elevador se abre, Bob saltita feliz em me
ver, eu o pego no colo. – O que aconteceu? Aquele
senhor Stefanos te maltratou? Senta. – Ela me puxa
para o sofá, Bob muito gentil me lambe tentando
me consolar. Queria muito ter um cachorrinho.
— Não. Eu tenho ciúme dele. – Admitir
me faz derreter em lágrimas.
— Ai meu Deus. Está apaixonada por
ele? Eu sabia.
— Não precisa me chamar de burra, eu
já sei disso. – Ela me abraça e continuo chorando.
— Não escolhemos essas coisas. Não
chora. Quer beber alguma coisa? Uma dose para se
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acalmar.
— Não, eu não bebo, só precisava ter
uma crise de choro. Ainda estou tendo. – Continuo
chorando, Bob, se abanando e me lambendo e
Sarah segurando minha mão até que me acalmo.
Seco o rosto.
— Melhor?
— Muito.
— Quer me contar? – Sarah é tão gentil
que me emociona ter uma amiga.
— Estou apaixonada por ele. Não sei
como aconteceu.
— Ele é lindo e trata você muito bem,
mais do que isso, dá para ver quando os vejo
passando por aí. E tem as coisas que me conta.
Quer dizer, te acordar a noite, chama-lo de Nick
quando todo mundo, até eu, o chama de senhor
Stefanos, comerem juntos. Ele deixou que se
apegasse. Não é só culpa sua.
— Isso mesmo, a culpa é toda dele. – Ela
sorri secando minhas lágrimas. – Agora uma tal de
Cindy ligou para ele, queria ter desligado na cara
dela, e ainda tem essa viagem, vou ficar um tempão

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sem vê-lo e depois a senhora Kalais volta e estou


na rua. Sem ele, que é a mesma coisa que perder
tudo.
— Bom, quando ela voltar não vai estar
na rua e nem sem emprego, já disse isso.
— Você é outro presente que ganhei
quando cheguei aqui.
— Não é nada demais. Tenho uma rede
de hotéis, vai ter um emprego em algum deles, e
um quarto para morar no hotel, não te convido para
ficar aqui conosco, não é Bob. Por que ficar
encontrando com ele toda hora não vai ajudar em
nada.
— Vou encontrar com ele na associação.
— Deixe a associação, não é o único
lugar do mundo que pode fazer trabalho voluntário.
— Não vou deixar meus velhinhos. Eles
gostam de mim de verdade. Nem ligam para quem
eu sou, não se importam.
— Por que não quer me contar? Por que
seu passado te machuca tanto? – Sei que não é
apenas curiosidade, que Sarah é uma boa amiga,
mas não suporto falar sobre isso. É como trazer de

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volta. Impossível.
— Não consigo falar disso Sarah, um dia
eu conto.
— Vamos na cozinha. Vou te fazer um
chá.
Seguimos para cozinha. Bob nos esquece
e sentamos numa mesinha na varanda com nosso
chá.
— Mais calma?
— Sim. E com vergonha. Acho que ele
pode ter percebido. Faço tudo errado e ele é tão
bom para mim. Nem consigo fazer uma comida
descente em gratidão.
— Eu disse que ensinava, mas se enfia o
dia todo com os idosos.
— Eu gosto deles. Me divertem, são
carentes, me dão colo também. Eu nunca tive isso,
não de um adulto. – Só meu príncipe me dava
abraços, será que quando cresceu ele conseguiu
carinho? Ele precisava. Até mais que eu. Ninguém
nunca tinha abraçado ele até eu fazer isso.
— Pensando nesse passado que não quer
contar?
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— É, mas na parte boa. – Termino o chá.


– Obrigada Sarah. É bom poder vir aqui as vezes e
conversar. Brincar com o Bob.
— Também gosto muito. Moro sozinha e
minha mãe está no Texas com o novo marido, vejo
muito pouco ela e meus irmãos.
— Por que não vai morar com eles?
Quem cuida dos hotéis é aquele seu tutor. Não
precisa ficar aqui.
— Os hotéis são tudo que importava ao
meu pai, ele amava cuidar deles, ano que vem faço
vinte e cinco anos e assumo tudo, como ele deixou
no testamento, quero estar pronta para cuidar das
coisas quando chegar a hora.
— Vai cuidar muito bem de tudo. Sei
disso.
— Espero que sim. – Fico de pé.
— Tenho que ir.
— Amanhã é sua folga. Vem passar o
dia comigo.
— Amanhã é dia de jogo dos Jets. – Um
sorriso brota na minha alma só de pensar.
— Isso é mesmo estranho, seus olhos
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brilham.
Sarah me acompanha ao elevador. Beijo
e aperto Bob enquanto espero a porta abrir. Quando
abre abraço Sarah em gratidão. Não quero mais
pensar sobre Nick e o que sinto por ele.
Quando entro sigo direto para cozinha.
Abro a geladeira e pego água. Quando fecho ele
está parado na porta me olhando, mais uma vez me
assusto.
— Não queria te assustar.
— Eu sei, eu é que me assusto fácil.
Com fome?
— Não. E não precisa se preocupar com
o jantar. Pedimos alguma coisa.
— Tudo bem. Amanhã tenho um
compromisso, não vou estar aqui a tarde toda. Não
tem problema, não é mesmo? – Afinal é
oficialmente minha folga.
— Compromisso? – Ele pergunta e deve
mesmo achar estranho, não conheço ninguém, não
faço nada de útil além dos meus velhinhos.
— É. Se quiser posso deixar almoço
pronto.
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— Não. Eu também vou ficar fora a


tarde quase toda, não se preocupe comigo. É sua
folga de qualquer modo. – Aposto que é a Cindy.
Penso irritada. – O que vai fazer agora?
— Nada.
— Pensei em ver um filme, estou
cansado de trabalhar. Quer? – Achava que ele
nunca se cansava disso, quase parece que ele quer
só me agradar. Como se estivesse tentando
consertar as coisas depois do telefonema de Cindy.
— Eu faço a pipoca. – Não consigo não
ficar feliz de me sentar perto dele e ficar só
distraída assistindo um filme. – Mas nada de terror,
psicopata, fantasma, drama com sofrimento de
criancinha e... Acho que é só.
— Uma comédia. – Ele diz rápido.
— Tá, sou ótima em fazer pipoca. Quer
ver?
— Acho que só temos aquelas de micro-
ondas, Annie. – Ele avisa com medo de me
decepcionar.
— É essa mesma que estou falando. –
Aviso arrancando um sorriso dele.

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— Boba. Te espero na sala de tevê.


— Leva suco. E chocolate. Vai querer
que eu sei. – Ele sorri, meu coração pula frenético
toda vez que me sorri e ele anda sorrindo bastante.

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Capitulo 7
Nick

— Simon, você é um idiota. – Aviso


assim que ele diz alô. – Quem mandou dar meu
telefone para aquela garota?
— Ela me pediu sete mil vezes, dei o da
sua casa para a nova senhora Kalais se livrar dela.
Ou quem sabe vocês dois podiam querer se ver, ela
é bem bonita. Amanhã tem jogo, podia convida-la
quem sabe?
— Nós temos uma regra se lembra?
Nunca misturar garotas com os Jets.
— Essa regra é sua, mas é uma boa regra
tenho que admitir, já assisti ao jogo com a minha
irmã e sei que é um inferno, elas não entendem
nada e passam o jogo todo perguntando e querendo
saber quando acaba e achando violento e odiando
estar no estádio com aquele monte de gente
gritando e xingando.
— Vê? Então por que acha que
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convidaria a tal para ir comigo?


— É. Foi mal, não vai se repetir. Se
livrou dela?
— Sim. O problema é que.... – Que
Annie atendeu e ficou brava? Foi isso mesmo que
aconteceu? E eu estou mesmo todo atrapalhado
querendo consertar tudo e me explicar? Feito um
dos meus irmãos e suas senhoras Stefanos? –
Esquece Simon, está tudo bem. Te encontro
amanhã no estacionamento do estádio.
— Certo. Bom trabalho.
Desligo com um suspiro. Eu não me
reconheço na maior parte do tempo e isso está tão
confuso que não sei direito o que fazer. Também
não sei com quem contar. Não posso falar sobre
essas coisas com meus irmãos, não quero, não
consigo, não sei falar de mim, das coisas que sinto.
Ao menos amanhã tem jogo e são umas
horas de mente vazia. Isso é ótimo. New York Jets,
jogando em casa é perfeito.
Me encosto em minha cadeira e minha
mente viaja para o dia que decidi que aquele era o
melhor time do mundo. Todos nós gostávamos de
dia de jogo, os caras do abrigo ficavam tão
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alucinados e vidrados nas tevês assistindo ao jogo


que não tinha castigo, briga, surra, nada, eram
momentos mágicos, eu sempre assistia escondido
em algum canto.
Não tinha um time em especial até o dia
em que os Jets venceram o New York Giants de
lavada e deixaram aqueles caras furiosos. Nos
sentimos vingados, os Jets tinham acabado com o
dia de cada um daqueles canalhas.
— Eles estão arrasados príncipe.
— O time deles perdeu feio, gatinha, por
isso estão assim.
— Então de agora em diante vamos
torcer sempre para os Jets. Assim eles sempre se
dão bem mal.
— É isso mesmo, o New York Jets é o
melhor time gatinha. Vamos torcer para eles.
— Jets, Jets, Jets!
Seus gritos de comemoração nos levaram
para a disciplina, mas valeu a pena. Depois desse
dia, ver os jogos nos animava um pouco, escuto
Annie chegar e abandono as memórias. Será que
ela ficou mesmo chateada? Até que pareceu.

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Eu a convido para ver um filme só


porque, apesar de não conseguir entender o motivo,
eu não quero que fique triste, chateada ou brava.
Nos sentamos com sua pipoca especial que parece
exatamente como qualquer outra pipoca, mas como
estou querendo melhorar as coisas não digo nada.
Não consigo me concentrar nem um
pouco no filme, quero saber que compromisso é
esse que ela tem. Não vou perguntar de jeito
nenhum, mas daria um braço para saber se vai sair
com algum cara.
E se for Nick? A garota não é freira, ela
pode sair, aposto que sai muito, deve ter mil
pretendentes com aqueles olhos vivos e aquele
corpo bronzeado e todo perfeito. É pequena e
delicada, na medida certa.
Sua risada me desperta. Tento me
concentrar no filme.
— A pipoca ficou ótima! – Ela me sorri.
Estar assim perto dela mexe demais comigo. Parece
pouco, penso em beija-la, ao mesmo tempo se
começar algo não sei se posso parar, esquecer,
fingir que não aconteceu.
— Eu disse. Sou boa em fazer pipoca e
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sanduiche. ─ Quando sobem os créditos tenho


vontade de colocar outro só para ficar mais tempo
ali. Sentado a seu lado sem fazer nada.
— Acho que agora volto ao trabalho. ─
Digo com meu desanimo evidente.
— Te vejo depois então. O que quer
jantar?
— Você escolhe e pede.
Ela sorri. Vai pedir comida italiana só
para me agradar. Acerto o menu, comida italiana.
Enquanto comemos fico pensando se ela marcou de
se encontrar aqui. Se vai me fazer receber o idiota e
convidar para sentar. Talvez eu vá mais cedo para o
jogo só para não ter que fazer isso.
Me sinto como o Heitor com ciúme até
do que não vê. Quando foi que comecei a me
comparar com meus irmãos?
— Pensando no trabalho?
— Sim. – Agora minto também. – Tenho
muita coisa para resolver antes de partir.
— Muito tempo longe. Muito tempo
longe do trabalho eu quis dizer. – Ela se apressa. –
Esse molho está ótimo. Suas cunhadas cozinham
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bem assim?
— Melhor. Comida italiana é a preferida
da Sophi e a Lissa aprendeu com grandes chefs.
— Acho que nunca vou conseguir. – Ela
não parece decepcionada, é apenas uma
constatação.
— Quem precisa saber cozinhar quando
se mora em Nova York? Não se preocupe com isso.
Fujo mais uma vez para o escritório logo
depois do jantar.
Não acordo Annie durante a noite
nenhuma vez. No fundo fico até meio incomodado,
gosto de ir vê-la. De manhã ela está elétrica e
ansiosa e fico irritado. Preciso ficar longe por que
não aguento ver sua animação.
Já odeio esse cara e fico em dúvida se
saio cedo para não vê-lo ou se espero para enche-lo
de defeitos. Me decido por ir de uma vez e vou me
arrumar. A camiseta dos Jets está na última gaveta
junto com as outras. Umas quatro delas. Visto e
deixo o quarto. O jogo começa as duas. São quase
uma da tarde, não vou chegar tão cedo assim.
Dou de cara com Annie na sala, nos

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olhamos surpresos, ela veste uma camiseta igual a


minha.
— Jets! – Dizemos juntos e perplexos. –
É esse seu compromisso? – Pergunto quando ela
consegue sorrir.
— É. Eu adoro os Jets. Não perco um
jogo. Nem que seja pela tevê.
— Vai ao jogo?
— Sim. Comprei meu ingresso há
semanas.
— Vai com quem? – Eu não devia
perguntar, mas estou com raiva do infeliz ser fã dos
Jets, ele não podia torcer para outro time e assim eu
ter mais uma coisa contra ele?
— Sozinha. Não conheço muita gente.
— Não pode ir sozinha! – Não escondo a
indignação, ainda mais com aquele shortinho jeans.
— Claro que posso, eu sempre vou. Que
ideia. Agora que nosso quarterback se recuperou da
contusão dizem que ele está voando, não vou
perder isso. – Ela parece entender de futebol. – E é
contra o Cleveland, eles estão num momento bem
difícil depois da última derrota, vão chegar loucos
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para virar o jogo, os Jets precisam de mim, dou


sorte a eles.
— Já entendi, tudo bem, você vem
comigo. Tenho entradas vips. Vai ficar bem perto
do campo.
— Sério? Vou com você? ─Aquele
sorriso grande e os olhos brilhantes são capazes de
me derreter.
— Vamos, Simon vai também e marquei
com ele no estádio.
— E não tem problema me levar? Eu
tenho...
— Não vai sozinha. Corre sozinha no
Parque, vai sozinha aos jogos, precisa se cuidar
mais. – Soa como uma bronca e não me importo
que pareça isso. É um pouco isso realmente.
— Nunca aconteceu nada errado no
estádio.
Aperto o botão do elevador e ela está
ainda se defendendo. Pensei todo tipo de coisas,
menos isso.
Dirijo todo o caminho conversando sobre
futebol, é absolutamente estranho que não seja o
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Simon ao meu lado, não falo disso com mais


ninguém, meus irmãos tem os costumes gregos
muito fortes neles e futebol americano não está na
lista de esportes de nenhum deles.
Quando chegamos ao estádio, o
movimento já está grande, me preparo para Simon
e seu mundo de perguntas.
Assim que descemos eu o vejo caminhar
para nós. Ele está com um ar indignado que me
diverte.
— Simon essa é Annie.
— Annie. Prazer. – Eles trocam um
aperto de mão. – Coincidência ela ter o mesmo
nome da substituta da senhora Kalais.
— Sou eu. – Annie diz sorrindo.
— Ah! Entendo. – Ele me olha firme
escondendo o riso.
— Podemos ir? – Ela diz ansiosa. – Não
quero perder um minuto do jogo.
Annie caminha um pouco mais a frente.
— E as regras? – Simon sussurra.
— Ela viria de qualquer modo. Sozinha.
– Mostro minha indignação ele dá de ombros. – É
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uma garota. Sozinha?


— Eu vi que é uma garota, e com esse
shortinho o estádio todo vai ver também. Só o jogo
que não sei se alguém vai ver.
— Cala a boca. – Simon é tão sem
limites.
— Se quiser eu mesmo posso redigir a
carta de demissão da senhora Kalais. Estava na cara
essa sua coisa de correr para trabalhar em casa.
— Simon, depois a gente fala.
— Tudo bem. Cindy não tinha mesmo a
menor chance. Bom para mim se o último Stefanos
ficar fora do mercado.
— Não é nada disso que está pensando.
— Está certo. Nesse caso eu posso
convida-la...
— Pode perder o emprego e a língua. –
Apresso o passo para encontrar Annie.
Nos sentamos um ao lado do outro,
Annie com os olhos brilhantes e sorrindo sem
parar.
— Vou comprar um sanduiche. Vocês
querem alguma coisa? – Ela pergunta.
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— Não precisa Annie. É a área vip. Eles


têm um Buffet.
— Está brincando? Nem almocei para
guardar espaço para o sanduiche do estádio.
Olho em volta, homens de todos os
lados. Não vou deixar ela andar por aí.
— Eu pego. Do que quer? – Me ponho
de pé.
— Carne e um refrigerante grande.
Deixo ela com Simon, não é o melhor
dos mundos, mas ela que não iria sozinha comprar
um sanduiche e ouvir mil grosserias, se bem que
ela é tão desligada que acho que nem perceberia. O
lanche é gigante, gorduroso e uma delícia, mas
duvido que ela consiga comer um desses, pego para
os três e mais o refrigerante grande dela. Ela e
Simon riam animados quando chego quase quinze
minutos depois. Odeio filas, por isso tenho
ingressos na área vip.
— Aqui está. – Ela pega o dela.
— Obrigada. Simon não parece um
gnomo?
— E você nesse caso é a sininho, loira e
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anã. – Simon brinca e trato de sentar entre os dois.


— Seu gnomo particular já começa
apelando. – Ela diz rindo de Simon e lanço um
olhar assassino para meu esperto amigo que logo
decide olhar para o campo e os times entrando.
Antes da metade do primeiro quarto ela
já comeu todo lanche, agora é como se eu não
existisse, ou qualquer outra pessoa. Só tem o jogo,
seus assobios alucinantes, ela brigando com todo o
time, incentivando, torcendo.
No intervalo só fala do jogo, entende
tudo do assunto e deixa eu e Simon boquiabertos.
Depois de novo somos esquecidos e só tem sua
felicidade em estar ali. Quando termina só sai do
estádio depois que todos os jogadores deixaram o
campo.
Está exultante com a vitória. Nos
despedimos de Simon no estacionamento.
— Foi um grande jogo. É tão estranho
que goste.
— Só por que eu sou mulher? Acho isso
muito machista senhor magnata grego.
— Eu sei que é. Admito. – Digo

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envergonhado.
— Mas não sou nenhuma ativista não.
As feministas teriam vergonha de mim. Eu acho
que gosto de ser apenas uma garota e das gentilezas
que merecemos, mas acho que isso é feminismo
também. Direito de ser qualquer coisa. – Ela
pondera pensativa. Annie é uma linda garota e isso
me mata.
— O que quero mesmo saber é como
conseguiu comer aquele sanduiche? – Pergunto
achando graça.
— Não almocei. É uma ótima estratégia
e talvez não coma nunca mais.
— Acho que é bem possível, eu acho que
não como mais, ao menos hoje.
— Agora vai sentar e trabalhar.
— Vou. E ligar para meus irmãos.
— Se não eles ficam bravos. Até o
Ulisses? Vê ele todo dia. – Ela já conhece tudo que
pode sobre eles. Adora se informar sobre os
Stefanos.
— Ele não, mas o Leon e o Heitor.
— Leon é seu irmão preferido.
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— Por que acha isso? – Pergunto


curioso.
— Pelo jeito que fala dele, com carinho,
e porque quando ele liga você atende. Sempre. Diz
“ é o Leon, preciso atender”.
— Pode ser. – Leon é o mais perto que já
cheguei de ter um pai e acho que não olho muito
para ele como irmão mais velho.
Estaciono e subimos. Annie fica no nono
andar, vai contar a Sarah como foi o jogo, pelo
visto eu era o único que não sabia de sua
preferência. Vou direto trabalhar e claro que pensar
em um mundo de coisas estranhas.
Me confunde gostar dela, me assusta. E
ser ela já seria um problema. Ser ela e ainda me
trazer tantas lembranças, me enche de coisas por
dentro, por que é a única parte de mim que está
perdida. Aquela parte que deixei com minha
gatinha no abrigo e nunca mais pude ter de volta.
Depois de tomar banho e me enfiar no
trabalho paro de pensar um pouco, mesmo quando
escuto seus passos pela casa, procuro não largar
tudo para correr atrás dela. Já está bem difícil
pensar em ficar três semanas longe, me vejo
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arrumando desculpas para telefonar. Saber dela.


Penso se ela vai conseguir ficar sozinha nesse lugar
enorme.
Ergo o olhar e já é tarde. Deixo o
trabalho de lado um pouco. Quase dez da noite.
Acho que chega por hoje.
Saio em busca de Annie e ela está
sentada no chão da sala olhando a noite pela
vidraça. Me sento ao seu lado.
— Não foi dormir?
— Eu estou treinando para ser um
daqueles vampiros adolescentes. – Seu tom é sério.
— O que? – Pergunto rindo. Ela se vira e
ficamos de frente um para o outro.
— Aqueles de filmes, os que brilham.
Eles não dormem. Então não tem pesadelos.
— Sei. Acha que só ficar acordada te
transforma em um?
— Quem sabe? Meu problema é a dieta.
Tenho que ser uma vampira boa, não posso sair por
aí mordendo pessoas então pensei em assaltar
bancos de sangue.
— Já pensou em ratos? Seria quase como
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um serviço a saúde pública. A menos que tenha


muito medo deles.
— Sou uma gatinha. Gatos devoram
ratos, eles é que tem medo de mim.
É ela. Minha gatinha, é ela, essa frase,
como poderia não ser?
— Por que tem pesadelos, Annie? – Faço
com que me olha. Tenho urgência em saber. Meu
coração parece que vai deixar meu peito de tanto
que pula. – Com o que sonha? Do que tem medo?
— Nick eu não gosto de falar. Não quero
que pense...
— Por favor, eu preciso saber. – Ela me
olha nos olhos. Depois encara o chão. Brinca com
os pelos do tapete.
— Minha mãe morreu e meu pai foi
preso quando eu era pequena. Ele era um
trapaceiro, mas não sou como ele. Pode confiar.
— Eu sei disso. – A história está a
caminho e minha vida começa a ganhar cor.
— Não tinha ninguém, então eu fui
levada para um lugar. Abrigo infantil Saint Peter. É
como o inferno viver lá, não acho que todos os
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abrigos são como aquele, mas aquele... ninguém


sabe como é assustador de verdade até cair lá.
Surras, brigas, fome, medo. Por um tempo eu tinha
alguém comigo. A pessoa mais importante da
minha vida toda até hoje. – As lagrimas dela
correm enquanto ela brinca com o tapete e não sabe
que sou eu, que acabou, que estamos juntos de
novo. – Eu chamava dele de...
— Príncipe. Você me chamava de
príncipe.
Ela ergue o olhar e penso em como
posso ter duvidado, é minha gatinha aqui. Ela vem
para meus braços, está chorando e talvez eu esteja
também. Por que acabou a busca. Ela está aqui.
Não preciso mais pensar nas piores coisas, nos
trágicos dramas. Ela sobreviveu ao inferno como
eu.
Eu a aperto em meus braços e só quero
que fique assim para sempre.
— Meu Deus Príncipe é você. – Ela se
aninha, me envolve como se tivesse medo de me
perder. – Achei que nunca mais veria você. – Ela
soluça. Se afasta um momento para nos olharmos.
Afasto seus cabelos, seco suas lágrimas, ela toca
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meu rosto, procurando pelos traços de garoto que


talvez tenham sumido com o tempo.
— Nunca mais vamos nos perder de
novo gatinha. – É minha promessa. Isso é
definitivo, está acima de todo o resto.
— Nunca mais. Vou ficar abraçada em
você para sempre. Às vezes eu achava que era
você, mas como podia ser? Nessa casa. Rico.
Importante. Cheio de irmãos. Pensava que era
loucura minha.
— Também achei muitas vezes.
Perguntei assim que chegou de onde vinha e disse
Los Angeles.
— Eu passei o último ano lá. Quis deixar
Nova York, as coisas iam mal aqui, mas lá foi pior
e voltei. – Suas lágrimas correm por seu rosto e se
comparam as minhas. Ela está de volta em meu
abraço.
— Sinto muito ter deixado você. Vem,
vou te contar tudo, vamos sair desse chão duro, não
precisamos mais ficar encolhidos no chão.
Ajudo Annie a ficar de pé, sentamos
abraçados no sofá da sala, tenho pressa de contar
tudo, de saber de tudo, de começar a viver. Agora
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que ela está aqui me sinto leve.


— O que aconteceu príncipe? Você foi
adotado? – As lagrimas ainda correm, mas agora
tem também um sorriso.
— Que saudade de ouvir você me
chamar assim e ter aqueles garotos maiores me
provocando por causa disso.
— Mas agora você cresceu, ficou bem
grande e pode pegar todos eles. Não fala que eu não
cresci. Eu cresci um pouco. – Claro que é minha
gatinha e sua voz suave que mais parece um
gatinho miando em busca de leite e afago.
— Bem pouquinho, ainda parece uma
gatinha. – Ela ri, se abraça mais a mim e parece que
sempre esteve aqui. Não tem nenhuma distância
entre nós, não tem ninguém que sabe mais sobre
mim, ninguém que já tenha chegado mais perto do
meu coração.

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Capítulo 8
Annie

Meu príncipe, me envolvendo, ele está


aqui. A pessoa que mais amo no mundo, meu
parceiro da vida, está aqui e ainda é como antes.
Ainda cuida de mim, protege, mesmo sem saber
que sou eu.
— Quando pensava que podia ser você,
meu coração parecia que ia explodir.
— Se tivéssemos falado um pouquinho
só do passado teria sido diferente. – Ele me faz
carinho no rosto. – Você se esquivava a cada
pergunta.
— Por que não queria te contar, fiquei
com medo de pensar mal de mim príncipe, as
pessoas pensam sabia?
— Eu sei. – Ele beija minha testa.
— O que aconteceu aquele dia? Para
onde foi levado? Eu esperei meses, ficava quase o
dia todo sentada perto da porta para ser a primeira a
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te ver voltar. – A lembrança me embarga a voz, ele


me abraça ainda mais.
— Eu não sabia o que estava
acontecendo gatinha, não sabia nada e só obedeci.
Sinto muito ter deixado você no escuro.
— O que aconteceu? Como tem irmãos?
— Nasci mesmo na Grécia como a gente
pensava, o mais novo de quatro irmãos, minha mãe
deixou meu pai e ele foi mandado para cá com os
filhos, ela deixou todos nós.
— E você era bebê? – Ele afirma.
— Descobri que cheguei no abrigo com
dois anos, achava que tinha nascido lá. Não
lembrava de nada antes de lá. Meu pai era
alcoólico, me entregou para o abrigo, ficou com os
outros por que eles eram maiores e podiam se
cuidar.
— Separou vocês? Que coisa triste
separar irmãos.
— Ele morreu um pouco depois, mas
meus irmãos não desistiram, nem esqueceram de
mim.
— Gosto deles. – Ele me sorri.
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— Ficaram sozinhos, se virando, foram


aprendendo coisas, trabalhando e acabaram ficando
ricos, sempre me procurando, colocaram até
detetives atrás de mim. Foi quando me
encontraram.
— E levaram você de mim. Não gosto
tanto deles assim. – Eu brinco.
— Eles não sabem de nada que me
aconteceu. Nunca contei.
— Eu entendo, é difícil contar todas
essas coisas.
— Um dia amanheceu e um dos
seguranças me mandou pegar minhas coisas. Fui
para diretoria. Três caras bem vestidos me
esperando, o diretor disse que eram meus irmãos e
que eu tinha que ir com eles e fui.
— Não lembrou de nadinha?
— Não. E pior é que os três paspalhos
passaram dois dias falando em grego o tempo todo,
eles achavam que era a minha língua, mas não
entendia nada do que estavam dizendo, pensei que
eles tinham vindo de marte.
Rio com a ideia, depois toco seu rosto,

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deve ter dado muito medo. Sozinho do lado de fora


com estranhos.
— Eu tinha medo deles. Achava que em
algum momento iriam me maltratar, sei lá, acho
que pensava que o mundo era como o abrigo. Um
dia eles se tocaram que eu não falava aquela língua.
Deixei minha família com dois anos, sabia meia
dúzia de palavras nessa época que logo esqueci é
claro.
— Daí as coisas melhoraram?
— Aos poucos fui ficando mais
confiante. No começo armei uns planos de fuga.
Depois eles me encheram de comida, roupas,
cuidados, aulas o dia todo de tudo que era coisa, fui
me apegando a eles, então decidi estudar direito,
me formei e comecei a tentar consertar as coisas.
— Se tornou um homem bom, sem ódio
como quase todo mundo.
— E você. Como foi?
— Fiquei sozinha, aguentei até acabar.
Ficou bem ruim depois que foi embora. Você sabe.
─ Não preciso entrar em detalhes com ele. ─ Minha
mãe tinha uma amiga de infância, Tracy, quando
ela morreu meu pai estava sempre pedindo ajuda a
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ela para cuidar de mim, ela e o marido denunciaram


ele, fui parar lá no abrigo quando ele foi preso, uma
vez, uns meses depois que você foi embora ela foi
me visitar.
— Não te tirou de lá? – Ele me pergunta
indignado.
— Não príncipe. E eu estava bem
machucada, mas isso a deixou bem culpada,
quando eu saí fui procurar por ela, não sabia o que
fazer, eles abrem a porta e tchau. Não conhecia
nada do mundo.
— Nem sei como pode ser isso. O que
teria sido sem meus irmãos.
— Dormi umas noites no sofá dela, mas
o marido dela me odeia. Ela me deu um dinheiro
que meu pai tinha deixado para mim, ele ficou
doente na prisão e morreu. Só uns dólares e aluguei
um quarto, fui mudando de emprego, eu sou meio
atrapalhada você sabe.
— Mas é inteligente e muito capaz.
— Capaz de me dar mal isso sim. Um
dia eu encontrei uma menina do abrigo, Mary
Ellen, ela disse que Los Angeles era cheio de
oportunidades, que estava indo para lá com um
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emprego, que eu devia ir e me daria muito bem e


adivinha se eu não fui feito uma idiota.
— Para de falar assim.
— Mas foi mesmo, gastei tudo que tinha
numa passagem e num quarto quando cheguei lá e a
garota só queria se prostituir nas ruas de Los
Angeles. Esperar ser descoberta e ficar rica e
famosa. Arrumei emprego de garçonete e me
afastei dela, fiquei um ano lá, só tentando voltar. Lá
parece que todo mundo é ator, modelo, essas
coisas. Dividia um apartamento bem pequeno com
umas garotas, todas garçonetes e atrizes, mas já viu
como eu sou, se não estou gritando no meio da
noite estou perambulando pela casa. Elas me
mandaram embora e não tive escolha, tive que
voltar e procurar a Tracy ou não teria nem onde
dormir. Daí acabei aqui.
— Para minha sorte.
— E minha. – Olho em seus olhos, o
tempo passou, ele cresceu e ficou rico e importante,
no fundo sinto medo. – Ainda é meu príncipe?
— Como sempre foi. Nada mudou, essas
coisas todas a nossa volta, nome, dinheiro, são só
coisas, ainda sou eu, ainda é você. ─ Ainda somos
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nós, mas agora as coisas que sinto são confusas,


porque me apaixonei por ele. ─ Voltou lá alguma
vez?
— Não posso, não consigo. Nem passo
perto. Você voltou?
— Também não posso gatinha, mas as
coisas mudaram. Não é mais como era. Mudei tudo.
Quando me formei fiz três coisas, assumi meu lugar
na empresa para conseguir pagar tudo que meus
irmãos fizeram por mim, para eles ficarem
orgulhosos, depois me ofereci para trabalhar na
associação, e procurei um senador amigo do Leon,
fizemos um acordo, nenhum dos dois queria a
mídia falando sobre o assunto, mas ele demitiu todo
mundo, colocou profissionais sérios, eu sustento o
abrigo, quando saem de lá os jovens vão para a
faculdade, ou conseguem um emprego, ninguém
sabe que sou eu, mas alguns deles trabalham para
mim na minha empresa.
— Mesmo assim não voltou lá?
— Não consigo. Não sabia como
procurar você, só me lembrava de te chamar de
gatinha.
— Eu também não sabia como te achar,
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todo mundo te chamava de grego.


— As pessoas não te chamavam de
gatinha. Por que não me lembrava?
— Quase ninguém me chamava príncipe,
quando estávamos juntos falavam com você.
Quando eu estava sozinha usavam meu sobrenome,
Keller.
— Talvez eu tenha alguma lembrança
disso agora que falou. – Ele fica buscando na
memória. – Não importa mais, estamos aqui agora.
Deve ser coisa do destino.
— Destino. – Me encosto mais nele,
acho que só quero ficar assim segura para sempre
sentindo seu perfume, seu abraço protetor, é de
novo como se nada pudesse me atingir.
Nos afastamos um momento para poder
olhar um para o outro, meu coração fica batendo
forte, sinto um reboliço dentro de mim, coisas que a
vida e o passado sempre me impediram de sentir.
Que achava que não existiam para mim.
— É tão igual e tão diferente. – Ele me
diz quando toca meus cabelos e sua mão desce com
um carinho por meu ombro e braço até encontrar
minha mão e entrelaçarmos os dedos.
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— Quando é igual?
— Quando ainda quero proteger você
mais que qualquer coisa, quando me sinto bem a
seu lado mais que com qualquer pessoa.
— Quando é diferente?
— Quan... quando não é mais o bastante.
Quando quero tocar você de um jeito que não
queria antes, que nem sabia que existia, quando
quero beijar você.
Eu quero isso, quero isso com todo meu
coração, quero que seja ele porque não pode ser
mais ninguém.
— Príncipe, eu quero o mesmo. Quero
que me toque e me beije. – Não tenho medo de
dizer. Não tenho medo de nada com ele.
Vamos nos aproximando bem
lentamente, meu coração vai dançando de encontro
ao dele e nem sei se sou eu ou ele, mas sinto seus
lábios sobre os meus e sua mão na minha nuca
enquanto a outra ainda segura a minha como
sempre foi e seus lábios são macios e vou me
envolvendo e então minha boca cede a dele e
mergulho num mundo novo e meu corpo cola ao
dele, sua mão aperta minha cintura e vamos nos
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beijando e é tudo alucinante.


Às vezes nos afastamos uns instantes só
para respirar e sorrir um para o outro e ele logo
captura meus lábios de novo e quando me dou
conta estamos deitados no sofá trocando beijos e
isso me deixa feliz como nunca me senti em toda
minha vida.
Ficamos ali, trocando carinhos e beijos, e
olhares longos, eu sabia que era um príncipe, era
um príncipe desde menino.
— Aquelas coisas que aconteciam com
algumas garotas maiores... – Ele diz gentil,
carinhoso, mas sabemos os dois o que é. – Não
quero machucar você de nenhum modo gatinha.
Aquilo aconteceu com você?
— Shiu, não fala disso. – Eu não posso
pensar racionalmente em nada disso, não sem me
partir ao meio. – Eu não posso falar disso, eu não
consigo pensar nisso, é você aqui, então é certo e
me faz bem, só não fala disso, não....
— Desculpa, está segura agora,
desculpa, não muda nada para mim. Acabou não
pensamos e nem falamos mais. – Ele me abraça, só
me mantem em seus braços até aquilo tudo ir
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embora de novo, e quem sabe para sempre. – Está


bem?
— Estou. É você aqui príncipe, então
estou segura e confiante, porque é você, eu não
tenho medo de nada. Eu estava até querendo um
pouco isso quando você era o Nick.
— Ei, estava me traindo comigo mesmo?
— Estava príncipe. – Ele me beija,
depois me olha com aqueles olhos risonhos que as
vezes ele tem.
— Eu andei querendo beijar uma tal de
Annie também, estava bem difícil resistir, ainda
bem que chegou gatinha.
— Só a Annie, senhor príncipe?
— Você ficou com ciúme da garota alta
e elegante chamada Cindy?
— Fiquei. – Ele me beija. – Não tem
graça príncipe. Eu tenho ciúme de você e do Nick.
— De mim eu sei. – Ele vai lembrar que
briguei com uma menina que queria namorar ele no
abrigo e nem gostava dele desse jeito.
— Príncipe, aquela menina queria
namorar todo mundo do abrigo, se namorasse com
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ela nem ia mais ligar para mim.


— Eu não queria namorar com ela, eu
não queria namorar ninguém, eu nem gostava de
gente naquela época, no meu mundo só tinha nós
dois e a espera para sairmos de lá.
— Eu chorei. Fui lá na casa da Sarah
chorar.
— Por que é uma gatinha muito
manhosa. Demorei três segundos no telefone, nem
era para passar a ligação, a senhora Kalais devia ter
dito que não atendo ninguém aqui, só se for minha
família.
— Ela falou, mas eu fiquei com ciúme e
brava e meio nervosa e me esqueci.
— Eu fiquei com ciúme do seu
compromisso. Achei que era um cara, criei toda
uma história, imaginei que ele viria pegar você aqui
e subiria e me apresentaria ele e eu teria que ser
educado e depois quando você voltasse eu iria
colocar um milhão de defeitos nele e você teria que
desistir dele.
— Nossa príncipe, que mente criativa.
Por isso se formou em Harvard.

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— O gênio da família. O Ulisses que diz,


não sou eu.
— Você ficou bem bonito príncipe.
Acho que já era bonito assim quando a gente era
criança, mas eu não pensava nisso.
— Você sempre foi bonita, mas antes eu
olhava para você como uma criança bonita.
Gostava dos olhinhos assustados. Lizzie me lembra
você, não a aparência, o jeitinho, por isso fiquei tão
próximo dela.
Meus dedos tocam seu rosto, ombro, seu
perfume me deixa meio distraída, me sinto pronta,
eu desejo ser dele, e não tenho medo.
— Acho que quero que me beije.
— Gatinha eu estou tentando ir com
calma, os beijos me levam a querer mais.
— Também quero mais príncipe, quero
tudo. Quero que a gente deixe acontecer sem medo.
É só por que é você. Só você e o Nick. – Rio de sua
careta.
— Aquele Nick é uma invenção, ele não
é inteiro, é só um jeito de ir em frente. Esse sou eu,
o cara que só você conhece.

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— Estamos juntos. Nem acredito. E se


eu acordar e for um sonho?
— O jeito é não dormir, gatinha. – Ele
diz antes de me beijar e daí acabou, não tem mais
nenhuma razão, raciocínio, só o corpo pulsando.
Acho que a vida toda me preparei para
ele. Para pertencer a ele.
— Não aqui gatinha. Na minha cama,
onde quis você desde que me acusou de ser um
velho babão. – Ele diz se afastando de mim, mas só
o bastante para me erguer em seus braços e me
carregar em seu colo.
— E sem personalidade príncipe, não
esquece.
— Tudo no primeiro dia. Eu só podia
estar mesmo louco por você para ainda te convidar
para jantar comigo.
Eu o beijo, e estamos em seu quarto, ele
me põe com cuidado na cama, se deita comigo, nos
beijamos, trocamos carinhos suaves. Nick é gentil,
paciente, não tem pressa, não me assusta, fico
emocionada.
— Eu gosto quando toca em mim.

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— Gosta? Acho que podemos avançar


um pouquinho então. – Ele diz gentil, depois seus
lábios cobrem os meus e sua mão entra por dentro
da minha blusa e quando toca minha pele meu
corpo reage e me deixa surpresa. Um gemido
escapa dos meus lábios e isso é tão novo. Seus
lábios descem por meu pescoço e sinto meu corpo
vibrar. Minha blusa desaparece, assim como a dele.
Agora posso sentir sua pele, toca-lo e gosto, nada
me dá medo, ou vergonha.
— Isso é bom. Tocar você assim.
— Me deixa ainda mais vivo. Também
gosto das suas mãos em mim, gatinha.
É muito bom saber, quero deixa-lo se
sentindo como eu me sinto, então deixo minhas
mãos passearem por ele, os carinhos vão ficando
mais quentes, mais íntimos e o resto das roupas vão
nos deixando e o tempo todo ele mantem os olhos
em mim, quer ter sempre certeza se estou bem, se
estou feliz e não fujo do seu olhar, deixo que veja o
bem que me faz.
— Isso é bom. Estar aqui. – Quero dizer
como me sinto, garantir que está tudo bem, mas de
repente fica tão intenso e urgente que eu não
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consigo mais pensar direito. Mesmo assim ele


ainda continua cuidadoso e gentil, meu corpo
sempre querendo mais e mais e tudo reagindo e me
deixo dominar pelo desejo e vamos juntos nos
movimentando.
Acho que sussurramos coisas sem
sentido, trocamos beijos, tudo é meio incerto,
apaixonante e intenso. Então é como se tudo fosse
ao limite, depois vem uma onda de choque e um
mundo de paz me invade e me deixa absurdamente
completa.
— Tão linda, delicadinha. Está tudo
bem?
— Está, mas acho que quero chorar. –
Ele me beija. Me envolve. Eu me aconchego em
seus braços.
— Nada de chorar, só vamos ficar aqui.
Juntos.
— Vou dormir aqui?
— Por que? Está querendo dormir com
aquele Nick?
— Não dá príncipe, ele só fica
trabalhando e trabalhando.

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— Acho que estou sempre querendo


mostrar para eles que mereço tudo que fizeram por
mim, ao mesmo tempo, acho que fujo um pouco do
passado. Quando trabalho não penso.
— Acho que arrumamos um outro jeito
de fugir, príncipe. – O jeito que ele me olha faz
meu coração saltar como num susto, depois dispara
fora do ritmo mais uma vez e parece que ele
entende como me sinto, por que logo está me
beijando mais uma vez.

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Capítulo 9
Nick

Minha gatinha aqui. Dormindo feito um


anjo, linda e suave. Fico olhando para seu sono
tranquilo e sinto vontade de acorda-la, beijar seus
lábios, passar o dia com ela. Encaro o relógio,
quase seis da manhã.
Acordei apenas para olhar para ela. E
não consigo parar de fazer isso. Acho que nunca
mais vou conseguir parar de olhar para ela. Nunca
tinha pensado em nós dois desse modo, ainda
guardava na memória apenas a garotinha assustada
que eu tentava proteger. Era como se apenas eu
tivesse crescido, como se ela tivesse ficado presa
naquela infância infeliz.
Mas ela cresceu assim como eu, passou
muito mais sofrimentos que eu e mesmo assim
ainda pode sorrir, sonhar, fazer coisas boas. Nunca
mais vamos nos separar, nunca mais ninguém vai
machuca-la.

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— Droga! – Sussurro me lembrando que


tenho que embarcar amanhã para uma viagem de
três semanas. – Não agora. Nem pensar.
Saio da cama apressado e evitando
barulho, sei lá quando foi a última vez que ela teve
uma noite de sono assim. Levo o celular para o
closet. Ligo para Simon enquanto vou separando
uma roupa apressado.
— Nick! – Simon atende com voz de
sono.
— Precisamos cancelar a viagem, adiar,
uma semana, duas, três semanas. – Meu tom tem
uma urgência que não consigo dissimular.
— O que? Nick, o que aconteceu?
Alguém morreu? Está doente? Foi abduzido?
— Para de fazer perguntas e me encontra
no escritório agora.
— Você sabe que são seis da manhã?
— Meia hora, Simon.
— Tá, estou indo. Vocês Stefanos são
muito excêntricos.
Desligo, tomo uma ducha pensando na
desculpa que vou dar aos meus irmãos, me visto
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apressado, paro na frente da cama, não tenho


coragem de acorda-la, está tão linda.
— Volto assim que puder. – Sussurro
antes de descer apressado. Nosso primeiro dia
juntos e nem posso aproveitar.
Simon chega cinco minutos depois de
mim, invade minha sala todo bagunçado com a
gravata na mão.
— É ela, não é?
— Ela quem, Simon? – Me faço de
desentendido.
— A nova senhora Kalais, só pode ser
ela. Já vi que sim. Estão tendo um caso? Ela parece
ser...
— Parece ser o que Simon? – Pergunto
irritado.
— Calma, ia dizer que ela parece ser
especial, que combinam apesar de ela ser maluca.
Entende mais de futebol que nós dois e metade dos
Jets.
— É linda, não é? Assobia feito um
moleque de rua. – O sorriso que queria esconder se
abre e ele sorri comigo.
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— Só aquele assobio já merecia meu


respeito.
— Simon, temos que remarcar tudo,
ligar para o Zyar e o Mark, refazer minha agenda. –
Olho para sua gravata na mão.
— Eu ainda não aprendi e minha
secretária não chegou. – Ele me estende a gravata.
– Não reclama, já fez isso um monte de vezes.
— Não fica com vergonha? – Pergunto
quando começo a fazer mais uma vez o nó de sua
gravata.
— Não, eu sou formado em Harvard,
meu cérebro guarda muitas informações para gastar
espaço com isso, tenho uma secretária para isso e
um dia vou ter uma esposa.
— Fica quieto! – Ele não para de se
mexer, não consegue usar só a boca quando fala e
detesto nó mau feito.
— Já até imagino ela levantando nua da
cama toda manhã e fazendo os nós da minha
gravata e depois....
— Não quero saber suas fantasias
sexuais, Simon. – Ele se cala. – Pronto. – Coloco as

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mãos sobre seus ombros e o faço me olhar. – Presta


atenção, vamos dizer aos meus irmãos que eu tenho
que resolver um problema grave na associação.
— Tem vergonha de apresenta-la para
eles por que ela assobia feito um moleque?
— Claro que não. Nós precisamos de
tempo, não é uma história simples, ela... Annie
cresceu comigo no abrigo. Temos que vencer
coisas...
— Sobre aquela história de você ter
passado por coisas lá que não quer que seus irmãos
saibam?
— Sim. Sabe como eles são, querem
saber tudo, cuidam uns da vida dos outros e eu não
estou pronto para isso. Annie e eu temos uma longa
história, achava que ela estava perdida e agora eu....
— Que fofo, amor de infância.
— Cala a boca, Simon! – Ele ri.
— Vou para minha sala cuidar do seu
ataque excêntrico. Eu devia ser adotado pelos
Stefanos.
Corremos o dia todo para arrumar minha
agenda, evito avisar os irmãos até o meio da tarde,
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Ulisses passa o dia todo fora em reuniões e quando


chega obvio que já sabe. Zyar ou Mark devem ter
contado a ele. Só quero sair logo daqui e ir para
casa ver Annie, eu devia ao menos ter ligado, mas
não fiquei sozinho um minuto e isso é por nós. Para
termos mais tempo juntos.
— O que aconteceu caçula? Leon está
prestes a ter um ataque por que o caçula queridinho
desmarcou tudo.
— Não é nada demais, nada que você já
não tenha feito mil vezes. – Rebato quando ele se
senta diante de mim e fica tentando me analisar.
Odeio ser o centro de tudo.
— Eu sou o irmão inconsequente, todo
mundo espera isso de mim, mas você é o irmão
certinho viciado em trabalho.
— São problemas na associação, não
posso viajar sem cuidar disso antes.
— Quer que eu viaje para você?
— Não cancelei Ulisses, só adiei uns
dias. – Me explico um pouco culpado.
— Posso ajudar? Na associação? Quer
que um dos nossos irmãos venham, os dois?

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— Pode, por favor, não fazer disso um


drama? Não é nada demais. Não estou deixando
meus compromissos de lado, eu... eu vou tá bom?
Já reorganizei tudo e vou.
— Nick. É nosso sócio, não empregado,
não precisa assumir tudo, pode pedir ajuda. Faço
isso toda hora. Todos nós fazemos, menos você.
— Eu estou bem. Não quero incomodar
ninguém, nem tirar ninguém da sua rotina, eu só...
– Estou completamente apaixonado e morrendo de
medo de ficar longe dela. – Só preciso de uns dias
para cuidar de tudo. Nem vai afetar meu trabalho
aqui.
— Ok. Eu tentei. Larguei uma reunião
no meio por que o Leon está prestes a ter uma
sincope, o bebezinho dele desmarcou reuniões, só
pode estar com problemas. Salvem meu bebê! –
Ulisses provoca.
— Vou ligar para ele e para o Heitor. Em
três semanas viajo como previsto.
— Só espero que tenha calculado bem
para estar na ilha no seu aniversário, quem sabe já
fica para o da Lizzie. – Eu tinha me esquecido
disso. Não vou deixar Annie no meu aniversário,
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preciso estar de volta antes disso, mas não vou


dizer nada e criar um problema.
— Claro que vou estar. – E o novo
mentiroso ataca mais uma vez.
— Aparece lá em casa essa semana. Já
que não vai viajar, janta um dia desses com a gente.
Frequentava mais a minha casa.
— Eu vou. – Prometo enquanto ele fica
de pé com a mais absoluta certeza de que estou
mentindo sobre tudo.
— Tudo bem. Vou para casa. Liga para
os seus irmãos.
— Já estou ligando. – Balanço o celular
quando ele deixa minha sala.
Começo com Leon, Heitor é sempre
mais compreensivo e menos intrometido.
— Nick! Está doente? – A voz do meu
irmão mais velho soa urgente e preocupada.
— Oi Leon, não estou doente, é que tive
uma emergência na associação, então adiei um
pouco as coisas.
— Não estou preocupado com isso, vai
se quiser e quando puder, é com você que estou
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preocupado, nunca vi você cancelar um


compromisso na vida.
— Eu não cancelei Leon, só adiei. – Se
pudesse desfazer o que fiz desfaria só para não ter
que me explicar mil vezes.
— Quer que eu vá até aí?
— Não vem. – Respiro fundo para não
parecer muito nervoso. – Não é necessário, vou
estar aí em breve, estou bem.
— Ok. Não quer que eu vá, tudo bem, só
não esquece que o Ulisses e a Sophi estão ai caso
precise.
— Obrigado Leon. Como estão Lissa e
as crianças?
— Bem. Com saudades. Talvez você
devesse esquecer essa viagem e vir ficar conosco
uns dias quando puder.
— Vou estar aí logo.
— Está bem. Quer que fale com o
Heitor?
— Não, eu ligo. Quero falar com a
Lizzie. – Desligo depois de uma rápida despedida.
Quero tanto ir para casa.
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— Se marcar uma reunião na hora do


almoço e aquele encontro com o diretor jurídico
num jantar, encurto mais dois dias. – Simon diz
sentado à minha frente.
— Bom. Faz isso. Faz o que for preciso.
— Sim senhor, chefe. Zyar também
conseguiu organizar umas coisas ele mesmo que
vai te apresentar por relatório e ganhar mais dois
dias, o que já transforma duas semanas em uma
semana e meia.
— Espera. – Heitor atende ao telefone. –
Oi Heitor.
— Oi Nick. Encrencado aí?
— Um pouco.
— Precisa de ajuda? – Heitor e sua
tranquilidade equilibrada que só se esconde quando
o assunto é disputar a maior família.
— Não. Tudo indo bem. Dou um jeito.
— Certo. Ulisses está se divertindo
criando todo tipo de teorias, Sophia ajuda você
sabe. Chega todo tipo de mensagem e agora os
Stefanos tem um grupo do qual você não faz parte
só para poderem discutir sua vida.
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— Nenhuma novidade nisso. Já passei


por esses grupos.
— Leon ficou preocupado. Não fosse
Lissa e as crianças, ele teria pego um avião e não se
preocupe, eu sei que está tudo bem.
— Que bom, Heitor. – É realmente um
alivio.
— Se precisar liga.
— Está em casa? Como estão todos?
— Estou em casa. Emma teve febre, os
dentinhos começando a querer nascer. O resto tudo
está bem. Liv está aqui comigo te mandando um
beijo.
— Manda outro para ela, peça desculpas,
sei que vou atrasar aquelas coisas que ela tem que
traduzir.
— Sem problemas.
— Lizzie está por aí?
— Vou chama-la. – Ele realmente está
tranquilo, ao menos ele.
— Obrigado Heitor e espero que Emma
fique boa logo.

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— Vai ficar, estamos bons nisso.


— Eu sei que sim. – Ao menos os dois
juntos e com a ajuda de Lizzie dão conta dos
pequenos.
— Oi tio Nick. Que saudade de você.
— Também Lizzie, te vejo no seu
aniversário. Você está bem?
— Sim, tio. Eu comprei seu presente,
comprei com a minha mesada. Não posso contar. –
Não pode ser pior que o chapéu seletor então eu
relaxo. – Tio, você vai gostar muito.
— Que bom.
— Tio Ulisses amou a ideia. – Droga,
vai ser bem pior que o chapéu seletor.
— Não precisa se preocupar com isso,
Lizzie.
— Já comprei tio e estou preparando um
monte de coisas para nossa viagem, eu sei que
demora ainda um pouco, mas já sei um monte de
coisas que vamos fazer.
— Está certo. Vai ser uma grande
viagem. – Penso se as duas vão se entender. Espero
que sim. Ao menos Annie gosta de Harry Potter
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tanto quando nós e um parque de diversões é a cara


dela. – Agora tenho que trabalhar. Um beijo.
— Um beijo tio, amo você.
— Também. – Desligo e encaro Simon,
ele ergue o olhar. – Fechamos tudo?
— Sim. Agora vou embora. Por que não
é um bom amigo e me convida para jantar na sua
casa?
— Por que a nova senhora Kalais
cozinha muito, muito mal. – Fico de pé. – Tenho
que ir, saí sem me despedir e passei o dia fora.
— Fez o que?
— Ouviu Simon, não ficou surdo no
último minuto.
— Só estou achando você o chefe da
gang dos irmãos idiotas. Ela deve estar bem
chateada.
— Deve? – Será que estraguei tudo? –
Por que?
— Nick, ter uma namorada ou coisa
assim, implica em dar satisfação, não pode sair sem
se despedir e sumir o dia todo sem dar notícias.
— Faz sentido. Melhor eu ir logo, ainda
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tenho que passar no shopping.


— Boa sorte.
Se ela tivesse um celular podíamos ter
trocado mil mensagens. Não vou ficar no telefone
chamando ela de gatinha na frente de ninguém,
nem pensar. De jeito nenhum. Nunca mesmo.
Compro o aparelho mais moderno, com
tudo que tem direito, assim ficamos em contado,
não quero pensar em não saber onde está, minha
gatinha não para quieta e fico preocupado.
Subo pensando em encontra-la na
cozinha atrapalhada com sua comida ruim, então
posso abraça-la e beija-la como quis fazer muitas
vezes.
— Gatinha! – Não está na cozinha, subo
as escadas e a encontro no corredor se preparando
para descer enquanto secava lágrimas. – Chorando?
Senti saudade.
— Não se arrependeu? – Eu a abraço,
não é que Simon tinha razão?
— Está maluca? Nunca, pensei o dia
todo em você.
— Saiu correndo para perto do seu
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gnomo assistente, fugiu de mim. – Beijo seus lábios


como que querendo provar a verdade.
— Eu fiz mesmo isso, mas por que
queria cancelar minha viagem. Adiar na verdade,
para ficar mais tempo com você. – Annie sorri, isso
já me deixa mais calmo, tem coisas que não sei e
preciso aprender, mas posso, por mim tudo bem, é
ela, sempre foi ela.
— Por que não me acordou? – Ela me
abraça, eu a beijo mais uma vez.
— Por que parecia uma linda gatinha
adormecida e tive pena. O dia foi cheio e não fiquei
sozinho um minuto, desculpe.
— Desmarcou uma viagem por mim?
— Adiei, daqui três semanas viajo.
Mereço retribuição?
— Merece. – Ela começa a desfazer o nó
da gravata enquanto vamos caminhando para o
quarto. Quando deitamos já falta metade das
roupas, ela está mais solta e não me sinto tão
preocupado, me deixo livre assim como ela. –
Também tive saudade. Não vai embora nunca mais
sem se despedir?

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— Prometo.
— Então agora chega de conversa. –
Annie brinca e a conversa realmente nos deixa, só
quero matar meu desejo e o dela. Tudo vivo e
intenso, nunca foi assim, nunca me senti tão inteiro
com uma mulher.
Depois só ficamos ali, nos olhando em
silencio um longo momento.
— Está com fome? – Ela me pergunta
com o rosto corado. – Se estiver salgada são
minhas lágrimas, então a culpa é sua.
— Hora sou eu, hora é a Gloria, tem
sempre alguém estragando esse seu talento nato.
— Verdade. Vem, precisa comer
príncipe.
Ela veste minha camisa. Apenas isso,
fico olhando aquela linda mulher vestindo nada
além da minha camisa e pensando como é que eu
vou conseguir continuar a fazer tudo que fazia
antes.
Annie caminha pelo quarto, volta do
closet com uma bermuda que me atira.
— Veste isso príncipe, nada de calça,
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nada de ser certinho.


— Sim senhora. O que vamos jantar?
— Sopa de lágrimas de gata triste.
— Vou ficar me sentindo culpado. – Ela
sorri, tira os cabelos do rosto e a manga da camisa
balança longa demais para ela.

A comida está muito pior que


imaginávamos e acabamos num sanduiche de tudo
que tem na geladeira. Até que quando a senhora
Kalais chegar vai ser bom, assim ela pode se
dedicar aos velhinhos e ainda podemos manter
alguma saúde.
— Preciso ler um documento ainda hoje,
fica comigo? – Ela sorri.
— Quando ficava trabalhando até tarde
eu queria muito ir ficar com você.
— Então vem. – No meio do caminho
solto sua mão para pegar o presente que me
esqueci. – Espera, já ia me esquecendo. Trouxe um
presente.
— Um presente? – Ela me olha
espantada. Estico a caixa em sua direção, mas ela
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não parece convencida. – Um presente? Me trouxe


um presente?
— É gatinha, um presente para você.
Pega. Não é nada demais.
— Claro que é. – Ela abre a caixa
emocionada e essa alegria vai embora rapidinho o
dia que Lizzie decidir dar um presente a ela. –
Nunca ganhei presente antes. Eu acho, meus pais
devem ter me dado, mas não me lembro.
— Então se acostume, vai ganhar
muitos, até perder a importância.
— Não faz isso. – Ela abre a caixa
ansiosa. – Não quero que perca a graça. Um
celular. – Ela larga a caixa no móvel o movimento
derruba um pequeno vaso que salvo num reflexo
rápido, ela sorri. Coloco o vaso no lugar.
— Se tivesse um desses não teria
chorado, é para nos falarmos, mandar mensagem.
Meu número é o primeiro e tem o do Simon para
uma grande emergência e o da associação. Pode me
mandar mensagem sempre que quiser. Assim
atendo em qualquer momento.
— Mesmo se estiver numa reunião muito
importante?
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— É justamente para esse momento. –


Ela me beija, envolvo Annie. – Assim sempre vou
estar à disposição da minha gatinha.
— Obrigada, é lindo.
Me sento no sofá do escritório com meus
papéis, ela se deita com a cabeça no meu colo,
brinca e descobre os aplicativos enquanto fico ali
lendo a seu lado. Está só com minha camisa, nada
além disso, os cabelos soltos, o rosto limpo,
tranquila me esperando trabalhar. Não está
entediada, não quer sair para dançar, fazer compras,
só ficar aqui comigo. O celular apita ao meu lado.
Pego de modo mecânico. “Oi príncipe.
Sabia que te acho bem bonitão?” Sorrio ao ler sua
mensagem. “ Boba” respondo. “ Só testando”
realmente foi uma ótima ideia. “Minha gatinha”,
“Miau” Ela responde e me dobro para beija-la.
Não leva nem uma hora. Então deixo os
papéis de lado.
— Pronto. Por hoje chega.
— Já?
— E foi bem difícil me concentrar. – Ela
se senta em meu colo. – Agora como é cedo e não

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estou acostumado a fazer nada além de trabalhar


vai ter que me ajudar a gastar meu tempo.
— Banho e cama. Juntos.
— Muito inteligente. Gosto dessa coisa
de juntos. – Mordo seu lábio, ela faz um olhar
sensual, mas ri, e gosto muito mais que seja alegre
que sensual.
— Tudo juntos, por que somos almas
siamesas.
— Não é almas gêmeas que se diz?
— Almas gêmeas é para os fracos,
somos almas siamesas! – Ela me faz rir e não tem
muita gente que faz isso. Me levanto com ela no
colo. – Deu sorte de eu ser uma gatinha bem magra.
— Deixa a senhora Kalais voltar e
assumir a cozinha e vamos ver se vai continuar
magra assim.

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Capítulo 10
Annie

— Príncipe, príncipe! Acorda! – Cutuco


ele que abre os olhos meio preguiçoso e bem
bonito, isso é muito difícil de lidar. – Acorda
preguiçoso, eu dormi. Viu isso? A noite toda.
Nick me envolve, me beija o pescoço
cheio de sono.
— Nada de insônia nem pesadelos, só
dormi mesmo, a noite toda, ou parte dela, antes
estávamos fazendo umas coisinhas. – Escuto sua
risada no meu pescoço que me causa um arrepio
pelo corpo. – Eu vou tomar um banho e dar uma
corridinha e volto para fazer seu café.
— Correr? No parque você diz? – Ele
ergue a cabeça para me olhar com a expressão
surpresa.
— É príncipe. Me exercitar.
— Posso pensar num bom jeito de se
exercitar e nem vai precisar sair da cama.
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— Sério? Tipo um personal trainer?


— Exato. – Ele diz e sou o tipo de
pessoa que gosta de exercícios então só posso me
render. Principalmente depois que sua mão começa
a passear por meu corpo, nessa hora eu fico
rendida. Ele não devia ter todo esse poder sobre
mim.
Gosto quando ele sussurra coisas no meu
ouvido, quando seus lábios me saboreiam a pele, eu
gosto de tudo. Acho que nunca mais vou conseguir
viver sem isso.
— Isso que é jeito de começar o dia. –
Digo a ele depois de um longo suspiro assim que
meu corpo volta perto do normal. Nunca mais
fiquei normal desde que cheguei nessa casa ou será
que esse é meu normal?
— Vai para associação? – Ele me
pergunta enquanto nossos dedos brincam.
— Sim. Tenho muitos planos para hoje e
deixei meus velhinhos preocupados, chorei no
ombro de todos eles, um de cada vez porque eram
muitas lagrimas.
— E agora todos eles me odeiam?
Obrigado. – Se ele já é normalmente bonito, com
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cara de coitado fica perfeito. Roubo um beijo.


— O senhor Fernandez não te odeia, ele
gostou que deixou o caminho livre para ele. Agora
vai se decepcionar coitadinho.
— Quantos anos ele tem mesmo? – Ele
pergunta se enfiando mais uma vez na curva do
meu pescoço.
— Oitenta.
— Acho que posso competir.
Fico de pé, ele continua deitado me
olhando com um sorriso nos olhos.
— Sabe dançar? Ele está me ensinando.
─ Eu o advirto. ─ Vou tomar banho e me vestir.
— Não precisa correr, eu vou te levar. –
Ele grita quando eu entrava em meu quarto. O
banho é rápido e revigorante, depois desço para
preparar o café, não demora e ele está na cozinha,
todo elegante de terno e gravata. Aqueles olhos
lindos, que estão sempre me dizendo coisas boas
desde que era só um menino, grudam em mim e me
dominam.
— Café, torradas e suco. – Nada de
caprichar, eu levo uma hora inteira nessa tentativa
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que nunca dá em nada.


— Está ótimo. Também vou passar a
manhã na associação, era para ter ido ontem, mas
foi uma correria. – Ele se serve de uma xicara de
café fumegante.
— Depois vai para o escritório?
— Sim. Vou tentar não chegar tão tarde.
Não esquece o celular. Tenho medo de perder você
de novo.
— Nickolas Stefanos, o magnata grego!
– Digo me sentando em seu colo, ele me abraça. –
Viu? Agora eu sei bem onde te achar. Não vamos
mais nos perder.
— Bom saber. Desculpe por ontem. O
Simon até me disse que devia ter avisado, mas não
pensei nisso.
— Ouça o Gnomo assistente. Tudo bem.
É porque foi a primeira noite que passamos juntos,
acordei sozinha e pensei que tinha me deixado. Isso
é bem mais fácil de esperar do que ter corrido para
arrumar mais tempo para nós, as pessoas estão
sempre se livrando de mim.
— Isso acabou. Todo esse passado

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acabou. – Do modo como me olha fica difícil


duvidar.
— Acredito em você. Sempre acredito. –
Chegamos juntos na associação, de mãos dadas e
gosto que me exiba assim, sem receios. Nick me
beija na porta de sua sala, depois eu sigo para
buscar meus velhinhos.
Pela manhã ficamos todos juntos num
pequeno jardim, tomando sol, conversando. O
senhor Fernandez reina entre as mulheres, eles são
divertidos e carinhosos, a todo momento um deles
está me contando uma história, são feitos de
lembranças e fico pensando que tipo de lembranças
vou levar comigo aos oitenta anos.
— Ava, se lembra da sua infância? – Ela
me segura a mão. Pensa um momento sentada em
sua cadeira de rodas.
— Não muito. Me lembro sempre do
meu casamento, foi um grande dia, de quando
minha filha nasceu e uma viagem que fiz quando
completamos dez anos de casados, um cruzeiro
pela Europa.
As boas lembranças dominando aquele
rosto cansado e ao mesmo tempo cheio de vigor,
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Ava é a mais velha, mais ainda conserva tanta


dignidade, é emocionante estar perto dela.
— E as coisas ruins? Pensa nelas quando
fica sozinha? – Me dá medo de chegar a essa idade
só recordando os traumas, todo o mau que a vida
me fez sem que eu soubesse por que.
— Muito pouco, mas depois de tanto
tempo nem são mais tão ruins, o tempo transforma
tudo. Tem medo das lembranças ruins?
— Não tenho muitas lembranças boas
ainda. Acho que preciso juntar mais delas para
perder o medo. – Ela me oferece um sorriso
carinhoso, cheio de coragem.
— Vai juntar. Esses olhos brilhantes me
garantem isso. – Beijo sua mão.
— Também estou achando isso. – Olho
no celular, quase meio dia, é hora de todos eles
almoçarem, antes era uma refeição triste, mas agora
consigo que se juntem em uma grande mesa, os
funcionários e as crianças se juntam a eles também
e o almoço é sempre alegre e movimentado. – Hora
do almoço. Vamos?
— Nunca gostei tanto desse momento
como agora. Já viu que crianças lindas temos aqui?
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– Ava arruma a coberta sobre as pernas quando me


posiciono atrás da cadeira de rodas para leva-la
para dentro.
— Já. – Não é bem verdade, eu tenho
medo delas, de me apegar, de gostar delas demais,
de me ver nelas e depois não poder dar as costas, de
doer tudo de novo.
Ajeito Ava ao lado de uma garotinha de
rabo de cavalo e roupa suja de tinta. Dois extremos.
Aposto que uma tem muito a dizer a outra.
O celular vibra em meu bolso. Ergo o
aparelho sabendo que é ele. Um sorriso dança em
meu rosto só com a ideia.
“Vem me dar um beijo, tenho que ir. ”
— Ainda não digito muito rápido, mas chego lá.
“Estou indo. ” — Outra vem logo em
seguida.
“Vai sempre sorrir assim quando ler
minhas mensagens? ”
Ergo meus olhos em busca dele e está de
pé, na porta do refeitório me sorrindo. Caminho
para encontra-lo, tem gente passando de um lado
para outro então só ficamos de frente um para o

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outro.
— Sempre. Cada mensagem vai ganhar
um sorriso. – Seus dedos tocam meu rosto, descem
pelo braço e se entrelaçam aos meus.
— Fez uma boa bagunça com essa gente.
─ Seu tom é orgulhoso, sei que ele não consegue
participar disso, mas gosta que aconteça. Não é
fácil para mim também me entregar a esses
estranhos, a qualquer momento posso cair na
escuridão de onde eu vim, basta uma rejeição.
Olhamos os dois para a mesa e os risos e
conversas, crianças e idosos misturados, os
funcionários animados com aquele momento, tanta
gente boa envolvida em cuidar de estranhos, não
lembra em nada o mundo que vivia antes de
reencontra-lo.
— Bagunça é bom.
— Te vejo a noite. – Ele toca meus
lábios com os seus.
— Bom trabalho.
— Você também. – Fico assistindo ele
sumir pelo corredor, volto para a confusão da hora
do almoço.

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Uma hora depois, pego o celular. Sinto


falta dele.
“Saudades” ─ A resposta é imediata.
“Também, gatinha” ─ Ele me faz
confiante.
— Pronta para nossa aula? – O senhor
Fernandez é o mais disposto do grupo, surge ao
meu lado animado como se tivesse vinte anos.
— Sim senhor. – Ele me oferece o braço
quando vamos para uma pequena sala com
poltronas, tevê, um aparelho de som antigo, tudo
para que tenham algum conforto. Todas as tardes
eles se reúnem ali, menos Ava, ela precisa
descansar um pouco durante a tarde.
— Esse seu aparelho de celular é muito
bom, aprendi a trocar mensagens com a minha neta,
ano que vem ela se forma, se ainda estiver vivo,
vamos dividir um apartamento.
— Se ainda estiver vivo? Claro que vai
estar. – Ele ri.
— Me dá seu número, vou conquistar
esse seu coraçãozinho.
— Ele já tem dono, senhor Fernandez. –
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Admito sem medo, sempre teve, mesmo que não


soubesse disso.
— Estão namorando?
— Ele ainda não pediu, mas se ele não
pedir eu peço.
— Nem pensar mocinha, não vai pedir
nada. ─ Ele me encara com ar severo. ─ O homem
que pede.
— O senhor é muito antiquado, não tem
nada demais eu pedir.
— Vamos esperar um pouco. Você vai
ser uma boa menina e esperar ele pedir, se ele não
pedir eu caso com você.
— Então vou só ameaça-lo um pouco
com isso. – Coloco o número do meu novo amigo
na agenda do celular, é estranho o mundo que se
abriu depois que Nick me encontrou. Sarah, meus
idosos. Isso me deixa feliz por inteiro e não só
quando estou com ele. – Do que os homens
gostam?
— De serem surpreendidos, minha
mulher era boa nisso. Ficamos casados cinquenta
anos.

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— Duas vidas. – Ele me aperta o nariz


divertido. – Vou fazer isso, surpreende-lo, essas
suas rugas têm que servir para alguma coisa.
— Menina faladeira. Não são rugas, é
experiência.
— Vai me ensinar a dançar ou vai ficar
só tentando roubar meu coração?
— Os dois. – Ele coloca uma música
antiga. Oferece a mão e aceito, não sou a melhor
aluna do mundo, nem a mais interessada, mas ao
menos ele se distrai e exercita.
— Depois dança um pouco com a
Gloria, ela precisa se distrair também.
— Como quiser.
— Quem sabe ela para de tentar roubar
meu homem. Não vai me perguntar o que ela fez? –
Exijo enquanto vamos nos movimentando numa
valsa simples.
— O que ela fez? – Ele questiona.
— Senhor Fernandez, ela me ensinou
uma receita de carne assada, confiei nela, mas na
hora de servir era um carvãozinho. Comemos sushi.
─ Sua risada ecoa por sobre a música e ganha
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olhares.
— Então foi um plano ardiloso de fazê-
lo duvidar de seus dotes culinários?
— Com certeza, justo eu que nasci para
isso.
— Aposto que sim. Agora vou girar
você, não pisa no meu pé, presta atenção.
Ele me gira, o pé fica a salvo e
aplaudimos. Depois é a vez de Gloria, os dois ficam
dançando mais um pouco, assisto desejando
envelhecer ao lado de Nick e a ideia me parece tão
natural e possível.
Eu os deixo no fim da tarde como de
costume, corro para casa decidida a surpreende-lo.
No caminho paro para comprar velas perfumadas,
Nova York e suas mil oportunidades. Assim que
aperto o botão do elevador Ted surge ao meu lado.
— Não pode subir por esse elevador, use
o de serviço como todo empregado do prédio. – Ele
tem prazer em me magoar, antes achava que
merecia isso, que todas as lagrimas que Tracy
derramou pela culpa eram a causa de sua ira contra
mim, mas não é isso, ele me odeia e pronto, está
nele, não em mim, não em Tracy, me canso, apenas
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isso.
Reencontrar Nick me deu uma nova
visão das coisas, eu sofri, não Tracy, eu passei as
coisas ruins, ela chorou numa cama quentinha com
comida na mesa, não preciso me encolher com
medo dele.
Não vou mais fazer isso, nunca mais. Eu
não sou mais sozinha.
— Ted, você não precisa me odiar para
sempre, meu pai está morto, eu nunca mais vou
pisar na sua casa, me deixa em paz. Se o problema
é o elevador reclame com o senhor Stefanos
quando ele chegar. Bom trabalho.
O elevador chega, as portas se abrem e
enfrentando seu olhar eu entro, aperto o botão da
cobertura de cabeça erguida, ele nunca vai reclamar
com Nick, é covarde e subserviente quando acha
que alguém é superior a ele, desconta sua revolta
nos mais fracos, pois bem, não sou desse time. Não
mais.
A porta se fecha e o elevador começa a
subir, me esqueço de Ted, ele não vale o esforço,
subo direto para o quarto e chego ao banheiro.
Espalho as velas e ligo a banheira, preparo a
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espuma.
“Devia vir logo, tem um presente para
você no seu banheiro”
“Dez minutos, curioso, pena não poder
voar. “
Acho que ele vai gostar da surpresa,
corro para meu quarto, prendo os cabelos, me olho
no espelho, hoje não tem nenhuma gatinha, vamos
ver o que ele acha disso.
Entro na água quente, a espuma está
perfeita, o banheiro só iluminado por velas. Um
clima romântico, isso é uma boa surpresa, ao
menos eu acho, vamos ver o que ele acha.
— Gatinha! Annie! – O recado foi bem
claro, presente no banheiro, por que ele fica
gritando por mim pela casa? Sorrio, gosto de pensar
que está ansioso e com saudades.
Escuto seus passos pela escada, cubro
meu corpo com mais espuma. Ele para na porta
surpreso, me olha um tanto boquiaberto e mudo.
— Seu presente embrulhado em espuma.
– Digo erguendo a perna.
— Gatinha... – Ele continua imóvel.
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— Não tem nenhuma gatinha aqui.


Soube que andou querendo me beijar. Estou aqui.
Nick.
— A água parece...
— Quente. – Ele dá um passo para
dentro do banheiro.
— Aqui também está. ─ Nick admite. Os
olhos pregados nos meus, fazem meu coração pular
em descompasso.
— Muita roupa, Nick. – Ele me olha de
um modo intenso. Começa com o nó da gravata.
Vai desfazendo de modo lento. – Isso está
parecendo bem provocador.
— Acha Annie? Não é minha intensão. –
Ele diz desabotoando um por um dos botões da
camisa lentamente.
— Parece querer me torturar. – Eu digo
quando a camisa se vai e ele toca o cinto. Meus
olhos correm seu corpo, passo a língua pelos lábios
de modo provocador e então ele ergue uma
sobrancelha.
— Certo, venceu. – Ele se rende e então
o restante some num segundo, Nick entra na água,

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me movo e estou em seus braços. – Então essa é


Annie?
— Sim, Annie é uma garota sensual, que
não tem medo de arriscar e surpreender, e ela pode
aparecer de vez em quando para uma visita secreta.
─meus lábios vão para seu ouvido e sussurro. – A
amante do príncipe.
— Uma devassa! – Ele brinca.
Sua mão desliza suave começando por
meu pescoço, desce por meu colo, os olhos dele
acompanham seus dedos e isso é excitante, minha
respiração começa a descontrolar, os dedos chegam
ao seio, contornam e suspiro, seu olhar deixa meu
corpo para encontrar meus olhos ansiosos.
— Linda. – Ele me traz para mais perto,
me beija e sinto seu desejo no modo como me
beija, o beijo é intenso, provocador. ─ A mulher
mais linda que já vi.
— Nick... – Eu perco um pouco a
capacidade de raciocínio quando ele tem as mãos
em mim, quando meu corpo está tão grudado nele,
só consigo responder com minha pele, com meu
toque.
— Seus olhos me perseguem há uma
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vida. Quando estou longe eu os levo comigo, eles


ficam me convidando a voltar.
— Então volte. – Eu peço, ele sorri, está
tão entregue quanto eu.
— Foi o que fiz, o que faço. Saí
correndo.
Agora sou eu que o beijo, não sabia que
podia ser tão bom, mas é cada vez melhor. Só
deixamos a banheira porque ficamos com medo de
dissolver. Continuamos na cama, parece que não
vamos cansar nunca um do outro.
Pela primeira vez Nick não trabalha,
apenas fica comigo, sou dona do seu tempo e o
presenteio com meu carinho.

As coisas mudam, não tem mais trabalho


quando chega em casa, somos só nós dois,
namorando em cada canto da casa, assistindo tevê,
rindo, cozinhando. De vez em quando é só a
gatinha e seu príncipe, correndo juntos no parque
todas as manhãs, andando de mãos dadas e
tomando sorvete, mas as vezes Annie surge com
alguma surpresa para deixa-lo tonto e amo como
ele perde a fala.
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— Não pode ser tão difícil, Annie. –


Digo em voz alta com a barra de chocolate na mão.
Pico como na receita. Depois fico pensando o que
pode ser banho maria. ─ Já sei. Internet. – Pesquiso
muito rápido. Ele deve estar chegando, não tenho
muito tempo.
Derreto o chocolate, fica cremoso, ergo a
colher especial e um fio grosso de chocolate
escorre de volta a panela. Não tem nada que meu
príncipe ame mais que chocolate.
Me preparo, acho que o senhor
Fernandez não pensava que eu iria tão longe com
essa brincadeira. Mas eu posso ser bem
determinada, sou uma sobrevivente. O tipo de gente
que vai longe.
“Chegando gatinha. Está aí? “
“A sua espera. “
Logo a porta do elevador abre. Escuto
seus passos e então ele para na porta da cozinha,
engole em seco quando nua e com a panela não
mão eu ergo a colher e o chocolate se derrama
numa linda cascata de volta para a panela.
— Eu, você e chocolate. – Passo a língua
na colher de chocolate. – Não quer saber se o
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chocolate ficou bom?


Ele afirma caminhando para mim e
tomando meus lábios. Eu o amo e sei que ele me
ama apesar de nenhum dos dois dizer, mas acho
que é apenas por que não precisamos de palavras
para dar nome a nada do que sentimos.
— Só temos mais quatro dias gatinha,
depois vou ficar duas semanas sem você. – Ele me
diz muito mais tarde quando saiamos do chuveiro.
— Tem mesmo que ir? – Me sento na
cama, enquanto ele remexe em suas roupas.
— Tenho. É meu trabalho, e não gosto
de falhar com meus irmãos, me sinto mal se faço
isso.
— Já fez isso alguma vez?
— Na verdade não, nem vou fazer. Já
pensou o que seria de mim se não fosse eles? Um
dia eles teriam aberto aquela porta e me atirado do
lado de fora e eu não teria nada, ninguém. O que
teria me tornado?
Ele se aproxima vestindo bermuda. Se
senta ao meu lado, eu enrolada apenas em uma
toalha. Me encosto em seu ombro, ficamos um

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momento pensativos.
— Seria um badass, calça jeans, botas,
jaqueta de couro preta, óculos escuros e cara de
mal. – Rimos os dois da ideia.
— Estaria preso, drogado, bêbado como
meu pai, sei lá. Sou grato. Depois que voltar dessa
viagem vamos viajar juntos. O que acha?
— Pode ser.
— Vamos sair para jantar? – Ele
convida.
— Vamos. Quero sushi.
— Claro que quer. Sempre quer. – Beijo
seus lábios.
— Vou no outro quarto colocar uma
roupa.
— Por que suas roupas ficam lá é que
não entendo. Traz logo para cá, o closet é tão
grande e suas roupas tão pequenas.
— Quando estiver viajando faço isso,
Sarah vai me ajudar.
Vou para o outro quarto e ele me segue.
— Simon tem uma quedinha por ela,

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sabia?
— É sério? Ela nunca falou dele. –
Coloco calça jeans, camiseta, tênis e deixo os
cabelos soltos, quando meus olhos encontram os
dele Nick está rindo. ─ Que foi?
— Primeira vez que te vejo de calça.
Gosto dos shortinhos.
Sigo até ele e o abraço. Ele beija meu
pescoço, depois meus lábios.
— Você tem que dizer que gosta de mim
de qualquer jeito.
— Eu gosto, mas se precisar escolher
então vou ter que admitir que prefiro quando está
vestida de chocolate.

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Capítulo 11
Nick

— Nick não dá para encurtar mais nada.


A viagem tinha três semanas. Reduzimos tudo que
foi possível. – Simon me diz no fim do dia. – Uma
semana entre Itália e Turquia e aí o tempo que
quiser com sua família.
— Um dia. Depois volto, não quero
demorar. Vai ficar de olho nela? ─ Preciso ter
certeza que ela vai ficar segura.
— Já disse que vou. Mesmo com ela me
chamando de gnomo.
— Eu te ajudei, contei a ela que se
interessou pela Sarah. Hoje no jantar você pede
ajuda. – Apelo para seu lado interesseiro.
— Era o mínimo, faço tanto por você.
Sabia que o Ulisses está no meu pé? Ele quer saber
por que está diferente. – Simon adora me jogar
coisas na cara.
— Eu não estou diferente, não sei de
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onde tiraram isso.


— Nick, você era o primeiro a chegar e o
último a sair, agora está todo atrapalhado. ─ Claro
que estou atrapalhado, aprendi que quando ela diz
vem, é melhor correr, ela pode estar nua e
acompanhada de chocolate. Simon, me estende um
envelope. – As coisas que pediu para Annie.
Depositei o dinheiro, o cartão de credito ficou
pronto e a senhora Kalais pediu para avisar que
precisa de mais tempo com a irmã.
— Entendi. Sem problemas.
— Imagino que não tem problema
mesmo, com sua nova governanta.
— Annie nunca foi minha governanta.
Ela teria sido péssima alias. É bagunceira, cozinha
mal, esquece os recados.
— Não reclama com ela? Você é todo
certinho.
— Não. Gosto de encontrar pares de
chinelos pela casa, o que é um mistério já que ela
vive descalça, copos, roupas, e gosto quando
queima a comida e quebra coisas. – Não consigo
não sorrir. – Annie enche a casa de vida, antes era
só silencio.
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— Eu quero saber é da Sarah.


— Não sei nada dela Simon, ela jantou
um dia com a gente, mas foi só, não vou me meter
nisso e não quero que brinque com a moça, é amiga
da Annie.
— Tudo é Annie, você está muito chato.
Saio sozinho agora e nem posso dizer que vou levar
meu amigo milionário, tem obrigação moral de me
arrumar uma namorada.
— Vamos de uma vez?
— Vamos. Não fosse Annie me convidar
para jantar toda vez eu nunca iria conviver com o
novo casal, você se isola com ela.
— Acha que ela vai ficar brava? Com
esse negócio de cartão de credito e dinheiro?
— Não sei, acho que ela não vai usar,
mas isso é com você. Cem mil dólares na conta
bancária, é muito até para a governanta da rainha
da Inglaterra.
— Tenho medo de deixa-la sozinha e ela
precisar de dinheiro. Ela não vai pedir se precisar e
de todo modo eu não quero que peça, ela não
precisa.

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— Imagino que ela possa ter uma


emergência imobiliária, vai que ela quer comprar
um apartamento e não tem dinheiro. – Ele faz piada
com o valor.
Vamos para o elevador. Ulisses saiu há
tempos, não apareço em sua casa há semanas,
quando chegar dessa viagem vou marcar um jantar
para apresentar Annie. Odeio pensar em tudo que
vai ser depois que souberem, mas Annie está feliz,
confia em mim, vai se acostumar com essa família
intrometida, resta saber se eu me acostumo.
“ Gatinha estou chegando, com o Simon,
sem surpresas. “
Nunca se sabe. Ela está sempre
aprontando alguma e pode muito bem esquecer que
Simon está indo comigo.
“ Tudo bem príncipe, estou até vestida. “
— Essa sua cara de bobo para o celular
não engana ninguém. – Simon diz quando entramos
em seu carro. Ele dirige enquanto penso em Annie
e aquele sorriso lindo, não é que queira enganar
ninguém só quero proteger nossa história.
— E se a gente apertar o nove e cair no
apartamento dela? Podemos dizer que foi sem
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querer, que nos distraímos. – Simon e suas ideias


estúpidas, ele parece que nunca vai deixar de ser
meu colega de quarto do primeiro ano de faculdade.
Não cresce. Chegamos a porta do elevador.
— E ela vai pensar que temos sete anos.
Que ideia!
Aperto a cobertura, subimos mudos, a
porta se abre e dou de cara com um cachorrinho no
meio da sala, Annie deitada no chão brincando com
ele.
— Temos um cachorro? – Pergunto
confuso.
— Não príncipe, é o Bob, não se lembra
dele? O cachorro da Sarah.
— Ah!
— Oi, Gnomo. – Annie fica de pé, vem
até mim e o cachorrinho a segue apaixonado, quem
pode culpa-lo? Eu beijo seus lábios. – Sarah teve
uma emergência, fez uma viagem rápida, volta
amanhã e vamos cuidar do Bob uma noite.
— Isso é bom. Posso agradar o cachorro,
fazer amizade com ele e quem sabe ele me ajuda
com a dona? Me apresenta ele? – Simon pede a ela,

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enrugo a testa, de onde ele tirou isso?


— Bob, esse é o Simon. – Annie pega o
cachorro no colo e passa para Simon. – Não
derruba ele.
Simon não leva jeito, mas fica lá
tentando brincar com o cachorro enquanto ajudo
Annie a colocar a mesa.
— Comprei pronta. Não quis arriscar. –
Ela avisa enquanto vou abrindo as caixas de
comida do restaurante da esquina.
— Nem precisa. Como foi na
associação? – Pergunto quando ficamos os dois na
cozinha.
— Tudo perfeito. Ava está um pouco
cansada esses últimos dias. Tenho passado mais
tempo com ela.
— Está pronta para perde-los? – Tenho
pensado muito nisso, em como ela gosta deles. –
Sabe que pode acontecer?
— Sei. – Ela se encosta em mim. Eu a
abraço. – Claro que vou ficar triste, mas estou
pronta. Acho que nos últimos tempos eles tem
aproveitado mais a vida e se partirem não vão levar

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nenhum arrependimento.
— Certo. – Seus olhos deixam claro que
está sendo sincera e fico feliz em saber que ela
pode suportar isso. ─ Amanhã não vou ao
escritório, vamos passar o dia juntos, você sabe, é o
último dia. Não queria ir.
— Não queria que fosse. – Trocamos um
beijo. Depois voltamos para sala onde Simon
fotografa o cachorro.
— Annie vai me ajudar ou não a
conquistar a Sarah?
— Simon eu vou tentar, mas isso é com
você. Ela é minha amiga, se magoa-la eu corto
essas suas orelhas de gnomo. Estão com fome?
— Depende de quem cozinhou. ─ Simon
provoca, já teve oportunidade de experimentar a
pior comida do mundo.
— Você fica falando mal da minha
comida para o Simon? – Annie me pergunta de
braços cruzados, adoro sua carinha de brava.
— Sua comida fala por si só. – Simon
responde por mim enquanto eu a puxo para meu
colo, abraço Annie.

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— Não liga para ele, gatinha. – Bob sobe


no sofá e se enfia entre mim e ela. – Isso é mesmo
sério? Vou ter que disputar com ele?
— Nunca! – Ela me beija.
Jantamos com Simon insistindo por
ajuda. Ele não fica muito tempo, sabe que é nossa
última noite juntos e depois do jantar se despede e
nos deixa acenando em frente ao elevador.
Annie arruma uma cama para Bob no
closet.
— Vem Annie, estou ficando com
ciúme. Só liga para o Bob. – Ela volta para o
quarto. – Fica mimando o Bob e me esquece.
— Acho que posso mimar você também.
– Annie se deita ao meu lado, me olha e meu
coração se aperta, os olhos dela estão tristes.
— O que foi?
— Estou com muita saudade – Ela me
conta.
— Saudade de quem?
— De você príncipe, nem foi e já estou
com saudade.
Abraço minha gatinha, também estou,
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por mais estranho que seja, sinto falta dela, pena do


tempo que vamos perder de estar juntos.
— Vou trabalhar muito, todo tempo,
para voltar bem rápido.
— Qual o fuso horário? É muita
diferença? – Ela se encosta em meu peito, afago
seus cabelos.
— Entre seis e sete horas a mais. – Olho
no celular, dez da noite. – Agora são por volta de
cinco da manhã.
— Vou tomar cuidado com isso. – Ela
me diz, a voz está embargada. Por que não sou
como Ulisses? Por que não faço o que quero e
mando tudo para o inferno?
— Não. Vai me ligar e mandar
mensagem quando quiser, vamos seguir os horários
daqui. Só me procura no minuto que quiser ou vou
ficar preocupado.
— Tudo bem. – Ela seca uma lágrima,
beijo Annie, a abraço mais. – Príncipe, quando
viaja assim, aproveita para conhecer os lugares?
Sair à noite?
Me movo para poder olhar para ela, seco

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mais uma lágrima que escorre por seu rosto.


— Tenho namorada gatinha, não posso
sair sem ela. Vou trabalhar e trabalhar, só isso.
— Somos namorados? – Ela me
pergunta. Gosto quando é só minha garota linda e
delicada.
— Claro que somos. O que acha que é
isso? – Ela sorri, beijo seus lábios e volto a olhar
para ela.
— Nem pediu bonitinho, para eu dizer
sim e ganhar flores. – Droga, não sei nada disso,
devia mesmo ter feito algo assim, toda hora ela me
surpreende.
— Desculpe, devia ter feito, por que não
me disse antes? Eu não sei direito fazer essas
coisas.
— O senhor Fernandez não deixou, disse
que é o homem que pede. – Ela tem o rosto mais
lindo e delicado do mundo, vou dar jeito nisso.
— Ele tem razão, mas porque ele não
veio falar comigo. Esse velho quer mais é que eu
me dê muito mal. – Ela ri. Me abraça.
— Temos que marcar o dia para
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trocarmos presente quando fizermos aniversário.


— Tem que ser o dia que beijei você
pela primeira vez, estou te namorando desde aquele
dia.
— Então já perdemos aniversário de um
mês de namoro, perdi flores duas vezes príncipe,
você está virando um sapo já.
— Isso não. Eu vou melhorar, prometo,
vai ganhar umas surpresas de vez em quando.
— Não conta. Eu não conto minhas
surpresas.
— Não posso competir com elas, Annie,
você é boa nisso.
— Agora que arrumei meu primeiro
namorado já vai me deixar.
— Para de falar que vou te deixar, fico
angustiado, penso naquele dia, na última vez que vi
você. – Ela se encolhe em meus braços, agora
também a fiz se lembrar. – E não tem nada de
primeiro namorado. Único namorado. Deus me
livre você fazendo surpresa para outro.
— Tem ciúme de mim? – Me movo, meu
corpo fica sobre o dela.
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— Muito. É minha namorada.


— Sou. Quando eu ligar você me atende
para eu saber que não está nas boates com umas
vadias?
— Atendo. Se mandar mensagem
respondo na hora e se ligar atendo.
— Então agora faz de conta que acabou
de chegar de viagem e vamos matar a saudade.
Sempre dizendo a coisa certa. Toco os
cabelos espalhados na cama, dourados e brilhantes,
aspiro seu perfume e penso como vou aguentar
tanto tempo sem ela. Meus lábios tomam os seus,
dessa vez é diferente, é como da primeira vez,
carinhoso, lento, romântico.
Vou morrer de saudade de sua voz suave
e suas loucuras, de rir com ela, de seu corpo
enrolado ao meu. Faz sentido o drama que meus
irmãos fazem para não ficarem longe de suas
mulheres e isso não tem nada a ver com costume, é
necessidade.
Annie adormece em meus braços.
Quando o sono fica profundo eu me levanto. Deve
haver algum aplicativo nesse aparelho que me
consiga flores antes que ela acorde.
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Me sento na escada, pesquiso no escuro


e me sinto meio tolo, e feliz por isso, gosto de
como ela da cor a minha vida que sempre foi tão
cinza.
Encontro o que preciso, flores vão
chegar enquanto corremos, vai ser uma boa
surpresa. Volto para cama e me enrolo nela,
adormeço com seu perfume me dando paz.
Mordo seu pescoço de leve. É dia, quero
devolver um pouco das mil surpresas que fez para
mim.
— Acorda! – Ela resmunga me
lembrando um gato a ronronar. – Temos que correr,
está um dia lindo.
— Não vamos correr hoje príncipe,
vamos ficar abraçados o dia todo, de noite vai
viajar.
— Vamos correr sim, pode ficar de pé. –
Ela abre os olhos, logo está sorrindo. – Vem
gatinha, eu me acostumei a correr no parque. Culpa
sua.
— Melhor a gente se exercitar aqui
mesmo na cama. O Bob vai ficar triste. – Fica
difícil convence-la quando ela vai logo com o dedo
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na ferida. Exercício na cama são os meus


preferidos.
— Vou tomar um banho e correr. Pode
ficar dormindo mais um pouco se quiser ou com o
Bob, você gosta mais dele que de mim.
— Então eu vou. – Sabia que ela iria,
uma leve chantagem emocional não falha nunca.
Deixamos a casa juntos.
— Me espera lá na calçada. Vou dar um
recado ao porteiro. – Ela me beija de leve ainda no
elevador, depois faz o que pedi. – Bom dia Ted,
vão chegar flores, deixe que subam e coloquem no
apartamento. Diga para deixarem bem visível.
— Sim, senhor Stefanos.
Corremos por uma hora, no caminho de
volta só andamos de mãos dadas, os dois um tanto
silenciosos.
— O que vamos fazer com o resto do
dia? ─ Annie me pergunta.
— Namorar. – Ela sorri. Subimos os
degraus e chegamos a portaria. Ted não faz
comentários. ─ Promete não correr no parque?
— Prometo.
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— E andar de taxi se quiser ir em algum


lugar?
— Não. Eu quero salvar meu planeta e
posso ir a pé ou de metrô.
— Vou trabalhar um mês a pé para
compensar. – Prometo a ela. É um bom acordo, ela
vai aceitar.
— O mês todo?
— Todo, prometo.
— Certo. – Eu achava que era chato com
isso, mas Annie é bem pior.
Chegamos, assim que a porta do
elevador se abre, me concentro em olhar para ela e
sua surpresa. Talvez eu tenha passado um pouco da
conta, tem arranjos de flores pela sala toda. Ela
caminha por elas boquiaberta. Me olha com olhos
brilhantes e risonhos.
— Quer namorar comigo? – Ela volta
para mim, envolvo sua cintura.
— Quero. – Beijo minha gatinha,
namorada, amiga, parceira.
— Então feliz aniversário de namoro. –
Annie ri.
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— Tem flores para comemorar dez anos


de namoro.
— Se contarmos desde sempre.
— Gosto disso, vamos contar desde
sempre. Se alguém me perguntar. Quanto tempo
estão juntos? Vou responder, desde sempre. – Ela
se encosta em meu peito. – Obrigada. Uma mais
linda que a outra. Que emocionante!
Queria parar o tempo, mas ele corre
rápido, as horas com ela nunca são o bastante. O
dia começa a chegar ao fim. Minha mala está
pronta na sala, estamos no sofá abraçados
assistindo um filme ruim.
— Mandei o Simon depositar um
dinheiro em sua conta e pedir um cartão de credito
para você. – Aviso com medo da sua reação.
— Como que ele sabe essas coisas?
— Deu seus dados para senhora Kalais,
não lembra?
— Ah! Verdade.
— Não vai ficar brava comigo? – Ela se
afasta para me olhar.
— De quanto estamos falando? Por que
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ainda tem o dinheiro que a senhora Kalais deixou


que não usei para nada.
— De um pouco mais. De cem vezes
mais.
— Tem cem mil na minha conta?
Coitadinha, ela deve estar até assustada. – Rio de
seu comentário. – Sabe que não vou usar? Que é
seu e vai ficar lá porque eu não preciso de nada.
— Se for uma emergência? Uma doença,
uma... Não sei, só quero que use se precisar.
— Posso usar para alugar um carro
especial e levar meus velhinhos no Central Parque?
— Pode, é seu.
— Tá. – Ela volta para meus braços.
Depois se afasta mais uma vez. – Posso contratar
um magico e um palhaço para as crianças?
— Pode. Mas Naomi me disse que não
fica nunca com elas.
— É eu evito me apegar, recordações.
Você também não fica com elas.
— Recordações. – Ela sabe, nós dois
sabemos o que foi viver naquele lugar e o quanto
ainda machuca.
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— Mas gosto delas e quero que fiquem


felizes. A associação dá o que todos eles precisam,
mas vocês não pensam muito em dar o que eles
desejam.
— Nossa! Nunca tinha pensado nisso. –
Ela tem toda razão, nem só de pão vive o homem,
eu nunca tinha me dado conta. – Prometo rever
tudo isso na volta. Vai ser a diretora da diversão.
— Então vou contratar uma daquelas
piscinas de bolinhas para elas. – Me lembro de
todos os aniversários na mansão, com todos esses
brinquedos e como as crianças ficam felizes. Devia
ter feito isso antes.
— Começo a achar que devia ter
colocado mais dinheiro, fiquei com medo de brigar
comigo.
— Só vou usar para a associação.
— Se precisar de qualquer coisa pede ao
Simon, e quem sabe a Sarah não deixa o Bob mais
vezes com você. Que acha disso Bob? – O
cãozinho deitado no chão me encara quando chamo
seu nome, vira a cabeça para o lado, parece atento.
– Quer Annie para você?
Ele vem para junto de nós se abanando
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todo. Me lembro como Annie estava sempre


falando de ter um cachorrinho quando vivíamos no
abrigo.
— Ele é muito fofo. – Ela pega o
cãozinho no colo. Beija e o acomoda conosco.
— Sempre quis um cachorrinho. Teve
algum?
— Não. Como podia ser isso? Nunca
tive casa fixa. Eles precisam de segurança. Não é
Bob? Está com saudade da mamãe? Ela chega mais
tarde.
Fico pensando que talvez ela possa ter
um cachorrinho, é um grande passo, quem sabe no
aniversário? Podemos fazer isso, Bob salta do colo
dela e vai em busca de um brinquedo. Será que
podemos cuidar de um animalzinho? Vamos ver,
conversamos na volta.
Preciso me vestir e seguir para o
aeroporto, não quero fazer isso. Annie olha para o
celular, depois me abraça.
— Volto assim que possível. Uma
semana entre Turquia e Itália e uma noite na ilha.
— Nick, é sua família. Eles sentem sua

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falta. Lizzie ama você, quer ficar um pouco com o


tio, seus irmãos querem ter você por perto, não é
errado você ficar um pouco com eles. Tem sorte de
ter uma família grande e unida que ama você. Não
dê as costas a eles. Fica um pouco lá eu aguento.
— É especial. Desde garotinha tem esse
coração mole.
— Ficava bravo comigo que dava minha
comida. Daí depois ficava com pena de mim e
dividia a sua.
— Ainda fica enjoada e vomita quando
fica muito nervosa? – Ela tinha umas crises bem
feias na infância.
— Depois que saí de lá só aconteceu
uma vez, quando as garotas me pediram para deixar
o apartamento e só tinha o dinheiro de voltar a
Nova York e pedir ajuda a Tracy, foi um dia difícil,
pensei muito em você naquele dia. Sempre que
acontecia eu pensava. Porque segurava meu cabelo,
cuidava de mim, molhava minha nuca. Obrigada,
Nick! ─ Os olhos dela, assim como os meus,
sempre trazem uma nuvem de tristeza.
— Nunca teria conseguido sem você.
Quando chegou eu estava no limite, já tinha estado
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lá por tempo demais. Me deu forças para aguentar.


— Me salvou, Nick. Eu nunca teria
suportado aquele lugar se não tivesse cuidado de
mim desde o segundo dia. Me ensinou como viver
lá. – Ela ficou sozinha depois, e sei que foi pior que
tudo que vivi lá dentro, mas prometemos não falar
disso.
— Tenho que ir gatinha. Meu avião me
espera daqui uma hora.
— Vou te ver se arrumar. – Ela sobe
comigo, espalhou flores pela casa toda. Quem sabe
duram enquanto estou fora e ela se lembra de mim?
Um longo beijo na porta do elevador e
olhos tristes e marejados são nossa despedida,
depois arrumo forças para deixa-la, me consola
saber que é por pouco tempo. Trocamos mensagens
até o aviso de desligar o aparelho no avião, então
desejo boa noite e desligo o celular.

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Capitulo 12
Ulisses

Reunião em família para falar do caçula,


só nessa família mesmo. Me sento na sala ao lado
de Sophi. Leon andando de um lado para outro,
acho até engraçado. Ele tem dificuldade em ver
Nick como adulto, ainda olha para ele como o
garoto de dezesseis anos que pegamos no abrigo.
— Não estão preocupados demais? O
Nick está chegando. Em uma hora está aqui e
perguntam o que tem de errado com ele. – Heitor
começa sentado ao lado de Liv. As crianças estão
jantando com Ariana e Thaís. Emma dorme e agora
o cachorro babão fica grudado nela, ele sempre
gruda nos mais novos.
— Nick não vai pedir ajuda se estiver
com problemas. – Leon nos lembra. Nisso está
certo.
— Pode ser que ele tenha desenvolvido
dupla personalidade. – Eu digo e todos me olham.
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— Ulisses suas teorias ultrapassaram


todos os limites do racional. – Heitor ri. – Vida
dupla, ativista, agente da CIA...
— Essa foi minha. – Sophia reclama os
direitos autorais.
— O casal de modo geral. – Liv
comenta.
— Super herói da Marvel foi a melhor. –
Lissa brinca.
— Se tiver que ter um, será em Nova
York e ele some do nada. Só pode ser isso.
— Podemos falar sério? – Leon pede. –
Estou mesmo preocupado. Zyar me ligou de manhã
pedindo socorro, disse que Nick quase os matou de
trabalhar, queria fazer tudo de uma vez. O Nick, o
cara que respeita meticulosamente todos os direitos
dos trabalhadores.
— Falei com o Mark, ele disse que ele
fez o mesmo por lá, além de mudar toda a agenda
juntando todos os compromissos. – Heitor conta. –
Apressou tudo, tanto que deveria chegar aqui
amanhã somente e vai chegar hoje.
— O cara mais certinho da face da terra,

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que controla tudo, cada passo, só pensa em trabalho


e vive para isso desde que deixou a faculdade só
pode estar com problemas, e tenho medo de ser
algo sério. – Leon nos diz sentando finalmente ao
lado de Lissa.
— O que acha que pode ser amor? –
Lissa pergunta se encostando nele carinhosa.
— E se ele estiver doente? – Todo
mundo fica em silêncio. Penso nas caras e bocas de
Nick, ele não está doente. Parece até feliz.
— Não gosto dessa teoria. Muito sem
graça, Leon, Herói da Marvel é melhor. – Leon
revira os olhos.
— Ulisses vamos falar sério. Convive
com ele diariamente, conte como ele tem agido. –
Lissa pede só para acalmar o marido.
— Ele era o primeiro a chegar e o último
a sair, na verdade eu meio que achava que ele
morava lá no escritório. Agora ele chega por volta
de oito ou nove. Seis em ponto vai embora ou
antes. Anda grudado no celular. Quando digo
grudado, eu digo realmente grudado, é como uma
extensão do seu braço. Deixa tudo para atender ou
ler mensagens, faz cara de bobo a cada mensagem.
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— Por que não foram à casa dele? –


Lissa questiona, Nick é muito próximo de Lissa
desde que se conheceram.
— Eu? Ele não me convidou. É a
américa, as pessoas não vão fazer visitas sem
convite. – Leon e Lissa me olham sem entender, é
difícil para eles pensarem nesse modo de vida.
— É a américa, mas somos gregos. –
Lissa me lembra. – Nós somos passionais, fazemos
esse tipo de coisa. Estamos reunidos tratando da
vida do Nick. Isso é prova de como somos.
— Eu sei, Lissa. Acontece que o Nick já
é normalmente recluso, isso só ficou mais
acentuado esses últimos dias. Ele está com a cabeça
nas nuvens.
— Nossa gente então é isso. – Liv diz
relaxando os músculos.
— Ele nunca mais foi a minha casa e não
tem meios do Simon se abrir, ele não conta nada,
mas deve saber, os dois são amigos inseparáveis, se
eu fosse o Leon inclusive ficaria com ciúme. –
Brinco e Leon só faz careta.
— Gente não entenderam ainda? O Nick
está apaixonado! – Liv avisa sorrindo.
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— Essa teoria é mesmo boa, mas


improvável. Nick apaixonado? – Acho difícil, ele é
todo fechado.
— Acho que Liv está certa. – Sophi
sorri. – É isso amor. Ele está apaixonado.
— Que lindo, será? Ai meu Deus! –
Lissa arregala os olhos. – E se for um amor não
correspondido e ele estiver sofrendo?
— Ninguém sofre com aquele sorriso
idiota no rosto. Vão ver quando ele chegar.
— Não consigo imagina-lo apaixonado,
sendo carinhoso, demonstrando seus sentimentos.
Nick é muito fechado. – Leon comenta de novo
preocupado.
— Coitada da moça! – Heitor continua. –
Mas não é nada impossível, vivíamos com aquela
história de que “os Stefanos não se casam” e olhe
onde estamos?
— Vamos precisar ajuda-lo a mostrar
como se sente. – Lissa anuncia sua futura
intromissão. ─Ele vai ficar perdido coitado e pode
perder a garota por que não demonstra.
— Com a gente ele não demonstra.

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Abraços só no natal. ─ Eu os lembro. ─ Imagina se


vai demonstrar para uma garota?
— Mas se ele usa o celular para falar
com ela pode ser que já estejam namorando. – Liv
comenta com toda sua sensatez.
— Não namoramos, Liv. – Eu a lembro e
isso é verdade, casamos, mas não namoramos. –
Nick namorando seria engraçado e estranho.
— Meu tio Nick não tem namorada
nada. – Lizzie surge na sala. – Vamos a Disney e
ele não pode ainda. Só quando crescer bem mais.
— Isso fica cada vez mais divertido! –
Brinco imaginando como o caçula sai dessa se tiver
mesmo uma senhora Stefanos a caminho. Lizzie
com ciúme e ele incapaz de dar um abraço sem ser
forçado.
— Ulisses quer parar. – Leon resmunga.
— Ele nem está aqui e já está
defendendo ele.
— Está com ciúme, bebê? – Sophia me
provoca. Quem precisa de inimigos quando se casa
com Sophia. Ela é duas vezes pior que eu.
— Mamãe eu posso tomar sorvete?
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Ariana mandou perguntar para você. Por que eu


não comi tudo.
— Pode. – Liv diz sabendo dos possíveis
problemas de ciúme que começam a surgir. Lizzie
some mais uma vez. O Helicóptero chega.
Corremos todos para espera-lo da varanda.
Nick desce, aperta a mão de Cristus.
Sorri para ele e olha lá o celular surgindo no
mesmo instante, ele digita algo antes mesmo de se
mover. Só depois começa a caminhar.
— Olha lá. Não disse? Já está grudado
no aparelho. – Esperamos por ele que entra
apressado.
— Pronto. Cheguei, eu disse que vinha.
Todo mundo bem? – Ele pergunta com um quase
sorriso. – Vou subir tomar um banho e acho que
podemos nos reunir e dar uma olhada nos relatórios
que eu trouxe.
— Calma Nick, acabou de chegar.
Descansa. Ao menos hoje e amanhã falam de
trabalho. – Lissa pede.
— Tio! – Lizzie entra na sala correndo,
abraça Nick, ele corresponde, é Lizzie afinal,
ninguém chega mais perto dele que ela. – Que
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saudade que eu estava. Faz um tempão que eu não


te vejo em tio.
— Verdade. Cresceu. Tudo bem?
— Sim. Trouxe seu presente. Minha mãe
disse que seu aniversário vai ser na terça-feira e o
meu no domingo.
— É que hoje é sexta-feira Lizzie, eu não
vou ficar tantos dias assim. Tenho que trabalhar.
— Como assim, Nick? Acabou de
chegar? Como não vai ficar para o seu aniversário?
Quatro dias apenas! – Lissa pergunta um tanto
chateada.
— Nick vai ficar. O trabalho pode
esperar e ele vai passar uns dias com a família.
Claro que vai. – Leon avisa firme, não tem como o
caçula desobedecer Leon, ele nunca vai contra o
irmão.
— Gente eu.... – O celular vibra, ele para
de falar, sorri para tela, começa a digitar, e
simplesmente nos deixa ali, parados, some escada
acima sorrindo e digitando.
— Eu disse. – Aviso para os
boquiabertos Stefanos.

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— Vi um brilhinho nos olhos. – Lissa


brinca.
— Então manda servir o jantar. Estamos
querendo encomendar nosso bebê. Não é Sophi? Se
ele não foi feito em Nova York tem que ser aqui na
Grécia.
— Quanta discrição! Amo esse meu
marido. Tímido! – Envolvo sua cintura. Beijo seus
lábios.
— Já sei como tirar essa cara de bobo do
Nick, vou contar que estamos tentando um bebê.
— E lá vamos nós para o discurso dos
recursos naturais. – Heitor brinca.
— Ninguém pergunta nada, vamos fingir
que tudo está bem e dar uns dias a ele. Sem pressão
meninos. – Lissa pede. Todos concordamos, ele
não diz nunca nada mesmo. Esperamos Nick
descer. O celular vem junto.
Jantamos em família. É como sempre,
alegre e cheio de brincadeira. Todo mundo meio
que buscando um deslize de Nick, mas ele nunca
diz muito então não é fácil.
— Amanhã vamos fazer mutirão na hora

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do almoço. Dei folga para todo mundo.


— Ah Lissa! Toda vez isso? Cuido das
crianças. – Tento me livrar.
— Nada disso, a maior parte dos filhos
são meus, então, eu cuido das crianças. ─ Heitor
tenta escapar.
— O Nick ajuda vocês com almoço e
nós cuidamos das crianças. – Eu insisto. – Ele
prefere varrer a praia a ficar com as crianças.
— Cuida da sua vida, Ulisses. – Nick
resmunga.
— A Thaís cuida das crianças, a família
vai se reunir na cozinha e preparar a refeição,
conversar, passar um tempo junto e comer em
família. – Lissa determina.
— E você concorda não é Leon? Faz
tudo que sua mulher quer.
— E você não? – Leon me provoca.
— O Ulisses vai ajudar pessoal, ele só
reclama, mas adora picar legumes. – Sophia diz me
fazendo carinho na coxa.
— Diz não para sua mulher agora? –
Leon me cutuca.
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— Eu não. – Respondo desiludido. –


Cozinhar em família então. Melhor irmos dormir.
Tenho que descansar.
Sophia me belisca por debaixo da mesa.
— Menos alarde Ulisses.
— Bom eu vou subir, tive uma semana
cheia, estou cansado. Boa noite.
Nick se retira. Ele nunca fica mais do
que o necessário. Aproveito para ir de uma vez com
Sophia. Já sei que será um dia agitado. Felizmente
com uma noite apaixonada no meio.
Assim que entramos no quarto envolvo
Sophia.
— Mas que homem desesperado!
— Não é por mim Sophi. Eu
pessoalmente nem ligo muito, você sabe. É pelo
nosso bebê. – Ela ri do meu cinismo calculado. – É
sério. Tudo por esse seu desejo de ser mãe.
— Meu desejo de ser mãe?
— Eu não desejo ser mãe. – Brinco
mordendo seu queixo. Ela começa a puxar minha
camisa. Ajudo atirando a peça longe, enquanto isso
vamos caminhando para cama.
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— Amo você. É o marido mais maluco e


indiscreto do mundo, mesmo assim é meu e é
perfeito para mim.
— Te amo. Vamos providenciar logo
esse bebê.
— Sabe que depois que o futuro bebê
nascer temos que ficar quarenta dias sem sexo? –
Me afasto de Sophia com olhos assustados.
— Isso é sério?
— Sim. – Desanimo. Por que Deus
castiga quem tem filhos? Não devia ser sagrado? –
Calma amor, podemos pensar nuns truques bem
divertidos, eu posso ser bem boazinha com você.
— O universo me ama. – Aviso quando a
trago de volta para meus braços.

Annie

“Onde está? “ – Meu coração se aperta


de saudade.
“Num taxi como o combinado, estou
indo para casa. Príncipe, sua camisa preferida
morreu. ”
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“Coitada, como aconteceu? Suicídio? “


“Acidente. Dormi com ela para matar a
saudade, depois lavei e então fui passar, mas você
me mandou mensagem e fui ler. O ferro acabou
com a pobrezinha. “
“Acontece gatinha. Tudo bem. É bom
saber que dormiu com ela. Sinto sua falta o tempo
todo. “
“Onde está agora? “
“Acabo de chegar em Kirus. Vou tomar
um banho e daqui a pouco te ligo. ”
“Certo. Saudades de eu, você e
chocolate. “
“Saudades de você, com ou sem
chocolate. “
Sorrio feito uma idiota para tela do
celular. O Taxi para na porta do edifício, estendo
umas notas para pagar a corrida e desço. O sorriso
ainda dança em meu rosto quando aperto o botão
do elevador depois de ter ignorado Ted na entrada.
Ele me estende uma revista, força em
minha direção e acabo por pega-la. Na capa, os
Stefanos reunidos, Ulisses e Sophia de noivos,
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todos eles elegantes.


— A manchete diz muito não acha? –
Ele me encara. – Começa a caçada pelo último
Stefanos solteiro.
— Noticia velha, Ted. Nem sabia que
gostava de fofoca. – A porta se abre, tento passar,
ele entra na frente.
— Acha mesmo que vai ficar com ele?
Onde ele está agora? Por que não está com ele?
Acho que sabe que esse irmão mora a algumas
quadras daqui. Por que ele não te apresentou?
— Não é da sua conta, não sabe nada! –
Tento passar, o homem é uma rocha.
— Olhe bem para você. Se ele te
apresentar para sociedade vai levar umas horas no
máximo para levantarem sua ficha. Acha mesmo
que ele quer ser conhecido por namorar a filha de
um bandido que cresceu num abrigo por que o pai
estava preso?
— Me deixa passar. – Não quero ouvir o
que ele está dizendo, não quero que nada disso faça
sentido.
— Ele te encheu de flores e já criou

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sonhos não é mesmo? Flores no dia que partiu. Não


entendeu que ele só queria se certificar que não ia
se deitar com ninguém enquanto espera ele voltar?
— Por que me odeia tanto? O que foi
que eu fiz?
— Ele escolheu sua mãe, ela casou
comigo porque ele escolheu sua mãe. – Meu queixo
cai, Tracy gostava do meu pai? – Quando sua mãe
morreu ela achou que podia tomar o lugar dela, que
podia ser sua nova mamãe. Ele não quis, foi num
momento de fúria que ela entregou seu pai, depois
viveu uma vida de arrependimento, olho para você
e vejo aquele maldito que destruiu minha vida.
— Eu não tenho nada a ver com isso. Me
deixa passar.
— Ele vai se cansar e mandar você
embora quando a senhora Kalais chegar e vai sumir
para sempre, nunca mais se atreva a procurar por
Tracy. Enquanto você existir ela nunca vai
esquecer.
— Tudo bem aqui? – Sarah surge, nota o
clima, Ted sai da porta no mesmo momento, faz um
movimento de cabeça cumprimentando Sarah e
volta para seu posto. Sarah me arrasta para dentro
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do elevador e aperta a cobertura. – O que foi?


Aquele idiota está te assediando?
— Não Sarah, isso seria a última coisa
que ele faria na vida.
— O que ele fez? Annie, ele não pode
destratar você. Não porque namora o Nick, mas por
que ele não pode fazer isso com ninguém. – Sarah é
uma pessoa humana e generosa.
— Ele é marido de uma velha amiga, foi
através dele que consegui o emprego, foi só um
desentendimento, é pessoal, está tudo bem.
— Não acredito nisso, mas se não quer
contar, não conta. – Sarah entra comigo. Nos
sentamos no sofá e ela pega a revista. – Esse
casamento saiu em tudo que é revista, os outros
foram discretos, mas ele não. Janta comigo? – Ela
me convida.
— Pode ser. Podemos pedir sushi.
— Como gosta de peixe cru, meu Deus!
– Sarah sorri. ─Vou tomar um banho e pegar o
Bob, subo daqui a pouco.
— Certo, eu peço daqui uma hora. Pode
ser?

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— Ótimo. – Fico sozinha e me atiro no


sofá com a revista na mão, encaro o rosto de Nick,
ele não parece o mais feliz dos homens, mas sei que
é avesso a tudo isso. Olho para os rostos e vestidos
das senhoras Stefanos, definitivamente são lindas.
Nick faz parecer que são pessoas simples
e boas, mesmo assim não sei se me aceitariam, eu
não me encaixo a vida de um milionário. Talvez
Ted tenha alguma razão. Não em tudo, meu
príncipe não está me usando, ele gosta de mim, me
quer por perto e somos felizes, mas não sei se isso é
o bastante.
Já preciso me concentrar em sobreviver
até ele voltar, não vou pensar nisso, não mesmo,
ainda não. Subo para um banho, faço o pedido e
Sarah chega logo depois.
— Porque não disse a ele que queria ir
junto? Está tão abatida. – Sarah pergunta quando
nos sentamos no chão da sala com o barco de sushi
a nossa frente. Não tenho nenhum ânimo para
comer.
— É o trabalho dele, Sarah. Depois não
queria parecer uma chata. ─ Tomo um gole de
água. ─ Ele chegou hoje em Kirus, a ilha da
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família.
— É louca por ele, não é? – Sarah sorri.
Nossa amizade ficou ainda mais forte essa semana
que passei sozinha, Bob ficou sempre que possível
comigo e ela veio me ver todos os dias.
— Amo o Nick. Sempre amei, na
infância quando nos conhecemos era amor, mas
diferente. Amor de amigo, eu acho, ou sei lá,
cuidávamos um do outro. Crescemos num abrigo
Sarah.
— Isso é sério? – Ela tenta confirmar
surpresa demais com a novidade.
— Sim, nos perdemos, ele encontrou os
irmãos e segui minha vida, agora nos
reencontramos.
— Foi lá que ganhou tantos traumas?
Annie, dá para ver que tem coisas em você que não
conta. Medo de dormir por exemplo, está com
olheiras.
— Achei que os pesadelos tinham
acabado, mas não, foi só ele partir e tudo voltou.
— Quer contar?
— Desculpe, não consigo.
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— Tudo bem. Quer dizer que amanhã


vamos ao jogo com seu amigo Simon?
— Sim. – Sei que ela quer me animar e
tento fingir, tenho feito isso desde que ele partiu.
Finjo, com Sarah, com Simon, com meus velhinhos
e com Nick, o tempo todo finjo que estou bem. –
Vai gostar dele Sarah, Simon é divertido e o melhor
amigo do Nick, me liga todos os dias, pelo menos
duas vezes, isso mostra que é um cara legal.
— Quando o conheci ele foi muito
divertido.
— Como foi isso?
— Nos cruzamos umas duas vezes aqui
no elevador, só um boa noite ou coisa do gênero.
Um dia estava num bar esperando umas amigas e
ele se aproximou, disse que tinha me cruzados
umas vezes aqui, conversamos meia hora, ele foi
gentil, me fez companhia até minhas amigas
chegarem, é chato ficar sozinha num bar.
— Depois nada?
— O que queria que fizesse? Ele não
pediu meu telefone, não me convidou para um
encontro.

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— Mas gostou de você, muito mesmo,


acho que pode ser muito bom para vocês. Ele é para
casar.
— Você é suspeita. – Ela brinca e acho
que sou mesmo, ficamos bem amigos e gosto muito
da amizade deles. Nick confia em Simon.
— Como foi na associação esses dias?
— Um pouco difícil, sinto falta dele.
Tanta falta que dói. Pensei em dormir com meus
velhinhos, mas não posso, acorda-los com meus
pesadelos seria trágico e vergonhoso.
— Parece boba. Já disse para dormir lá
em casa.
— Aqui eu fico mais perto dele e não
incomodo ninguém.
— Fala com ele toda hora como agora? –
Ela pergunta e sorrio, desde que chegou já
trocamos meia dúzia de mensagens.
— Sim, o problema é que dá mais
saudade.
— Annie, e a família dele, o que acham
de vocês dois juntos?
Aquilo é um assunto delicado que não
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tinha pensado até Ted me atirar suas verdades que


devia ignorar, mas ficar sem ele enche minha
cabeça de pensamentos confusos.
— Conheço todos por fotos, ele tem um
álbum, sei tudo sobre cada um dos Stefanos, suas
histórias, onde e como vivem, mas acho que não
sabem nada de mim.
— Senti certa preocupação. – Suspiro,
me encosto no sofá.
— Somos amigas, posso ser bem
honesta. Eu amo o Nick, sei que ele gosta de mim,
não duvido nadinha dos sentimentos dele, mas...
— Mas? – Ela insiste.
— E se ele tiver um pouco de vergonha
de mim, eu sou só isso Sarah, eles são ricos,
importantes, amigos de senadores, primeiros
ministros, sei lá, me imagina num jantar da alta
sociedade?
— Você é linda, completamente capaz
de se dar muito bem num jantar da alta sociedade
como diz, mas se gosta dessas revistas de fofoca ─
Ela aponta a revista jogada no sofá. ─ Sabe que ele
não frequenta esses lugares, quem faz isso é o outro
irmão, Ulisses, ele e a esposa, acho que ele é como
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o relações públicas dos Stefanos quando se trata de


badalação.
— Eu sei, mas não quer dizer que o Nick
não precise ir uma vez ou outra, além disso não
estudei, nunca sai do país, não falo outras línguas e
não quero essas coisas.
— O que quer?
— Que ele chegue logo. Que fique
comigo. Que volte do trabalho desfazendo o nó da
gravata e gritando por mim todo ansioso. Quero
cuidar dos meus velhinhos e esperar por ele.
Antiquado demais para você?
— Não posso negar que não caberia
nessa vida. Claro que quero alguém, só não quero
que essa pessoa seja o centro da minha vida.
— Acho que ele é o centro da minha. E
eu gosto disso, o que sinto por ele se expande e
espalha, me dá vontade de viver, de olhar para
outras pessoas. Como meus velhinhos, por
exemplo.
— É bonito de ouvir, ele está chegando e
vai passar.
— Vai. – Tento ser positiva.

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— Espero que ele te apresente a família


ou vou ter uma conversinha com ele.
— Amiga protetora! – Abraço Sarah.
Depois voltamos a comer.
— Como é esse negócio de jogo em?
— O Simon pega a gente, assistimos ao
jogo, vai gostar, se odiar saiba que não dura para
sempre e pode ficar conversando com o Simon, só
me deixa ver meus Jets em paz.
— Está bem! No mínimo tem aquele
bando de homem bonito.
— Sinto em informar, mas não vai ver
muito deles, muita roupa para proteger e capacete.
— Verdade! – Ela desanima. – Mas que
primeiro encontro porcaria esse que me arrumou
com o Simon. Foi ideia dele?
— Não. Foi minha. – É mentira, mas não
quero que ela pense que ele é um grande bobão
com cara de gnomo. Prometi não chama-lo de
gnomo na frente dela e jurar que ele é homem sério.
─ Ele não é perfeito que nem o meu príncipe, mas é
ótimo.
— Príncipe é fofo demais. – Sarah ri.
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─Agora tenho que ir. Uma da tarde na portaria?


— Isso. – Abraço Sarah na porta, ela
desce e sinto o apartamento me engolir no minuto
que fico sozinha.
Simplesmente não consigo ficar no
quarto, me deito no sofá, olho para o celular. Já
demos boa noite, ele precisa dormir. É madrugada
para ele agora. Me encolho mais. Fecho os olhos.
Queria ter coragem de beber o saquê que descansa
sobre mesa agora. Sarah tomou uns goles, seria
bom para dormir, mas tenho medo, medo de tudo
que tenho guardado dentro de mim, medo disso
explodir sem que possa controlar.
Alguém que luta contra tantas coisas não
pode perder o controle da mente, nunca, sóbria já é
sempre difícil. Às vezes acho que um dia tudo virá
à tona e não vou suportar. Nunca enfrentei o
passado, só o empurro para um canto escuro e
sombrio da mente e finjo que não aconteceu.
Acordo com meu próprio grito. Me sento
no sofá. O dia está amanhecendo. É dia em Kirus.
Pego o celular. Não quero mandar mensagem.
Quero ouvir sua voz.

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Capitulo 13
Nick

Não bastasse um oceano entre nós, ainda


tem o fuso horário, acordo todo dia querendo falar
com ela, mas não quero incomodar Annie, acorda-
la de madrugada.
Sinto falta dela e os olhinhos de Lizzie
me faz sentir mais saudade ainda. Não esperava que
fosse ser tão difícil, sabia que sentiria falta dela,
mas vivi anos sem minha gatinha, achei que uns
dias não seria assim tão complicado, mas é
insuportável, uma parte do meu cérebro está
conectado a ela e não consigo desligar.
Trabalhei a exaustão para terminar tudo
logo, podia estar no jato voltando para ela, mas
estou aqui, assistindo Harry Potter com Lizzie.
— Tio Nick, dessa vez a gente vai no
expresso. Agora já tem.
— Vai ser ótimo, Lizzie. – Os créditos
sobem e desligo a tevê. Onze da manhã. Logo já dá
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para telefonar. – Como está a escola?


— Tudo bem, tio. Tem um menino novo
na minha sala, o nome dele é Elliot, ele é legal.
— Um garoto legal? Que estranho. – Ela
sorri. – Achei que garotos eram todos bem chatos.
— Esse não é como os outros, ele senta
do meu lado. Tem um adesivo do Dobby no
caderno.
— Parece que ele é mesmo legal. E
como é isso, são só amigos?
— Sim. Meu pai disse que não tem nada
de namoro para mim. – Ela se arruma mais no sofá.
– Quando eu crescer um pouco mais vamos ter que
fazer um contrato para meu pai assinar com isso de
namoro.
— Acho que vamos, mas talvez eu faça
um bom contrato para o futuro namorado também.
— Você que sabe dessas coisas, então eu
deixo. – Lizzie me olha como todos os Stefanos,
com uma ruga na testa. – Tio, você também não
pode namorar ainda, eu acho.
— Acha? Por que? – Talvez seja melhor
contar logo para Lizzie, magoa-la não está nos
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meus planos.
— Vamos na Disney, não pode ser muito
grande, se não, como vamos fazer nossas coisas
juntos?
— Sempre vamos a Disney, todo ano,
isso não muda, e vamos ver os filmes juntos e será
como sempre foi, mas eu tenho uma namorada
Lizzie, gosto muito dela, seu nome é Annie.
— Acho que eu não gosto muito dela. –
Sinto sua preocupação. – Ainda vamos na Disney?
— Sabe que sempre cumpro minhas
promessas.
— Mas já quer ir embora, se não estiver
aqui no meu aniversário eu vou ficar bem triste.
Quer ir ficar com ela? Por isso vai me deixar?
— Pretendia voltar para o seu
aniversário.
— Então ela é a primeira pessoa que
você gosta no mundo?
— Annie é a primeira pessoa que gosto
no mundo ao lado da outra primeira pessoa que
gosto no mundo que é você. Pode dividir isso com
ela?
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— Não sei tio, preciso ver ela primeiro,


ela é bem bonita? Parece uma princesa como a tia
Sophi?
— Ela é linda, mas parece uma gatinha.
Se der uma chance a ela vão ser boas amigas.
— Quando que vou conhecer a Annie?
— Acho que ela devia estar aqui Lizzie,
mas sou bom em fazer contratos e ruim em
namorar.
Lizzie ri um pouco mais animada.
Arruma os cabelos, depois me olha atenta.
— Quando eu conhecer ela eu decido
isso de gostar dela, mas vai ficar para o seu
aniversário e depois o meu?
— Vou. – Não consigo decepcionar
Lizzie, é só uma garotinha. Ela me abraça.
— Te amo, tio Nick.
— Também te amo, agora você vai
brincar com seus irmãos e primos e eu vou ajudar o
resto da família a cozinhar.
— Combinado. – Deixamos a sala de
tevê e ela corre para o jardim.
— Estava atrás de você. Não vai fugir de
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ajudar, vem, as garotas estão chamando. – Ulisses


me puxa pelo braço e eu o sigo resignado. Não se
foge das senhoras Stefanos por muito tempo.
— Ótimo todos aqui. Vamos dividir as
tarefas. – Lissa dirige o grupo das senhoras
mandonas, só suspiro, eu nunca tenho escolha. –
Heitor descasca esses legumes e passa para o
Ulisses.
— Ulisses tenta picar tudo do mesmo
tamanho. – Liv continua.
— Amor você raspa o chocolate para
derreter. – Lissa entrega uma barra para Leon, que
desperdício.
— Eu podia fazer isso. – Me ofereço.
Annie e a panela de chocolate me invadem a mente,
nunca mais vou esquecer aquele momento.
— Não. Vai comer tudo. – Sophia
adverte, elas querem apenas nos torturar, não tem
outra explicação. – Você vai misturar esses
ingredientes, é para um pão, sove a massa até tudo
desgrudar dos dedos.
— Como assim desgrudar? O que quer
dizer com isso? Vou colocar a mão aí dentro?

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— Vai Nick. – Ela ri.


— Não tem uma colher? Eu posso sair e
comprar um pão, dois se quiser.
— Nick tem que ser com a mão e a graça
é fazer. ─ Sophia comunica determinada.
— Graça para quem? Não posso trocar
com o Ulisses?
— Nem vem. Estou quieto aqui fazendo
meu trabalho.
— Vai Nick. ─ Sophi exige. ─ Ulisses
espalharia farinha pela casa toda. Use seus
músculos. Amasse bem. Daqui a pouco ela
desgruda.
Enfio a mão naquela meleca e
instantaneamente fico preso naquela gosma, isso
nunca mais vai se soltar de mim, vou morrer nessa
cozinha, preso a farinha e ovos.
Todo mundo começa a trabalhar e penso
em minha gatinha ajudando no almoço de família.
Com seu talento ela poderia estragar cada um dos
pratos e as senhoras Stefanos nem iriam se dar
conta.
— Do que está rindo Nick? – Ulisses me
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pergunta.
— Não estou rindo. – Volto a realidade.
— Está sim, não tem problema rir Nick,
as pessoas fazer isso, é normal.
— Eu sei Ulisses, eu rio, só não estou
rindo agora, estou aqui fazendo meu trabalho.
— E rindo sozinho. Eu vi.
— Leon! – Apelo de primeira. Antes que
ele continue a me perturbar.
— Ulisses deixa ele. – Leon pede.
— Como é que vocês se viram em Nova
York sem o Leon para interferir nas implicâncias
de vocês? – Heitor pergunta.
— O Nick não fica um bebê chorão
longe do irmão. É que aqui ele sabe que o Leon
sempre fica do lado dele.
— Lá, o Ulisses não fica no meu pé o dia
todo. E não fico choramingando.
— Só sorrindo para a massa do pão,
estão se conhecendo melhor? Não se apega ela vai
para o forno caçula.
Decido ignorar Ulisses, sou bom nisso,

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me envolvo no trabalho de tentar fazer a massa


desgrudar dos dedos, é inútil, isso é eterno, está
claro como água.
Meu celular toca, encaro o aparelho ao
lado da tigela, é Annie, não posso não atender,
tento puxar a mão, a massa vem toda junto, espalha
farinha a minha volta, não posso deixar de atender,
prometi, ela vai achar que estou numa boate ao
meio dia. Até me explicar vou deixa-la triste.
— Alguém pode apertar aqui o viva voz?
– Que se dane se vão ouvir minha conversa, Annie
não é um segredo, nunca pretendi que fosse. Como
um raio Lissa aperta o botão, depois todos fingem
estar compenetrados no trabalho.
— Oi príncipe. – Evito olhar para
qualquer um deles. Ulisses em particular.
— Oi gatinha, acordou?
— Sim. Que horas são aí?
— Quase meio dia. – Continuo meu
trabalho.
— O que está fazendo? – Sinto alguma
tristeza em sua voz, queria poder olhar seus olhos e
ter certeza que está bem.

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— Sovando massa para fazer pão. Estou


com as mãos grudentas.
— Aqui não cozinha.
— É que aqui eu sou o caçula e todo
mundo manda em mim.
— Sabe que hoje tem jogo dos Jets, né
príncipe?
— Sei. Desculpe não estar aí para irmos
juntos.
— Entendo, mas sabe que vou de
qualquer modo, não é? Eles precisam de mim.
— Gatinha... – Lá vai ela se enfiar no
meio daquele monte de homem.
— Seu gnomo particular vai comigo.
Assim fica mais tranquilo, não fica? – Adoro essa
voz manhosa que faz quando quer algo.
— Depende. Está um dia bonito?
— Sim. Vai fazer muito sol hoje.
— Isso significa que vai de shortinho? –
Ela podia me ajudar. – Não pode ir de calça?
— Tecnicamente é uma calça.
— Tecnicamente era uma calça que teve
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as pernas brutalmente decepadas. Os caras vão ficar


falando coisas.
— O gnomo vai estar lá.
— Simon vai engrossar o coro.
— Não seja bobo. Simon quer a Sarah, e
tem uma coisa príncipe, passei em frente sua
gaveta, a camisa nova dos Jets ficou implorando
para ir comigo.
— Pode usar, mas manda para
lavanderia, não vai queimar minha camiseta nova
dos Jets.
— Prometo.
— Dormiu bem? – Pergunto quando
sinto que sua alegria está escondendo uma nota de
tristeza.
— Uhm. – Conheço isso, mentir não é
seu talento.
— Gatinha! – Exijo resposta. ─Desde
quando?
— Reativei o projeto vampiro. – Sua voz
não esconde a angustia. Fico me perguntando
porque sou tão estúpido. Por que ela está lá e eu
aqui? Por que ela não está aqui comigo? Rindo e
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brincando, conhecendo minha família?


— Annie, faz uma mala, roupas para uns
dias, essas mini roupas que usa, leva para o jogo,
quando acabar, Simon vai te colocar num avião,
quando chegar em Atenas um helicóptero vai te
trazer para mim.
— Vou encontrar você? – Me sinto leve
só de pensar que sim.
— Sim.
— Quanto tempo até estar com você? –
A voz dela soa animada e ansiosa.
— Amanhã cedo vai estar aqui. Vamos
tomar café da manhã juntos.
— Só mais uma noite?
— Só. Quando chegar me conta do jogo,
não esquece o celular.
— Não vou esquecer. Um beijo, sabor
chocolate com espuma.
— Beijo. – Ela desliga, nem quero
imaginar o que eles acham que foi esse beijo final,
eu devia ter dito a ela que estava no viva voz.
— Acho que está bom Nick, desgrudou.
– Lissa quebra o silencio sepulcral dos Stefanos.
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— Acho que ouviu que convidei alguém.


– Aviso a Lissa, afinal ela é a dona da casa.
— Ouvi, preparo o quarto de hospedes?
– Ela sempre vem com esse joguinho. Sorrio.
— Não Lissa, Annie fica comigo, é
minha namorada.
— Namorada? – É um coro de vozes
curiosas.
— Coro mais desafinado. – Digo
olhando de modo geral. – Sim, namorada.
— Como assim namorada? Não pode
ser. Os Stefanos não namoram, os Stefanos juram
que nunca vão casar, daí se apaixonam, fazem uma
grande bobagem e depois casam para não correrem
o risco de serem abandonados. Não pode estragar
tudo e namorar como todo mundo faz.
— Sinto desaponta-lo Ulisses, mas eu
tenho uma namorada.
— Isso é estranho, ela sabe disso? –
Heitor pergunta.
— Claro que sabe.
— Lizzie precisa saber, ela pode ficar
com ciúme. – Liv me avisa.
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— Ela já sabe. – Eu comunico enquanto


lavo as mãos, depois seco no pano de prato.
— Está ouvindo Leon, bem feito que seu
queridinho contou primeiro para Lizzie. – Ulisses
vai sempre as últimas consequências.
— Vou ligar para o Simon, vejo vocês
depois.
— Desertor. Pode isso? Por que o Nick
pode abandonar seu posto assim? Volta aqui
Príncipe encantado. – O choque de Ulisses é bem
engraçado. Desapareço, agora preciso me
acostumar com os intrometidos.
Felizmente o jato está em Nova York,
assim ela pode vir nele e chegar bem rápido.
— Simon! – Ele atende com voz de
sono.
— Sete da manhã Nick, tem relógio aí?
— Vai cuidar dela no jogo?
— Sabia! Claro que vou, e vou levar um
tampão de ouvidos para os assobios de moleque de
rua.
— Depois coloca ela no jato, ela vem me
encontrar.
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— Finalmente, não sei por que não levou


ela com você, ela fica aqui com cara de zumbi e
você ai todo abatido.
— Eu não pensei nisso. Por que não me
disse isso quando eu ainda estava aí? É meu
assistente, precisa me ajudar, sabia que me esqueci
que tinha que pedir em namoro?
— Desculpe! Achei que era um namoro
fechado.
— Não diz para ela que é o jato
particular, ela vai brigar comigo, reclamar de gastar
combustível, quando chegar aqui explico.
— E quando volta? Agora que ela vai te
encontrar.
— Fico a semana toda aqui.
— Tudo bem. Vou ligar para o piloto e
mandar ele cuidar de tudo. Posso dormir mais um
pouco?
— Boa noite.
Agora é esperar e saber que ela está a
caminho, torna tudo mais difícil e chato. Lizzie
vem me chamar para o almoço, se pudesse fugiria,
não quero dar explicações, é minha namorada, isso
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tinha que ser o bastante.


— Nossa tio Nick, me encheram de
pergunta na cozinha. Quem é sua namorada, como
que você me contou, não respondi nadinha, falei
assim para eles, isso é coisa nossa.
— Bem feito para aqueles curiosos. –
Brinco sussurrando como ela.
— Minha mãe me defendeu, falou,
deixem meu solzinho em paz.
— Mamãe é legal. Lizzie, Annie está
vindo. Pode tentar ser legal com ela? – Os olhinhos
me encaram cheios de dúvida. Crianças são frágeis,
só quero que ela goste de Annie tanto quanto eu, ou
perto disso, ninguém pode sentir o que sinto por
ela. – Por favor, é importante para mim.
— Tudo bem, tio. Eu vou ser.
— Obrigado.

O dia anda lento, me dou conta de cada


minuto que passa, penso na sua alegria no jogo,
desejo que os Jets ganhem e isso é um pouco por
ela também. Depois do jantar tento ir para cama,
nenhum Stefanos faz perguntas e isso deve ser
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ordem do Leon, tenho certeza que adorariam me


sabatinar.
Me viro de um lado para outro, ela está
num avião agora. Eu nem sonhava que dormir sem
ela era tão ruim, todas as camas que dormi esses
dias eram grandes e desajeitadas, fico procurando
posição e não encontro. Dormir não foi boa ideia
nenhum dia.
Desisto da cama, desço para tomar um ar
na varanda da sala, olhar o céu estrelado de Kirus,
respirar um pouco e tentar encontrar sono. Meu
coração fica apertado sem ela, parece o tempo todo
que falta algo em mim.
— Acordado? – Leon surge ao meu lado.
– Alana, acordou e foi para minha cama, aproveitei
e vim buscar água.
— Dois copos? – Olho para suas mãos.
— Gêmeos, Luka não demora e vai estar
lá também. – Sorrio. – Você está bem?
— Melhor que sempre. – Confesso.
— Bom saber. Estava decidido a chamar
o helicóptero e ir ver você.
— Eu sabia. Annie não era um segredo,
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eu estava só...
— Tentando ter certeza antes de atira-la
aos lobos? – Ele brinca.
— Não. Eu... – As coisas não saem
muito da minha garganta, estão sempre ligadas a
uma parte de mim que eles não conhecem. – Vai
conhece-la logo.
— É por causa dela que não consegue
dormir?
— Sente falta da Lissa quando está
longe?
— Não sei ficar longe, mas ela também
não, então estamos juntos nessa, a gente se
organiza, só viaja se for todo mundo, isso é ter uma
família. Está pronto para uma cama cheia de
crianças?
— Não querer filhos não é crime, é só
um modo de vida diferente do de vocês. Ulisses e
Sophia não tem e são muito felizes. – Leon desvia
os olhos um momento. – Annie também não quer.
— Tudo bem, só não esquece que eu
estou aqui. Para o que precisar, embora nunca
precise.

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Afirmo, eu sei que ele está, nunca


precisei pedir e mesmo assim tive tudo que
precisava, mas não consigo dizer a ele. Só consigo
balançar a cabeça concordando.
— Boa noite.
— Boa noite. Da um beijo nas crianças.
— Muitos, e cocegas, agora a bagunça
vai longe. – Leon comunica sumindo. Nós não
precisamos de mais nada, temos um ao outro,
somos felizes, eles se acostumam que com a gente
vai ser assim, nenhum dos dois pode lidar com
mais do que isso.
Volto para cama, mando mensagem
dizendo que estou com saudade mesmo sabendo
que ela não pode ler, me sinto ridículo, mas isso me
tranquiliza e durmo umas horas.
Quando desço para o café a mesa está
posta na varanda dos fundos, não por acaso de
frente para o heliponto. Eles não têm limites, sorrio
me juntando a eles. Os pequenos correm em volta
da longa mesa, sempre nos reunimos aqui nos
almoços de família, mas nunca no café da manhã.
— Bom dia. O dia estava tão lindo....

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— Que decidiram não perder a chegada


da Annie. – Eu completo a frase de Lissa, ela me
mostra a língua.
— Estamos esperando ela para o café. –
Lissa rebate.
Escuto o helicóptero se aproximar, meu
coração salta fora do ritmo, aquilo é assustador,
decido ter cautela, não demonstrar ansiedade para
não deixar eles ainda mais ansiosos, ele surge no
céu, espero que desça, a hélice para, Cristus se
aproxima, Annie salta. Assisto sorrindo sua
pequena guerra para ver quem carrega a mala,
Cristus vence, é claro.
Ela ergue o olhar me procurando. Para o
diabo com a cautela, apresso meu passo para
recebe-la, quero abraça-la e sentir seu perfume,
olhar em seus olhos.
Está linda de short e camiseta com seu
tênis surrado e os cabelos soltos e espalhados em
torno dela. Dourados e brilhantes como o sol.
Ela vem em minha direção com um
sorriso vivo no rosto e os olhos marejados, não sei
ficar sem ela. Nunca mais deixo acontecer. Abraço
Annie, mergulho em seus cabelos sem conseguir
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dizer nada.
Demoro a ter forças de me afastar um
momento.
— Senti saudade, muita mesmo. – Ela
diz e eu a beijo, dane-se a plateia, só quero matar a
saudade que me consome desde que a porta do
elevador se fechou atrás de mim há uma semana.
— A vida é sem graça sem você
príncipe.
— Muito sem graça. Está abatida, desde
quando eles voltaram?
— Desde que me deixou.
— Não deixei você. Não diz isso.
Trabalhei dia e noite para voltar logo para você.
— Também está abatido.
— Quase não dormi esses dias. Me
esqueci que posição eu durmo.
— Em cima de mim. – Ela sorri e olha
para varanda. – Quantos Stefanos. – Tem uma
ponta de medo no tom de sua voz.
— Todos eles. De uma só vez. Seja
corajosa. – Seguro sua mão e caminhamos para
eles. Ela olha para si mesma. – Está linda. Não se
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preocupe.
Chegamos a grande mesa. As crianças
acenam sem se importar muito. Annie tem um
sorriso no rosto.
— Está é a Annie, minha namorada. –
Ela me olha contente. O que achou que eu diria? –
Gatinha esses são...
— Eu sei. Espera. – Ela encara todos
eles. – Lissa e Leon, tem gêmeos e moram aqui.
— Acertou, seja bem-vinda. – Ela ganha
um beijo de Lissa e um aperto de mão de Leon.
— Ela gosta de ver as fotos de todos. –
Explico aos Stefanos curiosos.
— Sim. Vamos lá. Esses são Liv e
Heitor, moram em Londres e não ligam a mínima
para a escassez dos recursos naturais.
— Na mosca. – Heitor aperta sua mão,
Liv a abraça. – Para nossa defesa preciso dizer que
plantamos árvores.
— Esses são Ulisses e Sophia, moram
em Nova York e amam aventura.
— E somos os mais bonitos. Gatinha. –
Ulisses não perderia a chance, ele a abraça, dá um
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beijo apertado. – E você é linda.


Lizzie fica de pé, um pouco mais
distante de braços cruzados e olhos confusos.
Felizmente Annie é sensível e sabe que eu e Lizzie
somos muito próximos.
— Mas cadê a pessoa mais importante? –
Annie olha em volta. – Ali. – Aponta Lizzie que se
apruma. – Você é Lizzie, a pessoa que o Nick mais
gosta no mundo todo. – Annie estende a mão.
Lizzie aperta um tanto surpresa. – Ele só fala em
você. Estava louca para te conhecer.
— Muito prazer Annie. – Lizzie diz um
tanto formal.
— Senta Annie, vamos tomar café. –
Lissa convida. As crianças deixam a mesa
correndo, Dobby surge e lá está Annie abraçando o
cachorro.
— Dobby, que lindo. Queria muito
conhecer você. Seu grandão. – Demora a deixar o
cachorro livre para correr atrás das crianças, depois
vem para meu colo. – Não sabe. Príncipe, é sério,
perdeu o melhor jogo do universo. Simon não te
contou?
— Não.
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— Vou contar. – Os olhos brilham e seja


lá o que for, queria ter estado lá. – Dois minutos
para o final, 28 a 24, estávamos perdendo, foi então
que os caras enlouqueceram e decidiram fazer um
passe, não vai acreditar, a uma, príncipe uma jarda
e trinta segundos antes do fim, Butler pegou o
passe. Vencemos, foi como se o próprio Joe
Montana estivesse em campo. Ainda bem que
deixei gravando em casa.
— Não acredito que perdi essa. –
Realmente queria ter visto isso.
— Emocionante, até chorei. – Beijo seus
lábios, só então ela se lembra da plateia e se senta
ao meu lado. O rosto corado.
— Ninguém sabia que gostava de
futebol. – Heitor me diz e eles sabem pouco sobre
mim, não sou como eles, não tenho os costumes
gregos grudados em mim como eles.
— Muito, desde pequeno.
— Podíamos ir a um jogo amor. Que tal
nos convidar Nick? – Sophia pede.
— Vamos leva-los, será muito bom, vão
gostar muito. – Annie diz a eles.

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— É príncipe, queremos ir, leva a gente.


– Ulisses nunca mais vai parar de me chamar
assim.
— Levo, vamos todos no próximo. –
Ajudo Annie a ficar de pé, quero ela só para mim
um pouco. – Vem gatinha, vamos desfazer sua
mala e descansar da viagem, nos vemos no almoço.
— Com licença. – Ela sorri para todos,
começamos a deixar a varanda. – O que foi isso de
mandar um avião atravessar o oceano só para me
trazer? Já pensou quanto combustível gastou com
isso? Um avião para uma pessoa, Nick? Eu podia
vir num voo comum.
— Estava com pressa de te ver, não seja
injusta. – Apelo para seu coração, sabia que ela
ficaria brava e com razão. O desperdício foi
descomunal.
— Agora são dois meses andando de
metrô.
— Vamos ver. Temos que pensar nisso,
posso ter uma emergência. – Ela não liga a mínima
para a casa, não dirige um olhar para nada que não
seja eu. Nada disso importa para ela, e nada além
dela importa para mim.
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Capítulo 14
Leon

— A pergunta é. Quem é esse cara... –


Ulisses diz quando os dois deixam a varanda.
— E o que fez com nosso irmão? –
Heitor completa. Todos um tanto confusos com a
chegada de Annie. É uma linda moça. Simples e
simpática.
Os dois parecem absolutamente íntimos,
como se isso estivesse acontecendo há anos, não
seria impossível. Acabo de descobrir que realmente
não sei nada sobre Nick.
— Ela é toda lindinha. – Liv sorri. –
Parece uma bonequinha.
— Também achei ela compacta. –
Ulisses brinca. – Mas o bom mesmo foi ver Nick
perder a linha, ele está apaixonado, viram isso?
— Completamente, não tirou os olhos
dela um só segundo, eu sabia que tinha visto um
brilho naquele olhar, mas hoje brilhou feito
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diamante. – Lissa se encosta em mim. – Estou tão


feliz por ele, Nick precisa tanto de alguém.
— Quero saber que negócio é esse de
espuma e chocolate. Aí tem. – Ulisses e sua
curiosidade indiscreta.
— Não pareceu que os dois moram
juntos? – Sophia comenta.
— Não queria falar, mas foi essa
impressão que tive. – Heitor concorda. – Será que
nosso irmão casou e não nos disse?
— Temos uma tradição, ele não se
casaria sem a gente. – Lissa diz me olhando. Eu
ainda não posso dizer nada.
— Eu não estou falando de casamento
oficial, estou falando de viverem juntos, como um
casal, uma coisa é namorar e ela ter acesso a casa e
a vida dele, dormir lá de vez em quando, outra é
morar junto mesmo. Isso para nós gregos se chama
casamento.
— Heitor está certo. Acho que eles estão
tipo casados. – Ulisses concorda.
— E os apelidos, que fofos, príncipe é
uma graça, mas o Nick é mesmo um príncipe.

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— Liv! – Heitor reclama, sua indignação


arranca risos.
— Amor, é o Nick, não seja ridículo.
— Eu sou, amar é ser ridículo. – Heitor
beija Liv, ela sorri.
— Pois é bom a Sophi não ter ciúme,
porque ainda tenho que me vingar muito do Nick,
não me esqueci daquela dança toda de vocês com a
minha mulher.
— Pode se vingar amor, Nick precisa se
soltar um pouco e já vimos que ele sente ciúme. ─
Sophia oferece carta branca a Ulisses e já sei que
toda hora vou ter que interferir para Ulisses não
ultrapassar os limites. Não que ele conheça limites.
— Ciúme fofo! – Lissa comenta.
— Vocês estão achando tudo lindo e
romântico. – Heitor comenta divertido.
— Eu estou. Nick precisa encontrar o
amor, construir uma família, ele merece, é sempre o
primeiro a nos oferecer ajuda. Nunca diz não a
nenhum de nós, até abusamos. – Lissa nos lembra.
— Viram como correu para recebe-la?
Pareceu filme. – Sophi sorri.
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— E a gente achando que ele não saberia


demonstrar.
— Acho que eles estão fazendo
exatamente isso agora. Demonstrando. – Ulisses
não perde a chance, todos riem.
— Não gostou dela amor? Parece tão
sério. – Lissa diz e eu a envolvo num abraço.
— Como ele pôde esconder isso da
família? – Eu digo um tanto preocupado. – Porque
é tão difícil contar? Toda essa reserva, sempre
evasivo. Nick está sempre de saída, já perceberam
isso? Nunca está realmente conosco. Ele precisa
aprender a dividir mais com a gente.
— Acho que fez isso hoje, trouxe a
namorada. Nos apresentou, vai ficar uns dias com
ela aqui, nos dar chance de conhece-la, isso é bom,
afinal. – Lissa tenta contornar as coisas.
— Eu sei que sim, estou feliz e
realmente ela passa uma ótima impressão, se faz
bem a ele faz a todos nós. Isso é certo é só que as
vezes acho que erramos muito com ele. Acho que
eu errei. – Eles ficam em silêncio, podemos fingir
que tudo é normal, mas no fundo sabemos que não.
— Por que acha que errou? – Sophia me
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pergunta. – Vocês não tiveram culpa da separação,


procuraram por ele e o trouxeram de volta.
— É aí que pode estar meu erro.
— Nosso! – Heitor me corrige.
— Nós esperamos tanto por esse
momento, reencontrar Nick. Quando nos separamos
ele tinha dois anos. Nick talvez não tivesse
guardado mais nenhuma ligação conosco, mas nós
tínhamos, era nosso irmão, mesmo com dezesseis
anos olhava para ele e encontrava nele o bebê que
um dia ele foi.
Eu conto a elas, é difícil para todas
entenderem isso.
— Tiramos Nick do abrigo,
simplesmente pegamos Nick que nem nos conhecia
e levamos para casa, de uma vez, sem qualquer
adaptação. Só levamos ele conosco.
Ulisses explica. Lissa segura minha mão,
beijo seus dedos entrelaçados aos meus.
— Talvez ele tenha deixado uma família
lá. Nick passou quatorze anos naquele lugar,
aquelas pessoas o criaram, quer dizer, talvez a
gente tenha simplesmente arrancado ele da família.

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– Eu conto a elas.
— Primeiro nunca entendi porque não
perguntam a ele o que o deixa assim sempre
distante, podem estar errados. – Liv é tão sensata
quando Heitor e vê as coisas de modo diferente. –
Nick faz qualquer coisa por vocês, você disse a ele
que ficaria aqui e ele obedeceu simplesmente. É um
homem, tem dinheiro, posição, vida e namorada
como agora sabemos, mas obedeceu feito um
garotinho, sem nem discutir. Ele quer agradar vocês
o tempo todo.
— Liv está certíssima, amor. – Lissa
aperta minha mão. – Nick ama muito vocês e isso
não é atitude de quem tem magoa.
— Acho que ele pediria para voltar lá se
sentisse falta, telefonaria, pelo que entendo dessa
história, ele simplesmente aceitou.
— Mas vocês não sabem como ele era.
Nick mal falava, está certo que no começo a gente
falava em grego e ele não entendia, mas depois ele
continuou super calado, sempre quietinho, olhando
de longe, acho que só mesmo quando foi para
faculdade começou a melhorar.
— Ulisses está certo, no começo ele era
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muito mais fechado.


— Então nesse caso ele melhorou,
Heitor.
— Liv, ele nem nos convidou para
formatura, é que a Lissa descobriu e fomos, ele
nunca pede nada. Não queria nos incomodar com
isso. – Heitor comenta.
— O que eu acho, é que seja lá o que for,
essa linda moça está resolvendo, porque nunca vi
Nick tão feliz. – Lissa sentencia. É verdade, ele está
mesmo feliz. – Vamos ver como essa semana se
desenrola, precisamos conhecer Annie melhor e ver
como ele se comporta, Nick parece outro.
— Agora ele é da realeza. – Ulisses fica
de pé. – Vamos amor, combinamos de pegar uma
praia antes do almoço. O casal ficou uma semana
longe, eles estão se pegando e só vão descer para o
almoço.
— Sutileza é seu nome do meio. – Heitor
diz a Ulisses. – Vou ver meus filhos. Emma já
tomou muito sol. ─ Só sobramos eu e Lissa.
— Amo você. – Ela se senta em meu
colo. – Chega de pensar nisso. Vou achar que está
com ciúme da Annie, com medo de perder seu
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bebê.
— Jure que nunca vai comentar algo
assim na frente do Ulisses, ele nunca mais me daria
paz.
— Ulisses tem ciúme. – Ela diz me
beijando. – Eu também tenho.
— Tem nada, é louca pelo Nick desde
que chegou aqui.
— Nick é como um irmão.
— Vocês têm muito em comum. – Ela se
encosta em mim. – Onde será que estão os gêmeos?
— Atrás do vovô Cristus, é claro.
Deviamos fugir, amor. Para nossa praia. Faz muito
tempo que não vamos lá.
— Muito tempo! Uma semana. – Rio de
Lissa, passamos uma noite perfeita juntos, há uns
dias, na nossa tenda.
— Boa memória.
— Nunca esqueço nada quando se trata
da minha Afrodite.
— Então vamos. Na hora do almoço
estaremos todos reunidos. Esse negócio de novos
amores me inspirou.
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Pov – Annie

— Esse é seu quarto príncipe?


— Não. Esse é nosso quarto. – Depois de
fechar a porta ele me abraça, nem acredito que
acabou a separação, acho que nunca me senti tão
leve. – Por que diabos não te trouxe comigo? Odiei
cada segundo que passamos longe.
— Eu também. Morri de saudade. – Seus
lábios descem por meu pescoço, suspiro quando
aquela sensação de estar em seus braços toma conta
de todo meu corpo.
As roupas vão ficando pelo caminho
enquanto vamos nos beijando e então estamos na
cama, seu corpo cobre o meu e adoro seu peso
sobre mim, sua pele de encontro a minha e só quero
pertencer a ele e matar a saudade que me consome.
— Linda. – Seus olhos encontram os
meus, posso ver seu desejo, mas posso ver mais que
isso, vejo sua saudade, seu carinho, não tenho
dúvida de como nos sentimos, estar com ele apaga
um pouco as dúvidas que a distância me trouxe.

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— Quero ser sua Nick. Preciso.


— Também preciso de você gatinha.
Toda minha. Mal podia respirar sem você. – Gosto
tanto de ouvir, me dá tanta confiança e coragem.
Nos entregamos ao nosso desejo e
deixamos acontecer sem pressa, saboreando cada
segundo, cada sensação, fecho os olhos e aproveito
aquele momento, não quero que acabe. Gosto de
tocar Nick, beijar sua pele, causar arrepios e
provocar nele o mesmo que provoca em mim.
Quando finalmente relaxamos, me sinto inteira de
novo, como só me sinto em seus braços.
— Desculpe pelo que fiz. Não pensei em
nada, foi burrice, sabia que não gostava de ficar
sozinha lá, que podia ter pesadelos, mas nunca me
passou pela cabeça trazer você. Não me acostumei
ainda.
— Não importa. Estou aqui agora.
— Está. – Ele me envolve, me
aconchego em seus braços, faço um carinho em seu
rosto, ele está lindo como sempre, mas sinto seu
cansaço.
— O que disse aos seus irmãos? Sobre
nós eu digo.
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— Nada. Que minha namorada estava


vindo. Só isso.
— Gostei que disse namorada, não sabia
que me apresentaria assim. Meu coração até bateu
mais forte.
— É tão linda. Como eu apresentaria
você?
— Não sei, todo mundo lindo e rico
aqui, eu sei lá, a substituta da senhora Kalais? – Ele
ri. Me beija.
— Gatinha tem uma coisa que precisa
saber. Já devia ter dito antes. Você está
oficialmente demitida.
— Estou? Não sou mais a governanta? –
Pergunto entre confusa e feliz.
— É a pior governanta desse mundo, só
não te demiti no primeiro dia por que estava
querendo conquistar você.
— Agora que conseguiu o que queria me
demite? Quem diria em senhor príncipe?
— Isso mesmo. Agora é minha
namorada.
— O que vai acontecer quando a senhora
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Kalais voltar? – Todas as coisas que Ted disse


ficam dançando em minha cabeça me assustando e
confundindo.
— Vamos comer melhor, a menos que
sabote a comida dela só para comermos sushi.
— Isso poderia acontecer se eu não
tivesse tanto medo dela. Acho que ela pode me
colocar de castigo.
— Às vezes também acho isso. – Ele
confessa, me abraçando. – Não muda nada, estamos
juntos, isso é o que importa, não vai a lugar
nenhum. Seu trabalho é na associação com seus
velhinhos.
— Acho que eu gosto disso. Se
descobrirem que namora uma garota que veio de
um abrigo e que o pai morreu na prisão é ruim para
você?
— Se quem descobrir? Porque aqui todo
mundo sabe de onde eu vim e meus irmãos vieram
das ruas de Nova York gatinha, sabe disso.
— Eu sei, falo da mídia, de revistas,
essas coisas, eu posso mentir, dizer que trabalho
para você, não me importo, só me importo com
você.
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— É você pode dizer, mas aí vou ter que


desmentir e dizer que é minha namorada. Vai ficar
conhecida como uma boa mentirosa. De onde tirou
essas ideias?
— Só pensando. – Não vou falar de Ted,
ele precisa do emprego.
— Annie, não falo com revistas de
fofoca, não leio, não me interessa e nem a nenhum
dos meus irmãos, não interessa a ninguém que faz
negócios com a gente, não é nosso mundo, não
somos artistas, somos executivos, lidamos com
dinheiro.
— Está certo. É tolice minha.
— Muita tolice, conhece as histórias
todas que rondam minha família. A história mais
certinha é a da Liv, o resto todo mundo já esteve
bem encrencado. Máfia, e tudo mais.
— Verdade. Fiquei morrendo de medo
de todos eles quando estava no avião. O comissário
Gordon me ofereceu uma bebida e quase aceitei.
— Comissário Gordon? – Ele ri muito,
gosto de fazê-lo rir.
— É, entrei no avião achando que era um

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avião comum, não entrava ninguém e fiquei lá


esperando os outros passageiros e nada, daí ele se
apresentou dizendo que seria meu comissário e
lembrei do Batman, o único comissário que
conheço é o comissário Gordon. Chamei ele assim
o voo todo.
— Maluca. – Ficamos nos olhando, não
me esqueci de nenhum detalhe do seu rosto. Ele me
beija.
— Vamos voltar juntos?
— Claro.
— Só nós dois naquele jatinho? – Ele
afirma. – Príncipe, você sabe que no seu jatinho de
magnata grego tem um quarto com cama e que a
viagem é bem longa?
— Nossa! Agora vou passar a semana
toda pensando nisso.
— Querendo me levar as nuvens, Nick?
— Parece ser uma ótima ideia, Annie. –
Ele me beija. – Sabe que estava no viva voz na
última ligação com aquela coisa de beijo de
chocolate com espuma e todo mundo em volta de
mim?

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— Sério? Devia ter dito, podia ter sido


bem pior. Agora fiquei com vergonha.
— Mesmo assim adorei, mas agora estou
pensando na volta. Já queria ir embora agora.
— Nunca usou aquela cama?
— Já.
— Nossa! Podia mentir! – Dou um leve
tapa em seu ombro muito desapontada.
— Ah! Não, nunca assim, que maluca,
usei para dormir, umas duas vezes. Que ideia!
— Então vai ser incrível. Agora não acha
que é melhor descer? Não vão acreditar que
estávamos até agora desfazendo minha mala.
— Como consegue ser tão linda? – Ele
morde meu ombro. – Ninguém acha que estamos
desfazendo malas gatinha. Todo mundo sabe o que
estamos fazendo.
— Que vergonha. Quando descer não
vou conseguir olhar para ninguém.
— Pense que eles podem estar fazendo o
mesmo, acho até bem possível, esse lugar deixa
todo mundo bem animado. Já notei isso.
— Então que bom que vamos ficar toda
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semana.
— Quer dormir um pouco? Não dormiu
todos esses dias.
— Não, porque ainda estou com muita
saudade. – Nick me sorri, eu o amo tanto, isso é tão
claro.
— Teve pesadelos todos os dias?
— Sim. Foi... dormi no sofá, não
conseguia ficar na cama. – Meus olhos marejam um
pouco com a lembrança dos sonhos ruins. –
Promete que não vai me deixar dormir sozinha
nenhum dia?
— Claro que não.
— Então diz, eu prometo, não quero
acordar gritando, sua família vai me achar uma
louca e vou morrer de vergonha.
— Eu prometo. Vamos dormir juntos
todas as noites. Morri de saudade. Por que ficaria
longe?
— Está certo. Já que eles estão pensando
que estamos fazendo coisas é melhor não
desapontá-los. – Ele abre um largo sorriso, os olhos
brilham e meu coração pula alucinado.
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— Devassa! – Seus lábios cobrem os


meus.
Me olho no espelho depois do banho, me
pergunto se estou muito inadequada. Está calor,
acho que tudo bem usar um short jeans e uma
blusinha leve. Prendo os cabelos úmidos num rabo
de cavalo.
— Está linda, não fica pensando nessas
coisas, essa é uma família como outra qualquer,
pode ser você mesma e é isso que eles vão gostar.
— Tem certeza? – Eu pergunto e ele me
envolve a cintura.
— Não. Melhor tirar tudo e voltar para
cama. – Eu me afasto dele, vai que não resisto.
— Para! Vou ficar com vergonha se a
gente demorar. – Ele me puxa de volta para ele e
me beija. Ainda não matei toda saudade e nem ele.
Só queremos ficar perto um do outro o tempo todo.
– Lizzie não está nada confortável.
— Foi legal com ela. Lizzie vai superar.
— Não quero que ela sofra Nick, que
sinta insegurança, medo, fico angustiada só de
pensar que posso estar fazendo mal a ela. Quando

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se é criança tudo é tão nebuloso, assustador e


confuso.
— Eu sei. Vamos passar bastante tempo
com ela e Lizzie vai gostar de você.
— Se te der uns chocolates você faz um
contrato?
— Para você? – Seus lábios descem por
meu pescoço. – Depende de como vem esse
chocolate.
— Daquele jeitinho que gosta. Derretido.
— Faço o contrato agora e paga quando
chegarmos em casa.
— Feito. – Ele me deixa tonta, junto
forças para me afastar um pouco. – Vem, são quase
uma da tarde, melhor a gente se juntar a sua
família.
— De mãos dadas para matar meus
irmãos. – Ele diz pegando minha mão quando
chegamos as escadas. Sorrio, já ouvi sobre mãos
dadas e a brincadeira de ser cabelereiro. Nick já
cuidou dos meus cabelos muitas vezes, mas eu era
só uma garotinha vomitando, não sei se isso conta.
Estão todos na sala a nossa espera.
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Sorrio quando nos juntamos a eles. Todos têm


rostos leves, parecem felizes, é uma linda família,
unida e atenciosa. Nick teve muita sorte, mas ele
merece.
— Vamos almoçar? – Lissa convida e
ficamos todos de pé. – Os pequenos já comeram,
estão vendo desenho.
— Aí, aí. Mãos dadas! – Ulisses brinca,
beijo os dedos de Nick que pisca de leve sorrindo.
Nos sentamos em volta de uma longa mesa. Sophia
ao meu lado.
São todos tão bonitos, as mulheres, os
irmãos, é impressionante.
— Me sinto almoçando no Olimpo! – Eu
digo e as mulheres riem muito alegres e trocando
olhares.
— Annie, todas nós pensamos a mesma
coisa da primeira vez que nos sentamos em família.
Desde Lissa que foi a primeira. – Sophia me conta.
– Mas você é a primeira a ter coragem de dizer isso
em voz alta.
— Mas não estou falando só dos irmãos
não, eu digo todo mundo, vocês também são todas
lindas.
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— Claro que eu sou o Stefanos mais


bonito, não acha gatinha? – Ulisses pergunta.
— Desculpe Ulisses, mas meu príncipe é
o mais bonito.
— Fica difícil competir com a realeza. –
Ulisses brinca. Nick beija minha mão, depois meus
lábios. – Esse é o beijo de chocolate com espuma?
Fico corada. Nick olha feio para Ulisses,
ele dá de ombros.
— Ulisses deixa os dois em paz. – Leon
pede ao irmão.
— Os dois? Agora vai ficar protegendo
ela também? – Sorrio para Leon, Nick tem motivos
para gostar tanto dele, ele tem jeito de irmão mais
velho protetor.
Deve ser incrível ter a proteção de uma
família, saber para onde correr quando as coisas
vão mal, se tivesse apenas uma chance eu amaria
fazer parte disso.

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Capitulo 15
Lizzie

Todo mundo está almoçando, decido


ficar um pouco com eles e deixar meus primos e
irmãos com a Thaís, quero ver um pouco essa
Annie.
Ela é bem bonita, meu tio falou que
parece uma gatinha e achei também. Ela disse que
ele sempre fala de mim e não sei se ela gosta muito
disso.
Me sento ao lado do meu pai.
— Veio comer um pouco mais, princesa?
– Meu pai pergunta depois de dar um beijo na
minha testa.
— Só a sobremesa. Nós comemos
gelatina e sei que tem torta de chocolate.
— Mandei fazer especialmente para a
Annie. – Tia Lissa mente e todos riem. – É sério,
quis agrada-la.

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— Obrigada Lissa, quem gosta mesmo


de chocolate é meu príncipe. Principalmente
derretido, não é? – Ele sorri para ela, meu tio está
gostando muito dela. Os dois se beijam.
— Esse é o negócio de chocolate e
espuma? Estou querendo saber. – Tio Ulisses
pergunta e não sei do que estão falando. Fico só
olhando para todos.
— Cuida da sua vida, Ulisses. – Meu tio
reclama com ele, acho que está defendendo a
namorada.
— Gosta de comida grega, Annie? – Tia
Sophia pergunta. Achava que ela era uma princesa,
mas ela casou com o tio Ulisses e ele não é
príncipe, então...
— Nunca comi. Lá em casa não
costumamos comer comida grega.
— Só comida queimada ou crua. – Meu
tio conta. – Estão diante da pior cozinheira do
mundo! – Ela faz bico e ele beija ela de novo.
Nunca vi meu tio ficar toda hora assim.
— Eu tento pelo menos. Não dá nunca
certo.

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— E acabamos pedindo comida, o que


quase sempre quer dizer sushi.
— Eu e o Ulisses comemos muito
também. Nos dias que a cozinha é dele. – Tia
Sophia conta, todo mundo está animado.
— Príncipe, a gente não tem isso de dia
seu na cozinha.
— Nem vai ter porque a senhora Kalais
ainda vai voltar para mim.
— Moram juntos? – Meu tio Leon
pergunta enquanto meu tio Nick vai servindo a
Annie.
— Moramos. – Tio Nick conta e todo
mundo se olha estranho, nem sabia que ele morava
com a namorada dele, eu não vou morar com
namorado, meu pai me mata. – Isso é moussaka
gatinha, vai gostar do molho é bem suculento.
— Está com uma cara ótima. Quer que
eu tente fazer um dia? – Annie oferece para agradar
meu tio.
— Não. A gente come quando estiver
aqui.
— Ou podem ir lá em casa e eu faço. –
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Tia Sophi convida. Eu moro longe deles. Meu tio


vai as vezes me ver, agora não sei se ele ainda vai,
acho que só se eu convidar ela também.
— Mãe convida meu tio Nick para ir
comer comida grega lá em casa também. – Falo
bem baixinho para minha mãe.
— Ou lá em casa, precisa ir conhecer
Londres, Annie, vai gostar. – Mamãe convida na
hora.
— Quando der eu vou gostar muito. –
Annie olha para mim, mas eu desvio os olhos.
— Quer dizer que gosta de olhar as
fotos? – Tia Sophi pergunta a ela.
— Sim. Adoro aquele álbum que fez
Sophia, uma foto mais linda que a outra. Você é
fotografa, não é? O Nick me deu seus artigos,
fiquei encantada com tudo, li todos. Vocês dois
sabem viver.
— Isso é verdade! – Meu tio Ulisses dia
animado, ele é sempre bem feliz.
— E a Lissa pinta. Também vi alguns
quadros seus na internet, Nick me mostrou, são
muito bonitos, não tenho o menor talento para arte,

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nem entendo muito, mas gostei do que vi e agora


que estou aqui dá para reconhecer de onde vem a
inspiração.
— Amo essa ilha. Nunca conseguiria
viver longe. – Minha tia Lissa ama a Grécia.
— E a Liv trabalha com vocês, sei tudo
de vocês.
— Me enche de perguntas. – Tio Nick
conta.
— A novidade é você responder. – Tia
Lissa diz a ele. – E você Annie, o que gosta de
fazer?
— Cuidar dos meus velhinhos. Um mais
lindo que o outro, depois mostro as fotos deles.
— Annie trabalha na associação, cuida
dos idosos e eles amam isso.
— Foi lá que começaram a namorar? –
Meu pai pergunta. Todo mundo só quer falar com
ela.
— Não. É porque fui substituir a senhora
Kalais, daí o Nick se apaixonou pelos meus talentos
culinários, minha capacidade de deixar a casa bem
arrumadinha e a minha discrição.
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— Ela tem uma ideia deturpada de si


mesma. – Meu tio brinca. – Annie fez tudo ao
contrário do que a senhora Kalais falou, no
primeiro dia disse que minha casa não tinha
personalidade e que achava que eu era um velho
babão.
— Daí conquistei ele. Ele já foi logo me
convidando para jantar e depois jogou charme,
conseguiu o que queria e me demitiu.
— Mas pedi em namoro. – Ele diz a ela,
os dois sorriem, toda hora isso.
— Encheu a casa de flores.
— Fez o que? – As tias e minha mãe
perguntam juntas.
— Encheu a casa de flores. Fomos correr
e quando voltei tinha flores pela casa toda. Eu tive
que dizer sim.
— Estão juntos há quanto tempo? – Tio
Leon pergunta. Meu tio e Annie se olham, ele beija
sua mão, os dois ficam lá com cara de apaixonados.
— Desde sempre. – Meu tio Nick
responde, mas fica olhando para ela, Annie até
parece que vai chorar. Ninguém diz nada. E Ariana

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entra com a sobremesa.


Fico comendo a torta e vendo eles
conversarem.
— Acho que depois do almoço podemos
olhar seus relatórios, Nick. – Tio Leon diz só
tomando café porque ele nunca come o pedaço dele
de torta, minha tia Lissa que come.
É sempre igual, alguém põe uma fatia
para ele e ele empurra o pratinho para ela e tia
Lissa faz uma carinha de feliz e ele sorri todo
romântico.
— Podemos deixar para amanhã? Pensei
em mostrar a ilha para Annie. – Meu tio pede e
dessa vez todo mundo fala alguma coisa ao mesmo
tempo. Ninguém acredita que meu tio não quer
trabalhar.
— Nunca achei que iria viver para ouvir
essa frase. – Tio Leon diz sorrindo. – Podemos
deixar para qualquer outro dia. Isso não tem a
menor importância.
— Como tira o Nick de cima do
computador, Annie? – Minha mãe pergunta. Annie
sorri.

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— Eu? É... a gente... O Nick...


— Já entendemos. – Tio Ulisses ri muito
e Annie fica vermelha e o tio Nick fica um pouco
também. – Espuma e chocolate.
Eles nem ligam para mim, meu tio fica
só com ela, empurro meu prato e fico de pé.
— Mamãe eu vou lá no jardim um
pouco. – Saio bem quieta, acho que ele gosta mais
dela no mundo.
Sento no banco do jardim, está um dia
bonito e aqui tem muitas flores como o jardim da
minha casa. Annie vem sozinha na minha direção.
Se senta ao meu lado.
— Oi – Ela diz séria.
— Oi.
— Tudo bem com você? – Ela pergunta
e dou de ombros. ─Odeio me sentir um
“dementador”, roubando sua felicidade. – Olho
para ela sem acreditar. Pensei que só meu tio Nick
de adulto que sabia essas coisas. ─ Ama seu tio
Nick?
— Amo. É meu tio preferido, mas o tio
Ulisses pensa que é ele, porque ele quer ter tudo.
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— Também amo seu tio Nick. É a pessoa


que mais amo no mundo.
— E tem ciúme de mim? – Eu pergunto
para ela.
— Um pouco, seu tio ama muito você.
— É diferente. – Eu explico para ela.
— Acha?
— Sim. Você é namorada e eu sou
sobrinha.
— Entendo. Acho que isso é bom, mas
sabe o que eu acho?
— O que? – Pergunto curiosa, ela parece
ser legal.
— Que precisamos acertar as coisas num
contrato.
— Tio Nick é meu advogado, sabia
disso?
— Sim. Que acha de irmos lá, senhorita
Stefanos? Ele está nos esperando na biblioteca.
— Pode ser senhorita...
— Keller.
— Senhorita Keller. – Annie abre a mão,
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tem dois bombons, ela me estende um.


— Acho que é um bom preço, não acha?
— Ele vai aceitar. Dois está ótimo. – Ela
fica de pé. Me espera e acho que se a gente fizer
um contrato com tudo direitinho ela pode namorar
com ele. Eu fico de pé com ela e a gente vai para
biblioteca.

Nick

As duas entram juntas na biblioteca, me


lembro da primeira vez que me reuni aqui com
Lizzie e seu olharzinho assustado, no quanto me
lembrou Annie. Na época eu achava que ela estava
perdida para sempre, e agora as duas estão juntas
sentadas a minha frente.
— Senhorita Stefanos, senhorita Keller.
O que posso fazer pelas duas?
— Um contrato, senhor Stefanos. –
Lizzie diz muito séria. ─ Mas tem que assinar
também.
— Entendo. Acho que sabem que não
trabalho de graça.
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As duas me estendem bombons, colocam


sobre a mesa. Sorrio, adoro vê-las juntas.
— Tenho uma barra de chocolate em
casa, posso completar o pagamento quando
chegarmos. – Annie me avisa com um lindo
sorriso.
— É um preço bastante justo. Podemos
começar. – Me arrumo na frente do computador. –
Por onde começamos?
— Você não pode gostar mais de uma
que da outra. – Lizzie começa e passo a digitar. –
Temos que ir a Disney todo ano.
— Eu posso ir junto. – Annie completa e
Lizzie afirma.
— Gostar das duas igual, leva-las todos
os anos a Disney. O que mais?
— Me ver todo aniversário. – Lizzie
avisa.
— Buscar Lizzie para passar uns dias em
casa e fazer uma maratona com todos os filmes do
Harry Potter.
— Isso. Uma vez por mês? – Lizzie
pergunta.
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— Tem escola, uma vez por mês não dá.


Duas vezes por ano? – Eu questiono. Ela aceita e
vou digitando.
— Lizzie se compromete a torcer pelos
Jets. – Annie determina, Lizzie sorri.
— Mas meu tio disse que os Jets é coisa
de menino, que ele não leva meninas. Uma vez ele
falou.
— Que vergonha. – Annie serra os olhos
me criticando. – Isso mudou, meninas vão ao jogo e
você vai conosco. Anota aí essa lei, senhor
Stefanos.
— Não é lei Annie. É clausula. – Lizzie
avisa rindo.
— Então anota aí essa clausula. –
Obedeço, lá estou eu me comprometendo a levar
Lizzie a um jogo de futebol.
— Pronto.
— Uma vez por semana temos que
comer sushi.
— É irrelevante, senhorita Keller, não
diz respeito ao trio aqui reunido, podemos faz um
outro contrato, claro que mediante a pagamento em
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chocolate derretido.
— Senhor Stefanos, o senhor é realmente
um bom advogado que parece trabalhar muito bem
em causa própria. – Annie me acusa e sorrio
afirmado.
— Primeiro em Harvard.
— Meu tio é muito inteligente. Uma que
temos que falar sempre no telefone e não podem
ficar só com os outros quando estão aqui.
— Perfeito, essa é ótima. – Imprimo três
copias, estico as folhas e uma caneta. Lizzie sorri
orgulhosa ao escrever seu nome no fim da folha,
depois Annie faz o mesmo.
— Agora o senhor. – Lizzie me espera
assinar. Depois fica de pé. – Muito obrigada,
senhor Stefanos, vou contar para as pessoas, e você
leva a Annie para ver que linda que é a praia.
Aquela do tio Leon e da tia Lissa.
— Vou fazer isso agora mesmo. – Lizzie
caminha para porta, depois volta do meio do
caminho, abraça Annie, a deixa um tanto surpresa.
— Vou te chamar de Annie mesmo.
Você é muito pequena para ser tia.

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— Pode ser, acho que gosto mais. –


Lizzie nos deixa e Annie vem para meu colo. – Deu
certo, eu acho, vamos ver com o tempo.
— Definitivamente deu certo. Ela leva
muito a sério os contratos.
— Guarda minha folha para eu não
esquecer as leis.
— Clausulas, senhorita Keller. – Eu a
corrijo, ela me beija, se encosta em meu peito.
Nunca pensei que um dia teria uma garota no meu
colo na biblioteca da mansão. – Vamos a praia
particular?
— Ah! As vantagens de se namorar um
magnata grego. Vamos.
Chegamos a praia com o sol já mais
fraco. Annie fica um tempo olhando a beleza e o
silencio do lugar, o vento faz seus cabelos
dançarem.
— Seu irmão mora no paraíso.
— Mora. – Sentamos no chão, ela na
minha frente encostada em meu peito.
— Silencioso.
— Calmo. – Eu completo.
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— Uma chatice. – Ela brinca e rimos. –


Gosto do concreto. Das buzinas, sirenes.
— Gente indo e vindo. – Annie concorda
comigo. – Mas por uns dias é bom.
— O que será que seus irmãos acham de
mim? – Ela pergunta enquanto assistimos o ir e vir
das ondas. – Não falei muito de mim, fui evasiva
com medo de falar demais e acabar falando coisas
que não quer que eles saibam.
— Meus irmãos são transparentes, é só
olhar para eles que posso ver, eles gostam de você.
Gostariam de qualquer pessoa que eu gostasse e me
fizesse bem.
— Roubando meus méritos, senhor
Stefanos?
— Calma, não terminei. Você é simples
e viva, eles gostariam de você de qualquer modo,
porque é como eles. Isso torna as coisas mais
fáceis, eles não precisam se esforçar para aprender
a gostar de você, mas se esforçariam se fosse
preciso.
— Eu sabia que eles amavam você, pelo
que contava, mas quando cheguei aqui pude sentir.
Acho que você nem precisava se esforçar tanto
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como faz.
— Conscientemente, eu sei disso.
— Mesmo assim não consegue evitar.
— Não me sinto grego. Nasci aqui e
parti com dois anos. Aprendi a língua com um
professor. Fui criado no abrigo e quando saí de lá
continuei na américa. As coisas que gosto de
comer, meus costumes, os meus esportes favoritos,
tudo é diferente.
— Eu sei. Acho que isso não é
importante para eles.
— Eu penso em inglês e depois traduzo,
eles pensam em grego. Meu grego é pior do que o
da Sophia que é italiana, ou da Liv que é inglesa.
Eu me matei dia e noite para aprender a falar, eu
tento torcer e comemorar quando um grego ganha
uma medalha em algum esporte, mas no fundo
torço para os americanos.
— O que importa é o amor que tem por
eles. Nenhum de vocês teve culpa de como as
coisas foram, não acho que eles esperem tanto
assim de você.
— Às vezes algum deles solta frases

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como, somos gregos, é assim que agimos, é assim


que somos, me sinto fora do contexto.
— Está sempre se cobrando, isso torna
tudo tão pesado para você. E deixa eles no escuro
sobre quem você é.
— Acho que devia falar sobre tudo com
eles. Me abrir, contar do abrigo, acontece que não
consigo trazer tudo de volta, eu fechei as feridas.
Tenho medo de abri-las mais uma vez.
— Se tivesse fechado, poderia falar, não
falamos porque ainda não cicatrizou. Tem medo de
colocar o passado em palavras e ele te partir ao
meio, eu sei disso, é assim que me sinto.
— Além disso eu sei que vão se culpar.
— Eles te tratam como um menino.
Todos eles. – Ela faz carinho em minha perna.
Beijo seu pescoço, voltamos a encarar o mar e sua
inconstância. Ficamos os dois em silencio, fazendo
o trabalho árduo de empurrar as lembranças para o
fundo da mente. Não falar sobre o passado não o
apaga.
— Amanhã é seu aniversário. Como é? –
Ela me pergunta.

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— Eu fico tentando escapar e eles me


obrigam a passar o dia com eles, me dão presentes
e comemos um bolo de chocolate. Eu e Lissa
brigamos por mais bolo, Lizzie acaba comendo
mais que os dois. Depois eles me libertam e me
sinto aliviado.
— Que chato! Eu nunca tive uma festa
de aniversário, nem presentes e pessoas se
lembrando. Sempre foi um dia comum. – No
abrigo, nem mesmo sabíamos quando era nosso
aniversário, depois ela saiu e ficou sozinha. Annie é
duas vezes mais forte que eu, venceu sozinha, eu
tive irmãos, dinheiro, ela ficou de pé por seu
próprio esforço.
— Talvez eu te faça uma festa surpresa.
— Mas que boca! Não conta, era para ter
fingido que não tinha dado a menor importância ao
que eu te disse e depois me surpreender com uma
linda festa e me fazer chorar.
— Desculpa. Eu estava aqui planejando
um jantar romântico a luz de velas, só nós dois no
apartamento com um presente em forma de
coração. – Ou uma grande festa na associação com
seus velhinhos e toda a família, cheia de balões de
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gás, mas vou deixar que pense que será só um


jantar romântico.
— Agora não é mais surpresa.
— Mas é romântico. – Minto e ela se
move para me olhar. Sophia pode me ajudar a
preparar uma surpresa, quem sabe seus velhinhos
não ajudam? Ela me sorri, tão linda, afasto seus
cabelos. – Daqui uns anos faço uma surpresa,
quando não estiver mais pensando nisso.
— Minha memória é curta, não precisa
esperar uns anos.
— Chega desse assunto. Nunca vou
surpreende-la se ficar dando dicas.
— Vamos nadar um pouco? A água
parece ótima.
— Estamos sem roupa de banho,
gatinha.
— Príncipe, é uma praia deserta. Quem
precisa de roupas?
— Não... É estranho, eu acho que... – É
tarde, ela está de pé, se despindo na minha frente,
toda linda e sensual, atirando suas roupas em mim e
me fazendo rir.
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— Vai ficar aí sentado me assistindo ou


vem comigo, como vai ser isso senhor certinho?
— Quem sou eu para dizer não? Em
Roma como os romanos. – Me junto a ela, só Annie
para arrancar de mim atitudes como essa, mas essa
vida toda que ela tem se espalha em mim e no fim
sempre gosto de me soltar um pouco. Além disso
eu nunca resisto, não sou forte. Não quando seus
olhos brilham em direção aos meus. Daí sou dela e
nada mais importa.

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Capítulo 16
Nick

Quando descemos para jantar meus


irmãos trabalham na biblioteca.
— Lizzie pode cuidar da minha
namorada um pouco? Vou ver o que os outros estão
fazendo de tão importante antes do jantar.
— Eu cuido dela tio. Vem Annie, vou te
mostrar meus irmãos e o Dobby, nem brincou com
eles ainda. ─ Annie me lança um olhar de medo.
— Meia hora. – Ela me beija aceitando o
pedido. ─Tem um adulto por perto não se
preocupe.
— Vamos Lizzie, quero ver se seu irmão
Harry é um bruxo ou um “trouxa”.
— Nessa casa todo mundo é “trouxa”,
por enquanto.
As duas somem de mãos dadas, demoro
um momento para voltar a realidade e entrar no

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escritório.
— Reverencia irmãos, a realeza acaba de
chegar. – Faço careta para Ulisses. Me sento perto
de Leon que tem um papel em mãos. – Veio
trabalhar, príncipe? Não resistiu?
— Quer parar de ser bobo? Isso não é
um apelido fofo apenas, é sobre... – Me calo,
suspiro desistindo de contar. – Quer saber, ria o
quanto quiser, não me importo.
— Eu sei, está todo romântico. De
beijinhos para lá e para cá, mãos dadas pela casa. O
último dos moicanos e agora o mais novo
cabeleireiro.
— Os moicanos entraram oficialmente
em extinção. – Heitor brinca. Sabia que sofreria no
momento que ficasse sozinho com eles.
— Vai pedi-la em casamento? Já pediu e
não sabemos? – Leon pergunta.
— Casamento? – Nunca tinha pensado
nisso. – Acho que não precisa dessas coisas, somos
felizes como estamos agora.
— Não vai casar com ela? – Heitor fica
desapontado.

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— Está disposto a estragar com todas as


nossas tradições caçula?
— Não Ulisses. Quer dizer, não passa
pela minha cabeça ficar lá naquela igreja com todo
mundo me olhando e o padre dizendo aquele monte
de coisas, não precisa disso, não muda nada.
— Claro que muda. – Leon continua. –
Você é um homem muito rico.
— Annie não está atrás de dinheiro. –
Não gosto que pensem algo assim.
— Nem estamos achando isso. – Ele
continua. – Para um advogado, está bem
despreocupado. Gosta dela, vivem como casados,
pelo pouco que vimos disso tudo, não tem medo de
não proteger Annie financeiramente?
— Eu confio em vocês, sei que não
deixariam Annie desamparada caso algo me
acontecesse.
— Acha que ela aceitaria?
— Não. ― Nesse ponto ele está certo. ―
Posso fazer um testamento, acho boa ideia fazer
isso, bem pensado. – Eles se olham. – Qual é
gente? Ela não liga para isso, não quer casar.

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— Você pediu e ela disse não? – Heitor


me questiona.
— Não pedi.
— Acho que seria bom para ela saber
que gosta dela realmente.
— Ela sabe. – Sabe mesmo? Será que
tem dúvida? Se pedisse aceitaria? Será que Annie
riria de mim ou acharia romântico? Por que eles
têm que ser tão antiquados e ficar colocando coisas
na minha cabeça?
— Somos gregos, Nick, família é coisa
séria. Não se começa uma assim, só dividindo o
closet.
— Pensei que tinha sido um grande
passo. Amo Annie, isso é bem sério, não vai ter
outra pessoa, não tenho dúvida, não tem nada a ver
com isso, não gosto de exposição, só isso.
— Acho que se lembra que no meu
casamento só tinha vocês. – Leon me recorda. –
Acha que até nossa presença seria se expor demais?
Por que eles ficaram tão sensíveis de
repente? Isso é tão sufocante.
— Eu dei um primeiro passo, Annie
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conhece vocês, depois prometo conversar com ela


sobre isso. Saber o que ela acha de casar comigo.
— Ótimo.
— Não se animem. – Alerto a todos. – O
que estão fazendo?
— Alguém tem que trabalhar, Nick, não
podemos passar o dia namorando como você. –
Ulisses me provoca.
— Foi só uma tarde, estou aqui.
— Ele está brincando, Nick. – Heitor me
avisa.
— Consegue não perturbar seu irmão um
tempinho só Ulisses? – Leon pede a ele.
— Quando a Alana e o Luka brigam fica
do lado de quem? – Ulisses pergunta a Leon que dá
de ombros.
— Fico do lado da Lissa, é a melhor
escolha. Agora vamos jantar?
— Podemos ver os relatórios agora se
quiserem. – Ofereço, os três se olham, negam ao
mesmo tempo.
— Nick, para de ser psicótico, vai curtir
a vida, namorar sua gatinha. Outro dia olhamos seu
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relatório. – Heitor reclama, acho que sou mesmo


viciado em trabalho, mas é estranho vê-los
trabalhar e não fazer nada, me lembra os tempos da
faculdade, quando ficava em volta deles olhando
como faziam tudo.
— Tudo bem, foi só uma ideia.
Annie me espera na sala com as garotas,
sorri daquele jeito largo que tem de sorrir.
— Jantar? – Lissa convida. – Estávamos
prestes a começar a entrevista com Annie e
estragaram tudo. – Ela reclama.
— Já íamos perguntar quais às intensões
dela com o Nick. – Sophia continua quando
caminhamos para sala de jantar.
— As piores possíveis. – Annie
responde, passo meu braço por seu ombro
puxando-a para mim, ela me envolve.
— E eu todo iludido. – Ela ri, se senta ao
meu lado. Ariana surge do nada como sempre. Nos
conta sobre o cardápio.
— Nossa, mas esse cheiro está ótimo! –
Sophia diz quando se serve. Agora só a família
reunida, Liv com Emma no colo, Harry no colo do

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pai, os gêmeos ao lado do tio Ulisses. – Me deu até


fome.
— Será que já é o novo herdeiro? – Lissa
pergunta animada.
— Como assim? Do que estão falando? –
Eu pergunto confuso com a conversa.
— Você estava tão feliz que estávamos
evitando estragar isso, mas eu e a Sophi decidimos
ter um filho. – Ulisses me comunica.
— Decidiram? Como assim? Não são
mais felizes? Disseram que... que seriam só os dois,
que queriam aproveitar a vida. Acham que não
podem ser felizes sem um filho? Como se todo
mundo precisasse disso? – Pergunto confuso e
tenso, nem é mais sobre eles e suas escolhas, é
sobre mim, sobre Annie, sobre nossa decisão, será
que com o tempo, só nós dois não vai ser o
bastante?
— Somos felizes, vivemos muitas
aventuras, não precisamos de um filho para nos
mantermos juntos, mas queremos tentar essa nova
aventura, ainda é só um plano, Sophia não está
grávida. – Ulisses me conta.
— Acham que todo mundo em algum
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momento quer ter filhos? – Annie pergunta de um


modo geral.
— Pelo visto Nick não é o único
preocupado com os recursos naturais. – Lissa
brinca. Nem imagina o quanto eu e Annie somos
parecidos.
— Lissa o mundo está um caos, temos
que pensar muito nisso, e na maldade humana,
claro que não é o caso das crianças de vocês, mas
coisas ruins acontecem.
— Imagino que sim, na verdade, eu sei
que sim, tive uma infância bem difícil, mas quer
dizer, que assim como Nick, não quer filhos?
— Não. Queria velhinhos, ando
pensando em adotar alguns. – O tom leve de Annie
acalma os ânimos, paro de pensar nisso, não
preciso me preocupar com isso, somos pessoas
diferentes, não preciso seguir à risca os passos dos
meus irmãos.
— Desculpe Ulisses, desejo que tudo dê
certo. Então vou ter um sobrinho em Nova York?
— Vai. É o que queremos, mas isso
agora é com a natureza. – Sophia sorri para Ulisses.

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— Não contem comigo para cuidar de


um bebê. – Aviso, a ideia me assusta.
— Não sei quem quer enganar, se
chamar vai correndo. – Ulisses brinca e está certo.
– E agora ainda vai levar a Annie. – Ele beija
Sophia. – Amor, vamos sair muito para jantar e
deixar o bebê com os tios.
O jantar segue tranquilo, o assunto muda
completamente, falamos sobre a associação, as
coisas que Annie faz lá. Ela conta sobre cada um
deles, Sophia se oferece para falar sobre o tema em
sua coluna, e as duas marcam encontros em Nova
York. Depois vamos para sala, a conversa continua
fluindo fácil. Annie é sempre encantadora demais
para qualquer deles resistir. Lizzie rouba minha
namorada para mostrar seu quarto, suas bonecas
preferidas e quando vamos para cama ela está feliz
e completamente adaptada aos Stefanos.
Então somos só nós dois e o que
sentimos um pelo outro. Não penso em casamento,
filhos, nada, só Annie em meus braços. Quando
acordo com o sol tomando todo o quarto descubro
que ela tem razão, durmo mesmo por cima dela.
Beijos suas costas, ela se move, ronrona
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preguiçosa feito uma gatinha.


— Te acordei, gatinha?
— Não. – Ficamos de frente um para o
outro, ela sorri. – Aniversário! – Os olhos brilham.
– Espera, vou pegar seu presente.
— Comprou um presente? – Me sento
quando ela deixa a cama e corre para sua mala
semiaberta com roupas para todos os lados.
— Não. Estou guardando isso desde
sempre. – Me sento à espera do que ela vai me dar,
Annie volta com um pacote, se senta em meu colo.
– Feliz aniversário!
Beijos seus lábios antes de olhar o pacote
retangular. Rasgo o papel, é o primeiro volume de
Harry Potter, não novo, é um velho livro, está
gasto, olho para ela. Abro sem acreditar. Minha
mente viaja para os tempos do abrigo, quando
achamos o livro na pequena e quase inútil
biblioteca, só fui ler o resto da coleção quando saí,
mas esse foi nosso companheiro, liamos sempre
juntos.
— Por que está chorando, gatinha?
— Peter tentou tomar o livro da minha

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mão, rasgou a última página.


— Deixa eu ver, não é grande coisa,
ainda dá para ler e podemos passar um pedacinho
de fita, na sala de aula tem. Amanhã arrumo isso.
Não precisa chorar.

Abro direto na última página, o pequeno


rasgo grudado com fita adesiva está lá, é o melhor
presente que podia receber, ninguém além dela
podia me dar isso.
— Guardei comigo todo esse tempo, ele
nunca voltou para biblioteca. Nunca achei que ele
voltaria para suas mãos, mas quando te reencontrei
sabia que te daria ele em algum momento especial.
— Obrigado, isso é... Nem sei o que
dizer. Vai se juntar ao resto da coleção, pensei nele
muitas vezes durante esses anos todos.
— Agora temos tudo, os Jets, nosso livro
e um ao outro.
— Sim. Temos tudo. – Beijo Annie.
— Temos que descer, sua família quer
tomar café da manhã com você.
— Eu sei, mas eles podem esperar.
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Quando finalmente chegamos a sala de


jantar, tem um bolo sobre a mesa, com velas e
balões, são os Stefanos, não podem esperar o fim
da tarde ou a noite, tem que começar o dia com
bolo de chocolate.
São muitos abraços, presentes e desejos
de felicidades, vez por outra, meus olhos encontram
os delas e noto como fica emocionada, juro que vou
dar a ela uma grande festa de aniversário e nem me
sinto agoniado por isso.
Cada sobrinho me oferece um presente, o
de Emma vem pelas mãos de Lizzie, porque ela é
pequena demais, mas vou até ela que olha tudo
animada e beijo os cabelos com lacinho.
Sophia fotografa cada momento, então lá
vem Lizzie para o momento constrangedor.
— Agora o meu, tio Nick. Eu que
escolhi, meu pai me levou para comprar.
— Heitor! – Olho para ele em tom de
súplica. Ele dá de ombros e suspiro.
— Obrigado, Lizzie, tenho certeza que
vou amar. – Coloco a caixa junto com os outros
presentes.

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— Não tio, tem que abrir né? Que bobo.


Todo mundo quer saber o que eu te dei.
— Claro eu vou abrir. – Respondo sem
alternativa.
Abro a caixa um tanto tenso, lá dentro
um uniforme completo da Grifinória.
— O traje completo como o meu tio,
para quando formos a Disney.
— Que legal, vai ser... muito.... Bom. Ir
vestido assim. – Não acredito nisso, ela não pode
esperar que ande na rua vestido assim.
— Vai ser perfeito, vou pedir para minha
mãe e meu pai comprar um para Annie, ela vai com
a gente então tem que ter o dela.
— Eu quero Lizzie. Um completo assim.
— Que fofo, uma família de bruxinhos. –
Ulisses diz se aproximando. – Veste para ver se
serve, Lizzie quer te ver com ele, não quer
baixinha?
— Muito. Coloca, tio. – Olho para os
olhinhos brilhantes e felizes, essa garotinha vai me
humilhar ano após ano, suspiro e coloco a capa.
Sophia tira mil fotos.
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— Agora vamos comer o bolo. – Digo


tirando a roupa apressado.
— Mas já, príncipe bruxo? Achei que
passaria o dia com ele, Lizzie vai pensar que não
gostou do presente.
— Leon! – Apelo, ele não vai me obrigar
a passar o dia com aquilo.
— Ulisses, deixa ele! – Leon e Ulisses
dizem juntos, todos riem, amo minha família.
Assopro velas desejando sorte a todos.
Depois é o de sempre, todo mundo
comendo bolo e eu e Lissa nos implicando por
mais, Leon reclamando que é feio brigar por
comida que Mira faz pequeno apenas para nos ver
brigar, Mira resmunga que não quer comida
estragando e Lizzie come o último pedaço porque é
criança e crianças tem prioridade.
Passo o dia perto deles, se me afasto tem
todo aquele drama grego de o Nick não nos ama e
prefere se isolar. Felizmente Annie simplesmente
está em casa, descalça o dia todo, com suas mini
roupas e os cabelos soltos, feliz e falante.
É mais um dia feliz em torno da família,
com Annie por perto eu não fico querendo correr
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para o escritório, passo as horas entre eles, rindo,


conversando sobre tolices, trocando provocações
com Ulisses e penso se não perdi muito tempo
fugindo deles.
Talvez eu não seja tão diferente assim,
talvez eu apenas não tenha encontrado os pontos
em comum, foquei nas diferenças o tempo todo.
Talvez até sinta falta disso quando voltar para casa.
O jantar é especial, comida italiana que é
minha preferida, não tentei escapar uma única vez e
acho que estão todos surpresos com isso. O fato é
que adoro Annie entre eles.
A noite é romântica, passeamos pelas
ruas da ilha depois do jantar, de mãos dadas apenas
os dois, sentamos no cais para olhar as estrelas,
tomamos sorvete e depois nos fechamos no quarto,
é uma noite romântica, só nós dois e o que
sentimos.
Annie me acorda animada. Vamos
descer para correr na praia. Passamos direto pela
sala de jantar, é cedo e todos ainda dormem.
— Onde vão? – Ariana nos para.
— Correr.

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— Sem se alimentar? Nada disso, para


que correr? Não podem só caminhar um pouco
depois do café?
— É que não tenho apetite logo cedo, e
se tomo café, depois não tenho ânimo para correr. –
Annie se explica.
— Bom, mas eu não vou deixar a
mocinha sair sem comer, sinto muito. É inaceitável.
Troco um olhar com Annie, Ariana
parece um soldado diante de nós com seu ar severo
e penso em Ulisses e sua teoria sobre Ariana e
água. Talvez nem precise molhar para virar bruxa.
Giramos nos calcanhares e rumamos
para sala de jantar. Nos sentamos e Annie toma
suco de laranja. Ficamos sozinhos.
— Quantas senhoras Kalais tem no
mundo?
— Pelo visto, várias. Já que estamos
aqui, melhor comer e depois caminhar como ela
disse.
— Deus me livre desobedecer. – Ela diz
num assustado.
— Depois vou trabalhar, marquei com
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meus irmãos, vai ficar bem?


— Vou.
Não vamos longe, logo o sol fica mesmo
forte e voltamos. Os Stefanos estão na sala, nos
reunimos na biblioteca. Simon se junta a nós via
internet. A reunião se estende muito além do
necessário, passa dá uma quando decidimos parar
para almoçar. Voltamos depois do almoço, temos
que colocar tudo em ordem antes do aniversário de
Lizzie, logo todo mundo vai estar envolvido em
preparar a festa e depois vamos cada um para sua
vida. A reunião e o trabalho leva a tarde toda. Já
anoitecia quando encerramos os trabalhos.
— Posso dar um recado para Annie? –
Simon pede.
— Pode. – Os dois se dão muito bem. –
Alguém pede para ela vir aqui? – Peço quando eles
deixavam a sala.
Logo Annie entra com seu celular na
mão e um sorriso, ela deixa o celular sobre a mesa
e olha para tela do computador.
— Gnomo, está com saudade?
— Nem um pouco, mas adivinha o que

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aconteceu?
— Você e a Sarah estão namorando?
— Ainda não, mas fomos jantar juntos
depois de te deixar no aeroporto, sabe quem chegou
no restaurante?
— Fala logo, Simon?
— Nosso quarterback e já pode me amar
eternamente, eu fiz o papel ridículo de ir até o carro
onde esqueceu a camiseta dos Jets e pedi um
autografo. – Ele mostra a camiseta. Annie fica
boquiaberta.
— Gnomo, vou te promover a elfo! – Ele
ri. O celular vibra anunciando uma mensagem, olho
por puro reflexo. Uma conversa com FZ. Quem é
esse? Leio a mensagem. “Volta logo, estou com
saudade. Quer perder seu lugar no meu coração? ”
Tudo me mim parece falhar, a cabeça para de
funcionar. ─ Obrigada Gnomo. Tchau. Convida a
Sarah para um cinema. Beijo.
Simon desliga a conexão, Annie me olha
sorrindo, não consigo devolver o sorriso, não
consigo pensar em nada além da mensagem.
— Vamos? – Ela me pergunta.

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— Tenho que trabalhar, fiquei muito


tempo sem fazer nada de útil, depois a gente se
fala.
— Está tudo bem?
— Se puder me deixar trabalhar, fecha a
porta quando sair, está muito barulho. – Finjo olhar
meus papeis, mas não vejo nada além da
mensagem, quero pensar sobre isso. Não posso
acreditar que ela está se envolvendo com alguém,
ela não faria isso. Claro que não. A porta bate.
Não consigo sair dali. Olho para meu
celular, minha cabeça girando, penso na biblioteca
sendo invadida por meus irmãos todos querendo
saber o que está acontecendo e decido sair para
uma volta.

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Capítulo 17
Nick

A noite está quente, não demora e estou


no cais, me sento olhando o mar, minha cabeça
num turbilhão de pensamentos confusos. Era uma
mensagem bem clara, ao mesmo tempo é Annie, a
garota que amo de muitos modos desde sempre.
Temos uma longa história juntos, ela não
é esse tipo de garota, claro que não se envolveria
com um estranho e comigo ao mesmo tempo.
Pensar isso é até grosseiro. Mais do que isso,
parece até um pouco injusto.
Annie deve ter amigos, nunca me falou
sobre nenhum em especial, mas isso não quer dizer
que não tenha. Sentir ciúme é perturbador. Odeio
perder o controle, não suporto não saber onde estou
pisando.
Não posso negar que tenho medo de
perde-la, não tem muitas garotas como ela pelo
mundo, ela é única e tão especial que qualquer um
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iria quere-la, eu queria muito antes de saber que era


minha gatinha.
Amo Annie, amo e pronto, mas talvez
meus irmãos tenham alguma razão sobre esse
negócio de casar. Não que a gente precise disso,
mas não podemos seguir assim, deixar tudo em
suspenso e viver o hoje. Eu não sei viver assim,
preciso de certezas, talvez ela precise.
E se for mesmo alguém? Se Annie
encontrou outra pessoa? Poderia acontecer. Não é
porque eu a amo com tudo que tenho que ela
precisa sentir o mesmo.
Isso é confuso e um tanto assustador.
Não tratei ela bem, fui grosseiro e injusto
provavelmente. Ela deve estar triste, talvez brava.
Não queria estragar nada, não sabia que era assim.
Que tinha todo esse medo de perde-la, eu nem sabia
que podia sentir essas coisas.
Não quero ser como Heitor, mas também
acho que não consigo ser como Leon, eu sinto
ciúme e isso é bem confuso. Já senti uma vez
quando ela estava indo para um jogo dos Jets e criei
um mundo de coisas na cabeça. Estou
simplesmente fazendo o mesmo agora.
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Sou um homem racional, não posso me


deixar levar desse jeito, eu podia ter perguntado.
Por que não fiz isso? Que medo absurdo esse de
ouvir a verdade? Em minha defesa, só posso dizer
que ela já sentiu ciúme uma vez, nem tínhamos
nada e ela teve ciúme de um telefonema.
Sorrio com a lembrança, gostei daquilo,
me fez bem, mas ela não me maltratou por isso. Eu
praticamente a expulsei da biblioteca, sai sem
avisar e para piorar deixei o celular sobre a mesa.
Estava tão atordoado. Devia usar relógio como o
Ulisses, não tenho ideia de que horas são.
Decido me acalmar um pouco, focar no
que importa e voltar para casa. Posso me desculpar,
foi melhor sair que criar uma briga, talvez dizer
coisas que machucaria os dois e só nos afastaria
mais.
Quando me sinto mais calmo eu me
coloco de pé. Deve ser tarde, faz muito tempo que
saí, mas foi bom ficar um pouco sozinho. Não acho
que Annie está me traindo e no fim ainda me dei
conta que merecemos uma direção mais firme.
Não precisamos casar como minha
família quer, mas quero que ela saiba que para mim
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é para sempre. Respiro fundo buscando coragem,


tem uma pequena parte de mim que ainda pensa
naquela mensagem como um perigo.
A casa está bem tranquila quando chego,
silenciosa. Será que demorei tanto assim?
— Finalmente. – A voz de Leon soa
assustadora, meu coração quase para.
— Que susto. Cadê todo mundo? – Ele
parece tão sério. Da uma sensação estranha vê-lo
assim.
— É bem tarde Nick, todo mundo já se
recolheu. Fiquei te esperando.
— Ficou? – Não sei bem o que dizer
então me calo encarando meus pés um tanto
perdido.
— Acha estranho? – Ele é irônico, Leon
nunca é irônico. – Sumiu, não olhou as mensagens
que Annie te mandou, as ligações que eu fiz.
— Eu esqueci o celular.
— Bem conveniente.
— É sério. Eu vou... – Aponto a escada.
— Não. Vai ouvir primeiro. – Obedeço.
Não me sinto nada a vontade com isso. Não gosto
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do modo como me olha, vivi uma vida de esforço


para nunca receber dele esse olhar. – O que foi
isso?
— Ciúme. – Não tem porque mentir.
— E aí maltrata a garota e some? Que
bonito. Está se saindo muito bem.
— Eu não a maltratei. Só quis ficar
sozinho e pensar um pouco, estou aqui, vou me
desculpar com ela. – Me explico.
— A fez chorar. É estranho, porque
quando chegou aqui apresentando sua namorada,
quando a recebeu bem eu fiquei pensando que com
você seria diferente. Sempre foi um cara que
aprende só de olhar, é muito mais inteligente que
todos nós e então eu pensei que tinha aprendido
com nossos erros.
— Não pretendia...
— Eu também não, mas todos os dias eu
me arrependo do que fiz Lissa sofrer. Sabe que fiz,
me alertou junto com os outros, magoei Lissa de
tantos modos que ainda hoje todas as manhãs eu
abro os olhos e não sei o que a faz ainda estar do
meu lado. Me desculpo todos os dias sendo o
melhor que posso para ela e meus filhos, mas não
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esqueço o que fiz.


— Eu sei, ela superou. Tenho certeza,
Lissa ama você.
— Sei disso, Nick, não estamos falando
sobre Lissa, estamos falando sobre Annie. Quer ser
moderno? Levar isso como um simples namoro?
Seja, mas isso não pode significar magoar sua
namorada toda vez que se sentir em risco.
— Acho que foi assim que me senti, em
risco e fiquei com medo e meio cego.
— Todo mundo acha estranho que eu
não tenha ciúme da Lissa, mas o fato é que eu dei
todos os motivos do mundo para ela me deixar e ela
ficou, eu confio nisso, não tenho dúvidas, por isso
não tenho ciúme.
— Já me arrependi, nunca mais vai se
repetir. Me desculpe.
— Foi grosseiro, largou Annie aqui
sozinha, com gente que ela conhece a meia dúzia
de dias, ela quis ir embora. – Meu coração dói um
pouco quando penso sobre isso. Quero correr para
me desculpar. – Lizzie a consolou.
Acho bonito ter sido Lizzie, eu podia até

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sorrir se Leon não estivesse tão bravo.


— Vou para meu quarto falar com ela.
— Se não tem intensão de trata-la bem,
não a traga mais. Deixou a garota se sentindo
assustada e nem sabia que ela podia ser assim.
Além disso, se acha que depois de tudo ela o
esperaria em sua cama está mesmo se dando muita
importância. Ela está no quarto de hóspedes. Lizzie
a fez dormir não tem meia hora.
— Dormir? Sozinha? Não, ela não pode,
eu prometi a ela. Disse que ela não dormiria
sozinha, que não... – É tarde, eu escuto seu pedido
de socorro ecoando pela casa.

Annie

— Cadê o Nick? – Lissa pergunta


quando deixo a biblioteca no começo da noite.
— Vai trabalhar mais um pouco. – Sinto
pelo modo como os irmãos se olham que não sou
só eu que notei algo errado, talvez não seja comigo.
Quem sabe não foi qualquer coisa na reunião? Me
sento na sala com a família.
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Todos são bem gentis, mas é estranho


ficar ali quando meu coração está tão apertado. Eles
conversam amenidades e encaro meu celular. Tem
uma mensagem do senhor Fernandez, ele me faz
sorrir. Respondo avisando que vou ficar até o fim
da semana, mando que tenha paciência. Sinto falta
deles todos.
— Tudo bem? – Lissa se senta ao meu
lado. Mostro a mensagem.
— Meu velhinho.
— FZ? – Ela sorri. – Quantos anos?
— O senhor Fernandez tem oitenta, está
muito bem para a idade, poderia viver sozinho, mas
acho que ele gosta de morar na associação. Quando
a neta se formar vão morar juntos.
— É bonito saber que eles têm você.
Está com saudades também?
— Sim. Foi bom eles terem surgido na
minha vida. – Tento esconder minha angustia, vez
por outra, meus olhos seguem para porta fechada da
biblioteca.
— Sabe como ele adora trabalhar. Daqui
a pouco ele está aqui.

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— Ele pareceu bravo. Será que é por


conta do autógrafo na camisa nova dele?
— Que bobagem. – Lissa ri com gosto. –
Claro que não.
Liv se aproxima, um nó começa a se
formar em minha garganta. Logo Sophia está
conosco, elas tentam conversar normalmente e não
consigo esconder minha angustia. “Príncipe, vai
demorar? ” Espero um longo momento sem
resposta, ele nunca me deixou sem resposta. Quero
chorar, mas fico tentando engolir o choro,
detestaria fazer cena na frente da família dele.
— Vou chamar o Nick e mandar servir o
jantar. – Lissa avisa ao ver meu ar tenso.
— Não fica preocupada Annie, ele só
deve ter lembrado de algo importante. – Sophia me
consola e afirmo. Lissa volta um tanto constrangida
uns minutos depois.
— Nick não está. – Um silencio recai
sobre todos.
— O caçula saiu pela varanda? Olhou na
piscina? – Ulisses pergunta.
— Dei uma geral na varanda, jardim e

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piscina. Nada dele.


— Ele deve... – Liv tenta achar uma
desculpa olhando para o marido. – Vamos jantando,
Nick deve ter ido dar uma volta.
— Se saiu sem avisar é porque não
demora. Vamos Annie? – Leon me convida. Engulo
em seco, o nó na garganta ganhando espaço, sinto
enjoo só de pensar em me sentar com eles para
comer.
— Obrigada, eu estou sem fome. Se
importam se comer qualquer coisa mais tarde?
— Tudo bem. Está em casa. – Lissa diz
num sorriso carinhoso. Eles se retiram. Acho que
só querem me deixar um pouco sozinha. Fico ali
querendo desesperadamente sumir. Busco na mente
qualquer coisa que possa ter dito ou feito e não
encontro nada.
Será que ele se cansou? Que ficou sem
coragem de me dizer isso? Talvez me unir a sua
família tenha sido muito e ele se deu conta que não
está mais interessado.
Ando pela casa e acho uma pequena sala
com vista para o mar, me sento ali olhando a noite
e tentando não chorar. “Onde está? O que eu fiz? ”
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De novo nenhuma resposta, ele não quer


falar comigo, suspiro secando a primeira lágrima.
Quero ir embora, me encolher no colo dos meus
velhinhos e chorar. Sinto falta deles e de Sarah,
sinto falta de Nick, ele cuida de mim e me dá força
quando estou triste.
Ariana entra na sala com chá e torradas.
Sorri gentil quando me vê, tento secar as lágrimas,
mas não acho que a iludi com isso.
— Chá e torradas, não pode ficar sem
comer.
— Ariana eu realmente não tenho fome.
— Não é para matar a fome, é só para
aquecer um pouco seu coração, esses Stefanos são
bem confusos as vezes. Já me acostumei a fazer
isso. Tome o chá. Ao menos isso, vou ficar aqui
plantada. Não pode mesmo ficar sem comer.
Ela coloca a bandeja na minha frente e
tomo uns goles do chá. Só para tranquiliza-la, não
sei de onde vem essa necessidade dela de me
manter alimentada, mas parece alguma síndrome.
— Ariana, acha que ainda tem balsa
hoje?

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— Balsa?
— É. Para Atenas. Quem sabe encontro
um voo para casa ainda hoje, ou o primeiro que
tiver amanhã? Posso esperar no aeroporto.
— Não tem mais hoje. Amanhã, se ainda
quiser partir, então o Cristus te leva ao aeroporto.
— Obrigada.
— Nick é um bom menino. – Ela me diz.
— O melhor, Ariana, não tem ninguém
como ele e quero que ele seja feliz, mais que tudo
na vida. Quem sabe ele não está só esperando eu
partir para voltar?
— Mas que dramalhão. – Ela seca
minhas lágrimas, não tem jeito, amo gente velha,
será que ela quer entrar para minha coleção de
velhinhos? ─ Nick é louco por você. Seja o que for,
já vai se resolver.
— Não sei não. Pode me conseguir um
quarto só para eu descansar um pouco? Não se
preocupa em arrumar nada, não vou dormir, só
descansar até amanhecer.
— Tem certeza?
— Tenho. Já me acostumei a ser
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deixada, todo mundo está sempre fazendo isso e


não quero ouvi-lo me pedir para dormir em outra
cama. Ele sumiu do nada, faz um tempão, só quero
ir embora e parar de incomodar todo mundo e criar
esse clima chato entre a família. – Desabafo sem
me importar que pareça drama.
— Vou cuidar disso, agora tome o chá,
já venho te buscar.
— Obrigada. – Fico sozinha e devolvo a
xicara na bandeja, não vou tomar o chá, não
consigo engolir nada, meu coração está se
esmagando de dor e tristeza. Me sinto tão mal que
só quero ir embora logo. Uns minutos depois os
Stefanos entram. Aquilo é muito constrangedor.
— Annie, Ariana disse que quer um
quarto, ela já providenciou, está se sentindo bem?
Parece pálida. ─ Leon é mesmo o chefe da família,
toma a frente prestativo.
— Estou bem. Eu vou me deitar um
pouco. Desculpem todo esse transtorno, não se
importem comigo eu estou bem, não... – Paro de
falar para não chorar na frente de todo mundo.
— Vá descansar. Vou esperar o Nick,
quero falar com ele. – Leon avisa a todos.
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— Posso ficar e assistir você finalmente


brigar com o caçula? – Ulisses pede.
— Não briga com ele. Nick... – Não sei o
que dizer.
— Ulisses, boa noite. – Leon diz e ele
faz careta. – Annie, eu só quero conversar um
pouco com o meu irmão, não se preocupe. Vá
descansar e amanhã se quiser mesmo ir como
Ariana avisou, eu mesmo vou leva-la.
— Boa noite. Obrigada. – Deixo a
salinha apressada.
Ariana me leva ao quarto, duas portas
depois do quarto de Nick. Agradeço e encosto a
porta, me encolho na cama, aproveito que estou
sozinha para chorar. Por que ele me trouxe se na
primeira chance faria algo assim?
A porta se abre lentamente e tento conter
as lágrimas. Lizzie sobe na cama e se deita perto de
mim. Me olha um momento.
— Meu tio é muito legal Annie, desculpa
ele.
— Não briguei com ele, Lizzie.
— A gente devia ter colocado isso de
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chorar no contrato, assim ninguém brigava.


— Devíamos. – Ela seca minhas
lágrimas.
— Vou ficar até você dormir. Amanhã
vou brigar com meu tio, ele não pode fazer
nenhuma de nós duas chorar. Vou mandar ele
colocar no contrato, nem que seja bem pequeninho
num cantinho.
— Não vou dormir, Lizzie, só ficar aqui
um pouco.
— Tá bom. Vou ficar também. Meu tio
vai ficar feliz que cuidei de você. – Ela é tão linda e
acho que mesmo sendo só uma menina, nesse
momento, é bom ter alguém por perto. – Fecha os
olhos e respira fundo. Daí melhora, minha mãe me
ensinou assim. Quer que leio um pouco para você?
— Não, mesmo assim, obrigada. – Tão
linda e carinhosa.
— Então fecha os olhos e relaxa que
daqui a pouco passa. – Gosto de vê-la se sentindo
adulta, me faz sentir ainda mais frágil, mas é bom
receber tanto carinho. ─ Vou segurar sua mão.
Fico controlando a vontade de chorar

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para não assustar Lizzie. Fecho os olhos e tento não


pensar em nada, sinto sua mão envolvendo a
minha. Aos poucos o cansaço me domina e então
me deixo relaxar.

Acordar de novo no abrigo me assusta.


Procuro por ele, mas Nick me deixou e não tem
ninguém preocupado com o que acontece. A porta
do quarto se abre e simplesmente sei o que vai
acontecer. Fico rezando para não ser a escolhida,
mas então uma mão toca em mim e faço o que ele
disse que devia fazer, eu luto. Grito e não me
rendo.
— Annie. Acorda! – A escuridão me
deixa e quando abro os olhos Nick está diante de
mim. Me encolho longe dele. Ele prometeu que não
faria isso, que não me deixaria sozinha.
— Quebrou sua promessa. Sabia o que ia
acontecer e me deixou. – Acuso no meio de uma
crise de choro. Parece que tudo está se quebrando
dentro de mim. As coisas todas de uma vida
ganhando força e voltando com tudo para me
dominar. ─ Por que me trouxe aqui? Me senti...
como sempre, não basta uma vida de humilhação?
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– Soluço, não consigo raciocinar, é só o passado se


confundindo com o presente. Meu coração se
rachando e uma dor que não consigo controlar.
— Desculpe, eu senti ciúme, vi uma
mensagem, pensei que tinha alguém. – Ele tenta se
aproximar, me encolho mais.
— Pensou que eu... Como pode pensar
isso? Não deixo ninguém... Só você. Sabe disso,
sabe o que acontecia lá. Você estava lá, cresceu no
inferno comigo e sabe as coisas que passei. – Meu
estômago se embrulha com tudo que minha mente
produz de memórias. Sinto um enjoo forte.
— Gatinha. Me desculpa. – Sinto sua
voz embargada, sei que ele sofre tanto quanto eu,
só não consigo parar tudo isso.
— Eu não queria. Eu lutei todas as vezes
como me mandou fazer, mas as vezes não era o
bastante e você não estava mais lá. Não tinha
ninguém lá. Só aqueles... Vou vomitar. – Corro
para o banheiro, o enjoo me domina, tento respirar,
não consigo vomitar, não quero. Me sento no chão,
ele molha uma toalha. Coloca em minha nuca e de
novo somos só nós dois no mundo, presos no
inferno.
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— Shiu está tudo bem, já vai passar,


respira, já vai passar.
— Não quero vomitar, não quero me
lembrar. Eu só quero porque que é você, nunca vou
deixar ninguém mais tocar em mim. Sabe que eu
não podia vencer? Entende isso?
— Eu sei. Não faz isso. Desculpa, não
faz isso. – Ele me abraça. Os dois chorando. Quero
mandar tudo de volta para aquele canto escuro, não
consigo mais. Está tudo exposto.
— Não sou culpada. Acredita? Não sou,
eu lutei.
— Eu sei. Eu estava lá. Cresci naquele
inferno. Como posso duvidar? – Me agarro a ele,
Nick é tudo que tenho, tudo que me importa. –
Desculpa, não devia ter nem mesmo me passado
uma bobagem dessas pela cabeça, sinto muito. É
minha gatinha, sempre foi, sempre vai ser. Amo
você. Sabe disso.
— Também amo você. Fica aqui
comigo, não consigo controlar, quero vomitar. Não
posso mais fazer isso. Me ajuda.
Ele me aperta em seus braços, choro de
um jeito que acho que nunca chorei, ele chora
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também e isso só me causa mais dor e angustia. A


porta está aberta e sei que todo mundo ouviu isso.
— Respira. Respira. Vai passar. – Fico
com o rosto em seu peito, os dois sentados no chão
do banheiro do quarto de hóspedes. Assustados
como as crianças perdidas que um dia fomos.
— Desculpe entrar. – É a voz suave e um
pouco triste de Lissa. – É um comprimido, vai tirar
o enjoo, é leve, não tem contraindicação, tomava
quando estava grávida. Tem um chá aqui também,
ela vai se sentir melhor.
Escuto a porta do quarto fechar um
pouco depois e só então ergo a cabeça.
— Toma gatinha. – Nick me dá o
comprimido, engulo o choro para conseguir tomar
o remédio. Depois ele me ajuda a voltar para cama.
– Consegue tomar uns golinhos do chá? Por favor,
só para acalmar um pouco.
Obedeço, só porque ver suas lágrimas se
misturarem as minhas me causam dor física. Tomo
uns goles entre soluços, ainda abraçada a ele. Me
sinto péssima, envergonhada por me dar conta que
todo mundo ouviu e assustada com tudo que disse e
revi. Coisas que não deixava surgirem há tanto
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tempo que se confundiam com ilusões e que, por


um tempo, eu cheguei a pensar que não tinham
passado de imaginação.
— Deita gatinha. Vamos ficar aqui
quietos, tudo isso acabou, nunca mais faço isso.
Nunca mais, é uma promessa. Não fico mais longe
de você. Prometo.
— Estou com medo de dormir.
— Não vou sair do seu lado. – Nos
deitamos abraçados. As lágrimas somem, as minhas
e as dele, o enjoo também, fica só aquele peso da
vergonha, a verdade viva e sem caber mais
escondida.
— Desculpa.
— Shiu. Não faz isso. Passou o enjoo? –
Afirmo. – Então vamos dormir um pouco. Amanhã
tudo vai parecer melhor.
Não vai, provavelmente vai parecer
muito pior, nada supera uma ressaca moral, mas se
ele está aqui, então não tem nada que não possa
vencer.

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Capitulo 18
Nick

Leon tinha razão, vou me arrepender


disso para sempre. Foi a pior noite de sono que ela
já teve, se mexendo, me procurando com medo de
estar sozinha. Não consegui dormir.
Sempre soube que acontecia, sabia e não
queria pensar, só afastei as coisas de minha cabeça
e da nossa história como se isso fosse o bastante.
Aconteceu com muitas meninas enquanto eu estava
lá, continuou acontecendo depois.
Tinha que ter tratado disso, ajudado ela,
tinha que ter mostrado que não estava sozinha nisso
tudo. Que pode vencer essa dor, que é inocente
como todas as meninas que acabaram como
brinquedo naquele inferno. Ela disse que não podia
falar e aceitei. Por que como eu não consigo falar
era natural e aceitável, mas não é.
Não posso e não quero mais esconder
tudo de todo mundo. Sou mais que um garotinho e
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não posso fazer Annie feliz se me comportar como


um. Tenho que dar um primeiro passo, começar de
algum lugar a superar o passado. Ser forte por nós
dois e deixa-la segura.
Annie seca lágrimas encolhida em meus
braços, sempre acorda tão feliz, me machuca que
acorde chorando.
— Não chora gatinha. Está tudo bem.
— Desculpa. – Ela pede caindo no
choro. – Quero ir embora, me põe num avião?
— Você não tem que se desculpar, eu é
que tenho, fui um ciumento bobo e quebrei minha
promessa, te deixei sozinha e te fiz chorar.
— A culpa é da Lizzie que me fez
dormir. – Sorrio. Beijo seus lábios. Abraço minha
gatinha, as lágrimas ainda correm por seu rosto. –
Estou com vergonha, eu fiz uma cena, não sei o que
aconteceu. Algo se rompeu dentro de mim. Não
queria te colocar nisso. Sua família ouvindo tudo.
— Não me colocou em nada, sabe disso,
já passou da hora de mudar tudo isso, de dar um
jeito de falar disso.
— Eu sei, mas não precisava ser assim.

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Não quero olhar para ninguém. Só quero ir embora


me esconder para sempre.
— Gatinha, você não pode fazer isso,
não pode me deixar aqui, temos que ficar para o
aniversário da Lizzie, minha família não vai nem
mesmo tocar no assunto com você.
— Eu sei que eles são educados demais
para isso, mas agora eles sabem.
— E você também sabe sobre eles. Que
meus irmãos cresceram nas ruas, passando frio e
fome. Que a Lissa era empregada do pai, que ele a
machucava e humilhava e agora está preso. Que a
Sophia foi vendida como prostituta e que foi assim
que ela conheceu o Ulisses, que ele seria seu
primeiro cliente. O que posso dizer é que a Liv é
uma vergonha para essa família. Não tenho nada
muito ruim para contar do passado dela.
— Ela tem sorte.
— Tem mesmo, pegou o Stefanos mais
certinho. Você ficou com o traumatizado. Asar seu,
não pode me deixar, não pode me acenar com a
ideia de voltarmos juntos num jatinho com cama e
depois ir embora na frente.
— Eles vão entender.
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— Vão, e se é o que quer, então vamos


para casa, eu converso com a Lizzie e voltamos
agora mesmo.
— Não. Lizzie não vai ter essa tristeza,
ela foi tão linda comigo. Não quero roubar você
dela.
— Amo você, lembra que eu disse? – Ela
sorri secando as lágrimas.
— Não lembro, melhor dizer mais uma
vez.
— Eu te amo. – Os olhos marejam mais
uma vez, beijo seus lábios.
— Também te amo, príncipe. Você sabe
disso, não é?
— Sei, e por isso que não vou te deixar
mais sozinha, já fiz tanta bobagem desde que te
achei que nem sei o que faz ainda comigo, mas já
que não desistiu de mim, então eu vou ter chance
de arrumar as coisas e não vou mais te deixar
sozinha.
— Eu fico, só me dá umas horas para
tudo isso passar? Não estou pronta para olhar para
eles.

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— Vamos tomar um banho e sair bem


discretos, vamos de balsa para Atenas, passamos o
dia lá, só nós dois, na volta tudo isso vai ter ficado
no passado e vou conversar com a minha família.
— Nem respondeu minhas mensagens. –
Os olhos ficam tristes.
— Não foi de propósito, eu saí atordoado
e esqueci o celular. Leon já brigou comigo por isso.
— Até isso eu provoquei. Sei o quanto a
opinião dele é importante para você e criei uma
briga.
— Briga? Está maluca? Não brigo com
eles, nunca brigamos, nós brincamos, cuidamos uns
dos outros, mas nunca brigamos, principalmente
com o Leon, ele tinha razão, ouvi tudo e me
desculpei. – Beijo seus lábios, está tão linda,
mesmo assim um tanto abatida. – Está mesmo
bem? Está abatida.
— Nada físico, só meio assustada. Essas
coisas todas ficaram tanto tempo escondidas, é
difícil, me sinto envergonhada, não sei, feliz que
está aqui e tudo está bem com a gente. A
mensagem era... – Tampo sua boca.
— Não precisa dizer, é sério. – Tiro
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minha mão de sua boca e ela sorria. – Não preciso


mesmo saber, eu sei que não é nada demais, juro
que quando voltei para casa já tinha entendido que
estava sendo ridículo.
— Fico feliz que entende isso, mas se
lesse uma mensagem como aquela no seu celular eu
não ficaria nada feliz. Provavelmente eu quebraria
o celular na sua cabeça ao invés de sair para pensar
no assunto, de todo modo, era o senhor Fernandez,
quero que saiba, só tenho você, Sarah, Simon e
meus velhinhos.
— Ficaria com ciúme e duvidaria de
mim? – Pergunto e ela afirma.
— Muito, mas iria perguntar, então
cuidado. Eu posso ser ciumenta, você é todo
magnata grego e príncipe e a mulherada quer
agarrar o milionário.
— Sou comprometido. Agora vem,
vamos tomar um banho e sair dessa casa. – Ela seca
o rosto ainda úmido de lágrimas que eu causei
porque sou um completo idiota.
Deixamos o quarto de hóspedes, depois
do banho fico olhando enquanto ela escova os
longos cabelos, escuto uma leve batida na porta,
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vejo como isso a assusta e sei que não precisa, que


ninguém está pensando nada ruim sobre ela.
Abro e Ariana tem uma bandeja na mão.
— Trouxe café para Annie, faça ela
comer tudo. Essa mocinha não come desde o
almoço de ontem. – Ariana olha para Annie que
larga a escova de cabelos e vai abraça-la. – Já
passou?
— Já passou tudo, estou bem. Obrigada
por tudo Ariana.
— Bobagem, agora se alimente. Nick
não deixe ela sair desse quarto sem comer. – Ariana
nos deixa. Coloco a bandeja na cama.
— Vem gatinha, tomar café.
— Podemos adotar a Ariana?
— Quer ter Lissa como amiga fique
longe dela, Ariana é o grande amor de Lissa. Já
chega aquele senhor Fernandez tentando destruir
nosso amor para pegar você para ele. Subestimei
meu adversário.
— Tadinho. – Ela se senta na cama,
começa a comer e fico feliz de vê-la se sentindo um
pouco melhor. Quando tinha essas crises na
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infância, no dia seguinte não conseguia comer a


comida ruim do abrigo e ficava o dia todo abatida.
– Come príncipe. – Ela me pede e pego uma fatia
de queijo, tomo uma xicara de café.
A porta se abre do nada e lá vem Lizzie.
Só ela mesmo para entrar sem bater, ela traz
consigo uma folha e duas canetas.
— Bom dia. Está bem, Annie? – Lizzie
pergunta subindo na cama e pegando um pedaço de
presunto.
— Estou. Obrigada por cuidar de mim
ontem.
— Falou para meu tio que cuidei de você
ontem? – Annie afirma. – Você demorou, tio?
— Não Lizzie, cheguei logo. – Ao
menos ela não deve ter ouvido nada, isso é bom.
— Pediu desculpas?
— Muitas vezes. – Aviso e Annie me
sorri. – Que é isso aí?
— O contrato tio, cadê o de vocês? –
Annie se dobra um pouco e pega as folhas ao lado
da cama. – Nós vamos colocar mais uma clausula
tio, aqui Annie, nesse cantinho acho que cabe.
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Lizzie estende uma caneta para Annie, as


duas se deitam lado a lado na cama.
— Vamos escrever igual nos três. O
Senhor Stefanos não pode fazer a gente chorar. O
que acha?
— Muito bom. – As duas escrevem a
mesma coisa nas três folhas, trocam um sorriso
quando acabam.
— Gostaria de informa-las que isso é
totalmente ilegal e que nenhum juiz aceitaria essa
clausula escrita à mão no fim da folha. – Não
consigo evitar, meu lado jurista fala mais alto e não
consigo tratar isso como uma brincadeira.
— Pretende nos levar aos tribunais,
senhor príncipe?
— Não. Só que eu sou o advogado de
Lizzie, meu trabalho é preveni-la.
— Podemos levar a Lizzie com a gente?
– Annie ignora meu aviso.
— Quer passear em Atenas Lizzie? –
Talvez seja boa ideia, Lizzie é sempre tão alegre,
vai afastar qualquer pensamento ruim de sua
cabeça.

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— Quero. Vou avisar minha mãe, já


venho. Não vão sem mim. – Lizzie corre porta a
fora e Annie me sorri.
— Vou respeitar esse contrato Annie,
isso é sério. – Ela me abraça. Ficamos um momento
juntos e silenciosos. Logo as imagens da noite
passada ganham minha mente mais uma vez. –
Desculpe.
— Não fica me pedindo desculpa, isso
traz memórias que me machucam de novo, acabou,
passou, não seria nada além de uma briga boba de
namorados não fosse nosso passado. É o que
vivemos antes que tornou a noite de ontem grande.
Não sua crise de ciúme.
— Tudo bem. Vamos passar por cima
disso. Fica um momento aqui. Eu vou avisar o
Leon que vamos sair.
— Se não quiser ir, se preferir conversar
com eles, eu posso...
— Não. Primeiro você, nós dois, vai ser
bom para ganhar coragem.
Ela me beija, deixo o quarto. A sala está
vazia, vejo as garotas Stefanos na beira da piscina
sob o guarda-sol conversando enquanto as crianças
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brincam. Eles devem estar na biblioteca, abro a


porta e os três ficam mudos no mesmo instante.
Não é nada fácil para mim, é como estar
despido. Não consigo esconder o quando me sinto
constrangido e meus olhos seguem para Leon, no
fim é sobre nós dois mais do que os outros.
— Eu... eu vou levar Annie para um
passeio em Atenas. Ela ainda não está muito
confortável, então... Sinto muito por tudo, quando
voltarmos eu procuro vocês.
— Não tem que falar se não quiser. –
Heitor diz mais sério que de costume.
— Eu preciso, mas agora... – Encaro a
maçaneta.
— Vai logo, caçula. Está tudo bem. –
Ulisses continua. Afirmo e saio fechando a porta.
Momento estranho esse, me senti como no primeiro
dia com eles, quando mau os conhecia.
Saímos sem encontrar ninguém, vamos
caminhando até o porto, Lizzie tagarelando sem
parar, ela decide contar sua história para Annie,
começa com a morte da mãe biológica e vai
contando tudo e parece muito tranquila em falar
sobre seu passado.
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A chegada do pai em sua vida, o acidente


e como começou a chama-lo de pai, o casamento,
os irmãos e o cachorro, as aulas de ballet, a escola,
Annie presta atenção e acho que não sobra tempo
para pensamentos ruins.
— Vou explicar todas as coisas sobre os
gregos. Já leu os Ilíadas?
— Não Lizzie, acho que ainda não tenho
idade. – Annie brinca e ela sorri. – Você já?
— Era meu livro preferido até meu tio
me mostrar o do Harry, agora é o segundo. Conta
toda história da guerra e tem heróis e deuses e
semideuses, meu preferido é Aquiles, ele morreu. –
Ela começa a contar sua visão de Ilíadas, então
chegamos a Atenas.
— Tio, minha mãe mandou você levar a
gente para comprar um vestido para meu
aniversário e um sapato, um para mim e um para
Annie. – Olho para Annie, não é seu passeio
favorito, mas acho que ela vai precisar de um
vestido apropriado para a festa.
— Salto alto? – Annie pergunta.
— É Annie, mas só você, eu ainda não
posso.
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— Fazemos isso antes de ir para casa. –


Prometo a elas, passamos a manhã visitando ruinas
e museus, Lizzie já fez esse passeio tantas vezes
que se comporta como guia turístico.
Eu e Annie vamos só caminhando de
mãos dadas, sorrindo e assistindo a falante Lizzie
caminhar na nossa frente. Ainda tem uma pequena
nuvem de tristeza em seus olhos, mas o sorriso já
brilha em seu rosto e me sinto melhor.
Almoçamos num restaurante a beira mar.
A comida é leve, natural e acho que vai fazer bem a
ela.
— Estão prontos para pedir a
sobremesa? – Um garçom nos pergunta.
— Duas fatias de torta de chocolate e
você gatinha? Já quer pedir?
— Esse pudim de leite é bom?
— Típico grego, Leon adora porque não
é muito doce, os gêmeos também.
— Parece tão bonito, quero um desses. ─
Annie adora o doce. Lambe a colher no final.
─Será que a senhora Kalais sabe fazer isso?
— Qualquer grega sabe.
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— Vou pedir a ela quando chegar.


— Eu te ensino Annie, minha mãe faz as
vezes em casa. Na minha casa todo mundo cozinha,
menos o Harry e a Emma, porque não tem ninguém
que cuida da casa como aqui, então tem dia que é
meu pai e tem dia que é minha mãe, e ajudo os
dois, aprendi a fazer muitas coisas, eu gosto.
— Então quando for nos visitar você
cozinha. – Annie brinca com Lizzie que se sente
orgulhosa com a tarefa.
— Pode ser.
— Prontas para vestidos e sapatos? –
Pergunto sabendo que só Lizzie vai gostar dessa
parte.
— Se não pode vence-los. – Annie me
sorri, beijo seus dedos. Ela se encosta em mim. ─
Não vai ser tão ruim.
— Acho que vai. Lizzie só tem duas
pessoas que gostem tanto de compras quando ela.
Ulisses e Sophia. Ano passado Liv mandou os dois
com ela, passaram horas num shopping.
— Então Liv só queria se livrar da
tarefa? – Annie me pergunta.

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— Exatamente. – Ela ri.


Demora realmente muito até Lizzie ficar
em dúvida sobre apenas dois. Resolvo o problema
comprando os dois, isso é algo que realmente não
gosto de fazer, compras são cansativas demais para
mim. A roupa de Annie eu não tenho ideia sobre o
que escolheu, sou proibido de ver e fico sentado
sozinho por uma longa hora.
— Pronto príncipe, agora é só ir lá pagar
e carregar. – As duas trocam um olhar.
— Achava que era vestido de noiva que
não podia ver.
— Vestido nenhum pode, só vai me ver
pronta.
Voltamos para casa no fim da tarde, não
tenho mais como fugir de uma conversa honesta.
Lizzie entra correndo na frente, Cristus nos recebe
e corre para pegar as sacolas, nem discuto mais
com ele. Apenas entrego e seguro Annie do lado de
fora.
— Consegue ficar comigo? É pedir
demais? – Pergunto a ela. Acho que sozinho eu não
consigo. – Se estiver por perto... Não precisa falar
nada, só ficar perto de mim.
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— Vou ficar do seu lado, vamos


enfrentar isso juntos. Não estamos indo para
disciplina afinal, não pode ser tão ruim.
Eu beijo seus lábios, um longo beijo que
me acalma e faz meu coração reagir acelerando
como sempre, me sinto mais forte quando nos
afastamos. A família se cala mais uma vez quando
entramos, não dura mais que uns segundos.
— Lizzie já passou contando das
compras. Amo vocês por isso. – Liv sorri. – Me
economizaram um dia de compras.
— Tudo bem. Eu precisava de um
vestido para a festa. – Annie diz um tanto sem
graça.
— Será que podemos ir para biblioteca?
Sem crianças, se for possível?
— Claro. – Lissa fica de pé. – Thaís,
pode cuidar de tudo? Sem interrupções?
— Posso, vou com eles todos para o
jardim. – Vamos todos para biblioteca. É melhor
dizer a todos de uma vez, não pretendo repetir a
conversa. Vou contar tudo, responder todas as
perguntas e enterrar o passado sem medo e para
sempre.
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Me sento e Annie fica ao meu lado. Os


casais se espalham pela sala, Leon se mantém de
pé, talvez seja mais difícil para ele que para os
outros.
— Você quer mesmo falar sobre isso,
Nick? Não precisa. – Heitor insiste, acho que ele
sabe o quanto isso me machuca.
— Ouviram coisas, então é melhor
entenderem de uma vez por todas. – Encaro Annie,
é mais fácil olhar para ela, sua mão se entrelaça a
minha, seus olhos firmes me incentivam. – Vou
contar e vocês escutam.
— Só o que for confortável, Nick. – Liv
se pronuncia.
— Não tem nada confortável, Liv.
Mesmo assim quero dizer. – Respiro fundo
encarando o chão. – Minhas primeiras memórias
são de um lugar cheio de crianças pequenas. Uma
mulher me dando um remédio ruim. Acho que eu
devo ter tido alguma doença infantil, não sei, não
sei quem cuidava de mim e das outras crianças, não
tenho imagens claras, é tudo nebuloso. Não era
bom, nem ruim, era só um lugar. Fiquei lá até os
sete anos.
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— Mudou de lugar? – Lissa pergunta.


Ainda não consigo olhar para ninguém, mas é bom
sentir a mão de Annie apertar a minha me dando
coragem.
— Não. É o mesmo abrigo, eles dividem,
um lado com crianças de zero a seis e o outro a
partir dos sete até sair. Me lembro de ser levado
pela mão, de andar pela rua através do quarteirão e
depois disso eu realmente me lembro de
absolutamente tudo.
— Onde pegamos você? – Ulisses
pergunta.
— Sim. Não precisou de mais que um
dia para saber como as coisas eram. Comida
escassa, ruim e mal-feita, brigas o tempo todo. As
crianças aprendiam que para não ser castigada valia
tudo, incluindo culpar inocentes. Violência gera
violência e as crianças podiam ser tão ruins quanto
os responsáveis pelo lugar. Tínhamos guardas,
supervisores, gente pronta para te ferir sem ao
menos saber porque. Meninos e meninas ficavam
juntos durante o dia e se separavam na hora de
dormir. – Cada palavra sai arranhada pelo nó na
garganta e feri, ao mesmo tempo liberta. – Éramos
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divididos em grupos, faxinávamos tudo, banheiros,


cozinha, quartos, tínhamos aulas uma parte do dia,
só o básico, nada muito útil.
Paro de falar um momento, não sei até
onde posso ir com isso, não gosto e isso devia
bastar, mas sei que preciso explicar tudo. Todos
imóveis e silenciosos.
— Tinha sempre alguém mancando,
ferido. O choro era nosso companheiro constante, o
tempo todo, dia e noite tinha alguém chorando. Não
suporto ouvir uma criança chorar, quero evitar isso
a todo custo, correr para longe.
— Isso explica muitas coisas. – Lissa diz
como se minhas palavras iluminassem minha
personalidade mostrando a eles quem eu sou.
— Acho que eu apanhava quase todo
dia, nunca sabia bem porque e eles podiam usar
quase tudo, eles tinham muitos métodos. A
agressão, física, psicológica era constante e nos
esmagava. – Engulo em seco, fazia tempo que não
mergulhava tão profundamente naquele lugar. –
Tinha... Tinha um lugar. Um porão escuro, úmido e
mofado, visitado por ratos, eles chamavam de
disciplina, nos atiravam lá e nos esqueciam por
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horas a fio, sem comida, água, ninguém saia igual


de lá.
— Annie viveu lá? – Sophia questiona,
Leon ainda não disse uma palavra, está de pé e
imóvel.
— Vivi. – Annie me interrompe quando
pretendia contar. – Cheguei com sete anos, Nick
tinha doze, minha mãe morreu, meu pai foi preso,
eu não tinha parentes e me jogaram no inferno.
Cheguei muito assustada. Nick cuidou de mim.
— Ela tinha olhos assustados, era
pequena, menor que todos, tremia tanto quando
chegou, tive pena, no segundo dia ela estava no
grupo da limpeza da cozinha comigo, quebrou algo.
Se lembra o que era gatinha?
— Não. Só me lembro de vidro a nossa
volta.
— Eu sabia que atirariam ela na
disciplina. Disse que fui eu. Fui parar na disciplina
no lugar dela. Annie ficou com pena de mim
porque me largaram lá para sempre. Ela pegou uma
garrafinha de água, um pedaço de pão, cuspiu num
dos vigias e foi atirada lá comigo. – Sorrimos um
para o outro, não é um sorriso feliz, é apenas mais
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uma demonstração de como nos importamos um


com o outro.
— Ficávamos juntos todo tempo que
dava, um cuidando do outro. – Ela conta com os
olhos cintilando pelas lágrimas.
— Uma garotinha muito corajosa. –
Heitor diz a ela, ergo meus olhos e encontro seus
olhos admirados.
— Disse que ele era meu príncipe, me
salvando da bruxa má, ele dizia que eu parecia uma
gatinha. Desde sempre nos chamamos assim, não é
apelido de namorados, era outro amor na época. –
Annie conta, beijo seus lábios, uma lagrima escorre
por seu rosto, ela não se importa em secar.
— Annie era o único carinho que eu
tinha, não sabia... não sei ainda abraçar, afagar, não
aprendi. Ficamos juntos por quatro anos, cuidando
um do outro do jeito que dava.
— Ao menos tinham um ao outro. –
Ulisses comenta.
— Um dia me mandaram recolher
minhas coisas, meus irmãos tinham vindo me
buscar e eu devia ir com eles. Não nos despedimos
direito, eu não tinha nem ideia do que estava
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acontecendo, não sabia nada sobre ter uma família.


— Foi um dia de festa para nós. – Leon
fala pela primeira vez. Não consigo olhar para ele.
— Achava que nada tinha mudado, que
era só gente diferente para me maltratar, assim que
chegamos e eu não entendia uma palavra do que
diziam, me decidi a fugir. Tinha muito medo de
vocês. Leon me deu o quarto dele e foi dividir um
quarto com o Heitor. Nem acreditei que tinha um
quarto, tratei de conferir se tinha chave. Comi
pouco por medo. A cama estava limpa, era boa e
decidi dormir uma noite e fugir no dia seguinte.
Pensei nela quando tudo ficou silencioso e ninguém
gritava de medo. Pensei o que estava acontecendo
com Annie.
— Nenhum de nós pensou muito.
Estávamos felizes demais para analisar qualquer
coisa.
— Sei disso, Heitor. No dia seguinte,
Ulisses me levou para comprar roupas, comemos
num restaurante, andamos pelo shopping, no fim da
tarde Leon foi nos encontrar e me levou ao cinema,
foi a primeira vez que fui ao cinema.
— Não sabia. – Olho para Leon, sua
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tristeza dói em mim.


— Não contei, não podia saber. Ouvi o
Heitor falar em inglês no telefone e foi quando
começamos a nos comunicar, eu estava achando
que vinham de marte. Não tinha nada de familiar
no grego para mim.
— Três paspalhos. – Ulisses diz
encostado em Sophia. Annie passa o braço pelo
meu e se encosta em meu ombro. Ganho mais força
para continuar.
— Adorei tudo aquilo. Achei que podia
esperar mais um dia para fugir, depois todo dia eu
inventava uma nova desculpa. Varri a casa em
busca de onde afinal ficava o buraco da disciplina.
Estava sempre com medo, esperando o momento
que me dariam uma boa surra, mas só tinha um
monte de cuidados que não sabia lidar. Uma
semana depois eu tinha professores de todos os
tipos, fazia natação, aprendia o grego, estudava o
dia todo, nos fins de semana um de vocês sempre
davam um jeito de me levar para um passeio. –
Minha voz embarga e é difícil não chorar. – Não
queria mais fugir e isso era ainda pior, porque
passei a ter medo de ser mandado embora, fiquei
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assombrosamente metódico, tudo sempre no lugar,


falando baixo, viciado em horários, preocupado
com cada detalhe, com medo de errar e ser
demitido do cargo de irmão mais novo.
— Como não vi tudo isso acontecendo?
– Leon se culpa, sinto a angustia em sua voz. – Eu
tinha que ter notado.
— Sou bom em guardar segredos. Não
podiam saber o que se passava dentro de mim.
— Vocês três eram jovens demais para
saber, cresceram sozinhos também. Não tinham
experiência. – Lissa segura a mão de Leon, tenta
acalma-lo.
— Eu não falava, mas sentia falta de
vocês. Quando viajavam eu ficava com saudade.
Quando Heitor se mudou para Inglaterra fiquei
muito triste, ele ligava todo dia para falar comigo e
eu avisava...
— O Ulisses e o Leon não estão. –
Heitor completa a memória.
— Ele dizia, eu sei, só queria saber se
está tudo bem com você. Aquilo era estranho
demais. Chegou a época de decidir meu futuro, eu
só pensava em ser advogado, ficar muito rico e
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importante e fechar aquele lugar. Pensava na minha


gatinha lá, nas coisas que passava e jurava que
cuidaria de tudo. Acho que me esqueci que ela
cresceria.
— Ficou até quando, Annie? – Lissa
pergunta.
— Dezoito. Não tinha ninguém me
procurando.
— Leon queria que eu conhecesse o
mundo antes de tomar a decisão mais importante da
minha vida. Se lembra que me levou numa ópera? –
Sorrio para ele. Leon sorri de volta.
— Mas também te levei num show de
rock e numa corrida de Fórmula 1.
— Queria ver se o bebê do Leon tivesse
decidido ser piloto. – Ulisses brinca quebrando um
pouco o clima pesado.
— Foi no último dia de viagem que
entendi que nunca me mandariam embora.
Estávamos num restaurante na Itália, comemos
numas mesinhas do lado de fora, antes de ir embora
eu fui ao banheiro, na volta, estava como sempre,
apressado, com medo do Leon ter que me esperar
muito, esbarrei numa moça. Uns caras que estavam
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com ela vieram para cima, um deles me deu um


soco e bom, eu cresci no inferno e o garoto do
abrigo que sabia se defender tomou conta de mim,
revidei com tudo que tinha. Leon entrou na briga e
pensei que era o fim, ele me largaria ali para
sempre e acabou. Leon nem mesmo perguntou
quem tinha começado, ficou do meu lado e apenas
isso. Me defendeu e entendi que nunca me
mandariam embora.
— Nunca Nick, é nosso irmão, não se
lembra, mas nunca esquecemos de você. – O tom
de Leon é determinado.
— Eu lembro quando começou a andar.
– Heitor me conta. – O Ulisses já era idiota nessa
época, ele estava com você. Então te soltou e você
caminhou para o Leon.
— Então podemos dizer que eu te
ensinei a andar! – Ulisses brinca. – Correu para o
Leon como sempre. Ele era seu preferido.
Me forço a ficar de pé, encaro Leon,
ainda tem coisas travadas em mim, ainda tem
coisas que precisam ser ditas.
— Eu sei. É... Eu... Leon é o pai que
conheço.
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Leon me abraça, é bom ter contado, é


bom abraçar meu irmão sem nada entre nós. Sem a
angustia e o peso dos segredos, das coisas não
ditas. É bom não ter que tomar conta do que vou
dizer, do que vou demonstrar. Choramos os dois.
Não quero que eles carregam qualquer culpa.
— Ah! Que lindo. Vamos Heitor.
Abraço em grupo! – Ulisses nos abraça. Ele
consegue deixar as coisas leves e lá estamos os
quatro abraçados, rindo um pouco e chorando
também.
Volto para perto da minha gatinha
secando as lágrimas, mais leve, eu a envolvo em
meus braços. Leon se senta com Lissa, ela o abraça
carinhosa.
— Aquele lugar ainda existe? – Leon
pergunta.
— Fui para faculdade, me formei e assim
que saí cuidei de tudo. Procurei o senador Collins e
pedi sigilo, mudamos tudo, todos foram demitidos,
alguns processados. Eu sustento o lugar, os jovens
saem de lá e vão para faculdade, alguns tem
empregos nas nossas empresas, eles não sabem que
sou eu que cuido de tudo.
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— Vamos ajudar de agora em diante.


Pode contar com a gente.
— Obrigado. Ajuda nunca é demais. –
Ficamos todos em silencio. – Eu só quero que não
se sintam culpados por nada disso. Me salvaram de
todos os modos, eu sei que ainda tem coisas que
querem saber, conversar, mas acho que preciso de
um tempinho.
— Claro. Isso é muito para todos nós.
Vão descansar. – Leon diz firme e fico de pé
trazendo Annie comigo. Acho que agora só quero
mesmo ter Annie em meus braços. Um tempo para
digerir isso com o apoio dela.

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Capítulo 19
Leon

Quando Nick deixa a biblioteca ao lado


de Annie, um silencio assombroso recai sobre todos
nós, sinto a mão carinhosa de Lissa apertar a
minha, mas fico um longo momento em calado
digerindo aquela história tenebrosa de solidão e
medo.
Me sinto cego e idiota, com muito
talento para ganhar dinheiro e zero capacidade de
compreender o ser humano e suas particularidades,
achei mesmo que tinha cuidado dele.
Como se alimentar, vestir e pagar
alguém para educar fosse o bastante e agora que
tenho filhos, eu sei que isso é a menor parte.
— Desculpe não ter te dado ouvidos Liv,
mais de uma vez tentou me alertar. – Heitor diz
abraçado a esposa. Olhamos todos para ele. – Toda
vez que Nick tinha esse comportamento arredio e
distante, Liv me dizia que isso talvez fosse algo
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escondido, algo não tão simples ou bom. Nunca


liguei muito, nunca me preocupei. Achei que o
conhecia.
— Nenhum de nós o conhecia. – Ulisses
diz tão abatido quanto nós e Ulisses nunca se abate.
— Tudo sempre tão escondido e agora
tão claro. – Eu penso em todas as coisas que não
faziam sentido. – Essa coisa com crianças. A gente
sempre brincando com isso, deixando ele
angustiado sem saber que fazíamos isso.
— O vicio no trabalho, nunca descansar.
– Ulisses lembra. – Ele quer ser aceito.
— Ele diz que sabe que não vamos
deixa-lo, mas não é verdade, ainda tem medo.
Medo de nos decepcionar, talvez eu tenha sido
muito duro com ele ontem.
— Não pense assim, Leon, o fato dele ter
um passado complicado não diminui seu erro de
ontem, de todo modo ele consertou. ─ Sophia
comenta encostada em Ulisses. – Ela ajuda ele a
superar.
— E ele a ajuda. – Lissa continua. – São
dois meninos, parecem duas crianças. Essa noite,
quando entrei naquele banheiro, tive vontade de
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pega-los no colo e dizer que tudo ficaria bem, como


faço com as crianças. – A voz embarga, foi um
momento difícil para todos naquele corredor,
ouvindo confissões que nunca sonhamos e sem
poder fazer nada para ajudar. – Já quero chorar de
novo só de lembrar. – Foi uma das piores noites
que tivemos, Lissa chorando, eu me sentindo um
tanto idiota e culpado. Mal dormimos.
— O que vamos fazer? – Sophia
questiona.
— Acho que a Annie... As coisas que
aconteceram com ela. – Liv seca as lágrimas. ─
Não consigo pensar nisso sem imaginar minhas
filhas, eu... ela precisa de nós.
— Os dois precisam. – Eu continuo. –
Não podemos ignorar isso.
Eu não posso, tenho que ficar mais
atento a ele.
— Desculpem, mas não vou mudar meu
jeito de lidar com o Nick. – Ulisses se pronuncia. –
Acho que ele não quer isso. Ele fez o que tinha que
fazer. Dividiu conosco, compreendemos quem ele
é. Agora cabe a nós ajuda-lo a esquecer e mudar
nosso tratamento só vai deixar claro o tempo todo
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que aquilo está lá.


— Acho que ele tem mesmo que
esquecer. – Heitor continua. – Depois de ontem, eu
acho que ele nem precisava ter dito, entendemos
absolutamente tudo com aquela crise que tiveram.
— Pode ser. Eu sei que sempre olhei
para ele como quase um menino, acontece que
agora sinto isso mais forte ainda, por mim ele nem
voltava para Nova York, ficava aqui onde posso
ficar de olho.
Todos me olham, sou meio protetor com
todos eles, com toda família, mas Nick e Lissa são
sem dúvida, meu ponto fraco.
— Olha lá o papai Leon. – Ulisses
brinca. – Só porque ele disse que era pai dele não
precisa ir lá trocar fraldas, deixa ele viver. Nick é o
cara mais responsável do planeta.
— Eu não estou dizendo que vou fazer
isso, só estou dizendo que gostaria de fazer.
— Que bom, porque ele tem vinte e sete
anos, não dezesseis.
— Eu sei, e sei que quando tinha
dezesseis não cuidei dele direito.

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— Amor, está transferindo para si uma


culpa que não tem, não foi sob seus cuidados que
Nick foi maltratado, foi antes de você. Acho que
ele tentou deixar isso bem claro. – Lissa me diz e
sei que está certa.
— Nós vamos agir como sempre agimos,
vamos lidar com ele como sempre foi. – Liv
comunica e é bom ouvir alguém sensato e que não
está tão envolvido como nós. – Vamos ficar de
olho, os dois precisam de cuidados, mas acho que
juntos eles vão aprendendo a lidar com isso. Nick
sabe que a família está aqui, ele vai pedir socorro
quando precisar.
— Nick pedir socorro? – Heitor nega
com a cabeça. – Ele não faz isso.
— Vai aprender. Está aprendendo, acho
que isso que fez aqui foi bem corajoso. – Lissa
comenta e sorrio, foi muito corajoso, difícil, mas
ele fez, se abriu e contou tudo.
— Só sei que ele sentia saudade do
Heitor, acha que o Leon é pai dele e eu nada! –
Ulisses resmunga. – Vou querer saber disso mais a
fundo.
— Como você é ridículo, vocês se
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implicam dia e noite, se veem todo dia, moram


perto, ele escolheu Nova York, ainda tem dúvidas?
— Gosto de confirmações, e ele não
escolheu Nova York por minha causa, escolheu por
causa da Annie, e porque ele se sente americano.
— Acha isso? – Heitor pergunta.
— Acho. Um pouco por nossa culpa, tem
uma parte das nossas vidas que ele não viveu, não
estava lá, quando a gente conta essas histórias ele
só escuta meio a parte, agora faz sentido aquele
olhar meio perdido. – Ulisses tem razão sobre isso.
— Estou mais tranquilo agora. Um
pouco culpado ainda, mas agora podemos entende-
lo e vamos ajudar. – Se analisar bem, estou melhor
que ontem quando tudo me deixou chocado e sem
direção.
— Acho que a gente devia falar com a
Annie. – Lissa avisa. – Só nós, mulheres. Só dizer
que é bem-vinda, que gostamos dela. Que o
passado não importa.
— Vamos fazer isso. – Liv concorda. –
Ela é mesmo muito bem-vinda. Acho lindo os dois
juntos.

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— E são loucos um pelo outro. Nick é


derretido por ela. É lindo de ver. – Sophia
completa.
— É um amor puro. – Lissa me sorri.
— Está dizendo que meu amor não é
puro? – Ulisses pergunta, depois olha para Sophia.
Sorri. – Certo, não é assim puro.
Acabamos rindo. É bom ser Ulisses a
viver perto de Nick. Acho que eu ficaria mesmo um
tanto protetor demais, meio obsessivo e isso
estragaria tudo.
— Vamos deixar eles mais um
pouquinho quietos e depois chamamos para jantar.
— Enquanto isso, Lissa vamos atrás da
Thaís? A coitada está se matando sozinha com as
crianças. – Liv fica de pé. Eu duvido, essa é a hora
que Ariana larga tudo e vai mimar os netos. Cristus
também.
Lissa me beija, trocamos um olhar
carinhoso. É bom ter alguém como ela, Lissa está
do meu lado para o que for preciso.
— Pode ir Afrodite, estou bem. Amo
você.

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— Também te amo.
Ficamos só nós, os irmãos, Ulisses já
parece de novo tranquilo, eu e Heitor nem tanto,
não levamos a vida como Ulisses, para nós as
coisas são bem maiores.
— Cerveja para relaxar? – Ulisses
convida, é boa ideia.
— Vai ser bom, vamos tomar uma
cerveja na varanda, depois jantamos. Se o Nick não
quiser descer a Ariana leva o jantar deles.
— Para de mimar o Nick! – Ulisses
reclama quando deixávamos a biblioteca.
— Está com ciúme? – Heitor provoca.
— Claro, como vou ser o irmão
preferido se o Leon fica só agradando ele? Heitor
eu sou seu preferido?
— Sempre! – Heitor responde tranquilo.
É mais fácil que dizer que gosta de todos igual.
— E você, Leon? Nick não conta, agora
é papai Leon.
— Meu irmão preferido é você, Ulisses,
você é o preferido de toda a família.
— Vai magoar o Heitor dizendo isso na
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frente dele.
— Eu entendo. – Nos sentamos cada um
com uma cerveja gelada, é bom, vencemos muito
para esse momento, hoje vencemos mais uma
etapa.

Annie

Meu príncipe foi muito corajoso lá em


baixo, mas agora precisa mesmo é de carinho.
— Obrigado por ter ficado lá em baixo
comigo, não teria conseguido sem você.
— Teria sim. É um príncipe muito
corajoso, mas sempre cuida de mim, queria fazer o
mesmo. Agora vem deitar aqui comigo. Vou ficar
abraçando você como faz comigo quando estou
triste.
— Então vem. – Ele me convida já
deitado, eu me aconchego em seus braços, enrolo
minhas pernas com as dele e ficamos nos olhando
bem pertinho. Nick me beija. – Está bem?
— Sim. Muito, vou cuidar de você,
assim que parar de pensar naquele pudim do
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almoço. Achei tão bom, devia ter comido mais um


pedaço.
— Está pensando no pudim? – Ele ri de
mim.
— Não é estranho? Nem gosto de doces.
Será que a Mira sabe fazer?
— Amanhã pedimos a ela.
— Combinado. Está melhor? – Faço
carinho em seu rosto, Nick sorri.
— Me sinto mais leve agora. Livre. –
Abraço mais Nick, quero protege-lo da dor. –
Quero saber de você. Como você se sente sobre
isso? Está pronta para eles? Para conviver com eles
de novo?
— Não estou mais com vergonha. Você
tem razão, não tenho do que me vergonhar, só que
não quero falar disso. – Não posso nem pensar em
descrever as coisas que passei, não acho que isso
possa ajudar em nada. – Nunca.
— Não precisamos falar, só precisamos
lidar com isso. – Ele me abraça mais, me sinto
cansada. – Gosto quando se enrola em mim feito
uma gatinha.

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— Hoje eu estou mesmo uma gatinha. A


Annie está meio ocupada se preparando para aquela
festa.
— Amo a gatinha.
— Não fica gastando eu te amo, um dia
vai precisar de um e vai ter usado tudo. – Nick ri
com gosto, morde meu lábio. – É sério príncipe,
temos que deixar o eu te amo para os grandes
momentos.
— E o que usamos para momentos como
esse?
— Gatinha está bom. Já sei que é como
eu te amo, economiza.
— Como quiser. Gatinha.
— Depois da festa vamos embora?
— Sim. Vai voltar para seus velhinhos.
Está com saudade deles?
— Estou, mas também gosto daqui.
Gosto da sua família, eles amam muito você. São
tão carinhosos comigo, todos eles, e até que tem
uns velhinhos aqui.
— Fica chamando a Ariana de velhinha e
vai ver o que ela faz.
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— Me mata de tanto comer, a mulher


tem uma cisma com comida. Ela fica enfiando
comida em todo mundo?
— Não. Acho que não. Talvez a Lissa e
os gêmeos, acho que ela pensa que você ainda pode
crescer.
— Besta. Tenho um metro e sessenta e
cinco.
— Inventa uma altura nova toda hora.
— Faço mesmo isso. – Eu admito. -
Vamos descer para jantar?
— Temos que ir. – Ele diz beijando meu
pescoço, meu corpo reage. – Ou vão ficar achando
que estou mal, e estou me sentindo bem. Muito
bem. – Suas mãos entram por dentro da minha
blusa e estremeço, fujo dele empurrando sua mão. –
Fugindo? – Ele sorri, simplesmente amo seu
sorriso, ainda mais quando as mãos teimosas
voltam a percorrer minha pele por debaixo da
roupa.
— Não. – Tiro de novo, é a última vez
que tento ser forte. – Já vamos descer para jantar,
quer que todo mundo saiba que estávamos aqui
fazendo umas coisinhas? – Os olhos dele brilham
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divertidos.
— Acha que fica escrito na testa?
— Na minha fica. Nem vem, depois do
jantar e com a porta trancada. Você tem uma
visitinha que não bate.
— Lizzie, eu sei, mas é só aqui que ela
entra sem bater. Ela acha que como sou eu, tudo
bem. Acho que Lizzie me vê como criança.
— Ela é bonitinha demais, me sinto bem
com ela, não fico com medo de me apegar e sei lá,
saber que tem coisas ruins a sua espera, ela tem
tanta gente a sua volta, cuidando e se preocupando
que não tem como dar errado.
— Ela tem mesmo muito carinho.
— Talvez seu irmão Heitor esteja certo.
Já que eles têm uma família. Por que não ter uma
bem grande, para crescerem juntos, cuidando uns
dos outros?
— Pode ser. Sobre nós, eu não estou
pronto Annie, entende isso? Filhos, não posso.
— Nem eu. Acho que não sei lidar com
esse sentimento, morreria de medo, prefiro que
continue como está. E tem seus sobrinhos, podemos
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estar por perto, isso deve ser o bastante.


— Vamos tomar banho e descer para
jantar?
— Um de cada vez que.
— Para de ser chata. Vem. – Eu o sigo,
eu sabia que não resistiria muito de qualquer modo.
Quando descemos para jantar os irmãos já nos
esperam à mesa, as crianças já se recolheram.
— Mandei fazer uma comida leve, já que
hoje o jantar saiu mais tarde. – Ariana comunica.
— Ariana, acha que a Mira sabe fazer
aquele pudim grego? Como se chama Nick?
— Já sei o que quer, é um pudim feito
com iogurte. Mira vai fazer, devia ter dito que
gosta, já teria mandado fazer. – Ariana se
prontifica.
— Nem sabia que gostava, comi hoje.
Adorei.
— Bom jantar. – Ariana nos deixa,
vamos nos servindo e conversando, o clima leve,
nada mais está entre nós e acho isso muito bom.
— Amanhã começamos cedo os
preparativos. – Lissa avisa e olho para eles.
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— Não vem um monte de gente de


alguma empresa arrumar tudo? – Pergunto achando
estranho.
— Claro que não. Acha que elas
abririam mão de fazer os quatro homens da família
trabalharem o dia todo?
— Para de reclamar Ulisses é divertido.
– Sophia reclama com o marido. – Vai ajudar
Annie, nessa família é assim.
— Não se preocupa gatinha, o trabalho
delas é basicamente dar ordens. Vai aprender
rápido.
— Vou gostar de ajudar.
— O homem da piscina de bolinhas e do
escorredor vem instalar cedo, só vamos decorar.
— Adultos podem ir na piscina de
bolinhas? – Pergunto interessada.
— Adultos de menos de um metro e
meio podem. – Ulisses brinca comigo.
— Tenho um metro e sessenta e três.
Não se atreva. – Ameaço Nick que me abraça
carinhoso, beija meu pescoço, voltamos a comer.
— Falei com a senhora Kalais, Nick, ela
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deve demorar mais umas semanas, a irmã dela não


está nada bem. – Lissa avisa.
— Que pena, acho que vou ver se ela
precisa de alguma coisa antes de voltar para casa.
— Eu ligo toda semana, Cristus vai de
vez em quando também. Ariana fala com ela todos
os dias, estamos de olho.
— Obrigado, Lissa.
— Vocês ficam bem sem ninguém lá? –
Leon pergunta.
— Sim. Annie faz bagunça e eu recolho,
é bem simples.
— Você que tem problema com
arrumação, nada mais justo que arrumar. Eu estou
sempre ocupada queimando a comida, sua camisa
preferida, essas coisas importantes.
Os jantares com a família dele são
sempre longos, todo mundo lembrando de histórias
e rindo, os irmãos se provocam e competem e me
distrai e diverte de um jeito que nunca achei que
poderia ser no meio de tanta gente rica.
Me lembro das coisas que Ted me disse
e ele não poderia estar mais errado, mas é a visão
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de uma pessoa de fora, é o que pensamos quando


olhamos para gente tão rica quanto eles.
— Por hoje chega não é mesmo? Hora
de todo mundo dormir, amanhã o dia será longo. –
Leon afasta a cadeira.
— Antes queremos ver seu vestido
Annie. Lizzie disse que compraram.
Lissa pede e acho que não tem problema,
sorrio animada com a ideia.
— Espera aqui, príncipe, não pode ver.
— Eu sei, já disse isso mil vezes. – Ele
resmunga num divertido mal humor que me faz
sorrir e beija-lo antes de subir com as senhoras
Stefanos. Entramos no quarto, as três se olham
sorrindo.
— Meu Deus, ele ama você. – Lissa diz
olhando minha mala aberta no chão com roupas
dentro e fora. ─ Ele não reclama da bagunça?
— Tenho audição seletiva. – Brinco
arrancando risos delas todas.
— Por que não guardou suas roupas no
closet?
— Achei bobagem colocar tudo para uns
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dias e depois ter trabalho para tirar tudo de novo.


— Devia guardar e deixar, como todo
mundo, ninguém faz mala para vir para cá, todos
tem seu espaço aqui.
Lissa comunica e até chegar e passar por
todas essas coisas eu não tinha nenhuma certeza
sobre voltar.
— Menos eu. – Liv avisa. – Eu levo
mala até para ir ao super mercado.
— Porque é maluca. Harry mal tinha
deixado as fraldas e já veio a Emma. – Sophia
brinca. – Vamos Annie, cadê esse vestido?
Ela me pergunta enquanto vasculho a
sacola no fundo do closet, puxo e as duas sacolas
vem junto. Tiro o par de sapatos de salto bem alto e
fino.
— Saltos sexys. – Brinco mostrando a
ela. – E vestido também.
— Nossa! Que lindo, vai matar o Nick. –
Sophia sorri olhando as costas nuas do modelo.
— Essa é a ideia, ele só me vê assim,
jeans e camiseta. Lizzie estava comigo, ela disse
que tudo bem, fiquei com medo de ser muito para
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uma festa infantil.


— Minha filha sabe tudo sobre tudo. –
Liv diz orgulhosa. – Está perfeito, sempre nos
arrumamos um pouquinho, é sempre meio que duas
festas. Uma para as crianças no jardim e uma para
nós do lado de dentro.
— Vai ficar linda e vamos nos arrumar
juntas no meu quarto, isso é outra tradição. – Lissa
me comunica, sorrio grata por me incluírem. Não
sei bem se me encaixo nessa coisa de mulheres se
arrumando e trocando figurinhas sobre a vida e
seus homens, mas posso tentar.
— Annie, você é bem-vinda. – Liv
segura minha mão. – Por que faz bem ao Nick e
porque é especial, gostamos muito de você.
— É, vocês dois são um casal agora e
você é família. Essa é sua casa também. – Lissa
continua e agradeço muda. ─ É a casa dos Stefanos.
— Não vamos casar! – Aviso a elas. –
Nada de vestido e entrar em igreja com todo mundo
olhando para mim.
— Estou achando que Nick te doutrinou
desde a infância, fala como ele. – Sophia brinca. –
Duvido que não vão, aposto que logo vamos ter
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mais um casamento.
— É sério. – Aviso e elas se olham.
— Com papel ou sem papel é uma
Stefanos e por isso essa casa é sua. Sobre casar
estamos falando do homem dos contratos. Acha
mesmo que ele não vai acabar te fazendo assinar
um? – Lissa diz enquanto elas caminham para
porta, aceno meio sem fala. Casar? Eu e ele? Não
que tenha dúvidas, mas não precisa disso, será que
eu iria gostar? Nick entra no quarto e esqueço isso.
— Pronto? Posso ficar? – Ele pergunta e
sorrio. Nick se senta na cama me olhando daquele
jeito que faz meu coração pular. – Vai ficar aí?
Longe de mim?
— É que temos um problema para
resolver antes, Nick.
— Um problema? – Ele sorri, estica a
mão para me alcançar, mas me afasto.
— Sim. Talvez algo que só o Senhor
Stefanos possa resolver.
— Que tipo de problema?
— Uma camiseta autografada.
— Ah! Entendo, prossiga. – Seus olhos
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cruzam os meus e ele sabe ser sexy quando quer.


Meu corpo arrepia.
— Teoricamente, a camiseta é sua.
— Teoricamente? Diria que mais do que
isso, tenho uma nota fiscal comprovando a compra.
— Nossa, está calor não acha, Senhor
Stefanos? – Tiro a blusa, Nick ergue uma
sobrancelha.
— Um calor súbito, eu diria. – Meus
dedos tocam o botão do short.
— Já o autografo, ele está bastante claro,
para Annie com carinho. O que torna isso um
grande problema, é a sua camiseta e o meu
autografo. Quem fica com ela agora?
— Bom isso é um problema sério,
poderia acabar num litigio.
— Seria uma pena, não acha? – O short
desce lento por minhas pernas, eu o empurro para
longe. – Acho que poderia me presentear com a
camiseta, eu ficaria grata.
— Assim? Só dar a camiseta, sem
nenhuma remuneração, vantagem? Não sei, não
gosto de sair perdendo.
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— É como eu disse, senhor Stefanos, eu


seria muito grata. – Desabotoo o sutiã, ele me olha
um momento. ─ Você sabe como sei agradecer.
— Tenho algumas boas lembranças. – O
sutiã voa para ele que ri atirando para o lado, muito
mais interessado em mim de pé apenas de calcinha
diante dele. – Podemos, quem sabe, entrar num
acordo.
— Agora começa a falar minha língua.
Continue. Esse calor só aumenta. – Eu digo
prendendo os cabelos num coque e deixando meu
corpo a mostra.
— Guarda compartilhada interessa?
— Nós dois dividindo a camiseta dos
Jets? – Nick afirma, sem fala eu caminho para ele.
– Sempre soube que era um grande negociador.
Nick me puxa para ele, me deita
enquanto rio, então está sobre mim, os olhos
grudam nos meus.
— Me deixa maluco as vezes.
— Só as vezes? – Pergunto puxando sua
camiseta. Ele me ajuda a tira-la, toco sua pele.
— Sempre. – É o homem que amo, por
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isso posso ser livre e entregue, ao menos com ele


eu posso, seus lábios cobrem os meus e nada mais
importa.

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Capitulo 20
Nick

Acordo antes que Annie, fico


observando seu rosto suave de traços delicados, os
cabelos dourados espalhados pela cama, as pernas
ainda enroladas as minhas, é um anjo, ao menos
lembra um, não entendo como alguém pode de
algum modo pensar em feri-la.
Mas Annie é mais do que apenas um
rosto delicado num belo corpo, é também uma
mulher incrível, sabe ser suave e sabe ser voraz.
Sorrio quando penso na garota corajosa que mora
dentro dela e que adora brincar de me seduzir como
se precisasse mais do que sua existência para isso.
Bastava que olhasse para mim e já me
teria em suas mãos, mas ela sempre vai além e me
surpreende, tem essa capacidade absurda de se
refazer, de se reerguer e enfrentar a vida. Annie não
se esconde, não como eu.
Talvez ela nem entenda o quanto me
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ensina, incentiva e me dá coragem, sem ela eu


morreria na solidão dos meus segredos. Agora não
tem mais nada guardado, nada que não possa dizer.
Estou de cara limpa e posso só seguir em frente.
Ela se move, abre os olhos e eles brilham
risonhos, ainda tem esse acordar contente que
ilumina meu dia.
— Bom dia, príncipe.
— Bom dia.
— Estava me olhando dormir? – Afirmo,
ela se move para deitar em meus braços, suspira se
aconchegando. – Está sol?
— É Kirus, sempre está sol, eu acho, não
me lembro de outro clima.
— Deve ser meio tedioso não ter que
pensar sobre o tempo. Todo dia igual. Perfeito, mas
igual.
— Acho que sim. Está pronta para o
trabalho?
— Estou. Melhor a gente descer, não
quero ser a preguiçosa que fica dormindo até tarde
enquanto todos trabalham.
— Não, esse é o Ulisses. – Brinco com
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ela.
— Acho que vamos deixar a corrida para
quando chegarmos em casa. – Ela se afasta
sentando. – De todo modo a Ariana fica implicando
comigo. Nessa casa ninguém se exercita?
— Sim, do jeito deles, fazem tudo a pé e
correm atrás de crianças.
— E sexo né? Lissa tem uma carinha de
feliz que diz tudo.
— Não quero falar disso, são minhas
cunhadas! – Eu reclamo e ela ri.
— Um príncipe certinho que arrumou
uma namorada toda torta. – Ela diz nua remexendo
suas roupas. – Vem tomar banho comigo?
— Meus irmãos ficam falando que
vamos acabar casando. – Comento deixando a
cama.
— Eu sei, suas cunhadas também. Tenho
até medo de um dia desses a sobremesa ser um
padre.
— Se eu pedisse, diria não? – Pergunto
abrindo o chuveiro.
— Devia ter uma banheira aqui, adoro
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nós dois na banheira e economiza água. – Ela diz


colocando a mão na água. – Está muito quente. –
Abro mais a torneira. – Perfeito. Sobre pedir, acho
que não precisamos disso. De todo mundo nos
olhando numa igreja, mas acho que diria sim.
Sempre digo sim. Para você, é claro.
— Então se eu pedisse, diria sim?
— Diria, mas não vai pedir, pelo menos
não agora. Não quero pensar nisso assim, nem
quero contar para as pessoas que me pediu no meio
do banho.
— Só estou investigando. Também acho
que não precisa, mas você sabe que é para sempre?
Me empresta o shampoo. – Ela me passa o vidro,
deixo espaço para ela, paro de esfregar o cabelo e
olho para Annie, rimos os dois.
— Isso não está nada romântico, não é?
Devíamos estar numa dessas paisagens lindas, com
champanhe, não no chuveiro trocando shampoo. É
a Grécia, Nick.
— Vamos mudar de assunto.
— Eu vou ficar bem sexy de salto. – Ela
se aproxima, me enlaça o pescoço e fica na ponta
dos pés. – Mais ou menos dessa altura. Vai ficar
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muito apaixonado.
— Vou ficar? Já estou. – Annie faz
aquele olhar sexy e beijo seus lábios com a água
sobre nós. Um longo beijo, depois nos separamos. –
Chega, o chuveiro está ligado.
— Nossa não aguento isso. Tem gente
que fica horas no banho, as meninas que eu morava
me chamavam de fiscal do chuveiro. Por isso que
gosto da banheira, a gente pode gastar horas lá e
nada de pensar em salvar o planeta.
— E dá para limpar o chocolate que
restou bem lentamente. – Ela me olha de modo
intenso com a lembrança. – Aquilo é de longe meu
melhor momento na vida.
— O problema é que nunca vou saber se
fui eu ou o chocolate. – Annie brinca se enrolando
na toalha.
— Que tal a mistura perfeita?
— Posso me contentar com isso. – Olho
para ela enrolada na toalha, linda, os cabelos
úmidos, a pele clara, tão íntimos, de um modo tão
natural como nunca foi com ninguém. Como
sempre foi com ela.

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— Acho que eu é que não posso me


contentar com um beijo apenas. – Ela me olha nos
olhos, morde o lábio, e apenas deixa a toalha cair,
me faz rir ao mesmo tempo que brinca com meu
desejo. – Tem que parar de me seduzir assim, o
tempo todo.
— É minha natureza, não consigo evitar.
– Brinca me lembrando Ulisses e a história de ser
charmoso. Os dois tem isso em comum, um jeito de
levar a vida que os torna mais preparados para os
dramas e problemas, mas ela também tem seu lado
frágil e dependente, o tempo todo é perfeita para
mim. Minha toalha também fica pelo caminho entre
onde eu estava e os braços dela.
Quando finalmente descemos, a família
já está reunida em torno da mesa do café, no centro
da mesa o pudim que Annie falou.
— Pudim no café da manhã? – Pergunto
me sentando com Annie ao meu lado.
— Todo mundo se perguntou a mesma
coisa, mas Ariana disse que Annie queria e eu
começo a sentir um pouco de ciúme, um ciúme
nada saudável, eu diria. – Lissa brinca, Annie
lambe os lábios e se serve de pudim, todos olhamos
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para ela.
— Eu sei que é esquisito, mas ele está
aqui e eu também, então... prometo tomar um copo
de suco depois e comer... e mais nada.
A arrumação começa como toda vez, nós
homens recebendo ordens, montar mesas e
cadeiras, afastar móveis, ir e vir com caixas e
outras coisas, as horas vão passando. No meio da
tarde já quero que a festa acabe e ela nem começou.
— Nick, você devia tirar sua namorada
daquela cama elástica. – Ariana pede e ergo meu
olhar em busca de Annie, ela está com Lizzie
pulando na cama elástica, sorrio. Não tivemos
infância, brincar assim despreocupados, foi algo
que nunca nos aconteceu, as coisas eram tão
difíceis que nem mesmo sonhamos com isso.
— Deixa ela pular mais um pouco
Ariana, é seguro.
— Eu vou lá. Ela pode testar a piscina de
bolinhas se quiser. – Ariana me ignora, olho em
volta em busca de alguém para parar Ariana, mas
estão todos ocupados com algo. Ariana fala com
elas, aponta a piscina de bolinhas, Annie e Lizzie
trocam um olhar ofendido, mas deixam o
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brinquedo, seguem para o grande escorregador


inflável, descem de mãos dadas, só então
mergulham na piscina de bolinhas.
— Acho tão bom que Lizzie tenha uma
amiguinha. – Heitor brinca parando ao meu lado,
pisco voltando a realidade. – Achei que teríamos
um grande drama de ciúme possessivo e no fim elas
se entenderam muito bem.
— Confesso que tive um pouco de medo,
Annie, assim como eu, não costuma se entender
muito com crianças, mas Lizzie é sempre muito
esperta, ela sabe nos enrolar.
— Lizzie ama você, amaria qualquer um
que fizesse o tio Nick feliz e que não atrapalhasse
as viagens de vocês.
— Nunca deixaria ninguém entre nós. –
Lizzie é de algum modo a criança feliz que eu não
fui. Logo as duas se separam, Lizzie vem em minha
direção Annie se junta as outras senhoras Stefanos.
— Aí tio a Annie é muito legal, você não
vai desmanchar o namoro nunca? Promete?
— Prometo! – Digo rindo. Parece que
estou prestes a perder meu lugar de favorito.

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— Não é melhor assinar um contrato?


— Até você garotinha? Vamos ver.
Quem sabe eu assino um contrato.
— Assim é melhor e ninguém vai
embora e ela fica com a gente para sempre. Pai a
gente precisa ir lá naquela loja comprar vestes para
ela. Assim que chegar em casa.
— Como quiser, princesa. – Heitor faz
carinho em seu rosto, olha para a filha com aquele
ar de devoção que ele tem para sua família. Liv e os
filhos ocupam todo espaço em sua vida, é para eles
cada segundo de sua existência e agora é tão mais
fácil de compreender isso.
— Acabamos meninos, todos livres para
o banho e se arrumar, temos uma hora antes dos
convidados começarem a chegar. – Lissa comunica
com o rosto corado.
— Está tudo lindo e Lizzie está
encantada. – Liv avisa, realmente está colorido e
enfeitado. As crianças vão adorar os brinquedos, os
doces e tudo parece perfeito.
Annie se aproxima me envolvendo a
cintura. O rosto está cheio de vida, ela tem um
largo sorriso que não a deixa um só minuto desde
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que o dia amanheceu.


— Adorei ajudar, você viu que testei
todos os brinquedos? Eu fiz esse sacrifício para o
caso de ter algum perigo, está tudo em perfeito
estado.
— Eu vi, testou todos. Você é mesmo
muito prestativa. – Beijo seus lábios.
— Gostei mais da cama elástica, mas a
Ariana disse que não era para eu ficar pulando feito
uma maluca que não podia me machucar e sei lá,
me mandou para piscina de bolinhas.
Ariana está mesmo cheia de cuidados
com Annie, como só fica com Lissa. No fundo eu
gosto. Annie não tem ninguém além de mim, talvez
Sarah agora que ficaram amigas, mas uma figura
mais velha que cuida é novo para ela e sei que está
gostando disso.
— Provavelmente ela está certa. Vamos
nos arrumar?
— Príncipe eu prometi que me arrumava
com as garotas, mas a gente pode tomar banho e
depois encontro com elas.
Ela se despede de mim vestindo um

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roupão e com uma sacola na mão. Termino de me


arrumar, passo por Liv correndo de roupão.
— Muitos filhos para arrumar, sempre
me atraso. – Encontro meus irmãos na sala recendo
alguns convidados, me junto a eles.
— Liv acaba de passar por mim, nem
começou a se arrumar. – Heitor sorri com Emma no
colo.
— Três filhos. – Ele beija a pequena
Emma. Toco os cabelos castanhos da garotinha
risonha em seus braços. Ela sorri. – Harry está com
a Thaís e os gêmeos.
— E Lizzie, onde está a aniversariante? –
Pergunto e ele olha em volta.
— Deve estar se exibindo por aí. Está se
achando linda.
— Que bom, foi difícil tira-la da loja.
— Posso imaginar.
— Toda vez sou expulso do quarto e
tenho que me arrumar no quarto das crianças. –
Leon reclama se aproximando com Ulisses. –
Devia fazer um quarto só para elas se vestirem.
— E o projeto da casa de hóspedes? –
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Heitor pergunta.
— O engenheiro e Lissa estão
conversando, está quase pronto, as obras devem
começar no próximo mês. – Leon comunica. – Será
um caos isso aqui. Por isso quero tudo bem
definido, quando a empreiteira chegar, não quero
atrasos.
— Nem vai ter Leon, eles não atrasariam
a obra do patrão, nem vamos ter problemas com
orçamento também. – Ulisses comenta.
— Por mim não precisava fazer, eu
posso ficar no hotel se o problema for espaço. Não
me importo. – Aviso e recebo três pares de olhos
firmes.
— Cala a boca, Nick! – Ulisses reclama.
— Desculpem. Não falei por mal, só
disse que eu e Annie podíamos dormir no hotel
quando viéssemos. – Penso nas surpresas de Annie
e o hotel nem seria má ideia. A ideia me faz
lembrar da volta para casa amanhã, da cama no
jatinho, o sorriso se amplia.
— Do que está rindo? – Ulisses
pergunta.

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— Nada demais. – Volto a realidade.


— Estava pensando em alguma coisa,
conta para gente. – Heitor pede.
— Não era nada gente, bobagem.
— Nunca divide nada conosco. – Leon
reclama e respiro fundo. Os três ficaram carentes e
sensíveis depois que contei meu passado.
— Eu... eu estava pensando na volta. –
Aquilo é constrangedor, não sei porque eles têm
que saber de tudo agora. – É que a Annie... ela me
lembrou que o jatinho... – Olho em volta, detestaria
que mais alguém ouvisse isso. – Lembrou que o
jatinho tem cama e a viagem é longa. – Digo de
uma vez.
— Uou! – Ulisses me olha chocado. –
Espera um momento. Por que diabos eu e Sophia
nunca pensamos nisso? – Ele olha para os irmãos,
Heitor e Leon negam em silencio, todos os olhos se
voltam para mim.
— Ela é esperta. – Dou de ombros.
— Nunca pensei nisso. De qualquer
modo, sempre tem mais crianças do que tempo em
minhas viagens. – Heitor comenta. Leon suspira.

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— Eu também nunca pensei nisso. Uma


pena. – Ele diz um tanto decepcionado.
— Vocês dois tudo bem, mas eu? –
Ulisses se martiriza. – Isso é culpa da Sophi, ela
senta, prende o cinto e dorme a viagem toda. Fico
lá abandonado enquanto ela baba por horas,
consegue me ignorar mais que o Nick.
— Eu sou um cara de sorte. – Digo um
tanto orgulhoso.
— Quem diria, esses dois com carinha
de crianças. Eu aqui pensando num amor puro e
inocente, pensando em dar umas dicas. – Ulisses
comenta.
— Não é necessário.
— Parece que não. Quer dizer que além
de linda, a namorada é observadora?
— Digamos que sim.
— Já que está se abrindo, que história foi
aquela de chocolate e espuma?
— Ulisses isso não é dá sua conta.
— Você é egoísta. Estamos aqui
dispostos a aprender umas coisinhas com o caçula e
esconde o jogo. Que custa contar? Estamos entre
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irmãos.
— E sobrinha. Olha a Emma aqui.
— Ela não vai contar. Vai bonitinha? –
Leon brinca com o bebê. – Viu? Emma sabe
guardar segredo.
Encaro meus irmãos, depois a escada.
Por que demoram tanto para se arrumar? Que horas
que elas vêm me salvar desse constrangimento?
— Esqueçam! Ele ainda não confia na
gente o bastante. – Ulisses apela e encaro Leon, não
é verdade, mas ele sabe como fazer uma cena.
— Você parece uma garota carente. –
Reclamo antes de mais um olhar para escada. – São
duas coisas diferentes. Uma vez ela me esperou na
banheira, embrulha em espuma e... e... outras
vezes... Bom ela... Eu adoro chocolate, todo mundo
sabe, então ela me espera com uma panela de
chocolate derretido. – Eles têm as sobrancelhas
erguidas e os queixos caídos. Até que gosto de me
exibir um pouco. Sorrio para suas caras perplexas.
– Só a panela com chocolate, se é que me
entendem.
— Ok! Vou ter uma longa conversa com
Sophia. – Ulisses brinca.
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— Vocês não têm... sei lá, brincadeiras?


– Pergunto a eles.
— Não. Eu e Sophia normalmente temos
pressa. – Ulisses comenta nos fazendo rir.
— Eu e Lissa somos românticos, mas
temos nossos momentos, nossa praia e o iate. –
Leon conta, os olhos de todos recaem sobre Heitor.
— Eu e Liv temos filhos. – Ele beija a
filha no topo da cabeça, depois sorri. – Nos damos
bem, temos nossas longas noites juntos, nos
conhecemos e estamos muito bem, obrigado.
A conversa se perde quando ela surge na
ponta da escada, agora sou eu a ficar
completamente perplexo. Ela é linda, gosto do short
e da camiseta, dos pés descalços e os cabelos soltos
espalhados pelo rosto delicado.
Mas agora ela está deslumbrante. O
vestido curto, salto alto, cabelos presos numa trança
elegante. Fico encarando aquela figura que desce os
degraus decidida e de olhos presos aos meus. É a
minha mulher, meu coração salta como se fosse
mesmo um menino, abro e fecho a boca sem
conseguir nem mesmo me mover.
No fim da escada ela caminha para mim,
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seguro sua mão e ela dá uma volta em si mesma. O


vestido é preto, sexy e com as costas nuas, eu
adoraria dizer qualquer coisa, mas acontece que
essa garota me faz perder a fala.
— O que achou? – Ela se encosta em
mim, toco as costas nuas. Envolvo Annie. Meus
lábios se aproximam do ouvido.
— Deslumbrante. – Sussurro em seu
ouvido.
— E alta. – Ela brinca erguendo um pé
para trás.
— Lindos saltos, mas ainda quero minha
gatinha de pés descalços.
— Vai tê-la de volta. Pode apostar. –
Nossos olhos se encontram, beijo de leve seus
lábios, sinto o sabor do batom claro. – Mas não
pude deixar de pensar que até que pode ser
divertido.
— Acha? – Ela pisca de modo sensual,
me puxa para mais perto, agora é sua vez de colar
seus lábios em meu ouvido.
— Eu, você e esses saltos. Só esses
saltos.

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— Como pode dizer algo assim, sabendo


que ainda temos que enfrentar horas de festa? –
Digo beijando seu pescoço e sentindo seu perfume
inebriante. Nem me dou conta que estamos
dançando.
— Quer fugir?
— Proposta tentadora. – A pele quente,
os lábios doces, como posso ter vivido tanto tempo
sem ela? Como minha gatinha pode ter se tornado
essa linda e perfeita mulher?
— Vocês sabem que estão em público,
né? – Ulisses surge ao nosso lado dançando com
Sophia. Me afasto um pouco mais de Annie, sou eu
mesmo a perder a cabeça no meio de uma festa? –
E sabe que vou dançar com sua garota?
— Não mesmo! – Digo rindo e me
afastando com Annie sem parar de dançar.
— Ei, dançou com a minha, se lembra?
— Como se fosse hoje. Não tenho culpa
de você não ser assim, um cara esperto.
Ainda dançando com Annie me misturo
aos outros casais me afastando de Ulisses.
— Me protege príncipe. Só quero dançar
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com você! – Annie me diz e beijo seus lábios. Era


para ser um leve beijo, mas está difícil manter a
compostura. É um longo beijo, esquecemos de tudo
a nossa volta. – Retira o que eu disse príncipe, é
melhor eu não dançar com você.
— Quem manda ficar toda linda assim?
A culpa é sua. Não estou conseguindo pensar
direito.
— Então vamos tomar um ar e achar a
Lizzie.
— Boa ideia.
Andamos a festa toda, Lizzie está
assistindo à apresentação de um mágico com as
outras crianças, o magico a convida para ajuda-lo,
ela vai para junto dele solícita. Acena quando nos
vê de mãos dadas.
Busco com os olhos o resto dos
sobrinhos, encontro Alana e Luka sentados lado a
lado, os dois são inseparáveis, Emma ainda deve
estar no colo do pai, falta Harry, tão pequeno no
meio desse monte de crianças, eu o encontro com
Thaís, pronto, estão todos bem. Para que tantos? E
agora ainda tem Ulisses prestes a ter filhos.
Ulisses e Sophia, como vou ter paz com
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aqueles dois malucos colocando uma criança no


mundo? Harry me vê, solta de Thais, ela o
acompanha com os olhos, fica tranquila quando ele
se aproxima de mim erguendo os braços.
— Quero a mamãe. – Ele me pede com
sono, os olhos vermelhos. Troco um olhar com
Annie antes de pega-lo no colo. ─ Me leva, tio. –
Ele choraminga.
— Tadinho. Vamos leva-lo com a Liv. –
Annie acaricia os cabelos de Harry. – Você leva,
estou de salto.
— Boa desculpa. – Brinco segurando sua
mão enquanto uso a outra para manter Harry em
meu colo. – Não precisa chorar. Já vamos achar a
mamãe.

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Capitulo 21
Annie

Nick caminha com Harry no colo


enquanto vamos em busca de Liv, ela está de pé no
meio da sala com Emma nos braços conversando
com um casal de meia idade. Quando nos vê, pede
licença e vem a nosso encontro.
— O que tem meu pequeno? – Harry
oferece os braços manhoso, ela é o centro de tudo
para ele. Seu norte, sua segurança, estar com ela é
estar protegido, é poderoso e assustador só de
olhar.
O poder e a responsabilidade de uma
mãe, aquela pequena e indefesa vida
completamente sob seu domínio.
— Segura a Emma só um minutinho
Annie, o Heitor foi buscar algo para bebermos. –
Pego Emma no colo, não sou avessa a crianças,
pelo contrário, elas me encantam absurdamente,
tanto que me assusta, me sinto responsável por
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todas elas e isso dá medo, mas essas são bem-


criadas e amadas, posso gostar delas sem medo e
beijo a cabeça de Emma quando a seguro de um
jeito meio torto, depois a arrumo mais enquanto
Nick entrega Harry para a mãe, ele se gruda em seu
pescoço, se arruma relaxado e confiante. Não
precisa de mais nada. – Pronto meu bebê. Está com
sono?
— Está manhoso. – Nick conta a ela,
depois me olha com Emma no colo.
— Ela gostou de você. – Liv me diz e
sorrio para a garotinha de vestido rosa e fraldas em
meu colo. A mãozinha de pequenos dedos e o
sorriso desdentado me encantam e ao mesmo tempo
assusta. – Ele caindo de sono e ela toda elétrica.
Acho que já vou mandar servir o bolo, assim os
dois vão para cama.
— Espera acabar o show de mágica. –
Nick avisa. – Lizzie está se divertindo.
— Esse advogado que Lizzie arrumou,
cuida realmente de seus interesses. – Liv brinca.
— O tempo todo. – Concordo com ela.
Heitor se aproxima, estende um copo com suco
gelado para Liv.
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— Quer um, Annie? Não sabia que


estavam aqui.
— Não obrigada, Heitor. – Ele sorri,
Nick conversava com um homem ao lado e Emma
encara o pai. – Acho que ela quer você.
Definitivamente eu tenho medo de
crianças. Aquilo não é só visível como bastante
ridículo.
— Vem com o papai, bonequinha. –
Heitor pega a filha. – Vão partir mesmo amanhã?
— Sim. O Nick tem que trabalhar e eu
quero ver meus velhinhos. Falei com eles por
telefone de manhã, estão bem, mas Ava, a mais
idosa, está bem cansada e tenho medo de algo
acontecer a ela e eu não estar perto.
— O que faz é muito bonito, Annie. –
Liv sorri. ― Admirável, esse desprendimento, eu
teria medo. Me apegar tanto de depois correr o
risco de perder.
— Eu sei que pode e vai acontecer, mas
acho que se posso dar algum conforto nesse final de
vida então é importante. Abandono em qualquer
idade é doloroso.

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— Sim. As pessoas não olham muito


para o idoso. – Heitor comenta. – Ajudamos um
asilo em Londres. Tenho pensado em começar a
levar as crianças para passar um tempo com eles.
— Faça isso. – Me animo. – Meus
velhinhos amam as crianças da associação, e é tão
bom que as crianças possam conviver com eles, um
dia vão cuidar de pais, avós.
— Já estão falando dos velhinhos? – A
mão de Nick toca minhas costas quando se junta a
nós mais uma vez.
— Sim. Eu estava dizendo que quero
levar as crianças para passar um tempo com uns
idosos de um asilo perto de casa. É correto dizer
asilo? – Heitor se pergunta com uma ruga na testa.
— Se está ajudando não importa muito
como chama. – Aviso e Nick me sorri. Ele se
orgulha de mim, eu sinto pelo modo como me olha,
isso me deixa feliz. Não tenho muitos talentos, ao
menos isso, eu sei que ele gosta em mim.
— Acha que o Dobby seria bem-vindo?
– Heitor questiona. Liv revira os olhos.
— Achamos que estávamos dando um
cachorro para as crianças, mas no fim o cachorro é
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do Heitor. Nunca vi coisa igual.


— Eu adoraria ter um cachorrinho. Ele
poderia fazer companhia aos idosos, mas um
pequeno, não esse monstrinho que vocês têm. – Os
dois olham para Nick.
— Agora a culpa é minha? – Ele se
defende.
— Você que deu o cachorro, príncipe?
— Não. Eles que escolheram.
— Queríamos um cachorrinho porque
Lizzie não parava de pedir. Assinamos um dos mil
contratos que o tio Nick providenciou. Ele teve a
cara de pau de pegar um avião e ir lá nos cobrar
isso. – Liv brinca e Nick faz careta. – Queríamos
comprar um, mas é claro que o bom samaritano não
deixou.
— Comprar? – Fico chocada. – Não se
compra amigos, tem que adotar.
— Amor, eles são almas gêmeas. – Liv
brinca. – Foi o que o Nick disse e fomos lá num
abrigo de animais, o homem jurou que ele não
cresceria.
— Assim que chegaram eu disse que o
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cachorro ficaria grande. – Nick se defende.


— Aí já era tarde, não ia devolver o
pobrezinho. – Heitor defende o cachorro. – No fim
foi bom, ele cuida das crianças melhor que nós.
— Outro dia derrubou o jardineiro que
tentou pegar o Harry no colo. O homem era novo
no trabalho.
— Que susto. – Nick se preocupa. – Ele
está com as vacinas em dia?
— Sim advogado. Ele nem tentou
morder, só afastou o homem, era novo no trabalho.
De qualquer modo, arrumamos outro, esse nunca
mais voltou.
— E por falar no Dobby. – Aponto o
cachorro sorrateiro comendo petiscos no prato de
uma mulher senta e distraída numa conversa.
— Heitor! Toda vez é isso. Vai lá. – Liv
toca seu ombro incentivando o marido a buscar o
cachorro.
— Shiu. A senhora De Martino nem
percebeu. – Heitor diz rindo.
— Então vai você, Nick. – Liv pede
brava com os irmãos que riam da situação. – A
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mulher vai procurar os petiscos no prato e o


cachorro comeu tudo.
— Melhor do que ela encontrar restos de
petiscos babados e comer sem saber. – Nick avisa e
Liv fica pálida.
— Eu vou. – Sinto pena de Liv com o
filho no colo e preocupada com o cachorro. Me
aproximo o suficiente para ele me ouvir e longe o
bastante para a mulher não querer conversar
comigo. ─Dobby! Vem garoto. – Ele logo se
aproxima rebolando e abanando o rabo. – O papai
está te chamando. Cadê o Harry? Harry!
Dobby sai rápido em busca do garotinho,
um segundo depois está cheirando os pés de Harry
no colo da mãe.
— Dobby, feio. – Heitor reclama
acariciando sua cabeça. – Vamos lá fora? Assim
reunimos as crianças para o bolo e os docinhos? –
Liv e Heitor saem com os filhos e o cachorro. Me
abraço a Nick.
— A festa está linda. – Ele beija meus
lábios. Me envolve carinhoso.
— Vamos ver o que vai achar dela
quando todo mundo for embora e tivermos que
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arrumar.
— Eu realmente adoro isso em vocês.
Esse jeito de viver simples, sem ostentação.
— Também gosto muito disso. Quando
cheguei eles já estavam ricos. Não como hoje, mas
bem perto disso e eram bem tranquilos, teria sido
difícil se eles tivessem deixado o dinheiro subir à
cabeça, eu nunca me acostumaria, mas não
aconteceu com nenhum deles.
— Nem com as esposas.
— De outro modo, esses casamentos não
teriam dado certo. E é por isso que nós dois vamos
dar certo, porque não liga a mínima para nada
disso.
— Só ligo para meu príncipe! – Beijo
Nick, ele toca minha trança. – As meninas me
obrigaram a usar os cabelos presos. Lissa que fez,
ela sabe fazer tranças lindas.
— Aprendeu com o Leon. – Adoro essa
história deles. Gosto de como são unidos. E vejo
como falar ajudou Nick, seus olhos agora não
parecem mais carregar uma nuvem de tristeza como
antes. – Quer beber alguma coisa? Comer?

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— Não. Estou meio enjoada desse cheiro


todo de comida. Os garçons passam e fico com
vontade de correr deles.
— Gatinha acho que precisa ir no
médico, sabia? Talvez ainda tenha um pouco da
gastrite nervosa.
— Não vamos falar disso. – Odeio me
lembrar da cena que fiz, odeio as lembranças do
passado que vem junto com as cenas daquela noite.
– Vamos ver a hora do bolo.
O bolo é cortado depois da música
comum a aniversários e de Lizzie assoprar as
velinhas orgulhosa. Os garçons começam a servir
os pedaços e Lizzie vem nos contar as coisas que
fez, acho bonito que ela queira fazer a festa aqui
junto da família e não em sua casa com os
coleguinhas de escola.
Uma hora depois, as pessoas começam a
deixar a festa e fico feliz, me sinto cansada com o
salto a festa toda. Se estivesse em casa já teria
tirado com dez minutos de festa.
Uma da manhã é a hora que o último
convidado deixa a festa. Os Stefanos se sentam nos
sofás da sala. Eu me sento no colo de Nick, ele me
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envolve e encosta o queixo em meu ombro. Todos


felizes comentando os melhores momentos.
Rindo das pequenas confusões que
sempre acontecem em festas por mais elaboradas
que sejam. No fim tudo isso marca as lembranças,
me sinto em casa com eles. Não tenho mais
qualquer receio e acho que foi mesmo um medo
bobo o que senti quando o avião me trazia de
encontro a Nick e os Stefanos.
— Podemos arrumar amanhã? – Lissa
pede. ― Dessa vez estou cansada.
— É melhor mesmo. As crianças
começam a ficar chatas. – Ulisses comenta com
Harry subindo e descendo de seu colo sem decidir o
que afinal quer.
— Vai se acostumando, futuro papai. –
Leon brinca com ele. – É assim que fazem quando
estão com sono, fome ou cansados, ou tudo isso.
Ou nada disso e só querem mesmo te deixar maluco
e pode ser que tenha minha sorte e tenha tudo isso
em dose dupla.
— Reclama, mas teve um batalhão para
te ajudar. – Heitor rebate. ― E lá em casa que
somos apenas eu e Liv?
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— Eu ajudo papai! – Lizzie logo se


ofende.
— E muito princesa. Sem você eu e a
mamãe teríamos ficado malucos.
— Vou separar os presentes que vou
levar e os que vou deixar aqui. Os dos meus tios eu
vou levar todos.
— O que mais gostou, Lizzie? – Sophia
pergunta.
— De todos igual, tia Sophi. – Ela se
apressa e todos riem.
— De todos igual se a gente não colocar
o do tio Nick no meio, porque ele sempre ganha. –
Lissa comenta e ela ri dando de ombros, olha para
Nick que pisca para a pequena.
— É que meu tio Nick me deu um
telescópio, e eu queria um.
— Ninguém sabia que queria um. – Leon
brinca com ela.
— Só meu tio Nick que perguntou. – Ela
avisa. – A Annie me deu um diário, acho que vou
ter sempre um agora, escrever todos os dias, mas
ninguém pode ficar lendo, só se eu deixar.
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— Muito boa ideia, Annie. – Heitor


brinca. – Quando ficar mocinha e escrever sobre os
namorados vou ler escondido.
— Você vai ficar bem feio fazendo isso
pai.
Heitor puxa a filha para seu colo. Beija
seu rosto todo carinhoso.
— Não vou nunca fazer isso, nem vai
precisar guardar segredos do papai, somos amigos.
— Então me ajuda a levar tudo para o
quarto?
— Vamos todos, assim é uma única
viagem. – Ulisses se oferece. – Que horas viaja
amanhã, Nick?
— No fim da tarde. Precisamos sentar ao
menos umas horas para olhar o que trouxe
seriamente.
— Trabalhamos depois do almoço. –
Leon decide.
Todo mundo carrega um pouco dos
presentes de Lizzie, seu quarto fica cheio de coisas
e não consigo não pensar nas crianças que não tem
nada, em mim, em Nick, em nunca ter ganho um
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presente ou um abraça de feliz aniversário. No


quanto isso machuca.
— Triste? – Nick me pergunta quando
entramos no quarto.
— Não. Adorei tudo. Só fiquei pensando
no passado e sei lá, nas crianças que não tem nada
disso.
— Assim que chegar em casa Lizzie
separa os brinquedos antigos e doa, Liv é rigorosa
com isso, ela mesma vai com a mãe entregar, elas
fazem isso desde sempre, muito antes do Heitor
chegar, Liv ensinou Lizzie. Heitor precisa se
controlar muito para não enche-la de presentes.
— Se ela fosse minha, eu a encheria de
presentes. Daria tudo que não tive, nem iria querer
saber disso. – Nick me sorri, os olhos transbordam
carinho e fazem meu coração disparar. Eu o amo
tanto e de tantos modos.
— Pensei em você naqueles brinquedos
mais cedo, tão linda e corada, parecia a pequena
gatinha de novo, só que feliz.
— Ela não teve sorte. Nós não tivemos.
Não importa mais. – Começo a soltar o cabelo. O
elástico na ponta da trança parece preso demais. –
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Solta aqui para mim, príncipe.


Ele começa a soltar, tira o nó e depois
desfaz a trança. Me beija o pescoço quando
termina.
— Pronto.
— Prometo não contar para seus irmãos,
se não vão te chamar de cabeleireiro.
— Não me importo, cuidamos um do
outro desde sempre, eles podem chamar como
quiser. – Isso que temos é diferente de tudo que
existe. Nem consigo pensar mais em mim sem ele.
Parece que somos uma só pessoa.
— Desde sempre. – Concordo, Nick toca
meu rosto, meus lábios encontram os dele e
esquecemos de qualquer coisa. Só quero seu
carinho e amor, a brincadeira com os saltos fica
esquecida, gosto quando é romântico, lento, cheio
de olhos nos olhos, de coração batendo forte.
Adormeço em seus braços, um sono
tranquilo e profundo, sem sonhos, acordo com suas
mãos acariciando minhas costas já de manhã.
— Nem nos movemos a noite toda. –
Digo ainda em seus braços. – Foi bom.

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— Sempre é bom. ─ Isso é mesmo


verdade, é sempre muito bom. Nick suspira. ─
Vamos cuidar das coisas e depois tenho que
trabalhar um pouco.
— Amanhã estaremos em casa. – Ele me
beija os cabelos.
— Sim. Gatinha eu nunca recebia
ninguém em casa, por um monte de motivos, mas
pensei em convidar meu irmão. Queria que o Leon
fosse passar uns dias lá, se importa?
— Claro que não. Vai ser ótimo, ele vai
correndo, mas chama os dois, Heitor também.
— Tem razão. Vou dizer para irem um
fim de semana. Assim eles ficam felizes.
— E você também fica, mas eles sabem
que não tem Mira lá?
— Sabem, comemos fora ou cozinhamos
todos juntos. Lissa é uma grande cozinheira.
As senhoras Stefanos são boas em
muitas coisas, me sinto um tanto menor que elas,
acho que não sei fazer nada, me abraço mais a Nick
com medo que um dia ele se dê conta disso, com
medo que se acontecer eu não sirva mais para ele.

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Não saí de perto dele praticamente a


noite toda, não falei com ninguém que não fosse da
família. Na hora pareceu tudo bem, estava feliz
com ele, segura e tranquila. Os Stefanos sempre são
tão amigáveis e me senti em casa.
Acontece que Nick é rico, importante,
não posso me comportar assim em todo lugar, me
imagino num jantar da alta sociedade, cercada dos
executivos importantes e suas esposas, seria uma
vergonha não falar com ninguém, andar atrás dele e
quem sabe, deixa-lo constrangido.
Eu podia ter tentado me enturmar, podia
ter conversado um pouco com os convidados e
deixado Nick mais à vontade. Suspiro um pouco
arrependida. Nunca penso direito. Sempre faço
tolices.
— Que foi? O que está passando por
essa cabecinha?
— Nada. – Me apresso, eu sei o que ele
vai dizer, que posso aprender a ser uma mulher
refinada, acontece que quero essa vidinha fechada,
não quero ser sofisticada, gosto de cuidar dos meus
velhinhos e esperar por ele.
— Mentira.
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— Verdade.
— Impossível não estar passando nada
por essa cabeça toda cheia de ideias.
— Estava pensando na volta para casa.
— Na cama do jatinho? – Ele pergunta e
me arranca um sorriso.
— Nisso quem pensa é você. O tempo
todo.
— Boba. Sinto falta de casa também. Da
nossa rotina. – Me movo um pouco para olhar para
ele. – Gosto de te encontrar a minha espera.
— Gosta mesmo? Não me acha meio...
— Acho que é perfeita Annie. Gosto da
vida que temos, não quero mudar nada, não somos
meus irmãos e suas esposas, não precisamos viver a
mesma vida que eles.
— Você está certo. Vamos ajudar a
arrumar toda a bagunça da festa. – Encontro a
família já trabalhando quando descemos, todos
empenhados em recolher coisas e organizar a casa.
— Tome café, depois ajudam. – Ariana
avisa passando de mão dada com Alana.
— Sim, senhora. – Respondo e Nick ri
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da careta que faço depois que ela passa. – Não ri de


mim, vamos ajudar, não estou com fome.
— O café é sempre sobra da festa
mesmo. – Nick me avisa e a coisa fica bem
diferente.
— Então vou dar uma olhada antes de
ajudar.
— Quer as sobras da festa? Ontem nem
queria experimentar nada. Se tiver fome vai na
cozinha a Mira te serve qualquer coisa que....
— Não príncipe, quero as coisas da festa.
— Então vai, vou ajudando. – Ele me
beija de leve.
As coisas parecem mais apetitosas pela
manhã, depois de provar alguns petiscos e comer
uma fatia do bolo de aniversário de chocolate deixo
a mesa e sigo para ajudar os Stefanos, quando
terminamos, pela hora do almoço, estamos todos
cansados.
De novo as dúvidas desaparecem, eles
me fazem sentir tão bem que não penso nas
diferenças. As coisas que Ted me disse, as vezes
parecem o maior absurdo, outras vezes fazem

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algum sentido, mas não quero viver presa a isso.


Nick me ama, disse com todas as letras,
assim como disse que é para sempre. Sou sua
namorada, convivo com sua família, eles me
querem como parte deles e ficar pensando tolices é
burrice. Conheço Nick melhor que qualquer pessoa
no planeta e sei o que sente por mim, disso não
tenho a menor dúvida.
— Vou trabalhar um pouco com meus
irmãos na biblioteca, mas pode me chamar a hora
que quiser.
— Pode ir príncipe, não entro lá por nada
nesse mundo, nem pela camiseta dos Jets, da última
vez... – A lembrança me atinge em cheio, prendo a
respiração quando sinto vontade de chorar, ando
me sentindo tão destemperada.
— Não faz isso, fico tão culpado. – Nick
me abraça, me encosto em seu peito, só de sentir
seus braços a minha volta já me sinto melhor. –
Vou dizer a eles que não da para...
— Não. – O interrompo. – Pode ir, estou
ótima, vou arrumar minha mala, Sophia vai me
ajudar. Estamos combinando de almoçar na quinta-
feira, não acha legal? Eu combinando almoço com
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a sua cunhada?
— Acho que já pode olhar para elas
como suas cunhadas também.
É muita família assim de uma vez, nem
sei se mereço ganhar tanta gente junto, todos tão
especiais, sorrio diante da ideia, de novo tenho
vontade de chorar, beijo Nick, isso realmente muda
minhas emoções, seus beijos mexem comigo e
sempre fazem meu coração disparar.
No fim todas elas se reúnem comigo no
quarto, Lizzie e Alana remexendo minhas roupas,
Emma dormindo na cama enquanto vou ouvindo
delas suas histórias de amor.
Sophia me mostra o vídeo do casamento
de Liv e Heitor com um não no altar.
— Morria se o Nick fizesse isso comigo.
— Ulisses não contente em gravar, ainda
espalha. – Liv diz rindo. – Foi um susto, mas foi
rápido e importante, ele não tinha dito eu te amo,
acho que foi bom ter dito ali, me feito ter certeza,
acho que não tinha ainda, sabia sobre mim, sobre
como eu o amava, como amo, do mesmo jeito de
sempre.

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— Nick disse? – Lissa pergunta.


— Sim. – Conto a elas. – Algumas
vezes, mas não precisava realmente. Eu sei que
sim, conheço dentro dele.
— É estranho e bonito. Por que ele é tão
fechado conosco, desde sempre. – Lissa me conta.
– Mas com você, é visível, desde que pisou aqui
sentimos a entrega dele.
— Amo meu príncipe, amava quando
criança, amei quando não sabia que era meu
príncipe. Só sei amar ele todo.
Lissa me abraça, um abraço espontâneo,
carinhoso e tão verdadeiro.
— Obrigada, Annie. Por cuidar dele, por
amar o Nick assim. Ele é especial para todos nós, e
saber que ele tem seu coração nos enche de alegria.
— Nick merece. – Sophia diz me
abraçando também. – E você também. Porque ele te
ama do mesmo modo.
Seco uma lagrima, elas sorriem. Todas
me abraçam.
— Chega. Vamos fechar logo essa mala
e descer, essa choradeira toda deve ser cansaço. –
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Sophia brinca. Nos afastamos, e começamos a


enfiar tudo na mala de qualquer jeito. – Não sei
para que levar se podia deixar tudo aqui.
— Eu não tenho muita roupa, quase tudo
está aqui.
— Oba! Então vou te levar para fazer
compras. – Sophia comemora.
— Não vai não. Eu não preciso, o
consumismo desenfreado é um dos principais
problemas na nossa época. Os recursos....
— Aí me Deus, como se parecem. Nick
já fez esse discurso dezenas de vezes. – Liv brinca.
Elas riem de mim. – Compre umas roupas e
prometo plantar uma dúzia de arvores no meu
jardim.
— E mais uma dúzia aqui. – Lissa ajuda.
— E vai pensar em colocar tudo
sustentável nessa parte nova que está construindo,
reaproveitar água, energia solar?
— Que ideia boa. Farei isso em troca de
umas roupinhas novas e deixar essa mala aqui.
— Feito! – Apertamos as mãos. – Então
me ajudem a guardar tudo.
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Elas comemoram, e começamos a


guardar as roupas no closet, Lissa me conta sobre
como suas roupas foram parar no closet de Leon,
acho divertido ao mesmo tempo penso que
comunicação é tudo, se falassem mais sobre como
se sentiam metade dos problemas que tiveram não
teria acontecido.
Preciso me esforçar para não ser assim,
para não ter medo de dizer nunca como me sinto.

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Capitulo 22
Ulisses

— Vou lá me reunir com meus irmãos.


Você está mesmo bem? – Pergunto a Sophi na
porta da biblioteca.
— Ótima, foi uma bobagem, não vamos
ficar criando expectativas. Uma tontura à toa, pode
ser que tenha sido só o calor.
— Sem criar expectativas, prometo. –
Beijo seus lábios. – Mas não vejo a hora de ficar
gorda, aí vamos ver se ainda te amo. Ou se só estou
com você porque é gata.
— Ulisses você é ridículo. Custa dizer
que vou ficar linda gravida?
— Amor, eu preciso ser honesto. Nosso
amor é baseado em verdade.
— Depois que nascer eu vou ficar
magra, gostosa e arrumar outro.
— Você pega pesado na brincadeira, vai
arrumar outro nada. – Ela ri da minha cara
emburrada. – Sabia que a Lissa nem conseguia se
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levantar sozinha de um sofá? Tínhamos que ajuda-


la, se ficar me ameaçando eu largo você sentada
para sempre. De castigo.
— Vai trabalhar Ulisses, essa sua cabeça
parece que não passa nada de útil. – Mordo seu
pescoço, não estou com a menor vontade de
trabalhar, quero mesmo é ficar com ela. – Por que
não aproveitamos o avião e voltamos com o Nick?
— Não podemos. Eu falei sobre os
planos deles e a cama do jato, foi quando eu
comentei sobre a nossa falta de imaginação.
— E eu prometi uma surpresa sexy
quando chegarmos, não prometi?
— Prometeu, não pode me contar?
— Não seria surpresa se contasse. Agora
vai, eu vou ajudar a Annie a fazer a mala e ficar
com as garotas. Amo você.
— Envolve comida?
— Não.
— É um lugar?
— Que mania que você tem de querer
adivinhar tudo!
— Sou curioso, ninguém me entende
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nessa família. Tenho traumas também sabia? – Ela


ri de mim, muito, a ponto de me fazer morder seu
ombro e ganhar um tapa carinhoso.
— Vai trabalhar meu traumatizado. Amo
você tá bom?
Ela se afasta e entro na sala. Os Stefanos
olham gráficos e falam de números, Nick me
estende uma folha com seu detalhado relatório.
Nick termina tudo com relatórios e fico pensando
se Annie recebe alguns ao longo da semana. Quem
sabe um relatório sobre o desempenho sexual do
casal ao longo do trimestre? Rio com a ideia.
— Que foi? – Leon me pergunta.
— Nada. – Nick me mata se contar. Os
números sempre entram muito rápido em minha
mente. Não preciso de muito para compreender
aquilo, sou bom com meu trabalho e talvez por
isso, seja sempre o primeiro a me distrair nas
reuniões.
— Mark está disposto a aderir as
mudanças, já o Zyar, bom vocês sabem, ele é
resistente. Se quisermos mesmo resolver isso então
o Leon é que tem que lidar com ele. – Nick
comunica.
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— Vou lidar com isso pessoalmente, não


se preocupe. Pensei em chamar o Zyar até a ilha,
assim podemos conversar com mais calma. – Leon
se prontifica. – O trabalho dele a frente das
empresas na Turquia é exemplar, mas ele é teimoso
como uma pedra.
— Ele nunca escutaria nenhum de nós
mesmo. – Eu comento. – Para ele, você é tipo o
presidente da família e das empresas e o único
detentor da verdade. É tipo como se você fosse o
Capitão América. Nick você é o Hulk. Aquela coisa
de traumas sob a camada de homem inteligente. Eu
sei, me acham o Homem de Ferro, rico, bonito,
humor inteligente, aventureiro.
— Ulisses, guarda a revista em
quadrinho. Já estamos terminando. – Heitor pede
sorrindo.
— Parece que sobrou o Thor para você,
irmão, até que não está ruim, em? Quer nos contar
sobre o seu martelo?
— Alguém faz ele parar? – Heitor
reclama, essa gente sem humor que me cerca. Por
isso amo minha mulher, ela saberia usar a deixa.
Suspiro resignado.
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— Pronto, voltei, ao trabalho então. –


Todos se voltam para os documentos. Passamos
mais de duas horas ali e finalmente a reunião se
encerra. Guardo meus documentos e fecho minha
pasta.
— Acerto essas coisas com o Nick no
escritório e envio para vocês. – Aviso e todos
concordam.
— O piloto já está me esperando em
Atenas, o helicóptero está pronto, então acho que já
vou. – Nick diz depois de fechar sua pasta. – Eu
estava pensando, um fim de semana desses em que
não tiverem nada de muito importante para fazer,
quem sabe não vão para Nova York? – Nick olha
para Leon como um garotinho pedindo para ser
levado ao parque no fim de semana. – Quando
tiverem tempo, não quero atrapalhar em nada, lá
em casa são cinco suítes, só uso uma, vai ter espaço
para todo mundo.
— Nós vamos no próximo fim de
semana. – Leon diz bem rápido, esses dois são
mesmo dois bobões, prendo o riso, adoro ver Nick
se abrindo e vejo o quanto isso importa para Leon,
finalmente o caçula convida os irmãos para sua
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casa.
— Vai abrir o palácio, príncipe? –
Brinco com ele.
— Vou, seria bem-vindo se morasse
longe o bastante para isso, mas não tive essa sorte.
— Estou a cinco minutos da sua casa
Nick, cuidado, posso me sentir no direito de ir te
visitar duas vezes por semana.
— Pode ir. – Nick diz tranquilo, troco
um olhar com os outros. – Eu sei que já devia ter
feito isso, mas não fiz e quero consertar um pouco
essas coisas.
— Vamos gostar de passar um fim de
semana com você Nick, não importa o passado.
Leon diz tranquilo. Heitor concorda.
— Lizzie vai adorar. É sua última
semana de férias.
— Que bom, eu vou arrumar um berço
para Emma, assim todo mundo fica acomodado.
— A palavra berço, saindo da boca do
Nick não fica estranha? – Eles riem. – Vai ser bom
ter um berço lá também, para quando meu futuro
filho for dormir na casa do tio Nick.
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— Eu não convidei o seu futuro filho


para dormir na minha casa, Ulisses.
— Tudo bem, quando eu precisar
contrato uma babá.
— Mas ele vai ser bem-vindo, não
precisa pagar um estranho. – Ele conserta, foi
difícil entender por que ele tinha tanto medo de
estranhos com os pequenos Stefanos, mas agora faz
sentido e talvez ele tenha razão.
— Obrigado, irmão. – Digo solene e os
irmãos riem, era sério, mas eles nunca me levam a
sério.
— Agora eu tenho que ir. Espero vocês
no fim de semana então, podem ficar mais que o
fim de semana se quiserem. – Ele diz aos dois, mas
a verdade está pensando mesmo em Leon, se
insistir um pouco Leon larga a ilha e vai morar com
ele.
Quando chegamos a sala, as garotas
estão reunidas. O helicóptero já da sinais de estar à
espera de todos.
— Cadê sua mala gatinha?
— As meninas me convenceram a

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deixar.
Nick sorri todo apaixonado, vai ser
muito bom conviver com esse novo cara que ele
está deixando surgir. Os dois se beijam e seguimos
para a varanda para as despedidas.
— Eles vão todos no fim de semana,
gatinha. – Nick avisa e ela sorri com a novidade.
— Sério? Vai ser muito bom. Vou gostar
muito. Mas não sei cozinhar. – As outras três se
olham.
— Vai ter muita gente para isso não se
preocupe.
Lissa diz e já sei que vou passar o fim de
semana picando legumes.
— Obrigada por tudo. – Temos aquela
seção abraços do tipo o mundo acabou e foi muito
bom te conhecer, como se não fossemos nos ver em
cinco dias. Ariana aperta a mão de Annie
carinhosa.
— Se cuida direitinho, não se mata de
exercício e come bem.
— Sim, senhora. Prometo. – Annie a
abraça.
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Os dois seguem para o helicóptero,


Lizzie fica acenando até o aparelho sumir e depois
corre para dentro.
— Agora que o Nick já foi, quero contar
que a Sophi teve uma tontura mais cedo. – Aviso
aos outros. – Não disse antes para não estragar a
alegria do caçula.
— Isso é sério, Sophi? Será? Aí meu
Deus que ansiosa! – Lissa a abraça, Liv também.
— Estou ficando com inveja, amor, que
acha de pararmos com o remédio e irmos logo para
nosso último bebê? – Heitor diz quando Liv o
abraça.
— Imagina o Nick? Teria uma sincope!
– Eu brinco e todos rimos. Agora que sabemos de
tudo, temos esperança que ele melhore.
— Se acham que ele vai ficar assim
quando souber dos sobrinhos, imagina quando
descobrir que vai ser pai? – Ariana diz olhando
para o céu como se o helicóptero ainda estivesse lá,
todos olhamos para ela ao mesmo tempo.
— O que disse, Ariana? – Leon pergunta
um tanto pálido.

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— Annie está grávida. Pensei em dizer,


mas não gosto de estragar a surpresa. Notei logo
que chegou.
— Isso é... Nossa isso... Eu não sei o que
isso vai provocar, eu... Acho que devemos... – Leon
balbucia todo angustiado. Nick vai ficar feliz
depois do ataque de pânico, não sei porque tanto
medo.
— Calma amor, combinamos de ir no
próximo fim de semana, se não tiverem se dado
conta, contamos a eles. – Lissa diz tranquila. – Se
já souberem, será bom estarmos por perto.
— Devia ter dito, Ariana. – Liv não
esconde a preocupação.
— Quando ela chegou, eu achei que
tinham vindo contar. Ela está com uma carinha de
gravida, depois vi que não, então achei melhor
esperar, mas se acham que é melhor saber logo
então acho que a Sophia devia fazer o exame.
Sophia sorri, toca a barriga, me olha de
olhos brilhantes, fico meio tenso, um tanto
atrapalhado. Uma coisa é tentar ter filhos, o
exercício é até bem agradável, outra bem diferente,
é conseguir.
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— Ariana, você acha? – Sophi aperta


minha mão um tanto nervosa.
— Acho. Isso é algo que aprendi com
minha avó que aprendeu com a avó dela, não me
lembro de ter errado.
— Nem nós, acertou todos os pequenos
Stefanos. – Liv comenta.
— Certo. – Respiro fundo. – Não vamos
comemorar ainda. Amanhã vamos para casa e
quando chegarmos fazemos um exame e então
confirmamos.
— Viu, Heitor? Nada de desespero, se
fosse você estaria me carregando no colo para o
hospital de Kirus nesse exato momento para ter
certeza.
— Ou podemos fazer isso. – Digo
apressado. Eu só não tinha pensado nisso, mas a
ideia é muito melhor.
— Se consegue esperar dois dias para ter
certeza, boa sorte, não consigo esperar nem duas
horas pelo resultado do exame. – Heitor diz
tranquilo. Afirmo sem muito o que dizer.
— O carro, será que alguém pode

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dirigir? Eu acho que... Isso é muito estranho, estou


nervoso.
— Eu te levo. – Leon diz sorrindo. Ele
beija Lissa. Ela o abraça. – Arrume nossas coisas,
Afrodite, se der algo errado e Nick resolver nos
chamar, não quero demorar para chegar.
— Vou deixar tudo pronto. Quem sabe
não vamos no meio da semana? Ficamos num
hotel, passeamos um pouco e faço umas compras
com a Sophi, se ele precisar, vamos estar por perto.
— Pode ser. – Leon avisa.
— É bom, se estivermos esperando um
bebê tem muito o que comprar. Esse negócio de
roupa e berço e fralda e muda de árvore para o Nick
não ter um ataque. Quero só ver quantas árvores o
caçula vai plantar. – Vou cobrar, sem dúvida eu
vou cobrar.
Leon pega o carro, me sento no banco de
trás ao lado de Sophi, Heitor vai na frente com ele.
É bom ter irmãos, se Nick estivesse aqui estaria
conosco, reclamaria, mas iria junto.
— Dá para saber se é menino ou
menina? – Pergunto a Sophi. Ela me sorri, se
encosta em mim, meu coração saltando feito louco.
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— Se estiver gravida, é ainda como uma


azeitona. – Sophi diz rindo.
— Uma azeitona menina ou uma
azeitona menino?
— Para Ulisses, não sei nada disso ainda.
– Sophia me diz tensa.
— Com oito semanas, em um exame de
sangue especial, mas com certeza mesmo com 16
semanas pelo ultrassom, aí é sem erro. – O
especialista Heitor diz tranquilo. – Mas se não
quiserem saber, o médico guarda segredo e
descobrem na hora.
— Quem aguenta esperar todo esse
tempo? Mas que importa também, eles têm todos a
mesma cara.
— Não tem, amor, você vai ficar fazendo
bullying com seu próprio filho? – Sophia pergunta
quando paramos na frente do hospital.
— Vou amor, melhor eu que um
estranho. – Abro a porta e ajudo Sophi a descer, na
recepção, logo somos atendidos com muito
respeito, meus irmãos se sentam na sala de espera e
sigo de mãos dadas com Sophia para a sala de um
dos médicos.
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O médico nos recebe com um sorriso


amistoso.
— Doutor queremos saber se a Sophia
está gravida. – Aviso.
— Faz alguns meses que paramos com
os contraceptivos. O médico disse que podia
demorar um pouco, minha menstruação não está
muito regular, mas achei que podia ser por conta do
remédio que não tomo mais e...
— E a Ariana disse e ela nunca erra.
— Ariana? – O médico pergunta.
— Sim, uma velha bruxa da família. –
Brinco e ele ergue uma sobrancelha.
— Sophia, se querem mesmo saber logo,
vamos fazer assim, você faz um exame de sangue e
em uma hora saberemos o resultado, aí
conversamos melhor.
— Isso doutor. Onde vamos agora?
— A enfermeira acompanha vocês. – Ele
pega um telefone, logo a enfermeira nos
acompanha até uma nova sala. Me lembro do
nascimento dos gêmeos, foi tenso, nem sei como
vai ser quando for minha vez. Sophia parece tão
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relaxada.
— Podem esperar aqui ou posso
telefonar quando ficar pronto. – A enfermeira avisa
antes de nos liberar.
— Voltamos em uma hora. – Aviso a ela
que sorri. Sophia fica de pé quando ficamos
sozinhos, me olha de um modo intenso.
— Ulisses, eu quero. Não sabia que
queria desse jeito intenso, mas agora... E se não
estiver? – Sinto sua ansiedade, beijo Sophia, a
mulher mais bonita que já vi.
— Então amor, se não estiver, vamos
continuar tentando, eu sei que é chato, mas... –
Sophia abre um largo sorriso.
— Amo você. Amo como deixa as coisas
fáceis para mim. Não me pressiona.
— Esse filho, Sophi, o que vamos ter
agora ou depois, ele vem como um complemento,
um presente. Não dependemos dele para sermos
felizes, já somos felizes, se acontecer é perfeito, se
não acontecer não muda. Não vamos de jeito
nenhum tornar isso um problema.
— Você tem razão. Não vamos criar um

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problema que não temos. Obrigada amor. – Beijo


Sophi. Vejo seu semblante relaxar e isso é o que
importa. Nos juntamos aos meus irmãos. Sophia se
encosta em meu ombro enquanto esperamos.
— Ficar esperando é muito tenso. –
Heitor comenta.
— Eu não sei como é isso, no meu caso
foi aquela confusão toda. Não passei por isso. –
Leon nos lembra.
— Não quer mesmo mais filhos? – Eu
pergunto e ele pensa um momento.
— Eles são perfeitos, lindos, saudáveis,
inteligentes, cercados de amor, gosto da família que
construí. Quando Lissa estava gravida eu tinha
tanto medo, depois, nos primeiros meses, tudo era
tão intenso. Uma febre, um resmungo de dor, eu
ficava cheio de medo.
— Mas tinha a parte boa, Leon. – Heitor
diz com um tom de repreensão. – Os dois
esperando o resultado e você lembrando só as
coisas difíceis?
— Verdade. Desculpem. Tem muita
coisa boa, o primeiro sorriso, a primeira palavra, os
passinhos, o jeito que te olham no fim do dia
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quando chega do trabalho, rir com eles, sentir o


cheiro dos filhos. Faz toda parte difícil valer a pena.
— Me convenceu, vamos comprar. –
Brinco e os três riem.
Continuamos a conversar e o tempo
passa rápido, logo a enfermeira nos chama,
seguimos direto para sala do médico. Aperto a mão
de Sophia com um pouco de medo de ouvir que foi
um alarme falso, o médico encara os papeis, lê o
nosso futuro num papel timbrado e nos olha sem
deixar transparecer nada.
— Está grávida, Sophia. Ainda no
começo. Parabéns.
Olho para ela com os olhos marejados,
nossa grande aventura começa agora. Meus olhos
deixam os seus e se fixam em sua barriga. Um
mundo de coisas passa por minha cabeça, todos os
sentimentos que guardo dentro de mim e que posso
dividir com esse pequeno ser, uma parte de nós
dois.
Beijo de leve os lábios de Sophia, depois
beijo seu ventre.
— Obrigado, meu amor. Amo você.

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— Também te amo, vamos ter um bebê!


– Ela diz sem acreditar.
— E ele já vem com um priminho em
Nova York. – Rimos com a ideia. Até que gosto de
dividir esse momento com Nick.
O médico raspa a garganta chamando
nossa atenção, beijo Sophi mais uma vez antes de
olhar para ele.
— Vocês vão fazer o pré-natal aqui?
— Não doutor. Partimos amanhã para
Nova York. Podemos? Tem alguma restrição?
— Não realmente. Procurem um médico
assim que chegarem a Nova York.
— Faremos isso. O senhor sabe se é
menino ou menina? – Tento saber, ele nega
enquanto Sophia me arrasta para saída.
— Vem amor, vamos embora contar para
todos. – Deixamos a sala.
— Ainda dá para fazer minha surpresa
grávida? – Tenho minhas prioridades.
— Sim.
— Então não envolve nada perigoso?

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— Não Ulisses. Estou tão feliz, que vou


te ignorar.
Meus irmãos se colocam de pé, meu
sorriso se reflete neles no mesmo instante. Nem
preciso dizer, logo recebo abraços de parabéns.
Sophia também.
— Vamos. Nem vou mandar mensagem
como as garotas pediram. Vou deixar que Sophia
conte. – Leon avisa e não atender um pedido de
Lissa é novidade.
— Está se sentindo bem? Quer que leve
você no colo? Será que não é melhor...
— Ulisses é um bebê, não uma paralisia.
— Eu sei, Sophia, estou cuidando de
você. Que acha da gente se mudar para perto da
Ariana por um tempo? Só até o bebê nascer, a gente
não entende nada de filho.
— Vamos ter que aprender.
— Será que é menino? Podia ser uma
menininha com cara de Sophia. – Ela se encosta em
mim, eu a abraço, minha cabeça não para de
trabalhar, não sou o tipo de pessoa que espera por
nada, nove meses será um tipo de tortura. Já quero

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meu bebê no colo. – Como será o rostinho dele? Ou


dela?
— Olhe para seu joelho Ulisses, não é
assim que diz, que todos têm cara de joelho? –
Heitor provoca.
— Vocês são muito vingativos, sabiam?
Isso não faz bem para a alma.

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Capitulo 23
Annie

Nos sentamos frente a frente no jato da


família, sorrio para Nick achando estranho ainda
não ter uma mala comigo, atravessar o oceano sem
ter que carregar nada comigo é confuso.
O avião começa a taxiar, assisto pela
janela Atenas anoitecer. É uma linda paisagem,
foram dias incríveis, mesmo com aquela terrível
noite no meio. Mesmo ela foi importante, deu um
novo rumo a toda uma história, mudou as coisas de
lugar e nunca saberei como seria nossa história se
aquilo não tivesse acontecido. O avião levanta voo,
aperto o banco um tanto nervosa, sempre fico
quando ele sobe.
O coração parece que vem a boca, fixo
meus olhos em Nick que está sorridente e tranquilo,
nossa primeira vez juntos em um avião. É estranho
pensar em quantas coisas nunca fizemos juntos e
mesmo assim somos tão íntimos.

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— Nervosa, gatinha? – Ele me pergunta


e só confirmo, sem condições de falar até que o
bico do avião desce e estamos apenas planando no
céu, o aviso para soltar o cinto me faz relaxar, solto
meu sinto agora sem nenhum medo.
— Só quando está subindo. – Faço um
movimento com a mão mostrando a trajetória do
grande aparelho, ele olha pela janela, a ilha de
Kirus ficando para trás assim como as belezas
daquele lado azul do mundo. Vou sentir falta.
O comissário se aproxima, não sabia que
ele estaria aqui.
— Aceitam uma bebida? – Ele pergunta
educado. O homem não desiste da ideia de me
embebedar. Negamos os dois, nenhum de nós é
muito adepto de bebidas alcoólicas.
— Para mim não, comissário Gordon,
eu, como já disse, não bebo.
— Claro, senhorita. Com licença. - Ele
se comporta de modo muito mais formal agora que
Nick está comigo, é estranho, é meu príncipe, meu
menino protetor que cresceu num abrigo, mas
aquele homem o trata com tanta cerimonia que
parece se tratar de outra pessoa.
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— Príncipe, o que o comissário Gordon


faz aqui? Não combinamos fazer umas coisinhas? –
Nick ri divertido com meu sussurro.
— Gatinha, ele não vai invadir o quarto,
mas é preciso ter alguma tripulação para um jato
desse porte.
— Tem certeza que ele não vai invadir o
quarto? Quando vim ele pareceu muito
determinado a me embebedar e vinha toda hora
saber se eu não queria nada. Acho que ele viu que
eu estava bem nervosa.
— Ele nunca bateria na porta do quarto,
não se preocupe e porque estava nervosa?
— Por que eu ia conhecer sua família e
pensei muitas coisas deles. Nada do que se
apresentou, graças a Deus, mas estava com medo
de eles serem muito requintados, de não gostarem
de mim, sei lá, pensei um monte de coisas tolas.
— Eles nunca poderiam nos separar,
nem tentariam, e todos te adoram agora.
— Acho que gostam mesmo. Adorei
todos eles, nem saberia dizer quem gostei mais.
— Que bom. Vem aqui ver a noite

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chegar. – Ele me puxa pela mão, sento em seu colo


e isso é tão estranho, ele ter um jato, um grande
assim, com tudo que uma casa teria, todo esse
conforto, daria para morar no céu.
Me encosto em seu peito, ele me
envolve. Ficamos olhando o céu ir escurecendo e
então sobrevoamos o oceano e é só escuridão a
nossa volta, apenas estrelas e lua a nos direcionar.
— É bom estar com você aqui. Parece
tão solitário, um tantinho assustador.
— Eu nunca prestei muita atenção a
minha volta quando voava. Acho que é a primeira
vez que paro para me dar conta.
— O que ficava fazendo?
— Antes de você, eu vivia em função do
relógio, meu mundo, minha vida, tudo
cronometrado, todo meu tempo gasto em trabalhar
e dormir, separar uns minutinhos para comer. As
vezes depois de muito insistirem perder tempo com
minha família ou com o Simon, era assim que
pensava, quando não estava trabalhando eu achava
que estava perdendo tempo.
— Agora não é mais assim. – Ele
acaricia meu rosto. Sorri tão carinhoso.
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— Não. Tenho você e só quero mesmo


mais tempo para ficarmos juntos. Nunca passei
tanto tempo com a minha família, acho que nem
quando morava com eles, estava sempre dando um
jeito de me esconder em um canto para estudar e
depois trabalhar.
— Eu te faço bem? – Pergunto feliz com
essa ideia.
— Muito bem, como nunca pensei.
— Você também me faz bem. É meu
príncipe.
— E você minha gatinha.
— E a cama está nos chamando. Ouviu?
— Ouvi. Melhor atender seu chamado.
— Acho bom. – Fico de pé e
caminhamos através do corredor até uma porta
elegante e depois dela, uma inacreditável suíte. É
elegante, sofisticado. Nem sabia que um avião
podia ser assim, mesas para reunião com poltronas
elegantes, sofá, e quartos como esse.
— Gosta daqui? – Nick me pergunta
depois de fechar a porta, afirmo chutando os
sapatos para longe de mim.
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— Gostei muito desse lugar, devíamos


viajar sempre.
— E vamos. Vou te mostrar o mundo. –
Ele me envolve em seus braços.
— Esse é meu mundo. Seus braços em
volta de mim. – Seus olhos brilham cheios de
desejo e amor. Reconheço só de olhar para ele, sei
tudo dele, ele sabe tudo de mim.
— Você é meu mundo também. – O
avião trepida levemente e me seguro nele. – Uma
leve turbulência.
— Avião estraga prazer, não gosto de
turbulência. – Nick desce os lábios por meu
pescoço e meu corpo reage se arrepiando.
— Vou te fazer esquecer a turbulência. –
Ele sussurra em meu ouvido e adoro isso, amoleço,
nunca seria forte para resistir. Nos beijamos, sua
mão desce em direção a minha perna, seu corpo se
cola ao meu e como resposta me sinto aquecer.
Logo as roupas começam a desaparecer,
sinto pressa de sentir sua pele, saudade, a cada vez
que nos afastamos e amor, por ele, por seu corpo,
pelo que provoca em mim.

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Nick me ergue nos braços quando as


roupas nos deixam finalmente, seus olhos fixos em
mim, me consomem, devoram e adoro como isso é
intenso e honesto. Nada é importante, não quando
estamos assim, entregues. Ele me deita na cama
carinhoso, me cobre com seu corpo.
É puro, delicado e simples, não é feio,
não é perigoso, é só amor, tão verdadeiro que
parece que é indestrutível. Me faz corajosa e viva.
Cega também, não penso em nada além de Nick e o
que sinto por ele.
Meus dedos percorrem seu corpo, adoro
tocar nele, adoro ser tocada por ele, sentir o sabor
de sua pele, nem sei o quão alto estamos, mas é
onde sempre me sinto quando estou em seus
braços. Voando, leve e feliz.
Depois é só ficarmos ali, mudos de tanto
prazer, serenos também, abraçados, trocando beijos
românticos.
— Príncipe, me senti no céu! – Brinco
arrancando risos dele. – Conhece aquela expressão,
estou nas nuvens?
— Eu sabia que era o cara! – Ele diz e
presunção não é seu defeito, por isso me diverte. –
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Literalmente te levei as nuvens.


— Sim. Adorei brincar disso. A gente
tem que tentar de dia.
— Da próxima vamos viajar de dia.
Dessa vez não dá tempo.
— Porque é um magnata grego que tem
um jato particular que viaja sem escalas e é muito
rápido.
— É necessidade, não luxo. Todos nós
viajamos muito.
— Sei! – Ele me morde a orelha, meu
corpo arrepia e isso é sempre inacreditável, ele toca
em mim e já sinto desejo por mais. – Acha que um
dia, todo esse desejo diminui?
— Espero que não! – Ele se apressa.
— Se acontecer me lambuzo de
chocolate.
— Nesse caso... Já que tocou no assunto,
talvez não seja como antes.
— Bobo. – Beijo Nick. – Gosta mais de
chocolate que de mim.
— Não tem nada que goste mais do que
de você. Só você com chocolate. Não posso evitar.
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— Lizzie.
— É muito diferente. Mas é tanto
quanto.
— Quanto tempo a gente ainda tem?
— Pouco para tudo que podemos
aproveitar.
— Então vamos parar de perder tempo. –
Ele afirma, vou me lembrar desse momento para
sempre. Tem um mundo de pequenas coisas boas
que vou me lembrar e todas elas vieram dele e
sempre foi assim.
Chegamos antes de amanhecer, tudo
deles é organizado e quando descemos um
motorista nos esperava, ser chic é muito diferente e
acho que não me acostumo.
Quando chegamos é de manhã, assim
que entro no apartamento, me sinto chegando em
casa e isso é bom, o apartamento tem cheiro de
casa. Comemos sentados no balcão da cozinha.
Depois aproveitamos para dormir, coisa que
devíamos ter feito no avião.
Nick vai para o escritório e eu para meus
velhinhos, quero matar a saudade e contar as

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novidades, a rotina retoma imediatamente, dois dias


depois nos despedimos na frente do prédio.
— Tem certeza que quer ir de metro? O
motorista...
— Não Nick, eu gosto, nem é hora do
rush.
— Certo. Te vejo á noite?
— Sim. Quero encontrar a Sarah para
colocar a conversa em dia. Saber como andam as
coisas com o Gnomo.
— Levo o jantar ou saímos. O que
prefere?
— Que leve uma pizza e me deixe ir
agora.
— Tudo bem. Cuidado.
Beijo Nick em frente ao prédio, ele não
se move e me ponho a andar. Sei que ele vai ficar
me olhando até que eu suma de sua visão.
Ava está em sua cadeira de rodas quando
chego. Beijo seu rosto, ela segura minha mão, me
olha carinhosa como de costume.
— Bom dia. Cadê todo mundo?

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— Ainda lá dentro, vim aproveitar um


pouquinho do sol.
— Ele não vai mesmo durar muito. – Ela
afirma. – Sente-se bem?
— Me sinto tranquila. Sem dor, só...
cansada, eu acho. – Ava é forte.
— Comeu bem?
— Um pouco. E você? Como está?
Comeu?
— Ainda não. Tomei meio copo de suco.
Não ando bem do estomago, de manhã então me
sinto bem enjoada. – Ava sorri de um modo tão
amplo que me assusta um pouco.
— Está grávida, Annie? – Ela me
pergunta. É como um soco na boca do estomago,
um tapa forte em meu rosto me despertando do
mundo da fantasia.
— Não. Eu.. Não. – Digo firme, não
consigo esconder a tensão, o medo, o mundo de
coisas que passam por minha cabeça.
— Ei mocinha, não me engana. Está
gravida, não é?
— Eu... ─Me sento um tanto assustada. –
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Não sei.
— Melhor descobrir logo, não acha?
Vou adorar se estiver. É tudo que precisamos por
aqui.
Suas palavras perdem o sentido,
mergulho dentro de mim recapitulando minha vida
toda. Os últimos dias e todas as chances de
realmente estar gravida. Os outros idosos chegam
caminhando juntos. Todos querem um abraço, um
carinho, contar algo, tento me concentrar, ouvir o
que estão dizendo, é difícil. Nas duas horas que se
seguem uma pequena parte de mim está presente.
Depois levo Ava para o lado de dentro,
ela quer assistir televisão, toma uma xicara de chá,
volto para os outros. Luto com meus pensamentos
até servir o almoço e depois preciso de tempo e
solidão para pensar.
— Volto amanhã, senhor Fernandez,
desculpe perder sua aula hoje.
— Vá resolver o que está apertando seu
coração. Está com uma carinha confusa e assustada
a manhã toda.
Eu o abraço, depois me afasto apressada,
antes que entre em pânico ou tenha uma crise de
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choro.
Caminho pelas ruas meio atordoada.
Como pude não pensar em nada disso? Mesmo
quando gravidez e filhos eram praticamente os
assuntos principais entre os irmãos Stefanos?
O que Nick vai dizer? O que vai pensar?
Não queríamos isso, uma criança é a coisa mais
sagrada que existe, como pude ser tão... preciso ter
certeza ou vou enlouquecer. Pego o celular, numa
rápida busca encontro uma clínica próxima de casa,
telefono e marco uma consulta em uma hora.
É isso, um exame é o que preciso, depois
posso pensar em entrar em pânico. Me sento na sala
de espera da clínica, depois de falar com a
recepcionista.
Enjoo, mal-estar, desejos estranhos, tive
tudo isso. Por que não me dei conta? Por que Nick
não percebeu? O que pensamos? Não queria chorar
em público, mas as lagrimas vão correndo sem que
possa controla-las e meu peito se aperta numa
angustia sem dimensão. Nick deixou sempre tão
claro. Falamos sobre isso e nunca, nenhuma vez,
me passou pela cabeça um remédio para evitar.
— Senhorita. – A recepcionista me
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oferece um copo com água. –Tome, vai se sentir


melhor, o médico vai atende-la antes.
— Obrigada. – Aceito a água buscando
controle, o lugar é muito elegante, é claro que eles
vão me atender antes assim paro de incomodar as
pessoas com minha pequena crise existencial.
Devolvo o copo, ela sorri tentando me
oferecer algum conforto, não consigo nem mesmo
sorrir de volta.
— Melhor? – Afirmo por pura educação.
– Que bom, venha a doutora Stanton vai atende-la
agora mesmo.
Sigo a moça através de um corredor
elegante e silencioso, ela abre uma porta e uma
senhora de cabelos brancos me sorri, a porta se
fecha atrás de mim e meu coração bate alucinado.
Engulo em seco.
— Sente-se. O que a aflige tanto? Está
sentindo alguma dor?
— Não... Doutora eu... acho que estou
gravida. Preciso saber.
— Certo. Vamos conversar e fazer um
exame. Não quer ter esse filho? É por isso todo esse

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medo? – A pergunta é bem direta.


— Eu só preciso saber.
— Tudo bem. Só pense que tem
escolhas.
Nunca faria algo assim, nunca tiraria um
bebê. Isso é quase um insulto. Ela me leva a uma
sala ao lado, uma enfermeira me ajuda a me
preparar, fica conosco na sala enquanto a médica
vai colocando luvas e me fazendo perguntas que só
vão, cada vez mais, confirmando minhas suspeitas.
A enfermeira me tira sangue. A doutora me faz
aquele incomodo exame de toque.
— Certo. Está bem nervosa, Annie. A
enfermeira Deborah vai te levar para uma sala de
repouso, você vai se deitar um pouco e daqui duas
horas quando o exame de sangue chegar falamos.
Está bem assim?
Afirmo, eu sei que ela já tem um
veredito, mas não me atrevo a perguntar, prefiro
adiar e sigo a enfermeira depois de me vestir. Me
deito em uma cama de hospital, a luz baixa e o
quarto silencioso me deixam ainda mais consciente
do que estou vivendo. Nick tinha que estar aqui
segurando minha mão e me dizendo que tudo está
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bem. Que me ama de qualquer modo e que nada


mais importa.
Ele me ama, é isso que vai dizer quando
souber, não tenho que ficar criando fantasmas,
tento colocar isso em minha cabeça, pode não ser
nada, se não for eu começo a tomar remédio, nos
prevenimos e nunca mais vai acontecer.
— E se for? – Digo em voz alta. Meu
celular vibra. Olho a mensagem.
“Saudade, quer ir ao cinema? ”
“Pode ser.”
A resposta é fria, mas no momento meu
coração dói só de pensar o que tudo isso vai causar.
Quero esse filho? Me pergunto firme. É dele, é
nosso, tem um pouco do nosso amor, é como se
nosso amor ganhasse forma e vida própria e isso é
bonito e grandioso e me domina por completo.
Eu não queria filhos, mas se ele está
aqui, então eu vou amar e proteger de tudo e todos,
encher de amor, meu medo e o medo dele não vão
me impedir de proteger essa vida com tudo que
tenho e sou.
A ideia não me deixa mais calma. Nick é

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tudo que tenho, se ele não está comigo então não


sou o bastante para ser mãe. Odeio as lágrimas.
Elas não param de correr e finalmente é hora da
verdade, a enfermeira me encaminha de volta a sala
da médica, ela me manda sentar, me estica um
envelope escrito teste de gravidez em letras
elegantes.
— Annie, você está grávida de sete
semanas. – Ela espera por uma reação minha. Não
tem nada. Só silencio e medo, engulo em seco. –
Está bem?
— Eu... eu não... Obrigada doutora.
— Precisa de acompanhamento médico,
exames mais detalhados para saber suas condições.
Pode marcar tudo e fazer o pré-natal comigo ou
procurar um médico da sua confiança, pode
analisar outras...
— Não tem outra opção. É meu filho.
Pare de me sugerir aborto! – Explodo e a médica
arregala os olhos.
— Essa não é a única opção. – A médica
diz calma, deve estar acostumada com mulheres
malucas e assustadas. – Adoção...
— Nunca! Não entende que só alguém
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que compreende a real importância de uma criança


poderia estar assim? É meu filho, é filho do homem
que amo. – Pego o envelope e fico de pé. – Tenho
um bom trabalho e uma boa vida. Obrigada.
Nick pensa como eu, eu sei que sim, vai
ficar do meu lado, preciso acreditar nisso. Suprimo
as lágrimas, me recomponho enquanto caminho
para casa, preciso de alguma serenidade para contar
a ele, preciso de ajuda para parar essa angustia e
esse medo.
Tenho que arrumar alguma coragem.
Subo os degraus de entrada do edifício e os olhos
de Ted encontram os meus com seu velho ar de
desdém. Ele é tudo que não preciso no momento.
— Boa tarde, madame. – Ele sempre me
provoca quando estou sozinha, o velho covarde de
sempre. – Aqui está a correspondência. – Me
estende um pequeno maço de papeis, mal consigo
organizar a mente, a mão treme quando vou pegar
os papéis, deixo tudo cair e me abaixo para
recolher, ele faz o mesmo por puro instinto.
— Eu pego. – Digo completamente
confusa.
— Gostou da Grécia? – Ted pergunta e
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me ponho de pé. – Mas olha se a garota não é


mesmo esperta? – Ele tem nas mãos o envelope
com o resultado do exame. – Teste de gravidez. E
aí? Positivo? Fisgou o milionário?
— Me devolve isso. – Exijo com as
lágrimas voltando a me dominar.
— É bem filha do seu pai mesmo. Que
coisa baixa, uns meses com o cara e já arrumou
uma barriga? Acha mesmo que ele vai aceitar isso?
Que não vai sacar logo que foi jogo sujo seu? Esses
caras não ficaram ricos assim, sendo tolos.
— Ted me devolve isso agora!
— Você vai cair do cavalo. O homem
vai te odiar muito depois dessa estupidez, foi com
muita sede ao pote. – Ted me estende o envelope. –
O que vai dizer? Que esqueceu de tomar
comprimidos? Que desculpa vai dar? Espero que
tenha armado esse plano melhor, ele não vai
acreditar fácil não.
As coisas que ele diz fazem tanto
sentido, me sinto gelar, meu coração salta tão
alucinado, olho para o elevador. Não estou pronta
para falar com ele, minhas pernas fraquejam e
quero fugir, quero desesperadamente sumir até me
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sentir inteira para ouvir suas perguntas. Se ele me


odiar, se me culpar, se duvidar, vai ser como
morrer um pouco.
Dou as costas e desço as escadas
correndo, uns passos depois uma mão me ampara.
— Annie, o que foi isso? – Meus olhos
encontram os de Sarah e eu a abraço chorando. –
Calma, o que aconteceu? Foi o Nick?
— Não posso ir para casa. – Digo
soluçando.
— Tudo bem, fica calma, vamos para
meu apartamento. – Ela tenta me puxar, mas
paraliso.
— Não, por favor, não posso, é o
primeiro lugar que ele vai me procurar e não posso.
— Tudo bem. Não chora. Vem, meu
hotel está a duas quadras. Vamos até lá, vai ficar
num quarto. Brigaram? O que ele fez para te deixar
assim?
— Depois explico. Preciso me deitar um
pouco. – Peço enquanto caminhamos apressadas,
Sarah não pergunta mais nada. No hotel, pega uma
chave na recepção, subimos de elevador e então

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estamos em um quarto.
— Pedi um chá e uma aspirina, agora
descansa. Consegue me contar?
— Prometa que não vai dizer ao Nick
onde eu estou. Nem ao Simon.
— Está me assustando. Por que está
fugindo dele?
— Preciso de um tempo. Eu estou com
medo e ele... Sarah, me ajuda, não conta.
— Prometo, mas está com medo dele?
Nick é tão gentil, educado.
— Não é medo dele. Tem algo que
preciso dizer a ele, algo que pode acabar com o
amor que ele sente por mim e não estou pronta para
isso. Amo o Nick. Tinha tanta certeza que seria
para sempre e agora... Ele não vai entender, vai
pensar coisas de mim.
— Annie, pode ficar aqui o quanto
quiser, é minha amiga e quero seu bem, mas não
pode sumir e não dizer a ele onde está. Nick vai
enlouquecer se apenas desaparecer. Vai colocar a
polícia atrás de você, se realmente o ama não pode
fazer isso. – Sei que ela tem razão. Só que não

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consigo raciocinar no momento.


— Eu vou procura-lo, juro, só não posso
fazer isso agora. – Pego o celular. – Olha, vou
mandar uma mensagem, está bem assim? Só
promete que ainda não vai dizer onde estou?
— Prometo. Está branca como cera,
tremendo, está se sentindo bem? Quer um médico?
— Não. Eu estou bem. – Meu estômago
começa a embrulhar, o enjoo vem com toda força e
corro para o banheiro. Quando volto Sarah está de
pé, os braços cruzados no peito, sobre a cama uma
bandeja com chá.
— Ou me conta ou vou buscar o Nick
agora mesmo.
— Então manda essa bandeja embora. –
Ela revira os olhos, pega a bandeja e deixa no
corredor, volta e me encontra encolhida na cama. –
Sarah eu estou grávida.
— Acho que isso eu meio que percebi. –
Ela diz e as lágrimas me dominam mais uma vez,
assim como o enjoo.
— Cresci num abrigo com o Nick.
Quando eu tinha doze anos ele saiu, a família dele o

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encontrou, eu fiquei. O lugar era a sucursal do


inferno, o demônio mandou seus assistentes mais
graduados para cuidar de nós.
— Nossa Annie! – Sarah segura minha
mão sem saber o que dizer.
— Um pouco depois que ele se foi...
Meu Deus é difícil de contar. – Começo a puxar o
ar e soltar tentando controlar o enjoo. – Começaram
a tocar em mim, o tempo todo, mas só aconteceu
mesmo, você sabe o que estou tentando dizer? –
Ela afirma. – Só aconteceu duas vezes quando tinha
dezessete. Sai uns meses depois. Procurei um
médico que me disse que estava bem, ele quis me
receitar comprimidos e eu disse que não precisava
que nunca mais deixaria que me tocassem.
— Então reencontrou o Nick.
— Sim. E ele é meu príncipe, eu o amo,
é tudo que tenho. Entre a gente é tão puro, perfeito
e natural que pensei ou melhor, não pensei. Só vivi.
Como se o fato de decidir não ter filhos fosse o
bastante, como se fosse um conto de fadas onde as
coisas são sempre coloridas e doces.
— E agora está com medo? Annie, isso é
tolice. – Seu tom parece tão natural, como se ela
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acreditasse mesmo nisso.


— Nick não quer filhos.
— Não mesmo? Alguma vez ele
perguntou se tomava remédio? Usou preservativo?
Ao menos conversaram sobre isso? – Nego e ela
fica de pé. – Meu Deus quantos anos vocês dois
tem?
— Às vezes é como se fossemos só
aqueles garotos tolos do abrigo.
— Ok. Vamos para casa, precisa falar
com ele.
— Não posso, ainda. Sarah é minha
amiga. Não me manda embora.
— Tudo bem. Manda a mensagem para
ele. Preciso ir para casa, o Bob está sozinho.
Amanhã volto bem cedo, ligo mais tarde e qualquer
coisa... Vou mandar o gerente vir te ver, abra a
porta ou chamo o Nick. – Sarah é firme, sabe que
preciso de um tempo sozinha, mas não vai me
deixar ficar em silêncio muito tempo.
— Obrigada. – Abraço Sarah. Finjo estar
forte apenas para ela se tranquilizar depois me
afasto e finalmente estou sozinha.

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Capitulo 24
Nick

— Então eu não sou mais o único que


sabe seu passado? – Simon me pergunta sentado à
minha frente.
— Não. Contei a eles, não é mais um
tipo de segredo.
— Gostava quando era um segredo.
Agora que todo mundo sabe eu fico igual a todo
mundo.
— Obrigado por sua preocupação
comigo. – Digo rindo.
— Era legal ser seu melhor amigo.
— Ainda é Simon. O único amigo além
dos meus familiares, sabe disso.
— Sei. Contou tudo, tudo mesmo? Não
tem mais nada que só eu sei? Quer me contar um
novo segredo? Uma coisa bem intima?
— Não. Obrigado, chega de segredos. E
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você e a Sarah? Como foi tudo?


— Nossa desde que chegou ficamos
numa correria que nem deu tempo de conversar e
agora que é casado nada de drink depois do
trabalho, estou me sentindo meio deixado de lado.
— Simon. – Desisto de reclamar, ele é
mesmo meio idiota.
— Tudo bem. Então, deixamos Annie no
avião e fomos jantar juntos, ela é bem divertida,
independente. Acho que passamos muito tempo
indo nos lugares errados, sabia? Sarah não é nada
parecida com essas garotas que conhecemos em
bares e boates.
— Imagino que não, Annie adora ela e se
fosse fútil e superficial não seriam amigas.
— Ela é independente, não porque é rica,
está cheio de garotas ricas por aí e que são
completamente dependentes de alguém. Sarah vive
sozinha e gosta disso, tem uma rede de hotéis que
não precisava administrar, mas quer fazer isso. É
forte, se ficar com alguém e esse alguém for eu, é
por que realmente gosta e não por que tem medo da
solidão.
— Talvez vocês combinem, mas ficou só
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nesse jantar?
— Não. Saímos mais uma vez,
almoçamos há dois dias. O almoço se estendeu até
o meio da tarde de tanto que conversamos. Foi
bom.
— E? – Pergunto curioso.
— E agora eu não sei bem, se você
entendesse de mulher poderia pedir um conselho,
mas só entende de Annie, então... Não sei como
agir, se falo sobre termos alguma coisa, se deixo ir
acontecendo, mas não quero passar meses nessa de
jantares e almoços.
— Está querendo namorar? – Dou risada
de sua careta.
— Parece boa ideia, gosto de pensar em
ter um relacionamento com ela. Marcamos de
jantar na sexta-feira, depois desse jantar eu penso
que as coisas se definam um pouco, temos nos
falado por telefone todos os dias.
— Sobre o que falam?
— Nick Stefanos curioso? – Ele ri, se
arruma mais na cadeira e dá de ombros. – Sobre
tudo, trabalho, como foi o dia, o que estamos

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fazendo, conversas longas, do tipo que ninguém


quer desligar. Você sabe, aquela coisa melosa de
desliga você primeiro.
— Que bom. Fico feliz, vamos combinar
de sair um dia desses.
— Vai ser bom. O Leon vem mesmo
ficar na sua casa?
— Prometeu que vem, mas não falei
direito com ele depois que cheguei, é tanta coisa
aqui.
— E agora quando chega em casa não
corre para trabalhar mais.
— Não faço mesmo isso. – Penso em
Annie me esperando sempre tão linda, feliz, mesmo
que saia daqui decidido a trabalhar pelo menos
mais uma hora, os planos se perdem nos braços
dela. – Quando eles forem embora, vou num abrigo
de animais buscar um cãozinho para ela, mas é
surpresa.
— Vai arrumar um cachorro? – Simon
pergunta surpreso.
— Acha cedo? Eu sei que é um grande
passo, mas ela quer tanto e vai ficar tão feliz, temos

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tanta certeza sobre nós.


— Não é isso. Pensei naquele seu
apartamento grande e todo cheio de coisas caras e
um vira lata de abrigo roendo seus móveis.
— Preconceituoso! Aquilo tudo são
apenas espaço e móveis. O que me importa é Annie
sorrindo e gosto de animais. Um pequeno que a
gente possa levar quando viajar. Que posso
acompanha-la na associação. Já está decidido
Simon, vou fazer uma surpresa para ela.
— Bom, você que sabe. Tenho que
voltar ao trabalho. O que vai fazer hoje?
— Nada demais. Amanhã vou jantar com
o Ulisses, ele marcou comigo e Annie. Acho que já
sei o que quer me dizer, de todo modo vou fingir
que estou surpreso. Talvez vá ao cinema, vou
mandar mensagem para Annie.
Simon me deixa só. Mando a mensagem,
recebo um “pode ser” frio em resposta, não me
preocupo muito, ela deve estar as voltas com seus
velhinhos, leva aquilo muito a sério, mais que
qualquer outro voluntário que já passou por lá.
Deixo o escritório apressado, caminho
pelas ruas em direção a minha casa pensando que
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não devia ter prometido ficar sem carro tanto


tempo, as vezes tenho tanta pressa de estar com ela.
Aceno para o porteiro, subo apressado,
quando entro a casa parece silenciosa e vazia, nada
de Annie em nenhum lugar. É estranho, ela sempre
chega muito antes que eu para poder estragar o
jantar em paz.
Telefono, uma, duas, três vezes e a linha
toca até cair. Começo a me preocupar. Atender o
celular é nossa prioridade desde que ela ganhou seu
aparelho. Telefono para a associação Naomi
atende.
— Naomi. Tudo bem? – Quem sabe algo
errado com um dos idosos tenha distraído Annie e a
prendido mais tempo na associação?
— Tudo certo. Precisa de algo?
— Não realmente. Sabe se a Annie ainda
está aí?
— Hoje ela foi embora bem cedo, logo
depois do almoço. – Meu coração se aperta. Falei
com ela no meio da tarde, aquela resposta fria que
deu não tinha nada a ver com seu trabalho.
— Obrigado. – Desligo sem saber direito

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o que pensar ou onde ir. O celular vibra, sinto


alivio só de ver que é uma mensagem dela. Não
dura muito.
“Desculpe não estar aí quando chegou.
Eu devia ter sido mais corajosa, vou te dar uma
explicação assim que estiver pronta. Sinto muito
por tudo. Preciso de um tempo, para juntar
coragem, para aceitar o que virá depois, eu não
queria que fosse assim. Estou segura. Sinto muito.
Fica bem. “
Que porcaria de mensagem é essa? O
que isso quer dizer? Leio e releio meia dúzia de
vezes e nada faz sentido. Do que ela está falando?
Ligo muitas e muitas vezes até o telefone começar
a avisar que está fora de área ou desligado.
Repasso todos os acontecimentos desde
que chegamos e não encontro nenhum problema,
nenhuma situação mal resolvida, nenhuma frase
mal colocada. O que pode ter deixado Annie assim?
O que tem que me dizer que precisa de coragem e
onde diabos se enfiou?
Ando pela casa assistindo as horas
passarem, não consigo pensar em nada que não seja
ela sozinha e sofrendo seja pelo que for. A cada
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hora sem ela meu desespero só aumenta.


Como vou acha-la numa cidade como
essa? Onde ela pode estar? Não sou nada sem ela.
Eu sei que seja o que for não é falta de amor, Annie
me ama e eu a amo e isso está claro entre nós então
o que a fez fugir de mim?
No meio da noite tomo coragem para ir
até o closet. Abro com os dedos trêmulos, se as
coisas sumiram acho que perco as forças de uma
vez. Estão lá, acho que estão, tem coisas dela ali,
não sei se são todas as coisas dela, mas não parece
que veio aqui e depois saiu.
Devia ter perguntado para o porteiro da
manhã. Sarah. A amiga dela, que estúpido, ela deve
estar lá. Corro para o elevador, não ligo a mínima
para a hora.
A garota abre a porta com o cãozinho na
mão e os olhos assustados.
— Annie está aqui? Só pode estar,
preciso falar com ela. – A moça balança a cabeça
negando, mas não quero acreditar nela. – Annie! –
Chamo por ela tentando olhar o apartamento por
sobre o ombro de Sarah. – Annie!
— Annie não está aqui. Entre se quiser.
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– Ela me dá espaço. Fico onde estou.


— Sabe onde está? Por favo,. me diga.
— Não sei. – Ela diz simplesmente e faz
meu mundo desabar quando a última esperança se
vai. –Sinto muito. Ela não... aconteceu alguma
coisa?
— Me deixou um recado ridículo e
sumiu. – Aperto o botão do elevador atordoado e
não fico para mais explicações.
Volto para meu apartamento, andando de
um lado para outro, aposto que está assustada,
enjoada, vomitando, com medo, ela não dorme sem
mim, ela tem pesadelos, ela precisa de mim como
eu preciso dela.
A escuridão me assusta e saio acendendo
a casa toda, mando mensagens uma atrás da outra.
Cinquenta, cem, mil, que importa? Ela precisa ver
ao menos uma e saber que estou aqui e que
podemos cuidar do que quer que seja, juntos.
Eles estavam certos o tempo todo, tinha
que ter me casado com ela. Se ela tivesse um
maldito anel no dedo estaria confiante e segura, não
correria de medo de sei lá o que. É isso que vou
fazer quando a trouxer de volta. Enfia-la num avião
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e leva-la para se casar comigo em Kirus.

O dia começa a surgir. E se Annie nunca


mais voltar? Se me deixou para sempre? Como vou
encontrar minha gatinha? Não posso perde-la de
novo. Não é mais possível viver sem ela.
Meu coração dói de um modo que nem
sabia ser possível. Se ficar sozinho vou ficar louco,
preciso de ajuda. Não posso resolver isso sozinho.
Leon pode me ajudar, ele pode encontra-la para
mim, conhece pessoas, ele se importa, eu sei disso.
Pego o aparelho, vou assusta-lo, ele vai
demorar, mas não sei o que fazer e não consigo
pensar em nada.
— Nick? – Sua voz mostra sua
preocupação, aqui são seis da manhã. Ele deve
saber que só pode ter algo errado.
— Leon a Annie... aconteceu alguma
coisa, ela me deixou ou sei lá, ela... tem uma
mensagem que não entendo e não sei como
encontrá-la. Não consigo resolver isso, não consigo
sozinho. Me ajuda?
— Estou indo. Não sai daí, fica calmo. –

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É bom saber que ele vem, mesmo com medo de


algo piorar até sua chegada.
— Obrigado.
— Vai ficar tudo bem, Nick. Annie vai
ficar bem. Vocês dois vão ficar. Estou em Nova
York, acabo de chegar. Em uma hora estou aí.
Nem pergunto o que faz aqui, só sinto o
alivio de saber que não vou ter que esperar o dia
todo por ele. Me sento no sofá depois de conferir
pela milésima vez se ela não mandou nenhuma
mensagem. Leon vai resolver tudo. Uma hora e ele
chega e resolve tudo.
O rosto de Annie fica o tempo todo
dançando em meu cérebro, uma parte de mim não
se desconecta dela nenhum segundo, é assim desde
que eu a tive de volta. Não acredito que ela está
fazendo isso, não entendo.

Leon

— O que aconteceu? – Lissa pergunta no


saguão do hotel. Heitor se junta a nós com as
chaves dos quartos. Depois de cuidar dos registros
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de todos.
— Annie deixou um recado confuso para
o Nick e sumiu, ele está desesperado.
— Droga! Ariana não devia ter guardado
segredo. Aposto que ela descobriu e surtou. –
Heitor conta enquanto vou telefonando para
Ulisses.
— Ulisses, Nick está com problemas.
Annie sumiu, deixou um recado então ela deve
estar bem, acabo de me registrar no hotel, vamos
deixar as garotas e as crianças nos quartos e
encontramos você na casa do Nick.
— Estou indo. Coitado, está muito
assustado? Como sabe disso?
— Ele está péssimo. Acabou de me ligar.
— Se te pediu socorro deve estar mesmo
muito mal. Te encontro lá.
Entramos no elevador. Lissa e Liv
segurando Harry e Emma enquanto os outros
pequenos vão assonados se encostando em nós.
— Tem algo errado com o tio Nick,
papai? – Lizzie pergunta muito atenta.
— Não solzinho, seu tio está ótimo, o
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papai e o tio Leon estão combinando uma reunião


de trabalho, vamos espera-los no quarto e depois
vamos passear está bem? – Liv acalma a filha que
não acredita em uma palavra, olho para Heitor,
quem sabe ela não acalma o tio? Ele nega com a
cabeça e talvez esteja certo. Não é hora de leva-la.
Nick nunca pede socorro, mas pediu e
tenho que conseguir ajudar, preciso pensar em algo,
me despeço assim que deixo todos no quarto. Ainda
bem que Thaís veio conosco, Lissa me beija de
leve.
— Amor ele precisa que fique calmo.
Tente fazer parecer que tudo vai ficar bem e não
toque no assunto bebê. Se ele não sabe vai surtar
realmente. – Afirmo, ela está certa. É melhor não
falar disso até que ela apareça e conte a ele.
Quando chegamos na frente do prédio,
Ulisses nos espera no saguão. Apertamos as mãos
todos meio preocupados.
Aperto o botão chamando o elevador.
Ficamos os três a espera ansiosos, uma moça com
um cachorrinho no colo se junta a nós na porta do
elevador e nos olha de modo assustado. Depois
parece se distrair com o animal.
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— Com certeza ela surtou quando se deu


conta. Falou com ele e como ele está? – Ulisses
pergunta preocupado.
— Arrasado. Annie não podia ter feito
isso, eu sei que não é fácil para nenhum dos dois
com tudo que viveram. As coisas todas que eles
têm que lidar, mas isso é sério demais para ela fugir
apenas. Não vamos falar de gravidez, se ele não
sabe vai ter um ataque. Primeiro vamos tentar
encontrá-la.
— Pedi ao Simon para falar com aquela
amiga dela por quem ele está apaixonado. Quem
sabe a moça se abre com ele? – Ulisses avisa.
— Acho que na associação algum dos
idosos pode ter uma pista. – Heitor comenta. A
porta do elevador se abre, deixamos a jovem com
seu cachorro entrar primeiro, depois entramos.
Aperto o botão da cobertura.
— Como vamos achar Annie numa
cidade desse tamanho? – Passo a mão pelo cabelo,
sem saber o que fazer. – E se ela passa mal sozinha,
se precisa de alguma coisa? Dois garotos, é isso
que são.
— Não vai brigar com ele, Leon! –
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Heitor pede.
— É, o coitado já está sofrendo demais.
– Ulisses continua.
— Claro que não vou brigar com ele. Só
não sei como ajudar. Onde começar a procurar.
A porta do elevador se abre e a moça
desce.
— Detetives, policia. Não sei, deve ter
um jeito. – Heitor continua. A porta se fecha. – Mas
acho que ela vai procura-lo é claro. Annie não vai
fugir gravida, ela só está com medo.
A porta se abre e Nick está de pé
andando pela casa, ainda de terno e gravata. Os
olhos fundos, o rosto cansado.
— Leon. Nem quero saber porque está
aqui na cidade, mas obrigado. Eu não... Sabe como
encontrá-la? Pensou em alguma coisa? – Ele me
pede socorro e fico angustiado de não saber o que
fazer. – Olha a mensagem, faz sentido? – Ele me
estende o celular. Só então parece ver os irmãos. –
Obrigado por terem vindo também.
A mensagem faz todo sentido se ele
soubesse que ela está grávida e com medo, mas ele

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não sabe e não posso dizer sem apavora-lo ainda


mais. Troco um olhar com todos os outros.
— Quero ela de volta. Juro que não fiz
nada para magoa-la. Foi algo que não sei e não me
importo.
— Tudo bem, Nick, nós vamos encontrá-
la.
— Você já sabe como?
— Sei, mas não pode sair assim. Quero
que suba, tome um banho e vista uma roupa
descente, vou preparar uma xicara de café e depois
nós vamos encontrar Annie.
— Eu vou. Não demoro, dez minutos,
depois vamos acha-la, somos quatro, todos juntos
podemos resolver isso. Quando ela chegar eu vou
dar o cachorrinho que ela tanto quer. Eu sei que é
um grande passo e tudo mais, mas ela vai gostar.
Acho que a gente consegue. – Nick some escada
acima e nos olhamos, nunca pensei ver Nick tão
vulnerável, dependente de alguém, mas entendo, se
perdesse Lissa... Quando ela foi enfrentar o pai eu
me senti morrendo e acho que é assim que ele está
se sentindo.
— Um cachorrinho? – Heitor diz
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assustado. – Um cachorrinho e ele acha que é um


grande passo?
— Imagina quando souber que é um
bebê? – Completo ainda mais preocupado.
— Achei uma boa melhora! – Ulisses diz
dando de ombros, olhamos para ele incrédulos. – O
que, gente? No começo é tudo igual, só limpar a
sujeira e alimentar.
— Você sabe que a Sophia está
esperando um bebê e não um poodle, né? – Heitor
pergunta. Ulisses ri.
— Acho que ele vai ficar bem. É só
acharmos Annie. Afinal que história é essa de que
sabe o que fazer, Leon?
— Não tive coragem de dizer a ele que
não sei o que fazer.
— Nos dividimos e vamos batendo de
porta em porta, se for preciso. – Heitor comenta.
— O celular. – Tenho uma luz que me
alivia. – É isso. O celular que ele deu a ela, é um
desses aparelhos modernos, pode ter aqueles
dispositivos de localização.
— Isso. Boa Leon. Acho que vou esperar
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o Nick descer e ligo para o Tony, ele pode dar um


jeito de rastrear.
— Esses seus amigos da Interpol, eu não
sei se gosto disso, com a Sophi eles mais
atrapalharam que outra coisa.
— Vai dar certo. É só rastrear um
número. Assim não precisamos envolver a polícia.
– Sigo para a cozinha. Todos me ajudam a abrir
armários e encontro tudo para um café. Quando
servia uma caneca para cada um, Nick surge na
cozinha.
Se encosta na porta e fica nos olhando de
modo triste.
— Adoro vê-la aqui. Derrubando coisas,
toda atrapalhada. Jurando que o ideal seria
vivermos de gelo. Ela tem medo de muitas coisas e
está sozinha agora.
Sua voz embarga e meu coração se
aperta. As coisas que os dois viveram deixa cada
pequena dificuldade tomar uma proporção grande
demais para qualquer um deles.
— Toma o café, Nick.
— Não consigo, Leon, me aprontei,

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podemos ir. Qual seu plano?


— Vamos nos sentar um pouco na sala e
conversar.
Ele é de novo o garoto obediente que
tem medo de fazer algo errado e ser deixado, Nick
se senta no sofá da sala principal. Fica à espera de
respostas que não tenho.
— Pensamos em começar rastreando o
telefone dela, Nick, vamos encontrar a Annie nem
que tenhamos que bater de porta em porta. –
Prometo a ele. Nick pretendia dizer qualquer coisa,
mas o elevador se abre e a moça do cachorro surge
na sala.
— Sarah! Ela te procurou? Sabe dela?
— Senta Nick, preciso falar com você. –
Ele obedece, todos nós o imitamos. – Annie é uma
amiga querida, ela me pediu ajuda e ajudei, mas
bons amigos precisam saber a hora de fazer o que é
melhor e mais certo. Estive com ela há pouco. Não
consegui dormir depois que deixou minha casa e
fui encontra-la assim que amanheceu e sei que ela
precisa mesmo é de você.
— Por favor, Sarah, onde Annie está?

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— No meu hotel, duas quadras daqui. –


Ele fica de pé, o rosto volta a ter vida e me acalmo.
– Vou te dar o endereço e espero que um dia ela me
perdoe.
— Ela vai, prometo. Não precisa, sei
qual hotel. Obrigado, Sarah. Muito obrigado. Eu
vou atrás dela. Annie está precisando de mim,
então eu vou...
— Vai Nick, ligamos mais tarde. –
Sorrio, ele me abraça, depois corre para o elevador.
— Quarto 431. – Sarah grita quando a
porta do elevador se fechava. Ficamos apenas nós e
ela. Sarah sorri um tanto sem graça. – Ouvi a
conversa de vocês no elevador, depois o Simon me
ligou e sabia que era o certo a fazer. Ela está
sofrendo, ele também e eu sei que fiz o certo.
Desculpem não ter feito antes, achei que ela só
precisava de umas horas.
— Tudo bem, Sarah. Obrigado, nem sei
como agradecer. Annie é uma menina muito
querida por todos nós, vamos cuidar para que
fiquem bem.
Descemos todos. É melhor deixar que
conversem primeiro, ele sabe como cuidar dela.
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Vamos todos para o hotel, Sophia seguiu para lá


enquanto Ulisses foi a nosso encontro.
Ver minha mulher me dá paz novamente.
Ela me abraça, todos numa grande mesa de café da
manhã.

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Capitulo 25
Nick

Caminho a passos rápidos, correria se


não fosse o medo do que vou encontrar, tento ficar
calmo, só quero trazer Annie para casa e depois
resolvemos o que estiver causando isso tudo.
Subo de elevador sem me anunciar, não
vou dar nenhuma chance de Annie fugir de mim.
Ulisses e Sophia já fugiram de um hotel, ela pode
tentar repetir o feito.
Abro a porta que por sorte não está
trancada. Ela está sentada na cama abraçada aos
joelhos, ergue o rosto lentamente e se surpreende
quando me vê. Está tão abatida que me assusta e
irrita. Por que foi fugir assim?
— Calça os sapatos e vamos para casa. –
Digo e ela mantem o ar incrédulo. – Vamos pegar
um avião e vai casar comigo em Kirus.
— Eu não vou casar coisa nenhuma.
— Calça os sapatos e vamos de uma vez.
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Vai casar comigo sim, não é como se estivesse te


dando opções. O que tem na cabeça para quase me
matar de preocupação?
— Você não quer realmente casar
comigo. Acredite.
— Agora além de fugir feito uma
criminosa, ainda sabe o que se passa comigo? O
que quero ou deixo de querer? Calça os sapatos,
Annie, eu vim a pé, não vai querer caminhar
descalça pelas ruas de Nova York.
— Nick, você não entende. Não sabe o
que está acontecendo. Diz que quer casar, mas...
— Quero não, vou fazer exatamente isso.
– Vasculho o quarto em busca de seus sapatos.
Como sempre estão jogados a metros de distância
um do outro.
— Nick eu estou grávida. – Ela diz
chorando. É um baque. Gravida, por isso todo esse
momento difícil.
— Quer que calce você? – Me sento na
beira da cama com seus sapatos.
— Ouviu o que eu disse? Eu estou
grávida.

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— Ouvi, Annie. Isso não muda nada.


Vamos para casa. Precisa de cuidados. – Não é
como se estivesse ignorando a grandiosidade do
que me disse, apenas quero deixar esse lugar e não
consigo nem pensar na possibilidade de sair daqui
sem ela.
— Isso muda tudo. – Ela continua a
chorar, eu calço seus sapatos.
— Vem. Vamos para casa. – Ver seu
abatimento me assusta, saber que vamos ter um
filho me apavora de um modo que nem consigo
colocar em palavras. Annie me abraça chorando. É
bom tê-la em meus braços, saber que me ama, que
estamos juntos. O resto eu simplesmente não sei,
mas vamos descobrir um jeito de lidar com tudo
isso. – Está tudo bem. Conversamos sobre isso em
casa. Só vem comigo, por favor.
Ela afirma, ficamos de pé. Pega a bolsa e
o celular, depois de receber um olhar raivoso por
conta do celular desligado, ela me acompanha. Sua
palidez me assusta tanto. Não sei o que fazer.
— Comeu? Dormiu?
— Não. – Ela responde andando ainda
apoiada em mim, os dois silenciosos. Quando
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chegamos na calçada seu abatimento fica mais


evidente. – Pega um taxi Nick, não consigo, estou
enjoada.
— Claro. Talvez eu tenha que te levar
para um hospital. É isso? É o que temos que fazer?
— Não. Eu quero dormir um pouco. –
Ela está encostada em mim, começo a achar que é
melhor ligar para meu irmão. Um taxi para muito
rápido, me sento com ela ao meu lado. Indico o
caminho o homem segue sem reclamar. Dou umas
notas a mais pela pouca distância e o silencio da
viagem. Chamo o elevador e ela se encosta mais
em mim enquanto esperamos.
Em casa, eu a carrego no colo para o
quarto.
— Eu não fiz de caso pensado para ficar
com seu dinheiro. – A declaração é tão absurda que
me arranca risos mesmo num momento como esse.
Ela me olha espantada.
— Não é possível que tenha pensado
uma coisa absurda dessas sozinha? De onde tirou
isso? Que tipo de pessoa acha que eu sou?
— Desculpa ter fugido. – Ela volta a
abraçar os joelhos e chorar desconsolada e não sei o
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que fazer. Me aproximo.


— Annie, para de chorar, precisa se
acalmar, não tem como ter uma conversa assim,
precisa comer alguma coisa, dormir umas horas. Eu
passei a noite andando de um lado para outro,
angustiado, com medo, sei que ficou igual.
— Vomitei. Minha cabeça está
explodindo. – Ela soluça.
— Vou arrumar algo para comer e um
remédio para dor.
— Não posso tomar remédio. Estou
grávida.
— Então vai dormir um pouco.
— Sozinha?
— Não. Eu tenho que descer um pouco
para pegar alguma coisa para você comer. – Afasto
seu cabelo, é minha linda gatinha assustada e
perdida como quando éramos crianças. Eu a trago
para meus braços, não consigo dimensionar as
coisas que estão acontecendo, meu coração se
aperta com a ideia. Nunca esteve em nossos planos,
mas não podemos ignorar isso.
— Deita aqui comigo um pouco, não
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consigo comer nada agora. – Aceito isso, ela talvez


precise apenas de umas horas de sono tranquilo
para se sentir melhor. Me deito abraçado a ela,
Annie se encolhe enrolando suas pernas as minhas,
as lágrimas rolam. – Estou com medo.
— Está tudo bem, está aqui comigo, vou
cuidar de tudo. Dorme um pouco. Não chora mais.
– Aos poucos as lágrimas vão sumindo e
finalmente ela adormece. Me afasto um pouco para
poder olhar para ela, está bem abatida, parece mais
doente do que... do que qualquer outra coisa. Beijo
seus lábios de leve e deixo a cama, preciso avisar
meus irmãos. Está tão cansada que não me percebe
deixar a cama.
Desço para telefonar e não acorda-la.
Acho que Leon não podia ter vindo em melhor
hora, nem sei como seria se ele não estivesse aqui.
— E então Nick? – A voz dele soa
preocupada.
— Ela está aqui, de volta, dormindo no
momento. Leon, pode vir até aqui de novo?
— Estou indo. – Ele sempre me atende
de primeira e fico pensando que não mereço tanto
cuidado depois de tê-los deixado de fora da minha
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vida tanto tempo.


— Obrigado. Será que no caminho pode
trazer comida? Uma comida saudável.
— Claro. – Seu tom fica animado e
percebo sussurros a sua volta. Aposto que está
cercado de curiosos Stefanos. Isso vai ser uma
grande bagunça e não sei se aguento tudo isso. –
Meia hora e estou aí. – Alguém resmunga qualquer
coisa. – Estamos, Ulisses e Heitor vão também.
Pode ser? – Penso um momento. Se deixar os dois
de fora vão me acusar para sempre.
— Pode. Não demora. – Peço antes de
desligar, tenho que saber o que fazer quando Annie
acordar. Já eu, não sei se algum dia vou dormir de
novo.
Me sento no chão perto da vidraça, no
lugar onde descobri que ela era a minha gatinha
perdida. Foi o melhor dia da minha vida, depois foi
sendo superado dia a dia. Ela sempre faz tudo ser
melhor, mais vivo e colorido, agora precisa de mim
mais do que nunca e não posso fraquejar, não posso
me deixar amedrontar.
O elevador anuncia a chegada deles e
fico feliz e aliviado. Os três entram tranquilos, o
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que será que vão dizer quando contar?


— Coisas grelhadas e coloridas, você
disse saldável. – Ulisses balança a sacola e pego de
sua mão.
— Vou colocar na geladeira e podemos
conversar no escritório. Não quero acordar a Annie
ainda. Querem uma cerveja?
— Nick ainda não é nem meio dia. –
Heitor me lembra.
— Certo, desculpem, estou meio perdido
no tempo. – Vou para cozinha, guardo tudo e os
encontro à minha espera no escritório. Tomo o
cuidado de fechar a porta.
— Annie não vai ter pesadelos dormindo
sozinha? – Heitor pergunta quando me sento.
— Não. Ela pensa que estou lá com ela.
— Como foi? O que aconteceu? – Leon
questiona.
— Eu só trouxe ela para casa. Annie
estava muito abatida e cansada. Ela fugiu por que..
por que ficou assustada. A Annie me disse.... –
Encaro todos eles um tanto angustiado. – Ela me
disse que nós vamos... que ela está... – Não
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encontro um jeito de dizer, de admitir para mim e


para eles.
— Às vezes se comporta como um
adolescente. – O tom de Leon é firme, é quase mais
uma bronca. Estou ficando bom nisso. – Nem
consegue dizer. Gravida. Annie está gravida, você
vai ter um filho, vai ser pai. – Ele joga na minha
cara sem piedade e fico surpreso e confuso.
— Ariana nos disse assim que partiu. –
Heitor conta. – Por isso decidimos vir antes do
combinado. – Afirmo mudo. Olho para Leon, ele
ainda parece muito bravo.
— Todos nós sofremos com a fraqueza
do nosso pai, mas você. Você foi de longe quem
mais sofreu com isso, sabe na pele, literalmente, o
que um pai fraco e covarde significa. É assim que
vai se comportar?
— Não. – O choque das palavras de
Leon me domina por inteiro, não sou fraco, nunca
vou permitir que um filho meu sofra se sentindo
abandonado e indesejado, sinto um nó na garganta
de culpa.
— Ótimo. Então diga o que tem para
dizer. Por que Annie fugiu assustada?
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— Annie fugiu porque descobriu que


está... gravida, que nós vamos ter um filho! –
Enfrento seu olhar, é hora de ser homem e pai.
Seus olhos sorriem, o de todos eles. Leon
fica de pé e me puxa para um abraço, depois todos
os outros fazem o mesmo.
— Parabéns, Nick. Isso é um presente,
acredite, um grande presente. – Leon diz tranquilo.
Só Ulisses continua de pé quando depois de me
abraçarem eles se sentam.
— Posso falar agora? – Ele pede e todos
olhamos para ele. – Nick, advinha?
— O que? – Me faço de bobo só para dar
a ele esse presente de me surpreender.
— Nem desconfia? – Nego. – Eu vou ser
pai. Sophi também está grávida.
— Puxa isso é... Parabéns. – O abraço
mais uma vez. – Que bom.
— Que difícil que estava de te contar
isso. Estou preparando isso a dias e daí você passa
na minha frente.
— Desculpe. Não era minha intensão. –
Digo um tanto abatido quando todos nos sentamos.
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– Sophia está bem?


— Perfeita, linda e mega feliz. –
Diferente de Annie que está com medo e sozinha
porque eu sou um grande idiota.
— Não sei como agir. Não sei o que
tenho que fazer. – Desabafo. – Eu não queria, não
planejei isso. – Encaro meus pés.
— Se não queria filhos, se estavam tão
decididos, porque se descuidaram? – Leon me
questiona e olho para eles. Nem sei como explicar
isso. Nem eu entendo bem.
— Não foi um descuido, um caso
isolado, eu digo. Eu nunca me preveni. – Os três
me olham boquiabertos.
— Eu disse para me deixar ter aquela
conversa de sexo com ele na adolescência, disse
que eu iria traumatizar o garoto! – Ulisses reclama
com Leon. – Que você faria isso, olha no que deu?
Não falou com ele sobre camisinha?
— Ulisses, ele falou sobre tudo! – Aviso
um tanto constrangido ao me lembrar da conversa.
– Nunca, nenhuma vez em toda minha vida tinha
deixado de usar preservativo. Isso sempre foi
prioridade, nunca tive um relacionamento, era
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sempre algo casual, nada sério ou especial,


nenhuma garota muito intima. Na minha cabeça eu
sempre pensei em doenças, me proteger de
doenças. Só isso.
— Mas com a Annie.
— Desde a primeira vez era a garota
certa, quando descobri que ela era a minha gatinha
do abrigo, eu sabia, nunca mais nos separaríamos,
era para sempre e só fomos vivendo nosso amor.
Uma tolice de adolescente, eu sei disso, mas foi
assim.
— O que isso importa? – Heitor se
pronuncia. – Quem consegue entender a mente
humana? As coisas são como são e pronto. De
outro modo nunca teriam deixado algo assim
acontecer e nunca venceriam esse trauma. Agora
aconteceu e vão lidar com isso e aproveitar isso.
— Heitor está certo. Ele sempre está. Ou
quase sempre. Quando a Liv deu um bom tapa em
você foi bastante merecido. – Ulisses diz rindo.
— O assunto é o Nick! – Heitor reclama.
— O que eu faço agora? Eu pedi ela em
casamento, ela recusou, mas vou convence-la.

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A risada de Ulisses me faz agradecer ter


fechado a porta. Os outros dois acabam rindo com
ele. Só eu não vejo qual a graça.
— Essas senhoras Stefanos estão sempre
se superando. Ela disse não?
— Disse, mas vai mudar de ideia, eu não
fui muito gentil. Quando voltarem para a ilha
vamos junto casar. O que quero saber é o que tenho
que fazer na pratica.
— Na pratica você já fez, Nick. Leon
você é um péssimo professor de sexo? Deixa que
com o Luka eu falo. – Todos acabamos por rir,
Ulisses é o tipo de pessoa que faz bem ter por perto
nos momentos difíceis.
— Deixa ela saber que quer esse filho. –
Leon ignora Ulisses. – Mostra para eles que está
feliz. Se não está, vai ficar. O bebê sente tudo, é o
que dizem, seu amor, sua raiva. De carinho a ela. E
amanhã ela tem médico marcado junto com a
Sophia.
— Onze da manhã. Passamos aqui. –
Ulisses completa.
— Acho que agora precisa dormir. – Os
três ficam de pé. – Pode ficar em Kirus Nick. Até
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seu filho nascer se quiser.


— Tem meu trabalho.
— Isso não é problema e sabe disso.
— Ela tem os velhinhos dela também,
vamos ficar bem. Vou mostrar que sei cuidar dela.
Eu prometo.
— Certo. A gente já vai.
— Disse que vinha ficar na minha casa,
mas ficou num hotel. – Eles se olham. Ulisses abre
a boca, mas fecha com o olhar de Leon.
— Amanhã. Vamos ficar aqui sim.
Deixa a Annie dormir bem e se acalmar. Ficamos
aqui.
— Obrigado. – Eles partem todos de
uma só vez e subo as escadas em silencio, Annie
ainda dormindo, tiro os sapatos e me deito, logo ela
se enrola em mim. Acho que assim como ela, eu
preciso apenas dormir.

Acordo com ela se sentando na cama,


olho o relógio, quatro da tarde. Annie parece ainda
pálida.
— Como se sente? – Pergunto
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preocupado.
— Bem, eu acho, com fome, muita fome.
– Isso é bom.
— Leon trouxe comida.
— Leon?
— Chamei meus irmãos, estava
desesperado. – Ela fica triste no mesmo instante.
— E agora sua família me odeia?
— Não. Agora minha família está
aliviada que está bem e em casa. Quer descer para
comer? Quer que traga para você? O que quer
fazer?
— Vou tomar banho e desço.
— Banho é boa ideia. Vamos. – Fico de
pé, Annie me olha meio confusa.
— Vai tomar banho comigo?
— Estamos retrocedendo muito. Vai
pedir o cargo de governanta de volta? Vem. – Eu a
puxo pela mão, Annie sorri, o primeiro sorriso
desde que chegamos e gosto de vê-la assim.
Descemos juntos para cozinha, fico assistindo
calado enquanto devora a comida que Leon trouxe.
Penso que isso é efeito da gravidez e gosto, algo
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parecido com ternura me invade.


— Acho que nunca comi tanto na vida.
De onde vem essa comida? – Ela olha a caixinha de
isopor com o logotipo. – Vou anotar o telefone.
— Será bom até a senhora Kalais voltar.
Vamos para a sala. Annie se encolhe no
sofá, parece querer dizer algo, mas reluta.
— O que quer dizer? – Pergunto depois
de assistir sua incerteza.
— Nick. Eu não sirvo para ser a esposa
de um executivo.
— Não mesmo. – Ela nem parece feliz
de estar de volta. – Você é o oposto do que se
espera para um executivo de Wall Street. Vive
descalça, despenteada. Usa pequenas tiras de
tecidos que insiste em chamar de roupas. O que é
bem sexy posso garantir. Assobia como um garoto
de rua. Parece extrovertida, mas só falta se
esconder atrás de mim quando um desconhecido se
aproxima, as vezes se esconde.
— Eu disse que não queria realmente se
casar comigo. – Ela seca uma lágrima.
— Acontece Annie, que eu não sou um
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executivo de Wall Street. Eu sou um advogado, um


trabalhador como outro qualquer. Eu garanto os
bons contratos dos meus irmãos e cuido de gente
sem condições em uma associação. Não frequento
esse mundo de que tem medo. Não é o meu mundo.
Por isso é perfeita para mim. Não quero que mude
nada. Não quero que aprenda a ser sofisticada, eu
não sou. Não entendo nada de copos e talheres, não
quero aprender. – Seus olhos agora parecem brilhar
um pouco mais. – Passo boa parte do meu dia
fechado numa sala cercado de papéis, vez por outra
enfrento um juiz. Ainda sou eu. O príncipe com
quem dividia o medo daquele maldito porão escuro.
Quero casar com você por que te amo. Entende
isso? Eu amo você e não vou amar mais ninguém.
— Eu disse para economizar eu te amo
que um dia precisaria de um. Também amo muito
você. Devia pedir mais uma vez. – Ela sorri, toda
ela, os olhos, a boca, tudo suaviza em um lindo
sorriso que dispara meu coração.
— Amo você, gatinha. Quer casar
comigo? – Seguro sua mão. Devia ter feito isso
antes, pedido assim, com cuidado como ela merece.
– As flores e o anel, vêm depois.

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— Aceito, príncipe. E quero as flores e o


anel. – Beijo Annie. Um beijo longo que faz minha
vida finalmente voltar a ter sentido. – Te amo.
— Nunca mais foge de mim. Isso me
matou. O medo de acontecer de novo vai me
atormentar se não prometer que nunca mais, por
motivo nenhum, vai fazer isso.
— Eu juro que não vou. Tive medo de
não me amar mais depois que soubesse. Tive medo
de um monte de coisas. Ainda tenho.
— Não rejeita ele, gatinha. – Peço com
cuidado. Mantendo Annie em meus braços.
— Rejeitar? Nunca. No minuto que
soube fiquei doida de amor por ele. ─ Uma nuvem
de preocupação passa por seu olhar. ─ Ama meu
bebê? Vai amar um dia?
— Primeiro não pode dizer meu bebê, é
nosso, segundo eu amo, tanto quanto amo você e
nem sei o quão assustador pode ser isso. O quanto
preocupado eu vou ficar e cuidadoso, e não sei se
vou conseguir mostrar a ele ou a você, mas eu
aprendo.
Ela seca lágrimas abraçada a mim.
Nossas marcar são profundas. Muito mais fundas
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do que pensei que fossem e só agora me dou conta


disso, mas essa criança não tem culpa, ela precisa
de amor. E não vou negar isso a ela. Nunca.
— Eu vou ser pai. – Digo em voz alta e
ela me olha com uma ruga na testa. – Estou
exercitando. Tenta também?
— Eu vou ser... – Ela titubeia. – Eu vou
ser mãe.

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Capítulo 26
Annie

Meu alivio de estar nos braços de Nick,


segura e cuidada não afasta o medo do futuro.
Mesmo depois do pedido de casamento, foi um
susto ele invadir o quarto, mas acho que não teria
coragem de deixar aquela cama se ele não tivesse
aparecido.
— É estranho isso. Vou ser mãe. – Digo
em seus braços, ele me envolve mais. Beija meu
pescoço e me arrepio com o toque. – Isso é... Me dá
medo.
— Em mim também. Por que fugiu? O
que aconteceu? Como ficou sabendo?
Me arrumo para poder olhar para ele,
Nick me faz um carinho no rosto. Tenho mesmo
que me explicar.
— Ava me perguntou se eu estava
grávida, do nada eu pensei sobre isso, contei a ela
que estava meio enjoada e ela perguntou, nunca
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tinha nem pensado nisso. Fiquei assustada, confusa.


Quis ter certeza logo e fui em uma clínica. O exame
deu positivo.
— E decidiu fugir de mim? – Tracy
precisa tanto do emprego de Ted, é disso que
vivem, se contar o que aconteceu Nick vai
convencer o dono do prédio a demiti-lo. Desvio
meus olhos um momento.
— Fiquei assustada, não sabia muito o
que fazer e encontrei a Sarah. Ela me levou para o
hotel e depois me traiu.
— Coitada. Não briga com sua amiga.
Ela quis o melhor para você. – Ele me puxa para
seus braços. Me aconchego. É tão bom ficar assim.
— Sei disso. Não vou brigar com ela
não. Na verdade, tenho mesmo que agradecer, eu
fiquei em pânico, estava pregada naquela cama.
— Tão linda! Tive tanto medo. Chegar
aqui e não estar...
— Desculpa.
— Sophi está gravida. – Ele me conta,
mais uma vez saio dos seus braços, para olhar para
ele, sorrio muito feliz.

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— Que linda! Estou feliz por ela. Os dois


queriam muito.
— Sim. Amanhã vão juntas ao médico.
Acho bom que tenham o mesmo médico.
— Tenho que ir ao médico? – Pergunto
pensando naquela médica bruxa que odiei.
— Tem é claro. Que pergunta.
— Eu vou! – Respondo brava. – Acho
que tenho um pouco de medo. E se o médico disser
alguma coisa ruim?
— Ele não vai dizer nada ruim.
— Como sabe? Ele pode dizer sim, as
vezes eles dizem Nick.
— Gatinha, não dá para se esconder.
Tem que enfrentar essa parte.
Me lembro da médica dizendo que tenho
opções, meu coração se aperta, me abraço a Nick.
— Eu estava com medo quando cheguei
na médica. Muito, tremendo, chorando e daí ela
disse... – Respiro para não chorar. – Que eu tinha
opções.
— Nossa! – Ele fica mudo. Os olhos
arregalados, me puxa mais para ele. – Isso é... Onde
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é essa clínica?
— Aqui perto. O endereço está no
celular. Pensei que ela não devia sair logo dizendo
isso. Tive medo, fui embora correndo.
— Vou saber mais sobre esse lugar,
visitar essa médica. Não vai acontecer. Com certeza
Sophia pesquisou e vão no melhor médico.
— Contou para eles o que aconteceu
com a gente? – Nick sorri.
— Se falar assim na frente do Leon ele
vai brigar com você. Me deu uma bronca e tanto,
ando deixando ele bem bravo. Tem que dizer,
grávida, filho, bebê. Essas coisas.
— Ainda bem que avisou. Se ele brigar
comigo eu choro. – Nick me beija. – Sete semanas
a médica disse.
— Sete! – Ele se espanta. – Foi no
começo então.
— Acho que foi por isso que fiquei tão
apegada naquele pudim.
— Está toda gatinha. Quando contei eles
ficaram bem felizes. Amanhã eles vêm ficar aqui
em casa. Sabia que eles vieram antes por que
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Ariana falou que está gravida?


— Como que ela sabia? E porque não
falou logo para mim? Assim eu tinha uma sincope
perto de você e não fugia.
— Ela sempre sabe. Acertou todos os
bebês Stefanos. Não nos contou porque não queria
estragar a surpresa, eu acho. Ela sempre faz isso.
— Palhaçada! – Digo brava. – Por isso
que ela ficava me perseguindo. Que bonitinha.
Cuidou de mim.
— Quando chegarmos lá para o nosso
casamento, agradecemos os cuidados.
— Príncipe, você não pode fazer um
contrato e eu assino? Assino tudo que quiser, nem
leio. Vai ficar todo mundo olhando a gente
entrando na igreja.
— A gente não. Você, eu já vou estar lá.
— Está piorando tudo.
— A Thaís nunca deixa o noivo ver a
noiva antes do casamento, então nem adianta pedir.
— Vou ter que comprar um vestido?
— Vai. As senhoras Stefanos vão adorar
te ajudar a escolher. – Imagino que sim. Elas
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gostam dessa coisa de casamentos.


— Queria que fosse comigo amanhã no
médico e que entrasse comigo na igreja.
— Claro que vou amanhã. Você é toda
atrapalhada, precisa de um adulto do lado. – Mordo
seu ombro. – Mas a igreja eu não sei, vamos ter que
engana-los, sei lá, melhor entrar sozinha e te espero
no altar. Estou querendo evitar as broncas do Leon.
— Príncipe, eu acho fofo que tem medo
do Leon.
— Não tenho medo, é respeito.
— Sei. – Rio dele. Nick me aperta em
seus braços.
— É sério. O que teria sido se saísse
daquele lugar sem família? Que tipo de cara eu
teria sido?
— Um cara mau, de jaqueta de couro,
óculos escuros, bebendo, cheio de mulheres.
— Isso não pareceu nada ruim gatinha.
— Espertinho! – Brinco rindo. – Bem
que pareceu sexy, né?
— Mas sabemos que isso é filme. Vida
real é diferente.
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— É realmente diferente, sei disso, as


coisas são difíceis. Uma vez do lado de fora do
inferno a gente sempre tem medo, o que é bem
estranho, você quer sair, a porta se abre e está fora,
daí vem o medo do desconhecido, todo mundo a
sua volta é um agressor em potencial, tenho medo.
Medo do que pode acontecer com nosso filho, das
maldades do mundo.
— Elas nunca vão chegar perto dele.
Vamos protege-lo.
— Tem muita gente para ajudar, não
acha? Eu vou parar de pensar nisso. É melhor.
— Muito melhor. Temos que conversar.
— Lá vem. Vai me colocar de castigo?
Meus velhinhos precisam de mim.
— Não quero que deixe eles. Quero que
se cuide, que vá com o motorista.
— Tudo bem, se me deixar ir todo dia,
eu uso o motorista.
Ele enruga a testa, depois sorri. Me beija,
acho que esperava que relutasse, mas quero cuidar
do meu filho e dos meus idosos, se para ter os dois
preciso abrir mão de algumas convicções então

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posso fazer isso.


— Ótimo. Acho que é só isso que eu
quero, que você ande com o motorista.
— Trato feito. Vou poder ir todo dia? Eu
juro que se sentir qualquer coisa eu fico em casa.
— E quando o bebê nascer? – Ele me
pergunta.
— Fico em casa no começo, até ele
poder sair, daí traz meus velhinhos aqui para me
visitar e depois o bebê vai comigo. Não vai faltar
mimo para ele.
— Bom acordo, se não se importa, vou
colocar num contrato.
— Que bobo, assino, é claro. Agora acho
que devíamos ficar fazendo umas coisinhas
príncipe. Ficamos longe, depois você entrou todo
cara mau, gritando comigo. Me trouxe para casa e
nada.
— Será que não devíamos esperar o
médico liberar?
— Está doido, príncipe? Não tem
problema.
— Tem certeza? – Ele pergunta e rio da
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sua preocupação.
— Acha que seu irmão Heitor estaria
desejando ter o quarto filho se tivesse que esperar
nove meses ou mais toda vez?
— Verdade. Nesse caso acho que
podemos continuar a conversa na cama.
— A conversa do cara mau? – Brinco
com ele. Nick me pega no colo.
— Essa fica para outro dia. Hoje é coisa
de gatinha.
Acho boa ideia assim mesmo. Ele me
beija o pescoço. Na cama é carinhoso como se eu
fosse de cristal, todo dia amo mais esse homem,
nunca diminui, só aumenta. Ele diz coisas bonitas,
faz meu coração se apertar de amor, depois ficamos
abraçados, namorando.
— Que boba fugir de você, não acha?
— Muito. Desligar o telefone foi
crueldade.
Cubro meu rosto com a mão e me
encosto em seu peito com vergonha do meu papel
de boba. Nick ri de mim, afasta minhas mãos.
— Que vergonha. Me desculpou?
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— Completamente, no fundo eu entendo.


– Suspiro com sono. Me aconchego. – Não vai
dormir sem jantar.
— Estou sem fome.
— Mesmo assim, tem que comer alguma
coisa, depois vamos dormir, amanhã minha família
vem ficar com a gente. Acha que a Lizzie vai ter
ciúme?
— Não. Mas ela tem que ter alguma
vantagem. Vamos fazer um contrato obrigando
Lizzie a vir cuidar do bebê de vez em quando.
— Boa ideia, já vou deixar pronto. –
Como não me lembrei disso, do amor que ele pode
dar a Lizzie? Um cara assim não pode odiar a mãe
do seu filho. Ted mexeu muito com a minha
cabeça. Vou tratar de ficar longe dele o máximo
que puder para ele não me assustar de novo.
Quando os Stefanos chegam eu estou um
tanto ansiosa, com medo de sentir alguma rejeição,
de alguma repreensão por ter fugido, mas assim
como meu príncipe, só ganho um monte de abraços
e felicitações e tanto carinho que quando nos
acomodamos na sala estou com os olhos marejados.
— Agora que está confirmado estou te
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achando com cara de gravida.


— Acha Lissa, isso é bom ou ruim?
— E la quer dizer que está linda, gatinha.
– Nick me envolve a cintura e me encosto em seu
peito.
— Temos que ir, Annie. Se não vamos
atrasar. – Sophia me diz e aperto mais Nick.
— Calma, vou junto. – Ele sussurra no
meu ouvido.
— Certo. Não tem comida, somos
péssimos anfitriões. – Digo um pouco triste, queria
recebe-los melhor.
— Eu e Liv vamos cuidando de tudo.
Thaís vai ficar lá em cima com os pequenos na
piscina aquecida do tio Nick e os maridos ajudam.
Amanhã saímos para almoçar e depois voltamos
todos para Kirus.
Lissa cuida de tudo. Ela é como Leon, a
senhora de todos. Agradeço com um abraço.
Depois ela aperta minha mão.
— Mãos geladas. Que bobagem. Vai
ficar tudo bem. Aqui e no médico.
— Obrigada, Lissa. – Ela me sorri. –
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Mas nessa confusão não tem berço ainda. – Olho


para Liv.
— Emma dorme com o papai e a mamãe
e isso não é nada importante. Agora vão de uma
vez.
Olhamos para Lizzie que nos observa
meio confusa. Esperando algum tratamento
especial enquanto os outros já sumiam escada
acima com Thaís.
— Senhorita Stefanos. – Nick se
aproxima com o contrato que acordou cedo para
redigir.
— Sim. – Ela tem um olharzinho
preocupado.
— Tenho que sair agora, tomei a
liberdade de redigir um contrato. Gostaria muito
que aprovasse e na volta, quem sabe, podemos
assinar todos.
— Eu assino. – Ela sorri, adora esses
contratos não importa o que esteja escrito.
— Sem ler, senhorita? Nem pensar. Leia
com atenção. Acho que sabe que eu e a Annie
vamos ... – Ele olha para Leon rápido. – Ter um

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bebê. Um primo seu. Ele vai precisar de uma


protetora, pensei em você.
— Eu? – Os olhos brilham, ela encara o
pai. – Vou ler, senhor Stefanos.
Partimos para o médico. Minha mão
presa a dele todo caminho. Felizmente estamos
com Sophia e Ulisses, os dois relaxam qualquer
pessoa.
— Será que sua azeitona é menino ou
menina? – Ulisses pergunta e rio sem entender
muito o que está dizendo. – Vão querer saber? O
deles ainda é uma azeitona? Ou já seria... Não
conheço muitos caroços.
— Amor pode esquecer essa coisa de
azeitona? – Sophia pede sorrindo. – Sabe quanto
tempo Annie?
— Sete semanas.
— Por que elas ficam colocando tudo em
semanas? Vou ficar confuso com isso. Vamos
trabalhar com meses? – Ulisses pede.
— Liv disse que os médicos contam
semanas. Se acostuma. – Sophi avisa.
— Vai querer saber o sexo? – Nick me
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pergunta baixinho enquanto o outro casal vai na


frente discutindo sobre meses ou semanas.
— Vou, é melhor, não acha? Para
sabermos o que comprar?
— Melhor mesmo.
— Ah Nick. Já escolheu que tipo de
árvore vai plantar? Quantas mudas?
— Ulisses, você é tão besta. – Nick
reclama com o irmão.
— Príncipe, temos mesmo que pensar
nisso, devolver um pouco, ainda não sei muito
como, mas vamos ser o mais natural possível.
— O bebê deles vai nascer hippie. –
Ulisses ri com gosto.
— O seu vai nascer com um esqui no pé.
— Esqui não sei, mas Skate sim.
— E se for menina? – Nick pergunta.
— Pinto o skate de rosa. – Ulisses diz
simplesmente. – Chegamos casal. Isso está muito
divertido. Podemos escolher babás juntos também.
— Não. – Eu e Nick respondemos ao
mesmo tempo. – Eu dou conta. – Continuo.

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— E eu posso trabalhar em casa quando


for preciso, e tem a senhora Kalais que tenho
esperança de não ter me abandonado para sempre, e
você e Sophi. E vocês também não precisam, tem a
gente e a senhora Kalais. Sem babás para os
Stefanos. Só a Thaís que é da família.
— Vamos rouba-la da Lissa? – Sophia
diz como se fosse uma grande ideia quando
entramos no elevador elegante. – Os gêmeos já
estão quase na faculdade e tem avô e avó. Lissa
está muito egoísta.
— Isso é um pouco verdade. Ela quer
tudo para ela, tem o Cristus, a Ariana, a Mira, a
Thaís.
— Vocês estão falando da família dela.
Sabem disso? – Nick diz me dando passagem
quando a porta se abre.
— Não se pode falar nada do Leon e
Lissa para o filhinho mimado. – Ulisses brinca.
Depois se aproxima do balcão com uma elegante
recepcionista. – O doutor Schindler nos espera.
Ulisses e Nickolas Stefanos ou será que está no
nome delas, Sophia e Annie Stefanos, futura
Stefanos, a Annie, a Sophia... – A moça fica
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olhando para ele sem acreditar nas tolices de


Ulisses.
— Ulisses. Eu marquei em nome meu e
da Annie. Não acho que você ou o Nick precisem
de um obstetra.
— O doutor os aguarda. Vão entrar todos
juntos? – Ela pergunta com uma ruga na testa.
— Melhor as duas entrarem e a gente
esperar aqui? – Nick diz meio rápido, por mim
ficava do lado de fora esperando também.
— Não Nick, melhor eu entrar com a
Sophia e você logo depois com a Annie. – O tom
de Ulisses é sério e firme, não me lembro de vê-lo
assim. Nick assente e nos sentamos. Demora uma
longa hora. Imagino o quanto Ulisses deve estar
torturando o médico com centenas de perguntas.
Então os dois se aproximam sorrindo.
— Agora vocês, não dói nada. É só uma
picadinha. – Ulisses brinca e procuro a mão de
Nick. – Esperamos aqui. Sophia está gravida de
quatro semanas. Passou mesmo na minha frente,
Nick, não sabia que estávamos disputando.
— Nem eu. – Nick diz apertando minha

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mão enquanto uma enfermeira nos acompanha. O


médico usa óculos, tem cabelos brancos e um rosto
confiável, me sinto segura.
— Sentem-se. Tudo bem? – Ele sorri. –
Annie, não é?
— Sim, doutor. – Nick estende o
envelope com o resultado do exame.
— Certo. Estão nervosos? É o primeiro?
— Isso. Não sabemos como tudo vai ser.
— Vamos nos ver a cada quinze dias,
vou pedir exames de vez em quando. Tudo aqui
mesmo na clínica e quando chegar a hora vão para
maternidade e faço o parto. Simples, não é?
— Não muito. – Digo tensa. – Como é o
parto?
— Tem muito para decidir antes de
escolher isso, agora vamos fazer um ultrassom só
por precaução e vou pedir uns exames, volta em
quinze dias com os resultados e aí sim, vamos
conversar sobre como está e que caminho vamos
seguir.
— O que ela não pode fazer?
— Peso nem pensar. Exercícios leves,
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boa alimentação, tranquilidade, descanso e


disciplina.
— Corro no Central parque. – Aviso ele
ergue uma sobrancelha.
— Corria. Agora você caminha no
central Park, de preferência acompanhada. Sempre
pode ter uma tontura, tropeçar. Até eu ter os
exames está tudo suspenso.
— Ela vai atender tudo que disser. A
comida, o que ela come?
— Normal, tente balancear Annie,
quanto mais saldável melhor e não pode engordar
demais. Isso vamos acompanhar. Quero ver o
exame de sangue primeiro, agora vão perguntar
sobre sexo? – Nos olhamos meio chocados os dois,
o médico ri. – Seu irmão me fez mil perguntas. A
vida sexual é normal, tudo que não te causar dor
nem incomodo está liberado. – Ele me diz e só
afirmo sem responder.
— Posso viajar?
— Por enquanto pode, mas logo vou
pedir que pare. Vamos? A enfermeira vai prepara-
la. – Olho para Nick. Ele beija minha mão presa a
dele.
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— Vai Annie, eu te encontro, posso


doutor?
— Claro. Deve, esse é seu papel, estar o
mais presente que puder, o que ela vai passar a
partir de agora é intenso, são muitas
transformações, hormônios malucos, enjoo, sono,
fome, humor, emoções, tudo alterado.
Olho para Nick querendo correr. Acho
que ele pensa o mesmo, se eu quero fugir de mim
imagino ele? Sigo a enfermeira, ela me ajuda a me
preparar, quando o médico entra com Nick já estou
na cama, o médico começa o exame enquanto eu e
Nick ficamos de mãos dadas, a minha fria, a dele
úmida. Somos dois tolos.
O ultrassom é o mais moderno que existe
e é estranhamente emocionante ver com tantos
detalhes aquela bolinha em formação, me enche de
amor mais uma vez e começo a chorar de medo e
felicidade.
— Tudo indo bem, tamanho perfeito,
sete semanas realmente. Vê ele aqui? É um embrião
ainda, mas está tudo certinho. Perguntas?
— Esse som? – Nick pergunta um tanto
pálido apertando minha mão a ponto de doer.
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— O coraçãozinho, ainda em formação,


mas já batendo.
Olho para meu príncipe, ele me olha,
minhas lágrimas correm, que tolice ter tanto medo,
quero tanto agora, ele quer também. Vejo em seus
olhos.
— Leon disse que era um presente. Acho
que estava certo. – Ele me diz e sinto a emoção
carregar sua voz. Ele me beija de leve os lábios.
Depois o médico me passa algumas listas
de alimentos saudáveis, um mundo de exames, o
telefone da nutricionista e quando deixamos a sala
Sophia e Ulisses riam sentados lado a lado.
— Viram o girino de vocês? – Ulisses
pergunta.
— Amor! – Sophia geme decepcionada.
— Disse para esquecer a azeitona. Viram
ou não?
— Vimos. – Nick avisa sorrindo.
— Agora conta que chorou! – Sophia
pede e Ulisses dá de ombros.
— Chorei mesmo, sou um homem
moderno que não tem medo de mostrar suas
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emoções, me ajoelhei aos seus pés, se lembra?


— Nunca me deixaria esquecer. – Ela diz
quando deixamos a sala. No elevador Nick e
Ulisses sorriem um para o outro.
— Que coisa estranha essa, acontecer
com os dois ao mesmo tempo. Não podemos mais
dizer que os Stefanos não se casam, não podemos
mais dizer que os Stefanos não têm filhos.
— Vamos arrumar novos conceitos. –
Nick diz quando caminhamos para o carro. –
Ulisses, pode não contar para o Leon que meio que
titubeei um pouco na hora de entrar? Quando disse
para elas entrarem e a gente esperar do lado de
fora?
— Está com medo de ficar de castigo,
caçula? – Ulisses provoca.
— Não quero decepcionar o Leon, ele
andou meio chateado comigo, fiz umas bobagens
ultimamente.
— Não vou contar, mas precisa saber
que gosto mais desse Nick de agora, esse que erra
de vez em quando, aquele Nick perfeitinho não
vivia. Se está errando é porque está vivendo, Nick.
Errar é parte de estar vivo.
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— Acho que está certo.


— Leon não vai se decepcionar nunca
com você. O problema não é errar, não quando
assume e conserta, ou tenta.
— Obrigado. – Os dois apertam as mãos
na porta do carro, depois entramos e nos
acomodamos.
— Mas eu gosto quando leva umas
broncas. Leon é um pai muito rigoroso. Era melhor
quando era só seu irmão, foi dizer que o via como
um pai agora ele quer o bebê no colo. Antes era
tudo o Ulisses, agora o mundo girou, sou um pai de
família e você o novo paspalho.
— Estava indo tão bem amor, estava
orgulhosa. – Sophia ri, Nick passa seu braço por
meu ombro e me traz para parto. Trocamos um
beijo leve.
— Vou ser pai. – Ele diz em seu novo
exercício de aceitação. – Treina gatinha.
Me encosto nele. Meu filho está dentro
de mim, aquele coraçãozinho que ouvi há pouco,
bate dentro de mim, meus olhos marejam, é minha
inteira responsabilidade mantê-lo saudável, dá
medo e esperança, seco uma lagrima.
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— Vou ser mãe. – Agora junto com a


frase, vem um sorriso.

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Capitulo 27
Sarah

Talvez não devesse ter contado, mas fiz


o certo, ao menos tenho que acreditar nisso. Annie
estava transtornada e gosto mesmo dela. É uma boa
amiga como não tenho há tempos. Bob se aproxima
sentindo minha preocupação.
— Vem filho. – Eu o ergo nos braços,
me sento acariciando seus pelos lisos. Seu corpinho
delicado estremece com o cuidado. – Será que sua
babá vai nos desculpar? – Bob adora Annie,
animais sabem reconhecer afeto e Annie tem de
sobra quando se trata de Bob.
Meu celular toca, Simon. Sorrio antes
mesmo de atender, os irmãos disseram que ele está
apaixonado por mim e fico pensando se isso é
mesmo verdade ou só a visão deles sobre nós.
— Simon! – Minha voz não esconde a
tristeza.
— Ainda chateada? – Ele pergunta.
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— O que importa é que ela está bem. Ela


está, não é mesmo?
— Acredito que sim, eles estão no
médico agora, Ulisses e a esposa também, então
estão bem. Annie é boa pessoa. Não tenha medo,
ela logo esquece isso, mesmo que esteja brava
agora.
— Você está certo. – Digo gostando de
seu cuidado comigo. – Obrigada, Simon.
— Que acha de tomar um drink comigo
hoje á noite? – Sorrio mais uma vez mesmo que ele
não possa ver. Meu coração bate um pouco fora do
ritmo.
— Por que não vem aqui? Podemos só
ficar em casa, quem sabe assistimos um filme,
ouvirmos uma música? Não estou muito animada
para sair.
— Eu? Claro, quem mais. Boa ideia... Eu
posso levar um vinho, as sete? É muito cedo? Posso
ir mais tarde ou mais cedo.
— Sete está ótimo, Simon.
— Então fica bem, te vejo á noite.
— Antes de vir, liga para o Nick, vê se a
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Annie está bem, eu fico preocupada.


— Pode deixar. Vou dar uma boa bronca
naquela sininho.
Desligamos, olho para Bob sentado em
meu colo.
— Gosta dele, Bob? O que acha? Será
que ele pode gostar de nós dois? Seja charmoso
com ele. Eu sei que já se conhecem, mas nada de
morder sua canela.
Bob começa seu frenético movimento de
abanar o rabo contente e então a campainha toca
depois que ouço o elevador.
— Sempre antecipando as visitas. – Eu o
coloco no chão e sigo para a porta.
Abro distraída esperando ser o porteiro
com a correspondência, mas é Annie de pé me
olhando séria. Fico confusa, pisco sem saber se ela
veio brigar comigo ou não.
— Desculpa, Annie. – Ela me abraça.
Me sinto aliviada, me sentir traindo sua amizade
estava me machucando.
— Vim agradecer. – Annie diz se
afastando. – E apertar seu cachorro um pouco.
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Confesso. – Ela ergue Bob no colo.


— Entra. Que alivio, estava achando que
iria me odiar para sempre.
— Nunca! Não posso demorar, só vim
dizer que está tudo bem e te fazer um convite.
Nos sentamos no sofá, ela aperta e beija
Bob, o pequeno simplesmente adora o carinho.
— Que delícia! – Ela respira fundo e
solta Bob, ele se enrola sobre suas pernas e fica ali
me matando de ciúme.
— Desculpe mesmo. Estava chegando
aqui e vi os irmãos do Nick tão aflitos, pensando
em polícia, detetives, falando de como ele estava
arrasado e você estava tão fora de si. Achei que
tinha que acabar logo com aquilo.
— Fez o certo, eu fui a única errada,
desde o princípio. Vinha tranquila, ou perto disso,
depois que o Ted falou aquelas tolices fiquei em
choque e fugi, Nick ficou desesperado.
— Prometi não contar sobre o Ted, mas
acho errado ele fazer isso e permitir.
— Não seja fofoqueira, vou ficar longe
dele.
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— Espero que seja o bastante. – Digo a


Annie que me sorri. – Como foi?
— Está tudo bem.
— Voltaram?
— É um jeito estranho de pensar sobre
isso, mas sim, voltamos.
Acabo por rir com ela, Annie não é como
minhas outras amigas ou mesmo eu, não tem essas
histórias de idas e vindas em relacionamentos.
— Como foi? Conta.
— Ele foi me buscar, ficou bravo
comigo porque eu fugi, levou um leve susto quando
contei que estava gravida e depois voltamos para
casa. Agora a família está toda com a gente. Fui no
médico há pouco. Ele disse que estou bem.
— Ainda com medo?
— O tempo todo. Medo de tantas coisas.
Do bebê dentro de mim, de não saber cuidar dele
aqui dentro e fora quando nascer, de algo dar
errado e eu perde-lo, do mundo, das coisas ruins do
mundo.
— Annie, acho que toda mãe tem medo
dessas mesmas coisas. Acho que precisa só lidar
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com isso. Ele está feliz? – Pergunto e ela sorri em


resposta.
— Agora está, antes... ouvimos o
coração. Foi emocionante.
— Que bom.
— Vamos casar, Sarah! – Eu fico de
boca aberta. Os olhos dela brilham.
— É sério? Não acredito! Que linda. –
Abraço Annie, sabia que Nick e ela se amavam,
mas não esperava por um pedido. Os dois sempre
dizendo que não queriam saber disso.
— O melhor é que ele me pediu antes de
saber do bebê, entrou no seu hotel dizendo que iria
casar comigo. Primeiro eu disse não só de raiva e
porque achei que ele iria recuar quando soubesse.
— Estou feliz, Annie. Muito mesmo.
— Eu sei. Vim pedir uma coisa. Queria
te convidar para jantar, conversar e pedir direitinho,
mas a família está toda aqui e vamos partir para
Grécia em dois dias então tem que ser meio às
pressas. Quer ser minha madrinha?
— Annie... Eu? Tem certeza?
— Você e o Simon.
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— Claro! Fico honrada! Achei que


nunca mais iria querer falar comigo. Além disso,
tem suas cunhadas e nunca achei.. Obrigada.
— Que bom que aceita. É como disse,
elas são minhas cunhadas, vão estar lá no altar
conosco é claro, mas quero você e o Simon lá com
a gente. Meus idosos não podem ir. É uma viagem
longa para eles. Estava falando agora com o Nick e
na volta faço um jantar na associação.
— Isso, eles vão ficar bem felizes e
quero ir.
— Vai me ajudar a organizar. Agora me
conta, como está com o Simon?
— Não estou, não realmente, nos vimos
umas vezes e nos falamos todos os dias como bem
sabe, mas ainda... Quem sabe a Grécia não ajude?
— Vou dar uma bronca naquele gnomo.
– Annie tampa a boca. – Não fala para ele que o
chamei de Gnomo na sua frente.
— Ele sabe que vai ser o padrinho?
— Sabe. Falamos com ele agora. Está
super feliz que vai ser seu par. Ele é para casar
Sarah.

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— Subi no elevador com todos os


Stefanos e aí um deles disse que pediu para o
Simon ligar para a garota por quem ele está
apaixonado para saber se ela sabia de você. Essa
garota sou eu. Não é? – Resolvo confirmar.
— Esses Stefanos são tão indiscretos,
aposto que foi o Ulisses. Claro que é você.
— Eu quase morri com aquele tanto de
homem bonito a minha volta no elevador. Não
conta para o Simon.
— Eles são bonitos, mas o meu Stefanos
é o mais lindo de todos. E o mais tudo.
— Que boba. Eu estou muito feliz com
esse seu amigo Gnomo, ele é tão engraçado e
atrapalhado. Vem aqui hoje à noite.
— Então é hoje! Vê se agarra logo ele.
Que lento que ele é.
— Gosto de como ele é. Não força nada.
Tem uma conversa agradável.
— Tenho que ir. Queria ficar mais,
acontece que vamos cozinhar e amanhã vou cedo
comprar meu vestido de noiva. Um simples, curto e
sem um monte de coisas. Acha que tudo bem? Quer

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dizer, eu não sei nada de ricos e suas etiquetas.


— Isso é sobre o seu casamento, Annie.
Chic é ser feliz. Então escolha o que te faz feliz.
— Isso madrinha. Queria que o Nick
fosse, mas elas não deixaram, então ele vai comprar
as alianças. Tchau Bob! Seu gostoso. Queria tanto
um cachorrinho, agora vou ter um bebê. Comigo é
tudo ou nada.
Acabo por rir, acompanho Annie até a
porta, seu rosto está corado e ela está tranquila.
— Consegue chegar lá em cinco dias? –
Annie me pergunta depois de apertar o botão do
elevador. – Vai ser bem simples. Você vai com o
Simon, ele e o Nick organizam essa parte.
— Claro que sim, sou a madrinha. Tenho
que estar na hora marcada e conte comigo para o
que precisar. – Nos abraçamos mais uma vez.
— Boa noite romântica com o Simon.
A porta do elevador se fecha e corro para
me arrumar, ele chega em uma hora. Padrinhos, nós
dois juntos no altar, sorrio para meu reflexo no
espelho. Gosto da ideia. Meu coração bate
acelerado como não acontecia há muito tempo.

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Me visto depois do banho, arrumo uns


petiscos, eu podia ter cozinhado. Encaro o espelho,
gosto do meu reflexo, me arrumei um pouco, mas
não demais. Algo casual, arrumo o cabelo.
A campainha toca e meu coração
dispara. Quanto tempo mesmo não me sinto assim?
Espera, acho que nunca me senti.
— Oi. – Simon me sorri com flores e
vinho.
— Obrigada, Simon. São lindas. Vou
colocar num vaso, entra. – Ele me segue pela casa,
coloco as flores em um vaso, o vinho na geladeira e
ficamos os dois nos olhando na cozinha.
— Soube da novidade? – Ele me
pergunta e afirmo. – Padrinhos. Isso foi legal. Quer
dizer, eu sabia que seria, sou o melhor amigo do
Nick, se ele não me convidasse eu seria o cara que
levanta a mão quando o padre pergunta se alguém
tem algo contra o casamento, mas gostei de ser seu
par.
— Eu também. – Bob, abanava o rabo
olhando para ele. Simon se abaixa e pega meu
bebê.
— Oi carinha, tudo bem? Já nos vimos
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antes, se lembra? Tudo bem?


— Ele gosta de você. – Digo mais uma
vez a ele. Simon sorri concordando. Coloca Bob no
chão. Dá uns passos em minha direção.
— E você? É isso que venho me
perguntando. Gosta? – Seus olhos fixam em mim
como se a resposta fosse dar rumo a nossa história.
Eu poderia me esquivar, mas não quero, não
preciso e não sou esse tipo de garota que faz jogos,
posso dizer como me sinto sem medo.
— Te convidei para vir, queria que
estivesse aqui. Sim, Simon, eu gosto de você.
Ele sorri, da mais dois passos e sua mão
toca minha cintura, ele me puxa para ele, a cada
movimento espera por minha reação, como não me
esquivo, ele continua, a mão em minha cintura
corre para minhas costas e seus lábios tocam os
meus de leve, mais um segundo de espera,
nenhuma recusa e então ele me beija e correspondo
como queria há muito tempo.
— Assim é muito melhor. – Ele diz
sorrindo e tem razão, aquela pequena tensão que
sempre estava entre nós desaparece agora que nos
sentimos a vontade. Voltamos a nos beijar. Gosto
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do seu beijo, do jeito que ele me envolve, de como


ele não apressa nada, não tenta me despir ou levar
para o quarto. Acho que é mais que uma nova
conquista e me deixa segura para mostrar como me
sinto.
— Abre o vinho? – Eu peço e ele se
afasta. – Devia ter feito um jantar especial.
— Vai ter chance, eu espero. E acredite
eu também posso cozinhar, minha mãe me ensinou,
e tenho uma irmã.
— Está explicado esse seu jeito
respeitoso. – Ele me olha preocupado.
— Isso é bom ou ruim?
— Bom, Simon, muito bom.
— AH! Vamos ver o que vai achar
quando ela te ligar as onze da noite para dar uma
receita de qualquer coisa que ela acha que vou
adorar que cozinhe para mim.
— Sei fazer voz se secretária eletrônica.
Não se preocupe. – Ele ri, gosto que pense em um
futuro, ainda é cedo para isso, mas gosto da ideia
mesmo assim.

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Ulisses.

Sophia me sorri quando entramos no


elevador, fico olhando o rosto vivo e pensando
como pode ficar todo dia mais bonita. Nunca me
acostumo que é minha mulher. Tenho muita sorte
de tê-la.
— Que foi?
— Só te achando bonitinha e pensando
na sorte que você tem de me ter.
— Para ser mais perfeito só mesmo se
você fosse mudo. – Eu a puxo para meus braços,
beijo Sophia encostando-a na parede do elevador a
mão direita espalmada em sua coxa. A porta se abre
e ela fica me dando tapinhas nos ombros tentando
se livrar de mim. Quando me afasto, duas mulheres
estão paradas diante da porta do elevador de boca
aberta e constrangidas.
— Bom dia, senhoras. Não devia se
aproveitar de mim assim, Sophia. – Digo quando
deixamos o elevador. Sophia acaba rindo quando a
porta se fecha e seguro sua mão em direção à rua.
— Como pode ser assim tão maluco?

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Pior. Como posso amar isso?


— Sou irresistível. Acha que eles já
estão prontos?
— Aposto que sim, Nick ao menos deve
estar. Desesperado para se livrar de todos os
Stefanos em sua casa, deve ter se arrumado as
cinco da manhã.
— O caçula está tentando. – Penso no
passado de Nick e ainda me faz sentir o coração
apertado.
— Vocês compram as alianças e nos
encontramos no apartamento dele para
almoçarmos.
— Pode ser. Acho que não vão ter
problemas para escolher o vestido.
— Tenho certeza que não. Annie é o tipo
que sabe o que quer e não liga muito para isso.
Gosto dela. Gosto de tê-la aqui e principalmente
nesse momento. – Ela toca a barriga. Passou a fazer
isso nos últimos dias e sempre me deixa
emocionado quando faz. Lembra o tempo todo que
carrega nosso bebê. – Estou pensando se esses
enjoos vão acabar um dia.

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— É o girino crescendo. – Ele me faz


careta e passo meu braço por seu ombro.
— Para de chamar meu filho de girino.
— Meu amor, é girino de um jeito
carinhoso. Ele logo vai ganhar forma e vai parecer
o papai. – Beijo seus lábios. – É nossa última
viagem a Kirus, depois só com nosso...
— Filho! – Ela se apressa.
— Ia dizer anjinho.
— Mentiroso. – Atravessamos a rua, são
só algumas quadras até Nick e Sophia precisa
caminhar um pouco, então vamos a pé. – Os dois
são tão lindinhos juntos. Parecem dois
adolescentes.
— Emocionalmente eles são eu acho.
Nick nasceu adulto. Ele não teve infância, mesmo
nós três com todas as dificuldades que tínhamos
pudemos ter bons momentos de apenas garotos,
jogando futebol no Central Park, correndo atrás de
uma bola por horas. – Me lembro dos bons
momentos com os outros dois, quando nos
distraíamos e esquecíamos das nossas mazelas. –
Nós tínhamos um jogo de tabuleiro, um desses que
se joga um dado e anda casas. Eu não gostava de
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perder, quando o dado caia com números baixos,


um ou dois, eu gritava, não valeu e jogava de novo.
Heitor e Leon ficavam bravos comigo, nos
empurrávamos, gritávamos uns com os outros e
ficávamos sem nos falar por meia hora.
— E como faziam as pazes sem uma
mãe ou pai para consertar isso?
— Achava chato ficar brigado com eles.
Então eu logo me cansava, dizia alguma bobagem
que os fazia rir e estava tudo bem de novo. Era
bom, mas o Nick não teve esses momentos, nem
pôde ser adolescente. Quando chegou para nós se
enfiou nos livros e só fazia estudar. Eu até chamava
ele para sair, sempre fui o mais festeiro dos irmãos,
mas ele tinha sempre algo urgente para estudar, e
na faculdade o Simon sempre diz que ele passava
seus dias estudando no quarto. Então acho que
juntos e com um bebê eles vão resgatar um pouco
disso. Quero ver meu irmão brincando com um
garotinho.
— Acho tão bonito esse amor de vocês.
Sabia que nem sempre irmãos são assim? – Ela me
pergunta e afirmo, já vi muito disso, competição
entre irmãos, inveja, ciúme.
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— Nos cuidamos, já que nunca tivemos


ninguém para fazer isso por nós.
— E você, amor. Vai brincar com nosso
bebê?
— Mais do que seria saudável para a
relação de pai e filho se estabelecer com certa
hierarquia provavelmente. Vamos andar de skate e
bicicleta, jogar bola, vou ensina-lo a pilotar,
escalar.
— Tenho até medo de ser uma menina e
se decepcionar. – Beijo seu rosto. Continuamos a
andar lentamente pelas ruas agitadas de Nova York.
— Que mulher machista. Se for uma
menina não muda nada, ainda vamos andar se
skate, bicicleta, escalar e pilotar. É só olhar para
você e ver que tudo bem, não tem nada demais.
— Tem razão, mas e quando chegar a
hora de ter uma conversa sobre sexo? – Ela me
provoca.
— Eu falo com ela. – Rio de sua
surpresa. – Tem algo melhor que sexo na vida?
Quero que ela tenha uma boa vida e seja feliz, com
responsabilidade é claro, mas não vou me importar
em nada.
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— E quando um palhaço partir seu


coração? – Sophia questiona e penso um momento.
— Então eu vou estar lá para pagar uma
bebidinha coloridinha para ela e fazê-la sorrir de
novo. Até o cara certo chegar ou a garota certa,
nunca se sabe. – Olho para Sophia e ela seca
lágrimas. – O que foi meu amor?
— É que você é tão perfeito para mim,
está sempre dizendo a coisa certa e a coisa errada,
me fazendo rir e é inteligente, nem um pouco
modesto, com a cabeça aberta e o coração grande,
me faz feliz de todos os modos. – Paro de andar
para abraça-la no meio da rua.
— E sexy, bonito e charmoso, se vai me
elogiar use meus adjetivos preferidos. – Ela
continua a chorar junto com um sorriso nos lábios,
beijo Sophia. – Amo você.
— Também amo você. Vamos logo para
casa do seu irmão.
Voltamos a caminhar. Agora de mãos
dadas.
— Não vamos ter babá para não magoar
meu irmão, mas nosso bebê não vai ser criado
cheio de frescuras.
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— De jeito nenhum. – Ela concorda e


finalmente estamos no prédio.
Quando entramos os Stefanos estão
reunidos num café da manhã agitado, olho para
Nick e sinto sua leve tensão com as crianças
correndo a sua volta, mas ele se esforça para achar
natural. Pobre bebê, vai usar joelheiras, capacete e
luvas desde os dois meses. Um colete salva-vidas
também, para o caso de um tsunami de fim de
mundo.
— Ainda comendo? – Sophia reclama. –
Vamos mulheres, sei exatamente onde ir.
Então temos dez minutos de pais se
despedindo de filhos, casais dando recados como se
não tivessem celulares e as garotas partem.
— Thaís, se precisar de qualquer coisa
me liga. – Nick diz preocupado por Thaís ficar
sozinha com as crianças como se ela não fizesse
isso todo dia.
— Pode deixar. Eles vão ficar muito
bem.
— Vamos logo comprar essas alianças.
Descemos todos os irmãos, caminhamos

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até uma joalheria e acho que somos mesmo mais


unidos que o comum. Eu podia estar no escritório,
o que não falta é trabalho, mas não queria perder
esse momento.
— Bom dia, vim escolher alianças. –
Nick diz a jovem um pouco surpresa com quatro
homens de uma vez em sua joalheria.
— Pense numa mulher, linda,
exuberante, que espera o namorado enrolada em
espuma, ela é tudo isso, só que compacta, tem que
ser pequeno. – Eu conto a vendedora, meus irmãos
me olham fixamente. ─Sabe aquelas novinhas de
bolo? Então é ela em tamanho natural. O que foi
gente? Estou adiantando as coisas.
— Pode deixar, senhorita, quero olhar
todos. – Nick me ignora. Agora todos olhamos para
ele. – Eu tenho que escolher, se ela me trouxer
alguns apenas de acordo com as informações que
recebeu então a primeira escolha será dela e não
minha.
─Você é tão bom advogado! – Heitor
comenta. – Vou aproveitar e escolher alguma coisa
para minhas garotas. Quem sabe três pingentes
novos para as pulseiras delas?
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Nick demora mais de uma hora


escolhendo um anel de noivado e um par de
alianças, precisa se certificar que não veio de
nenhum tipo de garimpo ilegal, que é qualquer
coisa de reciclável, nenhuma magia, Quando
deixamos a loja todo mundo tem uma joia para suas
esposas e Heitor tem três, é a cara dele pensar nos
filhos o tempo todo.
— Não tinha uma coleira de diamantes
para seu filho de quatro patas?
— Dobby comeria. Ele come a coleira
toda semana, e a caminha dele e a minha e a dos
irmãos, e qualquer coisa que esteja em seu
caminho.
— Você devia dar curso de família feliz.
– Leon brinca com ele. Chegamos quase uma hora
antes delas, ficamos conversando enquanto as
esperamos, quando entram todas alegres e falantes
Annie corre para Nick e parece mesmo uma
menina.
— Comprei, príncipe, quer ver como é
lindo?
— Não! – São tantos gritos ao mesmo
tempo e mãos arrancando a caixa da mão de Annie
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que os dois se surpreendem rindo.


— Vou confiscar essa caixa. – Lissa
pega a caixa. – Vai ficar no meu quarto e só te
entrego na hora de vesti-lo em Kirus. – Ela sobe as
escadas correndo para guardar, as tradições dos
Stefanos resguardadas.
— Onde vamos almoçar? – Liv pergunta
quando Lissa volta.
— Vamos naquele restaurante grego que
tem ali na sétima avenida? – Sophia convida.
— Eu quero ir naquele indiano que
passamos há pouco, aquele cheiro de comida me
abriu o apetite. – Annie diz sorrindo.
— Não. – Nick diz firme, ela ergue o
olhar.
— Sim. – Começa a disputa.
— Aposto cem dólares na Annie. Eles
vão a um indiano. ― Digo a Heitor.
— Cubro. Nick vai leva-la para o grego,
é advogado. – Apertamos as mãos.
— Por que não? – Ela questiona.
— Por que é uma comida muito
temperada e forte. – Ele alega.
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— Bom argumento. – Heitor constata.


— Mas me deu vontade. – Annie rebate
Nick.
— Sua saúde está em primeiro lugar,
além de suas vontades. – Nick contrapõe.
— Então me diga o que acha que as
gravidas indianas comem? – Annie argumenta.
— Direto de direita. – Eu brinco.
— As mulheres indianas estão
acostumadas. Não é seu caso. – Nick responde.
— Não estou dizendo que vou comer
comida indiana toda refeição, é só hoje.
— Se abrirmos exceção a cada vontade
estranha, vai comer todo tipo de bobagens. – Nick
resmunga, os dois pré-adolescentes se encarando
frente a frente enquanto toda a família assiste sem
saber se ri ou intervém.
— Formado em Harvard. – Heitor
comenta sussurrando ao meu lado.
— Vai tornar minha vida difícil? Posso
fazer o mesmo com você. Eu vou com a Sophia
fazer compras. Sabe o que vou fazer? Vou comprar
roupas novas. De agora em diante, botões, muitos,
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de cima a baixo e zíperes do tipo que emperram,


fitas e laços, com nós e tudo. Vai ter que andar com
uma tesoura no bolso, senhor príncipe.
— Nocaute técnico. – Sorrio cantando
vitória.
— Venceu. Vamos comer comida
indiana, então. – Nick se rende diante da ameaça
brutal.
— Meu dinheiro. – Brinco com Heitor.
— Confiei no talento dele de advogado.
— Contei com o fato de ela ser uma
mulher. – Aviso. – Elas sempre estão certas, e
quando estão erradas nos fazem sentir culpa por
estarmos certos e desejamos estar errados.
E lá está Nick beijando sua gatinha todo
carinhoso por que a deixou nervosa numa briga em
que ele estava completamente certo.

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Capítulo 28
Annie

— Alguém interessado em comida


indiana? – Convido a todos.
— Passamos Annie. Vai com seu
príncipe a gente se vê depois do almoço, quem sabe
nos encontram no restaurante grego para
sobremesa? – Sophia convida e afirmo. Olho para
Lizzie, ela sorri.
— Uma comidinha indiana? – Ela afirma
feliz com o convite. – A Lizzie vai com a gente.
Não sei o que seria de mim sem você, Lizzie.
— Depois que eu assino um contrato eu
respeito mesmo as cláusulas.
— Lizzie entende tudo de bebês na
barriga não é solzinho? Sempre cuida da mamãe. –
Liv beija a filha orgulhosa.
Descemos todos, na portaria evito olhar
para Ted, procuro a mão de Nick e quando
chegamos a calçada nos despedimos. O restaurante
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não é longe, o dia está bonito e tem um sol leve,


mas assim que chegamos a porta, o cheiro que
pareceu tão agradável e convidativo fica enjoativo e
forte, sinto calor e quando nos sentamos começo a
sentir enjoo.
— Está quente não acham? – Nick sorri.
Abre o cardápio que o homem com roupas
tradicionais oferece. Lizzie observa o ambiente
interessada, eu só consigo sentir calor e enjoo com
o cheiro da comida.
— Diferente esse lugar não é, tio Nick?
Colorido.
— Muito bonito mesmo, já sabe o que
quer? – Nick pergunta e até o tom de voz que usa
com Lizzie é o mesmo que usa comigo, calmo,
carinhoso, esse amor que ele tem por ela será o
mesmo que vai ter por nosso bebê, e já consigo
imagina-lo cuidando do filho.
— Não tio, não conheço essas coisas
não, o que é bom aqui?
— Também não sei Lizzie, então vamos
deixar Annie escolher para todos. O que acha? –
Lizzie afirma e tento sorrir, não consigo.
— Acha que o tempero é muito forte? –
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Adoraria começar aquela discussão de novo só para


perder de bom grado.
— Não sei, gatinha. Mas quem sou eu
para dizer qualquer coisa? Afinal as indianas
comem isso todos os dias.
— Vai tripudiar? – Eu pergunto me
abanando, talvez a pimenta, ou os condimentos em
geral, o ambiente, algo não vai bem e se um prato
desses a minha volta se aproximar de mim será
realmente um almoço memorável.
— Está tudo bem. – Nick pega minha
mão gelada. – Meus irmãos estão a cinco minutos
daqui num ótimo restaurante com uma comida leve
e saudável. O que acha de irmos encontra-los?
Olho para Lizzie, ela me encara e depois
troca um olhar com o tio.
— Eu não me importo nadinha. – Beijo a
bochecha de Lizzie em gratidão.
— Foi falta de educação deixá-los, não é
mesmo? Acho que o certo é ir encontra-los e voltar
aqui um outro dia. – Não quero me render assim
logo de cara.
— Vamos logo gente, é melhor, a Annie

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está toda branca, quando minha mãe fica assim ela


vomita e tenho que ajuda-la porque ela não gosta
que meu pai veja ela vomitando. – Lizzie é a
primeira a se erguer e com o movimento me puxa
junto. Agradeço o incentivo e a sigo ficando de pé.
Nick esconde a felicidade, mas não é muito bom
nisso e um sorriso se ensaia em seu rosto que evito
encarara-lo. Do lado de fora, assim que nos
afastamos uns metros, eu respiro fundo, solto o ar e
puxo de novo. É libertador.
— Muito melhor. Obrigada Lizzie. –
Sorrio ainda de mãos dadas com ela.
— Te salvei de vomitar na frente do tio
Nick.
— Foi, mas eu não ligo, sempre vomito
na frente dele.
— Minha mãe diz que isso não é bom
para o amor. – Não no nosso caso, isso é coisa
antiga entre nós, essa intimidade que nos une em
todos os pequenos detalhes.
Vamos caminhando, assim respiro um
pouco. Quando chegamos ao restaurante os
Stefanos ainda faziam os pedidos.
— Chegaram. – Lissa diz tranquila. –
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Sentem estávamos esperando vocês para pedir.


— Como sabiam? – Eu pergunto me
sentando.
— Todas nós já passamos por isso, nem
sei porque o Nick gastou tanto tempo naquela
discussão.
— Devia me devolver o dinheiro,
Ulisses. – Heitor reclama com o irmão.
— Nem pensar, ela venceu, eles foram,
venci a aposta.
— Vamos confirmar isso com nosso
advogado. Nick quem ganhou afinal? Me dê
créditos, eu apostei em você?
— O que foi bem pouco inteligente
considerando as armas que Annie tem. – Nick
brinca piscando para mim.
— Foi aliás uma grande lição para todas
nós. – Sophia anuncia.
— Annie é má influencia, acho que não
quero que ande por aí com ela, Liv.
— Concordo. Essa coisa pode crescer e
se tornar um movimento revolucionário libertador
das senhoras Stefanos e não gosto disso. – Ulisses
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concorda com Heitor. – O que acha Leon? Não está


preocupado?
— Já sou um servo dos desejos de Lissa,
não muda nada para mim.
— Isso é bem verdade, pelo menos
admite.
Heitor ri do irmão, mas no fundo eles são
todos um pouco assim. Atenciosos com suas
esposas e seus desejos e eu não tenho nada que
reclamar. Nick sempre foi perfeito comigo, mesmo
antes de ser o príncipe, quando eu fingia ser sua
governanta ele já estava sempre pensando no
melhor para mim.
Partimos bem cedo na manhã seguinte,
todas elas cheias de planos, e eu apenas disposta a
fazer tudo para agradar a família Stefanos. Nem
tive tempo de contar aos meus idosos, mas na volta
vou surpreende-los com um jantar e vamos festejar,
aposto que vão todos adorar.
Me sinto bem quando finalmente
chegamos a ilha. Esse lugar tem um jeito de nos
atrair, fazer parecer com casa. Ariana me sorri
assim que chego a varanda.
— Devia ter me contado, Ariana. –
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Aviso quando a abraço. – Sabia que eu até fugi


assustada quando soube?
— Fiquei sabendo, Lissa me contou, me
senti um pouco culpada, da próxima vez eu conto
antes.
— Ah não vai ter próxima vez não, nem
pensar. – Aviso decidida. Vou procurar um médico
assim que o bebê nascer e me cuidar. Isso é certo.
— Vamos ver. – Ela sorri. – Comeu bem
esses dias? Eu e Mira preparamos um cardápio
especial para as gravidas e mudamos um pouco os
horários aqui, sabemos como é isso, temos
experiência com Lissa e Liv.
— É tão boa para mim. Quando ficar
velhinha vou te adotar e cuidar de você.
— Olha isso, Nick! – Lissa abraça
Ariana. – A pessoa acha que pode chegar aqui e
roubar minha mãe. Quando ela ficar velhinha eu
mesma cuido dela.
— E eu também cuido da vovó! – Alana
abraça Ariana junto com a mãe.
— E eu cuido do vovô que ele é homem.
– Luka abraça Cristus.

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— Tudo bem então. Eu tenho um monte


de velhos mesmo. Pode ficar com os seus Lissa.
As coisas em torno do casamento ficam
agitadas, tenho que decidir coisas que não fazem o
menor sentido. Como um cardápio para o jantar de
casamento, que tipos de flores vão enfeitar a igreja,
só conheço rosas, o resto eu chamo de planta e
pronto.
Elas me ajudam com tudo, Nick também,
está sempre me roubando para longe quando fico
cansada dessas decisões difíceis. Os irmãos vão
ficar no altar, junto com Sarah e Simon, nem sei
para que uma igreja se todo mundo vai ficar no
altar. Não convidamos ninguém além dos
empregados da casa, alguns funcionários das
empresas que trabalham em Kirus com Leon e duas
ou três pessoas da ilha que Nick conhece. Além da
senhora Kalais que quero muito agradar para ela
gostar de mim.
Não consigo convencê-las de que Nick
tinha que entrar comigo na igreja, para elas, o noivo
chega antes e espera a noiva no altar.
Fico pensando se Leon aceitaria me
acompanhar. Ele é como um pai para o Nick, ele
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ficaria feliz, só não sei se o Leon gostaria, decido


que o único jeito de saber é perguntando, além
disso, quero ter uma conversa com ele, eu sei que
Nick é muito importante para ele, quero dizer a ele
que vou fazer Nick feliz como ele nunca conseguiu
ser.
No fim da tarde, na véspera do
casamento quando finalmente as alucinadas
senhoras Stefanos me deixam livre eu procuro por
ele. Leon está no jardim com os filhos, todos eles
são bons pais, sempre os vejo as voltas com os
filhos.
Luka, Leon e Alana jogam bola, me
aproximo silenciosa. As crianças riem e correm de
um lado para outro, os rostos suados com a
agitação, felizes e livres.
Me sento no banco e fico assistindo.
— Quer jogar, tia? – Luka me convida.
— Nada disso, a tia Annie não pode
correr atrás de uma bola por enquanto. – Leon avisa
aos pequenos. Sinto falta de correr, sentir o corpo
reagir ao esforço, suar, parar de pensar e só correr.
— Fico aqui assistindo. – Eles jogam
mais uns minutos. - Sou a juíza. – Eles concordam.
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Luka tenta pegar a bola de Alana e a empurra.


Assobio indicando falta, todos os três me olham. –
Foi falta.
— Me ensina, tia. – Luka corre para
mim.
— Também quero, tia Annie. Papai ela
sabe assobiar muito! – Alana bate palmas.
— Ainda não sabem assobiar? Puxa, mas
isso é mesmo o fim do mundo. Vou dar uma aula a
todos os Stefanos menores de doze anos.
— Depois do banho! – Lissa surge na
porta de vidro. ─ Vamos anjinhos. Hora do banho.
– Obedientes os dois me abraçam e depois correm
para a mãe. Leon se senta ao meu lado.
— Por acaso brigou com o Nick? – Nego
sorrindo. – Vivem sempre grudados.
— Ele está ao telefone acertando umas
coisas com o Gnomo. O Simon quero dizer.
— Ah. Ele tem sempre algo urgente para
fazer.
— Você me aprova, Leon? – Pergunto
sem rodeios, ele sorri.
— Lissa achava que meus irmãos não a
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aprovariam, por conta do pai dela. Que de algum


jeito eles me impediriam de casar. Eu dizia a ela
que era uma decisão minha e que eles nunca iriam
contra isso e nem eu permitiria.
— Não sou boa com metáforas.
— Se Nick levasse em conta nossa
opinião e se importasse com isso, eu diria para
correr dele, amor de verdade não se dobra a
vontade de terceiros. É o Nick quem tem que te
aprovar e mais ninguém.
— Eu o amo.
— Sei disso. Está escrito na sua testa, ele
também te ama. Soube disso no minuto que desceu
do helicóptero. Todo mundo olho em sua direção,
estavam curiosos para saber quem você era. Como
era, mas eu olhei para ele, queria saber o mesmo e
o único jeito era olhar para como ele reagia. Soube
que ele estava apaixonado e que você valia a pena.
— Essa coisa que está acontecendo com
a gente. Ter um filho. – Conserto antes que ele
brigue comigo. – Não é por isso que ele pediu e eu
aceitei. É porque só pode ser ele e só pode ser eu.
— Isso é bonito, essa certeza que vocês
dois tem, sabe que ainda hoje tenho medo de Lissa
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me deixar? Acho que fiz ela sofrer algumas vezes e


isso me afeta ainda hoje.
— Lissa conta a história de vocês de um
jeito diferente. Ela conta de um modo bonito, não
foca nas coisas tristes, só no quanto você foi bom
com ela, nas coisas que abriu mão, a vingança, por
exemplo, o que chama de sofrimento, Lissa chama
de mal-entendido. Não devia pensar nisso.
— Talvez esteja certa. Mesmo assim vou
continuar cuidando para fazê-la feliz todos os dias.
Vai fazer o mesmo?
— Vou. Nick é tudo que tenho.
— Tem mais do que isso, tem uma
família agora. Você é muito bem-vinda a família.
Se precisa da minha aprovação então você tem. O
que fez pelo Nick não tem preço, tinha uma parede
de vidro entre ele e o resto de nós, ele parecia estar
com a gente, mas se chegássemos perto demais
então tudo que tocávamos era aquela parede. Você
quebrou o vidro.
— Sou desastrada. – Brinco e ele ri.
— Que bom. Era o que ele precisava.
Alguém que o deixasse meio maluco. Alguém para
bagunçar a vida certinha dele.
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— Certinha e chatinha. Leon, o Nick já


disse e tem mostrado isso, você é o mais perto que
ele tem de um pai, ele tem medo de você ás vezes,
eu rio disso. – Conto a Leon que ri também. – Perto
de você ele lembra um menino. Ele quer que sinta
orgulho dele.
— Eu sinto.
— Que bom. Você sabe que eu não
tenho ninguém, família eu digo. Só meus
velhinhos, a Sarah, vocês e o Simon, tudo isso que
conquistei depois dele. Eu estava pensando se pode
me acompanhar ao altar. Faria isso? Não vou me
ofender se disser não. – Só chorar feito um bebê.
Eu penso olhando para ele a espera de sua resposta.
— Vai ser uma honra fazer parte disso,
Annie. Tenho certeza que vão ser felizes juntos.
— Obrigada. Posso te dar um abraço? –
Leon me abraça. Ele tem mesmo um jeito de pai de
família e um abraço carinhoso.
— Nick seu irmão preferido está
agarrando sua noiva! – Ulisses grita e nos
separamos rindo. Nick surge rápido. – Bem feito! –
Ulisses provoca.
— Annie me convidou para acompanha-
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la ao altar. – Leon conta e Nick me sorri, fico de pé


e o abraço.
— E o Leon disse que sim.
— Ninguém me convida para nada. –
Ulisses reclama. – Annie eu sou seu cunhado
preferido? – Fico confusa com a pergunta, eu gosto
de todos eles e não saberia dizer um preferido.
— Ignora gatinha. Ou diz que sim,
Heitor faz isso. Concorda com tudo sempre.
— Gosto de todos. – Digo a Ulisses.
— Resposta padrão, gosto de todos
igual.
— Mas não gosto de todos igual, gosto
de todos diferente por que são todos diferentes.
— Vem, vamos passear um pouco antes
do jantar. Deixa esses irmãos para lá.
Nick me leva pela mão, aceno para todos
e vamos pelo lado de fora em direção ao mirante
perto da piscina. É noite já, nem tinha notado, a lua
está enorme no céu.
— Gostei que convidou o Leon, tinha
pensado nisso, mas não quis te influenciar.
— Quis pedir direto para ele, e queria
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saber se ele gostava de mim, sempre me acho meio


inadequada.
— Já falamos disso.
— Eu sei, príncipe. Sou menina, as
meninas as vezes pensam coisas assim.
— Entendi. Está bem? Terminaram os
mil preparativos?
— Sim. Ainda bem que só casamos uma
vez, dá muito trabalho.
— Nada nem perto do casamento do
Ulisses, aquele sim deu trabalho, ele adora os
holofotes então é claro que foi um acontecimento.
— Saiu em revistas. – Digo ao me
lembrar da revista que Ted me mostrou e me
assustou tanto. Quero só ver se ele ainda vai achar
um jeito de me provocar depois do casamento.
— O que foi? – Ele me conhece tanto.
Balanço a cabeça dizendo que não tem nada errado,
me abraço a ele que apoia o queixo em minha
cabeça. Sinto seu coração batendo junto com o
meu. Não tenho o que temer, é amor o que
sentimos e é para sempre.
— Estou gostando que vou casar com
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você e ser uma senhora Stefanos. Só que eu não sou


como elas, toda decidida, eu gosto de ficar nesse
nosso mundinho.
— É bom, também não consigo ser
muito diferente disso. – Nick me afasta, me faz
olhar para ele. – Comprei um presente, queria dar
amanhã, mas na verdade tinha que ter dado com o
pedido de casamento. Então... – Ele remexe os
bolsos e me estende uma caixinha. – Quer casar
comigo?
— Quero. – Pego a caixa, mas me
preocupo em beijar Nick antes de abrir, que
importa o que tem dentro dela? – É meu príncipe.
— Abre, gatinha. – Ele pede, abro a
caixa e tem um anel delicado, pequeno e com uma
pedrinha verde. – Não é um diamante, nem é uma
pedra preciosa, sabe como o comercio ilegal de
pedras raras mata e escraviza pessoas e o que causa
no ambiente então...
— Acho tão romântico! – Eu o beijo em
gratidão, não podemos permitir que nosso amor
seja maculado por nenhuma dor alheia e só mesmo
meu príncipe para pensar em todos os detalhes. –
Amo você por isso.
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— Sabia que não ficaria nada contente


com qualquer coisa diferente disso.
— Coloca em mim? – Estendo a mão,
Nick sorri. Pega o anel com cuidado, beija minha
mão antes de colocar o anel de um jeito formal e
lindo que me enche os olhos de lágrimas. – O que
achou? – Mostro minha mão e ele encara os dedos
com carinho.
— Está linda!
— Príncipe, eu acho que temos que ir até
o quarto e testar o anel sem nada além dele, porque
acho que minha roupa não está combinando muito
com ele.
— Eu, você e o anel? – Ele brinca rindo.
— Você aprende rápido, vem, temos que
ser discretos, a família não pode nos ver.
— Conheço um atalho! – Ele diz
pegando minha mão, realmente ele conhece,
passamos pela cozinha, seguimos por um corredor
e caímos em uma escada que nunca tinha visto,
subimos por ela e estamos no segundo andar. – É
por onde os funcionários da casa sobem e descem
com bandejas e essas coisas de limpeza.

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Logo estamos no quarto, com a porta


trancada por que Stefanos não são muito discretos,
então as roupas se espalham pelo chão e nem me
importo se vão saber o que estamos fazendo. Só
quero não pensar em nada além de Nick.
— Definitivamente o anel fica muito
melhor quando veste apenas ele. – Nick diz em
meu ouvido antes dos lábios descerem por meu
pescoço me deixando zonza.
— Entendo de moda.
Esquecemos do jantar, da família e de
todo o resto, fazemos nossa despedida de solteiros
apenas os dois, e acordo nos braços de Nick, a
primeira coisa que vejo é o anel em meu dedo,
nunca uso muito esse tipo de enfeite, mas esse não
vou nunca mais me separar.
— Bom dia, noivo! – Beijo Nick. –
Estou com fome. Pode acordar, por favor?
— Sim senhora.
— Senhorita. Ainda é senhorita, não
disse sim.
— Já começa o dia me ameaçando?
— Nunca que vou dizer não. – Ele me
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beija, mas logo fica de pé, fui dizer fome e agora


serei arrastada para mesa. Ariana vai me servir um
banquete e depois fico me sentindo entupida.
Mal ficamos juntos, logo sou arrastada
pelas garotas para os últimos acertos e quando
Sarah chega depois do almoço ela já me encontra
no quarto.
Nos abraçamos. Ela logo se dá bem com
as outras e são quatro mulheres a mandar em mim.
Decidindo cabelo, maquiagem e então lá vem a
Thaís se juntar ao grupo e me sinto sobrando.
— Eu posso ir ficar um pouquinho com
meu príncipe enquanto pensam nessas coisas todas?
– Todas elas silenciam e me olham. – Fiquei com
um pouco de saudade dele.
— Vai passar o resto da vida com ele. –
Sarah me lembra.
— Seu argumento é fraco. Se vou passar
o resto da vida com ele posso começar de agora.
— Vão se casar em duas horas, acho que
pode suportar a saudade.
— Nesse caso é melhor eu ir me
despedir dele, só dar um beijinho rápido e ver se ele

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está bonito. Por favor.


Elas acabam permitindo, corro até Nick,
beijo seus lábios de leve enquanto ele olhava para o
terno sobre nossa cama.
— Consegui cinco minutos. Essas
mulheres são loucas.
— Me dei conta agora mesmo que não
planejamos lua de mel.
— Diz viajar? Não príncipe, quero ir
para casa, estou com saudade de nós dois e nossa
rotina, eu derreto chocolate em comemoração e
você pensa em uma surpresinha também.
Nick tira o terno da cama e me puxa para
ela, me beija longamente e meu coração acelera.
— Quer fugir?
— Não posso deixar o Leon me
esperando para me acompanhar, tenho medo dele
que nem você.
— Engraçadinha.
— Tenho que voltar, a menos que queira
me beijar de novo, daí fico mais um pouco. – Ele
me beija. Suspiro quando me dou conta que não
tem mais nada a fazer se não voltar para elas.
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— Te vejo no altar.
— Sim, senhor príncipe. Se der dou uma
passadinha por lá mais tarde.
Corro para as garotas que bebem suco e
conversam.
— Gastou meia hora! – Sophia reclama.
Elas me aprontam, maquiagem leve,
cabelos soltos com cachos caindo sobre o colo nu,
um arranjo delicado de flores prendendo a parte da
frente para o rosto ficar à mostra.
Pronto, agora o vestido. Elas me ajudam
a colocar, dou um giro e todas parecem aprovar.
— Está parecendo Alice no país das
maravilhas. – Sarah diz encantada, é curto, delicado
e simples, sapatos baixos.
— Aqui está o buquê. – Lissa me entrega
com lagrimas nos olhos. – Casamentos sempre me
emocionam.
— Obrigada. Por tudo, a todas, são
incríveis, nunca conseguiria sem vocês. Será que
meu príncipe me esperou?
— Não. Despachei todos eles como de
costume. – Thaís avisa.
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— E Lizzie e Alana? Onde estão as


daminhas?
— Sentadas e imóveis sob os cuidados
de Leon. Já pode ir se quiser. – Me olho no
espelho, gosto do que vejo. Me sinto bonita, feliz e
emocionada. Não tenho medo do futuro, dúvida, só
amor e certezas.
— Quer um minuto sozinha? – Liv
pergunta e reviro os olhos.
— Eu não. Quero uma vida com meu
príncipe, melhor a gente ir de uma vez.

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Capítulo 29
Nick

Me reúno aos meus irmãos na sala, todos


prontos. Alana e Lizzie surgem com seus vestidos e
sorrio para as duas, parece mentira que eu sou o
noivo, pela quarta vez nos reunimos nessa sala à
espera de um casamento e isso é realmente
estranho.
Além disso, estou nervoso como não me
lembro de ter ficado antes na vida. Isso é mesmo
estranho. O que pode dar errado? Nos amamos, ela
disse sim, então é só tolice minha ficar tão tenso.
Simon surge na sala com a gravata na
mão.
— Nick. Posso ter um minuto com você
em particular? Só um último conselho de padrinho.
– Ele é realmente ridículo, sei bem que só quer que
eu dê o nó em sua gravata.
— Vamos a biblioteca. – Pelo menos foi
discreto. Entramos e ele me estende a gravata com
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a cara de idiota de sempre. – Você não arrumou


uma garota para fazer isso? Não era esse o seu
plano? – Pego a gravata de sua mão.
— Arrumei, mas ela está às voltas com a
sua noiva. – Ele responde. – Não seja mal, eu fui
discreto.
— Para de se mexer, parece que tem
formiga. – Reclamo medindo a gravata para
começar o nó. – Era o mínimo que eu esperava.
Que fosse discreto. Para de se mexer, eu estou
nervoso.
— Ela vai dizer sim. O que pode dar
errado? Eu é que preciso de sorte, vou pedir a Sarah
em namoro na festa, aproveitar o clima. Vê se
coloca uma música romântica.
— Um dia ainda vai estar nessa situação
e vai ver o que é ficar nervoso.
— Vou deixar você ser meu padrinho, e
vai fazer o nó da minha gravata.
— Eu sei. Isso é vergonhoso. – Ajeito o
nó para não ficar torto, também não quero um
padrinho todo estranho no altar. – Pronto.
— Obrigado. Estou bonito?

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— Simon, pode me deixar em paz. Ao


menos no meu casamento?
— Nossa, só quero ficar bem, viu as
noivinhas como estão lindas?
— Daminhas! Você está ótimo.
Podemos? – Aponto a porta.
— Vamos. – Abro a porta. – Então é
isso, entendeu? Ficou calmo? Se não sou eu na sua
vida. – Simon diz em voz alta chamando atenção de
todos. Apenas me afasto dele.
Olho para a escada, essas tradições são
irritantes. Suspiro sentando e levantando dez vezes.
Thaís surge como de costume.
— O que fazem aqui, senhores Stefanos?
– Ela pergunta com a mão na cintura.
— Se vai mandar na gente, pode pelo
menos usar nosso primeiro nome? – Ulisses pede.
— Não consigo. Annie está quase
pronta. Já podem ir todos para a igreja.
— Sabe que posso vence-la em um
debate, Thaís? – Digo encarando a garota mandona
que ela se torna todo casamento.
— Provavelmente. Mas não vai fazer
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isso. Vai levar em conta as tradições e respeitar a


vontade da noiva.
— A noiva quer que eu fique. – Aviso.
— A noiva pensa que quer isso, mas se
ficar, ela nunca vai saber como é a sensação de
caminhar em sua direção no altar.
— Venceu Thaís, eles vão. – Leon a
ajuda e ela nos dá as costas subindo as escadas.
— Um dia essa garota vai casar e vamos
fazer a vida dela um inferno. – Ulisses brinca.
— Minha mãe diz que a Thaís nunca vai
casar por que vocês põem defeito nos namorados
dela e espantam todos. – Lizzie nos avisa e nos
olhamos.
— Ela não sabe escolher, princesa. –
Heitor avisa. – Vamos Nick. O Leon cuida da sua
noiva.
— Leon, ajuda ela a descer? Tenho
medo dela rolar essa escada, esses vestidos de
noiva são sempre gigantes, cheios de panos que vão
limpando o chão e ela pode pisar nele e cair. Ela é
toda pequenininha, nem vou achar ela dentro do
vestido.

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— Eu ajudo, Nick, prometo não deixar


ela cair na escada.
— Certo. E tem esses sapatos também,
de salto gigantes, ela não sabe andar de salto. Eu
devia ficar. Ajuda-la. Annie podia ir de tênis até a
igreja e colocar o salto só para entrar.
— Nick, eu juro que sua noiva vai
chegar inteira. Quanto mais demorar para ir, mais
ela demora para descer.
— Estou indo. Não esquece, ela é
delicadinha. Não sei para que tanta roupa, tanto
sapato.
— Papai o tio não vai logo? Eu quero ver
a noiva. – Alana pede a Leon e suspiro.
— Estou indo. Sei quando não sou bem-
vindo. – Seguimos todos em um carro, Ulisses
dirige, Heitor leva Emma no colo e Harry fica ao
lado de Luka. Simon vai implicando com os
pequenos por conta da roupa.
Mira e Ariana se responsabilizam pelas
crianças quando chegamos e penso que um dia. Eu
vou estar preocupado com coisas como essas. Onde
está meu filho? O que está fazendo? Nem consigo
pensar direito nisso sem sentir calafrio.
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Odeio ficar no altar, pego o celular e


meus irmãos se aproximam.
— Quer guardar isso, Nick!
— Só ia mandar uma mensagem
avisando que já cheguei para ela vir logo.
Meu celular é confiscado, suspiro
achando tudo muito demorado. O padre se junta a
nós. Me concentro em ficar calmo. Simon e Ulisses
riem de qualquer coisa a minha volta. Os dois
deviam ser irmãos isso sim.
Logo as senhoras Stefanos chegam e
meu coração dispara.
— Pronto, ela está lá fora com as
daminhas e o Leon. Já vai começar. – Lissa me
avisa e todos se posicionam. Fico fraco de nervoso,
é só esperar por ela calmamente, ouvir o padre,
dizer sim na hora certa e depois ir para casa.
— Lembrou da aliança? – Ulisses
pergunta.
— Está com a Lizzie e a Alana. É ouro
ético, vindo de reciclagem. Tenho o certificado.
— Nem no seu casamento deixa de ser
chato com isso? Quem se importa? – Ulisses
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reclama e decido ignorar todos eles. Encaro a porta


da igreja fechada, não sabia que era assim, não me
lembro dos meus irmãos parecerem tão nervosos.
Uma música instrumental começa e
depois de tomar um leve susto me preparo para
Annie e seu vestido de noiva. A porta da igreja se
abre. Primeiro vem Lizzie e Alana, até consigo
sorrir para as duas garotinhas que caminham uma
ao lado da outra, cada uma com uma cestinha na
mão. Alana acena, aceno de volta.
Já Lizzie não sai do personagem,
caminha elegante a passos lentos e olhos fixos no
horizonte. Então logo depois dela Annie surge ao
lado de Leon.
Não tem nada de vestido gigante, está
deslumbrante num vestido curto e delicado que
acentua sua beleza como nunca vi antes. Tenho que
me segurar para não ir busca-la. O sapato é baixo, é
ela do jeitinho que é, minha gatinha, pequena,
delicada e linda.
Meu coração dança, tudo em mim está
vivo e reagindo, encontro seus olhos e ela sorri. Se
acalma quando nossos olhos se cruzam, estamos
ligados de um jeito que tudo e todos desaparecem.
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Te amo, ela diz apenas movendo os


lábios, lento e completo para ser entendida. Te
amo, respondo do mesmo modo e sorrimos um para
o outro, não estou mais nervoso.
É certo. A coisa mais certa que já fiz na
vida. É a minha mulher caminhando em minha
direção, é também a garotinha de olhos assustado
na cozinha do abrigo, a menininha que defendi e
me apaixonei, mas não sabia entender.
Leon beija a mão delicada de Annie.
Depois ele me estende a mão, sinto seu orgulho de
pai e irmão. Apertamos as mãos.
— Seja feliz. Esqueça todo o resto e seja
feliz. – Ele me diz e afirmo, acho que se falar agora
não vou conseguir conter a emoção. Leon se
posiciona, encaro Annie e agora, eu beijo sua mão,
ela beija a minha e sorrimos um para o outro. Nos
posicionamos.
O padre começa a falar, sei que deve ser
importante, adoraria prestar atenção, mas só
consigo presar atenção nela, minha gatinha vestida
de noiva jurando passar o resto da vida ao meu lado
e devia ter feito isso no minuto que a vi.
É hora de fazer juras. Temos as nossas,
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tomamos o cuidado de pedir ao padre o direito de


jurarmos do nosso jeito.
Lizzie me entrega a aliança de Annie,
seguro e sinto minha mão tremer um pouco. Pego a
mão de Annie, nos olhamos.
— Gatinha. – Ela sorri, é a gatinha que
eu amo mais do que tudo e todas as outras que
moram dentro dela. – Sempre te amei, sempre vou
te amar. O tempo apaga promessas, por isso não
preciso prometer, nosso amor é uma certeza desde
sempre. – Coloco a aliança em seu dedo, beijo mais
uma vez sua mão.
— Príncipe. – Ela diz com aqueles lindo
e vivos olhos sorridentes e marejados. – Um dia me
salvou da bruxa e te entreguei meu coração. Eu
sempre te amei, eu sempre vou te amar. Isso é uma
certeza desde sempre. – Ela coloca a aliança em
meu dedo, beija minha mão. O padre volta a falar,
dar as bênçãos divinas, nós já as temos, desde
sempre. Eu a amo mesmo antes de saber o que era
o amor.
— O noivo pode beijar a noiva. – O
padre anuncia o fim da cerimônia e o começo de
nossa vida. Envolvo sua cintura. Agora é minha
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mulher. Trago Annie para meus braços, a cintura


marcada pelo vestido traz doçura e sensualidade e
quando beijo Annie, não consigo me afastar. É um
longo beijo.
Quando nos separamos e encaro a
família, eles riam. Damos as mãos e saímos
puxando a família. Do lado de fora da igreja
recebemos as felicitações. Ainda parece estranho
ser eu o noivo.
— Está tão linda! Nunca pensei... me
surpreendeu tanto, gostei tanto do seu vestido.
— E você está lindo de príncipe. – Ela
diz me envolvendo o pescoço.
— Vão para um quarto! – Simon surge
de mãos dadas com Sarah. – Parabéns. Seja boa
com meu amigo, ou eu que vou ter que aturar o mal
humor.
— Vou ser. E você? Vai cuidar da minha
amiga? – Annie pergunta a ele. Simon fica
vermelho. – Ainda não estão namorando? Mas que
coisa lenta. Sarah tem que agarrar o Simon, eu já
peguei o príncipe para mim logo na infância.
— Parabéns Annie. Está linda, foi tudo
tão lindo que todo mundo chorou. – Sarah abraça
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Annie.
— Vamos gatinha? – É hora de voltar
para a mansão e comemorar com um jantar em
família.
— O Ulisses vem trazendo o carro. –
Simon avisa rindo e entendo o motivo quando um
carro pintado e cheio de latas amarradas atrás
estaciona na frente da igreja.
— A noiva é americana, resolvemos
respeitar as tradições dela. – Ulisses diz rindo.
— Eu gostei, príncipe! – Annie sorri. –
Obrigada, Ulisses.
— Claro que gostou sua maluca. Vem eu
te ajudo. – Descemos os degraus da igreja, ajudo
Annie a entrar no carro e seguimos em comboio
para casa.
A noite caia quando chegamos, então
tem mais cumprimentos, champanhe, riso e festa e
dessa vez não me importo de ser o centro de tudo,
meus dedos estão entrelaçados com os dela, me
sinto seguro e feliz.
Dançamos, conversamos, pelos beijos
que Simon e Sarah trocam na varanda, ele deve ter

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feito o pedido, vez por outra procuro as crianças,


estão todas correndo pela casa e isso me enerva um
pouco, mas me contenho.
— Ralar joelhos e correr para o papai
chorando é parte de crescer. – Leon se aproxima. –
Não fica tão tenso com isso.
— Estou tentando aprender.
— Sei que vai conseguir.
Ele bate em meu ombro, depois Heitor o
chama e fico de novo sozinho com Annie.
— Nick, eu vou usar esse vestido no
jantar com meus velhinhos e comprar um buquê.
Quem sabe um deles pega e ainda dá tempo de
casar?
— Vou ficar na frente daquele senhor
Fernandez, só por garantia. – Digo a ela e ganho
um sorriso apaixonado que me faz tremer.
— Posso tirar o sapato? – Ele me pede.
— Deve, eu tiro. – Me abaixo para fazer
isso eu mesmo, tiro seus sapatos e seguro na mão. –
Vou....
— Deixa no cantinho príncipe, para de
ser certinho, quando conseguirmos fugir levamos.
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— Tem razão.
Ficamos duas longas horas na festa, mas
quero mesmo é ficar sozinho com ela.
Hora do buquê, um burburinho começa e
Annie se anima. Vai com as moças para o centro de
tudo.
— Espera! Deixa eu tirar minha
princesinha dessa brincadeira. – Heitor puxa Lizzie.
— Papai eu nunca posso tentar pegar! –
Ela reclama.
— Só faltava essa, e se funciona? Nem
pensar. Pronto Annie! – Ele grita e Annie se vira.
— Sarah e Thaís fiquem prontas. Vou
jogar. Um, dois e... – Annie atira o buquê em
direção as moças, as duas pegam ao mesmo tempo.
Sorriem. Se abraçam e bato no ombro de Simon.
— Thaís não tem nem namorado, então
meu amigo, acho que é sua vez. – Ele me olha meio
pálido. Annie volta para meus braços rindo. Beijo
seus lábios.
— Vocês dois foram tão bonitinhos e se
comportaram tão bem que vou ajuda-los a fugir. ─
Lissa se aproxima sorridente.
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— Por isso que te amo. – Eu digo


segurando sua mão.
— Já comemos, comemoramos,
brindamos, agora vão para o quarto pelos fundos e
cuido do resto.
— Obrigada, Lissa. – Annie a abraça.
Saímos pelo jardim, damos a volta e então estamos
na escadinha que já usamos antes, fico pensando se
meus irmãos já fizeram isso e acho que eles nunca
são tão espertos.
— Príncipe, acho que tem que entrar
comigo no colo.
— Tudo bem, mas isso é quando
chegarmos em casa.
— Eu sou leve, Nick, me carrega duas
vezes. – Ela me envolve o pescoço e eu a ergo nos
braços, fecho a porta com o pé e caminho para
cama. – Não me põe na cama que não quero
amassar o vestido, ainda tem mais comemoração
com ele.
— Seja romântica, gatinha. – Brinco
colocando Annie no chão ao lado da cama.
— Amo você, amei o casamento. Devia

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ter casado antes, nem fiquei assim tão nervosa com


todo mundo me olhando, o Leon ao lado me deu
segurança.
— Não eu no altar te esperando?
— Você no altar me esperando me deu
certeza, Leon me deu segurança, estava com medo
de cair mesmo.
— Achei que entraria com um longo e
cheio de panos vestido de noiva, adorei esse.
— Eu? A garota que veste uns
pedacinhos de tecido que chamo de roupa?
— Quando entrou senti que era você,
minha gatinha. – Toco o ombro desnudo, desço
pelo braço e ela suspira. – Tão linda.
— Tão perfeito. Te amei tanto enquanto
caminhava para você, não parei mais depois disso.
— Que bom.
— Sabia que não consigo tirar o vestido
sozinha? Uma pena, estou presa aqui dentro, quem
sabe me dá uma ajudinha. – Seus olhos brilham
sensuais quando ela me dá as costas e depois de
beijar sua nuca deslizo o zíper lentamente, gosto de
ver sua pele ir se revelando aos poucos, se
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arrepiando com meu contato.


Depois é tarde para pensar em qualquer
coisa, é só amor. Todo amor que temos um pelo
outro, ao som de uma música romântica que toca ao
longe enquanto o resto da família festeja.

A vida tem que seguir e todos os


Stefanos voltam para casa na manhã seguinte,
Simon vem conosco e Sarah, Annie e Sophia
passam a viagem toda tagarelando. Aproveitamos
para conversar, nenhuma vez se fala em trabalho e
não me sinto nada culpado por isso.
Sarah e Sophia ajudam Annie a preparar
um jantar na associação que vai acontecer assim
que chegarmos. Perto do avião pousar Annie decide
colocar o vestido.
— Vem príncipe, me ajudar a me
arrumar e vestir sua roupa de noivo, eu trouxe. ─
Ficamos sozinhos no quarto, Annie ergue uma
sobrancelha. – Quanto tempo temos?
— O bastante. – Brinco puxando Annie.
Nunca mais vamos viajar sem frequentar o quarto.
Quando saímos vestido a caráter todos os olhares
riem de nós.
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— A gente perdoa a demora porque são


recém-casados. – Ulisses provoca. Annie cora se
entregando, mas então é hora de apertar o cinto e
descemos.
Ulisses e Sophia vão conosco para a
associação, tudo está pronto com a ajuda de Naomi,
Annie leva um ramalhete de flores que compramos
no caminho.
É uma maratona de festa, mas ela está
tão feliz entre seus velhinhos que só posso ficar
também. Ulisses se encosta ao meu lado com uma
taça de vinho na mão.
— É bonito o que faz aqui. Prometo
voltar Nick, já devia ter feito isso.
— Esse lugar precisa de gente como
você e Sophia. Alegres. – Olho para Sophia que
dançava com o velho e paquerador senhor
Fernandez.
A festa não dura muito. São idosos,
Annie ganha muitos abraços, eu recebo também e
advertências, muitas, ameaças praticamente, se
magoar Annie um pelotão de idosos vai me
perseguir eternamente.
Annie joga o buquê que Glória pega. E
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fica bastante animada.


— Não vem com esse olho cumprido
para meu marido não. – Annie balança a mão com a
aliança para ela.
Depois nos despedimos de Simon e
Ulisses, eu fico ajudando a limpar enquanto Annie
vai colocar seus velhinhos para dormir. Ava é sua
preferida e ela nem consegue esconder isso.
Em casa, eu a ergo nos braços quando a
porta do elevador se abre. Carrego Annie nos
braços direto para o quarto.
— Agora pode amaçar o vestido,
príncipe, me põe na cama que estou cansada.
Faço o que me pede, os sapatos ficaram
no carro. O carro tem sempre coisas dela perdidas.
Isso porque quase não usamos.
— Amanhã vamos ficar em lua de mel,
nada de trabalho. – Aviso a ela.
— Combinado, e vai ganhar uma
surpresinha sabor chocolate. Já que só eu que sei
fazer surpresas.
— Está me desafiando, senhora
Stefanos?
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— Finalmente me chamou assim! – Ela


aplaude. – Estava esperando esse momento!
— Senhora Stefanos. – Repito em seu
ouvido. – Quer dormir?
— Na lua de mel? Nem pensar. – Ela me
envolve o pescoço. – Estou cansada, mas não estou
morta.
Volto ao trabalho três dias depois. Annie
respeita as novas regras e passa a andar com o
motorista, eu continuo indo e vindo a pé quase
todos os dias, mas é tão perto que não me importo,
a menos que tenha reuniões distantes, uma semana
depois no dia seguinte de mais uma surpresinha
inesperada sabor chocolate decido retribuir de um
jeito que ela nunca esperaria.
— Você termina isso Simon, eu tenho
coisas a resolver.
— O que?
— Não interessa. Que coisa chata.
— É que são onze da manhã.
— Eu sei, tenho que resolver umas
coisas e pegar a Annie na associação.
— Desce para jantar na Sarah. Vou estar
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lá.
— Você vive lá. Mas hoje não vamos
estar em casa. E não eu não vou te contar.
— Devia, assim eu teria um segredo seu
que seus irmãos não têm e seria de novo seu melhor
amigo.
— Juro que é meu melhor amigo. Tchau.
Caminho apressado pelas ruas de Nova
York, tenho que ir a um shopping e uma loja de
carros para alugar, preparar tudo e estar na porta da
associação as quatro da tarde que é o horário que
Annie saí. Isso sim é surpresa, se vou fazer tem que
ser uma super produção.
O Mustang preto e antigo que escolhi
pela internet está a minha espera. Pago com cartão,
encaro o carro velho à minha espera e sorrio. Dirijo
até o shopping, é um bom carro. Compro os óculos,
a jaqueta, e o jeans.
Está tudo dentro do tempo quando paro
na porta da associação, o motorista previamente
dispensado em segredo. Coloco os óculos e me
encosto no carro com os braços cruzados, a jaqueta
preta e o jeans que devia parecer velho. Nick
Stefanos se trocando num banheiro de shopping.
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Só Annie para me fazer pensar em algo


assim. Fico sério quando a vejo sair tranquila com
seu shortinho e parar na frente da associação,
colocar a mão na cintura e franzir a testa a procura
do carro e o motorista.
— Carona gata? – Ela não olha. Gosto
disso. Garota Difícil. – Não tenho o dia todo, sou
um cara mau. – Só então ela me olha, abre a boca
perplexa, fecha e sorri de sobrancelhas erguidas.
Faço um movimento com a cabeça convidando ela
para o carro. Annie aceita. – Entra gata. Vou te
levar num lugar.
Annie entra e prende o cinto, me sento a
seu lado e dou partida, ela me olha sem acreditar.
— Isso é sobre aquele cara que saiu do
abrigo e não tinha irmãos? – Me pergunta e afirmo.
– Cadê a aliança, Nick? – Ela pergunta olhando
minhas mãos ao volante.
— No bolso, sou um cara mau.
— Vou tirar a minha que não vou trair
meu marido. – Ela tenta. – Droga, meu dedo está
gordo. Faz de conta que tirei. Onde a gente vai?
— Vai ver. – Dirijo um tempo até sair do
centro, paro num motel afastado, um lugar bem
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porcaria. Annie ri animada com a brincadeira. Me


acompanha quando pago e recebo a chave de um
quarto.
Entramos e definitivamente é típico de
um filme de gangue. Tentamos não rir. Fecho a
porta.
— O lugar não é grande coisa. Nick –
Ela diz quando eu a abraço.
— Gasto meu dinheiro com mulheres e
bebida, é o que posso pagar, gata.
— Nossa senhora você é bom nisso. Me
deu calor. – Meus lábios vão para seu pescoço e ela
começa a tirar a jaqueta. É bom, está mesmo
quente. – Se disser qualquer coisa sobre bombeiros.
Vai por fogo numa casa? Estou até com vergonha
do meu chocolate derretido.
— Não tenha. Aquilo é sem
concorrência.

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Capítulo 30
Annie

— Isso foi incrível príncipe, você sabe


brincar, subestimei sua capacidade de me
surpreender. – Ele sorri preguiçoso ao meu lado.
Me beija levemente os lábios, acaricia meu rosto.
— São três da manhã gatinha, temos que
ir para casa. Pensei em tudo, menos em trazer sua
vitamina. Tem que tomar logo cedo. – Faço careta.
– Eu sei que é ruim, mas é importante foi o que o
médico disse.
— Essa cama é péssima mesmo. – Digo
me espreguiçando. – Será que não vamos levar
pulgas para casa? – Rimos, nem é tão ruim assim, é
limpo e descente, apenas simples.
— Boba. Vamos. – Ele me ajuda a ficar
de pé, suspiro e começo a caçar minhas roupas.
— Veste tudo de novo Nick, ficou lindo
de cara mau, os óculos inclusive. – Peço me
calçando quando ele vestia a camiseta branca e lisa.
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Nick sorri de um jeito sensual, veste a jaqueta, põe


os óculos e meu coração dispara. Aproveito para
tirar uma foto com meu celular. – Tem ideia do
quanto está bonito? – Ele ri um tantinho tímido, me
puxa me colocando de pé.
— Melhor a gente ir.
— Eu não sei não, você está ainda mais
bonitão com essa cara de quem estava fazendo
umas coisinhas. – Eu envolvo seu pescoço, ele me
olha daquele jeito que faz meu coração palpitar.
— Vamos gatinha, a gente brinca disso
outro dia. Não quero amanhecer nesse lugar.
— Tá, vamos para casa então. Começa
colocando a aliança no dedo, está cheio de caça
fortunas por aí. Você devia usar uma dessas faixas
de miss escrito propriedade privada. – Nick me
beija orgulhoso do meu ciúme. ─ Quem sabe você
não pode ser um cara mau que se deu bem e ficou
rico?
— Isso. Assim pode ser, vamos para
casa. – Ele coloca a aliança no dedo quando
deixamos o quarto, me sento ao seu lado no carro e
só então me dou conta de como o carro é legal.
— Devíamos ficar com esse carro, gosto
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dele.
— Quem sabe? Quer um? – Me lembro
que ele é rico, que eu também sou. – Um mais
novo, esse está meio acabadinho.
— Não. Vivemos em Nova York, não
precisamos de nem um carro, quanto mais dois.
— Boa menina. – Me encosto no banco,
não consigo para de sorrir. A noite está bonita,
silenciosa, estrelada, abro o vidro e sinto o vento
bater em meu rosto.
— Você me faz feliz. – É só um
desabafo, ele sabe, é claro que sim, demonstro em
cada gesto, mas as vezes quero só lembrá-lo disso.
— Retribuo apenas.
Ele puxa minha mão, beija e depois volta
a se concentrar em dirigir.
— A aliança está presa em seu dedo? –
Nick me pergunta preocupado.
— Sim.
— Isso não é bom, vamos mandar
alargar.
— Antes vamos precisar de detergente,
ou sei lá, uma serra. – Ele ri encaro a mão, gosto
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dela com a aliança, parecia bobagem antes, mas


agora gosto.
Durmo em seus braços. Durmo em seus
braços todos os dias. Nunca nos afastamos, acordo
sempre enrolada nele, então tenho que ficar imóvel
meia hora até o enjoo me dar uma trégua.
Nesse momento falar não é boa ideia,
então ficamos só juntos, Nick é mais que um
marido, é um companheiro para todos os
momentos. Respiro fundo pela milésima vez, então
me sinto viva de novo.
O médico diz que o enjoo um dia passa,
que é só no começo, só não sei quando o começo
começa a acabar e o fim começa a começar. Rio em
seus braços.
— Melhor? – Ele me pergunta e afirmo.
— Muito.
Seguimos nossa rotina, banho e café da
manhã, agora faço todas as refeições, tem mil pares
de olhos sobre mim o tempo todo. Recebo
mensagens o dia todo de algum Stefanos me
perguntado se já comi.
As senhoras Stefanos tem um grupo em

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que trocamos mensagens e rimos de Sophia. Ela é


tão divertida quanto Ulisses, não resisto a mandar a
foto do Nick cara mau para elas e contar onde
passamos a noite.
Depois de deixar meus idosos vou com
meu motorista particular ao mercado, Sophia e
Ulisses vem jantar para escolhermos juntos as fotos
para o álbum de casamento, tudo por conta de
Sophia, ela cuidou de organizar tudo.
Em casa trato de recolher umas
bagunças, lavar louça e penso se a senhora Kalais
ainda volta, ela prometeu voltar em duas semanas,
espero que cumpra, porque não sei como vamos
ficar sozinhos com um bebê, se ele chorar tudo que
vamos conseguir fazer é chorar junto.
— Gatinha! – Sorrio quando o escuto me
chamar, todos os dias ele chega me chamando,
acho que adoraria que eu estivesse sempre de pé, na
porta do elevador para recebe-lo e ele ter certeza
que estou aqui. – Gatinha!
— Cozinha! – Grito de volta. Então ele
surge desfazendo o nó da gravata, isso é tão
sensual, acho que ele não faz ideia. – Oi.
— Oi. – Ele me beija. – Tudo bem?
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Como foi o dia? – Ele sabe, nos falamos a cada


hora, mas gosto que pergunte.
— Foi ótimo, e você? Muito trabalho?
— Muito. Esse negócio de andar indo e
vindo para Kirus me atrasou demais. Ainda estou
colocando tudo em ordem.
— Pensei que Ulisses viria com você.
— Nem o vi hoje, ele passou o dia fora
em reunião.
— Comprei o jantar e a sobremesa,
acredita que tem pudim igual aquele de Atenas? Eu
comprei dois.
Ele abre a geladeira, pega uma garrafa de
água e ri quando fecha.
— Comprou dois e já comeu meio.
— Eu precisava de um incentivo para
cuidar da casa, arrumei minhas bagunças e lavei a
louça, tudo sozinha.
— Que orgulho! – Ganho mais um beijo,
depois tomamos banho juntos, isso é sempre
divertido, quando voltamos para sala a porta se abre
e o casal entra rindo. Ulisses nunca precisa ser
anunciado.
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— Boa noite! – Ulisses encara o irmão


sério. – Antes de mais nada quero deixar registrado
meu protesto.
— Sobre? – Nick pergunta risonho.
— Sobre como você está elevando muito
o nível da brincadeira. Definitivamente anda
tornando a vida dos outros senhores Stefanos
bastante complicada. – Nick franze o cenho, encara
o irmão confuso. Sophia deixa uma caixa sobre a
mesinha de centro da sala principal. – Mustang,
jaqueta de couro e motel de quinta? Fala sério
Nick, isso complica nossas vidas, eu nem falo por
mim, andei arriscando com vendas...
— Ulisses! – Sophia adverte.
— Não vou falar das algemas, amor. –
Rimos e Nick revira os olhos assombrado com o
pensamento inevitável. – Agora pense no Leon,
imagina como fica difícil para ele? E o Heitor, sabe
que o homem produz herdeiros em larga escala,
como os coitados vão ficar na disputa?
— Annie contou a ele?
— Não príncipe, contei a elas, mandei
uma foto sua, estava lindo, eu tinha que me gabar.

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— Eu não podia guardar segredo, contei


ao Ulisses! – Sophia comunica rindo.
— Que fofoqueira!
— Gatinha, presta atenção, essa família
não consegue guardar segredo sobre coisa alguma,
todo mundo sabe tudo sobre todos, eles criam
grupos secretos para falar dos outros, tem um que
só eu não faço parte para falarem de mim, um que
só o Ulisses não faz parte e assim por diante, mas é
inútil porque todo mundo sempre conta.
— Eu li o relatório que fez sobre mim e
Sophia! – Ulisses conta a ele.
— Vê? – Nick me diz rindo. – Só ele não
recebeu, mas sabe.
— Que bom que me avisou, agora não
conto mais, eles vão ter que se virar para ter ideias
sozinhos. – Será minha vingança.
— Ótimo! – Nick me beija. – Quem quer
uma cerveja?
— Eu. – Sophia diz e os dois começam a
reclamar. – Ele perguntou quem quer, eu quero,
mas não posso, não vou beber, mas adoraria. – Ela
se defende.

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Em vingança mando mensagem para as


outras contando que Sophia quer tomar cerveja,
Nick pega uma para ele e outra para Ulisses,
quando volta os celulares começam numa
avalanche de mensagens sobre Sophia tomar
cerveja e rio de sua cara chocada.
— Annie! Foi dizer que eu estava
bebendo sua vingativa.
— Disse que queria, não que estava!
— Mulheres! – Ulisses ri. – Vamos ver
as fotos, Sophia não me deixou ver antes dos
noivos. – Nos sentamos em volta da mesinha, no
chão diante da caixa, tem muitas fotos e passamos
bom tempo ali, rindo das brincadeiras de Ulisses
que acha graça em toda foto.
É difícil escolher as melhores, gosto de
todas, no meio do processo Ulisses se cansa, deita a
cabeça no colo de Sophia, beija sua barriga,
conversa com o bebê, finjo não perceber, mas
percebo, ela ri, faz o mesmo, os dois se divertindo
com esse pequeno momento.
— Vai ser o bebê com mais fotos no
mundo sabia pequena azeitona. Mamãe já começou
com o ultrassom.
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— Papai está com ciúme, por que não


vou mais tirar foto toda hora dele. – Sophia acaricia
o ventre.
— Ah não! Isso está errado, tem que ser
pai e azeitona.
— Tinha prometido parar de chama-lo
assim. – Sophia choraminga acariciando os cabelos
de Ulisses em seu colo.
— Sou grego Sophi, azeitonas são parte
da minha vida. Não é mesmo Nick?
— Eu? – Nick ergue os olhos de algumas
fotos que tem na mão. – Ah! Sim, oliveiras, azeite
entendi. Sim. Eu acho que sim.
— Nick, você é um grego muito mais ou
menos. Aposto que nunca percebeu que a ilha é
coberta de oliveiras.
— Claro que percebi. – Nick comenta e
Ulisses volta a se sentar. – Quando vamos num
jogo? Não me esqueci.
— No próximo vamos todos, não é
mesmo príncipe? – Digo com um pouco de medo
dele me proibir de ir. – Você sabe que os Jets
precisam de mim.

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— Eu sei, mas você sabe que não precisa


do sanduiche de carne do estádio?
— Isso é tão injusto, então ninguém vai
comer, ou eu fico com vontade.
— Prometemos. – Sophi diz animada.
— Não tem comida nessa casa? – Ulisses
me pergunta.
— Boa ideia Ulisses, vamos jantar. –
Fico de pé, o movimento brusco me causa tontura,
um segundo ou menos Nick me amparava. O rosto
dele sempre fica pálido de susto quando acontece.
— Não consigo não pensar nisso
acontecendo na escada. – Ele me abraça e suspiro.
— Pior sou eu que não consigo controlar
Sophi. Ela nunca me dá ouvidos.
Ulisses olha bravo para Sophi, ela o
beija.
— Grávida, não doente, já disse mil
vezes amor. Vamos Annie te ajudo a colocar a
mesa.
Depois do jantar e das despedidas
arrumamos a cozinha juntos, guardo a caixa com as
fotos que ficaram, quero encher a casa com porta-
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retratos.
Tenho dificuldade para dormir, penso
toda hora no modo carinhoso com que Sophi e
Ulisses tratam a gravidez. Não falo com minha
barriga, Nick também não faz isso nunca.
Isso não está certo, temos que mudar
essa coisa dentro de nós que nos machuca a ponto
de tornar momentos que poderiam ser doces e
puros nessa pequena agonia escondida. Nenhum
dos dois pode admitir o medo sem sentir de certo
modo vergonha.
Não é falta de amor, fico repetindo
mentalmente e o mesmo acontece na semana
seguinte toda, insônia recheada de maus
pensamentos, uma ideia começa a surgir dentro de
mim. Preciso mudar isso, e talvez dar um pulo no
passado me ajude, tenho que parar de fugir.
Aconteceu, não posso negar, não posso apagar,
preciso achar um jeito de olhar para isso sem tanto
medo e magoa.
Preciso ser corajosa, por mim, por Nick e
pelo nosso bebê. Me movo na cama em mais uma
noite de insônia.
— Não consegue dormir? – Mais uma
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vez acordo Nick, ele me envolve mais junto dele


quando afirmo sem conseguir falar, tenho medo de
cair em lágrimas. – Talvez a gente tenha que
perguntar ao médico se isso é normal. Tem médico
na próxima semana, mas podemos ir amanhã.
— Já viu Ulisses e Sophi falando com a
barriga?
— Sim. Virou mania dos dois.
— Seus outros irmãos....
— O tempo todo. – Ele completa
sabendo que rumo segue a conversa.
— Nós não. – Ficamos em silencio. –
Minha barriga já começou a crescer um pouco, mas
não estamos lidando bem com isso.
— Eu sei, gatinha. Mas penso nele o
tempo todo, em sua aparência, no modo como
vamos cria-lo.
— Tomei uma decisão, queria que
estivesse comigo, mas vou entender se for muito
para você. – Me movimento para olhar em seus
olhos, quero que ele veja minha certeza. – Vou
voltar no abrigo.
— Annie...
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— Eu quero fazer isso, talvez tire um


pouco da impressão que tenho do lugar, sei que não
é mais como antes, isso vai me ajudar.
— E se fizer mal ao bebê? Se ficar muito
tensa?
— Se fizer bem o bastante para eu me
sentir mais segura? Não vou sozinha, se não
conseguir me acompanhar peço para Sophi e
Ulisses.
— Quer voltar lá? – Ele pergunta de
modo firme. – Quer mesmo entrar naquele lugar de
novo? Reavivar a memória?
— Reavivar, Nick? Quando foi que
esquecemos? Está entranhado em nós dois, em tudo
que fazemos, pensamos, sentimos.
— Tem razão.
— Disse que as crianças vivem bem
agora. Acho que olhar para aquele lugar assim vai
me ajudar.
— Certo. Posso fazer. Se quer ir, então
eu vou com você. Estamos juntos nessa, estamos
juntos em tudo. – Me aconchego em seus braços.
Estar com ele vai me ajudar. Me deixar segura para

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atravessar os portões. – Amanhã?


— Sim. Estou pronta. – Aviso decidida.
— Te pego na associação, almoçamos e
vamos juntos.
— Pode ser. Obrigada. – meu coração
acelera só de pensar na ideia, mas devo isso ao meu
filho. Tenho que tentar superar.

Passo a manhã um tanto angustiada, não


sei o quanto a ideia é boa, mas não quero me sentar
na frente de um analista e ficar contado o que me
aconteceu. Quero criar meu filho, cuidar dos meus
idosos e viver com minha nova família sem medo
ou lembranças.
Comemos num bistrô de comida natural.
— Você acha esses lugares como? –
Pergunto quando deixávamos o lugar depois de
uma comida leve com gosto de caseira.
— Internet, gatinha. – Ele me abre a
porta do carro, acho fofo como nunca esquece as
pequenas gentilezas. Aprendeu com Leon, só ele
faz essas coisas. Ulisses é despreocupado e Heitor
ocupado com crianças demais para essas coisas.
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O carro estaciona na porta. Nick ligou


avisando que iriamos, a diretora está a nossa
espera. A frente é completamente diferente agora.
Antes era tudo cinza e triste, agora parece colorido
e quente.
Ainda tem um segurança na porta para
nos receber e estremeço ao passar por ele, não olho
em seus olhos, aperto a mão de Nick e um arrepio
percorre meu corpo quando o portão se fecha atrás
de nós.
Nick me investiga. Não sorrio, não
consigo, mas tento mostrar que estou bem. Logo
uma senhora com cara de vó se aproxima sorrindo
simpática. É Nickolas Stefanos, é claro que ela
sorriria simpática. Ele é o homem do dinheiro e por
isso sempre ganha sorrisos.
— Senhor e senhora Stefanos? – Ela
pergunta incrédula. Nick afirma apertando sua mão,
eu faço o mesmo. – Puxa que surpresa, esperava
um homem de cabelos brancos, são tão jovens.
— Não é a primeira vez que ouço isso. –
Nick confessa.
— Sejam bem-vindos. Acho muito bom
que tenha vindo pessoalmente. Quero muito
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mostrar o que proporciona a essas crianças.


Prontos? – Ela pergunta.
— Claro. –Ele diz do jeito gentil de
sempre.
— Temos apenas aquele segurança na
entrada. Quando assumi o trabalho dele era manter
as crianças aqui dentro, hoje é apenas proteger o
lugar e receber as pessoas. As crianças gostam
daqui.
— Que bom. – Eu digo só para não
tornar a conversa um monologo.
A porta principal se abre para uma sala
grande e colorida, as paredes pintadas com
desenhos infantis e alguma arte de rua. Lissa iria
gostar.
— São as crianças que fazem isso. Todo
ano elas pintam as paredes, como querem, são
livres para se expressarem. No começo não era tão
colorido, elas usavam tintas mais escuras e
retratavam coisas mais tristes, mas mudamos isso
também.
— Vocês têm professores? Psicólogos? –
Nick pergunta.

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— Sim. Eles frequentam uma escola


regular, o senhor nos deu um ônibus que os
locomove, depois aqui tem arte, professores
particulares para os que chegam e estão atrasados,
psicólogos. – Vamos caminhando por salas,
paramos em frente a uma onde meia dúzia de
crianças pareciam fazer dever de casa, outra onde
jogavam, o grande e inútil pátio é agora uma
quadra de esportes. E vejo crianças jogando e
rindo.
Ninguém chora, não andam de cabeça
baixa e tristes, parecem bem. Pegamos um
corredor.
— Esse é o refeitório, temos uma
nutricionista que cuida da alimentação e duas
cozinheiras. São trinta crianças no momento. E
mais dez no prédio ao lado onde ficam os menores.
─ No caminho pegamos o corredor que nos levaria
a disciplina e minhas pernas formigam.
— Está bem? Quer ir embora? – Nick
me pergunta, talvez ele mesmo queira, mas nego e
ela nem percebe.
— Aqui era um lugar horrível, dizem
que crianças ficavam presas, o senador deu ordens
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expressas para fechar com uma parede e é apenas


isso agora. Uma parede. – Seco uma lágrima e
sorrio para Nick. Ele se aproxima da parede agora
colorida que um dia foi a porta do inferno, toca
como se quisesse confirmar que está mesmo
fechada.
— Ratos... – Ele diz mais para si mesmo.
— Não senhor, aqui é muito limpo.
Imagine, são muitas crianças.
— Que bom. Garanta isso sempre. –
Nick diz num fio de voz ainda se recuperando
assim como eu.
— Venham conhecer meu orgulho. – Ela
aponta o corredor e chegamos a biblioteca com
estantes cheias de livros, computadores, sofás e
almofadas. – Eles pesquisam aqui, os mais velhos
ajudam os mais novos, alguns apenas se sentam
para ler. No momento nosso único problema, são
aqueles dois ali. – Ela diz baixo, olhamos na
direção de sua mão e um garoto lia para uma
menininha de cabelos trançados.
Nós dois, é quase como um espelho. Me
apoio em Nick, ele me beija o topo da cabeça. Um
longo e silencioso minuto sem que nenhum dos
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dois pergunte a razão, mas ela decide contar mesmo


assim.
— São irmãos. Ela tem quatro, ele doze,
não deviam estar juntos, ela devia ficar com os
menores até os sete, mas não podemos separa-los,
ele se revolta e ela sofre. Não podemos deixa-lo
com os pequenos, não devíamos deixa-la com os
grandes e acabou que estamos tentando dar um
jeito nisso.
— Separa-los? Não. Isso não pode
acontecer se são irmãos. – Fico indignada só com a
ideia.
— Não se separam um minuto,
transformei minha sala num quarto, não vou deixa-
la no quarto dos meninos, nem ele no das meninas.
— Faz tempo que estão aqui?
— Três semanas, ainda muito
desconfiados. Vieram de um orfanato. Ele era meio
um problema lá, por conta da superproteção dele
com a irmã.
— Por que estão aqui? – Nick questiona
enquanto fico com os olhos grudados nos dois que
não parecem ter nos percebido. É estranho olhar
para eles, é como estar aqui de novo.
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— O de sempre, violência doméstica.


Mais ele do que a irmã, muitas visitas de assistentes
sociais, pais viciados, uma longa ficha, o pai
morreu há um ano, gangues, depois, há oito meses,
foi a vez da mãe. Então estiveram em dois
orfanatos e agora aqui.
Triste, dolorido de ouvir, angustiante e
ao mesmo tempo esperançoso, não é mais um lugar
ruim, é bom, ou o mais perto disso. Bom é ter
família e amor.
— Tão pequena.
— Fez quatro anos ontem. Ele cuida dela
desde sempre é o que dizem as fichas e ela, ele não
fala muito.
— Fizeram uma festinha? – Ela me olha
meio incrédula. Nega.
— São tantas crianças, senhora.
— O dinheiro não é o bastante para isso?
– Nick questiona e ela o olha.
— Não falta, mas sempre que sobra,
procuramos investir em computadores, cursos,
essas coisas.
— Nick! – Peço sem precisar usar
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palavras.
— Vou cuidar disso, Annie. – Sorrio. –
Eles podem encontrar uma família, não é? – Nick
questiona. – Soube que tem muitas adoções aqui.
— Mais do que em qualquer outro lugar,
é triste o que vou dizer, mas esse lugar por ser bem
cuidado, é como um selo de qualidade e muita
gente vem aqui, mas no caso deles é quase um
milagre, dois de uma vez, um garoto já grande e
uma menina com problemas de saúde, duvido.
— O que ela tem? – Pergunto olhando a
garotinha sorrir para o irmão que vira a página do
livro e continua a ler.
— Asma, mas em alto grau, muitas
crises. Por isso não os separamos, toda vez que
tentamos por mais cuidadoso que fosse o processo
terminava numa crise de correr para o hospital.
Não consigo parar minhas pernas, elas
me levam até os dois, me sento com eles nas
almofadas no chão, ela se parece comigo, ele
também. Os dois me olham mudos, ele de
expressão fechada, ela curiosa.
— Oi. – Nick fica de longe ouvindo o
que a diretora diz. – Meu nome é Annie. O que
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estão lendo? – O garoto ergue o livro para me


deixar ver a capa, meus olhos marejam com a
coincidência. Harry Potter. – Meu preferido. Como
se chamam?
— Ele chama Josh e eu July. – Ela tem
uma voz suave e um rostinho lindo, é muito
pequena, um tanto pálida, tem olheiras de cansaço e
sinto alguma dificuldade em sua respiração.
— Que nome lindo, July. Quantos anos
tem? – Ela mostra três dedinhos com muita
dificuldade e ajuda da outra mão.
— Quatro. – O irmão corrige. Ela ri, que
lindo e delicado sorriso.
— Me esqueci. É quatro.
— E você, Josh?
— Doze. Fiz mês passado. – Ele ainda
conserva os olhos baixos, o jeito de não encarar
pessoas que conheço tão bem. Todo mundo sempre
pode te machucar.
— Estão gostando do livro? – Pergunto a
eles.
— Sim. Harry não tem pais, que nem eu
e meu irmão. – July conta como se não fosse nada.
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Afirmo, não sou diferente. Nick surge em pé, a


figura assusta um pouco e eles se retraem, eu o
puxo pela mão para que se sente, Nick se coloca ao
meu lado.
— Príncipe, esses são Josh e July. Estão
lendo... – A voz embarga. Nick segura minha mão,
entrelaça seus dedos aos meus. – Estão lendo...
— Eu sei gatinha. Eu sei. – Afirmo, sim,
ele sabe.
— Você é um príncipe? – July pergunta.
O irmão agora segura sua mão firme, como se
temesse que nós a roubássemos dele. Nick sorri, ela
é encantadora demais para não merecer um sorriso.

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Capitulo 31
Nick

Annie correr para perto das crianças é


estranho. A diretora recebe uma ligação e aproveito
para me juntar a eles, a garotinha parece Annie
quando criança, um pouco fraquinha, mas linda e
delicada como minha gatinha.
O garoto tem um ar carrancudo que sei,
esconde um medo interminável e aquela velha raiva
que conheço tão bem. O não saber por que justo
você está ali, jogado, esquecido. Abandonado por
Deus e todo o resto.
Meu coração se contorce, um sentimento
estranho me arrebata. Quando ela me pergunta com
o rostinho abatido se sou um príncipe sinto vontade
de abraça-la, estranhamente sinto vontade de
acolher os dois.
— Ele é bonito que nem um príncipe,
não acha July? – Annie me sorri. July baixa os
olhos, subitamente tímida. – É meu príncipe. O
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nome dele é Nick.


— Só princesa que tem príncipe. Você é
princesa? Eu queria uma princesa no meu
aniversário, foi ontem.
— Uma princesa? Uma boneca de
princesa? – Ela afirma, os olhos de Annie cintilam
e sei que vamos sair daqui direto para uma loja de
brinquedos.
— Não deu. – Ela olha para o irmão. –
Josh não conseguiu me arrumar uma.
— Tem brinquedos aqui July, quer ir
buscar uma boneca? A moça já disse que pode
pegar. – O irmão diz a ela.
— Não tem princesa. – Ficamos
esquecidos um momento, Josh encara a irmã e sinto
que está tentando de algum modo achar uma
desculpa.
— Pode ser que ainda ganhe uma. As
vezes acontece. ─ Tento anima-la.
— Não príncipe, meu aniversário foi
ontem. – De novo fico tocado, primeiro por que
acho engraçadinho ela me chamar de príncipe,
segundo por que ela não tem esperança.

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— O nome dele é Nick! – O irmão a


corrige. – Desculpa. – Me pede um tanto
preocupado. – Ela é muito pequena ainda.
— Tudo bem. Ele parece mesmo um
príncipe não é July! – Annie diz e ela afirma. –
Sabia que tem aniversário que dura dois dias?
Talvez esse seja seu caso, pode ser que ainda seja
seu aniversário. Acho que até a hora de dormir
pode aparecer uma boneca de princesa.
Os olhos da garotinha brilham, ela olha
para o irmão.
— Não fica feliz, não tem boneca, July,
não consegui nenhuma, não vou conseguir até a
hora de dormir. – O irmão diz de modo prudente,
talvez cansado de sonhar, cheio das magoas de
sempre.
— Eu já sabia. – Ela responde triste.
— Eu soube que chegaram faz uns dias,
é bom aqui? – Os dois encaram Annie, preciso
saber a resposta, mas ao mesmo tempo tenho medo.
Os dois dão de ombro, não é nada, só um
lugar. Eles não sabem responder.
— Tem escola, mas a gente não vai. –

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July conta.
— Ainda vão, é só questão de tempo. –
Annie avisa.
— Não vou deixar ela aqui, July não
sabe se cuidar. Se vieram para me convencer como
essas psicólogas podem desistir.
— Nós não somos psicólogos. – Aviso
aos dois. Troco um olhar com Annie. – Nós dois
crescemos aqui. – Os dois me olham surpresos.
— São irmãos? – Josh questiona agora
interessado.
— Não. Somos casados. – Annie mostra
a aliança. – Quando moramos aqui era diferente,
mas liamos esse mesmo livro. Sei que não é muito
legal ficar aqui, mas é melhor que o outro lugar que
moravam antes.
— É sim. Lá todo dia não respirava, todo
dia, todo dia. – July conta. A diretora surge,
observo as crianças, quero ver como se sentem
perto dela, não ficam mais calmos, mas não sentem
medo, ao menos não parecem sentir.
— Desculpem a demora. Fui atender
uma ligação. Querem conhecer os dormitórios?

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— Que acha da July e do Josh nos


mostrarem? – Annie pede e ela olha para as
crianças.
— Podem fazer isso? – Os dois ficam de
pé. – Ótimo, na volta conversamos mais, se
quiserem.
Quando chegamos a escada que leva aos
quartos Annie paralisa, empalidece no mesmo
instante, aquelas são lembranças difíceis demais
para ela, e imagens fortes demais para mim, minha
mente cria as coisas que não vi acontecer e são tão
terríveis que me causam dor.
— Nick. – Sua voz é tremula, me chama
como um pedido de ajuda. – Não quero. Não
consigo.
— Tudo bem, vamos voltar, está indo
bem, não precisa subir. – Ela parece longe, quase
num transe. Seguro seu rosto com as mãos. Faço
com que me olhe. – Ei. Não precisamos subir.
Certo? Que acha deles nos mostrarem o quarto
deles. – Olho para os dois garotos confusos a nos
esperar. – É aqui em baixo, não é mesmo?
Josh aponta com a mão em silencio, acho
que o rosto pálido e assustado de Annie os deixa
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meio tensos.
— Viu? Eles vão nos mostrar onde
dormem e depois podemos ir se quiser. Quer ir
embora? – Annie me abraça, sinto quando puxa o
ar com força e solta, repete mais uma vez e depois
outra. Está com enjoo.
— Aqui. Da para ela. – July me oferece
seu inalador.
— Não querida, ela não precisa.
Obrigado. – July afirma guardando no bolso mais
uma vez. Annie se acalma.
— Quero ver o quarto de vocês. – Diz
tentando sorrir, dá a mão para a garotinha depois da
gentileza.
Caminhamos os quatro em silencio, ouço
barulho de bola, riso, tênis raspando chão de
borracha, é um lugar descente agora. Consegui
fazer algo bom, valeu a pena. Josh abre uma porta.
É um escritório. Apenas isso, com mesa,
estante, telefone, apenas duas camas de abrir e
fechar acomodadas lado a lado, não gosto disso.
Eles merecem o mesmo que os outros.
Os dois ficam na porta olhando abatidos.

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A diretora se aproxima apressada.


— Como disse é só um improviso de
emergência. – Ela sorri para os meninos. – Querem
voltar a ler? Podem ir.
Recebemos olhares, não sei se querem se
despedir, se sentem qualquer coisa como eu, July
da tchau com a mãozinha delicada, Josh apenas
puxa a irmã, ele não se permite nada, nenhum
sentimento que não seja amar a irmã. Assim como
eu que só podia amar Annie e mais nada.
— Vamos buscar um bolo de
aniversário. – Annie avisa assim que eles
desaparecem. – Uns docinhos para todos, eu sei que
conseguimos. Podemos? – A diretora encara os
olhos de Annie e não tem como dizer não a ela,
quem poderia ser tão frio? Ela afirma.
— São trinta crianças. – Avisa. Annie
sorri.
— No finzinho da tarde? – Eu pergunto e
a mulher concorda. – Ótimo, voltamos. – Olho para
Annie. – Voltamos?
— Sim. Quero um pedaço do bolo. – Ela
me comunica sorrindo, um triste sorriso, mas é
muito mais do que pensei que poderia.
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A mulher nos leva até a porta, só falamos


quando estamos dentro do carro. Annie me olha um
longo momento. Depois vem para meu colo. Ainda
bem que é uma rua pouco movimentada. Se aninha
em meu peito.
— Obrigada por fazer isso. Por ter vindo,
por segurar minha mão.
— Não foi como pensei que seria. Acho
que foi bom. – Analiso meus sentimentos, me sinto
talvez mais leve.
— Eu não fui até o fim, mas acho que
não precisa, me sinto melhor, me sinto talvez livre.
Aquele lugar não existe mais e talvez eu possa só
enterrar tudo que vivemos. As coisas ruins, eu digo.
— Acho que sim, gatinha. Vamos tentar,
mas agora temos umas horas para conseguir bolo
de aniversário e doces para trinta crianças, não é
missão fácil.
— E uma boneca de princesa. – Ela me
sorri, me beija e se senta ao meu lado. – Internet
príncipe. – Ri balançando o celular. – Dirige e eu
pesquiso.
— Sim senhora. Seus idosos vão ficar
com ciúme.
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— Não vou contar não! – Ela diz séria. –


Coitadinhos! Eles estão muito sensíveis com esse
negócio de gravides, cheios de mimos comigo.
— Eu sei disso, Naomi me disse. –
Annie parece animada, começa a ligar enquanto
vou dirigindo e olhando se acho uma loja de doces
ou sei lá o que. Só na terceira ligação ela ouve um
sim, me dá o endereço enquanto vai encomendando
a festa para quarenta crianças. Em cima da hora.
Bolo, refrigerante e docinhos, não sei o que a
nutricionista das crianças vai achar disso, mas sei
que a de Annie vai nos dar uma boa bronca.
Quando chego a loja está tudo acertado,
só preciso pagar e dar o endereço. Assim em cima
da hora não dá para escolher muito, serão dois
bolos de chocolate, velinhas cor de rosa que
brilham e fazem qualquer coisa divertida. Docinhos
e balas.
— Consegue até as cinco horas? – Annie
confirma.
— Sim. As cinco em ponto vai estar lá.
Pago a conta e deixamos a loja.
— Nick avisa para levar as outras
crianças também, os menores, da idade dela, assim
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ela tem com quem brincar um pouquinho.


Sorrio, bem que percebi ela falando
quarenta crianças. Ligo assim que paramos em
frente a primeira loja de brinquedos que vejo. Não
é difícil achar uma boneca vestida de princesa, ao
menos é o que Annie diz.
— É linda. Devemos levar para ele? E as
outras crianças?
— Gatinha. Prometo que vou me
informar quantos meninos e quantas meninas e
levamos brinquedos para todos, mas hoje tem que
ser só para ela, é aniversário então não será tão
estranho ela ganhar e os outros não, se levar para os
dois então temos que levar para todos.
— Todo inteligente de Harvard. Sabe
aquele dinheiro que me deu? – Ela me lembra e
afirmo. Já sei para onde ele vai. – É meu? Sobrou
um montão.
— Tem mais lá, Annie, devia olhar seu
saldo de vez em quando.
— Se ficar me dando dinheiro eu vou
gastar.
— Esse é o plano. – Digo entregando a

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boneca para a caixa da loja que sorri e começa a


fazer o embrulho.
— É um ótimo marido. Estou gostando
de ter marido rico. – Acabo rindo, a moça ergue o
olhar do pacote. Encara Annie e depois me entrega
a caixa.
Agradeço e deixamos a loja, temos duas
horas ainda, Annie e eu ficamos caminhando pela
cidade, olhando vitrines, tomando sorvete, depois
seguimos para o abrigo, é melhor chegar um pouco
antes, entregar o presente e esperar o bolo chegar,
depois deixamos as crianças em sua festinha e
vamos embora.
— Acha que a diretora cuida direito
deles? Que não são maltratados?
— Não parecem ser crianças maltratadas.
– Digo quando dirigia de volta. – Ao menos a
maioria deles, July e Josh...
— Pensei na gente o tempo todo. Sei da
dor que senti quando partiu e eu fiquei. Não podem
separa-los.
— Não. Um outro dia eu falo com ela. A
diretora Casper parece ser muito descente, não acho
que vá separa-los.
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— Ele é só um menino. – Annie me olha


um tanto triste quando paro o carro. – Olhando para
ele e toda a preocupação eu pensei em você. Era
muita responsabilidade cuidar de mim.
— Era o que me mantinha de pé,
gatinha. – Aviso a ela que afirma silenciosa.
Descemos, seguro sua mão.
— Josh mal pode cuidar de si mesmo,
ele não devia carregar todo esse peso, ela tem
quatro anos, é quase um bebê e ainda é doente, é
muito para ele.
— Talvez isso nunca mude. Leon ainda
se sente responsável por todos nós e somos adultos.

O segurança nos recebe e dessa vez a


diretora não está a nossa espera, acho bom, assim
podemos vagar um pouco livres, tudo parece bem.
Agora tem muito mais crianças, devem ter chegado
da escola, eles passam para lá e para cá, alguns
assistem desenho numa sala de televisão.
Nada de July e Josh, meu palpite é que
estão de novo na biblioteca. Assim que entramos eu
os vejo, July encostada no irmão pintando com
lápis colorido enquanto ele tem os olhos perdidos.
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A garotinha sorri ao nos notar, já ele não


faz qualquer movimento, Annie entrega o embrulho
na mão de Josh, aponta a irmã com os olhos. Agora
sim ele parece surpreso, July está curiosa.
— Dê a ela seu presente! – Annie
incentiva. Josh estende a caixa para a irmã, o
sorriso amplo é de partir o coração. O papel
desaparece num segundo, ver a boneca dentro da
caixa faz seu coração disparar e ela fica ansiosa.
A respiração logo se altera um pouco.
Josh ganha um abraço apertado.
— Obrigado, Josh! Você conseguiu,
estava me enganando. – Ele recebe outro abraço.
O garoto nos olha um tanto confuso, mas
depois nos esquece um pouco para ajudar July com
a boneca presa a caixa. Quando finalmente ela tem
a boneca na mão, o abraço que a boneca recebe é
tão carinhoso quanto o do irmão.
— Olha que linda! – Ela mostra. – Meu
irmão que me deu. É a Bela.
— Que linda boneca. Gostou? – Annie
pergunta e os olhos brilham também. Assim como
um sorriso dança em seus lábios.

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— Muito. Era certinho essa. – Josh


ganha outro abraço, ele está feliz apesar da reserva,
está feliz porque ela está e isso basta a ele. Sei tudo
dele. Sou eu.
— Crianças. – A diretora surge sorrindo.
– Vocês têm que me acompanhar. – Ela nos sorri.
— Chegou? – Annie pergunta, a mulher
afirma e ficamos de pé. Quando chegamos ao
refeitório, o bolo, os docinhos e as outras crianças
estão lá.
— Seu bolo de aniversário, July. – A
diretora Casper diz e os olhinhos marejam de
emoção. Josh nos olha, de algum modo ele sabe
que fomos nós.
— Vai com ela. É hora de assoprar as
velinhas. – Eu o incentivo por que o garoto não
entende e não acredita no que está acontecendo.
Ela assopra as velinhas, todos ganham
bolo, comem docinhos, correm e brincam, a boneca
não desgruda de sua mão um só segundo, o irmão
não se afasta um instante e eu e Annie ficamos num
canto assistindo a festa por um tempo.
São muitas crianças, elas correm, pulam,
comem e se sujam e tem poucos adultos para
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prestar atenção em todas elas, é sempre um risco,


eu penso um tanto preocupado. Me lembro de Leon
dizendo que cair e ralar o joelho é parte de crescer,
mas elas não têm um pai para correr e secar suas
lágrimas.
— Vamos, príncipe? O bolo me enjoou
um pouco. – Afirmo, nos aproximamos da diretora,
apertamos as mãos, Annie enfia a mão no bolso do
meu terno. Retira um cartão. – Esses são os
telefones dele, todos, qualquer coisa que precise,
qualquer hora, mesmo três da manhã. Promete
ligar?
— Sim. Estamos bem. Não se
preocupem, podem voltar quando quiserem o que
fizeram hoje... – Ela faz um gesto amplo mostrando
as crianças. – Obrigada.
— Não foi nada. – E não foi, ao menos
não financeiramente, eu posso fazer mais, eu
sempre acho que posso fazer mais. – Ligue mesmo.
Nos afastamos, procuro July e o irmão
com os olhos, estão sentados, é a festa dela, mas a
garotinha não brinca, fica sentada ao lado do irmão
olhando as crianças.
— Não vai brincar, July? – Pergunto
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quando nos aproximamos.


— Ela não pode correr, depois não
respira. – Josh avisa.
— Era aniversário de dois dias mesmo. –
Ela lembra Annie que sorri.
— Que sorte. Parabéns. Nós temos que
ir. – July se levanta e oferece os braços, Annie a
abraça, depois ela vem em minha direção, me
oferece os braços e faço o mesmo, ergo a garotinha
e a abraço, ela é muito bonitinha, um pouco Annie,
um pouco Lizzie. Eu a coloco no chão, Josh está de
pé atento a tudo.
— Você vem amanhã? – Ela pergunta.
— Voltamos quando der. Boa festa. –
Digo tocando o ombro de Josh.
— Tchau meninos. – Os olhos de Annie
agora são tristes e já não tenho certeza do quanto
foi bom vir.
Deixá-los é um tanto estranho, parece
errado, quando dirijo para casa com Annie enjoada
e silenciosa parece faltar alguma coisa. Quando
chegamos é noite.
Annie vai direto para cama. Me deito ao
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seu lado depois de entregar a ela uma garrafinha de


água gelada.
— O bolo estava muito doce. Nem gosto
de doce, não sei porque fui comer. – Ela diz depois
de uns goles da água. Suspira e volta a deitar.
— Quer ir ao médico? – Pergunto
olhando para o rosto pálido.
— Não. Já vai passar. Acha que se eles
precisarem de algo vão nos ligar?
— Pedimos, então eu acho que sim. –
Ela concorda. Fecha os olhos e se encosta em mim.
— Pensei no bebê quando estava na loja
de brinquedos. Podemos ir um dia desses escolher
uns brinquedos de bebê?
— Podemos não, precisamos. E escolher
o quarto. O médico disse que talvez já dê para saber
ao certo em umas semanas.
— Pensa em nomes? Acho nome uma
coisa tão difícil, e se ele crescer e achar feio?
— Vai saber que fizemos o melhor que
deu. – Rio de sua preocupação. – É só não deixar a
cargo de Lizzie e tudo vai ficar bem.
— Todo dia quando ela me liga e estou
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no abrigo coloco ela para falar com meus


velhinhos, quando ela vier ficar com a gente nas
férias vou leva-la comigo.
— Ela vai gostar.
— Josh e July, eles não podem sair de lá
nunca?
— Podem, com a autorização certa sim.
Ela fica calada, não foi apenas sobre
mim que as crianças exerceram aquele poder
magnético, aconteceu com ela também.
— Acho que eu vou dormir. Fica aqui? –
Ela pede e afirmo. – Cadê seu celular? Deixa perto
para o caso de alguém ligar.
— Está aqui. – Tiro do bolso e coloco na
cômoda. Confiante ela fecha os olhos, depois que
adormece aproveito para trocar de roupa, pedir o
jantar e telefonar para Leon.
— Tudo bem, Nick? – Ele me pergunta
assim que atende. Estou na escada do apartamento,
perto o bastante para o caso de Annie acordar,
longe o suficiente para não acorda-la.
— Sim. Hoje eu fui ao abrigo. – Ele fica
mudo um momento. – Foi ideia da Annie, mas eu
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quis ir com ela.


— Está bem com isso? – Leon questiona.
— Acho que sim. Não foi tão ruim
quanto pensei. É outro lugar agora, é seguro, limpo,
claro.
— Que bom. Annie ficou bem?
— Sim, não conseguiu ir aos quartos,
mas foi bem. Nós... É que as coisas... Acha que o
bebê precisa... Não sei explicar. Ele sabe, não é?
Que o amamos? Mesmo que a gente não fique
dizendo isso para a barriga da Annie? Parece
estranho.
— Sabe. O que ele precisa agora são os
cuidados médicos com a Annie e um ambiente
tranquilo, ela precisa ter paz, ela tem isso?
— O tempo todo. – Sorrio quando penso
que somos felizes, cuidamos um do outro e somos
felizes.
— Que bom. Isso de falar com a barriga,
talvez seja mais um treinamento para os pais que
para o bebê.
— Acha mesmo?
— Por enquanto sim. Mas Nick, daqui
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um tempo ele fica completo, escuta, sente, então


talvez... Bom acho que não vai resistir até lá.
Quando chegar a hora vai sentir vontade de toca-lo,
falar com ele.
— O Ulisses faz isso o tempo todo.
— É o Ulisses, ele também fala com o
carro.
— Verdade. – Rimos os dois. – Asma é
grave?
— Asma, Nick? Por que acha que ele vai
ter asma? – Leon me pergunta agora confuso.
— Ah, eu não acho. Só estava pensando
sobre isso. Talvez eu pesquise o assunto na
internet.
— Pergunte ao médico. Não fica
pesquisando essas coisas, vai ler todo tipo de
absurdo e ficar apenas preocupado. Deixa de ser
um nerd ao menos sobre isso.
— Tá bom.
— Cadê a Annie?
— Dormiu, tivemos um dia cheio. Pensei
em passar o dia com ela amanhã. Para ter certeza
que ela está bem com o que aconteceu hoje.
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— Ótima ideia. Faça isso.


— Por que ama seus filhos?
— Ahm? Nick, você está legal? Talvez
essa visita não tenha sido tão boa ideia. Não pensa
bobagem, você ama seu filho, eu sei que sim.
— Não é sobre isso, eu sei que amo.
Muito. Estranhamente, porque nunca o vi, não
toquei nele, não tem nome, sexo, mas amo a ideia
de tê-lo. É que fiquei pensando se amaria Alana e
Luka se um dia tivesse cruzado com os dois. Se não
tivessem nascido de vocês.
— Famílias se formam de muitas
maneiras, Nick. Tem alguma dúvida do amor de
Liv por Lizzie? – Isso é verdade. Eu tinha me
esquecido completamente disso. Liv não é mãe
dela, mas a ama com tudo que tem, nem mais, nem
menos que Harry e Emma.
— Você está certo. É só que pensei nas
crianças do abrigo, se um dia encontrariam uma
família capaz de ama-las.
— Entendo. Ficou impressionado, isso é
natural, já esteve na pele deles, olha para eles de
modo diferente. Mesmo assim precisa entender que
eles não são como você ou Annie, eles tiveram
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mais sorte. Proporcionou isso a eles.


— Não nasceram lá, Leon. Aconteceram
coisas ruins com eles antes, coisas que os levaram
até lá. Eles não têm mais sorte. Seus filhos têm. As
crianças Stefanos tem sorte. Aquelas têm
esperança, e nem todas, algumas perderam mesmo
isso. – O rosto de Josh me invade a mente.
Cansado, tenso, solitário. Não vou conseguir
conviver com isso. Não pensar neles.
Antes eu pensava em crianças
abandonadas de um modo subjetivo, mas agora elas
têm rosto, história, nome. Josh e July. Não
devíamos ter ido até lá.
— A senhora Kalais viaja amanhã.
Cristus vai leva-la ao aeroporto. Daqui umas
semanas eu e Lissa vamos ver vocês. Tenho uma
mala pronta Nick, é só chamar. O Ulisses está por
perto.
— Eu sei. Obrigado. Estou bem. Só
pensativo. Apenas isso.
— Vai digerir tudo e ficar bem. Tenho
certeza.
— Certo. Eu vou ver a Annie. Ligo
amanhã. Da um beijo em todos.
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— Tudo bem. Boa noite.


Me deito com Annie depois de desligar,
ela ressona tranquila. Ao menos isso. O rosto está
sereno e me tranquilizo. Acordamos quase meia
noite. Comemos sanduiche de tudo que tem na
geladeira. Não consigo evitar fazer tudo que ela
quer. Devia ser mais rígido, mas pago qualquer
preço por um sorriso em seu rosto.
Passamos o dia juntos. Vez por outra me
pego olhando se não perdi nenhuma ligação, Annie
as vezes vasculha com os olhos o ambiente em
busca do meu celular.
É noite quando a senhora Kalais
finalmente chega. Entra pelos fundos e surge na
sala daquele jeito sério que ela tem, eu e Annie
jogando cartas.
— Com licença. Boa noite senhor
Stefanos. Senhora Stefanos. – Ela cumprimenta
Annie, o que consegue é que Annie caia na risada.
— A senhora não vai ficar me chamando
assim, não é mesmo? – Annie a abraça. – Bem-
vinda de volta.
A mulher fica sem saber como reagir,
mas retribui o abraço.
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— Obrigada, Annie. – Diz sorrindo.


— Sua irmã está bem? Se precisar voltar
ou traze-la fique à vontade. – Annie avisa. – Sou
ótima com velhos. Cuido dela.
— Já está recuperada. O neto a levou
com ele e a esposa. Tudo vai ficar bem. Obrigada.
Eu só vim me apresentar e saber se precisam de
algo.
— Precisamos que vá descansar.
Atravessou o mundo. Admita, essa Grécia é longe
demais. – Annie brinca. – Amanhã a senhora
começa seu novo trabalho.
— Novo? – Ela pergunta confusa.
— É senhora Kalais, comida de grávida
é seu novo trabalho, o Nick já está com os dedos
coçando para entregar uma abominável lista de
tudo que eu não posso. Deve ter cinquenta folhas.
— Vou cuidar disso. – Ela diz orgulhosa,
Annie faz careta.
— O tenente e o capitão. Que vida! – A
senhora se despede com um aceno e sei que em
umas semanas vai estar completamente relaxada.
Annie deixa as pessoas a vontade.

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Nem precisa de semanas, quatro dias


depois a mulher já ri e conversa como se fosse
outra pessoa. Annie tem mesmo esse poder.
Jantamos comida grega. A casa impecável, é bom
não ter que me preocupar com isso.
Depois do jantar vamos assistir filmes. É
difícil escolher, Annie não quer chorar, mas a lista
de filmes que a fazem chorar aumentou
consideravelmente. Mesmo as comédias mais
rasgadas podem arrancar lágrimas dela e isso é
complicado.
— Você que escolheu gatinha. – Digo
quando ela seca as lágrimas no fim do filme.
— Eu sei. Sou uma boba. Acho que
devia me deixar comer mais pudim só por isso.
— Que jogada suja. Você é baixa,
senhora Stefanos.
— Um pouco, eu uso minhas armas,
príncipe. – Meu celular toca e atendo ainda rindo
da cara de coitada que faz para conseguir mais
pudim.
— Alô.
— Senhor Stefanos?

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— Sim. Quem fala?


— Boa noite. Desculpe incomoda-lo. O
senhor não me conhece. A diretora Casper do
abrigo disse que eu podia ligar para o senhor. Ela
viajou, um fim de semana por mês fica de folga e
viaja. Eu a substituo.
— O que aconteceu? – Não quero ouvir
a história da vida dela, se me ligou tem algo errado.
— A garotinha July está numa crise de
asma, o inalador não está funcionando, o irmão não
deixa ninguém chegar muito perto. Ela precisa ir ao
médico, mas não tenho como deixar o lugar.
Estamos em apenas três pessoas essa noite. O
senhor...
— Eu estou indo. – Desligo e encaro
Annie.
— O que foi? – Ela não esconde a
preocupação.
— Vou até o abrigo porque July não está
se sentindo bem.
— Eu vou junto. Por favor, Nick, se ficar
aqui sem saber eu acho que vou ter uma coisa.
— Tudo bem, mas Annie...
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— Eu sei. Prometo me comportar, se


sentir qualquer desconforto te aviso.
Vou pegar a garotinha e levar a um
hospital, esse é o jeito de lidar com isso. Depois
explico a diretora. Ela vai entender. Acho que é
melhor que chamar um médico sem recursos, se for
uma emergência ela pode precisar de mais que uma
consulta.

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Capitulo 32
Annie

Quando chegamos ao abrigo, minhas


pernas estão um pouco bambas, é estranho pensar
que me sinto tão preocupada com uma garotinha
que vi apenas uma vez. Acontece que não paro de
pensar neles desde então.
O segurança não é o mesmo. Ele se
posiciona na porta com seu terno preto e cruza os
braços. Sua posição dominadora me deixa tensa,
me lembra o passado e sei que sem Nick jamais
cruzaria esse portão.
— Desculpe, mas o abrigo fica fechado à
noite. Podem voltar amanhã.
— Não vim para uma visita. Avise que
Nickolas Stefanos está aqui. – Nick usa um tom tão
duro que nem parece o homem gentil de sempre,
me espanta e me da segurança.
— Oh! Por favor. – O homem se apressa
em abrir o portão, fica vermelho de vergonha.
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Passamos e Nick apenas segura minha mão. Uma


senhora de uns quarenta anos aparece para nos
receber, são quase nove da noite e o lugar agora
está silencioso.
— Que bom que o senhor veio. Sou
Clarice, me acompanhem. Eles estão no quarto.
Josh está com ela. Sem a senhora Casper ele fica
mais introvertido. Não confia em mim, além disso
não posso sair. – Ela vai falando enquanto vamos
caminhando em direção ao quarto das crianças. –
Duas funcionárias faltaram. Não sei como lidar
com ela. Eles são novos aqui. Pensei em leva-la
para o outro prédio, lá tem gente mais especializada
para cuidar dos pequenos. Josh se rebelou e ela
acabou ficando mais nervosa.
A respiração pesada e difícil misturada a
um choro assustado chega a nossos ouvidos antes
mesmo da porta se abrir. Sinto que Nick se
arrepende de ter me trazido. Só de olhar para mim
ele pode enxergar minha tensão.
— Se não parar de chorar não passa July.
– Josh diz ajoelhado ao lado da irmã. – Mais uma. –
Ele entrega o inalador a irmã.
Quando ela ergue os olhos e nos vê,
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imediatamente estende os braços para Nick, parece


pedir ajuda. Meu coração se aperta. Josh se coloca
em frente a irmã. Nick ignora a garotinha um
momento e encara o irmão protetor.
— Josh. Preciso que me ajude. Pode ir
comigo até um hospital levar sua irmã?
— Vou junto? – Ele fica surpreso, estava
pronto para impedir a aproximação.
— Vamos logo! – Peço assustada o
chiado de seu peito me assusta. Josh sai da frente e
Nick pega July no colo. Ela traz com sigo a boneca.
É desesperador assisti-la puxar o ar e não
conseguir respirar, agarrada ao pescoço de Nick
como se ele fosse oxigênio.
— Telefonamos. – Aviso a Clarice
quando deixamos o prédio em direção ao carro.
Nick coloca a garotinha no banco de trás, prende
seu cinto e o irmão senta ao seu lado.
— Precisamos parecer calmos. – Me diz
antes de dar a volta para sentar ao volante. Sei que
se ela se sentir calma vai melhorar. Não resisti a
tentação e pesquisei. Não conseguia parar de pensar
a respeito.

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— Vamos príncipe? – Peço sentada ao


meu lado. – Quando July melhorar vamos parar
numa lanchonete comer uma coisa bem gostosa.
Quer July? – Pergunto a garotinha que afirma
puxando o ar. O peito faz um barulho assustador.
— Boa ideia, gatinha. – Os olhos de
Nick me encaram quando da a partida e sei de sua
preocupação comigo, então sorrio de um modo
falso. – A boneca tem nome, July? – Ela quer falar,
mas não consegue. – Fica calminha. Daqui a pouco
passa.
— Josh! – Ela procura a mão do irmão,
ele aperta preocupado, os olhos vermelhos de tanto
chorar, meus olhos marejam.
— A injeção vai passar. Lembra que
você toma injeção e passa? – Ele a lembra. July
afirma com a testa está suada e o rosto pálido.
Nick chega ao hospital, nem acredito que
é tão perto e ela demorou tanto para ser trazida.
Quando descemos Josh já tinha soltado seu cinto,
Nick a ergue nos braços.
Os olhinhos de July me procuram,
seguro sua mão gelada para acalma-la. Logo que
entramos uma enfermeira se aproxima, está vazio
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felizmente e vamos direto para a sala de um


médico.
— Asma. – Digo quando Nick a coloca
sentada na cama de exame. O médico se aproxima
calmo, escuta seu peito.
— Que linda garotinha. Vamos ouvir
esse peito. Puxa está difícil em pequena? Como se
chama?
— July. Da logo a injeção, ela vai
morrer. – Josh diz nervoso. O médico o olha um
momento, depois nos encara. Não parece muito
contente. A respiração de July se altera ainda mais
com as palavras do irmão.
— Calma Josh, sua irmã vai ficar bem. –
Toco seu ombro ele esfrega os olhos lutando com
as lágrimas.
— Acho que seu irmão vai ser médico
quando crescer, July. – O doutor diz tranquilo. –
Mas antes precisa estudar mais. Aqui não tem
ninguém morrendo. Já vai melhorar. – Ele se dirige
a Nick. – Vou aplicar uma injeção e coloca-la no
inalador. Depois quero falar com você e fazer uns
exames. Demoraram muito. – Ele nos critica.
Talvez esteja nos confundindo com pais
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irresponsáveis. ─ Vamos para sala de medicação.


Nick pega a garotinha no colo mais uma
vez. A boneca agora está nas mãos do irmão.
— Quem segura a garotinha? – A
enfermeira pergunta enquanto prepara a injeção.
— Não precisa. Ela não tem medo. –
Josh avisa. Mesmo assim Nick se coloca ao lado
dela na maca. A enfermeira limpa o local, ela
mantém o braço esticado, encara a agulha e sinto
orgulho de sua coragem e pena de saber que ela
está acostumada. A enfermeira coloca o soro, aplica
a injeção e July não se esquiva uma única vez.
Depois vem o respirador com alguma solução, me
sento a seu lado. Seguro o aparelho em seu rostinho
e o ar vai entrando.
— Vai respirando com calma July, já
está melhorando, não é mesmo? – O médico diz
assistindo sua melhora. Ela está tão abatida. Afasto
seus cabelos do rosto, colados a pele pelo suor da
tensão e a luta para respirar. Josh entrega a boneca
que ela abraça cansada de lutar. Aos poucos vai se
acalmando, o chiado no peito vai diminuindo e July
adormece.
Um alivio inexplicável me invade. Sorrio
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para o irmão que também parece tranquilo.


— E você? Está bem? – O Médico
pergunta tocando o rosto do menino. – Quantos
anos tem?
— Doze. – Ele responde se afastando. –
Não estou doente.
— Ótimo. Então fica aqui com a sua
irmã, a enfermeira vai ficar também. Seus pais vêm
comigo.
Não desfazemos o mal-entendido até
chegarmos a sua sala. Ele se senta e indica os
lugares a frente.
— Não somos pais deles. Essas crianças
chegaram há umas semanas num abrigo que eu
mantenho. Me ligaram há pouco dizendo que a
garotinha estava se sentindo mal e eu a trouxe. –
Nick avisa. O médico fica calado um momento.
— Entendo. Realmente estava achando
vocês péssimos pais. – Ele diz e penso em meu
bebê. Ficar atenta Annie, sempre atenta. Me alerto.
— Como ela está? O que tem que ser
feito? – Nick pergunta pragmático.
— Me parece uma asma severa. O
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melhor jeito de tratar é antes de tudo prevenir.


Nada de poeira, pelos de animais, muita umidade,
frio demais, tudo isso desencadeia a crise, além de
gripes e resfriados, ou estresse, isso sempre piora e
se está em crise e começa a se desesperar tudo se
complica ainda mais.
— Vamos conversar no abrigo e
verificar isso. – Penso na sala onde dorme. Tapetes,
cortinas, estantes cheias de livros, é claro que deve
estar cheia de ácaros.
— Durante as crises o jeito é usar o
inalador que ela carrega e se em três tentativas não
resolver hospital rapidamente. Infelizmente isso
pode matá-la. – Meu coração para um segundo e
depois acelera. – Mas apenas em caso de descuido,
se ela tiver o remédio e o tratamento certo, pode ter
uma vida completamente normal.
— Ela vai ter. – Nick determina.
— Boa alimentação, um ambiente limpo
e tranquilo e exercícios moderados podem ajudar,
na verdade são importantes. Janelas fechadas para
evitar a poluição, ar condicionado não muito frio.
— Ela terá tudo isso. – Nick de novo
concorda. Aperto sua mão. Posso me dedicar a ela,
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posso ajudar o abrigo. Eu preciso fazer isso ou


nunca mais vou dormir.
— Só de vê-los já noto que estão meio
fraquinhos, ela deve ter muitas crises. Está pálida,
acho que não dorme bem e precisa. O irmão não
está muito melhor. Os dois estão abaixo do peso e
da altura.
— Eles andaram trocando de lugar e só
agora chegaram no abrigo. Tenho certeza que tudo
isso será corrigido. – Nick explica ao médico.
— Aconselho procurar um especialista
para acompanhar July, ela pode ter uma ótima vida
se fizer tudo certo. Não precisa chegar a isso
sempre. Não digo que com todos esses cuidados
nunca mais vai ter uma crise, mas serão raras.
— E agora, quer dizer, hoje? Ela vai
ficar internada?
— Não. Quando o soro acabar ela pode
ir, mas se for o ambiente, então amanhã vai estar do
mesmo jeito.
Troco um olhar com Nick. Ele afirma
sabendo da minha preocupação. Deixamos a sala
do médico depois de agradecer.

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— Vou ligar para Clarice e avisar que ela


está bem. – Nick diz me envolvendo num abraço.
— Príncipe, será que você não consegue
que ela permita deixá-los conosco o fim de
semana? Só até a diretora voltar. Eles estão sem
funcionários, as crianças dormem num escritório.
Ela vai ter outra crise e talvez a gente não chegue a
tempo. – A ideia me traz lágrimas, ele suspira.
Beija minha testa carinhoso.
— Vai lá ficar com ela. Vou ver o que
posso fazer. Prometeu manter a calma. Está bem?
Aproveita que estamos em um hospital.
— Por enquanto estou, mas se tiver que
levá-la de volta, acho que vou querer ficar lá.
Desculpa príncipe, não consigo evitar.
— Eu sei, gatinha. – Ele me beija os
lábios. Balança o celular em sua mão. – Vai lá
saber como estão.
Eu me estico para beijá-lo, depois
caminho para a sala, July dorme tranquila com o
respirador no rosto que o irmão segura de olhos
cansados. Talvez com sono. A enfermeira olha o
soro e me sorri quando entro.
— Dormindo feito um anjinho. Mais
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uma hora e o soro acaba. A injeção dá sono. Vou


deixá-los e volto daqui a pouco.
— Deixa que eu seguro um pouco. –
Digo a Josh, ele permite, mas segura a mão da
irmã.
— Se ela ficar internada eu vou ficar
sentado aqui. Não vou embora sem ela.
— Nem eu. – Aviso a ele que se espanta.
– Será uma pequena rebelião. – Sorrio. – O que
aconteceu? Sabe por que ela teve uma crise? – Nick
se junta a mim. Josh olha de um para o outro.
— Toda hora ela tem isso, July tem
medo de ficar sozinha, tem medo de escuro, de um
monte de coisas, as vezes ela fica assustada daí fica
assim. Tomamos muito vento também. Ela quis ver
as crianças brincarem e tinha vento.
— Ela vai se recuperar. – Tento acalmá-
lo mais uma vez.
— Eles podem ficar o fim de semana.
Prometi leva-los na segunda de manhã. – Meu
coração se acalma na mesma hora. Sei que
podemos dar conta. Fico pensando nas mil comidas
que a senhora Kalais pode fazer para eles, na cama
quentinha, nos filmes de princesa que podemos ver
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juntos. Sorrio me encostando em Nick. Ele beija


meus lábios.
— Josh, vocês dois vão ficar na nossa
casa até segunda-feira. Assim você e eu podemos
traze-la ao hospital se ela se sentir mal. Tudo bem?
– Nick inclui o garotinho em tudo para dar a ele
segurança. Josh olha para a irmã dormindo.
— Sei cuidar dela.
— Ainda bem. Ela precisa muito de
você. – Nick insiste.
— Não vou ficar longe dela, não vou
deixar ela ficar com os menores. As crianças
podem machuca-la, as vezes ela esquece e corre,
depois passa mal, ela não coloca blusa se não
mandar. Perde o inalador.
— Josh, não vai ficar um minuto longe
dela. – Aviso a ele. O garoto afirma.
— Está bem, gatinha? Muito cansada?
— Tudo bem. A enfermeira disse que a
injeção da sono, que ela vai dormir bastante.
— Isso é bom. Ela descansa. – Assim
que o soro acaba a enfermeira o retira e junto o
respirador. July abre os olhos sonolenta. Procura o
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irmão, depois a boneca.


O médico volta para observa-la, faz
alguns exames e depois esperamos enquanto Nick
paga a conta e vai a farmácia logo em frente ao
hospital. Volta com uma sacola de remédios.
Aposto que comprou tudo em dobro.
July vai dormindo com a cabeça no colo
do irmão, o tempo todo abraçada a boneca. Acorda
meio confusa quando descemos e Nick a pega no
colo.
— Onde é isso? – Pergunta no elevador.
— Nossa casa, pequena. Vai ficar um
pouquinho aqui até melhorar. – Conto a ela.
— Cadê o Josh? – Ela se ajeita no colo
de Nick, procura pelo irmão.
— Estou aqui. – Ele avisa e ela relaxa.
Da pena do medo que os dois tem de se separarem.
Entramos e a senhora Kalais está de pé no meio da
sala.
— Já arrumei o quarto que me pediu.
Também fiz uma sopa leve e rápida. – Olho para
Nick. Ele é tão perfeito.
— Obrigada, senhora Kalais. Desculpe
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incomodar a senhora no meio da noite.


Abraço a mulher que a essa altura já se
acostumou com isso e sempre retribui.
— Que bobagem. Não são nem meia
noite. Agora vão dar comida para essas crianças. –
Adoro os gregos e esse jeito que eles têm de
resolver tudo enfiando comida nas pessoas. Vamos
para sala de jantar, faz tempo que não usamos. Nick
coloca July em uma cadeira, mas quando me sento
ela vem para meu colo e gosto disso. Josh é que
acha estranho.
Sirvo sopa para os dois, o olhar de Nick
me manda comer também e me sirvo de uma
concha.
— Agora come um pouco July e você
também Josh. – O garoto pega a colher
desconfiado, mas começa a comer. July me entrega
a colher, sorrio, acho que seu plano é ganhar
comida na boca e começo a dar a comida a ela.
— July sabe comer sozinha. – Josh avisa
entre ciúme e preocupação de ser um incomodo.
— Gosto de fazer isso. Quem comer
tudo ganha um pedaço de bolo de chocolate. – Os
dois trocam um olhar, comem toda a comida,
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depois o bolo. Me distraio um momento comendo a


sopa e July cochila em meu colo.
— Melhor coloca-los na cama, gatinha. –
Nick diz sorrindo para a garotinha e sua
interminável luta contra o sono.
— Senhora Kalais, posso dar um banho
nela? – Pergunto porque realmente não entendo
nada de criança.
— Deve, eu te ajudo, vou lavar essas
roupas e quando acordarem amanhã vão estar
sequinhas. Deixei o ar quentinho e um lençol basta
para cobri-los.
Começo a achar que vou ensinar meu
bebê a chama-la de vó, ela sabe cuidar de criança.
Ajudo July num banho rápido, coloco
uma camiseta minha nela, fica grande e ela ri.
— Que roupa engraçada. Cadê o Josh?
— Tomando banho. Depois ele vai
dormir aqui na cama do lado da sua.
— Sua casa é linda.
— Você que é linda. Uma princesinha. –
Ajudo July a se deitar, a senhora kalais me
ajudando e Nick de pé na porta do quarto nos
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assistindo.
Josh sai do banheiro envergonhado numa
roupa gigante de Nick, anda rápido até a cama.
— Boa noite, Josh, vocês viram qual é
nosso quarto, qualquer coisa é só ir até lá, a porta
vai ficar aberta. Tudo bem, July?
— Sim. Esse quarto é bem lindo! Tudo é
bem lindo com vidro e luzinha. – Ela aponta a
vidraça pegando toda a parede. – Bem clarinho.
Uns minutos depois os dois adormecem
vencidos pelo cansaço, nós três deixamos o quarto.
— A senhora vai dormir e deixa essas
bagunças para amanhã. – Aviso a senhora Kalais
que coloca a mão na cintura ofendida.
— Annie, você acha que eu sou um dos
seus velhinhos?
— Eu acho. – Ela ri e nos da as costas
levando consigo as roupas das crianças.
Quando finalmente me deito estou
realmente cansada. Me enrolo em Nick, queria
muito conversar, mas sinto um sono sem fim.
— Vou dormir, príncipe. Amanhã de
manhã a sopa vai estar louca para voltar pelo
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mesmo caminho que entrou. – Ele ri. Me beija e


adormeço.

Sinto uma mão pequena na minha


bochecha, quentinha e delicada, um bolinho
enrolado em minhas costas enquanto estou eu
enrolada em Nick, abro os olhos e o quarto está
claro pela luz do dia. Nunca baixamos a persiana
porque temos medo de escuro.
Olho para Nick, ele tem olhos doces, no
meio de um encantamento, perdido a me olhar,
tento sorrir, a sopa como eu já sabia, pedindo
passagem, puxo o ar com força.
— Ela está aqui? – Pergunto sem me
mover.
— Sim. Chegou de madrugada. Se
enrolou em você agarrada a boneca e voltou a
dormir. – Afirmo sem poder falar por conta do
enjoo. – A sopa? – Ele pergunta e eu o belisco,
ouvir a palavra torna tudo pior. Ele me beija rindo.
Ficamos como sempre imóveis e quietos.
— Calor. – Digo quando começo a me
sentir melhor.

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— Aumentei um pouquinho o ar quando


ela chegou. – Ele me conta. – Não estava
conseguindo dormir achando que ela podia estar
com frio.
July se move despertando, me sinto um
pouco melhor e me viro. Fico de frente para poder
olhar os dois.
— Bom dia, pequena. – Nick diz a ela
que sorri com o rosto muito mais corado.
— Eu vim aqui. – Ela nos comunica.
— Passou o enjoo, gatinha? – Nick me
pergunta preocupado como de costume.
— Você está doente, Annie? – July
questiona toda lindinha com aquela voz suave que
chega me aperta o coração.
— Não pequena, eu estou grávida.
— É? – Ela se espanta. – Tem um bebê
aqui? – July toca minha barriga. Afirmo. Ela
acaricia carinhosa. – Oi bebê. – Meus olhos
marejam, é a primeira pessoa a falar com ele. –
Bebê! Oi! – Ela fala alto, depois deita a cabeça na
barriga para ouvi-lo.
— Fala oi para ela, bebê. – Eu digo
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tocando a barriga, sorrio para Nick que como eu,


parece um tanto emocionado.
— Fala, bonitinho! – July insiste.
— Acho que ele falou oi. Eu ouvi. –
Nick diz a ela. Que ergue a cabeça.
— Ele é seu também? – Ela pergunta.
— Sim, eu sou o pai dele. – Nick conta a
ela.
— Então vem aqui príncipe ouvir o que
ele está falando, não estou entendendo nada. – Ela
puxa Nick, os dois ficam com a cabeça na minha
barriga enquanto eu fico sem conseguir conter as
lágrimas de tão emocionada que estou.
— É o papai. Fala oi para ele filho. –
Toco os cabelos de Nick, ele beija minha barriga,
mais lágrimas correm e July faz o mesmo.
— Que foi que ele falou? – July pergunta
a Nick.
— Disse que você é linda. Não ouviu? –
Ele brinca e ela se senta. Nick faz o mesmo, antes
beija minha barriga mais uma vez. Quando nos
olhamos e ele vê minhas lágrimas me beija
carinhoso, seca meu rosto. – Também disse que a
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mamãe é linda.
Acaricio minha barriga. Algo se quebra,
cruzei a linha que faltava, me sinto mãe, meu filho
está aqui e parece que agora eu realmente me sinto
assim, grávida. Não é mais enjoo e meias palavras.
Não é mais, essa coisa que está acontecendo. É meu
filho dentro de mim.
— Te amo. – Eu digo a ele que me sorri.
— Eu também te amo. – Esse é um
desses momentos que te amo pode ser gasto.
Olho para July, nunca mais vou esquecer
isso, que ela estava ao meu lado, que foi a primeira
pessoa a falar com meu bebê. July faz parte da
minha vida agora e gosto disso e tenho medo, por
que é como se não pudesse mais me despedir dela.
— July. – Josh está de pé na porta do
quarto, o rosto pálido talvez de susto de ter
acordado sozinho, segurando as roupas grandes,
angustiado.
— Vem ver o bebê que tem aqui dentro.
– Ela chama o irmão se deitando de novo na minha
barriga. – Fala alto bebê.
— Está tudo bem, Josh. – Digo ao garoto

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que não sabe o que fazer.


— Bom pessoal, temos muito o que
fazer. Melhor todo mundo ficar de pé.
Meu príncipe do nada parece outro.
Animado, risonho, leve. Ele, assim como eu, gosta
deles e de tê-los aqui. Não sentimos medo de não
saber o que fazer.
— Vem July, a sua roupa está na cama,
vem vestir. – Josh a convida e ela desce da cama se
enrolando na camiseta que vai até sua canela. Os
cabelos, longos e claros como os meus, fazem
cachos nas pontas e estão bagunçados.
— Isso. Todo mundo se vestindo, vamos
tomar café e sair. – Nick avisa aos dois.
— Aonde que a gente vai, príncipe? –
Ela simplesmente adora chama-lo assim.
— Surpresa. Vão se arrumar. Quer ajuda,
Josh? – Nick pergunta e ele nega deixando o quarto
com a irmã.
— Onde vamos? – Eu pergunto quando
ficamos sozinhos.
— Não tenho a menor ideia. – Ele ri,
larga tudo que está fazendo, volta para cama, aspira
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meu pescoço, abraço Nick. ─ Mas tenho certeza


que pode pensar em alguma coisa. Você é perfeita
com surpresas.
— Minhas surpresas são para maiores de
dezoito, Nick.
— Ei! – Ele ergue a cabeça. – Isso está
muito generalizado. Suas surpresas são para mim e
mais ninguém.
— Você tem ciúme de mim? – Pergunto
e ele me olha com aqueles olhos lindo.
— Um pouquinho. – Ele diz me beijando
e depois se levanta me puxando com ele. – Vamos
logo que os dois precisam de café da manhã.
— Como que ela pode ser tão linda? Não
é filho? – Digo tocando a barriga. Nick abre um
sorriso enorme para mim.
Quando passamos no quarto das crianças
os dois estão vestidos e sentados na cama, July tem
os cabelos presos num rabo de cavalo e sorrio
pensando que Josh é do time dos senhores Stefanos
com talentos de cabeleireiro.
— Café da manhã? – Pergunto aos dois
que ficam de pé. Josh segura a mão da irmã. Ele é

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protetor e muito mais tímido e fechado que ela,


talvez por ser mais consciente de sua condição.
Os dois descem na nossa frente, eu e
Nick nos olhamos. Seja lá onde estamos indo o que
sei é que vamos juntos, como sempre.

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Capitulo 33
Nick

— Vamos passar numa loja e comprar


umas mudas de roupas, não trouxemos nada. –
Annie diz enquanto tomamos café da manhã.
— É. –July concorda.
— Depois podemos caminhar um pouco
no Central Park, almoçar e comprar uns filmes. –
Annie continua.
— É. – July concorda mais uma vez.
Josh mastiga de cabeça baixa.
— Daí passamos o resto do dia em casa e
amanhã vamos ao cinema a tarde.
— É. – July vai aprovando a
programação enquanto vou tentando manter o
sorriso guardado, ela é muito espertinha e animada.
— Ou podemos ver se tem um musical
infantil em cartaz. – Annie se lembra ainda mais
animada. Isso já me parece meio chato, acho que

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Josh pensa como eu, por que me olha como se eu


fosse o cara que vai impedir aquilo. Está contando
com o cara errado meus olhos dizem a ele.
— É. – July mais uma vez concorda, mas
acho que nem mesmo sabe do que se trata, o
negócio dela é concordar com Annie.
— Terminaram? – Annie questiona
quando finalmente não tem mais ninguém
mastigando, afirmamos. – Ótimo, todo mundo
ajudando a tirar a mesa. A senhora kalais não tem
que ficar indo vindo com essas coisas.
Por ela a senhora Kalais ficava sentada
lendo um livro enquanto ela massageava seus pés.
Obedientes, vamos todos levando xicaras e pratos
para cozinha. Cestinhas e potes vão junto e cinco
minutos depois, Annie devolvia o vaso que
enfeitava a mesa.
— Agora podemos ir. – Ela sorri com a
mão na cintura. Usa jeans e camiseta assim como
eu. Uma blusa de frio amarrada a cintura porque
começa a esfriar em Nova York.
July adora o elevador, sorri de mãos
dadas com o irmão, aperto a garagem, mas Annie
aperta o térreo e me sorri.
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— Temos pernas, senhor príncipe, duas


cada um. – Suspiro. Achei que eu era chato com
isso.
No fim a ideia é boa, os olhinhos dos
dois brilham de animação olhando as ruas
movimentadas e pessoas indo e vindo. Olho em
direção a casa de Ulisses. O que ele pensaria se me
visse com duas crianças? O que Leon diria? Me
pergunto pegando July no colo para atravessar a
rua.
— Gosta da ideia de ir ao Central Park,
Josh? – Annie pergunta ao garoto completamente
silencioso desde de que acordou, ele se dirige
unicamente a irmã.
— July não pode correr. – Ele diz como
se seu mundo fosse apenas a irmã.
— Bom, nesse caso vai ter que correr
sozinho. – Annie diz a ele que a encara confuso. –
Mas correr apenas não tem graça. Vamos precisar
de algo. Príncipe onde a gente compra uma bola de
futebol? Devíamos ter trazido a nossa.
— No caminho tem uma loja de
esportes. – Aviso e ela sorri segurando minha mão.
July quer chão e eu a coloco entre nós.
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— Gosta de futebol, Josh? Tem um


time?
— Ele gosta dos Jets, fica só querendo
ver jogo, muito chato. – July conta. – Toda hora
isso de jogo. – Ela reclama passando a mão pelo
rosto e arrumando a boneca nos braços que agora
começa a pesar. – Ela quer você, Josh.
July oferece a boneca a ele, o menino
olha em volta, pega a boneca pelo pé um tanto
constrangido por ter que carregar o brinquedo.
— Eu levo. Sabia que adoramos os Jets?
Vai ganhar uma camiseta deles. – Annie avisa.
Quando pega a boneca que Josh não reclama em se
livrar.
— Eu também gosto. – July muda de
opinião na mesma hora nos fazendo rir.
— Então também vai ganhar uma,
pequena. – Ela me sorri. Entramos na loja de
esportes. Pela primeira vez, aquele mundo encanta
realmente Josh e não é sobre sua irmã, ele chega a
se dar ao luxo de desgrudar os olhos dela enquanto
passeia pelas estantes com bolas, uniformes e luvas.
Compro uma bola de futebol, passo pela
bola redonda que meus irmãos cultuam e que nunca
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soube entender. As vezes eles me convidavam para


uma partida e simplesmente não sei usar os pés.
Josh fica com a camiseta dos Jets, July
ganha uma, mas prefere continuar com a sua
camiseta rosa. Seguimos então para o parque.
Annie forra uma toalha sob uma árvore. Se senta
com July e nos encara.
— Vão! – Aponta o parque, nenhum dos
dois se move.
— Ir aonde? – Eu pergunto.
— Treinar uns passes. Jogar como
fazíamos antes do bebê. – Ela toca a barriga, sorrio
involuntariamente, descobri essa manhã que adoro
vê-la fazer isso. ─ Vão brincar.
— Brincar? – Perguntamos eu e Josh ao
mesmo tempo, depois de trocar um olhar surpreso,
eu não sei brincar. – Tenho que cuidar da July. –
Josh continua indignado.
— Cuida enquanto brinca. Fica nos
olhando e jogando. –Annie insiste e sem alternativa
toco seu ombro.
— Vem. Vamos mais para lá, assim não
acertamos elas. – Ele me segue com a bola na mão.

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Paramos uns metros de distância um do outro. Os


dois se encarando sem saber como agir. Josh com a
bola na mão.
— Não estão nem a duas jardas um do
outro. Se afastem mais. – Annie decide e
obedecemos. – Vai Josh, está com a camisa um e a
bola. É o quarterback. Nick é o WR, lança e vamos
ver se ele consegue pegar.
Josh se posiciona. Atira a bola e
descubro que até que tem força, recebo e atiro de
volta, vamos arremessando e recebendo, algumas
ele acerta com bons arremessos, outras nem tanto.
Vez por outra se distrai olhando a irmã para
confirmar se ela está bem. July está completamente
envolvida em vestir e desvestir a boneca e tenho
certeza que Annie preferia estar arremessando
bolas.
Depois de um tempo, Josh parece quase
relaxado, o rosto corado pelo esforço, Annie nos
chama e devolvo a bola para Josh antes de
caminharmos para elas.
— Água meninos. ─ Ela tira duas
garrafinhas de água da bolsa.
— Essa sua bolsa está parecendo a da
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Hermione. – Brinco aceitando a água.


— Queria dizer que fui eu, mas foi a
senhora Kalais que arrumou tudo. – Annie faz bico.
– Mas estou aprendendo. – Sorrio, me sento a seu
lado e ela se encosta em mim. Josh se mantem de
pé. Ele é travado como eu já fui. Como ainda sou as
vezes, dependendo do ambiente.
— Já estão com fome? – Pergunto
beijando minha gatinha, minha mão descansa em
seu ventre. Agora já consigo pensar no meu bebê
ali e isso talvez seja um pouco culpa de July, ela
começou com isso.
— Você falou que eu ia na lanchonete
comer uma coisa bem gostosa e não levou. – July
cobra e me lembro que crianças não esquecem.
Nunca se promete algo a uma criança se não vai
cumprir.
— Foi porque você estava dormindo em
pé, mas vamos agora. – Annie avisa a ela. –
Lanchonete ou restaurante? – Pergunto e os irmãos
se olham. Sei que Josh não vai decidir. Ele é
incapaz de se manifestar a não ser que seja para
defender a irmã.
— O Josh escolhe. – Aviso e ele me olha
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surpreso.
— Eu? A July....
— Você, Josh. O que você quer comer?
— Ele quer hambúrguer, porque é a
coisa que ele mais gosta de comer na vida toda. –
July avisa as voltas com o cabelo desgrenhado da
boneca. – Mas nunca tem isso onde a gente fica.
Abaixa cabelo. Annie você estragou o cabelo dela.
— Eu? Você que quis lavar com a
garrafinha de água. – Annie se defende. – Vamos
comer hambúrguer, pedimos para senhora Kalais
salvar o cabelo dela quando a gente chegar.
Eu não acho que aquilo tem salvação,
mas de todo modo não custa tentar.
Passamos antes em uma loja de roupas,
Annie se diverte comprando roupas para os dois.
Coisa que acho estranho já que ela odeia fazer
compras, deixamos a loja com cinco sacolas. Claro
que tenho que carregar todas e começo a pensar
sobre os recursos naturais e o petróleo em especial.
Comemos numa lanchonete perto de
casa, July tinha razão, é visível o quanto
hambúrguer e fritas deixam o garoto feliz. Só me

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incomoda que ele não diga como se sente e nunca


nos olhe nos olhos.
Não sei como vamos simplesmente leva-
los de volta ao abrigo e seguir a vida. Como vamos
dormir sem saber se estão bem, com medo, doentes,
tristes. Afasto o pensamento quando caminhamos
de volta para casa.
Na portaria Annie se aproxima de mim, é
sempre assim, se encolhe perto de mim quando
esperamos o elevador e sempre me pergunto se tem
medo de elevador ou de surgir alguém.
O filme infantil é um musical, um
musical com uma música infernal que talvez
martele minha mente para sempre. Quase como
uma lavagem cerebral, dez minutos depois, ela
ainda ecoa em meu cérebro.
— Ela podia ter congelado o planeta
todo de boca fechada. – Reclamo enquanto as duas
garotas ficam repetindo que foi lindo e sei lá mais o
que.
— Príncipe essa música ganhou até
prêmio. – Annie defende o filme.
— Claro que ganhou. Depois que se
escuta, parece que não existe mais nada.
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— Príncipe, vamos ver de novo? Que


lindo. Quero uma boneca dessa. Bem bonita.
— Para de pedir coisas, July! – Josh a
repreende. Ela se cala na mesma hora. Obedece
Josh cegamente e acho que talvez seja bom. Annie
me obedecia do mesmo modo.
— Vamos ver de novo, é bonito. – Annie
diz com olhos marejados. – Primeiro pudim, eles
que querem, não é July?
— É. A gente que quer. – July ajuda.
— Não tem vergonha de ensina-los a
mentir? – Pergunto a Annie que dá de ombros.
— A gente já aprendeu a mentir, não foi
ela que ensinou não. – July me comunica e só posso
rir.
Annie passa o dia comendo bobagens,
assistindo a desenhos de princesas e me confunde
as vezes, porque parecem duas crianças enquanto
eu e Josh somos os adultos. Quando anoitece e
finalmente os dois dormem ficamos de pé na porta
do quarto olhando para eles.
— O peito ainda chia quando ela dorme.
– Annie me diz um tanto preocupada. – Josh caça a

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bombinha o tempo todo, como se fosse um tique


nervoso. Ele não descansa, não tem vida. Você era
assim?
— Você não tinha asma gatinha. – Mas
seria se ela tivesse. – Vamos deitar. – Deixamos o
quarto e os dois adormecidos.
— Vamos dar uma trancadinha na porta
só por enquanto. Vai que alguém vem fazer uma
visitinha! – Annie brinca depois de trancar a porta e
chutar o chinelo para longe. – Estou pensando no
cara mau.
— Ele foi esmagado, minha mente só
tem Let it go. Está ouvindo?
— Annie é uma garota sensual, ela pode
apagar isso da sua mente. – Ela diz atirando a blusa
longe. – Talvez uma massagem nos ombros do
WR, foi um jogo duro o de hoje. – Ela desabotoa a
calça. – A massagem pode se estender um pouco.
Descer pelas costas, tenho mãos de fada! – O que
quer que estivesse em minha mente se dissipa e só
tem ela e suas promessas. – Quem sabe um óleo
perfumado?
— Mãos de fada? – Pergunto me
aproximando mais dela. – Talvez eu queira ver um
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pouco disso.
— Será? Não parece muito interessado.
Ainda está todo vestido.
— Isso é coisa que se resolve rápido. –
Aviso arrancando a camiseta. Ela sorri, passa a
língua pelos lábios de modo sensual, é o bastante
para envolve-la.
— Nada disso, preciso que se deite.
Como posso fazer massagem assim?
Ela me afasta. Caminha pelo quarto
despida, pega um vidro de hidratante. Posso ser
paciente ou posso ao menos tentar. Ela olha para
cama e obedeço. Eu sempre obedeço.

Acordamos mais uma vez com July


encolhida nas costas de Annie. O dia é cheio de
coisas, musical, restaurante, passeio pela cidade e
quando voltamos à noite para casa e sei que é a
última noite meu coração se aperta.
Depois do jantar, vamos para sala de
tevê. Deixo no programa de esporte, Josh gosta e
July está cansada. Ela adormece no sofá abraçada a
boneca de cabelos presos porque nem a senhora

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Kalais deu jeito no desastre da água.


— Vou acordar ela e colocar na cama,
ela vai ficar com dor no pescoço. – Josh avisa se
levantando.
— Pode deixar, eu a levo dormindo. –
Aviso erguendo a pequena. Talvez devesse falar
com ele sobre ir embora, mas não consigo falar
nem com Annie sobre isso.
Deitamos cedo, Annie enrolada em mim
um tanto silenciosa. Não sei muito o que fazer.
Traze-los talvez tenha sido um erro, acenamos com
um mundo novo e depois simplesmente, eles
voltam para o velho mundo de solidão que
conhecem.
Não consigo dormir direito, acordo
várias vezes, de manhã, Annie fica imóvel em meus
braços. July está lá mais uma vez e como vai ser
acordar sozinha naquele lugar?
July está tranquila. Sorri quando nos vê,
Annie ainda enjoada ou talvez apenas triste, fica
silenciosa, olhando a garotinha de olhos brilhantes.
— Sabia que eu estou com fome? – Ela
nos avisa. – Eu acordo de noite, daí venho aqui e
durmo de novo e de manhã tomo café.
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— Nós vamos pequena. Por que não vai


ver se o Josh acordou? – Ela sorri. Desce da cama
apressada, esquece a boneca, volta correndo depois
some e Annie me abraça. – Não sei como leva-los
de volta.
— Eles não podem ficar, gatinha. É
crime. Foi uma exceção. Uma emergência.
— Sei disso. Meu lado racional
compreende isso. – Annie acaricia a barriga. –
Quero que faça um desses seus contratos, quero que
escreva nele que se algo nos acontecer, nosso bebê
fica com o Leon e a Lissa. Quero que eles assinem.
— Não vai acontecer nada conosco.
— Você não sabe. Ninguém nunca sabe.
Quero que ele chame os dois de pai e mãe. Não
tios, pai e mãe. – Suas lágrimas escorrem e apertam
meu peito. – Tem que ser o Leon, porque só ele vai
amar seu filho como ama você. Como um pai, não
como um tio. Quero que ele cresça na Grécia onde
o pai dele devia ter crescido, onde ele vai estar
cercado de todo tipo de amor. De pai, mãe, irmãos
avós.
— Calma, Annie. Não faz o fim de
semana parecer um erro.
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— Não. Hoje é um erro. Não o fim de


semana. – Eu a abraço. Só posso fazer isso, abraçar
Annie enquanto ela chora. – Vai fazer o
documento?
— Vou. – Se é importante para ela eu
posso fazer, não seria preciso. Todos eles saberiam
que tinha de ser assim, Leon seria o primeiro a
assumir isso.
— Obrigada. Eu já vou parar de chorar.
É só que eu... eu tentei não pensar, fingi que a vida
era um eterno fim de semana, mas não é.
Não demora para ela domar sua dor.
Somos bons nisso, crescemos com essa capacidade,
a mesma que July e Josh. Domar a dor e esperar
por um milagre. Eu tive sorte. Consegui um, Annie
não. Ficou lá até ser cuspida para fora.
Agora é diferente, aquele lugar é
diferente, não estão indo para o inferno. É uma
parede agora, não a disciplina. É só uma parede.
Quando ela se acalma e fica de pé eu
faço o mesmo.
Josh sabe que é hora de ir. Sinto só por
seu olhar. July tem quatro anos, não sabe coisa
alguma. Toma o café alegre, finge alimentar a
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boneca. Quando termina nos encara com seu rosto


delicado e cabelos presos em uma trança.
— Onde que a gente vai hoje? –
Pergunta em sua inocência de quem não conta dias,
não conhece o tempo.
— Tenho que levá-los de volta ao abrigo
pequena. – Conto a ela porque Annie não consegue
dizer coisa alguma.
— Ah não. Eu gosto mais daqui. – Ela
diz em sua simplicidade. – Não é Josh? Fala que eu
quero ficar. – Ela pede ao irmão, os olhos
marejando, o rosto entristecendo. Annie engole o
choro respirando fundo.
— Sinto muito, July, não pode ficar. O
juiz não deixa.
— Então você pede para ele. Como que
faz? Eu peço.
— Isso é complicado. – Não sei o que
dizer. Ela chora. Nunca fui impulsivo, não podia ter
sido justo sobre isso. Os sentimentos de uma
criança. Eu não aguento ser o dono dessa dor.
— Para de chorar, July. – Josh deixa seu
lugar e para na frente da irmã, está sério, cabeça

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erguida, cheio de toda a raiva que carrega. – Chega.


Eu disse para não ficar feliz que íamos embora.
Disse que tem que esperar eu crescer. Não falta
muito.
— Josh...
— Estamos prontos. – Ele diz dando a
mão a irmã. Não me olha. Mantem o rosto erguido,
chora, mas não de tristeza como July, seu choro é
de raiva, angustia.
A senhora Kalais se despede dos dois
com um abraço que July aceita tentando controlar o
choro e Josh nem mesmo retribui. Annie vai
secando lágrimas silenciosas. O caminho é feito em
um silencio pesado, quebrado apenas pelos soluços
que July deixa escapar vez por outra.
Dirijo pensando em mim, na criança que
eu fui, em Annie, na vida que tivemos. Na vida que
podíamos ter tido. Na vida que eu poderia dar a
eles. Todas as coisas que faço, que fiz, perdem
subitamente o valor. Ficam pequenas,
insignificantes.
Não saio da minha zona de conforto, só
porque uma ou duas vezes por semana me sento
atrás de uma mesa na associação e ofereço umas
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horas do meu precioso e caro tempo aos


necessitados ou doo um dinheiro que nem mesmo
me faz falta não quer dizer que esteja fazendo
muito.
Eu podia dar uma vida a eles, podia
acordar com aquela garotinha enfiada na minha
cama todas as manhãs e não seria ruim, podia
ensina-los sobre família, dar uma boa educação.
Primos, tios, mãe.
Mais ninguém vai fazer isso, eles são
invisíveis, apenas isso, são trancados atrás dos
muros de um abrigo e assim ninguém precisa vê-
los, não precisamos lembrar deles, podemos fingir
que não existem e seguir sendo felizes.
Aperto o volante com vontade de dar
meia volta e esperar a polícia ir tira-los de mim.
Talvez nem mesmo fossem. Quem se importa?
Quem liga se ela tem asma, se ele é triste, se só tem
um ao outro? Ninguém os vê.
Fico fingindo que sou bom e justo e me
escondo em meu medo. As coisas dão errado as
vezes, mas também dão certo. Podia dar certo. Não
sei se posso pedir isso a ela.
Annie é tudo que eu tenho e não sei se
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posso pedir que aceite duas crianças para sempre.


Com tudo que isso significa. Tem tanto amor
dentro dela. Olho um momento para a mulher ao
meu lado que tenta lutar contra lágrimas e me sinto
culpado, tentei protege-la da dor e só fiz causar
mais uma.
Devia ter deixado Annie longe de tudo
isso. Nós dois não somos feitos para olhar para algo
assim e não sentir empatia. Não somos feitos para
ignorar a dor que conhecemos.
Quando estaciono Josh se apressa em
abrir a porta. A diretora surge na entrada. July
desce chorando. Josh apertando sua mão e evitando
nosso olhar. A garotinha se solta do irmão para me
abraçar.
— Vocês dois vem me ver amanhã? –
Ela me pede e não sei se posso prometer isso,
porque não consigo machucar mais a garotinha do
que já está. Beijo sua testa.
— Não chora, pequena. Vai ficar tudo
bem.
— Vamos entrar, July. – Josh exige e ela
abraça Annie. As duas choram. Depois a garotinha
se afasta puxada pelo irmão que não olha para traz,
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a diretora se aproxima.
— Nos falamos depois. Eu tenho que ir.
– Annie está encolhida no carro e acho que precisa
de mim agora. Não tem como eu consertar isso,
mas não posso deixar de tentar.
— Me leva para casa. Não quero ir na
associação hoje. – Ela pede secando as lágrimas.
Achava que nossa vida seria sempre riso e amor,
que não teria mais dor e medo. Estava errado.
Subimos em silencio. A senhora Kalais surge na
sala abatida também.
— Quer um chá, Annie?
— Não. Obrigada. Vou só deitar um
pouquinho. – A mulher apenas nos dá as costas. –
Fica comigo um pouco? Precisa ir trabalhar agora?
— Achei que estivesse brava comigo. –
Ela me olha espantada. Me abraça e já é um alento.
— Que culpa tem nisso? Acho que fui eu
quem nos enfiou nessa confusão. Achei que a gente
podia... Que seria como quando damos tchau para
Lizzie. Que teria saudade as vezes e apenas iria
visita-los, que eles teriam saudade as vezes e nos
chamariam.

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— Eu sei, mas eles não têm nada em que


se apegar e acenamos com um mundo que eles...
eles não conheciam.
— Josh nos odeia. Se July tiver uma
crise não vão nos chamar. Se tiverem qualquer
coisa não vamos saber. Deixamos ela nervosa e
talvez ela esteja tendo uma crise agora mesmo.
Acho que estou enjoada. – Claro que está, é assim
que sempre acontece. Annie corre para o banheiro e
eu a sigo. Seguro seus cabelos enquanto ela vomita.
Molho uma toalha e coloco em sua nuca. Quando a
crise vai embora e sobram só as lágrimas ela toma
banho, escova os dentes e se deita encolhida.
— Está melhor? Quer o chá?
— Não. O bebê está com saudade deles.
– Ela faz carinho na barriga. – July nos ensinou a
falar com ele. Agora ele sente falta dela, eu acho.
— Pode ama-los como ama esse bebê?
Pode ser a mãe deles nos momentos bons e ruins?
A vida não é um fim de semana, sabemos disso.
Josh precisa de atenção, cuidados, July vai ter
crises e vamos passar noites em hospitais, com um
bebê nos braços e com medo de perde-la. Pode
fazer isso?
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— Se estiver segurando minha mão eu


posso. Só não posso é ficar sem você. É meus pés,
minha bússola. Não queria te impor isso, mas estou
me contorcendo de dor e não tem como ir embora.
Talvez as pessoas, sua família, eu digo, não
entendam isso, eles acham que temos problemas
com crianças, mas sabemos que o problema é
enxerga-las mais que os outros, isso é bom, isso
tem que se transformar em algo bom.
— Podemos fazer. Se quiser, se disser
que está pronta, podemos fazer, meus irmãos vão
ficar preocupados, mas vão ajudar, eu acho, na
verdade, eu realmente não sei, mas eu posso
enfrenta-los, ou qualquer um que queira nos fazer
mudar de ideia. É o que quer Annie? Quer adotar o
Josh e a July?
— Quero. – Ela sorri, vem para meus
braços. – Eu quero. Vamos adota-los? Podemos ir
busca-los agora?
— Espera gatinha. São pessoas, estão
sob a custódia do estado, não estão numa estante a
disposição. É preciso seguir as regras, vou entrar
com um pedido, isso eu posso fazer agora mesmo,
mas o juiz tem que apreciar, mandar assistentes
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sociais para saber como eles estão, se querem, virão


aqui falar conosco, conhecer nossa casa.
— Quantos dias?
— Semanas. Talvez um pouco mais. –
Ela não desanima. Tem de novo aquele brilho no
olhar.
— Eles podem saber?
— Me dá uns dois dias? Só para não
acenar com algo assim e depois... eu só preciso ter
certeza que eles estão para adoção. Tem casos que
as crianças têm parentes e que ficam sob custódia
do estado até essas famílias serem encontradas e
depois é preciso saber se eles querem abrir mão das
crianças.
— Tudo bem. Depois podemos contar?
Ir preparando eles, avisar a diretora, essas coisas.
— Podemos, pode ir sonhando, mas com
calma. Tudo bem? Não quero mais te ver como
agora.
— Você me faz feliz Nick, de todos os
modos, mas eu não sei se ela vai te chamar de pai,
porque ela gosta de te chamar de príncipe como eu.
– Beijo seus lábios, ela me abraça. – Por que ainda

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está aqui? Vai príncipe, começar a cuidar das


coisas. Vou na associação contar para os meus
velhinhos que eles vão ganhar um monte de
netinhos de uma vez. Daí me pega lá.
— É a primeira vez que me manda ir
trabalhar. – Rio de sua ansiedade. Podíamos ter
decidido isso antes e poupado metade da dor. – Eu
vou para o escritório, me reunir com o Simon,
pesquisar o que precisa ser feito, quero fazer isso
eu mesmo. Põe uma roupa que te deixo na
associação.
— Estou de roupa, Nick!
— É sério isso? Esse shortinho? Vai
esfriar a noite. Aquele velho tarado vai querer te
dar aula de dança.
— Que absurdo! – Ela ri caçando os
chinelos. A única madame desse edifício que anda
por aí de chinelos, isso é o que mais gosto nela.
Passa pelo espelho como se ele não existisse, mas
vai ter que mudar isso. July adora maquiagens e
bonecas. Isso já deu para perceber.
— Vai ter que ensinar a July a gostar dos
Jets, gatinha. – Aviso quando descemos as escadas.
— Nossa senhora! Ela pensa que eu sou
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menina! – Annie diz indignada.


— Ei! Espere um pouco, eu também
penso. Quer me contar algo? – Ela ri, me abraça
quando chegamos a sala.
— Eu não sou uma menina. Sou um
garoto quando se trata de diversão e uma mulher
quando se trata de você. – Ela diz me acariciando o
peito.
— Olha que te carrego de volta para o
quarto. – Ela se liberta de mim, corre para apertar o
botão do elevador. É sim uma menina, uma linda
menina e um garoto de rua e uma mulher e o
melhor de tudo. É minha.

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Capitulo 34
Simon

Sarah me assiste vestir a camisa e


abotoar. Linda sentada na beira da cama, com os
cabelos bagunçados e uma camisola curta. É uma
segunda-feira qualquer, somos só um casal
começando a semana e no fim sempre foi isso que
quis.
— Não esquece de ligar para sua mãe.
Quero muito saber o que ela pensa de mim. – Digo
colocando a camisa para dentro. Ela amplia o
sorriso.
— Já disse que ela te amou. Atravessou
meio país para ir comigo passar um fim de semana
no Texas para conhece-la. O que acha? Ela só pode
ter gostado disso.
— E seus irmãos? – Sarah revira os
olhos.
— Os pirralhos não têm nada com isso,
Simon. De todo modo, adoraram os jogos que
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levou para eles.


— Ulisses escolheu para mim. Ele
entende de videogame. – Balanço a gravata e ela
vem em minha direção, me viro para o grande
espelho do seu quarto. Ela fica de pé na minha
frente.
— Você finge que é descolado, mas no
fundo é um nerd. – Faço uma careta ela tem razão.
Balanço a gravata mais uma vez. ─ Como pode ser
um advogado que não sabe dar nó em gravata?
— Sou bom em muitas coisas, mas não
nisso. É demais para meu cérebro. Muitas voltas. –
Ela pega a gravata e passa por meu pescoço, usa
como um modo de me puxar para ela, depois me
beija. – E tenho você e o Nick para emergências. –
Rio quando ela faz careta.
— Gosto dessa amizade de vocês. Quer
dizer, ele é como se fosse seu chefe e mesmo
assim...
— Não é assim. Somos uma dupla no
trabalho. Amigos antes de tudo. Um ajuda o outro,
desde sempre.
— É estranho pensando no quanto são
diferentes. – Ela diz ajeitando o nó para ficar
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perfeito.
— Começou com uma coincidência de
dividirmos um quarto na universidade. Nick era
todo quietinho, achei que não daria muito certo,
mas fomos ficando amigos.
— Tão rico e morando num quarto da
faculdade. É até engraçado.
— Ele ganhava uma mesada. Nem era
nada demais. Mesmo assim, me ajudava todo final
de mês quando meu dinheiro acabava. – Sarah ri de
mim, se encosta na parede ao lado do espelho.
— Os Stefanos nunca ostentam, acho
isso bonito.
— Eu também, e o Nick não saía nunca,
então o dinheiro sobrava toda vez. No segundo ano,
eu saí um pouco dos eixos, fiquei meio
deslumbrado com as festas e tudo mais. – Evito
dizer garotas.
— Mulheres. – Ela completa de má
vontade.
— Chegava bêbado, caindo. Ele me
ajudava, de manhã estava de ressaca e ele me
arrancava da cama para ir para aula. Um dia ele

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disse que se eu parasse com aquela vida e me


dedicasse, me contrataria como assistente. Daí foi
um incentivo e foi o que fiz, terminei em segundo
lugar.
— Assumiram juntos?
— Um dia depois da formatura nos
apresentamos na empresa. No começo não foi
muito fácil. Dois garotos gerenciando o
departamento jurídico de uma companhia
mundialmente conhecida como a Stefanos
corporação não foi fácil, mas os Stefanos nem
titubearam em nos entregar o departamento
jurídico. Isso nos deu confiança.
— Conseguiram. Um ajudou o outro.
— Sempre. Agora tenho que ir. – Pego
minha pasta e ela me segue pelo apartamento. –
Nick me mandou uma mensagem que vai chegar
mais tarde. Acho que eu gostava mais quando me
sentia culpado porque ele trabalhava cinco vezes
mais que eu.
— Duvido, sei que está feliz por ele.
— Estou. Annie é perfeita e aquela coisa
de “os Stefanos não se casam” por fim acabou. Eu
sabia que acabaria. Nenhum deles resistiria muito.
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— Pensa como eles pensavam? – Sorrio,


Puxo Sarah pela cintura. Ela me envolve o pescoço.
— Eu sempre quis o oposto e olhe que
ironia, os quatro casados e eu aqui, tentando te
convencer a levar pelo menos umas roupas para
minha casa.
— Simon, só acho pouco prático já que
sempre ficamos aqui.
— Você é tão independente! Custa
precisar de mim de vez em quando? – Ela me beija.
— Eu preciso. Da sua presença, apenas
isso. Vem para cá hoje?
— Não. Vou para o meu apartamento. Te
ligo. – Tento sair e ela me puxa.
— Está sendo mal. – Sarah me faz olhar
para ela. – Posso te esperar? Eu cozinho! – Acabo
sorrindo. Ela sorri de volta.
— Tudo bem. Só que não vou dormir
aqui, Depois do jantar vou para o meu apartamento,
se quiser pode ir comigo.
— Sim senhor. Bom trabalho. – Ela me
beija e sigo para o escritório. Me envolvo no
trabalho, quando sento na frente do computador
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diante dos meus papeis eu me esqueço do resto.


Nick me manda mensagem. Reunião em sua sala
agora. O que pode ser? Não me ocorre nada quando
deixo minha mesa curioso. Pelo menos ele assina
logo esses papéis. Preciso enviar isso ainda hoje.
Penso enquanto caminho com minha pasta na mão.
— O que foi? – Pergunto invadindo sua
sala, fecho a porta depois de passar.
— Senta. – Ele convida e já sei que vai
demorar um pouco.
— Antes de mais nada, preciso que leia e
assine isso, é para hoje. – Estico a pasta, ele coloca
na mesa de modo displicente.
— Tenho um segredo que não pode
contar para meus irmãos.
— Ok, depois você assina. O que é? ─
Nick sorri, ele sabe o quanto sou curioso.
— Adoção.
— Ah! O cachorrinho que quer dar para
Annie. Pensei que tinha desistido depois que soube
do bebê. – Nem é grande coisa, desanimo.
— Não, Simon. Crianças.
— Olha como eu ando confuso? Achei
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ter ouvido você dizer crianças. – Ele passa a mão


pelo cabelo, se encosta na cadeira.
— Ouviu certo. Foi o que eu disse.
— Sabe que não precisa adotar o seu
próprio filho, né?
— É sério, Simon. Se está reagindo
assim, imagina meus irmãos? – Ele diz e fico um
longo minuto olhando para ele. Nick quer adotar?
Nick? Não pode ser.
— Você usou mesmo o plural? –
Pergunto inconformado.
— Sim. Vou te contar. Voltei ao abrigo.
Eu e Annie.
— Nossa! – Me espanto, achei que ele
nunca conseguiria fazer isso.
— Pois é. Lá eu conheci dois irmãos.
July de quatro anos e Josh de doze, eu não posso
dar as costas a eles, eu e Annie ficamos... É como
se já fossem nossos. Conversamos. Está decidido.
Não tente me convencer do contrário.
— Por que eu faria isso? – Nick vai ser
perfeito como pai, é todo certinho, cuidadoso com
crianças. Cheio de ética com tudo. – Mas não
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entendi como isso pode ser um segredo Nick, quer


dizer, não tem como esconder dois filhos dos seus
irmãos.
— Só por um tempo, Simon. Até eu dar
andamento ao processo. Leon vem ficar em casa
daqui uns dias e converso pessoalmente.
— Ok. Boa sorte, futuro papai.
— Preciso que me ajude. Vamos estudar
as leis de adoção de Nova York e ver o que
podemos fazer para acelerar o processo. – Ele me
pede empolgado.
— Onde eles estão agora?
— No abrigo. Não quero que fiquem lá.
Realmente não quero. Preciso de urgência. Deixá-
los foi... Nossa! – Nick não completa e sinto sua
preocupação. – Annie está triste. Quer dizer, nesse
momento está feliz por que decidimos, mas quando
se deitar para dormir e lembrar que eles estão lá,
então eu sei que vai ser dolorido, não é hora para
ela passar por isso.
— Tudo bem. Assina isso aí. Vou enviar,
pego meu computador e vamos trabalhar nisso. –
Nick passa os olhos pelos papeis, assina e depois
me entrega.
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— Vou começando a pesquisar aqui.


Não demora.
— Dez minutos. – Deixo sua sala. Três
filhos de uma só vez? Os Stefanos vão ter
sucessivos ataques de preocupação, assim que
souberem se mudam para cá.
Dez minutos depois estou de volta. Me
sento em sua frente e começamos as pesquisas.
— Acha que é cedo para pedir Sarah em
casamento? – Pergunto e ele ergue os olhos do
computador. Me encara um momento.
— Não sei direito, Simon. Eu não sou
bom nisso.
— Como sabia? Que era a Annie? Como
compreendeu que Annie era a garota certa?
— Sempre foi ela, desde sempre, mesmo
quando eu era só um menino.
— É você não serve como parâmetro.
— Já disse que a ama?
— Não.
— E ama?
— Ela me entende, nos damos bem,

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somos uma boa dupla, gosto de como ela vive a


vida, sim, eu amo a Sarah. Não consigo mais me
imaginar com outra. Não olho mais para as outras.
— Então começa dizendo a ela. Vai
pedir a mulher em casamento sem nem dizer que a
ama?
— Tem razão. Quero viver a vida com
ela, odeio quando a gente se separa. Não que a
gente se separe muito.
— Faz isso, mas vê se é melhor que eu,
pense numa coisa romântica, eu nem flores
providenciei.
— Vou pensar em algo. Quem sabe um
ossinho para o Bob? – Nick ri, até gosto do
cachorro, mesmo quando ele rouba minhas meias.
Bob é como filho para ela.
— Faça isso.
— Essas crianças, é reciproco? Eles
querem ficar com vocês?
— Acho que sim, Simon, July deixou
claro, o Josh, bom, eu sei que vai ser difícil, mas
posso cuidar dele, como o Leon fez comigo. Ele vai
aprender. – Voltamos a nos concentrar no trabalho.

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— Eles são irmãos, né? – Pergunto e


Nick afirma já redigindo o pedido de guarda e o
direito de adoção. – Isso facilita. Pelo que entendi
eles dão preferência nesses casos, de irmãos que
tem chance de serem adotados juntos.
— Preciso que dê tudo certo logo. July é
asmática, pode ter uma crise. –Ele me conta e
depois se concentra no pedido. – Vou agora mesmo
procurar o juiz. São três da tarde. Ainda consigo
começar com isso hoje.
Nick espera o papel sair da impressora
enquanto vai vestindo o terno. Coloco os papéis
numa pasta. Não sei porque está tão nervoso, é
Nickolas Stefanos, uma das maiores fortunas do
mundo. O cara mais bem-sucedido que conheço.
Com fama de certinho. O juiz vai oferecer um lote
de crianças a ele.
— Me deseje sorte. – Ele diz com a pasta
na mão. Imagino quando Annie estiver na
maternidade.
— Sorte. – Digo a ele que caminha para
porta. – Vou continuar aqui pesquisando.
— Ok. Obrigado, Simon.
— Vão me chamar de tio Simon, não é?
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– Eu pergunto e ele sorri.


— Vão.
— E vai dizer aos seus irmãos que eu
sabia o tempo todo?
— Melhor não, vou deixá-los com
ciúme. ─ Ele diz abrindo a porta.
— Essa era a intenção. – Reclamo
quando ele some. Continuo a pesquisar. Quem sabe
encontro algo. Um modo dele conseguir adiantar as
coisas. Trazer logo os garotos para perto.
Me lembro que ele disse qualquer coisa
sobre asma.
— Que tipo de doença é essa? – Depois
de uma pesquisa penso num modo de Nick acelerar
as coisas. Telefono rezando para ele não ter falado
com o juiz ainda.
— Algum problema, Simon? – Nick me
atende.
— Já falou com o juiz?
— Não. Por que? Pensou em alguma
coisa?
— Sim. Asma, use isso, tem como
conseguir um diagnóstico oficial? Um médico que
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tenha atendido a garotinha?


— Claro. Bem pensado, se provar que
ela precisa de cuidados especiais eles vão acelerar o
processo. Obrigado. Um médico nos atendeu, vou
procura-lo e depois vou ao encontro do Juiz. Só que
acho que não vou ter tempo.
— Onde encontro o médico? Segura o
juiz. Eu consigo o atestado.
— Certo. Anota aí. – Nick me passa os
dados, deixo a sala apressado no minuto seguinte.
─ Nick acha que se eu pedir a Sarah para tirar a
camisola na hora de fazer o nó da gravata ela vai
me mandar para o inferno?
— Ela eu não sei. Eu com certeza, isso é
sério? Onde está?
— No elevador, sozinho. Ninguém está
ouvindo. Se lembra dos meus planos para o futuro,
a garota certa fazendo o nó da minha gravata nua
todas as manhãs? Então o problema é que ela está
sempre de camisola.
— Pede isso junto com o eu te amo.
Deve amenizar as coisas. Agora vai achar esse
médico, te espero.

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Desligo o telefone rindo. Ele vai


conseguir. Annie está grávida e mesmo me
chamando de Gnomo a garota merece dormir
tranquila.

Annie

— Vai para casa minha filha. Está


gravida, não precisa vir todo dia. – Ava me diz
quando ergo seus pés para arruma-la na cama.
— Para de me mandar embora que fico
magoada. – Me sento ao seu lado, ela segura minha
mão.
— Você tem um coração tão puro. Fazia
tempo que não encontrava alguém assim. E como
são seus futuros filhos? – Ela me pergunta
enquanto me olha com seus olhos doces.
— Vou começar por esse aqui. – Toco a
barriga. – Vamos contar para vovó como vai ser
você?
— Como é que sabe isso? – Ela ri com
gosto.
— Sei que vai puxar o papai em tudo, já
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está bom para mim. Já viu pessoa melhor que ele?


Tenho tanta sorte.
— Amor mais lindo esse. Seu bebê tem
sorte. E os outros? Quero saber tudo deles.
— Um menino lindo. Josh é amoroso
com a irmã, triste, mas vamos mudar isso. Não sei
muito do passado deles, mas vou conseguir
descobrir. Só assim posso ajudar.
— E a garotinha. Como é a July? Adoro
esse nome. Tão doce.
— Como ela. Uma gatinha, dengosa e
engraçadinha. Inteligente, nos dias que ficou
conosco, acordava na minha cama toda manhã. Era
emocionante, porque sei o quanto é difícil para
alguém abandonado ter tanta confiança. Ela ia se
deitar conosco e durante toda minha infância eu
jamais sonhei em fazer algo assim. Só confiei nele,
no meu príncipe, toda a vida.
Ava puxa minha mão para beijar. Beijo a
dela em retribuição.
— É tão forte, os dois são, você e seu
Stefanos. Tenho certeza que vai conseguir dar amor
a essas crianças.

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— É só o que eu tenho para oferecer a


eles. Então é o que vou dar.
Ava me sorri com aqueles olhos lindos e
vivos marejados, fico sempre tocada com o modo
como eles todos me olham, com tudo que me
devolvem.
— Você é só amor, menina. Agora vá
colocar suas pernas para cima.
— Ava! Não tem nada errado com
minhas pernas. O bebê está na barriga.
— Vá pensando assim. Deixa essa
barriga crescer mais, as pernas incharem.
— Estou com meu coração tão apertado.
Nick disse que pode demorar muito. Sei como é
ficar lá. É melhor agora, mas quero eles perto,
minha pequena ficou chorando de soluçar. Josh
cheio de raiva.
— Vai dar certo, Annie. Agora vá
descansar. E quando essas crianças todas chegarem
eu quero ver você ter tempo para vir.
— Tenho motorista, trago todos eles e
vocês que cuidem. – Ela sorri mais uma vez. O
celular apita. “Estou te esperando aqui na porta

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gatinha “. – Agora eu vou. Meu príncipe chegou.


Beijo o rosto de Ava e depois me
despeço dos outros na sala de convivência. Quando
chego ao carro estou ansiosa. Nick me espera
encostado na porta. Me lembro dele vestido de cara
mau e sorrio com a ideia.
— Sem a jaqueta de couro não é a
mesma coisa. – Brinco ganhando um beijo.
— Não mesmo, mas ela está pendurada
no closet, nunca se sabe quando ela pode
simplesmente surgir.
— Humm gosto de pensar nisso. – Ele
abre a porta para mim. Me sento apertando o cinto
enquanto ele dá a volta. Fico olhando Nick sentar e
dar partida. – E então? – Pergunto ansiosa.
— Fiz o que era preciso, gatinha. Simon
teve uma boa ideia e falei sobre o problema da
asma. As coisas vão correr mais rápidas. O juiz me
chamou de filantropo. Ele sabia sobre mim. A
associação e outras coisas.
— Filantropo é bom, se fosse uma
palavra mais fácil te chamaria assim. – Ele balança
a cabeça, Nick nunca acha que faz muito. – Fico
com magnata Grego que é mais fácil. Quanto
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tempo?
— Bem menos. Provavelmente amanhã
um assistente social deve ser designado para ir ao
abrigo e nos procurar, dei o endereço da
associação, disse que você trabalhava aqui e ele
ficou impressionado com minha linda e filantropa
esposa.
— Também sou isso? – Nick afirma. – O
que tenho que dizer?
— A verdade Annie. Apenas isso, não
trabalho de outro modo.
— O que acha? Vamos conseguir? –
Nick para num farol, aproveita para me olhar nos
olhos.
— Gatinha. Não é difícil, o juiz
conversou um pouco comigo, ser um Stefanos tem
suas vantagens. Ele não vai descobrir nada sobre
nós, então acho que sim.
— Descobrir? Como assim?
— Segredos, envolvimento com sei lá,
drogas, crimes.
— Termos crescido num abrigo não
atrapalha? Eu ser filha de um homem que morreu
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na cadeia. Não ter uma faculdade, um emprego.


— Annie, isso é tolice, não somos
culpados pelos erros dos nossos pais. Você não teve
oportunidades e isso também não é um problema, e
acho que trabalha mais que boa parte da cidade.
Muito mais do que eu gostaria no momento. Naomi
me conta que não para um minuto.
— Está bem. – Me tranquilizo, não é
sempre, mas as vezes as coisas que Ted disse
martelam minha mente e sempre penso que ele
pode ter alguma razão. – Onde estamos indo? –
Pergunto quando o vejo pegar uma direção
diferente.
— Vou te levar para jantar, depois
vamos para o abrigo, quero conversar com a
diretora e ver as crianças, até eles poderem vir
embora vamos ficar lá até coloca-los na cama. –
Isso sim é bom, me sinto aliviada. Meu coração se
aperta de tanto amor que sinto por ele. – Eu sei que
não vai dormir de preocupação, então vamos ficar
por perto.
— Você as vezes me assusta. É de uma
perfeição que nem parece existir.
— Existo e estou longe da perfeição.
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Agora tem que se comportar. Comer direitinho, eu


sei que é cedo, mas depois fica tarde, então nossa
rotina vai ser essa, avisei a senhora Kalais e ela vai
deixar um lanchinho leve para quando chegar,
assim sua alimentação não fica comprometida. –
Ele toca minha barriga. – Temos que pensar nele.
Não é filho?
Como o prato todo, nem olho para o que
tem nele, só me esforço para engolir tudo com
medo de Nick mudar de ideia e me levar para casa.
Não é nada fácil, a ansiedade de vê-los me tira o
apetite, mas vale a pena.
Vamos para o abrigo, vai estar fechado
para visitantes por que são sete da noite, mas acho
que vão nos deixar entrar, não seremos impedidos,
onde Nick vai as portas se abrem para ele. Eu sabia
que dinheiro e sobrenome moviam o mundo, mas
nunca achei que estaria do lado em que as portas se
abrem, sempre achei que viveria como o porteiro.
Antes de vermos as crianças, Nick
conversa com a mulher. A diretora Casper fica
surpresa com o anuncio da adoção, feliz também,
no mínimo é um problema a menos para ela.
— Se o senhor já entrou com o pedido e
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tenho certeza que será aceito, podem contar com


meu parecer positivo, acho que podem vir todas as
noites.
— Que ótimo. Como eles estão? – Nick
pergunta e aperto sua mão.
— Foi um longo dia para eles. July chora
bastante. Josh está lutando para fazê-la comer. Os
dois estão tristes, mas acho que ele está com raiva
também. A asma também veio com tudo. O peito
não para de chiar e está puxando o ar como de
costume. Deixei minha assistente em alerta para o
caso de eu ter que correr com ela para o hospital no
meio da noite. Podem ir vê-los.
Os dois estão na biblioteca como de
costume, Josh nos vê antes dela, para com a leitura
surpreso. Curiosa July procura o que tirou a atenção
do irmão, nos vê, larga a boneca, o irmão e corre.
Me abaixo para recebe-la.
— Não corre, July! – O irmão ralha, mas
então ela está em meus braços e a aperto.
— Veio me buscar? Não quero ficar
aqui. – Odeio pensar que daqui a pouco vou partir
sem ela. E só a aperto mais. Depois me afasto para
olhar para ela.
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— Não chora, pequena. – Seco seu rosto,


sua respiração alterada.
— Quero colo, príncipe. – Ela ergue os
braços para Nick que a ergue carinhoso, achava que
só eu e Lizzie tínhamos esse privilégio e gosto de
dividir isso com eles. Encaro Josh, ele não se move.
Nem mesmo fecha o livro. Troco um olhar com
Nick quando nos aproximamos.
— Oi Josh. Como foi o dia?
— Como todos os outros. – Ele responde
apenas. – Vem sentar, July, vou continuar a ler.
— Não. Vou ficar no colo do príncipe e
vou embora com ele, eu e você. – July aperta o
pescoço de Nick, ele se senta com ela no colo, no
chão, ao lado de Josh, o garoto encara o livro.
— Vamos ficar aqui lendo com o Josh. –
Nick diz a ela. Josh fecha o livro.
— Leio quando forem embora e ela
começar a chorar de novo. – Ele nos acusa. Está
certo, olho para Nick.
— Vamos ficar até colocar July na cama.
– Ele avisa e Josh fica mudo. – Até colocar vocês
dois na cama.

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— E quando eu acordar a noite? Onde


que eu vou? – July pergunta. – Gosto de ir lá
dormir com vocês.
— A gente... – Nick me olha. Sabe que é
preciso dar algo a eles, alguma esperança. Josh
precisa disso mais do que July. – Se lembra que eu
disse que para ficar lá em casa tinha que pedir ao
juiz? – July afirma. – Pedimos hoje.
— É? Ele deixou? – July se anima.
— Disse que vai pensar. – Nick conta a
ela. July fica confusa, não sabe se fica feliz ou
triste.
— Pensar demora, príncipe, pede de
novo. Liga para ele. – Ela pede.
— Só uns dias. – Eu digo a ela sentindo
sua respiração cada vez mais alterada.
— Eu não vou deixar ela ir embora com
vocês. Ela é minha irmã. Eu que cuido dela. July é
doente e precisa de mim. Não vão tirar ela de mim.
– Josh não esconde o pânico. Sua voz está
embargada, cheia de rancor e medo. Ele luta com
suas lágrimas.
— O Josh não vai? – July cai no choro,

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desce do colo de Nick e abraça o irmão. – Não


quero mais ir.
— Os dois Josh. Vamos levar os dois
daqui. Adotar os dois. – Nick o avisa, ele não
reage, não fica feliz, não fica triste, ao menos não
de modo aparente.
— Meu irmão vai também?
— Claro, July. Você e o Josh. Sempre. –
Ela volta para o colo do futuro pai.
— Viu, Josh? – Ela tira os cabelos do
rosto, seca as lágrimas a respiração agitada. –
Pronto, sem chorar né? Vamos indo, depois a gente
fala para o juiz que já foi.
— Hoje não, July, o juiz não deixa.
Logo. Viremos toda noite, ficar aqui e colocar os
dois na cama, só vamos embora quando dormirem.
— Não estou com sono, nem o Josh. –
Tiro ela do colo de Nick só para poder beijar sua
bochecha. Depois Nick pega o livro e começa a ler.
Ouvir sua voz lendo aquelas páginas que um dia
lemos juntos, encolhidos e abraçados, cheios de
medo e sem esperanças me emociona e choro
encostada em seu ombro. Não consigo evitar.

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— Ei gatinha. Não chora. Vai assustar as


crianças. – Tento sorrir para acalma-los. Vejo
algum carinho nos olhos de Josh, isso é bom. Toco
seu rosto, ele não se esquiva, mas não reage.
— Vai ser um homem bom e justo como
o Nick. Dá para ver só de olhar para você. Vou
sentir orgulho, Josh.
— Pronto, agora chega de livro. Vamos
brincar de boneca. – July diz na tentativa de me
fazer parar de chorar.
Brincamos de boneca, os dois ali nos
olhando apenas, saímos um momento no pátio,
caminhamos, outras crianças jogavam bola, não me
prendo muito a elas, não posso ou o juiz vai passar
seus dias me entregando crianças.
Talvez tenha espaço para mais de três.
Eu penso quando caminhamos para dentro, mas só
posso ter certeza depois. Quando tiver os três
comigo.
Seguro minha língua para não fazer
planos com eles, falar sobre sermos papai e mamãe,
nas mudanças nos quartos, do bebê que um dia vão
chamar de irmão. Não quero tornar tudo mais
complicado.
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As nove as luzes começam a diminuir e


sei com minha própria vida que é hora de dormir.
Essa era a minha hora mais dolorida e estar ali me
machuca. Tenho que aguentar tudo isso até tê-los
em casa e vou ser forte.
Colocamos July na cama a muito custo,
Josh se deita na cama ao lado, os tapetes e as
cortinas sumiram, mas ainda tem a estante cheia de
livros. July está com o peito chiando.
Vencida pelo cansaço ela adormece
segurando minha mão como se isso fosse me
manter aqui. Engulo o choro. Josh está de olhos
fechados, mas não está dormindo. Ele ainda não
confia, depois de tudo que viveu seria estranho se
confiasse logo de cara.
— Vamos gatinha. Amanhã voltamos no
fim da tarde. – Nick sussurra e mesmo odiando
estar nesse lugar não quero deixá-los. Fico de pé
sem alternativa.
— Se não voltarem amanhã, ela vai ficar
doente. – Josh avisa com dificuldade.
Nick segue até sua cama. Se abaixa para
olhar para o menino de olhos tristes e cansados.
Afaga seus cabelos. Josh não pede nada para si,
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mas nunca recusa nada também, não será difícil


quando ele confiar. Preciso acreditar nisso.
— Até podermos levar vocês dois para
casa, viremos todas as noites. Isso é uma promessa
Josh e vai descobrir que cumpro minhas promessas.
Se você ou July precisarem de qualquer coisa, tem
que pedir a senhora Casper para nos telefonar. Pode
fazer isso? – Ele afirma. – Ótimo. Boa noite.

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Capitulo 35
Ulisses

Agora é só reduzir mais um pouco o


molho e fica pronto. Mexo a panela com o molho,
não sei para que reduzir, essas coisas nunca fazem
sentido para mim. Apenas sigo as receitas.
É meu dia de cozinhar. Odeio meu dia
de cozinhar, mas ela vai ter que admitir que hoje eu
me superei. Desligo o fogo. Coloco a mesa para
dois e organizo os pratos.
— Praticamente um chef! – Digo
admirando o prato decorado. Agora buscar Sophi.
Ela está diante do videogame como sempre. –
Treinando fatalities? – Reclamo, ela pausa o jogo e
me sorri.
— Cada um usa o tempo para o que
quiser.
— Tá, mais não vou mais deixar você
escolher o Sub-Zero. Sabe tudo dele.
— Medinho? – Ela ri deixando o
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controle sobre a mesa.


— Vem jantar. – Ajudo Sophi a ficar de
pé. Seguimos de mãos dadas para sala. – Sente-se
madame. – Ela sorri ao ver o prato a sua frente.
— A apresentação está perfeita.
— Legumes no vapor. Peixe grelhado
com molho de vinho.
— Você é perfeito. Sabe disso né? – Ela
avisa pegando o garfo. – Agora vamos ver o sabor.
Pelo rosto dá para ver que gostou, eu
melhorei muito meus talentos culinários. Já sou
capaz de seguir uma receita e dar tudo certo.
— Delicioso, esse molho... Aprendeu
direitinho.
— É aprendi. Que jeito? – Ela franze o
nariz. – Ontem quando estava indo para uma
reunião eu entrei numa livraria e adivinha o que me
vi procurando?
— Livros de receitas? – Ela ri com
gosto. – Que fofo!
— Está me transformando num idiota,
senhora Sophia Stefanos.
— Um idiota sexy. Gosto de homens
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com talentos culinários.


— Gosta! Eu sei. Quer é me convencer a
ficar feito um cordeirinho cozinhando.
— Nunca amor.
— Cínica. – Sophi se levanta, vem até
mim, me beija e depois volta para seu lugar.
— E o Nick e a Annie. Andam bem
sumidos não acha amor? – Ela não para de comer e
fico orgulhoso do meu trabalho.
— Nick está estranho. De novo. O mês
todo.
Ele não é bom em mentir, anda
recusando convites para jantar e saindo do trabalho
cedo. Algo está diferente, não triste. Só diferente.
— Acho que é só preocupação com o
bebê. Logo vai dar para saber se o deles é menino
ou menina. Quatro meses. – Ela toca a barriga.
Sophi três. ─ Quando chegar a hora quero ver qual
dos dois vai ficar mais nervoso.
— Eu. – Aviso. Já fico só de pensar. –
Não consigo entender porque quer parto normal.
Vai doer, Sophi. Doer tipo muito.
— Por que é melhor para os dois. Prefere
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que eu tome uma anestesia?


— Prefiro. Se fosse eu, pediria uma
anestesia geral. – Ela ri.
— Por isso mulheres tem filhos e não
homens.
— Deve ter razão. Come tudo. E depois
já sabe. A louça é sua.
— Amor eu estou grávida!
— Nem vem, fiz o jantar. Não vou lavar
a louça. É minha vez de jogar. – Ela faz careta.
— Egoísta. – Sophia suspira.
Como sou um bom marido ajudo a tirar a
mesa, depois começo a jogar, ela já zerou esse há
duas semanas, é irritante como tem talento.
Uns minutos depois ela está de volta. Se
senta ao meu lado. Linda e tranquila. Os cabelos
soltos, os olhos sorridentes.
— Pronto, amor. Terminei. – Afirmo
explodindo a cabeça de um soldado, ela suspira,
vem para meu colo. Ainda tento dobrar a cabeça
para ver a tela e continuar a jogar, mas Sophi
espalma as mãos em meu peito e beija meu
pescoço.
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— Isso é... – Tento me concentrar no


jogo. É impossível.
— Quer jogar? – Ela pergunta, esqueço o
jogo e encaro seus olhos. Sophi tira a blusa. – Quer
Ulisses? Eu posso ir... – Ela aponta o quarto. Minha
mão desce por suas coxas até sua cintura. Sophia se
movimenta em meu colo.
— Mulher você é o demônio! – Sophia
curva os lábios num sorriso sensual, eu a puxo para
um beijo.
— Acho que devia me colocar na cama.
— Vou fazer isso. Agora mesmo. – Fico
de pé com ela em meus braços e logo estamos na
cama. ─ Amo você.
Ela me ajuda com a roupa. De novo o
que temos é urgência em estarmos livres de tudo
que nos separa. Anseio pela pele quente.
— Amor! – Ela sussurra. Tão linda, cada
dia mais linda.
Sophia adormece em meus braços. Toco
sua barriga, meu bebê crescendo e isso sempre me
faz entender melhor o que sentem Leon e Heitor. A
paixão deles por suas famílias. Acho que vou ficar

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um tanto idiota quando tiver meu bebê nos braços.


Adormeço com a mão em seu ventre.
Como todas as noites.
— Ulisses. Amor. – A voz chega baixa,
sinto um leve chacoalhar em meu ombro. – Ulisses.
— Sim. – Digo sem abrir os olhos.
— Acorda.
— Estou acordado.
— Não está. Seus olhos estão fechados.
– Suspiro, abro e Sophia me encara sentada na
cama.
— Que horas são? – Pergunto achando
tudo muito escuro para ser dia.
— Duas e meia. – Ela responde e fecho
os olhos mais uma vez. – Sabe o que estava
pensando?
— Vai me dizer, não é? Não é o caso de
eu ter que adivinhar.
— Pêssegos. Ainda não dormi. Pensando
em pêssegos.
— Estranho, né?
— Entendeu que não consigo pensar em
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outra coisa?
— Fatalities. Pensa neles. Aquele sangue
todo vai desviar seus pensamentos.
— Ulisses, eu estou grávida. Isso é coisa
para me mandar pensar?
Me encolho entre as cobertas, tão
escurinho e quentinho. Falta tanto ainda para a hora
de acordar. É tão bom saber que posso só dormir de
novo assim que ela parar de falar.
— Não pensa nisso quando está jogando.
— Vou buscar pêssegos.
— Tudo bem. Assim que o sol surgir no
céu com todo seu esplendor. Vem cá vem, fico
fazendo carinho e você dorme. – Tateio a cama em
busca de Sophia.
— Estou indo agora. Sozinha. Tchau. –
Abro os olhos, esfrego para ver se desperto. Ela
veste jeans.
— É sério? Quer pêssegos? Por que não
pode ser uma gravida como as outras. Não tinha
que estar no banheiro vomitando? Essas vontades
não vêm quando a barriga fica grande?
— Eu não sei. Estou indo. – Ela tenta
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levantar seguro seu braço.


— Deixa de ser ridícula! Eu vou. – Me
levanto. Lavo o rosto para despertar. Encaro o
espelho. É uma pequena contribuição, perto do que
ela está fazendo mantendo nosso bebê dentro dela,
isso não é grande coisa. – Pense. Onde eu posso
achar pêssegos as três da manhã?
— Duas quadras daqui tem um lugar,
vinte e quatro horas aberto. Vou junto.
— Não precisa, amor. Em meia hora vou
e volto.
— Eu vou, assim já venho comendo.
Não quero esperar. – Afirmo. Ela manda mesmo
em tudo, que adianta discutir?
— Vamos. – Abro a carteira, pego umas
notas e coloco no bolso depois de vestir uma calça.
— Amo você. – Ela sorri. Deixamos o
apartamento para ganhar as ruas. Pêssegos. Não
podia ser pizza que era só usar o telefone? Quem
entrega pêssegos? Alguém devia criar um gravida
delivery. Ficaria rico.

Nick
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Eu tinha certeza que ainda tinha


chocolate aqui. Fecho a última gaveta da
escrivaninha. Subo as escadas um tanto desolado.
Um mês e esse juiz ainda não liberou as crianças.
Annie dorme tranquila, sorrio
observando seu sono. A barriga ainda é pequena,
mas agora é só olhar e já sabemos que tem um bebê
crescendo dentro dela. Um bebê que July beija o
tempo todo. Minha família, meio torta e separada,
mas minha.
Será que não restou nem um pedacinho
de chocolate em algum lugar dessa casa? Josh
estava tão abatido. July ficou com a respiração tão
alterada. Não consigo dormir.
Talvez Annie saiba onde a senhora
Kalais esconde meus chocolates.
— Gatinha. – Beijo seu pescoço. Ela se
move e me envolve, beijo mais uma vez. – Gatinha.
— Hum. – Annie me atende meio
dormindo ainda, os olhos fechados.
— Não precisa acordar. São duas e meia
da manhã, só me diz onde a senhora Kalais guarda

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meu chocolate.
— Não tem, príncipe. Ela disse que não
tem.
— Sério? – Suspiro.
— Não está conseguindo dormir? –
Pergunta me abraçando mais, se enrola em mim. –
Por causa das crianças?
— É. E porque queria chocolate. – Annie
ri ainda de olhos fechados.
— Eu vou te ajudar a procurar no seu
escritório. – Ela suspira.
— Não. Fica quietinha. Eu já procurei a
casa toda. – Ela me encara sorrindo. – Não ri de
mim.
— Acho que não dá para evitar, príncipe.
Está com desejo? – Annie me provoca. Afundo a
seu lado.
— Ulisses não mandou esse mês. Aposto
que é coisa da Lissa. Ela é muito egoísta. Deve ter
ficado com tudo.
— Nick! Acha que a Lissa faria isso?
— Ela é ardilosa. Com aquela carinha de
boa moça.
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— Saudade deles. – Annie diz me


fazendo carinho no cabelo.
— Chegam em dois dias. – Ela afirma,
toda enrolada em mim, acariciando meus cabelos. –
Dorme. Desculpa te acordar.
— Vai dormir também? – Annie
pergunta.
— Vou ficar aqui com você.
Annie se afasta de mim, senta na cama,
me sorri de modo carinhoso. Não consigo esconder
minha preocupação com as crianças. Sei que se
sente igual, mas talvez por causa do bebê ela acabe
dormindo sempre bem.
— Vamos, príncipe. – Me convida
ficando de pé e calçando o tênis ao lado da cama.
Ainda está vestindo um pijama de bichinhos, sorrio
com a combinação.
— Onde?
— Comprar chocolate. Aquela loja vinte
e quatro horas no fim da quadra tem.
— Não vai sair da cama essa hora e
muito menos de pijama.
— Quem se importa? É Nova York, as
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pessoas vestem todo tipo de roupa. Vai. – Ela me


puxa. – Será divertido. Está com vontade, não vai
dormir que eu sei.
— Então eu vou e você fica à minha
espera. – Pondero.
— Nem pensar que fico aqui sozinha.
Vamos?
Chocolate ao leite, talvez um meio
amargo. Aquele cheiro de cacau dos chocolates
setenta por cento. Quem resiste?
— Tudo bem. – Deixamos o
apartamento, ela de pijama e despenteada. Toda
linda as quase três da manhã. – Sabe que é um
segredo? Se meus irmãos souberem que saímos de
madrugada para comprar chocolate...
— Está certo. Eu não conto. – Ela
promete e então caminhamos pelas ruas do centro,
ainda tem carros passando como se fosse nove da
noite, pessoas caminhando e lugares abertos. A
cidade não dorme.
Entramos na loja e vamos direto para a
prateleira de chocolates, pego muitos, de todos os
tipos, para o caso de uma emergência. Annie
tentando não rir. Não acho que ela possa evitar e
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quando me aproximo do caixa para pagar dou de


cara com Ulisses e Sophia.
— Nick! – Ulisses nos olha. Encara os
chocolates.
— O que faz aqui? – Pergunto a ele que
me mostra um saco com pêssegos.
— Desejo de grávida. – Ulisses responde
todo orgulhoso. – E você, o que a Annie quis?
Acredita nisso? Acordar a pessoa no meio da noite?
– Sophia faz careta.
— Chocolate, Annie? – Sophia
questiona. – Não disse que era uma das coisas que
não estava comendo?
— Eu? – Annie me olha sem
argumentos.
— Nick, é para você? – Ulisses pergunta.
– Acordou sua mulher para vir comprar chocolate?
Está com desejo? Isso é psicológico ou sei lá.
Alguma...
— Cala a boca, Ulisses. A culpa é sua,
não me mandou chocolate esse mês e foi ela que
quis vir. Acordei a Annie para perguntar se ela
sabia onde tinha.

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Ulisses e Sophia riam a cada explicação,


é meu fim. Nenhum deles supera essa, antes do dia
amanhecer todos os Stefanos vão saber disso.
— Tudo bem. Esse tipo de desejo de
grávida tem que ser respeitado, mas espere,
gravida? – Ulisses provoca.
— Deixa isso para amanhã. Paga logo
amor. – Sophia pede e o homem no caixa parece
querer o mesmo. Ulisses paga tudo, incluindo os
chocolates.
— Presentinho para o bebê.
— Palhaço. – Resmungo de má vontade.
— Vamos, príncipe. – Annie e Sophia se
abraçam em despedida.
— Te vejo no escritório. Temos reunião
as nove. – Lembro Ulisses.
— Eu sei. Vão jantar com a gente
amanhã? – Ele me convida. Não posso. Tenho que
ver os garotos, troco um olhar com Annie. Só mais
dois dias. Depois reúno todos e conto de uma vez.
— Nós... Eu e a Annie temos um
compromisso. Leon e Heitor estão chegando.
Jantamos todos quando chegarem. Tchau. – Me
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apresso para partir. Ainda fico com a risada de


Ulisses ecoando em meus ouvidos, mas pelo menos
o chocolate está ótimo.
— Fico pensando se eles gostam de
chocolate. – Ela diz segurando minha mão. – Nas
coisas todas que podemos dar a eles. Toda essa
demora. Vamos até lá. Brincamos com a July,
colocamos os dois na cama e só. Josh não dá
espaço, não vai fazer isso. Não até estar em casa.
— Eles nem entendem bem o que
estamos oferecendo.
— Ao menos as entrevistas acabaram. –
Ela diz quando aperto o botão do elevador.
— Está bem, Annie? – O porteiro se
aproxima preocupado. Annie sorri para ele.
— Ótima. Fomos fazer umas
comprinhas. – Ela brinca antes de acenar e entrar.
— Se dá bem com ele. Mas o que
trabalha de dia não. Acho que não conheço
ninguém que você não goste. Só ele. Ted fez algo a
você? – Ela balança a cabeça em negação. A porta
se abre e entramos.
— Pronto, Nick. Já matou sua vontade,

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agora dormir.
Os tênis ficam pelo caminho, ela sobe e
se deita, toca a barriga.
— Gostou do passeio noturno, bebê?
— Comprar chocolate no meio da noite
para o papai. Que bebê bonzinho. – Faço carinho na
barriga arredondada, depois beijo. – Tão bonzinho.
Não pede nada.
— Só o papai que pede! – Annie ri. Me
faz carinho no cabelo e beijo sua barriga mais uma
vez. – Vamos dormir. É sério. Esse sono é algo
alucinante.
Beijo Annie, ela se enrola em mim. Fico
impressionado com a rapidez com que pega no
sono.
O assistente social entrevistou as
crianças há dois dias, não perguntamos o que
disseram, mas isso martela meu cérebro.
Sei que eles são treinados para levar em
conta não o que a criança diz, mas como diz, então
espero que tudo tenha ido bem. Agora o juiz vai
analisar e se aprovar, emite os novos documentos e
vamos busca-los. Só quero que seja logo.

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Annie faz planos de mudanças. Quartos


coloridos, brinquedos. Fico tentando não deixar que
ponha nada disso em prática. No fundo tenho medo
que algo dê errado e se acontecer eu nem sei o que
fazemos. Acabo pegando no sono.

Simon e Ulisses me esperam na sala de


reuniões quando chego no escritório. Os dois
prendem o riso quando me sento.
— Ulisses você tem uma boca enorme. –
Resmungo abrindo o computador.
— O que eu fiz?
— Acha que não sei que falou para o
Simon!
— Sou seu melhor amigo. Pretendia me
esconder que agora tem desejos de grávida no lugar
da Annie?
— Esse é meu lugar de trabalho.
Respeitem isso.
— Liv disse que é normal, acontece.
— Disse, Ulisses? E como ela sabe?
— Por que eu contei. É claro.

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A reunião se estende. Depois tenho mais


uma reunião com o departamento jurídico, então
vou organizar meus documentos, deixar sempre
tudo pronto. Vou querer pelo menos uns dois dias
em casa quando eles chegarem.
Annie vai precisar de mim. Josh continua
agindo como sempre agiu e não sei como vai ser
quando vier para nós. Pego Annie na associação as
seis. Ela não entra no abrigo sozinha.
— Vamos? – Sorrio para alegra-la um
pouco. Ela me beija. Nada de sorrisos. – Triste?
— Não. Só com pena de ser mais um dia
que ficamos sem eles. Que July fica nos olhando
triste. Que Josh nos olha como se estivesse sendo
enganado.
— Como vamos lidar com ele, Annie?
— Amor. O único jeito que conheço.
Deixa só ele chegar em casa de vez.
— Tomara que esteja certa. Amanhã vou
contar aos meus irmãos. Não sei como vão reagir.
— Acho isso bonito. – Ela me diz
sorridente. – Você é um homem decidido,
importante, corajoso, mas ao mesmo tempo, Nick

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você tem medo dos seus irmãos.


— Já disse que não é medo. Eu respeito
a opinião deles. Sei que querem o melhor para mim
e duas crianças. Eles vão ficar assustados.
Preocupados. Além disso... – Olho para ela. É
Annie. Dizemos tudo um para o outro. – Gatinha.
Acha que eles podem gostar deles como do que
carrega com você? – Toco sua barriga um
momento, depois volto ao volante. – Que vão olhar
para nossos garotinhos como dois Stefanos? Como
Lizzie, Luka e todos os outros?
— Me faz um favor. Não ofenda seus
irmãos perguntando algo assim. – Olho para ela
meio preocupado. – É sério. Vão se ofender. Se são
seus filhos, se é a sua escolha, então eles vão
aprender a ama-los.
— Tem razão. É que tem essa coisa deles
de ser grego. Eu já não me sinto assim e acho que
sei lá, eles podem... não sei muito o quanto essa
coisa de sangue importa para eles.
— É tão estranho quando diz que não se
sente grego. Por que sabe que é dramático como
um? Você é só emoção. – Ela me faz rir.
— Acha que pareço com eles?
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— São iguais, Nick! Todos vocês. Lidam


com os sentimentos do mesmo jeito.
Chegamos ao abrigo e deixo para pensar
nisso depois. Sei que não vou conseguir não
perguntar a eles sobre o que acham. Espero que não
se ofendam.
July nos espera ao lado do irmão sentada
na porta. A primeira coisa que sinto é o alivio de
Josh. Ele sempre espera pelo pior, que nesse caso é
não aparecermos.
— Já estavam demorando em? – Ela diz
sorrindo de braços abertos. Ergo July. Ela me
envolve o pescoço, me beija o rosto e depois se
dobra para abraçar e beijar Annie.
— Muito transito, pequena. – Aviso.
Depois toco o ombro de Josh. – Tudo bem? – Ele
afirma. Annie o abraça. Parece sempre uma
surpresa para ele ser abraçado. Ele nunca sabe bem
o que fazer.
— Jantaram, Josh? – Annie pergunta a
ele.
— Sim. July comeu direito hoje. – Ele
sempre acha que é sobre ela.

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— E você? Você comeu direito Josh?


— Sim.
Nos sentamos na biblioteca.
Imediatamente July vai para o colo de Annie. Beija
sua barriga.
— Bebê você está aí? – Ela encosta a
boca para poder falar com ele, sempre fala alto,
depois encosta o ouvido. – Lindo!
— Ele gosta de você sabia? – Annie diz
a ela. July sorri. Depois se senta abraçada a boneca.
Queria poder dar uma nova. Acontece que não
posso, não é certo. Não com tantas crianças a volta.
Eles não entenderiam tantos privilégios.
— O inalador. Ela só tem esse que está
no bolso. – Josh avisa. – Eu sempre tenho um
comigo, mas acabou. Se ela perder... – Ele não
termina.
— Avisou a diretora? – Annie pergunta.
Ele nega.
— Estava esperando... estava esperando
vocês chegarem.
Isso é bom. É um começo. Mostra
alguma confiança. Bagunço seu cabelo, ele ameaça
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um sorriso.
— Vou buscar mais e deixar com você. –
Ele concorda.
— Um homem esteve aqui. Duas vezes.
─ Josh conta com o seu esforço habitual em se
expressar.
— Falei que quero morar com vocês
logo! – July conta. Annie beija sua bochecha
rosada. – Perguntei porque esse juiz fica só
pensando.
— E o que ele respondeu?
— Que é assim mesmo, como que foi,
Josh? – Ela sai do colo de Annie e vem para o meu.
– Cadê aquele joguinho do celular? – Coloco para
ela enquanto olhamos Josh. O garoto olha para o
chão.
— Ele disse que o juiz pensa no que é
melhor para nós. Perguntou o que queríamos.
— Não precisa contar se não quiser,
Josh. – Eu aviso e Annie revira os olhos.
— Príncipe, já faz um mês. Temos que
saber. Se tiver algo errado...
— Eu disse que cuidam bem da July.
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Que ela gosta de vocês e que tenho que pensar nela


primeiro.
Josh nos conta. É melhor que nada. Não
é mais uma vez sobre ele, mas ao menos é uma
resposta razoável.
July se distrai no meu colo com o jogo,
se encosta em mim e fica ali encantada com as
luzes e sons.
— Ganha aqui para mim, príncipe. – Ela
pede e pego o celular de sua mão. Fico pensando
que Ulisses vai adorar jogar com Josh. Penso em
deixa-lo uma tarde com o tio. Jogando videogame,
rindo das tolices dele. Neles andando por Kirus,
brincando com os gêmeos.
Ele e Lizzie podem ser amigos. July e
Alana também, as idades se parecem. Por que eles
têm que ficar aqui? Presos nesse lugar? Não é justo
toda essa demora. Eu sei que em casos normais a
demora seria duas vezes maior. O processo está no
fim.
— A gente já pode ir? Não quero ficar
aqui não. Me leva junto? – July pede no meio do
jogo. Annie fica angustiada e eu tenho que fingir
que tudo está bem.
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— July não falta mais tanto tempo.


Quando for nunca mais vai voltar.
— Todo dia isso. – Ela começa a chorar.
— É sono. – Josh diz sem saber como
reagir.
— Quer ir dormir? – Beijo sua testa. Ela
se aconchega no meu colo. Fecha os olhos. Sua
respiração tão cansada. Amanhã converso com
meus irmãos e depois vou falar com o juiz. Ela
pega no sono em meu colo, no meio de seu choro
manhoso.

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Capítulo 36
Leon

As crianças dormem na cama do avião.


Falta pouco para chegarmos, é bom que todos
descansem o máximo. Dobby está com eles na
cama. Alana, Luka, Dobby, Emma e Harry, todos
na grande cama de casal, embolados e
adormecidos.
Adoraria tirar uma foto desse momento e
contar e eles que um dia já couberam todos na
mesma cama. Sorrio mais um momento. Luka se
mexe atravessado. Ele sempre faz isso. Quando
vem para minha cama no meio da noite depois de
um pesadelo ou insônia se estica e ocupa todo
espaço.
Deixo o quarto e volto para minha
poltrona ao lado de Lissa. Lizzie lê sentada do
outro lado do corredor, de frente para os pais. Já
está ficando uma mocinha, vamos ver se vai aceitar
bem dividir o tio com um bebê.

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Eles têm um contrato, isso sempre basta


para ela. Liv e Heitor conversavam baixinho, me
sento com Lissa. Sorrimos, beijo seus lábios e ela
se encosta em meu ombro.
— Falei com o Heitor e achamos melhor
ficar num hotel. Não é como em Kirus que temos
muitos funcionários para ajudar. Nick só tem a
governanta e somos muitos.
— Acho boa ideia, Leon. Nick ainda está
em fase de adaptação. – Ela ri com a ideia.
Entendemos tanto dele agora. O tamanho do
apartamento, antes achava uma excentricidade
desnecessária para um homem sozinho. Agora sei
que é uma forma de se libertar do passado, do
buraco escuro e perigoso que cresceu.
Aquela conversa ainda me tira o sono
algumas noites, não saber tornava tudo mais fácil,
mas por outro lado, saber nos ajuda a entende-lo e
ajudar.
— Leon. Eu estive pensando e acho que
seria bom termos um lugar nosso em Nova York,
quando os bebês nascerem vamos querer estar lá
para ajudar. E terá um espaço de mais ou menos um
mês entre um e outro.
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— É boa ideia, Afrodite. Não vamos


ficar na casa do Nick com essa criançada toda e
eles com um recém-nascido. Acho que posso ver
isso esses dias. Falar com o Heitor. Ele vai gostar
da ideia.
— Que ideia? – Heitor pergunta.
— Comprar algo em Nova York para
quando estivermos lá. – Conto a ele.
— Eu gosto disso. – Liv concorda. –
Daqui a pouco as crianças crescem, talvez queiram
estudar por lá. Nunca se sabe o que vão ser, será
bom ter um lugar.
— Isso é o que chamo de planejar o
futuro. – Heitor beija a esposa.
Alana surge assonada. Vem de braços
abertos em minha direção.
— Minha garotinha acordou! – Eu a
pego no colo.
— Luka me chutou dormindo. ─ Ela
choraminga se ajeitando em meu colo.
— Vou ver a Emma. – Heitor se levanta.
— O Dobby foi deitar pertinho dela, tio.
– Alana avisa e ele sorri orgulhoso.
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— Garoto esperto. Aposto que foi cuidar


para ela não cair. – Luka surge esfregando os olhos.
— Dobby abanou o rabo no meu rosto e
acordei. – Olhamos para Heitor.
— Coitado. Às vezes ele esquece que
tem rabo. Não sejamos tão rigorosos.
Heitor segue para a suíte, retorna uns
minutos depois com os filhos, Alana está em meu
colo, Luka dorme no colo da mãe.
Quando me lembro que já fomos quatro
tolos irmãos cheios de certezas de como a vida
solitária era perfeita, fico feliz de termos nos
permitido tentar. Eu era mesmo um idiota que
achava que podia passar a vida perambulando por
aquela mansão sozinho e mesmo assim, ser feliz.
Agora sim eu sei o que é felicidade.
Beijo a testa de Alana.
— Papai sabia que eu esqueci minha
boneca na mesa da cozinha quando fui dar um beijo
de tchau na minha avó?
— Sabia. Você já disse e sua avó já ligou
e mandou mensagem e seu avô também, uma
confusão. Quando chegarmos vamos comprar uma

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boneca nova. Pode ser?


— Mais ou menos, papai. Não é a minha.
— Entendo. Aquela é sua preferida, mas
quando chegarmos em casa ela vai estar a sua
espera.
— Vai. A vovó vai cuidar dela. – Alana
se arruma em meu colo. – Papai, os bebês dos tios
já nasceram?
— Ainda falta muito, bonequinha. – Ela
suspira.
— Será que vai ter uma menininha? A
Lizzie não gosta mais de brincar comigo toda hora.
Ela disse que cresceu. Não tenho ninguém.
— E a Emma?
— Ela é pequena, papai. Quero uma
maior.
— Mas os bebês dos tios vão ser
menores que a Emma.
— É? Que chato. Então quero uma irmã.
Eu e Lissa nos olhamos, sorrimos, e
balançamos a cabeça em negação. Temos a conta
certa. Disso temos certeza.

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— Vai ter que se contentar com seu


irmão e primos, querida. Quando começar as aulas
vai ter amiguinhas.
— Está certo. Já vamos chegar?
— Só mais um pouquinho. – Ela sorri.
— Mamãe, eu posso ir lá com a Emma?
– Lissa beija a filha e depois afirma.
— Na hora de pedir as coisas eu não sou
nada. Tudo é a mamãe. – Lissa beija Luka ainda
dormindo.
— Passo mais tempo com eles. Mas
quando estão manhosos, com sono, medo ou
doentes, querem o papai. Você é a segurança.
— Acha que os dois vão ser bons pais?
Ulisses e Nick?
— Acho. Ulisses vai ser o tipo de pai
que parece ter a mesma idade do filho, vão ser
amigos, Nick será protetor. Vai parecer com você.
É para ele que vão correr.
— Vão? Acha que ele vai ter mais que
um?
— Acho que sim. Acho que a Annie vai
querer e acho que aqueles dois nasceram para isso.
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Para criar filhos.


— Pode ser. – Não acho muito provável,
mas Lissa parece entender mais da alma humana
que eu.
Depois das confusões para reorganizar
todos em segurança descemos. Dois carros nos
esperam para nos levar a casa de Nick, onde
Ulisses nos espera.
Chegar é uma festa. Felizmente não
temos muitas malas. As garotas querem fazer
compras. Leva um tempo até todos os
cumprimentos. Sophia e Annie parecem muito
bem. Coradas, alegres e bastante saldáveis. Isso é
bom. Já me tranquiliza. Principalmente Annie.
Nick não tem estrutura para mais drama
em sua vida. Ele precisa de paz.
— Vamos almoçar? As crianças devem
estar com fome. – Annie convida já com a mesa
servida de uma comida típica grega. Nos reunimos
para comer, as crianças conosco, Nick não parece
tão tenso com elas a nossa volta.
Depois, enquanto tomamos café grego e
ouvimos sobre as consultas em torno da mesa, as
crianças desaparecem para explorar a casa do tio
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Nick. Quando vamos para sala Nick e Annie


trocam olhares.
— Papai. O Dobby achou a piscina do
tio. Agora ele está lá nadando! – Lizzie surge na
escada. Liv encara Heitor que da de ombros como
se não tivesse nada a ser feito.
— Fecha a porta e deixa ele lá de
castigo, filha, já vou seca-lo. – Heitor diz a
garotinha que não sabe muito o que fazer. – Mas
fica com ele, assim ele não fica sozinho coitado.
Todos rimos, Heitor nos encara rindo
também. Ele é mesmo o pai mais benevolente que
existe.
— Viram como ele educa os filhos? –
Liv comunica. – Coloca de castigo fazendo o que
mais gosta e com uma companhia para não se sentir
solitário.
— Eu vou secar o bichinho e dar uma
boa bronca nele. Prometo.
Aposto que a essa hora todas as crianças
estão na piscina do tio Nick.
— Tudo bem gente. Pelo menos alguém
usa a piscina. – Annie diz sentada ao lado de Nick.

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Ele beija sua mão.


— Nick nós decidimos ficar num hotel.
É muita coisa para a senhora Kalais.
Aviso com um pouco de medo de Nick
se sentir magoado. Ele afirma tranquilo.
— Eu imaginei. Por isso deixei dois
apartamentos no prédio para vocês. Acho que é um
bom jeito de resolver isso. Sempre que vierem vão
ter onde ficar. São um pouco menores. Mas o
bastante para vocês. Um para o Heitor e um para
você.
— Tem mais apartamentos aqui,
príncipe? Eu nem sabia. – Annie pergunta com uma
ruga na testa.
— O prédio é meu. Todo ele. – Annie
sorri. – Eu sei o que vai dizer. O magnata grego,
mas isso foi coisa do Leon. Quando escolhi, ele
ainda cuidava do meu dinheiro, pedi esse
apartamento e ele comprou o prédio.
— Foi um bom investimento. Sabe que
hoje ele já vale o dobro do que pagou? – Aviso a
Nick que dá de ombros. Ainda hoje, sou eu quem
investe seu dinheiro.

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— O Leon sempre sabe ganhar dinheiro,


principalmente para seu bebê. – Ulisses comenta.
— Eu tenho algo importante a dizer.
Acho que essa é uma boa hora. – Nick parece um
tanto inseguro.
— Algo errado com o bebê? – Lissa
pergunta tensa. Os dois negam rápido.
— Tudo bem com o bebê. Não é sobre
ele. É sobre... – Nick olha para Annie. Ela sorri
incentivando com um movimento de cabeça.
— Estão com problemas? – Heitor
questiona. – Estamos aqui. Sabe que pode contar
conosco.
— Vou começar do começo. Acho que
vai ser mais fácil entenderem. – Ele faz uma leve
pausa. Depois encara o chão. Lá está meu irmão
caçula inseguro e com medo de não ser aceito. –
Fomos ao abrigo. Contei isso a vocês. Não
tínhamos nenhum plano se não andar um pouco por
aqueles corredores. Rever o passado e de algum
modo lidar com ele.
— Foi muito bom. Importante para nós
dois. – Annie avisa.

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— Que bom. Dá para ver o quanto isso


fez bem. Ao menos sobre o bebê. – Liv comenta e
eles se olham mais uma vez.
— De certa forma, sim. – Annie conta
deixando claro que tem mais.
— No abrigo. Quando estávamos
caminhando pelas salas e corredores, encontramos
duas crianças. ─ Nick continua. Quando não olha
para o chão busca apoio nos olhos de Annie. São
organismos interdependentes. É bonito de sentir
isso. – Um garoto de doze anos. Josh e sua
irmãzinha July de quatro. Os dois liam o mesmo
livre que um dia eu e Annie lemos. Estavam
sentados no chão como um dia já ficamos.
Abraçados. Cuidando um do outro como era
conosco.
— Trouxeram memórias? – Sophia
questiona.
— Muitas. Foi como nos ver por outro
ângulo. Nos aproximamos. Era como um imã nos
puxando e ficamos ali. A garotinha estava
completando quatro anos. Não tinha festa nem
presente e providenciamos. Ela tem asma. Quando
partimos. Bom foi difícil partir. Pedimos para
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chamarem se fosse preciso.


— E foi. Ela teve uma crise forte e
fomos leva-la ao médico. – Annie conta e fico
pensando onde estamos indo com essa conversa.
— Eles ficaram aqui uns dias até ela se
recuperar. Depois disso... não podemos ficar longe
e eu e a Annie. – Os dois se olham mais uma vez. –
Nós tomamos uma decisão. Pedimos a guarda das
crianças. Entramos com um processo de adoção.
— Puxa isso é... – Lissa tenta dizer
alguma coisa, mas se perde no meio das palavras.
Todos nós mudos pensando a respeito.
— Filhos são um passo grande. São para
sempre. – Liv os lembra. – Estão certos disso?
— Muito. Não escolhemos isso. Não
procuramos. – Nick avisa. – Não fazia parte dos
planos. – Ele toca a barriga de Annie. – Mas ele
também não. Eu o amo mais que tudo e não pedi
por ele. Ele apenas exigiu existir. Esses dois são a
mesma coisa. O mesmo tipo de amor.
Os olhos do meu irmão estão vivos,
cheios de amor. Dá para ver que quer muito isso.
Que pode e deve fazer isso. No fim combina com
ele.
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— Adotar é a sua cara. – Ulisses diz


sorrindo. – Sempre querendo salvar o mundo.
Preocupado com todas as causas sociais que
existem.
— Não é isso. Não nesse caso. Eu e
Annie não estamos sendo um casal querendo fazer
alguma contribuição para a sociedade, fazendo
nossa parte. Esses clichês todos. Isso é mais forte
que nós. Acreditam em destino? Por que nos parece
um pouco isso.
— São meus filhos. – Annie diz de boca
cheia. Orgulhosa deles. – Lindos. Josh é tímido e
triste e July é alegre e falante. Eu preciso deles.
— O que acham? – Nick nos pergunta
tenso.
— Acho que vou ser realmente o tio
preferido se eles vão viver perto de mim. – Ulisses
diz dando de ombros.
— Eu acho isso trapaça, acho que é um
golpe baixo. Vão empatar e isso... Liv jogue fora os
comprimidos. Vamos começar hoje mesmo. Quer
dizer, não tinham nenhum e agora me vem com
trigêmeos?
— Você tem quatro, Heitor. Não diz que
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o Dobby é filho?
— E se quiserem um cachorro? Não vou
arriscar. O tempo todo eu me preocupei com o
irmão errado. – Heitor sorri. É só uma brincadeira.
Nick fica mais leve, mas então me olha. Espera
minha opinião.
— Não planejei meus filhos como o
Heitor e o Ulisses, eles aconteceram e são tudo que
mais amo na vida, Nick. Se está acontecendo o
mesmo com você. Parabéns. Seja um bom pai, ame
seus filhos e cuide deles. Tem meu apoio.
— Eu... Annie não fica brava. – Nick
pede a ela que revira os olhos.
— Vá em frente. – Ela determina.
— Eu fico pensando se vocês vão ama-
los igual. Se vão aceita-los como Stefanos. Com
tudo que isso significa. Eles não têm sangue grego.
— Você é muito paspalho, Nick, mas é
bom saber como nos vê. – Ulisses ralha com ele.
— Desculpem. Eu sinto muito se parece
isso. É que... eu admiro vocês. Sei que são bons e
justos. Que não são alienados. Que ajudam as
pessoas. Acontece que eu vivo num mundo

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diferente do de vocês. Annie cuida de idosos que


foram abandonados porque simplesmente ninguém
quer cuidar deles. Parece um gesto bonito, as
pessoas imaginam que ela se senta lá e conversa
com eles, mas é mais que isso. Annie ajuda a dar
banho, troca fraldas. Ninguém enxerga muito isso.
Atendo gente muito pobre, que sofre todo tipo de
preconceito e as vezes tenho medo de ser difícil se
adaptarem.
— Não vai acontecer. – Aviso a Nick. –
Se você pode ama-los, nós também podemos.
— Josh tem doze anos. Ele é um bom
menino. Garanto. Não vão precisar ter medo, ele
não vai ensinar nada ruim para as crianças.
— Nick! – Ulisses sorri. – Ninguém está
pensando isso.
— Deviam! O mundo é cheio de coisas
ruins. Crianças que vivem a vida que ele viveu.
Que eu e Annie vivemos, elas fazem coisas... ─ Ele
não termina. Nick viveu tantas coisas. Coisas que
nunca vamos mensurar. ─ Mas ele é bom. É da
natureza dele. Ama e protege a irmã acima de tudo.
— Acho que o Josh encontrou o pai
certo! – Digo tentando sorrir. Ele quer tanto nossa
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aprovação. A minha mais que dos outros. É difícil


demais para ele entender que está tudo bem. – Você
sabe o que ele precisa. Vai entende-lo mais que
qualquer pessoa. No fim acho que esse é seu
caminho, Nick.
— Acha? – Ele pergunta ansioso. – Não
acha cedo? Não tem medo de estar colocando nossa
família em risco?
— Acho que um Stefanos de doze anos
vai ser bom para Lizzie. Sempre achei que seria
muito para ela liderar os Stefanos no futuro. Agora
ela tem um companheiro da mesma idade e um dia
eles vão cuidar dos outros. Como eu tento fazer.
— E cadê eles? Por que não estão aqui?
– Lissa pergunta. Annie suspira um tanto triste.
— Meu príncipe é todo certinho. Ele
nunca vai usar a influência que tem. Fez tudo como
se deve e agora temos que esperar o juiz decidir. Só
falta isso. – Ela nos põe a par.
— Já passamos por todo processo.
Entrevistas, vieram aqui. Foram no abrigo, na
associação. Agora foi tudo encaminhado ao juiz e
falta ele decidir.
— E quando ele vai fazer isso? – Heitor
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questiona.
— Não tem um prazo. Quando ele
quiser. Ele deve seguir a ordem das coisas, analisar
os processos em ordem, eu acho.
— Toda noite vamos lá ficar um pouco
com eles. Colocamos na cama, esperamos dormir e
voltamos. July chora por que quer vir e não
podemos trazer. Josh fica achando que estamos
mentindo. Ele carrega o peso de cuidar da irmã, não
podemos traze-los, não podemos dar nada a eles se
não umas horas de carinho.
Os olhos de Annie marejam um pouco.
Nick a envolve carinhoso, se conheço meu irmão
vai esperar o tempo que for preciso.
— O juiz sabe que é você quem sustenta
o abrigo? – Sophia pergunta.
— Talvez. Eu realmente não sei dizer.
Não usei isso.
— Você é irritante de tão certinho. Eu já
os teria roubado. Ia nos jornais. Sei lá. – Ulisses
comenta determinado e aposto que faria isso,
acabaria encrencado e envolvendo todos nós em
suas confusões. E Sophia estaria a seu lado. Dois
malucos.
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— Eu não gosto de saber que tenho


sobrinhos em um abrigo. – Heitor também não
parece nada contente. – Se os ama, se são seus
como disse. Eles têm que estar aqui.
Nick não vai usar seu nome e posição,
nem adianta os irmãos tentarem, ele não sabe fazer
isso. Seu senso de ética não permite. Mas eu sim.
Fiz uma vez para tê-lo de volta. Usei meu dinheiro
e sobrenome para passar por cima de todos os
tramites legais e o levei para casa no dia que
descobri onde estava. Posso fazer de novo. Vou
fazer, isso vai mostrar a ele que aceito sua escolha.
Que posso amar e proteger seus filhos como faria
se fossem seu sangue.
— Bom. Se temos que esperar,
esperamos. É isso. Agora Heitor e Ulisses, vamos
até o escritório. O Nick fica para não deixar as
moças sozinhas.
— Escritório? – Eles perguntam todos ao
mesmo tempo.
— Sim. Quero resolver umas coisas.
Voltamos ao anoitecer. Pode nos esperar voltar
para irem ver as crianças? – Pergunto a Nick.
— Só até sete da noite. – Annie avisa. –
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Depois eu sei que July começa a ficar ansiosa e a


asma ataca. Minha garotinha tem crises tão difíceis.
— Tudo bem. – Fico de pé. – Simon está
no escritório? – Pergunto a Nick.
— Sim. Mas eu posso ir com vocês.
— Não, Nick. Fica com a Annie. Ela
parece ansiosa também. – Ele olha para Annie
conversando com as cunhadas.
— Qualquer coisa, me chamem. – Se
rende sem alternativa. Deixamos o apartamento.
Quando a porta do elevador se fecha os dois me
encaram.
— Vamos buscar os garotos. – Conto aos
dois. – Fazer o que tem que ser feito. Simon nos diz
quem é o juiz e vamos fazer uma visita. Depois que
ele assinar o que tem que ser assinado e ele vai
assinar. Vamos busca-los.
— Estou me sentindo um mafioso. –
Ulisses brinca.
— Você foi o único que não ficou
traumatizado com a máfia. – Heitor reclama.
Deixamos o prédio e caminhamos a pé.
— Heitor, liga para a Liv. Avisa a ela e
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mande avisar as outras. Não é para dizer nada a


eles. E diga para ela preparar Lizzie. Hoje ela
ganha dois primos antes do dia acabar. Vou ligar
para o senador. Ulisses, você fala com o Simon.
Pede as informações que precisamos.
Duas horas depois e já tendo recebido o
telefonema de dois senadores, um juiz nos recebe
em sua sala.
— Sejam bem-vindos. – O juiz nos
convida a sentar em sua sala elegante. A vida me
fez ver que dinheiro é dinheiro em qualquer pais,
que ele move as coisas de um jeito ou de outro.
Talvez eu seja um tanto cínico, não é da minha
natureza usar isso, mas esse é um caso especial.
— Foi muito gentil em nos receber
meritíssimo. – Digo depois de apertar sua mão.
— Oh! Por favor. Mayer apenas. É um
prazer recebe-los. Não tinha ideia da urgência do
caso. Mas já dei meu parecer e consegui que a
documentação fosse apressada. Esperava que seu
irmão Nickolas e a esposa viessem também assinar
os documentos.
— Minha cunhada está gravida. Toda
essa espera tem sido estressante. Confesso que tive
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medo de dar a ela esperanças e no fim não se


concretizarem. – Digo de modo ameno. Ele sorri.
— O senhor sabe, meu irmão é muito
ocupado, ele mantém aquele abrigo. Claro que ele
nunca usaria isso e não seria preciso, não é mesmo?
– Heitor continua e o juiz afirma.
— Tenho certeza que amanhã eles virão.
E o senhor vai poder conhecer os garotos. Eles
podem traze-los se preferir.
— Trazê-los? – O Juiz pergunta um tanto
incerto.
— Meritíssimo, imagino que o senhor
vai nos permitir levar os garotos hoje, não
queremos dois Stefanos dormindo em um abrigo
mais nenhuma noite.
— Claro. Posso fazer uma concessão.
Imagino que a senhora Stefanos esteja ansiosa.
Eu sabia que ele faria o que fosse
preciso. O homem quer entrar para a política. Ele
acha que ter um Stefanos lhe devendo favores é um
bom meio de conseguir.
Não que qualquer um de nós se envolva
nisso, mas ele não precisa saber disso agora.

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Uma hora depois, estamos os três


entrando no abrigo. Odeio esse lugar. Odeio o que
ele representa. Como fomos enganados. Na única
vez que estivemos aqui a direção nos fez acreditar
que era um lugar seguro. Longe disso. Era o
inferno. Em todos os seus detalhes e isso quase
matou meu irmão de muitos modos.
— Me esclarece uma coisa. Eles vão te
chamar de tio Leon ou vovô? – Ulisses pergunta. É
bom ter ele aqui nesse momento. Tem um aperto
em meu peito. Nem sei como Nick teve forças de
voltar aqui.
Minha mente fica recriando aquela
conversa. Aquela noite como um todo, as coisas
que Annie não pode dizer, mas que entendo, as
coisas que ouvi no desespero dos dois. As
confissões de Nick horas depois. A vida que ele
teve. Minha ignorância sobre tudo. A displicência
com que tratei a retirada dele daqui.
Tudo vivo e me confundindo. Me
deixando meio tonto e penso que precisava da mão
de Lissa. Do seu perfume, penso nela. Nas coisas
que me diria para vencer essa situação e me acalmo
um pouco.
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— Ulisses. Dá um tempo. – Heitor pede.


— Tio Leon, então. – Ele ri. Uma mulher
nos recebe. Entregamos alguns documentos, ela
analisa muito gentil. São quase seis da tarde. Não
quero perder a chance de fazer uma surpresa.
— São os irmãos do senhor Stefanos. Eu
estava aqui me perguntando quanto ainda
demoraria. As crianças estão ansiosas.
— Nós também. Então se puder nos
deixar leva-los. – Ulisses pede.
— Claro.
— Pode arrumar as coisas deles? – Eu
peço a ela. – Quero surpreender meu irmão e a
esposa.
— Dois minutos senhor. São apenas duas
ou três mudas de roupas. – Ela avisa. – Vou
providenciar enquanto isso podem ir vê-los.
Ela nos acompanha. Dois garotinhos
estão sentados em um banco próximos a porta.
— Sabia. Eles se sentam ali todo fim de
tarde à espera do seu irmão e a esposa. Dá pena,
felizmente o senhor e senhora Stefanos nunca
falharam com eles. Nem saberia o que dizer.
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Nos aproximamos, A garotinha dá a mão


ao irmão, eles parecem Annie e sorrio com a ideia.
Ao lado dela ninguém diria que não são uma
família biológica.
— Josh, July, esses são os senhores
Stefanos. – Os dois se olham confusos. – Vou
deixá-los conversar com as crianças. – Ela nos diz,
depois se volta para os irmãos. – São irmãos do
senhor Nick.
— Oi, eu sou o tio Ulisses, tenham em
mente que sou o tio preferido. – Ulisses começa
bem mal as coisas. Olhamos para ele. – Prioridades,
vai querer ser o preferido, são os filhos do seu
bebê! – Ulisses reclama.
— Vocês são príncipes? – A garotinha
pergunta.
— Eu sou! Sou o príncipe Ulisses de
Nova York, tenho um pequeno castelo no alto de
uma torre, salvei minha princesa de um dragão.
— Ulisses. – Advirto e ele se cala. –
Josh? – Pergunto estendendo a mão que ele aperta
assustado. – Sou irmão do Nick. Viemos busca-los.
Nick e Annie esperam vocês.
— A gente já vai embora? Para sempre?
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– July pergunta e começo a achar a ideia da


surpresa ruim, sua respiração se altera. Ela respira
com dificuldade agora. Olha para o irmão cheia de
incerteza.
— Nunca vimos vocês. Por que eles não
vieram? – Josh questiona tenso.
— Queremos fazer uma surpresa. –
Heitor conta.
— Eu quero ir, Josh, vamos, quero eles,
a gente vai? Melhor ir logo. – Ela me estende a
mão, o irmão a impede, a garotinha fica confusa.
— Vou ligar para o Nick. Ele disse que
eu devia fazer isso. Eles vêm todo dia, parece as
vezes que não vão chegar, mas chegam. Eu não vou
deixar levarem a July, são homens, não é certo.
— Josh, eu prometo que vou leva-los
para o meu irmão. Levar os dois. Lá para o
apartamento dele. Olhe uma coisa. – Me sento a seu
lado, pego meu celular. Busco as fotos. – Veja. –
Começo a mostrar as fotos de família, o casamento
do Nick, eu acompanhando Annie, nós todos na
piscina, eles com as crianças, Josh olha com
atenção. – Vê? Somos mesmo irmãos, vou leva-lo
para ele. Prometo.
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— Estou com muita saudade, Josh.


Quero ir logo. É melhor a gente ir. Só enquanto o
juiz pensa. Você me leva? – Ela simplesmente vem
para meu colo. É menor um pouco que Alana, mas
tão graciosa e espontânea, tão carente. Os dois são.
— O inalador July. – Josh puxa de seu
bolso, nos esquece um momento. – Só respira, sem
pressa. – Ele pede a irmã, ela bombeia uma vez, o
peito faz um barulho forte, troco um olhar
assustado com meus irmãos.
É difícil não pensar em Nick no lugar
daquele garoto. Nas coisas que ele passou ali.
Mesmo que agora tudo pareça bonito e bem
cuidado, é ainda o lugar onde Nick viveu seus
piores dias.
— Josh, não vou te levar a força. Se não
quiser ir não tem problema. – Aviso e ele me olha.
July fica ainda mais tensa. Desce do meu colo e dá
os braços para Ulisses.
— Então você leva a gente. É hoje já. –
Ulisses beija a garotinha.
— Veio para o colo certo garota. É como
eu disse. O tio preferido. Vou te levar. No futuro se
lembre que o tio Ulisses te levou. Combinado? –
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Ela afirma. – Ótimo.


— A mochila deles. – A mulher retorna.
Josh olha para ela indeciso e assustado.
— Podemos leva-los? – Heitor pergunta.
– Os papeis do meu irmão estão em ordem?
— Sim, tudo certo. Josh, não tenha
medo, está indo ao encontro de Annie e Nick.
Como queria. Pode ir sem medo.
— Só que eu levo minha irmã. – Ele
pede. Ulisses suspira. – Vem comigo, July.
A garotinha obedece. Pega a mão do
irmão e caminho para a saída levando a mochila.
— Eu também teria adotado. – Heitor diz
sorrindo ao meu lado. – Lindos, não acha?
— Nick não vai acreditar quando
chegarmos com eles. As garotas estão prestes a ter
uma sincope. – Ulisses brinca. – Sophia já me
mandou cinquenta mensagens.
Não consigo falar nada. Só caminhar ao
lado dos garotos em direção ao carro. É um grande
momento. Gosto de ser eu a fazer isso. Tinha que
ser eu a fazer isso. Penso emocionado.
— Que foi, Leon? – Heitor percebe.
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— Parece que só agora estou tirando


Nick daqui. Finalmente eu estou tirando meu irmão
desse lugar.

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Capitulo 37
Pov – Nick

Talvez meus irmãos queiram apenas


conversar um pouco sobre mim, não acho que
foram realmente trabalhar, mas o que importa é que
aceitaram, as preocupações eu sei que vão existir.
O que tenho que fazer agora é provar que
posso fazer isso. Vencer o passado e cuidar dessas
crianças.
Ajudo Liv e Lissa com as malas, as duas
adoram os apartamentos, é perto e ao mesmo tempo
independente. Assim ninguém se sente mal e quem
sabe eles passem a ficar mais tempo?
Depois seco Dobby já que Heitor correu
da obrigação. As garotas tratam de tirar as crianças
da piscina e vesti-las para o jantar. Dobby, muito
sem graça, se deita ao lado do sofá.
Annie fica pronta para ir para o abrigo.
Eu fico ansioso e preocupado todo tempo, mas nada
se compara a ela e seu sensor de mãe, uma coisa
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que descobri que assim como as outras, ela também


tem.
Lizzie me observa vez por outra e
quando vou ao escritório pegar meu celular, ela me
segue. Sorrio para a garotinha de braços cruzados a
me observar.
— Tudo bem? – Pergunto pensando se
Liv já contou a ela sobre a adoção. Ela dá de
ombros, parece que sou eu a decidir se está tudo
bem. – A mamãe te contou?
— Que não é mais só um bebê? – Ela me
pergunta e afirmo. – Contou. Disse que são três, um
menino da minha idade quase, e uma menina. De
quatro.
— Verdade. – Me sento no sofá, faço
sinal para ela que se senta ao meu lado. – Ficou
preocupada?
— Mais ou menos. Às vezes eu estou
perto do tio Leon e a Alana corre para sentar no
meio da gente. Ela tem ciúme dele. Não ligo não. É
pai dela, né?
— Acha que July vai fazer o mesmo?
— Acho que sim.

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— É pode ser. – Ela me olha. – Vamos


ter que explicar que você e eu somos muito amigos
e que sou um pouco seu também. Acho que ela
pode entender.
— E se não entender?
— Vamos ser pacientes. Isso é
importante para mim. A coisa mais importante do
mundo. Preciso que me ajude Lizzie. Isso é mesmo
sério e importante. Preciso que me ajude a ensinar a
eles como ser uma criança Stefanos. Eles não
sabem.
— Minha mãe disse que a vida deles é
um pouco triste.
— Sim, mas não quero que tenha pena
deles. A vida deles não será mais triste, eles vão ser
seus primos como os outros, não quero que os trate
nem melhor e nem pior. Não pode de jeito nenhum
ficar com pena.
— Que bom tio. Por que não tenho pena
deles, eles vão ser seus e você é bem esperto e sabe
fazer tudo certo. Então eles vão ficar bem.
— Tomara que esteja certa. Não sei se
vou fazer as coisas certas como acha.

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Ela sorri sentada ao meu lado. Afirma,


pensa um momento.
— Quando eu era pequena e você não
tinha a Annie, parecia que só gostava de mim no
mundo, daí depois a Annie chegou e agora parece
que você gosta de muitas pessoas, meus pais, tios,
tias, primos, seu bebê. É bom ter um monte de
pessoas, tio.
— É Lizzie. Também tenho achado isso.
Pode me ajudar com eles?
— Acha que vão gostar de mim? – Ela
pergunta insegura.
— Você é minha pessoa mais
importante, é a pessoa mais importante da Annie,
então não vejo como não vão amar você. – Lizzie
sorri contente.
— Tio, você tem que gostar deles
diferente. Eles são filhos. É como meu pai gosta de
mim. Acho que ele e o tio Leon podem te mostrar
como que é.
— Vou pedir a eles que me ensinem.
— Eles são legais, na nossa família são
as mães que brigam um pouco, mas eu não sei

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como que a Annie vai aprender isso, ela é muito


pequena e gentil.
— Gentil? – Acho graça no adjetivo. Ela
sorri afirmando. – Não sei quando eles chegam,
Lizzie, mas quero muito ter sempre você por perto.
Quero que me ajude a fazê-los se sentir em casa.
— Tudo bem. Acho que a gente tinha
que ter um contrato, tio. Todo mundo. Assim fica
tudo certinho.
— Parece bom. Acho que vai ter que
esperar eles chegarem. Não sei se ainda vai estar
aqui, Lizzie.
— Se não estiver a gente faz um quando
eu voltar nas férias. Eu ainda vou ficar aqui nas
férias?
— É como eu disse. Vou precisar muito
de você. Espero que não me abandone.
— Não vou não, tio. Acho que você vai
ficar bem feliz já, já. – Ela me abraça.
— Quem sabe não vai comigo ao abrigo
e os conhece? – É uma ótima ideia. Isso pode até
deixá-los mais seguros. Ela sorri. – Quer ir?
— Pode ser, tio. Quando eu crescer eu
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vou ter um filho assim também, uma criança sem


pais. Acha boa ideia?
— Acho ótima ideia. Vou ficar muito
orgulhoso. Vamos procurar a Annie? – Ela me
abraça. Minha menininha com cara de Annie. Por
um tempo, acho que era mesmo a pessoa mais
próxima que eu tinha. Chegou de repente e ocupou
seu lugar.
Estavam todas na sala. Annie me olha
ansiosa. Encaro o celular. Quase sete. Não sei onde
eles podem ter ido para demorar tanto, mas não
vamos poder esperar.
— Senhoras, eu sei que não é nada
educado, mas acho que eu e Annie...
— Acabei de falar com o Ulisses, ele
disse que estão chegando, pediu para esperarem.
Acho que ele quer ir junto. Tudo bem? Ele ir
conhecer os sobrinhos? – Sophia sorri. As garotas
todas sorriem, sorriem mesmo e parece um tanto
estranho, mas dou de ombros.
— Tudo bem, gatinha? – Pergunto a
Annie. Não quero que fique nervosa.
— Tudo. Se estão chegando podemos
esperar, eu quero que todo mundo conheça logo
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eles. Podemos ir aos pouquinhos apresentando


todos até eles poderem se juntar a nós.
Annie me sorri contente com a ideia. As
senhoras Stefanos ficam elétricas, por saber que
eles estão chegando, me sento com Annie, ela me
olha.
— Eu juro que também fico bem feliz
quando está chegando, príncipe. – Sorrio. Espero
que não tanto. Isso me parece meio estranho.
— Chegaram! – Sophia diz sorrindo para
o celular. – Estão subindo.
— Ótimo! – Já fico de pé segurando a
mão de Annie. É só o tempo dos cumprimentos e
descemos. Não podemos deixá-los esperando e
arriscar uma crise de asma em July.
A porta do elevador se abre. Demoro um
longo segundo para entender a cena. Leon está com
July no colo, agarrada a seu pescoço como faz
comigo. Tem uma mão sobre o ombro de Josh,
Heitor e Ulisses cada um de um lado.
Sinto a mão de Annie esfriar com o
susto, apertar a minha, olho para ela tão incrédula
quando eu. Os olhos marejados. Me aproximo sem
saber o que dizer.
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— Eu não podia deixar meus sobrinhos


dormindo uma noite que fosse em um abrigo. –
Leon me diz, passa July para meus braços. – Eles
não precisam mais sair daqui. São seus filhos
agora.
— Leon eu... – Olho para Josh todo
assustado, sorrio apesar do nó na garganta, depois
July me aperta o pescoço.
— Eles me buscaram. São meus tios,
sabia? E o juiz já pensou e tudo.
— Que linda! Finalmente, pequena. –
Beijo July, Annie ao meu lado abraçada a Josh.
Depois ela beija a garotinha mais confusa do
mundo ainda no meu colo.
— Agora eu vou ficar aqui, Annie, e
dormir um pouco naquela cama e depois com vocês
e tomar café e todas as coisa. – Ela sorri. Os olhos
brilham, tão delicadinha. Annie beija seu rosto mais
uma vez. Tenta secar as lágrimas.
— Todas as coisas, pequena. – Ela beija
mais uma vez a menina em meu colo.
— Então pronto, não precisa chorar! –
July se assusta com as lagrimas de Annie.

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— Tem razão. – Annie tenta secar o


rosto.
— O bebê. Não falei oi para ele. Me põe
no chão príncipe. – Coloco July no chão. Annie se
senta. Lá está ela gritando com sua barriga. – Tem
um monte de gente aqui, em? – Ela sorri. Logo está
cercada de tias e primos. Josh de pé, no mesmo
lugar. Sem saber o que fazer. Os olhos firmes na
irmã.
— Está em casa, Josh. Como prometi. –
Leon toca seu ombro. – É muito bom ter você aqui.
Josh afirma sem saber como responder,
encaro meu irmão, simplesmente sei que ele
sempre vai estar por perto. Que é mais que um
irmão. É tudo que quero para Josh, que olhe para
mim assim. Que confie em mim como confio nele.
Meu irmão, meu pai também. Se posso
me sentir assim ainda dá tempo de conquistar Josh,
de conseguir o mesmo. Abraço Leon. É impossível
não chorar.
Estava feliz de ele ter aceito, mas ele fez
mais que isso. Um dia ele me tirou do inferno, hoje
ele fez mais que isso. Hoje ele tirou todos nós de lá.
Eu, Annie e meus filhos, meus três filhos.
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— Obrigado, Leon. Eu... O que fez


hoje... obrigado! – Ele retribui o abraço. Ao mesmo
tempo que me sinto um homem, pai e responsável,
me sinto um pouco o garoto que deixou o abrigo,
que não retribuiu aquele abraço quando foi
resgatado, mas que pode fazer isso agora.
Quando nos afastamos seus olhos estão
marejados como os meus. Ele toca meu ombro,
sorri, sinto que se orgulha de mim, mais do que
quando entrei para Harvard ou quando me formei.
— Tenho orgulho do homem que se
tornou, Nick. Sei que vai ser um grande pai. Vamos
consertar as coisas. Apagar o passado. No caminho
eu pensei muito e decidi que nossas vidas começam
hoje. Nenhum de nós dois precisa carregar mais o
passado.
— Vou fazer isso. É uma promessa. –
Aviso determinado. Heitor e Ulisses continuam
imóveis me sorrindo, abraço os dois. – Obrigado.
Não sei o que fizeram e realmente não quero saber.
Só obrigado.
— Foi um prazer. – Ulisses responde.
— Agora vai lá com sua família. –
Heitor me dá um tapa amistoso no ombro. Josh está
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sentado ao lado de Annie que mantem July no colo.


Os gêmeos estão por perto. July encantada com
Emma.
— Que linda. Olha, tem até um bebê
aqui. Está muito legal.
— Josh. – Ele me olha. – Quero te
apresentar uma amiga. Minha melhor amiga. –
Lizzie se aproxima. Sabe que estou falando dela.
— Oi. Sou a Lizzie. – Ela estende a mão
que ele aperta.
— Josh. – Ele responde meio sem jeito.
Os dois tímidos.
— Vocês têm uma coisa em comum,
sabiam? – Os dois me olham. – Harry Potter.
— Você gosta um pouco? – Lizzie se
anima e ele afirma.
— Mas ele vai preferir videogame, já
combinamos de passar uma tarde lá em casa
jogando e amanhã eu vou comprar um videogame
para ele. – Ulisses se aproxima. – Não tente me
roubar a vaga baixinha!
— Tio! – Ela reclama. – Eu não sou
baixa. Vou crescer um pouco ainda. – Ela avisa a
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Josh quase do seu tamanho. Ele balança a cabeça


afirmando.
— Josh eu preciso dizer que jogo melhor
que seu tio Ulisses. – Sophia se aproxima. – Vai
ver isso lá em casa muito em breve.
Meus olhos encontram os de Annie,
marejados ainda. Ela me sorri. Uma lagrima escorre
sem autorização por seu rosto delicado. Annie
coloca July no colo de Liv, fica de pé e vem até
mim.
— Amo você. Amo sua família perfeita.
— Nossa. – Digo envolvendo sua
cintura. Ela concorda.
— Nossa. Obrigada meu amor. Pelos
filhos que me deu. Hoje é um desses dias que te
amo mais que os outros. – Beijo seus lábios.
Olhamos para eles, Josh e July sentados lado a lado
de mãos dadas. Annie vai até Leon. Abraça o
cunhado.
— É bom termos você, Annie. – Leon
diz a ela.
— Obrigada. O que fez hoje foi especial.
Nunca vou poder agradecer.

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— Nem vai precisar. É por mim também.


São minha família. Meus sobrinhos. – Ele avisa. –
Mas agora vamos deixar vocês cuidarem deles.
Acho que os dois não sabem direito o que está
acontecendo, isso está uma grande bagunça.
— Não demos muitos detalhes, tínhamos
um pouco de medo das coisas não darem certo. –
Annie avisa Leon.
— Eu sei. Amanhã voltamos. Vamos sair
todos para almoçar e comemorar?
— Boa ideia. Vamos crianças? – Heitor
convida. Tem todo um ritual de abraços e parabéns
até ficarmos apenas nós.
A senhora Kalais entra sorrindo, abraça e
beija Josh e July, ela os adora e eu sinto segurança
com ela aqui. Principalmente agora que ela perdeu
um pouco seu ar austero.
— Bem-vindos. Estou cuidando de um
jantar delicioso de comemoração.
— A senhora sabia? – Annie pergunta.
— Sophia foi a cozinha cochichar no
meu ouvido. Quando quiserem é só chamar. – Ela
nos deixa. Me sento ao lado de Annie, July vem

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para meu colo.


— Aqueles tios falaram que o juiz já
pensou e disse que a gente vai ficar aqui. Agora não
tem mais que ir lá no abrigo não. – July quer ter
certeza que vai ficar.
— Não July, agora vai ficar aqui. Vocês
dois, vão. – Encaro Josh. – Era o que queria, Josh?
— Ela está feliz. – Ele diz tímido, Annie,
que não se importa nem um pouco em invadir seu
espaço como uma mãe perfeita faria, o abraça e
beija.
— Sabem como são as coisas agora? Por
que estão aqui? – Os dois se olham.
— Para morar aqui, príncipe. – July
responde como se estivesse me contando uma
novidade. – Fazer todas as coisas aqui agora.
— Adotamos vocês, pequena. – Meus
olhos seguem para Josh. Olho para Annie. Ela está
radiante. – São nossos filhos agora. Tudo bem,
Josh?
— Eu sei. Já vi criança ser adotada. – Ele
comunica.
— Quando aprenderem, eu queria ser a
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mamãe. E o príncipe o papai. – Annie pede.


─Vamos ter três filhos. O bebê, o Josh e a July.
— De chamar de mamãe? – July
pergunta.
— Isso. Mamãe e papai. – Ela aponta de
mim para si mesma.
— Você é a mamãe Annie? – July
pergunta e Annie afirma. – E o papai príncipe? –
Afirmo e ela ri achando muita graça. – Que
engraçado. Eu consigo.
— Que bom, querida. – Annie a beija. –
E você Josh. Pode tentar aos poucos?
Josh dá de ombros, não vai ser fácil, mas
aos poucos eu sei que posso conquista-lo.
— Temos que pensar em muitas coisas.
Cada um vai ter seu quarto. – Annie conta.
— Posso ter um quarto de princesa?
Todo rosinha, com espelho, sem bruxa. Cama,
boneca. Pode?
— Sim senhora. – Olhamos para Josh,
nenhum pedido. Só silencio.
— Quer de príncipe, Josh? – Ela
pergunta ao irmão que faz careta. – Ele não gosta
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de coisa de príncipe. – July conta.


— July pode ter uma crise, ela não pode
ficar sozinha.
— Josh, nós vamos fazer um tratamento,
as crises vão sumir, você vai ver. E enquanto isso,
nós vamos colocar uma babá eletrônica, vai ver que
tudo vai ficar bem. – Annie explica.
— Quando tudo estiver bem, vocês vão
para escola.
— Quero estudar. – Josh pela primeira
vez se manifesta. ─ Quero crescer e ser importante.
— Você já é importante, Josh. – Annie
diz acariciando seus cabelos. – Mas fico orgulhosa
de saber que quer estudar. Vai ser como seu pai. –
Ela me sorri.
— Vamos nos acostumando com tudo
aos poucos. Aprendendo a ser uma família. – Não
quero pressionar nenhum deles. – Gostaram de
todos?
Josh responde dando de ombros mais
uma vez. July sorri.
— Tem um monte de gente e crianças.
Tem Alana, Luka, tem bebê Emma, tem mais um
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na barriga da outra tia. Tem um pequenininho,


como é mesmo? Ah! Harry Potter.
— Só Harry. – Eu e Annie dizemos
juntos e ela ri com a mão na testa.
— É mesmo, e tem Lizzie. Uma
grandinha que nem o Josh e bem bonita. E tem um
cachorro grande que eu fiquei com um pouco de
medo.
— Dobby é bem bonzinho. Ele adora
criança. – Aviso, já chega Ulisses e seu discreto
medo do Dobby, Heitor não aguentaria mais uma
rejeição.
— Eu queria ligar. – Josh me diz. – Não
queria vir, eu cuidei dela direito, eles me
mostraram fotos de vocês, a senhora Casper me
mandou vir. Fiquei toda hora perto dela, de olho.
Eu sei proteger a July.
— Sei disso, Josh. Agora vamos fazer
isso juntos. Vai nos ensinar como se faz.
— Não sei o que eu tenho que fazer. –
Ele olha para os próprios pés, encaro o velho par de
tênis e queria sair por aí enchendo os dois de tudo
que nunca tiveram.

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— Tem que ser feliz. – Annie avisa. –


Vou te ensinar. Sabem nadar?
Os dois negam. Trocamos um olhar
preocupado. Não gosto nada disso.
— Já viram a piscina lá em cima? –
Acho que não subiram da outra vez, os dois negam.
– Vamos ver. Vamos ver a casa toda de vocês. –
Digo ficando de pé.
Começamos pela piscina. July sorri
muito contente ao ver a piscina.
— Olha igual na tevê, era certinho essa
que eu queria. – Ela se anima.
— July, não pode vir sozinha. Tem que
aprender primeiro, tudo bem? – Annie se ajoelha
para falar com ela, July afirma. – Querida é muito
funda, só pode ficar aqui quando eu ou o Nick... O
papai estivermos, tudo bem pequena. Promete?
— Prometo. Pode ser amanhã?
— Acho que sim. Vamos ver, tem muitas
coisas que temos que fazer.
Depois de uma volta pela casa toda
chegamos de volta a sala.
— Jantar? – Annie pergunta a eles.
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— Eu quero. – Ela concorda, Josh é


ainda silencio.
Jantamos com um bolo de chocolate
sobre a mesa de incentivo, depois eles ganham uma
fatia, então é hora de coloca-los na cama.
Depois de banho, dentes escovados e
cabelos penteados os dois se deitam. Afago os
cabelos do meu garotinho que talvez, como eu um
dia, tenha em mente planos de fuga que nunca vão
se concretizar. Annie beija sua testa.
— Boa noite. – Ela sorri para ele, o
menino tenta sorrir de volta, mas não sabe fazer
isso.
— Agora eu, né? – July pede atenção.
Beijo seu rosto, ela me sorri
— Boa noite, pequena.
— Não tem que acordar e ir para o
abrigo não. – Ela diz.
— Nunca mais. – Aviso mais uma vez,
com o tempo ela ganha confiança. – Agora dorme,
amanhã tem um monte de primos para brincar.
— Sabia que cabe vocês dois aqui? Bem
pertinho. Assim retinhos um do lado do outro.
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— Espertinha. – Annie aperta seu nariz,


ela abraça a boneca. Os olhos cansados logo se
fecham. Josh mantem os olhos fechados, ele tenta
parecer dormir, mas sei que não vai ser fácil pegar
no sono essa noite.
Ele não tem ideia de como as coisas vão
ser. De qual seu lugar, tudo que sabe é proteger a
irmã e agora somos nós a fazer isso, nesse
momento sente que não tem mais nada. Meu
coração se aperta.
Deixamos o quarto. Na porta Annie
ainda olha mais uma vez, toca a barriga.
— O bebê estava com saudade disso. –
Acaricio sua barriga. – Podia ficar a noite toda
aqui, só olhando meus anjinhos adormecidos.
— É mamãe, mas precisa deitar. – Ergo
Annie nos braços, ela sorri me envolvendo o
pescoço. – O bebê está cansado.
— Como sabe? – Ela pergunta me
roubando um beijo.
— Não ouviu? Ele acabou de contar. –
Entro no quarto e a coloco na cama. Annie atira os
sapatos para longe, quando pretendia beija-la July
surge na porta do quarto abraçada a boneca.
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— Eu já vim dormir um pouco aqui. –


Ela avisa subindo na cama. – É melhor assim. Já
venho logo e já durmo.
Eu e Annie nos olhamos mudos.
Evitamos rir da situação e quem sabe chorar
também, estava em nossos planos comemorar. Pelo
visto não vai ser hoje.
— Só hoje. – Digo a Annie que afirma.
— Deita lá no seu lugar, papai príncipe.
– Meu coração dá um salto ornamental, um
rebuliço acontece dentro de mim, fico imóvel,
olhando aquela coisinha delicada abraçada a uma
boneca que acaba de me chamar de pai e isso faz
todo sentido, é quem eu sou agora. Antes de ser
qualquer outra coisa.
Sou pai de três filhos, eu, o cara que não
podia ouvir o choro de uma criança, que fugia da
família, que jurava que morreria solteiro e livre,
tenho três filhos.
— Vem, papai príncipe! – Annie me
puxa me despertando. Me movo saindo do transe,
passo por cima dela e deito a seu lado, July não tem
medo de mostrar sentimento, abraça Annie e fecha
os olhos. Ficamos os dois ali, ainda vestidos,
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olhando aquela linda e esperta garotinha pegar no


sono.
Annie me beija. Acaricio seu rosto, ela
sorri emocionada. Só podia ser mesmo ela a me
arrancar da escuridão e me dar uma vida.

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Capitulo 38
Pov – Annie

Nem acredito que July está agarrada a


mim, sinto seu cheirinho adocicado e meu coração
se enche de paz. Nick ao meu lado, me olhando
com esses olhos cheios de amor e carinho. Será que
alguém no mundo é mais feliz que eu?
Penso na última noite que passei na casa
de Tracy, em como me sentia solitária e angustiada,
no medo que tive de vir para cá. Como meu
coração não desconfiou?
— No que está pensando?
— No velho babão. – Respondo e ele
sorri, se enrola em mim, o nariz no meu pescoço,
adoro estar assim com ele, agora sua mão descansa
em minha barriga, disputa espaço com a mãozinha
delicada de July. – Pensei que estava com medo de
vir, porque ia ficar sozinha com um homem
desconhecido, que se tivesse qualquer outra
alternativa eu não teria vindo.
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— E tudo seria diferente ou igual, acho


que eu ainda estaria lá no buraco que morava. Você
me tirou dele.
— Saímos juntos, de mãos dadas. – Ele
concorda passando o nariz no meu pescoço.
— Juntos desde sempre. – Diz no meu
ouvido.
— Não provoca príncipe, estavamos
começando umas coisinhas. Estou tentando não
pensar nisso.
— E eu pensando que vou construir um
mini parque de diversão no quarto dela, para ela
amar tanto o lugar que nunca mais vai querer vir
dormir com a gente. – Rimos. Ele ergue a cabeça
para olhar para ela. – Mentira pequena. – Diz para a
garotinha adormecida. – Posso levar a mamãe num
motel de quinta.
— Está provocando, Nick. – Ele me
beija de leve.
— Nick? Não sei não, parece que Annie
quer surgir. – Faço careta.
— Querer ela quer! – Ele imita minha
cara de desespero.

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— Dorme que passa.


— Ainda estou de roupa! – Aviso e ele
me olha.
— Melhor assim. Estou pensando em
colocar um jeans. – Acho que nunca me senti tão
feliz. – Depois que o bebê nascer vamos ficar
incontáveis dias sem poder brincar de Nick e
Annie.
— Engano seu. Aí é que vamos precisar
deles. O príncipe e a gatinha são muito fofinhos e
vão só esperar calmamente. Já o cara mau e a
Annie. Acho que podem pensar numas coisinhas.
— Entendo, senhora Stefanos, muito
esperta, mas não vamos falar disso. Tem crianças
presentes.
Nos mexemos os dois, ajeitamos as
coisas para poder olhar July. Ela ressona, o peito
chia um pouco. Beijo sua testa. Tanta confiança,
isso só me enche ainda mais de amor por ela.
— Tão linda, se jogou na família. – Ele
afirma, agora o queixo passa em meu pescoço. –
Adorou todo mundo.
— Ela é toda meiga, falante. Acho que

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vai nos fazer de bobos.


— Prova disso é que está aqui. Papai
príncipe. Deu uma invejinha. – Ele me beija o
pescoço.
— Vai ver que o coração quase para. –
Nick me conta. – Mas bom mesmo vai ser se um
dia ele disser. Não sei se Josh consegue.
— Claro que sim. Ele vai dizer. Eu sei
que vai. De tanto beija-lo e aperta-lo um dia ele vai
dizer. Para mãe. Me deixa em paz.
— Você faz mesmo isso. – July sorri
dormindo, ficamos de coração apertado. – Sonhos
bons. – Ele diz e concordo. – Nunca vou poder
agradecer tudo que o Leon já fez por mim.
— Acha que July e Josh precisam nos
agradecer? – Eu pergunto, ele nega. – Vê? É o
mesmo com o Leon, ele não quer isso, só quer que
você fique bem e você está.
— Nunca estive melhor.
— A não ser naquela noite no motel de
quinta. – Nick concorda. Depois suspira.
— Eu, você e o chocolate.
— Você pensava nessas coisas quando
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não namorávamos ainda? Quando eu era a pior


governanta do mundo.
— Muito mais do que podia suportar. –
Ele me conta. – Felizmente não durou muito e logo
descobri que era minha gatinha. Você era mesmo a
pior governanta do mundo.
— Sabe que tem uns três dias me
lembrei de um recado que nunca te dei? Agora já
me esqueci de novo, e a senhora Kalais encontrou
roupas suas na dispensa. Brigou comigo.
— Ela está toda saidinha. Você
transforma as pessoas. – Ele me beija. Apenas um
beijo leve, July está conosco e não podemos pensar
muito nisso, não agora. Fecho meus olhos. – Vou
ver o Josh. – Nick me diz. – Quero ver se dormiu
mesmo.
— Vai príncipe, temos que tomar
cuidado, ela é espaçosa e se não prestarmos atenção
o coitadinho do meu bebê vai ficar jogadinho.
— Seu bebê tem doze anos, não vai
trata-lo como um menininho, ele pode não gostar.
— Aposto que está louco por isso, ele
nunca teve. Não quero nem saber, ele que se
acostume. – Nick deixa a cama, aperto July,
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amanhã e todos os dias que vem depois eu vou tê-


los comigo. – Bebêzinho agora você tem um monte
de irmãos, mamãe pensa em tudo. Não vai ficar
sozinho.
As mães deviam ter chance de beijar a
própria barriga. Todo mundo consegue. Menos eu.
Então para compensar eu o imagino em meus
braços, em beijar sua bochecha rosada e ele deve
ter sentido meu amor.
Nick retorna uns minutos depois. Se
deita ao meu lado e me enrolo nele.
— Dormindo, fiquei lá querendo fazer
como você e traze-lo como se fosse um bebê para
dormir aqui. Achei que ele se ofenderia e voltei.
— Todo príncipe. – Sussurro já com
sono. – Boa noite.
— Boa noite.
Acordo com uma mãozinha acariciando
minha barriga, abro os olhos e July está lá
sussurrando numa conversa com o bebê.
— Não vou embora não, sabia disso?
Bebezinho fofo. Quer ver minha bonequinha. – Ela
encosta a boneca em minha barriga. – Viu que

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linda? Meu irmão que me deu.


Olho para Nick e ele como eu, está
assistindo a conversa, essa garotinha vai conquistar
o mundo. Ela nos percebe, ergue a cabeça, os
cabelos bagunçados.
— Acordou todo mundo! – Ela diz se
sentando. – Dormi aqui e tudo. Agora tem que
tomar café da manhã.
É a coisa errada a me dizer, não é como
antes, os enjoos diminuíram, mas ainda não se pode
dizer qualquer coisa pela manhã.
— Que acha de ir ver se o Josh já
acordou? A mamãe vai daqui a pouco. – Nick diz
em meu nome e ela afirma.
— Tá bom. – July deixa a cama em sua
camisolinha velha. Ela precisa de roupas, os dois
precisam, e brinquedos e mobília e tudo o mais que
o dinheiro do meu príncipe pode comprar e eu não
vou ter pena de gastar.
— Compras. – Eu digo e ele afirma.
— Eu sei, assim que puder voltar a se
mover.
Ele me deixa na cama, abre o closet. Fico
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olhando enquanto separa roupas, encara a vidraça,


o frio se aproxima, o céu está cinzento e nublado.
— Toma banho comigo? – Me convida e
sorrio.
— Por que não pensou nisso ontem à
noite? – Me sento, investigo meu corpo, tudo em
ordem. – Meu corpo sabe a hora de se recuperar.
Estou ótima!
O banho é rápido, já o tempo que
passamos no banheiro nem tanto. Talvez Liv possa
dissertar sobre isso. Ela tem três.
Passamos no quarto, os dois estão
vestidos e sentados nas camas.
— O Josh não deixou eu sair daqui.
Queria ir lá com a senhora Kalais, ela é tão
boazinha.
— Josh. Essa é sua casa, pode ir e vir
onde quiser, não precisa esperar ordens, convites.
Entende isso? – Nick pergunta a ele.
— Pode ir, July. – Ele diz a irmã.
— Agora eu vou com meus pais, né! –
Ela o surpreende, sinto pelo modo como olha para a
irmã. – Podemos chamar a Alana? Ela está sem
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boneca, coitadinha, eu não tinha também.


Alana tem mais bonecas do que pode se
lembrar, mas July não tem ideia disso, de todo
modo é bom que ela seja capaz de dividir.
Vou ensina-la a doar seus brinquedos
usados, vai ser assim, todo natal vamos a uma
instituição doar brinquedos. Não quero que ela
cresça sem saber que o mundo vai além desse
elegante apartamento.
— Vem, Josh. – Eu passo meu braço por
seu ombro quando ele fica de pé. – Me ajuda a
descer que de vez em quando fico tonta. – Ele me
olha preocupado. Que boca essa minha. – Eu
sempre seguro no corrimão, meu príncipe me
obriga. Seu pai é muito atencioso.
Josh não responde, vou sempre me
referir a Nick assim, até ele dizer pai e eu ver meu
príncipe perder a fala de emoção, já foi lindo vê-lo
abraçar os irmãos, ele, não os irmãos o abraçando,
Nick deu o primeiro passo para abraça-los, coisa
que acho que nunca aconteceu.
A mesa está posta na sala, uma grande
mesa com tanta coisa que nem esperava.
— Perdi os limites. – A senhora Kalais
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diz quando chegamos. – Vocês não sabem o tanto


que gosto de criança.
— Que bom. – Eu digo pensando que
vou precisar de toda essa empolgação. – A senhora
sabe que não vamos ter babás. Apenas nós três.
— Um para cada um. – Ela brinca.
Logo a porta se abre e então a família
toda chega e vira uma tremenda festa, todos
sentados para o dejejum, falando ao mesmo tempo,
July de colo em colo contando da noite em nossa
cama, lembrando a todos que não vai mais embora,
animada como nunca imaginei.
Josh fica olhando tudo meio assustado,
não sei se tem medo das pessoas ou de perde-las, se
acha que isso é um sonho, se talvez se veja como
inferior, o que sei é que olhar para ele me aperta o
coração.
Ulisses se senta a seu lado. Gosto de ser
ele a viver perto, Ulisses não pensa muito, é leve,
não fica cheio de dedos e acho que Josh precisa
sentir que é isso apenas, um membro da família.
Como os outros.
— Você é do time do futebol como seu
pai? – Ele pergunta. – Porque o Nick vive
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prometendo que vai me levar num jogo.


— Eu também torço pelos Jets. – Josh
conta.
— Vamos comprar um jogo desses de
videogame e daí aprendo. Não sei nada dessas
bolas ovais, quer dizer, oval? – Ele faz uma careta.
– Bola, o nome já diz, redonda. Não aquela coisa
que vocês usam.
— São perfeitas para se usar a mão, de
outro jeito não daria certo. – Josh tenta explicar um
pouco nervoso. – Uma vez eu e o... – Ele olha para
Nick, engole em seco. – O Nick jogamos no
Central Parque.
— Meu irmão nunca me convida para
nada. Se fosse o Leon a morar aqui, eles viveriam
grudadinhos.
— Cala a boca Ulisses. – Nick resmunga
tomando um gole de café.
— Vai chorar, bebê? Quer um
chocolatinho? Ou só de madrugada que tem desejos
de grávida?
— Leon! – Nick pede socorro.
— Ulisses deixa o Nick em paz. –
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Ninguém consegue conter o riso. Leon só defende


Nick, ele nunca quer muito saber quem está certo,
nem mesmo olha, só manda Ulisses parar e Ulisses
quer morrer com isso.
— Acho que podíamos passear um
pouco pela cidade. Eu sei que vai parecer uma
procissão, mas Heitor e Ulisses saíram cedinho e
compraram um carrinho para Emma. – Liv avisa. –
Podemos fazer umas compras e aproveitar que
temos muitos braços fortes.
— Eu quero, mamãe. – Alana se
manifesta. – O papai prometeu uma boneca nova
que eu esqueci a minha.
— Tudo bem. Nós vamos, estão bem,
grávidas? – Lissa olha de mim para Sophia.
— Eu estou ótima. – Digo radiante.
— Eu também e alguém vai ter que
ajudar o Josh, quem entende mais de videogame
que eu? – Sophia continua.
— Talvez eu tenha um pouco de ciúme!
– Eu admito e todo riem. Josh me olha sem
esconder que fica surpreso, depois disfarça e me
seguro para não apertá-lo em público.

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— Acho bem feito! – Heitor provoca. –


Agora sabem como nos sentimos sobre Lizzie e
vocês, ela tem um contador de dias no celular, sabe
o que ele conta? Quanto falta para férias com o tio
Nick.
— Que é o meu papai príncipe. – July
solta distraída sem olhar para ninguém em especial.
— Esse mesmo! – Heitor diz rindo.
— É. – Ela lambe o dedo sujo de creme
de queijo.
— Vamos pessoal? – Leon convida. – O
dia não está dos mais quentes.
— Papai, a Alana vai ganhar um
brinquedo eu posso ter um? – Luka pede.
— Claro filho.
— Eu vou no seu colo, tio Ulisses. –
Luka estende os braços para Ulisses.
— Não é fácil ser o tio preferido! –
Ulisses o ergue nos braços. – Toda vez essa briga
por mim.
Luka com certeza é muito apegado a ele,
o tio é seu herói. Leon morre de medo dele crescer
e se tornar maluco como o tio, se enfiando em
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aventuras, no momento ele ama ouvir tudo que o


tio já fez.
Me despeço da senhora Kalais deixando
a livre o resto do dia. Vamos em dois grupos no
elevador e no fim desço primeiro, odeio passar na
portaria sem Nick. Sempre acho que Ted vai dizer
uma tolice.
Como se fosse uma garotinha, me
aproximo de Leon quando a porta do elevador se
abre. Quase peço para que segure minha mão, nem
olho para Ted, só busco a rua e me odeio por deixar
que aquele idiota me assuste tanto.
Acho que Ted é a única sombra que resta
do passado, mas Tracy precisa desse dinheiro e não
quero que ele perca o emprego, mesmo ele sendo
um ingrato que nunca me agradeceu por não ter
feito fofoca sobre o modo como ele sempre me
trata.
Esperamos na calçada o resto do grupo,
eu de mãos dadas com Josh e Lizzie. Um de cada
lado, os dois mais velhos e mais silenciosos.
— Lizzie na volta temos que mostrar a
coleção do seu tio para o Josh, nunca me lembro de
mostrar.
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— Isso! – Ela sorri. – Meu tio. Que é seu


pai. – Até Lizzie ajuda na adaptação, ela é mesmo
minha princesa. – Ele tem várias coisas do Harry
Potter, depois que o bebê nascer, vamos no parque
e vai ganhar umas coisas também. Vai adorar o
parque. Vamos nos dois, tem um no meu pais,
Inglaterra, e outro aqui mesmo, nos Estados
Unidos.
— Já vi num comercial. – Josh diz a ela.
– Na Disney.
— É mais ou menos. Você acha que vai
ter medo de ir nas montanhas russas?
— Não. – Ele diz confiante. O resto do
grupo chega e começamos a caminhar. Nick vem
perto de mim, mas não muito para não interromper
a conversa.
— Meu tio Ulisses me provoca por que
eu não posso ir em todos os brinquedos, meu
tamanho, sabe. – Ela diz com seu rostinho lindo.
Solta minha mão e vai para o lado de Josh. – Olha,
sou quase do seu. E cresci muito esses meses. Acho
que vamos poder ir em muitos brinquedos dessa
vez.
Nick me sorri, Lizzie continua a falar e
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contar as coisas que já fez com o tio e quem sabe,


isso mostre a Josh que podemos nos dar bem, que
crianças não são um problema?
As pessoas ficam olhando aquele monte
de gente andando pelas ruas e gosto que todos eles
sejam assim, simples, sem um monte de manias
excêntricas, que andem pelas ruas e comprem em
lojas comuns, que tomem sorvete e falem alto.
Olhando assim, as pessoas dificilmente
imaginariam o quanto são ricos e importantes. Que
bastava um telefonema e um estoque de brinquedos
e roupas chegaria em nossa casa.
A vida perto deles é muito mais
divertida.
Os rapazes se sentam numa lanchonete
diante de uma loja de roupas infantis.
— Príncipe eu não tenho dinheiro. –
Aviso e ele ri. – Na verdade eu não tenho nada, não
trouxe nada.
— Tome. – Ele me entrega o cartão. –
Não pode mais sair assim gatinha. Pode precisar,
agora não está mais sozinha.
— Isso é bom de ouvir. – Beijo seus

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lábios agora seguro a mão de July.


— Não perde meus filhos, amor! –
Heitor diz a Liv quando ela começa a se afastar, eu
e Nick nos olhamos.
— Vou com você. – Ele me diz
assustado.
— É melhor. – Eu concordo na mesma
hora, meu coração gela só de pensar em perde-los.
Vasculho em busca de Josh e ele está ao meu lado.
— Que boca, Heitor! – Ulisses reclama
dele nos ter assustado.
— Acontece! – Heitor se defende. –
Ando por ai com crianças em parques e cinemas,
tem sempre alguém caçando uma criança que
esqueceu numa vitrine ou sei lá, num brinquedo.
— Heitor! – Agora é a vez de Leon.
— Nunca perdi os meus não. Só estou...
Tá, não falo mais nada. – Ele acaricia os pelos de
Dobby. – Né filho?
Josh é calado, não pede, não demonstra.
É difícil escolher coisas para ele, mas ele precisa e
procuro agrada-lo o máximo, tentando escolher o
que está mais na moda. Discreto como ele, mas
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moderno e pré-adolescente.
Já July é simples, ela deixa tudo claro,
no sorriso, nos olhos brilhantes, e colocando em
palavras.
— Aí que lindo. – Ela sorri para um
vestido rosa. – Fiquei linda? – Ela pergunta quando
encosto em sua frente para ver se serve.
— Muito.
A vendedora tem um largo sorriso
quando deixamos a loja, então vamos comprar os
brinquedos, Alana está impaciente.
Dessa vez entramos todos, Ulisses e
Sophia como se tivessem eles cinco anos, são os
que mais se divertem. Acho que fica mais fácil
comprar algumas coisas para Josh. Os olhos do
garoto não escondem seus interesses. Brilham
diante de carrinhos de controle remoto e materiais
de futebol.
July abraça uma caixa com uma boneca
quase do seu tamanho e me dou conta que jamais
tive isso, nunca ganhei um presente de natal, ou fiz
compras numa loja de brinquedos.
Ao menos não que me lembre, talvez

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meus pais tenham me levado, mas não posso ter


certeza. Meus olhos marejam e imediatamente a
mão de Nick entrelaça a minha.
— Eu sei como se sente, gatinha.
Também nunca tive isso.
— Mamãe Annie, eu quero essa linda
aqui. – Sinto a mão pequena tocar minha perna,
mas o que me faz parar muda e imóvel é sua voz
doce me chamando de mãe. Não. Me chamando de
mamãe Annie. Meus olhos marejam quando me
abaixo e acaricio seu rosto. Linda e carinhosa, July
me abraça. – Você está chorando mamãe?
— Não, pequena, só feliz que sabe me
chamar de mamãe e eu queria muito.
— Eu sei mesmo. – Ela seca meu rosto.
– Pronto, não precisa nada de chorar.
— Você não gosta de choro, não é? –
Pergunto.
— Criança chora toda hora, lá nos outros
lugares que eu ficava. Adulto não chora. Então não
pode ficar chorando.
— Tudo bem, pequena, sei do que está
falando. Não vou ficar mais chorando.

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— Isso. Vem ver minha boneca, é


minha, não é?
— É sua. – É tudo dela, hoje eles podem
tudo. Beijo seu rosto e quando fico de pé tudo gira.
Nick me apoia. Josh também. É espontâneo, o
garotinho segura meu braço assustado. – Estou
bem, meninos.
Almoçamos numa lanchonete. Uma
elegante é claro, cara demais para servir apenas
hambúrgueres, mas é para atender o pedido das
crianças e no fim eu e Sophia aproveitamos a
chance.
— Vamos nos acabar, cunhada, nem sei
quando vão nos deixar comer essas coisas de novo.
– Sophia sussurra. É o que fazemos, depois
voltamos para casa. Nos despedimos no elevador.
Todos cansados. Os menores querendo descansar e
já manhosos, menos July, ela está feliz, a respiração
um tanto forte e me preocupo.
— Josh ela fica assim respirando difícil
se fica muito feliz? – Pergunto quando entramos
em casa carregando sacolas e mais sacolas, ele me
olha surpreso.
— Eu não sei, ela não fica feliz. – Não
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sei o que responder. Eu sei o que significa.


Conheço isso, vai passar, prometo a mim mesma
que Josh e July vão ter uma vida linda.
— Agora é diferente, Josh. Agora July
fica feliz. – Nick afaga os cabelos do garotinho que
afirma. Ele olha para a irmã.
— O tempo todo! – Admite, ver a irmã,
enche seus olhos inocentes de amor. Josh é um
garotinho lindo. Toco a barriga pensando na sorte
que meu bebê tem de tê-lo como irmão.

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Capitulo 39
Pov – Heitor

— Está bem, princesinha? – Me sento na


beira da cama de Lizzie que abraça Aquiles um
tanto cansada. Os dias tem sido muito agitados.
— Sim. Um pouco triste por que vamos
embora amanhã, mas feliz por voltar a escola. – O
velho coelho Aquiles cai para o lado e eu o arrumo
em seus braços. – Onde está a mamãe?
— Colocando o Harry na cama. Emma já
dormiu. – Aviso a Lizzie que afirma esfregando os
olhos. – Gostou do apartamento?
— Muito. Quando eu for grande vou
poder ficar aqui sozinha?
— Grande? Quem disse que vai crescer?
– Ela sorri. Beijos sua testa. – O que está achando
dos novos primos?
— July é bonitinha demais, mas ela
gosta mesmo é da Alana, as duas não se
desgrudam, você viu? Acho é bom, eu não brinco
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mais de boneca toda hora e a Alana estava triste


com isso.
— Bem que a mamãe falou para eu não
te dar um celular. – Ela se senta para me abraçar.
— Mas você é o melhor pai do mundo! –
Beijo sua bochecha. Depois ela se deita mais uma
vez, se enrola nas cobertas.
— Quer que eu aumente o ar?
— Não. Eu gosto muito de dormir no
friozinho para ficar enrolada no edredom.
— É verdade. E o Josh? O que acha do
primo?
— Ele não fala muito, papai. É tímido,
eu acho, mas é legal, só que ele só fica perto da
irmã. Ele tem que cuidar dela como eu cuido dos
meus irmãos.
— Josh é um bom menino, ainda está se
acostumando. Seu tio está feliz. Isso é bom, não
acha?
— Muito bom, esses dias todos ele está
mais feliz que quando casou. Não fiquei com
ciúme. Eu quero que meu tio tenha filhos.
— Quer? – Acho graça em seu tom
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maduro.
— O tio Nick é meu preferido, papai. Ele
era tão sozinho, eu ficava sempre querendo que as
férias chegassem logo para viajar com ele e fazer
um pouco de companhia para ele, agora não fico
mais preocupada, ele tem a Annie e os filhos dele.
Como você e os outros. O tio Ulisses ele não tinha
também, mas ele sempre sabia se divertir e tinha
amigos e namoradas.
— É, mas não precisamos falar em
namoradas que essas senhoras Stefanos são muito
ciumentas.
— Verdade mesmo. Até minha mãe. E
você se comporta sempre.
— Vê como minha vida é difícil? – Ela
sorri. O sorriso mais lindo que existe.
— Vamos ter nosso último bebê, papai?
Acho que já podemos né?
— Amo você princesa. Sabia disso? Já
quer recomeçar com tudo aquilo? Mamãe gravida,
nós dois correndo para cuidar dela, dormir com os
tios para o papai ir para o hospital com a mamãe.
— Sim. Eu gosto, com a Annie e a

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minha tia Sophia gravidas eu fiquei com saudade.


— Nunca chama Annie de tia, ela não
fica triste não?
— Ela é uma gatinha como o tio diz, não
parece tia. Então achamos melhor sermos amigas
mesmo.
— Que bom. Fico feliz.
— Papai, eu não vou ser uma senhora
Stefanos quando crescer? – Franzo a testa, o que
minha princesinha anda pensando?
— Como assim, filha?
— Se eu casar vou ser uma senhora sei lá
o que, com o nome do meu marido.
— Então não casa e pronto! – Ela ri. –
Vai ser sim uma senhora Stafanos. Por que é assim
que vai se sentir.
— Está certo, acho que eu vou só adotar
um bebê que nem o tio e pronto. Depois que eu for
bailarina e advogada.
— Sim senhora. Boa noite. Dorme que
amanhã temos um monte de coisas para fazer e
depois casa. – Beijos sua testa e Lizzie abraça mais
seu companheiro fechando os olhos.
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Deixo seu quarto em silencio. Encontro


Liv colocando Harry na cama, ao lado dele, o berço
de Emma, foi até que fácil organizar um pouco as
coisas, em três dias trouxemos um berço e é tudo
que precisamos. O apartamento é ótimo e
poderemos mesmo vir mais vezes.
Beijo os cabelos do meu garotinho que
dorme tranquilo e espalhado, depois faço o mesmo
com Emma, a garotinha mais calma e risonha que
já vi. Liv me abraça olhando de um para o outro.
Dobby se deita nos pés de Harry. Encara o berço de
Emma, seu sonho é caber no berço.
— Vamos? – Convido depois de conferir
a babá eletrônica. Liv concorda e deixamos o
quarto com a porta aberta e uma luz baixa acesa.
Nosso quarto é ótimo, uma suíte aconchegante com
uma linda vista de Nova York.
— Adorei esse apartamento. Acomodou
direitinho todos nós e tem uma vista linda. – Ela diz
olhando a cidade iluminada.
— Pensei em acomodar as coisas para
ficarmos uns dias nas férias da Lizzie.
— Vai ser ótimo, amor.
Passo meu braço por sua cintura e a
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trago para meus braços, ela me envolve o pescoço,


os olhos sorriem cheios de amor, minha mulher é a
coisa mais linda que já vi. Seu perfume ainda hoje
me deixa zonzo, ainda hoje seu jeito feminino me
deixa apaixonado como nos primeiros dias.
— Lizzie disse que está na hora do
último irmãozinho. – Conto a ela que sorri.
— Disse? – Ela pergunta me puxando
mais para si. Beijo seu pescoço e aspiro seu cheiro.
— Não fui eu que toquei no assunto,
meu amor. Foi ela. Verdade. Sua filha está com
inveja das tias.
— Ela ou você? – Ela pergunta e dou de
ombros.
— Os dois. Admito. Você tem que
colaborar, amor. Acha justo o caçula nos passar a
perna? – Liv me olha divertida. Me beija de modo
leve. – É sério.
— Que tal um irmão quatro patas?
— Não. Nem pensar, o Dobby vai se
sentir... Nossa! Coitado amor, ele vai sentir que não
confiamos nele, de jeito nenhum. Ele vai ficar
magoado.

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— Deus me livre magoar o cachorro! –


Ela brinca, agora caminhamos juntos para cama, ela
desabotoando minha camisa e eu a mantendo em
meus braços. – Nada de filhos quatro patas.
— Isso. Boa menina. – A camisa some,
eu a ajudo com a dela, sinto a pele macia e quente
de encontro a minha.
— Nesse caso é isso, três filhos, um
cachorro, nós dois. Tudo perfeito. – Vamos tirando
o resto da roupa enquanto meus olhos capturam os
dela. Quando não tem mais nada entre nós ela me
abraça, ergo Liv nos braços e a coloco na cama.
Seus suspiros me despertam ainda mais.
Nunca fomos bons em resistir um ao
outro, nunca tentamos, meus lábios correm por seu
pescoço e depois nos beijamos longamente. Não
entendo como casais com o tempo deixam de fazer
isso. Namorar apenas, trocar carinho, usar o tempo
livre para descobertas diferentes.
— Eu te amo. – Ela me olha tranquila,
depois toca a pulseira e escuto o tilintar dos
pingentes, os olhos de Liv encontram os meus.
— Quer mais um aqui? – Ela mostra a
pulseira. No momento são seis, eu, ela e nossos
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filhos, o cachorrinho pendurado foi um presente


dela para mim, depois de uma manhã que Dobby
cavoucou todo quintal e depois correu com as
crianças pela casa toda. Achei que era nosso fim,
Liv me olhou nos olhos, me entregou um pano de
chão e saiu. Quando voltou tinha o pingente em
forma de cachorro. Foi como dizer que estamos
juntos e isso é sobre tudo.
— Harry merecia um irmão, um garoto e
ainda irmão do meio? – Ela acaricia meu rosto, toca
meus lábios com os dedos, depois seus dedos
mergulham em meus cabelos. – Adoro sua mão.
Sua mão em mim principalmente.
— Ah! Eu sei, senhor Stefanos. – Ela
sorri.
— Eu quero mais um filho, mas não
precisamos ter Liv. Por que quero mais que tudo
você, e sua felicidade. Então se está completa eu
também estou.
— Amo você. E tenho um segredo para
contar. Parei com as pílulas quando arrumamos as
malas para vir. – Fico mudo, depois sorrio. – Olhei
para elas e pensei. Adeus garotas, para sempre.
Vamos ter mais um e depois operamos para não
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acontecer nenhuma surpresa.


— Surpresa é bom amor. – Ela me dá um
tapinha no ombro. – Tá bom, tá bom. Estou
brincando. Te amo.
— Eu paro de tomar as pílulas louca para
ter mais um bebê, fico nua na cama para você e vai
ficar aí só me olhando?
— Olhando apaixonado. Que fique
registrado. – Digo antes de todo o resto perder o
sentido e só sobrar nosso amor.
Depois da confusão matinal ainda maior
por estarmos fora de casa, vamos para o
apartamento de Nick, passar um tempo com eles,
almoçar e voltar todos para casa.
Somos os últimos a chegar. A casa está
cheia. Olho meu irmão e ele está quase tranquilo,
tem um olhar vasculhando as crianças de um lado
para outro, mas isso acho que não vai perder nunca.
— Mutirão do almoço! – Lissa anuncia
quando entramos. Sabia que não nos livraríamos de
um desses mutirões.
— Eu não sei cozinhar. Não estou na
brincadeira. – Annie avisa. É a única senhora

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Stefanos com zero talento culinário.


— Nada de fugir. Lizzie e Josh olham os
menores, A senhora Kalais vai passar o dia
descansando, é folga dela. – Lissa avisa.
— Eu não sou boa nisso, não é príncipe?
— Eu tenho que concordar com ela.
Annie... Bom, vocês vão ver.
Nick não estava mentindo, nem Annie,
sua falta de talento vai além de não saber cozinhar,
ela consegue estragar tudo que põe a mão e é um
dos mutirões mais divertidos que já tivemos. De
vez em quando, vejo Nick olhando sua esposa com
olhos brilhantes.
— O Amor! – Eu brinco picando
legumes a seu lado.
— Imaginei dezenas de vezes Annie
ajudando nesses almoços, sabia que seria
exatamente assim.
— Que mão pesada, Annie. Isso ficou
intragável! – Liv ri experimentando um tipo de
molho.
— Eu disse, só sei derreter chocolate.
— Gatinha! – Nick adverte e rimos mais.
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— Agora é com o forno. – Sophi avisa


meia hora depois com a mesa posta e tudo
encaminhado. Me levanto para ir à sala dar uma
olhada nas crianças, Nick me segue.
O que encontramos é Dobby e Josh
frente a frente. Dobby com uma bola de futebol
americano na boca que ele acaba de furar.
— Não acredito. Dobby, feio! – Josh me
olha. – Desculpa Josh, vou comprar outra. Dobby
vai ficar de castigo! Um dia inteiro sem biscoito.
Pede desculpa!
— O cachorro não fala, Heitor! – Nick
me lembra. Dobby solta a bola e faz aquela cara de
cachorro abandonado.
— Olha essa cara se não é um pedido de
desculpas. Josh, vou comprar outra para você. Não
se preocupa.
— Eu não... você não precisa fazer isso,
tio. – Ele diz meio tímido, Nick me olha um tanto
confuso, gosta de saber que já posso ser o tio, mas
acho que queria ser o pai e vai levar um tempo.
— Não demora nada, tem uma loja aqui
pertinho. Vamos comigo, Nick? – Ele afirma, sei
que não vai deixar o filho sem a bola. – Agora pode
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ficar com a bola Dobby. – Devolvo a bola em sua


boca e ele corre para longe.
Leon e Ulisses decidem nos acompanhar,
temos vinte minutos é o que as senhoras liberam.
Quando a porta do elevador se fecha encaro Nick.
— Eu era o senhor Heitor, Nick. Por
muito tempo e acredite. Cada vez que Lizzie me
chamava assim, parecia uma facada no peito. Um
dia virei papai.
— Como foi que mudou isso? – Ele me
pergunta quando a porta do elevador se abre.
— Ela caiu de cabeça! – Rio, ele revira
os olhos.
— Nossa se aquilo tivesse acontecido
agora, eu nem sei como seria. – Nem eu, Nick
ficaria tão apavorado como eu e Liv. Suspiro.
Momentos difíceis que agora já posso rir.
— Eu sei, foi o pior momento da minha
vida, mas quando ela acordou me chamou de papai.
Me viu ali e entendeu que eu sempre estaria lá.
Esse é o ponto, Josh precisa apenas ter certeza que
não é passageiro e aí vai ser o papai.
— Eu também acho. – Ulisses concorda

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comigo.
— July já dormiu na própria cama? –
Leon pergunta.
— Ela vem no meio da noite. – Nick diz
sorrindo.
— Daqui a pouco isso vai diminuir. – Eu
conto. – Lizzie fazia isso, Harry ainda faz um
pouco e Emma vai fazer.
— Vocês devolvem eles na cama? Não
ficam com pena? – Nick pergunta.
— Não. – Leon ri. – Eu realmente amo
minha mulher e acho que mereço tê-la só para mim
pelo menos a noite.
— Concordo. De vez em quando
devolvo Harry na cama duas vezes na mesma noite,
vamos vence-lo pelo cansaço. Além disso, é bom
para se tornarem independentes.
— Heitor, eu não quero que sejam
independentes. – Nick diz quando entramos na loja.
Pego a bola e seguimos para o caixa, pago e saímos
uns segundos depois.
— Bom. Vão ser um dia. Não podemos
fugir disso. – Eu conto fatalista. – Ah! E quero
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informar que estou de volta a disputa. Liv parou


com os remédios.
— Heitor quando é que vai entender que
não tem ninguém disputando isso?
— Ulisses, vocês não me enganam mais.
– Brinco com ele. Então olhamos para Nick. – E aí,
senhor Stefanso cheio de filhos, como que ficam os
recursos naturais? – Nick coloca a mão do bolso
puxa um saquinho.
— Ulisses me deu, são sementes de
alguma árvore. – Ele ri.
— Não ia perder essa. – Ulisses dá um
tapa no ombro do irmão. – Três Nick? Nesse
mundo? Quer dizer, pense comigo. Água não é um
recurso renovável. Você não pensa nisso? E tem
todo resto, não vou falar por que nunca prestei
muita atenção nos seus discursos.
— Palhaço! – Nick ri.
— Nick, acha que esse porteiro pode ter
feito algo a Annie? – Leon pergunta quando
voltávamos.
— Estranho me perguntar, já pensei
nisso. Por quê?

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— Achei ela tensa quando passamos na


portaria. Percebi no primeiro dia que saímos,
depois fiquei de olho.
— Pensei o mesmo, mas ela disse que...
Na verdade ela se esquivou de falar disso. Agora
que tocou no assunto me dei conta. Vou ver isso.
Subimos e entrego a bola a Josh, ele
pega sem graça.
— Obrigado. Não precisava. – Ele a leva
para seu quarto, depois do almoço nos despedimos,
Ulisses também vai embora e Lizzie se despede do
tio já cheia de saudades.
Gosto que ela seja tão próxima dele. Sei
que sempre vai ter alguém maduro para ajudá-la
naqueles momentos em que pais são dispensáveis.

Josh

— Josh quer brincar um pouco com a


sua bola? – July me pede sentada na cama ao meu
lado. Faz uma semana que estamos aqui. Os
parentes foram todos embora há dois dias e depois
disso as coisas ficaram calmas, mas não sei como
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tudo vai ser.


— Não pode jogar aqui dentro, July.
Pode quebrar as coisas. – Ela pega a bola no móvel
ao lado da minha cama. Cada dia fica mais
desobediente e ainda não sei como vou controlar
ela para não estragar tudo.
Ela caminha pelo quarto com a bola na
mão. Annie e Nick estão se arrumando ainda e
ficamos esperando para o café da manhã.
— Pega, Josh! – Ela diz atirando a bola
como me viu fazer no parque. A bola não passa
nem perto de mim, vai direto para o abajur ao lado
de sua cama, ele cai fazendo muito barulho, espalha
vidro para todos os lados. Ela grita de susto.
— July! – Não sei o que eles vão achar
disso. Me aproximo sem saber se recolho os cacos
ou afasto July. Nick e Annie entram correndo. ─
Fui eu, não machuca ela.
Me ponho na frente de July, é o que faço,
não sei fazer mais nada, desde que ela nasceu é
assim, os dois param na nossa frente.
— Josh...
— Eu derrubei! – Aviso. – Vou limpar. –

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Me aproximo do vidro.
— Te ajudo. – July se abaixa.
— Não mexe nisso! – Nick se aproxima
de July. A voz brava me assusta.
— Fui eu! – Entro na frente de July de
novo, é só a droga de um abajur. – Corre, July! –
Ela corre, sabe que quando eu mando correr é o que
tem que fazer.
— July volta aqui. – Annie pede.
— Josh, ninguém está bravo, não
importa. Só fica longe do vidro. – Nick toca meu
ombro com a voz calma. Olho para ele tentando
enxergar as coisas direito, eu não sei o que fazer, eu
não sei mais nada. – Nessa casa, nem você, nem
July correm risco, não vamos nunca machucar
vocês.
— Está tudo bem. – Annie se aproxima
de mim, começo a acreditar. – Só não mexe nisso,
não quero que se corte. Está tudo bem. – Ela beija
meus cabelos e então ouvimos todos um grito.
Nick é o primeiro a correr, subimos mais
um lance de escadas e quando consigo entender
Nick já saia da piscina com July no colo, os dois

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molhados, ela tossindo e respirando com


dificuldade, cuspindo água. Tremendo e a culpa é
minha, mandei ela correr.
— Aí meu Deus! – Annie fica pálida.
Acho que passa mal por que se segura na parede.
— Ela está bem. Fica calma. – Nick pede
com July no colo. – Pronto. Passou pequena, está
bem.
Ele abraça July, ela treme, mas acho que
é de susto e não de frio. A respiração acelerada.
Seus olhos procuram Annie.
— Mamãe, eu caí! – Ela chora, Annie
faz carinho nela. Chora um pouco também.
— Pronto querida, o papai pegou você.
Fica calma. – Ela se encosta em Nick, ele a
envolve, só então os dois me olham.
— Está tudo bem, Josh, você não tem
culpa de nada. – Nick me diz e faço muita força
para não chorar. Achei que estava tudo perdido. –
Vamos descer todos.
O peito de July sobe e desce e eu não sei
de novo o que tenho que fazer, agora eles fazem
tudo. A senhora Kalais surge pálida.

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— Já resolvemos. Ela caiu na piscina. –


Nick avisa. Ela passa a mão no cabelo de July.
Aqui todos gostam dela. – Está bem, gatinha? –
Annie afirma secando as lágrimas, se acontece
alguma coisa com o bebê a culpa é minha.
Nick tira o inalador de July do próprio
bolso, não fica mais comigo. Ela é deles agora. July
aspira uma vez. Tosse logo depois.
— Caí na água, papai príncipe. – Ela
volta a abraça-lo.
— Pensou que era um peixinho? – Ele
diz beijando sua testa e do nada ela para de chorar e
ri. July é feliz.
Fico assistindo enquanto Annie da banho
nela, seca seus cabelos e deixa minha irmã calma
de novo. Nick aparece no quarto com uma roupa
seca, a senhora Kalais traz um suco para July.
— Suco de morango bem docinho para
ela ficar calma. E para você também, Annie. – As
duas tomam, mas nenhuma delas está mais nervosa.
– Agora vão brincar na sala que vou limpar isso.
— Eu limpo. – Acho que eu devo fazer
isso, July é minha irmã.

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— Não senhor. – A senhora Kalais diz


tranquila.
— Vamos, Josh, ainda nem tomou café
da manhã.
— Papai fui eu que quebrei. – July diz
estendendo os braços para ele.
— Não importa, pequena, foi um
acidente. Isso acontece.
Como pouco, não sinto fome, nem
vontade de fazer nada, Nick não vai trabalhar e
ficamos vendo desenho na sala de televisão a
manhã toda. July abraçada na boneca.
Depois do almoço damos uma volta nas
ruas, eles compram um abajur novo e encomendam
móveis novos, July vai ficar longe de mim e talvez
depois de um tempo quando ela estiver bem
acostumada, eles apenas me devolvam, não seria
errado.
Minha garganta fica ardendo. De noite
quando vou engolir dói um pouco. Eles estão
sempre sorrindo para mim, sendo educados e são
legais, mas eu tenho doze anos.
No meio da noite, July acorda e corre

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para eles. Acho que ela tem medo de eu dizer não,


então ela sai rápido da cama e corre com a boneca
na mão.
Eles são bons para nós, July ama viver
aqui. Não tem nada ruim a nossa volta. Cama
macia, comida gostosa, roupas novas, paz, silencio.
Sei porque estou aqui. Para July estar, só
não sei por que ela está, por que eles foram lá
buscar uma criança se já vão ter uma? Por que
escolheram ela, se podiam escolher uma sem
irmão? Não entendo essas coisas todas.
Eu tinha um trabalho. Cuidar de July,
protege-la das pessoas que queriam nos machucar,
era assim quando estávamos com nossos pais, e
depois em todos os lugares que ficamos, mas aqui
eu não faço nada.
Eles fazem tudo, ela gosta disso e eu fico
feliz, por ela eu fico. July é pequena, merece isso,
mas fico perdido. Com medo. Quero ficar aqui.
Quero ser filho deles, estudar e rir quando riem.
Tocar a barriga da Annie, chamar aquele
bebê de irmão, mas e se for só mentira? Se quando
July não ligar muito mais para mim eu
simplesmente precisar ir embora?
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Sinto frio e me encolho mais na cama.


Arrumo as cobertas, olho para o quarto agora sem
July. Tenho brinquedos na estante, uma bola,
carrinhos de controle remoto e as vezes penso que
gostaria de brincar com eles no Central Parque,
com Nick quem sabe.
Não me lembro de ter feito isso na vida,
nem sei como é. Sempre foi só ficar de olho para
não apanhar, para cuidar de July quando as coisas
ficavam ruins. Agora só o que faço é pensar e
pensar, sem saber como que as coisas vão ser.
Acordo com July me balançando, engulo
saliva e dói tudo. Sinto frio e moleza, acho que
estou ficando doente.
— Que sono em? – July diz sorrindo. –
Minha mãe e meu pai já acordaram. Só você fica
dormindo.
— Vou te ajudar a escovar os dentes e
por uma roupa.
— Não vai nada. Minha mãe que vai. –
Ela diz abraçada a boneca. – Josh a gente tem mãe
agora. Ela que cuida dessas coisas. Não aquela
outra brava que me batia, essa é boa. Não sabe falar
mãe, não?
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Me sento na cama e não sei o que dizer a


ela. July me abraça.
— Depois você brinca comigo um
pouquinho?
— Brinco.
— Então vou chamar minha mãe, o
papai príncipe vai trabalhar hoje. Você vai ficar
com um pouco de saudade? – Afirmo, não consigo
dizer com medo de alguém ouvir.
Queria ver como que é o trabalho dele,
me arrumo e fico esperando. Não consigo engolir e
isso só vai ficando pior durante o dia, tento brincar
com July, mas deixo ela brincando e fico deitado
olhando.
Nick trabalha só de manhã, de tarde ele
fica em casa, mas meus olhos ardem e na hora do
jantar engulo a comida com vontade de chorar de
dor. Coloco uma blusa de frio e fico rezando para
ser logo hora de dormir.
Nem presto atenção em July, eles sempre
cuidam mesmo, ela é deles agora, não minha. Não
tenho nada, não sei nada, só espero a hora de ir para
escola, vai ser difícil, porque nunca fui direito para
escola, mas vou aprender e ser o melhor aluno.
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Acordo de noite com mais frio e dor. A


cabeça dói, a garganta, tudo. Fico tremendo e acabo
chorando, odeio quando choro, não serve para
nada. July sai da cama e vai encontrar os dois e eu
bem que queria fazer o mesmo. Pelo menos hoje eu
queria.
— Josh! – A luz se acende e os dois
entram com July. Annie toca minha testa.
— Não falei que ele estava chorando? –
July avisa.
— Febre? – Nick pergunta a Annie, ela
faz que sim, ele decide ver e toca minha testa. –
Josh o que está doendo?
— Minha garganta e minha cabeça.
— Vou te levar ao hospital. – Nick fica
de pé, pega meu tênis no chão. – Vem, eu vou
calçar você e vamos, logo vai se sentir melhor.
Parece tanto que eles se importam, quero
tanto acreditar nisso.
— Vou agasalhar a July...
— Não, gatinha. Está frio, é tarde, vocês
duas ficam bem quietinhas em casa, eu ligo. – Nick
avisa, ele que me calça, de joelhos no chão,
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colocando meu tênis, depois Annie entrega meu


casaco para ele. – Veste filho, eu te ajudo. – Ele me
coloca a blusa, sei lá se alguém já fez isso comigo.
Annie beija minha testa, Nick sobe o
zíper da minha jaqueta, me sinto como July, é bom
e entendo um pouco por que ela é sempre feliz
agora. Ele disse filho, ele disse, eu podia tentar
dizer pai, mas não sei se ele quer mesmo isso.
— Devia ter dito! – Annie fica passando
a mão no meu cabelo como se quisesse arruma-los.
– Já vai ficar bom. O seu pai vai te levar e logo está
de volta. Quer que a mamãe vá também?
— Não, ele quer que a mamãe fique em
casa. – Nick diz a ela.
— Cuidei de você, né Josh? – July está
toda bonitinha sentada do meu lado, ela confia
tanto neles, parece que só por que eles existem
nada mais ruim vai acontecer com a gente e queria
ser como ela.
— Cuidou pequena, agora cuida da
mamãe. A gente não demora. – Nick me faz um
carinho nos cabelos, bagunça o que Annie arrumou.
Parece preocupado de verdade. – Pode andar, Josh?
– Afirmo e me levanto.
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— Fiquem me ligando! – Annie pede,


me dá mais um beijo na porta do elevador.
— Tchau Josh, se diverte! – July diz
acenando e consigo sorrir assim como Nick. –
Tchau papai.
A porta se fecha e queria deitar de novo.
Ele passa um braço por meu ombro e me encosto
nele de olhos fechados por que meus olhos ardem.
— É só uma gripe, filho, daqui a pouco
estamos em casa. – Faço que sim com a cabeça,
nunca sei o que dizer e agora além disso, falar dói.

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Capítulo 40
Nick

É claro que eu sabia que teriam


momentos tensos, mas July cair na piscina e Josh
ficar doente na mesma semana me deixa
apavorado. Mais decidido que nunca, isso é
verdade, me faz pensar como os dois resolveriam
essas coisas sozinhos.
Ajudo Josh a se sentar no banco de trás
do carro, prendo seu cinto, acho que ele já tem
idade para ir na frente, mas depois decido isso,
agora o que tenho é pressa.
— Dez minutos e estamos no médico. –
Aviso dando partida. Olho pelo retrovisor e ele está
encostado no vidro de olhos fechados. Que droga!
Como não vimos isso? Josh fica sempre tão
quietinho e distante, não vou mais permitir isso.
Chega de dar espaço ao garoto, ele não
quer espaço, quer atenção, é o que eu iria querer.
Tenho que pensar em como eu era, nas coisas que
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eu queria, não é tão diferente assim.


As coisas que mais me lembro eram os
momentos que passava com meus irmãos. Os
presentes, os passeios, os telefonemas no meio do
dia. Eles chegando do trabalho e indo direto me
procurar para saber se eu estava bem.
Os leves afagos, Ulisses mais expansivo,
me abraçando, cutucando, eu gostava, ele vai gostar
também. Ele chora sem saber que está chorando,
lagrimas escorrem por seu rosto de olhos fechados
e um tanto vermelho pela febre.
Me lembro da minha gatinha vomitando
naquele banheiro sujo, de não saber o que fazer e
penso que é bom estar perto dele agora. Quem sabe
ele entende que não está sozinho?
Acabo sorrindo ao lembrar de July
entrando no quarto e me cutucando para contar que
o irmão estava chorando, não importa o quanto ela
esteja feliz conosco, Josh ainda é dono do seu amor
maior e quero que continue assim. Sei o quanto
irmãos são importantes.
Estaciono em frente ao hospital, o
mesmo que trouxe July, crianças sempre escolhem
as madrugadas para ficarem doentes, meus irmãos
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já tinham me dito isso.


Quando abro a porta dele, Josh já tinha
soltado o cinto, desce abatido, põe a mão no
pescoço a cada vez que vai engolir saliva e acho
que deve ser a garganta inflamada.
Temos muito o que fazer até eles serem
tão saudáveis quanto os primos bem tratados desde
o nascimento e talvez antes disso.
A recepcionista me sorri com ar
simpático as quase duas da manhã. Ainda não
procurei o juiz para assinar os papéis, está tudo
marcado para amanhã. Dou meu nome e logo
somos levados a um consultório.
Um médico sorri, não é o mesmo que
atendeu July, me indica a cadeira e me sento com
Josh ao meu lado.
— O que aconteceu?
— Ele está com febre e dor de garganta,
dor de cabeça também e dificuldade para engolir.
— Vamos ver. – O médico se levanta,
leva Josh até a maca, faz exames clínicos. –
Garganta inflamada é como chamamos isso. Pode
fechar a boca, Josh. – O médico se afasta e me olha

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tranquilo.
— Ele não está nada bem, doutor. A
febre está muito alta?
— Um pouco, a garganta está bem
infeccionada, vou receitar antibióticos. Ele vai
tomar uma injeção, descansar um pouco aqui até a
febre baixar. Deve levar uns três dias até estar
recuperado, amanhã já vai conseguir comer melhor
no fim do dia.
— Que bom. – O médico se senta para
preencher a receita. Josh mal se mantêm de pé
cheio de sono e moleza por conta do mal-estar.
— Aqui está. – Ele me estende a receita.
– Agora a enfermeira vai dar a injeção, vou aplicar
um soro só para ser mais rápido e ele se hidratar um
pouco.
Somos levados a uma enfermaria, a
mesma que July ficou. A enfermeira ajuda Josh a
deitar na maca, passa um algodão em seu braço.
— Não vai doer. – Ela diz a ele.
— Eu não tenho medo. – Josh avisa
firme e realmente se comporta muito bem. Ela
aplica a injeção no cano de entrada do soro e depois

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as gotas começam a cair lentas. – Volto daqui a


pouco para ver a febre, o soro deve levar uma hora.
— Obrigado. – Digo quando ela deixa a
sala, Josh me olha deprimido.
— Desculpa te fazer sair de noite. – Ele
diz tão triste.
— Não é culpa sua ficar doente. – O
celular vibra. – Mensagem da mamãe. – Digo a ele
enquanto pego o celular no bolso. – Vamos ver.
Como está o meu bebê? – Olho para ele que ensaia
um sorriso. – E então, o que digo a ela? – Josh me
olha um instante.
— Que eu estou bem.
— Certo. Seu bebê está bem. – Digito a
mensagem, continuo avisando que é garganta
inflamada e que vamos ficar mais um pouco aqui.
Depois espero a resposta. – Manda um beijo para
ele e estou na sala esperando. ─ Leio para ele que
parece querer mais uma vez sorrir, mas se mantem
calado. Guardo o celular.
— Vai passar a noite acordado e amanhã
tem que trabalhar. – Ele se martiriza, tudo fica
sempre grande para ele, o tempo todo se sente
como se eu estivesse fazendo um favor e detesto
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que se sinta assim.


— Não vou trabalhar amanhã. Sua mãe
tem consulta perto da hora do almoço, de tarde é a
vez da July, marquei um especialista para ela.
Então vou passar o dia com vocês. Está tudo bem
Josh. É isso que os pais fazem.
Josh olha para o braço, depois para o
soro pingando lento, gota a gota. Sempre parece
que nunca vai acabar.
— É sempre a July. Nunca eu. – Ele
comenta.
— Acontece. Está com sono? – Ele nega.
– Logo a dor passa. – Faço um carinho em seu
cabelo, um dia vamos ser amigos, mais que isso,
um dia vamos ser pai e filho.
É estranho como ele simplesmente faz
parte de mim, como gosto dele, amo, mesmo tendo
tão pouco tempo juntos, mesmo ele sendo tão
fechado, não sabemos nada um do outro, mas com
o tempo vamos aprender.
— Não devia ter dito para ela correr. A
culpa foi minha. July podia ter morrido.
— Já contratei uma professora de

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natação para vocês dois. Josh, vão aprender em


casa mesmo, assim que você melhorar. Eu sei que
quis protege-la. Eu sei do que queria protege-la e
fico feliz de saber que ela tem você sempre atento.
— Eu sei porque estou com vocês, mas
não sei porque ela está. – Ele desabafa olhando de
novo para as gotas de soro em sua queda lenta e
constante. – Vocês queriam a July e por isso
acabaram tendo que ficar comigo também. Não sei
por que ela, vocês vão ter um bebê. Além disso,
quando foram lá escolher uma criança podiam ter
escolhido uma sem irmão.
— Então é isso que pensa? Está aqui por
que queríamos sua irmã e que fomos lá. Escolher,
como disse, uma criança?
— É o que eu acho. Não tem problema,
eu entendo. – Meu coração aperta com o modo
como se vê pequeno e sem importância. July é
tudo, seu chão, seu porto seguro, a razão pela qual
ele existe e abre os olhos todas as manhãs, eu sei
como é isso, me sentia assim. Proteger Annie dava
sentido a droga da vida que eu tinha.
— Queria que sua mãe estivesse aqui,
assim podíamos falar disso juntos, mas é bom que
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seja uma conversa nossa. Tenho vinte e sete anos,


Josh. Passei quatorze naquele lugar, quer dizer, eu
passei mais tempo da minha vida dentro daquele
abrigo do que fora.
— Não sabia que tinha ficado tanto
tempo. – Ele diz arriscando um olhar.
— Meu pai era um traste, me entregou
para eles quando eu tinha dois anos, me separou
dos meus irmãos. Fiquei lá com os pequenos,
depois com sete passei para o lado que você e July
ficaram. Era o inferno, violência dia e noite.
— As crianças falavam que antes era
ruim, era verdade?
— Sim. Era como o inferno.
— Fiquei uns meses num lugar bem
ruim.
— Depois vai me dizer que lugar era
esse e vamos acabar com ele. Melhor, vamos
arruma-lo. Tudo bem? – Ele afirma. – Annie
chegou quando eu tinha doze. Tudo que quer
proteger sua irmã e não precisamos falar, aconteceu
com ela. Saí com dezesseis, meus irmãos me
encontraram e me tiraram de lá.

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— Eles são bons. – Ele me diz e afirmo.


— Me perdi da Annie, por muito tempo,
ela ficou só na minha lembrança, no meu coração.
Eu estudei muito e arrumei aquele lugar e ficou do
jeito que encontrou. Claro que perfeito seria não
precisar existir lugares como aquele, mas ao menos
ele não é tão ruim.
— As crianças ficam bem lá. – Ele me
conta para meu alivio.
— Eu não conseguia ficar perto de
crianças, Josh, quando choravam então era como
ser jogado no inferno de novo, voltava tudo a
minha mente. Eu queria proteger todas, mas não
sabia como conviver com elas e meus irmãos foram
se casando e tendo filhos e conviver com eles era
difícil.
— Os dias que ficamos perto da sua
família eu pensava sempre no abrigo, porque
sempre tinha muita criança. July fica ansiosa
também, mesmo que ela não sabe direito disso, por
que minha irmã é muito pequenininha.
— Então me entende. Encontrei a Annie
de novo e comecei a gostar dela de outro jeito, daí
casamos e ela ficou grávida.
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— Você não queria o bebê? – Ele me


pergunta e decido que sempre vou ser honesto com
ele ou nunca vou ganhar sua confiança.
— Não. Eu não queria nenhuma criança,
nem sua mãe queria. Nós queríamos ser sempre só
nós dois. Então eu me dei conta que estava feliz
que ia ter um bebê e com medo, por que eu achei e
as vezes ainda acho, que não consigo ser um bom
pai.
— Acho que vai conseguir. – Ele
incentiva, sorrio. É bom para nós dois que eu
consiga.
— Annie quis voltar lá, ela achou que
ajudaria a gente a se curar do medo.
— Por isso que foram no abrigo? Não
estavam escolhendo uma criança?
— Não, filho, nem de longe. Então
vimos vocês dois. Josh, presta atenção, vimos
vocês dois, não July apenas, você parecia eu,
cuidava da sua irmã como eu cuidava da Annie e
quisemos vocês. Se ela estivesse sozinha não
teríamos nos aproximado. É porque ela estava com
você, por que você lia para ela.
— Escolheram eu? Não ela? – Ele fica
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surpreso. – Eu tenho doze anos, sou um pouco


grande para ser filho de alguém.
— Sabe, Josh, eu acho que tudo na
minha vida já estava traçado pelo destino, eu não
acho que tive escolhas. As coisas comigo não
acontecem assim. Meus irmãos escolheram quase
tudo, eles cresceram e foram as escolhas deles que
deixaram eles ricos, eles escolheram as mulheres
por quem se apaixonaram e os filhos que tiveram,
os que ainda vão ter.
— Você não?
— Não. Eu não escolhi a Annie, ela
sempre esteve na minha vida. Quase não tenho
memórias de antes dela, fiquei rico através deles,
dos meus irmãos, e meus filhos, todos eles, Josh,
você, July e o bebê, todos apenas entraram na
minha vida. Como se estivesse tudo planejado.
— Acha isso bom ou ruim?
— Eu morava num buraco, Josh. Só
ficava esperando o tempo passar. Não era feliz, não
tinha vontade de rir, de conviver com pessoas,
queria só trabalhar e trabalhar e mais nada. Essas
pessoas todas que cruzaram meu caminho me
tiraram desse buraco. Então é bom que não tive
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escolha, acho que minha escolha seria o buraco.


— Então é bom. – Ele analisa.
— Eu sei que tem doze anos, sei que
pode achar que é grande para ser filho de alguém,
mas é como eu disse, você estava no meu destino e
eu no seu.
— Você acha que sou grande ou
pequeno? – Ele pergunta, afago mais uma vez seu
cabelo, toco a testa, a febre cedeu um pouco.
— Acho que é pequeno, Annie acha que
é um bebê. – Ele sorri, não luta mais contra o
sorriso e sinto pena dela não estar ali para ver isso.
– Acho que precisa que alguém cuide de você.
— July não me obedece mais, não
precisa mais de mim, se eu não cuido dela eu não
sei o que tenho que fazer.
— Estudar, brincar, sorrir, ser feliz, Josh.
É isso que tem que fazer.
— Quero ir para a escola. Antes eu não
queria, mas não sou preguiçoso, era por que
precisava ficar de olho na July, agora ela tem
vocês. Não tenho mais medo de machucarem ela.
— Não vai para escola ainda, Josh. – Ele
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afirma, fica magoado, os olhos tensos.


— Por que ainda não decidiram? Você
acha que pode ser que me devolva? Pode dizer.
— Pais não devolvem filhos, Josh, não
vai embora nunca mais, não importa o que faça. –
Ele quer acreditar, mas como eu, sabe que palavras
podem ser apenas vazias. – A escola virá até você
um tempinho. Não muito, filho. Só até estar pronto.
Contratei uns professores particulares, só até o fim
do ano. Depois vai para escola.
— Vai ter gente indo na sua casa só para
me ensinar?
— Não. Var ter gente indo na sua casa só
para te ensinar. Quando alcançar os meninos da sua
idade, então vai para escola.
— Vou me esforçar. – Ele põe a mão no
pescoço e de novo sinto pena, deve estar com dor
ainda.
— Não se esforce demais tá bom? Só o
bastante, quero que brinque também.
Josh não diz nada, nem precisa, sei que
ele não sabe brincar, mas vai aprender, não quero
que seja um super garoto, não precisa ser o

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primeiro de Harvard, basta ser um bom menino.


A enfermeira entra no quarto e
interrompe a conversa. Mede a febre de Josh sorri e
abre o soro para cair mais rápido.
— Quase sem febre, abri o soro e vou
avisar o doutor, mais uns vinte minutos e vão poder
ir.
Ela deixa o quarto. Josh me olha, coloca
mais uma vez a mão no pescoço.
— Muita dor? – Ele afirma. – Então
descansa, Josh.
— Annie deve estar preocupada.
— Daqui a pouco vamos para casa.
— Ela não devia esperar acordada, no
sofá e tudo.
— Ela não dorme sozinha, tem pesadelos
com o passado. – Não vamos ter segredos. Não
preciso explicar. – Quer que eu fale com ela?
— Sim.
Mando mensagem avisando que Josh
está melhor e que logo vamos para casa, gosto de
sua preocupação com Annie.

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O médico nos dispensa, avisa que a febre


deve voltar e mais uma vez dá instruções, a
enfermeira tira o soro, e deixamos o hospital,
compro os remédios que ele vai ter que tomar e
voltamos para casa com Josh dormindo no banco
de trás do carro.
Foi bom contar um pouco do meu
passado, dei a ele o que pensar, ele vai analisar o
que ouviu e com o tempo vai entender que nós o
queremos. Agora eu sei como se sente e posso lidar
com isso.
Estaciono e ele desperta quando desligo
o motor. Se senta no banco abatido. Eu o olho pelo
retrovisor.
— Chegamos, agora vai finalmente
poder dormir e se passar mal tem que me acordar.
Ele não vai fazer isso, olha para os pés
só com a ideia e sei como é isso. Ainda hoje
enfrento meus irmãos assim, encarando meus
sapatos.
Annie fica de pé quando a porta do
elevador se abre, pela primeira vez ela me ignora
para abraçar Josh primeiro e isso é bom. July
dorme no sofá, com um travesseiro e coberta.
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— Como está? Doeu? Chorou? – Ela


arruma os cabelos de Josh, beija sua testa, abraça,
ele só fica ali, recebendo carinho. – Ainda está com
febre, Príncipe.
— Eu sei. O médico disse que vai
demorar uns dias para ele ficar bem.
— Fiquei te esperando, eu e a July, mas
ela dormiu em cinco minutos.
— Vou coloca-la na cama. – Aviso. Josh
ali, de pé, sem saber bem o que fazer. – Você
também, Josh. Dormir, está precisando.
— Vem, vou te cobrir. Cadê os
remédios? – Annie pergunta quando caminhamos
para o quarto, eu com July no colo e ela abraçada a
Josh.
— Na sacola, comigo. – Quando coloco
July na cama ela abre os olhos.
— Chegou papai. Fiquei com saudade. –
July me abraça e claro que faz tudo valer a pena. –
Josh. – Ela se move para olhar para ele sentado na
beira da cama.
— Estou aqui.
— Também fiquei com saudade, sabia?
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Se divertiu? – Ele sorri, é sempre carinhoso com


ela.
— Muito. – Ela realmente acha que sair
de madrugada para o hospital é um bom passeio.
July fecha os olhos. Abraça a boneca e
continua a dormir. Annie está ajudando Josh a tirar
os sapatos a blusa e se deitar.
— Como que eu faço para acordar na
hora do remédio? – Josh questiona. Annie beija sua
testa pela décima vez.
— Eu que te acordo e te dou o remédio.
Isso é coisa de mãe fazer. Acha que não vejo nos
filmes? – Josh sorri e por aquele sorriso ganha um
abraço apertado. ─ Sorriso lindo. Quando for nas
reuniões de escola vou dizer para as outras mães
que meu principezinho tem um sorriso lindo.
Não demora e ele está dormindo
também. Quando me deito com Annie em meus
braços conto minha conversa com ele, os olhos se
enchem de lagrimas com meu relato.
— Então é isso que ele pensa? – Beijo
seus lábios, ela me abraça como se meus braços
pudessem afastar sua tristeza. – Como eu, como
você. Sempre achando que não vale nada.
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— Vai passar, gatinha. Vamos ajudar


Josh a vencer isso.
— Fiquei com medo sem você. Quase
liguei para Sarah, pensei que o Simon podia estar
na casa dela e os dois podiam ficar aqui.
— Se acontecer de novo chama, sempre
pode contar com o Simon. – Me lembro do
porteiro, ainda não conversei com ela sobre isso,
mas vou.
— Meu garotinho. Pelo menos ele falou
um pouco com você. Vamos dar o dobro de atenção
a ele. – Ela se enrola a mim e assim como meus
pequenos, adormece.
Coloco o celular para despertar em todos
os horários de remédios, aproveito para dormir um
pouco, Annie acorda quando o celular toca e quer
ela mesma dar o remédio a Josh. Vou junto, quero
só ver como ele está.
Da para quase tocar em sua surpresa e
esperança quando Annie o acorda carinhosa oferece
o remédio e depois o cobre para voltar a dormir,
não deixa o quarto sem um beijo na testa.
Mais tarde nos sentamos para o café da
manhã. July está animada como todas as manhãs,
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Josh encara a mesa sem qualquer ânimo. A senhora


Kalais se aproxima com um copo alto, com canudo
e um liquido grosso dentro.
— Vitamina, querido, eu sei que não está
conseguindo engolir, então bati algumas frutas com
leite. Vai gostar. ─ Josh aceita e July olha para o
irmão impressionada. ─Tem para você também
bonequinha. – July sorri.
— Vamos ao Juiz e de lá para sua
consulta. – Comento com Annie.
— Eu vou ficar aqui, papai príncipe, não
quero ir. – July fica nervosa, sai da cadeira e vai
para o colo de Annie. – Não quero ir no juiz, ele já
pensou, não precisa ir lá, mamãe, ele pode mandar
a gente de novo para o abrigo.
— Só vamos assinar os papéis. – Annie
conta a ela.
— Não quero. – July chora. – Ele vai
mudar de ideia.
— Ele pode fazer isso? – Josh questiona.
E sinto que se preocupa.
— Não, ele não pode, mas vocês dois
podem ficar em casa. – Aviso para acalma-los.

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— Nessa casa aqui que é a minha casa. –


July nos lembra.
— Podem ir sem preocupações, eu fico
com eles. – A senhora Kalais avisa e sei que está
ansiosa para cuidar dos dois. Confio nela como
confiaria nos meus irmãos.
— Tudo bem, vocês ficam, não deve
levar mais que uma hora, depois vamos ver o
médico da mamãe e o da July.
— Isso mesmo, papai príncipe, depois,
não agora com esse juiz. Ele só quer ficar pensando
nas coisas. O Josh está doente.
Deixamos os dois na sala de televisão
assistindo desenho, Josh ainda febril, talvez eu deva
comprar um celular para ele, será que um garoto de
doze anos já pode ter um?
O juiz nos recebe pessoalmente, Annie
não é lá muito gentil com ele, como sempre se
esconde um pouco atrás de mim, qualquer figura
masculina a assusta um pouco, não demoro mais
que o necessário e quando deixamos ao prédio
Annie tem os novos registros dos meninos nas
mãos.
─Vão ficar molhados de lágrimas. –
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Digo a ela que me olha com as lágrimas escorrendo


pelo rosto.
— Olha, príncipe! – Ela me estende os
papéis. – Nosso menino se chama Joshua, nem
sabíamos disso, tem as datas de nascimento deles,
leia. Joshua Stefanos e July Stefanos, olhe onde
consta os nomes dos pais.
Talvez o vício da profissão tenha mesmo
me afastado um pouco dessa emoção, mas quando
ela me conta e encaro aquelas folhas elas deixam de
ser apenas documentos como quase tudo que lido
dia a dia. Aquilo é minha história e a dela, é a
história da nossa família.
Sinto um nó na garganta e trago Annie
para meus braços. Na porta do carro, no meio da
rua, eu beijo minha mulher. Um longo beijo. Ela é
dona do meu coração, das minhas emoções, me traz
sempre para esse mundo de sentimentos que meu
lado razão as vezes quer ignorar.
— Amo você, mamãe Stefanos. – As
palavras proporcionam um largo sorriso orgulhoso.
– Acho que esse papel vai ajudar ao Josh.
Os dois nos esperam prontos, damos o
remédio ao Josh. Depois Annie estende os papéis a
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ele.
— Joshua Stefanos é seu nome agora. –
Ela diz solene. – Não tem mais como fugir de nós.
Josh fica um longo momento encarando
a folha, não fala nada, mas sente. É visível, July
não entende, não faz diferença para ela.
— Eu que fico com isso? – Josh
pergunta com a folha na mão, sua expressão mais
suave.
— Não filho. O papai tem pastas para
isso. O papai tem pastas para tudo. – Annie diz e
faço careta. – E contratos, e vai assinar alguns,
acredite.
— A gente não vai passear logo? – July
pede e eu a pego no colo, deixamos a casa e
seguimos para o médico de Annie.
Quando o médico passa a geleia na
barriga de Annie estamos os três na sala. Ele não
reclamou e quero mesmo que as crianças vejam o
irmão, que criem laços com ele.
— Aqui está ele. – O médico diz
mostrando as imagens na tela o computador, dá
para ver muitos detalhes, é um aparelho bem

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moderno.
— Olha papai príncipe, que lindo. – July
dá tchau para tela do computador. Não sei o que
fazer, para onde olhar. Se olho para Annie de olhos
brilhantes e marejados, para Josh com seu ar
surpreso e encantado, July completamente
admirada e como sempre mantendo contato ou para
aquela pequena parte de mim que cresce a olhos
vistos, meu bebê de coração acelerado prestes a
receber todo amor do mundo. O mais puro e
imaculado ser que existe.
— Leva um pouco dessa pomadinha,
mamãe, para a gente ver ele em casa. Você
empresta um pouco, doutor? – July pede ao médico
que ri.
— Precisa do aparelho. – Ele explica
para a garotinha ansiosa que não sabe se olha para a
tela ou fala com a barriga já que com a pomadinha
ele pode ouvi-la melhor.
— Você compra um papai? – Adoraria,
seria mesmo perfeito, meus olhos cruzam com os
de Annie.
— Me salva, doutor, diz que não pode ou
ele vai mesmo fazer isso e serei refém dessa
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máquina.
— Precisa de um especialista. – O
médico avisa e nem deve ser tão difícil contratar
um.
— Se esforce mais doutor! – Annie
insiste. O médico me olha, ergue uma sobrancelha
quando se dá conta que estou considerando o fato.
— Vocês Stefanos, seu irmão queria me
contratar. Não pode ficar repetindo toda hora, sinto
muito. Faltam agora dezoito semanas. Querem
saber se é menino ou menina?
— Queremos! – July grita animada, está
sentada na maca com Annie, olho para Josh, Annie
faz o mesmo, ele tem que se sentir parte disso.
— Quer saber o sexo do seu irmão, Josh?
– Pergunto e ele me olha surpreso, sempre se
surpreendendo a cada movimento nosso.
— Quero. – Diz olhando de mim para
Annie. – Podemos?
— Doutor. – Me preparo, aperto a mão
de Annie, nos olhamos, não faz diferença na
verdade, mas torna ele real.
— Um menino. Vão ter um menino. –
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Annie sorri. Me dobro para beija-la, secar suas


lágrimas, o exame chega ao fim e enquanto o
médico vai limpado sua barriga eu a beijo mais
uma vez.
— Dois garotinhos, príncipe, dois
meninos e uma menina.
— Sim. Está feliz? – Ela afirma
chorando enquanto sorri.
— Agora é um menino, né? Igual o Josh,
depois que vai ser menina igual eu, né papai?
Todos os olhos recaem sobre July
mostrando nosso espanto, ela sorri achando muito
natural sua ideia. Escolhemos o silencio como
resposta.

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Capitulo 41
Annie

Sarah e Sophia se sentam comigo na


sala. July está na sala de televisão brincando com
suas bonecas enquanto vê desenho. Josh estuda
com seu professor particular no escritório.
— Nossa eu ando numa correria, estava
louca para vir te ver e saber como anda tudo. –
Sarah sorri pegando o copo de suco. – Agora que
trabalho me sobra muito pouco tempo.
— Como está indo na administração dos
hotéis? – Sophi pergunta.
— Simon me dá muita força, me
incentiva o tempo todo, mas ainda tenho
supervisão. São as primeiras semanas, estou
gostando, um tanto insegura, mas amando.
— Vocês estão bem? – Questiono. Sei
que Simon está completamente apaixonado.
— Sim. Ele as vezes se recente um
pouco, acho que preferia que de vez em quando eu
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fosse mais dependente dele. No fundo eu até sou.


Principalmente agora que assumi meus negócios,
preciso da força dele, mas os dois trabalhamos
muito.
— São um lindo casal e ele está
apaixonado. Completamente eu diria.
— Eu também, Annie. Simon me faz rir.
Ele é todo atrapalhado, sabe como me sinto? A
líder de torcida namorando o nerd. Acho fofo, ele
quer ser todo descolado e moderno, mas é todo
certinho e atrapalhado, amo isso.
O sorriso no rosto de Sarah não nega
como se sente. Ela e Simon formam um casal tão
lindo que fico emocionada de saber que ajudei
esses dois a se entenderem.
— Um gnomo nerd! – Brinco fazendo as
duas rirem. – Não vão contar para eles. Daqui a
pouco os três chegam.
— E como estão esses bebês em? –
Sarah pergunta tocando a barriga de Sophia a seu
lado, acaricio a minha um tantinho maior que a de
Sophi.
— Completei seis meses e a Sophi cinco.
– Sarah morde o lábio, sei como se sente, nunca ter
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passado por isso dá certa agonia. Lissa e Liv são só


animação, já eu e Sophi o tempo todo temos medos
e dúvidas.
July surgi na sala carregando a boneca.
Sorri para as tias.
— Estão falando dos bebês, né? – Ela
beija minha barriga. – Tia Sarah sabia que aqui tem
um menino que é meu irmão e que não tem nome
ainda? – Depois vai para perto de Sophi. – Aqui
também tem bebê. Uma menina que chama
Giovanna. Por que minha tia é de longe, bem longe.
Como que chama mesmo, Tia Sophi?
— Itália.
— É Itália, por isso que ela chama
Giovanna, mas eu chamo de Gigi mesmo, meu tio
Ulisses deixou. – Ela faz carinho na barriga de
Sophia, beija, depois beija a minha, afasta os
cabelos do rosto com aquela mãozinha pequena e
delicada que sempre a torna ainda mais graciosa. –
Pronto, agora eu vou ver meu desenho.
Deixa a sala arrastando a boneca quase
do seu tamanho, acompanhamos todas com um
sorriso bobo no rosto.
— Ela é tão engraçadinha. O Ulisses está
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tão feliz que é uma menina, diz o tempo todo que


quer que puxe a prima July.
— E como estão as coisas? O Josh como
está? – Sarah pergunta.
— Criamos uma rotina. Nick nos deixa
na associação todas as manhãs e vai trabalhar, fico
com meus velhinhos, July é a atração, brinca com
todos, vai de colo em colo, fez amiguinhos, Josh é
quietinho, mas dei um jeito nisso colocando ele
para ler para eles, ganha uns apertos de vez em
quando, está tentando. Voltamos antes do almoço.
Durante a tarde ele estuda, tem aula de tudo, passa
a tarde com seus professores, a noite ficamos todos
juntos, jogando, assistindo televisão, que significa
ver filmes de princesas da Disney toda noite.
— Leon e Heitor conhecem todas as
canções e isso é muito engraçado. – Sophia brinca.
— Simon contou que ele ainda não disse
mãe e pai. – Sarah comenta. Afirmo.
— Ás vezes acho que ele nunca vai
dizer, eu queria, muito mais pelo Nick que por
mim. Nick nunca teve pai. O meu eu perdi, mas
tive, até ir para o abrigo eu tinha um. Os Stefanos
tiveram um. Não era grande coisa, mas tiveram, ele
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não. Nick realmente não teve nem pai e nem mãe,


nunca, Leon é um pouco isso para ele, foi difícil
admitir, mas agora ele já consegue dizer, mas não o
chama assim. Na prática é seu irmão mais velho.
— Nick teve a vida mais difícil entre
todos. – Sophia comenta. – Só você empata um
pouco com ele. Lissa talvez. – Ela acaricia a
barriga, parece dizer a filha que com ela será
diferente.
— Acha que ele não se sente filho? –
Sarah questiona.
— Acho que ele ainda tem medo,
desconfiança, muito menos agora. Umas semanas
atrás ele ficou doente e isso mudou muito as coisas,
ele e Nick tiveram uma boa conversa. Josh tem
vergonha, e medo, mas ele se esforça. Tem um
olharzinho pidão.
— Tem mesmo. Dá vontade de aperta-lo.
Annie aperta. – Sophi brinca a sorrio.
— Não me privo de nada. Só me refiro a
ele como filho, abraço e beijo o tempo todo, as
vezes ele corresponde. Acho que é quando se
esquece de como se sente. Quando está perto do
Nick chegar eu sei que ele fica esperando, quer
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contar as coisas que aprendeu, mas só se


perguntamos. July não o obedece mais, ele fica
perdido com isso.
— Ele é louco por essa irmã. Quero que
ele ame minha Gigi, assim ele ajuda a cuidar dela.
– Sophia brinca. – Josh tem mais experiência com
criança que nós quatro juntos.
— Isso é verdade. Ele não se aproxima
da minha barriga, mas quando assiste o ultrassom
os olhos brilham, fica encantado. Acho que ele ama
esse irmão.
— Claro que ama. – Sarah me anima. –
Já a July.
— Essa consegue tudo que quer. Vai ver
quando o Nick chegar. Corre para seu colo e aí ele
pertence a ela até a hora de dormir.
— Meninas a barriga atrapalha? – Sarah
pergunta nos fazendo rir.
— Somos garotas cheias de imaginação.
– Sophia responde pelas duas. – Pensando em
bebês, Sarah?
— Oh não! De jeito nenhum, não tão
cedo, e além disso, somos só namorados.

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— Namorados? Quando foi a última vez


que o Simon dormiu na casa dele?
Sarah pensa um momento, faz uma
careta para minha observação, depois se lembra de
algo.
— Semana passada! Peguei vocês,
semana passada dormimos lá.
— Não vale, dormiram juntos! – Sophia
reclama. – Por que frisa sempre que são só
namorados?
— Por que quero um pedido oficial, uma
cerimônia romântica. Quero tudo. Usar um vestido
de noiva, aliança. Se agir como se já fossemos
casados ele nunca vai pedir.
— Pois acho que por ele já tinham se
casado. – Simon sempre diz que é ela, que tem
certeza, mas tem medo de ouvir não por que Sarah
é muito independente. Adoraria dizer a ela, mas
isso seria uma traição com ele e acho que ela
merece a surpresa de um pedido inesperado.
— Ele que peça então. – Ela toma um
gole do suco. Depois olha em seu celular. – Eles
estão deixando o escritório. Os três juntos.

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— Ótimo. Por que eu estou morrendo de


fome. – Comer é algo que tenho gostado muito de
fazer o que agrada a senhora Kalais mais que tudo,
como boa grega ela me enfia comida dez vezes ao
dia.
Josh surge na sala acompanhando o
professor, o único homem, só foi aceito por que
parece um ancião. O restante são todas mulheres e
Nick nem se envergonha de contar isso.
— Senhora Stefanos. – O homem me
estende a mão quando caminho até ele. – Seu filho
é uma grata surpresa. Cada dia se supera, sinto que
está pronto para a escola, mas como decidimos que
ele começa depois do natal, vamos deixa-lo ainda
melhor.
— Obrigada. Eu sabia o tempo todo que
ele era muito inteligente. – Josh dá um leve sorriso
de lado, seu sorriso orgulhoso.
— Nos vemos na segunda, Josh.
Descanse o fim de semana.
Ele aperta a mão do meu garotinho
formal e Josh se apruma para devolver o aperto de
mão, acompanho o professor até o elevador.
Quando volto ele está de pé me esperando.
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— Não vai parar de me deixar orgulhosa


nunca? – Ele faz um movimento negativo com a
cabeça. – Bom saber. – Beijo seu rosto e ajeito seus
cabelos, depois Nick chega e bagunça tudo com seu
jeito de fazer carinho, isso é uma pequena guerra
entre nós. – O papai está chegando. Acho que dá
tempo de tomar banho antes do jantar.
— Eu vou arrumar o escritório. – Ele
avisa antes de me deixar, todo arrumadinho como o
Nick, ainda bem que July me ajuda a fazer
bagunça.
Quando me sento de volta na sala com a
noite caindo através das vidraças, July surge na
sala, agora ela começa a perguntar de Nick e só
para quando ele chega.
— Mamãe Annie. Cadê meu papai?
— Já está vindo. – Ela se senta em meu
colo, sua mãozinha acaricia minha barriga. Josh
nunca fez isso, mas sempre presta atenção quando o
resto de nós faz.
— Vindo bem devagarzinho? – Ela
pergunta usando as mãos.
— Um dia ainda roubo essa coisinha! –
Sophia brinca ela se apressa em negar.
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— Não pode, tia Sophi. Meu pai chora.


Você acha que ele chora, mamãe? Se a tia me
roubar para ela?
— Acho. E eu também. Tia Sophi já vai
ter a Gigi.
— É. Meu irmão Josh não deixa não, ele
cuida de mim, até quando eu não tinha esses pais.
Sabia que eu tinha uma outra mãe bem brava? Só
me lembro um pouquinho. – Ela coloca as
mãozinhas no meu rosto, afasta meus cabelos. –
Essa aqui é bem melhor.
— Muito melhor e que te ama muito. –
Beijo seu rosto. Josh se aproxima. Sophia faz sinal
para ele se sentar com ela, meu garotinho obedece.
Ganha um beijo e um abraço.
— Então vou roubar o Josh. Ele vai ficar
jogando comigo.
— Não tia, nada disso, meu pai chora
mais ainda. Não é mamãe que ele ama o Josh?
— Muito. Ele ama muito os dois.
— Por que você não rouba o Bob?
— Ei. Meu bebê não. – Sarah se defende.
— Ele é bem bonitinho. Eu não posso ter
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um por que se não fico doente. Minha mãe falou


que não faz mal, eu brinco com o Bob e o Dobby
de vez em quando e já está bom.
— Isso. Todo mundo concorda. E eu fico
bem feliz de emprestar o Bob um pouquinho.
A porta do elevador se abre e os três
surgem, aposto que estavam provocando Nick, ele é
o único que não está rindo seja lá do que.
Eu ganho o primeiro e saudoso beijo, um
carinho na barriga e um beijo, ele não se importa
mais de fazer isso na frente das pessoas. Depois
July está em seu colo e Josh caçando seu olhar.
Nick beija a garotinha. Afaga Josh.
— Que demora esse negócio de
trabalhar, todo dia isso. – July reclama.
— Eu digo que essa menina é perfeita! –
Ulisses beija a sobrinha. – Me diz July, para que
trabalhar todo dia?
— Não sei, tio.
— Foi tudo ideia do papai Leon.
Acredite. Por isso eu sou o tio preferido.
— É mesmo, tio. – Todos nos
acomodamos um momento, tem suco e petiscos
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para todos.
— Vem cá, Josh. Me contar como foi
tudo. – Nick pede a ele que sai de perto de Sophia e
se senta ao lado de Nick com July no colo.
— O professor ensinou um pouco mais
sobre inglês hoje. – Josh conta. – E me indicou um
livro para ler. Você tem ele na sua estante do
escritório, se me emprestar eu posso começar a ler
hoje mesmo.
— São seus, Josh. Não precisa pedir. –
Nick avisa e ele afirma. Não conta dos elogios. É
muito humilde para isso.
— Ele disse que está cada dia mais
surpreso e que Josh é muito inteligente.
Nick sorri orgulhoso. Ele dá muito valor
a isso, foram seus estudos que deram a ele alguma
dignidade, através dos estudos ele deixou de se
sentir menor que os outros, então ele sabe o valor
disso.
— Puxou muito ao tio Ulisses,
inteligente, bonito. Charmoso também. – Ulisses
faz Josh rir. – Vai partir os corações das garotas
como o titio aqui.

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— Que corações andou partindo,


Ulisses? – Sophia o belisca.
— Aí. Nenhum, amor, é força de
expressão.
— Vai ser advogado também, Josh?
Como seu tio aqui e seu pai? – Simon pergunta e
ele olha para o pai. Acho que adoraria seguir os
passos de Nick.
— Sem pressão, ele pode ser tudo que
quiser, talvez a gente viaje o mundo para ver as
coisas quando chegar a hora dele decidir. Como o
Leon fez comigo.
— Eu vou junto. – July se prontifica.
— Eu também. Podemos Josh?
— Acho que sim. E o bebê. – Por essa
frase ele merece mais um beijo. É de longe o garoto
mais beijado do universo.
— Annie vai gastar a pele do menino de
tanto que beija. – Ulisses brinca.

Jantamos todos juntos, é bom e alegre,


sempre nos encontramos, Ulisses e Sophi, Simon e
Sarah, eles estão sempre perto.
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Quando passa nas nove os dois casais


partem, a senhora Kalais se recolhe e me sento no
sofá. Toco a barriga depois de um suspiro e o bebê
parece se virar dentro de mim, nunca tinha mexido
desse modo, intenso, todo ele, a barriga até fica
diferente, ergo a blusa e dá para quase vê-lo.
— Vem gente! Olha ele se mexendo. –
July corre para tocar, Nick se aproxima de olhos
arregalados. Josh se senta ao meu lado, mudo de
surpresa.
— Olha, mamãe. – July toca, o bebê se
mexe por inteiro de novo, fico de boca aberta com a
sensação. O pé parece passear pela pele da barriga
e podemos ver.
— Dói? – Nick pergunta, quer fingir que
está preocupado, mas tem um sorriso absurdo no
rosto e a mão disputando espaço com July.
— Não. É esquisito.
— Sou eu bebê! A July! – Ela grita para
o caso dele ser surdo. Sempre rio do modo como
ela se relaciona com a barriga. – Põe a mão para
você ver Josh. – Ela pede ao irmão, ele não sabe o
que fazer.
Nick está empolgado demais para pensar
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muito e só pega a mão de Josh e coloca sobre a


minha barriga. O bebê como um sinal de boas-
vindas passa por minha barriga mais uma vez.
— Ele que faz isso? – Josh questiona
chocado.
— Sim. Dá para sentir quando ele se
mexe. – Conto a ele que sorri, fica ali com a mão
em minha barriga esperando mais um movimento,
July se cansa, se afasta, Nick acaba por segui-la se
sentando ao meu lado, mas Josh continua ali,
esperando por mais, esquecido de todo o resto,
distraído demais para se dar conta.
O bebê reage uns minutos depois, seu
sorriso se alarga a mão busca melhor posição, meus
olhos encontram os de Nick que como Josh tem um
sorriso no rosto. Ele me beija, me acaricia o rosto,
dizemos um mundo de coisas sem uma palavra, só
com os olhos.
Não tenho coragem de me mexer e
acabar com esse momento de Josh com o irmão.
Meus olhos chegam a marejar.
— Está gostando dele em Josh! – July
percebe, o irmão olha para ela. – Vou lá buscar
minha outra boneca. – Ela se afasta correndo, agora
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ele não grita mais para a irmã não correr, com o


tratamento as crises quase sumiram.
— Minha outra mãe não gostava de estar
esperando a July. Ninguém fazia isso. – Ele deixa
escapar uma confissão, a primeira desde que está
aqui. Além disso, diz outra mãe o que me leva a
posição de mãe e me enche de esperança. – July
nasceu muito antes e ficou um tempão no hospital,
queria ter ido busca-la, mas não deixaram eu ir
junto e quando ela chegou não tinha nome, eu pedi
para ser July. Ela disse tanto faz, então ficou July.
— Escolheu um lindo nome. – Faço um
carinho em seu rosto, ele se senta. Agora um tanto
tímido por ter contado.
— Acha que é por isso que ela é um
pouco doente? Por que nasceu antes? – Ele se
preocupa.
— Não sei, mas ela não é um pouco
doente, July é saudável, está bem, não usou a
bombinha nenhuma vez essa semana. Cada dia ela
fica melhor. Não tem realmente cura, Josh, mas ela
está bem.
— É verdade. Antes eu não podia fazer
todas essas coisas, tirar cortinas e tapetes, levar ela
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no médico e fazer natação, se eu pudesse eu teria


feito, não foi por que eu não quis.
— Sabemos disso, Josh. – Nick avisa. –
Você fez o melhor que pode por sua irmã, sem
você, eu nem sei o que teria sido. Sempre vamos
contar isso a ela.
— Ele vai nascer direito, então ele não
vai ter essas coisas, não é?
— Seu irmão é saudável, Josh, pelos
exames é o que o médico disse, mas de todo modo,
vamos cuidar e ama-lo de qualquer jeito, vai
ajudar? Cuidar dele como cuida da July? – Nick
pergunta e ele sorri.
— Vou. Acho que ele não vai me
obedecer, a July não me obedece mais, só faz do
jeito dela.
— Então vamos dar jeito nesses seus
irmãos, tem que obedecer ao irmão mais velho. Eu
obedeço meu irmão até hoje. – Isso é bem verdade,
Leon diz e Nick respeita.
Ele afirma. July retorna caminhando com
dificuldade, cheia de brinquedos, que vão caindo
pelo caminho e ela tentando chegar até nós.

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— Cai tudo, toda hora!


— Senhorita, são quase dez da noite. É
hora de dormir.
— Meu pai ainda não brincou. – Ela
lembra.
— Porque tivemos visita.
— É. – Ela concorda soltando
brinquedos no colo de Nick. – Agora já foram.
— Muito bem observado. – Nick beija
sua testa.
— Não sei o que é isso não.
— Amanhã é sábado. O que vamos
fazer? – Eu questiono, Nick me olha, depois encara
Josh.
— Josh decide. Ele estudou muito essa
semana. Então pode escolher tudo que vamos fazer.
— Eu?
— Quer que eu escolho, Josh? – A
prestativa July se oferece.
— Não. Você escolhe o domingo.
— Pensei no Central Park. – Lá está os
olhos pregados nos pés. – Posso levar aqueles
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carrinhos que eu ganhei. Com controle remoto e a


bola.
— Eu vou levar minhas bonecas, só sei
disso.
— E eu vou levar o papai. Só sei disso. –
Brinco com ela apertando seu nariz.
— Então vou levar a mamãe e meus
meninos. – Nick completa.
— Então vamos todos dormir. Assim
acordamos bem cedinho. – Não temos escolha
mesmo. July é um despertador pontual.
— Acho que eu já vou dormir um pouco
com vocês mesmo. É melhor. – Ela se anima.
Troco um olhar com Nick. Depois ele a devolve na
própria cama, temos seguido os exemplos dos
irmãos, até que funciona, mas pela manhã
acordamos com ela na cama quase todo dia.

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Capitulo 42
Nick

Annie se senta na beira da cama para


calçar o tênis. Gosto de ver como é ágil, mesmo
com a barriga, sua vida é normal, não precisa de
ajuda para nada e agora que não tem mais enjoo
está no paraíso.
— Ajuda gatinha?
— Não príncipe, estou ótima, só vou
prender o cabelo. Vai ver as crianças, vê se já
separaram o que querem levar para o passeio. –
Sorrio quando ela diz isso. Annie para o que está
fazendo e me olha. – É ótimo isso, não acha? Vai
ver as crianças? Entende isso? As crianças? – Ela
frisa e afirmo, volto até ela e beijo seus lábios.
— Obrigado por ter ido até eles aquele
dia, eu jamais poderia.
— Tenho certeza que eles viriam de
alguma outra forma, sempre foram nossos.
Ela se encosta em mim, envolvo Annie,
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acaricio a barriga. Meu filho cresce ali tão seguro e


protegido do mundo, tão cheio de amor.
— Ele é especial, o oposto de todos nós.
Somos quatro abandonados, e ele tão cercado de
amor.
— Sim. Todo amor do mundo. – Beijo
sua barriga. – E ontem deu show. Só mesmo uma
apresentação daquela para ganhar o carinho do
irmão. Pensei que ele nunca mais se afastaria.
— Eu podia estar sentada lá até agora. –
Ela me sorri. – Vai amor. Não podemos demorar
muito. Está frio, só vamos por que nenhum dos dois
pode dizer não ao Josh.
— Ainda bem que são bonzinhos. Ainda
não aprendemos a dizer não.
— Nem vamos. – Ela sorri. Me beija e
me afasto. – Vou levar uma manta para me
acomodar embaixo de uma árvore com a July e sua
boneca. Até que ando aprendendo a brincar de
boneca.
— Até eu ando aprendendo a brincar de
boneca. O que me consola é que Ulisses vai ter uma
menina e não vai poder rir de mim.

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Deixo o quarto, as crianças ainda


dividem um quarto, vão ter seu espaço quando as
coisas do bebê ficarem prontas, aí vamos deixar a
casa uns dias para montarem tudo, July não pode
com toda a poeira que as mudanças vão trazer.
Quando entro no quarto está cada um de
frente para a própria cama, Josh olhando para meia
dúzia de carrinhos e bonecos de super herói. July
tem uma dúzia de bonecas, um ursinho e pequenas
coisinhas, bonecas tem centenas de acessórios,
quem diria.
— Já separou o que vai levar, July? –
Pergunto e ela passa a mão no rosto, os cabelos
soltando de uma trança longa.
— Já. – Ela aponta a cama com as mãos
e um sorriso.
— Não, filha. Não pode levar tudo.
— Falei para ela. – Josh alerta.
— Não pode? – Ela faz uma linda
carinha de decepção. – Então qual que pode.
— Tudo. Pode levar tudo. – Eu que não
vou fazer a garotinha triste por uma tolice como
essa. – Vou pegar uma mochila grande. – Ela abre

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um largo sorriso e que se danem os educadores. É


minha bonequinha que até outro dia nem boneca
tinha. Ela merece alguns mimos.
Abro o armário cheio de roupas, ela se
aproxima, encontra mais um brinquedo.
— Achou, papai príncipe, já estava me
esquecendo desse. – Abro a mochila apressado, é
melhor correr antes que ela encontre mais alguns.
— Pronto. Eu levo para você. – Digo
depois de guardar os brinquedos. Ela afasta os
cabelos mais uma vez. – Deixa eu arrumar esse
cabelo. Não pode ficar nos olhos, atrapalha a visão.
Ela sorri, eu a viro de costas e solto o
elástico da ponta.
— Quero trança papai. Você sabe?
— Sei. Eu fazia na mamãe quando ela
era pequena. – July se vira e me olha.
— Que engraçado, não pode casar com
menina pequena.
— Eu sei. – Sorrio começando uma
trança mais firme para não soltar. – Eu era pequeno
também e a mamãe era minha amiguinha só. Nada
de casar. Só grande.
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— Não vou casar não. Vou só ficar aqui


com você e a mamãe.
— Isso. Nada de casar. Nada de assunto
de casar, namorar, nada disso, só boneca e passeio
com o papai e a mamãe.
— Até ficar velhinha que nem a Ava.
Bem de cabelinho branco e boazinha. – Beijo sua
bochecha. Não me lembro das outras garotinhas
Stefanos serem assim tão delicadinhas. Mesmo
Lizzie sempre foi tão mocinha.
Balanço a cabeça, nem gosto de pensar,
eles acabaram de chegar, não quero abrir mão
deles. Não precisam partir nunca, sou grego, é isso,
está decidido, sou grego, os gregos não têm esses
costumes, filhos gregos ficam em casa.
Prendo o elástico e viro July, ela abre um
sorriso lindo de gratidão.
— Está linda. Podemos ir? – Ela afirma,
encaro Josh com dois carrinhos na mão. – Já
escolheu?
— Vou levar esses dois. – Não um, ou
três, dois e sei que quer me dizer para brincarmos
juntos. Precisamos dar um jeito de fazer isso.
Afirmo olhando para os carrinhos.
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— Fico com o verde que é a cor dos Jets.


– Ele sorri, aposto que adoraria dizer que esse é
dele, gosto de mexer com ele, um dia ele vai reagir
e devolver a brincadeira.
Annie saia do quarto, linda de moletom e
tênis, a mão sempre acariciando nosso bebê,
tivemos tanto medo e agora temos três deles, todos
os tamanhos e idades, não vamos perder nada.
— Vão se divertir gatinha. – Balanço a
mochila. Ela faz cara de desgosto. Seguro sua mão
e descemos as escadas. A senhora Kalais nos espera
no meio da sala.
— Um suco natural e sanduiches, não
pode comer aquelas coisas que vendem no parque.
— A senhora é má. – Annie a abraça, ela
é o tipo que abraça idosos, quando ando na rua com
ela, tenho medo que abrace estranhos só por que
tem cabelos brancos ou rugas.
— Divirtam-se.
— Obrigado. – Dizemos todos e sinto
que tenho filhos bem educadinhos.
— De carro, Nick. Eu prefiro. Vai que
me sinto mal. – Annie determina e não sei se isso é

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muito verdade ou apenas não quer passar na


portaria. Toda vez digo que vou resolver isso e
acabo deixando para depois com medo de deixa-la
tensa.
Arrumo July no banco, Josh não tenta
mais tomar a frente, está se soltando aos poucos da
responsabilidade de July. Confiante que fazemos
um bom trabalho.
— Prende o cinto, filho. – Peço a ele que
obedece no mesmo instante.
Dou partida depois de conferir se todos
estão acomodados.
— A gente pode ficar bem bastante
passeando? – July pede quando nem tinha saído da
garagem ainda. Sorrio para Annie.
— Só enquanto a mamãe aguentar. Por
que o bebê fica cansado. Aliás por que esse bebê
não tem nome? – Nunca decidimos isso.
— Eu que não vou escolher. – Annie
comunica. – Depois ele não gosta e a culpa é
minha.
— O Josh que escolhe, tudo é o Josh que
escolhe. – July reclama sentada atrás, olho pelo

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retrovisor sua carinha de brava.


— Ryan. – Josh diz de modo simples.
— Como o Quigley? – Annie questiona.
— Como o Fritzpatrick, o quarteback. –
Ele completa.
— Sabiam que ele era de Harvard? –
Comento dirigindo. – Ryan Stefanos. – Digo em
voz alta para ver como soa, paro no farol e encaro
pelo retrovisor o rosto de Josh, ele espera um
veredito. – O que acha, July?
— Eu conheço muitos nomes. Josh,
papai príncipe Nick, Ulisses, Leon, senhor
Fernandez, tio Heitor.
— Mas esses já tem dono. – Josh pela
primeira vez, quer lutar por algo. Gosto de ver.
Annie sorri, assim como eu, ela admira o momento
de libertação de Josh. – Ryan é bonito.
— Espera o carro parar Josh que a gente
pergunta para ele. – A mãozinha gesticula
mandona.
— Como que ele vai responder, July?
Ele está na barriga da mãe. – O farol abre, mas
estou paralisado, tão paralisado quanto Annie que
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aperta meu braço. Nenhum dos dois faz qualquer


movimento. Olho para Annie, os olhos dela estão
cheios de lágrimas, não queremos alardear o fato
para não pressioná-lo, mas é mais emocionante do
que quando July disse, para ela foi fácil e natural,
Josh não, ele luta.
Não pensou em dizer, escapou, talvez
seja algo que diga mentalmente, mas conseguia
colocar em palavras. Sem chamar atenção, Annie
tenta secar as lágrimas e respirar fundo.
— Gosto de Ryan. – Annie diz com a
voz embargada. Não tem como ser outro nome.
Não depois que Josh disse mãe. Será essa a história
que vamos contar ao nosso bebê. Que seu nome foi
escolhido pelo irmão, no dia em que disse mãe pela
primeira vez.
Buzinas me despertam e ponho o carro
em movimento mais uma vez. Acaricio a barriga de
Annie.
— Também gosto de Ryan. – Digo
trocando mais um olhar com ela. Annie puxa minha
mão e beija. Faço o mesmo beijando a dela.
— Então se todo mundo gosta eu
também gosto. – July decide.
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— Então é isso, nosso bebê já tem nome.


— É. Deixa que eu conto para ele. Esse
carro não vai parar não, papai? – July fica ansiosa.
Josh fica encarando a paisagem, mas tem
um ar contente.
Estaciono, descemos todos e pego a
mochila, a outra sacola que a senhora Kalais
entregou e ajudo Annie a caminhar em direção ao
parque. Andamos pela alameda arborizada, July de
mãos dadas com Josh. Ele com seus carrinhos
olhando o ambiente a sua volta.
Escolho um lugar tranquilo, abro a manta
sob uma árvore. Ajudo Annie a se sentar, ela
suspira, ri quando se encosta no tronco da árvore.
— Acho que não consigo sair daqui
príncipe.
— Tem um marido de braços fortes,
gatinha. – Beijo seus lábios, July se senta
arrancando os brinquedos da mochila. – Quer o
suco? Um sanduiche?
— Não. Vou só ficar aqui aproveitando
esse ar fresco.
— E brincando de boneca. – July está
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sempre ligada em tudo que acontece em sua volta.


— Está certo. – Josh ainda está de pé.
Segura os dois carrinhos na mão. – E então. Acha
que pode me vencer numa disputa? – Ele dá de
ombros, o rosto demonstra a timidez.
— Vou tentar.
— Ulisses me deu um desses, na verdade
ele queria brincar e me deu só para poder brincar
sem parecer ridículo.
— Esse é o seu. Verde. – Ele me entrega
o carrinho.
— Ryan! – Ouvimos July dizer alto,
olhamos e ela tem a boca na barriga de Annie.
— Seu irmão deve estar louco para sair
dali e se livrar dos gritos dela. – Coloco o carrinho
no chão. Ao lado do dele. – Até aonde?
— Pode ser lá naquela árvore? – Ele
aponta uma árvore uns metros à frente.
— Vamos lá. Sabe mexer no controle?
— Eu treinei.
— Esperto. – Brinco bagunçando seu
cabelo. – Vamos lá. Um, dois, três.

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Os carrinhos partem, me esforço, mas o


carrinho não parece disposto a obedecer meus
comandos, sai desgovernado, uma pedra está na
linha de frente.
— Cuidado, pai! – Ele diz rindo,
despreocupado, esqueço o carrinho para olhar seu
rosto. O sorriso congelado enquanto acelera seu
carrinho, o meu capota na pedra. Quem se importa?
Ele disse pai. – Ganhei! – Finalmente ele desvia os
olhos do carrinho para me olhar.
— Ganhou, filho. – Annie aplaudia. –
Está torcendo para ele? – Ela para de aplaudir.
— Papai, papai. – Brinca rindo.
— Não pense que acabou. – Desafio
Josh.
— Vou pegar o seu, pai. – Duas vezes.
Engulo o nó na garganta. O que deu nele? Seja o
que for, eu gosto. – Pronto. Agora vamos naquela
árvore ali. Que fica longe da pedra.
— Está insinuando que não sou bom
nisso?
— Acho que você não é não. – Josh
sempre pareceu maduro, sempre teve um ar adulto,

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triste, agora parece um garotinho.


— Se prepara, Joshua Stefanos. Vai ver
do que eu sou capaz com um controle remoto na
mão. – Ele ri. Pode rir à vontade. É uma grande
piada. Não sou bom nisso. Ulisses é que entende
disso. Sinto vontade de ligar para ele. Depois de
perder mais uma vez mando uma mensagem para
Ulisses.
— Seu tio vem vindo, vamos ver se
ganha dele.
— Ele é bom nessas coisas. – Ele diz
animado.
— Vamos tomar um suco. – Convido
meia hora depois. Nos sentamos, July vestindo a
boneca preferida. Annie ajudando. – Conta como
sou bom, Josh.
— Mãe, ele perdeu todas. – Josh avisa e
ela o olha mais uma vez surpresa, ele não vai parar
nunca? Vamos ficar os dois bobos assim?
— É isso? Você é péssimo, Príncipe?
Finalmente achamos algo em que o papai não é
bom.
— É bom sim. É bem bonzinho. – July

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me defende. Logo Ulisses surge de mãos dadas


com Sophia. Traz consigo um super carrinho de
controle remoto, eu e Josh trocamos um olhar.
— Ulisses adora chamar atenção. – Fico
de pé. Apertamos as mãos, ele ajuda Sophia a
sentar.
— Me convidaram para uma disputa, eu
preciso informar que sou o rei desse jogo.
— Seu carrinho é muito bonito tio. –
Josh diz encantado.
— Meu? – Ulisses sorri. – Não. Esse é
seu. – Ele coloca o carrinho três vezes maior que os
outros no chão, mantém o controle na mão. – Claro
que assim que disser que sou o tio preferido.
— Toda vez eu digo, tio. – A pequena
intrometida se adianta.
— Pronto, sua irmã te salvou, mas vou
ficar de olho, o caçula vai te influenciar a gostar
mais do Leon.
— Cala boca, Ulisses, vamos brincar.
Sou do time do Josh.
— Não tem nada de time. – Ulisses
reclama. Passamos toda manhã ali, brincando e
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rindo, até que as garotas cansam. July junta seus


brinquedos e voltamos para casa juntos.
Ulisses segue conosco para almoçar,
entro na garagem e ele para na porta. Pegamos o
elevador. Aperto o térreo para esperar meu irmão.
Ele vai custar a achar vaga para estacionar.
— Esqueci meus brinquedos. – July se
dá conta. A porta do elevador se abre.
— Me esperem aqui, eu pego. – Os três
descem e aperto a garagem mais uma vez. Pego a
mochila com os brinquedos, dia incrível, pai e mãe,
tudo no mesmo dia e nem é hora do almoço. Volto
para o elevador, segurando a mochila. A porta se
abre.
— Fico pensando o que os moradores
vão achar quando souberem que está enchendo esse
prédio de batedores de carteira. Seu marido sabe
que vieram do mesmo buraco que você? – Nunca,
nem mesmo na infância senti tanto ódio. Meu
sangue ferve dos pés à cabeça.
— Aguento você Ted, mas não mexa
com meus filhos. – Annie dizia abraçada as
crianças quando saio do elevador.
Passo direto por todos eles, não consigo
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controlar minha raiva, não sei quem ele pensa ser


para falar com ela assim, não entendo por que ela
aceita, mas acabou. Acerto seu rosto. Um bom soco
que o tonteia, não me importo em ser um homem
mais velho, não vejo nada.
— Nick, não. – Escuto Annie, mas não
paro para olhar para ela, pego aquele ser estúpido
pelo colarinho.
— Nunca mais vai falar assim com a
minha família. Está fora do meu prédio. – Saio
arrastando ele para porta. O homem tem os olhos
arregalados. Atiro ele do lado de fora quando
Ulisses chegava, meu irmão me segura. O homem
cambaleia. – Não volte nunca mais aqui. É minha
família! – Grito.
— O que está acontecendo aqui? – Ele
pergunta sem entender.
— Está proibido de entrar aqui! – Ignoro
Ulisses.
— Calma, Nick! Está assustando sua
família. – Suas palavras me despertam. Volto a
realidade.
— Estou bem. – O homem me olha da
escadaria. – Suma daqui. – Exijo, Sophia parada
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nas escadas de boca aberta. O homem desaparece.


Volto para dentro. – O que foi isso? Por que ele
disse essas coisas? – Pergunto a Annie ainda no
mesmo lugar, chorando abraçada a Josh e July que
também choravam. – Annie diz alguma coisa!
— Nick quer ter calma, está gritando! –
Passo a mão pelo cabelo. Puxo o ar buscando
calma. Ulisses mantem uma mão em meu ombro.
Felizmente ele está conosco.
— Desculpe, gatinha. – Me aproximo
dela. – Não estou gritando com você.
— Eu sei. – Ela diz entre soluços. – Nós
sabemos. – Ela acaricia os meninos.
— Quero colo, papai. Estou com medo.
– July diz me oferecendo os braços.
— Vamos todos subir e nos acalmar. –
Ulisses pega July no colo. – Não é mesmo,
bonequinha?
— Vem, gatinha. Desculpa. – Josh aperta
a mão da mãe. – Desculpe, Josh, sinto muito te
assustar.
— Não me assustou, pai, aquele homem
que me assustou. – Afirmo. Subimos todos, Annie

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encostada em mim. Na sala eu a ajudo a se sentar.


— Vou pegar uma água para ela.
— O que foi? – A senhora Kalais se
aproxima.
— Sabia que aquele porteiro maldito
maltratava Annie? – Pergunto a ela que me olha
espantada.
— O Ted? Não. Ele que indicou a Annie.
– Ela me conta e olho para Annie.
July está em seu colo, se divide entre
acariciar o rosto da mãe e a barriga. Josh sentado a
seu lado segura sua mão.
— Annie.
— Ted é o marido da Tracy.
— Tracy? A mulher que...
— Que me ajudou quando saí do abrigo,
que me deu uma chance, eu sei que ele me odeia,
não disse nada por que não queria que ele perdesse
o emprego. Fiz por ela.
— Annie. – Me aproximo. – Gatinha, ela
não fez nada por você. Fez por ela. Para aplacar a
culpa que ela sentia, que sente.

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— Pode ser, Nick, acho que está mesmo


certo. Mas ainda assim ela me deu uma chance.
Não importa como ela se sente, importa como eu
me sinto.
— Ele não vai voltar aqui. Não vou
permitir. – Ela concorda.
— Nunca achei que ele magoaria meus
filhos, não quero que ele volte. – Ela me abraça. –
Não queria que eles passassem por isso, a culpa é
minha.
— Não é não, mãe. – Josh diz num fio de
voz. – Você não tem culpa. Nem meu pai, estamos
bem, defenderam a gente.
— Tudo bem, filho. Só não para mais de
me chamar de mãe! – Ela diz chorando. Josh fica
corado, sorri e abraça Annie. – E não para de me
abraçar também.
— Eu também, não é, mamãe Annie?
— Sim, pequena, você também. – Ela
envolve os dois.
— Ótimo. Tudo resolvido, o homem foi
embora, todo mundo chorou, disse papai, mamãe,
eu perdi umas corridas e que tal comermos um

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pouco? – Ulisses pede. – Nick tem um bom soco.


Aprendi com a vida, não foi escolha, ou
era forte ou sofria as consequências, mas chega
disso, acabou, acabou para Annie também. Por que
nunca me interessei em saber como ela chegou até
mim?
— Meu pai é bem bravo. Não pode
brigar nada com a gente. – July diz orgulhosa. Não
quero que pense assim, que acredite que esse é o
meio certo de resolver as coisas, mas outra hora
falamos disso.
— Mereço pudim. – Annie brinca.
— Eu também. Tomei o maior susto. –
Sophia continua.
— Todo mundo merece. – A senhora
Kalais que é praticamente um general quando se
trata da alimentação de todos nós e principalmente
Annie determina e seguimos para mesa.
— Amo você. – Annie me faz parar no
meio do caminho. – Muito, não quero que fique
remoendo esse momento.
— Me conhece. Sinto muito. Leon me
alertou que havia algo errado, eu mesmo notei. Não

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quis te importunar com isso e olha aí.


— Príncipe.
— Tudo bem, o assunto morre aqui. Ele
vai receber tudo que tem direito e você vai ficar
longe deles.
— Pode apostar nisso. Vamos pensar
nesse dia como o dia que Josh disse pai e mãe.
— E não parou mais. Bonitinho te
protegendo e acalmando. É bom ter um ajudante.
— Muito. – Passo meus braços por sua
cintura, sinto a barriga de encontro ao meu corpo,
beijo seus lábios. Faço um carinho em seu rosto.
Ela se encosta em mim. – Me lembrei de nós dois
pequenos, do quanto me protegia. Sempre meu
príncipe vencendo dragões e bruxas.
— Sempre minha gatinha de olhos
assustados e doces. – Beijo Annie.
— Tem crianças aqui. Respeitem! –
Ulisses provoca. – Vou comer sem vocês. Preciso
ficar forte, vou ter um bebê.
Sigo até meu irmão, toco seu ombro
quando passo por ele.
— Obrigado por estar por perto.
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— Sempre. Mas você é o pior piloto que


já existiu. Não aprendeu nada.

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Capítulo 43
Annie

A qualquer momento o médico disse. Dá


medo só de pensar quando vai ser esse momento. A
vida está tão doce e tranquila que dá até um pouco
de angustia.
— No que está pensando, gatinha? –
Nick me pergunta quando me ajeito mais em seus
braços olhando para a televisão sem prestar
atenção.
— Um pouquinho de medo.
— Modesta. – Sorrio, sua mão acaricia
meu braço, ele ajeita a manta sobre mim.
— Vai ficar tudo bem, né? Vamos ficar
todos bem.
— Vamos. O Leon chega amanhã cedo.
Heitor deve chegar de manhã também, Simon me
cobre no escritório e hoje foi meu último dia de
trabalho. Vamos ficar perto até ele nascer.

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— Com a Lissa e a Liv aqui eu posso


aguentar se precisar trabalhar.
— Não. Além disso, Simon pode vir
aqui. Não preciso estar no escritório.
Olho pela vidraça, o céu escuro e pesado,
o inverno está rigoroso mesmo no início.
— Tadinha da Lissa, vai sofrer com esse
frio. – Nick sorri.
— Ela vai gostar, os gêmeos também,
neve é novidade para eles, frio, acho que nunca faz
menos que vinte graus em Kirus.
— Os gêmeos já viram neve?
— Sim. Já vieram outras vezes no
inverno, não para ficar tanto tempo, mas vão gostar.
— Não, July. Não pode mexer lá, eu já
disse. – Escutamos Josh e July numa pequena
briga. É raro, mas agora acontece, os dois se
desentendem.
— É rápido, Josh, você quer mandar em
tudo! – Sorrio para Nick.
— Adoro quando eles têm essas
briguinhas. – Ele sorri concordando. – Parece que
os dois tem quatro anos ou doze, eles não decidem,
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de todo modo, deixa claro que estão em casa.


— Não e pronto. Vai com as suas
bonecas. – Josh diz firme.
— Você quer ser dono do escritório do
papai. Vou contar para ele.
— Meninos, venham brigar aqui
pertinho. – Chamo alto.
— Viu o que fez? – Josh ralha com ela.
— Você que é culpado. – Os dois param
diante de nós. Sérios.
— Ela quer entrar no escritório e não
deixei. – Josh denuncia.
— Eu só queria uma folha, ele entra lá
toda hora.
— Para estudar e não mexo nas coisas do
papai. Quando estiver maior você entra.
— Eu também quero ir lá e pronto, a
casa também é minha. – Ela diz brava, é pequena e
muito decidida.
— Pode ir, July, eu ia com você, mas
quer ir sozinha. – Josh diz firme.
— Eu posso por que eu sou menina. –

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Ela decide apelar quando não tem mais


argumentos.
— Ahm? Isso não quer dizer nada! –
Josh reclama. – Isso não é argumento.
— Objeção aceita. – Nick diz a Josh.
— Eu gosto do argumento. – Tento
ajudar July.
— O júri não pode se pronunciar,
senhora Stefanos, nem usar de corporativismo.
— Não sei nada dessas coisas. Só quero
um papel. – Ela me afasta do pai. – Da licença,
mamãe. Deixa eu falar uma coisa. – July se senta
no colo de Nick. – Papai, eu quero escrever uma
carta para o papai Noel.
— Entendo. – Nick arruma nossa
garotinha, coloca os cabelos dela atrás da orelha e
ajeita a blusa de frio. Ele não tem ideia do quanto
está mais carinhoso e tranquilo. ─ Se lembra
quando foi trabalhar comigo e fez um lindo
desenho num contrato de milhões de dólares já
assinado? Quase me mata de vergonha.
— O Josh que não cuidou de mim
direito, papai. – Ela se defende.

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— Eu estava na sala do tio Ulisses, foi o


pai que te deixou brincar na mesa dele. – Josh faz o
mesmo atirando a culpa para o pai.
— A culpa é da mamãe que deixou eu
levar vocês dois. – Nick completa o empurra,
empurra do culpado pelo incidente.
— Vamos todos começar a assumir a
culpa por seus atos? – Todos me olham chocados. –
O que? Sou uma mãe educando! – Digo tentando
parecer uma mulher adulta.
— Quem é você? O que fez com a minha
esposa?
— Estou sendo adulta, príncipe.
— Hoje. Por que ontem estava ensinando
os dois a assobiar feito um moleque.
— Estava mesmo, mamãe. – July sorri
com aquela carinha linda que fica quando acha algo
engraçado. – E minha carta? Você escreve, papai e
envia ao papai Noel?
Nick olha para ela sem saber o que dizer.
— Enviar? – A ideia de mentir sobre a
existência do papai Noel e fingir que vai enviar
uma carta o deixa perplexo. Nick não faz
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promessas que não pode cumprir, principalmente a


uma criança.
— Eu envio. O papai só vai escrever no
computador. – Aviso para ele não se sentir traidor.
– Pega lá o computador, filho. Assim o papai já
anota seus pedidos.
Josh obedece, volta um momento depois
com o computador e se senta me afastando mais de
Nick. Essa família ainda vai precisar de um sofá
maior.
— Vamos lá. – Fico olhando Nick usar o
logotipo da corporação Stefanos, papai Noel vai
ficar impressionado. – Prezado senhor Noel...
— Pelo amor de Deus, príncipe, ele não
é um investidor. Deixa que eu começo. – Nick
apaga o começo da carta. – Escreve aí. Querido
papai Noel.
— Isso. Minha mãe sabe. – July me
aplaude.
— O que mais? Espertinha.
— Esse ano nos comportamos muito
bem, então queremos fazer nossos pedidos.
Nick anota, olha de um para o outro.
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Sorri, depois espera a continuação.


— Agora é com vocês. – Aviso.
— O Josh primeiro que eu ainda estou
pensando um pouco. – July avisa com uma mão na
testa compenetrada.
— Josh? – Nick pergunta ele fica calado
e pensativo. É quase outro menino, mas ainda não
costuma pedir nada para si. Está cada dia mais
carinhoso, sempre por perto, mas pedir coisas ele
nunca tentou.
— Não sei. Acho que vocês... Quer
dizer, o papai Noel, decide.
— Josh, o papai Noel só quer saber mais
ou menos o que você quer. – Eu comento e ele olha
para o pai.
— Qualquer coisa, Josh. – Nick
continua.
— Uma bicicleta, pode ser?
— Bom pedido. Também quero uma. –
Aviso e todos olham minha barriga. – Gente ele
não mora aqui, só está de passagem. Mais um Josh.
— Dois?
— A mamãe Noel pode querer participar
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disso. – Ele me sorri.


— Um boné dos Jets? – Um filho
perfeito, tenho mesmo sorte.
— Anotado. Agora você July. – Nick
encara nossa garotinha.
— Umas xicaras de chá para as minhas
filhas. – Adoro a ideia, ela já tem sua mesinha no
quarto todo rosa. – Uma boneca de cabelão, um
berço de boneca igual o do Ryan, maquiagem.
— Papai Noel não vai te dar maquiagem
que é coisa de gente grande. – Aviso, tudo tem seu
tempo, ao menos nessa casa.
— Tá bom, então eu quero... um carrinho
de passear no Central Park. Igual ao do Ryan, assim
eu levo minha filha quando a gente convidar o
Ryan.
— Nossa ele vai ficar honrado com o
convite. – Ironizo. Nick e Josh riem.
— Vai mesmo, mamãe. Que mais...
— Está ótimo, filha. Papai Noel tem que
atender muitas crianças. – Nick diz a ela. July
afirma.
— Tantas que ele as vezes nem
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consegue, ele esqueceu de mim da outra vez,


lembra Josh?
Era tudo que eu precisava para cair no
choro, sei como é isso, Nick também sabe, uma
vida sem natal, presentes, sem nada nem parecido
com isso. Respiro fundo, logo todo mundo está me
agradando. Ganho beijos e carinho, me abano com
a mão tentando não chorar.
— Tudo bem gente. Estou bem.
— Certo, então agora vamos salvar isso
e depois a mamãe envia para o papai Noel.
Colocar meus meninos na cama é sempre
uma festa, July reluta em dormir, sempre quer
conversar, seu quarto todo rosa e cheio de
brinquedos é aconchegante, ela custa a pegar no
sono.
Então vamos ao quarto de Josh, ele está
sempre pronto, mas nos espera vir dar boa noite,
fica lendo até que eu o cubra direito e beije sua
testa, Nick faz o mesmo, então deixamos o quarto
com uma luzinha acesa, assim como nós, Josh não
gosta de escuro.
Me sinto bem cansada. Quando deito,
depois de arrumar travesseiros e mais travesseiros
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acabo adormecendo, toda a semana tem sido assim,


um cansaço sem explicação.
Acordo sozinha na cama, Nick sempre
me deixa dormir um pouco mais. Quando tento me
sentar ele entra com uma bandeja.
— Café na cama. – Ele me beija, arruma
a bandeja. – Como se sente?
— Grávida. – Digo me ajeitando. Tomo
café, banho com sua ajuda, me visto e descemos
com cuidado, meus meninos tomam café na
cozinha, rindo com a surpreendentemente divertida,
senhora Kalais.
Ganho beijos e depois sofá.
— Liguei na associação, seus idosos
estão bem, mandaram abraços, e estão com
saudades.
— Vai traze-los quando eu voltar do
hospital?
— Não. Quando sairmos do hospital
vamos primeiro lá. Assim não tem briga e nem
desconforto. Nosso garotinho não vai se importar
de começar sua vida visitando a associação. É onde
vai crescer afinal.

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— Um lindo príncipe! – Ele é cada dia


mais perfeito. – Estou com saudade de você. – Nick
me acolhe. – Ao mesmo tempo estou achando que
vou sentir falta dele aqui dentro, seguro, o lado de
fora...
— Eu sei, gatinha. Leon vai ficar umas
semanas conosco e vamos aprender. – Nick tem
tanta confiança no irmão que chega a emocionar.
Quero que meus filhos sejam assim. Unidos e
inseparáveis como esses irmãos que nem mesmo o
oceano distância.
Heitor chega primeiro. A família fica
completa só depois do almoço, July não cabe em si
de felicidade tendo Alana para brincar em seu
quarto. Passamos a tarde juntos, todos os Stefanos
reunidos à espera do bebê.
Eles sabem como é mais complicado
para nós dois. Só de pensar no meu bebê chorando
no meio da noite e eu sem saber o que fazer me
causa arrepios.
Quando anoitece os Stefanos vão para
seus apartamentos, Ulisses vai ficar uns dias com
Heitor, ele quer ficar perto e prefere a casa com
mais crianças por que é o tio preferido. Mesmo que
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tenha que dividir espaço com Dobby, coisa que


sempre o deixa com um divertido pé atrás.
Vamos dar boa noite as crianças, não
importa quanto me custe, não abro mão disso.
Quero sempre dar um beijo de boa noite e mostrar a
eles que não estão sozinhos, que estão seguros. As
noites são sempre doloridas quando se está perdido.
Eles não estão mais.
July brincou tanto que dorme facilmente,
ansiosa para o dia amanhecer e ela poder ir brincar
com Alana. Josh nos espera como todos os dias.
Fecha o livro quando entramos, se deita esperando
as cobertas serem arrumadas.
— Pai. Você disse para o tio Heitor que
vai dormir no hospital com a minha mãe quando o
Ryan nascer. Eu fiquei pensando como que eu faço.
Acho que eu não sei mais cuidar sozinho da July.
— Vocês dois sozinhos? Não filho. –
Nick acaricia seu cabelo. – Nunca mais vocês
sozinhos, vai ficar com um dos tios. Quem prefere?
— Acho que é melhor ficar com o tio
Leon, assim a July brinca com a Alana e não chora.
Ela vai chorar sem vocês.
— Está certo. Você tem razão, eu
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prefiro. Quando eu for para o hospital vocês ficam


na casa do tio Leon, será só uma noite pelo que sei.
— E vão me ver no hospital. Se não vou
morrer de saudade.
— Eu quero ir. Acha que o tio me leva?
— Com certeza. – Beijo Josh.
— O Ryan não vai ficar lá? – Nego. Ele
se tranquiliza. – Posso ir na hora de te buscar? –
Me lembro dele contando que queria ter ido buscar
July e não deixaram.
— Como acha que vou conseguir trazer
sua mãe, o Ryan e as malas sem você? Eu venho
pegar você e July e vamos buscar a mamãe.
— Está certo. – Vejo como fica calmo,
não vai ser responsável pela irmã, vai participar da
chegada de Ryan e depois disso é mostrar aos dois
que não perderam seu lugar, que tudo fica como
está, tenho certeza que algum ciúme vai acontecer
quando o bebê chegar.
— Boa noite. – Beijo meu menino.
Vamos para cama.
Não consigo pegar no sono, tudo parece
estranho. Indisposição é uma palavra suave para o
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desconforto que sinto. Quando o dia amanhece


Nick está visivelmente preocupado, mas não sinto
dor, só qualquer outra coisa que não sei identificar.
As senhoras Stefanos relatam ter sentido
o mesmo perto da hora do parto. Não tenho nada a
fazer se não esperar a hora. As malas estão prontas,
as coisas decididas, é só mesmo o bebê decidir que
está pronto para esse novo mundo.
No meio da manhã me sento na sala para
ver as crianças brincarem. Só Alana está conosco.
Sentada no chão brincando com July. Josh estuda
no escritório e Nick me faz companhia. O coitado
não tem mais vida.
Lizzie chega com seu jeitinho meigo,
começa a mexer em meu cabelo fazendo penteados.
Quando menos espero sinto a primeira
contração. Aperto a mão de Nick. Nem preciso
dizer nada. Ele sabe só pelo modo como olho para
ele. É hora de receber meu bebê. Que venha com
saúde, o resto podemos conseguir.

Nick

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— O que? – A palidez e o aperto de mão


entregam a situação.
— Acho que está chegando a hora.
O ar falta, a inteligência de Harvard
desaparece e mal sei dizer meu nome. Fico olhando
para ela pensando que ideia foi essa de ter filhos? É
assustador demais.
— Vai nascer, Annie? – Lizzie pergunta.
— Sim, querida. A dor passou, mas acho
que vai voltar.
— Espera que vou avisar todo mundo. –
Lizzie pega seu celular de capinha rosa.
— Josh! – Ele corre quando percebe o
tom desesperado em minha voz. – Está na hora,
filho. – Os olhos do meu pequeno se arregalam. –
Fica calmo.
Alguém tem que ficar. Eu é que não
consigo. Josh olha para mãe, Annie tenta sorrir,
Alana e July entendem a situação e lá estão todos
eles de pé nos olhando. Eu segurando a mão de
Annie e ainda imóvel.
— Meu pai e os tios estão subindo. –
Lizzie avisa.
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— Filho, sabe as malas da mamãe e do


seu irmão? – Annie pergunta a Josh que sem fala só
balança a cabeça. – Pode por favor buscar?
— Já volto. ─ Ele some pela escada.
Volta um minuto depois, quando retorna, todos os
meus irmãos e cunhadas entravam. As crianças
vêm junto. Sophi andando lentamente.
— O que eu faço, Leon? – Pergunto
completamente atordoado. July agora agarrada a
mãe.
— Vamos para o hospital. – Ele diz
quando Annie aperta minha mão mais uma vez.
— Cinco minutos. – Aviso olhando para
as mulheres.
— Está ótimo. Não tem que correr, Nick.
– Liv me avisa. Heitor parece tranquilo também,
sorri feito um idiota, não lembro dele sorrindo
quando é Liv indo dar à luz.
— Vão comigo? – Peço aos meus
irmãos. Eles afirmam. Me volto para Josh. Tanta
coisa para pensar.
— Pai. – Seu apelo sai um tanto
esganiçado.

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— Vai ficar tudo bem. A tia Lissa vai


ficar com vocês, o tio Leon dá notícias e mais tarde
falo com você tudo bem?
— Tudo.
Caço na mesa de centro o aparelho
celular de Annie. Não sei por que Josh não tem um.
Já podia ter. Entrego a ele.
— Vou te ligar aqui. E pode me ligar
quantas vezes quiser. Cuida da sua irmã.
— É melhor eu ir junto, papai. – July
choraminga.
Lissa se adianta. Pega minha garotinha
no colo. Diz qualquer coisa a ela para convence-la.
Não presto atenção. Ajudo Annie a se erguer.
— Amor se comporta. Vou lá fazer o
último intensivo antes de ser nossa vez. – Ulisses
beija Sophi. – Vou descendo para pegar o carro.
Espero vocês.
Annie beija Josh, ele não consegue evitar
chorar. Depois ela beija July, seja o que for que
Lissa prometeu foi grande, ela está bem calma.
Annie beija os dois mais uma vez. O elevador
chega. Josh entrega a Heitor as malas. Leon me

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ajuda apoiando Annie.


— Está bem? Quer ir no colo? Gatinha,
fala comigo.
— Calma. – Ela pede parada. Os olhos
fechados. Depois relaxa mais uma vez. – Vamos,
antes que a dor volte. Quero ir andando.
— Tchau mamãe. Se diverte! – July
precisa rever seus conceitos sobre hospitais.
A porta do elevador se fecha. Annie se
apoia em mim, encaro Leon. Ele finge estar calmo.
Heitor ainda sorri.
Ulisses nos espera com a porta do carro
aberta. Me sento atrás com Annie e Leon, os dois
vão na frente. Heitor com a mesma cara de bobo
desde que invadiu meu apartamento.
— Gente agora é rápido. Não tenham
medo.
— Heitor, você quer parar de rir! –
Reclamo.
— Não estou conseguindo. Liv acaba de
fazer o teste. Vamos ter mais um bebê.
— Vamos comprar uma floresta e só
preservar gente, esse negócio de sustentabilidade
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está difícil. – Ulisses diz dando partida.


— Nick que tem problemas com os
recursos humanos.
— Naturais, Heitor, e eu também tenho.
– Annie avisa. – Já compramos fraldas ecológicas
e.... aí. – Ela aperta minha mão. – Esse negócio dói
demais.
— Quando for falar com a Sophi você
mente, Annie. Diz que é como um passeio no
parque. – Ulisses pede enquanto ela aperta meus
dedos. – Sophia vai me esmagar, já estou até
vendo.
— Vai ficar comigo? Do meu lado,
segurando minha mão. Nick, eu não consigo
sozinha.
— Não está sozinha. Nunca esteve.
Vamos fazer isso juntos, gatinha, como tudo.
— Juntos. Sempre juntos. – Ela concorda
encostando a cabeça em meu ombro.
— Nick. Vamos estar na sala de espera.
Só fica calmo. – Leon me pede e afirmo. – Ryan
está vindo, vai ser forte e saudável e vai ser rápido.
— Como conseguiu não ter um enfarte
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sendo dois?
— Por isso fechamos a fábrica. – Leon
me conta e compreendo, faria o mesmo.
Vou fazer, isso nunca mais. Não aguento
ver Annie sentindo dor e não podendo fazer nada.
Uma maca nos espera, meus irmãos
devem ter avisado o hospital, os enfermeiros
tomam a frente, aceno para meus irmãos, seus
olhares me acalmam, todos parecem bem
tranquilos.
— Vamos deixa-la pronta e o médico
vem examinar. – A enfermeira avisa. Uns minutos
depois o médico chega, Annie ainda mantém sua
mão em torno da minha.
— Muito bom. Está perto, senhora
Stefanos, vamos preparar a sala e logo terá seu
bebê nos braços.
O médico nos deixa a enfermeira se
aproxima. Toda tranquila, penso que deve assistir a
esse momento muitas vezes ao dia. Annie me olha,
sorri, mas também chora.
— O senhor tem que se preparar
também, vocês se encontram na sala de parto.

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Beijo os lábios de Annie. Ela me faz um


carinho no rosto. Encosto minha testa na dela. Meu
filho está chegando e mesmo assim, nesse
momento ela está acima de tudo.
— Eu amo você.
— Eu também te amo muito. Vou ficar
longe só um minutinho. Não fica assustada.
— Se algo der errado. – Tampo sua
boca.
— Não. Nem pense sobre isso. Tudo vai
dar certo.
A maca deixa a sala, alguém me entrega
roupas especiais, me encaminha a uma sala, me
troco e sou levado para sala de parto, tudo meio no
automático, sem qualquer noção do que estou
fazendo, ela está pronta, no meio de uma contração
quando chego. Me estende o braço assustada.
Seguro sua mão. Fixo meus olhos nela.
Penso em tudo que li escondido. Nas coisas que
podem dar errado, no quanto parecer bem ajuda a
mulher nesse momento, tudo misturado em minha
mente. Sinto medo, angustia, quero meu filho,
quero minha mulher.

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— Está linda. É corajosa. Tudo vai ficar


bem.
Ela afirma. Me aproximo mais, não olho
para o que acontece a nossa volta, sou inteiramente
dela, me concentro nela. Seu bem-estar acima de
tudo.
O médico vai dando instruções, ela
obedece, a testa sua, ela se esforça, penso em toda
nossa história. Na garotinha de olhos assustados
que chegou no abrigo, em quando juntou coragem e
foi me encontrar na disciplina, no dia que a deixei.
— Nick! – Ela aperta minha mão. – Amo
você. – Ela repete em meio a dor.
— Sempre te amei. – Digo a ela e então
seus olhos grudam nos meus, sua mão aperta a
minha com toda sua força e um choro sem fim
inunda a sala e impregna em mim.
A vida toda, desde que existo e me
recordo, choro de criança me machuca, maltrata e
sempre, por toda minha vida quis correr para longe.
Não dessa vez. Aquele choro me pertence em toda
sua plenitude, sua grandeza.
É meu filho se apresentando ao mundo.
Pisco para afastar as lágrimas e poder olhar para
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ele, o médico nos entrega meu anjinho. Annie beija


a cabecinha, o choro desaparece.
Lindo, enrugado, saudável, meu filho.
Beijo sua cabeça, os lábios de Annie, os dois
chorando enquanto ele apenas está ali. Seguro. Meu
filho.
— Ryan. Seja bem-vindo. – Beijo mais
uma vez aquele pedacinho de mundo.
— Ele é lindo, príncipe. – Annie soluça.
– Amo você filho. Amamos você, está com saudade
da July? Quer ver o Josh?
— Te amo! – Beijo meu pequeno antes
de nos tirarem ele. Meus olhos seguem para os
dela.
— É incrível que fizemos isso.
— Juntos. – Completo e ela afirma.
— Estou cansada. É a melhor dor que
existe no mundo. Liga para o Josh. Meus bebês
devem estar com saudade. Busca eles, vamos morar
todos no quarto do hospital.
— Posso, doutor? – Pergunto ao médico
que retirava as luvas. – Buscar meus filhos?
— Annie vai querer dormir, mais tarde
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faz isso. Parabéns, o bebê é lindo e muito forte.


O médico nos deixa. Beijo Annie mais
mil vezes e então a enfermeira me avisa que tem
que leva-la para o quarto.
— Vou tirar essa roupa, avisar os meus
irmãos e já te encontro.
— Vai, príncipe, estou ótima.
Ela some pelas portas duplas, levada por
dois enfermeiros, faço tudo correndo para poder
voltar logo para ela. Meus irmãos andavam de um
lado para outro. Param ao me ver.
— Nasceu. – É tudo que consigo dizer,
queria ser capaz de uma frase mais bem construída,
mas minha garganta está travada. Leon é o primeiro
a me abraçar.
— Parabéns. – Acabo chorando mais
uma vez, se é que parei de chorar desde a hora que
entrei na sala de parto. Os outros me abraçam.
— Como que ele é? – Heitor questiona.
— Pequeno, enrugado e cinza, como
todos os outros. – Ulisses brinca.
— Lindo! – Rebato. – Perfeito. A coisa
mais indefesa e delicada que já vi. – Me apavoro
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com a ideia. Acho que eles percebem. – Meu Deus.


O que eu faço?
— Calma, Nick. Está errado sobre isso,
recém-nascidos são fortes, mais do que pensa. –
Heitor me acalma.
— O caçula está pálido. Quer uma água?
Acho que vou amarrar os joelhos da Sophi, não
estou mais querendo brincar disso.
— Nick, é hora de mostrar força, não
vai ter um ataque de pânico, Annie precisa de você
forte e seus filhos também. – Leon com a mão no
meu ombro usa um tom firme e isso sempre me
acalma.
— Eu sei, eu só... Cadê a água que me
ofereceu, Ulisses?
— Vou buscar. – Ele some, volta um
momento depois com um copo de plástico, tomo de
uma só vez, depois respiro.
— Alguém pode buscar meus filhos para
verem o irmão? Eu vou ficar com ela.
— Mais tarde, Nick. A Annie precisa
descansar e dormir. Ela está esgotada. Vai ficar
com ela. No fim da tarde eles vem.

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Ganho mais abraços, depois volto


correndo, chego junto com Ryan. A enfermeira o
entrega a mim. Pego com cuidado, não é como se
nunca tivesse segurado um recém-nascido, mas
esse é meu. Parte de mim, a melhor parte.
Beijo sua testa, ele dorme, agora
limpinho, o rostinho perfeito. Me aproximo de
Annie ela beija o filho.
— Ele se parece com você, príncipe. –
Ela sussurra.
— Agora entrega para a mamãe que ele
vai mamar. – Obedeço a enfermeira. Annie parece
ir muito bem. Ela não precisa saber do meu
momento de pânico a pouco.
— July diria, que engraçado! – Ela
brinca quando Ryan começa a sugar seu seio.
Sorrimos. Beijo seus lábios.
— Obrigado. – Sussurro para não
incomodá-lo. – Por essa família.
— Nossa família.

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Capítulo 44
Annie

A carinha do papai. Tão lindo, meu


pequeno príncipe. Sugando meu seio, faminto e
forte. Me fazendo chorar só por existir. Que tolice
todo aquele desespero que fiquei. Olho para Nick e
ele parece tão apaixonado que me sinto culpada por
ter duvidado que ele podia aceitar.
Ryan adormece, a enfermeira me dá
instruções, não vejo a hora de chegar em casa, das
minhas cunhadas me ajudarem, das crianças
ficarem paparicando ele. Tanta expectativa. Quero
sair logo daqui.
Nick coloca ele no bercinho de acrílico
alto ao lado da cama. Agora os bebês ficam com
suas mães, não em berçários enfileirados vindo só
para mamar como nos filmes. Gosto disso.
Não poderia me separar dele. Nem
consigo pensar nisso. Ficamos os dois sozinhos,
Nick me beija.
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— Quer dormir? – Ele me pergunta e


estou mesmo esgotada de um modo que nem
pensei. Acho que nunca me senti assim.
— Vou esperar seus irmãos. Não quero
perder a cara deles elogiando meu bebê. – Nick ri.
— Devem estar convencendo a
enfermeira. Não espere muito do Ulisses.
— Eu sei, vou anotar tudo e dar o troco
em umas semanas.
A porta se abre e os três entram tentando
ser silenciosos. São quatro grandalhões de coração
mole apaixonados por suas famílias. Amo ver os
irmãos juntos, acho uma pena que morem tão longe
uns dos outros.
— Que coisa mais linda! – Heitor olha o
bebê. Depois me beija a testa. – Parabéns, mamãe.
Seu filho é lindo!
— Muito. – Leon continua, ele
permanece mais um longo momento olhando meu
filho, parece desejar coisas boas, seu olhar é
carinhoso e cheio de orgulho. Nick fica à espera de
sua opinião.
— É o vovô, Ryan! – Ulisses diz a seu

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lado. – Tem cara de vovô, está velho e acabado


como um.
— Cala a boca, Ulisses! – Leon reclama.
– Ele é lindo. Bonzinho. Parece o Nick. Se
lembram? Nossa! É muito parecido, me lembro
como se fosse hoje. – Só então ele abraça o irmão,
depois me beija a testa. – Ele é lindo. Parabéns.
— Oi bebê! Eu sei, o tio preferido
chegou. Tenho planos. Nem imagina. Tudo bem aí?
– Ulisses beija o bebê, ele não resiste. – Adoro esse
cheiro de bebê. Você é a cara do joelho do papai.
— Para Ulisses, ele é lindo! – Eu
reclamo. Ele ri de mim.
— Nick ela está dizendo que seu joelho é
feio. – Ulisses me beija a testa. – Até que não está
tão acabada. A Lissa parecia meio morta quando os
bebês nasceram.
— Minha mulher estava linda, Annie. –
Leon me avisa e realmente não existe maneira de
Lissa ficar feia, eu jamais vi mulher mais bonita. –
Vou dizer o mesmo quando Sophi der a Luz.
— Não antes de mim. – Ulisses ri. – É
sério, está bem. A Liv também fica bem, mas ela
não conta. A mulher é feita para isso, vou convida-
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la para acompanhar a Sophi na hora do parto.


— Estou começando a achar que alguém
está dando para trás. – Heitor comenta.
— Eu estou tendo certeza! – Ulisses
admite. – Da muito medo, vocês ficam apavorados,
me assusta, sou um cara sensível.
— Como se sente, Annie? – Leon me
pergunta, o que é estranho por que nem consigo
parar de sorrir então dá para imaginar.
— Ótima, por mim ia embora agora
mesmo.
— Nick, segura ela. Não deixa que
descumpra nada que o médico exigir.
— Fica tranquilo, Leon. Eu vou ficar de
olho. – Nick beija minha mão. Sorrimos um para o
outro. – Ela foi muito valente, ficou forte o tempo
todo. Estou muito orgulhoso. – Ele diz para os
irmãos, mas os olhos estão sobre mim e posso até
tocar seu orgulho.
Foi o momento mais esplendido da
minha vida, inesquecível, meu bebê saindo de
dentro de mim e gritando ao mundo sua força.
— Vai trazer meus meninos? – Nick
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pede a Leon. – E Lizzie. Quero que venham os três,


não deixem Lizzie se sentir fora desse momento.
— Pode deixar. Está no contrato. Ela me
disse. – Heitor me conta. Nick fez o contrato por
telefone, enviou por e-mail ela assinou e Heitor
teve o trabalho de enviar de volta pelo correio.
Assinamos todos e ela recebeu uma cópia, ele vai
as últimas consequências com isso.
— Vamos. Já vimos o bebê, as garotas
vão ficar bravas, prometemos não ver antes delas. –
Heitor os chama.
— Eu prometi de dedos cruzados. –
Ulisses diz rindo.
— Volto no fim da tarde com as
crianças. Faz ela dormir um pouco. – Leon pede a
Nick. Ficamos sozinhos, Nick me ajuda a deitar e
adormeço. Acordo com um toque leve de Nick. É
hora de amamentar mais uma vez. Sorrio orgulhosa
da minha importância.
— Ele precisa de mim. – Digo enquanto
ele me suga. – Eu ficava pensando que depois que
saísse da minha barriga eu deixava de ser o centro
de tudo, mas não, ele ainda precisa de mim.
— Sempre vai precisar, gatinha. É a mãe
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dele.
Depois de mamar ele fica ali,
adormecido em meus braços, aproveitamos que
estamos sozinhos para ficar admirando sua beleza.
Decorando seus detalhes.
— A boca parece a sua. – Nick diz
baixinho.
— Acha? Acho que ele é você direitinho.
Pena não ter fotos. – Nick concorda. – Isso é algo
que sinto pena. Depois de conviver com Sophi, de
todas as fotos que ela tira da gente o tempo todo,
não tem nada de nós para comparar. Nem July e
Josh.
— É isso, somos uma família sem
passado. Sem passado, sem arrependimentos, isso é
bom. – Ele me anima e concordo. Escuto vozes no
corredor e sei que é a faladeira July chegando.
A porta se abre, ela é a primeira a entrar.
Seguida por Josh, Lizzie e Leon. Sabia que ele não
deixaria mais ninguém vir.
— Saiu mesmo da sua barriga! – July diz
assim que nos vê. Dá os braços para o pai, ansiosa,
tanto que a respiração começa a pesar.

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— Bem calminha, pequena. Ele é seu e


não precisa ficar ansiosa. – Nick diz a colocando
sentada ao meu lado. Beijo sua testa, ela me ignora.
Seus olhos só querem ver o irmão. Lizzie me beija
o rosto, depois a testa do bebê.
— Que lindo! Oi Ryan.
Olho para Josh, ele sorri. Faço sinal para
se aproximar, beijo sua testa. Mostro o bebê.
— Ele é lindo. – Josh faz um carinho nos
cabelinhos escuros como os do pai. – Você está
bem, mãe?
— Sim. Só com saudade de vocês.
— Já está com saudade, é? – July acha
engraçado. – Posso pegar ele agora? Me dá eu sei.
Pode acordar ele? Como que ele vai me ver. Ryan!
– Ela dá um tapinha leve em seu ombro. – Acorda
lindinho. Sou eu. – Ela diz baixinho, pelo menos
agora não grita mais. – Deixa eu pegar só um
pouquinho.
— Príncipe. – Nick a ajuda com o bebê,
deixa que pense que o segura. Uns minutos apenas.
Ryan logo se sente incomodado pela agitação e
reclama.

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— Vou colocá-lo ali no berço e vocês


três ficam olhando para ele. – Os três cercam o
berço, olho para aquelas crianças de olhinhos
encantados e fico pensando o que passa por suas
cabeças. July é a primeira a desistir dele e se
esforça para subir na cama, Nick a ajuda.
— Não tem mais bebê nenhum aqui? –
Ela toca minha barriga.
— Não.
— Ele mama no seu peito? – Afirmo. –
A Emma não mama mais não, sabia disso? Tia Liv
me contou.
— Quando Ryan estiver do tamanho
dela, ele não vai mamar mais também.
— É mesmo. Agora eu vou ficar aqui
está bom? Não quero ir embora.
— Só hoje.
— Mamãe. – Ela me abraça. – Por que?
— Só uma noite, pequena, não pode ficar
aqui. Amanhã você vem me buscar.
— Então vou ficar com o Ryan mais um
pouco. – Ela se junta aos outros dois. Josh volta até
mim. Fica me olhando.
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— Estou bem.
— Ele não vai ficar aqui não? Vai
amanhã também?
— Sim.
— Ele tem alguma doença?
— Nenhuma, Josh, não se preocupa.
— Ajudo a cuidar dele. Cuidava da July.
Desde assim bem pequena. Nunca fiquei longe
dela. Não, só uma vez, me esqueceram na escola e
fui parar num abrigo, depois me levaram para casa
e fiquei dois dias sem ver ela. – Ele mais uma vez
não pretendia contar, diz sem querer, de todos os
olhares sobre ele, Lizzie é quem parece mais
perturbada, ela não conhece nada de falta de amor,
sempre foi coberta por ele, mesmo quando não
conhecia o pai.
— Amo você, filho. – Digo só para ele
saber, eu sempre digo, e ganho um sorriso. Agora
ele acredita.
— Não vejo a hora de estarmos todos em
Kirus. – Leon diz sorridente. ─Agora só falta o
Ulisses.
— Errado. – Eu o lembro. – Agora
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começamos tudo de novo com o Heitor.


— Verdade! – Nick diz rindo, Leon
ergue uma sobrancelha.
— Sem discurso?
— Leon, eu desisti do Heitor. Liv não
tem pulso com ele. E depois dizemos que o Ulisses
é o grande aventureiro. – Nick olha para as crianças
em torno do berço. – Como ele pode se arriscar
tanto? É assustador, Heitor é o grande aventureiro
da família.
— Nick, não tenha medo, você nasceu
para isso. É espantoso, se quer saber, não me
surpreenderia se tivesse mais um.
Leon só pode estar louco, eu e Nick nos
olhamos.
— Da minha barriga não sai mais nada. –
Aviso, então olho para as crianças. Josh erguia July
para ela poder beijar Ryan. – Já do meu coração...
— Estou falando! – Leon ri. – Vou levar
as crianças. Amanhã volto pela manhã. Venho com
dois carros assim deixo um aqui para irem embora.
Josh se aproxima quando ouve, olha para
Nick, não tem coragem de pedir claramente, mas
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não precisa. Sabemos o quanto ele quer fazer parte


de tudo isso.
— Não vamos deixar o hospital sem
você filho. Quero todos os meus bebês comigo. –
Beijo sua testa. Ele fica vermelho, olha para Lizzie,
será que já está entrando na adolescência e eu vou
ser uma mãe que o envergonha em público?
— Vamos crianças? – Leon convida,
July olha para ele com ar triste. – Lembra que
combinou com a tia Lissa? – Ele diz a ela que faz
bico, mas depois me abraça. Beijo seu rosto, está
toda arrumadinha, as tias cuidando direitinho e
penso na sorte que tenho de ter uma família agora,
uma grande e amorosa família. Somos todos
irmãos.
— Se comporta e obedece direitinho.
— Tá bom. – Ela me abraça mais uma
vez, depois vai para o colo do pai. Então é a vez do
Josh.
— Tchau, mãe. Eu cuido da July. – Ele
me abraça. Beijo meu menino, não tenho recados a
ele. Josh é todo comportado.
— Se descomporte um pouco. – Brinco
fazendo ele sorrir. Então é a vez de Lizzie.
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— Te amo, sabia? – Digo depois de


abraça-la.
— Também. Ele é lindo e estou muito
feliz, Annie. Você e meu tio Nick merecem. Agora
é só ele crescer um pouquinho e vamos para Disney
e todos os outros lugares que combinamos.
— Vai ser perfeito. – Nick ganha seus
abraços e assisto todos partirem. Nos olhamos.
— July vai chorar. – Ele me diz sentando
ao meu lado. – Foi com um olharzinho triste.
— Também achei. Estou com uma
peninha. – Olhamos para Ryan. – Eles ficaram
felizes, não acha? Talvez um pouco inseguros?
— Vamos ter que cuidar disso, Gatinha.
Ele é tão incrivelmente perfeitinho. Não sei como
não me derreter por ele.
— Queria pegar ele mais um pouquinho.
— Vão brigar com a gente. – Nick me
diz e afirmo.
— Então vem deitar aqui comigo um
pouco. – Me movo para deixar um espaço, ele se
deita, eu o abraço. É estranho não ter mais a
barriga, mas é bom estar em seus braços. Suspiro. –
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Somos dois idiotas. – Ele ri.


— Por que?
— Três filhos, príncipe, um com doze
anos e estamos com medo de alguém brigar por que
pegamos nosso filho no colo.
— Está certa! – Ele me olha. – Vou
busca-lo. – Nick deixa a cama e volta com Ryan, o
jeito como olha para ele é tão lindo que meu
coração se aperta de amor. – Que lindo, você é
muito bonzinho, bebê. Quer dormir, não é?
Ficamos os três na pequena cama de
hospital, Ryan dormindo. Meus olhos vão pesando
e adormeço olhando seu rostinho suave.

Leon

Chegamos de volta ao apartamento com


July de olhinhos tristes, Lissa prometeu leva-la para
comprar presentes para o bebê. Talvez isso a
distraia um pouco.
Estão todos no meu apartamento. July se
distrai contando sobre Ryan, a mãe e o pai. Beijo
Lissa e Luka vem para meu colo. Talvez ele esteja
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um tanto enciumado é o Luka, ele sempre está.


Alana e July vão para o quarto brincar.
Josh se senta meio constrangido. Está
completamente deslocado. É olhar para ele e ver
Nick nos primeiros dias, se de algum modo errei
com Nick não vou fazer o mesmo com Josh.
— Luka. Que acha de irmos dar uma
volta com o Josh? Só os meninos.
— Isso papai. Vamos Josh? – O garoto
dá de ombros, olha em direção ao quarto. Pensa na
irmã.
— Vamos sair, Josh. Eu prometi levar a
July para comprar um presente para o Ryan. – Lissa
o tranquiliza.
— Pode ser, tio.
— Leon joga tão baixo. – Ulisses diz. –
Só por que eu não posso ficar por aí. Não é amor? –
Ulisses beija Sophi. – Annie disse que foi tranquilo.
Nem doeu.
— Deixa de ser mentiroso! – Sophia ri.
Só mesmo essa mulher maluca para conviver com
Ulisses.
— Eu vou para casa. – Heitor avisa. –
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Harry e Emma ainda não podem ficar por aí. Lizzie


vai acompanhar a tia Lissa. É bom ter vocês. –
Heitor agradece.
Josh e Luka descem comigo. O garoto
está um tanto tímido.
— Já pensa o que vai ser quando crescer,
Josh?
— Meu pai diz que posso ser qualquer
coisa.
— Eu vou ser piloto de avião, meu tio
Ulisses vai me ensinar. – Luka comunica para meu
desespero. Ulisses é péssima influencia para Luka.
— Fiquei trabalhando um dia com meu
pai e o tio Ulisses, eu gostei. – Josh me conta.
— No fatídico dia que July desenhou no
contrato. – Ele sorri.
— Meu pai deixa ela fazer tudo.
— Vai ser bom ter você trabalhando
conosco, mas me diga, seu pai deixa você fazer
tudo que quer ou só a July?
— Não sei, tio. Acho que sim, acho que
ele não briga comigo por nada.
— Você é um bom filho. Estou
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perguntando por que vamos entrar ali naquela loja e


comprar um celular para você e estou pensando se
ele vai me dar uma bronca.
— Não vai não, ele nunca brigaria com
você. – Pela pressa dá para ver que gosta da ideia.
— E eu papai?
— Nem pensar, mamãe me põe de
castigo. – Aviso a Luka, ele afirma.
— É mesmo e a vovó não está aqui, nem
o vovô.
Esses dois sempre protegem os
pequenos. Não sei quanto vai demorar até que
peguem um avião para nos encontrar. Entramos na
loja, compro o aparelho mais moderno, Josh todo
sem graça, só quero que sinta que pertence a todos
nós. Não só a Nick.
— Posso ligar para o meu pai? E dar o
número para ele?
— Deve. Assim quando nos
encontrarmos ele não está tão bravo.
Ele começa a digitar, mas para um tanto
preocupado.
— Acho que ele não vai reclamar não.
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Por que agora quando eu estiver estudando posso


pesquisar aqui e não preciso usar o computador
dele.
— Não tem um no seu quarto?
— Não. Meu pai me ensinou que não
precisamos de mais do que um. Sabia que um dos
grandes problemas do meio ambiente é o lixo
eletrônico?
Mal consigo controla o riso, é claro que
apenas o filho de Nick podia dizer algo assim.
Tomamos sorvete, ele liga para Nick, se demora no
telefone, dá para ver como se sente bem falando
com o pai e a mãe.
Depois voltamos para casa, July mostra
ao irmão a meia dúzia de brinquedos que comprou
para o bebê. Jantamos, July respira meio depressa,
quanto mais perto está de dormir mais ansiosa fica.
Eu a coloco no quarto com Alana, Lissa
é carinhosa com ela, espera que durma para deixar
o quarto. Josh fica no quarto ao lado com Luka.
Está mais a vontade. Luka pega no sono sem
problemas.
Antes de deixarmos o quarto vejo o
celular carregando na cômoda ao lado de Josh.
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Lissa sorri.
— Bonitinho. É tão parecido com Nick.
– Ela diz quando saímos.
— Não tem ideia do quanto. – Brinco
com ela. – Deixamos a porta do quarto aberta?
— Melhor amor. Estou com medo da
July passar mal. – Deitamos, nada de namorar, só
esperar o dia amanhecer. July foi dormir com a
respiração alterada.
— Gosto daqui. Mesmo assim sinto
saudade de casa. – Ela diz deitada em meu peito. –
Do cheiro da nossa casa. A casa da gente tem um
cheiro, acha que é assim com todo mundo? – Lissa
me pergunta. Olhos os grandes olhos azuis. – Não
fica me namorando, amor. É sério.
— Minha Afrodite. Estou em casa. O
cheiro da minha casa é o seu cheiro, onde você
estiver é minha casa.
— Só fica derretendo meu coração.
Assim é difícil. Te amo.
— Eu te amo também.
Beijo Lissa, mas ela tem razão, o jeito é
nos comportarmos, adormeço um tanto preocupado.
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Acordo no meio da noite com July me cutucando.


Sento quando olho para seu rostinho agoniado e a
respiração pesada.
— Tio, eu vim te falar uma coisa. – Lissa
se senta ao ouvir sua voz. – Espera. Deixa eu sentar
aqui. – Ela sobe na cama, me olha afastando os
cabelos do rosto. – Olha tio, deixa eu te falar uma
coisa. – Move as mãozinhas. – Acho que é melhor
eu ir lá com o meu pai.
— July é muito tarde, dorme só mais um
pouquinho e de manhã eu te levo.
— Mas tio, eu estou com um pouco de
saudade. Você pode ir assim mesmo. – Ela toca
minha camiseta. – Está bem bonito. Só colocar um
sapato. Quer que eu pego um?
— Não, querida. São três da manhã.
— Disse de manhã então já é de manhã.
Você que disse. Vamos? – O rostinho vai ganhando
aquele ar de quem quer chorar que conheço bem
em meus filhos. – Não consigo dormir.
— Então vamos só ficar aqui. Que acha?
– Lissa convida. – Quer ver desenho?
O peito sobe e desce sem parar me

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assustando. Olho para Lissa. Ela também está


preocupada.
— Os filhos ficam com os pais, tio.
Olha, é melhor. Você me leva lá só um pouco. Eles
são meus pais. Eu chamo July Stefanos.
— Vamos chamar o Josh e ver se pode
usar o inalador? – Pergunto a ela que afirma. Deixo
as duas um momento, Josh acorda no primeiro
toque. – Desculpa Josh. July não está bem.
Ele se levanta. Pega o celular e o
inalador. Parece assustado. Assim que entra no
quarto ela o abraça, ele a faz inalar uma vez, depois
fica abraçado com ela.
— Quero meu pai.
— Posso ligar para o meu pai? Acho que
ela tem que ir ao médico.
— Amor... – Lissa me pede e afirmo.
— Vamos leva-la. Passamos para ver a
mamãe e o papai. Que acha July? – Ela afirma.
— Se levar ela para eles não vai precisar
de médico, ela fica mais calma e melhora.
— Então vamos. – Só calço um sapato,
todos fazemos isso. Beijo Lissa antes de sair. –
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Qualquer coisa liga para meus irmãos.


— Não se preocupe, amor. Estou bem.
Só de estar no carro July já fica melhor,
quando descemos já não tem mais crise e quando
chegamos ao quarto está simplesmente sorrindo.
— Visita de madrugada. – Brinco
quando entro, os dois estavam acordados, é hora de
amamentar Ryan. Me faz lembrar que Lissa parecia
não fazer nada além disso.
— Eu não estava conseguindo respirar.
Daí foi melhor vir. O tio Leon que disse. – July
avisa subindo na cama e beijando Annie e o bebê.

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Capitulo 45
Ulisses

— Pelo menos agora sabemos que eu te


amo mesmo gorda. – Digo enquanto ajudo Sophia a
se sentar no sofá. – Está confortável? – Arrumo
uma almofada em suas costas.
— Estou bem. Pega o controle para
mim? – Ela balança a mão em direção a mesinha
onde o controle repousa.
— Se eu não pegar você vai ficar aí para
sempre desejando jogar? Tentando usar o poder da
mente para puxa-lo até você?
— Amor, para de me torturar! – Ela
choraminga rindo. Entrego o controle a ela.
— Nunca tive você assim nas minhas
mãos, preciso tirar alguma vantagem.
— Palhaço. Ela vai sair sabia? Cedo ou
tarde. – Me ajeito ao seu lado no sofá. Pego minha
pasta e retiro o tablet, vou aproveitar e trabalhar um
pouco. ─ Vai trabalhar?
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— Vou. Não sei quando a Giovanna vai


decidir sair dai de dentro, então vou adiantar umas
coisas.
— Estou achando ela muito quietinha
hoje.
— Está? Isso é ruim? Quer que eu ligue
para o médico? – Me apavoro só de pensar que
pode ter algo errado.
— Não, Ulisses. Só uma observação, ela
deve estar dormindo.
— Dormindo? Tipo dormindo que nem
ser humano?
— Como assim que nem ser humano? O
que acha que tenho aqui dentro?
— Uma super azeitona! – Ela ri.
— Eu te beijaria agora se não fosse tão
difícil chegar até você. – Vou até ela. Beijo seus
lábios, ela me acaricia o rosto. – Te amo. Amo que
torna essa pequena tortura divertida. – Sophia
acaricia a barriga.
— Ouviu, filha? Ela disse tortura. Já
sabe de quem gostar mais. – Beijo a barriga.
— Não acorda ela. Quero jogar.
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— Ela não tá dormindo! Eles não


dormem ainda! Dormem?
— Não sei. Só me ocorreu isso agora.
Deve dormir, não é um vampiro afinal.
— Vou ligar para o médico.
— Não. Já ligou ontem.
— Ele é médico, amor, é o trabalho dele.
— Estou bem. Deixa de ser desesperado.
Faço careta. Ligo o tablet e começo meu
trabalho, ela passa a jogar, vez por outra ergo meu
olhar e percebo como tem talento para isso. Já
zerou três jogos na última semana. Passa o dia aqui.
Isso com meus irmãos entrando e saindo
todos os dias. Só vão embora depois do natal. Antes
disso minha Giovanna deve chegar.
— Não comprei os presentes de natal. –
Ela diz com os olhos fixos na tela. – Aí droga!
Quase morri.
— Vou falar para nossa secretária delicia
comprar. Ela tem que comprar o dela também. –
Encaro a tela. – Vai no arsenal.
— É eu vou trocar de arma. Que horas
seus irmãos chegam?
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— Depois do trabalho. Até o Nick foi


para o escritório hoje.
— Que bonitinho. – Ela abre um sorriso.
— Quem, o Nick? – Como é isso de
achar meu irmão bonitinho e ficar sorrindo?
— Não, Ulisses. O Ryan!
— Ah! Que susto. – Ela desvia os olhos
do jogo. Me sorri. Toda linda. Está cada dia mais
bonita. Não que tenha mudado muito, ela quase não
engordou. Não incha, a pele continua bonita, mas
tem qualquer coisa de diferente nela desde que
ficou grávida, me deixou ainda mais apaixonado.
— Ele é tão bonzinho. Tudo bem que os
dois estão um tanto assustados e mal deixam o bebê
sentir necessidades, mesmo assim ele não chora
muito, dorme bem. Até já sorri. Você viu? Será que
eles riem? Fico pensando se é riso ou sei lá, alguma
reação muscular. Quer dizer, ele tem vinte dias. O
que pode achar divertido?
— A July. Ela é muito divertida. Não
vejo a hora dela estar tagarelando para a Gigi, por
que ela chama Gigi e sempre acrescenta que o tio
Ulisses deixou. – Sophia concorda.

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— A July me faz ter certeza que o certo é


termos mesmo uma menina, por que você adora
ela.
— Achava que me daria melhor com o
Josh, por que ele é mais velho, mas ela me encanta,
toda engraçadinha e o Josh é todo certinho que nem
o Nick.
— Isso é tão estranho, não acha? Parece
coisa de outras vidas. Ele parece mais com a Annie,
cabelos e olhos claros, mas o jeito é do Nick. Não
importa de onde os filhos vem, são de verdade e
pronto. – Ela acaricia a filha. Aproveito para beijar
sua barriga mais uma vez.
— O que importa é que estão realizados,
todos eles. O Nick é outro. Amo ver meu irmão
superando seu passado. As coisas que aconteceram
com ele são tão difíceis de aceitar.
— Pior ainda com a Annie. Quando
penso nisso e só quando penso nisso sinto medo
pela Giovanna. Meninas são... É inaceitável. Às
vezes tenho medo de ficar muito protetora.
— Não vai. Vamos ficar bem, vai ver,
ela será uma menina livre e feliz. Sem pressão.
— Combinado! – Ela se volta para o
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jogo me esquecendo.

Faço uma comida leve. Apenas uma


salada e um grelhado. Quem diria que eu
descobriria meus talentos para culinária. Agora só a
Annie é péssima cozinheira.
Ajudo Sophi a se levantar. Completou
nove meses há dois dias pelas contas do médico,
eles falam em semanas, mas eu conto meses, é mais
fácil para minha cabeça masculina. Agora é a
qualquer hora. Sophia optou por tudo natural. O
bebê decide, nada de marcar dia e induzir parto. Eu
teria feito tudo diferente, mas sou apenas o pai.
— Definitivamente você aprendeu. – Ela
diz quando descansa os talheres depois da refeição.
— Depois que ela nascer eu vou ficar um
mês de férias da cozinha.
— Nem vem, Ulisses, bebê da trabalho,
tenho que amamentar a noite toda, vou ficar
cansada.
— Que ridícula. Só quer me fazer de
escravo. – Ela me atira o guardanapo, atiro de
volta. Rimos. – O que quer fazer agora? Vai jogar

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mais?
— Não. Eu não sei, acho que vou me
deitar um pouco.
— Está na hora? Você está me
enganando? Não quer me assustar. O que está
sentindo?
— Nada, amor. Por que?
— Você não deita. Me atormenta o dia
todo, mas não deita de dia. Agora quer ir para
cama?
— O jeito como me ama é especial. –
Ajudo ela a deitar. Arrumo os travesseiros como de
costume, uma dúzia deles em torno dela. – Vem
ficar comigo. Estou com saudade.
— Querendo me agradar. – Brinco
afastando alguns travesseiros. – Não adianta
colocar um monte de travesseiros mesmo, você
sempre escala.
— O que pensava de mim? – Ela se
aconchega em meus braços. – Quando acordava de
manhã e eu estava toda enrolada em você.
— Que era louca por mim e muito
atirada. – Ela me belisca. – Aí! Brincadeira. Já
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disse, pensava que tinha se mexido muito


dormindo. E que eu era irresistível.
— Eu ficava com vergonha.
— Me conquistou. Sabe que eu soube de
um bungee jumping na África do sul. O mais alto
do mundo.
— Até podermos ir já vai ter um maior.
– Ela me lembra. – Amor, acha que vai conseguir
fotografar a Giovanna? Como te ensinei?
— Não. Nem vou tentar.
— Ulisses!
— Eu nem sei se vou sobreviver ao
parto.
— Vou fazer uma selfie.
— Não duvido, é a mulher mais corajosa
que conheço, sabe o que quer, não tem medo de
nada. – Ela me olha, é tão linda e minha. Me faz
um carinho. – E não estou falando de ser
aventureira, não tem medo da vida, das coisas que
não conhece. Amo você.
— Também te amo. Boa parte dessa
coragem vem da confiança de ter você. Sei para
que braços correr se tudo der errado.
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— Sempre. – Ela me puxa para um beijo.


Depois de um suspiro adormece. Fico deitado a seu
lado, brincando com seus cabelos e pensando nas
coisas todas que vivemos ao longo dos anos. Desde
o vestidinho de sol quando entrei no quarto de hotel
ao dia que descobri que queria mais do que
qualquer coisa ter um filho.
Nunca tinha pensado nisso, mas quando
Sophia ficou pendurada naquele penhasco e pensei
que podia perde-la, tudo que eu mais queria na vida
era perpetuar nosso amor na forma de um ser vivo.
Um filho. Agora ela está chegando.
Passamos nove meses esperando
enquanto ia se formando, ficando pronta para
enfrentar a vida do lado de fora. Claro que ela tem
sorte e vantagens que poucos tem, eu sei a
diferença de ter tudo e não ter nada e não sou
hipócrita, Giovanna vai ter tudo.
Mesmo assim, mesmo para ela, ainda vai
ter muito a vencer, muito a conquistar, fico
pensando como se ensina alguém que tem tudo a
ser bom, justo e guerreiro.
É isso que quero. Lizzie não é uma
garota tola e mimada. Liv soube educa-la. Heitor é
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bom, mas sei que essa noção quem deu a Lizzie foi
a mãe. As mães são mais duras, fico pensando se o
jeito de amar é diferente. Não sei como funciona
isso. Talvez eu queira encher minha garotinha de
coisas demais.
Vou ser forte e dar apenas o que precisar
e merecer. O amor é o mais importante. Isso é fato.
Quando eu não tinha nada era feliz, tinha meus
irmãos por perto e o amor deles me fazia feliz. Nick
por outro lado não teve amor e a vida marcou ele de
um modo diferente. Como Annie, Lissa. É isso. O
que importa é amor. Isso eu posso dar sem medo de
passar dos limites.
Sophia acorda no meio da tarde, algo me
diz que está perto. Mais perto do que imagino, tem
uma aura em torno dela, um certo incomodo,
mesmo depois de tomar banho e vestir uma roupa
leve está ainda, um tanto incomodada.
— Que horas são amor? – Ela pergunta
andando em direção a cozinha. – Vou tomar uma
água e acho que podemos pedir qualquer coisa para
os seus irmãos comerem.
— Cinco e meia. Eles devem estar
chegando. Não precisamos pedir nada, não vão
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ficar, só vem te ver e depois vão para casa.


Fecho o computador, a verdade é que
simplesmente não consigo me concentrar.
— Ulisses! – O chamado urgente e o tom
tenso faz meu coração acelerar, corro para a
cozinha, olho para ela de pé ao lado do balcão,
apoiada nele, tensa. – Acho que a bolsa estourou.
— Odeio quando falam de bolsa, quem
tem bolsa é canguru. O que isso quer dizer? – Ela
fecha os olhos segurando a barriga e acho que quer
dizer que está na hora. – Vai nascer? É isso? – Ela
afirma.
— Pode me segurar aqui? Está doendo! –
Ela pede com a voz esganiçada. Apoio seu corpo. –
O que é isso? – Ela me aperta.
— Calma meu amor. A gente consegue é
só... O que eu faço? – Alcanço seu celular no
balcão, o meu está longe, mando mensagem.
“Socorro” não dá para digitar e acudir Sophia.
— Acho que a gente tem que ir. – Ela diz
se dobrando de dor.
— Claro. Consegue ficar um minuto
sozinha? Eu preciso... O que eu preciso, pegar... a

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chave do carro ao menos.


— Vai. – Ela me empurra. As coisas
sempre somem quando se precisa delas. –Ulisses
ela quer nascer!
Ela me grita quando estou revirando
coisas pela casa.
— Manda ela esperar. – A chaves estão
onde sempre estiveram, ao lado da entrada de casa,
sobre uma pequena bancada. Não sei por que não
procurei no lugar certo. – Achei!
A porta do apartamento se abre. Meus
irmãos entram correndo, gritando por Sophia,
paralisam ao me ver.
— O que aconteceu?
— Leon, vai nascer. – Fico aliviado
quando eles entram.
Nick ampara Sophia, Heitor e Leon
olhando em volta em busca de algo especial.
— Por que mandou um pedido de
socorro, Sophi? – Nick pergunta segurando Sophi
que parecia sem condições de ficar de pé.
— Eu não mandei nada. Estou pregada
aqui. O Ulisses está andando em círculo desde que
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a bolsa estourou.
— Fui eu, não dava para ficar digitando.
Vamos.
— Quase tive um infarto. – Nick me diz
quando o afasto de Sophia e eu a amparo. ─ Chama
o elevador, Heitor.
Ergo Sophia nos braços quando meus
irmãos iam pegando o que era preciso e chamando
o elevador, deixamos o apartamento.
— Me põe no chão, amor. Não vai me
aguentar.
— Vou. Dobrei a malhação para esse
momento. Estou pronto para carregar um elefante.
Não é o caso. – Me apresso quando ela torce o
nariz.
O caminho para o hospital é feito às
pressas, ela começa a ficar ansiosa, as dores vêm e
parecem que não vão mais embora. Leon está no
volante o resto de nós parece prestes a entrar em
pânico.
— Se ela nascer no carro vai ficar de
castigo até quinze anos. – Sophia reclama. – Calma
filha, não faz isso. – Ela vai apertando meu braço e

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arranhando. As dores devem ser fortes por que ela


começa a ficar pálida.
— Sophia, fica calma.
— Não dói! Não dói! – Ela me dá um
tapa no braço. – Ficou dizendo que não doía. Está
me abrindo por dentro.
— Vai, Leon! – Grito com ele. – Eu
devia estar dirigindo. É muito lento.
— Calma vocês dois. Estamos chegando,
é assim mesmo.
— Ouviu, amor. É assim mesmo.
Ela fecha os olhos, as lágrimas rolam por
seu rosto e meu coração bate fora do ritmo, sinto
medo por ela, por minha filha. Nem consigo pensar
direito, só quero que termine isso.
Quando a coloco numa maca ela ainda
aperta meu braço. Os médicos se apressam e eu os
sigo, depois me separam dela, visto roupas
adequadas e entro. Ela está pálida. O médico me
sorri e podia dar um soco nele e outro em mim.
Ideia estúpida. De onde tirei que seria legal isso?
— Celibato, doutor. Esse é o caminho.
Nunca mais. – Digo tenso. Sophia me aperta o
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braço já vermelho e arranhado.


— Ela vai nascer, amor.
— Estou contando com isso! – Beijo
seus lábios. O médico nos instrui, explica o que
está acontecendo e realmente não quero saber, a
ignorância é sempre um bom caminho nesses
momentos.
— Já está perto, Sophia. Você empurra
quando a dor vier.
— Vier? Ela nunca foi embora. – Sua
testa sua. Eu tento secar com a mão livre. A outra
está presa aos que restou do meu braço.
— Vai dar tudo certo, amor, é nossa
garotinha, ela está chegando.
— Não tenta ser fofo, Ulisses, isso está
doendo demais. – Acho que a dor a domina, sinto
quando a pele do meu braço parece ser arrancada.
— Tira logo essa menina daí doutor,
antes que ela arranque meu braço.
Escuto a risada do médico por detrás da
máscara. Não sei como alguém acha jeito de rir
nesse momento. Tremo, esqueço o médico, encaro
Sophia.
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— Pensa em todas as coisas que


vivemos, muito mais perigosas, máfia italiana
tentando nos matar. O Everest, todos os saltos, as
aventuras, tudo que vivemos, lá fora pelo mundo.
Isso não é nada.
— Aí. Chega de filhos. Se falar em
filhos de novo eu nem sei. – Ela geme, me puxa
para ela. – Agora é sério. – Imagino que sim, meu
braço tem certeza. – Trouxe a câmera.
Alguém me entregou e toco a roupa de
hospital. Para avisar que está por baixo. Então ela
fica mesmo pálida, os lábios perdem a cor, ela se
esforça e escuto o choro dela. Minha garotinha, o
médico a segura pendurada, depois uma enfermeira
a recolhe enrolando em uma toalha.
— Amor. – Sophia diz afrouxando o
aperto do meu braço, sinto alivio, nem sei o que me
alivia mais, ainda ter meu braço ou meu bebê ter
finalmente saído.
— Nasceu. – Meus olhos ficam cheios
de lágrimas. A enfermeira a entrega a Sophia.
— Olha, amor. – Ela beija nossa
menininha.
— Que coisinha mais... mais... – É
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mesmo só uma coisinha perfeita e esquisita meio


suja e enrugada e minha, tão minha e tão especial. –
Ela parece... parece...
— Não vai dizer nada idiota.
— Estou tentando. – Beijo minha filha. –
Giovanna. Oi filha. O papai está aqui. Mamãe
estava um tanto cansada de você, só para te situar.
Eu sou o cara que te ama mais que tudo na vida.
— Mentira filha, não estava cansada, não
muito. Só um pouco, você é linda, toda
pequenininha. Ai meu Deus como eu amo essa
criança. – Sophia chora, eu choro e não sei se
vamos parar com isso um dia. – A foto! – Ela pede,
tiro a câmera, juntamos nossas cabeças com a dela.
Sophia ergue o braço e vira a câmera em nossa
direção, não entendo como o braço está tão firme.
Ela me assombra de tão forte que é. Bate algumas
vezes, coisa de fotografo que nunca se contenta
com uma.
— Tenho que levá-la. – A enfermeira se
aproxima.
— Já? Ela acabou de chegar.
— Vamos limpa-la, a pediatra vai avaliar
sua filha e já devolvemos.
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— Tipo controle de qualidade?


— Cala a boca, Ulisses. – Sophia diz
meio rindo, meio cansada.
— Ela disse avaliar. – Giovanna nos
deixa, minha italianinha linda. Não chora mais.
Depois dos procedimentos padrão,
Sophia pode ser transferida, enquanto é levada, sigo
os costumes e vou avisar meus irmãos. A velha
tradição. Nunca achei que um dia seria eu a sair da
sala de parto.
Os três andavam de um lado para o
outro. Leon no telefone, Lissa é sua fortaleza, tudo
ele corre para ela.
— Nasceu! – Aviso em voz alta, os três
me olham, o restante das pessoas também, aceno
para todos. – Sou pai!
Meus irmãos me abraçam. Parabenizam,
sorriem, esse momento é incrível, tê-los para
dividir isso comigo, saber que compreendem minha
felicidade, que me apoiam, que sempre estamos
juntos.
— É uma menina.
— Já sabíamos, Ulisses. – Nick ri.
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— Eu sei, mas queria dizer mesmo


assim, como nos filmes.
— Como está Sophia?
— Forte. – Os três me olham e mostro
meu braço vermelho e arranhado. – Muito forte.
Vou ficar com ela. Avisem as garotas. – Depois de
mais tapinhas no ombro e abraços volto para
Sophia.
— Cadê ela, amor? – Ela parece tão bem
que até assusta.
— Mulher, amor. Garotas demoram. –
Beijo Sophi, um beijo cheio de amor e gratidão. –
Obrigado por ter feito isso, foi incrível.
— Você também não foi nada mal.
Achei que desmaiaria. Deixa eu ver a foto. –
Entrego a câmera. Ela sorri. Nós três juntos, minha
garotinha ainda suja de sangue. – Que coisinha
mais fofa.
Giovanna entra enrolada em uma
mantinha rosa. Só dá para ver seu rostinho perfeito,
não é por que é minha, mas ela não tem cara de
joelho, é toda bonitinha.
Beijamos sua cabecinha, ficamos um

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longo momento em silencio, só admirando sua


beleza, rezando por sua saúde, por uma vida longa
e cheia de amor.
— Lembra quando eu disse que pagaria
uma bebidinha colorida para ela quando alguém
quebrasse seu coração? – Sophia sorri, afirma com
lagrimas escorrendo. – Ainda vou fazer isso, mas
só depois de socar o palhaço. – Ela afirma. – Quem
poderia magoar meu anjinho?
Meus irmãos entram. Beijam Sophia na
testa acariciam minha garotinha e me encho de
orgulho.
— Olha, Leon. Parece o joelho da
Sophia. – Nick começa.
— Não acho não. Acho que parece mais
o joelho do Ulisses. – Leon continua.
— Que carinha de azeitona. Toda cinza e
enrugada. – Heitor brinca.
— Sophia está péssima. Que cara de
acabada. – Nick brinca.
— Vocês não têm vergonha de usar
minha família numa vingança sórdida?
— Nós? Que isso Ulisses! Como pode
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pensar tal coisa? – Leon provoca.


— Isso até ofende! – Nick continua. Eles
riem da minha cara de desgosto. – É linda, sua filha
é linda.
— Uma bonequinha. – Leon completa.
— E você está tão bonita quanto sempre
Sophia. – Heitor brinca.
— Se um de nós diz que sua mulher está
bonita quanto sempre, você tem um ataque de
ciúme.
Lembro Heitor que faz careta. Os outros
riem incluindo Sophia que sempre acha engraçado
o ciúme dele já que ela não costuma me ver tento
ataques desse tipo.
— Eu sou ciumento, você não.
Giovanna resmunga. Logo ganha todas
as atenções, ficamos meio moles com o passar dos
anos e agora um bebê resmunga e nos derretemos,
se os homens com quem negociamos pelo mundo a
fora nos vissem, provavelmente nunca mais
faríamos um bom negócio.
Os irmãos Stefanos tem fama de
audaciosos, um tanto frios e impetuosos nos
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negócios. Quatro bobos apaixonados e rendidos a


esses pequenos seres e suas mães.

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Capitulo 46
Nick

— Pronto, está todo limpinho agora. Que


hora para sujar a fralda! – Annie beija a cabecinha
de Ryan, sentada na cama olhando nosso garotinho
deitado, July deitada do lado, balança as perninhas
enquanto observa o irmão. Continuo ali, encostado
na porta sem ser notado. – Temos que descer para
esperar o papai. Como todo dia. Não é pequeno?
Cadê o papai?
— Eu também espero o papai não é
mesmo mamãe? – July morre de medo de não ser
incluída em qualquer coisa. Gosto de ficar ali,
ouvindo enquanto falam de mim.
— Claro. Todos nós esperamos o papai.
Todo dia. Por que ele chega morrendo de saudade.
– Annie começa a enrolar Ryan no cobertor azul,
ela aprendeu tão rápido que acho que só pode ser
alguma coisa que mães fazem.
July ergue os olhos em minha direção,
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abre um grande sorriso, é bom ser dono dessa


alegria.
— Papai príncipe! – Ela fica de pé na
cama, dá pulinhos de alegria enquanto Annie
protege Ryan com um sorriso de saudade.
— Cheguei mais cedo. – Me aproximo.
July me oferece os braços. Pego a animada
garotinha no colo. Beijo a bochecha rosada. – Que
saudade, pequena.
— Eu também, papai. Olha seu filho. –
Ela me aponta a cama onde meu bebê está deitado
me procurando com os olhos. Ao menos acho que
está.
— Estou vendo. Agora é a vez dele
ganhar beijo.
— É e minha mãe também.
— Principalmente sua mãe. – Digo com
meus olhos presos a ela, não sei quanto mais de
amor pode haver por que cada dia eu a amo mais.
Beijo Annie, ela me abraça.
— Que saudade que eu fico! Me
acostumei a ter você todo tempo comigo.
— Também fico querendo correr para
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casa. – Ela se afasta de mim para que eu possa


pegar meu bebê. Ryan é tão bonzinho que nem
parece que temos um bebê em casa. – Que menino
mais bonzinho. Oi filho. – Beijo a cabeça, ele está
bem acordado o que é sempre raro. – E onde está
meu outro filho?
— Sentado atrás da sua mesa estudando.
Acho que ele as vezes fantasia que está
trabalhando, por que Josh definitivamente ama seu
escritório mais que aquele quarto incrível que ele
tem.
— Vou lá dar oi para ele. – Aviso com
Ryan nos braços, meus olhos focados nele
procurando ver qualquer mudança que possa ter
acontecido nas horas em que fiquei longe.
— Não, príncipe. Liga para ele. Diz que
chegou e chama ele aqui.
— Ligar, gatinha? – Pergunto rindo da
ideia, o garoto está no andar de baixo.
— É Nick, ele fica agarrado com aquele
celular e nada de tocar. Tenho vontade de dar uma
volta no quarteirão e ligar para ele. Só não faço por
conta do Ryan.
— Certo. Vou fazer isso. – Vou começar
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a fazer isso todo dia. Nunca tinha pensando, mas


ela tem razão, ele está muito orgulhoso de ter
aquele aparelhinho na mão que leva com ele para
cima e para baixo como Lizzie.
— Oi pai! – Ele atende no primeiro
toque. Se me acostumar mal, quando tocar duas
vezes e ele não atender vou ter um infarto.
— Oi, filho. Onde está?
— Em casa, no seu escritório estudando.
Quer que eu chamo a minha mãe?
— Não. Eu estou com ela aqui. – Sorrio,
parece eu quando um dos meus irmãos ligava e
nunca achava que era para mim.
— Está? Como assim?
— No quarto, filho, cheguei mais cedo,
vem me dar um oi, chega de estudar.
— Tá bom, estou indo. Tchau pai.
— Tchau. – Digo rindo. Desligo e Annie
me olhava. – Estava certa, ele adorou a ligação, vou
ligar todo dia para ele.
— O Leon liga. Acho lindo, todo dia ele
telefone pelo menos uma vez.
— Eu queria um celular. – July diz
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sentadinha diante de nós, lá vem as mãozinhas


gesticulando para conseguir o que quer. – Olha,
deixa eu falar uma coisa. – Troco um olhar com
Annie. Quando quer falar uma coisa começa com
seus argumentos. – Eu sou filha também, e já sei
falar no telefone.
— Mas é uma filha pequena.
— Não, papai. O Ryan que é pequeno,
eu sou bem maior que ele já. Como que eu falo
com você quando ficar com saudade?
— A mamãe telefone. – Josh entra no
quarto, sorri quando nos vê todos lá.
— Oi. – Diz se aproximando, senta ao
meu lado, afago seu cabelo, ele está mais tranquilo,
cada dia mais à vontade e solto. – Oi bebê. – Beija
o irmão. – Oi July. – Ela sorri, corre para ele, Josh
não deixa July de lado, ela se sente amada toda vez
que ele se divide em atenções com ela e o irmão. É
um garoto instintivo, ninguém disse que tinha que
fazer isso, mas ele sabe que tem e faz.
— Meu irmão chegou! – Ela beija Josh.
– Só estuda toda hora. Põe aquele joguinho para
mim, Josh? Eu não tenho celular, só quando eu
crescer, aí eu vou ter doze e você também e vamos
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ter celular.
— Todo mundo vai ter doze? – Ele ri da
ideia da irmã.
— Todo mundo, eu e o papai também! –
Annie comemora.
— Vamos descer? – Convido. – Daqui a
pouco os tios chegam e vem ver vocês. Sai mais
cedo por que estava com muita saudade.
— Isso. Vamos esperar os outros na sala.
– Annie concorda.
— Vou buscar umas bonecas para
esperar a Alana.
July deixa o quarto. Josh olha de um para
o outro. Quer dizer alguma coisa. Dá para ver que
fica meio engasgado.
— Que foi, Josh?
— Eu estava pensando uma coisa. Na
casa do tio Heitor tem árvore de natal, e pensei se
não posso trocar um dos presentes lá da carta por
uma. É que eu e July nunca tivemos um natal
desses que os presentes ficam em baixo da árvore.
— Claro! Nossa como não pensamos
nisso? – Annie me olha. – Nós também não, quer
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dizer eu. O papai já, depois que a Lizzie chegou por


que ela e Liv estavam acostumadas, não é papai?
— Verdade. Precisamos de uma.
— E se forem agora, príncipe. Eu sei que
é quase véspera de natal e as lojas estão cheias, mas
se levar os dois agora chegam antes do jantar.
— Quer ir, Josh? – Pergunto a ele. Josh
afirma. – Então vai lá colocar um casaco.
— Compra uma árvore bem bonita, não
acredito que não pensamos nisso. – Annie beija a
cabeça de Ryan adormecido em meus braços. – Só
pensamos em você pequenino.
— Queria que fosse junto. – É um
momento especial, o começo das tradições dessa
nossa família.
— Ano que vem vamos todos, não posso
deixar o Ryan e está nevando.
— Tem razão, ele é tão pequeno, nem
tomou todas as vacinas ainda.
— Mamãe, a gente vai comprar árvore
de natal! – July surge correndo.
— Que legal.
— Me arruma bem linda, mamãe. É
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rápido papai, me espera.


— Vou ficar aqui com o Ryan, podem se
arrumar. – Me sento no sofá com Ryan no colo,
gosto de ficar olhando para ele, tem noites que
passo horas assim, apenas olhando enquanto ele
dorme tranquilo no berço ao lado da cama. – Amo
você, sabia disso? Muito mesmo. Desculpe se no
começo tive medo, achei que não era bom, mas
acho que estou indo bem. O que acha?
Abro um pouco o cobertor para olhar o
corpinho pequeno, beijo a mãozinha. Ryan abre os
olhos um momento, me vê, depois fecha mais uma
vez, se sente seguro em meus braços, sabe que nada
pode acontecer e apenas volta a dormir.
— Voltamos. – July avisa. Está linda
num casaco rosa e de luvas, os olhos brilhando, é
tão fácil faze-los felizes. Como tem gente que
consegue dar as costas a uma criança?
— Então vamos.
Beijo Ryan antes de entrega-lo para a
mãe. Ela tem um jeito todo delicado de segura-lo,
os dois ficam bem juntos, se completam de todos os
modos.
— Tchau gatinha, não demoro.
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Entramos no elevador, July contente


como ficam todas as crianças em véspera de natal.
— Agora o papai Noel vai ficar muito
orgulhoso, ele vem mesmo, eu acho.
— Também acho. Não sei se vai poder
vê-lo por que você sabe ele chega sempre quando
as crianças estão dormindo.
— O papai Noel é muito esperto. Não
acha papai?
— Acho. – A porta do elevador se abre,
está frio, mas parou de nevar, o chão está úmido,
July usa botinhas, mesmo assim me oferece os
braços e ergo a pequena garotinha. – Vamos
andando, com esse transito de carro vai demorar
muito mais.
— Eu pesquisei, pai, tem uma loja três
quadras daqui. Eu mostro. – Josh estava com tudo
pronto. – Quando acha que vou poder andar
sozinho?
— Nunca? – Ele me olha e sorrio. – Um
dia? Quem sabe quando for para faculdade? – Josh
ri.
— Quero estudar na mesma faculdade

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que você, acha que é muito caro?


— Não. É um preço justo pela boa
educação e podemos pagar, se é o que quer, vamos
batalhar por isso.
— A gente vai comprar uma linda
árvore, né pai? Uma bonita, verdinha, tem que
cortar ela e trazer.
— Não July, não vamos comprar uma de
verdade, vamos comprar uma artificial, não
entendo como alguém pode matar uma árvore
assim.
— Elas choram?
— Muito, uma artificial vai servir, papai
Noel não vai notar a diferença.
— A gente vai enganar o papai Noel?
— Acho que... Enganar não é bem a
palavra, você sabe, enganar é errado, então vamos...
— Deixar um bilhete na árvore
explicando tudo. – Josh me salva, ela aplaude a
ideia. A loja está cheia, não é nada tranquilo entrar
numa loja cheia com duas crianças, me dá medo de
perde-los um segundo que seja.
— Quero ir no chão papai.
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— Ah! Não. Agora fica no colo, está


cheio de gente, vou perder vocês. Josh, me dá a
mão. – Ele me olha um pouco inconformado com a
ideia. – Você ainda não foi para faculdade, não é o
fim do mundo.
Josh segura minha mão e entramos na
loja, não tem nada de lúdico em compras de natal,
pessoas se esbarram, lutam por objetos, roupas,
brinquedos, tudo é estressante, caminhamos por
entre as vitrines, tem todo tipo de árvores de
pequenas a gigantes, em todas as cores, com todo
tipo de enfeites e não sou bom nisso, o melhor é
deixar que escolham.
Somos práticos, July escolhe com a
ajuda de Josh uma árvore grande com enfeites
vermelhos e dourados, muito típica, a vendedora se
aproxima.
— Queremos essa. – Aponto e ela sorri.
— Ele que é meu pai, sabia? – July
decide espalhar a notícia. A vendedora sorri para
ela.
— Vou mandar buscar no estoque, o
senhor pode pagar no caixa. – Ela me estende um
ticket, olho para Josh, estou com as mãos ocupadas,
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uma segura July e a outra a mão de Josh, ele pega o


papel com o rosto vermelho, vai ter que se
acostumar.
Não é fácil chegar ao caixa e fico
pensando por que todo mundo deixa tudo para o
último dia.
Depois de pagar encaro as duas caixas,
uma com a árvore e outra com os enfeites,
precisava de pelo menos mais um par de mãos.
— Pai, eu carrego a July e ando na sua
frente assim não nos perde de vista até chegarmos
lá fora.
— Josh, você vai para Harvard, está na
cara, já sabe resolver problemas.
Entrego July para ele, a garotinha é
grande para Josh, mas ele está acostumado.
Andamos rápido desviando de pessoas e finalmente
ganhamos a rua. Que loucura. Pelo menos a árvore
deve durar uns anos. Josh coloca July no chão e
segura sua mão ao meu lado.
Quando chego, Annie está colocando a
mesa do jantar. Ryan dorme no cesto, ela sorri
quando entramos batendo a neve carregando caixas
e nos esbarrando.
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— É o apocalipse, gatinha, não está


entendendo. – Annie ri, felizmente os presentes já
estão comprados, enfrentar uma loja de brinquedos
é preciso mais que vontade, é preciso um revolver.
— Até que foram rápido. – Ela retira a
roupa pesada de July, penduramos os casacos no
armário de casacos, coisa que nunca fiz na vida,
mas agora é usado.
Depois de lavarmos as mãos nos
sentamos para jantar. July conta em detalhes a saga
da loja de árvores de natal, Annie ri quando Josh
conta que fiquei segurando sua mão.
— Mas filho, você sabe vir sozinho para
casa? – Ela pergunta. ─Se um dia se perder?
— Sei. E eu tenho o celular, então vocês
podem ligar ou eu ligo dizendo que me perdi.
— Bem pensado. E você July? O que
tem que fazer se ficar perdida?
— Eu vou chorar. – Ela dá de ombros.
— Então não vamos deixar isso
acontecer. – Depois do jantar, meus irmãos chegam
para combinar a festa.
— Ulisses e Sophia vem só amanhã
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mesmo, não é bom ficar saindo com a Giovanna. –


Leon conta.
Decidimos sobre como as coisas vão ser.
Só um jantar em família, na manhã de natal as
crianças abrem seus presentes cada uma em sua
casa, brincam juntas e podemos almoçar em casa
mesmo, almoço em família.
Heitor e Leon viajam a noite de volta,
Lizzie precisa voltar a escola, todos temos que
trabalhar e Alana e Luka sentem falta dos avós.
Nosso próximo encontro será em Kirus,
quando os bebês puderem viajar, nas férias
escolares de Lizzie e Josh que depois do natal vai
para escola.
Quando todos vão para casa com Alana
dormindo no colo do pai, Lizzie fica para montar a
árvore.
— Tio acha que nas férias de verão
vamos poder viajar juntos?
— Acho. Quem sabe não convencemos
toda a família?
— Pode ser. – Ela sorri. – Vamos montar
a árvore e enfeitar como eu sempre faço?

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— Isso. Ajuda o Josh com as caixas. –


Os dois trocam um olhar, não são muito próximos,
parecem ter um pouco de vergonha um do outro,
mas com o tempo isso passa.
Dobby, que também ficou, está rolando
no chão com July, ela não deveria estar fazendo
isso, na hora de dormir vai estar com o peito
chiando, mas como dizer a ela para não brincar
com esse grandão peludo e simpático que não pode
ver uma criança? Além disso tem a risada. É bom
demais ouvir seu riso.
Josh e Lizzie se distraem com a árvore.
Conversam sobre como montar no espaço que eu e
Annie abrimos para colocar nossa árvore de natal.
Foi Lizzie quem nos ensinou a festejar o natal, não
é costume grego, não como aqui ou Londres e no
fim foi bom, virou mais uma de nossas tradições.
Vou assistir Annie amamentar Ryan.
Ficamos olhando nosso bebê matar sua fome
quietinho, beijo seus cabelos escuros, antes de
dormir, sou eu quem dá banho e troca, gosto de
fazer isso, é um momento especial. Annie me dá
sempre muito espaço para cuidar dele, vejo como
fica emocionada assistindo enquanto brinco com
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meu garoto e cubro ele de cuidados.


— Acho que esse é aqui, Lizzie. – Josh
diz com um galho de árvore na mão.
— Deve ser, tenta. – Ele encaixa, os dois
se afastam, fica perfeito e sorriem um para o outro.
— Ficou certinho. – Ela arrasta uma
cadeira para perto, a árvore é maior que os dois. –
Deixa que eu subo, Lizzie, você pode cair. – Josh
se antecipa subindo na cadeira.
— Cavalheiro! – Annie sussurra e afirmo
em silencio. – Acho que vão precisar de você
príncipe, é mais alta que eles mesmo na cadeira. Eu
já esperava por algo assim, descomunal.
— Eles que escolheram. – Me defendo. –
Vou lá ajudar.
Depois de todos juntos espalharmos os
enfeites nos sentamos no chão em torno da árvore
para vê-la piscar. Ryan se interessa, ajeito meu
garotinho no colo de modo que ele possa ver
também o acender e apagar das luzes coloridas.
— Que acham de pipoca, chocolate
quente e um filme? – Annie convida.
— Harry Potter. – Lizzie e Josh dizem
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juntos, os dois se olham envergonhados.


— Boa. Josh segura o Ryan, papai leva o
cesto, Lizzie vai colocando o filme e eu faço
pipoca.
— E eu mamãe? – July pergunta.
— Você ajuda a mamãe na cozinha.
Lizzie liga para sua mãe e pede para dormir aqui.
Você ainda tem seu quarto. Mesmo que agora seu
pai tenha um apartamento aqui em baixo.
— Vou ligar. –Lizzie telefona, conversa
um momento. – Tudo bem papai, eu já levo ele.
— Deixou? – July pergunta animada
com a ideia de Lizzie ficar.
— Deixou eu, o Dobby não, meu pai
mandou o Dobby ir para casa. Vou leva-lo e
colocar meu pijama. Vamos com o papai? – Dobby
se abana todo. Segue Lizzie em direção ao
elevador.
July é a primeira a dormir, antes mesmo
de Ryan, depois é a vez de Ryan adormecer,
quando o filme termina levo July para cama, Annie
troca sua roupa e a pequena não acorda, então
vamos dar boa noite a Josh e depois Lizzie, quando

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voltamos para o quarto os olhinhos de Ryan estão


abertos.
— Quase um mês, passa tão rápido,
parece que levou uma eternidade na minha barriga
e agora é tudo tão rápido.
— Eu preciso ser honesto, acho que o
tempo está demorando a correr, falta ainda quinze
dias para estarmos livres do resguardo.
— Príncipe.... – Ela me olha com um ar
resignado. – podemos não falar disso? É que ativa
minha memória e com ela vem... você sabe.
Pensamentos no mínimo impuros. Giovanna tem
uma semana e Sophia disse que já anda meio
ansiosa.
— Não me conta. Não quero pensar
neles assim. – Eu me apresso, ela ri.
— Me esqueço. Sabe que não falo da
gente né? Eu sei que elas contam tudo.
Pela manhã encontramos os garotos
tomando café, July tagarelando sobre estar ansiosa,
Josh e Lizzie mais calados.
Logo a casa está cheia de gente, crianças
correndo de um lado para outro, cachorro, cheiro de

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comida de natal, riso, conversas paralelas, tudo tão


surreal, eu nunca achei que um dia, meu
apartamento, o lugar que eu dizia ser meu santuário
fechado para visita, seria o ponto de encontro de
Stefanos de todos os tamanhos e idades, que uma
pequena parte deles seriam meus filhos.
Annie se esforça para ajudar a preparar o
jantar, metade veio pronta, são muitas crianças para
sobrar tempo para cozinhar. No fim da tarde
quando tudo está pronto, os Stefanos vão se
arrumar, Ulisses e Sophi ficam.
Me sento com Ryan no colo, Ulisses
com Giovanna.
— Quantas vezes ele acorda a noite?
— Três. Mama, trocamos a fralda e ele
volta a dormir. E ela?
— Setenta e sete. – Rio de Ulisses. –
Nem sei se ela dorme realmente.
— Depois melhora.
— Um dia ela vai para faculdade, quem
sabe Oxford? Não conheço nenhuma mais longe.
— Ulisses! – Fico chocado, ele ri.
— Brincadeira! Amo meu bebê. O
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médico disse que ela trocou o dia pela noite. Então


eu e Sophi estamos pensando em fazer o mesmo.
— Você é muito idiota.
— Falta de sexo.
— Não quero ouvir! – Aviso enquanto
ele ri da minha cara.
— Tudo bem. Não faço, não falo, está
difícil minha vida. Me ame muito garotinha. Isso é
tudo por você.
Ele beija Giovanna, ela está cada dia
mais parecida com a mãe, Ulisses não cansa de
contar como vai ser linda e charmosa.
Na mesa de jantar quando toda a família
se reúne eu fico meio abismado, menos de dez anos
e os quatro irmãos solteiros que comiam qualquer
coisa e tomavam cerveja na noite de natal
construíram essa família enorme.
— Como estão as obras em Kirus? –
Heitor pergunta a Leon.
— Indo bem. Cristus me mandou umas
fotos, quando chegarem vai estar tudo pronto. –
Heitor se aproxima de Leon para vez as fotos. –
Dois andares, um para você, outro para o Ulisses e
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o térreo eu vou deixar um grande salão para as


crianças.
— Dois andares? E o Nick? – Heitor
pergunta.
— Bom, vão se mudar, então vai sobrar
toda a ala de vocês, o Nick fica com ela.
— Os bebês do Leon ficam perto do
papai. Luka, Alana e Nick! – Ulisses brinca. –
Imagine se ele colocaria o filhão para morar nos
fundos.
— Não é isso, é só que... – Leon olha
para Lissa que ria como os outros.
— Leon, ainda cai nas provocações do
Ulisses?
Josh fica sorrindo olhando de um para o
outro, ele gosta dos tios, para infelicidade de
Ulisses, Josh não esconde muito sua preferência
por Leon, mas Leon está sempre tentando ficar
perto dele, então é mais que natural.
— E esse papai Noel, será que vem? –
Sophia pergunta e as crianças dizem sim em coro.
Até Emma no colo do pai. Os bebês em cestinhos
ao lado da mesa, dormem tranquilos.

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— O que pediu, Josh?


— Um boné e uma bicicleta.
— Celular, bicicleta, boné, vai sair por aí
caçando umas gatinhas? – Ulisses pergunta.
— Não. Eu não posso sair sozinho. Meu
pai acha cedo.
— Quer dizer que se pudesse bem que ia
caçar umas gatinhas?
— Não tio, eu vou estudar bastante. –
Josh diz um tanto tímido de ser o centro de tudo.
— Então agora são dois geniozinhos
trancados em casa só estudando? – Ulisses cutuca
Josh, ele se dobra fugindo do incomodo.
— Tio Leon! – Era tudo que ele não
podia dizer. A mesa toda desata a rir.
— Deixa o menino, Ulisses. – Leon
reclama, só aumenta a brincadeira.
Depois do jantar nos sentamos na sala,
Annie e Sophia amamentando os bebês na salinha
ao lado com as outras senhoras Stefanos.
— Vou parar mesmo depois disso, eu
juro. É o último bebê.

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Heitor promete e aceitamos, Dobby se


deita a seu lado com os olhos presos a arvore de
natal. Ulisses se senta no chão para jogar com as
crianças, Luka e July disputando seu colo. É a
gloria para ele. Nos faz rir.
Só muito tarde todos se retiram, ficamos
apenas nós, Annie se senta em meu colo.
— Vim te agradecer. Essa noite de natal
é como sempre sonhei. – Ela se encosta em meu
peito. Acaricio seus cabelos. Me lembro das noites
de natal que passamos no abrigo, apenas noites
como todas as outras, ninguém amanhecia o dia
preocupado em procurar presentes, não tinha, só a
programação da televisão denunciava ser natal. Um
natal seletivo do qual crianças como nós não
tinham direito de fazer parte.
— Pedi para filmarem as crianças do
abrigo acordando com a árvore cheia de presentes,
já que não vamos poder estar lá, pelo menos vamos
ver como ficaram felizes. – Ela me sorri, os olhos
marejados. Beijo seus lábios, um longo beijo, cheio
de amor e saudade. – Melhor colocar esses garotos
na cama.
— Já? – July resmunga.
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— Pode ficar se quiser, July, não tem


problema, não é príncipe, só é pena que o papai
Noel vai ver pela janela a July acordada e não vai
poder entrar para deixar os presentes.
— Então vamos de uma vez. Todo
mundo. É melhor. – Ela se põe de pé. Annie a puxa
para junto de nós. Abraça July.
— Amo você, bonequinha.
— Igual ao Ryan, e o Josh, tudo igual.
Um pouquinho para mim, um pouquinho para o
Ryan e um pouquinho para o Josh.
— Isso mesmo. Muito, amo muito todos
vocês, e o papai um “poucão”.
— Claro né, ele é seu marido. Tem até
anel. Eu não vou casar nada. Você vai casar, Josh?
— Eu? – Ele se espanta, olha para a
irmã, depois para nós. – Acho que não, vou estudar
e trabalhar, essas coisas.
— Eu sei como é isso. Os Stefanos não
se casam! – Rio dos dois, desejo que um dia
tenham sorte de dar de cara com a pessoa certa e
esquecer tudo isso.

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Capítulo 47
Annie

Ryan ganha uma rotina bem definida, o


pediatra nos ama. Nenhum casal segue mais à risca
as ordens de um médico do que eu e Nick. O dia
começa sempre com amamentação e depois trocar
fraldas, isso as seis da manhã.
Nunca faço isso sozinha, Nick sempre
acorda e me sinto orgulhosa dele e com um pouco
de pena, ele passa sempre o dia no escritório
trabalhando e penso que no fim dessa maratona vai
estar esgotado.
Mas hoje não é um dia qualquer, é
manhã de natal, e enquanto troco a fralda do meu
silencioso garotinho, fico ansiosa para os meninos
acordarem e correrem para ver os presentes.
— Você é muito doidinha sabia? – Nick
diz com aquela cara linda de sono, cabelos
bagunçados, sem camisa e deitado ao lado de Ryan,
quarenta dias é muita maldade. – Esse macacão
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vermelho que ele usa por um acaso tem a ver...


— Com o natal. – Digo rindo. – Ele fica
lindo de vermelho.
— Ao menos não corremos risco de
perde-lo. – Me dobro para beijar Nick. Tenho meus
planos para quando esse resguardo acabar, ele que
me aguarde.
— Esses meninos não vão acordar? –
Pergunto beijando Ryan. – Como você é cheiroso!
– Beijo mais uma vez. Ele parece sorrir, nunca levo
muito a sério, mas quero pensar que é para mim.
— Gosta de beijo seu espertinho? – Nick
o beija também. – Será que acordamos eles?
— Está ansioso também? Eu sabia. –
Nunca nem sonhamos com isso, com algo assim
acontecendo conosco. Agora podemos dar a eles
uma manhã de natal, com presentes, rabanada,
panquecas, e o mais importante, amor.
— O primeiro natal em família. Isso é
incrível. Esse ano todo, você, três filhos, é
inacreditável o quanto tudo mudou para mim. E
para melhor é claro.
— Eu sei. Acha que eles vão gostar?

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— Claro que vão. Pensei que o ano que


vem podemos contratar um papai Noel. O que
acha?
— Seria especial. Ryan vai ter um
aninho. Acha que ele vai entender?
— É a idade da Emma. Então acho que
não vai entender muito, mas o colorido vai animá-
lo.
— Feliz natal! – July surge puxando Josh
pela mão. – A gente acordou! – Ela sorri muito
animada. – Será que ele veio?
— Quem, pequena? – Nick se faz de
desentendido.
— O papai Noel! – As mãozinhas
gesticulam.
— Ela me arrancou da cama. – Josh diz
tentando ajeitar os cabelos. Nick se levanta. Veste
uma camiseta.
— Já que estamos todos acordados, é
melhor descer e descobrir. – Ergo Ryan no colo, a
casa está quentinha e não o cubro.
Nick segura a mão de July, ela está tão
ansiosa que começa a ter dificuldade de respirar.
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Corremos o risco de terminar o dia no hospital.


— Será que ele veio? Acho que sim.
Você lembrou mamãe de mandar a cartinha?
— Claro que mandei. Tenho certeza que
ele recebeu.
— Ele é bem bonzinho, ele veio sim. –
Ela tenta arrumar os cabelos, as pontas com seus
cachinhos dourados. Toda lindinha. Josh desce ao
meu lado cuidadoso como sempre.
Quando chegamos ao último degrau,
Nick solta sua mão e ela corre, Josh se esquece um
pouco de manter a compostura e a acompanha
apressado. É emocionante ver os olhinhos
brilhando com a árvore acesa e todos os presentes
em baixo, os dois irmãos se olham surpresos.
— Ele veio. – July não sabe o que fazer,
olha de nós para a árvore, dá pulinhos, aplaude. – E
agora?
— O papai Noel escreveu nomes, o Josh
te ajuda a ler e você descobre quais são seus.
— Isso mesmo, mamãe, boa ideia. Vem
Josh. Me ajuda, acho que tem para você e para o
Ryan. – Ela puxa o irmão. – Vem gente, traz o meu

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irmãozinho aqui.
Nos aproximamos, me sento no chão,
Nick se junta a eles para ajudar. July sorri e
agradece a cada presente com seu nome, rasga
papeis animada, os olhinhos brilham, não consigo
evitar de chorar, também não consigo não pensar
nas crianças que estão como eu estive um dia, sem
forças para sonhar.
Só quando ele termina com os de July é
que começa com os de Josh. A caixa enorme com a
bicicleta é uma grande surpresa. Depois tem o
boné, uns jogos para o videogame, a coleção
completa de Harry Potter.
— Todas essas coisas... não precisava,
eu disse que trocava pela árvore.
— Papai Noel estava irredutível, disse
que foi um ótimo menino nos últimos doze anos e
não abriu mão de agradecer. – Nick diz a ele que
sorri.
— Obrigado. – Josh está tão surpreso
que nos faz bem vê-lo.
Não tem sorriso mais bonito do que o do
meu garoto, os olhos brilham, ele é doce, esperto e
bom, tão bom quanto o pai e quando os vejo
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distraídos montando a bicicleta meu coração fica


grande e cheio de amor.
Os dois se entendem, riem, se
atrapalham, fico ali com Ryan, assistindo aquele
momento mágico. Pai e filho montando a bicicleta,
July envolvida com seus brinquedos, xicaras e
bonecas, ela é tão faladeira que passa seu tempo ali,
conversando com os brinquedos.
Vez por outra Nick me olha, sorri, só nós
dois sabemos o quanto esse momento é precioso.
Mágico.
— Amo você! – Ele me diz de longe
com Josh segurando a quase bicicleta, enquanto ele
girava a chave em alguma parte.
— Também te amo.
— Mamãe, vamos entregar os presentes
dos primos. Tem para a Alana, e todos os outros.
Me leva?
— Eles já vêm. Agora que acha de tomar
café e colocar uma roupa bem bonita de natal?
— Isso. – A bicicleta finalmente fica
pronta.
— Sabe andar, Josh? – Nick pergunta e
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Josh nega.
— Não. Eu aprendo, não tenho medo de
cair.
— Que bom, filho, agora o papai vai
abrir o presente dele e vão poder ir juntos ao
parque. – Digo ao meu menino corajoso.
Nick sorri ao ver a caixa enorme. Contei
com a ajuda dos irmãos para trazer o presente.
— Comprou uma bicicleta para mim? –
Ele pergunta.
— Não papai, foi o Papai Noel. – July
avisa, ele rasga o papel, vê a bicicleta, vem até
mim.
— Feliz natal, papai. – Digo quando ele
me abraça. Ganho um beijo.
— Feliz natal, mamãe. Papai Noel não
esqueceu de você também. – Nick me estende um
presente em papel elegante. Abro ansiosa. –
Lembra que falamos sobre fotos? – É um porta-
retratos digital, com fotos de todos nós mudando
lentamente, os três irmãos juntos, nós cinco, eu e
ele, ele com as crianças, eu com as crianças.
— Príncipe... – Não consigo falar nada,
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fico emocionada, é nossa família, a família que


sonhei a vida toda e ele me deu. Esse é o melhor
presente. – Segura ele que se não vou afogar meu
bebê em lágrimas. – Nick pega Ryan, me encosto
nele, fico ali olhando as fotos ficarem mudando,
tudo tão lindo. ─ Obrigada.
Eu nem sei o que dizer, nem são oito da
manhã ainda e é perfeito.
— Vamos tomar café, gatinha. Hoje não
é dia de chorar.
— Tem razão. – Eu seco as lágrimas.
Josh encara a bicicleta. Neva lá fora e vai demorar
para poderem andar.
— Josh. Depois do café podemos descer
até a garagem. O que acha? – Papai príncipe
sempre sendo perfeito.
Josh sorri, Nick pensa em tudo, sabe que
ele está louco para aprender a andar. Cada dia meu
menino se solta mais, isso é especial.
Arrumamos nós mesmos a mesa do café.
A senhora Kalais está em Kirus, ela merecia uns
dias com a família. Josh segura o irmão no colo, ele
é tão cuidadoso que não me preocupo.

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Quando está com o irmão no colo fica


compenetrado em cuidar dele com cuidado, July
quer ajudar e anda para lá e para cá com coisas
leves e que não quebram.
Depois que a mesa está pronta me sento
um tanto orgulhosa.
— Acho que mereço parabéns. Até eu
estou aprendendo. – Eles aplaudem, Ryan se
assusta e chora. Josh balança o irmão, mas logo
Nick o pega no colo.
— Desculpa filho. Esquecemos que seus
ouvidos são sensíveis.
Ryan se acalma, mas então logo a
família se reúne, July larga o café correndo, tem
que entregar o presente da melhor amiga, mostrar
os que ganhou, Alana já chega assim como os
outros carregando seus brinquedos novos.
Eles ganham mais presentes, July só sabe
comemorar, Josh se surpreender. Ryan desiste de
dormir, passa de colo em colo assim como a
pequena Giovanna.
— Os meus presentes estão escrito tio
Ulisses. Acho ridículo o Papai Noel levar todo
crédito. – Ulisses avisa aos sobrinhos. –
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Entenderam? Alguns são do Papai Noel, outros são


meus, o que significa que só eu e o Papai Noel
damos presentes de natal e isso me torna de longe o
melhor tio do mundo.
— Ulisses você me dá medo! – Heitor
reclama.
Eu amo que sejamos muitos, que todos
nos entendemos, que tudo sempre dá certo apesar
das confusões. O almoço de natal é animado,
depois os Stefanos descem todos para a grande
missão de ensinar Josh a andar de bicicleta, ficamos
nós garotas, com os menores.
Lizzie com Ryan no colo. Ela é toda
carinhosa com o primo. Quando sobem, Josh tem
um grande sorriso no rosto. Vem empurrando a
bicicleta animado.
— Acho que aprendi, mãe. – Ele me
conta encostando a bicicleta num canto. Olha para
Lizzie segurando o irmão. – Meu pai disse que nas
férias vamos viajar e vou poder andar bastante de
bicicleta. Você tem uma, Lizzie? – Ela afirma.
— Mas nunca ando. Não dá tempo.
Gosto de dançar. – Ele balança a cabeça
concordando e o assunto entre os dois acaba. Nessa
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idade meninos e meninas não se relacionam muito


bem. Acho bonitinho os dois perto. Espero que
quando crescerem sejam amigos.
Fico triste em me despedir. Vou sentir
falta da família toda reunida. Mesmo Ulisses e
Sophia vou ver menos. Com todo esse frio e dois
bebês não vamos poder ficar indo e vindo um na
casa do outro.
— Papai príncipe, por que o tio Simon
não veio?
— Tio Simon fugiu de nós. Correu para
o Texas com a tia Sarah.
— Onde que é o Texas?
— Longe, July.
Quando todos os Stefanos partem e só
sobramos nós, é hora de brincar, meu porta-retratos
coloco ao lado da cama, quero acordar e dormir
com todos eles.
Monto as xicaras com July, tomo seu chá
imaginário, até Ryan toma uns goles o que a deixa
muito orgulhosa, tento jogar com Josh, ele e o pai
riem da minha falta de talento.
O boné dos Jets não sai da cabeça de
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Josh. Assim que Ryan tiver idade vamos voltar a


frequentar os jogos.
É um grande dia. Melhor do que podia
sonhar. A senhora Kalais só volta depois do ano
novo, mas Nick e Ulisses estão de férias. Todos os
Stefanos tiram uma semana de férias e juntos
damos conta da casa e as crianças.

Chega o primeiro dia de aula de Josh, ele


está ansioso com a mochila nas costas e os olhos
preocupados.
— Vai dar tudo certo, filho. Você vai
ver. O papai te leva e o motorista te traz. Quando
sair da aula me manda mensagem. Boa sorte.
— Obrigado. É que eu fiquei pensando,
acha que as outras crianças vão gostar de mim?
— E por que não gostariam? – Ele chuta
o chão, arruma a mochila nas costas.
— Não conheço muitas crianças ricas.
Não sei como são.
— Entendo. Elas deveriam ser como
todas as outras, como as da associação que são seus
amigos, ou as que conviveu antes, mas se forem
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diferentes então o azar é delas, importa é quem


você é e tenho certeza que dentro de uma escola
cheia de crianças ao menos uma delas vai perceber
que é um menino incrível.
— Obrigado, mãe.
— Vamos, Josh. – Nick o convida.
Depois de mil recomendações eles nos deixam.
— Por que ele está com essa roupa? –
July pergunta com uma careta quando a porta do
elevador se fecha. A escola é ótima, cara e
importante, mas o uniforme é mesmo irritante.
— É o uniforme, filha.
— Quando for para escola vou de rosa.
Um vestido bem rosa. E com um cabelo bem
penteado e com um lacinho. E sapatos. Uns bem
bonitos de menina. Só sei disso.
— O Josh é igual o papai. Custava você
gostar de uns jeans velhos e confortáveis como a
mamãe?
— Não sei nada disso, mamãe.
Ficamos juntas, felizmente a senhora
Kalais está de volta e pode nos ajudar com as
refeições. Josh manda mensagem no meio da tarde,
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é conciso, só um “estou indo para casa”.


Quando chega parece bem, fico
orgulhosa, July e Ryan dormiam, ela de puro
esgotamento.
— Como foi, filho? – Pergunto sentada
com ele, os dois apoiados no balcão da cozinha
tomando chocolate quente.
— Legal. No começo foi estranho, mas
depois melhorou. Conheci uns garotos, almocei
com eles. É diferente, mas parece como nos filmes.
— Então o pior já passou.
— Mãe. O papai é muito importante? –
Ele pergunta balançando a xicara e meio confuso.
Não deve ser muito fácil ser filho de um Stefanos,
penso se de algum jeito, com o tempo, isso não vai
ser um peso para essas crianças.
— Acho que sim, todos eles são muito
conhecidos. Por que?
— É que o professor estava olhando a
lista e quando foi me apresentar perguntou se eu era
um Stefanos, ele perguntou se meu pai era um dos
irmãos Stefanos e eu falei que sim e ele quis saber
qual e falei do Nickolas e depois ele pareceu mais

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legal comigo.
— Isso é algo importante para aprender.
Os Stefanos têm muito dinheiro. Você é um
garotinho muito rico. – Aperto seu nariz. – Muita
gente vai parecer gostar de você só por isso. Às
vezes as coisas vão parecer ser bem fáceis, só vai
bastar dizer seu sobrenome, mas isso não é bom.
Vai ter que aprender a não fazer isso.
— Entendo. Eu tenho que conseguir as
coisas com meu esforço.
— Muito bem. É isso mesmo. Como seu
pai.
— Prometo, mãe.
— Seu pai se esforçou muito para ser
quem ele é. Quero que faça o mesmo. Eu sei que
muito provavelmente nós vamos mimar você.
— Acho que sim. – Ele me sorri. –
Vocês fazem isso, mas eu vou ser a mesma coisa.
Porque eu vou no abrigo e na associação e daí
nunca me esqueço.
— Você me enche de orgulho, sabia? –
Beijo Josh na testa. – Mas tem que saber que não é
todo mundo assim, que merece bons amigos e que

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vai sim ter muita gente que gosta de você pelo que
é. Agora vai sei lá. Fazer qualquer coisa.
— Tenho dever de casa. Vou ficar no
escritório do meu pai estudando até ele chegar do
trabalho.
Duas coisas ficam bem claras. A
primeira é que Josh diz meu pai com muito
orgulho, chega a estufar o peito e a segunda é que
aquele escritório é mais dele que do pai. Faz meses
que Nick não se senta lá para trabalhar.
Os dias seguem, eu os conto, não apenas
por que sou uma mãe zelosa, mas realmente meu
príncipe anda mais bonito que o normal, mais
apaixonado também, e dormir anda difícil.
— Bom trabalho, príncipe. – Eu o beijo
na porta do elevador na manhã do quadragésimo
dia.
— Sabe que dia é hoje? – Ele diz no meu
ouvido. Sorrio.
— Te vejo a noite. – Digo com um beijo
no seu pescoço. – Vai ficar o dia todo no escritório?
— Vou. Tenho uma reunião as onze. O
Simon só me avisou ontem à noite. Nem sei direito

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com quem, ele anda meio atrapalhado. Acho que é


o amor. Tchau gatinha. – Ele diz quando encosto a
mão em seu peito. Acabo rindo do meu marido
fugir de mim.
— Está fugindo de mim, príncipe?
— Exatamente, saber que tudo acaba
hoje realmente deixou as coisas em outro nível. –
Ele me puxa pela cintura, me beija. Suspira, os
olhos risonhos. Vai até o cesto beijar Ryan, depois
July e então toca o ombro do filho, faz questão de
deixar Josh na escola e sei que os dois vão
conversando animados.
Assim que ele sai coloco meu plano em
ação. Sophia vai ficar com July e Ryan, é bom ter
uma cunhada com leite materno. Se Ryan chorar
ela pode dar um jeito. Vou devolver a gentileza
quando ela estiver livre. Tenho certeza que Ulisses
me será eternamente grato.
Coloco a lingerie comprada com todo
cuidado, botas e o casaco. Me olho no espelho, meu
corpo voltou rápido ao normal, ou quase isso, gosto
do efeito do casaco com as botas de cano longo. Os
cabelos soltos, até coloco um batom claro. Nick vai
ter um ataque, mas no fim vai gostar de uma visita
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surpresa no escritório. E vai descobrir que sua


reunião marcada em cima da hora é comigo.

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Capitulo 48
Nick

— Pai. Você é bom em álgebra? – Josh


me pergunta quando entramos no carro.
— Josh eu vou ter que deixar a modéstia
de lado para dizer que sou bom em qualquer coisa
que estude. Pode contar comigo.
— Pode me ajudar depois do trabalho?
Só para tirar umas dúvidas? Também sou bom. Os
professores disseram que estou indo muito bem
para quem chegou depois.
— Eu sabia que conseguiria. Mas se
sentir dificuldade fala comigo. Não precisa se
matar sobre os livros e ficar assustado.
— Vou fazer isso. Meu professor de
história disse que você é muito inteligente, que todo
mundo diz por aí.
— As pessoas dizem muita coisa por aí.
– Ele afirma. – O que importa é você aprender. Se
ficar complicado a gente traz um professor
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particular.
— Está certo. Qual era sua matéria
preferida?
— Difícil, filho, não sei. Eu me enfiava
nos livros sem medo. Aquilo era tudo que eu
achava que tinha. Hoje eu penso que podia ter
aproveitado mais meus irmãos.
— É, mas hoje faz isso. Estão sempre
juntos quando dá.
— Sempre. Não vejo a hora de levar
vocês para Kirus. Só agora que tenho vocês é que
me sinto grego, fico querendo mostrar um pouco
como são as coisas na Grécia.
— Vou gostar muito. Nós vamos em
Londres também? – Ele me pergunta enquanto
vamos enfrentando o caótico transito de Nova
York.
— Muitas vezes, acredite. Seu tio mora
lá. Então estaremos sempre por perto.
Principalmente se ele não parar de ter filhos.
Josh ri. Heitor parece doido. Fico
apavorado com meus três e ele nessa competição
imaginária.

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— Acha que a Tia Liv e a Lizzie gostam


disso?
— Parece que sim. Elas embarcam nessa
aventura com ele.
— Eu vou ter mais irmãos? – Olho para
ele meio surpreso. – Só para saber. É que a July
sempre fala da futura irmã.
— Não sei, Josh. – Suspiro encaro mais
um farol vermelho. – Teoricamente não, mas nunca
se sabe. Gosto de ter apenas três.
— Um menino da minha classe viu uma
foto de vocês numa revista, ele levou a revista, é
revista de dinheiro. Ele disse que não pareço com
você. Então eu disse que me pareço com a minha
mãe, não sabia se podia dizer que sou adotado.
Pensei em perguntar para a minha mãe, mas achei
que ela podia ficar triste.
— Sei. Você ficou triste? – Pergunto a
ele, sabia que ele seria o centro das atenções
chegando depois e sendo meu filho, sei que somos
conhecidos e famosos e que numa escola como
aquela, cheia de garotos ricos e filhos de
empresários todos acabariam especulando.
— Não. Triste eu era lá no abrigo. – É
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bom de ouvir. Até aperta meu coração. Bagunço


seu cabelo o que seria péssima ideia se Annie
estivesse conosco por que ela correria para arrumar.
— Josh, eu não gosto de mentir. Acho
que sempre a verdade em qualquer situação é o
melhor caminho, isso não é nada fácil no meu
trabalho, mas é assim que faço. Se tiver problemas
em dizer que é adotado então tudo bem, não tem
problema, você parece mesmo sua mãe o que não é
nada mal por que ela é linda. – Ele afirma sorrindo.
– Mas se quiser dizer a verdade e acho isso ótimo,
por que não tem o que temer ou se envergonhar
então diga. Para nós, eu e sua mãe, você é filho
tanto quanto os outros e o resto é tolice.
— Prefiro dizer a verdade. Só na hora
que fiquei confuso se vocês iriam se importar de
todo mundo saber que eu morava num abrigo.
— Eu também morava, e sua mãe e sua
irmã. As pessoas sabem que viemos de baixo como
dizem. Não gosto muito do termo. – Paro o carro
na porta da escola.
— Obrigado, pai. – Josh pega a mochila.
Seguro seu braço.
— Espera, filho. – Ele me olha. – Presta
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atenção. Não tem do que se envergonhar, tenho


orgulho de você e sua mãe também, não deixa
nenhum garoto bobo te intimidar. Seja firme, isso é
sério. Cuide de você como cuidaria da July, se der
algo errado, saiba que não vou pensar duas vezes,
vou ficar do seu lado.
— Pai. É sério. Eu estou bem mesmo.
Fiz amigos. Até me convidaram para ir num
aniversário no fim de semana. Minha mãe disse que
posso ir e que vamos comprar presente.
— Certo. Boa aula. O motorista te pega
mais tarde. – Ele afirma. Me abraça e desce. Fico
assistindo ele caminhar pelas escadas e apertar a
mão de um garoto na porta, os dois entram juntos.
Um amigo está ótimo.
Quem precisa de mais do que isso. Tive
o Simon e foi e é o bastante. Sigo para o escritório
menos preocupado. Acho que são só coisas da
cabeça de um menino se adaptando, ele gosta de ir
para escola, se fosse infeliz não sairia tão animado
toda manhã.
Entro em minha sala, sigo para minha
mesa, encaro a pequena pilha de papéis. Foi-se o
tempo que eu caçava trabalho, agora mal dou conta
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do que tenho que fazer.


Simon tem provado que é realmente
mais que um assistente. Sem ele, eu não poderia
estar tão próximo do meu bebê. Quando ele tomar
coragem e pedir Sarah em casamento eu vou dar
um mês de férias e uma viagem a qualquer parte do
mundo que ele quiser. Como Ulisses faz com sua
secretária.
Mergulho no trabalho, logo depois de
mandar mensagem para minha gatinha. Pego o
telefone. Simon ainda não me disse que reunião é
essa, como vou me preparar para uma reunião se
não sei do que se trata?
— Fala, Nick.
— Simon são quase onze e eu nem sei
que reunião é essa. Sei que está trabalhando muito,
mas...
— Eu vou na sua sala em uns minutos e
te explico. – Desligo com o rosto voltado para a
tela do computador. Tem muita coisa para acertar
nesse contrato. As condições são muito diferentes
do que Ulisses acordou com os turcos. Zyar tinha
que ter visto isso. Digito algumas mudanças, vai
levar semanas para convence-los, talvez alguém
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tenha que ir a Turquia. Escuto a porta abrir.


— Simon que acha de uma semana
romântica na Turquia com a Sarah?
— Acho que os dois iriam adorar. – Ergo
a cabeça confuso quando escuto a voz de Annie.
— Gatinha. – Eu digo completamente
surpreso, olho para minha mulher dos pés a cabeça,
linda, mais que isso, estonteante em botas de cano
longo e salto fino e o casaco preto que esconde a
roupa.
Annie olha em volta como se procurasse
alguém.
— Não estou vendo nenhum gato por
aqui. É um escritório, afinal.
Sorrio me encostando mais na cadeira,
nem me atrevo a estragar tudo perguntando dos
nossos filhos, eles devem estar bem. Ela caminha
por minha sala de modo sensual, a mão corre o
couro do sofá.
— Soube que Nick. Aquele cara mau
andou fazendo algumas falcatruas e se deu bem. –
Seu olhar encontra os meus, ela continua a
caminhar pela sala. – Pelo visto é a mais pura

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verdade. Sofá de couro. Tapetes persa. Ar


condicionado.
— Annie... – Olho para a porta.
— Trancada. – Ela para diante da mesa.
– Gosto da gravata.
— Gosta?
— Claro que eu prefiro sem, mas...
Ela começa a dar a volta na mesa, eu
realmente adoraria ir até ela. Apenas não estou
conseguindo me mover. Fico imóvel esperando que
se aproxime de mim.
— É uma ótima sala. Muito confortável.
– Annie se apoia nos braços da cadeira e me beija,
apenas um tocar de lábios. – Talvez um tanto
quente. O que acha?
Ela se afasta, me dá as costas e volta a
caminhar pela sala, engulo em seco, fico de pé.
Quem está na chuva é para se molhar.
— Quem sabe não tira o casaco? –
Pergunto tirando meu paletó, ela se volta, de pé no
meio da minha sala as onze da manhã. Não acredito
que isso está mesmo acontecendo comigo.
— Acha? – O sorriso malicioso se forma
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em seu rosto e sinto que tem mais por aí.


Começo a desfazer o nó da gravata, não
quero realmente pensar muito, são semanas sem um
momento como esse, além disso é ela, minha
mulher e se for honesto não conheço nenhum
homem que não tenha fantasiado um momento
como esse.
Com movimentos lentos ela vai
desabotoando o casaco, não mostra nada até todos
os botões estarem soltos.
— Já que insiste. – Ela abre o casaco,
para minha surpresa, só o que veste é um conjunto
de lingerie branco de renda. O casaco escorrega
para o chão. Engulo em seco. Pisco tentando
acreditar.
— Lin..ge... rie. – Balbucio.
— E botas. – Ela diz com um olhar
sensual, já que a gravata e o paletó se foram o
melhor é me livrar do resto. Começo a desabotoar a
camisa.
Quando a camisa fica pelo chão caminho
até ela. Annie toca meu peito. Seus dedos em
minha pele e não ter que parar fazem cada parte de
mim despertar.
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Minha mão corre por sua pele da cintura


a nuca subindo pelas costas, então eu a trago mais
para mim, meus lábios descem por seu pescoço,
sinto o gosto de sua pele que tanto amo.
As mãos dela passeiam por mim. Me
afasto de sua pele para olhar em seus olhos.
— Eu não tenho uma reunião. Tenho?
— Se quiser chamar isso de reunião, por
mim tudo bem. – Ela diz antes de sorrir, meus
lábios cobrem os seus. – Não é a cama do motel de
quinta. Mas é um sofá.
Ergo Annie nos braços e a coloco no
sofá. Ela ri.
— Couro, Nick. É sexy. – Ela diz no
meu ouvido quando me curvo para beijar sua pele.
Me afasto, minha mão agora percorre seu corpo em
direção ao zíper da bota.
— Eu não sei de onde elas vieram, mas
guarde-as. – Digo quando desço o zíper e depois
tiro uma por uma. Minhas mãos voltam tocando a
pele macia dar pernas.
— Sem repetições, Nick. – Ela promete
quando cubro seu corpo com o meu e acredito.

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Annie sabe surpreender.


— Senti sua falta. Cada segundo foi uma
eternidade.
— Também senti. Nem pude esperar a
noite chegar. – Sua voz está cheia de desejo,
mesmo depois de tudo eu a amo como sempre amei
e sinto como na primeira vez, a mesma ansiedade, o
mesmo desejo.
Nos livramos do restante das roupas
enquanto vamos nos tocando, beijando,
sussurrando, ela é minha e eu pertenço a ela de
todos os modos.
Annie sabe como me alucinar, me tirar
dos eixos, nunca me passou pela cabeça convida-la
a vir aqui para isso, mas nunca mais vou me
esquecer desse dia.
Sua pele é quente, delicada, suave, vou
beijando cada parte dela, matando a saudade, me
lembrando de como somos felizes, deixando sua
pele arrepiada, a respiração inconstante como a
minha.
— Nick! – Sua voz sai entrecortada, ela
arqueja, me puxa para ela, afunda os dedos em
meus cabelos, nos beijamos cheios de urgência. –
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Quero você. Preciso.


Meus olhos encontram os seus e sei que
nada pode nos afetar, que esse amor é inteiro e
eterno. Que nos domina e completa. Nunca senti
tanta necessidade de Annie como agora e me
entrego aos meus desejos.
Meu corpo se mistura ao seu, é perfeito e
intenso como sempre, mas é também lento, cheio
de saudade e mesmo sem palavras ela quer, assim
como eu, prolongar tudo. Quero que dure para
sempre.
— Annie. – Seu nome sai dos meus
lábios como uma promessa. É só ela, sempre vai ser
apenas ela. A mulher sensual, a garotinha
desprotegida. Minha mulher.
— Te amo, Nick. – Suas palavras me
dominam. Meu desejo vai ao ponto mais alto assim
como o dela. Tudo explode num momento sublime
e me enche de mais amor por ela.
Ficamos nos olhando silenciosos, não
consigo desgrudar meus olhos dela, da beleza
natural e leve da minha gatinha. Acaricio seu rosto,
ela toca o meu, faz o contorno da minha boca.
— Ainda bem que não coloquei batom
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vermelho.
— Está todo em mim? – Pergunto. Ela
afirma com um sorriso carinhoso.
— Mas eu tiro, príncipe. Só estou te
dando uma folguinha.
— Que generosa! – Beijo seus lábios. –
Me tira uma dúvida. Onde estão meus filhos?
— Josh está onde todo garoto de doze
anos deve estar, na escola, onde o deixou. Ryan e
July estão na tia Sophi, a senhora Kalais foi junto
para ajudar. Se ele sentir fome tia Sophi empresta o
peito.
— Muito esperta! – Ela se move se
ajeitando em meus braços, os dois enrolados no
sofá da minha sala, ainda não acredito que fiz isso.
– Gatinha, isso de algum modo significa que
Ulisses sabe que está aqui? Que estamos....
— Nick. Temos filhos agora. É preciso
toda uma logística para uma surpresinha como essa.
— Vale a pena aguenta-lo, acho até que
vou me divertir da inveja que ele vai sentir.
— Cadê meu príncipe discreto?
— Annie. Não sei se faz ideia do que
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acaba de acontecer, tive meu escritório invadido no


meio do dia por uma garota sexy usando lingerie
por baixo de um casaco e estamos no meu sofá de
couro. Depois dessas portas tem homens e
mulheres trabalhando.
— Isso é tipo uma fantasia masculina? –
Ela se move, está agora sobre mim, os olhos ficam
mais uma vez languidos. Seus lábios se curvam
num sorriso sensual, depois ela os umedece com a
língua de um modo que realmente volta a me
acender.
— Pode apostar nisso. Tenha certeza que
os Stefanos vão me acusar de mais uma vez elevar
as expectativas.
— O que podemos fazer? Somos bons
nisso.
— Somos, mas realmente não sei como
vou sair dessa sala e encarar meus funcionários.
— Acha que todo mundo sabe que
estamos aqui fazendo umas coisinhas? – Adoro
quando ela diz coisinhas. É a cara da minha
gatinha.
— Acho.

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— Então, nesse caso, não vamos


decepcionar ninguém. – Só posso concordar com
ela. Minha mão percorre seu corpo e então ela se
curva, voltamos a nos beijar e tudo está vivo em
mim, como sempre esteve desde que ela voltou a
ocupar seu lugar em minha vida.

Annie suspira descansando em meu peito


um pouco mais tarde. Meus dedos sobem e descem
por suas costas.
— Tenho que ir. Amo você, mas tenho
que confessar que já estou com saudade dos meus
bebês.
— Vou com você. – Ela ergue a cabeça
para me olhar.
— Sério? – Annie gosta.
— Não vou ficar aqui e aguentar as
piadas, vou usar você como escudo para sair daqui.
Deixa as gracinhas do Ulisses e do Simon para
amanhã.
— Te protejo! – Ela brinca. – Mas eu sei
que quer mesmo é correr para nossos bebês. – Ela
se levanta, faço o mesmo. Começamos a caçar

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roupas, fico olhando enquanto ela veste as peças


íntimas, depois as botas, sorri quando sobe o zíper.
– Tira-las foi bem sexy.
— Estou à sua disposição.
Ela veste o casaco. Começo a dar o nó na
gravata, a camisa toda amassada, só mesmo ela
para me fazer perder a cabeça.
Coloco o paletó. Depois encaro minha
garota. Ela vem até mim, tenta arrumar meu cabelo,
balança a cabeça em negação.
— Não tem jeito, príncipe. Está com cara
de que fez coisinhas.
— Muitas coisinhas.
Brinco beijando seu pescoço, depois
deixamos a sala. Ainda bem que tem tranca. Não
que alguém fosse capaz de invadir minha sala
sabendo que ela está aqui e que armou tudo.
— Esse é o tipo de reunião que
realmente posso aprender a gostar.
— Essa é realmente o tipo de surpresa
que posso repetir. – Ela diz quando a porta do
elevador se fecha.

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Capitulo 49
Josh

O sinal ainda não tocou, mas como é o


último dia de aula antes das férias de verão toda a
turma já guardou o material. Todo mundo parece
muito feliz. Para mim não faz tanta diferença, gosto
da escola, mas estou contente que vou passar as
férias na casa do tio Leon e conhecer a Grécia.
Chad me olha ansioso, desde que
cheguei aqui ficamos muito amigos, logo no
primeiro dia ele veio falar comigo, metade da turma
não liga muito para ele, mas acho ele um menino
muito legal.
O sinal toca e todo mundo sai gritando,
correndo, comemorando, eu espero com ele ao meu
lado até a maioria sair e depois vamos andando
juntos. A escola é muito grande e nossa sala fica no
terceiro andar no fundo do corredor.
— Gostei muito do presente que me deu,
o jogo é bem legal. – Chad agradece o presente de
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aniversário, fui em alguns aniversários desde que


cheguei na escola. – Ano passado convidei a turma
toda, mas só a Michelle e o Cooper que foram, esse
ano, por que você ia, foi a turma toda.
— Acha isso legal? – Eu acho bem
estranho. Chad dá de ombros.
— Pelo menos tinha bastante gente. Foi
legal. Vai fazer festa no seu aniversário?
— Meus pais comemoram os
aniversários na ilha do meu tio Leon, então o meu
vai ser lá com toda a família. Mas minha mãe disse
que quando a gente voltar eu posso convidar uns
amigos para ir lá em casa brincar. Vou chamar só
alguns, você, o Cooper e a Michelle.
— O Dilan não vai gostar, ele quer ser
seu amigo por que você é popular e ele não gosta
muito de você pelo mesmo motivo, por que você
está tomando o lugar dele. – Olho para Chad sem
entender direito, ainda bem que andamos devagar e
já sumiu todo mundo. Chegamos no primeiro lance
de escada. – Dilan tem inveja de você.
— É muito esquisito alguém ter inveja
de mim. – Chad dá de ombros mais uma vez e
descubro que ele faz muito isso. Começamos a
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descer o primeiro lance de escadas, arrumo a


mochila nas costas.
— Metade das meninas da turma gostam
de você. Até a Caroline que queria namorar com
ele antes.
— Não sei de nada disso, Chad, nem
quero saber, é hora de brincar e estudar, não
namorar, sou muito novo.
— Mas ela é bonita. Eu acho, todos os
garotos acham.
— Isso é. – Ela é mesmo muito bonita,
mas é muito cheia de frescura também, no fundo eu
gosto mais dos meus amigos da associação e do
Chad. – Mas não quero saber disso.
— Você que sabe. Dilan quer ser o
riquinho, agora você é o mais rico de todos, todo
mundo fala isso, dizem que seu apartamento tem
três andares que tudo que tem lá dentro já apareceu
até em revista.
— Tem mesmo três andares, mas dentro
tem mais brinquedo espalhado que qualquer outra
coisa, sei lá, minha mãe e minha irmã fazem muita
bagunça, a senhora Kalais, eu e meu pai tentamos
arrumar, mas elas são insuperáveis.
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— Sua babá? Essa senhora aí que falou


com nome grego?
— Não, ela ajuda a gente, não temos
babá! – Que ideia.
— Eu tenho, aqui quase todo mundo
tem, eu tenho três, uma durante a semana, uma de
fim de semana e uma que cobre negócio de folga.
— E sua mãe e seu pai? – Que estranho?
Lá em casa e em toda família quem cuida são os
pais e os tios e só.
— Meu pai é músico. – Chegamos no
último lance de escadas. – Ele viaja muito e minha
mãe vai com ele, eu e minha irmã ficamos com as
babás mesmo.
— Não sei por que esses meninos não
ficam atrás de você, com inveja de ter pai músico.
— Garotos de doze anos não gostam de
jazz, meu pai toca isso, daí eles não ligam, queria
ver se ele tocasse em alguma banda famosa que
nem aquela menina do nono ano.
— Eu sei, ela dá até autografo. – Nós
dois rimos achando aquilo bem engraçado.
Chegamos na porta e procuro o carro.
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— Seu motorista está logo ali. – Chad


me aponta o carro. – Sabia que todo mundo acha
engraçado que você vai na frente com seu
motorista? Isso é coisa de vocês gregos?
— Nós gregos somos iguais todo mundo
e devia parar de ficar prestando atenção em tudo
que dizem de mim, Chad.
— Só quero ajudar, Josh.
— Tudo bem. – Apertamos as mãos. –
Boas férias. Te ligo na volta para você ir lá em
casa.
— Legal. Boa viagem. – Caminho para o
carro enquanto Chad fica esperando seu motorista.
Entro no carro e Paul aperta minha mão.
Ele é bem legal, me leva nas festas quando meu pai
não pode, me busca todo dia na escola e leva minha
mãe na associação todo dia.
— Finalmente livre? – Ele brinca e
sorrio. – Avisa sua mãe que já peguei você. Vou te
deixar no escritório do seu pai não é isso?
— É, vou ficar trabalhando com ele até a
hora de ir para casa.
Pego meu celular na mochila, ligo por
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que ele tem que ficar desligado na aula, mas só eu


que obedeço às regras.
“Estou no carro já, mãe. ” Digito rápido
por que ela fica de olho para ver se estou bem.
“FERIAAASSSSSSSSSS” ela responde
e começo a rir, minha mãe é muito engraçada as
vezes. Diz que achava que ia ter um filho Rony e
tem um filho Hermione. Eu tenho mesmo que me
segurar para não ficar levantando a mão toda hora.
Paul para o carro na frente do prédio,
desce comigo e me leva até a recepção, não sei
como não sobe segurando minha mão, bem que
meus pais iriam preferir, nunca pensei que eles iam
gostar tanto de mim assim. Os dois tem medo
demais de alguma coisa me acontecer.
Paul aperta minha mão, resmunga um
cuidado e me deixa, fico até com vergonha, aperto
o botão da cobertura que é o andar do meu pai e
dos meus tios. Simon e Ulisses.
Eu gosto de vir trabalhar com meu pai,
então de sexta-feira ele deixa eu vir e voltamos
juntos para casa. A porta do elevador se abre, meu
tio aperta a secretária dele que dá uma dúzia de
tapas nele, ela tem até cabelo branco, mas meu tio
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Ulisses sempre faz isso.


— É para não ficar com saudade de mim
delicia, estou indo viajar.
— Eu vou me aposentar, sabia?
— Para de me ameaçar. Não vai se
aposentar nada, é jovem ainda, quer é ficar em casa
de assanhamento com o maridão. – Ela ri, abraça
Ulisses, e depois me acena.
— Olha meu sucessor chegando. – Tio
Ulisses me aperta a mão, depois abraça. – Seu pai
adora receber a família. – Ele ri e meu tio Simon se
aproxima.
— Ulisses! – Ele adverte meu tio.
— Nem falei da famosa visita da Annie.
– Não sei do que estão falando, mas os dois me
olham.
— Vai lá com seu pai, Josh. – Tio Simon
se apressa. Obedeço, acenando para os dois. Bato
na porta e depois entro.
— Da licença, pai.
— Entra, filho. Já disse que a sala é sua,
não precisa bater, mas gosto que seja tão educado.
Vou até ele, abraço meu pai, não tenho
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mais vergonha de fazer isso. Eu tinha muita, nem


chamava de pai antes, depois eu vi que eles
gostavam de mim, daí tinha a maior vergonha de
falar pai e mãe que nem a July.
Fiquei ensaiando, ensaiando e um dia eu
disse bem sem querer e ficou tudo bem eu vi que
eles acharam normal e daí não parei mais. É muito
melhor assim.
— Como foi a aula?
— Tudo bem, todo mundo com pressa de
acabar logo por causa das férias. Eu gosto.
— Eu sei. – Deixo minha mochila no
chão. Depois pego uma cadeira e arrasto do lado
dele. ─Com fome? Sede?
— Não. Estou legal.
— Ótimo, então vamos lá. – Meu pai me
dá umas folhas. – Pronto? – Faço que sim. – Sua
caneta marca texto. Quero que marque com ela
tudo que for relacionado com valores. Depois
vamos somar.
— Tudo bem. – Uns minutos depois meu
celular toca, é meu tio Leon, ele me liga todo dia.
Atendo por que meu pai não se importa que eu

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atendo quando estou trabalhando com ele. – Alô.


Oi tio.
— Oi Josh. Tudo bem?
— Tudo. Já estou de férias.
— Que bom. Onde está?
— Trabalhando com meu pai.
— Verdade hoje é sexta. Está com as
malas prontas?
— Sim, minha mãe arrumou já.
— Amanhã à noite vão estar aqui. Como
estão seus irmãos? – Ele me pergunta, meu pai me
sorri, depois volta a trabalhar.
— Bem. July está muito animada que vai
ver a Alana. O Ryan está bem bonitinho, ele já dá
risada.
— Certo. Seu quarto está pronto e o da
sua irmã também. Seu tio Heitor chega de manhã e
vocês no fim da tarde.
— Vai ser legal, eu vou poder ir no seu
escritório?
— Claro, nós vamos ficar trabalhando
aqui. Então pode vir sempre que quiser, quero ver

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como é seu trabalho, seu pai diz que ajuda muito.


— Eu gosto. Meu pai diz que vai me
deixar no lugar dele e meu tio Ulisses disse que não
vê a hora de se aposentar, então não sei como que
eu vou fazer.
— Vamos torcer para Lizzie não mudar
de ideia e te ajudar.
— É. – Eu não falo muito com ela, tenho
um pouco de vergonha, acho ela muito legal e
Lizzie é bem bonita, fico pensando se todos os
meninos querem namorar com ela que nem querem
namorar a Caroline lá na minha escola. – Ela quer
ser advogada que nem meu pai. Ela devia ir
trabalhar com o pai dela que nem eu faço.
— Acho que no momento ela prefere
dançar. Vou te deixar trabalhar. Até amanhã, Josh.
— Tchau tio. Até amanhã. – Eu desligo e
meu pai me olha.
— Ele não quis falar comigo? – Faço
que não. – Que coisa, vou ligar para ele e para sua
mãe, continua aí seu trabalho.
Se meu tio Ulisses estivesse aqui já ia
chamar meu pai de bebê do Leon. Só quando

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escurece é que vamos para casa. Meu pai vai


dirigindo, ele não gosta muito de vir de carro, mas
de sexta-feira ele vem para irmos juntos.
Minha mãe nos espera com July e Ryan
na sala, minha irmã corre para o colo do meu pai, é
bom não ter que ficar cuidando dela todo tempo,
acho que não cuidava muito direito, por que agora
ela não fica doente toda hora. Beijo minha mãe e
depois meu irmãozinho.
Daí ela vai namorar meu pai, eles se
gostam mais que tudo no mundo, acho bem legal,
muitos meninos e meninas da minha turma tem pais
separados, mas os meus vão ficar para sempre
juntos.
Tenho que contar como foi meu dia e
depois meu pai conta o dele e daí minha mãe
também e depois a July conta as coisas do jeito
dela. Jantamos juntos.
— Josh se quiser levar algum livro ou
brinquedo é a hora de colocar na mala. – Minha
mãe avisa. – Vamos sair cedinho.
— Vou levar. Quantos livros posso
levar?
— Poucos Josh, vai brincar, correr,
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nadar. – Minha mãe sorri, ela fica orgulhosa de


mim, os dois ficam. Eu gosto de livros.
— Ir no escritório do meu tio.
— Ir no escritório do seu tio. Tudo que
quiser. – Minha mãe completa.
— Eu vou brincar com a Alana, e fazer
todas as coisas de menina e pintar quadros com
minha tia Lissa. – July avisa. – Só sei disso.
— Só sabe disso né bonequinha? – Meu
pai aperta seu nariz. – E dos legumes, a senhorita
sabe? – Ele aponta seu prato, os legumes estão
cuidadosamente esmagados num canto do prato.
— Ai papai você é engraçado. – Ela ri. –
Já vou comer.
— Quem come os legumes fica forte e
cresce.
— Isso mesmo mamãe, você acertou. –
July é tão engraçada. Acabo rindo. Dormimos cedo,
é difícil pegar no sono, fico ansioso com a viagem.
É a primeira vez que vou andar de avião, além
disso vou conhecer um pais novo, encontrar toda a
família. Vai ser bem legal.
A gente desce com malas, e coisas e
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ajudo meu pai enquanto minha mãe carrega o Ryan


e o Paul nos leva até o aeroporto. Tio Ulisses já nos
esperava dentro do avião, July começa a ficar com
medo. Senta do lado do meu pai e da minha mãe,
eu acho bem legal e fico perto do meu tio.
Meu pai tem que ficar acalmando a July
quando o avião sobe, mas depois ela gosta, no céu
nem parece que estamos em movimento. Gigi
dorme no colo do pai.
— Pode andar pelo avião, Josh. – Tio
Ulisses avisa. – E soltar o cinto se quiser. É uma
longa viagem.
— É muito bonito aqui, papai príncipe.
Quando que a gente chega? – July diz andando pelo
avião.
— Vai demorar bastante.
— Vou brincar com a Gigi um pouco,
meu tio Ulisses deixa eu chamar ela de Gigi.
— Seu tio é muito bom. – Meu pai
brinca.
— O melhor tio do mundo. – July afirma
num gesto largo que conquista meu tio.
No começo a viagem é legal, depois
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começa a demorar, dá para ler, dormir, comer e


nada de chegar, os bebês dormem e depois acordam
e ficam em todos os colos, o dia vai passando e é
bem estranho.
— Vem ver a Grécia, Josh! – Meu pai
convida e fico com ele olhando a cidade lá em
baixo. July até bate palmas de feliz por que vamos
descer. Apertamos os cintos e então estamos na
Grécia, mas ainda tem o helicóptero que meu tio
pilota.
— Que acha de pilotar um dia, Josh?
— Acha ruim. Acha péssimo! – Minha
mãe me aperta a bochecha.
— Mães! – Tio Ulisses brinca. – A
Giovanna vai aprender.
A Ilha de Kirus começa a aparecer e é
lindo de ver, dá para ver a casa do meu tio bem no
alto da ilha, muito grande e toda branca. De cima é
lindo.
— Piscina, papai! – July agora que sabe
nadar, ama piscina.
— E sol, filha! – Minha mãe Brinca,
meu pai e minha mãe se beijam, eles gostam de

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mostrar para nós três a ilha. Toda família gosta


muito desse lugar.
Dobby vem correndo quando chegamos,
depois tem que falar oi para todos, brincar com os
menores, Lizzie me dá um sorriso. Acho que ela é
mais bonita que a Caroline, com certeza os meninos
devem querer namorar com ela.
Eu tenho um quarto só para mim, um
bonito, arrumadinho, com coisas de menino, o da
July é bonito também, fica tudo uma bagunça um
pouco, e só depois que Ryan toma banho e mama é
que descemos todos para jantar. Tem dois cestos na
sala para os bebês, meus tios pensam em tudo, e
muitas pessoas que não conhecia. Ariana, Cristus,
Thaís e a cozinheira, o jantar é muito bom.
Todos vamos cedo para cama, viajar
cansa muito. Acordo com meu pai sentado na beira
da cama, me sento meio confuso. Daí me lembro
que estamos na ilha.
— Gostou do quarto?
— Sim. Aqui é tudo legal. O que a gente
vai fazer?
— Conhecer a ilha. Tem que ser cedinho
por que depois fica muito sol.
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A ilha é linda, o mar e o céu são muito


azuis, até parece a mesma coisa. A família vai toda.
Tomamos sorvete perto da praia.
— Josh, leva a July para pegar mais
sorvete. – Meu pai me estende umas notas. – Vai
junto Lizzie.
Lizzie vai dando a mão para o Harry e eu
para July.
— Está gostando da escola? – Ela me
pergunta.
— Bastante, mas é estranho, as pessoas
ficam te olhando por que é Stefanos?
— Não. Na Inglaterra as coisas são
diferentes.
— Tem muitos amigos?
— Só alguns, mais meninas que fazem
ballet comigo. Só tenho um amigo, ele gosta de
Harry Potter que nem eu e sempre ficamos
conversando, outro dia ele foi brincar lá em casa.
— E ele quer namorar com você? – Ela
me olha, nega bem rápido.
— Não vou namorar ninguém agora. Só
quando eu crescer. Você namora?
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— Nem pensar, só quando crescer. – Ela


sorri acho que ela pensa que nem eu. – Do que você
quer, July?
— Chocolate.
— July é como você e meu pai, ama
chocolate, tudo ela quer de chocolate. – July sorri,
eu pago o sorvete de todo mundo, meu pai sempre
me dá algum dinheiro, mas nunca gasto. – Meu pai
falou que a gente vai ficar uma semana aqui e vai
para Disney. Você vai?
— Claro. Está no contrato que nós
assinamos, eu, meu tio e a Annie. Disney todo ano.
Quando as coisas estão estranhas é só fazer um
contrato e consertar tudo.
— Entendi. Coisa de advogado, né? –
Vamos andando de volta.
— Isso, você pede para o seu pai, ele faz
as cláusulas.
Cada um volta num horário diferente
para casa, nós vamos primeiro para o Ryan
descansar e a Gigi também, Lizzie vai com a gente
por que tem que ensaiar para as coisas dela de
ballet.

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Me sinto bem na casa do meu tio, nem


fico com vergonha, ele sempre fala comigo e gosta
de mim como dos outros, acho que deve gostar até
mais por que ele me liga todos os dias. Desço para
o almoço sozinho.
Tia Liv está na sala brincando com a
Emma.
— Josh, me faz um favor?
— Claro, tia.
— A Lizzie está lá no salão de vocês,
sabe onde fica o espelho com barra que ela tem?
— Sei sim.
— Pode chama-la para almoçar? Aquela
garota é capaz de passar o dia dançando e se
esquece até de comer.
— Eu chamo. – Saio pelo jardim, dou a
volta na casa, passo pela piscina, os fundos e um
pátio com uma grama bem verdinha, daí vejo o
prédio bem bonito que meu tio construiu só para a
família, o térreo é só para brincarmos, lá que fica o
cantinho do ballet. Tem portas de vidro do chão até
o teto, com cortinas que balançam com o vento.
Escuto a música clássica tocando alto, é
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bonita, violinos, aprendi na aula de música. Me


aproximo em silencio, a cortina balança e vejo
Lizzie.
Ela está dançando tão distraída que nem
me vê, toda de rosa, com sapatilha e coque. Parece
uma fada, desliza pelo piso brilhante e parece uma
nuvem. É a coisa mais bonita que já vi.
Não consigo sair do lugar, não sei como
pode ser tão bonita. Eu não quero chamar ela.
Quero que fique ali dançando para sempre, como se
fosse uma princesa. Ela gira, os braços são leves,
fica na ponta do pé, sorri sem saber que estou
vendo. As vezes bem devagar, as vezes rápido,
depende da música.
Depois a música acaba, ela olha para o
espelho, agradece. Coloco as mãos no bolso para
não bater palmas. Queria que ela começasse tudo
de novo. Nem pisco.
Quando menos espero ela se vira a
cortina voa alto com o vento e ela me vê. Leva a
mão ao pescoço de susto. Meu rosto queima de
vergonha o dela fica vermelho e acho que fica até
mais bonita.
— Josh! Não te vi.
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— Eu... é que estava dançando. Então


eu.... – Aponto em direção a casa. – Eu.. jantar...
almoçar. Sua mãe está te chamando para almoçar.
— Obrigada. Vou tirar as sapatilhas. –
Ela se senta no chão e fico esperando, é feio ir
embora e não esperar. Quando tira as sapatinhas e
sobe a meia que tem um furo em baixo vejo os pés
machucados, os dedos vermelhos.
— Se machucou. Quer que eu te ajudo a
andar? Posso chamar seu pai se quiser, é só uma
corridinha e ele vem rápido.
Lizzie ergue os olhos e sorri. Nem está
chorando, se fosse a July ia chorar uma semana.
— Estou bem, Josh, sempre fica assim,
depois sara daí machuca de novo, são as sapatilhas.
– Acho ela bem corajosa de se machucar e
continuar. Ela fica de pé, coloca um chinelo e nem
parece que está machucada. Sai andando do meu
lado sem nem mancar.
— Vamos, estou morrendo de fome.
Depois do almoço a gente pode jogar alguma coisa.
Viu que chegaram um monte de jogos?
— Pode ser.

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— A gente tem mesmo que ficar olhando


as crianças. O Luka é o pior. Só vive aprontado. –
Saímos andando um do lado do outro, seu nome é
Elizabeth, mas podia ser nuvem, ela parece uma
nuvem de tão suave que é até quando anda.
— Verdade, a Alana e a July toda hora
reclamam que ele faz piada.
— Eu sei. – Ela concorda quando a gente
segue por outro caminho que eu não conhecia e
acaba na cozinha. – Ele parece o tio Ulisses. Meu
pai que fala.
— Dobby! – Mira briga com o cachorro
de pé na pia roubando comida. Eu e Lizzie nos
olhamos e rimos um para o outro. Mira nos vê. –
Podem tirar esse cachorro da minha cozinha.
Eu e Lizzie tocamos a coleira do Dobby
ao mesmo tempo, nos olhamos, Dobby tenta fugir,
e nos puxa com ele, caímos os dois e ele desaparece
da cozinha que nem um raio.
— Se machucaram? – Mira pergunta nos
olhando de cima com as mãos na cintura. Negamos
com a cabeça os dois com vergonha. – Ótimo,
então fora da minha cozinha. Está para nascer o
Stefanos que vai me roubar comida das panelas.
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Ficamos de pé, a gente só estava


passando, Dobby faz a maior encrenca e ainda
ficamos com má fama. Nunca mais entro por aqui.
Como diria July. Só sei disso.

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Capitulo 50
Lizzie

— Deixa que eu te conto tudinho, tio


Heitor. – July se senta no colo do meu pai, é uma
garotinha muito linda, faz Annie e meu tio Nick
felizes e isso é bom. Os dois merecem isso.
Não sei de muitos detalhes, mas sei que
meu tio passou por coisas ruins quando criança.
— Então gostou do avião? – Meu pai
pergunta a July. Sorrio para ela, ajeito seu cabelo e
ela acaba desarrumando na tentativa de me ajudar.
Desisto de ajeita-los.
— Gostei muito, tio, não precisa ter
medo sabia? Meu pai que disse. Quando ele está
subindo a gente fica... Segura minhas costas tio, eu
te mostro. – Meu pai apoia suas costas e ela se joga
um pouco para traz. – Viu como que fica? Depois
ele chega lá em cima e daí pronto fica parado lá.
— Parado?
— É, aí eu fiquei brincando com os
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bebês. Já andou no avião, Lizzie?


— Já. Eu gosto.
— Eu também. A gente vai viajar de
novo sabia? Na Disney, tem muitas princesas por
lá. Eu vou ver todas, só sei disso.
— Vai sim, e tem muitos brinquedos.
─July é tão pequena que não vai poder ir em quase
nenhum brinquedo legal, mas nem vou falar agora.
— Você não vai, tio?
— Não posso, a tia Liv está esperando
bebê, não pode fazer essas viagens, ainda bem que
seu pai leva minha princesa.
— Por que ela é muito minha amiga. –
July me olha. – E vai me ensinar ballet. Só falta a
Alana chegar, ela está colocando uma roupa. Eu
não tenho sapatilha tio. Será que a minha mãe
compra uma?
— Claro que compra e te coloca numa
escola de ballet. – Meu pai diz e os olhos de July se
arregalam.
— Será? Vou pedir para ela. Espera
Lizzie.
July desce do colo do meu pai e corre
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pela casa atrás da mãe. Ele me abraça me encosto


em seu ombro.
— Quer dizer que virou a professora de
ballet das meninas?
— Acho que sim.
— Só me deixa orgulhoso. – Ele me
beija a testa. – Quando voltar da Disney vamos
passar um fim de semana no campo para cavalgar
um pouco, o que acha?
— É bom, a mamãe gosta tanto. O Harry
ama, assim passa o dia correndo atrás de galinha
com o Dobby. – Meu pai ri. – Vou escolher o nome
do meu irmãozinho?
— Isso é com a sua mãe, mas ela com
certeza vai deixar, só que o Harry vai ter que
concordar, a Emma não tem idade para decidir.
— Nem o Harry, papai. – Ele faz careta.
– O Dobby não fala então a decisão é minha.
— Ok princesa, a decisão é sua, mas
nada de Harry Potter. – Agora é minha vez de fazer
careta.
— Tudo bem, vou pensar em um nome
bonito.
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— Pede ajuda aos primos, Josh escolheu


o nome dos dois irmãos, ele é bom nisso.
Josh parece aqueles meninos que são
bons em todas as coisas, a gente nem se fala muito,
mas brincamos as vezes e jogamos, mais quando
está todo mundo junto.
Acho ele bonito e inteligente e as vezes
fico com vergonha. Nem sei como que vou me
acostumar que ele é meu primo, talvez não
acostume.
— No que está pensando?
— Nada. – Me apresso, acho que meu
pai não ia gostar nada se eu achasse o Josh bonito.
— Seu tio ainda ama você como sempre.
Sabe disso não é mesmo?
— Não se preocupa, papai. Eu estou feliz
por todos eles, não tenho nadinha de ciúme, gosto
que a vida do tio mudou, agora ele fica o tempo
todo com a gente, não fica mais lá no escritório ou
no quarto dele, é bem melhor assim.
— Às vezes eu fico com saudade da
minha menininha de seis anos, está crescendo
muito rápido.

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— Amo você. – Ele me abraça, eu não


sei se quero crescer. Acho que gosto de ser um
pouco criança.
Alana vem correndo, July a acompanha,
as duas animadas para a aula de ballet. Beijo meu
pai, adoro que o tio e a tia pensaram até em um
espelho com barra para mim. Nada melhor que
dançar para a cabeça ficar bem tranquila e o corpo
cansado.
Pego as duas pelas mãos e deixamos a
sala, damos a volta na casa, não quero arriscar
deixar Mira brava por conta de suas panelas. Tio
Ulisses vive levando tapas e beliscões e eu e o Josh
nos demos bem mal uns dias atrás.
As duas se sentam no piso frio quando
chegamos a sala, ligo o som e a música clássica se
espalha pela sala, Alana e July se olham risonhas.
Alana já faz aulas de ballet, mas July está muito
ansiosa.
Me lembro das minhas primeiras aulas,
de como sonhava que um dia seria uma grande
bailarina, agora não sei se quero ser uma grande
bailarina ou uma advogada.
— Minha mãe disse que vou estudar
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ballet também Lizzie. Ela deixou.


— Que bom, July. Então de pé as duas,
vamos começar a aula. – Elas me obedecem
animadas, ficamos ali ensaiando as primeiras
posições e as duas são tão lindinhas, fico pensando
que um dia vou ensinar a Emma, tomara que ela
goste tanto quanto eu. Vai herdar minhas fantasias.
Já anoitecia quando deixamos a sala, as
duas conversando na frente animadas e correndo
para casa. Passo pelo jardim e Josh está lendo, ele
me acena, July corre para o irmão.
Pensei que ficaria com ciúme do meu tio
Nick, mas nada disso, ele ainda é meu melhor
amigo como antes, me liga ou eu ligo, vamos ao
parque juntos e nas férias vou ficar uns dias na casa
dele.
— Sou bailarina agora, Josh. Só sei
disso. – July avisa.
— Que legal. – Josh me sorri. –
Obrigado por ensinar a July.
— Eu gosto. – Ele segura a mão da irmã
e caminhamos todos juntos para dentro. July corre
para a mãe e aproveito para ficar um pouco com
todos na sala.
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Amo quando a família se reúne, daqui há


dois dias vamos viajar e também vai ser bom, mas
ter todo mundo junto é a melhor coisa. Me sento no
chão, Dobby logo vem para perto de mim. Beijo
sua cabeça e fico rindo das brincadeiras do meu tio
Ulisses. Rindo do jeito engraçado que os irmãos
ficam quando ele provoca todo mundo.
— Josh vai em todos os brinquedos e
nossa baixinha vai ficar com inveja.
— Tio, eu não sou baixinha. – Fico de
pé. – Sou baixinha, tio Nick?
— Não Lizzie, se der atenção ao tio
Ulisses ele não para. Josh fica do lado dela e vamos
ver a diferença. – Josh para do meu lado, ele é só
uns centímetros mais alto. Não sei se vai crescer
muito, não vou perguntar se os pais dele de verdade
eram altos, não quero que ele se chateie com isso,
meu pai me explicou que ele sofreu coisas antes de
chegar na família e não quero lembra-lo.
— Você vai poder ir em todos os
brinquedos que eu for Lizzie, somos quase do
mesmo tamanho.
Josh é legal, ele me consola. Só faz meu
tio Ulisses provocar mais, mesmo assim eu fico
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feliz que me defende.


— Se chamar o tio Leon ele para. – Josh
me diz baixinho. Bem que eu devia fazer isso, dá
até um pouco de pena da Gigi, meu tio vai aprontar
muito com ela.
As pessoas vão dispersando, no fim
ficamos só eu e o Tio Nick, com July dormindo no
colo dele.
— Falta pouco, não é? – Ele diz e
afirmo, me sento ao seu lado. – Está bem?
— Muito. Tio, eu estou feliz com as
crianças todas. Não ligo que tem filhos, eles são
legais.
— Que bom. Isso é importante, quero
que sejam amigos. Principalmente você e o Josh.
Acho que vão se dar bem, sei que ele gosta de você.
— Gosta? Ele disse isso?
— Claro, Lizzie, são primos, então tenho
certeza que sim. – Achei que era outra coisa, ainda
bem que meu tio nem percebeu, não quero gostar
de menino nenhum.
— Verdade. Tio, você está feliz? Não
fica nervoso quando eles correm e parece que vão
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cair? Por que antes ficava.


— Ainda fico, Lizzie, e com medo de
ficarem doentes e de alguém fazer mal a qualquer
um de vocês, mas agora eu entendo as coisas
melhor e estou indo bem, não acha?
— Muito bem, tio, eu estou até
orgulhosa, você é um pai bem legal e escolheu bem
direitinho seus filhos.
— Que bom que achou. – Ele ri. – E
escolhi direitinha minha mulher também, não acha?
— Claro, ela é linda e acho que vai
brincar bastante com a gente.
— Isso eu tenho certeza. Tudo bem com
o novo bebê? Precisamos de um novo contrato?
— Eu queria, então estou feliz, mas acho
que vai precisar, por que a Emma pode ficar com
ciúme. O Harry ficou um pouco quando a Emma
nasceu.
— Sei. Vamos providenciar então.
Melhor fazermos isso antes da viagem, assim todo
mundo assina.
— Boa ideia, tio Nick. Você é o tio mais
esperto do mundo. Meu pai diz que sou inteligente
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como você?
— Seu pai e sua mãe são muito
inteligentes também. Sua mãe fala chinês. Quer
dizer, quem além dos chineses aprendem a falar
aquilo?
— Ela aprende tudo rápido demais. Eu já
estou aprendendo um pouco com ela. Vai ensinar
grego para eles? – Toco os cabelos de July
dormindo.
— Assim que as férias acabarem o
professor vai começar. Annie vai aprender também.
— Isso é bom. July já sabe um monte de
palavras, a Alana as vezes se confunde e fala em
grego quando elas estão brincando daí a July repete
e aprende.
— Quanto mais nova, mais fácil, vai
ficar como você que fala um monte de línguas.
Falo mesmo, inglês, grego, francês,
italiano eu aprendi só um pouco, mas consigo
conversar com a tia Sophia e quando vamos a
Itália, já fomos duas vezes.
— Vai me ajudar quando eu for
advogada?

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— Vai sim. Tudo que aprender vai


ajudá-la de algum jeito em alguma coisa. Pode
apostar.
— Josh também vai ser e acho que
vamos estudar junto, por que eu vou estudar na
mesma faculdade que ele. Meu pai fica me
apertando e dizendo que não vou morar longe dele
nunca.
— Josh cuida de você.
— E eu dele, meninas também cuidam,
tio, não só meninos.
— Sim senhora, pequena feminista. –
Ele beija minha testa.
— Vou tirar minha roupa de ballet, tio. –
Beijo meu tio e depois eu vou para o meu quarto.
Minha mala da Disney está pronta, só falta colocar
o Aquiles, mas ele é sempre por último. Se não eu
não durmo.

Simon

Que tipo de anel eu escolho? Não


deviam ter tantos modelos assim, esses joalheiros
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não sabem que homens não entendem nada disso?


Nick vai ter que me ajudar. Ele pode ao menos
perguntar para a pequena Sininho, ela deve saber o
que vai agradar a melhor amiga.
— Simon? – Nick atende no terceiro
toque.
— Que demora? Quem mandou se
encher de filhos? Nem consegue atender um
celular.
— Alguma emergência? – Ele pergunta
com a voz tensa.
— Uma das grandes.
— O que aconteceu, Simon? Está bem?
– Pelo menos ele se preocupa com o velho amigo.
— Estou numa joalheria. Agora é sério.
Vou pedir.
— Essa é a emergência?
— Sim. Não seja ingrato, me ajuda.
— Estou na Grécia, Simon. Como posso
te ajudar?
— Como que escolheu o anel da Annie?
Sabia que tem uns mil modelos de anel?

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— Eu sei. Escolhi pelo que conheço da


minha gatinha, Simon. Faça o mesmo.
— Eu não sou romântico que nem você e
não tenho a menor intensão de escolher errado. Vou
separar alguns e fica me esperando mandar as fotos,
depois você faz uma votação aí com as senhoras
Stefanos.
— Tudo bem, Simon, mas ainda acho
que você deveria escolher.
— E eu acho que elas devem escolher e
eu sou o noivo então eu decido.
— Tecnicamente não é noivo, não houve
um pedido e muito menos uma resposta afirmativa.
— Você entendeu a parte que te liguei
pedindo ajuda?
— Tudo bem, desculpa, ela vai aceitar.
— Fica aí que já te mando. Diamante?
Rubi? Esmeralda? O que eu escolho? Pergunta aí.
— Você é bem ridículo, sabia? Espera
um pouco. – Fico olhando os anéis, a vendedora
parece bem paciente, tem um sorriso congelado no
rosto, um olhar tranquilo e acho que acredita que
não estou só gastando tempo. – Rubi foi o veredito.
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Elas acham que vai combinar por que segundo


Annie, Sarah gosta de vermelho.
— Ótimo. Agora espera as fotos. – Olho
para a moça. – Vermelho. Quer dizer, rubi.
Ela me estende uma bandeja com vários
anéis, suspiro e começo a fotografar alguns, vou
mandando para Nick. Cinco deles deve ser o
bastante, tem grande, pequeno, dourado, prateado.
— A foto número quatro. – Nick me
avisa. Olho a foto.
— Essas senhoras sabem gastar. –
Reclamo quando descubro que escolheram o mais
caro.
— Deixa de ser reclamão. É a sua noiva.
Se ela aceitar devia casar aqui na ilha.
— Você quer que eu faça parte da
tradição por que me ama, não é, Nick?
— Simon eu... você só pode ter algum
distúrbio.
— Tchau, Nick. Agradece a elas para
mim. Te vejo em duas semanas?
— Sim. Me liga assim que ela responder.
— Assim que ela responder não é boa
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ideia, se for sim vou estar beijando minha noiva, se


disser não, vou estar me atirando da ponte de
Manhattan, num mergulho mortal no rio East.
— Deixa de drama e menos detalhes, me
avisa quando sobrar tempo.
Desligo, ninguém me leva a sério, mas
isso é mesmo difícil. Aponto para a vendedora
minha escolha, estendo meu cartão, ela pega com
um largo sorriso.
— Aceitam devolução em caso de
pedido recusado?
— Sim senhor.
— Sim senhor? O que isso quer dizer?
Que mulheres recusam pedidos de casamento?
— Às vezes acontece, mas não é sempre.
— Falta amor nesse mundo. Onde isso
vai parar?
Ela me devolve o cartão e junto uma
sacolinha com o anel em uma caixa elegante, tiro
da sacola e guardo no bolso direito do paletó.
Sigo direto para casa dela. Toco a
campainha por que não gosto de entrar sem
autorização, mesmo que tenha uma chave. A porta
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se abre. Sarah como sempre, está linda. Os olhos


são expressivos e sorriem ao me ver. Ela gosta de
mim.
— Oi amor.
— Oi linda. Que acha de vinho?
— Está com sede? – Ela diz quando me
olha confusa, nem entrei e já quero vinho. – Está
tenso?
— Eu só... Eu vou... Quer... – Me calo.
Preciso achar um jeito romântico de fazer isso.
Talvez eu fique de joelhos, Ulisses ficou.
— Está nervoso, amor? É algo do
trabalho? – Ela me abraça, quando sinto seu
perfume suave e suas mãos em torno do meu
pescoço, me dou conta que eu a amo mais que tudo
na vida.
— Estou nervoso, mas não é nada do
trabalho. Vamos tomar um vinho? – Beijo seus
lábios de leve. Depois a empurro com gentileza,
sigo para a cozinha e sirvo vinho, pareço ridículo
tremendo feito um doente. Sarah me olha meio
confusa. Pega a taça, mas não está mais sorrindo.
— Simon, se vai terminar comigo não

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me enrola. Diz de uma vez.


— Terminar? De onde tirou isso? Estou
achando um jeito de te pedir em casamento.
— O que? – Ela pergunta completamente
surpresa.
— Estragou tudo, Sarah! – Mulheres!
Estava tudo planejado, mas ela vai logo pensando o
pior.
— Eu?
— Fica de joelhos. Não! – Grito quando
ela me encara horrorizada. – Eu fico de joelhos. –
Me ajoelho caçando o anel nos bolsos. Ela me olha
sem entender. Pego a caixinha e abro para ela ver o
anel e quem sabe achar bonito o bastante para não
dizer um não logo de cara. Já me contento com um
“vou pensar”. – Sarah. Eu te amo. Eu sei que não
fico dizendo toda hora, mas amo muito e quero te
pedir, posso ir mais fundo e implorar se for o caso,
ou pode ser generosa e aceitar antes que me
humilhe mais.
— Aceitar o que?
— Ah! Verdade, não pedi. Sarah quer
casar comigo? – Seus olhos brilham e são de

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lágrimas, nunca fiz uma garota chorar, evito sorrir


por que não sei se é o caso.
— Simon... – Ela sorri, seca a lágrima,
me olha e afirma primeiro com a cabeça. – Aceito.
Claro que aceito. Eu amo você.
— Aceita? Logo de cara? Não quer
pensar mais um pouco?
— Simon? Vem. – Ela me puxa. – Fica
de pé e coloca o anel no meu dedo.
Faço o que me pede. Coloco o anel em
seu dedo, fica perfeito e meu coração acelera só de
me dar conta que agora ela vai se casar comigo.
— Diz a lenda que se a mulher pensar
melhor e recusar vai ter setenta anos de azar.
— Pode me beijar e parar de falar
asneiras? – Exato, por isso eu a amo, ela sempre
toma as decisões certas. Beijos Sarah, o coração
bate fora do ritmo.
— Grécia. É onde vamos casar. O que
acha?
— Acho que será perfeito. – Avisei ao
Nick que não teria tempo de telefonar, tomo minha
futura esposa nos braços, ela aceitou se casar
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comigo. Inacreditável.

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Capítulo 51
Ulisses.

— Deixa comigo, Sophi. Eu dou banho


nela. Fica aí com as garotas. – Pego minha
garotinha dos braços da mãe. É o último dia de
todas juntas, depois Annie e Nick viajam com as
crianças e ficamos os outros, então quero que
relaxem juntas um pouco.
— Ulisses é só banho. Está muito calor e
ela precisa relaxar um pouco, mas nada de
gracinha. – Sophia me adverte.
— Não confia em mim para cuidar da
minha filha sozinho? – Finjo indignação.
— Desculpe, amor. – Ela se arrepende. –
É que sempre estou perto quando cuida dela, mas
claro que é capaz de fazer isso sem ajuda.
— Que ótimo! Vamos, princesa
azeitona?
— Ulisses! – As garotas reclamam em
uníssono, só Annie acha graça, as outra se
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indignam.
— Ela não liga! Dá tchau para as tias! –
Faço gesto balançando sua mãozinha. – Voltamos
daqui a pouco mamãe! – Imito uma voz de criança
e depois me retiro ouvindo as senhoras Stefanos
dizendo a Sophi que ela tem coragem de me deixar
sozinho com Giovanna. Blasfêmia.
Subo as escadas em direção ao nosso
apartamento, até que foi boa ideia termos um
apartamento independente aqui, gosto de ter mais
espaço, vai ser bom para longas férias.
Chegamos ao quarto, vou com meu bebê
no colo em direção ao banheiro, lá está sua pequena
banheira rosa, isso é injusto, temos uma super
banheira que para ela é como uma piscina olímpica
e Sophia a obriga a tomar banho naquela bacia
colorida.
— Vamos inovar, filha. Aproveitar que
estamos sozinhos. – Tampo a grande banheira e
coloco água morna para encher. – Agora vamos
tirar essa roupa e separar algo para vestir.
Ando pelo quarto, segurando Giovanna
com uma mão abro a gaveta dela, é tanta coisa rosa
que parece que a pantera cor de rosa mora aqui.
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Cantarolo a música que ficou famosa.


— Eu sei, filha, vou fazer compras para
você. Vamos ver, vamos ver. Que acha desse aqui?
Gosta? É fresco, leve e colorido. Pode ser? Você é
tão calada. Já pensou em aprender a linguagem dos
sinais?
Coloco tudo que vou precisar sobre a
cama, perfume, fralda, roupa e toalha. Depois deito
minha bonequinha. Agora é despi-la e colocar de
molho.
— Filha eu preciso dizer que do jeito que
vai, será difícil arrumar namorado. Que cheiro é
esse? Você só mama. Deve ter algo errado.
Ela sorri, emite um som com a mão na
boca. É a coisa mais linda que existe.
— Não adianta tentar se defender, está
ruim demais a coisa.
Depois de limpa-la e jogar a fralda
ecológica que o tio me obriga a usar nela, eu a ergo
no braço. A banheira está cheia e fecho a torneira.
— Está afim de dar umas braçadas? –
Coloco Giovanna na água, ela gosta, está morna e
sei que depois de um tempo aqui, vai se sentir bem

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fresquinha e animada. – Olha aí minha campeã de


natação.
Vou segurando ela e deixando que boie
de um lado a outro da banheira, seguro sua cabeça
para ela não afundar e vou deixando que se divirta.
— Vamos fotografar isso? – Puxo o
celular do bolso. Faço fotos dela. – Tudo bem,
agora é hora de banho.
Não é nada fácil lavar Giovanna sem
deixar que escorregue. O shampoo é do tipo que
não arde os olhos, isso é bom, por que sempre
escorre um pouco.
— Que acha de um moicano em? – Os
cabelos fininhos são ralos, mas muito lisos e fica
engraçado quando cheio de espuma branca eu faço
moicanos nos fios. – Rock in roll, filha! Mais fotos!
Linda!
Novos penteados e mais fotos, depois
mando para o grupo dos Stefanos, ela vai fazer o
maior sucesso. Giovanna gosta tanto do novo jeito
de tomar banho que deixo que fique até os dedos
formarem ruguinhas brancas.
— Melhor sair, sua mãe vai brigar. –
Retiro a pequena da água, está tranquila, coloco
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sobre a toalha na cama, secar é bem fácil. – Não


pode esquecer as dobrinhas, mamãe que disse.
Depois é o talco. Espalho um pouco no
corpo, ela espirra.
— Eu sei, também não entendo por que
passar isso. – Agora vem a fralda, pego e abro,
demoro um momento decidindo qual é a frente, não
custava ter uns sinais, do tipo frente e verso,
ninguém é obrigado a saber disso. – Assim. Vamos
ficar de pé para ver se está presa. – Balanço Gigi
um pouco, ela sorri. – Gostou né? Espertinha.
Adora uma aventura. ─ Balanço mais uma vez e a
fralda ainda está lá, então só posso concluir que
está certo. – Chega, vai vomitar.
Coloco a roupa e deixo os pés livres. É
um macacão curto, braços e pernas ficam livres.
Depois vem o cabelo, agora sem espuma não dá
para fazer moicano e só passo a escovinha para
acerta-los.
— Pronto. Toda cheirosa, se conservar
esse perfume a coisa melhora para o seu lado. E
agora? Quer dormir? – O rostinho parece cansado,
ajeito minha pequena nos braços, começo a
balança-la. – Dorme um pouco enquanto mando as
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fotos.
Enquanto mando as fotos e balanço
minha filha cantarolo uma canção grega do meu
tempo de criança.
Ela adormece tranquila. É linda, minha
bonequinha, adorável, não vejo a hora de estar
correndo pela casa me chamando de papai.
Brincando com videogame, e adorando suas futuras
aventuras.
Coloco Giovanna na cama com todo
carinho, ajeito o travesseiro, beijo sua testa, ela não
reclama, apenas ressona tranquila e quando me viro
Nick invade o quarto.
— Cadê ela?
— Quem? – Pergunto sem entender.
— A Giovanna. Que fotos são essas? –
Ele me mostra o celular. – Sua mulher está subindo.
— Em minha defesa devo dizer que ela
adorou a natação, está dormindo feito um anjo.
— Ulisses... eu... Cara, tem algo aí além
de vento? – Ele pergunta querendo rir.
— Não gostou do penteado? Já arrumei.
Nick vai até o berço, olha a menina
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dormindo. Depois me sorri.


— Palhaço, isso é bullying.
— Bullying é obrigar a pobre a tomar
banho naquela banheira pequena e desconfortável.
— Ulisses! – Sophia entra no quarto. –
Estava judiando da minha bonequinha? – Ela tenta
ficar séria, mas não conseguia evitar sorrir.
— Vou deixar vocês conversando.
Sophia não deixa ele sozinho com a menina. E
Ulisses, não precisa de toda aquela água para um
banho. Isso é um insulto.
— Ela usa a cota dos irmãos que não vai
ter. – Me defendo e ele faz uma cara de quem não
entende o argumento.
— Seria péssimo advogado, seu
argumento seria derrubado em qualquer tribunal. –
Ele nos deixa. Sophia olha para o berço, depois
pega o celular, vai passando as fotos sorrindo.
— Eu confesso, o moicano está ótimo,
vai para o álbum. Essa aqui de bruços com um
bracinho erguido...
— Braçadas, ela estava nadando. –
Sophia me abraça, tem um sorriso divertido no
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rosto. – Te amo, sabia? Eu fui bem. Ela até dormiu.


— E você se molhou todo, acho que vai
ter que tirar essa roupa. – Seus olhos escuros me
fitam de modo sedutor.
— Fique à vontade. – Desafio, Sophia
ergue uma sobrancelha.
— Como foi um ótimo pai e cuidou da
nossa filha, eu faço o difícil trabalho de ajuda-lo
com as roupas. Um dia já fez isso quando eu era
uma pobre esposa de braço engessado.
— Gratidão é a palavra.
— Posso pensar em muitas outras. –
Seus dedos seguem desabotoando minha camisa.
— Mulher, você é o demônio.

Annie

— Está linda, mamãe. – July diz


remexendo meus cabelos. – Agora batom. – Ela sai
de traz de mim pulando pela cama. Se ajoelha na
minha frente. – Vai ficar bem linda. Não acha.
papai príncipe?

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Nick sorri me olhando um momento,


depois continua o trabalho de despir Ryan para o
banho. A banheira ao lado da cama com água
morna e tudo organizado a sua volta.
— Mamãe está sempre linda, mas claro
que quando a arruma ela fica completamente
perfeita. – July sorri em gratidão.
— Amanhã vamos andar de helicóptero
e avião e vamos chegar onde mamãe?
— Na Disney. – Respondo fazendo bico
enquanto ela tenta passar batom.
— Acertou. – Nick coloca Ryan na água,
começa o banho, primeiro a cabeça depois o corpo,
vira com toda a técnica que treinamos primeiro
com a ajuda da senhora Kalais e agora fazemos
sozinhos. Ryan já reage a água batendo braços e
rindo quando está feliz, reclama também quando
deixa a água. – Esse meu irmão adora uma água, né
mamãe?
— Muito. – Ela continua a me passar
batom enquanto eu presto atenção em Nick dando
banho em Ryan, diferente das fotos de Ulisses,
Nick é especialmente cuidadoso, atento aos
mínimos detalhes de segurança. Agora até que
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vamos bem, quando era um recém-nascido só


faltávamos chorar de medo do banho.
Lissa deu o primeiro banho em casa, Liv
o segundo, a senhora Kalais quase todos os outros
do primeiro mês, com eu e Nick observando
prontos para salvar nosso bebê no caso de um
escorregão. Melhoramos sensivelmente nos últimos
meses.
— Esse banho está demorando muito
papai. Sabia que a água um dia pode acabar? Tem
que tomar banho rápido.
— Verdade pequena.
— Não mexe a boca, mamãe. Temos que
cuidar do planeta, papai. Fazer tudo certinho,
cuidar das plantas, da água, como que chama o
negócio do lixo?
— Reciclar. – Nick diz sorrindo para
nossa mini ecologista que parece um pequeno
papagaio a repetir tudo que escuta.
— Acertou em papai. – Ela vasculha a
caixa de maquiagens. – Agora um rosinha nas
bochechas. – July pega o pincel. – Vai ficar linda.
Mostra para o Ryan, papai. – Ela sai da minha
frente, Nick concentrado em secar o bebê.
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— Olha filho, como a mamãe está


ficando linda.
— É filho, mamãe está pronta para o
Halloween.
— Mamãe você é muito engraçada. –
July ri. – Cadê meu outro irmão em?
— Josh foi trabalhar com o tio Leon. –
Nick avisa terminando de vestir Ryan. Depois pega
a escova de cabelo, ajeita os cabelos escuros do
nosso pequeno que fica cada dia mais parecido com
o pai.
— Eu vou trabalhar com meu tio Ulisses.
Só sei disso.
— Pronto? – Pergunto quando Ryan está
todo arrumadinho no colo do pai. – Mamãe tem que
amamentar o seu irmão.
— Deixa eu ver. – July ganha distância,
me olha atenciosa, afasta os cabelos do rosto e
sorri. – Uma linda princesa em gatinha. Não acha
isso da sua gatinha, papai?
— Acho. Agora que acha de ir tomar
banho? Eu te ajudo e a mamãe amamenta o Ryan.
— Papai você é muito legal. – Nick me
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entrega Ryan. Me beija de leve.


— Beijo sabor morango. Vem pequena,
vamos lá que te ajudo a tomar banho, nada de
chorar com shampoo no olho.
Fico com Ryan nos braços ouvindo a
conversa de pai e filha no chuveiro enquanto ele
mama tranquilo e faminto. A vida não podia ser
melhor. Meus filhos são os três saudáveis, amam a
família, são bons e obedientes.
Me acompanham a associação e tratam
meus idosos com todo amor do mundo, isso já seria
o bastante, mas ainda tenho Nick, meu príncipe,
aquele que amo desde sempre.
Que não mudou nada com o tempo ou a
rotina, ainda é meu príncipe atencioso e presente,
apaixonado por mim como eu por ele. Talvez
alguém lá em cima tenha sentido pena da vida que
tivemos e decidido nos dar uma chance e
agarramos, com todas as forças agarramos a chance
de sermos felizes e vamos lutar por ela não importa
o que nos cerque.
— Te amo, filho. Vai ser minha
companhia na Disney, esse seu pai tem que grudar
nos outros dois. Três contando com a Lizzie, você
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fica comigo.
Nick sai do banheiro com July enrolada
numa toalha, os dois rindo de qualquer graça que
July disse, ele a coloca no chão, uma leve batida na
porta anuncia a chegada de nosso educado garoto.
— Entra, Josh! – A porta se abre, ele
abre um largo sorriso quando me vê. Sabe que a
maquiagem de palhaça foi feita pela irmã, já que
ela não pode se maquiar ela se diverte me fazendo
de cobaia.
— Está linda, mãe. – Ele diz tentando
parecer sério.
— Fui eu que arrumei ela, Josh.
— Que... legal. – Ele responde por falta
de adjetivo. – Chegamos agora.
— Me substituiu direitinho? – Nick
questiona e ele dá de ombros, ás vezes acho que
acredita mesmo estar trabalhando.
— O tio Leon disse que nem sentiu sua
falta. Falou que fui muito bem hoje.
— Leon não tem coração. – Josh se senta
na cama, pega a escova de cabelo e começa a
desembaraçar o cabelo de July enquanto o pai calça
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seus sapatos, a verdade é que ele é o único a fazer


isso sem que ela reclame.
— Pai, sabe aquele contrato que está
fazendo lá na associação de cooperativa para
aqueles homens? Onde todo mundo vai ser dono de
uma parte daquela empresa?
— Sei. Quando voltarmos eles vão
assinar.
— Então. Os tios estavam preocupados
com os funcionários da empresa nova que estão
comprando, são duzentos funcionários, daí eles não
sabiam o que fazer e eu disse para darem um
pedacinho da empresa para eles e fazer uma
cooperativa como você ajudou aqueles da
associação, assim todo mundo trabalha bem feliz e
ninguém perde o emprego. Fica quieta, July. – Ele
começa a puxar os fios para fazer um rabo de
cavalo. Nick observa Josh surpreso e cheio de
orgulho.
— Acho que não fiz a menor falta
mesmo. Eles gostaram da sua ideia?
— Demais. O tio Ulisses vai viajar até lá
para fazer a proposta. Que você acha disso, pai?
— Acho que só posso ficar muito
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orgulhoso de você. – Josh sorri. Termina de


prender o cabelo da irmã que alheia aquele
momento se vira esperando ser admirada.
— Está linda, July. – Josh diz a irmã. De
vez em quando ele ainda se coloca na posição de
responsável por ela. – Agora vai buscar sua boneca.
— Josh esqueceu que eu tenho mãe e
pai? – Ela sorri. – Que engraçado, eles que falam
essas coisas.
— Desculpe, tem razão. – Josh me olha.
– E você mãe, o que acha?
— Que vai ser um grande executivo
preocupado com mais do que juntar dinheiro e isso
é o que me dá mais orgulho. – Ele afirma.
— Eu acho que chega de trabalho e
vamos descer para jantar, amanhã tem viagem
gente. Tem que dormir cedo e acordar logo, para
ver as princesas e todas as coisas. Vai ser lindo,
lindo. Só sei disso.
É só disso que ela sabe mesmo, não
pensa em nada que não seja sua viagem a Disney,
quando eu e Nick combinamos de ir juntos, nem
nos passou pela cabeça que quando o dia chegasse
teríamos três filhos.
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Partir é uma grande confusão, malas,


despedidas, Dobby querendo entrar no helicóptero
certo de que vai conosco, Ryan chorando
incomodado com o som do helicóptero, tudo
confuso até a hora que finalmente levantamos voo.
No avião Lizzie e Josh viajam lado a
lado, gosto de vê-los juntos, mas as vezes quando
olho para eles tão tímidos fico pensando se um dia
vão se ver como primos, não acho que se sintam
assim.
Os dois se comportam diferente um com
o outro, Josh é tímido, mas consegue ser mais
natural com os outros menos com Lizzie.
O hotel tem quarto duplo, tem até sala,
não consigo me acostumar com o dinheiro dos
Stefanos, com todo o luxo e conforto que pode
comprar. Quando estou com todos eles, é tudo tão
simples e comum que não me lembro de todo
dinheiro que eles têm.
— Vamos? – July convida assim que
tudo está arrumado.
— Amanhã pequena, agora é noite.
Vamos dormir.
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— Toda hora é noite. Que chato isso,


aquele avião fica só parado lá em cima, não desse
logo e demora muito.
— Então vamos ter aula de ballet
enquanto a gente espera chegar amanhã, July. –
Lizzie se oferece e ela sorri. Abraça a prima.
— Então tudo bem, é melhor. O Josh
escolhe quem dança mais bonito. – Josh arregala os
olhos, Lizzie fica corada e eu procuro segurar
minha língua antes que apavore meu marido.
As duas vão para o quarto dançar, Ryan
para o berço depois de trocar a fralda e mamar e
então estou livre para admirar a vista da varanda do
hotel com Nick.
— Nós dois e quatro crianças. – Ele diz
me envolvendo quando me junto a ele.
— Quatro. – Digo sem acreditar. – Tudo
diferente e tudo igual. Ainda não durmo sem você.
— Ainda morro de medo deles se
machucarem.
— Quando um chora ainda queremos
chorar junto. – Ele afirma, me abraça mais. –
Mesmo assim não abro mão de nenhum deles. Me

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sinto tão ridícula quando lembro de ter fugido de


você, acabado naquele hotel da Sarah te deixado
apavorado.
— Gatinha eu nem conseguia dizer a
palavra filho, Leon quase me colocou de castigo.
Acabo rindo, até hoje temos medo de
levar uma bronca como se fossemos dois
adolescentes, olho para Nick.
— Príncipe, você me faz feliz, e de um
jeito tão bom, tão completo, daí eu fico achando
que a gente faz pouco, por que temos tanto.
— Às vezes sinto o mesmo, mas cria-los
bem multiplica, os dois já pensam no planeta, nas
pessoas, Ryan será assim também.
— Tem razão. E tem o abrigo, a
associação, meus velhos.
— Seus idosos. – Ele me beija. As
risadas das crianças no outro quarto chegam a
nossos ouvidos. Nos olhamos. – Vamos lá. Odeio
perder o riso deles.
O parque do Harry tem que esperar até
que July conheça princesa por princesa da Disney,
ela simplesmente acredita que são de verdade, se

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apresenta sempre formal, os olhos brilhantes, um


sorriso que vai deixar rugas de tanto que se fixou
no rosto.
Josh tem os olhos perdidos em todo
aquele mundo encantado. Lizzie e Nick estão em
casa.
— Príncipe, não tem vergonha de
conhecer esse lugar como a palma da mão? – Eu
brinco.
— Não. Adoro tudo aqui, antes de ter a
Lizzie para me acompanhar eu vinha sozinho, em
segredo, é claro, não ia contar aos meus irmãos que
frequentava parques, pensava em você, não essa
você. – Ele me aponta tirando um momento a mão
do carrinho de Ryan que ele empurra. – Aquela
você, a pequena gatinha. Congelei você na infância.
— Que bom que saí de lá. Não é bom ser
criança, machuca.
Uma gargalhada de July quando Josh
distraído atropela Lizzie e os dois derrubam o
sorvete me faz repensar.
— Não príncipe, nem sempre machuca.
Ser criança pode ser muito bom.

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— Tio Nick, vamos ficar para a queima


de fogos? – Lizzie pergunta.
— Quando foi que perdemos isso? –
Lizzie abre um grande sorriso para o tio, esse amor
que um tem pelo outro deve encher Heitor de
tranquilidade. Só quero que meus pequenos olhem
assim para os tios. Josh já faz isso com Leon, tive
que concordar com dor no coração em deixa-lo
passar o próximo ferido na Grécia, sozinho com o
tio Leon. July é louca pelo tio Ulisses, Ryan ainda
não sabemos, mas do jeito que Heitor é bom com
bebês talvez ele se torne o preferido.
— Olha o Mickey, mamãe. Vamos lá
falar com ele? – July fica ansiosa, tanto que lá está
o peito chiando, me abaixo para olhar sua emoção,
ajeito seus cabelos.
— Sem ficar nervosa. Tudo bem
calminho, temos muito tempo, vamos voltar
amanhã e depois, então não precisa ficar nervosa.
Que acha de uma inalada? – Entrego o aparelho ela
aperta o botão em direção a boca, depois me
devolve.
— Depois paramos para um lanche e
trocar fraldas. – Nick avisa. Seguro a mão de July,
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Josh e Lizzie caminham ao lado do carrinho. O


tempo todo fico contando as crianças com medo de
faltar uma.

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Capitulo 52
Nick

— Oito jardas, pai, é muito! – Josh


reclama rindo. – Não vou conseguir.
— Minha garota está assistindo, quero
impressiona-la, filho! – Ele revira os olhos, coloca
a bola no meio das pernas para ajeitar o boné dos
Jets que não tira desde o natal. Tem mais dois, mas
esse é seu preferido. – Vai lá. Acha que não
consigo pega, lançador?
— Então está certo. Olha mãe! – Ele
pede e Annie acena, Ryan sentado na manta
balançado um chocalho de borracha que ele adora
morder. July penteando os cabelos da boneca.
Ele lança cheio de estilo, preciso correr
um momento para chegar a bola que pego com
sucesso e imediatamente lanço para ele.
Annie aplaude, assobia alto e July larga a
boneca para levar a mão a boca e fazer o mesmo
sem muito sucesso. Josh pega no ar. Ficamos um
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tempo ali trocando lances na manhã quente de


começo de verão.
Depois que voltamos da Disney não
tivemos chance de passar um domingo no parque.
July teve dias difíceis de crise de asma, Ryan ficou
resfriado e agora que tudo está em ordem e o verão
em pleno vapor aproveitamos o dia.
As bicicletas estão ao lado de Annie, a
minha e a de Josh, viemos de carro para trazer toda
a tralha, Josh estava louco por um dia no Central
Park com sua bicicleta.
— Vamos dar uma volta de bicicleta. –
Aviso a Annie. – Achar o sorveteiro.
— Eu quero de chocolate, papai
príncipe, só sei disso. – Beijo a bochecha da minha
pequena garotinha. Ela ri animada.
— Não tenham pressa. Eu vou ficar aqui
penteando os cabelos da minha Barbie. Olha como
ela é linda? – A boneca de Annie parece a filha do
Chuck, rio dos cabelos desgrenhados, July a proibiu
de brincar com as dela, minha gatinha gosta mesmo
é de futebol, bonecas acabam todas assim, com cara
de um atropelamento.
— Quer de que gatinha?
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— De beijo. – Ela diz me puxando pela


gola da camiseta. Beijo seus lábios, trocamos um
longo olhar. – Amo você.
— Que romântica! – Brinco antes de
beija-la mais uma vez e ficar de pé. – Meia hora.
Vamos filho.
Josh sobe em sua bicicleta, vamos
pedalando lado a lado. O parque está cheio,
crianças correndo, casais namorando, idosos
sentados nos bancos contemplando, é bom de ver, é
Nova York em seu melhor momento.
Depois de algumas pedaladas chegamos
a ponte. Descemos da bicicleta e paramos para
olhar o lago. Ficamos em silencio.
— Está feliz, Josh? – Pergunto
aproveitando que estamos sozinhos, normalmente
estamos todos juntos e não encontro maneira de
falar sobre como ele se sente. Não July ou a escola,
mas como ele está realmente.
— Ele me batia e eu nem sabia por que,
ela também. Quando brigavam entre eles
quebravam a casa toda, quando tinham dinheiro
compravam bebida e drogas, eu sei o que são
drogas, eu via como eles faziam. Quando morreram
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eu me esforçava para ficar triste ou chorar, mas não


conseguia, não tinha vontade. Achei que tudo ia
ficar melhor e só depois que descobri que tudo era
igual.
— Também não consegui sentir nada por
meus pais, Josh. Nunca entendi nenhum dos dois.
— Eu tinha que ficar protegendo a July,
pai eu sei o que aconteceu com a mãe. Não vou
nunca falar nada com ela dessas coisas, mas eu sei.
Por isso eu era bravo, porque tinha que cuidar da
July, impedir que coisas daquele tipo acontecessem
com ela, só queria mesmo que tudo desse certo para
ela e quando vocês chegaram eu gostei de saber que
tudo iria ficar bem para ela.
— Fechamos aquele lugar Josh, eu e
você fizemos isso. Não foi?
— É, mas devem ter outros por aí,
sempre tem, criança não sabe se defender.
É como me ouvir falando, passo meu
braço por seu ombro. Ele se encosta em mim.
— Sabe que não é sobre a July essa
conversa?
— Sei. É que antes não tinha nada sobre

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mim, porque só pensava nela, mas agora que não


preciso mais me preocupar com ela eu fico mais
tranquilo. Eu nem sabia que gostavam de mim
também, mas agora eu sei, eu gosto e me sinto
feliz. Gosto de ter um monte de tios, primos, de
quando me pede para ficar com meu irmão. – Ele
me olha e sorri, beijo sua cabeça. – Antes eu
pensava que tinha pais e eles morreram e fui
adotado, agora eu penso que não tinha pais antes e
só agora que eu tenho.
— Tem Josh. Você tem, não é o irmão
da July, não quero que se coloque assim na vida. É
o Josh Stefanos. Meu filho e filho da Annie. Esse é
o que lugar. Isso é importante de você entender. Eu
demorei muito para achar meu lugar com meus
irmãos, me sentia menor que eles, como se não
fizesse parte da família porque cheguei depois.
— Pensava que ia me sentir assim, mas
os tios são legais comigo, preocupados, então agora
eu me sinto em casa com a minha família. Isso é
bom, não é pai?
— Muito bom. É assim que tem que ser
e sempre vou estar do seu lado. Sempre.
— Eu acredito. – Ele diz com seu
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arzinho compenetrado, Josh vem do mesmo buraco


que eu, do mesmo passado, sei como ele se sente.
— Então você é feliz?
— Sou. Não é porque eu tenho um
monte de coisas não. É por que eu tenho minha
família.
— Isso mesmo, eu não tenho dúvidas de
que sabe a diferença. – Ele afirma sorrindo um
tanto orgulhoso de si mesmo, é bom que se sinta
assim.
— Olha o carrinho do sorvete, pai! – Ele
me aponta um homem empurrando um carrinho.
— Vamos lá. – Pego a bicicleta ele faz o
mesmo. – Corrida? – Josh afirma e dispara na
frente.
Voltamos para casa pouco antes do
almoço, crianças, bicicletas e carrinho de bebê, esse
sou eu, não sei se esse cara sempre viveu dentro de
mim e eu não sabia ou se ela inventou ele. O fato é
que agora são essas coisas que me fazem feliz.
— Papai príncipe, você tem que me
emprestar para o tio Simon. – July me diz no fim da
tarde.

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— O que? – Que história pode ser essa?


Annie vem da cozinha com Ryan no colo.
Descalça, com seu velho short jeans, os cabelos
soltos e bagunçados e um largo sorriso. – Gatinha,
que história é essa?
— Ela vai ser a daminha de honra do
casamento do Simon, esqueceu? Ele quer ensaiar
com ela. – Annie me entrega Ryan.
— O tio pensa que eu não sei segurar
aliança, papai. Deixa eu te mostrar, me empresta a
sua. – Ela pega minha mão, mas não sinto nenhuma
confiança em emprestar a ela.
— Não precisa, filha, acredito em você.
– Minha aliança só saiu do dedo uma vez, quando
um cara mau surgiu para seduzir Annie e leva-la a
um motel de beira de estrada, ela me olha e
simplesmente sei que se lembrou. – Bons tempos.
— Não coloque no passado, senhor
príncipe, qualquer dia coisas podem acontecer,
nunca se sabe quando uma panela cheia de
chocolate derretido pode cruzar seu caminho.
— Eu gosto de chocolate derretido. Só
sei disso. – July se intromete na conversa.
— E de banho e jantar? A senhorita
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sabe? – Annie a ergue no colo. – Minha


bonequinha está ficando pesada.
— Estou crescendo, mamãe, e vou ficar
que nem você, bem alta. – Não consigo segurar a
gargalhada, Annie me faz careta.
— Do que ele riu, mamãe?
— Bobagem, filha. Mamãe tem um
metro e setenta. Lembre-se disso.
— Um e setenta? Agora você
ultrapassou todos os limites.
Ryan me puxa a camiseta chamando
minha atenção, está cada dia mais esperto, sempre
bonzinho, quase nunca chora e ri muito com os
irmãos, a mão fica o tempo todo na boca.
— Príncipe que acha de começarmos a
sessão banho? Amanhã é segunda-feira, dia de
escola, trabalho e associação.
— Ballet e professor de grego também
mamãe.
— Isso mesmo, July, então vamos lá. Eu
te ajudo e o papai ajuda o Ryan.
Josh surge vindo do escritório. Deixou
um dever para fazer de última hora e apenas gostei
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disso, de uma vez na vida ele se atrapalhar e pensar


em mais do que ser o melhor aluno.
— Terminou, filho? – Annie o puxa para
ela ainda com July no colo, ele envolve sua cintura.
— Terminei. Tinha me esquecido, a
gente fez muita coisa no fim de semana.
— Foi mesmo. Josh, fala para o papai
qual a minha altura.
— É... um metro e sessenta e oito?
— Errou Josh, isso foi ontem. – Annie
diz rindo, ele me olha confuso.
— Nunca é a mesma. – Josh constata se
afastando da mãe e tomando Ryan do meu colo.
Meu bebê segue direto para o boné dos Jets, Josh
tira, coloca no irmão. – Que lindo. Pai a gente vai
no jogo?
— Vamos todos. – Annie comunica.
Depois de todos alimentados, banhados é
hora de dar boa noite. July sempre demora mais,
quer contar mil coisas que esqueceu, explicar mais
um mundo de outras, então finalmente ela
adormece.
Josh fecha o livro quando entramos, o
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quarto agora cheio de memórias de sua visita ao


parque do Harry Potter, Annie beija sua testa, ajeita
as cobertas e sempre a acho tão mãe com essas
preocupações todas.
— Boa noite, filho. – Beijo sua testa.
— Boa noite, pai. Boa noite, mãe. – A
porta fica aberta. Ryan está dormindo tranquilo no
berço quando voltamos para nosso quarto.
Giovanna já dorme no próprio quarto, mas nós
ainda não conseguimos fazer isso, temos medo de
qualquer coisa acontecer e não estarmos perto o
bastante.
— Temos tanta sorte, eles são todos tão
perfeitinhos. – Annie sussurra olhando nosso bebê
no berço. Abraço sua cintura também olhando para
ele, ela se encosta em mim. – Às vezes tenho medo
de acordar e descobrir que foi tudo um sonho.
— Não é. Somos mesmo uma família. –
Ela se vira para me olhar. Afasto seus cabelos do
rosto. Acaricio a pele macia e clara. Ela é toda
delicadinha, faz meu coração reagir como da
primeira vez que estivemos juntos nesse quarto, no
dia que descobri que era a minha gatinha. – É tão
linda.
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— E um pouco alta. – Annie diz


manhosa como só ela sabe ser.
— Não gatinha, é um pouco baixa. –
Ganho um bico. – Mas é perfeita, do tamanho certo
para mim.
— Isso eu sou. Devia me carregar no
colo para a cama, estou com saudade de você e
daqui umas horas alguém vai acordar. Nunca se
sabe quem, mas um deles vai.
— Então não vamos perder tempo. –
Ergo Annie nos braços e a coloco na cama, a
camisola de alça fina é de um tecido delicado, toco
seu corpo por sobre a peça, afasto a alça para beijar
seu ombro. – É minha gatinha, e amo você.
— Acho que hoje vou te deixar gastar
muitos eu te amo.
— Está generosa?
— E apaixonada. Quando saímos e você
fica todo pai, eu fico mais apaixonada.
— Bom saber. Quer passear com as
crianças amanhã?
— Príncipe é segunda-feira, você não me
engana, é todo certinho. Do tipo que adora
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segunda-feira só para mergulhar na rotina.


— Eu sou, mas me ama por isso.
— Te amo por tudo. – Ela me diz com os
olhos grudados nos meus e sei que é verdade, sei
tudo sobre nós dois, eu a conheço como conheço a
mim mesmo.
Beijo minha mulher, primeiro os lábios,
mas não é o bastante. Quero sentir sua pele, o gosto
dela toda, e meus lábios percorrem seu corpo
enquanto ela se entrega sem medo.
O jeito que nos amamos é sempre assim,
mergulhados um no outro, sem receios, sem medo,
a camisola desaparece, minha roupa vai junto para
longe e quando meu corpo vai de encontro ao dela
e sinto o calor de sua pele é como estar em casa,
esse é meu lugar, misturado a ela.
— Nick! – Ela sussurra meu nome, seus
lábios buscam os meus, seu desejo expresso no
modo como me beija e se deixa sentir. Vamos,
como todas as vezes, perdendo a noção do tempo.
Nada, nenhuma das mudanças, nem
mesmo estarmos cercados de crianças, diminuiu o
que sentimos, o desejo que nos consome quando
estamos juntos e podemos nos deixar sentir.
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— Te amo. – Eu conto quando vamos


nos movendo juntos, meus olhos não se afastam
dela. De nós. É perfeito e sei que não vai nunca ser
diferente. É mais que meu corpo ou o dela,
nascemos para nos pertencer, isso é o que sabemos.
Depois vem aquela paz profunda, o
carinho suave. Trocamos beijos longos, olhares,
sorrisos.
— É meu príncipe.
— É minha gatinha. – Ela afirma. – Toda
dengosa.
Annie se arruma em meus braços. Eu a
envolvo.
— Adoro seu cheiro de príncipe.
— Roupas gatinha, não dorme.
— Filhos! – Ela sorri. – Será que todo
mundo faz isso? Todo mundo que tem filhos? Ou
mimamos demais eles?
— Não sei, mas sabemos que tudo pode
acontecer então espera que vou buscar uma roupa.
– Acho nossas roupas em torno da cama, essa é a
única hora que não sou organizado. Nos vestimos,
depois ela vem se enrolar em mim, as pernas presas
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as minhas como sempre.


Adormeço depois de um último olhar
para o berço só para ter certeza.

— Bom dia! – A voz suave de July


chega aos meus ouvidos. Abro os olhos e ela está
enrolada a Annie. – Eu vim dormir aqui sabia,
papai?
— Foi mesmo? – Annie abre os olhos, se
move e July senta na cama, os cabelos todos
bagunçados como os da mãe.
— Olha, deixa eu explicar uma coisa. –
Ela começa a gesticular. – Eu acordei lá no meu
quarto e fique sozinha, então eu vim. Por que assim
o Ryan não fica com saudade de mim, todos os
filhos podem dormir aqui, sabia?
— Sabia. Sempre que acordar pode vir.
— Eu sou filha, o Josh é filho, e o Ryan
é filho. E a gente fica com os pais. Na cama e tudo,
não tem problema. Só sei disso.
— E agora é hora de levantar.
— Isso mesmo, papai. Acertou
direitinho. Você vai no seu trabalho, o Josh vai na
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escola e eu vou ver meus velhinhos com a minha


mãe, porque eles choram de tanta saudade de mim.
Não é mamãe?
— Eles amam você.
— Muito, toda hora ficam me beijando,
apertando. “Que linda que minha netinha está hoje.
Vem aqui. Deixa eu te abraçar”. Eles ficam falando
isso toda hora. Eles me adoram. Só sei disso.
— Então vai escolher uma roupa linda.
O papai vai acordar o Josh e eu vou cuidar do
Ryan. – Annie dá as ordens matinais e nos
colocamos em movimento.
A rotina que temos é intensa, mas no fim
gostamos disso. Annie adora seus idosos e não abre
mão deles, mas gosto que meus filhos cresçam
correndo pelos corredores da associação,
convivendo com todo tipo de pessoas, não quero
que fechem os olhos para o mundo que os cerca.
Simon enrola para casar tudo que pode,
atrapalhado e cheio de ideias o casamento fica
marcado para a mesma semana de aniversário de
Ryan, é bom por que vamos passar todo o mês em
Kirus, casamento, aniversário do Ryan e da
Giovanna, e natal.
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Partimos todos juntos, vender o jato e


comprar um maior foi uma ótima ideia, se me
dissessem que um dia eu e Ulisses precisaríamos de
um jato maior para transportar a família eu com
certeza riria.
As famílias de Sarah e Simon ficam
acomodadas no hotel de Kirus, o casamento
marcado para quatro da tarde, a festa no salão do
hotel, por que Simon quer tudo grandioso. Simon é
o único que fica na mansão.
— Nick estamos indo, você fica com o
noivo. – Lissa que sempre é a chefe do cerimonial
me avisa.
— Tudo bem. Vão pegar a Annie no
hotel? – Pergunto com saudade da minha mulher
que está lá quase o dia todo com a noiva.
— Ela vai com a noiva por causa da
July, vocês dois são muito doidos, ela tem medo de
perder a filha.
— Por isso que amo minha gatinha. Quer
saber sobre estatísticas de crianças perdidas?
— Não. – Lissa me diz. ─ Vou levar os
outros Stefanos, não deixa o noivo atrasar.

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Todo mundo sai. Fico sentado na sala


esperando Simon, dez minutos depois ele desce as
escadas com a gravata na mão. Balança em minha
direção. Olha em volta.
— Já foi todo mundo, me dá logo isso. –
Puxo a gravata de sua mão. – Fica quieto.
— Faz um nó bonito, é o nó do meu
casamento.
— Deixa de reclamar, eu sempre faço o
nó direito. – Passo a gravata por debaixo da gola.
Ele fica se ajeitando, estufa o peito. – Nervoso?
— Muito. Acha que ela pode dizer não?
— Se for esperta.
— É sério. Acha?
— A Sarah ama você. Vai dar tudo certo.
– É difícil fazer meu trabalho, ele quer arrumar
cabelo, roupa, achar espelho e conversar, tudo ao
mesmo tempo. – Para um pouco. Quando vai
aprender a fazer isso?
— Nunca. Vou casar, não preciso
aprender.
— Sei. Vê se não dá mancada com ela.
Seja um bom marido.
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— Vou ser. Pode apostar. – Termino o


nó, toco seu ombro. Sorrimos um para o outro. –
Obrigado Nick. Eu sabia que estaria por perto nesse
dia, não achava que estaria casado, mas deu uma de
espertinho e passou na minha frente.
— Você que foi lento. Está pronto para o
sim?
— Estou. Podemos ir.
— Boa sorte.
— Se eu chorar fica feio? – Ele me
pergunta quando entramos no carro.
— Ulisses vai te fazer conviver com
isso.
Me posiciono no altar com ele, minha
família e a família de Simon se misturando nos
bancos, ainda me lembro dos bolos de chocolate da
mãe dele que me mantinham acordado. Aceno para
ela que seca uma lágrima de pé ao lado do marido.
Annie chega com Ryan no colo, entrega para Josh
sentado na primeira fila ao lado de Leon. Ele adora
o tio.
Leon pegou o jato e foi busca-lo para um
feriado de quatro dias, depois o trouxe de volta.

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Josh se sentiu importante e adorou ficar na ilha com


o tio.
Annie se junta a mim, está linda vestida
de madrinha.
— Saltos. – Ela sussurra no meu ouvido
quando passa seu braço pelo meu. Escondo o riso.
A música começa. Simon treme, primeiro vem July
com um cestinho e um lindo sorriso, dá tchau para
as pessoas se achando o centro do mundo. Essa
gosta de aparecer.
Depois a noiva, Sarah está linda em seu
vestido tradicional, foi assim que pensei que Annie
estaria, com um mundo de saias, mas não, estava
perfeita e inesquecível e sei que jamais vai haver
noiva mais linda.
Simon chora, mas Sarah também, então
acho que tudo bem. Depois dos cumprimentos
vamos para a festa. Fico de olho em meus filhos e
sobrinhos. Fico pensando se não seria mais fácil
implantar um chip.
Os noivos saem despercebidos e o
helicóptero da família os leva para Atenas onde vão
começar a lua de mel.
Na manhã seguinte, nos reunimos na
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grande varanda para o café.


— Quando conheci vocês estavam todos
reunidos aqui. Se lembram? – Annie pergunta
sentada ao meu lado. As crianças brincam no
jardim a nossa volta.
— Eu me lembro e achei que nunca veria
nosso irmão assim, caidinho de amor. – Heitor
comenta e Annie me sorri.
— Saiu correndo para te abraçar todo
apaixonado. – Ulisses nos lembra.
— Todo mundo soube que era a garota
certa. – Lissa diz a Annie.
As senhoras Stefanos vão saindo em
direção ao gramado. Lissa se senta ao lado de
Alana. Luka correndo com Harry, Josh lendo para
Emma, Daniel, Giovanna e Ryan, Lizzie com ele
segurando Daniel no colo. Liv e Sophia se sentam
junto. Annie ajuda July com seu joguinho.
— Ouvi dizer que os Stefanos não se
casam. – Ulisses brinca.
— Muito menos tem filhos. – Heitor
continua. – Me lembro do Leon me ligando para
avisar que iria se casar. Achei que ele tinha batido a

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cabeça.
— Ele quebrou a regra primeiro, abriu
caminho para os outros. – Ulisses diz de modo
tranquilo e não tem como não viajar no tempo e em
nossa história.
— Começou com uma vingança. – Leon
nos lembra.
— Depois veio a filha perdida. – Heitor
comenta.
— Uma aventura contra a máfia italiana.
– Ulisses se lembra da própria história.
— Terminou com um amor da vida toda.
– Eu digo olhando o sorriso de Annie distraída com
as crianças. Leon toca meu ombro.
— Não terminou. Aí é que está a graça. –
Ele me aponta as crianças no jardim. – Cada um
deles vai ter uma história para contar. Ainda
estamos no começo.
Me emociona pensar neles, na vida que
vão ter, nas histórias que vão contar. É bom me
sentir em casa e dividir com os irmãos Stefanos
essa vida.
— Obrigado por me trazer de volta para
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casa, Leon. – Ele me oferece um sorriso


emocionado.
— Momentos fofos? Estão querendo
abraço coletivo? – Ulisses provoca. – Vai chorar
bebê do Leon?
— Leon! – Ulisses parece que não tem
limites.
— Deixa ele, Ulisses.
— Papai príncipe vem aqui me ajudar a
ganhar da mamãe. – July grita do jardim. Me faz
sorrir, Annie ergue os olhos e me convida com um
movimento de cabeça.
— Estou indo, gatinha. – Deixo a mesa e
meus irmãos e salto a pequena grade da varanda em
direção ao jardim, ainda em direção a ela, sempre
em direção a ela.

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Epílogo
Josh

Assim que o aviso de fim da aula toca eu


coloco a mochila nas costas, Chad me segue pelos
corredores. Nos últimos três anos, desde que fui
adotado e entrei para essa escola temos sido
amigos.
Meu pai diz que um amigo basta, ele tem
razão, tenho uma boa relação com todos, mas
amigo mesmo, só o Chad e Michelle, ela é legal
também. Somos um bom trio.
— Onde vamos com tanta pressa? – Ele
me pergunta. Sempre esperamos o grupo sair antes
de descer, mas hoje eu realmente estou ansioso.
— Esqueceu que na semana que vem
vou para Kirus para o aniversário da Lizzie?
— Não. Todo dia você fala disso. – Chad
apressa o passo quando cruzamos os portões. Pedi a
minha mãe para ir caminhando para casa só para
encomendar o presente de Lizzie, juntei dinheiro
por dois meses, tio Leon me deu boas dicas.
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— Vai comigo na joalheria. – Aviso. –


Não vou entrar sozinho numa joalheria, nem
pensar.
— Não é meio ridículo dar uma joia?
Coisa de adulto? Da uma roupa, um brinquedo.
— Brinquedo, Chad? Ela vai fazer
quinze anos.
Chad segura meu braço antes de
atravessarmos a rua, me faz olhar para ele. Já sei o
que vai dizer.
— Josh, você gosta dela, sabemos disso,
ela não é sua prima, passa mais tempo comigo que
com Lizzie, por que não pode namorar com ela?
— Você diz cada bobagem? Vem, vamos
comprar o presente dela. – Me ponho a caminhar. –
Gigi vai lá para casa essa tarde, meus tios têm
compromisso, ela e o Ryan vão aprontar muito até
a noite cair e prometi ajudar minha mãe.
— Ela é sua prima, você a conhece desde
que nasceu, ela é pequena, viu nascer, mas a Lizzie
não, se conheceram grande. Não tem culpa de
gostar dela. Acho que ela gosta de você também,
toda menina gosta de você. Assim beija alguém.

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— Nem tudo é sobre beijos, Chad.


— Quinze anos, nenhum beijo, você vai
mal, Josh, muito mal.
— Quantas meninas beijou mesmo? – Eu
provoco. Ele faz careta e atravessamos a rua. – A
Michelle não conta, ela estava meio distraída.
— Claro que conta. Não foi um grande
beijo, mas... é foi só uma semi beijo na festa da
Payton. – Ele suspira abatido, quase posso sentir
pena, ficamos todos três meio atordoados com isso.
Ficou tudo confuso uma semana, comigo no meio
dos dois, até que resolveram esquecer o incidente
do beijo e voltamos a ser amigos. Queria que ela
não tivesse aula de dança hoje, uma opinião
feminina sempre ajuda.
— Quanto tem de dinheiro?
— Dois mil dólares.
— Caramba! E vai gastar tudo com a
Lizzie?
— Vou, ela merece e eu... – Gosto dela.
Lizzie é a garota mais bonita e delicada que
conheço, ainda me lembro dela dançando, ainda me
lembro de ficar tonto com sua beleza. Dela parecer

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uma nuvem.
Ano passado fomos ver sua apresentação
de dança no colégio, foi lindo, eu não conseguia
desgrudar meus olhos dela no palco, gostar dela é
mesmo uma droga. Por que eles ficam sempre
repetindo que somos primos, que vamos cuidar de
tudo e de todos e nunca, nunca mesmo vou
desapontar minha família.
Amo todos eles. Tio Heitor é muito
ciumento, muito legal também e não merece isso.
Talvez ela goste um pouco de mim, não como
primo, mas nunca vou perguntar, não vou fazer
nada errado. Mesmo que o Chad e a Michelle
achem a coisa mais certinha do mundo. Eles não
entendem nada de ser um Stefanos, família vem em
primeiro lugar.
A loja é bem elegante, tem muito brilho,
anéis, pulseiras, colares e brincos de todos os tipos
e cores, pequenos e gigantes, até coroa tem e
imagino que July adoraria uma dessas para usar por
aí se achando uma princesa. Só sei disso.
Rio do meu pensamento, minha irmã está
com sete anos, mas parece a mesma menininha de
sempre, sempre arrumadinha, se achando linda e
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falando sem parar, adora rosa, princesas e bonecas,


mamãe ainda estraga suas bonecas e agora tem
ajuda de Ryan, ele tem três anos e é mesmo muito
bagunceiro. Puxou a mamãe, eu e o papai bem que
tentamos, a senhora Kalais já até desistiu, minha
casa é sempre uma grande bagunça e somos bem
felizes assim.
— Boa tarde, posso ajuda-los? – Uma
moça pergunta, Chad me cutuca, já sei que acha ela
linda, ele não tem muito critério, aos quinze anos
como eu, seu critério é o desespero.
— Quero mandar fazer uma joia. – A
moça sorri. Parece achar estranho e sinto que
duvida um pouco. – Tenho dois mil dólares. – Eu
aviso, seu olhar muda um pouco. – Mas tem que ser
ouro limpo.
Chad me cutuca de novo, revira os olhos,
eu o cutuco de volta. Isso é importante, meu pai me
explicou como é sério a questão do metal precioso,
garimpo ilegal, trafico e morte. Não vou me meter
nisso.
— Temos muitas joias aqui. Não quer
escolher uma? É para sua mãe?
— Não, para a menina que ele ama. –
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Dou um bom empurrão no Chad, que boca grande.


– O que? Ela não conhece nenhum Stefanos, não
vai contar que ama sua prima Lizzie.
— Consegue ficar de boca fechada só
um pouco?
— Você que me convidou. – Ele
reclama, ideia ruim. Será que tenho que ser igual ao
meu pai em tudo e ter um amigo atrapalhado como
ele e o meu tio Simon?
— Você tem ideia da joia que quer?
Posso chamar nosso design. - Ela oferece, agora
muito interessada, por que o Chad boca grande
contou toda a minha vida.
— Seria bom, mas eu tenho o desenho. –
Coloco a mochila no balcão, abro e retiro o papel
com o desenho. – Não desenho muito bem, mas
olha, vê? Um cordão fino, não tinha caneta
dourada, mas é dourado, e as sapatilhas também,
tudo dourado, por isso pintei de amarelo.
— Aposto que a July tinha uma
canetinha dourada, ela parece uma menina.
— Ela é uma menina, Chad.
— Por que não esperam um momento,

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posso ficar com isso? – Ela pede o papel, as outras


vendedoras estão sorrindo. Que vergonha, só estou
aqui por que é Lizzie e pensei nisso o ano todo.
— Pode, dois mil dólares, moça, por que
não quero pedir dinheiro ao meu pai.
— Claro. – Ela se afasta e ficamos os
dois sozinhos de novo.
— Como juntou todo esse dinheiro? –
Chad me pergunta.
— Fiz um investimento em ações com a
mesada de dois meses, daí meu tio Leon indicou
um bom jeito e essa semana me mandou o dinheiro.
— Meu pai tinha que ser músico? – Ele
reclama enquanto olhamos aquelas coisas e ele fica
fazendo caras e bocas e fico tentando fingir que não
o conheço.
A moça retorna ainda sorrindo, acho que
é trabalho dela sorrir assim, mas deve doer as
bochechas no fim do dia.
— O design adorou o modelo, será uma
peça exclusiva, não se preocupe, fica pronta em
cinco dias.
— Eu pago agora?
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— Como quiser. – Ela sorri e puxo o


envelope com as notas, ela acha engraçado, por que
ninguém deve pagar assim em dinheiro, só
mafiosos eu acho, mas isso é coisa do meu tio
Ulisses entender.
Vou para casa aliviado que já resolvi
isso, papai e mamãe acharam normal eu dar um
presente a Lizzie, que bom que não pensaram nada.
Chad segue para sua casa e eu vou para
minha, meus irmãos já devem estar chegando
também. July e eu estudamos na mesma escola,
mas ela é pequena e fica menos tempo na escola, o
motorista leva ela para associação ou ela fica com a
senhora Kalais, pelo menos nos dias frios, para não
ter crise.
Meu inalador está na mochila, não ando
sem um, nem eu e nem ninguém da família, por que
July nunca lembra do dela. Já tive que sair correndo
da minha sala para cuidar dela em crise no colégio,
mas hoje ela quase não fica mais doente. Só quando
apronta alguma.
A senhora Kalais está colocando a mesa
para o lanche da tarde quando chego, todos os dias
ela nos recebe assim, é muito carinhosa, beija
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minha testa e me olha de cima a baixo, conferindo


se cheguei inteiro, mamãe faz isso também, mas vai
mais longe e ajeita meus cabelos. É mania dela,
toda vez faz isso.
— Que bom que chegou, me ajuda com a
mesa?
— Ajudo. Tenho que avisar meus pais
que cheguei. – Depois de digitar mensagens aos
dois eu ajudo com o resto da mesa.
A porta do elevador se abre e July entra
na frente com a mochila nas costas, mamãe vem
depois com Ryan no colo.
— Chegamos, Josh, sentiu saudades? –
July me pergunta largando a mochila, ela é ainda
linda e delicada, me faz sorrir. Somos muito
sortudos eu e ela. Temos a melhor família do
mundo.
— Sim. Oi, mamãe. – Mamãe me beija,
ajeita meus cabelos e me entrega Ryan. – Oi
pequeno. Tudo bem?
─Tudo, a Gigi está vindo aqui. – Ele me
conta, os dois são como gêmeos, nunca se
desgrudam.

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— Eu sei, cadê ela, mamãe?


— Chegando, seus tios vão a um jantar
importante representar a família. Ela dorme aqui
hoje. O papai passou para apanha-la e já chega.
— Oba! – Ryan comemora saltando do
meu colo. – Vou arrumar os brinquedos.
— Espalhar ele quer dizer. – Resmungo
e mamãe sorri.
— Comprou o presente da Lizzie?
Viajamos semana que vem.
— Sim, está tudo certo.
— Josh, sabia que achei uma gatinha na
associação? Linda, só sei disso. – July conta.
— Um minuto de distração e ela estava
enrolada com um gato de rua no colo da Glória, as
duas aprontam muito juntas. – Me lembro de Ava,
ela se foi tem uns meses e ficamos mesmo muito
tristes.
A porta do elevador se abre mais uma
vez, meu pai surge de mãos dadas com Gigi, ela se
contorcendo é claro, a pequena tem muita energia e
não consegue ficar parada.
Mamãe ganha o primeiro beijo, depois
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July pede colo, sete anos, quase oito, mas ainda


ama o colo do papai, ele beija sua bochecha e me
abraça com a mão livre, bagunça meus cabelos que
mamãe acaba de alisar e lá vem ela ajeitar de novo
e eu e meu pai sorrimos.
— Gigi! – Ryan surge vindo da sala de
televisão.
─Ryan, eu cheguei, vamos brincar. Olha
o que eu trouxe? – Ela arrasta uma mochila que vai
fazendo muitos barulhos e ficamos rindo.
— Não entala, Gigi! – Papai pede antes
que sumam para a sala. Duvido que ela dê ouvidos.
Nos sentamos para o lanche, todos
contando como foi o dia. Rindo, brincando, meus
pais trocando beijos, July, sempre falante.
— Agora tenho que fazer meu dever.
Vou perder três dias de aula para ir a Kirus, então
estou fazendo um trabalho para os professores. –
Fico de pé.
— Para Harvard, que nem meu papai
príncipe. Não é papai?
— Sim, July, onde ele quiser, mas isso
ele decide. – É o que quero, estudar em Harvard

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como meu pai. Lizzie também quer e vamos juntos,


não sei como será isso. Eu e ela vivendo sozinhos
na mesma universidade, com isso de eu gostar dela
como menina.
— Eu quero. – Aviso a eles, papai diz
que consigo, que sou o melhor aluno e todos lá
gostam muito dele, então conto com isso.

Nick

— Carona, Gata? – Eu digo encostado


no carro na porta da associação, o velho carro, a
velha jaqueta, o jeans que finalmente ficou velho.
Ela se volta, o sorriso se alarga, os
cabelos dourados se espalham pelo rosto delicado
de menina que se mantem exatamente igual ao dia
que as portas do elevador se abriram e eu a vi de pé
em minha sala. Minha gatinha, agora minha
mulher.
— Não sei. – Ela caminha em minha
direção, para diante de mim e espalma as mãos em
meu peito, os olhos cheios de desejo misturados ao
riso. – Não saio com estranhos.

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— Vai gostar. – Digo em seu ouvido,


depois meus lábios descem por seu pescoço e sinto
a pele arrepiar quando ela se afasta.
— Já que foi assim tão insistente. – Ela
abre a porta do carro e se senta, dou a volta e pego
o volante, trocamos um sorriso. Os meninos estão
com a senhora Kalais, as malas prontas para o
aniversário de Lizzie, o meu e umas férias em
família, mas hoje. Hoje à tarde é minha e da minha
mulher.
Giro a chave e o motor engasga, carro
velho, Annie prende o riso e tento mais uma vez. O
motor finalmente ronca como devia e partimos. O
caminho é conhecido, vai nos levar ao motel de
quinta.
— Pronta para umas horas de prazer e
bebedeira?
— Sempre pronta! – Ela diz com a mão
na minha coxa. A bebedeira é só água mesmo, não
bebemos, nenhum dos dois. – Gato!
A viagem leva meia hora pela
autoestrada. O motel fica na beira da estrada e o
rapaz entediado me estende a chaves sem gastar
muito tempo comigo, deixo as notas sobre o balcão.
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Annie está encostada no carro, é mesmo


linda de todos os modos, quando é minha gatinha e
quando deixa vir a tona a gata selvagem de
momentos a dois.
Balanço a chave e ela caminha na frente,
anda rebolando discretamente e me deixando
maluco. Me espera na porta, muda, apenas os olhos
em mim contam seus desejos.
Deixo que entre na frente e fecho a porta
atrás de mim. Ela fica de pé. Me olhando nos olhos.
— Vai ficar aí parado? Quer dizer que o
cara mau é tímido? – Ela provoca com as mãos nas
bordas da camiseta leve, antes que me mova a
camiseta some e vejo a peça intima de renda
delicada. – Que acha de me ajudar aqui?
É exatamente isso que faço. Acabo com
nossa distancia envolvendo sua cintura e tomando
sua boca. As mãos dela vêm para meu peito e a
jaqueta vai para o chão com sua ajuda, depois
minha camiseta branca. Seus dedos correm meu
peito, sinto seus beijos em minha pele e minhas
mãos vão para os botões do jeans. Não demora e
estamos na cama que conhecemos como a nossa.
Perdidos em desejo e amor. Beijo cada
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parte dela, meus dedos percorrem a pele macia, os


olhos dela sempre pedindo por mais amor, mais de
mim, tudo, tudo que sou e tenho é dela. Somos uma
única coisa.
Leva tempo até que me permita tomar
seu corpo. Sempre queremos ir o mais longe que
podemos, sempre nos entregamos por inteiro.
Minha boca e sua se encontram juntos com a
entrega e os movimentos aceleram a vida que
estava adormecida. Minhas mãos se prendem as
dela, entrelaçam enquanto meu corpo e o dela
brincam de infinito.
A paz chega lenta e leve, num suspiro
dividido e corpos unidos. Meus olhos fixos nos
dela, enxergando a alma que dividimos.
— Eu te amo. – Digo sem medo de
gastar. O sorriso nos olhos vem antes dos lábios e
trazem minha resposta na voz suave da gatinha que
uma vez achei estar perdida.
— Te amo, Nick Stefanos. – Me deito ao
seu lado, encaramos o teto com a tinta descascando
e uma ponta de umidade no canto da parede, nos
olhamos e rimos juntos.
— Temos que ir para casa colocar as
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crianças na cama. – Annie sorri. Se move e está


sobre meu peito, os olhos nos meus, os cabelos
espalhados sobre nós dois. Ondulados e brilhantes.
— Comprei seu presente, eu e os
meninos. Fomos juntos tem uns dias, eles levaram
um tempo para decidir. Me fez pensar.
— Pensar?
— Sim, em como temos tudo. Tudo que
precisamos, nossos filhos, nossa família, amor.
— Muito amor. – Beijo seus lábios. –
Não preciso mesmo de nada. Só de você e minha
família.
— Quando eles crescerem, quando
seguirem seus caminhos, vou morrer de saudade.
— Somos gregos, gatinha, não vão
longe.
— Josh vai para Harvard.
— Umas horas de casa. Por que eles têm
que crescer tão rápido? Nossa infância... os anos
naquele lugar, pareceram levar uma eternidade e
com eles... piscamos e nosso menino já está
andando por aí sozinho. Investindo.
— Lissa me disse que Leon não cabe em
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si de orgulho do sobrinho. Se pudesse ele nos


roubava o Josh. – Ela se deita em meu peito. Meus
dedos correm por seus cabelos. – Príncipe, vamos
voltar para o personagem que temos um tempinho
ainda. – Ela diz se sentando sobre mim. Os olhos
ganham de novo vida. Essa mulher me faz ficar
perdido de amor.

Quando o helicóptero sobrevoa Kirus eu


me dou conta de como amo esse lugar, que aqui,
mesmo depois de toda uma vida fora, de mau saber
falar a língua até outro dia, dos meus gostos e
preferencias eu sou grego. Tão grego quando meus
irmãos, no jeito de amar, proteger e sentir.
Os stefanos nos aguardam na varanda,
são tantos agora. Crianças em todas as idades, rindo
e tão unidos como os quatro irmãos. Tem uma fila
de abraços, os pequenos grupos vão de dispersando
e ficamos reunidos na sala.
Daniel é um lindo garotinho e o mais
novo de todos, o bebê de Heitor, o último Stefanos
filho da primeira geração. É o que dizem. Não
tenho certeza. Talvez eu encontre por aí, um
garotinho protegendo uma irmã, alguém cheio de
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medo como um dia já estive. Não sei mais ignorar o


mundo como antes. Não preciso mais fazer isso,
não estou sozinho.
— Como estão os preparativos para a
festa da Lizzie? Contrataram alguém? – Ulisses
provoca, sabe que não, que somos nós a trabalhar
como escravos para as quatro mandonas senhoras
Stefanos.
— Contratamos. – Sophia responde. –
Contratamos quatro irmãos gregos, eles e sua prole,
não vai faltar mão de obra barata. – Elas riem.
— Lizzie está mesmo bem? – Pergunto a
Heitor, ela se machucou nos ensaios de ballet,
andou triste com isso. Ama dançar.
— Está bem, pronta para dançar em
breve. Feliz por que estamos todos aqui. Quinze
anos, minha menininha está ficando uma moça.
— Como será que vai ser o namorado
dela? – Lá está Ulisses provocando o ciúme de
Heitor que responde com uma careta. O cara que
vai ganhar o coração de Lizzie tem mesmo que ser
especial.
— Ah! Ontem alguém saiu muito
apressado do escritório e tive que atender uma
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ligação, de uma certa agencia de carros usados. –


Ulisses ri. – Nick, está de novo elevando o nível da
brincadeira?
— Cuida da sua vida, Ulisses, olha o
menino na sala. – Danny rabisca um pedaço de
papel, distraído e pequeno demais para entender
qualquer coisa.
— Sophi mandou mensagem e Annie
não respondeu, pelo visto o caçula entrou em ação.
— Leon! – É mais forte que eu, além
disso, ele só sossega quando meu irmão dá jeito
nisso.
— Ulisses, chega! – Leon diz rindo.
— Nem chegamos ainda! O bebê não
pode ficar perto do papai Leon que já fica mimado.
Josh se junta a nós, Lizzie também, os
dois se sentam, Lizzie com sua ajuda por conta do
pé. Alana e July passam de mãos dadas para o
jardim, cada uma com uma boneca, são muito
amigas. Gigi e Ryan brincam nas escadas, por que é
claro que tem que me encher de preocupação.
Emma, Harry e Luka passam correndo. Luka
correndo na frente enquanto os primos o
perseguem. Os cães com eles.
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— Tio Nick, comprei seu presente de


aniversário. Sei que vai amar, mas é surpresa. –
Aposto que alguém vai amar, mas aposto em
Ulisses e seu celular com câmera.
— Foi sozinha, minha princesa está
crescida. – Heitor diz cheio de orgulho.
— Ontem eu e o Nick conversamos
sobre como estão crescendo. Imaginam eles todos
grandes?
— Menos o Luka? – Leon brinca.
— Meio isso. Fico com saudade de dias
como esse de hoje, quando são pequenos e
protegidos. – Annie se recosta em meu ombro.
— Vão viver suas histórias e vamos estar
aqui. – Lissa diz em seus olhos azuis de Grécia. –
Para assistir, apoiar, para secar as lágrimas e rir
com eles.
— Sim. Vamos estar aqui. – Meus olhos
cruzam com os de Annie. Vamos estar aqui por
eles, vamos estar aqui juntos. Ela me abraça, beijo
seus lábios. Leon tem razão quando diz que é
apenas o começo.
Não é o fim da história dos Stefanos. É

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apenas o começo dela. Meus meninos estão


crescendo. Ainda tem muito que aprender e
descobrir. Ainda vamos vê-los descobrindo o amor.

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