Você está na página 1de 25

A PRIVACIDADE DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA - O OBSTÁCULO DA

APLICABILIDADE DO DIREITO DIGITAL


Resumo

A necessidade atual contra o vazamento de dados pessoais, violações de


informações, e a privacidade pessoal do cidadão, tem-se a necessidade de analisar a
dificuldade de aplicação do direito digital. O encontro de conceitos do campo jurídico, com
os termos fundamentais à intimidade e à privacidade não sendo feita de forma aprofundada,
acarretando assim distorções e análises errôneas de conceitos com conceitos comuns. Esta
análise teve como base biografias, pesquisas bibliográficas, livros, artigos científicos e
dissertações de mestrados, além de legislações e julgados do ordenamento jurídico
brasileiro a respeito do tema. Partindo do ponto de buscar um contexto da tecnologia da
informação com a história da internet e sua introdução na sociedade moderna e com isso a
necessidade do desenvolvimento do Direito Digital, que já era discutido em outros países,
apresentando fundamentações constitucionais, e uma análise das leis e regulamentações
existentes. Abordando-se os desafios a sua aplicação a respeito à privacidade, discutindo o
conflito com a liberdade de expressão, com alguns casos que ocorreram no decorrer do
tempo em que as leis eram aplicadas e eram propostas para resguardar o cidadão no meio
digital. Concluindo-se, por fim a análise a autonomia do Direito Digital no Brasil, para que o
usuário obtenha a normalização da privacidade, hoje violados por outros agentes
criminosos.

Palavra-chave: privacidade, Direito Digital, comunicação, dados pessoais, Internet,


bancos de dados, informação, informática
Introdução

A palavra “Direito”, bem como ele próprio no sentido amplo da Ciência do


Direito, vem dos Romanos antigos é a soma das palavras DIS (muito) e RECTUM
(reto, justo, certo), ou seja, Direito em sua origem significa o que é justo, o que tem
justiça. (CASTRO, 2022)

O Direito é o resultado de uma construção histórica, onde surge a partir do


momento que o homem começa a viver em sociedade. Não é apenas leis, na
antiguidade se difundia em costumes, religiões com a política, não existiam órgãos
específicos para emanar normas nem pessoas capacitadas para legalizá-las. Nem
sempre foram as principais fontes reveladoras de direitos e obrigações. A opinião
popular e o largo uso se tornaram obrigatórias.

Há no ramo do direito variados segmentos dentro da árvore central, sendo


estes o direito penal onde é o ramo do direito público que tem como objetivo a
regulamentação do poder punitivo do Estado; e o direito administrativo é a esfera do
Direito Público Interno que, mediante regras e princípios exclusivos, regulamenta o
exercício da função administrativa.

Com a globalização mundial e as revoluções industriais, o aumento do uso da


tecnologia pela sociedade, a internet é essencial para o cidadão moderno. O
compartilhamento de informações nas redes sociais ou usos dos dados, necessitam
de cuidados legais. Apesar de ser um campo relativamente novo, comparado a
outras áreas de atuação na ciência jurídica, já apresenta um grande leque de
atuação criminal, consultivo, compliance e contratos.

Sendo a área mais conhecida do Direito Digital a criminal, com o crescente


número de crimes cibernéticos. Como o e-commerce, as vendas, as redes sociais,
as transações de bancos tais como pix, entre vários outros tipos de
compartilhamento de informações pessoais ou de empresas privadas ou públicas na
rede. Com o exemplo do crime de perseguição, quebra de sigilo pessoal, crimes
contra a honra como injúria e a calúnia, usando fake news, e também crimes de
estelionato praticados contra o consumidor. Novo na área jurídica, o Direito Digital, já
sente está uma falta na quantidade de normas regulamentadoras.

A lei que regula as atividades de tratamento de dados pessoas, a Lei Gerais


de Proteção (LGDP, Lei 13,709/18), também então vigentes o Marco Civil da Internet
(Lei 12.965/14) e Lei Carolina Dieckmann (Lei 12.737/12). No entanto, mesmo com a
lei LGDO vigente desde 2018, ainda carece de outros campos em relação ao Direito
e a tecnologia que precisam de regulações e normas para resguardar o usuário.

Ademais, outro fator que impossibilita a aplicação do Direito Digital é a


realidade de que o ambiente virtual ser amplo. Existindo a falta de jurisprudência, em
razão que diversos casos, sobretudo envolvendo direitos autorais e dos direitos do
consumidor, são uma novidade para juízes e legisladores, tornando assim o
resultado desses casos jurídicos discrepantes.

No mercado tecnológico brasileiro esta falta de regulamentação e


normalização é sentida a cada dia mais no cretense casos de hackers
especializados em encontrar brechas na segurança dos sistemas. Pois, o homem
moderno não apenas utiliza a internet como um aparelho de lazer, atualmente essa
ferramenta tornou-se uma necessidade para as tarefas diárias tanto pessoais quanto
profissionais. Esta monografia visa demonstrar a importância dessa recém e ainda
pouco explorada área jurídica, e a necessidade de serem feitas mudanças urgentes
pelos legisladores. Consequentemente possíveis caminhos para esta resolução.

Além disso, é um projeto que leva os problemas da dificuldade da aplicação


do direito digital à privacidade. Estudo esse de extrema importância na sociedade
contemporânea que diariamente tem sido vítima da exploração online de dados e
importações pessoais.

Portanto, a seguir do estudo da linha do tempo do Direito Digital, descrito no


primeiro capítulo e o fechando com a privacidade, de extrema importância na
realidade atual da sociedade onde tudo é visto e nada é privado.

Em conclusão, procuro conectar toda essa história do Direito Digital Brasileiro


com a questão da problemática da privacidade e a dificuldade da aplicabilidade
desses em conjuntos, é necessário nessa ponte de conexão do homem moderno
com a tecnologia. Buscando assim autonomia, pensando nas diversas áreas do
Direito Digital que estão com a falta de marcação, a importância para o comércio
internacional e o impacto na sociedade com a contribuição jurídica para melhorar a
efetividade dos serviços e a humanização.
1- Linha to tempo do Direito Digital

No período da Guerra Fria (entre 1947 e 1991), nasce a rede mundial de


computadores. Criada com o objetivo de auxiliar as forças armadas americanas para
a comunicação em casos de ataques inimigos, destruíram os meios convencionais
de telecomunicações, tais como rádio e telefone. Pulando para as décadas de 1970
e 1980, teve mais uma utilidade no campo acadêmico, estudantes e professores
universitários, principalmente dos EUA, compartilhavam artigos, mensagens e
descobertas pelas linhas da internet. Além de ser utilizada para fins militares, a
Internet também foi um importante meio de comunicação acadêmico. Estudantes e
professores universitários, principalmente dos EUA, trocavam idéias, mensagens e
descobertas pelas linhas da rede mundial.

Porém, na década de 90 foi somente neste período que a Internet começou a


alcançar a população civil. Neste mesmo ano o engenheiro inglês Tim Bernes-Lee
desenvolveu a World Wide Web, possibilitando a utilização de uma interface gráfica
e a criação de sites mais dinâmicos e visualmente interessantes. A partir deste
momento, a Internet cresceu em ritmo acelerado. A internet tornou-se um elemento
fundamental da vida diária do homem, sendo completamente impossível imaginar a
sociedade sem acesso a ela atualmente. Muitos dizem que foi a maior criação
tecnológica, depois da televisão na década de 1950.

É essencial entender que com a tecnologia, não importando da sua forma ou


nível evolutivo, sempre delineou o progresso coletivo da sociedade, de forma a
moldá-lo, e transformá-lo e ditando uma nova rotina em torno dessas novas
conquistas. Desde o homem pré-histórico com a descoberta do fogo e a criação de
ferramentas de caça que revolucionaram o período em que os dinossauros andavam
na terra, passando pela Primeira Revolução Industrial com a falta de leis
trabalhistas, até a Segunda Revolução Industrial o uso de energia. Todos foram
primordiais para a mudança mercadológica e a exploração de recursos naturais, é
importante apontar para a mudança de estilo de vida da sociedade como um todo
nesta evolução do homem e a jornada de trabalho. Portanto, a rede mundial de
computadores como um núcleo principal do avanço atual , pois a interligação e o
acesso ilimitado oferecem uma mudança gigante do âmbito social de um país.

Segundo Paiva (2002) o Direito Digital ou Direito Informático é o conjunto de


normas e instituições jurídicas que pretendem regular aquele uso dos sistemas de
computador - como meio e como fim - que podem incidir nos bens jurídicos dos
membros da sociedade; as relações derivadas da criação, uso, modificação,
alteração e reprodução do software; o comércio eletrônico e as relações humanas
estabelecidas via Internet. Assim como, o Almeida Filho (2005) trata-se do conjunto
de normas e conceitos doutrinários destinados ao estudo e normatização de toda e
qualquer relação em que a informática seja o fator primário, gerando direitos e
deveres secundários. É o estudo abrangente, com o auxílio de todas as normas
codificadas de Direito, a regular as relações dos mais diversos meios de
comunicação, dentre eles os próprios da informática.

Portanto, a elaboração do Direito Digital é o resultado de uma sociedade com


as relações sociais e do alcance dentro e fora do seu meio de atuação. As
transformações feitas em curto espaço de tempo foram uma característica a ser
construída: a da rapidez de leis em torno das sociedades altamente informatizadas,
tal o impacto causado por essa busca de saída normativa.

A evolução tecnologia é muito rápido, do momento em que foi criado o


primeiro automóvel até a chegada do homem na lua que aconteceu em um breve um
intervalo de 80 anos, isso mostra o quanto o ser humano evoluiu rapidamente e
ainda pode evoluir, é tão rápido que a geração atual não consiga se adaptar com as
tecnologias que surgiram daqui quarenta ou cinquenta anos, o que pode se tornar
até um problema, onde os cidadãos podem se sentir excluídos do meio em que
vivem (PORTAL, 2019).

Com essa evolução na área tecnológica, é preciso também que o Direito


acompanhe a mudança da sociedade para que os direitos fundamentais, individuais,
sociais, trabalhistas da Constituição Federal de 1988, sejam respeitados por todos.
Trazendo assim um novo tipo de responsáveis que garantem o direito de imagem,
da propriedade intelectual, segurança da informação e dos direitos atuais estão
atuando nesta área do Direito Digital.

A interação da tecnologia integrada na sociedade atual é capaz de acessar


qualquer informação com apenas um clique no celular, tablet ou computador, fazer
uma ligação, uma chamada de vídeo com uma pessoa de outro país. Possibilitou
ainda mais que a globalização tecnológica se desenvolvesse todos os anos,
trazendo um impacto positivo para o mercado financeiro.

A conexão mundial é uma realidade do século XXI, as grandes empresas hoje


têm informações de suas filiais instantâneas, transformando assim seus negócios e
as adaptando para conquistar maiores visibilizados com as nossas ferramentas
tecnológicas que a internet oferece. Entretanto, trazendo assim um aumento
significativo de crimes que hackers, vazamentos de informações de pados e plágios.
Fazendo que essas infrações ao Código de Defesa do Consumidor, e o desrespeito
a patentes e marcas aumentassem também. Fazendo assim que essas condutas
sejam abordadas e estudadas pelo Direito para garantir a segurança.

O Direito é responsável pelo equilíbrio da relação


comportamento-poder, que só pode ser feita com a
adequada interpretação da realidade social, criando
normas que garantam a segurança das expectativas
mediante sua eficácia e aceitabilidade, que
compreendam e incorporem a mudança por meio de
uma estrutura flexível que possa sustentá-la no
tempo. Esta transformação nos leva ao Direito
Digital. (PECK, 2016)

O Direito Digital estabelece uma relação entre o Direito Codificado e o Direito


Costumeiro, utilizando-se de elementos para amparar-se, tais como a uniformidade,
generalidade, durabilidade, continuidade e a pluralidade. Trazendo a possibilidade
de utilizar-se uma série de princípios e soluções que já são aplicados no
ordenamento jurídico brasileiro e internacional, podendo assim preencher as lacunas
e alcançar resultados satisfatórios.

Sabendo que o Direito Digital parte dos princípios que toda a conexão
envolve textos e multimídias, através da ação humana ou da ação da inteligência
artificial, gerando assim direitos, deveres, obrigações e responsabilidades. Vários
mecanismos vale-se o esse direito, por exemplo, a analogia, costumes, princípios
gerais de direito, possibilitando assim a regulamentação dessas relações entre seres
humanos e máquinas, com o objetivo de intermediar os conflitos iniciados.

Partindo do princípio que a internet não é o ponto principal objetivo de estudo


do Direito Digital, mas sim uma ferramenta que precisa ser juridicamente atendido
assim como todas as outras ferramentas de inovações tecnológicas, tais como a
inteligência artificial e o reconhecimento facial.

As características do Direito Digital, portanto, são as seguintes: celeridade,


dinamismo, auto-regulamentação, poucas leis, base legal na prática costumeira, o
uso da analogia e solução por arbitragem. Esses elementos o tornam muito
semelhante à Lex Mercatoria (significa “conjunto de regras, princípios e costumes
oriundos da prática comercial, sem vinculação a qualquer direito nacional”), uma vez
que ela não está especificamente disposta em um único ordenamento, tem alcance
global e se adapta às leis internas de cada país de acordo com as regras gerais que
regem as relações comerciais e com os princípios universais do Direito como boa-fé,
suum cuique tribuere (significa “dar a cada um o que é seu”), neminem laedere
(significa “a ninguém lesar”) e honeste vivere (significa “viver honestamente”).
(PECK, 2016,)

O Direito Digital, vale-se de costumes e do Direito Costumeiro ou Common


Law, é o direito que utiliza o histórico de decisões de casos concretos com base
legal para uma ação judicial, portanto, ele cria um banco de dados de memória
futura, tendo como referência os costumes da sociedade. "O Direito Costumeiro
pode ser definido como um conjunto de normas de conduta social, criadas
espontaneamente pelo povo, através do uso reiterado, uniforme e que gera a
certeza de obrigatoriedade, reconhecidas e impostas pelo Estado" (Nader, 2014).

Essa prática costumeira é importante no Direito Digital, sendo necessária para


o dinamismo para as soluções rápidas aos conflitos, tendo em vista que a tecnologia
de hoje pode se tornar obsoleta rapidamente. Devendo assim levar em consideração
que o Direto é um conjunto de comportamento e soluções, e atualmente pode-se ver
isso com mais exatidão.

1.1 História do Direito Digital

No ambiente virtual, o Direito Digital tornou-se necessário. Sendo uma junção


entre a Ciência do Direito convencional e a Ciência da Computação. Assim como a
evolução da tecnologia nos país ao redor do mundo foi em diferentes momentos o
direito também começou a se desenvolver da mesma forma.

Para tanto, Ricardo Cantu, 2016 categoriza a nomenclatura que depende do


grau de avanço de determinado país:

- Tendência inicial ou básica: pouco avanço e desenvolvimento da


informática jurídica e do Direito Digital, devido à escassa importância
dada à matéria pelos professores de Direito das universidades e
também pelos funcionários do governo; ainda é planejada a inclusão
da matéria informática jurídica nos planos de estudo das faculdades de
Direito, desenvolvendo inicialmente a doutrina nacional;

- Tendência crescente ou progressiva: distinção clara entre a


informática jurídica e o Direito Digital (ramos relacionados, porém
totalmente independentes um do outro); Direito Digital como ramo
autônomo do Direito (incluindo-se nos planos de estudo das principais
faculdades de Direito do país), de maneira separada a matéria de
informática jurídica; na Europa recomenda-se aglutinar ambas as
matérias sobre a concepção "Informática e Direito", por considerar
mais completa esta definição;

- Tendência avançada ou próspera: destaca a necessidade e


importância de desenvolver um trabalho legislativo no que diz respeito
ao Direito Digital, com normas específicas que regulam a sua
aplicação, já que alcançou importância e respeito na doutrina e
jurisprudência; desenvolvimento e consolidação da legislação, doutrina
e jurisprudência nacional do Direito Digital, controvérsia de casos
práticos nacionais e internacionais na Corte Suprema do país;

- Tendência culminante ou inovadora: avanços importantes no que diz


respeito ao desenvolvimento da informática jurídica meta-documental
ou decisória, já que os centros de investigação para a utilização de
sistemas com inteligência artificial aplicados ao Direito desenvolvem
teses de doutorado relativas à inteligência artificial e ao Direito;
desenvolvimento de projetos práticos e específicos de utilização da
inteligência aplicados ao Direito.
No Brasil, a tendência inicial ou básica é enquadrada, exercendo assim o
papel do Direito Digital como uma espécie de sub-ramo no escopo abrangente
jurídico. Portanto, partindo da questão multidisciplinar da área é dividida dentro de
diferentes campos e entendimentos para cada ramo jurídico diferente, gerando
assim uma autonomia, divergência e a falta de doutrinadores focalizados, além de
que um estudo específico ainda é bastante escasso na formação de profissionais do
Direito para esta área. A necessidade social traz esse valor por desenvolver
legislações, doutrinas e dar assim uma autonomia ao Direito Digital.

1.1.1 - Início como um ramo jurídico

De acordo com Pereira (2003), o Direito Digital possui todas as características


para ser considerado uma disciplina autônoma, justificando a sua posição através de
três argumentos: possui um objeto delimitado, qual seja a própria tecnologia, dividido
em duas partes, sendo a primeira o objeto mediato, ou seja, a informação, e o
segundo o objeto imediato, ou a tecnologia; a existência de uma metodologia
própria, a qual visa possibilitar uma melhor compreensão dos problemas derivados
da constante utilização das novas tecnologias da informação (informática) e da
comunicação (telemática); tal tarefa se realiza mediante o uso de um conjunto de
conceitos e normas que possibilitam a resolução dos problemas emanados da
aplicação das novas tecnologias às atividades humanas; a existência de fontes
próprias, ou seja, fontes legislativas, jurisprudenciais e doutrinárias; não havendo
como negar a existência dessas fontes no âmbito do Direito Digital; foi justamente a
existência de ditas fontes que possibilitaram, em um grande número de países,
principalmente os mais desenvolvidos, a criação da disciplina do Direito Digital nos
meios acadêmicos.

Por ser uma área multidisciplinar, o Direito Informático passa décadas sem
ganhar normas específicas no Brasil. Nas jurisprudências, sempre teve que algum
problema jurídico virtual, a resposta era tratá-lo no ramo judicial que mais
assemelhava-se à questão. Caso fosse um crime cibernético, o Direito Penal seria o
responsável. Caso fosse um contrato, o Direito Empresarial ou Comercial entrava
em cena, e assim por diante. Portanto, essa falta de autonomia perpetuou o atraso
da evolução brasileira no tema.

No entanto, na última década, novas normas e tipificações estão sendo


criadas e sancionadas, tornando a área de Direito Digital a mais crescente no
mercado. Afinal, a tecnologia continua evoluindo, e trazendo consigo inovações e
muitos novos problemas.

1.1. 2 Lei Carolina Dieckmann

A atriz Carolina Dieckmann teve seu computador pessoal invadido em maio


de 2011, onde teve acesso a múltiplas fotos da atriz de cunho íntimo. Esse criminoso
chegou a chantagear a artista, exigindo assim uma quantia em dinheiro para não
divulgar as fotos online. Após a recusa da atriz, todas as imagens foram publicadas
na internet, gerando um alvoroço virtual.

Esse acontecido gerou uma discussão em volta dos crimes cibernéticos, e


como não havia normas em torno desses problemas que estavam sendo cada vez
mais comuns no poder jurídico. O debate popular, fomentado pela mídia
sensacionalista, pressionou ainda mais o sistema judiciário brasileiro a tipificar
crimes cometidos no ambiente virtual.

O resultado do projeto da Lei Carolina Dieckmann foi aprovado em um tempo


recorde. A Lei Nº 12.737/2012 alterando assim o Código Penal Brasileiro voltada
para crimes virtuais e delitos informáticos, focada nas invasões de computadores e
outros eletrônicos sem a permissão do dono, e se tornou um marco para o Direito
Digital.

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio,


conectado ou não à rede de computadores, mediante
violação indevida de mecanismo de segurança e com o
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações
sem autorização expressa ou tácita do titular do
dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter
vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1
(um) ano, e multa.

§ 1º Na mesma pena incorre quem produz,


oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou
programa de computador com o intuito de permitir a
prática da conduta definida no caput.

§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço


se da invasão resulta prejuízo econômico.

§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de


conteúdo de comunicações eletrônicas privadas,
segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas,
assim definidas em lei, ou o controle remoto não
autorizado do dispositivo invadido: Pena - reclusão, de 6
(seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não
constitui crime mais grave.

§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de


um a dois terços se houver divulgação, comercialização
ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou
informações obtidos.
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se
o crime for praticado contra:

I - Presidente da República, governadores e


prefeitos;

II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;

III - Presidente da Câmara dos Deputados, do


Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
Municipal; ou

IV - dirigente máximo da administração direta e


indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito
Federal.”

Ação penal

Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A,


somente se procede mediante representação, salvo se o
crime é cometido contra a administração pública direta ou
indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados,
Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas
concessionárias de serviços públicos.”

Art. 3º Os arts. 266 e 298 do Decreto-Lei nº 2.848,


de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, passam a
vigorar com a seguinte redação: “Interrupção ou
perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático,
telemático ou de informação de utilidade pública

Art. 266

§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe


serviço telemático ou de informação de utilidade pública,
ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento.

§ 2º Aplicam-se as penas em dobro se o crime é


cometido por ocasião de calamidade pública.” (NR)

Art. 298 Falsificação de cartão Parágrafo único.


Para fins do disposto no caput , equipara-se a documento
particular o cartão de crédito ou débito.” (NR)

Esta nova lei impactou o Direito Penal, criando assim dois novos artigos
154-A e 154-B ao Código Penal Brasileiro, mudando também a redação dos artigos
266 e 298. Trazendo assim uma nova tendência ao Direito como um todo, a respeito
da segurança virtual dos cidadãos brasileiros. Prevendo que os crimes decorrem do
uso indevido de informações e materiais pessoais que dizem respeito à privacidade
de uma pessoa na internet, como fotos e vídeos.

A Lei Carolina Dieckmann levanta vários debates, mesmo que seja o de


opinião pública que a necessidade de zelar pela segurança da privacidade em
contextos online. Sendo um deles o fato que o texto jurídico ser vago e carente de
aspectos técnicos. Outro problema é a lei não especificar o tipo de dispositivo
eletrônico que o crime pode ser cometido, ou o fato que deixa margem para diversas
interpretações por parte das autoridades, representantes legais e do Ministério
Público.

Contudo, a lei foi um passo para o marco inicial para a proteção de dados
pessoais contra os criminosos que aumentam diariamente, porém é possível
analisar que a norma carece de ser amadurecida para eliminar divergências e
alinhar interpretações.

1.1.3 Marco Civil da Internet

Em 2014 a Lei n.º 12.965/14 foi promulgada, também conhecida como a Lei
do Marco Civil da Internet, sendo a principal diploma legal para a regulação do uso
da internet no país, através de direitos, de garantias, de deveres e de princípios
tanto para usuários quanto para empresas. Contendo três princípios, sendo estes a
garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento; a
proteção da privacidade e dos dados pessoais; e a garantia da neutralidade da rede.
Abordando temas pertinentes como a privacidade, o arquivamento de dados, a
neutralidade da rede e a função social.

Ao analisar o texto legal é possível perceber que é também enfático em


relação à previsão da Neutralidade da Rede, “o princípio segundo o qual o tráfego
da internet deve ser tratado igualmente, sem discriminação, restrição ou
interferência independentemente do emissor, recipiente, tipo ou conteúdo, de forma
que a liberdade dos usuários de internet não seja restringida pelo favorecimento ou
desfavorecimento de transmissões do tráfego da internet associado a conteúdos,
serviços, aplicações ou dispositivos particulares” (Coalizão Global pela Neutralidade
de Rede, 2022)

Tido como um Princípio Disciplinador da Internet, previsto no artigo 3º onde


lista a neutralidade como um dos princípios da lei. Logo após no artigo 9º estabelece
que “o responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de
tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo,
origem e destino, serviço, terminal ou aplicação”. Contudo há ressalvas expressas
para que o Estado possa transformar qualquer conteúdo online, coagindo os
provedores a tornarem um determinado acesso como “indisponível”

No mesmo artigo, prevê a possibilidade de discriminação de tráfego, mas


somente se ela for um “requisito indispensável à prestação do serviço” ou em caso
de “priorização de serviço de emergencia”. Outra temática que precisa de atenção é
a da incumbência de regulamentação das hipóteses de degradação, de
gerenciamento, de discriminação e de mitigação do tráfego na rede ao Poder
Executivo através de decretos, após ser ouvido o Comitê Gestor da Internet no
Brasil (CGIBR).

Art. 9.º O responsável pela transmissão, comutação ou


roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica
quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo,
origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo.

§ 1.º A discriminação ou degradação do tráfego será


regulamentada por Decreto, ouvidas as recomendações do
Comitê gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e somente poderá
decorrer de:

I - requisitos técnicos indispensáveis à fruição


adequada dos serviços e aplicações, e

II - priorização a serviços de emergência.

§ 2.º Na hipótese de discriminação ou degradação do


tráfego prevista no § 1º, o responsável mencionado no caput
deve:

I - abster-se de causar prejuízos aos usuários;

II - respeitar a livre concorrência; e

III - informar previamente de modo transparente, claro


e suficientemente descritivo aos seus usuários sobre as
práticas de gerenciamento ou mitigação de tráfego adotadas.

§3º Na provisão de conexão à Internet, onerosa ou


gratuita, é vedado bloquear, monitorar, filtrar, analisar ou
fiscalizar o conteúdo dos pacotes de dados, ressalvadas as
hipóteses admitidas na legislação.

Outra grande polêmica envolvendo a neutralidade de rede, está relacionada


aos planos de tarifa zero oferecidos por operadores de telecomunicações, tais como
aplicativos WhatsApp, Twitter e Facebook, onde o uso dessas plataformas de redes
sociais não são descontadas das franquias contratadas.

Algumas organizações de defesa de direitos de usuários da rede argumentam


que essa prática fere o Marco Civil da Internet uma vez que privilegia determinados
conteúdos em detrimento de outros. Isso porque, embora pareça uma aparente
benefício ao usuário, que pode acessar esses aplicativios sem consumir oos dados
a que tem direito, tal prática cria uma discriminação positiva em favor de alguns
serviços e cria um desequilíbrio no mercado da internet, dificultando que aplicativos
sem poder econômico para celebrar acordos possam se estabelecer e ganhar
usuários. (Agência Brasil, 2017)

Uma situação com bastante divulgação nas mídias sociais e tradicionais, foi o
caso do cantor Cristiano Araújo. O cantor de sertanejo em ascensão faleceu em
junho de 2014 em um acidente de carro, e teve imagens e vídeos de seu corpo
compartilhados indiscriminadamente pela internet. Dando maior atenção ao vídeo
em que filmava seu corpo sendo preparado para os trâmites funerários gravados por
funcionários e identificaram-se no vídeo.

O Marco Civil é aplicado nesse caso pois houve um compartilhamento sem


controle de imagens e vídeos pela internet, em especial no WhatsApp em grupos de
conversas online. Os artigos 10 e 11 da lei trazem as condições de disponibilização
do conteúdo para seus fornecedores, e a proteção da intimidade e da vida privada
de seu usuário.

Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de


conexão e de acesso a aplicações de internet de que trata
esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de
comunicações privadas, devem atender à preservação da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das partes
direta ou indiretamente envolvidas.

Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento,


guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de
comunicações por provedores de conexão e de aplicações de
internet em que pelo menos um desses atos ocorra em
território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a
legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção
dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e
dos registros.
No final do caput do artigo 11, é observado que deverão ser respeitados a
legislação brasileira e os direitos à privacidade, proteção de dados pessoais e sigilo
das comunicações privadas e registros. Sendo assim, é indiscutível que no caso
comentado do cantor sertanejo, o compartilhamento de imagens e vídeos de seu
cadáver feriu sua honra e vida privada. E certamente o compartilhamento
enquadra-se no conceito de "dado pessoal", descrito no artigo 5 do anteprojeto da lei
de proteção aos dados pessoais.

Art. 5º - Para os fins desta Lei, considera-se:

I – dado pessoal: dado relacionado à pessoa


natural identificada ou identificável, inclusive a
partir de números identificativos, dados
locacionais ou identificadores eletrônicos;

No ocorrido com o falecimento do cantor, também não foi resguardado


nenhum direito de cuidado com sua imagem e vida privada. Ou seja, aqueles
funcionários que filmaram a preparação do corpo, praticaram um crime denominado
de vilipêndio, descrito no artigo 212 do código penal.

Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas.

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

Está lei igualmente esclarece quando à responsabilidade do provedor da


conexão em manter sob a sua guarda e o sigilo os registros de conexões que
estejam acondicionados em local seguro e controlado no período de um ano, sem a
condição de delegar a terceiro a execução desse tipo de mister. Na hipótese de a
autoridade policial solicitar a guarda dos registros de conexão por período de tempo
superior a um ano, tendo o requerido, após o requerimento, prazo de 60 (sessenta)
dias para ajuizar o pedido de autorização judicial para realizar esse acesso aos
registros de conexões. Sublinhando que o provedor sempre conservará sigilo a
respeito do requerente das informações. é possível observar no art. 13 da Lei
fazendo menção às sanções cabíveis ao ato de violação, tais como gravidade e a
natureza da infração, os antecedentes do agente, os agravantes e a reincidência, se
houver.

1.1.4 Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)

A globalização do século XX, trouxe à sociedade mundial acesso a novas


culturas e diversidade de pensamentos. Com as embarcações do século XIX, era
possível apenas pequenas fontes de comunicações entre nações que
localizavam-se em continentes diferentes. Com a globalização trouxe assim as
empresas internacionais para país onde as leis eram mais brandas e ficam mais
incentivos fiscais para a evolução monetária do país. A lei LGPD, lei geral de
proteção de dados, é uma lei brasileira que exige que empresas que coletem,
armazenem ou manipulem dados pessoais de indivíduos, usuários de suas
plataformas, ou constantes de bases de dados de seus clientes, estejam em
conformidade com a legislação que estabelece parâmetros de segurança
específicos para conferir maior controle legal sobre estes dados.

A Lei 13.709, de 14 de agosto de 2018, conhecida também como LGPD (Lei


Geral de Proteção de Dados), foi inspirada no Regulamento Geral sobre a Proteção
de Dados ( General Data Protection Regulation - GDPR) de 2016 na União Europeia
e possui como o principal objetivo a proteção e a transparência na utilização de seus
dados pessoais.

Criada com o objetivo de estabelecer regras de uso de dados, portanto para


dar autodeterminação informativa ao titular sobre seus dados, teve o mesmo
impacto que o Código do Consumidor quando sua criação e quando entrou em vigor
no país. Atualmente quando se fala de consumidor, sempre é lembrado que tem
seus direitos e deveres resguardados pelo seu código, a LGPD também assume
esse caminho há 5 anos.

Na Era Digital, o instrumento de poder é a informação, não só recebida mas


refletida. A liberdade individual e a soberania do Estado são hoje medidas pela
capacidade de acesso à informação. Em vez de empresas, temos organizações
moleculares, baseadas no Indivíduo. A mudança é constante e os avanços
tecnológicos afetam diretamente as relações sociais. Sendo assim, o Direito Digital
é, necessariamente, pragmático e costumeiro, baseado em estratégia jurídica e
dinamismo. (PECK, 2019)

Os principais autores da lei, em primeiro lugar tem-se o titular, no artigo 2


inciso III, sendo esta qualquer pessoa natural, protegida pelo princípio da
autodeterminação informativa. O controlador, no inciso VI do artigo 5º, pessoa
natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem as decisões
referentes ao tratamento de dados pessoais. Sendo este que pode exercer
diretamente o tratamento dos dados, mas pode também designar um operador.

O operador no inciso VII do art. 5º é a pessoa natural ou jurídica, de direito


pública ou é a pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o
tratamento de dados pessoais em nome do controlador. Ambos, controlador e
operador, recebem a nomeação de “agentes de tratamento”.

O encarregado no inciso VII do art. 5º corresponde a uma pessoa natural


inequivocamente investida nessa função (que, na legislação europeia, corresponde
ao Data Protection Officer - DPO). Sua incumbência é fazer a intermediação entre o
titular e os agentes de tratamento, mas também entre estes agentes e a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados - ANPD.

E finalmente, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados - ANPD tem a


missão de regular o setor de tratamento de dados pessoais. Está autorizada,
portanto, a agir em proteção aos princípios e fundamentos da Lei Geral de Proteção
de Dados.

Sendo o DPO - Data Protection Officer é o cargo que se responsabiliza por


manter a empresa em compliance, ou seja, em conformidade com a LGPD. Então,
ele é um cargo extremamente estratégico, porque ele participa, ativamente, de todas
as operações da empresa, uma vez que ele vai ter que sempre opinar em relação
aos produtos, serviços e processos estabelecidos. O DPO, além de diversas outras
funções, determina como algum processo, produto ou serviço está ou não em
conformidade com a LGPD.

Sancionada em 2018 e os legisladores entenderam que o país precisava de


um período de dois anos para que nós pudéssemos nos adaptar. Quando ela foi
sancionada, em 2018, o legislador tinha colocado o que o DPO precisava ter
“conhecimento jurídico regulatório”. A interpretação que se tirava daquilo era que o
DPO, então, precisaria ser um profissional da área jurídica, uma vez que ele
precisava ter conhecimento jurídico regulatório.

Contudo, quando ocorreu a MP que criou a Autoridade Nacional de Proteção


de Dados (ANPD) e fez algumas alterações na redação da LGPD, essa parte, de
determinar “conhecimento jurídico regulatório” foi retirada do texto. Fizeram isso
justamente para não inchar a atuação do DPO, para não criar uma oportunidade
apenas para os juristas, ou seja, para abranger a oportunidade para mais pessoas.

A LGPD surge com o intuito de proteger direitos fundamentais como


privacidade, intimidade, honra, direito de imagem e dignidade. Pode-se pontuar
também que a necessidade de leis específicas para a proteção dos dados pessoais
aumentou com o rápido desenvolvimento e expansão da tecnologia no mundo, como
resultado dos desdobramentos da globalização, que trouxe como uma de suas
consequências o aumento da importância da informação. Isso quer dizer que a
informação passou a ser um ativo de alta relevância para governantes e
empresários: quem tem acesso aos dados, tem acesso ao poder. (PECK, 2020, p.
70)

Acompanhar a conformidade à LGPD é uma atividade contínua e necessária


para os órgãos e entidades manterem PGP a longo prazo. Assim sendo, esta última
etapa do PGP aborda aspectos, detalhados nas próximas seções, que incluem, em
grande parte, coleta e análise de informações, bem como elaboração de relatórios e
apresentações de resultados. (Guia de Elaboração de Programa de Governança em
Privacidade, 2020)

A LGPD é o passo precioso que o ordenamento jurídico sobre esse assunto.


O Direito é uma evolução constante, acompanhando as mudanças das sociedades e
se adaptando com os valores e necessidades sociais, e quanto mais adentramos no
ambiente virtual, mais é imprescindível a regulamentação do Direito Digital.

2- A privacidade da sociedade e os desafios para a aplicação do Direito Digital

O termo privacidade se originou no Latim privatus, “pertencente a si mesmo,


colocado à parte, fora do coletivo ou grupo”, particípio passado de privare, “retirar
de, separar”, de privus, “próprio, de si mesmo, individual”, que por sua vez vem de
pri-, “antes, à frente de”. Aquele que está à frente dos outros está separado deles,
está por sua conta. (PRIVACIDADEOK, 2022)

A Constituição Federal de 1988, em seus princípios fundamentais garantidos


ao cidadão e estrangeiros, é que qualquer ação, de meio tecnológico ou não, são
resguardada a todos e irrenunciáveis. Sendo um dos princípios elencados na carta
Magna em vigor no seu artigo 5.º, XII que preconiza a inviolabilidade da
correspondência ou dos dados:

Art.5.º, XII - É inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.

Por conseguinte, este inciso fazendo parte do leque dos Direitos e Garantias
Fundamentais, assegura uma comunicação instituída através de meios eletrônicos
tais como email, deverá ser resguardado o sigilo das informações contínuas em seu
escopo da mensagem. Segundo Mario Antônio Lobato Paiva a Carta Magna
assevera taxativamente o respeito à vida privada e à intimidade do cidadão que tem
o direito de se corresponder com os demais via e-mail, sem que alguém possa
intervir na intenção de ter o conhecimento de qual a substância da correspondência,
por tratar-se de informações de caráter íntimo que só dizem respeito aos
interlocutores e que tem a garantia de não vê-las violadas por terceiros curiosos ou
interessados. (Paiva, 2015)

Na falta de um conjunto amplo e concatenado de leis protetivas da


privacidade, em suas mais variadas manifestações, o instrumento do jurista no
tratado deste assunto será inevitavelmente a Constituição Federal, onde estão
assentes os princípios basilares desse direito personalíssimo. (Ramos, 2005)
Portanto, na falta de leis que decidam o conceito do meio virtual, pois a continuação
não fornece meios seguros para definir sua extensão e alcance para o Direito à
Privacidade.
2.1. Da Resolução do Direito à Privacidade na Era Digital

O 3ª Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas adotou, por


consenso, uma resolução em 2015, conduzida pelos governos do Brasil e da
Alemanha, em conjunto com Áustria, México, Suíça, Liechtenstein e Noruega,
designando o mandato de um relator especial acerca do direito à privacidade na era
digital a Resolução do Direito à Privacidade na Era Digital.
Nesse ato, os componentes assevera que, o direito à privacidade é uma
garantia “segundo o qual ninguém será sujeito a interferências arbitrárias ou ilegais
em sua privacidade, família, lar ou correspondência, bem como o direito à proteção
da lei contra tais interferências, conforme estabelecido no artigo 12 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos e no artigo 17 do Pacto Internacional sobre os
Direitos Civis e Políticos”.

Art. 12 Ninguém deverá ser submetido a interferências


arbitrárias na sua vida privada, família, domicílio ou
correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra
tais intromissões ou ataques todas as pessoas têm o direito à
proteção da lei.

Artigo 17 Ninguém poderá ser objetivo de ingerências


arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em
seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas
ilegais às suas honra e reputação.

Guilherme Patriota, afirmou em uma entrevista à Rádio ONU sobre a importância da


resolução para os brasileiros e para o resto do mundo. “É uma resolução pioneira, é
uma resolução marco. É a linha de frente do debate que acontece hoje em dia na
esteira das revelações de Edward Snowden, com respeito às atividades de
monitoramento de comunicações conduzidos por Estados. De acordo com essa
resolução agora, tudo isso está mais em evidência. Essa é uma afirmação
fundamental dessa iniciativa Alemanha-Brasil, é o reconhecimento aqui na ONU de
que o direito humano à privacidade ele vale tanto fora quanto dentro do espaço
cibernético.”

O Conselho reconhece o propósito de globalização e de abertura da Internet


bem como do progressivo desenvolvimento da tecnologia da informação e da
comunicação como alavanca para estimular o conhecimento em direção ao avanço
em suas diferentes apresentações, reiterando ainda que os “mesmos direitos que as
pessoas têm off line também devem ser protegidos on line, incluindo o direito à
privacidade” na a Resolução do Direito à Privacidade na Era Digital . O projeto de
resolução solicitou ao relator especial para que coordene com foco nos desafios
oriundos do mundo virtual e das novas técnicas aplicadas com o desígnio de coletar
informações, analisar as tendências, elaborar recomendações, se opor aos
obstáculos e violações e gerar princípios.
2.2. Direito à Privacidade na Era Digital

Na era digital, a internet tornou-se um símbolo e a tecnologia de informação e


a comunicação seus elementos primordiais. O planeta terra é dimensionado por um
clique, permitindo a maior migração de pessoas e dados pessoais que a
humanidade jamais experimentou. Uma necessidade nascia para proteger esses
dados, para evitar que sejam utilizados de forma indevida por terceiros mal
intencionados, desrespeitando assim o direito fundamental garantido pela Carta
Magna, que é o direito à privacidade.

Esses dois pontos, o direito à privacidade e os dados pessoais a cada ano


torna-se, cada vez mais, sujeitos de riscos de violações pela quantidade de
informações e dados pessoais acumulados no ciberespaço, onde não tem limite de
quem pode acessar aquelas importações e onde podem ser usadas.

No que diz respeito aos fundamentos normativos do direito à privacidade, no


artigo 5º onde são elencados os Direitos e Garantias Fundamentais, onde todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, e no inciso X são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. E no plano
geral, sua previsão genérica conta do artigo 21 do Código Civil, a vida privada da
pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

Correia (2016) advogada explica que “existe uma espécie de show do eu, em
que são as próprias pessoas que se exporem com facilidades as suas vidas
privadas através das redes sociais (Facebook, Youtube, Twitter…), exibindo elas
mesmas o trabalho, a casa, a sua intimidade amorosa, o ginásio que frequenta (...).”
Pois, o mundo digital é um dos locais mais procurados para as intromissões na
privacidade.

Casos de pais menores de idade revelam os dados pessoais de seus


tutelados, com fotografias, nome de escolas, onde moram, e outras informações
onde pessoas criminosas possam identificar seus filhos, com facilidade sem ter
consciência do que estão fazendo. Sendo essa problemática, é possível entender
que os próprios titulares expõem, muitas vezes de forma inconsciente,
disponibilizando seus dados pessoais e de seus familiares a terceiros, sem se
aperceberem de que estarão a contribuir para que sua privacidade seja agredida,
com prejuízo para o seu direito à privacidade e de sua família.

O compartilhamento dos dados pessoais gera vários riscos, com especial


incidência no contexto da criminalidade sexual, em que as vítimas são, na maioria
dos casos, menores. Sendo isso, um perigo real, em que a Internet e, sobretudo, as
redes sociais poderão favorecer a atividade criminosa de uma rede de pedófilos e
sustentar outro tipo de atuação que, não sendo criminosa, seja violadora de direitos.

Pois, a Internet, com a velocidade a cada ano mais rápida e a facilidade de


comunicação de pessoas ao redor do mundo e a facilidade de divulgação, e
reprodução de acesso e adulteração da informação, propicia a sua utilização ou
reutilização para finalidades não desejadas ou sequer imagináveis.

Sobre a óptica sobre a recolha e o tratamento de dados pessoais, tem-se por


prática que as tecnologias de informação e comunicações têm permitido que
empresas, através dos sistemas automatizados, tais como big data. Procedam à
recolha e tratamento de dados pessoais, sem que o cidadão tem o conhecimento
que seus dados serão compilados.

Dados esses que podem ser futuramente trocados entre empresas públicas
ou por órgãos públicos, aumentando assim o volume de dados pessoais disponíveis,
podendo ser tratados, sem o consentimento dos seus titulares, em claro desrespeito
aos direitos fundamentais, aos direitos à privacidade, e a Lei de Proteção de Dados.

Na nova organização e valores da sociedade moderna, a tecnologia e a


comunicação, entrelaçados a Internet, são indispensáveis à vida, mas sua utilização
comporta riscos e constituem uma ameaça permanente e real para os direitos
fundamentais.
Conclusão

A sociedade contemporânea os dados pessoais é um dos bens valiosos do


homem, onde empresas internacionais investem bilhões de dólares todos os anos
para poder entender o consumidor. Levando isso em consideração, a velocidade da
internet está cada ano ainda mais rápida e a atividade legislativa não bastará para
elucidar e solucionar casos concretos. A tecnologia da informação é um campo
amplo e com um sistema de princípios e regras. Assim, terá que ser trabalhado com
o amparo do ordenamento jurídico no Direito Digital, no âmbito civil e criminal.

Além das inovações jurídicas já demandadas e regulamentações criadas no


decorrer de 20 anos, como o Marco Civil e o LGPD. Ainda carece de entendimentos
alinhados jurídicos legislativos e judiciários, dando assim autonomia a matéria e
amparo a uma matéria ampla e com tanta divergência doutrinária.

O ordenamento brasileiro, as definições sobre os limites da privacidade não


são unânimes. Na evolução social, a privacidade também sofre alterações de
conteúdos no decorrer do contexto social e histórico humano, nem sempre a visão
da sua extensão é compartilhada igualitariamente, tendo diferentes resultados nas
culturas ao redor do mundo. Esse sendo o ponto de dificuldade para o Direito Digital
delimitar a sua extensão.

Sendo assim, é indispensável a edição de novas leis e a modernização das


antigas para a sociedade brasileira atual, condizentes com a realidade da sociedade
tecnológica, com os direitos fundamentais garantidos constitucionalmente e legais.
Dando foco ao fenômeno da dinâmica informacional descentralizada e distribuída,
surgindo com o uso massificado da informática e outros meios tecnológicos, tais
como o banco de dados e o e-commerce.

Diante desse grande desafio, o direito à privacidade na internet surge como


um problema para ser solucionado, contra ações criminosas, tais como, divulgação
de imagens indevidas, vendas de informações pessoais a empresas. Mas para isso
ocorrer, é necessário que o LGPD seja efetivamente aplicado, gerando assim mais
conhecimento e entendimento doutrinário e jurisprudencial, dentro de uma legislação
digital focada e autônoma para poder estabelecer regras de privacidade da
sociedade contemporânea
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA BRASIL
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-12/entenda-o-que-e-neutralidade-
de-rede-e-como-e-o-seu-funcionamento-no-brasil Acesso em: 01 de outubro de
2022.

BEZERRA JUNIOR, Luis Martius Holanda. Direito ao esquecimento. São


Paulo. Saraiva Educação, 2018.

CANTU, Ricardo. La Informática Jurídica en las Facultades de Derecho de


América Latina. Disponível em:
http://libros-revistas-derecho.vlex.es/vid/informaticafacultades-america-latina-107318
. Acesso em 01 de outubro de 2022.

CAPUTO. 10 inovações tecnológicas que os carros terão no futuro. 13. Set.


2016. Disponível em:
https://exame.abril.com.br/tecnologia/10-coisas-que-os-carros-terao-nofuturo/
.Acesso em: 28 de Setembro de 2022

CAVALCANTE E SILVA. A importância da revolução industrial no mundo da


tecnologia. 25. Out. 2011. Disponível em:
https://www.unicesumar.edu.br/epcc-2011/wpcontent/uploads/sites/86/2016/07/zedeq
uias_vieira_cavalcante2.pdf .Acesso em: 28 de Setembro de 2022

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
Acesso em: 05 de outubro de 2022.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em:


http://www.humanrights.com/pt/what-are-human-rights/universal-declaration-of-huma
n-rights/articles-11-20.html. Acesso em 05 de outubro de 2022.

FERNANDES, Isabela Oliveira. A aplicabilidade do direito ao esquecimento


na era digital. 2018. http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/41266

GALO, Carlos Henrique. Lei nº 12.965/11: o Marco Civil da Internet – Análise


Crítica. Disponível em:
http://henriquegalo.jusbrasil.com.br/artigos/118296790/lei-n-12965-11-o-marco-civil-d
a-internet-analise-critica. Acesso em 05 de outubro de 2022.

HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira


Mendes. Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor, 1991, p. 19.
LEI N.°12.965/14. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm Acesso em
Acesso em 05 de outubro de 2022.

LÉVY, Pierre. O que é o Virtual? Disponível em:


https://books.google.com.br/books?id=IeNw_sOADVEC&printsec=frontcover&dq=PI
ERRE+LEVY&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwji35jEyv3LAhWHQpAKHcpkBNsQ6AE
INzAD#v=onepage&q=PIERRE%20LEVY&f=false . Acesso em 05 de outubro de
2022.

NAÇÕES UNIDAS Disponível em:


https://news.un.org/pt/story/2014/11/1493801 Acesso em 05 de outubro de 2022.

MENDES, Paulo Manuel Mello de Sousa. A privacidade digital posta à prova


no processo penal. Quaestio facti. Revista internacional sobre razonamiento
probatorio, n. 2, 2021. https://revistes.udg.edu/quaestio-facti/article/view/22487

PEREIRA, Marcelo Cardoso. Direito à Intimidade na Internet. Juruá Editora.


Novembro, 2003. 1ª Edição.

PAIVA, Mário Antônio Lobato de. Primeiras linhas em Direito Eletrônico.


Novembro, 2002. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/3575/primeiras-linhas-em-direitoeletronico. Acesso em 25
de janeiro de 2106.

PECK, Patrícia Pinheiro. Direito Digital: em defesa do mundo virtual.


Fevereiro, 2009. Disponível em:
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo
_id=2901. Acesso em 25 de janeiro de 2016.

POLLACK, Michel. Memória e Identidade Social. Disponível em:


file:///C:/Users/CLIENTE/Downloads/memoria%20e%20identidadesocial%20A%20ca
praro%202.pdf

POLLI, Vanessa. Mas, afinal, o que é Direito Digital?. Disponível em:


http://www.meon.com.br/opiniao/opiniao/colunas/mas-afinal-o-que-e-direito-digital.
Acesso em 22 de maço de 2016.

RAMOS, Demócrito Reinaldo. Privacidade na “Sociedade da Informação”. In


Direito da Informática: Temas polêmicos. Editora Edipro, 1.º edição, 2002, p. 28.

RESOLUÇÃO DO DIREITO À PRIVACIDADE NA ERA DIGITAL. Disponível


em:
https://nacoesunidas.org/sob-lideranca-de-brasil-e-alemanha-onu-cria-mandato-de-r
elator-sobre-privacidade-na-era-digital/. Acesso em 05 de outubro de 2022.
SOARES, Marcelo Negri; KAUFFMAN, Marcos Eduardo; DE CATUNDA
SALES, Gabriel Mendes. Avanços da comunidade europeia no direito de
propriedade intelectual e indústria 4.0: extraterritorialidade e aplicabilidade do direito
comparado no Brasil. Revista do Direito, v. 1, n. 57, p. 117-137, 2019.
https://online.unisc.br/seer/index.php/direito/article/view/13618

Você também pode gostar