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RENATO CARUSO
D I A G R A M A Ç Ã O E A R T E
VITOR CASQUÍN
1. O ESTADO-MECENAS 5
2. O SISTEMA GESTOR 10
3. A VOLTA DA CULTURA 12
Por outro lado, em ambientes onde as pessoas são rebaixadas aos seus instin-
tos primitivos, não existe espaço para aspirações mais elevadas como a beleza e
a arte. Um exemplo eloquente é o do centro da cidade de São Paulo, onde a de-
gradação estética da cracolândia é vizinha de locais dedicados justamente à con-
templação da beleza, como a Pinacoteca e a Sala São Paulo.
Alguns dos museus de maior expressão regional ou mundial são geridos e op-
erados pelos governos de seus países, como o Museu do Louvre, na França; o Mu-
seu Britânico, no Reino Unido; o Museu do Prado, na Espanha; o Rijksmuseum, na
Holanda; o Museu Nacional de Tóquio, no Japão; o Museu Hermitage, na Rússia; e o
Museu Nacional da China. Por sua vez, muitos dos mais relevantes museus privados
que conhecemos não existiriam sem auxílio estatal, como é o caso do Getty Museum,
nos Estados Unidos, beneficiado pelo instituto jurídico do Trust, que concede vanta-
gem tributária à riqueza destinada, entre outras finalidades, à cultura.
1 https://www.abc.net.au/news/2017-04-04/why-no-symphony-orchestra-in-the-world-makes-money/8413746
E-BOOK BP: AOS AMIGOS, A LEI 6
A Lei Federal de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet, foi instituída
em 1991 sob a gestão do presidente Fernando Collor. Ela é constituída por um tripé
de instrumentos de incentivo à cultura, sendo o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e o
Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) de fomento direto e, o Mecenato,
de fomento indireto.
O primeiro governo Lula, que teve como Ministro da Cultura o cantor Gilberto
Gil, foi o responsável por alavancar os recursos movimentados pela Lei Rouanet,
mas com foco quase exclusivo em sua modalidade de fomento indireto, o Mecenato,
transformando-a na pujante e polêmica fomentadora da cultura brasileira que hoje
conhecemos.
Ao passo que o fomento direto do governo na cultura do país poderia gerar uma
interferência estatal potencialmente indesejável na escolha dos projetos, o fomento
indireto proporcionado pelo Mecenato da Lei Rouanet gera graves distorções de
outra ordem.
Entretanto, a primeira barreira que já bloqueia grande parte dos pequenos ar-
tistas do acesso ao fomento se localiza em uma fase anterior do processo. Ao tentar
submeter o projeto para avaliação inicial do Ministério da Cultura, o proponente se
depara com uma burocracia paralisante que, provavelmente, o induzirá à desistên-
cia ou à reprovação por erros de preenchimento. O artista pequeno sente que a
Lei Rouanet não é feita para ele, mas para alguns poucos especialistas de grandes
produtoras ou agências com conhecimento técnico para vencer a barreira da bu-
rocracia.
Felipe, seu pai e seu irmão foram presos sob suspeita de desvios que chegariam
a R$ 180 milhões e, posteriormente, soltos com pagamento de fiança. Ao todo, 14
pessoas foram presas na Operação Boca Livre.
Uma vez determinadas, parece claro que as falhas da Lei Rouanet não são de
responsabilidade da redação da lei mas, sim, dos mecanismos designados para sua
execução e controle. E, tanto pela complexidade de execução que apresenta quan-
to pela ausência de dispositivos de controle e de distribuição justa dos recursos, o
principal candidato a responsável pelas mazelas apontadas é o sistema gestor dos
projetos submetidos à avaliação do Ministério da Cultura, o Salic (Sistema de Acesso
às Leis de Incentivo à Cultura).
O Salic também não foi feito pensando em transparência. Nele, são apenas
submetidos projetos para a aprovação inicial, ou seja, ele não comporta a fase de
prestação de contas, que ocorre por fora do sistema, em um processo sem trans-
parência que pode se estender por anos.
Flávia Faria Lima, gestora e auditora cultural que já atuou como colaboradora
do Tribunal de Contas da União e diretora do Departamento de Fomento Indireto da
Secretaria Especial de Cultura, atenta às falhas do Salic, desenvolveu, nos últimos
sete anos, um sistema para substituí-lo: o SIC (Sistema Integrado de Cultura).
Enquanto o Salic não acompanha o controle do uso dos recursos, com o SIC,
o controle é parte do próprio processo de liberação da verba, que acontece em
etapas que só são desbloqueadas quando as devidas comprovações das fases an-
teriores já estiverem aprovadas. É um sistema rigorosamente desenhado para ga-
rantir a celeridade e a transparência na prestação de contas.
A VO LTA DA C U LTUR A
Por outro lado, uma alteração que recebeu pouca ou nenhuma cobertura
midiática foi a que incidiu sobre o modelo de prestação de contas do dinheiro cap-
tado. Agora, a prestação de contas sobre valores até R$ 200 mil está dispensada e,
para projetos entre R$ 200 mil e R$ 5 milhões, são requeridos tão somente relatóri-
os, ou seja, sem a necessidade de apresentação de notas fiscais.
Milhares de pessoas
Veem na arte e talento
Uma forma de levar
Para casa o sustento.
Vivendo na incerteza
De botar o pão na mesa
Sem quem possa ajudar,
A ganância muda o curso
E o apoio e recurso
Vão parar em outro lugar.
Na CPI da Rouanet,
Ela teve a missão
De falar dos embaraços
Para toda comissão.
Aceitou o convite
E soltou a dinamite
Com coragem e ousadia,
Nessa oportunidade
Escancarou a verdade
Que muita gente escondia.