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FERNANDA BRAMBILA MORAES

GUILHERME RODRIGUES VALERINO DA CUNHA

TRABALHO FINAL

Londrina
2022
INTRODUÇÃO

O período histórico conhecido como Idade Contemporânea inicia-se a partir da


Revolução Francesa, em 1789 e se estende até os dias atuais. Séculos marcados por
transformações profundas na organização da sociedade. A adoção da Revolução
Francesa como ponto inicial da Idade Contemporânea, remete ao impacto de seus
efeitos em diversos locais do mundo.
No Brasil, o início do período compreendido por contemporaneidade, é marcado
por intenso tráfico negreiro, economia baseada na escravidão de africanos trazidos a
força para trabalharem de forma compulsória, racismo e grande desigualdade social.
O presente trabalho tem como objetivo principal abordar a temática “Africanos
e afrodescendentes no Brasil: diáspora, rebeliões e cidadanias” e analisar de que
forma a história afrodescendente compõe a historiografia brasileira, além de
investigar e colocar em pauta o racismo e a discriminação sofrida pelos negros
durante o período escravista.
As consequências da escravidão ainda são sentidas atualmente, a violência e a
discriminação que os negros sofrem ainda hoje são o reflexo direto de um país que se
construiu por meio da normalização do preconceito e da violência.
Para essa análise, utilizamos anúncios de jornais do século XIX, que
colocavam a venda pessoas escravizadas, tidas como propriedade, que eram
desumanizados e tornavam-se apenas objetos a serem comercializados. Porém, a
relação de compra e venda não será analisada de forma econômica, como ocorre em
muito dos casos, mas sim, como as relações pessoas se davam no período escravista.
Dessa forma, buscamos compreender a compra e venda de escravizados e das
negociações que estão envolvidas para além da esfera econômica. De forma que seja
possível entender o momento a partir de seus significados para senhores e escravizados,
já que a venda, em muitas vezes, era tida como instrumento disciplinar.
Para a isso, foram analisados anúncios e notícias em jornais de cidades
brasileiras, durante a segunda metade do século XIX. Possibilitando, através de uma
fonte histórica primaria, a análise do cotidiano vivido durante o período determinado.
Como por exemplo, os jornais Concililador Catharinense, Gazeta de Campinas e O
conservador.
Desenvolvimento
Na maioria dos estudos, a compra e venda de escravizados é tratada
superficialmente como uma transação comercial, tendo motivação apenas economica.
Porém, estudos como o de Robert Slenes e Silvia Hunold Lara, procuram o lado
humano dos escravizados, assim, revisando opiniões sobre família, sociedade e conflito
na época. Segundo o autor Rafael Cunha Scheffer:
“Por um lado, ainda era uma relação comercial de uma mercadoria (escravo),
podendo representar, economicamente, o crescimento de determinada região, sua
riqueza ou miséria. Por outro lado, numa análise das pessoas envolvidas, esse
momento passou a ser muito mais rico, sendo um ponto de mudança para a vida
dos cativos envolvidos, ponteado por questões políticas”

Um erro muito comum é o pensamento de que os escravizados aceitavam


pacificamente, porém, é necessário entender que, na verdade, existia muita resistência. Por
exemplo, é possível analisar que em muito dos casos, os cativos reagiam a essa situação de
venda a partir de seus valores e experiências, sendo essa, uma forma de resistência.
É importante ressaltar, que os “objetos” das negociações tinham percepções,
sentimentos e temores em relação às transferências das quais eram parte. Em seu livro
“Visões da Liberdade”, o autor Sidney Chalhoub explicita o espaço de manobra que os
escravos tinham nessas vendas, ou seja, as percepções que poderiam passar aos seus
futuros compradores que poderiam ajudar ou arruinar uma venda.
Esse fato se dava, também, devido a escravidão ser um uma instituição muito
mais complexa do que as leis que a regiam, pois construía-se por regras e costumes não
escritos que concediam algumas brechas aos escravizados, assim, a relação de compra e
venda se coloca nessa perspectiva.
Para confirmar, podemos analisar os anúncios, e perceber como o momento da
venda se relacionava a uma série de situações do cotidiano senhor e do escravizado.
Nesses momentos surgem questões ligadas ao desejo senhorial por disciplina e ordem
ou protestos e a busca por melhores condições por parte dos escravizados.
Os anúncios, em grande maioria, traziam a motivação da venda, seja direta ou
indiretamente. Os senhores faziam os anunciando deixando claro o problema que
tinham, sendo eles com os escravizados por relações pessoais, ou por outros motivos
que teriam que fazer a venda, mas sempre deixando claro sua satisfação ou insatisfação
com o cativo a ser comercializado.
Bibliografia

CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da


escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

LARA, Silvia. Campos da violência: escravos e senhores na capitania do Rio de


Janeiro, 1750- 1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

SCHEFFER, Rafael da Cunha. Comércio de escravos do Sul para o Sudeste, 1850-


1888: economias microregionais, redes de negociantes e experiência cativa. 2012. Tese
de doutorado em História. Unicamp, Campinas.

Fontes analisadas
Hermeroteca Digital da Biblioteca Nacional Brasileira:
(http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/)
Concililador Catharinense, nº 87, de 06/03/1850.
O Conservador (SC), n. 191, 24 de janeiro de 1854.
Gazeta de Campinas (SP), nº 252, de 28/04/1872.
Gazeta de Campinas (SP), nº 278, de 04/08/1872

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