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OS RESULTADOS SONOROS ENTRE OS EDITAIS


PÚBLICOS DE INCENTIVO À MÚSICA
INSTRUMENTAL E OS GRUPOS BRASILEIROS

Marcelo Daniel Storck –storck@a2.jor.br


(Autor do Artigo)
Prof. Esp. Alex Lopez
(Orientador)

RESUMO

Muito se ouve e sabe sobre a existência de editais públicos e privados de incentivo à


cultura. No tocante à música instrumental, a proporção que se ouve enquanto
resultados sonoros pode não ser porporcional.
Assim, o objetivo deste artigo foi identificar editais deste setor lançados pelos
governos estaduais e federal em sua relação com grupos de música instrumental no
Brasil diante de sua pluralidade técnica e terminológica: orquestras sinfônicas,
bandas sinfônicas, bandas de música/concerto, bandas marciais e fanfarras.
A intenção principal foi tentar identificar ruídos organizacionais, estruturantes e de
comunicação que possam, porventura, estar tornando menos eficientes tais
mecanismos tão necessários para o sustento cultural e tornando seus resultados
menores.

Palavras-Chaves: Música Instrumental, Ensino Musical; Desenvolvimento, Cultura,


Apoio Cultural, Leis de Incentivo à Cultura.

1. INTRODUÇÃO

Para que a música instrumental exista se faz necessário, obviamente, o mínimo de


uma estrutura. Essa condição passa pela evolução dos instrumentos musicais e pelo
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aprimoramento dos profissionais e entidades envolvidos. E, naturalmente, passa


pelos custos dessa engrenagem.
Nisso, entidades mantenedoras que são de perfis distintos (públicas ou privadas) se
abastecem, também, de possibilidades arrecadatórias por meio de relacionamentos
com órgãos superiores, emendas parlamentares, bem como editais de fomento à
cultura, neste caso incentivados pelos dois perfis [público ou privado].
Desse modo, o presente estudo focará na análise dos editais e programas públicos
e seus efeitos junto a grupos instrumentais, haja vista a série de possibilidades
existentes no cenário nacional.

2. A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Se faz necessário observar e tentar medir – por mais difícil que isso possa parecer –
as evoluções sonoras desse relacionamento. Afinal, o que realmente deve ser
medido é se os produtos musicais atingidos por meio desse relacionamento são
satisfatórios, pois, nisso reside de fato o interesse público atendido: crianças, jovens
e adultos fazendo música evolutiva diante do adequado e equilibrado emprego de
recursos públicos.
E isso, portanto, no tocante a este estudo, começa pela análise (em amostragem
reduzida) das estruturas dos grupos musicais brasileiros em 2022, mas com uma
preocupação que vem de tempo.

[...] Das onze bandas, apenas cinco responderam afirmativamente


sobre a existência de uma diretoria, a maioria com um mandato de
quatro anos. Quanto aos estatutos e registro, só a metade acusou a
existëncia de organização estatutária e registro oficial. A principal
entidade mantenedora das bandas pesquisadas é a Prefeitura
Municipal, confrontando-se com uma única indicação de sociedade
independente (PEREIRA, 1999, p. 67).

Assim, a presente entrevista direcionada aos grupos musicais brasileiros preocupou-


se em analisar esse quesito organizacional supracitado pela lógica do seu foco, que
são os próprios editais. Ou seja: é natural que para concorrer às seleções de seus
projetos, tais grupos devam possuir uma evolução nesse aspecto, estando mais bem
organizados. Sem isso, não há viabilidade legal para o relacionamento entre as partes.
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3. O OUTRO LADO DA QUESTÃO

Não resta dúvidas de que o Brasil possui um bom contexto de fomento à cultura de
um modo geral, no que inclui a música instrumental. Mas há dúvidas sobre sua
praticidade e abrangência e modos de comunicação, inclusive sobre o programa de
apoio às bandas de música da Fundação Nacional de Artes – Funarte, e sobre a Lei
Rouanet, aqueles que há mais tempo se mantêm fixos no Brasil.

O primeiro se caracteriza pela singularidade de sua segmentação. 1A trajetória


do Projeto Bandas de Música da Funarte se confunde com a da própria história da
Fundação. Ela foi criada em 1975 e, já no ano seguinte, o programa começou. É
realizado pela Coordenação de Bandas de Música, ligada ao Centro da Música da
entidade.

A segunda, mais recente e talvez mais bem conhecida, a Lei Rouanet – Programa
Federal de Incentivo à Cultura (PRONAC) - é a denominação dada a Lei nº 8.313 de
23 de dezembro de 1991. É a política de incentivos fiscais que possibilita empresas
(pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoas físicas) aplicarem uma parte do IR (imposto
de renda) devido em ações culturais.

Tanto em uma quanto em outra situação, além de toda documentação e estrutura


organizacionais exigidas, há ainda a fase do crivo. Ou seja, não basta apresentar
propostas, projetos e documentos, será necessária ainda a aprovação destes pelos
conselhos que promovem a necessária análise.

Se por um lado reveste-se do adequado zelo pelo dinheiro público, tais fases que
estão nas mãos de analistas já renderam críticas quanto à distribuição e aprovação,
de modo especial quanto à Lei Rouanet, o que diante das alterações impostas ao
programa em 2022 é fato mantido como se oberva:

[...] 2019

A lei mudou de nome e passou a se chamar Lei de Incentivo à Cultura.


Além disso, teve uma diminuição drástica no limite para captação de
recursos, de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão por projeto.

2021
Em julho de 2021, um novo texto do Programa Nacional de Apoio à

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https://www.gov.br/funarte/pt-br/areas-artisticas/musica-2/projeto-bandas-de-musica
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Cultura (Pronac) trouxe mais mudanças à política de fomento cultural


do país. Artistas e produtores acusaram, na ocasião, o governo de
dirigismo cultural, já que o documento estabelece maior interferência
sobre a aprovação dos projetos. Antes, as categorias eram definidas
de acordo com as áreas de produção, como artes cênicas, audiovisual
e música. A divisão trocou algumas dessas categorias e passa a incluir
"arte sacra", "belas artes" e "arte contemporânea".[...]

[...] A Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) — que estava


paralisada — não só ganhou representantes de "arte sacra", entre
outras áreas, como também teve atuação reduzida e limitada. O
colegiado formado por membros da sociedade civil deixou de fazer
parte da estrutura de aprovação de programas, projetos e ações
culturais.

A CNIC perdeu o seu caráter deliberativo, de acordo com o novo texto.


Isso quer dizer que a comissão só emite parecer técnico sobre os
recursos apresentados contra decisões desfavoráveis a projetos. Outra
mudança foi que o regimento interno da CNIC passou a ser elaborado
pelo então Secretário Especial de Cultura do Ministério do Turismo,
Mário Frias. Antes, eram os próprios integrantes que estabeleciam o
regimento interno. A portaria também permitiu que o presidente da
CNIC (o secretário de Cultura ou seu representante) tome decisões ad
referendum, ou seja, isoladamente, sem a necessidade de avaliação
pelo colegiado.

Incentivos de planos de apoios anuais passaram a ser destinados


apenas a museus públicos, patrimônio material e imaterial e ações
formativas de cultura, além de instituições "consideradas relevantes
para a cultura nacional pela Secretaria Especial de Cultura do
Ministério do Turismo". Foram excluídos dos planos anuais para apoio
à atividade cultural museus e instituições sem fins lucrativos privadas
de todo o país, caso sejam considerados "não relevantes" pelo
Secretário Especial de Cultura.

2022
Em janeiro de 2021, o governo Bolsonaro oficializou, por meio de uma
nova Instrução Normativa (IN), uma série de mudanças na Lei
Rouanet. As medidas vinham sendo anunciadas, desde 1º de janeiro
de 2022, pelo secretário Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura,
André Porciuncula, em posts no Twitter. De acordo com o secretário de
Cultura Mario Frias, a nova IN tem o objetivo de tornar a Lei Rouanet
"mais justa e popular".

Redução de 50% no teto


A nova IN estabelece, como já havia sido anunciado anteriormente,
redução de 50% no limite para captação de recursos pela lei. Para
projetos de "tipicidade normal", o teto cai de R$ 1 milhão para R$ 500
mil. Para projetos de "tipicidade singular", como desfiles festivos,
eventos literários, exposições de artes e festivais, o valor fica limitado
a R$ 4 milhões. Para aqueles de "tipicidade específica" — concertos
sinfônicos, datas comemorativas nacionais, educativos e ações de
capacitação cultural, inclusão da pessoa com deficiência, museus e
memória, óperas, projetos de Bienais, projetos de internacionalização
da cultura brasileira e teatro musical — o valor máximo fica em R$ 6
milhões. [...]
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4. A VALIDADE DO INVESTIMENTO

Mesmo que para o público cultural se faça desnecessário versar sobre a validade do
investimento de recursos públicos no setor, a título de ilustração e embasamento do
presente artigo se destaca estudo acerca do impacto na economia brasileira diante de
projetos aprovados promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2020 que
evidencia: 2A Lei Rouanet é parte das Políticas Econômicas e dos PPA nacionais. Ela
fomenta e procura o desenvolvimento que extrapola a fronteira da cultura. A Cultura
é percebida em várias outras atividades econômicas diferentes, possuindo um
impacto relevante na economia. Para cada real investido por projetos da Lei
Rouanet, traz um retorno local, em média, de um real e cinquenta e nove centavos
(R$1,59).
Com base o Estudo o impacto econômico pela renúncia fiscal da Lei Rouanet na
economia brasileira foi de R$49,8 bilhões. O estudo da FGV comprova que a Lei
Rouanet é uma peça fundamental para a economia brasileira e para inovar e
formatar a Economia Criativa.

5. O RELACIONAMENTO ELETRÔNICO COM ÓRGÃOS

Se para aqueles grupos mais evoluídos social e estruturalmente as experiências com


editais públicos requerem praticamente uma “organização parelela” à finalidade da
própria entidade – o que de todo modo não é ruim -, o sistema atual enquanto
fomentador de novos centros culturais musicais se mostra mais desafiador para
aqueles que estão iniciando seus grupos ou projetos.

Um aspecto que se torna mais notável quando observadas questões regionais, aí não
propriamente por influências diretas de tais editais, mas pela forma naturalmente
mais lenta com a qual informações e oportunidades muitas vezes avançam para o
interior. Eis que o sistema eletrônico surgiu para “encurtar distâncias geográficas” e,
por isso, recorremos a ele para experimentar a eficiência dos dispositivos disponíveis
de comunicação acerca de editais públicos vigentes.

2 http://periodicos.processus.com.br/index.php/acppds/article/view/261/357
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Assim, iniciamos a identificação de editais públicos por meio da incursão em sites de


órgãos públicos, imaginando – mesmo que equivocadamente e até fora do contexto
regional – que este pode ser um caminho percorrido por aqueles que buscam acessar
tais instrumentações para inciciar, manter ou incrementar seus produtos culturais.

Foram, portanto, buscados numa visita convencional aos sites oficiais dos órgãos
estaduais e federais emails relacionados aos editais ou à pasta cultural – e em algum
casos com muitas dificuldades e em outros sequer encontrados –, e identificados os
seguintes endereços eletrônicos mais próximos do setor cultrural, em alguns casos
solicitados quais serias tais endereços oficiais:

RS GABINETE@SEDAC.RS.GOV.BR
SC GERÊNCIA DE GESTÃO DE PROJETOS E ECONOMIA DA
CULTURA
E-MAIL: LILIANA@FCC.SC.GOV.BR
PR COORDENAÇÃO DE INCENTIVO À CULTURA (CIC)
WANESSAW@SECC.PR.GOV.BR
SP DIFUSAO@SP.GOV.BR
RJ CULTURA@CULTURA.RJ.GOV.BR
ES CATARINA.LINHALES@SECULT.ES.GOV.BR
MG SFEG@SECULT.MG.GOV.BR
GO COMUNICACAOSETORIAL.SECULT@GOIAS.GOV.BR
MT CONSELHODECULTURA@SECEL.MT.GOV.BR
MS FICMS2@GMAIL.COM
BA DANIEL.UCHOA@CULTURA.BA.GOV.BR
SE Não localizado no site
AL INFO@CULTURA.AL.GOV.BR;
PE EMAIL: LEDA.DIAS@SECULT.PE.GOV.BR
PB Não localizado no site
RN SECULT.FUNCARTE@NATAL.RN.GOV.BR
CE AGENDAGAB@SECULT.CE.GOV.BR
PI PROTOCOLO@SECULT.PI.GOV.BR
MA ASCOMCULTURAMA@GMAIL.COM
TO SUPER@CULTURA.TO.GOV.BR
PA GABINETE@SECULT.PA.GOV.BR
AP Não localizado no site
RR GABINETE@SECULT.RR.GOV.BR
AM ATENDIMENTO@CULTURA.AM.GOV.BR
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AC GABSEEACRE@GMAIL.COM
RO SECOMRONDONIA@GMAIL.COM
DF COMUNICACAO@CULTURA.DF.GOV.BR

Em 18 de abril de 2022 disparamos a estes emails com cópias a outros ofertados pelos
respectivos sites, mensagem com o seguinte corpo de abertura:

[...]“Olá! Sou Marcelo Storck, maestro e jornalista (Porto União – SC) e


estou realizando pesquisa para TCC em Regência Orquestral. (OS
RESULTADOS SONOROS ENTRE OS EDITAIS PÚBLICOS DE
INCENTIVO À MÚSICA INSTRUMENTAL E OS GRUPOS
BRASILEIROS).

Tem por objetivo identificar se há dificuldades desses grupos em se


organizar diante dos editais existentes.

A enquete (são 10 perguntas apenas) foi enviada pelo meu email do


Google (marcelostorck33@gmail.com) neste mesmo endereço sob
assunto "TCC MARCELO STORCK - Órgãos".

Gostaria de confirmar se pode ser por este email ou se devo enviar o


questionário eletrônico para incluir o Estado nesse importante trabalho
acadêmico para algum outro endereço eletrônico. Obrigado” – (GRIFO
NOSSO).
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Na caixa de entrada deste email (storck@a2.jor.br) disparador não houve retorno a


nenhuma das mensagens. Já na caixa postal do email que disparou o formulário
Google (marcelostorck33@gmail.com.br), apenas o estado do Paraná retornou
solicitando redirecionamento para sgcultura@secc.pr.gov.br.

O formulário enviado aos órgãos tinha o seguinte conteúdo diposto sequencialmente


nas próximas três páginas do presente artigo:
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11
12

Tanto nas caixas postais como no próprio sistema do formulário Google, não
obtivemos respostas dos emails endereçados, tampouco a participação dos referidos
órgãos na pesquisa como vemos no quadro abaixo em acesso realizado em
27/07/2022:

6. O RELACIONAMENTO ELETRÔNICO COM OS GRUPOS

Para tentar entender a relação em suas pontas distintas também foram consultados
grupos musicais brasileiros acerca de suas estruturas no tocante aos editais. Uma
enquete de sete perguntas foi produzida buscando identificar ruídos.

Também por meio eletrônico, enviei a pesquisa a entidades ligadas ao ensino


musical, públicas e privadas.

De todos emails e convites enviados, 16 institutições retornaram, conforme vemos a


partir da próxima página.
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15
16

7. AS OUTRAS PONTAS

Também busquei ouvir uma terceira “ponta” que, por vezes, principalmente para
aqueles que iniciam no processo de busca de recursos por meio de editais culturais
públicos ou privados e mecanismos de fomento à cultura, pode parecer
desnecessária ou mesmo “oportunista” que são os profissionais especializados em
produzir e captar recursos (patrocínios) para projetos culturais por meio do mecenato
(doações e incentivos fiscais).

Por meeting, a entrevista com Eduardo Balerini (Lorena – SP) trouxe algumas
observações pertinentes ao artigo. A começar pelo imediatismo (ansiedade ou
expectativa elevada) de muitos proponentes ou responsável diretamente pela
proposta cultural. Entendo e concordo, que seja importante acreditar no projeto que
está à frente, mas demanda cautela quando entramos no campo burocrático dos
mecanismos de fomento á cultura.

Por meeting, a entrevista com Eduardo Balerina (Lorena – SP) trouxe algumas
observações pertinentes ao artigo. A começar pelo imediatismo de muitos
proponentes.

“Muitos (alguns artistas e produtores(as) culturais entendem imaginam que


basta (que irão efetuar a inscrição do projeto) apresentar a proposta aos
órgãos públicos que são responsáveis diretamente pelos mecanismos de
fomento à cultura, avaliação e admissibilidade da proposta cultural
apresentada e sendo aprovada, somente captar os recursos. Mas esta tarefa
de captar pode ser não tão simples assim. E uma vez esta aprovada, termos
os recursos financeiros e executarmos o projeto. Na verdade há tempos
específicos que precisam ser considerados, como o de a captação de
recursos (patrocínios), aplicação e, principalmente, prestação de contas”.
(BALERINI, entrevista oral, 2022).
.
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Outro aspecto destacado pelo entrevistado tem a ver com outra ponta desse novelo?
gargalo? que são as empresas que a maioria desconhece, desconhecem ou ainda
têm receios (dúvidas) dos mecanismos de fomento à cultura de mecenato. Somente
para termos uma ideia da dificuldade em captar recursos, mais de 90% das empresas
no Brasil não aproveitam todos os benefícios fiscais a que têm direito, de acordo com
dados da Receita Federal:

“Muito evoluímos nesse sentido, mas ainda há resquícios de desinformação.


Esta não está limitada aos (departamentos) diretores(as) de empresas que não
possuem setor específico para o incentivo por meio fiscal com profissionais
para analisarem os projetos culturais aprovados e incentivados e também,
possam elaborar uma política de patrocínio e promover editais de patrocínio.
Por vezes ainda nos deparamos com setores de contabilidade, internos ou
terceirizados, que ainda não automatizaram em seu seio a importante
ferramenta do mecenato (fomento à cultura)”
(BALERINA, entrevista oral, 2022).

Balerina versou também sobre boas possibilidades de editais estaduais

8. MEIOS ALTERNATIVOS

Colocando-me no lugar de um proponente iniciante, lencei pesquisa de campo na


Internet por meio de pesquisa simples e direta na plataforma Google e encontramos
disponíveis alguns editais anunciados e até um site especializado em publicar editais
abertos.

Apesar de não ser um veículo ligado a orgãos oficiais, o site Editais Culturais
apresenta serie de links anunciando editais 2022 para diversos setores artisticos.
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Em nossas pesquisas online, também encontramos programas estaduais fixos.


Mesmo que não tenhamos obtido a formalização desses dados diante do não retorno
ao nosso questionário, encontramos programas estaduais disponíveis aos
interessados.

Caso do ProAc de São Paulo. O Programa de Ação Cultural de São Paulo foi
instituído pela Lei Estadual nº 12.268/2006 para regulamentar a oferta de patrocínios
culturais no estado.

Em sua modalidade mais adotada, a lei prevê a isenção fiscal do Imposto sobre
Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), um imposto estadual. Portanto, apenas
os empreendimentos contribuintes podem utilizar essa lei, o que leva à exclusão de
patrocínios doados por pessoas físicas.

Segundo o próprio programa, a empresa pode patrocinar projetos culturais com uma
parte do que seria pago de ICMS. No próximo pagamento do imposto, recebe um
desconto no total a pagar.

E de novo a FGV realizou o estudo a partir de 2.528 projetos premiados pelo ProAC
Editais e ProAC ICMS, entre os anos de 2013 e 2017. No ProAC Editais, foram
executados R$ 159,3 milhões. No ProAC ICMS, foram executados R$ 443,4 milhões.
O resultado disso é a consolidação de uma cadeia especializada de bens e serviços
ligada ao setor de cultura.

O ProAC Editais teve um impacto direto sobre o PIB (Valor Adicionado) de R$ 82,1
milhões, gerando 1.321 empregos nos últimos cinco anos no Estado de São Paulo.
Considerando toda a cadeia produtiva, os investimentos do ProAC Editais nos últimos
cinco anos geraram 1.605 empregos e aumentaram o PIB em R$ 131,9 milhões.

O impacto direto sobre a economia paulista do ProAC ICMS é ainda mais relevante:
gerou mais de três mil postos de trabalho e significou um PIB de R$ 223 milhões, além
de R$ 67,5 milhões de arrecadação.

Considerando toda a cadeia produtiva, os investimentos do ProAC ICMS


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movimentaram R$ 715,4 milhões na economia brasileira, aumentando o PIB em R$


360,3 milhões entre 2012 e 2016 (0,6% do setor). Foram gerados mais de quatro mil
empregos, que significam 0,4% dos empregos do setor de cultura, esporte e
recreação, e os investimentos retornaram R$ 93,6 milhões para os cofres públicos

Há inúmeros outros editais disponíveis e até programas municipais de incentivo à


cultura que, por seus formatos legais, se assemelham aos aludidos até aqui.

Caso, por mero exemplo, da Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Lei do ISS) do Rio
de Janeiro que dos 2.096 projetos inscritos em 2021 aprovou 1.908 (a maior parte
com ressalvas) aptos a captar; ou do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento
às Atividades Culturais do Rio Grande do Sul (Pró-Cultura), instituído pela Lei
Estadual n° 13.490/10, que funciona por meio da renúncia sobre parcela do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de empresas que, destinando
parte de seus imposto renunciado, promovem a viabilização financeira de projetos
culturais.
No entanto, como o cerne desse artigo é analisar os efeitos da qualidade do
relacionamento dos editais (e não a quantidade) com grupos instrumentais, nem
todos foram listados.

9. CONCLUSÃO

É óbvio que devido à abrangência territorial, e nesta as questões de regionalismo,


não se pode diante da presente abordagem generalizar ações e, tampouco, afirmar
que os resultados sonoros em grupos de música instrumental no Brasil não são mais
audíveis devido a falhas exclusivas do setor público ou do seu sistema para a prática
do mecenato.

Não obstante, a partir do único retono obtido pelo método utilizado (busca de contato
por meio de endereços disponíveis em sites oficiais, que foi do Paraná), denota-se
que já a partir desse aspecto há espaço para avanços no setor de comunicação dos
mantenedores de editais. Do contrário, a busca por editais vigentes se transforma
numa “agulha em palheiro” num mar digital.
20

Outro aspecto dos editais que deve ser considerado é que, por mais regionalmente
abrangente que ele possa ser, sempre está ligado a crivos técnicos por meio da válida
e necessária análise dos pareceristas, ou seja, pela análise individual de terceiros o
que, no entanto, pode ser algo subjetivo.

Afinal, há muitos aspectos envolvidos a partir do embasamento das opiniões do


julgador e, inevitavelmente, isso se transforma em um momento decisivo pessoal,
quando, na verdade, estamos falando de coletivo haja vista a presença do dinheiro
público nestes processos. Ou seja, é preciso grupos qualificados para a disputa de
editais, mas o que os próprios editais oportunizam pela qualificação destes ainda é
inexpressivo diante da realidade cultural e demanda.

Uma uniformização em sítios acerca de lançamentos de editais e seus contatos, de


modo a facilitar adesões (e tonificar a democracia no relacionamento) seria uma
ferramenta a se considerar. Prova é a existência de um site privado informando sobre
alguns editais, mas sem ser oficial.

Mas nada se compara à inexistência de um processo uniformizado na orientação das


corporações musicais no tocante a saírem da informalidade, fato que beira à
contradição. Pois se, para evoluirem culturalmente tais grupos precisam de
instrumentos e pedagogia - e isso custa muito -, são necessários que os recursos
sejam distribuídos de modo não excludente, pois sabemos que o aprendizado musical
não se dá de um dia para o outro.

Na pesquisa, identificamos que 56,3% dos grupos entrevistados não recorrem aos
recursos públicos por meio de editais. E dentre aqueles que recorrem, apenas 12,5%
o fazem de modo fixo. Ou seja, um universo muito reduzido a se considerar o tempo
de formação musical. Isso nos causa a preocupação em saber como está a evolução
do ensino a médio e longo prazos nas demais instituições musicais que tanto
colaboram com nossa educação e sociedade como um todo.

Nisto, outro aspecto importante da análise é que 30,8% dos grupos musicais
alegaram “Ausência de estrutura para a realização de propostas” (CNPJ e diretoria
21

constituídos) e 15,4% “ausência de capacidade técnica”.

Nisto, emerge mais uma vez a questão da desinformação neste setor diante do
desconhecimento e/ou receio sobre a importância dos profissionais especializados
que atuam no setor de formulação e captação de projetos e recursos mediante editais.
Ainda é pouco difundida – e por vezes aceita – a presença destes elos o que denota
também a necessidade de evolução neste aspecto, muito embora, a maioria dos
editais incluam em seus próprios processos a previsão de recursos para o agente
captador, bem como os profissionais de serviços jurídicos e contábeis.

A esse respeito, identificamos em nosso trabalho, por meio das entrevistas e contatos
que relizamos – e até mesmo experimentamos enquanto proponentes – a
desinformação ou desinteresse de muitos contabilstas acerca do processo. Mesmo
dentro dessa classes das mais importantes e organizadas do nosso setor
econômicos, de fundamental e indispensável presença no processo de editais
públicos, os ruídos inibem muitas vezes a transformação destes projetos culturais em
realidade, com prejuízos aos próprios editais, das empresas enquanto sua
responsabilidade social e, principalmente, das crianças que seriam afetadas pelo
processo.

Os Conselhos Regionais de Contabilidade por exemplo, poderiam trabalhar na


formalização da parcerias institucionais com a Ordem dos Advogados do Brasil
(escritórios de Advocacia (setor tributário), Associações de Classe (Comercial e
Industrial, Sindicatos Patronais, etc.) (associados), Secretarias de Cultura,
Produtoras Culturais, Terceiro Setor e Sociedade Civil, para mapearem todos os
contribuintes Pessoa Jurídica e Pessoa Física de seu município e consequentemente,
possam através das Leis de Incentivos Fiscais à Cultura vigentes, destinarem parte
dos impostos a recolher aos projetos culturais aprovados e incentivados.

Conforme o diretor da Incentiv-me, Douglas Nicolau, empresas tributadas em lucro


real ou presumido, podem destiná-los a projetos sociais por meio do direcionamento
de Imposto de Renda, Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), Imposto
Predial Territorial Urbano (IPTU) e Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza
(ISS). Na prática, isso significa que o governo abre mão de uma parte dos impostos
22

que receberia das empresas para que seja destinada a diversos projetos sociais, e
mais pessoas tenham acesso a saúde, educação, cultura, esportes etc.

Em suma, são benefícios concedidos em formato de leis, decretos ou medidas


provisórias para a redução da carga tributária. Por meio dessa iniciativa, a
administração pública permite que as companhias invistam em suas operações,
gerando empregos e movimentando a economia. (contabeis.com.br).

Basta analisar outro ítem preocupate de nossa pesquisa acerca da contratação de


profissionais habilitados em música: 43,8% dos grupos raramente recorrem à
contração formal destes: metade é devido à ausência de profissionais na região e a
outra à impossibilidade financeira.

Ou seja, neste tocante – o mais importante de tudo, que é o ensino musical – a


amostragem coletada por meio desse artigo nos mostra que precisamos evoluir nos
dois três campos: em nossos grupos musicais por meio de um melhor e mais
abrangente relacionamento com os editais; na consideração e reconhecimento da
classe dos profissianais que atuam como agentes captadores e com a aplicação
destes recursos públicos na formação e evolução de nossos grupos para um melhor
cenário sócio-cultural das fanfarras, bandas e orquestras brasileiras.

10. REFERÊNCIAS

www.contabeis.com.br

www.editaisculturais.com.br

Entrevista com Eduado Balerina, meeting realizado em 25/07/2022

O GLOBO, Entenda as mudanças feitas na Lei Rouanet


Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura
Acessado em 05/07/2022.

PEREIRA, José Antônio. Banda de Música – Retratos sonoros brasileiros. São


Paulo, Unesp 1999. Menção Honrosa da Academia Brasileira de Música
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Links utilizados
https://www.gov.br/funarte/pt-br/areas-artisticas/musica-2/projeto-bandas-de-musica
http://periodicos.processus.com.br/index.php/acppds/article/view/261/357
https://blog.incentiv.me/2018/06/07/lei-estadual-do-rio-grande-do-sul/
https://cultura.rs.gov.br/inicial
http://www.ubc.org.br/publicacoes/noticia/4940/os-dez-melhores-editais-abertos-
para-projetos-musicais
https://prefeitura.rio/cultura/lei-municipal-de-incentivo-a-cultura-tem-1-908-projetos-
aprovados-confira-as-proximas-etapas

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