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Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Introdução à Lei 7.716/89


Professor: Edézio Ramos

Resumo

Analisar-se-ão legislações especiais que sofreram alterações legislativas e jurisprudenciais recentes.

A Lei nº 7.716/1989 sofreu alteração jurisprudencial recente do Supremo Tribunal Federal (STF) de suma
relevância.

Preâmbulo da Lei nº 7.716/1989: trata do preconceito de raça e cor, tão somente. Ocorre que, a partir da
leitura dos dispositivos legais, faz-se menção também etnia, religião e procedência nacional. Há, portanto,
uma ampliação das espécies de preconceito nos dispositivos legais, comparativamente ao preâmbulo, em
razão de alteração promovida pela a Lei nº 9.459/1997.

preconceito de
raça;
preâmbulo, da Lei
nº 7.716/1989
e preconceito de
cor;

preconceito de
raça;

e preconceito de
cor;

art. 1º, da Lei nº e preconceito de


7.716/1989 etnia;

e preconceito de
religião

e preconceito de
procedência
nacional;

Lei nº 7.716/1989, Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Conclusão: em que pese o preambulo mencionar tão somente preconceito de raça e cor, os dispositivos
legais da Lei nº 7.716/1989, em razão de alteração promovida pela Lei nº 9.459/1997, abordam outras
espécies de preconceito.

Mandado de criminalização penal: A Lei nº 7.716/1989 é fruto do denominado mandado de criminalização


penal, pois consiste em comando dado pela Constituição Federal ao legislador infraconstitucional, para que

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crie determinado crime. Veja-se que a Constituição Federal, no art. 5º, inciso XLII, prescreve que o racismo
será considerado crime imprescritível e inafiançável, sujeito à pena de reclusão.

Impossibilidade de adoção de sistema abolicionista penal: Em razão da existência de mandados de


criminalização penal, na Constituição Federal, o professor postula pela impossibilidade de nosso sistema
adotar, pela Carta Magna vigente, um sistema abolicionista penal.
CF, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

Modalidades de preconceito abrangida pela lei: A Lei nº 7.716/1989 não pune todas as modalidades de
preconceito, restringindo-se ao preconceito de raça, cor, etnia, religião e procedência nacional. Desta feita,
não caracteriza crime a proibição de entrada de clientes feios, pobres etc. Seria, é claro, moralmente
reprovável, mas não seria conduta típica na Lei nº 7.716/1989.

Recente decisão do Supremo Tribunal Federal

Em 2019, o STF entendeu que a discriminação por homofobia e transfobia atrai a incidência da Lei nº
7.716/1989, até que o Congresso Nacional edite lei específica para criminalizar condutas preconceituosas em
relação à homofobia e à transfobia.

A Suprema Corte entendeu que as condutas discriminatórias relativas à homofobia e à transfobia constituem
espécies do gênero racismo (veja-se que o preconceito de raça está expressamente prescrito na Lei nº
7.716/1989). Tratar-se-ia de racismo social, que envolve a homofobia e a transfobia.

homofobia
preconceito de
raça;
transfobia
e preconceito de
cor;

e preconceito de
decisão do STF
etnia;

e preconceito de
religião

e preconceito de
procedência
nacional;

Seria analogia in malam partem? Segundo o STF, não. Verificar-se-á a discussão dessa questão na próxima
aula.

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Aula: Homofobia e Transfobia como espécies do gênero racismo


Professor: Edézio Ramos

Resumo

Interpretação conforme à Constituição Federal

O STF, através de análise da Lei nº 7.716/1989, entendeu que a homofobia e a transfobia são espécies do
gênero racismo. Trata-se de interpretação conforme a Constituição Federal, e não de analogia in malam
partem. Incluíram-se hipóteses não previstas expressamente na Lei nº 7.716/1989.

Fundamentos da decisão do STF: diversos dispositivos, inclusive o preâmbulo da Constituição Federal,


especialmente no que tange à expressão “valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos”. Esclarece-se que, segundo entendimento do STF, o preâmbulo é desprovido de força
normativa (força cogente), entretanto serve como vetor de interpretação. Desta feita, o STF interpretou a Lei
nº 7.716/1989 a partir do preâmbulo da Constituição Federal.
CF, PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL.

Outros fundamentos da decisão do STF: Se a prova solicitar os motivos jurídicos que fundamentaram a
decisão do STF, acerca da incidência da Lei nº 7.716/1989, com relação a práticas discriminatórias de
homofobia e/ou transfobia, deve ser afirmado que não houve, portanto, analogia in malam partem, mas
interpretação conforme a Constituição Federal, com especial atenção ao preâmbulo da Carta Magna.

Além disso, fundamentou-se no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal (dignidade da pessoa humana), no
art. 3º, inciso IV, do referido diploma, e no art. 4º, incisos II e VIII, do referido diploma.
CF, Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

CF, Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

CF, Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

II - prevalência dos direitos humanos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

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Tortura discriminatória: prevista no art. 1, inciso I, alínea “c”, da Lei nº 9.455/97 – tortura em razão de
discriminação racial ou religiosa. Atenção, pois, segundo o STF, a discriminação racial, prevista neste
dispositivo legal, pelo menos até atualmente, não abrange discriminação por homofobia ou transfobia. Ou
seja, com relação a este dispositivo não houve interpretação conforme a Constituição Federal.
Lei nº 9.455/1997, Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

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Aula: Análise do Racismo como crime imprescritível


Professor: Edézio Ramos

Resumo

Analisar-se-á o art. 5, inciso XLII, da Constituição Federal.


CF, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

A Carta Magna estabeleceu a imprescritibilidade e a inafiançabilidade para o crime de racismo.

Quais são os crimes para os quais foi prevista a imprescritibilidade na Carta Magna? Ao racismo e à ação de
grupos armados, civis ou militares, contra o Estado Democrático de Direito.

Quais são os crimes para os quais foi prevista a inafiançabilidade na Carta Magna? Em relação à
inafiançabilidade, a Carta Magna a previu com relação a um grupo maior de crimes, quais sejam, racismo,
hediondos, equiparados a hediondos, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas e afins, terrorismo e
ação de grupos armados

Fiança: instituto que viabiliza a liberdade provisória (possibilidade do individuo permanecer solto no curso da
persecução penal). Para os crimes anteriormente citados, veda-se a fiança, vedando-se, em última análise, a
liberdade provisória.

Ocorre que há duas modalidades de liberdade provisória, a com fiança e a sem fiança. Desta feita, conclui-se
que a inafiançabilidade proíbe uma das modalidades de liberdade provisória, qual seja a com fiança (não
vedando, contudo, a liberdade provisória sem fiança).

Questão: o racismo inadmite a liberdade provisória. Assertiva incorreta, pois se admite a liberdade provisória
sem fiança.

Questão: o racismo inadmite a liberdade provisória com fiança. Alternativa correta, pois é a literalidade do
art. 5º, inciso XLII, da Constituição Federal.

Há entendimento doutrinário minoritário que rechaça a existência de crimes imprescritíveis no Brasil.


Segundo tal posicionamento, o racismo não pode ser compreendido como crime imprescritível, em razão do
princípio da proporcionalidade. Segundo esta doutrina, o legislador, ao mencionar o racismo como crime
imprescritível, realizou apenas um “marketing legislativo”, isto é, um direito penal midiático. Haveria, para
esta doutrina minoritária, crimes mais “graves” que o racismo desprovidos da imprescritibilidade, como por
exemplo os crimes hediondos.

Tal posicionamento doutrinário é minoritário, que não prevalece em nosso ordenamento, em razão da
literalidade do art. 5º, inciso XLII, da Constituição Federal.

A Lei nº 7.716/1989 pune condutas discriminatórias em relação à raça, cor, etnia, religião e procedência
nacional. Veja-se, portanto, que a referida lei não se restringe ao preconceito racial.

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Os crimes previstos na Lei nº 7.716/1989 que possuam um desses conteúdos discriminatórios (cor, etnia,
religião e procedência nacional) são considerados imprescritíveis ou apenas os conteúdos discriminatórios
relativos à raça? Majoritariamente, entende-se que todas as hipóteses previstas na Lei nº 7.716/1989 (raça –
inclusive suas espécies de homofobia e transfobia, cor, etnia, religião e procedência nacional) devem ser
reputadas como imprescritíveis.

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Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Racismo por equiparação e o posicionamento do STJ


Professor: Edézio Ramos

Resumo
Dar-se-á continuidade à análise da Lei nº 7.716/1989.

Dentro do preconceito racial, destacou-se que há o preconceito social (homossexual e transexual).

Art. 140, §3º, do Código Penal:

O art. 140, §3º, do Código Penal prevê, também, conduta preconceituosa (injúria racial ou injúria
preconceituosa). Trata-se de uma qualificadora da injúria.

Retirando a questão de pessoa idosa ou de pessoa portadora de deficiência, há uma grande similitude com
relação aos objetos de preconceito constantes da Lei nº 7.716/1989.
Injúria

CP, Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de
pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

Orientação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em relação ao tema:

O STJ entendeu que a Lei nº 7.716/1989 trata dos crimes relativos ao preconceito, mas não abrange todas as
hipóteses de preconceito. Existem outras condutas preconceituosas/discriminatórias fora da Lei nº
7.716/1989, como por exemplo o mencionado art. 140, §3º, do Código Penal.

Assim, o STJ entendeu que a injúria racial ou injúria preconceituosa é uma forma de racismo por
equiparação. A partir desse entendimento, o STJ estendeu a imprescritibilidade e inafiançabilidade para este
tipo de injúria. RESP 686965/DF, de 2015.

Este entendimento do STJ tem adesão da doutrina, como é o caso do professor Nucci.

Questão objetiva: De acordo com a CF e de acordo com o Código Penal, a injúria racial é crime inafiançável e
imprescritível.

Resposta: A questão objetiva está errada, já que a CF e tampouco o CP veiculam a injúria racial como crime
inafiançável e imprescritível, tratando-se de interpretação do STJ.

Questão objetiva: De acordo com interpretação conferida pelo STJ, a injúria racial é crime inafiançável e
imprescritível. A questão objetiva está correta, nos termos do RESP 686965/DF, de 2015, julgado pelo STJ.

Ações afirmativas: é o caso de políticas de cotas raciais em universidades, cargos e empregos públicos.
Segundo o STF, estas ações afirmativas não produzem discriminação negativa (não se trata de discriminação
de segregação). Trata-se, em realidade, de discriminação positiva, isto é, tem como objetivo tratar

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igualmente os iguais, e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades (há uma desigualdade
social, com fulcro, por exemplo, na escravidão).

Logo, em não se tratando de discriminação por segregação, não há que se falar em crime do art. 3º, da Lei nº
7.716/1989, por exemplo.
Lei nº 7.716/1989, Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da
Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Segundo o STF, as ações afirmativas são, sempre, temporárias, perdurando enquanto persistiram as
desigualdades.

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Aula: Análise dos conceitos dos objetos de discriminação previstos na lei


7.716/89
Professor: Edézio Ramos

Resumo

Nas aulas anteriores, analisou-se a decisão do STF que identificou o racismo social (em face de homossexual e
transexual) como espécie de racismo. Não se trata de analogia in malam partem, mas de interpretação
conforme a Constituição Federal.

Ainda, o STJ entendeu que a Lei nº 7.716/89 trata dos crimes relativos ao preconceito, mas não abrange
todas as hipóteses de preconceito. Portanto, existem outras condutas preconceituosas/discriminatórias fora
da Lei nº 7.716/1989. O preconceito social, por exemplo, não é abrangido pela mencionada Lei nº 7.716/89.

Objetos de discriminação previstos na Lei nº 7.716/89:

O que se entende por discriminação?

Significa segregação, exclusão de alguém em relação a determinado direito.

O preconceito é a ideia preconcebida (conceito previamente definido sobre algo), sobre determinado tema,
sobre determinado assunto. O preconceito é, portanto, estático (é ideia preconcebida na cabeça do agente).

Parte da doutrina postula que a discriminação seria a exteriorização do preconceito.

O que se entendia por raça?

Raça era compreendida como aquela que envolvia as características físicas e biológicas dos indivíduos,
capazes de identificar um povo, sendo transmissíveis por hereditariedade. Trata-se do conceito clássico de
raça. Veja-se, portanto, que o ódio a determinada raça advém dessa concepção de clássica.

O que se entende, atualmente, por raça?

De acordo com o STF, há apenas uma raça, qual seja a raça humana (tal foi decidido, após o mapeamento do
genoma humano – as diferenças são apenas culturais, e não de raça). Desta feita, cientificamente, não há
distinção entre as pessoas, independentemente da tonalidade da pele, formato dos olhos, estatura etc, de
modo que todos são reputados seres humanos. Inobstante fisicamente diferentes, os indivíduos são
biologicamente iguais, daí porque haveria uma única raça (no caso, a raça humana).

A Lei nº 7.716/89 faz menção à raça. Como compatibilizar com a concepção moderna de raça?

Entende-se que a discriminação praticada em razão da raça, tal como prevista na Lei nº 7.716/89, deve ser
compreendida como discriminação em razão da etnia (porque a raça, como se destacou, é uma só, na
concepção moderna, qual seja a raça humana). A etnia consiste nos aspectos culturais e políticos de um povo
(língua, maneira de agir). Exemplo: os índios detêm a etnia indígena.

Tal não significa que as condutas discriminatórias por motivos “de raça” são atípicas. Significa apenas que a
“raça”, na Lei nº 7.716/89, deve ser lida como etnia.

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Questão: homem ateu foi impedido de entrar em estabelecimento comercial, no bairro onde mora, pelo fato
de ser ateu. Restou configurado o crime previsto no art. 5º, da Lei nº 7.716/89? Tal será verificado na
próxima aula.
Lei nº 7.716/89, Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou
receber cliente ou comprador.

Pena: reclusão de um a três anos.

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Aula: Especialidades em relação à lei 7.716/89


Professor: Edézio Ramos

Resumo

Retomada da questão proposta na aula anterior: homem ateu foi impedido de entrar em estabelecimento
comercial, no bairro onde mora, pelo fato de ser ateu. Restou configurado o crime previsto no art. 5º, da Lei
nº 7.716/89?

Trata-se de tema divergente:

1) primeira corrente: entende tratar-se de fato atípico, já que ateísmo não é religião. Há discriminação, sem
dúvida, mas não configura discriminação por religião (já que o ateísmo não é reputado como religião). Como
vimos a Lei nº 7.716/89 não tutela todas as formas de discriminações.

2) segunda corrente: entende que a prática de segregação contra ateus deve ser entendida como
discriminação contida na Lei nº 7.716/89. Segregar, discriminar alguém pelo simples fato de alguém não
possuir religião reflete motivo religioso. Prevalece o entendimento da segunda corrente.
Lei nº 7.716/89, Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou
receber cliente ou comprador.

Pena: reclusão de um a três anos.

Procedência nacional:

A procedência nacional envolve:

(i) indivíduos que pertencem a unidades federativas diferentes (cariocas, paulistas, nordestinos, manauara
etc);

(ii) indivíduos de região diferentes, dentro do mesmo Estado ou Município (ainda que os indivíduos sejam da
mesma naturalidade). Exemplo: morador de Ipanema e outro morador de Anchieta (ambos naturais do RJ);
morador de Caxias e morador do Leblon.

(iii) indivíduos de nacionalidades diferentes.

indivíduos que
pertencem a unidades
federativas distintas

indivíduos de regiões
distintas, dentro do
Procedência nacional mesmo Estado ou
Município

indivíduos de
nacionalidades
diferentes

Existem outras legislações que tratam de condutas discriminatórias.

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Exemplo: a Lei nº 9.029/95, em seu art. 2º, pune a conduta do empregador que exigir da mulher documento
que comprove que não estava grávida ou documentos que comprove ser estéril.
Art. 2º Constituem crime as seguintes práticas discriminatórias:

I - a exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à
esterilização ou a estado de gravidez;

II - a adoção de quaisquer medidas, de iniciativa do empregador, que configurem;

a) indução ou instigamento à esterilização genética;

b) promoção do controle de natalidade, assim não considerado o oferecimento de serviços e de aconselhamento ou


planejamento familiar, realizados através de instituições públicas ou privadas, submetidas às normas do Sistema
Único de Saúde (SUS).

Pena: detenção de um a dois anos e multa.

Exemplo: a Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), em seu art. 88, trata da discriminação
em face de pessoa com deficiência.
Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Observação: não confundir o art. 88, da Lei nº 13.146/2015 com o art. 140, §3º, do Código Penal (injúria
preconceituosa). Neste último, há injúria qualificada (discriminatória) em face de determinadas pessoas,
dentre elas a pessoa portadora de deficiência.

No art. 88, da Lei nº 13.146/2015 há nítido proposito de segregação. De outro turno, no art. 140, §3º, do
Código Penal, há o intuito de ofender, em razão da deficiência.
Injúria

CP, Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de
pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

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Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Crimes em espécie - artigo 3º, Lei 7.716/89


Professor: Edézio Ramos

Resumo

Dar-se-á continuidade à análise da Lei nº 7.716/89

Art. 8º, da Lei nº 7.853/89: é uma especialidade da Lei nº 7.716/89. Trata-se de uma série de condutas
discriminatórias, prescritas nos incisos I ao VI do mencionado dispositivo legal.

No que tange ao art. 8º, I, da Lei nº 7.853/89, relevante pontuar que não caracterizará crime previsto no
Estatuto da Pessoa com Deficiência, já que tal dispositivo (assim como os demais incisos) foram incorporados
pela Lei nº 13.146/2015. Desta feita, a tipificação não está prescrita na Lei nº 13.146/2015, mas na Lei nº
7.853/89.
Lei nº 7.853, Art. 8o Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em
estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua
deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa em razão de sua deficiência; (Redação dada pela
Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à


pessoa com deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta Lei,
quando requisitados. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

§ 1o Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3
(um terço). (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

§ 2o A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos para indeferimento de inscrição, de aprovação e de
cumprimento de estágio probatório em concursos públicos não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do
administrador público pelos danos causados. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

§ 3o Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados
de assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores diferenciados. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)

§ 4o Se o crime for praticado em atendimento de urgência e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

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Outra especialidade da Lei nº 7.716/89: o art. 1º, da Lei nº 7.437/85 tipifica contravenção penal por atos de
discriminação. Refere-se à discriminação de raça, cor, sexo e estado civil.

Parte da doutrina sustenta que tal dispositivo legal foi parcialmente revogado pela Lei nº 7.716/89, em
relação ao preconceito de raça e cor (trata-se, em realidade, de derrogação, isto é, revogação parcial). Em
relação ao preconceito de sexo e estado civil, a doutrina sustenta que o dispositivo estaria em vigor.

Outra parte da doutrina sustenta que a referida Lei nº 7.437/85 não foi recepcionada pela Constituição de
1988, de modo que não mais vigente. A CF/88 prescreveu mandado de criminalização, em matéria de
racismo, com crime punido com reclusão. Assim, a Lei nº 7.437/85 não teria sido recepcionada, pois versa
sobre contravenção penal (punidas com pena de prisão simples), materialmente incompatível com a CF (já
que esta impõe a pena de reclusão ao racismo, em mandado de criminalização).
Lei nº 7.437/85, Art. 1º. Constitui contravenção, punida nos termos desta lei, a prática de atos resultantes de
preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.

Serão tratados os principais crimes da Lei nº 7.716/89:

Análise do art. 3º, da Lei nº 7.716/89: a maioria dos crimes previstos na referida Lei prescrevem os verbos
“impedir, obstar, não permitir” alguém de fazer algo, em razão de raça, religião, procedência nacional.
Adianta-se que o art. 20, da referida Lei, tem estrutura diferente.

Cargo público difere de emprego público. Veja-se que o dispositivo legal faz expressão menção ao acesso a
cargo. Com isso, e se o indivíduo foi impedido ou obstado de ter acesso a emprego público?

Há orientação que prevalece, no sentido de que, por conta da legalidade estrita, o crime não se caracterizaria
nesta hipótese, já que o dispositivo legal faz menção expressa apenas a cargo público, sob pena de analogia
in malam partem, respondendo apenas pelo art. 20, da referida Lei (é tipo penal subsidiário).

Desta feita, adianta-se que se determinada conduta não se amoldar em qualquer dos dispositivos legais nos
artigos da Lei nº 7.716/89, poderá amoldar-se no art. 20, da referida Lei, de maneira subsidiária.

Para entendimento minoritário, o art. 3º, caput, da referida Lei, abarcaria tanto cargo quanto emprego
público, o que, para tal corrente, não configuraria analogia in malam partem, mas interpretação extensiva da
norma.
Lei nº 7.716/89, Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da
Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional, obstar a promoção funcional.

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Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Crimes em espécie - artigo 4º, Lei 7.716/89


Professor: Edézio Ramos

Resumo
Dar-se-á continuidade à análise da Lei nº 7.716/89

Parágrafo único do art. 3º, da Lei nº 7.716/89: o dispositivo legal faz menção ao agente que obsta a
promoção funcional da vítima que já detenha cargo público.

Agente do art. 3º, da Lei nº 7.716/89: trata-se de crime próprio. Trata-se, ainda, de crime formal (não
necessitando, pois, do resultado naturalístico para se consumar), bastando, para sua consumação, o ato de
obstar acesso (caput do dispositivo legal) ou obstar promoção funcional no cargo (parágrafo único do
dispositivo legal).

A doutrina sustenta que, em tese, é admissível a tentativa, ainda que difícil a sua caracterização.
Lei nº 7.716/89, Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da
Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional, obstar a promoção funcional.

Exemplos: obstar acesso a cargo por motivo de idade – responderá pelo art. 100, I, da Lei nº 10.741/2003. Se
impedir alguém de acessar cargo público em razão de deficiência – art. 8º, II, da Lei nº 7.853/1989.
Lei nº 10.741/2003, Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:

I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;

Lei nº 7.853/1989, Art. 8o Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: (Redação
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua
deficiência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

Art. 4º, caput, da Lei nº 7.716/89: negar emprego em empresa privada é mais grave que negar alguém o
acesso às forças armadas (art. 13, da mesma Lei).

Exemplo de questão de prova: de acordo com a Lei a conduta de impedir alguém de acessar as forças
armadas, por motivos de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, é mais grave que impedir alguém,
pelos mesmos motivos, a ter acesso a emprego em empresa privada. A alternativa está incorreta.

A doutrina majoritária salienta que o emprego, tal como prescrito no art. 4º, da referida Lei, é qualquer posto
de trabalho. Assim, não se exige os requisitos formais previstos na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). O
estagiária, o trabalhador eventual etc estarão acobertados pelo art. 4º, da Lei nº 7.716/89. Destaca-se,
contudo, que há entendimento em sentido divergente (entende tratar-se de emprego, em sentido estrito).

Empresa privada não abarca, por exemplo, os condomínios, o empregador doméstico etc. Tais condutas não
abarcadas poderão configurar, contudo, o art. 20, da Lei nº 7.716/89 (compreendido como tipo penal
subsidiário).
15
Art. 4, §2º, da Lei nº 7.716/89: a exigência, quando não justificável, caracteriza o crime. Exemplo: empresa
pretende fazer propaganda sobre grupos indígenas. Assim, nessa hipótese, é justificável a exigência, de modo
que não caracteriza o crime.
Lei nº 7.716/89, Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.

Pena: reclusão de dois a cinco anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do
preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais


trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; (Incluído pela Lei
nº 12.288, de 2010) (Vigência)

III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.
(Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da
igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências. (Incluído pela
Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

Lei nº 7.716/89, Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

16
Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Crimes em espécie - artigos 5º ao 10, Lei 7.716/90


Professor: Edézio Ramos

Resumo
Dar-se-á continuidade à análise da Lei nº 7.716/89

Art. 5º, da Lei nº 7.716/89: trata-se de dispositivo subsidiário em relação aos arts. 7º, 8º, 9º e 10, da referida
Lei. Em última análise, os dispositivos legais (arts. 7º, 8º, 9º e 10) fazem menção, em sua essência, a
estabelecimentos comerciais (mas, em cada um dos dispositivos, são especificados). Desta feita, o art. 5º, da
Lei nº 7.716/89 é subsidiário porque contém expressão genérica (estabelecimento comercial).

Sujeito ativo: trata-se de crime próprio (gerente, responsável ou proprietário é quem poderá praticá-lo).
Desta feita, os arts. 7º ao 10, da Lei nº 7.716/89 também são classificados como crimes próprios.

Trata-se, ainda, de crime formal, de modo que não se exige, para a consumação, o impedimento à entrada,
por exemplo. Restará consumado com a mera recusa e o mero impedimento.

Para a doutrina, admite-se a tentativa deste crime.


Lei nº 7.716/89, Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou
receber cliente ou comprador.

Pena: reclusão de um a três anos.

No que tange à subsidiariedade, relembrar do art. 20, da Lei nº 7.716/89. Veja-se: se a conduta
discriminatória não se amoldar em quaisquer dos tipos penais da Lei nº 7.716/89, poderá se amoldar ao art.
20, da referida Lei.

Art. 6º, caput, da Lei nº 7.716/89: abarca instituições de ensino privado e público, de qualquer grau.
Segundo o entendimento doutrinária majoritária, não se compreende, no mencionado dispositivo legal, os
cursinhos preparatórios para concurso, curso de idiomas, curso de atualização, curso de reciclagem etc.
poderá, contudo, caracterizar o crime do art. 20, da Lei nº 7.716/89 (relembrando seu caráter subsidiário).

Art. 6º, parágrafo único, da Lei nº 7.716/89: trata-se, em realidade, de causa de aumento de pena,
inobstante o dispositivo legal faça menção a ser “agravada”.
Lei nº 7.716/89, Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino
público ou privado de qualquer grau.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).

Lei nº 7.716/89, Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer
estabelecimento similar.

Pena: reclusão de três a cinco anos.

Lei nº 7.716/89, Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais
semelhantes abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

17
Lei nº 7.716/89, Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de
diversões, ou clubes sociais abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.

Lei nº 7.716/89, Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou
casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.

Pena: reclusão de um a três anos.

Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

18
Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Crimes em espécie - artigos 11 ao 13 e sua confrontação com o


Estatuto do Idoso
Professor: Edézio Ramos

Resumo

Art. 11, da Lei nº 7.716/89: a conduta, além de abarcar os elevadores, compreende as escadas ou entradas
sociais.

Exemplo: impede-se determinada pessoa negra de adentrar em elevador social de prédio. Restará
configurado o art. 11, da Lei nº 7.716/89.

Exemplo: impede-se empregadas domésticas de utilizar elevador social. Tal hipótese não configura o crime
do art. 11, da Lei nº 7.716/89, pois consiste num preconceito social, que não está abarcado pela Lei nº
7.716/89.

OBS.: muita atenção, pois o art. 11 da Lei nº 7.716/89 não abarca edifícios comerciais. Se pessoa negra for
impedida de adentrar em elevador social de edifício comercial, poderá configurar o art. 20, da Lei nº
7.716/89.
Lei nº 7.716/89, Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou
escada de acesso aos mesmos:

Pena: reclusão de um a três anos.

Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Art. 12, da Lei nº 7.716/89: muita atenção, pois este tipo penal não abarca transporte privado, apenas
transporte público ou concedido (da esfera pública à esfera privada).

Exemplo de transporte privado: uber. Pessoa nordestina impedida de utilizar o uber – não restará
configurado o crime do art. 12, da Lei nº 7.716/89, podendo ser caracterizado o crime a título do art. 20, da
referida lei.

Exemplo de serviço concedido: taxi. Pessoa nordestina impedida de utilizar o uber – restará configurado o
crime do art. 12, da Lei nº 7.716/89.

Sujeito ativo do art. 12, da Lei nº 7.716/89: trata-se de crime próprio (aquele que tem poderes para
controlar o efetivo acesso ao transporte público ou concedido).

Trata-se de crime formal, pois o ato de impedir (independentemente de entrar ou não) já consuma o crime.
Lei nº 7.716/89, Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus,
trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.

Pena: reclusão de um a três anos.

19
Art. 96, da Lei nº 10.741/2003: trata-se de menor potencial ofensivo (pena mais grave). Inobstante seja pena
mais grave, o tipo é mais abrangente que o art. 12, da Lei nº 7.716/89, podendo ocorrer, inclusive, com
relação à transporte privado, por exemplo.
Lei nº 10.741/2003, Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício
da cidadania, por motivo de idade:

Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.

Art. 13, da Lei nº 7.716/89: trata-se de tipo penal semelhante ao art. 3, da referida lei.

Trata-se de crime formal. Assim, por exemplo, ainda que, posteriormente, mediante mandado de segurança,
pessoa homossexual consiga adentrar no serviço militar, o crime terá sido consumado (pelo simples fato de,
inicialmente, ter sido impedida).

Quais militares são abrangidos pelo referido dispositivo legal?

A doutrina majoritária sustenta que o tipo penal abrange apenas os militares das Forças Armadas (constantes
do art. 142, da Constituição Federal).

Para a doutrina minoritária, ainda que as forças militares sejam estaduais, restarão abrangidas pelo art. 13,
da Lei nº 7.716/89, em razão do §6º, do art. 144, da CF.

Exemplo: impede-se pessoa negra de adentrar no serviço da polícia militar. Para a primeira corrente
(majoritária), não restará configurado o crime do art. 13, da Lei nº 7.716/89, mas possivelmente o do art. 20,
da referida lei. Veja-se que o art. 13, da referida lei, para a corrente majoritária, abarca apenas os militares
da Marinha, Exército e Aeronáutica, não abrangendo, pois, os policiais militares.
Lei nº 7.716/89, Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

CF, Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem.

CF, Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se,
juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.

20
Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Crimes em espécie - artigos 14 e 20 e efeitos da condenação nos


crimes da lei 7.716/89
Professor: Edézio Ramos

Resumo

Art. 14, da Lei nº 7.716/89:

Exemplo: pai que proíbe a filha de namorar homem negro, pelo fato de ser negro.

Exemplo: pai que proíbe o filho de namorar mulher de origem indígena, pelo fato de ter origem indígena.

OBS.: relembrando que os crimes da Lei nº 7.716/89 não tutelam preconceitos de classe social.

Exemplo: pai proíbe a filha de namorar homem pobre, pelo fato de ser pobre. Não restará caracterizado
crime da Lei nº 7.716/89, pois, como exposto anteriormente, o preconceito social não está abarcado pela
referida Lei.
Lei nº 7.716/89, Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e
social.

Pena: reclusão de dois a quatro anos.

Art. 16, da Lei nº 7.716/89: para o servidor público que pratica crime previsto na Lei nº 7.716/89, a perda do
cargo ou função pública é efeito da condenação. Para o não servidor público (particular), a suspensão do
estabelecimento por prazo não superior a três meses é efeito da condenação.

Esclarecimentos: para o servidor público, a perda do cargo ou função pública é efeito automático da
condenação? Não, a perda do cargo ou função pública não são efeitos automáticos da condenação, em razão
do art. 18, da Lei nº 7.716/89. Desta feita, para haja tal consequência, deve ser motivada, expressamente, na
sentença.
Lei nº 7.716/89, Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e
a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.

Lei nº 7.716/89, Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.

Art. 20, da Lei nº 7.716/89: trata-se de tipo penal subsidiário.

Determinados doutrinadores sustentam a inconstitucionalidade deste dispositivo, sob o argumento de que


viola o princípio da legalidade, na vertente da taxatividade. Veja-se que, segundo o princípio da legalidade, na
vertente da taxatividade, o tipo penal deveria descrever da forma mais precisa o possível a conduta que
pretende criminalizar.

Dica: para fins de prova objetiva, não seguir este posicionamento doutrinário.

As condutas de induzir ou incitar são, na realidade, condutas de participação (formas em que o partícipe
atua), mas que foram erigidas a título de autores do crime.

21
Exemplo: motorista de taxi que está parado no ponto. Pessoa negra, ao pretender adentrar no veículo, é
impedida pelo taxista, após este ter sido induzido por terceiro a não levar pessoa negra. Veja-se que o taxista
terá praticado o crime do art. 12, da Lei nº 7.716/89, ao passo em que o terceiro terá sido autor do crime do
art. 20, da referida lei. Trata-se de exceção pluralista à teoria monista do concurso de agentes (em exceção,
pois, ao art. 29, do Código Penal).

Veja-se que, no art. 29, do Código Penal, encontra- se a teoria monista do concurso de agentes. Todo aquele
que concorre para determinado crime, responderá pelo mesmo crime.
Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou
publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459,
de 15/05/97)

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;
(Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012) (Vigência)

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. (Incluído
pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do
material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

CP, Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

22
Curso: Direito Penal – Leis Penais Especiais

Aula: Crimes em espécie - artigo 20 e seus parágrafos, Lei 7.716/89


Professor: Edézio Ramos

Resumo

Dica: o art. 20, da Lei nº 7.716/89 tem ampla incidência nas questões de prova.

Art. 20, §1º, da Lei nº 7.716/89: trata-se de tipo penal autônomo. O tipo penal não criminaliza o fato de ser
nazista. O crime do art. 20, §1º, da referida lei, consiste em divulgar o nazismo, pelo símbolo da suástica ou
gamada, dentre outras hipóteses específicas do dispositivo legal etc.

Exemplo: divulgar foto do Hitler, para divulgar o nazismo, não é crime do art. 20, §1º, da referida Lei.
Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Art. 20, §2º, da Lei nº 7.716/89:

Exemplo: colocar mensagem na rede social, incitando a discriminação por etnia (ou outras hipóteses, tais
quais raça, cor, religião ou procedência nacional).

Exemplo: escrever artigo jurídico, livro (que são publicações de quaisquer natureza) com conteúdo
discriminatório (raça, cor, etnia, religião, procedência nacional).

OBS.: a destruição do material (publicações de qualquer natureza com conteúdo discriminatório) é efeito
automático da condenação, após o trânsito em julgado, por expressão prescrição do art. 20, §4º, da Lei nº
7.716/89.
Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou
publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Art. 20, §3º, da Lei nº 7.716/89: tal dispositivo permite a decretação de medida cautelar, antes mesmo de
instaurado o inquérito policial.
Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

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Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459,
de 15/05/97)

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;
(Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012) (Vigência)

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. (Incluído
pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência)

Art. 20, §4º, da Lei nº 7.716/89: trata-se de efeito da condenação, especificamente para a prática do crime
do art. 20, §2º, da referida lei, por intermédio dos meios de comunicação social.

Atenção, pois este efeito da condenação é automático (diferentemente dos arts. 16 e 18, da referida lei, por
exemplo – nestes, o efeito deverá ser motivadamente declarado na sentença).

No que tange aos efeitos não automáticos, dos arts. 16 e 18, da referida lei, a aplicação do efeito não
automático independe do quanto de pena.
Lei nº 7.716/89, Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do
material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Lei nº 7.716/89, Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e
a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.

Lei nº 7.716/89, Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença

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