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Bia a Lizi, vocês me deixaram louca com suas ideias, mas seguraram as
pontas comigo e fizeram essa série chegar até aqui.
Um
Joseph Escobar
Anos antes...
— Não. Apenas estou preocupada com você que não chega logo. Mas
agora sei que está bem. Estava demorando demais...
Sorrio.
Desligo.
Uma moto surge na lateral que estou. Não tenho tempo de fechar o
vidro do carro, que é blindado, porque outra moto encosta e o delinquente
encosta a arma na minha cabeça.
— Não pense em olhar, vai passando tudo sem olhar! — ele pede. —
Carteira! Vai, vai! — Está nervoso. — Esse caralho tem que parecer um
assalto! Vai, porra!
Abro o vidro do passageiro. Respiro fundo. Isso não vai acabar bem.
Para que esse cara quer o outro vidro aberto, porra?
— Sabia que era você. Carro blindado, Juiz Escobar? Achou mesmo
que isso te ajudaria? — O outro motoqueiro ri. — Valeu a pena seguir cada
passo seu, desgraçado!
— Quem diria que um dia estaria cara a cara com filho da puta que
fodeu a vida do meu pai e da minha família.
Tento virar o rosto para ele, mas o que mantém a arma na minha
cabeça impede.
Preciso de ajuda...
Eu quero dizer que tem no meu bolso, mas não consigo. Merda!
— Vai ficar tudo bem... Ah, droga, é o juiz Escobar. Meu Deus! Vai
ficar tudo bem. Estão pedindo socorro — é uma mulher que diz
desesperada. Mas eu não consigo dizer nada, e nem me mover.
Aquele filho da puta, eu devia esperar que ele não iria sair daqui sem
fazer nada. Veio vingar o pai que condenei a anos de prisão, um chefe da
máfia, que acabou morrendo dentro da prisão.
Ser juiz criminal, não faz de você apenas um herói para alguns, ele
faz de você um alvo, e você nunca sabe quando será atingido.
Eu preciso dizer a minha família que amo eles, que vão ficar bem... Eu
preciso dizer ao menos um adeus. Eu preciso! Não posso partir, como meus
pais e meu velho amigo Joel, que não puderam me dizer adeus.
Paula precisa saber que ela vai ficar bem e que ela precisa continuar
lutando por nossa família. Ela precisa continuar lutando por si mesma...
Precisa continuar sorrindo... Eu tenho que dizer isso.
Eles precisam saber que vai ficar tudo bem, mesmo que aqui eu não
esteja. Meus filhos precisam saber que eu tenho orgulho demais deles...
Minha menina Daiane, não irei vê-la se formar, e não verei meu David ser
um delegado... Marcos, meu irmão, vai perder mais uma pessoa que é
sangue do seu sangue, ele não merece. Henrique terá de ser forte por todos,
ele vai conseguir, vai trazer alegria, mesmo que chorem.
Paula Escobar
Dias atuais...
Bom, está quase tudo calmo. Por ironia do destino, após anos
do julgamento na qual Joseph como juiz condenou o maldito
mafioso, e o infeliz foi morto na prisão, já era de se esperar que ele
tivesse herdeiros e foi o que aconteceu. O herdeiro dele, que
ocupava o lugar do pai, foi encontrado após tempos de trabalho
árduo da polícia, e hoje foi seu julgamento, e é aí que entra a ironia.
Anos atrás, o pai foi sentenciado a anos de prisão por meu falecido
esposo Joseph Escobar, e hoje o filho dele é sentenciado pelo irmão
do Joseph, o Marcos Escobar.
Alessandro.”
— Como está?
— Bem.
Três
Alessandro Santos
— Não sou Deus para fazer milagres. Teve muito tempo para
estudar. Sabe que não sou do tipo que dá segunda chance.
— Quem tem que fazer notas altas são vocês e não eu. Eu já
passei desta fase, e hoje sou reconhecido como um dos melhores
professores de filosofia, e estou aqui ensinando a vocês. Agora, se
não se esforçam, o problema é de vocês. Não posso pegar a matéria
e socar no cérebro de cada um. Já viu o tamanho desta universidade
e do tanto de alunos que tenho? Se eu for ajudar cada um que não se
preocupa com estudos, estou ferrado. Aqui não é mais o ensino
fundamental, que precisam de babás e não professores.
Porra, amo dar aulas, sou apaixonado pela filosofia, mas tem
horas que meus alunos testam a minha humilde paciência. Sou tão
bom, e tentam abusar disso. É foda!
— Professor...
Ele ri.
— Senhor?
— Puta que pariu! Mulher, quer me matar? Parece um
fantasma, cacete! — Irene me olha assustada.
— Não. Por Deus, senhor. Não tenho mais idade para isso.
Paula Escobar
Respiro fundo.
Ele não vai desistir enquanto eu não falar com ele. Concordo, e
ele pergunta que horas pode me buscar, e falo que eu irei até ele,
para me enviar o endereço do local, que assim que eu sair do meu
compromisso informo que horas poderei ir ao jantar.
Eu não vou fazer isso. Elas sabem que na minha idade, uma
travada na coluna já era.
— Oi!
— Ok.
Sorrio.
— Vamos, meninas. Ainda não acredito que fiz isso. Vocês vão
acabar comigo.
— Nossa, nem me fale. Pensei que iria ficar mais tranquilo com
o tempo, mas que nada! Faculdade de manhã, treinos à tarde,
trabalhos, David e as meninas à noite. Vou endoidar. Mudei os
horários de tudo, mas não adiantou. A babá ajuda, mas não alivia
tanto, porque as meninas querem sempre minha atenção e quero
dar a elas.
Atendo.
— Senhora, não achamos certo ficar aqui nesse trânsito para pegar a
saída lá na frente. Vamos mudar a rota. Saiam pela primeira à direita, e
sigam em frente. Estamos logo atrás. Assim que saírem, eu irei seguir na
frente de vocês, e o Simon vai ficar atrás. Não tem como continuarmos
seguindo assim.
Desligo.
— Nossa, vamos dar uma volta. Indo por aqui, vamos seguir
sentido ao escritório do Marcos, que é bem no centro, e de lá vamos
ter de cortar sentido à delegacia, para ir para casa. Hoje não é o
nosso dia — Beatriz declara.
— Eu já vim por aqui. Marcos corta por aqui, quando não quer
pegar trânsito, mas ele não é fã de passar aqui à noite.
— Nos filmes que assisti, quando mandam não olhar para trás,
é porque vai dar merda! — Beatriz fala com a voz tomada pelo
pânico.
Liziara faz o que ele pede, assim que ele da ré em cima das três
motos, e elas jogam para a lateral. Então pisca o farol e ela corta o
carro do Pascoal, e agradeço a Deus por não ter outros carros aqui.
Seriam mais vidas em risco. A chuva intensifica. As duas motos
próximas do Pascoal, agora seguem a nós, e vejo apontarem algo,
mas não preciso ver direito para saber o que é.
— Liziara.
— Mãe...
— Não olhe para trás. Eles disseram para não fazermos isso.
Vai ficar tudo bem — digo e ela concorda.
— Alessandro?!
— Porra, por que ele tinha que ser o herói?! — Henrique chuta
a mesa de centro que voa em direção à parede próxima marcando a
parede e quebrando o vaso em cima dela. Então vai para o chão, e
deita cobrindo o rosto. Ana vai até ele.
— Fale! — imploro.
Não vejo mais nada. Sinto meu corpo ficar leve, e paro de
escutar qualquer coisa.
Quatro
Paula Escobar
— Amor, por favor, escuta sua mãe. Henrique, olha todo esse
clima. Suas filhas precisam de você e eu também. Por favor... — Ana
pede chorando.
— Eu não posso ficar aqui. Ele tem que estar vivo. Ele está em
algum lugar. Ele tem que estar. — Ela começa a caminhar para sair,
mas Henrique impede sua saída.
— Beatriz, não tem o que ser feito agora. Temos que esperar!
— David fala autoritário.
— Paula, tem razão. Você foi bem. Não se culpe — Marcos diz a
ela.
— Sim. Estou bem. E fiz porque faria qualquer coisa por vocês.
E deu certo. Simon contou que, quando a explosão aconteceu, as
motos começaram a sair, vocês voltaram a dirigir, alguns tentaram
atacá-las, mas seguiram sem olhar para trás. Eu faria qualquer
caralho que fosse para vocês ficarem bem. Eles não queriam alguém
específico, eles queriam qualquer Escobar.
— Eu sei o que fiz. Eu fiz por elas. Aquilo não ia acabar bem.
Quanto mais estivessem lá, mais merda aconteceria. Era isso ou
foder tudo!
— David, por favor... — Liziara tenta falar, mas ele a olha feio.
— Claro que sabia. Você fez isso sabendo que iria morrer e
nem sequer pensou na família. No seu filho, e sua esposa... Você foi
um idiota! — Henrique esbraveja e sai da sala subindo para o
segundo andar. Ana o segue.
— Marcos, você foi louco, por que fez isso? — Bia questiona
com a voz trêmula e ele a olha, mas não responde.
— Paula...
— Me perdoa.
É nítido a sinceridade em seu tom. Sei que ter que fazer isso
doeu muito para ele também, eu vi quando olhou para a esposa e o
filho, e quando olhou para nós. Sei o que é ficar sem escolhas, mas
sei que agir sem pensar um pouquinho que seja é bem pior.
— Não é para mim que tem que pedir perdão. Peça aos seus
sobrinhos, que têm você como um pai também, e peça a sua esposa
e filho. Pois a Beatriz quase faz uma loucura saindo que nem louca
para te encontrar. E agora sou eu quem diz: “Não seja o herói”. —
Deixo meu tom mais leve. — Precisa de médico, Marcos.
— Tome um banho e vai curtir com sua família. Vou falar com
o David para ver como serão os depoimentos e toda a burocracia.
Jacob está tentando abafar tudo isso. Por ora, precisamos
descansar. A tia da Beatriz e avó do Jacob chegam a qualquer
momento. Então, acho melhor todos ficarem hoje aqui, já que elas
vão vir para cá... Tem mais uma coisa, viram quando Simon o
encontrou?
Cinco
Paula Escobar
— Oi.
— Fico feliz que tenha resolvido não rejeitar a ligação.
Paro para pensar. E não sei. São tantas coisas envolvidas que
simplesmente não sei.
— Podemos sair para conversar? Isso pode ser bom. Cacete, eu nunca
corro atrás de ninguém. Não me faça te odiar, inferno! — diz rindo e
acabo sorrindo.
— Já sei onde é. Não tem problema. Posso te buscar, pois é bem fácil
do meu apartamento até o local. Vai sozinha, ou com todas elas?
— Universidade?
— Até. E se cuida.
— Tentarei. Tchau.
— O que foi?
— Senhora, com todo respeito, mas não tinha como não ouvir a
ligação, afinal estamos no mesmo carro. Enfim, não acho bom que
fique passando tantas informações ao indivíduo com quem falava.
Até descobrirmos quem está por trás ao ataque, todos são
suspeitos.
— Confia em mim?
— Claro.
Alessandro Santos
Por que cacete ainda não coloquei olho mágico nessa porta?
Inferno!
— Por que pensa isso? E sabe que não sou muito de manter
contato, apenas quando quero.
— Fale de uma vez que merda faz aqui! — peço mais alterado.
— Você não vai fazer nada. Se tentar algo contra algum deles,
eu...
— Você o quê? Vai me matar? Sabe que não faria isso, porque
no fundo me ama e quer meu bem. E eu também amo você e quero
seu bem. Sei de tudo o que está acontecendo com eles. Caia fora,
irmão! Saia dessa loucura, porque você vai ficar na mira!
— Foi por isso que veio? Você tem algo com essa história toda?
— Sinto meu sangue gelar e a raiva me dominar.
Ele ri.
— Sabe, tudo isso acontecendo com eles... Fiquei pensando até
que poderia ser você. Afinal, da última vez que nos vimos, você
enfrentou muita adrenalina para me ajudar e pareceu gostar.
Olho com raiva para ele, mas no fundo o desgraçado sabe que
quero o bem e a proteção dele.
— Que bom que lembra daquela que foi uma mãe para você
antes de sumir pelo mundo e ser duas caras! — acuso sem nenhuma
dó.
Como lidar com algo que nunca teve que lidar antes? Merda!
Tento, mas não consigo mais ser o homem tranquilo que fui
desde o início e ficar vendo as pessoas julgarem a mim como um
cretino, quando é ela que foge desde que nos conhecemos, como se
eu sempre forçasse a situação. Eu sempre disse que mulher era
encrenca, e agora entendo por que dizia isso. Mas nunca disse que
não poderia acontecer essa armadilha comigo. E olha a loucura que
foi e está sendo.
— Temos tempo.
— Não! Ele iria querer me ver seguindo minha vida e feliz. Mas
eu não consigo. Não posso colocar mais ninguém nessa confusão da
minha família.
Esse cara quer morrer com a própria arma dele? Que porra é
essa de duas opções?
— Está.
Não espero ele falar mais nada. Entro no carro e a chave está
nele. Paula entra e saio a mil dali.
Não deixo que ela termine. Puxo-a para meus braços e beijo-a.
Não é calmo e não desejo que seja. Levo as mãos a cada lado de seu
rosto. Ela está entregue ao beijo. Eu nem sabia que precisava disso.
Caralho, o que esta mulher fez comigo? Maldita foi a hora que a vi
naquela boate e o Jacob não me impediu de ir até ela. Maldito seja
nossos encontros em seguida. Maldito seja o mundo por me obrigar
a fazer o que não queria, mas se faz necessário agora.
— Por quê? O que houve? Olha, não beijo tão mal assim, não é?
Faz tempo que não beijo... Que vergonha! Eu deveria calar a boca.
— Homem, não faça isso. Primeiro diz que fujo, e agora você
me beija, e fica estranho em seguida!
— Sabia.
— Ok. E comi a torta de morango que a Irene fez para você. Ela disse
que estou magrinho.
Sou surpreendido por Jacob bem ao meu lado. Cacete, o que ele
ouviu? Merda!
— Que aviso?
— Se você for...
— Está preparado?
— Nunca fiz isso. Porra, não posso ser educado com nenhuma
mulher? Jaqueline e eu nunca tivemos e nunca iremos ter nada.
Puta que pariu, está difícil compreender isso?!
— Ótimo. Espero que ela saiba, porque viu os dois se beijando,
e deixou escapar para a Beatriz, que por pouco não deixa o Marcos
ouvir o motivo dela mandar a tia calar a boca.
Seis
Paula Escobar
— Querida, por que não disse que viria? Teria preparado uma
mesa de café do jeitinho que gosta.
Ela sorri.
Sorrimos.
— Isso mesmo!
— Mas por que passou aqui? Adoro sua companhia, mas veio
sozinha... Por que não trouxe as meninas? Minhas netas animariam
meu dia.
— Liziara!
Ela ri.
— Sou sincera. Enquanto fica aqui bebendo café, sua vida está
passando, e talvez tudo termine e nada tenha feito. Levante o
bumbum daí, mulher, e seja a Paula Escobar, a mulher mais
poderosa que conheço.
— Joseph, pare com isso. Sabe que não gosto desses papos.
— Você me faz a mulher mais feliz. Eu não poderia querer mais que
isso.
— Promete, Paula...
— Sim. Eu prometo.
— Joseph, eu não sou você. Não sei como lidar com os problemas
graves.
— Você é melhor do que eu. Você é a principal voz desta família. Suas
palavras são leis inquebráveis. Só precisa acreditar nisso.
— Eu... Eu prometo. Vou cuidar de tudo. Mas agora é você que tem
que prometer uma coisa.
— O quê?
— Eu prometo. Mas talvez não tenha jeito, meu amor. Essa é a vida
que levo.
— Se não tiver, prometa que não vai... sem dizer adeus. Eu preciso
ouvir você diante de qualquer circunstância. Não me deixe sem ao menos
me dar a chance de me despedir de verdade. — O choro não é mais
controlado, e ele enxuga cada uma das minhas lágrimas, com seus dedos.
— Eu prometo...
— Paula!
— Se cuide, Débora.
— Olha a boca! E sim, irei falar. Até porque sou cardíaca, e você
quase me mata.
Que homem mais ranzinza. Não lembro de ter dado limão para
ele no lugar do leite. Se bem que, como o criei como meu filho, posso
dar uns tapas... Bom, guardarei essa possibilidade.
Arregalo os olhos.
Fico olhando para eles, e vendo o ponto que chegou tudo isso.
— E agora, como vamos saber quem é? Gente, isso é loucura
demais! Que inferno é este?
Sinto uma sensação ruim. Da última vez que senti algo assim
perdi o Joseph. Esfrego o peito e respiro fundo.
— Querem que eu acredite que ele tem alguma coisa com isso?
Então me tragam provas. Do contrário, ele é inocente.
— Paula, o Jacob o escutou pedindo ajuda para alguém...
— Mãe, o que sente por este cara? Por que tanta proteção?
— Mãe...
Alessandro Santos
— Que ótimo! Quero saber qual foi o pecado que fiz, para estar
pagando tudo?
— O que é isso?
Merda!
— Não, sem me ferrar. Sem ferrar a nós dois. Agora pense bem
no que vai fazer, Alessandro. Vou indo, tenho que ver o espaço da
minha nova clínica. — Ele me encara sério. — Deixe para abrir a
porra da boca no momento certo, não seja um fofoqueiro, porque
vai foder a todos.
— Oi, Jaqueline.
— Jaqueline, eu...
— É urgente. Me encontre no endereço que vou te mandar.
Sete
Alessandro Santos
— Sei que não. E não vim te cobrar nada. Eu pedi que viesse
por dois motivos.
Concordo.
— Preciso encontrar um jeito dessa informação chegar até
eles, sem que leve até a mim.
— Você me deu um papel dizendo que não tem nada a ver com
isso. Mas por que os Escobar estão atrás de você neste momento? —
Ela se levanta.
— Foi passado.
Paula Escobar
— Me mostrem então!
— Mas você fugiu, David, como sempre faz. Você foge quando a
vida te aperta. Você foge quando os sentimentos te deixam confuso.
Sempre foi assim. Você tem isso do seu pai. Prefere morrer do que
ter que assumir seus sentimentos. Então não venha dizer que é por
minha causa que o legado da merda de um sobrenome está indo por
água abaixo. Eu não sou uma delegada, nem juíza e tampouco uma
promotora ou advogada criminalista. Se o legado que tanto quer
estufar o peito ao dizer está indo pelo ralo, é por culpa de vocês, que
estão ficando vulneráveis e atirando culpa para todos os lados, ao
invés de honrar a profissão que escolheram. E nisso seu pai não
teria orgulho. Porque ele jamais iria admitir que acusações sem
sentido acontecessem, e o foco das investigações desviassem. Você é
meu filho, David, e vai me respeitar, quer queira ou não. Fora desta
casa, você pode ser um delegado. Aqui dentro, embaixo do meu teto,
é meu filho, e não me faça perder a cabeça porque sou capaz disso.
Hoje foi puxado, mas foi bom. Estou me sentindo mais leve.
Uma pena Liziara e Bia não terem vindo.
Oito
Paula Escobar
Ana localizou o endereço de onde o Alessandro mora, afinal, eu
nunca estive aqui. Sou liberada para subir, e como ainda não tem
nenhum segurança na rua, ou carros conhecidos, sei que os homens
da família ainda não chegaram.
Subo com as meninas. E minha ansiedade é grande, mas tento
manter o controle. Jamais imaginei que um dia eu estaria assim,
indo basicamente contra meus filhos e aquele que criei como um.
Mas há coisas nesta vida que temos que nos posicionar, mesmo que
vá contra a decisão de todos. Se tem uma coisa que jamais admito é
injustiça. E preciso ter certeza se estão ou não cometendo uma.
Saímos do elevador e elas me olham. Nem banho tomamos.
Apenas viemos do jeito que estávamos.
— Tem certeza, Paula? — Ana questiona preocupada.
— Tenho. Mas não precisa ir contra seu marido. Assim como a
Daiane, não precisa ir contra seus irmãos e tio.
— Mãe, eu realmente estou começando a desconfiar do
Alessandro, mas não daria para trás agora. A senhora precisa de
mim, e eu vou estar ao seu lado.
Ana segura minha mão.
— Eu irei ficar. Não importa no que o Henrique acredita. A
minha opinião também tem valor. E não irei me obrigar a sempre ir
a favor dele. Mas também não irei nos deixar vulneráveis. — Ela
mostra a arma presa nas costas.
— Eu até traria uma, mas eu seria vítima dela. Ainda não sou a
melhor pessoa na pontaria — Daiane fala e acabamos rindo.
Sempre soube que ela mentiu sobre ter concluído os cursos no
passado. Conheço meus filhos, sei cada mentira que acham que me
convence.
Respiro fundo e aperto a campainha. Não demora e a porta é
aberta por uma senhora.
— Podem entrar. Ele já vem.
Entramos e a mulher sorri.
— Querem algo para beber, comer?
Negamos e ela pede licença e se retira.
Observo o local e é muito bonito, e bem claro. Ótimo gosto para
decoração, devo dizer.
— Você sabe o que descobriram, filha?
— Não. Se negaram a me dizer. Acho que desconfiaram que eu
abriria a boca para a senhora.
Sentamo-nos e não demora para o Alessandro aparecer com
uma pasta nas mãos.
— Olha, se me dissessem que eu teria três mulheres na minha
sala, e com a aparência de que lutaram com um dragão, eu não
acreditaria. — Sua voz me faz sobressaltar, e sinto um arrepio
percorrer todo o meu corpo, mas busco disfarçar com um sorriso.
Ele nos cumprimenta, e seu cheiro é atraente, nunca neguei
que Alessandro fosse muito bonito e que tivesse um charme
diferente, peculiar. Ele se senta à mesa de centro a nossa frente.
— Chegaram primeiro que os outros. Muito rápidas. E acredito
que com muitas perguntas. Podem fazê-las. — Seu tom é calmo.
Fico olhando para ele, e em nenhum momento desvia o olhar.
Me observa atentamente. Seu semblante é tranquilo. Deixa a pasta
que segura, ao seu lado. Um sorriso surge em seus lábios e seu olhar
transmite mistério e luxúria... Deus, eu não posso reparar nisso a
esta altura do campeonato!
— Vamos. Não sejam tímidas. Sou um livro aberto. Bom, em
alguns momentos sou.
— O que eles sabem? — questiono e pisco rápido para ver se
isso ajuda eu parar de analisar seu olhar.
— Uma ótima pergunta. Bom, é uma longa história, mas
tentarei resumir.
— Sem brincadeiras, Alessandro. Eu estou indo contra todos
por você. Então fale, por favor. Seja sincero — peço e meu coração
acelera. É como se eu estivesse colocando em provas uma pessoa
que passei a vida inteira ao lado, porque é estranho este sentimento
que tenho por ele, é como se já nos conhecêssemos há anos, difícil
de explicar.
— Valmir Sanchez. Conhece esse nome?
Sinto um aperto no peito. Recordações invadem minha
memória. Meu estômago contrai. Um arrepio percorre meu corpo.
— Paula, está tudo bem? Ficou pálida — Ana questiona e vejo o
semblante de preocupação que surge em todos na sala.
— Mãe, conhece esse nome?
— Sim... O q-que esse nome tem a ver com isso? — me
atrapalho um pouco ao questionar.
— Meu pai. Sim, meu pai era o delegado que tentou matar o
juiz Joseph Escobar. É isso o que os Escobar descobriram. Que eu
sou filho do delegado Sanchez.
Levanto e levo uma mão ao peito indo para a lateral do sofá.
— E por que nunca disse isso? Você tem noção do quanto
passamos um inferno por perseguições desse homem louco? Você
sabia que o Joseph fez uma cirurgia de risco porque esse psicopata
o atingiu com um tiro e por pouco não tirou a vida dele naquela
época? Eu quase perdi a minha filha por causa daquela maldita
perseguição. — Sinto meu corpo tremer.
— Mãe... Se acalma.
— Me acalmar? Eu quase perdi você, e por culpa desse maldito
delegado que nunca irei sentir pena pela morte trágica que teve. Ele
mereceu depois de todo inferno que nos causou. Ele foi o terror em
nossa família no passado. — Minha voz sai mais intensa do que eu
esperava.
— Saiba que eu nunca senti pena também. Meu pai fez muita
merda. Era um delegado corrupto e tornou a vida da minha mãe um
inferno! — Alessandro mantém a voz baixa, mas seu tom é frio.
— Isso é alguma vingança? Era a mim que queria, Alessandro?
Porque eu estou aqui. Faça o que tiver que ser feito, só pare de
mexer com a minha família! — grito nervosa. — Foi por isso que
tentou me seduzir? O beijo foi falso? Tudo isso está sendo parte de
algum plano? Fale.
Ele se levanta e caminha na minha direção. Fico firme, não
recuo. A adrenalina toma meu corpo inteiro. As meninas ficam em
posição, e Ana leva a mão às costas, onde está a arma.
— Por que vingança? Por que na última perseguição o Joseph
atirou várias vezes contra o carro dele, e ele capotou e explodiu?
Não, Paula. Na verdade, eu agradeço por aquele demônio ter
morrido, só tenho ódio disso não ter acontecido antes da minha
mãe ficar depressiva e tirar a própria vida e eu ter que abafar isso
de todo mundo.
— Por que nunca contou? Sabe o quanto esse homem fez mal
para o Joseph no passado. E você...
— Sou filho dele? Não escolhi isso. Passei anos tentando
ocultar qualquer ligação dele comigo. No entanto agradeço minha
mãe por nunca ter me dado o sobrenome dele. Seria péssimo
carregar o sobrenome de um homem como ele. Mas esta não é a
questão. Se queriam usar isso contra mim, não precisam, porque
posso provar cada coisa que digo. Nesta pasta ao meu lado há todos
os boletins de ocorrência que minha mãe fez contra ele, e de
repente tudo sumia do sistema da polícia e restava apenas as cópias
que ela obtinha. Ele abafava tudo. Todos achavam que ela era louca,
porque ele fez todo mundo acreditar nisso, e até hoje quem a
conhecia acredita que morreu de infarto, quando na verdade se
entupiu de remédio, porque a dor de tudo o que passou era
grande... — Ele faz uma pausa. — Não importa. Nada do que eu diga
vai resolver algo. Vão ser os homens da lei contra mim. E tudo bem.
Só que, enquanto vocês perdem tempo procurando formas de me
condenar, o tempo está passando e o pior pode acontecer. — Sinto a
raiva em cada fala dele.
— Alessandro, está tudo fora de controle. E eu sinto que sabe
de mais coisas. Me fale. Se quer que eu acredite totalmente em você,
me fale toda a verdade.
Ele passa a mão pelos cabelos de corte moderno e grisalhos
que trazem ainda mais charme a ele.
— Não sei... Não sei de nada, Paula.
— Por que está mentindo? — Daiane questiona. — Jacob confia
tanto em você. Ele colocaria a mão dele no fogo pelo amigo. Mas
será que está valendo a pena?
— Vocês não entenderiam.
— Tente. Quer que eu acredite em você? Me conte toda a
verdade.
O celular da Ana começa a tocar.
— É o Henrique. Ele já deve saber que estamos aqui. Melhor
descermos, Daiane, e tentarmos segurá-los pelo máximo de tempo.
Quem sabe assim, Alessandro para de esconder o que sabe, e nos
ajude a descobrir o culpado disso tudo, e assim possamos pegá-lo.
— Não sei. Não vou deixar minha mãe sozinha...
— Vai, filha. Eu sei me virar.
— Mãe...
— Vai, Daiane! — peço nervosa.
Ela me olha e acaba cedendo. Elas saem do apartamento.
Olho para o Alessandro e vejo o semblante obscuro que se
forma.
— Se tem uma coisa que aprendi nesses anos vivendo nesta
loucura, é identificar quando mentem. Então me diga a verdade.
Você já escondeu algo muito importante, o que mais esconde? Me
ajude a continuar acreditando em você. — Minha voz embarga.
— Paula, eu não posso. Mas...
— Alessandro, se existe um pingo de sentimento por mim, fale
a verdade. A minha família está indo à ruína. Me ajude. Eu quero
continuar acreditando. Por favor, Alessandro.
Ele leva a mão ao meu rosto e acaricia. Sentir seu toque me
acalma, não deveria, mas é o que acontece.
— Jamais imaginei que uma mulher poderia me fazer perder o
juízo. Sempre fugi, porque achava ser uma coisa de louco. Mas desde
que te vi naquela boate é somente em você que penso. E porra, que
merda é isso?! Porque parece que tudo começou a piorar quando eu
resolvi abrir meu coração. Só que mesmo nutrindo sentimentos
muito importantes por você, eu não posso falar nada, porque terei
que trazer mais informações e eu prejudicaria alguém que amo
muito, mesmo sendo uma pessoa errada na maior parte do tempo.
Retiro sua mão do meu rosto.
— Mas pode continuar me prejudicando?
— Paula, por favor, tente entender...
— Passei anos me remoendo pela morte do Joseph. Não queria
voltar a amar ninguém. Mas então você apareceu. Eu achei que você
estava interessado na Jaqueline, mas quando pensei que poderia
estar errada sobre isso, você sumiu. Voltei a me bloquear para
sentir qualquer coisa, só que pelo inferno... você retornou, sem dar
qualquer explicação coerente, e veio se aproximando cada vez mais,
e mexendo com meus sentimentos, me deixando confusa. Todas
essas perseguições iniciaram, e por Deus... Alessandro, você
aparecia em seguida. Eu sinto que devo confiar em você, algo me diz
isso, e por causa disso estou indo contra minha família. Entretanto,
a história só piora, porque descubro que é filho de um homem
louco, que por motivos de inveja tentou matar o Joseph e a mim; e
para dar um enredo ainda melhor a essa louca história, você está
escondendo algo e me pede para tentar entender. Não, posso mais.
Estou ficando louca com tudo isso. Se tem uma coisa que aprendi de
verdade é que ou você está dentro ou você está fora, não existe
meio-termo para isso. Faça a sua escolha, ou suma da minha vida
eternamente. Porque culpado você não é, eu tenho certeza, mas
acobertar quem quer que seja te condenará também. E eu não
quero ficar para ver isso.
Vou me afastar, mas ele me puxa e tudo acontece rápido. Seus
lábios estão nos meus. Meu corpo perde a rigidez, e acabo cedendo
em seus braços, onde ele me aperta com mais força. Retribuo o
beijo e não consigo pensar em nada. Tudo que desejo e quero é ele,
e isso é assustador, porque fazia muito tempo que isso não me
acontecia. Seus braços me acolhem como se fosse me perder em
qualquer instante. Lágrimas começam a escorrer por meu rosto,
porque uma onda de sentimentos e medo me invadem. Eu sei o que
é isso. Eu já senti isso. Meu coração teve seu lacre rompido.
Todos os nossos encontros após aquela boate, e até o tempo
que ele desapareceu depois do casamento da Daiane, e agora seu
retorno e toda essa confusão o envolvendo, tudo trouxe o
sentimento que eu temia e não queria ter mais por ninguém. Só um
homem conseguiu me desestabilizar assim, conseguiu fazer a Paula
Assis perder toda a compostura e mostrar seu lado carinhoso e
sensível. Achei que jamais essa história se repetiria. Eu não
imaginei que poderia haver um recomeço, o meu recomeço. Mas e
se for errado? E se o que ele me esconde é o que pode proteger
minha família e a mim? Meu Deus...
Me afasto bruscamente. Ele tenta se aproximar e recuo. Eu
preciso tomar uma decisão. Preciso fazer isso e agora. Porque este
beijo que me deu foi um pedido de desculpas, não por algo que fez,
mas por algo que pode acontecer, por ele ter se calado. Ele está com
medo. Ele sabe que algo vai acontecer. Está me escondendo algo. É
proteção. Joseph Escobar já fez isso, e hoje não está mais aqui. Não
posso deixar que isso se repita. Homem nenhum mais vai me beijar,
cuidar de mim, proteger, apenas pelo medo do que pode vir a
acontecer. Eu cansei disso. Cansei de sentir pavor a cada carinho
que recebo. Cansei de ficar noites em claro, pelo medo do
desconhecido. Cansei de beijos que parecem um tipo de adeus.
— Deixe-os subirem. Conte a verdade. E não faça mais isso, não
me beije como se fosse a última vez.
— Paula, por favor, não complique mais toda essa história.
Precisamos tentar entender o que há entre nós, já que a porra do
destino vive para nos aproximar. — Ele se aproxima mais uma vez
e, desta vez, não recuo. Ele segura meu rosto com ambas as mãos e
me olha nos olhos. — Eu vou confessar algo que... puta que pariu,
não me faça repetir, porque não sei se serei capaz no momento, já
que é a primeira vez na minha vida que isso está acontecendo.
Concordo, nervosa pela curiosidade.
— Eu quero você. Nunca foi a Jaqueline, sempre foi você. Não
sei o que o destino está tentando fazer comigo, porque louco eu já
sou, afinal, sou professor de um bando de marmanjos que parecem
crianças. Mas eu quero você. Não foi um beijo de despedida, foi um
tal que chamam de amor, e maldito seja esse infeliz que está me
deixando perturbado. Eu não vou deixar que nada aconteça. Só
confia em mim. Eu vou dar um jeito. Mas tem muita coisa em jogo.
Só saiba que eu não sou o culpado e jamais seria. Mesmo sendo filho
daquele desgraçado, eu não sou como ele.
— Alessandro Santos, eu sou cardíaca, então não brinque
comigo. E você diz de amor, eu digo que foi de despedida, porque já
senti isso...
— Não me compare com Joseph Escobar, cacete! — Fica
nervoso. — Eu não sou ele. Joseph se foi, mas eu estou aqui na sua
frente, com um bando de gente me acusando, e você querendo me
matar pelo visto. Então, não me compare. Pare de pensar nele por
um instante, e se preocupe em se manter viva, para decidir se fica
comigo, ou eu vou embora.
— Não pode me pedir isso.
— Já fiz. E porra, não me faça te odiar, mulher. Facilita, que não
sei ser romântico. Recomeça, ou fique presa no passado, deixando a
sua vida passar. Sua escolha.
— Então me fale. O que sabe?
— A única coisa que posso dizer é para que observem mais.
Fiquem atentos aos detalhes. Prestem mais atenção. Vocês já têm o
nome da pessoa, só não viram o que está diante de vocês. Use a lei
para isso. A resposta está aí.
— Homem, eu já disse que sou cardíaca. Então não me venha
com enigmas.
Ele se afasta e sorri.
— Vou liberar a entrada deles. Qual deles anda armado?
— Todos.
— Que ótimo. Bem que dizem que a vida é como um sopro.
Hora de mostrar a Deus que fui um bom menino e pedir uma
proteção.
— Não adianta tentar enganá-Lo. Assim como não adianta
tentar enganar um Escobar.
— Você está de que lado, porra?
Dou de ombros e me sento. Comigo aqui não vão fazer nada a
ele. E vamos ter uma conversa civilizada ou com a confusão interna
que estou, soco a cara de todos.
Ele autoriza a subida deles. Então se vira para mim e aponta
um dedo.
— Se eu sair vivo hoje, amanhã teremos um dia apenas nosso.
Depois que eu der aula para aquele bando de gente, que acredito
que ainda vão me deixar louco.
Vou argumentar, mas prefiro me calar com o olhar que ele me
lança.
— Sem discussões. Preciso lembrar se tenho colete à prova de
balas. Não sei se restou algo que eu tenha guardado do traste do
meu pai.
— Simples. Não fique na frente do Marcos. E jamais gagueje
para o David. E nunca fale que nos beijamos e que amanhã iremos
sair ao Henrique. E então irei manter a casa sem respingos de
sangue.
Ele me lança um olhar de raiva e sorrio, porque mediante a
esta loucura só nos resta sorrir, ou iremos ao fundo do poço para
não voltarmos mais.
— Paula? — Olho para ele. — Pare de pensar demais. Nunca
acreditei nessa história de destino que une pessoas, mas estou
começando a ver isso como a nossa realidade. Estou aqui de alma,
mente e corpo, e quero que você também esteja assim. Eu não sou
ele; e se for para ficar e buscar comparações, eu te peço para ir,
porque não vou lutar com alguém que nem vivo está, isso é muito
fodido até mesmo para mim. Eu quero você como jamais quis, eu
voltei e fui atrás de você, eu sempre vi você, meus olhos sempre
foram seus desde que te encontrei, então me mostre que isso é
recíproco, porque eu não sei lidar com isso e preciso de você, mas
desde que esteja vendo eu, Alessandro Santos, que está louco para
ter você totalmente para mim. Um homem vivo, porque eu estou
vivo e você também. Se eu estiver sendo duro demais, desculpe, mas
não irei pedir perdão por dizer o que está preso dentro de mim.
Fique, se for para ser uma pessoa que está disposta a se entregar.
Suas palavras tomam conta de mim. Eu vim em busca de
informações que sabia que me dariam o que pensar, e agora
encontro algo tão grande quanto qualquer outro assunto intenso
que temos enfrentado nos últimos dias. Está uma loucura sem fim
tudo isso.
Ainda estou assustada por saber de quem ele é filho, mas
sendo essa a prova que o David disse ter, meu filho está errado.
Todos eles estão. Alessandro não é o culpado, e falo isso como
advogada, eu vi cada reação que ele emitiu ao contar tudo. Fiz uma
análise corporal, e ela entrega muitas coisas. Mas seja lá quem for o
culpado, está fazendo um bom serviço em deixar todos
perturbados.
Quem quer o nosso fim?
Nove
Alessandro Santos
— Professor, e quem me garante que qualquer um destes
filósofos estavam certos? Quais provas pode nos oferecer? Por
enquanto parece um monte de asneiras.
Paro com o controle na mão e volto a olhar para o telão com a
apresentação. Neste instante começo a pensar o porquê eu quis ser
professor. Eu tinha tantas outras opções. Até mesmo na área
policial, claro que não seria como o cretino do meu pai, mas era
uma opção. Poderia apenas estar me esbanjando com mulheres e
dinheiro também, afinal, não preciso mais trabalhar, posso viver
bem até meu último suspiro, que imagino ser antes do término
desta aula.
Ontem eu deveria ter provocado mais os homens Escobar, feito
com que eles perdessem o controle, ao ponto da Paula não
conseguir apartar, e hoje simplesmente não precisaria estar aqui
ouvindo isso de um aluno que parece um turista, vive de passagem
nas aulas, e o pai é um empresário que sempre passa a mão na
cabeça do cara de vinte e cinco anos, como se fosse uma criança.
Mas não, eu fiquei quieto ontem, e eles foram profissionais, e a
Paula uma calmaria sem igual.
Como sou um homem paciente, e que ama o que faz, terei
calma.
Volto a olhar para o ser humano e com toda calma respondo:
— Se você tivesse participado com frequência das aulas,
saberia o que estes filósofos queriam dizer com cada palavra e que
alguns tiveram determinadas falas, através de acontecimentos
reais, ou seja, as provas que tanto quer. Se para você tudo isso é
asneira te convido a se retirar com um pouco de dignidade que lhe
resta, e não me faça te odiar. E, por favor, diga a seu pai que estou à
disposição dele quando vier me dizer que vai processar a mim ou a
porra que for — digo calmo, como se eu não estivesse buscando
formas de pular da janela antes de cometer um crime.
Um aluno assovia e começa a zombar. Os demais permanecem
quietos, pois sabem que “esta calmaria” é porque meu limite já foi.
O aluno pega a mochila e sai sorrindo da sala.
— Eu vou ter que lidar com mais alguma criança mimada? Me
avisem, pois saio da sala e peço que um professor apropriado para
isso venha dar aula. Caso contrário, que possamos seguir com a
aula, pois na próxima é prova, e vocês precisam dessa nota, porque
não vou poupar ninguém. Sem privilégios... Aquele papo todo que já
conhecem.
— Acordou de péssimo humor hoje, hein? — Celma diz e sorri.
— É que vim preparado para dar aula para adultos e não
crianças.
— Não está mais aqui quem falou... E sabe, professor, existe
alguma política sobre relações entre alunos e professores? Uma
dúvida que minha amiga teve — diz com a voz manhosa.
Eles começam a rir.
— Eu vou fingir que não ouvi, Celma. E não vai ganhar notas a
mais, se achou que flertar comigo resolveria, afinal, essa história de
“minha amiga” é antiga e falsa. — Respiro fundo. — Posso
continuar?
Eles continuam rindo, mas concordam.
Paula Escobar
Estou prestes a sair do meu escritório no centro quando David
e Henrique entram.
— O que houve? Que caras são essas? Quem morreu? Meninos,
sou cardíaca.
— Ninguém, querida mamãe. Mas saiba que a senhora vai
viajar hoje e volta amanhã ou daqui uns cinco dias, porque vai ser
foda resolver em um dia e meio, porque não dá para considerar
como dois dias... — Henrique abre a boca e David dá uma
cotovelada no irmão.
— Certo. O que está acontecendo?
— Então... A Daiane, isso... Ela quer que a senhora viaje —
David fala.
— Pare de mentir. Diga a verdade antes que eu arranque ela
na base dos tapas.
— O grisalho metido a professor vai viajar com a senhora... e
você vai aceitar — Henrique diz e David o olha feio e ele dá de
ombros.
— Como é? Piada isso? Primeiro condenam, depois o
interrogam, e agora querem que eu vá viajar? Exijo que digam agora
o que está acontecendo.
Mais uma pessoa entra e é a Liziara e toda animada.
— Já fiz sua mala, Paulinha. Saiba que milagres acontecem e
eles estão amando o Alessandro... — Ela se controla para não rir. —
E tem mais, realmente o que vocês mães dizem, devemos sempre
levar em conta, porque estão certinhas. — Henrique belisca o braço
dela, e ela acerta um tapa nele. David fica entre os dois. — Enfim,
nada aconteceu. Só viajar. E eu estava escutando tudo ao lado de
fora, mas não resisti e entrei.
— Por que querem se livrar de mim, junto com aquele que
tanto condenaram? Quero uma resposta agora. — Observo
atentamente os três.
— Por quê? Oras... Porque o David é a melhor pessoa para te
dizer isso. Fale, meu irmão. — Henrique está todo nervoso.
David empurra a Liziara para frente e ela por pouco não cai.
— Que belo cavalheiro, jogando a esposa na linha de frente.
Patético! Saiba que, quando eu for delegada, juro que irei dar tanto
na sua cabeça e te deixar cinco dias em uma cela, e o Henrique vai
me ajudar a arrumar desculpas para esse ocorrido!
Ajeito a bolsa no antebraço e levo uma mão à cintura.
— Falem agora o que está acontecendo e por que resolveram
que devo viajar? Vocês têm cinco segundos...
— Então, porque... Na verdade, é algo sério, não posso falar
muito, já que o David não é paciente para me explicar muita coisa,
mas entendi que devo calar a boca sobre o assunto. Então confie no
seu filho, que mesmo sendo um babaca é um bom delegado; e se
você tem que sair com aquele que ele condenou, e ele não diz o
motivo a você, é porque algo aconteceu, e um deles é o fato de ter
descoberto que, ao que parece, Alessandro, o gatão, é inocente! Fim.
— Eu vou ficar viúvo e serei preso pelo homicídio da minha
mulher! — David diz entredentes e sua esposa sorri. — Mãe, confie
em nós. Sai da cidade. Uma equipe de segurança vai acompanhá-la,
e deixei um celular novo para a senhora na sua mala. Não converse
nada com os seguranças por ele. Use para contato conosco, e tome
cuidado com tudo o que for falar, sempre em códigos. Sabe como
funciona.
— Você não vai falar... Mas o Henrique, ele não cala a boca.
Então, meu amado filho, diga o que está acontecendo? — Uso meu
tom de mãe quando quer algo.
— Porra, mãe! Aí me fode. Me elogiando... Eu... Só confia.
— Eu vou. Está na hora de confiarmos mais uns nos outros.
Mas, quando for o momento, digam a verdade. Nada de segredos.
Eles concordam.
— Precisamos buscar informações e com a senhora na cidade é
perigoso demais — David revela.
Apenas assinto.
— Eu nunca viajei com outro homem... — digo em pânico.
— Relaxa. Fiz sua mala com a ajuda da Ana. Coloquei cada
lingerie... — Liziara sorri animada.
— CARALHO, EU NÃO PRECISO SABER DISSO! — David grita e
sai da sala completamente nervoso.
— Liziara, eu vou te matar, porra! — Henrique grita com ela.
— Ué, é a oportunidade de ela destravar o que deve estar
travado há anos. Vocês são espertos, só faltam malhar o “precioso”
para estar sempre na ativa, mas a poderosa matriarca tem que ficar
de escanteio? Nem pensar. Irei ser a porta voz das mulheres desta
família.
Acabo rindo.
— Cuidado com o que apronta para a minha mãe. O David sabe
que o trabalho na boate teve a companhia do Joaquim, o cara que te
amava e o enfrentou?
— Como você... Paula? — Ela me olha e nego.
— Não falei nadinha.
— Eu estive lá. Você não me viu, mas eu vi cada passo seu.
— Eu vou te cegar. É isso. Agora entendo a Ana. Você é
irritante. Eu te odeio.
— Me ama demais, cunhadinha. — Ele puxa uma mecha do
cabelo dela, que acerta sua mão.
— Chega! Parecem duas crianças! Quem vê, nem imagina que
são pais e casados. Andem, todos para fora... Sou cardíaca, vou
morrer ainda. Sinto palpitações.
Eles riem e saem se provocando.
O que querem esconder? Por que agora querem que eu viaje
com o Alessandro? Eles nunca escondem nada do restante da
família quando envolve a nossa segurança. Ou estão aprontando, ou
é algo bem sério. Mas tem outra coisa: não sei se estou preparada
para viajar com o Alessandro. Sei que esta é a oportunidade de
entendermos o que acontece entre nós, porém é tão estranho sair
com alguém que não seja... Eu prometi não pensar e tentar
recomeçar, chega! Eu irei realmente tentar.
Dez
Paula Escobar
O local é próximo ao sítio Escobar. Os meninos não
economizaram na equipe de segurança. Ainda estou achando tudo
isso uma loucura. Alessandro sabe de algo e não me fala. Eu preciso
saber o que estão fazendo. Algo está acontecendo. E simplesmente
não acreditei na versão dos meninos. É algo maior, e mais grave. E
sinto que foi o Alessandro que deu a eles o que precisavam, e com
isso tiraram a culpa de cima dele. É, terei que descobrir logo o que
estão aprontando.
Observo a casa e tem um estilo rústico. É simples, perto do
Sítio Escobar, mas é tão aconchegante e bonito. Sempre gostei da
simplicidade, mas Joseph gostava de exibir o que o dinheiro podia
comprar, e Marcos e Henrique herdaram isso também, não são
desprezíveis por isso, apenas gostam de gastar, enquanto eu
sempre fui econômica e Daiane e David herdaram isso de mim.
Enfim, pelo visto ficarei aqui, com um homem que também
está escondendo algo.
— Sabe, na minha área de trabalho, e olha que sou civil, mas
em geral isso é cárcere privado. Só um comentário qualquer — digo
deixando minha bolsa no sofá encostando na lateral dele.
Alessandro liga o ar-condicionado, pois está calor, e por ser
tarde, é melhor evitar deixar tudo aberto, mesmo com a tropa de
segurança ao lado de fora.
— Seria cárcere se você não tivesse vindo por vontade própria.
Ninguém te obrigou. E tem a chance de ir a hora que desejar.
— Tem certeza? Eu meio que não tive escolha, e sou uma
mulher de muitas escolhas.
Ele se vira e sorri. Me sinto como uma jovem e não uma mãe,
avó e mulher madura. Um friozinho se instala na minha barriga, e
cruzo os braços para ver se a mudança de posição retira o que estou
sentindo. Mas foi à toa.
Ele joga o controle do ar-condicionado no sofá.
— Vem, vou te mostrar a casa. É bem humilde, como pode ver.
Evito o luxo nos lugares que quero paz.
Acompanho ele, que me mostra cada canto. São três quartos,
dois banheiros, cozinha pequena, lavanderia, um quintal aos
fundos, além da área da frente que é toda repleta de árvores. Tem
entrada pelos fundos, laterais e na frente, que tem um cercado
baixo, bem ao estilo interior mesmo. Todos os cômodos são como a
sala, rústicos. É realmente uma casa bonita, como eu já havia
reparado.
— Se estiver com fome, posso pedir algo. Foi de última hora a
decisão de vir para cá. Então não tem nada para comer.
— Não. Estou bem. Jantamos antes de vir para cá e não é uma
viagem longa.
Ele concorda e se senta no sofá. Faço o mesmo.
Meu celular toca e é o Marcos.
— Oi.
— Está tudo bem? — indaga sério.
— Sim.
— Está com o que precisa? — Escuto a risada do Arthur ao fundo
e a Beatriz pedindo para ele ficar quietinho.
— Sim.
— Ótimo. Até breve. — Ele desliga.
Acatei ao que o David disse, sobre tomar cuidado com tudo o
que fosse dito, e falar por códigos. E, pelo visto, o Marcos também. E
para ele querer saber se estou armada, ao dizer “está com o que
precisa?”, é porque não está gostando disso.
— Então, me conte. O que sabe? Por que passaram a confiar em
você?
— Paula, não peça isso. Não agora. Por favor, vamos pensar em
outra coisa, esquecer tudo isso.
— Meio impossível, com seguranças ao lado de fora, armados
até os dentes. Essa mudança repentina dos meus filhos...
— Jaqueline me procurou — ele diz.
Que mudança ousada de assunto.
— Interessante desvio da conversa.
— Ela estava preocupada com você. Gosta muito de você, e não
quer que eu ferre sua vida. E acha que você está enciumada, por
algo que nunca aconteceu.
— Como é? Bom saber que eu sou o assunto principal nas
conversas de vocês. Mas acho que, de verdade, não é o tipo de
assunto que eu quero ter que lidar neste momento, se não se
incomodar. — Meu tom é sério e sei que minha expressão também e
não busco disfarçar.
Ele sorri.
— Você sabe que nunca houve nada. Que foi algo que vocês
todos imaginaram, apenas por eu ser um homem belo e educado,
modéstia à parte. — Sorri. — E estão acostumados com os
trogloditas do Marcos e do David, e os ciúmes loucos do Henrique.
Eu não sou como eles. Eu não sou um Escobar.
— Não. Você é o Alessandro, um professor de filosofia, que está
a todo custo tentando mudar de assunto.
— E está funcionando, e vai funcionar mais se você parar
interromper.
Sorrimos.
— Nem alcoolizada eu esqueceria.
— Podemos testar. Bebidas têm de sobra.
— Tem vinho?
— Sim. Vou pegar. Sabia que quanto mais velho melhor?
— Por que estou sentindo um duplo sentido nisso?
— Porque tem a mente safada. Eu apenas fiz um inocente
comentário.
Sai rindo e fico olhando para ele. Alto, com um andar elegante.
Por que esse homem tinha que ser tão belo? E por que tinha que ter
um sorriso tão perturbador?
Ele retorna com duas taças e uma garrafa de vinho aberta. Faz
um sinal para eu me sentar no chão sobre o imenso tapete marrom.
Retiro meus saltos e me sento, encostando no sofá. Ele se senta ao
meu lado e nos serve. Retira os sapatos e os chuta para longe.
— Um fato sobre mim. Não sou muito organizado.
— Por incrível que pareça, criei três meninos e todos eram
bagunceiros, e hoje querem dizer serem os mais organizados. — Ele
me entrega a taça depois de mexê-la com cuidado. Dou um gole. —
Sabia que dos três, o mais desorganizado era o Marcos? Nada ele
sabia colocar no lugar, eu ficava doida.
Ele sorri e bebe um gole do seu vinho, e afasta mais a garrafa
se virando ainda mais para mim.
— Difícil acreditar, afinal do jeito que é hoje.
— Mas sério ele sempre foi. Joseph tinha um amigo muito
próximo, Joel, não se desgrudavam, e o Marcos não suportava esse
homem. Aprontava cada uma. Puxava as cadeiras que ele iria se
sentar, derrubava as coisas nele e fazia cara de santo, ou jogava a
culpa no Henrique, e aí a confusão se armava. E o David colocava
lenha na fogueira, ficava dizendo: “Eu não deixava, Henrique”, “olha,
Marcos, vai deixá-lo falar isso?”... Era uma loucura.
Rimos.
— E a Daiane? Ela parece ser mais sensata. Mais tranquila. O
Jacob, pelo visto, deu sorte.
— A Daiane tranquila? Ela sempre foi mais organizada, mas
era terrível também, queria ficar imitando tudo o que o pai fazia,
então invadia o escritório dele, fazia zona e sumia com as
papeladas, isso o deixava louco. E os meninos evitavam provocá-la,
porque ela batia mesmo, o que tinha na mão voava neles. Uma vez
acertou um sapato que eu tinha na testa do David, porque ele a
chamou de “nojentinha”. Pense, eu estava sozinha, empregados de
folga, incluindo a babá deles. Então eu tive que carregar os quatro
para o hospital, porque David chegou a levar pontos na testa, e o pai
deles viajando. Quase colocaram o hospital abaixo. Um culpando o
outro. Henrique pegou o estetoscópio de um médico, que ficou
sobre um balcão, e correu pelo hospital. Quem dizia que
pegávamos? Foi terrível. Mas surtei muito aquele dia, todos ficaram
de castigo por um mês.
— Então a Paula se estressa mesmo? — Ele ri.
— E como. Até hoje dou muitos surtos. Sou cardíaca, sabe,
então não posso me estressar, evito.
Bebemos mais do vinho.
— Não é cardíaca de verdade.
— Claro que sou. Não discuta.
— Tudo bem... Mas me diga, como era você antes de ser mãe,
esposa... Antes de tudo?
— Eu era moleca. Encrenqueira demais. Na faculdade vivia
arrumando confusão, ainda mais com um professor que não gostava
de mim.
— Sempre somos nós a levar a culpa. — Ele finge estar
ofendido e bebe mais vinho.
— Se você o conhecesse entenderia. O homem era um terror.
Tornava a minha vida um inferno. Ainda mais que sabia que eu
dependia do meu trabalho na faculdade para me manter ali. Minha
família sempre foi muito humilde. Perdi minha mãe cedo, e meu pai
não conheci. Fui criada pela minha madrinha, em uma pensão que
eu amava.
— Ela ainda...
— Não está mais viva. Ela faleceu quando engravidei da
Daiane. Teve um infarto. Na época, eu poderia ficar com a pensão
que lhe pertencia, mas não quis. Com o tempo acabei vendendo para
dois senhores, que fariam um hotel.
— As lembranças eram grandes... Entendo. — Ele olha ao redor
e suspira.
— Essa casa era dos seus pais?
— Sim. Depois da morte deles, reformei tudo, mesmo assim
ainda traz lembranças. Minha mãe sorria muito nesta casa, porque,
quando estávamos aqui, raramente meu pai nos acompanhava.
Então quando ficava apenas ela, meu irmão e eu fazíamos a festa...
— ele parece perceber que falou demais e noto o desconforto.
Bebo o que restou do meu vinho e deixo a taça de lado.
— Irmão? Que irmão?
Ele nos serve mais vinho e deixa a garrafa de lado mais uma
vez.
— Tenho um irmão. Mas não conto a todos. Ele tem uma certa
fama, e tento evitar a mídia.
— Como assim?
— Ele é cirurgião plástico na Califórnia. Está no Brasil no
momento. Felipe Santos.
— Já ouvi falar desse cirurgião, mas jamais imaginaria que
eram irmãos. Por que nunca contou para nós?
— Bom, o David descobriu rápido. Digamos que não sou muito
de falar da minha vida pessoal. E realmente, quem olha para ele não
imagina que somos irmãos. Nenhuma semelhança sequer. Ele é
adotado. Minha mãe, depois que teve a mim, não conseguia mais ter
filhos e sonhava em ter mais um. Meu pai, naquela época era um pai
de verdade, e um bom marido. Aceitou a opção dela de adotarem.
Mas depois que o Felipe chegou, tudo foi mudando. Meu pai foi
mudando, e daí você já deve imaginar todo o inferno que foi. Felipe
veio bebezinho, e minha mãe acreditava que era a atenção que dava
a ele que deixou meu pai enciumado. Doce ilusão.
— Deveria ter nos contado sobre ele. O que ele faz no Brasil?
— mudo o rumo da conversa, pois percebo que, quando fala do pai,
uma mágoa cresce dentro dele.
— Vai abrir uma clínica aqui. Ele não fala muito sobre seus
planos.
— Entendo. Mas e você, sempre quis ser professor?
— Sempre amei ensinar. Meu pai queria que fôssemos da
polícia, mas sempre odiei toda a correria e burocracia que
enfrentavam. Ele nos treinou muito quando adultos, fizemos
treinamentos de todos os tipos, mas não existia amor da nossa
parte com isso. Então resolvi me tornar professor de filosofia,
sempre me achei louco o suficiente para poder entender os loucos
que estudei. E ensinar me acalma. Confesso, que hoje, já tenho mais
vontade de matar meus alunos, mas nada que uns xingos não
resolvam.
Começo a rir.
Ele retira os óculos e deixa no sofá. Passa a mão pelo cabelo e
bebe mais de sua bebida. Faço o mesmo com a minha. O vinho
esquenta o corpo e traz um rubor que sempre julguei ser atraente.
— Sabe, quando te vi na boate pela primeira vez, o Jacob
estava nervoso, pois viu a Daiane e pelo visto tinham tido
problemas. Assim que coloquei os olhos em você fui atraído. Ele
veio atrás, pensando que eu faria merda. Todos sempre souberam
que declarei que mulheres eram enrascadas. Mas, pelo visto, todos
que dizem isso pagam com a língua.
— Pelo menos, dos meus filhos, todos pagaram. E incluo o
Marcos, porque tenho ele como filho.
Ele me olha e sorri.
— Desde aquele dia, eu não deixava de comparecer a nenhum
evento que o Jacob me convidava, pela esperança de ver você.
Loucura?
— Um pouquinho psicopata, talvez. — Sorrio.
— Foi exatamente esse sorriso que me atraiu ainda mais.
Sinto a timidez tomar conta de mim e finalizo minha bebida.
Abaixo o olhar para a taça vazia.
— Todos os momentos que acreditavam que eu queria a
Jaqueline era para você que eu olhava. Ela só foi uma boa amiga,
acabava rindo das loucuras dela. No casamento da Daiane, quando
conseguiram partir o buquê ao meio, aquilo me assustou, ainda
mais quando vi o olhar dela para mim; e quando olhei para você, a
que eu queria que me olhasse, desviou rapidamente o olhar. Então
eu falei qualquer coisa que fosse soar engraçado para quebrar o
clima estranho.
— E depois disse que estava fora de qualquer relacionamento.
— Sim. Boa memória... Eu estava começando a me assustar
com tudo.
— Foi por isso que sumiu e foi dar notícias agora?
— Em partes. Eu também precisava ajudar meu irmão no
divórcio dele.
Olho para ele; e sempre que fala da família, algo muda em seu
olhar.
— Eu comecei a me assustar com o que vinha sentindo por
você a cada vez que te via. Porque você tem traços dele... É difícil.
— Mas não sou ele, Paula. Eu estou bem aqui e te pedindo uma
chance de descobrirmos o que existe entre nós.
— Eu estive esses últimos dias em constante reflexões, e
lembrei que prometi que se algo acontecesse, eu me permitiria ser
feliz novamente. Mas não é fácil. Muita coisa acontecendo... e ainda
está acontecendo.
Ele pega nossas taças e afasta. Então se volta para mim,
prendendo uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, e
acariciando meu rosto diz:
— Não seja uma Escobar... Seja apenas a Paula. Esqueça tudo.
Seja minha. Se entregue completamente a mim.
Sinto meu coração disparar muito forte. Um tremor toma
conta de mim.
— E se der errado? E se tudo ruir?
— E se der certo? E se nada ruir? — Ele aproxima mais seu
rosto do meu. — Friedrich Nietzsche, um filósofo e poeta, disse uma
vez: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco
de razão na loucura”.
— Quem garante que tem razão na loucura?
— Quem garante que não tem? — Sorrimos. — Eu vou te beijar,
mas não serei capaz de parar.
— Isso é loucura, e tenho razão quando digo isso. Mas quero
um pouco de loucura, não que minha vida não seja recheada delas,
mas é bom...
Ele não me deixa terminar. Me beija e sinto todo o meu corpo
tremer. O gosto do vinho em nossa boca torna tudo mais quente. Eu
não consigo pensar em mais nada. Não com sua mão deslizando pela
minha perna, e meu vestido subindo. Meu coração vai explodir, e
tenho certeza de que serei cardíaca de verdade. Meu corpo vai se
inclinando e acabo deitada sobre o tapete, meus cabelos se
esparramam pelo chão. Santa Liziara, que me fez pôr toda depilação
em dia, e pôr uma boa lingerie, e a Ana Louise que me fez usar um
excelente creme corporal, que eu não usava tem bons dias.
Ele fica entre as minhas pernas, e não consigo me intimidar ou
recuar. Eu quero ir além. Não quero que ele pare. Ele afasta os
lábios, e seu olhar é outro, muito mais atraente.
— Eu não vou parar.
— Não peço por isso.
Tenho certeza de que o vinho está me ajudando a ser assim.
Ele desliza os lábios pelo meu pescoço e beija dando leves
mordidas. Me remexo e sinto o quanto está duro. Deslizo as unhas
por sua nuca, e ele arfa. Se afasta e começa a retirar a roupa. Não
consigo desviar o olhar. Seu corpo acaba me hipnotizando. Ele
retira a cueca preta, e tenho que morder o lábio inferior para não
falar ou deixar qualquer som sair. Volta ao meu encontro, e retira
meu vestido. Minha lingerie vermelha fica toda aparente. Torna a
me beijar, mas desta vez não é demorado; logo em seguida, ele
começa a descer o beijo, sem tirar os olhos dos meus. Se aproxima
dos meus seios, e solto um gemido baixo. Ele descobre que o sutiã se
abre na frente, e assim o faz, e ajudo a retirar a peça de perto de
mim. E Deus abençoe o silicone que não é nada surreal, foi apenas
para erguer o que três filhos derrubaram.
Ele chupa o bico do meu seio, e meu corpo automaticamente
acende por completo. Estou em chamas. Sinto minha calcinha
umedecer. Alessandro começa a dar atenção ao outro seio também,
e minha respiração muda drasticamente. Quero logo ele dentro de
mim, essa tortura está acabando comigo. É o desejo que se
acumulou por muito tempo. Se afasta dos seios e começa a retirar
minha calcinha. Parece que os segundos que leva se tornam horas.
Fica entre as minhas pernas, prendendo-as, para que fiquem bem
abertas. Esse homem vai me causar um treco.
— Vou chupar sua boceta toda, e só então vou colocar meu pau
em você.
— Não pode pular a primeira parte?
Ele sorri, e começa a fazer o que disse. Me chupa e meus
gemidos aumentam. E nem sequer me importo se os seguranças
grudados as portas e janelas vão ouvir. É a melhor sensação que
estou sentindo. Como eu senti falta de estar assim, sendo amada de
todas as formas... Pera aí, seu olhar... Ele me olha com... amor? Agora
vejo. Seu olhar sempre foi este quando direcionado a mim. Sempre
foi de amor, carinho, respeito. Eu sempre desviei de todos seus
olhares, sempre fugi dele por medo, por achar que ele olhava igual
para Jaqueline, mas nunca foi. Comigo era este olhar dilatado,
brilhante e ao mesmo tempo repleto de promessas não ditas, bem
diferente do modo que ele se direcionava a outros... a ela. E na
minha loucura de fugir de tudo, eu preferi acreditar em algo que
nunca foi verdade, eu criei na minha mente uma situação que nunca
existiu, apenas para culpá-lo e sair dessa loucura que a vida me
colocou após mais de anos da grande tragédia na família.
Não tenho tempo de continuar a pensar nisso, porque ele
enterra dois dedos dentro de mim e os movimenta enquanto me
chupa. É como se eu estivesse em uma queda livre, sem saber como
agir, sem ter controle de nada.
Ele sente que não irei durar muito tempo desse jeito, então se
afasta e resmungo. Pega a carteira dentro do bolso da calça jogada,
e dela retira um preservativo.
Como são safados, sempre andam na esperança de ter sexo!
Acabo sorrindo do meu próprio pensamento.
Ele coloca o preservativo e se aproxima. Inclina seu corpo
diante do meu.
— Não sou mais virgem, sabe disso... Não precisa ser delicado...
Ele sorri e beija meus lábios. Então se aproxima do meu ouvido
e sussurra:
— Você quer forte?
Meu corpo queima por inteiro com sua voz grossa em meu
ouvido.
— Responde, Paula...
— S-sim...
— Ótimo. Fique de quatro, agora — pede mandão.
Faço o que ele pede, e por sorte o tapete é fofo. Ou teria joelhos
ralados, experiência própria.
Segura minha cintura, e começa a me penetrar, e vai cada vez
mais fundo.
— Forte, não é? — questiona, e sinto o aperto de suas mãos.
— Bruto! — rebato provocando.
— Seu pedido é uma ordem, doutora Paula.
O movimento é único e forte. Prendo o ar e um grito sai de
meus lábios, não pela dor, mas pelo prazer. Está completamente
fundo. Então começa a se movimentar intensamente. Segura meu
cabelo com uma das mãos, e enrolando, puxa para trás, com isso
inclinando minha cabeça.
— Cacete, Alessandro! — grito.
— Temos uma Paula que diz palavrão, estou gostando cada vez
mais...
Continua os movimentos fortes. Meu corpo inteiro está suado e
nossos gemidos são altos. Ele diz coisas safadas, o que me deixa
ainda mais louca. Tapas são acertados na minha bunda, e a dor traz
mais prazer.
Não consigo aguentar muito e começo a gozar. Meu corpo
inteiro treme, e ele não demora a ter o mesmo destino.
Deito-me no chão e ele se afasta dizendo que vai se livrar do
preservativo. Eu fico como uma morta. Não sei terei forças de voltar
a andar, meu Deus!
Não demora e retorna. Estou fraca. Então me pega no colo e
caminha em direção ao quarto que disse ser dele. Me deita sobre a
cama. Os abajures são as únicas luzes acesas. Se deita ao meu lado e
me puxa para si, nos cobrindo.
— Só não darei continuidade, porque tem sido longos dias, e
precisa de paz ao menos uma noite.
— Que cavalheiro! — provoco.
Escuto seu risinho.
— Só preciso de alguns minutos, depois de um banho. E, talvez,
eu não queira um banho sozinha.
— E quem disse que eu daria a opção de ir sozinha?
Bato de leve em seu braço e rimos.
Ficamos em silêncio. Fecho os olhos, mas ainda estou
acordada. Apenas pensando em muitas coisas. Ele talvez pense que
dormi, pois diz a seguinte coisa em tom baixo que me causa mais
pensamentos, e um discreto sorriso:
— Eu acho que me fodi. Estou totalmente apaixonado por você.
Talvez eu consiga cumprir minha promessa a você Joseph. Porque
talvez eu tenha encontrado um alguém que vai me tornar muito feliz
também. Só preciso que esse inferno acabe logo e peguemos quem está por
trás. E que assim uma tragédia seja evitada, porque não suportaria
continuar vivendo assim, e nem com todos escondendo tudo de mim, como
se fosse algo maior do que imagino. Odeio esse tipo de proteção. Mas no
fim, eu poderei dizer a ele o que tive medo de sentir desde sua partida.
Com os olhos ainda fechados, é como se eu visse o sorriso em
aprovação daquele que um dia tanto amei.
Onze
Paula Escobar
Caminho em direção à cozinha, com os cabelos molhados, após
o banho. Ainda é bem cedo, e o Alessandro permanece dormindo.
Não sei como consegui acordar tão cedo, pois nossa noite foi longa.
E ainda não consigo acreditar que senti alegria em me entregar a
outro homem, e me senti protegida e em busca de mais.
Entro na cozinha e procuro nos armários tudo para preparar o
café, e encontro. Amo uma boa xícara de café para começar bem o
dia. Encosto no balcão enquanto o espero ficar pronto na cafeteira.
Caminho em direção à janela e fico olhando a vista do quintal.
É lindo. E os passarinhos tornam um ambiente digno de filme.
Falando nisso, minha vida daria um filme ou uma boa série. Tantas
coisas aconteceram e vem acontecendo. Já enfrentei muitos casos
loucos como advogada, mas nenhum chegou aos pés da confusão
que é minha vida. E agora é como se tudo estivesse prestes a ruir. Eu
tenho a sensação de que algo vai acontecer, não sei se é bom ou
ruim, mas parece tudo calmo demais. Aprendi nesses anos
enfrentando tantas coisas com essa família, que quando o mar
chamado Escobar fica calmo é porque vem tempestade das grandes
em seguida e ele vai ficar muito revolto.
Porém, estar aqui depois de uma noite incrível, mesmo com
tantos problemas, e sem saber o porquê perdoaram Alessandro tão
rápido, eu sinto que foi certo. Que não é pecado diante de tantos
acontecimentos, a busca pela paz, coisa que antigamente eu me
condenaria muito. As lembranças do Joseph parecem estar
tornando-se aprendizados para todos os momentos de apreensão. É
um legado repleto de amor e poder que ele deixou em minhas mãos.
Ele sempre será meu primeiro amor, só que agora compreendo que
vivi tanto tempo dentro de uma bolha após sua partida, que esqueci
que o tempo passava, e fiquei parada nele, vendo todos seguirem
com suas vidas, e eu ali, apenas como uma singela telespectadora da
minha própria família... da minha vida.
Sempre perguntei aos meus clientes se tinham certeza de suas
decisões, e buscava com eles formas de tentar consertar algo, antes
de colocar um fim definitivo, só que agora entendo quando diziam
que, às vezes, quando algo se quebra, não tem mais conserto. Meu
amor com o Joseph foi parecido. Ele se rompeu, seguindo um rumo
diferente, e não tem volta, não tem conserto. E eu deveria ter
entendido isso há muito tempo, mas é vivendo e aprendendo. Uma
hora a vida vai nos colocar frente a frente com aquilo que tentamos
evitar, e não teremos escolha a não ser reagir.
Respiro fundo e sorrio.
Escuto um barulho que me assusta.
— Porra! — um xingamento vem em seguida.
Olho em direção à porta e vejo o Alessandro entrando, com os
cabelos despenteados, apenas de cueca... e que visão maravilhosa é
essa?!
— Está tudo bem? — questiono devido ao barulho e o xingo.
— Sim, só acabei batendo na parede, estava meio sonolento,
digo “estava” no passado, porque ao ver você, acordei
completamente, e literalmente. — Ele desce os olhos sobre mim e
sorrio.
Ele se aproxima, e puxa meu corpo diante do seu.
— Ontem, eu não estava com fome, hoje estou.
— Bom dia, primeiramente. — Deixa um leve beijo em meus
lábios.
— Primeiramente minha fome. Não desacate minha fome. Está
na lei, artigo em algum número, onde diz: “Respeitarás a fome da
mulher diante de si. Em caso de descumprimento desta lei, a pena
poderá ser aplicada mediante a decisão participativa da vítima na
escolha dos anos a qual o réu será condenado, podendo ser apenas
acima de oito anos, resultando em um regime fechado”.
Ele ergue a sobrancelha e faz uma careta. Começo a rir.
— Vou tomar um banho rápido, e então buscarei algo para nós,
porque o café já está preparando. — Ele indica com a cabeça a
cafeteira. — E antes que eu seja preso. — Revira os olhos.
— Então seja rápido, não vai querer me ver com mais fome.
— Tudo bem, madame. — Me beija. — E não fique tarando
minha bunda quando eu me virar.
— Me respeita! — digo e ele se afasta com um sorrisinho no
rosto.
Não consigo evitar e fico olhando sua bunda. Senhor, isso é
convivência com as mulheres Escobar! Todas safadas, elas estão me
levando para o mau caminho, principalmente a Liziara.
Vou até o café que estava preparando e adoço. Pego uma xícara
e tomo um pouco. Ainda não perdi o jeito de preparar, viver com
dona Jurema e Marcela faz com que a gente fique mal-acostumada
com algumas coisas, como um simples café, que não faço mais com
frequência; ou comida, que quando faço é uma zona completa. Pior
que meus filhos em casa.
Deixo a xícara na pia e vou para a sala e me sento no sofá.
Escuto os seguranças ao lado de fora, nunca me senti tão presa
quanto agora. Preciso decidir qual deles irei subornar para que me
diga o que os meninos sabem e o porquê me tiraram da cidade.
Olho para nossas coisas espalhadas e ainda não acredito que
eu realmente fiz isso. Depois de anos resolvi me dar mais uma
chance para me sentir amada de outro modo. Que loucura, ainda
mais em meio a tanta confusão!
Vejo o celular do Alessandro no sofá, que começa a acender a
tela e fazer um barulhinho. Olho para ver se ele está vindo, pode ser
os meninos e com isso posso descobrir algo. Me aproximo e pego,
tem senha, mas o que fazia acender o visor era uma mensagem, que
dá para ler perfeitamente na notificação de tela bloqueada.
Não é dos meninos, é do Felipe, irmão dele. Eu não deveria
fazer isso, mas me pego lendo a mensagem e antes eu não tivesse
feito.
EU NÃO ACREDITO!
— Pronto, vou buscar comida.
Me viro para ele, e seu olhar foca em minhas mãos e depois em
meu rosto; meu semblante não deve ser bom.
— Por que está com meu celular? — ele tenta soar tranquilo,
mas falha completamente.
— Isso não vem ao caso agora. Como pode me esconder isso? É
assim que quer começar algo? Na base de mentiras? Não qualquer
mentira. Algo bem grave!
— Do que está falando? — Ele dá um passo na minha direção e
estico a mão entregando o celular a ele.
— Quando ia me contar o que realmente seu irmão é? Melhor,
nunca iria, não é mesmo? — Me afasto e começo a recolher minhas
coisas pelo chão.
— Paula, eu posso explicar. Se acalma.
Minhas mãos começam a tremer e sinto meu estômago
embrulhar.
— Me acalmar? Quem me garante que seu irmão não é culpado
disso tudo? Como fui burra! Os meus filhos sabem quem é ele?
— Ainda não — responde friamente.
— Ótimo. Enganou a todos. Marcos tinha razão, não devíamos
ter confiado em ninguém. Eu preciso sair daqui.
— Paula, você não pode. Eles estão tentando buscar um meio
de tirar você da mira de quem está causando isso e pegar a pessoa.
Tente se acalmar e me deixe explicar tudo.
— Jura? Pelo visto, eu posso estar na casa de um dos culpados!
— Não sou de julgar assim, eu abomino completamente esse ato,
mas agora é diferente. Ele escondeu algo grave.
— Você realmente acha que eu faria algo assim, ou deixaria
meu irmão fazer? Porra! — grita.
— Não sei de mais nada, Alessandro.
Contorno o sofá e grito pelo Pascoal, que entra rapidamente na
sala.
— Prepare o nosso retorno. Agora!
— Irei avisar aos Escobar.
— NÃO! Se você abrir a porra da boca, eu te coloco na rua junto
com toda essa tropa, e vão implorar por perdão, porque farei da
vida de vocês um inferno. Calem a boca!
— Está tudo bem, senhora?
— Só prepara a nossa ida, e agora.
— Para onde iremos?
— No carro, eu aviso.
Saio da sala às pressas e vou para o banheiro me trocar. Me
arrumo rapidamente, e em seguida saio do banheiro e pego tudo.
Alessandro continua na sala e no celular, digita algo rápido.
— Paula, vamos conversar! Caralho, você está nervosa! Não
faça isso.
— Não. Agora, não tem conversa. Você não escondeu algo
pequeno, é algo grave, ainda mais para minha família. E foi por isso
que sumiu, não foi? E eu idiota não confiei na minha intuição na
qual me fazia notar que sempre que envolvia sua família em algo,
você mudava completamente o semblante e o olhar! — Não consigo
ser calma, não com isso.
— Em partes. Porém, eu realmente fui ajudar meu irmão no
divórcio.
— Claro que foi. Eu deveria ter ligado os pontos. Afinal, o que
você poderia ajudar se nem advogado é? Você nunca disse que foi
dar um apoio pelo divórcio, você sempre disse que foi ajudá-lo, e ao
que ele pertence existem regras e precisa de testemunhas em
alguns casos. Fui idiota demais! Merda!
Preciso sair daqui logo. Caminho para a saída e ele tenta me
impedir, mas recua com meu olhar que sei que é frio.
— Paula, você está ferrando tudo. Não faz isso. Não se deixe
levar pela raiva. Eu saio daqui e você fica apenas com os seguranças,
mas não vai embora. Não faça merda por raiva. Eu posso explicar
tudo — ele tenta ser calmo, mas continua falhando, seu tom oscila e
sua expressão é tensa.
— Agora não quero ouvir nada. Só preciso sair daqui o quanto
antes.
E é o que faço. Saio da casa e entro no meu carro. Pascoal
coloca as coisas no porta-malas e entra no carro fazendo sinal aos
outros. Saímos, com todos juntos e cercando o carro. Quando
entramos na rua principal logo à esquina, Pascoal despista nosso
carro entre os outros e seguimos.
— Não vai dizer o que houve? Posso matá-lo e sumir com o
corpo.
— Mentiras. As mentiras podem destruir tudo. — Minha voz
sai trêmula, mas logo controlo.
— E a verdade pode machucar ou piorar tudo.
— Mas sempre será a melhor opção no final. Sempre, Pascoal.
— Para onde vamos?
— Não vou para casa agora. Preciso não pensar por um tempo.
— Frederico e Laerte podem ajudar.
— Ótimo.
Meu celular toca e é a Daiane. Atendo.
— Mãe, tudo bem? — Sinto a preocupação em sua voz, e raiva
talvez por ter que falar com cuidado, caso esse celular seja
grampeado também.
— Sim. Não se preocupe.
— Irei rastrear.
— Não. Não vai. Até mais tarde! — Desligo.
Desativo o rastreio do celular compartilhado apenas com eles.
— Vão rastrear os carros e nossos celulares.
— Eu sei, mas o sistema de rastreio dos carros é interligado na
polícia, pois dá mais acesso ao David e todos os outros, e eles têm
que evitar ao máximo chamar tanta atenção, ainda mais com todos
sendo suspeitos. E pelo celular o rastreio pode ficar oscilando,
porque estamos saindo do interior para a cidade.
— Esperta. A senhora deveria comandar essa família, as coisas
dariam mais certo. Sou sincero.
Forço um sorriso.
Alessandro Santos
— Mas que porra aconteceu? — Felipe grita do outro lado da
linha, enquanto dirijo de volta à cidade.
— Se gritar mais um pouco, as pessoas fora do carro vão achar
que estou raptando alguém. Está no viva-voz do carro, porra!
— Não faça gracinha agora, caralho!
— Ela viu sua mensagem. Parabéns, idiota! Por que não me
ligou?
— Como eu iria imaginar que você seria um burro ao deixar o celular
jogado? Você já foi mais esperto.
— Agora ela foi embora. Os Escobar vão me matar. Eles
queriam tirar ela do foco, e jogar eles na linha de frente, mas eu
acabo de jogar ela bandeja no perigo.
— Foda! Tenho que resolver essa merda toda! — Seu tom é rude.
— Precisamos parar isso tudo.
— Já arrumei desculpa na Universidade para você ficar esses dias
longe. Vem para casa. Tenho uma ideia. Convoque os Escobar.
— O que quer fazer? — questiono desconfiado e preocupado.
— Se quiserem parar essa merda vão precisar da minha ajuda, pois
sou o único que está a par há muito tempo de tudo que está acontecendo, e
sei os passos da pessoa que está fazendo isso.
— E o que o cirurgião plástico vai dizer a eles? Já sei: “vou
resolver tudo com um bisturi, não se preocupem, só preciso das
minhas luvas!”.
— Engraçado, mas não!
— Felipe, o que está querendo fazer?
— Direi a verdade sobre mim para aqueles idiotas.
Começo a rir.
— Andou bebendo?
— Não fode ainda mais meu humor.
Reviro os olhos e paro o carro no farol vermelho.
— Qual parte da verdade? Porque ela toda só fará eles te
matarem ou prenderem, ainda estou em dúvida qual seria a
escolha.
— Toda a verdade. Eles vão ter que fazer um acordo com o diabo,
simples. E seria mais fácil eu derrubar todos, do que eles encostarem em
mim. — É frio. Não gosto disso. Tem algo a mais.
O farol abre e volto a dirigir.
— Está brincando, não é? — pergunto bem sério.
— Não. Os Escobar vão precisar de ajuda para resolver isso, já que
estão bem vulneráveis. Sou o único que posso encontrar a pessoa
facilmente e sei o que pode desestabilizá-la.
— Felipe, pensa bem. É muita merda para ser explicada. E tudo
tem um preço. Por que está ajudando?
— Só convoca eles. E pode deixar comigo, pois você viverá para ver os
famosos homens da lei assinarem um acordo com o conselheiro da máfia
americana.
Isso vai dar merda!
Paula Escobar
Estou exausta. Tudo que preciso é de um banho, descansar e
refletir, não necessariamente nesta ordem.
Entro em casa, e deixo a mala encostada perto da porta.
Carrego só a bolsa para o sofá. Retiro o celular dela e coloco sobre o
sofá. Vou para a cozinha, e pego uma garrafinha de água na
geladeira e saio para a área da piscina. Sento-me na beirada de uma
das espreguiçadeiras e fico observando o entardecer. Passei horas
com o Laerte, nem senti o tempo passar. Eu precisava disso.
Abro a garrafinha e bebo um bom gole de água. Nunca pensei
que amaria totalmente o silêncio desta casa.
Parece brincadeira, mas toda vez que acho que as coisas vão se
acertar, elas tendem a estragar. Desde o início sempre foi assim.
Quando conheci o Joseph, estava tudo ruim, aí melhorou; e então
começaram as perseguições e, quando achei que tudo tinha
melhorado por ele ter condenado o chefe da máfia que estava
procurando, então anos e anos nesta luta infernal, ele foi morto; e
como não quisemos mexer para não trazer mais problemas, tudo
piorou. Agora anos depois, tudo está ruim novamente, entretanto
achei que ficaria melhor e descubro que pode piorar porque o
homem que agora eu sei que realmente estou apaixonada – pois me
dói pensar que fui enganada por ele, e é uma dor insuportável –
mentiu para mim sobre a família... sobre tudo. Só penso quando a
vida vai parar com essa montanha-russa em queda livre, e dar uma
trégua dos problemas.
Bebo mais um pouco da água e fico olhando em direção à
piscina, porém passo a me sentir observada, e não como se fosse
pelos seguranças. Sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo e
estremeço. Olho para os lados, porém não tem nada. Devo estar
ficando paranoica já. Afinal, como entrariam aqui? Parece uma
fortaleza com tanta segurança.
Fico mais um tempo ali, e quando dou por mim as luzes
automáticas começam a acender. A noite chega, e pelo visto fiquei
mais tempo do que pretendia pensando em tudo que vem
acontecendo.
Saio do lado de fora e entro pela cozinha. Deixo a garrafa sobre
a pia e respiro fundo. Vou tomar um banho, avisar algum dos
meninos que estou em casa e dormir.
Entro na sala e novamente a sensação de estar sendo
observada me toma. Estremeço mais uma vez. Não estou gostando
disso. Pego meu celular no sofá, mas um pigarreio me faz deixá-lo
cair no chão pelo susto. Olho em direção ao som, que vem do
corredor que dá acesso ao escritório, e vejo uma figura sorridente
me olhando. Fico imóvel. Meu coração dispara completamente.
— Sentiu minha falta?
— Você? — Desço o olhar e vejo a arma em sua mão.
— Como esperei por este momento.
Outra pessoa surge e não acredito no que vejo.
— Senhora, eu não tive escolha... — Vejo seu semblante de
desespero, seu olhar de medo.
— Pascoal, o que é tudo isso?
— Ele diz a verdade. Não teve escolha, não com a filha dele e a
esposa sendo feitas de refém na casa deles. Como foi fácil conseguir
tudo. Cada passo. — Mostra um celular, que retira do bolso, e vejo a
foto da família dele amarrada e amordaçada em um canto da casa
deles.
— Me perdoa! — Pascoal implora desesperado.
— Chega desse papo. Odeio essa palavra. Vamos ao que
interessa.
— Podemos conversar. Solta essa arma e deixa a família dele
livre — peço com calma.
Qualquer deslize agora é crucial. Seu olhar não é normal. É
calculista, sombrio. Já vi pessoas assim na minha frente, e
demonstrar pânico não é a melhor opção, isso instiga o lado
obscuro deles.
— Quem dita as ordens agora sou eu. Senta-se no sofá e liga
para eles. Quero todos os Escobar aqui e não pensem em trazer a
polícia, porque meus homens estão vigiando, e vocês têm crianças
com babás, bisavó, tia... Não vão querer elas em risco também. Sei
onde está cada pirralho nojento e com quem está. Melhor fazer tudo
o que eu mandar, e sem gracinhas.
Pego o celular calmamente e sento no sofá. Escuto seus passos
atrás de mim e sinto o aperto da arma agora em minha nuca. Engulo
em seco.
— O que quer que eu faça? — pergunto tentando manter a voz
firme.
— Diga para virem para cá, mas não deixe descobrirem que
estou aqui. Quero fazer uma surpresa, mesmo já sabendo que
sabem quem sou. Deixe essa merda no viva-voz... Exija todos os
Escobar.
— Está bem.
Disco para o primeiro contato da lista, Daiane, mas só chama.
Então tento do David, porém só chama também.
A porta da sala é aberta e a Liziara entra.
— Nossa, agora virei babá da Paula. Por que eles não vieram?
Tinham que mandar a “funcionária” aqui, porque até parece que
recebo algum salário de tanta coisa que me pedem. David está
ferrado, pois exigiu que eu viesse. Abusado! — diz fechando a porta
nervosa. Ela guarda as chaves na bolsa, ainda não olhou para trás.
Assim que faz sorri. Mas seu olhar sobe e ela fica estática.
— Isso vai ser mais divertido do que pensei — a voz repleta de
frieza diz.
— Eu sabia que tinha algo estranho sem nenhum segurança na
entrada. Deixe a Paula! — Liziara grita deixando a bolsa ir ao chão.
Ela está pálida.
— Senta-se na porra do sofá, ao lado dela. Agora!
— Liziara, faça isso, por favor! — imploro e vejo o olhar da
minha menina e ela compreende o que passo em minha voz.
Liziara se senta ao meu lado.
— Pascoal, passe para cá. Quero você sobre minhas vistas. Não
confio em bunda mole que se rende pela família.
Pascoal caminha em direção à escada e fica nos olhando.
— TENTE LIGAR NOVAMENTE! — grita e sobressalto.
Tento do Henrique e torço para que atenda.
Liziara faz menção de levantar, mas é puxada pelo cabelo e
xinga.
Agora eu sei por que tentavam esconder. Entendo o motivo de
estarmos vulneráveis, porque foi uma falha nossa! Alessandro sabia
quem era, todos já sabiam. Eu era o foco, e não foi à toa.
Henrique não atende. Por que ninguém atende?
— Tente mais uma vez. Se não atenderem, farei do jeito difícil,
e vai começar pela pequena Sophie Casagrande. Ela está com a
bisavó e a tal Jaqueline, pois, como eu disse, sei onde está cada peste
dessas crianças.
— Tenta do Marcos — Liziara sugere com a voz trêmula. — Ele
sempre atende.
Olho para o Pascoal, e vejo a vergonha estampada em seu rosto
junto do desespero. Não o condeno. Eu faria qualquer coisa por
minha família em apuros.
Mais um homem entra na sala, deve ter vindo dos fundos.
— Fique de olho nessa puta!
O homem se aproxima da Liziara. Está armado também. Pega
ela pelos cabelos e a joga no canto da sala, e a acerta com um chute
em sua perna. Ela geme de dor. Meu coração aperta com essa cena.
A porta se abre e mais homens entram, e muito bem armados.
Isso é prova de que deve ter usado o Pascoal para romper a
segurança da casa.
— Treinos, seguranças, armas... Nada disso adiantou, não é
mesmo? — Ri. — Tanto tempo tentaram ser espertos, e falharam.
Paula Escobar está rendida, por uma falha de sua própria família.
Eu prometi que me vingaria de vocês, e estou honrando com a
minha palavra. Porque filho da puta nenhum mexe comigo e sai
impune.
— Por favor, não precisa ser assim... — digo e meu tom é baixo.
— Vai ser assim! — diz com ódio em sua voz.
Olho para a Liziara e ela está assustada. E sei bem o porquê.
Poliana Gonçalves Xavier não está para brincadeiras. Ela fugiu da
prisão, derrubou nossa segurança, mexeu com a nossa mente nos
deixando perturbados nas últimas semanas, e agora tem todos nós
em suas mãos. Ela nos deixou sem saída. Estamos vulneráveis.
Estamos perdidos.
Ligo para o Marcos e espero que me atenda, porque não sei por
quanto tempo conseguirei mantê-la calma.
Doze
Alessandro Santos
Observo atentamente cada um que está em minha sala. Porra,
nunca imaginei que minha casa estaria forrada de homens. Tem
apenas uma mulher, a Daiane, mas ela é assustadora quando está
nervosa.
Por que caralho meu irmão inventou de armar isso? E por que
ninguém atende os celulares? Por que eu aceitei fazer parte disso
tudo? Eu estava tão bem odiando meus alunos, e fazendo da vida
deles um inferno e tentando convencer a todos que filosofia é muito
simples e é a melhor matéria, quando nem eu entendo porra
alguma do que alguns filósofos queriam dizer, mas finjo que sei.
Também poderia estar transando com alguma mulher, sem me
importar com o depois. Mas quando penso nisso, é só a praga
chamada Paula que me vem à memória e seu corpo... Essa família
tem alguma magia que atrai todos para eles. Certeza de que ela foi
em alguma mulher que diz “trago seu homem em três dias” e deu
meu nome, pois é impossível que eu esteja me sujeitando a morrer
por causa de uma mulher. Minha vida era tão simples antes de
conhecer pessoalmente essa família. Culparei o Jacob, ele que me
levou a tudo isso quando nos encontramos naquela maldita boate,
um lugar que também levará a culpa por eu estar vivendo tudo isso,
já que foi lá que conheci a Paula pessoalmente e, pelo visto, não
apenas meu pau ficou atraído, porque porra, tenho de ser sincero,
mas meu coração também. Inferno, virei um romântico, era só o que
me faltava!
Que caralho, algum deles pode atender a merda do celular?
Observo o Marcos segurar o David, que tenta socar meu irmão,
o Henrique gritando para ele deixar o David e a Daiane dizendo que
vai tacar o sapato dela na cabeça de cada um, enquanto o Jacob...
Por que ele está se aproximando de mim e sério? Fodeu!
— Filho da puta! Eu confiei em você. Caralho, Alessandro! —
Ele me empurra na parede e agarra a gola da minha camiseta com
ambas as mãos.
— Por que sempre sou agarrado por alguém dessa família? —
questiono e ele pressiona meu pescoço e sorrio.
Meu irmão joga o David no chão e o Henrique chuta Felipe, que
cai também. Marcos saca a arma e é rápido. Vejo a bala passar de
raspão por mim, e acertar a parede, bem ao lado da minha cabeça.
Todos olham assustados.
— Caralho, minha parede, porra! — reclamo, e Jacob me solta.
— Chega! Todo mundo calado e, quando eu perguntar, vão
responder. Não testem a porra da minha paciência, porque estou
prestes a assinar a sentença de todos vocês. Caralho!
Juizinho estressado. Quero ver se vai pagar o prejuízo da
parede!
David e Felipe levantam e ficam se encarando.
— Estava na hora de alguém resolver parar esse circo! —
Daiane diz e Marcos olha sério para ela, que levanta as mãos em
rendição.
— Esse filho da puta é a porra de um conselheiro do chefe da
máfia americana e é irmão do Alessandro. Olha a merda que nossa
família se envolveu! — Henrique diz.
O celular do Marcos começa a tocar novamente.
— Alguém atende essa merda. Não param de ligar. Pode ser
algo grave, e vocês ficaram tentando se matar — Daiane diz.
Marcos pega o celular e franze a testa.
— Vou deixar no viva-voz. É a Paula.
A expressão de todos muda e tenho certeza de que a minha
também.
— Marcos... É, estou em casa. Vocês podem vir para cá... Quero jantar
com todos. — Sua voz é diferente. Não é tranquila.
— Estamos ocupados. Está tudo bem?
— Está sim. Mas venham logo. Nada é mais importante que a família.
Estou em casa, a Lizi também. Mas não tragam as crianças, vamos fazer
algo de adulto. Vim da casa do Alessandro que ficava no interior, e estou
precisando desabafar com vocês. E o Pascoal... — Faz uma pausa. —
Pascoal quer conversar sobre toda nossa equipe. Venham logo.
Henrique dá um passo à frente e Marcos faz um sinal para ele
parar.
— Eu vou convocar a todos e vamos. Até logo.
— Aguardo vocês. Quando chegarem entrem direto, não precisa mais
dos códigos de segurança para entrar na casa.
Franzo o cenho.
— Está bem, Paula. Se cuida.
Ela desliga. Daiane cai sentada no sofá. David começa a se
ajeitar.
— Ela não está sozinha — Henrique declara.
— Nunca teve códigos — David constata nervoso.
— Não. Poliana está na casa! — Marcos fala e aperta o celular
com força.
— LIZIARA! — David diz nervoso. — Eu a mandei ir para lá. Se
ela tentar alguma coisa pode arruinar tudo.
A porta da sala abre rapidamente.
— Simon? — Marcos olha preocupado.
— A segurança foi corrompida, senhor. Pascoal disse a eles que
estavam liberados, e como ele ficou de comando por hoje, alguns
acreditaram, mas outros ligaram para mim, bem desconfiados. Já
mandei eles irem para a casa de cada um espiar a movimentação,
porque ela espalhou os homens dela.
— Caralho, a Sophie e minha avó. Eles iriam para a fazenda
hoje, e Jaqueline em seguida! — Jacob fala nervoso.
— Mandei mais equipes para lá, senhor — Simon o acalma. —
Poliana tem homens vigiando cada casa.
— Pascoal estava por trás dessa merda?! — Daiane indaga
nervosa.
— Não. Ela pegou a família dele; e se tivesse deixado eu falar
tudo, antes de tentarem me atacar, eu teria dito. Eu sei cada passo
dela. Ela abriu a boca assim que soube quem eu era. Fugiu da cadeia
na noite que teve uma rebelião. Conseguiu ajuda de alguns policiais
corruptos e amigos antigos. Ela está muito frustrada com vocês.
Tem motivos para odiar cada um. É uma louca, e se torna pior por
ser apaixonada pelo delegado. Não superou que não se tornou uma
Escobar e que, quando poderia pisar em todos sendo uma
Casagrande, foi jogada de lado por mais uma da família que ela
tanto odeia. Me contou cada coisa que sentia pelo David e tudo o
que ele fez para ela, os momentos, meio ilusórios acredito eu, e
falou da forma que ele a ensinou a atirar. E foi isso que passei ao
meu irmão, porque sabia que ele usaria no momento certo. —
Aponta para o David. — E você, David, entenderia tudo. Ela sabia
que eu era irmão do Alessandro e que isso poderia vazar, porque
era isso que ela queria e eu também, mas não vem ao caso. Ela
queria que soubessem que era ela, mas que tivessem que descobrir
como pegá-la. Ela sente prazer em ver o quanto estão desatentos,
instáveis, e o sonho dela era que desde o início soubessem a
verdade, e tivessem que correr atrás dela, isso tornaria tudo mais
prazeroso, ela gosta de ser caçada, porque se sente mais forte. Só
que eu atrapalhei os planos dela desde o início, porque sou mais
esperto, e ela está agindo do jeito que planejei. Vim por um motivo a
esta cidade, e está tudo saindo melhor que a encomenda — meu
irmão fala de um jeito que eu não gosto. Felipe está fazendo alguma
coisa.
— Desgraçada! Eu vou matar essa maldita! Temos que ir agora
para lá! — Jacob fala.
— Vocês ouviram o Simon? A segurança foi corrompida. Estão
todos vulneráveis. Cada casa sendo vigiada — digo como se fosse o
único consciente aqui.
— Ele tem razão. Ela entrou em cada detalhe. Vocês estão
vulneráveis. Ela tem cada um na mão dela. E não pensem em
acionar a polícia, vai ser pior. Precisam de mim.
— Não vamos selar a porra de um acordo com uma máfia! —
Marcos declara ainda mais nervoso.
— Vamos sim. Vamos selar a porra do acordo sim. É a nossa
família. E sei que tudo para essas merdas tem um preço. Então,
Felipe, qual o de vocês? — Jacob diz sério.
— Não se mete, Casagrande! — Marcos grita.
— Sou um Casagrande, mas me casei com uma de vocês, e amo
essa família, e amo ainda mais minha filha, e por ela faço acordo até
com o diabo!
— Não vai ter um preço. Ninguém vai pagar por nada — digo e
aponto para o meu irmão. — Você vai nos ajudar e não vai ter um
preço. Se você realmente se importa comigo, então saiba que esses
loucos, que vão pagar o prejuízo da minha parede, me importam.
Então, se você sabe como arrumar essa zona, comece a falar e agora.
Simon olha para o celular e depois para nós.
— Se me permitem dizer, temos que pensar com rapidez.
Ouviram um tiro na casa da Paula.
— Vamos, Felipe! — grito.
— Não tem nenhum preço para pagarem. Ajudarei vocês. Eu
sei o modo que ela vai agir, eu sei o que ela quer. Ela se acha
esperta, mas está alucinada. Precisam jogar o jogo dela e só atacar
no momento certo. Sei o que vai deixá-la vulnerável.
— A casa está cheia de homens — Simon comenta. — Alex
disse que teve que ir para a casa dos pais da Liziara, onde ela deixou
as meninas antes de ir para a Paula. E tem homens vigiando a casa.
— O que vamos fazer? — Daiane indaga desesperada.
— Jogar o jogo dela. Vamos até ela — Marcos diz como se
tivesse rendido. Eu nunca vi o homem assim. Sua expressão mudou
muito.
— É minha culpa. Eu não olhei a lista dos que fugiram, mesmo
sabendo que ela estava naquele presidio. Eu dei este deslize.
Caralho, eu fui um filho da puta! Como eu pude deixar essa merda
passar?!
— David, somos todos culpados. Ficamos o tempo todo focando
na pessoa errada, enquanto ela mexeu em tudo que tínhamos. Ela
pegou o que mais nos deixaria vulneráveis: a família. Porque temos
coração e porque pensamos tanto com ele, que nos ferramos.
Falhamos como pessoas da lei! — Henrique enfatiza ao irmão.
— Acabou o momento punição? Podemos ir? — questiono.
— Vamos. Simon, faz vigia por conta própria na minha casa.
— Senhor, já temos uma equipe espionando sua casa.
— Eu sei, mas se algo acontecer, quero que esteja com ela e
com meu filho. — Marcos se vira e sai da sala, com todos o olhando.
Simon sai e começamos a sair.
— Obrigado por não ter um preço — digo ao Felipe quando
fecho a porta da sala.
— Vocês não vão pagar, mas eu vou. Pedi ajuda deles, e estão à
espera do meu sinal; já estão aqui na cidade. Porém, eu quebrei
regras e serei julgado pela máfia, se eu sair vivo dessa. Eu serei o
preço de vocês.
— Felipe, que porra...
— Eu disse que me importava com você, Alessandro. — Ele
desce pelas escadas do prédio, por onde todos foram, já que o
elevador está em manutenção.
Sigo pelas escadas e com o coração apertado.
Paula Escobar
Consegui falar com o Marcos e espero que entenda meus
sinais. Estou preocupada. Ouvi tiro ao fundo da casa, e a Poliana
mandou um dos homens ir conferir. Liziara me olha apreensiva, e
tento não pensar que talvez essa seja a última imagem que eu possa
ter dela.
— Pensaram ter visto alguém, por isso o tiro. — O homem
retorna e avisa.
— Idiotas! — ela responde e se senta na poltrona branca sem
tirar os olhos da Liziara.
— Você não precisa disso. Podemos conversar decentemente.
Isso só vai piorar sua situação — tento dizer com calma.
— Não sou eu e nem minha família que estamos sendo feitos
de reféns. Não tente me dizer o que eu devo ou não fazer, Paula. —
Ela faz sinal para um dos homens, que pega nossos celulares, e os
joga do outro lado da sala.
A porta se abre com força e olhamos em direção a ela. Um
homem muito alto e forte traz Beatriz e a empurra. Ela tropeça e
acaba caindo ao lado da Liziara.
— Bia! — Liziara grita assustada.
— Se machucarem meu filho, eu acabo com a sua vida, sua
desgraçada! — Beatriz grita.
Olho assustada para Poliana.
— Não encoste nas crianças. Elas não têm nada a ver com isso
— mantenho a voz firme ao dizer.
— Cala a boca, porra! A peste do filho dela está ainda na casa e
com a babá. Mas, se tiver qualquer gracinha, darei ordens e não
perdoarei ninguém.
— Para que chegar a este ponto, Poliana? — Liziara indaga
nervosa.
Ela não responde. Apenas sorri.
Parece que estamos há dias nesta tortura. Não posso fazer
nada pela minha família que está completamente em risco. Não
sinto qualquer esperança de que isso possa terminar bem.
A porta se abre mais uma vez e olhamos todos para ela.
Poliana sorri e faz sinal para seus homens presentes na sala.
Pascoal dá um passo, mas é barrado por um.
Marcos é o primeiro a entrar. Ele me olha e sinto o vazio em
sua expressão; pela primeira vez, ele não sabe o que fazer. Nenhum
de nós sabe. Henrique e David entram e param ao lado do Marcos. E
então, para minha surpresa, Alessandro surge e seu olhar se
encontra com o meu.
— Peguem todas as armas que eles tiverem! — Ela dá o
comando. — E, queridos Escobar, não tentem qualquer merda se
amam aquele bando de pirralhos.
Vejo meus filhos e Marcos se desarmarem. Sei o quanto isso é
declarado como uma derrota para eles. Alessandro é revistado, mas
não tem nada.
— Está faltando gente... Aí estão — Poliana diz se levantando e
sorrindo em direção a porta.
Um homem traz a Ana segurando forte em seu braço e seu
cabelo. Henrique dá um passo, mas David coloca a mão em sua
frente. Daiane e Jacob entram em seguida, são revistados e a arma
do Jacob é recolhida. A porta da sala é fechada, porém mais homens
entram pelos fundos. Alguns rostos eu já vi: policiais. Todos do lado
dela.
— Levantem-se! — ela grita e aponta para mim, Liziara e
Beatriz.
Ficamos de pé enquanto seus homens estão com as armas em
nossa direção.
— Como é lindo ver isso. Este tempo na prisão pensei muito
em como faria tudo isso quando saísse. E vejam só, deu certo.
Conquistei mais amigos na polícia, passei um mês rodeando cada
passo de vocês, rastreando tudo, e nas últimas semanas consegui
mexer com a mente de todos. Foi tão fácil. Já sabia muita coisa sobre
vocês, então ajudou muito. Porém, ao que parece, o celular da Paula
não funcionou mais, suspeito que descobriram que estava
grampeado, só que eu já tinha feito tudo o que eu desejava. Prometi
a mim mesma que destruiria a vida perfeita de vocês, e estou
cumprindo com isso. — Ela suspira. — Perguntas? Aproveitem.
Essa mulher está louca. Fora de si.
— O que você quer? Vamos terminar logo com isso — David
diz.
Ela se aproxima dele e leva a mão ao seu rosto, mas ele desvia.
— Eu vou matar essa filha da puta, e o David que me fez vir
aqui! — Liziara avança para cima dela, mas o Marcos a segura a
tempo e prende ela ao seu lado.
Poliana ri e desliza a mão pelo peito do David.
— Poderíamos ter evitado tudo isso. Era para você ser o pai
dos meus filhos e estarmos casados.
— Pirou de vez. Se enxerga, lambisgoia! Deixa-me te pegar que
te mando para o inferno, onde vai casar com o capeta! — Liziara
retruca, e Marcos prende ela a sua frente e leva a mão a sua boca.
Ela olha feio para ele.
— Doce Liziara. Ainda não aprendeu que sempre faz merda
por seu ciúme? Não se garante? Medo do David ver que sempre quis
a mim e não uma garota como você?
Vejo o Marcos segurá-la ainda mais forte.
— Solte-a. Agora! — Poliana pede.
Marcos nem se move. Deve estar pensando como todos, que
isso é uma jogada louca. Liziara está fora de si.
— SOLTE! — Poliana grita desta vez e se aproxima.
Marcos solta Liziara calmamente, como se ela fosse um animal
feroz. O que não está longe de ser.
Liziara está com a respiração forte, tentando se controlar.
— Vamos, faça o seu melhor, vadia! — Poliana grita com ela.
— Poliana, chega disso. Vamos resolver isso da melhor forma
— digo mantendo o máximo da calma.
— Sou a vadia que você sente inveja. A vadia que você quer
estar no lugar, não é mesmo, Poliana?!
O rosto da Liziara vira com o tapa que Poliana acerta. Puxo
Liziara ao meu encontro protegendo-a, mas ela sorri, como se este
tapa não fosse nada. David está vermelho, vejo o ódio em seu olhar,
assim como nos demais. Eles querem agir, mas não podem. Mas eu
não vou admitir que machuquem minha família, não mesmo!
Coloco Liziara atrás de mim e olho fixamente nos olhos da
Poliana.
— Não toque nos meus filhos! Você não me conhece. Sou um
amor, mas não mexa com a minha família, sua louca! — Fecho o
punho e acerto seu rosto sem pensar duas vezes.
Ela cambaleia e faz um sinal, um tiro dispara para o teto e foi
atrás de mim. Ela vem para cima de mim e o movimento da Ana é
rápido, dando uma rasteira nela.
— Faça o que tem que ser feito, porque minha paciência
esgotou! — Henrique diz.
Ela ri diante do chão e leva a mão ao canto da boca onde
sangra. Levanta e seu olhar é de alguém que não vai ser gentil em
nada.
— Não é tão fácil. Antes de acabar com um por um dessa
merda, vocês têm uma hora para me arrumar uma boa quantia em
dinheiro, e dar um jeito para que eu consiga sair desse país com
minha mãe. Novas identidades, uma nova vida. Uma hora é o meu
tempo. E sem tentarem quaisquer gracinhas, ou aquelas malditas
crianças morrem. E tem mais, quanto mais o tempo for passando,
torturas serão feitas. Não pensem em acionar a porra da polícia,
pois irei saber. Um deslize e a primeira a morrer é a matriarca
dessa merda de família! — ela emana ódio diante das palavras.
— Qual a quantia? — Beatriz pergunta.
— Quero um milhão na conta que irei passar a vocês. Não
aceito menos.
Jacob começa a rir.
— Acha mesmo que conseguiriam transferir isso em uma
hora? Andou bebendo água dos vasos sanitários do presídio, sua
louca? — Ana questiona.
— Foda-se! Se virem! — Ela abre os braços — Não são os
Escobar e Casagrande? Não são poderosos? Então arrumem a porra
de um jeito, e agora. Qualquer ligação, apenas no viva-voz.
Computadores serão monitorados por meus homens; e repito,
qualquer deslize e mando matarem as crianças.
— Você ficou ainda mais louca. Olha na merda que se meteu e
envolveu todas essas pessoas. Poliana, para com isso! Você precisa
de ajuda. Está paranoica! — Daiane fala nervosa.
— Cala a sua boca, putinha!
— Toma cuidado em como fala com a minha sobrinha! —
Marcos alerta e conheço bem seu tom.
Alessandro observa ao redor e vejo quando ele faz um leve
sinal com o olhar para mim. Não entendo, mas parece que algo vai
acontecer.
Sei cada canto que temos armas escondidas, mas não podemos
pegar, não com a situação desse modo.
— Sabia que, quando eu falei para o Felipe sobre o David e
tudo o que ele me ensinou, foi proposital? Eu testei a lealdade dele.
E não demorou para eu saber que estavam me investigando e
tentaram tirar a Paula da cidade. Patético! Vocês poderiam ter feito
melhor... Marcos Escobar, você poderia ter feito melhor. Mas
mostrou o quanto é fraco e não passa de uma farsa essa pose de
macho alfa.
— Você só esqueceu de uma coisa, Poliana — Alessandro diz.
— Nenhum plano é perfeito, e o seu não seria.
— Do que está falando, seu idiota? Eu descobri que ele era seu
irmão e sabia que correria abrir o bico. Eu fiz ele jogar o meu jogo.
— Não. É você que está jogando o nosso. — Ele olha o relógio
em seu pulso e sorri. — Está na hora.
É tudo muito rápido. Daiane é empurrada para trás pelo Jacob.
Marcos faz o mesmo com a Ana e Beatriz. Henrique me puxa e
automaticamente puxo a Liziara, mediante os disparos que
começam a ecoar pela sala. Gritos e xingos se misturam na loucura
que passa a acontecer.
— Sempre gosto de uma entrada triunfal! — Olho para a figura
do homem belo que diz e reconheço: é Felipe, o cirurgião famoso e
irmão do Alessandro. Ele está com vários homens.
Começam a lutar corpo a corpo. A porta de entrada se abre
com um baque, e Simon entra jogando armas na direção do Marcos
e Henrique. David desvia de um homem e pega a arma abaixo da
escada. Jogo a pequena mesa a minha esquerda ao chão, e pego a
arma presa embaixo dela. Liziara passa pela Ana e desvia de um tiro
vindo da direção da Poliana, então puxa o fundo falso do sofá e pega
duas armas e corre para entregar a Ana. Um dos homens, que
chegou pelos fundos com o Felipe, entrega armas para os membros
de nossa família que estão sem.
— Nunca deixe brechas, principalmente aos fundos do local
onde você planeja o crime! — Felipe grita para Poliana e a acerta
com um golpe.
— Eu vou matar o David, olha no que ele me meteu. Estou
inconformada... Filho da puta! Eu sempre fico em situações... fodidas
por causa dele! — Liziara grita quando é atingida por um soco de
um homem. E então ela atira nele, que cai.
Atiro no homem que se aproxima de mim, mas ele desvia; e,
quando penso que serei atingida, Marcos atira nele. Henrique
parece estar em um parque de diversões, nunca erra um tiro e
acerta dois homens de uma vez. Jacob trava uma luta com um
maior. Pascoal e Simon saem em luta com outros. Vidros, quadros,
tudo está sendo destruído. Ana grita e olho assustada, porque ela foi
levada ao chão e um homem está em cima dela com a arma em sua
testa.
— NÃO TOCA NELA, DESGRAÇADO! — Henrique acerta o
homem com um chute e atira sem piedade nele.
Ana se levanta rapidamente e não é fraca, continua sua luta.
Vejo Poliana correr atrás da Liziara, e imediatamente corto
caminho empurrando um homem e só vejo ser o Alessandro depois.
— Paula, não! — ele grita.
Liziara escorrega e cai próxima aos vidros estilhaçados. O
alarme da casa não para de apitar. O cheiro de pólvora é forte e tem
sangue para todo lado. Mas nada disso me abala, não quando
Poliana quer matar Liziara, e vejo o ódio em suas ações. Desvio dos
homens, enquanto minha menina tenta se levantar. Daiane atira em
um homem, mas erra; Marcos termina o serviço. David está em uma
luta com três e tenta se desvencilhar. Felipe atira na cabeça de dois
rapidamente. Seus homens são bons também. Os homens da Poliana
estão morrendo. Jacob vê Daiane e tenta impedi-la. Ela quer pegar a
Poliana. Sou atingida por um golpe e um tiro passa de raspão pelo
meu braço, sinto a ardência, mas nada mais importa além da minha
família.
Os minutos parecem horas. Felipe grita algo como um código, e
mais disparos surgem. Luciano aparece vindo dos fundos com uma
mulher, eu sei quem ela é. Sandra Gonçalves Xavier, mãe da Poliana.
Ela está chorando e parece assustada. Poliana grita e seus homens
sobreviventes param imediatamente.
— Mãe, que merda faz aqui? — Ela está ofegante e nervosa.
— Minha filha... — Ela se aproxima tremendo. — Eu senti sua
falta...
— Mãe. Não deveria estar aqui. Eu vou conseguir nos tirar da
pior. A senhora vai ver.
— Filha, não... Não precisava chegar a isso. Vamos sair daqui.
— Não. A senhora me fez assim, não está orgulhosa? — Sua voz
é trêmula. Sandra é o ponto fraco da Poliana.
Olhamos atentamente para a situação. Liziara se levanta e está
machucada. Daiane a ajuda e fica ao seu lado. Alessandro toca
minha cintura e olho para ele, que está machucado também; então
cochicha disfarçadamente em meu ouvido:
— Há equipes vigiando as crianças... Só à espera de um sinal.
Vai acabar tudo bem.
Sinto um pouco de paz por saber que, seja da forma que isso
terminar, tem pessoas para tentar proteger nossos pequenos e os
outros membros da família: como os pais da Liziara, tia da Beatriz e
a avó do Jacob.
— Filha, vamos embora. Vamos conversar. — Sandra chora.
— Não. Agora é tarde. Eu vou terminar isso. Saia daqui! — ela
grita fazendo um sinal e seus homens tornam a atirar.
Sandra grita e Luciano a puxa. Poliana mira na direção da
Liziara e Daiane está indecisa. Confusa. Isso não é bom. Ela ficou
vulnerável, não está sabendo raciocinar, ela está ainda mais furiosa,
não sei se foi bom trazer a mãe dela. Tento fazer algo, mas
Alessandro me impede e sou jogada para o lado com barreiras de
homens do Felipe. Tento sair, mas não deixam. Minhas meninas,
não! Eles me seguram e grito em desespero. Minha arma vai ao
chão, e um deles pega. Marcos puxa a Beatriz a tempo de o lustre
estilhaçar. Estamos às escuras, apenas as luzes de fora e dos
corredores nos iluminam. Ana é atingida e não sei se foi pelo tiro ou
pelo golpe. Ela cai e está suja de sangue. Henrique tenta ir até ela,
mas David requer seu apoio, e ele ajuda ao irmão, ele tem que ser
frio, e ver isso me dói. Estão desesperados. Beatriz atinge um
homem com um tiro, mas acerta em sua perna, e ele apenas cai e
atira na direção dela, só que o Marcos a empurra e atinge a ele.
— NÃO! MINHA FAMILIA! — grito tentando fazer algo, mas os
homens que me protegem não deixam.
Felipe e Alessandro atingem dois dos quatro restantes. Poliana
está desesperada.
Felipe, em uma tentativa de atingir um homem que vai na
direção das meninas, acaba atingindo Sandra que escorrega pelos
braços do Luciano, que atira contra o homem. Não sei, mas o olhar
do Felipe não diz que ele errou sem querer.
Poliana grita muito pela mãe e se joga ao lado dela.
— Você fez isso! Causou a morte dos seus dois pais. Está
satisfeita, Poliana? — Jacob grita com ela.
Consigo me soltar dos homens e corro na direção da Ana,
seguro ela em meus braços e tento reanimá-la. Sem sucesso.
Continuo agarrada a ela, e choro sem parar. Olho na direção do
Marcos e Beatriz está agarrada a ele e toda suja de sangue, não sei
mais de quem é o sangue, e se ele e Ana estão bem.
— MÃE! — Poliana grita, mas ela não obtém resposta. Se
levanta como um animal em caça, e cambaleia, atirando em seu
único homem restante e o acusa de incompetente. Com o celular
que tira do bolso, ela leva ao ouvido e não demora a dizer: — Matem
as crianças!
— NÃO, SUA MALDITA! — David grita.
Me levanto e dou um último olhar a Ana. David se aproxima da
Poliana e quando vai atingi-la, ela mira na Liziara e Daiane, que são
jogadas para trás pelo Jacob. David a empurra, mas ela se equilibra,
apenas há ódio em seu olhar. Pego a arma da Beatriz e me
aproximo. Alessandro tenta me impedir, mas apenas um olhar é o
que dou a ele e Felipe ergue a mão lentamente e seus homens
também se afastam.
— Eu vou matar as duas! Porque meu inferno veio a partir de
vocês, suas malditas! — Poliana diz entredentes.
— Não vai! — Henrique grita e atira, em sua direção, mas, pela
primeira vez, vejo meu filho errar.
Ela sorri e então mira nas meninas, mas Jacob fica à frente
novamente. Daiane passa a sua frente.
— ESSA BRIGA EU TERMINO! — Daiane grita com muita raiva.
— FILHA, NÃO! — grito desta vez, mas um tiro dispara e minha
arma vai ao chão. Não consigo ter ação. Daiane e Poliana vão ao
chão.
Henrique está com os olhos arregalados. Alessandro leva a
mão ao cabelo. Jacob se joga na direção da Daiane, mas é então que
vejo o David sorrir para Liziara. Ela se aproxima com uma arma,
seus passos são firmes. Para ao lado da Poliana, e vejo Daiane se
levantar com a ajuda do Jacob. Com um chute, Liziara joga a arma da
Poliana para longe.
— Ninguém que mexe com minha família e me chama de vadia
sai ileso! — Liziara acerta um chute na Poliana, que está com um
ferimento pelo tiro em sua perna e se contorce. — Eu sabia que
tinha boa mira.
— Onde mirou? — Henrique questiona.
— Melhor nem saber, cunhadinho.
Simon começa a fazer sinal para o Luciano, que se aproxima do
Marcos. Henrique vai até a esposa. A nossa equipe começa a falar
nos celulares com os outros.
Me aproximo sentindo raiva, ódio por tudo. Coloco os pés
diante da Poliana e miro a arma nela.
— Você brincou conosco. Mexeu com minha família. Nos
machucou, e tudo pela ganância. Está pondo em risco crianças, e
trouxe policiais para o seu lado. Poliana, mexa comigo, mas não
mexa com a minha gente. Não provoque a Paula Assis que existe em
mim.
— O que... Ai... Vai fazer? — geme de dor. — Nunca
conseguiria... atirar... É idiota demais...
— Pela minha família, eu termino isso agora.
— Vai ser presa... Está atirando sem necessidade... — Engole
em seco e franze o cenho pela dor.
— Não. Tenho muitas testemunhas de que isso foi em legítima
defesa. E as câmeras, daremos um jeito.
— Eu. Odeio. Todos. Vocês! — ela declara com raiva e tenta se
levantar.
— É recíproco. — Então, pela primeira vez, eu mato alguém a
sangue frio olhando bem em seus olhos. Não me arrependo, e não
quero.
Felipe atira nos pontos das câmeras na sala.
— No meio do tiroteio, elas foram atingidas. É isso o que será
dito! — ele declara.
— Me perdoem, foi minha culpa! — Pascoal implora.
— Não foi sua culpa. Era sua família — David o tranquiliza
seriamente.
Deixo a arma cair e sinto a tremedeira vir. Alessandro
rapidamente me ampara. Daiane, Liziara e David se aproximam de
mim. Vejo Henrique ao lado de sua amada, a ruivinha mais linda,
que abre lentamente seus olhos e ele a abraça forte e vejo meu
menino chorar enquanto a beija com carinho. Beatriz arranca a
própria blusa, sem qualquer vergonha, e amarra com força sobre o
braço do Marcos onde foi atingido. Ele está agora sentado.
— COLOCA A PORRA DA BLUSA! — o juiz mais estressado grita.
— Calado, seu juiz de quinta! — ela briga com ele e ao que
parece aperta ainda mais forte o braço dele, que xinga.
— As crianças estão bem. A polícia está a caminho. Melhor o
senhor Felipe e sua turma saírem — Simon avisa. — Os vizinhos
denunciaram devido a gritaria e o alarme, e o Cleber desconfiou que
o rastreio, que o senhor David mantém às escondidas e era
novidade até mesmo para nós, foi disparado, quando os carros da
equipe saíram todos e deixaram em ruas próximas às outras
residências. Então ele mandou equipes para as outras casas e isso
ajudou muito.
Olho para o David, que dá de ombros.
— COM SEGREDINHOS, DAVID ESCOBAR? EU SOU PERIGOSA!
EU VOU TE MATAR! — Liziara fala e ele sorri apertando-a em seus
braços e beijando-a.
Marcos se levanta.
— Vamos todos para a minha casa. Sair desse lugar. — Olha na
direção dos homens caídos.
— Luciano, dê um fim nas imagens a partir do momento certo!
— Henrique ordena.
— Obrigada — agradeço ao Felipe, que me olha e assente.
— Qual o preço? — David questiona a ele.
— Ele! O filho da puta se deu como um pagamento! —
Alessandro diz com raiva e ao mesmo tempo orgulho por algo.
— Vou tirar a mídia dessa história e conseguir com que a
polícia não prorrogue isso e que o delegado geral saia da sua cola,
David. Sim, sei cada coisa sobre vocês. Mas não me agradeçam. Não
faço isso com muita alegria.
— Obrigado — Alessandro declara ao irmão. — Mas vou
arrebentá-lo ainda.
— Espere, porque isso pode mudar — Felipe diz e sinto uma
frieza em seu tom.
Olho para o Alessandro e não me importo com o clima, o
ambiente, nada. Eu apenas o beijo. Ele estava me protegendo e se
colocou em risco por minha família e por mim, e isso é uma possível
prova de amor, mesmo que ele vá negar. Ele me agarra e retribui
como se eu fosse escorregar por seus braços e sumir. Ele estava com
medo, e eu também. Sinto isso e não preciso que ele diga, ele
transmite diante do gosto salgado do beijo pelas lágrimas.
— Ótimo. Meu marido me manda para a morte, e minha sogra
ganha um belo final. Vida injusta! Bia, você estava certa. Os Escobar
são para foder o juízo e não de um bom jeito!
— Concordo plenamente! — Ana diz levando a mão à cabeça.
— Precisamos sair daqui e de médicos. Vamos — Jacob fala.
Saímos lentamente do lugar que um dia chamei de lar, mas
quero que isso mude. Não tem mais como viver aqui. Não mediante
a tanto sangue e duras lembranças que irão cravar em minha
memória se continuar vivendo aqui.
Atravessamos a rua sob escolta dos seguranças que vão
chegando e pedindo perdão pelo ocorrido. Os meninos declaram
que isso será resolvido depois.
Quando passamos pela porta da casa do Marcos, a babá corre
desesperada com o Arthur, mas Beatriz impede, não dá para ficar
com ele toda suja de sangue, mas vejo a alegria em seu olhar e do
Marcos.
— Estão trazendo todos para cá — Pascoal declara sobre o
restante da família e concordamos. — Sei que não é momento, mas
quero pedir minha demissão.
— Ninguém se demite ou sai, até conversarmos. Estamos no
mesmo barco. Todos falhamos. Mas acabou. Depois conversamos —
Henrique diz.
Simon, Luciano e Pascoal saem.
— Gente, acho que preciso muito de um médico — Liziara
comenta.
Olhamos assustados, afinal todos nós precisamos.
— Sou cardíaca, Lizi. Diz o que houve? Está muito machucada?
Mostre! — peço desesperada.
— Estou com instinto assassino. Juro que olho para o David e
só quero matá-lo por ter me levado a essa loucura e ter feito eu me
apaixonar por ele. Algum médico tem que me receitar algo, me
examinar, porque é sério, sinto que vou voar no pescoço dele.
— Cala a boca, minha maluquinha! — David ri e a abraça
apertado.
Minha família não é perfeita, mas fazemos sempre dar certo.
Alessandro me abraça por trás.
— Olha, cara, nem sempre o volume em minhas calças é uma
ereção — Henrique diz nervoso apontando para o Alessandro e Ana
balança a cabeça rindo.
— Acabou — Jacob suspira.
Olho para a Beatriz junto do Marcos, que manda a babá trazer
uma blusa para ela. Mesmo diante dessa situação, ele consegue ter
ciúmes.
A porta se abre e todos começam a chegar. Jaqueline, dona
Joana e Sophie vão demorar um pouco, pois estão vindo da fazenda.
As gêmeas se aproximam. Laís está no colo do Luciano e a Yasmim
no do Simon. Ana e Henrique vão até elas; mesmo sem pegarem no
colo, beijam as pequenas. Laura e Helena gritam pelos pais e cada
uma se joga nos braços deles, e não tem como evitar, eles acabam
segurando-as.
Me aproximo do Jacob e da Daiane.
— Acabou. Por enquanto acabou — digo e eles sorriem.
— Que elas não demorem — Jacob diz e entendo ser sobre a
Sophie e sua avó.
A polícia chega e junto Cleber e Débora, que nos abraçam
muito.
Treze
Paula Escobar
Semanas depois...
Alessandro Santos
Estou sentado em cima da mesa e observando os alunos
fazerem suas provas. Não sei por que, mas amo. Gosto de ver o
pavor neles, é a fonte da juventude para mim. Louco? Todo mundo
tem um pouco de loucura e é recomendável ter, para lidar com a
vida.
Porém, minha mente está apenas no meu irmão. Depois de
toda aquela merda, ele viajou para a Califórnia para resolver toda a
situação com a máfia na qual ele faz parte. Não tenho notícias, e já
busquei de todas as formas, mas nada. Cogitei buscar ajuda dos
Escobar, mas já foi a morte para eles aceitarem essa situação, não
quero colocá-los em mais problemas, e não posso ir atrás dele
pessoalmente, estou atolado de trabalho.
Felipe é um bom homem, mesmo tendo feito escolhas loucas.
Quando digo louca é porque tudo isso começou com ele tendo uma
grande amizade com o chefe da máfia. E terminou com ele se
tornando conselheiro. Na minha família, tudo sempre foi na base da
loucura. Meu pai era um policial corrupto, minha mãe ficou doente
por culpa dele, seria até desonesto com eles, que nós filhos
fôssemos normais. Nunca aponto que meu irmão veio de adoção;
para mim, ele sempre foi e sempre será como de sangue e pode
parecer paranoia, mas sempre tive comigo que não teria irmão mais
perfeito que ele, pois parece que temos tantas semelhanças ao
mesmo tempo que somos tão diferentes. Caralho, até eu sou louco,
porque poderia me apaixonar por qualquer outra pessoa! Sério,
poderia ser qualquer outra mulher. Mas tinha que ser pela
matriarca de uma família que nunca sei quando querem me matar
ou apenas me socar. Maldito coração! Eu estava tão bem sem esse
papo de romance, entretanto seria óbvio que eu iria pagar com a
língua e ferrar tudo. Devo ser meio masoquista, não sei, só que falou
em dar merda, eu me jogo de cabeça.
Arlete me faz sobressaltar quando coloca a prova literalmente
em meu rosto.
— Querida, eu uso óculos, mas não sou cego a este nível. —
Pego a prova e coloco ao meu lado.
— Estou liberada?
Olho no relógio em meu pulso.
— Espere mais quinze minutos, assine seu nome na lista e
pode desaparecer.
Ela revira os olhos e volta a se sentar.
— Essa porra está difícil. O senhor gosta de nos torturar! —
Maicon resmunga fazendo os outros rirem.
— Primeiramente, “senhor” é teu passado. E segundo, se
estudassem, não estaria difícil... Quem eu quero enganar? Está
difícil sim, e amo torturar vocês. E eu iria agradecer se terminassem
logo porque é sexta-feira e não aguento mais olhar para a cara de
nenhum aluno.
— Que horror! Tenha mais compaixão — Maicon finge estar
ofendido e sorrio.
— Minha compaixão terminou assim que coloquei os pés aqui,
às sete da manhã. São seis horas da tarde agora, mais uma hora aqui
e mato alguém. Agilizem! E amanhã ainda tenho que vir porque tem
palestra, que absurdo! — Cruzo os braços.
— Você é o professor que menos nos anima. Você é louco! —
Yara fala.
— Não sou palhaço e tampouco animador de torcida, para
deixar vocês animadinhos.
— Mas tem um charme que anima de outra forma. Está calor,
né? — Brenda provoca e os outros gritam.
— Se eu levasse em consideração tudo que escuto de vocês,
estaria fodido! Deixe de enrolar, Brenda! — Sorrio.
Eles riem e voltam a fazer a prova.
Entro no estacionamento às sete e meia da noite, e parece que
estive em uma prisão há anos. Sigo para o meu carro, com um
brutamontes me seguindo. Não irei superar que tem um homem de
olho na minha bunda, porra! Josh é um cara legal, mas, puta que
pariu, tenho medo de ir à cozinha de madrugada e dar de cara com
ele. Entro no meu carro e vejo ele subir na moto, que estava ao lado
do meu veículo. Tiro o celular do bolso e vejo que tem uma
mensagem da Paula, me chamando para ir até o local que está
treinando para buscá-la. Respondo que vou tomar um banho, e
depois irei.
Estou indo para o local onde a Paula treina. Se ela pensa que
vou treinar, está enganada. O único modo que pretendo suar é com
sexo, o que ela tem evitado desde a nossa viagem. Só me lasco, eu
digo!
Sigo com o segurança fazendo escolta. Quem vê pensa que sou
parente da rainha. Acabo rindo disso. Quem diria que teria um
homem na minha cola!
O percurso não é longo, mesmo com um pequeno trânsito
chego rápido. Estaciono e Josh me assusta parando a minha frente.
Quando ele saiu da moto?
— Eu vou entrar, e não precisa vir.
— Ficarei na recepção, senhor.
— Você quem sabe. E pare de me chamar de senhor.
— Senhor Henrique mandou não acatar nenhuma ordem sua.
— Senhor Henrique é um idiota, pode transmitir essa
informação a ele? Não, né? Não tenho poder sobre nada aqui.
Ele sorri.
Entro e aviso que vim ver a Paula Escobar. Estou autorizado ao
que parece, já havia vindo essa semana trazê-la, mas não entrei
além da recepção. Informam a sala que ela está e como chegar até
lá.
Faço o trajeto e paro diante de uma enorme porta, de uma sala
muito grande, com alguns colchonetes, uma parede de espelhos, e
alguns instrumentos que devem usar nos treinos.
Jacob está encostado em um canto e assim que me vê se
aproxima.
Daiane, Paula, Ana, Liziara e Beatriz treinam com dois homens
fortões. Vejo Jaqueline saindo de outra porta dentro da sala, e ela se
senta em um canto bebendo a água da garrafa e faz um aceno rápido
para mim, que retribuo.
— Até a Jaqueline veio para essa loucura?
— Ela quis tentar. Mas desde que cheguei, apenas a vi sentada
e olhando assustada.
— Nem imagino o motivo! — ironizo.
É soco, chute, braçadas e gritos para tudo quanto é lado. Porra,
preciso me lembrar de nunca irritar a Paula! Ela me mata, com toda
certeza! Como esse corpo tão pequeno e magrinho consegue tudo
isso?
Liziara cai e sinto a dor. Será que devo chamar um médico?
— É, Frederico e Laerte não perdoam ninguém! Daiane às
vezes chega roxa em casa. Estou começando a cogitar que ela grave
os treinos, para usar como provas que eu nunca encostei nela. Já
pensou se alguém a vê assim na rua e denuncia?
Acabo sorrindo.
Laerte prende a Paula por trás, e ela tenta se livrar. Esse
mamute não pode ficar mais distante, não?
— Precisa ser tão colado assim? Apenas uma dúvida.
— Se acostume ou vai pirar.
Jaqueline se aproxima sorridente como sempre.
— Olha, eu vou embora, pedir uma deliciosa pizza e
atormentar o Arthur. Isso não é para mim. Prefiro andar com mais
seguranças, até porque não acho ruim. Adoro!
Rimos e ela passa por nós.
Ela está vendo casa na cidade. Vai se mudar, quer ficar mais
próxima de todos. Então já está ficando na Beatriz enquanto isso.
— Notícias do seu irmão? — Jacob questiona.
— Não.
— Eu sinto muito. Se precisar de ajuda...
— Não se preocupe. Não quero colocá-los em problemas.
— Não aceitamos o que seu irmão faz, mas, diante de tudo, ele
foi nosso apoio; e graças a ele, não tivemos que justificar muitas das
merdas naquele dia, como a morte da Poliana, que poderia ter sido
evitada. Se ele precisar de ajuda, conte conosco, temos uma dívida
com vocês.
— Não, vocês não têm e eu faria de tudo para proteger a Paula.
— Que bom que você tem amor por nossa amizade. E fez isso
pensando em nós também — ironiza e rio.
Daiane xinga quando vai ao chão e olhamos para ela, que nos
vê e sorri.
— E sua avó, não quer vir morar para cá? — Me lembro da
discussão deles no dia seguinte ao acontecido.
— Não. Ela ama aquele lugar. E é até bom, pois é um lugar a
mais para Sophie ir e ela tem amigas lá. Daiane e eu temos a vida
corrida, então infelizmente não dá para levar a Sophie para viajar
com tanta frequência. A melhor opção é ter minha avó no interior,
que sempre pega minha menina.
Assinto, e fico olhando para elas. Eu não estou simpatizando
com esses mamutes. É muito contato físico para meu gosto... Porra,
era só o que me faltava: crises de ciúmes.
— No dia do acontecido, a Daiane estava suspeitando que
poderia estar grávida. — Olho assustado para ele, que mantém os
olhos nela. — Não contamos a ninguém. E porra, nunca desejei tanto
que ela não estivesse, porque as chances de ela perder seriam
grandes. Por fim, ela não estava, e foi um alívio. Ela redobrou os
cuidados com o medicamento, porque um susto desse novamente
não aguentaríamos.
— Eu sinto muito... O pavor de vocês então estava triplicado.
Ele assente e leva as mãos aos bolsos da calça.
— Vocês formam um casal bonito. Na verdade, uma família
bonita... Mas pretendem... Sabe, aumentar a família?
Ele me olha e sorri.
— Não. É algo nosso já. Não queremos. Se acontecer, tudo bem.
Mas vamos cuidar ao máximo para não termos mais surpresas. Mal
temos tempo para Sophie, ser promotores já toma mais do nosso
tempo do que queríamos, imagine ter outra criança? Vê a vida da
Liziara, sem tempo até para respirar, se divide em mil para estudos,
trabalhos, gêmeas, treinos; a Paula vai passar a ajudá-la, porque
apenas a babá não está sendo suficiente. Tem a Ana também, duas
meninas, e vive em constante desespero, prezando a segurança
delas, afinal, as duas têm pais advogados criminalistas, que não são
tão amados por seus réus... Essa vida é foda. Admiro muito todos os
Escobar que conseguem lidar com tudo e todas as crianças. Porém,
não quero ver a Daiane mais pirada do que fica para cuidar da
Sophie, e não quero ficar mais preocupado do que fico quando saio,
viajo e tenho que deixá-las. Já arrisquei muitas coisas quando me
casei com a Poliana e quando escolhi ser promotor, não sou tão
forte quanto eu pensei para querer arriscar ainda mais, colocando
mais um filho no mundo. E a Daiane conversou comigo, ela pensa o
mesmo, diz não estar preparada tão cedo para isso.
— Vocês dois são mais fortes do que pensam. São pais
incríveis, Sophie tem muito orgulho de vocês. São ainda mais fortes
por saberem respeitar que agora não é o momento para outra
criança, e não ligarem para as fofocas da mídia e tampouco para
comentários que sei que devem ocorrer. Sempre acreditei que ser
um bom pai é, acima de tudo, saber compreender o momento certo
para colocar um filho no mundo, e não colocar apenas para dizer
“eu que fiz”. Só por pensar nisso já mostra o quanto vocês são
ótimos pais para a Sophie e seriam ótimos pais para outra criança,
que, sem existir, já tem a proteção de vocês.
Ele leva uma mão ao meu ombro e aperta, então surge um
sorriso em seu rosto.
Anunciam o fim do treino e elas se deitam no colchonete,
exceto a Paula que caminha até a mim, sorridente. Um dos homens a
chama e joga uma toalha, que pegaram no canto dos acessórios; ela
enxuga o suor e torna a se aproximar.
— Sempre me lembre do porquê não posso te irritar — peço
levando a mão a sua cintura.
— Pode deixar.
Inclino o corpo e beijo seus lábios.
— Está vendo, Daiane? É assim que você tem que me tratar. —
Jacob aponta para ela, que mostra o dedo a ele.
Elas se levantam e se aproximam.
— São moles demais! Uma hora de aula e estão assim?
— Cala a boca, Frederico! Com a raiva que estou por este
treino, eu mato você e o Laerte! — Paula rebate.
Agora já sei quem é o mamute um e o mamute dois. Eles
acenam com a cabeça para mim, e retribuo bem sério. De verdade,
não gostei deles. Porra, para que esse olho azul, esses músculos só
do Laerte? E o Frederico com essa cara de “fodo melhor que você”...
Porra!
— Eu não sinto minhas pernas. Ainda bem que vim com o Alex
e ele vai dirigindo — Liziara diz se apoiando na Beatriz e na Ana.
— Eu vim de carona com Simon, então estou de boa também. E
minha tia? — Beatriz questiona franzindo o cenho.
— Ela foi embora. Melhor, fugiu — digo e ela revira os olhos.
— Por isso ela veio com o carro dela. Para fugir a hora que
quisesse — Beatriz constata, sorrindo.
— E eu me lasquei! Vim no meu carro e o Luciano no dele.
Henrique vai trabalhar até tarde, não posso explorar ele.
— Ana deveria ter dito que, na hora em que o Jacob me deixou
aqui, traria você e agora iria conosco. Saiba que vou explorar muito
o meu pateta, porque esses ogros aqui ferraram com minha coluna.
— Qual é, princesinha Escobar, pensei que era mais forte! —
Frederico provoca.
— Me chama assim de novo, que arranco seu pênis e enforco
você com ele.
— Daiane! Tenha modos! — Paula exclama horrorizada.
— Eu tenho, mamãe. Mas as pessoas me irritam!
Eles riem.
— Vamos, antes que saia alguma morte — Paula fala
segurando minha mão.
— Antes, eu quero saber quando vai se assumir de vez com o
pateta número cinco?
— Queria entender isso de pateta — comento.
— Ela só chama de pateta os homens que ela já considera da
família — Beatriz responde.
— Isso é para ser um elogio? — indago provocando a Daiane.
— Não. Eu descobri que sou ogra, não curto elogiar demais —
Daiane diz agarrando o braço do marido, que sorri.
— Agora que descobriu que é ogra? Mulher, eu já sabia há
tempos. Merda, que dor nas pernas! Estou ferrada, sem sexo hoje.
— Liziara! — Paula a repreende e ela dá de ombros.
— Vou te passar o nome do produto que uso para dores depois
do treino. Nunca fico sem sexo — Ana comenta.
— Ana Louise! Até você, o anjo puro desta família? — Paula a
repreende e acabo rindo.
— Eu sou o único anjo, sogrinha — Jacob fala fazendo cara de
santo.
A ruiva revira os olhos e sorri.
— Sim, meu amor. É o único mesmo. Agora vamos. — Paula
entra na dele.
— Melhor. Não precisamos saber da vida íntima de vocês —
Laerte diz empurrando todos para fora da sala.
Caminho na frente com a Paula.
— Ana, não esquece de me dar o nome. Vou comprar antes de
ir para casa! — Liziara diz bem alto.
— Mãe e Pateta, não fujam do assunto. Quando vão se assumir?
Olho para a Paula que está muito vermelha, e não é pela
adrenalina do treino.
— Essa família ainda vai me matar de vergonha — diz
baixinho.
— Quando está com loucos, seja mais um — falo para ela. — Se
eu disser namorados, irei mentir, porque nunca conversamos sobre
isso! — rebato e escuto os risinhos atrás.
— Gente, cuidem da vida de vocês. Estão me matando de
vergonha! — Paula reclama.
— Ela tem razão. Mas fala aí, são apenas beijinhos, mãos dadas
ou estão levando a sério o envolvimento? — Jacob provoca e rio,
mas Paula acerta um tapa no meu braço. Cacete, ela tem força!
— São inocentes demais, por ainda não verem que já rolou
uma rodada bem intensa de sexo! — Liziara diz e Beatriz briga com
ela. — Meu povo, não se façam de santos não! Aqui todo mundo faz
sexo!
— Fala baixo, Liziara! — Ana rebate rindo.
Paramos na porta e os seguranças se aproximam.
— Senhora Beatriz, antes de irmos para casa, temos que passar
em um lugar.
— Que lugar, Simon? Não inventa. Que merda o Marcos pediu?
Estou cansada.
— Pediu para a senhora escolher um bom vinho e levar. E
depois se arrumar e se encontrar com ele no local que irei levá-la.
Ela fica vermelha. Posso estar louco, mas tem algo nesse
convite do juizinho estressado.
— Olha, esses dias o Marcos me usou de secretária e fez eu ir
ao banco para ele; folgado demais, vale ressaltar. Mas, enfim, o
extrato bancário do homem tem vinho pra caramba! Estão abrindo
uma adega ou coisa do tipo, ou gostam muito de beber vinho? —
Liziara indaga cruzando os braços e dando risinhos.
— Olha, Liziara, eu só não te mato, porque te amo. Vamos,
Simon.
Ela entra no carro rapidamente, sem se despedir de ninguém.
Jacob me olha e não aguentamos, começamos a rir. Ficam
olhando para nós com cara de interrogação.
— Esse juiz vive embriagado — Jacob comenta sem parar de
rir.
— Taça especial, será? Besta somos nós, Jacob — comento já
entendendo tudo.
— Do que os patetas estão falando? — Paula questiona. —
Nossa, filha, é realmente bom chamar de pateta!
Daiane sorri do comentário da mãe.
— Apenas pensamos o mesmo. Vamos? — digo a Paula.
— Cacete! Eu entendi. Depois séculos... Bia está safada! Estou
nas antigas mesmo, usando algemas ainda, acreditam? Esses dias
prendi o David na grade da cama e quebrei a chave quando fui
abrir. Tive que chamar um segurança para ajudar. Se eu sumir, já
sabem, ele me matou. Está puto por isso e não me deixa encostar em
mais nenhuma algema.
— Luciano pegou o Henrique e eu transando na piscina. Sei
bem o que é ver um homem puto. Henrique por pouco não mata ele!
— Liziara e Ana, como podem? Meu Deus! Vamos, Alessandro.
Saímos dali com os risos deles.
E eu achando que era louco, mas essa família se supera!
Paula Escobar
Entramos no flat e eu já retiro o tênis e as meias. Sinto o alívio
por meus pés estarem livres.
— Preciso de um banho e depois podemos sair para comer
algo, ou podemos pedir. — Giro o pescoço de um lado para o outro.
— Não estou com fome. Mas posso te levar para comer.
— Olha, depois desse treino prefiro apenas um bom chá ou
café e relaxar. Pensei que não tinha jantado ainda, por isso
comentei.
Ele sorri e se senta na poltrona preta.
— Nada do seu irmão?
— Não. Mas sei que ele vai aparecer.
— Vai sim. Ainda me sinto mal por ter saído daquele jeito da
sua casa no interior e feito julgamentos, quando, na verdade, ele
quem nos ajudou.
— Eu faria o mesmo em seu lugar. Estava acontecendo muitas
coisas.
Concordo agradecida por ele pensar assim. Eu realmente
estava mal. Mas saber que ele entende torna isso melhor.
— Então vou tomar um banho.
Ele assente. Mas seu olhar é outro. É intenso. Eu já vi este
olhar. Sinto um friozinho na barriga. Levanto-me, pego uma toalha e
as roupas e sigo para o banheiro.
Tiro a roupa e solto o cabelo. Ligo o chuveiro e quando vou
entrar, ouço batidas na porta e a voz do Alessandro. Respiro fundo e
volto a me olhar no espelho. Dou uma ajeitada na juba de leão, que
se formou meu cabelo, e abro a porta colocando apenas a cabeça
para fora. Ele ergue uma sobrancelha e acabo sorrindo.
— Oi?
— Eu já te vi nua, sabia?
— Já? Já, claro. Mas é que estou suada...
— Não me importo.
Claro que não se importa. Como vou dizer a ele que, na
verdade, estou com vergonha? Que na verdade, Paula Assis sempre
foi tímida para essas coisas de ser totalmente atirada? Que só deixo
me levar na hora do sexo mesmo? Droga! Pareço uma menininha e
não uma mulher, adulta, advogada, mãe... e Deus do céu, também
avó!
— Paula?
— Ah, sim. Quer que eu abra toda a porta, né? Ver meu corpo...
Essas coisas.
— Você está bem? — Ele franze o cenho. — Porra, já fizemos
sexo antes. Estamos saindo. Rola beijos, e vivemos um com o outro
nas últimas semanas. Até dormimos juntos. Você sabe mais da
minha vida do que eu da sua. Realmente vai ficar tímida?
— Está certo. Abrindo tudo... Quero dizer, abrindo a porta. —
Abro toda a porta e ele me analisa.
Corro para o box e entro embaixo da água.
— Pode falar. Estou ouvindo...
Molho o cabelo e, quando abro os olhos, me assusto ao ver ele
na porta do box, de braços cruzados, me olhando.
— A Daiane fez uma boa pergunta hoje. O que somos?
— Humanos?
— Paula! — repreende-me nervoso. Estou perdida com esses
homens bipolares me rondando.
— Desculpa. Quando fico nervosa fico meio aleatória, irônica...
— E por que está nervosa?
— Não sei. Talvez timidez.
— Mas na hora do sexo não fica tímida.
— Não... Alessandro!
Ele sorri e sinto meu coração palpitar com esse sorriso. Pego o
xampu, mas paro com ele no ar, ao ver o Alessandro tirando os
sapatos e se despindo.
— O que... Você já não tomou banho? Não era isso que eu
deveria perguntar.
Ele retira a camiseta e começa a abrir a calça. Deixo o xampu
cair e sobressalto com o barulho. Apenas de cueca entra no box e
fecha o vidro. Então bem lentamente se aproxima.
— O que somos?
— E-eu não sei...
— Eu sinto sua falta, Paula.
— Estamos nos vendo bastante desde o acontecido.
Ele leva uma mão ao meu rosto e acaricia.
— Estou falando de você por inteira. Por que evita? — Seu tom
é rouco e baixo.
Droga... Estou sentindo como se flutuasse. Ele consegue me
desestabilizar demais.
— Porque estou com medo de ser apenas por sexo que você me
queira — digo o que me vem rapidamente, e paro para analisar
minhas palavras; e é uma verdade absoluta. Estou com medo disso e
só dizendo em voz alta e rápido vejo o quanto é verdade.
Ele franze o cenho e, em seguida, sorri. Segura meu rosto com
ambas as mãos.
— Se fosse o Alessandro da boate, onde nos conhecemos, você
poderia ter este medo. Mas este Alessandro aqui, parado a sua
frente, não quer apenas sexo... Paula, eu não quero apenas sexo. Eu
quero tudo. Pela primeira vez, eu quero tentar tudo com alguém...
Estou apaixonado por você e acredito que foi desde quando te vi
pela primeira vez, bons meses atrás. Só não queria admitir. Precisei
passar o inferno achando que te perderia naquele maldito dia, para
entender que quero você. Quero tudo com você.
Meus olhos embaçam pelas lágrimas que começam a escorrer.
— Estava ensaiando em como te dizer que quero você...
Alessandro, tudo o que disse é recíproco. Não consigo mais me
imaginar sem você, meu professor. — Acaricio seu rosto.
— Vai recomeçar? Porque preciso de você por inteiro, não
posso competir com alguém que deu uma família, poder, muito
amor e felicidade durante anos e que não está mais aqui. É difícil
demais tentar competir com algo assim.
— Não precisa competir. Ele foi o início de uma história para
mim, me deu o meio e o fim dela. Aquela história, hoje eu
compreendo que já se foi, terminou, teve seu ponto final. Eu sempre
vou amá-lo em um lugarzinho especial em meu coração, mas não
posso mais viver por isso, estava me machucando demais.
Ele beija minha testa e sorri.
— Então é o recomeço de uma nova história? Posso acreditar
nisso?
— Pode. Eu quero que você seja o meu recomeço.
— Serei, e você será o meu início.
— O jogo virou. Hoje sou o início de alguém.
Sorrimos e ele me beija. É um beijo diferente de todas as
outras vezes. Neste tem cem por cento de sentimentos, entregas. É
como se as correntes que nos aprisionavam estivessem sendo
quebradas. Precisei passar por tantas coisas, para ter o sentimento
do amor novamente, e valeu a pena. Tudo nessa vida tem um tempo
certo para acontecer, só precisamos ter paciência e não desistir; e
se eu não desisti foi pela minha família, devo muito a eles. Se tem
uma coisa que aprendi, depois de toda aquela confusão com a
Poliana, é que não sabemos nosso dia de amanhã; então temos que
viver o hoje como se fosse o último dia, porque a vida é curta
demais para deixar tudo para depois.
Meu corpo é levado à parede, e sinto sua ereção sendo
pressionada em mim. Um calor me consome, e parece que estou em
chamas. Ele se afasta retirando a cueca, e torna a me agarrar, e
desta vez sinto seu pau se esfregar em mim. Fico em êxtase com a
sensação. Sua boca ataca meu seio e acabo gemendo alto. Uma mão
desliza para a minha boceta e ele começa a massagear meu clitóris.
Aperto seu braço, ele larga meu seio, indo na direção do meu
pescoço, onde morde e beija em seguida.
— Alessandro... Como isso é bom... Deveria ter insistido mais...
Ele sorri e desliza o dedo para dentro de mim. Grito pela
sensação, e ele aperta meu rosto e sussurra em meu ouvido:
— Não posso esperar mais. Estou louco para enterrar meu pau
em você.
— Faça...
Ele tira o dedo e não tenho tempo de sentir falta, pois é rápido,
me ergue em seus braços diante da parede fria e me penetra. É
bruto, intenso. Minhas mãos apertam seus ombros.
— Tudo bem? — questiona e afirmo com a cabeça.
Se movimenta em um vaivém rápido e forte. Nossos gemidos
se misturam com o som da água e dos estalos do nosso corpo se
chocando um ao outro. Sinto-o ir mais fundo. Aperto as pernas ao
seu redor e inclino a cabeça para beijá-lo. Nosso beijo é feroz tanto
quanto suas investidas. Afasto nossos lábios e beijo seu pescoço. Ele
começa a dizer coisas indecentes, e isso me deixa ainda mais louca e
prestes a gozar.
Levo a cabeça para trás vibrando com a sensação de ser tão
preenchida por ele. Meu corpo está parecendo que vai desmoronar.
Como o sexo com ele é maravilhoso! Preciso disso para sempre.
Chupa meu seio e morde e a dor se mistura ao prazer, agarro seu
cabelo.
— Você é gostosa demais!
Sinto que não posso mais segurar. Inclino o corpo para frente e
levo o rosto ao seu pescoço. E ouvir seu gemido ao pé do meu
ouvido me faz delirar ainda mais. Sinto seu pau pulsar, e a sensação
é deliciosa.
— Porra... — sussurro.
Ele solta um gemido rouco, e sinto ele gozar em mim, enquanto
gozo em seu pau com força. Meu corpo fica fraco, mas é uma
fraqueza muito boa.
Quatorze
Paula Escobar
Alessandro Santos
Termino tudo o que tenho que fazer e fecho a tela do notebook
deixando-o no criado-mudo. Olho para a mulher ao meu lado, que
morde um canto do lábio em uma forma bastante atraente. Sua
expressão é séria e isso me atrai ainda mais. Paula sabe ficar linda
de qualquer forma.
Levanto e ela nem se move. Parece ler algo muito importante.
Saio do quarto e vou até a cozinha onde bebo água. Expulsei a Irene
por esse final de semana, pois parece que ela não tem vida além
daqui. Dei um final de semana de spa a ela, que com muito custo
aceitou.
Saio da cozinha e vou para a sacada da sala onde me apoio nas
grades e tiro o celular do bolso e ligo para o Felipe. Dizem que a
esperança é a última que morre.
Apenas chama até cair na caixa postal.
Sinto mãos contornarem minha cintura e dou um leve sorriso.
Viro ficando de costas para a vista da área da piscina e de frente
para a mulher que tem me deixado louco. Ela leva ambas as mãos ao
meu peito. Desço as mãos para a sua cintura e puxo-a deixando
completamente colada ao meu corpo.
— Estava ligando para ele?
Concordo com um aceno.
— Aquele filho da puta me irrita e só faz merda, mas o amo e
preciso de notícias.
— Eu de verdade sinto muito por tê-lo julgado. Naquele dia em
que vi a mensagem e ele falando que a máfia tinha liberado ele de
vez para ajudar, eu pensei como advogada, e não como uma mulher
que sabe que nem mesmo a própria família, que é da lei, vive
seguindo as regras e que seu irmão seja ele o que for, não cabe a
mim julgar. É uma escolha dele e não minha.
Sorrio e beijo levemente seus lábios.
— Ele não é filho de sangue do meu pai, mas pelo visto o gênio
ruim do velho passou para ele. Mas ele não era assim. Porém, após a
morte dos nossos pais, ao que parece, se encontrou neste meio,
mesmo tendo uma carreira brilhante como cirurgião plástico, algo
que também ama, afinal, iria abrir uma clínica no Brasil, se não foi
mais uma de suas omissões.
— Ale, podemos investigar se ele realmente está comprando
algo ou já comprou. E caso tenha comprado, tem que estar tendo
alguma movimentação. Com isso podemos saber algo que nos leve a
ele. Seu irmão pode ser o que for, mas eu devo muito a ele pelo
apoio e ajuda a minha família; e graças a ele, vocês descobriram
antes que era a Poliana fazendo tudo e já foram preparados.
Respiro fundo. Eu sou louco, tenho que confessar, mas não ao
ponto de querer colocá-la em mais problemas.
— Não faça essa cara.
— De lindo? Impossível. É algo natural — brinco e ela revira os
olhos, sorrindo.
— Não. Eu falo da cara de preocupação e querendo me
proteger. Passei a vida ao lado de um homem que daria a vida por
mim; e para muitos, isso seria digno de um grande herói. Mas para
mim apenas me fez recuar diversas vezes, ter medo e não confiar
que eu posso ser mais do que a viúva de um Escobar. Eu amava
muito o Joseph e sempre vou ter um lugar especial em meu coração
para ele, mas não preciso viver repetindo tudo. Acaba se tornando
cansativo viver à sombra de outro, mesmo que sem querer. Então
não me olhe assim, com preocupação e prestes a me dizer algo
como “não quero te envolver nisso”. Estamos juntos e vamos sim
nos envolver nos assuntos um do outro.
Seguro seu rosto com ambas as mãos. Que orgulho que tenho
dessa mulher!
— Eu já te disse que você é um mulherão da porra?!
Paula sorri timidamente e beijo seus lábios com puro desejo,
mas ela se afasta rapidamente.
— Nem pensar. Não me enrola. Vou pedir uma certa ajudinha.
— Homens Escobar? Prefiro o Casagrande, com ele me entendo
mais. — Sorrio.
— Não. Nesta família tem mulheres maravilhosas também.
Como Ana, que é advogada criminalista; Daiane, promotora; Liziara,
com seu gênio forte e sua esperteza além do desastre, óbvio, mas às
vezes até isso ajuda; e Beatriz com sua sabedoria e calmaria.
— E assim nasceram as meninas superamorosas.
— É superpoderosas, Alessandro.
— Que seja. Entendeu, cacete? Não complica.
Rimos.
— Vamos, no caminho ligo para elas e marco de nos
encontrarmos no meu escritório ou na casa de quem estiver livre.
Vai por mim, meu querido, você não vai querer os homens desta
família tentando encontrar uma solução, são um bando de ogros.
— Não pode ser aqui? Podemos relaxar enquanto isso.
— Não. Porque você vai acabar me atentando e vamos nos
perder no sexo e ficar sem atenção.
— Gosto de ficar sem atenção.
— Alessandro, vamos logo!
Ela se vira e fico rindo.
Paula tem razão! Preciso de informações sobre meu irmão.
Paula Escobar
Chegamos à casa do Henrique e Ana. Beatriz e Liziara estão a
caminho. Ao que fui informada os homens foram jogar futebol, o
que é uma maravilha. Não quero eles deixando a todos loucos e se
matando. Alessandro não precisa disso e eu também não.
— Sentem-se. Fiquei curiosa com a reunião — Ana pede
enquanto nos sentamos.
— Precisamos saber o paradeiro do meu irmão.
— Ele não dá notícias desde aquele dia? — Minha nora fica
completamente espantada.
— Nenhuma. Sabemos que ele estava comprando uma clínica
aqui; se for verdade da parte dele, talvez podemos obter
informações.
— Sim. Posso ajudar. Porém, eu irei precisar do notebook
“especial” do Henrique. Ele tem acesso livre a diversos meios de
buscas. Mas o bonito do meu marido não me passa a senha, porém
Luciano pode ajudar. — Ela aponta na direção do segurança ao lado
da porta, que faz cara de encrencado.
— Ótimo. Vamos esperar a Liziara e a Beatriz. E cada uma
investiga de um modo — digo e ela concorda.
— Desculpa envolver vocês nisso.
— Alessandro, eu fui acusada de assassina, nesta família
ninguém é perfeito — ela diz do seu jeitinho doce de ser.
— Que bom que, no meu caso, apenas meu irmão é o assassino.
Acerto um tapa em sua perna e rimos.
— Yasmim e Laís? — questiono devido ao silêncio da casa.
— Laís está dormindo, ela anda bem enjoadinha, gripada e
com mais dentinhos nascendo. Noite passada foi difícil, revezei com
o Henrique, porque ela não queria dormir — ela suspira. — Já
Yasmim estava desenhando no quarto dela com a babá Celinha.
Logo ela aparece, para querer mostrar o que fez.
Sorrio. Amo tanto as crianças dessa família. São meu brilho na
escuridão.
Escutamos vozes ao lado de fora e não dá tempo de o Luciano
abrir a porta, pois o pobre homem é acertado por ela quando
Liziara abre com tudo.
— Meu Deus, Luciano. Perdão! — diz desesperada.
— Tudo... Tudo bem, senhora Liziara — tranquiliza-a
esfregando o rosto.
Ela entra com as gêmeas, que correm com seus jeitinhos
desconcertados em nossa direção. Laura vem para os meus braços e
Helena para os da tia.
— Oi, meu povo. Manda a confusão da vez! — Liziara se senta
na poltrona à frente, deixando a bolsa das meninas ao lado.
— Bobó, mamãe bigou — Laura diz e sorrio.
— E por que ela brigou?
— Laula falô cota fea — Helena a entrega e Ana sorri beijando o
rosto da pequena e a abraçando apertado.
— Essas duas estão uns monstrinhos. Tudo que fala, elas
repetem. E elas têm um pai e um padrinho com um linguajar nada
apropriado. E um tio que só ensina coisa errada. O único que se
salva é o Jacob, misericórdia!
— E eu. Não faço nada — Alessandro diz e Laura olha séria
para ele.
— Papai num gota de vuce.
— Laura Escobar! — Liziara a repreende e ela sorri sem jeito.
— Alessandro, não liga. Eu sou uma boa mãe... tento ser...
Certo, nem sempre sou. Mas juro que o que elas falaram não veio de
mim.
Rimos.
— Liziara, acho que elas têm muito de você e do David — Ana
diz e coloca a Helena no chão.
— Nem pensar. Eu sou calma, pura, tranquila... Deus me livre
se fosse como elas.
— Mas você gosta de mim? — Alessandro questiona Laura, que
o analisa bem.
— Num xei. Vai dar ocolati?
— Eu vou matar o Henrique! Olha o que ensinou a elas! —
Liziara diz revoltada. — Filha, não se faz isso. É feio querer algo em
troca de carinho e amizade.
— Ele ensinou a Yasmim também. Bem-vinda ao clube! Meu
marido é louco e já desisti de tentar entendê-lo faz tempo. — Ana dá
de ombros.
— Sabe, essas crianças devem ser cuidadas bem longe dos
homens da família — digo realmente preocupada.
— Eu dou, se você me der um abraço bem apertado toda vez
que me ver — Alessandro negocia com ela e estende a mão e ela
pula para o colo dele.
Helena não perde tempo e faz o mesmo.
— Pronto. Olha o outro entrando no jogo delas. Estou ferrada!
— Estamos, Liziara. Estamos! — digo bem chocada com a
situação.
Alessandro Santos
Elas investigam e eu preciso de um pouco de ar. Pensar mais.
Porra, Felipe ainda vai me matar de ódio!
Paro na porta que dá para o jardim dos fundos e fico
observando. Só preciso disso, vento e alguns minutos. Porque é
muita coisa acontecendo nos últimos tempos.
— Sai, Laura. Não podi pega. — Olho para a vozinha atrás e vejo
uma ruivinha de olhos claros, segurando uma folha e a mão da
Laura.
Elas me olham e Yasmim inclina a cabeça um pouco para o
lado me observando, mania que notei que o pai dela também tem.
— Onde as mocinhas vão? — pergunto sorrindo.
— Oi, voxe é o homem que meu papai não gosta!
Me sinto tão amado nesta família!
— Ismim, mamãe falo que naum podi tizer itu.
— Laura, é Yasmim! — a ruivinha a corrige e a pequena Laura
faz bico pela bronca.
— Yasmim, você precisa ser mais paciente. Ela é mais nova que
você.
— Já sei disso. — Percebo o quanto ela consegue falar bem
melhor dependendo das palavras. Essa é inteligente demais.
— Pois bem, desse modo é seu dever ser mais calma e
entender que ela tem mais dificuldade em falar do que você.
Ela me olha desconfiada e abaixo ficando à altura das duas.
Laura vem para os meus braços e seguro-a, está com os lábios
tremendo. Vai chorar e vão cortar meu pau fora achando que eu fiz
algo.
— Tá bom! Desculpa, Laura.
Sorrio para ela e dou uma piscadela e ela fica vermelhinha
destacando ainda mais as sardas.
— Então, gatinha, vai desculpar sua prima? — questiono a
pequena agarrada a mim.
— Xim!
Laura se afasta e abraça a prima.
Ana se aproxima e sorri. Levanto-me sob seu olhar.
— As gêmeas têm mais dificuldade em falar algumas coisas,
Lizi levou ao médico, pois estava preocupada, mas ele disse que está
tudo bem, é apenas uma pequena manha delas e preguiça, mas que,
com mais firmeza e ajudando sempre, pegam o jeito. E outra, elas
são novinhas, quase bebês na minha opinião — diz baixo.
Ficamos olhando e Ana torna a falar e, desta vez, bem alto:
— Já a dona Yasmim anda amadurecendo demais para a idade
dela. Já te falei que é a prima mais velha, e deve ter mais paciência!
— Mamãe, Sofi que é.
— Ponto para a ruivinha ai! — digo e Ana me olha feio. Melhor
eu me calar.
— O que estão aprontando?
— Vim tazer pra você. Aí a Lau veio.
Ela entrega o papel a mãe e olho para o desenho todo cheio de
rabiscos. E eu achando que meus alunos entregavam coisas
incompreensíveis.
— Que lindo, meu amor. Eu amei.
— Eu judei, titi!
Ana se abaixa e dá um beijo em cada uma.
— Ficou lindo, princesas! Agora voltem lá para o quarto.
Elas concordam.
— Se estiverem com fome, avisem... O que me lembra de que
tem lanches no escritório, Alessandro. Vamos?
A porta se abre e olhamos para a tropa que chega. Marcos,
David, Jacob e Henrique entram animados, vermelhos, suados. Mas
a alegria morre assim que me olham.
— LUCIANO, ESTÁ DEMITIDO! — Henrique grita olhando para
o segurança e apontando para mim.
— Ultimamente o senhor tem me mandado embora toda
semana. Com licença, vou verificar a ronda dos seguranças. — Ele se
retira e Ana ri. Se ela riu, eu posso, né?
— Papai! — Ana e Laura gritam e correm para seus respectivos
pais, que as pegam no colo.
— O que esse porra faz aqui?
— Epa, olha o palavreado, Marcos! Deposita a grana depois! —
Liziara diz surgindo na sala ao lado das outras.
Olho sem entender e prefiro continuar assim.
— Que caralho está acontecendo aqui? — David questiona.
— Olha a boca, David! — Liziara repreende e ele a olha feio.
— Ele é legal, papai! — Yasmim diz.
— QUE ISSO, YASMIM? TRAINDO SEU PAI? — ele grita e ela
segura para não rir levando a mão à boca.
Nem a filha o leva a sério. Coitadinho.
Paula para ao meu lado e revira os olhos. Cruza os braços e
suspira.
— Beatriz, cadê o Arthur?
— Com a babá, Marcos. Não pira.
— Não pira? O caralho que não pira! — ele rebate e ela o
desafia com o olhar.
— Menos, bem menos, meu amor — a corajosa declara e eu
quero rir.
Sophie desce com a Helena. E a segunda vai até o pai.
— Pai! — Sophie corre para o pai e o abraça. — Que nojo!
Assim não tenho como ser boazinha. Todo suado igual porquinho.
Eca, Daiane! Como aguenta?
— Me faço essa pergunta todos os dias, gata!
— Ótimo. Bom saber o quanto valorizam a mim — Jacob diz e
se senta no braço da poltrona.
— Sabe, eu me sinto bem recebido nesta família — comento.
— Que bom que leva na esportiva — Beatriz diz sorrindo.
— O que estão aprontando? — Henrique questiona colocando
a filha no chão e o David faz o mesmo com as gêmeas. Elas
cumprimentam os outros e Yasmim parece ter um apego enorme ao
Jacob porque se agarra a ele, sem se importar se ele está suado.
Laura olha feio para o Marcos quando ele aperta a bochecha dela.
— Sabe, Marcos, suas afilhadas têm amor e ódio por você, mas
o bom que a conta bancária delas é bem gorda, graças a você.
Faculdade garantida.
— Cala a boca, porra-louca! — o juiz fala olhando feio para a
Liziara.
— Acabou o circo? — Paula questiona com a sobrancelha
erguida.
— Eita! Vamos, meninas. Como diria minha bisa: agora danou-
se! — Sophie fala levando a mão à cabeça.
Elas saem da sala e rio.
— Que caralho faz aqui? — Henrique me encara nervoso.
— Sempre quis fazer orgia — provoco.
— Filho da puta! — Henrique avança e Jacob o segura. — Tira a
mão, seu rouba mãe!
— Qual é? O que mais eu iria fazer aqui? Já tentaram falar ao
menos com essas mulheres quando se reúnem para algo? Elas
enlouquecem qualquer um — digo e Paula me acerta de um lado e
Liziara do outro. Só me fodo!
— Cuidado, Alessandro, não tenho unhas grandes à toa! —
Beatriz declara.
— Nem sempre minhas pernas servem apenas para andar, na
maioria das vezes é para chutar a bunda de quem me provoca! —
Ana rebate e cruza os braços.
— É, Ale, às vezes sou uma santa, a única entre elas — Daiane
diz rindo.
— Quanta calúnia! Eu sou santa, e a única. — Liziara finge estar
ofendida.
Que porra de gente louca é essa? E essas falas? Devo me
preocupar? Puta que pariu! Em que manicômio vim parar?
— Liziara, você é tão santa que... Esquece — Henrique começa,
mas para.
— O que ia dizer, Henrique? Desembucha! — David diz sério.
Henrique se afasta. Esperto, provoca e corre.
— Porra-louca, aprontou, com certeza — Marcos diz e cruza os
braços.
— Fodeu! — Jacob ri.
— N-não aprontei. Henrique é louco! — Ela fica nervosa. Isso
não é bom.
— Por que está nervosa? — David questiona ainda mais.
— Deixem disso. Estamos aqui por assuntos que não diz
respeito a vocês e parem de atormentar as pessoas. E, Henrique,
deixa de ser linguarudo. Se a Liziara não contou que trabalhou na
boate e o Joaquim estava lá, o problema... Ai, Deus!
— PAULA! — As meninas dizem juntas.
— Mamãe, que bela fofoqueira! — Henrique provoca.
— Olha o que fez, eu vou te matar, Henrique. Eu vou!
— Desta vez, ele não teve culpa sozinho, sogra — Jacob fala.
— Cala a boca, pateta! — Daiane repreende o esposo.
— Eu nunca defendo o Henrique e, quando faço, me lasco! Vou
para a cozinha assaltar a geladeira alheia.
— ENCOSTA NA MINHA COMIDA E ARRANCO SEU PAU! —
Henrique grita.
— Tem lanche no escritório... — comento e Jacob sorri.
— Eu não gosto de você, cara! — Henrique fala entredentes
enquanto me olha raivoso.
Jacob vai para o escritório com o Henrique seguindo-o e
ameaçando atirar em sua bunda.
— Paula, acho que você criou um ambiente perigoso. Olha a
cara do David. Não parece que ele vai arrastar o pé direito, e então
vir que nem um touro louco? — cochicho em seu ouvido e ela
concorda.
— Beatriz, vamos. Não estou a fim de presenciar um homicídio,
ainda mais não sabendo quem vai matar quem.
— Pois, eu estou. Se aquieta, juiz de quinta.
— Porra de mulher! — reclama nervosinho. Esse juiz precisa
de um calmante.
— David, antes de surtar, eu quero dizer...
— Não quero ouvir. Melhor nem falar nada agora, porque eu
sinto que você vai me matar de tanto estresse. E esse Joaquim,
considere ele morto.
— Epa! Ninguém morre. Depois eu tenho que limpar da mídia
toda merda que fazem! — Daiane reclama apontando para eles.
— E eu tenho que limpar de tudo quanto é buraco nesse meio
jurídico, que é um caralho de burocrático. A pirralha tem razão —
Marcos concorda e se senta no sofá.
Quem vai fazer a pipoca e trazer as bebidas?
— Que bom que não preciso falar nada, porque nesses longos
dias escondendo, não achei a melhor forma de dizer. Nossa, me
livrou de um grande e enrolado discurso, amor — Liziara suspira ao
dizer e não sei, mas não me parece que foi uma boa escolha essas
palavras.
— É, eu vou te matar primeiro! — David dá um passo e Liziara
corre e se esconde atrás de mim.
— Porra, virei escudo?! — grito.
— Cala a boca, Alessandro, e ajuda! — ela pede e vira para a
Paula, levando meu corpo junto. — Uma vez, você disse que ele é o
segundo mais extrovertido.
— Meu amor, eu passei a repetir muitos adjetivos sobre esses
homens na esperança de que se tornassem realidade. Acredite em
mim, sou uma grande esperançosa. — Minha mulher tenta ajudar,
mas só piora.
— Em casa vamos conversar sobre isso — David diz ao passar
a mão no cabelo e se sentar.
— Isso quer dizer sexo. Adoro ele bruto — Liziara cochicha no
meu ouvido e acabo rindo.
O clima louco muda quando Daiane olha para o seu celular,
que faz barulho, e depois para mim em negativa. Liziara se afasta e
me olha triste.
— Ele vai aparecer, meu amor — Paula me fala entendendo a
situação e segura minha mão.
— Deveria ter pedido nossa ajuda. Não concordo com ele e
nem em ter você nesta família, mas nos ajudou quando precisamos.
É uma troca — David diz.
— Ele tem razão. Sabemos que não tem notícias do Felipe
desde o ocorrido. Isso não é brincadeira. Seja a porra que ele for, é
seu irmão. E nos ajudou, devemos sim um favor a ele, mesmo que o
idiota diga o contrário. E olha que, para eu querer ajudar alguém
como ele, é um milagre — Marcos fala e faz um sinal para a esposa
que caminha até ele, e se senta em seu colo. É nítido o quanto ele
precisa sentir que tem o controle de tudo e todos, até mesmo da
esposa, quando sabemos que é ela quem dita as regras e ele segue,
porque a ama.
— Já fizeram o bastante. Está tudo bem. — Sou sincero.
— Vamos, vou preparar um café da tarde para nós e animar
essa situação. Os lanches devem ter sido devorados. Marcos, traga o
Arthur e tome um banho. Você também, David. Vou mandar o Jacob
e o Henrique fazerem o mesmo. Nada como um fim de tarde em
família para animar tudo — Ana diz carinhosa e sorrimos.
— Ana tem razão. E já que me enrolam sobre as reuniões em
família que impus uma vez, vamos aproveitar quando por um
milagre estamos reunidos sem combinar — Paula fala.
Cada um faz o que foi combinado. Paula acompanha Ana na
cozinha para ajudar.
Sento-me na sala e respiro fundo.
Meu celular faz barulho e é uma mensagem de um número
desconhecido:
“Pare de vasculhar o que não deve. Estou vivo, é tudo o que precisa
saber. Não quero essa família puxando minha vida, até porque não sou
idiota e não deixo rastros e sei cada acesso que qualquer um faz sobre mim.
Segunda-feira, eu encontro você na sua casa. Precisamos conversar sobre
uma coisa. Não retorne a este número, será inútil.
F.S.”
Leio três vezes e começo a respirar aliviado. Esse filho da puta
está bem. Mas o que ele quer conversar? O que aconteceu?
Paula retorna.
— Vem ficar conosco. Não fique sozinho, é entediante; se bem
que, às vezes, é tudo o que preciso devido a essa família louca.
Ela se aproxima e a puxo para o meu colo, beijando seus lábios
com força. É como se eu precisasse sentir que tudo isso é real. Como
se estivesse vivendo com o ar preso nos últimos dias. Sentir seus
lábios me acalmam, ao mesmo tempo que me fazem querer tirar sua
roupa e possuí-la seja onde for e sem qualquer pudor.
Ela afasta delicadamente os lábios e sorri acariciando meu
rosto.
— Ele está vivo e ele mesmo te disse isso — diz baixinho.
— Como sabe?
— Seu semblante. Ficou leve, e seu beijo, existe alívio nele,
assim como seu olhar transmite a paz de antes.
— Ele fode tudo toda vez.
— Mas é seu irmão. Eu entendo, já te disse. Mas não concordo.
Porém, jamais pediria a você que o largasse. Joel, antigo amigo do
Joseph, era assim; só fazia coisas erradas, mas jamais pedi para que
se afastassem, porque, às vezes, isso pode ser pior.
— Já disse que você é um mulherão da porra?
— Sim. — Ela sorri e porra de sorriso lindo!
— E eu também avisei que eu amo esse mulherão da porra?
Ela fica parada por um tempo, mas logo um sorriso ainda
maior e mais lindo surge em seus lábios.
— Não. Isso não disse. — Sua voz é trêmula.
— Então avisa a uma determinada mulher que a amo.
— Se for a que está em seu colo, ela acha que também ama
você. — Seus olhos brilham e é lindo de ver.
— Acha? — Ergo as sobrancelhas e ela ri.
— Estava apenas esperando você dizer que me amava para eu
retribuir essa palavra, que para mim tem um imenso poder.
Também amo você.
Torno a beijá-la. Passei a vida saindo com muitas mulheres, e
dizendo que jamais amaria alguma e a tornaria minha. Mas maldita
seja a tal lei do retorno. Ela retornou tendo nome e sobrenome, e
pisando na minha cabeça com seus saltos que eu, particularmente,
acho que a deixam ainda mais gostosa.
— Vamos, antes que eu pire.
— Não posso ir agora. Vai na frente. Está tenso.
— Eu senti — responde timidamente.
— Que bom. Porque eu me sentiria mal caso contrário, afinal
não é pequeno.
— Safado!
— Sempre.
Ela fica vermelha e sai rindo.
Quinze
Paula Escobar
Saio completamente feliz da audiência. Consegui o melhor
para a criança pela qual a mãe lutava para o pai ser mais decente e
arcar com mais coisas, afinal, o homem é ricaço e estava enrolando
a filha, e se fazendo de coitado; mas consegui todas as informações
necessárias e o coloquei contra a parede na frente do juiz, junto do
advogado dele, que longe de mim desmerecer qualquer outro
colega de profissão, mas um que se sujeita a ficar ao lado de um
homem que se nega a ajudar a filha, para mim é igual ao homem,
pois ficou o tempo todo tentando virar o jogo a favor do cliente dele,
mesmo sendo nítido que o homem não enganou apenas a garotinha,
mas como o próprio advogado dele. Mas, enfim, deu tudo certo.
Olho sorridente para o Pascoal, que abre a porta para mim.
— Pelo visto foi uma excelente audiência.
— E como, meu querido. Vi uma mãe e filha saírem com um
brilho nos olhos. Incrível como, para aquela garotinha inocente, o
pai é um herói. Ficou feliz por ter ganhado um abraço dele, e ele
prometer que vão fazer mais viagens, passeios... Por isso digo aos
meus filhos para preservarem a inocência dos nossos pequenos o
quanto puderem, porque, quando isso acaba, passamos a enxergar
um mundo escuro na maioria das vezes. — Entro no carro.
— Tem toda razão. Uma prova disso é quando parei de
acreditar em Papai Noel, o Natal parece não ter sido mais o mesmo
desde então.
— Viu só! Estou certa. Sempre estou. Agora vamos. Quero
relaxar antes do maldito treino. Por que eu faço isso mesmo?
— Porque sempre tem alguém tentando matar vocês.
— Sua sinceridade é uma dádiva.
Rimos e ele fecha a minha porta. Contorna o carro, fazendo o
protocolo de segurança, ao averiguar tudo ao redor. Vejo mais duas
motos se aproximarem com membros da equipe. Ele entra no carro
e não demora para sairmos dali, com as motos fazendo escolta.
Meu celular começa a tocar e é uma ligação do Clóvis.
— Olá.
— Sra. Escobar, encontrei a casa perfeita. Próxima de onde morava.
Bem grande, aconchegante, mobiliada, e bem ao estilo família como
gostaria. Fica em um condomínio de casas, e tem apenas duas para vender
e ambas com propostas de compradores, está uma loucura. É o mesmo
dono em ambas, e ele alegou que aquele que lhe der a melhor oferta leva
uma ou as duas.
— Pois, bem. Vamos ver a tal casa. Pelo visto é bem concorrida.
— Sim, e já reservei para que possa conhecer, porém deve ser hoje...
Mais precisamente agora. Tem como?
— Claro! Mande o endereço e estarei a caminho.
— Ótimo. Vou mandar tudo por mensagem e aguardo a senhora aqui
no local.
— Certo. Até logo.
Desligamos e não demora a vir a mensagem dele. Mostro ao
Pascoal, que muda a rota e avisa aos outros dois seguranças pelo
ponto de escuta.
— Será que conseguiremos uma casa hoje? — indago.
— Torcendo para que consiga.
— Eu também. O flat do Henrique é bom, mas não é o meu lar.
— Entendo. Então vamos torcer em dobro para esta casa ser
boa.
— Sim. E quem sabe, o David não fique com a outra casa. São
duas à venda no mesmo condomínio.
— Seria ótimo. Família por perto é bom.
— Muito. Eles precisam de uma força e eu estando por perto é
melhor. Vamos torcer, Pascoal.
Sorrimos.
Uma mensagem do Alessandro me faz sorrir e sentir que meu
corpo inteiro ficou vermelho. Leio duas vezes seguidas sua
safadeza.
“Estou trabalhando e a ponto de matar meus alunos. Mas sabe por
que não fiz? Pois preciso do seu corpo inteiramente nu para mim, e na
porra da cadeia não terei. Meu pau requer cuidados preciosos, começando
por suas lambidas... Foda, estou duro! Mulher, você está me ferrando todo!”
Respondo:
“Tenha modos. Sou cardíaca. Rsrs.”
Ele responde com uma carinha de diabinho. Eu estou
arranjada com esse homem, que é pior que os loucos dos meus
filhos, que só me causam vergonha com suas loucuras.
Chegamos ao condomínio, e Clóvis vem até nós com
autorização da nossa entrada. É realmente próximo da antiga casa.
— Diz que tem segurança vinte e quatro horas. — Pascoal
aponta a placa. — Duvido que seja tão eficaz.
— Homem, nada de paranoias. Claro que nada será totalmente
seguro, mas precisamos viver.
— Cometi uma falha, senhora, e não cometerei mais. — A dor
em suas palavras é nítida.
— Você não falhou. Você não teve escolha. É bem diferente. Eu
faria o mesmo por minha família. Você foi homem suficiente para
colocar a sua família à frente até mesmo da sua segurança. E acha
mesmo que meus filhos teriam mantido você após tudo, se tivesse
agido totalmente errado? Todos erramos naqueles dias, então se for
para colocar a culpa em alguém, que seja em todos nós. Certo?
— A senhora quem manda.
— Acho bom. Poderia dizer isso nas reuniões da equipe com
aqueles projetos de filhos?
— Isso inclui o senhor Marcos?
— Sim. Principalmente esse estressadinho. Vontade de dar uns
petelecos na cabeça loira dele. Teimoso e bravo igual uma mula.
— E mula é brava? — ele indaga seguindo o carro do Clóvis.
— Não sei, mas se for como o Marcos é totalmente.
Rimos.
Clóvis estaciona na frente de uma casa, que mais parece uma
mansão, assim como todas as outras. Estacionamos atrás. As motos
param uma de cada lado do carro. Desço e Pascoal faz o mesmo. Ele
ajeita a arma na cintura e faz sinal para os outros dois, que descem
da moto e ficam em posição.
— Essa é a casa número 1 — Clóvis informa. — Vamos
conhecê-la?
— Agora. Estou ansiosa. Já gostei do condomínio, bastante
vegetação, casas lindas e parece ser tranquilo.
— É sim. Tem muitos idosos morando.
— Você está insinuando que me arrumou uma casa em um
asilo?
— Acho que ele está, senhora — Pascoal diz e os outros tentam
disfarçar o riso, mas não fazem muito bem.
— N-Não, senhora. E-eu... — fica nervoso.
— Calma, Clóvis. Estou brincando apenas. Vamos conhecer a
casa.
Ele vai na frente e Pascoal faz sinal de que ele é louco. Acabo
rindo.
Passamos pela imensa porta. Os outros seguranças ficam na
porta.
Olho para o primeiro ambiente que sou recebida e fico
boquiaberta. É muito grande a sala. A decoração é linda, ao estilo
praiano, bem tropical, aconchegante.
As janelas imensas dão vistas para lindas árvores.
— As janelas são sem cortinas, para dar este ar mais tropical.
Porém, quem está de fora, não vê nada dentro. Vão notar que
muitos cômodos têm janelas assim. E com isso acaba tendo redução
no custo de energia devido a claridade natural.
Os móveis são impecáveis. O tapete listrado em diversos tons
de marrom chama a atenção, pois criam contraste com os sofás
brancos.
— Liste os cômodos, Clóvis.
— São oito suítes e todas incluem closet. Tem também cinco
banheiros, sendo dois apenas lavatórios. Sala de estar é onde
estamos. Tem a sala de jantar, de TV e de leitura. São dois
escritórios. Há duas cozinhas, sendo uma exclusiva da área gourmet
onde tem churrasqueira, piscina, área de lazer completa, uma
academia adaptada à casa...
— Porra! — Pascoal diz e acaba ficando sem graça.
— Pensei o mesmo, não se preocupe — digo a ele.
— Não terminei. Garagem para cinco carros e tem
brinquedoteca. Além da ala exclusiva para funcionários.
— Tem chances de conhecermos a casa inteira hoje? — brinco.
— Totalmente. Vamos! — responde animado.
Alessandro Santos
Chego em casa completamente cansado. Preciso de um banho,
comida, e mais tarde irei ver a Paula.
O cansaço mental se torna um tanto pior que o físico, e porra,
estou mentalmente cansado.
— Senhor, chegou!
— PUTA QUE PARIU! Irene, você ainda me mata, inferno! —
Olho para a senhora baixinha que surge na sala.
— Perdão! Mas o senhor que anda distraído.
— Mulher, você é um fantasma. Tenho certeza.
— Não sou não. Só gostaria de saber se vai ficar para almoçar,
pois não para mais em casa...
— Está enciumada, meu amor? Tem Alessandro para todas.
Que a Paula não me escute, você precisa ver essa mulher treinando.
— Tenha modos. Não tenho ciúmes. Apenas fiz comida, e o
menino Felipe está aí também.
— Como é?! Caralho!
— No escritório. Chegou há pouco.
— TEREMOS UM NOVO PRATO: FELIPE ASSADO. EU MATO ESSE
FILHO DA PUTA!
Largo tudo no sofá e vou para o escritório. Eu vou matá-lo...
Primeiro deixarei ele falar, e depois matarei.
Abro a porta e ele abaixa o livro que está em suas mãos e o
coloca sobre a mesa, então me olha e retira os pés da mesa e se
senta ereto.
— Meu irmão.
— Irmão? — Fecho a porta com força. — Você some, manda o
caralho de uma mensagem e acha que pode vir com essa cara de
idiota e me chamar de irmão?
— Deveria estar feliz. Estou vivo. Não morto como deveria
estar pensando.
— Felipe, me dê um bom motivo para não socar essa sua cara!
— Simples. Vai me ouvir, e com muita atenção. É sério. Não
estou com tempo para ficar repetindo e nem paciência.
— Onde estava? — questiono bem sério.
— Negócios. Precisava resolver o que vim fazer aqui.
Alessandro, eu omiti algumas coisas.
— Sobre o quê? Seja mais claro.
— Sobre muitas coisas. Não me interrompa.
— Prossiga, inferno! — Sento-me no sofá e observo-o.
— Eu vim para livrar o chefe dessa máfia, que foi preso. Eles
queriam a cabeça de todos os Escobar, e eu os ajudaria. Mas
descobri que você estava com essa família, e precisava saber o que
estava fazendo com eles. Passei a investigá-los e entendi tudo. Você
estava interessado na Paula. Porém, isso te colocaria em risco e eu
não poderia poupá-lo. E, mais uma vez, fui surpreendido. Os idiotas
dos Escobar passaram a sofrer atentados, e não era a máfia dando
um recado, era outro inimigo, e caralho, você estava próximo
demais. Tive que me aproximar, então menti sobre a clínica, eu não
precisava, mas comprei. Eu me aproximei, porque meu irmão
estava nessa merda, e família sempre vem em primeiro lugar. Eu
precisava descobrir quem queria a família da lei fora de jogo, foi
então que o nome da Poliana Gonçalves Xavier surgiu. Ela havia
fugido com a ajuda de diversos policiais corruptos e comecei a
rastrear os passos dela, ela era esperta, mas eu bem mais.
— Vai direto ao caralho do ponto! — Sinto a raiva me dominar.
Eu sempre soube que tinha mais coisas ligadas à sua vinda ao
Brasil. Felipe nunca é claro sobre o que está fazendo e eu sentia que
ele escondia coisas, e pelo visto não estava errado.
— O chefe da minha máfia queria saber por que eu estava
demorando e resolveu vir pessoalmente com os outros membros.
Contei a verdade a ele e pedi ajuda. Ele queria saber o pagamento e
eu disse que, no final, ele e eu decidiríamos. Entreguei a você os
papéis com as informações, porque eu sabia que no momento certo
você abriria a boca. Só que imaginei que você cairia fora, mas não.
Você pagou de herói, e puta que pariu, eu queria te matar de tanta
raiva! E mais uma vez, coloquei sua segurança à frente. Nunca foi
por eles, sempre foi por você. Se esta família está viva foi por você.
Mas tudo desandou. Aqueles idiotas não conseguiram deter a
Poliana a tempo, e houve a briga final. Após aquilo, eu fui enfrentar
meu chefe. Eu falhei com a minha máfia e com o acordo que
devíamos a máfia daqui. Houve então o “Julgamento da aliança”.
— Que merda é isso?
— Quem atira primeiro fica com o poder. Eu era o conselheiro
da máfia, devia respeito, e falhei em todos os aspectos. Para eu sair,
apenas morto. Mas se eu ganhasse...
— Você assumiria o poder. Você não estaria apenas na máfia,
você seria essa merda.
— Exatamente, meu irmão. — Ele sorri e ergue a mão
mostrando o anel dourado com uma pedra preta que carrega em
seu dedo indicador. — Quando ele está neste dedo indica poder... Eu
atirei primeiro. Afinal, é assim que funcionam as coisas no meu
mundo. Ninguém brinca, ou hesita.
Levanto-me nervoso. Passo as mãos pelo cabelo. Puta que
pariu, isso só pode ser piada!
— Era para matar os Escobar e ajudar o caralho da máfia
daqui, e agora ainda está dizendo que se tornou o chefe dessa
merda? Era para eu ter a porra de um orgulho? — indago com
ironia.
— Não. Era para você entender como funcionam as coisas.
Aquele juiz do caralho condenou o chefe daqui e devíamos um
favor. Mas você estava nisso tudo, e priorizei você.
— Que lindo! Devo agradecer? — ironizo novamente. — Felipe,
você se ouve, porra?
— Sim. Me ouço muito bem. E não precisa me agradecer. Mas
quero que saiba de algo. A partir de agora, tudo muda. E eles não
podem saber o que me tornei. Quero eles longe dos meus negócios,
e ninguém se machuca.
— Você é um filho da puta! Sempre estraga tudo. Porra! —
grito nervoso.
— Eu sei... Mas amo você, então tome cuidado. Porque, se nada
aconteceu, foi para te proteger. — Ele se levanta e me aproximo.
— Você vai me prometer que não vai machucá-los. Porque eu
não vou mais passar pano para as suas merdas. Eu cansei, Felipe.
Ele sorri. O desgraçado sorri.
— Meu irmão, onde você estiver, ninguém sairá ferido. Não
notou ainda? Eu poderia ter ajudado aquela louca, mas salvei o rabo
deles. Mas uma hora eles podem mexer no que não deve, e você não
vai estar por perto.
— Felipe, ela já perdeu o ex.
— Eu sei. Perdeu o ex-marido, o melhor amigo deles também,
que era um tal de Joel. Os pais da ruivinha Ana Louise morreram... O
juiz teve uma ex bem louca, que chamava Renata e estava grávida
dele... Eu sei tudo sobre eles. Não preciso do seu relatório. E não irei
encostar um dedo na sua protegida. Desde que ninguém interfira
nos meus negócios. Passarei um tempo aqui na cidade, porque
agora tenho uma nova clínica — debocha.
— Eu sempre vou estar por perto. E se foder tudo, eu acabo
com você.
— Somos iguais, Alessandro. Só você não vê isso. Estamos
protegendo quem amamos.
— Com uma diferença. Não mato ninguém para isso.
— Será? Eu duvido muito. Por aquela mulher, você faria tal
coisa. Na verdade, já fez. Não se subestime.
— Se eu estiver perto...
— Eu sei que sempre vai estar, Alessandro.
— Você é um desgraçado.
— E mesmo assim ficou me buscando em todos os meios. Meus
homens têm acesso a tudo.
— Porque você é o meu irmão, seu filho da puta!
— Eu sei.
Ele me abraça e sinto o alívio desse idiota estar vivo, mas
ainda estou puto com tudo isso. Eu sabia que ele viria com alguma
merda. Sempre foi assim. Não se pode subestimar o Felipe, porque
ele é sempre capaz de surpreender e nem sempre são com coisas
boas.
Nos afastamos e a raiva ainda é intensa, acerto um murro em
seu rosto levando-o ao chão.
— Seu filho da puta! — xinga nervoso.
— É, meu irmão. Talvez tenhamos algumas coisas em comum.
Saio do escritório e escuto o riso de deboche dele. Desgraçado.
Dezesseis
Paula Escobar
Um mês depois...
Alessandro Santos
Paula não parece muito feliz. Seu olhar diz que a qualquer
instante ela pode matar alguém, prova disso que expulsou a todos
da nova casa e disse que faria tudo sozinha, mas a Marcela e Jurema
disseram que ficariam e ajudariam, não deram ouvidos a mulher
bastante estressada, e estão na cozinha organizando as coisas.
Eu já havia vindo aqui durante o processo da compra da casa e
sou apaixonado pelo lugar. É incrível. Ela tem um bom gosto. Mas
foda-se a casa, quero saber da mulher a minha frente!
— Você vai continuar com essa cara emburrada? Porque
preciso saber se vou ficar aqui o dia todo com você assim, pois
prefiro aturar a Irene me xingando — digo com sinceridade e ela
me olha feio. O arrependimento bateu forte agora, ela vai me matar
nessa porra.
— Só estou brava porque vocês são terríveis e me
enlouquecem demais.
Me aproximo e abraço-a por trás.
— Não tente me agradar.
— Longe de mim. — Beijo seu pescoço e sinto seus ombros
relaxarem. — Os últimos dias foram corridos, você precisa relaxar.
— Não... enquanto não estiver tudo ajeitado.
— Estou sem seu corpo há dias. Isso é tortura. — Viro-a
deixando de frente para mim, e pressiono seu corpo ao meu.
— Não diga essas coisas, e alto. Marcela e Jurema podem ouvir
e os seguranças também.
— Foda-se! Eu sei como te fazer relaxar e sabe disso. — Levo a
mão a sua nuca e aproximo meu rosto.
— Aqui não, estamos na sala.
— Assim que é mais divertido.
— Ale...
Não deixo que termine de falar. Beijo sua boca com vontade.
Meu corpo reage ao contato rapidamente. Caralho, estou há dias
sem ela. Caminho levando-a até o sofá, sem tirar os lábios dos seus.
Fico entre suas pernas, onde seu vestido já curto – essa porra é
curta demais – sobe ainda mais. Ela afasta os lábios lentamente e
sorri.
— Você é louco. Sorte que as câmeras da casa vão ser ligadas à
noite pelos meninos com a equipe.
— Daríamos um belo show. — Sorrio e esfrego meu pau nela,
que geme baixinho.
— Marcela e Jurema vão ter um treco. É sério.
— Eu já disse que foda-se! Eu preciso de você.
Levo a mão entre suas pernas e esfrego sua boceta, fazendo-a
gemer ainda mais. Aproximo os lábios de seu ouvido e mordo sua
orelha de leve.
— Vou fodê-la nesta sala e agora... Porra, que saudade!
— Alessandro, você é louco... — Sua voz é trêmula. Ela sorri.
Afasto-me o suficiente para retirar sua calcinha e deixar de
lado. Ela olha para os lados e sorrio.
— Perigoso é mais gostoso, nunca ouviu dizer? — indago
abrindo a calça e abaixando o suficiente junto com a cueca.
Seus olhos vão direto para o meu pau e ela morde o lábio.
Safada, ela quer tanto quanto eu e ficou torturando a nós dois nos
últimos dias.
Fico entre suas pernas mais uma vez, e encaixo meu pau em
sua entrada molhada. Deixo uma mão em seu rosto e a outra, uso de
apoio ao lado de sua cabeça. Levo meus lábios aos seus, e penetro-a
de uma vez. Seu gemido é abafado por mim. Suas mãos agarram
minhas costas e suas pernas me contornam. Afasto os nossos lábios
e começo a movimentar-me rápido e forte, ela acompanha e morde
o lábio, mas suas tentativas de diminuir os gemidos são inúteis,
assim como as minhas.
— Amo seu corpo, sua boceta... Amo você, Paula — falo em seu
ouvido e ela geme alto desta vez, enquanto suas mãos me apertam
ainda mais.
— É tão bom... Também amo... — geme. — Amo você.
Sentir meu pau dentro dela é delicioso demais. Sua boceta é
quente, e ela me aperta muito. É uma sensação do caralho.
Nossa respiração é irregular. Meus movimentos são brutos e o
calor de sua boceta, os gemidos tímidos que saem de seus lábios,
suas expressões, todo o conjunto está me deixando ainda mais
louco.
Levo as mãos por baixo de seu corpo, elevando-o um pouco e
deixando as estocadas ainda mais profundas. Agarra meu pescoço e
esconde o rosto nele. Sua respiração quente e rápida me causa
arrepios pelo corpo inteiro.
— Goza comigo, meu amor.
Ela xinga entre os gemidos insanos.
Saio de dentro dela e penetro de uma vez novamente. Repito
isso algumas vezes, e seu corpo fica rígido. Ela me aperta com mais
força. Sua boceta contrai ainda mais meu pau.
— Caralho! — xingo e seu corpo começa a tremer. Gozo com
ela, derramando todo o meu prazer dentro dela, que me envolve em
um deslizar perfeito.
Ficamos abraçados por alguns minutos, recuperando nossas
forças e fôlego.
— Você é louco, muito louco e vai me enlouquecer...
— Meu destino é fazer exatamente isso a você. — Beijo com
carinho seus lábios e sorrio.
— Obrigada, por fazer parte da minha vida. Por ser incrível.
Você é maravilhoso, Alessandro.
— Nunca acreditei na redenção de um homem que leva a vida
como eu, mas hoje entendo que ele precisa apenas encontrar a
pessoa certa. Encontrei você, e porra, que sorte a minha!
Ela sorri e segura meu rosto.
— Eu te amo e me sinto muito bem em lhe dizer isso.
— Eu também te amo, meu mulherão da porra!
Sorrimos.
Se eu tivesse apostado, teria perdido. Era para ser apenas uma
noite, eu planejei isso desde que a vi na boate pela primeira vez,
mas caralho de destino. E tenho que agradecê-lo, porque desta vez
ele caprichou demais. Não é apenas o recomeço dela, é o meu e isso
é um fato.
— Meu recomeço... sempre foi você. — Beijo-a com carinho.
Preciso levá-la para o quarto, porque meu pau quer
comemorar muito essa nova fase. Sou um safado incurável.
Sempre foi ela. Desde que a conheci, meu olhar, pensamentos,
desejos e coração foram dela, e fui um idiota em notar apenas
agora. Mas ainda bem que descobri a tempo.
— Meu recomeço — ela repete e sorri.
Epílogo 1
PAULA SANTOS
Epílogo 2
ARTHUR ESCOBAR
— Deixa de ser ogro! Não nega ser filho do tio Marcos — diz
com seu jeitinho doce, assim como o de sua mãe, a tia Ana.
— A mamãe diz que daqui uns dias só vai ver seu olho, pois
está indo pelo mesmo caminho do papai.
— Não mais que a minha. Quando meu pai fez uma tatuagem,
ela surtou. Falou que se casou com um gibi humano, sendo que foi
apenas uma.
— Laura, tia Liziara é louca. Ainda não sei como conseguiu ser
nomeada a melhor delegada do país.
— Por falar em nossos pais, meu pai está louco comigo, porque
não estou indo aos treinos — Yasmim diz desanimada.
Laís se afasta e passa pelas primas que tentam falar com ela,
mas a pequena faz sinal que quer ficar sozinha.
— Estava demorando...
Queria entender por que meu pai e meus tios pegam casos com
pessoas loucas ao extremo? Sempre sobra para nós, pois a nova
geração está no destaque. Puta merda! Por que não se aposentam
logo? Meu Deus!
Parece que fica mais forte a cada ano e isso me assusta, sério, e
poucas coisas me assustam.
Não é novidade para ninguém que a nova geração dos herdeiros Escobar
tem dado o que falar. E desta vez marcaram presença na boate mais
famosa da cidade, e podem gritar corações apaixonados, todos juntinhos e
solteiros.
Até mesmo Eric Fernandez (filho de umas das advogadas mais requisitadas
e do investigador mais conhecido) esteve com eles.
Mas ao que parece a vida deles não anda tão tranquila. Assim como no
passado, a família continua enfrentando diversas perseguições, e ao que
tudo indica a saída repentina foi em questão disso.
Mas a pergunta que não quer calar é: Quando veremos esses jovens dando
o que falar em busca dos seus grandes amores?
Babi: Laís sempre com cara de anjinho, essa menina tem jeito de sonsa.
Mas esse primo dela e o Eric, gatos demais, eu pegava.
Resposta a Babi:
Precisa ver se eles iriam querer você. E a Laís é fofinha, tem seu charme,
assim como as outras! Menos recalque, e mais amor.
Agradecimentos
Com amor,
Deby Incour.
#SérieEscobarParaSempre
Biografia
Deby Incour é brasileira e começou a escrever em 2014 e
desde então nunca mais parou. Seus livros foram publicados no
Wattpad e renderam milhares de leituras. Em 2016 se destacou
ainda mais com a Série Escobar, se tornando autora bestseller com
o primeiro livro da série na Amazon brasileira. Sempre amou o
mundo do “era uma vez”, e poder criar o seu próprio foi como ter
uma varinha mágica ou um gênio da lâmpada realizando seus
desejos. Também é completamente apaixonada por romances de
época, onde sonha com bailes e vestidos bufantes. Adora tirar fotos,
e assistir filmes clichês como as famosas comédias românticas.
Porém, é quando escreve ou lê que tudo fica perfeito, além de
escutar músicas e cantar na ilusão de que faz isso muito bem.
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