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Jurisdição e Internet

Competência Internacional dos


Tribunais Domésticos e Litígios de
Internet
Um Direito Internacional para a Internet?

• A ideia de um Direito Internacional da Internet existe


desde o princípio da própria internet, quando David
Johnson e David Post argumentaram que o ciberespaço
seria um local radicalmente diferente do mundo offline
e que, por isto, deveria ser regido pelo seu próprio
Direito, como se possuísse sua própria soberania. A ideia
foi considerada ingênua e simplista e já na época em
que os primeiros trabalhos a respeito foram lançados,
mas foi de importância seminal para que teorias mais
consistentes fossem desenvolvidas na década seguinte.
• assim como o Direito Ambiental Internacional
surgiu como um ramo do Direito Internacional
Público, na década de 1970, por meio da adoção
de tratados e princípios escritos, e assim como
aquela disciplina possui natureza inerentemente
transnacional, pois seu objeto de estudo é
compartilhado por diversos Estados, também
deve a regulação da internet se desenvolver a
partir de acordos multilaterais ou multissetoriais.
• Com a popularização e expansão do acesso à
internet, questões envolvendo direitos
humanos, propriedade intelectual, comércio
eletrônico e outros tópicos até então não
trabalhados por essas organizações, passaram
a exigir uma atenção maior dos atores
interessados, na medida em que cresceram
em sua relevância para a sociedade moderna.
• “Apesar de seu caráter atualmente relativo, a
soberania ainda permanece como um atributo
irrenunciável - apesar de limitável - dos Estados.
Esse arcabouço clássico gera um antagonismo com
as próprias características da internet, que é
marcada pela sua transnacionalidade.”
• Em decorrência disso, medidas são tomadas para
tentar estabelecer “fronteiras” para a internet,
impedindo a livre circulação da informação e de
novas tecnologias.
• Por meio da internet, milhões de pessoas são
capazes de se comunicar sem saírem de suas
residências ou estações de trabalho. Diante
disso, “[o] ciberespaço é uma característica
definidora da vida moderna,”3 vez que a
sociedade de nossos dias depende de forma
inafastável dos recursos digitais diariamente4.
A internet “
• A intensa interatividade humana que a
internet possibilita e facilita produz certos
conflitos entre aqueles que fazem uso desse
recurso. De forma ainda mais complexa, esses
conflitos, muitas vezes, produzem efeitos
numa escala global, precisamente porque
qualquer pessoa, independentemente de
fronteiras estatais físicas, pode ter acesso ao
conteúdo online objeto do conflito.
• jurisdição, segundo uma concepção tradicional, é um
conceito que se relaciona com o poder de todo Estado de
legislar, administrar e julgar, afetando diretamente as
pessoas, bens e fatos sob sua influência, sendo um
corolário dos princípios internacionais da soberania, da
igualdade e da não interferência em assuntos internos6. A
jurisdição é um aspecto central da soberania do Estado,
pois ela consiste no exercício de autoridade estatal que
pode modificar, criar ou terminar relações e obrigações
jurídicas entre as pessoas que de alguma se encontram
sujeitas a esse Estado7.
Os princípios clássicos da jurisdição estatal
• O princípio da territorialidade
• Em decorrência da soberania, os Estados têm direito a exercer
suas competências com independência, isto é, com exclusão de
qualquer outro Estado.8 Diante disso, os Estados possuem,
como regra geral, a prerrogativa de legislar e jurisdicionalizar as
atividades que ocorrem seu território.
• De forma que as cortes internas de um Estado podem conhecer
de qualquer ato que tenha ocorrido nos limites do seu
território9. Em sentido inverso, o princípio da territorialidade
determina que, em regra geral, os fatos ocorridos no território
de um Estado não podem ser adjudicados pelo poder judiciário
de outro10.
• O princípio da nacionalidade
• Segundo o princípio da nacionalidade, apenas
o Estado que possui o vínculo de
nacionalidade é competente para julgar as
ações de seus nacionais, independentemente
do local onde esses atos ocorreram
O princípio da personalidade passiva

• determina que um Estado pode adjudicar os


fatos cometidos no exterior e que afetaram ou
afetarão seus nacionais
O princípio da proteção
• determina que um Estado soberano pode
adjudicar a conduta de uma pessoa que foi
cometida fora de seus limites territoriais e que
ameaça a segurança deste Estado ou interfere
no adequado funcionamento das suas funções
soberanas. Esse princípio se justifica na
vontade dos Estados de protegerem seus
interesses públicos essenciais
• O princípio da jurisdição universal
• À luz do princípio da jurisdição universal, todo
Estado é considerado competente para julgar e
punir os indivíduos que cometeram crimes
considerados particularmente ofensivos por
toda a comunidade internacional. Assim,
aqueles que foram acusados desses crimes de
máxima gravidade podem ser julgados por
qualquer Estado,
Caderno cglbr

• Saber lidar com a coexistência de leis heterogêneas na


Internet transfronteiriça é um dos maiores desafios políticos
do século XXI digital. No entanto, soluções políticas
escaláveis e coerentes não podem ser desenvolvidas sem
uma compreensão abrangente de um ecossistema altamente
complexo e dinâmico composto por múltiplos atores,
iniciativas e tendências em todos os silos políticos da
economia digital, dos direitos humanos e da segurança. Este
foi um chamamento claro feito por mais de 200 dos
principais atores de 40 países durante a 2ª Conferência
Global da Rede de Políticas Internet & Jurisdição em 2018.
• O esclarecimento da forma como as leis nacionais
vigentes se aplicam ao ciberespaço e o
desenvolvimento de novos regimes equilibrados
para combater abusos viabilizarão a economia
digital a proteger os direitos humanos e
determinarão o formato da economia digital
emergente. Para preservar o caráter aberto e
transfronteiriço da Internet, é necessário
estabelecer a coerência das políticas e a
interoperabilidade jurídica entre múltiplos regimes.
• A World Wide Web, a Internet como a maioria das pessoas a
conhece, tem apenas 30 anos de idade. Neste curto período de
tempo, a distinção entre o mundo on-line e off-line tornou-se sem
sentido. Estamos on-line todos os dias. Usamos a Internet para
receber notícias. Nós nos comunicamos com familiares, amigos e
colegas de trabalho. Nossas casas e eletrodomésticos estão
conectados através da Internet das Coisas. Encomendamos
serviços e interagimos com autoridades locais e nacionais. Nossos
celulares e laptops facilitam o acesso à Internet em casa ou em
qualquer lugar.
• A Internet aumentou a conectividade global, avançou nossas
sociedades e economias, e ainda oferece enormes oportunidades.
• A Internet também estabeleceu novos desafios. A liberdade de
expressão on-line tem de ser protegida e precisamos encontrar
formas de lidar com o discurso de ódio, manipulação e
desinformação. A segurança de dados e o direito à privacidade são
da maior importância e exigimos uma defesa contra crescentes
ameaças cibernéticas
• e à necessidade de impulsionar o diálogo entre a indústria
tecnológica, governos e organizações multilaterais.
• Reconhecer a necessidade urgente de normas comuns e a
preservação de uma ordem internacional baseada em regras para a
era digital. Assegurar a regulamentação correta e proteger a
democracia, os direitos humanos e o Estado democrático de direito.
• A digitalização é de natureza internacional e transfronteiriça, criando uma
série de novos desafios jurídicos, entre outros, às nossas sociedades e ao
Estado democrático de direito na era digital — uma era que, pela mesma
razão, exige mais, não menos, cooperação internacional.
• Embora o ciberespaço aberto, livre e acessível seja, para muitos Estados,
parte de sua identidade democrática, para alguns, a governança da
Internet pode ser vista como mais uma ferramenta para executar o
controle estatal. A Estônia sempre apoiou a Internet aberta e
interoperável. O acesso não discriminatório e a acessibilidade da Internet
são fundamentais para permitir e promover o direito à liberdade de
expressão, reunião e associação. O acesso a fontes de meios de
comunicação independentes, plataformas de redes sociais e uma Internet
gratuita tornou-se parte integrante da boa governança e da sociedade
democrática.
• A disciplina do direito internacional público é
tradicionalmente descrita como um
ordenamento jurídico que estrutura as
interações entre os Estados. Há um
reconhecimento recente, no entanto, que a
disciplina também engloba outros sujeitos do
direito internacional e relações entre
indivíduos e Estados.
• , o direito internacional privado (ou conflito de
leis, como a disciplina é frequentemente
referida em países de Direito Consuetudinário
Common Law), é a parte do direito nacional
que governa as relações (sobre diferentes
jurisdições jurídicas) entre pessoas, empresas,
corporações e outras entidades jurídicas.
• ; tanto o direito internacional público quanto o direito
internacional privado visam a “alocar entre os Estados do
mundo a competência para fazer e aplicar a lei aos
acontecimentos transnacionais que os afetam.”771
Finalmente, deve-se notar que, se um recurso concedido
ao abrigo do direito privado for ignorado, o direito público
pode impor sanções. Portanto, questões do direito
privado que inicialmente levantam questões jurisdicionais
ao abrigo do direito internacional privado poderão
também suscitar questões jurisdicionais ao abrigo do
direito internacional público.
• O termo jurisdição tem mais de um significado.772
Aqui, ele é usado para significar o poder de analisar
uma questão, por exemplo, quando um tribunal
tem jurisdição sobre uma determinada disputa. O
conceito de soberania773 é tipicamente descrito
como envolvendo autoridade suprema dentro de
um território. Existe, por- 306 tanto, uma ligação
clara entre soberania, jurisdição e território,
embora esta ligação seja muitas vezes mal
compreendida.
• Embora tradicionalmente a territorialidade
desempenhe um papel importante em relação à
jurisdição, o conceito de soberania nem sempre
exige que a jurisdição se assente apenas na
territorialidade, sozinha. Para ver que isso é
verdade, basta considerar conceitos de direito
internacional estabelecidos, como o princípio da
nacionalidade que autoriza reivindicações
jurisdicionais baseadas na nacionalidade da pessoa
em questão.
• enquanto o direito internacional pode exigir que
haja apenas um soberano sobre um determinado
território, é claro que um indivíduo ou matéria
pode estar sujeito a mais de um poder soberano.
A soberania não deve necessariamente ser
entendida como significando exclusividade em
todos os contextos; a exclusividade baseada na
soberania, em relação a pessoas e assuntos, é
uma adequação ruim ao mundo interconectado.7
• A visão tradicionalmente ocidental de que os
direitos humanos se sobrepõem sobre a soberania
impõe necessariamente limitações ao que os
Estados podem fazer. No entanto, por exemplo, sob
a antiga doutrina do direito internacional soviético,
a soberania tinha prioridade sobre os direitos
humanos776 e, segundo o conceito soviético de
“soberania da informação”, “o Estado tem o direito
de controlar a disseminação da informação dentro
de seu território”.

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