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RESUMO
O artigo analisa o papel da mídia no Tribunal do Júri, destacando sua influência na
formação de opiniões e na tomada de decisões dos jurados. Através de uma revisão
abrangente da literatura, o estudo identifica como a cobertura midiática de casos
criminais pode moldar as percepções do público e dos jurados, muitas vezes
afetando o resultado dos julgamentos. A exposição constante a notícias
sensacionalistas e narrativas enviesadas pode levar os jurados a desenvolver
preconceitos e predisposições que influenciam sua visão sobre o réu e a culpa ou
inocência do mesmo. Além disso, o artigo discute o impacto das redes sociais e da
disseminação rápida de informações na era digital, ressaltando como esses fatores
ampliam ainda mais o alcance e a influência da mídia no processo judicial. Diante
desse cenário, os autores argumentam que é essencial que o sistema de justiça
reconheça e aborde a influência da mídia no Tribunal do Júri, garantindo assim
julgamentos justos e imparciais.
INTRODUÇÃO 3
1. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO 5
1.1 Liberdade de expressão no ordenamento jurídico brasileiro 5
1.2. Os desafios da mídia no século XXI: novas tecnologias e a busca pela confiança
jornalística 8
1.3. Os limites da liberdade de expressão jornalística na democracia 9
2. GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS 11
2.1 Princípios no Processo Penal 13
3. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL 18
3.1 Presunção de culpa x Presunção de Inocência 19
4. Estudos de Caso 21
4.1 Caso Bruno 22
REFERÊNCIAS 31
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INTRODUÇÃO
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência. ( CONVENÇÃO
AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969). Pacto de San José da
Costa Rica).
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"O Estado não pode partir do orçamento de que uma pessoa é culpada até
que se prove o contrário. A presunção de inocência é uma garantia
fundamental que assegura a proteção dos direitos individuais e humanos
adquiridos de um indivíduo sem a comprovação legal, é uma violação grave
dos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito." (Barroso,
2015, pg. 583).
4. Estudos de Caso
judiciais.
Para um estudo de casos concretos sobre essa temática, é possível
analisar diversas situações em que a mídia teve um impacto na condução de
processos judiciais. Um exemplo notório é o caso do julgamento do ex-goleiro
Bruno Fernandes, condenado pelo assassinato de Eliza Samudio. A ampla
cobertura midiática do caso e a exposição intensa dos detalhes impactaram o
desenrolar do processo e, possivelmente, influenciaram a opinião pública e,
consequentemente, o veredito final.
Outro exemplo é o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
teve sua prisão e prisão amplamente divulgada pela mídia. A cobertura intensa do
caso gerou debates acalorados na sociedade e questionamentos sobre a
imparcialidade do julgamento e a influência da opinião pública não resultaram no
processo.
Esses casos evidenciam a importância de se analisar de forma crítica o
impacto da mídia nas decisões judiciais, levando em consideração tanto os
direitos dos indivíduos dos envolvidos quanto a necessidade de um sistema
jurídico imparcial e justo. O estudo de casos concretos pode fornecer insights
valiosos sobre as possíveis influências da mídia no sistema de justiça e contribuir
para reflexões a respeito da busca por uma justiça equânime e independente.
Isabella Nardoni foi uma menina brasileira que morreu no ano de 2008 à
idade de cinco anos. Sua morte foi um caso de grande repercussão no Brasil, já que
seu pai e sua madrasta foram acusados e condenados por seu assassinato.
Na noite de 29 de março de 2008, Isabella passou o fim de semana com seu
pai biológico, Alexandre Nardoni, e sua madrasta, Anna Carolina Jatobá, no
apartamento deles em São Paulo.
Essa noite, após uma discussão culminou com Isabella caiu da janela do
sexto andar do edifício.
Os vizinhos do prédio ligaram para a polícia depois de ouvir gritos e ver
alguém jogar algo da sacada. Quando a polícia chegou, encontrou Isabella no chão,
gravemente ferida. Ela foi levada para um hospital próximo, mas não pôde ser salva.
A investigação revelou que o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, estava
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segurando-a no colo minutos antes de sua queda. Além disso, foram encontradas
provas de que Anna Carolina Jatobá participou da discussão que levou à morte de
Isabella. Ambos foram presos e julgados por homicídio qualificado.
O caso foi altamente midiático e causou comoção no Brasil. Tanto o padrasto
quanto a mãe de Isabella negaram ter cometido o crime, mas as provas obtidas pela
acusação foram suficientes para condená-los à prisão. Alexandre Nardoni foi
condenado a 31 anos de prisão e Anna Carolina Jatobá a 26 anos e 8 meses de
prisão.
Durante o período do delito, o Juiz Maurício Fossen concluiu que havia provas
que apontavam para a responsabilidade do casal pelos crimes, e ordenou a
detenção cautelar. É evidente que essa decisão foi influenciada pelo sentimento
público. As condições da prisão foram atingidas da seguinte forma:
O caso de Eloá Cristina Pimentel, uma jovem de 15 anos que foi mantida
refém pelo ex-namorado por cinco dias em 2008, gerou grande comoção nacional e
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sobre o caso.
No dia 15 de outubro a jovem Nayara voltou ao apartamento onde a amiga
estava em cativeiro, mesmo contra a posição do GATE, pois a polícia considerou
que dessa forma ela ajudaria nas negociações.
Nesse mesmo dia a apresentadora do programa “A tarde é sua”, Sônia Abrão
realizou uma entrevista ao vivo com o sequestrador Lindemberg, em seu programa
transmitido na Rede Tv. Durante toda a entrevista Sonia realizou perguntas
sensacionalistas inclusive sobre o namoro entre Lindemberg e Eloá, e as motivações
que o levaram cometer o feito, inclusive pediu para falar com a jovem Eloá, mesmo
ela sendo feita de refém pelo ex-namorado. Nesse sentido o sociólogo Rodrigo
Pimentel :
início, com a transmissão ao vivo do sequestro, algo que nunca deveria ter sido
permitido.
A notícia só deveria ser divulgada após a resolução do crime, para evitar a
cobertura sensacionalista que acabou ocorrendo. Essa atitude pode ter contribuído
para a escalada da violência e para a tragédia que se seguiu.
Após a conclusão do sequestro com o trágico consumado, Lindemberg foi
preso em flagrante e denunciado pelos crimes de homicídio duplamente qualificados
(motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio
qualificado (praticado para assegurar a execução de outro crime) , cárcere privado e
tiro de arma de fogo. Em 2012, após um julgamento de quatro dias, ele foi
condenado a 98 anos e 10 meses de prisão por crimes cometidos.
lado da cama onde Marísia dormia e, com a ajuda de um objeto construído por
Daniel, uma espécie de barra de ferro com algo em sua ponta, desferiram vários
golpes nas vítimas.
Após cometer o duplo homicídio, o trio tentou camuflar a cena do crime,
simulando um latrocínio. A polícia foi chamada na mesma madrugada e, ao
descobrirem os corpos do casal, a polícia ficou preocupada em como dar a notícia
aos irmãos.
Suzane recebeu a notícia da morte dos pais com total indiferença,
questionando quais medidas seriam tomadas em relação à herança. No dia
seguinte, a polícia voltou à casa para continuar a investigar e encontrou Suzane e
Daniel dentro da piscina. Na delegacia, o casal agia de forma estranha, trocando
carícias e declarações de amor.
O comportamento de Suzane e Daniel chamou a atenção da polícia, que já
havia descartado a hipótese de roubo na residência. Além disso, os depoimentos do
irmão de Suzane, que relataram as brigas constantes entre a irmã e os pais devido
ao namoro com Daniel, e do vigia da rua, que afirmaram ter visto apenas o carro de
Suzane na noite do crime, levantaram suspeitas sobre o casal.
Após a prisão dos três suspeitos, a mídia continuou a cobrir o caso
intensamente, incluindo a divulgação de detalhes como o desaparecimento de uma
grande quantia em dinheiro em dólares da casa no dia do crime. No entanto, a
mentira do trio chegou ao fim quando Cristian usou dólares para pagar uma moto
recém-adquirida, o que suspeitou do vendedor e o levou a denunciar à polícia. Sob
pressão, Cristian acabou confessando o crime e relatando todo o ocorrido.
posteriormente, tanto Suzane quanto Daniel também confessaram envolvimentos no
assassinato.
A cobertura midiática do caso foi intensa, desde as primeiras horas até o
desenrolar do processo penal. Diariamente, novas imagens inéditas da casa da
família foram divulgadas, juntamente com a gravação de depoimentos e entrevistas
com psiquiatras que analisaram o perfil psicológico de Suzane, a qual era descrita
como narcisista, egocêntrica e outros adjetivos.
A mídia detalhou minuciosamente os aspectos mais sangrentos da cena do
crime, convidando-os em um espetáculo, sempre com novidades que cativaram a
atenção do público e geram uma crescente revolta com o caso.
É inegável que a grande mídia exerceu uma forte influência no julgamento do
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caso, e isso pode ter sido influenciado pela entrevista concedida por Suzane ao
programa Fantástico.
Após ter seu Habeas Corpus deferido em 2005, ela foi entrevistada pelo
programa em abril de 2006, onde chorou e assumiu uma postura infantilizada,
alegando que foi influenciada pelo namorado Daniel a cometer o crime.
No entanto, antes da gravação, com o microfone ainda ligado, foi captada
uma conversa entre ela e seu advogado, onde o advogado a instrui a agir de uma
certa forma e Suzane responde dizendo que não conseguiria fingir tristeza.
Um dia após a divulgação da entrevista, Suzane foi presa novamente, sob a
alegação de que colocava a vida de seu irmão em risco.
A reportagem exibida pelo Fantástico foi utilizada como meio de prova no
processo por um tempo, mas foi produzida de forma ilícita, pois não havia
autorização para a captura de áudios antes do início da entrevista.
Posteriormente, os advogados impetraram o HC 59.967 perante o STJ, que
decidiu pelo desentranhamento da gravação do processo.
Aproximadamente cinco mil pessoas se inscreveram para ocupar os lugares
disponíveis no Fórum durante o julgamento. Ao final, Suzane e Daniel foram
condenados à pena de 39 anos de reclusão e 6 meses de detenção, enquanto
Cristian foi condenado a pena de 38 anos de reclusão e 6 meses de detenção.
O caso despertou grande indignação e repulsa na população, especialmente
em relação a Suzane, e ainda hoje, muitos anos depois, qualquer notícia relacionada
a ela é motivo para reportagens, retrospectivas e análises sobre sua vida atual.
REFERÊNCIAS
BALEM, Isadora Forgiarini. O Impacto das fake news e o fomento dos discursos
de ódio na sociedade em rede: a contribuição da liberdade de expressão na
consolidação da democracia. Congresso Internacional de Direito e
Contemporaneidade, Santa Maria, p. 8, nov. 2017.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 22. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2017
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal: E sua conformidade constitucional. Rio
de Janeiro: Lupen Juris, 2008.