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T E X T O

RENATO CARUSO
D I A G R A M A Ç Ã O E A R T E
VITOR CASQUÍN
1. O ESTADO-MECENAS 5

2. O SISTEMA GESTOR 10

3. A VOLTA DA CULTURA 12

E-BOOK BP: AOS AMIGOS, A LEI


AOS AMIGOS, A LEI

O E STA DO - MEC E NAS

A razão é o advento exclusivamente humano que dota nossa espécie de incom-


parável compreensão do mundo e organização conceitual. A linguagem humana,
capaz de veicular a mesma infinidade de sentidos que a razão pode conceber, nos
torna únicos, entre os seres conhecidos, em poder de comunicação. Mas quando
os repertórios expressivo e simbólico que essas ferramentas fabricam são subver-
tidos em arte, qual vantagem conquistamos? Enquanto que a razão e a linguagem
nos projetam para além dos animais, a arte, incapturável pelos métodos da inteligên-
cia, projeta o homem para além do próprio homem.

A beleza é um valor perseguido por todos. Diante da oportunidade de compra


de um carro melhor, uma casa melhor ou até um celular melhor, a beleza do design,
da cor ou da arquitetura revela-se um fator de peso na escolha. Ou seja, depois que
as necessidades básicas são satisfeitas, o homem naturalmente se inclina a aspi-
rações mais artísticas.

Por outro lado, em ambientes onde as pessoas são rebaixadas aos seus instin-
tos primitivos, não existe espaço para aspirações mais elevadas como a beleza e
a arte. Um exemplo eloquente é o do centro da cidade de São Paulo, onde a de-
gradação estética da cracolândia é vizinha de locais dedicados justamente à con-
templação da beleza, como a Pinacoteca e a Sala São Paulo.

Em reconhecimento ao valor humano e civilizatório da cultura, os Estados mod-


ernos vêm desenvolvendo, ao longo dos séculos, mecanismos que garantam a seus
cidadãos, ao menos, condições mínimas de produção e contemplação da arte.

Alguns dos museus de maior expressão regional ou mundial são geridos e op-
erados pelos governos de seus países, como o Museu do Louvre, na França; o Mu-
seu Britânico, no Reino Unido; o Museu do Prado, na Espanha; o Rijksmuseum, na
Holanda; o Museu Nacional de Tóquio, no Japão; o Museu Hermitage, na Rússia; e o
Museu Nacional da China. Por sua vez, muitos dos mais relevantes museus privados
que conhecemos não existiriam sem auxílio estatal, como é o caso do Getty Museum,
nos Estados Unidos, beneficiado pelo instituto jurídico do Trust, que concede vanta-
gem tributária à riqueza destinada, entre outras finalidades, à cultura.

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Ainda que a parcela de investimento que o Estado destina à cultura varie entre
países, nenhum centro de referência cultural no mundo ignora o fato de que os el-
evados custos envolvidos na execução de algumas manifestações artísticas as con-
denariam à extinção se dependessem apenas dos valores arrecadados do público
pagante.

Por exemplo, em uma extensa pesquisa sobre orquestras sinfônicas, o profes-


sor de Stanford, Robert Flanagan, descobriu que “todas elas operam com déficit, no
sentido de que o dinheiro que ganham com concertos, discos e outras coisas não
cobre seus gastos1”.

Porém, não é apenas a preocupação com a experiência estética de seus ci-


dadãos que motiva os países a fomentar a cultura mas, também, o fortalecimento
da chamada “economia criativa”; uma bem sedimentada cadeia produtiva de con-
teúdo cultural é capaz de gerar emprego e renda para uma significativa parcela da
população.

O poder da cultura pode, ainda, se expandir para além do território do país


que investe nela, convertendo-se em uma eficiente arma de política externa. Como
alternativa a meios mais impositivos de influência no cenário internacional, como
poderio militar e potência econômica, o soft power cultural pode projetar a imagem
e os interesses de um país no próprio comportamento de outros povos.

Um exemplo de aplicação bem-sucedida do soft power cultural é o da Coreia do


Sul que, na década de 1990, passou a apoiar a exportação de produtos culturais,
aportando em seu setor criativo valores anuais que chegavam a mais de 1 bilhão de
dólares e que, nas décadas seguintes, aumentariam, atingindo 5 bilhões de dólares
em 2020. O resultado foi o fenômeno que ficou conhecido como Hallyu Wave (“onda
coreana”) e deu origem à banda BTS, uma das mais influentes do mundo; ao filme
Parasita, o primeiro não falado em língua inglesa a vencer o Oscar de melhor filme;
à série Round 6, a mais assistida de todos os tempos na Netflix; entre outras pro-
duções que popularizaram em todo o mundo os valores, a estética e, até mesmo, a
culinária da Coreia do Sul.

O Brasil também se insere nesse cenário com seus mecanismos de fomento


estatal à cultura, sendo alguns de captação direta da verba pública, como nos ed-
itais da Funarte, da Ancine, da Lei Aldir Blanc e da Lei Paulo Gustavo, e outros de
fomento indireto, como aquela que se consolidou nas últimas décadas como a maior
estrutura de fomento à cultura no país, que é a modalidade de Lei Rouanet chamada
“Mecenato”, em que o financiamento e a escolha dos projetos a serem financiados
são feitos pelas empresas, que depois são recompensadas pelo governo com de-
dução do valor em seu imposto de renda. Ou seja, o dinheiro, no fim das contas, é
público, mas o poder de escolha do que deve ou não ser financiado é das empresas
patrocinadoras.

1 https://www.abc.net.au/news/2017-04-04/why-no-symphony-orchestra-in-the-world-makes-money/8413746
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A Lei Federal de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet, foi instituída
em 1991 sob a gestão do presidente Fernando Collor. Ela é constituída por um tripé
de instrumentos de incentivo à cultura, sendo o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e o
Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) de fomento direto e, o Mecenato,
de fomento indireto.

O primeiro governo Lula, que teve como Ministro da Cultura o cantor Gilberto
Gil, foi o responsável por alavancar os recursos movimentados pela Lei Rouanet,
mas com foco quase exclusivo em sua modalidade de fomento indireto, o Mecenato,
transformando-a na pujante e polêmica fomentadora da cultura brasileira que hoje
conhecemos.

Ao passo que o fomento direto do governo na cultura do país poderia gerar uma
interferência estatal potencialmente indesejável na escolha dos projetos, o fomento
indireto proporcionado pelo Mecenato da Lei Rouanet gera graves distorções de
outra ordem.

Em qualquer campanha de propaganda ou patrocínio, uma empresa procura


não apenas associar sua marca aos valores que pretende representar mas, tam-
bém, aos temas e figuras públicas que garantirão a ela a mais ampla visibilidade
possível. O mesmo acontece com o patrocínio concedido a projetos da Lei Rouanet,
com a diferença de que estes são entendidos pelas empresas patrocinadoras como
oportunidades de divulgação gratuita de suas marcas, uma vez que os valores cedi-
dos se convertem em isenção fiscal.

Enxergando o patrocínio através da Lei Rouanet não como um instrumento de


promoção da riqueza cultural do Brasil, mas como um ativo a serviço de seus seto-
res de marketing, a grande maioria das empresas prioriza projetos de artistas, fes-
tivais ou instalações já de grande notabilidade pública, excluindo artistas pequenos
e iniciantes do incentivo que poderia lançá-los a carreiras de sucesso.

Entretanto, a primeira barreira que já bloqueia grande parte dos pequenos ar-
tistas do acesso ao fomento se localiza em uma fase anterior do processo. Ao tentar
submeter o projeto para avaliação inicial do Ministério da Cultura, o proponente se
depara com uma burocracia paralisante que, provavelmente, o induzirá à desistên-
cia ou à reprovação por erros de preenchimento. O artista pequeno sente que a
Lei Rouanet não é feita para ele, mas para alguns poucos especialistas de grandes
produtoras ou agências com conhecimento técnico para vencer a barreira da bu-
rocracia.

Ou seja, quando a chance de conquistar a verba necessária para se lançar em


uma carreira não é tirada do artista pequeno já na etapa inicial de aprovação do
projeto pelo Ministério, lhe é tirada na fase de captação, quando descobrir que os
recursos da Lei Rouanet tornaram-se monopólio dos conchavos formados entre
grandes empresas e grandes artistas ou produtoras.

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A situação ainda se agrava com a concentração geográfica dos poderosos que
operam o dinheiro da Lei Rouanet. A região Sudeste, a mais rica do Brasil, recebe
uma parcela acentuadamente maior dos recursos do que as demais, perpetuando
sempre nos mesmos a geração de riqueza e sufocando ainda mais a diversidade
cultural do país.

Imagem 1: gráfico de distribuição regional da Lei Rouanet (dados obtidos no SalicNet)

Porém, os graves problemas envolvendo a Lei Rouanet não se limitam à ex-


ploração de suas brechas para formação de cartéis da cultura, mas, ainda, se es-
tendem para a exploração das brechas dos instrumentos de controle do uso do
dinheiro captado. Se há quem sequestre a Lei para manter cativo o privilégio da
captação, alguns entre eles ultrapassam o limite da legalidade, armando esquemas
de desvio de dinheiro público.

Em 2016, foi deflagrada a Operação Boca Livre da Polícia Federal, de combate


aos desvios de verba da Lei Rouanet então identificados. As irregularidades con-
sistiam, sobretudo, no uso da verba pública para custeio de eventos privados, em
fraudes que se concretizavam através de superfaturamentos, apresentação de no-
tas fiscais relativas a serviços e produtos fictícios, projetos duplicados, captação
por meio de empresas com proprietário igual e contrapartidas ilícitas às empresas
incentivadoras.

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Imagem 2: fluxograma da disfuncionalidade da aplicação da Lei Rouanet

No centro das investigações estava o Grupo Bellini Cultural, promotor de even-


tos culturais, suspeito de operar uma rede de negociações fraudulentas, juntam-
ente com empresas patrocinadoras, para produção de livros e shows com uso da
Lei Rouanet. Segundo a Polícia Federal, até mesmo a luxuosa festa de casamento de
Felipe Vaz Amorim, filho do proprietário do Grupo, foi bancada com recurso desvia-
do da Lei Rouanet.

Felipe, seu pai e seu irmão foram presos sob suspeita de desvios que chegariam
a R$ 180 milhões e, posteriormente, soltos com pagamento de fiança. Ao todo, 14
pessoas foram presas na Operação Boca Livre.

A Operação Boca Livre transcorreu paralelamente à CPI da Lei Rouanet, sedia-


da na Câmara dos Deputados, que também se dedicou à investigação de irregulari-
dades com o uso da verba da Lei Rouanet.

O relatório final da CPI, de autoria do deputado Domingos Sávio, foi apresenta-


do em abril de 2017 e recomendou o indiciamento de investigados, a melhoria dos
mecanismos de controle, a recuperação do Fundo Nacional de Cultura e a descen-
tralização no eixo Rio-São Paulo dos recursos.

Ou seja, enquanto o fomento estatal à cultura é um esforço louvável e quase


imprescindível de governos preocupados com a autorrealização dos indivíduos e
com a construção da identidade de seus povos, o modelo de mecenato adotado pelo
Estado brasileiro dá margem a graves distorções na captação dos recursos e a es-
candalosos casos de corrupção.

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O S I ST E M A G ESTO R

Os problemas identificados na Lei Rouanet - ou, ao menos, em sua modali-


dade Mecenato - podem ser resumidos em: a) barreira burocrática que dificulta a
aprovação de projetos por pequenos artistas, b) prioridade dada pelas empresas
patrocinadoras a projetos de artistas já renomados, e c) desvio de dinheiro público
captado por Lei Rouanet. Ressalva-se que a grave concentração dos recursos nas
regiões mais ricas do país pode ser entendida como decorrente das causas a) e b).

Uma vez determinadas, parece claro que as falhas da Lei Rouanet não são de
responsabilidade da redação da lei mas, sim, dos mecanismos designados para sua
execução e controle. E, tanto pela complexidade de execução que apresenta quan-
to pela ausência de dispositivos de controle e de distribuição justa dos recursos, o
principal candidato a responsável pelas mazelas apontadas é o sistema gestor dos
projetos submetidos à avaliação do Ministério da Cultura, o Salic (Sistema de Acesso
às Leis de Incentivo à Cultura).

Começando pela barreira burocrática, que está concentrada justamente no


Salic. O sistema é composto por formulários baseados em caixas de texto, em que o
preenchimento, com retórica adequada, de justificativas como artigos e incisos da
lei nos quais a proposta se enquadra, é necessário para a aprovação do projeto.
É um ciclo vicioso que perpetua o dinheiro sempre nas mãos dos mesmos: quem
conhece os caminhos para decifrar o sistema tem mais aprovações, e quanto mais
aprovações se tem, mais conhecimento dos meandros do sistema se adquire.

O Salic também não foi feito pensando em transparência. Nele, são apenas
submetidos projetos para a aprovação inicial, ou seja, ele não comporta a fase de
prestação de contas, que ocorre por fora do sistema, em um processo sem trans-
parência que pode se estender por anos.

Todas as notícias de corrupção envolvendo a Lei Rouanet que aparecem nas


manchetes podem ser só a ponta do iceberg. Com o sistema atual, é impossível sa-
ber ao certo o que está sendo feito com o dinheiro.

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Imagem 3: fluxograma com o Salic

Flávia Faria Lima, gestora e auditora cultural que já atuou como colaboradora
do Tribunal de Contas da União e diretora do Departamento de Fomento Indireto da
Secretaria Especial de Cultura, atenta às falhas do Salic, desenvolveu, nos últimos
sete anos, um sistema para substituí-lo: o SIC (Sistema Integrado de Cultura).

Enquanto, no Salic, os formulários são compostos por caixas de texto, o SIC


oferece opções autoexplicativas e simplificadas a serem apenas selecionadas pelos
proponentes, aniquilando a barreira burocrática e reduzindo a quase zero a possi-
bilidade de reprovação por erro de preenchimento da proposta.

Também está incorporado no SIC um programa chamado Pontes de Fomento,


que é uma maneira de distribuir obrigatoriamente o dinheiro das empresas patroci-
nadoras para projetos pequenos, sem que elas percam a capacidade de escolher a
quais destes projetos associarão suas marcas.

Enquanto o Salic não acompanha o controle do uso dos recursos, com o SIC,
o controle é parte do próprio processo de liberação da verba, que acontece em
etapas que só são desbloqueadas quando as devidas comprovações das fases an-
teriores já estiverem aprovadas. É um sistema rigorosamente desenhado para ga-
rantir a celeridade e a transparência na prestação de contas.

Além disso, o SIC opera um cruzamento de dados automático, integrando fed-


eração, estados e municípios, diferentes leis de incentivo e todos os dados dos pro-
jetos.

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Com isso, se uma mesma pessoa tentar captar recurso para um mesmo pro-
jeto através de várias empresas ou de fontes diferentes, o SIC é programado para
identificar no mesmo instante.

Mostrando-se capaz de solucionar os problemas a), b) e c) aqui identificados, o


SIC figura entre as mais promissoras ideias para a reabilitação da Lei Rouanet.

Imagem 3: fluxograma com o SIC

A VO LTA DA C U LTUR A

Lula assumiu seu terceiro mandato com a promessa de resgatar a cultura,


abandonada, segundo ele, pelo descaso da administração anterior. Restituiu o sta-
tus de ministério à pasta da cultura, rebaixada a Secretaria Especial no governo
Bolsonaro, nomeou a cantora baiana Margareth Menezes para chefiá-lo e garantiu
ao seu Ministério da Cultura, em 2023, o maior orçamento da história, de mais de R$
10 bilhões.

No primeiro mês de governo, Margareth já anunciou a liberação de quase R$1


bilhão da Lei Rouanet bloqueados na gestão anterior e, dois meses depois, já assina-
va, com Lula, o decreto 11.453/2023, que regulamentaria a Lei Rouanet através da
Instrução Normativa de 10/04/2023. Na cerimônia de assinatura do decreto, Lula,
do palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, proclamou: “O nosso compromisso
é garantir que a cultura voltou de verdade nesse país”.

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A mais alardeada alteração promovida pelo decreto foi o oferecimento de edi-
tais públicos como instrumentos de descentralização regional dos recursos. Segun-
do o governo, os editais ampliariam o financiamento de projetos nas regiões Cen-
tro-Oeste, Nordeste e Norte do país.

Por outro lado, uma alteração que recebeu pouca ou nenhuma cobertura
midiática foi a que incidiu sobre o modelo de prestação de contas do dinheiro cap-
tado. Agora, a prestação de contas sobre valores até R$ 200 mil está dispensada e,
para projetos entre R$ 200 mil e R$ 5 milhões, são requeridos tão somente relatóri-
os, ou seja, sem a necessidade de apresentação de notas fiscais.

O afrouxamento sem precedentes nas prestações de contas é uma mensagem


inconfundível de reconhecimento da incompetência do sistema atual no acompan-
hamento dos gastos com a Lei Rouanet e da escolha do governo em como lidar com
o problema: ao invés de substituir o sistema gestor por outro que, a exemplo do
SIC, garantisse um célere e rigoroso controle dos recursos, optou-se por abolir a
prestação de contas para muitos projetos e flexibilizá-la para outros.

O mesmo mecanismo de liberação de verbas da Lei Rouanet que deu margem


à formação dos conchavos que hoje monopolizam a cultura brasileira e aos escân-
dalos descobertos na Operação Boca Livre permanece operando mas, agora, com
muito mais dinheiro público à disposição e com um severo relaxamento na fiscal-
ização.

Além disso, apesar da promessa do governo de que o novo decreto descen-


tralizaria os recursos da Lei Rouanet, eles permanecem fortemente concentrados
nas regiões mais ricas do país. Dados de julho de 2023 mostram que 54% do valor foi
captado para o Sudeste, 25% para o Sul, 13% para o Nordeste, 4% para o Centro-Oes-
te e apenas 2,3% para o Norte.

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CORDEL
por Zé do Cordel

Sobre arte e talento


Nosso país é fecundo,
É a maior diversidade
Cultural desse mundo.
No teatro, na canção,
Em uma forma de expressão,
Numa dança ou pintura,
Se vê no país inteiro
A paixão do brasileiro
Pela arte e cultura.

Milhares de pessoas
Veem na arte e talento
Uma forma de levar
Para casa o sustento.
Vivendo na incerteza
De botar o pão na mesa
Sem quem possa ajudar,
A ganância muda o curso
E o apoio e recurso
Vão parar em outro lugar.

A chamada Lei Rouanet,


De incentivo cultural,
Sofre com a divisão
De maneira desleal.
Produtoras dão suporte
A empresas de porte
Que muito se beneficiam,
Dominam a verba geral
Pelo conhecimento legal
De toda burocracia.

É daí que entra em cena


Nossa guerreira valente,
Flavia Faria Lima
Está na linha de frente.
Luta por melhorias,
Denuncia regalias
Que impõem dificuldade,
Contra gente de poder
Lutou para defender
Ao ter oportunidade.

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Especialista produtora
E gestora cultural,
Usou o conhecimento
Pela causa social.
Lutou contra a estupidez
Pra dar chance, voz e vez
A quem nunca teve espaço,
Com palestras ajudava
Qualquer que precisava
Vencer todo embaraço.

Na CPI da Rouanet,
Ela teve a missão
De falar dos embaraços
Para toda comissão.
Aceitou o convite
E soltou a dinamite
Com coragem e ousadia,
Nessa oportunidade
Escancarou a verdade
Que muita gente escondia.

Revelou todo o esquema


Que fazem os produtores
Com empresas que, sozinhas,
Abocanham os valores,
Deixam de fora da lista
Aquele pequeno artista
Que não tem oportunidade,
Sem acesso à estrutura
Destinada à cultura,
Passam por dificuldade.

A vida não foi a mesma


Depois do que Flávia fez,
Sofreu penalidades
Por fazer valer as leis.
Não se dando por vencida,
Seguiu de cabeça erguida
Contra as articulações,
Fez especialização
Para a identificação
Em atos de defraudações.

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Descobriu os responsáveis
Pela fraude no sistema,
Não demorou a descobrir
Soluções para o problema.
Um sistema da cultura
Que tirava da escura,
Com tudo facilitado,
Um sistema inteligente
Que era devidamente
Distribuído e acompanhado.

Foi convidada para um cargo


Que estava à sua altura,
Fez parte da Secretaria
Especial da Cultura.
Com pouco tempo de projeto,
Soube do novo decreto
Onde os museus envolvia,
Arriscava o fechamento
E, o que devia ser fomento,
Um novo texto restringia.

Flávia então enfrentava


Nessa hora um dilema,
Que fazer pelos museus
Só traria mais problemas.
Optou por ensinar
Os museus a driblar
Todas as proibições,
Usou a especialidade
E, dentro da legalidade,
Salvou as instituições.

O que fez não agradou


E ela pagou o preço,
Acabou exonerada
Tendo em vista o tropeço.
Hoje usa o talento
Pra levar conhecimento
A quem tem resiliência.
Nem problema de saúde
Fez mudar de atitude
Ou tirar a sua essência.

Zé do Cordel é o nome artístico de Rafael Vasconcelos, nascido em 1988 na ci-


dade de Fortaleza. Zé do Cordel nunca recebeu verba da Lei Rouanet.

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