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NANCY FRASER

Essas duas formas de injustiça (cultural e econômica) se reforçam!


DADOS BIOGRÁFICOS:
▪ Nancy Fraser nasceu em Baltimore no ano de 1947;
▪ Em 1969 concluiu a graduação em Filosofia no Bryn Mawr College (faculdade privada exclusiva para mulheres);
▪ Terminou o doutorado em 1980 na City University of New York (CUNY);
▪ Desde 1995, é professora de filosofia e política na New School for
Social Research.

Mais informações:
▪ Teórica crítica feminista;
▪ A autora é uma referência da teoria crítica contemporânea;
▪ Teórica crítica da segunda onda do feminismo (liberal) nos EUA;
▪ Contribuições em debates sobre capitalismo, reconhecimento,
políticas afirmativas, democracia, justiça e feminismo;
▪ A autora se autointitula democrata e socialista.

FONTE: Nancy Fraser e o Feminismo - (Nathalie Bressiani):


https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/nancy-fraser-e-o-feminismo
Livros de Nancy Fraser
(tradução p/ o português)

➢ FRASER, N.; BUTLER, J.; BENHABIB, S.; CORNELL, D. Debates Feministas: um intercâmbio
filosófico. São Paulo: UNESP, 2018. [Feminist contentions: a philosophical exchange. New
York: Routledge, 1995].
➢ FRASER, F.; ARUZZA, C.; BHATTACHARYA, T. Feminismo para os 99%: Um Manifesto. São
Paulo: Boitempo, 2019 [Feminism of the 99%: A manifesto. New York: Verso, 2019 ].
➢ FRASER, N. O velho está morrendo e o novo não pode nascer. São Paulo: Autonomia Literária,
2020.
➢ FRASER, N.; JAEGGI, R. Capitalismo em debate: uma conversa na teoria crítica. São Paulo:
Boitempo, 2020 [Capitalism: a conversation in critical theory. Cambridge: Polity Press, 2018].
➢ FRASER, N. Justiça interrompida: reflexões críticas sobre a condição “pós-socialista”. Trad.
Ana Claudia Lopes e Nathalie Bressiani. São Paulo: Boitempo, 2022 [Justice Interruptus:
Critical Reflections on the “Postsocialist” Condition. Routlege, 1997].
Livros da Nancy Fraser (sem tradução):
➢ FRASER, N. Unruly Practices. Power, discourse and gender in contemporary
social theory. 1989.
➢ FRASER, N.; BARTKY, S.; (orgs). Revaluing French Feminism: Critical Essays on
Difference, 1992.
➢ FRASER, N.; BENHABIB, S. (orgs). Pragmatism, critique, judgment: essays for
Richard J. Bernstein, 2004.
➢ FRASER, N.; HONETH, A. Redistribution or Recognition? A political-philosophical
exchange, 2003.
➢ FRASER, N. Radical Imagination. Between Recognition and Redistribution, 2003.
➢ FRASER, N. Scales of Justice: Reimagining Political Space in a Globalizing
World, 2008.
➢ FRASER, N. Fortunes of Feminism. From State-Managed Capitalism to Neoliberal
Crisis, 2013.
Cannibal Capitalism: How Our System Is Devouring Democracy, Care, and the Planet - and What We Can Do About It

https://www.vermelho.org.br/2022/12/25/nancy-fraser-para-devorar-o-capitalismo-canibal/
SINOPSE:
Capitalismo em debate faz ao leitor o irrecusável convite de se juntar a
uma conversa entre Nancy Fraser e Rahel Jaeggi. Construída de modo
não ortodoxo, a obra se apresenta como um verdadeiro debate entre as
filósofas em torno do contexto atual do capitalismo, levando em conta
problemas econômicos, sociais, políticos e ambientais. Estruturada em
quatro capítulos – “Conceitualizando o capitalismo”, “Historicizando o
capitalismo”, “Criticando o capitalismo” e, finalmente, “Contestando o
capitalismo” –, essa conversa na teoria crítica induz o leitor a refletir
sobre o que define o capitalismo, sobre as transformações e as
permanências desse modelo ao logo da história, sobre como criticá-lo e
como se contrapor a ele. Ao abordar temas de tamanha complexidade
de forma acessível, sem abrir mão do rigor conceitual, Nancy Fraser e
Rahel Jaeggi permitem-se aprofundamentos teóricos e críticos ao
mesmo tempo que se abrem a novos públicos. Capitalismo em debate é
uma obra essencial para tempos que, cada vez mais, demandam uma
transposição do conhecimento teórico para além dos moldes
acadêmicos tradicionais em busca de chaves de compreensão e
intervenção na contemporaneidade.

Vídeo aula “Introdução a Nancy Fraser” por Yara Frateschi (Blog da Boitempo) – Sobre o Feminismo para os
99% e o Capitalismo em Debate: https://www.youtube.com/watch?v=3AHWdYqeTuI
SINOPSE:
O neoliberalismo está se fragmentando, mas o que surgirá entre seus cacos? A
principal teórica política feminista do século XXI, Nancy Fraser, disseca a atual
crise do neoliberalismo e argumenta como poderíamos arrancar novos futuros
de suas ruínas. O colapso político, ecológico, econômico e social global –
simbolizado pela eleição de Trump, Bolsonaro e outros governantes de
extrema-direita que dizem ser antiestablishment, embora façam parte dele –
destruiu a fé de que o capitalismo neoliberal pode beneficiar a maioria do
povo dentro da democracia. Fraser explora como essa fé foi construída no
final do século XX, equilibrando dois princípios centrais: reconhecimento
(quem merece direitos) e distribuição (quem merece renda). Quando eles
começam a se desgastar com as sucessivas crises nas primeiras décadas do
século, novas formas de populismo surgem à esquerda, para os 99%, e à
direita, para o 1%. Fraser argumenta que esses são sintomas da maior crise de
hegemonia do neoliberalismo, um momento em que, como Gramsci disse, “o
velho está morrendo e o novo não pode nascer”. O livro é acompanhado de
uma belíssima entrevista do editor da revista Jacobin, Bhaskar Sunkara, com
Fraser, que argumenta termos a oportunidade de transformar o populismo
progressista em uma força social emancipatória, podendo, assim, reivindicar
uma nova hegemonia. “Nancy Fraser é uma das filósofas sociais mais criativas,
teóricas e críticas de sua geração.” – Cornel West
Escrito a seis mãos, Feminismo para os 99%. Um
Manifesto foi publicado no dia 08 de março de 2019
simultaneamente em mais de vinte idiomas e em países
como Estados Unidos, Brasil, Itália, França, Espanha,
Inglaterra, Argentina, Suécia, Turquia, Hungria, entre
outros. Coisa rara no mercado editorial mundial, mais
rara ainda – inédita, efetivamente – para um manifesto
feminista e que entra em campo assumindo-se
abertamente anticapitalista. Para quem achou que era
este um bordão ultrapassado, utopia de um mundo ido,
palavra de ordem juvenil, Nancy Fraser, Cinzia Arruza e
Tithi Bhattacharya se empenham em mostrar que na
teoria e na prática o feminismo só é emancipador para a
maioria das mulheres se assumir-se anticapitalista.

Ler entrevista:
Nancy Fraser: Um feminismo que visa libertar todas as mulheres deve ser anticapitalista – Blog da Boitempo
SINOPSE:
Justiça Interrompida é uma reflexão crítica sobre o que a filósofa Nancy Fraser
denomina condição “pós-socialista”. A autora procura compreender os desafios
impostos pela derrocada dos socialismos no final dos anos 1980, pelo surgimento das
políticas de identidade e pela fragmentação das frentes de luta progressista. Os textos
e ensaios reunidos na obra, escritos entre 1990 e 1996, iluminam a polarização política
e intelectual contemporânea, o quase abandono das reivindicações por redistribuição
igualitária e o aumento de mobilizações sociais por reconhecimento, esvaziadas no
termo “políticas identitárias”.
Fraser nos oferece um quadro teórico abrangente para analisar as diferentes causas e
soluções para as injustiças econômicas e culturais. Evitando posturas economicistas,
que rechaçam políticas de reconhecimento como “falsa consciência”, bem como
posturas culturalistas, que rechaçam políticas redistributivas como antiquadas, a
autora desenvolve um modelo de crítica social que integra as duas dimensões.
A obra traz elementos para escaparmos do quadro de fragmentação e carência de
uma visão alternativa de sociedade emancipada: “A atual ausência de uma visão
utópica certamente está longe de corroborar a afirmação rasa de Francis Fukuyama de
que 1989 representa o 'fim da história'. Não há qualquer razão para acreditarmos que
isso vá durar. Mas essa ausência caracteriza nossa situação. Pelo menos até o
momento, as lutas progressistas não estão ancoradas em nenhuma visão credível de
uma alternativa à ordem atual. Como consequência, a crítica política é pressionada
para que refreie suas ambições e permaneça 'de oposição'. Em certo sentido, estamos
sem rumo”, escreve Fraser na introdução.
ENTREVISTAS
BLOG DA UNICAMP – MULHERES NA FILOSOFIA

https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/nancy-fraser-e-o-feminismo/
https://www.dmtemdebate.com.br/para-devorar-o-capitalismo-canibal-entrevista-com-nancy-fraser/
BBC Brasil News
Vinicius Pereira Role, 26 junho 2023
Nancy Fraser: “O neoliberalismo não se legitima mais” (diplomatique.org.br)

ANPOF - “O neoliberalismo não se legitima mais. As pessoas querem a proteção do Estado” - entrevista com Nancy
Fraser
https://www.vermelho.org.br/2022/12/25/nancy-fraser-para-devorar-o-capitalismo-canibal/
Link: https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109

Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era “pós-


socialista” | Cadernos de Campo (São Paulo - 1991) (usp.br)
“Ni la redistribución ni el
reconocimiento, por separado, bastan
para superar la injusticia en nuestros
días; por tanto, hay que conciliarlas y
combinarlas de alguna manera.”
FRASER, Nancy e HONNETH, Axel (eds.). Redistribution
or Recognition?. London: Verso, 2003, p. 19.
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Da Redistribuição ao Reconhecimento:
Link: https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109

Luta por reconhecimento (final dos anos 90):


▪ Luta de grupos mobilizados por bandeiras de nacionalidade,
etnicidade, raça, gênero e sexualidade;
▪ As identidades grupais substituem os interesses de classe
como principal incentivo para a mobilização política;
▪ A dominação cultural passa a ser tomada como a injustiça
fundamental;
▪ Os movimentos sociais deixam de olhar para o aspecto social e
material da dominação e da subordinação e a exaltar a
injustiça cultural como uma injustiça importante. Com isso,
esquecem o capitalismo e a luta pelo fim da desigualdade
social.
• O problema da igualdade vai perdendo força para dar lugar ao
reconhecimento das diferenças.
• Paradoxalmente, o capitalismo se torna mais agressivo, e
ocorre uma ampliação da desigualdade econômica.
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DA REDISTRIBUIÇÃO AO RECONHECIMENTO?
DILEMAS DA JUSTIÇA NUMA ERA “PÓS-SOCIALISTA”
Nancy Fraser

APRESENTAÇÃO DO TEXTO – 1º Parágrafo:


A “luta por reconhecimento” está rapidamente se tornando a forma paradigmática de conflito
político no final do século XX. Demandas por “reconhecimento da diferença” dão combustível
às lutas de grupos mobilizados sob as bandeiras da nacionalidade, etnicidade, “raça”, gênero e
sexualidade. Nestes conflitos “pós-socialistas”, a identidade de grupo suplanta o interesse de
classe como o meio principal da mobilização política. A dominação cultural suplanta a
exploração como a injustiça fundamental. E o reconhecimento cultural toma o lugar da
redistribuição socioeconômica como remédio para a injustiça e objetivo da luta política.
(FRASER, 2006: p. 231).
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Em que contexto ocorrem as lutas por


reconhecimento?
Num contexto de muita desigualdade
material:

➢ desigualdades de renda e propriedade;


➢ de acesso a trabalho remunerado,
educação, saúde e lazer;
➢ de ingestão calórica;
➢ de exposição à contaminação ambiental;
➢ de expectativa de vida e de taxas de
morbidade e mortalidade.

*A desigualdade material está em alta na maioria


dos países do mundo e tem aumentando de
modo global.
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Fraser defende que nenhuma das posições é adequada e que temos pela frente uma importante tarefa
intelectual e prática:
“(...) a de desenvolver uma teoria crítica do reconhecimento, que identifique e assuma a defesa
somente daquelas versões da política cultural da diferença que possam ser combinadas
coerentemente com a política social da igualdade” (p. 231).
De acordo com a pensadora, a JUSTIÇA exige tanto REDISTRIBUIÇÃO quanto RECONHECIMENTO.
Examinar a relação entre ambos, significa:
➢ Pensar que reconhecimento cultural e igualdade social devem sustentar um ao outro;
➢ Teorizar sobre os meios pelos quais privação econômica e desrespeito cultural se entrelaçam e se
sustentam simultaneamente;
➢ Também precisamos resolver os problemas políticos decorrentes do combate às duas injustiças
simultaneamente.
“Meu objetivo maior é ligar duas problemáticas políticas atualmente dissociadas; pois é somente
integrando reconhecimento e redistribuição que chegaremos a um quadro conceitual adequado às
demandas de nossa era” (p. 231-2).
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INJUSTIÇA
INJUSTIÇA CULTURAL:
INJUSTIÇA ECONÔMICA:
A injustiça cultural – é simbólica e não
Está enraizada na estrutura político- material – “se enraíza nos padrões sociais de
econômica da sociedade e leva, por exemplo: representação, interpretação e comunicação”.
▪ à exploração do trabalho, Seus exemplos se manifestam:
▪ à marginalização econômica, ▪ na dominação cultural,
▪ à privação de um padrão material adequado ▪ no não reconhecimento (ocultamento),
de vida.
▪ no desrespeito.

p. 232
ESSAS DUAS FORMAS DE INJUSTIÇA (CULTURAL E ECONÔMICA) SE REFORÇAM!
Essas duas formas de injustiça (cultural e econômica) se reforçam!
A injustiça econômica, enraizada na estrutura
político-econômica da sociedade, leva, por exemplo,
à exploração do trabalho, à marginalização
econômica e à privação de um padrão material
adequado de vida. Em geral, as mulheres
desempenham funções menosprezadas, são mal
remuneradas e quando ocupam os mesmos
postos de trabalho que os homens, os seus
salários ainda são inferiores.

Fraser, Nancy. “Da redistribuição ao reconhecimento?


Dilemas da justiça na era pós-socialista”.
Em linhas gerais a tese é a seguinte:
A injustiça contra a mulher é econômica
(material) e cultural (simbólica), sendo que
ambas estão imbricadas, reforçando-se
mutuamente.

Como as feministas podem lutar ao mesmo tempo para abolir a diferenciação de


gênero e para valorizar a especificidade de gênero?
Na medida em que as injustiças contra as mulheres são de dois tipos analiticamente
distintos, elas precisam de, no mínimo, dois tipos de remédios analiticamente distintos:

REDISTRIBUIÇÃO RECONHECIMENTO
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Remédio para a injustiça Remédio para a injustiça


econômica cultural

→ a reestruturação político-econômica ou → a mudança cultural ou simbólica ou


REDISTRIBUIÇÃO RECONHECIMENTO
Possibilidades de redistribuição: Possibilidades de reconhecimento:
▪ redistribuição de renda; ▪ revalorização das identidades desrespeitadas
e dos produtos culturais dos grupos
▪ reorganização da divisão do trabalho;
X difamados;
▪ controles democráticos do investimento
▪ reconhecimento e valorização positiva da
ou a transformação de outras estruturas
diversidade cultural;
econômicas básicas.
▪ transformação abrangente dos padrões
sociais de representação, interpretação e
comunicação, de modo a transformar o
sentido do eu de todas as pessoas.
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Questões:
❑ Qual é a relação entre lutas por reconhecimento, voltadas para remediar a injustiça cultural, e
lutas por redistribuição, voltadas para compensar a injustiça econômica?
❑ Que espécie de interferências mútuas podem brotar quando os dois tipos de reivindicação são
feitos simultaneamente?
p. 232-233
Razões para se preocupar com essas interferências mútuas:
Lutas de reconhecimento assumem com Lutas de redistribuição buscam com freqüência
freqüência a forma de chamar a atenção para a abolir os arranjos econômicos que embasam a
presumida especificidade de algum grupo e de especificidade do grupo (um exemplo seriam as
afirmar seu valor. demandas feministas para abolir a divisão do trabalho
➢ Tendem a promover a diferenciação do segundo o gênero).
grupo. ➢ Tendem a promover a desdiferenciação do grupo.

Problema: a política do reconhecimento e a ▪ a primeira tende a promover a diferenciação do grupo;


política da redistribuição parecem ter com ▪ a segunda tende a desestabilizá-la;
freqüência objetivos mutuamente ▪ os dois tipos de luta estão em tensão;
contraditórios. ▪ um pode interferir no outro, ou mesmo agir contra o outro.
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Dilema da redistribuição-reconhecimento:
Pessoas sujeitas à injustiça cultural e à injustiça econômica necessitam de reconhecimento
e redistribuição. Necessitam de ambos para reivindicar e negar sua especificidade. Como
isso é possível?

Quando lidamos com coletividades que se Quando lidamos com coletividades que se
aproximam do tipo ideal da classe aproximam do tipo ideal da sexualidade
trabalhadora explorada, encaramos desprezada, encaramos injustiças de
injustiças distributivas que precisam de discriminação negativa que precisam de
remédios redistributivos. remédios de reconhecimento.

❑ a lógica do remédio é acabar com ❑ no segundo caso trata-se de valorizar o


esse negócio de grupo. “sentido de grupo” do grupo, reconhecendo
p. 233 sua especificidade.
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Tipos híbridos ou coletividades bivalentes = combinam características
da classe explorada com características da sexualidade desprezada.
Coletividades “bivalentes”: Exemplos de coletividades
↓ bivalentes:
GÊNERO E RAÇA
▪ diferenciadas como coletividades tanto em virtude da estrutura
econômico-política quanto da estrutura cultural-valorativa da
sociedade;
▪ oprimidas ou subordinadas, sofrem injustiças que remontam
simultaneamente à economia política e à cultura;
▪ podem sofrer da má distribuição socioeconômica e da desconsideração
cultural de forma que nenhuma dessas injustiças seja um efeito
indireto da outra, mas ambas primárias e co-originais.

Nesse caso, nem os remédios de redistribuição nem os de
reconhecimento, por si sós, são suficientes.
Coletividades bivalentes necessitam dos dois.
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GÊNERO E RAÇA
Embora cada qual tenha peculiaridades não Resultado:
compartilhadas pela outra, ambas abarcam dimensões • a injustiça de gênero aparece como uma
econômicas e dimensões cultural-valorativas → implicam espécie de injustiça distributiva que
tanto redistribuição quanto reconhecimento clama por compensações
GÊNERO = tem dimensões econômico-políticas porque é redistributivas;
um princípio estruturante básico da economia política • exige a transformação da economia
▪ Por um lado, o gênero estrutura a divisão fundamental política para que se elimine a
entre trabalho “produtivo” remunerado e trabalho estruturação de gênero desta;
“reprodutivo” e doméstico não-remunerado, atribuindo • para eliminar a exploração,
às mulheres a responsabilidade primordial por este marginalização e privação
último. especificamente marcadas pelo gênero
▪ Por outro lado, o gênero também estrutura a divisão é preciso abolir a divisão do trabalho
interna ao trabalho remunerado entre as ocupações segundo ele – a divisão de gênero entre
profissionais e manufatureiras de remuneração mais alta, trabalho remunerado e não-remunerado
em que predominam os homens, e ocupações de e dentro do trabalho remunerado.
“colarinho rosa” e de serviços domésticos, de baixa
remuneração, em que predominam as mulheres. p. 233-234
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Desvalorização = se expressa numa variedade de danos


GÊNERO: sofridos pelas mulheres e que incluem:
▪ não se trata apenas de uma diferenciação • a violência e a exploração sexual, a violência doméstica
econômico-política; generalizada;
▪ também se trata de uma diferenciação de • as representações banalizantes, objetificadoras e
valoração cultural; humilhantes na mídia;
• o assédio e a desqualificação em todas as esferas da vida
▪ abarca elementos que se assemelham mais à
cotidiana;
sexualidade do que à classe, e isso permite • a sujeição às normas androcêntricas, que fazem com que as
enquadrá-lo na problemática do mulheres pareçam inferiores ou desviantes e que
reconhecimento. contribuem para mantê-las em desvantagem, mesmo na
Características centrais da injustiça de gênero: ausência de qualquer intenção de discriminar;
▪ ANDROCENTRISMO: a construção • a discriminação atitudinal (relacionado a conhecimento e a
autorizada de normas que privilegiam os comportamento);
traços associados à masculinidade • a exclusão ou marginalização das esferas públicas e
centros de decisão;
▪ SEXISMO CULTURAL: a desqualificação
• a negação de direitos legais plenos e proteções igualitárias.
generalizada das coisas codificadas como
“femininas”
INJUSTIÇAS DE RECONHECIMENTO
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GÊNERO = um modo bivalente de coletividade:


• contém uma face de economia política, que o insere no âmbito da redistribuição;
• também uma face cultural-valorativa, que o insere no âmbito do reconhecimento.

as duas faces se entrelaçam as normas culturais sexistas e androcêntricas estão


e se reforçam dialeticamente institucionalizadas no Estado e na economia e a desvantagem
econômica das mulheres restringe a “voz” das mulheres,
Resultado = subordinação impedindo a participação igualitária na formação da cultura,
cultural e econômica nas esferas públicas e na vida cotidiana.

O caráter bivalente do gênero é a fonte de um dilema. Uma vez que as mulheres sofrem, no mínimo, de
dois tipos de injustiça analiticamente distintos, elas necessariamente precisam, no mínimo, de dois
tipos de remédios analiticamente distintos: redistribuição e reconhecimento (ambos pendem para
direções opostas)
Questão (ligada ao dilema redistribuição-reconhecimento): Como as feministas podem lutar ao mesmo
tempo para abolir a diferenciação de gênero e para valorizar a especificidade de gênero?

p. 234-235
Gênero bidimensional:
“A análise que eu proponho requer que se enxergue gênero
de uma forma bifocal, através do uso simultâneo de duas
lentes. Através da visão de uma das lentes, gênero tem
afinidade com classe; e através da visão da outra lente, é
mais ligado a status. Cada uma dessas lentes coloca em
foco um aspecto importante da subordinação da mulher,
porém, nenhum delas sozinha é suficiente. Uma complexão
plena só se torna possível quando as duas lentes estão em
superposição. Nesse ponto, gênero aparece como um eixo
de categoria que alcança duas dimensões do ordenamento
social: a dimensão da distribuição e a dimensão do
reconhecimento”.
Cf. “Política feministas na era do reconhecimento: uma abordagem
bidimensional da justiça de gênero”. In: Gênero, democracia e sociedade
brasileira. Bruschini, C. & Unbehaum. S. (Orgs). São Paulo: Editora 34, 2007.,
p. 64.
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INJUSTIÇA RACIAL
RAÇA: ➢ Tem dimensões econômico-políticas:
Também se trata de um modo de Aparece como uma espécie de injustiça redistributiva,
COLETIVIDADE BIVALENTE: que clama por remédios redistributivos.
▪ No que diz respeito à categoria classe Nesse caso, é preciso abolir a divisão racial do trabalho,
social, o elemento “raça” estrutura a que inclui a exploração, marginalização e privação
especificamente marcadas pela “raça”.
divisão capitalista do trabalho;
➢ Tem dimensões culturais valorativas:
▪ estrutura a divisão das categorias
▪ EUROCENTRISMO = “construção autorizada de
dentro do trabalho remunerado, normas que privilegiam os traços associados com o
constituindo um legado histórico do ‘ser branco’”, o que constitui um aspecto central do
colonialismo e da escravidão; racismo.
▪ Tratado como superfluo e excluído do ▪ RACISMO CULTURAL = envolve a “desqualificação
sistema produtivo. generalizada das coisas codificadas como ‘negras’,
‘pardas’, ‘amarelas’ paradigmaticamente”.
Envolve a injustiça no reconhecimento.
O remédio para essa injustiça envolve o reconhecimento
positivo ao grupo desvalorizado.
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AFIRMAÇÃO X TRANSFORMAÇÃO
(remédios afirmativos X remédios transformativos)

INJUSTIÇA CULTURAL:

REMÉDIOS AFIRMATIVOS: REMÉDIOS TRANSFORMATIVOS:


➢ Compensar o desrespeito por meio da ➢ Compensar o desrespeito através da
revalorização das identidades culturais X transformação da estrutura cultural-
injustamente desvalorizadas valorativa subjacente p. 237

INJUSTIÇA ECONÔMICA:

REMÉDIOS AFIRMATIVOS: REMÉDIOS TRANSFORMATIVOS:


➢ Compensar a má distribuição terminal, ➢ Compensar a distribuição injusta,
deixando intacta a estrutura socioeconômica X transformando a estrutura socioeconômica
subjacente (associados ao estado de bem existente (associados ao socialismo) p. 237-8
estar)
Reducionismo de “gênero”:

A crítica feminista não pode se restringir


à subordinação de gênero, mas deve
estar atenta à “intersecção dos múltiplos
eixos de subordinação”: classe, raça,
sexualidade, etnicidade, nacionalidade e
religião.
Concepção de justiça
bidimensional:

Deverá englobar:
• As preocupações tradicionais das teorias da
justiça distributiva, especialmente a pobreza,
a exploração, a desigualdade e os diferenciais
de classe;
• As preocupações com o reconhecimento
falso, o desrespeito, o imperialismo cultural e
a hierarquia de status. Ou seja, trata-se de
uma concepção bidimensional de justiça.
“O remédio para a injustiça econômica é algum tipo
de reestruturação político-econômica” (por exemplo,
distribuição de renda, reorganização da divisão do
A injustiça econômica, enraizada na estrutura político-
trabalho, etc.), ao passo que o remédio para a
econômica da sociedade, leva, por exemplo, à exploração
injustiça cultural “é algum tipo de mudança cultural
do trabalho, à marginalização econômica e à privação de
ou simbólica”.um padrão material adequado de vida. Em geral, as
Fraser, Nancy. “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da
mulheres desempenham funções menosprezadas,
justiça na era pós-socialista”. são mal
remuneradas e quando ocupam os mesmos postos de
trabalho que os homens, os seus salários ainda são
inferiores.
Fraser, Nancy. “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça na era pós-socialista”. P. 232
Revisão do conceito de justiça:

Precisamos de um conceito de justiça:

• que seja capaz de englobar igualmente redistribuição e


reconhecimento.
• que seja ciente do cruzamento de todos os eixos
principais de diferenciação social e subordinação: não
apenas de gênero, mas também de raça, etnicidade,
sexualidade, religião e nacionalidade.
O Manifesto apresenta essa abordagem “interseccional”.

O feminismo para os 99% proposto no Manifesto é


anticapitalista, antirracista, anti-imperialista, antilgbtfobia,
etc.
“O feminismo para os 99% não opera isolado de
outros movimentos de resistência e rebelião. Não nos
isolamos de batalhas contra a mudança climática ou
QUAL É A a exploração no local de trabalho; não somos
indiferentes às lutas contra o racismo institucional e a
PROPOSTA? expropriação. Essas lutas são nossas lutas, parte
integrante do desmantelamento do capitalismo, sem
as quais não pode haver o fim da opressão sexual e
A união das de gênero. A conclusão é clara: o feminismo para os
99% deve unir forças com outros movimentos
lutas! anticapitalistas mundo afora – com movimentos
ambientalista, antirracista, anti-imperialista e LGBTQ+ e
com sindicatos. Devemos nos aliar, acima de tudo, com
as correntes anticapitalistas de esquerda desses
movimentos que também defendem os 99%” (Tese 11
do Manifesto, p.93).
Entrevista para Nadia JunqueiraRibeiro (Le Monde Diplomatique):
Em seu livro “Capitalismo em debate: uma conversa com a teoria crítica”, você e Jaeggi endereçam uma
importante mudança nos debates acadêmicos e no foco das lutas contemporâneas que parecem, cada vez
mais, retomar o capitalismo como objeto principal da crítica. Na sua visão, o que provocou essa mudança?
Como você a avalia?

A sociedade capitalista foi, por 150 anos, a principal categoria para a teoria crítica, desde, pelo menos, Marx,
passando pela Escola de Frankfurt, e por aí vai. Isso foi muito formativo para mim, uma pessoa de 1968, para
minha geração. Então, para nós, não tinha como não dizer essa palavra quando você precisava de algum
conceito para dar nome à totalidade social, que emergia com suas várias formas de injustiça e
características desestabilizantes. Mas essa palavra meio que desapareceu do foco da teoria crítica e do
senso comum por algumas décadas, desde 1990, vamos dizer. De repente, ela voltou. Nosso livro é uma
tentativa, de um lado, endossar esse retorno da questão do capitalismo, de dizer que é uma coisa boa, que é,
de fato, a categoria a ser usada, mas também queremos dizer, ok, não é suficiente apenas trazer essa palavra
de volta. Nós realmente precisamos ter uma concepção analítica do que estamos falando.

FONTE: Nancy Fraser: “O neoliberalismo não se legitima mais” (diplomatique.org.br)


Por que ele voltou? Eu acredito que ele voltou pela simples razão de que
há uma espécie de conversão óbvia de uma crise severa e de dificuldades
na ordem social. Quando falamos do colapso financeiro em 2007 e 2008,
ou das mudanças climáticas, da crise ecológica, da crise da democracia,
da ascensão de novas formas de autoritarismo e populismo reacionário,
há um sentimento generalizado de que estamos em um momento no qual
o sistema em si está em crise. Ou seja, não é suficiente apenas fazer um
compilado dos diferentes males que queremos tentar corrigir. Há uma
intuição amplamente compartilhada de que esses males não são
acidentais, eles têm raízes profundas na ordem social e a ordem social é
problemática, nesse momento.

FONTE: ANPOF - “O neoliberalismo não se legitima mais. As pessoas querem a proteção do Estado” - entrevista

com Nancy Fraser


Nancy Fraser e o feminismo socialista | Yara Frateschi - YouTube
• Nancy Fraser é uma teórica
feminista socialista.
•Há afinidade entre o liberalismo e
o feminismo? E entre
neoliberalismo e feminismo, há
alguma afinidade?
• A autora defende que o
capitalismo cooptou as políticas de
gênero / a agenda neoliberal
instrumentalizou as bandeiras da
Segunda Onda do Feminismo.

Sobre as Ondas do Feminismo:


https://www.blogs.unicamp.br/mulh
eresnafilosofia/ondas-do-feminismo/
Link:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/1394/fraser.pdf?sequence=1
PRIMEIRA ONDA:

• luta pelo sufrágio;


• acesso aos direitos civis
básicos;
SEGUNDA ONDA

• a crítica feminista da sociedade e a


ideia de opressão.
• ideia geral: libertar-se da opressão.
• pautas comuns à maioria: a luta contra a exploração,
a violência física e psicológica, o feminicídio, a
TERCEIRA ONDA discriminação no trabalho, as jornadas duplas ou
triplas, os privilégios masculinos.
Voltar o olhar para a segunda onda do feminismo:

• → analisar a segunda onda do feminismo no seu


conjunto, como um fenômeno social que marcou
uma época;

• → avaliação geral da trajetória e da importância


histórica do movimento (olhar para trás para olhar
para o futuro);

• → lançar luz sobre os desafios que enfrentamos


hoje – em uma época de forte crise econômica,
incerteza social e realinhamento político.
Significado geral da segunda onda do feminismo:

Relato gira em torno de três pontos sucessivos, cada um dos


quais situa a segunda onda do feminismo em relação a um
momento específico da história do capitalismo:

1) O primeiro ponto se refere aos primórdios do movimento


no contexto que denominarei “capitalismo organizado pelo
Estado”.
2) O segundo ponto se refere ao processo da evolução do
feminismo no contexto social drasticamente mudado do
crescente neoliberalismo.
3) O terceiro ponto faz referência a uma possível reorientação
do feminismo no atual contexto de crise capitalista e
realinhamento político estadunidense, que poderia marcar
os primórdios do neoliberalismo a uma nova forma de
organização social.
Proposta geral
Fraser propõe três etapas de investigação:
➢ situar a trajetória da segunda onda
feminista em relação à recente história do • 1ª) crítica feminista ao capitalismo
androcêntrico organizado pelo Estado em
capitalismo.
relação à integração com as três perspectivas
Perspectiva de Fraser sobre justiça (redistribuição, reconhecimento e
representação);
❑ recuperar a teorização feminista socialista
para buscar as melhores perspectivas de • 2ª) trata da desintegração desta constelação e
justiça de gênero na atualidade; o recrutamento seletivo de algumas de suas
tendências para legitimar o capitalismo
❑ integrar o melhor das recentes teorias
neoliberal;
feministas com o melhor das recentes
teorias críticas do capitalismo. • 3ª) necessidade de recuperar a promessa
“A segunda onda do feminismo tem provocado uma emancipatória do feminismo no presente
notável revolução cultural, mas a vasta mudança nas momento de crise econômica e abertura
mentalités (contudo) não tem se transformado em política.
mudança estrutural, institucional” (FRASER)
O feminismo e o capitalismo
organizado pelo Estado
• ECONOMICISMO
• ANDROCENTRISMO
• ESTATISMO
• WESTFALIANISMO

❖ SEGUNDA ONDA DO FEMINISMO:


• contra o economicismo;
• contra o androcentrismo;
• contra o estatismo;
• contra e a favor do Westfalianismo.
O feminismo e o “novo espírito do capitalismo”
O surgimento da segunda onda do feminismo Neoliberalismo e Segunda Onda do
coincidiu com uma mudança histórica no caráter do Feminismo:
capitalismo: da variante organizada pelo Estado para
o neoliberalismo. ▪ prosperaram em conjunto;
Neoliberalismo = invertendo a fórmula anterior
• movimento contracultural de massas:
(que buscava “usar a política para domesticar
mercados”), os proponentes desta nova forma de atrai partidários de todas as classes,
capitalismo propuseram usar mercados para etnias, nacionalidades e ideologias
domesticar a política: políticas
❑ privatizações; ▪ neoliberalismo e ressignificação dos
❑ redução de impostos + individualização ideais feministas
(“responsabilização pessoal”);
❑ Estado mínimo.
Neoliberalismo:
Na medida em que os serviços sociais públicos minguam ou
desaparecemA –injustiça
em nomeeconômica, enraizada
da “austeridade” na estrutura
- a situação das político-
mulheres seeconômica
torna aindada
mais precária leva,
sociedade, e tão por
pior exemplo,
quanto mais
à exploração
pobre for esta
domulher.
trabalho, à marginalização econômica e à privação de
um padrão material adequado de vida. Em geral, as
mulheres desempenham funções menosprezadas, são mal
remuneradas e quando ocupam os mesmos postos de
trabalho que os homens, os seus salários ainda são
inferiores.
Fraser, Nancy. “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça na era pós-socialista”. P. 232
Crises do Capitalismo
Neoliberal
CONTRADIÇÃO
ECOLÓGICA:

O capitalismo trata a natureza como uma


fonte inesgotável de recursos, dos quais se
apropria gratuitamente e sem preocupação
com a reposição.
Contradição: destrói os habitats e os
ecossistemas dos quais dependem as
comunidades e a própria existência da vida.
CONTRADIÇÃO
POLÍTICA:
Há uma tendência explicita do capitalismo em limitar
o campo da política (ou manejá-lo a seu favor).
Se utiliza das instituições estatais (públicas) em favor
do mercado e de poucas famílias que o dominam
(inclusive através de golpes).
Contradição: o capitalismo destrói a política, mas se
utiliza das instituições políticas em seu favor.
CRISE DA
REPRODUÇÃO SOCIAL:
Afeta especialmente as mulheres: se dá mediante
um tipo de trabalho que o capitalismo
absolutamente não valoriza e esconde, mas do qual
depende para sobreviver.
Diz respeito às atividades relacionadas a dar a luz,
criar as crianças, cuidar das crianças e dos jovens; ou
seja, a todas as atividades ligadas à produção,
manutenção, criação de seres humanos.
Contradição: tensão do lucro e a reprodução das
pessoas.
REPRODUÇÃO SOCIAL
E NEOLIBERALISMO:
• Capitalismo neoliberal – retira todo e
qualquer amparo público e estatal à
reprodução de pessoas, levando ao
esgotamento das “nossas capacidades
individuais e coletivas para reconstituir os
seres humanos e para sustentar os laços
sociais” (Manifesto, p. 111).
• Modelo de família com dois salários
(pretensamente emancipatório)= não tem
sido libertador para as mulheres que, em
sua ampla maioria, sofrem exploração
reforçada.
Quem extrai algum ganho emancipatório do
regime laboral no neoliberalismo são as
pouquíssimas mulheres da alta elite, ainda
assim sempre em desvantagem em relação
aos homens (no Brasil, as mulheres
recebem remuneração inferior em todas as
profissões). A ampla maioria, entretanto,
sofre com trabalho precário e mal
remunerado e, cada vez mais intensamente,
com jornadas extensas e múltiplos
empregos que reduzem de maneira muito
significativa o nosso tempo para cuidar de
nós mesmas, das nossas famílias, das
nossas comunidades (Manifesto, p. 113).
• O Manifesto aponta para a crítica para o feminismo
liberal, já que ele não oferece alternativa ao capitalismo
(Manifesto, p. 28).
• Constata que nenhum tipo de feminismo liberal é capaz
de oferecer uma alternativa a essa forma extremamente
predatória decapitalismo.

FEMINISMO LIBERAL:
Crítica ao • Cede ao individualismo e ao elitismo, afastando-se
sempre e cada vez mais das lutas que visam a maioria.
liberalismo • Se contenta com a luta por direitos.
• Não garante as condições materiais e sociais.
• Aposta na justiça criminal para o combate à violência
de gênero;
• Concepção de mulher universal, que desvincula o
gênero da raça.
Feminismo para os 99%: precisa ser anticapitalista, na
medida em que contesta toda a forma de enfrentamento da
questão de gênero, sobretudo enfrentando o problema da
reprodução social, que afeta a ampla maioria das pessoas.
Feminismo que, sem descuidar das
outras formas de subordinação
simbólicas de identidade e culturais,
priorize olhar para o problema da
FEMINISMO reprodução social.
A crise da reprodução social afeta a
ANTICAPITALISTA sociedade como um todo (talvez deixe
de fora aquele 1%), com um efeito
devastador sobre os laços sociais, sobre
o tecido social e sobre os modos de
relacionamento.

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