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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Paulo Roberto Souto Maior Júnior

A invenção do sair do armário gay no Brasil:


Jornais, revistas e os discursos da visibilidade da
homossexualidade no Brasil (1985-2000)

Projeto de tese de doutorado apresentado


à linha de pesquisa Relações de Poder e
Subjetividades do Programa de Pós-
graduação em História da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).

Florianópolis, 2014

1
I. Introdução e justificativa

O fim do regime militar no Brasil foi marcado, entre outros aspectos, pela luta da
sociedade civil organizada em busca dos direitos políticos que lhes foram sendo
subtraídos a partir de 1964.
O ano de1979 pode ser considerado um ponto de inflexão dessa luta em virtude da
aprovação da Lei da Anistia, a qual permitiu o retorno de inúmeros exilados políticos
que, desde então, começaram a regressar ao país. Esse retorno foi significativo tendo em
vista que trouxeram consigo um conjunto de ideias e atitudes políticas apreendidas nos
diversos países onde viveram, em especial, Estados Unidos, França e Inglaterra. Nesses
países, os exilados puderam perceber um profundo processo de transformação
sociocultural nos costumes relacionados à sexualidade e, sobretudo, ao fortalecimento
dos movimentos de contestação em evidência, como o feminista, o dos negros e dos
gays.
Entre os muitos fatos que poderiam aqui ser citados estão o famoso Maio de 68 em
Paris e o Festival de Woodstock ocorrido em agosto de 1969 no Estado de Nova York,
Estados Unidos. A partir deste momento, a voz dos até então exilados veio unir-se à dos
movimentos civis organizados que lutavam para fazer avançar o processo de
democratização do país.
Um dos exemplos mais memoráveis do choque ocorrido com a volta dos exilados
foi protagonizado pelo jornalista Fernando Gabeira que ousou não apenas expor suas
ideias nos livros que lançou no Brasil – O que é isso companheiro? e Entradas e
bandeiras. Assim que pode retornar, causou polêmica ao aparecer com uma sunga de
tricô em plena praia de Ipanema, um dos locais mais badalados do país durante o verão
de 1980.
Depois de anos de intensa censura e de direitos políticos cassados, vários grupos
sociais procuram soltar a voz. Entre os quais se destacam o das feministas, negros e
homossexuais. Esses grupos organizavam seminários, promoviam debates, passeatas e
movimentavam-se de diversas formas. Uma das estratégias foi lançar pequenos jornais,
muitos deles caseiros.
Foi nesse clima de agitação civil que, em 1978, um grupo de intelectuais
homossexuais fundou um jornal chamado Lampião da Esquina (1978-1981).

2
No Brasil, o movimento homossexual também foi, de certo modo, tributário da
volta dos exilados, pois muitos dos fundadores do jornal Lampião haviam passado curto
ou longo período no exílio.
Para Edward McRae (1990) o movimento homossexual começou no Brasil
efetivamente em 1978. Nesse contexto, o jornal Lampião foi importante porque a partir
dele vários grupos de defesa dos homossexuais foram surgindo. Em 1981, quando o
jornal encerrou as suas atividades, os grupos deixaram de surgir e se enfraqueceram.
Nesse momento, atividades culturais como shows, teatro, filmes, todos muito
reprimidos durante o período militar, ganhavam as telas influenciados pela
popularização da televisão no começo dos anos 1980 (HERBERT S .KLEIN, 2007).
No fim da Ditadura Militar no Brasil, emergiu uma luta em torno da
redemocratização do país; esse período foi marcado por modificações na sociedade
civil1. Já em 1984, na campanha pelas Diretas Já, trabalhadores, estudantes, mulheres,
políticos, artistas, jornalistas, intelectuais e homossexuais saíram às ruas reclamando a
ausência da liberdade civil2. Este movimento, segundo a historiadora Lucília Delgado
(2007), se preocupou com a eleição direta para a presidência da república, além de
atentar para o descontentamento da população com o regime.
No fim dos anos 1970, as transformações exigidas pelos grupos minoritários
haviam alcançado certa projeção, o número de lares chefiados por mulheres já
aumentara; isso devido a mudanças significativas, como a instituição do divórcio, em
1977. As mudanças apontam para um avanço no que se refere à situação dos
movimentos feministas naquela época3, porém, o mesmo não pode ser dito em relação
aos homossexuais.
O avanço conquistado pelos homossexuais no debate público entre 1978-1981,
caracterizado pelo surgimento de jornais e grupos organizados4, recuou com a chegada
da Aids. Em 1982, foram constatados os dois primeiros casos de Aids no Brasil. Não
tardou muito, em 1983, morreu o primeiro artista brasileiro portador do vírus, o estilista
Marcus Vinícius Gonçalves, conhecido como Markito. A partir desse momento, as

1
Estamos dialogando com as formulações de CRUZ, Sebastião C. Velasco. O presente como História:
economia e política no Brasi, pós-64. Campinas: UNICAMP-IFCH;
2
Para mais informações consulte: DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Diretas-Já: vozes das cidades.
In.: FERREIRA, Jorge REIS, Daniel Aarão. Revolução e Democracia (1964-...). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2007
3
PEDRO, Joana Maria. Mulheres. In.:PINSKY, Jaime (org).O Brasil no contexto (1987-2007). São
Paulo: Contexto, 2007.
4
Um trabalho que sintetiza esse processo pode ser visto em MACRAE, Edward. A construção da
igualdade. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.

3
publicações homossexuais (pequenos jornais) e os grupos ativistas diminuíram
consideravelmente5, além disso, o número de vítimas aumentava. Em 1985, no eixo
Rio-São Paulo, onde os periódicos analisados eram produzidos, registrava-se um novo
caso por dia e quatro mortos por semana. Em outubro daquele ano morria, vítima da
Aids, o ator e símbolo sexual Rock Hudson.
Em meio a esse contexto, os homossexuais foram alvo de críticas severas
difundidas, sobretudo, pela mídia, que contribuía para que fossem vistos como os
“culpados” de disseminar a doença. Por outro lado, o aparecimento da Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida, a temida Aids, inicialmente batizada pela mídia como
câncer gay, de acordo com o escritor João Silvério Trevisan (2009), colocou a
população contra os homossexuais, inclusive os travestis6, sendo estes últimos as
maiores vítimas do preconceito. Apesar disso, é preciso reconhecer que,
paradoxalmente, ao tentar estigmatizar os gays, a grande imprensa acabou tocando em
um tema até então considerado indigno de ser abordado, a existência de um grupo de
seres humanos, em especial homens, que sentem atração por pessoas do mesmo sexo.
Em 1985, o Grupo Gay da Bahia (GGB), após firme militância, conseguiu a
retirada da homossexualidade definida enquanto doença do Código Médico. Juntamente
ao Triângulo Rosa, conhecido grupo carioca da segunda metade dos anos 1980,
conseguiram fazer com quea Assembleia Constituinte aprovasse e incluísse na
Constituição de 1988 a não discriminação por “opção sexual”. Essas conquistas foram
acompanhadas de uma campanha de afirmação da sexualidade que seguia o slogan “é
legal ser homossexual”.
Apesar da Aids, havia uma aceitação da homossexualidade em setores mais
jovens, que, além de dançarem “Não se reprima, não se reprima!”, do grupo Os
Menudos, investiam na leitura da coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense7,
dentre os títulos estava O que e homossexualidade?8.
O Triângulo Rosa, surgido em 1985, lutava, sobretudo, pela integração do
homossexual na sociedade. Com sede no Rio de Janeiro, o grupo promoveu reuniões,
encontros e produziu um jornal distribuído na cidade sede, em São Paulo e em outros
5
Ver: SIMÕES, Júlio e FACCHINI, Regina. Além do arco-íris: do movimento homossexual ao LGBT.
Rio de Janeiro: Fundação Perseu Abramo, 2008. PARKER, Richard. A construção da solidariedade. Rio
de Janeiro: Relume-Dumará: ABIA: IMS, UERJ, 1994.
6
TREVISAN, João Silvério. Devassos no Paraíso: A homossexualidade no Brasil, da colônia à
atualidade. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.438
77
CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da Rebeldia: A juventude em questão. São Paulo: Editora
SENAC São Paulo, 2001, p.141
8
FRY,Peter; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense, 1985.

4
estados. O grupo era comandando por João Antônio Mascarenhas, um dos editores do
jornal Lampião da Esquina9, detentor de um histórico nessas lutas.
O jornal do Triângulo Rosa escrito por João Antônio Mascarenhas, usado como
fonte neste projeto, trazia notícias sobre homossexualidade a nível nacional e
internacional, bem como defendia prerrogativas consideradas importantes pelo grupo.
Na edição de número 7, o boletim trouxe uma matéria reveladora, “Assumir-se? Por
quê?”, que retratou a preocupação dessas publicações em relação à visibilidade da
homossexualidade. Nele, se explica a relevância de aceitar a condição homossexual sem
escondê-la enumerando doze razões, dentre as quais destacamos três:

6º - dar, pelo nosso exemplo, apoio moral aos homossexuais desejosos


de assumirem-se, mas com receio de fazê-lo; infelizmente não raro
jovens se suicidam porque não suportam o estigma imposto pela
sociedade (...);
8º - sentir que estamos batalhando para a construção de um mundo
melhor, onde os direitos humanos e das minorias sejam respeitados,
pois o assumir se constitui um ato essencialmente político, através do
qual o indivíduo reconhece-se como integrante de um grupo oprimido,
primeiro e indispensável passo para lutar contra a opressão;
9º - maior auto-respeito pela ausência do sentimento de culpa10

Nesse trecho há um dos discursos que fundou a “publicização” da


homossexualidade no Brasil. O texto não apenas chama a atenção para a aceitação diz,
também, que é preciso e urgente aderir ao movimento. Ele foi escrito por João Antônio
Mascarenhas. Tal matéria já havia sido publicada no Lampião em junho de 1978, sendo
assim, já esteve presente em duas temporalidades, na década de 1970 e 1980,
aparecendo igualmente no jornal Nós Por exemplo em setembro de 1992.
Nós Por Exemplo (1991-1995) foi o primeiro jornal publicado após o período
difícil vivido pela homossexualidade em decorrência do vírus HIV. Esta publicação foi
marcada por maior participação popular nas lutas socais11, inclusive com as
manifestações contra o governo do presidente Collor,e teve por objetivo informar a
população sobre a doença e demais DST’s. Também teve uma importância sensível
porque se tornou um novo veículo de diálogo para homossexuais. A respeito disso, uma

9
O Lampião da Esquina (1978-1981) foi um jornal escrito e destinado, em grande maioria, aos
homossexuais. Produzido no eixo Rio-São Paulo, foi distribuído em todo o país com quantidade
considerável de cópias. Uma das principais questões colocadas no periódico era a preocupação com a
visibilidade da homossexualidade. Na minha dissertação de mestrado, O dispositivo de confissão da
homossexualidade no Brasil através do Lampião da Esquina (1978-1981), analisei esta questão.
10
MASCARENHAS, João. Assumir-se? Por quê? Triângulo Rosa. Boletim nº 7, Outubro de 1987, p.3
11
AMÂNCIO, Júlia Moretto. Desafios da democracia brasileiro pós-1989: um ensaio sobre os
significado de público e participação social. Ideias, Revista do IFCH-UNICAMP, Ano 1, p. 137-157

5
carta de Sérgio Lima, leitor de Florianópolis, dizia: “Nossa „classe‟ estava muito
carente e o Nós, Por Exemplo veio ocupar esse espaço”12.
Simultaneamente, o periódico divulgou maneiras de se comportar enquanto
homossexual, bem como de publicizar a homossexualidade. O que ocorria mensalmente
na seção Nós, homens; que divulgava informações sobre a cultura homossexual no
Brasil e no mundo. Outros discursos sobre o assumir-se apareciam na seção de poesia e
nas informações sobre grupos homossexuais espalhados no país.
Conforme o Nós Por Exemplo chegava ao público, o jornal Folha de São Paulo
dava abertura às questões relativas à homossexualidade. O Folha passou a trazer,
semanalmente, na primeira metade dos anos 1990, aos domingos, a coluna Gay. Além
de informações sobre cinema, teatro e livros se escrevia sobre a ideia de sair do armário
gay13 em textos provocativos cujo título já demarca o que se quer tratar, Ser ou não ser:
essa é a questão14. Em outras seções do jornal em questão o tema se fazia presente,
como foi o caso de um texto escrito pela psicanalista Marta Suplicy o qual trouxe o
lema “Sem assumir não é possível se organizar”15.
Investir em histórias de confissões também foi o foco da Folha, que passou a
veicular notícias relacionadas ao sair do armário gay, trazendo histórias de
homossexuais se revelando especialmente para a família. Havia uma movimentação
cultural na sociedade que convidava à emergência e proliferação desses discursos. A
década de 1990 parece ser a época da entrada definitiva da homossexualidade na cultura
brasileira16. Em 1994, o cantor Renato Russo lançava o seu primeiro álbum solo17
assumindo sua homossexualidade; no ano seguinte, a novela A Próxima Vítima, de
Silvio de Abreu, abordava o tema na revelação da homossexualidade do personagem
Sandrinho à sua mãe, em um diálogo marcado pela fala do jovem à mãe: “você não sabe
12
LIMA, Sérgio. Ao Nós Por Exemplo. Nós Por Exemplo, ano II, Nº 9. Rio de Janeiro: Julho/Agosto de
93.
13
A expressão armário gay utilizada nesse projeto é costumeiramente utilizada especialmente entre
grupos de homossexuais para designar o espaço de tristeza, de mentiras, de medo e de esconderijo que
envolve a vida dentro do armário, a vida que ainda não tornou pública a homossexualidade. Ver:
RIBEIRO, Irineu Ramos. A tv no armário. São Paulo: Edições GLS, 2009.
14
HEE, Mary. Ser ou não ser, essa é a questão. Revista da Folha. 22-08-1993, p.41. Também disponível
emhttp://acervo.folha.com.br/resultados/?q=Quase+todo+mundo+j%C3%A1+fez+testes+vocacionais.+O
s+meus+deram+para+a+psicologia.+Ent%C3%A3o%2C+hoje+eu+sou+analista+e+voc%C3%AA%2C+
paciente.+Mary+Hee&site=fsp&periodo=acervo&x=27&y=23. Consultado em 15 de maio de 2014.
15
SUPLICY, Marta. Homossexualidade, preconceito e ignorância. Folha de São Paulo, 07/1994
16
Em 1993, a revista Veja, trazia como capa de uma edição O que é ser gay no Brasil?16. Uma das
matérias trouxe por título “A dor da descoberta: culpa, medo e solidão alimentam o drama que envolve o
homossexual e sua família”. A matéria, na sua função de imprensa, não apenas conta casos, mas sugere
que o armário gay é o lugar da infelicidade.
17
The Stonewall Celebration Concert. O título do álbum é uma homenagem a conhecida Revolta de
Stonewall que ocorreu nos Estados Unidos, em 1969, e foi liderada por homossexuais.

6
como eu lutei contra isso (...). Se dependesse de mim eu estava namorando uma garota
(...) seria bem mais prático, mas não é verdade”18. Portanto, é preciso falar dessa década
como aquela em que o sair do armário ganhou espaço tanto na mídia especializada
quanto fora dela.
A cultura brasileira dos anos 1990 foi muito influenciada pela norte americana
que surgia nas novas revistas, que geralmente chegavam às bancas aos domingos, nos
programas de televisão, sobretudo com a Tv a cabo e internet, que revolucionou as
influências culturais em todo o mundo, sobretudo com o desejo de estar online aos fins
de semana, com a internet discada.
Em 1995, de modo impresso e não online, chegava às bancas a Sui Generis
(1995-2000). Essa revista a priori teve um caráter menos militante e ativista, sem
deixar, no entanto, de advogar uma campanha para os gays saírem do armário. É através
dela que, certamente, pela primeira vez na história das publicações destinadas aos
homossexuais, foi utilizada a expressão “sair do armário”. Em uma de suas edições,foi
veiculada a seguinte afirmação: “Quanto mais a comunidade homossexual cresce, mais
confortável é para se assumir”19. A alusão ao tema se dava igualmente em capas, como
a de número 49, “Bye, bye Brasil: Gays põem o pé na estrada para se assumir longe de
casa”.
Um outro periódico surgiu naquele momento; a revista G Magazine, de 1997,
trazendo conteúdo dedicado exclusivamente ao público homossexual e caracterizada
principalmente pelo nu masculino, foi importante na luta dos homossexuais. Em
entrevistas, editorias, reportagens e cartas de leitores, assistia-se uma explosão
discursiva a respeito do sair do armário. Vejamos, por exemplo, como as perguntas
feitas na entrevista com o produtor musical Guilherme Araújo remetem a tal expressão:
“Mudando de sintonia: vale a pena sair do armário?; O que você acha de uma pessoa
assumir sua opção sexual?20”. Essas perguntas encontram sua razão de ser
especialmente quando se analisa os editoriais da revista carregados por uma linguagem
apelativa: “Mas, principalmente, saiam dos armários para que realmente a homofobia
passe a ser coisa do passado”21.

18
Esta cena pode ser conferida em https://www.youtube.com/watch?v=Cd5P0Lz3Kkg. Acessado em
15/06/2014
19
WILKE, Michael. Publicidade assumida. Sui Generis, ano 5,nº: 42. Rio de Janeiro, 1999, p.13
20
ROCHA, Esther. Nunca fui santa mesmo! Entrevista com Guilherme Araújo. G Magazine, nº:4, Janeiro
de 1998, ano 1, p. 40,41.
21
FADIGAS, Ana. Coisa do Passado. G Magazine: Ano 1, nº6. Março de 1998, Ano I,p.3.

7
Em suma, pretendemos estudar a ideia de sair do armário enquanto um problema
histórico nos discursos endereçados ao público gay e que ainda, segundo nossas
pesquisas, não constituiu problema de reflexão na historiografia brasileira.
Sendo assim, entendemos que a homossexualidade e a ideia de sair do armário
gay não existem senão como um acontecimento histórico, uma vez que suas formas e
sentidos se dão numa temporalidade demarcada por experiências sociais. Desse modo,
especificando o olhar dessa pesquisa, a história que este projeto objetiva pensar e contar
diz respeito a como essa imprensa, nos seus diversos discursos, acionaram e/ou
disseminaram significados sobre o sair do armário, disciplinando condutas e
elaborando um modelo para a vivência da homossexualidade.
Entretanto, esse problema parte do presente. Em Outubro de 2010, o
telespectador que sintonizasse o canal na novela América, da Rede Globo, veria o
personagem Júnior (Bruno Gagliasso) dizer para a mãe, em meio a lágrimas e
sofrimento, “Eu não quero mais mentir para ninguém. Eu vou ser quem eu sou. É
verdade (...). Mas eu sou assim, eu sou isso, não adianta mentir (...) Não fui eu quem
escolhi, sabe?”22. Quatro anos depois, a novela Amor à vida, da mesma emissora,
trouxe em cena exibida em 25 de março de 2013, a saída do armário do personagem
Félix23 (Matheus Solano), que, a partir desse momento, na construção da trama, passou
de vilão a mocinho.
Há no mercado editorial brasileiro destinado ao público homossexual um
conjunto de obras sobre o sair do armário24, todavia, o tema, além de ter aparecido em
novelas esteve presente no cinema, em sites25 e em enquetes de blogs26. Desde os anos
1990, as mídias impressa, digital e televisiva brasileira vêm abordando esse tema. A
importância dessa pesquisa está interligada a questões colocadas pelo tempo presente; é
partindo do presente que estranhamos e questionamos de que modo emergiu e se
formou um conjunto de discursos sobre o sair do armário gay.

22
A cena pode ser vista em: https://www.youtube.com/watch?v=G7-6pmrqeGs. Acessado em 01/05/2014.
23
Confira a cena em: http://globotv.globo.com/rede-globo/amor-a-vida/v/edith-revela-a-familia-que-felix-
e-gay/2728272/. Consultado em 08/05/2014
24
Dentre alguns exemplos: FACCO, Lúcia. As heroínas saem do armário. São Paulo: Edições GLS,
2004; MOTT, Luiz. Crônicas de um gay assumido. São Paulo: Record, 2003; RIESENFELD,
RinnaPapai, mamãe, sou gay. São Paulo: Edições GLS, 202; WIZIACK, Júlio. Abrindo o armário:
encontrando uma nova maneira de amar e ser feliz. São Paulo: Jabuticaba editora, 2005.
25
Conforme é possível perceber em www.oarmario.com.br. Acessado em 08/05/2014
26
Disponível em http://www.dolado.com.br/interativo/enquete/sair-do-armario-com-rotulo-ou-sem-
rotulo.html. Consultado em 08/05/2014.

8
Neste sentido, o estudo dessa temática seduz por duas razões: primeiro, pela
proliferação discursiva a respeito do sair do armário, conforme acabamos de indicar;
segundo, a ausência de estudos no campo da história preocupados em pensar o tema.
Este segundo fator é passível de um debate dentro da historiografia.
Apenas na terceira geração dos Annales houve espaço para a discussão de diversos
temas até então pouco caros à história; já naquele momento, a homossexualidade não
constituía tema de interesse da nossa área. Possivelmente uma das primeiras
colaborações tenha sido dada por Philippe Ariès (1983) em Reflexões sobre a história
da homossexualidade. Neste texto, começa a ficar visível, dialogando com Foucault, a
ideia de que a homossexualidade é uma construção histórica. De acordo com suas
formulações, a homossexualidade permitiu a entrada da sexualidade no espaço social e a
modificação das ideias de família e do amor como um compromisso perene27.
A temática do sair do armário, por sua vez, apareceu no artigo A
homossexualidade masculina, ou: a felicidade no gueto?, do sociólogo Michel Pollak.
Seu estudo procura discutir estilos de vida da homossexualidade e sustenta que o
“coming out”28 não significa o fim dos tormentos da vida do homossexual. Em
contrapartida, o historiador Gérad Vincent parece acreditar que o sair do armário
constitui um corte na vida do indivíduo, notadamente para melhor (VINCENT, 2010; p.
340).
O campo do saber que primeiro estudou a homossexualidade no Brasil foi a
sociologia em meados do século passado29, só mais tarde, nos anos 2000, vira objeto de
pesquisa por parte da historiografia. É o que faz James Green no seu livro Além do
carnaval em que demarca a sociabilidade, as conquistas, as prisões, os sonhos e as
alegrias dos homossexuais entre 1889-1980, recorrendo a fontes impressas, visuais e
orais. O livro tornou-se referência tendo em vista que, além de uma ampla pesquisa
documental, faz uma análise do campo historiográfico.
Apesar do aumento do interesse dos historiadores pela temática, ainda são
modestos os resultados. No último Congresso da Associação Nacional dos Professores

27
ARIÈS, Phillipe. Reflexões sobre a história da homossexualidade. In.: ARIÈS, Phillipe e BÉJIN, André
(orgs). Sexualidades Ocidentais. São Paulo: Brasiliense, 1985.
28
Expressão norte-americana que tem por tradução no Português: sair do armário.
29
Estou me referindo ao trabalho de Silva (1958) que se ocupou com a sociabilidade homossexual em
São Paulo. Ver: SILVA, José Fábio Barbosa da. Homossexualismo em São Paulo In: GREEN, James
TRINDADE, Ronaldo (orgs). Homossexualismo em São Paulo e outros escritos. São Paulo: Editora
Unesp, 2005. Alguns anos mais tarde Guimarães (1977) defendia uma dissertação enfocando as
sociabilidades homossexuais no Rio de Janeiro. Ver: GUIMARÃES, Carmem Dora. O homossexual
visto por entendidos. Rio de Janeiro: Garamond, 2004

9
Universitários de História (ANPUH), ocorrido em 2013, por exemplo, entre os cento e
quarenta e sete simpósios temáticos, apenas três mencionavam a abordagem de gênero
no título e nenhum deles trouxe explícita a referência a temáticas gays 30. Por sua vez, os
conhecidos estudos sobre homossexualidade no Brasil no campo historiográfico, de
acordo com nossa pesquisa, não abordaram o tema do sair do armário, ao contrário
disso, alguns deles têm naturalizado essa experiência, conforme veremos adiante. Trata-
se, portanto, de um tema ainda não estudado, uma lacuna que este projeto visa
preencher.
No que se refere ao acesso ao corpus documental, foi feito um levantamento dos
periódicos31. As fontes estão coletadas e parte delas já foi recortada e organizada de
acordo com a demarcação temática da pesquisa. De todos os periódicos selecionados,
apenas os referentes ao grupo Triângulo Rosa e parte do Nós Por Exemplo estão
arquivados digitalmente em pesquisa já realizada no Arquivo Edgard Leuenroth32
(AEL) da Universidade Estadual de Campinas.
Escolhemos como período inicial para nosso recorte temporal o ano de 1985,
devido o surgimento do Triângulo Rosa. O grupo tem importância pela defesa do direito
dos homossexuais à cidadania desde quando a mídia defendia um discurso opressor em
virtude da AIDS. Simultaneamente, este grupo, nas suas publicações, foi importante na
luta pela inclusão do termo orientação sexual na Constituição de 1988. Talvez por isso
tenham aconselhado os seus leitores a visibilizar a homossexualidade.
O que queremos investigar se elucida conforme percebemos nas fontes em
estudo na instauração de uma sensibilidade gay urdida em enunciados cujo alvo é
defender o armário como um lugar do qual o homossexual deve fugir. Essa atitude, de
acordo com o que já foi pesquisado, se associa ao encontro com a felicidade da vida
fora do segredo; conforme apontava João Silvério Trevisan, articulista da Sui Generis e

30
Os dados podem ser conferidos em: http://www.snh2013.anpuh.org/simposio/public. Acessado em 01
de Maio de 2014.
31
Disponho de todos os periódicos SuiGeneris, G Magazine e parte do Nos Por Exemplo na minha
biblioteca pessoal. Os periódicos do Triângulo Rosa e o Nós Por Exemplo foram acessados no AEL
(UNICAMP) onde foram reproduzidos e recortado nos interesses desta pesquisa.
32
O Banco de dados do arquivo pode ser acessado em:
http://www.ael.ifch.unicamp.br/site_ael/index.php?option=com_content&view=article&id=68&Itemid=9
0. Acessado em: 01 de maio de 2014. A revista Sui Generis também pode ser consultada no Centro de
Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP) da UNESP. Acesse:
http://www.cedap.assis.unesp.br/cat_periodicos/popup2/sui_generis.html. Consultado em 01 de maio de
2014

10
G Magazine em entrevista de 199733. Em suma, trata-se de uma documentação que
permite interrogar as experiências do sair do armário. Os enunciados sobre o tema se
valem de estratégias que, no conjunto dos demais textos, na arquitetura das páginas, na
disposição de imagens, bem como nos títulos, constituem um regime de verdade34 sobre
o sair do armário demarcado historicamente.
Estudaremos o sair do armário até 2000, ano de encerramento das atividades da
revista Sui Generis, que finalizou os seus trabalhos devido ao baixo número de
compradores, tendo em vista que as revistas de nus masculinos mantinham as suas
vendas em altos números. Todavia, entendemos que esse periódico concluiu uma
discussão mais engajada e centrada em relação ao tema proposto. Graças à abrangência,
diversidade de temas e força dos seus discursos, foi contemporânea e colaborou na
criação da Parada Gay de São Paulo, em 1997.
As questões referentes ao sair do armário estão diretamente ligadas à construção
da identidade homossexual e, portanto inseridas num dos objetivos da linha de pesquisa
Relações de Poder e Subjetividades do Programa de Pós-Graduação em História desta
Universidade. Esta linha reflete temáticas de gênero dentro da história; isto é, assuntos
que emergem num eixo temporal e promovem novas configurações sociais. Por essas
razões, entendemos gênero “como componente cultural e histórico nos eventos e
movimentos sociais”35.
A temática do sair do armário vem sendo discutida nas áreas da Literatura e da
Filosofia, todavia, de acordo com nossas pesquisas, ainda não foi objeto de pesquisa
pela historiografia. Por outro lado, as fontes que tomamos como base para este projeto
começaram a despertar o interesse dos historiadores apenas recentemente; parecem ter
despertando antes a atenção da Antropologia, Sociologia e Comunicação. Além disso,
nem todos os trabalhos elegem essas fontes como corpo principal, em alguns casos,
aparecem como auxiliares.
Transmutar o sair do armário da esfera cotidiana para o campo das universidades
a fim de estudá-lo e questioná-lo foi o objetivo de Eve Kosofsky Sedgwick em
Epistemology of the closet (1990). A ideia em questão discutida no livro é influenciada

33
TREVISAN, João Silvério. Desejo: o território livre do coração humano. Revista G Magazine, ano 1,
nº 5, p.38
34
De acordo com Foucault os regimes de verdade significam os discursos que determinada sociedade,
em um espaço-tempo, elege como verdadeiro, correto e legítimo. Para ver mais, consulte: FOUCAULT,
Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
35
Citação extraída da descrição da linha de pesquisa Relações de Poder e Subjetividades do Edital 2015
do PPGH-UFSC.

11
pelas abordagens da sexualidade realizadas por Foucault em A vontade de saber (1978)
ao afirmar que o sair do armário constitui uma construção histórica e linguística
ocorrida na Europa e nos Estados Unidos, notadamente na passagem dos séculos XIX-
XX, por meio da literatura de Proust e Oscar Wilde.
Sedgwick fala da Literatura dialogando com o feminismo marxista, feminismo
36
radical (baseado no estruturalismo) e com os estudos LGBT , esclarecendo que um
homossexual nunca estará totalmente fora do armário, a autora afirma que haverá
situações em que um sujeito talvez precise ocultar ou disfarçar suas preferências
sexuais, nesse sentido, percebe-se uma negociação da visibilidade.
O argumento central da obra sustenta o sair do armário enquanto dispositivo de
disciplinamento da vida social e que perpassa não só a homossexualidade, mas também
a heterossexualidade.
Atualmente David Halperin, teórico dos estudos de gênero e da teoria queer37, é
um dos autores que mais se preocupa com essa discussão. Possui além de um artigo, um
livro sobre o tema. No texto Identidad y desencanto (2010), o autor percebe que a
aceitação social de gays e lésbicas tem crescido na sociedade ocidental e paralelamente
a identidade gay se converte em algo permanente. Entretanto, na sua visão, sair do
armário e se dizer gay é um meio socialmente aceito para designar e aceitar a
homossexualidade. Isso é, trata-se de fazer com que os homossexuais não se escondam,
bem como demarca o pertencimento a um grupo coletivo38.
Halperin esclarece que as modificações sofridas pelo assumir têm alterado os
significados que suscita. Há momentos específicos, caracterizados por determinados
eventos, em que a saída do armário tem focos determinados, desse modo, assumir a
homossexualidade representou algo para a constituição do movimento gay no Ocidente
nos anos 1960-70. Na década seguinte, em virtude dos assuntos relacionados à AIDS, o
discurso do sair do armário se metamorfoseia e passa a ter outros objetivos como, por
exemplo, o de ser diagnosticado como “soro positivo” uma vez exposta a
homossexualidade.

36
Ver: MISKOLCI, Richard. Comentário. Cadernos Pagu, nº: 28. Campinas, 2007.
37
Os estudos queer se desenvolveram nos Estados Unidos nos anos 1990 e se caracterizam por uma
abordagem pós-estruturalista dos estudos de gênero focando no questionamento das identidades e
promovendo um debate em torno da ideia de diferenças sexuais. Ver: MISKOLCI, Richard. Teoria
Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autentica 2013.
38
Ver: HALPERIN, David. Identidad y desencanto. In.: El infrecuentable Michel Foucault:
Renovación del pensamento crítico. Buenos Aires: Letra Viva, 2004

12
Já no seu livro, Saint Foucault advoga que a saída do armário é uma atitude que
aprisiona os homossexuais em certos modelos identitários, ensinando-lhes formas de
comportamento. Procurando descontruir as promessas de felicidade relativas ao
assumir-se, destaca ainda que falar ou silenciar a sexualidade não exime o homossexual
dos dizeres estereotipados relativos ao seu desejo.
O teórico procura historicizar os momentos em que o falar da sexualidade se
difunde na cultura gay, o que se deu com a Revolução Sexual. Esse evento não apenas
defendeu a livre expressão da sexualidade, mas exigiu que ela fosse dita, “for the effect
of sexual liberation has been not, or not only, to free us to express our sexuality but to
require us to express – freely, of course – our sexuality”39 (HALPERIN, 1995; p.20)
Desse modo, advoga que a experiência do sair do armário tende a confirmar a
mirada foucaultiana do poder, gerindo as relações e atuando na construção dos sujeitos,
sendo assim, estar no armário possivelmente possa significar a não experimentação do
preconceito social. De mais a mais, na visão do autor, o armário não significa,
necessariamente, liberdade, tendo em vista que pode trazer perigos e constrangimentos.
Há ainda outro aspecto cerceando o sair do armário gay. Trata-se de lê-lo com o
auxílio da sensibilidade, já que existe um conjunto de sentimentos e emoções, de
lágrimas e silêncios referentes a tal atitude; eis o que pensa Didier Eribon no texto Dizer
ou não dizer40. Segundo o filósofo, essa dubiedade está diretamente associada à vida
dupla dos homossexuais, a qual os leva a cometer atos performáticos diferentes,
adequando-se às situações ao estar em contato com grupos em que é possível ou não
sair do armário. O resultado desse processo é uma segunda vida marcada pela
clandestinidade e infelicidade. Portanto, seu argumento é que o armário modela a
subjetividade gay de modo que vivam uma tensão entre “a vontade de dizer e a
obrigação de calar” (ERIBON, 2008; p.68).
Dois estudos também se preocuparam em refletir o sair do armário, o primeiro
deles está situado no campo da literatura. Em Confidências da carne: o público e o
privado na enunciação da sexualidade41, Pedro de Souza recorre às cartas enviadas ao
Grupo Somos42 para perceber como essas correspondências se referem à sexualidade. Já
o segundo estudo reflete a tensão que é para o homossexual se colocar e dizer a
39
Tradução minha do original: para o efeito de liberação sexual não tem sido, ou não só, para nos libertar
de expressar a nossa sexualidade, mas a exigir-nos a expressar - livremente, é claro - a nossa sexualidade
40
ERIBON, Didier. Reflexões sobre a questão gay. Companhia de Freud, 2008
41
SOUZA, Pedro de. Confidências da carne: o público e o privado na enunciação da sexualidade.
Campinas: Editora da UNICAMP, 1996
42
Grupo ativista homossexual que surgiu no fim dos anos 1970 nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo

13
homossexualidade em público, ou seja, a transferência do conhecimento de si parte do
público para o privado carregado de emoções, tensões e inseguranças.
Em sentido semelhante, no que se refere à temática, há a tese de Edith Modesto
dos Santos; Homossexualidade, preconceito e intolerância: análise semiótica de
depoimentos43. O estudo procura pensar a visibilidade da sexualidade no ambiente
familiar recorrendo a depoimentos orais e virtuais, inclusive com frequentadoras do
Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), a fim de entender os discursos de rejeição e
aceitação da homossexualidade dos filhos por suas mães, bem como a rejeição/aceitação
da homossexualidade por parte dos próprios filhos. A tese conclui que um dos
principais desafios da vida homossexual é aceitar-se e sair do armário conectando esses
eixos com as questões de rejeição familiar, da descoberta por parte dos pais e do
processo de aceitação em si.
É notório acrescentar que alguns trabalhos44 têm recorrido às fontes desta
pesquisa utilizando-as para iluminar problemáticas diversas. Alguns desses trabalhos se
referem ao tema do sair do armário e frequentemente naturalizam essa experiência,
deixando de vê-la como uma construção histórica, o que este projeto pretende realizar.

II - Objetivos

a) Geral:
Este projeto pretende analisar de que modo emergiu historicamente, em um
conjunto de periódicos destinados aos homossexuais, de circulação entre 1985-2000,
um grupo de enunciados sobre a ideia de sair do armário, entendendo o que esse
conceito significou nos textos dos periódicos e as suas relações com as práticas sociais
do momento.
b) Específicos:

43
SANTOS, Edith Modesto. Homossexualidade, preconceito e intolerância: análise semiótica de
depoimentos. Tese apresentada ao Departamento de Letras da universidade de São Paulo, 2002.
44
Estamos nos referindo aos seguintes trabalhos: KRONKA, Graziela Zanin. A homossexualidade nas
bancas de jornal: a enunciação do assumir-se homossexual na imprensa especializada. Dissertação de
mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da UNICAMP, 2000; LIMA,
Marcus Assis. Em busca da normalidade: Sui Generis e estilo de vida gay. Revista Gênero, UFF v.2, nº:1.
UFF: Niterói, p.109-127,2001; MONTEIRO, Marko Synésio Alves. Masculinidade em revista: um estudo
da VIP Exame, Sui Generis e Homens. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação de Antropologia Social da UNICAMP, 2000; CÂMERA, Cristina. Cidadania e Orientação
Sexual: a trajetória do grupo Triângulo Rosa. Rio de Janeiro: Academia Avançada, 2002; SILVA, Fábio
Ronaldo. Ser ou não ser: a representação da virilidade nas capas da G Magazine (1997-2007). Dissertação
de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da UFCG, 2009. Esses trabalhos
foram lidos e percebemos que o foco no uso das fontes não é o que propomos aqui.

14
 Problematizar as condições históricas que possibilitaram a emergência desses
discursos nas fontes aqui estudadas;
 Refletir a relação existente entre a ideia de sair do armário e o movimento
homossexual brasileiro;
 Compreender como se construíram diferentes significados sobre o sair do
armário nos periódicos em questão.

III - Metodologia

Esta pesquisa se insere no campo de análise da história cultural que procura


estudar os acontecimentos situados em espaços de disputas de poder. Ao colocar
invenção, queremos dizer que uma prática emerge num espaço-tempo e que os discursos
referentes ao sair do armário devem ser estranhados, os desnaturalizando45.
No campo no qual nos situamos, a historiografia, o termo invenção está se
reportando a uma ruptura que permite novas possibilidades de leitura das experiências e
práticas humanas ao longo do tempo. Recorrer a este conceito aqui é situar a
emergência do sair do armário por meio de práticas discursivas desejosas de instituir,
classificar e nomear as identidades homossexuais, isto é, o sair do armário é uma
construção histórica.
Pensar a história do armário como invenção é, baseando-me no modo como o
historiador Durval de Albuquerque Júnior (2013) pensa o folclore, perceber os
acontecimentos, as estratégias discursivas e as práticas a ele relacionadas, as quais
criaram essa ideia, colaborando na elaboração de verdades para os sujeitos
homossexuais. O uso do termo invenção será útil por ajudar a compreender de que
modo os discursos criam e fabricam sentidos da e para a realidade social por meio de
palavras e conceitos que emergem em um dado momento e obedecem a certos
interesses. Daí o motivo para recorrer ao termo emergência, conforme estudado por
Foucault, que pode colaborar no modo como entendemos a história do armário gay no
Brasil.
Sendo o sair do armário a tentativa de uma busca em torno da publicização da
verdade do sexo, é convidativo procurar entender, por exemplo, a emergência histórica

45
Ver: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Introdução: Da terceira margem eu so(u)rrio:
sobre história e invenção. In: História: a arte de inventar o passado. Bauru: EDUSC, 2007

15
das fontes que utilizamos e da temática da pesquisa. Emergência, propõe Foucault46, ao
ler Nietzsche, difere da busca da origem, da essência e do começo. Ao historiador cabe
desconfiar das origens e se debruçar na descontinuidade, espaço de disputas e
deslocamentos.
A emergência histórica do armário sugere, nesse sentido, a busca pelos objetivos
e embates que possibilitaram a existência desses discursos. Daí percebe-se, por
exemplo, se os objetivos do assumir-se nas publicações do Triângulo Rosa poderiam
estar em conexão com o debate nacional pela incorporação do termo orientação sexual
na constituição cidadã de 1988.
Como a presente pesquisa se situa nos estudos de gênero, abordaremos este
conceito dentro do debate historiográfico. Joan Scott, leitora dos escritos de Derrida e
Foucault, identifica as dualidades e os binômios colocados pelo termo gênero. Desse
modo, analisa as categorias sexuais advindas da oposição entre masculino e feminino
enquanto construções culturais que se modificam ao longo do tempo.
Gênero, de acordo com Scott, é um lugar de debate intenso, tanto dentro das
universidades quanto fora delas. Desse modo, o uso desse termo recorrentemente aludiu
à diferença sexual sendo, com isso, “o lugar de lutas sobre o que conta como natural e o
que conta como social” (2013; p.345). O ambiente dessas lutas ao estarem recortados
pela ideia de poder habitam o lugar da contestação política, portanto, uma história que
problematize o sair do armário precisa estar atenta e levar em consideração as variadas
disputas que os discursos sobre esse tema precisaram enfrentar para se colocarem e
atuarem na construção de novos regimes de verdade.
Ademais, também será relevante para este trabalho o conceito de parresía que
Foucault estudou nos gregos antigos. Este conceito surge da associação entre formação
de saberes e normatividade dos comportamentos e os processos de subjetivação,
querendo entender como o dizer a verdade pode “mostrar de que modo o indivíduo se
constitui como sujeito na relação consigo e na relação com os outros” (FOUCALT,
2013; p.43).
Sendo assim, ao considerarmos o relato escrito pelo leitor Renan para a G
Magazine, “Sou gay e tenho dois filhos (...). Está chegando a hora de eu conversar com
eles a respeito da minha orientação sexual”47, pretendemos analisá-lo como uma

46
Recorremos às análises encontradas no texto Nietzsche, a genealogia e a história. In.: FOUCAULT,
Michel. Microfísica do poder. São Paulo: Edições Graal, 2010.
47
RENAN. Abrindo o jogo. Revista G Magazine, ano 2, edição 22. Julho de 1999, p.80

16
preocupação no que se refere ao dizer verdadeiro48 sobre a própria sexualidade. Ao
mesmo tempo, buscaremos ponderar a conexão entre o falar da sexualidade e a
elaboração na subjetividade do sujeito, neste caso, Renan.
O que Foucault ensina é que a preocupação com a verdade do sexo se dá antes da
Igreja romana e da institucionalização da confissão do cristianismo. Neste estudo, dizer
a verdade sobre si mesmo, confessar-se, necessita da presença de um outro, o leitor, isto
é, o periódico aparece incentivando a fala e a escuta, desse modo, precisa de um emissor
e receptor para que a visibilidade da sexualidade constitua a subjetividade dos
indivíduos.
Já na cultura antiga, esse falar, que também é franco, sincero, constitui uma
noção política. Em se tratando do armário gay, há implicações políticas na visibilidade
da sexualidade que são estruturantes porque sair dele também pode trazer riscos. Por
isso, sair do armário é igualmente um ato de coragem em se afirmar a verdade porque
se sabe que o dizer representa um risco.
Acreditamos que a invenção histórica do sair do armário pode ser estudada do
ponto de vista do dispositivo. Giorgio Agamben, a partir de Foucault, dirá que esse
conceito tem “de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar,
interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os
discursos dos seres viventes”. (AGAMBEN, 2012, P.34-35)
Agamben esteve preocupado em entender as raízes morfológicas do termo
dispositivo, bem como os usos e referências ao termo utilizados por Michel Foucault.
Inclusive, conforme suas pesquisas, a formulação de dispositivo de Foucault lembra o
conceito de positividade em Hegel e o de Gestell em Heidegger, todos eles atentam para
um governo de orientação da vida por meio de um conjunto de práxis e saberes.
Quando nos remetemos à ideia de dispositivo de sair do armário estamos
interessados em perceber como os homossexuais são incessantemente capturados por
essa técnica de controle que engloba um conjunto de discursos e que tem por função
responder a uma questão, a um determinado problema. Assim, “o dispositivo tem,
portanto, uma função estratégica dominante” (FOUCAULT, 2010: 244).
A Sui Generis, no seu editorial número um trouxe em cada parágrafo uma
referência à visibilidade da sexualidade, advogando-a, claramente, no final do texto
Nossa intenção é levar a cultura gay de forma vibrante, inteligente, alegre, para fora

48
Esse dizer verdadeiro equivale, nos escritos de Foucault, a confissão da sexualidade, a extrair o máximo
de informações e significados sobre os desejos dos sujeitos.

17
dos guetos49. Essa frase esclarece os objetivos da publicação e alude para o sair do
gueto, do segredo, do armário. Mais adiante, na continuação do editorial, a revista
indica, claramente, que a cultura gay necessita sair do armário, dizendo-se
publicamente. O dispositivo de sair armário parece organizar atitudes que devem ser
seguidas pelos homossexuais; entendemos que esse dispositivo vai disciplinando as
vidas homossexuais.
Do ponto de vista metodológico, ou seja, dos procedimentos de análise das
fontes, pretendemos examiná-las enquanto formação discursiva, segundo os estudos de
Foucault (2012). Este conceito auxilia a tratar os discursos enquanto um acontecimento
em determinado momento histórico. Isto consiste também em perceber as condições de
possibilidade de um texto desde o seu planejamento até as relações de saber-poder
envolvidas na sua construção; é um conceito oportuno na compreensão de enunciados
que partilham de um mesmo estatuto. Foucault esclarece que:
No caso em que se puder descrever, entre um certo número de
enunciados, semelhantes sistemas de dispersão e no caso em que entre
os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas,
se puder definir uma regularidades (uma ordem, correlações, posições
e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se
trata de uma formação discursiva50.

Os textos que serviram de base para esta investigação constituem uma formação
discursiva sobre a ideia de sair do armário gay com objetivos que se modificaram ao
longo do tempo, mas que sempre estão presentes por meio de enunciados.
No ano em que encerraremos nossa análise (no que se refere ao ano de
publicação das revistas), 2000, as primeiras páginas da edição 35 da G Magazine
traziam o resultado de uma enquete sobre sair ou não do armário: 47,3% concordaram
que esse é um processo pelo qual todos passam um dia, enquanto 74,5% não saíram do
armário na época da escola. Na página, encontramos frases-desabafo sobre o tema: “eu
ainda vou sair do armário, aqui dentro é um horror, escuro, apertado, e dá uma sensação
de abandono”51. Esses textos, no seu conjunto, compõem, juntamente com outras fontes,
uma formação discursiva do sair do armário.
Trabalhamos com periódicos e essa metodologia de pesquisa vem sendo
empregada por diversos historiadores (LUCA 2010, ALBUQUERQUE JÚNIOR 2010,
AROSTEGUI 2009). As nossas fontes poderão ser lidas do ponto de vista da análise

49
FEITOSA, Nélson. Sui Generis nº1; janeiro de 1995
50
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012, p.47
51
RONIERO. Melhores Frases. G Magazine, Ano 3, Agosto/2000. São Paulo: 2000, p.7.

18
externa e interna do documento. O primeiro, o modelo externo, exige um diálogo com o
momento histórico em que as fontes foram produzidas. É um caminho oportuno para
interpretar as condições de emergência dos discursos.
De acordo com as historiadoras Eni Sama e Ismênia Tupy (2007), trata-se de
entender o que permitiu a fonte existir, seja política, social e/ou cultural. Quando lemos
no jornal do Triângulo Rosa de setembro de 1987, “a afirmação sexual leva a alegria de
viver (...), Queremos estender um apelo nosso a todos aqueles que queiram se juntar a
nós em nossa luta”52, é oportuno perceber se esse texto se tornou possível diante da luta
travada pelo grupo em um momento em que vários movimentos sociais lutavam por um
lugar nas leis do país.
Por outro lado, a análise interna pretende questionar os discursos enquanto
singularidades. Para isso, Samara e Tupy (2007) aconselham examinar o emissor do
texto, suas possíveis intenções, procurando, ainda, entender como e por que escolheu
tratar do tema. No Nós, Por Exemplo é interessante se questionar porque seus textos,
especialmente nas entrevistas, insistiam na questão da visibilidade da sexualidade.
Já na primeira edição, perguntava-se a Hebert Daniel: “Herbert, é dito que a
homossexualidade está mais liberada. Por que são tão raras as personalidades
públicas que efetivamente se declaram homossexuais?”53. Já na entrevista com João
Mascarenhas o periódico foi mais categórico: “Você é o pioneiro na militância
homossexual no Brasil. Que consequência isto lhe trouxe, se assumir?”54, em seguida,
foi perguntado: “Assumir é importante?”, ao passo que o emitente responde, “Sim,
extremamente importante”.
Realizando uma análise interna do texto, questionamos não só a aparição
insistente desses temas, mas também como ocorre, em que conjuntos discursivos se deu
e obedecendo a quais interesses.
Por serem produzidas e divulgadas pela mídia voltada ao público gay é útil
perceber como esses discursos são produzidos em todas as nossas fontes; as reflexões de
Patrick Chareaudou nos ajudam nesse sentido. Segundo o linguista, cada periódico
responde a uma “semiologia da produção”, ou seja, busca produzir efeitos a respeito do
que se pretende defender. Isso porque o discurso antes de falar do mundo, relaciona-se
às coisas que se dão nele, ou seja, efetua uma seleção.

52
MASCARENHAS, João Antonio. Triângulo Rosa. Abril/1987. Rio de Janeiro: 1987, p.1.
53
DANIEL, Hebert. Nós Por Exemplo, Ano 2, julho/agosto 1993. Rio de Janeiro: 1993, p.8.
54
MASCARENHAS, João A. Nós Por Exemplo, Ano 1, novembro de 1992. Rio de Janeiro: 1992, p.9.

19
A mídia, no que produz, contém um propósito que recorta discursos, e os trata
segundo critérios de atualidade e de sociabilidade, garantindo uma publicização de
certos temas em vez de outros, e produzindo um efeito de captação. (CHARAUDEAU,
2006).
Por fim, é com base nessa orientação teórico-metodológica que este projeto
pretende seguir. Lançando mão do que foi colocado até aqui, seja em termos de trato
com as fontes ou no diálogo com a literatura referente ao tema, pretendemos
compreender e narrar as disputas, as alegrias, as dores, a função política e cultural do
sair do armário gay no Brasil.

IV – Fontes:
Conforme já foi citado ao longo do texto, as fontes serão obtidas no acesso aos
seguintes periódicos55:
 Jornal do grupo Triângulo Rosa (1985-1988)
 Jornal Nós Por Exemplo (1991-1995)
 Revista Sui Generis (1995-2000)
 Revista G Magazine (1997-2000)

V- Cronograma de execução
Ano Semestre Atividades básicas propostas

2015 1º Semestre (2015.1) Atividades referentes às disciplinas do Doutorado.


2º Semestre (2015.2) Leitura teórico-metodológica sobre o objeto em questão
Arrolamento e problematização das fontes
2016 3º Semestre (2016.1) Pesquisa nas fontes.
4º Semestre (2016.2) Leitura da bibliografia referente ao tema e ao contexto.
Elaboração da sumário da tese.
2017 5º Semestre (2017.1) Produção do capítulo 1 e 2 da tese.
6º Semestre (2017.2) Qualificação
2018 7º Semestre (2018.1) Produção do capítulo 3 da tese.
8º Semestre (2018.2) Conclusão e revisão do texto da tese.
Defesa da tese.

V- Referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó, SC:
Argos, 2009.

55
Conforme destaquei anteriormente, disponho de todas as fontes no meu acervo particular.

20
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FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel Aarão. Revolução e democracia (1964...). Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
ARIÈS, Phillipe; BÉJIN, Andre (orgs). Sexualidades Ocidentais. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
AROSTEGUI, Júlio. Teoria e Método. Bauru: EDUSC, 2006.
CHAREAUDOU, Patrick. Discursos das Mídias. São Paulo: Contexto, 2006.
ERIBON, Didier. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
2008.
FACCHINI, Regina. Sopa de letrinhas?: Movimento homossexual e produção de
identidades coletivas nos anos 1990. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
_________ & SIMÕES, Júlio. Na trilha do arco-íris: do movimento homossexual ao
LGBT; São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2009.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1989.
_______ O governo de si e dos outros. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
________A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
________A Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
_______ Arqueologia do saber. São Paulo: Forense Universitária, 2010.
GREEN, James. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século
XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
GUIMARÃES NETO, Regina B. Historiografia & narrativa: do arquivo ao texto.
Revista Clio. Série História do Nordeste (UFPE), v. 28, p. 140-156, 2010.
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Foucault: renovacións del pensamento crítico. Buenos Aires: Ed. Argentina, 2004
LUCA, Tania Regina de. Fontes Impressas: História dos, nos e por meio dos periódicos.
In.: PINSKY, Carla. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2011.
LUNA, Francisco Vida; KLEIN, Herbert S. O Brasil desde 1980. São Paulo: A girafa
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OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Cultura brasileira nesse fim de século. In.: D’INCAO, Maria
Angela (org). O Brasil não é mais aquele... Mudanças sociais após a redemocratização.
São Paulo: Cortez, 2001.
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PINHEIRO, Paulo Sérgio (orgs). Brasil: um século de transformações. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
RODRIGUES, Jorge caê. Impressões de identidade: um olhar sobre a imprensa gay no
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21

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