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Quando o Amor Acontece

MAYJO
Copyright © 2016 MAYJO

Capa: Mia Klein

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Agradecimentos:

A todos que fizeram parte nesse longo dois anos desde o lançamento de Quando o Amor
Acontece. Obrigada, por fazerem parte desse sonho.
Obrigada a todos aqueles que me incentiva e dar força.
Beijos!

MAYJO
Capítulo 1

“ Quando o amor Acontecer,


é melhor não resistir. Se entregue”

São Paulo, 2013

Júlia Mason

— Então, Júlia — disse meu ginecologista. — Está tudo em ordem com seus exames.
— Que bom, Dr. Wilson, fico muito feliz em saber — realmente, felicidade me define neste
momento; enfim colocarei meus planos em ação. — Para quando o senhor irá marcar meu primeiro
procedimento? — perguntei ansiosa, com um sorriso estampado em meu rosto.
— Bem... — hesitou o doutor. — Sei que você já fez todos os testes psicológicos que
exigimos, mas você tem absoluta certeza dessa sua decisão, Júlia? Ser mãe é para sempre, não tem
volta.
— Absoluta, Doutor, nunca tive tanta certeza como tenho agora — respondi sem me abalar,
pois já havia tomado a decisão e nada me faria mudar de opinião. Minha vida estava do jeito que
eu queria, só faltava um filho, e era isso o que buscava naquela clínica de obstetrícia/inseminação
artificial.
Não quero abrir mão da minha independência, casar só para ter um filho, isso era coisa do
passado. As mulheres hoje em dia poderiam muito bem ter seus filhos sozinhas. Não quero ter
nenhum homem para dividir a custódia do meu filho, sou a senhora do meu destino.
Talvez alguém me pergunte o porquê de estar fazendo uma inseminação? Respondo sem
titubear: não quero meu filho em uma ação judicial na qual seu pai e eu brigaremos por sua guarda.
Quero sossego, e criar meu filho sozinha é algo que eu posso. Bem, tudo o que mais quero é poder
segurar um bebê nos braços antes dos temidos trinta.
Sorrio interiormente. Que mulher não gostaria de escolher a dedo as características do pai
do seu filho? Então, a inseminação por doador anônimo era o ideal, e fui bastante específica e
exigente com meu doador. Eu sei, diante dessa decisão as pessoas podem ficar pensando: por que
não adoto uma criança com tantas por aí, precisando de um lar? Mas qual mulher não sonha em
segurar seu próprio bebê em seus braços? Sou essa mulher, não abro mão de ter meu próprio filho.
Chame-me de egoísta por isso.
Já tenho em minha casa um quarto esperando minha princesinha. Claro, torço para que seja
uma menininha linda.
Depois que terminei a consulta com o Dr. Wilson, saí da clínica mais feliz que tudo no
mundo. Enfim, que notícia maravilhosa! Queria comemorar com minha melhor amiga, Carla, só que
ela não era exatamente uma incentivadora da minha ideia.
Bem, daqui a uma semana seria o grande dia, a primeira inseminação.
Passo a semana em uma dieta equilibrada, para dar tudo certinho. Claro, qualquer ajuda é
bem-vinda, não dizem que os alimentos ajudam na fertilidade? Então, faço tudo como manda o
figurino.
No dia do procedimento, desço no sétimo andar do prédio onde fica a clínica. Saio do
elevador nervosa e ansiosa, passando as mãos na minha saia lápis risca de giz, e dou uma trombada
feia com uma parede à minha frente. A “parede” segura meus dois braços para me equilibrar e...
Oh, Deus! Cheirava divinamente bem, devia ser uma colônia masculina de hortelã, um
cheiro limpo de homem. Olhei para cima e literalmente fiquei de boca aberta com o espécime
masculino à minha frente. “Jesus, venha cá!” Está bem, vai soar clichê, eu sei, mas o homem era
lindo demais! Devia ter 1,90 metro de altura e parecia bem forte debaixo do terno cinza chumbo,
provavelmente sob medida. Era moreno claro, com cabelos pretos que pareciam macios ao toque, e
os olhos do homem realmente eram uma coisa linda de se ver. Olhos em um tom de cinza prateado
que nunca havia visto; tão intensos e que me olhavam com uma leve impaciência em sua feição
bonita.
“Deve se achar o Deus grego!” E o pior que era mesmo.
Notei que ainda me segurava, e isso me fez sentir uma contração no baixo ventre que não
sentia há um bom tempo. Deve ser nervosismo, nada a ver com esse gostoso na minha frente.
— Você está bem? — oh, meu Deus, tinha de ter essa voz linda. O tipo de voz “vou te foder
aqui e agora.”
— Sim, obrigada — respondi a contragosto. Na verdade, poderia dizer que ia desmaiar
para ver se o “Deus grego” me colocaria no colo. Ele retirou as mãos dos meus braços e sinalizou
com a cabeça, caminhando em seguida para o elevador que eu tinha acabado de sair. Acompanhei-o
com o olhar e conferi sua bunda. Hummm... Ai... ai... Ok, nunca disse a ninguém que era uma santa,
disse?
Caminhei até a recepção da clínica, que naquele dia estava muito cheia. Muito estranho,
nunca tinha notado esse fluxo grande de pessoas aqui.
Esperei no balcão de atendimento a recepcionista terminar de atender outra paciente. Ela
parecia afobada com tantas pessoas ao redor.
— Me desculpe — falou quando se dirigiu a mim.
— Sem problemas. Por que tanta gente? — perguntei, curiosa.
— Estão acontecendo dois partos neste momento, e o Dr. Wilson está sozinho, atendendo os
pacientes dele e de mais dois doutores — falou.
— Meu nome é Júlia Mason e tenho consulta com o Dr. Wilson — a recepcionista digitou
no computador à sua frente, depois se dirigiu a mim.
— Ok, só aguardar um momento, daqui a pouco chamaremos a senhora — disse com um
sorriso. Olhei ao redor, procurando um lugar para sentar, mas quase todos os lugares estavam
preenchidos. Demorou cerca de vinte minutos para chamarem meu nome. Fui encaminhada para
uma sala estéril, com uma maca, onde uma enfermeira me esperava.
— Olá. Júlia Mason, certo? — perguntou com um sorriso.
— Sim.
— Pode tirar suas roupas e usar essa camisola, daqui a pouco o Dr. Wilson virá falar com
você — disse amável, apontando uma camisola dentro de um saco. Hummm... é agora, Júlia
Mason. Disse a mim mesma ansiosa.
Aguardei na cama, depois que tirei minhas roupas e coloquei aquela sexy camisola de
hospital. Fitei o teto e lembrei-me do homem lindo de agora há pouco. Nem me importava de fazer
um filho com ele e no modus operandi normal. Ri sozinha, estava delirando por pensar em dividir
meu filhote. A porta se abriu e um médico entrou, e não era o Dr. Wilson.
— Bom dia, Srta. Mason — disse com um sorriso.
— E o Dr. Wilson? — perguntei.
— Ele foi chamado para uma emergência, isso aqui está um caos hoje. A propósito, sou o
Dr. Pedro Henrique e vou fazer o procedimento em você — disse, mexendo em uma ficha, daquelas
de hospital — Bem... ainda quer continuar?
Por que todo mundo acha que vou mudar de ideia?
— Claro, Doutor — respondi com veemência.
— Está ciente de que a clínica não se responsabiliza com possíveis problemas com o bebê
no futuro? — assenti, já tinha passado por todos os testes e aconselhamentos, sei que serei a
responsável pela vida que vou gerar e amava esse sentimento — Ok, então vamos lá.
Duas horas depois, saí da clínica toda feliz e, se Deus quiser, com meu bebê dentro da
minha barriga.
Estava parecendo criança com esse gritinho de guerra, mas quem se importa com isso?
Estava feliz e só isso importava para mim.

*****

Jason Lewis

Tomei a decisão certa. A vasectomia era a melhor escolha para um homem que não queria
ser pai, com mais dinheiro do que alguém poderia gastar um dia, podia fazer. As golpistas de
plantão ficariam todas frustradas. Se todos pensassem iguais a mim... Mas, antes de tomar essa
decisão, pensei se realmente nunca ia querer ter filhos. E agora aqui estava eu, nessa clínica de
renome na área, para fazer a coleta do meu sêmen. Eu sei, parece contraditório, mas posso mudar
de ideia no futuro, afinal, não são somente as mulheres que têm a prerrogativa de mudar de ideia às
vezes.
Para uma clínica de renome, o negócio não era nada organizado. Odeio esses tumultos e
falta de organização. Havia tanta gente ao redor, mas fui atendido para a coleta relativamente
rápido. Coisa chata essa de gozar num tubo de ensaio! “Ótima ideia a sua, Sr. Sabichão!” Mas era
por uma boa causa, ou não?
Saí da sala onde um profissional tinha me explicado todos os procedimentos, assinei uns
papéis autorizando a clínica a guardar meus preciosos espermatozoides e caminhei para os
elevadores. Não via a hora de cair fora daqui. Toquei o botão para chamar o elevador e esperei
impaciente. Quando as portas se abriram, uma morena com uma saia muito justa, mais que qualquer
outra que tivesse visto, caminhou direto para cima de mim. Segurei-a pelos braços, para que não
perdesse o equilíbrio naqueles saltos agulha. Por que as mulheres usam essas coisas pontiagudas?
Ela levantou a cabeça para me olhar e fiquei extasiado com sua beleza. Bem, já vi mulheres
mais bonitas que ela, namoro supermodelos e atrizes, todas lindas, mas essa aqui tem algo
encantador. Seus olhos verdes esmeraldas, cristalinos, tinham um toque de malícia e os lábios...
Eram lábios que a mulher que os possuísse deveria ser proibida de sair na rua. Uma boca dessa me
fazia ter pensamentos pecaminosos, com esses lábios em volta do meu pau, que estava muito bem
acordado nesse exato minuto. “Continue a me olhar assim, sua safadinha”, pensei.
— Você está bem? — perguntei. Ela ficou vermelha, e me perguntei o que se passava em
sua mente para ela corar assim.
— Sim, obrigada — a voz dela era rouca e sexy pra caralho. Retirei minhas mãos dela, fiz
sinal com a cabeça e caminhei para o elevador sem olhar para trás, afinal, ela era só uma mulher a
mais e eu podia ter a que eu escolhesse. Fui direto para meu escritório, que ficava perto dali.
Estava no ramo da tecnologia e era um workaholic assumido. Fazer o quê? Amava meu trabalho.

*****

Júlia

Seis semanas depois do primeiro procedimento, voltei à clínica. Na verdade, não sei por
que me ligaram mandando comparecer com urgência, mas minha felicidade era tão grande que nem
me importava. Na volta passaria nas lojas de roupinhas de bebês, para começar as compras. Amo
cheirinho de bebê e não vejo a hora de pegar meu filhotinho nos braços. Acariciei minha barriga,
que ainda estava plana, lógico, só tinha seis semanas. Sorri feito boba. Aqueles espermatozoides
eram fortes mesmo.
Desci no 7º andar, o movimento de mulheres era menor que no último dia que estive ali.
Caminhei até a recepção e fui atendida imediatamente pela recepcionista, que me disse que estava
sendo esperada. Que estranho! Fui encaminhada a uma sala de reuniões e entrei para me deparar
com vários homens em torno da mesa: o Dr. Wilson, o Dr. Pedro Henrique e outros três. Dois deles
nunca tinha visto e o terceiro já. Com aqueles olhos lindos, era impossível esquecer. O que ele
fazia ali? O que estava acontecendo aqui?
O Dr. Wilson se levantou e me cumprimentou com um aperto de mão.
— Como vai, Júlia? — perguntou, amável como sempre, porém meio nervoso.
— Bem — respondi com um sorriso.
— Que bom. Sente-se, por favor — disse, apontando uma cadeira. Sentei e olhei os rostos à
minha frente, curiosa. O Dr. Wilson pigarreou, chamando minha atenção. Mordi meu lábio inferior,
inquieta, tentado ignorar a súbita sensação ruim que me invadiu.
— Senhores, esta é minha paciente, Júlia Mason. Júlia, esse é o Dr. Pedro Henrique, você
deve lembrar dele — assenti e ele continuou: — Este aqui é o Sr. Lewis, outro cliente aqui da
clínica — falou, apontando o homem de olhos lindos. —E esses são nossos respectivos advogados
— advogados? Perdi algo aqui? Medo agora umedecia minha pele. — Bem, deve estar curiosa
sobre o motivo de a termos chamado aqui — era impressão minha ou o Dr. Wilson estava suando?
— Sim, Doutor, fale de uma vez — olhos prateados falou, impaciente. — Sim, nos diga
como sua clínica é tão eficiente — isso era sarcasmo? Olho para ele e engulo em seco. O que esse
homem tem a ver comigo?
— Bem, houve muita correria no dia do seu procedimento, e na confusão, erros foram
cometidos — o Dr. Wilson olhava para mim um pouco constrangido.
— Sim, e o que isso tem a ver comigo? — perguntei ansiosa.
— Não usamos os espermatozoides do doador anônimo que você escolheu, Júlia, mas os do
Sr. Lewis — disse num fôlego só.
— Quê? — choque tomou conta de mim. Isso era algum tipo de brincadeira bizarra? Oh,
meu Deus... Tentei respirar, mas estava difícil, e tudo ficou escuro.
Capítulo 2

Júlia
Acordo em um quarto estranho. Onde diabo estava?! A última coisa que lembro era que
estava na sala de reuniões com...
Oh, meu Deus!!! Tentei levantar, mas senti minha cabeça rodar e voltei a deitar. Horror
encheu-me à medida que toda a situação tomava forma em minha cabeça, e um calafrio percorreu
minha espinha. Tudo o que mais temia, acontecia comigo agora. O pai do meu bebê tinha rosto,
nome, endereço. Oh, meu Deus, isso não pode estar acontecendo comigo. Não pode. Precisava de
um advogado urgente.
A porta abriu e o Dr. Wilson entrou.
— Diga que não é verdade, Doutor — falei, sentindo o desespero tomar conta de mim. —
Diga que não é verdade — minha voz agora era alta o suficiente para ser escutada do outro lado do
Atlântico. Estou histérica.
— Calma, Júlia, lembre-se do seu estado — falou, condescendente. Ele tenta me fazer ficar
calma, mas a situação é chocante para mim.
— Calma, Doutor? Como quer que eu fique calma, se sua clínica não é confiável o bastante
para fazer uma inseminação anônima? — “Aquele homem vai querer tomar meu filho, pensei
desesperada, tenho que fugir daqui. Do estado. Não! Do país, onde ninguém pudesse me achar.
— Eu sinto muito por esse transtorno, Júlia — falava o Dr. Wilson. — Podemos entrar num
acordo com o Sr. Lewis...
— Não conheço nenhum Sr. Lewis, Doutor, portanto não quero entrar em acordo com ele e
com ninguém — cortei o discurso do Dr. Wilson. — Só quero ir para minha casa agora.
— O Sr. Lewis é nosso cliente — fiquei o encarando. — Bem, na verdade, ele não quer o
bebê.
— Não quer? — alívio tomou conta de mim, mas foi muito cedo para comemorar.
— Ele só queria guardar seu esperma no nosso banco. Ele quer que você interrompa a
gravidez, não quer o filho.
Pela primeira vez fiquei sem palavras. Aquele bastardo queria matar meu filho? Só por
cima do meu cadáver, filho da puta! Quando recuperei minha voz, disse, quase sufocando de raiva
cega:
— Eu. Não. Vou. Tirar. Meu. Bebê — pontuei cada palavra para que não houvesse dúvidas.
— Vamos todos conversar e chegaremos a um acordo — Dr. Wilson parecia constrangido, e
devia estar mesmo. Que falta de responsabilidade da clínica e dos profissionais que trabalhavam
lá, cometer um equívoco desse tamanho. — Você está se sentindo melhor?
— Estou sim — falei. — Ainda um pouco zonza, mas bem.
— Podemos voltar para a sala de reuniões, onde o Sr. Lewis nos espera?
— O que aconteceu, Doutor? Como uma clínica com essa reputação comete um erro
colossal desses? — fiz a pergunta que estava na minha cabeça desde que acordei. — O que irá
acontecer agora?
— Bem, a clínica não poderá fazer nada a respeito da decisão que vocês dois irão tomar.
Você não quer tirar o bebê e o Sr. Lewis não quer o filho. Estamos em um impasse — falou o Dr.
Wilson, resignado. Quase tive pena dele... quase.
Tudo isso era surreal. Aquele doido de pedra que ouse querer tirar meu bebê! Que ser
humano horrível é esse, gente, como pode isso?
Depois de verificar minha pressão arterial, o Dr. Wilson pediu que voltássemos para a sala
de reuniões. Só que eu não queria voltar lá, o medo tomava conta de mim. Sabia que o que fosse
ouvir nessa reunião não iria gostar de jeito nenhum.
— Posso ir ao banheiro, Doutor? — pedi em um fio de voz.
— É claro, Júlia, esperamos você na sala quando terminar.
— Sim, estarei lá em breve.
Segui para o banheiro mais próximo, fora da enfermaria. Claro que não ia para o banheiro
da sala onde estava, queria o mais perto possível da porta de saída. Está bem, é uma atitude
covarde. Sim, sou covarde. Para proteger meu filho de ouvir merda da boca daquele homem, fugiria
o mais rápido possível dali.
Com certeza meu filhotinho já estava escutando tudo. Será? Acho que essa história está me
deixando maluca. Entrei no banheiro e segui até a pia. Molhei meus pulsos, olhei-me no espelho à
minha frente e verifiquei minha aparência: estava pálida e com olheiras. Não estava assim quando
saí de manhã da minha casa.
Na verdade, nunca estive tão bem como esses dias. Minha pele, que antes estava radiante,
agora parecia murcha. Culpa dessa clínica dos infernos! “Ops, não falei isso, filhinho...” Sorrio
com o pensamento. Ai, já estava me vendo no futuro, me policiando para não falar palavrão. Bem,
na verdade nem falo, só quando estou com muita raiva, e agora era raiva pura e simples que sentia.
Eu não tiraria meu filho, juiz nenhum permitiria isso, não é? Ou sim?
Oh, meu Deus! Não sabia que precisaria de um advogado quando fui convocada para aquela
reunião, mas, pelo visto, o bonitão já veio prevenido. Puta que pariu, tinha de ser logo do gostosão,
nossa! Bem, ele que não se atreva a querer fazer mal ao meu filho. Gostoso ou não, mato o bandido.
Sequei minhas mãos com papel toalha e respirei fundo. Era agora ou nunca. Abri a porta do
banheiro devagar e olhei ao redor. Ninguém prestava atenção em mim, então saí caminhando
lentamente para não chamar a atenção e procurei o elevador mais próximo. Entrei no primeiro que
encontrei, apertei o botão e senti um alívio me invadir quando as portas se fecharam. Desci no
térreo e caminhei para o meu carro no estacionamento. Sabia que era questão de tempo até sentirem
minha falta, mas, neste momento, não estava preparada para lidar com nada. Era muita coisa
acontecendo de uma só vez. Primeiro me acalmaria e depois procuraria um advogado, para me
orientar. Sentia meus membros doloridos, parecia até que levei uma surra.
Ai, Júlia, só você mesma para planejar tudo e acontecer o pior.
Aquele bastardo de uma figa tinha de ir à clínica no mesmo dia que eu? É muito azar o dele,
pois meu filho cresceria forte e saudável.
Cheguei ao meu condomínio em meia hora, e depois de subir para meu apartamento, que
ficava no último andar, fui direto para o meu quarto. Precisava descansar um pouco, sabia que
estresse não faria nada bem para meu pequerrucho, que nada tinha a ver com essa confusão.
Coitado do meu bebê! Tirei a roupa e caí na cama só com as roupas de baixo. Sentia-me exausta,
talvez uma soneca me ajudasse a pôr as coisas nos lugares. A clínica tinha meu endereço e
provavelmente me procurará em breve, mas enquanto isso não acontece...

*****

Jason

Dizer que estava puto era o eufemismo do ano. Estava fumegando de raiva. Como na porra
da face da terra eu ia ser pai? Clínica fodida! Quando recebi aquele maldito telefonema, nem
imaginava que a droga da minha vida ia virar essa bagunça, só faço xingar desde o início da manhã.
Vou processar essa clínica de merda. Usar meus espermatozoides em uma desconhecida, sem meu
consentimento? Para quem não queria filho, o meu estava vindo muito rápido. Daqui a oito meses,
para ser exato. Deve ser castigo por pensar em fazer vasectomia. Vou fazer Saulo, meu advogado,
arrancar cada centavo dessa clínica amadora. Puta que pariu, a sala estava me sufocando, parecia
que estava fechando sobre mim. Cadê a criatura que carregava meus genes, que não chegava à
reunião? Mulheres! Será que não sabem chegar nos horários certos? Tenho certeza que até para o
próprio velório elas se atrasam.
Virei-me para o Dr. Wilson, que era um dos sócios da clínica, e falei entredentes:
— Quero que interrompam essa gravidez — ele me olhou, carrancudo.
— Sr. Lewis, não é bem assim...
— Se bem me lembro, Doutor — cortei, enfatizando o título de merda dele. — Foi para
evitar coisas como...
— Calma, Jason — interrompeu Saulo, ao meu lado.
— Calma? — fixei meu olhar duro no Dr. Wilson. — Se quisesse um filho, teria feito isso
do modo tradicional, não gozar dentro de um tubo de ensaio. Foi justamente para evitar gravidezes
acidentais, em uma desconhecida, que procurei sua clínica e paguei caro pelo serviço. — fulminei-
o com meus olhos cheios de raiva assassina. Tenho ímpeto de sair soltando socos por aí, até minha
frustração se extinguir.
— Erros acontecem, Sr. Lewis — começou a responder, mas o cortei outra vez.
— Não desse tipo — resmunguei, e já ia continuar quando houve uma batida na porta da
sala e escutei o suspiro de alívio do Dr. Wilson. Sim, quero ele cagando nas calças mesmo. Bufei.
A recepcionista abriu a porta e deixou passar uma mulher. Lembrava daquela mulher em
particular. Na verdade, me lembrava da boca dela, que era muito bonita. Cabelos longos, castanhos
claros, e não era tão baixinha, devia ter uns 1.65 metro; linda, olhos verdes... Humm, ela mesma,
trombou comigo quando estive na clínica. O Dr. Wilson levantou e recebeu a mulher, apertando sua
mão.
— Como vai, Júlia? — ele a cumprimentou.
— Bem — falou com um sorriso.
— Que bom. Sente-se, por favor — disse, a encaminhando para a mesa e apontando uma
cadeira.
— Senhores, esta é minha paciente, Júlia Mason. Júlia, esse é o Dr. Pedro Henrique, você
deve se lembrar. Este aqui é o Sr. Lewis, outro cliente aqui da clínica — falou, apontando para
mim — e esses são nossos respectivos advogados — a moça parecia verde agora. “Sim, querida,
prepare-se para o pior”, pensei.— Bem, deve estar curiosa por tê-la chamado aqui — por que ele
não ia logo às vias de fato?
— Sim, Doutor, fale de uma vez — falei, impaciente. — Sim, nos diga como sua clínica é
tão eficiente?
— Bem, houve muita correria no dia do seu procedimento, e na confusão, erros foram
cometidos— ele só pode estar brincando.
— Sim, e o que isso tem a ver comigo? — a voz dela era suave, mas detectei medo no seu
tom.
—Não usamos os espermatozoides do doador anônimo que você escolheu, Júlia, mas os do
Sr. Lewis aqui — sim, meus preciosos espermatozoides.
A moça parecia que ia desmaiar.
— Quê? — sussurrou, e vi quando toda cor fugiu do seu rosto. Levantei-me rápido para
evitar que caísse e a segurei em meus braços. O Dr. Wilson deve ter pensado o mesmo, porque se
inclinou para ela também.
— Onde há uma sala? — perguntei. — Acho que seria ideal deitá-la, não é? — sarcasmo
escorria do meu tom de voz.
O Doutor pediu que o seguisse até uma enfermaria, onde a coloquei na cama suavemente.
Fiquei olhando e notei que era bem gostosa, por sinal, e parecia frágil. Dei-me um tapa mental.
Achava pouco a confusão em que estava e ainda cobiçando uma moribunda! Está bem, não era
exatamente uma moribunda.
— Pode esperar lá na sala, Sr. Lewis? — indagou o doutor atrás de mim, tirando-me do
meu devaneio nada conveniente.
— Com prazer — segui para fora da enfermaria, mas, antes de sair, falei: — Só não demore
muito, Doutor — não esperei resposta, fui até a sala de reuniões. Só Saulo estava lá. Onde os
idiotas tinham ido?
— Já fugiram, foi? — Saulo, além de meu advogado, era meu amigo. Tínhamos estudado na
mesma época e fazia parte do meu círculo de amizade há muito tempo, e ele sabia que agora estava
no meu limite.
— Como vai a moça? — perguntou Saulo.
— Pálida e frágil. Acho que foi o choque — resmunguei a contragosto. Saulo me fitou com
ar de deboche. — Quê?
— Nada — disse com um risinho. — Parece preocupado com ela... estranho.
Olhei para ele com cara de poucos amigos. Ele levantou os braços no modo de rendição.
— Só dizendo — falou, agora rindo abertamente.
— Que advogado é você? Isso é muito sério, Saulo, e você fica achando engraçado, porra!
— Antes de tudo somos amigos, Jason, e perder a calma não resolverá nada — ele falava
sério agora. Bom, já estava na hora de ele levar a sério seu serviço, afinal lhe pago uma fortuna. —
Mas essa é uma situação inusitada, para não dizer delicada, meu amigo — continuou ele — A
clínica não pode obrigar a moça a tirar o bebê.
— O nome dela é Júlia.
— O quê? — Saulo pareceu confuso, depois abriu um sorrisinho idiota. — Já estamos nos
primeiros nomes, é?
— Atenha-se às coisas sérias, seu idiota — o cara não tinha limite. — Não sou obrigado a
aceitar essa situação, tampouco um filho que nem queria e nem quero.
— Sim, mas por que não pensa em entrar em um acordo com a moça, quero dizer, Júlia?
— Acordo? Porra de acordo nenhum! — bufei. — Entre com um processo contra ela
também — poderia até ser gostosa, mas isso não mudava em nada minha determinação de
interromper a gravidez.
— Já pensou que é seu filho também, seu próprio sangue, Sr. Intransigente? — ele estava
brincando comigo, não é?
— Saulo, se você não notou, eu te pago para fazer meus problemas desaparecerem, e você
agora mais parece um maricas — falei com escárnio.
— É como seu advogado que estou falando, Jason, juiz nenhum dará ganho de causa a você
e obrigará essa moça a fazer um aborto. Um acordo com ela será sua melhor opção — disse, calmo.
— Melhor para quem? Para mim é que não é — já estava farto dessa conversa, que não
estava indo a lugar nenhum. Rangi os dentes para Saulo. — Não pedi filho nenhum.
— Você parece um bebê chorão da porra, não um homem feito. Ninguém disse que você é
obrigado a criar ou assumir essa criança. A Júlia estava tendo esse filho sozinha, de qualquer
forma, e você deu azar dos incompetentes dessa clínica não fazerem seu trabalho com atenção e
competência — olhei para ele, ofendido. Ele estava defendendo quem, afinal? Mas, pelo jeito, o
filho da puta não tinha terminado. — Se encontrar um meio-termo no meio dessa confusão, será o
melhor para você e para a moça. A única coisa certa para você aqui será processar a clínica por
negligência — finalizou.
— Está demitido — falei, e ele teve a ousadia de rir, o bastardo idiota. — Até parece que
você é o advogado dela! Humm... deve ter se apaixonado pelos lindos olhos verdes.
— Não sabia que tinha reparado tanto na moça, Jason — deboche enchia sua voz.
— Acredita que a encontrei aqui, no dia que vim fazer a coleta? — disse, mas me arrependi
logo em seguida, o burro caiu na gargalhada. — O que foi, agora?
— Tem certeza que não transou com ela em nenhum quartinho escuro? — ria como uma
hiena do caralho.
—Minha nossa, Saulo, como você é engraçado, está sendo de muita ajuda, grande
advogado! — ser chacota do próprio defensor era ótimo. — Falando nisso, não acha que estão
demorando demais? Será que a Júlia não está bem? E antes que diga merda, não estou preocupado
com ela.
— O advogado deve estar tentando conter os danos.
— Coisa que você devia estar fazendo também, em vez de estar aqui zombando do seu
único cliente — sorrio falso para ele.
— Já que você não quer esse filho, Jason, por que não abre mão dele? Júlia já não ia criar
o filho sozinha? Então é só você abrir mão da paternidade e resolvermos metade de nossos
problemas — acho que meu advogado foi abduzido e esse maricas apareceu no lugar dele.
— Saulo, qual parte de “não querer ter filho” você não entendeu, meu amigo?
— Só não quero ter uma causa perdida no meu currículo, quando meu único cliente me
demitir — riu. — Mas sério, Jason, pense nisso; ela é tão vítima quanto você. Pare de olhar para o
próprio umbigo, cara, imagine a repercussão dessa história na mídia. Quem sairia de vilão por
tentar obrigar a moça a fazer um aborto é você. E seus negócios, meu amigo?
— Danem-se os meus negócios, só não quero filho com uma desconhecida — falei, ainda
raivoso. Sabia que ele poderia ter razão, mas essa história estava me tirando do controle da minha
vida. O controle que tanto prezava.
— Eu te entendo, meu amigo. Só que isso aqui não se trata somente de você e do que você
quer, pense nessa moça — ele tinha razão. A Júlia devia estar sentindo a pressão disso tudo
também. Falando nisso, onde diabos tinha se metido todo mundo?
— Acho que devia ver o que aconteceu. Será que a Bela Adormecida já acordou?
Ficamos calados por uns minutos, esperando, e depois de uns cinco minutos, a porta abriu e
o Dr. Wilson entrou com os outros.
— Já não era sem tempo — resmunguei. — E a Júlia? — notei que ela não estava vindo.
— Ela virá logo em seguida — Dr. Wilson disse ao sentar à minha frente. — Foi só uma
queda de pressão, nada de mais, daqui a pouco virá — reiterou.
Saulo começou uma conversa baixa com o advogado da clínica, e fiquei batucando com
meus dedos na mesa, impaciente. Hoje era o dia internacional da espera, estava cansado disso tudo.
Depois do que pareceram horas e a Bela Adormecida não chegou, o Dr. Wilson resolveu ir atrás
dela; pouco depois ele volta sem a garota.
— Senhores, temo que essa reunião será adiada — sério? — Não sei o que aconteceu, mas
não achamos a Júlia em lugar nenhum, acho que foi embora.
— Puta que pariu — esbravejei, puto — Essa porra de clínica não tem controle de nada?
— Sr. Lewis, seus palavrões não mudarão as coisas! A moça pediu para ir ao banheiro,
nunca imaginei que ela fosse fugir — o doutor estava vermelho.
Onde diabos vou encontrar aquela pequena... Arghh.
— Imagino que vocês têm o endereço dela no sistema? — dirigi a pergunta ao médico, eles
deviam ter isso.
— Temos sim, Sr. Lewis, mas é contra o regulamento informar dados de nossos clientes —
disse.
O quê? Esse médico de merda está me negando o endereço daquela espertinha?
— Deviam ter pensando nisso quando usaram, sem meu consentimento, meu sêmen nessa
mulher — quem estava vermelho agora era eu, tinha vontade de dar um murro nesse médico de
merda. — Quero a porra do endereço dela.
— Sinto muito, Sr...
Caminhei para fora daquela sala, ou ia acabar sendo preso por agressão. E aquela
espertinha ia saber, quando a encontrasse, do que eu era capaz...
Capítulo 3
Jason
Depois que saí da clínica tempestuosamente, igual uma dama vitoriana, entrei no meu carro
e respirei fundo.
Droga! Estava perdendo o controle das minhas ações, precisava parar e analisar as coisas
com calma. Entendia Júlia Mason por sair e deixar todos lá com caras de idiotas. Estava em um
dilema. Sabia que exigir que ela interrompesse a gravidez era um crime, aborto era ilegal, como
tinha bem lembrando Saulo, que apesar das brincadeiras dele comigo, era um advogado muito bom
e centrado. Tinha de pensar em uma forma de resolver essa questão. Processar a clínica, isso iria
fazer, nunca vi tamanha falta de organização e descaso! Como algo assim acontece?
Peguei meu telefone e liguei para um amigo, que também era meu detetive. Precisava que
ele achasse Júlia. Precisava falar com ela.
— Fala aí, grande Jason! — Raul era um antigo policial. Agora era detetive particular, e às
vezes usava seus serviços. — O que manda, meu amigo?
— Fala, Raul, como vai? — cumprimentei. — Estou precisando de informações de uma
pessoa. — fui direto ao ponto.
Depois que lhe informei o nome de Júlia, ele ficou de me dar um retorno ainda hoje. Bem,
estava sentindo que, aos poucos, voltava ao controle da minha vida.
Fui para o escritório e tentei me concentrar em alguma coisa que não fosse a maldita
situação que me encontrava. Fazia mais de duas horas que estava tentando trabalhar, quando Saulo
apareceu na minha sala, entrou e sentou no sofá.
— Está mais calmo? — perguntou, e sua voz declarava que estava prendendo uma risada.
— Você tirou o dia para me infernizar, Saulo? — falei, jocoso. — O que aconteceu, depois
que saí daquela joça?
— Bem, eles têm consciência que você e a moça podem foder com eles. Agora, sua questão
com Júlia Mason é outra história, então, como já falei para você, tente um acordo com ela.
Sinceramente, só responda uma pergunta: quer mesmo que ela faça um aborto? Ficaria de
consciência tranquila se isso acontecesse? Hipoteticamente?
— Não era só uma pergunta? E não sei, não acho legal essa história, preciso pensar —
falei, e falava muito sério. — Liguei para Raul, pedi para descobrir onde ela mora.
— Você não perde tempo mesmo, hein — suspirou. — Bem, preciso sair, tenho muito
trabalho me esperando. Apesar de ter um único cliente — riu e levantou. — Não faça nada que eu
não faria. Vá com calma. Não adianta se exaltar, esbravejar, porque nada irá mudar com isso.
Deixe de ser cabeça dura, homem.
— Sabe que temos uma viagem marcada para amanhã, para a Califórnia, não é? — lembrei,
ignorando seu sermão. Essa viagem era importante, estava fechando parceria com uma empresa do
Vale do Silício nos EUA, e precisava dele lá comigo.
— Bem lembrado, com essa confusão nem lembrava disso.
— Queria deixar as coisas sob controle aqui antes de viajar, mas Dona Júlia Fujona Mason
achou mais prudente sumir.
— O que vai fazer quando encontrá-la?
— Ainda não sei — respondi.
— Bem, estou indo. Ah! Vá para casa, relaxe, ligue para uma dessas gostosas que
andam atrás de você e resolva todos os seus problemas — riu enquanto caminhava para a porta.
Fulminei-o com um olhar duro e tentei ignorar suas gracinhas.
Quando ele saiu, recostei minha cabeça na cadeira e suspirei. Esse pesadelo não parece ter
fim! Levantei, fui até o bar que ficava no canto da minha sala e coloquei uma dose de uísque
Dalmore, meu favorito, e entornei a dose de uma só vez e coloquei outra. Minha cabeça latejava.
Caminhei até a janela com vista panorâmica de toda a cidade. Sempre que ficava ali, olhando tudo
de cima, achava que estava no poder. Agora, essa sensação passava bem longe. O engraçado de
tudo isso é que nem tinha feito a vasectomia que me levou a essa confusão.
Trabalhei até às cinco da tarde, e nada de notícias do Raul. Resolvi ir para casa, afinal não
estava fazendo nada de proveitoso.
Estava quase chegando ao meu apartamento quando meu celular tocou e automaticamente foi
para o viva-voz.
— Jason? — era Raul, até que enfim. — Descobri quase nada sobre a pessoa investigada,
mas como você queria saber endereço e telefone...
— Então? — encorajei, e ele me passou o endereço de onde ela morava e seus telefones.
Descobriu também que ela era dona de uma boutique em um shopping.
— Ma Belle é o nome da boutique — continuou ele. — O que a moça aprontou? Deu um
chute nesse seu traseiro arrogante?
— Por acaso você e Saulo estão de complô contra mim, é? — resmunguei, e ele riu.
— Saulo sempre te sacaneia, Jason, isso nem tem mais graça. Quanto mais você dá uma de
sério, mais ele pega no seu pé.
Ele tinha razão, Saulo era um carma. Despedi-me dele e resolvi ir até o apartamento dela,
que ficava em outro bairro. Quando cheguei e pedi ao porteiro para falar com ela, ele me informou
que a Srta. Júlia tinha saído. Olhei no relógio e vi que já passava das dezenove horas. Puta que
pariu.
— Sabe que horas ela volta? — perguntei.
— Não sei, senhor, mas pode deixar o recado que entrego — disse solícito e sorriu para
mim. Mas que porra! Nunca encontrava essa maldita mulher?
— Muito obrigado, mas não vou deixar recado — saí de lá e fui ao shopping. Estava me
sentido um perseguidor, mas o choque de saber que ia ser pai era muito para mim. Me chamem de
idiota por isso. Tinha meus motivos de não querer filhos. Essa decisão, tomei muito cedo na minha
vida. Só acho que pôr filho no mundo era muita responsabilidade, e muita gente não tem essa
característica. Apesar de ser um homem responsável por milhares de funcionários, um filho era
outra história completamente diferente.
Estacionei e segui para a loja, só sondaria o ambiente. A boutique Ma Belle era ampla, bem
organizada e direcionada ao público feminino. Entrei e uma moça apareceu, solícita.
— Boa noite, em que posso ajudar, senhor? — falou, gentil.
— A senhora Júlia Mason, ela está? — sorrio.
— Desculpe, senhor, mas ela não se encontra aqui no momento — disse com um sorriso.
— Onde posso encontrá-la? — pedi, ainda com um sorrindo charmoso.
— Como ela não veio à loja hoje, não sei lhe informar, senhor — parecia chateada, talvez
por achar que tinha perdido uma boa venda. Já ia perguntar com quem poderia falar, quando uma
loira elegantemente vestida apareceu.
—Algum problema? — perguntou para a vendedora.
— E você, quem é? — levantei minha sobrancelha para ela.
— Melissa Walter, sou gerente, posso ajudá-lo em alguma coisa? — sorriu.
— Preciso falar com Júlia Mason, mas sua funcionária informou que ela não está aqui.
Onde posso encontrá-la?
— Sinto muito, mas Júlia não virá mais hoje.
— Bem, uma pena, obrigado — resmunguei um agradecimento, e quando ia sair, vi que a
loira foi para o fundo da loja e controlei o impulso de ir atrás. Bem que ela poderia estar lá. Pelo
jeito que saiu da clínica mais cedo, não queria me ver, pensei. Ela que me aguardasse. Segui para
meu carro e fui para casa, estava precisando relaxar. Minha cobertura de 1500m², no Jardim
Paulista, era imponente e luxuosa. Mas, às vezes, me perguntava por que adquiri aquele imóvel tão
grande para um homem solteiro, se não pensava em casar e ter filhos. Bem, mas parece que a
questão de filho já tinha sido providenciada... Bufei.
Entrei no meu apartamento, e Selma, minha governanta, a única mulher no mundo a morar na
minha casa, veio da cozinha.
— Filho, você não deu notícia o dia todo, o que houve? — caminhei até ela e beijei sua
testa. Sempre ligava durante o dia, por ela já ser uma senhora de idade e ter problemas de pressão
arterial. Só que hoje realmente não me lembrei de ligar para ver como ela estava passando o dia.
— Nada que possa preocupar essa cabecinha. Vou tomar um banho. Ah! Prepare algo leve
para mim — recomendei e fui direto para o chuveiro.
Depois de tomar banho, coloco uma calça de pijama de algodão branco, confortável, e vou
ver o que Selma fez para o jantar. Depois que comi um sanduíche natural que ela havia feito e
deixado na mesa, peguei meu vinho, fui até a sacada, deitei numa confortável chaise e apreciei a
vista. Estava lá há um tempo, quando escutei o telefone chamar. Era Saulo, querendo saber se tinha
conseguido o endereço de Júlia. Falei que iria fazer uma visitinha a ela amanhã.
— Só um conselho, meu amigo: não faça nada que eu não faria. Não faça ameaças à moça,
porque você tem o direto de recusar essa gravidez por terem usado seus “preciosos”
espermatozoides sem sua autorização, mas não pode exigir nada dela, como tirar o bebê, porque
seria ilegal — aconselhou.
— Ok. Não falei que ia ameaçar ninguém — disse, com um sorriso perverso — Só
quero dizer para ela que ter um filho meu é o pior negócio que ela fará — Saulo riu do outro lado.
— Nisso você tem razão. Diga a ela que, se quiser um pai para o bebê, eu me candidato, já
que você não quer — falou, rindo. — Falo com você amanhã, papai. Ah, e teria uma recompensa
bem gostosa, você não acha? — desligou antes de ouvir minha resposta. Ele tinha de soltar as
gracinhas dele. Balancei a cabeça e voltei a sentar. Essa noite seria longa demais.
Dormi mal, acordei cedo e fui malhar. Estava com muita adrenalina acumulada e precisava
extravasar. Fiz uma hora de boxe, e depois de tomar banho, entrei na cozinha para tomar o café da
manhã. Selma já estava na ativa.
— Bom dia, Selma — a cumprimentei e sentei à mesa enquanto ela me servia.
— Parece com um humor melhor, hoje — comentou.
— Você acha? — abri um sorriso para ela. Realmente estava de bom humor, ia pegar um
belo passarinho hoje. Sorrio com o pensamento de Júlia Mason numa gaiola. Deve ser tão arisca...

****

Júlia

Acordei com o telefone tocando em algum lugar. Droga, dormi demais. Olhei no relógio de
cabeceira e notei que já passava das três da tarde. Nossa, ninguém pode dormir em paz nessa casa?
Procurei de onde vinha o som e peguei minha bolsa do chão, onde a tinha deixado quando cheguei.
Peguei meu celular, vi que era minha amiga Carla e suspirei. Sabia que ela viria com aquela
história de “não te avisei?”, quando contasse o que estava acontecendo.
— Oi.
— Júlia, é você? — o tom alegre do outro lado era bom, para desanuviar o ar carregado da
minha vida.
— Carla, quem mais estaria atendendo o meu telefone? — perguntei, rindo.
— Nunca se sabe, não é, amiga? — disse nesse tom irreverente que lhe era tão peculiar. —
Por onde anda, sumida? Faz dias que não te vejo, e essa história de gravidez está te deixando tão
molenga — gemi, pois sabia que essa ladainha era interminável, e nem fazia tantos dias assim que
tínhamos nos visto. — Onde você está?
— Em casa, por que você não vem aqui? Faço sua comida favorita... ou não.
— Júlia Mason, não faça promessas que não vai cumprir.
— Como não? Tenho algo sério para te falar — falei, o riso murchando dentro de mim. —
Aconteceu algo terrível — lamentei.
— Terrível como? Você está bem, minha amiga? — seu tom era preocupado agora. — Indo
para aí já, chego em... Dez minutos, e tenha esse jantar pronto. Desligando... Depois você me conta
tudo.
Depois que desliguei, tomei um banho e só vesti um robe de seda. Fui ver o que poderia ser
feito para o jantar, sabendo que, no fim, ia terminar saindo para comer fora. Lembrei que não tinha
almoçado naquele dia. Nossa! Isso não faria bem para meu pequerrucho. Passei minha mão na
barriga com carinho e caminhei para minha cozinha, que era ampla e funcional. Amava todo meu
apartamento, o comprei há dois anos. Aos vinte e nove anos, já tinha minha vida totalmente
estabilizada: era dona da Ma Belle, uma boutique de roupas femininas, onde vendia marcas
exclusivas. A loja fica dentro do shopping, no centro da cidade. Vivia longe da minha família e
Carla era a única pessoa perto de mim. Sabia que me apoiaria neste momento catastrófico que
estava passando, apesar de ela ser contra a ideia de eu ter um filho. Ela não me entendia e ficava
perguntando o porquê de tanto querer isso. Era uma opção minha, não queria ser mãe com uma
idade mais avançada! Não que ser mãe depois dos trinta e cinco ou mais seja errado. Só achava
que esse era o momento. E queria ter minha própria família, do meu jeito, mas era família de
qualquer forma.
Acho que estava em estado de negação até agora com a situação. Sei que preciso de um
advogado da vara de família e me inteirar do que poderia fazer. Mas, por enquanto, não queria
lidar com isso, até descobrir tudo a respeito do meu doador, nada anônimo, Jason Lewis.
Como ainda era cedo para o jantar, tomei um iogurte enquanto olhava a minha geladeira. Vi
que não tinha nada interessante para cozinhar. Humm, melhor seria pedir pronto. Depois que ela
chegasse, veria com ela se pediríamos ou se iríamos sair para comer.
Depois de tomar meu iogurte, fui até um dos quartos, que mantinha como escritório em casa,
e procurei na minha agenda o telefone da minha advogada. Mas ela estava em uma audiência.
Marquei horário para a primeira hora da manhã seguinte e tentei acalmar meu coração que batia
acelerado. Maldito Jason Lewis! O que ele queria, afinal? Será que fiz bem em sair da reunião
daquele jeito? Sair não, fugir feito uma covarde. Bem, de qualquer forma, já estava feito. Estava
voltando para a cozinha quando a campainha tocou. Provavelmente era Carla. Abri a porta do
apartamento, e ela entrou feito um furacão.
— Despeje tudo — falou ao passar por mim.
— Oi para você também — sorrio. Ela vira e me abraça.
— Você está bem? Demorei mais do que imaginei — fala, indo até minha sala e se jogando
no sofá branco em forma de L.
— Nem demorou tanto assim, considerando que para ir até a esquina de sua casa você tem
de passar batom, rímel e pôr salto — impliquei.
— Amiga, nunca sabemos quando encontraremos nosso príncipe, isso pode acontecer na
esquina da sua casa — disse, rindo. Adorava esse espírito divertido dela. Maluca. — Então, o que
houve? O que está te deixando chateada?
— Nem te conto — sentei ao lado dela. — Fui a uma reunião hoje, na clínica onde fiz a
inseminação, e você nem imagina o que aconteceu — contei a ela todos os detalhes do que tinha
acontecido. Da troca do doador e que ele não queria ter o filho. — Dele só sei o nome: Jason
Lewis. Ah, e que é psicopata — finalizei.
— Nossa, que confusão, essa clínica foi muito negligente, nunca vi tal coisa. E o que
acontece agora? — ela, como eu, ficou chocada com a falta de cuidado no meu procedimento.
— Bem, não consegui falar com Sylvia, mas marquei uma hora com ela amanhã bem cedo.
Ela vai me orientar a respeito, porque, sinceramente, não sei qual atitude tomar — suspirei.
— Ah, minha amiga, que horror! E o cara?
— Um idiota que, segundo o Dr. Wilson, quer que eu interrompa minha gravidez. Deve ser o
maior cavalo. Oh, meu Deus, meu filho herdará os genes dele! — ela riu.
— Vamos descobrir tudo sobre ele. Cadê seu notebook? — pediu, levantando do sofá e já
indo pegar no escritório. Essa minha amiga era maluca. Ela voltou logo depois, sentou e começou a
digitar furiosamente, a louca! — Nossa, Júlia! Você não falou que ele era tremendamente gostoso, e
põe gostoso nisso! — exclamou. — Rico, lindo e gostoso — levantou a cabeça e olhou para mim.
— Está reclamando do que, mesmo? — riu com cara de safada. Só a Carla faria uma situação
drástica ficar engraçada.
— Ele quer interromper a gravidez — lembrei a ela.
— Tinha de ter defeito, não é? Mas, pelo visto, as mulheres não devem achar defeito
nenhum nele, amiga, nem tem figurinha repetida. Não tem muitas informações da vida pessoal dele
aqui. Só diz que está no ramo da tecnologia e tem trinta e cincos anos, solteiro e gosta de muitas
mulheres, pelo visto — disse. — Ninguém sabe suas origens, diz uma matéria sobre ele aqui, num
site. Quando você irá conversar com ele?
— Só depois que falar com a Sylvia — suspirei. Percebi que estava fazendo muito isso
hoje: suspirar.
— Você acha que ele pode estar procurando por você?
— Não sei, mas estou estranhando a clínica não ter me telefonado ainda, depois da minha
saída furtiva de lá — digo com pesar. — Deveria ter ficado, não é?
— Ah, Júlia, teria feito o mesmo se alguém ameaçasse algo meu assim — ela me
tranquilizou. — Então, e esse jantar? Você me prometeu, lembra?
— Que tal sairmos? Estou sem muita vontade de cozinhar — ri da cara de cachorro caído
da mudança que ela fez. — Ah, vamos, quem é a grávida aqui? Ainda bem que não começou os
enjoos, tenho de aproveitar.
— Você me convenceu, sua diabinha.
— Ficarei pronta em cinco minutos — falei e corri para o quarto. Coloquei um vestido
delicado, curto, com estampas florais, e sandálias. Apliquei um pouco de maquiagem e soltei os
cabelos. Vinte minutos depois, estava pronta para sair.
Fomos a um restaurante perto de casa, pois não queria voltar tão tarde. Estava no meio do
jantar quando escutei meu celular tocar na bolsa. Peguei, olhei o visor e vi que era minha gerente
da loja.
— Oi, Melissa, algum problema? — raramente ela ligava quando estava fora da loja. Isso
só acontecia quando era algo que só eu podia resolver.
— Oi, Júlia, você está em casa?
— Jantando com a Carla. Está precisando de mim?
— Tem um homem aqui procurando por você, e pela cara dele, acho que deve ser um
cliente totalmente insatisfeito.
Homem?
— O que ele quer? — sentia agora um frio na barriga; minha voz saiu meio trêmula.
— Falar com você, a procurou, e como dissemos que não estava, foi embora. Ao menos
acho que foi.
— Droga — devia ser Jason. O idiota deve ter me procurado na internet. — Melissa, se ele
aparecer de novo, peça que deixe o telefone que eu ligo para ele, ok?
— Pensei que fosse cliente insatisfeito.
— Acho que não, me mantenha informada.
— Certo, já que não é um cliente insatisfeito, bem que poderia tê-lo na nossa carteira de
clientes. Bonito do jeito que é, deve ter uma legião de mulheres atrás dele. Acabaria com nosso
estoque rapidinho, presenteando seu harém — gracejou.
— Menos, Melissa, até você? Acho que você e Carla precisam de namorados — rio.
— Qualquer coisa, ligo para você. Até mais — disse, desligando em seguida.
Minha Nossa Senhora das mulheres inseminadas por doador perseguidor, o homem já me
achou, e tão rápido?
Quando desliguei, a Carla queria saber o que tinha acontecido.
— O pai do meu bebê está à minha caça.
— Shiiii, amiga, o homem não perde tempo mesmo. Melhor tomar cuidado.
Pouco mais de meia hora depois, resolvemos sair do restaurante e voltar para casa. Acabei
ficando mais tempo do que o programado, porque Carla e eu conversamos demais. Na portaria do
prédio, descobri que tinha vindo um homem à minha procura também ali. Santa Mãe! Ele estava me
saindo um tremendo perseguidor. Mas já esperava que ele fosse me procurar, então que viesse.
Dormi muito mal naquela noite, e quando deu sete da manhã, já estava no escritório de
Sylvia.
— Café, Júlia? — ofereceu quando sentei na frente da mesa dela.
— Não, obrigada, estou evitando cafeína.
— Ah, sim, vou pedir um chá enquanto você me conta o que está acontecendo — ela pediu
chá e café à assistente. — Agora fale.
Expus para ela tudo o que houve.
— Bem, o caso é realmente bem atípico e, pelo visto, a lei não prevê nada desse tipo. O seu
doador tem todo direito de recusar-se a ter o filho, por não ter dado autorização para o uso. Já você
está no seu direto também, por ter pagado pelos serviços da clínica e já estar grávida. Ele poderia
até ter ganho de causa, mas se for analisado a vida, será aborto, e isso a lei não permite —
esclareceu. — Vocês dois podem processar a clínica, isso é fato, não tem nem o que contestar.
— Não sei se quero brigar na justiça contra a clínica, e mais: também não posso aceitar
interromper minha gravidez.
— Júlia, tenho quase certeza que juiz nenhum faria isso. O Sr. Lewis também pode abrir
mão da paternidade se ele não quiser assumir o filho.
— Mas aí que está, não quero que ele tenha qualquer direito sobre meu bebê — lamentei e
senti as lágrimas inundarem meus olhos. Mas que merda, isso lá é hora de ficar emotiva?
— Posso falar com o advogado dele, entrar em um acordo — ela continuou — Mas não
fique desesperada, Júlia, vamos resolver isso.
Conversamos por quase uma hora sobre os possíveis caminhos para resolver meu caso. De
qualquer forma, estava mais tranquila. Esperava que ela conseguisse algo com o advogado do
senhor “todo-fodido-poderoso”.
Fui direto para casa, ia passar na boutique só à tarde, e pelo visto ele não foi lá de novo, à
minha procura. Entrei no condomínio e estacionei. Desci do carro, e estava ligando o alarme do
automóvel quando senti os pelos da minha nuca arrepiarem. Virei lentamente, para ver Jason Lewis
bem à minha frente.
Ele realmente é uma coisa linda de se ver! Estava vestido casualmente: calça jeans, camisa
azul clara de malha e óculos aviador. Parecia comestível. Nossa senhora das mulheres
desamparadas, ajudai-me!
— Olá, Júlia. — sua voz era rouca, sexy e masculina. De onde diabos ele surgiu, o porteiro
o deixou entrar? — Me deixe me apresentar adequadamente — estendeu a mão — Jason Lewis.
Fiquei olhando sua mão por não sei quanto tempo. Pigarreei, estendi minha mão e segurei a
sua.
— Júlia Mason — sua mão engoliu a minha e os dedos dobraram ao redor dos meus num
aperto firme. Senti calor por todo o corpo e todos os pelinhos se arrepiarem com o toque. — Como
entrou aqui? — foi tudo o que veio à cabeça para perguntar.
— Seu gentil porteiro permitiu-me esperar por você — disse, com um sorriso no canto dos
lábios.
— O que você quer? — sabia o que queria.
— Quero conversar com você. Convencê-la que é má ideia ter um filho meu — olhou ao
redor. — Por que não vamos a um lugar confortável?
Jesus! Como me livrarei dele?
Capítulo 4
Júlia
Jesus!
Encontrar Jason ali foi inesperado, e não queria levá-lo ao meu apartamento. Mas, era isso
ou ao café em frente ao prédio. Bom, já que ele estava ali, e como sabia que não teríamos
exatamente uma conversa cordial, resolvi pelo meu apartamento.
— Ok, vamos subir, então — convidei. Hostilizá-lo não seria nada bom, então, “mantenha
os amigos pertos e os inimigos mais perto ainda.” Esse era o ditado, não é?
Ele fez sinal para que fosse à frente. Fui em direção ao elevador com ele me seguindo,
sentindo-o me olhando. Apertei o botão do último andar e ele levantou uma sobrancelha.
— Já vi que nos daremos bem, Júlia — achava pouco provável isso, mas... — Pelo menos
gostamos das coberturas — tinha um sorriso sexy no canto dos lábios. Sim, tinha certeza que nossas
coberturas eram bem diferentes.
Abri a porta, pedi que entrasse e seguimos para a sala de estar.
— Por que não senta, Sr. Lewis? — convidei.
— Jason. Me chame de Jason.
— É claro. Toma alguma coisa? — perguntei, mas na verdade quem estava com sede era eu.
— Não, obrigado. Mas fique à vontade. — Fiquei olhando para ele, com cara de idiota. Ele
exalava magnetismo, poder e sexo. E agora está focando em mim aqueles olhos claros magníficos,
fazendo-me ficar vermelha. “Argh. Controle-se sua desmiolada!”, me estapeei mentalmente. “O
homem está aqui querendo tirar seu filho e você o cobiçando?” Ele era estonteante. Imaginei
como nosso filho seria. Será que pareceria com ele?
— Fique à vontade — segui para a cozinha, peguei um copo com água e voltei para a sala.
Ele olhava umas fotos onde eu estava com minha família. Pigarreei para chamar sua atenção, e ele
sentou como se estivesse em sua própria casa. Não sentei de imediato e ele sorriu.
— Eu não mordo, Júlia, a não ser que seja convidado para tal — isso era uma questão de
opinião.
— Bem, falando em morder, por que está aqui, afinal? — digo quando sento. — Nossos
advogados poderiam resolver nossa situação.
— Em relação ao assunto que me traz aqui, Júlia, você já deve saber: não quero ter filhos e
isso é um fato — falou e engoli em seco. Idiota. — Bem, vou ser claro com você — ele me
encarou firme. — Quanto quer para tirar o bebê?
Oh, meu Deus! Esse homem é louco?
— Você é algum louco, seu idiota? — gritei. — Tem ideia do que você está pedindo,
maldito?
— Menos, senhorita Mason...
— Saia da minha casa, agora! — levantei totalmente apavorada. — Ou chamo a polícia
para tirar você daqui — tremia descontroladamente, agora de pura raiva e asco desse ser.
Levantei tão tempestuosamente que minha cabeça rodou e voltei a sentar no sofá atrás de
mim.
— Você está bem? — ele tinha levantado e veio sentar ao meu lado, tocando meu rosto com
seus dedos longos e elegantes.
— Como se você se importasse — resmunguei. Enjoo tomou conta de mim e tive vontade de
vomitar em cima do idiota almofadinha criminoso.
— Não seja dramática, só estou sendo sincero com você.
Disparei para o banheiro, a náusea me atingindo. Saí do banheiro alguns minutos depois,
para encontrar Jason esperando, encostado na parede em frente. Ele me encarou, e olhei em seus
olhos. Ele parecia com algum tipo de culpa, remorso, ou seja lá o que vi.
— Você está bem? — parecia realmente preocupado. Muito tarde pra sua boa-fé, pensei.
— Eu só quero que vá embora — falei, e minha voz saiu cansada, as lágrimas ameaçavam
cair a qualquer minuto. Os últimos acontecimentos estavam pesando e deixando minhas emoções
em frangalhos. Só queria me encolher em um canto e dormir.
Caminhei em direção à porta, a abri e o esperei sair. Em vez de fazer o que pedi, ele veio
na minha direção e fechou a porta.
— Não vou deixá-la sozinha neste estado.
— Estou acostumada a isso, Sr. Lewis, moro só há muito tempo.
— Não estando grávida — ele caminhou em direção à cozinha, e fiquei parada feito uma
idiota, sem saber o que fazer para ele sair. Em vez disso, segui-o e o encontrei mexendo nos
armários. — Não toma chá? — perguntou, e mostrei onde ficava. Ele preparou uma xícara e a
depositou na mesa em frente de onde sentei. O assistia andando na minha cozinha como se fosse o
dono do lugar. — Estou viajando hoje à tarde e ficarei fora por quase uma semana. Queria deixar
as coisas acertadas com você.
— Só vou dizer dessa vez, Sr. Lewis: não farei um aborto — disse, num silvo de
indignação. — E só para constar, pode entrar com um processo contra mim, se quiser.
— Ok. Tenho outra proposta para fazer a você — oh não, sabia que não ia gostar disso. —
Já que você quer continuar a gravidez, proponho que o entregue para mim quando ele nascer.
— O seu egoísmo é tão grande que você não enxerga um palmo à frente do seu nariz
arrogante — sinceramente, não levarei em conta nada que esse homem diga. — Não entregarei meu
bebê a você, provavelmente o afogaria na banheira! — falei sem pensar, e parece que ofendi o
grande homem.
— Acho que você está indo longe demais, Júlia — rosnou.
— Ora, não foi você que, nem faz dez minutos, estava sugerindo... não, pagando para eu
tirar o bebê? — perguntei, insolente. Ele segurou a ponta do nariz e respirou fundo.
— Por que não pensa em minha proposta enquanto estou viajando? Você poderia ter outros
filhos, se quisesse — continuou — Só não quero ter filhos meus espalhados por aí.
Que exagerado!
— Quantas mulheres grávidas de você existem por ai, para ter tantos filhos espalhados? —
debochei. Ele olhou para mim, sério.
— Já pensou na possibilidade de ser quadrigêmeos? — pelo visto ele também gostava de
fazer gracinhas. — Imagine, quatro cópias minhas! — tinha uma insinuação de um sorriso nos
lábios dele.
— Não diga isso nem de brincadeira — falei horrorizada, não pelos quadrigêmeos, mas por
ter mais quatro “arrogantezinhos” ao meu redor, seria demais. Apaguei a imagem da minha mente
de mais quatros criaturinhas perversas e o encarei. — Sabe minha sugestão? Abra mão da
paternidade, e o criarei sozinha, como já iria fazer — digo, tomando um gole do chá. — Se não
aceitar, estamos em um impasse, Sr. Lewis.
— Criar uma criança, Júlia, não é nenhum passeio no parque.
— Sim, falou o perito em família, que gosta de comer criancinha no café da manhã —
escárnio escorria das minhas palavras. Ele não fez nenhum comentário por um tempo, só me olhou,
depois levantou e disse:
— Tudo bem, você não quer conversar como adultos que somos — caminhou para a porta e
virou-se — Te vejo no tribunal. Prepare-se, porque não vou ser bonzinho como fui até agora —
deu-me as costas para sair do apartamento.
Saí da paralisia que me encontrava e fui atrás dele.
— Espera — gritei, mas ele já saía pela porta da frente. — Seja adulto e volte aqui —
disse, quando chegava à porta e ele esperava o elevador.
— Adeus! — e foi embora.
— Você não pode ir assim, seu maldito idiota — gritei para a porta do elevador que
fechava. — Homem maldito!
Para quem não queria hostilizar, fiz um papel excelente. Mas que merda!
Nem tinha o telefone dele, poderia pedir desculpa pelo comentário desnecessário. Eu com
raiva só faço asneira, às vezes. E agora há pouco não tinha ficado com raiva por ele querer meu
bebê? A inconstância desse homem era visível. Ora quer o aborto, ora quer o bebê para si!
Voltei à cozinha, fiz outro chá calmante e fui ligar para Sylvia, para contar os
acontecimentos.
— Ele agora quer o filho? — perguntou, chocada. — Aí as coisas são diferentes, Júlia, ele
terá direitos iguais aos seus e, provavelmente, guarda compartilhada.
— Sério? Tudo o que não queria está acontecendo — lamentei. — Bem, não existe
alternativa? — não podia perder as esperanças.
— Bom, se ele não mudar de ideia de novo... — ela suspirou. — Entrem em um acordo,
sejam adultos e parem de agir pensando nos próprios interesses — Nossa! — Pensem no bebê, que
é o maior interessando nisso tudo. Vocês esquecem que existe outra vida envolvida nessa guerrinha
sem sentido? Porque é isso que vejo, Júlia. Vamos agir como adultos, sim?
— Humm — estava sem palavras com o sermão da Sylvia. — Você tem razão — falei,
resignada. — Mas ele saiu daqui todo mal-humorado.
— Eu sempre tenho razão — riu. — Por que não liga para ele, aí os dois sentam e
conversam? De preferência com um mediador, porque só assim um não estrangula o outro.
Qualquer coisa, me ligue.
Depois de desligar, andei de um lado para o outro no apartamento vazio, inquieta. Droga.
Liguei o laptop e busquei as informações que a Carla tinha encontrado ontem. Só existia o telefone
da empresa dele. Bem, ligaria para lá, era o único jeito. Digitei o número e esperei ser atendida.
Uma voz feminina atendeu e informou que o Sr. Lewis estava viajando hoje e só voltaria
dali a três ou quatro dias. Oh, droga, ele tinha falado algo sobre viajar. Fiquei sem saber o que
fazer, então deixei recado para ele, dizendo que gostaria que me ligasse, deixando também meu
número de celular.
Como a gravidez me causava sonolência, fui dormir um pouco antes de passar na boutique.
Não tinha ido lá fazia três dias, e não gostava de me ausentar por tanto tempo. Passei a tarde
preocupada, quando cheguei em casa, à noite, estava uma pilha de nervos.
Tentei dormir cedo, mas o sono parecia ter evaporado. Quando consegui adormecer, foi
para ter um pesadelo com Jason tomando meu filho e levando-o embora. Acordei suada,
assustada e com leves dores na barriga. Merda. Olhei a hora, verificando que eram só 02:10 horas
da manhã. Levantei para tomar água, depois fui fazer xixi. Ao observar minha calcinha, descobri
que estava sangrando. Oh, meu Deus!! Não podia perder meu bebê.
Seria melhor procurar um médico? A essa hora, meu obstetra estaria dormindo. Melhor
seria procurar um hospital, e foi o que fiz. Troquei de roupa em tempo recorde e saí. Liguei para
Carla quando entrei no carro.
— O negócio tem de ser muito urgente para você me acordar a essa hora — resmungou
quando atendeu.
— Carla, estou indo para o hospital, acho que posso estar perdendo meu bebê — falei,
minha voz embargada do choro contido.
— O quê? — ela agora parecia que tinha acordado de vez. — O que houve, amiga? —
escutei-a praguejar e um baque do outro lado.
— Você está bem?
— Oh, sim, errei a distância ao levantar da cama — falou sem fôlego — Estou indo ficar
com você, me diga para qual hospital você vai.
Falei para onde estava me dirigindo e desliguei.
“Oh, filhinho, aguenta firme, não posso te perder agora...”
Sabia dessa probabilidade, o percentual de aborto espontâneo no primeiro trimestre é de
trinta por cento. Senti as lágrimas arderem em meus olhos e começarem a cair.
Fui atendida muito rapidamente no hospital, e sim, estava perdendo meu bebê. Eles iam
tentar segurá-lo, mas as próximas horas seriam cruciais. Deve ter sido todo o estresse que vinha
passando nesses últimos dias.

Carla

Encontrei minha amiga em um quarto no hospital. Ela não parecia em nada com aquela Júlia
que conhecia, independente e cheia de vida. Essa loucura para ter filhos estava passando dos
limites, ainda mais com esse maluco que era o doador nada anônimo. Ele era o maior culpado
desse estresse todo.
Queria encontrá-lo e dar uns bons tapas nele. Cara mais idiota!
— Agora que você me fala que se encontrou com ele ontem, Júlia? — disse, puta da vida,
quando ela contou o que havia acontecido. — Vou procurá-lo e dizer umas poucas e boas para ele.
— Nem vá por esse caminho, Carla — disse com a voz rouca de choro. — Só vai piorar a
coisas.
— Nunca te vi assim, e a única vontade que me dá é de estrangular Jason Lewis. O que o
médico falou?
— Como estou com dores e sangramento, eles vão me manter aqui até... — ela não
conseguiu continuar, emocionada.
— Hei — sentei na cama junto dela e a abracei. — Você vai superar isso, ok? Daqui a oito
meses você terá um garotão lindo.
— Ou uma garotinha linda — um esboço de um sorriso apareceu. Sorrio de volta.
Depois de uns vinte minutos, Júlia adormeceu. Deitei no sofá, no canto do quarto. Amanhã o
garanhão doador de sêmen saberia quem era Carla Spinoza.
Júlia amanheceu sem dores, o que já era ótimo, mas mesmo assim corria o risco de
um aborto espontâneo. Disse a ela que precisava ir em casa, trocar de roupa e voltava logo. Claro
que isso era só uma desculpa para sair.
Cheguei à empresa do garanhão reprodutor e soube, pela recepcionista loira e
emperiquitada, que ele estava viajando.
— E quando sua majestade volta? — ironizei.
— Não tenho essa informação, senhora —a songa falou, com um sorriso falso. Não fui com
a cara dela.
— Ok. Ele tem uma assistente, secretária, ou seja lá o que for?
— Claro que sim, senhora.
— Pois então pergunte para ela, por favor. É caso de vida ou morte, e quando digo morte, é
literalmente — exagerei.
— O que está acontecendo aqui? — disse uma voz masculina atrás de mim. Virei e dei de
cara com um loiro de terno. Estendi a mão para ele.
— Carla Spinoza, preciso urgentemente falar com o Sr. Jason Lewis.
— Thiago Gomes. Mas Jason está viajando — abriu um sorriso lindo.
— Talvez você possa me ajudar — abaixei a voz em um tom de confidência— Preciso que
ele saiba que a namorada dele está perdendo o bebê deles — menti sobre a “namorada”. Mas ele
não sabia, não é?
— Essa foi boa, Jason não tem namorada e nem filho — fechei a cara e o olhei feio.
— Mal informado você, hein, querido! A namorada dele está no hospital agora. Você por
acaso quer ser culpado de ele não saber? Tendo a informação e não ter transmitido a ele?
Cinco minutos depois, estava falando com Susan, a assistente de Jason.
— Quando ele volta? Você conseguiu falar com ele? — dessa eu gostei. Era daquelas
chiques e eficientes.
— Eu posso perder meu emprego por causa disso — ela pegou o telefone, discou, esperou
um instante e depois falou com a pessoa do outro lado. — Saulo, pode falar agora? Ok. Tem uma
moça aqui, dizendo que precisa falar com Jason sobre o filho dele — ela escutou e olhou para mim.
— Essa se chama Carla Spinoza... Ela falou que é a amiga dela, que está no hospital... Me deixa
confirmar. — e se dirigindo para mim: — Qual o nome de sua amiga, mesmo?
— Júlia Mason, e preciso falar com o garanhão reprodutor — ela voltou ao telefone,
ignorando meu pedido.
—Você vai falar com ele...? Está bem — ela desligou.
— Mas precisava falar com ele, você não entende a gravidade da situação... — Nossa,
estava pirando aqui. Depois de ela dizer que o advogado dele passaria o recado, não tive
alternativa a não ser ir embora. Levantei e caminhei até a porta. Porra, pelo menos eu tentei. Tinha
de ir ao meu apartamento e voltar para ficar perto de Júlia.

Jason

Estamos conhecendo as instalações da empresa, antes da primeira reunião com os


americanos, e minha cabeça não está aqui. Estava no Brasil, precisamente em Júlia Mason.
Desde ontem, quando saí de sua casa, ela não deixou minha cabeça um só instante.
Caramba! Tocar nela foi engraçado, sentir o toque dessa mulher foi suficiente para rever minhas
impressões sobre ela. A necessidade gritante do meu corpo foi inesperada, totalmente indesejável e
inconveniente em sua intensidade, nem preciso dizer o porquê. Tinha forçado meu corpo e emoções
para segundo plano. Mas, ao segui-la para o elevador, não deixei de notar o balanço de sua bunda
sexy pra caralho ao andar. Essa atração por ela era totalmente fora de lugar.
Um toque, e algo tinha começado a guerrear dentro de mim, com sentimentos contraditórios,
que me faziam querer e não querer; isso era como andar em corda bamba.
Mas logo depois, já no apartamento dela, fiz merda ao invés de conversar como adulto.
Tinha saído de lá feito um adolescente idiota. De onde tinha vindo a maldita ideia de pagar para ela
me entregar o bebê? Nosso bebê, para ser sincero, afinal ela também será mãe dele.
Estava amolecendo meu coração rápido demais, mas estava realmente com remorso de tê-la
tratado tão mal.
Mesmo distraído, vi Saulo pegar o celular no bolso do terno e sinalizar dizendo que
precisava atender. Pouco depois que voltou, cochichou no meu ouvido.
— Preciso falar com você.
— Tem de ser agora?
— Sim, era Susan, e você tem um problema, ou não, já que era tanto o que você queria, meu
amigo —olhei-o intrigado e voltei-me para Brian Davis.
— Davis, nos dá licença um minuto? — solicitei. Quando estávamos longe para sermos
ouvidos, inquiri:
— O que houve?
— Uma amiga da Júlia esteve na empresa, dizendo que ela está no hospital e que pode
perder o bebê — Saulo falou baixo.
— O quê? Perdendo o bebê?! — não acreditei e tive de repetir. Caralho! Era minha culpa.
Devo tê-la pressionado demais. Se acontecer algo com ela, ou com o bebê, não vou me perdoar.
Apesar das nossas diferenças, não quero que nada de ruim aconteça a ela. — Tenho de voltar,
quero que você termine aqui — Saulo me olha sem acreditar, enquanto caminho para Davis e digo
que irei deixar tudo nas mãos de Saulo.
— Tem certeza disso, Jason? — Saulo pergunta quando passo por ele, e o olho com uma
carranca — Ligue se precisar de alguma coisa.
— Obrigado! — agradeço e vou embora. Durante o voo, culpa e preocupações me corroem.
Tinha ligado para Susan e perguntado em qual hospital Júlia estava. Assim, quando desci do
avião, de madrugada, fui direto para lá. Antes de vê-la, procurei me informar do estado de saúde
dela e do bebê. Garantiram-me que ela estava só em observação. Senti um alívio por ela não ter
perdido o bebê. Não me pergunte o porquê, nem eu sabia a resposta.
Encontrei-a dormindo e sentei na poltrona ao lado da cama. Deve ter sentido que alguém a
observava, porque pouco depois abriu os olhos, e pelo jeito, estava com muita raiva de mim.
— Oi, como você está? — perguntei baixinho, mas ela não respondeu. — Fiquei
preocupado com você.
— Veio ter certeza se perdi mesmo meu filho? — sibilou.
— Claro que não, vim ver se vocês estão bem — ela parecia incrédula.
— Você não estava viajando? Como ficou sabendo que eu estava aqui?
— Tenho meus contatos — sorri, mas ela continuou séria. — Pode não acreditar, mas ao
pensar que poderia perder o bebê, não queria que isso acontecesse realmente — ergui minha mão e
segurei a dela, que tentou puxar, mas segurei firme. Acariciei com o polegar a costa da sua mão,
sentindo vibrações me percorreram com o ato, e acho que ela também sentiu, porque tremeu
visivelmente e sua respiração acelerou. Ficamos nos encarando. Minha vontade foi de inclinar-me
e beijar sua boca linda. Queria saber seu gosto, saber se seria tão macia e gostosa como parecia.
Senti-me ficar duro de tesão, e meu sangue deve ter ido direto para a parte sul do meu corpo.
Maldição! O que diabos estava pensando? Isso era um maldito tiro no pé! Soltei sua mão e
me levantei.

Júlia

Oh! Pensei que ele fosse me beijar. E quando isso não aconteceu, decepção tomou conta de
mim. E essa coisa entre nós, essa inesperada atração pura e intensa, não acabaria bem. Se fosse em
outra circunstância, não pensaria duas vezes e me atiraria de cabeça.
Acordar e dar com ele me olhando foi estranho, nem sabia como agir, e minha raiva por ele,
onde foi parar? Eu nem dei tanta importância, estou muito molenga, como diz a Carla. Observei-o
em pé, parecendo tão “comível”. Pelo visto, minha raiva por Jason só aparece quando ele não está
perto de mim.
— Vai ficar aí em pé o resto da noite? — perguntei. Estava com medo de mim, por acaso?
Quase ri com o pensamento de um homem desse tamanho com medo de uma mulher.
— Do que você está rindo? — não percebi que realmente estava sorrindo, até ele perguntar:
— Quando terá alta?
— Amanhã, provavelmente — o médico tinha dito que me liberaria, desde que ficasse
quieta nessas próximas semanas. — Quer dizer, mais tarde, afinal está quase amanhecendo — ele
voltou a sentar e relaxei na cama.
Devo ter adormecido porque, quando abri meus olhos de novo, estava sozinha no quarto.
Levantei e fui ao banheiro, encontrando Jason, quando voltei, me esperando junto com o médico.
— Bom dia, Júlia, como está se sentido hoje? — o médico perguntou
— Bom dia, estou bem, Doutor.
— Estava conversando com seu noivo que você já pode voltar para casa, desde que fique
em repouso. — Noivo? Olhei para ele, e sua cara de jogador de pôquer nada demonstrava. —
Então, está liberada para sair. Vou fazer sua liberação — disse, enquanto seguia para fora do
quarto.
— Noivo? — disse assim que o médico saiu. — Ficou maluco?
— Ele queria saber o que eu era seu, então, só disse que era pai do seu filho. Ele que
inventou o noivo — ele riu, inocente.
Duas horas depois, estava entrando no meu apartamento acompanhada de Jason, que fez
questão de me levar. Ia ligar para a Carla, mas ele argumentou, alegando que já que estava lá, não
custava nada me levar.
— Agora pode ir — digo assim que entramos no meu apartamento.
— Quem vai ficar aqui com você? — perguntou, e o olhei.
— Como já disse uma vez, sempre estive só, senhor Lewis, muito obrigada — respondi.
— Isso não está certo. Você escutou o médico: repouso total — ele me acompanhou à sala
de estar, e quando sentei, ele veio me ajudar, colocando uma almofada nas minhas costas. Até
parecia que estava inválida! — Precisa de alguma coisa?
— Você por acaso é irmão gêmeo de Jason? — não aguentei e perguntei. Era muito
estranho, ele todo solícito e cuidadoso. — Estou muito bem, agora pode ir — ele inclinou-se para
perto de mim.
— Tenho a impressão que você me quer pelas costas — sussurrou. Dava para sentir seu
cheiro, de tão perto que estava de mim agora, deixando meu corpo rígido. Levantei minha cabeça
para olhá-lo nos olhos, e meu coração disparou. Ele devia saber que está me afetando, pela forma
que seus olhos estão na minha boca. Quando ele voltou a olhar nos meus olhos, fome e luxúria
são visíveis nas íris cinzentas. A próxima coisa que sinto são os lábios dele nos meus. Ele me
rouba o fôlego quando invade minha boca, com sua língua procurando a minha. Eu não me faço de
rogada, devolvo o beijo com vontade. Meus braços envolvem seu pescoço, aprofundando o beijo.
Sua boca é quente e nossas línguas duelam juntas. Beijamo-nos por alguns instantes. Quando ele me
solta, deixo escapar um gemido. O quê? Rápido assim?
— Desculpe-me — disse se afastando, sua respiração também está rápida. Não pare, queria
gritar!
O clima tinha mudado após o beijo, que acabou muito rápido, devo dizer. Podia estar
sentindo tesão pelo meu inimigo? Todo meu corpo está formigando. Ai, Jesus! Eu estava com
problemas seríssimos.
— Quer que chame alguém para ficar com você? — a voz dele estava rouca e não estava
me olhando nos olhos. Nossa, o fodão Jason Lewis estava constrangido? — Sua amiga, a que foi na
minha empresa ontem, não pode ficar com você?
— Quem foi à sua empresa? — perguntei, chocada. Carla não fez isso, fez? Vou matar a
bandida bem lentamente. — Tudo bem, ligo para ela, não se preocupe — digo, e ele que estava tão
preocupado em não me deixar sozinha, aquiesceu com a cabeça e foi embora.
Nossa, isso foi estranho...

Capítulo 5
Jason
Foi mais do que imaginei beijar a Júlia. E um erro também. Não bastava a complicação em
que nos encontramos, eu ainda tenho de desejá-la?
Foda-se! Foda-se! Foda-se!
Saí da casa dela faz uma hora, e seu gosto parece impregnado em mim. Caralho, era muito
gostosa. E eu estou fodido! Corri de lá, era verdade. Seria terrível me envolver com ela, ainda
mais tendo um filho no meio disso. Eu sei que não quero envolvimento sério com mulher nenhuma.
O que gosto mesmo é saber que tenho uma ou mais disponíveis me esperando. Foder e ir embora.
Sempre foi meu lema, e não foder uma mulher que estava esperando um filho meu. Filho que nem
fiz, devo lembrar. Porra! Eu queria ter feito, pelo menos teria sido bom.
Tive de sair de lá ou teria feito algo que me arrependeria, ainda mais ela estando grávida e
com risco de perder o bebê. Mas meu pau maldito nem estava ligando se ela era proibida para
mim. Droga, precisava foder alguma mulher o quanto antes e tirar essa maldita boca sexy da mente.
Estava deitado, tentando dormir, por fazer mais de 24 horas que tinha dormido, e não
conseguia. Levanto e resolvo ir para o escritório, tenho de falar com o Saulo sobre as negociações
lá nos EUA. Quando ele voltasse, falaria sobre minha decisão de pedir a guarda do meu filho.
Sabia que seria uma briga sem fim com Júlia, mas esta era minha decisão.
Era fim de tarde quando tive coragem de ligar e saber se sua amiga tinha ido ficar com ela.
Sei que tenho sido um tremendo de um idiota, mas estava preocupado com ela. Na verdade, nem eu
entendo essa porra.
— Alô — sua voz é suave.
— É Jason — digo quando ela atende — Como você está?
— Humm... estou bem. Por que está ligando? — perguntou. Nossa, ela era irritante e grossa,
mas eu também era, então...
— Talvez eu esteja preocupado com você, sozinha em casa — disse e era verdade.
— Não estou sozinha, você não precisa se preocupar comigo.
— Sua amiga está com você? — por que era tão difícil ela dar informações? — Se não me
falar, irei aí — ameacei, mas ia passar de qualquer forma.
— Não, ela esteve aqui e já foi embora. Ela também tem uma vida, mas estou mais do que
bem.
Depois que desliguei, resolvi ir até lá. Não era homem de correr de um desafio. Apesar de
que alguém pode achar que corri dela ontem, mas foi para o próprio bem dela.
Cheguei à sua casa às dezenove horas. Toquei a campainha e esperei. Isso me fez pensar
que precisava de uma chave e providenciaria logo uma cópia. Sim, sou presunçoso assim. Quando
queria algo, dificilmente não conseguia. Ela abriu a porta, carrancuda.
— Como você é teimoso — resmungou, mas abriu mais a porta e me deixou passar. Sorrio
interiormente. Não era tão marrenta assim.
— Vai por acaso dormir aqui? — perguntou e cruzou os braços, numa postura defensiva.
— Se você quiser... — deixei-a pensar que decidiria onde iria dormir, não estou indo a
lugar nenhum. — Já jantou? — segui para sua cozinha, onde providenciaria meu jantar e o dela.
— O que está fazendo, Jason? — perguntou, me seguindo.
— Júlia, minha florzinha de estufa — sorrio —, estou indo fazer o meu e o seu jantar —
levantei minhas sobrancelhas para ela, abri sua geladeira, vendo as opções, e logo comecei a
preparar o jantar, enquanto ela me observava com cara de poucos amigos.
— Florzinha de estufa uma ova — disse ela, baixinho. — Idiota.
— O que disse? — sorrio.
— Está se sentido muito à vontade na minha casa, para meu gosto. Até onde sei, nem amigos
somos.
Era bom ela se acostumar, porque não me afastaria dela até que tivesse meu filho comigo.
Custe o que custar.
Tinha falado com Saulo mais cedo. Não tratei com ele sobre minha decisão de pedir a
guarda do meu filho, somente sobre as negociações, que estavam indo bem com Davis. Quando ele
voltasse, começaria a tratar disso. Não permitiria que ela ficasse com meu filho. Já que fui forçado
a ter um, ele seria criado por mim.

Júlia

Durante o último mês, senti-me uma prisioneira na minha própria casa. Jason-perseguidor-
Lewis era o carcereiro mais terrível do universo, tenho certeza.
Ele praticamente veio morar comigo e se autonomeou meu guardião. Acordava e dormia
para encontrá-lo na minha casa, mas entre esses intervalos, ele ia à sua própria casa, porque
sempre estava impecável, cheiroso e lindo de morrer.
Achava muito estranho o fato de ele ter mudado de uma hora para outra com relação a ter
filho. Em nada parecia o homem que ofereceu dinheiro para que fizesse um aborto. Incrível, às
vezes achava que ele estava se fazendo de bonzinho comigo e depois me pegaria de surpresa com
alguma coisa que poderia estar tramando. Mas ele não tinha feito nada suspeito.
— Seu café da manhã — disse, colocando uma tigela de cereais com frutas na minha frente
— e suas vitaminas — sério? Ele nunca para? Depois daquele primeiro dia que cheguei do hospital
e que ele me beijou, ele praticamente me ignorava nesse sentido. Só algumas vezes notava seu olhar
cheio de luxúria, e eu ficava molhada só de pensar em beijá-lo de novo.
— Que hora é seu médico? — hoje tinha consulta com meu obstetra e iria fazer um
ultrassom. Como sempre, ele queria saber tudo a respeito. Para quem não queria filho, ele estava
muito interessado no meu. Muito estranho estar grávida de um homem que você praticamente não
conhece e nem tinha feito sexo suado com ele. Humpf, lá vai minha mente pervertida tomando esse
caminho de novo. Mas era o que mais pensava nesses dias, aliás, parece ser verdade que a libido
aumenta durante o período de gravidez, porque, sinceramente, estava com um problema sério ou era
culpa do homem que rondava minha casa como sua própria. Vivia com tesão 24 horas por dia e
Jason parecia nem notar, ou fingia, porque tinha hora que eu me pegava praticamente babando nele.
E, além disso, entrava e saía quando queria. “Roubou” a chave sobressalente do meu
chaveiro, e quando reclamei, me ignorou completamente. Definitivamente, o homem era louco. Mas
bem que poderia me beijar à vontade.
— Às nove, por quê? — disse, enquanto comia meu desjejum.
— Vou com você — falou calmamente. O quê? Ele está ficando louco? Não vou levá-lo ao
meu obstetra.
— Acho que não, colega. Já não basta você aqui no meu pé, dia e noite? E já convidei a
Carla — era mentira, mas ele não precisava saber, não é? Ele me olhou de cara feia.
— Se ainda não notou, o filho também é meu e quero saber como ele está — falou.
— Filho que você não quer! Aliás, nem devia estar aqui na minha casa, para início de
conversa.
— Por acaso tem alguém mais para ficar com você? — como ele era chato! Tivemos essa
conversa várias vezes durante esse mês.
— Falei mil vezes que sempre morei e vou continuar morando só — levantei e levei os
pratos usados para a pia. — Não estou doente e nem corro mais tanto risco de perder minha filha.
— Como sabe que é menina? — ele sabia como ignorar algumas coisas e focar no menos
importante.
— Não sei, mas será uma linda menina e a chamarei de Apolônia — disse e caí na
gargalhada diante da sua cara de horror.
— Apolônia? Um filho meu não terá esse nome.
— Então já sei como fazer você desistir do meu — falei baixinho.
— O quê?
— Nada.
— Também pode ser um menino, parecido com o pai dele — voltou para o assunto e estava
sorrindo agora.
— Espero que ele não pareça tanto com o pai. Aliás, espero que ele não herde a metade que
se refere ao seu cérebro porque, coitadinho do meu filho, estará com problemas sérios —
provoquei.
— Como você é engraçadinha, senhorita Mason.
Pouco depois, saímos e ele insistiu em ir comigo. Maldito cabeça dura, sempre me vencia.
Minha consulta foi tranquila, apesar de ter uma companhia indesejável junto a mim. O Dr.
Edgar, depois do ultrassom, disse que estava tudo certo com meu pequerrucho e me liberou para
fazer tudo que tivesse vontade. E morri de vergonha quando disse:
— Sei que você não está tendo relações sexuais por causa da ameaça de aborto, mas se
quiser voltar à sua vida sexual, até será melhor na hora do parto, já que você optou pelo parto
normal.
Fiquei vermelha igual um tomate, enquanto o médico continuava falando.
Quando saímos do consultório, Jason me deixou em casa, onde peguei meu carro e fui para
a Ma Belle. Poderia ter ido direto de lá, mas o teimoso só queria as coisas do jeito dele. Idiota.
Talvez ele achasse que ficaria o dia todo em casa, coisa que não iria fazer.
Precisava ficar mais tempo na Ma Belle, o verão estava começando e a nova coleção tinha
que estar perfeita na vitrine. Estive muito afastada ultimamente, devido aos cuidados com minha
gravidez, precisava voltar a cuidar dos meus negócios.
Passei o resto do dia com Melissa, organizado algumas coisas, e nem vi o tempo passar. Já
era umas quatro horas quando escutei meu celular tocar, recebendo uma chamada de Carla, a
“traidora”.
— Oi, amoreca— respondi. Já tinha “pego ela pelas orelhas” por ter ido procurar Jason
quando estava no hospital, e ela disse que fez isso só para ele se conscientizar do quanto estava
sendo horrível comigo. É, parece que teve efeito, sim, já que ele estava um doce e me tratando
como se fosse de vidro.
— Oi, mamãe, como você está?— ela disse quando atendi.
— Muito bem. Fui hoje ao médico e ele falou que posso fazer o que quiser— digo com um
sorriso.
— Aiii, que bom, Júlia! Então, vamos comemorar. Que tal uma balada? Tomar umas
tequilas assassinas?
— Helloo, esqueceu que não posso beber, sua maluca?
— Nossa, como você ficou chata, quem é que vai sair comigo agora?— sua voz ficou
dengosa. —Vou virar uma senhora decrépita em casa de hoje em diante, sem amiga— dramática
como sempre.
— Você? Não, acredito — rio porque a conhecia muito bem e não era santa, não.
— E o deus grego que agora vive debaixo do seu teto? — gargalhou do outro lado.
— Nem me fala dele. Ele teve a coragem de ir ao Dr. Edgar comigo hoje, passei a maior
vergonha.
— Ele é o pai do seu filho, Júlia.
—Diz isso porque não é você que convive com ele e nem fez esse filho — reclamei.
— Ai, se quiser passá-lo para mim, estou aqui. Ok?
— Pode ficar— falei, mas quando pensei em minha amiga ou outra mulher com Jason, senti
meu bom humor evaporar. Argh. Estava passando muito tempo perto dele, e essa atração entre nós
piorava tudo. Tinha medo de acabar apaixonada por ele se continuássemos tão perto assim.
— Não, obrigada, o ogro é todo seu— brincou. — Que tal irmos jantar para comemorar a
vitória do Júnior?
— Ótimo, estou na loja. Que tal você vir e irmos daqui? E é uma menina, deixe de chamá-la
assim.
— Combinado, gata, passo aí às 19 horas.
Fomos a um restaurante italiano. Adoro massa, e fiquei só na vontade de tomar uma taça de
vinho, mas, no fim, não resisti e tomei um golinho. Ninguém é de ferro e nem faria mal a Nicole.
Esse era o nome que talvez pusesse nela, não Apolônia como disse ao Jason e o bobo acreditou.
— Então, como é viver com o deus grego?— perguntou Carla.
— Tirando as horas que quero matá-lo e as em que quero fodê-lo, tudo ótimo— digo séria,
e Carla ri alto, chamando a atenção das pessoas ao redor.
Depois de muitas conversas e risadas, nem vimos o tempo passar. Quando percebemos, já
eram 23 horas e levantamos para ir para casa. Meia hora depois entrei no meu apartamento, o
encontrando totalmente no escuro.
“Acho que meu carcereiro se deu folga hoje, ufa”.
Entrei tirando meus saltos e quase caí de bunda no chão quando escutei a voz no escuro.
— Onde PORRA você estava? — trovejou.
— Arrrrth — gritei assustada. — Quer me matar de susto, seu Neandertal? — ofeguei, e
a luz acendeu para mostrar Jason escorado no umbral da porta da sala.
— Onde você estava? — repetiu com uma carranca.
— E isso é lá da sua conta? E você, o que ainda está fazendo aqui, afinal? — caminhei para
a cozinha e tomei um pouco de água para aliviar o susto. — Achei que você tivesse ido viver sua
vida. Falando em vida, você tem uma, não?— perguntei e virei para dar com ele praticamente
colado em mim.
— Você esqueceu que está grávida? — perguntou, raiva exalava dele agora como uma força
invisível.
— Não esqueci não, e se tivesse, você teria prazer em me lembrar— disse, tentando passar
por ele, mas ele segurou meu braço, me sustentando no lugar. Olhei nos olhos dele e perdi o fôlego.
Porra, isso acontecia toda vez que nossos olhos se encontravam. — Pode me soltar agora? —
minha voz estava ofegante e rouca.
— Você andou bebendo? — seu hálito fresco invadiu minhas narinas e senti minha vagina
apertar de vontade de pressionar minha boca na dele. Oh, diabos, lá vamos nós outra vez por esse
caminho. — Você perdeu o juízo? Sair para beber no seu estado!
— Não que seja da sua conta, mas foi só um gole, está bem? — disse. — Não tem que estar
se metendo na minha vida. Sou vacinada e bem grandinha para ouvir sermão seu — puxei meu
braço com força e consegui me soltar. Depositei o copo na pia e saí pisando duro para o quarto. —
E saia da minha casa, seu imbecil — gritei, já entrando no quarto. Só não fui rápida o suficiente,
porque ele empurrou a porta do quarto, batendo-a na parede com força, e entrou feito um raio.
— O diabo que não tenho nada a ver com a sua vida. Enquanto você estiver com meu filho
na barriga, tenho muito a ver, caralho! — esbravejou. Ele tinha colado em mim enquanto falava.
Nossas respirações se misturavam. A raiva que estava sentido, por ele parecer um cão raivoso por
nada, evaporou enquanto sentia suas mãos agarrarem meus braços. Desejo me invade e arquejo,
esquecendo totalmente quem era esse homem que me deixa louca, ora de raiva, ora de luxúria.
Neste exato minuto, nem lembro quem eu sou. Segui meu instinto e o beijei com tudo que tinha, e
que se danassem as consequências.
Colei minha boca na dele. Minha língua invadiu sua boca, mas dominei a situação por
poucos segundos, porque ele me empurrou contra a porta e me beijou de volta, comendo minha
boca com fome. Um arrepio de puro desejo percorreu meu corpo, os músculos da minha barriga
apertaram e tremeram quando ele deslocou sua boca da minha e sussurrou com a voz rouca e tão
masculina em meu ouvido:
—Eu vou te foder tão completamente, que você não vai querer qualquer outro homem
depois que eu colocar minhas mãos em você — sua mão agarra meus cabelos, puxando minha
cabeça para trás, e sua boca agora morde meu pescoço, deslizando a língua em direção aos seios,
aos meus mamilos doloridos pedindo atenção. Ele desabotoa minha blusa tão rápido que deve ter
anos de prática nisso, mas quem se importa com isso agora? Eu não.
— Tem certeza disso, Júlia? Quer ir por esse caminho comigo? — pergunta, e eu, em
resposta, começo arrancando sua camisa. Quero seus dedos, seu toque na minha pele. Ele tem um
cheiro delicioso. Jason pega minhas mãos, me impedindo de tirar sua camisa, e ele mesmo faz isso
mais rápido. — Você é tão linda, doçura— seu olhar é tão intenso, carregado de luxúria. Depois de
tirar a própria camisa, vem e retira meu sutiã, jogando-o longe.
Gemo de antecipação quando ele se ajoelha na minha frente e tira minha saia. Fico só com
minha calcinha fio-dental rosa, de renda. Sinto sua boca na minha barriga quando ele traça com a
língua círculos deliciosos em volta do meu umbigo. Ele desliza minha calcinha para baixo, e
o rouco gemido que emana de seus lábios revela: ele quer isso tanto quanto eu. Isso é impossível, e
ainda é tão verdadeiro quanto o meu próprio desejo. Seu dedo mergulha em minhas dobras
molhadas, testando minha excitação escorregadia, me fazendo soltar um gemido tão alto que aperto
a mão contra minha boca. Ele levanta os olhos e os prende nos meus enquanto seus dedos me
invadem. Estou virando massa de modelar em suas mãos, e se ele continuar vou acabar caindo,
porque minhas pernas estão virando gelatina.
—Porra— ele fala, levando sua boca ao meu clitóris. O toque de sua língua envia golpes de
prazer se espalhando através de meu corpo, enquanto seus dedos fazem maravilhas dentro de mim
com movimentos lentos, fazendo meus quadris ondularem. — Como você é gostosa, caralho.
Ele levanta, fazendo-me gemer de frustração. Em seguida me leva para a cama, fazendo-me
deitar de costas, e vem para cima de mim, beijando-me na boca. Posso me saborear nele e minha
excitação aumenta a picos estratosféricos quando ele desce a boca e suga um mamilo com força na
sua boca quente, enquanto seus dedos beliscam o outro mamilo duro e enrugado. É muito, e me vejo
explodindo em sensações, que parecem um curto-circuito com tanta eletricidade espalhada por todo
meu corpo, quando o orgasmo rasga através de mim. — Aaaah— oh, merda! Com meu grito,
provavelmente acordei meu vizinho de baixo, mas quem se importa?
Quando volto ao planeta Terra, é para encontrar Jason em pé desabotoando suas calças e
tirando a cueca, empurrando em seguida rapidamente os dois para baixo. Fico com o meu coração
martelando na minha garganta com a visão dele. Toda a minha confiança me abandona em um
instante. Ele é magnífico, enorme e lindo. Isso definitivamente vai machucar meu bebê. Tento me
levantar, quando ele me impede com um gesto de mão.
— Tem ideia do quão incrível é a visão que tenho daqui? — um sorriso safado aparece em
sua boca, enquanto ele me olha e se acaricia lentamente. Oh, maldição, minha boca enche de água
enquanto o assisto. Ele fica sério de repente. — Tem certeza disso? É seguro para o bebê? —
impaciente, e já esquecida que tive o mesmo receio, rastejo-me em sua direção, deslizo minhas
mãos em seu peito musculoso e desço por sua barriga. Agarro seu pau em minhas mãos ansiosas e o
masturbo suavemente, olhando-o nos olhos. Ele abaixa a cabeça, capturando meus lábios num beijo
lento e gostoso. Ele me empurra lentamente de volta à cama e vem por cima, ainda com a boca
colada na minha. Minhas pernas se abrem, o acomodando, posso sentir seus dedos me testando. —
Parece como seda líquida em meus dedos, incrivelmente molhada. Tem ideia do quanto já
pensei em te foder assim? — sussurra.
Quando move seu corpo e paira sobre mim, pronto para invadir o meu, sinto quando orienta
seu pênis para o meu sexo e permite que a cabeça deslize contra a minha entrada, me fazendo inalar
profundamente.
— Hei, vamos devagar, ok? Sei que devemos ser cuidadosos com nosso bebê— fala com a
respiração entrecortada, demonstrando que ele está se segurando para ir com calma. — Puta que
pariu, eu não vou te machucar, minha querida.
— Siiim — foi tudo que consegui dizer antes de ele me invadir lenta e completamente, me
deixando com a sensação de plenitude, movendo-se devagar em um vai e vem delicioso. — Ai,
Jason, oh Deus!— choramingo, me derretendo em sensações extraordinárias; minha respiração
ofegante e trêmula. — Por favor, não pare. Eu não quero que você pare. Oh, merda.
Sua testa franze enquanto me olha.
—Não estou machucando você? Eu não quero te machucar, doçura.
Balanço minha cabeça desesperadamente. Quero isso. Eu não sinto dor ou desconforto.
Mesmo que estivesse não vou desistir, não deste homem. Ele me olha por longos minutos enquanto
tento acalmar meu rosto, esfriar o rubor de minhas bochechas. Ele sai lentamente do meu corpo,
ainda estudando meus olhos e procurando alguma coisa, e quando empurra de novo, muito mais
lento dessa vez, ouço seu gemido gutural de prazer. Ele continua a bater em mim, impulso após
impulso em minha vagina apertada. Encontro-o facilmente, sinto-me pegando fogo neste momento.
É tão gostoso senti-lo totalmente dentro de mim. Quando o orgasmo toma conta de meu corpo
novamente, e tão rápido, em espasmos incontroláveis que me tiram totalmente da terra, posso sentir
que seu orgasmo vem logo após o meu, e um grunhido gutural sai da sua garganta em resposta ao
meu.
Estamos os dois muito fodidos, literalmente.
Capítulo 6
Jason
Mas que porra! Não era para isso acontecer.
Levantei devagar para não acordar Júlia, fui ao banheiro, entrei no box e tomei um banho
rápido. Quando voltei para o quarto, ela continuava do mesmo jeito que a deixei. Precisava sair
daqui, essa porra estava ficando séria demais.
Vesti minha roupa, pois precisava ir para casa, afinal, tinha que ir de qualquer jeito. Sei que
alguém poderia me dizer que eu era um tremendo babaca por sair e deixá-la, mas eu era assim, não
dormia a noite toda com mulher nenhuma e não começaria agora.
Essa mulher estava me assustando sobremaneira.
****
O dia está quase amanhecendo e ainda estou na sala do meu apartamento, pensando na
asneira que cometi. Não tinha conseguido dormir. Transar com Júlia não foi uma coisa para sentir
orgulho, porque sei que isso não vai acabar bem.
Saí depois que ela dormiu. Nunca durmo com as mulheres depois do sexo, muita intimidade
não é para mim.
Esse último mês tem sido complicado. Conviver praticamente junto com uma mulher,
mesmo que não fosse nada minha, era sufocante. Mas um homem poderia morrer só por sentir o
calor molhado e doce dela. Porra, ser delicado com ela foi torturante, não meter em seu corpo com
toda vontade que tinha foi frustrante. Tinha fantasias e todas incluíam Júlia espalhada na minha
cama, fazendo-a gozar gritando meu nome mais e mais. Respirei profundamente, tentando acalmar
meu corpo. Estava duro só de imaginar aquela boca gostosa, que não tinha feito uso apropriado
dela, seu calor apertando em volta de mim. Oh, foda-se, estava ferrado!
“Caralho, preciso tomar outro maldito banho frio.”
Devia ter ficado lá e me deliciado com seu corpo logo pela manhã. Porra, ela era doce pra
caralho!
Coloquei os pensamentos lascivos de lado e fui malhar. Depois tomaria um banho antes de
ir trabalhar.
Entrei na empresa algumas horas depois. Quando passei pela mesa de Susan, avisei que não
estava para ninguém hoje. Mergulhei no trabalho por toda manhã, sem interrupções. Estava
terminando de rever um contrato quando a porta abre e Saulo aparece.
—Você nunca bate? — disse quando sentou na cadeira em frente à minha mesa.
— Para quê? Se eu entro de qualquer maneira, não tenho medo da sua cara feia — sua
expressão era debochada, como sempre.
— O que você quer? — digo, fechando uma pasta de documentos e recostando em minha
cadeira.
— Estou indo almoçar — falou. — Mas tenho algo para conversar com você. Então, levanta
este traseiro daí e vamos — aceitei, porque estava faminto.
Já no restaurante, Saulo continuou a conversa:
— Queria conversar com você, porque o juiz já marcou a primeira audiência do processo
contra a clínica. Será daqui a quinze dias. E, nos próximos dias, sairá a outra contra a Júlia. Esta
acho difícil você ganhar, meu amigo, geralmente as mães são as beneficiadas... — caralho, ele tinha
que vir com esse assunto logo hoje? Como não falei nada, ele me encarou. — Você está bem, cara?
Está estranho. Deve ser porque você viveu como um monge esses últimos tempos, ser papai está
mexendo contigo. Nunca pensei ver o grande Jason nesta situação!
— Não enche, Saulo — resmunguei. — Você não sabe a merda que andei fazendo.
— Conta, sou todo ouvidos. Para isso é que eu sirvo, afinal.
— Eu transei com a Júlia — desabafei. — Sei o que você irá dizer, mas posso garantir que
isso não se repetirá. — ele estava olhando pra mim de olhos arregalados.
— Puta que pariu, Jason! Cara, você gosta das coisas complicadas, meu amigo — ele não
estava ajudando em nada nessa porra. — Está transando com ela há quanto tempo?
— Isso não importa — falei. — Só estou te dizendo porque é meu advogado e não quero
surpresas no futuro, afinal vamos acabar frente a frente diante de um juiz muito em breve. Mas esta
conversa não sai daqui.
— Ela sabe que você vai pedir a guarda total do bebê quando ele nascer? — perguntou
sério. Saulo sério não era nada bom.
— Eu não disse nada a ela até agora. Não poderia tratar desse assunto com ela tendo
problemas com o início da gravidez, seria muita insensibilidade minha.
Pela primeira vez na vida, estava com receio de abordar um assunto do meu interesse com
uma pessoa. E Júlia não era qualquer pessoa, era mãe do meu filho. Mesmo na situação que foi
concebido e sem contar que ela estava se impregnando em mim de uma maneira que me assustava
pra caralho. Vivia com ela na cabeça.
— Agora que estão em um relacionamento, vai deixar para dizer quando?
— Não estamos em um relacionamento, porra! Foi só sexo — disse, irritado. — Foi um
lapso que não irá se repetir, caralho!
— Bom, não iluda a garota, ela pode confundir as coisas por você ser o pai do bebê.
— Ela não parece o tipo de mulher que se ilude, Saulo, não é nenhuma adolescente — nem
eu acreditava em minhas palavras.
— Você quem sabe — ele bebeu um gole de água e franziu o cenho quando continuei
calado. Depois começou a falar da audiência e me perdi em pensamentos contraditórios durante o
resto do almoço, mal o escutando. Quando já íamos saindo do restaurante, Saulo me convidou:
— Que tal sairmos hoje, como nos velhos tempos? Estou a fim de ir a uma nova casa
noturna, que abriu recentemente. Você deveria ir também — riu. — Sair de perto de Júlia vai te
fazer bem, afinal está ficando apaixonado.
— Cala essa maldita boca — olhei de cara feia para ele. — Sou lá homem de se apaixonar?
Isso é coisa de adolescentes cheios de hormônios.
— Oh, para tudo tem uma primeira vez — disse.
Sim, as coisas estavam tomando um rumo que não gostava nem um pouco. Minha maldita
reação ontem sobre ela sair foi exagerada. Não tinha intenção de ficar esperando até tarde no
escuro e fazer uma cena nada agradável, mas fiquei pensando onde poderia ter ido, com quem tinha
saído.
Tinha ligado para a loja e a gerente dela disse que tinha saído com alguém.
Fiquei puto.
Estava parecendo um maldito namorado ciumento, mas dizia para mim mesmo que estava
preocupado com meu filho, isso era tudo. E quando ela chegou e senti seu hálito com cheiro de
vinho, tinha ficado muito, mas muito puto com ela. E tinha perdido totalmente o controle, maldição!
— Então, vai sair ou não? — Saulo estava falando.
— Ok, vamos conhecer esse lugar — decidi que esse contato com Júlia não ia acabar bem e
era hora de fazer o que sempre fiz.

Júlia

Estiquei-me lânguida na minha cama, sentindo-me ótima. Cada célula do meu corpo queria
recomeçar tudo o que tinha feito na noite anterior. Ainda sentia o cheiro dele em minha pele. Oh,
céus! Era divinamente bom. Estiquei meu braço, tentando encontrar o culpado por essas sensações,
e encontrei o vazio.
Levantei minha cabeça do travesseiro e fiquei tentando detectar algum som no apartamento.
Nada. Olhei o relógio de cabeceira e vi que já eram sete da manhã. Será que ele estava na cozinha,
fazendo aqueles cafés da manhã terríveis? Argh! Queria-o aqui, isso sim, para continuarmos de
onde paramos. Ontem à noite tinha me sentido incrível. Sorrio e o espero aparecer... E nada. Onde
diabos ele se meteu, hein?!
Resolvi levantar e procurar. Logo descobri que estava só. Ele tinha ido embora? Tinha
passado esses últimos tempos aqui e agora ele tinha achado conveniente ir embora? Inacreditável!
Filho da puta!
Mas era bom, não o queria pensando que, depois daquela noite, algo poderia mudar na
nossa relação. Não iria. “Precisava me convencer disso”.
Está bem, não sou nenhuma sonhadora que vivia com a cabeça no mundo da lua ou coisa
parecida, mas não sei o que pensar agora, estou tão confusa. Nunca me senti assim antes, foi tão...
Bom, intenso. Ele tinha sido tão carinhoso, deixando de lado seu lado grosso e sendo cuidadoso,
delicado, com nosso bebê. Abri um sorriso. Ele queria passar essa imagem de durão, mas não era.
Sei que posso estar enganada, afinal, não tenho tanta sorte assim com os homens e eles sempre se
mostram uns mentirosos.
Mas, bem que ele poderia ter ficado, estava gostando de acordar e ter meu café da manhã
pronto. Tomei banho e depois fui para Ma Belle, trabalhar e esquecer Jason Lewis. Era o melhor a
fazer.

****
Passei o dia ocupada com as entregas da nova coleção de verão, meus pensamentos algumas
vezes indo para a noite anterior. E, o pior: nenhum contato de Jason. Estranho, ele sempre ligava ou
mandava uma mensagem para saber como estava e hoje nem um simples telefonema? Nada.
Não que estivesse desesperada, não. Mas um homem dormir com você e depois sumir era,
no mínimo, grosseiro.
Tinha de me concentrar mais na minha gravidez do que naquele ogro almofadinha gostoso.
Esqueci aquele mês e o porquê de estarmos nesta situação. Em primeiro lugar, não tinha
comunicado a Sylvia sobre esse contato com Jason. Sabia que ela não gostaria de saber, mas tinha
outras coisas em mente. Sinceramente, não sei como acabaria isso.
No fim do dia estava ansiosa para ir para casa e relaxar. Não tinha falado com Carla hoje,
também, e como era sexta-feira, provavelmente, iria para alguma balada ou happy hour. Bem que
poderia ir também, estava grávida, não morta. Só não iria porque ainda tinha receio de passar outro
susto. Saí da Ma Belle às seis e, a caminho do estacionamento para pegar meu carro, liguei para
Carla:
— Oi.
— Oi, o que vai fazer hoje? — perguntei.
— Tem uma nova boate top abrindo e estou indo com o pessoal do escritório — disse. —
Mas, como é uma senhora, mãe de família, nem te chamo — riu.
— Só queria saber de você, estou indo para casa ler um livro — digo. — Vamos combinar
de ir às compras, amanhã? Meu bebê vai acabar nascendo e ficando pelado!
Depois de combinar de nos encontrarmos no dia seguinte, fui para casa. Quando abri a porta
do meu apartamento, percebi que tinha companhia. No aparelho de som, tocava James Blunt. Amo
as músicas dele e, pelo visto, parece que Jason também.
Encontrei com ele na cozinha, mexendo nas panelas. Quando entrei, virou-se para me olhar.
— Oi, aí está você — sorriu, mostrando os dentes brancos e lindos, seu olhar intenso,
encarando-me.
—Oi, o que está fazendo? — perguntei, mas era óbvio. Fiquei imóvel no limiar da porta,
sem saber o que fazer a seguir. Franzi o cenho. Diabos, estava sentindo-me estranha na minha
própria casa. Ele não deu sinal de vida todo o dia, e agora estava ali, na minha cozinha, bem à
vontade.
— Como sei que você provavelmente não comeu durante o dia, achei melhor vir fazer seu
jantar.
O quê? Ele agora está preocupado? Saiu feito cachorro com o rabo entre as pernas no meio
da noite, passou o dia sem dar notícia, nem para saber se o filho dele estava bem, agora está
preocupado? Esse homem é mais doido do que imaginei. Só fiquei olhando para ele, séria.
— Então, sente aí que vou lhe servir — ele voltou para o fogão. Acabei sentando e esperei.
Mas deixei escapar e quase mordi a língua de raiva.
— Por que você foi embora? — ai, minha boca grande, parecia que estava cobrando algo
dele, não queria passar essa impressão.
— Hum, eu...— hesitou. — Na verdade, queria falar com você sobre isso — ele serviu o
meu jantar, e depois de sentar na minha frente, continuou: — Não sei como falar isso — notei que
ele não pôs o prato para ele, como geralmente fazia quando estava aqui.
— Por que não fala de uma vez? — digo, experimentando a salada que ele tinha colocado
para mim.
— Ontem à noite foi um equívoco, Júlia. Eu não quero que você tenha a impressão errada,
não sou bom em relacionamentos e também não estou à procura de um — disse.
— Então somos dois — falei, mas senti algo se quebrar dentro de mim, e não gostei nada da
sensação. “Merda, merda, merda.” Sem perceber, o deixei entrar na minha vida e agora ele me
dava um passa-fora, sem nem mesmo ter começado algo. Não o deixaria perceber que estava um
pouco magoada por sua dispensa tão rápida. Isso não fazia nada bem para o ego feminino.
Empurrei minha salada de um lado a outro no prato, sem apetite.
— Não gostou da salada? — perguntou, e olhei em seus olhos. Merda, eram tão claros e
lindos quando se fixavam em mim, como agora. Intenso. Senti um aperto no baixo ventre. Maldito,
sem ao menos tentar, deixava-me excitada para caralho.
— Estou sem fome — digo. — E você, não vai jantar?
— Não, vou sair daqui a pouco — continuou olhando-me. — Desculpe não ligar o dia todo,
estive muito ocupado.
Por que não acreditava nele? Será que não poderia perder um minuto do seu precioso tempo
para enviar uma mensagem?
— Não tem importância — falei. — Aonde vai a essa hora? — oh, maldita língua comprida
essa minha.
— Vou me encontrar com Saulo, meu advogado — ele disse e senti alívio. Pensei que ele
diria que tinha um encontro. — Você se lembra dele, não é? — tinha uma vaga lembrança dele na
reunião lá na clínica; só sei que era lindo, um pedaço de mau caminho. Sorrio e comento:
— Só sei que era muito bonito — sorrio igual ao Gato de Cheshire. — Devia me apresentar
ele.
— Não vejo necessidade disso — fala, suas sobrancelhas se enrugando. — Ele nem é tão
bonito assim, você deve estar confundindo-o comigo — como era presunçoso.
— Acho que não — acabei sorrindo. — Já disse que te acho um arrogante e convencido?
— Várias vezes — ele se ergueu da cadeira e começou a arrumar os pratos sujos. — Você
vai ficar bem se eu for embora agora?
— Claro que ficarei bem, sempre fiquei — falei e levantei também, levando meu prato
ainda com quase toda comida para a pia. — Não se preocupe, comerei algo antes de dormir —
disse, quando vi sua cara olhando para o prato cheio. Sinceramente, não o entendia. Suas
contradições eram demais para mim.
Se não me cuidasse acabaria apaixonada. Ele me deixava tão confusa. Eu não queria sentir
nada por ele, mas acho que era tarde demais. Senti vontade de chorar. Meus olhos pinicavam.
Controlei minhas emoções, deixei-o lá na cozinha e fui para a sala. Deitei no sofá, escutando James
tocar. Isso era uma merda, estava ficando tão molenga. Malditos hormônios que me deixam fraca.
Uma única foda, e estava de quatro por um maldito cafajeste. Não demorou nem 15 minutos quando
ele veio da cozinha, vestindo o casaco.
— Você está bem? — ah, que vontade de gritar e mandar ele à merda.
— Estou, obrigada, boa noite — disse, fechando meus olhos.
— Qualquer coisa, me ligue — fique esperando sentado, idiota.
Senti seus dedos no meu rosto quando afastou uma mecha do meu cabelo, e abri os olhos
para vê-lo se inclinando e depositando um selinho nos meus lábios. Oh, céus.
— Boa noite — sussurrou, levantou e foi embora.
Fiquei lá, olhando para o teto, me sentido uma idiota. James Blunt começou a cantar Face
The Sun. Merda, essa noite seria longa. Odiava me sentir dessa maneira, emotiva.
Só que não sou mulher de ficar chorando por homem. Então, me preparei para ter uma linda
noite de sono. Só que o danado do sono não veio facilmente. Passei a noite rolando na cama, e
quando deu cinco da manhã, acabei levantando sem ter dormido quase nada. Ainda bem que era
uma grávida sem enjoo matinal. Fui até a academia do prédio, para fazer uma leve caminhada na
esteira. Estava precisando relaxar, e nada era melhor que exercício físico, quer dizer, posso pensar
em uma, duas, ou três coisinhas melhores.
Como tinha combinado com a Carla de ir às compras, passei a manhã organizando algumas
coisas enquanto dava a hora de encontrar-me com ela. Aproveitei e falei com minha família, passei
mais de uma hora falando com minha mãe ao telefone. Pouco depois das dez da manhã, me arrumei
e saí para pegar a Carla em sua casa.
— Bom dia, flor do dia — disse ela quando entrou no carro, em frente à sua casa.
— Bom dia — respondi, e ela me olhou franzindo a testa.
— Não deve estar sendo muito bom para você, está com uma cara horrível!
— Nossa, obrigada, amiga, você é de uma gentileza ímpar. Se você não me dissesse isso,
nem teria notado! — ironizei.
— Xiiiii, alguém acordou com o pé esquerdo hoje. Que bicho te mordeu? — ela era
impossível, e aquilo foi suficiente para meu humor melhorar.
Estamos percorrendo e entrando em todas as lojas de roupinhas infantis que vemos pela
frente. Nunca fiquei tão encantada fazendo compras, eram tantas opções! Cada uma mais linda que a
outra, e só não me diverti mais porque ainda não sabia o sexo do bebê e isso limitava nossa
euforia. Paramos para almoçar em um restaurante dentro do shopping mesmo.
— Seria bom colocar essas sacolas no carro — disse Carla, olhando o cardápio, quando
sentamos. Fizemos nosso pedido, e enquanto aguardávamos, perguntei:
— Como foi ontem, na balada? — estava curiosa, amava saber das peripécias que ela era
capaz de aprontar na night.
— Você não vai acreditar quem encontrei lá, fiquei tão empolgada com as compras que não
lembrei de te falar — disse.
— Fala logo.
— Jason e Saulo estavam na boate — disse tranquila.
— O quê? Como você sabe o nome do advogado dele?
— Ora, ele é lindo de morrer, você acha que não fiz questão de me apresentar e saber o
nome daquele pedaço de mau caminho?
— E eles estavam sozinhos? — não acredito que fiz essa pergunta. Não tinha dito a ela que
dormi com Jason. Felizmente ela não achou estranho meu interesse, pois continuou:
— Na hora que os vi, estavam acompanhados — ele tinha uma namorada? Não sabia nada
da vida de Jason. Nunca falamos de nossas vidas, implicávamos um com o outro, mas nunca
tivemos uma conversa civilizada.
Senti meu peito apertar. Maldito, transou comigo, fugiu no meio da noite e foi transar com
outra em menos de vinte e quatro horas? Imbecil.
— Pelo jeito, as fofocas sobre ele ser um mulherengo de primeira são verdade — Carla
continuou alheia à minha raiva. Empurrando o pensamento de Jason com uma mulher para longe,
encarei a minha melhor amiga.
— Bem, não quero falar da vida sexual desse homem — acho que foi uma má colocação,
porque vi o rosto de Carla se iluminar e os olhos dela brilharem de malícia.
— Estou detectando uma pitada de ciúmes nesta frase? Hein? — ela estava rindo, e eu não
estava achando a menor graça nisso.
— Sério, Carla, tenho mais com o que me preocupar — disse. Nosso almoço chegou e
deixamos o assunto de lado. Almoçamos e depois voltamos às compras.
Fiquei pensativa o resto da tarde. Tentei rir, me divertir, mas algo estava incomodando, e
sabia qual o motivo disso. Diabos, mesmo contra minha vontade, ele se infiltrava nos meus
pensamentos. O que eu sabia da vida dele? Nada. Levei Carla em casa, depois das compras, e fui
para minha casa. Estava exausta e meus pés doíam demais. Um banho de banheira agora seria o
céu. Estava estacionando quando um Alfa Romeo prata parou na minha outra vaga. Sério? Não
acredito na minha sorte. Observei-o descer, caminhar na direção do meu carro e resolvi descer
também.
— Doçura — cumprimentou. Não acredito que ele me chamou disso. Falso, duas caras!
Não respondi, caminhei para pegar as sacolas no banco de trás. — Esteve fazendo compras? —
Oh, Sherlock, grande descoberta. — Me passe as sacolas, que levo para você.
Virei e o encarei.
— Você não vai entrar no meu apartamento, Sr. Lewis — mostraria quem mandava aqui. O
vi levantar as sobrancelhas, estava confuso por minha declaração. — Aliás, quero que desapareça
da minha vida — sei que estava com ciúmes. Eu era muito ciumenta, e daí? Julgue-me por isso. Eu
sei que fui eu que praticamente pulei em cima dele e que não tínhamos exatamente um
relacionamento. Ok, nenhum relacionamento. Mas eu era mulher, então... Daria um basta nisso já.
E tinha esquecido por um momento que ele não era meu amante, namorado ou alguém que se
importava comigo.
Capítulo 7
Jason
Estava caminhando em uma maldita corda bamba!
Pensei que sair com o Saulo na noite anterior poderia ser uma via de escape, esquecer certa
senhorita de boca sexy, só que não foi bem o que imaginei. A casa noturna que fomos era boa,
muitas mulheres lindas. Na verdade, saí acompanhado de lá.
Tinha ido à casa de Júlia à noite, antes de sair com o Saulo. Passei o dia sem dar notícias, e
era, no mínimo, ser cavalheiro ir vê-la. Fiz o jantar, que ela não comeu, parecia triste e aborrecida.
Ela aceitou tão facilmente minha recusa em continuar um caso com ela, que foi um baque no meu
ego.
Agora estou aqui no estacionamento, onde ela está tendo um ataque com minha presença.
— Quero que desapareça da minha vida — ela murmura outra vez, sua respiração
descompassada. — Não quero que venha aqui na hora que quiser, como se fosse o dono do lugar.
— Posso saber o que está acontecendo? — pergunto em um tom afável. — Por que não
subimos, sentamos e conversamos, Júlia? — argumento.
— Não quero você em minha casa, chega de fingir que se importa — sua voz está um pouco
trêmula. — Você nem quer esse bebê, não entendo seu súbito interesse nele.
Respiro profundamente.
— Você não está falando sério — digo, baixo.
— Estou falando mortalmente sério. Cai fora! — ela disse e tentou seguir para o elevador.
Segurei seu braço delicadamente, não sei por que ainda me importo de ser gentil com ela! Mas
lembro que é mulher e está grávida de um filho meu.
— O que mudou, Júlia, de ontem até agora? Foi porque fizemos sexo? É isso? — pergunto.
— Ontem você parecia calma em relação a isso. Concordamos que seria melhor esquecer.
— Você quem falou, Jason — disse entredentes.
— Ah, entendi — sorrio. — Está aborrecida porque concordamos em não repetir a dose?
— humor enchia minha voz.
— Não me faça vomitar! Qual é a sua, hein? Gosta de variedades? — os olhos dela
soltavam chispas de indignação — Deixa te falar uma coisa: não iria outra vez para a cama com
você, nem que tivesse um pau de ouro e enorme.
Não aguentei e gargalhei. Onde no mundo ela foi buscar essa comparação? E eu não era
nada pequeno. Ela estava brava mesmo.
— Vamos, não fique nervosa, esqueceu que está grávida? Vamos — peguei as sacolas dela
em uma mão e com a outra a puxei em direção ao elevador. Ela tentou impor resistência, mas a
levei facilmente.
Quando finalmente entramos no apartamento dela, levei-a até o sofá e a fiz sentar,
delicadamente, feito uma criança birrenta.
— Pronto, aqui estamos — sentei à sua frente. — Por que não posso mais vir aqui?
— Porque não quero isso, já é um ótimo motivo — ela esfregou a têmpora como estivesse
sentido dor, e fiquei preocupado.
— Está se sentindo bem?
— Só quero descansar, então, por favor, vá embora — diz, sua voz sai cansada. Porra! Eu
realmente a estou aborrecendo. Sento ao seu lado, e ela se afasta. Levanto minha mão e toco em
seus cabelos castanhos sedosos; ela encolhe diante do meu toque.
— Por que você não me fala o motivo dessa súbita raiva, Júlia? Estou sem entender nada
aqui.
— Olha aqui, Jason, precisamos estabelecer limites — murmura. — Estou cansada, só
quero tomar um banho e ir para a cama. Amanhã falo com você.
— Quer que te ajude no banho? — falo e me inclino, cheirando seu cabelo. Ela tenta
levantar e a impeço, mas sou empurrado para longe dela com raiva.
— Qual é seu negócio, Jason? Um dia você faz sexo comigo, no outro com suas putas e
depois quer sexo de novo comigo? — esbraveja, colérica. — Está enganado, meu amigo, se acha
que vou permitir ser feita de idiota.
— Do que você está falando? — depois que perguntei, foi que a ficha começou a cair.
Lembrei que encontrei sua amiga na boate ontem e ela tinha vindo falar comigo e com o Saulo.
Deve ter dito a Júlia que me viu com uma mulher.
— Agora saia da minha casa, por favor — pediu outra vez. Ia explicar, mas pensei melhor.
Bom, isso daria um fim nessa coisa entre nós. Vi seu olhar magoado e levantei.
— Ok. Vou embora, se é isso que você quer. Mas só para você saber, não vim aqui hoje
com a intenção de levar você para cama — digo. E sim, não tinha realmente pensado nisso. Apesar
de querê-la muito e essa atração entre nós ser intensa demais. — Posso fazer algo para você, antes
de ir?
— Não, obrigada, mesmo assim — seu ar cansado me desarma, e me pego estendendo o
braço outra vez para tocá-la. Desisto e, em vez disso, só a olho. Nossos olhos estão fixos um no
outro, e não quebro essa conexão. Vejo que algo a está perturbando e não sei o que fazer para
ajudá-la.
— Se precisar de algo é só me ligar, Júlia — depois de beijar sua têmpora, saio do seu
apartamento, chateado. Caralho! Por isso corria de relacionamentos, as mulheres são estranhas.
Uma hora estão rindo, na outra estão loucas! Melhor estar sozinho, para que complicar?
Olho no relógio e vejo que ainda é cedo. Droga, não quero ir para casa. Na verdade, a
minha intenção ao ir à casa de Júlia era levá-la a um restaurante e jantar. Agora estou sem nada
para fazer. Pego meu celular e ligo para Saulo, ele vai ter de me aguentar, então.
— O que um cara quer, ligando para outro em um sábado à noite? — diz quando atende.
— Um cara que foi dispensado? — sugiro.
— O quê? Você, dispensado? Não acredito — riu. — Quem foi a mulher, pois quero me
tornar seu maior fã?
— Ninguém que você deva saber — mudei de assunto. — Pensei em sair, tomar alguma
coisa fora, aproveitar, já que estou fora de casa.
— Sinto muito, mas eu sou um cara que tenho encontros aos sábados — ele estava rindo —
Falando nisso, cadê a loira de ontem?
— Nem sei o nome dela, para começar — digo, entrando no carro. — Vejo você na segunda
— disse e me despedi. Dei partida no carro e fui sozinho jantar em um restaurante.

****

Eu não sou um homem paciente.


Como Júlia não me ligou, como disse que faria, liguei para ela, depois de três dias
— Alô — a voz fria dela chicoteou do outro lado quando atendeu, como se não soubesse
que era eu — Quem é? — definitivamente fingindo que não me conhecia.
— Você ficou de me ligar, Júlia.
— Não tive tempo, estava muito ocupada. Não vivo em função de vossa majestade —
que porra ela tinha, mulher grávida teria TPM?
— Por que você não me diz o que anda te aborrecendo, Júlia?
— Eu preciso de espaço, Jason, me dê algum tempo para digerir tudo isso — sua voz era
calma e fria. — Você estava certo, fazer sexo com você foi um equívoco. — Porra, escutá-la repetir
minhas palavras não era nada agradável. Ela continuou: — Não costumo dormir com pessoas que
mal conheço. Ainda mais com aqueles que dormem com uma mulher diferente a cada noite.
— O que você quer dizer com “precisa de tempo”? — perguntei. — Você está com meu
filho, esqueceu? — enquanto falava com ela, peguei a chave do carro e saí. Precisava ter essa
conversa olho no olho.
— Seu filho? Até onde sei, Sr. Lewis, o bebê é meu. Você nada tem a ver com ele, deixei
você por perto por pura bondade — a tenacidade da voz dela era clara.— A única ligação dele
com você estou cortando agora.
— Não vá por esse caminho, Júlia!
— Só mais uma coisa, Jason: devolva a porra da chave da minha casa. Mande entregar, nem
quero ver você.
Ela desligou o telefone.
Suspirei e entrei com o carro no trânsito. Ela realmente está chateada, e nem sei o por quê.
Afinal, não devo nada a ela. Meia hora depois, estaciono e sigo para seu apartamento, usando a
chave que ela estava reclamando de volta.

Júlia

Quando acabei de falar com o Sr. Trepador Lewis, fui tomar banho. Tinha passado o
dia decorando o quarto do bebê. Na verdade, não era decorando, só estava preparando, colocando
um papel de parede branco. Assim poderia decorar tanto com um tema masculino como um
feminino. Isso me tomou o dia todo, estava me sentindo cansada sem nenhum motivo, já que não me
esforcei tanto, exausta e com sono. Não liguei para Jason como tinha dito, não queria escutar nem
sua voz, estava possessa de raiva. Canalha, duas caras! Mas ele resolveu o problema e me ligou.
Quando a banheira encheu, entrei e relaxei. Amanhã ligaria para Sylvia, precisava dar
prioridade às coisas de maior importância. Demorei no banho mais do que deveria. Devo ter
cochilado, porque a água estava ficando fria, mas não foi isso que me tirou da letargia que me
encontrava. Senti que estava sendo observada, e realmente estava. Quase dei um pulo da banheira.
— Você ainda vai me matar de susto algum dia — digo, fulminando-o com meus olhos. E o
que diabos fazia aqui? — Por acaso você tem problema nessa sua cabeça dura? Qual parte do EU
NÃO QUERO VOCÊ NA MINHA VIDA você não entendeu, Jason? — falei enfaticamente. Afundei
mais na banheira e o olhei. — Dá para você sair do banheiro?
Ele estava sério e levantou uma sobrancelha, como era um hábito dele.
— Não tem nada aí que já não tenha visto, Júlia — disse e virou para sair. — Mas estou
esperando você na sala.
Esperei-o sair e peguei uma toalha, secando-me rapidamente. Inferno de homem grosso.
Cinco minutos depois, estava na sala. Tinha vestido um short curto e uma blusa folgada, nem liguei
de usar sutiã. Iria enxotá-lo do meu apartamento tão rápido que ele nem iria perceber. Ele virou da
janela, onde estava em pé com as mãos nos bolsos da calça, enfatizando sua bunda sexy. Merda,
nem numa hora dessas deixo de notar seus dotes físicos, estou mesmo uma ninfomaníaca esses dias.
O olhar dele queimava em mim.
— Eu disse para você me dar um tempo, Jason, mas antes — estendi minha mão para ele.
—, minhas chaves, por favor — ele continuou olhando meus olhos, ignorando minha mão estendida.
— Eu não vou me afastar de você, Júlia — ele disse, baixo. — Entrei nessa história sem
querer, fui obrigado a ter um filho que não queria e agora que o estou aceitando, você quer que eu
me afaste? É isso? — ele estava indignado, suas narinas dilatadas e seu olhar feroz.
— Isso mesmo que quero, não sou obrigada a aceitar você na minha vida— a raiva também
era minha companheira. — Não se imponha na minha vida, Jason, você não tem direito nenhum.
— Na sua não, mas na do meu filho, sim.
— Você fala MEU FILHO como se ele fosse seu — rio, uma risada forçada. — Esquece
que quem está com ele sou eu — continuei — Posso sumir e você nunca vai vê-lo, jamais. Só me
tente e farei exatamente isso.
Vi-o flexionar as mãos, e tinha consciência da raiva que emanava dele, só que não tinha
medo. Diante da minha ameaça, ele fez algo que me surpreendeu: riu. Mas o riso não alcançou seus
olhos.
— Acha engraçado? — perguntei.
— Você é muito engraçada — ele falou, rindo, mostrando os dentes alvos perfeitos. —
Nunca conte ao seu inimigo seu próximo passo, Júlia. Isso pode significar sua morte.
— Está me ameaçando, por acaso? — ele me mataria para ficar com meu filho? “Ai, Júlia,
para de delirar. ” Agora ele riu mais alto. Idiota, estava sendo motivo de chacota dele?
— Matar você, Júlia? Só se for de tanto te foder, assim seu mau humor desapareceria —
fico vermelha com seu linguajar nojento. — Não faço ameaças que não posso cumprir, igual a você.
Vou continuar vindo vê-la.
— Acho que não.
Ele suspirou. Vi que a raiva dele desaparecia e que, talvez, estivesse aceitando minha
decisão.
— Ok, que tal uma trégua? — disse e sentou na poltrona em frente ao sofá, parecendo
falsamente relaxado. — Você me liga, dando notícias, e não venho aqui toda hora.
— Jason, não quero nenhum contato com você — falei firme. Eu sei que é hora de ser
racional, mas estava com raiva.
— Mas que porra, Júlia, o que você quer de mim?
— Distância — falei simplesmente, e acho que ele percebeu que tinha perdido essa batalha,
porque passou as mãos no rosto e suspirou, me olhando. Devolvi o olhar. Ele levantou, tirou a
chave do próprio chaveiro e a pôs em cima da mesinha de centro.
— Pronto. Está satisfeita agora? — a derrota na voz dele me surpreendeu. Ele realmente
queria ficar perto? “Ai, Júlia, você é mais forte que isso, não amoleça seu coração”, falei comigo
mesma.
— Ainda não, quando você estiver fora da minha vida, aí sim estarei — digo, baixo.
A carranca dele se acentuou quando ele me olhou.
— Eu não estou desistindo, estou dando um tempo a você para pensar, porque isso está
longe de acabar, Júlia — estremeci. Ficava apreensiva cada vez que ele dizia isso. Senti um súbito
ressentimento por ele desistir fácil. Oh, céus, parecia que eu gostava dessa coisa de gato e rato com
ele.
Vi-o se dirigir à porta, e um sentimento de perda me abateu. Ai, merda! Sou a foda mais
fácil e ruim do mundo por ele nem tentar uma segunda vez. Com o coração batendo forte, caminho
atrás dele até a porta. Quando ele abre e está quase saindo, olha-me e um sentimento fugaz passa
em seus olhos claros, mas é tão rápido que não o entendo.
— Se cuida, Júlia — sua voz forte e masculina reverbera por todo meu corpo. Mesmo com
raiva ainda o quero, droga. — Já falei para ligar, sempre que precisar. Você vive só e deveria
contratar alguém para ficar com você — disse, depois virou e caminhou para o elevador. — Até
breve.
Fiquei olhando-o ir, não me sentindo tão vitoriosa por tê-lo vencido. Acho que gosto dos
cafajestes pegadores. Voltei para o meu apartamento solitário, e pela primeira vez na vida,
questionei minha decisão de viver uma vida solitária. Mas isso iria acabar muito em breve, meu
bebê seria minha companhia.
Estava com dez semanas de gravidez, era tão gratificante saber que um serzinho minúsculo
está dentro de você. Percebi as lágrimas caírem dos meus olhos, e não sabia o porquê delas...

Jason

Porra!
Ela me mandou embora feito um cão sarnento.
Estou em um maldito bar, tomando todo o estoque de uísque, e nem é o meu favorito.
— Saia da minha vida — imito sua voz de mulherzinha. Rio; estou bêbado.
— Senhor... Senhor? — a voz fala na minha cabeça. — Quer que chame alguém para vir
buscá-lo?
— Eu vou ter um filho — digo, e minha voz sai enrolada.
— Parabéns, senhor, mas não devia estar comemorando com sua esposa? — diz, e rio com
vontade. — Por que não liga para alguém vir lhe buscar?
E faço como o garçom sugeriu: ligo para a única pessoa que confio, agora é só esperar
minha dama de companhia chegar. Sorrio da imagem de Saulo de vestido vitoriano.
Não sei quanto tempo passa, quando ouço a voz de Saulo.
— Cara, o que deu em você?
Ele deve achar estranho, porque nunca fico bêbado. Isso é uma regra que nunca quebro. Isso
é para os fracos e nunca fui e jamais serei igual a ela...
— Ela quer que eu saaaia da vida dela — minha voz sai arrastada.
— Quem? — Saulo parece confuso, e começo a falar da minha conversa com Júlia de hoje
mais cedo. Caralho! Devia ir lá e fodê-la até essa maldita fome por ela passar. O seu humor com
certeza melhoraria. Rio. Ela estava com ciúmes por eu ter saído com outra mulher, não havia outra
explicação para sua raiva. Não temos nada um com o outro, e ela estava marcando território. Esse
papel não era do homem, não? Essa bebedeira estava me confundindo.
— Está rindo do que, seu grande burro? Vamos, levanta daí — Saulo agarra meu braço e me
arrasta para o carro. — Já gostava da Júlia. E para te deixar nesse estado, meu amigo, passei a
gostar mais ainda... — ele sorri.
— Ela não me quer por perto — continuo repetindo.
— Isso eu já sei, mas vamos para casa, lá você pode beber até cair — a impaciência do
Saulo era muito rara.
— Ninguém nunca me diz para ir embora — resmunguei.
Não me lembro de como cheguei em casa, só de acordar na segunda com uma baita ressaca.
A semana começou mal. Tive que fazer uma viagem urgente, e até achei melhor, só assim
ficaria longe de Júlia, nem tentar impor minha presença. Se ela pensava que desistiria, estava
enganada; nunca desisto do que quero.
Capítulo 8

Júlia
A semana transcorreu sem maiores percalços e lapsos de minha parte. Fui todos os dias a
Ma Belle e só voltava à noite. Não tive nenhuma notícia de Jason durante toda semana, acho que
ele entendeu o recado.
Mas, na sexta-feira, recebi um buquê de flores sem nenhum bilhete. Estava na portaria do
meu prédio, e o porteiro disse que foi uma empresa que fez a entrega. Como não existe nenhum
outro homem na minha vida no momento, associei a ele.
Meu último namorado tinha sido há quase um ano. Dei um tempo sem homens para começar
a colocar meu plano em ação. Então, só podia ser dele. Se ele pensa que mandar flores para mim
irá amolecer meu coração, está enganado. Duas caras!
Mas a surpresa maior foi que, na segunda-feira, chegou à minha casa uma senhora se
apresentando como governanta. Sim, governanta. O nome dela era Catarina Alencar, devia ter uns
40 anos, parecia aquelas sargentos de prisão feminina, mas bem simpática. Gostei dela, mas...
— Senhora, acho que há um engano, não contratei ninguém — falei, educada.
— Fui avisada de que a senhora diria isso — ela sorri, afável. — Mas que não lhe desse
ouvido.
— Entendo. Mas não preciso... — meu telefone começou a tocar e pedi licença para atender
fora da sala. — Alô.
— Imagino que, neste exato minuto, você esteja espantando sua nova funcionária. — oh, ele,
só podia ser!
— Jason, não preciso de uma pessoa aqui comigo, não estou inválida. Agradeço, mas a
dispensarei.
—Quem você prefere aí com você? Eu ou ela? — chantagista maldito.
—Nenhum dos dois. Agradeço...
— Ela fica, Júlia, por favor! — o quê? Inacreditável! — Ficarei mais tranquilo se você
deixá-la te ajudar.
— Não vejo necessidade, mas farei um teste, ok? — se para me livrar dele fosse preciso
aceitar a Catarina, então que seja. Voltei para a sala com um sorriso e disse: — Vamos fazer um
teste por uma semana, que tal?
— Como quiser, senhora.
— Me chame de Júlia, odeio essa coisa de senhora, senhorita.
— Tudo bem.
Acabei chegando tarde à Ma Belle naquele dia, porque tive que acomodar a Catarina no
apartamento. Ela dormiria lá, espaço tinha, portanto não me importei de tê-la por perto.
Meus dias nas semanas seguintes viraram uma rotina de trabalhar e voltar para casa.
Catarina se revelou um achado, muito eficiente e praticamente me adotou. Resolvi mantê-la por
perto, mas desconfiava que ela passasse relatórios da minha vida a Jason. Gradualmente, meu
equilíbrio emocional voltou ao normal. Era capaz, finalmente, de olhar para trás e colocar o nosso
inexistente relacionamento em perspectiva. Nem tudo tinha sido tão ruim. Só que no momento que
ficamos juntos, era tanta coisa acontecendo comigo, que acho que dei muita importância ao que
tinha acontecido entre nós. Nem o conhecia direito, talvez tenha confundido minhas emoções.
Quase não o vi durante essas semanas, ele tinha respeitado meu pedido de não aparecer em
minha porta quando lhe conviesse.
Fui chamada para uma audiência, como testemunha de acusação contra a clínica, já que não
fiz minha própria acusação, algo que fui aconselhada a fazer por Sylvia, mas optei por não fazer.
A única coisa que pedi para a Sylvia foi ela garantir que não tivesse problemas em ficar
com meu filho. Mas, Jason estava levando ao extremo e queria ver o sangue dos responsáveis por
fazê-lo ter um filho sem que ele quisesse. Então fui depor a favor dele, aliás, não a favor dele, mas
dizer o que tinha acontecido.
Quando terminou a audiência, saí de lá sem falar com ele, apesar de vê-lo e ele ter ficado o
tempo todo me encarando. Tinha sido muito incômodo ser alvo de seu olhar penetrante e fixo.
Depois daquele dia não o vi mais, mas sabia que ele estava ciente dos meus passos.

****

Hoje faço quatro meses de gravidez e minha barriga cresceu bastante, está bem saliente.
Amo ver meu corpo mudar e saber que, daqui a cinco meses, pegarei meu bebê no colo.
Hoje irei fazer uma ultrassonografia para saber o sexo. Minha felicidade é demais, estou no
céu. Pena que não tenho quem levar comigo para dividir a felicidade. Poderia chamar Jason, porém
tenho receio de ele tomar isso como incentivo para voltar à minha vida. A Carla não pode ir
comigo, ela é arquiteta e tinha um cliente que não poderia desmarcar, então estarei indo só.
Cheguei ao consultório do Dr. Edgar bem antes do horário marcado e sentei na sala de
espera, onde tinha várias grávidas. Peguei um livro na bolsa para começar a ler, mas me distraí
com um casal que chegava. A mocinha – digo mocinha porque não devia ter mais de 18 anos –
bonita com longos cabelos loiros, delicada e uma barriga bem grande, já deveria estar por volta
dos sete meses. Mas quem chamava atenção mesmo era o homem que a acompanhava, também
loiro, só que o cabelo era mais escuro que o dela, e os olhos azuis muito escuros, que de onde
estava, pareciam ser negros. Era muito carinhoso, cuidadoso com ela. Eu não conseguia parar de
sentir um nó na garganta por estar sozinha ali e ver um casal tão lindo junto.
Droga, eu que fiz questão de ter esse filho sozinha, e agora estava com inveja por não ter
alguém comigo.
Acho que a moça percebeu meu olhar, porque levantou os olhos para mim e sorriu, atraindo
a atenção do homem para mim.
— Oi — ela disse e apontou para minha barriga. — Quanto tempo?
— Dezesseis semanas — digo com um sorriso. Ela bateu de leve na própria barriga,
passando a mão para cima e para baixo no barrigão.
— Última consulta, antes da hora chegar. Meu nome é Vivian e este é meu irmão, Caio —
apontou para o loiro, que sorriu. Oh, santa mãe das mulheres desamparadas! Ele tinha um sorriso
muito lindo, que iluminava totalmente suas feições bonitas.
— Prazer em conhecê-los, sou Júlia — disse e estendi minha mão para apertar a mão do
anjo loiro e a de sua irmã.
— O prazer é meu, Júlia — ele me olhou demoradamente e desceu o olhar para minhas
mãos, voltando para meu rosto. — Sozinha? Corajosa você, minha irmã nunca quer vir só. Sempre
tem de me arrastar para o meio dos hormônios femininos em ebulição.
— Sim — respondi, meio sem graça. — Não tinha ninguém disponível hoje, então aqui
estou.
— Já sabe o que vai ser? — perguntou Vivian.
— Estou aqui para isso, vou descobrir hoje. E você, já sabe?
— Um garotão. Muito inquieto, por sinal — ela falou e acariciou a barriga.
Ficamos os três conversando e acabei falando que tinha optado por inseminação. Descobri,
também, que Vivian só tinha dezessete anos. Engravidou de um namoradinho que fugiu quando
soube da gravidez e seu lindo irmão era quem fazia a vez de pai do bebê. Achei-o um fofo, muito
lindo. Lembrei-me do pai do meu próprio bebê e senti minha garganta apertar. Nossa, eu tinha que
me decidir se o queria por perto ou bem distante de mim. Mas, agora, queria-o aqui comigo. Oh
céus, sou mesmo uma mulherzinha. Quase funguei na frente dos irmãos. Isso seria vergonhoso.
Ouvi meu nome ser chamado e levantei para seguir a atendente que chamava, mas antes de
sair, virei e disse:
— Foi um prazer conhecê-los — falei e sorri para os dois, que percebi serem muito
parecidos um com o outro.
— Posso te perguntar uma coisa? — Caio olhou-me nos olhos. — Já que você está só, quer
que te acompanhe? — oh, era realmente muito fofo e gentil, além de lindo.
— Oh, não precisa — sorrio.
— Ele é o melhor nestas horas, Júlia — Vivian disse e sorriu abertamente. — Eu acho que
você gostaria de alguém lá, com você — ah, merda, fiquei tentada. A moça chamou-me de novo e
decido ir só. Era algo muito íntimo para levar alguém que não conhecia comigo.
Entro na sala de exames, em dez minutos fico pronta com a ajuda da enfermeira. Tento
relaxar, mas estou tão tensa de expectativa, que quando o Dr. Edgar chega, estou uma pilha de
nervos. Ele entra e meu coração bate feito louco no meu peito.
— Pronta, Júlia? — ele me cumprimenta com um sorriso
— Mais do que nunca, Doutor — minha voz sai rouca de emoção.
Após meia hora, saio da sala de exames eufórica, com um sorriso de canto a canto nos
lábios e lágrimas nos olhos. Sabia que seria uma linda menina. Não ter ninguém comigo, segurando
minha mão enquanto me debulhava em lágrimas ao escutar o coração da minha linda menininha, me
fez rever minha resolução de não ligar para Jason e convidá-lo a vir comigo. Mas estou totalmente
apaixonada pelo pequeno ser que está dentro de mim, tão vivo. Vou até onde está Caio e Vivian e
envolvo-os na minha alegria.
Despeço-me dos irmãos porque a mesma atendente chama Vivian agora. Eu a abraço. Não
importa que acabei de conhecer esses dois, nem quero saber, estou tão feliz que sairia beijando
todo mundo. Enquanto ela vai ao encontro da enfermeira, viro para Caio e dou um abraço nele
também.
— Obrigada — sussurro. — Não sei como agradecer a vocês por compartilhar esse
momento comigo.
— Claro que tem! Dê-me seu número que ligo, te convidando para jantar em nossa casa.
Adoraríamos ter você conosco um dia desses — no fim, trocamos números e o abracei de novo, me
despedindo.
Quando caminho para saída, estaco petrificada no lugar. Jason está parado na entrada e não
está olhando para mim. Ele olha para além de mim, para Caio, precisamente, e sua cara não está
nada boa.

Jason

São quase dez da manhã quando resolvo ligar para o apartamento de Júlia e falar com
Catarina. Ela me passava relatórios diários de Júlia. Não a tenho visto faz tempo, a última vez que
a vi estava no fórum e não tive como falar com ela. Estava linda com aqueles olhos verdes e a boca
cada dia mais sexy, o que me deixou mais duro que uma barra de aço em plena audiência. Fiquei
olhando para ela e me perguntei o porquê das merdas que fiz e não aproveitei cada minuto que tinha
com ela. Mas não, fui e meti os pés pelas mãos feito um burro.
Depois daquele dia, não a vi mais. Vontade não me faltava de ir lá. Mas achei melhor assim.
Ela distante já vivia na minha cabeça, imagina vendo-a todo dia e tendo-a por perto. O telefone
tocou umas cinco vezes antes que Catarina atendesse.
— Alô.
— Bom dia, Catarina, como está?
— Estou bem, Sr. Lewis, posso ajudá-lo?
— Alguma novidade? — perguntei. — Júlia está aí?
— Não, senhor, foi ao médico.
— Médico? Ela e o meu filho estão bem?— levantei da minha cadeira. Será que algo havia
acontecido com eles?
— Oh, não se preocupe, ela tinha consulta de rotina, hoje — disse, rindo quando percebeu
minha voz preocupada. — Ela irá descobrir hoje se teremos uma mocinha ou um garotinho.
Senti um peso no estômago. Parecia que tinha levado um soco. Porra! Ela nem se importou
em dizer nada, gostaria de estar lá. Mesmo ela achando que não me importava, eu o fazia, caralho!
Não queria esse filho no começo dessa história maluca, mas aceitei esse fato como consumado.
Não rejeitava mais meu filho, passei a desejá-lo também, caralho! Ela estava me atingindo quando
não queria dividir nada da gestação comigo.
Esbravejei todo repertório de palavrões que conheço na minha mente. Preferiu ir só a me
chamar, custava nada ela fazer isso. Mas que porra!
— Obrigado, Catarina. Sabe dizer que hora é essa consulta? — digo, quando minha mente
volta a funcionar. Ela me fala, desligo e corro para a clínica que já sabia onde era, pois tinha
ido com ela outra vez. Puta que pariu! Por que Catarina não disse nada nas merdas de relatórios
que passa para mim?
Questiono a caminho da clínica se não devo estar infringindo todas as leis de trânsito.
Quando chego, parece ser tarde demais, não a vejo em lugar nenhum. Estava indo ligar para ela,
quando ouço sua voz e viro para vê-la se atirar nos braços de um cara. Perco o foco durante um
segundo, e quando minha visão volta ao normal, vejo vermelho. Tenho vontade de despedaçar o
tipinho que tem as mãos porcas em cima da minha mulher.
Caralho, eu vou matar esse filho da puta!
Capítulo 9
Jason
Estou indo socar a cara do idiota, quando lembro que não tenho nenhum direito de fazer tal
coisa; ela não pertence a mim.
Fecho meus punhos em um nó e tento refrear meus instintos mais básicos. Lutei comigo
mesmo para ficar parado e esperar.
Observei enquanto Júlia se despedia do idiota, volta-se na minha direção e paralisa a
poucos metros de mim. Ficamos nos olhando, minha raiva ganhando dimensões gigantescas. Não
tenho direito nenhum sobre ela, e isso é o que está mais me perturbando no momento. Caminho na
sua direção, vejo que ela está tensa e respiro, tentando acalmar minha fúria. Estou atordoado, nunca
me senti tão enciumado e possessivo por uma mulher, e nem temos um relacionamento. Talvez fosse
o fato de ela estar grávida do meu filho que me faz sentir assim.
Ela não me chamou, por que estaria trazendo outro homem no meu lugar? Paro à sua frente,
meu coração batendo violentamente.
— Quem era aquele imbecil do caralho que veio com você? — rosno, minha fúria contida.
Não espero resposta. — Foi por isso que não se dignou a me chamar, para trazer outro homem no
meu lugar? — verbalizo meus pensamentos anteriores.
Os olhos dela se ampliam e ela fica vermelha.
— Como é? — ela sai da imobilização e me olha feio quando indico para o lado que foi o
idiota que ela estava agarrada há pouco. — O que faz aqui?
Olhei firme para ela e vi que tinha chorado, as marcas das lágrimas ainda em seu rosto.
— O que aconteceu? Por que está chorando? É algo com nosso filho?! — minha aflição é
maior que meu mau humor.
— Filha — ela diz. Fiquei parado sem ação, durante alguns segundos, sem entender. — É
uma menina, como falei que seria — ela continuou.
Puta merda. Esquecendo o idiota, puxei-a comigo para fora da clínica em direção ao meu
carro.
— Hei, calma aí, aonde pensa que está me levando? — ela para no meio do
estacionamento.
— Meu carro está logo ali — aponto meu carro mais à frente.
— Não vou com você... — segurei-a com um braço pela cintura, puxando-a de encontro ao
meu corpo, minha outra mão em sua nuca segurando firme, trazendo seu rosto em direção ao meu.
Olhamo-nos por um instante, medindo forças. Ela não desviou o olhar quando cheguei mais perto.
Meus olhos vão para sua boca, minha própria pairando sobre a dela. Respiramos pesadamente,
nossos corpos tensos.
Não quero que ela corra de mim, minha vontade é de beijá-la tão profundamente que chega
a doer. Não sabia que queria tanto essa mulher, como percebo agora com ela tão junto de mim.
— Pode me largar, por favor? — sua voz frágil é um sussurro rouco. Ela também está
afetada por nossa aproximação.
— Estou muito puto com você. Por que não ligou avisando que era dia da consulta? — digo
baixo e percebo que minha raiva anterior tinha esfriado um pouco só por tê-la por perto. Isso não
era para ser assim. Merda. Lembro o que vi quando cheguei e minha raiva me invade de novo. —
Preferiu trazer seu namoradinho com você? Quem é o merdinha?
— Não é da sua conta, troglodita... — a calei com um beijo suave, em vez de devorá-la
como tenho vontade. Um gemido escapa dos lábios dela quando nossas línguas se enrolam uma na
outra, lentamente. Empurro minha língua profundamente em sua boca e gememos juntos dessa vez.
Calor toma todo meu corpo, e quero rasgar sua maldita roupa. Estamos tão envolvidos no beijo,
que quase esqueço onde estamos. Sou fraco quando se trata de Júlia. Quebro o beijo, e estamos os
dois ofegantes.
Puxo-a novamente em direção ao meu carro, dessa vez ela vai sem resistir muito. Abro a
porta do passageiro e a espero entrar. Dou a volta no carro e sento. Não dou partida imediatamente,
olho para ela e percebo o quanto mudou. Sua barriga está saliente, ela está mais linda do que nunca.
Sinto vontade de tocá-la outra vez. Seus olhos estão brilhando, e sei que não é por causa do beijo
que acabamos de trocar.
— Gostaria que tivesse me chamado, Júlia — digo. — Teria gostado de ver a
ultrassonografia junto com você.
—Se quiser ver, tenho o DVD, é só assistir; posso lhe dar uma cópia — diz, como se isso
fosse uma coisa sem a menor importância para mim. Como está enganada!
— Não é a mesma coisa, sabe disso.
— Olha, Jason, quando planejei minha gravidez, um pai não estava na equação. Você tem de
entender que...
— Não tinha um pai na equação, mas trouxe seu namorado? — estava irracional naquele
momento. Filho da puta! Ela não era minha ainda, mas ia ser.
— Ele não é meu namorado, mas poderia — diz, zangada.
— De onde estava, parecia. Quem é ele afinal, Júlia?— puta que pariu. Essa mulher será
minha morte. Estava perdido; não tinha controle sobre mais nada.
— Ninguém que seja da sua conta! — ok, ela conseguiu me irritar mais do que queria —
Está mais preocupado com o Caio do que com sua filha?
É quando a ficha finalmente cai. “Filha?!... Porra! Vou ser pai de uma menina?! Estou
ferrado!” Oh, santa merda, se for igual à mãe estou ferrado duplamente, elas serão minha morte.
— Menina? Tem certeza?— não me preparei psicologicamente para ser pai e ainda mais de
uma menina.
— Aqui — estendeu o DVD na minha direção e o segurei. — Fique com ele, mandei fazer
duas cópias...
— Obrigado — guardei no porta-luvas. — Por que não vamos a um lugar tranquilo e você
me conta como minha filha está? — sugeri, pois não queria que ela fosse embora.
— Jason, não acho que seria uma boa ideia.
— Por favor — estava parecendo um frangote suplicando, mas não me importava. Não
agora, quando queria saber da minha filha — Precisamos conversar, Júlia.
Ela me olha por um instante e depois dá de ombros.
— Ok, mas não vamos demorar, está bem?
— Certo — dou partida no carro e sigo para meu apartamento. Após uns minutos em
silêncio, com ela olhando através da janela, volta-se para mim.
— Para aonde estamos indo?
— Meu apartamento. Lá é mais tranquilo e podemos conversar.
— Meu carro...
— Trago você de volta para pegar, ou posso pedir para alguém vir buscar— ela não
questiona, acho estranho ela estar tão quieta. — Você se sente bem?
—Sim.
Cerca de quarenta minutos depois, entro no meu condomínio e estaciono. Antes de descer,
pego o DVD e vou abrir a porta para Júlia. Agarro sua mão delicada na minha e imagens dela da
outra noite, quando fizemos sexo, enche minha mente. Caralho! Quero-a muito, nem sei o quanto,
mas só bastava tocá-la que o fogo parecia lamber todo meu corpo. Vejo que ela também não me é
indiferente. Percebo que ela treme cada vez que toco nela. Com a mão na base de sua coluna,
conduzo-a para o elevador privado. O elevador leva segundos para abrir no hall do meu
apartamento.
Ela olha ao redor da sala de estar, curiosa, e convido-a para sentar. Selma aparece na sala e
as apresento.
— Júlia, esta é Selma, minha governanta. — ela estende sua mão para Selma e aperta em
cumprimento.
— Prazer, Selma — seu sorriso caloroso é retribuído.
Selma é o tipo de pessoa que quando gosta de você lhe trata como se o conhecesse a vida
toda, e provavelmente gostou de Júlia. Quando souber que está grávida de um filho meu, certamente
arruinará Júlia de mimos.
— Fico contente de conhecê-la, menina, você deve ser especial para meu menino trazê-la
aqui — ela fala rindo, olhando ora mim, ora para Júlia.
— Sou? Tenho dúvidas — Júlia diz com um risinho.
— Ok, venha. Selma irá trazer algo para o almoço, não é? — encaro Selma, e ela levanta as
mãos num gesto impotente.
— O que não faço nessa casa? — ela se vira para Júlia. — Algo especial?
— Não há necessidade de preocupar-se com isso, Selma, obrigada.
— Algo saudável — digo e empurro Júlia suavemente para sentar.
— Claro.
Após Selma seguir para a cozinha, observo Júlia sentar e pergunto se ela quer algo antes de
Selma servir nosso almoço. Ela não aceita e me olha como se esperasse alguma atitude de minha
parte. Puta que pariu, não entendo meu nervosismo.
Ficamos em silêncio por um instante.
— Por que me trouxe aqui, Jason? Sabe, não consigo compreender você. Uma hora você
não quer ter filho, outra você quer... — ela quebra o silêncio.
— Ao longo desse tempo que estivemos sem contato, Júlia, ponderei sobre várias coisas —
digo. — No início dessa lastimável situação, não aceitei porque fui praticamente coagido a ser pai.
Justo no momento em que estava tomando precaução para evitar exatamente isso. De que maneira
acha que poderia me portar?
— Ignora que também fui vítima de tudo isso? — sua voz é calma.
— Claro que não. Gostaria que fôssemos amigos. O que acha?— proponho.
— Eu...eu não sei, sua inconstância é tão... atordoante — ela vacila. Aproveito e insisto:
— Pela nossa filha — quero, de fato, tentar. — Por que não me conta como foi a
ultrassonografia? — pergunto. Estou seriamente tentado aqui, caralho. Ela não parece disposta a
ceder nem um pouco, mas me surpreende quando responde.
— Certo, vamos tentar sermos amigos, pela nossa filha — porra! Solto minha respiração,
não tinha notado que a tinha prendido até aquele momento.
Ela começa a falar da consulta, no entanto, Selma nos avisa que nosso almoço está pronto.
Levanto e a levo à sala de jantar, onde Selma tinha servido.
— Posso usar o banheiro? Preciso lavar as mãos — ela pede. Indiquei onde ficava o
lavabo e sentei, esperando-a. Ela voltou logo depois, levantei e a ajudei a se sentar. Enquanto
comíamos, conversamos pela primeira vez sem saltarmos um na garganta do outro.
— Por que essa determinação em ter um filho sozinha, Júlia? — perguntei em certo
momento.
— E por que não? Quero um filho e estou atrás desse sonho — disse. — Achei que estava
na hora, e agora, terei uma filha linda — seus olhos ficam cheios de lágrimas contidas. Mudo de
assunto e pergunto sobre a vida dela. Conta-me algumas coisas que já sei, mas deixo-a falar. Quero
conhecê-la melhor.
Fico sabendo que mora longe de sua família, mas que ainda tem contato com eles. Deve ser
por isso que quer tanto ter um filho e construir sua própria família. Não falamos da razão de nossas
vidas ter se entrelaçado, não quis trazer um assunto que a faria se estressar, não naquele momento.
Ela parecia tão frágil, apesar de se achar muito forte.
Após terminar o almoço, quero assistir à ultrassonografia e a levo comigo para a sala de
TV, e ponho o DVD no aparelho.

****

Faz meia hora que repito e repito as imagens à minha frente. Estou apaixonado, total e
irremediavelmente apaixonado pelas imagens granuladas e o som do coração da minha filha
batendo nos alto-falantes. O som enchia a sala e ia direto ao meu coração. Pela primeira vez na
minha vida, sinto-me um ser humano nojento e egoísta por ter pensado, por um momento, em
obrigar Júlia a fazer um aborto.
Pensar que aquele coraçãozinho poderia não estar batendo com aquela força, agora, faz
meus olhos pinicarem. Aperto minha mandíbula e continuo a repetir o vídeo uma e outra vez. Sinto
Júlia sentar ao meu lado, mas não a olho, sinto vergonha de mim mesmo. Porra! O pior de tudo isso
era convencer Júlia que me importava com minha filha.
Nunca fui de amar ninguém. A história da minha vida poderia ser igual a muitas outras por
aí. Tinha determinado há muito tempo que não teria filhos, e agora, ela nem nasceu e sou um homem
totalmente fodido de amor por essa pequena vida. Minha. Eu a quero como nunca imaginei
possível.

Júlia
Encontrar Jason, em um momento em que estava tão emotiva, não foi uma boa ideia. Fiquei
com um sentimento de culpa terrível por não o ter chamado.
Oh, céus! Estar na casa dele é inusitado, nunca pensei em estar aqui. Meus olhos correm
pela sala ampla da cobertura. Imaginava que encontraria um apartamento de solteiro, com móveis
escuros, e não esse espaço claro, luxuoso e grande. Exagerado em tudo, deve ser para acomodar
toda a arrogância e ego. Quase ri dos meus pensamentos.
Depois do almoço, que a simpática senhora nos serviu, ele me levou à sala de TV para ver
a ultrassonografia. Lamentei novamente não o ter levado comigo. Ele parecia arrasado, não tirou os
olhos da tela, mesmo quando sentei mais perto e peguei sua mão. Ele nem pareceu sentir isso. Não
sabia o que estava fazendo. Francamente, queria entendê-lo e dar-lhe uma chance, mas minha
cabeça dizia para ser cautelosa.
Acaricio sua mão e ele, enfim, tira os olhos da tela, virando-se para mim. Os sentimentos
conflitantes que vejo refletidos nos seus olhos rasgam através de mim.
Queria consolá-lo, mas não podia fazer isso, podia? Mesmo sabendo da estupidez que isso
poderia ser, levo minha mão ao seu rosto e acaricio sua mandíbula forte e áspera do restolho de
barba. Passo meu polegar por sua sobrancelha, meus dedos mergulhando nos cabelos macios, e
agarro-os, puxando levemente sua cabeça em minha direção.
Em meio a tudo isso, estou frustrada comigo mesma por ceder a esse desejo avassalador
que sempre me toma quando estou perto de Jason. Com as emoções em ebulição dentro de mim,
inclino-me e beijo o canto dos seus lábios, em um beijo que era para ser casto, mas nossas bocas
parecem colar uma na outra, e vejo-me sendo beijada como se não houvesse amanhã.
Sou erguida e sentada de frente para ele, com as pernas afastadas, apoiando os joelhos de
cada lado das coxas dele. Seguro seus cabelos com as duas mãos e devolvo o beijo, devastando
sua boca com a minha. O desejo se alastra em arrepios por todo meu corpo. Ele segura minha
bunda com as duas mãos, em um aperto firme contra o cume da frente de sua calça. Um gemido
gutural escapa de sua garganta com o atrito.
Um pensamento cintila na minha cabeça, e uso todas as minhas forças para me afastar dele.
Coloco as mãos em seu peito e o empurro levemente. Cometer o mesmo erro duas vezes era
demais, e estávamos caminhando para isso. Saio de seu colo e volto a sentar ao lado dele.
O silêncio é carregado de tensão entre nós.
— Acho melhor ir embora — digo, tentando me levantar, mas ele segura minha mão.
— Obrigado por ter vindo. Vou levar você — levanta, puxando-me com ele. Parecia
estranhamente calado. Ficamos parados, um de frente para o outro, sem saber bem o que fazer.
— Aquele é seu namorado? — lá vem ele com a mesma pergunta outra vez. Seus olhos
agora não estão nada tristes, parecem mercúrio líquido de tão intensos. Isso seria ciúme?
Bem-vindo ao clube, caubói!, penso.
— Já disse que não — digo em um sussurro. Nem sei por que estou sussurrando dessa
forma. A fome estoura dolorosamente em meu peito quando ele embala meu rosto nas palmas das
mãos, os olhos presos nos meus com desejo e outros sentimentos que não consigo identificar.
— Eu quero você, Júlia. — Agora?
Estamos respirando ofegantes. Oh, meu Deus! Absorvo suas palavras, deixando-as acalmar
e preencher essa dor de querer ser amada, pelo menos nesse momento. Estou me sentindo tão fraca,
querendo muito senti-lo dentro de mim. Meu olhar está preso ao dele enquanto meu corpo se
afoga em calor.
— Você falou que poderíamos ser amigos. Não é assim que amigos agem — tento
argumentar, talvez para convencer a mim mesma. — Não acha que as coisas acontecem por impulso
entre nós? Cada vez que nos encontramos?
Em vez de responder, ele me agarra forte e dessa vez o beijo é violento. Minha boca é
varrida por sua língua deslizando contra a minha. O atrito aumentando as chamas em meu ventre.
Seu gosto inunda-me.
Ele segura em minha bumba e me suspende no ar. Aproveito e enrolo minhas pernas em sua
cintura, e ele caminha em direção do que imagino ser o quarto. Será que ele me
quer apenas fisicamente? É só química sexual e nada mais?
Deixo de pensar racionalmente quando, pouco depois, entramos em um quarto e sou
depositada numa cama enorme. Deito de costas e ele vem por cima de mim. Começa a desabotoar
minha blusa e, em poucos segundos, encontro-me nua da cintura para cima. Ele fica paralisado,
olhando minha barriga arredondada. Merda! É como um balde de água fria na minha libido.
Procuro algo para me cobrir, mas não tem nada por perto. Oh, céus!
— Nunca pensei que uma mulher grávida fosse sexy pra caralho! — sua voz é rouca, sexy e
inebriante.
— Sou? — oh! Soei tão insegura que me dei um tapa mental. Porém esqueci tudo o mais
quando ele acariciou minha barriga como se a reverenciasse, curvou-se e distribuiu beijos por todo
meu ventre.
— Você é tão linda, Júlia — sinto sua língua e lábios na minha barriga. Gemo
involuntariamente. É tão gostoso.
Ele levanta e tira minha calça, levando junto minha calcinha, deixando-me totalmente
exposta aos seus olhos cheios de luxúria. Como ele ainda está totalmente vestido, levanto meu
tronco da cama e vou tirar sua camisa para remediar isso, mas Jason me empurra de volta na cama.
— Isso é só para você, doçura. Hoje quero assistir você se contorcendo de prazer, para o
meu prazer— murmura, com sua boca quase colada à minha. Gemo sem sentido quando sou
submetida à sua boca pecaminosa. — Quando você não estiver mais grávida, vou foder você de
verdade — diz, sugando meu mamilo supersensível.
— E por que... não fode agora? — digo, entre gemidos.
— Agora só consigo ser suave com você.
— Isso é tão chato, Sr. Fodão Lewis — digo com voz debochada. — Só ouço promessas de
você.
— Vou mostrar a você quem é chato aqui.
Algum tempo depois, era uma poça desossada de tanto prazer. O que o homem podia fazer
só com aquela língua era alucinante, e nem tinha tirado a própria roupa. Oh, céus! E ainda
continuava com a cabeça entre minhas pernas sem dar trégua. Podia morrer de tanto gozar.
Agarro seus cabelos com uma mão, e minha cabeça cai para trás. Estou arfante em busca de
ar, enquanto ele move a boca na minha vulva, sugando suave e depois forte, em movimentos
penetrantes de sua língua habilidosa pra caralho! Sua boca me come com fome, em uma tortura
sensual, cada toque me fazendo gemer e suplicar seu nome mais e mais.
— Jason...
Ele levanta a cabeça para olhar-me nos olhos, sua fome estampada na íris prateada.
— Ainda não terminei aqui...
— Ooooh!!! — grito quando ele volta a assaltar meu clitóris, pegando-o entre seus dentes,
mordiscando levemente.— Hummm... Ah! Merda! — ele abre minhas coxas para dar mais acesso
às suas lambidas em toda minha boceta sensível de sua total atenção, chupando sofregamente, e sou
levada a uma outra dimensão de prazer. Outra vez, um orgasmo bate em mim com força fulminante,
e grito seu nome em êxtase.

Jason

Observo a primeira mulher que trago aqui na minha casa e para esta cama. Ela dorme
suavemente, e faz mais de 15 minutos que observo-a dormir. Levo minha mão à sua barriga e
acaricio possessivamente. Minha. Vou fazê-la totalmente minha.
Devo ter dormido, porque, quando abro meus olhos logo depois, vejo que estou sozinho na
cama. Levanto e vou ao banheiro, porém Júlia não está lá. “Merda.” Vou até a sala e nada. “Merda
dupla!” Estou caminhando para a cozinha, quando Selma aparece com algumas pilhas de lençóis.
— Viu Júlia, Selma?
— Oh, a menina já foi — ela fala e segue seu caminho.
“Mas que droga!” Bufo um riso. A danada está por acaso me dando o troco?
— Pequena filha da... — resmungo enquanto pego meu telefone e ligo para ela. Não posso
me afastar mais dela. Sou um viciado da porra.
O telefone chama, mas ela não atende. Ok, ela não quer começar esse jogo outra vez, não é?
Pensei que tínhamos começado algo hoje. Vou dar uma folga até amanhã.
Mas tenho algo que preciso fazer ainda hoje: descobrir quem era o idiota que estava com
ela. Afinal, desde que dormimos juntos, não durmo com nenhuma outra mulher. Apesar de ela achar
que sim. Na verdade, tentei, mas...
Volto para a sala de TV e começo a assistir, mais uma vez, o vídeo da minha pequena.
Capítulo 10
Júlia
Estou entrando no meu carro, onde tinha deixado estacionado, quando escuto meu celular.
Sabia que era Jason antes mesmo de olhar no visor, só que não vou atender. Agora não.
Jogo ele de volta na bolsa e dirijo para casa. Minha tarde com ele tinha sido prazerosa,
literalmente.
Estou com um sorriso no rosto que nem tinha notado. O que um orgasmo pode fazer por uma
mulher, hein? E confesso que não foi exatamente um, mas vários. O que o homem tem naquela
língua?! Oh, Deus!
Estava meio que flutuando ainda. Agora que percebo meu egoísmo, ele não tinha exatamente
desfrutado da tarde tanto quanto eu! Nem fiquei lá para dar um alívio ao pobre diabo. Ri alto.
Ele agora tinha que se virar sozinho ou – merda!-, poderia sair e encontrar “alívio” com
outra pessoa. Quando parei em um sinal, tirei meu celular da bolsa e retornei a ligação dele. Droga!
A chamada foi parar na caixa postal. Será que iria mesmo procurar outra pessoa? O ciúme me
corrói e tento de alguma forma inibir esse sentimento. Bem, se fosse, era um idiota e não teria mais
nenhuma chance de chegar perto de mim.

****

Entro no apartamento e Catarina vem me encontrar praticamente na porta. Sua cara era de
aflição.
— Estava preocupada com você — fala. — Demorou tanto! Então, o que temos aqui? —
diz, apontando para minha barriga.
— Uma linda daminha — digo, rindo. Catarina me abraça, parabenizando. Tínhamos
desenvolvido uma amizade nessas semanas de convivência. Já tinha um grande carinho por ela.
— Carla já ligou várias vezes para saber — ela diz.
— Ora, por que ela não ligou no celular? — pego meu telefone e ligo para Carla.
— Nossa, Júlia, até que enfim! Me conta — grita do outro lado quando atende.
— Maluca, onde já se viu atender ao telefone dessa forma? — digo. — Para quem não
apoiava meus planos, você está muito entusiasmada com minha gravidez — digo, debochada.
— Para de enrolar e fala, Júlia — rio.
— Como eu desejei que fosse... MENINA! — a felicidade que sinto reflete em minha voz.
Estou tão feliz!
— Que tal uma noite de mulherzinha com a nova integrante? — ela pergunta. Nunca vi
gostar tanto de uma farra!
Acabei aceitando o convite e saímos para comemorar. Apesar de Carla ser minha melhor
amiga e contar tudo para ela, ainda escondia certas coisas com relação ao meu relacionamento com
Jason.
No entanto, hoje contaria para ela o que vinha acontecendo entre nós. Estamos no meio do
jantar, quando resolvo abordar o assunto:
— Tenho algo para te contar — estou vermelha e não sei a razão. Afinal, somos amigas e
contamos tudo uma para outra. Que droga!
— Hum... Deve ser grave, para você, dona Júlia, ficar vermelha desse jeito.
— Sabe... Eu... É... — merda, é difícil dizer isso em voz alta!
— Acaba logo com isso, vai me matar de curiosidade, mulher! — exclama, impaciente.
— Jason e eu estamos fazendo sexo — digo rápido. Um momento de estranho silêncio se
estende, mas ela explode depois.
— O quê? Como assim? E agora que você me conta? — praticamente grita. — Ai, Júlia,
bela amiga você me saiu! — faz cara de brava, mas vejo que realmente não está. — Agora conte
tudo. Todos os detalhes sórdidos.
Conto para ela tudo que tinha acontecido nesses meses. Claro, nem todos os detalhes. Não
contei, por exemplo, dos sentimentos que ele me desperta, apesar de negar para mim mesma.
— Lembra que você o encontrou na boate, com o Saulo? Ele esteve comigo na noite
anterior — finalizo.
— Você está me dizendo que ele fez sexo com você e depois estava com uma loira falsa?
Não acredito, que cretino!
— Pelo jeito sim, você que me disse, não vi nada.
— Se eu soubesse tinha dado uns socos na cara dele, naquela noite. Sujeitinho safado! —
acabei rindo de sua indignação. — E depois disso, vocês não se encontraram?
— Não.
— E agora? O que mudou?
— Resolvemos tentar ser amigos e ter uma convivência sem brigas.
— Tem certeza do que estão fazendo? — fala. — Se envolver com ele, quero dizer. Vocês
vivem uma situação muito estranha, Júlia.
— Não tenho certeza de nada. Mas sermos amigos não é melhor que inimigos?
— Certo, mas tenho uma pergunta. Você confia nele?
NÃO! A verdade era um grande e gordo “não”. Em vez disso, repondo:
— Quero confiar. Estou dando uma chance, Carla. Por que viver a guerra, quando posso
amar, hein?— levanto minhas sobrancelhas de modo atrevido para ela.
— Você é uma safada, Júlia, isso sim — ela ri. — E agora, vocês estão “namorando”?
— Claro que não! — digo. — Como já disse, estamos tentando ser amigos.
— Hurum... Com certeza, acredito em você — ironiza.
Bem, ao menos ela não ficou chateada com meu segredo. Ufa! Deixamos o assunto de lado e
conversamos, descontraídas, sobre outras coisas, até o fim do nosso encontro.

****

Quando cheguei em casa, depois da “farra” com Carla no restaurante chinês onde tínhamos
ido, já era quase meia-noite e não tinha tido notícias de Jason. Entretanto, no momento em que
estava na cama, tentando dormir, recebi uma mensagem de texto dele.

Jay: Fugiu de mim?

Estava tentado responder, quando chega outra.

Jay: Estou pensando em como seria perfeito ter você aqui, agora.

Mas é claro que sim, pervertido.

Eu: Não vou facilitar nada para você, bonitão.

Mando de volta. “Ah, Jason, você tem de mudar muito ainda, se despir dessa arrogância
toda”, penso.

Jay: Não achei que você fosse. Ao ir embora, hoje mais cedo, ficou muito claro que
dificultaria minha vida.
Eu: Espero que não tenha sofrido muito.

Não recebo nada por mais de quinze minutos.

Jay: Posso te falar o quanto amanhã, em um jantar. O que acha? Antes de responder,
gostaria de lembrá-la que acertamos que tentaríamos ser amigos.

Eu: Ligue-me amanhã, então darei uma resposta.

Jay: Certo, vou fazer o seu jogo, então. E como está minha filha?

Que mania que ele tem de falar “MINHA”, com tanta possessividade! Não gosto disso.

Eu: Nicole está muito bem, mas agora ela quer dormir. Boa noite!

Vou tentar dar uma chance a ele, mas não sei até onde esse relacionamento pode ir.

****

Acordei relaxada na manhã seguinte. Depois de tomar um café da manhã reforçado, saio
para Ma Belle. Amo o que faço e não deixo de ir à boutique, porque isso era prioridade na minha
vida. Mas agora... Bem, agora nem tanto, nem preciso dizer o porquê.
Por volta das dez horas, recebo um buquê de rosas brancas e vermelhas com um bilhete de
Jason:

As brancas são para minha filha e as vermelhas para você.


Jantar às 19 horas. J
Oh, ele era tão brega! Sorrio. E esse MINHA me tira do sério.
De tarde, quem liga para mim é Caio, me convidando para ir à sua casa; a casa onde ele
mora com a mãe e irmã.
— Que tal na próxima semana? — fala, quando digo que adoraria ir. Espero que ele não
tenha segundas intenções com esse jantar. Ele pode ser lindinho, mas já era suficiente só um
homem para complicar minha vida!
— É claro que irei. E Vivian? Está tudo bem com o bebê dela? — pergunto. Conversamos
mais um pouco e desligamos. Ficou de me ligar e marcar um dia exato.
Já que tenho outro jantar para ir esta noite, saio mais cedo da Ma Belle e vou para casa.
Como não sei aonde o Senhor Língua Pervertida irá me levar, escolho um vestido de seda
verde-musgo, na altura do joelho. Comprei recentemente, já que minha barriga estava ficando bem
evidente. Optei por Scarpins em um tom nude e acessórios discretos. E meus cabelos soltos
completando meu visual.
Faltando quinze minutos para as 19 horas, a minha campainha toca. O homem tinha pressa.
Sabendo que Catarina atenderia a porta, continuei a me arrumar. Dei uma última olhada no espelho,
peguei minha bolsa de mão e saí do quarto.
Encontrei Jason elegantemente vestido em um terno grafite sob medida e provavelmente
caro; camisa em um tom claro de cinza e gravata combinando. Estava comestível. Calor enrola em
minha barriga com a visão do macho alfa em minha sala.
“Ah, Júlia, está perdendo essa batalha...”
Estou parecendo uma adolescente apaixonada. Droga, quanto mais luto, mais o quero!
— Oi.
Ele me olha e inclina a cabeça, me admirando. Sinto-o em cada célula do meu corpo quando
me olha assim, fixo e intenso. Chamas de antecipação correm por minhas veias. Ver desejo em seu
olhar faz-me sentir bem, gosto de saber que tenho o poder de fazê-lo me desejar.
— Você está linda — a voz dele é rouca.
— Obrigada. Bem, aonde estamos indo? Você não disse, então...
— Tão ansiosa — fala mansamente, enquanto caminha na minha direção. Inclina-se e beija
minha testa. — Agora podemos ir.
— Esse jeito todo sedutor não combina com você — digo, enquanto caminho para a porta
com a mão dele na base da minha coluna. Jason ri alto.
— Você é a mulher mais irritante que já conheci. — diz, com um sorriso. — Não posso ser
gentil com você? Sou um cavalheiro, você sabe — a voz dele é brincalhona.
— Sei? Ainda não vi esse seu lado — digo.
— Para provar, a partir de hoje faço todas as suas vontades.
— Jay, você me faz tantas promessas — digo com voz falsamente doce.
— Jay? — suas sobrancelhas estão levantadas.
— Sim, que tal? — ele revira os olhos. Rio de sua cara horrorizada.

Jason

Passei o resto da tarde em casa, não tinha vontade de voltar para o escritório, apesar de ter
muito trabalho me esperando.
Assisto uma e outra vez o DVD, acho que estou ficado meio maluco. Provavelmente estou
ficando velho! Liguei para o Raul, mas não sabia nada do homem que estava com Júlia. Gosto de
conhecer meus adversários, seus pontos fracos, e se aquele for um possível pretendente a pai da
minha filha, tenho pena dele.
Convidarei Júlia para jantar amanhã, e descobrirei mais alguma informação e a passarei
para Raul, além do nome que tinha dado.
Jantei só, mas Selma ficou o tempo todo me pajeando. Sabia que ela queria alguma coisa de
mim e não sabia como pedir.
— Diga, Selma, você está me deixando nervoso — falo em dado momento.
— Ah... Bom, menino...Não gosto de me intrometer em sua vida... — ela torce as mãos.
— Selma, fale.
— Não falei nada mais cedo, mas percebi que a mocinha que trouxe hoje está grávida —
chamar Júlia de mocinha era um pouco esquisito. Assenti e ela continuou: — Como sei que você
não é de namorar ninguém e como nunca traz suas amigas para casa, achei estranho, imagino que...
— levanto minha mão, interrompendo seu fluxo de palavras.
— Ela está grávida da minha filha — digo.
— Oh! Que maravilha, menino! Fico tão feliz, meu filho — sinto a raiva me invadir, e não é
dirigida para Selma. Não suporto quando as pessoas se referem a mim assim. Traz lembranças
indesejadas. Tranco minha memória e sorrio forçado para ela.
— Que bom que faço você feliz — digo. Ela começa a tagarelar, mas minha cabeça está
distante daqui, agora. Odeio me lembrar do passado, contudo ele sempre volta a me atormentar.
— Traga ela mais vezes. Quero muito conhecê-la.
Ela começa a falar do quanto está feliz em me ver formando uma família. Não a contradigo;
Selma é o mais próximo de uma mãe que já tive e trazer um pouco de felicidade para ela já me
deixa de melhor humor.

****

Deito e Júlia vem à minha memória. Verdade seja dita: ela não sai da minha cabeça.
Maldita mulher gostosa! Devia estar aqui, agora. Oh, inferno! Estou excitado. Pego meu celular e
envio uma mensagem, dizendo que ela fugiu de mim. Medrosa!
Essa relação de amizade entre nós não será fácil, ela com certeza não será uma doce
menina. Ela confirma meus pensamentos quando envia uma mensagem de volta para mim.

Não vou facilitar nada para você, bonitão.


Lógico que não, desde o começo dessa bagunça ela me faz correr atrás dela feito um
cachorrinho. Procuro saber da minha filha e ela se despede com um “boa noite”.
Merda! Ela é a mulher mais difícil que conheci em toda minha droga de vida. As outras já
estariam mais que dispostas em estar na minha cama e fazendo minhas vontades. Poderiam achar
que sou arrogante? Mas quando se tem dinheiro, todos, ou a maioria, fazem o que você quer.
Estou de pé logo cedo na manhã seguinte, meu corpo está frustrado e minha mente cheia de
merdas do passado. Odeio essa perda de controle que essa maldita clínica do caralho trouxe para
minha vida bem organizada. Mas, às vezes, penso que nada é por acaso.
Treino na academia até meus músculos estarem pinicando de exaustão.
Sou incapaz de empurrar todos os pensamentos de lado, enquanto trabalho no escritório
hoje. Mandei entregar rosas para as novas mulheres da minha vida. Isso é estranho, mas tenho de
me acostumar com essa nova etapa, mesmo sendo difícil. Vai contra tudo o que me esquivava no
passado, mas quero tentar, porque essa é a atitude de um homem de verdade. Acho que os pais têm
de assumir os filhos, mesmo não sendo planejados.

Júlia

Pensei que iríamos a um desses restaurantes extravagantes e extremamente caros, mas me


enganei completamente. O lugar era requintado e pitoresco, porém muito elegante, não deixando
nada a dever a qualquer outro.
Depois de sentarmos, olhei ao redor. Gostei do ambiente e disse isso para Jason.
— Como sei que você ama massa — dá de ombros —, então esse é o lugar ideal da
verdadeira massa italiana que conheço. — diz.
— Posso saber como sabe disso a meu respeito?
— Um homem nunca diz suas fontes — presunçoso! Verificamos o cardápio e ele, em
solidariedade a mim, pede água para nós.
— Não me importo se pedir vinho ou algo alcoólico — digo. Mas ele insiste que está tudo
bem.
Realizamos o pedido e aguardamos. A noite está sendo melhor do que imaginei, mas quero
saber mais do homem que será o pai da minha filha.
— Fale-me de você, Jason — peço.
— Quer saber o quê? — ela franze a testa.
— Por que não começa me dizendo, em primeiro lugar, o porquê de você não querer ter
filhos?
Ele fica em silêncio por tanto tempo que penso que não me responderá.
— Não gosto de falar desse assunto.
— Não estabelecemos que seremos amigos? — falo. — Então, amigos falam de si mesmos
e deixam seus amigos o conhecerem.
— Não basta dizer que esse assunto não me agrada? Não quero falar sobre isso.
— O que é tão terrível assim que não pode ser falado? — minha impaciência é evidente.
Ele não responde, e a noite perdeu um pouco o brilho. Homem difícil!
— Em vez disso, por que você não me fala a respeito do idiota que estava com você ontem?
— fala num resmungo. Sério que ele quer voltar a esse assunto? — De onde você o conhece? —
insiste.
Digo como conheci o Caio e a Vivian, para acabar logo com sua implicância.
Ter uma noite de conversa civilizada com ele a partir disso foi quase impossível; ele se
fechou como uma concha impenetrável. Mas, apesar de tudo, foi divertido ver seus esforços em me
agradar a noite inteira.
—Deveríamos ir dançar em algum lugar — sugiro.
— Não acho bom você se esforçar tanto...
— O quê? Deixe de ser paranoico, Jay, sou a grávida mais saudável que existe — respondi,
e era verdade. Não sentia nada anormal, ao contrário, estava me sentindo ótima. E queria me
divertir hoje só para implicar com ele e ver até onde ia essa determinação dele em fazer todas as
minhas vontades. — Você prometeu fazer tudo o que eu quisesse — digo fazendo beicinho, que
imagino ser sexy. Não estou sendo eu mesma com esse homem, ele me faz querer coisas que
pensava que não era o ideal.
— Está bem, mas voltaremos cedo — resmunga. Ele fazia muito isso, até que era bonitinho.
Deixamos o restaurante logo depois e seguimos para alguma boate. Ele não disse aonde me
levaria. De qualquer forma, não me importava.
Fomos a uma boate nova, e imaginei se era a mesma que Carla tinha ido. Chegamos, e como
toda boate, o local era escuro e barulhento, com a música muito alta. Sentamos à uma mesa e ele
pediu uma bebida não alcoólica.
— Você acha que pediria bebida alcoólica? — pergunto. Ele está meio obsessivo com isso.
— Outro dia, lembro que saiu e bebeu — minha boca cai, aberta.
— Foi um golinho, seu exagerado. Vamos dançar? — digo, quando começa a tocar uma
música mais lenta.
— Essa é sua desculpa para me agarrar, Júlia? — ele abre um sorriso brincalhão.
— Claro que sim, de que outra forma iria te pegar de jeito, senhor Gostosão?
— Sabia que você era caidinha por mim — era mesmo um pretensioso!
Quando a música que dançávamos terminou, começou a tocar I Won’t Give Up (Eu não vou
desistir) e continuamos na pista, dançando tão perto um do outro que senti como se estivesse
embriagada, mesmo sem ter bebido nada de álcool.
Senti a boca de Jason no meu pescoço, depois em direção à nuca. Ele puxou minha orelha
entre os dentes, e uma onda de calor em espiral vai da minha orelha para os seios e direto entre
minhas coxas. Sentimentos contraditórios me invadiam cada vez que estamos juntos, mas eu queria
muito isso. Podia sentir sua ereção na minha barriga, e saber que o afetava era delicioso.
Estava caindo de amores por Jason Lewis, um homem que poderia me machucar
terrivelmente. E de uma maneira que nunca imaginei.
Demoramos na boate mais do que Jason pretendia. Estávamos tão envolvidos um no outro
que não vimos o tempo passar. Estávamos nos dirigindo para a saída, quando uma mulher parou na
nossa frente. Era loira e muito bonita.
— Não acreditei que era você aqui, Jason — sua voz era extremamente melosa. Vi Jason
ficar tenso e olhar para mim. Levantei minhas sobrancelhas para ele. — Você ficou de me ligar,
gato — continua a loira, ignorando-me completamente.
— Não me lembro disso. Se você nos der licença — diz, com voz dura. Ele me empurra
delicadamente para fora, deixando a loira lá.
— Nossa, como você é gentil com suas ex... — digo, irônica. Ele só me olha firme.
Levanto minhas mãos em um gesto de paz. Bem, tirando os percalços, até que me diverti
essa noite.
Entramos no carro, e me sentia tão cansada que recostei minha cabeça no seu ombro, com o
pensamento de que tudo daria certo daqui para frente. Com isso em mente, adormeci.
Acordei com sua boca fazendo coisas perversas comigo. Gemi.
— Volte a dormir, doçura, estou só te deixando confortável para dormir bem — a voz
masculina conhecida me fez relaxar de volta na cama. Mas dormir não foi exatamente o que fiz em
seguida.
Jason

Jay? Mulheres! Sempre com suas manias de colocar apelidos.


Mas dei um desconto, porque ela odeia que a chame de doçura.
Essa semana tem sido de aprendizado na minha vida. Depois daquele primeiro jantar, que
ganhei um apelido, temos estado juntos todos os dias. Nunca pensei em ter um relacionamento e,
agora, vivia um relacionamento de amizade. Não tínhamos feito coisas que amigos fazem, na
verdade. Meus lábios se abrem em um sorriso ao me lembrar de sua indignação por não sair do seu
lado esses dias. Mas acompanhar a gravidez da minha filha é primordial para mim, agora.
Além de todos os sentimentos que Júlia me desperta, o de proteção e possessividade estão
cada dia mais fortes. Sou um doente.
Tenho uma reunião com Saulo daqui a poucos minutos. Passo os dedos pelo meu cabelo e
me inclino na minha cadeira. Essa insistência dela em saber dos meus motivos de não querer filhos
é o que vem atrapalhando nosso convívio.
Teimosa. Enquanto espero Saulo, pego meu celular e ligo para ela:
— Oi.
— Como amanheceu minha pequena hoje? — pergunto.
— Ah, como você é grosseiro, qualquer um diria, por essa pergunta, que você só se importa
com nossa filha — diz brincalhona, porém noto certa mágoa. Merda! Tenho a sensação de andar
pisando em ovos com essa mulher.
— Peço desculpa. Como minha doçura acordou hoje?
— Esse é o apelido mais feio que alguém já deu para mim — resmunga. — Mas quero
convidá-lo a fazer algo comigo, hoje.
— Hummm, isso soa interessante — sorrio.
— Contudo, só saberá na hora — fala, alegre.
— Estou sentindo que não vou gostar disso...
A porta abre e Saulo aparece com o semblante interrogativo. Indico para ele sentar,
enquanto continuo a falar ao telefone.
— Que horas quer que a encontre?
— Venha aqui na boutique, quando você puder.
— Está bem. Agora tenho de desligar, vejo você depois — digo desligando.
Saulo olha para mim, espantado.
— O que foi?
— Cara, vou te dizer, se alguém me contasse não acreditaria — diz ele, balançando a
cabeça em descrença — Está apaixonado, meu amigo. Inacreditável!
— Podemos falar de negócios, agora?
— Evidente que sim, mas era com a Júlia que você estava falando?
— Sabe que sim. Falando nisso, como anda o processo de pedido de guarda? — pergunto,
outro assunto que anda me perturbando ultimamente também.
— Está demorando mais do que imaginei. Quer continuar com isso?
— Quais minhas chances de conseguir a guarda?
— A lei prevê que sejam assegurados todos os direitos da criança. Sob a ótica da justiça, o
bem-estar físico e emocional da criança está acima das divergências ou dos interesses dos pais.
— Só quero garantir meus direitos sobre minha filha, Saulo — Mas que porra! Tenho a
sensação de estar traindo a confiança da Júlia.
— Seu direito como pai é inquestionável, Jason, só que tem uma coisa — Saulo continua.
— Ela tem documentos assinados na clínica que lhe dá total direito sobre o filho, fruto da
inseminação. Portando, se ela não quiser que você tenha contato com sua filha...
Porra! Ela não faria isso comigo. Ou faria? Ela ainda não confia em mim, então...
— De que forma posso garantir que isso não aconteça?
— Devo salientar que esse é um caso atípico, que dever ser bem analisado.
— Quero que encontre uma forma, que me garanta isso.
— Há outra forma, e você teria que jogar sujo, meu amigo.
— Seja claro, Saulo, por favor.
— Jason, gosto da Júlia. Se eu fosse você, não iria por esse caminho — ele olha firme para
mim. — Cara, vocês já vivem um relacionamento, tenta uma forma amigável de convivência e
guarda compartilhada.
Levanto, vou até o bar, pego um copo e verto uísque generosamente nele. Tomo um pouco e
viro para Saulo.
— Quando você fala jogar sujo, isso quer dizer o que, exatamente? — não faria nada contra
Júlia, mas quero ter todas as frentes cobertas.
— Fazer o juiz acreditar que ela não tem condições de criar a filha. Isso é apenas uma das
possibilidades.
Porra!
— E quais são as outras?
Capítulo 11

Jason
— E quais são as outras?
Estava com um gosto amargo na boca. Pensar em fazer mal a Júlia causa um sentimento de
repulsa, mas e se ela não permitisse...
— Você é rico, pode usar seu dinheiro, mostrar que tem mais condições de criar um filho.
Dar uma vida melhor à criança do que a Júlia pode — Saulo me tira das minhas conjecturas.
— Se eu fizer uma dessas coisas, Júlia me odiará para sempre, meu amigo — digo, com um
suspiro. Estou fodido nessa história, em um maldito beco sem saída — E tem mais?
— Essa é a melhor de todas. — ele está rindo da situação? — Para acabar de vez com isso,
case-se com ela — diz, simplesmente.
O uísque que tomava voou para fora da minha boca com o choque.
— Perdeu a porra da cabeça, Saulo?! — rugi. — Aceitar um filho não foi suficiente? Agora
tenho de casar também?
— Isso ninguém está impondo para você fazer, é só uma das opções. Que, no meu conceito,
seria o mais ideal — ele fala sério? — Assim assegura seus direitos. E, afinal, vocês têm uma
relação ou não? Seria matar dois coelhos de uma vez, porra!
Tomei uma respiração profunda, engoli um nó de raiva e frustração. Caralho! Como uma
mulher podia mudar terrivelmente minha vida nessa magnitude?
Tinha fodido mulheres que eram muito mais atraentes e mais sofisticadas. Elas me deram o
controle que precisava, e nenhuma delas jamais tocou quaisquer emoção dentro de mim. Era um
homem que vivia de acordo com minhas regras. E eis que surge esse turbilhão em minha vida e faz
tudo desmoronar em questão de segundos. Deus! Estava ficando patético, isso!
Sabia que Júlia Mason seria minha morte.
— Não posso casar, Saulo — falo, cansado disso tudo. — Não seria bom marido para
ninguém, não tive a porra de um exemplo e uma chance de saber nada disso! — estou esbravejando
agora.
— Porra, Jason, você se acha um homem inteligente e fodão, mas, cara, você é burro pra
caralho — fala, impaciente. — Você não pode casar com a mãe da sua filha, mas quer criá-la
sozinho? Qual a lógica disso? Saberia lidar com uma criança?
“Não, porra! Não saberia!”
Cerrei os dentes e sentei na minha cadeira. Deixar Júlia chegar mais perto do que
jamais esteve antes qualquer outra mulher já era difícil, imagina casar!
Não poderia lidar mais com essas emoções animalescas, que ultimamente me engoliam. Tudo
dentro de mim parecia que estava mudando sem que eu percebesse. E não gosto disso.
Já o amor que sabia que nutria por minha pequena era verdadeiro, disso eu sabia. Era um
sentimento tão incomum, nunca tinha experimentado esse aperto no peito quando pensava em
alguém, mas sentia isso agora por minha filha.
Tomar medidas drásticas agora não era bom, contudo isso teria de ser feito. Cedo ou tarde.
Continuei minha conversa com Saulo, entretanto, meus pensamentos estavam longe.

****

Entrei na Ma Belle para encontrar Júlia, sentindo-me culpado. Inferno! Para onde tinha ido
minha determinação?
Uma funcionária vinha em minha direção quando a gerente, Melissa, a interceptou e veio até
mim.
— Olá — sorriu. — Júlia espera por você no escritório — assenti e caminhei para lá. Já
tinha vindo aqui, nesse tempo de “namoro” com Júlia, e conhecia o local. Gostava bastante desse
espaço.
Gosto desse lado empreendedor e independente dela. Mas só até onde essa independência
se choca com meu autoritarismo. Mulher cabeça-dura! Mas sua autenticidade era perfeita e esse
magnetismo que me puxa para ela, mesmo não querendo.
Entrei na área onde ficava a parte administrativa da boutique, fui para a sala de Júlia,
porém ela não estava lá. Escutei a voz dela praguejando e percebi uma porta ao lado. Fui até lá e
estaquei; fiquei puto da vida com o que encontrei.
Júlia se equilibrava precariamente em cima de uma escada, colocando adesivos de
personagens infantis na parede. Caminhei e segurei sua cintura, causando um gritinho de susto,
tirando-a da escada.
— Mas que porra você faz em cima dessa escada? — falei baixo, minha raiva me
sufocando. — Você é a grávida mais irresponsável que conheço. Quer cair e se matar ou matar
minha filha?
— Ei, não precisa exagerar, estava...
— Qual a necessidade de você estar em cima disso — não a deixo inventar desculpas
esfarrapadas. —, quando pode mandar alguém qualificado fazer isso, Júlia? E o que diabos vai
fazer aqui, nesta sala? — solto uma rajada de perguntas furiosas.
— Terminou? — ela pergunta, com raiva.
— Nem comecei — ela se desvencilha de mim, indo para a sala onde trabalha. — Está
fazendo o que com esse espaço, posso saber?— repito.
— Estou fazendo um berçário para a Nicole. Quando eu vier trabalhar, ela terá um cantinho
— diz.
— Sim, e por que não contrata alguém para fazer isso? — não entendo a sua
irresponsabilidade.
— Eu mesma quero fazer, Jason, qual o prazer de mandar alguém decorar?
— Arranje um decorador profissional ou eu cuidarei disso — falo. — E temos de
conversar. Ligarei para Selma e avisarei para nos preparar um jantar hoje, na minha casa —
continuo. — E você pode me dizer tudo que quer aqui, que cuidarei de tudo.
— Perguntou minha opinião? E não contratarei ninguém — ela bufa.
Fecho meus olhos e suspiro. Melhor mudar de assunto Mulher cabeça-dura. Não quero
discutir agora com ela. Na verdade, quero conversar seriamente. Mas, antes...
— Bem, aqui estou. O que você quer fazer comigo?
Ela ri, caminha em minha direção e joga os braços ao redor do meu pescoço.
— Hummm — faz, enquanto beija meu pescoço. — Quero convidá-lo a ir a um lugar
comigo.
— Que lugar?
Esquecendo por um momento minha preocupação, seguro sua cabeça em minhas mãos e
beijo-a lentamente. A boca dela é doce, seu sabor tão intoxicante que fico duro imediatamente. Sou
um bastardo filho da mãe!
— Estou programando uma tarde de compras para Nicole — diz, depois que o beijo
termina. Ela me aponta. — E você vai comigo.
Pensei que a coisa seria pior.
— E depois iremos a uma simulação de parto — diz, séria.
— O quê? — ela ri da minha cara horrorizada.
— Estou brincando, mas bem que poderia ser verdade — ela pega a bolsa e caminha para a
porta. — Vamos? Tenho uma tarde educativa para você.
Se me perguntar o que fizemos a tarde inteira, não saberia dizer. Ajo mecanicamente em
todas as horas que passeamos de loja em loja e fazia tudo que Júlia me mandava. Sinto-me um
idiota, no meio de uma loja cheia de coisinhas rosas para todo lado.
—Você escutou o que falei? — volto à realidade e noto que Júlia está falando comigo.
— Claro que sim — minto.
— Então, o que falei?
— Está bem, não escutei o que você falou.
— Você está com algum problema? Está tão estranho.
— Não é nada — olho para ela, que está segurando algo rosa na mão. — Nossa filha terá
um guarda-roupa totalmente rosa?— pergunto.
— Claro que não, bobo. Você não me ajudou em nada — diz. — Sinceramente, para que
convidei você?
Por um momento, apenas encaro-a. Seus incríveis olhos verdes luminosos, que me
olhavam agora com humor, faziam eu me sentir um canalha com ela. O que estava me motivando a
ser tão difícil? Por que simplesmente não esquecia tudo isso e ia embora? Deixá-la só, como ela
sempre quis desde o começo. Entretanto, algo me prende a ela, é desnecessário dizer o quê.
“Porra! Pareço um fracote filho da mãe, o que realmente sou!”
— Jason, fale comigo. Algo está perturbando você. O que é?
— Nada, doçura. Por que não continuamos as compras?
— Não me engana, sabe disso — ela faz cara de brava. Inclino-me e deposito um beijo em
seus lábios. Impossível resistir a ela, ou sou a porra de um bipolar! — Em que tanto você pensa,
hein?
O telefone dela toca e ela atende, desviando seu interesse de mim. Fico escutando sua
conversa descaradamente.
— Oi, Vivian. Que bom que você ligou. Estou ótima — ela olha para mim sorrindo, fazendo
sinal para eu segurar a coisa rosa. O que diabo é isso, tão minúsculo? — Claro que sim, irei com
certeza — ela escuta por um momento e depois diz: — Amanhã estarei aí.
Algo me deixa alerta, mas não sei bem o que é. Deve ser paranoia minha. Júlia continua no
telefone, e ando pela loja de roupas de bebê.
Ando para outra ala da loja, onde tem vários brinquedos. Uma vendedora sorri gentilmente
e peço:
— O que você recomenda para meninas?

Júlia

Arrasto Jason a uma sessão de compras, achando que iríamos nos divertir ou iria vê-lo
constrangido. Engano total: ele estava aéreo e não prestou atenção nem na metade das coisas que
perguntei sua opinião. Estou compulsiva comprando tanta coisa, mas amo tanto essas roupinhas
lindas de bebê! Julguem-me. Não é à toa que tenho a Ma Belle.
— O que você acha desse, Jason? — olho para ele, mas seu olhar está longe. — Jason?
Você escutou o que falei? — volto a chamar.
— Claro que sim — provavelmente está mentindo.
— Então, o que falei?
— Está bem, não escutei o que você falou.
— Você está com algum problema? Está tão estranho — pergunto, porque ele está calado
demais, desde que saímos da Ma Belle.
— Não é nada. — ele me olha — Nossa filha terá um guarda-roupa totalmente rosa?
— Claro que não, bobo. Você não me ajudou em nada — digo — Sinceramente, para que
convidei você? — debocho.
Ele não retruca como geralmente faz quando o provoco. Será que é algo na empresa dele?
Na verdade, nunca me contou nada a respeito de sua empresa. Só sei que é na área de tecnologia,
desenvolvimento de software e jogos eletrônicos. Não nos conhecemos como deveríamos. O que
posso fazer, se ele fica fazendo segredo de sua vida?
— Jason, fale comigo. Algo está perturbando você. O que é?
— Nada, doçura. Por que não continuamos as compras?
— Não me engana, sabe disso — faço cara de brava e recebo um beijo nos lábios. — Em
que tanto você pensa, hein?
O meu telefone começa a tocar na bolsa, quando consigo pegar, vejo que é Vivian.
— Oi, Vivian.
— Oi, Júlia, bom falar com você. Como vai?
— Que bom que você ligou. Estou ótima — entrego o macacãozinho rosa que seguro a
Jason.
— Queremos que venha jantar conosco amanhã à noite, se você puder, claro. — diz.
— Claro que sim, irei com certeza.
— Se quiser vir lá pelas seis, será ótimo, assim podemos conversar bastante.
— Amanhã estarei aí — vejo Jason caminhar pela loja e desaparecer de vista. — E o Caio,
como está?
Conversamos por mais alguns instantes, e depois de nos despedirmos, desligo. Procuro
Jason, mas ele não está em lugar nenhum. Não acredito que foi embora, mas dele espero tudo.
Nossa relação de “amizade” parece uma montanha-russa. Somos o casal mais estranho que
conheço. Passo quase cinco minutos procurando-o. A loja que estamos é enorme, e ele sumiu!
Quando o encontro, quase morro com a vontade de rir.
Ele está literalmente ao lado de uma montanha de brinquedos. O homem é louco ou o quê?
Aproximo-me devagar, meus olhos na pilha enorme de brinquedos.
— O que você está fazendo, Sr. Lewis? — pergunto séria, mas minha vontade de rir é maior
e caio na gargalhada.
— Você comprou tanta roupa — diz ele, me olhando meio confuso. — E esqueceu essa
parte. Agora estou comprando alguns poucos brinquedos.
— Poucos? — não aguento e rio de verdade.
— O que foi?
— Jason, nossa filha não brincará com metade disso — digo, rindo. — E essas coisas aqui?
— pego alguns brinquedos eletrônicos para crianças de uns 10 anos e levanto. — Ela demorará
uma vida para poder brincar com isso.
— Bem, ela crescerá...
— Esquece isso — digo, categórica.
Mas acabamos saindo com vários brinquedos que, teimosamente, ele insistiu em levar. Só
permiti porque era sua primeira compra. Não era nada divertido fazer compras com ele. Ou melhor,
vê-lo passar umas gafes era hilário.
Já passava das sete da noite quando terminamos, então fomos direto ao seu apartamento.
Não sabia o que tanto incomodava Jason, porém parecia ser algo sério.
Selma me recebeu com tanta alegria, fiquei um pouco sem graça. Jason deve ter contado
para ela do bebê, porque me parabenizou alegremente. Retribuí seu afeto, era tão fácil, por isso a
abracei de volta. Depois de me refrescar no lavabo, ela nos serviu o jantar na sacada, tínhamos
uma vista linda de lá.
Sentei e encarei Jason, que continuava, inusitadamente, calado. Não aguentando mais
esperar, tomo a iniciativa depois que Selma nos serve e sai, nos deixando a sós.
— Então, vai falar o que está te incomodando?
— Preciso perguntar algo para você, Júlia — ele faz uma pausa. — E quero que seja
totalmente sincera comigo.
Oh, céus! Deveria ser sério mesmo.
— Claro que sim — digo, insegura ao que ele vai perguntar. Observo seu semblante
carregado, e a sua pergunta me pega totalmente desprevenida, afinal estamos no começo dessa
relação:
— Onde você acha que essa nossa “coisa” pode dar, Júlia? — ele faz aspas no ar e fico
sem saber o que responder. Honestamente não sei, nunca imaginei estarmos aqui, muito menos ter
essa conversa tão cedo.
— Como assim? — tento ganhar tempo e pensar em algo. Tinha medo de mostrar os
sentimentos que já nutria por ele. Ficar exposta, sem saber se ele me queria realmente, ou se era só
sexo, ou pelo bebê. — Jason, não acha muito cedo para fazer essa pergunta? — digo por fim.
— Não acho, mas tenho outra pergunta importante, Júlia — ele me olha com firmeza. —
Você pretende me deixar ver minha filha? Ter contato com ela, quando ela nascer?
Oh, meu Deus!
O que ele tinha hoje? Por que esse monte de perguntas? E o que poderia responder?
Comecei a pensar: e se nós não engatássemos um relacionamento sério, o deixaria ver minha filha?
Não sei se deixaria. Não acreditava totalmente naquela mudança dele. Ainda lembro como ele
queria pagar para que fizesse um aborto. Senti lágrimas surgir em meus olhos. Cristo! Como vou me
sair dessa, sem acabar com nossa boa e crescente convivência?
— Por que esse súbito interesse nisso? — tento devolver para ele. Só que ele não cai no
meu pequeno truque e insiste:
— É importante sua resposta, Júlia.
— É isso que está deixando você tão contrariado? Hoje pela manhã, quando falei com você,
tudo parecia bem. O que mudou?
— Talvez. Então, se isso entre nós não funcionar, você não sabe se me permitirá ver minha
filha? — sua mandíbula está tensa e seus olhos são duros agora. Oh, merda!
— Eu... Eu... — gaguejo, horrorizada. Será que... — Você está fazendo algum teste comigo,
porque se for...
— Acho que já entendi sua resposta — ele dá um pequeno sorriso que não alcança seus
olhos. Levanta e vai até o parapeito da varanda. — Não tem intenção de me dar uma chance real,
não é?
— Claro que sim. Por isso estou aqui, lhe dando uma chance — digo, levantando também e
indo até ele. — Jason, estamos há pouco tempo tentando essa “coisa”, que era inconcebível até tão
pouco tempo atrás — enlaço meus braços no pescoço dele. — Vamos deixar as coisas irem
acontecendo? Por que essa pressa?
Ele respira fundo e não se mexe por vários minutos. Ofereço um sorriso conciliador, me
ergo nas pontas dos pés e deposito um beijinho em seu queixo.
— Poderia fazer a mesma pergunta para você, sabe disso — falo, pois ele continua mudo e
me olhando — E por que não faço? Porque sei que você não é homem de ficar com uma mulher só.
Segundo as fofocas, é o maior mulherengo que existe — reitero.
— Acho que está enganada, Júlia — ele resmunga.
— Será? Na noite seguinte que fizemos sexo, você dormiu com outra mulher e diz que não é
mulherengo? — fico chateada só de pensar nesse assunto.
— Não me julgue, dona Júlia — ao menos o sorriso voltou. — Se te falar que não durmo
com outra mulher desde aquela noite? — sussurra na minha boca. Seus braços agora em volta da
minha cintura.
Sinto alívio em saber que existia essa possibilidade. Sou patética. Mas ele me beija e tudo
desaparece da minha cabeça, a única coisa que sinto é a eletricidade invadindo meu corpo. Ele se
afasta pouco depois.
— Pedi para Selma fazer sua sobremesa favorita — disse. Seu polegar se move ao redor
dos meus lábios, numa carícia deliciosa. Formigava onde ele me tocava.
— Como sabe disso, se nunca te falei? — pergunto, surpresa. Agarro sua mão e mordo seu
dedo levemente antes de passar minha língua onde tinha mordido. —Talvez esteja com vontade de
outra sobremesa — sorrio maliciosa. — E lembre-se que pode ser desejo de grávida.
Ele não de me dá ouvidos, me puxa para a mesa de novo, e pouco depois Selma aparece
com uma deliciosa torta de chocolate suíço com cobertura de chantilly e sorvete de nozes. Hummm,
esqueço totalmente os gostosos beijos de Jay, enquanto me delicio com minha sobremesa.

Jason
Droga!
Estou na sacada, olhando Júlia se deliciar com a guloseima e soltar gemidinhos de prazer.
— Ai, Jay, isso é melhor que um orgasmo — diz e leva mais uma porção à boca. Inclino-me
para ela.
— Deixe-me provar — ela enche a colher e tenta dar para mim. Balanço minha cabeça em
desaprovação; ela entende, levando a colher à própria boca outra vez.
Seguro seus cabelos na nuca e a beijo, provando o doce gelado em sua língua. Percorro sua
boca com minha língua, erótica e sensualmente. Gememos juntos enquanto puxo seu lábio inferior
entre meus dentes e volto a devorar sua boca outra vez. Sinto-me endurecer, em alerta máximo,
pronto para levá-la à culminância do prazer.
Corro meus dedos pelo lado interno de suas coxas e levanto o tecido do vestido que ela usa
para o topo. Ela treme em minha boca ao sentir minha mão espalmar em sua calcinha. Está molhada
e pronta. Adoro isso nela, sua entrega ao prazer. Saber que posso fazê-la derreter dessa forma me
deixa doido, louco de tesão. Afasto sua calcinha para um lado e esfrego suas dobras úmidas,
testando o quanto ela me deseja. Descolo minha boca da dela e afasto minha mão, fazendo-a gemer,
infeliz.
Recosto na cadeira, lambo meus dedos que há pouco estavam nela e gemo
escandalosamente.
— Sim, melhor que um orgasmo, doce pra caralho — falo, rouco. Júlia fica vermelha,
vendo-me prová-la em meus dedos. — Hummmm... Deliciosa.
— Provocador — ela diz, quase inaudível.
Essa noite vai ser longa, pois levarei Júlia para sua própria casa. Não me sinto bem em ter
sexo com ela hoje, algo me prende e preciso levá-la embora.
— Pronta para ir? — pergunto, e ela me olha com os olhos verdes enormes e confusos.
— Ir aonde?
— Sua casa, doçura.
— Ah... Eu... Pensei... — fica vermelha outra vez. — Pensei que fosse dormir aqui. — Bom
ver a independente Júlia toda insegura.
Depois de minha conversa com Saulo hoje, tinha decidido conversar abertamente com Júlia,
colocar tudo às claras com ela. Porém gostaria de saber suas intenções, e ela não deu a resposta
que gostaria.
Estou sem saber o que fazer. Dei ordens para que Saulo suspendesse o processo, vou
esperar minha filha nascer e ver a atitude de Júlia. Por enquanto, nada de processo de guarda total.
Mas isso não me impediria de pedir no futuro, se ela não permitisse que fizesse parte da vida da
minha filha.
Saulo me fez pensar em algo hoje: poderia ter condição de ficar com uma filha sozinho?
Criá-la só? Acho que não, e isso foi decisivo no meu recuo. Confiar estava sendo tão difícil para
mim. Saulo era a única pessoa em quem confiava. Queria ser um homem diferente, mas como
poderia, se a pessoa que você deveria mais confiar no mundo quebra isso dentro de você?
— Deve estar cansada de tanto andar — digo, para aliviar a tensão por minha recusa. —
Não quero forçar você demais. — claro que é uma desculpa.
— Tudo bem — diz, levantando e indo para a sala onde está sua bolsa. Ela a segura como
se disso dependesse sua vida. — Estou pronta.
— Onde é o incêndio? — digo quando a sigo.
— Achei que queria que eu fosse embora, então para que demorar mais? — ela está
zangada.
— Hei, não queria magoar você.
Caminho para ela, pressionando meu corpo no dela, beijando-a outra vez profundamente.
Ouço sua bolsa cair no chão e, em seguida, seus braços passam ao redor do meu pescoço. Ergo-a, e
suas pernas me enlaçam na cintura. Desço minha boca por seu pescoço, mordendo e lambendo,
causando arrepios luxuriosos nela. Porra, onde está minha força quando se trata de Júlia? Hoje
precisaria muito.
Ela tinha gosto de mulher, doce e luxúria. Um desejo incontrolável, que quase me faz perder
o controle, me toma. Dou pequenas mordidas nos seus lábios, e isso me faz querer mais.
Colocando pressão na parte de trás da sua cabeça, esmago sua boca com a minha, querendo saquear
e explorar cada centímetro da sua boca doce. Deslizo minha mão, que está na sua cintura, para a
bunda, trazendo-a quase dolorosamente contra mim. Gemo em sua boca enquanto nossas línguas
duelam e se provam. Caminho para meu quarto, esquecendo que queria levá-la embora poucos
minutos atrás.

****

Júlia dorme ao meu lado, e não consigo conciliar meu próprio sono. Nos deixar frustrado
sexualmente foi terrível, mas não consegui ir até o fim. Não essa noite, com tanta coisa na minha
cabeça.
Sinto-me inquieto e saio da cama. Melhor trabalhar um pouco. Ultimamente
tenho negligenciado meus negócios para estar o máximo de tempo com ela. Meu emocional é pior
do que um adolescente do caralho!

Júlia

Despertei na manhã seguinte sozinha na cama gigante do quarto de Jason. Só e frustrada,


para ser exata. Algo está errado com Jason, muito errado. Para nos negar uma noite quente daquele
jeito, devia ter uma explicação. Estou confusa com essa recusa dele, mas ontem ele estava estranho
e veio com aquela conversa mais estranha ainda. Será que está tramando algo? Levanto e vou ao
banheiro para minha rotina matinal. Droga, tenho de deixar algumas coisas minhas aqui, se isso
entre nós continuar. Agora tenho de vestir a mesma roupa de ontem, que raiva! Quando termino,
saio do banheiro e vou à procura de Jason.
Encontro-o na mesma sacada que jantamos ontem, lendo um jornal enquanto toma o café da
manhã.
— Bom dia — digo e não penso duas vezes em ir lá e beijá-lo. Ele parece surpreso por
minha atitude. — Espero que o dia de hoje seja melhor que o de ontem — espero que entenda
minha indireta.
— Bom dia, doçura — ele larga o jornal e levanta para puxar uma cadeira para mim.
— Para onde foi seu cavalheirismo ontem à noite, Jay?
— Tudo ao seu tempo — ele volta para sua própria cadeira e me serve um suco que
imagino ser de laranja.— Quais seus planos para hoje? — ele pergunta.
— Ir para casa, mudar de roupa e depois trabalhar — bebo meu suco. — E, à noite, jantar
com uns amigos. E você?
— Com a Carla? — balanço negativamente minha cabeça. — Não sabia que tinha outros
amigos — ele franze a testa.
— Esses você não conhece.
Não comento mais nada. Dizer que estaria indo hoje jantar com a família do Caio deixaria
Jason um chato implicante.
— Estive pensando — digo, mudando de assunto — em viajar para encontrar minha família,
esses dias antes do bebê nascer.
— O quê? Não irá viajar — esbraveja com perplexidade.
— Sério que você falou isso? — sinceramente, não dou ouvido ao que ele fala. Continuei a
comer calmamente. Ignoro sua cara feia.
— Ok, vou com você — diz, resignado. Ele sabe que quando estou tão calma é melhor não
lutar comigo. Mas sua declaração me faz rir alto.
—Jay, tenho certeza que isso vai contra sua filosofia de vida — sorrio. — Conhecer meus
pais.
— Tem hora que acho que fui castrado no dia que te conheci — ele resmunga.
— Ai, Jason, não sou nada maldosa com você, até faço suas vontades — ainda estou rindo
de sua cara mal-humorada.
Deixamos o assunto de lado, mas sabia que ele voltaria à tona em breve.

****

Encontro-me com Carla no almoço e quase caio de costas quando me fala que tem saído
com Saulo. Verdade isso? Eles estão mantendo um namoro escondido?
— Estou vendo que não sou só eu que tenho escondido algo aqui — estou chocada com a
revelação dela. — Desde quando? E por que não me contou isso quando te falei do meu caso com
Jason?
Ela me olha e está vermelha. Que coisa incrível, vê-la vermelhinha de vergonha, inédito!
— Ah, Júlia, era seu momento desabafo — diz — E nós queríamos guardar segredo.
— E por quê?
— Eu sou sua amiga e ele amigo e advogado do Jason, achamos que as coisas ficariam um
pouco estranhas.
— E está dizendo agora por quê?
— Não consegui segurar — ela ri. — Estou apaixonada.
— Ah, Carla, que lindo — digo e seguro sua mão por cima da mesa. — Seus dias de
badernas acabaram, hein?
— Ele é tão certinho, às vezes — sua voz é sonhadora e meiga quando fala de Saulo. — Ele
quer casar.
— Quê? — meu espanto agora é maior que o Himalaia. — Jesus, Carla! Mas ele deve
combinar com você, além de ser um homem lindo e sensual.
— Bom saber, porque não o deixaria escapar não, amiga — ela ri como a Carla que
conheço, irreverente.
Ela me contou como o tinha conhecido na boate, alguns meses atrás, e morri de rir de sua
ousadia. Combinava perfeitamente com sua personalidade. Amava sua loucura.
— E você? Em que pé anda com sua “majestade”? — sua implicância com Jason é
lendária.
— Indo — digo vagamente. Às vezes sinto que demos um passo à frente e dois para trás. —
Melhorando. Mas acredito que vamos chegar lá — sorrio. — O Saulo fala o que do amigo?
— Não fala muito...
Continuamos o almoço e, no fim, depois de nos despedir, volto a Ma Belle e encontro um
arquiteto me esperando. “Ah, Jason! Eu vou te matar!”
O arquiteto tomou toda minha tarde. Acabei me atrasando para o jantar, cheguei às 19 horas
quando deveria ter chegado às 18 horas. Tive de ir para casa me arrumar rapidamente, mas fui
pronta a esquecer a correria do dia e aproveitar a noite com pessoas agradáveis.
Capítulo 12

Jason
São nove da noite e estou inquieto. Ainda estou no escritório, meu coração parece um
tambor batendo em meu peito. Contrariando tudo que pensei até agora, tomo uma decisão.
Desligando meu computador, levanto da cadeira, pego minhas chaves e saio.
Vou à casa de Júlia, provavelmente ela já chegou do bendito jantar. Decido que hoje peço
para ela casar comigo.
Não vou deixar as duas escaparem por medo. Só há uma resposta para mim hoje: um sim de
Júlia e nada mais...
Eu vou pedir a ela para se casar comigo. Isso se repetia e martelava fortemente dentro da
minha cabeça em todo caminho até a casa dela. Mas as dúvidas persistem. Será que serei um bom
marido e um bom pai? Sou totalmente fodido nesse quesito. Culpo a minha amorosa mãe, por esse
feito no meu caráter. Não odiava minha mãe; não, tinha pena e nojo da pessoa que ela foi ou é. Não
sei se ainda vive. Não me interessa saber. Por mim, nunca mais colocaria meus olhos nela outra
vez. Não se eu puder evitar. E meu pai? Nem sei quem é, e nunca tive curiosidade em saber.
Pensava comigo mesmo: se com um dos pais passava por tudo aquilo, o que seria de mim com os
dois? Sofrimento em dobro, certamente. Tinha vontade de ter um pai, mas não sabia quem era o
meu. Quando era criança, teve uma época que tive um pouco dessa curiosidade.

Era filho de mãe solteira, vivíamos em relativa paz até quando tinha cinco anos de idade.
Depois desse dia, tudo mudou. Minha mãe conheceu Sandro, que veio a ser o meu fodido padrasto.
Morávamos numa casa humilde em um bairro pobre. Minha mãe nunca falou para mim quem eram
meus avós. Cada vez que fazia alguma pergunta ou ela percebia meu interesse desperto, me cortava
duro, então deixava para lá. Não gostava de ver minha mãe zangada. Ela era uma mulher fraca,
bebia muito e eu, com cinco anos, não entendia o porquê disso. Entretanto, nunca tinha sido uma
mãe de todo ruim.
Ela não me batia. Não que eu lembre muito daquela época antes do Sandro vir morar
conosco, só lembro que, às vezes, ela me trancava no quarto e me esquecia lá, enquanto ficava
bêbada. Algumas vezes ficava trancado no quarto a noite inteira, com fome, sem ter como sair.
Contudo, isso não foi a pior parte. Sandro veio sem aviso para nossas vidas; aliás, minha mãe o
trouxe. Lembro-me de mamãe dizendo, um dia, quando chegou da rua, enquanto me entregava um
prato com bolachas e um copo de leite:
— Você terá um papai a partir de agora, meu filho!
— Um papai de verdade? — perguntei, esperançoso. No fundo, tinha muita vontade de ter
um pai. Ele poderia brincar de bola comigo no quintal da nossa casa, como Tim, que morava na
casa ao lado. Algumas vezes ficava na janela por horas, vendo-os juntos, e sonhava que era eu ali,
correndo e rindo de felicidade.
Mas não tive sorte com meu novo papai. Não...Ele era mau. Um sádico miserável.
Naquele mesmo dia, à noite, ele chegou. Era alto, forte e me olhou como se fosse um inseto
nojento.
— Esse é o seu pirralho catarrento, Janete? — odiei sua voz nasalada. Na época, não
saberia dizer o porquê da sua voz ser assim, mas descobri que era porque fumava vários maços de
cigarros por dia e usava drogas. E, claro, o nariz dele tinha sido quebrado várias vezes e não
voltou ao normal.
Porém, isso não era o pior. Quando completei sete anos, comecei a conhecê-lo de verdade.
Durante esses dois anos que ele morou conosco, ele só me batia. Sem qualquer motivo, mandava
fazer as coisas mais difíceis, que eu não sabia fazer, de propósito, para ter a chance de ele me
bater. E minha querida mãe o deixava fazer o que queria. Ainda lembro-me de sua voz fraca:
— Meu filho! Seja um bom garoto, não incomode seu pai — ele não era meu pai! Queria
gritar que pais eram iguais ao do Tim, não aquele bêbado drogado. Sim, minha mãe arranjou o par
perfeito. Agora, bebiam os dois juntos. Malditos.
Odiava Sandro, principalmente quando ele começou a vender drogas e virei seu aviãozinho
de entrega. Quando voltava da escola precária, onde minha mãe me pôs para estudar, em vez de
fazer minha tarefa de casa, era enviado para entregar a droga para Sandro. Todos os dias, levar e
buscar. Além disso, ele agora me surrava todos os dias. Dizia que era seu filho e tinha de obedecê-
lo por me sustentar, e ainda me apresentava a seus amigos traficantes como possível futuro
traficante.
— Esse fedelho filho da puta é meu filho, Jason — meu filho! Odeio esse termo por causa
dele.— Ele trabalha para mim — dizia. Era um garoto grande para minha idade, mas não grande o
suficiente, então fazia o que ele mandava. Se não obedecesse imediatamente, estava garantindo
outra surra extra.
Minha mãe nunca me defendeu das surras que levava na sua frente, nunca pediu para ele
parar de me chutar repetidas vezes, enquanto me encolhia numa posição fetal para me defender dos
golpes duros em minhas costelas.
Murros com sua mão enorme, que me fazia bater na parede do outro lado da sala. Passei a
detestar tudo o que dizia respeito àqueles dois. Por que ela não me defendia? Era seu único filho. E
se ela não me amava, qual a razão de ela ter me trazido ao mundo miserável que vivia? Era uma
ladainha em minha cabeça o tempo todo.
Cresci sem amigos, os pais não deixavam seus filhos com alguém que andava com drogas.
Durante esse tempo, vi tantas coisas sujas, mas nunca me envolvi nas coisas nojentas daquele
mundo. Porém, a culpa e a vergonha eram minhas companheiras diárias. Naqueles momentos,
odiava mais a minha mãe por não se importar comigo.
Quando completei 14 anos, era grande, e nessa época já não apanhava tanto, ou melhor,
Sandro ficou como medo de me bater, porque reagia à sua valentia. Não via a hora de ir embora
daquela casa.
Isso aconteceu quando completei 15 anos. Depois de uma briga feia com Sandro, bati nele
com todas as minhas forças e ódio acumulado. Minha mãe viu que poderia matá-lo, porque, apesar
do tamanho dele, tinha a vantagem de estar sóbrio. Então mamãe, em vez de me defender como
seria o certo, não; preferiu me expulsar de casa, para que não matasse seu precioso marido.
Fui embora, e talvez tenha sido a única coisa boa que ela já me fez. Fui morar nas ruas
porque não tinha para onde ir. Durante uma semana, vivi praticamente no prédio precário da minha
escola, porém era inteligente, já amava tecnologia. Arranjei um trabalho de meio período numa
oficina, onde consertava eletrônicos e onde ficava a maior parte do tempo. O dono do lugar sabia o
que tinha acontecido e não se importava que ficasse lá. Claro, trabalhava e era bom para caralho no
que fazia.
Queria cursar uma faculdade e nada, nem mesmo as dificuldades, me limitariam. Trabalhava
meio período e estudava. Terminei o colegial e entrei para a faculdade, com sacrifício sim, mas
consegui porque minha determinação de ter totalmente o oposto da vida que levava antes era quase
obsessiva.
Conheci o Saulo na faculdade e nos tornamos amigos. Ele era filho de pais bem-sucedidos,
e praticamente morei na casa dele. Seus pais gostavam de mim, e minha vida começou a mudar a
partir daí, mas isso é história. Era estudante quando ganhei meus milhões com o primeiro software
que desenvolvi.
No dia que em que decidi que não queria filhos, não senti nada mais que alívio. Era uma
garantia de que nunca causaria dor nem ódio a ninguém. Talvez tivesse todo sangue ruim dos meus
pais em mim.
Temo por minha filha. Se eu me tornar um pai que não consiga defendê-
la? Eram pensamentos que vinham à minha cabeça. Não quero que nada a machuque. Porém, só o
fato de ter esse pensamento me causa náusea.
Contudo, talvez seja igual, sim; não queria nem que ela nascesse. Quando penso nisso me dá
calafrios. Até aquela ultrassonografia, ela era inexistente para mim, entretanto, escutar seu coração
batendo daquela forma, tão forte para um ser tão minúsculo, mudou algo dentro de mim.
A minha indecisão com essa “coisa” com Júlia não era nada mais que medo, por ela
também. Desde muito cedo que tinha decidido viver só, não ter filhos. Tinha pensando em fazer
vasectomia e sempre tinha adiado, então, quando resolvo fazer, tudo dá errado.
Tomaram a decisão de eu não ter filhos das minhas mãos, quando cometeram aquele erro
absurdo e grotesco na clínica. Agora, aqui estou eu, a caminho de pedir a uma mulher que case
comigo. Sorrio. Chega a ser cômico, para não dizer trágico.
Sinto que essa é a melhor decisão, porque quero as duas comigo, porra! Talvez Júlia seja a
mulher certa para mim. Não se intimida com minha arrogância, isso me fascinava. Tinha de admitir
que estava de quatro por ela, desde que nos esbarramos na clínica. Ela não saía dos meus
pensamentos, todas essas brigas entre nós era mais desejo do que raiva, sempre. Contudo, essa
desconfiança que permeava nossa relação era um veneno.
Pego meu telefone para ligar para ela, ver se já está em casa, mas desisto; vou fazer uma
surpresa. Não nos falamos desde que a levei para casa de manhã, para trocar de roupa. Depois
de jogar sobre mim a bomba sobre a viagem à casa dos seus pais, quase não nos falamos. Temos de
conversar também sobre essa viagem, ela bem que poderia ir depois que nossa filha nascesse.
Meu telefone toca e penso que é Júlia, mas ao olhar no visor vejo que é Saulo. Conecto meu
celular ao bluetooth do carro.
— Fala, Saulo — digo quando atendo.
— Achei que te encontraria aqui, no escritório — diz. — Tenho umas cláusulas de um
contrato para discutir com você.
— Isso não pode ser discutido amanhã? — pergunto, e acertamos uma reunião para logo
cedo no dia seguinte. Desligo logo depois.
Porra! Nunca estive tão nervoso na minha vida como estou agora. Algo bate como uma
marreta gigante na minha cabeça. Caralho! O anel! Como saio desse jeito impulsivo e esqueço o
mais importante em um pedido de casamento? Mas, desde quando minha vida tem estado normal?!

Chego ao prédio dela em torno das 22 horas. Deixando minha dúvida de lado, estaciono em
uma das vagas de Júlia. Agora entrava lá sem ter de apelar para a boa vontade do porteiro. Subo
para seu apartamento e toco a campainha. Ela nunca me devolveu a chave, apesar de que estamos
há certo tempo juntos. Catarina abre a porta e me encara, surpresa. Estranho, isso.
— Boa noite, Catarina — digo. — Júlia já está dormindo? Deve ter chegado cansada do
jantar, não é?
— Sr. Lewis, boa noite. Ela não chegou ainda — diz.
— Sabe com quem ela foi jantar? — a irritação me invade ao pensar o quanto Júlia é
descuidada com sua gravidez, que era um sonho para ela e, às vezes, não parecia!
— O que ela me falou foi que iria jantar na casa de uns novos amigos, que tinha conhecido
outro dia, no consultório do Dr. Edgar — disse Catarina.
— Que conheceu quando? — não era o que estava pensando, era? Ela não foi jantar com o
merdinha, foi?
— Pelo que entendi, foi na última consulta — Catarina estava alheia à fúria que me invadia
agora. Porra! Como ela teve coragem de esconder isso de mim? Saco meu telefone do bolso do
terno e ligo para ela. Enquanto toca e toca, respiro fundo. Vou ligar para Saulo assim que terminar
de falar com ela e perguntar quantos anos posso ficar preso por assassinato premeditado.
Enquanto o telefone toca, mil cenas passam por minha cabeça. Por que Júlia escondeu de
mim que ia jantar com outro homem? Estão se encontrando todo esse tempo? Tinha me esquecido
dele. Ciúme puro e simplesmente era o que estava me cegando agora. Porra! E por que ela não
atendia a droga do telefone? O que diabos estavam fazendo?
— Oi — diz quando atende.
— Onde você está, Júlia? — minha voz é baixa e letal. — Só me fale onde você está que
estou indo buscá-la agora!
— O quê? — ela faz um som de engasgo do outro lado, me deixando ainda mais irado. —
Estarei em casa em breve, Jason, te falei que estaria jantando com amigos hoje.
— Falou, é? Não me lembro — rosno. — Não falou que estaria de encontro marcado com o
maricas filho de uma cadela. Estou indo buscá-la, agora!
— Claro que não! — diz. — Você está no meu apartamento? — pergunta, incrédula.
— Onde você está? Porra! — esbravejo. — É melhor que me diga, Júlia.
— Por quê? É meu dono agora? — ela fala baixo, como se não quisesse ser ouvida por
outras pessoas.
Não respondi, simplesmente desliguei o telefone. Essa conversa estava me tirando do sério,
e poderia dizer coisas que me arrependeria. Virei para procurar Catarina e não a vi. Encontrei-a na
cozinha, sentada à mesa.
— Sabe qual restaurante Júlia foi? — pergunto.
— Não é restaurante, ela falou casa — ela levanta e pergunta se quero algo, mas não estou
prestando atenção. Tenho um zumbido na minha cabeça. Casa? Casa? Ela foi para a casa do
almofadinha?
Sento na sala de Júlia e essa sensação de déjà vu me toma. Outra vez estou aqui esperando,
mas dessa vez estou a ponto de ruptura.
Não consigo ficar quieto. Levanto, ando até o barzinho no canto da sala e procuro algo para
tomar. Ela não tem nada forte o suficiente, então pego um conhaque e coloco uma dose enquanto
espero minha... Pequena mentirosa por omissão.

Júlia

Os pais de Caio e Vivian são uns amores. Logo que cheguei senti-me estranha por estar
com eles, afinal mal os conheço realmente. Era agradecida a eles por me distraírem em um
momento em que estava emotiva, com todos meus hormônios me castigando.
Conversei bastante com Vivian. Ela faria uma cesariana daqui a uma semana, quando
completaria 40 semanas de gestação. Prometi voltar a visitá-la quando ela tivesse o bebê.
A noite foi muito descontraída, e acabei me divertindo muito, tinha esquecido ultimamente
de sorrir de verdade, era muita tensão e confusão de sentimentos. Tudo havia contribuído para isso:
gravidez, confusão com a clínica, Jason me perseguindo e depois nosso envolvimento, que era todo
confuso. Era muita coisa e nada para me distrair. Então, essa noite foi, sim, um pouco de estresse
jogado fora.
Caio é um amor de pessoa, muito gentil, mas não fez nenhuma tentativa de aproximação
além de amizade, o que achei melhor assim. Não queria decepcioná-lo. Minha vida já era uma
bagunça, para que mais um aditivo, não é? Descobri que era engenheiro e trabalhava em uma
grande empresa e tinha só 28 anos. Se dependesse de mim, conservaria essas novas amizades.
Como não vi as horas passarem, às 22 horas ainda estava lá. Estava me despedindo quando
meu celular começou a tocar sem parar. Atendi quando estava a caminho do carro e vi que era
Jason.
— Oi — atendo.
— Onde você está, Júlia? — sua voz é baixa e certamente irada. — Só me fale onde você
está que estou indo buscá-la agora!
— O quê? — ele bebeu? Mas dou satisfação, de qualquer forma: — Estarei em casa em
breve, Jason, te falei que estaria jantando com amigos hoje. — Como ele sabia que não estava em
casa ainda? Maldito perseguidor!
— Falou, é? Não me lembro — rosna do outro lado. — Estou indo buscá-la, agora!
— Claro que não! Você está no meu apartamento? — não acredito que ele foi justo hoje sem
avisar.
— Onde você está, porra? — grita. — É melhor que me diga, Júlia.
— Por quê? É meu dono agora? — digo, baixo. Como não tinha saído com o carro, Caio
vinha em minha direção, seguramente saber o motivo de encontrar-me aqui ainda. Antes que
pudesse continuar, Jason desliga o telefone subitamente.
— Tudo bem, Júlia? Tendo problemas com o carro? — Caio pergunta quando chega perto
de mim
— Está tudo bem, Caio, estava ao telefone. Agradeça aos seus pais, mais uma vez, pela
noite divertida que me proporcionaram — sorrio.
— Será sempre bem-vinda, Júlia — ele dá um sorriso lindo. Entro no carro, o ligo, me
despeço mais uma vez e vou embora.
Devido ao horário o trânsito está livre, e em pouco mais de vinte minutos estou chegando.
Fico imaginando o que Jason foi fazer na minha casa.
Quando chego ao meu prédio olho para cima, para meu apartamento, e prevejo uma
“tempestade em copo d’água”. Jason e sua cabeça dura. O que ele veio fazer aqui, a essa hora,
sabendo que eu iria sair? Sigo para lá, entro no apartamento que está semi-iluminado. Entro na sala
e não vejo ninguém; procuro nos outros cômodos e nada.
Será que ele foi embora? Bem, não perderei meu sono preocupada com as criancices de
Jason. Homem mimado!
Vou para o meu quarto e paro na porta. Ele está deitando, muito à vontade, na minha cama.
— Ah, até que enfim — diz, jocoso. — O jantar estava bom para você?
— Estava perfeito — digo e termino de entrar. — A que devo a honra da visita? Não
consegue ficar longe? — tento gracejar.
— Quem era seu companheiro de jantar? — sua voz fria chicoteia no quarto.
— Companheiros, no plural — tiro meus sapatos e olho para ele, que continua onde está,
sua gravata jogada ao lado do terno na cama, sua camisa branca desabotoada até a metade. — Fale
logo o que tem de falar, Jay.
— Está transando com aquele idiota, Júlia? — oh, céus! Ele não me perguntou isso.
Esperava vê-lo esbravejando feito um louco, não todo frio como ele está agora.
— Acho melhor você ir embora, não tenho tempo para essas ceninhas ridículas — digo,
começando a me irritar com ele. Nossa, ele tinha esse poder.
— Eu não penso assim. Me responde a porra da pergunta, Júlia — ele levanta e se agiganta
à minha frente.
— Abaixa a bola, bonitão — digo calmamente. — Não vejo razão nessa sua pergunta
descabida.
— Não? Vim pedir algo para você e te encontro jantando com outra pessoa — ele fala sem
nenhuma emoção. Fiquei curiosa agora.
— Pedir o quê? — deixo a raiva de lado e suavizo minha voz.
— Não é nada — eu não acredito.
— Hei, você não viria aqui, a essa hora, se não fosse importante — digo e o abraço pelo
pescoço. — Essa coisa de frio e morno me deixa maluca — vejo seus olhos suavizarem e a fúria se
dissipar aos poucos.
Ele tira meus braços do seu pescoço e volta a sentar na cama, envolvendo minha cintura e
descansando sua cabeça no meu estômago, apertando seu rosto contra minha barriga saliente. Oh,
céus! Depois de um tempo, ele levanta a cabeça e olha nos meus olhos, tirando-me do chão
totalmente.
— Casa comigo?
De onde saiu isso? Estou totalmente paralisada, uma miríade de sentimentos guerreia dentro
de mim agora, enquanto ele continua a me observar sem falar nada. Era como se estivesse com
medo de que a minha resposta não fosse a que estava esperando ser.
— Não vai dizer nada? — enfim ele fala e se afasta um pouco de mim.
— É tão inesperado isso, Jason — digo, e realmente é. — De onde veio isso assim? —
verbalizo meus pensamentos. — Não sei o que dizer...
Suas narinas dilatam, e sabia que ele estava se esforçando para controlar o seu
temperamento de agora há pouco.
— Diga sim.
— Eu... Como pode me pedir para casar com você se nem confiança existe entre nós? Não
pode achar que irei dizer sim tão rápido. Nem há amor entre nós, também. Casar só por casar? —
Estou sentindo lágrimas surgirem nos olhos e pisco para afastá-la.
— Confiança se conquista, Júlia — retruca. — Estou disposto a tentar. Você é minha, Júlia,
vocês duas, não vou permitir que outro homem ocupe meu lugar em suas vidas, tenha certeza disso.
Idiota arrogante! Prepotente! Mas estava fascinada por ele, de qualquer forma.
— Preciso de uma resposta agora, Júlia— diz, categórico.
— Por que tem de ser agora? E como funcionaria esse casamento, Jason? — são tantas
dúvidas, mas eu o quero. Isso é um fato. — Por que você quer casar? Por que agora... Quero dizer...
Você sabe que faz pouco tempo que estamos juntos, certo? — digo. Ele pode ser implacável, pode
não ter escrúpulos para alcançar um objetivo. Já mostrou isso quando nos conhecemos. Seu rosto
não me mostra nada, agora.
— E por que não? Vamos ter uma filha, o que é melhor que isso? — a irritação volta à sua
voz.
— Se eu disser não? — ele fecha os olhos, suspira, esfrega as mãos pelo rosto e cabelo,
que viram uma bagunça sexy. — Está bem, podemos tentar — digo, para tirá-lo da miséria. Posso
estar cometendo um erro, mas...
Não estou preparada quando ele me pega e me faz girar pelo quarto, enquanto grito e rio ao
mesmo tempo. Não posso acreditar que esse sorriso dele é de felicidade por eu ter aceitado. Oh,
céus, espero que ele saiba o que está fazendo. Que rumo vai ter esse casamento?!
Quando ele me coloca no chão, seus olhos estão ardendo, largos, claros e intensos. Não
tenho nenhuma dúvida que fiz a escolha certa. Mesmo com minha cabeça sendo racional, meu
coração estava perdido faz tempo.
Ele me segura e ataca minha boca em um beijo quente de arrebatar calcinha. Oh, como sou
fraca. Pensei que era mais forte. Deve ser esse meu desejo de ter minha própria família, e Jason,
mesmo que sem querer, estava me proporcionando isso. Mas algo que tinha comigo era que não
abriria mão da minha independência facilmente. Jason teria de aprender a lidar com isso.
— Agora, explique-me o que estava, fazendo jantando com aquele merdinha! — diz em
certo momento. Oh, não! Volto a beijá-lo, o fazendo esquecer seu ciúme sem sentido.
Capítulo 13

Jason

Um desesperado desejo, fome selvagem, faz-me esquecer momentaneamente que Júlia está
grávida e entro com tudo em sua cavidade quente e úmida. Estamos agora na cama, comemorando
minha vitória. Estoco firme e abaixo para beijar sua boca gostosa. Suas mãos agarram meus
ombros, suas unhas me ferem, mas isso só faz aumentar meu tesão. Rolo na cama, ela fica por cima
de mim e deixo-a no controle, por enquanto. Seguro sua cintura e guio-a para cima e para baixo.
Tenho um sorriso no rosto porque a tenho exatamente onde queria quando vim ao seu encontro hoje.
Isso é só o começo...
****
Depois do meu pedido de casamento, pela segunda vez à mesma mulher em poucos dias,
volto com Júlia à suíte do hotel. Tinha dado ordens expressas para deixarem o mais romântico
possível. Pela reação dela, acho que acertei em tudo hoje. A ideia de trazê-la à Veneza tinha sido
espetacular. Ela estava um doce desde que descemos do avião. Estou pensando seriamente em vir
morar aqui, só assim ela ficaria “mansinha” o tempo todo.
— Dança comigo — convido enquanto a envolvo em meus braços e seguro-a. Movemo-nos
ao som da música. Ela não sabia, mas, a noite tinha sido milimetricamente planejada em cada
detalhe. Quando ela me olha, com aqueles incríveis olhos sedutores, o desejo me percorre,
deixando-me duro e faminto. Não quero romance. Quero fodê-la duramente, porém refreio isso por
ela; sei que é importante. Hoje é sua noite e quero que seja perfeita. Posso devorá-la amanhã na
França, pode até ser no topo da Torre Eiffel, mas acabaríamos presos, provavelmente. Deixo essas
bobagens de lado e concentro-me na mulher em meus braços.
Beijo-a enquanto a levo para o quarto, tenho urgência de estar dentro dela. Deixo-a em pé
ao lado da cama, fico atrás dela e deslizo o zíper do seu vestido sexy pra caralho.
— Você é uma bruxa, Júlia — sussurro em seu ouvido. Corro minhas mãos por seus braços
e as fecho em seus seios. Ela sussurra meu nome, sem fôlego.
Não usava sutiã, e as pontas de seus mamilos suculentos e endurecidos pressionam contra a
minha palma. Depois os aperto entre meus dedos e sou um pouco mais duro. Sei que estão muito
mais sensíveis agora. Deslizo meus lábios por seu pescoço, ombros, porém os seus seios atraem
meu olhar, e a visão faz minha boca encher de água. Lembro-me do sabor deles, doce e aquecido
em minha boca; são tão sensíveis em resposta aos meus estímulos. Viro-a de frente e desço minha
boca em um delicado broto. Pura luxúria atravessa minhas veias e vai direto para meu pau.
Caralho! Mulher gostosa da porra!
— Oh, doçura, há tantas coisas que quero fazer com você — murmuro, observando o rubor
na sua face. Aqueles belos olhos verdes escuros cintilantes formam uma onda de fome em mim.
Ataco seu outro mamilo, rolando minha língua, e esfrego contra a ponta sensível. Com cada golpe
da minha língua, vejo os arrepios que causo por todo seu corpo, que está trêmulo à minha frente.
Sugo com força, e um gemido irregular sai de seus lábios ofegantes.
— Jason... por favor...
— O que, doçura? — pergunto, quando levanto minha cabeça dos seus peitos deliciosos.
— Não me provoque — murmura. — Quero você... Muito.
— Você terá. A noite inteira será só para você — puxo-a para cama e a espalho a meu bel-
prazer, ou melhor, nosso prazer. Quero devorá-la de todas as formas possíveis. E faço isso
começando por sua boca, beijando-a com tudo que tenho.
Afasto-me tempo suficiente para me livrar das minhas roupas e volto para a cama. Deslizo
seu minúsculo fio-dental de renda branca, e penso que isso deveria ser pecado, de tão indecente.
Abro suas pernas, fico entre elas e a visão é gloriosa.
— Caralho! Tem ideia de quão linda é essa visão, doçura? — vejo um sorriso safado surgir
em seus lábios inchados dos meus beijos.— Sua barriga é tão linda, tão sexy! — levo minhas mãos
ao seu ventre e o acaricio, enquanto me curvo e espalho beijos delicadamente na curva
arredondada antes de ir direto para uma das minhas coisas favoritas no mundo.— Tão doce
— passo a língua de baixo para cima no seu clitóris, antes de me abaixar para mergulhar dentro de
seu centro quente e úmido. Dentro, fora... Em um deslizar de veludo molhado, a fodia com a língua,
duro, comendo-a com desespero e fome.
— Jason... Oh...
Paro, sabendo que ela poderia gozar, pois quero torturá-la mais um pouquinho.
Voltei beijando meu caminho por seu ventre, chupando seus mamilos outra vez. Subo por
seu pescoço e queixo, mordendo todo o caminho para sua boca.

Júlia

— Está tão molhada — Jason sussurra. — Porra! Você me deixa louco, sabe disso?
— Você tem esse efeito em mim, também— nem reconheço minha voz ofegante.
Ele me beija de novo, duro e apaixonadamente, levando minha língua em sua boca e
chupando-a. Seus dedos estão no meu clitóris, trabalhando em perfeitos círculos pequenos em volta
da maciez escorregadia. Ele usa o polegar para esfregar meu clitóris, e sinto-o deslizar um dedo
dentro de mim. Em um segundo, estou me contorcendo, louca. Nossas testas estão se tocando, e
olho profundamente em seus olhos enquanto ele me provoca de forma tão intensa. Lambe meus
lábios, voltando a me beijar enquanto seus dedos exploraram dentro de mim, encontrando um lugar
que me faz contorcer ainda mais. Ele sabia que me tinha totalmente ligada a ele e continuou
esfregando ali enquanto eu viajava em uma espiral de sensações incríveis, embaixo dele.
Jason faz o prazer borbulhar dentro de mim, como lavas incandescentes percorrendo meu
corpo saturado de prazer. Grito, porque é bom demais! Ele muda de posição, fazendo-me levantar
um pouco. Fico meio deitada, apoiada nos meus antebraços, e ele vem ao meu lado.
— Sabe que tenho fantasia desses seus lábios deliciosos em volta de mim, doçura? — diz,
enquanto guia seu pau em direção à minha boca. Abri e o senti deslizar apenas a cabeça pelos meus
lábios. Chupo suavemente. Em seguida, movo minha língua em um movimento circular em volta
dele, enquanto olho em seus olhos, que nesse momento parece prata líquida. Com umas das mãos o
agarro, masturbando-o lentamente. — Você está tão linda fazendo isso. Tome tudo— sua voz era um
som gutural, rouco. Ele coloca a mão ao lado da minha cabeça, a palma no meu rosto, depois agarra
meu cabelo. Sinto seu pau inchar mais e mais enquanto ele desliza dentro e fora da minha boca.
Jason puxa para fora, soltando todas as maldições que nem conheço. Fico querendo mais. O tesão é
maior que qualquer coisa agora. Gemo.
— Olha o que você faz comigo, porra! — Sua ereção está grossa, com veias dilatadas,
parecendo estar à beira da erupção, logo ali na frente do meu rosto. Estava lisa e brilhante da
minha sucção. — Faz-me perder o controle. Gostosa!
Tento tocá-lo, mas ele me empurra de volta ao colchão, impedindo-me. Ajoelha-se entre
minhas pernas outra vez.
— Só para você, doçura. Você me pediu romance, então quero que seja tudo para você —
diz, mordendo meus lábios. — Prepare-se, minha linda— fala com um sorriso arrogante enquanto
agarra minha bunda e posiciona a cabeça do pau em minha entrada. —Você está prestes a começar
o melhor momento de prazer da sua vida.
— Você fala tanto, Jay — ofego e ele ri da minha impaciência.
Os quadris dele flexionam e suas mãos seguram com força meus quadris. Ele afunda todo o
seu comprimento, tão profundo que suas bolas batem contra a curva de meu traseiro. Tão bom. Oh,
merda!
— Olhe, doçura — escuto a voz de Jay, num tom rouco luxurioso. —Olhe para nós.
Desço meus olhos para onde nossos corpos se conectam, mas não posso ver seu pau
desaparecer dentro de mim, apenas sinto minhas dobras inchadas separando-se para acomodar sua
grossa virilidade. A sensação lança golpes de prazer, levando-me ao clímax mais rápido da minha
vida. Ele continua a empurrar em mim em rasas estocadas, que em pouco tempo leva-me sobre a
borda outra vez. Grito totalmente, sem controle, suor pingando do meu corpo.
Quando volto à tona do meu prazer intenso, Jason acelera suas estocadas, dizendo o
quanto gostava de fazer-me gritar e implorar por ele. Safado!
Ele me coloca de lado, inclinando para frente e segurando minha nuca, puxando minha
cabeça em sua direção, beijando meus lábios. Não é tão confortável nessa posição por causa da
minha barriga, mas não estou pensando agora. Enrijeço e convulsiono em torno dele. Sinto-o perder
o controle de si mesmo, conforme minha boceta o ordenha em pulsos gananciosos.
— Porra! — grita rouco enquanto goza.

****

— Tem mais?
— Claro que sim, para fazer par com seu anel — Jason fala na medida em que me entrega
uma caixa preta estreita de veludo. Abro e encontro um conjunto de brincos e colar do mesmo
modelo do anel.
— Oh, são lindos, Jason!
— Tudo para minha mamãezinha favorita— diz e beija minha barriga repetidas vezes.
— Ainda no modo romântico? — brinco. Estamos na cama, uma música romântica toca,
enchendo o quarto com um som suave, ainda embalando nossa noite.
Tínhamos tomado banho na enorme banheira da suíte. Brindamos com suco e champanhe o
momento que estamos vivendo. Como era chato, não me permitiu nem um pequeno gole. Acabamos
fazendo amor na banheira, outra vez. Ele estava totalmente diferente do Jason arrogante e
prepotente de quando o conheci. Agora, estamos aqui deitados e ele me mimando com mais
presentes.
— Deixe-me colocar em você — diz, enquanto circula meu pescoço com a joia. — Quero
fazer amor com você só usando isso.
— Onde leu sobre isso? — implico.
— Está no manual de sedução de Jason Lewis. Venha, vamos dançar.
— Estou cansada, Jason— reclamo. Era verdade, estava exausta.
— Vai ser rápido, nem precisamos de roupas para fazer isso— acabo rindo de sua criancice
de dançar, nus, como dois malucos.
Mas foi exatamente isso que fizemos ao som da música de John Legend, All of me (Tudo de
mim).
Rodopiamos lentamente pelo quarto, nus, entre risadas e beijos intensos...Tudo é tão lindo e
perfeito que me deixa apreensiva. Queria que tudo durasse para sempre. Mas nem tudo é como nós
queremos.

****

Jason me surpreendeu demais. Nunca pensei que ele, que era tão ogro, tivesse uma ideia
tão linda de levar-me a uma cidade tão romântica. Oh, céus!
Se tinha dúvidas que estava apaixonada, elas tinham terminado. No começo de tudo isso,
quando meu plano era de ter um filho sozinha, dizia a mim mesma que não precisava de um homem
em minha vida. Isso tinha sido muito claro para mim, até então. Porém, Jason vinha aos poucos se
infiltrando no meu coração, mesmo sendo um ogro. Claro que ele perdeu toda a credibilidade ao
pedir que tirasse o meu bebê, isso tinha acabado com o respeito que poderia vir a ter por ele, mas
dei uma chance de ele se redimir, e parecia que estava dando certo.
Ele tido sido um “fofo” esses dias. Não podia negar a mim mesma que o amo. Mesmo não
querendo, aconteceu. Mas, como tudo que é bom dura pouco, tenho medo do que poderia acontecer
e arruinar isso.
Depois de visitar todos os pontos turísticos de Veneza no domingo e ainda termos ido para a
França, onde passamos toda a segunda-feira, estamos voltando. Sabia que tinha forçado demais
meu corpo nesses últimos dias, estava tão sonolenta que não aguentava ficar de olhos abertos. Mas
queria que tudo fosse inesquecível. Esses três dias foram perfeitos. Dormi assim que fui para o
quarto do avião, quando estabilizamos. Acordo depois de cerca de 4 horas de sono ininterrupto.
Após ir ao banheiro, saio para encontrar Jason, que está trabalhando em meio a vários papéis.
— Oi— sento na poltrona em frente. — Agora estou me sentindo melhor.
— Ia mesmo te acordar — deixa os papéis de lado, me encarando. — Precisa se alimentar.
— Grrr, prefiro conversar — digo.— Por que você nunca fala de você? Passamos três dias
juntos e não disse nada sobre você.
Vejo que toquei em um assunto delicado, por sua carranca.
— O que quer saber, Júlia? — fala, resignado.
— Que tal... tudo? — sugiro. Saber nem que seja sua razão de ser tão ogro já seria ótimo.
— Tudo é um pouco demais, não?
— Nos sites de fofocas que vi, não dizem nada de suas origens— digo.
— Que bom saber que xeretou minha vida, Júlia— diz, irônico. Está sério. — Bem, você
não achou nada porque não existe nada a ser descoberto.
— E seus pais? — vejo-o ficar visivelmente tenso.
— Honestamente, não gosto de falar disso, mas não tenho nenhuma família...
Ele começa a falar de sua infância, de como sua mãe era relapsa e fraca, não defendendo-o
de seu padrasto abusivo. Fiquei com muita raiva!
Ele era apenas uma criança, sua mãe bebia e deixava-o com fome muitas vezes. Meu
coração apertou tão forte, imaginando um garotinho sozinho e faminto em um quarto trancado.
Imaginar minha filha em uma situação assim traz lágrimas aos meus olhos. Nunca faria algo
remotamente parecido com um filho.
Jason continua falando de quando completou cinco anos. Seu padrasto foi morar com eles e
sua vida ficou pior do que já era, com uma mãe desleixada e bêbada, e sendo espancado por um
homem ruim; sua vontade de ter um pai de verdade, não o monstro que batia nele sem motivos ou
pelo simples fato de ele existir.
A maior parte de seus anos da adolescência, ou talvez todos, foi passado sendo subjugado
pelo padrasto, forçado em vender drogas e ser espancado pelo mesmo. E, ainda por cima, ser
totalmente preterido pela própria mãe. Tudo isso traz mais lágrimas aos meus olhos. Como uma
mãe pode ser tão negligente e sem coração dessa forma e tão cruel?
Isso dizia tanto de suas atitudes hoje. Nada justificava suas maneiras grotescas e sem
cabimento, que havia tomado quando a clínica nos envolveu nessa confusão. Mas, agora, começo a
entender sua conduta nada agradável. Fico chocada.
— Diante de tudo isso, resolvi que não traria um filho ao mundo. Não se pudesse evitar.
Tomei essa decisão praticamente quando era um adolescente— disse ele. — Quando resolvi fazer a
vasectomia, fui à clínica. E deu nessa confusão que você sabe.
— Mas, por que ser tão radical? Você não é sua mãe. — digo.— Não entendo essa sua
determinação.
—Entenderia se tivesse passado o que passei, Júlia — sua voz é raivosa.
— Sim, mas você não foi e nem vai ser o único no mundo que teve uma infância triste,
Jason. — Droga, será que estava sendo dura com ele? — Essa sua raiva tem que ter um fim. Assim
você nunca será um homem feliz.
— Quem disse que não sou feliz, Júlia? — diz ele. — Vou me casar com uma mulher linda,
vou ter uma filha mais linda ainda— olha para mim, rindo. — Não me leve a mal, mas minha filha
será a mais linda.
— Sabe, Jason, não entendi essa sua súbita mudança de atitude. Foi tão rápida — isso será
um balde de água fria, mas preciso perguntar, afinal, confiança é algo delicado nesse nosso
arranjo. — Por que um dia você me pede para abortar e no outro quer tanto essa filha, Jason?
Nunca o tinha visto vermelho, nem constrangido como vejo agora.
— Naquele dia em que fui até a sua casa e fiz a proposta, para você retirar o bebê, não
tinha noção do quanto estava sendo o vilão nessa história — faz uma pausa e olha pela janela do
avião, pensativo, depois volta para mim, seus olhos estão atormentados. — Saber que, horas
depois, você quase o perdeu por minha causa, como se minha filha soubesse que teria um pai tão
terrível aqui, e nem queria nascer por isso, fez-me ver o monstro que estava sendo. Pior que minha
mãe, que, pelo menos, não me matou. — estou com vontade de consolá-lo, porém o deixo terminar.
— Resolvi, desde aquele dia, que se você permitisse, seria o melhor pai que poderia ser para meu
filho. Bater de frente com sua teimosia e independência, Júlia, é muito difícil para mim.
— Independência? —falo. — Parece que essa minha característica tem sumido ultimamente
de mim.
— Mas quero muito fazer parte da vida da minha filha — diz.
— Foi por causa disso que pediu para casar comigo? — ele hesita e desvia o olhar para a
janela outra vez.
— Não vê que, diante das circunstâncias, não seria o ideal? —pergunta, sem me olhar de
volta. —A única coisa que penso agora, Júlia, é em proteger minha filha sob quaisquer
circunstâncias. Acredite em mim, não pretendo fazer nada pela metade quando se tratar de vocês.
Nossa refeição é servida, e depois que começamos a comer, mantemos uma conversa fácil,
onde continua a me contar mais sobre ele, de como começou sua empresa. Mas minha curiosidade é
sobre outra coisa, então, volto ao assunto de sua família.
— E sua mãe, ainda é viva?
— Júlia, esse assunto é mesmo necessário?
— Sim. Imagine nossa filha perguntando pela avó? Gostaria de conhecê-lo mais, Jason, isso
por acaso é um crime?
— Ela não irá perguntar por uma coisa que ela nem sabe que existe. E não é crime querer
me conhecer, mas falaremos de outras coisas, sim? — Nossa! Jason era irredutível quando queria.
Ele disse que não tinha raiva da mãe, porém enxergava muito rancor da parte dele. E eu não o
condeno por isso. Até entendo.
— E sua vida amorosa? — Ele me olha com se eu tivesse duas cabeças.
— Tem certeza de que quer saber isso mesmo?
Na verdade, não. Fico olhando para ele e penso: como um homem podia ser tão másculo,
tão belo, tão poderoso e, ao mesmo tempo, ser terno em alguns momentos? Nessa viagem ele tinha
sido um gentleman. Perfeito. França tinha sido uma grata surpresa, e romance foi a pauta dessa
viagem. Ainda teve o descaramento de contar-me seus pensamentos, com detalhes de como tinha
pensando em fazer amor no alto da torre Eiffel. Safado! Amei cada momento.
— Obrigada por trazer-me a Veneza. Apesar de ter certeza de que isso foi muito
inconveniente para você. — tinha dito a ele, na manhã seguinte.
Ele sorriu para mim ao pegar minha mão, levando-a aos lábios.
— Nada é inconveniente para mim, se lhe dá prazer. — ele disse e pressionou suavemente a
boca contra a minha pele, sorrindo, malicioso.
Os passeios aos elegantes e antigos palácios de Veneza, com a luz do sol brilhando nos
canais, tinham me feito apaixonar por tudo e pelo homem que estava me proporcionando isso.
Volto à realidade para encontrar Jason inclinado, acima de mim, atando meu cinto de
segurança.
— Perdi algo?
— Turbulência— explica, beijando forte em meus lábios, sentando-se na poltrona ao meu
lado em seguida, atando seu próprio cinto.
— Tenho algo para propor a você.
— Outra vez? — digo.
— Quero que venha morar comigo— fala simplesmente. Ele perdeu a cabeça.
— Não, fora de cogitação.
— Mas, por quê? Se vamos morar juntos de qualquer forma.
— Não, Jason.
Não cederia aos desejos de Jason a cada vez que ele estalasse os dedos. Não seria seduzida
por ele outra vez. Passar por cima de minha independência e ceder, como já tinha feito com relação
a esse casamento. Estar apaixonada era uma coisa, mas me anular em função disso era outra coisa
totalmente diferente.
Ele não insiste, talvez por já saber que não irei ceder fácil.

****

Chegar em casa foi um alívio.


Em breve, teria um casamento para planejar. Mas só depois que Nicole nascesse, é claro.
Não tinha pegado nenhuma vez no meu telefone durante os quatro últimos dias,
praticamente, e quando o verifico, assim que chego em casa, tem milhares de chamadas e
mensagens da Carla e da minha mãe, por não ter ligado no fim de semana, provavelmente. Oh,
merda, esqueci de avisar a todos!
Ligo para Carla, que atende ao telefone rapidamente, como se estivesse com ele em mãos,
esperando minha chamada.
— Júlia, onde você estava, porra? — grita feito louca.
— Vou lavar sua boca com água e sabão. — digo — Acabei de chegar, seu namorado
secreto não falou para você, não? Ele sabia onde Jason tinha ido.
— Amiga da onça você, Júlia Mason, viaja e nem conta nada. Bem que eu poderia ter ido
junto— lamenta. Acabo rindo das tiradas da louca da minha amiga. — Mas estou feliz por você, de
qualquer maneira. Mesmo seu par sendo o reprodutor garanhão.
— Tenho novidades. Convido-a para vir esta noite aqui, mocinha.
— Conte comigo! Sempre à disposição, gata, sabe disso.
— Estou feliz em ouvir isso, minha amiga. Estou prestes a cair na cama para o resto do dia,
mas não hesite em me acordar se chegar e eu estiver dormindo.
Desligo e caminho para meu quarto. Viajar era ótimo, mas nada é melhor do que dormir em
sua cama.
Pego meu telefone outra vez e envio uma mensagem para minha mãe, dizendo que estou bem
e ligarei depois.

Jason

O destino trabalha de modo misterioso. Se um ano antes alguém me perguntasse como


estaria vivendo minha vida hoje, responderia que estaria trabalhando mais do que nunca, transando
com mulheres aleatórias e vivendo minha vida como bem quisesse. Mas estava acontecendo coisas
que nem imaginava que pudessem acontecer um dia, como, por exemplo, me casar — isso, é claro,
se Júlia fosse até o fim — e teria uma filha em pouco mais de 4 meses. Estou fodido e
estupidamente apaixonado. Admitir isso para mim é duro. Mas... contar para Júlia sobre meu
passado foi um voto de inteira confiança. Nunca falo para ninguém sobre isso, a única pessoa que
já contei foi Saulo, que além de meu advogado, é meu amigo.
Depois de deixar Júlia em casa, em vez de ir para a minha, vou para a empresa. Tenho de ir
lá, é um hábito enraizado em mim há tempos. Encontro Saulo louco com o contrato que tínhamos
trabalhado por diversas vezes.
— O que houve agora? Isso já não estava resolvido?
— Querem que você vá resolver pessoalmente. — diz Saulo.
Porra! Viajar agora não era o que queria fazer.
— E para quando seria isso?
— Pedi para Susan reservar um hotel para você, amanhã. Então, meu amigo, nem
desmanche as malas. Reunião logo cedo com os árabes.
Caralho! Tinha acabado de chegar de viagem e teria de pegar outro voo no mesmo dia!
Acabo indo para casa, de qualquer forma, preciso ver Selma e se estava tudo correndo bem.
Ligo para meu piloto e digo para ele mandar verificar o avião e arranjar outro piloto. Viajar com
um piloto cansado estava fora de cogitação.

****
Viajo naquela mesma noite e levo Saulo comigo para qualquer eventualidade. Aproveito a
viagem para estudar mais uma vez o maldito contrato. Quando estava no ar, foi que lembrei que
tinha uma noiva agora e nem liguei para ela, avisando que ia viajar. Hábito antigo era ruim de
perder.
Ela irá me matar quando voltar. Mas, o pior de tudo, sinto uma falta do caralho dela.

Júlia

Estamos em uma festa de guloseimas na frente da TV e comemos potes enormes de sorvete,


que Carla tinha trazido. Maldição, isso era uma bomba calórica, iria engordar quarenta quilos
nessa gravidez.
Conto do pedido de casamento de Jason e da viagem toda melosa que ele preparou.
— O reprodutor garanhão está subindo no meu conceito, amiga — diz Carla.
— Ah, para de chamá-lo assim — digo, rindo.
— Mulher apaixonada fica tão sem graça — zomba.
— Falando nisso, que horas são? — pergunto e me estico para ver as horas. São 23 horas, e
ele não ligou depois que me deixou aqui, logo cedo — Você podia dormir aqui, Carla.
— Querida, amanhã ainda é quarta-feira, tenho de trabalhar— ela levanta. — Falando
nisso, está na minha hora de ir.
— E daí, pode muito bem ir trabalhar daqui — sorrio para ela e chantageio: — Estava
pensando em dar para minha amiga Carla, sabe o quê? — levanto minha sobrancelha
zombeteiramente. — Desconto na Ma Belle de oitenta por cento.
— Esse seu quarto de hóspede é muito confortável, Júlia — caímos na gargalhada.
— Interesseira! — acuso.
— Desse jeito você me ofende. Vim hoje com intenção de dormir aqui com você.
Depois de ir para meu quarto, no fim de nossa farra, ligo para Jason e vai parar caixa
postal. O que será que aconteceu?
Ligo para seu apartamento e quem atende é Selma, com voz grogue de sono.
— Alô.
— Oi, Selma, é a Júlia. Desculpe acordar você, mas queria falar com Jason, ele já está
dormindo? — disparo tudo de uma vez.
— Oh, menina, ele viajou — diz.
— Viajou? Mas ele acabou de chegar de uma viagem, você não está confundindo?
—Não, querida, ele chegou e viajou de novo.
Estou chocada; ele nem me disse nada!
— Está bem, Selma, desculpa acordar você. Boa noite!
Desligo, chocada com Jason. Que falta de consideração! Para onde ele teria ido?
Capítulo 14

Júlia
Apesar de estar chateada com Jason, dormi bem naquela noite. Aliás, nunca dormi tanto
como nesses dias. Acordei descansada, disposta, e fui para a cozinha, pois estava morrendo de
fome. Gravidez dá muita fome, minha amiga!
Encontrei Catarina lá, como sempre, com o café da manhã pronto.
— Bom dia — cumprimento quando sento à mesa.
— Bom dia, Júlia, dormiu bem? Sente-se bem?
— Sim, perfeitamente — digo e pego meu suco.
— Bom dia!
Carla entra na cozinha e senta na minha frente, parecendo que saiu de uma guerra. Seu
cabelo loiro está uma bagunça.
— Bom dia! O que você faz à noite, Carla, roda a cabeça na cama a noite inteira?
— Isso é massagem para energizar os fios — ela pega uma xícara e verte café nela. —
Experimente, qualquer dia desses. Seu cabelo sem graça ganhará força e vitalidade — graceja e
reitera em seguida: — Estou saindo para trabalhar daqui a uma hora e meia, então, me empreste seu
melhor terninho.
Quando terminamos de comer, levo-a para meu guarda-roupa, e enquanto Carla escolhe uma
das minhas roupas, pego meu celular, que estava no modo silencioso, e verifico as chamadas. Não
encontro nenhuma mensagem de Jason.
Depois que Carla vai embora, também sigo para Ma Belle. Quando chego, a primeira coisa
que faço é ligar para a empresa de Jason e saber seu destino. Quem atende é Susan, sua assistente.
— Foi uma emergência— diz, quando me identifico como sua noiva. — Surgiram
problemas com um contrato, e ele teve de viajar a Dubai.
Ele tinha ido a Dubai? Nossa! Desligo depois de agradecer e volto para os meus próprios
problemas.
Fico ocupada a manhã toda, com documentações e entregas. Estou tendo problemas com
meu fornecedor de echarpes de seda italiana. E achar outro está complicado. Estava
tão focada nas dificuldades resultantes, que seria de não conseguir um novo fornecedor, que mal vi
o tempo passar.
Só parei para almoçar, mas, antes, ligo para minha mãe.
— Oi, mamãe — digo quando ela atende.
— Filha, como você está? Sumiu todo o final de semana, estava preocupada.
Falamos por cerca de quinze minutos. Conto da viagem inesperada e a tranquilizo. Acerto
com ela de ir visitá-la nas próximas semanas. Como está tudo bem na casa dos meus pais, desligo e
saio para comer algo.
Estava no restaurante, imersa nos meus pensamentos, quando meu telefone recebe um SMS.
Pego para ler, e é de Jason. Abro e leio:

Jay: Oi, Doçura, desculpa viajar e não ter falado com você.
Emergência. Acabei de descer do avião.
Quando receber retorne ou mande um SMS.
Bjos.

Não estou chateada, sei que deve ser estranho para ele se adaptar às novidades do nosso
relacionamento. Ele tinha sido perfeito nesse final de semana, então darei um desconto, entretanto,
deixo para falar com ele depois. Tinha ficado puta da vida ontem, mas depois do telefonema com a
assistente dele, mais cedo, entendi.
Volto à Ma Belle depois do almoço e mantenho toda minha atenção no meu trabalho. Mas
não demora muito. Como estou tão absorvida, tomo um susto quando meu telefone toca.

Jason
Assim que desço do avião, depois de quase 14 horas de voo, envio uma mensagem para
Júlia. No Brasil já deve ser de tarde, porque aqui em Dubai são 19 horas, e as reuniões começarão
logo cedo, amanhã. Sempre faço questão de estar por dentro das negociações finais de um contrato
novo, ainda mais um desse porte. Fornecer tecnologia aos árabes bilionários era muito lucrativo,
então todo cuidado era pouco. Mas essa viagem está sendo um martírio. Quero ficar junto de Júlia
o máximo que puder. Conquistar sua confiança é primordial. Sinto que não tenho sua lealdade total;
que não se entregou a mim de verdade. Sinto que qualquer eventualidade pode destruir o que temos.
Como não recebo nenhum texto, resolvo ligar após um banho. Depois tenho um jantar com o
Saulo e um Sheik, que é um dos sócios da empresa que estamos tentando fechar negócio. Será um
jantar informal, para quebrar o gelo, então sou obrigado a ir.
Mas, porra! Júlia não facilita. Estava preocupado com ela, pois se esforçou demais nessa
viagem que fizemos, e queria saber se não sentia nada anormal. Pedi para ela ver o Doutor Edgar,
como ele pediu que ela fizesse quando voltasse de viagem. Merda! Tinha esquecido completamente
de avisar para ela. Mas tinha viajado com tanta pressa que isso fugiu dos meus pensamentos.
Tomo banho e faço minha barba em tempo recorde, para poder ligar para ela antes de sair.
Depois de me vestir, pego meu celular e ligo para Júlia.
— Oi — diz ela ao atender.
— Oi, como você está? Não recebeu minha mensagem? —pergunto.
— Recebi, sim, ia retornar para você depois— ela não está brava? Inacreditável.
— Porra! Sei que vacilei não avisando sobre a viagem, mas não custava retornar —
reclamo.
— Desculpa se tudo é sobre você, Jason — diz, e sua voz demonstra que o que falei a
chateou.
— Hei, já pedi desculpa, não estou acostumado a dar explicação a quem quer que seja —
digo. — Quero que vá ver o Doutor Edgar. Ele pediu, quando falei com ele da nossa viagem, que
quando você voltasse fosse vê-lo.
— Estou bem, estou quase no tempo de voltar para uma consulta com ele, de qualquer
forma.
— Não seja teimosa! Ligarei para ele amanhã e o farei ir até seu apartamento, se você não
for ao consultório dele amanhã— ameaço.
— Que fique claro que só irei porque estou pensando em minha filha. Bem, se já terminou,
tenho de trabalhar. E, para constar, pode viajar quantas vezes quiser, não ficarei chateada que você
não dê satisfação de sua vida.
Pensei que já tinha me livrado disso. Que droga!
— Tenho que ir agora. Amanhã ligo para você — com a diferença de horário, seria noite
para ela.
— Não se dê ao trabalho, vou dormir cedo, hoje. — Merda! Mulheres! Quem as entende?!
Digo a ela que Saulo e o Sheik estão me esperando e me despeço. Não adianta argumentar
agora. Lembro mais uma vez de sua consulta e desligo. Mulher encrenqueira! Vou ter de colocar um
lembrete, sempre que tiver uma viagem marcada. Inferno!

Júlia

Depois que desliguei o telefone, voltei a me concentrar no trabalho. Sorrio comigo mesma.
Não estava chateada, mas não custava nada deixar Jason mais cuidadoso com relação a nós. Tudo
estava sendo muito fácil para ele.
Saio da Ma Belle tarde, naquele dia. Chego em casa por volta de oito da noite e encontro
Catarina sentada à mesa da cozinha, com a TV ligada, com os olhos grudados na tela.
— Oi, Catarina, que tragédia aconteceu para você estar tão “ligadona” na TV? Ou é
novela? — brinco. Ela está tão concentrada que pula e desliga a TV em tempo recorde, enquanto
caminho e pego água na geladeira.
— Era uma reportagem— fala e evita me olhar diretamente.
— Hei, não precisa ficar constrangida comigo por assistir, Catarina, pode ligar de volta e
continuar assistindo — digo.— Vou direto para o banheiro.
O telefone fixo começa a tocar, e como estou passando por perto, atendo.
— Alô.
— Liga a TV, agora! — Carla grita do outro lado.
— O que houve? — sigo para a sala de TV e ligo o aparelho. Fico chocada com o que está
passando. Desligo o telefone e nem percebo.
Estava na tela da TV a seguinte chamada:
ERRO: Empresário da tecnologia está sendo obrigado a assumir paternidade, depois que
clínica de reprodução assistida comete erro.
O repórter estava em frente à clínica na reportagem e naquele momento dizia:
“... por ter havido demissão, devido à multa milionária que a clínica vai ser obrigada a
pagar ao empresário Jason Lewis. Um dos funcionários que foi demitido com a redução
do quadro de funcionários, se sentindo revoltado, conta que o empresário procurou os serviços
da clínica de reprodução assistida e banco de esperma para fazer coleta de material. Material
este que deveria ter sido congelado e guardado, mas foi indevidamente usado por um dos
médicos como se fosse de um doador anônimo em uma paciente. Segundo nossas fontes, a
paciente Júlia Mason foi inseminada no mesmo dia em que o empresário tinha ido à clínica fazer
a coleta, e em uma confusão, em vez de um doador anônimo, usaram o material de Jason Lewis.
Hoje, Júlia Mason está com quase cinco meses de gestação. De acordo com o mesmo delator das
informações, Jason processou a clínica e queria que a gestação fosse interrompida na época,
mas isso não foi aceito...”
O repórter continua falando. Estou parada, olhando fixamente à TV e não escuto mais nada.
Sinto alguém tocar meu ombro e a voz de Catarina, ao meu lado, penetra em meus ouvidos.
— Não queria que você visse isso — fala.— E tem algo pior...
O que seria pior do que a minha vida particular na televisão? Mas, ela tinha razão: algo era
pior. A reportagem continuou a se desenrolar, e algo chama minha atenção quando uma mulher
aparece na tela, falando, sendo entrevistada:

“Eu sou mais uma das vítimas desse erro. Também fiz minha inseminação nesse mesmo
dia” — dizia ela com uma barriga de grávida um pouco maior que a minha.
O repórter pergunta como ela sabe que foi vítima de erro na clínica e porque só agora
aparece convenientemente.
“Naquele dia, escutei um doutor falar que tinha feito algo de errado. Só agora me dei
conta do que se tratava o erro ao qual se referia, então foi comigo também”— continua ela.
“Ainda não sabemos se essas informações são verdadeiras — o repórter volta a falar.
— Procuraremos o senhor Lewis para nos dar a sua versão da história.”

— Deve ser mentira dela, Júlia, por que só agora ela aparece? — Sim, isso era estranho e
um pesadelo que estava tomando proporções gigantescas.
Pelo fato de Jason ser um homem rico, estava dando esse repertório todo. Fiquei na
próxima meia hora assistindo a reportagem, que estava passando em um canal de fofoca.
O Doutor Wilson aparecia na reportagem também e, segundo ele, não houve nenhum outro
erro, além do que me envolvia. Que não teria como inseminar duas mulheres e que o erro foi logo
percebido pelo Doutor Pedro Henrique, e era impossível haver mais de uma mulher indevidamente
inseminada. Mas quem me garantia que a mulher estava mentindo? Quem me garantia que ela
realmente não estava esperando um filho de Jason, também? Oh, céus!
Escuto a campainha tocar. Catarina, que ainda está ao meu lado, vai atender. Volta pouco
depois, com uma Carla chocada.
— Coitada de você, Júlia— diz, quando me abraça.
— Será que essa mulher realmente está dizendo a verdade?
— Não vê que ela está mentindo, Júlia? Ela viu o quanto isso é conveniente e quer lucrar
com isso.
— Eu não sei. Aconteceu comigo e pode muito bem ter acontecido com ela também, Carla.
Dessa clínica espero tudo.
— Mas você não pode deixar isso te abalar— disse ela. — Então esquece. Isso cheira
terrivelmente a golpe, amiga.
Ela começou a fuçar na internet, pouco depois, atrás de mais informações.
— Tem algo aqui que você não vai gostar de saber— ela fala mais tarde. — Estão
especulando aqui se isso realmente foi um erro. Se você não combinou com o médico para ele,
convenientemente, “errar” e você engravidar de um homem rico e que, no fim das contas, acabou
de pôr um anel caríssimo no seu dedo.
O quê? Eles estavam malucos?! Eu seria incapaz de fazer uma barbaridade dessas.
— Tem coisas cabeludas aqui, Júlia, melhor nem saber — Carla continua falando. Não
quero saber mesmo. Já era muita coisa sem sentido e muita confusão para minha cabeça. Ia ter a
Nicole antes do tempo, nesse ritmo!
Será que Jason já estava sabendo das novidades, em Dubai? Oh, céus! Minha família não
sabia de nada dessa confusão. Nunca contei para eles o que tinha acontecido. Sabiam que tinha
feito a inseminação, claro, entretanto não contei da troca de doadores.
Levanto da poltrona onde estava sentada desde que comecei a ver a notícia, pego meu
celular e ligo para minha mãe. Ela atende no primeiro toque.
— Oi, filha. O que está acontecendo? Isso que estão dizendo é verdade?
Ela começa uma enxurrada de perguntas, e depois de acalmá-la, explico exatamente o que
tinha acontecido. Depois de meia hora de conversa me despeço, porque sinceramente isso me
esgotou. Não aguento mais explicar esse assunto para quem quer que seja. Para mim, já deu. Volto
para a sala, onde Carla estava com o nariz enfiado no notebook.
—Carla, vou tomar um banho e já volto— anuncio.
—Ok, estarei aqui quando você terminar— diz, sem desgrudar os olhos da tela.
Depois do banho, coloco um robe, saio do quarto e encontro Carla ao telefone.
— Não mora nenhuma Júlia Mason aqui, meu senhor— ela diz, brava. — Não insista em
ligar mais — e bate o telefone na base, mas ele volta a tocar em seguida.
— Posso tirar do gancho? — Carla aponta para o telefone. — São repórteres, querendo
saber sua versão da história.
— Claro que sim, não quero saber desse assunto mais hoje— sigo para a cozinha. Preciso
jantar, isso sim.
Tento, durante o resto da noite, tirar da cabeça as notícias de hoje, mas é impossível me
desconectar, principalmente da insinuação que poderia estar envolvida nisso. Pessoas mal-
intencionadas, querendo vender revistas de fofocas. Será que Jason poderia pensar o mesmo de
mim? Acusar-me de golpe? Ele era tão cheio de si, que talvez pensasse isso.
E essa louca, que dizia estar grávida dele? Oh, meu Deus! Eu que ia acabar louca com isso.
Amanhã cedo iria ao doutor Edgar e verificaria minha bebezinha. Eram tantas coisas acontecendo
que, às vezes, esquecia que estava grávida. Carla dormiria outra vez aqui em casa.
Eram onze horas da noite quando Jason ligou para mim, como disse que faria. Ele não
estava sabendo de nada do que estava acontecendo aqui.
—Hei, como vão minhas mulheres preferidas? — ele pergunta, com um bom humor que
temo não durar por muito tempo. Tenho vontade de não contar nada. Porém, não consigo deixá-lo no
escuro sobre isso.
— Oi, estamos bem, sim.
— Você marcou a consulta, doçura? Ou terei de dar umas palmadas no seu traseiro, quando
voltar? — Mesmo chateada com os acontecimentos, fico excitada com a insinuação de palmadas,
apesar de nunca ter experimentado isso.
— Oh, esqueci, mas irei amanhã— digo.
— Lembre-me de, quando voltar, de pôr você nos meus joelhos, Júlia.
— Desde que o conheço, só me faz promessas, Jason — replico.
— Estou indo para a primeira reunião do dia. Se tudo ocorrer bem, voltarei hoje à noite
para casa— diz ele, mudando de assunto. — Não tenho nenhum tempo agora, liguei só para saber
de você e da minha linda filha, claro.
— Não queria atrapalhar seus negócios aí, Jason — falo —, mas aconteceu algo.
—Fala, Júlia— diz, quando não falo imediatamente. —Não tive tempo de checar nada
desde que acordei.
— Saiu na impressa o caso com a clínica: o erro médico, o processo, sua determinação
para que fizesse o aborto, nosso noivado, tudo — falo de uma vez. — Os repórteres estão
alvoroçados por você ser um homem rico e não sei mais o quê.
Ele não diz absolutamente nada, então continuo:
— Você está aí?
— Claro que sim. Diga-me, você está bem? — pergunta, preocupado.
— Sim, estou um pouco chocada com a exposição de nossas vidas — minto. Oh, merda!
Estou morrendo de preocupação de ser verdade o caso da mulher. Resolvo contar logo para ele e
acabar com isso. Mas, antes que eu possa falar, escuto seus palavrões do outro lado, e são feios.
— O que houve?
— Puta que pariu! Que porra é essa? — ele esbraveja.— Estou vendo aqui, na internet —
explica.
Nos despedimos e desligamos, depois de ele falar que precisava desligar, e me preparo
para mais uma noite insone.

Jason

Estou muito, mas muito, puto! O que era tudo isso? Minha vida exposta na TV e na internet?!
Uma maluca dizendo que estava grávida de mim. Deu a louca no mundo? Mas, o que mais chamou
minha atenção, foi a proporção que isso tinha tomado. Não sou nenhuma celebridade para tanto
sensacionalismo.
Não tinha tempo para isso agora, tinha reuniões para ir e era de suma importância que
estivesse presente, para isso viajei meio mundo. Porra! Isso tinha de acontecer agora, depois de
todo esse tempo?
Saio do quarto do hotel para me encontrar com Saulo, que já me esperava no saguão. E pela
cara dele, já deve estar sabendo das novidades. Ele fala ao telefone e gesticula. Aproximo-me dele
e, quando me vê, despede-se.
— Qualquer coisa, me comunique — ele escuta a pessoa do outro lado. — Certifique-se de
que isso seja verificado e tenha algum fundo de verdade. Estamos voltando hoje. Até mais.
Ele desliga e vem em minha direção.
— Temos problemas. — avisa.
— Estou sabendo, acabei de falar com a Júlia e vi algumas coisas na internet — digo,
enquanto caminhamos para o carro que nos levará ao local da reunião.
— Pela sua calma, você não viu tudo— diz, quando já estamos sentados dentro do carro.
— Achei estranho que isso demorou tanto para virar um circo do caralho! Achei que o caso
não tinha importância, e você tratou de manter as coisas no anonimato. Mas agora isso veio à tona.
Porra! E essa louca? Dizendo que está grávida? Puta que pariu, essa clínica acha pouco o processo
que já movo contra eles e querem mais? — esbravejo e vejo o motorista me olhando estoicamente
pelo espelho.
— E tem mais— diz Saulo. — Falei com a equipe jurídica, agora há pouco; eles estão
vendo a procedência dessa mulher— continua ele. — Só que surgiu uma nova especulação nos
jornais sensacionalistas e blogs de fofoca.
— Do que se trata?
— Estão especulando a possibilidade de Júlia estar envolvida nesse “erro” tão fora do
comum. Que ela poderia ter subornado o médico que fez a inseminação errada.
— O quê?!
— Exatamente isso— continua Saulo. — Isso pode ter um fundo de verdade, você sabe,
não é?
Não respondo, estou totalmente paralisado. Ele conseguiu me chocar agora.
— Nunca tinha visto algo desse tipo acontecer, Jason. Está muito mal contada essa história,
não acha?
Porra! Ele não parava de falar? Ela seria capaz? Claro que não. Descarto, para logo em
seguida me questionar mais uma vez.
— O que diabos ela ganharia com isso? Ela nem me conhecia, Saulo — minha cabeça agora
está fervilhando.
— Quem te garante? Você está noivo dela, não é? — pergunta. Ele teria razão? Estou sendo
feito de idiota por Júlia? — Pense nisso.
— Isso não tem nenhuma lógica, Saulo. — não vou acreditar nisso, ela não seria tão
maléfica, não é?
— Só estou dizendo o que os sites e jornais de fofoca estão dizendo. Mas, agora, temos
uma reunião para ir.
Tem razão, temos que manter o foco nas negociações. Mas, manter o foco não e nada fácil.

Júlia

Minha vida virou um caos total. Na manhã seguinte, acordei para encontrar um bando de
repórteres na frente do meu prédio. Na hora que saí de manhã, eles praticamente engoliram meu
carro na saída. Queriam saber como tinha conseguido subornar o médico, para cometer um erro tão
grosseiro. Um bando de fofoqueiros que não tinham outra coisa para fazer! Segui direto para o
consultório do Doutor Edgar. Estava passando por tantas emoções esses dias, não custava nada
verificar se estava tudo bem. Enquanto esperava no consultório, recebi uma mensagem de Jason.

Jay: Passei o dia preocupado com a repercussão na mídia. Você está bem? Sairei daqui
às nove da noite, horário local. Estarei chegando amanhã de madrugada. Pode ser que não
consiga falar com você até lá.
Cuide-se. J

Sua frieza era palpável. Nossa! Solto um suspiro de frustração. Isso significava que ele já
ficou sabendo das anedotas nos jornais. Não acredito que ele irá dar ouvido a isso. Antes que
comece a pensar todo tipo de coisas que “meu ogro” poderia estar pensando, sou chamada para a
sala do Dr. Edgar.
— O que andou fazendo ultimamente, Júlia? — ele pergunta, cerca de vinte minutos depois,
enquanto aferia minha pressão arterial. — Sua pressão está um pouco alta, vamos começar a cuidar
disso já. Todo cuidado é pouco daqui para frente. Não quero isso se agravando, vamos tentar
manter o mais calmo possível esse restante de gravidez.
Digo para ele do estresse das últimas horas, mas ele quer um acompanhamento de perto,
para ver se é só o estresse. Saio do consultório com suas recomendações de repouso e tenho de
rever minha dieta também. Volto para casa, porque não tenho cabeça para negócios hoje, mas a
preocupação não deixa minha cabeça. Sem dúvidas, Jason poderia pensar o pior de mim, e isso
estava seriamente me abalando. Que merda! Logo agora que estávamos nos acertando, e não saber
o que ele está pensando era terrível. Encontro alguns idiotas com câmeras em frente ao prédio.
Acho que eles pensam que Jason está aqui. Bando de imbecis!
Tentei relaxar o resto do dia. Não liguei TV, meu telefone fixo ainda desligado. Tinha
avisado na portaria que não estaria para ninguém. Minha filha era mais importante que qualquer
coisa.

Jason

Nunca um dia de reuniões foi tão longo, e nunca me senti tão inquieto durante uma
negociação. Parecia que o peso do mundo estava sobre mim.
Permaneci na reunião praticamente em silêncio. Não queria deixar minha
linguagem corporal indicar que as minhas emoções estavam se deslocando para um território
totalmente perigoso em minha mente.
Só de pensar que estava sendo feito de idiota por uma mulher, fazia-me perder a capacidade
de raciocínio, mas, ao mesmo tempo, não queria deixar isso envenenar nossa relação.
Quando enfim terminamos as negociações daquele dia, não via a hora de pegar o avião de
volta e começar a acabar com essa palhaçada da mídia. Idiotas! Deviam procurar coisas
mais proveitosas para fazer do que fuçar minha vida particular, como se isso fosse relevante à paz
mundial. Caralho!
Mando uma mensagem para Júlia, avisando de minha partida logo mais. Ainda tinha de
encontrar com os árabes para um jantar em comemoração ao contrato fechado, mas minha vontade
era de estar dentro daquele avião a caminho de casa.
— E essa louca, que apareceu dizendo estar grávida? Vai fazer o que com ela?
Levanto minhas sobrancelhas para Saulo.
— Essa como no café da manhã e jogo os ossos fora— digo, raivoso. — Essa coitada
nunca ouviu falar em DNA, para surgir com essa palhaçada?
Saulo acaba rindo. Ele sabe que não estou brincando, porque não brinco com minha vida.
Mas acho que, ultimamente, ando pela rua com placa de trouxa no meio da testa.

****

Quando chego ao Brasil, sinto-me cansado, mas não fico em casa. São sete horas da manhã
e estou indo encontrar-me com Júlia. Quero olhar nos olhos dela, tirar essa história de golpe de
nossa relação o quanto antes. Saulo se encarregará de lidar com todos os outros problemas.
Entro com o carro no prédio dela e sou barrado pelo porteiro. Que porra é essa agora?!
— Tenho ordem de não deixar ninguém entrar, senhor — diz, constrangido.
— Já esqueceu quem eu sou, Miguel? Ligue para o apartamento e pergunte se faço parte
desses “ninguém” — digo paciente, e ele faz exatamente isso.
Catarina abre a porta para mim pouco depois.
— Bom dia, Catarina, cadê a Júlia?
— Deitada, ainda— ela diz.
Estranho. Sigo para o quarto, que está escuro, com as janelas fechadas. Entro e vejo que ela
ainda está dormindo. Algumas coisas precisam ser tratadas pessoalmente. Se meu humor era
alguma indicação de como seria essa conversa com Júlia, então não seria nada boa. Mas, ao sentar
ao seu lado, o sentimento de mágoa se dissipa ao vê-la tão indefesa. Inclino-me e beijo sua testa.
Ela se mexe, despertando. Beijo novamente, provocando e deixando-a totalmente desperta.
— Bom dia, bela adormecida!
— Bom dia. Não esperava por você tão cedo aqui — ela senta, recostando-se na cabeceira
da cama.
— Falei para você que chegava cedo, hoje — digo.
— Você deve estar cansado, então, com tantas horas de viagem.
— Eu tinha que vir vê-la, saber como está lidando com essa loucura que tornou-se nossas
vidas.
Olho fixo em seus olhos, e vou perguntar o que realmente me perturba com relação a ela,
mas ela se adianta.
— Você já está sabendo de todas as novidades que surgiram?
— Ao que se refere? A essa história que você armou contra mim? — pergunto.
— Sim— ela fica vermelha, mas sustenta meu olhar.— Essa mesma.
— Então... Você armou, Júlia? — pergunto.
— Se eu disser que isso é totalmente uma ofensa? — ela fala. — Que você me ofende com
essa pergunta?
— Eu acredito em você.
Capítulo 15

Júlia
— Sério? Não há a menor dúvida sobre mim? — pergunto, pois ele é tão cabeça-dura e
desconfiado. E somos tão parecidos nisso!
— Eu estou entrando com tudo nessa história, e se não confiar em você agora, isso não dará
certo, doçura — inclina-se para frente e acaricia minha barriga.
Oh, meu Deus! Ele podia surpreender-me ainda.
— Mesmo que haja a menor dúvida da minha integridade moral, quero que me fale, Jason
— falo com firmeza. Não abaixarei minha cabeça perante ele. Não tenho do que me envergonhar.
— Quer saber? Fiquei preocupada com sua reação, por nos conhecermos tão pouco. Mas não devo
nada a você — minha voz fica embargada. Que merda! Cadê meus “colhões”, gente?!
— Acabou? — pergunta, calmo.
— Ainda não. — fungo. — Porque se você duvidar de mim, juro que acerto sua cabeça
dura. Odeio que esconda as coisas de mim, Jason. Se há algo que pode deixar-me furiosa é que
façam as coisas pelas minhas costas!
— Eu já falei que acredito em você! — diz. — Não vou mentir, dizendo que não tive uma
pequena dúvida em algum momento.
Aquilo me magoou. Para ele duvidar, por apenas um instante, era porque nossa relação era
frágil. Mas também não poderia acusá-lo. Eu tinha um pé atrás com ele. Afinal, no começo de tudo
isso, ele foi horrível. E isso ainda pesava demais.
— Por que não esquecemos essa história e focamos no que importa? — ele retira os sapatos
e o terno, ficando apenas de camisa e calça. Em seguida, deita ao meu lado na cama. — Como está
a princesa mais linda? — diz para minha barriga, mudando de assunto. — Foi no médico, como
pedi? — lembrando o que o médico tinha dito ontem, falo sobre o estresse, a minha pressão
levemente alta e os cuidados para isso não piorar.
— São tantas coisas acontecendo, que meu emocional, antes inabalável, está oscilante e em
turbulência agora— digo. E lembro algo.
Assim que o pensamento vagueia por minha mente, recuso-o, mas acabo falando como
sempre, quando algo me incomoda.
— Você não quer saber se essa outra criança pode ser sua, também? — tenho sentimentos
esquisitos quando penso em Jason tendo um filho com outra mulher.
— Tenho o Saulo trabalhando nisso, doçura— ele puxa o lençol, descobrindo-me. — Só
você é minha — abaixa a cabeça e beija acima do decote da minha camisola. — Estava com
saudade do seu cheiro — cheira meu pescoço, salpicando beijinhos deliciosos.
— Foco, senhor — digo, sorrindo — O que fará a respeito disso?
— Primeiro, preciso de beijos, senhora — ele retruca e desce a cabeça em direção ao meu
ventre, agora puxando a camisola para cima. Beija meu baixo ventre, fazendo meu corpo manifestar
reações arrepiantes por toda parte. — Depois conversamos...
— Mas quero conversar agora!
— O que faço com a sua boca, espertinha? Hein, Júlia Mason? Ela me enlouquece...
—Hum... Não enlouqueço você— falo, tentando esconder um sorriso. Ele levanta a
cabeça, e seus olhos cinzentos estão sérios, agora.
— Estou falando sério, Júlia, cada dia você se torna mais importante para mim — murmura.
— Não importam as circunstâncias e os motivos que tive em pedi...
— Que motivos você teve? — pergunto baixinho, quando ele se interrompe.
— Não quero que fique aborrecida, doçura, esqueça isso — diz. — Eu não me expressei
corretamente.
Ele vem cobrindo-me com seu corpo, apoiando as mãos em cada lado do meu, e beija
minha testa, nariz; recua um pouco, olhando em meus olhos:
— Você é minha, doçura— sua voz é tão masculina que me perco, envolvida. — Eu vou
cuidar de você, sempre.
Isso era o quê, exatamente?

Saulo

A primeira coisa que fiz, ao chegar de viagem, foi cuidar de contratar um investigador para
desvendar o mistério da maluca que diz estar grávida de Jason. Incrível que ele não esteja entrando
em estado psicótico desde que soube disso. Júlia realmente o está mudando. Assombroso!
Passei o dia no escritório, e quando chego à minha casa, tenho uma bela surpresa me
esperando, quando entro no hall.
— Sua empregada me deixou entrar— diz ela. — Queria fazer uma bela surpresa, então
pedi que ela fosse embora. Fiz mal?
Carla está escorada na porta que dá para a sala de estar, em cima de saltos altíssimos, em
uma lingerie preta com detalhes em vermelho, tão minúscula que não deixa nada para a
imaginação. Seus cabelos loiros estavam selvagens, como se ela tivesse acabado de ser fodida
duramente. Maldita, sabia como me deixar maluco para caralho!
— Nunca — minha voz falha, rouca. Caminho em sua direção com um único objetivo, e ela
recua, entrando na sala, dando-me uma visão bonita da sua bunda empinada e sexy, num maldito fio
dental. Tudo nela gritava “foda-me” em alto e bom som. Agora que noto que os sapatos são pretos
com saltos e solados vermelhos. Estou ferrado, meu amigo!
— Parece que você tem planos para a noite, amor— continuo na minha caçada para chegar
a ela. Maldita, adora um jogo perigoso. E eu muito mais.
— Faço o que posso, mas acho que deve inspecionar completamente para certificar-se se
gosta do que vê.
Meu olhar é ardente no dela, fazendo-a mais quente a cada segundo. Noto seus mamilos
apertados contra o sutiã, provavelmente doloridos e sensíveis. Estou louco para senti-los na minha
língua.
Solto a pasta de documentos sobre alguma coisa plana, porque meu sangue todo está se
alojando no meu pau dolorido em minha calça. E a única coisa que enxergo é a deusa atrevida à
minha frente. Estou prestes a alcançá-la quando meu celular toca e reconheço o toque de Jason.
Porra! Tenho de atender, pois não falei com ele durante o dia. Ele tinha ido ficar com Júlia e me
dito que queria ficar o dia em total atenção a ela. Homem apaixonado era pegajoso! Mas ele tinha
razão. Suas vidas eram uma comédia trágica.
Vejo a decepção nos olhos de Carla e tenho raiva de mim mesmo, de colocá-la em segundo
plano naquele momento, mas a compensaria quando finalizasse essa ligação.
—Fala. — digo, mal-humorado. O cara era um empata foda de primeira.
— Você não me ligou para me manter informado sobre suas descobertas— diz sem nenhuma
saudação, típico do arrogante.
— Bem, não tenho nada de concreto. Liguei para Raul e ele não está na cidade, está
investigando fora — digo. — Mas já contratei uma firma de primeira linha. Estou focado nisso.
Tenho metade da equipe trabalhando com um único objetivo, meu amigo. O pior é que essa história
de você tentar forçar um aborto e essa maluca oportunista estão queimando sua imagem de
empresário fodão. Amanhã tenho um encontro com ela, para saber o que ela quer. Quer ir junto? —
pergunto.
— Em primeira instância, não. Veja qual é a dela, e se ela continuar com a palhaçada,
avise-a que sairá perdendo com isso— diz. — E com relação às acusações a Júlia? Já tentou
acalmar esses rumores? Procure saber quem começou isso e dê o seu melhor, Saulo.
— Você sabe que, quando questionei, você não tinha nada contra sua mulher, não é? Sabe
que sempre a defendi de você — rio
— É claro, Saulo. Entendo que antes de tudo é meu advogado, mas agora pense em Júlia
como uma cliente muito valiosa. Pense dessa forma: que acusações contra ela são acusações contra
a minha pessoa, também.
— Perfeitamente— isso realmente está acontecendo? Como alguém muda tanto?
Desligo depois de informá-lo de todos os pormenores, que estava trabalhando em cima
desde que tinha chegado. Porém, levar uma bronca de Jason seria melhor que enfrentar a fúria loira
na minha sala. E quando falo “fúria” não é no bom sentido.
— Eu entendi mal ou você concorda com o que andam inventando sobre Júlia? — Carla
está possessa.
— Calma, amor, claro que não...
— Você acha que ela é capaz de armar para seu amigo? Diga que entendi errado. — ela
berra, furiosa.
Respiro fundo, e receio que ela não vá gostar do que escutará.
— Eu tenho de ser racional, Carla. Tenho de verificar todas as hipóteses— digo. — Sei
que você acredita na integridade da sua amiga, eu acredito também, só que antes de tudo...
— Antes de tudo? Acho que enganei-me com você, Saulo. Pensei que fosse um homem sem
preconceito e “achismo”. Acha pouco o que ela vem passando, sendo obrigada a conviver com um
homem que ela mal conhece? — Por que ela continua gritando? Não sou surdo, porra!
— Carla, por favor, seja razoável— digo, impassível.
— Estou indo embora. Não tenho estômago para beijar um sapo nojento — sai pisando
duro. Saio atrás dela e a encontro no meu quarto, vestindo a roupa. — Quando você deixar de ser
um advogadozinho asqueroso, ligue para mim.
Fico furioso.
— Não seja mimada, Carla— droga, não devia ter dito isso. Ela parou o que estava
fazendo, tirou um sapato e o jogou direto na minha cabeça, ou quase, porque consegui me esquivar
dele, que passou voando por mim.
— Ela é minha amiga e você a ofende com suas “possibilidades”— fala jocosa, fazendo
aspas no ar. — Ele pensa igual a você? Acha que Júlia é uma golpista também?
— Eu não penso assim, Carla, gosto da Júlia, de verdade — explico. — E Jason, pelo que
entendi, acredita nela.
— Mais homem que você, pelo que vejo — esbraveja. — Não vou perdoar você tão cedo!
— Estava fazendo meu trabalho, porra! — grito de volta. — Se você sair por essa porta
assim, esqueça que existo — ameaço, blefando feio. Mas ela me tirou do sério, algo raro de
acontecer. Quase nada me tira do eixo, mas essa atrevida conseguiu ir além do meu limite.
Vejo seu queixo tremer e os olhos azuis ficarem aquosos. Merda!
— Não precisa ser assim, amor — falo, amoroso. — Não deixe os problemas dos outros
danificarem o nosso relacionamento.
— Quando você se retratar com minha amiga, conversamos — ela passa por mim,
mancando, só com um pé calçado, e não tento pará-la.
Mulheres!
Dizer que minha noite foi uma merda era desnecessário. Mas...
Sempre fui defensor da Júlia, quando meu melhor amigo estava sempre querendo sua
cabeça. Ainda sou, porém, antes de tudo, tinha de ser um advogado profissional e checar todas as
possibilidades que estavam sendo levantadas contra ela. Antes de tudo, sou o advogado de Jason, e
se não verificar tudo para ele, não estaria sendo bom no meu trabalho, em primeiro lugar. Como
pessoa, acredito em sua inocência, entretanto, meu dever é questionar qualquer suspeita. Creio que
isso não vá abalar a relação dos dois, pois meu amigo, que batia no peito e gritava para o mundo
inteiro ouvir que nunca iria se apaixonar, está de quatro pela doce Júlia. A mulher sabia como fazê-
lo ficar “pianinho”. Isso foi o que me fez gostar dela, de imediato. Não perdi o respeito por ela,
isso não, mas sou a porra de um advogado, no final das contas.
Nada tenho contra ela, ao contrário; acho que é uma mulher surpreendente. Linda e que
merece ser feliz, seja com Jason ou não, e ela tem meu respeito, sempre. Mas, antes de tudo, o
dever sempre irá falar mais alto e sou amigo de Jason e minha lealdade está com ele. Só a perderia
se ele me desse motivo para tal.

Júlia

Os dias que se seguiram foram uma provação. Tentei isolar-me de tudo e deixar as coisas
tomarem seu rumo. Naquela primeira semana, depois do escândalo da mídia, recebi um telefonema
que me deixou feliz. Caio me ligou, convidando-me para conhecer seu sobrinho. Prometi que
apareceria qualquer dia.
Naquele sábado, convidei a Carla, que andava sumida, já que Jason passou a semana
grudado em mim, para ir comigo. Fomos à casa de Vivian à tarde, e nem contei a Jason que
continuava em contato com Caio, porque sabia que seria motivo de discussão. Ele ainda não
engoliu a história do jantar que tinha ido. Homem besta!
Durante a viagem de carro, senti Carla calada e pensativa, a vivacidade tão característica
dela estava um pouco apagada.
— Está com algum problema, Carla? — questiono.
— Não. Por que acha isso? — ela efetivamente não convence.
— Desembucha, garota, você sempre está escutando minhas lamúrias — encorajo.
— Estou apenas chateada, Júlia — diz ela. — Não há nada com o que se preocupar.
— Só de ouvir você falar assim já me deixou mais preocupada, amiga, você não é assim.
Fala!
— Nossa, você está chata, hein, Júlia!— ela bufa.— Estou brigada com o Saulo, já faz uma
semana — faz bico.
— Sinto muito.
— Não sinta. Brigamos porque ele é um sem noção — a chateação em sua voz é clara. —
Ele está investigando se você está envolvida na troca de doador — despeja, e fico em choque. Que
droga! Se ele está investigando isso, então Jason mentiu para mim? Devo ter feito uma cara de
enterro, porque Carla está abanando a cabeça.
— Desculpe, não queria aborrecer você.
— Você sabe dizer se Jason o mandou fazer isso?
— Não, ele disse que Jason acredita em você — alívio me toma. Oh, céus! Onde vou parar
com isso?
Mudamos de assunto, continuamos a conversar descontraídas e ela depois volta ao assunto
predileto e me fala do seu relacionamento sério com Saulo.
— Gosto demais dele, só que ele me decepcionou agora, duvidando de você — discorre.
— Quer um conselho? Não deixe minha vida maluca atrapalhar a sua. Saulo não me
conhece, Carla, ele tem todo o direito de achar o que quiser. Durante esse tempo todo, não fui
apresentada a ele para que forme alguma opinião sobre mim.
— Ele diz que a defende do Mr. Ogro — ela está rindo, e isso é ótimo. — Mas ainda estou
com raiva.
Tenho uma ideia.
— Ok, os dois estão convidados a jantar conosco amanhã à noite — digo. — Vamos tirar
toda impressão ruim que Saulo tenha de mim. Afinal, ele será meu cunhado, não é?
— Não falo com ele — diz, emburrada feito criança.— Ele só mandou uma mensagenzinha
de nada durante toda a semana.
— Você parece criança — sorrio. — Então, você será minha convidada e Jason o convidará
para jantarmos em comemoração ao nosso noivado. Que tal?
— Tudo bem, se você acha assim...
Quando chegamos à casa de Vivian e pego seu lindo bebê nos braços, é emocionante
porque, dali a alguns meses, estaria com minha bebezinha também, no colo. Era tão fofo, o pequeno
Collin. Estava apaixonada por ele. Caio não estava lá, só Vivian e seus pais.
Não demoramos muito, e quando voltamos, deixo Carla em casa, antes de ir para o
apartamento de Jason. Na verdade, estava em mais um dilema, e o motivo da chateação era por não
aceitar ir morar com Jason. Eu sei, podem me achar uma mulher chata, mas não posso abrir mão de
tudo a favor de Jason. Quero viver no meu apartamento até casarmos e ponto final.
Mas hoje estou indo ficar no apartamento dele. Bem, isso posso fazer tranquilamente. Entro
e encontro Jason esbravejando ao telefone.
— Esperar! Meu advogado tem tentado se comunicar com vocês tem uma semana —
esbraveja. — Quero que vocês tomem medidas cabíveis contra Samara Reis. — Samara é a
golpista maldita que não quer acordo e ainda afirma que está grávida de Jason, segundo ele. Mas
essa Samara está sendo patética. Ela mantém essa história sem fundamento. Não quer aceitar um
teste de DNA, por ser muito invasivo, então temos que conviver com essa dúvida até ela ter o bebê.
Saulo tem trabalhado muito essa semana. O Dr. Wilson tinha garantido que não era crível essa
história.
Quando Jason me vê, se despede da pessoa que está com ele ao telefone, caminha em minha
direção e envolve seus braços ao meu redor.
— Aonde você foi? Esperei você mais cedo— ele pega minha bolsa e puxa-me para sala
com ele. Vejo Selma de relance e dou um olá. — Precisamos conversar— tinha medo disso, nossas
conversas sempre eram bombas jogadas em nossos colos. — Onde você quer casar? — Puta que
pariu!
— Prefiro algo simples e discreto — digo. Ainda queria casar depois de ter Nicole. Casar
com barrigão não era nada atraente, não para mim. — Tenho de falar com Selma sobre algo —
mudo de assunto e escuto seu suspiro cansado. Sabia que fugia do assunto casamento, e não me
perguntem o porquê. — Mas primeiro quero que você convide o Saulo para um jantar aqui, amanhã,
em comemoração ao nosso noivado, ou podemos ir a um restaurante. O que acha?
— E por que isso?
— Quero conhecer melhor seu amigo, não posso? Além disso, ele acredita que sou uma
golpista de classe e perigosa — digo e vejo a carranca de Jason acentuar.
— Quem te disse isso? Já pedi para ele esquecer qualquer coisa em relação a isso — diz.
— Quero que esqueça tudo e concentre toda sua energia em nossa filha.
—Humm, conversei com a Carla, então tive a ideia de confraternizarmos e acabar com as
dúvidas do seu advogado.
Combinamos de fazer o jantar no apartamento dele mesmo. Claro que Selma não me deixou
ajudar em nada.
O jantar foi ótimo, melhor do que imaginei. O estranho foi ver Carla e Saulo tentando se
ignorar durante todo O jantar. No fim, ele se desculpou comigo e sabia que tinha o dedo da Carla
nisso.
Ela era terrível!

Jason

Dois meses depois...

Ainda não convenci Júlia a casar. Estou me sentindo um fracassado. Minha frustração
consistia em perceber sua recusa e insistência de negar algo que, no fim, daria no mesmo, pois
casaríamos de qualquer forma. Fora isso, temos vivido em paz nesses últimos dois meses, ao
menos entre nós.
Tenho mantido os contratempos de fora de nossa relação, e as coisas parecem estar, enfim,
tomando seus lugares. Nunca me senti tão bem. Quem iria imaginar isso? Nem eu acreditava,
entretanto, quando via sua barriga, que estava enorme, por sinal, ficava meio idiota e besta a cada
dia. Ela já está com sete meses ou não? Não sei... Certo, sou obtuso com relação à data, mas e daí?
Mas essa exposição na mídia, meses atrás, trouxe consequências desagradáveis. Nunca
imaginei que um dia iria rever aquela mulher outra vez em minha vida. Fazia uma semana que eu
praticamente não dormia, só de pensar nela. Sentia asco e uma dor insuportável. O sentimento de
rejeição era meu companheiro diário desde pequeno, só que agora estava mais acentuado dentro de
mim.
Estava saindo da empresa, há uma semana, quando escutei alguém chamar meu nome. Virei
para deparar-me com a figura envelhecida e enrugada da minha mãe. Se quando a vi, há vinte anos,
ela já estava um tanto envelhecida, agora estava literalmente acabada.
Fiquei totalmente estático, duro no lugar. O que essa pessoa fazia na minha frente? Pedaços
do meu passado tumultuam minha mente. Memórias desagradáveis duelam em minha cabeça,
passando como um filme por trás das minhas pálpebras. Quando fecho os olhos por um instante, em
um momento de desequilíbrio, não sei descrever o sentimento que sinto quando olho para seus
olhos iguais aos meus.
O. Que. Ela. Quer. Aqui? Grito em minha mente, pontuando cada palavra.
— Filho... — ela diz e fico puto. Ela não tem esse direito, não sou seu filho. Ela perdeu o
direito de chamar-me assim há muito tempo. Saio da minha inércia e a ignoro. Dou-lhe as costas e
entro de volta no prédio, deixando-a lá. Não olho para saber para onde ela foi. Não me interessa
saber. Que volte para seu bêbado e drogado nojento, quero distância dos dois. Mas sou um homem
que gosta de se manter informado de tudo.
Vou direto para a sala de Saulo e o encontro arrulhando ao telefone celular, certamente com
a namorada. Ele ficou muito puto comigo por tê-lo convidado para jantar no meu apartamento e não
avisar que Carla estaria lá. O idiota achava que não sabia do seu namoro quente com a melhor
amiga de Júlia.
— Te ligo depois, amor — diz, confirmando minha suspeita, e desliga. — Que foi, cara, viu
fantasma? — não respondo e vou direto ao assunto que me levou até ali.
— Quero que você descubra por onde anda a mulher que me trouxe ao mundo— ele levanta
as sobrancelhas para mim. Deve estar estranhando meu súbito interesse nesse assunto, pois sempre
foi um tabu. — Quero isso para ontem, Saulo.
Não vou dar a chance para ela ter vantagens sobre mim, aliás, ela já tem por ter me
localizado.
— Cara, não sou sua babá, liga para o Raul. Ele faz esse trabalho melhor do que eu— diz.
— Se eu quisesse o Raul nesse assunto, não estaria pedindo para você — digo
grosseiramente. A mulher nem faz meia hora que voltou à minha vida e já causa problemas!
— How, que bicho te mordeu? — ele chia. — Ainda acho que devia ligar para Raul.
— Quero que isso seja tratado discretamente. E, Saulo, faça você mesmo o trabalho —
digo e caminho para fora.
— Sim, feitor de escravos. Quero aumento de salário de mil por cento — grita,
exasperado.
Voltando ao presente, lembro que isso foi há uma semana e Saulo não descobriu ainda onde
minha mãe vive. Merda! Entro no meu apartamento e sigo para meu quarto, mas paro quanto estou
preste a entrar. Escuto vozes no quarto ao lado da minha suíte. Verifico quem está lá e encontro
Júlia, Carla e um homem loiro. Pelo jeito, estão fazendo uma reforma.
Apesar de encontrar um homem na minha casa, sorrio. Consciente ou não, Júlia já aceitou
vir morar aqui.
Capítulo 16
Jason
— Ah! Você está aí — diz Júlia quando me vê na porta. Ela sorri, encabulada — Sei que
invadi sua casa, porém, sei que não se importará com o que estamos fazendo aqui— ela caminha ao
meu encontro e dá um selinho nos meus lábios.
— E o que seria isso? — pergunto por perguntar, pois imagino que seja um quarto para
Nicole.
— Ah, venha aqui decidir sobre a decoração— ela me puxa para a cama no meio do quarto,
onde tem portfólios de quartos infantis. — Deixe-me apresentar Dave, ele é designer, amigo de
Carla. Ele irá mudar essa decoração— Ela aponta o rapaz loiro, que aperta minha mão, e
cumprimento Carla em seguida. — Bem, qual o melhor: Princesas, safári ou todo branco com
detalhes lavanda?
Olho o portfólio, e agora que me dou conta de nunca ter pensando em fazer um quarto aqui
para minha filha. Isso mostra quão ignorante sou nesse quesito. Aponto para o quarto de safári:
— Gosto desse... — a despeito de ter vários bichinhos, o rosa era predominante, embora
fosse claro e bem feminino. Tinha lido livros sobre o assunto “bebês” e alguns diziam que cores
vivas ajudam no desenvolvimento do bebê, então, se dependesse de mim, ela teria muitas cores.
— Voto no tema de Frozen — Carla fala lá do canto, onde faz anotações em um bloco de
notas.— Ou em um estilo vintage, mas a princesinha Nicole será estilosa! Tema de roqueira seria
perfeito.
— Deixo isso para seus filhos, Carla. Onde já se viu decorar quarto para uma bebezinha
todo de preto! — retruca Júlia.
— Roxo é bem legal também, com caveirinhas cor de rosa, não acha, Mr. Ogro? — aponta
para mim. Claro que ela está de implicância comigo. Dou um sorriso cheio de dentes para ela.
— Claro, faço questão de informar a seu namorado que o quarto do filho de vocês eu mando
decorar — digo.
— Ogro sem humor! Não sei como minha amiga aguenta, eu já teria dispensado —
resmunga.
— Podemos ver isso depois? — peço para Júlia. Tinha vindo mais cedo para irmos jantar,
fazer alguma coisa, para sair dessa onda de problemas e mais problemas, mostrar ao mundo que
estamos juntos. Puxo-a para fora do quarto, para termos mais privacidade.
— Quero, hoje à noite, levar minha noiva para jantar — digo e seguro sua cabeça com as
duas mãos, beijando forte seus lábios.— Planejei uma noite a três.
— Três? Temos companhia?
— Claro que sim— acaricio sua barriga. — Vamos comemorar seu sétimo mês de gravidez,
só nós três.
Pouco depois das sete da noite, saímos para o jantar. Claro, Carla e Dave já tinham ido
embora.
Apesar de o restaurante estar lotado, tinha pedido para Susan reservar uma mesa para nós, e
não demorou para sermos encaminhados para ela. Júlia estava linda, como sempre. Não me
cansava de observar as mudanças no seu corpo, nesses meses de gravidez. Pena ter praticamente
perdido os primeiros quatro meses, culpa minha, é claro, mas agora não poderia me afastar dela. Se
isso viesse a acontecer, seria terrível. A observo caminhar à minha frente, e uma onda de desejo
percorre meu corpo. Era um homem que raramente suprimia minhas vontades, porém estava sem
fazer sexo com Júlia há mais de um mês. Isso é sério, apesar de ela querer e me atormentar. Estava
com medo de machucar nossa filha. O Dr. Edgar tinha afirmado, na última consulta, pois Júlia fez
questão de perguntar se poderia continuar com sua vida sexual, que poderíamos praticar sexo sem
riscos para o bebê. Porém, tenho travado cada vez que tentamos, e foi numa dessas tentativas que
desisti de vez. Só voltaria à ativa e com força depois do resguardo. Quando me lembro da última
tentativa, fico vermelho do papelão que um homem da minha idade poderia fazer.
Tinha ficado excitado feito um touro louco com a visão dos seus seios redondos e bem
maiores. Não resisti e peguei em minha boca um mamilo, começando uma sucção longa, forte, e foi
aí que aconteceu a merda. Leite morno e salubre encheu minha boca e, pela primeira vez, abandonei
uma mulher na cama no meio de uma transa. Corri para o banheiro feito um maricas filho da puta!
Estou com vergonha de mim mesmo até agora!
Volto à realidade quando chegamos à mesa.
— O que querem beber? — pergunta o garçom, depois que nos acomodamos. Como estou
dirigindo e, é óbvio, Júlia não pode ingerir álcool, pedimos água. Pouco depois, ele volta com
nossa comida. Levei Júlia àquele restaurante porque eles servem o melhor salmão e sei que ela
adora. Durante o jantar, conversamos sobre tudo e sobre nada; nossa relação era cada dia melhor.
Porém, devo ter deixado transparecer minha preocupação.
— Você está bem? — Júlia pergunta quando fico calado por um momento.
— Perfeito!
Tenho vontade de contar da aparição da minha mãe. Não tinha contado para ela, porque
estava tentando manter Júlia o mais longe possível de problemas. Sua pressão tinha se mantido
estável, e isso era perfeito, queria que continuasse assim. A pergunta de Júlia acabou trazendo
minha mãe à minha mente.
Sinceramente, não sei o porquê de ela aparecer agora, deve ter me visto na TV. Caralho!
Precisava saber notícias dela, parecia que tinha visto uma miragem naquele dia.
Mas agora tinha uma linda mulher ao meu lado, que a cada dia me deixava mais louco, a
gravidez deixando-a cada vez mais linda e radiante. Estava ferrado! A cada segundo ficava mais
apaixonado.
Estamos no meio de uma conversa sobre a música, que tocava no som ambiente do
restaurante, quando sinto uma mão na minha coxa, deslizando em direção ao meu atencioso pau, que
acorda para a vida em pleno restaurante. Olho para Júlia e ela mantém a maior cara de pôquer já
vista. Desço minha própria mão e seguro a dela, levando-a aos lábios.
— Acho você tão sem graça, Jason Lewis— ela reclama, sorrindo — Estraga-prazer.
Queria brincar um pouco!
— Isso é jogar sujo, doçura — digo. — Quero fazer você feliz e...
Estava prestes a dizer que nós só estávamos passando um tempo juntos, para nos
distrairmos de tanta confusão e fazer uma coisa de casal normal, algo que não fazia há uma
eternidade. Na realidade, não me lembro há quanto tempo tinha saído com uma mulher só para
jantar e apreciar sua companhia. Mas minha declaração é interrompida por uma voz masculina:
— Júlia, nem acreditei que era você— volto-me para olhar e não acredito nos meus olhos.
— Quanto tempo, você sumiu, hein?
— Caio! Que bom vê-lo — diz Júlia, estendendo a mão em cumprimento. Seguro o pulso
dela antes que ela possa fazê-lo, depois encaro o filho da puta ao lado da nossa mesa.
— Jason Lewis, noivo de Júlia — estendo minha mão para ele com cara de poucos amigos.
— E você, é? — não fui sutil sobre qualquer coisa aqui.
— Caio Valente, prazer— diz e acrescenta: — Conheci Júlia no consultório do Dr. Edgar.
Desde então nos tornamos amigos. — O quê?! Amigos?!
— Como está Vivian e o pequeno Collin? — Ela estava tensa e não estava me olhando. —
Diga-lhe que mandei um beijo.
— Eles estão bem, digo sim. Muito bom ver você, e tenham um ótimo jantar. Boa noite —
disse, fez sinal com a cabeça para mim e foi embora.
— Nunca mais faça isso! — Júlia fala baixo, sua raiva latente para mim.
— Fazer o quê? Volta e meia vejo esse imbecil rondando você— rosno.
— Sua grosseria não tem limites — estava puto, mal a escuto. Respiro fundo e controlo
minha raiva. Porra! Ela nunca me falou que mantém contato com esse cara.
— Por que nunca contou que mantém amizade com ele?
— Não vi a relevância de trazer esse fato a uma discussão, Jason. Tenho amizade com Caio
e Vivian desde que nos encontramos— diz — Não contei porque não vi razão para isso.
— Eu não compartilho, Júlia— aviso.
Fico pensando quantas coisas mais ela não vê a necessidade de me contar. Ela não entendia
meu ciúme, e muito menos eu. Só queria mostrar ao mundo que ela me pertencia. Queria que todos
pudessem ver que eu era o único homem da vida dela.
Maldição! Estava me comportando pior que um adolescente de quatorze anos.
— Quero ir para casa — ela me tira dos meus devaneios. — Meu apartamento, para ser
exata — reitera.

Júlia

Acordar no meu apartamento e sozinha na cama estava ficando cada dia mais estranho.
Amei sair para jantar ontem à noite, com exceção de toda a coisa com Caio. Honestamente,
tem momentos que gostaria de abrir a cabeça dura de Jason com uma paulada. Tinha pedido para
vir para minha casa, odiava essas cenas sem motivo. E aquela história de compartilhar?! Homem
louco!
Onde já se viu ser intragável dessa maneira, infantil?
Estava organizando um casamento sem seu conhecimento para dali a um mês. Tinha
contratado uma cerimonialista, que estava fazendo tudo para mim. Saulo tinha dado entrada nos
papéis do casamento, claro que pedi que ele não contasse, e espero que ele não seja um dedo-duro,
porém acredito que não dirá nada. Ele quer se redimir com Carla, por ter duvidado de mim, e
lógico que aproveitei dessa culpa para fazer dele meu cúmplice. Meus pais virão, já que não fui
visitá-los esses meses. Espero que tudo dê certo. Entretanto, ficava pensando na maturidade
emocional de Jason. Estava preparado mesmo para ter esposa e filha?

****

Hoje estou indo à Ma Belle. Tenho ido três dias por semana, e Melissa está ficando cada
vez mais atarefada, mas hoje vou para dar uma força a ela. Estou descendo do carro, no
estacionamento do shopping, quando outro carro para na vaga ao lado e vejo uma mulher descer.
Ela caminha em minha direção com determinação, e reconheço Samara Reis; ela ostenta um
barrigão também. Ela para à minha frente e me mede dos pés à cabeça, com um sorriso nos lábios
nada caloroso. Pergunto-me o que diabos ela quer, porém não demoro muito para saber:
— Olá, Júlia—cumprimenta. — Quero falar com você, pode ser na boa ou não. Fica a seu
critério — diz, surpreendendo-me.
— O que você quer? — encaro-a. Não tenho medo dela, mas nunca se sabe. — Não tenho
nada a conversar com você — olho para os lados, e as poucas pessoas ali por perto não prestam a
menor atenção.
— Engano seu. Tenho uma proposta para lhe fazer—diz.— Seu namorado está dificultando
nossos planos e...
— Nós? Nós quem? — minha curiosidade é maior que minha prudência e me aproximo
mais dela. — E não acho que aceitarei proposta alguma vinda de você.
— Isso não interessa, quero saber se está disposta a pagar pela informação. — Pagar? Essa
mulher não tem limites?
— Por que iria pagar por algo, se sei que mente? A que informação se refere? Sua mentira
descabida? — retruco.
— Por causa da ação do seu namorado, muitas pessoas foram prejudicadas— ela continua.
— Agora ele terá de pagar ao menos uma parte disso.
— Por que não procura seus direitos legalmente, se acha que foi prejudicada de alguma
forma? — alego. — Coisa que acho bem estranho e improvável. Não entendi essa sua invenção,
sabe. Por que não me conta o que realmente quer?
Convenço-a a conversar civilizadamente e a levo para um café, dentro do shopping. Ela
acaba contando algumas coisas, e fico estarrecida da dimensão de tudo isso.
— Então, como foi que você foi se meter nisso, Samara? — pergunto.
— Bem, não era para ser bem assim, essa história — diz.— Sou irmã do Fernando Brás,
ele era o técnico responsável naquele dia que houve a inseminação, e nunca fui paciente do
hospital. Na verdade, meu irmão e eu planejamos tudo isso. Mais Fernando, de fato. — ela conta.
— Eu era casada, queria um filho, mas meu marido, não. Ele dizia que não era o tempo para isso,
que não tínhamos condições de ter um filho, e isso me magoava muito. Falei com meu irmão um dia,
da minha vontade de ter um bebê. Ele pediu para ter calma, que tudo daria certo, que um dia eu
teria meu filho nos braços. Passaram-se alguns dias e ele veio falar comigo, disse que tinha a
solução perfeita para a realização do meu sonho de ter o filho que tanto queria. Disse que tinha um
novo cliente na clínica, um ricaço, e que poderia inseminar-me com o sêmen desse cliente e que,
quando estivesse grávida, nós poderíamos exigir uma pensão gorda para o resto da vida. Que caso
o cara pedisse o exame de DNA, tudo sairia perfeito, o filho seria realmente dele e, portando, não
teria argumento e outra saída a não ser assumir a responsabilidade. Era nossa chance: eu de ter um
filho, ele de ganhar um bom dinheiro.
Samara prossegue com sua narrativa:
— Mas tudo deu errado naquele dia. Houve tanta confusão, que na correria meu irmão
pegou o tubo errado e o material do ricaço foi para você. Ele só se deu conta do erro quando os
médicos descobriram logo depois. Não sei bem o que aconteceu, talvez os tubos de ensaio fossem
parecidos, e o nervosismo para não ser descoberto o atrapalhou, fazendo com que as coisas não
saíssem como planejado. Só sei que acabei inseminada com o espermatozoide de um desconhecido
e você com o que deveria ser meu. Quando meu irmão percebeu o erro, discutimos, acabou meu
marido descobrindo tudo e me deixando. E, desde então, tudo deu errado. Foi descoberto, em uma
investigação interna na clínica, através das câmeras de segurança e outras coisas que não sei bem,
que meu irmão é o culpado. Eles tentaram abafar o caso, demitindo-o por justa causa, fazendo-o
ainda perder seu registro no conselho de enfermagem. Agora Fernando não consegue emprego. —
ela faz uma pausa e olha-me.
— Então vocês acharam que fazer isso vir a público seria mais uma forma de ganhar? —
pergunto.
— Na verdade, nem queria mais estar nessa situação— diz.— Mas meu irmão está
desesperado.
— Ele pode ser preso, você sabe disso, não é? E você junto com ele.
— Pode ser, mas ele não vai facilitar para quem quer que seja— ela me olha. — Por isso
estou aqui, conversando com você.
— E o que eu tenho a ver com isso? — questiono, porque não vejo nenhuma razão de eles
me envolverem nessa coisa sórdida.
— No fim, foi você quem saiu lucrando— diz ela.— Pelo que descobrimos, você se deu
bem, está grávida do ricaço e vai casar. Enquanto eu estou grávida e meu irmão desempregado.
— Estão assim porque procuraram por isso. Não tenho nada a ver com essa falcatrua— a
raiva aparece em seus olhos.
— Queremos dinheiro para sumir dessa cidade e nunca mais terá de ouvir falar de nós —
fala.
— E acha que pode tirar de mim? — claro que sim, mas ela estava enganada comigo. —
Por que eu lhe pagaria?
— Podemos dizer para seu namoradinho que você tramou tudo isso— ela dá um sorrisinho.
— O que ele acharia disso tudo, hein?
Não acredito que essa mulher seria tão amadora que tentaria me chantagear.
— Acho que você se enganou comigo, não sou nenhuma “ricaça”— enfatizo o ricaça,
começando a levantar-me, mas ela segura meu braço.
— Espera, você pode conseguir esse dinheiro — fala, seus olhos arregalados.— Estou
dando um prazo de uma semana para você conseguir uma grana legal — ela dá um sorriso
debochado.— O seu namorado tem muita grana. Consiga com ele, estarei vigiando você.
— Vocês não ganharam dinheiro vendendo a história para a mídia? — deviam ter
conseguido algo, afinal.
— Coisa pouca! — ela faz um gesto de descaso, e penso comigo mesma que já dei ouvidos
demais para ela.
Levanto-me com dificuldade, estava sentindo dores nas costas desde ontem. Não uma dor
insuportável, mas aquela coisinha constante e chata que incomodava. Encarei a mulher na minha
frente:
— Jason não acreditará nessa história da carochinha, então melhor saírem dessa enquanto
não são presos por extorsão — digo e dou-lhe as costas.
— Ainda ouvirá falar de mim!
É claro que ouvirei; provavelmente na folha policial. Que gente mais ordinária. Como é que
uma pessoa pode pensar em algo desse tipo? Surpresa
era realmente uma palavra leve para o que estava sentindo. Ainda não tinha considerado a ideia de
que eles poderiam ter feito todo o caminho até aqui para me fazer mal de alguma forma ou à minha
filha. Se eles estavam tão desesperados como davam a entender, minha filha também corria o risco.
Em vez de ir para Ma Belle, eu volto para meu carro. Estava cada vez mais difícil dirigir.
Tinha conversado com o doutor Edgar e ele tinha dito que mesmo uma batida de menor intensidade
pode causar descolamento da placenta ou rompimento da bolsa, e não era aconselhável dirigir
depois dos oito meses. Bem, passaria a pegar táxi. Tinha medo de frear bruscamente e atingir minha
barriga no volante. Isso era um risco desnecessário, e amava minha pequerrucha para colocá-la em
risco.
Mudei de ideia a caminho do estacionamento e resolvi pegar um táxi; não queria voltar
sozinha onde estava meu carro. Agora começo a temer e pensar se o irmão maluco não poderia
estar esperando o momento de atacar. Dei o endereço da empresa de Jason ao taxista e peguei meu
celular para avisar à Melissa minha ausência.
Chego ao edifício da empresa e caminho para a recepção. Peço para falar com Jason e sou
encaminhada para sua sala, no último andar. Quando saio do elevador, vejo Susan. Susan é uma
pessoa gentil, e acabamos nos dando muito bem.
— Júlia, que honra tê-la aqui — ela levanta e cumprimenta-me com dois beijinhos no rosto.
— O Sr. Lewis está em uma reunião. Se quiser, pode esperar na sala dele. Quer alguma coisa?
Chá?
Aceito e vou para lá, esperar. Fico zanzando pela sala, e depois de esperar por algum
tempo, sento na sua cadeira, atrás da mesa dele, e vejo uma pasta de documentos em cima da mesa.
Minha curiosidade é maior que minha prudência e pego para olhar.
Abro a pasta e vejo fotos de uma mulher idosa, não tão idosa, mas com traços bem
acentuados pelo tempo e maus tratos. Ela está meio curvada nas fotos, entretanto, dá para ver seus
olhos cinza claros. Conheço esses olhos! Tem um relatório, mas quando estou começando a ler, a
porta abre e Jason aparece. Ele para na entrada ao me ver com a pasta na mão. Oh, merda! Vai
achar que estou bisbilhotando. Levanto e dou um sorriso sem graça.
— Oi!
Ele olha da pasta para mim e vice-versa. Depois entra na sala, fechando a porta atrás de si.
— Oi. O que faz aqui? — segura minha mão e me puxa contra ele. Deve estar surpreso por
estar aqui, já que ontem à noite fui uma chata com ele, por causa do seu ciúme bobo. Recebo uma
beijo rápido nos lábios e, em seguida, ele pega a pasta e guarda na gaveta da mesa.
— Quem é essa? — pergunto, curiosa. Tenho ideia de quem seja, mas queria que ele
contasse.
— Minha mãe — surpreendentemente, ele não tenta esconder o fato. — Mas quero saber o
que a trouxe aqui — não me importo de adiar essa conversa, entretanto, o assunto que me traz aqui
é mais importante, eu acho.
— Recebi uma visita hoje — vou direto ao assunto.
— Visita? De quem? Onde? — sua testa enruga com preocupação.
— Samara Reis — digo e vejo-o abrir os olhos de espanto.
— O que diabos ela disse a você? Você está bem? — preocupado, me leva ao sofá do outro
lado da sala e senta, me colocando em seu colo. Ah, isso era bom! Coloquei minha cabeça no
ombro largo, e ele pega minhas pernas e as coloca em cima do sofá, deixando-me mais confortável.
Contei para ele toda a história maluca que a Samara havia me contado. Não deixei de
mencionar a parte que ela queria me envolver, não desejava mais desentendimento entre nós.

Jason

— Bom dia, Susan — digo ao entrar no escritório, às sete da manhã. Ela já estava em sua
mesa, como se não tivesse ido para casa no dia anterior. Eu quase nunca chegava primeiro que ela
na empresa.
Sentei-me à mesa e comecei a verificar alguns e-mails e responder outros. Meia hora
depois, Susan avisou que teria uma reunião e passou-me alguns compromissos para o dia.
Suspiro e pego o telefone para pedir para Susan me avisar quando Saulo chegar. Não saber
notícias era desgastante, e não queria que a coisa toda fosse parar nos jornais, como o caso da
inseminação. Minha têmpora lateja num começo de uma possível dor de cabeça e lembro-me do
porquê do meu humor hoje.
Deixar Júlia em casa ontem foi duro. Ela sabia se impor quando queria. Precisava ligar
para ela mais tarde.
Não demorou muito, Saulo aparece com novidades.
— Cara, recebi seu recado, não era necessário, já vinha falar com você— diz.
— Tem algo de concreto para mim? — exijo.
— Cara, está me devendo uma — diz quando se senta na minha frente. Estende-me uma
pasta, dizendo: — Descobri onde sua mãe está. Aí tem tudo o que você precisa saber — diz,
apontando a pasta.
Tem fotos da minha mãe, e realmente mostram que não foi uma miragem naquele dia: é
realmente a mulher que tinha visto. Pulo as fotos, não tenho nenhuma vontade de ver mais. Pego um
relatório onde diz que ela vive em um abrigo para pessoas desabrigadas em um bairro pobre. Sinto
meu coração acelerado. Vê-la dessa forma me traz um sentimento estranho em meu peito. Fecho a
pasta e a deixo em cima da mesa. Não quero ler nada agora, saber onde ela está já traz certo alívio.
— Pelo que pude descobrir, seu padrasto não está mais com ela — diz Saulo.
— Você falou com ela?
— Não. Conversei com o responsável pelo abrigo. Segundo ele, ela chegou lá há uns dois
anos, sozinha. Só que eles não a queriam lá por ela ser dependente químico, mas acabaram
aceitando, de outra forma ela iria para a rua.
Caralho! O filho da puta deve tê-la abandonado, no fim das contas.
— O que fará daqui em diante? —pergunta Saulo e não espera minha resposta. — Sabe, se
eu fosse você, procurava perdoá-la...
— Você não tem de achar nada, Saulo — interrompo, carrancudo. — Na hora certa, irei
agir.
Ele não insiste e acaba me perguntando de outros assuntos pertinentes à empresa. Estamos
conversando, quando sou chamado para a reunião.
Quando saio da referida reunião, estou entediado e penso em ligar para Júlia e saber como
ela e a minha linda que carrega passou a noite. Senti-la mexer é extraordinário e fascinante. A
primeira vez que senti seus movimentos, fiquei feito um bobo apaixonado e bêbado de amor por
minha filha. Não via a hora de tê-la em meus braços. Estava rindo feito um idiota quando vou para
minha sala, e qual não é minha surpresa quando Susan diz que tenho uma visitante inesperada aqui.
Destranco a porta e vejo Júlia na minha mesa, com a pasta que esqueci de guardar, nas mãos.
Porcaria! O que ela faz mexendo nas minhas coisas?
–Oi — ela diz, vermelha.
Entro, fecho a porta atrás de mim e caminho até ela.
— Oi. O que faz aqui? — pergunto e a puxo para mim, para que possa senti-la em meus
braços, e a beijo rapidamente nos seus lábios. Agarro a pasta e a coloco na gaveta. Vejo isso
depois, saber o porquê de sua visita é mais importante.
— Quem é essa? — pergunta, curiosa.
— Minha mãe — não tento esconder. Quero contar tudo para ela, afinal, seremos marido e
mulher. — Mas quero saber o que a trouxe aqui —acrescento.
— Recebi uma visita hoje— diz ela
— Visita? De quem? Onde? — Porra, quem a incomodou? Será que não via sua condição?
Malditos! Bem provável que fosse ainda da impressa, querendo saber alguma merda.
— Samara Reis— O quê? Que porra essa desmiolada quer?
— O que diabos ela disse a você? Você está bem? — olho em todo seu corpo e não vejo
nada anormal. Levo-a ao sofá e a coloco no colo, e ela conta o que tinha acontecido. Puta que
pariu!
Dizer que estava a ponto de matar alguém era pouco. Bando de filhos da puta! Bem, tinha de
fazer algo com relação a esses dois bandidos. Mas, primeiro, tinha de cuidar do meu amor, que
mesmo se fingindo de durona estava tremendo em meus braços. Adorava quando ela abaixava a
guarda, como naquele momento, e me deixa cuidar dela.
— Você confia em mim, doçura? — pergunto baixinho.— Confia em mim para dar um jeito
em nossa bagunçada vida?
— Se eu disser que sim? Que por mais que não queira, passei a confiar em você aos
poucos? Só tenho um pouco de medo de que, no fim... — ela não termina e olha para mim. Seus
olhos verdes estão enormes e sinceros quando beijo suas pálpebras. Porra! Era um bastardo
sortudo!
— Eu confio em você também, doçura — sussurro. — Desculpe ontem à noite, mas quando
penso em outro homem perto de você, fico maluco.
— Você é maluco, Jason, nem precisa de ajuda nesse quesito. Além de bipolar, é
Neandertal — diz, rindo.
— Nossa! Você me ama mesmo — brinco e tento fazê-la esquecer das coisas ruins que
aconteceram hoje. Beijo-a enquanto a deito no sofá. Irei passar longe desses peitos suculentos, mas
irei batizar meu sofá, ah, vou...
Capítulo 17

Jason
Estava com um sorriso nos lábios enquanto via Júlia dar os últimos retoques no quarto de
Nicole no seu apartamento. Ria, porque esse quarto certamente não seria usado. O tempo voava, e
daqui a uns dias teríamos nossa filha nos braços. Sinto o peito inchar de amor por ela.
— Diga-me, qual é a grávida que está próximo a ter o bebê — implico — que fica fazendo
essas acrobacias, iguais a você?
— Uma que gosta de fazer, ela mesma, o quarto de sua filha para ficar perfeito — ela
infantilmente mostra a língua para mim.
—Ah, essa língua! Posso fazer um uso adequado dela— olho o relógio e continuo: — Que
horas sua mãe chegará mesmo?
Hoje irei conhecer a mãe da Júlia. Não tive a oportunidade de conhecê-la ainda. Porém,
hoje ela virá e, segundo Júlia, ficará até sua neta nascer.
Sinto uma alegria em saber que falta pouco para nossa filha vir ao mundo. Cinco semanas,
para ser exato, se tudo correr bem.
Júlia tem sido uma pessoa extraordinária na minha vida. No fim das contas, vou ter de
agradecer à clínica por nos unir. Nunca pensei que pudesse amar uma pessoa, me julgava inumano
nesse sentido. Minha arrogância muitas vezes camuflava essa fragilidade emocional que fazia parte
de mim. Poucos meses atrás, nem cogitaria pensar nessa palavra para descrever alguma parte de
minha “fragilidade”. Mas tinha de vir uma mulher “turrona” e me desconcertar dessa forma e uma
filha que já era louco por ela sem a conhecer.
— Ela irá chegar às três da tarde. Você irá comigo ao aeroporto?
— Claro que sim. Venha, vou levá-la para almoçar.
— Então, vou pegar minha bolsa.
— Tão dócil você, doçura— digo, rindo de sua imediata aceitação. Ela tinha um ponto
fraco agora: comia por duas.

****

Quando sentamos para almoçar, uma hora depois, Júlia mordiscava a comida no seu prato.
— Você está bem? Passou a fome? —pergunto, espantado.
Geralmente ela devora tudo, e rápido.
— Estou preocupada com você— diz.
— Comigo? Mas, por que isso?
Ela fica pensativa por um instante.
— Já se passaram três semanas que o Saulo deu aquele dossiê da sua mãe e você
simplesmente ignora esse fato — fala, e retraio-me automaticamente. — Por que você pediu para
localizá-la, afinal?
— Júlia, não é o momento para isso. Não vamos falar disso agora.
— E quando será esse momento, Jason? Pelo que li naquele relatório, ela é doente e talvez
tenha ido te procurar por algum motivo — fala, e sei que ela tem alguma razão. — Adiar as coisas
não mudará nada. Por que não dá uma chance para você mesmo, Jason? Deixa o ressentimento de
lado, esse rancor e raiva que carrega pode afetar nossa filha, pense nisso. Se dê uma chance, por
favor, e, principalmente, dê uma chance à sua mãe. Entendo você e não tiro sua razão de se sentir
assim, entendo de verdade, mas ela é sua família.
Eu tomei uma respiração profunda, enquanto tomo minha bebida.
E eu não sei? Enfim, tinha contado para ela que minha mãe tinha aparecido, e daí meu
motivo de procurá-la e ter aquele relatório. Não tinha tido a coragem de enfrentar meu passado e
minha mãe, porém sei que tenho de ir lá. Mas, como? Não sinto nada além de pesar por essa
mulher. Se fosse outro momento da minha vida, nem teria cogitado em procurá-la. Crescer sendo
maltratado por um homem que não era nada meu e saber que minha mãe não dava a mínima, se
estava morto ou vivo, não se importava com nada em relação ao seu único filho, era revoltante.
Entretanto, tinha de admitir que esses últimos meses tinham sido uma lição para mim, como homem
e, principalmente, como ser humano. Foi num momento de adversidade que uma das melhores
coisas aconteceu comigo, e agora tinha uma filha linda a caminho.
Deixando os pensamentos de minha mãe de lado, escuto meu celular tocar e vejo que é
Raul.
— Fala aí, Raul!
— Fala aí, cara, tenho algo para você e não sei se você vai gostar— diz ele.
— Do que se trata? — ele estava na cola de Samara e seu irmão.
— Não consegui localizar os dois, mas tenho um cara da polícia de olho em tudo que
envolve esse assunto — continua — No entanto, descobri algo estranho. Tenho uma pessoa no
fórum de justiça, e essa semana esteve alguém dizendo ser seu advogado e pedindo informação
sobre você.
Caralho!
Quando Samara Reis disse que não facilitaria para ninguém, realmente, não estava
brincando; estavam bem escondidos. Tenho o Raul atrás desses dois salafrários, sem encontrar
nenhum vestígio deles. Até agora. Se isso fosse alguma jogada daqueles dois...
Nos dias que se seguiram à visita de Samara a Júlia, tomei mais cuidado com ela. Não
confiava em deixá-la andando por aí sem um segurança e ser atacada por um louco.
Agora, isso! O que eles queriam saber sobre mim?

Júlia

— Hei! O que o Raul descobriu? — sei que Raul provavelmente encontrou alguma
informação nada boa, pela cara de Jason. Saímos do restaurante faz meia hora, e ele está
estranhamente calado.
— Nada, ainda— fala sucinto. Ok, sabia que Raul descobriu algo. —Não se preocupe com
isso, Júlia.
Pouco depois, ele manobra o carro para o estacionamento do aeroporto, e depois de
estacionar, caminhamos calmamente para esperar minha mãe. Ela chega vinte minutos depois. Está
vindo para meu casamento, que será daqui a uma semana. Sorrio para mim mesma, imaginando a
cara de Jason quando ele for avisado que está se casando, bem em cima da hora. O restante de
minha família virá um dia antes e ficará em um hotel, mas minha mãe ficará no meu apartamento.
Quero que ela esteja aqui, comigo. Casar nunca foi primordial para mim, mas já que estou
caminhando para isso, não custa nada ter sua família junto.
Minha mãe está na casa dos cinquenta anos, toda elegante e bonita, ainda. Encontro-a perto
do portão de desembarque e dou um abraço nela. Já faz quase um ano que não nos vemos e tudo
culpa minha, claro.
— Mamãe, que bom que você veio — digo, feliz.
— Deixe-me ver você — ela diz, se afastando e observando minha barriga, que está
enorme. — Você está linda! — ela acaricia meu ventre dilatado.
— Ah, mamãe! Venha, quero que conheça seu genro, o futuro papai— digo, enquanto a levo
para perto de Jason. — Jay, essa é minha mãe, Joane. Mãe, esse é Jason— apresento.
— Prazer em conhecê-la, senhora— diz educado, mas minha mãe o puxa para um abraço.
Vejo seu espanto pelo gesto de carinho espontâneo da minha mãe. Oh, céus! Ele, certamente, nunca
recebeu um abraço da própria mãe. Sinto um aperto no peito por ele. Irei fazer de tudo para que ele
perdoe a sua mãe, apesar de não saber o que ela quer, afinal.
— Chame-me de Joane — minha mãe fala, sorrindo calorosa.
Caminhamos para pegar a bagagem dela.
Capítulo 18

Júlia
— Você está linda, querida — mamãe fala, da poltrona onde está sentada, no enorme
provador onde estava, na prova de vestido de noiva. Tinha deixado isso para a última semana, para
que ela participasse desse momento comigo. Além do fato de minha barriga ainda estar crescendo.
Ela e Carla, quer dizer, Carla, estava com o nariz enfiado no celular, mandando mensagem.
— Carla? — chamo. — Esse seu namorado não trabalha não? — implico. Esses dois são
terríveis. Parece que vivem em completo estado de acasalamento, como ela própria fala. Hoje era
segunda, e Saulo sempre estava trabalhando...
Mas a entedia perfeitamente. Jason e eu não tínhamos mais vida sexual ativa – devo
salientar que a culpa não é minha – ele simplesmente acha que vai nos machucar se tentarmos fazer
amor. Por mais que o tente, ele foge, mesmo sendo nosso desejo visceral, inebriante e pulsante.
Meu desejo por ele cresce mais a cada dia, parece que lançaram um feitiço de amor entre nós.
Perdê-lo seria estarrecedor para mim. Eu o amo, mesmo não tendo confessado isso para ele, mas
parece que nos entendemos de uma forma singular e particular. Às vezes, percebo seu olhar de
carinho, ou mesmo de amor para mim, e sinto-me feliz que tenhamos chegado até aqui. Meses atrás
éramos como cão e gato, e onde estamos agora? Vamos nos casar daqui a cinco dias, e ele é
maravilhoso comigo. Aprendemos tanto nesse percurso e ainda precisamos nos doar e aprendermos
mais. Cada dia está sendo um dia de aprendizado, construção e fortalecimento da nossa relação
conturbada e de tantas controvérsias. Se tudo der certo, depois que tudo se resolver e continuarmos
juntos, acho que nada nos separará.
— Terra chamando Júlia— ouço a voz de Carla. Quando ela tem minha atenção, continua:
— Você acha que dará certo essa coisa de casamento surpresa? — ela ri.
— Claro que sim— digo firme. — E você, o que acha?— faço uma pirueta para mostrar
meu vestido de noiva, confeccionado em renda Lyon, trançada com um fio fino de seda, dando uma
aparência mais delicada. A renda era em um desenho intrincado, ornamental, delicado e macio ao
toque. Tinha optado por um creme tão clarinho que parecia branco, de um ombro só, com caimento
leve a partir da cintura alta até o chão, com uma calda pequena e perfeita para minha barriga
enorme. Era superconfortável. — Ficou bom? E saia desse telefone, afinal, vocês duas vieram dar
opiniões.
— Está linda, Júlia, você é a noiva menos estressada que conheço — ela joga o celular na
bolsa e escuto o toque de uma mensagem. Pobre Saulo. — Está perfeito.
Depois do último retoque no vestido, que será feito um dia antes do casamento por motivos
óbvios, será enviado para o SPA onde terei meu dia de noiva bem merecido, onde me arrumarei
sem que Jason saiba. Sou tão bipolar quanto Jason. Armar esse casamento surpresa é coisa de gente
maluca, mas, quem disse que não pode ser perfeito? Ele surpreendeu-me sendo romântico, levando-
me à Itália, e não é só isso: tinha parado de dizer que queria minha filha e parecia certo que
ficaríamos bem juntos. Isso, com certeza, era melhor que brigar na justiça, então, também poderia
fazer isso para ele. Queria provar para mim mesma que confiava nele a esse ponto e dar um passo
nessa direção. Casar com ele seria minha entrega total de confiança, e sabia que tinha sido dura até
aqui. A razão de ter demorado todo esse tempo foi gerada por ele mesmo, quando me pediu para
tirar meu bebê. Aquilo tinha me rasgado por dentro, e senti medo de ele ser um homem frio e
calculista, a ponto de não respeitar nem uma vida que começava. Entretanto, ele vinha mudando a
cada dia a olhos vistos, então, por que não podia ceder um pouco? Essa era uma via de mão dupla.
Sinto um chute na barriga e solto um gemido quando desço do pequeno tablado, onde estava
provando o vestido. Levo minha mão ao local da pontada e massageio. Essa garotinha ia ser
terrível!
Saímos as três para um almoço com a organizadora do casamento. Já no restaurante, minha
mãe questiona sobre a família de Jason, enquanto esperamos Elisa, e eu desconverso, pois ele
talvez não goste que comente sobre sua mãe.
— Não conheceu os pais dele? — ela insiste
— Mamãe, isso não importa tanto — digo. — Ele nem sabe quem é seu pai biológico. —
meu celular toca, indicando que recebi uma mensagem. Abro achando que é de Jason ou Melissa,
que ultimamente anda tão atarefada com a Ma Belle, mas não reconheço o número. A mensagem
diz:

Tenho uma informação valiosa que te interessará.

Além de ser um número desconhecido, não havia identificação do remetente da mensagem.


Estranho!
—O que foi, filha? — minha mãe pergunta. Estou dura no lugar, minha cabeça a mil por
hora. Que informação? Isso seria um trote, truque de alguém?
Mostro para minha mãe e Carla; olho ao redor no restaurante, procurando o que não sei.
Tinha um motorista agora, e ele também cuidava da minha segurança. O procuro e o vejo em uma
mesa um pouco afastada da nossa. Sinto certo alívio de tê-lo lá perto.
— Você tem ideia de quem possa ter enviado isso? — Carla questiona
— Só posso pensar em uma pessoa, até porque não tenho inimigo — digo. — Mas não
quero preocupar-me com isso agora, tenho menos de uma semana para acertar um casamento.
Pouco depois Elisa aparece, e começamos a acertar os últimos detalhes da cerimônia.
Como não podemos convidar muita gente, só alguns diretores da empresa serão convidados por
Saulo a irem à recepção em um hotel, na cerimônia serão só os amigos mais íntimos, que no caso
serão os padrinhos, além de Selma e Catarina.

Jason

— Então, estou querendo que seja meu padrinho de casamento — Saulo diz, colocando sua
cerveja na mesa. Estamos em um bar, nessa segunda à noite, e ele deve ter bebido muita cerveja e
não percebi, porque não está dizendo uma maldita coisa certa aqui.
— Deixa ver se entendi: você está preparando um casamento surpresa para Carla? E quer
que Júlia e eu sejamos seus padrinhos?
— Exatamente. Quero algo romântico, sabe — diz, e fico confuso. Por que diabos esconder
da noiva o próprio casamento? Ela vai odiar.
— Saulo, isso não combina contigo, cara — sorrio. — Carla vai odiar você. Toda mulher
quer que o dia do seu casamento seja totalmente organizado, e tem todos aqueles rituais que elas
acham bonitinhos, vai por mim.
— Falou o sabichão, que não conseguiu convencer a própria noiva a casar — ele cai na
gargalhada. Idiota!
— Isso será uma questão de tempo— digo, e nem eu acredito nisso.
— Se você está dizendo... — ele levanta as sobrancelhas.
— Estou te falando: nunca, durante meus 35 anos, fiz tanta coisa de mulherzinha, como
tenho feito ultimamente, para agradar Júlia — isso era verdade, estou virando um verdadeiro
maricas.
Saulo ri alto. Era outro que não ficava devendo nada a mim no quesito mariquinhas com
mulheres. Depois de mais umas cervejas e um papo de homem para voltarmos para o estado macho
alfa, nos despedimos e cada um pega um táxi: álcool demais no sistema.
Quando chego em casa, Selma vem ao meu encontro, afobada.
— Meu filho, que bom que chegou! — exclama.
— Ainda acordada, Selma? O que aconteceu? — fico imediatamente preocupado. — Você
está bem?
— Sim.
— Fale, o que aconteceu? — pergunto enquanto a guio para sentar.
— Bem, recebi um telefonema hoje muito estranho, filho—diz, torcendo as mãos em seu
colo.
— Certo. E o que dizia para te deixar assim, Selma? — fico preocupado com ela. Faço uma
anotação mental de me lembrar de contratar outra pessoa para ficar de dia com ela. Sei que ela não
sairá de perto de mim tão cedo.
— Primeiro, que não deixou nem eu me identificar, foi logo dizendo que se você não
pagasse o preço, você ia lamentar — ela me olha com o cenho franzido. — Não entendi nada, meu
filho, mas depois fiquei muito preocupada com você.
Mas que porra!
Quem deixaria um recado como esse? O que lamentaria?
— Sabe dizer se era homem ou mulher? — penso em Samara e sua ameaça a Júlia, de que
ela teria notícias suas.
— Ah, meu filho, parecia muita estranha, não deu para saber— ela lamenta. — Queria
poder ajudar, mas essa velha já não pode ser tão útil.
— Não irá acontecer nada, Selma, acalme-se — faço-a levantar. — Vá dormir e deixe de
pensar bobagem. — ela segue para o quarto e pego meu celular.
— Raul, preciso que você descubra o que aqueles dois salafrários andam fazendo. —
digo quando ele atende— Alguém ligou aqui para casa hoje e fez algum tipo de ameaça que
assustou como o inferno a Selma.
— Você acha que pode ser eles? — pergunta Raul. — Aquela mulher terá o filho esses dias
e ainda tem tempo de infernizar a vida dos outros?
— Bem, ela não ameaçando minha filha é o que importa. — digo, puto — Nunca imaginei
que isso tomaria esse caminho. Coloque mais homens procurando-os, não confio em pessoas
gananciosas e corruptas.— Ele fica de verificar a origem da ligação, porém sabia que isso não
poderia dar em nada. Depois de desligar, resolvo falar com Júlia, tinha passado o dia
hoje praticamente sem falar com ela.
— Oi, Jay— sua voz suave atendeu no primeiro toque, parece que minha doçura estava com
saudade. Abro um sorriso.
— Isso foi saudade de mim, doçura? Atendendo imediatamente? — caçoo dela — Como
estão as mulheres da minha vida? Minha filha deve estar com saudade do papai dela.
— Estamos bem, sim.
— Tem certeza? As compras deram certo com sua mãe e a Carla? — deixo o celular no
viva-voz, em cima do balcão do banheiro e começo a tirar minha roupa.
— Aconteceu algo que gostaria de falar para você. — diz, e fico imediatamente alerta —
Recebi uma mensagem hoje.
— O quê?
—Dizia: “Tenho uma informação valiosa que te interessará” — fala, e sinto minha
mandíbula ficar dura por causa da tensão. Merda! Com certeza é a mesma pessoa que falou
com Selma.
— Se mandou um SMS, tem o número, não é? — ela fala e eu anoto. Mandarei para o Raul
verificar e ver de onde o número vem.
— Você está bem com isso? Quer que eu vá aí ficar com você?
— Estou bem, só queria te falar — ela diz, limpa a garganta e resmunga: — Quero te pedir
algo.
— Peça, querida!
—Nossa, você fica tão bonitinho, carinhoso — ela ri, e vejo que estou virando um pamonha
de verdade.— Quero que você me leve onde sua mãe vive — dispara essas palavras, e sinto um
peso no meu peito, parece uma tonelada de chumbo. Poderia fazer muitas coisas para agradá-la,
entretanto, isso não posso.
— Sinto muito, doçura, mas isso não posso fazer por você — digo, pesaroso.
— Faça por você mesmo, J, por favor — diz ela.
— Veremos isso, Júlia. — digo, relutante. Ainda não estou pronto e nem sei se um dia
estarei.
— Ah! Na próxima segunda-feira terei a última consulta com o Dr. Edgar — ela muda de
assunto, o que acho ótimo.
— Claro que irei com você — digo. Tenho ido a todas as consultas, depois do fiasco do
começo de sua gestação. Após nos despedirmos, desligo e vou para um banho.

Júlia

Dizer que o resto da semana foi correria, era eufemismo. Minha mãe estava junto com a
organizadora, colocando tudo em ordem para que fosse perfeito.
Na quinta-feira, dois dias antes da cerimônia, acordei com mãos passeando pelo meu corpo
e lábios deslizando em todo meu rosto. Relaxo quando sinto o cheiro inebriante dele. Ah, não! Ele
não começaria algo que não iria terminar, não é?
— Humm, Jason — murmuro, sonolenta — Você é torturador, sabe disso, não é? Começa
algo que não vai terminar.
— Deus, doçura. — ele sussurra em meu ouvido — Você estava tão linda dormindo que não
resisti — agarro seus cabelos e trago seu rosto ao nível do meu. Ficamos assim por um momento,
apenas nos olhando fixamente nos olhos um do outro. Necessidade crepitava entre nós, parecia que
uma bolha tinha nos envolvido, e só éramos nós. Meu corpo estava em estado de alerta total, cada
sentido mais aguçado, esperando e querendo seu toque. — Você cada dia fica mais linda, minha
doçura.
Fecho meus olhos quando ele desce sua boca na minha, querendo muito mais que meros
beijos. Quero tudo dele: seu corpo, sua força, sua alma, seu amor! Quero que ele abra seu coração
para mim; se doe para o nosso amor, porque eu era um caso perdido. Puxo sua camisa para fora da
calça e deslizo minha mão por seu abdome plano, enquanto aprofundamos o beijo cada vez mais.
Tão logo o beijo começa, Jason se afasta. Sua respiração ofegante e entrecortada. Estava a
ponto de suplicar, porém ele me corta.
—Doçura, hoje temos uma missão— diz e sua feição fica séria. — Quero que vá comigo ao
abrigo. — Quê? Nossa, isso foi mais rápido do que imaginei.
— Quer ir ver sua mãe? — tenho de perguntar, porque isso é incrível.
E nosso casamento será depois de amanhã? Ai minha nossa! Seria muita coisa acontecendo
em tão curto espaço de tempo?
Capítulo 19
Jason
— Tem certeza disso? — ouço a voz de Júlia enquanto dirijo rumo ao bairro periférico,
onde fica o abrigo que vive minha mãe. Espero não me arrepender de ir vê-la, penso comigo
mesmo. Tomar aquela decisão tinha sido duro.
—Claro, Júlia, mas ainda não estou tão certo do que irei encontrar. — digo — E de que
forma irei me portar.
— Já te falei, dê o melhor de você nisso, Jason. — ela diz.
Paro o carro em frente a um casarão velho e bem conservado, apesar do lugar onde está
situado. O endereço que Saulo tinha passado para mim era de um bairro bem carente. Desço e dou
a volta para abrir a porta para Júlia.
— Pronto? — Júlia sorri, e me sinto mais confiante. Merda, isso era péssimo, odeio sentir-
me fraco.
—Não. — digo com sinceridade.
Damos com uma pequena recepção ao entrarmos na casa, e fomos recebidos por uma moça
que nos leva ao encontro do diretor do lugar.
Somos levados a uma sala onde o responsável da ONG irá nos receber. Sinto meu coração
bombear em meu peito, e parece que as paredes estão se fechando ao meu redor; minha boca está
malditamente seca. Seguro a mão de Júlia tão forte, que deve estar machucando.
— Ah! Você deve ser o senhor Lewis? — diz um senhor de aparência austera, assim que a
recepcionista nos faz entrar na sala. — Sentem-se. — convida — Sou Antônio Rangel.
— Sim, falei com o senhor ontem, marcando essa visita. — digo — Essa é minha noiva,
Júlia. — apresento enquanto Júlia estende a mão em cumprimento.
— Bem, você disse que era o filho? — diz, enquanto senta de volta na cadeira, atrás da
mesa. Assinto e ele continua: — Janet tem sido nossa hospede há uns dois anos. Nunca procuramos
saber se ela tinha algum parente, porque ela raramente fala — ele pega uma ficha parecida com
aqueles prontuários médicos. — Apesar de termos um psicólogo, que presta serviço voluntário
para a casa de recuperação. Mesmo assim, ela nunca menciona família ou sequer um parente.
Ele diz que ela é dependente químico, coisa que já sabia, é claro, porém escuto mesmo
assim.
Escuto-o falar e falar da ONG... Por alguns instantes, fico imerso em conjecturas de como
será que ela está. Impaciência me toma. Odeio que as pessoas enrolem e não vão direto ao assunto
que interessa.
— Bem, aqui nós fazemos aquilo que podemos, pois não temos recurso...
— Certo, quando iremos ver a senhora Lewis? — Júlia pergunta, deve ter notado minha
impaciência.
— Sim, claro, quando quiserem. — ele levanta e nos leva para uma sala maior, onde estão
algumas pessoas em diversas atividades. Esquadrinho rapidamente e a encontro num canto.
Percebo que estou paralisado. Não quero ir lá falar com ela. Tenho uma compulsão de dar
meia-volta e sumir dali o mais rápido possível, mas a mão de Júlia está na minha e não consigo dar
um passo. Acho que não estou preparado para isso. A neguei, odiei e ignorei durante tanto tempo,
que agora não sinto absolutamente nada, a não ser indiferença.
— Bem, mantemos nossos internos com ocupações para mantê-los longe das tentações e,
além disso, é uma forma de reintegrá-los à sociedade com o trabalho... — ele divaga mais uma vez,
em explicações sobre as atividades com artesanatos feitos com reciclagens. — No entanto, temos
poucos recursos para mantê-los aqui.
Saio da minha paralisação quando Júlia me puxa em direção à mulher envelhecida, em um
canto, onde pinta desenhos padronizados em latas revestidas com tecidos.
— Janet? Você tem visita. — Rangel fala e ela levanta a cabeça de onde estava absorta no
trabalho artesanal, e quando ela percebe minha presença, paralisa igual tinha feito momento antes.
— Filho... — sai um sussurro espantado de seus lábios. Porra! Odeio que ela me chame
assim. E percebo que não estou pronto para ter uma conversa com ela, ainda. Algo me impedia de
sequer olhar diretamente para ela. Olho para Júlia e falo:
— Não posso fazer isso ainda, desculpe. —saio puxando Júlia pela mão. Caralho, sou a
porra de um fracote! Não olho para trás para ver a provável cara de espanto do senhor Rangel.
— Heeei! — Júlia chama, e me lembro de ir devagar, por causa dela. Merda! — O que
aconteceu?
Não respondo até chegarmos ao carro. Abro a porta para Júlia, prendo seu cinto de
segurança, depois dou a volta no carro e sento no banco do motorista.
— Desculpe, doçura. — falo. Estou meio envergonhado de minha fraqueza. — Pensei que
poderia fazer isso. — encosto minha cabeça no encosto do banco e fecho meus olhos por um
momento.
Sinto seus dedos nos meus cabelos e suspiro profundamente. Ela me puxa e beija meus
lábios amorosamente. Devolvo o beijo, porque sou incapaz de negar-me a seus beijos. Quando
paramos o beijo, ela me olha profundamente:
— Não tem problema, Jason. Poderá voltar quando estiver pronto. — murmura.
— Receio que nunca estarei pronto. — digo com honestidade.
— Tudo bem, o importante é que você está tentando. — ela encosta sua cabeça em meu
ombro — E estarei aqui, sempre que precisar. Trazer-me aqui com você, hoje, foi muito importante
para mim.
— Obrigado, doçura. Se não fosse por você, em hipótese alguma estaria aqui. Pode ter
certeza disso. — digo, e é verdade. Suas palavras, no outro dia, tinham calado fundo em minha
decisão. Porém, agora estava correndo feito um menino de cinco anos de idade, e talvez fosse
mesmo.

Júlia

Sinto um pesar por Jason não ter ficado e falado com sua mãe. Achava isso tão triste.
Talvez por ter minha mãe comigo, pensasse dessa forma. Por mais que ela tivesse sido perversa
com ele no passado, ele agora era um adulto, teria de deixar o passado para trás. Posso estar sendo
leviana com seus sentimentos, ou achar que ele não tenha razão para agir do jeito que agiu agora há
pouco, se afastando e deixando passar uma oportunidade de ao menos conversar. Devo ser uma
burra mesmo. O que sei sobre rejeição? Nada. Fui criada com muito amor e carinho por meus pais,
não conheço o sentimento de um dos dois me rejeitarem e não se importar comigo. E não devo estar
julgando-o agora.
Observo-o dirigir e levar-me de volta ao meu apartamento. Para distrair, ligo o rádio do
carro, procurando uma estação, e paro quando ouço: Everybory Hurts -R.E.M

Cause everybody hurts


(Pois todo mundo sofre)
Take comfort in your friends
(Consiga conforto em seus amigos)
Everybody hurts
(Todo mundo sofre)
Don't throw your hands, oh no
(Não se resigne, oh, não!)
Don't throw your hands
(Não se resigne)
If you feel like you're alone
(Se você sentir como se estivesse sozinho)
no, no, no, you're not alon
(Não, não, não, você não está sozinho)

Enquanto a música continua tocando, estendo minha mão e a descanso em sua coxa. Quero
que ele entenda o recado. Ele agora tinha duas mulheres com ele, e viemos para ficar.
Em vez de levar-me para meu apartamento, como achava que ele faria, fomos ao dele e
passamos a tarde trancados em sua suíte. Jason carente era uma coisa linda de se ver, mostra que
ele é mais humano do que ele demonstra.
Bem, agora tinha de pensar em nosso casamento, que seria em menos de quarenta e oito
horas. Sentia um frio na barriga! Estava na cama com ele, dormindo ao meu lado, quando me
lembro de algo. Oh, merda! Levanto, e depois de vestir um robe, vou até minha bolsa, que está
jogada de qualquer jeito numa poltrona. Pego meu celular e ligo para Elisa. Enquanto toca, saio
para a varanda.
— Júlia, que bom que ligou, já ia mesmo te ligar... —ela discorre o que quer fazer na
igreja, e depois acertamos alguns detalhes que ela acha pertinentes. — Então, qual o motivo de sua
ligação?
— Preciso de uma aliança masculina. — digo — Quero algo bonito e discreto, bem
masculino. E, se der tempo, quero uma inscrição nela.
— Só tem um problema... precisamos do tamanho. — ela ri — Mas se ficar grande ou
pequena, manda ajustar depois, não é?
— Ligo para você depois com essa informação. — digo e me despeço dela.
Capítulo 20

Júlia
É hoje que irei me tornar a senhora Lewis!
Hoje que estarei dando um passo importantíssimo na minha vida e na vida da minha filha.
Estou uma pilha de nervos. Entretanto, sei que não estou sozinha nisso, tenho minha família e minha
melhor amiga de sempre ao meu lado, apoiando essa loucura que inventei. Droga! Minha vida
mudaria daqui para frente, no entanto, não estou arrependida de ter tomado esse caminho. Não sou
mulher de correr de um desafio.
Só espero que ele vá ao próprio casamento. A mentira do Saulo, dizendo que ele que iria
casar, estava funcionando bem.
Sábado amanheceu ensolarado, perfeito para um casamento. Saio com Carla e mamãe para
o SPA logo cedo, iremos passar o dia todo lá e, claro, o Saulo se encarregaria de levar nosso noivo
desavisado para a pequena igreja.
Meu pai e irmão tinham chegado no dia anterior e estavam em um hotel. Tínhamos jantado
juntos ontem à noite. Não tinha considerado deixar Jason conhecê-los antes da cerimônia, ele não
imaginava a possibilidade de que estávamos casando, e queria que fosse uma surpresa de verdade.
Meu pai estava na casa dos sessenta anos, ainda bem bonito e charmoso; era alto e atlético
para sua idade. Meu irmão, César, tinha vinte anos e ainda era um pentelho. Tinha saído de perto de
meus familiares por querer vencer na vida por mérito, mas sentia muita falta deles. Só que, aqui e
agora, era minha vida. E faltava pouco para ter minha família, para ter tudo que uma pessoa normal
poderia querer.
Como não sairíamos em lua de mel, tinha reservado a suíte nupcial do hotel, onde seria a
recepção, para o fim de semana.
O casamento seria às quatro da tarde, depois de todo ritual no SPA, como a massagem que
tinha amado, por estar um pouco inchada, e aliviarem um pouco as dores nas costas. De acordo
com o Dr. Edgar, as dores eram normais. Adorei tudo, e quando fiquei pronta, entrei no carro para
ir à igreja, que tinha sido preparada por Elisa. Sabia que não teria muita gente, só alguns
funcionários de Jason estariam na recepção, porém, tinha convidado Catarina, Selma, Vivian, Caio,
Melissa e Sylvia, minha advogada, além da Carla e Saulo, que seriam nossos padrinhos. Sentia-me
nervosa. Agora que tudo estava para acontecer, não sei qual será a reação de Jason a essa minha
surpresinha. Pode ser boa ou ruim, não sei.
Como meu pai me levaria ao altar, ele esperava por mim fora da igreja. Queria dar uma
olhada lá dentro, por não ter visto como tinha ficado, apesar da foto que a Elisa tinha me enviado.
O arranjo estava simples, um tapete vermelho e arranjos de botões de rosas brancas e vermelhas.
Já meu buquê, nada mais que uma rosa vermelha com a haste longa, contrastando com meu vestido
quase branco. Não queria nada volumoso, de volume já bastava minha barriga, que cada dia ficava
maior. Meu cabelo estava semipreso e ondulado, ornamentado com uma tiara de pedrarias, já que
não usava um véu. No geral, estava o mais simples possível e eu gostava das coisas assim.
Vejo meu pai caminhar para o carro onde mamãe, Carla e eu estávamos esperando. Elisa
daria o sinal para entrar. Meu estômago estava doendo de ansiedade.
— Pronta, noivinha? — Carla diz, sorrindo.— Mr. Ogro terá um ataque cardíaco. Quero ver
isso de perto! — Ela ri ainda mais
— Você é maldosa, dona Carla— digo, forçando um sorriso que sai apertado.
Lembro que meu pai não conhece Jason formalmente ainda. Oh, droga! Por que fui inventar
isso, dessa maneira? Bem que poderia ter feito isso normal, como as pessoas normais agem. Por
que tinha de fazer as coisas complicadas? Essa era eu!
A mulher que queria tudo simples estava fazendo do jeito mais complicado algo tão
simples! Só era ter dito “sim” para Jason nesses últimos meses e tudo teria sido bem fácil.
Elisa aparece na frente da igreja e vem em direção ao carro.
— Tudo certo. — diz, quanto chega perto— Pronta? O noivo nem está nervoso. — ela ri.
— Conseguiu a aliança a tempo? — pergunto.
— Sim. Tudo certo. Vamos?

Jason

Saulo era um jumento, mesmo. Onde já se viu fazer casamento surpresa? Coitada da Carla,
nem teria um vestido de noiva! Ainda bem que Júlia a levou para um SPA e passaram o dia todo lá.
Saulo tinha aparecido todo sorridente, quando eu planejava um sábado com a mãe da Júlia.
Nem lembrava mais de casamento nenhum. Por ter passado toda a semana trabalhando, não tinha
dispensado um dia para dar a atenção que a mãe da Júlia merecia, já que um dia casaria com sua
filha. Tinha parado de insistir em casar com Júlia, porra de mulher de cabeça dura do caralho!
Pensar em Júlia me faz lembrar de que dormi longe dela a semana toda. Estava me matando, para
falar a verdade, estava morrendo de saudades dela.
— Cara, eu te avisei que casaria nesse sábado— Saulo chia indignado quando digo o que
tinha planejado. — E, como um bom amigo que sou, mandei fazer um terno especial para meu
padrinho preferido.
— Saulo, isso não vai dar certo, melhor fazer como manda o figurino— aviso. Estou
deitado na varanda do meu apartamento, onde tinha tomando meu café da manhã.
— E Júlia, ainda não decidiu te tirar da miséria? — ele ri, debochado. — Mulher sábia
essa. Casar com um cara como você, meu amigo, tem de ter muita coragem. Com essa cara feia,
só sendo um favor à humanidade.
—Ha...Ha...Ha... — simulo uma risada sem graça.
— Falando nisso, cadê teu caderninho de nomes? — sim, tenho um caderninho de nomes,
porém não o uso mais faz um tempo. Verdade seja dita: nem lembrava mais dele. Minha doçura tem
ocupado todos meus pensamentos.
— Que caderninho? — me faço de desentendido.
— Porra! Incrível! Está mesmo mudado, quem diria! — franze a testa — Agora podemos ir
ao meu tratamento de beleza? Afinal, só casarei uma única vez.
— Tratamento de beleza? Ah, Saulo, não sabia que era desse tipo de homem. — debocho
— Ou devo dizer mulherzinha?
— Foda-se. — ele parecia zangado enquanto eu ria — Vamos, temos um terno para pegar
também. E você que será a mulherzinha hoje. — diz, enigmático.
— Quê?
— Nada. Tem depilação hoje no nosso momento vip. — diz.
— Ainda não cheguei ao seu nível, Sr. Calvet.
Visto jeans, camisa de malha e pego minhas chaves do carro. Sigo para a cozinha, onde
Selma está com um sorriso estranho e tão largo que parece que viu passarinho verde.
— Selma, estou saindo, ficarei fora o dia todo, não sei a que horas volto e...
— O menino Saulo me convidou para ir ao casamento dele, espero que não se importe. —
ela interrompe.
— É claro que não, Selma. — digo, beijando sua testa — Largue isso aí, vá se cuidar e
ficar toda bonitona. Mandarei um táxi vir aqui pegar você, certo? Não quero a senhora andando por
aí sozinha.
Porra! Tinha mais carinho por Selma do que por minha mãe. Isso era uma merda.
Encontro Saulo impaciente, esperando na sala
— Você sabe que horas são? — implica, apontando o relógio.
Antes de buscarmos o terno, passamos no salão que ele vai sempre. Coisa que acho
desnecessário, mas, ele é o noivo, não é?
— Até parece que sou o noivo, pelo tratamento vip. — resmungo pelo excesso de zelo que
fui tratado — Parece que quem vai casar sou eu. — digo para Saulo, na saída do salão.
Depois de nos vestirmos para a cerimônia, levo Saulo para um drink de despedida de
solteiro, já que ele não teve uma.
— Aos seus últimos minutos de solteiro. — digo e brindo — Agora falta pouco. E eu
achando que casaria primeiro que você. — sorrio.
— Não esqueça que você será o próximo, além de que, será papai. — o telefone dele toca,
e ele pede licença para atender. Estranho, ele sempre atende na minha frente.
— Oi, Elisa.
O escuto falar. Quem é Elisa? Será que ele está tendo um caso? Está ferrado se Carla
sonhar, do jeito que ela é louca, castra o meu amigo. Estou rindo do pensamento do grande
advogado castrado quando ele volta.
— Está pronto?
— Devia perguntar a si mesmo, já que é você que está indo para a forca. — zombo —
Falando nisso, quem é Elisa?
— Ah! É a organizadora do casamento — ele desvia o olhar e dá um meio sorriso.
Chegamos à igreja quinze minutos antes das quatro. Estou pensando em ligar para a Júlia.
Não falei com ela durante todo o dia, era estranho e inquietante. Conheço a tal Elisa, e ela parece
um tenente de quartel ditando ordens. É um furacão! Devia contratá-la e tirar umas férias
prolongadas.
Mas que porra faz aquele cara aqui?! O amiguinho da Júlia, Caio não sei das quantas. Ele
está com uma jovem e um carrinho de bebê. Viro-me para Saulo.
— Você conhece esse cara? O que ele faz aqui, no seu casamento? — aponto o merdinha.
Não engulo esse cara.
— Eu não. Pensei que era seu amigo— ele está brincando, não é?
— Estamos prontos, cavalheiros? — Elisa mira seus olhos em mim em vez de no noivo.
Estou a ponto de dizer que Saulo é que é o noivo, quando o celular dele toca e, dessa vez, ele não
se afasta para atender.
— Alô. Não posso falar agora. — ele franze o cenho, preocupado, enquanto escuta e depois
olha para mim — Tem certeza disso? Ok — ele desliga.
— Algum problema?
— Nada que não possa ser resolvido. — diz — Essa semana estava muita calma. — ele
resmunga.
— Fala, Saulo, está me deixando preocupado.
— Agora não é hora de falar disso, se concentre no casamento. — diz. Vejo-o silenciar o
celular. — Só algo que Raul descobriu.
— E por que ele não ligou para mim? Estou esperando a resposta dele sobre aquele
assunto.
— Ele conseguiu algo. Disse que eles ligaram para a empresa, já que, provavelmente, não
conseguiram seu telefone celular. Deixaram outro recado para você: querem dinheiro em troca do
silêncio deles ou sua mulher ficará sabendo do processo de guarda que você tinha dado início.
Mas que merda!
— Como diabos eles ficaram sabendo disso? — então lembrei que eles foram ao fórum
pedir informações a meu respeito. Bando de filhos da puta, chantagistas. Se Júlia ficar sabendo
disso, não sei qual seria sua reação. Poderia estragar tudo que tínhamos construído em termos de
confiança. Não podia deixar isso acontecer. Caralho!
— Deixaram algum contato? — estou mais que ansioso agora.
— Deixa isso quieto por enquanto, Jason. —diz Saulo — Agora tem um casamento prestes
a começar.
Elisa, que tinha saído, voltou com a mãe de Júlia, que sentou na frente, e percebo algo
estranho.
— Saulo, cadê seus pais, que não estão aqui? — pela primeira vez, vejo Saulo vermelho.
— Estão viajando. — diz simplesmente.
— Sim, seus pais têm a maior vontade de te ver casado e viajam no seu casamento? — isso
cada vez fica mais bizarro.
Reparo pela primeira vez ao meu redor. A igreja estava decorada com flores brancas e
vermelhas, tapete vermelho e candelabros numa luz suave, dando um toque de mistério ao lugar.
Tinha um coral e uma cantora em um lado da igreja. Tudo organizado pela "tenente" Elisa,
que caminha na nossa direção e entrega algo a Saulo.
— Prontos? A noiva vai entrar a qualquer momento, então, senhores, nada de conversas, por
favor.
Escuto uma música instrumental começar a tocar e vejo Carla aparecer na porta em um
vestido rosa claro, na altura do joelho, com uma rosa branca nas mãos e em nada parecendo uma
noiva. Mas que porra estava acontecendo ali? Ela caminha devagar e fica ao lado de Saulo no altar.
Devo ter entrado em um universo paralelo. Quando a cantora começa a cantar Ave Maria, ela
aparece, linda, tirando meu fôlego e meu chão. Mas o que...
— Surpresaaaa... — escuto Saulo falar baixinho ao meu lado, abrindo um sorrisinho.
— Filha da p... — não termino. Estou olhando embasbacado para Júlia, linda em um
vestido de noiva longo, que deixa sua barriga em evidência. Ele desce fluido até o chão e tem uma
pequena cauda. Nunca a tinha visto tão linda como naquele momento. A maquiagem acentuava seus
olhos verdes e um batom claro seus lábios sexy. Os cabelos são cascatas onduladas de seda, e as
joias que tinha dado a ela estão agora no seu pescoço. Ela pega meu olhar estupefato e abre um
sorriso para mim. Estou sem reação, meu peito estava comprimido num aperto de morte. Ela vem
com um senhor, que provavelmente é o seu pai. Ela me enganou esse tempo todo? Não acredito que
não percebi nada...
Saio do meu estado catatônico e concentro-me na mulher à minha frente e só nela.
Sou um sortudo filho d... Ela estava agora me fazendo o homem mais feliz de todo o planeta.
Sinto a merda dos meus olhos arderem.
“Seja homem, Jason, não vire um maricas agora, chorando na frente de todo mundo! ”
Estou acumulando pecados de tanto pensar em palavrões na igreja. Porra! Seguro o nó da
minha garganta e sorrio deliciado para a minha mulher, caminhando para mim com um sorriso tão
lindo.
Vou encontrá-la e mal cumprimento seu pai, só tinha olhos para minha doçura, agora.
— Doçura. — sussurro, beijando rapidamente seus lábios — Você quer ficar viúva antes de
casar?
— Gostou?
— Pu... Desculpe, minha mente está suja agora. — digo num sorriso feliz. Seguro sua mão e
caminho com ela para o altar. Olho Saulo e envio uma mensagem mental: Você é um homem morto.
Mentiroso filho da...
— Estamos aqui reunidos...
O padre começa a cerimônia de praxe e estou totalmente desligado do que acontece. Em vez
de olhar para ele, estou olhando para Júlia. Como ela conseguiu essa façanha? Aliás, como todos
ao meu redor não me deixaram perceber nada?
Na hora da troca das alianças, ela me surpreende mais uma vez com a aliança que mandou
fazer para mim, em ouro branco, um design supermoderno e atual com uma inscrição em
latim: Quod amor fiat — Quando o amor acontece. Encaro seus olhos verdes aquosos e não me
contenho:
— Doçura, eu te amo...
Capítulo 21
Júlia
— Boa sorte, amiga! — Carla diz quando vai entrar na igreja. — E se Mr. Ogro não gostar,
dou cabo dele. — ela ri e vai embora. Viro para meu pai:
— Papai, desculpa, você nem foi apresentado ao meu noivo. — digo com pesar, enquanto
espero a deixa da Elisa para entrar na igreja.
— Teremos todo o tempo do mundo para corrigir esse problema, filha.
— Amo você. — falo para ele. Sua compreensão é mais do que bem-vinda nesse momento.
— Pronta? — papai sussurra para mim e assinto. Claro que estou pronta.
Começam a cantar Ave Maria e entro ao lado do meu pai. Quero pegar todas as emoções no
rosto de Jay, para ver sua reação, quando me ver de noiva. Abro um sorriso enquanto caminho
lentamente para o altar. Vejo seu choque quando entro e sorrio mais amplamente.
— Seu noivo parece em choque, querida. — papai fala baixinho. Sim, ele parece chocado.
Quando me aproximo do altar, ele vem ao meu encontro. Ele aperta a mão do meu pai,
entretanto, seus olhos estão grudados em mim. Cheios de emoções, pela primeira vez, o vejo sem
saber o que fazer.
— Doçura. — seu sussurro rouco sai enquanto ele deposita um beijo nos meus lábios. —
Você quer ficar viúva antes de casar?
— Gostou? — pergunto, mas sei que sim, por sua expressão maravilhada!
—Pu...Desculpe, minha mente está suja agora. — ele fala. Sorrio quando ele me guia para
frente do religioso que irá celebrar nosso casamento.
O Padre começa a celebração de praxe, e sinto os olhos prateados fixos em mim e sorrio
mais uma vez. Ponto para mim, Jason...
A cerimônia corre perfeitamente, e quero ver se ele entende as inscrições nas alianças.
As alianças que tinha pedido para Elisa foram feitas em cima da hora e nem eu tinha visto.
Quando chegou a hora da troca, “Ave Maria” começou a tocar outra vez. Jason pegou a minha
aliança, que tinha a mesma inscrição que a dele, conforme o meu pedido, e colocou em meu dedo.
— Júlia Mason, receba essa aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo — e depois beija minha mão, esperando a minha vez
de fazer os votos.
Mas, antes de colocar a aliança em seu dedo anelar, mostro a ele as inscrições que estão
gravadas dentro do anel. Jason olha para mim como se compreendesse o que quisesse dizer. Sei
que ele acabou de dizer as palavras de praxe momentos antes, porém me pega de surpresa
quando diz com aquela voz rouca e sexy:
— Doçura, eu te amo... — Oh, céus! Meus olhos enchem d’água e uma lágrima cai pelo meu
rosto. — Amo você. — ele repete. Estou sem fala. Oh, caramba!
Pego a aliança e faço também meus votos com a voz embargada, atordoada de surpresa.
— Eu amo você. — sussurro, quando termino de falar meus votos. — O amor aconteceu
para mim, também — digo entre lágrimas, e quando ele me beija, sinto um alívio invadir meu
corpo. Oh, céus! Eu queria um filho e ganhei um bebê e um marido, e mesmo não sendo o que
queria no início, ele agora dizia que me amava? Se for para ser assim, quem era eu para negar mais
nosso amor? Estamos tão envolvidos um no outro que esquecemos que estávamos na igreja.
— Aham... Bem, ainda não disse para beijar a noiva. — o celebrante fala, nos fazendo
separar.
— E eu lá preciso de sua autorização para beijar minha mulher, Padre. — Jason fala com
sua arrogância habitual. Belisco sua mão, fazendo-o olhar para mim. — O que, doçura?
— Bem, vamos seguir, sim? — o religioso continua: — Confirme o Senhor, benignamente, o
consentimento que manifestastes perante a sua Igreja, e se digne enriquecer-vos com a sua bênção.
Não separe o homem o que Deus uniu. — ele nos dá as bênçãos. — Agora, pode beijar a noiva!
Jason segura meu rosto entre as mãos:
— Você é tudo o que estava faltando na minha vida, e espero sinceramente poder ser para
você e para nossa filha melhor do que tenho sido. — ele me beija outra vez. Cadê meu lenço? Estou
com lágrimas descendo pelo rosto. Se alguém podia mudar em tão pouco tempo, não poderia ficar
melhor que Jason.
— Eu acredito em você. — devolvo. — Porque eu também quero ser uma mulher completa
para você. — não o via mais como aquele homem mesquinho de quando o conheci.
Enquanto finalizava a cerimônia, devo ter desencadeado todas as lágrimas que os
hormônios da minha gravidez acumularam durante todo esse tempo, porque estava saindo tudo
agora. Estava uma bagunça chorosa quando alguém colocou um lenço em minhas mãos.
Todos vieram nos parabenizar, e tive de apresentar meu marido ao meu pai. Isso era, no
mínimo, estranho. Só na minha vida bizarra algo como isso aconteceria!
— Papai, quero que conheça meu marido. — rio sem graça para eles. — Jason, meu pai.
— Prazer em conhecê-lo, senhor. — eles se cumprimentam, e no tempo que conversam,
olho ao redor. Vejo que Caio e Viviam vieram e todos que eu havia convidado. Depois de algumas
fotos, caminhamos para o carro que irá nos levar à recepção.
— Doçura, cada vez você me surpreende mais — ele acaricia minha barriga quando
estamos sentados no interior do veículo, já a caminho do hotel. — Você é foda!
— Ai, Jay, que romântico isso. — zombo — Você é foda! É tão poético.
— Você gosta de mim assim como sou. — ah, sim, vossa arrogância sem limites sempre
presente. — Você também sabe que mandou bem pra caralho, não é?
— Sim, boca suja! Devia fazer uso dela em vez de ficar falando. — digo e não peço duas
vezes, pois sou beijada como não houvesse amanhã.
Fomos recebidos pelos poucos convidados que nos esperavam para nos cumprimentar no
hotel. Carla abraçou-me efusivamente.
— Parabéns, amiga. Espero que esse casamento te faça feliz! — ela vira para Jason, seu
sorriso tinha sumido. — Se você machucar minha amiga, corto suas... você sabe.
— Carla! — digo, repreendendo-a. Essa minha amiga estava virando um pitbull!
— Falo sério. — ela diz, enquanto direciona dois dedos para os próprios olhos e depois
aponta na direção de Jason.
— O que você está fazendo, amor? — Saulo segura sua cintura e beija seu rosto.
— Nada. Só parabenizando nossos amigos, não é, Mr. Ogro? — ela abre um sorriso
inocente para Jay.
— Mas é claro, sua gentileza é notável, Carla. — ele responde. Estou rindo das alfinetadas
desses dois. Cumprimento alguns dos outros convidados e termino de apresentar minha família para
Jason.
Ele não desgrudou um segundo de mim, durante todo o tempo. Assim, quando o sinto
enrijecer ao meu lado, fico alerta. E logo descubro o porquê.
— Júlia! Parabéns! — Vivian está junto com Caio e Collin, que dorme em seu carrinho.
— Obrigada, Vivian! Que bom que veio. — beijo seu rosto e depois abaixo e acaricio o
pequeno Collin. Viro para Caio, que está ao lado de Vivian.
— Parabéns pelo casamento. A vocês dois! Estou feliz por você, Júlia. — diz educado,
apertando minha mão. Escuto o rosnado de Jason ao meu lado. Sério, não sei por que essa
implicância com o coitado. Mas convidei-o sabendo que ele não iria gostar, porém tinha de deixar
uma coisa clara: por mais rosnados furiosos que solte, ele não pode ditar quem é meu amigo, terá
de pensar duas vezes antes de agir feito um homem das cavernas.
Envolvemo-nos em conversas com os outros convidados, e tudo estava dando certo, como
tinha planejado para meu casamento, apesar da loucura que foi isso. Em determinado momento,
Saulo pega o microfone e faz um discurso:
— Olá, pessoal! Para quem não sabe, sou o padrinho. —ele ri — Não sou um padrinho
qualquer não, nem fui convidado por meu querido amigo, o noivo. Quem me deu a honra de ser o
padrinho foi essa linda noiva, que ele teve a sorte de encontrar. Quero dar os parabéns por sua
coragem, Júlia. — enquanto todos riem de sua piadinha, ele ergue a taça, propondo um brinde. —
Bem, outro dia, meu amigo aqui teve um surto e engasgou por escutar a palavrinha casamento, mas
hoje o vi chorar feito uma mulherzinha! Um brinde a isso!
— Isso é uma mentira, seu idiota! — Jason interrompe, falando baixo ao meu lado, e
inclino-me para beijar sua mandíbula.
— Falando em chorar... Além de casar e estar com esse sorrisinho de mariquinha o tempo
todo, daqui a exatamente um mês será pai de uma linda garotinha! Brincadeiras à parte, meu amigo,
desejo toda felicidade para você e sua nova família. Você merece e sabe disso. — disse sério —
Um brinde aos noivos!
— Obrigado, Saulo. — Jason fala. Vejo Carla pegar o microfone e levantar. Ai meu Deus,
aí vem coisa! Tento esconder-me atrás de Jason, mas é impossível. Ela bate no microfone com o
dedo, como se há poucos segundos Saulo não o tivesse usado. Essa minha amiga adora ser o centro
das atenções! Ela começa:
— Bem, quero agradecer à minha amiga linda e grávida. — vira-se para Jason — Mr. Ogro
trabalha rápido, hein? Bem, deixando esse pequeno detalhe de lado, sinto-me honrada com seu
convite de estar aqui hoje, sendo testemunha de sua felicidade. Quando você começou a formar sua
família às avessas, nunca a imaginei aqui, assim, casando. Somos amigas há mais de cinco anos, e a
cada dia amo demais você, amiga! Com minhas maluquices e suas esquisitices, temos nos dado
muito melhor do que se fôssemos irmãs. Parabéns aos dois!
— Obrigada — digo a Carla— Você é maravilhosa, sabe disso— digo com lágrimas nos
olhos. — Tenho de agradecer aos dois por deixarem de lado seus próprios planos para que o meu
desse certo. Devo demais a vocês, e quero ir a outro casamento em breve!
Quando fomos dançar, a meu pedido tocou All of me de John Legend. É nossa música, pois
lembrei que dançamos nus em Veneza, e ele deve ter se lembrado disso também.

...
Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Ama suas curvas e todos os seus limites
Todas as suas perfeitas imperfeições
Dê tudo de você para mim
Eu te darei meu tudo
Você é o meu fim e meu começo
Mesmo quando perco estou ganhando
Porque te dou tudo de mim
E você me dá tudo de você oh
...

— Amo você. — sussurra enquanto dançamos. Envolvo-me nele também. Isso foi melhor do
que imaginei quando planejei.
Apesar de ter passado o dia no SPA, estava exausta, os saltos médios deixavam meus pés
doloridos.
— Você quer ir embora, doçura? — Jason pergunta depois que suspiro pesadamente.
—Sim. Pedi para Elisa reservar a suíte aqui mesmo, para nossa noite de núpcias. —
sorrio. — Mesmo sentindo-me exausta, quero terminar a noite bem.
— Com certeza, Sra. Lewis. — ele beija meus lábios suavemente — Você me enlouquece,
doçura. Já te falei que está linda hoje? Perfeita? A mulher mais linda de todo o mundo?
— Não, mas pode dizer várias e várias vezes, que não me importo. — beijo sua boca sexy,
em um beijo carnal e amoroso ao mesmo tempo. Nossas línguas bailam juntas, me perco no seu
gosto, seu cheiro. Estou amando cada minuto em seus braços.
Depois que a música acaba, voltamos para a mesa, e após dançar com meu pai, estou
esgotada. Não fiz nada o dia todo, mas sinto-me exausta e peço para subirmos à suíte.
Fizemos o ritual de despedida e, em seguida, saímos da festa. A minha noite de núpcias não
foi exatamente como imaginei em meus remotos sonhos adolescentes. Ao entrar na suíte, tentei
parecer sexy para meu lindo, gostoso e sexy marido. Só que ser sexy com oito meses de gravidez e
cansada, era meio tosco no momento.
Jason ajudou a tirar meu vestido de noiva. Estava pensando em uma noite cheia de sexo,
então tentei ser toda caras e bocas, porém meus bocejos de cansaço acabaram com minha pose.
Mas ainda ganhei um banho na banheira enorme da suíte, junto com J, contudo não vi esse banho
terminar. Devo ter dormido.
No meu primeiro dia de mulher casada, acordei com um:
— Bom dia, querida. — e beijos suculentos sendo espalhados por toda parte — Sra. Lewis,
você me deve explicações por enganar-me todo esse tempo.
— Não enganei, omiti. — digo rindo — E falando em mentir, aquilo que falou na igreja é
verdade?
— Que amo você? — seus olhos cinzentos estão claros e intensos— Você duvida?
— Meio que quero acreditar. — digo com um sorriso enorme.
— Você é a mulher mais difícil que já conheci. —resmunga — Quando você tiver nossa
filha e puder tê-la, na nossa merecida lua de mel, vou fazer você perder essa pose de durona.
— Como fará isso? Aguardo ansiosa esse dia, que você promete faz tempo e nunca cumpre.
Nosso dia foi quase perfeito. Você pensaria igual a mim se seu marido tivesse feito voto de
castidade. Que homem! Onde já se viu isso? Deixar uma noiva frustrada.
Quando voltamos para casa, no fim da tarde de domingo, estou feliz, e não sabia que minha
felicidade poderia durar tão pouco.

****

Segunda tinha consulta com o Doutor Edgar e, claro, Jason foi comigo.
— Júlia, enfim está chegando na reta final para o grande dia, hein? — o doutor fala
enquanto estou na mesa de ultrassonografia. —Vejamos aqui nossa pequena. — Oh, Deus! Cada vez
que escuto aquele coraçãozinho, batendo tão forte, tenho um surto de lágrimas, e é o que acontece
agora. Aquele som me fazia sentir tão especial por carregar minha filha dentro de mim. Era uma
sensação tão estupenda, que não tenho palavras para expressar o que sinto. Agarro a mão de Jason
e sorrio entre lágrimas. — Bem, pelo que vejo, está tudo perfeito com nossa Nicole. — a voz do
médico me tira do nevoeiro de felicidade e emoções, e depois que a enfermeira ajuda-me a limpar
o gel da minha barriga, volto ao consultório. — Bem, Júlia, está tudo bem com você. Como já está
no oitavo mês, quero que volte aqui daqui a dez dias, só por precaução. Mas, qualquer coisa que
sentir ou qualquer pequeno sintoma, peço que me procure imediatamente ou a um hospital. No mais,
que se alimente direito, beba muito líquido e se abstenha de fazer esforço e passar nervoso. — Dr.
Edgar continua: — Para qualquer emergência, não hesite em me chamar.
— Ela fará tudo isso sim, Doutor. — Jason garante. — Estarei cada segundo do dia com
ela. — Como era mentiroso.
— Assim fico mais tranquilo. Ainda quer o parto normal? — pergunta.
— Claro!

Jason

Nem preciso dizer que estou feliz pra caramba, não é? Minha doçura estava morando
comigo e estávamos casados. Perfeito. Mas algo ainda está no horizonte, nublando minha
felicidade.
Raul levou duas semanas para descobrir onde aqueles dois se escondiam tão bem, e no
sábado, tenho uma resposta. Eles estavam vivendo em uma chácara fora da cidade, e Raul não
tivera êxito por isso. Eles vinham à cidade disfarçados e, portanto, nada de deixar rastro. Com a
irmã prestes a dar à luz, eles não tiveram como se mandar para longe. Soube disso da pior forma,
que acabou com minha paz.
Tinha passado o dia todo com Júlia. Queria dar toda atenção a ela nessas últimas semanas
de gestação, e esse foi meu primeiro erro. Fui descuidado. Só por um momento, talvez. Minha
confiança era de que Júlia me amava. Que ela poderia perdoar e até mesmo ignorar que tinha
cometido erros no começo de nossa relação. Mas vi que estava enganado.
Quando chego com Júlia em casa, no sábado à noite, encontro Saulo me esperando,
impaciente.
— Jason, tentei falar com você o dia todo. Como é que você sai sem o celular?
— Espera, Saulo. O que aconteceu? — vejo seu olhar para Júlia e entendo que devo
esperar. — Espere-me no escritório, já estou indo para lá.
Ajudo Júlia, que agora era uma senhora muito pesada. Se ela escutasse esse meu
pensamento, cortaria minhas bolas! Sorrio, enquanto a levo para o quarto.
— Por que está me empurrando para o quarto? Não estou com sono. — diz, petulante. Beijo
seu nariz.
— Ficou tempo demais em pé hoje. — digo.
— Não me lembro disso. Passei metade do dia no seu colo, devo lembrar? — O que
poderia fazer, amava tê-la em meus braços.
— Preciso falar com o Saulo. — falo — Então, seja uma boa menina e descanse.
Deixo-a no quarto e sigo para meu escritório.
— Puta que pariu! Difícil falar contigo, homem. — ele esbraveja quando entro. — Samara
Reis deu o ar de sua graça. — ele despeja e nem me deixa falar.
— Onde?!
— No hospital, e Raul agora não vai perdê-los de vista. — ele esfrega a mão, contando
como Raul tinha pegado a pista deles. Samara tinha passado mal com a gravidez e tinha dado
entrada no hospital, tendo que ficar internada.
Porém, não tive chance de resolver isso de uma vez por todas. Não pude impedir que minha
mulher fosse envolvida nessa merda.
— Jason, isso está tomando esse caminho por sua causa, sabe disso, não é? Conte para
Júlia a verdade.
— Júlia não precisa passar por estresse agora, Saulo. — digo chateado — Eu sei que sou o
único culpado por essa merda que está acontecendo. Não imaginei que poderia me apaixonar por
ela assim tão rápido.
— Conte a verdade agora a ela e esqueça esses dois...
— Que verdade?
Levanto os olhos e dou com Júlia, que está parada na porta do meu escritório. Mas que
porra!
— Doçura...
— Que verdade, Jason? — ela exige, e vou ao seu encontro. Conduzo-a para sentar-se no
sofá. — De que verdade você estava falando, Saulo?!
— Vou deixar vocês sozinhos para conversarem. — Saulo caminha para a porta. — Mas,
Jason, pense se vale a pena se arriscar e continuar escondendo fatos de sua mulher. Qualquer coisa,
ligue-me.
Mas que porra! Ele estava complicando mais a minha vida com essa conversa do caralho.
Ele sai, deixando um silêncio pesado no ambiente. Olho para Júlia, ela parece angustiada.
Foda-se! Isso ia machucar nós dois, e sabia disso.
Nunca hesitei tanto para começar uma conversa como agora. O medo gelava meu sangue.
Júlia era uma mulher obstinada e cabeça dura. Não iria me entender. Não entenderia que, quando
queria a guarda da minha filha, estava me protegendo de um possível cenário onde nunca a veria.
Ela, com seus papéis, tinha total liberdade de nunca me deixar chegar perto delas. Que culpa tinha
se essa clínica e pessoas mal-intencionadas colocaram nossas vidas em colisão?
Não posso perder as duas. Não a deixaria se afastar de mim. Faria qualquer coisa para
impedir isso.
Capítulo 22
Júlia
Medo!
Medo é o que sinto quando escuto Saulo anunciar aquelas palavras. Que verdade era essa?
O que Jason escondia de mim? Estamos nos entendendo tão bem. O que poderia ser tão ruim?
— De que verdade o Saulo estava falando, Jason? — pergunto mansamente. Por que meu
coração pede que ele não fale nada que não queira saber?
— Doçura, se acalme, sim? — ele pede e me faz sentar no sofá e, sentando ao meu lado,
segura minhas mãos nas suas enquanto suspira fortemente.
— Deixa-me começar do início, só assim você poderá entender minhas razões. — escutá-lo
falar assim já era difícil demais. Podia ouvir meu coração batendo forte em meu peito, querendo
me sufocar. Sabia que não iria gostar de saber nada. — Você sabe muito bem que, quando descobri
que teria um filho, entrei em parafuso — disse — e fiz várias bobagens, não é? Para começar, fui
ao seu apartamento e pedi que tirasse nossa filha. Foi a forma que encontrei de, talvez, voltar ao
controle da minha vida. Depois daquele dia, comecei, aos poucos, a aceitar que iria ser pai.
Mesmo contra minha vontade, era um fato consumado. Que não adiantava espernear, pois não teria
volta. Então, pensei que poderia nunca ver essa criança, ou mesmo vê-la crescer e não ter acesso
ao meu filho. — ele faz uma pausa. Estou chorando, não sei por que isso estava apertando tanto
meu coração. — Naquele momento, faria qualquer coisa para ter direitos sobre a criança que
nasceria. — Oh, céus, o que ele fez? — Não te conhecia, doçura. Não tinha descoberto ainda que
você, por mais obstinada que fosse, seria tão generosa e linda. Não sabia que poderia gostar de
você, muito menos me apaixonar. Conviver com você, depois daquela ameaça de aborto, foi
decisivo no desenvolvimento dos meus sentimentos, muitas vezes contraditórios, e comecei a me
apaixonar. — escutei suas justificativas, com esperança de que tudo ficaria bem. Apesar do aperto
no peito, amava-o e, no fundo, achei que ele não poderia me decepcionar, mas me enganei. — Mas
antes de perceber isso, havia pedido para Saulo entrar com um pedido de guarda da Nicole.
— O quê? — meu sussurro sai tão baixo, que acho que o imaginei. — Como você pode ser
tão baixo?
— Escuta, doçura. — ele segura firme na minha mão quando tento levantar. — Cancelei
esse pedido de guarda quando você aceitou casar comigo.
— Casou comigo para garantir seus direitos de pai? — lágrimas agora desciam, aos
montes, pelo meu rosto.
— Não, claro que não! De início, foi sim. Mas mudei de ideia, eu me apaixonei por você,
Júlia.
— Não... — tiro minhas mãos das dele. Oh, meu Deus, ele me enganou quando disse que
me amava. — Não! — nego para mim, tentando acreditar que ele não mentiu. Meu medo de brigar
na justiça por um filho estava se concretizando. Quando optei por ser mãe solteira, isso tinha sido
um dos fatores de decisão: não levar meu filho a um tribunal. Dei meu coração a um homem que
tinha me pedido para fazer um aborto ao saber da minha gestação e, mesmo assim, como uma idiota
apaixonada, não fiquei em alerta. Por que ele estava fazendo isso conosco?
— Escuta, Júlia. — ele volta a segurar-me — Esse processo não existe mais. — ele fala.
Entretanto, mal escuto. Minha decepção é tão grande que não posso dar ouvidos a ele. — Olha para
mim, caralho!
Levo um susto com sua voz alterada e obedeço sem querer. Isso não estava bem, não
obedecia ao comando de porra de nenhum homem.
— Não grite comigo, seu estúpido!
— Desculpa, doçura! — ele pede e continua: — Estou te falando isso porque quero ficar
bem com você. — fala baixo e pausadamente — Entenda que isso é passado, quero ficar bem com
você e nossa filha.
Sinto um aperto no coração, por saber que ele pensava em tirar minha filha. Eu sei que sou
obstinada e cheia de mim, mas...
Meu queixo treme, incontrolavelmente. Não sei o que dizer, estou tão triste, confiei
inteiramente nele. Fui contra minhas convicções e casei! Agora não sabia em quem acreditar; se ele
falava a verdade ou isso era um pretexto para ficar com nossa filha. Levanto meu queixo enquanto o
encaro.
— Preciso descansar agora. — digo e tento levantar. Ele outra vez me impede — Por favor,
solte-me. — peço.
— Não deixe sua teimosia estragar nossa relação, Júlia. — O quê? Como ele ousa?
— Minha teimosia? Acho que está invertendo os papéis aqui. — esbravejo, agora furiosa.
— Você me apunhala pelas costas e sou eu quem está estragando nossa relação?
— Já falei que não movo nenhum processo contra você. — diz, sua voz cansada — Por
mim, criaríamos nossa filha juntos. Estamos casados agora.
— E não era isso que você queria? Casar comigo?
— Júlia...
— Quando casou comigo, foi por me amar? Ou foi só um pretexto para se garantir? —
questiono, furiosa — Estou começando a questionar sua súbita mudança. Para quem outro dia disse
que não queria filhos e muitos menos um relacionamento, mudou depressa demais. — vejo culpa
nos seus olhos quando ele abaixa a cabeça, olhando para o chão. — Pediu-me em casamento para
garantir a guarda? Queria mostrar que tudo sairia do seu jeito? É assim que diz amar sua filha,
tirando-a de sua mãe?
— Não questione nunca meu amor por minha filha e o que sinto por você! — ele olha duro
para mim — Quebrei várias promessas que tinha feito há muito tempo, quando fomos colocados
nessa posição. Então, NÃO questione isso!
— Então não me dê motivos para isso, Jason! Sonhava em ter meu filho sozinha. Mas isso
foi tirado das minhas mãos! Acha que não abri mão dos meus planos para aceitar você?! — grito de
volta — Acha que só você quebrou suas preciosas promessas?!
— Podemos superar isso também, Júlia. — Sim, podíamos. Só que agora estava abalada
demais.
— Por que escondeu isso de mim? — olho dentro dos seus olhos e vejo que ele está aflito.
— Você achou que não tinha importância me comunicar isso?
— Não queria te aborrecer com algo que não tinha mais nenhuma importância. — fala.
— Preciso deitar e pensar no que fazer. — digo, e a fraqueza me toma.
— Pensar no quê? Isso é passado, doçura.
— Por favor, preciso descansar. — repito. Ele suspira, me puxa pela mão e envolve os
braços em volta de mim. Fico dura e não o abraço de volta. Sinto seus lábios beijando meu cabelo,
e lágrimas começam outra vez a cair. Por que me sinto tão decepcionada?
— Faria qualquer coisa para ter sua confiança de volta, doçura. — sussurra em meu ouvido,
depois segura minha cabeça e me faz olhá-lo nos olhos — Você vai me perdoar, não é?
— Preciso de um tempo para pensar sobre tudo isso. — falo num fio de voz — E, agora,
não consigo analisar nada, por favor.
— Tudo bem, não irei forçar você a nada. Não quero que fique chateada e isso venha a
afetar nossa filha. — ele, ao mesmo tempo em que fala, leva-me pela mão e caminhamos para o
quarto. Quando entramos, livro-me de suas mãos e caminho para o banheiro.
— Prefiro ficar só, no momento. — digo, quando vejo que ele ficará me pajeando — Vou
tomar um banho. — anuncio e não espero resposta; entro e fecho a porta.
Encosto na porta. Meu interior tremia enquanto tentava esvaziar a mente de todo e qualquer
pensamento, mas estava difícil. Pensava em mim como uma pessoa inteligente, dona do próprio
destino, e tinha sido feita de boba. Pensar que ele fez tudo de caso pensado era horrível.
Embora tivesse livremente lhe dado tudo de mim, achei que ele também tinha feito o
mesmo.
Estúpida.
Solto um suspiro trêmulo e vou para o chuveiro.

****

Quando saio, quinze minutos depois, visto uma camisola. Apesar de ser cedo para dormir,
sentia meu corpo exausto, as pernas inchadas e minha cabeça doendo. Aliás, meu corpo todo estava
dolorido.
Estava morando há duas semanas no apartamento de Jason, e agora tinha vontade de estar no
meu apartamento, na minha cama. Talvez lá eu voltasse a me sentir segura. Estava sentindo-me
enfraquecida e com raiva de meu excesso de confiança, achando que tudo estava muito lindo e
fácil. E agora, isso. Vou para o quarto de hóspedes, que agora era o quarto da Nicole, sento na
poltrona de amamentação e encosto minha cabeça no espaldar. Fico lá no escuro, mesmo. Tinha
muito no que pensar antes de agir precipitadamente.
Devo ter dormido, porque acordo
com

o barulho de porta batendo, mas quando vou levantar, não consigo. Grito de dor, porém a minha
voz sai rouca. Dói! Quero gritar para chamar alguém, mas não posso. Tento levantar outra vez e
consigo. Isso não pode ser a dor do parto, essa dor constante e lancinante que toma meu corpo não
era normal. Pelo que sabia, contrações vinham em intervalos. Oh, meu Deus! Ajude a minha bebê!
Será que estava tendo minha filha?
— Jason... — chamo quando consigo chegar à porta — Jason!
— Menina! O que aconteceu? — escuto Selma perguntar, e ela solta alguma coisa no chão,
que faz um baque, porém não consigo ver com minha visão turva. Tento respirar como fui instruída
a fazer. Ela me ajuda a ir para o quarto e deitar na cama. Minha Nicole está mexendo e fazendo
ainda maior a dor.
— Jason, onde ele está? — ainda estou com raiva, mas preciso dele aqui comigo. E se
minha filha fosse nascer antes da hora? E se fosse algo de ruim que estivesse acontecendo com ela?
— Vou chamar, deve estar no escritório.
— Preciso ir para o hospital... — vejo-a sair e olho ao redor, à procura do meu celular.
Preciso ligar para o Doutor Edgar. Ainda faltavam duas semanas para o parto e estava morrendo de
medo. Mas não vejo o telefone em nenhum lugar.
Uma dor extremamente afiada atravessa minha pélvis, e volto a deitar. Oh, merda! Cadê
esse filho da mãe que não parece?! Isso dói demais! Gemo feito uma condenada, com os
movimentos bruscos do meu ventre. Sorrio em meio à dor. Nicole será o quê? Uma lutadora de
Caratê?

Jason

Estou literalmente acabado, isso não pode estar acontecendo comigo. Deixo Júlia ir para o
banheiro, será melhor deixá-la só por um momento, porém cada célula do meu corpo pede para
grudar nela e não permitir que se afaste.
Conheço-a o suficiente para saber que ficará chateada comigo, mas acredito que seu bom
senso prevalecerá. Sei que ela me ama e que fui um idiota. Culpa minha se não voltasse a acreditar
em mim. Tinha feito merda quando quis casar com ela, em parte por querê-la muito e porque Saulo
tinha me dado essa ideia, que seria a melhor garantia de ter minha filha comigo. Apaixonar-me no
processo não tirava toda a minha culpa, e ter escondido dela esse fato tinha sido covarde de minha
parte. Agora era torcer que ela não fosse tão dura. Volto para o escritório e ligo para Saulo:
— Pode denunciar, fazer o que achar melhor. — digo puto — Não me importo com o que
irá acontecer.
— Como foi sua conversa com a Júlia? — pergunta.
— Nada boa. Mas acredito que ela ficará bem, ao menos não saiu correndo daqui, como
achei que faria.
— Acredito que irão se acertar. Já passaram por outras coisas ruins e estão juntos, não
estão?
— Sim, espero que esteja certo. — resmungo.
Pouco depois desligo e me recosto no espaldar da cadeira. Levanto e sirvo-me de uma dose
de conhaque para amortecer a agonia que estava sentindo. Se Júlia achava que a deixaria ir
embora, teria de pensar duas vezes.
Meu intestino torceu e meu peito apertou com o pensamento, mas tentava ignorar essa dor.
Deixando de lado sua rejeição e seus sentimentos feridos, tento pensar na situação,
independentemente do que sentia por ela. Júlia era muito dura às vezes e tinha alguns problemas de
confiança, assim como eu.
Não sei quanto tempo passei no escritório, quando escuto Selma. Levanto, pensando no que
teria acontecido para ela estar tão aflita.
— O que aconteceu, Selma?!
— A menina está com dores, filho. — que droga ela estava falando?
Júlia... só podia ser ela.
Saio correndo em direção ao quarto, e a encontro se contorcendo na cama.
—Júlia, estou aqui, doçura. — não penso duas vezes, pego-a nos braços e começo a
caminhar para a porta — Selma, ligue para o obstetra de Júlia e diga que estou levando-a para o
hospital. – dirigindo-me para Júlia, pergunto, angustiado: —O que está sentindo, doçura? —
preocupação me toma e me recrimino internamente. Se algo acontecer com ela, nunca me perdoaria.
Porra! Ainda faltava muito para nossa filha nascer, ou não?
Não entedia nada disso!
— Você está bem? — pergunto aflito e aconchego-a em meu peito, enquanto entro no
elevador.
— Você pode ir mais rápido, por favor? — Júlia geme — Será que vai acontecer alguma
coisa com nossa filha?
Não se puder evitar!
— Vai dar tudo certo! Confie em mim. — olho para Júlia, e seus olhos verdes
estão nublados de dor. Será que ela entende o que estou pedindo?
Capítulo 23

Jason
Dirijo feito um louco para o hospital. A cada segundo virava para Júlia e falava:
— Aguenta firme, doçura! — Sabia, por seus gemidos, que ela estava sentindo dor. Queria
poder dividir sua dor comigo, mas não podia, e isso me matava.
— A bolsa estourou! — ela grita. Ah, minha pequena estava dando um show.
— Você consegue, amor! — dirijo com uma mão, enquanto com a outra acaricio sua barriga,
que nesse momento está tão dura que me deixa assustado. Porra!
Quando chegamos ao hospital, Doutor Edgar ainda não se encontrava lá, porém Júlia foi
levada para a sala de exames enquanto eu dava entrada na internação. Impaciente, ligo para o
Doutor Edgar.
— Estou chegando, Jason, calma. — ele diz antes que eu diga qualquer coisa. — Deve ser
só um susto. Chego em poucos minutos. — ele diz.
Desligo, e depois de terminar na recepção, sou levado para onde Júlia está. Encontro-a
sendo preparada para o exame de ultrassonografia.
Questionei o médico que a atendia, e ele falou que Júlia não tinha nenhuma
dilatação, mesmo sua bolsa tendo estourado, e eles agora iriam fazer um exame para verem as
condições da minha filha. Segundo o médico, o batimento cardíaco de Nicole estava um pouco
rápido. Estava aflito quando terminei de falar com ele e fui para a maca onde Júlia estava e segurei
sua mão.
— O que posso fazer por você, doçura? — pergunto e beijo sua testa suada. Estava
impotente aqui, porra! Amaldiçoo furiosamente. Estou a ponto de exigir que façam alguma coisa,
quando o Doutor Edgar aparece e toma conta da situação. Saber que ele acompanhou toda gestação
de Júlia deixa-me mais calmo.
Meia hora depois, não estou mais tão calmo ao ver Júlia sofrendo. O doutor pediu também
uma cardiotocografia para monitorar a frequência cardíaca de Nicole. Mas o pior de tudo é que ela
está na posição defletida grau III. Não entendia nada de parto, para mim ele estava falando grego, e
me recrimino pensando que deveria ter procurado saber mais a respeito. Agora, minha filha
poderia estar sofrendo.
Júlia está com um leve aumento de pressão arterial, isso deixava o Dr. Edgar preocupado.
— Isso significa o que, Doutor? Minha filha ficará bem? Júlia ficará bem? — exijo saber.
— Bem, de uma maneira simples de entender, é basicamente o seguinte: se Júlia fosse ter
um parto normal, sua filha nasceria de face. Ela não tem dilatação suficiente, para isso é preciso no
mínimo 9,5 centímetros, e temos algumas complicações nesse tipo de parto; pode haver um
travamento do feto. — explica com relação à posição de Nicole — O ideal seria uma cesariana.
Mas vamos esperar estabilizar a pressão da Júlia. Não podemos fazer uma cirurgia com sua
pressão alterada.
— Esperar? E Júlia vai ficar com dores esse tempo todo? E minha filha? — estou gritando
com o filho da puta — Faça alguma coisa, Doutor!
— Depois de todos os exames, darei uma resposta a você. — ele fala, tão calmo que me
tira do sério — Peço calma a você. Júlia precisa disso agora. E vamos cuidar dela e da sua filha,
dará tudo certo, Jason.
— Júlia quer o melhor para nossa filha. — digo e volto para junto de Júlia outra vez, mal-
humorado. Caramba!
— Jason? O que está acontecendo com minha filha? — ela tem os olhos vermelhos e suor
corre por seu rosto. — Ahhhhhhh. — ela grita e segura minha mão tão forte que espreme meus
dedos nos delas.
— Nada de mais, amor. Aguente firme, por favor. — peço — Vai ficar tudo bem.
—Fácil de f-falar. — ela geme.
Envelheci uns vinte anos nas horas seguintes. Carla apareceu no hospital, e ficamos os dois
com Júlia, que tinha contrações, porém nada de dilatação suficiente para Nicole nascer de parto
normal, como era a vontade de Júlia. Depois de muita espera, acabaram levando Júlia para uma
cesariana. Queria estar lá com ela e exigi isso. Dr. Edgar a tinha medicado, e sua pressão voltou ao
normal. Nada de pré-eclâmpsia, graças a Deus, talvez o estresse das últimas horas a tenha levado a
esse quadro. Foram as 10 horas mais difíceis da minha vida, ver seu sofrimento e no final não ser
um parto normal como ela gostaria que fosse. Fico triste por minha doçura não ter as coisas como
ela imaginou que seria. Sinto-me com certo remorso por tê-la estressado, adiantado seu trabalho de
parto.
Júlia foi levada para o centro cirúrgico e fui encaminhado para a "sala dos pais", onde
recebi a indumentária: calça, blusão, máscara, touca e sapatilhas descartáveis. Visto as roupas e
depois sou encaminhado para junto dela. Estava nervoso demais, e queria tanto ter minha filha nos
braços e Júlia bem. O Dr. Edgar está lá, e olha para mim quando entro.
— Tudo ficará bem, Jason. — ele me garante. Mas o medo percorre todo meu corpo como
uma segunda pele. Ando e fico do lado esquerdo de Júlia. Ela está consciente. Agarro sua mão e
sento ao lado, para que possa ficar ao seu nível. Queria ter uma visão de sua barriga, entretanto tem
um pano impedindo. Tudo estava acontecendo rápido demais. Começam o processo cirúrgico,
precisava me distrair e distrair Júlia. Então, comecei a conversar.
— Vai ficar tudo bem, meu amor, eu prometo. — beijo sua mão — Vou cuidar de você e de
nossa filhotinha linda.
— Quero que você cuide de nossa filha direitinho. — diz ela num fio de voz. Ela não estava
mais sentido dor por causa da anestesia, mas, pela quantidade de horas que ela ficou em trabalho
de parto, está cansada e fraca. — Se algo acontecer comigo, quero que me prometa que cuidará
dela. Sei que você nunca a deixará só, por saber na p-pele tudo isso... — uma lágrima corre pelo
canto do olho dela, e a seco com um dedo.
— Pare agora com isso. — falo baixo, porém firme — Não deixarei nada acontecer com
você e nossa filha, Júlia. Pare de falar! Quero você forte para quando ela sair daí de dentro. Ela
terá sua mamãe firme e forte para ela. Para nós. — digo e começo a falar de outras coisas para
distraí-la
Não me lembro de quanto tempo levou nossa conversa, mas pouco depois, vejo tirarem
minha filha de ponta-cabeça, e ela começa a chorar violentamente para um pequeno pulmão. Uma
sensação de plenitude toma meu corpo, e sinto tudo dentro de mim se modificando em amor pelo
pequeno ser que está sendo colocado, agora, em meus braços. Porra! Ela é tão pequena e roxa.
Levo-a para perto de sua mamãe, que está em lágrimas.
— Nossa filha... — digo, em um sussurro emocionado.
— S-sim, nossa. — coloco Nicole em seu peito e abraço as duas. Meu peito dói de tanto
amor por essas duas lindas mulheres da minha vida. Não percebo a agitação dos médicos por estar
tão feliz com elas, até que a máquina que monitora Júlia começa a apitar e tudo passa em câmera
lenta através dos meus olhos. Dr. Edgar começa a latir ordens, Nicole é levada de nós pela pediatra
e sou afastado de Júlia.
— O que ela tem, Doutor? — grito, desesperado.
— Começo de hemorragia, mas vamos controlar, Jason, se mantenha calmo. — como diabos
ele quer que eu fique calmo vendo Júlia daquele jeito? — Talvez a demora no trabalho de parto
seja a causa. — e começa uma correria para controlar a hemorragia de Júlia.
“Júlia! Não faça isso comigo!” Desobedeço a ordem de ficar longe e corro para ela.
— Júlia, eu te proíbo de fazer isso comigo! — porra, sinto as lágrimas descerem pelo meu
rosto — Te proíbo, ouviu?
— Eu amo você. — ela sussurra para mim — Cuide da minha filha, por favor!
— Vamos cuidar dela, meu amor, você e eu. — digo quando um maldito soluço estrangulado
sai de minha garganta — Eu amo você mais que tudo! Entende isso? Fique forte para nós. — nossas
lágrimas se misturam quando a beijo suavemente — Não me deixe, Júlia. — estou colocando tanta
força na minha mandíbula que ela dói, e mesmo assim as lágrimas correm pelo meu rosto e pingam
em cima dela.
Quando ela fecha os olhos, entro em desespero total. Começo a gritar para o Dr. Edgar, e
ele pede para que eu seja retirado da sala, por estar atrapalhando seu trabalho.
Eles estão tentando conter a hemorragia, para que Júlia não entre em choque. Porra, ela
podia morrer, e eu estava aqui fora feito um cão raivoso, esbravejando e longe dela. Entro
em colapso. Encosto na parede do lado de fora e deslizo para baixo, para o chão. Carla aparece e
corre para mim com os olhos arregalados.
— O que está acontecendo, Jason? — ela pergunta, e falo para ela com voz embargada que
Júlia está com um princípio de hemorragia. Vejo a compreensão em seus olhos quando a notícia
bate nela, do que poderia acontecer se minha doçura não fosse forte e se não conseguirem conter a
hemorragia. — E Nicole, ela está bem?
Oh, meus Deus! Minha filha.
— Não sei. — digo. Tinha me esquecido dela na minha angústia — Ela foi levada para os
exames de praxe e... — minha garganta fecha de emoção e sinto Carla pôr a mão no meu ombro —
Culpa minha. — digo a ela — Sou a merda de um idiota completo. Nem minha mãe gostava de
mim... Deve ter algo de errado comigo.
— Hei, não sei do que está falando, mas nada disso é culpa sua.
— Claro que é! Para começo de conversa, ela passou mal porque nós discutimos. — digo
com remorso.
— Vocês nunca tiveram um relacionamento calmo, Jason. — ela bate em meu ombro com
palmadinhas — Não se culpe pelas fatalidades, todo casal tem suas discussões. Tenho certeza que,
com aquela teimosia dela, ela se sairá bem, você vai ver.
Não quero perder o controle. Mas não consigo tirar esse sentimento de culpa do meu peito.
Ele está preso lá dentro, queimando cada parte de mim.
Curvo minha cabeça e fico esperando por notícias. As horas parecem infinitas.
Não sei quanto tempo passa, quando o Dr. Edgar sai da sala. Ele caminha para mim, e seu
rosto não diz nada.
— Como Júlia está, Doutor? — pergunto, agoniado — E minha filha?
— Tudo ficará bem, Jason. As duas vão ficar bem. — ele continua a falar, mas não ouço
mais nada, só interessa “elas vão ficar bem”.
— Ela será levada para um quarto particular, e você poderá ir vê-la. Se quiser ver sua filha
no berçário, ela está muito bem. — depois de bater em meu ombro, se despede — Qualquer coisa é
só falar comigo. — fala e vai embora.
Vou junto com Carla ao berçário ver minha filha, mas só pude vê-la pelo vidro. Sinto, de
repente, algo insólito acontecer. Era como se algo estivesse atingindo-me e se infiltrando em minha
alma, um amor maior que qualquer outra coisa. Não sabia que um ser tão minúsculo poderia causar
tamanha revolução dentro de mim. Algo me puxava em sua direção, como um flash de luz nos
envolvendo, mesmo distantes. Seu rostinho estava virado para nosso lado, e vê-la me deixa bêbado
de felicidade.
“Papai ama você, filhinha, muito.”

****

Quando tenho a oportunidade de pegá-la pela primeira vez nos braços, não sei descrever a
necessidade primordial de protegê-la do mundo. De tudo. Parece que vai oprimindo todos os outros
sentimentos que um dia tive de negação, de não querer amar.
Como pensei que não queria ser pai dessa coisinha maravilhosa? Como tive em mente fazer
uma vasectomia e me negar esse sentimento de plenitude da paternidade? Ser pai de alguém. Ser o
espelho de outro ser humano. Cuidar dela e ter seu amor incondicional.

Júlia

A última coisa que lembro é do rosto de Jason, antes de apagar. Quando voltei a abrir meus
olhos, estava em um quarto e só. Não me lembro de nada do que aconteceu. Tento olhar ao redor,
mas estou me sentindo meio tonta e volto a fechar meus olhos. Dou um tempo e volto a abrir. O
quarto está na penumbra e vejo o quadro mais fofo e...
Oh, minha bebê!
— Nicole... — minha voz é um sussurro rouco. Minha garganta arranha, porém, mesmo
assim, Jason levanta a cabeça de onde está, com a cabeça recostada no encosto da poltrona, onde
está sentado com um pacotinho rosa em seu peito. Tento me mexer, meu corpo todo dói, e estou me
sentindo fraca e tonta.
Ele levanta com cuidado e caminha para o lado da cama. Estou chorando, e meus braços
doem de vontade de segurar minha filha. Jason parece ter uma ligação telepática comigo, porque se
inclina e a deposita em meus braços. Minha filha. Oh, céus! Ela é perfeita. Eu a seguro tão apertado
que provavelmente deve ser demais para um recém-nascido. Choro de emoção em tê-la bem no meu
colo.
— Você acordou, doçura. Você me assustou feio. — ele se inclina e toca seus lábios na
minha testa, sua voz é rouca. — Preciso chamar o médico. — diz e aperta um botão ao lado da
cama.
Não quero que ele se afaste agora. Quero esquecer os últimos acontecimentos, meu medo,
angústia e dor. A expressão de Jason é de amor, devoção e alívio. Ele nos abraça, e acredito que
ele nunca pensará na possibilidade de nos separar. Fungo mais forte. Tenho vontade de gritar para o
mundo o amor que sinto por esses dois.
— Você é a mulher mais forte e linda que já vi, minha doçura. — ele beija suavemente meus
lábios, que estão secos e rachados, e agora percebo que tenho sede, mas não quero soltar aquele
pacotinho rosa, nunca. Olho seu rostinho lindo e me apaixono outra vez. Toda rosadinha, com
cabelo preto, tão linda e fofa a minha filhota! Fico curiosa para ver seus olhos. Estão fechados, e
ela está tão quietinha. Cheiro seu cabelo negro, macio e cheiroso. Amo tanto, que parece que meu
peito vai explodir.
— Que cor são seus olhos? — pergunto curiosa para Jay. Ele ri.
— Adivinha? Tinha que herdar seus olhos. Espero que não herde seu gênio. Mas, acho que
até nisso me dei mal, estou terrivelmente em apuros com as duas perfeições, em todo o mundo.
— Não sou geniosa. — protesto.
— Você se sente bem? Está com dor? — sim, estou dolorida, mas quero ficar assim o
máximo de tempo possível.
—Há quanto tempo estou fora do ar? — pergunto.
— Um dia, amor, porém foi, para mim, uma eternidade. Jamais faça isso outra vez. — ralha,
amoroso. A porta abre e vejo uma enfermeira entrar.
— Ah, vejo que a bela adormecida acordou. Chamarei o doutor, já que quem tem permissão
de a examinar é um doutor com títulos e honras em medicina. — ela fala e olha para Jason.
— Ora, sempre o melhor para minha doçura, enfermeira. — tento sorrir, mas a dor na minha
barriga não deixa, então faço uma careta.
Lembro-me de algo, e meu arremedo de sorriso murcha. Não tive minha filha em parto
normal, como tanto queria. Mas o importante é tê-la saudável em meus braços. Sinto uma vontade
louca de amamentá-la, mas estou ficando cansada.
— O que aconteceu comigo, Jason?
— Você teve uma hemorragia pós-parto, mas, graças a Deus, o Doutor Edgar conseguiu
conter. Eu te proíbo de me dar um susto desses outra vez. Você quase me matou.
Olho para ele e lembro de nossa discussão. Ia começar a falar com ele, quando meu
pequeno pacotinho começa a se mexer, acordando, e minha atenção se volta totalmente para ela.
—Oh meu Deus, Jason! — exclamo, maravilhada — Ela é tão linda que e-e-eu fico
besta. — digo feito boba — Será que ela está com fome?
— Certamente. Dê-me ela para que possa alimentá-la. — diz, estendendo os braços,
tentando tirá-la de mim.
— Não! Quero que ela se alimente do meu leite. — protesto.
— Ela está tomando, mas...
A porta abre outra vez, e o Doutor Edgar aparece.
— Olá, Júlia, vejo que você já está dando trabalho. — ele graceja.
— Quero amamentar minha filha. — digo — Preciso fazer isso ou não sossegarei.
— Ótimo, fará bem a você e mais a ela. Mas, primeiro, vamos ver como você está, e em
seguida essa mocinha pode desfrutar de sua mamãe.
Quinze minutos depois e meu seio higienizado, estou com uma Nicole faminta sugando tudo
de mim. Dói, mas não me importo absolutamente. Segundo o Dr. Edgar, só preciso de repouso e
alimentação saudável por estar um pouco anêmica, mas, diante de tudo que aconteceu, posso ir para
casa dentro de dois ou três dias. Sinto-me ótima, tirando as dores que sinto na barriga a cada vez
que me mexo. Só quero ir para casa. Acabo dormindo de cansaço logo após Nicole terminar de
mamar e dormir outra vez

****

Carla aparece, e quando me vê acordada, vai às lágrimas, me abraçando. Tinha ido para
casa descansar, por estar no hospital o tempo todo junto com Jason, que noto estar com barba de
dois dias ou mais e todo amarrotado. Tadinho, nunca o tinha visto tão relapso. Sorrio.
— Acabou a água do planeta enquanto estava dormindo? — implico, mas só digo isso
depois que uma enfermeira tinha me ajudado a tomar um banho e estava limpa e deitada com Nicole
nos braços. Não queria soltá-la, isso era normal? Não sei, só sinto a necessidade de ficar com ela.
— Pois é. Você usou a última gota, doçura. — ele sorri para mim e devolvo o sorriso, feliz.
Oh, nem lembro por que estou com raiva dele. Mas Jason Lewis tem uma conta para acertar
comigo, em breve.
— Por que não vai para casa, toma um banho e descansa? — sugiro.
— Não, vou ficar. Selma está vindo para cá e trazendo tudo o que preciso no momento. Não
sairei de perto das duas nem amarrado. — garante. Ele está perto da cabeceira da cama e beija
minha boca. Estava com saudades de seus beijos! Devolvo o beijo com volúpia.
— Vocês são um nojo, procurem um quarto. — Carla fala do sofá, no canto do quarto —
Você, Jason, está feio e malcheiroso, devia seguir o conselho de sua mulher.
Sorrio em sua boca e nos separamos. Ele mantém seus olhos intensos nos meus, e sua mão
acaricia a mãozinha de nossa filha.
— Eu te amo mais que tudo, doçura. — ele fala, quase inaudível — Amo as duas demais.
Ter quase perdido você me fez ver tantas coisas. E quero que saiba que, se nesse momento você me
pedir para me afastar, se não me quiser ao seu lado, vou fazer exatamente isso, porque quero você
feliz.
— Amo você. — sussurro de volta — Estava tão brava com você. Mas não posso viver
para sempre com medo de te amar. Confio minha vida a você. Não quero que você vá para longe de
nós, nunca.
— Cara, estou bem aqui. — Carla resmunga outra vez, e mais uma vez é ignorada por nós.
— Ficam arrulhando feito dois bobos apaixonados. Ninguém precisa ver isso. — ela ri.
— Cala a boca, Carla! — digo num grito sussurrante, para não perturbar nossa princesa,
que dorme tão tranquilamente.
Ela levanta.
— Está bem, vocês me deixaram com inveja. — ela caminha para a porta — Vou atrás do
meu próprio homem, que deve aparecer em breve por aqui. Au revoir! Ah, falando nisso, seus pais
estão chegando, também querem conhecer sua netinha.
Quando ela sai, suspiramos em uníssono.
— Obrigado, minha linda! — sou beijada outra vez. — Tenho uma coisa para te falar.
— O quê?
— Vou procurar minha mãe e tentar entender certas coisas incompreensíveis para mim, até
agora. O sentimento que tenho por minha filha me fez questionar muitas coisas...
— Ah, Jay, fico contente que você vá vê-la. — falo e encosto minha cabeça nele. Bem, as
coisas estão começando a irem para seus devidos lugares, enfim.
Capítulo 24

Júlia
Dois dias depois...
Hoje estou saindo do hospital. Sinto uma felicidade incrível de estar indo para casa com
minha família. Só em lembrar dos apuros que passei, nesses últimos dias, sinto alegria em dobro!
Estou sentada no banco de trás do carro, junto com Jason e uma Nicole muito satisfeita no
colo do seu pai. Vejo, agora, que aquele ogro grosso que ele é, às vezes, virava uma verdadeira
manteiga derretida quando começava a arrulhar com nossa filha. Ver o amor dele por ela só me faz
bem, quero engarrafar esse sentimento e guardá-lo para sempre.
Era tão doce!
—Pa-pai. — dizia com paciência e delicadamente, como se uma recém-nascida pudesse
entender o que ele estava ensinando com ternura.
Lembrar do medo que senti, durante meu trabalho de parto, em deixar minha filha sem mãe,
fazia meus olhos marejarem. A sensação que tive, naquela hora, foi como se alguém estivesse
abrindo meu peito e arrancado meu coração. Senti-me consciente e assustada. Ver as lágrimas de
Jay e pensar que não poderia jamais ver meu anjinho, que acabara de nascer, tinha sido o
sentimento de mais puro desespero para mim. Mas quero esquecer e curtir minha linda família.
Bem, enfim a tenho completa, como sempre desejei!
Agora o que sinto é a mais linda plenitude de ir para casa com meus amores.
Meus pais estavam em meu antigo apartamento. Eles estariam comigo mais tarde, na casa de
Jason. Não iria me livrar dele, não mesmo. Ter um lugar só seu dava um sentimento de liberdade
sem igual. Está bem, você acha que ainda quero ficar longe de Jason? Ah! Pensou errado. Mas uma
mulher precisa ser dona do próprio destino e não viver em função do seu marido lindo e gostoso. E
cá entre nós, o meu era o mais lindo que você pode imaginar! Estou sorrindo com o pensamento,
quando Jason para de arrulhar com Nicole e me encara:
— O que foi, doçura? Esse seu sorriso me assusta. — diz, sorrindo como um bobo.
— Jay, ultimamente você anda muito assustado. Saudades do cara assustador que perseguia
mulheres grávidas. — digo, sorrindo. Era bom demais gracejar outra vez. Entrelaço meus dedos
aos dele.— Nicole não deveria andar na cadeirinha? — observo.
— Ela é muito pequenininha, e para que serve seu pai aqui? — ele aponta um dedo para si
mesmo. Ah, sim, claro!
Jason

Duas semanas depois...

— Como é que é? — estou muito puto, a justiça era uma merda.— Não acredito nisso!
— Pois pode acreditar, não tínhamos provas suficientes. — tenho Saulo e Raul na minha
frente, em uma reunião no meu escritório, em casa, e não acredito que eles estão dizendo o que
acho que ouvi. — Como Júlia não quis que nada fosse feito com relação à Samara e não tínhamos
provas de nada contra seu irmão, só a ameaça de extorsão sem provas, ele não irá para a prisão,
Jason.
Sim, Júlia com seu coração mole, por causa do bebê recém-nascido de Samara, não quis
mover uma ação contra ela e, por tabela, seu irmão só tinha sido chamado para um depoimento,
sendo liberado em seguida. Estava muito puto com isso. Esses safados mereciam cadeia por terem
bagunçado a minha vida já conturbada. Mas manteria um olho neles.
— Bem, por enquanto é isso. —Raul levanta — Tenho de sair, agora. Qualquer coisa, sabe
que estou às ordens.
— Claro, meu amigo. — aperto sua mão — Não deixe de manter um olho nesses
espertinhos, ainda não confio neles. — ele se despede e vai embora.
— Então — Saulo coloca as mãos atrás da cabeça e me encara —, essa vida de casado,
como anda? — Ele ri com deboche.
Lá vamos nós para as gracinhas dele...

****

Três horas depois que saio da reunião com Raul e Saulo, estou em frente à casa de repouso
onde vive agora minha mãe.
Júlia tinha escolhido o lugar onde ela ficaria, tinha acompanhamento psicológico e médicos
onde ela seria tratada. Não sei se um dia ela seria parte da minha vida ou da minha filha. Mas hoje
iria vê-la, de qualquer maneira. Tinha arranjado tudo para ela ser transferida para um lugar melhor,
não que eu fosse todo bonzinho ou coisa do tipo, não sinto nada por ela, além de indiferença. Mas
tem acontecido tantas coisas em minha vida, ultimamente, que tento ser o mais humano possível. Lá
no fundo, sinto que devo dar um lugar melhor para ela, afinal de contas, ela é minha mãe, por pior
que tenha sido nossa relação.
Resolvo descer do carro e enfrentar o que tivesse que enfrentar. Resoluto, caminho para
dentro do prédio. Sou encaminhado para o quarto da minha mãe por um dos funcionários.
— Bem, aqui é onde a senhora Lewis passa a maior parte do tempo. —diz o enfermeiro que
me leva até o quarto — Ela é uma pessoa quieta e reclusa, quase não interage com os outros
internos. — ele abre a porta e entra. Eu o sigo. O quarto é grande e arejado, com janelões que dão
para um jardim onde outros pacientes passeiam. Minha mãe está em uma cadeira de balanço,
olhando para o jardim, e de costas para nós.
— Bom dia, senhora Lewis. — cumprimenta o enfermeiro, e ela só levanta a mão,
reconhecendo nossa presença. — A senhora tem visita. — Como ela não responde, ele se vira para
mim — Vou deixá-los a sós.
Depois que ele se retira, fico sem saber o que fazer e, depois de alguns segundos, caminho
para perto dela e fico ao lado de sua cadeira, onde ela pode me ver.
Ainda era como se algo pontiagudo penetrasse em meu coração. O passado vinha com tudo
para minha mente! Vejo quando ela se volta para olhar-me, e seus olhos estão embaçados e sem
vida, porém, quando ela me reconhece, eles ficam enormes em seu rosto.
— É você mesmo, meu filho? — sua voz sussurrada é trêmula e frágil. Fico sem ação por
um momento, mas enfio as mãos nos bolsos da calça e a encaro.
— Que bom que se lembra de mim. — droga, não queria dizer isso, mas a mágoa é mais
forte que minha boa vontade. — Você está confortável aqui?
— Fico tão feliz que me perdoou, meu filho. — o quê?
— Quem disse que perdoei você? A única razão que me traz aqui é minha consciência,
coisa que você não tem. — estou sendo amargo, eu sei, entretanto não consigo frear isso.
— Sinto muito, filho. — ela fala.
— Sabe, passei os últimos trinta anos da minha vida me perguntando o porquê de sua
indiferença para com seu único filho. Então, mamãe, por que nunca se importou que aquele homem
fizesse o que bem queria comigo? — disparo a pergunta que vivia martelando na minha cabeça
desde sempre.
— Minha vida, depois que fiquei grávida de você, foi difícil, meu filho. — ela diz — Meus
pais eram pessoas de mente fechada, e fiquei grávida em uma época que, se isso acontecesse com
uma moça antes do casamento, era escorraçada por sua própria família. Seu pai era um rapaz que
namorei, e quando soube da gravidez, sumiu. Fiquei só para arcar com sua criação. Talvez,
inconscientemente, tenha culpado você pela minha desgraça e vida difícil. Nada pode justificar o
que deixei acontecer com você, mas saiba que, depois de algum tempo, o remorso foi meu
companheiro diário.
— Mas acha que isso muda o passado? O que passei nas mãos de seu marido? Era no
mínimo decente de sua parte me defender das surras que ele aplicava em mim. — sinceramente, não
acreditava no seu remorso. Arrependimento muito tardio.
— Você sumiu, nunca deu notícias, perdi contato totalmente com você. — ela continua —Só
recentemente, quando estava assistindo TV, vi sua imagem... Antes que eu deixe essa vida, queria
seu perdão, filho.
Porra! Queria sumir dali, deixá-la com seu remorso, mas algo me prendia no lugar.
— Qual o nome do meu pai biológico, você sabe? — pergunto jocoso.
— Por que isso agora? — ela aperta suas mãos trêmulas no colo. — Ele tinha o seu nome,
coloquei em você para nunca esquecê-lo.
— Qual o sobrenome? — Eu não sei o porquê da minha curiosidade, não tinha mais
nenhuma vontade de saber quem era.
— Você vai ter um filho? — ela me olha e vejo esperança nos seus olhos. Não queria falar
nada da minha filha para ela. Não queria que ela soubesse nada da minha Nicole. Mas acabei
sentando em outra cadeira e falei da minha filha. Senti-me melhor depois disso, e a raiva inicial
que sentia amenizou um pouco.
Saí de lá uma hora depois, com a promessa que voltaria para vê-la. Não sei se volto, mas
sinto-me mais leve de ter conversado com ela. Ela tinha me dito que meu padrasto havia morrido e
ela se viu sozinha e sem ter onde morar. Foi então que ela foi parar no abrigo, onde tinha ido com
Júlia vê-la. Quem sabe um dia não apresentaria minha filha a ela. Mas era um começo. Apesar da
mágoa, não fiz nada do que tinha pensado em fazer no dia que a encontrasse. Pensava em dizer um
monte de merdas para ela e não fiz nada disso. Amar e ser amado por minha nova família tinha
mudado tantos conceitos preconcebidos. A frieza com que fui tratado por ela era, ainda, forte em
meus pensamentos, e nada assim mudava de uma hora para outra.

****

Quando chego em casa já é noite, e ando pelo apartamento atrás das duas lindas mulheres
da minha vida. Vou para a suíte que compartilho com Júlia, e o quarto está todo iluminado.
Pretendo comprar uma casa com um quintal para minha filha brincar. Lembro, quando era pequeno,
de ver meu vizinho brincando com seu filho e querendo tanto ser aquela criança. Hoje posso ser o
pai na brincadeira, e meu peito dói de amor pela minha pequenina princesa. Tão linda! A cada dia
que passa, ficava mais linda. Está bem, eu sei que sou um pai molenga e coruja, e daí? Julguem-me,
não posso fazer nada se sou um sortudo filho da mãe! Olho para a cama onde as duas estão
esparramadas. Júlia está de lado, de frente para uma Nicole acordada e batendo as perninhas. Júlia
tem os olhos fechados, provavelmente dormindo. Minha pequena princesa adora passar a noite de
olhos bem abertos, deixando-nos bêbados de sono. Enquanto caminho para a cama, um sorriso
surge com o pensamento de algo. Tinha essas duas exatamente onde sempre planejei. Tudo tinha
saído perfeitamente como planejado, sob meu controle e na minha vida.
Pego Nicole nos braços, e Júlia continua de olhos fechados.
— Vamos deixar a mamãe dormir, hein, amorzinho? — sussurro para ela quando levanto da
cama. Ela faz um barulhinho. — Xiiii.
Não mexo em Júlia. Apesar da vontade de beijá-la, saio do quarto sem fazer barulho.
“Pense em um homem dominado. Pensou? Acertou, seu nome é Jason Lewis.”
— Está vendo o papai? Você e sua mãezinha têm o papai preso em um único dedo mindinho.
— ela tem olhos lindos demais, e estão tão abertos, observando meu rosto. Será que ela me
reconhece? Deve conhecer, minha filha puxou ao pai, inteligente e tudo mais. Sorrio para ela.
— Papai ama você, menininha linda. — minha voz é baixa, e, porra! Estou falando igual
uma mulherzinha. Que Saulo não me escute, filho da mãe, vive enchendo meu saco quando vem aqui
e estou com Nicole por perto.
Vou para o quarto dela, deito-a no trocador de fraldas e verifico se está molhada. Ufa!
Ainda bem que não. Isso não é minha praia, pode acreditar, não sei lidar com perninhas inquietas.
Ela nunca permite que eu acerte colocar sua fralda. Depois de pegá-la de volta no braço, volto para
a sala.
Capítulo 25

Júlia
Três meses depois...

A cerimônia de batizado da Nicole tinha sido linda, estou tão emocionada!


Parecia nosso casamento, com Saulo e Carla como padrinhos de batismo. Caramba, eles
fizeram questão de dizer, nada sutis, que queriam ser os padrinhos de Nicole. Eram nossos
melhores amigos, meu e de Jason, seria estranho não convidá-los. Bem, não convidamos de
qualquer forma, eles eventualmente se ofereceram. Aqueles dois eram mais malucos do que alguém
poderia imaginar! Carla “Louquinha da Silva” estava morando com Saulo já há algum tempo.
Tinham se casado em uma cerimônia particular e no civil. Segundo Carla, era o que queria, não
tinha sonho de casar numa igreja; bem típico dela. Só podia apoiar o que ela decidisse.
Estamos todos na casa dos pais do Saulo, que moram em uma casa com vastos jardins, onde
oferecemos um almoço para nossos convidados. Contratamos um buffet, e tendas tinham sido
armadas nos jardins. O dia estava perfeito, não muito quente, ainda bem.
Estamos sentados na tenda principal e Nicole está dentro da casa. Aqui fora a temperatura
pode estar amena para nós, adultos, mas, para minha pimpolhinha, era quente demais. Meus
pensamentos vagam para ela, meus instintos em alerta máximo, sempre. Tinha contratado uma babá,
entretanto, queria sempre cuidar dela. Sabe quando você deseja algo tanto, mas tanto, e quando
consegue você não quer largar nunca? Assim estava por minha filha. Carla fala que sou uma mãe
obcecada, mas não sou. Só apenas cuidadosa.
Sinto mãos me apalpando debaixo da mesa e olho para o malfeitor, que está sentado ao meu
lado com cara de paisagem. O que aquele homem tinha? Estava sendo assediada pelo meu próprio
marido garanhão! Inclino-me para seu lado e cochicho em seu ouvido.
— Hoje pela manhã não foi suficiente?
— Nunca tenho o suficiente de você, doçura. — ele rebate — Tenho que compensar noves
meses na seca, amor. — esta conversa já durava dois meses, desde o final do resguardo.
—Estou vendo. — sorrio, lembrando-me do nosso sexo selvagem de manhã logo cedo,
nossos membros emaranhados e peles suadas. Oh, merda! Quem está ficando excitada pelas
lembranças sou eu, agora.
Hummm... Mesmo sem querer, as cenas se repetiam na minha mente. Perco-me
nas sensações, levando-me a um lugar lindamente erótico. Nós nos encaixávamos tão bem.
Tinha acordado pela manhã, com seus dedos deslizando em volta do meu clitóris, me dando o
que precisava, aplicando a pressão ideal para me desmontar.
Explodi antes mesmo de acordar direito. O fogo dentro de mim queimando, fora de
controle, enquanto me agarrava a ele, dando-lhe tudo de mim. Minhas pernas o segurando com
força, minhas mãos ancorando-o para mim, vinculadas ao redor de seu pescoço. Percebo que não
há um acordar mais delicioso. Sabíamos que tínhamos de sair, mas quem disse que deixamos de nos
amar como dois coelhos malditos?
— Eu te amo feito louco, sabe disso, doçura? — tinha dito enquanto minha boca fazia
maravilhas em sua anatomia muito dura.
— Não vale dizer isso enquanto mantenho meus lábios em volta de você, Jay. — reclamo e
volto ao meu delicioso café da manhã.
— Vale tudo, amor! — ele fala enquanto segura meu cabelo e puxa minha cabeça pra cima,
e logo em seguida abaixa a dele e beija minha boca duramente...
— Terra chamando Júlia! — ouço a voz de Carla e volto à realidade, minha
consciência retornando gradualmente. — Por que você está soltando gemidos e está toda vermelha,
Júlia? — ela pergunta, com olhos maliciosos. Deve estar imaginando um monte de sacanagens.
— Nada... — digo, levantando. — Vou dar uma olhada na Nikki. — saio às pressas da
mesa. Que horror, entrar em devaneios na mesa com um monte de convidados! Encontro Nicole no
carrinho de bebê e, como sempre, dormindo durante o dia para à noite fazer plantão. Essa minha
filha!
Depois de verificá-la, estou voltando quando sinto braços me agarrando e puxando para um
canto do jardim, onde sou atacada por lábios famintos. A língua dele invade minha boca e gemo
com a sensação boa de sua boca na minha. Suas mãos estão em minha coxa e deslizam para cima,
levantando a saia do meu vestido. Agarro sua mão, impedindo que suba mais um pouco. Descolo
minha boca da sua e olho ao redor para ver se não temos plateia.
— Você não tem controle? — digo contra seus lábios. Amo seus olhos claros, que me olham
agora com malícia. — Já não vamos sair em lua de mel? Devia se controlar e esperar viajarmos.
— Iríamos sair em lua de mel para o Caribe, de lá para Nova York. Já pensava nos passeios no
Central Park.
— Amor, nossa viagem ainda será daqui a dois dias, isso é uma eternidade para mim. —Jay
beija meu pescoço, causando arrepios.
— Vamos voltar aos nossos convidados, sim? — digo e o afasto gentilmente. — Temos o
resto de nossas vidas para fazer tudo o que sua mente pervertida imaginar.
— Sério isso? — ele sorri, safado, e puxo-o pela mão de volta à mesa. Passaríamos juntos
o resto de nossas vidas e provaríamos que, mesmo contra todas as probabilidades de nós darmos
certo, no início confuso de nossa relação, estamos aqui agora, rumo a um futuro maravilhoso...
— Vamos lá, Sr. Pervertido!
Capítulo 26
Jason
Porra!
Estou eufórico! Se falar para vocês que deixei uma teleconferência com um grupo de
japoneses hoje, nas mãos de um dos diretores, e que esses caras entendem de tecnologia, e que
tinha demorado um tempo para conseguir agendar essa reunião, vocês acreditam? Mas foi o que
aconteceu. Minha linda mulher acabou de ligar para mim e dizer que estava liberada para a
reestreia da nossa tão esperada vida sexual. Estava seco por sexo, doente na verdade, isso era
sério. Chego em casa às oito da noite e saio caçando Júlia por todo o apartamento. Pela primeira
vez, desde que Nicole nasceu, não a procuro em primeiro lugar quando chego. Sou um pai terrível,
eu sei...
E também sou um cara sortudo pra caralho! Encontro-a no banheiro, acho que fazendo
aquelas coisas de mulherzinha e preparando uma noite toda romântica. “Pense de novo, amor, hoje
não estou nada suave com você, ” penso. Tem uma música tocando suavemente no quarto, de Ellie
Goulding, How Long Will I Love You.
Paro na porta entreaberta e observo seu reflexo no espelho da pia. Júlia estava usando uma
camisola preta, que mal cobria seu delicioso traseiro e pouco deixava para minha imaginação.
Quando nossos olhos colidem no espelho, ela se vira para mim com um sorrio contente.
— Oi, amor, pensei que demoraria a chegar. — diz.
— É? E para quem a senhora está ficando toda gostosa? — aproximo meu corpo do dela e
fungo em seu pescoço, que cheira divinamente. Não resisto e mordo no encontro do ombro e o
pescoço. — Porra! Quero você! — ostento uma ereção monstro, e não é brincadeira não, tesão
perpétuo desde... Nem lembro.
Pego-a pela cintura e coloco-a sentada sobre a pia de mármore. Vejo que a danadinha está
sem calcinha, melhor ainda. Arranco sua minúscula camisola e aprecio seu corpo, que ainda tem
sinais visíveis da gravidez, mas quero ser um condenado se ela não é a mulher mais linda da porra
do planeta, e é toda minha. Abro suas pernas e fico entre elas. Seu olhar estava exatamente como
queria: pesado e sensual. Ela geme e sua cabeça cai para trás contra o espelho, quando me abaixo e
levo minha boca faminta à sua rosada boceta, que brilha como se me chamasse para prová-la
depois de tanto tempo. É como provar um vinho envelhecido, e quero ficar bêbado do seu sabor.
— Você é tão gostosa! — digo e olho para seu rosto contorcido de prazer. Seus dentes estão
fincados em seus lábios. É uma visão celestial! Minha boca volta com renovada fome, e ela não
podia se conter, empurrava seus quadris contra meu rosto. Ela grita quando meu dedo se
junta à minha boca, deslizando no seu interior com um empurrão suave. Trabalho meu dedo para
trás e para frente antes de adicionar um segundo, minha língua mantendo a pressão implacável.
Júlia não consegue se segurar com o duplo assalto. Paro o que estou fazendo com minha boca e a
observo em uma explosão violenta de prazer. Espasmos sacodem seu corpo e ela clama por
misericórdia, mas não paro de estocar firme em seu interior; sou implacável na perseguição do seu
prazer. Curvo meus dedos e começo alternando entre estocadas lentas de meus dedos e lambidas
que tocam todos os pontos de prazer que sei que ela tem.
— Jay, por favor. Eu quero...
— Eu sei, querida!
Quando ela geme sem controle, eu torturo ainda mais seu clitóris. Ver seu prazer é meu
prazer também.
— Falei para você, doçura, que iria torturá-la até a morte, então se deixe levar, amor. —
digo, carinhoso. Uso a outra mão e puxo seu cabelo para trás, expondo sua garganta, e acelero todo
o caminho, fazendo-a rebolar sofregamente em meus dedos.
Pouco depois, puxo uma Júlia mole de prazer de cima do balcão e a levo para a cama.
Deito-a e em seguida beijo sua boca profundamente. Ela, no entanto, não demora muito em seu
mundinho orgástico. Corre os dedos ao longo da borda da minha calça, e respiro fundo, o enorme
vulto atrás de meu zíper estava esticando as costuras. Ela abaixa o zíper lentamente, e engasgo
quando sou libertado em sua mão.
— Cristo, doçura! — ofego. Meus dedos enrolam nos seus ao meu redor e mostro para ela
como gosto que me acaricie. — Vou foder você duro. Vou usar o seu corpo até gozar dentro de
você. — rosno e levanto para tirar o resto das minhas roupas. — Durante toda a noite, e quero te
deixar louca de prazer.
Volto para a cama, a delicadeza passando bem longe de mim essa noite. Beijo sua boca com
força, depois a posiciono de quatro, na cama. Não penso demais, posiciono meu pênis na entrada
de sua boceta e empurro dentro dela. Coloco as mãos em cada lado de seus quadris e a tomo
devagar, até que esteja totalmente encaixado dentro dela, e em seguida fico imóvel, à espera que
seu corpo me acomode. Fazia tanto tempo desde que teve um homem dentro dela, estava apertada
pra caralho.
—Você é tão gostosa. Boceta apertada e quente do caralho. — pego seu cabelo e a trago em
minha direção. Beijo sua nuca, mordendo e lambendo cada milímetro de pele que eu possa
alcançar. Seguro seu pescoço pela frente e desço a outra mão para seu clitóris inchado, e gememos
juntos quando eu a toco lá. Não tenho paciência de ser bondoso hoje, e começo a estocar com força
dentro dela. —Você gosta disso, não é, minha doçura? — trabalho meus dedos nela, acaricio seu
clitóris e levo minha outra mão à sua boca. Júlia a agarra, sugando com força dois dos meus dedos.
— Minha gatinha gosta! — ela geme, alucinada, molhada, arfante. Os gemidos roucos dela
deixavam-me mais louco. E quando seu canal molhado começa a se contrair em espasmos, perco o
controle de vez, e não duramos muito. Gozamos quase que imediatamente. Com o impulso seguinte,
ela estremece, escondendo o rosto contra o travesseiro, quando grita com a intensidade de seu
clímax. Caímos na cama em um emaranhado de braços e pernas, comigo ainda dentro dela. Não
quero sair do seu calor, que me deixa doido de tesão.
Júlia empina a bunda em minha direção e vira a cabeça para olhar-me.
— Já, bonitão? — diz, quando sente meu pau voltando à vida. — Tomou o que, hoje? —
graceja
— Isso, meu amor, foram meses secos de tesão. — digo e beijo-a outra vez. E voltamos a
nos amar. Tudo mais calmo, dessa vez. Bem... nem tão calmo assim.
Epílogo
Júlia

Odiava passar o dia todo fora de casa, mas hoje realmente foi necessário ir à Ma Belle.
Passar o dia todo sem ver minhas fofuras tinha sido mais que torturante. Tinha uma coleção nova
para organizar, e nada como você mesma para estar por dentro dos negócios para tudo sair perfeito
como você almeja, apesar de que Melissa era mais do que eficiente e tinha se tornado amiga e
valiosa para mim nesses últimos anos. Entro em casa, nossa nova casa. Tínhamos comprado essa,
com quintal e espaço suficiente para um batalhão, mas que era nosso cantinho. Estranho, a casa
estava silenciosa, coisa rara hoje em dia.
Se alguém perguntasse para mim, naquele dia que entrei no consultório e fiz aquela
inseminação artificial, onde estaria hoje, quase seis anos depois, diria que estaria no meu
apartamento, curtindo meu único filho, só ele e eu.
Claro que naquele dia não lembraria que esbarrei no meu futuro marido. Nem imaginava
que ter um companheiro de verdade poderia ser uma opção tão válida quanto viver só, como queria
naquele momento que tinha decidido ter minha prole independente. E o destino veio e deu uma
rasteira de verdade em meus planos bem arquitetados. Deu-me um marido lindo e filhas mais que
perfeitas. Estamos vivendo tão profundamente em nosso amor, que tem momento que espero que
aconteça algo que venha tirar nossa paz. Daí lembro que nada poderá abalar nossa família. Nada
mesmo.
Subo a escada e escuto o primeiro sinal de vida na casa. Ando pelo corredor e paro na
porta do quarto de jogos.
A cena que encontro é sempre encantadora para mim. Onde está o homem certinho de terno
e gravata que conheci? Oh, ele ainda existe, mas, esse homem que encontro aqui, está totalmente
desprovido de arrogância e qualquer tipo de machismo. O quarto está uma bagunça, com
brinquedos para todos os lados. Jason era mais bagunceiro que suas filhas. Ele está sentado no
tapete, rodeado de nossas filhas. Nicole senta em uma almofada, parecendo uma pequena adulta, e
as trigêmeas idênticas estão fazendo a maior algazarra junto com seu pai.
Sim, tinha tido uma gravidez tripla.
Dessa vez, pelo método normal. Elas estavam com três anos agora. Eram terríveis, não
ficavam quietas um minuto. Observo Jason tentando contê-las. Enquanto tentava pegar uma, a outra
ia com passos trôpegos e voltava ao mesmo lugar. Era tão bonitinho vê-los juntos, minha família
linda de viver. Essa cena era tão comum hoje em dia. Meu lindo marido não tinha receio ou
vergonha de cuidar das nossas filhas, enquanto tratava dos meus negócios. Tínhamos babás
eficientes, mas ele fazia questão. Então, quem sou eu para impedi-lo?
— Ahãm. — chamo a atenção deles. Um coro de “mamãe” ecoa no quarto, e derreto-me de
felicidade. — Olá, meus amores!
Solto minha bolsa no chão e sento-me no tapete. Sophie e Elle vêm para mim, frenéticas,
enquanto uma controlada Jasmine fica atrás, com enormes olhos cinza.
— Venham cá, amorzinhos. — chamo enquanto abraço e beijo minhas duas serelepes.
Abraçar quatro de uma vez é difícil, mas tento segurar as quatro de qualquer maneira.
— Mamãe, não ganho beijos também? — Jason fala, e sorrio para ele, encantada e
apaixonada. Pronta para receber todos os beijos possíveis.

Jason

Duas semanas depois...

Um homem pode ser mais feliz do que eu? Acho que não. Ver as cinco juntas faz meu
coração tão, tão... Porra! É um sentimento avassalador, que incha em meu peito. Nesses últimos
anos, minha vida mudou tanto que nem me reconheço. A sorte sorriu para mim e tinha me dado
cinco mulheres lindas. Júlia, Nikki e as trigêmeas. Não tinha acreditado quando ouvi, na primeira
ultrassonografia, o som de três coraçõezinhos. O pulsar maravilhoso tinha enchido a sala do Doutor
Edgar, e na hora pensei que era brincadeira. Mas o susto maior foi no dia que descobrimos o sexo.
Mais mulheres na minha vida! Estava lascado, quintuplamente ferrado e feliz pra caralho!
— Cara, toma esse guardanapo. — Saulo aparece ao meu lado e mostra um lenço para mim.
— Para que quero isso? — pergunto, intrigado — Você fica velho, mas não perde esse seu
lado chato, meu amigo.
— Cara, tua baba está caindo da boca. — ele ri alto.
— Saulo, você se acha muito engraçado, meu amigo. — digo e mesmo assim sorrio. —
Devia ser palhaço em vez de advogado.
O que poderia dizer? Era verdade. Babava por minha família. Hoje era o aniversário de
cinco anos de Nikki, e ela era uma mini Júlia, tão obstinada quanto, desde o berço. Observo-a
correr entre outras crianças e abraçar pelo pescoço o filho de Saulo e Carla, de três anos,
Guilherme. Ele era da idade das trigêmeas.
— Cara, tua filha vai sufocar meu filho! — Saulo reclama — Ela é uma pequena amazona!
Tenho medo pelo Guilherme, coitado! — fala, mas ri das peripécias da minha pequena. Era tão
linda e inteligente, puxou a mim, claro e evidente isso! Não que eu queira me gabar; não, nunca
faria isso. Sou só um pai que reconhece seus próprios genes na filha.
Fazia todas as vontades das minhas cinco garotas. O que poderia fazer, se era a minoria,
não tinha voz ativa com elas. Além do fato de que elas me dominam, confesso.
Minha relação com Júlia não poderia ser melhor. Em breve faríamos uma viagem para uma
segunda lua de mel, já que a primeira não valeu. Sorrindo, lembro-me que minha Nicole era
pequena demais e demandava muita atenção. Não aproveitamos como é devido em uma lua de mel,
se é que entende o que quero dizer.
Mas tinha uma família linda, que não trocaria por nada. Agora tenho a sensação que deveria
agradecer à clínica por trazer, em meio ao caos, o maior presente que poderia desejar.
Minha mãe vivia muito bem, lá no lar para idosos. Ela não era tão idosa assim, só tinha
sessenta anos, mas trazê-la para meu convívio familiar, para perto das minhas filhas, talvez nunca
acontecesse. Ela tinha perdido, de minha parte, aquele vínculo intrínseco de mãe e filho. Não que
não a tenha perdoado, a visitava sempre que podia. Só que, trazê-la aqui, era algo que não sabia
explicar, pois minhas filhas eram tudo para mim. Não queria que nada, mesmo remotamente, viesse
a ser um perigo para elas.
Tinha meus amigos, mesmo sendo poucos, e já era mais que feliz assim.
Vou até onde está Júlia, passo meus braços ao redor de seu corpo e beijo a curva do seu
pescoço.
— Você me faz feliz demais, bebê. — digo em seu ouvido.
— Ah, que lindo, amor, virei bebê agora, é? — ela ri, sua cabeça caindo em meu ombro.
— Você sempre foi e sempre será minha! Não importa que nome eu dê para você. — porra,
ainda era o mesmo Jason que você conhece.
— Amo você também! Muito!
— Já que você me ama, senhora Lewis, bem que poderíamos fugir um pouco dessa festa e
irmos fazer alguma coisa a respeito dessa ereção que ostento. — murmuro baixo, e ela torna a
sorrir e verifica se falo a verdade.
— Vocês dois, tenham decência. Já é um casal velhinho para estar se pegando na festa da
própria filha, não acham? — a voz da Carla corta nossa brincadeira. — Uma vergonha isso!
Ela está grávida de oito meses do segundo filho, parece que será outro menino, eles querem
saber só na hora do parto.
— Carla, isso já virou perseguição, amiga. — Júlia ri — Sempre empatando!
— Ou vocês estão sempre se pegando. — ela aponta nossos filhos — Será que terei de ter
quatro filhos, Mr. Ogro? Porque sua filha não dá sossego para meu filho! Gui precisará de reforço.
— rimos e olhamos para nossas proles.
Depois da festa, de termos colocado as crianças na cama e as deixado aos cuidados das
babás, puxo Júlia para a sala e sirvo uma taça de vinho para ela e outra para mim. Entro na sala e
escolho uma música. Final feliz, de Djavan, começa a tocar e o som enche a sala. Sento ao lado do
amor da minha vida e beijo seus lábios. Como sempre, esqueço quem sou e me sinto mais
apaixonado do que nunca pela minha doçura.
Enfim, estava tendo nosso final feliz, e que muitos anos vindouros fossem iguais a esses que
já tínhamos tido juntos...

Chega de fingir
Eu não tenho nada a esconder
Agora é pra valer
Haja o que houver
Não tô nem aí
Eu não tô nem aqui pro que dizem
Eu quero é ser feliz
E viver pra ti
Pode me abraçar sem medo
Pode encostar sua mão na minha
Meu amor
Deixa o tempo se arrastar sem fim
Meu amor,
Não há mal nenhum gostar assim
Oh, meu bem
Acredite no final feliz
Meu amor
Meu amor
Bônus
Carla
O 1º encontro...

Chegamos na boate faz duas horas e já estou me acabando na pista de dança. Meu vestido
curto, um modelo mais estilo “periguete louca” que de uma dama, está colado ao meu corpo suado
de tanto dançar. Queria que minha melhor amiga estivesse aqui comigo, mas deve estar em casa,
curtindo sua gravidez e um livro.
Arrg... Isso não é para mim. Não ainda, sou muito jovem para me apegar a essas coisas.
Mas não conhecia ELE, ainda!
Minha garganta está seca, sinto sede e resolvo ir até o bar pegar alguma coisa e renovar
minhas energias. Empurro as pessoas na minha frente e acabo enfiando meu salto agulha nos pés de
algum desavisado, mas faço meu caminho até o bar com proeza. Peço uma bebida e espero, não
deixo de balançar meus quadris na batida da música. Viro para olhar ao redor e meus olhos saem
das órbitas quando vejo: ELE!
Amor à primeira vista existe mesmo! Acabei de me apaixonar! Santa mãezinha de Deus!
Parece o tipo de cara que você tem vontade de atirar na cama mais próxima: moreno, forte, cabelos
curtos, pretos, está com um jeans escuro e camisa de botão preta com as mangas arregaçadas até os
cotovelos, e realmente, de onde estou, dá para ver que ele é muito gato! Estava começando a
caminhar em sua direção, quando paro. Aquele não é o Jason da Júlia? Oh, se é, e tem uma loira
platinada agarrada feito um carrapato ao lado dele. Estão juntos, percebo. Meu deus do sexo e
Jason Lewis são amigos? Ah, mas que ótimo, assim terei uma desculpa menos óbvia para abordá-lo
— não que esteja ligando para isso. Uma delícia dessa, uma mulher não precisa de desculpas!
— Olá. — digo quando chego perto deles e “a” delícia se volta em minha direção. Seus
olhos castanhos claríssimos batem em mim feito uma bala de canhão, fazendo meu estômago apertar
e fazendo aquele friozinho se acentuar mais. — Jason, que bom vê-lo. — mentira deslavada! Quero
lá saber desse Ogro que chupa limão no café da manhã! Meu negócio é com o Sr. Delícia bem na
minha frente, que me olha como se eu fosse a última refeição de sua vida.
Isso! Estamos em sintonia aqui! Como não sou nenhuma puritana, a vergonha passou bem
longe de mim, estendo minha mão para ele.
— Carla Spinoza, e você é?
— Saulo Calvet. — ele aperta minha mão num aperto firme e totalmente masculino. Olha
para Jason com uma pergunta nos olhos e ele dá de ombros.
— Sou amiga da Júlia. — digo para Saulo, já que o ogro não nos apresentou. Mal-educado.
A loira puxa Jason de lado, e agradeço interiormente. Perfeito!
— Você dança? — pergunto, e ele ri.
— Se não soubesse, aprenderia agora. — sim, ele é perfeito para mim.
Fomos para a pista, e me ocorre um pensamento: será que ele está acompanhado? Se seu
amigo está, ele possivelmente estava também. Ok, uma dança e devolvo-o para sua suposta
companhia. Madonna começa a cantar, Justify My Love. E puxo-o para a dança mais sensual de sua
vida. Assim espero. Sorrio para mim mesma. Sou uma louca!
Ele envolve minha cintura e não me faço de inocente: enlaço seu pescoço com meus braços
e me entrego ao momento. Sinto seus lábios no meu pescoço, sinto seu cheiro inebriante
envolvendo-me e esqueço onde estou.
...
Querendo, precisando, esperando
Por você para justificar meu amor
Esperando, rezando
Por você para justificar meu amor

Eu quero conhecer você


Não assim
Não quero ser sua mãe
Tampouco quero ser sua irmã
Eu só quero ser sua amante
Eu quero ser seu bebê
Me beije, isso mesmo, me beije.
...

Quando a música termina, nós estamos ofegantes, e não é pelo ritmo da música. Vejo-o
olhar minha boca e voltar para meus olhos. “Sim, delícia, beije-me”. Mas ele não o faz.
— Você tem um telefone?— pergunta, falando bem perto da minha boca, só um pouquinho
mais perto e estaríamos colados.
— E quem não tem um telefone hoje em dia? — solto. Droga!
— Diga o número, porque teremos outra dança em breve. — digo meu telefone para ele, e
realmente não sei se ele ligará, afinal não anotou o número. Vejo-o caminhar para onde Jason está,
e a decepção afunda em mim.

****

Passei o dia seguinte com Júlia, fazendo compras. Falei para ela do encontro com Jason e
Saulo na boate, porém não mencionei minha atração chocante por ele. Não achava que daria em
alguma coisa. Entretanto, quando cheguei em casa, naquela noite, recebi uma ligação dele.
— Você me deve mais uma dança, e preciso corrigir meu erro de ontem à noite e te oferecer
uma bebida. — diz num fôlego só, sem me dar chance de falar — Então?
Bem, não sabia que podia ter sentimentos imediatos por uma pessoa, mas tinha visto
Saulo e BAM! Isso era desconcertante e embriagador.
— Então, deixei você muda? — ele debocha da minha falta de resposta.— Você foi
extremamente sexy ontem, onde foi parar aquela ousadia toda?
— Hum...Hum... — limpo minha garganta.— Não esperava você ligar, Saulo. E ousadia é
meu segundo nome, o primeiro é atrevida — agora não estava nada atrevida, estava trêmula, isso
sim. O senhor Delícia me deixava de pernas bambas.
Ele gargalhou do outro lado.
— Aceite meu convite e não se arrependerá. —oh, Delícia, você ainda não sabe, mas é
totalmente meu.
— Oh, não sei, acabei de chegar do trabalho. — faço charme. Putz, espero que ele não
acredite nisso, porque não teria cansaço que me fizesse ficar em casa hoje.
Acertamos de nos encontrar em um restaurante perto de onde moro, por ser tão em cima da
hora. Na verdade, é mais um bar que restaurante, mas tinha uma pista de dança e o tinha escolhido
justamente por esse detalhe. Depois de quarenta minutos, estou pronta e saindo de casa. Pego um
táxi, e em menos de dez minutos, estou lá. Droga! Devo ter me adiantado, porque não o vejo em
nenhum lugar. Caminho para o fundo do restaurante, onde tem um bar que serve para quem só quer
uma bebida. Estou indo esperá-lo, porém vejo que não fui a única que chegou adiantada. Ele está
no bar, de costas, e vira-se aparentemente para verificar se eu tinha chegado, imagino, e fico
literalmente salivando aqui. Olho para ele, que está impecável sob todos os ângulos e, confie
em mim, estava verificando cada um e todos os ângulos. Queria desviar o olhar, mas seriamente,
não podia!
Estava pirando, hipnotizada com sua aparência e seu carisma, que pareciam infiltrar-se em
mim. Seu olhar vai de cima a baixo, enquanto caminho em sua direção. Ele tem o olhar ousado nas
minhas pernas, que estão nuas, em uma saia curta dourada, fazendo conjunto com uma blusa azul
turquesa e saltos matadores. Já disse que amo salto? Sim, eles são bons aliados na “dança do
acasalamento”.
Saulo não estava mesmo tentando esconder o fato que apreciava o que via. Safado! Adoro
isso! Seu sorrisinho indecente faz par com o meu.
Paro à sua frente. Ele pega minha mão na sua e a leva lentamente aos lábios, beijando
sedutoramente a palma. Um frisson sai do centro da minha mão e percorre meu corpo inteiro.
— Carla... — ele diz suavemente, seus olhos cravados nos meus. Minhas pernas oscilam em
cima dos saltos altíssimos. — Que bom que veio.
Seguimos para uma mesa no canto, e é tão isolado dos outros que sinto o coração batendo,
acelerando, pensando nas coisas que poderíamos fazer ali e ninguém ver.
— Você está pronta para mim?
O quê? Oh, Senhor me segura!
— Digo, você está pronta para pedir?— diz sorrindo. Que espertinho. — Pedir uma bebida.
— esclarece.
— Sempre. — devolvo.
Não foi nenhuma surpresa que o jantar foi divertido e claramente um flerte descarado entre
nós. Nossa conversa confortável e fácil flui calmamente. Falamos um pouco de nossas vidas, e fico
sabendo que ele vem de uma família bem estruturada. É amigo, desde os 17 anos, de Jason. Além
de serem amigos, é seu advogado e tem uma equipe jurídica na empresa dele. Acabo contando que
sou arquiteta, mas que minha carreira estava começando a deslanchar agora e tinha planos de ter
meu próprio escritório.
Passei o jantar com borboletas revoando em minha barriga, e o efeito literalmente causa o
caos dentro de mim.
Quando ele me leva para a pista de dança, começamos a dançar, ou melhor, nos esfregar um
no outro. Parecíamos dois adolescentes com os hormônios em polvorosa. O ritmo da música é
sexy, e estava em chamas por este homem e não sabia o porquê, além do óbvio. Quero dizer,
ele é sexy, único, lindo, perfeito para mim. Mencionei o quão incrivelmente sexy ele é?
Queria que ele me fodesse, sim, eu queria. Aqui mesmo. Neste momento.
Seus braços são duas barras de aço em volta de mim, minhas costas estão no seu peito e
minha bunda colada na sua virilha. Oh, merda! Estou pirando aqui. Viro minha cabeça para ele,
levantando meu rosto para cima até o dele, fechando os olhos,
querendo apenas sentir seus lábios sensuais nos meus. Seus lábios capturam minha boca,
muito suavemente no início, mas à medida que continuamos, sua língua encontra a minha e nosso
beijo começa a crepitar em paixão. Esfrego minha bunda descaradamente em sua ereção mais que
evidente, cutucando de volta em mim. O prazer queimava através de mim, estamos tão colados que
cada vez sentia-o mais duro contra meu corpo em ebulição. Caramba!
Não me lembro de ter saído do restaurante, estava inebriada com seu gosto, cheiro... Como
minha casa era próxima, me vi diante dela escorada na minha porta fechada e minha boca assaltada
por um Saulo faminto. Merda, como fomos parar ali? Devo ter dito a ele onde morava, não é?
— Peça-me para entrar... — sussurra na minha boca, rouco. Sua língua corre o céu da
minha boca numa dança perversa, meu corpo derrete em uma poça de sensações contra ele e a
porta. Ele tem uma mão na minha coxa e a outra em meu seio, enquanto estou praticamente montada
em sua coxa. Porra! Isso está quente como o inferno!

****

Quando Saulo me pede para convidá-lo a entrar, não tenho dúvidas. Se eu o queria, para
que ser hipócrita e dizer que não? Só porque era o primeiro encontro? Não. Sou mulher suficiente
para transar no primeiro encontro. Quando ele permitiu, abri a porta e entramos. Ando para a sala,
ele me segue tão próximo que sinto o roçar dele em mim.
— Bebe alguma coisa? — pergunto por educação, torcendo que não aceite. Sorrio
interiormente, pois não estou a fim de ser uma boa anfitriã neste sentido. Para Saulo, não estou
mesmo. Quando ele diz que não quer nada, sorrio em agradecimento. Ele vem em minha direção e
acabo encostada no encosto do sofá. Ofego quando ele me agarra abruptamente, com as duas mãos
em minha bunda, fazendo-me gemer em sua boca, que volta a atacar a minha. Afasta-se ligeiramente
e olha nos meus olhos. Calor irradia deles, a intensidade de sua expressão coloca-me ainda mais
quente, me fazendo sentir a mulher mais sexy do mundo. Ele desabotoa minha saia e ela cai ao
redor dos meus pés. Livro-me dela, minha blusa segue o mesmo caminho para o chão. Fico só de
lingerie e salto. Saulo alisa as mãos sobre meus ombros, descendo pelos meus braços e volta
novamente, causando arrepios por todo o meu corpo. Não estou quieta aqui, na verdade, a camisa
dele está totalmente desabotoada, e aproveito para empurrar para fora de seus ombros. Olho
extasiada para seu tórax e sorrio. Deslizo minhas mãos para a cintura de sua calça, mas ele impede.
Suas mãos passeiam em meu peito e espalmam nos meus seios cobertos pelo sutiã.
— Vire-se, pequena atrevida. — sussurra no meu ouvido. Viro de costas para ele e espalmo
as duas mãos no encosto do sofá. Viro a cabeça para olhá-lo.
Caramba! Isso estava indo muito devagar, será que ele era todo delicado? Tinha me
enganado com meu Saulinho lindo de viver?!
— Vai demorar muito aí, senhor advogado? Não te deixei entrar para você ficar só
admirando minha bunda. — provoco, porque tenho pressa aqui, droga!
Sinto quando ele desabotoa meu sutiã, que escorrega pelos meus braços, e o jogo para o
chão. Gemo quando ele se move mais para baixo, tomando conta
da minha calcinha e rasgando em um golpe rápido. Espalha beijos e mordidas por minhas costas.
Sobe a língua pela linha da coluna, fazendo-me arquejar de prazer, adorando sentir seus dentes na
minha pele. Afasta meu cabelo e concentra-se em minha nuca, onde morde e suaviza com sua
língua. Arrepios sem fim percorrem meu corpo. Sua boca e suas mãos parecem estar em toda parte;
em seguida, suas mãos estão em meus quadris. Ele chuta meus pés, me fazendo inclinar para frente.
Estou com o tronco no encosto e ele está agora de joelhos atrás de mim, deslizando a boca na minha
bunda, antes de sua boca descer na fenda e me saborear como um homem faminto. Foi demais. Mal
podia respirar, e sons altos escapam de minha garganta enquanto empurrava mais meu traseiro em
seu rosto.

****

Putz! Nossa primeira noite tinha sido... Ufa! Saulo não me desapontou. Depois da primeira
rodada na sala, fomos para o quarto. Humm... Só em lembrar, causa-me arrepios.
Estou com uma xícara de café nas mãos, e já era para ele ter ido, mas ainda dorme no meu
quarto. Eu sei que você pode achar que as coisas foram mais rápidas que uma estrela cadente no
céu, porém sabe quando você bate o olho em alguém e se perde nessa pessoa? Assim estava
caminhando nosso caso. Nem sei se ele pensa igual a mim, porém quero acreditar que sim, e se não
pensa, que vá à merda!
— Bom dia, namorada!
— Namorada? Acho que não. Não me lembro de você pedindo para eu ser sua namorada,
garotão. — ele entra na cozinha e beija minha cabeça. — Acho que você anda muito com Mr. Ogro.
Ao menos a arrogância é igual.
— Quem é esse? — esse homem é uma tentação! Distraio-me com seu peito nu. Cara, minha
baba deve estar escorrendo no canto da boca. — Carla? Quem é esse? — acordo e me endireito na
cadeira.
— Quem mais poderia ser? Seu amigo, que anda perseguindo minha amiga. — resmungo.
— Ah, falando nisso, não quero que essa coisa entre nós venha à tona agora. Tudo bem para
você? — não gosto disso.
— E por que não? Para você foi só uma noite? — pergunto na lata. Não tem segredinho
comigo. Tudo em pratos, limpos é meu lema.
— Claro que quero ficar com você mais que uma noite, Carla. Só acho que nossos amigos
já têm muito com que se preocupar. — ele diz.
— Não vejo lógica nisso. Minha amiga não ficará mais ou menos preocupada, porque estou
vendo um cara... — digo — Tem vergonha de mim, por acaso?
— Que bobagem! Apenas seria estranho aparecermos os dois juntos agora, não? —
argumenta.
— E por quê? O estranho aqui é você.
— Só acho que devemos curtir o que há entre nós. — diz — E esquecermos a vida daqueles
dois. Eles estão tão concentrados neles mesmos que nem mesmo nos perceberiam.
Acabamos concordando em ficarmos calados. Pensando bem, nem entendo essa decisão.
Entretanto, quem é que liga para isso? Vamos voltar à fase que namorávamos escondido dos nossos
pais, só que agora eram dos nossos melhores amigos.
Começamos a nos ver sempre que podíamos e tínhamos uma folga. Ele tinha razão, melhor
mantermos o que temos para nós, a vida tresloucada de Júlia e Jason parece uma novela mexicana.
Não esperava que o meu caso com Saulo fosse tomar essas proporções tão rápidas, e quando dou
conta, estamos ficando noivos.
Sim, estamos ficando noivos, e minha melhor amiga ou qualquer outra pessoa conhecida não
sabe de nós. Estamos vivendo em um mundinho só nosso, nesses últimos meses. Estava apaixonada
e louca para contar para o mundo sobre o nosso amor.
Conto para Júlia que Saulo me pediu para casar com ele. Ela fica feliz e um pouco chateada
por ter mantido segredo. Apesar de que ela também escondeu de mim certas coisas. Mas, no fim,
sempre nos damos bem, e ela fica feliz por mim.
Nosso relacionamento é puro fogo, isso quando Saulo aparece, ele vive trabalhando. Nunca
o vejo relaxado, curtindo, está sempre ocupado em sua função e resolvendo as coisas de Jason. Isso
é a única coisa ruim entre nós.
Jason viajou com Júlia, e esse foi o único fim de semana relativamente calmo que passamos
juntos. Porém, quando eles voltam, as coisas ficam ruins e, como sempre, Saulo está com Jason em
mais uma viagem e fico com minha amiga nessa turbulência que atinge sua vida. Quando eles
voltam fico mais tranquila, entretanto, Júlia estava sendo acusada por alguns fofoqueiros que ela
poderia ser a mentora do erro na clínica. Claro que é tudo uma mentira deslavada, odiava que ela
estivesse passando por isso quando ela só queria ter seu filho em paz. No começo não entendia, ela
tão jovem e linda querer um bebê, mas passei a amar aquela vidinha como se fosse minha também.
Talvez porque agora estava apaixonada e entendia essa coisa dela querer sossegar e ter sua família.
Naquele dia, tive a brilhante ideia de esperar o Saulo com uma surpresinha. Vesti uma
lingerie sexy, saltos matadores e fiquei esperando-o chegar. Tinha a chave da casa dele, mas
raramente usava. Ele tinha uma jovem que cuidava da casa para ele, e ela estava lá quando cheguei
e me deixou entrar. No entanto, entraria de qualquer jeito.
Escuto sua chave na porta e faço uma pose sexy, na tentativa de abalar as estruturas do meu
advogado.
— Sua empregada me deixou entrar... — digo, quando ele aparece — Queria fazer uma
bela surpresa, então pedi que ela fosse embora. Fiz mal?
— Nunca. — diz rouco, e seus olhos me comem viva. Começo uma “fuga” pela sala. Adoro
saber que serei “caçada” e ser pega de jeito por ele. Dou as costas para ele, sabendo que seus
olhos estão em minha bunda. Homens!
— Parece que você tem planos para a noite, amor. — ele diz e segue atrás de mim.
— Eu tenho. Mas acho que deve inspecionar completamente, para se certificar se gosta do
que vê. — faço cara de safada, porque ele adora minhas brincadeirinhas. Mas antes que possamos
ir adiante com nossa noite, seu telefone toca e acaba com minha noite. Pelo tom da conversa, meu
namorado/noivo está dizendo que acredita na possibilidade de Júlia ser uma trapaceira. Eu não
acredito nisso!
As coisas acontecem em câmera lenta. Vejo-me esbravejando com ele, quando desliga o
telefone, e vou para o quarto vestir minhas roupas. Estou indo para casa, festinha do pijama adiada
sem data de retorno. Jogo meu sapato nele e saio mancando e acabando com minha pose de dama
ofendida. Saio da sua casa muito decepcionada, talvez agora entenda o porquê de ele querer manter
nossa relação afastada da vida dos nossos amigos.
Uma semana separada dele e é horrível, apesar de suas tentativas de pedir desculpas. Não
foram muitas, para falar a verdade, só enviou uma mensagem, mas ele terá de pedir desculpas para
a Júlia. Enquanto isso não acontecer, nada de Carlinha fácil para ele. No fim, Júlia é quem nos dá
uma força, convidando nós dois para jantar em sua casa com Jason, aliás, na casa dele.
Mas quem disse que facilitarei para Saulo? Ele tinha que suar a camisa. Disse a ele para
fugirmos do jantar o mais rápido que a educação permitisse, e vamos para meu apartamento, onde
sabia que terminaria essa noite e tinha tudo preparado. Quando entramos, fico calada enquanto ele
discorre um monte de desculpas desnecessárias, nem estou mais com raiva. Levo-o pela mão para
meu quarto e peço, toda sedutora:
— Quero que faça um strip-tease para mim, amor.
— O quê?
Coloco uma música sexy e sento na cama.
— Pode começar. Sem strip-tease, sem reconciliação! E pode rebolar bastante. — digo,
com um sorriso malvado.
— Homem macho não rebola! — ele está de cara feia. Mas suspira e entra no jogo. Amo
como faz minhas vontades. — Vai me pagar, sabe disso, não é?
— Ahãm... — sorrio de orelha a orelha e bato palminhas quando ele começa a tirar seu
terno, todo sem jeito. — Fiu-fiu.
— Carla, isso é tão constrangedor. — ele fala e desabotoa a calça.
— Espera. — digo — Tire os sapatos, gogo-boy. —sorrio de sua cara amarrada. Ele é
péssimo nisso. Mas, como tenho pressa para o próximo passo, digo: — Ok. Fim do strip. Deite
aqui na cama, amor. — convido. Ele obedece, porque sabe que não adianta argumentar comigo.
Quando ele está deitado, subo nele, ainda totalmente vestida. Seguro seus braços fortes acima de
sua cabeça, e antes que ele perceba, está algemado na cabeceira da minha cama.
— O que você está fazendo, Carla? — ele está apreensivo e excitado, se vê pelo volume de
sua calça, que começo a tirar. Deixo-o totalmente nu e levanto. Retiro meu vestido e fico só de
calcinha, já que não uso sutiã, e, claro, meus saltos “amigos” de todas as horas.
— Você é muito linda e sexy, amor. — seus olhos estão em mim.
— Cala a boca, escravo. — digo, rindo. Ops, uma Domme não ri em uma hora dessas. Vou
até a cômoda do quarto e pego um chicote, que parece pelúcia de tão macio, mas ele não sabe
disso.
— Que porra você vai fazer, Carla? Não tenho vocação para submisso, não. — ele reclama,
forçando as algemas.
— Isso é por você não vir atrás de mim a semana inteira. — corro o chicote pelo seu peito
e barriga, que se contrai, e sorrio. — Você está com medo de mim?
— Claro que não. Quando me soltar daqui você verá quem é o submisso nessa relação.
Totalmente sem graça, você... — ele fala, mas ostenta uma ereção espetacular, por sinal. — Isso
não é excitante, que fique registrado.
Bato de leve em seu peito com o chicote, depois em sua barriga, e ele estremece.
Sim, ele mostrou mais tarde que nada tinha de submisso, e eu, claro, adorei isso!
Fim

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