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Editora CRV
Curitiba – Brasil
2023
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem de Capa: Freepik
Revisão: Os Autores
E24
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-5473-2
ISBN Físico 978-65-251-5472-5
DOI 10.24824/978652515472.5
2023
Foi feito o depósito legal conf. Lei nº 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
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Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Vera Lúcia Caixeta (UFT)
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Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO������������������������������������������������������������������������������������������ 11
Organizadores(as)
PREFÁCIO
EDUCAÇÃO E EDUCAÇÕES: unidade na diversidade no tear das
vidas humanas e suas vozes plurais��������������������������������������������������������������� 13
Patrícia Cristina de Aragão
Organizadores(as)
PREFÁCIO
EDUCAÇÃO E EDUCAÇÕES:
unidade na diversidade no tear das
vidas humanas e suas vozes plurais
Educar para a diversidade no reconhecimento das diferenças é fundante
em cenários contemporâneos que se exibem multifacetados, apresentando
modos de viver e de interpretar a vida e os contextos sociais e culturais a partir
de vozes plurais. Uma educação que se pense inclusiva de saberes, sujeitos e
suas práticas de vida requisita o movimento dialógico entre o contexto social,
as vidas humanas e as tessituras de suas especificidades. Portanto, refletir em
torno da educação e suas multiplicidades de aspectos e formatos incide em
pensar as diversidades humanas, culturais e sociais como importantes vieses
quando se pensa a inclusão na diversidade, abarcando as formas de viver e
os direitos sociais e humanos como modos de educar para as pluralidades,
numa perspectiva inter/transdisciplinar.
A coletânea de texto que faz parte desta obra apresenta esta perspectiva,
de refletir sobre os aspectos plurais da educação; e, a partir dela e com ela,
pensar os sujeitos humanos e educativos e seus modos de viver praticar pro-
cessos educacionais. A obra em tela, fruto de um conjunto de reflexões que
emergiram a partir do olhar de autoras e autores e suas interpretações sociais,
históricas e culturais no campo educacional, apresenta esta trama da diver-
sidade como modos de ler e perceber a educação como campo de diálogos e
conversação sobre saberes e práticas plurais de educar.
Pensar a Educação de Jovens e Adultos na contextura da pandemia é
pensar os diferentes desafios de educar frente a um período marcado por
crises de diferentes envergaduras: econômica, política e da saúde. O artigo
que toma como aporte as discussões entre pandemia e Educação de Jovens e
Adultos proporciona importantes reflexões sobre esta modalidade educativa
na pandemia, apresentando perspectivas e também os leques de mudanças
por esta ocasionadas.
As histórias de vida são formativas. Elas permitem que se mergulhe nas
memórias e experiências vividas, demarcando múltiplos aprendizados. O
artigo em torno da vida formação traz para foco do debate esta perspectiva
para pensar uma dimensão educativa das experiências cotidianas de vida,
o que possibilita ressignificar olhares sobre como viver é também um ato
de educar.
14
Soares Mesquita Vieira, busca refletir sobre como a educação para as relações
étnico-raciais, provinda da luta do movimento social negro, trouxe seu reflexos
na escola e, a partir dela e com ela, permite problematizar aspectos culturais
e sociais que estão fora da escola, como as atividades do Maloka, como uma
rede de saberes educativos.
Convido vocês, leitores e leitoras, a mergulharem nas experiências for-
macionais que os artigos apresentam.
Boas leituras e reflexões!
Introdução
Procedimentos metodológicos
TOTAL 322 17
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BELLO, José Luiz de Paiva. Movimento Brasileiro de Alfabetização –
MOBRAL. História da Educação no Brasil. Período do Regime militar. Peda-
gogia em foco, Vitória 1993. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.
pro.br/heb10a.html. Acesso em: 12 jul. 2022.
LOPES, Selva Paraguassu; SOUSA, Luzia Silva. EJA: uma educação possível
ou mera utopia. Revista Alfabetização Solidária (Alfasol), v. 5, p. 75-80,
2005. Disponível em: https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/31001456/
revista_selvaplopes-with-cover-page-v2.pdf?Expires=1657138831&Signature
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Acesso em: 12 jul. 2022.
4 A opção pelos termos unidos e em itálico origina-se dos estudos sobre pesquisaformação narrativa (auto)
biográfica realizados pelo Grupo Interinstitucional Polifonia/GEPEC, da Universidade Estadual de Campinas
que, inspirado pelos pesquisadores dos/nos/com os cotidianos e estudos pioneiros da professora Nilda
Alves, compreendem que: a) as palavras não dão conta do excesso de sentidos produzidos pelos sujeitos
que se dedicam a narrar suas vidas e seu processo formativo; b) vida e formação/pesquisa e formação
são termos indissociáveis; c) é um modo outro, não menos rigoroso, de pesquisarformar que contrapõe a
rigidez da ciência moderna hegemônica.
5 Professora da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Mestrado em Educação Brasileira pelo PPGE-UFC.
Doutoranda em Educação pela UNICAMP. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0453-5550. e-mail: alba-
2sousa@ufpi.edu.br.
6 Doutora em Educação – UNESA. Professora da Educação Básica da Prefeitura de São José dos Campos.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9004-5127. e-mail: professoradanielaberaldo@gmail.com.
7 Pedagoga – UNINOVE / Especialista em Administração Escolar – Faculdade São Luís. Integrante do Núcleo
de Estudo e Pesquisa sobre Narrativas Educativas, Formação e Trabalho Docente – NEPEN/UFSCar.
32
8 Termo criado pelo Professor Doutor Marcelo Furlin durante encontro realizado pelo Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre Narrativas Educativas, Formação e Trabalho Docente (NEPEN – PPGEd – Universidade
Federal de São Carlos): “Diálogos entrecruzados, grupos de pesquisa-formação e narrativas – Revitalizar
la Pedagogia: documentación narrativa, investigación participativa y formación” – por Daniel Suárez, reali-
zado em 17 de junho de 2021. Tramatizar para o autor, é o processo de transformação de experiências em
narrativas, como ficção que vai se constituindo a partir da voz de quem narra a trama.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 33
Essa foi minha primeira carta narrativa sobre minha vidaformação, após
encerrar uma carreira de professora. Ao começar a pensar, mergulho nesse mar
de memórias e navegando encontro uma menina tímida, acanhada com his-
tórias muitas de uma vida cheia de marcas de um racismo estrutural, discreto
com falas mansas, incentivando a permanecer calada, porque falar que você
está bem, tem um emprego, o mundo imediatamente responde que é assim,
uns tem sorte e outros não, o que se pode fazer. Será que pode um subalterno
falar? Ficou solta essa frase.
Segundo Spivak (2010), esse colonialismo que nos sufoca e se encontra
no Estado, são estratégias de invisibilizar nossas experiências, bem como
sucumbir nossas vozes, porque nos faz acreditava que a vida era assim mesmo,
um sistema que nos oprime, que não nos deixa questionar sobre as situações
de desigualdades econômicas, culturais e sociais. No entanto, algo dentro de
mim começou a pulsar e registrar uma trajetória que muitos da minha infân-
cia não tiveram a mesma ousadia e assim permaneceram no mesmo lugar,
carregando sua dor e sofrimento, o que estimula minha inquietude, pois a
caminhada até as cartas narrativas vida formação estão me levando à novos
oceanos. A narração das histórias de vida vem como movimento propriamente
humano de contar histórias e ressignificar experiências do passado que vão
se desdobrando em projetos de futuro (BRAGANÇA, 2012).
Aposentadoria chegando, em meio à pandemia, isolamento social,
momento de refletir sobre o que faria da vida agora. Pensei: trabalhei, já me
formei, passei no concurso, trabalhei, fiz planejamento, escrevi relatórios
semanais durante vinte e cinco anos, guardei apenas para ter um documento
caso alguma coisa de ruim acontecesse em minha vida profissional, interes-
sante essa ação que revela uma insegurança, pois como professora negra sabia
que, em algum momento na minha trajetória, poderia surgir uma denúncia
sem fundamento; então, meus relatórios seriam para provar meu desempenho
e comprometimento profissional. O racismo é tão adoecedor que nos deixa
em todas as atividades ou em todos os lugares em alerta, pois se acontecer
alguma coisa, os primeiros/as a serem acusados/as serão as pessoas negras.
De acordo com Souza (2021), o racismo provoca nas pessoas pretas efeitos
autodestrutivos, já que vai matando aos poucos, mas quando compreendemos
as várias máscaras que esse preconceito assume, sua lógica social e os pri-
vilégios brancos que existem, mudamos nossas práticas discursivas e ações.
Ao falar para mim mesma: “agora tudo acabou”, não tenho mais o
que guardar; é uma ação consciente: “me livrei deles”. Entretanto, não me
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 35
desprendi totalmente desse racismo que está em mim, pois penso todos os
dias que tomei a decisão errada, porque aposentei muito nova e com saúde.
Não consigo entender que mereço o ócio, mas a lógica do trabalhar até morrer
é um discurso do colonizador que materializa em nós, e, assim, me vejo nas
representações escravocratas de não me permitir sem culpa de aproveitar a
vida. A crença dessa minha formação como indivíduo, acreditando que seria
o fim me levou a atitudes quanto a todo esse material de mais de um quarto de
século que não serviria para nada, então me livrei deles, porém duas pastas se
“agarraram” em mim gritando “não me deixe, não me enterre em solo infrutí-
fero”, sendo assim o destino desse material foi uma caixa em um canto da casa.
A forma como o racismo vai criando suas vítimas gerou o medo, a inse-
gurança de pronunciar que estava aposentada; parecia que tinha cometido
um crime e para as poucas pessoas com quem compartilhava a informação,
usava um tom de voz acanhado. Comecei, então, a fazer algumas pesquisas e
qual não foi a surpresa ao reconhecer e identificar-me uma pessoa colonizada
“LIVRO”, lembrando que minha herança de vida e de meus ancestrais foram
os momentos vividos na escravidão. Corroborando com Souza (2021, p. 14),
“Herdamos da socialização familiar todo um mundo de avaliações incons-
cientes acerca das quais não refletimos e inclusive tendemos a considerar
“sagradas”, pois nos foram legadas pelas pessoas que mais amamos”. Sendo
assim, teria simplesmente que trabalhar, trabalhar e trabalhar e foi esse o
roteiro que segui desde os nove anos. Como professora estava sempre levando
serviço para casa; passava horas na madrugada planejando a semana. Agora
estranhamente me sentindo culpada por ter aposentado, quando conquistei
um direito mais que merecido, já que iniciei minha jornada com nove anos
de idade, uma criança que deveria estar construindo seus castelos de sonhos,
estudando, sendo criança e não trabalhando como arrimo de família.
Aos 17 anos, iniciei o magistério em período integral e recebia uma bolsa
de estudo, um salário de época, ainda assim, continuei trabalhando à noite;
tempo de maturidade e tomada de decisões. Em 1992, uma pessoa chegou
até minha casa e disse para minha mãe que tinha que me tirar daquela escola
eu não poderia estudar lá pois era uma escola de gente branca e eu era negra.
E a pessoa continuava sua reflexão “Pense, em algum lugar, a senhora já viu
uma professora negra? Para lecionar tem que ser inteligente coisa que sua
filha não é; a mulher branca já nasce com a capacidade de ensinar, o que uma
mulher negra pode ensinar a uma criança, não tem nada de bom dentro da
cabeça. É melhor a senhora ir até lá e cancelar a matrícula e colocá-la para
trabalhar de faxineira novamente, pois não tem capacidade de ser outra coisa
na vida. É mais bonito sair antes que a escola descubra e chame a senhora
para encerrar sua matrícula”.
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REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura
e história da cultura. Obras escolhidas I. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet.
Prefácio: Jeanne Marie Gagnebin. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Introdução
reflexão que colabora com este trabalho, apesar da pauta principal do caso
ser a luta contra o segregacionismo educacional e não representar exatamente
crianças em idades compatíveis com o uso de creches, o caso dialoga constitu-
cionalmente sobre a oportunidade de ter acesso à escola próximo a residência.
Linda Brown era uma criança que precisava percorrer todos os dias cerca
de dois quilômetros para chegar a sua escola destinada a crianças negras. A
família da criança com o auxílio do National Association for the Advancement
of Colored People (NAACP) levou a causa para o tribunal para que a menina
pudesse ter acesso à escola mais próxima da sua residência, que até então
participavam apenas crianças brancas (SPAREMBERGER; ROSA, 2020).
A intervenção do poder judiciário norte americano ensejou a ampliação
dos direitos civis, moldando as primeiras estruturas do exercício constitu-
cional de interpretar. Parte-se da ideia de que as reivindicações pela garantia
de direitos, suscitam possíveis desdobramentos para aplicação de normas
constitucionais, de modo que o espaço jurídico ganha seu espaço e os juízes
são convocados a se pronunciar sobre casos que exigem uma atividade inter-
pretativa complexa e inovadora, contudo, não arbitrária.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1998)]. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1998. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1
jul. 2023.
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política e
teoria geral do estado. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2000.
16 Doutora em Belas Artes – Especialidade Desenho pela Universidade de Lisboa. Professora do Curso de
Design-Moda do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (ICA/UFC). ORCID: https://
orcid.org/0000-0002-8592-8320. E-mail: alinebasso@ufc.br.
17 Mestre em Museologia e Patrimônio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Museu
de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Museólogo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
(Mauc/UFC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9139-9779. E-mail: smr.museologo@ufc.br.
56
desenho para instituições oficiais, ampliava o sentido inicial de que este era
portador, operando uma espécie de inversão da sua carga simbólica – da
intimidade passava-se à colectividade do saber fazer. O conhecimento dos
mestres era assim extensivo a um grupo cada vez maior de aprendizes de
todas as artes, marcando tendências e sedimentando valores condicionados
a procedimentos de aprendizagem padronizados (RIBEIRO; ARAÚJO,
1995, p. 76).
18 Livre tradução de Berger (2017, p. 97): “[...] el dibujo es tan fundamental para la energía que nos hace
humanos como el canto o la danza.”
19 Livre tradução de Berger (2017, p. 88): “Dibujar es conocer con la mano”.
60
Neste contexto,
21 Atuaram como ministrantes do Curso Básico (1ª Edição) os seguintes discentes da UFC: Mateus Fonseca
Valente (Design), Melissa Morais Prates (Design), Natasha Sonali Souza de Sá Barreto (Design-Moda) e
Vinícius Santos Ribeiro (Pedagogia).
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 63
22 Atuaram como ministrantes do Curso Básico (2ª Edição) os seguintes discentes da UFC: Luiza Rocha Torres
(Design – primeira bolsista remunerada do Programa), Melissa Morais Prates (Design), Natasha Sonali
Souza de Sá Barreto (Design-Moda) e Symon Agostinho de Moraes Silva (História – primeiro bolsista não
remunerado do Programa).
23 Atuaram como ministrantes de oficinas ao longo dos anos de 2022 e 2023 os seguintes discentes da UFC:
Mateus Fonseca Valente (Design), Melissa Morais Prates (Design), Natasha Sonali Souza de Sá Barreto
(Design-Moda), Symon Agostinho de Moraes Silva (História), Luiza Rocha Torres (Design), Julia Gomes Gaia
(Design), Diego Silva Costa (Design-Moda), Gabriel Oliveira do Amaral (Design-Moda), Helena Saraiva Kuhn
(Design-Moda), Joana Cláudia Teixeira da Silva (Design-Moda), Julia Alves Anastácio (Design-Moda), Maressa
Vasconcelos Bastos Varela (Publicidade e Propaganda) e Jennifer Rodrigues da Costa (Design-Moda).
24 Registra-se que o Prof. Galber participou de cursos de desenho e pintura no Mauc no início da década de
1990, mantendo desde então relações com o museu, especialmente por meio de oferta de cursos, workshops
e aulas abertas sobre desenho, sendo um dos exemplos de colaboradores assíduos beneficiados pela
atuação da instituição no âmbito da iniciação e formação artísticas.
64
Conclusões
Ao longo dos seus 62 anos de existência, o Mauc vem sendo palco para
inúmeras e diversificadas iniciativas artístico-educativas. Ao implantar o seu
Núcleo Educativo, em 2019, e estabelecer um conjunto de estratégias de
ampliação das interfaces com a comunidade universitária e a sociedade mais
ampla, a instituição reinventa-se constantemente, sem perder de vista a sua
historicidade, missão e objetivos, em sinergia de propósitos e ações com o
ensino, a pesquisa e a extensão.
Assim, o Programa Desenhando no Museu aponta para a potencialidade
e a relevância da integração entre unidade acadêmica e administrativa (ICA
25 Atuaram como modelos vivos ao longo do ano de 2022 diversos discentes da UFC, de maneira pontual ou
com maior regularidade. A partir do ano de 2023 passamos a contar com dois modelos regulares, cadas-
trados como bolsistas na Pró-reitoria de Extensão: Nara Sofia Alves Gomes (Design-Moda) e Davi Moura
Rodrigues (Teatro).
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 65
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da (org.). Abordagem
Triangular no Ensino das Artes e Culturas Visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
Introdução
Contextualização
Saviani (2009), estes ajustes surgiram apenas para dinamizar a própria ordem
socioeconômica, reformando nomenclaturas.
Segundo a análise de Cunha (2014), a Lei nº 5692/71 atribuiu, compul-
soriamente, ao 2° grau o caráter técnico e profissionalizante ao prever que este
seria organizado de modo a contemplar habilitações específicas, ensejando
assim uma terminalidade dos estudos a todos que concluíssem esse nível de
ensino. Cunha (2005) explicita ainda que a profissionalização compulsória
do 2° grau seria uma estratégia para reduzir a procura pelo nível superior,
visto que a formação geral teria carga horária menor em detrimento da forma-
ção técnica, levando o jovem ao ingresso imediato ao mercado de trabalho,
formando, assim, de maneira aligeirada, uma mão de obra que atendesse às
necessidades do trabalho, e não às necessidades formativas do jovem cidadão.
No tocante à especificação sobre a formação de professores, expressa no
Capítulo V da Lei nº 5692/71, sob o título “Dos professores e especialistas”, a
temática surge desenvolvida entre os artigos 29 ao 40, porém, é explicitamente
em seu artigo 30 que a lei traz como exigência de formação mínima para o
exercício do magistério habilitação específica de 2º grau, ou seja, à época,
para ser professor nas séries iniciais do primeiro grau fazia-se necessário, de
acordo com esta normativa, obter somente habilitação específica de 2º grau
ou o antigo curso normal (SAVIANI, 1987).
Consideramos que tal organização nos traz algumas revelações importan-
tes. O país encontrava-se em um período de extremo controle social, político
e intelectual, impondo coibições a qualquer manifestação de cunho individual
ou coletivo que fossem contrárias ou até mesmo que pudessem sugerir ideias
que incomodassem a ordem ditatorial instituída.
Assim, podemos considerar que, quanto maior fosse o controle exercido
sobre a formação dos profissionais do magistério, ou seja, quanto menor e
mais aligeirada fosse a sua formação e mais rápida fosse a inserção destes
profissionais no mercado de trabalho, piores seriam as condições, e pratica-
mente inexistente seria a possibilidade deles pensarem sobre o seu fazer ou
sobre as condições as quais estivessem submetido o seu trabalho. Ou seja, o
trabalho docente, principalmente na escola pública, dava-se de maneira a não
se fazer possível que o professor ousasse questionar a própria função docente
e o seu papel na formação do cidadão, mas apenas a reproduzir os conteúdos
necessários para que o estudante se tornasse apto, o mais rápido possível, a ser
inserido no mercado de trabalho, caracterizando, assim, um ciclo alienante.
Dessa forma, tornando o fazer pedagógico em algo de repetição de con-
teúdos, de urgência em conclusão do nível de ensino para que o aluno rece-
besse a instrução básica, e de forma rápida, de modo que ao final do período
mínimo de estudos estivesse apto à inserção imediata no mercado de trabalho.
72
em sala de aula com os estudantes, mas aqueles que ocupassem funções mais
direcionadas à gestão administrativa e pedagógica da escola. À formação
desses profissionais, a Lei nº 5692/71 conferia o curso de pedagogia, além da
formação de professores para habilitação específica de magistério.
Saviani (2009), acerca da formação de professores para as séries iniciais
do ensino fundamental em instituições de Escolas Normais, considera:
Tanuri (2000) aponta que com a publicação da Lei nº 5692/71 houve uma
descaracterização da Escola Normal e a habilitação específica para o magisté-
rio passou a ser uma opção sem grande visibilidade e, ainda segundo a autora,
o cenário característico dessa formação se resumia em “classes maiores no
período noturno, redução do número de disciplinas de instrumentação peda-
gógica para o primeiro grau, empobrecimento e desarticulação de conteúdos,
grande dispersão de disciplinas e fragmentação do currículo” (p. 81).
Percebemos, assim, o caráter tecnicista trazido pela Lei nº 5692/71 à
formação do profissional docente, com uma habilitação específica do 2° grau
que resultou numa formação superficial e de pouca qualidade, a qual perduraria
por um longo período até a indicação da necessidade de formação em nível
superior para o exercício da docência trazida pela LDB.
A partir do surgimento da LDB (BRASIL, 1996), percebemos algumas
mudanças quanto à formação de professores para atuar na educação básica,
como a extinção da necessidade de habilitação específica para o magistério,
conforme expressa o Art. 62:
docente, pois esse profissional agora teria a possibilidade de estar melhor qua-
lificado para o exercício da função, visto que antes ele limitava-se a ter uma
formação de nível médio, e tendo agora acesso à formação em nível superior,
as possibilidades de atuação profissionais também se tornam mais amplas,
podendo esse profissional, além da docência, atuar como diretor, supervisor,
orientador e demais funções pedagógicas e administrativas, as quais antes
eram de competência específica dos profissionais especialistas destacados
anteriormente na Lei nº 5692/71.
Embora tendo sido criada com o objetivo de melhor equacionar os pro-
blemas da formação docente no Brasil, não solucionados em leis anteriores,
a LDB 9394/96 não conseguiu suprir tais expectativas, pois ainda havia pro-
fissionais apenas com a habilitação específica para o magistério, de forma que
não tinham acesso ao novo modelo de formação profissional docente. Porém,
foi a LDB que sinalizou a necessidade de uma alternativa ao ensino superior.
A partir dessa sinalização, ressurgem os institutos de educação superior, que,
de acordo com Saviani (2009), “emergem como instituições de nível superior
de segunda categoria, provendo uma formação mais aligeirada, mais barata,
por meio de cursos de curta duração” (p. 148).
Tais institutos haviam surgido anteriormente com o objetivo de serem
espaços de construção de conhecimento, espaços estes nos quais a educação
era vista e elaborada não apenas como o resultado do trabalho dos professores,
mas também como objeto de pesquisa. Porém, a partir da LDB 9394/96, seu
objetivo passou a ser outro, como citado anteriormente.
Observamos que a educação passou por sucessivas mudanças ao longo da
história, mais especificamente em relação ao processo de formação docente,
e embora as alterações viessem com o intuito de melhorar o trabalho docente
e a ação da escola frente à sociedade, essas mudanças aconteciam de forma
descontinuada, por vezes trazendo aos docentes a sensação de estarem constan-
temente sendo desafiados quanto à sua formação e a qualidade de ensino. Até
os tempos atuais, percebe-se que essas mudanças ainda não apresentaram um
resultado satisfatório, principalmente no tocante aos problemas da formação
docente no Brasil, pois ainda não foi estabelecido um modelo consistente de
preparação dos professores face a esses problemas.
É importante destacar que a LDB 9394/96 traz em seu artigo 62, modi-
ficado pela Lei nº 12.056, de 2009, as alternativas de formação inicial e for-
mação continuada através de recursos e tecnologias de educação a distância,
embora esta formação inicial seja feita, de preferência, em modo presencial.
Porém, essas alterações não bastaram para solucionar a problemática dos
docentes sem formação inicial mínima ainda nos dias de hoje, já que, conside-
rando a globalização, muitas instituições pensam na formação de professores
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 75
Observa-se que, para que o professor esteja apto para assumir tais incum-
bências, é necessário que o profissional esteja preparado, logo, percebe-se a
necessidade de uma formação de qualidade tanto em sua formação inicial
quanto em sua formação continuada.
Nesse caso, a LDB traz, em seus artigos 61 a 67, normativas referentes
à formação dos professores, no Título VI: “Dos Profissionais da Educação”.
No artigo 61, estão explicitadas as habilitações necessárias para o efetivo
exercício da docência dos profissionais da educação básica:
O assunto abordado nesse artigo nos leva a fazer uma reflexão em relação
às universidades responsáveis pela formação inicial e continuada do profes-
sor, pois percebe-se uma grande diferença entre o que é ensinado em teoria,
nas salas de aula das universidades, e o que os profissionais encontram na
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 77
realidade da sala de aula que irão reger. Essa diferença entre o ambiente da
universidade e o chão da sala de aula do professor está relacionada à forma
antiquada da educação brasileira enxergar e tratar o conhecimento, que provém
dos séculos XVIII e XIX, de forma que pouco do que é regido em teoria nas
universidades pode ser realmente trabalhado no dia a dia do docente.
A docência no Brasil é muito dinâmica, complexa e desafiadora, e o pro-
fessor sai da universidade preparado de forma teórica, com conhecimentos
específicos sobre a educação em geral, como os fundamentos e a história da
educação no Brasil, por exemplo, mas sai totalmente despreparado em relação a,
principalmente, como se dá o processo de ensino e aprendizagem, além de lidar
com a realidade de alunos tão diversos, ou para saber entender e mediar assun-
tos transversais necessários, como a igualdade, a comunidade, os desafios da
sociedade e sobre como tudo isso impacta diretamente o seu fazer pedagógico.
As universidades ainda não estão preparadas para a responsabilidade de
oferecer a formação que o profissional da educação necessita para as salas
de aula de hoje, de forma que possa realmente viabilizar a prática docente,
preparando-o para uma prática principalmente reflexiva e capaz de equilibrar o
ensino e aprendizagem com a realidade dos discentes e do próprio profissional.
É necessário que as universidades e as secretarias de educação se unam
no propósito de oferecer uma formação contínua que vá ao encontro das
necessidades da educação atual e todos os aspectos que a abrangem, não com
foco no modelo conteudista nem no professor detentor de todo o conheci-
mento, mas que preparem profissionais que entendam que a forma com que
estão sendo preparados pelas próprias universidades impacta diretamente as
aprendizagens dos alunos aos quais irão lecionar.
Cabe-nos concordar com Saviani acerca do que se revela permanen-
temente, mediante a seguinte afirmação: “[...] a precariedade das políticas
formativas, cujas sucessivas mudanças não lograram estabelecer um padrão
minimamente consistente de preparação docente para fazer face aos problemas
enfrentados pela educação escolar em nosso país” (2009, p. 148).
Concordamos com Saviani no que diz respeito à descontinuidade e pre-
cariedade das políticas formativas do trabalho docente, uma triste e lamen-
tável condição que contribui para o enfraquecimento e comprometimento do
potencial de caráter profissional do trabalho docente.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Lei n°9394, de 20 de dezembro de 1996.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em:
15 jun. 2023.
Introdução
29 Mestrando em Educação pelo PPGE-UFC. Graduado em Pedagogia, pela Universidade Federal do Ceará
(UFC). Especialista em Didática e Metodologias Ativas pela Faculdade Plus. Professor Pedagogo na Rede
Pública Municipal de Ensino de Fortaleza-CE. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7494-6403. E-mail:
daniloalbar@gmail.com.
30 Professora Associada na Universidade Federal do Ceará (UFC) e Pesquisadora permanente do Programa de
Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Ceará. Doutora em Educação pela Universidade
Federal do Ceará (UFC). Mestra em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Graduada
em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2286-3811.
E-mail: bernadete.porto@gmail.com.
31 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do
Ceará (PPGE-UFC). Especialista em Ludopedagogia e em Gestão Escolar, ambas pelo Centro Universitário
Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9091-9536. E-mail: leticiadavid16@gmail.com.
82
Duarte (2002, p. 17) defende ainda que “ver filme, é uma prática social
tão importante, do ponto de vista da formação cultural e educacional das pes-
soas, quanto a leitura de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais”.
O cinema tem muito a contribuir para a educação, seja como metodologia
para o ensino de conteúdo específico, como momento de fruição artística ou
ainda como instrumento avaliativo, dentre outras possibilidades. Ele pode
estar presente nas salas de aulas para mudar um pouco o por vezes tido como
monótono processo de escolarização. No entanto, a linguagem artística em
geral tem sido historicamente deixada de lado em detrimento de conteúdos
elencados como mais importantes ou tendo seu potencial educativo subjugado.
Sobre isso, Pimentel (2017, p. 313) esclarece que:
Propõe, com isso, que o cinema não seja visto apenas como um ins-
trumento pedagogizado para ensino de conteúdos curriculares, mas que ele
próprio seja o conteúdo, incorporado ao currículo, pois tem a potencialidade
de ampliar as possibilidades educativas, convidado à reflexão e ao simbo-
lismo, por vezes difíceis de serem alcançados por outros meios. O processo
de educação, ainda segundo Almeida, é mais amplo que o de escolarização
e, diante de sua potencialidade, “o cinema realiza, no século XX, o que a
literatura realizou no XIX, isto é, fornece narrativas simbólicas que orientam
a experiência humana no mundo de modo equivalente ao que faziam os mitos
nas sociedades antigas” (ALMEIDA, 2017, p. 8).
Entendemos que essa tomada de consciência acerca da relação entre
cinema e educação não se dá de forma espontânea, demandando, além do
contato com a linguagem cinematográfica, conhecimento de elementos que
possam ser capazes de nutrí-la com significados para uma associação com
a realidade concreta das escolas. Para isso, os professores lançam mão de
saberes diversos, construídos e reconstruídos ao longo da jornada na docência.
Dos balaios desses saberes, destacamos os ludo-sensíveis e sua importância
para o fazer docente.
Dirigir nossa atenção de educadores para aquele saber primeiro que veio
sendo sistematicamente preterido em favor do conhecimento intelectivo,
não apenas no interior das escolas, mas ainda e principalmente no âmbito
familiar de nossa vida cotidiana. Desenvolver e refinar os sentidos, eis a
tarefa, tanto mais urgente quanto mais o mundo contemporâneo parece
mergulhar numa crise sem precedentes na história da humanidade.
A busca por esse saber sensível é uma retomada àqueles elementos que
nos humanizam, que podem ser encontrados quando buscamos usar a potencia-
lidade dos nossos sentidos. É assumir que a aprendizagem e a educação podem
ocorrer em diferentes contextos, inclusive se dando enquanto nos aproximamos
da nossa essência humana, enquanto nossos sentidos afloram. Concordamos
com Duarte Júnior (2003, p. 30) quando fala que “é preciso ousar; é preciso
furar a crosta cientificista que vem tomando as reflexões acadêmicas impermeá-
veis à vida que realmente importa: aquela levada a efeito em nosso dia-a-dia,
semelhante às dos cientistas e luminares de conhecimentos parciais”.
Nessa humanização, que também é construção de saber, desenvolve-se
uma autonomia e olhar crítico para o que é importante nesse desenvolvimento.
Quando acontece enquanto a identidade docente ainda está no seu processo
inicial de formação, pode ajudar a garantir a construção identitária de um
profissional mais consciente da relevância do seu papel na sociedade e de
como deve se dar suas relações com o outro, uma vez que a prática lúdica
conduz a outra dinâmica de ensino, pois tal proposta tem a criatividade e o
prazer em ensinar e aprender como pilares. Com base nesses pressupostos,
traremos algumas vivências na disciplina “Educação e Cinema” enquanto
promotora de saberes ludo-sensíveis.
outras perguntas, do que suscitam respostas prontas, mas que, a nosso ver, são
indispensáveis para um fazer docente comprometido com a mudança social.
O filme “Numa Escola de Havana” (2014) traz como pano de fundo
a realidade da educação pública em Havana-Cuba. Em especial, mostra o
recorte da educação escolar na periferia e o grande problema que se dá quando
o trabalho de uma professora extrapola os muros da escola e ela se envolve
com a dura realidade de um de seus alunos. Seguindo, “Esperando Pelo Super
Homem” (2010) é um documentário que apresenta a dinâmica da matrícula
na escola pública nos Estados Unidos. Em suma, o título remete ao anseio de
estudantes e suas famílias que esperam pela superação da problemática que
impossibilita que os alunos possam escolher a escola onde se matricular, tendo
que aceitar a escola do seu bairro, mesmo que isso seja sinônimo de um futuro
com baixo nível de aprendizado e poucas chances de entrar na universidade.
Esse cenário é mostrado por meio do acompanhamento do processo de dife-
rentes sujeitos que vivem as expectativas de entrarem em escolas melhores e
poderem sonhar com um futuro mais promissor.
“Pro dia Nascer Feliz” (2005), escancara a problemática de que um
país com dimensões continentais como o Brasil pode esconder realidades
discrepantes e até antagônicas na educação escolar dos seus sistemas. É isso
que a obra mostra quando se propõe a acompanhar a realidade de diferentes
jovens nos seus processos de escolarização em diferentes recortes do país,
como na dura realidade de uma escola pública do sertão nordestino, em uma
escola pública da periferia de uma grande cidade e em uma escola privada
que recebe a elite de uma metrópole.
“Numa Escola de Havana” (2014), “Esperando Pelo Super Homem”
(2010) e “Pro Dia Nascer Feliz” (2005) podem ser exemplos, conforme fala
Duarte (2002), dos chamados “filmes de escola”. São obras que geralmente
abordam os problemas e dilemas escolares de forma extremamente crítica e
idealizada. “Na verdade, grande parte dessas produções reflete e reforça con-
cepções românticas e conservadoras a respeito do que é a vida em ambiente
escolar” (DUARTE, 2002, p. 86). No entanto, sua linguagem de fácil interpre-
tação pode contribuir para levantar debates e fomentar o pensamento crítico,
comparando diferentes realidades sócio-escolares e ajudando a repensar o
papel da educação.
Por fim, “Tarja Branca” (2014) é a bula de um medicamento que tem o
poder de restaurar e ressignificar os fazeres das pessoas em diferentes faixas
etárias: a brincadeira. Este é um documentário que apresenta as percepções
de diferentes pessoas, todas adultas, sobre os impactos do brincar para as
suas vidas, enquanto brincantes desde as suas infâncias ou descobrindo os
prazeres de brincar em algum momento mais tardio. O brincar é debatido
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 91
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Rogério de. Cinema e Educação: Fundamentos e Perspectivas.
Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 33, 2017.
PORTO, Bernadete de Souza. Por uma didática crítica e lúdica. Cenas Edu-
cacionais, v. 4, 2021.
94
PRO DIA NASCER FELIZ. Direção: João Jardim. Produção de João Jardim
e Flávio Ramos Tambellini. Brasil: Copacabana Filmes, 2005.
Introdução
32 Doutorando em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre em Sociologia pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE). Fotógrafo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Pedagogo.
https://orcid.org/0000-0002-9160-6790. E-mail: edenbarbosa@ufc.br.
33 Pós-Doutor em História da Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Professor titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da
Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenador do Núcleo de História e Memória da Educação (NHIME).
E-mail: gerardo.vasconcelos@bol.com.br.
34 Doutora e Mestra em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e Pedagoga. https://
orcid.org/0000-0002-5406-0178. E-mail: santos.madelyne@gmail.com.
96
Estão ali gravadas nos microssulcos dos discos em sua forma tradicional
(semelhante à dos terreiros) ou estilizada (modificada junto a outros gêneros
musicais ocidentais) em seus desdobramentos e fusões com outros gêneros
por seus autores.
35 O Groupe de Recherche sur l Anthropologie du Corps et ses Enjeux GRACE, na Sorbonne Paris V, desde 1988;
a rede internacional de etnocenologia, a partir da UNESCO, desde 1995; e o Grupo Interdisciplinar de Pesquisa
e Extensão em Contemporaneidade, Imaginário e Teatralidade GIPE-CIT, na UFBA, desde 1994 são alguns dos
grupos de pesquisa que criou. In: Etnocenologia e a cena baiana: textos reunidos – Armindo Bião (2009).
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 97
36 O Instituto Moreira Salles adquiriu, em 2015, o acervo digital dos discos de 78 rotações do Arquivo Nirez,
bem como o seu banco de dados. Todo esse acervo, com mais de 40 mil gravações, foi disponibilizado ao
público através de um grande portal de discos de 78 rpm: https://discografiabrasileira.com.br/
98
pausa, ri. A escuta compartilhada e comentada das músicas que dispõe é, sem
dúvida, muito mais produtiva que qualquer pesquisa online ou em catálogos
realizada anteriormente. Nirez parte de um estilo único, uma livre docência
natural, a pesquisa in loco através de seu mentor trouxe contribuições únicas.
Até então vimos que, apesar das expressões e menções aos cultos afro-brasilei-
ros estarem presentes no disco desde sua fundação no Brasil, as “macumbas”
e os “pontos de macumba” foram uma inovação dos anos de 1930. Mas, para
além deles, Amor também gravou macumbas que chamarei aqui de “estiliza-
das”, ou seja, músicas que foram classificadas como “pontos de macumba”,
mas que sofreram a influência de marcações, instrumentos e ritmos diferentes
desses que vimos acima (SOARES, 2021, p. 140).
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 99
37 Investigação, tematização e problematização são etapas do método Paulo Freire. O tema gerador surge
a partir da contextualização, ou seja, de um assunto presente no dia-a-dia dos educandos e do educador.
No caso da presença cultural religiosa dos terreiros afro para os discos. Sobre temas geradores consultar
Freire (2011).
100
A partir de 1940 se muda para Duque de Caxias, RJ, e lá inicia sua tra-
jetória religiosa como líder de sua casa de culto. O Candomblé da Goméia
não apenas serviu como um refúgio para os que buscavam orientação espi-
ritual, mas também se tornou uma referência de aprendizado e devoção ao
culto aos orixás, voduns e inquices no Rio de Janeiro. Nas décadas de 1960
e 1970, sua notoriedade ampliou fronteiras, fazendo de Joãozinho um ícone
espiritual que transcendia os limites do espaço geográfico, ganhando capas
de revista, programas de rádio, notícias de jornais, notoriedade internacio-
nal39 e protagonizou os cantos de discos de 78rpm e de 33 rotações. Atendia
por designações como “Rei Negro”, “o maior babalorixá do Brasil” e até
40 Rei Do Candomblé – Joãozinho Da Goméa Com Ritual De Terreiro. Gravadora: Todamérica. Catálogo: LPP-TA-322.
Ano: 1958 Fonte: https://immub.org/album/rei-do-candomble-joaozinho-da-gomea-com-ritual-de-terreiro
102
REFERÊNCIAS
ACHARD, Pierre. Papel da memória. Tradução e introdução: José Horta
Nunes. 3. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2010.
LODY, Raul. O povo do santo: religião, história e cultura dos orixás, voduns,
inquices e caboclos. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 1995.
Introdução
Pergunta 1
Pergunta 2
Pergunta 3
Pergunta 4
Pergunta 5
Conclusão
dentro como fora da instituição. Esse trabalho também ressaltou que a pesquisa
e a formação de nível superior mantêm um compromisso intrínseco com a
sociedade e o avanço da ciência.
Resumidamente, este estudo promoveu uma maior aproximação dos
discentes com seu curso por meio da mencionada disciplina. O projeto orien-
tou, supervisionou e acompanhou os estudantes, utilizando as redes sociais
para fomentar a interação entre os envolvidos. Isso envolveu o gerencia-
mento das leituras e observações realizadas tanto em ambientes virtuais
quanto presenciais, tudo sob a orientação da monitoria e com as observações
do docente-orientador.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 121
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Josy Kelly Abreu. Monitoria de iniciação à docência no con-
texto da Universidade Federal do Ceará: aspectos legais e sua aplicabili-
dade. 2012. 128f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará,
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Gestão da Educação
Superior, Fortaleza, CE, 2012.
Introdução
[...] O rizoma conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer [...].
Ele não é feito de unidades, mas de dimensões, ou antes de direções
movediças. [...] O rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido,
construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com
múltiplas entradas e saídas. [...] Contra os sistemas centrados (e mesmo
policentrados), de comunicação hierárquica e ligações preestabelecidas, o
rizoma é um sistema acentrado não hierárquico [...], unicamente definido
por uma circulação de estados (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 43).
[...] O ser se diz ‘de todas as maneiras’ num mesmo sentido, mas se diz
assim daquilo que difere, se diz da própria diferença, sempre móvel e
deslocada. [...] O ser se diz segundo formas que não rompem a unidade
de seu sentido; ele se diz num mesmo sentido por meio de todas as suas
formas [...]. Mas aquilo de que ele se diz difere, aquilo de que ele se diz é
a própria diferença. [...] Uma mesma voz para todo o múltiplo de mil vias,
um mesmo Oceano para todas as gotas, um só clamor do Ser para todos
os entes. Mas à condição de ter atingido, para cada ente, para cada gota
e em cada via, o estado de excesso, isto é, a diferença [...] (DELEUZE,
2006, p. 417).
[...] Toda Filosofia é uma árvore, cujas raízes são compostas pela Metafí-
sica, o tronco pela Física e os ramos que saem deste tronco, formam todas
as demais ciências que, por fim, se reduzem a três principais: a Medicina,
a Mecânica, e a Moral, entendendo eu por Moral a mais alta e perfeita,
a que, pressupondo cabal conhecimento das demais ciências, constitui o
derradeiro grau de sabedoria (DESCARTES, 2008, p. 40).
Considerações finais
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
Introdução
47 Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. (2007) Professora da Prefei-
tura de Fortaleza. Mestranda em educação pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2023). ORCID:
0009-0004-8770-1500.
48 Débora Rocha Matos Pinto: Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2022).
Mestranda em educação pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2023). Bolsista CAPES. ORCID:
0009-0003-3019-554X.
49 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2006). Pós-Doutorado em Linguagem
Escrita pela Universidade Federal de Pernambuco (2019/2020). Professora Associada II da Faculdade de
Educação da Universidade Federal do Ceará. ORCID: 0000-0002-0149-6963.
136
Conclusão
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
Brasília, 2018.
Pois eu adoro a minha pele escura e o meu cabelo rústico. Eu até acho o
cabelo do negro mais educado do que o cabelo de branco. Porque o cabelo
do preto onde põe, fica. É obediente. E o cabelo do branco, é só dar um
movimento na cabeça ele já sai do lugar. É indisciplinado (p. 32).
dos ataques racistas. A divisão das tranças no couro cabeludo era chamada
de caminho de rato, ouvia os meninos comparando as tranças com chifres de
bodes. Não lembro, em momento algum, ter ouvido nenhum elogio em rela-
ção ao meu cabelo. Entretanto, as meninas brancas recebiam muitos elogios
e os seus cabelos eram sempre valorizados, possibilitando que, nas festas e
encenações, representassem princesas e anjinhos.
Quando estava na alfabetização, lembro-me que a professora costumava
separar um dia da semana para brincar conosco. As brincadeiras eram pla-
nejadas com antecedência para que combinássemos o que deveria ser provi-
denciado. Certo dia, a professora contou uma história sobre salão de beleza e
propôs que a brincadeira daquela semana fosse com as meninas. Cada menina
deveria levar um laço de fita e um pente, para brincarmos de cabeleireira.
Minha mãe comprou alguns laços e me ajudou a selecionar um para a ativi-
dade. Na hora da brincadeira, me recordo que as meninas de cabelos lisos e
cacheados foram chamadas e os penteados e as fitas eram fixadas nos seus
cabelos com cuidado. Eu e outras meninas pretas fomos ficando para depois,
até que a brincadeira acabou e não fomos chamadas. Talvez, a professora não
soubesse pentear cabelo crespo, o que é compreensível, pois era uma mulher
branca, porém a minha expectativa infantil não suportava o tratamento desi-
gual. Pedia que a minha mãe colocasse fitas e pregadeiras para que a professora
me achasse bonita também.
Lembro-me de ouvir que o cabelo crespo era um cabelo ruim, e que o
cabelo liso era o cabelo bom. Segundo Gomes (2017, p. 42), “O cabelo do
negro, visto como “ruim”, é expressão do racismo e da desigualdade racial
que recai sobre esse sujeito. Ver o cabelo do negro como “ruim” e do branco
como “bom” expressa um conflito.” Portanto, transformar o que era ruim em
algo bom se constituía como uma missão de autoaniquilamento e de nega-
ção, por meio de processos arriscados, que comprometiam a saúde, pelo uso
de produtos químicos (pastas, óleos e de instrumentos, como pente quente,
chapinha e ferro marcel (babyliss). Estas ações, para além de potencializar a
autoestima das mulheres pretas, serviam como objetos capazes de escamo-
tear a “origem racial” demarcada pelo cabelo. Dessa forma, era possível ser
preta de cabelo bom, ou seja, nem tão preta. Munanga (1988), considera que
o padrão de identificação com a supremacia branca contribui para alargarmos
a compreensão da dinâmica de embranquecimento do negro pela assimilação
dos valores culturais da branquitude. Nesse sentido, mulheres negras não se
reconhecem com seu cabelo natural, afirmando que esse tipo de cabelo não
combina com elas.
Desde muito cedo, as meninas eram submetidas aos processos químicos,
em razão da insatisfação pessoal frente aos modelos e dos escárnios e apelidos,
150
Mesmo que não tivesse dúvidas da minha negritude, o uso dos produtos
químicos se apresentava como uma oportunidade de adequação aos padrões
estéticos preestabelecidos pela supremacia branca. Consciente de que esse
ajuste não garantiu/garante pertencimento, mas que define, para as mulheres
pretas, um não-lugar.
Na minha infância, não havia variedade de produtos para tratamento de
cabelos crespos. Na televisão, principal veículo de comunicação, o modelo
padrão de referência era o da pessoa branca. Quando havia alguma aparição
de pessoa preta era na condição de subalternidade. Nas brincadeiras, eu e a
minha irmã colocávamos toalhas na cabeça e fixávamos com grampos, para
que, no faz de conta, tivéssemos um cabelo longo e esvoaçante. Anos depois,
compartilhando memórias de infância, com outras mulheres pretas, descobri
que elas também utilizavam toalhas e tecidos para substituir o cabelo real,
pelo cabelo ditado como ideal. Compartilhar essas experiências promoveu um
diálogo possível com Fanon (2008, p. 142), ao afirmar que “é na corporeidade
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 151
Memórias e cabelo
assim por muito tempo”, “Prefiro seu cabelo com alongamento”. Comen-
tários, que tecem críticas aos seus cabelos crespos, as crianças pequenas
escutam. Não é difícil vermos elogios àquelas com cabelos lisos e compri-
dos, enquanto, ao lado, encontramos crianças de cabelos crespos e enrolados
que dificilmente são lembradas. Não digo que passam despercebidas, pois
comentários como: “A mãe dessa criança não prende o cabelo dela, não sei
o porquê”. Trazendo-me aquela velha lembrança, de que o cabelo crespo
deve estar sempre bem preso e alinhado para não se esbarrar no estereótipo
de cabelo feio, sujo e bagunçado.
Algumas crianças com quem convivi na docência fizeram-me lembrar
da menina que fui, e, ao mesmo tempo, me questiono porque, após décadas e
com fortes campanhas de valorização do cabelo e do corpo negro, as pequenas
ainda passam por processos em seus cabelos semelhantes aos que vivenciei.
Certo dia, Livia, de apenas quatro anos, chegou à sala de aula com algumas
queimaduras em seu rosto. Ao ser perguntada sobre o que havia acontecido,
a criança correu para os meus braços, chorando. Esperei que se acalmasse e
pudesse falar. Contou-me, entre soluços, que a mamãe passou o creme em
seu cabelo, caindo no rosto e a queimando. Tivemos a pequena Alicia que
sempre reclamava do coque que a mãe fazia e estava sempre a brincar com
os cabelos lisos da amiga. Alicia gosta de seus cabelos soltos, mas a “mamãe
não deixa soltar, porque é duro”, palavras da criança.
Entendemos que o papel da escola vai muito além de uma instituição
formadora de saberes escolares, como sociais e culturais. Para tanto, é
importante viabilizar ambientes propícios para compartilharmos não só
conteúdos e saberes escolares, mas também valores, crenças, hábitos sau-
dáveis, práticas pedagógicas e educativas comprometidas com uma edu-
cação antirracista, minimizando as ocorrências de preconceitos dentro das
unidades escolares. Tendo isso em vista, alguns estudiosos do campo da
educação e da cultura têm destacado o peso do âmbito escolar no processo
de construção das identidades sociais, enfatizando a escola como mais
um espaço presente na construção do complexo processo de humanização
(ARROYO, 2000; BRUNER, 2001).
Quando tinha entre sete e dez anos de idade, ouvia alguns adultos
da minha família e com quem convivia, falarem assim: “Vai pentear este
pixaim, nigrinha!”. Eu odiava pentear os cabelos. Também, pudera! Pentear
os cabelos para a criança que fui era uma grande tortura. Tinha os cabelos
finos, crespos, eternamente embaraçados. Cada vez que minha mãe pegava
154
o pente para passar nos meus cabelos, era terrível, porque puxava de tal
maneira que doía até a alma. Eu chorava. Sempre que terminava, sentia
uma grande raiva repleta de dor de cabeça. No entanto, adorava quando
minha irmã fazia lindos cachinhos nas marias-chiquinha em meus cabelos
vermelhos da cor do fogo, ou trançava os fios, agarradinhos no coco da
cabeça, de maneira que ficavam penteados por mais de uma semana, evi-
tando, assim, passar por mais torturas.
Quando me lembro dessa parte da minha infância, sinto alívio por ela ter
passado. Viver e sofrer, dentro da própria casa, situações de dor e preconceito
por causa dos seus cabelos é sim traumatizante e pode gerar complicações
emocionais de autoaceitação em várias pessoas. Isso aconteceu comigo. Como
não gostava de pentear os cabelos, aos nove anos de idade, meu pai resol-
veu cortá-los bem baixinho. No estilo “joãozinho”. Na escola, meus colegas
riam da minha aparência de “moleque-macho” e teve quem me colocasse o
apelido de “Paulo”, ao qual eu atendia, prontamente, quando era chamada.
Sempre acreditei que se entrasse na brincadeira, logo ela perderia a força.
Hoje, chamam isso de bullying, mas, ao final dos anos 1980, não passava
de uma grande brincadeira de mau gosto. Como aderi às gozações, as outras
crianças pararam de me importunar.
Pensar nessa fase da minha existência tornou-se um convite para refle-
tir sobre como as crianças pretas de hoje vivem, sentem e experimentam
a relação com os seus próprios cabelos, seus penteados ou despenteados.
Principalmente, tendo em vista a grande gama de possibilidades de tratamen-
tos, cuidados e penteados para pessoas com cabelos crespos e encaracolados
existentes na atualidade.
Fico pensando, também, nas crianças da educação infantil com quem
convivi, ao longo dos vinte e poucos anos, em que atuei como professora.
Penso na pequena Keyti que, com seus cinco anos de idade e um olhar
furioso, ensinou-me a pensar nas palavras que usaria para lidar com os seus
cabelos. Keyti ficou brava quando, por descuido, a chamei para “pentear
o seu pixaim”. Confesso que tal comentário deu-se de forma meiga e ino-
cente de minha parte. Quando eu ouvia tal chamado, até então, via como
um gesto carinhoso. Era isso que a pequena criança que habitava em mim
ouvia na infância e reconhecia como algo amoroso. Não sabia identificar
como uma forma agressiva de se falar, até o momento em que a pequena
Keyti olhou para mim com olhos de desaprovação e revolta, como quem
diz: “respeita meu cabelo!”
Penso também na Luiza, uma criança de pele retinta que, com seus
três para quatro aninhos, chegou a casa, falando sobre a história de um lobo
negro e conversando sobre a cor da sua pele. Seu pai tinha uma consciência
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 155
muito bem formada das suas raízes africanas, mas a sua esposa não tinha a
mesma segurança e a criança ficava entre essas duas referências. Ele che-
gou à escola perguntando sobre o que a criança estava estudando, pois, em
casa, havia comentado algo relacionado à sua cor de pele e um lobo negro,
lobo mau. Conversamos um pouco sobre o projeto trabalhado e sobre o
livro que a pequena Luiza amava ver. Na escola, a criança queria sempre
usar uma grande toalha de banho na cabeça imitando uma personagem de
desenho animado com longos cabelos lisos e brancos. Não gostava que
tocassem em seus cabelos. Seus penteados se repetiam constantemente, e
não valorizavam a beleza dos seus traços e de suas origens, eram sempre
um ou dois pompons, amarrados no alto da cabeça. O projeto trabalhado
na turma naquele momento tinha ligação com a identificação e autoconhe-
cimento: “Da cor do chocolate ou da cor do sol”, (fala das crianças) qual
a cor da sua pele?
Djamila Ribeiro (2019), em seu Pequeno Manual Antirracista, nos con-
voca a refletir sobre a importância de obter informações sobre o racismo,
enxergar a negritude, perceber o racismo internalizado e, dentre outras questões,
transformar o ambiente de trabalho. A autora afirma que as crianças negras não
podem ignorar as violências cotidianas que vivenciam em seus ambientes de
primeiras socializações que são a família e a escola, as quais deveriam pro-
porcionar segurança em todos os sentidos, sobretudo, a segurança emocional.
Para isso, é necessário que nos informemos e, assim, possamos ensinar os
pequenos a identificar o racismo e o preconceito. Algumas atitudes simples
compartilhadas por Ribeiro (2019, p. 41) podem nos ajudar nesta luta, como,
por exemplo, fazer valer a aplicação da Lei 10639/2003, que dispõe sobre a
obrigatoriedade do ensino das histórias africana e afro-brasileira nas escolas;
assim como, “Conversar com a família e as crianças” e combater os peque-
nos comportamentos que levam a propagar o racismo. É importante que cada
pessoa se comprometa com a causa antirracista. No caso de nós, professoras,
faz-se necessário envolver as crianças e suas famílias nesta luta e apresentar
situações que possam valorizar a cultura afro-brasileira, por meio de formações,
oficinas, partilha de experiências, fóruns, debates, festas e até no ato de arrumar
os cabelos das nossas crianças pretas. Outra atitude é “apresentar livros com
personagens negros que fogem dos estereótipos” (RIBEIRO, 2019, p. 41).
Tal atitude promove o cumprimento da Lei 10639/2003 e nós, professoras,
precisamos conhecer e valorizar a vasta literatura africana e afro-brasileira,
apresentando personagens que tenham orgulho da sua ancestralidade e que
se vejam empoderados em suas peles e características pretas, confrontando o
olhar embranquecido que sempre impuseram a nós.
156
Considerações finais
“o combate ao racismo é um processo longo e doloroso”
(RIBEIRO, 2019, p. 39).
53 Criado por Conceição Evaristo, o termo “escrevivência” traz a junção das palavras “escrever e vivência”,
mas a força de sua ideia não está somente nessa aglutinação; ela está na genealogia da ideia, como e
onde ela nasce e a que experiências étnica e de gênero ela está ligada, explicou a escritora e educadora.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 157
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre. Petrópolis: Vozes, 2020.
GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da
identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São
Paulo: Ática, 2014.
SILVA, Tânia Alves da. Cabelos de Tóin Oin Oin. Campinas, SP: Pontes
Editores, 2023.
A IMPORTÂNCIA DA
ELABORAÇÃO DE UM PLANO
DE ENSINO INDIVIDUALIZADO
INTERDISCIPLINAR NO
CONTEXTO DO AUTISMO
Georgia Patrícia Pontes Bezerra54
Introdução
54 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGED – UFRN). Pós-graduada
em Análise do Comportamento aplicada ao Autismo e Deficiência Intelectual Fonoaudióloga formada pela
Universidade de Fortaleza em 2003.2. ORCID – 0009-0002-8625-3676. Email: georgiapatricia@gmail.com
55 Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm. Acesso em: 31 jul. 2020.
162
56 Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece asdiretrizes e bases da educação nacional.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
164
57 Instrução normativa PRE/IFSP nº 001, de 20 de março de 2017 estabelece orientações para identificação e
acompanhamento do estudante com necessidades especiais. Disponível em: https://vtp.ifsp.edu.br/images/
Documentos_Institucionais/Instrucoes_Normativas/IN-PRE/20 17---Instruo-Normativa-PRE-001---Orien-
taes-ao-NAPNE.pdf
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 165
Teoria x prática
Áreas de habilidades
Mando Comportamento verbal espontâneo
Ecoico Matemática
Fonte: The Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program de M. Sundberg, 2008.
Fonte: The Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program de M. Sundberg, 2008.
Quando a assistência não é global, vê-se que muitas crianças autistas são
marginalizadas, acabam se isolando, emitindo condutas inadequadas para o
ambiente de estudo e até comportamentos heterolesivos, causando rejeição
entre os pares e intensificando suas experiências negativas na escola. Isso
acontece porque o acesso aos objetivos trabalhados em outras instituições
não chegam com a clareza devida aos profissionais da escola, e os manejos
comportamentais e esquemas de reforçamentos direcionados não são repas-
sados, propiciando esse obscurecimento das condutas.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 167
Considerações finais
58 Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
168
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico
e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 [recurso eletrônico]. 5. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2015.
GOMES, Camila Graciella Santos; SOUZA, Deisy das Graças de; SILVEIRA,
Analice Dutra; and OLIVEIRA, Ianaiara Marprates. Intervenção Comporta-
mental Precoce e Intensiva com Crianças com Autismo por Meio da Capaci-
tação de Cuidadores. Rev. bras. educ. espec. [online]., v. 23, n. 3, p. 377-390,
2017. ISSN 1980-5470.
GOULART, Paulo; ASSIS, Grauben José Alves de. Estudos sobre autismo em
análise do comportamento: aspectos metodológicos. Rev. bras. ter. comport.
cogn. [online]., v. 4, n. 2, p. 151-165, 2002.
Introdução
59 Professora efetiva da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, trabalhando com as disciplinas
pedagógicas do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Doutorando em Educação pelo Programa
de Pós-Graduação em Educação-PPGE, da Universidade Federal do Ceará-UFC.
60 Professora associada da Universidade Federal do Ceará, lotada no Departamento de Teoria e Prática do
Ensino, FACED e Pesquisadora Permanente do Programa de Pós-graduação em Educação-PPGE-UFC.
172
Freire (2022, p. 30) declara que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e
me educo”. Já Pimenta e Lima (2012) consideram que o estágio é um dos
componentes que podem realizar a articulação entre a pesquisa e a prática
docente, sendo, através dele, que o sujeito vivencia determinada realidade e,
a partir dessa, constrói e ressignifica os seus saberes e práticas.
Infelizmente, no PPC da licenciatura em Ciências Biológicas/UERN, a
pesquisa no Estágio encontra-se inexistente, o que nos leva a apontar sobre
a necessidade da reestruturação das disciplinas de Estágio, sugerindo como
possibilidades a inserção do diálogo e a produção de pesquisas a partir da
investigação e intervenção do contexto escolar. Os professores devem ser
capazes de teorizar e produzir conhecimentos sobre suas práticas – conside-
rando as condições institucionais, sociais e históricas do ensino que realizam
–, tornando-se um intelectual crítico-reflexivo e pesquisador de sua prática,
aproximando, assim, a teoria com a prática.
É preciso, com urgência, superar o modelo de formação que considera o
professor apenas como um transmissor de conhecimento, reduzida à atuação
meramente técnica, mecânica e burocrática, em que teoria e prática são con-
cebidas de maneira dicotômica (LEITE, 2018). Ainda conforme a autora, a
ênfase na racionalidade técnica, ao negar a dimensão política inerente à esfera
de atuação docente, tem contribuído para destruir os cursos de formação de
uma perspectiva crítico-reflexiva, necessária a uma educação emancipatória.
As considerações aqui apresentadas nos permitem apontar que o Estágio
é um componente curricular que engloba diversos campos de atuação, saberes,
contextos e que devem ser vivenciados pelos educandos em formação.
Algumas considerações
REFERÊNCIAS
BARRETO, Maria Raidalva Nery. As políticas públicas para a educação supe-
rior e as implicações no campo do estágio supervisionado. In: D’ÁVILA, C.
M.; ABREU, R. M. A. (org.). O Estágio Curricular Supervisionado na
Formação de Professores e Pedagogos: entre a realidade e o devir. Curitiba,
PR: CRV, 2014. 136p.
Introdução
A primeira do Ceará
61 Professor Adjunto do Instituto de Educação Física e Esporte, da Universidade Federal do Ceará. Doutor em
Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação – PPGE-UFC.
62 Professor da Educação Básica do Município de Fortaleza, Ceará.
63 Professor da Educação Básica, da Secretaria de Educação do Estado do Ceará.
188
64 Radiola ou Vitrola: tipo de toca – disco portátil que era usado para discos de vinil.
65 Cambogó: espécie de janela feita de cimento ou argila com furos, usado para melhorar a circulação de ar
no interior do ambiente.
66 Aeroclube de Fortaleza: Clube de Aviação Civil. Local também de formação de pilotos civis.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 189
Fonte: http://www.fortalezaemfotos.com.br/2013/11/avenida-washington-soares.html
Um fato que faz voltar no tempo dessa história, ocorreu quando, um dia pela
manhã, andando com outros colegas de turma, percebeu-se certa euforia de pessoas
junto à Diretoria do Centro de Ciências da Saúde. De imediato, procurou-se a sala
da coordenação do curso, que ficava muito próxima, soube-se então que o Curso
de Educação Física, modalidade licenciatura, tinha sido reconhecido. Atualmente,
verificando documentos escritos sobre a instituição, pode-se conferir que, no dia
27 de outubro de 1976, pelo Decreto Lei 78.651, o Curso de Educação Física foi o
primeiro dos 17 cursos da UNIFOR a ser reconhecido. Vale frisar que o curso fora
aprovado pelo parecer 2.954/76, da Câmara de Ensino Superior, sob o processo
nº 923/76, no dia 2 de setembro de 1976.
O primeiro currículo do Curso de Educação Física da Universidade de
Fortaleza (UNIFOR) teve como base o de outros cursos e que serviu de
194
comparação àquele que seria o da nova instituição. Nesse caso, foram utiliza-
dos os currículos da Universidade Federal de Espírito Santo, da Universidade
Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Uni-
versidade Federal de Porto Alegre e da Universidade Federal de São Paulo.
Após essa análise, chegou-se à conclusão de que a universidade deveria ter
um curso com uma duração de 3 (três) anos, com matrícula semestral e por
disciplina. Levem-se em consideração que no primeiro ciclo deveriam constar
disciplinas comuns a todos os cursos da área da saúde.
O que se observa na proposta, é de que o profissional de Educação Física
concluiria o curso com a possibilidade de atuar em todas as áreas esportivas,
de forma a exigir a execução das técnicas, ficando claro que esses objetivos
estariam ligados a uma Educação Física tecnicista.
68 Licença legal fornecida pelo órgão oficial para que os professores que não possuíam nível superior pudessem
atuar no magistério.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 195
Fonte: http://www.unifor.br.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 197
REFERÊNCIAS
BILKEN, R.; BOGDAN, S. Investigação Qualitativa em Educação: uma
introdução à teoria e aos métodos. Porto: Editora Porto, 1994.
THOMPSON, Paul. A voz do passado. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
Introdução
Perspectivas metodológicas
Resultados e discussões
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ricardo Santos de. Aspectos Históricos da monitoria no ensino
superior e sua importância para a preparação docente: a monitoria em
Geografia Agrária. VII Colóquio Internacional: Educação e Contemporanei-
dade. São Cristóvão, SE, 2013. Disponível em: https://ri.ufs.br>bitstream
>riufs. Acesso em: 12 jun. 2023.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
Introdução
Mas, para além dessa tarefa, que é o educar, estão questões como a ava-
liação, as políticas públicas de educação, as práticas pedagógicas de ensino
e aprendizagem, questões de conteúdo e currículo, enfim, são muitos os
aspectos que se colocam na prática docente que muitas vezes extrapolam a
sala de aula.
Desse modo, nos debruçamos sobre o que indicam as políticas de for-
mação docente a respeito de uma educação que busca uma escola inclusiva.
Buscamos ainda, tratar sobre uma perspectiva local, no município de Forta-
leza, o que dizem os documentos municipais a respeito de uma proposta de
educação para a inclusão e a formação continuada de professores. Esses são
os pontos que iremos discutir com mais atenção nos tópicos seguintes.
Para iniciar nossa discussão, vamos pensar em primeiro lugar o que são
políticas de formação e qual seu objetivo, para isso nos apoiamos no que diz
o Ministério da Educação (MEC) sobre o tema. Para o MEC, “A Política
Nacional de Formação de Professores tem como objetivo expandir a oferta
e melhorar a qualidade nos cursos de formação dos docentes” (http://portal.
mec.gov.br/). E, tem como objetivo, assegurar a qualidade da formação de
professores que irão atuar, ou ainda, que já atuam em escolas públicas, visando
promover a qualidade do ensino público em seus diversos níveis e modalida-
des. Para isso, a política fomenta programas e projetos em nível nacional e
regional, de caráter inicial e continuado, para a promoção de uma formação
que alie teoria e prática, numa ação reflexiva da docência.
Pensar sobre a relação entre a qualidade da formação de professores
e a qualidade do ensino público ofertado nas escolas brasileiras, perpassa
as demandas que são inerentes às dinâmicas do universo escolar, entre eles
destacamos a perspectiva e promoção de uma escola que atenda a inclusão
de todos em que nelas estejam inseridos. Assim, nos propomos a levantar em
documentos norteadores da formação docente o que indicam a respeito de
uma concepção de formação para a inclusão.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n° 9.394/96),
no capítulo V, que trata particularmente sobre a Educação Especial no Brasil,
destaca que os sistemas de ensino devem garantir uma proposta de formação
docente que, de acordo com o artigo 59, “inciso III – professores com especia-
lização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado,
bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses
educandos nas classes comuns” (BRASIL, 2018, p. 39).
214
Nos pontos destacados acima, o que nos chama a atenção é que o docu-
mento viabiliza uma proposta de formação continuada que conduza para uma
prática docente que vise colaborar para uma sociedade inclusiva. Também se
faz notório uma percepção de docência mais humana, buscando um distancia-
mento de práticas tradicionais e engessadas para a promoção de uma docência
que seja amparada na empatia, cooperação, respeito e acolhimento como ele-
mentos articuladores do processo educativo e de formação do sujeito (aluno).
Se coloca ainda, como uma competência essencial para a formação con-
tinuada de professores uma proposta de aprimoramento em que o professor
busque incentivar e agir de forma a estimular uma concepção pedagógica
orientada por princípios, e entres estes, princípios inclusivos.
No que se refere ao Plano Nacional de Educação (PNE), a meta 4 trata
especificamente sobre a universalização ao acesso à educação básica e ao
atendimento educacional especializado para crianças e adolescentes entre 4
e 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
216
75 Documento elaborado no ano de 2022 pela Secretaria Municipal de Educação – SME e intitulado como: A Edu-
cação Inclusiva na Rede Municipal de Ensino de Fortaleza: um olhar para todos/orientações para profissionais da
educação. Disponível em: https://educacao.sme.fortaleza.ce.gov.br/index.php/rede-de-ensino/educacao-inclusiva.
218
76 O AEE tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que
eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas.
77 Ambiente equipados com recursos adequados que visam o melhor atendimento educacional aos estudantes
com deficiência.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 219
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRASIL. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional. 2. ed. Brasília:
Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2018. (Conteúdo: Leis de
diretrizes e bases da educação nacional – Lei n° 9.394/1996).
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
Introdução
78 Mestranda em Educação Brasileira pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Bolsista da coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior – Brasil (CAPES). Pedagoga
(UFC). E-mail: kellyrocha@alu.ufc.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2532-8187.
79 Professor da Universidade Federal do Ceará, Tutor do Programa de Educação Tutorial – PET Pedagogia (UFC).
Doutor em sociologia. Pós-Doutor em Artes Cênicas (UFBA), História da Educação (UFPB), e Educação
(UFRN). E-mail: gerardovasconcelos1964@gmail.com. ORCID: http://orcid.org/0000.0003.0559.2642.
224
Educação na história
que guia seu discípulo, com ensinamentos práticos e teóricos sobre a vida e
a própria essência do ser. Neste viés histórico, Geib (2007, p. 218) ressalta
que, para os povos primitivos, a educação assumia um caráter de imitação.
Logo, na sociedade tribal primitiva, os mais novos copiavam as ações
dos mais velhos, no modo de ser, falar e agir, sendo ainda reforçado pelas
histórias oralizadas contadas pelos xamãs, curandeiros, feiticeiros, guerreiros
e caçadores. Estes personagens assumiam o papel de educadores na tribo e
auxiliavam os aprendizes na compreensão da vida, tanto em sentido prático
como teórico. Os mais velhos guiavam os jovens numa espécie de tutoria
espontânea, com foco no aprendizado para a sobrevivência não só do aprendiz,
como também na própria resistência do clã.
Posteriormente, irão surgir novas civilizações que, além da transmissão
oral, também utilizariam a transferência do conhecimento por meio da escrita,
revolucionando a história da humanidade, pois esta nova forma de transmis-
são se tornou um importante apoio para a memória humana e desencadeou a
acessibilidade dos mais vulneráveis à informação, permitindo que a luta de
classes, travada de maneira tão desigual, pudesse suspirar em um ato de liber-
dade intelectual. Na sociedade grega “o ensino era ministrado pelos tutores,
escolhidos pelos critérios da estima mútua, afetividade e amizade. Os tutores
eram responsáveis pela educação sobre honra, justiça, patriotismo, espírito
de sacrifício, autodomínio e honestidade” (GEIB et al., 2007, p. 218). Eles
orientavam o discípulo para o conhecimento da consciência de si.
A sociedade romana, “lugar da educação moral, cívica e religiosa, as
tradições pátrias têm história marcante, sendo o primeiro educador o pater
famílias, ou seja, ao contrário dos gregos, cujo mestre era um estrangeiro
ou escravo (pedagogo), em Roma a função educadora é do pai” (VIOTTO,
2016, p. 358). O ensino é orientado pelo critério da utilidade e da efi-
cácia. Os romanos possuíam uma profunda preocupação com a educação
moral dos filhos, sendo a primeira função da família e, posteriormente,
atribuída à escola.
Ademais, percebe-se, de forma clara, a diferença com a educação grega,
pois esta objetivava a busca por uma consciência verdadeira; já o ensino em
Roma estava muito conectado com as questões práticas que representavam
essa sociedade, como a vida cívica e a religião, o que levava os filhos homens,
segundo Marques (2008, p. 18), a acompanharem os pais em assuntos políticos
(tribunais e sessões do senado) e treinarem desde cedo para serem guerreiros,
ocupando, dessa forma, um lugar na vida cotidiana da cidade e também nas
questões políticas da pólis, o que os qualificava como cidadãos romanos. Em
contrapartida, as mulheres deveriam se concentrar com as preocupações da
casa, casamento e filhos.
226
A educação tutorial
et al., 2007, p. 220). Assim, o tutor contribui não somente com a formação
conteudista, mas também com o desenvolvimento das capacidades cogniti-
vas que elevam a preparação da vida moral e, sobretudo, da elaboração de
uma compreensão social, o que permite a concretização de uma educação
mais completa.
Diante disso, na busca de conceituar a educação tutorial, encontramos
na literatura que este tipo de ensino “é tido como um conjunto de instruções
que ensinam como fazer, proceder ou atuar. Tal conjunto é emanado por um
indivíduo legalmente encarregado de tutelar alguém ou um grupo” (WALTER
et al., 2010, p. 92). Além disso, “o processo tutorial é presencial, consistindo
de um recurso psicopedagógico para a formação do profissional, envolvido e
comprometido com competências técnicas e relacionais para o exercício da
profissão” (GEIB et al., 2007, p. 220). Dessa forma, podemos caracterizar a
educação tutorial como
Inovação pedagógica
Resultados e discussão
Educação
tutorial
Forma de
Modelo
construção da
educacional
aprendizagem
Aprendiz Tutor
Protagonista
Mediador da
da sua
aprendizagem
aprendizagem
Conclusão
REFERÊNCIAS
BITTAR, Marisa. História da educação: da antiguidade à época contempo-
rânea. São Carlos: EdUFSCar, 2009.
Introdução
80 Mestra em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará (2020). Especialista em
Gestão Pública pela UNILAB (2018). Servidora Técnico-administrativa pública, lotada na Pró-Reitoria de
Graduação da Universidade Federal do Ceará, assumindo a diretoria da Divisão de Seleção (DISEL/COPIC/
PROGRAD/UFC).
81 Professora efetiva da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Doutora em Sociologia pelo Programa de
Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora do Laboratório de
estudos sobre violências contra mulheres, meninas e minoras (LEVIM), vinculado ao Centro de Ciências
Jurídicas da Universidade de Fortaleza.
236
Metodologia
Delimitação da pesquisa
Resultados
Marcos legais
Quan�dade de
vagas no curso
No mínimo 50%
alunos de Demais vagas
escola pública
50%
renda ≤ 1,5 Renda > 1,5
salário mínimo salário mínimo
per capita
Avanços
Programas/Projetos Quant.
Com a adoção das cotas para PcD, a UFC Inclui também passou a arti-
cular-se com a recepção desses novos estudantes cotistas, através da atuação
de Agentes de Acessibilidade desde a solicitação de matrícula, como também
em cada uma das unidades acadêmicas, no sentido de auxiliar os discentes
com deficiência na sua inserção na Universidade.
A Comissão de Agentes de Acessibilidade, representação da UFC
Inclui nas Unidades Acadêmicas da UFC, tem como principais atribuições o
242
Desafios
Além dos desafios, a “Lei de Cotas” também possui alguns limites que
precisam ser considerados, sobretudo em relação ao escopo e à prescritivi-
dade escassa do dispositivo normativo, que está focado no acesso, mas não
na permanência. Isto é, a lei se concentra principalmente no acesso ao ensino
superior, mas não aborda de forma tão abrangente a questão da permanência
e conclusão dos cursos. A garantia de suporte e condições adequadas para a
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 245
Conclusões
REFERÊNCIAS
AMARAL, L. A. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hércules.
São Paulo: Robe Editorial, 1995.
Introdução
86 Bacharel em Nutrição, pelo Centro Universitário – Estácio – Fic – Fortaleza, 2018. Especialização em Saúde
Pública (EAD). Carga Horária: 390h. Centro Universitário União das Américas-UNIAMÉRICA. Capacitação
em Políticas de Alimentação Escolar pela Associação Brasileira de Educação - ABELINE.
87 Professor Adjunto do Instituto de Educação Física e Esporte, da Universidade Federal do Ceará. Doutor em
Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-UFC.
250
Materiais e métodos
Resultados
Masculino
42%
Feminino
58%
70% 66,67%
60%
50%
40%
33,33%
30%
20%
10%
0%
20-30 40-50
anos anos
252
70 70%
60
50
40
30
30%
21
20
10 9
0
< 2 anos > 2 anos
n= 30 %
n= 30 %
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 253
20
15
10%
10
0
Homens Mulheres
% % %
254
50
13,33
0
Conhece Desconhece
%
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 255
60 60
40 40
16,67 13,33
20 20
0 0
Conhece Desconhece Conhece Desconhece
% %
Discussões
Outro ponto que chamou a atenção na pesquisa é que cerca de 40% dos
alunos praticantes de musculação nunca tiveram atendimento nutricional. O
acompanhamento de um nutricionista é essencial para indivíduos que praticam
musculação ou qualquer tipo de esporte que envolva atividades físicas inten-
sas. A alimentação desempenha um papel fundamental no desempenho atlético
e no alcance dos objetivos de condicionamento físico (ASSIS; CEZAR, 2019).
Sendo bastante comum muitos frequentadores de academias não bus-
cam um acompanhamento nutricional adequado, o que pode levar a erros na
alimentação, excessos ou carências nutricionais, e até mesmo comprometer
a saúde e os resultados desejados. Por esse motivo, é essencial incentivar a
conscientização sobre a importância do suporte nutricional entre os praticantes
de musculação e todos aqueles que buscam melhorar o desempenho físico e
a composição corporal.
Quanto ao uso de suplementos, o consumo no gênero feminino foi maior.
O uso de suplementos por mulheres, especialmente no contexto da busca
por um corpo com baixos níveis de gordura e ganho de massa muscular, tem
aumentado nos últimos anos (CARDOS; VARGAS; LOPES, 2017).
Os suplementos desempenham um papel importante no aprimoramento da
atividade física quando utilizados de forma adequada e complementar a uma
dieta equilibrada e um programa de exercícios bem planejado. É fundamental
consultar um nutricionista antes de iniciar qualquer suplementação, pois as
necessidades podem variar de acordo com o tipo de atividade física praticada,
o nível de treinamento e a dieta individual. O uso inadequado de suplementos
pode trazer efeitos negativos à saúde e comprometer os resultados esperados.
Em relação à pergunta sobre nutrição, o que é nutrição, 50% dos partici-
pantes erraram completamente. Isso leva a entender que metade dos participan-
tes não sabe o que é nutrição. A nutrição é uma área de estudo que investiga
a relação entre os alimentos, seus nutrientes e a saúde humana (RIBEIRO et
al., 2018, p. 18). A nutrição é uma ciência em constante evolução, e pesqui-
sas contínuas são realizadas para entender melhor os efeitos dos alimentos e
nutrientes na saúde humana. É importante promover a conscientização sobre
esse tema para que as pessoas compreendam a relevância da nutrição na
manutenção de uma vida saudável e equilibrada.
Sobre calorias 70% dos participantes acertou totalmente a questão. O
que leva a entender que os participantes demonstraram conhecimento mode-
rado sobre calorias. As calorias são unidades de medida de energia que são
encontradas nos alimentos que consumimos. No estudo de Santos et al. (2016),
avaliou o consumo alimentar dos praticantes de musculação de 102 indivíduos
de ambos os sexos com idade maior ou igual os 18 anos, o consumo calórico
do sexo masculino foi menor (50%) e o feminino maior (80,5%). Concluindo
258
Conclusão
REFERÊNCIAS
ANJOS, Amanda Larissa Silva; BRUNA, Stefanny Karen Borges Januário;
SILVA, Nascimento. Conhecimentos nutricionais de brasileiros praticantes
de musculação. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo, v. 15,
n. 95, p. 411-418, nov./dez. 2021.
PINTO, Maria Eliane Alves; CAMACHO, Naiara Trivério. Fatores que moti-
vam mulheres à prática de ginástica de academia: uma revisão de literatura.
Revista Ciência Amazônica, Porto Velho, v. 1, n. 3, 2018.
Introdução
Metodologia
92 Foi um grande pensador grego, fundador da ciência que ficaria conhecida como Lógica. “De todos os grandes
pensadores da Grécia antiga, Aristóteles (384-322 a.C.) foi o que mais influenciou a civilização ocidental.
Até hoje o modo de pensar e produzir conhecimento deve muito a ele” (NOVA ESCOLA, 2009, p. 14).
93 “Como eram consideradas incapazes para sobrevivência, na sociedade primitiva as pessoas com deficiência
não atendiam aos padrões sociais atribuídos aos homens, portanto eram denominados deficientes, disformes
[...]” (CARMO, 1991, p. 49).
94 Exposição e abandono dizem respeito a expor alguém em lugar que a sujeite a uma situação em que ela, só
por si, não possa se defender. Estamos nos referindo a alguém sem defesa, em razão da idade, deficiência
física ou doença, sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir (Decreto-Lei nº
48/95 de 15-03-1995. Artigo 138º).
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 267
95 “Na atualidade, o Brasil tem adotado a terminologia preconizada pela American Association on Intellectual
and Developmental Disabilities (AAIDD), que advoga a mudança de terminologia de retardo mental para
deficiência intelectual” (MENDES; VELTRONE, 2012, p. 360).
96 O Iluminismo foi concebido como um movimento intelectual, consolidando-se como um influente processo
cultural, social, filosófico e político, com suas origens nos sécs. XVII e XVIII, em países europeus e em suas
colônias, tendo como base a crença na racionalidade e nas ciências como motores do progresso (AURÉLIO,
2004; PISSURNO, 2016).
268
97 Movimento político-religioso iniciado pelo decreto papal Ad abolendam emanado pelo Papa Lúcio III (1184),
em que a Igreja Católica Cristã arquitetou uma reação contra a difusão no ocidente de movimentos heréticos.
Foi “[...] uma batalha irrestrita e intolerante à diversidade de opiniões e de crenças, enfim, às diferenças.
Assim, imprimiu-se uma perseguição a judeus, moriscos, feiticeiras, pensadores livres e místicos” (PINTO,
2010, p. 191).
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 269
Considerações complementares
Pessoas com deficiência não podem mais ser encaradas com segregação
ou preconceitos, como ocorreu ao longo do tempo. Ao contrário, hoje têm-se
uma nova concepção e toda uma legislação para assegurar que ações ocorridas
no passado não venham mais a repetir-se. Outrossim, marcos Legais assegu-
ram que esses sujeitos tenham seus direitos assegurados, especificamente, o
direito a uma Educação Inclusiva.
Ao se falar em Educação Inclusiva, também devemos considerar os efei-
tos orgânicos da deficiência, porque esse aspecto faz parte do sujeito. Todavia,
ele não é caracterizado apenas por sua deficiência, mostrando-nos que os
conceitos sobre deficiência não são eternos. Eles se modificam e se alteram,
quebrando paradigmas. E em relação às dificuldades que enfrentam na socie-
dade ou na escola, estas não estão concentradas apenas nesse sujeito, mas sim
na ausência de condições que a sociedade oferece para que ele se desenvolva.
Inclusão requer mudanças não lineares, porque cada um tem uma neces-
sidade específica. Portanto, devemos considerar as singularidades desses sujei-
tos. Nessa perspectiva, observa-se que os tempos hodiernos sinalizam para
uma mudança profunda nos rumos da educação das crianças com deficiência,
com a adoção de políticas públicas98 inclusivas, em que as escolas possam
98 Em relação às leis vigentes sobre políticas públicas, utilizamos a LDB 9394/96, bem como a Constituição
Federal de 1988, pois ambas se encarregarão de abordar as políticas públicas inclusivas.
272
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Política. Brasília, DF: UNB, 1985.
99 Artigo fruto do Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte-UERN, sob orientação da professora Ma. Magnólia Costa.
100 Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN: taty_mossoro@
hotmail.com.
101 Doutoranda em Educação da Universidade Federal do Ceará- UFC. Professora da Universidade do Estado
do rio Grande do Norte-UERN: magnoliamarinho@hotmail.com.
278
102 Para Freire (1996) o professor aprendente é aquele que reconhece que a sua formação não termina na
graduação, mas é um processo contínuo de aprendizagem ao longo de toda a vida. O professor compreende
que o conhecimento é construído em conjunto com os alunos e que todos têm algo a ensinar e a aprender.
Nesse sentido, o professor como ser inacabado deve buscar constantemente a atualização de conhecimentos
para melhorar sua prática docente.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 279
[...] É um plano individual que deve ser de acordo com aquilo que a criança
ela está apta e que ela precisa pra realmente poder aprender e desenvolver
o seu aprendizado, então o plano educacional individualizado é de acordo
280
Com base nas respostas dos professores, fica evidente que todos eles
enfatizam a importância da elaboração do PEI em colaboração com toda
comunidade escolar. Essa visão se assemelha ao pensamento de Glat, Vianna
282
e Redig (2012) que defendem que na elaboração do plano deve ter a partici-
pação de todos os membros da comunidade escolar que lidam com o aluno,
incluindo os demais profissionais, sua família e, a partir de certa faixa etária,
o próprio aluno.
Reflexões sobre o PEI nos programas formativos
Ao observar a fala dos três professores, nota-se que eles tiveram forma-
ção continuada. O professor P1 citou que participou de vários cursos sobre o
PEI; o professor P2 relatou que estudou um pouco mais sobre o PEI devido
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 283
diversas, então tem horas que eu fico impotente, penso em muitas coisas
e tem dia que eu não consigo fazer nada (P3).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília:
Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2019. 577 p. Atua-
lizada até a EC n. 105/2019. ISBN: 978-85-54223-41-0.
Introdução
103 Professor de Ensino Fundamental da rede pública municipal de Maracanaú, CE; Graduado em Pedagogia
pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2011); Pós-Graduado em Gestão Escolar e Práticas Peda-
gógicas pela Universidade Cândido Mendes – UCAM-RJ (2016); Pós-Graduado em Educação Musical e
Ensino de Artes pela Faculdade Venda Nova do Imigrante – FAVENI – ES (2021); Mestrando em Avaliação
de Políticas Públicas pelo MAPP-UFC, Orientadora: Prof.ª Milena Marcintha Alves Braz. ORCID:https://orcid.
org/0009-0009-1827-5962.
292
Considerações iniciais
104 Dança ritual de manifestação da espiritualidade de diversos grupos indígenas da Região Nordeste do Brasil.
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 299
Conclusões
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro.
Ed. Pólen, 2019.
CERQUEIRA, Daniel et al. Atlas da Violência 2021. São Paulo: FBSP, 2021.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes.
MAGALHÃES, Elói dos Santos. Praticando atos de força: A peleja dos indí-
genas do Pitaguary com os chefes do Ceará. Acervo, Rio de Janeiro, v. 34,
n. 2, p. 1-22, maio/ago. 2021.
SOUSA, Manoel Alves de. Maracanaú História e Vida: “O voo das mara-
canãs auriverdes e o pouso dos ventos da industrialização”. Fortaleza, CE:
Ed. Tropical, 1996.
ÍNDICE REMISSIVO
A
Adolescentes 21, 212, 215, 217, 220, 227
Alfabetização 14, 19, 21, 22, 28, 29, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 142, 143,
144, 145, 149, 167
Alimentos 254, 257, 258, 259, 260
Alunos com deficiência 144, 145, 216, 217, 220, 240, 241, 273, 274, 277,
278, 283, 285, 286, 287, 289
Analfabetismo 19, 21, 22
Ancestralidade 147, 150, 155, 297, 300
Antropologia 96, 97, 112, 123, 124
Autismo 8, 15, 161, 162, 165, 167, 168, 169, 221, 288
Avaliação 5, 25, 28, 29, 34, 62, 65, 75, 79, 113, 141, 145, 161, 163, 169,
179, 180, 182, 207, 213, 235, 242, 245, 253, 262, 269, 271, 273, 274, 285,
288, 291, 295
B
Biologia 177, 179, 234
Brincadeira 90, 91, 149, 154, 218
C
Candomblé 95, 99, 100, 101, 103, 104, 105, 106
Capacitismo 235, 236, 246
Cidadania 11, 44, 45, 70, 135, 137, 208, 236, 295, 301, 303
Conscientização 178, 181, 219, 245, 257
Consumo 253, 257, 258, 259, 261, 262
Creche 7, 32, 33, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 52
Criatividade 56, 86, 87, 88, 125, 283, 297
Cristianismo 267, 270
D
Dança 59, 117, 238, 266, 297, 298
306
Deficiência intelectual 9, 14, 16, 135, 136, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145,
161, 263, 265, 267, 270, 273, 274, 287, 288
Democratização 21, 55, 61, 65, 238, 239, 245, 246, 263
Didática 81, 82, 87, 88, 93, 97, 183, 206, 209, 269
Discriminação 31, 36, 38, 40, 157, 166, 174, 295
Ditadura 14, 21, 80, 294
Diversidade 4, 7, 13, 16, 22, 24, 55, 63, 112, 113, 124, 127, 147, 177, 212,
215, 236, 242, 243, 268, 271, 274, 277, 283, 285, 295, 300, 301, 303
E
Educação de jovens e adultos 7, 13, 19, 20, 21, 22, 23, 27, 28, 29, 30
Educação física 8, 15, 187, 188, 189, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199
Educação inclusiva 9, 136, 143, 163, 211, 212, 213, 216, 217, 218, 219, 221,
222, 235, 236, 245, 271, 274, 277, 279, 283, 285
Educação tutorial 9, 15, 16, 223, 224, 227, 228, 229, 230, 231, 232, 233, 234
Escolarização 84, 85, 90, 135, 136, 141, 167, 168
Escravidão 35, 292, 293, 298, 299
Escravos 231, 292, 298, 299, 300, 302
Estereótipos 151, 155, 158, 236, 291
Estética 60, 64, 83, 85, 151, 158, 174, 224, 266
Estudante 9, 15, 55, 59, 71, 89, 140, 141, 142, 164, 166, 167, 172, 201, 202,
203, 205, 208, 215, 227, 228, 242, 244
Etnocenologia 96, 97, 106
F
Formação continuada 74, 75, 76, 212, 213, 215, 216, 220, 221, 282, 283,
284, 288
G
Gênero 97, 98, 99, 102, 104, 148, 156, 223, 250, 251, 253, 256, 257
Geografia 189, 209, 295, 303, 304
Gestão 25, 57, 69, 73, 81, 121, 201, 235, 246, 281, 286, 291, 293, 303
H
Hidratação 259, 260
EDUCAÇÃO & EDUCAÇÕES UNIDADE NA MULTIPLICIDADE 307
I
Igreja 131, 226, 231, 268
Indígenas 235, 264, 294, 298, 304
Iniciação à docência 8, 9, 109, 110, 111, 114, 119, 121, 201, 204, 205, 209
Instituições de ensino 11, 22, 46, 65, 76, 172, 187, 193, 245, 277, 278
Interdisciplinaridade 114, 116, 117, 118, 130, 162, 167, 169, 177, 204
J
Judicialização 7, 14, 43, 44, 47, 50, 51, 53
L
Liberdade 113, 137, 144, 147, 148, 174, 225
Ludicidade 82, 87, 91, 92, 93
M
Macumba 95, 98, 99, 103
Magistério 8, 32, 35, 70, 71, 72, 73, 74, 76, 78, 79, 94, 109, 194, 204, 212,
216, 220
Matemática 26, 28, 29, 80, 165, 179, 231
Mediação 87, 128, 141, 145, 226, 227, 233, 273
Mercado de trabalho 25, 71, 72, 123, 132, 208
Multiplicidade 3, 4, 58, 60, 123, 124, 125, 126, 130
Musculação 9, 16, 249, 250, 251, 252, 253, 255, 256, 257, 258, 259, 260,
261, 262
N
Nutrição 249, 250, 253, 257, 260, 261, 262
Nutricionista 250, 252, 257, 258, 260
O
Obesidade 259, 261, 262
P
Pandemia 7, 13, 19, 20, 22, 24, 26, 27, 29, 34, 39, 82, 89, 113, 235, 247, 297
Patrimônio 55, 57, 62, 65, 67, 96
308
Pessoas com deficiência 9, 16, 141, 214, 217, 219, 235, 237, 238, 239, 243,
245, 263, 264, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 275
Plano Nacional de Educação 19, 20, 28, 52, 135, 184, 215, 221, 295, 302
Preconceito 31, 34, 36, 38, 40, 154, 155, 216, 265
Profissionalização 57, 71, 78, 79, 215
R
Racismo 31, 34, 35, 36, 40, 41, 42, 149, 152, 155, 156, 157, 159, 294, 300,
301, 302, 303
Relações étnico-raciais 9, 16, 17, 147, 291, 298, 301, 303, 304
S
Sala de aula 15, 32, 60, 73, 77, 87, 110, 112, 113, 119, 141, 142, 143, 145,
153, 162, 167, 180, 188, 212, 213, 241, 285, 289
Segregação 152, 216, 236, 264, 271
Sexos 256, 257, 261, 299
Socialização 35, 45, 51, 83, 168, 208, 218
Superdotação 136, 211, 214, 216, 217, 220, 263
T
Transdisciplinaridade 8, 14, 15, 123, 124, 126, 127, 129, 130, 132, 133
V
Virtualidade 124, 125
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5 | 11,5 | 13 | 16 | 18
Arial 8 | 8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal | Supremo 250 g (capa)