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Boa noite a todas as pessoas e autoridades presentes e agradecemos a disposição de

estarem aqui hoje, nesta solenidade tão importante para a cultura de Florianópolis.

Gostaríamos de começar citando o Plano Municipal da Cultura de Florianópolis: "O acesso à


arte e à cultura, à memória e ao conhecimento é um direito constitucional e condição
fundamental para o exercício pleno da cidadania, para a formação da subjetividade e dos
valores sociais conforme descritos nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal".

Neste ano, o Plano Municipal de Cultura de Florianópolis completa 10 anos, porém, não há
muito o que comemorar, pelo contrário. Grande parte das demandas que trazemos aqui,
vêm sendo apontadas desde a sua implementação e a Conferência Municipal de Cultura é o
momento ideal para organizarmos e publicizarmos as deficiências das políticas públicas de
maneira direta e objetiva.

O Plano Municipal de Cultura é um instrumento legal que tem validade por dez anos. Ele foi
concluído em 2013, sendo aprovado pela Câmara dos Vereadores em 2015. Portanto, nesta
data deveríamos estar fazendo sua primeira revisão. Aproveitamos esta oportunidade para
trazer algumas das metas do Plano Municipal de Cultura, que são muitas, e a maioria, até
hoje não foi sequer mensuradas, pois não há um Sistema Integrado de Informação
implementado no município, assim como determina o Sistema Nacional de Cultura.

É importante, entendermos que essas metas são interconectadas. Assim, falamos sobre: a
institucionalização da cultura no município; a gestão da Cultura com a participação da
sociedade; os espaços e equipamentos culturais; o desenvolvimento da Economia da
Cultura e os mecanismos de financiamento público; a valorização do patrimônio cultural e
promoção da diversidade cultural; e, finalmente, e estímulo à formação cultural.

O Conselho Municipal de Política Cultural é um órgão deliberativo, consultivo, normativo e


fiscalizador das políticas públicas da cultura da cidade. Essa premissa não vem sendo
cumprida integralmente pela Prefeitura de Florianópolis e seu órgão gestor, a Fundação de
Cultura Franklin Cascaes. O Conselho representa as partes afetadas pela gestão e o que
ele delibera, deveria estar sendo cumprido, porém, por muitas vezes, ele não é consultado
e quando se manifesta, por vezes é ignorado.

Em relação à estrutura do Conselho Municipal de Política Cultural, estamos sem sede há


vários anos, apesar das diversas solicitações feitas para a gestão atual e passada da
Prefeitura. Não sabemos se é do conhecimento de todas as pessoas aqui presentes, mas o
Conselho é um órgão paritário, ou seja, têm a mesma quantidade de representações dos
setores da sociedade civil e dos órgãos públicos. No entanto, salvo raras exceções, as
representações que de fato trabalham pelo e no Conselho são as representações da
Sociedade Civil. A maioria esmagadora das representações dos órgãos públicos apenas
assinam a lista de presença nas reuniões, não participam de grupos de trabalho, não se
envolvem nos assuntos do Conselho e, consequentemente, nos assuntos da Cultura. Tal
situação também já foi levada à ciência da Prefeitura Municipal, mas nada foi feito. É preciso
que o poder público indique servidores que de fato estejam dispostos a se envolver com a
cultura da cidade, para que suas presenças tenham alguma efetividade. A participação de
servidores públicos também concede legitimidade, transparência e responsabilidade ao
trabalho desse Conselho, trabalho este assegurado por lei.

O Plano Municipal de Cultura tem como meta a realização de concurso público para
pessoas especialistas na área de cultura. A lei do Plano diz que os concursos deveriam
ocorrer até 2023, mas até agora isso não se efetivou. A falta de profissionais especializados
em quantidade coerente e suficiente para com os trabalhos a serem realizados pelo poder
executivo produz efeitos nocivos para a cultura. Há muito trabalho para pouca gente. E,
embora reconheçamos o empenho da maioria dos funcionários que trabalham na Fundação
Franklin Cascaes, é necessário evidenciar que o atual corpo de servidores da Fundação não
possue capacitação específica na área cultural, o que acarreta em compreensões falhas e,
consequentemente, ações equivocadas.

Ao ignorar o setor cultural, a Prefeitura vai contra as Leis da Cultura federais e municipais. O
modo como foi implementada a Lei Aldir Blanc há poucos anos atrás é exemplo disso. O
Conselho trabalhou intensamente no regramento e no edital dessa Lei, mas quando foi
publicado, o edital não parecia com nada do que foi discutido e acordado entre Conselho e
Prefeitura Municipal. O mesmo acontece agora com a implementação da Lei Paulo Gustavo.
As demandas levantadas nas oitivas, elemento obrigatório para a efetivação da Lei, não
foram atendidas, tampouco foram ouvidas as pessoas que representaram o Conselho na
Comissão. Pedimos por um edital de produção cultural e recebemos prêmio por trajetória
cultural. Os critérios de seleção são incoerentes com o setor e há equívocos fundamentais
em relação à Lei Paulo Gustavo, como a retenção de impostos, por exemplo. Também, não
podemos deixar de mencionar o descaso que a Prefeitura tem com sua Fundação de
Cultura. As Comissões deveriam ser composta por diversos órgãos do executivo, mas a
maioria deles não participa das reuniões, sendo frequentemente provocado sem sucesso
pela Presidência da Fundação.
Para que tenhamos políticas públicas condizentes com a cultura da cidade é necessário que
haja o mapeamento do setor cultural, por meio de um sistema de indicadores. Foram
inúmeros os ofícios pedindo celeridade na implementação do Sistema Municipal de
Indicadores e Informações Culturais. Segundo o Plano Municipal de Cultura, esse sistema
deveria ter sido implementado até 2017, e até hoje, ele não existe. O Sistema de indicadores
e Informações Culturais é fundamental para que as políticas públicas sejam coerentes com o
setor cultural de nossa cidade. Sem ele, as políticas são feitas de maneira cega.
É preciso dizer que a maioria dos setores culturais que integram o Conselho realizam seus
próprios indicadores para tentar mitigar a falta de informação sobre a cultura da cidade, mas
até esses são ignorados pela nossa Prefeitura e a Fundação.

Em relação aos equipamentos culturais da cidade, sabemos que os prédios do patrimônio


cultural de Florianópolis necessitam de reformas, como o teatro da Ubro e a Biblioteca
Municipal Professor Barreiros Filho. Os equipamentos culturais, na sua quase totalidade não
possuem estrutura para um bom funcionamento e atendimento da população. O norte da
Ilha, em especial o bairro dos Ingleses, é desprovido de equipamento cultural, como foi
apontado nas Pré Conferências. Nem a sala de Reuniões da Fundação Cascaes é provida
de acesso à internet, numa cidade que se intitula pólo de tecnologia no país.
Outro fator importante é a inexistencia de acessibilidade nos equipamentos públicos. As
dificuldades de acesso não se restringem à questão motora. A deficiência visual é
sistematicamente ignorada pelo poder público até no que concerne aos editais públicos.

Em relação ao Sistema Municipal de Apoio, Fomento e Financiamento à Cultura, há uma


infinidade de metas que não foram cumpridas. O Fundo Municipal de Cultura, implementado
em 2010, teve apenas 4 edições nesses 13 anos de existência. O primeiro teve verba de 1,2
milhões de reais, ao longo das edições, a verba foi diminuindo. No último Edital do Fundo
publicado, de 2021, o valor foi de 1 milhão de reais. Menos do que o primeiro. Além disso,
em diversas edições, o texto do edital estava escrito de forma hermética, em muitas
ocasiões, com informações contraditórias. As inscrições são burocráticas e, em 2021, ainda
pedia inscrição física, indo na contramão da maioria esmagadora dos editais de cultura do
nosso país. O pagamento aos contemplados do edital de 2021 só se deu em fevereiro de
2023, e já estamos em outubro sem ter notícias dos Editais de 2022 e 2023. Vejam bem,
senhoras e senhores.
MÉDIA POR ANO 16 projetos contemplados R$ 310 mil aplicados R$ 20 mil por projeto
É preciso salientar também que nas últimas conferências, grande parte das setoriais
levantam a necessidade de haver editais voltados para suas áreas, considerando as
especificidades de cada setor, mas isso nunca é concretizado.
A Lei Municipal de Incentivo à Cultura carece de organização, controle e fiscalização. Os
instrumentos de inscrição são extremamente precários; não há, e nunca houve, qualquer
tipo de divulgação e sensibilização à Lei junto ao empresariado local; as pessoas que
trabalharam na última COMISSÃO DE AVALIAÇÃO DE INCENTIVO À CULTURA ainda não
foram pagas pelos serviços prestados. Esse objeto valioso de incentivo a cultura está jogado
às traças.

O Plano Municipal de Cultura também prevê 3% da dotação orçamentária anual destinada à


cultura até 2023. Pelo que pudemos apurar, a porcentagem nunca passou de 0,6% desde
que o Plano foi instituído. A Comissão Orçamentária do Conselho calcula uma dotação de
0,7% para 2024, ou seja, menos da metade previsto e um número muito inferior às dotações
de outras capitais brasileiras.

Sobre a valorização do patrimônio cultural e promoção da diversidade cultural, é preciso


mencionar que a cidade de Florianópolis perdeu diversos eventos culturais tradicionais,
como o Festival Isnard Azevedo, a Bienal de Dança, a Festa das Nações, o Festival de Boi
de Mamão e o Concurso de fantasias de carnaval.

O Plano de Cultura prevê que haja ações de formação continuada para gestores,
administradores, técnicos e produtores culturais. Normalmente essas ações são realizadas
pelo Conselho, sem apoio da Fundação. É necessário que agentes culturais participem de
formações em política cultural tanto para conhecerem seus direitos, como para atuarem de
maneira satisfatória junto à Prefeitura.

Para concluir, é importante expressar que o descaso com a cultura não parte exatamente da
Fundação Franklin Cascaes, mas das gestões da Prefeitura que não têm verdadeiro
compromisso ou interesse em promover o setor cultural, ignorando expressamente que este
setor é importante gerador de trabalho e renda. Estudos comprovam que o setor cultural
gera 3 vezes mais renda do que as montadoras, e que as atividades da economia criativa
movimenta mais de 3% do PIB brasileiro.

Neste momento que iniciamos a 10° Conferência Municipal de Cultura de nossa cidade,
nosso empenho é na correção da rota das ações dos órgãos públicos dirigidas para o setor
cultural. Nosso objetivo é criar as condições necessárias para o florescimento do setor
cultural de Florianópolis, de maneira a permitir a garantia constitucional do direito à cultura
de todas as pessoas que aqui vivem, bem como consolidar a democracia em nosso país!
Desejamos uma ótima conferência a todos!

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