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Fichamento

FEMINISMO NEGRO BRASILEIRO EM TRÊS TEMPOS: Mulheres Negras, Negras Jovens


Feministas e Feministas Interseccionais

INTRODUÇÃO
● O texto começa apresentando três eventos culturais para fornecer uma análise sobre a
atual conjuntura do Feminismo Negro no Brasil.

● Evento I: Em maio de 2015, em São Paulo, a peça "A Mulher do Trem" da companhia
teatral Os Fofos Encenam foi cancelada devido a protestos de ativistas digitais que acusaram a
produção de perpetuar estereótipos racistas com o uso de blackface.
● Evento II: Entre os dias 27 e 29 de novembro de 2009, ocorreu o I Encontro de Negras
Jovens Feministas em Salvador, Bahia, reunindo cerca de 120 jovens negras para discutir políticas
emancipatórias enfrentando o racismo e o sexismo. O encontro abordou várias questões
relacionadas às mulheres negras no Brasil.
● Evento III: Em 1988, aconteceu o I Encontro Nacional de Mulheres Negras em Valença, Rio
de Janeiro, reunindo cerca de 450 participantes de várias regiões do Brasil. O encontro abordou
temas como educação, controle de natalidade, violência, sexualidade e mais, representando
diversidade ideológica e regional no movimento feminista negro.

ANÁLISE
● Quais são as mensagens transmitidas por esses três eventos em relação aos temas
de raça e gênero e suas mudanças na esfera pública do Brasil?
● 1. Os três eventos abordam raça e gênero, no contexto de ativismo político, como
categorias de conflitos.
● 2. Revelam as várias faces do ativismo negro desde a fase de redemocratização do país.
● 3. Aumento e intensificação dos meios digitais no contexto atual.
○ O emprego da tecnologia da informação como meio de protesto político é uma
característica distintiva dessas mobilizações coletivas, mas não é a única responsável pelo
surgimento da nova geração do feminismo negro.
○ Adicionalmente, as redes sociais são vistas como locais de formação de comunidades
políticas, cujo impacto se estende para além do ambiente online.
● O objetivo do artigo é é investigar as razões da formação e as formas de ação coletiva de
ativistas que se valem de múltiplas identidades sociais.

CONTEXTO HISTÓRICO
● No final da Ditadura MIlitar, expandindo-se em protestos, no período da redemocratização
● Interface com o movimento negro e com o movimento feminista —> rede feminista
● Identidade coletiva autônoma em relação ao feminismo e ao movimento negro: Ambos
os casos mantêm uma identidade coletiva distinta, não subordinada ao feminismo ou ao
movimento negro.
● Interdependência política com outras organizações: Existe uma forte interdependência
política com organizações feministas, antirracistas, eclesiais, sindicais e comunitárias.
● Nesse movimento de mulheres negras, destacam-se:
● Luta pela cidadania civil
● Luta pelos direitos sociais
● Garantias para a liberdade e igualdade das mulheres em suas clivagens étnicas e de classe
● Forte engajamento anticolonial.
● Perspectiva de Lélia Gonzalez sobre o feminismo:
● Lélia Gonzalez, intelectual pública, acredita que o feminismo deve se afastar do
eurocentrismo e se enraizar nas realidades ameríndias.
REIVINDICAÇÕES DOMINANTES:

● Na perspectiva histórica dos anos 1990, esse ativismo passou por um processo de
institucionalização de suas organizações civis, frequentemente com o apoio de organizações
internacionais.

CONTEXTO DE ABERTURA PARA REIVINDICAÇÕES DE DIFERENTES MOVIMENTOS


SOCIAIS NOS ANOS 2000
Ampla incorporação de demandas sociais pelo governo federal
Características peculiares das ativistas:
Jovens universitárias que fazem parte do primeiro grupo de estudantes cotistas
Provenientes de territórios periféricos ou suburbanos do país
Buscam espaço no ativismo de mulheres negras e almejam obtenção de
Algum conteúdo parece ter sido cortado no final.

RESUMO DAS AÇÕES E ATUAÇÕES DO I ENCONTRO DE NEGRAS JOVENS FEMINISTAS


EM 2009 E DA ASSOCIAÇÃO MULHERES DE ODUN A PARTIR DE 2010:
● Espaço estrategicamente construído pelas jovens mulheres negras entre o legado do
feminismo negro clássico e a geração atual.
● Ampliação das conquistas no campo das políticas públicas, seguindo o legado do
feminismo negro clássico.
● Organização de pautas diversificadas com foco nas redes sociais para visibilidade e
construção.
● Segunda geração de mulheres, auto declarada feminista, que considera as condições do
seu tempo e avanços obtidos em décadas anteriores.
● Abertura do caminho para a ampliação do uso das ferramentas virtuais nas lutas
envolvendo questões de gênero, raça e geração.

A interseccionalidade vai além de ser apenas uma ferramenta política ou um conceito


relevante nas ciências sociais e jurídicas. Ela se tornou uma categoria utilizada por
indivíduos e grupos sociais para identificar sua expressão pública.

DIFERENÇAS ENTRE AS GERAÇÕES TRADICIONAL E MAIS RECENTE DO FEMINISMO


NEGRO EM RELAÇÃO À ATUAÇÃO PÚBLICA E CONFLITOS COM O "FEMINISMO
BRANCO".
● Apesar das divergências, as feministas negras atuais defendem pautas clássicas do
feminismo, como a luta pela legalização do aborto e direitos sexuais reprodutivos, mas também
destacam as especificidades das mulheres negras, abordando as desigualdades que enfrentam
em vários aspectos da vida, como a saúde e o acesso ao atendimento médico.
● As feministas negras rejeitam o eurocentrismo no pensamento feminista e lutam contra o
silenciamento intelectual nas universidades, buscando dar visibilidade aos trabalhos de
intelectuais brasileiras como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento e Sueli Carneiro.
● Elas também valorizam o feminismo norte-americano, especialmente os escritos de
Sojourner Truth, bell hooks, Patrícia Hill Collins e Angela Davis.

● As feministas interseccionais abordam não apenas os eixos de opressão, mas também a


dimensão da identidade coletiva.
● A interseccionalidade na rede feminista analisada está diretamente relacionada à
construção identitária.
● Há uma preocupação em resgatar o legado dos movimentos feministas existentes há
décadas na cultura nacional, com destaque para o feminismo negro brasileiro e norte-americano,
bem como a interlocução com grupos de mulheres lésbicas e trans.
● Existe um maior enraizamento nas comunidades e espaços de periferia.
● O acampamento interseccional destacou uma mesa de debates com Amara Moira,
abordando os desafios das identidades públicas de gênero em espaços institucionais, como a
academia.
● A retórica da coletividade enfatiza a necessidade de marcar a dimensão interseccional das
relações de opressão social, sem subordinar seus principais eixos: raça, classe, gênero,
sexualidade e condição periférica (entendida como territorialidade).

Feminismo negro em contraste


● A formação e desenvolvimento do feminismo negro emergente no contexto de
democratização são amplamente conhecidos na produção acadêmica (CALDWELL, 2007).
● O feminismo negro clássico continua ativo na esfera pública brasileira, influenciando a
opinião pública e disputando narrativas políticas. O portal da organização Geledés-Instituto da
Mulher Negra é um exemplo importante dessa atuação, abrigando textos sobre arte, questões
políticas, crítica literária e narrativas pessoais, incluindo casos de violência e vivências de
sexualidades com ou sem rótulos identitários.
● O legado discursivo da segunda onda do feminismo mundial, "o pessoal é político", está
presente na produção textual e imagética das feministas negras da nova geração, sendo ainda
mais proeminente do que no passado. As feministas negras tradicionais costumavam focar em
análises e denúncias das desigualdades estatísticas ou de casos públicos, enquanto as mais
jovens incorporam narrativas pessoais em primeira pessoa, o que é facilitado pela influência do
feminismo negro norte-americano, onde as narrativas autobiográficas são tradicionais desde o
abolicionismo.
● A adesão crescente às narrativas pessoais pelas gerações mais jovens pode ser explicada
em parte pela influência das redes sociais, que valorizam a linguagem pessoal para conferir
autenticidade ao discurso e autenticidade frente às comunidades virtuais. Além disso, a
subjetividade tem um papel central na economia política e é valorizada pelas novas gerações.
● O processo de institucionalização do feminismo negro brasileiro deu origem a um novo ciclo
de ativismo, liderado pelas jovens feministas negras que atuam em colaboração com organizações
estrangeiras e esferas estatais envolvidas com igualdade de gênero, raça e juventude. Embora
tenham adotado a internet como meio de mobilização, seu perfil de atuação não diferia muito das
mulheres negras ativistas durante o período de democratização, ainda mantendo grande parte do
repertório de discurso e atuação institucionalista. No entanto, as jovens ativistas trazem a
dimensão geracional como parte identitária, algo ausente no ativismo clássico das mulheres
negras.
● A coexistência dos feminismos ao longo do tempo tem sido alcançada através da difusão
do discurso antirracista e feminista, impulsionada por um intenso ativismo que se expandiu de
esferas públicas alternativas, vinculadas a movimentos sociais, até um processo de
institucionalização através do Estado, especialmente nas décadas de 1990 e após as conferências
de Durban em 2001. Atualmente, os feminismos têm conquistado maior espaço no mercado,
principalmente nos meios de comunicação, especialmente devido à atuação e estilo das ativistas
mais jovens. Isso tem trazido desafios inéditos para o movimento.

● A nova geração de feministas parece impactar mais o mercado e as relações de consumo


do que as gerações anteriores, uma vez que possuem um potencial maior de influenciar opiniões,
estilos de vida e comportamentos. Empresas e meios de comunicação agora veiculam imagens de
militantes famosas nas redes sociais associadas a produtos e materiais relacionados ao turismo,
moda, beleza, entre outros. Isso tem levado à criação de "celebridades negras" cuja credibilidade
e legitimidade estão vinculadas ao mundo ativista, e não o contrário.
● Essa nova dinâmica não se limita apenas a certas personalidades, mas também envolve a
apropriação de expressões estéticas, gostos e estilos de vida que são transformados em formas
mercadológicas. Como resultado, cria-se e amplia-se o mercado consumidor de bens que
originalmente possuíam uma dimensão política, transformando-os em peças publicitárias
direcionadas a diversos setores, incluindo os anteriormente voltados quase que exclusivamente
para o público branco.

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