Você está na página 1de 14

O Direito De Ser Esquecido E O Mundo Virtual

Autor: Marcos Antônio Duarte Silva

Doutorando em Ciências Criminais, Mestre em Filosofia


do Direito e do Estado, Especialista em Filosofia
Contemporânea, Especialista em Direito Penal e
Processor Penal, Bacharel em Direito, Licenciatura em
Filosofia, Bacharel em Teologia, Professor Universitário.

Resumo: O direito tem como base principal a garantia de preservação da vida


humana quer seja individual ou coletiva, primando pelo fundamento de proteção
e respeito a privacidade impedindo a censura das informações e celebrando
através do contrato legal a liberdade pessoal de cada indivíduo, para tanto não
pode abrir mão de princípios basilares, como dignidade humana, direito ao sigilo,
direito à privacidade, bem como a liberdade da escolha, todos eles assegurados
tanto nos Direitos Humanos, como na Constituição Federativa Brasileira, e frente
a este fato inconteste, a de se perguntar, como isso será possível, através do
lançamento febril, dos dados na internet, e por extensão o Google, que registra
tudo, deixando a cada pessoa exposto em várias formas e sentido, desde um
simples endereço, como até sua ficha médica e por aí vai, além destas, há
também uma mini biografia imposta através desta alimentação do sistema
internet, perigoso quando por exemplo a pessoa quer recomeçar e esquecer o
que já passou, começando uma vida nova.
Palavras Chaves: Imprensa. Constituição. Direito. Privacidade. Censura.

Abstract: The law's main basis is to guarantee the preservation of human life,
whether individual or collective, prioritizing the foundation of protection and
respect for privacy, preventing the censorship of information and celebrating,
through a legal contract, the personal freedom of each individual, to this end
cannot give up basic principles, such as human dignity, the right to secrecy, the
right to privacy, as well as freedom of choice, all of which are guaranteed both in
Human Rights and in the Brazilian Federative Constitution, and in view of this
undisputed fact, the ask yourself, how this will be possible, through the feverish
release of data on the internet, and by extension Google, which records
everything, leaving each person exposed in various forms and meanings, from a
simple address, to their medical record and so on, in addition to these, there is
also a mini biography imposed through this internet system feed, dangerous
when, for example, the person wants to start over and forget what has already
happened, starting a new life.

Key Words: Press. Constitution. Law. Privacy. Censorship.


Sumário: Introdução; 1. A CF e a censura; 2. O direito da imprensa de noticiar;
3. O direito de privacidade; 4. O direito de ser esquecido; Conclusão.

Introdução

A atualidade tem trazido alguns fenômenos sociais que suplantam o


entendimento ou a compreensão humana. As pessoas de uma maneira geral
querem ser lembradas, algumas fazem verdadeiras manobras para que isso
possa ocorrer imaginando que a fama traz consigo o reconhecimento e com ele
um mundo inteiramente novo, cheio de oportunidades e glamour. É certo que
todo esse reconhecimento traz consigo um preço alto que ao ser experimentado,
muda à visão das pessoas em relação a esta ideia de serem lembradas.

Por conta deste frenesi de estarem em evidência às pessoas buscam


desesperadamente estar na mídia, nos chamados blogs (de fofoca), em
programas que tratam das chamadas “personalidades”, enfim em qualquer canal
que busque exaltar, apresentar, enfocar pessoas “famosas”.

Enquanto tudo corre bem, se divulgando as façanhas, conquistas, aventuras


positivas quase todos apreciam, mas quando algum problema surge, quando
uma prática condenada pela sociedade é praticada, quando a pessoa é pega
praticando um crime, quando é condenada por um delito, na mesma proporção
que levaram informações que exaltavam o envolvido, a mesma ou até com maior
velocidade será divulgado os atos ruins e criminosos.

Há outra ponta que precisa ser enfatizada daqueles que não buscaram a fama,
nem este pseudo reconhecimento e que tiveram suas vidas ceifadas pela
comunicação da imprensa que para conseguir a informação, não se prima pela
fonte veraz, pela precisão da notícia, mas sim por indicadores que coloquem
alguma notícia bombástica para no final vender notícias, conseguirem
patrocinadores, alcançarem mais leitores.

Numa sociedade guiada pelo direito, tentando a todo custo fazer valer os direitos
individuais, coletivos há de se traçar limites definidos para que toda a conquista
conseguida através de um longo caminho não possa ser deixada de lado por
práticas nefastas.
A esta altura é importante se perguntar o que é permitido pela lei, o que a
contraria, e o que ultrapassa os limites postos pela Constituição Federal e as
demais leis ordinárias?

1. A Constituição Federal e a censura

Há sem dúvida nestas considerações que sopesar a questão da censura, pois,


se por um lado existe a imprensa e o direito de expressão celebrado na C.F há
no outro polo o Direito a Privacidade. Desta feita em termos legais é importante
salientar que esta exposição pode atravessar alguns institutos exarados na CF
que permeia toda função social, assim é importante lembra que:

O direito de ser esquecido está na fronteira entre a liberdade de expressão e


a luta por privacidade. Longe de ser ato de censura ou desejo de reescrever
a história, o que está em jogo é a verdade dos fatos. Afinal, nesta era digital
onde nossas informações pessoais valem ouro, devemos ter o direito de
remover dos buscadores (não somente do Google) aquilo que não representa
a verdade e possa vir a afetar nossa vida negativamente.
(http://fernandafav.jusbrasil.com.br/noticias/120463329/direito-de-ser-
esquecido).

Outrossim, cumpre relembrar que este é um terreno por demais perigoso, e


consideravelmente já experimentado aqui no Brasil, que é a censura vivida em
um período onde tudo tinha que passar por um crivo nem sempre muito claro
que censurava por critério duvidoso e sem necessidade de explicações sobre os
porquês. Assim peças teatrais, filmes, jornais, jornalistas e toda forma artística
ou de cunho de produção humana estava à mercê deste censor. Por conta de
avançar deste período onde absolutamente tudo estava sob esta supervisão, a
CF assim estabeleceu:

Art. 220 - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§1°. Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena
liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação
social, observado o disposto no art.
5°, IV,V,X,XIII e XIV.
§ 2°. É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e
artística.
O texto legal não deixa margem a dúvidas nem a interpretações equivocadas, a
censura no Brasil está banida de forma definitiva, ou até enquanto existir a
CF/88. É evidente que o texto constitucional vem corrigir o abuso praticado não
muito distante no país e é evidente também que a ausência de censura
proporciona verdadeiramente um Estado Democrático de Direito trazendo a
lume, ou pelo menos tendo que trazer tudo à transparência sem esconder nada
para que todos da população saibam o que se está sendo feito e principalmente,
como se está cuidando da coisa pública.

Neste ponto há um problema perigoso e de difícil solução, se não há censura,


se tudo pode ser exposto, se os jornalistas e imprensa têm livre acesso a todas
as informações, isto significa pensar que não há limites para o que se possa
publicar, tratar, falar ou divulgar, noticiar?

Esta possibilidade aparentemente proporciona um poder ilimitado e que sem o


devido freio pode prejudicar, acabar com figuras públicas, e pessoas comuns do
povo. Há algum limite para produção das notícias, da publicação, dessa
exposição?

A lei vem para coibir esta exposição sem limites impondo determinados freios e
condições para publicação, notícias na apresentação de determinados casos.
Mas veja-se o que a própria lei determina quanto à divulgação das fontes:

CF, art. 5, XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e


resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao sigilo profissional.

Não é papel da Lei resguardar informações que fuja da verdade ou promova a


falsidade da notícia, pelo contrário, o sigilo da fonte não pode servir de desculpas
para impor um sentido que a norma não pretende construir e estabelecer qual
seja uma liberdade que beire a libertinagem, um sem limite e aproveitamento
para dispor de tudo e contra todos sem qualquer parâmetro.

A providência responsável ao transmitir a notícia e servir a população deve calcar


qualquer órgão da imprensa séria e comprometida em ser respeitada como fonte
de informação, nada menos do que isso se pode esperar dos meios de
comunicação. Caso isso seja contrário, o desrespeito, a não importância ao
jornalismo sério, à lei deve tomar medidas que iniba e traga responsabilidade
séria para impedir outros meios de transformar em notícia assuntos que esteja
no âmbito da individualidade e respeito à privacidade da pessoa.
Além da imprensa escrita e televisiva hoje tem que se lidar também com as redes
sociais que tem se transformado em um noticiário duvidoso e perverso quando
se trata de macular, dilapidar a vida das pessoas públicas. Como ainda não há
uma clara definição do que se é permitido ou não, se navega sem o mínimo de
respeito e pudor publicando sem critério algumas informações até caluniosas
sobre assuntos, pessoas, e atos governamentais ou como se pôde ver nas
eleições de forma a tentar criar um ambiente de ódio, de desrespeito, de divisão
e preconceito.

Há muitos que defendam esta prática alegando que é melhor este tipo de
liberdade do que a volta da censura, mas há de se pensar como fica a vida de
uma pessoa após ser divulgado algo sobre sua vida que seja falso, destituído de
verdade e sem base. Como pode uma pessoa que teve sua vida exposta
recuperar o prestígio e respeito após sua vida ser exposta na internet, na mídia?

Assim cumpre definir a título de compreensão o que é jornalismo sério e


respeitoso e qual o papel que a lei deve exercer nestes momentos. Para tanto
urge conceituar o que vem a ser censura?

Censura é uma palavra com origem no latim censura que significa o ato ou
efeito de censurar. Censura também pode ser sinônimo de repreensão ou
reprimenda. Além disso, a censura é uma conhecida forma de restrição da
liberdade e do conhecimento, normalmente exercida por um regime ditatorial.
( http://www.significados.com.br/censura/ )

Como se pode notar censura assume também a ideia de “restrição da liberdade”,


o que para um Estado com pretensão de ser de Direito foge e muito de sua
característica principal.

Destarte ao visualizar este conceito não se pode olvidar a linha tênue entre a
liberdade de divulgar para não se classificar de censura o que se noticia e a
liberdade individual e pessoal que o ser humano tem de ter garantido em seu
direito assegurado frente à exposição certa que ocorre quando seu nome e vida
são apresentados ao público.

Outrossim, é de suma relevância se buscar compreender que nem tudo pode ser
exposto sem haver prejuízo da pessoa envolvida na notícia. Por isso é singular
verificar o que a lei garante tanto àqueles que exercem seu ofício de noticiar
como ao cidadão que pode ter sua vida exposta.

2. O direito da Imprensa de noticiar

A Constituição Federal celebra o livre exercício do direito de expressão nos


seguintes termos do “art. 5, IX – é livre a expressão da atividade intelectual,
artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou
licença; [...]”.

Desta feita a Carta Magna consolida o direito da imprensa televisiva ou escrita


de se expressar livremente sem a condição de censura, ou seja, sem precisar
antes de publicar apresentar a um censor o teor do que vai ser noticiado para
verificar se pode ou não ser levado a público.

Aparentemente este exercício parece estar livre de qualquer restrição e controle,


mas vejamos o que a lei fala sobre responsabilidade com as informações
prestadas.

Não se desconhece que, em se tratando de matéria veiculada em meio de


comunicação, a responsabilidade civil por danos morais exsurge quando a
matéria for divulgada com a intenção de injuriar, difamar ou caluniar terceiro.
Além disso, é inconteste também que as notícias cujo objeto sejam pessoas
notórias não podem refletir críticas indiscriminadas e levianas, pois existe
uma esfera íntima do indivíduo, como pessoa humana, que não pode ser
ultrapassada. De fato, as pessoas públicas e notórias não deixam, só por
isso, de ter o resguardo de direitos da personalidade. Apesar disso, em casos
tais, a apuração da responsabilidade civil depende da aferição de culpa sob
pena de ofensa à liberdade de
imprensa.(http://www.academia.edu/3081812/Responsabilidade_Civil_da_I
mprensa_por_dano_moral_uma_leitura_civil
constitucional_do_dever_de_indenizar_face_os_direitos_da_personalidade_
e_a_liberdade_de_express%C3%A3o)

O texto exarado demonstra que há responsabilidade quando se noticia e


transmite informações sobre pessoa pública ou não e esta é de muita valia uma
vez que pode mudar o curso da vida do cidadão tornando impossível sua
convivência social no ambiente de trabalho, cidade e família. O cuidado tem que
ser exercido a todo custo para não haver prejuízo em detrimento apenas da
notícia, é bom ter em alta que o ser humano objeto da notícia tem após seu nome
vinculado que poder continuar tendo uma vida normal e sem acusações.
Mas enfim o que a imprensa pode ou não trazer como notícia? Qual o limite da
informação?

Para que se possa explorar e contemplar este tema com a devida vênia cumpre
apresentar o que se espera do jornalismo há para tanto um Código de Ética dos
jornalistas FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas, 2010) encontram-se os
dispositivos que remetem na obrigação de relatar apenas a verdade:

Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um


direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido
por nenhum tipo de interesse, razão por que:
I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de
comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de
seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas
empresas;
II - a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade
dos fatos e ter por finalidade o interesse público.
Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato
dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos
e na sua correta divulgação.
Art. 7º O jornalista não pode:
II - submeter-se a diretrizes contrárias à precisa apuração dos
acontecimentos e à correta divulgação da informação;
Art. 12. O jornalista deve:
VI - promover a retificação das informações que se revelem falsas ou inexatas
e defender o direito de resposta às pessoas ou organizações envolvidas ou
mencionadas em matérias de sua autoria ou por cuja publicação foi o
responsável;

O Código de Ética exposto demonstra o compromisso com a verdade, com a


informação correta, e precisa e mesmo que seja fatos que se possa demonstra-
lo sem nenhuma dificuldade se houver necessidade de confrontação.

É certo e importante se verificar da importância da imprensa, pois cabe a ela


trazer a tona temas importantes e relevantes para comunidade e sociedade, sem
que seja barrada podendo assim expor de maneira inconteste as notícias que
contribuirão para formação de opinião. Porém é de suma importância não perder
de vista que uma informação imprecisa, incorreta, leviana, pode ocasionar
problemas quase que impossíveis de se sanear no futuro.

E aqui cumpre notar a questão da privacidade que não pode deixar de ser
perseguida como forma de respeito à pessoa humana. A notícia a qualquer
custo, a qualquer preço certamente ocasionará em problemas para aquele que
foi o sujeito da informação.

A título de exemplo e consideração sobre a importância de haver freios para


manter coeso o exercício da imprensa e os direitos fundamentais é de bom tom
lembrar:

Os meios de comunicação social conseguem com a informação que oferecem


que a sociedade fome uma opinião do acusado, condenatória ou absolutória
segundo o caso, antes de haver sido ditado a sentença. Esta publicidade é
totalmente adversa ao bom andamento do processo penal e põe em dúvida
o direito à presunção de inocência e o direito a um processo com todas as
garantias [...]. A informação afeta não somente ao direito à presunção de
inocência, senão que também incide na imparcialidade do juiz. A informação
pode fazer com que os jurados cheguem a convicções preconcebidas em
relação a inocência ou a culpabilidade dos processados e, o que é mais
importante, que os jurados adequem sua convicção por meio de informações
extraprocessuais, violando com isso garantias que são essenciais para o bom
funcionamento da justiça.
(http://monografias.brasilescola.com/direito/liberdade-expressao-x-
liberdade-imprensa.htm ).

Quando a informação transcende a transmissão de ideias de conteúdo


jornalístico avançando para inquirição, para exaltar a figura do crime, criminoso,
exigindo a plenos pulmões que se faça justiça, conclamando a pena que deve
ser aplicada ou desfazendo da lei, afirmando ser dúbia fraca e benéfica ao
chamado “bandido” (que no caso, ainda pode ser só acusado, ou suspeito), a
matéria saí do âmbito de jornalismo para uma postura de tribunal que não é e
nunca será o papel da imprensa. É evidente que neste momento a notícia deixa
de ser jornalística para assumir um papel que está reservado àqueles que
conhecem da lei e tem condições de dentro da métrica estabelecida pelo
ordenamento jurídico de fazer o que for possível para sanar o problema.

Nestes casos a extrapolação é evidente e perigosa, pois, por ser veículo de


massa, oferecendo condições de grande parte da população ter acesso a
informação pode inflamar e promover situações irrefletidas e incontroladas. Há
casos recentes desses excessos e pressão para condenação deste ou daquele
sem o menor critério de respeito a investigação a lei, e a justiça impetrada pelos
órgãos competentes.

A garantia para poder noticiar, ter acesso a informação não é ilimitada e nem
tem o condão de abrir espaço para o uso irrestrito de todas as informações.
Assim como há a liberdade de expressão há a o direito de imagem que também
é protegido pelo mesmo diploma com a mesma força legal, impingindo respeito
e o devido cuidado com que se veicula. Este é sem dúvida o melhor e maior freio
imposto pela própria lei sobre aqueles que pensam em usar a todo custo
informações sobre as pessoas sem limites.

3. O direito de privacidade
A privacidade nos dias atuais está em jogo frente as redes sociais, os paparazzi,
a imprensa de fofocas, blogs de pseudo jornalistas que vivem da exploração da
vida alheia.

Há uma verdadeira ameaça não velada a tão importante e necessária


privacidade promovida pela Constituição Federal.

Assim conceitua Celso Bastos:

[...] faculdade que tem cada indivíduo de obstar a intromissão de estranhos


em sua vida privada e familiar, assim como de impedir-lhes o acesso a
informações sobre a privacidade de cada um, e também impedir que sejam
divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser
humano. (BASTOS: 1989, p.63)

Bastos de forma a não deixar dúvida clarifica e muito o tema o colocando em seu
devido plumo uma vez que enxerta a ideia de que a pessoa humana pode decidir
ou não o que é devido ser publicado, noticiado sobre sua vida. Há de se fazer
uma pequena exceção ao sujeito que exerce cargo público, pois, uma vez
estando nesta condição seus atos estão sujeitos em grande parte, mas não em
tudo a sujeição de exposição, sempre com o devido respeito a ser noticiado e
com as garantias facultadas a este exercício.

Mas o que vem a ser privacidade em seu sentido lato? “É a habilidade de uma
pessoa em controlar a exposição e a disponibilidade de informações acerca de
si.” (http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/privacidade/12080/ )

Ampliando um pouco mais a ideia para uma melhor compreensão pode ser
fixar:

O direito à privacidade, concebido como uma tríade de direitos - direito de


não ser monitorado, direito de não ser registrado e direito de não ser
reconhecido (direito de não ter registros pessoais publicados) - transcende,
pois, nas sociedades informacionais, os limites de mero direito de interesse
privado para se tornar um dos fundamentos do Estado Democrático de
Direito. (VIANNA, Túlio. Transparência pública, opacidade privada. p. 116)
(http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/privacidade/12080/ )

Desta forma é correto imaginar que privacidade está ligada ao direito da pessoa
permitir ou não o que será divulgado, podendo ou não decidir sobre esta questão.
O que fugir desta ideia central é flagrante desrespeito a nossa Lei Maior, a
Constituição Federal sendo passiva do devido processo legal.

Não se pode confundir o direito a informação com direito a invasão da


privacidade a vida alheia, nada justificaria esta invasão em nenhuma hipótese,
afinal, um Estado Democrático de Direito deve primar pelo direito à
individualidade acima do interesse particular de alguns órgãos que tem como
finalidade o ganho com a notícia e a circulação de seu meio de comunicação.
Privar a pessoa desse direito é voltar aos tempos que não havia respeito à
informação, a lisura, o respeito e principalmente, ao direito, nada está acima
destes valores que devem permear nossa sociedade num todo.

4. O direito de ser esquecido


Na esteira desta discussão do direito de publicar e informação versus o direito a
privacidade surge no cenário jurídico à composição do Direito de ser Esquecido.

Esta medida tem criado força frente à possibilidade da pessoa não ver publicado
tudo ou algumas coisas que representem um passado superado e já deixado
para trás.

Na maioria dos casos onde está se buscando este direito se refere a situações
que possam criar embaraço e constrangimento e já tenham sido vencido pelo
tempo, o que torna legitimo aquele que encontra seu nome envolvido em algo
superado ainda exposto na internet sem nenhuma possibilidade de explicação
ou de reparação a qualquer dano, uma vez se tratar de assuntos pretéritos.

Em tempos de privacidade cada vez mais rara, cresce o debate sobre o "direito
ao esquecimento". Na semana passada ele se materializou em uma decisão da
Corte Europeia de Justiça. Por ela, qualquer site pode ser obrigado a remover
da internet dados "inadequados ou que não sejam mais relevantes". Um cidadão
espanhol reclamava que, ao buscar seu nome na rede, aparecia o link de um
artigo de jornal publicado há 16 anos falando sobre o leilão de uma propriedade
sua para quitar dívidas. A corte entendeu que o link deveria ser tirado do ar.
Apesar da preocupação legítima, o "direito de ser esquecido" é dos temas mais
espinhosos hoje. Não por acaso entidades anticensura protestaram contra a
decisão. A razão é o risco de efeitos colaterais. Como é praticamente impossível
definir os limites desse direito, as decisões tornam-se subjetivas. E aí os
problemas são muitos problemas relacionados a esta questão, por isso é de bom
tom verificar como está sendo tratada a questão
(http://rafaelcosta.jusbrasil.com.br/artigos/119871606/direito-de-ser-esquecido-
e-mais-veneno-que-remedio ).

O enfrentamento deste tema não tem natureza fácil uma vez trazer a
possibilidade de impedimento de informações mesmo que passada que possa
ajudar na solução de alguns crimes, por exemplo, entre outras possibilidades
ilimitadas.

Há também sem dúvida a questão do direito a liberdade de expressão versus a


privacidade.

Como é bem postado no texto acima, há certos perigos principalmente de riscos


colaterais que poderão trazer transtornos e mudanças radicais em direito
consolidado e mantido a base de muita luta.

Outrossim, não se pode negar o direito da pessoa que tem seu nome vinculado
a um passado sombrio de ver retirado da internet tudo aquilo que não proceda
mais, e continuar com uma vida tranquila, sem empecilhos.

Para ampliar a base da discussão tornando-a mais profícua vale a leitura:

A Corte Europeia de Justiça decidiu, no dia 13 de maio de 2014, que usuários


têm o direito de pedir à empresa americana Google que retire de seu
mecanismo de busca resultados que apresentem informações pessoais
desatualizadas ou imprecisas. De acordo com essa corte, o Google e outros
mecanismos de busca têm o controle sobre informações privadas dos
indivíduos, uma vez que compilam e apresentam links relacionados à pessoa
de forma sistemática. E, ainda, de acordo com a legislação europeia,
indivíduos têm o direito de controlar seus dados pessoais, principalmente se
não forem figuras públicas (se forem, isso pode ser uma exceção). Assim, os
usuários têm o direito de solicitar a exclusão dos links, mesmo que as
informações tenham sido legalmente publicadas.(
http://jus.com.br/artigos/31705/o-direito-de-ser-esquecido#ixzz3NJF5X6lH )

Este exemplo da corte Europeia de Justiça contra o Google demonstra que


embora o site de busca tenha sua utilidade e presta como fonte e ferramenta
para toda sorte de atividade seja acadêmica, jurídica, laborais ou afins, há de
estabelecer um limite para preservação da privacidade, caso contrário, tudo e
todos podem ter suas vidas invadidas e publicadas sem nenhum pudor. É certo
que a linha tênue que envolve a liberdade de expressão e o direito da privacidade
é quase imperceptível, tanto um direito como o outro não pode ser violado sob a
hipótese da manutenção de estabelecimento de apenas um deles, a convivência
e sobrevivência de todas as garantias para um Estado de Democrático de Direito
é de superior interesse e de importância redobrada.

Por conta destas decisões a ideia de cercear ou demarcar alguns limites para
estes sites de buscas criando o que se chama de Marco Regulatório da Internet
tem tomado azo e conseguido adeptos e defensores ardentes. Por isso, não é
sem propósito se perguntar: Seria esta uma solução desvinculada de apelo
político? Ou, ainda demarcar a internet, poderia desenvolver barreiras
limitadoras de suas ações? Ou, ainda este é o melhor caminho?

O direito tem possibilidade de caso a caso reabilitar e sanar o direito violado,


sem a impertinência de solapar as garantias fundamentais estabelecidas e
consagradas na Constituição Federal e também na Declaração dos Direitos
Humanos. Não se pode com base em situações mesmo que embaraçosas e
deletérias, por fim, a um século de conquistas. A solução está a mão através do
devido processo legal para todos aqueles que sintam terem seu direito violado,
ao invés de impor uma situação que certamente pode deixar todo arcabouço
jurídico exposto.

Para melhor entender o tema proposto cumpre buscar sua origem e raízes:
A ideia de que há um direito de ser esquecido tem raízes em um conceito francês chamado
"direito de esquecimento", a noção de que imprudências e transgressões do passado não devem
assombrar uma pessoa para sempre. Nos últimos anos, acadêmicos como Viktor Mayer-
Schonberger, professor da Universidade de Oxford, tentaram aplicar o conceito para a realidade
de que a informação uma vez enterrada em pilhas de papel tornou-se instantaneamente
disponível em todos os lugares.(http://www.go2web.com.br/pt-BR/blog/o-direito-de-ser-
esquecido-atualizando-o-esclarecimento.html ).

Não resta dúvida que um erro do passado, que já tenha sido superado, ou sido
penalizado e pago cumprido conforme a lei determina não deveria durar para
sempre assombrando e penalizando para sempre a pessoa.

A solução não é fácil, muito pelo contrário se por um lado há a importante


necessidade de informar e trazer notícias a população, por outro existe a
necessidade de preservação da pessoa que já satisfez os requisitos legais e tem
o direito de ter devolvida sua vida sem interferência e informações no presente
desnecessário.

Considerações Finais

A exposição do tema é espinhosa e de difícil solução, até por se tratar de tema


ainda controverso, contudo, se faz mister expô-lo pela natureza trazida pelo
debate, afinal, o ser humano voltou a ser escravo sem vontade própria? Sem
direitos?

Qualquer imposição, sobreposta ao ser humano fatalmente, carrega em si esta


génese, uma vez que todos tem direito à privacidade, independente do que se
possa ter feito. Naturalmente, isso não é matéria fácil, porém, se torna essencial
observa-la para não permitir um retrocesso nas conquistas já alcançadas.

Exposto isto, cabe a pergunta, a internet através de seus provedores, acionistas,


proprietário está acima, do bem e do mal? Pode realmente transmitir tudo de
todos? Quem são as vítimas deste processo massivo?

Evidentemente, mais cedo do que tarde, todos poderão ser vítimas, por isso,
cumpre a todos ao observar esta possibilidade, impedir, a todo custo que se
cometa uma injustiça tão alta, a ponto de gerar a cada pessoa, constrangimento,
caso, seu nome apareça, sua foto de forma a dilapidar toda uma construção
social.

E não se deve imaginar que nem aqueles que estão a margem da lei, perdem
seu direito ao serem presos, julgados e condenados, uma vez que não sendo a
sentença perpétua ou pena de morte, esta pessoa voltará a viver em sociedade
de que forma?

O importante é manter o direito conquistado sem mácula em detrimento de elevar


outros tão importantes quanto aos que se pretendem delimitar.

A discussão está aberta, o caminho ainda é longo para tanto o bom senso e a
aplicação ao escrutínio da lei é imperioso para não se deter em barreiras que há
tempos foram vencidas e superadas.
Referências bibliográficas
BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição
do Brasil. vol.2,SãoPaulo:Saraiva,1989.
http://www.academia.edu/3081812/Responsabilidade_Civil_da_Imprensa_por_
dano_moral_uma_leitura_civil
constitucional_do_dever_de_indenizar_face_os_direitos_da_personalidade_e_
a_liberdade_de_express%C3%A3o)
http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/privacidade/12080/
http://fernandafav.jusbrasil.com.br/noticias/120463329/direito-de-ser-esquecido
http://www.go2web.com.br/pt-BR/blog/o-direito-de-ser-esquecido-atualizando-o-
esclarecimento.html
http://jus.com.br/artigos/31705/o-direito-de-ser-esquecido#ixzz3NJF5X6lH
http://monografias.brasilescola.com/direito/liberdade-expressao-x-liberdade-
imprensa.htm
http://rafaelcosta.jusbrasil.com.br/artigos/119871606/direito-de-ser-esquecido-
e-mais-veneno-que-remedio
http://www.significados.com.br/censura/

Você também pode gostar