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UNIDADE I

Políticas Públicas
em Comunicação
Prof. Msc. Eduardo Pimenta
O direito à informação/comunicação

 Comunicação social é um valor fundamental.

 Ela diz respeito à vida em sociedade como um todo e tem a mesma importância da
economia, da administração, do universo jurídico, da política etc.

 Por meio dela, as sociedades modernas foram capazes de desenvolver as democracias


que conhecemos.

 Não há democracia sem um sistema de comunicação social eficiente, livre e transparente.


A comunicação na Constituição Federal de 1988

 No caso do Brasil, porém, há uma concentração de poder e recursos nas mãos de


poucos grupos.
 A imprensa costuma apontar, rapidamente, os prejuízos implícitos dos monopólios e
oligopólios nos diversos setores da atuação humana, dando ampla cobertura às atividades
do Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, ligado ao Ministério da Justiça e
Segurança Pública.
Capítulo V – Da Comunicação Social:
 Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição;
 § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir
embaraço à plena liberdade de informação jornalística em
qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto
no Art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV;
 § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,
ideológica e artística.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

Radiodifusão (rádio e TV), no Brasil, atende a uma legislação que envolve a emissão de uma
outorga para o uso da concessão de canais. Veja:

Ainda na Constituição Federal, sobre a Comunicação Social:


 Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar a concessão, a permissão e a
autorização para o serviço de radiodifusão sonora, e de sons e imagens, observado o
princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal;
 § 5º O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as emissoras de rádio e de
quinze para as de televisão;
 Nota-se que a rede de computadores (internet) não é incluída
no serviço de radiodifusão.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 Algo em torno de 10 famílias ainda lideram/comandam a comunicação social no país.

 Isso põe em xeque a máxima da liberdade de escolha, de opinião, a livre-iniciativa e os


demais pilares modernos da liberdade.

 Pior que isso, o nosso sistema se baseia, fortemente, em um modelo comercial de interesse
particular em vez daquilo a que chamaríamos de interesse público.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 As empresas exploradoras (Sistema Globo de Rádio e TV, Record, SBT etc.) dependem da
sistemática renovação dessa concessão.

 Mas, apenas, muito recentemente, os sistemas públicos de comunicação passaram a ser


assunto no país, no final do séc. XX.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 A lógica que orienta, até hoje, o sistema brasileiro de comunicação é a de supermercado.


Cada grupo empresarial organiza a sua vida como quer, oferece o que quer, do jeito que
quer, atendendo, minimamente, às regras da concessão (BARBERO ET AL., 2009).
 Já era assim com o rádio desde antes da chegada da TV por aqui.
 Na Europa, ao contrário, as emissoras nunca ficaram reféns inteiramente das
verbas publicitárias.
 Criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, em 2007.
 Com ela, surge a TV Brasil. Havia um receio generalizado de que ela se tornasse
“chapa-branca”, a voz do governo.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 A Constituição de 1988 previu um modelo que combinasse três sistemas: público, privado e
estatal (não confundir público com estatal).
 Mas a radiodifusão comercial é hegemônica no Brasil, e para muitos analistas isso ameaça a
consolidação da nossa democracia.
 Uma enorme parte da população ainda enxerga o mundo por meio da radiodifusão.
 E mesmo aqueles que navegam, livremente, pela internet dedicam a maior parte do tempo
ao fruto de políticas comerciais, a começar pelo fato de as próprias redes sociais serem
empresas privadas.
 Os obstáculos críticos da sociedade dizem respeito à ausência de modelos.
 Direito à comunicação de qualidade. Contradição com o próprio
espírito liberal.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 O rádio é inaugurado no Brasil, em 1922; a TV, em 1950.


 TV Tupi, de Assis Chateaubriand, em São Paulo, dono dos Diários Associados.
 Os anunciantes eram tão ou mais importantes do que a tecnologia em si.
 Assim, teve início uma espécie de modelo despreocupado com a cultura e a educação
do país.
 O presidente Juscelino Kubitschek tentou viabilizar uma outorga para um canal concorrente à
época (1956), mas foi ameaçado por “Chatô”.
 Somente um ano depois, JK ajudou a viabilizar um canal para as organizações Globo, que só
começou a operar, na verdade, em 1965.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 Entretenimento: Eugênio Bucci lembra que “entretenimento” se origina do espanhol, cujos


primeiros registros datam do século XVI.
 Entreter, originado do latim intertenere (inter quer dizer “entre”; tenere quer dizer “ter”), que
significa “deter”, “distrair”, “enganar”.
 No senso comum, “entretenimento” é entendido, até hoje, como aquilo que ocorre no tempo
do lazer.
“[...] ainda vemos, em conversas entre os dirigentes das TVs
públicas, o emprego do termo ‘entretenimento’ como se ele se
referisse a um adereço no repertório variado, como se a palavra
pudesse conferir uma leveza inocente que ajudaria a tornar mais
palatável, mais agradável, menos chata, a programação de suas
emissoras. É como se dissessem, mais ou menos, o seguinte:
‘No nosso cardápio a gente tem cultura, informação, educação,
conhecimento e, também, como ninguém é de ferro, um pouco de
entretenimento para adoçar a vida”. (BUCCI, 2006).
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

Tipos de mídias públicas mais conhecidos (BARBERO ET AL., 2009):

1 – Elitista:
 Forte ascensão europeia, oriunda da BBC;
 Premissas iluministas, segundo as quais o conhecimento e a razão são fundamentais para o
entendimento e a inserção no mundo de maneira emancipadora;
 Ao rádio cabia o papel de diminuir o abismo existente entre a riqueza cultural produzida pelo
homem em sua história e a população;
 O rádio e, depois, a televisão se somavam aos
empreendimentos culturais responsáveis por gerar e
disseminar a riqueza linguística, espiritual, estética e ética dos
povos e das nações, no mesmo setor da sociedade em que
estavam as universidades, as bibliotecas e os museus, e a
população os reconhecia dessa forma, distante da esfera dos
negócios ou da política de partidos ou grupos.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

 A alta cultura e o conhecimento, objetos da mídia pública, envolviam aquilo que era
identificado como conteúdo relevante e associado aos padrões morais da “alta sociedade”.
 Em se tratando de BBC, não se tratava de uma marca dela mesma, mas, sim, a influência
externa da sociedade, em um ambiente intelectual composto por valores, padrões e crenças
de uma classe média intelectualizada, especialmente, daquela parte educada em Oxford
e Cambridge.
 No fundo, uma ideia muito forte embasava essa perspectiva: apenas essa elite tinha
condições de visualizar o pacote de conhecimentos necessários à população.
 “A baixa aceitação às manifestações artísticas eruditas devia-
se ao seu desconhecimento, não à sua baixa atratividade”.
 Temos, muitas vezes, essa presunção em relação à
programação erudita da TV Cultura de SP.
A comunicação na Constituição Federal de 1988

 O primeiro diretor-geral da BBC, John Reith, revela um elitismo radicalizado ao afirmar que
os conhecimentos valorosos não são importantes, apenas, aos pobres de renda e de
formação, mas ao conjunto da população. Na sua avaliação, para o êxito de seu projeto a
mídia pública deveria informar, divertir e educar.

 Assim, a elite política e cultural do Reino Unido impunha a sua visão de mundo sobre o povo,
opondo a sua concepção da política às artes e à cultura das camadas populares.

 Partindo do princípio de que o povo “não sabe o que quer e


aquilo de que precisa”, Reith afirmava que a baixa aceitação às
manifestações artísticas eruditas devia-se ao seu
desconhecimento, não à sua baixa atratividade.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

2 – Educativa:

 Assim como a definição elitista, a educativa parte da premissa de que a mídia eletrônica
constitui um mecanismo fundamental de difusão de conteúdos à população;

 Diferencia-se da elitista pela ênfase;

 A elitista cultuou um projeto totalizante, que tentou abarcar a informação, a diversão e a


educação – não ousou abrir mão do entretenimento;

 Já os representantes da linha educativa viam a mídia pública


como responsável pela ampliação da formação da população,
educação complementar.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

 Muito intensa na América Latina, na segunda metade do século XX.

 Colocava-se o desafio de atender à necessidade de mão de obra qualificada em um


contingente populacional em rápido crescimento.

 Os projetos de televisão educativa acreditavam que as mídias públicas massificariam a


educação e atingiriam, com relativa facilidade, as populações que estavam excluídas dos
circuitos oficiais da educação.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

3 – Alternativa ao modelo comercial:

 Ao rejeitar as experiências de televisão educativa como modelo desejável para um novo


projeto de TV pública nos Estados Unidos, este país promoveu uma TV baseada no
atendimento de todas as demandas informativas não contempladas pelos veículos
comerciais, tornando-se uma alternativa a eles;

 Essa é a gênese do Public Broadcasting Service (PBS), dos Estados Unidos, bem como a
recente criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em nosso país;

 Em razão da ampla hegemonia dos veículos comerciais, tanto


lá quanto aqui;

 Alternatividade e diversidade.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

“Enquanto os meios com fins lucrativos tratam a audiência como massa e, portanto, buscam o
gosto médio para que os seus conteúdos possam atingir a atenção do maior número possível
de pessoas, a televisão pública como alternativa deveria mirar na multiplicidade de públicos e
dialogar com as demandas informativas e culturais de cada um deles. Assim, a diversidade
aparece como um dos pilares dessa concepção”. (BARBERO ET AL., 2009, p. 33)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

“Para Bucci (2006), as emissoras públicas, portanto, deveriam diferenciar-se, recusando-se a


competir no mercado e buscando dar visibilidade às expressões francamente minoritárias da
cultura e do debate público, que não têm aptidão para se tornar “campeãs de audiência” e não
têm vez nas comerciais. Nesse artigo, o autor (que também era presidente da Radiobras)
apresentou uma tese polêmica: a de que não cabia aos veículos públicos produzir
entretenimento. O setor de radiodifusão pública da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aponta como uma das características centrais da
mídia pública, para além de oferta universal, diversidade e independência, a distintividade”.
(BARBERO ET AL., 2009, p. 34).
 Distintividade.
 “Não é apenas uma questão de produzir os tipos de programas
que outros serviços não estão interessados em fazer, visando
audiências rejeitadas por outros. É uma questão de fazer
diferente, sem excluir nenhum gênero”. (BARBERO
ET AL., 2009)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

4 – Sistema público não estatal (nem mercado, nem Estado):

 Experiências europeias e americanas: uma mídia feita para o público, devendo ter
independência, protegendo-se tanto das influências do mercado quanto do controle
do Estado;

 A influência do mercado impediria qualquer noção de diversidade e de reflexão, ao infectar o


meio público com a lógica homogeneizante e superficial da comunicação comercial;

 Já o controle do Estado destruiria a independência editorial


necessária à transmissão de conteúdos equilibrados.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

 O foco é o conhecimento e a ampliação de horizontes.


 Radiodifusão pública é definida, aqui, como um local de encontro onde todos os cidadãos
são bem-vindos e considerados iguais — como sugere a Unesco.
 A declaração do workshop de sistemas públicos de comunicação realizado pela Unesco no
World Electronic Media Forum, em Genebra, em 2003, coloca essa distância como a
condição para que os meios públicos consigam produzir conteúdos imparciais e críticos.
 “Reunião de privados em um público”. (HABERMAS)
 Funcionam a partir de conselhos gerais autônomos, formados
por representantes da sociedade, sob a participação financeira
do Estado limitada ou inexistente — caso da BBC de Londres,
paga pelos próprios cidadãos.
 Para que tal missão seja concretizada, o binômio
controle-financiamento é a condição para garantir
a independência desejada.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

5 – Culturalista (forte influência de filósofos como Jesus Martín-Barbero):

 Baseada na realidade latino-americana;


 Influenciada pela forte perda de representatividade cultural das programações despejadas na
região por outros países, especialmente, a indústria cultural americana, a cultura pop etc.;
 Globalização – perda de espaço das referências locais para as internacionais;
 Jogo entre duas forças: noção de territorialidade X noção de nação;
 Os autores propõem uma definição de TV pública marcada por dois aspectos centrais: a
natureza autônoma e o compromisso do cidadão com a diversidade cultural.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

Jesus Martín-Barbero (1937-2021) (2009) equipara uma “televisão pública de cultura” a uma
televisão pública de qualidade, que se caracterizaria por:

1. Manter uma produção cultural própria, perpassando todas as faixas da programação;


2. Construir uma relação particular e especial com a acelerada e fragmentada vida urbana;
3. Desempenhar um papel alfabetizador da sociedade, em relação às novas linguagens e aos
meios técnicos das sociedade convergente; e
4. Ter uma concepção multidimensional da competitividade envolvendo “o profissionalismo, a
inovação e a relevância social de sua produção”.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

 Para Barbero (2009), cultural é a televisão que não se limita à transmissão de cultura
produzida por outros meios, mas a que trabalha na criação cultural a partir de suas próprias
potencialidades expressivas – o que envolve não se limitar a ter uma faixa da programação
com conteúdo cultural, mas, sim, ter a cultura como projeto que atravessa qualquer um dos
conteúdos e dos gêneros.

 Cultura não, apenas, como objeto, mas como ponte.

 Conectarmo-nos ao conhecimento por meio de nossas próprias


pontes é diferente de nos conectarmos a ele por meio de
pontes construídas por outros povos.

 Programa baseado na diversidade cultural e que trabalhe a


cultura nacional por essa perspectiva multifacetada.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

6 – A definição de mídia pública como o aparelho de Estado:

 Mídia pública como aparelho ideológico;


 A forma central de dominação é a direção cultural, que se dá por meio da construção de
consensos pelos aparelhos de hegemonia, como: escolas, partidos, igreja e os meios de
comunicação. A função desses aparelhos seria reproduzir uma ideologia particular, das
forças dominantes, em uma visão de mundo universal de toda a sociedade;
 A escalada de televisões e rádios religiosas em uma sociedade laica é, de algum modo, uma
provocação à noção de diversidade, ao multiculturalismo, à distintividade etc.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

7 – O caso brasileiro:

 A radiodifusão brasileira nasceu inspirada no modelo elitista, mais preocupada com a


veiculação de conteúdos culturais do que os seus pares contemporâneos comerciais;
 Com a legislação do governo Vargas (anos 1930/1940), optou-se pelo modelo institucional
estadunidense, dando prioridade aos operadores privados;
 Nosso sistema público de radiodifusão passa por três marcos importantes;
 Primeiro: a experiência mais aprofundada de mídia pública no
país começa nos anos 1960, com a formação do complexo
quadro legal e conceitual dessa modalidade por conta da
preocupação dos militares com a necessidade de constituir um
sistema de educação da massa pela televisão.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

“O Decreto-Lei 236, de 1967, instituiu a figura da televisão educativa como o tipo de


radiodifusão de sons e imagens voltada à divulgação de programas educacionais, palestras,
aulas, conferências e debates. A norma estabeleceu, ainda, o caráter não comercial desse tipo
de comunicação, proibindo qualquer tipo direto ou indireto de publicidade ou patrocínio. Desde
então, houve a criação de um sistema de emissoras educativas comandada pelo governo
federal (por meio da criação da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa e, posteriormente,
pelo nascimento da TVE) e pelos governos estaduais, bem como pelas universidades federais”.
(BARBERO ET AL., 2009)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

“A quase totalidade dos Estados criou a sua emissora, que passou a combinar os conteúdos
educativos (no sentido apresentado anteriormente), alguma programação cultural e jornalismo,
geralmente, subordinado aos gabinetes de governadores. A única emissora que, pelo menos
em discurso, alegava ter um projeto de independência era a TV Cultura, de São Paulo, mantida
pela Fundação Padre Anchieta e controlada por um conselho nos moldes europeus”.
(BARBERO ET AL., 2009)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

“O segundo grande marco da consolidação do nosso confuso quadro institucional da


comunicação pública foi a aprovação da Constituição Federal de 1988. Em seu artigo 223, a
Carta Magna estabelece que a concessão de outorgas deveria observar a complementaridade
dos sistemas públicos, estatal e privado. Criou-se aí a ideia de um sistema público,
diferenciado tanto do privado quanto do estatal”. (BARBERO ET AL., 2009)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

“O terceiro grande marco da estruturação do quadro institucional da comunicação pública no


país deu-se com a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), articulada com o claro
propósito de diferenciar-se do que, até então, havia sido construído pelo governo federal em
termos de comunicação própria para operar uma ‘efetiva mídia pública’. A lei que criou a
empresa, Lei n. 11.652/2008, é a primeira a fazer menção ao Artigo 223, e institui os princípios
e objetivos dos serviços de radiodifusão pública explorados pelo Poder Executivo ou
outorgados às entidades de sua administração indireta, e autoriza o Poder Executivo a
constituir a Empresa Brasil de Comunicação – EBC (BRASIL, 2008)”. (BARBERO
ET AL., 2009)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais

 O modelo trazido pela EBC aproxima-se daquela que compreende a mídia pública como um
espaço democrático necessário entre o mercado e o Estado.

 Uma primeira referência, muito parcial, à complementariedade dos sistemas público,


privado e estatal”. (BARBERO ET AL., 2009)
Interatividade

Assinala a Constituição Federal a garantia de que “A manifestação do pensamento, a criação,


a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão
qualquer restrição:

a) Exceto por decisão do Supremo Tribunal Federal.


b) Exceto por censura.
c) Exceto por ordem judicial.
d) Exceto por determinação do presidente da República.
e) Nenhuma das respostas anteriores.
Resposta

Assinala a Constituição Federal a garantia de que “A manifestação do pensamento, a criação,


a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão
qualquer restrição:

a) Exceto por decisão do Supremo Tribunal Federal.


b) Exceto por censura.
c) Exceto por ordem judicial.
d) Exceto por determinação do presidente da República.
e) Nenhuma das respostas anteriores.
A situação atual da comunicação pública no Brasil

 A destruição pela qual passa o Estado de Bem-estar Social em várias partes do mundo,
concretizado após a Segunda Guerra Mundial, impacta as amplas redes de proteção da
sociedade, incluída, nelas, a comunicação pública.

 Esse tipo de serviço, fundamental para o jogo democrático, é incompatível com as políticas
de “estado mínimo” implantadas em vários países a partir da ascensão dos governos
Reagan, nos Estados Unidos, e Thatcher, no Reino Unido.
Se até a saúde e a educação – entre outros aspectos importantes da vida – passam a ser
oferecidas como mercadoria, o que dizer da comunicação, que, simbolicamente, não é para a
sociedade uma necessidade básica como as outras?

 Os ataques à comunicação pública, generalizados em estados neoliberais, diferenciam-se


entre um país e outro, em razão do maior ou menor enraizamento dos mecanismos sociais e
políticos neles existentes.

 Democracias consolidadas, com os serviços de comunicação pública reconhecidos como


importantes pela sociedade, tendem a sobreviver com mais energia aos ataques privatistas.
Reino Unido, anos 1980, governo da primeira ministra Margaret Thatcher:

 A “Dama de Ferro” acreditou que mudaria o caráter público da BBC, que tinha, então, 60
anos de existência;

 Não conseguiu;

 Mesmo não sendo onerosa para o Estado, já que quem mantém a BBC é o público que a
sintoniza, o governo apostou no projeto de torná-la comercial, mantida pela propaganda;

 O debate chegou ao Parlamento, mas não prosperou – a


reação popular se deu graças ao reconhecimento do papel
exercido pela BBC para a democracia e para a cultura do país
ao longo de décadas;
 “Além, é claro, de que, naquele momento histórico, a circulação de ideias, no Reino Unido,
ainda não estava contaminada pelas redes sociais, permitindo que a disputa em torno da
possível privatização da BBC se desse a partir de argumentos minimamente racionais.”;

 Ao mesmo tempo, o debate inglês acabou fomentando uma atmosfera que ajudou a ampliar
a rede de TVs comerciais;

 A BBC saiu intacta, mas permitiu-se a ampliação da


concorrência com o aumento do número de canais de rádio e
TV mantidos pela propaganda.
 Em outras democracias consolidadas, a proteção à comunicação pública teve graus variados
de sucesso.

 Alguns, como os nórdicos, mantiveram intactas a independência em relação ao mercado.


Outros, como a Espanha, abriram-se para a propaganda, ainda que os serviços desse tipo
de comunicação permanecessem sob o controle público.
 Sobre as tentativas similares as que aconteceram no Reino Unido, cabe distinguir aquelas
ocorridas em países cujas democracias não são tão sólidas assim, como o Brasil.

 Aqui, a constituição de uma empresa pública de comunicação de caráter nacional só


aconteceu 80 anos depois das primeiras iniciativas equivalentes em países da Europa
Ocidental, com a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em 2007.

 Por uma série de fatores (alguns explícitos, outros nem tanto), houve, praticamente, um
bloqueio secular no país pelo desenvolvimento de uma política pública de comunicação.
 O bloqueio ao acesso a um rádio e, depois, a uma televisão, sem a publicidade, formou
gerações alienadas.

 Para elas o modelo brasileiro era único. Durante anos, só quem tinha a possibilidade
de ouvir rádio no exterior se dava conta da existência de alternativas de formas
eletrônicas de comunicação.
 Em outras palavras, não se formou, no Brasil, uma massa crítica capaz de exigir do Poder
Público a criação de emissoras de rádio e TV independentes da propaganda e dos governos.
Assim, o modelo comercial tornou-se hegemônico, apresentando-se à sociedade como
o único possível. A falta do exemplo alternativo, aliada à forte integração entre os
concessionários das emissoras comerciais e os demais meios de comunicação, impediu a
criação de um sentimento de apoio à comunicação pública na sociedade capaz de
defendê-la quando atacada.
 No Brasil, com a EBC, o caráter público da empresa foi afetado através pela MP 744/16,
extinguindo o Conselho Curador (que era formado, até então, por 22 integrantes, sendo 15
indicados pela sociedade, quatro representantes do governo federal, um da Câmara dos
Deputados, um do Senado e um dos funcionários da empresa) e o mandato do diretor-
presidente da empresa.

 O Conselho dava à diretoria da empresa as diretrizes gerais para a programação


das emissoras.

 Contava com as suas próprias pesquisas e o apoio da


ouvidoria da EBC que mantinha os canais de comunicação
com o público por onde circulavam as críticas, os elogios
e as sugestões do público.
 A ouvidoria (da qual Laurindo foi titular) municiava os membros do Conselho, que discutiam
em câmaras temáticas e nas sessões plenas do órgão.

 Além disso, as audiências públicas realizadas em diferentes regiões do país permitiam uma
interação, ainda maior, do público com a gestão das emissoras da EBC.

 Assim, hoje, apesar de haver uma resistência dos jornalistas e técnicos marcada pelo ethos
profissional, a empresa está, sempre, na mira do governo federal. Só não está mais porque
os veículos da EBC não têm tanto apelo quanto as emissoras comerciais.

 A empresa, ainda, reluta, legal e politicamente, esperando


retomar as condições anteriores.
 Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar a concessão, permissão e
autorização, para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o
princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal. (CF)

 Com a ascensão, em 2019, do governo seguinte, e a predominância de dirigentes vinculado


ao governo anterior, a autonomia da EBC ficou nos limites fixados em lei.

 Fusão da TV Brasil à NBR, emissora estatal de divulgação dos atos do governo.


Uma das discussões contextuais diz respeito ao cenário das TVs comerciais:

 A expectativa pela criação de uma rede nacional pública de televisão capaz de competir,
diretamente, com as redes comerciais nunca foi concretizada;

 A sintonia da TV Brasil ficou distante de atender ao princípio da universalidade de acesso;

 As zonas de sombra dos seus sinais, tanto da TV quanto das


rádios, atingiam não, apenas, as regiões mais remotas do país,
mas os setores de capitais, como: Brasília, Rio de Janeiro
e São Paulo.
 Com relação ao conteúdo da programação, especificamente, o telejornalismo, pode-se
afirmar com segurança que, em muitos momentos, praticou-se um jornalismo sem a ousadia,
refém dos temores de parecer “oficialista” ou “chapa-branca”, descambando, em certos
momentos, até para o lado oposto, com pautas oposicionistas, sem a prática do contraditório.
Perdeu-se grande oportunidade de atender a um público desprezado pelo telejornalismo das
emissoras comerciais.
 Há uma lógica simétrica entre as distorções sociais e a falta de uma comunicação pública
enraizada na sociedade.

 Menos autonomia pública editorial = menos equilíbrio social.

 Lembrando que a redução das distâncias sociais não é, apenas, uma vontade baseada na
solidariedade, mas na lei.
Art. 170. da CF:

A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por


fim assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
I. Soberania nacional;
II. Propriedade privada;
III. Função social da propriedade;
IV. Livre-concorrência;
V. Defesa do consumidor;
VI. Defesa do meio ambiente; [...]
VII. Redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII.Busca do pleno emprego; [...]
 E, aqui, não se trata, apenas, da democracia em seus limites políticos eleitorais. As rádios e
as TVs públicas são fundamentais na consolidação desse processo, mas vão além. Elas são
um fator importante para o alargamento das visões de mundo e para a ampliação do arco de
valores culturais sempre em disputa nas sociedades de classe.

 Não há democracia que possa ser considerada como tal em um país onde um pequeno
grupo de empresas comerciais controla, praticamente, toda a informação que circula em
seu território.
No mundo:
As maiores corporações de mídia do mundo e as suas respectivas receitas, segundo o Instituto
para Políticas de Mídia e Comunicação da Alemanha:
1. Comcast/NBC Universal/LLC (EUA) – € 40,1 bilhões;
2. The Walt Disney Company (EUA) – € 29,377 bilhões;
3. Google Inc. (EUA) – € 27,231 bilhões;
4. News Corp. (EUA) – € 23,998 bilhões;
5. Viacom Inc. (EUA) – € 20,948 bilhões;
6. Time Warner (EUA) – € 20,815 bilhões;
7. Sony Entertainment (Japão) – € 16,514 bilhões;
8. Bertelsmann AG (Alemanha) – € 15,253 bilhões;
9. Vivendi S.A. (França) – € 12,486 bilhões;
10. Cox Enterprises Inc. (EUA) – € 11,013 bilhões;
25. Rede Globo (Brasil) – € 4,7 bilhões. Fonte: Meio & Mensagem (2012).
 A criminalização da política por esses meios se espalha por programações jornalísticas, de
entretenimento e, até, de humor.

 A importância de uma comunicação que rompa essa hegemonia.

 A EBC continua sendo uma oportunidade.


 A comunicação pública que, antes, era realizada majoritariamente pela radiodifusão, vem
utilizando, nos últimos anos, especialmente, no governo Bolsonaro, o contato direto com
o cidadão.

 Isso é novo; é a primeira vez que a fala do presidente da República dispensa intermediários,
sejam eles os canais oficiais de governo, imprensa, porta-voz ou qualquer outro caminho.

 Cujo beneficio é a integração da comunicação entre a população, com acesso à internet e ao


Poder Executivo.
O papel ambíguo das redes sociais frente à comunicação social:
1. De um lado, elas oxigenam e democratizam o fluxo da comunicação;
2. De outro, podem turvar a informação que é construída profissionalmente,
concorrem com ela;
2.1 – A disputa entre o factual e o opinativo;
2.2 – A desmassificação;
2.3 – Difusão deliberada de fake news como recurso político.

O que impõe um desafio duplo:


1. Construir (democraticamente) os critérios, porém, sem impor
os limites de uso (sem censura);
2. Proteger-se do uso político de qualquer segmento com o
caráter autodestrutivo (notadamente, as fake news e as
campanhas de ódio).
Interatividade

As redes sociais, ingressando como um veículo de comunicação, e tendo visto o teor da


Constituição Federal para a comunicação social, pode-se dizer que:

a) Deve sofrer a censura.


b) Não pode sofrer nenhuma restrição.
c) Pode sofrer restrição do Supremo Tribunal Federal.
d) Pode sofrer limitação pelo gestor, contra o que é fake news.
e) Só o Superior Tribunal de Justiça pode impor limitações.
Resposta

As redes sociais, ingressando como um veículo de comunicação, e tendo visto o teor da


Constituição Federal para a comunicação social, pode-se dizer que:

a) Deve sofrer a censura.


b) Não pode sofrer nenhuma restrição.
c) Pode sofrer restrição do Supremo Tribunal Federal.
d) Pode sofrer limitação pelo gestor, contra o que é fake news.
e) Só o Superior Tribunal de Justiça pode impor limitações.
Referências

 BARBERO et al. Sistemas públicos de comunicação no mundo: experiências de doze países


e o caso brasileiro. São Paulo, Intervozes, 2009, p. 39.
 BUCCI, E. A TV pública não faz, não deveria dizer que faz e, pensando bem, deveria
declarar, abertamente, que não faz entretenimento. Fórum Nacional de TVs Públicas.
Caderno de Debates, 2006.
ATÉ A PRÓXIMA!

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