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JISAS E EXPERIÊNCIAS
EM ENSINO DE HISTÓRIA
EDUA
lOITôll,A()AU),,l\11U-LOA0t.
UOII.AlOOA\l.,/0!'-AS
UFRR
Carla Monteiro de Souza
Marcella Albaine Farias da Costa
Organizadoras
PESQUISAS E EXPERIÊNCIAS EM
ENSINO DE HISTÓRIA
Realização
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Aldair Oliveira de Andrade (UFAM – Manaus/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid/Espanha)
Ana Cristina Alves Balbino (UNIP – São Paulo/SP)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Gilse Elisa Rodrigues (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (Anhanguera – Campo Limpo - São Paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Rita de Cassia Andrade Martins (UFG – Jataí/GO)
Roberta Ferreira Coelho de Andrade (UFAM – Manaus/AM)
Tharcisio Santiago Cruz (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)
© by Alexa Cultural
Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
Makdones Santos de Almeida
Revisão Técnica
Carla Monteiro de Souza e Marcella Albaine Farias da Costa
Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica
George Brendom Pereira dos Santos
203 p. : il.
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-5467-387-1
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Carla Monteiro de Souza
Marcella Albaine Farias da Costa
PREFÁCIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Erinaldo Cavalcanti
APRESENTAÇÃO
Boas leituras!
PREFÁCIO
alerta a escritora Eliane Brum), essa questão não deveria ser uma preocupação
apenas daqueles sujeitos e sujeitas que vivem na Amazônia e atuam na docência.
A temática indígena também é tema de reflexão no capítulo 7 intitulado
História indígena cantada: a música de Eliakin Rufino como material didático de autoria
do professor Alfredo Clodomir Rolins de Souza e professora Raimunda Gomes
da Silva. A partir dos diálogos com a Lei 11.645/2008 os professores mostram
a importância da temática como desdobramento de uma política pública e como
a música pode ser uma ferramenta importante nesse espaço de experiência e
produção de saber. Para tanto selecionam a obra musical do poeta roraimense
Eliakin Rufino, que além de poeta também é filósofo, cantor, promotor cultural
e professor cuja produção é destacada pela presença dos temas relacionados
à cultura indígena. Nesse sentido os autores sinalizam a potencialidade da
música como ferramenta de trabalho para a aula de história e, por conseguinte,
a produção musical de Eliakin Rufino, como recurso potente para estudar e
ensinar a temática indígena na sala de aula de história.
O capítulo 8 fecha a primeira parte do livro. Intitulado História e games: o
ensino-aprendizagem na perspectiva de jogadores em Roraima, é assinado pelo professor
Ronison do Nascimento Sousa e pela professora Carla Monteiro de Souza sendo
fruto da pesquisa desenvolvida no ProfHistória focalizando os jogos digitais.
Tendo o estado de Roraima como campo de estudo, os autores contextualizam
o debate acerca da temática, focalizando o “engajamento histórico” que o jogo
Assassin’s Creed – Oddyssey pode gerar entre jovens entre 16 e 20 anos. A pesquisa
mostrou, segundo os autores, que o interesse pelos jogos, demonstrados pelo
público participante, pode ser uma força mobilizadora para ampliar as reflexões
no âmbito do ensino de história, uma vez que os jogos têm força capaz de engajar
os estudantes potencializando o aprendizado histórico.
Na segunda parte do livro denominada de Experiências em Ensino de
História, contamos com três capítulos. O primeiro intitulado História das mulheres,
prática de pesquisa e a história local na Educação Básica é assinado pela professora
Rutemara Florencio. Nele, a autora apresenta uma discussão situada no campo
do ensino de História sobre os principais temas que configuraram durante muito
tempo a história escolar, e mostra como ela enfrenta essa questão a partir de sua
prática pedagógica se desdobrando daí o projeto Alguns Pressupostos sobre o Projeto
Histórias das Mulheres em Roraima, por ela coordenado. Nesse sentido apresenta ao
mesmo tempo a importância do saber docente construído na experiência da sala
de aula por meio das estratégias e escolhas desenvolvidas para lidar com temas
4 Nossa crítica se faz especialmente ao livro didático (coleção da rede Pitágoras) utilizado em 2017,
na escola particular na qual foi desenvolvido o projeto escolar Entre idas e vindas: Cartas que
entrelaçam, atividade escolar descrita na dissertação Ensino de História Indígena - uma proposta de
sequência didática a partir do projeto escolar Entre Idas e Vindas: cartas que entrelaçam da qual esse
texto é um recorte. Disponível em: http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/717739 Acesso em
28 de fev de 2023.
Missiane Moreira Silva. Ainda que não esteja disponibilizado no site da UERR,
no ano de 2022, o professor Alfredo Clodomir Rolins de Souza defendeu sua
dissertação intitulada “Ensino de História e Diferença Cultural: o/a professor/a
de História do Ensino Médio de Boa Vista/RR entre desafios e possibilidades de
uma educação intercultural”.
A partir do levantamento das temáticas dos TCCs e das dissertações das
universidades públicas do estado de Roraima, unidade da federação que conta
com a maior proporção de indígenas do país, pretendemos mostrar que existe
a necessidade de mais pesquisas e produções acadêmicas que tragam a cultura,
a ancestralidade, os saberes e as formas de resistência, e que assim ocorra uma
efetiva inclusão desses povos, dando visibilidade não apenas na academia mas
que esses saberes cheguem ao ensino básico. Essa preocupação, em um estado
que conta com uma população indígena expressiva, parece ser ainda mais
eminente, pois pode não apenas contribuir para corrigir o lapso histórico quanto
à contribuição indígena ao país, como dar espaço às etnias que tradicionalmente
habitam o estado, as quais, certamente, têm muito a ensinar.
Sobre a mudança na legislação que tornou obrigatório, nas aulas de História,
Literatura e Artes, o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, Alves
(2015) afirma ainda que:
No Brasil, desde a restauração das liberdades civis em 1985, foram adotadas diversas
medidas para garantir o direito dos índios às suas terras e ao ensino na sua própria
língua, entre outros.
Como resultado das lutas e mobilizações dos índios, a Constituição de 1988 conferiu
um tratamento inovador aos povos indígenas. Pela primeira vez na história do Brasil, foi
reconhecido seu direito à diferença (art. 231), rompendo com a busca da assimilação,
que havia prevalecido até então. Foi lhes garantido o usufruto exclusivo de seus
territórios ocupados por uso consuetudinário, definidos a partir de seus usos, costumes
e tradições (art. 231). A União foi instituída como instância privilegiada das relações
entre os índios e a sociedade nacional. Por meio do artigo 232, os indígenas e suas
organizações foram reconhecidos como partes legítimas para ingressar em juízo em
defesa de seus direitos, o que incentivou a expansão e a consolidação de suas associações.
Para isso, foram definidos canais de comunicação direta entre os índios, o Ministério
Público e o Congresso Nacional. Com tais medidas, o conceito de “capacidade relativa
dos silvícolas” (Código Civil, 1917), e a consequente necessidade do “poder de tutela”,
perdeu a validade e a atualidade. (FUNARI; PIÑÓN, 2020, p. 62-63).
Os professores que forem pensar e planejar suas aulas a partir das habilidades
EF07H103 e EF07H109, por exemplo, encontrarão muitas dificuldades, uma
vez que as orientações metodológicas pouco esclarecem ou sugerem sobre o
desenvolvimento das habilidades. Como ser mais generalista que “Ao utilizar
textos que contemplem os assuntos mencionados” ou “Também se pode
usar documentários e filmes que abordem os assuntos”?Professores ou
pesquisadores que quiserem utilizar o DCR como um ponto de partida para
conhecer a História de Roraima se depararão com um documento raso, que
não contribui com as potências da História local. Como sugestão de reescrita
dessas orientações didático-pedagógicas, incluiríamos na habilidade EF07H109a
abordagem da Revolta da Praia de Sangue, ocorrida em 1790, entre o povo
Macuxi e os soldados instalados no Forte São Joaquim, ocasião em que os
indígenas revoltaram-se contra as decisões portuguesas de viver em povoados
por eles criados. O resultado foi uma matança que chegou a tingir as águas do rio
Branco de sangue12. Na habilidade EF07H103, sugeriríamos abordar os saberes
e técnicas das Panelas de barro13, cultura milenar do povo Macuxi, que é passada
de geração em geração, valorizando a cultura desse povo.
Por outro lado, não são todos os quadros organizadores que deixam a
desejar no quesito habilidades e orientações didático-metodológicas. O quadro
organizador do 6º ano passa uma leve ideia de que cada orientação pedagógica e
a escrita das habilidades foram pensadas e planejadas, porém notamos lacunas ao
longo do documento. Vejamos os exemplos apresentados no Quadro 4.
12 Para mais informação sobre a Revolta sugerimos a leitura da dissertação de Gregório Ferreira
Gomes Filho intitulada: O Forte São Joaquime a construção da fronteira no Extremo Norte: a
ocupação portuguesa do Vale Do Rio Branco (1775-1800). Disponível em: https://www.ufsm.br/
app/uploads/sites/510/2019/01/Dissertacao-Gregorio-Ferreira-2012.pdf; o artigo de Reinaldo
Imbrozio Barbosa com o título ocupação humana em Roraima. I. Do histórico colonial ao
assentamento dirigido. (1993). Disponível em: http://agroeco.inpa.gov.br/reinaldo/RIBarbosa_
ProdCient_Usu_Visitantes/1993Ocup%20Humana_I_BMPEG.pdf.;e ainda o subtítulo 1.6 “A
reação indígena contra o Estado português e a denominada “Praia do Sangue” da tese de doutorado
do professor Reginaldo Gomes de Oliveira intitulada “A herança dos descaminhos para a formação
do Estado de Roraima”.
13 O processo de transmissão da arte de fazer a panela e parte dos componentes cosmogônicos da
oralidade, são citados na dissertação de mestrado de Éder Rodrigues dos Santos, com o título
Etnogeografia Macuxi: o lugar na memória da comunidade indígenaRaposa I.,estado de Roraima.
Disponível em:http://repositorio.ufrr.br:8080/jspui/handle/prefix/743.Acesso em: 04 jul. 2022.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. A atuação dos indígenas na
História do Brasil: revisões historiográficas. Rev. Bras. Hist., Dossiê:
O protagonismo indígena na história, v. 37, n. 75, maio/ago. 2017. DOI
https://doi.org/10.1590/1806-93472017v37n75-02
INTRODUÇÃO
Para a historiadora Sônia Maria de Freitas (2006, p.18), a história oral é “um
método de pesquisa que utiliza a técnica da entrevista e outros procedimentos
articulados entre si no registro de narrativas de experiências humanas”. Na
utilização da metodologia da história oral, é preciso buscar apoio em aporte
teórico no campo da memória.
Entendendo a importância das conceituações, podemos encontrar na
leitura em Paolo Rossi (2010, p.15-38), filósofo e estudioso da memória,
em especial do poder evocativo das imagens no medievo e no renascimento,
uma base para entendermos conceitos como os de: 1) reminiscência,
anamnese ou reevocação (que significa recuperar algo que se possuía e foi
esquecido); 2) lembrar (um esforço voluntário da mente humana), assim
como ser lembrado é uma preocupação da existência estando relacionada à
memória, à formação de identidade e ao tempo futuro, surgindo assim
demandas pelo passado; 3) esquecimento/olvido, sobre esse conceito o
autor considera duas noções: primeira noção (psicologia, psicanálise,
psicopatologia, neurofisiologia, antropologia, sociologia e narrativa)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Tradição oral e história oral: proximidades e
fronteiras. História Oral, v. 8, n. 1, 2021.
MEIHY, José Carlos Sebe B.; HOLANDA, Fabíola. História oral: Como
fazer, como pensar. São Paulo. Contexto: 2007.
PORTELLI, Alessandro. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e voz, 2010.
INTRODUÇÃO
possuem relação direta com esse patrimônio sejam estimuladas; este é o caso de
uma das autoras do presente trabalho e dos demais indígenas que residem na
Comunidade Indígena de São Marcos, sede da Fazenda com mesmo nome.
Quando se trata de patrimônio é impossível não falar de memória, uma vez que
na memória residem diversas informações que podem contribuir para a compreensão
de determinado fato. A memória nos remete à ancestralidade, elemento presente em
discussões como a deste escrito. O fato é que a memória é algo que nos demonstra a
necessidade de trazer situações tão importantes quanto estas aqui propostas.
Le Goff (2003), ao discutir memória, cita que esta constitui uma importante
função social, tendo em vista que é capaz de reproduzir diversas informações,
mesmo quando estas não possuem dados escritos, mas a partir de objetos que
assinalaram seu acontecimento. Ou seja, a maior parte dos acontecimentos que
ocorreram na História estão presentes na memória ativa das pessoas.
Então, pode-se dizer que os documentos e as lembranças formam a composição
do patrimônio histórico, sendo que dentro deste encontram-se várias informações
de um povo, desde a cultura, os modos de agir e pensar, a língua, entre outros que
podem ser classificados como patrimônio material e imaterial.
A Fazenda São Marcos é peça fundamental para a história das relações entre índios
e brancos de Roraima. Criada em 1789 pelo militar português Manoel da Gama
Lobo d’Almada, juntamente pelo com mais outras duas fazendas do mesmo tipo,
é a única que ainda existe e onde se concentra grande número de aldeias indígenas
Macuxi, Uapixana e Taurepang, com uma população superior a 1.000 pessoas. Hoje,
encontra-se invadida, devido a um processo de avanço sobre seu território, iniciado
na segunda metade do século passado e que se intensificou com os arrendamentos
concedidos pela União e pelo Estado do Amazonas (MONTEIRO, 1991, p, 1).
relacionando história geral com realidade local, fazendo o aluno perceber onde
elas se aproximam e onde se distanciam, pois desta forma é possível construir
uma aprendizagem significativa.
Esclareceu ainda que embora o local seja também tombado pelo Estado
de Roraima, a responsabilidade pelo local não é do Governo de Roraima.
FUNAI - A Folha tentou entrar em contato com a Funai, para saber de quem
é a responsabilidade pela manutenção da Fazenda São Marcos, mas até o
fechamento desta matéria, às 15h de ontem, não obteve retorno. (L.G.C)
A reportagem foi escrita por Luan Guilherme Correia. Juntamente com o texto
apresentado, é possível verificar a imagem do prédio da Fazenda São Marcos em
ruína; não é possível verificar os créditos da imagem, consta somente como “foto
divulgação”. É importante que o professor explique para os alunos que a História é
construída no cotidiano e que, dentro desse contexto, podem ser inseridos elementos
que fazem parte da história local para demonstrar ao aluno que o conteúdo mobilizado
em sala de aula tem relação com a sociedade e vivência ao qual ele se encontra.
Os jornais constituem importante fonte de pesquisa, utilizá-los pode servir
de base para estimular a ação do professor/pesquisador, proporcionando
a investigação em sala de aula da educação básica. Fonseca (2009, p. 215), ao
abordar sobre o uso de jornais na escola, cita que “o professor de história, ao
incorporar em sua prática pedagógica a releitura da imprensa periódica, articula
saberes e possibilita a formação da e para a cidadania”.
Ao se fazer uso dessa fonte é possível estimular o pensamento crítico do
aluno, assim como levá-lo a refletir sobre a construção da mesma, ou seja, a quem
atende essa fonte? Quem escreveu conseguiu passar a mensagem sem manipular
o seu sentido real? Para quem foi criada? Todas essas perguntas são passíveis de
serem trabalhadas em sala de aula com os alunos, provocando os mesmos para
uma percepção mais crítica em relação aos documentos.
Figura 6 - Casa de uma das moradoras mais antigas da Comunidade Indígena São Marcos.
As questões norteadoras para direcionar essa aula podem ser: de que forma
a fotografia poderá ser utilizada nas aulas de História da Educação Básica?
Fotografia é uma fonte? Existe a possibilidade de análise crítica à imagem
representada? Quais significados podem ser atribuídos à fotografia pelos alunos?
São indagações que são necessárias para se pensar a prática de sala de aula e,
assim, trabalhar com imagens de forma satisfatória e facilitadora do processo de
ensino-aprendizagem.
Acredita-se que uma das formas mais significativas de produzir
conhecimento com os alunos é indagando os mesmos durante o processo de
aprendizagem, fazendo-os refletir sobre as imagens que lhes são apresentadas.
Quais significados podem ser encontrados nas imagens? Quais apropriações e
simbologias elas suscitam? Inúmeras são as conversas que pode-se ter com a
fonte; cabe ao professor direcionar esses questionamentos e estimular o olhar
crítico do aluno. Alberti (2019, p. 108), ao discorrer sobre as perguntas às fontes,
cita que “para cada tipo há formas específicas de abordagens, mas determinadas
perguntas devem ser feitas a todos os documentos”.
O uso de fotografias pode ser explorado em sala de aula, mas deve-se atentar
a alguns pontos que devem conter para bom uso dessa fonte, conforme cita
Bittencourt (2008, p. 368):
Para ensinar com ajuda de imagens o professor deve ter em mente que a fotografia
funciona como um mediador cultural, ou seja, atua na interação entre conhecimentos
prévios e novos conhecimentos. Esta interação ocorre de forma dialógica, onde
está presente a ideia de múltiplas vozes, o contato com várias linguagens. (GEJÃO;
MOLINA, 2008, p. 01)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Fontes. FERREIRA, M. M.; DIAS, M. D. (coordenação).
In.: Dicionário de Ensino de História. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2019.
SITES
FONTES
INTRODUÇÃO
À pergunta sobre por que ensinar história regional (ou qualquer outro tema
na disciplina escolar de história), pode-se responder a partir de uma concepção
de didática da história que serve às demandas sociais de orientação no presente
(CERRI, 2010, p. 13; RÜSEN, 2001, p. 57), o que exige a participação ativa
de docentes e discentes. Isso não é mera retórica pois, longe de ser um mero
simplificador de conteúdos, o(a) professor(a) deve ser um intelectual que ajuda a
comunidade a avaliar criticamente os quadros de consciência histórica existentes (as
representações sobre o passado, ou ideias prévias dos estudantes, tão influenciadas
por ideias de fora da escola, como os meios de comunicação de massa, famílias,
amigos etc.) e contribui para a sociedade elaborar uma compreensão mais crítica
sobre as identidades e ações humanas no tempo (CERRI, 2010, p. 18). Sem essa
perspectiva, de que serviria a disciplina de História na escola?
Particularmente, estudar a história dos espaços mais próximos fisicamente
de professores(as) e estudantes sempre evidencia o quanto as ações humanas
ao longo do tempo moldaram suas vidas atuais. Em Roraima, essa necessidade
parece ser ainda mais premente, dado o grau de apagamento do passado
regional (principalmente sobre os povos indígenas presentes no estado).
Em suma, estuda-se história na escola para a formação cidadã, para que as
pessoas se orientem no presente. Ignorar a história local e regional produz um
distanciamento artificial entre o universo dos alunos e o conhecimento histórico.
À compreensão do “por que” ensinar, seguem-se as dúvidas sobre “com
que” ensinar história regional. Um lugar-comum entre educadores(as) é a falta de
material sobre a região e a localidade para utilizar didaticamente na escola, dado
que os livros didáticos do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) são
geralmente produzidos no Sudeste e no Sul do país. Sabemos que as condições
objetivas de trabalho docente na educação básica realmente dificultam o estudo
sistemático dos recursos existentes, refletindo a extrema desvalorização do ofício
de mestre na sociedade brasileira (remuneração baixa, excesso de trabalho, descaso
O município do Cantá foi criado pela Lei Estadual No. 99 de 17 de outubro de 1995,
com terras desmembradas do município de Bonfim.
Recebeu esse nome por estar muito próximo da serra do mesmo nome. Sua população
de acordo com o censo realizado pelo IBGE, em 2010 era de 13.903 habitantes. Com
uma área territorial de 7.691 km2 e uma densidade demográfica de 1,80hab./km2. O
município tem os seguintes limites: ao Norte com os municípios de Bonfim e Boa
Vista; ao Sul com o município de Caracaraí; a Leste com o município de Bonfim; a
Oeste com os municípios de Boa Vista, Iracema e Mucajaí através do rio Branco.
A rede pública de educação do Cantá possibilita que 741 estudantes frequentem o
ensino Pré-Escolar, 3.303 o ensino fundamental e 604 o ensino médio. Na área da
saúde, o município dispõe de postos médicos na sede e nas localidades do interior. Na
sede, há rede de distribuição de água potável, assim como fornecimento de energia
elétrica que se expande por todas as vilas do interior.
É o município cuja sede é a mais próxima da capital: apenas 38 km de distância.
As principais vilas pertencentes ao Cantá são: Serra Grande I, Serra Grande II, Vila
Central, Félix Pinto, Vila União e Santa Cecília. A economia municipal está baseada na
produção da agricultura de subsistência, pecuária de leite e agroindústria caseira para
o abastecimento de Boa Vista.
O primeiro prefeito do Cantá foi o senhor Paulo de Souza Peixoto, empossado em
1997 e reeleito em 2000, seguido do senhor Zacarias Assunção Ribeiro Araújo e
Josemar do Carmo. Em 2012 foi eleita Roseny Cruz Araújo. Em 2016 foi eleito Carlos
José da Silva com 1.918 votos (FREITAS, 2017, p. 91-92).
História local não precisa ser somente a história da cidade ou do Estado, muitas
vezes feita nos mesmos moldes de uma história nacional – ou seja, uma listagem
de prefeitos/governadores ou de pessoas tidas como importantes, muitas das vezes
pela sua condição social privilegiada. Para um melhor aproveitamento dos recortes
possíveis, o trabalho com história local precisa da mobilização de conceitos comuns
também à geografia, como os de paisagem, região, território. Eles servem como
guias para a delimitação dos objetos de estudo, conferindo inteligibilidade ao tema/
espaço/recorte selecionado (COSTA, 2019).
Essa expedição não sobe sequer o rio Negro – apenas o piloto-mor, como era
de costume, adiantou-se às demais embarcações para fazer o reconhecimento
da área, atestando que subiu o dito rio “por duas ou três jornadas” (dias). Ora,
isso não era necessariamente suficiente para chegar ao Branco e muito menos
para “conquistá-lo” para Portugal (FERNANDES; FILHO, 2014). O relato
mais completo, escrito pelo padre espanhol Cristóbal de Acuña, menciona um
“braço” do rio Negro que teria ligação com o “rio grande” (possivelmente o
Essequibo) que desembocaria no mar do Norte (mar do Caribe), “onde estavam
os holandeses”. Também menciona que em algumas partes havia “campinas
cobertas de pastos que poderiam servir para inumeráveis cabeças de gado”
(ACUÑA, 1641, parte LXV)8. O “braço” do rio Negro que oferecia essa
comunicação com o litoral da Guiana poderia ser o rio Branco, mas fica claro
que a expedição de Pedro Teixeira só tinha uma confusa ideia dessa hidrografia,
obtida de forma indireta pelos informantes indígenas. Na parte LXVI, Acuña
explicitamente registrou que, descendo o rio Amazonas de volta a Belém, os
portugueses estavam na boca do Rio Negro em doze de outubro de 1639 e,
convencidos de que não seriam recompensados do rei pela façanha da expedição,
tentaram convencer o comandante a “encontrar remédio para sua pobreza”
subindo o rio Negro para fazer muitos escravos. Pedro Teixeira hesitou e chegou
a tomar providências para esse empreendimento, mas os padres Acuña e Artieda
fizeram um requerimento escrito para demovê-lo da ideia, lembrando-lhe que já
demoravam 8 meses de Quito até ali, e ainda faltavam 600 léguas para chegar a
Belém (quanto tinham previsto levar apenas 2 meses para chegar àquela cidade)
e que a legalidade de se escravizar os povos daquela região era muito duvidosa,
além de expor a expedição e a própria cidade de Belém a riscos desnecessários.
Segundo Acuña, esse requerimento convenceu Pedro Teixeira a abandonar a
ideia de subir o rio Negro, seguindo viagem para Belém.
No século XVII, missionários e militares portugueses já disputavam com os
espanhóis o alto Solimões e começavam a se estabelecer na barra do rio Negro
(1669), instalando aldeamentos missionários como Santo Elias do Jaú9 (1694) e
Itarendaua ou Pedreira10, de onde os padres enviavam seus prepostos ou aliados
8 O livro de Acuña sobre a viagem de retorno de Pedro Teixeira, digitalizado pelo Google Books,
pode ser obtido em https://books.google.com/books/download/Nuevo_descubrimiento_del_
gran_rio_de_las.pdf ?id=R28BAAAAQAAJ&output=pdf
9 Posteriormente renomeada como Lugar de Airão, no contexto das reformas pombalinas e do
Diretório dos Índios.
10 Depois rebatizada como Vila de Moura, núcleo rionegrino importante na colônia e no império para
o baixo rio Branco.
dependiam de nós” (p. 251). Ofereceu uma primeira descrição dos indígenas da
região, apontando algumas questões de seus costumes, apresentando as etnias:
“As nações pois que habitam aquelas povoações são as seguintes: Paraviana,
Uapixana, Sapará, Aturaiu, Tapicari, Uaiumará, Amaripá, Pauxiana” (p. 253). Na
sequência apresentou as etnias que ainda não “se acham reduzidas”, questão
muito importante para o projeto colonizador português: “Cariponá, Macuxi,
Uaicá, Securi, Carapi, Sepurú, Umaiana” (p. 253). A essas acrescentou, ainda, os
Tipiti e os Guariba Tapuya. Embora não revele muitas informações sobre esses
povos, ainda assim anotou algumas informações importantes para a compreensão
da configuração dos povos que habitam/habitam a região, os descimentos,
alguns costumes e o desaparecimento de etnias ao longo desse primeiro período
de colonização da região.
Finalizando a narrativa, relacionou animais, plantas e minerais do rio Branco,
para informar “as utilidades que podem resultar a Portugal dos estabelecimentos
do Rio Branco”. Nesse sentido, é de grande importância a primeira utilidade
apontada por Ribeiro Sampaio: “formar uma barreira para opor aos holandeses
e espanhóis, e cobrir com ela as nossas províncias interiores” (p. 267). Ou seja,
naquele momento, a principal importância em “conquistar” a região era de servir
como obstáculo à passagem dos “invasores” aos principais rios amazônicos.
Outra questão interessante, anotada pelo autor, está relacionada ao
comércio: a necessidade de estabelecer entre os povos o gosto pelo “supérfluo e
comodidade”, de modo que “o meio mais natural de comerciar com estes povos,
que não tinham necessidade alguma (no seu modo de viver) dos nossos gêneros
e mercadorias, era o fazer-lhes a gostar” (p. 268), torná-los “industriosos”,
entrando, assim, na economia pretendida pelos colonizadores. Ponderava
Sampaio, “porém, o fruto principal, que será resultado utilíssimo de uma colônia
de brancos ou europeus no Rio Branco, é o estabelecimento de fazendas de gado
vacum nos dilatadíssimos campos que o rodeiam” (p. 269).
Outro erudito que visitou o rio Branco foi Alexandre Rodrigues Ferreira,
naturalista formado na universidade de Coimbra após a modernização acadêmica
empreendida pelo Marquês de Pombal. Já no reinado de Dona Maria I, foram
organizadas Viagens Filosóficas, as primeiras expedições científicas organizadas
de forma científica por Portugal. Uma delas foi destinada à Amazônia e Mato
Grosso. A expedição fez parte de uma tentativa de Portugal conhecer melhor
seus domínios, de modo que
chama a atenção a menção ao gado, como vimos uma constante nas narrativas
de viagens e elemento importante para a economia da região. Assim, destaca
a introdução do gado, “para a produção do qual tem todas as propriedades e
comodidades, os imensos e férteis campos do rio Branco” (ALMADA, 1861,
p. 663). Descreveu a população da região, “que constam de cinco povoações,
denominadas Carmo, Santa Maria, São Filippe, Conceição e São Martinho; são
povoadas de índios” (p. 669). Depois de estabelecer o quantitativo de pessoas
para cada povoação, passou a enumerar 22 etnias indígenas que habitavam a
região, apresentando basicamente sua localização e, algo de suma importância,
se contavam com indivíduos aldeados ou não. Assim, apareciam os Paraviana,
Caripuna, Macuxi, Wapichana e Sapará.
No final do século XVIII, um outro militar português registraria a
decadência e o abandono dos aldeamentos no baixo rio Branco. Um porta-
bandeira realizou uma imensa viagem de Belém até Paramaribo, via rios
Amazonas, Negro, Branco, Tacutu, Rupununi e Essequibo, para entregar “uma
carta dirigida pelo real ministério ao doutor David Nassí, residente na colonia
hollandeza de Surinam”. Fez diligências, inspecionou e conheceu parte das
divisas com o Suriname...” (BARBOSA; FERREIRA, 1997, p. 199).
O porta-bandeira Francisco José Rodrigues Barata (1770-1838) nascera
em Portugal e viera para o Pará em companhia de seu irmão, que se estabeleceu
como fazendeiro na ilha de Marajó. Seguiu carreira militar, desempenhando
funções em várias partes da capitania. Obteria o hábito de cavaleiro da Ordem
de Cristo em 1810 e o hábito da ordem de Aviz em 1813. Chegaria a coronel da
infantaria de linha do Pará e aderiu à Revolução do Porto em 1820, integrando a
junta provisória que governou a capitania. Foi eleito deputado às Cortes de Lisboa
em 1823, retornando ao Pará e exercendo a advocacia (PIRES, 2013; RICCI,
2013). Tanto ele quanto os demais viajantes descreveram em maior ou menor
detalhe as dificuldades e as técnicas de navegação no rio Branco, principalmente
a desafiadora corredeira hoje chamada de Bem-Querer, a montante de Caracaraí.
Era necessário descarregar as canoas e passá-las puxando por cordas, ou as
carregando pela margem do rio. Tarefa que cabia aos remadores indígenas, nesse
quesito sempre elogiados pela destreza, força e coragem.
14 Um artigo recente, com bastante material sobre a história da Serra Grande de Caraumã no Cantá,
pode ser obtido facilmente na internet (FONSECA, 2022).
Figura 1: Mapa desenhado por Nicolau Horstman para Charles de La Condamine, 1740
(GRAVESANDE, 1911).
Figura 2 : Mapa de H. Coudreau (1887) situando Boa Vista, Canauanim e Malacacheta, no atual
município do Cantá (detalhe)
FONTE: Henry Codreau. Voyage au Rio Branco aux Montagnes de la Lune au haut Trombetta (Mai
1884-avril 1885)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As narrativas desses viajantes não podem ser lidas de forma ingênua. Elas
informam tanto sobre nossa região quanto sobre as ideias dos próprios autores
e das pessoas e instituições que os financiavam. Usar essas fontes em sala de
aula deve ser uma oportunidade também de ajudar os estudantes a exercitar a
criticidade. É possível encontrar a todo tempo nos textos (e em suas entrelinhas)
ideias de sua época a respeito das relações de gênero, étnicas e econômicas.
Embora fosse notável alguma empatia e mesmo benevolência paternalista ou
condescendente de Ribeiro de Sampaio, Lobo D´Almada ou Alexandre Rodrigues
Ferreira em relação aos povos indígenas, o lugar reservado a estes na visão de
mundo dos três agentes régios era claramente de subordinação. Seus escritos,
que não foram publicados em vida, tinham uma circulação restrita e, destinados
à administração central portuguesa, procuravam enfatizar as potencialidades
econômicas e os riscos geopolíticos na região.
Mesmo nas aparentemente inocentes e desinteressadas narrativas científicas
de viagem, de que são paradigmáticas as obras de Charles de La Condamine
(LA CONDAMINE, 1992) e Alexander Humboldt, as populações locais são
frequentemente instrumentalizadas pelos europeus (são informantes, guias,
carregadores, remadores), tidas como disponíveis, assim como os recursos
naturais descritos pelos viajantes. A relação dos viajantes com esses povos é uma
relação colonial (PRATT, 1999).
Mesmo observadores cultos e experientes como Theodor Koch-Grünberg
ou os irmãos Schomburgk estavam aprisionados a esquemas interpretativos,
tradições culturais e preconceitos que os levavam, por exemplo, a atribuir mais
“asseio”, “honestidade” e “beleza” aos povos que iam encontrando mais e
mais longe do porto colonial de Georgetown (por exemplo, os Macuxi e os
Wapishana) e, inversamente, enxergavam outros povos como menos confiáveis,
preguiçosos e descuidados, em relação direta com a proximidade ao litoral e aos
colonos europeus. Ora, os Schomburgk não se davam conta de que a forma
como eles próprios se relacionavam com cada um desses povos era diferente:
nas aldeias mais próximas do poder colonial, os naturalistas impunham suas
reuniões, condições e regras, não aceitavam negociar pagamentos dos serviços
– sentiam-se, assim, em área de domínio europeu. No interior mais distante do
poder colonial e de possibilidade de serem socorridos pelos europeus, os irmãos
Schomburgk sujeitaram-se às regras, ritos e condições dos indígenas (FRANK,
2007). Era compreensível que os indígenas do litoral tivessem menos ânimo a
colaborar do que os do interior, portanto. Da mesma forma, a descrição elogiosa
e mesmo respeitosa dos povos indígenas feita por esses etnógrafos alemães tinha
uma explicação em sua formação e em seus objetivos científicos, assim como
Rondon (RONDON; VIVEIROS, 2010), no século XX, criticaria os maus tratos
dos fazendeiros brasileiros contra os povos ameríndios do rio Branco em função
de sua visão de mundo positivista e de sua compreensão sobre como garantir a
soberania brasileira nessas fronteiras.
REFERÊNCIAS
ACUÑA, C. DE. Nuevo descubrimiento del gran rio de las Amazonas.
Madrid: Imprenta del Reyno, 1641.
INTRODUÇÃO
pela mídia e grupos econômicos do estado como sendo um erro. Nas palavras
de Repetto (2008, p. 91):
Tal ponto de vista se expressa ainda nas palavras dos/as indígenas de Roraima
que vivem na TI Raposa Serra do Sol, constantes em seus documentos sobre os
resultados e ações naquele período de demarcação:
atacados em nossas próprias casas e roças tem um valor e um efeito incalculável para
as nossas comunidades. (DOSSIÊ, 2017, p. 11)
Como é do conhecimento daqueles que lidam com educação escolar, temas como
conflitos relacionais, relações de gênero, inclusão, racismo, deficiência física, cidadania,
diversidade, violência, questão étnico-racial, trabalho infantil, religião/laicidade
e culturas juvenis referem-se a questões candentes com as quais os professores,
alunos, pais e outros sujeitos escolares se deparam cotidianamente, da Educação
Infantil ao Ensino Médio, e que, no entanto, não constam nas propostas curriculares
convencionais. Racismo, violência sexual e de gênero, intolerância religiosa e
discriminação existem na sociedade e na escola, todos sabem, mas frequentemente
não são vistos como questões a serem tratadas no currículo, ainda que apareçam
frequentemente nos discursos educacionais. (NETO & LOURENÇO, 2017, p. 17).
História pode ter uma função muito importante nesse combate, pois junto com
os componentes curriculares de Literatura e Artes, devem discutir a história dos
povos e da cultura indígena, desde a implantação da lei federal 11.465/08.
Sendo assim, a próxima seção discutirá as reflexões suscitadas pela questão
indígena a partir do componente curricular História e sua importância no
currículo da educação básica, especialmente no ensino médio, como uma aliada
na luta contra o preconceito étnico.
povos indígenas em Roraima. Para maior entendimento dessa situação acesse o link https://
boavistazonaoeste.ifrr.edu.br/mini-cartilha-do-ifrr-para-combate-ao-racismo-indigena-e-
disponibilizada-ao-publico
10 Historiadores, geógrafos e intelectuais importantes do século XIX.
Dentro das escolas, nas ruas, nas mídias modernas e antigas, nas universidades, o
problema da invisibilidade das sociedades indígenas se impõe como um obstáculo
para se compreender a riqueza da diversidade dessas culturas. Essa invisibilidade ainda
está nos livros didáticos e nos currículos de história e reflete o saber oficial, a visão
das elites, sejam elas políticas, culturais ou econômicas (BITTENCOURT, 2013)11.
Esse discurso que generaliza e naturaliza a história, tomando a visão de mundo de
determinado setor da sociedade, tornando-o amplo e cristalizando a visão etnocêntrica,
decerto gera o preconceito contra as sociedades indígenas. Atualmente, o Governo
Federal vem insistentemente mantendo esse discurso, colocando o indígena em uma
condição “primitiva” quase animalesca, pregando a necessidade de uma “integração”
à sociedade nacional, alcançando o invejável status de cidadão brasileiro. (SILVA,2019,
pp. 126-127).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, A. Ensino de História e Cultura Indígena: trabalhando com
conceitos, desconstruindo estereótipos. Revista Espaço Acadêmico –
número 168 – maio de 2015, pp. 42-54.
_______. Cultura com Aspas. São Paulo: Cosac & Naify. 2009.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
DEMAIS PUBLICAÇÕES
INTRODUÇÃO
adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak (2020), “Cartas para minha avó”, de
Djamila Ribeiro (2021), entre outros artigos, vídeos e podcasts sobre a temática
do afeto, da ancestralidade e do ensino de História2.
Nosso texto, em síntese, é uma expressão cardiográfica (RIBEIRO, 2019)
do que pretendemos defender na formação de professores de História, ou seja,
é um traçar gradativo que se dá considerando o sentir como potência criadora
e criativa, tendo o coração como mestre. Acreditamos que ao partilhar nossas
impressões poderemos contribuir para romper possíveis barreiras que insistem
em manter a narrativa da História do Ensino de Ensino em um viés unilateral e,
portanto, excludente. Essa história única (ADICHIE, 2009) não cabe mais em
nosso campo; é preciso tensionar-lá e deslocá-la para a escuta ativa de vozes por
tanto tempo silenciadas. É preciso conhecer o Norte, problematizar as relações
sociais e os saberes que são produzidos na fronteira. Eis, portanto, um convite
epistemológico para que no rio de palavras que se mostra a seguir mergulhemos
nas águas dos igarapés desses saberes ancestrais e na força dos rios que trazem o
vento da renovação desta região transfronteiriça que é a região amazônica.
fronteira vivem diferentes grupos étnicos e que a “história sociopolítica desses grupos
às vezes se traduz em conflitos (...) que produzem demarcações outras que não as
originalmente criadas pelas redes de relações sociais e pelos sistemas simbólicos ali
presentes”. Denomina esses grupos étnicos de povos da fronteira. É, desses grupos
étnicos que provém professores e alunos de quem queremos tratar neste texto.
Assim sendo, é bom que se diga que estamos discutindo a realidade dos
povos fronteiriços, no extremo norte do Brasil, com recorte para a formação
de professores no estado de Roraima. Problematizamos a Amazônia de modo
a discutir e interpretar os sistemas simbólicos na/da vida desses povos, pois
formar professores implica discutir: quem formar? Para qual realidade? A partir
de quais processos históricos?
Em Roraima forma-se professor para trabalhar com povos ribeirinhos,
caboclos, indígenas, seringueiros, migrantes nacionais, migrantes internacionais
e os moradores locais, enfim - os amazônidas, pessoas que a partir da segunda
geração daqueles que para essa região migraram ou são fruto dos casamentos
interétnicos que aqui ocorrem. Eles são definidos por diferentes autores como:
“ser da Amazônia”; “povos da Amazônia”; “homem da Amazônia” e aqui
acrescentamos “povos da fronteira”. Há, portanto, uma discussão de identidade
que articula o ser ao lugar, o modo de viver, e as relações sociais e culturais que
ali se desenvolvem (grifo nosso).
Portanto, ser professor amazônida ou na Amazônia requer corresponder/
discutir as três questões anteriormente apontadas e que aqui vamos frisar: quem
formar? Para qual realidade? A partir de quais processos históricos? E, por fim,
conhecer e se reconhecer no dilema da identidade amazônida em sua pluralidade.
Se na história do tempo presente há que se problematizar sobre o ensino de
História no contexto de Roraima e da Amazônia, o que queremos com essa
discussão é estabelecer relações entre a formação de nossos alunos em futuros
professores e o passado mais recente dessa região. Situamos a história do tempo
presente desde os grandes projetos na Amazônia; a exploração dessa região para
servir às outras regiões na produção de energia; fonte aurífera explorada até
os dias de hoje, ou mesmo quando surgiu no cenário mundial como a última
fronteira econômica.
Como parte desse contexto nos interessa apresentar o estado de Roraima,
no qual atuamos como professores de professores, e onde existem duas
universidades públicas que formam docentes de História para a rede de educação
básica pública e privada das escolas nas áreas urbanas e rurais, sendo a maioria
dessas instituições situadas na área urbana, uma vez que Boa Vista, a capital,
concentra a maioria da população: 419 mil habitantes ou seja (66,04%), segundo
o IBGE3. Nesse estado também existem as escolas indígenas para as quais
nossos alunos não-indígenas ainda atuam como docentes, ainda que se saiba de
um crescente número de professores indígenas a se formarem a cada ano e que
são integrados a essas instituições de ensino em suas áreas indígenas. Essa é,
portanto, a realidade que compõe o recorte de Roraima e da Amazônia do qual
estamos tratando aqui.
São os pesquisadores dessa região e outros que nos levam a conhecer os
estudos que problematizam a presença e ausência das narrativas dos sujeitos
sociais da Amazônia. Violeta Loureiro da UFPA (2002), por exemplo,
problematiza que a história da Amazônia tem sido uma trajetória de perdas e
danos: “E nela, a Amazônia tem sido, e isso paradoxalmente, vítima daquilo que
ela tem de mais especial – sua magia, sua exuberância e sua riqueza”. Benedito
Barbosa da UFRR/RR (2014, p.04) chama a atenção para a escravidão negra na
Amazônia em artigo que faz levantamento em livros publicados sobre esse tema,
mostrando que a “a presença africana é anterior ao período pombalino e que já
constituía uma das vertentes da política portuguesa no estado do Maranhão e
Grão-Pará, fato que ainda é pouco abordado pela historiografia quando se trata
de escravidão negra”. Fraxe, Witkoski e Miguez, da UFAM (2009) discutem o
“ser da Amazônia” problematizando a identidade e a invisibilidade deste diante
do conceito de modernidade e pós-modernidade, para então, discutir relações
desiguais. Jaci Guilherme Vieira da UFRR (2014 e 2019) tem nos seus estudos
uma extensa pesquisa sobre os povos indígenas de Roraima e da região amazônica
na confluência das relações com os movimentos sociais dessa região e a luta por
se manterem vivos em seus territórios.
Citamos esses estudos para referendar que o trabalho pedagógico de formação
docente tem no esteio dessas produções acadêmicas e outras tantas o contexto
da realidade e os processos históricos dos quais se faz necessário para o ensino
de História dessa região. Entretanto, muitos desses estudos enriquecedores
das Ciências Humanas do extremo norte se constituem inexoravelmente das
narrativas dos sujeitos sociais – os amazônidas (caboclos, seringueiros, indígenas,
negros, ribeirinhos e migrantes) que endossaram esses estudos em narrativas,
memórias e expressões plásticas de suas vivências, ainda que por meio da
pesquisa em fontes secundárias, traduzindo a memória do que foram, fizeram e
3 Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rr/panorama Acesso: 10 dez. 2022.
Não é difícil perceber como há tantas qualidades que a escuta legítima demanda do
seu sujeito. Qualidades que vão sendo constituídas na prática democrática de escutar.
Deve fazer parte de nossa formação discutir quais são estas qualidades indispensáveis,
mesmo sabendo que elas precisam de ser criadas por nós, em nossa prática, se nossa
opção político-pedagógica é democrática ou progressista e se somos coerentes com
ela. É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade,
respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura
ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos,
identificação com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática pedagógico-
-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica (FREIRE, 1996, p.45).
Brasil, perguntando aos discentes o que eles pensam quando ela falava naqueles
que já estavam aqui antes da chegada dos europeus. Várias foram as respostas
dos alunos: “folgados”, “preguiçosos”, “ladrões de terras” ...
O estado de Roraima é majoritariamente indígena, as falas apresentadas
pela professora de História demonstram como é visto a população que em sua
maioria forma esse lugar. Na graduação é imprescindível o trabalho científico-
-pedagógico que considere os povos originários, suas riquezas de saberes e o
afeto na formação de professores. Afinal, como nos ensinou Caimi (2009, p.71),
“para ensinar história a João é preciso entender de ensinar, de história e de João”;
com isso a autora mostra quão complexo é o processo de ensinar.
Dessa forma, defendemos que o afeto e a ancestralidade são caminhos potentes
para que a educação possa trilhar processo de ensino mais empático e atento ao outro.
O fato dos alunos da educação básica se referirem aos primeiros habitantes como
“preguiçosos”, “ladrões” e “folgados” faz com que os educadores da disciplina de
História fiquem em alerta visto que, como dissemos, a população é majoritariamente
composta por povos indígenas de diferentes etnias. Desse contexto de desconfiança
vamos redefinindo em quais direções o conhecimento deve ser pautado, desde a
bibliografia a ser escolhida para o ensino até as formas de abordar os diferentes
sentidos da história local ou do processo histórico até aqui vivenciado.
O debate sobre a ancestralidade na formação de professores em uma
universidade no norte do país é fundamental ao lermos essa situação que ocorreu
em sala de aula da nossa cidade, pois os sujeitos históricos precisam reconhecer
a omissão de debater demandas locais como as relações racializadas que aqui em
Roraima envolvem: não-indígenas e indígenas, negros e não-negros e migrantes
de diferentes nacionalidades. E, por conseguinte, a interculturalidade na educação.
A ancestralidade e o afeto são categorias importantes para a formação
de professores de História, pois uma formação que pensa a realidade e a
historicidade dos antepassados daqueles sujeitos históricos que formam essa
região vai contribuir no desenvolvimento dos discentes das escolas públicas a se
pensarem também como sujeitos produtores de conhecimento. A Amazônia é
vista pelo senso comum como um grande vazio, como um lugar em que animais
silvestres andam pelas ruas ou como uma localidade onde apenas vivem “índios”
desconhecidos. Portanto, visando combater esses estereótipos, é significativo e
necessário trabalhar em uma disciplina que forme professores para as escolas
públicas/privadas, urbanas/rurais com a escuta das pessoas que compõem e
fazem cotidianamente o estado de Roraima.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
considerando as diferentes etnias que habitam a região norte e os outros povos que
vivem na fronteira, bem como os idiomas e dialetos que aqui são falados. Estamos,
portanto, trabalhando com a cultura da região amazônica e ao sentido geopolítico
que se dá a esse lugar para além da fronteira em terras brasileiras.
O esforço pedagógico no qual se envolveu professora, monitor e alunos do
curso de História foi para mencionar, dar visibilidade e se autoconhecer na história
do outro, contribuindo para a quebra das narrativas históricas centradas no eixo
sul e sudeste do país. Trata-se aqui de refletir por meio do material audiovisual,
imagens e entrevistas situações e partes significativas da História Social de Roraima
que não foram narradas em livros e artigos, mas que compõem as letras de músicas,
as narrativas de lendas e causos, que aparecem nos saberes dos mais velhos e que
estão tatuado no corpo daqueles que ainda resistem ao apagamento da história.
Portanto, destacamos a riqueza das imagens de São Sebastião em esculturas
ou pinturas na igrejinha; das fotografias resgatadas de tempos distintos da Escola
Ana Libória que nos levaram a conhecer e dar visibilidade a uma personagem
importante da história educacional do estado de Roraima; do aprendizado sobre
uma das religiões de matriz africana realizado no podcast sobre a Umbanda, que
teve como propósito explicitar alguns aspectos dessa religião em uma linguagem
adequada à sala de aula da educação básica; da entrevista de Dircinha que reforça
que a cultura popular está na dança, na musicalidade; da leveza em forma de cores
e ludicidade da junção de figurinhas de um grande quebra-cabeça em apoena; do
vídeo que explica a origem do estado e a relação deste com a ditadura civil-militar
em tempos de ainda Território Federal. Tudo isso com um toque de criatividade e
autoria discente na contextualização sobre os processos migratórios e os arranjos
políticos que desenham as narrativas sobre Roraima.
Todo esse material, sem sombra de dúvida, constitui demonstração de que
a História é propulsora da dinâmica cultural pela qual os povos criam e recriam
suas identidades e processos históricos. Conheçam e compreendam a potência
que é a região amazônica na produção de conhecimentos para o campo do
Ensino de História. Urge como presente da nossa ancestralidade.
REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda. Os perigos de uma história única. Ted. 2009.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v= D9Ihs241zeg&t= 5s
Acesso em: 10 dez. 2022.
RIBEIRO, Djamila. Cartas para minha avó. São Paulo: Companhia das
Letras, 2021.
SILVA,TiagoNicolauda.Racismoreligiosoeeducaçãoantirracista:oenfrentamento
à intolerância religiosa a partir do estudo de religiões de matriz afro-brasileira em
Boa Vista-RR. 2022. 82 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História)
– Curso de Licenciatura em História, Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, 2022.
INTRODUÇÃO
Isto significa que a Escola, pensada para as elites, tendo a Europa como
modelo, como padrão, não atenderia às demandas do “povo em geral”, das
pessoas comuns, originárias de um universo culturalmente distante daquele. O
que deveria ser ensinado ao povo? Qual o significado do que era ensinado? A
Escola permitida ao povo servia para quê? Especialmente na sociedade brasileira,
diversa culturalmente, qual cultura ou quais culturas, estavam representadas no
currículo e na cultura escolar? Estas questões deram o tom desse debate.
Para Candau (2012) o caráter homogeneizador, padronizador, acaba
transformando a diferença cultural em desigualdade social. Mas como isso
acontece? A Autora nos esclarece:
São políticas públicas que têm como objetivo corrigir injustiças, discriminações
e promover a inclusão social e cidadania para todos no sistema educacional
brasileiro, tendo como meta o direito dos negros (e indígenas) de se reconhecerem
na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem de
maneira individual e coletiva, seus pensamentos (BRASIL, 2004).
Em 2008, a Lei Nº 10.639/2003 foi ampliada pela de Nº 11.645/2008, que
inclui no âmbito de todo o Currículo, a História e a cultura dos povos indígenas e
da África, dos africanos e afro-brasileiros. Vão colocar em xeque a cultura escolar
(SILVA; COSTA, 2018). São fundamentais na potencialização daqueles grupos
historicamente excluídos deste processo.
A Lei afeta, sobretudo, o Ensino de História, o que nos leva a pensar em
que medida a História ensinada contribuiu e/ou contribui na construção da
concepção de indígena que guardamos na memória, os conhecimentos que
temos destes povos e suas implicações para eles e para não indígenas.
Houve na trajetória da História ensinada uma tentativa de se criar
uma imagem da nação como se fosse um todo homogêneo, a partir de uma
perspectiva eurocêntrica, uma sociedade herdeira da civilização europeia, com
o claro objetivo de negar a real e complexa heterogeneidade que caracteriza a
sociedade brasileira. O que se vê é uma tentativa de silenciar a herança escravista,
negar a história dos índios e dos negros, visando construir um passado único,
uma Histórica única. Contribuiu para isto a difusão de que somos uma sociedade
caracterizada pela democracia racial. Nas palavras de Bittencourt (2008):
A teoria da democracia racial, é preciso salientar, foi criada para fundamentar uma
homogeneização cultural e omitir as diferenças e desigualdades sociais [...] um
povo mestiço, que carrega os males de uma fusão de grupos selvagens indolentes
(índios que não queriam ser escravos e se rebelavam contra esse trabalho não digno
para a grandeza da pátria) e de negros africanos submissos e sem vontade própria,
sem desejo de vencer na vida! A preguiça e a indolência, frutos dessa mestiçagem
democrática, eram, ou ainda são, responsáveis pela pobreza da maioria da população
(BITTENCOURT, 2008, p. 199).
A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas
pode fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a
habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores
habituais. Logo, com palavras, signos, paisagens e telhas (LE GOFF, 2008, p.530).
Portanto, é o/a professor/a e o seu objetivo a ser atingido que irão dar
sentido ao uso de determinado documento como material didático. No que se
refere à utilização dos novos documentos como fontes no ensino de História,
Marcos Napolitano (2008) ressalta que:
Vou me embora pra maloca/ Sou amigo do pajé/Carne seca pra poçoca/Cuia cheia
de xibé/Vou me embora pra maloca/Peixe, paca, buriti/Farinha de mandioca/
Damorida, caxiri/Vou pintar a minha cara/Pra dançar o Parixara/Noite alta Lua
clara/Pra dançar o Parixara/Cocar de pena de arara/Pra dançar o Parixara/Noite
1 Habitação dos povos indígenas de Roraima. Também se refere à comunidade.
alta Lua clara/Pra dançar o Parixara (PARIXARA, 2009, In: Roraimeira: o canto de
Roraima, CD, faixa 4).
Ao primeiro contato com a letra desta canção, outro texto vem de imediato à
nossa memória. Vou-me embora pra Pasárgada, do poeta Manoel Bandeira, que traz
a ideia da existência de um lugar maravilhoso para viver, uma intertextualidade que
pode ser aproveitada para uma interessante parceria com professor/a de Literatura.
Ao ouvir a canção, acompanhando a letra, temos a impressão que o autor
tem intenção mesmo de deslocar a representação do lugar onde o indígena vive
(a maloca) que ainda predomina no imaginário do não indígena. À medida que
vai apresentando aspectos da cultura e iguarias da culinária, vai criando um clima
e a sensação de que se trata de um lugar bom para se viver, de muita fartura de
alimentos, de festas nas noites de lua, onde se bebe caxiri2 e se dança o parixara3.
Esse quadro do lugar traz um contraste com a ideia muito difundida na
História e nos livros didáticos de que o indígena é um “selvagem”, que mora
na floresta em casas de palhas (MEDEIROS, 2012; SILVA; COSTA, 2018) e,
pensando este cenário pela lógica colonial etnocêntrica, civilizatória, ocidental,
isto seria sinônimo de atraso, um lugar menos importante em relação à “cidade”,
tida como espaço de pessoas civilizadas do homem moderno, civilizado.
O professor pode iniciar as discussões partindo do próprio título da canção,
Parixara e a partir daí, refletir sobre o que é e o que esta dança representa para os
povos indígenas, principalmente os povos das etnias Macuxi4 e os Wapichana5,
e em que ocasião se dança. Em seguida ir explorando as possibilidades de
refletir sobre o pajé, o xibé6, o caxiri, os hábitos alimentares e suas iguarias,
como a damurida7. Quais desses alimentos fazem parte da culinária da população
brasileira em geral? Enfim, esta é uma ferramenta que exige muita sensibilidade
e conhecimento do/a professor/a sobre as questões em debate. Ele/Ela pode
inclusive, convidar um/uma indígena para falar da vida cotidiana nas comunidades
ou mesmo programar uma visita com os/as alunos/as.
2 Bebida fermentada feita de batata ou de mandioca. Comum entre as etnias Macuxi e Wapichana.
3 Dança dos povos indígenas de Roraima. Mais comum entre os Macuxi e Wapichana.
4 Etnia de filiação Karib que habita um território de fronteira entre o Brasil e a Guyana.
5 Etnia de filiação Aruak, hoje ocupa o vale dos rios Uraricoera e Tacutu a Leste de Roraima.
6 Bebida feita com farinha e água açúcar ou sal. Consumida entre os povos indígenas e não indígenas
de Roraima e da Amazônia.
7 Iguaria da culinária indígena de Roraima. Consiste de um caldo bastante apimentado que pode ser
de peixe ou de carne.
Um dos bons debates que pode se abrir durante as aulas com o tema
em questão é em relação ao lugar do indígena na sociedade brasileira? É nas
comunidades, nas malocas? A cidade não é lugar para o indígena? Como vivem
os indígenas nas cidades? No caso de um estudo da História de Roraima, este
tema é de suma importância, dado o grande número de indígenas que vivem
na cidade de Boa Vista, capital do estado. Neste caso, outra música do referido
compositor, intitulada Tudo índio, tem elementos históricos que podem auxiliar
o/a professor/a.
A música “Tudo Índio”, gravada no CD Mestiço em 2005, é cantada em
forma de RAP. O autor faz alusão aos indígenas que moram na cidade de Boa
Vista. Identificando os bairros da periferia onde há grande incidência destes
povos. Faz uma espécie de denúncia às condições de vida destas etnias.
Denuncia ainda o trabalho e as ocupações desta gente como sorveteiros,
desempregadas domésticas e biscateiros. Ironicamente chama atenção para a
participação dos meninos e meninas nas festividades juninas, (atividade folclórica
da cultura brasileira) onde “fazem papel de índio”. “Tudo índio, tudo parente”.
O termo “parente8” se refere à maneira como os indígenas se tratam entre si.
Vejamos o que diz a letra:
Eu conheço um Wapixana que mora no Treze9/E ele sabe de outros cem/ Que
também moram lá/ Muita gente índia, muita gente/ No conselho indigenista/Macuxi
do São Vicente/Tudo índio, tudo parente/ Em cada bairro da cidade/ Cada tribo tem
o seu representante/ Os tuxauas se reúnem/ Toda semana/ Na associação do Asa
Branca/ Tudo índio, tudo parente/ Eu conheço Yanomami que vende sorvete/ E um
pedreiro Taurepang10 que vive de biscate/ As mulheres índias/ Longe da maloca e da
floresta/ Sobrevivem como desempregadas domésticas/ E os milhares de meninos e
meninas/ Fazem papel de /índio no boi /Durante as festas juninas/Tudo índio, tudo
parente (TUDO ÍNDIO, 2005. In: Mestiço, CD, faixa 10).
Esta música pode ser uma ótima ferramenta para problematizar a condição
de vida do indígena na cidade de Boa Vista, uma tentativa de levar os alunos
para a realidade que está ao seu redor. A sala de aula, a escola, a rua, a cidade. Há
indígenas por toda parte, e a partir daí levantar questões. A começar pela origem
do termo “índio”. Por que há tantos indígenas na cidade? De onde vieram?
8 Este termo passou a ser usado entre indígenas para se referir a outro indivíduo, que pode ser de sua
etnia ou de outra.
9 Se refere ao bairro Treze de setembro da capital Boa Vista, assim como Asa Branca e São Vicente.
São bairros com expressiva população indígena.
10 Etnia que se auto designa Pemon e vive na tríplice fronteira Brasil, Guyana e Venezuela.
Desde quando vivem neste espaço? Por que vivem quase sempre na periferia
da cidade? Por que ocupam aqueles postos de trabalho? Devido a significativa
presença indígena Boa Vista/RR passou a ser conhecida como Maloca Grande
(LIMA; CIRINO, 2016), este ponto pode ser debatido a partir desta música.
Esta visão múltipla de indígena favorece ao/à aluno/a perceber a diversidade
de indígenas e experiências na cidade. Desestabiliza a visão congelada de ser
índio/a, compreender que assim como nós mudamos eles(as) também mudam.
Dependendo da época, a cidade também pode ser um espaço para morar,
trabalhar, se qualificar e lutar pelos seus direitos, a exemplo das lideranças
indígenas que se deslocam para cidade para atuar junto às suas organizações.
O/A professor/a tem ainda a oportunidade de discutir, no caso de Boa
Vista, sobre o limite entre estes dois universos culturais, a maloca e a cidade.
Afinal, esses povos habitam estes espaços há muito tempo, foram na verdade,
os primeiros habitantes deste território, cada povo com suas origens, culturas e
histórias e que tiveram suas terras invadidas pelos colonizadores e que lutaram e
lutam até os dias de hoje contra um processo de colonização.
Outra perspectiva de leitura trata da diversidade de etnias e experiências
na cidade, que também pode provocar reflexões de gênero ao indagar como as
mulheres e homens indígenas são representados/as nas músicas e como os/as
alunos/as concebem. Conforme Carla Bassanezi Pinsky (2009, p. 34) um olhar
de gênero “não só procura o que há de cultural nas percepções das diferenças
sexuais como também a influência das ideias criadas a partir destas percepções
na constituição das relações sociais em geral”.
Essas discussões vão encaminhando outras reflexões. É o caso de se discutir
sobre o índio que habita em cada brasileiro e roraimense. O referido compositor
traz essa problemática num poema cantado quando afirma: “Todo brasileiro é
índio!” Afirma isso nos versos de “Nós somos da mesma aldeia”, do CD Mestiço,
gravada em 2005. Vejamos a letra:
Todo brasileiro é índio/ Índios já foram milhões/ Este Brasil mestiço/ É a soma
de muitas nações/ E cada dia que nasce/ Nasce uma nova nação/ Os mesmo
traços na face/ As mesmas linhas na mão/ Sem borduna / Sem tacapes/ Só o som
dos atabaques/ E a roda de se dançar / Sem flechas/Sem canhões/ Só o som dos
corações/ E a vontade de abraçar/ Sem feitor/ Sem capataz/ Só o som dos maracás/
E o canto da lua cheia/ Sem medo / sem violência/ Só o som da consciência /Nós
somos da mesma aldeia (NÓS SOMOS..., 2005. In: Mestiço, CD, faixa 2).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. O tecelão dos tempos:
novos ensaios de teoria em história. São Paulo: Intermeios, 2019. 276 p.
SILVA, Gionavi José da; COSTA, Ana Maria Ribeiro F.M. da. Histórias
e culturas indígenas na Educação Básica. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2018. 152 p.
INTRODUÇÃO
1 O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRR. Os participantes
foram esclarecidos sobre do que se tratava o questionário e deram consentimento, por meio da
assinatura dos documentos: TALE – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido e TCLE - Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, com o consentimento dos pais, no caso dos menores de 18 anos.
2 Conforme Bárbara Regina Lopes Costa (2018), na técnica de amostragem Bola de Neve “o
pesquisador especifica as características que os membros da amostra deverão ter, depois identifica
uma pessoa ou um grupo de pessoas congruentes aos dados necessários, na sequência, apresenta a
proposta do estudo e, após obter/registrar tais dados, solicita que o(s) participante(s) da pesquisa
indique(m) outra(s) pessoa(s) pertencente(s) à mesma população-alvo”. Quando utilizamos as redes
sociais, a autora renomeia a técnica para “Bola de Neve Virtual”, que por meio da “estratégia viral
[...] apoia-se no fato da mensagem ser enviada por um emissor do círculo social do receptor, dando
a chance de a mensagem ser encarada de forma amistosa”, estratégia usada nesta pesquisa por conta
das limitações impostas pela pandemia de COVID19.
estudantes, para que o professor possa ter múltiplas opções dentro do processo
ensino-aprendizagem.
Professores de História já ouviram ou estão acostumados a ouvir que a sua
disciplina é apenas memorização, “decoreba”, ou que só precisa saber de datas
e eventos, como se isso fosse suficiente para a compreensão de determinado
processo, questão ou aspecto histórico ou do passado, seja ele distante ou recente.
Questionando esta visão estereotipada, os currículos, assim como as metodologias
no ensino de História também vêm se modificando ao longo do tempo. Circe
Bittencourt ressalta que “os métodos de ensino baseados na memorização
correspondiam a um entendimento de que ‘saber história’ era dominar muitas
informações”, ou seja, o desejável era “saber de cor a maior quantidade possível
de acontecimentos de uma história nacional” (2011, p. 69). Com a ampliação das
pesquisas na área do Ensino de História, se passou a compreender esse processo
como insuficiente para a compreensão dos processos históricos, levando ao
remodelamento do ensino da História, nas últimas décadas. A discussão sobre o
uso de variados recursos didáticos tem ganhado cada vez mais importância não
apenas na academia, mas principalmente no dia a dia do professor, como cada
vez mais colegas preocupados em aproximar o conteúdo histórico às realidades,
vidas e trajetórias dos seus alunos.
Assim, o “pensar historicamente” tem fundamentado a prática de muitos de
nós, no sentido do que nos diz Cerri, de que não existe apenas um sentido para
essa expressão, mas que é algo indubitavelmente ligado à ideia de questionar
sempre o que está sendo repassadas de maneira simplista, muito subjetiva ou de
forma desconexa. Portanto, devemos sempre levar em conta o contexto em que
estes conteúdos foram produzidos, observando “seu tempo, suas peculiaridades
culturais, suas vinculações com posicionamentos políticos e classes sociais, as
possibilidades e limitações do conhecimento que se tinha quando se produziu o
que é posto em análise” (2011, p. 59).
Segue o autor, explicando que o pensar historicamente é ato dinâmico, é
pensar “padrões de entendimento típicos de uma forma de geração de sentido
histórico correspondente a uma configuração moderna, científica e dialogante de
consciência histórica, complementando que a geração de sentido histórico também
é histórica!”. Liga-se, portanto, “a capacidade de beneficiar-se das características do
raciocínio da ciência histórica para pensar a vida prática” (2011, p. 61).
Isso nos leva a refletir sobre um ponto crucial desta pesquisa, que perpassa
pela concepção de como os sujeitos observam os jogos digitais. No jogo, existe
tendo em vista que o jogador é levado a imaginar que está inserido no ambiente
revolucionário e que este deve tomar uma decisão para avançar de “fase”) torna
isso uma tomada de decisão, pensada, refletida mesmo que por um tempo curto.
Este e outros aspectos nos inquietam ao pensar a relação entre o pensar
historicamente e os jogos digitais, e claro, como o sujeito (gamer) está inserido
nisso e como ele se enxerga nesse processo, pois um ponto fundamental da
aprendizagem histórica é, sem dúvida, essa consciência quanto a competência
narrativa (experiência, interpretação e orientação). Como aponta Brougère (2002,
p. 16), “o jogo pode ser um espaço de aprendizagem em relação a esses mesmos
conteúdos, mesmo se isso não é visado pelo jogador”. Como um produto
comercial voltado para o entretenimento e o lazer, o game não se caracteriza por
“uma vocação particular para a educação”, mas, sim, por “uma riqueza potencial
de conteúdos culturais e de processos de construção, de transformação desses
mesmos conteúdos”, acrescentando que, neste aspecto “pode aparecer como
uma situação complexa do ponto de vista cultural [e educacional], porque instaura
um espaço fictício ou mimético rico de significações culturais”. Ainda assim, o
autor defende que jogar um game pode acompanhar “aprendizagens informais ou
implicar aprendizagens anteriores para dominar esses conteúdos”. Isso nos faz
pensar que o jogo pode ser muito mais do que algo lúdico, mas um instrumento
para ensinar e aprender História.
7 Ver: https://newzoo.com/insights/articles/brazilian-games-market-consumer-insights-brazils-
mobile-players-are-likelier-to-play-competitive-midcore-games. Acessado em: 18/11/2022.
algo negativo a priori, pensando que ir na contramão de um mundo cada vez mais
digital e virtual pode não ser a melhor estratégia quando lidamos com jovens.
O jogo pesquisado, Assassin’s Creed – Oddyssey,8 integra a série de jogos
Assassin’s Creed de conteúdo histórico, sendo um game de estratégia que não
privilegia a violência no seu enredo, mas as sociedades humanas e suas práticas
como cenários dos jogos. Se passa na Guerra do Peloponeso, confronto entre
Atenas e Esparta, que durou cerca de 30 anos, entre 431 e 404 a. C. O game
envolve as fictícias Ordem dos Assassinos e o Culto de Cosmos, em um enredo
e cenário baseado na Grécia Antiga, que é explorado por um mercenário, um
neto fictício de Leônidas de Esparta. Um dos pontos interessantes do jogo é a
possibilidade de interagir com figuras como Hipócrates, Pitágoras e Sócrates e
cenários como a Acrópole ou o Teatro de Dionísio.
Segundo o site Showtec, os desenvolvedores e artistas realizaram “uma densa
pesquisa histórica e arqueológica para recriar o mundo grego com o maior nível
de exatidão e fidelidade possível”. O mapa do jogo, assim como o visual das
personagens e dos animais, “que interagem com o ambiente de forma dinâmica e
mais viva do que nunca antes na série”, produzem que “o resultado é surpreendente,
para dizer o mínimo”. Tendo como base o RPG (Role Playing Game), pontuado
por tarefas diversificadas e arriscadas, o próprio subtítulo do jogo já nos remete à
Antiguidade Grega, ao referenciar-se na icônica Odisseia de Homero.
Nossa experiência com esse game, mostra que principalmente as grandes
franquias como Assassin’s Creed, recebem grandes investimentos aplicação de
tecnologias de alto porte na sua elaboração, acaba por proporcionar melhor
jogabilidade e imersão, temáticas complexas e verossímeis. Jenkins afirma que
jogos desse tipo são “verdadeiras obras”, configurando-as como “narrativas
transmidiáticas” (2015, p. 150), ou seja, que incorporam recursos do cinema, da
animação, da fotografia e da literatura, e, neste caso, conhecimentos históricos e
arqueológicos, dentre outras áreas.
Neste sentido, consideramos que a identificação de elementos históricos
pelos sujeitos se aproxima do que nos diz Chartier (2009) acerca da literatura,
quando enfatiza que esta pode exercer influência e significar elementos relevantes
para as sociedades, talvez até maiores que os textos históricos, tendo em vista
que o plano real direciona o texto histórico, enquanto a ficção pode conter
elementos e fundamentos do real, ainda que não haja garantia disso. Considerar
8 Sobre as informações sobre o jogo, ver: https://tecnoblog.net/responde/assassins-creed-a-ordem-
cronologica-da-serie-completa/ e https://www.showmetech.com.br/review-assassins-creed-
odyssey-e-uma-aventura-digna-dos-deuses-gregos/. Acessado em: 15/08/2022.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
nos jogos com os discutidos em sala. Nossos dados, abriram um caminho fértil
para investigarmos esse tema em profundidade, somando-nos a outros estudos
sobre a aprendizagem histórica e o uso de metodologias ativas, ou seja, aquelas
que promovem a participação ativa e reflexiva do estudante e a uma postura de
engajamento em relação ao seu próprio processo de aprender.
Diante do que foi abordado anteriormente, podemos afirmar que os jogos
conseguem engajar os estudantes para o aprendizado histórico, não apenas pelo
seu grau lúdico, mas pela proposta desafiadora de vencer e alcançar determinados
objetivos ou superar aquilo que é proposto. Assim, é interessante pensar o jogo
como algo que pode contribuir e pode auxiliar no desenvolvimento cognitivo,
social e educacional.
No caso dos jogos com temática histórica, há inúmeras possibilidades de
fomentar o trabalho crítico necessário ao estudo da História, enfatizando noções
como tempo histórico, sujeito histórico, estruturas sociais e culturais, correlação
entre passado e presente. Possibilita mobilizar várias formas de conhecimento
e estabelecer vínculos com as várias fontes e informações que os estudantes
adquirem ao longo da vida.
É certo que essa discussão sobre os jogos digitais, pode oferecer um auxílio
em sala, como acontece com outros materiais, como fotografias e audiovisuais
(documentário, filmes, desenhos). Essa não é uma discussão recente, muito
menos a é “salvação da lavoura”, mas fortalece, cada vez mais, as discussões
sobre a necessidade de um processo ensino-aprendizagem dinâmico, que deve
estar em constante mutação e atento às demandas sociais e culturais emergentes.
Para viabilizar de fato a “velha” premissa de que é preciso aproximar os
estudantes do conteúdo a ser aprendido, incorporando ao processo de ensino
aprendizagem seus saberes e experiências, temos que encarar seriamente a
questão dos recursos didáticos e do uso de novas tecnologias e mídias. A
polêmica envolvendo os jogos sempre foi um fator para que professores
evitassem o seu uso, em grande parte porque nós, educadores, por vezes somos
repreendidos quando saímos da “bolha” educacional na qual somos obrigados a
atuar, na qual um ritmo rígido e rigoroso pautado na transmissão de conteúdos,
no cumprimento do programa, leva a um ensino apático que muitos alunos estão
fadados a ter e a ver.
Mas acima de tudo, como professores, precisamos nos reinventar. Nossos
alunos estão em constante mudança, caminhando juntos com as mudanças
vivenciadas na atualidade, e nós, professores, também estamos vivenciando essas
REFERÊNCIAS
AZEVEDO JUNIOR, Mariano. Videogames e Consciência Histórica: A
experiência narrativa das ficções históricas em Bioshock. IN: XXVIII
Simpósio Nacional de História. Florianópolis-SC, 2015.
COSTA, Bárbara Regina Lopes. Bola de Neve Virtual: O Uso das Redes
Sociais Virtuais no Processo de Coleta de Dados de uma Pesquisa Científica.
RIGS, Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v.7 n.1 jan./ abr. 2018.
Rutemara Florencio
invisíveis nas páginas, deixando a critério dos professores se vão fazer referência
ou não ao tema. Além do mais, a construção didática do material disponibilizado
para as escolas se ampara também naquilo que as avaliações nacionais pedem,
como por exemplo, o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
A superexposição de conteúdos centrados na política e economia foi
observada em uma pesquisa de mestrado realizada entre 2009/2010 com alunos
do Ensino Médio os quais destacaram que tais aspectos eram predominantes
tanto nos materiais didáticos quanto como assunto nas aulas de história ao longo
da escolarização (FLORENCIO, 2011).
Os alunos pesquisados observaram que o material didático disponibilizado
tanto pelo sistema público de ensino quanto pelo sistema privado tinha
como foco as relações de poder no âmbito político, assim como os aspectos
econômicos da vida social e eram, nas aulas de história, os principais pontos
do ensino e aprendizagem. Os jovens da pesquisa também deixaram evidente
que estavam interessados ‘também’ em outros assuntos a serem discutidos nas
aulas de história tais como a vida de personagens históricos diversos (homens
e mulheres), os programas com teor histórico que são veiculados pela televisão,
assim como o uso de outros materiais que não apenas os livros didáticos usuais.
Se para os alunos que cursaram o ensino médio há quase dez anos atrás as
aulas de história deveriam mostrar uma maior diversidade de temas e materiais
didáticos, o que os alunos de hoje dessa mesma modalidade de ensino pensam a
respeito das aulas de história e suas temáticas? Uma hipótese é a de que assim como
os estudantes pesquisados em 2010, os discentes de hoje gostam de uma maior
diversidade de temas que a historiografia oferece sem que a questão política seja
negligenciada, pois, como os alunos de 2010 disseram, a política faz parte da vida.
Assim, acreditamos que os aspectos políticos da vida cotidiana que envolvem as
relações de poder no âmbito do Estado, nos relacionamentos pessoais, econômicos
e sociais devem estar conectados a personagens e a fontes de pesquisa diversas que
deem uma perspectiva ampla de participação de todos na construção da história
local e nacional, envolvendo não apenas homens, mas, mulheres.
Rüsen (2011, p.116), ao abordar sobre o livro didático, observa que esse deve
considerar “experiências e expectativas dos alunos e alunas, sobretudo com seu
apego geral, específico de cada de cada geração, de suas próprias oportunidades
na vida, bem com as experiências cotidianas”. Concordamos com o autor e
entendemos que o livro deve traduzir, também, a participação das mulheres
temas se faz necessário, uma vez que o mundo social é uma teia onde a política,
economia e cultura são oriundos da sociedade como um todo, ou seja, construído
por homens e mulheres de diferentes etnias, idades e classes sociais.
Sendo a política e a economia, a cultura e as relações sociais exercícios de
homens e mulheres, vemos como necessária e atual a inserção nas aulas de história
da educação básica da temática História das mulheres. Historicamente as mulheres
ocuparam e ocupam espaços determinantes na sociedade, sendo tão importantes
quanto os homens na condução de reinos, tais como as rainhas que governaram
a Grã-Bretanha, por exemplo. Existem outros exemplos históricos de presença
das mulheres em espaços de poder, em ações de lutas por direitos, exercendo
resistências a um mundo onde os homens tinham prioridade em determinadas
profissões e até mesmo de decisão sobre a vida delas e dos filhos, etc.
Jane Austen, ícone da literatura inglesa e mundial, usou seus romances para
questionar a sociedade inglesa do século XVIII que limitava tanto a liberdade
da mulher quanto sua autonomia econômica. Exemplos estão nos romances
Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade que trazem personagens femininas
sem direitos de participar da herança do pai e sempre correndo o risco de se
verem arruinadas com a morte deste, já que a propriedade da família, pela lei,
pertenceria ao parente do sexo masculino mais próximo sem que nada fosse
dado às filhas ou à esposa. A autora também questionou, através da literatura,
a necessidade que as mulheres daquele período social tinham em arrumar
casamentos que lhes proporcionasse sustento e segurança, pois, a elas não restava
outra opção de sobrevivência.
Em todas as épocas, mulheres atuaram contra o status quo que lhes impunha
um lugar e um papel social específico. Não podemos afirmar que tais atuações
foram pensadas e organizadas tendo como objetivo atingir mudança de paradigma
nas estruturas que embasam os significados do ser homem ou mulher, porém, as
ações em si demonstram a não conformação com a condição social relegada às
mulheres em todas as épocas. Aqui e ali, há séculos ou mesmo hoje, as mulheres
agem, saem de suas casas e vão à luta por seus interesses. Mary Del Priore (2017)
no livro que organizou sobre História das Mulheres no Brasil tece aspectos
do mundo feminino que valoriza a ação, a busca por direitos e resistência às
imposições culturais ou sociais que elas exerceram ao longo da história.
Se por um lado as mulheres são personagens importantes historicamente,
por outro não possuem a devida visibilidade nas salas de aula como objeto de
estudo e nem ocupam espaço mais amplo nos livros didáticos. Tal circunstância,
levou-me a trazer o tema para sala de aula no Ensino Médio, objetivando, com
isso, que os alunos pudessem observar as mulheres como sujeitos históricos e
construtoras também da história da humanidade.
Para se trabalhar com História das Mulheres em sala de aula da educação
básica, obter um material didático de acordo com esse tema se constitui como
questão primordial. Sabemos que a leitura é um hábito não muito praticado pelos
estudantes e, sem material que traga referências a respeito do tema que se quer
abordar, o trabalho se torna mais difícil, pois História é leitura e através dela,
ajuda a construir bases para reflexão e debate. Nesse ponto, era fundamental
obter materiais impressos ou de mídia que trouxessem a história das mulheres
para dentro da sala no sentido de familiarizar o assunto junto aos alunos.
Na pesquisa virtual por material acessível aos discentes que priorizasse uma
linguagem mais adequada à modalidade do ensino médio, observamos que a
maioria dos trabalhos que trazem as mulheres como tema de pesquisa e estudo,
e que estão disponíveis na internet, são destinados à academia, tais como artigos
científicos, dissertações e teses. Além dessa limitação, os temas abordados nesses
trabalhos não se relacionam com o ensino de história na escola, mas sim com
pesquisa histórica como, por exemplo, a história da educação das mulheres. Dessa
forma, não encontrando material didático adequado, optou-se por três textos
da coletânea organizada por Priore (2017): Eva Tupinambá (Ronald Raminelli),
Mulheres pobres e violência no Brasil urbano (Rachel Soihet) e De Colona a
Boia-Fria (Maria Aparecida Moraes Silva).
A coletânea, composta de 20 textos, oferece um panorama das mulheres
como sujeitos da história, assim como as mudanças culturais e sociais que se
operaram ao longo dos séculos nesse grupo específico. Por abrangerem vários
períodos históricos, a escolha pelos três textos foi devido a cada um trazer aspectos
da mulher exercendo papéis sociais diversos em determinados grupos, assim
como comportamentos relacionados a classes sociais e mudanças no exercício
do trabalho. Com os textos os alunos poderiam não dar conta de uma ampla
história das mulheres, mas se familiarizar com o assunto observando as mudanças
e permanências nas estruturas de poder que envolvem também a mulher, assim
como a cultura exercida por elas e as resistências ao status quo dominante.
Os textos analisados apresentam, além das narrativas sobre as mulheres
em diferentes épocas, informações a respeito das fontes consultadas para a
organização da narrativa. Tal característica se mostrou relevante, pois, além de
estudar a temática, os alunos tiveram contato com os tipos e usos de fontes sobre
estudado, tinham feito no ano anterior quando estavam no 2º ano: “Não estudei.
Creio eu que essa história não foi abordada porque os professores davam aula de
acordo com o livro. Porém, no técnico em enfermagem estudei a história de duas
mulheres que foram importantes na área da saúde” (Aluna, 17 anos). A mesma
aluna concorda que é importante tratar de uma história das mulheres na sala de
aula onde elas sejam personagens visíveis dos fatos e acontecimentos históricos:
“Porque nós mulheres também somos capazes de ser e fazer. Poderíamos saber
que fomos ‘principais’ em algum acontecimento histórico e isso pra sermos
reconhecidas pelos cidadãos assim como são os homens”.
As duas respostas revelam que a aluna gostaria de ser representada em uma
temática que privilegia as mulheres, porém não teve, ao longo da escolarização, o
enfoque visível dessa representação. Observando todas as respostas da pesquisa
diagnóstica, nenhum dos pesquisados discorda da inserção das mulheres como
tema central na disciplina escolar e acham importante estudar sobre elas inseridas
no processo histórico em geral e dentro da história local.
A pesquisa diagnóstica também revelou que os alunos não desenvolveram
pesquisa de campo ao longo de sua escolarização. Apenas dois responderam de
forma afirmativa sobre terem feito pesquisa, porém, foi em outras disciplinas
escolares. Essa particularidade demonstra que há uma preferência nas aulas de
história, pelo conhecimento mediado pelo livro didático.
Severino & Severino (2013, p. 30) destacam que “as estratégias didáticas
mais fecundas são aquelas que envolvem uma atividade operacional contínua.
É assim que os estudantes construirão, paulatinamente, os seus conceitos”. Os
autores defendem que o aluno deve ter oportunizado, por parte dos professores,
situações onde “possam vivenciar experiências ou realizar investigações de
campo, igualmente com o objetivo de iniciar o trabalho científico”. O processo
de investigação científica, nesse caso, propicia uma aprendizagem significativa a
respeito não apenas do objeto de investigação em si (que é uma fonte) como de
todo contexto que o inclui.
A pouca opção pela pesquisa de campo no contexto da escolarização
básica é surpreendente numa época onde a discussão sobre a qualidade da
aprendizagem e o protagonismo do aluno na construção do conhecimento são
defendidas por pesquisadores da educação, professores e outros agentes ligados
à escola. Schmidt e Cainelli (2010, p. 54), observam que o ensino de História
tem como objetivo provocar a reflexão do aluno sobre a realidade em que vive.
As autoras destacam que “do ponto de vista didático-pedagógico, só é relevante
de pesquisa” (Aluna 1, 18). “Trazer informações para professores e alunos que vão
estudar sobre o assunto no futuro” (Aluno 1, 17). “Tornar visível a participação
das mulheres na sociedade em geral, principalmente na de Roraima” (Aluno 2,
18). “Porque há falta de informações sobre a história das mulheres de Roraima e
também a ensinar os alunos a fazer pesquisa de campo” (Aluna 2, 17).
As respostas dos estudantes mostram que eles compreenderam as motivações
de realizar um trabalho com a temática História das Mulheres porque evidenciam
uma problemática: não há fontes de pesquisa disponíveis sobre um assunto que é
necessário abordar na sala de aula. Além disso, associaram o tema à importância
da mulher na sociedade, porém, sem que elas tenham visibilidade, tanto nas salas
de aula quanto nessa sociedade que é construída por elas no cotidiano. Também é
interessante chamar atenção para o fato de estarem aprendendo a fazer pesquisa,
coisa que não aprenderam de forma sistemática durante o processo de escolarização.
Sobre isso, Severino e Severino (2014, p. 10-11) observam que “é tarefa pedagógica
prévia, de responsabilidade do processo educativo, sensibilizar o aluno para o
significado e para a importância do trabalho organizado e sistemático”.
Todos os alunos consideraram a temática importante para sua vida uma vez
que “as histórias dessas mulheres [entrevistadas] dão uma lição a cada um de
nós já que vemos como é grande a participação delas na sociedade” (Aluna 3,
18). Aqui observamos a importância do contato dos alunos pesquisadores com
as mulheres que entrevistaram, pois ressaltam que aprenderam nessa relação.
Existe, na ação da pesquisa, a necessidade de identificação do pesquisador com
o objeto de sua pesquisa, fazendo com que haja uma aprendizagem significativa.
Concordamos com Severino e Severino (2014, p. 08) quando dizem que
a aprendizagem significativa só acontece quando existe um “processo de
construção do conhecimento, o que, por sua vez, exige do aprendiz uma postura
de maior autonomia na condução do estudo, com maior grau de iniciativa de sua
parte”. Essa questão ressaltada pelos autores vem ao encontro ao que uma aluna
(Aluna 4, 18) observou: “o momento mais importante de todo trabalho foi na
entrevista onde me dei conta de que as mulheres são de tudo um pouco: mães,
trabalhadoras, guerreiras. Eu aprendi muito nesse trabalho”. A estudante mostra
que o contato com a entrevistada foi momento de aprendizagem significativa
para vida dela. Bittencourt (2012, p. 138) faz uma relação entre a seleção de
conteúdos significativos e a impossibilidade de o professor tratar de uma “história
da humanidade”. Segundo a autora, também existe “a necessidade de atender os
interesses das novas gerações, além de estar atento às condições de ensino”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História
Fundamentos e Métodos. 4ª edição. São Paulo: Cortez, 2012.
PRIORE, Mary Del (org.) História das Mulheres no Brasil. 10ª edição.
São Paulo: Contexto, 2017.
INTRODUÇÃO
Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem estar
orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que
os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades,
atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização
desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação
das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as
aprendizagens essenciais definidas na BNCC (BRASIL, 2018, p.13).
O lúdico é uma estratégia insubstituível para ser usada como estímulo na construção
do conhecimento humano e na progressão das diferentes habilidades operatórias,
além disso, é uma importante ferramenta de progresso social e alcance de objetivos
institucionais (SANTOS, 2001, p.2).
1 VALLE, Herika Souza. GALVÃO, Suelen. Produção e utilização de jogos nas salas de aulas
de história: uma possibilidade lúdica para aprendizagem significativa numa escola pública
de educação básica. In. Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces. Editora
cientifica, Guarujá, 2021.
2 Suspensão das aulas presenciais na rede estadual roraimense - Decreto Nº 28.587-E de 16 de
março de 2021. Disponível em <http://www.imprensaoficial.rr.gov.br/app/_visualizar-
mes/?ano=2020&mes=03>. Acesso em 2 de dezembro de 2022.
Suhe era a âncora das aulas, fazendo uma chamada para as propostas de trabalho
daquele dia estabelecido no cronograma escolar, sendo uma conexão direta com
os/as estudantes, aproximando-os virtualmente. Assim eles eram questionados
sobre a realidade vivida naquele momento, como se fosse os entrevistados por
um expectador do futuro, têm-se como exemplo, a primeira missão intergaláctica
intitulada ‘Semana 1- Cartas para o futuro’, conforme imagem a seguir.
FONTE: As autoras .
Imagem 5 – Mural Virtual Padlet.
FONTE: As autoras.
Para atender a uma demanda dos estudantes, também foram produzidos vídeos
curtos trabalhando alguns conceitos, pois a inviabilidade de uso das plataformas
de interação direta, fez com que sentissem falta do falar de sua professora, já que
alguns se habituaram à sua forma de contextualizar os temas propostos.
Assim sendo, foi possibilitado aos alunos um arsenal de fontes interativas
e lúdicas, visando o despertar de seu interesse e autonomia na pesquisa e
investigação histórica, reforçando o protagonismo proposto na BNCC e
estimulando a apropriação de saberes através da investigação e pesquisa.
S3N1 – Viajando na maionese S3N2- Dom João e o retorno S3N2 – Império e Dia do
(negacionismo, terraplanismo) à Portugal Estudante
METODOLOGIA
e rápidos, é comum que sejam usados suportes mais interativos para o consumo.
Assim, normalmente elas chegam nos formatos de: vídeos com apresentador
ou animação, jogos, textos complementares, podcasts. Indubitavelmente, estes
formatos interativos mencionados, propulsionaram a estação por rotação como
estratégia para que ocorresse a aprendizagem (SASSAKI, 2016).
Ainda é importante ressaltar que a base teórica se deu a partir da perspectiva
da Consciência histórica, Teoria da Didática da História proposta por Jörn Rüsen.
Na concepção de Rüsen (2012), a Teoria da Didática da História está sintetizada
em cinco pontos relevantes, sendo eles: recuperação do enraizamento da história
no cotidiano; compatibilização método e sentido por meio da narrativa histórica;
consideração das informações históricas presentes na sociedade como influência
ao pensamento histórico; ser uma porta de entrada para as contribuições alemãs
acerca da Didática da História; e possibilidade de uma pesquisa no ensino da
história que considere as ideias dos estudantes.
Aqui se aponta que esses pontos chamaram atenção e forneceram subsídios
para elaboração das atividades. Pois, cada missão intergaláctica solicitada aos
estudantes, estava apontando o lugar da história na sociedade, sua íntima relação
com o cotidiano da vida prática (práxis da vida) e o papel que desempenha como
orientação ao retornar como produto.
Os produtos feitos pelos estudantes, usando as diferentes protonarrativas até
ao prelúdio de uma narrativa propriamente dita, era um diálogo entre os tempos
históricos distintos, passado e presente, numa perspectiva de futuro.
E ainda, na concepção de Rüsen (2012), o/a historiador/a (que também é
professor/a e vice versa, pois para ele são indissociáveis essa classificação) deve ter ousadia
e sensibilidade de se perguntar sobre a necessidade daquilo que faz, devendo contribuir
para o alargamento dos horizontes intelectuais e práticos da vida humana, se atentando
constantemente para a lembrança da especificidade da História, qual seja, perceber que
tipo de perguntas (e respostas) somente a historiografia poderá trazer à tona.
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REFERÊNCIAS
ALÉSSIO, Simone Cristina; SABADIN, Neli Miglioli; ZANCHETT, Pedro
Sidnei. Processos de software. UNIASSELVI, 2017.
INTRODUÇÃO
A soma destes fatos históricos nos motivou a expor aos estudantes como a
escola em que estudam pode ser incluída e destacada como um local de memórias
e fazer parte do patrimônio histórico material do estado e município, prática esta
incentivada pelo Documento Curricular de Roraima (DCRR).
Analisamos que seria possível criar uma parceria com o Poder Judiciário Estadual,
inserindo no roteiro alguns de seus edifícios mais representativos. Isso nos permitirá
colaborar na preservação e apresentação da História do Poder Judiciário no estado. Ao
longo dos últimos anos, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem estimulado os tribunais
a desenvolverem uma política de gestão da memória efetiva e sistematizada, voltados à
construção e à preservação de sua Memória institucional”, destaca Matos (ANPUH, 2022).
Por este motivo, percebemos que o projeto permitiu a construção de diferentes teias de
conhecimento. Para o TJRR a atividade representa uma oportunidade de tornar as ações do
poder Judiciário reconhecidas por estudantes da rede pública, localizada no bairro Centro,
mas que na sua maioria reside em bairros periféricos. Aos docentes do ensino básico e
superior, ajuda na realização de saídas de campo e na aproximação da comunidade discente
escolar dos cursos de licenciatura das universidades presentes no estado.
O DIA DO PASSEIO
A atividade foi coordenada pelo Tribunal de Justiça, sob a liderança de Olane Matos,
e sua equipe de apoio composta pelos historiadores Hugo Mendes, Deborah Sousa,
Letícia Silva e Rafaela Pinheiro; pela equipe de comunicação formada por Adriã
Galvão, Érica Figueiredo e Antônio Diniz. A professora Paulina Onofre Ramalho
(UFRR) esteve presente e contribuiu com informações sobre a Arquitetura das obras
dos prédios históricos. O professor André Augusto da Fonseca (UERR/ANPUH-RR)
elaborou o arquivo digital apresentando a História do município de Boa Vista, que os
alunos puderam acompanhar durante o passeio. A equipe da escola Oswaldo Cruz
foi composta pelos professores Aucirene Figueiredo, Djane Lima, Talita Lira, Suênia
Jimenez e Victor Mattioni; e pela equipe do Jornal Notícias Quentes, representadas
pelos estudantes Aline, Izabel, Eloá, Hugo, Karol e Nadine (ANPUH, 2022).
O roteiro do passeio previu situações táticas, como o fato de parte dos alunos
transitarem pelo centro histórico durante a semana para chegar à escola, uma vez
que a principal parada de ônibus está localizada no bairro Centro. Logo, embora
os alunos tenham contato visual com parte restante dos patrimônios materiais
do bairro, faltava a eles uma leitura histórica, cultural e social destes espaços.
6 Passeio pelo Centro Histórico de Boa Vista com alunos da escola Oswaldo Cruz. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=qFtr5hgTXTo. Acesso em 08/12/2022.
Imagem 2 - Professores conversam, na rua Floriano Peixoto, a mais antiga da cidade, com os
alunos sobre a importância da preservação dos patrimônios culturais.
A localização de Boa Vista nesta margem direita do Rio Branco deu-se por um aspecto
topográfico local, pois é uma área alta que não inunda, assim como o canal do Rio
é mais profundo e favorece a navegação, diferentemente da margem esquerda que é
inundada no período chuvoso de abril a setembro. (VERAS, p. 55, 2019)
8 Projeto Inovação e tecnologia: um recorte histórico sobre a cidade de Boa Vista, liderado pela
professora Hilvany Araújo. Disponível em https://www.instagram.com/p/ClkH5kVuYZs/?igshid
=YmMyMTA2M2Y=. Acesso em 08/12/2022.
9 Projeto da professora Lita Araújo. Disponível em https://www.facebook.com/
escolapenhabrasiloficial. Acesso em 08/12/2022.
Conclui-se que o projeto piloto obteve êxito, conforme foi destacado pelos professores:
A atividade precisa estar presente nas programações anuais da escola, pois ela
proporciona, por meio da curiosidade e de ações práticas, conhecer fragmentos da
História e curiosidades do poder Judiciário e de Roraima. Com isso, dá-se início a
uma política de preservação de patrimônios históricos materiais ou imateriais que
estão presentes no estado, cientes de que estes atos estimulam vários campos do
conhecimento, como Memória, Educação Histórica e Patrimonial, Sociologia e
Turismo, por exemplo (ANPUH, 2022).
REFERÊNCIAS
10 O campo de pesquisa em Educação Histórica vem se definindo com suas especificidades próprias,
em diferentes países e também no Brasil. Pesquisadores enfatizam a importância dessas pesquisas para
uma teoria da aprendizagem histórica, na medida em que busca o conhecimento das ideias históricas
de jovens, crianças e professores, definindo a sua especificidade em relação a outras pesquisas que
tomam como objeto o ensino e aprendizagem da História (GERMINARI; URBAN, 2020).
RUTEMARA FLORENCIO
Mestre em Educação pela UNESA/RJ. Doutoranda em Educação pela TUIUTI/
PR. Professora de História no Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual de
Roraima desde 2002 e do Ensino Superior. Educadora Nota 10 de 2019.
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MESTRADO PROFISSIONAL
EM ENSINO DE HISTÓRIA
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