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Liberdade de expressão e liberdade de imprensa

Carla Mereles

Algumas correntes filosóficas inspiradas em Hobbes consideram liberdade um valor negativo,


já que ela não é necessariamente a presença de algo, de um direito, de uma verdade. A liberdade é a
ausência de um valor: a impossibilidade de falar, de escrever, de se manifestar, de agir, de pensar. O
adjetivo “livre” seria, portanto, um estado do ser humano e não uma condição permanente – as
pessoas estão livres, e não são livres.
Valores que são muito caros à sociedade moderna, como a liberdade de expressão, surgiram
apenas durante a Revolução Francesa. Apesar das vivências terríveis de cerceamento desse direito
em ditaduras e momentos de autoritarismo, esses dilemas continuam existindo, com questões muito
contemporâneas envolvidas.
Fora isso, de vez em quando os jornais brasileiros e internacionais, fora os jornalistas,
clamam ter censurada a sua liberdade de imprensa. Corroborando, então, que a liberdade é um
estado – mesmo após anos de tradição e de luta pela liberdade de imprensa, ela é interceptada por
vezes e esse direito, interrompido.
Qual é, afinal, a diferença entre essas liberdades?

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A liberdade é um direito fundamental dos brasileiros, segundo a Constituição de 1988. No
artigo 5º, que dispões sobre as garantias e deveres individuais e coletivos, são considerados
invioláveis os direitos: “à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Quanto à liberdade de expressão, a Constituição garante a livre manifestação do pensamento
e a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
de censura ou licença. É também um direito assegurado na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1948, promulgada pela Organização das Nações Unidas.
É a partir da reivindicação desse direito que surgiram as democracias modernas, em que não
é permitida a censura a qualquer pessoa por parte do governo ou de qualquer entidade. Numa
democracia, a ideia é que haja pluralidade de pensamento e, consequentemente, a manifestação de
ideias, ideais e valores, levando a discussões e diálogos. Todas as vezes em que a liberdade de
expressão começa a ser restringida, a diversidade de pensamento é afetada diretamente e, assim,
começa a surgir o autoritarismo.

LIBERDADE DE IMPRENSA

A imprensa brasileira sofreu muito na mão do governo, historicamente. Por conta disso,
foram assegurados vários direitos relativos à informação, à liberdade e ao jornalismo na Constituição
de 1988:
• Nenhuma lei ou dispositivo pode vetar de qualquer forma a plena liberdade da informação
jornalística;
• É vedada toda censura – seja de natureza política, ideológica, artística.
• E é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo que tenha sofrido. Estão sujeitos
à indenização por dano material, moral ou à imagem.
A liberdade de imprensa é para veículos de comunicação o equivalente ao que a liberdade de
expressão significa a uma artista. Não há como exercer os fundamentos do jornalismo e da
comunicação em geral sem ampla e irrestrita liberdade em fazê-lo. O jornalismo deve atender à
sociedade civil ao noticiar, informar, denunciar, escrever, detalhar tudo aquilo que é ou pode vir a ser
de interesse público.
A liberdade de imprensa é importante para toda a sociedade, porque veículos de comunicação
devem ser capazes de denunciar e dar informações sobre escândalos de empresas estatais em seus
jornais, sem que o governo os censure; da mesma forma, falar sobre lobby e irregularidades
promovidas por empresas privadas. Assim como devem ter soberania investigativa e trazer à tona
questões invisíveis, outras perspectivas e ser o mais honestos possível nas suas publicações.
Portanto, tem também o dever profissional de ouvir o máximo de versões possíveis dos fatos,
entrevistar o máximo de fontes necessárias – não apenas as “oficiais”, como o governo – e reportar
seu lado com a honestidade inerente à atividade jornalística. Porém, só consegue fazê-lo se for livre.

POR QUE A LIBERDADE DE IMPRENSA É IMPORTANTE?

“Nenhuma democracia sobrevive sem uma imprensa livre e nenhuma ditadura


sobrevive com uma imprensa livre.” – Jorge Pedro Sousa

A principal função do jornalismo é agir em prol da sociedade, tendo um compromisso único


com o interesse público. Uma imprensa séria fornece as informações, os fatos, as verdades
necessárias para que o público tire suas próprias conclusões e se “autogoverne” – expressão dos
jornalistas e teóricos Bill Kovach e Tom Rosenstiel. A ideia de liberdade de imprensa deriva dos
Estados Unidos da América, que valoriza muito a questão. Prova disso é que a primeira emenda da
Constituição estadunidense proíbe qualquer censura e sanção tanto à liberdade de imprensa, como à
de expressão.
Cabe à imprensa, livre, ser a voz dos “sem voz”, de denunciar irregularidades e injustiças. De
buscar aquilo que nem sempre está às claras e, para isso, precisará investigar. Sem liberdade em
contrariar interesses, seja de pessoas importantes, de empresas poderosas ou de governantes, o
jornalista não conseguirá exercer essa parte da sua função profissional.

REFERÊNCIA

MERELES, Carla. Liberdade de expressão e Liberdade de imprensa: diferenças.


Disponível em: https://www.politize.com.br/liberdade-de-expressao-liberdade-de-imprensa/.
Acesso em: 03 sep. 2023.
Excertos da CF (1988) acerca de liberdade de expressão e liberdade de imprensa

TÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
[...]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional;
* * *
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º,
IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

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