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PARÂMETROS PARA EQUILIBRAR LIBERDADE DE EXPRESSÃO, PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA

HISTÓRICA E DIREITO AO ESQUECIMENTO.

Primeiramente, estes termos fazem parte dos direitos fundamentais, ou seja, normas
pilares, que servem para promover a convivência social pacífica. Vivemos em uma sociedade
que sofre transformações, fazendo-se necessário a evolução de tais direitos, visto que estes
devem acompanhar as necessidades da sociedade, e tutelar os direitos fundamentais que
garantam a dignidade da pessoa humana. Estes institutos promovem repercussões na sociedade,
pois tratam de princípios relacionados a dignidade da pessoa humana. Ao proteger tais direitos,
promove-se a pluralidade, o acesso à informação, uma sociedade livre, buscando sempre o
equilíbrio e razoabilidade entre tais direitos para que não ocorra opressões.

Com a evolução tecnológica, tornou-se possível o maior acesso as informações,


muitas vezes sem qualquer tipo de controle. Assim, surge o conflito entre os direitos
fundamentais previstos e tutelados pela Constituição Federal, tais como o direito à liberdade de
expressão e informação, preservação da memória e o direito ao esquecimento, direitos
relacionados a personalidade e dignidade da pessoa humana.

Não há de se negar as diversas vantagens trazidas pela facilidade de acesso as


informações por meio da internet, contudo traz também algumas desvantagens como a grande
exposição das pessoas, ou trazer à tona questões passadas, expondo os envolvidos. Eis que surge
a preocupação em buscar parâmetros para equilibrar liberdade de expressão, preservação da
memória histórica e direito ao esquecimento.

Quando o tema se refere a liberdade de expressão, muitas são as polemicas, pois logo
surge questões como: o que é liberdade de expressão? Qual o limite desse Direito? Pode-se falar
tudo o que se quer?

CONCEITO DE LIBERDADE EXPRESSÃO

Como o próprio nome já sugere, liberdade de expressão é o ato de expor uma opinião,
um sentimento ou expressão sobre algo, ou seja, um direito de transmitir uma mensagem.
Considerado como um direito natural do ser humano, que nasce essencialmente livre, protegido
pela Constituição Federal, por ser um direito fundamental 1.

1
OLIVEIRA, Nara Fonseca de Santa Cruz et al. Direito ao esquecimento e liberdade de expressão:
posicionamento do STJ nos casos “Chacina na Candelária” e “Aída Curi”. 2017. Disponivel em:
http://tede2.unicap.br:8080/handle/tede/971 Acesso em 01 dezembro de 2021
Assim, Hannah Arendt conceitua que a “liberdade não é apenas um dos inúmeros
problemas e fenômenos da esfera política, tais como a justiça, o poder e a igualdade; ela é
motivo por que os homens convivem politicamente organizados. Sem ela, a vida política como
tal seria destruída de significado2”. Entende-se que a liberdade faz parte da sociedade, sendo
importante para a política, e para a formação social, fazendo parte de um direito fundamental e
inerente ao ser humano.

Assim de forma expressa, no art. 5º da norma maior: “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

[...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; VI - e
inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; IX - é
livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença; XIV - e assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Como também, reconhecido e resguardado pelo Pacto Internacional de Direitos Civis


e Políticos, adotado pela ONU, evidenciando desta forma a importância da liberdade de
expressão, e que esse direito deve ser resguardado.

Não se pode deixar de citar a frase: Discordo do que você diz, mas defenderei até a
morte seu direito de dizê-lo”, a frase não é fruto da sagaz sabedoria de Voltaire, conforme
alguns citam3”.

Evidentemente que o direito de falar, de se expressar é uma conquista mundial,


devendo ser amparado por fazer parte dos direitos fundamentais previsto na Constituição como
uma garantia básica para a dignidade humana individual e para o funcionamento da estrutura
democrática do Estado.

2
Arendt, H. (1981). A Condição Humana. Forense Universitária: São Paulo. Obra original publicada em
1958
3
A verdadeira autora da frase “voltairiana” é a escritora inglesa Evelyn Beatrice Hall, nascida em 1868,
que, com o pseudônimo S.G. Tallentyre, é autora de uma biografia do pensador francês chamada “Os
amigos de Voltaire”. O mal-entendido nasceu do fato de que Hall escreveu a famosa frase em seu livro
numa tentativa de sumarizar o pensamento do biografado. Desde então, obscureceu-se o detalhe de
que as palavras eram del... Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/discordo-do-
que-voce-diz-mas-8230/ Acesso em 28 de nov. de 2021.
QUAL O LIMITE DESSE DIREITO?

Muitos se perguntam qual o limite da liberdade de expressão, o direito de se expressar


livremente desde que não extrapole o bom senso. Ou seja, o limite será determinado onde se
inicia o direito do outro. Assim surge uma questão pode-se falar tudo o que se quer?

Portanto esse direito não é absoluto, não é lícito falar tudo o que se quer, devendo-se
respeitar os direitos a intimidade, honra e a imagem.

Atualmente o regime da sociedade é de Estado Democrático de Direito, antes as


imposições eram arbitrarias, conforme as lutas e as mudanças ocorridas alcançamos melhores
normas, acarretando o aprimoramento jurídico, com normas mais protetivas, como exemplo
temos o crime de difamação, a lei penaliza aquele que ao expressar opinião sobre alguém o
difama, atingindo a honra do mesmo.

Na Constituição Federal de forma expressa, há o tratamento sobre a restrição à


censura, em seu art. 220, caput “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado
o disposto nesta Constituição” e no § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,
ideológica e artística4. Ou seja, é vedada a censura, observando, contudo, a norma maior e os
limites legais.

Um dos limites imposto à liberdade de expressão pode ser verificado no art. 5°, inciso
II, da CF/1988, “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”, outro limite encontra-se no inciso V, do mesmo artigo “É assegurado o direito
de resposta proporcional ao agravo, além da indenização por dano moral ou à imagem”. No
código penal, também há limites ao tipificar como crime a calunia, a difamação e a injuria.

Portanto a liberdade de expressão limita-se o que dispõe a lei, não sendo o direito de
manifestação absoluto visto que, o mesmo não é maior que a Constituição Federal.

Esse tema atualmente, traz uma problemática quando relacionado com os meios
digitais. Pois a mídia possui e transmite informações capazes de ferir a dignidade da pessoa, sua
honra e sua imagem. Portanto, busca-se equilibrar e proteger o direito ao esquecimento e o
direito a liberdade de expressão, ambos os direitos são importantes para efetivação dos direitos
fundamentais. Contudo se houver uma restrição maior protegendo o direito ao esquecimento,
afeta-se os meios de comunicação que serão restringidos de atuarem e de divulgarem livremente
informações. Assim caso ocorra divergência entre tais direitos deve-se buscar a proteção de
ambos.

4
BRASIL. Constituição Federal, 1988. Disponivel em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em 29 de nov. de 2021.
Dessa forma, nenhum direito pode ser considerado absoluto e ilimitado, pois em caso
de divergência não haverá sobreposição de um sobre o outro, pois deve-se buscar o equilíbrio
entre esses direitos.

REFERÊNCIAS

RAMOS, Paula Costa et al. Os desafios de um possível método para proteger o direito ao
esquecimento quando em conflito com a liberdade de expressão nos meios veiculadores
de informação. 2018. Disponivel em: http://191.252.194.60:8080/handle/fdv/371 Acesso em:
01 de dezembro de 2021.

OLIVEIRA, Nara Fonseca de Santa Cruz et al. Direito ao esquecimento e liberdade de


expressão: posicionamento do STJ nos casos “Chacina na Candelária” e “Aída Curi”.
2017. Disponivel em: http://tede2.unicap.br:8080/handle/tede/971 Acesso em 01 dezembro de
2021

Arendt, H. (1981). A Condição Humana. Forense Universitária: São Paulo. Obra original
publicada em 1958

ARAÚJO, Natália Ramos Nabuco de. O DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO DIANTE DO


DISCURSO DO ÓDIO: UM FUTURO DE CENSURA OU DE DISCURSO LIVRE? 2017. Tese de
Doutorado. Universidade de Coimbra.

ALBINO, Cristiano Quaresma; et al. "Conhecendo o Direito e a Justiça": liberdade


de expressão. São Paulo, 25 nov. 2021. Coor. Camilo Onoda Caldas. Instagram:
camilo.onoda.caldas. Disponível em: https://www.instagram.com/camilo.onoda.caldas/.
Acesso em: 25 nov. 2021

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