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Por uma nova lei de

fomento à cultura!
Cultura

Fellipe Redó*

E
m fase de consulta pública até foi investida no projeto volta ao
o próximo dia 6 de maio, a cofre público para ser reinvestida; o
proposta para uma nova de lei micro-crédito, uma possibilidade de
de fomento encaminhada pelo Minis- ampliar, junto aos pequenos e mé-
tério da Cultura traz para o debate dios produtores culturais, incentivos
atual a diversidade de interesses às ações de pequeno orçamento e de A organização dos conselhos
conflitantes que permeia agentes relevância social, e as parcerias pú- setoriais municipais e estaduais
culturais e segmentos da sociedade. blico-privadas, que preveem o incen- como está prevista, com participa-
Alguns têm se manifestado para tivo à construção de novos espaços e ção da sociedade civil em 50%, e a
manter algum privilégio (de 2003 a centros culturais. estruturação dos conselhos munici-
2007 só 3% dos proponentes capta- Uma das críticas que acompa- pais de cultura são a melhor forma
ram 50% do volume total de recur- nhamos na grande mídia diz res- de aumentar a representatividade,
sos); outros buscam a ampliação de peito a certo “dirigismo cultural” evitando tanto a influência estatal
políticas públicas como o Programa que estaria contido na nova lei. A quanto a privada.
Cultura Viva (pontos de cultura). nosso ver essa crítica não procede. Outro fator marcante para a ur-
O conjunto do movimento estu- Se a verba é pública o Estado tem de gente reformulação da lei de fomen-
dantil, tendo à frente a União Nacio- saber onde, por que e como ela está to diz respeito à desigual distribui-
nal dos Estudantes, as organizações sendo investida. Isso tem menos a ção dos recursos aplicados em cada
sociais e redes culturais, está mais ver com “dirigismo cultural” do que estado. Segundo fontes do próprio
uma vez chamado à responsabilidade com um maior controle social sobre MinC, em 2007 as regiões Sudeste/
de manifestar suas opiniões e propor os recursos públicos aplicados. Parâ- Sul captaram 80% do investimento,
novos marcos para o fomento à cul- metros mais claros quanto aos as- ao passo que o Centro Oeste ficou
tura brasileira. pectos técnicos e orçamentários do com 11%, o Nordeste com 6% e o
Não sem razão, a proposta de projeto, e principalmente quanto ao Norte com 3% apenas.
fortalecimento do Fundo Nacional de seu retorno social, são necessários. Não deixaram ainda assim de
Cultura (FNC) vai nesse sentido. “É Boa parte das iniciativas culturais existir reclamações, fruto da peque-
um grande avanço, sobretudo para que foram incentivadas pela Lei nez da visão política e cultural de
os pontos de cultura, pois muitos Rouanet, como o Cirque du Soleil, nossa elite, quanto à interpretação
estão em comunidades sem recursos, contam com investimentos altos dos desses dados. Não uso aqui o termo
como favelas, quilombolas e aldeias cofres públicos, muitas vezes sem “elite” no sentido de classe social,
indígenas. A contrapartida deles contrapartida social e com restrita mas para expressar certos interesses.
será social, a partir do trabalho já acessibilidade ao público, já que Cito aqui algumas opiniões colhidas
desenvolvido”, explica Célio Turino. ingressos para esse tipo de espetá- na internet: “A reforma da Lei não
Na prática, o financiamento via culo costumam chegar a mais de 500 pode punir os produtores e artistas
renúncia fiscal, modelo atualmente reais! que fazem teatro de qualidade só
utilizado pela Lei Rouanet, não dei-
xará de acontecer. Porém, essa não
será mais a única forma de finan-
Se a verba é pública o Estado tem de saber onde, por
ciamento, como temos hoje. Outros
mecanismos serão introduzidos, que e como ela está sendo investida. Isso tem menos
como o financiamento retornável a ver com “dirigismo cultural” do que com um maior
ao fundo (participação nos lucros), controle social sobre os recursos públicos aplicados.
quando uma parte do dinheiro que

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porque moram no Rio ou em São Plano Nacional de Juventude como
Paulo. O que governo quer? Tirar o indivíduo entre 15 e 29 anos)
os 100% de abatimento da gente e do pagamento de pelo menos 25%
transferir para o Piauí?”; ou “É natu- da entrada. Essa ação afirmativa
ral que grandes centros produzam e estimularia os jovens a frequenta-
consumam mais cultura. Na França, rem novos espaços e programações
70% dos recursos da cultura são gas- culturais, e também a reivindicar a
tos apenas em Paris”. meia-entrada no âmbito de sua vi-
Não deveria a nova lei contri- vência escolar.
buir para o equacionamento das
disparidades sociais, econômicas e
culturais existentes entre os esta- * Fellipe Redó é graduando em História
(UFRJ), diretor de cultura da União Estadual
dos, fruto de modelos centralizado- dos Estudantes do Rio de Janeiro (UEE/RJ)
res sob os quais foi montada a mo- e coordenador do ponto de cultura CUCA
derna indústria cultural brasileira? da UNE/RJ. E-mail: felliperedo@gmail.com
Essa visão provinciana com relação à
distribuição dos recursos tenta im-
pedir que os diversos fundos públi- A juventude brasileira – e,
cos funcionem de forma a fortalecer dentro dela, os estudantes –
o potencial artístico e cultural de vive um momento especial
cada região. da vida onde os valores,
A juventude brasileira – e, den-
tro dela, os estudantes – vive um
crenças, hábitos e educação
momento especial da vida onde os estão sendo “cultivados”
valores, crenças, hábitos e educação (não à toa, cultura vem do
estão sendo “cultivados” (não à toa, termo “colere” – cultivar).
cultura vem do termo “colere” – cul- Arriscaria dizer que é essa
tivar). Arriscaria dizer que é essa a
parcela da sociedade que mais pro-
a parcela da sociedade
duz cultura. Se melhores condições que mais produz cultura.
houvesse, seria também a que mais Se melhores condições
consumiria. houvesse, seria também a
O Vale Cultura proposto pelo que mais consumiria.
MinC no valor de R$ 50,00 (o go-
verno dará 30% de renúncia fiscal,
o empregador 50% e o trabalhador
20%) deve estar, assim, à disposição
de bolsistas pesquisadores, estagiá-
rios e jovens do primeiro emprego, a
fim de facilitar seu acesso aos bens
culturais.
Em nossa opinião, ao abrir
novas cotas para o incentivo via
renúncia fiscal (hoje só é permiti-
do 30% ou 100%), o Ministério da
Cultura deveria estabelecer também
novos critérios, tal como a acessibi-
lidade social, para a seleção e obten-
ção de recursos dentro dessas faixas.
Assim, os projetos culturais alocados
dentro das novas faixas de dedução
de 80%, 90% e 100% deveriam isen-
tar o jovem (caracterizado hoje pelo

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