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TRIBUNAL DO JÚRI EM CRIMES DE GRANDE REPERCUSSÃO

RESUMO
O artigo analisa o papel da mídia no Tribunal do Júri, destacando sua influência na
formação de opiniões e na tomada de decisões dos jurados. Através de uma revisão
abrangente da literatura, o estudo identifica como a cobertura midiática de casos
criminais pode moldar as percepções do público e dos jurados, muitas vezes
afetando o resultado dos julgamentos. A exposição constante a notícias
sensacionalistas e narrativas enviesadas pode levar os jurados a desenvolver
preconceitos e predisposições que influenciam sua visão sobre o réu e a culpa ou
inocência do mesmo. Além disso, o artigo discute o impacto das redes sociais e da
disseminação rápida de informações na era digital, ressaltando como esses fatores
ampliam ainda mais o alcance e a influência da mídia no processo judicial. Diante
desse cenário, os autores argumentam que é essencial que o sistema de justiça
reconheça e aborde a influência da mídia no Tribunal do Júri, garantindo assim
julgamentos justos e imparciais.

Palavras Chave: Processo Penal. Mídia. Influência.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 3
1. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO 5
1.1 Liberdade de expressão no ordenamento jurídico brasileiro 5
1.2. Os desafios da mídia no século XXI: novas tecnologias e a busca pela confiança
jornalística 8
1.3. Os limites da liberdade de expressão jornalística na democracia 9
2. GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS 11
2.1 Princípios no Processo Penal 13
3. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL 18
3.1 Presunção de culpa x Presunção de Inocência 19
4. Estudos de Caso 21
4.1 Caso Bruno 22
REFERÊNCIAS 31
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INTRODUÇÃO

O Direito Penal passou por diversas transformações ao longo do


tempo, evoluindo de uma abordagem punitiva para uma visão mais voltada à
harmonia social e à ressocialização dos infratores. Contudo, as mudanças na
sociedade também influenciaram a disseminação da informação, com
avanços tecnológicos como telefone, televisão e internet facilitando o acesso
instantâneo a notícias e informações. A mídia, especialmente as redes
sociais, desempenha um papel crucial na percepção da realidade e na
aplicação do Direito Penal. Dado o impacto direto desse ramo do direito na
sociedade, casos relacionados ao Direito Penal frequentemente são
utilizados pela mídia para atrair seu público, muitas vezes de maneira
sensacionalista.
Neste artigo, será explorada a influência da mídia no tribunal do júri e
em aspectos chave relacionados a essa temática. Primeiramente, será
abordado a importância da mídia e como a liberdade de informação
jornalística é regulamentada pelas leis brasileiras, considerando a expansão
dos meios de comunicação no século XXI e os desafios enfrentados
atualmente. Em seguida, será examinado algumas garantias processuais
penais previstas na Constituição Federal que estão diretamente relacionadas
ao tema, como a imparcialidade do julgador e o direito à ampla defesa. Por
fim, será investigado como a espetacularização do Direito Penal na mídia
afeta a aplicação da lei, analisando casos concretos expostos de maneira
excessiva pela mídia. O objetivo geral deste trabalho é analisar as
implicações da cobertura midiática no processo penal, identificando tanto
suas consequências negativas quanto positivas.
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1. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO

Um dos pilares essenciais do sistema democrático brasileiro é a


liberdade de expressão, consagrada pela Constituição Federal de 1988 no
artigo 5º, inciso IX, que preconiza a livre manifestação da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, sem imposição de censura
ou autorização prévia. Destaca-se, ainda, que esse direito não se restringe
ao indivíduo, sendo também um elemento vital para o funcionamento coletivo
da sociedade, permitindo a disseminação de informações e ideias, essenciais
para a preservação da democracia. Nesse contexto, a mídia e os jornalistas
exercem um papel fundamental como agentes de fiscalização e transmissão
de informações à sociedade.
Entretanto, é crucial reconhecer que a liberdade de expressão pode
confrontar-se com outros direitos e garantias fundamentais, como a
privacidade e a honra. Diante dessas situações, cabe ao Poder Judiciário a
delicada tarefa de ponderar os interesses envolvidos e buscar um equilíbrio
entre as diversas prerrogativas constitucionais. A liberdade de expressão
representa um direito fundamental protegido pela Carta Magna brasileira,
cujo exercício deve ser realizado com responsabilidade e em conformidade
com a legislação vigente. Essa liberdade é indispensável para o pleno
funcionamento da democracia e para a livre circulação de informações e
ideias na sociedade.

1.1 Liberdade de expressão no ordenamento jurídico brasileiro

A salvaguarda da liberdade de expressão, um dos pilares de um


Estado democrático, é garantida por diversos dispositivos legais no Brasil,
notadamente o artigo 5º, incisos IV e XIV, da Constituição Federal:
5

Art 5º, CF/88

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;


XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
da fonte, quando necessário ao exercício profissional; (BRASIL, 1988)

O Artigo 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos, também


chamada de Pacto de São José da Costa Rica, consagra o direito à liberdade de
pensamento e expressão. Como parte signatária deste tratado internacional, o
Brasil assume o compromisso de assegurar e proteger esse direito em seu
território. Isso reforça a liberdade de expressão como um direito humano
fundamental, cuja proteção é responsabilidade do Estado brasileiro.

Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão.


Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e
idéias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente
ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de
sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito


à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser
expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para
assegurar:

a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da


moral públicas.

3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos,


tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de
imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos
usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios
destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos à censura prévia, com o


objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da
infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência. ( CONVENÇÃO
AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969). Pacto de San José da
Costa Rica).
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É importante destacar que o direito à liberdade de expressão não é


absoluto e pode ser sujeito a restrições em determinadas circunstâncias, tais
como para proteger a honra, a privacidade ou os direitos de terceiros, assim como
para prevenir a disseminação de discurso de ódio ou de conteúdo ilegal. Portanto,
é essencial que sejam respeitados os limites necessários para o seu exercício.
Conforme observado por Canotilho e Moreira, há limitações intrínsecas à
liberdade de expressão que devem ser levadas em consideração.

"O direito à liberdade de expressão não é absoluto e pode ser restringido


em determinadas circunstâncias, tais como a proteção da honra, da
privacidade ou dos direitos de terceiros, bem como para prevenir a
disseminação de discurso de ódio ou de conteúdo ilegal" (CANOTILHO ,
JJG; MOREIRA, V. Direito Constitucional. 9ª ed. Coimbra: Almedina, 2010.
p. 894).

No texto acima, os autores abordam extensivamente os direitos


fundamentais previstos na Constituição, incluindo a liberdade de expressão. Esta
liberdade está intimamente ligada aos meios de comunicação, que se tornaram
essenciais na disseminação de informações desde o século XV. No entanto, no
Brasil, a circulação de informações pelos meios de comunicação foi sujeita à
censura por muitos anos, especialmente durante o regime militar que durou de
1964 a 1985. Assim, a proteção jurídica da liberdade de expressão foi crucial para
assegurar que os meios de comunicação desempenhassem sua função social de
informar de maneira imparcial e objetiva, garantindo à sociedade o acesso a
informações relevantes e a liberdade de expressão.
A Lei 5.250/67, conhecida como Lei de Imprensa, foi promulgada durante o
período do regime militar no Brasil, em 1967, com o intuito de controlar a liberdade
de expressão e regular a atuação dos profissionais de imprensa no país.
Estabelecendo diversas normas e restrições à atividade jornalística, como a
obrigatoriedade de registro para veículos de comunicação e jornalistas, a
legislação também prevê crimes e penalidades para aqueles considerados
"inimigos" do regime.
Contudo, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que
estabeleceu um regime democrático e consagrou a liberdade de expressão como
direito fundamental, a Lei de Imprensa tornou-se incompatível com a nova ordem
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constitucional. Em decorrência disso, sua aplicação foi questionada e, em 2009, o


Supremo Tribunal Federal (STF) julgou a Ação de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) nº 130, proposta pelo partido Democratas (DEM), na qual se
discutiu a constitucionalidade da Lei de Imprensa.
Nessa ação, o STF decidiu, por unanimidade, que a Lei de Imprensa não foi
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, o que implica na sua
inaplicabilidade e impossibilidade de ser utilizada para cercear a liberdade de
expressão no Brasil. Essa decisão do STF se embasa no princípio democrático
estabelecido na Constituição, que consagra a liberdade de expressão como um
direito fundamental e condição indispensável para a consolidação de uma
sociedade livre e democrática. Com essa determinação, a imprensa brasileira
ganhou maior liberdade e independência, deixando para trás as amarras impostas
pela Lei de Imprensa.
Atualmente, o país dispõe de outras normativas que regem a atividade
jornalística e a liberdade de expressão, tais como o Código de Ética dos Jornalistas
Brasileiros e a Lei de Acesso à Informação. Essas legislações desempenham um
papel crucial na garantia da liberdade de imprensa e na promoção da
transparência dos órgãos públicos, permitindo que a sociedade tenha acesso a
informações relevantes e exerça sua cidadania de maneira plena.

1.2. Os desafios da mídia no século XXI: novas tecnologias e a busca pela


confiança jornalística

A ascensão da internet no Brasil nos primeiros anos do século XXI


promoveu uma transformação significativa na maneira como a informação é
criada e disseminada. Anteriormente, a imprensa estava limitada a jornais,
revistas, rádio e televisão, controlados por empresas e profissionais específicos.
Com a chegada da internet, entretanto, a informação começou a ser gerada e
compartilhada por uma ampla gama de fontes e indivíduos, eliminando a
necessidade de intermediários ou especialistas.
A proliferação da internet trouxe à tona novos veículos de informação, como
websites, blogs e canais de vídeo, que possibilitaram a produção e distribuição de
conteúdo para um público cada vez mais vasto e diversificado. Esses meios de
comunicação permitem a criação de conteúdos personalizados para atender aos
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interesses e necessidades variadas dos usuários, resultando em uma


democratização mais ampla do acesso à informação. Além disso, a internet
facilitou a interação entre produtores de conteúdo e usuários, por meio de
comentários, compartilhamentos e outras formas de engajamento, fomentando
debates públicos mais inclusivos e democráticos nos quais diferentes
perspectivas podem ser expressas e discutidas.
No entanto, essa expansão do acesso à informação e à produção de
conteúdo também apresenta desafios significativos, incluindo a propagação de
notícias falsas, a polarização do debate público e a ausência de controle sobre a
qualidade e precisão das informações.
As discussões em torno da produção e disseminação de conteúdo na internet
deram origem a dois fenômenos amplamente debatidos na contemporaneidade: as
fake news e os clickbaits.
As fake news são informações falsas ou distorcidas veiculadas na internet
com o intuito de influenciar a opinião pública ou obter ganhos financeiros. Elas
frequentemente são criadas para gerar polêmicas ou explorar os receios e
inseguranças das pessoas. Embora possam ser elaboradas por indivíduos ou grupos
com más intenções, também podem surgir inadvertidamente de fontes
bem-intencionadas que negligenciam a verificação dos fatos.
Os clickbaits, por sua vez, são títulos sensacionalistas ou enganosos usados
para atrair cliques e visualizações em sites ou redes sociais. Eles muitas vezes
prometem informações intrigantes ou relevantes, mas raramente cumprem o que foi
anunciado. Os clickbaits visam impulsionar o tráfego nos sites e, consequentemente,
aumentar os lucros provenientes de publicidade.
Esses dois fenômenos prejudicam a qualidade da informação online e minam
a confiança do público nas fontes de informação. Para enfrentar esses problemas, é
crucial que os produtores de conteúdo ajam com cautela ao criar e divulgar
informações, verificando a autenticidade das notícias e evitando títulos
sensacionalistas ou enganosos. Além disso, os usuários desempenham um papel
vital ao verificar a credibilidade e veracidade das informações antes de
compartilhá-las, a fim de evitar a propagação de notícias falsas ou enganosas.
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1.3. Os limites da liberdade de expressão jornalística na democracia

A preocupação da população brasileira com a violência e a


criminalidade tem aumentado significativamente, tornando a cobertura jornalística
desses temas cada vez mais relevante. Nesse contexto, o jornalismo policial vem
se destacando como um ramo em ascensão no Brasil nos últimos anos.
Este tipo de jornalismo demanda muito dos profissionais envolvidos,
que precisam lidar com informações sensíveis e frequentemente se encontram
em situações de risco. Além disso, é essencial que possuam um amplo
conhecimento da legislação e do sistema judiciário para uma cobertura precisa
dos processos judiciais e questões relacionadas à segurança pública.
É fundamental ressaltar, no entanto, que a cobertura jornalística de
crimes e assuntos relacionados ao sistema jurídico brasileiro deve ser conduzida
de maneira ética e responsável. Os jornalistas não devem divulgar informações
que possam comprometer ou colocar em perigo a vida das pessoas envolvidas,
devendo respeitar os direitos das vítimas e dos acusados, evitando
sensacionalismo e julgamentos precipitados.
Embora o jornalismo policial desempenhe um papel importante ao
informar a população sobre crimes e questões de segurança pública, é crucial
que essa cobertura seja realizada de forma ética, responsável e respeitosa com
todos os envolvidos. Infelizmente, muitos veículos de comunicação têm
negligenciado princípios éticos, como imparcialidade e respeito à legislação, em
busca de audiência.
Programas de noticiário policial frequentemente adotam uma
abordagem intensa para atrair diferentes audiências, incluindo autoridades e a
sociedade em geral, na luta contra a criminalidade. No entanto, o controle
inadequado desses programas pode ter efeitos negativos na população.
O discurso baseado no medo, comum nesse tipo de programação,
pode gerar insegurança entre os telespectadores, contribuindo para uma
sensação constante de perigo e ameaça. Além disso, a abordagem
sensacionalista e o foco excessivo em crimes e violência podem distorcer a
realidade, levando a uma percepção distorcida do nível de criminalidade na região
e a comportamentos cautelosos por parte da população.
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"Os meios de comunicação têm um papel crucial na formação da opinião


pública sobre a segurança pública, mas a forma como esses temas são
discutidos na mídia pode gerar efeitos negativos na população. A
cobertura sensacionalista de crimes e violência pode levar as pessoas a
uma percepção equivocada do nível de criminalidade em sua região,
causando insegurança e sintomas cautelosos" (Santos, 2018, p. 20).

Por isso, é importante que a cobertura jornalística de crimes e questões


relacionadas à segurança pública seja feita de forma equilibrada e responsável,
evitando o sensacionalismo e o uso excessivo de imagens e informações que
possam gerar insegurança na população. É importante que os jornalistas tenham
em mente que seu papel é informar a população de maneira clara e objetiva, sem
criar um clima de pânico e medo.
A utilização descontrolada da liberdade de expressão jornalística pode levar
à disseminação de informações falsas, caluniosas ou difamatórias, prejudicando a
imagem de pessoas ou instituições, além de causar danos à emoção e à
admiração humana. Isso pode afetar o pleno exercício de outros direitos e
garantias constitucionais, como o direito à privacidade, à honra, à intimidade e à
segurança.
É importante que os profissionais do jornalismo atuem com base em
critérios de apuração rigorosos e busquem sempre a veracidade e a
imparcialidade nas informações divulgadas. Além disso, é importante que a
sociedade exerça seu papel de fiscalização e denúncia de casos de
desinformação e abuso da liberdade de expressão, para que sejam tomadas
medidas adequadas e necessárias para proteger os direitos e garantias previstas
na Constituição Federal.
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2. GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS

Após o fim do regime militar no Brasil, em 1985, foi necessária a


elaboração de uma nova Constituição que contemplasse os anseios da sociedade
por um regime democrático, com a garantia de direitos e liberdades individuais. A
Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, representou
uma conquista histórica para o país, estabelecendo uma série de direitos e
garantias fundamentais para os cidadãos brasileiros.
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que o Brasil é uma
República Federativa, com três poderes independentes e harmônicos entre si: o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Além disso, a Constituição estabeleceu
uma série de direitos fundamentais, como a igualdade perante a lei, a liberdade
de expressão, a liberdade de associação, a liberdade de imprensa, entre outros.
Entre os principais avanços alcançados pela Constituição de 1988,
estão o fortalecimento dos direitos das minorias, como indígenas e quilombolas, a
garantia do direito à educação, à saúde e ao meio ambiente equilibrado, além da
criação de diversos controles de proteção aos direitos humanos.
A Constituição Federal de 1988 representou um momento histórico
crucial para o Brasil, ao estabelecer uma ampla gama de direitos para os
cidadãos e também garantias para que esses direitos pudessem ser efetivados. O
destacado jurista Jorge Miranda entendeu a diferença entre direitos e garantias,
explicando que:

“Os direitos representam só por si certos bens, as garantias destinam-se a


assegurar a fruição desses bens; os direitos são principais, as garantias
acessórias; os direitos permitem a realização das pessoas e inserem-se
direta e imediatamente, por isso as respectivas esferas jurídicas; as
garantias só nelas se projetam pelo nexo que possuem com os direitos.
Na acepção jusracionalista inicial, os direitos declaram-se, as garantias
estabelecem-se.” (MIRANDA, 2005, pg. 126).

As garantias processuais penais são de extrema importância para


garantir um sistema jurídico justo e equilibrado. Antes da Constituição Federal de
1988, o sistema processual penal brasileiro era marcadamente inquisitório, ou
seja, centrado na figura do juiz, que tinha grande poder decisório no processo e
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atuava como investigador e acusador. Com a nova Constituição, foram criadas


diversas garantias processuais penais, como a presunção de inocência, o direito
ao contraditório e à ampla defesa, a retenção de provas por meio ilícito, entre
outras.

Essas garantias têm como objetivo proteger os direitos fundamentais


do acusado, assegurando que ele tenha um julgamento justo e que seja tratado
de forma digna durante todo o processo. Assim, a implementação de garantias
processuais penais no Brasil permitiu que o sistema processual penal se
aproximasse do modelo acusatório, em que as partes tenham funções claramente
definidas e o juiz atue como um árbitro imparcial, garantindo a correta aplicação
das normas e direitos fundamentais.

Essas mudanças no sistema processual penal brasileiro foram cruciais


para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito no país, garantindo que
todos sejam tratados de forma igual perante a lei. Sobre a importância das
garantias processuais penais na Constituição Federal o professor de Direito
Processual Penal Alexandre Morais da Rosa ensina que,

"O processo é a ferramenta que a sociedade tem para garantir que a


punição seja aplicada apenas aos culpados. Por isso, a Constituição exige
a necessidade de um procedimento legal para apuração de
responsabilidades penais, tem como objetivo proteger os direitos
fundamentais do acusado e assegurar a busca da verdade real. A
aplicação dessas garantias é fundamental para a garantia de um processo
justo e equilibrado, que se aproxima do modelo acusatório e se afasta do
inquisitivo. busca-se impedir que a acusação prevaleça sem provas ou
sem a oportunidade do acusado de se defender, bem como impedir que a
pena seja aplicada sem uma investigação efetiva e sem a possibilidade de
recurso.as garantias processuais penais são um dos pilares do Estado
Democrático de Direito, e devem ser respeitadas para a preservação da
liberdade individual e da justiça” (ROSA, 2013, p. 23).

Desta forma o autor destaca a importância das garantias processuais


penais na proteção dos direitos fundamentais do acusado e na busca pela
verdade real, impedindo que a acusação prevaleça sem provas ou sem a
oportunidade de defesa, e garantindo a aplicação correta da pena apenas aos
acusados.
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2.1 Princípios no Processo Penal

Os princípios do devido processo legal, contraditório, ampla defesa,


imparcialidade e não culpabilidade são fundamentais no âmbito do processo penal.
Juntos, esses princípios garantem a proteção dos direitos fundamentais do acusado
desde o início do processo até a sua conclusão.O princípio do devido processo legal
é um dos pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito, garantindo que
toda pessoa tenha direito a um processo justo e equilibrado, com a proteção de seus
direitos fundamentais desde o início do processo até a sua conclusão. Esse princípio
é essencial para garantir a aplicação da justiça e a preservação da liberdade
individual.

"O devido processo legal é um dos princípios mais importantes do Estado


de Direito. Ele exige que qualquer pessoa que esteja sujeita a um processo
legal tenha acesso a um julgamento justo e imparcial, com a garantia de um
conjunto de procedimentos e garantias processuais previamente
estabelecidas Essas garantias incluem o direito ao contraditório, o direito à
ampla defesa, o direito à produção de provas e o direito a recursos. O
devido processo legal é essencial para proteger os direitos individuais e
prevenir abusos do poder estatal" (ROSA, 2018, p. 56).

O princípio do contraditório é uma garantia fundamental do processo, que


consiste na oportunidade de ambas as partes apresentarem suas teses, argumentos
e provas, bem como de se manifestarem sobre as alegações e elementos
apresentados pela parte contrária. Esse princípio é uma das bases do processo justo
e equilibrado, uma vez que permite que todos os aspectos relevantes do caso sejam
levados em consideração pelo juiz antes de proferir sua decisão final. Além disso, o
contraditório é fundamental para a efetivação da igualdade processual entre as
partes, já que garante que ambas tenham as mesmas oportunidades de influenciar o
julgamento do juiz.

"O princípio do contraditório é uma garantia constitucional que assegura às


partes o direito de se manifestarem no processo, de produzirem provas e de
contraporem-se às alegações da parte adversa. O objetivo é buscar a
verdade real, permitindo que todas as partes envolvidas no processo tenha
a oportunidade de se manifestar e apresentar seus argumentos. É por meio
do contraditório que se garante a imparcialidade do julgamento e a defesa
dos direitos fundamentais do acusado." (CAPEZ, 2018, p. 63).
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O princípio da ampla defesa é uma das garantias processuais previstas na


Constituição Federal brasileira e é fundamental para assegurar um processo justo e
equilibrado. Esse princípio estabelece que o acusado tem o direito de apresentar
todas as provas e argumentos que possam beneficiá-lo, bem como de ser ouvido e
defendido por um advogado de sua escolha.
Assim, a ampla defesa assegura que o acusado possa exercer plenamente o
seu direito à defesa, tendo a oportunidade de contestar as provas comprovadas e
comprovadas contra si, bem como apresentar as suas próprias provas e argumentos
em sua defesa. Esse princípio visa a garantir que o processo penal não seja
marcado pela desigualdade entre as partes, permitindo que o acusado possa
exercer plenamente o seu direito à defesa, em igualdade de condições com a
acusação.
Vale ressaltar que a ampla defesa não se restringe apenas ao momento do
julgamento, mas deve ser assegurada em todas as fases do processo, desde o
inquérito policial até a fase de execução da pena. Assim, a ampla defesa é um dos
pilares do Estado Democrático de Direito e é uma garantia fundamental para a
proteção dos direitos individuais e da justiça.

"A garantia do princípio da ampla defesa, conferida pela Constituição


Federal, admitiu que fosse garantido ao acusado o direito de se manifestar e
de se defender em todas as fases do processo penal. Esse princípio
assegura que o acusado tenha a possibilidade de produzir provas,
apresentar alegações e impugnar todas as provas e argumentos
apresentados pela acusação. Sua observância é fundamental para a
proteção dos direitos fundamentais do acusado e para a busca da verdade
real. ." (SILVA, 2018, p. 287)

Embora não seja mencionado de forma direta na Constituição, o


princípio da imparcialidade é um dos pilares do processo justo e equilibrado, no
qual o juiz deve agir com imparcialidade e neutralidade, sem qualquer tipo de
preconceito, interesse ou influência externa que possa afetar a sua decisão. Esse
princípio garante que o julgamento seja baseado apenas nos fatos e nas provas
aprovadas no processo, sem influência de fatores externos que possam prejudicar
a aplicação correta da lei. O juiz deve ser um agente imparcial, responsável por
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garantir o cumprimento das normas e dos direitos fundamentais, e não um


defensor de qualquer das partes envolvidas no processo.

"A imparcialidade é o núcleo duro do processo justo. Sem ela, não há


provisões nem confiança na justiça, posição de neutralidade e
imparcialidade, sem permitir que qualquer tipo de pressão externa influencie
suas decisões” (DIDIER JR. et al., 2015, p. 236).

Sendo assim, qualquer instrução ou sentença que não seja imparcial


pode prejudicar a aplicação da lei e comprometer os direitos fundamentais das
partes envolvidas. Por isso, é responsabilidade do juiz agir com neutralidade e
imparcialidade em todos os ganhos do processo penal.
O Princípio da Não-Culpabilidade, também conhecido como presunção
de inocência, é um dos pilares do sistema penal e está previsto na Constituição
Federal. Ele estabelece que toda pessoa é considerada inocente até que se prove
sua culpa de forma cabal e mediante decisão judicial transitada em julgado.
Dessa forma, cabe ao Estado o ônus de provar a culpabilidade do acusado, e não
ao acusado o ônus de provar sua inocência. Esse princípio visa garantir a
proteção dos direitos fundamentais do indivíduo e evitar condenações injustas.
Por exemplo, durante um processo penal, o acusado deve ser tratado
como inocente até que seja comprovada sua culpabilidade de forma
incontestável, respeitando-se o direito à ampla defesa e ao contraditório. O não
cumprimento desse princípio pode levar a uma violação dos direitos fundamentais
do indivíduo e à aplicação de uma pena sem base jurídica adequada.

"O princípio da não-culpabilidade está diretamente relacionado à


presunção de inocência, que é uma garantia fundamental do Estado
Democrático de Direito. O acusado, durante todo o processo penal, deve
ser considerado inocente até que se prove o contrário, e cabe ao Estado
produzir as provas necessárias para demonstrar a sua culpa. é uma
garantia fundamental para a proteção da liberdade individual e para a
preservação da justiça. Assim, é essencial que o juiz responsável pelo
caso mantenha uma postura imparcial e não pré-julgue o
acusado,garantindo que o processo seja justo e equilibrado em todas as
suas fases” (LOPES JR., 2020, p. 123).

É importante ressaltar que todos esses princípios são interdependentes e


devem ser respeitados para a preservação da liberdade individual e da justiça e a
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observância desses princípios é fundamental para garantir a proteção dos direitos


fundamentais do acusado, a busca da verdade real e a aplicação de um sistema
punitivo mais justo e equilibrado. Tais garantias visam proteger o indivíduo contra
arbitrariedades e abusos do poder punitivo estatal, reforçando a importância do
Estado Democrático de Direito
O princípio da individualização da pena é um dos pilares do sistema penal,
que busca garantir que a pena aplicada a um infrator seja proporcional e adequada
às circunstâncias específicas de cada caso. Esse princípio reconhece a
necessidade de tratar cada pessoa de forma única, considerando suas
características pessoais, históricas, contexto social, grau de culpabilidade e demais
elementos relevantes.
No artigo 5º, XLVI, 1ª parte, da Constituição Federal dita que:

a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as


seguintes:
a) a privação ou restrição de liberdade;
b) perda de bens;
c) multas;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.”
(BRASIL 1988)

A individualização da pena visa evitar a imposição de excessivos ou


injustos, levando em conta a culpabilidade do autor do delito, bem como as
circunstâncias que envolvem o crime cometido. Isso significa que a pena deve ser
adequada ao grau de responsabilidade do infrator e proporcional à gravidade do
delito.
Para alcançar a individualização da pena, o juiz deve analisar
criteriosamente todos os elementos disponíveis, como provas cognitivas, laudos
periciais, depoimentos de testemunhas e informações sobre a vida pregressa do
condenado. Além disso, é necessário considerar as finalidades da pena, que
incluem a prevenção, a ressocialização e a retribuição.
No processo de individualização da pena, o juiz tem o dever de fundamentar
sua decisão, explicando as razões pelas quais chegou a determinada dosagem
punitiva. É importante ressaltar que cada caso é único e requer uma análise
individualizada, não podendo haver tratamento expressivo ou genérico na
aplicação das penas.
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O princípio da individualização da pena contribui para a humanização do


sistema penal, buscando tratar cada pessoa de acordo com suas particularidades
e respeitando seus direitos fundamentais. Ao considerar a personalidade do
condenado e as circunstâncias do delito, o sistema penal tem a oportunidade de
promover uma justiça mais equitativa e efetiva.

Individualizar significa tornar individual uma situação, algo ou alguém,


quer dizer particularizar o que antes era genérico, tem o prisma de
especializar o geral, enfim possui o enfoque de, evitando estandardização,
distinguir algo ou alguém, dentro de um contexto (NUCCI, 2005)

Ou seja, desta forma a pena imposta a um réu não pode ultrapassar a


pessoa condenada

3. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL

A mídia exerce grande influência na sociedade e também pode ter


impacto significativo no processo penal. A cobertura midiática de casos criminais
pode influenciar a opinião pública, criar preconceitos e interferir na imparcialidade
dos jurados e juízes.
O princípio da presunção de inocência, por exemplo, pode ser afetado
pela cobertura midiática sensacionalista que retrata o acusado como culpado
antes mesmo de ser julgado. A ampla defesa pode ser prejudicada pela
exposição excessiva da defesa na mídia, o que pode limitar a capacidade do
advogado de construir uma defesa efetiva.
Além disso, a pressão pública gerada pela mídia pode levar a decisões
precipitadas ou mantidas em popularidade, em vez de evidências e argumentos
legais. O princípio do contraditório pode ser afetado quando a mídia não oferece
espaço igual para a defesa expor sua versão dos fatos.
Por outro lado, a mídia também pode ter um papel importante na
transparência do processo penal, trazendo à tona casos de injustiça e corrupção.
A cobertura responsável e ética pode ajudar a garantir que os julgamentos sejam
18

justos e baseados em evidências, além de dar voz às vítimas e suas famílias.


Conforme destacado anteriormente, a mídia tem sido influenciada pelo
crescimento das redes sociais, o que tem gerado uma competição intensa pela
informação instantânea e pela atenção dos espectadores. Em consequência
disso, alguns veículos de comunicação tradicionais têm negligenciado seus
princípios, incluindo a obrigação de informar de forma imparcial, comprometendo
assim a qualidade do jornalismo.
Essas práticas colocam em risco não apenas a confiança da mídia,
mas também vários fundamentos do processo penal, como a presunção de
inocência, a imparcialidade do julgamento e a garantia da ampla defesa. A
influência da mídia no processo penal deve ser tratada com cautela, a fim de se
preservar a justiça e o equilíbrio no sistema de justiça criminal.
A espetacularização do direito penal tem se tornado uma preocupação
crescente na sociedade contemporânea. A mídia, com o objetivo de capturar a
atenção do público e aumentar sua audiência, muitas vezes nega a
imparcialidade e a responsabilidade ética ao noticiar casos criminais.
Essa prática pode contribuir para a formação de opiniões equivocadas
e preconceituosas por parte da sociedade, além de colocar em risco a garantia de
um julgamento justo e imparcial. O uso das novas tecnologias pela mídia tem
intensificado ainda mais essa problemática, tolerante a adoção de medidas que
assegurem o respeito aos princípios éticos e a preservação dos direitos
fundamentais dos envolvidos no processo penal.

"Em uma sociedade altamente midiática, a comunicação assume um


papel central na formação da opinião pública e no estabelecimento de
julgamentos sociais. Nesse contexto, a mídia adquire um poder
considerável, sendo capaz de influenciar a opinião pública e o próprio
sistema judicial, e de afetar A espetacularização do direito penal é um
fenômeno complexo e multifacetado, que abrange desde a produção de
notícias sensacionalistas e o uso de imagens impactantes, até a
exploração da dor e do sofrimento das vítimas e estigmatização dos
acusados. A prática da espetacularização do direito penal compromete o
direito à presunção de inocência, o princípio da imparcialidade do juiz, a
garantia do devido processo legal e a proteção da motivação humana,
entre outros direitos fundamentais.É preciso, portanto, uma reflexão crítica
sobre o papel da mídia na cobertura dos casos criminais, bem como uma
atuação mais consciente e ética dos profissionais da imprensa, em
respeito aos valores democráticos e aos direitos fundamentais dos
cidadãos." (CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MOREIRA, Vital.
Fundamentos da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2018. p. 792.)
19

Os autores destacam a importância da comunicação na formação da


opinião pública e na influência do sistema judicial, especialmente em uma
sociedade altamente midiática. A mídia, ao buscar audiência e lucro, pode adotar
práticas sensacionalistas na cobertura de casos criminais, o que compromete os
princípios fundamentais do direito penal, como a presunção de inocência, a
imparcialidade do juiz, ou devido ao processo legal e a proteção dos direitos
humanos. Por isso, é necessária uma reflexão crítica sobre o papel da mídia na
cobertura desses casos, bem como uma atuação mais ética e consciente dos
profissionais da imprensa, em respeito aos valores democráticos e aos direitos
fundamentais dos cidadãos.

3.1 Presunção de culpa x Presunção de Inocência

No direito penal brasileiro, a presunção de inocência é um princípio


fundamental que estabelece que toda pessoa é considerada inocente até que se
prove o contrário, ou seja, até que uma sentença judicial condenatória transitada
em julgado. Isso significa que cabe ao Estado provar a culpabilidade do acusado,
e não o contrário.

"A presunção de inocência é um direito fundamental de todo acusado e é


assegurada pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, o qual
determina que 'ninguém será considerado julgado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória'. Esse princípio é a 'pedra angular do
processo penal', pois garantido a proteção dos direitos individuais, a
liberdade individual e concedida da pessoa humana" (BITENCOURT, 2017
.p. 484).

A importância da presunção de inocência não pode ser subestimada.


Ela é um dos pilares do Estado Democrático de Direito e garante a proteção dos
direitos individuais, a liberdade humana e a liberdade pessoal. Sem ela, os
indivíduos estariam sujeitos a prisões arbitrárias e condenações injustas, violando
a justiça e a equidade no sistema de justiça criminal. Portanto, a presunção de
inocência é uma garantia fundamental que assegura a integridade e a justiça no
processo penal, e sua importância deve ser sempre respeitada e protegida.
20

A presunção de culpa, por sua vez, é uma ideia contrária à presunção


de inocência. Ela parte do orçamento de que uma pessoa é culpada até que se
prove o contrário, invertendo a lógica de responsabilidade que rege o processo
penal. A presunção de culpa é uma postura adotada por algumas autoridades,
órgãos e instituições, que tendem a assumir a culpabilidade de determinados
indivíduos sem a comprovação legal.

"O Estado não pode partir do orçamento de que uma pessoa é culpada até
que se prove o contrário. A presunção de inocência é uma garantia
fundamental que assegura a proteção dos direitos individuais e humanos
adquiridos de um indivíduo sem a comprovação legal, é uma violação grave
dos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito." (Barroso,
2015, pg. 583).

No direito penal brasileiro, a presunção de culpa é vedada pelo


princípio da presunção de inocência. Isso significa que, para que alguém seja
considerado culpado de um crime, é necessário que haja provas robustas e
incontestáveis ​de sua responsabilidade. O ônus da prova cabe ao Estado, que
deve demonstrar de forma clara e objetiva a culpabilidade do acusado, sob pena
de violar a garantia fundamental da presunção de inocência.

A presunção de culpa é uma postura incompatível com o Estado


Democrático de Direito, pois viola as garantias constitucionais e os direitos
humanos. Além disso, ela pode levar a erros julgados e injustiças, pois não leva
em consideração a presunção de inocência e a necessidade de provar. Por essa
razão, é essencial que a presunção de culpa seja combatida e que a presunção
de inocência seja protegida e respeitada, garantindo a justiça e a equidade no
processo penal.

4. Estudos de Caso

A influência da mídia nas decisões de julgamento é um tema relevante


e complexo, que desperta debates sobre o papel dos meios de comunicação na
formação da opinião pública e na imparcialidade dos julgamentos. A mídia possui
um poder de alcance e de persuasão significativo, podendo moldar a percepção
do público sobre determinados casos e influenciar o resultado das decisões
21

judiciais.
Para um estudo de casos concretos sobre essa temática, é possível
analisar diversas situações em que a mídia teve um impacto na condução de
processos judiciais. Um exemplo notório é o caso do julgamento do ex-goleiro
Bruno Fernandes, condenado pelo assassinato de Eliza Samudio. A ampla
cobertura midiática do caso e a exposição intensa dos detalhes impactaram o
desenrolar do processo e, possivelmente, influenciaram a opinião pública e,
consequentemente, o veredito final.
Outro exemplo é o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
teve sua prisão e prisão amplamente divulgada pela mídia. A cobertura intensa do
caso gerou debates acalorados na sociedade e questionamentos sobre a
imparcialidade do julgamento e a influência da opinião pública não resultaram no
processo.
Esses casos evidenciam a importância de se analisar de forma crítica o
impacto da mídia nas decisões judiciais, levando em consideração tanto os
direitos dos indivíduos dos envolvidos quanto a necessidade de um sistema
jurídico imparcial e justo. O estudo de casos concretos pode fornecer insights
valiosos sobre as possíveis influências da mídia no sistema de justiça e contribuir
para reflexões a respeito da busca por uma justiça equânime e independente.

4.1 Caso Bruno

O caso envolvendo o ex-goleiro Bruno Fernandes ficou conhecido como o


"Caso Bruno" e teve grande repercussão midiática no Brasil. Bruno foi acusado e
condenado pelo sequestro, assassinato e ocultação do corpo de Eliza Samudio, com
quem ele teve um relacionamento extraconjugal e um filho. A mídia acompanhou de
perto todos os acontecimentos do caso, desde o desaparecimento de Eliza até a
descoberta de detalhes do crime.
A influência da mídia no processo do Caso Bruno foi significativa. A cobertura
intensa e sensacionalista dos veículos de comunicação gerou uma enorme
repercussão pública, alimentando debates acalorados na sociedade. As manchetes
e reportagens sensacionalistas conseguiram influenciar a opinião pública e criar uma
imagem negativa de Bruno antes mesmo do julgamento, o que pode ter afetado a
22

imparcialidade do julgamento e a formação do corpo de jurados.


Além disso, a exposição midiática dos detalhes do crime e das questões
podem ter impactado diretamente a condução do processo. A pressão da mídia para
a resolução rápida do caso e a busca por culpados podem ter influenciado a forma
como o inquérito foi conduzido e as provas foram aprendidas durante o julgamento.

“A mídia noticiosa teve, indubitavelmente, uma influência inegável no caso


Bruno, a solução do caso, conforme a lei processual penal." (WELSCH
,2018, p. 92).

É importante ressaltar que a influência da mídia no processo judicial não deve


ser vista como algo exclusivo desse caso específico. A exposição midiática intensa e
sensacionalista pode afetar a imparcialidade, tanto dos jurados quanto dos próprios
juízes, e gerar pressão que comprometem o direito a um julgamento justo e
equitativo.
O caso Bruno serve como um exemplo ilustrativo de como a mídia pode
exercer influência no sistema de justiça, ressaltando a necessidade de reflexão e
debate sobre a forma como a cobertura midiática é conduzida em casos criminais,
para garantir que os princípios fundamentais do processo sejam justos e
preservados.

4.2 Caso Isabella Nardoni

Isabella Nardoni foi uma menina brasileira que morreu no ano de 2008 à
idade de cinco anos. Sua morte foi um caso de grande repercussão no Brasil, já que
seu pai e sua madrasta foram acusados ​e condenados por seu assassinato.
Na noite de 29 de março de 2008, Isabella passou o fim de semana com seu
pai biológico, Alexandre Nardoni, e sua madrasta, Anna Carolina Jatobá, no
apartamento deles em São Paulo.
Essa noite, após uma discussão culminou com Isabella caiu da janela do
sexto andar do edifício.
Os vizinhos do prédio ligaram para a polícia depois de ouvir gritos e ver
alguém jogar algo da sacada. Quando a polícia chegou, encontrou Isabella no chão,
gravemente ferida. Ela foi levada para um hospital próximo, mas não pôde ser salva.
A investigação revelou que o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, estava
23

segurando-a no colo minutos antes de sua queda. Além disso, foram encontradas
provas de que Anna Carolina Jatobá participou da discussão que levou à morte de
Isabella. Ambos foram presos e julgados por homicídio qualificado.
O caso foi altamente midiático e causou comoção no Brasil. Tanto o padrasto
quanto a mãe de Isabella negaram ter cometido o crime, mas as provas obtidas pela
acusação foram suficientes para condená-los à prisão. Alexandre Nardoni foi
condenado a 31 anos de prisão e Anna Carolina Jatobá a 26 anos e 8 meses de
prisão.
Durante o período do delito, o Juiz Maurício Fossen concluiu que havia provas
que apontavam para a responsabilidade do casal pelos crimes, e ordenou a
detenção cautelar. É evidente que essa decisão foi influenciada pelo sentimento
público. As condições da prisão foram atingidas da seguinte forma:

“Assim, frente a todas essas considerações, entendendo este Juízo estarem


preenchidos os requisitos previstos nos arts. 311 e 312, ambos do Código
de Processo Penal, DEFIRO o requerimento formulado pela D. Autoridade
Policial, que contou com a manifestação favorável por parte do nobre
representante do Ministério Público, a fim de decretar a PRISÃO
PREVENTIVA dos réus ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA
CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ, por considerar que além de existir
prova da materialidade do crime e indícios concretos de autoria em relação
a ambos, tal providência também se mostra justificável não apenas como
medida necessária à conveniência da instrução criminal, mas também para
garantir a ordem pública, com o objetivo de tentar restabelecer o abalo
gerado ao equilíbrio social por conta da gravidade e brutalidade com que o
crime descrito na denúncia foi praticado e, com isso, acautelar os pilares da
credibilidade e do prestígio sobre os quais se assenta a Justiça que, do
contrário, poderiam ficar sensivelmente abalados.”

O caso de Isabella Nardoni tornou-se um símbolo da violência doméstica e do


abuso infantil no Brasil. A tragédia deixou uma marca inegavel na sociedade
brasileira e levou a mudanças na legislação brasileira em relação ao abuso infantil.
Uma das mudanças na legislação brasileira em relação ao abuso infantil após
o caso de Isabella Nardoni foi a Lei nº 13.010/2014, que instituiu o Programa de
Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência. Esta lei
estabelece medidas de proteção e assistência integral a crianças e adolescentes
vítimas ou testemunhas de violência, incluindo o atendimento especializado, a
escuta protegida e a garantia de não revitimização durante o processo judicial.
24

O caso de Isabella Nardoni teve uma grande influência na mídia, tanto


durante o processo penal quanto depois da prisão dos réus. A intensa cobertura dos
meios de comunicação ajudou a expor o caso ao público em geral, gerando grande
comoção e indignação em todo o país.
Durante o julgamento, a cobertura da mídia levou a um grande interesse do
público no caso e aumentou a pressão sobre o sistema judicial brasileiro para
encontrar justiça para a vítima. No entanto, a exposição excessiva e sensacionalista
da mídia também gerou críticas por parte de alguns setores da sociedade, que
argumentaram que a cobertura da mídia poderia influenciar o resultado do
julgamento e o trabalho dos jurados.
Além disso, a influência da mídia persistiu mesmo após a audição dos réus,
com diversos veículos de comunicação acompanhando a história e divulgando
atualizações sobre a situação dos réus na prisão.

Um exemplo foi o ocorrido no caso Isabella Nardoni

“A população, então tomou as ruas e passou a se manter aglomerada de


frente à residência do casal e nas portas da delegacia de Polícia, exigindo a
apresentação dos culpados e sua punição exemplar. (FREITAS, 2018)

No geral, a influência da mídia no caso de Isabella Nardoni pode ser vista


como tendo tanto pontos positivos quanto negativos. Por um lado, a cobertura da
mídia ajudou a expor um crime hediondo e colocou pressão sobre o sistema judicial
para encontrar justiça para a vítima. Por outro lado, a exposição excessiva e
sensacionalista da mídia também pode ter afetado o julgamento e a opinião pública
sobre o caso.

4.3 Caso Eloá

O caso de Eloá Cristina Pimentel, uma jovem de 15 anos que foi mantida
refém pelo ex-namorado por cinco dias em 2008, gerou grande comoção nacional e
25

se tornou um marco na discussão sobre violência doméstica e atuação policial em


situações de crise. Neste capítulo do TCC, serão vistos detalhes sobre o caso,
desde o início do relacionamento conturbado até o desfecho trágico.
Eloá Cristina Pimentel e Lindemberg Alves tentaram namorar em 2007, mas o
relacionamento foi marcado por brigas e agressões. Em fevereiro de 2008, Eloá
decidiu terminar o namoro e Lindemberg não aceitou a decisão.
No dia 13 de outubro do mesmo ano, Eloá, sua amiga Nayara e mais dois
colegas foram até a casa da vítima para realizar um trabalho escolar. Entretanto, a
tarde tranquila se transformou em um verdadeiro pesadelo quando o ex-namorado
de Eloá, Lindemberg Alves, invadiu o apartamento e fez os quatro jovens de reféns.
A Polícia Militar foi chamada ao local e iniciada como vítima de Lindemberg
para que ele a libertasse como reféns. A mídia foi chamada para tomar
conhecimento do caso e, em pouco tempo, equipes de todas as emissoras de
televisão se deslocaram até Santo André para cobrir o ocorrido.
O caso se tornou uma espécie de reality show, com a especulação sobre o
crime aumentando a cada minuto e a mídia interferindo de diversas formas na
situação. Após a chegada da mídia ao local, a cobertura jornalística do caso Eloá
tomou decisões energéticas. Os canais de televisão montam estúdios improvisados
​próximos ao prédio onde ocorria o sequestro e transmitem ao vivo a todo o país,
trazendo informações e atualizações constantes sobre a situação dos reféns.
Os jornalistas se revezavam em escalas de plantão para garantir a cobertura
24 horas por dia, criando um verdadeiro espetáculo midiático. A imprensa invadiu a
privacidade dos moradores do prédio, ocupando apartamentos vizinhos para ter
melhores ângulos de visão do cativeiro.
Os repórteres também buscavam depoimentos e informações de familiares e
amigos das vítimas, gerando grande desconforto para aquelas pessoas que já
viviam momentos de tensão e angústia.
A cobertura da mídia se intensificou ainda mais após a saída de Nayara do
cativeiro. A partir daí, a atenção dos jornalistas se concentrou na libertação da jovem
e na negociação com o sequestrador Lindemberg.
A pressão midiática sobre a polícia e as autoridades envolvidas no caso era
enorme, e a todo momento era questionado o porquê da demora na resolução do
sequestro. A população acompanhava tudo em tempo real, e as redes sociais
também se tornavam um meio de divulgação e compartilhamento de informações
26

sobre o caso.
No dia 15 de outubro a jovem Nayara voltou ao apartamento onde a amiga
estava em cativeiro, mesmo contra a posição do GATE, pois a polícia considerou
que dessa forma ela ajudaria nas negociações.
Nesse mesmo dia a apresentadora do programa “A tarde é sua”, Sônia Abrão
realizou uma entrevista ao vivo com o sequestrador Lindemberg, em seu programa
transmitido na Rede Tv. Durante toda a entrevista Sonia realizou perguntas
sensacionalistas inclusive sobre o namoro entre Lindemberg e Eloá, e as motivações
que o levaram cometer o feito, inclusive pediu para falar com a jovem Eloá, mesmo
ela sendo feita de refém pelo ex-namorado. Nesse sentido o sociólogo Rodrigo
Pimentel :

“A Sônia Abrão, da RedeTV, a Record e a Globo foram irresponsáveis e


criminosas. O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande
que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador das reféns
mais nervoso, como deixaram; poderiam atrapalhar a negociação, como
atrapalharam... O telefone do Lindemberg estava sempre ocupado, e o
capitão Adriano Giovaninni (negociador da polícia militar) não conseguia
falar porque a Sonia Abrão queria entrevistá-lo. Ele ficou visivelmente
nervoso quando a Sonia Abrão ligou, e ela colocou isso no ar.
Impressionante! O Lindemberg falou: ‘’quem são vocês, quem colocou isso
no ar, como conseguiram o meu telefone?’’ ( PIMENTEL, 2009, pg. 166)

Enquanto isso, Eloá e Nayara permaneceram em cativeiro, vivendo


momentos de terror nas mãos de Lindemberg. A tensão no local era crescente, e os
efeitos se arrastavam por horas sem um desfecho aparente.
De acordo com Pimentel, a atitude da mídia brasileira foi extremamente
irresponsável e criminosa, tanto que ele acreditava que o Ministério Público deveria
responsabilizá-las por parte do ocorrido.
No dia 17 de outubro de 2008, o sequestro de Eloá chegou a um fim trágico.
Após a intervenção da Tropa de Choque e do GATE, Lindemberg atirou contra Eloá,
acertando um tiro na virilha e outro na cabeça da jovem, e Nayara, atingindo-a no
rosto. Eloá foi levada inconsciente ao hospital, mas após dois dias foi constatada a
morte cerebral.
A crítica em relação à cobertura da mídia no caso Eloá não se limita apenas à
entrevista realizada pela apresentadora Sônia Abrão. O erro da mídia já começou no
27

início, com a transmissão ao vivo do sequestro, algo que nunca deveria ter sido
permitido.
A notícia só deveria ser divulgada após a resolução do crime, para evitar a
cobertura sensacionalista que acabou ocorrendo. Essa atitude pode ter contribuído
para a escalada da violência e para a tragédia que se seguiu.
Após a conclusão do sequestro com o trágico consumado, Lindemberg foi
preso em flagrante e denunciado pelos crimes de homicídio duplamente qualificados
(motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio
qualificado (praticado para assegurar a execução de outro crime) , cárcere privado e
tiro de arma de fogo. Em 2012, após um julgamento de quatro dias, ele foi
condenado a 98 anos e 10 meses de prisão por crimes cometidos.

4.4 Caso Von Richthofen

No dia 31 de outubro de 2002, ocorreu o caso conhecido como Richthofen, no


bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo. O assassinato brutal do casal Manfred
Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen chamou a atenção da mídia e do
público, devido ao fato de uma família ser muito rica e morar em uma mansão em
uma região segura da cidade.
Os golpes na região da cabeça, desferidos com um objeto desconhecido
enquanto o casal dormia, foram extremamente cruéis. Toalhas molhadas e sacos
plásticos também foram usados ​para sufocar as vítimas, que sofreram em suas
mortes.
A cena na casa representou presenças de um assalto, levando a crer que o
casal teria sido vítima de um roubo que acabou em tragédia.
Após minuciosos inquéritos e perícias, foi concluído que Suzane Louise von
Richthofen, na época com 19 anos, arquitetou minuciosamente o assassinato dos
próprios pais, com a ajuda do então namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão deste,
Cristian Cravinhos.
Passava da meia-noite quando o trio chegou à casa, após deixarem o irmão
mais novo de Suzane, Andreas, em um Cyber ​Café. Dias antes do crime, Suzane
havia desligado o alarme e as câmeras de vigilância da residência. Após entrarem
na casa, Daniel se posicionou ao lado da cama onde Manfred dormia e Cristian ao
28

lado da cama onde Marísia dormia e, com a ajuda de um objeto construído por
Daniel, uma espécie de barra de ferro com algo em sua ponta, desferiram vários
golpes nas vítimas.
Após cometer o duplo homicídio, o trio tentou camuflar a cena do crime,
simulando um latrocínio. A polícia foi chamada na mesma madrugada e, ao
descobrirem os corpos do casal, a polícia ficou preocupada em como dar a notícia
aos irmãos.
Suzane recebeu a notícia da morte dos pais com total indiferença,
questionando quais medidas seriam tomadas em relação à herança. No dia
seguinte, a polícia voltou à casa para continuar a investigar e encontrou Suzane e
Daniel dentro da piscina. Na delegacia, o casal agia de forma estranha, trocando
carícias e declarações de amor.
O comportamento de Suzane e Daniel chamou a atenção da polícia, que já
havia descartado a hipótese de roubo na residência. Além disso, os depoimentos do
irmão de Suzane, que relataram as brigas constantes entre a irmã e os pais devido
ao namoro com Daniel, e do vigia da rua, que afirmaram ter visto apenas o carro de
Suzane na noite do crime, levantaram suspeitas sobre o casal.
Após a prisão dos três suspeitos, a mídia continuou a cobrir o caso
intensamente, incluindo a divulgação de detalhes como o desaparecimento de uma
grande quantia em dinheiro em dólares da casa no dia do crime. No entanto, a
mentira do trio chegou ao fim quando Cristian usou dólares para pagar uma moto
recém-adquirida, o que suspeitou do vendedor e o levou a denunciar à polícia. Sob
pressão, Cristian acabou confessando o crime e relatando todo o ocorrido.
posteriormente, tanto Suzane quanto Daniel também confessaram envolvimentos no
assassinato.
A cobertura midiática do caso foi intensa, desde as primeiras horas até o
desenrolar do processo penal. Diariamente, novas imagens inéditas da casa da
família foram divulgadas, juntamente com a gravação de depoimentos e entrevistas
com psiquiatras que analisaram o perfil psicológico de Suzane, a qual era descrita
como narcisista, egocêntrica e outros adjetivos.
A mídia detalhou minuciosamente os aspectos mais sangrentos da cena do
crime, convidando-os em um espetáculo, sempre com novidades que cativaram a
atenção do público e geram uma crescente revolta com o caso.
É inegável que a grande mídia exerceu uma forte influência no julgamento do
29

caso, e isso pode ter sido influenciado pela entrevista concedida por Suzane ao
programa Fantástico.
Após ter seu Habeas Corpus deferido em 2005, ela foi entrevistada pelo
programa em abril de 2006, onde chorou e assumiu uma postura infantilizada,
alegando que foi influenciada pelo namorado Daniel a cometer o crime.
No entanto, antes da gravação, com o microfone ainda ligado, foi captada
uma conversa entre ela e seu advogado, onde o advogado a instrui a agir de uma
certa forma e Suzane responde dizendo que não conseguiria fingir tristeza.
Um dia após a divulgação da entrevista, Suzane foi presa novamente, sob a
alegação de que colocava a vida de seu irmão em risco.
A reportagem exibida pelo Fantástico foi utilizada como meio de prova no
processo por um tempo, mas foi produzida de forma ilícita, pois não havia
autorização para a captura de áudios antes do início da entrevista.
Posteriormente, os advogados impetraram o HC 59.967 perante o STJ, que
decidiu pelo desentranhamento da gravação do processo.
Aproximadamente cinco mil pessoas se inscreveram para ocupar os lugares
disponíveis no Fórum durante o julgamento. Ao final, Suzane e Daniel foram
condenados à pena de 39 anos de reclusão e 6 meses de detenção, enquanto
Cristian foi condenado a pena de 38 anos de reclusão e 6 meses de detenção.
O caso despertou grande indignação e repulsa na população, especialmente
em relação a Suzane, e ainda hoje, muitos anos depois, qualquer notícia relacionada
a ela é motivo para reportagens, retrospectivas e análises sobre sua vida atual.

“ Ademais, a vida pessoal de Suzane Von Richthofen é alvo de constantes


matérias jornalísticas e em várias ocasiões: quando se declarou evangélica,
quando uniu-se afetivamente com outra detenta no presídio, quando ficou
noiva do irmão de uma das detentas e quando perdeu os benefícios do
regime semiaberto, em 2016, sendo confinada em solitária, após ter sido
divulgado no programa Fantástico, da Rede Globo (2016), o fato de ter
fornecido endereço errado por ocasião da saída que lhe foi permitida para
passar o Dia das Mães fora da prisão. (LEITE, 2017, p. 199)”
30

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