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CURSO: HOMOFOBIA E TRANSFOBIA COMO

FORMAS DE RACISMO

EJUS

Prof. Karina Kassis Reis Jatene


E-mail institucional: karinareis@tjsp.jus.br
E-mail acadêmico: karinajatene@gmail.com
Instagram: @oriente.direito

julho de 2022
1º ENCONTRO:
Temas:
1. Neoconstitucionalismo e o Poder Judiciário.
1.1 O ativismo judicial.
2. O tratamento constitucional do racismo.
2.1 Breve panorama da Lei 7.716/89 e dos tratados e
convenções internacionais.
3. Conceito de homofobia/transfobia.
3.1 A quem se destina a proteção?
3.2 O que são práticas homotransfóbicas?
4. A homofobia e a transfobia como racismo na visão do STF.
1. NEOCONSTITUCIONALISMO E O PODER JUDICIÁRIO
1.1 O ATIVISMO JUDICIAL

✓ Conceito de Neoconstitucionalismo
✓ Etimologia do termo: Neo + Constitucional + Ismo
❖ Neo = Novo, recente
❖ Constitucional = Constituição
❖ Ismo = Teoria, doutrina, comportamento

▪ Se estamos diante de uma NOVA TEORIA DA CONSTITUIÇÃO, é


porque havia uma teoria anterior. O que mudou? Quando mudou? Por que
mudou?
CONSTITUCIONALISMO ATÉ A 2ª
GUERRA MUNDIAL (1939-1945) NEOCONSTITUCIONALISMO

• Limitação do poder político • Força normativa da Constituição


• Regras e Princípios abstratos (princípios e direitos fundamentais)
• Vetor legislativo e interpretativo • Vetor legislativo e interpretativo
• Ausência de coercitividade • Constituição como centro do
ordenamento jurídico
• Ausência de efetividade • Imperatividade
• Ausência de concretização • Eficácia/Efetividade
• Necessidade de regulamentação • Concretização de direitos
• Lei como o centro do ordenamento fundamentais
jurídico • Ausência de regulamentação?
• Estado Legislativo • Estado Judicial - Ativismo
ATIVISMO JUDICIAL
ALGUNS MECANISMOS DE ATUAÇÃO

✓ Mandado de injunção (art. 5º, LXXI, CF; Lei nº 13.300/2016)

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;

✓ Ação direta de inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2º, CF; Lei nº
9.868/1999)

Art. 12-B, I - a omissão inconstitucional total ou parcial quanto ao cumprimento de dever


constitucional de legislar ou quanto à adoção de providência de índole administrativa;
2. O TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DO RACISMO

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
(...)
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, RAÇA, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação.

“É atentatório ao Estado Democrático de Direito qualquer tipo de


discriminação, inclusive a que se fundamenta na orientação sexual das pessoas
ou em sua identidade de gênero”. (STF, MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin)
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais
pelos seguintes princípios:
(...)
VIII - repúdio ao terrorismo e ao RACISMO;

“À luz dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil é


parte, dessume-se da leitura do texto da Carta de 1988 um mandado
constitucional de criminalização no que pertine a toda e qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais” (STF, MI
4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
XLI - a LEI punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
XLII - a prática do RACISMO constitui CRIME inafiançável e imprescritível, sujeito
à pena de reclusão, nos termos da LEI;

“O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou expressão


de gênero e a orientação sexual.” (STF, MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin)
RACISMO
LEI Nº 7.716 DE 05 DE JANEIRO DE 1989
Define os crimes resultantes de preconceito de RAÇA ou de COR

(Os termos “etnia, religião ou procedência nacional” foram acrescidos pela Lei n. 9.495/97)

Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou


preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
2.1 BREVE PANORAMA DA LEI Nº 7.716 DE 05 DE JANEIRO DE 1989

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,


etnia, religião ou procedência nacional.

Pena: reclusão de um a três anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos


meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza:

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.


CONCEITO DE RAÇA

• Existe “raça”?

• Quando falamos em “raça” o que lhe vem à


mente?

• Raça simbólica

• Raça como concepção/construção social


CONCEITO DE RACISMO
(Lei nº 7.716/89)

É uma conduta voluntária e consciente de discriminar, distinguir, excluir,


segregar, humilhar, explorar ou violentar qualquer pessoa em razão de sua
“raça”, cor da pele, etnia, religião ou procedência nacional.

Trata-se da exteriorização de uma “ideologia supremacista”; ou seja, está


implícito o sentimento de “superioridade” entre o autor da conduta e a vítima.
Injúria Racial x Racismo
“O crime de injúria racial está inserido no capítulo dos crimes contra a honra, previsto no parágrafo 3º do
artigo 140 do Código Penal, que prevê uma forma qualificada para o crime de injúria, na qual a pena é maior e
não se confunde com o crime de racismo, previsto na Lei 7716/1989. Para sua caracterização é necessário
que haja ofensa à dignidade de alguém, com base em elementos referentes à sua raça, cor, etnia, religião, idade
ou deficiência. Nesta hipótese, a pena pode ir de 1 a 3 anos de reclusão.
Os crimes de racismo estão previstos na Lei 7.716/1989, que foi elaborada para regulamentar a punição de
crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, conhecida como Lei do Racismo. No entanto, a Lei nº
9.459/13 acrescentou à referida lei os termos etnia, religião e procedência nacional, ampliando a proteção para
vários tipos de intolerância. Como o intuito dessa norma é preservar os objetivos fundamentais descritos
na Constituição Federal, de promoção do bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação, as penas previstas são mais severas e podem chegar até a 5
anos de reclusão.
O que diferencia os crimes é o direcionamento da conduta, enquanto que na injúria racial a ofensa é
direcionada a um indivíduo especifico, no crime de racismo, a ofensa é contra uma coletividade, por
exemplo, toda uma raça, não há especificação do ofendido.”
2.1 RACISMO: PANORAMA INTERNACIONAL
Art. 4º, VIII da Constituição Federal

➢ Declaração Universal de Direitos Humanos – ONU, 1948


➢ Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial – ONU, 1963
➢ Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial
– ONU, 1966 (Decreto 65.810 de 08/12/1969)
➢ Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – ONU, 1966 (Decreto n. 592/92)
➢ Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) – 1969
(Decreto n. 678/92)
➢ Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais – UNESCO, 1978
➢ Declaração sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais, Étnicas,
Religiosas, Linguísticas – ONU, 1992
➢ Declaração e Programa de Ação de Viena – 1993
3. CONCEITO DE HOMOFOBIA/TRANSFOBIA
Etimologia
✓ Homofobia = homo + fobia
✓ Homo = homossexual e bissexual (orientação sexual)
✓ Fobia = medo irracional

✓ Transfobia = trans + fobia


✓ Trans = travesti, transexual e transgênero (gênero: masculino
ou feminino)
✓ Fobia = medo irracional
3. CONCEITO DE HOMOFOBIA/TRANSFOBIA
Direito

É uma conduta voluntária e consciente de discriminar, distinguir,


excluir, segregar, humilhar, explorar ou violentar qualquer pessoa em
razão de sua orientação sexual ou de gênero.

“A homofobia e a transfobia constituem formas graves de


discriminação contra gays, lésbicas e transgêneros” (STF, MI
4733/DF)
UMA PITADA DE PSICANÁLISE
Podcast Psicanálise de Boteco: @alexandrepatricio e @filipepv
Episódio: Configurações do Ódio
Fobia = Medo => perigo
O instinto primitivo diante de um perigo que causa medo é a autopreservação.
O preconceito faz parte da natureza humana: “conceito, opinião ou julgamento que se forma a priori, sem conhecimento
ou ponderação dos fatos” (De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 2007).
O problema surge quando o preconceito passa a ser intolerância, gerando comportamentos agressivos.

Entretanto, na medida em que o outro, considerado “diferente”, passa a reivindicar um lugar, uma posição, um direito,
começa a ser visto como uma ameaça aos olhos do ofensor, surgindo uma situação impossível de tolerar, que se
transforma em ódio.
Esse ódio intoxica a pessoa que o sente e volta-se para o outro; do contrário, quem o sente pode se destruir de dentro pra
fora (inconsciente).
A intolerância e o ódio levam à vontade de eliminar o outro, visto como uma ameaça ao que se entende por “padrão
social aceitável”. Almeja-se “roubar” a humanidade do outro, como se sua via não tivesse valor.
UMA PITADA DE PSICANÁLISE
Podcast Psicanálise de Boteco: @alexandrepatricio e @filipepv
Episódio: Configurações do Ódio
“O outro sempre dá medo; e quando você não consegue subjetivar isso, ‘o medo’, pensa-se: tenho que destruir, tenho que
exterminar aquilo que me provoca medo/intolerância/ódio. Na ciranda dos afetos o medo e o ódio se entrelaçam,
fazendo uma trança destrutiva. Uma coisa justificando a outra. Quanto mais medo, mais certeza de que o outro representa
o mal, construindo, assim, uma projeção do mal de maneira ignorante e deturpada. Tenta-se envelopar o mundo da
maneira como se deseja, na fantasia de que seja o certo, o bom, o seguro, sem cair em si de que a sexualidade, em suas
diversas vertentes, faz parte DA EXISTÊNCIA HUMANA” (Maria Homem, com adaptação para a escrita)
Por isso é extremamente importante saber lidar com o impulso do “ódio”, com a “diferença”.
A intolerância nasce da dificuldade em aceitar que “não somos senhores de nossa própria casa”, não temos controle sobre
a nossa própria vida, quiçá sobre a vida do outro. O não saber causa inúmeros desconfortos internos, aflições, angústias....
E tudo isso causa medo = fobia => intolerância => desejo de eliminar.
3.1 A QUEM SE DESTINA A PROTEÇÃO?
LGBTQI+
L - Lésbicas
G - Gays Orientação Sexual
B – Bissexuais
T – Transgêneros = “para além” do gênero (travestis, transexuais)
Q – Queer = pessoas que não se sentem representadas pelos termos acima,
nem com a heterossexualidade cisgênero.
I – Intersexuais = características físicas e/ou biológicas relacionadas a ambos
os sexos
+ - demais pessoas representadas por sua orientação sexual ou identidade de
gênero
3.2 O QUE SÃO PRÁTICAS HOMOTRANSFÓBICAS?

Práticas racistas (racismo como gênero/espécie) em razão da orientação sexual


ou identidade de gênero.
❑ Segundo relatório lançado em 11 de maio de 2022 pelo Observatório de Mortes e
Violências contra LGBTQI+, ao todo o Brasil somou 316 mortes de pessoas LGBT
em 2021. Esse número representa 33,33% a mais do que no ano anterior (Jornal
Grande Bahia);
❑ O ativista LGBTQIA+ Lindolfo Kosmaski recebeu dois tiros e teve o corpo carbonizado
dentro do próprio carro, em maio de 2021. Roberta Silva, mulher trans que vivia em situação de
rua, teve 40% do corpo queimado por um adolescente em junho. Já Leila Debora Barbosa, uma
mulher lésbica, foi levada para o mato, estuprada e assassinada com 16 tiros, seu corpo
encontrado enterrada com a cabeça exposta, em março. (Folha de São Paulo, 11.05.2022)
3.2 O QUE SÃO PRÁTICAS HOMOTRANSFÓBICAS?

❑ Casal de propaganda de carro registra BO após ser alvo de ataque


homofóbico, além ofensas verbais dirigidas às suas famílias (Folha de São
Paulo, 20.05.2022)

❑ O Brasil lidera o ranking mundial de mortes de pessoas homossexuais e


transgêneros (Dossiê 2021 sobre mortes e violências contra LGBTI+ no
Brasil)
4. A HOMOFOBIA E A TRANSFOBIA COMO RACISMO NA
VISÃO DO STF
MI n. 4733/DF ADO n. 26/DF

• Protocolado em 10/05/2012 • Protocolada em 19/12/2013


• Impetrado por Associação • Proposta por Cidadania (atual
Brasileira de Gays, Lésbicas e denominação do Partido
Transgêneros – ABGLT Popular Socialista - PPS)
• Relator: Min. Edson Fachin • Relator Min. Celso de Mello
• Julgamento: 13/06/2019 • Julgamento: 13/06/2019
MI 4733/DF ADO 26/DF

• DEVER DO ESTADO DE • SITUAÇÃO DE INÉRCIA DO ESTADO EM


CRIMINALIZAR AS CONDUTAS RELAÇÃO À EDIÇÃO DE DIPLOMAS
ATENTATÓRIAS DOS DIREITOS LEGISLATIVOS NECESSÁRIOS À
FUNDAMENTAIS. PUNIÇÃO DOS ATOS DE
• HOMOTRANSFOBIA: DISCRIMINAÇÃO PRATICADOS EM
DISCRIMINAÇÃO RAZÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL OU
INCONSTITUCIONAL DA IDENTIDADE DE GÊNERO DA
VÍTIMA
• OMISSÃO DO CONGRESSO NACIONAL
• INTERPRETAÇÃO CONFORME À CF • ENQUADRAMENTO IMEDIATO DAS
PRÁTICAS DE HOMOFOBIA E DE
• MANDADO DE INJUNÇÃO JULGADO TRANSFOBIA, MEDIANTE
PROCEDENTE. INTERPRETAÇÃO CONFORME NO
CONCEITO DE RACISMO PREVISTO NA
LEI Nº 7.716/89
MI 4733/DF
1. É ATENTATÓRIO AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO QUALQUER TIPO DE DISCRIMINAÇÃO, INCLUSIVE
A QUE SE FUNDAMENTA NA ORIENTAÇÃO SEXUAL DAS PESSOAS OU EM SUA IDENTIDADE DE GÊNERO.
2. O DIREITO À IGUALDADE SEM DISCRIMINAÇÕES ABRANGE A IDENTIDADE OU EXPRESSÃO DE GÊNERO E A
ORIENTAÇÃO SEXUAL.
3. À LUZ DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE QUE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL É PARTE, DESSUME-
SE DA LEITURA DO TEXTO DA CARTA DE 1988 UM MANDADO CONSTITUCIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO NO QUE
PERTINE A TODA E QUALQUER DISCRIMINAÇÃO ATENTATÓRIA DOS DIREITOS E LIBERDADES
FUNDAMENTAIS.
4. A OMISSÃO LEGISLATIVA EM TIPIFICAR A DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL OU IDENTIDADE DE
GÊNERO OFENDE UM SENTIDO MÍNIMO DE JUSTIÇA AO SINALIZAR QUE O SOFRIMENTO E A VIOLÊNCIA
DIRIGIDA A PESSOA GAY, LÉSBICA, BISSEXUAL, TRANSGÊNERA OU INTERSEX É TOLERADA, COMO SE UMA
PESSOA NÃO FOSSE DIGNA DE VIVER EM IGUALDADE. A CONSTITUIÇÃO NÃO AUTORIZA TOLERAR O
SOFRIMENTO QUE A DISCRIMINAÇÃO IMPÕE.
5. A DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL OU IDENTIDADE DE GÊNERO, TAL COMO QUALQUER FORMA
DE DISCRIMINAÇÃO, É NEFASTA, PORQUE RETIRA DAS PESSOAS A JUSTA EXPECTATIVA DE QUE TENHAM IGUAL
VALOR.
6. MANDADO DE INJUNÇÃO JULGADO PROCEDENTE, PARA (I) RECONHECER A MORA INCONSTITUCIONAL DO
CONGRESSO NACIONAL E; (II) APLICAR, ATÉ QUE O CONGRESSO NACIONAL VENHA A LEGISLAR A RESPEITO, A
LEI 7.716/89 A FIM DE ESTENDER A TIPIFICAÇÃO PREVISTA PARA OS CRIMES RESULTANTES DE DISCRIMINAÇÃO
OU PRECONCEITO DE RAÇA, COR, ETNIA, RELIGIÃO OU PROCEDÊNCIA NACIONAL À DISCRIMINAÇÃO POR
ORIENTAÇÃO SEXUAL OU IDENTIDADE DE GÊNERO.
ADO 26/DF

• SUPERAÇÃO IRRAZOÁVEL DO LAPSO TEMPORAL NECESSÁRIO À IMPLEMENTAÇÃO DOS


MANDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO INSTITUÍDOS PELO TEXTO
CONSTITUCIONAL (CF, art. 5º, incisos XLI e XLII);
• A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO COMO INSTRUMENTO
DE CONCRETIZAÇÃO DAS CLÁUSULAS CONSTITUCIONAIS FRUSTRADAS;
• O PODER JUDICIÁRIO, EM SUA ATIVIDADE HERMENÊUTICA, HÁ DE TORNAR EFETIVA
A REAÇÃO DO ESTADO NA PREVENÇÃO E REPRESSÃO AOS ATOS DE PRECONCEITO OU
DE DISCRIMINAÇÃO PRATICADOS CONTRA PESSOAS INTEGRANTES DE GRUPOS
SOCIAIS VULNERÁVEIS: FUNÇÃO CONTRAMAJORITÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL NO EXERCÍCIO DE SUA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL;
• A BUSCA DA FELICIDADE COMO DERIVAÇÃO CONSTITUCIONAL IMPLÍCITA DO
PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA;
• PRÁTICAS HOMOFÓBICAS E TRANSFÓBICAS CONFIGURAM ATOS DELITUOSOS
PASSÍVEIS DE REPRESSÃO PENAL, POR EFEITO DE MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE
CRIMINALIZAÇÃO (CF, ART. 5º, INCISOS XLI E XLII), POR TRADUZIREM EXPRESSÕES DE
RACISMO EM SUA DIMENSÃO SOCIAL
MORA LEGISLATIVA
• “Projetos sobre direitos LGBT caducam sem análise no Congresso. Criminalização da LGBTfobia predomina entre propostas.
Nenhum projeto voltado para LGBTs foi aprovado desde 1988.” (Site JOTA, notícia veiculada em 28/06/2021)

• Projeto de Lei da Câmara n° 122, de 2006: Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal) e o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT) para
definir os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.
Estabelece as tipificações e delimita as responsabilidades do ato e dos agentes.
• 26/12/2014: Arquivada ao final da Legislatura (art. 332 do RISF)
• Projeto de Lei do Senado n° 457, de 2011: Aumenta a pena dos crimes contra a honra, previstos nos arts. nº 138, 139 e 140, caput
e § 2º; altera a redação do § 3º do art. 140, para incluir a orientação sexual e identidade de gênero como elementos para
injúria qualificada e acrescenta a possibilidade de aumento de pena para dois terços no art. 141, todos do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal.
• 21/12/2018: Arquivada ao final da Legislatura (art. 332 do RISF)
• Projeto de Lei do Senado n° 4240, de 2019: Criminaliza a homofobia, editando uma norma em consonância com o que foi
decidido pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26 e Mandado de
Injunção nº 4733.
• Em tramitação – desde 11/11/2021 está na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
2º GRAU

“(...) não resta dúvida de que o acusado promoveu ato de preconceito e


discriminação, baseado na orientação sexual e identidade de gênero, contra
número indeterminado de pessoas.
Evidente, ainda, a presença de discurso de ódio na postagem, porquanto
incitada a aversão e, especialmente, a estigmatização de grupo social
historicamente marginalizado (...)”

(Apelação Criminal 1501837-30.2020.8.26.0482; Relator Freire Teotônio; 14ª Câmara


de Direito Criminal; Data do Julgamento: 27/05/2022)
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
1º GRAU
❖ Ação Penal n. 1001320-52.2020.8.26.0589, Comarca de São Simão:
• Caso: prática de atos homofóbicos e transfóbicos, mediante publicação e divulgação de mensagens em
redes sociais com cunho discriminatório e de preconceito à orientação sexual e à identidade de gênero.
• “O crime de homofobia, equiparável ao racismo [conforme decisão proferida na ADO n. 26], consiste em
condutas que revelem sentimentos negativos tais como aversão, desprezo, raiva, inferiorização a
membros da comunidade LGBTI+. No caso dos autos, entendo que referida conduta restou devidamente
configurada.”
• “Em resumo, por apontar mudanças relacionadas a orientação sexual e mudança de gênero como um dos
efeitos nocivos da vacina, sem qualquer comprovação científica a respeito, inferiorizando as pessoas
pertencentes a tais grupos ao equiparar a sua condição a “problemas graves e sérios de saúde”, não resta
qualquer dúvida de que o réu incidiu na conduta típica imputada [delito previsto no artigo 20, § 2º, da Lei
7.716/89].”
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
1º GRAU
❖ Ação Penal n. 1501323-22.2019.8.26.0059, Comarca de Bananal
• Caso: Mulher trans impedida de utilizar o banheiro feminino em um bar.
• “não se desconhece a respeitável decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADO 26 (...)”
• “a publicação da referida decisão fora posterior à data do fato descrita na inicial, não havendo como se
presumir a ciência do réu (...), entendo que a interpretação jurisprudencial não pode retroagir à datado fato,
pois anterior à publicação da decisão do STF.”
• “No caso dos autos, o réu como proprietário do estabelecimento comercial (na acepção do réu, frise-se)
quis ordenar o uso dos sanitários, ainda que tenha agido de forma inadequada, não comprovado o
especial fim de agir, qual seja, discriminar. Se assim fosse sequer permitiria a frequência no
estabelecimento comercial, e não apenas em um determinado sanitário.”
• “Não se desconsidera o inconformismo da vítima Maria Paula, como qual se tem extremo respeito, mas a
questão afeta à efetiva violação de direito da personalidade da ofendida Maria Paula é questão cível (...)”
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
1º GRAU
❖ Ação Penal n. 1501211-15.2020.8.26.0319, Comarca de Lençóis Paulista
• Caso: Manifestação de afeto entre pessoas homossexuais em supermercado.
• “No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n. 26, Relator Ministro
Celso de Mello, o Plenário do Supremo Tribunal Federal reconheceu a incidência do tipo penal aos
casos de homofobia (...).”
• “Repousa prova farta de que o acusado xingou as vítimas no interior de estabelecimento comercial
[‘vagabunda, vai fazer isso na sua casa’], porque inconformado com o gesto de afeto entre elas.”
• Julgou procedente a ação JULGO PROCEDENTE a presente ação penal para condenar o réu
como incurso no art. 20, caput, da Lei n. 7.716/89.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
BICKEL, Alexander M. The least dangerous branch: the supreme court at the bar of politics. New York: The Bobbs-Merrill Co., Inc., 1962.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. 15ª ed. Rio de Janeiro: Civilição Brasileira, 2017.
DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e direitos LGBTI. 7ª ed. São Paulo: RT, 2016.
JATENE, Karina Kassis Reis. O politicamente correto e a constituição de 1988: liberdade de expressão e minorias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
PEARSE, Rebecca. CONNELL, Raewyn. Gênero uma perspectiva global. 3ª ed. São Paulo: nVersos, 2015.
NORIJI, Sergio. Neoconstitucionalismo versus democracia. Um olhar positivista. Curitiba: Juruá, 2012.
PIOVESAN, Flávia. Temas de direitos humanos. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. 13ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
SILVA, De Plácido. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007.
VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti. Constitucionalidade e Dever Constitucional da Classificação da Homofobia e da Transfobia como Crimes de
Racismo, “in” “Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo”, coordenado por Maria Berenice Dias, 3ª ed., São Paulo: RT, 2017.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Links
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil).
https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/43618
ONU. Nascidos Livres e Iguais. Orientação Sexual e Identidade de Gênero no Regime Internacional de Direitos Humanos.
https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Publications/BornFreeAndEqualLowRes_Portuguese.pdf
Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil.
https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/
Princípios de Yogyakarta: princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e
identidade de gênero
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf
STF, ADO 26:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?classeNumeroIncidente=%22ADO%2026%22&base=acordaos&sinonimo=true&plural=tru
e&page=1&pageSize=10&sort=_score&sortBy=desc&isAdvanced=true
STF, MI 4733:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?classeNumeroIncidente=%22MI%204733%22&base=acordaos&sinonimo=true&plural=tr
ue&page=1&pageSize=10&sort=_score&sortBy=desc&isAdvanced=true
TJDFT, Diferença entre injúria racial e racismo.
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/injuria-racial-x-racismo
AGRADEÇO A PARTICIPAÇÃO!
PERMANEÇO À DISPOSIÇÃO PARA TIRAR DÚVIDAS E COLABORAR
COM O DESEMPENHO DO TRABALHO DESENVOLVIDO NO TJSP

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