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Resumo
Em razão da evolução tecnológica e virtual, o fenômeno da “pornografia de vingança” surgiu como uma nova
forma de violação dos direitos à intimidade e à privacidade, tendo como cerne principal a quebra da confiança
entre os envolvidos. Para tanto, atualmente o legislador implementou no ordenamento a lei nº 13.718/2018, no
sentindo de viabilizar essa proteção à privacidade online em casos de pornografia de vingança. Ocorre que, o
objeto dessa lei em especial insere a pornografia de vingança como um crime no ordenamento jurídico brasileiro,
porém, enquadra como uma causa de aumento de pena, o que apesar de ser relevante, não é suficiente, em
virtude da expectativa de proteção integral das vítimas que ficou incidente somente na tipificação, sem tratar
discussões a respeito de outros microssistemas tais como, o impacto na Lei Maria da Penha, entre outros. Nesse
sentido, diante dessa insuficiência, buscou-se alguns projetos de leis que estão em tramitação, em especial o
projeto de lei número 5555/2013, que versa sobre um alcance maior a respeito da temática, o que pode vir a
trazer uma sensação de proteção integral dessas vítimas.
Abstract
Due to technological and virtual developments, the phenomenon of "revenge pornography" has
emerged as a new form of violation of the rights to intimacy and privacy., with the main focus being
the breach of trust among those involved. To this end, currently the legislature has implemented in law
the law nº 13.718/2018, in the sense of making this online privacy protection feasible in cases of
revenge pornography. It occurs that, the object of this law in particular inserts pornography of revenge
as a crime in the Brazilian legal system, however, it fits as a cause of increase of sentence, which
although it is relevant, is not enough, due to the expectation of protection integral part of the victims
that was only involved in the typification, without discussing other microsystems such as the impact
on the Maria da Penha Law, among others. In this sense, in the face of this insufficiency, we sought
some draft laws that are in process, in particular the law project number 5555/2013, which deals with a
greater scope regarding the subject, which may bring a sense of protection of these victims.
1 Introdução
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Graduando em Direito da Universidade CEUMA. E-mail: luhbastos.03@hotmail.com
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que mensagens, ligações e vídeos chamadas possibilitam conversas em tempo real, tornando
assim à distância algo irrelevante. Atualmente, essas tecnologias também estão sendo
exploradas na área das relações íntimas.
Nessas relações são compartilhadas fotos e vídeos íntimos, criando laços de
intimidade, baseando-se na confiança que um parceiro tem com outro. Ocorre que muitas
vezes esses laços de confiança são quebrados e o parceiro (a) acaba por querer atingir a outra
pessoa divulgando o material enviado durante o relacionamento.
A perda da privacidade é uma das principais problemáticas da era digital, pois todos os
conteúdos divulgados na internet são expostos para o mundo inteiro, que acaba se
disseminando de forma indescritivelmente veloz. Ferindo assim o direito à privacidade das
pessoas.
A era da internet tem trago preocupações ao direito à privacidade, pois existe um
grande perigo em dar informações de caráter íntimo ou enviar imagens e vídeos íntimos a
outras pessoas, mesmo que essas pessoas sejam de sua confiança.
O compartilhamento de mídia íntima, apesar de ser uma prática que está se tornando
comum, a violação da privacidade nunca será comum, pois é um direito constitucional, e está
causando sofrimento a muitas vítimas de pornografia de vingança, principalmente, pelo fato
de haver uma enorme dificuldade em retirar a mídia compartilhada da internet.
Conhecer o conceito de pornografia da vingança é essencial para fins de análise desse
fenômeno, dessa forma expõe-se que a pornografia de vingança é a prática de publicar na
internet mídia íntima de um companheiro ou companheira, sem o seu consentimento, violando
dessa forma o direito à privacidade e a intimidade da pessoa. Ocorre que isso acontece de
forma proposital, como uma forma de vingança em decorrência do final de um
relacionamento amoroso, onde uma das partes visa lesar a imagem da outra, causando uma
série de danos morais e psicológicos.
Por ser um crime recente, sempre existiu uma dificuldade na tipificação da conduta, no
segundo capítulo aborda-se sobre alguns caminhos que eram seguidos para que ocorresse essa
tipificação, apresenta-se os instrumentos usados pelo ordenamento jurídico brasileiro antes da
criação da lei nº 13.718/2018. Para isso, utiliza-se o Marco Civil da Internet, o Código Civil, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Maria da Penha e o Código Penal.
O objetivo geral deste trabalho consiste em analisar aspectos sobre a “pornografia de
vingança”, entendendo se existe a proteção da privacidade online nesses casos e percebendo
se é suficiente as legislações já existentes no ordenamento jurídico atual. Para tal empregou-se
o método bibliográfico, partindo da análise de livros, jurisprudências, legislações e trabalhos
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científicos.
2 Materiais e métodos
3 Resultados e discussão
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
[...]
X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação. (BRASIL, 1988, p. 15).
Cabe observar o conceito de direito à privacidade, Bastos (2010, p. 38) define esse
direito como:
A faculdade que tem cada indivíduo de obstar a intromissão de estranhos em sua
vida privada e familiar, assim como de impedir-lhes o acesso a informações sobre a
privacidade de cada um, e impedir também que sejam divulgadas informações sobre
esta área da manifestação existencial do ser humano.
direito vem assumindo, aos poucos, maior relevo, com a expansão das novas técnicas de
comunicação, que colocam o homem em uma exposição permanente”.
Nesse mesmo sentido, Paesani (2014, p. 49) assegura que:
Dessa forma veremos que a privacidade abordada, não é a mesma que marcou a
sociedade em seus primórdios. O direito à privacidade sofreu profundas e intensas
transformações e somente passou a ser valorizado nos séculos XVII e XVIII.
O direito à privacidade disposto no art. 5º na Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 é tratado como uma garantia fundamental, contudo, quando se refere à
privacidade na internet, a legislação encontra-se falha.
Cabe ressaltar que a fácil acessibilidade da internet fez com que a mesma se
expandisse por todo o mundo, proporcionando a seus usuários facilidades e comodidades
jamais oferecidas. Porém, existe ainda a falta de uma legislação adequada para que envolva
todo esse campo, uma vez que sua expansão aconteceu de tal forma que a legislação não
conseguisse seguir seus passos.
De acordo com Rosa (2015), a internet mudou a comunicação em todo o mundo e está
cada vez mais presente em nossa rotina, influenciando em nossa vida nos mais variados
aspectos: político, econômico, lazer, investigação, comércio e serviços on-line, educação,
enfim, nas mais diversas áreas de nossa sociedade.
Vive-se um período de grande transformação da internet, onde se podem utilizar
formas inovadoras de comunicação, juntando mobilidade e cooperação, expressões que
expõem com clareza essa nova realidade.
De um modo geral, ela é definida como sendo “rede de computadores de domínio
global, descentralizada e de acesso público, onde os seus principais serviços são
proporcionados através do correio eletrônico e da web”. (SANTOS, 2013, p. 13).
Compreende-se então, que a vinculação ao mundo virtual é inevitável e só vem
aumentando cada dia mais. Considera-se que os impactos da internet no âmbito jurídico são
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A exposição íntima não autorizada na maioria das vezes ocorre de forma proposital,
objetivando atingir a vítima. Ocorre que, por vezes, os agressores permanecem
preservados pelo anonimato, tendo em vista há situações em que adolescentes, por
exemplo, mandam uma foto para seu companheiro, acreditando que aquilo garantirá
o sucesso do relacionamento amoroso, e este passa para um melhor amigo, que
passa para outro, e de repente as fotos estão totalmente disseminadas pelo ambiente
virtual. Assim, as vítimas são humilhadas publicamente, expostas a linchamento
moral, principalmente após o fim de um relacionamento. (MELO JUNIOR, 2016, p.
1).
Melo Junior (2016) explana que com a chegada das tecnologias inovadoras de
comunicação, que a cada dia estão mais presentes nas vidas das pessoas, e a colaboração de
gente que compartilham e repassam o material entre si e entre outros, faz com que a
distribuição dos materiais se propague de forma acelerada, atrapalhando assim, a reversão da
divulgação não permitida. Portanto, os prejuízos acarretados às vítimas deste crime são graves
e, às vezes, demorados. É um pouco difícil saber com precisão quando realmente se iniciou a
prática da pornografia de vingança no mundo.
Na maioria dos casos, o conteúdo divulgado tem cunho sexual e decorre da
insatisfação do término de um relacionamento. Porém, há casos em que isso ocorre em virtude
de o agressor fazer a divulgação apenas para demonstrar aos outros suas relações sexuais no
intuito de impressioná-los ou ganhar vantagem.
Nesse mesmo sentido, ressalta-se que:
autorizada. Desse modo, os danos causados às vítimas deste crime são graves e, por vezes,
prolongados.
As vítimas desses casos sofrem uma expressiva carga emocional e social, sendo
sujeitas a situações constrangedoras ou ainda ameaçadoras. E toda essa exposição indevida
por muitas vezes acabam por obrigar essas pessoas a abandonarem suas vidas “normais”, para
tentar fugir de tudo que vem sofrendo.
A pornografia online está em grande crescimento, tanto em termos de busca, quanto de
oferecimento. Há sites pornográficos que já são famosos na internet e são nesses sites que
costumam parar os materiais sexuais oriundos de pornografia de vingança, nesses casos a
divulgação do material torna-se maior por ser um tema muito buscado já que se trata de
pornografia amadora.
A difusão de material envolvendo pornografia de vingança tem sido frequente entre
todas as faixas etárias. Contudo, percebe-se que, frente à construção das relações de
gênero e os papéis tipicamente resguardados a cada gênero em nossa sociedade,
meninas e mulheres têm se tornado as principais vítimas em situações de exposição
da intimidade sexual. Uma vez que tal material é disponibilizado e difundido na
rede, as consequências para as vítimas podem culminar em situações drásticas, como
o emblemático suicídio da jovem piauiense Júlia Rebeca, frente ao ideário de que o
sexo é algo degradante para a imagem, honra e reputação feminina, ao mesmo
tempo em que glorifica e exalta o sexo quando este trata da reputação masculina.
(SILVA; FERREIRA, 2016, p. 1).
Todavia, sua efetividade vai depender de uma série de fatores que demandarão
muito mais que uma boa vontade política. Afinal, está se tratando de tecnologia da
informação, um assunto que se encontra espacialmente disperso, ou seja, não há uma
localização geográfica física, é mundial, internacional, quiçá. (LEAL, 2015, p.174).
O projeto de lei surgiu em 2009, foi aprovado na Câmara dos Deputados dia 25 de
março de 2014 e foi aprovado no Senado Federal dia 22 de abril de 2014, e logo após no dia
23 de abril de 2014 foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff e publicado no Diário
Oficial dia 24 de abril de 2014.
A lei 12.965/14 estabelece trinta e dois artigos, divididos em cinco capítulos. Trata-se
da primeira lei criada de forma colaborativa entre sociedade e governo, com utilização da
internet como plataforma de debate. E impõe diversos direitos e deveres a usuários e
prestadores de serviços no Brasil.
O marco civil utilizou a nomenclatura internet para significar todo o conjunto de
tecnologias de informação e comunicação usadas pelos usuários em suas interações virtuais e
sociais. No marco civil, a internet foi definida no art. 5°, I como:
Deste modo, a citada lei pretende regulamentar as ações no espaço virtual brasileiro, já
que constitui princípios, garantias, direitos e deveres para usuários e provedores da internet,
motivando, até mesmo, diretrizes para a atuação do Estado.
Existe uma grande relação entre privacidade e o tratamento de dados feito na Internet.
Os sistemas de informação colaboram sensivelmente para o desenvolvimento da pessoa,
porém ao mesmo tempo colocam em riscos as liberdades individuais.
O marco civil visa proteger o usuário da internet, no entanto, a sua redação é
contraditória. Pois mesmo o direito à privacidade e o direito a expressão sendo extremamente
importantes, ao serem abordados no marco civil, percebe-se que não há equilíbrio entre eles.
Deixando claro nessa lei uma responsabilidade reduzida aos provedores, permitindo dessa
forma que usuários possam fazer upload de fotos e vídeos íntimos de outras pessoas em sites
ou redes sociais, sem existir a devida responsabilização pela propagação do material.
É importante frisar que a modificação de contravenção penal para crime, trouxe uma
punição mais severa ao agente que cometer a conduta criminosa. A referida lei traz uma pena de 1
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(um) a 5 (cinco) anos de reclusão a quem cometer o ato ilícito, anteriormente à conduta era punida
apenas com pena de multa. Com isso, todos os atos atentatórios à dignidade sexual puderam ser
chamados de crime, haja vista que são tidos como uma prática comum, que além de violarem aos
próprios direitos fundamentais, violam os costumes sociais para a vida em conjunto.
A mencionada lei, embora não tenha enquadrado especificamente a pornografia de
vingança como um crime por si só, a considera uma causa de aumento de pena do crime de
divulgação de cena de sexo ou nudez sem o consentimento da vítima, novo tipo penal incluído
através do artigo 218-C:
Artigo 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de
comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática –, fotografia, vídeo
ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado
por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou
com o fim de vingança ou humilhação. (BRASIL, 1940, p. 1).
4 Conclusão
O direito à privacidade possui formas difíceis de serem delineadas. Para que isso
ocorra, é necessária uma análise do contexto fático e das normas vigentes, que assim ficará
demonstrada se existia uma expectativa de privacidade e se houve a violação do direito
constitucional a privacidade.
Existe pouca clareza em relação à privacidade online, pois há uma falsa sensação de
privacidade por imaginar que todas as informações que são trocadas de forma privada serão
somente para uma pessoa. Mas a verdade é que a rapidez na qual se opera os conteúdos que
vão para internet, permite que a violação à vítima seja imediata e perpétua. Bastando apenas
um clique para que o conteúdo que é publicado atinja diversas pessoas. No entanto, sua
retirada da internet é praticamente impossível.
A pornografia de vingança é vista a cada dia mais na sociedade brasileira, se tornando
um tema atual e muito discutido. Vitimizando muitas crianças, homens, mas principalmente
mulheres, pois esse tipo de ação é fruto da reprodução da cultura machista no espaço virtual.
Por muito tempo inexistiu uma tipificação para os casos de pornografia de vingança
dificultando às medidas de proteção a vítima, já que não existiam instrumentos próprios e
satisfatórias para que atenuassem os danos causados a vítima. Não bastando apenas os
instrumentos usados pelo ordenamento jurídico brasileiro para tipificar o crime de pornografia
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Referências
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BIRNFELD, Carlos André; LOIS, Cecilia Caballero. Gênero, Sexualidade e Direito II.
2016. Disponível em:
14
https://www.conpedi.org.br/publicacoes/02q8agmu/120638j8/oJ0Z823KEp0xRS75.pdf.
Acesso em: 04 maio 2022.
BRASIL. Projeto de lei 5555/2013. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 - Lei
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na Internet ou em outros meios de propagação da informação. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=576366. Acesso
em: 05 maio 2022.
LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
MELO JUNIOR, Marcos Francisco Machado. Pornografia de vingança e sua relação com a
Lei Maria da Penha. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/45992/pornografia-de-
vinganca-e-sua-relacao-com-a-lei-maria-da-penha .Acesso em: 05 maio 2022.
SOUSA, Matheus Herren F. Comentário ao art. 218-C do Código Penal. 2018. Disponível
em: https://matheusfalivene.jusbrasil.com.br/artigos/630364992/comentario-ao-art-218-c-do-
codigo-penal. Acesso em: 15 maio 2019.