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Sociologia

Estrutura e Estratificação Social II


O filósofo Axel Honneth foi um dos tantos pensadores a apontar novos movimentos políticos que emergiram no
século XX: as chamadas lutas por reconhecimento. Diferente do movimento plural de trabalhadores, por exemplo, a luta
por reconhecimento não gira em torno de redistribuição de bens e riqueza, mas no apagamento de determinadas
identidades. Gênero e raça, por exemplo, foram marcadores que levaram à marginalização de diversos sujeitos no mundo
e à invisibilidade de suas demandas. Essas marcas identitárias foram elaboradas como forma de sustentar ou justificar
hierarquias sociais, dando origem a conceitos complexos de racialidade, de feminilidade e masculinidade e até mesmo de
heteronormatividade que passaram a ser questionados pelos movimentos sociais negro, feminista e LGBTTQI+.

Movimento negro
O movimento negro no Brasil teve início ainda com os grupos abolicionistas no século XIX, mas costuma ser
pensado apenas a partir do século XX quando esses grupos foram institucionalizados e articulados de forma mais ampla.
Nesse sentido, um marco de emergência do movimento foi a criação da Frente Negra Brasileira (FNB) em 1931.
Protestavam contra a discriminação racial, denunciando a permanência do racismo no Brasil. Foram marcados por um
caráter nacionalista e anti-imperialista e por uma tentativa breve de fundar um partido político de mesmo nome – o
partido teve uma existência curta graças à ditadura do Estado Novo de 1937.

Nos anos 70 outros movimentos sugiram no Brasil, em partes como uma resposta à perseguição da ditadura
militar sobre a população negra, em partes influenciados pelo movimento negro de Direitos Civis nos Estados Unidos sob
liderança de Martin Luther King e Malcom-X. Em 1978, por exemplo, foi fundado o Movimento Negro Unificado (MNU)
que não apenas denunciava o racismo, mas também propunha políticas efetivas a favor da população negra. Graças a essa
luta, a Constituição de 1988 instituiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível – embora, na prática, casos de
racismo são pouco condenados.

Movimento feminista
Os movimentos feministas são pensados a partir de três grandes ondas de desenvolvimento. A primeira, no
século XIX, foi marcada pela luta sufragista sobretudo na Europa e nos EUA, expandindo-se para outras regiões no início
do século XX. Na ocasião, as mulheres lutavam pelo direito de participação política com o sufrágio universal e pelo acesso
ao ensino formal. Esses movimentos foram encabeçados, muitas vezes, por mulheres brancas de classes médias, o que
gerou o apagamento das especificidades de mulheres negras, indígenas e trabalhadoras.

A segunda onda do feminismo começou entre os anos 60 e os anos 80 com uma ampliação das pautas
reivindicadas pelas mulheres. Uma vez conquistado o sufrágio e o direito ao ensino formal, começaram a lutar pela
igualdade plena de gênero, pela liberdade sobre o próprio corpo e a liberdade sexual, nesse caso incluindo as demandas
de mulheres lésbicas que não encontravam espaço no movimento gay. Foi durante esse período que o feminismo negro e
o feminismo marxista ganharam maior fôlego, apontando a necessidade de atender a demandas de mulheres não-brancas
e proletárias.

A terceira onda do movimento teve início nos anos 90, marcada pela pluralização dos feminismos. Diversas
correntes foram formadas, incluindo novas perspectivas como o feminismo transativista (para inclusão de mulheres
transexuais ou travestis) e o mulherismo (a busca por uma epistemologia propriamente africana sobre a condição das
mulheres no mundo). Foi um contexto de ruptura com os binarismos e com a ocidentalização dos movimentos sociais,
propondo olhares múltiplos para as diferentes identidades de mulheres no mundo.

No Brasil, o movimento feminista conseguiu avanços importantes como o direito ao voto em 1932, a lei Maria da Penha
em 2006 contra a violência de gênero e o enquadramento de feminicídio para assassinatos cometidos pela condição de
gênero das mulheres.

EXERCÍCIOS
1. (ENEM) A masculinidade, assim como a feminilidade, é uma construção histórica e cultural. Em nossa cultura, a dança
caracteriza-se, no sentido geral, como um universo predominantemente feminino. Homens que dançam são geralmente
considerados homossexuais, por não se enquadrarem dentro das normas culturais hegemônicas de gênero e sexualidade.
Por outro lado, demonstram a não existência de um único tipo de masculinidade, enfatizando que as identidades
humanas são múltiplas e plurais. No contexto da dança, as representações hegemônicas de gênero e as regulações sociais
que essas impõem não se manifestam de forma igual em todas as modalidades de dança. Persiste essa forte
representação cultural ocidental que associa o balé à feminilidade e à homossexualidade. Em outras danças, ela não se
revela tão forte, e os homens não aparecem em menor número, como nas tradicionais danças folclóricas ou no moderno
hip hop.
ANDREOLI, G. S. Representações de masculinidade na dança contemporânea. Movimento, n. 1, 2011 (adaptado).
No que tange à identidade de gênero masculina, a dança e suas modalidades expressam o(a)
(A) padronização da inserção dos homens nessas manifestações corporais.
(B) identificação de como essas práticas regulam uma única masculinidade.
(C) reconhecimento das diferentes masculinidades
(D) contestação das normas sociais pelo balé.
(E) reforço de uma feminilidade hegemônica.

2. (ENEM) O Movimento Negro Unificado (MNU) distingue-se do Teatro Experimental do Negro (TEN) por sua crítica ao
discurso nacional hegemônico. Isto é, enquanto o TEN defende a plena integração simbólica dos negros na identidade
nacional “híbrida”, o MNU condena qualquer tipo de assimilação, fazendo do combate à ideologia da democracia racial
uma das suas principais bandeiras de luta, visto que, aos olhos desse movimento, a igualdade formal assegurada pela lei
entre negros e brancos e a difusão do mito de que a sociedade brasileira não é racista teriam servido para sustentar,
ideologicamente, a opressão racial.
COSTA. S. Dois Atlânticos: teoria social antirracismo, cosmopolitismo. Belo Horizonte: UFMG, 2006 (adaptado)
No texto, são comparadas duas organizações do movimento negro brasileiro, criadas em diferentes contextos históricos:
o TEN, em 1944, e o MNU, em 1978. Ao assumir uma postura divergente da do TEN, o MNU pretendia

(A) Pressionar o governo brasileiro a decretar a igualdade racial.


(B) Denunciar a permanência do racismo nas relações sociais.
(C) Contestar a necessidade da igualdade entre negros e brancos.
(D) Defender a assimilação do negro por meios não democráticos.
(E) Divulgar a ideia da miscigenação como marca da nacionalidade.
3. (ENEM PPL) TEXTO I
Frantz Fanon publicou pela primeira vez, em 1952, seu estudo sobre colonialismo e racismo, Pele negra, máscaras
brancas. Ao dizer que “para o negro, há somente um destino” e que esse destino é branco, Fanon revelou que as
aspirações de muitos povos colonizados foram formadas pelo pensamento colonial predominante.
BUCKINGHAM, W. et al. O livro da filosofia. São Paulo: Globo, 2011 (adaptado).
TEXTO II
Mesmo que não queiramos cobrar desses estabelecimentos (salões de beleza) uma eficácia política nos moldes
tradicionais da militância, uma vez que são estabelecimentos comerciais e não entidades do movimento negro, o fato é
que, ao se autodenominarem “étnicos” e se apregoarem como divulgadores de uma autoimagem positiva do negro em
uma sociedade racista, os salões se colocam no cerne de uma luta política e ideológica.
GOMES, N. Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Disponível em: www.rizoma.ufsc.br. Acesso em: 13 fev.
2013.
Os textos apresentam uma mudança relevante na constituição identitária frente à discriminação racial. No Brasil, o
desdobramento dessa mudança revela o(a)

(A) valorização de traços culturais.


(B) utilização de resistência violenta
(C) fortalecimento da organização partidária.
(D) enfraquecimento dos vínculos comunitários.
(E) aceitação de estruturas de submissão social.

4. (ENEM) Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a
fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o
macho e o castrado que qualificam o feminino.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como
marca o (a)

(A) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.


(B) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.
(C) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.
(D) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.
(E) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.
5. (ENEM)

PEDERNEIRAS, R. Revista da Semana, ano 35, n. 40, 15 set. 1934. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através das caricaturas (1840-2001). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras e Expressões, 2001.

Na imagem da década de 1930, há uma crítica à conquista de um direito pelas mulheres, relacionado com a
(A) redivisão do trabalho doméstico.
(B) liberdade de orientação sexual.
(C) garantia da equiparação salarial.
(D) aprovação do direito ao divórcio.
(E) obtenção da participação eleitoral.

Gabarito

1. C
2. B
3. A
4. C
5. E

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