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Comitê Científico
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice- presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Alfredo González-Ruibal (Consejo Superior de Investigaciones Científicas-Spanish
National Research Council e Institute of Heritage Sciences)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC - Florianópolis/SC)
Barbara M. Arisi (UNILA - Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP - São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL - Alfenas/MG)
Cristian Farias Martins (UFAM - Benjamin Constant/AM)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP - São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR - Porto Velho/RO)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Gilson Rambelli (UFS - São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Heloisa Helena Corrêa (UFAM - Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP - Guarulhos/SP)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (Anhanguera - Campo Limpo - São Paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA - Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG - Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP - São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU - São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR - Curitiba/PR)
Rita de Cassia Andrade Martins (UFG – Jataí/GO)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ - Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL - São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC - São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)

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Gabriel Frechiani de Oliveira
Michel Justamand
Pedro Paulo Funari

UMA HISTÓRIA DO
POVOAMENTO DO
CONTINENTE AMERICANO
PELOS SERES HUMANOS:

A ODISSÉIA DOS PRIMEIROS


HABITANTES DO PIAUÍ

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Henrique dos Santos Pereira

Membros
Antônio Carlos Witkoski
Domingos Sávio Nunes de Lima
Edleno Silva de Moura
Elizabeth Ferreira Cartaxo
Spartaco Astolfi Filho
Valeria Augusta Cerqueira Medeiros Weigel

COMITÊ EDITORIAL DA EDUA


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Antônio Cattani - UFRGS
Alfredo Bosi- USP
Arminda Mourão Botelho - UFAM
Spartacus Astolfi - UFAM
Boaventura Sousa Santos - Universidade de Coimbra
Bernard Emery - Université Stendhal-Grenoble 3
Cesar Barreira - UFC
Conceição Almeira - UFRN
Edgard de Assis Carvalho - PUC/SP
Gabriel Conh - USP
Gerusa Ferreira - PUC/SP
José Vicente Tavares - UFRGS
José Paulo Netto - UFRJ
Paulo Emílio - FGV/RJ
Élide Rugai Bastos - UNICAMP
Renan Freitas Pinto - UFAM
Renato Ortiz - UNICAMP
Rosa Ester Rossini - USP
Renato Tribuzy – UFAM

Reitor
Sylvio Mário Puga Ferreira

Vice-Reitor
Jacob Moysés Cohen

Editor
Sérgio Augusto Freire de Souza

-4-
Gabriel Frechiani de Oliveira
Michel Justamand
Pedro Paulo Funari

UMA HISTÓRIA DO
POVOAMENTO DO
CONTINENTE AMERICANO
PELOS SERES HUMANOS:

A ODISSÉIA DOS PRIMEIROS


HABITANTES DO PIAUÍ

Embú das Artes - SP


2019

-5-
© Alexa Cultural

Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Klanger
Foto de Capa
Klanger
Editoração Eletrônica
Alexa Cultural
Revisão
Michel Justamand

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

OLIVEIRA, G. F
JUSTAMAND, M.
FUNARI, P. P.
Uma história do povoamento do continente americano pelos seres huma-
nos: a odisséia dos primeiros habitantes do Piauí, Gabriel Frechiani de
Oliveira, Michel Justamand e Pedro Paulo Funari, Embu das Artes/SP:
Alexa Cultural; Manaus/AM: EDUA, 2019

14x21cm - 118 páginas


ISBN - 978-85-5467-075-7
1. Arqueologia - 2. Antropologia - 3. História - 4. Piauí - 5. Brasil
I- Sumário - II Bibliografia

CDD - 510

Índices para catálogo sistemático:


1. Arquerologia
2. Antropologia
3.História
Todos os direitos reservados e amparados pela Lei 5.988/73 e Lei 9.610

Alexa Cultural Ltda Editora da Universidade Federal do


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E-mail: ufam.editora@gmail.com

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As melhores histórias são aquelas
que surpreendem até os melhores historiadores.
Walter Bueno

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O contexto intelectual do estudo da
antiguidade da presença humana nas
Américas

Pedro Paulo A. Funari

A busca das origens e gênese estão presentes


nos pensamentos de todas as sociedades humanas.
Há até um termo para designar essa preocupação:
a cosmogonia, “o tornar-se mundo”, daí criação do
mundo, sendo mundo tanto o universo, como a so-
ciedade, toda a ordem de coisas, como de viventes e
imortais considerados existentes. Essas narrativas são
tão variadas como as sociedades, em diferentes épo-
cas e lugares, a mostrar que são maneiras de dar conta
de entender e dar sentido aos fenômenos naturais e
culturais.
A modernidade e o Iluminismo viriam a propor
explicações das origens a partir da nascente ciência
objetiva. Esta afastava-se do sobrenatural e fundava-
-se na experiência e na razão e a busca das origens
naturais e sociais tomaram novas feições. As origens
naturais e humanas só prescindiram do sobrenatural a
partir do século XIX, quando a antiguidade das rochas
parecia ultrapassar os seis mil anos da datação atribuí-
da à Bíblia e o evolucionismo propunha uma explica-
ção das origens das espécies, inclusive do ser humano.
Essa confiança na objetividade e numa expli-
cação única viria a ser identificada como positivismo,
quando a própria ciência foi questionada como conhe-
cimento também subjetivo, dependente de teorias.
No âmbito das Humanidades e da Teoria Social, houve

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crescente discussão sobre as narrativas, a partir de pa-
radigmas diversos, que até mesmo constituem como
documentos objetos distintos. Isso teve consequên-
cias para todos os temas, com destaque para a ques-
tão das origens humanas, a começar pelas definições
de origens e humanas.
Origem é um termo mais genérico, que se pode
aplicar a tudo e cuja etimologia indica o crescimento
(daí Oriente, de onde cresce o Sol). O grego gênese e
genealogia, usado por Michel Foucault, remete à no-
ção de “tornar-se”, de modo que ambos remontam à
noção de algo que nasce, surge, de algo anterior (ou
mesmo interior). Neste sentido, origens e genealogia
tratam das causas anteriores.
Já o segundo termo, o humano, é ainda mais
abstrato e sujeito a disputas. A definição biológica do
humano está sujeita a aspectos relativos tanto à ge-
nética, como à morfologia, sem contar aspectos cul-
turais. O humano seria a espécie atual, com cerca de
40 mil anos? Ou incluiria seus antepassados imediatos
(200 mil anos?), incluiria espécies de cruzamento mú-
tuo, como os neandertais? Ou deveria recuar aos mais
antigos hominídeos, há milhões de anos? Em qualquer
caso, só se pode estudar esse tema a partir de uma
variedade de teorias, pois sequer é possível determi-
nar com total certeza a vinculação entre as espécies
de hominídeos.
O povoamento do continente americano apre-
senta desafios particulares, a esse respeito. A antigui-
dade dos hominídeos no Velho Mundo (África, Ásia e
Europa) é bem documentada, ainda que o relaciona-
mento dos vestígios esteja sujeito à diversidade de es-
quemas interpretativos. Já no Novo Mundo, há mais

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incertezas, evidências menos abundantes e mais con-
troversias, o que instiga a uma variedade ainda maior
de interpretações. Este volume apresenta, de forma
clara e didática, as principais evidências, teorias e es-
quemas interpretativos. Para isso, inicia-se com algu-
mas das perspectivas do início da Modernidade, quan-
do os europeus encontraram os ameríndios. A Bíblia e
os autores clássicos, gregos e romanos, inspiraram as
explicações das origens desses humanos. Em seguida,
explicações baseadas nas evidências materiais e em
teorias sociais multiplicaram-se e são apresentadas, de
maneira direta e bem fundamentada, por este volume,
que serve tanto a especialistas, como aos interessados
em geral. O livro conclui-se com uma interrogação,
como convém a um livro que, antes de tudo, faz pen-
sar. E isso é o mais importante, não?

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Sumário
O contexto intelectual do estudo da
antiguidade da presença humana nas Américas 09
Pedro Paulo A. Funari

Capítulo 1
Em busca de novos caminhos para a história 15

1.1 - A relação entre a história, a pré-história
e a arqueologia 23

Capítulo 2
Em busca das origens dos seres humanos
no continente americano: as perspectivas biblíca
e dos povos da antiguidade 35

2.1 - uma perspectiva biblíca sobre o
povoamento do continente americano

2.2 uma perspectiva dos povos da
antiguidade sobre o povoamento
do continente americano 40

Capítulo 3
Em busca das origens dos seres humanos
no continente americano: uma perspectiva científica 47

3.1 - uma perspectiva sobre o povoamento
pelo norte do continente americano 48

3.2 uma perspectiva sobre o povoamento
pelo sul do continente americano 60

Capítulo 4
A importância das pesquisas arqueológicas no
Parque Nacional Serra da Capivara 75

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Consideramos que... 87

Referências 89

Sobre os autores 105

Coleção Arqueologia Rupestre 109

Coleção FAAS - Fazendo Antopologia no Alto Solimões 111

Coleção FAAS Teses 113

Coleção Carmen Junqueira 113

Coleção Diálogos Interdisciplinares 115

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CAPÍTULO 1
EM BUSCA DE NOVOS CAMINHOS PARA A
HISTÓRIA1

Ao abrimos um livro de História do Brasil do en-


sino médio e folhearmos o sumário, observamos que
o período que corresponde ao Brasil Colonial (1500-
1822) abrange poucos capítulos em relação ao período
do Brasil Império (1822-1889) e Republicano (1889--),
mas o período colonial corresponderia cerca de 322
anos da nossa chamada História. A História do Brasil
parece ter iniciado somente com a chegada dos portu-
gueses em 1500.
Segundo Borges (2004, p.14),
Quem inaugura a história do Brasil é o colonizador
europeu e tudo que vem antes da sua chegada é pré-
-história, ou então, entra nas páginas dos livros como
o diferente, o pitoresco, como a contribuição do ele-
mento indígena para a raça brasileira, como mão-de-
-obra escrava, como resistência, mas sem existência
própria, sem dinâmica social, sem sua própria vida.

Essa História do Brasil sempre foi vista pela ótica


do colonizador, do europeu carregado com sua espi-
ritualidade cristã, procurando integrar os chamados
índios2 na sua sociedade colonial. Gabriela Martin ex-
plica que “(...) a história da América é a história dos es-
panhóis, portugueses e ingleses na América, e o indí-
gena apenas parte da paisagem, mas sem constituir a
1 Parte desse título foi extraído do livro “A História Negada” de Jónia Freitas
Borges, citado na bibliografia.
2 Atribui-se a Cristóvão Colombo esse termo que pensava que tinha alcançado
as Índias Orientais e assim justificando, o uso do termo índio para designar as
populações do Novo Mundo.

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história do continente antes da chegada dos europeus
(MARTIN, 2002, p.20).
Todorov (1999)3 afirma que a conquista da Amé-
rica pelo europeu teria causado aproximadamente 70
milhões de mortos no período do século XVI e XVII,
configurando um dos maiores genocídios da história
da Humanidade. Um dos motivos atribuídos a esse ge-
nocídio seria o fato de os europeus estarem motiva-
dos pelo espírito das cruzadas, buscando riquezas, e
acrescidos com seu espírito bélico.
Segundo Theodoro (1991, p.9),
O pensamento cristão havia-se adaptado muito bem
à política expansionista. A teatralidade e a agilidade
do cristianismo permitiam uma rápida penetração da
doutrina entre os povos vinculados a uma outra estru-
tura ritual. As igrejas foram o suporte básico em que
se assentou todo o projeto colonizador. Uma batalha
ganha, um saque farto ou mesmo um grande massacre
das populações indígenas podia merecer uma missa e,
muitas vezes, acaba numa construção de uma igreja.

A construção da imagem dos índios giraria em


torno de dois polos, o primeiro o bom selvagem des-
crito muitas vezes pelo Frei Bartolomé de Las Casas e
outros religiosos que não viam maldade naqueles seres
humanos, atribuindo uma inocência de Adão e Eva; a
outra imagem de mal selvagem, rebelde, canibal e pa-
gão, obrigando ao homem branco inseri-lo nos ensina-
mentos cristãos e assim, muitas vezes escravizando-os.
3 Tzvetan Todorov explicita bem esses impactos entre o contato do europeu
com os habitantes do Novo Mundo ao afirmar que “Sem entrar em detalhes,
e para dar somente uma ideia global (apesar de não nos sentirmos totalmen-
te no direito de arredondar os números em se tratando de vidas humanas),
lembraremos que em 1500 a população do globo deve ser da ordem de 400
milhões, dos quais 80 habitam as Américas. Em meados do século XVI, des-
ses 80 milhões, restam 10. Ou se, nos restringimos ao México: às vésperas da
conquista, sua população é de aproximadamente 25 milhões; em 1600, é de 1
milhão” (1999, p.158).

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Podemos citar como exemplo Juan Gines de
Sepúlveda que defendia a submissão dos índios em
relação aos europeus, e assim utilizando no desen-
volvimento das atividades coloniais, até a instituição
jurídica do Requerimiento em 1514, que escravizava as
sociedades indígenas. Laplatini (1995) afirma que a
imagem do índio giraria em torno dessas duas ideolo-
gias do bom selvagem e mal selvagem, sendo conside-
rado um caminho entre a animalidade e a humanidade.
Para Moniot (1988, p.100-101),
A exclusão de tantos povos era tanto decretada de di-
versas formas. Inicialmente por uma ideia já adquirida:
não fizeram nada de notável, nenhum produto
durável, antes da chegada dos brancos e da civilização
– a selvageria como pré-história anônima e bronca,
um dos estereótipos justificando do fardo do homem
branco”. Mais ou menos grosseira, mas amplamente
difundida, a idéia esterilizava os germes da curiosidade
histórica, privada de objetos pela evidência.
Diversamente, os filósofos colocavam fora da história
as sociedades privadas de Estado – essa expressão
manifesta do requinte e da permanência de um sen-
tido – ou todas aquelas que, repetitivas ou somente
agitadas no caos, não trabalhavam numa construção
desejada, consciente, progressiva.

Passado mais de cinco séculos do “descobrimen-


to” e da colonização podemos constatar que quase
todas as populações indígenas foram dizimadas pela
mão do europeu, de forma direta, pelo uso da violên-
cia ou indireta pelas doenças4 transmitidas pelo colo-
nizador. Mas de onde vieram esses habitantes e qual
4 Em especial a varíola que foi utilizada em algumas situações pelos europeus
para dizimarem as populações indígenas, como doação de roupas contamina-
das para os indígenas, segundo Todorov (1999, p.73) “(...) os espanhóis, sem
saber, inauguram também a guerra bacteriológica, ao trazer a varíola, que
provoca muitas baixas no exército adversário.”, essa forma de guerra bacte-
riológica foi utilizada pelo conquistador espanhol Hernan Cortez contra os
Astecas, no México.

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seriam sua importância para o contexto do piauiense?
Não se sabe ao certo qual o primeiro ponto que
esses seres humanos chamados de índios chegaram
ao continente americano, mas somente que são oriun-
dos de outras partes do mundo.
De norte a sul do território piauiense, mais de mil
sítios arqueológicos já foram catalogados pelo IPHAN.
De acordo com Santos e; Gita Oliveira (1997,
p.11),

(...) cabe ressaltar a importância dos sítios arqueo-


lógicos, constitutivos do patrimônio cultural, como
testemunhos tanto históricos quanto imemoriais de
ocupação do território bem como de sua utilização.
Constituem provas concretas da presença e ativida-
de humanas em parcelas do território que podem ser
atestadas e datadas.

Quando os desbravadores Domingos Afonso


Sertão e Domingos Jorge Velho em meados do sécu-
lo XVII adentraram no solo piauiense deparam-se com
várias tribos indígenas: Timbira, Acroá, Jaicó, Tabajara,
Tremembé, Gueguê, Pimenteiras que foram desterri-
torializadas pelo processo de colonização, sendo es-
cravizados como mão-de-obra, catequizados ou, em
caso de resistência exterminados. Podemos fazer uma
analogia com o livro Utopia5 de Thomas Morus (1478-
1535), que conta o processo de expulsão dos peque-
nos agricultores ingleses de suas terras para criação
de ovelhas, o que Karl Marx (1818-1883) denomina
5 Encontramos essa passagem em um diálogo do livro entre “Todavia, essa
não é a única razão que obriga as pessoas a roubarem. Há uma outra, que me
parece ser mais particular de vocês. – Qual é? – perguntou o cardeal. – Vos-
sos carneiros – disse eu-. – Normalmente tão mansos, tão fáceis de alimentar
com pouca coisa, ei-los transformados, dizem-me, em animais tão vorazes e
ferozes que devoram até mesmo os homens, devastando e despovoando os
campos, granjas, as granjas, as aldeias” (MORUS, 2006, p.31).

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clearing state6, mas no lugar de ovelhas era o gado que
comeria os indígenas piauienses e usurparia as suas
terras.
A região geográfica que faz parte o estado do
Piauí era massivamente povoada por uma diversidade
de tribos indígenas no período colonial, sendo com-
parada como “(...) nos primeiros dias, os índios fer-
vilhavam como formigas nos vales dos rios do Piauí
e também por todo o Nordeste” (NUNES, 1972, p.12),
descrito como um grande corredor migratório dos
grupos indígenas na região Nordeste e Norte (NUNES,
1975).
As estimativas demográficas acerca da popula-
ção indígena piauiense remontam 369 mil pessoas no
período colonial, estando segmentada em quatro prin-
cipais grupos étnicos: 1) Cariri, composto pelos Tre-
membés; 2) Caraíba, pelos Pimenteiras; 3) Tupi, com-
posto pelos Tabajaras; 4) Jê, composto pelos Acroás,
Gueguês, Timbiras e Jaíco (BAPTISTA, 2009).
A historiografia piauiense que versa acerca dos
grupos indígenas no período colonial é complexa e
apresenta várias divergências no que tange a desig-
nações dos grupos culturais, gerando problemas de
conceituação e divergência nas narrativas históricas, a
histórias dos índios no Piauí precisa ainda ser estudada
com mais profundidade (COSTA, 1974; NUNES, 1975;
2007; ALENCASTRE, 1981; CARVALHO, 1993; CHAVES,
2005; MACHADO, 2010; CASTELLO BRANCO, 2011).
Segundo Oliveira (2002, p.174-175),

6 Esse conceito clearing state foi extraído de Karl Marx que significaria “roçan-
do dos bens pela raiz” seria “(....) o conjunto de atos de violência por meio dos
quais se desembaraça dos cultivadores e de suas moradias, quando eles se
encontram sobre bens de raiz destinados a passar ao regime de grande cultura
ou ao estado pastoril” (MARX,1985, p.42).

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A colonização no estado do Piauí teve início apenas
no final do século XVI e começo do século XVII. Ao
contrário do processo de povoamento de outros es-
tados brasileiros do interior, teve início a partir do rio
São Francisco e seguiu para o litoral quando chegaram
as primeiras expedições bandeirantes e à procura da
mão-de-obra indígena e metais preciosos. Posterior-
mente, com a expansão da pecuária para o sertão
nordestino, surgiram freguesias, missões e vilas. Mui-
tos desses povoados e fazendas foram instalados em
áreas de antigas aldeias indígenas.(...) O processo
de extermínio da população indígena no interior do
sertão foi se intensificando, a partir do século XVIII,
com o avanço dos colonizadores, interessados prin-
cipalmente na liberação das terras e na obtenção da
mão–de-obra indígena para a lavoura e a pecuária as-
sim como para serviços de guias ou combater grupos
indígenas. Essa fase é marcada também pela presença
dos padres jesuítas que, com o objetivo de catequese,
fundam as missões ou reduções destinadas a reunir as
populações indígenas.

Sobre a relação entre pecuária e extermínio dos


indígenas, observamos o crescimento acelerado dessa
atividade e sendo considerada junto com a escraviza-
ção, um dos fatores de tal dizimação indígena.
De acordo com Brandão (1999, p.64),

(...) o ritmo expansionista das fazendas pode ser ob-


servado através da quantidade de propriedades insta-
ladas a cada ano. Entre 1697 a 1730, portanto em 33,
o número de fazendas do Piauí passou de 129 a 400,
correspondendo a implantação de 8,2 a cada ano. No
corte cronológico de 1730 a 1762, criaram-se, a cada
ano, 4,2 novas fazendas, pois, em 1762, havia um total
de 536 unidades

O principal objetivo da colonização do solo


piauiense foi ocupação do espaço geográfico que sem-
pre foi visto como terra de ninguém, terra de passagem

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ou terra ruim, juridicamente pertencendo à capitania
de Pernambuco, Bahia e do Maranhão. Como a região
não possuía riquezas minerais (ouro e prata), não tinha
pau-brasil e a agricultura em larga escala seria dificul-
tada pelo transporte e a necessidade de mão-de-obra
para o cultivo, a pecuária extensiva foi à atividade eco-
nômica que melhor adaptou-se às condições naturais,
necessitando de pouca mão-de-obra e impedindo que
outras potências coloniais (França e Holanda) ocupas-
sem para si esse território.
Em busca de fazer alguns apontamentos para
os rumos que segue essa pesquisa, o caminho do pro-
cesso de construção histórica não é uma via de um úni-
co sentido, no intuito de chamar atenção para esse pa-
trimônio cultural que vem sendo destruído pela ação
indireta através dos fatores naturais (intemperismos
físico, químico e biológico) ou pela ação direta dos
seres humanos sobre os sítios arqueológicos, e assim
apagando esses registros históricos.
Para Lemos (2004, p.49) “A deseducação, a in-
diferença, o egoísmo e tanto outros comportamentos
concomitantes e não controlados são os responsáveis
pela desfiguração do nosso litoral e de suas cidade ve-
lhas e não só suas aldeias”.
Ressaltando a necessidade das autoridades
governamentais agirem para proteção desse patrimô-
nio e um programa de educação patrimonial nas es-
colas, como forma salvaguarda do patrimônio. Logo,
enfatizando a necessidade de pesquisarmos acerca
das tribos indígenas piauienses que foram excluídas
do processo histórico pelo colonizador europeu e as-
sim a busca de novos caminhos para a construção do
conhecimento histórico.

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1.1. A RELAÇÃO ENTRE A HISTÓRIA, A PRÉ-HISTÓRIA
E A ARQUEOLOGIA
A primeira indagação acerca do que seria a His-
tória? A História já foi vista ao longo do tempo como,
uma forma de expressão científica, religiosa, artística
ou literária. Logo, não podemos fornecer uma única
definição de História, mas fornecer um conceito. Pri-
meiramente, com a relação o objeto da História7.
Na visão de Febvre (1985, p.30) os objetos da
história seriam,
(..) os homens, únicos objetos da história – de uma his-
tória que se inscreve no grupo das disciplinas humanas
de todas as ordens e de todos os graus, ao lado da an-
tropologia, da psicologia, da linguística, etc; uma his-
tória que se interessa por não sei o homem abstrato,
eterno, de fundo imutável e perpetuamente idêntico a
si mesmo, mas pelos homens membros dessas socie-
dades numa época bem determinada do seu desenvol-
vimento, pelos homens dotados de funções múltiplas,
de actividades diversas, de preocupações e de apti-
dões variadas, que se mesclam todas, se chocam, se
contrariam, e acabam por concluir entre si uma paz de
compromisso, um modus vivendi que se chama a Vida.

Podemos afirmar que a relação entre a História,


a Pré-História e a Arqueologia seria o estudo dos seres
7 Para Veyne (1998, p.12-18) “A história não é uma ciência e não tem muito a es-
perar das ciências; ela não explica e não tem método; melhor ainda, a História,
da qual muito se tem falado nesses dois últimos séculos, não existe. (...) A his-
tória é uma narrativa de eventos: todo o resto resulta disso. Já que é, de fato,
uma narrativa, ela não faz reviver esses eventos, assim como tampouco o faz
o romance; vivido, tal como ressai das mãos do historiador, não permite evitar
alguns falsos problemas. Como o romance, a história seleciona, simplifica, or-
ganiza, faz com que um século caiba numa página, e essa síntese da narrativa é
tão espontânea quanto a da nossa memória, quando evocamos os dez últimos
anos que vivemos”. Seria o que Bloch (2001) denomina do contato indireto
com objeto histórico , logo, mesmo vivendo o acontecimento podemos ter
uma grande multiplicidades de perspectiva sobre o acontecimento, podemos
observar uma guerra da perspectiva de um general ao um simples soldado e
assim fornecendo uma melhor visão sobre o fato em si, mas jamais sendo con-
siderada a única e definitiva, podendo ser revisto o mesmo acontecimento por
outros personagens da trama histórica ou teatro da vida, afirma Veyne (1998).

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humanos e suas transformações ao longo do tempo.
Mas o que denominamos de pré-história e sua diferen-
ça para História? O conceito pré-história8 foi cunhado
por Daniel Wilson em 1851, para designar os estudos
relacionados aos períodos ou dados históricos em que
existiam poucos registros inteligíveis pela escrita. Pos-
teriormente, o termo foi utilizado por Sir John Lubbo-
ck no seu livro Prehistoric Times em 1865, se difundin-
do usualmente, como disciplina que preencheria os
domínios onde a história não conseguiria alcançar pe-
las ausências de fontes escritas inteligíveis.
Segundo Braidwood (1985) a pré-história signifi-
caria o tempo anterior ao surgimento da escrita, acer-
ca de 5 à 6 mil anos atrás e assim compreendendo em
torno de 99% do passado humano. O principal marco
de divisão entre a História e Pré-História seria o adven-
to da escrita, deixada como uma forma de registrar o
passado. Com relação a esses povos que viveram an-
tes do período da escrita e que deixaram seus regis-
tros, a partir dessas de pinturas, gravuras, artefatos e
fósseis podemos apreender um pouco da história des-
sas sociedades ágrafas.
Para Leroi-Gourhan (1988, p.92),

8 Segundo Trigger (2004, p.81) acerca do termo pré-história de Daniel Wilson


“(...) definiu como o estudo da história de uma região antes da primeira apa-
rição de registros escritos sobre ela. Sublinhou que a compreensão do passa-
do derivável tão-somente dos artefatos era muito diferente da compreensão
que se obtém a partir dos registros históricos. Contudo, ele tinha esperança
de que, no devido tempo, os arqueólogos se tornariam capazes de descobrir
alguma coisa a respeito da vida social e das crenças religiosas dos tempos pré-
-históricos”. No entanto, segundo Laming-Emperaire (1973a) atribui-se a Paul
Tournal (1805-1872), um jovem farmacêutico de Narbonne na França sugeriu
a criação de dois períodos para caracterizar a história do homem, o primeiro
“anti-histórico” e “histórico” que teria começado aproximadamente por volta
de 7000 anos atrás. Outra referência que encontramos ao longo da pesquisa,
Trigger (1973, p.3) afirma que (...) o “adjetivo préhistorique por Tournal desde
de 1833 (Heizer, 1962:72-83), o nome pré-história foi proposto pela primeira
vez, para designar uma disciplina, num livro cujo o era The Archaeology and
Prehistoric Annals of Scontland, publicado por Daniel Wilson, em 1851”.

- 23 -
(...) a história antes da escrita é a história da mão an-
tropiana, ou melhor (pois temos muito poucos esque-
letos de mãos bastante antiga, e sua evolução seria
difícil de ser evidenciada no detalhe), a história dos
produtos do cérebro que a mão exterioriza, ou seja, os
instrumentos. Mais corretamente ainda, a pré-história
humana realiza sua continuidade nos milhões de mar-
cos cronológicos que são constituídos de pedra talha-
da, únicos testemunhos praticamente indestrutíveis.

A partir da arqueologia podemos estudar esses


povos sem essa escrita inteligível de acordo com os
parâmetros da nossa sociedade9, a palavra arqueolo-
gia vem do grego (archaîos, antigo e logos, conheci-
mento) significando “conhecimento dos primórdios”
ou “relatos das coisas antigas”.
Segundo Childe (1977, p.9),
Arqueologia é uma forma de história e não uma sim-
ples disciplina auxiliar. Os dados arqueológicos são
documentos históricos por direito próprio e não me-
ras abonações de textos escritos. Exatamente como
qualquer outro historiador, um arqueólogo estuda
e procura reconstituir o processo pelo qual se criou
o mundo em que somos criaturas do nosso tempo e
do nosso ambiente social. Os dados constituídos por
todas as alterações no mundo material resultante da
ação humana, ou melhor, são os restos materiais da
conduta humana.
De acordo com Watson; LeBlanc e; Redman
(1971, p.13),
9 Devemos ressaltar que olhar do observador com relação ao passado tem
suas raízes no nosso presente, o passado em si é estático no tempo, consi-
derando que os eventos já ocorreram, mas as perspectivas do passado estão
em constante movimento, podendo variar de acordo com os olhos dos ob-
servadores e período de tempo. Segundo Carr (1988, p.11-12) “O historiador
é necessariamente seletivo. A crença num núcleo sólido de factos históricos
existentes objetiva da interpretação do historiador é uma falácia absurda, mas
difícil de extirpar, no entanto. (...) O que corresponde à nossa visão foi pré-se-
lecionando e pré-determinado para nós, não tanto por acaso, mas antes por
pessoas que estavam conscientes ou inconscientemente imbuídas por uma
visão especial, pensando que factos que fundamentavam essa visão eram dig-
nos de ser preservados”.

- 24 -
A arqueología é um termo que se aplica corretamente
a várias disciplinas ou subdisciplinas bastantes diferen-
tes. O motivo é que a palavra <<arqueología>> se utili-
za com freqüência, simplesmente para referir-se a um
conjunto de técnicas e métodos dirigidos a reconhe-
cer informações acerca do passado (e pode, por tanto,
se usada com vários propósitos) e não para identificar
uma disciplina completamente com uma teoria, um
método e um campo de estudo somente peculiares a
ela. 10

Dentro dessa perspectiva, a partir da cultura ma-


terial deixada por esses povos do passado, os arqueó-
logos se debruçam sobre os questionamentos relati-
vos as sociedades humanas. De acordo com Schnapp
(1988, p.2) “A pesquisa etnológica ou histórica exige
um conhecimento relativo da vida das sociedades,
enquanto a arqueologia, tal como ela é conhecida, ao
contrário, exige, antes de tudo, faro”.
Neste sentido, o conhecimento do arqueólogo
é fragmentado, cabendo ao arqueólogo reunir as in-
formações com intuito de interpretar, mesmo saben-
do que muitas informações serão perdidas ao longo
da pesquisa. Eis o paradoxo do arqueólogo11, por isso
a necessidade de deixarmos o testemunho nas esca-
vações, deixamos a possibilidade das gerações futuras
10 Tradução nossa.
11 Acerca desse paradoxo, André Leroi-Gourhan (2001, p.22) explicita esse pen-
samento ao fazer a seguinte analogia “Com um manuscrito, pode-se voltar
atrás e considerar de novo uma passagem já lida. A terra, porém, é um livro
cujas as páginas são destruídas à medida que se passam; só pode ser lido uma
vez no texto original; quando uma camada de terra é retirada, tudo o que não
foi transcrito está irremediavelmente perdido”. Segundo Moberg (1968, p.51)
“É preciso escolher decidir. Ora, as vezes escolhas são múltiplas: deverá ob-
servar-se apenas sem tocar nem dissecar? Que informações registrar? Quais
omitir? Esta recolha precisa terá utilidade? Toda a escavação é uma destruição;
provoca danos, tal com as técnicas de laboratório que exigem a degradação
total ou parcial de um objeto. É preciso portanto escolher: será mais importan-
te (ou menos importante) salvaguardar ou conhecer?”

- 25 -
de arqueólogos utilizarem novas metodologias e assim
extraindo informações que teriam passado desperce-
bidos por nossa geração. Neste sentido Braidwood
(1985) afirma que a interpretação dos achados seria
a parte mais importante do trabalho do arqueólogo,
considerando a forma que alcançariam as particulari-
dades históricas dessas sociedades humanas.
Conta Cleator (1963) que por meio de uma brin-
cadeira quebraram o famoso vaso de Portland12 no
Museu Britânico em 1845. Os peritos se debruçaram
sobre um desafio, de como reconstruir o vaso o mais
do próximo do que era antes, o arqueólogo no seu tra-
balho de campo encontra muitos “vasos quebrados”
no sentido figurado da palavra, tendo de produzir sín-
teses na questão estratigráfica, na determinação das
fases. Muitos pedacinhos desses vasos reconstruídos
ficarão perdidos e outros podem estar colados de for-
ma errada, mas o trabalho do arqueólogo torna-se se-
melhante ao de um detetive, sempre buscando novas
pistas e desconfiando das pistas que tem em mãos.
Dentro dessa perspectiva, a arqueologia está
dividida em vários segmentos que tem seu objeto de
estudo delimitado, não estudando somente as socie-
dades sem escrita. Existem várias outras disciplinas da
arqueologia, como a Arqueologia Bíblica que aborda
as questões relativas às religiões; a Arqueologia Clássi-
ca que aborda as civilizações da antiguidade, em espe-
cial, Grécia e Roma; a Arqueologia Histórica que estu-
da as sociedades que possuem a escrita e; Arqueologia
Pré-histórica que aborda as sociedades sem escrita.
Para Bahn e Refrew (1993, p.11),

12 1845 O vaso de Portland, vaso romano feito de vidro datado do século primeiro
a.C., foi partido por um visitante bêbado no Museu Britânico.

- 26 -
Um dos principais avanços das últimas décadas tem
sido a tomada de consciência que a arqueologia pode
contribuir em grande medida, não somente para a pré-
-história e a história antiga, mas também das etapas
históricas mais recentes.

Com a arqueologia podemos estudar tanto o pre-


sente quanto o passado, proporcionando uma maior
visão do objeto de estudo e sendo de grande valia em
situações de ausência das fontes escritas.
Trigger (2004) afirma que podemos conside-
rar o primeiro arqueólogo o italiano Aráico de Ancona
(1391-1452) por seus estudos em monumentos antigos
na Grécia e Mediterrâneo, mas não deixando de ressal-
tar segundo Laming-Emperarie (1973 b) a importância
de outros estudiosos, como, Michel de Mercati (1541-
1593) por ter estudado as pontas de flechas, cerâmicas
e instrumentos de pedra, sintetizado no seu livro Me-
thalloteca e Georgius Agrícola (1490-1555) que defen-
deu publicamente que certos instrumentos líticos, pro-
vavelmente teriam origem antrópica. Essa afirmação
também seria feita por Ulisse Aldovandi (1522-1605) e
Isaac de la Péyre (1594-1676) começando a questionar
as origens bíblicas desses instrumentos, atribuindo a
uma “raça pré-adamitas”13.
A arqueologia nasceu em meio à ciência Históri-
ca movida por um interesse na antiguidade clássica in-
fluenciado pelo movimento renascentista do século XIV
a XVI afirma Moberg (1968), marcando essa primeira
fase da arqueologia descrita acima, e especialmente a
Geologia, onde a arqueologia tomou emprestado o con-
ceito de estratigrafia14 que é utilizado até os dias atuais.
13 A raça pré-adamita, uma raça anterior a Adão e Eva.
14 Segundo Bahn e Refrew (1993) sobre o conceito de estratigrafia foi desen-
volvido por James Hutton na sua obra Teoria da Terra, estudando as formas de
organização das rochas em níveis e assim fornecendo um dos princípios que

- 27 -
Segundo Trigger (2004, p.36),
A apreciação da antiguidade clássica não ficou restrita
à literatura, expandindo-se rapidamente de modo a
incorporar os domínios da arte e da arquitetura, ob-
jeto de particular interesse da nobreza italiana e dos
mercadores ricos, que rivalizavam como patronos das
artes. O estilo gótico foi rejeitado e envidaram-se es-
forços no sentido de emular e arquitetura da Roma an-
tiga. Esta evolução pouco a pouco tornou também os
objetos materiais sobreviventes do passado, podiam
constituir importantes fontes de informações sobre a
civilização clássica.

Com o movimento Iluminista na segunda meta-


de do século XVIII, pautado numa ideia de progresso
da raça humana, inaugura-se uma perspectiva evolu-
cionista e questionadora das origens bíblicas que em
um futuro próximo seria apoiado pelos estudos feitos
por Charles Darwin (1809-1882).
Trigger (2004) afirma que George Louis Leclerc
Buffon (1707-1788) tentou buscar explicações de ori-
gens naturais acerca do mundo e sua antiguidade de
milhares de anos a milhões de anos, o geólogo George
Cuvier (1769-1832) encontrou ossos de animais extin-
tos em suas pesquisas na França e explanou uma anti-
guidade de 80 mil para o planeta Terra.
Bordes (1967) afirma que as pesquisas de Jac-
ques Boucher de Perthes (1788-1868) trouxeram em
evidência o “homem anti-diluviano”, um homem an-
terior ao dilúvio descrito na Bíblia. Foram encontrado
artefatos de sílex bifaces e ossos de animais extintos
em Abbeville, no Vale Somme, França e assim desenca-
deando uma série de questionamentos sobre os anti-
gos donos desses objetos. Em 1797, John Frere (1740-
1807) encontrou sílex talhado em Hoxne na Inglaterra,
são muito utilizados nas escavações arqueológicas, no caso, a estratigrafia.

- 28 -
atribuídos também ao homem antediluviano.
Em geral, acreditava-se que esses artefatos en-
contrados, como ossos, machados e pinturas fossem
feitos pelos povos vikings e celtas, no intuito de for-
necer uma explicação plausível e não questionando a
explicação bíblica com relação ao dilúvio. Charles Lyell
iria criticar essas ideias de catástrofes naturais e afir-
mar que as mudanças ocorreriam de forma gradual e
não bruscamente, fornecendo de certa forma um su-
porte para Charles Darwin fundamentar seus estudos
sobre a evolução humana.
Segundo Bordes (1967) a primeira revista de
sucesso sobre a Pré-História (Matériaux por l´histoire
positive et philosophique de l´homme) e a classificação
arqueológica dos artefatos da Idade da Pedra e do
Bronze foi criada por Gabriel de Mortillet (1821-1898)
em 1864. Seguidamente, Emile Cartailhac (1845-1921)
torna-se editor da revista de Mortillet, dedicando-se
aos estudos de arte rupestre, consagrando com seus
estudos sobre a Gruta de Altamira, na Espanha. Um
outro estudioso foi Edouard Larter (1801-1871) que
pesquisou o Paleolítico e dividiu em quatro idades com
nomes de animais: a primeira, do bisão; a segunda, da
rena; a terceira, do mamute e rinoceronte e a quarta,
dos ursos das cavernas, em ordem de antiguidade, res-
pectivamente.
Não deixando de evidenciar a importância de
outros pesquisadores e seus feitos, como Victor de
Commont (1866-1918) que realizou estudos acerca
das glaciações nos estágios do Paleolítico e Joseph
Déchelette (1861–1914) que publicou um manual de ar-
queologia que abordava desde do paleolítico à idade
dos metais em 1908.

- 29 -
Mas quem não se apaixonou pela história de
Heinrich Schliemann (1822-1890) que quando criança
ouviu a lenda da guerra de Tróia (Ilíada)? Posterior-
mente, quando se tornou adulto e arrecadou uma de-
terminada quantia foi em busca de sua cidade perdida
nos seus sonhos infantis. Encontrando-a em Hissarlik,
na Turquia e achando mais de 8 mil objetos de ouro15,
obtendo êxito na sua busca por Tróia. Um outro aven-
tureiro em busca de seus sonhos foi John Evans que
pesquisou os vestígios da civilização creto-micênica na
ilha de Creta, localizada no mar mediterrâneo (CLEA-
TOR, 1963).
Para Bahn e Renfrew (1993) os pais dos mé-
todos de escavação arqueológica seriam General Pit-
t-Rivers (1827-1900) que desenvolveu os métodos de
organização nas escavações (planilhas, descrições,
maquetes); Sir William Matthews Flinder de Petrie
(1853-1942) que criou o método de seriação contex-
tual através da cerâmicas em Dióspolis Parva, no Egi-
to; Sir Mortimer Wheeler (1890-1976) conhecido divi-
são do sitio arqueológico em quadrículas; Max Uhle
(1856-1944) com suas pesquisas no Peru e; Alfred Ki-
dder (1885-1963) que estudou a cultura Maia e depois
desenvolveu trabalhos de arqueologia subaquática.
Esses pesquisadores citados acima forneceram
a metodologia para o trabalho de campo arqueológi-
co, assim afastando a arqueologia do empirismo e do
amadorismo que antes rondavam o meio arqueológi-
co. Até mesmo, pessoas com problemas mentais fo-
ram utilizadas para os procedimentos de escavação no
século XIX e em parte do século XX.
15 Segundo Cleator (1963, p.105) “Lá se encontravam mais de 8.000 objetos
de ouro, ao todo, na maioria coisas de pequeno tamanho, tais como contas,
botões, etc., embora também houvesse certo número de braceletes (....)”.

- 30 -
Da mesma forma que arqueologia teve muitos
frutos ao se relacionar com geologia, geografia, histó-
ria e biologia, a aproximação da arqueologia com as
ciências da natureza trouxe muitos ganhos, em espe-
cial com a Física e a Química.
Com a descoberta do processo de datação do
rádio carbono16 pelo americano Willard Frank Libby
(1908-1980) em 1949, permitiu a arqueologia datar os
artefatos no intervalo de até 50 mil anos com segu-
rança, assim facilitando a construção de quadros cro-
nológicos e permitindo uma melhor organização da
pré-história, mas não abandonando o método compa-
rativo muito utilizado no século XIX.
Podemos considerar a datação por rádio carbo-
no, como uma revolução para época e sendo utilizado
até os dias atuais, mas tendo suas limitações, como os
tipos de materiais e condições dos sítios.
Segundo Trigger (1973, p.4),

A história e pré-história complementam-se, assim, mu-
tuamente e completam a crônica do desenvolvimento
humano. Diferem, todavia, quando aos tipos de fontes
utilizadas e quanto à modalidade de reconstrução vi-
sada. O historiador tem como dados básicos os relatos
de ideias ou do comportamento dos seres humanos; o
pré-historiador, no entanto, deve satisfazer-se com o
estudo dos restos materiais de culturas passadas que
resistiram aos agentes de decomposição e foram recu-
perados pelo arqueólogo. Para os períodos mais anti-
gos, somente as evidências arqueológicas são disponí-

16 Para Leinz e Amaral (2003, p.26-27) “Para a determinação da idade de acha-


dos arqueológicos de natureza orgânica é usado um isótopo radioativo de
carbono, de peso atômico 14. Este isótopo é formado pelo bombardeamento
de raios cósmicos no nitrogênio das camadas superiores da atmosfera. Este
é logo combinado com o oxigênio, e o CO2 resultante entra numa proporção
conhecidas nos tecidos nos tecidos vivos. Tendo o carbono 14 uma meia vida
de 5.568 anos, transformando-se novamente em nitrogênio, torna-se possível
a determinação da idade de achados orgânicos recentes, sob o ponto de vista
geológico. Sua exatidão declina rapidamente a partir de cerca de 20 mil anos”.

- 31 -
veis e o pré-historiador se concentra na elaboração de
tipologias de artefatos de pedra, relacionando-se com
as sequências geológicas e paleontológicas. Para os
períodos mais recentes tanto as evidências etnológi-
cas e linguísticas como lendas e relatos históricos po-
dem frequentemente ser utilizados como suplemento
aos dados arqueológicos.

Dentro dessa perspectiva podemos observar


que a Pré-história e História estariam intimamente li-
gadas, mas especialmente com relação ao seu objeto
de estudo, os seres humanos.
Os primeiros grupos humanos modernos (Homo
sapiens) surgiram no continente africano por volta 200
mil anos atrás, o grande diferencial desses espécimes,
junto com seu parente hominídeo (Homo erectus), era
produtor de bens de culturais, fabricantes de utensí-
lios para ajudar nas tarefas cotidianas de sobrevivên-
cia (produção de ferramentas líticas), como caçar,
coletar, construir habitações, controle reprodutivo,
pescar e lutar contra seus adversários, seja outros hu-
manos ou animais perigosos (KARLIN, JULIEN, 1996;
TAYLOR, 1997; GOWNLETT, 2004).
Esses grupos humanos migraram do continente
africano para outros continentes, como Ásia, Europa,
Oceania e América, povoando o planeta terra e se de-
senvolvendo culturalmente e biologicamente, foram se
adaptando ao ambiente e encontrando soluções para
contornar os principais problemas encontrados, sen-
do um sucesso adaptativo até os dias atuais (DARWIN,
1974; BERNARDI, 1978; LEWIN, 1999; NEVES, 2006).
Seu pacote adaptativo era uma série de conhe-
cimentos para produzir ferramentas para auxiliar nas
atividades diárias, a partir de uma tecnologia oriunda
das manufaturas de rochas, que foram aperfeiçoadas

- 32 -
com o passar do tempo e transmitidas de geração em
geração, uma memória coletiva através um sistema
de comunicação, constituído de uma linguagem17 inte-
ligível (um depósito cultural), como a construção de
símbolos e significados18 (EVANS-PRTICHARD, 1972;
CLARK, 1985; LEROI-GOURHAN, 2001; LANGANEY ET
AL, 2002).

17 “Na realidade, o que distingue verdadeiramente nossa espécie das demais é


nossa linguagem: nós somos capazes de combinar palavras segundo uma gra-
mática para construir frases, e estas adquirem, então, um sentido superior ao
que se obteria com a simples adição das palavras entre si. Somente o cérebro
humano é capaz de comunicar informações desse modo. Já se demonstrou
que os grandes macacos podiam aprender várias certezas de palavras, até
900, no caso de certos chimpanzés, mas eles não produzem espontaneamen-
te frases novas. (...) Há uma segunda característica, sem dúvida possibilitada
pela primeira: nossa capacidade de diversificar- nos. Na natureza, uma mesma
espécie animal ocupa sempre o mesmo tipo de ambiente, no qual eles adotam
uma mesma gama de comportamento. Assim, em todos os pontos do planeta,
todas as populações de uma mesma espécie ocupam o mesmo tipo de habitat,
vivem da mesma maneira (....)” (LANGANEY ET AL, 2002, p. 19; 21).
18 De acordo com White (2009, p.9) “O homem é um animal. Porém, não é
apenas mais um animal: Ele é único. Só o homem, entre todas as espécies, tem
uma capacidade a que, por falta de um termo melhor, chamaremos capacida-
de de simbolizar. Ela é a capacidade de originar, definir e atribuir significados,
de forma livre e arbitrária, a coisas e acontecimentos no mundo desses signi-
ficados.”.

- 33 -
- 34 -
CAPÍUTLO 2
EM BUSCA DAS ORIGENS DOS SERES
HUMANOS NO CONTINENTE AMERICANO:
AS PERSPECTIVAS BIBLÍCA E DOS POVOS
DA ANTIGUIDADE
Houve uma época na história do continente america-
no em que os povos indígenas eram os seus únicos
habitantes. Com a chegada do europeu, construiu-se
um mundo novo, de mistura e criação, de segregação
e destruição. Do amálgama resultante deste encon-
tro constitui-se o povo brasileiro. Nesse processo, os
povos indígenas tiveram um papel fundamental, que
pouco a pouco foi sendo apagado da memória, à me-
dida que grande parte deles era destruída.
(Ricardo Medeiros)

O povoamento do continente americano pelos


seres humanos constitui um assunto que gera muitas
controvérsias no meio acadêmico, os pesquisadores
não dispõem de informações conclusivas acerca de
qual seria o primeiro ponto que os seres humanos
adentraram no continente, provavelmente, oriundos
de outras partes do mundo, podemos constatar isso
devido à ausência de grandes primatas fósseis e ho-
mens pré-sapiens (Homo erectus, Homo habilis e ou-
tros).
Segundo Rivet (1960, p.64),
O homem americano não é autóctone. Vindo do Quar-
tenário, depois do retrocesso das grandes glaciações,
e só pôde chegar a ele utilizando vias de acesso iguais
às existentes hoje, posto que a América possui, desde
essa é época remota, os seus contornos atuais.

- 35 -
Ao realizarmos uma pequena revisão na litera-
tura sobre as origens dos seres humanos no continen-
te americano, desde do período do descobrimento até
os dias atuais, podemos dividi-las em três categorias: a
primeira, a perspectiva bíblica; a segunda, a perspecti-
va dos povos da antiguidade; a terceira, a perspectiva
acadêmica.

2.1 UMA PERSPECTIVA BIBLÍCA SOBRE O POVOA-


MENTO DO CONTINENTE AMERICANO
A perspectiva bíblica do povoamento do
continente americano estaria baseado na possibilidade
dos dois filhos de Jectão (Ophis e Jobal) que seriam
filhos de Sem, descendentes de Noé19 tais quais des-
cendentes teriam se espalhados pelo mundo.
Segundo a Bíblia Cristã (1989, p.56-57),

(...) os filhos de Sem, segundo suas famílias, segundo


suas línguas, em seus diversos países e suas nações.
Tais são as famílias dos filhos de Noé, segundo suas
gerações e suas nações. É deles que descendem as na-
ções que se espalharam sobre a terra depois do dilúvio
(GENESIS, Cap.10, V.31).

19 Com relação a Noé, nos referimos as passagens bíblicas relativas ao Dilú-


vio no livro 6 ao 10 do Gênesis, mas, possuindo uma versão diferente, Cleator
(1963, p.82) afirma que “(...) a narrativa do Gênese, a respeito do Dilúvio, não
é mais do que um eco de uma tradição babilônia de longos e longos anos.” E
segundo Pinkys (1998, p.82-83) “O dilúvio sumério fala de Ziusudra construin-
do um enorme barco, da inundação varrendo as cidades, de tempestade de
vento, do barco jogado em todas as direções, da luz finalmente aparecendo
no céu, do sacrifício que faz Ziusudra e da reconstrução do mundo. (...) O mito
é mesopotâmico e foi apropriado pelos hebreus, para os quais o importante
não era história, mas a moral da história. Nem teria muito sentido um mito
sobre o dilúvio desenvolver-se numa região onde as chuvas são limitadas (400
mm anuais são excepcionais na região), os rios insignificantes (o Jordão qua-
se pode ser atravessado por um bom saltador, em certos trechos) e não há
degelo de montanhas nevadas. Já na Mesopotâmia os rios pregavam constan-
tes sustos, ora mansos, ora violentos, em vista do degelo em sua origem, nas
montanhas da Armênia. Até os deuses nos dão conta da instabilidade dos rios
e do temor que os habitantes tinham de sua variação”.

- 36 -
Desde que iniciou o processo de colonização do
continente americano pelos europeus e a implantação
da instituição Igreja da Católica Apostólica Romana
no final do século XV e XVI no continente americano,
percebemos uma necessidade de construção de uma
identidade para aqueles povos chamamos de índios.
Esses novos habitantes eram completamente
diferentes dos que europeus estavam acostumados,
constatamos isso na narrativa da Carta Pero Vaz de Ca-
minha ao Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil
sob o comando da expedição de Pedro Álvares Cabral
em 1500, no qual afirma Caminha (2003, p.93-113),

(...) eram todos pardos, todos nus, sem coisa alguma


que lhe cobrisse suas vergonhas (...), os cabelos seus
são corredios (...). Parece-me gente de tal inocência
que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam
logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm
nem entendem nenhuma crença.

E sempre enfatizando a sua inocência desses no-


vos habitantes. Podemos observar o caso espanhol,
em especial o contato de Cristóvão Colombo ao depa-
rar-se com esses habitantes e pensando na possibilida-
de de ter alcançado seu objetivo de chegar às Índias
Orientais através do oceano Atlântico e suas ações
frente essa nova descoberta.
Segundo Todorov (1999, p.31),

O primeiro gesto de Colombo em contato com as ter-


ras recentemente descobertas (consequentemente,
América) é uma espécie de ato de nomeação de gran-
de alcance: é uma declaração segundo o qual as terra
passam a fazer parte do reino da Espanha. Colombo
desce a terra numa barca decorada com estandarte
real, acompanhado por dois seus capitães, e pelo es-
crivão real, munido de seu tinteiro. Sob os olhares dos

- 37 -
índios, provavelmente perplexos, e sem se preocupar
com eles, Colombo faz redigir um ato. ‘Eles lhes pediu
que dessem fé e testemunhou de que ele, diante de
todos tomava posse da dita ilha’.(...) Que este tenha
sido o primeiro ato de Colombo na América nos diz
bastante da importância que tinham para ele as ceri-
mônias de nomeação.

Essa perspectiva dos europeus em procurar
elementos cristãos dos habitantes do Novo Mundo,
foi um âmago de desconhecimento dos europeus, que
gerou um genocídio em um primeiro momento, como,
a conquista do Império Asteca por Cortes e do Império
Inca por Francisco Pizarro, em segundo momento, a
tentativa de explicação por parte da Igreja Católica.
Para Laming-Emperaire (1980, p.29-31),
Para as ciências humanas, a descoberta do Novo Mun-
do representou sobretudo das visões todas novas das
civilizações indiferente com selvagem das América,
era como o mundo dos primitivos. O interior da África,
praticamente inacessível, permanece desconhecido da
Idade Média. Até o momento da descoberta do Novo
Mundo, os cristãos não realmente o Islã, por intermé-
dio das Cruzadas e dos comerciantes, e em menor me-
dida, os vilarejos da Ásia visitados por Marco Pólo e os
enviados de Inocente III. O Islã, Ásia dos Kahns e os
chineses são tecnicamente e culturalmente mais pró-
ximos das civilizações cristãos medievais. O selvagem
da América ao contrário, esta é a revelação de um ho-
mem que nada parecido com vilas mediterrâneas e eu-
roásiticas. Sua maneira de viver, seus costumes, suas
armas ou ferramentas são citadas pelos pensadores e
seu conhecimento preparou uma melhor compreen-
são dos nossos ancestrais da pré-história.20

Em 1537, o papa Paulo III editou a Bula Veritas


Ipsa na tentativa de resolver essa questão da nature-
za dos índios americanos, concedendo-os a natureza
20 Tradução do autor.

- 38 -
humana. Outra tentativa de buscar as origens bíblicas
foi associar os habitantes do Novo Mundo com as Tri-
bos Perdidas de Israel21 e assim mantendo uma origem
bíblica desses povos. Paul Rivet (1960) cita outro mito
hebraico, na possibilidade dos cananeus expulsos por
Josué da Palestina terem empreendido uma marcha
para oeste em direção a África, cruzando o oceano
Atlântico e chegando no continente americano.
Segundo Cleator (1963, p.178),

Os esperançosos proponentes de uma teoria rival têm


favorecido a ideia da existência de uma rota terrestre
(como boas razões, como se verá, e encarado os ame-
ríndios como descendentes das Tribos Perdidas, de
que nota falta desde o tempo do cativeiro babilônico.
No século dezenove, já bastante como se percebe,
muito tempo, muita energia e muito dinheiro foram
despendidos pelo Lorde Kingsborough e outros, em
decisivo esforço destinado a provar que os dez con-
tingentes hebreus desaparecidos abriram caminho em
direção às Américas, tratando, daí por diante, de po-
voar o inteiro continente. O valor desta tese singular
pode ser mais bem julgado, talvez, se tomar por base
a explicação oferecida para desfazer o fato inconve-
niente de que muitas línguas diferentes eram faladas
pelo povos do Novo Mundo, sem que nenhuma delas
fosse hebraica. A explicação implicava na dubiedade
de maquinações satânicas, visando a impossibilitar
uma subsequente conversão dos imigrantes à fé cris-
tã.22

21 Segundo Franch (1985, p. 51), acerca das dez tribos de Israel “(...) foram
expulsas da Samaria pelo o rei da Assíria em 721 a. de Cristo, tiveram que viver
entre morar entre as tribos de Judá, Benjamin e a metade da tribo de Me-
naseh, passaram a um país desabitado e chegaram finalmente, depois de um
ano e meio de deslocamento contínuos, a fabulosa Arsareth, terra distante da
Palestina que para muitos seria América e, em concreto, a região de Centro-
-américa”. Tradução nossa.
22 Tradução do autor.

- 39 -
2.2 UMA PERSPECTIVA DOS POVOS DA ANTIGUI-
DADE SOBRE O POVOAMENTO DO CONTINENTE
AMERICANO
Essa perspectiva acerca do povoamento do con-
tinente americano busca os elementos que validem
vestígios da presença das civilizações antigas, no intui-
to de evidenciar uma explicação para o povoamento
do continente americano. Esse discurso fundamenta-
-se em vários tipos de fontes, como bíblica a lendas da
antiguidade.
Inicialmente, podemos abordar duas origens
lendárias, a primeira, diz respeito à possibilidade da
existência de um continente chamado Atlântida entre
Europa e América, que em um determinado período
foi submerso pelo oceano Atlântico, obrigando seus
habitantes a migrarem e desembarcando no continen-
te americano. Esse discurso tem por fundamento bá-
sico informações recolhidas por Platão e expostas no
diálogo Timeu e Critias ou a Atlântida.
A segunda lenda, segundo Laming-Emperaire
(1980) seria a do continente perdido de Mu ou Lé-
murie23, estaria localizado entre o continente asiático
e americano, mais especificamente, inserido no ocea-
no Pacifico e sendo submerso pelo mesmo, obrigando
seus habitantes a migrarem para o continente ameri-
cano. Tendo como principal pesquisador, o zoólogo
alemão Ernest Heinrich Philipp August Haeckel (1834-
1917) e posteriormente, suas ideais foram retomadas
pelo o inglês James Churchward (1851-1936), na déca-
da de 30 do século XX (ver figura 1).

23 Segundo Franch (1985, p.73) “(...) abreviatura de Lemuria, foi uma invenção
de Ernest (...) quem precisava que existirá um continente, atualmente desa-
parecido, para explicar a peculiar existência dos lemurídeos e outro animais e
plantas.” Tradução nossa.

- 40 -
Figura 1. Mapa do imaginário continente de Mu ou Lemuria.
Fonte: FRANCH, 1985, p.74

Dentro de todas as civilizações da antiguidade


a que possui mais menções acerca de elementos de
sua cultura fenícia, encontramos apontamentos que
variam desde fontes bíblicas até prováveis presenças
físicas. Os fenícios se caracterizaram pela sua habili-
dade de navegação nos mares, Harden (1971) afirma
que existiria a possibilidade dos fenícios terem alcan-
çados as ilhas Canárias, Açores e Madeira, caso obser-
vamos, percebemos a navegação próxima a costa dos
continentes, segundo o mesmo, chegando até o mar
Vermelho, demonstrando assim sua perícia na arte da
navegação (ver figura 2).
Dentro desse quadro exposto acima se eviden-
ciou a impossibilidade dos contatos dos fenícios terem
alcançado o continente americano, mas inserindo no
contexto piauiense encontramos fontes bibliográficas
que afirmam na possibilidade de vestígios fenícios no
Piauí. O professor austríaco Ludwig Schwennhagen
nas primeiras décadas do século XX, sintetizou bem
esse pensamento.

- 41 -
Figura 2. Mapa das navegações dos fenícios no litoral africano.
Fonte: HARDEN, 1971, p.176-177.

Para Schwennhagen (1986, p.28-29),

As navegações dos Fenícios começaram 2500 a.C, mas


limitaram durante muitos séculos, ao mar Mediterrâ-
neo. (...) Em 1100 a.C. chegou a primeira frota dos Fe-
nícios às costas do Nordeste do Brasil, e em 1008 a.C.
entrou o rei Hirã de Tiro numa aliança numa aliança
com o rei Davi da Judéia, para explorarem comumen-
te a Amazônia Brasileira. (...) As frotas dos Fenícios,
navegando nas costas brasileiras desde 1100 a.C, esta-
beleceram aqui numerosas estações marítimas, onde
os navios podiam abastecer-se de víveres e água doce.
Foram lugares protegidos contra as violências do mar
e escolhidos em terrenos onde moravam habitantes
pacíficos. A longa prática daqueles navegantes tor-
nou essa tarefa relativamente fácil. O autor encontrou
vestígios de tais estações em muitos pontos do litoral,

- 42 -
desde Bahia até o Pará, que serão descritas nas partes
de seus estudos sobre os respectivos Estados. O Piauí
somente um curto trecho do litoral do Nordeste; mas
os pontos pré-históricos que existem aqui são muito
interessantes e instrutivos. O delta do rio Parnaíba
chamou logo atenção dos peritos marinheiros. A água
dum rio de curso curto, que enche com a maré e seca
com vazante, tem aparência muito diferente dum rio,
proveniente do centro do continente. Os navegantes,
que conheciam o delta do Nilo, compreenderam bem
que os braços da foz do Parnaíba pertenceriam a um
rio importante, que daria acesso a o interior do país.
Na costa de fora da ‘Ilha Grande de Santa Isabel’, onde
se estende a praia quase 30 quilômetros, sem colinas
ou alturas, existem dois rochedos isolados, que po-
diam bem servir de balizar para navegação costeira.

O que sintetiza melhor essa possibilidade da
presença fenícia seria a mística que gira em torno de
“Sete Cidades”24 localizada no município de Brasileira,
no Piauí, onde segundo Coutinho (2000) 25seria utiliza-
da para organizar reuniões entres os fenícios e tupis.
Segundo Costa (1980, p.97-98),

(...) do interior do Piauí, colocada às vizinhanças da


vila de Piracuruca, ao norte do Estado, e chamada pelo
povo ‘Sete Cidades’, nome de uma ilha misteriosa do
Atlântico pré-colombiano. Descreve-se essa pseudo-
-cidade como compreendida num recinto fortificado
de mais de légua de circuito, encerrando sete praças,
diversos arruados, grandes paredes e pilastrões arrui-
nados, figura de pedra semelhantes a esfinges. (...)
Assim, o que se evidencia da explanação do brilhante
homem de letras é que as ‘Sete Cidades’ são cidades,
24 Para Martin (1996, p.17) “O mito das sete cidades, também relacionado
com a ilha Brasil, surgiu na própria Península Ibérica. No século VII, um bispo
católico, fugindo da invasão sarracena – que em algumas versões é o próprio
rei D.Rodrigo, último da dinastia visigoda derrotada pelos árabes – embarcara
em Lisboa rumo ao oeste chegando a um país desconhecido, uma ilha, onde
fundara sete cidades”.
25 Acerca de suas pesquisas o próprio Coutinho afirma “Meu trabalho não
está preso ao tradicionalismo científico” em entrevista a Loureiro (2004, p.62),
na sua obra “Pré-história :as origens do homem no Piauí”.

- 43 -
apenas, na lenda. A ciência, avançando mais, explica
que as supostas ruínas não são mais que o produto de
erosão das rochas de quartzito assumindo em mais de
um ponto aspectos bizarros e pitorescos.

É muito complexo fazermos inferências da


presença desses povos da antiguidade no continente
americano, sem uma fundamentação sólida pode-se
cair em descrédito acadêmico. Martin (1996) afirma
dessa impossibilidade da presença fenícia no Piauí e
adjetivando Ludwig Schwennhagen de “semi-louco”,
mas não deixando de ressaltar a importância de co-
nhecermos esses mitos e lendas, para sabermos um
pouco mais da História da América.
Para Moberg (1968, p.27),

(...) a imagem arqueológica do passado é conflituosa


com o Antigo Testamento, por exemplo. Acontece
igualmente não ser a representação do passado con-
siderada suficientemente respeitável ou dramática. As
Américas e o Pacífico são as terras de eleição das ilu-
sões pré-arqueológicas contemporâneas e, em certos
meios sociais, existe uma verdadeira selva de noções
fantásticas, difundidas por uma abundante literatura
(o mesmo acontece em todos os países europeus).
Conta-se então como as grandes civilizações do Mun-
do Antigo teriam atingindo o Novo Mundo graças a
migrações ou explorações aventurosas. Descobrem-
-se faraós egípcios misturados com tribos perdidas de
Israel ou contingentes desaparecidos do exército de
Alexandre (...) A mesma corrente do pensamento per-
tence também o mito dos continentes desaparecidos

- 44 -
CAPÍTULO 3
EM BUSCA DAS ORIGENS DOS SERES
HUMANOS NO CONTINENTE AMERICANO:
UMA PERSPECTIVA CIENTÍFICA

Esta perspectiva está baseado pela sua funda-


mentação em dados fatuais; especificamente, a cul-
tura material encontrada nos sítios arqueológicos do
continente americano pelos pesquisadores, no perío-
do histórico do final do século XIX ao século XX.
Segundo Dorado e Lorenzo (1994, p.21),
A Gênesis do homem americano constitui unos dos
temas mais atrativos e sugestivos da investigação
pré-histórica. Objeto de múltiplos estudos, ainda per-
manecendo numerosas incógnitas por desvendar. A
escassez de restos fósseis exumados no continente
americano e a dificuldade na hora de datá-los impede
responder satisfatoriamente as perguntas relativas a
sua procedência e antiguidade.

Excetuando, o paleontólogo argentino Florenti-


no Ameghino (1854-1911) que defendeu a possibilida-
de dos seres humanos terem evoluído nos pampas ar-
gentino, baseado em estudo de fósseis, passando do
estágio do Tetraprothomo, Triprothomo, Diprothomo
e chegando ao estágio dos seres humanos atual, no
caso de Ameghino, Homonuculus patagonicus26.
As quatros perspectiva do povoamento do con-
tinente americano pelos são descritas de forma resu-
mida abaixo:
26 Acerca disso Fonseca faz paráfrase do arqueólogo português Correa Men-
des “E, adiante, acrescenta Mendes Correa (1926; 164-165) ‘Se é certo que
Homo pampeus e outros dos supostos tipos humanos ou pré-humanos estabe-
lecidos por Ameghino , não passam do domínio da fantasia e dum sábio aliás
ilustre por muito trabalho (...)” (FILHO,1970, p.13).

- 45 -
1) Migração pelo estreito de Bering: os primei-
ros grupos humanos27 teriam migrado do continente
asiático para o continente americano pelo estreito de
Bering por volta de 30 a 10 mil anos atrás. Foi postu-
lada academicamente pelo antropólogo tcheco Ales
Hrdlicka, no início do século XX.
2) Migração marítima pelo oceano pacífico: essa
tese postula que os grupos humanos teriam chegado
ao continente americano por navegação de cabota-
gem28. Foi proposta pelo etnólogo francês Paul Rivet,
no artigo Les Malayos-Polineses em Amérique, de 1926,
e no seu livro As origens do homem americano, de 1943
(RIVET, 1960).
3) Migração via Antártida: esta hipótese foi
formulada pelo antropólogo português A.A. Mendes
Corrêa (1926), que postula a possibilidade de grupos
humanos terem migrado da Austrália e Nova Zelândia
para o sul do continente americano, utilizando a Antár-
tida como ponte de passagem.
4) Migração Atlântica: essa hipótese é funda-
mentada nas pesquisas de Rivet (1960) e foi defendida
por Guidon na Segunda conferência sobre o povoa-
mento das Américas, no ano de 2006. Dessa forma,
explicando a possibilidade de grupos humanos terem
27 Esses primeiros grupos caçadores-coletores ficaram conhecidos como po-
vos de Clóvis na década de 1930, devido à sua indústria de pontas líticas. As
pontas de Clóvis foram encontradas por John L. Cotter no sítio Blackwater
Draw, na localidade de Clóvis, Novo México, EUA.
28 De acordo com Rivet (1960, p.141), “Conhecendo perfeitamente as cor-
rentes e os ventos, sabendo guiar-se pelas estrelas, viajavam sós, de noite, e
percorriam normalmente e sem escala, distâncias de 2.000 e às vezes 2.500 e
até 4.200 milhas. Para encontrar na imensidade do oceano as pequenas ilhas
polinésicas, tomavam como ponto de referência a pequena nuvem que sobre
elas se forma a 3.600 metros de altura e que um olhar experimentado percebe
a 120 milhas de distância. Suas pirogas duplas faziam 7 a 8 milhas por hora, o
que significava cerca de 75 milhas, numa jornada de 10 a 12 horas. Um desses
barcos, por conseguinte, podia franquear a distância que separa o Havaí da
costa californiana ou ilha de Páscoa, da costa sul-americana, em 20 dias”.

- 46 -
migrado por navegação de cabotagem do continente
africano para o americano em um período anterior à
migração via Bering, os fósseis de Zuzu29 e Luzia30, que
apresentam morfologias africanas, seriam fortes argu-
mentos na sustentação dessa hipótese.
A periodização mais aceita acerca da ocupação
dos grupos humanos foi elaborada pelos arqueólogos
Gordon Willey e Phillip Phillips no seu livro Método e
Teoria na Arqueologia Americana de 1958. Sua propos-
ta original visava o estudo da criação de uma base ope-
racional para integração histórico-cultural, unindo a
perspectiva espacial e cronológica do registro arqueo-
lógico. Sua perspectiva de estudo para abordagem do
desenvolvimento da arqueologia americana ser seg-
mentada nos seguintes estágios (WILLEY, PHILLIPS,
1970):
1º) Estágio Lítico, caracterizado por uma indús-
tria lítica não muito elaborada oriunda os primeiros
habitantes do continente americano por volta de 20
mil anos atrás;
2º) Estágio Arcaico, caracterizado por uma tran-
sição entre o estágio lítico e formativo, marcado por
uma indústria lítica mais elaborada e a primeira evidên-
cia de atividade agrícola no continente americano;
3º) Estágio Formativo, marcado pelo desenvolvi-
mento da agricultura, produção de cerâmica e o cres-
cimento de pequenos grupos populacionais;
4º) Estágio Clássico, desenvolvimento das altas
culturas como a maia, com um grande crescimento ur-
29 ZUZU: crânio com morfologia africana encontrado no Sítio arqueológico
Toca dos Coqueiros, Parque Nacional Serra da Capivara, com uma datação es-
timada de 9870+-50 BP (HUBBE et all, 2007)
30 LUZIA: crânio com morfologia africana encontrada no Sítio arqueológico
Lapa Vermelha IV, região de Lagoa Santa, Minas Gerais, com uma datação
aproximada de 11,5 mil anos atrás.

- 47 -
bano e formação de estados teocráticos e militaristas;
5º) Estágio Pós-clássico, marcado pelo desen-
volvimento das culturas Astecas e Incas com grandes
construções arquitetônicas.
O arqueólogo André Prous (1992) esquematizou
a cronologia da ocupações dos grupos humanos no
Brasil nos seguintes segmentos: 1º) Pleistoceno ante-
rior a 12 mil anos B.P., quando os primeiros grupos de
caçadores e coletores chegaram ao território brasilei-
ro, com uma tecnologia lítica, sem produzir cerâmica
ou conhecer a agricultura; 2º) O período arcaico entre
11 a 8 mil anos B.P., grupos caçadores e coletores que
se estabelecem, processo de sedentarismo, dotado de
uma tecnologia de pontas de projéteis de rocha, surgi-
mento da arte rupestre e surgimento da cerâmica em
alguns pontos do Brasil; 3º) Arcaico recente de 4 a 1 mil
anos B.P., surgimento da agricultura, surgimento das
comunidades humanos, princípio de organização, di-
fusão da cerâmica, tecnologia lítica aprimorada e arte
rupestre. 4º) sociedades indígenas pré-cabralianas 1
mil anos B.P. até 1.500 d.C. os grupos indígenas conhe-
cidos pelos colonizadores portuguesas na época do
descobrimento.
3.1 UMA PERSPECTIVA SOBRE O POVOAMENTO
PELO NORTE DO CONTINENTE AMERICANO
A primeira perspectiva cientifica do povoamen-
to do continente americano foi elaborada pelo antro-
pólogo theco Ales Hrdlicka (1869-1943), que desen-
volveu trabalhos no trabalhos no Museu Nacional do
Estados Unidos desde de 1903, pondo em xeque as
teses de Ameghino no Congresso Internacional Ame-
ricanistas31, em 1910 e assim buscando um novo apon-
31 Os Congressos Americanistas são reuniões bienais onde os principais pes-

- 48 -
tamento para o povoamento do continente americano
(TRIGGER, 2004).
Ales Hrdlicka32 foi o precursor do discurso cien-
tífico do povoamento do continente americano pelo
norte, em especial, no sentido de derrubar as teses de
Ameghino, através de seus estudos antropológicos e
assim buscando as origens dos índios ameríndios33.
Lavellé (1995) afirma que os estudos de Hrdlicka
estavam baseados nos traços físicos – pele , cabelo,
pilosidade e craniometria – no intuito de demonstrar
que os índios americanos fariam parte de um único
grupo mongoloide e sendo vindo de um ponto co-
mum, da Ásia, passando pelo estreito de Bering, em
um período do Holocênico. Portanto, a teoria de Ales
Hrdlicka ganhou grande reputação no meio acadêmi-
co e tornou-se um paradigma importante para o de-
senvolvimento das pesquisas arqueológicas no conti-
nente americano. Laming-Emperaire (1976) afirma que
a aceitação das ideias de Hrdlicka pela comunidade
cientifica, tornou-se um dos caminhos para o estudo
do povoamento da América.

quisadores da pré-história americana reúnem-se para discutir os problemas de


povoamento, culturas indígenas e outros assuntos de relevância para o conti-
nente americano.
32 Essa decisão de considerar Ales Hrdlicka baseado nos seus estudos antro-
pológicos, inicialmente, o primeiro a mencionar essa possibilidade, segundo
Trigger (2004, p.67) afirma que José Acosta em 1589 “[...] em sua História na-
tural y moral de las Índias [História natural e moral da Índias], de que os indí-
genas tinham cruzado o estreito de Bering como caçadores errantes oriundos
da Sibéria (Pagden, 1982:193-7). Embora Acosta acreditasse que os indígenas
tinham perdido todo o conhecimento da vida sedentária no curso de suas mi-
grações, proto-evolucionistas posteriores viram na América a demonstração
de como tinha sido a infância de toda a humanidade.”
33 Segundo o Dicionário Aurélio (2001, p.38) acerca do significado de Ame-
ríndio “[De amer(i)- + índio; t. sugerido pelo Dr. Charles Scott ao geólogo e
etnólogo norte-americano John Wesley Powell (1834-1902), e empregado para
distinguir o índio americano do índio asiático.]
Bras. S. m. 1. O indígena americano”.

- 49 -
Ruiz (1953) afirma que Ales Hrdlicka acredita
nessa unidade mongoloide dos seres humanos ame-
ricanos. Propondo quatros “momentos migratórios”,
o primeiro momento migratório, esses migrantes, um
povoamento mais antigo, com indivíduos que possui-
riam crânios dolicocéfalos34 que teriam originado as
tribos iroqueses, astecas e algumas outras; o segun-
do momento migratório, por indivíduos de crânio bra-
quicéfalo35 que teriam chegado até o continente sul
americano; terceiro momento e quarto momento, por
migrantes que dariam origem aos esquimós que esta-
beleceriam no extremo norte do continente america-
no.
Dentro dessa perspectiva procurou-se outros
elementos que pudessem fornecer uma confirmação
da presença dos seres humanos no continente ame-
ricano, devido na época não existir uma técnica de
datação absoluta (carbono 14) até final da década de
40 e início do século XX, dificultando de construção de
quadros cronológicos seguros.
Um outro fator as pontas de Clóvis36, afirma Mac-
Neish (1996, p.187) “Na década de 30, Clóvis foi utiliza-
do como um marco da presença humana nas Américas
(...)” e as pontas de Folsom na década de 20, no Novo
México (EUA). Laming-Emperaire (1973 a) considera a
indústria de pedras lascadas com características gros-
seiras (choppers), logo, como sendo referências para
caracterizar esses povos “caçadores-coletores”. Com
34 Segundo o dicionário Aurélio (2001) “1.Diz-se do, ou o tipo humano cujo
crânio é oval, sendo o diâmetro ransversal menor, em um quarto, do que o
longitudinal”.
35 Segundo o dicionário Aurélio (2001, 1. Diz-se de, ou indivíduo cujo crânio,
observado de cima, apresenta a forma de um ovo, porém mais curto e arre-
dondado posteriormente.
36 As pontas de Clóvis foram encontradas por John L. Cotter, no sítio Bl-
cakwater Draw, na localidade de Clóvis, Novo México, EUA.

- 50 -
a utilização da técnica de datação do carbono 14, co-
meçou-se a construir quadros cronológicos mais pre-
cisos para o continente americano e assim correlacio-
nando os dados entre si.
Segundo Roosevelt (1999, p.36-37),

As culturas paleoíndias setentrionais parecem entre


11.200 a 10.900 e terminado no começo do Holoceno,
por volta de 8.500 anos atrás. A cultura mais antiga
dos sítios de matança, a cultura Clóvis, foi datada pela
escavação de dez sítios onde foram obtidas datações
radiocarbônicas entre 11.200 e 10.900 anos. A outra
cultura da América do Norte bem caracterizada é Fol-
som, resultante de escavação de mais de 20 sítios com
datações principalmente entre 10.900 e 10.200.(...)
Os paleoíndios têm sido considerados, com base na
natureza das culturas Clóvis e Folsom, caçadores es-
pecializados em animais de grande porte, altamente
adaptados a ambientes terrestres abertos, de clima
temperado das Américas, ambiente que tem servido
de foco de pesquisas.

Atualmente, Martin (1996) afirma que essa cor-


rente que situa o povoamento das Américas entre 10 a
12 mil anos atrás, defendida por grupos mais conserva-
dores da arqueologia americana, em especial o Bureau
American Ethnology, da Smithosian Institution of Amé-
rica (onde Hrdlicka foi diretor), seguindo muito dessa
das ideais de Hrdlicka, sendo principais pesquisadores,
Thomas Lynch, Dena Dinacauze e Betty Meggers em
um momento de sua carreira acadêmica e interessan-
te por ter tido grande influência para arqueologia bra-
sileira (ver figura 3).
Em um primeiro momento de sua carreira, a an-
tropóloga Betty Meggers (1987, p.23-24) acerca do po-
voamento das Américas afirma,

- 51 -
Existem provas que homem teria penetrado no hemis-
fério por volta de 9.000 a.c. As discordâncias surgem
das informações esporádicas inconclusivas, da presen-
ça do homem no Novo Mundo entre 40.000 e 12.000
anos. (...) o homem entrou no Novo Mundo enquanto
estava ainda subsistindo à base de plantas e animais
selvagens. É tido como certo que ele entrou a pé, pro-
vavelmente numa época em que a água do mar, retida
nos glaciares, deixava uma conexão terrestre entre a
Sibéria e o Alasca.

Para Meltzer (1996, p.243),

Graças às descobertas, que se iniciaram na década


de 20, sabemos que os paleo-índios ocuparam este
Continente 11.500 anos atrás, e que eles tinham um
conjunto de utensílios característicos na América do
Norte, marcado pelas pontas caneladas de Clovis e,
na América do Sul, por uma variedade de bifaciais, pe-
dunculados e não canelados, e uma série de utensílios
unifaciais sobre seixos. As ocupações dos páleo-índios
são virtualmente sincrônicas em todo o hemisfério e,
se eles foram os primeiros americanos, conseguiram
colonizar o Novo Mundo em apenas algumas centenas
de anos.

Figura 3. Mapa do povoamento do continente americano pelo


norte. Fonte: DIAMOND, 2001, p.37.

- 52 -
Com a intensificação das pesquisas arqueológi-
cas e descobrimentos novos achados com datações
mais recuadas, nas décadas de 50 a 70 do século XX,
a comunidade científica começou a aceitar o início de
povoamento por volta de 30 mil anos atrás, mesmo as-
sim com muita reticência.
No Brasil durante o período de 1965-71 desenvol-
veu-se através de uma parceria entre o governo bra-
sileiro e norte-americano, o PRONAPA. Coordenados
pelo Smithisonian Institution e o secretária do Patrimô-
nio Histórico e Artístico, visando construir um quadro
cronológico para arqueologia brasileira. Sob a direção
de Betty Meggers e Clifford Evans que treinaram uma
geração de arqueólogos e suas influências são presen-
tes até os dias atuais.
Segundo Martin (1996, p.74),

O esforço que significou o Programa Nacional de Pes-


quisas Arqueológicas (PRONAPA) para se conseguir, a
curto prazo (1965-70), uma visão panorâmica da pré-
-história do Brasil, proporcionou considerável quan-
tidade de informações – seus autores falam de mais
1.500 sítios cadastrados – mas, como não poderia dei-
xar de ser, no curto espaço de tempo de cinco anos,
para um projeto que enquadrava todo o Brasil, os
resultados foram apenas informações fragmentárias
sem que, ao final do programa, se formulasse alguma
base teórica conclusões ou na apresentação dos re-
latórios nota-se, por parte dos seus coordenadores,
preocupação para que se estabelecessem as bases
teóricas da nova arqueologia brasileira, que deveriam
surgir como encerramento natural do programa. Per-
deu-se, assim, a grande oportunidade de se formular
no Brasil os enunciados teóricos para o desenvolvi-
mento de uma pré-história brasileira que entendesse
o homem da tropicalidade e do sem-árido.(...) A meto-
dologia aplicada pelo PRONAPA, brevemente exposta
por C.Evans no primeiro volume dos relatórios, esta-
belecia prospecções em grandes áreas e sondagens

- 53 -
de no máximo dois por dois metros, com níveis artifi-
ciais de dez centímetros.

Figura 4. Mapa das pesquisa arqueológicas no Brasil.


Fonte: Prous, 1992, p.15.

Nesse sentido, Gaspar (2004) afirma que os es-


tudos do PRONAPA focalizaram-se especialmente em
cerâmica, partindo do pressuposto inicial que o po-
voamento do Brasil seria inferior ao paradigma Clóvis
e assim não aprofundando os estudos nos locais pes-
quisados (ver figura 4).
A própria arqueologia passou por uma série de
transformações denominadas de “Nova Arqueolo-
gia”, segundo Trigger (2004), ao afirmar que a publi-
cação do artigo “Nova Arqueologia” na revista Science

- 54 -
de Joseph Caldwell em 1959, objetivava delinear os
rumos da arqueologia norte-americana, no sentido
de enfatizar a importância do meio ambiente e os pa-
drões de ocupações. Durante a década posterior, esse
movimento de renovação da arqueologia americana,
ganhou força na figura de Lewis Binford que publicou
dois artigos; “Arqueologia como antropologia” em
1962 e “A sistemática arqueologia e o estudo dos pro-
cessos culturais” em 1965.
Segundo Trigger (2004, p.288-289),
Aí ele identificava o objeto da arqueologia como sen-
do o mesmo tradicionalmente consignado à antro-
pologia: explicar o amplo espectro de semelhanças e
diferenças no comportamento cultural. Também afir-
mou que os dados arqueológicos são particularmente
úteis para o estudo para o estudo de mudanças ocor-
ridas na longa duração. Essas teses foram por ele con-
cebidas em forma de generalizações sobre a mudança
sistemática e evolução cultural.

Dentro dessa visão, o principal papel da ar-


queologia seria explicar as mudanças culturais e
tentando correlacionar com o meio ambiente, logo,
arqueologia tentaria ser uma ciência preditiva, no ela-
borar generalizações que se seriam leis que regeriam
o comportamento humano. A “Nova Arqueologia” foi
responsável por um aperfeiçoamento das técnicas de
amostragem, ressaltando a importância do meio para
os seres humanos e a cultura como um sistema, em
oposição, a visão histórico-culturalista. Bahn e Collin
(1993) afirmam que a “Nova Arqueologia” seria uma
crítica ao método tipológico e a Escola Histórico-Cul-
turalista37, logo, a arqueologia buscaria um status de
37 Segundo Trigger (2004) a Escola Histórico-Culturalista no início no século
XIX, ficando conhecido pelo método tipológico de Oscar Montelius, a principal
crítica acerca dessa escola estaria no fato na preocupação excessiva em des-
crever e não buscar explicações para os artefatos.

- 55 -
ciência mais próxima a ciências da natureza, ou como,
afirmou David L. Clarke (1937-1976) com a “Nova Ar-
queologia” no seu artigo intitulado, “Arqueologia: a
perda da inocência” de 1973.
Em segundo momento de sua carreira, Meggers
(1987, p.64) modifica suas ideias acerca do povoamen-
to da América e repensando, afirmando que,

Há evidências cada vez maiores, embora não sejam


elas universalmente aceita, de que o homem penetrou
no Novo Mundo através do Estreito de Bering, há cer-
ca de 40.000 anos. Um local na beira dum lago extin-
to no México foi datado de 24.000 anos atrás e uma
caverna nas montanhas meridionais do Peru já era
habitada há 20.00 anos aproximadamente. Por volta
de 12.000 anos passados, senão antes, os imigrantes
chegarem ao extremo sul da América. A associação de
ossos de animais extintos entre eles cavalos, masto-
dontes, preguiças e bisões gigantes, com instrumento
de pedra ou osso em vários sítios caracterizam os gru-
pos de caçadores paleoíndios. Os povos que fizeram e
usaram tais instrumentos vivam, provavelmente, em
bandos compostos de famílias aparentadas e iam de
um lugar para outro na medida em que os recursos ali-
mentícios se esgotavam ou apareciam plantas comes-
tíveis próprias de cada estação; foi esse padrão que
persistiu em diversas partes da América até o contato
com os europeus.

Para Braidwood (1985, p.92),

(...) em algum tempo próximo ao final da última gran-


de glaciação - quase certamente há menos de 30 mil
anos – as pessoas começaram a passar da Ásia para
a América, através do estreito de Bering. Como você
sabe, admite-se que os índios americanos são basica-
mente mongolóides. Os novos estudos sobre os tipos
de grupos sangüíneos nos trazem alguma incerteza
sobre isso, mas não há dúvida de que os ancestrais
dos índios americanos vieram pelo caminho da Ásia.
Tem sido geralmente aceito que as tradições de arte-

- 56 -
fatos líticos da Europa, da África, do Oriente Médio e
Próximo e da Sibéria Central não se transferiram para
o Novo Mundo, em suas formas características identi-
ficáveis. Com apenas algumas exceções especiais ou
tardias, não se encontraram nas Américas os bifaces
de núcleo, os artefatos lascados ou de lâminas dos ti-
pos existentes no Velho Mundo ocidental.

Dentro dessa perspectiva, devemos ressaltar a


importância das glaciações nesse contexto, sendo res-
ponsáveis pelo aparecimento de uma ponte “biogeo-
gráfica” entre a Sibéria, na Ásia e no Alasca, na Amé-
rica do Norte, onde durante na última glaciação de
Wisconsin por volta 75 a 10 mil anos atrás, permitindo
assim, um abaixamento no nível do oceano pacifico e
criando as condições terrestres para a migração tanto
humana quanto de animais.

Figura 5. Mapa da Beríngia no norte do continente americano.


Fonte: LAMING-EMPERAIRE, 1980, p.133.

- 57 -
Dentro da arqueologia brasileira essa visão da
primeira migração humana via Beríngia e posterior-
mente, espalhando-se pela as demais partes do con-
tinente, vem sendo defendida pelo bioantropólogo
Walter Neves, da USP, mas com algumas modificações
nos momentos migratórios (ver figura 5). Redesco-
brindo em estudos de antropologia física um crânio
achado pela Missão Francesa (1974-1975) em Lagoa
Santa, de características africanas e sendo considera-
do o crânio mais antigo do continente sul americano,
batizada de Luzia e com aproximadamente 11 a 11,5 mil
anos atrás e assim propondo o “modelo dos dois com-
ponentes biológicos principais” e por fim, Walter Neves
e Mark Hubbe afirmando que a migração inicial teria
ocorrido por volta de 18 mil anos atrás (NEVES, 2006)
(ver figura 6).
Segundo Hubbe e Neves (2003, p.48-49),

(...) Atualmente, a hipótese mais aceita é de que a nos-


sa espécie, Homo sapiens, surgiu na África por volta de
150 mil anos atrás, mas só teria abandonado o conti-
nente africano por volta dos 70 mil anos. A partir dessa
data, grupos humanos africanos para Ásia, seguindo a
região costeira ao sul, de clima mais ameno, até atin-
gir o sudeste da Ásia, por volta dos 60 mil anos atrás.
(...) conseguimos enfim explicar a presença de grupos
humanos semelhantes aos africanos no sudeste asiáti-
co, na Austrália e nas Américas, respectivamente. Foi
apenas ao redor de 12 mil anos antes do presente, que
apareceram os primeiros esqueletos de morfologia
mongoloide, no centro da Ásia, representado grupos
humanos que se expandiram, após essa data, por toda
a Ásia e mais tarde, há cerca de 11 mil anos, para as
Américas. Nesse processo, substituíram os grupos hu-
manos mais antigos (semelhantes aos africanos e aus-
tralianos atuais) presentes em ambos os continentes,
resultando nas populações e ameríndias que conhece-
mos hoje em dia.

- 58 -
Figura 6. Mapa do modelo dos dois componentes biológicos
(Fonte: HUBBE e NEVES, 2003, p.44)

Em 2018, o professor André Strauss Museu de


Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Pau-
lo em parceira com pesquisadores da Universidade de
Harvard publicaram o resultado de um estudo acerca
do DNA de fósseis humanos no continente americano,
visando a origens desses grupos. Logo, chegaram a
um resultado diferenciando do professor Walter Ne-
ves, destarte, postulando que Luzia é oriundo de ori-
gem mongoloide, não de origem africana como ante-
riormente creditado.
Dentro dessa perspectiva, Funari e Noeli (2002)
expõe as cinco hipóteses principais genéticas para o
povoa¬mento da América, todos com alguns elemen-
tos em comuns, primeiro baseados em “levas migrató-
rias”; segundo, a presença do elemento mongoloide
e; ter-ceiro, um povoamento mais tardio de 30 mil para
nor¬te do continente americano.

- 59 -
3.2 UMA PERSPECTIVA SOBRE O POVOAMENTO
PELO SUL DO CONTINENTE AMERICANO
A segunda perspectiva cientifica de povoamen-
to está relacionada com as migrações pelo Pacífico, os
grupos humanos teriam migrado a partir de navega-
ção de cabotagem do leste do continente africano até
oeste do continente americano.
Essa perspectiva do povoamento é defendida
pelo etnólogo Paul Rivet (1876-1958), em seu artigo
“Les Malayos-Polineses en Amérique” em 1926, fazendo
inferências da possibilidade da travessia marítima de
povos localizados na Oceania para o continente ame-
ricano. Em seus estudos Rivet (1960) procurou analo-
gias entre esses dois extremos geográficos, no intuito
de validar suas hipóteses, talvez, a sua obra que sinte-
tize melhor essas ideias seria “As origens do homem
americano” na década de 40 do século XX.
Segundo Rivet (1960, p.148-150),
(...) o Pacifico não deve aparecer-nos como uma imen-
sa extensão vazia, barreira infranqueável estendida
entre o Antigo e o Novo Mundo. Migrações humanas
atravessaram-no, à custa de quantos esforços e de
que dramas, para arribar à América e colonizá-la; hou-
ve depois comerciantes audazes que o cruzavam de
maneira mais ou menos regular até a época do des-
cobrimento, essas travessias efetuaram-se sem dúvida
em ambos os sentidos. Muitos antes das caravelas dos
grandes descobridores europeus, as surpreendentes
pirogas melanésicas e polinésicas, e quem sabe tam-
bém as primitivas jangadas peruanas, haviam sulcado
as rotas desse imenso deserto marítimo. Uma emocio-
nante epopeia anônima precedeu a grande epopeia
histórica. E é isso toda a crônica da humanidade. (...) o
Pacífico não se tornou de forma alguma um obstáculo.
Foi, ao contrário, um traço de união entre o mundo asi-
ático e a Oceania e o Novo Mundo. A fachada oriental
da América é uma parede sem portas nem janelas.

- 60 -
Neste estrato observa-se a proposta de uma
nova perspectiva para povoamento da América, em
contraposição à visão de Hrdlicka pelo norte do con-
tinente americano. Diante do exposto, seria possível
que embarcações de pequeno porte atravessassem a
imensidão do oceano Pacífico e quais seriam os traços
de semelhança entre os polinésios e melanésios com
os índios americanos?
De acordo com Rivet (1960, p.141),
Conhecendo perfeitamente as correntes e os ventos,
sabendo guiar-se pelas estrelas, viajavam sós, de noi-
te, e percorriam normalmente e sem escala, distâncias
de 2.000 e às vezes 2.500 e até 4.200 milhas. Para en-
contrar na imensidade do oceano as pequenas ilhas
polinésicas, tomavam como ponto de referência a pe-
quena nuvem que sobre elas se forma a 3.600 metros
de altura e que um olhar experimentado percebe a 120
milhas de distância. Suas pirogas duplas faziam 7 a 8
milhas por hora, o que significava cerca de 75 milhas,
numa jornada de 10 a 12 horas. Um desses barcos, por
conseguinte, podia franquear a distância que separa o
Havaí da costa californiana ou ilha de Páscoa, da costa
sul-americana, em 20 dias.

Como não é possível retroceder no tempo, ca-


beria apenas tentar conjeturar e tentar formular hipó-
teses. Tanto Rivet (1960)38 quanto Laming-Emperaire
(1980) relatam a experiência de Thor Heyerdahl (1914-
2002) através de suas pesquisas buscando demonstrar
os contatos entre os polinésios e a América, por fim
realizando essa travessia do oceano pacifico numa jan-
gada em 1947, demonstrando na prática essa possível
via do povoamento da América.
Rivet (1960) afirma que os elementos culturais
38 Segundo Rivet (1960, p.145) “A proeza esportiva realizada por Thor Heyer-
dahl e seus cinco companheiros que, de 20 abril a 7 de agosto de 1947, atra-
vessaram o Pacifico, de Callao à ilha de Raroia, no arquipélago Tuamotu, sobre
uma jangada sensivelmente parecida a uma ‘balsa’ peruana, confirmou que a
viagem de leste para oeste é realizável (...)”.

- 61 -
que permitiriam fazer analogia entre os melanésios os
povos indígenas americano, como: armas (sarabatana,
propulsor, tacape anular e estrelado, arco); utensílios
(enxó de cabo em cotovelo); navegação (remo em
forma de muleta, embarcação, feita com canas, jan-
gada, piroga dupla); objetos de uso doméstico (pilão
de madeira, assentos e travesseiros de madeira, rede);
vestuários e adornos (capa de fibras vegetais contra
a chuva)e; cozinha (preparação de bebidas alcoólicas
por mastigação de tubérculos ou de grãos); a intro-
dução do tifo murino39 por ratos que teriam vindo nas
embarcações e elementos linguísticos.
Por fim, Rivet (1960, p.105-111) afirma,
(...) A imensa maioria dos elementos melanésios assi-
nalados na América do Norte, encontra-se na América
do Sul, ao passo que muitos elementos oceânicos sul-
-americanos não têm seus correspondentes na Améri-
ca do Norte.
Os elementos culturais melanésios encontram-se
especialmente entre as tribos da costa noroeste da
América do Norte, na bacia amazônica e no território
colombiano, na América do Sul, sendo nestas duas
regiões sul-americanas onde tais elementos são mais
numerosos e apresentam um desenvolvimento mais
rico de formas. (...) a rota terrestre não foi seguida
pelos melanésios. Por outro lado, a presença de um
substrato melanésio em grande parte da Polinésia,
inclusive a ilha de Páscoa, é atualmente admitida por
muitos etnólogos. Para um povo capaz de cumprir a
extraordinária proeza de descobrir a maioria das ilhas
do Pacifico, a de chegar à costa americana teria sido
coisa relativamente fácil. E, pensando bem, até seria
surpreendente que não houvesse feito, sendo lícito
estranhar que, às vezes, tenhamos retrocedido diante
desta hipótese, quando tais prodigiosas viagens marí-
timas através do Pacífico eram demonstradas e acei-
tas unanimemente.

39 O tifo murino, uma doença causada por rato em seres humanos.

- 62 -
Acerca dos contatos entre os polinésios e o con-
tinente americano, Rivet (1960) através de estudos
linguísticos demonstrou por analogias de semelhan-
ças entre algumas palavras polinésias e alguns povos
americanos (batata-doce, polinésia se chama kuma-
ra, enquanto no Haiti, umara), introdução do inhame
(dioscorea alata), coco da Bahia (cocos nucifera) e da
batata-doce (hibicus tilaceus).
Em um primeiro momento, a ideia de Paul Ri-
vet (1960) acerca do povoamento da América, rece-
beu muita crítica da comunidade acadêmica e assim
gerando muitos questionamentos sobre a sua funda-
mentação, como, a localização dos primeiros sítios
desses navegantes e as possíveis vias de acesso. De-
vemos ressaltar que a importância das glaciações de
Wisconsin nesse contexto, provocando a diminuição
dos níveis dos oceanos, reduzindo distâncias e criando
pontos de apoio, como ilhas.
Em um segundo momento, afirma Prous (1999)
os alunos de Rivet, Annette e Josef Emperarie vieram
ao Brasil em 1954-56, no intuito de pesquisar acerca
das teorias de Paul Rivet, buscando uma possível vali-
dação, criando o primeiro curso de lítico na Universida-
de Federal do Paraná década de 50 e posteriormente,
uma missão arqueológica sob o comando de Laming-
-Emperaie em Lagoa Santa, Minas Gerais e estenden-
do-se para o Piauí na década de 70, sob o comando de
Guidon, sendo responsáveis pelo treinamento de uma
geração de arqueólogos brasileiros.
De acordo Laming-Emperaire (1973 b, p.230-231),

A pedido do convite das universidades de São Paulo,


do Paraná e Santa Catarina, e de missões patrocinadas
C.N.R.S., pelo Serviço de Assuntos Estrangeiros e mais

- 63 -
recentemente, pelo Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional que, a partir de 1954, são efetuadas diversas
missões arqueológicas franco-brasileiras. 40

Nesse segundo momento, Laming-Emperaire ao


longo de suas pesquisas chegou uma não validação
das ideias do povoamento da América de Rivet.
Para Laming-Emperaire (1980, p.46),

Seus argumentos são para uns acima de tudo etnoló-


gicos, para os outros autores sobretudo arqueológico.
A medida que o tempo passou não se satisfaz mais de
assinalar analogias, mas em pesquisar as vias e as mo-
dalidades dos contatos múltiplos.(...) Suas teorias que
foram acolhidas por muitos e sobretudo pelos norte-a-
mericanos com um grande ceticismo, estão atualmen-
te largamente ultrapassadas. A etnologia, a linguística
e a arqueologia depois de 50 anos de progresso, que
não é mais possível colocar os problemas da mesma
forma que foram colocados por Rivet. Suas hipóteses
não foram inúteis porque elas obrigaram esses mes-
mos que os criticaram a formular os problemas em
termos mais precisos e mais claros.41

Laming-Emperaire (1976) afirma que o período


inicial do povoamento da América pode ter ocorrido
por volta 60 mil anos atrás, mas não excluindo a possi-
bilidade de um povoamento de 80 a 100 mil anos atrás,
sendo a passagem do estreito de Bering a via principal
de acesso e mais antiga desses primeiros migrantes.
Laming-Emperaire (1980) propondo três vagas
populacionais: a primeira vaga migrou por volta de 70
mil a.C; a segunda vaga, por volta de 28,5 a 25 mil anos
atrás; terceira vaga, por volta de 13 a 11 mil anos atrás
e; a partir de 10 mil atrás, a região não apresentava
mais obstáculos para a migração de outros povos, re-
40 Tradução do autor.
41 Tradução do autor.

- 64 -
cebendo outros fluxos populacionais.
Fica claro a partir do terceiro momento, com o
desenvolvimento dos trabalhos da Missão Francesa
em dois focos; que o primeiro, em Lagoa Santa, com
o arqueólogo André Prous e; o segundo, com a paulis-
ta Niède Guidon no Piauí, ambos na década de 70. Ao
longo de suas pesquisas, ambos pesquisadores reali-
zaram importantes trabalhos na arqueologia brasileira
e chegando conclusões diferentes acerca do povoa-
mento do continente americano.
Para Prous (1992, p.119-120),

(...) o povoamento das Américas teve início por volta


de 40 mil anos. Nesse período, um rebaixamento do
nível dos oceanos deixou emersa uma larga faixa de
terra entre a Sibéria e o Alasca. Os primeiros imigran-
tes foram, portanto, asiáticos, ainda geneticamente
pouco mongolizados, mas que transmitiram aos seus
descendentes vários traços característicos das popu-
lações ditas amarelas, como, por exemplo, grupo san-
guíneo exclusivamente do tipo O, cabelo preto e liso,
pouca pilosidade, etc. Pelos cálculos dos arqueólogos
e dos estudiosos de paleodemografia, deviam ser pou-
co numerosos, e demoram aproximadamente 25 mil
anos para povoar toda a América do Norte, manten-
do até 12000 BP uma densidade fraca (por volta de 0,1
habitante por Km2). Até então suas armas eram rudi-
mentares e a caça aos grandes animais, a mais rentá-
vel, devia se fazer de perto, usando-se varas armadas
com pontas sem farpa (do tipo ‘Clovis’) a fim de serem
retiradas imediatamente do animal ferido, sem deixar
o atacante desarmado. Bem antes disso, talvez por
volta de 30 mil anos atrás, pequenos grupos tinham
penetrado na América do Sul, cuja colonização devia
se completar de 10 mil anos atrás, quando a Patagônia
começou a ficar livre das geleiras pleistocênicas per-
manentes. No entanto, os sítios datados de mais 10 mil
anos atrás são raríssimos em toda a América do Sul,
mostrando o quanto a população era ainda limitada,
sendo que o seu crescimento orientando mais para a
ocupação dos espaços livres do que para uma implan-

- 65 -
tação mais densa nas regiões já conquistadas. Apenas
por volta de nove mil anos atrás a multiplicação dos
sítios conhecidos mostra que o continente nesse mo-
mento estava densamente povoado. Em nosso atual
estágio conhecimento, não se pode pensar em um
povoamento do território brasileiro em época muito
anterior a 20 mil anos. Até poucos anos atrás, muito
se recusavam até a admitir uma ocupação de humana
pleistocênica há 12 mil ou mais.

Com relação às ideias de Rivet (1960) acerca da
possibilidade da migração australiana, Prous (2006)
afirma que não são mais validas, devido não terem en-
contrado datações muitos recuados nas ilhas do pací-
fico e assim, não poderiam ser oriundos dos primeiros
migrantes e também, um dos críticos das datações
recuados do pleistocênicas no Brasil, em especial da
região Nordeste, mais especificamente da Toca do Bo-
queirão da Pedra Furada no PARNA Serra da Capivara
e a Toca da Esperança, na localidade de Central (BA).
Em contraposição as ideias de Prous (1992);
(2006), Guidon com mais de 30 anos de pesquisas rea-
lizadas no Piauí, na região Nordeste do Brasil.
De acordo com Guidon (1991, p.17),

A presença do Homem no Nordeste é, de maneira mui-


to bem documentada, comprovadamente muito anti-
ga. A sequência de cerca de 46 datações obtidas para
diferentes sitos no Piauí, a longa coluna estratigráfica
no abrigo Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada
que cobre cerca de 60.000 anos, a abundância da in-
dústria lítica, em quartzo e quartzito ligada a essas da-
tas antigas, a presença de fogueiras estruturadas bem
definidas nas camadas datadas, a existência de blocos
de parede caída, com pinturas nessas mesmas cama-
das, são dados irrefutáveis. Nessa estratigrafia não há
inversão de camadas, foi possível definir-se o contex-
to arqueológico. (...) Na toca do Boqueirão do Sítio da
Pedra Furada a descoberta das camadas mais antigas

- 66 -
do que 32.000 anos foi feita em agosto de 1987 com o
prosseguimento das escavações, iniciadas em 1978 e
que se prosseguiram em 1980, 1981, 1984, 1985 e 1986.

O marco inicial da pesquisadora Guidon no sen-


tido de tentar quebrar esse paradigma de Clóvis e cha-
mar a atenção para um possível povoamento pleisto-
ceno no Brasil, é percebido quando Guidon e Delibrias
(1986, p.321) afirmam:

O panorama que o homem não chegou ao continen-


te americano antes da última glaciação tem se ba-
seado pelo fato que até agora o conhecimento e os
sítios arqueologicamente datados não possuírem de
antiguidade muito recuada. Mas agora informe de
datações radiocarbônicas oriundo do sítio brasileiro
qual fixou que o homem estaria vivendo na América
do Sul por no mínimo 32,000 anos atrás. Estes novos
achados surgem vindo das vastas pinturas rupestres
do Boqueirão do Sitio da Pedra Furada, as paredes
e o teto do qual são decoradas com um rico qua-
dro da pré-história. Nós escavamos uma sequência
possuía uma abundante indústria lítica e estruturas
em todos os níveis. Datações de carbono 14 oriundas
do carvão vegetal estabelecem uma cronologia
continua indicando presença humana de 6,130±130
para 32,160±100 anos atrás BP (GUIDON; DELIBRIAS,
1986, p.321).

Neste sentindo Guidon e Delibrias com esse


artigo tentam chamar atenção da comunidade cientí-
fica para um povoamento do continente sul america-
no mais recuado. Onde fizeram inferências acerca do
paradigma de Clóvis e suas deficiências em explicar as
primeiras migrações para o Novo Mundo, sendo consi-
derada as duas faces de uma realidade do povoamen-
to da América.
Para Guidon (1984, p.153),

- 67 -
Atualmente se defrontam duas “escolas”: a dos “pru-
dentes” e a dos “ousados”. A primeira defende a teo-
ria de que a América só foi povoada muito tardiamen-
te, há cerca de 15.000 anos e a segunda propõe idades
existentes recuadas, entre 30.000 a 70.000 anos, para
presença humana no Novo Continente.

Como explicar as datações tão recuadas no


continente sul americano, em especial, na região Nor-
deste do Brasil. E de onde vieram esses migrantes e
por onde adentraram no continente? O desconcertan-
te sítio da Pedra Furada provocou um processo inicial
de revisão nas teorias e nas explicações acerca do po-
voamento da América, evidenciadas no I Simpósio do
Povoamento da Américas em 1993, em São Raimundo,
no Piauí. Umas das primeiras vozes afirmar que o “pa-
radigma Clóvis” estaria ultrapassado foi o pesquisador
canadense MacNeish.
De acordo MacNeish (1991, p.199),

Mais de 80 componentes pré-clóvis, que vão de Ne-
nanna no Alasca até Monte Verde no sul do Chile, pro-
duziram evidências da ocupação humana.(...) A velha
teoria excessivamente abrangente de uma única e rá-
pida migração do povo Clovóide iniciando-se há 12.000
BP não é mais defensável e tem de ser substituída com
modelos que se adaptem aos novos fatos. Abrimos a
caixa de Pandora, e apenas a pesquisa futura determi-
nará quais modelos emergirão.

Um outro sítio arqueológico fora do Brasil con-
siderado pré-clóvis seria o sítio de Monte Verde no
Chile, escavado por Tomas Dillehay. Dillehay (1996)
afirma que abrangeria desde 12.800 a 33.000 BP, sem
continuidade. Dentro do território brasileiro possuí-
mos sítios como datações superiores à 13.000 mil anos

- 68 -
BP, como, Toca da Esperança, escavado por Maria
Conceição Beltrão. Segundo Beltrão (1996) esse sítio
possuiria com datações que se estenderiam de até
295.000 anos atrás, configurando a possibilidade de
uma ocupação do homo erectus, sendo alvos de mui-
tas críticas por parte da comunidade acadêmica.
Dentro dessa perspectiva, necessitamos de
outras ferramentas para aprofundar-nos na questão
do povoamento das Américas, a parasitologia42 seria
uma delas. Através dos estudos parasitas poderíamos
conhecer a distribuição dos seres humanos no conti-
nente e fazermos inferências acerca das vias de po-
voamento.
Segundo Araújo e Ferreira (1993, p.106),

As espécies biológicas não surgem em mais de um


ponto geográfico, como pressupõe a teoria de evo-
lução das espécies de Charles Darwin. As infecções
parasitárias são, portanto, marcadores biológicos de
difusão de hospedeiros, acompanhadas sua ocupa-
ção de novos territórios, à medida que as condições
mesológicas o permitem (...). A contribuição da pale-
oparasitologia foi conclusiva para esta questão. O en-
contro de parasitos em material arqueológico datado
de períodos pré-colombianos estabelece, no espaço e
no tempo, quais infecções parasitárias encontravam-
-se entre os ameríndios em épocas à colonização euro-
peia e ao tráfico negreiro.

Rivet (1960) afirma que foi o médico americano


Fred L. Sopper realizando estudos em tribos indígenas
no Paraguai em 1927, demonstrando a possibilidade
que certos parasitas poderiam ter sido introduzidos
por outras vias, como, Ancilóstomo Duodenale43. Esse
42 Parasitologia seria o estudos das parasitas que se alojam no organismo
humano, a partir deles podemos estudar o padrão de distribuição humano em
dado espaço geográfica.
43 Ancylostoma duodenale: parasita do homem. 

- 69 -
é um caso interessante de abordamos, em especial,
o ciclo de vida da parasita em questão encontrada na
Toca do Boqueirão da Pedra Furada, onde esses co-
prólitos44, com datações de 7.230+-80 anos B.P. foram
estudados.
Para Araújo e Ferreira (1993, p.106-110),
As diferenças encontradas nos padrões de infecção
levaram a interpretação de que algumas populações
indígenas seriam de origem asiática, mas sua penetra-
ção deveu-se a migrações transpacíficas, em períodos
pré-colombiano (Manter, 1967; Fonseca, 1972). Essas
conclusões baseavam-se em teorias de povoamento
da América pela via transpacífica (Rivet, 1926) e na, im-
possibilidade das parasitoses encontradas, manterem
seu ciclo de transmissão sob as baixas temperaturas
da região da Sibéria e Alasca (Nicole, 1932). Segundo
Stewart (1960), o clima da região de Bering teria agido
como filtro para as infecções existentes nas popula-
ções que seguiram essa rota. (...) A infecção
humana por ancilostomídeos transmite-se de hospe-
deiro a hospedeiro, com estágios larvares obrigatoria-
mente evoluindo no solo, sob condições específicas
de temperatura e umidade que, em condições ideias,
dá-se entre 25º e 30ºC. Nesse caso, as migrações hu-
manas pré-históricas pela via de Bering não poderiam
ter introduzido esta parasitose na América, em virtu-
de das baixas temperaturas no solo, o longo caminho
percorrido sob essas condições climáticas, e as gera-
ções de hospedeiros que se sucederam das Sibéria até
América do Norte.(...) É preciso notar que a presença
de infecção por Ancylostoma duodenale e Trichuris tri-
chiura da América pré-colombiana é um indicador de
contatos transmarítimos, mas não necessariamente
de intensos, ou numerosos, movimentos migratórios.
Poucos contatos seriam capazes de infectar uma po-
pulação já existentes (Marasciulo, 1992). Por outro
lado os dados indicam que a possibilidade de navega-
ção já existiam há mais de 7.200 anos (Araújo et al.,
1988).
44 Segundo Bahn e Renfrew (1993, p.511) coprólitos seriam “(...) fezes fossi-
lizadas; contendo restos de alimentos que podem ser utilizados para recons-
truir a dieta e as atividades de subsistência”.

- 70 -
Na parte norte do continente americano, a in-
fecção de parasitose mais comum foi por Enterobius
vermiculares45 com datações de até 10.000 anos atrás,
Araújo, Gonçalves e Ferreira (2006) afirmam que essa
parasitose teria vindo com os seres humanos que atra-
vessaram o caminho de Bering, da Ásia para o Alasca,
e seu ciclo de vida suportaria baixas temperaturas gla-
ciais, enquanto, o Ancylostoma duodenale e Trichuris
trichiura não suportariam temperaturas inferiores a 25
a 30°C.
Acerca do povoamento das Américas, as atuais
pesquisas buscam outras vias de acessos pelas quais
os seres humanos poderiam ter adentrado, algumas
hipóteses antigas, como do arqueólogo português
Correa Mendes na possibilidade de uma passagem
pela Antártica e assim desembarcado no extremo sul
do continente americano, ou novas hipóteses em pos-
síveis migrações do Velho Mundo para o Novo Mun-
do. Como as pesquisas em bioantropologia que estão
progredindo com muita velocidade e a possibilidade
da utilização do DNA Mitocondrial para sabermos in-
formações sobre a espécie humana, pode em um fu-
turo próximo render muitos frutos para o estudo po-
voamentos do continente americano afirma Fabrício
Santos na II Conferência do Povoamento das Améri-
cas.
Por fim, devemos chamar a atenção para a
possibilidade migratória do continente africano para o
continente sul americano; esse é um dos pontos que
as pesquisas da professora Guidon apontam e foram
debatidos durante a II Conferência do Povoamento da
45 Enterobius vermiculares: tipo de verminose que encontradas nos
índios americanos, que teriam chegado pelo norte do continente americano.

- 71 -
América em 2006, somente o tempo e o desenvolvi-
mento das pesquisas arqueológicas poderão validar
ou não as inferências de Guidon.
Para Guidon (2005, p.6),

O mar esteve, durante certas épocas do último gla-


cial, até 150m abaixo do nível atual. Assim sendo havia
muito mais ilhas entre os continentes e a passagem da
África para o litoral nordeste do Brasil e para o Caribe
não representava grandes problemas. Homo sapiens
já existia na África há 190.000 anos, por isso é normal
que possa ter chegado até as costas americanas antes
de 100.000 anos atrás. (...) Portanto, podemos propor
um novo panorama: os primeiros homens vieram da
África e chegaram até a costa do Nordeste e Caribe.
Adaptaram-se ao meio ambiente, cresceram, pros-
peram e os grupos, lentamente, foram se espalhado
pelo novo continente. Aqui, aonde chegaram, suas
presenças durante muito tempo, permitiram o de-
senvolvimento de sociedades avançadas, plenamente
adaptadas ao meio em que viviam. E um dia chegaram
homens vindos pelo Pacífico, aportando à costa oeste
da América do Sul, tinham dado a volta ao mundo.

Concluindo, com um pensamento de Annette


Laming-Emperaire que sintetiza a multiplicidade das
possibilidades do povoamento das Américas.
Para Laming-Emperaire (1980, p.13),

As hipótesis são múltiplas. Sua simples enumeração é


impresionante. Esses são principalmente os Fenicios,
os Assírios, os Egipcios, os Cananeus, os Israelitas,
os Troianos, os Gregos, os Etruscos, os Romanos, os
Celtas que são utilizados para explicar as civilizações
amerindios, ao menos as civilizações avançadas em re-
lação as outras, aquelas “selvagens”, pouco se pesqui-
sa as origens. Depois, a medida que o tempo passou,
se invocou também os tártaros, os Hunos, os Indus,
os Chineses, os Budistas, os Africanos (…), os Vikings,
os Gauleses, os Irlandeses, os Bascos, os Portugueses,
os Espanhóis, os Franceses. Em uma palavra todas as

- 72 -
épocas antigas dentro as quais mistura-se a destruição
de uma vila ou de uma cultura (Tróia), naufrágio de
uma armada (Alexandre) ou das conquistas ou das in-
vasões nas terras distantes (os Hunos, os Vikings) são
sucetivéis de serem utilizadas.46

Onde houver um navio naufragado, uma civili-


zação que parece desconhecida ou mesmo prováveis
presenças físicas de povos desaparecidos, construiu-
-se uma mística sobre as origens dos habitantes do
continente americano. Isso representaria uma busca
dos europeus em explicar ou mesmo como justificar
a sua dominação sobre as tribos indígenas no periodo
colonial e dos países latinos americanos recém-inde-
pendentes buscarem uma identidade com os povos
europeus.

46 Tradução nossa.

- 73 -
- 74 -
CAPÍTULO 4
A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS
ARQUEOLÓGICAS NO PARQUE NACIONAL
SERRA DA CAPIVARA.

Localizado na região sudeste do Piauí e den-


tro do Nordeste brasileiro, o Parque Nacional Serra
da Capivara representa um hot spot da presença dos
primeiros grupos humanos no continente americano
e no Brasil, possivelmente remontando uma ocupação
prolongada de 100 mil anos atrás, sendo considerado
um espécie de corredor de migrações de grupos hu-
manos na região.
O Parque Nacional Serra da Capivara47 está de-
limitado entre os municípios de João Costa, Coronel
José Dias, São Raimundo Nonato e Brejo do Piauí,
compreendendo uma área de quase 130.000 hectares
e um perímetro de 214 km², sendo criado durante o
governo do presidente João Baptista Figueiredo, em
1979 (ARAÚJO ET AL, 1998) (ver figura 7).

Figura 7. Localização do Parque Nacional Serra da Capivara.


Fonte: FUMDHAM. Disponível em: <<www. fumdham.org.br>>.
Acesso: out, 2013.
47 A distância do PNSC da cidade Teresina é de 530 km e, de Petrolina, é de 300
km (ARAÚJO ET AL, 1998).

- 75 -
O PNSC48 foi criado com a finalidade de proteger
o patrimônio arqueológico, paleontológico e ambien-
tal da região, no intuito de contribuir com o gerencia-
mento dessa UCI49, foi instituída a FUMDHAM50, sob a
direção da professora Niède Guidon e pesquisadores
brasileiros e franceses, em 1986.
A FUMDHAM tinha por intuito apoiar as pesqui-
sas científicas na região, contribuir para a preservação
e conservação do meio ambiente, apoiar ações de de-
senvolvimento sustentável e educativas. Dentro de
contexto foram apoiadas iniciativas para implantação
de escolas para as populações que viviam próximas
do parque, a produção de cerâmica no intuito de ge-
rar renda, incentivo ao desenvolvimento da atividade
da apicultura e promoção de um turismo sustentável,
no intuito de gerar um desenvolvimento regional e
melhorar a qualidade de vida das populações locais
(ARAÚJO ET AL, 1998).
O PNSC foi considerado como um Patrimônio
Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 1991, e
como Patrimônio Nacional pelo IPHAN, em 1993, des-
sa forma requerendo um cuidado especial por partes
da autoridade federal, estadual e local, no sentido de
promover uma política de preservação da unidade e
evitar a constante presença de caçadores no local,
uma das principais ameaças a fauna local e proteger
animais endêmicos da Caantiga como lagartixa da ser-
ra e mocó (GUIDON, 2014 A).
Os estudos da arte rupestre realizados pela ar-
queóloga Niède Guidon na região do PNSC, permiti-
ram identificar três tradições de pinturas rupestres e
48 PNSC: Parque Nacional Serra da Capivara.
49 UCI: Unidade de Conservação Integral.
50 FUMDHAM: Fundação Museu do Homem Americano.

- 76 -
duas tradições de gravuras. As três tradições de pin-
turas são:
1) A Tradição Nordeste é predominantemente
formada por temáticas de figuras de antropomorfos,
zoomorfos e fitomorfos com um fácil reconhecimento
visual e temático, como cenas de caça, dança, cerimô-
nias religiosas e cenas sexuais, abrangendo os estados
do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Sergipe,
Paraíba, Piauí e norte de Minas Gerais, sendo elabora-
da a partir dos trabalhos das pesquisadoras Niède Gui-
don, Silvia Maranca, Anne-Marie Pessis, Susana Mon-
zon, Laurence Ogel-Ross e Bernadette Aranud, tendo
possível origem no estado do Piauí (MONZON, 1978;
GUIDON, 1991; PESSIS, 1999; GUIDON; LAGE, 2003;
MARTIN, 2008; MARTIN; VIDAL, 2014). As principais
subtradições da Tradição Nordeste no PNSC são: Sali-
tre51 e Várzea Grande52.
2) A Tradição Agreste está localizada nos es-
tados da Paraíba, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do
Norte, Piauí e várias partes da região Nordeste, ten-
do provável origem no estado de Pernambuco, suas
principais características são: ausência de traçado de
contorno com preenchimento, o uso de técnicas me-
nos elaboradas (simples) e menor diversidade temáti-
ca, grafismos de maior dimensão vertical e horizontal,
perspectiva estática, sem formação de cenas, “(...)
não possuíam aprimorada técnica gráfica e ignoravam
51 Subtradição Salitre: “(...) é caracterizada pela presença de grafismos de
composição (figuras de antropomorfos, zoomorfos, de ação geralmente de
cenas) e de grafismos puros (PESSIS, 1992). Estes últimos, que geralmente de-
signamos ‘sinais’ou ‘figuras geométricas’, são minoritários. As figuras antro-
pomorfas e zoomorfas distribuem-se equitativamente e formam um conjunto
numericamente superior àquele das representações de objetos e de figuras
fitomorfos. Os grafismos de ação são muito numerosos” (OGEL-ROSS, 1985,
p.147-148).
52 É composta por três estilos: Serra da Capivara, Complexo Estilístico Serra
Talhada e Serra Branca (GUIDON, 1991).

- 77 -
os procedimentos de preparação das tintas e a técnica
de contorno” e classificada inicialmente como tradi-
ção Castelo (PESSIS, 1999, p.70; GUIDON; LAGE, 2003;
MARTIN; VIDAL, 2014).
Na região do PNSC são descritos os seguintes
estilos: a) Serra do Tapuio, caracterizado pela presen-
ça de grandes antropomorfos com vestimenta de rou-
pas, ausência de movimento nos grafismos, má quali-
dade e imprecisão na execução das figuras, o uso da
coloração vermelha, o preenchimento e uso da tinta
lisa; b) Extrema, caracterizado por um traçado mal ela-
borado, ausência de movimento, preenchimento das
figuras e a presença de grafismos de zoomorfos e gra-
fismos puros; c) estilo Gerais53, caracterizado pelo uso
do contorno, reproduções de impressões naturalistas
como as mãos e sendo vermelho a cor dominante, ra-
ramente existe figuras pretas (GUIDON, 1985 B; MAR-
TIN, 2008).
3) A Tradição Geométrica tem por principais ca-
racterísticas a presença de grafismos em linha, círculos
concêntricos, retângulos, labirintos, flechas, quadra-
dos, grafismos astronômicos e marcas de pegadas de
pássaros, com a coloração amarela, escura, branca e
vermelha. Essa tradição é denominada de hipotética
e duvidosa por Martin (2008). Ela está presente em
vários estados da região do Nordeste, Sul, Sudeste e
Centro-oeste do Brasil, sendo de difícil análise devido
ao caráter abstrato de seus grafismos, descrita por
Niède Guidon e outros pesquisadores (SCHMITZ, 1981;
GUIDON, 1991, PROUS, 1992; 2007 A)
Dentro do contexto Parque Nacional Serra da
Capivara, foi classificada em três estilos54: a) Olho d´á-
53 Estilo Gerais era anteriormente classificado como tradição Gerais, depois
foi incluída como um estilo da tradição Agreste por Guidon (1991).
54 Guidon (1983 b) classificou como uma subtradição, a posterior, foi reclas-

- 78 -
gua: esse estilo foi descrito por Laurence Ogel-Ross
por possuir grafismos puros, raros grafismos de com-
posição e traços mal elaborados, numerosas impres-
sões naturalistas de mãos humanas encontrados em
único sítio; b) estilo Bom Jesus, composto de grafis-
mos puros com intrusão de outros estilos nos painéis
rupestres dos sítios, como Toca da Pedra Solta do Bom
Jesus, Toca das Letras e Toca do Boqueirão do Saco I,
também descrito por Laurence Ogel-Ross; c) estilo Ga-
meleirinha, encontrado em único sítio na Toca Game-
leirinha, composto de grafismos puros e intrusão dos
estilos Olho d´água e Bom Jesus.
As duas tradições de gravuras rupestres no
PNSC identificadas são:
1) A Tradição Itacoatiara55 de Oeste está situada
em locais próximas d’água, a Toca do Buraco do Pajeú
e o Caldeirão do Deolindo são exemplos dessa tradição
e se estendendo até países como a Bolívia. Ela é carac-
terizada por grafismos puros e formas de biomorfos,
de difícil identificação e reconhecimento, estando re-
lacionada a grupos caçadores-coletores e existindo
uma datação de 12 mil anos atrás no estado do Mato
Grosso (GUIDON, 1983 B; ARAÚJO ET AL, 1998).
2) A Tradição Itacoatiara de Leste está presen-
te predominantemente na região Nordeste com uma
cronologia relativa de 8 a 7 mil anos atrás (GUIDON,
1991; 2006). O principal monumento desta tradição de
sificada como estilo por Martin (2008) em decorrência dos elementos neces-
sários para atender os requisitos e necessários, especialmente, o escopo de
sítios arqueológicos.
55 O significado termo é “(...) pedras lavradas, pedras pintadas, gravuras,
pinturas, letreiro, glifos, litoglifos, petróglifos, pictografias, litografias e hieró-
glifos brasileiros.” (FARIA, 1987, p.41). De acordo com Prous (1992), o termo
Itacoatiara significa “pedra pintada”. Galdino (1988) dividiu em seis classes
distintas para a tradição Itacoatiara: a) Naturalismo antigo; b) Naturalismo
recente; c) Esquemático antigo; d) Esquemático recente; e) Pictográfico; e f)
Ideográfico.

- 79 -
gravuras é a Pedra Lavrada do Ingá, localizada na cida-
de do Ingá, na Paraíba, onde foi identificada a subtra-
dição Ingá a partir da análise de 19 sítios arqueológicos
encontrados na região (SANTOS, 2015).
A tradição Nordeste é a mais estudada de todas,
devido à grande quantidade de cenas, movimento e
de mais fácil reconhecimento visual dos grafismos. O
trabalho inicial da professora Niède Guidon foi elabo-
rar uma classificação inicial para o desenvolvimento
das pesquisas, seu escopo inicial era 70 sítios arqueo-
lógicos e 6.000 fotografias feitas pela equipe da pes-
quisadora (GUIDON, 1991). A quantidade de sítios
aumentou consideravelmente desde década de 1970,
surgindo novos problemas e descobertas para a cons-
trução da narrativa desse passado, demonstrando
uma antiguidade muito maior do que se suponha para
os grupos humanos no continente americano (GUI-
DON, 2003).
As pesquisas científicas realizadas na região
apresentaram resultados importantes na construção
do conhecimento da arqueologia pré-histórica brasilei-
ra, atualmente estão catalogados 1.335 sítios arqueo-
lógicos no local, onde há 184 sítios com vestígios ce-
râmicos, 946 sítios de pinturas rupestres, 206 sítios de
pinturas e gravuras, e 80 sítios de gravuras (GUIDON,
2014 A, 2014 B; MARANCA, MARTIN, 2014). Os vestí-
gios paleontológicos são também um segmento rele-
vante das investigações científicas no local, já foram
encontrados mais 7.000 fósseis e identificadas mais 60
espécies de animais, na qual 30 espécimes já são consi-
derados extintos (GUERIN, FAURE, 2014).
Os resultados das pesquisas arqueológicas na
região apontam para uma presença recuada dos gru-
pos humanos pré-coloniais com uma antiguidade de

- 80 -
100 mil anos atrás. A região também é considerada
como maior enclave de sítios arqueológicos do mun-
do e com as datações absolutas mais recuadas para a
arqueologia americana (MARTIN, 2008).
Os primeiros residentes da região do Parque Na-
cional Serra da Capivara chegaram ao local por volta
100 mil anos atrás, possivelmente a partir de grupos
com baixa densidade populacional e que tinham a
caça e coleta como forma de sobrevivência, a partir de
rotas migratórias ainda não totalmente identificadas e
motivos de muitas de controvérsias no meio arqueo-
lógico56 (OLIVEIRA, 2007; JUSTAMAND, OLIVEIRA, FU-
NARI, BELARMINO, 2017).
Dentro do contexto da arqueologia brasileira,
em especial na região Nordeste, existe vários sítios ar-
queológicos com uma provável presença de vestígios
da recuada de uma ocupação de grupos humanos com
datações que giram entre 100 a 13 mil anos atrás. Des-
tacando-se os seguintes sítios: Toca do Boqueirão da
Pedra Furada, Sítio do Meio, Toca dos Coqueiros, Toca
do Garrincho, Sítio da Ema do Brás I, Toca da Janela
da Barra do Antonião e Toca do Baixão do Perna I, no
PNSC, no estado do Piauí; a Toca da Esperança, no mu-
nicípio de Central, e Sítio Morro Furado, no município
de Coribe, ambos na Bahia; cemitério indígena do Jus-
tino, no estado de Sergipe; o abrigo da Furna do Estra-
go, em Brejo da Madre Deus, no estado de Pernam-
buco (BELTRÃO, 2000; GUIDON ET AL, 2002; VERGNE,
2005; GUIDON, 2006; MARTIN, 2008).

56 No que tange à aceitação dos dados arqueológicos com datações absolu-


tas recuadas no continente americano, Adovásio e Page (2011, p.230) afirmam
que são necessários três requisitos: “1) artefatos de indisputável manufatura
humana recolhidas em contexto de depósitos primários; 2) Estratigrafia bem
definida, sem nenhuma ambiguidade; 3) Múltiplas determinações radiométri-
cas mostrando consistência interna”.

- 81 -
As escavações arqueológicas realizadas na Toca
do Sítio do Meio apontaram para uma ocupação pré-
-colonial que remontaria quase 20 anos mil anos atrás,
a partir de datações radio carbônicas correlacionas
com vestígios arqueológicos lítios encontrados, sendo
considerado um espaço de moradia (GUIDON ET AL,
2002). No local foi encontrado um dos vestígios cerâ-
micos com uma datação de 8.960 anos B.P. e um ma-
chadinha polida com uma datação absoluta associada
de 9.200 anos B.P., ambas as mais antigas para o con-
tinente americano (BUCO, 2011).
De acordo com Guidon (2006, p.52),

O Brasil foi, portanto, colonizado desde épocas bas-


tante remotas. Todo o país já estava ocupado desde
há 12 mil anos. A população era densa, na região Nor-
deste, a partir de 8 mil anos. A agricultura apareceu
entre – 4 mil e – 3 mil anos, sendo praticada em todo
território nacional desde – 2 mil anos, mesmo que de
uma maneira restrita. A técnica de fabricação de vasi-
lhas em cerâmica, fora da Amazônia, parece ter sido
corrente a partir de – 3 mil anos, pelo menos na área
arqueológica de São Raimundo Nonato, no Piauí. Du-
rante todo o Holoceno, grandes famílias linguísticas
deviam dominar vastas áreas, mas as guerras intertri-
bais que antecederam a chegada do colonizador bran-
co embaralharam a situação, tornando difícil o correla-
cionamento entre as culturas pré-históricas e as tribos
indígenas da época do contato.

O resultado das pesquisas arqueológicas duran-


te várias décadas sob a direção da professora Niède
Guidon apontaram para uma ocupação de grande
extensão e de longa duração de grupos humanas na
região, demonstrando que a região funcionaria como
uma espécie de corredor migratório de pessoas, sen-
do o provável local da origem da Tradição Nordeste de
pinturas rupestres (GUIDON, 2006).

- 82 -
A Toca do Boqueirão da Pedra Furada é um
exemplo da antiguidade da presença de grupos huma-
nos na região, com uma grande variedade de vestígios
líticos, fogueiras feitas por grupos humanos, produ-
ção de cerâmica, a prática da arte como expressões
lúdicas no paredão rochoso do sítio, imprimindo seu
universo simbólico naquele local (PESSIS, GUIDON,
2007).
Para Parenti (1996, p.34-35),

As indústrias, assim definidas, distribuem-se de manei-


ra diferente nas várias camadas. Os três níveis de Pleis-
toceno forneceram cerca de 700 peças líticas, obtidas
unicamente a partir da matéria-prima local (seixos de
quartzo e quartzito); no Holoceno o sítio amplia suas
relações, introduzindo rochas exógenas e suas fun-
ções, transformando-se em verdadeiro acampamento
residencial. Há, portanto, uma intensificação da ativi-
dade de lascamento e retoque: as peças atingem mais
de 6.000 exemplares e novas técnicas são utilizadas,
como o aquecimento das lascas antes do retoque. (...)
Os instrumentos dos níveis pleistocênicos, que mais
interessam à problemática deste trabalho, mostram
características que têm uma grande estabilidade no
tempo. Trata-se de uma indústria sobre seixos, ob-
tida na maioria dos casos por técnica unifacial, sem
padrões de lascamento acentuado e pouco retocada.

O desenvolvimento da indústria de ferramentas


líticas estaria relacionado com a difusão da arte ru-
pestre na região PNSC, onde as principais temáticas e
técnicas utilizadas relatam o cotidiano dos grupos hu-
manos, como amor, cenas de caça, cenas de violência,
e cenas de cerimônias religiosas e mágicas. A difusão
da arte rupestre permaneceu recorrente na região até
por volta de 3 mil anos atrás, onde provavelmente no-
vos migrantes que chegaram à região assimilando ou

- 83 -
expulsando os antigos moradores, iniciando um pro-
cesso de produção agrícola, assim cultivando feijão,
cabaça e amendoim por volta de 2 mil anos A.P. (GUI-
DON, 2006).
A Toca do Sítio do Boqueirão da Pedra Furada é
um sitio arqueológico pré-colonial em formato de abri-
go sob-rocha, com as dimensões de 70 metros de com-
primento, 22 metros de largura e 75 metros de altura,
localizado no topo e seu registro data de 1973 (F.S.
TOCA DO SÍTIO DO BOQUEIRÃO DA PEDRA FURADA,
2016). É considerado um dos sítios mais importantes
para compreender-se o modo de vida dos primeiros
grupos humanos no Brasil, possuindo a presença de
ferramentas líticas57, fogueiras de origem antrópica e
a prática da arte rupestre no paredão rochoso (ver fi-
gura 8).

Figura 8. Toca do Sítio do Boqueirão da Pedra Furada.


Fonte: Gabriel Oliveira (2007).
57 De acordo com o pesquisador italiano Fábio Parenti (2014), foram encon-
trados nas escavações 595 artefatos líticos, sendo 196 peças pertencentes ao
nível cultural Pedra Furada I; 273 peças do nível cultural Pedra Furada II; 126
peças do nível Pedra Furada III.

- 84 -
A leitura estratigráfica do sítio permitiu a iden-
tificação de seis níveis culturais: 1º) Pedra Furada I
(> 50.0000 até > 35.0000 B.P.); 2º) Pedra Furada II
(≥ 32.160±1000 B.P. à > 25.000 B.P.); 3º) Pedra Fu-
rada III (> 25.000 até 10.050 B.P.; 4º) Serra Talhada I
(10.400±180 a 8.050±170 B.P.); 5º) Serra Talhada II
(7.750+80 a 7.220+-80 B.P.); 6º) Agreste (6.150±60 a
3.000 anos B.P.), apresentando um conjunto de 67
datações absolutas pela técnica de datação do rádio
carbono 14, alcançando a idade de 57 a 5 mil anos B.P.
Além disso, as datações das rochas do entorno da fo-
gueira através da técnica de termoluminescência ob-
tiveram datações de até 100 mil anos B.P. (PARENTI,
1996; GUIDON, 2007; GUIDON, 2014 B) (ver figura 9).

Figura 9. Toca do Sítio do Boqueirão da Pedra Furada.


Fonte: Gabriel Oliveira (2018).

Vale ressaltar que a Toca do Boqueirão da Pedra


Furada não é uma anomalia dentro do contexto ar-
queológico da região, outros sítios possuem datações
absolutas recuadas para a presença de grupos huma-

- 85 -
nos pré-coloniais na região, como sítio do Meio, Toca
dos Coqueiros, Toca da Ema dos Brás I, Toca do Garrin-
cho, Toca da Bastiana e Toca do Antonião (OLIVEIRA,
2014).
Concluindo, as pesquisas arqueológicas em-
preendidas pela professora Niède Guidon e sua equipe
da Fundação Museu do Homem Americano mudaram
a perspectiva da compreensão do povoamento ameri-
cano, demonstrando uma presença recuada e ostensi-
vo de grupos humanos na região do Parque Nacional
Serra da Capivara. A professor Niède Guidon resgatou
o universo simbólico desses habitantes, a partir da
análise dos vestígios de cultura material (ferramentas
líticas, cerâmica e a prática da arte rupestre) encontra-
dos durante as escavações ao longo das décadas (JUS-
TAMAND, FUNARI, ALARCÓN-JIMENEZ, 2018).
Mas o maior feito da professora Niède Guidon
foi mudar as vida das pessoas que vivem na região,
ao implantar um projeto de longo prazo não apenas
privilegiando a partir acadêmica, mas proporcionando
uma melhoria de vida da população local, a partir de
implantação de escola de qualidade, geração de em-
prego e renda e oportunidade através da produção da
cerâmica, produção de mel e estímulo ao turismo sus-
tentável, uma forma de arqueologia engajada e com
o compromisso social. Portanto, gerando uma revo-
lução social na região, colocando o Parque Nacional
Serra da Capivara no mapa da arqueologia mundial e
referência de competência no campo da arqueologia
brasileira.

- 86 -
Consideramos que...

O povoamento do continente americano cons-


titui um assunto muito complexo e continuará ge-
rando muitas controvérsias, podemos fazer alguns
apontamentos: a investigação dos terraços marinhos
do nordeste brasileiro; a construção do paleoclima da
região do Parque Nacional Serra da Capivara; a troca
de informações entre os profissionais; mais pesquisas
arqueológicas no Parque Nacional Serra da Capivara
buscando outros sítios para validar essa antiguidade
da Toca do Boqueirão da Pedra Furada. Estando a
arqueologia brasileira aberta para mais pesquisas de
pré-história e não sendo um conhecimento dogmático
imposto, mais sim construído pelo trabalho cientifico
dos arqueólogos no dia-a-dia das escavações nos sí-
tios, logo, ressaltando uma abertura para novas pes-
quisas. Talvez, somente o tempo, as pesquisas arqueo-
lógicas e as inovações tecnológicas poderão elucidar a
questão fundamental e insistente: Por onde chegaram
os primeiros povoadores do continente americano?

- 87 -
- 88 -
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Sobre os autores

Gabriel Frechiani de Oliveira


Possui graduação em Licenciatura Plena em
História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI -
2007) e especialização em Metodologia do Ensino de
História e Geografia pelo Sistema Educacional EAD-
CON (2009) e MBA em Gestão Ambiental pela UNO-
PAR (2013). Doutor em Arqueologia pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS). Mestre em Antropologia e
Arqueologia pela Universidade Federal do Piauí. Atuou
como professor do quadro provisório e coordenador
do curso de História na Universidade Estadual do Piauí
(UESPI). Tem experiência na área de História, Arqueo-
logia e Preservação Patrimonial.

Michel Justamand
Bacharel e Licenciado em História pela PUC/SP
(1999); Habilitado em Filosofia (2001) e em Sociologia
(2002) ambos pela PUC/SP; Mestre em Comunicação
e Semiótica pela PUC/SP (2002); Licenciado em Pe-
dagogia pela UniNove/SP (2003); Doutor em Ciências
Sociais/Antropologia pela PUC/SP (2007); Pós-Doutor
em História pela PUC/SP (2012); e Pós-Doutor em Ar-
queologia pela UNICAMP (2017). Orgulhoso por ter
sido Professor de História e Geografia no Ensino Fun-
damental e de História e Sociologia no Ensino Médio
da Rede Pública Estadual de São Paulo entre 1995 e
2009 e também por ter sido Professor Voluntário de
História no Cursinho Pré-Vestibular de Alunas e Alunos
da PUC/SP, entre 1997 e 1999. Foi Professor da Univer-
sidade Bandeirante/UNIBAN de São Paulo, entre 2002

- 105 -
e 2007. Foi Professor do Curso de Normal Superior da
Universidade do Estado do Piauí – UESPI, em 2004. Foi
Professor do Curso de História da Universidade do Es-
tado do Amazonas/UEA, em Tefé, no Médio Solimões,
entre 2008 e 2009. É Docente do Curso de Bacharelado
de Antropologia da Universidade Federal do Amazo-
nas/UFAM, no Alto Solimões, em Benjamin Constant,
desde 2009. É Professor Permanente do Programa de
Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia/PP-
GSCA, desde 2014. Participa de grupos de pesquisas na
UFAM, UNICAMP e PUC/SP.

Pedro Paulo Abreu Funari


Bacharel em História (1981), Mestre em Antro-
pologia Social (1986), Doutor em Arqueologia (1990),
pela USP, Livre-Docente em História (1996) e Profes-
sor Titular (2004 Unicamp). Professor de programas
de pós da UNICAMP, Distinguished Lecturer Univer-
sity of Stanford, Research Associate - Illinois State
University, Universidad de Barcelona, Université Laval
(Canadá), líder de grupo de pesquisa do CNPq, asses-
sor científico da FAPESP, orientador em Stanford e
Binghamton, colaborador da UFPR, UFPel, docente da
UNESP (1986-1992) e professor de pós das Universida-
des do Algarve (Portugal), Nacional de Catamarca, del
Centro de la Provincia de Buenos Aires, UFRJ, UERJ
Supervisionou 17 pós-doutoramentos, 37 doutoramen-
tos, 43 mestrados, hoje destacados pesquisadores e
líderes em instituições de prestígio (London School
of Economics, Université de Mulhouse, Universidad
del Norte (Barranquilla, Colômbia), UNICAMP, USP,
UNESP, UFF, UFMG, UFPR, UFRJ, MASJ, UEL, UFPel,
UCS, UEMG, UEM, UMESP, Uniplac, PUCPR, FESB, UNI-

- 106 -
FAP, UFS, UNIP, Unifesp, U. Einstein de Limeira, UFG,
UFBA, UNIFAL, UFMA, UFPA, UFOP, Museu Nacional
- UFRJ, UEG, UFPE, UFMS, Museu da Bacia do Paraná,
UFAL, Unip, F.I. Maria Imaculada, Museo Nacional de
Colombia, Un. da Força Aérea, Un. Liège, Mackenzie
. Na Unicamp, Coordenador do Núcleo de Estudos Es-
tratégicos (2007/09) e do Nepam (2014/16), represen-
tante do IFCH na CADI (2005-2009) e dos titulares no
DH (2015/6), membro da CAI/Consu (2009), Assessor
do Gabinete do Reitor e Coordenador do Centro de
Estudos Avançados da Unicamp (2009-2013), apresen-
tador do programa da RTV Unicamp &quot;Diálogo
sem fronteira&quot; (2011/6), com mais de 220 entre-
vistas. Participa do conselho editorial de mais de 50
revistas científicas estrangeiras e brasileiras. Publicou
e organizou mais de 420 livros, reedições e capítulos
nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Áustria,
França, Holanda, Itália, Espanha, Argentina, Colômbia,
Brasil, entre outros, assim como mais de 640 artigos,
resenhas e notas em mais de 130 revistas científicas
estrangeiras e brasileiras arbitradas, como Current An-
thropology, Antiquity, Revue Archéologique, Journal
of Social Archaeology, American Antiquity, American
Journal of Archaeology, Dialogues d Histoire Ancien-
ne, Bonner Jahrbücher. Foram publicadas mais de 70
resenhas de seus livros (&gt; 30 delas em revistas es-
trangeiras). Projetos conjuntos com pesquisadores
estrangeiros resultaram na visita de numerosos estu-
diosos, das principais instituições de pesquisa do mun-
do (Universidades de Londres, Paris, Saint Andrews,
Boston, Southampton, Durham, Illinois, Barcelona,
Havana, Buenos Aires, Londres, CNRS). Membro dos
conselhos de Encyclopaedia of Historical Archaeology,

- 107 -
Oxford Encyclopaedia of Archaeology e Encyclopae-
dia of Archaeology (Academic Press). Participou de
mais de 400 eventos e organizou mais de 115 reuniões
científicas. Foi Secretary, World Archaeological Con-
gress (2002-2003), membro permanente do conselho
da Union Internationale des Sciences Préhistoriques
e Protohistoriques (UISPP) e sócio da ANPUH, ABA,
SAB, SBPH, SHA, SAA, WAC, ABIB, AAA, Roman Socie-
ty, académico estranjero de la Academia de Historia
de Cuba desde 2013. Líder de Grupo de Pesquisa do
CNPq, sediado na Unicamp e vice-líder de dois outros.
Editor de coleção de livros com 33 volumes, com apoio
acadêmico da FAPESP, CNPq, CAPES, FAPEMIG e UNI-
CAMP. Co-editor da Coleção Historical Archaeology in
South America (University of Alabama Press). Tem ex-
periência na área de História e Arqueologia, ênfase em
História Antiga e Arqueologia Histórica, além de Latim,
Grego, Cultura Judaica, Cristianismo, Religiosidades,
Ambiente e Sociedade, Estudos Estratégicos, Turismo,
Patrimônio, Relações de Gênero, Estudos Avançados.
Google Scholar 6.425 citações, índice H = 39 e i10 = 137,
total de auxílio e bolsas FAPESP: 114 (61 auxílios e 55
bolsas), academia.edu: &gt; 9.230 seguidores e &gt;
389.500 consultas, author rank 11.5, 1.999 public men-
tions, RG score 27.51, H = 11.

- 108 -
Coleção Arqueologia Rupestre
Dirigida por Gabriel Frechiani de Oliveira e Michel Justamand

1 - As pinturas rupestres na cultura:


uma integração fundamental.
Michel Justamand

2 - Pinturas rupestres do Brasil:


uma pequena contribuição.
Michel Justamand.

3 - As relações sociais nas pinturas rupestres.


Michel Justamand.

4 - Comunicar e educar no território brasileiro:


uma relação milenar.
Michel Justamand.

5 - O Brasil desconhecido:
as pinturas rupestres de São Raimundo Nonato – PI
Michel Justamand.

6 - A mulher rupestre.
Michel Justamand.

7 - Arqueologia da Sexualidade.
Michel Justamand, Andrés Alarcón-Jiménez e Pedro Paulo A. Funari.

8 - Arqueologia do Feminino.
Michel Justamand, Gabriel Frechiani de Oliveira, Andrés Alarcón-Jiménez e
Pedro Paulo A. Funari.

9 - Arqueologia da Guerra.
Michel Justamand, Gabriel Frechiani de Oliveira, Vanessa da Silva Belarmino e
Pedro Paulo A. Funari.

10 - Arqueologia e Turismo.
Michel Justamand, Pedro Paulo A. Funari e Andrés Alarcón-Jiménez

- 109 -
- 110 -
Coleção FAAS
Fazendo Antropologia no Alto Solimões
Dirigida por Gilse Elisa Rodrigues e Michel Justamand
Antropologia no Alto Solimões.
Gilse Elisa Rodrigues e Michel Justamand (orgs.), 2012

Fazendo Antropologia no Alto Solimões.


Gilse Elisa Rodrigues e Michel Justamand (orgs.), 2012

Fazendo Antropologia no Alto Solimões 2


Adailton da Silva e Michel Justamand (orgs.), 2015

Fazendo Antropologia no Alto Solimões:


gênero e educação
Gilse Elisa Rodrigues, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2016

Fazendo Antropologia no Alto Solimões:


diversidade étnica e fronteira
Gilse Elisa Rodrigues, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2016

Fazendo Antropologia no Alto Solimões:


diálogos interdisciplinares.
Gilse Elisa Rodrigues, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2016

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 7


Michel Justamand, Renan Albuquerque Rodrigues e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2017

Fazendo Antropologia no Alto Solimões: diálogos in-


terdisciplinares II.
Michel Justamand, Renan Albuquerque Rodrigues e Tharcísio Santiago Cruz
(orgs.), 2017

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 9


Michel Justamand, e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.). 2017

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 10


Carmen Junqueira, Michel Justamand, e Renan Albuquerque (orgs.), 2017

- 111 -
Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 12
Iraildes Caldas Torres e Michel Justamand (orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 13


Antonio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz
(orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 14


Ana Beatriz de Souza Cyrino , Dorinethe dos Santos Bentes, Michel Justamand
(orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 15


Antônia Marinês Goes Alves, Elenilson Silva de Oliveira e Michel Justamand
(orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 16


José Lino do Nascimento Marinho, Maria Isabel Araújo e Michel Justamand
(orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 17


Walmir de Albuquerque Barbosa, Marilene Corrêa da Silva Freitas, Artemis de
Araujo Soares e Michel Justamand (orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 18


Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz
(orgs.), 2018

Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 19


João Bosco Ladislau de Andrade, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz
(orgs.), 2019

- 112 -
Coleção FAAS TESES
Fazendo Antropologia no Alto Solimões - Teses
Dirigida por Adailton da Silva e Michel Justamand

Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingú


Carmen Junqueira. 2018
ISBN - 978-85-5467-027-6

Da cana ao caos - Usos sociais do meio ambiente em perspectiva


comparada
Thereza Menezes, 2018
ISBN - 978-85-5467-045-0

Órfãos das letras no contexto amazônico:


memórias de uma prática docente na Tríplice Fronteira
Brasil-Peru-Colômbia
Maria de Nazaré Corrêa da Silva
no prelo

Os Rikbaktsa: mudança e tradição


Rinaldo Sergio Vieira Arruda
no prelo

Seringueiros do Médio Solimões:


fragmentos e memórias de vida e trabalho
José Lino do Nascimento Marinho
no prelo

Coleção Carmen Junqueira


Dirigida por Michel Justamand e Renan Albuquerque

Carmen e os Kamaiurá
Michel Justamand, Renan Albuquerque e Vaneska Taciana Vitti (org.)
no prelo

Carmen e o indigenismo
Michel Justamand, Renan Albuquerque e Vaneska Taciana Vitti (org.)
no prelo

- 113 -
- 114 -
Coleção Diálogos Interdisciplinares
Dirigida por Josenildo Santos de Souza e Michel
Justamand

1 - É possível uma escola democrática?


Michel Justamand (org.).

2 - Políticas Educacionais: o projeto neoliberal em


debate.
Lilian Grisolio Mendes e Michel Justamand.

3 - Neoliberalismo: a máscara atual do capital.


Michel Justamand.

4 - História e representações: cultura, política e


gênero.
Lilian Grisolio Mendes e Michel Justamand (orgs.).

5 - Diálogos Interdisciplinares e Indígenas.


Maria Auxiliadora Coelho Pinto, Michel Justamand e Sebastião Rocha de Sousa
(orgs.).

6 - Diálogos Interdisciplinares I: história, educação,


literatura e política.
Émerson Francisco de Souza (org.)

7 - Diálogos Híbridos.
Camilo Torres Sanchez, Josenildo Santos de Souza e Michel Justamand (orgs.).

8 - Diálogos Híbridos II.


Camilo Torres Sanchez, Josenildo Santos de Souza e Michel Justamand (orgs.).

9 - A educação ambiental no contexto escolar do


município de Benjamin Constant – AM
Sebastião Melo Campos

- 115 -
10 - Políticas Públicas de Assistência Social: moradores
em situação de rua no município de Benjamin Constant
– AM
Sebastião Melo Campos, Lincoln Olimpio Castelo Branco, Walter Carlos
Alborado Pinto e Josenildo Santos de Souza

11 - Tabatinga:do Conhecimento à Prática Pedagógica


Maria Auxiliadora Coelho Pinto (org)

12 - Tabatinga e suas Lendas


Maria Auxiliadora Coelho Pinto e Cleuter Tenazor Tananta

13 - Violência sexual contra crianças, qual é a questão?


Aspectos constitutivos
Eliane Aparecida Faria de Paiva

14 - A implantação do curso de antropologia na região


do Alto Solimões - AM
Adolfo Neves de Oliveira Júnior, Heloísa Helena Corrêa da Silva e Paulo Pinto
Monte (orgs.)

15 - Estudos Clássicos e Humanísticos &


Amazonidades - Vo.l. 2
Renan Albuquerque e Weberson Grizoste (org)

16 - Ars moriendi, a morte e a morte em si


Miguel A. Silva Melo, Antoniel S. Gomes Filho, Emanuel M. S. Torquao e Zuleide F.
Queiroz (org)

17 - Reflexões epistemológicas: paradigmas para a


interpretação da Amazônia
Salatiel da Rocha Gomes e Joaquina Maria Batista de Oliveira (org)

18 - Diálogos Híbridos III - Agroecologia


Camilo Torres Sanchez (org.)

19 - Processos psicossociais na Amazônia


Marcelo Calegare e Renan Albuquerque (org.)

- 116 -
20 - Teoria e prática em adminstração e ciências contábeis
I: intercâmbios nordestinos
Antoniel dos Santos Gomes Filhos, Antonio Wilson Santos, Marcos Jonaty
Rodrigues Belo Landim e Maria Erilúcia Cruz Nacedo

21 - Teoria e prática em adminstração e ciências contábeis


II:
intercâmbios nordestinos
Antoniel dos Santos Gomes Filhos, Antonio Wilson Santos, Marcos Jonaty
Rodrigues Belo Landim e Maria Erilúcia Cruz Nacedo (org)

22 - Reinvenção do rádio: tecnologia, educação e


participação
Guilherme Gitahi de Figueiredo, Leni Rodrigues Coelho e Núbia Litaiff Morix
Schwamborn (org)

23 - Afeto & Comum: reflexões sobre a práxis


psicossocial
Bader B. Sawaia, Renan Albuquerque e Flávia R. Busabello (org.)

24 - Crimes de ódio e violência contra LGBT no Brasil:


um estudo a partir do Nordeste do Brasil
Miguel Ângelo Silva de Melo

25 - Reflexões sobre violência e justiça


Ernandes Herculano Saraiva, Guilherme José Sette Júnior e Neuton Alves de
Lima

26 - Política de educação do surdo: problematizando


a inclusão bilíngue em escolas da rede municipal de
ensino de enjamin Constant-AM
Maria Francisca Nunes de Souza e Maria Almerinda de Souza Matos

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