NASCIMENTO, Valéria Ribas do. Direitos fundamentais da personalidade
na era da sociedade da informação: transversalidade da tutela à privacidade. Revista de Informação Legislativa: RIL, v. 54, n. 213, p. 265-288, jan./mar. 2017. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/54/213/ril_v54_n213_p265>.
PERGUNTA: A partir da leitura sugerida, pode-se afirmar que o direito à
privacidade se desdobra em novos direitos fundamentais? A resposta deve ser fundamentada.
Para responder tal pergunta em pauta, faz se mister observar a evolução
e as mudanças que o ser humano passou, especialmente após a segunda guerra mundial, e principalmente com o advento da ferramenta que une as pontas do globo, a internet. Como apontado pela Dra. Valéria Ribas, após esse período se desenrolaram um turbilhão de transformações na esfera jurídica do ponto de vista do direito constitucional, ou seja nos direitos humanos, que ganharam novos horizontes. Como visto, há divergências doutrinárias, porém não se pode negar a criação de “novos” direitos tais como como o direito fundamental à privacidade na internet, o direito ao esquecimento e o direito à “exti- midade”. É claro que a Constituição Federal no art. 5o, inc. X, defende a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e imagem, porém apesar de serem regras gerais, com o avanço das tecnologias, deve se admitir que não são específicos o suficiente, logo alguns juristas, como destacado no artigo, defendem a possibilidade de multiplicação desses direitos, Paul Bernal (2014), por exemplo, apresenta quatro direitos básicos: o direito de navegar com privacidade na internet, o de monitorar quem monitora, o de excluir dados pessoais e o de proteger a identidade on-line, logo pode se afirmar sim que o direito fundamental à privacidade, pode ter gerado os chamados “novos” direitos de personalidade na era da sociedade da informação. O significado da palavra privacidade sofreu metamorfoses em seu significado ao longo da história, passando pela filosofia antiga, idade média, anos pré e pós guerras mundiais, até que se chega na era da internet onde “efeitos da violação da privacidade ganham outras dimensões que acabam por aumentar a necessidade de se criar um fio condutor em torno do qual se possa estruturar essa proteção” segundo a Profª Valéria Ribas. Entende-se que a internet ampliou o conceito clássico de direito à privacidade, uma vez que os posts são instantâneos e viajam o planeta em questão de segundos, sendo até mesmo possível que milhares de pessoas assistam simultaneamente a tais conteúdos, logo destaca-se a necessidade da efetiva proteção jurídica da privacidade com os dados, pois os efeitos de seu descumprimento devem ser multiplicados, devido ao seu poderoso alcance, moldando então a proteção desses direitos às novas tecnologias da informação. Buscasse entoado conciliar o avanço, a novidade é a periculosidade de tal ferramenta, com os direitos fundamentais, reformulando e atualizando o modo clássico de pensar tais direitos, concordando com a Dra. Valéria quando afirma que “ é possível afirmar que o direito fundamental à privacidade ganha novos contornos, que podem bifurcar-se em outras denominações na era da sociedade da informação”. Em geral, como pontuado no artigo em análise, os desafios da sociedade da informação atingem tanto a esfera privada quanto a pública, tendo profunda relação com a dignidade humana e a personalidade, considerando-se a proteção constitucional dada a esses assuntos no ordenamento jurídico brasileiro. Recorre–se ao princípio da dignidade humana como principal fundamento de um direito geral da personalidade, alicerçado o direito à privacidade como um direito fundamental, que se insere dentro de um rol protetivo ainda maior. As novas necessidades criadas pela globalização levam a excitação de direitos comuns ao novo contexto, dadas necessidades populacionais, gerando questionamentos sobre o termo “privacidade” e sua extensão. Afirma-se que o direito à privacidade seria o mais abrangente e valioso de todos os direitos para o homem civilizado, sendo internalizado pela Constituição Federal, que protege a vida privada e a intimidade. “Atualmente, a preocupação das pessoas não está apenas relacionada a vida pessoal e a grupos de amigos, atingindo temas transversais em diferentes Estados em momentos instanâneos”. Nessas características, os efeitos da violação da privacidade ganham outras esferas que acabam por aumentar a necessidade de estruturar formas de proteção, atualizados ao quadro apresentado hoje. A tutela do ciberespaço passa a representar uma troca de paradigmas de regulamentação, sendo necessário definir parâmetros e princípios que ajudem a guiar os novos caminhos do direito nesse meio, dado o desdobramento em novos direitos fundamentais da sociedade em rede. Cita-se, como mencionado, quatro direitos-base para navegar na internet, o direito de navegar com privacidade, o de monitorar quem monitora, o de apagar dados pessoais e o de proteger a identidade on-line. Dentre esses pontos, sobrepõem-se mais discussões, quanto ao direito ao “esquecimento”, que deve prevalecer sobre o direito público de obter informações e o direito à “extimidade”, como o direito de gozar ativamente da intimidade, por meio da exposição voluntários de informações íntimas em face de terceiros, não sendo um movimento antagônico a intimidade. O já citado, leva a uma urgente necessidade de repensar formas de proteção à pessoa humana, na busca de conciliar os interesses da internet e os direitos fundamentais.