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Constituição na Escola

Felipe Costa Rodrigues Neves

Liberdade de expressão em tempos de


internet
sexta-feira, 14 de setembro de 2018

https://www.migalhas.com.br/coluna/constituicao-na-escola/287487/liberdade-de-expressao-
em-tempos-de-internet

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Felipe Costa Rodrigues Neves e Isabel Cortellini

A revolução digital trouxe o maior meio de comunicação que a humanidade já


conheceu: a internet. Por meio dela, as pessoas conseguem trocar informações
em tempo real, emitir opiniões, pensamentos e se expressar das mais
diferentes maneiras. A internet é o principal mecanismo, nos dias de hoje, para
o exercício da liberdade de expressão.

O conceito de liberdade de expressão é extremamente abrangente e tem


diversas implicações: desde um cidadão expor sua opinião; um político, sua
ideologia; um artista, sua arte; um jornalista, sua investigação, e por aí vai.
Além de garantir a expressão, o direito também se refere ao amplo acesso à
informação a partir de diferentes e variadas fontes, dentro de um ambiente
democrático, que garanta as liberdades de expressão e de imprensa.

A nossa Constituição traz a garantia da liberdade de pensamento, expressão


e/ou manifestação expressamente: o inciso IV, do artigo 5º, afirma que "é livre
a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" – já trazendo o
primeiro limite à tal liberdade que é o anonimato-, e, continua, no inciso IX, que
garante ser "livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença".

Já tratamos, nesta coluna (veja aqui), sobre a liberdade de expressão no


âmbito do Facebook, quando esta rede social apagou posts que não
correspondiam às políticas da empresa. Mas nessa ocasião discutimos a
legitimidade de uma empresa privada de censurar cidadãos – algo que, como
vimos acima, a própria Constituição proíbe - seja a censura pelo Estado, seja
por agentes privados.

Hoje, queremos trazer a discussão para o nível pessoal e continuar o debate


sobre a possibilidade de limitação à liberdade de expressão em favor de outros
direitos. Até onde vai a liberdade de expressão? Afinal, qual a extensão da
nossa liberdade de expressão enquanto cidadãos? Como lidar com casos
como de certos influenciadores digitais que demonstram suas opiniões em
detrimento de pessoas do sexo oposto?
Bom, para começar, sempre repetimos o jargão "o seu direito termina quando
começa o direito do outro", porque acreditamos ser um bom parâmetro. E quais
direitos, nestes casos, estão em jogo? Se, de um lado, temos a liberdade de
expressão, do outro podemos ter a dignidade da pessoa humana, o direito à
vida privada, à imagem e à honra. Com essa contraposição fica mais fácil
perceber que a liberdade de expressão, apesar de fundamental e
importantíssima como meio de garantia e desenvolvimento da nossa
democracia, não pode ser utilizada como desculpa para prática de crimes e
atividades ilícitas – como é o caso dos discursos que incitam a violência contra
à mulher, dos discursos de ódio contra minorias, da difamação, calúnia e injúria
e até discursos de incentivo ao terrorismo.

A questão é que temos a liberdade de nos expressar e ninguém poderá te


proibir de fazer antes que você publique. No entanto, as garantias que a nossa
Constituição nos traz servem para responsabilizar aqueles que ultrapassaram
os limites da liberdade de expressão. Os indivíduos podem, e devem, ser
responsabilizados pela prática de atividades ilícitas e não podem se esconder
atrás da bandeira da liberdade de expressão.

Atualmente, vivemos no mundo cada vez mais impessoal, em que as pessoas


se utilizam das redes sociais para falar o que pensam, acreditando que estão
protegidas atrás de seus computadores e celulares. Assim, alguém
simplesmente pode postar um discurso de ódio e simplesmente desligar o
computador ou colocar seu celular no “modo avião”, não tendo que encarar
diretamente e pessoalmente a repercussão dos seus atos, o que aumentou os
casos de discriminação e ofensas nos últimos anos.

No entanto, é importante lembrar que a responsabilização não é automática -


até para que um direito tão essencial para uma democracia não seja diminuído
sem razão. Para que alguém seja responsabilizado, é necessário denunciar e
levar o caso a um juiz, para que ele analise o caso concreto e, sob o prisma da
proporcionalidade, decida qual direito deve prevalecer.

Para além do direito, temos as boas maneiras, a educação e reputação. Em


tempos de internet, em que as notícias correm, as pessoas têm respondido
com twittaços, intervenções nas páginas e até boicotes. Quanto melhor as
pessoas conhecerem toda abrangência da liberdade de expressão, mais fácil
será de identificar uma violação, mais fácil será de não violar e mais fácil será
de conviver em sociedade em tempos digitais.
migalhas dos leitores

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 ATUALIZAR

Nikolas C. Costa07/07/2020 08:25:58


Esse jargão que diz "o seu direito termina quando começa o direito do outro" precisa ser repetido
exaustivamente, pois há a crença disseminada (hoje também com fake news e ignorância) de que a
liberdade de expressão tudo permite.
0RESPONDERDENUNCIAR

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Felipe Costa Rodrigues Neves é advogado formado pela PUC/SP e trabalha com Direito Empresarial e
Internacional. É fundador e presidente do Projeto Constituição na Escola, uma organização sem fins
lucrativos que promove aulas e palestras sobre a Constituição Federal, política e civilidade para alunos
das escolas públicas nos Estados de SP, BA e no DF. Foi nomeado "Young Leader of America" pelo
governos dos EUA, em 2016, delegado brasileiro na Assembleia Geral Jovem da ONU de 2017, em Nova
Iorque, e foi um dos 11 jovens líderes brasileiros escolhidos pela Fundação Obama para uma reunião
como ex-presidente americano quando ele visitou o Brasil em 2017. Em 2017, foi o mais jovem advogado
a ganhar o prêmio de menção honrosa do Instituto Innovare, a premiação mais tradicional e importante da
justiça brasileira feita pelo Ministério da Justiça. Atualmente cursa LL.M. (mestrado em Direito) na
Stanford University.

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