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ANALISE DOS TEXOS

- LIVRO “MULHERES, CULTURA E POLÍTICA” DE ANGELA DAVIS

Angela Yvone Davis nasceu no dia 26 de janeiro de 1944, na cidade de


Birmingham, Alabama, nos Estados Unidos. Sua cidade sofria, na época de
seu nascimento, com a política de segregação racial implantada na maioria dos
estados do sul dos Estados Unidos.
Davis vivenciou desde cedo o racismo, vendo as ações brutais de uma
das organizações mais populares do Alabama na época, a Ku Klux Klan,
também conhecidos KKK, que defendem correntes reacionárias e extremistas,
tais como a supremacia branca, o nacionalismo branco, a anti-imigração,
expressos através do terrorismo voltado a grupos ou indivíduos aos quais eles
se opõem. Tinha como objetivo a “purificação” da sociedade estadunidense e
é uma organização de extrema-direita.
Além da política oficial de segregação, que não permitia que a
população negra tivesse o reconhecimento de seus direitos civis e separava os
espaços públicos para negros e brancos, Angela Davis vivenciou atos de
barbárie promovidos por brancos contra os negros. Eram corriqueiros os
linchamentos de negros e o incêndio e explosão criminosos de casas e igrejas
nos bairros habitados por negros.
Na adolescência, Davis organizou um grupo de estudos sobre as
questões raciais. O seu grupo foi descoberto, perseguido e proibido pela
polícia. Aos 19 anos, Davis mudou-se para o estado de Massachusetts, no
norte dos Estados Unidos, para estudar na Universidade de Brandeis.
Em 1963, ano em que Davis mudou-se para Massachusetts, houve um
atentado a bomba em uma igreja frequentada por negros em Birmingham
motivado por racismo. Esse fato marcou a sua trajetória e a fez perceber o
quão importante era lutar pela questão racial em seu país.
A partir daí, Davis integrou-se ativamente na luta social, tendo filiado-se
ao SNCC, que era uma organização antirracista e tinha como princípios a
resistência pacífica. Com o tempo, a SNCC deixou de existir e ela se filiou ao
Partido dos Panteras Negras, ficando conhecido mais tarde como Movimento
dos Panteras Negras. Os Panteras Negras eram adeptos de uma luta
antirracista mais incisiva e combativa, aderindo, inclusive, à luta armada contra
o racismo.
Em 1969, por suas ligações com o Partido Comunista e com os Panteras
Negras, Davis foi demitida da Universidade da Califórnia, onde ela lecionava
Filosofia. Em 1970, lutando contra a prisão injusta de negros nos Estados
Unidos, a filósofa foi vítima de um mal-entendido que a colocou na lista dos dez
criminosos mais procurados pelo FBI, acusada de conspiração, sequestro e
homicídio.
Angela permaneceu foragida até outubro de 1970, quando foi presa em
Nova Iorque. Houve uma intensa busca por ela, com alta cobertura midiática. O
seu julgamento durou dezoito meses intensos para o movimento negro e para a
sociedade em geral, que passava a discutir a prisão injusta de pessoas negras,
e terminou com sua inocência.

A sua obra “Mulheres, cultura e política", reúne artigos, discursos e


relatos produzidos pela autora ao longo da década de 1980 e é dividida em três
segmentos, sendo eles, “Sobre as mulheres e a busca por igualdade e paz”,
“Sobre questões internacionais” e “Sobre educação e cultura”.
Na primeira parte da obra, Davis se debruça acerca da participação de
mulheres em movimentos políticos, tecendo críticas às organizações feministas
brancas e sua complexa relação com o racismo. Por meio de uma perspectiva
histórica, a autora se depara com contrastes das pautas, visto que as mulheres
afro-americanas ainda tinham que lutar por pautas que as mulheres brancas já
haviam conquistado há muito tempo. Ou seja, o movimento feminista era
totalmente voltado a questões de mulheres brancas, não abrangendo a
necessidade de todas
Esse fator fez com que as mulheres afro-americanas organizassem seu
próprio movimento e suas próprias pautas. Sua principal diferença eram as
bandeiras levantadas, enquanto o movimento feminista liberal e branco lutava
por direito ao voto, as mulheres negras lutavam pelo emponderamento.
Essa questão é especialmente debatida pela autora, dado que a
concepção de empoderamento é totalmente ligada as condições econômicas,
que são tidas como essenciais para o rompimento das demais barreiras de
opressão. Dessa forma, a o empoderamento só é conquistado com aquisição
financeira, oportunidades de emprego, direito à saúde pública e ao direito à
direito à moradia, sendo esses princípios determinantes para o alcance da
igualdade econômica, política e social da população oprimida.
Nesse contexto, Davis aponta que as mulheres afro-americanas
enxergaram a necessidade da construção de um movimento de mulheres que
reivindique mudanças estruturais, se proponha revolucionário e atento à
diversidade e a inclusão, visando atingir a verdadeira raiz do problema: o
sistema capitalista.
Já na segunda parte do livro, Angela Davis analisa a luta das mulheres
étnicas em vários países, dentre eles África do Sul, Quênia, Egito e União
Soviética. O objetivo do estudo é entrelaçar os contextos em que mulheres
negras estão inseridas, suas condições enquanto minorias historicamente
oprimidas e a experiência racial que perpassa suas trajetórias.
Para isso, a autora considera as experiências de opressão das mulheres
de minorias étnicas, a fim de “criar um movimento de mulheres revolucionário e
multirracial”. Para essa parte do livro, a autora foca nas participações de
mulheres do mundo todo em discuções e eventos internacionais. Nos espaços
internacionais as mulehres denunciavam seu país e apontavam as relações
das práticas governamentais de seus países com o racismo.
Uma das questões para a autora, são as pautas diferentes trazidas por
mulheres de cada parte de mundo, em especial, as diferenças de demandas
entre o ocidente e o oriente. Para Davis, as feministas ocidentais
desconsideram o contexto social e político vivenciado pelas mulheres egípcias
expondo práticas e ideias racistas e etnocêntricas, o que destaca a imposição
capitalista e colonialista de alguns países sobre outros.
Davis ressalta que as vivências de mulheres de minorias étnicas,
trabalhadoras e mães devem ser reconhecidas internacionalmente e
visibilizadas diante das organizações de mulheres brancas de classe média e
dos projetos políticos de governo.
Na terceira e última parte do texto, a autora fala sobre educação, cultura
e arte. A partir de uma série de discursos realizados em formaturas de
universidades como Berkeley, UCLA e Estadual de São Francisco, a autora
resgata a trajetória histórica dos movimentos negros em seu país, com o intuito
de refletir sobre sua importância para as conquistas das novas gerações nas
áreas de educação, de saúde, e na busca por direitos civis e sociais. Davis
demonstra grande preocupação com o futuro dos jovens negros em um
contexto de violência policial exacerbada, índices de desemprego elevados e
diferença salarial entre negros e brancos, mas incentiva os jovens negros para
que lutem pela educação de qualidade, gratuita e universal.
A partir dessa perspectiva, cita o “Levante de Soweto”, que ocorreu em
1976, como inspiração referência de organização, o qual foi realizado durante o
apartheid sul-africano, em que a população negra sul-africana se manifestou
contra a obrigação do aprendizado da língua dos colonizadores nas escolas e o
ensino majoritariamente branco.
Para além da educação, a arte e a cultura são centrais na luta
anticapitalista. A arte, segundo a autora, deve ser compreendida e utilizada
como uma ferramenta de alcance para despertar a consciência crítica, de
forma política e retratando a realidade racial do país, rumo a um processo
revolucionário que posteriormente se transformará em um processo cultural.
Para concluir, podemos afirmar que a obra resgata a memória dos
movimentos sociais e atribui as suas considerações a um discurso radical de
alinhamento político referente às opressões, promovendo a reflexão necessária
para um novo projeto de sociedade que seja anti-imperialista e anticapitalista.
Desse modo, essa obra deve ser valorizada pelo enorme esforço em resgatar
os movimentos de mulheres de minorias étnicas em diferentes contextos e
países, expondo seus dilemas e pautas convergentes, sem abandonar suas
especificidades e trajetórias.

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