Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
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Lidiany de Lima Cavalcante
Lucilene Ferreira de Melo
Organizadoras
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Comitê Científico Alexa Cultural
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid - Espanha)
Aldair Oliveira de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica - Costa Rica)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Evandro Luiz Guedin (UFAM – Itaquatiara/AM)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (USP/EcA - São paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UNIFESP - Guarulhos/SP)
Miguel Angelo Silva de Melo - (UPE - Recife/PE)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Renilda Aparecida Costa (UFAM – Manaus/AM)
Roberta Ferreira Coelho de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Sebastião Rocha de Sousa (UEA – Tabatinga/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)
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Lidiany de Lima Cavalcante
Lucilene Ferreira de Melo
Organizadoras
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO
AMAZONAS
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Henrique dos Santos Pereira
Membros
Antônio Carlos Witkoski
Domingos Sávio Nunes de Lima
Edleno Silva de Moura
Elizabeth Ferreira Cartaxo
Spartaco Astolfi Filho
Valeria Augusta Cerqueira Medeiros Weigel
Reitor
Sylvio Mário Puga Ferreira
Vice-Reitora
Therezinha de Jesus Pinto Fraxe
Editor
Sérgio Augusto Freire de Souza
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Dedicatória
À todas as mulheres que fazem das identidades e vivências sexuais
suas plataformas de luta, existência e resistência.
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas, pelo
financiamento da pesquisa;
À Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES, pelo apoio e financiamento;
À Universidade Federal do Amazonas, pela oportunidade de dedi-
cação à pesquisa;
À Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
CAPES pelo apoio e financiamento;
Aos/às pesquisadores e pesquisadoras do Laboratório de Estudos
de Gênero, pelo compromisso durante a trajetória de descobertas,
incertezas e reflexões, sobretudo pela ousadia para realizarmos uma
pesquisa desafiadora em tempos de pandemia.
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© by Alexa Cultural
Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Marcelo Ramos Marinho
Revisão Técnica
Lidiany de Lima Cavalcante
Revisão de língua portuguesa
Caroline do Socorro Silvestre Oliveira
Editoração Eletrônica
Alexa Cultural
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Prefácio
A história das mulheres expressa a pluralidade das possibilida-
des e das (im) possibilidades, dos desejos e das opressões. Para Priore
é uma história que não é só delas pois que também é a história “da fa-
mília, da criança, do trabalho, da mídia, da literatura. É a história do
seu corpo, da sua sexualidade, da violência que sofreram e praticaram,
da sua loucura, dos seus amores e dos seus sentimentos” (2002, p.7).
Descritas como imperfeitas, traiçoeiras e malévolas são culpa-
bilizadas pelas doenças, perda de plantações, morte de gados e até por
transtornos climáticos. Tanto na mitologia grega como na Bíblia a mu-
lher é representada de forma carregada de sentidos negativos, cito ape-
nas algumas: Eva, Lilith, Pandora... responsáveis pelo sofrimento, pelo
pecado, por todas as tragédias.
Para Bolzan as narrativas sobre mulheres presentes nos mitos de
criação fazem parte desde do imaginário social e cultural associando
Pandora, Lilith e Eva “à transgressão, desobediência, curiosidade, pe-
cado, ameaça e, assim, responsabilizadas por disseminar as mazelas do
mundo” (2015,p.25). Essas narrativas justificaram violências, torturas
e mortes.
Subjugadas à dominância masculina, para Lerner as mulheres
foram as primeiras escravas pois a “opressão de mulheres precede a
escravidão” e essa aprendizagem tornou possível a escravidão dos ho-
mens (LERNER,2019,p.148). O homem aprendeu a escravidão pri-
meiramente subordinando as mulheres, e a “invenção cultural da es-
cravidão baseia-se tanto na elaboração de símbolos de subordinação
das mulheres quanto na conquista real de mulheres” (2019, p. 153) ini-
ciando a opressão dentro do grupo e posteriormente incluindo mulheres
prisioneiras, tendo o estupro como forma constante de violência.
Como outra forma de opressão a maternidade sobrevive há mi-
lênios.
Imposta às mulheres seja pelo discurso biológico que destaca
as condições físicas da mulher para gerar e parir, seja pela Igreja com
valorização da Virgem Maria que gerou o salvador do mundo e perma-
neceu virgem e pura. Narrativa que segue vigente contrariando todas as
evidências da ciência.
A maternidade ou a função maternal foi a única forma de ex-
pressão da sexualidade concedida as mulheres desde dentro das seguin-
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tes condições “se subordinar ao marido e dar à luz os filhos com dor”
(LERNER, 2019,p.326).
Nas narrativas poéticas, ditados populares, contos de fadas e/
ou músicas as mulheres são descritas como “complementares” aos ho-
mens, tão boas “quanto” os homens, “atrás” de grandes homens, na
“espera” do príncipe salvador, ou seja, não são descritas por elas mes-
mas, mas como uma versão do homem. A abnegação e subjugação é
inspiradora para músicas que elogiam Amélia como mulher de verdade
pois sem vaidade ou retratam as mulheres sem defeito nem qualidade
de Atenas. Músicas de Mario Lago e Chico Buarque respectivamente.
Bruxas, deusas, divinas, diabólicas, amaldiçoadas, santas, puras,
a narrativa historicamente foi desenvolvida e escrita por homens por
muitos séculos.
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mulheres e homens cisgênero, transgênero e pessoas auto identificadas
como não binárias.
A coletânea coloca o “dedo na ferida” de um sistema de saúde
que se propõe universal e integral, mas que falha no acolhimento e na
garantia desse acesso quando não desvela a hegemonia heteronorma-
tiva. A manutenção da heterossexualidade como padrão hegemônico
repercute na qualidade do atendimento à saúde das mulheres lésbicas
e bissexuais revelando práticas profissionais da saúde impregnadas de
preconceitos e desinformação e por consequência evidencia a importân-
cia das lutas do movimento LGBTI+ e da sociedade por uma política de
saúde universal que atenda toda população de forma humana e integral.
Uma sociedade patriarcal e heteronormativa obstaculiza o de-
senvolvimento pleno das mulheres e por obvio, esses obstáculos se am-
plificam em relação a mulheres lésbicas e bissexuais. Especificamente
no acesso aos serviços de saúde, estudos tem apontado que há cons-
trangimentos, discriminação, preconceito, assédio e até violência física,
obstáculos que, pelas diferenças sexuais somados as condições socioe-
conômicas, geográficas, educacionais facilitam/dificultam esse acesso
(BROWN, et Al, 2024; ANDRADE Et Al, 2021).
Desde junho de 1969 quando gays, lésbicas, travestis e drag
queens se rebelaram contra a violência da polícia americana no que
ficou conhecido internacionalmente como Rebelião de Stonewall e
lançou as bases do movimento pelos direitos LGBT muitas foram as
vitórias, mas longo ainda é caminho a percorrer.
Nessa caminhada histórica essa obra pega pela mão e pelo co-
ração e adentra às experiencias das lutas dos movimentos LGBTI+ no
Amazonas as quais promoveram o nascimento de novas organizações
sociais e novas perspectivas de ativismo. Ao buscar as memórias das
pioneiras, a obra garante que essas lutas e seus frutos fiquem regis-
trados, sejam conhecidos e reconhecidos e, se, nossa humanidade se
expressa na nossa história e no conteúdo de nossas memórias, visitar e
preservar a história é mais do que homenagear os que nos antecederam,
é fortalecer o cordão que nos humaniza e liga uns aos outros.
Destaco na coletânea a centralidade nos desafios do acesso de
mulheres lésbicas e bissexuais à rede de saúde denunciando lacunas
importantes no princípio da universalidade. Destaque também para a
atenção as populações que residem em regiões afastadas, longe dos re-
cursos que de forma desigual estão localizados nas regiões mais urba-
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nizadas apontando os vazios assistenciais em saúde que expõem a po-
pulação, em especial as mulheres que são protagonistas desses artigos.
Estudos apontam que, para mulheres lésbicas e bissexuais o
atendimento em saúde, em especial a consulta ginecológica, é viven-
ciada como exposição tanto do corpo como das formas de ser e se
comportar que podem ser discriminadas nos atendimentos em saúde
(BARBOSA & FACHINI,2009), o que é reiterado nos artigos da cole-
tânea. A heteronormatividade presente na sociedade reflete nas práticas
profissionais e na forma como os serviços da rede são organizados com
repercussões no acesso e na qualidade do atendimento de segmentos da
população vistos como divergentes, discussão que fundamenta a cole-
tânea de forma potente e desafiadora. Essa lógica fragiliza o direito a
saúde com qualidade repercutindo na recusa de muitas mulheres lésbi-
cas e bissexuais em realizar o tratamento adequado ampliando índices
de doenças ginecológicas.
As/os autoras/es destacam ainda, a importância de adensar o co-
nhecimento e a compreensão das experiencias, sensibilidades e singu-
laridades de mulheres lésbicas e bissexuais conectando com o mundo
intersubjetivo. O reconhecimento das identidades sexuais pela socie-
dade em geral e especificamente nas políticas de saúde contribuirá na
prevenção de vulnerabilidades que se colocam na interseccionalidade
entre sexualidade, gênero, classe muitas vezes desencadeadas por abor-
dagens inadequadas.
Apontar essas lacunas e destacar a necessidade do reconheci-
mento da diversidade populacional configura essa coletânea como im-
portante recurso para o fortalecimento do SUS como um sistema de
saúde eficaz, participativo e inclusivo.
Finalmente, ao agradecer o convite para elaborar esse Prefácio,
parabenizo as autoras e autores e reitero a importância dessa Coletânea
que se caracteriza como uma produção consistente com plenas condi-
ções de subsidiar políticas de saúde destinadas a mulheres lésbicas e
bissexuais. São estudos e investigações rigorosas e sensíveis que, ao
tornarem visíveis essas mulheres e seus enfrentamentos promovem os
direitos “nem menos, nem mais. Direitos iguais!”
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Referências
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Sumário
Prefácio
Maria Isabel Barros Bellini
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Apresentação
Lidiany de Lima Cavalcante e Lucilene Ferreira de Melo
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SEÇÃO I
MULHERES, HISTÓRIA, POLÍTICAS E DIREITOS
Capítulo 1
Interfaces do acesso ao direito de saúde e a teoria do cuidado para mu-
lheres lésbicas e bissexuais
Denison Melo de Aguiar, Dária Barroso Serrão das Neves e
Márcia Cristina Nery da Fonseca Rocha Medina
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Capítulo 2
Entre ativismos e ativistas: fracionamento e pluralização dos movimen-
tos LGBTI no Amazonas (2004-2019)
Michele Pires Lima
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Capítulo 3
Política de Saúde para Mulheres Lésbicas e Bissexuais: um direito para
todas?
Lidiany de Lima Cavalcante
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SEÇÃO II
ENTRE O DIREITO E O ACESSO:
OS RESULTADOS EM FOCO
Capítulo 4
Navegando na rede de atenção à saúde em Itacoatiara-Am: a hora e a
vez das mulheres
Aline dos Santos Atherly Pedraça e Lidiany de Lima Cavalcante
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Capítulo 5
Sob os discursos de trabalhadores e trabalhadoras da saúde: o atendimen-
to às mulheres lésbicas e bissexuais no município de Manacapuru/Am.
Romulo Cardoso da Silva e Valéria Barbosa Soares
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Capítulo 6
Acessos e desafios para mulheres usuárias das unidades básicas de saúde
-UBS’s: considerações do direito e projeções no atendimento humanizado
Aline dos Santos Pedraça, Daiany Cavalcante Ribeiro.
Roselayne Castro de Souza e Thaís Mirian Helena Pantoja Tarabossi
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Capítulo 7
O lugar de Perséfone na sociedade contemporânea: identidade sexual
de mulheres e o acesso à saúde na atenção básica
Ariadna Nunes Aguiar Batalha, Isadora Lima de Souza, Izabelle Cristi-
na Fragoso do Nascimento e Marcia Helena Nascimento Braga
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SEÇÃO III
A CONSTRUÇÃO NAS PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO E RE-
CONHECIMENTO
CAPÍTULO 8
Entrando pelas portas dos fundos nos serviços de saude: a atenção pri-
mária a saúde de mulheres lésbicas e bissexuais em Manaus.
Helen Bastos Gomes, Márcia Irene Pereira Andrade Mavignier e
Evelyn Barroso Pedrosa
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CAPÍTULO 9
A informação como estratégia de prevenção à violência institucional
contra mulheres
Lucilene Ferreira de Melo, Thamyres Alves Depietro,
Ruth Pereira de Melo e Fernanda Arruda de Oliveira
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Apresentação
Esta obra é fruto de uma trajetória de reflexão sistemática que
o Laboratório de Estudos de Gênero/LEG/UFAM, vem desenvol-
vendo por meio de debates e investigações por seus membros, em
especial, a pesquisa “Entre o Direito e o Acesso: protoformas no
acesso a saúde de mulheres lésbicas e bissexuais em quatro muni-
cípios do Amazonas”, sob a coordenação da Dra. Lidiany de Lima
Cavalcante, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-
tado do Amazonas – FAPEAM, por meio do Edital nº 006/2019 –
Programa Universal Amazonas.
O objetivo geral do projeto consistiu em investigar como se
efetiva o direito, o acesso e a atenção à saúde para mulheres lésbicas
e bissexuais na rede básica de saúde, a partir do olhar de usuárias
e profissionais, nos municípios de Manaus, Parintins, Itacoatiara e
Manacapuru. O destaque dos municípios refere-se ao fato de esta-
rem como os mais populosos do Estado do Amazonas. Os objetivos
secundários proporcionaram mapear a rede de atenção básica em
Saúde nos quatro municípios; identificar a existência de programas
de atenção à saúde das mulheres e as peculiaridades quanto ao aces-
so e atendimento de mulheres lésbicas e bissexuais; caracterizar o
cotidiano de atuação dos profissionais junto aos sujeitos da pesquisa,
assim como as particularidades no atendimento e conhecer os desa-
fios das mulheres lésbicas e bissexuais no que se refere ao direito,
acesso e permanência aos programas da atenção básica de saúde.
A mencionada pesquisa foi realizada entre 2020 e 2022, nesse
sentido, não se pode olvidar, o contexto ultra desafiador da pande-
mia da Covid-19, em que foi efetivada, tornando ainda mais urgente
e necessária a socialização da reflexão da temática em tela envolven-
do análise concreta da política pública de saúde, direito e acesso de
mulheres lésbicas e bissexuais. Das reflexões realizadas a partir do
resultado da pesquisa foram produzidos textos dos/das pesquisado-
res/pesquisadoras para a presente coletânea.
Esta coletânea, além do prefácio, esta apresentação e a intro-
dução, contempla 3 seções e 9 capítulos. Entre os autores/as estão os
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pesquisadores do Laboratório de Estudos de Gênero/LEG/UFAM,
mas outros pesquisadores que orbitam em torno da temática foram
convidados a trazerem suas contribuições, tais como, docentes da
Universidade do Estado do Amazonas – UEA, docentes do Depar-
tamento de Serviço Social da Universidade Federal do Amazonas,
docentes, discentes e egressos do Programa de Pós Graduação em
Serviço Social – PPGSS/UFAM, ainda participam como autores/
as: pós-graduandos do Programa de Pós graduação em Sociedade e
Cultura na Amazônia/UFAM, do Programa de Ciencias de la Educa-
ción- Facultad Interamericana de Ciencia Sociales -FICS/Paraguai e
do Instituto Integralize de Educação Superior – IESLA.
O conteúdo da obra traz como problemática central o direito
à saúde das mulheres lésbicas e bissexuais no contexto amazonense.
Problematiza, por um lado, a Política de Saúde com foco na inclusão
de mulheres lésbicas e bissexuais na atenção básica em municípios
do interior da Amazônia, e, por outro, o atendimento realizado na
visão dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde na respectiva rede
de atenção.
Constata-se na abordagem dos/as autores/as a necessária efe-
tividade da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais, conforme seus preceitos, dire-
trizes e objetivos, demandando do compromisso da esfera pública,
nos diferentes níveis governamentais, para qualificar e operaciona-
lizar o serviço público de saúde com o devido reconhecimento das
especificidades do segmento, sobretudo das mulheres lésbicas e bis-
sexuais aqui tratadas em destaque.
Sabe-se que a Universidade propicia interlocução, debate e
intercâmbio da produção intelectual, tal pressuposto é contemplado
nesta coletânea, pois traz a contribuição de diferentes intelectuais
vinculados/as a diferentes instituições que mais do que produzir e
disseminar conhecimento unem-se em prol da promoção do Direito
e acesso à saúde para mulheres lésbicas e bissexuais e, da população
LGBTQI+, somando forças também pela eliminação de toda forma
de violência, preconceito e discriminação às pessoas com identida-
des sexuais e de gênero dissidentes.
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SEÇÃO I
Mulheres, História, Políticas e Direitos
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CAPÍTULO 1
Introdução
Há interfaces do acesso ao direito de saúde e a teoria do cui-
dado para mulheres lésbicas e bissexuais que podem ser um instru-
mento para promoção do Direito Humano à saúde para esta popula-
1 Graduado em Direito pela Universidade da Amazônia. Advogado. Mestre em Direito Am-
biental pelo Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado
do Amazonas (PPGDA-UEA). Professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Estado
de Minas Gerias (PPGD- UFMG). Coordenador da Clínica de Direito LGBT (CLGBT-UEA).
Co-coordenador de: i. Programa - Rede de ensino, pesquisa, extensão e assistência de combate
a lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia (LGBTFOBIA+); outras fobias e assédios, pela
cultura de paz e pelo respeito à pessoa humana, na Universidade do Estado do Amazonas
(PROPAZ- UEA) e II. Núcleo de ensino, pesquisa, extensão e assistência à saúde integral
de LGBTI+ da Universidade do Estado do Amazonas (NLGBTI+-UEA). E-mail: denisona-
guiarx@gmail.com; daguiar@uea.edu.br
2 Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas (1994). Especia-
lização em Tocoginecologia na Maternidade Climério de Oliveira pela Universidade Federal
da Bahia (1995). Residência Médica em Ginecologia -Obstetrícia pela Universidade Federal
do Amazonas (1998). Especialização em Reprodução Humana pela Faculdad Mexicana de
Medicina - Universidade La Salle (1999). Residência Médica em Biologia de la Reproducción
Humana no Instituto Nacional de Ciências Médicas y Nutrición Salvador Zubirán - Univer-
sidad Autonôma del México - UNAM (2001). Mestrado no Programa de Pós-Graduação em
Medicina Tropical e Doenças Infecciosas, linha de pesquisa em IST (2015). Professora do
curso de Medicina na Universidade do Estado do Amazonas. Coordenadora do Serviço de
Ginecologia Endócrina e Preceptora do Programa de Residência Médica da Maternidade Ana
Braga/Universidade do Amazonas (MAB-UEA). Coordenadora do Ambulatório Diversidade
Sexual e Gênero-Processo Transexualizador na Policlínica Codajás. E-mail: dbsneves@uea.
edu.br; daria_neves@hotmail.com
3 Professora do curso de Direito da Universidade do Estado do Amazonas. Coordenadora do
Curso de Especialização em Direito e Processo do Trabalho da Universidade do Estado do
Amazonas. Mestra em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Doutora
em Administração pelo FEA-USP. Vice-líder da Clínica de Direito LGBT da Universidade do
Estado do Amazonas. Presidenta da Seção Sindical dos Docentes da UEA. Representante da
Escola de Direito no Conselho Universitário da Universidade do Estado do Amazonas. Conta-
to: mcmedina@uea.edu.br mcmedina@uea.edu.br medina_adv@hotmail.com
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ção em específico. Quando se trata de instrumentalização do Direito
ao acesso à saúde para mulheres lésbicas e bissexuais, vale-se do
contexto histórico e social das quais estas estão inseridas, como o
perfil de violência, preconceito, discriminação, machismo, misogi-
nia, heterocisnormativismo, dentre outras causas de vulnerabilida-
des, vulnerabilizações e até mesmo, das interseccionalidades. Assim
sendo, para se pensar na promoção do Direito Humano à saúde des-
tas, tem-se que obrigatoriamente considerar tais fatos e aspectos.
Neste contexto, o objetivo geral deste capítulo é descrever como
pode ocorrer a promoção do Direito Humano à saúde para mulheres
lésbicas e bissexuais no contexto de interfaces do acesso ao direito
de saúde e a teoria do cuidado. Esta abordagem é importante, pois a
promoção de saúde, como um Direito Humano, tem que ser pensada
de forma aplicada, ou seja, de forma que torne o direito determinado
e embasado na legislação, uma política pública. Logo, a importância
social deste tema está na aplicação específica desta população.
Neste âmbito, o problema de pesquisa pode ser sintetizado
no seguinte: Como as interfaces do acesso ao direito de saúde e a
teoria do cuidado para mulheres lésbicas e bissexuais podem contri-
buir para a promoção do Direito à saúde, na condição de um Direito
Humano e de políticas públicas desta população? A hipótese pode-
-se tecer a partir deste questionamento e ser validada no seguinte:
Ao se considerar as interfaces do acesso ao direito de saúde, como
vulnerabilidades, e interseccionalidades, bem como, a aplicação da
teoria do cuidado para mulheres lésbicas e bissexuais, pode-se che-
gar próximo à promoção do Direito Humano da saúde como uma
política pública.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica com o
levantamento de literatura. Inicialmente, foi feito o levantamento
de artigos científicos sobre saúde à pessoa, mulheres lésbicas e bis-
sexuais, bem como, suas interfaces; posteriormente foi feito um le-
vantamento de marco legal e possíveis políticas públicas sobre o
tema. A abordagem técnica utilizada é a pesquisa crítica, na qual
vislumbra as causas da violação de direito ao acesso à saúde das mu-
lheres lésbicas e bissexuais. Por fim, foi feita uma relação temática
pensando nas políticas públicas.
Ao se tratar das seções deste capítulo, se seguirá o encandea-
mento lógico de acesso à aplicação de saúde às mulheres lésbicas
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e bissexuais. No primeiro momento, há de se pensar neste direito a
partir da Constituição da República Federativa do Brasil, bem como
das relações desta com o marco legislativo sobre a saúde, incluído
neste interim, a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, onde a saúde é um direito
humano. A partir deste contexto, refletir a promoção de acesso à saú-
de das mulheres lésbicas e bissexuais perpassa características funda-
mentais e essenciais como a saúde pensada a partir das vulnerabili-
zações e interseccionalidades desta população. Por isso, este acesso
ser refletido a partir e por meio das mulheres lésbicas e bissexuais.
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A partir deste marco legal há leis específicas à população
LGBTQIA+: 1. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, instituída pela Portaria nº
2.836, de 1º de dezembro de 2011 (BRASIL, 2011) e 2. Portaria N°
859, de 30 de julho de 2013 (BRASIL, 2013), redefine e amplia o
Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde – SUS, com
efeitos suspensos pela PRT GM/MS n º 1579 de 31 de julho de 2013,
da Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013 (BRASIL, 2013b).
Dessa forma, até esse momento histórico, a legislação de saúde às
mulheres lésbicas e bissexuais, está inserida nesta política e não é
específica, em que pese, ter uma Política Nacional de Atenção Inte-
gral à Saúde da Mulher (BRASIL, 2004), com enfoque às mulheres
heterossexuais, em especial à saúde reprodutiva destas.
Diante desse exposto, pode-se aferir que não há uma legisla-
ção específica para a promoção e acesso à saúde das mulheres lésbi-
cas e bissexuais. Isso significa que é um caso de omissão política do
legislativo da República, que mostra um quadro de inviabilização,
invisibilidade e total abandono relacionado a essa população. Vale
salientar que, a legislação sobre a saúde da população LGBTQIA+
está centrada no processo transexualizador de uma população tam-
bém marginalizada, invisibilizada que são as Transgêneros. Assim, a
situação é de abandono em relação à população de mulheres lésbicas
e bissexuais em relação à promoção e acesso à saúde, o que consta-
ta as vulnerabilizações, interseccionalidades e invisibilidades desta
população em específico.
Essa omissão do Estado em fomentar políticas públicas signi-
ficativas para a população de mulheres lésbicas e bissexuais está ali-
nhada a um projeto higienista que conta com a colaboração de várias
instituições, inclusive no meio da saúde. Assim sendo, há um desafio
histórico: ser sujeito neste sistema de sujeição. A “sinergia de vulne-
rabilidades” (PARKER, 2000) ampara-se na fragilidade constitutiva
de ações constituídas ao enfrentamento destas discriminações, assim
como de políticas públicas destinadas às necessidades básicas deste
segmento.
As mulheres lésbicas e bissexuais são sujeitos com identi-
dades de gênero e orientações sexuais variadas sobrevivem a ani-
quilamentos e discriminações cotidianas, opressões que se entre-
cruzam nas diversas dimensões. Nessa realidade há a precariedade
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social com suas diversas faces: nas relações familiares, escolares,
no mercado do trabalho, no acesso aos serviços públicos de saúde e
na própria condição de existência (SANTOS, 2019). As violências
apresentadas então em todos os âmbitos da existência, ou seja, insti-
tucionalizada pelo Estado e no âmbito social também.
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seccionalidade é uma forma de entender e explicar a complexidade
do mundo, das pessoas e das experiências humanas (COLLINS et al,
2021, p. 15-16). Complementarmente, “a interseccionalidade é vista
como uma das formas de combater as opressões múltiplas e imbri-
cadas, e, portanto, como um instrumento de luta política” (HIRA-
TA, 2014, p. 69). Com isso, interseccionalidade é a capacidade de
compreender que as desigualdades sociais se somam para replicar
formas explicitas de violências e subordinações contra determinadas
populações, como as mulheres lésbicas e bissexuais (MELLO et al,
2014, p. 168-169).
Por fim, invisibilidades são formas pelas quais as mulheres
lésbicas e bissexuais não são vistas ou são invisibilizadas em decor-
rência do gênero e orientação sexual que possuem e são colocadas
em xeque em decorrência dessas características, o que proporcio-
nam não conseguirem efetivar seu direito ao acesso à saúde de ma-
neira humanística. Uma das evidências mais explicitas destas invi-
sibilidades é que mulheres lésbicas e bissexuais “não são apoiadas,
por parte dos profissionais, no campo da atenção integral à saúde da
mulher, a verbalizar suas orientações sexuais quando buscam assis-
tência” (VALADÃO et al, 2011, p. 1463), o que produz uma exclu-
são e violência simbólica, mesmo que os programas governamentais
preconizarem o contrário. Assim, a violação do Direito Humanos à
saúde se faz evidente.
Trata-se desse modo, das relações interseções para a prática
de violências especificas e endógenas contra as mulheres lésbicas e
bissexuais. Esta violência é baseada em: 1. vulnerabilidades e vul-
nerabilizações, quando as mulheres lésbicas e bissexuais estão ou
são colocadas em situação de fragilidade e hipossuficiência; 2. In-
terseccionalidade, pois possuem vários fatores que as colocam em
situação de desigualdade social, em decorrência do gênero, ao mes-
mo tempo que é um instrumento analítico para ser uma forma de luta
política e por fim, 3. Invisibilizadas, quando até em suas orientações
sexuais não são consideradas ou inviabilizadas em decorrência des-
tas características.
A violência pode ser observada como um dos produtos resul-
tantes da interação social, ao mesmo tempo que são derivadas do
poder exercido de maneira coercitiva. Estas são utilizadas por meio
de padrões culturais que são reproduzidos e/ou impostos socialmen-
- 28 -
te, de maneira heterocisnormativa e que levam a danos físicos, psi-
cológicos, mentais ou morais. De acordo com Minayo (2006), esses
eventos podem ser considerados, conforme as normas vigentes, e ter
sua manifestação socialmente aceita ou condenada.
Dentro dessa realidade de violência a Organização Mundial
de Saúde (2002) classifica a violência em: 1. Violência coletiva:
aquela que está ligada, de forma, intrínseca, a dominação de grupos
e estados; 2. Violência autoinfligida: quando está ligada ao suicídio
e/ou auto abusos e 3. Violência interpessoal: relacionada a violência
comunitária e familiar. Para além destas, Minayo (2006) inclui a
violência estrutural. Essa última está relacionada aos processos so-
ciais, econômicos e políticos, e que são aplicáveis à vulnerabilidade
e violência contra mulheres lésbicas e bissexuais e suas famílias; é
caracterizada por ser aceita de forma velada, quase que encoberta,
isto é, traz o tema para o contexto social, para a cultura de um povo
e para as regras instituídas pela sociedade. Essas categorias facili-
tam a constatação de que o Direito ao acesso à saúde ainda é uma
impossibilidade de ser efetivado e uma forma de violação do Direito
Humano à saúde.
- 29 -
das mulheres lésbicas e bissexuais tem que ser pensadas e refletidas
na perspectiva das ações de promoção, prevenção, e atenção médi-
ca, a partir e por meio das endogenias e especificações, bem como,
analogicamente, sair da dimensão individual para a coletiva num
movimento de cultura pela paz e de respeito por elas, bem como, a
implantação de programas específicos dirigidos a esse grupo popu-
lacional. É buscar a construção da cidadania e observar as necessi-
dades coletivas e individuais da população de mulheres lésbicas e
bissexuais.
Para pensar na melhoria do acesso e do atendimento dos
serviços de saúde é percebível a necessidade de um diálogo com
a Política Nacional de Saúde Integral LGBT (2013), no que tange
ao reconhecimento de vulnerabilidades e atendimento livre de pre-
conceito. O diálogo é um instrumento de promoção de acesso ao
Direito de saúde das mulheres lésbicas e bissexuais, pois estabelece
uma relação amena para que essas mulheres se sintam à vontade e
seguras para assumir sua orientação sexual. Há de se pensar em dar
voz as mulheres lésbicas e bissexuais no que tange saúde delas, em
especial considerando que apresentam vulnerabilidades, vulnerabi-
lizações, interseccionalidade potencializadas por um atendimento
inadequado. Se faz necessário o acolhimento dessas características
para pensar num atendimento com forma de promoção do Direito
Humano à saúde (DA SILVA, 2022).
O atendimento com base no cuidado e no acolhimento das
mulheres lésbicas e bissexuais não podem produzir exclusão e vio-
lência simbólica. Neste processo de pensar o atendimento como
forma de instrumento de promoção de Direitos Humanos, há a pos-
sibilidade de transformação dessas práticas de violações de Direito
a partir da aliança entre: 1. os agentes do campo da política, 2. Agen-
tes do campo da ciência e 3. dos movimentos sociais interessados
nas modificações necessárias para colocar esta temática em pauta
nos discursos e, até mais importantes, nas práticas da atenção à saú-
de das mulheres lésbicas e bissexuais. Para tal, se faz necessário ter
investimentos na formação dos profissionais de saúde, com compe-
tências técnicas para lidar com as diversidades e possam ser agentes
sociais nas práticas de atendimento humanizado e de boas práticas
de saúde voltadas para a diversidade da sexualidade (VALADÃO et
al, 2011, p. 1464).
- 30 -
Logo, pensar nestes usos, é pensar no reconhecimento a esta
existência e renegar os estigmas pautados contra as lésbicas e as
bissexuais. Há de considerar que este pensar envolve medos, dis-
criminações cotidianas, invisibilidades institucionais, experiências
e angústias, e outros práticas violentas, que muitas vezes são pouco
compartilhadas socialmente (FERNANDES et al, 2018, p. 43), além
disso é salientar que: “Lutamos, para que o Poder Público, de forma
articulada, garanta direitos iguais na sua integralidade, para todas as
pessoas, além de promover o reconhecimento e o respeito às dife-
renças e as diversidades humanas. Lutamos pela transformação do
Brasil, para que seja um país mais inclusivo e justo” (FERNANDES
et al, 2018, p. 45).
A invisibilidade, vulnerabilizações, vulnerabilidades e inter-
seccionalidade das mulheres lésbicas e bissexuais inserida no siste-
ma de saúde é um problema que causa violações contra estas. Valen-
do-se destas constatações, há de se pensar como serão efetivados os
direitos ao acesso à saúde das mulheres lésbicas e bissexuais. Um
dos exemplos é pensar e elaborar uma proposta de um protocolo
de atendimento às essas mulheres na Atenção Básica como forma
de contribuição eficaz e positiva para a mudança desse quadro. O
primeiro desafio para a elaboração desse protocolo é a incipiência
de base para tal, pois, não dá para ter como base a Política Nacional
de Saúde da mulher, uma vez que não respeitam as características
endógenas e específicas à saúde das mulheres lésbicas e bissexuais
(VALADÃO et al, 2011, p. 1465).
Considerações finais
- 31 -
dignidade das mulheres lésbicas e bissexuais. Assim sendo, quando
se trata de atendimento e repercussões às mulheres lésbicas e bisse-
xuais, se trata de efetivações do Direito Humano à saúde.
Ao se voltar para o questionamento: como as interfaces do
acesso ao direito de saúde e a teoria do cuidado para mulheres lés-
bicas e bissexuais podem contribuir para a promoção do Direito à
saúde, na condição de um Direito Humano e de políticas públicas
desta população? Temos que dividir a resposta em duas categorias.
Numa primeira categoria se considera somente as interfaces
do acesso ao direito de saúde, como vulnerabilidades, vulnerabili-
zações, invisibilidades e interseccionalidades que acabam por ser
evidências reais de como a violação do Direito Humano à saúde se
efetiva, bem como a complexidade destes ocorrem, por esse motivo
deve ser necessário compreender a partir das complexidades sociais
e por fim, combater. Outro aspecto importante é ter a convicção de
que estas interfaces que proporcionam as violações de Direitos Hu-
manos se relacionam e muitas das vezes são normalizadas e naturali-
zadas no meio profissional e no meio social, assim isso proporciona
uma replicação de comportamento violento, o que prejudica todo o
processo de promoção do Direito Humano à saúde.
Numa segunda categoria de possível resposta, a aplicação da
teoria do cuidado para mulheres lésbicas e bissexuais pode-se che-
gar próximo à promoção do Direito Humano da saúde como uma
política pública somente quando os profissionais de saúde tiverem
formação humanizada para o atendimento desta população especí-
fica e, ao mesmo tempo, que houver uma política nacional de saúde
endógena e especifica, ou seja, que as considerem nas suas dignida-
des humanas.
Para tanto, se faz necessária uma mudança de racionalidade,
de uma lógica de violência para uma lógica de cuidado e acolhi-
mento, com promoção da cultura de paz e dos Direito Humanos. Na
abordagem de um atendimento de cuidado e acolhimento, há de se
considerar a saúde como promoção da cidadania, do acolhimento de
cada individualidade, das identidades de gêneros e das orientações
sexuais a partir da dignidade das mulheres lésbicas e bissexuais, ou
seja, do acolhimento e cuidado, sem juízo de valor e respeitando
cada uma. Por fim, é importante se destacar que, só poderá haver
esta outra abordagem, quando se trata de mulheres lésbicas e bisse-
- 32 -
xuais, quando a sociedade e os profissionais envolvidos estiverem
num processo de mudança histórico-cultural de acolhimento, cuida-
do e cultura de paz.
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- 33 -
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- 35 -
- 36 -
CAPÍTULO 2
- 37 -
(AMAVIDA) se tornaram importantes instrumentos de disseminação
de conhecimento acerca da prevenção e dos mecanismos de trata-
mento da infecção, além de mobilizadores de pesquisa sobre o HIV/
Aids entre as trabalhadoras e trabalhadores do sexo, em Manaus, por
exemplo (QUEIROZ, 1999, p. 64.).
Já no século XXI, percebe-se “(...) uma ruptura com o pa-
drão de baixa abertura política predominante na esfera federal até
então”, passando a “mobilizar e assimilar identidades ‘minoritárias’
em seu leque de investimentos, alianças estratégicas e coalizões par-
tidárias”. Pudemos acompanhar também a fundação de fóruns, coor-
denadorias, conselhos municipais e estaduais com a finalidade de
“propor, executar e/ou fiscalizar a adoção de políticas públicas para
grupos minoritários” (ARAÚJO, ADRIÃO, 2017, p. 9) (MACHA-
DO; et.al, 2015, p. 35-36).
- 38 -
edição, a equipe conduzida pelo antropólogo Alfredo Wagner Berno
de Almeida, junto com os movimentos sociais organizados, produ-
ziram um material ambicionando mapear “(...) os pontos considera-
dos de grande importância para os movimentos sociais”. Mas não
somente isso, pois no documento as narrativas das lideranças do
movimento LGBTI+ amazonense expressam sentimentos, desejos,
angústias e as lutas por reconhecimento das suas identidades sociais
e das demandas da comunidade de destino. Como pondera o antro-
pólogo brasileiro Esmael Alves de Oliveira, houve: “(...) todo um
cuidado para que a produção tenha a ‘cara’ dos movimentos sociais:
suas lutas, suas reivindicações, suas dificuldades, enfim, a vida do
movimento social em si” (OLIVEIRA, 2009, p. 48-49).
Elegi, assim, o vigésimo quinto fascículo do PNCS como
fonte para apreendermos a historicidade e as memórias das insti-
tuições sociais em rede que abriram malhas e cimentaram os cami-
nhos para o associativismo LGBTI+ no presente. Nesse sentido, os
movimentos sociais e seus representantes-participantes do projeto à
época foram: Associação Amazonense de Gays, Lésbicas e Travestis
(AAGLT), presidida por Bruna La Close; Associação de Travestis
do Amazonas (ATRAAM), representada por Weydman Henriques;
Movimento Lésbicas Manaus (MLM) tendo como presidenta Li-
diany Cavalcante; Associação GLBT Orquídeas, representada por
Fabrício Nunes; e, por fim, ], coordenada por Francisco Nery (ME-
NEZES; et. al, 2009, p.1).44
As narrativas cedidas pelos/as ativistas ao projeto apresentam
reflexões acerca da relevância dos movimentos sociais identitários.
E, num lance de retrospecção, o ativista Francisco Nery lembra que:
4 A Associação Garotos da Noite foi fundada em 2006, tendo inicialmente como público
específico garotos de programa; posteriormente houve ampliação das categorias prioritárias,
como Trabalhadores e Trabalhadoras do Sexo e Pessoas LGBT. Ainda promove encontros e
palestras em torno da saúde e dos direitos humanos.
- 39 -
A institucionalização da figura de Adamor foi evidenciada por
meio da narrativa de Nery. Com justiça, a construção da memória
dele se encontra naquela personagem, pois a considerou pioneira
nas primeiras mobilizações por Cidadania e direitos para população
LGBTI+, como também pela recognição social, evidenciando com
isso que “o processo de reconhecimento é lento e aparece como de-
manda que pode ser visualizada ou envolta no ostracismo absoluto”
(CAVALCANTE, 2015, p. 131).
O ostracismo do direito à identidade e a cidadania para a co-
munidade LGBTI+ configurou, por muito tempo, uma realidade, um
fato, cujos movimentos sociais tiveram/têm papel fundamental na
somatização e sistematização das necessidades, haja vista a socieda-
de de direito que estiveram/estão inseridos. A assistente social brasi-
leira, Lidiany Cavalcante, pondera que, no tempo presente, mesmo
diante da discriminação e de preconceitos “(...) o Brasil assistiu a
um cenário de avanços. Os direitos previdenciários no que se refe-
re à dependência do parceiro/a foi concretizada. O direito ao casa-
mento civil, divórcio, dissolução de união estável, partilha de bens,
direito de guarda e convivência (...)”. Ou seja, exigências históricas
das redes de mobilizações LGBTI+ que somente nesse século fo-
ram atendidas com muita pressão dessas entidades organizadas (CA-
VALCANTE, 2015, p. 136).
Por meio das folhas coloridas como arco-íris, o fascículo ob-
jetivou mostrar ao leitor/a as facetas de áreas de atuação dos dife-
rentes movimentos sociais do novo milênio (saúde e lazer, espor-
te, Parada do Orgulho LGBT, educação, cultura etc.), esclarecendo
que, mesmo havendo prioridade ao público-alvo, e desenvolvendo
algumas atividades específicas, as organizações sociais manauenses
desembocavam no mesmo rio: os Direitos Humanos. Como narrado
por Fabrício Nunes, “a Associação Orquídea era pra ela trabalhar a
questão da educação e cultura. Porque a A(A)GLT já trabalhava a
promoção à saúde e promoção de direitos humanos. Então a gente
tinha que ter trabalhado nessas outras linhas: educação e cultura”
(MENEZES; et. al, 2009, p.3).
Durante a produção da memória, Nunes, no ato de contar, fle-
xionou o verbo ‘ser’ no pretérito imperfeito do indicativo, ajudando
a entender que o intuito inaugural durante a formação da Associa-
ção Orquídeas LGBT estava localizada nas atividades de educação e
- 40 -
cultura como extensão da necessidade humana, reconhecendo talvez
o pouco destaque para essas áreas por parte da AAGLT, organiza-
ção que possibilitou a “formação de novas lideranças para construir
associações de acordo com suas identidades sexuais e de gênero,
respectivamente”. Não obstante, o verbo foi o sinal que mostra que
as atividades objetivadas nos campos da educação e da cultura não
foram suficientes ou limitadoras ante as exigências da comunidade
LGBTI+, ou quiçá aumentaram o leque de exercícios em consonân-
cia com outros movimentos sociais identitários, como visto nas di-
versas narrativas dos/das representantes das entidades sobre as áreas
eleitas pelo grupo do PNCS (LIMA, 2020, p. 338).
Entre as conquistas, as requisições, os desafios sinalizados
pelos/as colaboradores/as do projeto, algumas chamaram atenção,
pois vão de encontro com a literatura produzida sobre a população
LGBTI+ amazonense, como também a reconfiguração que algumas
dessas conquistas produziram na paisagem social e urbana da cida-
de.
Para o ativista da Associação Katiró, Jeffeson William Perei-
ra, o Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e
Combate à Homofobia “Adamor Guedes” foi legitimamente um êxi-
to do movimento LGBTI+ amazonense, ainda que estivesse aquele
momento em processo de maturação e construção política, funcio-
nando no Centro Histórico de Manaus como consta no mapa situa-
cional confeccionado pelos/as ativistas. De acordo com Jeffeson, o
espaço que levou o nome de Adamor Guedes, como homenagem
pelo pioneirismo e pela perseverança como ativista homossexual,
constituía como polo de encontro e diálogo com as múltiplas organi-
zações sociais – e não somente LGBTI+ – haja vista as mobilizações
reivindicatórias das minorias sociais, as denúncias de violações de
direitos humanos, as lutas por visibilidade e reconhecimento como
grupos silenciados e negligenciados. Para Pereira, à época, o Cen-
tro de Referência se “caracteriza como um porto-seguro onde gays,
lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais possam ser atendidos,
no entanto, queremos mais, é preciso criar outros mecanismos que
protejam o cidadão LGBT” (MENEZES; et. al, 2009, p.9).5
5 A luta por um de espaço de acolhimento é antiga e que somente foi concretizada, em 2016,
como Centro Estadual de Referência em Direitos Humanos “Adamor Guedes” na gestão
governamental de Omar Aziz. O Centro estava vinculado à Secretaria Estadual de Justiça,
Direitos Humanos e Cidadania – SEJUSC.
- 41 -
A representante da AAGLT, Bruna La Close, por sua vez, con-
siderou como um dos grandes resultados das lutas sociais LGBTs
o diálogo com a Segurança Pública do Estado. A procura urgente
sucedeu por meio das denúncias acerca das ações truculentas e arbi-
trárias das forças da ordem, materializadas na polícia militarizada,
contra homossexuais e, de modo mais contundente, com as travestis
e transexuais trabalhadoras do sexo, através de práticas violentas
herdadas do período ditatorial que o Brasil vivenciou. A polícia mi-
litar era um dos problemas a ser enfrentando e resolvido: “a polícia
não queria conversa com gay. E vendo que a gente já teve até pa-
lestra pra 100, 200 policiais foi dado uma abertura pra gente. Então
eu achei que marcou muito o movimento” (MENEZES; et. al, 2009,
p.9).6
Se em determinado momento a polícia não queria diálogo
com gueis baseado, certamente, em preconceitos e machismo, a in-
sistência do movimento social LGBTI+ consolidado e reconhecido
constituiu um mecanismo importante para que tal feito com policiais
fosse efetivado, promovendo palestra para uma quantidade signifi-
cativa de policiais para garantir respeitabilidade e a cidadania. Dessa
vez não tiveram para onde correr. Tiveram que ouvir, sentados, o
que lésbicas, gueis, bissexuais, travestis e transexuais tinham para
dizer sobre os atos do passado, do presente e certamente sobre as
mudanças necessárias nas abordagens e tratamentos para o futuro.
Falar constitui um importante meio de clarificar problemas
sociais que não queremos dar ouvido e enxergar. Como disse Ro-
saly Pinheiro: “chegou uma denúncia para a gente de uma lésbica
que teve que assistir a esposa ser violentada na frente dela, porque
ambas fazem parte dessa linha de produção. Vocês já pensaram que
humilhação?”. Ou a exclamação de Weydman Henrique: “o grande
problema da travesti é que ela mesma tem que se firmar como pes-
soa”. Lidiany Cavalcante aprofunda o debate e cutuca a ferida do
desconhecimento e do desleixo da sociedade:
- 42 -
tão preparados. (...) não temos dados nenhum; não temos política,
não temos projeto social pra trabalhar isso. Os conselhos também
não estão preparados. Políticas públicas que trabalhem a igualdade
dentro da equidade. Então, a grande reivindicação é [...respeitar] a
igualdade de direitos dentro das suas diferenças porque ninguém é
igual a ninguém (MENEZES; et. al, 2009, p.10).
- 43 -
xuais: “(...) nessa guerra, nessa trincheira, nós somos que [es]tamos
na linha de frente. Nós somos os primeiros que são discriminados,
isso aquilo e outro”; explicitando os disparos de transfobia lan-
çados contra pessoas trans no Brasil e, em especial no contexto
amazonense, mas também para o poder de justiça do que ela cha-
mou de “bichinho militante”, ou seja, quando as pessoas são toca-
das e levadas a buscar mudanças sociais por meio da luta coletiva,
tendo em vista o interesse de que: “eu posso fazer alguma coisa, que
se eu tiver lá no meio e der minha opinião, eu vou me tocar”. Essa
narrativa de Carvalho compõe as suas memórias sobre a Associação
de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado do Amazonas
(ASSOTRAM), onde ocupava o cargo de vice-presidente, em 2018
(REBECA. 2018. Informação verbal). Fundada em 16 de agosto de
2017, a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Es-
tado do Amazonas (ASSOTRAM) é a primeira associação com a
finalidade de abarcar as múltiplas identidades de gênero para não
comprometer o diálogo político em torno de pautas que contem-
plam as categorias.8
As transativistas Flor de Lis e Camila Dantas narram esse
feito como resultado de ausências de organizações sociais de/para
pessoas trans no Amazonas. Flor de Lis ao retornar da Itália, onde
morou por mais de vinte anos, diz que:
- 44 -
evento que a gente se conheceu e aí a gente se ajuntemo nós quatro,
e… tivemos… elaboramos essa ideia porque a gente achava que
também a gente achava que não existia é… só existia a sigla… Só
tinha LGBT, tinha LGBT, mas era muito voltado só os meninos…
os gay[s]. Não tinha pras manas trans, né? (...). Então foi quando a
gente resolveu se juntar as quatro e fundar a associação mesmo e
cada uma conversamos e falemo “olha, isso daqui é uma coisa que
vai tomar nosso tempo, a gente tem que tá preparada… isso daí...
(...)”. Então naquela hora ali todas as quatro concordaram dizendo
que cada uma tinha tempo, né? (CAMILA DANTAS. 2020. Infor-
mação verbal).
- 45 -
a necessidade de ter uma associação que lutasse pelos direitos de
travestis e transexuais; a percepção das quatro fundadoras de que,
mesmo havendo um movimento LGBTI+, as demandas e atividades
ainda eram direcionadas somente pelos/para homossexuais e que
não havia visibilidade das “manas trans”.
Nichole Oliveira – mulher trans negra e ativista - relembra que
essa instituição se constituiu como uma organização participativa e pro-
dutora de atividades e intervenções para comunidade LGBTI+, e mais
nitidamente à população trans, levando em consideração as parcerias
como ajuda mútua. Seguindo as outras colaboradoras, Oliveira narrou
que a associação trans foi criada para preencher lacunas e necessidades
do público que não estava sendo representado, construindo:
- 46 -
Esse projeto nacional ocorreu em cinco capitais (São Paulo,
Campo Grande, Manaus, Salvador e Porto Alegre) e teve sua pri-
meira etapa formativa em outubro de 2019, que resultou no relatório
supracitado e concretizou-se, segundo Nichole Oliveira, pela parcei-
ra feita com o movimento social trans. Na segunda etapa do projeto,
a ASSOTRAM prosseguiu dando suporte, haja vista a ciência e a
tecnologia brasileira como um dos caminhos para emancipação so-
cial e reconhecimento.
- 47 -
com o advogado Caio Benevides, o sentido de “ser cidadão” está rela-
cionado ao direito de gozar de direitos civis, políticos e principalmen-
te dos direitos sociais concernentes ao “trabalho, educação, moradia,
saúde e benefícios sociais (...)”. Nesse sentido, o que o autor chama de
Cidadania Social “(...) engloba esses direitos cuja proteção era garan-
tida pelo Estado nacional entendido como Estado Social de Direito, e
não mais como Estado Liberal” (PEDRA, 2020, p. 32).
De acordo com Nichole Oliveira, a ASSOTRAM traz em seu
cerne o respeito e o açambarcamento da pluralidade e das diferenças,
tanto entre associadas/os quanto entre apoiadores/as da organização:
“quem quiser ir pra ASSOTRAM pode ir”. E nessa continuidade, as
colaboradoras refletiram durante a conversa a representatividade da
organização no contexto amazônico, tendo: “uma carga muito pe-
sada pra carregar”, “lutando por pessoas que obrigatoriamente têm
que ficar embaixo do tapete, sabe?” (NICHOLE OLIVEIRA. 2019.
Informação verbal).
Considerações Finais
- 48 -
Guedes como precursor, gerou ramos coloridos com novos eixos de
debate e de luta social no novo milênio, causando efeitos importan-
tes em diversos contextos de experiências da população LGBTI+
amazonense. Acredito que para além de historicizar a instituciona-
lização dos movimentos sociais em si, procurei, aqui, materializar
as pessoas que fizeram e fazem as ideias, os projetos, as relações
sociais e o cumprimento do dever estatal funcionar para o bem-estar,
proteção e a cidadanização de homens e mulheres com identidades
sexuais e de gênero dissidentes. Além disso, este capítulo contribui
para a quebra das corretes do silenciamento e da subalternização.
Neste sentido, o presente texto tenta suprir lacunas historiográficas
com cunho político, sanando parte da dívida histórica com a po-
pulação LGBTI+, cujas memórias foram por longo tempo reprimi-
das, “impedidas de circular livremente”, configurando-se, inclusive,
como forma de discriminação, e este trabalho tem a primazia de
combater essas práticas.
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travestis e transexuais no Brasil. Curitiba: Appris, 2020.
QUEIROZ, Rita Suely de. Territórios do prazer: ambiente e prostitui-
ção na área central de Manaus. Dissertação (Mestrado em Ciências do
Ambiente). Universidade do Amazonas, 1999.
TREVISAN, João Silvério. Devassos no Paraíso: a homossexualidade
no Brasil, da colônia à atualidade. 4ª ed. – Rio de Janeiro: Objetiva,
2018.
- 50 -
CAPÍTULO 3
1.Introdução
- 51 -
já que o cenário de necropolítica implementado no Brasil atinge
também a população alvo do referido estudo. Faz-se necessário o
debate para a amplificação da discussão, pois como dizia Conceição
Evaristo Thiago de Mello: “faz escuro, mas eu canto, porque a ma-
nhã já vai chegar.”
Meu corpo não é meu corpo, é ilusão de outro ser. Sabe a arte de
esconder-me e é de tal modo sagaz que a mim de mim ele oculta
(Carlos Drummond de Andrade).
- 52 -
período, a saúde também se constituiu de forma secundária, com
atenção às pessoas que trabalhavam com carteira assinada. Surge o
Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, entretanto não há
uma perspectiva de atenção universal.
A partir da década de 1970, as lutas alicerçadas pelo Movi-
mento da Reforma Sanitária mostraram a necessidade de enxergar a
saúde por um prisma que pudesse dar conta das lacunas históricas e
sociais, para que houvesse um salto que transcendesse o muro criado
para a saúde como política focalizada, direcionada apenas para indi-
víduos da classe trabalhadora com potencial empregabilidade, para
a universalidade no acesso, como pauta para desvelar o reconheci-
mento da referida pauta como direito social. Para Souto e Oliveira
(2016 p.205), o processo “configurou-se como ação política concen-
trada em torno de um projeto civilizatório de sociedade inclusiva,
tendo a saúde com direito universal de cidadania.”
A proposta soprava novos ventos à realidade brasileira, com
a centelhas que abriam as portas para o desmembramento da saúde
das protoformas da previdência, com a discussão sobre a amplitude
do conceito de saúde e da sua aplicabilidade no âmbito da constru-
ção de uma política nacional, a qual pudesse trazer universalidade,
integralidade e equidade. Com o marco da 8ª Conferência Nacional
de Saúde, a proposta de um Sistema Único esboçava rumos a uma
nova história, a qual foi alavancada pela delimitação da saúde como
direito social garantido na Constituição Federal de 1988 e pela Lei
8.080/1990 e a lei complementar 8.142/1990, além da construção
dos parâmetros para as normas operacionais básicas, dentre outras
normativas, legislações, resoluções e portarias ministeriais que com-
põem o Sistema Único de Saúde.
De acordo com a Lei 8.080/1990, o Sistema Único de Saúde
se configura como conjunto de ações que envolvem os serviços de
saúde desde a atenção básica até a alta complexidade, com foco na
prevenção, promoção, reabilitação e recuperação da saúde. Na legis-
lação, a saúde é expressa como direito fundamental ao ser humano,
assim como também assegura a responsabilidade dos três entes fe-
derados composto por Municípios, Estados e União.
No contraponto, é relevante tecer críticas ao conceito de saú-
de estabelecido pela Organização Mundial de Saúde em 1946, como
bem-estar biopsicossocial do indivíduo (OMS s.d.) o qual demanda
- 53 -
críticas, visto os desafios concretos para ponderar a saúde em seu
ápice como qualidade de vida, frente aos aportes de um sistema ca-
pitalista excludente, onde muitas pessoas não conseguem ter acesso,
ou quando este se efetiva, ocorre de maneira precarizada, além de
que a saúde envolve o debate de outras variáveis, tais como: condi-
ções de moradia, renda, acesso aos serviços, condições ambientais,
entre outras.
Mesmo na contracorrente da materialização de um Estado Neo-
liberal, o Sistema Único de Saúde firmou-se no Brasil na década de
1990, apesar da disputa de dois modelos, caracterizados por Bravo
(2009) como Reforma Sanitária e o segundo como Modelo Privatista
de Saúde, sendo o último, com as garras direcionadas ao mercado. A
tensão entre as duas perspectivas fomentou com que as políticas pú-
blicas tivessem sua aplicabilidade de forma precarizada e com lastro
potencial de privatização, o que perdura até os dias de hoje,
Somente a partir de meados do ano 2000, acionam-se os pri-
meiros acordes que alicerçam o caminhar das primeiras conquistas
no bojo da cidadania LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais) no cenário brasileiro, conforme as breves caracteriza-
ções a seguir.
3. Política de Saúde para Mulheres Lésbicas e Bissexuais: a
construção levou aos direitos?
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
(Cecília Meireles).
Organização: A autora.
- 55 -
Os primeiros passos quanto ao reconhecimento efetivo de di-
reitos são datados da primeira década do ano 2000, por meio da
aprovação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Por
meio da parceria entre gestão federal e sociedade civil, o governo
federal fez o lançamento do ‘Brasil sem Homofobia’ em 2004, um
programa voltado ao enfrentamento das formas de violência e dis-
criminação contra a população LGBTI. A construção do documento
contou com o aporte de duas entidades nacionais denominadas asso-
ciação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Inter-
sexos - ABGLT e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais
– ANTRA. Na ocasião, houve a participação de outras entidades
de representação da sociedade civil de dezesseis Estados, incluindo
o Amazonas, representado pela Associação Amazonense de Gays,
Lésbicas e Travestis – AAGLT.
O documento do programa pode ter sido tímido em suas trin-
ta e duas laudas, mas no limiar de novos horizonte, trouxe, entre
outras demandas, os primeiros acordes para o reconhecimento das
peculiaridades da saúde de mulheres, sobretudo as com identidade
lésbica, quando sinaliza a importância da atenção especial às referi-
das mulheres em todas as fases da vida e a promoção da saúde, que
deveria ser feita por meio de ações socioeducativas que contemplas-
sem a diversidade sexual, o apoio às iniciativas de conhecimento
científico sobre as particularidades na tratativa de saúde, os indica-
dores e condições sociais que influenciam na saúde, assim como o
apoio na formação de profissionais de saúde, para mudanças de pa-
radigmas em relação aos usuários inseridos no bojo da diversidade
de identidades sexuais (SECRETARIA ESPECIAL DE DIREITOS
HUMANOS, 2009).
Com a implementação de um programa, abrem-se as cortinas
para a amplificação da discussão sobre a cidadania LGBT. Nesse
bojo, o Brasil foi o primeiro país do mundo a realizar uma Confe-
rência Nacional de Políticas Públicas e Direitos GLBT (sigla uti-
lizada na época2), realizada em 2008 com mais de 600 delegados
(CAVALCANTE, 2015). O momento de construção coletiva de po-
2 A 1ª Conferência nacional de Políticas Públicas iniciou-se utilizando a sigla GLBT. A
mudança da sigla foi realizada oficialmente no primeiro dia de atividades. Trazer a letra “L”
para a frente enfatizou a necessidade de fomentar a visibilidade de mulheres lésbicas no âmbito
da construção política, visto o mutismo histórico e a invisibilidade da condição feminina no
âmbito da diversidade sexual, tanto por parte dos movimentos sociais, como dos programas e
projetos governamentais e no âmbito da sociedade civil organizada (CAVALCANTE, 2009).
- 56 -
líticas, fez parte de uma demanda histórica de movimentos sociais e
outros protagonistas da sociedade civil.
O relevante marco impulsionou a criação do documento in-
titulado como Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direi-
tos Humanos de pessoas LGBT’s, o qual orienta-se pelos princípios
da equidade, garantia do respeito à diversidade, universalização no
acesso às políticas e laicidade do Estado (SECRETARIA ESPE-
CIAL DE DIREITOS HUMANOS, 2009).
No âmbito da saúde, desde a 12ª Conferência Nacional de
Saúde, realizada em 2003, fomentou-se discussões sobre a inclusão
dos direitos relacionados à saúde da população LGBT, entretanto
foi apenas na 13ª Conferência de Saúde de 2017, que as categorias
orientação sexual e identidade de gênero foram elencadas como de-
terminação social da saúde. A diretriz do plano nacional fomentou
a Portaria 2836/2011 do Ministério da Saúde, que elenca a Política
Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais. O referido documento sinaliza que:
- 57 -
de da relevante produção de conhecimentos científicos, assim como
tecnológicos, que atendam as especificidades da população LGBT
(BRASIL, 2011).
A proposta da política de saúde engloba a prevenção aos no-
vos casos de cânceres em mulheres lésbicas e bissexuais, enfren-
tamentos às expressões da saúde mental, principalmente o que se
relaciona à depressão e suicídio, promoção da autoestima em ações
de saúde, assim como a assistência à população em situação de
violência e a que demanda intervenções no sistema penitenciário
(BRASIL, 2011).
A arena de integração das políticas voltadas ao segmento po-
pulacional LGBT não se constituiu em um cenário de fácil concre-
tização, apesar de que as discussões sobre saúde entraram na pauta
na 13ª Conferência de Saúde, e foram contempladas no texto final
nos seguintes aspectos: assegurar garantia de acesso aos serviços de
saúde, realizar modificações no sistema de informação do SUS para
contemplar campos específicos para incluir as orientações sexuais e
a relevância das estratégias de educação em saúde, com aportes que
contemplam as particularidades das demandas de saúde, incluindo
as de natureza sexual e reprodutiva (BRASIL, 2008). A seguir, apon-
ta-se outras propostas aprovadas, relacionadas às demandas do seg-
mento LGBTI no Brasil.
Organização: A Autora.
- 58 -
Nacional de Saúde Integral LGBT; o provimento 63 de 2017 do
Conselho Nacional de Justiça, o qual dentre outras questões, trata
da possibilidade de inclusão do nome de duas mães ou dois pais
no registro de nascimento, destitui o termo mãe/pai para inserir “fi-
liação”. No âmbito judiciário evidencia-se o direito a alteração do
nome civil, assim como termina a proibição histórica de homens
gays doarem sangue.
Apesar de que as políticas, portarias, resoluções e decisões se
configuram com certo cariz de inclusão em seus textos-base, o ce-
nário de realidade apontou desafios inerentes ao preconceito e a dis-
criminação. Como diz Chauí (2001), criou-se um mito fundador de
que o brasileiro não é um povo que discrimina. Na esteira da autora,
o limiar cotidiano evidenciou que a vulnerabilidade e as especifici-
dades estavam se caracterizando apenas como um segundo violino,
na orquestra da construção de uma sociedade de raízes autoritárias e
com modelo heteronormativo alavancado como regra.
Para Petry e Meyer (2011) a heteronormatividade objetiva
estabelecer mecanismos de regulação das formas de ser e viver os
desejos, a partir do que socialmente foi estabelecido, ou seja, pela
concepção biológica, determinista e acrescentamos, binária (macho/
fêmea). Com raízes patriarcais, a heteronormatividade dita normas
aceitas na sociedade e exclui a perspectiva de reconhecimento de
outras formas e desejos relacionadas ao corpo e às expressões da
sexualidade humana.
Pondera-se que o processo de construção de programas e polí-
ticas em saúde para a população LGBTI não se efetivou por meio de
criação de leis no Brasil. Mas por resoluções de conselhos e portarias
ministeriais, além de temáticas levadas por força da sociedade civil
organizada ao STF (Supremo Tribunal Federal), ou seja, os direi-
tos assegurados apresentam fragilidades no contexto constitucional,
visto a ausência de baliza por meio da força de lei. A vulnerabilidade
do que foi aprovado se expressou sobretudo na gestão Bolsonarista
do Governo Federal, a qual olvidou o arcabouço de direitos elenca-
do para a população LGBTI em nome de uma ideologia de extrema
direita.
No que se refere ao contexto da realidade do Amazonas, em
2021 foi aprovada a Política Estadual de Saúde LGBTI+, a qual foi
criada por meio de diálogos com representantes da sociedade civil
- 59 -
e universidades, dentre outros protagonistas que atuam diretamente
nas plataformas do direito à saúde. O documento se concretiza por
meio da resolução 070/2021 da comissão intergestores bipartite do
Estado do Amazonas (AMAZONAS). Apesar da aprovação, assu-
me-se o desafio de efetivamente institucionalizar a política pública,
para que a população LGBTI, sobretudo mulheres, possam ter aces-
so aos serviços de saúde em todos os níveis, de forma humanizada,
com ênfase nas particularidades de denotam a diversidade humana.
Os acordes dos dados da pesquisa ainda potencializaram o
mutismo diante de políticas e intervenções direcionadas à saúde de
mulheres lésbicas e bissexuais. Trabalhadores e trabalhadoras da
saúde fomentaram discursos de que o Sistema Único de saúde se
direciona a todos, entretanto mostrou-se potencial desconhecimento
sobre as particularidades do referido segmento populacional, sobre-
tudo no que se refere às demandas, características relacionadas às
expressões da diversidade sexual, conforme os relatos a seguir.
- 60 -
Gráfico 1 – Interesse em participar de formações em saúde LGBTI
- 61 -
dos Conselhos de Saúde e as lideranças sociais; VIII - produção
de conhecimentos científicos e tecnológicos visando à melhoria da
condição de saúde da população LGBT; (POLÍTICA NACIONAL
DE SAÚDE INTEGRAL LGBT, 2013 p. 22-23).
- 62 -
Os dados evidenciam uma realidade atroz no que tange a mor-
talidade por neoplasias no Estado do Amazonas, contudo o relatório
não apresenta divisão por gênero, o que limita a análise da pesquisa,
pois não há como saber o quantitativo de mulheres que foram à óbito
em decorrência do câncer de colo de útero ou de mama.
É relevante ressaltar que as estratégias de autocuidado das
mulheres no âmbito da prevenção às neoplasias, assim como o aces-
so e permanência na atenção básica em saúde se constitui como
desafio que demanda outros estudos, haja vista a existência de um
processo cultural permeado de tabus, vergonha e ausência na busca
de protocolos de saúde ginecológica. Tal realidade agrava-se para o
contingente de mulheres lésbicas e bissexuais, pois conforme a aná-
lise de campo, surgiram os seguintes relatos de mulheres:
Considerações finais
- 63 -
também seu referencial de inclusão e acesso aos serviços básicos.
No cenário brasileiro, houve conquistas relevantes para o segmento
populacional LGBTI, mesmo antes da 1ª Conferência Nacional de
Políticas Públicas ser realizada, entretanto o panorama conservador
e por vezes reacionário alimenta as agruras de um sistema capitalista
cada vez mais excludente que caminha para a barbárie.
Assiste-se então a elevação do adoecimento humano, sobre-
tudo de mulheres com identidades ainda consideradas dissidentes
para os cânones sociais marcados pela heteronormatividade. Diante
do quadro, o sistema de saúde no âmbito da atenção básica olvida
as particularidades de demandas emergentes que precisam de visi-
bilidade e reconhecimento, trabalhadores e trabalhadoras da saúde
seguem sem uma formação específica para desenvolver as ações de
educação em saúde junto às expressões da diversidade humana.
Ressalta-se ainda que a maioria dos direitos assegurados não
são permanentes, haja vista que as políticas estão constituídas por
meio de portarias ministeriais e resoluções, o que pode ser revogado
a qualquer momento. Apesar dos embates, a luta pela concretização
das políticas continua a adensar o caldo de mobilização da sociedade
civil frente aos ditames do capital ultraneoliberal, pois como já dizia
Marx: “as revoluções são a locomotiva da História.”
Referências
- 64 -
AMAZONAS. Resolução da Comissão Intergestores Bipartite do
Estado do Amazonas 070/2021. Dispõe sobre a Política Estadual de
Saúde da População LGBTI+. Manaus: Secretaria de Estado de Saúde
do Amazonas, 2021.
AMAZONAS. Relatório Anual de Gestão RAG 2021SES-Am. Se-
cretaria de Estado de Saúde do Amazonas. Manaus, 2022.
CAVALCANTE, L. L. Sob o véu da homossexualidade: relações
como espaços de conflito, poder e reconhecimento em Manaus.
2015. 168 p. Tese (Doutorado em Sociedade e Cultura na Amazônia) –
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2015.
CHAUÍ, Marilena. Brasil Mito Fundador e Sociedade Autoritária.
São Paulo: Moderna, 2001.
CONSELHO NACIONAL DE COMBATE À DISCRIMINAÇÃO.
Brasil Sem Homofobia: Programa de combate à violência e à dis-
criminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual.
Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
PETRY, Analídia Rodolpho; MEYER, Dagmar Elisabeth Estermann.
Transexualidade e Heteronormatividade: algumas questões para a pes-
quisa. In: Textos e Contextos (Porto Alegre), v. 10, n. 1, p. 193 - 198,
jan./jul. 2011.
ROSEN, George. Uma História da Saúde Pública. São Paulo: UNESP,
1994.
SAFFIOTI, Heleieth. O Poder do Macho. São Paulo: Editora Moder-
na, 1987.
SOUTO, Lúcia Regina Florentino; OLIVEIRA, Maria Helena Barros
de. Movimento da Reforma Sanitária Brasileira: um projeto civiliza-
tório de globalização alternativa e construção de um pensamento pós-
-abissal. In: Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 40, n. 108, p. 204-218,
jan-mar, 2016.
- 65 -
- 66 -
Seção II
Entre o Direito e o Acesso:
os resultados em Foco
- 67 -
- 68 -
CAPÍTULO 4
1. Introdução
- 69 -
O quadro é de reflexão, ao trazer para o rol das discussões a
realidade do sistema de saúde pelo prisma de quem atua ou recebe os
serviços da área, que tem a incumbência de protagonizar e colaborar
para se ter condutividade e capacidade para a manutenção de um
sistema eficiente e direcionado para a inclusão.
A realidade é que a saúde, em suas ações e reconhecimentos,
sente as agruras do desmonte das políticas públicas diante do cená-
rio ultraneoliberal instaurado na realidade brasileira e asseverado
nos últimos anos, o que compromete o acesso e a qualidade dos
serviços oferecidos à população.
A Lei Orgânica da Saúde (8080/1990) protagonizou plata-
formas de planejamento, execução, monitoramento e avaliação de
políticas públicas. Já as NOB’s fundamentaram um trajeto relevante
na construção do processo de municipalização da saúde, colocando
a atenção básica como responsabilidade dos municípios. Apesar dos
desafios, sobretudo na realidade amazônica, os municípios assumem
a atenção básica com base no pacto federativo e na configuração da
gestão tripartite, em que cada ente assume um viés da responsabili-
dade frente ao Sistema Único de Saúde – SUS.
O Objetivo do estudo foi analisar como o sistema de aten-
ção básica em saúde protagoniza a inclusão de mulheres lésbicas
e bissexuais no cenário de acesso e atendimento no Município de
Itacoatiara-AM, assim como também refletir sobre os desafios de
trabalhadores e trabalhadoras de saúde no que se refere a inclusão e
garantia da equidade e universalidade, princípios basilares do SUS.
Com pesquisa de campo realizada entre 2020 e 2022, reali-
zou-se o reconhecimento das unidades básicas de saúde do municí-
pio, conhecimento acerca da realidade de mulheres com identidade
sexual voltada à expressão lésbica ou bissexual, usuárias do sistema
e o contato com profissionais que atuam na atenção básica por meio
de entrevista semiestruturada.
Os resultados mostram a relevância de fomentar projetos e
pesquisas sobre a temática ora apresentada, para que as usuárias
possam efetivamente participar da construção de um sistema de saú-
de eficaz, participativo e inclusivo. Como diria Carlos Drummond
de Andrade: “chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou
um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistifi-
cação.”
- 70 -
2. Itacoatiara: a velha Serpa da Amazônia
- 71 -
Estatística – IBGE, possui a sede do município estabelecida na mar-
gem esquerda do rio Amazonas, distante 270 km por via terrestre e
a 107 milhas náuticas-MN da capital, Manaus. De barco, o percurso
entre Itacoatiara e Manaus pode levar, dependendo do tipo de em-
barcação, até 12 horas. Ainda, por via terrestre, o percurso entre a
cidade de Itacoatiara e a capital do Estado do Amazonas pode ser
efetuado por meio da rodovia estadual AM-010, cujo trajeto con-
some aproximadamente até 4 horas, atravessando o aglomerado
rural, a exemplo de Rio Preto da Eva. O aeroporto Arico Barros
administrado pelo 7.º Comando Aéreo Regional – 7º COMAR, com
voos regulares, fretado por empresas privadas e públicas da cidade,
o qual localiza-se na Área de Transição entre a sede municipal e a
zona rural (OLIVEIRA, 2007, p. 136).
- 72 -
e o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) é de
0,644 (IBGE, 2010). Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística também expõe que a mortalidade infantil no município
é de 14,52 óbitos por mil nascidos vivos, e o PIB per capta pode ser
visto na curva ascendente do gráfico 1.
- 73 -
3. A Saúde no Município: um olhar para a diversidade e a
estrutura
- 74 -
atendimento, planejamento e monitoramento em saúde, dentre elas
19 (dezenove) são Unidades Básicas de Saúde UBSs. Itacoatiara
conta ainda com a Unidade de pronto Atendimento -UPA e o Hospi-
tal José Mendes.
A UPA funciona 24 horas e o hospital também, já as UBSs
atendem de segunda a sexta-feira, em horário comercial. A atuação
de maneira excepcional ocorre quando há campanhas de vacinação
e outros movimentos fora da dinâmica cotidiana. O Quadro a seguir
destaca a estrutura das UBSs e a forma de funcionalidade.
- 75 -
Unidade Básica de Saúde 2ªs feiras das 7 às 17
Centro de Saúde/
14 Izolina Cardoso Dos Horas- Rio Arari-
Unidade Básica
Santos Zona Rural
Unidade Básica de Saúde Centro de Saúde/ 2ª a 6ª feira/ Zona
15
Paulo Gomes Da Silva Unidade Básica Urbana
Unidade Básica de Saúde Centro de Saúde/ 2ª a 6ª feira/ Zona
16
Santo Antônio Unidade Básica Urbana
Unidade Básica de Saúde
Centro de Saúde/ 2ª a 6ª feira/ Vila
17 Francisco Ferreira de
Unidade Básica Lindóia - Zona rural
Athayde
Unidade Básica de Saúde Centro de Saúde/ De 2ª a 6ª feira/ Zona
18
Expedita Holanda da Silva Unidade Básica Rural
Unidade Básica de Saúde Unidade Móvel De 2ª a 6ª feira/ Zona
19
Fluvial Itacoatiara Fluvial Rural
Fonte: Data SUS (http://cnes2.datasus.gov.br/) com organização das
autoras.
Do total de UBS’s, oito (8) estão localizadas nas zonas urba-
nas do município e onze (11) na área rural, para atender as demandas
das comunidades afastadas da sede municipal. Outro dado relevante
é que o hospital da cidade atende os demais municípios do baixo
Amazonas, compreendendo Silves, Urucurituba, Urucará, Itapiran-
ga, São Sebastião do Uatumã, Boa Vista do Ramos, sendo uma for-
ma de acolhimento preliminar, onde o paciente vem encaminhado
do hospital do município de origem para o atendimento no hospital
em Itacoatiara, a partir do sistema de regulação – SISREG. A par-
tir das ponderações sobre a rede de saúde oferecida no município,
faz-se relevante apensar os dados obtidos nas reflexões de campo,
conforme o delinear a seguir.
- 76 -
Nunca mantive relações com homens e por isso o exame para vir-
gens é difícil de conseguir (ANDRÔMEDA, 28 ANOS).
Por que não tenho acesso com facilidade (CASSIOPÉIA, 39
ANOS).
Acredito que mais por vergonha e por não conseguir encaixar na
agenda. Ainda é um assunto muito estigmatizado (CENTAURUS,
46 ANOS).
Receio em sair de casa por causa da pandemia (HYDRA, 31 ANOS)
Por não costumar ir ao ginecologista (LIBRA, 51 ANOS).
- 77 -
dimentos, o que viola os preceitos constitucionais sobre a laicidade
do Estado.
De acordo com Silva (2019) a laicidade do Estado consiste na
separação institucional e reflete a autonomia do Estado em relação
às religiões. Diante do contexto, pessoas que representam o Estado
em qualquer esfera, seja como servidores ou agentes profissionais,
não podem protagonizar a representação religiosa no desenvolvi-
mento dos serviços direcionados à comunidade.
As plataformas de tradicionalismo, conservadorismos e re-
ligiosidades fomentam a invisibilidade de mulheres no sistema de
saúde, assim como as afasta da rede de atendimento, conforme mos-
tra-se nos dados abaixo:
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Gráfico 3 – Frequência em consultas com profissional de medicina
ginecológica
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O desenvolvimento de ações intersetoriais de educação em direitos
humanos e respeito à diversidade, efetivando campanhas e currí-
culos escolares que abordem os direitos sociais; a sensibilização
dos profissionais a respeito dos direitos de LGBT, com inclusão do
tema da livre expressão sexual na política de educação permanente
no SUS; a inclusão dos quesitos de identidade de gênero e de orien-
tação sexual nos formulários, prontuários e sistemas de informa-
ção em saúde; a ampliação da participação dos movimentos sociais
LGBT nos conselhos de saúde; o incentivo à produção de pesquisas
científicas, inovações tecnológicas e compartilhamento dos avan-
ços terapêuticos; a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e o
respeito ao direito à intimidade e à individualidade; o estabeleci-
mento de normas e protocolos de atendimento específicos para as
lésbicas e travestis; a manutenção e o fortalecimento de ações da
prevenção das DST/aids, com especial foco nas populações LGBT.
• O aprimoramento do Processo Transexualizador; a implemen-
tação do protocolo de atenção contra a violência, considerando a
identidade de gênero e a orientação sexual (BRASIL, 2013 p. 14).
3- Considerações Finais
- 80 -
cia de direitos das mulheres, o que se torna fator potencializador ao
ponderar a inclusão de mulheres com características de sexualidades
dissidentes não heteronormativas.
Referências
- 81 -
GOFFMAN, Erving. Estigma. Ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Esta-
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biental em um hospital público do município de Itacoatiara (AM). In.:
Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), 16(5), 217-
232. 2021.
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dicinais utilizadas pela população rural e ribeirinha do município
de Itacoatiara-AM. 2022.
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Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/legislacao/nobsus96.htm.
Acesso em 28 de nov. 2022.
SECRETARIA DE ESTADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Boletim
Informativo Socioeconômico do Município de Itacoatiara. Depar-
tamento de Gestão do SUAS da Secretaria de Estado de Assistência
Social/Amazonas. Manaus, 2021. Disponível em: < http://www.seas.
am.gov.br/wp-content/uploads/2021/08/ITACOATIARA.pdf>. Acesso
em 30 de jul. 2022.
SILVA, Gustavo Teixeira da. Laicidade do Estado: dimensões analítico-
-conceituais e suas estruturas normativas de funcionamento. In: Socio-
logias, Porto Alegre, ano 21, n. 51, maio-ago 2019, p. 278-304.
- 82 -
CAPÍTULO 5
- 83 -
IST’s nos possibilita compreender as mais variadas faces da saúde
dessa população.
O objetivo deste estudo é investigar como se efetiva o direito
ao acesso à saúde de mulheres lésbicas e bissexuais a partir do olhar
de trabalhadores e trabalhadoras da saúde na rede de atenção básica
expressa no município de Manacapuru/AM. Para chegarmos no ob-
jetivo proposto, realizamos um estudo exploratório com trabalhado-
res e trabalhadoras de saúde do referido município. Ao todo foram
12 (doze) participantes das equipes multiprofissionais que atuam no
serviço de saúde do município. Fora realizadas entrevistas semies-
truturadas com perguntas abertas e fechadas, com o intuito de anali-
sar os desafios enfrentados por estes profissionais e de que forma se
efetiva o atendimento às mulheres, público-alvo da pesquisa.
A cidade de Manacapuru, conhecida popularmente como
Princesinha do Solimões, localizada no estado do Amazonas, tem a
população estimada em 85.141 habitantes, conforme censo do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE (Censo 2010)4, o
qual 49% da população se identifica com o gênero feminino, no qual
30.197 residem em área urbana e 11.483 em área rural. O município
dispões de 24 (vinte e quatro) estabelecimentos de saúde, conforme
dados do Instituto Brasileiro de Geografia - IBGE.
O lócus da pesquisa se deu a partir da necessidade de com-
preender os desafios presentes na efetivação do direito à saúde de
mulheres lésbicas e bissexuais para além do contexto da capital. Este
estudo está dividido em dois momentos: o primeiro aborda questões
relacionadas à saúde voltada para mulheres lésbicas e bissexuais,
buscando compreender os desafios e perspectivas na efetivação do
direito à saúde e as especificidades no atendimento e serviço; o se-
gundo momento, carrega o intuito de se compreender a realidade
do município de Manacapuru/AM, a partir dos discursos dos pro-
fissionais de saúde que atuam no atendimento a essas mulheres que
utilizam os serviços de saúde.
Ponderar os desafios na efetivação do reconhecimento das
identidades sexuais, a partir do discurso dos agentes de saúde que
atuam na linha de frente do atendimento às mulheres lésbicas e bis-
sexuais, apresentou-se como fator importante para debater e buscar
legitimar direitos sociais, considerando as realidades trazidas por
4 IBGE. CENSO (2010). Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/am/manacapuru/
panorama.
- 84 -
participantes da pesquisa a partir dos relatos expostos, ao que se
refere à legitimação do acesso aos serviços básicos de saúde e os
desafios enfrentados por trabalhadores e trabalhadoras da saúde no
âmbito da atenção básica.
- 85 -
que seja possibilitado um acolhimento adequado na perspectiva da
cidadania e da diversidade humana.
A Política Nacional de Saúde Integral LGBT ainda que de-
mostre avanço, não é lei, mas apenas uma portaria ministerial. E sua
implementação no Brasil, depende quase que unicamente da orga-
nização política que os movimentos sociais LGBTI+ trazem para a
arena do debate.
Nos últimos quatro anos, durante a gestão Bolsonaro, o Mi-
nistério da Saúde não trouxe informações sobre a política LGBT, ao
contrário, evidenciou a negativa sobre a tratativa de qualquer polí-
tica pública que envolvesse o universo LGBTI+. Recentemente (ja-
neiro/2023), Luíz Inácio Lula da Silva tomou posse pela terceira vez
como presidente do país, e já existe em voga as tratativas da criação
de uma Secretaria dos Direitos LGBTI+.
As demandas de saúde das mulheres lésbicas e bissexuais se
tornam cada vez mais urgentes. Primeiro porque as dificuldades en-
contradas por elas se dão desde a atenção primária até a mais espe-
cializada. Segundo, porque ainda são escassos os aportes científicos
e políticas públicas mais específicas sobre saúde e as relações afe-
tivas dessas mulheres, sendo que [...] “a produção de conhecimento
ou políticas deve sempre levar em conta toda a diversidade de estilos
de vida, geração, pertencimentos raciais/étnicos ou de classe, pre-
sentes na população” (FACCHINI; BARBOSA, 2006, p. 3).
Quando se trata da especificidade de mulheres lésbicas a in-
visibilidade, o preconceito e o desrespeito aos princípios do SUS,
interfere diretamente na saúde do referido segmento populacional,
principalmente a integralidade e equidade que deveriam se fazer
presentes em todo atendimento clínico de saúde, independente da
demanda do usuário/a (FACCHINI; BARBOSA, 2006). Logo, para
as respectivas autoras, a saúde dessa população historicamente este-
ve associada à marginalização, onde a ideia de direitos sexuais, vem
como ponto de partida para a reivindicação das mesmas em defesa
da saúde, isto é, a partir da expansão e da visibilidade do movimento
lésbico e de ativistas ligadas aos movimentos feministas.
Assim, enquanto denominações que relacionam apenas o
sexo biológico for fator determinante para se pensar a saúde de uma
determinada população, suas especificidades de saúde continuarão
silenciadas, as políticas públicas mais genéricas não irão abarcar a
- 86 -
realidade das demandas que as mulheres lésbicas e bissexuais tra-
zem consigo. Longe de esgotar o tema, é necessário cada vez mais
estudos que o aprofunde esse, na perspectiva da cientificidade.
- 87 -
(doze) trabalhadores e trabalhadoras da saúde que atuam na atenção
básica do município, onde 08 (oito) atuam de 03 a 05 anos, 02 (dois)
atuam de 06 a 10 anos e 02 (dois) atuam de 10 a 15 anos no aten-
dimento da rede de saúde, dos quais em sua totalidade, 100% têm
contratos temporários.
Os/as trabalhadores e trabalhadoras da saúde atuam à frente
dos serviços de saúde na atenção básica, onde estão os primeiros
contatos com a população que busca algum atendimento referen-
ciado. Ao iniciar o diálogo com as/os participantes entrevistadas/os,
questionou-se se os mesmos tinham conhecimento acerca dos signi-
ficados da expressão “gênero”, como forma de iniciar as primeiras
aproximações com o objetivo da pesquisa. Três responderam que
não sabem do que se trata, mas que já ouviram falar sobre o assunto.
No relato de uma das entrevistadas, que identificaremos como Rosa
Branca, a referida declarou que
“[...] ou você nasce homem ou nasce mulher. O que tiver fora disso
é pura invenção.”
- 88 -
cos. Diante deste cenário que se faz necessário rompimento com pa-
radigmas que ainda corroboram para uma perspectiva de exclusão,
sobretudo quanto ao universo da diversidade sexual.
Para Barroco (2015), esses discursos surgem carregados de
princípios morais, que desempenham uma função de destaque no
ideário conservador que tem tomado conta dos espaços sociais e po-
líticos. Para a autora “essa visão conduz ao entendimento de que
crises sociais e as expressões da questão social são consequências
de uma degradação moral” (BARROCO, 2015, p.25). Os discursos
que fomentam os estigmas de exclusão são amparados por tais con-
cepções, que se baseiam em princípios da moralidade individual da-
queles que ocupam cargos públicos e que reverberam na sociedade,
determinada forma de segregação.
Os trabalhadores/ trabalhadoras de saúde, ao serem questio-
nados/as se já ouviram falar sobre o termo LGBTI, 11 (onze) res-
ponderam afirmando que sim, apenas 01 (um) disse que não. Ao
indagar se já realizaram atendimentos às pessoas LGBTI, 09 (nove)
responderam que sim e 03 (três) responderam que não.
Quando questionados se na UBS que atuam há atendimentos
frequentes de mulheres que se identificam como lésbicas ou bisse-
xuais? Apenas dois entrevistados responderam sim, e dez informa-
ram que o atendimento não é frequente. Quando ocorre, as mulheres
buscam consultas, preventivos e testes rápidos, conforme dado ex-
presso por um trabalhador da saúde.
A realidade que se mostra a partir do relato de trabalhadores
e trabalhadoras da saúde representa a forma como a saúde ainda é
estabelecida por viés biológico, onde os atendimentos são pautados
em fichas com informações voltadas para atendimentos pontuais, e
não para conhecer o perfil de usuários e usuárias dos serviços de
saúde, tampouco para o aprimoramento dos serviços oferecidos. Tal
realidade, representa um processo histórico de fragmentação da po-
lítica de saúde, o que contribui para a invisibilidade de mulheres
lésbicas e bissexuais que buscam o atendimento. De acordo com o
Ministério da Saúde, essas pessoas sofrem estigmas não somente na
sociedade, mas em particular na área da saúde, o que impede e/ou
dificulta ao acesso aos serviços (BRASIL, 2012).
É perceptível tal invisibilidade, considerando não haver dis-
tinção nos relatos de trabalhadores e trabalhadoras da saúde a res-
peito das identidades de mulheres lésbicas e mulheres bissexuais.
- 89 -
“Acho que não tem muita diferença. Elas são iguais e recebem o
mesmo atendimento.” (Rosa Branca, entrevista/2022).
“Toda mulher deve ser mulher. O que eu penso disso sinceramente
não vem ao caso.” (Azaleia, entrevista 2022).
- 90 -
espaço que essas mulheres estão inseridas na sociedade. Vislumbra-
-se uma arena de conflitos na efetivação de políticas que atendam as
demandas do referido segmento da população. A partir dos discur-
sos de trabalhadores e trabalhadoras da saúde é possível identificar
o distanciamento que estes, enquanto operadores da saúde têm na
compreensão das especificidades que podem estar evidenciadas por
trás dos atendimentos de mulheres lésbicas ou bissexuais.
Faz-se necessário a existência de marcos jurídicos, assim
como estratégias de controle social que possibilitem o monitora-
mento e avaliação mais precisa dos serviços oferecidos, sobretudo
nos municípios menores localizados na região amazônica. Mello et.
al (2011) pontua que ações governamentais não são suficientes para
atender às necessidades de todos os segmentos. É imperativo o for-
talecimento do diálogo, políticas intersetoriais, transversais e con-
tinuadas, além da presença da sociedade civil organizada (MELLO
et. al., 2011).
Ainda sobre os dados de campo, ao tecer indagações se os
agentes de saúde já participaram de alguma formação sobre saúde
de pessoas LGBT, em sua totalidade, o acesso, de maneira que seja
garantido o a serviço humanizado e que atenda as demandas a partir
das especificidades dos sujeitos, disposto enquanto um dos objetivos
dessa política, que juntamente com os demais, possibilita articular
estratégia, campanhas e desenvolver ações voltadas para o público
em pauta.
Ao questionar trabalhadores e trabalhadoras da saúde se du-
rante a formação acadêmica houve disciplinas que contemplassem o
assunto da diversidade sexual, dentre as/os entrevistadas/os, apenas
um indicou que sim, os demais informaram que não tiveram nenhu-
ma disciplina a respeito da temática ora expressa. Ainda sobre os
resultados, dentre os participantes da pesquisa, 09 (nove) indicaram
interesse em participar de formações a respeito de saúde para mu-
lheres lésbicas e bissexuais, e 03 (três) trouxeram a negativa sobre a
oportunidade nas formações, contudo, não indicaram as motivações.
Quando questionados se há desafios no atendimento às mu-
lheres lésbicas e bissexuais nas unidades de saúde, todos os agentes
de saúde entrevistados indicaram a inexistência de problemáticas a
serem enfrentadas nos serviços de saúde do município pelo respec-
tivo público usuário. Destacamos o que pontua Mello et. al (2011),
- 91 -
no ideal da construção de uma política para a população LGBT há
desafios, os quais também se colocam de outras formas para a popu-
lação em geral, sobretudo no que diz respeito ao sucateamento dos
serviços públicos, falta de investimentos para o setor, bem como de
capacitação de recursos humanos.
Nesse ínterim, nota-se um desafio a ser desvelado, onde se
faz necessário construir pontes para alicerçar a busca pela efetivação
concreta a partir de diretrizes que possam garantir a Saúde como um
direito universal. Faz-se necessária a busca por uma aproximação de
trabalhadores e trabalhadoras da saúde com a realidade envolta ao
cotidiano das especificidades de mulheres lésbicas e bissexuais. Tra-
balhadores e trabalhadoras da saúde configuram-se como porta de
entrada para os serviços que possibilitam o cuidar de si, bem para o
direito ao atendimento sem discriminação. É importante o desenvol-
vimento de ações voltadas para a capacitação e aprimoramento do
atendimento e das especificidades que esse segmento da população
demanda cotidianamente.
4.Considerações Finais
- 92 -
consonância com o disposto na PNSI-LGBT, do Ministério da Saú-
de, que preconiza a capacitação continuada na esfera profissional.
Diante do cenário atual, onde o neoconservadorismo e a ne-
cropolítica instaurada a partir de discursos que negligenciam o aces-
so aos serviços e direitos sociais, fomentar discussões para além do
ambiente acadêmico e das pesquisas é de extrema importância para
o combate aos estigmas sociais que permeiam os corpos de mulheres
lésbicas e bissexuais, sobretudo nos espaços dos serviços públicos
de saúde voltados à atenção básica.
Considerando o exposto por trabalhadores e trabalhadoras
da saúde, intervenções se fazem necessárias, assim como rodas de
conversar e demais formas discussão que fomentem a ampliação
dos debates acerca das especificidades referente à saúde de mulhe-
res lésbicas e bissexuais, no que tange o cuidado consigo, nas rela-
ções sexuais, as IST’s, prevenção e acompanhamento contínuo, bem
como um atendimento humanizado que oportunize a elas o acesso
sem qualquer tipo de discriminação.
Face ao exposto, os caminhos a se percorrer na busca por
romper estigmas sociais que fragmentam as políticas e excluem cor-
pos dissidentes configuram-se como uma luta contínua, na qual, os
movimentos sociais, pesquisadores e gestores deverão buscar for-
mas de dialogar ações dentro das possibilidades oferecidas em cada
espaço do sistema público de saúde, sobretudo na atenção primá-
ria, como forma de construir um percurso em que o diálogo entre
os sujeitos possibilite às mulheres lésbicas e bissexuais se sentirem
acolhidas e com o direito garantido nos serviços de atenção primária
no município de Manacapuru/AM.
5.Referências
- 93 -
_______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral
de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Brasília: Mi-
nistério da Saúde, 2013.
FACCHINI, Regina; BARBOSA, Maria Regina. Saúde das Mulhe-
res Lésbicas: promoção da equidade e da integralidade. Dossiê. Rede
feminista de saúde, direitos sexuais e direitos reprodutivos. UNFPA,
2006.
GROSSI, Miriam Pillar. Identidade de gênero e sexualidade. Antro-
pologia em primeira mão. Florianópolis: UFSC, p.1-18, 1998.
IBGE. CENSO (2010). Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/bra-
sil/am/manacapuru /panorama
MELLO, Luiz et. al. Políticas de saúde para lésbicas, gay, bissexuais,
travestis e transexuais no Brasil: em busca de universalidade, integrali-
dade e equidade. In: Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latino-
americana, 9 – dec. 2011.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica.
Educação & Realidade, v. 20, n.2, p.71-99, 1995.
- 94 -
CAPÍTULO 6
- 95 -
1. Introdução
- 96 -
(1988) enfatiza ainda que o preconceito em torno do sexo é algo
histórico.
Historicamente, o termo gênero, adentrou como uma catego-
ria somente como problemática das mulheres. Uma amplitude nes-
se termo começa a ser cobrada, pois se visualiza a necessidade de
marcadores como classe e raça, para inclusão de outros indivíduos
afetados com esse sistema de formas diferentes de opressão.
Uma pesquisa realizada em 2002, pela coordenação DST/
AIDS, do Ministério da Saúde, apontou que entre as mulheres hete-
rossexuais, por exemplo, a cobertura do exame preventivo de câncer
cérvico uterino (Papanicolau), nos últimos três anos, ficou em torno
de 89,7%. Já entre as mulheres lésbicas e bissexuais, a cobertura
cai para 66,7%, mesmo no público com maior renda, escolaridade e
esclarecimento acerca da saúde.
O poder não disciplina pessoas na perspectiva de formas de
governo. O poder disciplina os corpos. Então o poder diz como de-
verá ser o comportamento, forma de vestir, andar, a postura, assim
como as identidades, ou seja, Foucault referia-se ao biopoder.
Ao retratar o contexto situacional das mulheres, o cotidiano
não se difere. Conforme os dados de Cavalcante (2015), mulheres
lésbicas e bissexuais enfrentam dificuldades no que tange ao atendi-
mento nos serviços de saúde de Manaus.
O preconceito, a discriminação e os conceitos firmados em
estereótipos, fomentam aportes para que tais sujeitos estejam à mar-
gem dos direitos, que pareciam garantidos na
Neste trabalho estão relacionados os dados coletados por dois
trabalhos de iniciação científica que apresentam um recorte do pro-
jeto guarda-chuva. A pesquisa contempla etapa de análise documen-
tal e pesquisa de Campo em unidades básicas de saúde na zona sul
e Leste da cidade de Manaus, com a participação de profissionais da
saúde e mulheres com auto identificação lésbica e bissexual, usuá-
rias do serviço, a pesquisa faz uso da análise quantitativa, qualitativa
e do conteúdo descobertos com os dados coletados durante a pesqui-
sa de campo.
Os resultados contribuem para a construção de planos, pro-
gramas e projetos sociais que promovem a inclusão social dos su-
jeitos da pesquisa nas zonas sul e Leste da cidade de Manaus. E que
novas perspectivas dessa realidade sejam postas de uma forma mais
- 97 -
segura e humanitária, no atendimento básico de saúde como propõe
o próprio Ministério da Saúde.
2. Desenvolvimento do trabalho
3.Resultados e Discussão
- 98 -
Segundo Bravo (2006), apesar dos avanços na saúde pública
no Brasil ainda são comuns descasos e precariedades no atendimen-
to da população. Apesar da existência das políticas, pondera-se a
ausência de sua aplicabilidade no cotidiano dos serviços de saúde na
realidade de Manaus (CAVALCANTE, 2015).
A questão do acesso de mulheres lésbicas e bissexuais ao
atendimento básico de saúde sob o prisma das limitações impostas
pelo sistema é desafiadora, pois que não absorve as particularidades
no atendimento dessas mulheres pela falta do reconhecimento de
outras sexualidades fora do padrão da heteronormatividade.
Durante a pesquisa, a faixa etária das mulheres residentes na
zona sul, em sua maioria é de 18 a 29 anos de idade, equivalente a
74%, seguida pela faixa etária de 30 a 39 anos com 13% e as demais
somadas também refletem 13%.
- 99 -
Gráfico 2- Faixa Etária das Mulheres que participaram da pesquisa na
zona leste
- 100 -
relações afetivo-sexuais que independem do gênero e apenas 9%
com homens e mulheres.
Pondera-se aí a diversidade das expressões de sexualidade
humana, as quais podem apresentar expressões de orientações se-
xuais e identidades de gênero. Ressalta-se que ainda há confusão
entre os significados de orientações sexuais, as quais referem-se às
perspectivas da sexualidade voltadas ao desejo afetivo-sexual tais
como a homossexualidade, bissexualidade e heterossexualidade. Já
as identidades de gênero abordam expressões como a cissexualidade
(pessoas que se sentem identificadas com o sexo de nascimento e
pessoas transgênero, as quais não apresentam identificação com o
sexo biológico (JESUS, 2010).
Em continuação dos dados, na zona leste, ponderou-se que
73% das mulheres que responderam à pesquisa relaciona-se apenas
com mulheres; 20% têm relacionamentos de natureza afetivo-sexual
com homens e mulheres e 7% somente com homens, conforme ex-
pressivo no gráfico abaixo.
- 101 -
Abaixo pondera-se as informações sobre os lugares com
maior ocorrência de preconceitos, divididos por zona.
- 102 -
A pesquisa mostrou que dentre os lugares com maior ocorrên-
cia de preconceito estão: a família, as igrejas, os meios de transporte,
seja público ou por aplicativo, os ambientes de amigos, escolas e
faculdades, o que mostra os desafios de uma sociedade ainda emba-
sada na heteronormatividade como baliza para os relacionamentos.
- 103 -
compulsória de acordo com Jesus (2010), o que dificulta a abertura
de diálogos para proporcionar modificação nesses espaços.
Na atividade da Zona Sul, a respeito do gênero de identifica-
ção foi avaliado que cerca de 74% dos entrevistados se identificam
como sendo do gênero feminino, 22% se identificam como sendo do
gênero masculino e apenas 4% entraram na categoria outros. Uma
observação feita durante a pesquisa é de que há certa dificuldade
na compreensão do termo que reflete as questões de gênero, tendo
pessoas que se enquadraram na categoria outros por citar falas como
“minha identidade de gênero é normal” (grifos nossos).
Segundo Grossi (2010), a identidade de gênero trata da forma
como aquele ser humano se vê. Não tem nenhuma relação com a
condição do sexo biológico - o que também pode ser mutável caso o
indivíduo deseje – mas sim, com uma identificação pessoal com as
diversidades e as noções de gênero.
Com dada clareza que pode haver influência desse padrão de
expectativas e determinantes que são colocados como inatos ou na-
turais, por mais que sejam parte de uma construção social, os corpos
que quebram com esse padrão podem ser chamados de subversivos,
porque, mesmo encontrando-se dentro do circuito de imposições,
vão contra esses estereótipos e resistem a essa regulação dos seus
corpos e identidades.
Sabendo isso, chega-se à conclusão de que os/as trabalhado-
res/trabalhadoras da saúde ainda trazem no bojo da compreensão
certa confusão sobre os significados de gênero e orientação sexual,
assim como reproduzem discursos de anormalidade da diversidade
sexual, colocando-a como patologia.
Já a respeito da orientação sexual, os dados coletados mos-
tram que cerca de 56% dos entrevistados se autodeclaram heterosse-
xual, 33% homossexual e 11% entram na categoria ‘outros’. Assim
como na coleta de dados sobre gênero e suas especificidades foi pos-
sível observar que parte dos servidores não compreendem os termos
como heterossexual, homossexual e bissexual.
Sendo assim, a maioria das respostas tiveram conotações que
reforçam discursos voltados à LGBTfobia, o enquadrando na pers-
pectiva de anormalidade, estando presentes falas como: “mulher
mesmo”, “eu sou normal” e “homem de verdade”. O que é equivo-
cadamente disseminado, “ao se conceber o que social e culturalmen-
- 104 -
te seria certo ou errado, normal ou anormal, estabeleceram-se dispo-
sitivos que ligariam sexualidade a um poder propriamente inventado
pelo ocidente” (CAVALCANTE, 2015, p.38).
Voltando para a Zona Leste, a faixa etária dessas pessoas da
área da saúde se manifesta da seguinte forma, 43% têm entre 40 a
49 anos, 29% entre 50 a 59 anos, 14% entre 18 a 29 anos, 9% entre
60 anos ou mais e 5% entre 30 a 39 anos. Sobre a escolaridade, 54%
possuem o ensino superior completo, 20% possuem especialização,
10% possuem nível técnico, outros 10% possuem ensino médio
completo, 3% possuem ensino superior incompleto, e 3% possuem
mestrado. As áreas de formação das pessoas entrevistadas mostram
que 48% são formadas em enfermagem, 19% em curso técnico de
enfermagem, 9% em serviço social, outros 9% em medicina, 5% em
farmácia, 5% em fonoaudiologia, e 5% em jornalismo. Nota-se uma
diversidade na formação das pessoas entrevistadas.
Os dados dos profissionais de saúde apontam que 52% dos
entrevistados revelam ter interesse em participar de formações sobre
gênero e diversidade sexual com aplicabilidade no âmbito da saúde.
No ensejo, pondera-se não apenas a necessidade de discutir o tema,
como também os desafios, já que 48% ressaltaram não ter interesse
nas referidas formações, as quais estão previstas no âmbito do pro-
jeto guarda-chuva.
Para os profissionais da Zona Sul, o cotidiano de atuação dos
profissionais, no que tange as particularidades de serviços de saúde
direcionados às mulheres lésbicas e bissexuais o termo LGBTI usa-
do como sigla para especificar as Lésbicas, os Gays, Bissexuais e In-
tersexuais ainda é desconhecido por cerca de 63% dos trabalhadores
da saúde, o que sem dúvida é agravante para a proposta de inclusão
da diversidade na saúde.
A Política LGBT é uma iniciativa para a construção de mais
equidade no SUS (BRASIL, 2013), o que claramente não está sen-
do cumprido se a maioria dos servidores das Unidades Básicas de
Saúde não tem conhecimento se quer da sigla de identificação dessa
minoria social.
Durante a pesquisa com os profissionais da saúde constatou-
-se a baixa frequência de Mulheres lésbicas e bissexuais nas uni-
dades de saúde. Isso pode se dar tanto pelo medo do preconceito e
pelo discurso de que mulheres que se relacionam sexualmente com
- 105 -
outras mulheres não precisam fazer esses atendimentos. Esse pensa-
mento equivocado também tem raízes na heteronormatividade ensi-
nada socialmente (BRASIL, 2013).
O interesse dos profissionais em participar de formações a
respeito da temática também é baixo sendo apenas 37% a favor de
participar e 63% não gostaria de participar de formações com essa
temática, o que também comprova uma grande rejeição a esse pú-
blico.
5.Considerações Finais
- 106 -
damento nas questões que contornam a saúde sexual e suas políticas
para mulheres lésbicas e bissexuais, que são esquecidas nesses seg-
mentos, com apagamento das identidades, discussões e um mutismo
acerca da inclusão em programas de saúde na cidade de Manaus.
Como resposta aos questionamentos que move os estudos,
pelo intento que almeja a reflexão que paira no tempo acerca do
tema, sugestiona-se a inclusão de programas, a construção de planos
e projetos sociais vislumbrando a dignidade, segurança e humani-
zação no acesso ao sistema único de saúde para mulheres lésbicas e
bissexuais.
Em vista da negativa de mulheres e profissionais da saúde,
reafirma-se a necessidade de alocar estratégias mais abrangentes e
embasadas para que se consiga sensibilizar a todos e todas acerca da
necessidade de pesquisas, formações e diálogos entre a população
LGBTI com os demais segmento da sociedade, com mediação do
Estado e de seus instrumentos, para que haja as formulações, pla-
nejamentos e concretizações de políticas sociais, direitos sociais e
civis, bem como o reconhecimento das especificidades do segmento
LGBTI.
Esses estudos trazem reflexões reais e revelam pontos que
ainda precisam ser explorados, quando se vislumbra as possibili-
dades de um diálogo aberto e sensível às mudanças de paradigmas
e acionar direitos e acessos para as mulheres, indiscriminadamente.
Vale ressaltar um dado relevante, o que concerne às mulheres es-
trangeiras que se identificam como lésbicas e bissexuais, dimensio-
nando isso, se para mulheres brasileiras já há dificuldades, para as
mulheres migrantes é ainda mais difícil potencializar o acesso aos
serviços na atenção básica.
Referências
- 107 -
CAVALCANTE, L. L. Retratos Históricos e Sociais das Mulheres
Homossexuais na Amazônia: entre o conflito e o reconhecimento. In:
MORGA, Antônio Emílio. (Org.). História das Mulheres do Norte e
Nordeste Brasileiro. 1ªed. São Paulo: Alameda, 2015, v. 1, p. 41-56.
CAVALCANTE, L. L. Sob o véu da homossexualidade: relações
como espaços de conflito, poder e reconhecimento em Manaus.
2015. 168 p. Tese (Doutorado em Sociedade e Cultura na Amazônia) –
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2015.
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tituição dos estudos sobre gênero, sexualidade e reprodução no Brasil.
In: MARTINS, C. B.; DUARTE, L. F. D. Horizontes das ciências so-
ciais no Brasil: antropologia. São Paulo: ANPOCS, 2010.
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Amazonas | Manaus | Panorama> Acesso em: 12jan. De 2020
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
(IBGE). Censo Brasileiro de 2010. Tabela 1.8 - População nos Censos
Demográficos, segundo as Grandes Regiões, as Unidades da Fede-
ração e a situação do domicílio - 1960/2010 (1) População recensea-
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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estimativas do
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2018.
JESUS, Jaqueline de. Feminismo Transgênero e Movimentos de Mu-
lheres Transexuais. In.: Revista do Programa de Pós-graduação em
Ciências da UFRN, v. 11 n. 2(2010).
- 108 -
CAPÍTULO 7
O LUGAR DE PERSÉFONE NA
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
identidade sexual de mulheres e o acesso à
saúde na atenção básica
Ariadna Nunes Aguiar Batalha1
Isadora Lima de Souza2
Izabelle Cristina Fragoso do Nascimento3
Marcia Helena Nascimento Braga4
1.Introdução
- 109 -
Apesar dos avanços com estudos e pesquisas, ainda se tem um longo
caminho a percorrer, no que tange ao reconhecimento das pessoas
LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e interse-
xuais), como sujeitos sociais, autores de sua própria transformação.
Este capítulo é fruto de uma pesquisa que se propôs a investi-
gar como se efetiva o direito e o acesso dessas mulheres ao Sistema
Único de Saúde (SUS) no âmbito da Atenção Básica. A proposta faz
parte de um projeto aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Amazonas – FAPEAM, por meio do edital Universal
de 2019, que coletou dados em Manaus e em mais três municípios
(Parintins, Itacoatiara e Manacapuru). No entanto, esse capítulo se
propõe a trazer discussões acerca dos trabalhadores e trabalhadores
de saúde em Manaus/AM e suas implicações para o acesso aos usuá-
rios do SUS, na Atenção Básica.
O capítulo ficou estruturado da seguinte forma: introdução,
desenvolvimento (divididos em seções: 2. Direito e o acesso: a aten-
ção primária na política pública de saúde; 3. Da mitologia grega
ao cenário contemporâneo: o lugar da mulher na sociedade capita-
lista-patriarcal; 4. Os desafios da(o)s trabalhadora(e)s de saúde em
Manaus face a diversidade sexual) e as considerações finais.
Pretende-se no decorrer da discussão, mostrar que apesar das
políticas públicas estarem respaldadas na saúde como prerrogativa
constitucional, o que se visualiza cotidianamente é a ausência de di-
reitos básicos que envolvem a saúde, principalmente quando o tema
envolve mulheres homossexuais e bissexuais, suas particularidades
e reconhecimentos na cidade de Manaus/AM, face uma sociedade
capitalista-patriarcal que que subalterniza as mulheres, impondo
padrões normativos em quaisquer espaços de nossa sociedade, seja
o público ou privado. Assim, os estereótipos de gênero impostos
pelo modelo patriarcal-capitalista, somados a carência no processo
formativo do (a)s trabalhadores, conforme mostremos a seguir, tem
dificultado ou impossibilitando o acesso ou [protoformas] de acesso
às mulheres lésbicas e bissexuais na cidade de Manaus/AM.
- 110 -
Acrescenta-se ainda a criação e implementação da Lei 8.080/90, a
Lei Orgânica da Saúde, a qual sinaliza os princípios e diretrizes do
Sistema Único de Saúde, tais como: universalidade, integralidade e
equidade. Tem-se ainda a Lei 8.142/90, na perspectiva complemen-
tar a primeira lei, que aborda o formato de financiamento, além das
formas de participação da sociedade civil.
A Atenção Básica de Saúde está posta como uma das princi-
pais portas de entrada do usuário no Sistema Único de Saúde - SUS.
Nesse sentido, cabe à Unidade Básica de Saúde, por meio das ações
dos profissionais de saúde, implementar os programas e serviços no
contexto da Atenção Básica em Saúde. Nos atendimentos a usuários,
as demandas são muitas, para tanto, são desenvolvidas atividades de
acompanhamento da população em geral, por meio de programas e
projetos. São ofertados serviços de prevenção de doenças, exames
médicos, imunização para várias faixas etárias.
Entretanto, mesmo com a garantia do acesso universal à saú-
de, ainda existem obstáculos a serem superados no que se refere a
saúde preventiva de pessoa LGBTI, apesar da existência da Política
Nacional Integral de Saúde para pessoas LGBT, criada por meio da
portaria 2.836/2011 do Ministério da Saúde. Ainda assim é possível
notar que o que segmento de mulheres lésbicas e bissexuais é invi-
sibilizado.
Com os desafios quanto a implementação da política, urge a
realização de estudos específicos, que possam contemplar o olhar
das usuárias dos serviços de saúde, assim como também de pro-
fissionais que atuam, com o objetivo de ponderar estratégias que
possam atender às especificidades de ambos os grupos, para pensar
políticas e programas locais, junto com as respectivas secretarias
municipais, com o objetivo de concretizar o efetivo acolhimento,
assim como as intervenções nas demandas de saúde e prevenção.
Apesar da garantia do acesso universal à saúde, ainda existem
obstáculos a serem superados no que se refere a saúde preventiva da
pessoa LGBTI, apesar da existência da Política Nacional Integral
de Saúde criada por meio da portaria 2.836/2011 do Ministério da
Saúde. É possível notar que o segmento de mulheres lésbicas e bis-
sexuais ainda é invisibilizado.
Destarte, compreendemos a necessidade de evidenciar tais de-
mandas no contexto amazônico, e como são estabelecidas as proto-
- 111 -
formas de acesso à atenção básica em Manaus, para então compreen-
dermos os principais desafios para esta população na porta de entrada
da política de saúde. O acolhimento de mulheres lésbicas e bissexuais
nas unidades de saúde não aponta intervenções com as necessidades
específicas, fator esse que será refletido no decorrer desta pesquisa.
As mulheres historicamente foram classificadas como infe-
riores, subalternizadas e invisibilizadas. Esse cenário é causado por
diversos fatores ainda na contemporaneidade, uma vez que vivemos
em uma sociedade estruturalmente patriarcal, machista e misógina.
Dessa forma seria necessário um processo de desestruturação
e desconstrução de padrões, pois o sujeito feminino foi condicionado
ao papel de coadjuvante ou até mesmo figurante, em grande parte do
contexto histórico da nossa sociedade. Podemos destacar o fato de que
mulheres não tinham direito de estudar ou entrar em uma universida-
de, não votavam, não trabalhavam, estavam na verdade condicionadas
e para algumas “destinadas” ao trabalho doméstico e dedicação exclu-
siva ao marido e família (SOUZA E CAVALCANTE, 2018).
Essa reflexão é essencial para compreender as identidades fe-
ministas na diversidade sexual, pois somente com o “deixar para
trás” desses condicionantes comportamentais poderemos avançar
nas discussões e debates que envolvem sexo, gênero, identidade de
gênero e orientação sexual e assim desvendar tabus e talvez, futura-
mente, termos uma sociedade mais equitativa (IDEM).
As lésbicas têm sido comumente destituídas de sua existência
por meio de sua “inclusão” como versão feminina da homossexuali-
dade masculina. Equacionar a existência lésbica com a homossexua-
lidade masculina, por serem as duas estigmatizadas, é o mesmo que
apagar a realidade feminina mais uma vez.
Da mesma forma a bissexualidade é invalidada, tratada por
alguns como desvio de caráter e até perversão sexual, como afirma
Cisne e Santos (2018). Ainda no cenário contemporâneo é possível
notar uma invisibilização dos sujeitos bissexuais, tendo suas vivên-
cias relacionadas a insegurança, medo e incertezas. O pior nesse ce-
nário é ter de reconhecer que sujeitos LGBTI por vezes se tornam
os responsáveis por essas violências, quando uma mulher lésbica
justifica não se envolver com uma mulher assumidamente bissexual
por medo de ser trocada por um homem ou vice-versa. A realidade
é que existe um grande desconhecimento referente a bissexualidade.
- 112 -
Porém, as pessoas que se identificam como bissexuais (e as pessoas
que são identificadas como bissexuais por causa de suas práticas se-
xuais) muitas vezes são o alvo de discriminações duplas. Frequente-
mente sofrem discriminações por pessoas que se identificam como
heterossexuais e pelas que se identificam como homossexuais, por
não se enquadrarem dentro das categorias binárias normativas da
sexualidade: ou heterossexual, ou homossexual. (...) Para Garber
([1995] 1999), muitas das discriminações contra a bissexualidade
e pressões de se encaixarem em um dos lados do binário heterosse-
xual/homossexual vêm do fato de a bissexualidade perturbar essas
“certezas” da heterossexualidade e homossexualidade. (LEWIS,
2012, p.12)
- 113 -
No presente estudo, mais da metade das respondentes (53%)
declaram não frequentar as unidades de saúde da sua zona. Essa
situação ocorre pelo receio de sofrerem algum preconceito nessas
unidades, decorrente do comportamento heteronormativo dos pro-
fissionais de saúde. Segundo Rufino et al (2018, p.2) “a lógica he-
terossexista, quando valoriza a diferença social entre as mulheres
heterossexuais e as não hétero, configura uma das formas mais sutis
de lesbofobia e bifobia, ao silenciar e invisibilizar mulheres lésbicas
e bissexuais.” O que prejudica a realização de exames essenciais
para a saúde da mulher como preventivo, pré-natal, mamografia etc.,
conforme o gráfico 2 sobre os exames de prevenção.
- 114 -
ela gostaria. Que era de matar sua curiosidade ao invés de indagar
sobre minha saúde (CARINA).
- 115 -
dade pessoal, social, cultural. O simbolismo traz aos mitos uma es-
sência única, considerando que não podem ser reduzidos a histórias
que lemos normalmente.
Ocorre que um conto mitológico não foi feito para ser lido, mas
para ser ouvido, daí seu sentido etimológico e semântico conto. Se
tivessem sido pensados, em sua trajetória arcaica, para serem escri-
tos, assim seriam chamados. O sentido não era que o ouvinte refle-
tisse sobre o seu sentido léxico e epistemológico, mas, sim sobre o
seu efeito psicológico sobre a conduta ética (comportamental) dos
ouvintes. (ALVES E SOUZA, p. 716. 2019).
- 116 -
se inclinou para pegar uma flor, que na verdade era uma oferenda ao
deus do submundo, Hades, que já observava a jovem há algum tem-
po e estava apaixonado por ela. Essa então foi a oportunidade perfei-
ta para raptá-la. Hades abriu uma fenda e a puxou até o submundo.
A deusa Deméter ao notar a ausência de sua filha, desceu do Olimpo
em busca da jovem, e por não a encontrar, a deusa então secou a
terra, a deixando infértil e estéril. Enquanto isso, no submundo, Ha-
des fez com que Perséfone se cassasse com ele, a fez selar a relação
comendo uma romã, e assim ficou para sempre ligada ao submundo.
A terra não podia ficar infértil para sempre, por esse motivo
Zeus acaba por intervir na situação e faz um acordo com Hades. Sen-
do assim, Perséfone viveria alguns meses do ano na terra com a mãe e
o restante com seu marido no submundo. O período da primavera até
o fim das colheitas corresponde ao período que ela está com sua mãe e
o inverno equivale ao período em que precisava descer ao submundo.
Existem diferentes formas de interpretar os simbolismos do
mito de Perséfone, no caso deste estudo podemos relacionar a cor
vermelha da romã ao seu primeiro ciclo menstrual; ela deixa então
sua fase de menina, para entrar em uma fase de mais introspecção
e amadurecimento. Esse simbolismo faz referência ao momento em
que Perséfone passa a se enxergar como deusa, literalmente um pro-
cesso de renascimento, simbolizando ainda uma ciclicidade de vida
e morte, entre terra e submundo, de forma simples e direta, um ciclo
vivenciado constantemente por mulheres que tem identidades lésbi-
cas e bissexuais.
Na terra, vivenciam seus desejos e conseguem ser elas mes-
mas. Para essas mulheres a terra representaria um lugar onde en-
contram acolhimento e respeito. Sob esse prisma podemos colocar
as unidades de saúde justamente como o submundo, um lugar des-
conhecido, cheio de perigos, como o Cérbero que protege a entrada
com suas três cabeças. A falta de informação, a falta de empatia e a
falta de conscientização, desmobilizam mulheres lésbicas e bisse-
xuais, visto que não conseguem ter acesso a saúde ou abandonam
o referido acesso, o que seria um direito básico. Sendo assim, estão
fadadas ao óbito precoce, pois sem acesso à saúde, não há prevenção
e sem isso, temos uma política de morte pronta para ser executada.
As mulheres na história foram colocadas à margem da sua
própria história, mas isso não significa que elas não tiveram um
- 117 -
papel importante. Mulheres com identidades lésbicas e bissexuais
sempre existiram, entretanto estavam fadadas ao ostracismo ocasio-
nado por uma heterossexualidade compulsória determinada como
padrão pelo patriarcado.
- 118 -
fissional; buscam ocupar espaços políticos e tudo isso é visto como
uma ameaça pelo patriarcado.
Esse medo do patriarcado de perder sua posição de poder, de
opressão, também pode ser encontrado nos simbolismos da mito-
logia grega, pois segundo Pitágoras, a mulher é a origem do caos.
Através de Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, é criado o
mal, um tipo específico de mal, o mal do engano, que é atraente e
bonito por fora, que parece ser algo bom, mas que esconde coisas
ruins dentro (LAURIOLA, 2005).
Triste, louca ou má. Será qualificada. Ela quem recusar. Seguir re-
ceita tal. A receita cultural. Do marido, da família. Cuida, cuida da
rotina. Só mesmo, rejeita. Bem conhecida receita. Quem não sem
dores. Aceita que tudo deve mudar. Que um homem não te define.
Sua casa não te define. Sua carne não te define. Você é seu próprio lar.
- 119 -
De acordo com Ferreira (2018), o gênero funciona como um
marcador social que possibilita a identificação de diferentes formas
de expressão que estão presentes na história da sociedade, onde
podemos notar a superioridade masculina marcada na história da
humanidade. A partir disso podemos definir o que é identidade de
gênero, que segundo Grossi, “é um conjunto de convicções pelas
quais se considera socialmente o que é masculino ou feminino. Este
núcleo não se modifica ao longo da vida psíquica de cada sujeito,
mas podemos associar novos papéis a esta “massa de convicções”.
(GROSSI, 1998, p.6)
Ainda de acordo com Ferreira (2018),
- 120 -
Ainda foi possível notar que há certo desconhecimento quan-
do tratamos especificamente das mulheres lésbicas e bissexuais, ob-
servando as respostas dos profissionais quando perguntados se exis-
te diferença entre essas identidades:
- 121 -
Gráfico 03- Participação em formação
- 122 -
É imperioso destacar que a Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS, 1996, p. 01), menciona:
A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teó-
rico-metodológica e ético-política, como requisito fundamental para
o exercício de atividades técnico-operativas, com vistas à apreensão
crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade.
Portanto, a necessidade de se debruçar sobre esse tema é
fundamental para que compreendamos seus diversos significados
em diversos contextos/espaços, e principalmente, a existência de
uma disciplina que atenda essa especificidade que se apresenta na
contemporaneidade, para além de um Curso específico (embora
nos refiramos ao Serviço Social) que nos possibilite fazer leituras
acerca desta realidade e dessa forma identificar como fazer e quais
estratégias usar, ou seja uma instrumentalidade, que permita rever,
identificar seus compromissos, com quem estamos comprometidos
e alcançar, dessa forma, seus objetivos.
Considerações Finais
- 123 -
tados demandam um caminho muito árduo para se percorrer. No
entanto, vale ressaltar que ela se configura com um ponto de partida
para a discussão dessa temática. Espera-se que o conteúdo da pes-
quisa possa contribuir em possíveis propostas concretas, em planos,
programas e projetos que possam atender as particularidades de su-
jeitos usuários e profissionais inseridos nas práticas dos serviços de
saúde.
A pesquisa possibilitou a compreensão do movimento de mu-
lheres lésbicas e bissexuais poder reivindicar seu espaço, conside-
rando aspectos de gênero, sexualidade, raça, entre outros. Além de
repensar, quanto as políticas voltadas para a população LGBTI, mar-
cadas a priori pelo controle à epidemia da aids. Nesse sentido, algu-
mas bandeiras passaram a ganhar espaço em documentos e cartilhas.
No entanto, ainda se percebe que as políticas públicas, e de
saúde, ainda se mostram insuficientes no pensar nas problemáticas
de sua construção e nos desafios de sua implementação para mulhe-
res lésbicas e bissexuais. As políticas públicas, tem desafios a serem
enfrentados, em especial o debate que envolve a diversidade sexual,
pois a falta de informação e entendimento afeta a saúde dessas mu-
lheres.
Portanto, é necessário refletir para compreender as identida-
des feministas na diversidade sexual e avançar nas discussões e de-
bates que envolvem sexo, gênero, identidade de gênero e orientação
sexual e assim desvendar tabus, vistas a pensar num futuro, e em
uma sociedade mais equitativa.
Referências
- 124 -
CISNE, Mirla. SANTOS, Silvana Mara Morais. Feminismo, diversi-
dade sexual e serviço social. São Paulo. Cortez. 2018.
COSTA, Zora Yonora Torres. Safo, Foucault e Butler: a constituição
do corpo político lesbiano. Fl.148. Dissertação de Mestrado – Univer-
sidade de Brasília, Lisboa, 2011.
FERREIRA, Guilherme Gomes. Diversidade sexual e de gênero e o
Serviço Social no Sociojurídico. São Paulo. Cortez, 2018.
LAURIOLA, Rosanna. Pandora, o mal em forma de beleza: o nasci-
mento do Mal no mundo grego antigo. Revista Espaço Acadêmico.
n 52. Set 2005.
LEWIS, Elizabeth Sara “Não é uma fase”: construções identitárias
em narrativas de ativistas LGBT que se identificam como bisse-
xuais / Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro, Departamento de Letras, 2012.
LOURO, Guacira Lopes. O Corpo Educado: pedagogias da sexuali-
dade. ed.2 Belo Horizonte: Autêntica. 2000.
OLIVEIRA, Adriano Rodrigues. O Mito Das Amazonas Na América
Do Século XVI: uma análise da relação entre imaginário e imagem.
Anais XIV Encontro de História da ANPUH MS. 2018
RUFINO, Andréa Cronemberger. Práticas sexuais e cuidados em saú-
de de mulheres que fazem sexo com mulheres: 2013-2014. Epide-
miol. Serv. Saúde, Brasília, 27(4):e2017499, 2018.
SOUZA, Isadora Lima. Mulheres na História e o Armário da In-
visibilidade Lésbica. Orientador: Lidiany de Lima Cavalcante. 2018.
PIBIC (Serviço Social) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus,
2018.
- 125 -
- 126 -
Seção III
A Construção nas Perspectivas
de Inclusão e Reconhecimento
- 127 -
- 128 -
CAPÍTULO 8
- 129 -
Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser apreendida como um marco
de cidadania em nosso País, consagrado na Constituição Federal de
1988. A partir do entendimento de que a materialização de direitos
de cidadania depende da articulação entre forças políticas e movi-
mentos sociais é que se afirmar que a defesa do SUS constitui-se em
uma defesa intransigente da saúde pública como dever do estado e
direito de todos.
O SUS (lei 8.080/1990) é um sistema único de saúde que deve
ser concebido como o conjunto de ações e serviços de saúde, pres-
tados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e muni-
cipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas
pelo Poder Público. Contudo, mesmo instituído como direito uni-
versal, o SUS é constituído por uma estrutura híbrida de gestão da
saúde, uma vez que seu funcionamento se baseia em uma rede de
atendimento público e gratuito ao cidadão e outra privada, que deve
atuar de maneira complementar e conforme as diretrizes do SUS.
Esse é o caráter contraditório do SUS: a proposta de universalidade
exarada na Constituição federal de 1988 e a atuação complementar
da rede privada que abre o caminho para o processo de privatização
do SUS em tempos de menos Estado e mais capital na área social.
Sempre é bom lembrar que “O Estado brasileiro historicamente es-
timulou o setor privado promovendo a mercantilização da saúde”
(PAIM, 2015, p. 1).
Os princípios doutrinários norteadores do SUS são: universa-
lidade, equidade, integralidade, hierarquização, participação popu-
lar e descentralização política administrativa. O SUS proporcionou
o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação,
universal, independentes de raça, gênero ou cor, com vistas a propi-
ciar aos cidadãos acesso à saúde com qualidade, humanidade e con-
tinuidade. É salutar expor que o SUS oferta serviços de saúde para
mais de 200 milhões de habitantes do nosso País, o que representa
sua magnitude e desafios.
Num contexto de pandemia da Covid-19 sob o toque do neo-
liberalismo os desafios para o acesso aos serviços de saúde do SUS
agudizaram-se. Para se ter uma noção acerca do tamanho da proble-
mática no Brasil, o Painel Interativo do Coronavírus Brasil (SAÚ-
DE, 2022) demonstra-nos que 32.830.844 casos confirmados, des-
tes 673.339 óbitos e 31.119.463 pessoas recuperadas, já na Região
- 130 -
Norte têm-se 2.590.516 casos confirmados e 50.384 (JULHO/2022).
De acordo com a Nota Técnica 22, 09 de novembro de 2021
- MonitoraCovid-19 – ICICT/FIOCRUZ, revela-nos que a compara-
ção entre o período de janeiro de 2018 a junho de 2019, considerado
como um período pré-epidêmico com o período de janeiro de 2020
a junho de 2021, considerado como um período, após o início da
epidemia, apresenta uma diferença de 1.7 milhões de internações, só
de internações eletivas são 1.2 milhões.
Além disso, esse estudo revela a queda em ações de prevenção
e promoção de saúde já apresentavam uma diminuição em períodos
anteriores a epidemia de Covid-19, e caso do acesso aos serviços de
atenção básica continuem a diminuir. A tendência é o agravamento
de outras questões de saúde relacionadas ao nível secundário e ter-
ciário do SUS. Tudo isso agravado pela adoção da agenda neoliberal
para as políticas públicas brasileiras, como é o caso da política de
saúde.
Esses elementos aprofundam o processo de desmonte do
SUS, uma vez que a universalização do direito à saúde constitui-se
mais em um ideal do que em uma realidade, visto que vivenciamos
o não cumprimento das diretrizes organizacionais do SUS, pois o
acesso aos serviços de saúde não ocorre na sua integralidade. Por-
tanto, o SUS enquanto conquista democrática não se efetiva na vida
de expressos segmentos populacionais em nosso País.
Ao se buscar discorrer acerca dos serviços de saúde para a
população LGBTQIA+ na cidade de Manaus é vital discorrer acer-
ca desse município da região Norte, capital do estado do Amazo-
nas localizada à margem esquerda do Rio Negro. De acordo com
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) possui uma
população de 1.802.014 habitantes, além disso 84% dos habitantes
manauaras estão localizados no contexto urbano, em contraste que
16% encontram no meio rural. Verifica-se que neste universo de ex-
trema pobreza os dois mais altos índices por faixa etária de idade
encontram-se no intervalo de 25 a 34 anos (21. 600 habitantes) e
de 35 a 49 anos (19. 906 habitantes). Argumenta-se que cidade de
Manaus convive com a modernidade das empresas de tecnologia de
ponta, instaladas no Polo Industrial de Manaus ao lado da exuberan-
te Hileia Amazônica. Esse é o espaço empírico no qual se debruça a
presente reflexão.
- 131 -
Estabelecidos os elementos que contornam a problemática en-
tre saúde e direito, deve-se questionar: Qual o papel do SUS no que
tange as ações de atenção básica para a população LGBTQIA+44?
Como assegurar o acesso com qualidade às ações e serviços de saúde
no SUS face ao seu desmonte, bem como face a diversidade dentro
da diversidade que essa política comporta? No que tange a invisibili-
dade ao atendimento de mulheres lésbicas e bissexuais como assegu-
rar um atendimento integral, sem discriminação, estigma ou precon-
ceito? Como a oferta desses serviços ocorrem na cidade de Manaus?
Problematizar acerca dessa questão não é sob a ótica de privilégios
ou recortes, mais sim pela ótica dos direitos, pois o que a população
LGBTQIA+ pleiteia reside no entendimento de que eles querem “nem
menos, nem mais. Direitos iguais!” (MOVIMENTO LGBT).
- 132 -
Tais políticas públicas têm início apenas em 2004 com projetos
como o “Programa Brasil sem Homofobia”, articulado com o movi-
mento LGBT e que promove ações educacionais concomitante com
o “Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos
LGBT”, sendo contemplados por pesquisas promovidas pelo Mi-
nistério da Educação. De acordo com os autores Mello e Avelar
(2012), uma segunda iniciativa que apresenta impacto expressivo
à luz da evolução dos debates de gênero no país, é a I Conferência
Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(FRANCO, 2017, p. 7).
- 133 -
Quadro 1: Políticas públicas de saúde para população LGBT: da criação
do SUS à implementação da Política Nacional de Saúde Integral de LGBT
DATA ACONTECIMENTO
1986 Programa Nacional de DST e Aids
1988 Constituição Federal e a criação do SUS
2002 Programa Nacional de Direitos Humanos 2
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher;
Ministério da Saúde cria o Comitê Técnico de Saúde da População
2004
GLTB65;
Programa Brasil Sem Homofobia.
Carta do Usuário do SUS;
2006
Representação LGBT no Conselho Nacional de Saúde
Seminário Nacional de Saúde da População GLBTT na Construção
do Sus;
Plano de Enfrentamento da Epidemia de Aids e das DST entre Gays,
2007
HSH e Travestis;
Plano de Enfrentamento da Feminização da Epidemia de Aids e outras
DST
Programa Mais Saúde - Direito de Todos;
13ª Conferência Nacional de Saúde;
I Conferência Nacional LGBT;
2008
Portarias Ministério da Saúde nº 1707 e 457 Processo Transexualizador
no SUS;
Consulta Pública da PNSI LGBT.
Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de
LGBT;
CNS aprova a PNSI LGBT;
2009
Plano Nacional de Direitos Humanos PNDH 3;
Versão Preliminar do CAB nº 26;
Política Nacional de Saúde do Homem
PNSI LGBT;
Coordenadoria Nacional de Promoção dos Direitos Humanos LGBT;
2010 Conselho Nacional LGBT;
Portaria nº 233 MPOG - Prenome social;
Caderno de Atenção Básica nº 26 - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva
Portaria MS nº 2.836 PNSI LGBT;
Plano Operacional da PNSI LGBT;
Resolução nº 17 da CDH da ONU;
Reconhecimento das uniões homoafetivas como famílias e da união
2011 estável no STF;
II Conferência Nacional LGBT;
Redefinição do Comitê Técnico de Saúde LGBT;
Inclusão de quesitos de Diversidade Sexual no SINAN;
Portaria MS 2979 de transferência de recursos – PaticipaSUS.
- 134 -
Portaria MS nº 2.712 redefine procedimentos hemoterápicos;
2013 Portaria MS nº 2.803 Redefine e amplia o processo Transexualizador;
Portaria MS nº 2.807 ParticipaSUS.
Fonte: Laurentino, Arnaldo Cezar Nogueira, 2015.
- 135 -
grupos específicos no SUS, envolvendo orientação sexual, identi-
dade de gênero, ciclos de vida, raça-etnia e território;
IV - eliminação das homofobias e demais formas de discriminação
que geram a violência contra a população LGBT no âmbito do SUS,
contribuindo para as mudanças na sociedade em geral;
V - implementação de ações, serviços e procedimentos no SUS,
com vistas ao alívio do sofrimento, dor e adoecimento relacionados
aos aspectos de inadequação de identidade, corporal e psíquica re-
lativos às pessoas transexuais e travestis. (BRASIL, 2013, p.22-23).
- 136 -
mos relacionar com as questões de saúde da população LGBTQIA+.
Neste contexto, as inúmeras vulnerabilidades sociais que afetam essa
população promovem determinações em suas condições de saúde.
Destaca-se algumas que afetam diretamente o acesso da
população LGBTQIA+ aos serviços de saúdes, quais sejam: 1. o
desrespeito do uso do nome social, 2.o preconceito, 3.a heteronor-
matividade em relação às mulheres lésbicas, 4. a falta de aceitação
social e 5. a violência em si, seja física ou psicológica (MARTINS,
CARNEIRO E SILVA, 2021). Além disso, é urgente destacar que
“[...] todas as formas de discriminação como no caso da homofobia,
devem ser consideradas como situações produtoras de doença e so-
frimento” (BRASIL, 2007, p.14).
Nota-se que muito ainda se tem que caminhar para que a po-
pulação LGBTQIA+ tenha de fato, como de direito, uma atenção
integral às questões de saúde, pois
- 137 -
das unidades de saúde, de sua identidade de gênero e de sua orien-
tação sexual, uma vez que, parcela significativa de profissionais que
atuam nos serviços de saúde não possuem formação que abarque as
singularidades desses atendimentos, mesmo tendo as exigências de
formações, uma vez que a PNSI+LGBT preconiza “[...] um projeto
de qualificação profissional com a inclusão de enfoque especifico
para atendimento à população LGBT, na lógica da garantia da in-
tegralidade nos serviços de saúde do SUS” (BRASIL, 2011, p.40).
No que tange as políticas de saúde da mulher no Brasil nas
últimas décadas, pode-se afirmar que essas políticas se voltaram de
forma significativa para as demandas provenientes das causas femi-
nistas visando o reconhecimento das possibilidades de ser e estar
mulher em nossa sociedade. Vejamos a linha do Tempo das Políticas
de Saúde da Mulher no Brasil:
- 138 -
Quadro 2: Linha de Cuidado na Atenção Primária a Saúde da Mulher.
Apresenta os principais motivadores de contato
espontâneo das usuárias com os serviços de saúde
que usualmente não estão contemplados nas ações
PARTE 1 programáticas já consolidadas. Tais como problemas
Atenção aos Problemas/ relacionados à: menstruação (sangramento uterino
Queixas mais Comuns anormal, ausência de sangramento menstrual, sintomas
em Saúde das Mulheres. pré-menstruais, entre outros), lesões anogenitais,
corrimento vaginal, mastalgia, descarga papilar, dor
pélvica, avaliação de achados em ultrassonografia
pélvica, perda urinária e disúria.
- 139 -
Por fim, trata-se da violência contra a mulher que pode
ser definida como “qualquer ato ou conduta baseada
no gênero que cause morte, dano ou sofrimento
PARTE 7
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera
Atenção às Mulheres em
pública como na esfera privada”. Considera-se como
Situação de Violência
violência sexual qualquer forma de atividade sexual
Sexual e/ou Doméstica/
não consentida. A violência doméstica/intrafamiliar
Intrafamiliar.
“ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros
da família, principalmente no ambiente da casa, mas
não unicamente”.
Fonte: SPM, 2016.
- 140 -
Mulher, contudo, a materialização desses normativos em ações e
serviços requer a superação de imenso hiato, pois “[...] o reconheci-
mento dos limites e das fraturas da sociabilidade do capital que não
oferece condições objetivas e subjetivas para acolher os indivíduos
em sua diversidade e resolver toda ordem de discriminação, precon-
ceitos e formas opressivas” [...] (SANTOS, 2009, p. 83) é vital para
que possamos superar esse hiato e avançarmos em direção da oferta
de serviços de saúde que atendam às diversidades e especificidades
presentes na sociedade brasileira.
- 141 -
Figura 2: Linha do Tempo – PNAB
- 142 -
da população, articulando de forma clara os vários serviços, dando
destaque a Atenção Básica como sendo a principal porta de entrada
para o sistema. Outro ponto primordial é a infraestrutura, a PNAB,
que se refere ao conjunto de procedimentos que estão interligados
às questões físicas, tecnológicas e aos recursos humanos dentro da
Unidade Básica de Saúde - UBS, com intuído de garantir à popula-
ção a efetivação dos serviços dentro do seu território.
Para tanto, faz-se necessário que a Estratégia de Saúde da Fa-
mília (ESF) possua organicidade com relação a equipe básica da
atenção à saúde que é composta por: enfermeiros, médicos, técnicos,
ACS e ACE entre outros. Logo, é interessante que cada profissional
deve buscar ter um olhar além da doença e perceber que o usuário
tem em sua totalidade fatores determinantes e condicionantes que os
levam a buscar a saúde dentro desses espaços.
O outro ponto estratégico dessa política são os Processos de
Trabalho na Atenção Básica, que tem como finalidade considerar a
singularidade e particularidade da população local na intenção de
produzir a atenção integral, promoção da saúde, prevenção de doen-
ças e agravos, dando possibilidade de diagnóstico, tratamento e rea-
bilitação para que o usuário consiga reduzir os danos e sofrimentos
acometidos.
Toda essa engrenagem depende dos financiamentos, tendo
como base os instrumentos que garantem a execução de todas as
ações relacionadas à saúde básica e das várias hierarquias, quais
sejam: Agendas de Saúde; Planos de Saúde; Relatórios de Gestão;
Plano Diretor de Regionalização (PDR) e a Programação Pactuada e
Integrada (PPI). É válido esclarecer que o financiamento é tripartite
onde a União, Estados, Municípios e Distrito Federal contribuem
para o desenvolvimento das ações de financiamento do SUS em es-
pecial a Atenção Primária em Saúde.
As linhas gerais acerca da PNAB (2017) demonstram como
ela deve ser concebida e operacionalizada. Sendo assim, trazendo
essa questão para a cidade de Manaus e tendo como base a Nor-
mativa Técnica nº 001/2018 que explicita as formas de acesso que
população tem ao acionar as Unidades Básico de Saúde da SEMSA
– Secretaria Municipal de Saúde de Manaus. De acordo com essa
normativa o usuário/a ao buscar os serviços de atenção primária a
saúde deve ser inicialmente acolhido/a pelos profissionais. Com-
- 143 -
preende-se que o ato de acolher como uma prática que deve estar
presente no cotidiano das relações estabelecidas nas UBS e que to-
dos os profissionais de saúde devem saber receber e escutar os usuá-
rios com qualidade e presteza. Vejamos a figura a seguir:
- 144 -
Dito isto, a Rede de Atenção à Saúde Municipal da cidade
de Manaus é composta por 317 estabelecimentos assistenciais de
saúde:
- 145 -
Quadro 2: Conceitos Técnicos - Atendimento na UBS.
Remete à ação de demandar; procura, pedido ou
exigência do usuário; situado entre o desejo e a
Demanda: necessidade. O tipo e natureza de demandas do usuário
variam segundo a necessidade, e dividem-se em
espontânea e programada:
É quando o usuário busca a unidade de saúde de forma
Demanda espontânea: não esperada pelo serviço, independente do motivo ou
do tempo de evolução do problema
É quando o usuário tem agendamento prévio
Demanda para alguma oferta de serviço na UBS (consultas/
Programada: atendimento: médica, de enfermagem, odontológica,
preventivo, serviço social, laboratório, grupos etc.).
Momentos reservados na agenda dos profissionais da
Horários de
equipe de saúde para escuta e avaliação da necessidade
atendimento da
do usuário que busca a unidade de forma não esperada
demanda espontânea:
pelo serviço.
Espaço disponível na agenda para realizar atendimentos
Agenda aberta: no mesmo dia em que o usuário busca a unidade por
demanda espontânea (com ou sem queixa clínica).
Espaços na agenda para marcação de consultas a
usuários com situações que necessitem de avaliação
Agenda em curto prazo. Ex.: exame crítico alterado (VDRL,
intermediária: HIV, BAAR, Dengue, etc.), reavaliação de caso agudo
e situações que necessitem de retorno em curto prazo
(ajuste de insulina e de warfarin) etc.
Fonte: Normativa Técnica nº 001/2018.
- 146 -
Gusso e Lopes (2012) demonstram de forma clara o fluxo de
atendimento da saúde da mulher na Atenção Primária à Saúde, ve-
jamos:
- 147 -
Quadro 3: Serviços prestados à saúde da mulher na SEMSA.
O planejamento reprodutivo, chamado também de
planejamento familiar, garantido ao usuário do SUS
pela Lei 9.263/1996, cuida dos direitos sexuais e dos
direitos reprodutivos de homens e mulheres adultos,
jovens e adolescentes com vida sexual, com ou sem
PLANEJAMENTO parceiros fixos, ofertando métodos contraceptivos
SEXUAL E eficientes e seguros. Além de contribuir para uma
REPRODUTIVO prática sexual mais saudável, o planejamento
possibilita o espaçamento de gravidez, a recuperação
do organismo da mulher após o parto e a decisão de
homens e mulheres de quando e quantos filhos desejam
ter. Todos têm direito ao serviço, independentemente
de orientação sexual e identidade de gênero.
A Rede Cegonha é uma rede de cuidados, que assegura
às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo, à
GRAVIDEZ E PARTO atenção humanizada à gravidez, parto, abortamento e
puerpério, e às crianças o direito ao nascimento seguro,
crescimento e desenvolvimento saudáveis.
O diagnóstico precoce desses tipos de câncer é uma
estratégia eficaz para detectar o câncer na fase inicial,
PREVENÇÃO AO possibilitando maior chance de tratamento. É preciso
CÂNCER DE MAMA conversar sobre esse assunto. Por isso, deixar de lado o
medo ou a desinformação é essencial para salvar a vida
de muitas mulheres.
O que é o câncer do colo do útero? Esse tipo de câncer é
um tumor maligno causado por uma mutação genética
PREVENÇÃO AO
das células, ele ocorre na parte inferior do útero.
CÂNCER DE COLO
Felizmente, a doença pode ser descoberta durante os
DE ÚTERO
exames de rotina da mulher, aumentando as chances de
cura quando detectado no início.
Fonte: Guia do Usuário do Sus Manaus/Secretaria Municipal de Saúde,
Departamento de Comunicação. – Manaus: SEMSA, 2020.
Considerações finais
- 149 -
ofertados para essa população, garantindo assim, o acesso à saúde
enquanto um direito de cidadania, pois os obstáculos e empecilhos
vivenciados pela população LGBTQIA+ por vezes tendem a afastar
essas pessoas dos serviços de saúde, muitas vezes atrelados à vivên-
cia de situações de preconceito, discriminação ou pouco conheci-
mento por parte dos profissionais (MELLO et al., 2011; SOUSA, et
al., 2014; SANTOS et al., 2015; GARCIA, 2010).
Sendo assim, para se assegurar o acesso com qualidade, as
ações e serviços de saúde devem comtemplar as dimensões psicoló-
gicas, sociais, políticas e ambientais que afetam a população LGBT-
QIA+ no âmbito da sua singularidade, especificidade e diversidade,
porque quaisquer políticas públicas direcionadas a essa população
devem ser “[...] permeadas de peculiaridades, já que o ponto de par-
tida para a sua formulação e implementação é basicamente a neces-
sidade de mudança de crenças, valores e tradições há muito preva-
lecentes no imaginário coletivo” (MELLO; AVELAR; MAROJA,
2012, p. 294).
Aprofundando na pluralidade do termo LGBTQIA+, no que
tange a invisibilidade ao atendimento de mulheres lésbicas e bisse-
xuais urge que se avance no entendimento de que a agenda de ne-
cessidades, ou melhor, de demandas dessas mulheres, diz respeito,
dentre outras, ao atendimento na área da ginecologia, em que os
profissionais partem do pressuposto de que a vida sexual ativa das
mulheres é sempre de caráter heterossexual (BRASIL, 2014).
Em Manaus, os serviços são subsumidos sob o véu da gene-
ralização e as ações ainda são incipientes, com base na descrição
dos serviços feita a partir da normativa 001/2018 da SEMSA, o que
nos leva a afirmar a necessidade de se colocar de forma mais con-
tundente as ações sob a responsabilidade do município para que a
política seja operacionalizada conforme seus preceitos, diretrizes e
objetivos.
Referências
- 150 -
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thors; Acessado em: 10 de Julho de 2022.
- 153 -
- 154 -
CAPÍTULO 9
Introdução
- 155 -
ções públicas, ou seja, aquelas do ordenamento governamental ou
estatal, promovem a viabilização dos direitos, também é a que co-
mete tais violações, apresentando práticas que se mostram incapazes
de resguardar os Direitos garantidos nos marcos legais (RAMOS,
2017).
É válido lembrar que a Garantia de Direitos e toda a rede de
estrutura de prevenção às Violências contra as mulheres, é fruto de
luta social, a qual só foi garantida, em todas as suas nuances, por
meio dos movimentos sociais organizados. Uma luta que continua,
pois, a manutenção e existência do aparato legal de proteção, afir-
mado pela Constituição Federal e pelas leis federais, como a Lei
Maria da Penha (11.340/2006), ainda é motivo de interpretações
tendenciosas, uma vez que as violências se moldam no interior das
relações sociais e ressoam nos equipamentos do Estado. Por isso a
necessidade do debate em relação a criação ou reformulação de es-
tratégias adequadas para a prevenção, como é o caso da divulgação,
qualidade e acessibilidade das informações às mulheres.
Essa temática vem sendo reforçada nos últimos anos, como
um instrumento de grande valor para a prevenção das violências,
contemplando a diversidade das discussões que envolvem as mu-
lheres, sobretudo nesta conjuntura de prevalência da desinformação,
principalmente no Brasil, mas também em ambientes semelhantes
no interior da América Latina e no mundo.
Ter no horizonte a utilização da informação como estratégia
de combate e prevenção às violências contra as mulheres, é ter pre-
sente a necessidade do acesso das mulheres em situação de violência
às políticas públicas, ainda, o reconhecimento do que seja violência
e as múltiplas formas de enfrentamento.
O desenvolvimento da discussão deste capítulo está organiza-
do em três tópicos, além desta introdução e das considerações finais.
No primeiro é abordado a violência institucional contra às mulhe-
res, indicando a concepção de violência e sua distinção do que seja
crime. No segundo tópico, está posto a prevenção como forma de
enfrentamento à violência contra a mulher a partir da pressão de mo-
vimentos sociais e feministas. Por fim, no terceiro tópico, apresen-
ta-se a informação como mecanismo de prevenção à violência ins-
titucional contra as mulheres, considerando a desinformação como
um risco que aumenta a vulnerabilidade das mulheres às violências.
- 156 -
1. A violência institucional contra às mulheres
- 157 -
violência. Nessa direção, o lugar da proteção é concomitantemente
o da desproteção.
Na realidade brasileira, de acordo com o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (2022), meninas e mulheres sofrem discrimina-
ções, violências e mortes frequentemente. “Em 2021, em média,
uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas [...] uma meni-
na ou mulher foi vítima de estupro a cada 10 minutos, considerando
apenas os casos que chegaram até as autoridades policiais” (p. 3 - 8).
A violência institucional soma-se ao rol das diversas vio-
lências sofridas pelas mulheres, no Brasil. O Ministério da Saúde
(2002) sinaliza:
- 159 -
das relações sociais, tendendo para um risco de encapsulamento cri-
minal da desigualdade de gênero, não sendo o ideal apenas a proibi-
ção de condutas, e nem deve ser o único caminho, mas não podem
ser menosprezadas, pois são conquistas jurídico-políticas das mu-
lheres (RAMOS, 2017, p 76).
De acordo com Fernandes (2015), para proteger direitos são
necessárias ações positivas “que criem condições materiais (eco-
nômicas, sociais e políticas) para a efetiva realização daqueles di-
reitos” (p. 12), os quais devem ser promovidos pelo Estado para
atender a construção efetiva das políticas públicas que abrangem o
enfrentamento à violência.
Os processos que envolvem as manifestações da violência são
complexos. Nesse sentido, a cultura política predominante, baseada
na misoginia, no patriarcado, relações de poder, entre outros, pre-
sentes nas instituições públicas, desafiam ações diversas de preven-
ção da violência contra a mulher.
[...] deve-se atentar para não permanecer somente nesta lógica, pois
ela tende a reduzir essa forma de violência a processos judiciais,
podendo negligenciar a realidade social mais ampla produtora da
violência e não enfrentar as questões que produzem a desigualdade
de gênero (MELO; DEPIETRO; FREITAS, p.4. 2021).
- 160 -
tuições e serviços, promoção de pesquisas e estatísticas, o respeito
através dos meios de comunicação social, aos valores tanto éticos
como os sociais de pessoas e famílias, atendimento policial especia-
lizado para mulheres, campanhas educativas, parcerias entre órgãos
governamentais e entidades não governamentais, capacitação per-
manente, promoção de programas educacionais e também a discus-
são sobre o assunto nos currículos escolares em todos os níveis de
ensino.
Nas medidas integradas de prevenção da referida lei, é possível
notar aspectos educativos por meio da capacitação de profissionais,
campanhas educativas e a inserção da discussão nos currículos esco-
lares. Na lei “Vislumbra-se no aspecto educativo um potencial imenso,
pois a prevenção referenciada pelo saber-poder da educação e cultura
em direitos humanos pode servir de instrumento de mudança das men-
talidades.” (MELO; MONTEFUSCO; CARVALHO, 2020, p.32).
No campo das políticas públicas a discussão sobre a preven-
ção da violência trabalha com medidas primárias, secundárias e ter-
ciárias. “[...]a prevenção não se limita às ações que têm por escopo
evitar a reiteração de determinados comportamentos, abrangendo,
outrossim, medidas que colaborem para que tais comportamentos
sejam denunciados.” (CARDIN; MOCHI, 2012, p. 16)
- 161 -
normas culturais, sociais e de gênero; desemprego; desigualdade
de renda e de gênero; rápidas mudanças sociais; e oportunidades
limitadas de educação (ONU, 2014, p. 9).
- 163 -
atividades têm o propósito de evitar ou reduzir os riscos de surgi-
mento, agravamento ou extensão de males ou problemas sociais”
[...] (LEAL, 2018, p. 112).
É importante dizer que, existem diversos fatores de riscos,
no que diz respeito à questão da violência. De acordo com Engel
(2015, p.52) fator de risco é todo “fator que aumenta a probabili-
dade de incidência ou os efeitos negativos de crimes ou violências,
mas não determina a incidência ou os efeitos negativos de crimes e
violências.
Partindo desse entendimento, pode-se dizer que, a falta de
informação se configura um fator de risco para o aumento e agra-
vamento das manifestações da violência, sobretudo, a violência ins-
titucional. Ainda nas argumentações de Engel “quanto maior a pre-
sença de fatores de riscos, e menor a presença de fatores de proteção,
maior a probabilidade de incidência e de efeitos negativos de crimes
e violências (ENGEL, 2015, p. 52).
De tal modo, se reconhece a informação como mecanismo de
prevenção no enfrentamento à violência institucional. “Os sistemas
internacionais de direitos humanos têm destacado o fato de o direito
à informação possuir um caráter facilitador do exercício de outros
direitos humanos” (CAMARGO; BARRETO; SOUZA, 2021, p.
04). Assim, a informação proporciona esclarecimento sobre direitos,
pode-se dizer que, empodera mulheres; em contrapartida, a falta de
informação, tornam as mulheres vulneráveis.
No Brasil, a Lei nº 12.527/2011, Lei de Acesso à informação,
versa o direito de informar, garantia preconizada na Constituição
Federal de 1988. Trata-se de uma lei que tem por objetivo garantir
o acesso às informações, constituindo assim, um dever dos órgãos e
entidades e direito de todos de receber dessas instituições as infor-
mações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral
(BRASIL, 2011). Corrêa (2001, p. 37) afirma que “[...] o direito à
informação e o dever de informar são componentes fundamentais e
presentes em todos as reflexões, nos diferentes códigos de ética dos
profissionais”, isso significa dizer que todas as profissões (portanto
os agentes públicos) possuem como normativa esse dever.
Portanto, conhecer é prerrogativa, e a informação proporcio-
na conhecimento, como mecanismo de prevenção à violência contra
a mulher reduz os riscos, além disso, “[...] a informação possui o
- 164 -
sentido de emancipação humana dos sujeitos sociais” (COGOY et
al., 2018, p. 1), ou seja, prever libertação.
Considerações Finais
- 165 -
Referências
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- 168 -
Sobre os/as Autores/autoras
- 169 -
Daiany Cavalcante Ribeiro
Mestranda em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia
- PPGSS UFAM. Membro da Comissão do Relatório Sucupira do
PPGSS/UFAM. Graduada em Serviço Social pela Faculdade Me-
tropolitana de Manaus (FAMETRO), com MBA em Recursos Hu-
manos pela Faculdade Martha Falcão e Especialização em Serviço
Social e Saúde Coletiva pela Faculdade UniBF. Experiência como
assistente social na rede privada, em Organização da Sociedade Ci-
vil e em instituição pública do Estado do Amazonas. E-mail: daiany-
lima@yahoo.com.br
- 170 -
Coordenador da Clínica de Direito LGBT (CLGBT-UEA). Co-coor-
denador de: i. Programa - Rede de ensino, pesquisa, extensão e as-
sistência de combate a lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia
(LGBTFOBIA+); outras fobias e assédios, pela cultura de paz e pelo
respeito à pessoa humana, na Universidade do Estado do Amazonas
(PROPAZ- UEA) e II. Núcleo de ensino, pesquisa, extensão e assis-
tência à saúde integral de LGBTI+ da Universidade do Estado do
Amazonas (NLGBTI+-UEA). E-mail: denisonaguiarx@gmail.com;
daguiar@uea.edu.br
- 171 -
duação em Serviço Social (2011) e Administração Pública (2022).
E-mail: hellenbastosgomes@hotmail.com
- 172 -
Lucilene Ferreira de Melo
Professora Doutora vinculada ao Departamento de Serviço
Social e ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sus-
tentabilidade na Amazônia - PPGSS da Universidade Federal de
Amazonas - UFAM. Assistente Social formada pela Universidade
Federal do Amazonas, com mestrado em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Ama-
zonas, doutorado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Institu-
to Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA e Pós-doutorado em
Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/
UFRN. E-mail: lucilenefmelo@ufam.edu.br
- 173 -
co-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ama-
zonas/FAPEAM. E-mail: marciamavignier01@gmail.com
- 174 -
Ruth Pereira de Melo
Mestra em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia
pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Membro do Gru-
po de Pesquisa Gestão Social, Direitos Humanos e Sustentabilida-
de na Amazônia (GEDHS/UFAM). E-mail:ruthpmoliveira@gmail.
com.
- 175 -
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