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“DIREITO AO ESQUECIMENTO”

“RIGHT TO FORGET”

Laísa Risson Simão1

Resumo:

O presente trabalho trata sobre o direito ao esquecimento.


O objetivo deste trabalho é abordar o conteúdo sobre esta ferramenta
do direito mostrando diversas situações de exposição tanto na internet
quanto nas mídias. Da dignidade da pessoa humana e da liberdade de
informação, discorrendo sobre a necessidade de moderação entre a
liberdade de informação e expressão, a privacidade, a honra e a
intimidade.
Palavra-chave: Direito ao esquecimento, liberdade de informação e
expressão, internet e mídias sociais.

Abstract:

The present work deals with the right to be forgotten.


The objective of this work is to approach the content on this tool of law
showing different situations of exposure both on the internet and in the
media. The dignity of the human person and freedom of information,
discussing the need for moderation between freedom of information and
expression, privacy, honor and intimacy.
Keyword: Right to be forgotten, freedom of information and expression,
internet and social media.

1
Acadêmica de Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), Campus Videira,
trabalho da disciplina de Pessoas e Bens ministrada pelo professor Dagmar José Belotto.
Sumário:
Introdução.
1. Colisão entre princípios fundamentais.
2. Liberdade de Informação e Expressão.
3. Julgamento expressado pelo STJ.
3.1. Chacina da Candelária.
4. Direito ao esquecimento em âmbito.
4.1. Âmbito Civil.
4.2. Âmbito Penal.
4.3. Âmbito Virtual.
Conclusão.

Introdução

O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa tem de


excluir um ocorrido que aconteceu em sua vida, que não seja publicado
e exposto em geral causando-lhe vergonha, constrangimento e
sofrimento perante a sociedade. Também chamado de “direito de ser
deixado em paz” ou “direito de estar só” o direito ao esquecimento foi
introduzido em março de 2013 no enunciado da 5ª jornada de Direito
Civil do CJF/STJ, o enunciado 531 diz que: “A tutela da dignidade da
pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento”, esse direito possui assento constitucional e legal, sendo
assegurado pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21).

O direito ao esquecimento surgiu com os avanços da tecnologia


onde os direitos à privacidade, intimidade e honra são violados pelas
informações que são adicionadas e dispersas pelas mídias sociais e
pela internet tornando-se eternamente acessíveis, se contrapondo ao
direito da liberdade de informação e expressão.

1. Colisão entre princípios fundamentais.

O direito esquecimento vê-se como decorrência dos direitos da


personalidade, honra, privacidade, intimidade e imagem o seu grande
fundamento é a dignidade dos indivíduos, já do outro lado, a liberdade
de informação e expressão, ambos são amparadas pela constituição de
88 causando assim um conflito denominado “colisão de direitos
fundamentais”.
O conceito colisão de direitos fundamentais acontece quando
dois ou mais direitos válidos entram em colisão diante de um caso
concreto. No sentido próprio da palavra colisão, é quando um direito
fundamental entra em conflito com outro. A colisão autêntica é o direito
de um titular que entra em conflito com outro direito por parte de outro
titular como é o caso do direito ao esquecimento x liberdade de
informação e expressão.
No livro “teoria dos direitos fundamentais” de Robert alexy divide
a lei de sopesamento em três passos: observar o grau de satisfação,
analisar a relevância da satisfação e justificar ou não satisfação de outro
princípio. Além do sopesamento o princípio de proporcionalidade deverá
ser aplicado em caso de colisão. Esse princípio por proporciona uma
solução justa, resguardando o máximo possível dos direitos
fundamentais.
Novelino afirma que o princípio da personalidade se dividido em
3 formas: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido
estrito.
Com base nas doutrinas citadas quando houver colisão entre
direito ao esquecimento e liberdade de informação e expressão, deverá
ser aplicada as técnicas de sopesamento junto com o princípio da
proporcionalidade causando o sopesamento justo.
Diante de um caso concreto o jurista deve analisar se a
interesse público e se não houver nenhum interesse, apenas
curiosidade pública, afetando a intimidade do indivíduo vem a
prevalecer o direito ao esquecimento.

2. Liberdade de informação e expressão.

A liberdade de informação e expressão encontrada no artigo 5º


em seus incisos, do texto constitucional de 1988.
Tem como contrapartida o artigo 220 do CF de 88.

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição.

§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à


plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.”

Vedando toda e qualquer forma de censura estabelecendo restrições.

A cada dia vemos mais casos de pessoas com situações


expostas, sem seu consentimento, exposições que não deveriam ser
divulgadas, totalmente disponíveis na internet e mídias sociais. Com o
grande crescimento das redes, os acessos às informações crescem de
forma constante, estamos ligados por informações e notícias de
diferentes assuntos se tornando ainda mais fácil de exposições íntimas
e constrangedoras serem divulgadas.
3. Julgamentos expressados pelo STJ.

Com as definições que se tem é relevante demonstrar um dos


casos concretos que vão ampliar o entendimento da técnica de
ponderação ambos os casos julgados recentemente pelo Ministro Luis
Felipe Salomão onde foi aplicado o direito de esquecimento e a
liberdade de informação e expressão.

3.1. Chacina da candelária.

Esse fato conta de um dos acusados de ter participado do


episódio trágico conhecido como Chacina da Candelária ocorrido no Rio
de Janeiro em 1993, tal indivíduo foi julgado e absolvido, após o
ocorrido e após o julgamento a Globo o procurou querendo entrevistá-lo
para um programa mas ele negou por não ter interesse de ter sua
imagem mostrada em rede.
Em junho de 2006 o programa de televisão da Globo mostra o
indivíduo como em dos envolvidos na chacina mas já sendo absolvido,
com essa exposição anos depois o público começou a buscar por mais
informação sobre o que já foi superado, assim violando o direito do
indivíduo se ser deixado em paz, do anonimato e privacidade pessoal.
Com toda a exposição o Ministro procede o direito ao
esquecimento para o indivíduo, o programa não deveria ter exibido
nomes e imagens das pessoas envolvidas. E com o processo por danos
morais a Globo foi condenada a pagar uma indenização ao indivíduo.
4. Direito penal em âmbito.

3.1. Âmbito civil:

Qualquer indivíduo pode sim ser lembrado eternamente por


situações constrangedoras, mas por outro, claro que em termos
pode ser limitado a liberdade de informação.
Com o CF de 1988 o CC de 2002 protege da exposição o
indivíduo dando preferência a dignidade, conforme os artigos 11,
20 e 21.

"Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da


personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o
seu exercício sofrer limitação voluntária.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias a administração da


justiça ou a manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoas poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem-se a fins comerciais.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a


requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma".
3.2. Âmbito Penal:

Com a cobertura jornalística de crimes ou sujeitos envolvidos


possui grande repercussão. A cobertura está diretamente ligada a
dar a resposta a sociedade ao delito cometido. A historicidade do
crime não pode sobrepor aos direitos de personalidade.
Na parte criminal o direito ao esquecimento é a possibilidade de
reabilitação, com o sigilo de todos os dados relativos ao crime
cometido, após o término de sua execução.
Após 5 anos do cumprimento da Pena o fato não constará nem
para fins de reincidência é apagado todos os registros criminais e
processuais públicos (Artigo 202 da Lei nº 7.210 de 11 de Julho de
1984).

"Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha


corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial
ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência a
condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova
infração penal ou outros casos expressos em lei."

3.3. Âmbito Virtual:

A internet tornou-se um meio fácil e rápido de espalhar


informações numa escala global, o direito ao esquecimento tende
a retirar informações antigas sobre determinadas condutas,
eventualmente se requer a retirada de vídeos e notícias de
páginas e redes, ainda desejando que os sites impossibilitem a
mostrar resultados decorridos já superados, um caso dê exemplos
é a apresentadora Xuxa Meneghel com filme “Amor Estranho
Amor”, mas o fato não acontece só com pessoas públicas
qualquer indivíduo pode ter seu passado exposto virtualmente,
outro exemplo é uma condenado por prática de estelionato que
solicitou a retirada de seu nome de páginas de busca, ele relata
que em uma apresentação de um projeto uma das pessoas da
plateia buscou por seu nome nos sites encontrando
eventualmente a prática que ele causou e lhe causando um
grande embaraço.
Vale conferir o trecho do voto do eminente relator Ministro Luis
Felipe Salomão do julgamento do REsp 1.334.097/RJ:

“A ideia de um direito ao esquecimento ganha ainda mais visibilidade


— mas também se torna mais complexa — quando aplicada à
internet, ambiente que, por excelência, não esquece o que nele é
divulgado e pereniza tanto informações honoráveis quanto aviltantes
à pessoa do noticiado, sendo desnecessário lembrar o alcance
potencializado de divulgação próprio desse cyberespaço. Até agora,
tem-se mostrado inerente à internet — mas não exclusivamente a ela
—, a existência de um ‘resíduo informacional’ que supera a
contemporaneidade da notícia e, por vezes, pode ser, no mínimo,
desconfortável àquele que é noticiado.”
Conclusão:

Percebemos que com o desenvolvimento da tecnologia de hoje a


nossa vida pode ser exposta em poucos minutos, e também vemos que
é indispensável o uso das redes, no entanto precisam ser tomados mais
cuidados na tentativa de evitar problemas e exposições indesejadas.
O direito esquecimento merece um destaque maior, pois tem
uma grande responsabilidade com as questões que ferem a honra e a
dignidade humana, sem dúvidas as liberdades são necessárias e a cada
novo caso gerando uma análise aplicando o direito ao esquecimento
para proteger o indivíduo e a liberdade de informação para manter o
público informado sobre as demais questões.

Referências

O direito ao esquecimento. 2013. Disponível em:


https://www.dizerodireito.com.br/2013/11/direito-ao-esquecimento.html
#more

RODRIGUES, Mayara Aparecida. O direito ao esquecimento no


ordenamento jurídico brasileiro. 2017.
Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/direito-ao-esquecim
ento-no-ordenamento-juridico-brasileiro/

RODRIGUES, Vinicius Magno Duarte. O direito ao esquecimento. 2014.


Disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/40265/o-direito-a
o-esquecimento

Enunciado trata do direito ao esquecimento na sociedade da


informação. Publicado 2013, Modificado 2015.
Disponível em:
https://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2013/abril/enunciado-trata-do-direito-ao-
esquecimento-na-sociedade-da-informacao#:~:text=O%20Enunciado%2
0531%20diz%20que,%C3%A0%20dignidade%20da%20pessoa%20hu
mana.

ADPF 130 pg 226, LIBERDADE DE INFORMAÇÃO. 2009.


Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=605
411

GUEDES, Luiza Helena da Silva. O direito ao esquecimento. 2017.


Dispinível em:
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-161/direito-ao-esqueciment
o/#:~:text=No%20%C3%A2mbito%20criminal%2C%20o%20direito,extin
ta%2C%20ou%20terminar%20sua%20execu%C3%A7%C3%A3o.

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