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Rede de Ensino Doctum – João Monlevade

Trabalho de conclusão de curso II

DIREITO AO ESQUECIMENTO E AS MÍDIAS SOCIAIS

Amanda Dark Gomes de Souza1


Ícaro Trindade Carvalho 2

RESUMO
Com o advento da internet, a forma como as pessoas se conectam passou por uma
transformação significativa. Isso trouxe à tona questões relacionadas à exposição e sua
implicação no direito à privacidade, um direito protegido pela Constituição Federal de
1988. Diante desse contexto, o conceito de "direito ao esquecimento" emerge como uma
medida para limitar a divulgação de informações, mesmo que sejam verdadeiras,
quando estas atingem a esfera do interesse pessoal e não público. Neste contexto,
propomos uma análise do instituto do direito ao esquecimento, considerando a nova
realidade da sociedade na era digital. É crucial estabelecer limites para a circulação de
informações sem violar questões de caráter estritamente pessoal. Utilizando uma
metodologia dedutiva, que parte de premissas gerais para chegar a conclusões
específicas, e baseando-se em doutrinas, jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
e na Lei nº 12.965/2014, que regula o Marco Civil da Internet, examinamos como o
direito ao esquecimento é aplicado no âmbito nacional. Além disso, investigamos como
a remoção de dados na internet pode ser uma ferramenta útil nos casos em que
informações privadas de indivíduos são divulgadas, sem prejudicar o direito à liberdade
de expressão, também protegido pela Constituição. Por fim, observa-se que o direito ao
esquecimento é um conceito que, embora seja frequentemente mencionado em
julgamentos e ações, ainda carece de uma legislação específica para sua
regulamentação, destacando sua evolução e importância no contexto jurídico brasileiro.

Palavras-chave: Internet. Direito ao Esquecimento. Liberdade de Expressão. Direito


Digital e Direito Constitucional.

1
Seu currículo
2
Curriculo meu
INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico na área da comunicação e o surgimento da internet


trouxeram inúmeras vantagens para a sociedade, como a facilidade de comunicação e
interação entre as pessoas. Entretanto, essa evolução tecnológica também apresentou
alguns problemas, especialmente no que diz respeito à privacidade e proteção de dados
pessoais de seus usuários.
Dentre os diversos desafios enfrentados pelas mídias sociais, destaca-se a
questão do direito ao esquecimento. Esse direito é um tema bastante controverso e ainda
pouco conhecido ao público geral, mas que vem sendo cada vez mais discutido na
esfera jurídica.
O direito ao esquecimento é um tema que tem ganhado cada vez mais destaque
no contexto da Internet. Com o aumento exponencial da quantidade de informações
disponíveis na rede, muitas vezes é difícil para as pessoas controlarem a exposição de
dados pessoais e a divulgação de eventos passados que gostariam de esquecer.
Nesse contexto, autores como Eduardo Magrani,(2018) e Doneda,(2012) têm
trazido contribuições importantes para a discussão do tema. O direito ao esquecimento é
um conceito que se refere à possibilidade de uma pessoa apagar ou limitar a divulgação
de informações pessoais antigas, que não têm mais relevância para a sua vida atual. O
objetivo é proteger a privacidade e a dignidade da pessoa, evitando que informações
antigas, mas potencialmente prejudiciais, continuem circulando na internet.
Para Magrani (2018), autor do livro "Direito ao Esquecimento na Internet", o
direito ao esquecimento é uma extensão do direito à privacidade e à proteção de dados
pessoais. Ele argumenta que, embora a Internet tenha possibilitado a democratização do
acesso à informação, ela também tem gerado um grande volume de dados que podem
ter impactos negativos na vida das pessoas, especialmente em relação a eventos.
Já Doneda (2012), em sua obra "Direito ao Esquecimento e Proteção de Dados
Pessoais na Internet", destaca a necessidade de se encontrar um equilíbrio entre o direito
à privacidade e o direito à liberdade de expressão e informação. Ele argumenta que a
aplicação do direito ao esquecimento deve ser feita de forma cautelosa, levando em
conta os interesses em jogo e os impactos que a remoção de informações pode ter na
sociedade como um todo.
No contexto das mídias sociais, o direito ao esquecimento se torna ainda mais
complexo, uma vez que, essas plataformas permitem a divulgação de informações em
tempo real, muitas vezes sem a possibilidade de remoção posterior. Além disso, as
mídias sociais são frequentemente utilizadas como ferramenta para o exercício de
direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e o acesso à informação.
Diante dessas diferentes perspectivas, é possível perceber que o direito ao
esquecimento é um tema complexo e que ainda está em construção no contexto da
Internet. É fundamental que sejam levados em conta os princípios da privacidade, da
proteção de dados pessoais e da liberdade de expressão, de modo a garantir a proteção
dos direitos fundamentais das pessoas na era digital.
Assim, o presente trabalho busca objetivo analisar o direito ao esquecimento e
sua aplicação na remoção de conteúdo, considerando seus aspectos jurídicos, sociais e
seus regimentos. Foram abordados temas como direitos fundamentais, o direito a
privacidade e sua relação com o direito ao esquecimento, bem como foi feita a análise
das políticas de privacidade adotada pela plataforma digital Google.
Para tanto, foi realizada pesquisas bibliográficas e análises jurisprudenciais na
área do direito digital e direito constitucional. Espera-se, com esse estudo, contribuir
para a compreensão do tema e para o desenvolvimento de propostas e soluções que
conciliem a proteção da privacidade e a garantia dos direitos fundamentais no mundo
digital.

CAPÍTULO 1 – Dos Direitos Fundamentais

No sistema jurídico brasileiro, os direitos fundamentais tomam um papel de


grande importância, vez que, abarcam um conjunto de direitos e garantias com o
objetivo de proteger os indivíduos. Tais direitos e garantias foram criados com o
objetivo de proteger bens jurídicos individuais e coletivos, o que significa dizer que o
Estado de Direito deve assegurar condições mínimas de vida e desenvolvimento para
todos os indivíduos.
Os direitos fundamentais são essenciais para garantir a dignidade de cada
pessoa, independentemente de suas características pessoais, como origem, raça, gênero
ou religião. Eles abarcam uma ampla gama de bens jurídicos, incluindo o direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à propriedade e à privacidade. Além disso, esses direitos
podem se estender à proteção de interesses coletivos e difusos, visando ao bem-estar da
sociedade como um todo.
Sobre o tema, Fernando Gonzaga Jayme (2005), em seu livro, Direitos humanos
e sua efetivação pela corte interamericana de direitos humanos, expressou a ideia de que
os direitos fundamentais representam uma orientação que a humanidade deve seguir
para alcançar a dignidade humana. Significa dizer que através dos direitos humanos,
busca-se garantir a existência digna que promova o bom desenvolvimento dos
indivíduos. Isso implica conceder a liberdade necessária para que cada indivíduo
desenvolva plenamente sua personalidade.
O Estado tem o dever de garantir que esses direitos sejam respeitados e
promovidos. Isso envolve a criação de leis, regulamentações e políticas que protejam os
direitos humanos, bem como a atuação do sistema de justiça para assegurar sua
aplicação e defesa. Além disso, os direitos fundamentais podem incluir direitos sociais,
econômicos e culturais, como o direito à educação, à saúde, ao trabalho digno e à
moradia, contribuindo para a redução das desigualdades sociais.
Resumidamente, os direitos fundamentais desempenham um papel crucial na
proteção dos direitos humanos e na construção de sociedades mais justas e igualitárias.
Eles estabelecem os alicerces para o Estado de Direito e a proteção dos cidadãos contra
abusos de poder e violações de seus direitos.

1.1. Os Direitos Fundamentais e a Constituição de 1988.

A constituição de 1988 é reconhecida pela proteção aos direitos fundamentais,


uma vez que, resultou de um extenso processo de restauração da democracia no país
após o período de regime militar. Ela estabelece como seus princípios basilares a
soberania, a cidadania, o respeito à dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa, bem como a promoção do pluralismo político, direitos tão
relevantes diante do contexto histórico quando da sua criação.
Foi chamada de Constituição Cidadã, pois foi idealizada após o movimento que
reuniu mais de 1,5 milhão de brasileiros insatisfeitos como Governo e liderados por
Tancredo Neves, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fernando Henrique Cardoso, Mário
Covas, Luiz Inácio Lula da Silva e Pedro Simon, além de artistas e intelectuais
engajados pela causa, as chamadas Diretas Já.
A Constituição Federal de 1988 foi chamada de Constituição Cidadã, uma vez
que, foi idealizada para iniciar a redemocratização no Brasil, logo após o grande Golpe
Militar, que perdurou durante anos e atacou gravemente os direitos fundamentais dos
indivíduos, a partir do movimento Diretas Já, onde ocorreram manifestações de
insatisfação da população para com o Governo da época.
Sobre o tema, o autor Ingo Wolfgang Sarlet discorre sobre a atenção especial
que o legislador aplicou para preservar o núcleo da Constituição de 1988.

O Constituinte deixou transparecer de forma clara e inequívoca a sua


intenção de 13 outorgar aos princípios fundamentais a qualidade de normas
que fundamentam e são informativas de toda a ordem constitucional,
inclusive dos direitos fundamentais, que também integram aquilo que se pode
denominar de núcleo essencial da Constituição material. (SARLET, 2018, p.
97)

O novo texto evidência claramente, ao longo de seus títulos e capítulos, a


incorporação de princípios democráticos que atendem às diversas demandas e
pluralismo de direito de cada indivíduo. Neste contexto, diante da diversidade de
direitos criadas a partir da nova constituição, fica claro a intenção do legislador de
estabelecer a ideia de fundamentabilidade de alguns direitos. Para tanto cito as palavras
de Gilmar Ferreira Mendes sobre o assunto: “o constituinte reconheceu ainda que os
direitos fundamentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da
Constituição, considerando, por isso, ilegítima qualquer reforma tendente a suprimi-
los.” (MENDES, 2012, p. 468)
Assim, diante da preocupação do constituinte em criar uma normativa menos
vulnerável, torna-se evidente o desejo de resguardar os direitos e garantias dos
indivíduos além disso garantir a efetividade desses direitos, de modo a resguardar o
direito tutelado.
IMPORTANTE, CULMINAR NOS DIREITOS AOS QUAIS VC VAI FALAR

CAPÍTULO 2 – Do Direito à privacidade e o Direito ao Esquecimento.


É importante destacar que o direito à privacidade está expressamente
estabelecido no sistema jurídico brasileiro para salvaguardar direitos fundamentais
essenciais ao desenvolvimento de uma vida digna para os indivíduos. Esse direito
encontra-se consagrado na Constituição Federal de 1988, conforme evidenciado pelo
artigo 5º, inciso X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação”(BRASIL, 1988)
Além disso, o legislador infraconstitucional incorporou a proteção ao direito à
privacidade no artigo 21 do Código Civil Brasileiro de 2002, que estabelece: "A vida
privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, mediante solicitação do interessado,
tomará as medidas necessárias para impedir ou cessar qualquer ato contrário a essa
norma"3.
Isso evidencia, portanto, a clara intenção do legislador de incluir esse direito
tanto na Constituição quanto no texto legal ordinário. Sob essa abordagem, são
preservados não apenas o direito à privacidade, mas também outros direitos correlatos,
como a intimidade, o domicílio, as comunicações, entre outros, que estão diretamente
vinculados ao princípio fundamental de todo o sistema jurídico brasileiro, que é a
dignidade da pessoa humana.
Resumindo, o direito à privacidade representa o direito individual de decidir se
deseja tornar público ou não um determinado aspecto exclusivamente pessoal de sua
vida. Isso implica na proteção dessas informações, para que terceiros sem vínculo direto
não possam acessá-las.
Frente ao notável avanço tecnológico e ao acentuado aumento da criminalidade,
que frequentemente exige a imposição de restrições às liberdades públicas pelos
governos, torna-se evidente a gradual, porém prejudicial, redução do direito à
privacidade.
Nesse contexto, diversos questionamentos surgem em relação à natureza desse
direito fundamental, à sua aplicabilidade nas relações jurídicas privadas, conforme nota-
se na possibilidade de renúncia individual em situações de desigualdade, à capacidade
dos empregadores de monitorar as comunicações eletrônicas dos empregados, à
3
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.
extensão da garantia de sigilo de correspondência para comunicações por e-mail, à
possibilidade de restrição do sigilo de comunicações e correspondência de detentos sem
autorização judicial.
Os direitos fundamentais podem ser categorizados como regras em alguns
momentos e como princípios em outros, não obstaste, não importa a forma em que se
manifestam, esses princípios são de natureza relativas, o que significa que estão sujeitos
a restrições que são estabelecidas pelo próprio legislador durante sua criação como
normas ou pelo juiz quando são invocados em processos judiciais.
Norberto Bobbio (1992) observa que, entre os direitos fundamentais, bem raros
são aqueles que não entram em concorrência com outros direitos fundamentais, que não
são suspensos em determinadas circunstâncias ou que não são negados a determinadas
categorias de pessoas, por isso diz-se que não possuem caráter absoluto.
De acordo com as lições de Norberto Bobbio (1992), a natureza relativa dos
direitos fundamentais fica igualmente aparente quando se considera a viabilidade de
suspensão desses direitos em situações específicas.
Apesar de a Constituição brasileira garantir o direito à privacidade, é evidente na
jurisprudência uma reiterada limitação desse princípio fundamental quando se torna
necessário proteger outros interesses que se sobrepõem, destacando, desse modo, a
natureza relativa do direito à privacidade.
Ao considerar esses julgamentos, é viável identificar situações em que o direito
à privacidade é limitado devido a conflitos com outros direitos fundamentais ou valores
protegidos pela Constituição. No entanto, é importante ressaltar que essa análise só pode
ser realizada pelo Poder Judiciário ao resolver casos específicos ou pelo Poder
Legislativo ao estabelecer o direito fundamental por meio de legislação ordinária.

2.1 A conexão entre o Direito à Privacidade e o Direito ao Esquecimento

Conforme mencionado anteriormente, o direito à privacidade ocasionalmente


entra em conflito com o direito à liberdade de expressão, uma vez que a expressão pode
ultrapassar os limites da esfera privada de terceiros e divulgar assuntos pessoais. No
entanto, é importante notar que nem todo fato relacionado a terceiros que é divulgado
viola o direito à privacidade.
Dentro de uma sociedade, existem fatos de interesse público devido à sua
relevância histórica, política, social ou cultural. Portanto, informações disseminadas que
tenham utilidade mínima para terceiros não podem ser consideradas invasões à vida
privada de um indivíduo.
O doutrinador Luís Martius Holanda Bezerra Júnior (2018) argumenta que a
utilidade prática da informação deve ser avaliada à luz de um interesse maior e superior
que transcende os interesses particulares ou comerciais de quem deseja publicar ou
relembrar fatos prejudiciais.
Portanto, informações que ultrapassam os limites do interesse público são
consideradas excessivas e podem ser alvo de ações legais. Luís Martius (nota) também
observa que o uso de meios excessivos que afetam desproporcionalmente a honra, e a
imagem ou a privacidade de um indivíduo não pode ser justificado como um interesse
público superior.
Nesse contexto, o direito ao esquecimento se torna relevante, permitindo que
indivíduos impeçam a divulgação de informações passadas que afetem sua vida privada,
mesmo que sejam verdadeiras. Isso impede que eventos passados, que não têm
relevância atual, continuem a ser lembrados e prejudiquem as pessoas violadas.
O direito ao esquecimento abrange a proteção dos direitos da personalidade,
especialmente o direito à privacidade, proporcionando uma defesa contra a divulgação
de fatos passados constrangedores ou sem interesse público.
É importante ressaltar como a internet se tornou uma parte integral da vida
cotidiana das pessoas e como seu uso afeta as relações interpessoais. Antes da internet,
as pessoas se comunicavam de maneira mais manual e demorada, mas o surgimento da
internet facilitou essas interações.
O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014, definiu a internet como um
sistema global de comunicação de dados que permite o acesso público e irrestrito. Isso
permitiu que milhares de pessoas acessassem e armazenassem informações sem
restrições.
Além disso, as redes sociais simplificaram as interações entre as pessoas,
permitindo a troca instantânea de informações que são armazenadas para consulta
posterior. A expansão dos meios tecnológicos tornou o acesso a informações passadas
ou atuais mais simples por meio da internet, transformando-a em um instrumento
poderoso para armazenar informações.
Conforme Luís Martins Holanda Bezerra Júnior (2018), a internet mistura fatos
passados e contemporâneos, tornando-os acessíveis a qualquer momento. Isso subverte
a ideia de que as pegadas deixadas ao longo da vida se tornam menos visíveis com o
tempo. Portanto, é necessário avaliar informações na internet que não são mais de
interesse público e que possam prejudicar as partes envolvidas, mesmo que se refiram a
eventos passados.
Conforme exposto acima, o direito à privacidade por vezes se encontra em
colisão com o direito à liberdade de expressão, por ser possível através deste,
ultrapassar a barreira limitativa da esfera privada de outrem e dar publicidade a assuntos
de terceiros. Vale salientar que, nem todo fato de terceiro que é noticiado extrapola o
direito à privacidade.
Pois bem, sabe-se que dentro de uma sociedade, existem fatos que são de
interesse do público, por possuir relevância na sociedade, pelo que, informações
disseminadas que carece de veracidade, não podem ser considerados como um fato que
transcende a vida privada de um indivíduo.
Com efeito, sobre tal discussão, o doutrinador Luís Martius Holanda Bezerra
Júnior aponta que “a utilidade prática da informação por óbvio, deve ser aquilatada à luz
de um interesse maior e superior, que transcenda o mero interesse particular ou
comercial de quem pretende manter a publicação ou relembrar fatos desabonadores”
(BEZERRA, 2018, p. 144)
Para tanto, o que estiver fora dos limites apontados como sendo de interesse do
público são considerados como excessivos, podendo sofrer represálias. Nessa linha de
pensamento, o autor Luís Martius também lembra que:

A utilização de um meio excessivo capaz de afastar a proporcionalidade e


afetar o núcleo essencial do direito à honra, ao bom nome ou à privacidade,
arreda, ab initio, a conclusão pela existência de um interesse público superior,
apto a justificar tal aniquilamento dos direitos da personalidade (BEZERRA,
2018, p. 146).

Nesta perspectiva, informações que são associadas a indivíduos são dificilmente


desfeitas, visto que permanecem na memória e em rede para acesso a qualquer
momento. Aqui, a figura do direito ao esquecimento se apresenta, surgindo como um
instituto capaz de obstar dados, que mesmo sendo verídicos, afetam a vida privada dos
indivíduos de modo a lhe gerar graves danos.
Assim, o direito ao esquecimento abrange a tutela dos direitos relativos à
personalidade, especialmente o direito à privacidade, de modo que possa haver um
mecanismo de defesa contra a divulgação de fatos notavelmente constrangedores ao
indivíduo ou que não possuam mais interesse público, o que justifica a desnecessidade
de ficar rememorando o passado.
Precipuamente, cabe destacar o modo pelo qual a internet encontra-se presente
no dia a dia dos indivíduos e como o seu uso interfere nas relações interpessoais. Sabe-
se que, antes do surgimento da internet os seres humanos se utilizavam de diversos
outros métodos para se comunicarem, sendo a grande maioria de forma escrita/manual
tornando a conexão entre os indivíduos mais árdua e morosa, entretanto, com o
nascimento da internet tais vias foram facilitadas.
A Lei nº 12.965/2014, conhecida como o Marco Civil da Internet, traz em seu
texto o conceito de internet, sendo “o sistema constituído do conjunto de protocolos
lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de
possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes”
(BRASIL, 2014), englobando assim, milhares de pessoas ao acesso integral e ilimitado
de conteúdo, permitindo o armazenamento incondicional de dados.
Outro fator que trouxe mais viabilidade no momento da comunicação entre os
indivíduos foi o advento das redes sociais, que permitiu que as interações entre as
pessoas fossem simplificadas, a ponto de ser possível a troca de informações de forma
instantânea, ficando guardadas em rede para consulta posterior.
Ademais, com a expansão dos meios tecnológicos, houve a modificação do
modo de se obter informações pretéritas ou atuais, tornando o processo de busca menos
complexo através da rede mundial de internet, que torna possível a conexão global de
pessoas. Os dados, uma vez lançados na rede, são armazenados para pesquisas futuras, o
que torna a internet um potente instrumento de guarda de informações.
Diante disso, verifica-se que mesmo fatos passados podem ser revividos através
de uma simples busca pela internet, pois nela não há um limite físico daquilo que é
pretérito do que ainda é atual e relevante. Surge assim, a necessidade de avaliar os
dados/informações ali existentes que não são mais de interesse público e que venham a
causar prejuízo para as partes envolvidas.

CAPÍTULO 3 – Da Remoção de conteúdo da Internet

Um ponto importante a ser considerado é que a internet tem facilitado o acesso a


informações de interesse público, mas também tem exposto a vida privada das pessoas.
Ademais, a remoção de informações pessoais ou sem propósito público da internet é
algo que está sendo estudado como uma solução para resguardar a imagem, privacidade
e honra das pessoas, sendo que a remoção de dados da internet pode ser feita para
proteger indivíduos que foram afetados pela divulgação de informações sem
consentimento.
No entanto, ainda existem desafios técnicos para a aplicação da desindexação de
dados em determinados sites e redes, eis que, a internet é uma plataforma que dissemina
informações rapidamente, tornando o controle sobre quais informações violam direitos
uma tarefa complexa. Além disso, é importante destacar que a exclusão de uma
informação de um site não significa que ela deixará de existir, já que é possível fazer
downloads de dados de forma rápida e instantânea. Isso significa que a informação pode
permanecer armazenada em outro local, mesmo que tenha sido removida do site
original.
Embora tenham sido encontrados alguns empecilhos no processo de remoção de
informação inadequada na Internet, a informação difundida na Internet não pode ser
deixada sem regulação, caso contrário ocasionará eventualmente a violações de direitos
fundamentais de modo a torna-se irreversível possíveis danos.
Para o efeito, torna-se necessária a implementação de sistemas que permitam
uma filtragem mais adequada de tais questões, permitindo maiores restrições à
informação para que os indivíduos não possam aceder ao conteúdo informativo nocivo
que aí existe, uma vez que, esse impasse só poderá ser resolvido por meio de
regulamentação mais específica do tema, que até o momento não existe em nosso
ordenamento jurídico brasileiro.
3.1. A política e práticas aplicada pela plataforma digital Google, em relação a
remoção de conteúdo na Internet.

À medida que cresceu a necessidade de remover informações específicas da


internet, o provedor de serviços online GOOGLE desenvolveu um mecanismo interno
para retirar essas informações. Esse mecanismo permite que os usuários preencham um
formulário de solicitação de desindexação, de acordo com suas necessidades.
No entanto, o provedor estabeleceu critérios rigorosos para garantir que a
remoção de dados não resulte na censura de informações de interesse público. Os
conteúdos que podem ser desindexados devem ser prejudiciais de alguma forma,
justificando sua retirada para evitar danos a terceiros.
Para facilitar o processo, o buscador disponibiliza um formulário de solicitação
de remoção de conteúdo, caso o proprietário do site não o faça por conta própria. Antes
de aprovar essas solicitações, o provedor avalia se o conteúdo se enquadra em várias
categorias, como imagens explícitas não consensuais, pornografia falsa, práticas de
remoção abusivas, informações financeiras, médicas e de identificações nacionais
específicas, dados de contato usados para fins maliciosos, imagens de menores, violação
de direitos autorais da DMCA e imagens de abuso sexual infantil (SUPORTE
GOOGLE).
COLOCAR AQUI A IDEIA DE POLÍTICA DE PRIVACIDADE E DIREITO
Após uma análise minuciosa, o provedor determina se o conteúdo viola as diretrizes da
plataforma e decide se ele deve ser removido da rede. É importante ressaltar que a remoção de
um conteúdo de um site específico não implica necessariamente na exclusão total dessa
informação da internet; ela pode permanecer disponível em outros locais.
No entanto, essa inovação é significativa para o processo de remoção de dados por meio
de um provedor de serviços online, já que procura equilibrar a remoção de conteúdo com a
liberdade de expressão e o interesse público, o que pode levar a debates sobre o que
deve ou não ser removido.

3.2. Marco Civil da Internet


O Marco Civil da Internet, estabelecido pela Lei nº 12.965 de 23 de abril de
2014, foi desenvolvido com o propósito de orientar as relações que surgem a partir do
uso da internet no Brasil. De acordo com o seu artigo 1º, "esta Lei estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes
para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à
matéria" (BRASIL, 2014).
Entre os princípios fundamentais desse marco legal encontra-se a proteção da
liberdade de expressão, como é evidenciado no artigo 2º do texto normativo, que afirma
que "A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à
liberdade de expressão" (BRASIL, 2014). Isso ressalta o compromisso da legislação em
salvaguardar esse direito, que já está amplamente consagrado no sistema jurídico
brasileiro.
É importante notar que o Marco Civil da Internet reconhece a importância da
liberdade de expressão na era digital, onde informações, opiniões e pensamentos têm
maior facilidade de divulgação. Proteger esse direito é essencial para evitar retrocessos
e afastar qualquer possibilidade de censura nas plataformas de comunicação online.
Além disso, a Lei nº 12.965/2014 também destina atenção à preservação da
privacidade, um direito fundamental na vida de qualquer indivíduo. A legislação
estabelece o princípio de proteger a vida privada das pessoas, pois está intimamente
relacionado à liberdade de expressão. Portanto, há a necessidade de equilibrar esses dois
direitos, já que ambos são essenciais para o acesso à internet, conforme definido no
artigo 8º da mencionada lei.
O cuidado com a privacidade é evidenciado no artigo 7º, que garante ao usuário
da internet a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, assim como o direito à
proteção e indenização por danos decorrentes de sua violação (BRASIL, 2014). Isso
visa a proporcionar maior segurança aos usuários ao utilizarem a rede.
No entanto, um dos principais desafios da legislação diz respeito à
responsabilidade dos provedores de serviços de internet pela divulgação de informações
prejudiciais por terceiros. O artigo 18 do Marco Civil da Internet estabelece que "O
provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros" (BRASIL, 2014), isentando-os da
responsabilidade direta pela indexação e propagação de conteúdo.
Quanto à responsabilização dos provedores, o dispositivo também estipula que
somente serão responsabilizados civilmente quando descumprirem ordens judiciais
específicas, ou seja, quando não tomarem as medidas necessárias para remover
informações da rede, mas não são obrigados a retirar conteúdo sem uma ordem nesse
sentido.
Portanto, é evidente que a legislação possui uma lacuna em relação à
responsabilidade dos provedores de serviços de internet pela disseminação de
informações prejudiciais por terceiros. Isso não pode comprometer o direito das pessoas
de buscar proteção para sua privacidade, honra e imagem.
AUTORES – SOBRE A QUESTÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reconhecer que o mundo está em constante evolução é uma realidade


incontestável. Os direitos, como um todo, estão em constante aprimoramento e
adaptação à medida que a sociedade progride, pois é impraticável torná-los inflexíveis
diante de mudanças contínuas.
Com o passar do tempo, é necessário deixar para trás certas informações que não
se alinham mais com a realidade atual, sendo nesse contexto que o direito ao
esquecimento surge como uma proteção contra a divulgação de eventos passados que
carecem de interesse público, tornando sua recordação no presente desnecessária.
O direito ao esquecimento é um conceito subjetivo e vai além das limitações
temporais da vida humana, ele está ligado ao direito à privacidade, uma vez que lida
diretamente com questões que afetam a esfera íntima do indivíduo, especialmente
quando o desabonam e causam danos em sua vida. Atualmente, graças à globalização e
ao mundo digital, torna-se é difícil quantificar a quantidade de informações acessadas
pelas pessoas diariamente, eis que, as informações são disseminadas instantaneamente
na rede e permanecem armazenadas para acesso por terceiros a qualquer momento.
Uma ferramenta que pode ser utilizada para proteger a privacidade no ambiente
online é o direito ao esquecimento, com base na remoção de conteúdo/dados na rede.
Embora não haja legislação específica no ordenamento jurídico brasileiro que
regulamente esse instituto, há indícios de que ele seja aplicável.
O Marco Civil da Internet sugere implicitamente a possibilidade de aplicar o
direito ao esquecimento ao estabelecer dispositivos que protegem contra a remoção de
conteúdos que violem os direitos de terceiros, apesar das limitações em relação à
responsabilização dos provedores de internet, é evidente a necessidade de melhorar a
ideia e criar mecanismos mais eficazes para a exclusão de dados por parte desses
provedores.
Portanto, a aplicação do direito ao esquecimento não deve ser interpretada como
uma forma de censura à divulgação de informações, mas como uma medida que se
aplica somente em situações excepcionais, em que o direito à privacidade tenha sido
amplamente comprometido, a fim de evitar danos futuros as possíveis vítimas.
O ponto central é a possibilidade de remoção dados na era digital, meso com a
extensa argumentação dos tribunais que o esquecimento é difícil ou inatingível, mas
negligenciar a proteção de um bem devido à complexidade do desafio não apenas
representa um retrocesso nos direitos humanos, mas também prejudica a sociedade
como um todo.
É necessário aplicar, mesmo que em pequena escala, mecanismos destinados a
minimizar os danos às vítimas, seja através da emoção de dados, seja por meio da
restrição de acesso a conteúdo gerados online.
Nesse sentido, muitos provedores de internet já oferecem a possibilidade de
solicitar a remoção de conteúdo que viole gravemente a privacidade das pessoas, como
é o caso do mecanismo disponibilizado pelo Google para excluir permanentemente
conteúdo de sua plataforma, desde que esteja em conformidade com suas diretrizes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - BRANDÃO, Cláudio. Introdução ao estudo dos direitos humanos. In: BRANDÃO,


Cláudio (Coord.). Direitos humanos e fundamentais em perspectiva. São Paulo: Atlas,
2014, p. 5.
2 - BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 19ª Reimpressão. Tradução de Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 1992. p. 40.

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