Você está na página 1de 26

-1-

-2-
Aldair Oliveira de Andrade
Pedro Rodolfo Fernandes da Silva
Organizadores

REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS E
PRÁTICAS DE ENSINO DE FILOSOFIA
A PARTIR DO CHÃO DA ESCOLA

-3-
Comitê Científico Alexa Cultural
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid - Espanha)
Aldair Oliveira de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica - Costa Rica)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Evandro Luiz Guedin (UFAM – Itaquatiara/AM)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (USP/EcA - São paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UNIFESP - Guarulhos/SP)
Miguel Angelo Silva de Melo - (UPE - Recife/PE)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Renilda Aparecida Costa (UFAM – Manaus/AM)
Roberta Ferreira Coelho de Andrade (UFAM - Manaus/AM)
Sebastião Rocha de Sousa (UEA – Tabatinga/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)

-4-
Aldair Oliveira de Andrade
Pedro Rodolfo Fernandes da Silva
Organizadores

REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS E
PRÁTICAS DE ENSINO DE FILOSOFIA
A PARTIR DO CHÃO DA ESCOLA

Embu das Artes / SP


2023

-5-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Henrique dos Santos Pereira

Membros
Antônio Carlos Witkoski
Domingos Sávio Nunes de Lima
Edleno Silva de Moura
Elizabeth Ferreira Cartaxo
Spartaco Astolfi Filho
Valeria Augusta Cerqueira Medeiros Weigel

COMITÊ EDITORIAL DA EDUA


Louis Marmoz - Université de Versailles
Antônio Cattani - UFRGS
Alfredo Bosi - USP
Arminda Mourão Botelho - Ufam
Spartacus Astolfi - Ufam
Boaventura Sousa Santos - Universidade de Coimbra
Bernard Emery - Université Stendhal-Grenoble 3
Cesar Barreira - UFC
Conceição Almeira - UFRN
Edgard de Assis Carvalho - PUC/SP
Gabriel Conh - USP
Gerusa Ferreira - PUC/SP
José Vicente Tavares - UFRGS
José Paulo Netto - UFRJ
Paulo Emílio - FGV/RJ
Élide Rugai Bastos - Unicamp
Renan Freitas Pinto - Ufam
Renato Ortiz - Unicamp
Rosa Ester Rossini - USP
Renato Tribuzy - Ufam

Reitor
Sylvio Mário Puga Ferreira

Vice-Reitora
Therezinha de Jesus Pinto Fraxe

Editor
Sérgio Augusto Freire de Souza

-6-
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal do Amazonas, em particular à
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP), pelo
acompanhamento sistemático à pós-graduação, por meio da Pró-
Reitoria de Pós-Graduação, Edital n. 038/2022 pela concessão
de incentivo à Publicação, pelo fortalecimento do Programa de
Pós-Graduação em Filosofia – PPGFIL, Mestrado Profissional em
Filosofia – PROF-FILO, da Universidade Federal do Amazonas.
O presente trabalho foi realizado com apoio do
Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES/Brasil.

-7-
© by Alexa Cultural

Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Klanger
Revisão Técnica
Aldair Oliveira de Andrade
Edição e diagramação
Alexa Cultural

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

N778 - ANDRADE, Aldair Oliveira de


S237 - SILVA, Pedro Rodolfo Fernandes da

Reflexões, experiências e práticas de ensino de filosofia a partir do chão da


escola. Aldair Oliveira de Andrade e Pedro Rodolfo Fernandes da Silva.
Organizadores. Alexa Cultural: São Paulo, SP; EDUA: Manaus,AM, 2023.

14x21cm - 194 páginas


ISBN - 978-85-5467-342-0

1. Educação - 2. Filosofia - 3. Práticas de Ensino - 4. Escola - 5. Pe-


dagogia - I. Índice - II Bibliografia

CDD - 100/370

Índices para catálogo sistemático:


Educação
Filosofia
Prática de Encino
Todos os direitos reservados e amparados pela Lei 5.988/73 e Lei 9.610
É terminantemente proibida a reprodução parcial ou integral do conteúdo desta obra sem a
prévia autorização da organização e/ou editora.

Alexa Cultural Ltda Editora da Universidade Federal do Amazonas


Rua Henrique Franchini, 256 Avenida Gal. Rodrigo Otávio Jordão Ramos,
Embú das Artes/SP - CEP: 06844-140 n. 6200 - Coroado I, Manaus/AM
alexa@alexacultural.com.br Campus Universitário Senador Arthur Virgilio
alexacultural@terra.com.br Filho, Centro de Convivência – Setor Norte
www.alexacultural.com.br Fone: (92) 3305-4291 e 3305-4290
www.alexaloja.com E-mail: ufam.editora@gmail.com

-8-
OBSERVAÇÕES ACERCA DO USO
DA NOÇÃO DE “EXPERIÊNCIA” NAS
DISSERTAÇÕES DO MESTRADO
PROFISSIONAL DE FILOSOFIA
(PROF-FILO)

André Luís La Salvia


Samon Noyama

1. INTRODUÇÃO

Um dos desafios que movem aqueles que se envolvem com


o ensino de filosofia, refletindo sobre os princípios e concepções teó-
ricas, ou investigando o cotidiano das escolas e as práticas de ensino
de filosofia é apresentar o pensar para seus alunos e suas alunas. Se-
jam crianças, adolescentes, jovens ou adultos, em espaços formais
ou não formais de ensino, o que se pretende, sobretudo, é articular a
filosofia com o pensar. E justamente por considerar o filosofar uma
atividade dotada de diversas definições e significações ao longo de
suas histórias e da diversidade de suas origens, aquele que a pratica,
necessariamente, precisa tomar decisões quanto ao seu sentido, ou
seja, precisa responder à questão “o que é a filosofia?”. Nesse sen-
tido, parece imprescindível reconhecer que, ao tentar respondê-la,
assumimos uma posição diante da questão.
Uma vez que esta posição é assumida, se quisermos concor-
dar com a perspectiva defendida por Alejandro Cerletti em O ensino
de filosofia como problema filosófico, tal posição aponta para desdo-
bramentos didáticos e pedagógicos. Afinal, por se tratar de uma prá-
tica de ensino, pensar o seu sentido e exercitar este questionamento
tanto a partir da ótica do docente quanto dos discentes, pode ser um
caminho irreversível no que diz respeito à relação entre as concep-
ções de filosofia, o exercício do pensamento e as escolhas pedagógi-
cas implicadas nesse processo. Por último, e não menos importante,
vale a pena considerar que tal posição não significa a adoção de uma
definição última de filosofia, pois o que está em pauta é a defesa de

- 169 -
uma perspectiva que entende a filosofia como um saber que precisa
ser frequentemente questionado, pois pensar a si mesmo é um exer-
cício irrevogável da atitude filosófica.
O texto que se segue é um esforço no sentido de tecer algumas
considerações sobre a uso do termo “experiência” nas dissertações
já defendidas no âmbito do programa de mestrado profissional em
filosofia, o PROF-FILO, por considerarmos que os diferentes usos
desse termo, e uma discussão sobre ele enquanto arcabouço teórico
da área de ensino de filosofia, são relevantes para pensar as questões
acima elencadas.

2. RECORTE DAS PESQUISAS COM A NOÇÃO DE


EXPERIÊNCIA

Nos últimos anos, temos produzido bastante sobre ensino de


filosofia6 e uma questão vem chamando nossa atenção: a noção de
experiência e os diferentes usos do termo no âmbito desta área de
pesquisa. Por isso, aqui nesse texto, o que nos interessa é tecer al-
guns comentários sobre o lastro conceitual e sua centralidade na prá-
tica docente daquele que lança mão dessa noção em suas pesquisas.
Diante do aumento robusto das produções no campo do
ensino de filosofia nos últimos anos, capitaneadas pelos dois pro-
gramas de pós-graduação em ensino de filosofia (PPFEN-CEFET/
RJ e PROF-FILO) e suas centenas de dissertações, optamos, para
esse texto, fazer um recorte das produções do Mestrado Profissional
em Filosofia (PROF-FILO). Esse programa7, cuja primeira turma
começou em 2017 e as primeiras defesas de dissertação, consequen-
temente, ocorreram em 2019, funciona em rede nacional, com 26
instituições espalhadas por todo o país e voltado para docentes da
educação básica, o programa possui um acervo de 399 dissertações
já defendidas8. Desse acervo, separamos aquelas que continham a
noção de experiência no título, pois, assim, pareciam evidenciar que
essa noção desempenharia um papel importante na pesquisa reali-
6 Patrícia Velasco fez um levantamento, um recorte, dessa produção em Filosofar e ensinar a
filosofar: registros do GT da Anpof 2006-2018. Rio de Janeiro: NEFI, 2020.
7 Para saber mais sobre o programa, ver: VELASCO, Patrícia Del Nero. “O que é isto – o
PROF-FILO?” O que nos faz pensar, v. 28, n. 44, p. 76-107, julho de 2019.
8 Disponível em: http://www.humanas.ufpr.br/portal/prof-filo/dissertacoes-defendidas/. Aces-
so em: 14 set. 2022.

- 170 -
zada. De antemão, aceitamos a ressalva de que outros textos também
podem trazer essa noção, porém sem a centralidade que o título a con-
feriria. No recorte proposto, foram encontradas 38 dissertações, isto é,
aproximadamente 9,5% das dissertações defendidas até a data consul-
tada. Podemos dizer, desde já, que esse número de quase 10% dos tra-
balhos indicarem a centralidade do tema é interessante e robusto, so-
bretudo se imaginarmos a amplitude nacional do programa e a extensa
variedade de temas pesquisados nos seus núcleos, além das dissertações
em que a experiência é abordada, mas com menor importância.
Em nossa análise9, observamos que há uma polifonia mui-
to grande em torno da noção de experiência expressa nos trabalhos
sobre ensino de filosofia. E se, por um lado, a presença robusta do
termo e a pluralidade de acepções a ele relacionadas possam ser ex-
plicadas pela importância semelhante do termo para o conjunto já
consolidado de pesquisas na área da filosofia como um todo; por ou-
tro, revela, pelo menos como retrato no momento, a importância do
termo para aqueles que têm dedicado suas reflexões e investigações
no campo do ensino de filosofia, que ainda disputa seu lugar ao sol.
Das quase quatro dezenas de textos analisados, em dez deles
a noção de experiência não aparece atrelada a uma filiação filosófica
precisa, o que nos sugere que se trata do uso do termo como um
relato de experiência, sem haver o aprofundamento teórico do que
o autor ou autora conceituam como experiência e, portanto, a usam
no sentido de relatar situações vivenciadas na prática docente, suas
propostas didáticas e a elaboração a partir do fazer em sala de aula.
Além disso, ao observar o conjunto dos trabalhos, é possível
afirmar que duas linhas de conceituação da noção de experiência se
destacam na delimitação teórica do termo: primeiro, a filiação teóri-
ca com o espanhol Jorge Larrosa, filósofo cuja inspiração heidegge-
riana é notável, e, segundo, a aliança teórica com a experiência filo-
sófica de Silvio Gallo e Renata Aspis, na qual se observa a presença
marcante do pensamento deleuziano. Esses são os dois principais
eixos encontrados na análise do acervo e constituem, momentanea-
mente, as duas linhas mais bem orientadas do debate sobre a expe-
riência no campo do ensino de filosofia.
Para além desses dois eixos, outros oito autores são citados
como referências para definição teórica da noção de experiência:
9 Ver tabelas ao final do texto.

- 171 -
Matthew Lipman, Walter Benjamin, Walter Kohan, Hannah Arendt,
Henri Bergson e Merlau-Ponty, cada um com uma menção, e Geor-
ge Mead, com duas aparições. Por fim, em três textos, encontramos
uma articulação de mais de uma filiação, sendo em uma a junção de
Larrosa e Benjamin e em outros dois entre Larrosa e Gilles Deleuze.
Pretendemos, a partir desses números, apresentar algumas
considerações sobre essa importante noção quando se trata de pen-
sar o ensino de filosofia. Como já indicamos anteriormente, Jorge
Larrosa possui uma filiação teórica em Martin Heidegger, enquanto
Gallo e Aspis a possuem em Gilles Deleuze e Felix Guattari. Ao
apontar essas influências, já podemos tecer algumas considerações
relevantes pois, uma vez que se trata de pensamentos consolidados
e bastante diferentes na forma de conceber a subjetividade, o pensar
e a filosofia, apontam para desdobramentos que não somente ofere-
cem caminhos distintos a serem percorridos, como uma pluralidade
interessante e potente para as reflexões sobre o ensino de filosofia.
Vamos, portanto, tecer alguns comentários sobre essas diferenças.

3. JORGE LARROSA E A EXPERIÊNCIA COMO O


QUE NOS ACONTECE

Em 2001, Larrosa esteve no Brasil para participar do I Se-


minário Internacional de Educação de Campinas, e de sua fala neste
evento foi publicado originalmente10 o texto “Notas sobre a expe-
riência e o saber da experiência”, republicado, em 2002, no livro
intitulado Tremores. Nesse texto, Larrosa propõe que pensemos a
educação a partir de um paradigma da experiência e do sentido, e,
desse modo, parte para a elucidação conceitual desses termos. É im-
portante notar que ele parte de um pressuposto de que os pensamen-
tos estão atrelados à palavra, tornando indissociável essa relação
entre o que pode o pensar e o que pode ser expresso pela palavra; o
pensável está aqui limitado pelo dizível, já que “as palavras deter-
minam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos,
mas com palavras” (LARROSA, 2002, p. 21).
Tendo estabelecido esse pressuposto, diz o espanhol que a
experiência é o que nos acontece, e essa passagem está presente em
10 Leituras SME. Textos-subsídios ao trabalho pedagógico nas unidades da Rede Municipal de
Educação de Campinas/FUMEC, 2001.

- 172 -
muitas das dissertações influenciadas por essa concepção. Destaca-
mos algumas:

Não esqueçamos que uma das principais características do sujeito


da experiência é a atenção e que a atenção pode ser também um
exercício filosófico no qual podemos encarar aquilo que nos acon-
tece. Um exercício de atenção sobre aquilo que pensamos e aquilo
que vivemos. (ALVES, 2019, p. 97)

Nesse sentido, o experienciar de Jorge Larrosa Bondía na fala abai-


xo nos instiga a pensar mais atentamente nossas experiências e, ne-
las, nossas construções em sala de aula, de quem são nossos alunos,
nossas falas, gestos e comunicações. A experiência, a possibilidade
de que algo nos aconteça ou nos toque. (ALMEIDA, 2021, p. 86)

A experiência atrelada ao acontecimento nos orienta a pensarmos


não somente pelo raciocinar, pelo calcular ou pelo argumentar,
como também nos tem ensinado algumas vezes, mas é, sobretudo,
dar sentido ao que somos e ao que nos acontece, como enfatiza
Larrosa. (SILVA, 2019, p. 31)

Ao trazer o termo “experiência” no subtítulo acima, refiro-me ao


que se passa e ao que acontece (LARROSA, 2018) com o espec-
tador ao assistir ao filme. Larrosa, além de apresentar o termo, se
aprofunda no significado etimológico da palavra e no que pode o
sujeito da experiência, destacando a experiência como transforma-
ção. (OLIVEIRA, 2020, p. 146)

Contudo, embora a expressão “o que nos acontece” sugira


certa simplicidade, tal sugestão não se confirma, pois, para defini-
-lo, Larrosa precisa criticar a contemporaneidade, como uma era na
qual estamos constantemente bombardeados por informações e as
opiniões que delas emitimos, já que são elas que rivalizam com os
acontecimentos que nos tocam. É interessante notar como Larrosa
elabora uma crítica à nossa era, como era da hiperinflação de infor-
mações – e a opinião superficial sobre elas – com a falta de tempo,
a falta de tempo paradoxalmente marcada pela hipervelocidade do
fluxo de informações:

O sujeito moderno não só está informado e opina, mas também é


um consumidor voraz e insaciável de notícias, de novidades, um
curioso impenitente, eternamente insatisfeito. Quer estar perma-
nentemente excitado e já se tornou incapaz de silêncio. Ao sujeito

- 173 -
do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita,
tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece. (LARROSA,
2002, p. 22)

O autor ainda critica a noção de experiência atrelada ao tra-


balho, um saber que vem do fazer ou da prática, isso porque em
nossa era também estamos envoltos em um desejo cego por “fazer
alguma coisa”, cheios de vontade e hiperativos. Encher-se de traba-
lho e de práticas não se está enchendo de experiências. Novamente,
o sujeito, para que algo lhe aconteça, precisa parar, interromper o
fluxo incessante.
Por esse motivo, a característica definidora do sujeito da ex-
periência é um ser passivo e aberto, simultaneamente. Mignanelli
destaca, em sua dissertação, exatamente esse ponto ao afirmar que
“... ex-posto, aberto, vulnerável, passivo, receptivo, disponível –,
um tipo de sujeito que só pode emergir quando conseguimos suspen-
der, ou amenizar o assédio dos estímulos imediatos” (2020, p. 109).
O sujeito da experiência é definido então pela abertura disponível e
não por uma atividade.
Com uma espécie de filologia da palavra experiência, Lar-
rosa destaca as suas origens comuns com termos como travessia e
perigo. Como algo que se prova, a experiência envolve essa pas-
sagem, essa travessia, que atravessa perigos e que, portanto, deixa
marcas naquele que a empreende. Larrosa afirma que encontra em
Heidegger a definição de experiência que soa muito bem para ele e
faz a devida referência:

[...] fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece,
nos alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma.
Quando falamos em “fazer” uma experiência, isso não significa pre-
cisamente que nós a façamos acontecer, “fazer” significa aqui: sofrer,
padecer, tomar o que nos alcança receptivamente, aceitar, à medi-
da que nos submetemos a algo. Fazer uma experiência quer dizer,
portanto, deixar-nos abordar em nós próprios pelo que nos interpela,
entrando e submetendo-nos a isso. Podemos ser assim transformados
por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso do tem-
po. (p. 143) (HEIDEGGER, apud LARROSA, 2002, p. 25)

Fazer uma experiência só pode ser entendida como se sub-


meter a algo que vem e se apodera de nós, sofremos, padecemos.

- 174 -
A paixão é lembrada aqui exatamente nesse sentido de padecer, o
sujeito passional não é agente, mas paciente (LARROSA, 2002, p.
26). Nesse sentido também entra a noção de transformação daque-
le que por algo se deixar submeter. Algumas dissertações enfocam
nesse processo o papel que o “outro” desempenha para o sujeito da
experiência como o que pode carregar o que virá a acontecer, já que
“Paixão” pode referir-se também a “certa heteronomia, ou a certa
responsabilidade em relação com o outro”. (LARROSA, 2002, p.
29)
Por fim, no texto aqui destacado, o autor espanhol fala do
saber da experiência como não atrelado à ciência e tecnologia, não
sendo utilitarista e impessoal. Portanto, o saber da experiência pre-
cisa estar atrelado a uma construção de sentido, ou de não-sentido, a
partir de uma perspectiva pessoal e transitória. Afirma o autor que:

trata-se de um saber finito, ligado à existência de um indivíduo ou


de uma comunidade humana particular; ou, de um modo ainda mais
explícito, trata-se de um saber que revela ao homem concreto e sin-
gular, entendido individual ou coletivamente, o sentido ou o sem-
-sentido de sua própria existência, de sua própria finitude. (2002,
p. 27)

O saber da experiência precisa ser existencial e singular, não


sendo possível universalizá-lo em um método geral, não sendo de-
sejável torná-lo científico, pois a lógica do saber da experiência é
produzir “diferença, heterogeneidade e pluralidade”. (2002, p. 28)
Nesse sentido, as dissertações que se filiaram a essa concep-
ção de experiência, fizeram uma reflexão sobre suas práticas, mar-
cando bem o território em que ocorreram, os impactos que causaram
entre os alunos e as alunas e também no próprio professor-pesqui-
sador que a empreendeu, pois esse também estava passando por
uma experiência. É comum portanto relatos em primeira pessoa, nos
quais não apenas aquilo que foi “exitoso” é exposto, mas também
os percalços, descaminhos e ressignificações. Tornando esses relatos
expressões de uma singular atividade.

- 175 -
4. ASPIS E GALLO E A EXPERIÊNCIA FILOSÓFI-
CA

Entramos aqui em uma variação do uso da noção de ex-


periência, agora definida como “experiência filosófica”, extraída
da produção de Silvio Gallo e, em alguns casos, de sua produção
conjunta com Renata Aspis. Os textos citados são, geralmente, O
professor de Filosofia: o ensino de filosofia no ensino médio como
experiência filosófica (2004) e A Filosofia e seu ensino: conceito e
transversalidade (2007) de Sílvio Gallo. Ambos os autores, por ca-
minhos próprios, propõem o ensino de filosofia como experiência fi-
losófica a partir de leituras dos filósofos Gilles Deleuze (1925-1995)
e Félix Guattari (1930-1992).
Aspis (2004, p. 310) define experiência filosófica na passa-
gem a seguir:

As aulas de filosofia, como lugar da experiência filosófica, têm


como objetivo oferecer critérios filosóficos para o aluno julgar a
realidade por meio da prática do questionamento filosófico e da
construção de conceitos, por meio do exercício da criatividade e
avaliação filosóficas.

Fica evidente o lastro deleuze-guattariano na afirmação aci-


ma, por definir a filosofia como construção conceitual. Essa criação
é proposta como sendo um antídoto contra o modo de pensar da
indústria, do consumismo e das mídias, assim como de modos de
pensar da tradição filosófica e científica. Para tanto, o professor não
é aquele dono da verdade, mas um criador de problemas. Para os
filósofos franceses, problemas são aquilo que força a pensar e, por-
tanto, pode ser entendido como criar uma situação que se apresente
um desafio para os estudantes pensarem. Ele precisa dispor aos seus
alunos e alunas instrumentos, a investigação e estudo filosófico, para
resolverem problemas por eles mesmos colocados. Como Amaral Jr.
afirma na sua dissertação: “É justamente esse ato de pensar o proble-
ma que permite chegar ao conceito e, portanto, ao ponto do processo
da experiência filosófica.” (2019, p. 105)
Gallo, além do artigo citado, possui um material didático
que pertencia ao PNLD de 2018 que trazia a expressão experiência

- 176 -
filosófica em seu título. E, no artigo, ela aparece também atrelada à
noção de criação conceitual de Deleuze e Guattari. Afirma que:

trata-se de um pensamento conceitual: enquanto saber, ela é sem-


pre produto de pensamento, é uma experiência de pensamento. Mas
o que caracteriza a filosofia, como veremos a seguir, é que ela é
uma experiência de pensamento que procede por conceitos, que cria
conceitos, à diferença da ciência e da arte. (2007)

Gallo propõe uma metodologia de aula para que o aluno passe


pela experiência de pensar filosoficamente e chama esse processo de
“oficina do conceito”. São etapas: sensibilização, problematização,
investigação e conceituação. Gallo propõe, portanto, toda uma prá-
tica a ser desenvolvida, uma espécie de preparação para que de fato
algo aconteça na aula. Aspis, em outro texto, também aponta para
essa prática:

Ensinar filosofia como experiência é uma prática. Afeta-se os alu-


nos, causa-se choques, bons e ruins, instiga-se a eles a formularem
filosoficamente seus problemas, causa-se paralisia nas ideias que
eles já têm, provoca-se confusão, esfola-se a eles, opera-se a von-
tade de buscar, pratica-se os instrumentos específicos da filosofia,
estuda-se alguns modelos, decifra-se seus modos de funcionamen-
to, ensaia-se versões próprias. (2012, p. 95)

Se esses autores trabalham com experiência filosófica basean-


do-se em Deleuze e Guattari, o que eles dizem acerca da experiên-
cia? Podemos destacar duas passagens para começar a responder
a tal questão: “Pensar é sempre experimentar, não interpretar, mas
experimentar, e a experimentação é sempre o atual, o nascente, o
novo, o que está em vias de se fazer.” (DELEUZE, 1992, p. 136) e
também “[..] e o que se há de pensar é do mesmo modo o impensável
ou o não pensado”. (DELEUZE, 2000, p. 143)
Como para os autores o pensar filosoficamente é um ato de
criação, experimentar ganha aqui os contornos da atividade de pro-
dução de algo novo e, nesse sentido, que o impensável ou o não-
-pensando aparecem na citação, como aquilo que ainda vai surgir, do
encontro entre o pensamento e aquilo que dá o que pensar e a partir
do qual o pensamento poderá produzir e expressar algo. Experimen-
tar confere um caráter mais aberto e próximo da noção de criação

- 177 -
e de encontro, marcados pela contingência e pelo ato imediato de
reagir ao que se encontra, diferentemente de interpretar que permite
imaginar um conjunto de diretrizes que indicam como algo deve ser
entendido através de pressupostos, afinal, isso poderia acabar com a
contingência e o encontro.
Em Deleuze e Guattari a própria noção de sujeito da expe-
riência é atravessada de um modo diferente da história da filosofia
que o pensa como sendo o sujeito pensante, constituído a partir dos
conceitos de identidade e representação. Citando o pensamento de
Scherer, Gelano nos traz uma citação na qual a noção de sujeito
precisa ser encarada como uma dispersão de singularidade ou indi-
vidualidades, e não uma unidade. Gelamo então reflete:

Perspectivando outra maneira de pensar a experiência, Deleuze &


Guattari apresentam a seguinte proposição: podemos experimentar
o mundo ao invés de significá-lo, de representá-lo e de interpretá-lo.
Abandonando a noção de sujeito, eles se propõem pensar a subje-
tividade como modos de subjetivação que se constituem em um
processo, e não como adequação a determinada representação que
se possa ter de sujeito. (p. 133)

A noção de subjetividade, ou melhor, de produção de sub-


jetividade, tem a ver com a criação, a invenção de maneiras de ser,
uma individuação que se dá nos encontros e não uma interioridade
ou uma identidade do sujeito que passa por uma experiência e reflete
sobre ela depois, aos modos de um cogito. Christian Vinci, em seu
artigo O conceito de experimentação na filosofia de Gilles Deleuze,
afirma:

Estamos sempre deparando com signos que nos forçam a pensar e,


diante deles, restam-nos duas opções: ou aceitar a violência desse
encontro e permitir-se experimentar a heterogeneidade de que os
signos seriam portadores, por meio do abandono das verdades eter-
nas e criando os nossos próprios problemas a partir desse encontro;
ou, pelo contrário, calar essa experiência por meio de uma remissão
do signo a algum valor estabelecido de véspera, estabelecidos gra-
ças aos falsos problemas impostos pela cultura. (2018, p. 327-8)

No sentido dessa pragmática dos encontros, na escolha prá-


tica entre aqueles encontros que nos potencializam e aqueles que nos
remetem a universais, Vinci aponta que a experiência deleuze-guat-
- 178 -
tariana ganha também um outro aliado, Spinoza. Na explicação de
Vinci, temos:
Para Espinosa (2010), em nosso esforço por perseverarmos
na existência, estaríamos condenados a sofrer a ação de paixões
exteriores ou signos, as ditas afecções. Cada indivíduo, ou modo,
definir-se-ia pelos afectos que é capaz de experimentar. Alguns afec-
tos podem ser tristes, implicando numa redução de nossa potência
vital, e outros, alegres, por envolverem um aumento da mesma. A
alegria expressa a composição de novas relações, e a tristeza, a de-
composição de relações em vigor. A morte, nesse sentido, seria a
decomposição absoluta, e o seu oposto, a beatitude, a composição
absoluta. Todavia, e isso é o mais importante, não sabemos de ante-
mão quais afectos podem potencializar nosso viver, por isso resta-
-nos experimentar. (2018, p. 331)
A partir dessa citação, Vinci nos propõe, com Deleuze e Es-
pinoza, que cada qual produz suas experimentações nas composi-
ções nas quais se vê agenciado, sendo que não há como previamente
garantir que tal ou qual encontro aumentará nossa potência de viver
ou a diminuirá. Essa afirmação pode se tornar paradoxal em nosso
contexto, pois em alguns casos o que temos é a “oficina do conceito”
proposta por Gallo como um exemplo de experimentação filosófica
no ensino de filosofia ser usado como uma configuração prévia, se-
dentária de como instituir a tal experimentação, eliminando assim a
possibilidade de abrir espaço para o singular do inesperado. Desse
modo, fica aqui o alerta de que a proposta de Gallo, se tomada como
um método “eficaz”, uma “cartilha”, tende a engessar o que não se
pretendia com ele, a abertura para as singularidades dos encontros.

5. MAPEAMENTO DOS TRABALHOS

O mapeamento que fizemos no acervo11 das dissertações


do PROF-FILO pode ser distribuído nas tabelas abaixo, lembrando
que de um universo de 399 dissertações, 38 delas apresentaram o
termo “experiência” de maneira central. Aqui optamos por separar
de acordo com as seguintes ocorrências, a saber: 1. Relatos de ex-
periência; 2. O termo “experiência” a partir de Larrosa; 3. O termo
“experiência” filosófica a partir de Gallo e Aspis; 4. Associação de
dois autores; 5. Outras definições.
11 Fonte: (http://www.humanas.ufpr.br/portal/prof-filo/dissertacoes-defendidas/)

- 179 -
Tabela 1 – Relatos de experiência
Autor (a) Título
ELVIS CAIO DE MACEDO LIRA INTERDISCIPLINARIDADE DO EN-
SINO FILOSOFIA: A EXPERIÊNCIA
(UFPE – Turma 2019-2021) DO COLÉGIO MARISTA SÃO LUÍS
FILOSOFIA E EXISTÊNCIA: UMA
FRANCISCO CARLOS DE MELO EXPERIÊNCIA COM OS CONCEITOS
SILVA DE CUIDADO E AUTENTICIDA-
(UERN – Turma 2017-2019) DE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
O ENSINO DA FILOSOFIA NA EDU-
JOCILAINE MOREIRA BATISTA CAÇÃO BÁSICA: UMA EXPERIÊN-
DO VALE CIA NO MUNICÍPIO DE PACATUBA
(UFC – Turma 2017-2019) A PARTIR DA PERSPECTIVA DE
MATHEW LIPMAN
JOILSON LUIZ DE OLIVEIRA FILOSOFIA E POESIA: TRAMAS TE-
(UFABC – Turma 2019-2021) CIDAS NA EXPERIÊNCIA DOCENTE
O ENSINO FILOSÓFICO DE FILO-
JOSE ANTONIO SOUZA ALMADA SOFIA NO CONTEXTO DA ESCOLA
EM TEMPO INTEGRAL COMO EX-
(UFMA – Turma 2019-2021) PERIÊNCIA POSSIBILITADORA DA
AUTONOMIA
A EXPERIÊNCIA POLÍTICO-DEMO-
CRÁTICA PELA CONSTRUÇÃO DA
PIERRE FRANCISCO ALVES ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL NO
(UFES – Turma 2019-2021) ENSINO FUNDAMENTAL. UMA
PRÁXIS DE CIDADANIA GRAMS-
CIANA NO ENSINO DE FILOSOFIA
DAYANE EVELLIN DE SOUSA NÚCLEO DE ESTUDOS FILOSÓFI-
COSTA COS SOBRE GÊNERO: UMA EXPE-
(UFC – Turma 2018-2020) RIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
O ENSINO DE FILOSOFIA NA PAL-
EDNA CRISTINA LEITE TEIXEI- MA DA MÃO: UMA EXPERIÊNCIA
RA NO CENTRO DE ENSINO VICENTE
(UFMA – Turma 2019-2021) MAIA SOBRE O FILOSOFAR COM O
WHATSAPP
O CONCEITO DE AUTONOMIA
NICACIO NABI RIBEIRO SOARES KANTIANA NO ENSINO DE FILO-

(UFC – Turma 2017-2019) SOFIA: UMA EXPERIÊNCIA COM


AULAS DO ENSINO MÉDIO

- 180 -
O ENSINO DE FILOSOFIA POR MEIO
ROBSON PONTES CUSTÓDIO DA APRENDIZAGEM COOPERATI-
VA: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO
(UFC – Turma 2019-2021) MÉDIO DO IFCE CAMPUS CAUCAIA
– CEARÁ

Tabela 2 – O termo experiência a partir de Larrosa


Autor (a) Título
ANTONIA CRISTIANA SOARES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA: JOR-
APOLONIO ANDRADE GE LARROSA SOBRE O OFÍCIO
DE PROFESSOR, A ESCOLA E O
(UFPI – Turma 2017-2019) ENSINO
CADERNOS DE NOTAS E ENSINO
ARLISON FRANK LISBOA AL- DE FILOSOFIA: A ESCRITA DA EX-
VES PERIÊNCIA COMO RESISTÊNCIA
ÀS DINÂMICAS POLÍTICO-EDU-
(UFABC – Turma 2017-2019) CACIONAIS NEOLIBERAIS BRASI-
LEIRAS
PARA UMA EXPERIÊNCIA FILO-
CRISTIANO MIGNANELLI DOS SÓFICA: CONTRIBUIÇÕES DO
SANTOS ENSINO DA FILOSOFIA NO ENSINO
(UFABC – Turma 2018-2020) MÉDIO PÚBLICO COMO ALTERNA-
TIVA À BARBÁRIE
ELINE MESQUITA ALMEIDA LIBRAS E ENSINO DE FILOSOFIA:
A EXPERIÊNCIA DO PENSAR PE-
(UFMA – Turma 2019-2021) LAS MÃOS QUE FALAM
JACKISLANDY MEIRA DE ME- FILOSOFIA E ALTERIDADE: EX-
DEIROS SILVA (UERN – Turma PERIÊNCIAS COM O RECONHECI-
2017-2019) MENTO EM SALA DE AULA
A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA E O
MARIA APARECIDA SOUZA CINEMA: UM ENSINO DE FILOSO-
OLIVEIRA FIA A PARTIR DA ESTÉTICA E DA
(UFABC – Turma 2018-2020) LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA
NA OBRA DE ALFRED HITCHCOCK
FILOSOFIA EM ATO: POÉTICAS
PRISCILA MARTINS FERREIRA DA EXPERIÊNCIA ESCOLAR (POR
SILVA UMA PROFESSORA-CORINGA
(UFABC – Turma 2018-2020) ENTRE QUATRO PAREDES DA
SALA DE AULA)

- 181 -
FILOSOFIA COM CRIANÇAS: EX-
PERIÊNCIAS DE PENSAMENTO
E POSSIBILIDADES PARA EXPE-
ROSANA LOPES DOS SANTOS RIENCIAR O PENSAR A PARTIR
(UERN – Turma 2019-2021) DE RODAS DE CONVERSAS COM
CRIANÇAS EM ESCOLA DA EDU-
CAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE
CAICÓ/RN
A ÉTICA DA ALTERIDADE DE
ROSEMIRO FERREIRA DE AL- EMMANUEL LEVINAS: INTERFA-
MEIDA CES DO OUTRO NA EXPERIÊNCIA
DO ENSINO DE FILOSOFIA NO
(UFPE – Turma 2018-2020)
ENSINO MÉDIO NA ESCOLA EREM
– VICENTE MONTEIRO – CARUA-
RU – PE

Tabela 3 – O termo “experiência” filosófica a partir de Gallo e Aspis


Autor (a) Título
AUTONOMIA KANTIANA E A
ALDMAX SILVA MARTINS CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS: A
PARTIR DE EXPERIÊNCIAS COM
(UFMA – Turma 2018-2020) HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO
ENSINO DE FILOSOFIA
CINEMA E PENSAMENTO: UMA
CARLOS ALBERTO SANTIAGO EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA PARA
AMARAL JUNIOR O ENSINO DE FILOSOFIA NO NÍ-
(UFMA – Turma 2019-2021) VEL MÉDIO DA EDUCAÇÃO BÁ-
SICA
DIVINA MENDES CHAGAS O ENSINO DE FILOSOFIA COMO
EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA NO
(UFMT – Turma 2019-2021) CEJA
O ENSINO DE FILOSOFIA NO 6º
ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL:
FRANCISCO DAS CHAGAS GA- UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO
LENO MACHADO INTERDISCIPLINAR NA UNIDADE
(UFMA – Turma 2018-2020) INTEGRADA JUSCELINO KUBITS-
CHEK DO POVOADO MAMORANA
– SÃO BERNARDO-MA

- 182 -
A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK
COMO RECURSO AUXILIAR À EX-
JOSSILANE DE SOUSA FREITAS PERIÊNCIA FILOSÓFICA NO ENSI-
(UFC – Turma 2018-2020) NO MÉDIO: UMA ALTERNATIVA DE
APLICAÇÃO DA METODOLOGIA
DE SÍLVIO GALLO

Tabela 4 – o termo experiência a partir da associação de autores


Autor (a) Título
A RACIONALIDADE COMUNICATI-
GINALDO ALVES PEREIRA VA HABERMASIANA NO ENSINO
MÉDIO: O MUNDO DA VIDA EN-
(UFPE – Turma 2019-2021) TRE EXPERIÊNCIAS E RACIONA-
LIZAÇÕES
DESTERRITORIALIZAÇÃO NO
HILSON SANTOS OLEGARIO ENSINO DE FILOSOFIA: UMA EX-
(UFPE – Turma 2017-2019) PERIÊNCIA RIZOMÁTICA NO PRI-
MEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO
O PROCESSO DO METHODOS
DIALÓGICO SOCRÁTICO
FRANCISCO ALBERTO PIMEN- COMO MEIO PARA O ATO DO
TEL SOARES FILOSOFAR: EXPERIÊNCIA
E PRÁTICA A PARTIR DA
(UERN – Turma 2019-2021) DISCIPLINA DE FILOSOFIA NO
ENSINO MÉDIO NO COLÉGIO
UNIVERSITÁRIO DE CAICÓ

Tabela 5 – Outras definições de experiência


Autor (a) Título
A ÉTICA E A POLÍTICA EM G. H.
MEAD EXPERIENCIADAS NO EN-
ASENATE SARAIVA DANTAS SINO DE FILOSOFIA: A INTERSUB-
(UERN – Turma 2018-2020) JETIVIDADE, A REFLEXIVIDADE
NA POLITIZAÇÃO DO SUJEITO E
CONSTITUIÇÃO DO SELF
EDUCAR PARA O PENSAR: O
PROCESSO DE ENSINO APREN-
CAMILA RAISSA SANTOS TOR- DIZAGEM NA PERSPECTIVA DA
RES COMUNIDADE DE INVESTIGAÇÃO
DE MATTHEW LIPMAN – UMA EX-
(UFMA – Turma 2018-2020) PERIÊNCIA FILOSÓFICA NA UEB
PROFESSOR RONALD DA SILVA
CARVALHO

- 183 -
DANILLO MATOS DE DEUS A ARTE NARRATIVA COMO EXPE-
RIÊNCIA DO ENSINO DE FILOSO-
(UFMA – Turma 2017-2019) FIA NO NÍVEL MÉDIO
A EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO
JOSÉ GILLIARD SANTOS DA SOCIAL DO SUJEITO E O INTERA-
SILVA CIONISMO SIMBÓLICO EM G. H.
MEAD: CONTRIBUIÇÕES PARA O
(UERN – Turma 2017-2019) ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO
MÉDIO
EXPERIÊNCIA PERCEPTIVA E
DEBORA CRISTINA MARTINS DE MÉTODO FILOSÓFICO SEGUNDO
SOUZA MERLEAU-PONTY: UMA PROPOS-
(UFPR – Turma 2017-2019) TA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE
FILOSOFIA
ISABEL CRISTINA TORRES BAR- A RODA DE EXPERIÊNCIA DO
REIRA PENSAR: A COMPLEXIDADE NO
ENSINO-APRENDIZAGEM DE FI-
(UFES – Turma 2017-2019) LOSOFIA
LEANDRO CORREIA DOS SAN-
TOS EXPERIÊNCIA CONVIVIAL NO
ENSINO DE FILOSOFIA
(UFPE – Turma 2017-2019)
MARIA ALICE CORREA DE INICIAÇÃO DE ESTUDANTES DO
ARAUJO ENSINO MÉDIO AO MÉTODO FILO-
SÓFICO INTUITIVO BERGSONIA-
(UFPE – Turma 2017-2019) NO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
O ENSINO DE FILOSOFIA ENTRE
PEDRO SECUNDINO DE SOUZA VIDA ATIVA E VIDA CONTEMPLA-
MACIEL TIVA: POSSIBILIDADE DA EXPE-
(UFAM – Turma 2018-2020) RIÊNCIA DE PENSAR E PENSAR A
EXPERIÊNCIA NO NÍVEL MÉDIO

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que as análi-


ses quanto aos trabalhos resultantes das pesquisas de mestrado do
PROF-FILO ainda esbarram, e talvez assim permaneçam por alguns
anos, na juventude do programa. Dado um universo de menos de
cinco turmas formadas, considerando ainda um atraso ocorrido por
decisões da CAPES quanto à abertura dos editais e matrículas dos
ingressantes, o que atrasou quase um ano o processo e funcionamen-
to do programa, é importante admitir que se trata de um acervo ainda

- 184 -
pequeno e suscetível de variações.
Em segundo lugar, podemos afirmar que, mesmo com a
ressalva acima, a ocorrência do termo experiência é bastante inte-
ressante em pelo menos dois aspectos: 1) no que diz respeito a um
expediente muito relevante para as pesquisas da área de ensino de
filosofia, a experiência, a mera observação de que se trata de um
termo frequente nas pesquisas desta área pode indicar que há um
constante interesse em partir da experiência dos docentes e daquilo
que eles efetivamente realizam nas suas atividade em sala de aula,
registrando um contato com a prática, a relevância da relação ensi-
no-aprendizagem e o potencial investigativo da prática de ensino;
2) a forma como as referências a Larrosa (Heidegger) e Gallo/Aspis
(Deleuze/Guattari) indica já um repertório comum, a partir do qual
podemos começar a refletir sobre as singularidades das pesquisas
feitas sobre o ensino de filosofia no Brasil.
Em terceiro lugar, talvez seja prudente lembrar que uma
análise mais detida dos textos, cuidadosa com cada pesquisa como
um todo, pode revelar alguma fragilidade no tratamento dessas re-
ferências, ou mesmo mostrar que elas podem aparecer de maneira
central no título, mas não sustentarem ao longo das dissertações uma
importância semelhante. Ou seja: é importante encorajar trabalhos
que façam essas análises e que nos ofereçam condições de aprofun-
dar nossas interpretações e amadurecer essas primeiras conclusões,
para ajustar ponteiros, corrigir rotas, e, gradativamente, consolidar
as principais referências teóricas, os temas mais frequentes e contri-
buir para a sustentação do campo de pesquisa no ensino de filosofia
no Brasil.
De certa maneira, nos pareceu, nesse confronto inicial entre
a perspectiva da experiência a partir de Larrosa e da experiência filo-
sófica de Aspis e Gallo, que temos pressupostos filosóficos diversos
e que consequentemente inspiram trabalho didáticos e metodológi-
cos diversos.
Por um lado, há uma divergência de pressupostos filosófi-
cos de fundo, pois Heidegger concebe um sujeito do pensamento
autocentrado, como portador do pensamento e que, portanto, passa
ou sofre experiências. Já Deleuze e Guattari propõem subjetivida-
des polifônicas em encontros, sendo que o pensar e experimentar
surgem de agenciamentos entre subjetividades, coisas, ideias, con-

- 185 -
ceitos, contextos sociais, políticos e culturais, propondo aquilo que
chamamos de pragmática do experimentar, no traçado de práticas
que aumentem o potencial de viver.
Por outro lado, ambos apostam nas singularidades e nas di-
ferenças, recolhidas nas práticas de ensino e que são elas produtoras
do pensar sobre o que ocorrem nesse lugar privilegiado que é o pen-
sar sobre a prática escolar. Como Gallo propõe uma metodologia de
aula, corremos o risco de ver a pragmática singular e inesperado se
sedentarizar em um método repetitivo.

7. REFERÊNCIAS

ASPIS, Renata. O professor de Filosofia: o ensino de filosofia no en-


sino médio como experiência filosófica. Caderno Cedes, Campinas, v.
24, n. 64, p. 305-320, set./dez. 2004.
CERLETTI, Alejandro. O ensino de filosofia como problema filosófi-
co. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
GALLO, Silvio. A Filosofia e seu ensino: conceito e transversalida-
de. Revista Ethica, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 17-35, 2006.
GELAMO, Rodrigo Pelloso.O ensino da filosofia no limiar da con-
temporaneidade : o que faz o filósofo quando seu ofício é ser pro-
fessor de filosofia? / Rodrigo Pelloso Gelamo. – São Paulo : Cultura
Acadêmica, 2009.
LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre a experiência. Belo Ho-
rizonte: Autêntica, 2020.
VELASCO, Patrícia Del Nero. Filosofar e ensinar a filosofar: regis-
tros do GT da Anpof 2006-2018. Rio de Janeiro: NEFI, 2020.
VELASCO, Patrícia Del Nero. O que é isto – o PROF-FILO?O que
nos faz pensar. v. 28, n. 44, p. 76-107, julho de 2019.
VINCI, Christian F. R. G. O conceito de experimentação na filosofia
de Gilles Deleuze. SOFIA (ISSN 2317-2339), Vitória-ES, v. 7, n. 2, p.
322-342, jul./dez. 2018.

- 186 -

Você também pode gostar