ESTUDO DIRIGIDO DE DIREITO CONSTITUCIONAL - 1ºbimestre/3ºPeríodo
Discentes: Louise Cristina Vieira e Robson Américo
A liberdade de expressão é um direito fundamental previsto na Constituição
Brasileira vigente (CF, 1988), expressa no artigo 5º, inciso IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato, mas em termos constitucionais tal proposição não é uma inovação. Historicamente, o Brasil teve anteriormente duas constituições republicanas e ambas já citavam o tema, a primeira datada de 1.891, trazia importantes disposições em relação à liberdade de expressão, em seu artigo 72 afirmava - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias, sendo que também estabelecia - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato, garantindo assim a liberdade de imprensa e de expressão. A Constituição de 1946, nossa segunda constituição republicana, afirmava no art.141 - a liberdade de pensamento, de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença", mas não de forma absolutamente inquestionável, pois previa algumas exceções, como por exemplo, a incitação à subversão da ordem política e social, a divulgação de informações falsas e a proibição de propaganda de guerra, e para este fim, a mesma constituição estabelecia que os meios de comunicação em massa deveriam ser regulados pelo Estado. Contudo é importante relembrar que no período do regime militar, que teve início em 1964 houve momentos de tensão entre a liberdade de expressão e a censura, pois os meios de comunicação que se opunham ao regime foram severamente controlados e cerceados, de modo que houve a revogação da Constituição de 1946 pela Constituição de 1967, que previa diversas restrições à liberdade de expressão. Diante das mudanças histórico sociais, a partir de 1988 com a nova Constituição Federal, numa época em que a abrangência dos meios de comunicação era limitada, o tema deixou de ser uma pauta em grande voga no cenário nacional, e entre os anos 90 e 2000, o Brasil não vivia um grande confronto de ideias que interferisse na paz social e nas decisões nacionais de modo significativo, sendo o rádio e a televisão os principais meios de comunicação e influência nas massas. No final do século XX, a revolução da informação já se consolidava e havia milhões de computadores conectados à internet, transformando para sempre o meio de transmissão de informações; já no século XXI, a revolução digital, consolidou novos meios de comunicação de modo que a influência sobre notícias, informações e divulgação do conhecimento científico, se tornou tamanha, a ponto de ser necessário problematizar o limites e perigos da liberdade de expressão, quando esta é utilizada para criar desinformação e contextos caóticos na esfera social. É interessante constar que o tema da liberdade, segundo Virgílio Afonso da Silva, em sua obra Direito Constitucional Brasileiro (2021), pode ser dividido em vários aspectos, liberdade geral de ação, liberdade de imprensa, liberdade de informação, liberdade de reunião, liberdade de locomoção, liberdade profissional, liberdade de associação… Todas essas facetas, relacionadas à liberdade de expressão humana. O atual panorama histórico vem delineando um novo padrão comportamental em sociedade, que se vale, especialmente, das redes sociais para formar opiniões e convicções, a liberdade de expressão na internet passou a ser problematizada, afinal, será que nesse início de século, a livre expressão virtual deve ser regulamentada? O debate é complexo, pois de certo modo estamos buscando um caminho entre liberdade de expressão e censura, afinal, embora os discursos de internet ocorram no território virtual, sua reverberação afeta a vida natural e cotidiana de titulares de direitos fundamentais. Podemos observar o quanto o terreno virtual influencia o território natural da convivência humana, reconhecendo os impactos do poder da comunicação em redes virtuais na política e comportamento de massa de vários países. É pela concretude dos resultados daquilo que ocorre no mundo virtual, que o debate sobre estabelecer limites para o discurso online, ou também, leis que protejam a liberdade de expressar opiniões e compartilhar informações, constituem um debate tão polêmico e necessário para o nosso tempo. Por um lado, existem debates que priorizam a regulamentação tendo em vista a corrupção da verdade dos fatos, a famosa preocupação com fake news, mas nessa seara a reflexão também exige um olhar aprofundado e de complexidade sobre as relações e estruturas sociais, afinal, quais seriam os critérios para avaliar a qualidade e precisão das informações, bem como a legitimidade de suas fontes? A quem caberia estabelecer tal filtro da verdade, que órgão, pessoa ou sistema poderia atingir níveis de imparcialidade antes questões políticas, ideológicas e que são permeadas de imprecisão por sua natureza filosófica? Em outra perspectiva, as polarizações baseadas em interpretações mui questionáveis que polarizam comunidades inteiras, não estariam minando a representatividade democrática? A reflexão sobre os limites e consequências da liberdade de expressão, desperta ainda a questão: Quem detém o monopólio da produção de sentido e de expressão no mundo social? Se por um lado a internet abriu caminhos para novas formas de ação política, ativismo e construção de identidades sócio-ideológicas, por outro lado, abriu largas portas para que o cidadão comum da comunidade virtual, perca a capacidade de entender e avaliar a realidade. Não há como se falar em liberdade de expressão na internet sem citar o Marco Civil da Internet, que aprovado em 2014, passou a estabelecer princípios, direitos e deveres para o uso da internet no país, a lei estabeleceu princípios como liberdade de expressão, neutralidade da rede, privacidade como garantias fundamentais para manter um ambiente democrático na rede, além possibilitar a responsabilização de provedores de internet e produtores de conteúdo virtual. O desafio de pensar a liberdade de expressão e tratá-la de forma legalmente adequada está posto, e se por um lado não cabe a um governo democrático ditar o que seus cidadãos pensam, também não cabe ignorar os males que os abusos da livre expressão podem causar nos indivíduos e nos grupos sociais, como norte, temos a Carta Magna de 1988, que determina em seu artigo 5º, direitos fundamentais - “ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).”
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