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Sociologia

Movimento Social Negro


Movimento Social Negro
O Brasil é o país que tem a maior população
de negros fora da África. Nossos antepassados
foram trazidos para cá e além de serem
escravizados passaram por um processo de
‘aculturação’, sendo obrigados a deixarem de
praticar suas linguagens, religiões e costumes
adotando práticas européias.
O movimento negro tem por objetivo não
deixar esmorecer e resgatar essa cultura
afro- brasileira, rebatendo a rígida
desigualdade e a segregação racial que ainda
atinge o povo negro. O movimento negro é
uma batalha travada contra o senso comum.
Numa sociedade onde se assume que existe
preconceito racial é contraditória a
afirmação que não há discriminação e
racismo pessoal.
Que ele é presente (o racismo), estamos
fadigados e experientes no assunto, a questão
é: onde o racismo atrapalha, rouba, diminui,
fere, interfere, omite, engana, diferencia a
população negra que constitui toda uma nação
de outra raça? Aí está a chave. Aí entra o
movimento negro, numa armadura e
resistência coletiva de uma raça presente e
atuante.
O Estado é o personagem responsável em
garantir a equidade, porém, se esta instituição
age de forma ativamente contrária ou de
forma omissa em seus serviços de
policiamento, saúde pública, geração de renda
e trabalho, educação; permitindo que a
discriminação racial, ainda nos dias de hoje,
faça parte do seu sistema.
Então temos algo além de problemas sociais, o
Estado produz um retrocesso, um apartheid.
Todavia, a nação se estrutura em outros
pilares, além do Estado, que envolve escolas,
famílias, templos religiosos, universidades e
empresas. Essas organizações já deveriam
estar desconstituídas de sua hereditariedade e
rompidas de suas tradições e dogmas racistas,
com representantes de diversas raças e etnias
partindo do princípio que a nação brasileira é
constituída de múltiplas determinações raciais
(Ribeiro, 2005 )
Concluímos que o racismo tem efeito letal e
em massa. Aí atua toda a essência do
movimento negro, não se baseando apenas em
probabilidades e teorias, mas em fatos
empíricos experimentados nas diversas
ramificações dos negros na sociedade. O
movimento está diretamente ligado às lutas
não só contra o racismo e a discriminação
racial, mas também a xenofobia e
intolerâncias correlatas.
No Brasil lembramos dos grandes marcos como
Zumbi, Revolta dos Malês, Chibata e tantas
representações de luta e resistência do povo
negro. O movimento negro é resultado de uma
série de manifestações decorrentes de um
processo histórico. Não se pode dizer onde ele
nasce ou especificar algum lugar determinado.
A amplitude do movimento negro é um
conjunto de manifestações que surgem de
inquietações individuais e coletivas.
Mas sem dúvida as manifestações
contemporâneas do movimento negro no Brasil
foram influenciadas pelos diversos atos anti-
discriminatórios que ocorreram nos Estados
Unidos na década de 60. No referido período o
Brasil vivia sob o regime político militar
altamente repreensivo contra as
reivindicações de massa, mas é neste contexto
que o movimento negro inicia as suas
articulações no país.
O Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão
responsável em coordenar as atividades de
informação e contra-informação em todo o
país, produziu inúmeros relatórios à Segurança
Nacional durante o regime militar. Em 14 de
julho de 1978 foram relatados os primeiros
indícios do Movimento Negro Unificado, o MNU,
nas portas do Teatro Municipal no centro da
capital paulista. Uma concentração motivada a
denunciar toda indução racista e organizar a
comunidade negra.
A partir de 1988 surgem algumas publicações
voltadas para a questão racial. Ainda em 1920
surge os fundadores da Frente Negra Brasileira
que depois tornou-se um partido político em
1936 sendo extinto logo em seguida pelo
Estado Novo um ano depois. Em 1940.
Histórias contadas a partir de entrevistas orais
foram objeto de estudos por pesquisadores do
movimento negro muito tempo depois.
Também em 1988 comemorou-se o centenário
da Abolição, que culminou numa série de
manifestações e protestos por partes dos
militantes negros.
Duas reivindicações viraram leis e entraram
para a Constituição: a criminalização do
racismo (Artigo 5º) e o reconhecimento de
propriedade das terras de remanescentes de
quilombos (Artigo 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias). No mesmo ano a
Igreja Católica lança a Campanha da
Fraternidade: “A Fraternidade e o Negro”,
com o lema: “Ouvi o clamor desse povo”,
introduzindo o debate da questão racial no
seio da igreja. Daí surge a Pastoral Afro
Brasileira e a Associação de Padres Negros
(APNs).
Em 1995 foi elaborada em Brasília a marcha
em homenagem aos trezentos anos da morte
de Zumbi dos Palmares. Fernando Henrique
Cardoso em seu primeiro ano de governo cria o
Grupo de Trabalho Interministerial para a
Valorização da População Negra, dando a
partida nas primeiras iniciativas de ações
afirmativas na administração pública federal.
E 2001 foi o ano da III Conferência Mundial de
Combate ao Racismo, realizada na cidade de
Durban, na África do Sul, que mobilizou o
governo e as entidades do movimento negro
em sua preparação e resultou em novos
acontecimentos, como a reserva de vagas para
negros em algumas universidades do país e
novos compromissos assumidos pelo Estado em
âmbito internacional. Resumindo Durban foi
um marco para a discussão de políticas
afirmativas no Brasil.
A intolerância em relação às religiões de
matrizes africanas também passou a ser mais
debatida em fóruns e congressos, obtendo
respaldo na esfera política. Enfim, mesmo
gerando polêmica, a questão racial saiu de
baixo dos tapetes e começou de fato a ser
discutida pela sociedade brasileira.
Atualmente o movimento negro é composto
por uma grande quantidade de coletivos que
muitas vezes divergem entre si nas
reivindicações de políticas públicas, como no
caso das cotas e do Estatuto da Igualdade
Racial.
Não há consenso no movimento negro hoje
sobre esses dois assuntos. A unanimidade pode
ser observada na luta pela implementação da
Lei 10.639, que prevê a obrigatoriedade do
ensino da África e do negro no Brasil nas
escolas de todo o país. A causa dos
quilombolas também tem a adesão do
movimento como um todo. Sem falar na luta
contra a discriminação racial, aonde todos
defendem a aplicabilidade da lei de
discriminação racial, crime considerado
inafiançável pela Constituição, mas pela falta
de conhecimento ...
... muitas vezes ela é confundida com o crime
de injúria e difamação, cuja pena é bem mais
leve. Contudo essa militância vem buscando
por viés político, educacional, ideológico,
cultural, religioso, gênero, artístico, entre
outros a real e total liberdade em todas áreas,
buscando boa qualidade de vida,
desmarginalização, educação, inserção social,
melhor moradia e saúde para o povo negro.
Movimento negro americano
O movimento negro americano - Nos EUA o
movimento negro teve inúmeras expressões,
as três principais foram o reverendo
evangélico Martin Luther King, que lutou pelos
direitos civis dos norte-americanos; o
Mulçumano Malcon X e o partido dos Panteras.
Além das reivindicações sociais e políticas o
movimento negro americano revoluciona o
mundo na década de 60 com o movimento
“Black is Beatiful”, a maior manifestação de
auto afirmação da beleza negra de todos os
tempos.
Martin Luther King - O líder evangélico que
mudou a história de milhares de negros
americanos... “Eu só quero fazer a vontade de
Deus”. Em 1955 King entrou em cena na luta
pela igualdade racial. Os negros da época não
tinham direito ao transporte público, viviam
em condições desumanas sob uma dura
exploração trabalhista, tudo conseqüência da
falta dos direitos civis que também negava aos
negros o direito ao voto.
O inicio de tudo
Uma mulher negra se negou a ceder seu lugar
para uma mulher branca em um ônibus. Foi
presa. Um escândalo estava formado.
Freqüentemente a população negra estava
exposta a humilhações sem reação a tais
atitudes. Mas este caso gerou uma forte
mobilização na cidade. Líderes negros de
Montgomery organizaram um boicote na
cidade: nenhum negro deveria mais utilizar o
transporte público da cidade.
O protesto contra a segregação durou 381
dias, King foi um dos líderes da campanha e
futuramente foi perseguido e ameaçado. A
vitória veio e o boicote ao transporte público
foi encerrado com a decisão da Suprema Corte
Americana entendo como ilegal a segregação.
Comunidades negras ligadas à igreja Batista
compunham a fundação da Conferência de
Liderança Cristã do Sul (CLCS) criada em 1957,
e Martin Luther King esteve a sua frente até a
sua morte.
Sua ideologia era “não à violência” e
“desobediência civil” preconizado por
Mahatma Gandhi (líder religioso que promoveu
uma revolução pacífica na Índia). Mesmo com
o discurso de paz, o período era de
linchamentos aos negros enquanto o governo
limitara-se a observar. Também se tornou a
pessoa mais jovem a receber o Nobel da Paz
em 14 de outubro de 1964 em reconhecimento
à sua liderança na resistência e na luta pelo
fim do preconceito racial nos Estados Unidos.
King teve um papel importantíssimo, com o
perdão do superlativo, na luta racial e todo o
movimento negro, plastificando ideais que são
lembrados até os dias de hoje. Tinha um
discurso conciliador de classes, moderador,
uma pregação metade política, metade
religiosa buscando a reflexão para a igualdade
e o fim do racismo por intermédio da paz e do
amor a Cristo, dando a outra face ao inimigo.
Para alguns negros essa tentativa de
pacificação com o homem branco era
calamitosa e covarde diante de tanto
sofrimento causado por este. Acordos de
defesa não foram bem quistos por todos. Em
um de seus discursos King fez uma saudação a
John Kennedy pelos avanços na questão racial.
Tal postura causou divergência entre os negros
que estavam em busca de um combate mais
intenso.
Após 14 anos de luta, King é morto no dia 4 de
abril de 1968. Foi assassinado aos 39 anos por
um homem branco segregacionista em
Menphis, sul do país. King foi o pastor líder do
Movimento Pelos Direitos Civis. Na medida em
que as lutas raciais cresciam e tomaram
maiores proporções no país, começou-se a
discutir até que ponto um discurso pacificador
resolveria de fato os problemas que os negros
enfrentavam: a proposta de uma radicalidade
vem à tona.
Outros líderes vieram com novas idéias e
alguns avanços e consciência sócio-racial.
Vejamos.
O líder mulçumano Malcom X: o racismo versus
burguesia
“Não existe capitalismo sem racismo”
Um orgulho negro embutido em suas palavras.
Malcon X foi além de batalhas isoladas contra
racistas fascistas de bairro, debelando um
conjunto de instituições do sistema como
responsáveis e articuladores do racismo.
Uma lenda viva norte-americana. Além de
defender o negro, seu movimento, seus
hábitos e sua história trouxeram à tona como
o capitalismo influencia a sociedade ao
estabelecer relação de poder entre as classes.
“Martin Luther King, pobre garoto. Está sob
influência dos fascistas. Está sendo criado
pelos fascistas para guiar ovelhas rumo ao
abatedouro”, disse Malcon X.
X acreditava que existia uma estrutura de
poder branco que não estava interessada em
perpetuar a escravidão, mas usava de novos
artifícios para assim proceder. Dizia também
que se o homem branco estupra, mata,
explora, escraviza e rouba o homem negro,
então ele não é bom, ele é o inimigo. Um
diagnóstico ao negro era, segundo X, a
organização e a disciplina para manter sua
própria subsistência e independência política.
A violência era tida não como agressão por
Malcon, mas sim como uma legítima defesa,
isto é, não era má vinda. Para Malcon o
capitalismo favorecia-se com a discriminação
racial, pois esta produz lucros à burguesia já
que com a exploração da classe trabalhadora
se paga um salário inferior, e os negros
ocupam os piores cargos, mesmo que paguem
os mesmo preços no que consomem.
A defesa começa se armando
A estratégia de luta agora, diferente de king,
era o combate ostensivo. Além de Malcon X os
Panteras Negras também partiu desse
princípio. Organizações começaram a armar
seus militantes e, de cabeça erguida, foram às
ruas armados, não admitindo humilhações e
violência infligidas pelos brancos como
outrora. Percebemos que a luta era a mesma,
mas as formas eram distintas. Malcon um
anti-capitalista de ideologias intensas.
Ex-presidiário, conheceu o islã no cárcere,
onde leu o maior número de livros possíveis de
leis e historias do negro. Ao colocar em prática
as suas idéias Malcon foi seguido por um
número faraônico de militantes. Morreu
assassinado aos 39 anos. Segundo testemunhas
próximas a Malcon o responsável por sua
morte foram pessoas do islã influenciadas pelo
governo.
Partido das Panteras Negras pela
Auto-Defesa
“vigiamos a polícia que brutaliza o nosso
povo”
Punho preto e cerrado, salientando as veia
s erguidas ao céu, irrigando o corpo com
sangue africano. Jaquetas pretas, boinas. Um
olhar de coragem, ações de coragem, uma
luta que ainda não chegou ao fim.
O Partido dos Panteras Negras pela
Auto-Defesa foi um grupo de revolucionários
urbanos criado na década de 60, precisamente
em outubro de 1966, com a proposta de
proteger, reivindicar e lutar pelos moradores
negros em Oakland, na Califórnia, frente às
drogas, o ciclo branco racista social local, o
Estado e particularmente os militares. Seus
fundadores foram Bobby Seale e Huey Newton.
Os Panteras Negras tinham as leis na ponta da
língua e princípios marxista. Criaram em 15 de
outubro de 1966 o “Programa dos Dez Pontos”,
uma organização de princípios. “Queremos
liberdade. Queremos o poder para determinar
o destino da comunidade negra. Acreditamos
que o povo negro não irá se libertar até que
sejamos capazes de determinar nosso
destino”.
Fim à roubalheira do homem branco sobre a
comunidade negra;
Habitação decente e um sistema educacional
“que exponha a verdadeira natureza desta
sociedade americana decadente";
A isenção dos negros no pagamento de
impostos e de todas as sanções da chamada
“América branca”
Outras demandas incluíam um fim à
brutalidade policial, da isenção do serviço
militar aos homens negros, e para “que todo
homem negro, quando levado ao tribunal, seja
julgado por um júri de seu grupo ou por
pessoas das comunidades negras”. Foram
inúmeros os questionamentos e os conflitos
por conta dos Panteras, já que esse adotou
taticamente o uso de armas de fogo para
defender os negros, inicialmente do gueto,
das agressões e acusações da polícia
considerada corrupta e racista, além de outros
grupos armados.
Entendiam que o negro tinha por obrigação se
informar
sobre seus direitos como cidadãos americanos,
assim, como mecanismo de defesa contavam
com estudos de direto civil e criminal para
seus integrantes. A polícia de Oakland
(Califórnia/EUA) sempre esteve decidida a
acabar com o grupo.
Com núcleos espalhados pelas
principais cidades o número de integrantes do
movimento passou dos 2.000.
Criticada por muitos, até hoje a história dos
Black Panters é extensa, curiosa e cheia
conquistas. Mais um marco com
efeito de mudança na vida dos negros do
mundo.

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