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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Curso Bacharel em Direito

João Pedro Gonçalves Garcia

Kimberly Esther dos Reis

Letícia Aparecida Costa Martins

Pamela Ruiz

Ricardo Peres Junior

DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS


“Trabalho de Extensão – Discriminação Racial”

Poços de Caldas
2021
Sumário

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................3

RACISMO E DIREITO.....................................................................................................................4

DISCRIMINAÇÃO SOCIAL............................................................................................................7

DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL...................................................................................11

HISTÓRIA DO RACISMO NO BRASIL......................................................................................13

CONCLUSÃO...................................................................................................................................14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................15

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INTRODUÇÃO

O racismo é algo presente em toda a história da humanidade, mesmo com a sua redução nos
dias atuais, permanece a dúvida de onde surgiu e o porque surgiu. O racismo é uma forma de
preconceito e todo e qualquer preconceito é derivado de estereótipos, partindo de um princípio de
segregação.

É comprovado cientificamente que o preconceito é algo natural do ser humano, cuja a


tendência é se aproximar e solidarizar com aqueles que são semelhantes a nós, hostilizando então
aqueles que são diferentes.

Em um estudo dividiram dois grupos, onde um usava a cor vermelha e o outro a cora azul,
em pouco tempo se criou uma rivalidade entre eles, porém só chegou a este ponto pois os valores
humanista eram fracos no ambiente; outro exemplo é que em épocas primitivas nós Homo Sapiens
lutávamos contra os Neandertais.

Este comportamento é algo primitivo, onde objetivamos defender os nossos e atacar os


diferentes, entretanto ele é algo que pode ou não ser estimulado. Não saímos atacando as pessoas
que são diferentes, além do mais não somos mais primitivos, reconhecer o preconceito é o primeiro
passo para acabar com o mesmo. Percebemos que o preconceito é algo irracional, tempos atrás até
mesmo a ciência, as notícias e outras fontes de informação/comunicação incentivavam o racismo.

Não só o racismo como também todo e qualquer tipo de preconceito envolve a lógica do
“Nós contra Eles”, hoje em dia, com o avanço tecnológico e humanista, o preconceito vem sendo
algo não mais tolerado. Na nossa sociedade atual temos gays, travestis, lésbicas, negros, asiáticos,
indianos, vários tipos de pessoas que são de etnia ou escolhas sexuais diferentes, e porque o
preconceito vem diminuindo se é algo “primitivo”?

Como dito no início do texto, é algo primitivo e natural, entretanto a violência também, e
porque não violentamos àqueles que nos frustram e nos limitam? Porque somos sapientes (que ou
aquele que tem sabedoria, erudição), seres capazes de reconhecer suas próprias falhas e adaptá-las
para o bem comum, somos seres sociais, no preconceito vemos que o outro é sempre pior, vemos
um sentimento de soberba perante o próximo, e isso é ser ignorante, toda e qualquer forma de
violência contra o outro nasce da ignorância, podemos então tirar como conclusão que a aceitação
do outro independente da sua diferença começa quando os tratamos com humanidade, quando
percebemos que todos somos capazes das mesmas coisas.

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A causa do preconceito é a hostilidade unida com a ignorância, e a solução é entender que
somos seres sociais, a luta do homem não é “Nós contra Eles”, independente de quem seja, a luta do
homem é um por todos e todos por um, a conscientização e a empatia é a solução. O
comportamento do homem é totalmente mutável e adaptativo, grande parte do nosso
comportamento provém da nossa cultura, até agora falamos a causa do preconceito, mas qual será a
causa da igualdade? A mesma que a do preconceito, quando quem faz parte do Nós não é medido
por cor ou etnia, então todos fazem parte do Nós, quando o critério básico para aceitar e respeitar o
próximo é o fato de estarmos lidando com um humano, não há preconceito. Hoje nosso maior
preconceito é contra os preconceituosos, na nossa sociedade todos somos iguais.

RACISMO E DIREITO

Para iniciarmos a análise, devemos ter em mente o dispositivo talvez mais importante da
Constituição Brasileira de 1988, quando se trata de liberdade, igualdade, bem comum e vida
harmônica em sociedade, a cláusula pétrea contida no artigo 5º:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade […]

Quando da promulgação de Nossa Constituição Federal em 1988, seu art. 5º, inciso XLII,
determinava que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei”, sendo referido inciso um mandado expresso de criminalização, o
qual teve sua eficácia com a promulgação da Lei nº 7.716/89.

A partir da Lei 7.716/89 o Direito passa, então, a obrigar de forma mais explícita, o
tratamento igualitário quanto à cor da pele, à etnia, a religião ou à nacionalidade, com penas,
inclusive, que podem chegar até 5 anos.

Interessante mencionar, porém, que a Lei nº 7.716/89, curiosamente, determina em seu


título, tais punições de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, categorias estas que

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foram ampliadas no ano de 1997, quando o legislador então acrescentou ao art. 1º da referida lei os
termos etnia, religião e procedência nacional, passando referido art. a vigorar da seguinte forma:

Art. 1º - Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes


resultantes de discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação
dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97).

A lei 9.459 de 15 maio de 1997 além de criar categorias para a “lei de racismo”, também
acresceu ao artigo 140 do Código Penal, o parágrafo terceiro, criando com isso a figura da injúria
qualificada, in verbis:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou


o decoro:
(…)
§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos
referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem.
Pena – reclusão de um a três anos e multa.

O parágrafo terceiro do art. 140 do Código Penal ainda sofreu nova alteração no ano de
2.003, com a Lei nº 10.741, quando então foram incluídas duas novas categorias, pessoa idosa ou
portadora de deficiência, passando a vigorar da seguinte forma:

§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos


referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

Mister se faz a menção de referido parágrafo e suas alterações, pois em muito ainda se
confunde o crime de racismo com a injúria qualificada do art. 140, parágrafo terceiro, do Código
Penal. No crime defino na Lei nº 7.716/89 a ofensa é dirigida a toda uma raça, a qual é
caracterizada por um fato pejorativo, por sua vez, na injúria qualificada do parágrafo terceiro do
Código Penal, a ofensa é direcionada a honra subjetiva do indivíduo, ofensa esta que é agregada à
raça, cor, etnia, religião ou origem.

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Ainda necessário se faz a análise das cinco categorias elencadas na “lei de racismo”,
iniciando pela raça. Esta do ponto de vista antropológico é uma categoria social, ou seja, mesmo
que biologicamente não haja evidências da existência de grupos raciais humanos, os grupos sociais
dividem a humanidade e as sociedades a partir de traços fenotípicos. Na segunda categoria
encontramos a cor, a qual se trata única e exclusivamente da pigmentação da pele. Por sua vez, etnia
refere-se a aspectos sócio culturais, enquanto que a religião é toda crença, e aqui cabe fazer uma
observação, o ateísmo não está abrangido pela “lei de racismo”, vez que não é uma religião, mas
uma filosofia de vida. Por fim, está a figura da procedência nacional, a qual deve ser vista de modo
ampliativo, devendo não ser entendida apenas a nacionalidade do indivíduo, mas também sua
origem regional.

Deste modo, após traçarmos os aspectos históricos e analisarmos cada uma das categorias
abrangidas pela “lei de racismo”, importante se faz a análise do art. 20 desta lei, o qual diz:

Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.

Observem que o legislador, quando da elaboração do art. 20 da “lei de racismo”, quis dar a
este a característica de subsidiariedade em relação aos outros artigos, posto que ao trazer em sua
redação o verbo “praticar”, contempla qualquer outra forma, como sendo crime, que não esteja
exposta nos artigos anteriores.

No tocante a imprescritibilidade dos crimes de racismo, ainda há divergência entre os


autores. Se analisarmos a Constituição Federal, esta é clara ao dispor no art. 5º, inciso XLII: “a
prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito á pena de reclusão, nos
termos da lei”. (grifo nosso).

Assim, embora tenha o legislador ampliado às categorias protegidas pela Lei 7.716/89,
acrescentando a esta a etnia, religião e procedência nacional, entendemos que foi intenção do
legislador constitucional impor imprescritibilidade apenas ao crime de racismo, e por este,
entendemos como aqueles relativos somente à raça e cor. Não obstante nossa posição há autores que
defendam ainda a inclusão da etnia no rol dos crimes imprescritíveis, por entenderem que a etnia
está ligada intrinsecamente ao conceito de raça.

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O Supremo Tribunal Federal, no caso Ellwanger, em setembro de 2003, decidiu por 8 votos
a 3, a condenação, pelo crime da prática de racismo, de Siegfried Ellwanger. Este vinha, no decorrer
dos anos, dedicando-se de maneira sistemática e deliberada a publicar livros notoriamente anti-
semitas, como os "Protocolos dos Sábios de Sião", e a denegar o fato histórico do Holocausto, como
autor do livro "Holocausto - judeu ou alemão?”. Na ocasião, a defesa de Siegfried Ellwanger, negou
que os livros tivessem qualquer conotação racista, adotando a ideia de que, caso o STF entendesse
de forma contrária, o conteúdo dos livros feria a religião dos judeus e, por isso, o delito já se
encontraria prescrito, vez que a Constituição Federal limita a imprescritibilidade aos crimes de
racismo (ai entenda-se como sendo apenas os crimes decorrentes de raça, cor e para alguns autores
a etnia).

Após esse julgamento, ficou clara a posição do STF acerca da imprescritibilidade também
no tocante à religião. No que diz respeito à procedência nacional, esta ainda não foi objeto de
deliberação pelo STF, porém, acreditamos que após o caso Ellwanger, caso referida matéria seja
levada à discussão em nossa corte maior, o posicionamento da imprescritibilidade deve ser
majoritário pelos ministros.

Diante de tais ponderações, vê-se que mesmo após vinte anos da promulgação da Lei nº
7.716/89 ainda padecem muitas dúvidas a respeito de sua interpretação e aplicabilidade por parte
dos operadores do direito. Entendemos que o legislador ao ampliar o alcance da Lei nº 7.716/89
para os crimes contra a etnia, religião e procedência nacional, perdeu grande oportunidade em
acrescentar ao art. 1º a figura da opção sexual, a qual também deveria ser matéria de proteção por
parte do legislador.

DISCRIMINAÇÃO SOCIAL

Afinal, o que é discriminação social? Qualquer distinção, exclusão, restrição, ou preferência


em função da cor, raça, ascendência, origem nacional ou ética é considerada discriminação racial.
Qualquer pessoa ou instituição, que tenha conhecimento, ou seja, vítima de uma situação suscetível
de ser considerada contraordenação, deve comunicá-la às entidades competentes.

Consideram-se práticas discriminatórias, as ações ou omissões que, em razão da pertença de


qualquer pessoa a determinada cor, nacionalidade ou origem étnica, violem o princípio da
igualdade.

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A lei enumera as seguintes:

• A recusa de fornecimento ou impedimento de fruição de bens ou serviços;

• O impedimento ou limitação ao acesso e exercício normal de uma atividade econômica;

• A recusa de acesso a locais públicos ou abertos ao público;

• A recusa ou limitação de acesso a estabelecimentos de educação ou ensino públicos ou privados;

• A constituição de turmas ou a adoção de outras medidas de organização interna nos


estabelecimentos de educação ou ensino, públicos ou privados, segundo critérios de discriminação
racial;

• A adoção de prática ou medida, por parte de qualquer órgão, funcionário ou agente da


administração direta ou indireta do Estado, das Regiões Autônomas ou das autarquias locais, que
condicione ou limite o exercício de qualquer direito;

• A adoção de ato em que, publicamente ou com intenção de ampla divulgação, pessoa singular ou
coletiva emite uma declaração ou transmita uma informação em virtude da qual um grupo de
pessoas seja ameaçado, insultado ou aviltado por motivos de discriminação racial.

Existem três termos que podem ser confundidos, que são: racismo, discriminação e
preconceito.

Portanto, em regra, o racismo ou o preconceito é que levam à discriminação, num contexto


mais amplo de intolerância.

Lei n. 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade Racial, no art. 1º, parágrafo único, definiu
alguns termos relacionados ao assunto, a saber:

I – Discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção,


exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por
objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos
e liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública
ou privada;
II – Desigualdade racial: toda situação injustificada de
diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;

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III – Desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no
âmbito da sociedade que acentua a distância social entre
mulheres negras e os demais segmentos sociais;
IV – População negra: o conjunto de pessoas que se
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;
V – Políticas públicas: as ações, iniciativas e programas
adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições
institucionais; e
VI – Ações afirmativas: os programas e medidas especiais
adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a
correção das desigualdades raciais e para a promoção da
igualdade de oportunidades.

No Brasil há variados tipos de racismo sendo eles, o racismo individual, racismo


institucional, racismo cultural, racismo primário, racismo comunitarista e racismo ecológico.
Abaixo será descrito o que cada um deles significa.

• Comunitarista ou Diferencialista: este racismo se caracteriza como contemporâneo (anti-


racismo), ele enfatiza que o conceito de raça não é natureza. Além de ser explanado
conforme as diferenças existentes no meio.

• Racismo Cultural: o racismo em questão se sobrepõe no meio cultural, ele se transcende na


religião, crenças, línguas, costumes, nos meios artísticos como músicas, teatro, ou seja, ele
abrange toda a parte cultural de uma sociedade.

• Racismo Ecológico (Ambiental): quando se tem a destruição da natureza, do meio


ambiente em si, colocando em risco não só o meio natural, mas também quem depende dele,
como os animais e também famílias que o habitam.

• Individual: provenientes de atitudes individuais, onde é manifestado por meio de


estereótipos e interesses pessoais.

• Racismo Institucional: este tipo de preconceito é proveniente de instituições econômicas,


política, entre outras; essas instituições difamam a classe mais vulnerável como os índios,
mulheres, negros, excluindo-os de forma direta ou indireta.

• Primário: é um fenômeno psicossocial, emocional e até passional, ele advém do estado de


espírito irracional, correspondente ao mito. Já o racismo secundário é classificado pelo
etnocentrismo secundário, e o racismo terciário é aquele que tem explicações científicas.

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As implicações do racismo no Brasil, enquanto estrutura de dominação política, cultural e
social, não alude somente à segregação socioeconômica dessa população. Implicam, de fato, em
etnocídio e genocídio da população negra e indígena desde os primórdios da colonização
portuguesa até os dias de hoje.

Atualmente no mercado de trabalho brasileiro, foi realizado um levantamento pelo Instituto


Locomotiva divulgado nesta quarta-feira (28) mostra que 69% dos brasileiros pretos já foram
discriminados em lojas, restaurantes ou supermercados. E 52% dos trabalhadores pretos já sofreram
preconceito no próprio ambiente de trabalho. O estudo também mostra que os brancos ganham em
média 76% mais que os negros.

A pesquisa apontou ainda que mais de 70% dos brasileiros têm chefes brancos, o que retrata
a cultura das empresas de não promover funcionários negros para cargos de gestão e liderança. O
estudo aponta ainda que nove em cada dez consumidores preferem marcas que respeitam a
diversidade racial.

O Brasil, onde 56% da população se identifica como pretos ou pardos, é uma nação com
desigualdades abissais na comparação com posições ocupadas por brancos. Só 4,7% dos cargos
executivos das 500 maiores empresas do país são preenchidos por negros, enquanto eles
representam 75% dos mortos pela polícia e 62% dos presos. Não é por acaso que a pandemia de
COVID-19 matou 55% dos negros e 38% dos brancos que foram internados. O que acaba
agregando para essa cultura racista são as péssimas condições sanitárias dos bairros e o
desemprego.

Conforme dados do IBGE de 2018, 56,10% da população brasileira declara-se como preta
ou parda. No entanto, quando observamos dados do mercado de trabalho, 68,6% dos cargos
gerenciais eram ocupados por brancos, e somente 29,9%, por pretos ou pardos.

Já na taxa de força de trabalho subutilizada, isto é, pessoas que trabalham menos do que
gostariam, 29% era preta ou parda contra 18,8% de brancos subocupados. Na representação
legislativa, dentre os deputados federais, 75,6% eram brancos, contra 24,4% de pretos ou pardos. A
taxa de analfabetismo entre pessoas brancas era de 3,9%; entre pretos e pardos, era 9,1%. Nas taxas
de homicídios por 100 mil habitantes na faixa etária de 15 a 29 anos, a população branca tinha a
média de 34,0, e a população preta ou parda apresentava 98,5, ou seja, a chance de um jovem negro
morrer de homicídio é quase três vezes maior que a de um jovem branco.

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DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO BRASIL

De caráter estrutural e sistêmico, a desigualdade entre brancos e negros na sociedade


brasileira é inquestionável e persiste com a fragilidade de políticas públicas para o seu
enfrentamento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por
exemplo, os negros representam 75,2% do grupo formado pelos 10% mais pobres do país. Se
realmente queremos construir uma sociedade igualitária, é necessário compreender qual o papel que
cada estrutura socioeconômica desempenha na reprodução do racismo, a fim de desenhar estratégias
eficazes para o seu enfrentamento. Nesse cenário, o combate à desigualdade racial na educação é
essencial, enquanto elemento indispensável para qualquer mudança, de modo que sem uma
educação efetivamente antirracista não é possível pensar em uma sociedade igualitária.

Última nação do ocidente a abolir a escravatura, o Brasil, entre o fim do século XIX e início
do XX, não criou nenhuma condição para a inserção digna da população negra na sociedade. Ao
contrário, diversas obras, políticas e instituições disseminaram a ideia de um país mestiço, no qual o
convívio é harmonioso entre as diferentes raças e esse conjunto de preconceitos direcionados à
população negra encontra-se enraizado no inconsciente e na subjetividade de indivíduos e
instituições, se expressando em ações e atitudes discriminatórias regulares, mensuráveis e
observáveis. Violência policial atingido na grande maioria das vezes a população negra, maior
número de mortes proporcionalmente aos doentes na atual crise da COVID-19 e todos os dados de
desigualdade na educação já mencionados são alguns exemplos.

Na lei brasileira existem punições diferentes para os crimes de racismo e injúria racial.

O crime de racismo se configura quando alguém se recusa ou impede o acesso de uma


pessoa a estabelecimentos comerciais, bem como entradas sociais, ambientes públicos, e também
quando nega um emprego. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, ou seja, quem
praticou pode ser punido independente de quando cometeu o crime. Além disso, a Constituição
Federal, em seu artigo 4º, rege-se pelos princípios de:

I – independência nacional;
II – prevalência dos direitos humanos;
III – autodeterminação dos povos;
IV – não-intervenção;
V – igualdade entre os Estados;

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VI – defesa da paz;
VII – solução pacífica dos conflitos;
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; (grifo nosso)
IX – cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade;
X – concessão de asilo político.

Já a injúria racial acontece quando a honra de alguém é ofendida usando de elementos como
raça, cor, etnia, religião ou origem. Está associada ao uso de palavras com teor depreciativo e/ou
ofensivo, referentes à raça ou cor.

O crime de injúria está previsto no Código Penal. O condenado deve cumprir pena de
detenção de um a seis meses ou multa. Contudo, se a injúria conter elementos referentes à raça, cor,
etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou deficiente, a pena aumenta para reclusão de um
a três anos.

Somente com a união, e não com a segregação dos povos, é possível lutar para a conquista
de direitos. Vamos nos lembrar de que o racismo, além de uma prática desnecessária e que fere os
direitos humanos, é crime.

Tanto o preconceito racial quanto o racismo não se confundem com a discriminação porque
esta só acontece na medida em que um e/ou outro se manifestam. O preconceito e o racismo são
atitudes. São modos de ver certas pessoas ou grupos raciais. Quando ocorre uma ação, uma
manifestação, um comportamento de forma a prejudicar, é que se diz que houve discriminação.
Enfim, quando o racista ou preconceituoso externaliza a sua atitude, agora transformada em
manifestação, ocorre a discriminação.

O preconceito – de qualquer tipo – é sempre uma atitude negativa em relação a alguém.


Mais do que isso, é uma atitude antecipada e desfavorável contra algo. Essa atitude pode ser tomada
em relação a um indivíduo a um grupo ou mesmo a uma ideia. Quando uma pessoa tem uma atitude
preconceituosa em relação a outra, no fundo, está fazendo uma comparação a partir de um padrão
de referência que lhe é próprio. Portanto, o preconceito racial ocorre quando uma pessoa ou mesmo
um grupo sofre uma atitude negativa por parte de alguém que tem como padrão de referência o
próprio grupo racial.

No dia a dia a ideia de racismo e preconceito racial são geralmente usadas sem que as
pessoas separem uma da outra. Entretanto, racismo e preconceito racial não são coisas equivalentes.

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O racismo, sem dúvida, é mais amplo em seu sentido do que o preconceito racial. O racismo ocorre
quando se atribui a um grupo, determinados aspectos negativos em razão de suas características
físicas ou culturais.

HISTÓRIA DO RACISMO NO BRASIL

A história do racismo está relacionada a história da formação do país. O Brasil foi formado
através do sofrimento dos escravos e da desigualdade social e racial, e é possível dizer que essa
visão negativa da população negra se perpetuou através de gerações e até hoje é presente em alguns
indivíduos do país. Desde da escravidão até hoje o racismo nunca teve fim, ele apenas se
manifestou de diferentes formas, adaptando-se à época: o isolamento nas áreas mais carentes da
sociedade, a violência, a desigualdade econômica e a invisibilidade são fatores que comprovam que
esse problema ainda é presente e que causa consequências psicológicas e físicas em suas vítimas.
Doenças como depressão e transtornos de ansiedade podem ser desenvolvidas nas vítimas do
racismo.
Desde muito cedo o negro na sociedade brasileira passam por rejeição, discriminação e
invisibilidade nos ambientes sociais, principalmente nas escolas. Esses fatores causam impacto
profundo na saúde mental, pois afetam diretamente na autoestima e no desenvolvimento desses
indivíduos. A ideologia do racismo propõe a desumanização de um em contrapartida do privilégio
do outro, ele incide no negro no que constitui seu sujeito, seu corpo, sua imagem, que é
sistematicamente desvalorizada.
Além de que, podemos observar que em qualquer dado que informe sobre o
desenvolvimento humano e a qualidade de vida – educação, saúde, moradia, emprego, renda,
expectativa de vida, acesso a equipamentos sociais – veremos que os negros estão em grande e
injusta desvantagem.
Assim, para combater o racismo, a escola é de grande importância, pois, é o primeiro espaço
de convívio de grupos numerosos, na qual, as crianças passarão a fazer parte, e certamente é onde
começam a aprender a respeitar e a conviver com o diferente. É necessário que a escola promova
em seu currículo, atividades voltadas para a conscientização e a valorização da identidade da
criança negra. Outras atitudes que podemos tomar como sociedade para combater o racismo,
seriam: educação das crianças e jovens, conscientização da população, conhecer o direito do
próximo, leis mais severas e funcionais.

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CONCLUSÃO

Como podemos perceber, a discriminação racial, apesar de diminuir com o passar dos anos
por meio da conscientização, ainda é algo muito presente no mundo, em todas as sociedades. No
Brasil, especificamente, somos uma população majoritariamente branca e o racismo, claro, é algo
ainda recorrente, que deve ser combatido. Podemos dizer que o racismo reflete uma sensação de
superioridade que uma pessoa possui sobre outra por causa de sua etnia, o que, claramente, é algo
infundado e sem sentido. Mais do que isso, o racismo revela desprezo e crueldade contra o que é
diferente de si.

Com relação ao racismo, medidas efetivas devem ser tomadas para combatê-lo, por meio
todo e qualquer meio de comunicação, assim dissolvendo tal preconceito, com o reforço da
conscientização. É necessário que a população adote como dever o ato de combater o racismo.

Através dos meios de comunicação, além de uma educação antirracista, de campanhas fortes
de conscientização, bem como de punições mais severas aos que praticam a discriminação racial,
será possível mitigar esta prática tão nefasta a toda e qualquer sociedade.

Porém, devemos nos atentar também às demais formas de discriminação. A discriminação,


seja ela da maneira que for, segrega o indivíduo e o afeta negativamente não só do ponto de vista
econômico e social, mas também psíquico. A discriminação não diz respeito somente a ferimentos
físicos, como também psicológicos, deixando sequelas e traumas para o resto da vida. Obviamente,
quando se trata de discriminação racial, percebemos que todos esses males são potencializados no
na vítima. Como defende a pedagoga Benilda Brito, “o bullying te descaracteriza, mas o racismo te
desumaniza”.

Novamente, frisamos aqui, o Artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Sendo
então toda e qualquer descriminação não só um ato bárbaro e desumano, como também um crime, a
solução é aplicar a lei de forma efetiva, visando promover a igualdade, punindo juridicamente todos
os que atentam contra o outro através de qualquer ato que evidencie uma discriminação. Doutro
modo, não conseguiremos ver a real aplicação do belo texto do artigo 5º, o qual não pode ser belo
somente na teoria, mas, principalmente, deve refletir sua beleza no mundo prático.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://www.direitonet.com.br/artigos

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