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Políticas Públicas
em Comunicação
Prof. Msc. Eduardo Pimenta
O direito à informação/comunicação
Ela diz respeito à vida em sociedade como um todo e tem a mesma importância da
economia, da administração, do universo jurídico, da política etc.
Radiodifusão (rádio e TV), no Brasil, atende a uma legislação que envolve a emissão de uma
outorga para o uso da concessão de canais. Veja:
Pior que isso, o nosso sistema se baseia, fortemente, em um modelo comercial de interesse
particular em vez daquilo a que chamaríamos de interesse público.
A comunicação na Constituição Federal de 1988
As empresas exploradoras (Sistema Globo de Rádio e TV, Record, SBT etc.) dependem da
sistemática renovação dessa concessão.
A Constituição de 1988 previu um modelo que combinasse três sistemas: público, privado e
estatal (não confundir público com estatal).
Mas a radiodifusão comercial é hegemônica no Brasil, e para muitos analistas isso ameaça a
consolidação da nossa democracia.
Uma enorme parte da população ainda enxerga o mundo por meio da radiodifusão.
E mesmo aqueles que navegam, livremente, pela internet dedicam a maior parte do tempo
ao fruto de políticas comerciais, a começar pelo fato de as próprias redes sociais serem
empresas privadas.
Os obstáculos críticos da sociedade dizem respeito à ausência de modelos.
Direito à comunicação de qualidade. Contradição com o próprio
espírito liberal.
A comunicação na Constituição Federal de 1988
1 – Elitista:
Forte ascensão europeia, oriunda da BBC;
Premissas iluministas, segundo as quais o conhecimento e a razão são fundamentais para o
entendimento e a inserção no mundo de maneira emancipadora;
Ao rádio cabia o papel de diminuir o abismo existente entre a riqueza cultural produzida pelo
homem em sua história e a população;
O rádio e, depois, a televisão se somavam aos
empreendimentos culturais responsáveis por gerar e
disseminar a riqueza linguística, espiritual, estética e ética dos
povos e das nações, no mesmo setor da sociedade em que
estavam as universidades, as bibliotecas e os museus, e a
população os reconhecia dessa forma, distante da esfera dos
negócios ou da política de partidos ou grupos.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais
A alta cultura e o conhecimento, objetos da mídia pública, envolviam aquilo que era
identificado como conteúdo relevante e associado aos padrões morais da “alta sociedade”.
Em se tratando de BBC, não se tratava de uma marca dela mesma, mas, sim, a influência
externa da sociedade, em um ambiente intelectual composto por valores, padrões e crenças
de uma classe média intelectualizada, especialmente, daquela parte educada em Oxford
e Cambridge.
No fundo, uma ideia muito forte embasava essa perspectiva: apenas essa elite tinha
condições de visualizar o pacote de conhecimentos necessários à população.
“A baixa aceitação às manifestações artísticas eruditas devia-
se ao seu desconhecimento, não à sua baixa atratividade”.
Temos, muitas vezes, essa presunção em relação à
programação erudita da TV Cultura de SP.
A comunicação na Constituição Federal de 1988
O primeiro diretor-geral da BBC, John Reith, revela um elitismo radicalizado ao afirmar que
os conhecimentos valorosos não são importantes, apenas, aos pobres de renda e de
formação, mas ao conjunto da população. Na sua avaliação, para o êxito de seu projeto a
mídia pública deveria informar, divertir e educar.
Assim, a elite política e cultural do Reino Unido impunha a sua visão de mundo sobre o povo,
opondo a sua concepção da política às artes e à cultura das camadas populares.
2 – Educativa:
Assim como a definição elitista, a educativa parte da premissa de que a mídia eletrônica
constitui um mecanismo fundamental de difusão de conteúdos à população;
Essa é a gênese do Public Broadcasting Service (PBS), dos Estados Unidos, bem como a
recente criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em nosso país;
Alternatividade e diversidade.
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais
“Enquanto os meios com fins lucrativos tratam a audiência como massa e, portanto, buscam o
gosto médio para que os seus conteúdos possam atingir a atenção do maior número possível
de pessoas, a televisão pública como alternativa deveria mirar na multiplicidade de públicos e
dialogar com as demandas informativas e culturais de cada um deles. Assim, a diversidade
aparece como um dos pilares dessa concepção”. (BARBERO ET AL., 2009, p. 33)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais
Experiências europeias e americanas: uma mídia feita para o público, devendo ter
independência, protegendo-se tanto das influências do mercado quanto do controle
do Estado;
Jesus Martín-Barbero (1937-2021) (2009) equipara uma “televisão pública de cultura” a uma
televisão pública de qualidade, que se caracterizaria por:
Para Barbero (2009), cultural é a televisão que não se limita à transmissão de cultura
produzida por outros meios, mas a que trabalha na criação cultural a partir de suas próprias
potencialidades expressivas – o que envolve não se limitar a ter uma faixa da programação
com conteúdo cultural, mas, sim, ter a cultura como projeto que atravessa qualquer um dos
conteúdos e dos gêneros.
7 – O caso brasileiro:
“A quase totalidade dos Estados criou a sua emissora, que passou a combinar os conteúdos
educativos (no sentido apresentado anteriormente), alguma programação cultural e jornalismo,
geralmente, subordinado aos gabinetes de governadores. A única emissora que, pelo menos
em discurso, alegava ter um projeto de independência era a TV Cultura, de São Paulo, mantida
pela Fundação Padre Anchieta e controlada por um conselho nos moldes europeus”.
(BARBERO ET AL., 2009)
Sistema Público de Comunicação: abordagens conceituais
O modelo trazido pela EBC aproxima-se daquela que compreende a mídia pública como um
espaço democrático necessário entre o mercado e o Estado.
A destruição pela qual passa o Estado de Bem-estar Social em várias partes do mundo,
concretizado após a Segunda Guerra Mundial, impacta as amplas redes de proteção da
sociedade, incluída, nelas, a comunicação pública.
Esse tipo de serviço, fundamental para o jogo democrático, é incompatível com as políticas
de “estado mínimo” implantadas em vários países a partir da ascensão dos governos
Reagan, nos Estados Unidos, e Thatcher, no Reino Unido.
Se até a saúde e a educação – entre outros aspectos importantes da vida – passam a ser
oferecidas como mercadoria, o que dizer da comunicação, que, simbolicamente, não é para a
sociedade uma necessidade básica como as outras?
A “Dama de Ferro” acreditou que mudaria o caráter público da BBC, que tinha, então, 60
anos de existência;
Não conseguiu;
Mesmo não sendo onerosa para o Estado, já que quem mantém a BBC é o público que a
sintoniza, o governo apostou no projeto de torná-la comercial, mantida pela propaganda;
Ao mesmo tempo, o debate inglês acabou fomentando uma atmosfera que ajudou a ampliar
a rede de TVs comerciais;
Por uma série de fatores (alguns explícitos, outros nem tanto), houve, praticamente, um
bloqueio secular no país pelo desenvolvimento de uma política pública de comunicação.
O bloqueio ao acesso a um rádio e, depois, a uma televisão, sem a publicidade, formou
gerações alienadas.
Para elas o modelo brasileiro era único. Durante anos, só quem tinha a possibilidade
de ouvir rádio no exterior se dava conta da existência de alternativas de formas
eletrônicas de comunicação.
Em outras palavras, não se formou, no Brasil, uma massa crítica capaz de exigir do Poder
Público a criação de emissoras de rádio e TV independentes da propaganda e dos governos.
Assim, o modelo comercial tornou-se hegemônico, apresentando-se à sociedade como
o único possível. A falta do exemplo alternativo, aliada à forte integração entre os
concessionários das emissoras comerciais e os demais meios de comunicação, impediu a
criação de um sentimento de apoio à comunicação pública na sociedade capaz de
defendê-la quando atacada.
No Brasil, com a EBC, o caráter público da empresa foi afetado através pela MP 744/16,
extinguindo o Conselho Curador (que era formado, até então, por 22 integrantes, sendo 15
indicados pela sociedade, quatro representantes do governo federal, um da Câmara dos
Deputados, um do Senado e um dos funcionários da empresa) e o mandato do diretor-
presidente da empresa.
Além disso, as audiências públicas realizadas em diferentes regiões do país permitiam uma
interação, ainda maior, do público com a gestão das emissoras da EBC.
Assim, hoje, apesar de haver uma resistência dos jornalistas e técnicos marcada pelo ethos
profissional, a empresa está, sempre, na mira do governo federal. Só não está mais porque
os veículos da EBC não têm tanto apelo quanto as emissoras comerciais.
A expectativa pela criação de uma rede nacional pública de televisão capaz de competir,
diretamente, com as redes comerciais nunca foi concretizada;
Lembrando que a redução das distâncias sociais não é, apenas, uma vontade baseada na
solidariedade, mas na lei.
Art. 170. da CF:
Não há democracia que possa ser considerada como tal em um país onde um pequeno
grupo de empresas comerciais controla, praticamente, toda a informação que circula em
seu território.
No mundo:
As maiores corporações de mídia do mundo e as suas respectivas receitas, segundo o Instituto
para Políticas de Mídia e Comunicação da Alemanha:
1. Comcast/NBC Universal/LLC (EUA) – € 40,1 bilhões;
2. The Walt Disney Company (EUA) – € 29,377 bilhões;
3. Google Inc. (EUA) – € 27,231 bilhões;
4. News Corp. (EUA) – € 23,998 bilhões;
5. Viacom Inc. (EUA) – € 20,948 bilhões;
6. Time Warner (EUA) – € 20,815 bilhões;
7. Sony Entertainment (Japão) – € 16,514 bilhões;
8. Bertelsmann AG (Alemanha) – € 15,253 bilhões;
9. Vivendi S.A. (França) – € 12,486 bilhões;
10. Cox Enterprises Inc. (EUA) – € 11,013 bilhões;
25. Rede Globo (Brasil) – € 4,7 bilhões. Fonte: Meio & Mensagem (2012).
A criminalização da política por esses meios se espalha por programações jornalísticas, de
entretenimento e, até, de humor.
Isso é novo; é a primeira vez que a fala do presidente da República dispensa intermediários,
sejam eles os canais oficiais de governo, imprensa, porta-voz ou qualquer outro caminho.