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Liberdade de Imprensa X Liberdade de Expressão

por ACS — publicado há 3 anos


Ambos são considerados como direitos fundamentais, garantidos pelo artigo 5 o de nossa Constituição
Federal. Todavia, há algumas distinções a serem consideradas.
A liberdade de imprensa decorre do direito de informação. É a possibilidade do cidadão criar ou ter
acesso a diversas fontes de dados, tais como notícias, livros, jornais, sem interferência do Estado. O
artigo 1o da Lei 2.083/1953 a descreve como liberdade de publicação e circulação de jornais ou meios
similares, dentro do território nacional.
A liberdade de expressão está ligada ao direito de manifestação do pensamento, possibilidade do
indivíduo emitir suas opiniões e idéias ou expressar atividades intelectuais, artísticas, científicas e de
comunicação, sem interferência ou eventual retaliação do governo. O artigo 19 da Declaração Universal
dos Direitos Humanos define esse direito como a liberdade de emitir opiniões, ter acesso e transmitir
informações e ideias, por qualquer meio de comunicação.
Importa ressaltar que o exercício de ambas as liberdades não é ilimitado. Todo abuso e excesso,
especialmente quando verificada a intenção de injuriar, caluniar ou difamar, pode ser punido conforme a
legislação Civil e Penal.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material,
moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional;
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma,
processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação
jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e
XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza
deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre
inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de
programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará
sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que
necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
§ 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou
oligopólio.
§ 6º A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade.
Lei no 2.083, de 12 de novembro de 1953.
Art 1º É livre a publicação e a circulação no território nacional de jornais e outros periódicos.

O conteúdo disponibilizado nesta página diz respeito à legislação em vigor na época da publicação.
O que é liberdade de imprensa?
A liberdade de imprensa garante que jornalistas possam investigar e publicar informações livremente,
possibilitando o acesso à informação ao povo, conforme o art. 5 da Constituição Federal.
A rigor, a velha liberdade de imprensa foi superada pela liberdade de informação jornalística com a
Constituição Federal de 1988, já que não há limitação ao veículo impresso, mas compreende-se qualquer
forma ou veículo de comunicação social em matéria de jornalismo. Contudo, como aquele termo ainda
guarda um uso bastante arraigado na sociedade, utilizaremos ambos os conceitos como sinônimos.
A liberdade de imprensa foi juridicamente tutelada como fundamental, pela primeira vez, na 1ª Emenda
da Constituição Estadunidense, inaugurando a chamada Bill of Rights. Ali, previu-se que o Congresso
dos Estados Unidos:
Não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibir o livre exercício dos cultos, ou
cercear a liberdade de expressão, ou de imprensa, ou o direito do povo se reunir pacificamente e de
dirigir ao governo petições para a reparação de seus agravos.”
No Brasil, a Constituição de 1988 reservou a liberdade de informação jornalística no rol de direitos
fundamentais, dedicando-lhe os incisos IV, V, IX, XII e XIV do artigo 5º para sua disciplina.
Isso significa que a liberdade de imprensa possui aplicabilidade imediata, independente de lei
infraconstitucional, e é protegida contra alterações da Constituição e as causas que lhe disserem respeito
poderão ser apreciadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Saiba mais sobre direitos e garantias fundamentais.
Mas o legislador constituinte foi além e dedicou um capítulo inteiro, nos artigos 220 a 224, para ampliar
a densidade normativa da comunicação social. Dessa interpretação sistemática, extraem-se alguns
princípios básicos que regem o exercício da liberdade de imprensa.
Quais os princípios básicos da liberdade de imprensa?
Primeiramente, respeitados os limites impostos pela Constituição, as formas de comunicação não
sofrerão restrições quanto ao processo ou veículo de divulgação. Igualmente, nenhuma lei pode
constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística. É o que dispõe o art. 220, caput e
§1º, da Lei Fundamental.
Em terceiro lugar, é vedada qualquer forma de censura de natureza política, ideológica ou artística, seja
previamente ou a posteriori. É dizer, portanto, que não cabe a intervenção proibitiva, que impeça a
divulgação da matéria, por motivos extrajurídicos e que se baseiem na qualidade moral do conteúdo
apresentado. A garantia está positivada no art. 220, §2º, da Constituição.
Como quarto princípio temos que a publicação em forma impressa ou digital independe de licença de
autoridade. Apenas os veículos de radiodifusão e televisão, por serem meios de comunicação de
titularidade do Estado, dependerão de autorização, permissão ou concessão do poder público para serem
operados.
Importância da liberdade de imprensa
A preocupação do constitucionalismo com a liberdade de imprensa não é supérflua. Pelo contrário, o
povo reconheceu que ela é necessária para a construção de uma sociedade livre e justa, capaz de
enfrentar com consciência os desmandos dos poderes constituídos.
Embora todos os direitos fundamentais se direcionem para a limitação do poder da autoridade, a
liberdade de imprensa ocupa um protagonismo nessa função. Somente quando temos acesso aos
acontecimentos do mundo podemos exercer um juízo sobre ele. Apenas quando temos em mãos, por
fontes confiáveis, a certeza sobre os erros e abuso do poder político ou social, podemos nos insurgir
contra ele.
Com efeito, a história já nos mostrou como períodos autoritários tendem a descredibilizar a imprensa,
colocando-a como inimiga pública, sobretudo quando os jornalistas passam a divulgar resultados
críticos desse ou daquele governo. Como anotou Steven Levitsky, autor do best-seller “Como as
democracias morrem”, um dos primeiros sintomas de falência democrática sobre uma nação é o
desprezo aos veículos de comunicação e à liberdade de imprensa.
Daí porque a doutrina majoritária, como José Afonso da Silva, considera a liberdade de informação
também como um dever dos agentes de comunicação, integrantes de um direito maior: o direito do
povo de ser informado.
Afinal, é o povo quem tem o direito a consumir informação independente e qualificada de diversas
fontes, a fim de que possa exercer seu exame sobre a vida pública. A liberdade de imprensa é apenas
uma ferramenta para que isso ocorra.
Para que isso aconteça, contudo, a liberdade de informação jornalística não pode ser absoluta, mas deve
respeitar as fronteiras internas e externas, previamente estabelecidas pela Constituição.
Quais os limites da liberdade de imprensa?
Embora a liberdade de imprensa seja essencial à natureza de um Estado livre, deve haver limitações.
Toda pessoa tem um direito individual a colocar diante do público suas opiniões, porém, se publicar ou
veicular algo que é impróprio, malicioso ou ilegal, deve assumir a consequência de sua própria
temeridade. Nenhum direito é absoluto, por mais fundamental que seja.
Assim, as informações, opiniões e críticas jornalísticas encontram limitações para o seu exercício. São
elas:
 a vedação do anonimato;
 a preservação dos direitos de personalidade, entre os quais se incluem a honra, a imagem, a
privacidade e a intimidade;
 a garantia do direito de resposta e reparação;
 a vedação de veiculação da crítica jornalística com intuito de difamar, injuriar ou caluniar a
pessoa.
 o compromisso ético com a informação verossímil.
Convergindo com este entendimento, o TJRS caracteriza a abusividade do direito sempre que a
publicação tiver teor pejorativo, ou quando trouxer informações manifestamente inverídicas, com anseio
de ofender a imagem e o conceito da pessoa perante a sociedade. (Apelação Cível n. 70075324640;
Sexta Câmara Cível; Rel. Elisa Carpim Corrêa; Red. Niwton Carpes da Silva, j. em 06/04/2018).
Deveres da imprensa
Dessas limitações, extraem-se três deveres internos à liberdade de imprensa: o dever de cuidado, o
dever de pertinência pública e o dever de veracidade. Ultrapassada as limitações ou violados os deveres,
haverá ato ilícito, com a consequente reparação no caso de dano.
Nesse sentido foi o voto do ministro Carlos Ayres Britto, por ocasião do julgamento da ADPF 130,
sobre já antijurídica Lei de Imprensa:
…A Lei Fundamental do Brasil veicula o mais democrático e civilizado regime da livre e plena
circulação das ideias e opiniões, assim como das notícias e informações, mas sem deixar de prescrever
o direito de resposta e todo um regime de responsabilidades civis, penais e administrativas. Direito de
resposta e responsabilidades que, mesmo atuando a posteriori, infletem sobre as causas para inibir
abusos no desfrute da plenitude de liberdade de imprensa.
Quando partimos para a prática do setor comunicação nacional, é muito comum a colisão entre o
princípio da liberdade de imprensa e os direitos da personalidade (imagem, honra e nome), indicada
acima como a segunda limitação.
A título de exemplo, lembre-se do Caso da Escola Base, ocorrido em São Paulo, em 1994. Nessa
ocasião, os proprietários e alguns funcionários de uma escola infantil foram injustamente acusados de
prática de abuso sexual com crianças, com intensa publicação dos veículos de comunicação. Sucede
que, posteriormente, a história foi comprovadamente desmentida.
Diversas ações de reparação foram propostas em face das emissoras de televisão, incluindo o SBT,
condenado a pagar indenização de R$ 100.000,00 (cem mil reais) por autor da demanda (STJ, Resp.
n. 1.215.294 – SP; Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva; 3ª Turma; j. em 17/12/2013).
No entanto, o dano social jamais fora recuperado. Em razão de um jornalismo sanguinário e
inconsequente, descompromissado com seus deveres, a dita escola precisou abandonar a operação
econômica, seus proprietários tiveram de se esconder da vida pública e funcionários ficaram
desempregados. O uso irrestrito da liberdade de imprensa causou profundas cicatrizes de diversas vidas.
Justamente porque os meios de comunicação constituem poderosos instrumentos para a formação da
opinião pública, os jornalistas e demais profissionais da área têm o dever de informar os
acontecimentos à coletividade, de modo objetivo, sem lhes alterar a verdade ou esvaziar o sentido
original. Do contrário não haverá informação, mas desinformação.
Qual a diferença entre liberdade de imprensa e liberdade de expressão?
Um direito fundamental imediatamente relacionado à liberdade de imprensa é a liberdade expressão.
Em verdade, ambas são espécies da liberdade de comunicação em sentido amplo, mas é preciso dar-
lhes uma distinção.
Inicialmente, a liberdade de expressão (positivada na Constituição como liberdade de manifestação do
pensamento) é um direito fundamental endereçado a todas as pessoas em território nacional, não apenas
àquelas detentoras de meios de comunicação.
Nos termos do art. 5º, inciso IV, da Constituição, é livre a expressão do pensamento, sendo vedado o
anonimato. Sua função não é tanto formar e influenciar a opinião pública, mas dar as condições para a
que o povo possa manifestar suas ideias, compreendendo que essa é uma capacidade inerente à
dignidade da pessoa humana.
Da interpretação constitucional, extrai-se que a expressão do pensamento é um pressuposto para uma
vida digna.
A manifestação do pensamento é acompanhada também por uma dimensão negativa, qual seja, o direito
de tê-lo em segredo, recolhendo-o na esfera da intimidade. Assim, se é livre a expressão, também o é o
silêncio.
Dessa conclusão se extrai que ninguém pode ser obrigado a manifestar opinião que conflita com sua
crença religiosa, ou convicção política ou moral. No avanço do constitucionalismo, o direito a ficar
calado foi incorporado na Constituição como direito subjetivo autônomo, quando do inciso LXIII,
do artigo 5º, em especial enquanto garantia do preso.
Sobre o tema, destaca-se importante julgado da Suprema Corte dos EUA (caso West Virginia Board of
Education vs. Barnette). Ainda em 1943, uma lei estadual que compelia os estudantes de uma escola
pública a entoarem o hino nacional foi declarada inconstitucional.
A fundamentação se baseou na proibição do Estado em impor opinião a respeito de tema político ou
confessional, mas sobretudo na liberdade de expressão em uma dimensão muito preciosa: a liberdade de
não se expressar.
Por fim, a liberdade de expressão não é irrestrita. Tal como a liberdade de imprensa, compartilha a
vedação do anonimato e a garantia do direito de resposta e da reparação pelo dano à imagem, ao nome
ou à honra, de forma proporcional. A fundamentação é o mesmo artigo 5º, incisos IV e V, da
Constituição.
Dessa forma, embora a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa estejam agrupadas sob o
denominador comum da comunicação, suas finalidades são distintas na ordem constitucional.

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Liberdade de imprensa e as fake news
Desde a eleição estadunidense de 2016, o termo fake news ganhou relevância político-jurídica, em
especial no âmbito da liberdade de informação jornalística. Isso porque, como foi posteriormente
comprovado no escândalo da Cambridge Analytica, o uso de uma estratégia de gestão de dados aliada a
notícias fraudulentas foi determinante para eleição do Presidente Donald Trump.
Fake news, a partir de então, tornou-se um conceito. Mais que notícias falsas, são informações
fraudulentas, capazes de enganar os destinatários quanto à percepção da realidade. As fake news,
ainda, possuem uma estratégia mais ampla, com efeitos econômicos, sociais ou políticos, como anota
Pedro Andrade Guimarães Filho, advogado cuja dissertação de mestrado é leitura inaugural da temática.
Nesse cenário, as redes sociais desempenham um importante papel na difusão de fake news, já que
operam através de uma engenharia construída de forma similar à uma câmara de eco: quanto mais
pessoas espalham as informações, mais recorrentes elas se tornam, contribuindo para construir uma
fachada de veracidade.
Mas há ferramentas de combates à fraude, ao ardil e à mentira. Justamente a imprensa livre e
democrática exerce a função de combate fake news através do jornalismo comprometido com a verdade
e passível de prestação de contas pelo conteúdo que veiculam. Combate-se a desinformação com
informação.
Nesse contexto, diversas agências de fact checking, vinculadas ou não às mídias tradicionais, emergem
para validar ou refutar as mensagens que circulam nas redes sociais e influenciam a opinião pública.
Essas iniciativas são cruciais para jogar luz.
Eis aí a principal distinção entre a imprensa séria e as informações veiculadas pelas mídias sociais: a
primeira tem condições de responder pelos danos eventualmente causados a terceiros, enquanto a
segunda é descompromissada com seus efeitos negativos à sociedade.
Logo, é impossível confundir liberdade de imprensa com fake news. Onde há disseminação de
notícias fraudulentas, não há liberdade de informação, mas desinformação dolosa. As fake news, assim,
são verdadeiras ameaças ao direito fundamental de ser informado, titularizado por todo cidadão e que
estrutura a sistemática de liberdade de comunicação.
Leia também: compartilhar fake news é crime?
Conclusão
Como foi exposto, a liberdade de imprensa é um valor muito precioso para o regime democrático,
sendo ferramenta para tolher abusos e desmandos da autoridade, na medida em que influencia na
opinião pública. Por este motivo recebeu o mais elevado status na ordem jurídica: a natureza de direito
fundamental.
Para que permaneça cumprindo a missão a que foi designada, contudo, a liberdade de informação
jornalística deve observar seus limites pré-estabelecidos no texto constitucional.
Viu-se como a liberdade de imprensa não se confunde com a liberdade de manifestação do pensamento.
Por ter carga normativa mais densa e maior proteção contra intervenções, a liberdade de informação
ativa é titularizada pelos agentes de comunicação social na seara jornalística, ao passo que liberdade de
expressão é direito de toda a pessoa em território nacional.
Finalmente, o contexto atual apresenta um enorme perigo para direito de ser informado: a disseminação
de fake news (notícias fraudulentas). Conforme foi apontado, acredita-se que a única maneira de
frear essa ameaça à democracia é a com mais informação séria e comprometida. Nesse momento
sensível, é preciso prestigiar o jornalismo criterioso e responsável por seus atos.

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