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LUTO:
Teoria e Intervenção em Análise
do Comportamento
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Revisão: Anna Laura Leal Freire, Artur Vandré Pitanga, Flávia Nunes Fonseca, Lucas
Barbosa dos Santos e Thainã Eloá Silva Dionísio.
L973
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-2515-2
ISBN Físico 978-65-251-2514-5
DOI 10.24824/978652512514.5
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
PREFÁCIO������������������������������������������������������������������������������������������������������� 9
Anna Laura Leal Freire, Flávia Nunes Fonseca e Lucas Barbosa dos Santos
3. INTERVENÇÃO ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL NO
PROCESSO DE LUTO: uma revisão da literatura���������������������������������������� 49
Ewerton Leonardo Alves Pinheiro
8. LUTO NA MATERNIDADE:
vivências de luto em contexto hospitalar������������������������������������������������������� 167
Dafne Rosane Oliveira
Karenina Oliveira Santos
Mariana Troesch
Valeska Chester
Com amor,
Anna Laura Leal Freire, Flávia Nunes Fonseca
e Lucas Barbosa dos Santos.
12
REFERÊNCIAS
Devine, M. (2021). Tudo bem não estar tudo bem: vivendo o luto e a perda
em uma sociedade que não aceita o sofrimento. Sextante.
Torres, N. (2010). Luto: a dor que se perde com o tempo (...ou não se perde?).
In M. R. Garcia, P. R. Abreu, E. N. Cillo, P. B. Faleiros, & P. Piazzon. Sobre
Comportamento e Cognição: Vol. 27. Terapia Comportamental e Cognitiva
(pp. 385- 393). ESETec.
1 Site: https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/
14
Mais de uma vez em minha vida acordei com a sensação de estar morto.
Mas nada me preparou para o começo da manhã de junho em que recobrei
a consciência sentido-me como que acorrentado a meu próprio cadáver.
Toda minha cavidade torácica parecia ter sido retirada e depois preenchida
com cimento de secagem lenta. Eu ouvia minha respiração fraca, mas não
conseguia inflar os pulmões. Meu coração parecia bater demais, ou muito
pouco. Qualquer movimento, por menor que fosse, exigia preparação e pla-
nejamento. Exigiu um esforço extenuante atravessar meu quarto de hotel
em Nova York e chamar a emergência. Eles chegaram com muita rapidez
e se comportaram com imensos profissionalismo e cortesia. Tive tempo
de pensar em por que eles precisavam de tantas botas e capacetes e tanto
equipamento pesado de apoio, mas agora, repassando a cena, vejo-a como
uma deportação gentil e firme, me levando do país dos saudáveis através
da fronteira desolada que leva à terra da doença. Em poucas horas, depois
de fazer muito trabalho de emergência em meu coração e meus pulmões,
os médicos desse triste posto fronteiriço me mostraram alguns outros
cartões-postais de meu interior e disseram que minha parada seguinte
imediata teria de ser em um oncologista (Hitchens, 2012, p. 17).
O homem solitário não tem com quem conversar. Não importa para onde
ele se volte, o comportamento não pode ser eficiente. A solidão devido à
ausência de uma única pessoa que forneceu reforço na forma de afeição
pode ser especialmente profunda, como o demonstram os que têm mal de
amor (Skinner, 1953/2007, p. 181).
Terapia Comportamental
Sr. João
Sessão 5
3 Os nomes dos pacientes foram trocados por nomes fictícios como cuidado ético e os trechos transcritos
foram modificados em alguns detalhes e preservados em sua essência. As informações sobre os pacientes
são resumidas. Trata-se de sessões de terapia realizadas entre 2018 e 2021.
22
Paciente – “Que eu gosto dela, que respeito ela e a vida dela. Eu entendo
que não dá... Mas, é isso, é dizer a ela o que eu sinto.”
Terapeuta – “O que o senhor sente por M.?”
Paciente – “É uma pessoa simples, que encantou meu coração. Eu sei, é
mais nova, eu tenho 75, ela tem acho que 40. É uma pessoa que eu encantei.
Faz parte... Não tem jeito”.
Terapeuta – “Sr. João, eu compreendo que...”
Paciente – Interrompe a fala do terapeuta e diz: “A idade...” (silêncio)
“... esse problema de saúde que não passa. Não dá, ninguém quer alguém
doente, o que eu posso oferecer? Querer alguém e morrer aos poucos é estra-
nho demais. Eu vou morrer mesmo, não tem jeito. Isso é sério.”
Terapeuta – (Silêncio). O terapeuta observa os próprios sentimentos e
pensamentos evocados pelas verbalizações do paciente. Por um instante fica sem
saber o que fazer. O terapeuta sente medo e empatia por Sr. João. “... estou aqui
para ouvi-lo. Sr. João. tente se expressar da maneira que lhe for mais confortável”.
As sessões com o Sr. João. deixaram o terapeuta sem saber o que respon-
der por um instante. A ambivalência entre estar apaixonado por alguém e saber
que estava morrendo por uma doença incurável paralisou as ações do terapeuta.
Comportamentos como os do Sr. João. podem ser imprevisíveis e impactar os
sentimentos do terapeuta durante a sessão. Provavelmente a presença e a dis-
posição em ouvir, sinalizando um ambiente de acolhimento e validação dos
sentimentos do paciente tenha sido uma forma de conexão possível naquele
momento. Técnicas e procedimentos pré-estabelecidos e habilidades do tera-
peuta podem ser “superadas” mediante o comportamento humano complexo e da
imposição da realidade da morte e de um luto antecipado. Terapeutas trabalham
com a possibilidade de que seus pacientes tenham uma vida no futuro, ampliando
repertório, descrevendo sentimentos, emitindo comportamentos assertivos com
maior frequência nas relações interpessoais, desenvolvimento de sensibilidades
às contingências e cuidando adequadamente da saúde. A quebra do futuro pela
sinalização da proximidade da morte pode mudar o sentido de uma terapia.
Sofrimentos como o do Sr. João podem impor dificuldades ao terapeuta,
pois podemos ser pegos de surpresa pela maneira pela qual o cliente apresenta
seus sentimentos. O que é emitido como sofrimento pode tocar profundamente
as emoções do ouvinte. O terapeuta, ao observar e compreender as próprias
emoções vivenciadas durante a sessão, abre caminho para transformações
pessoais, em uma relação terapêutica que pode ser genuinamente próxima
e envolvente (Cunha & Vandenberghe, 2019) e necessariamente honesta.
Existem casos clínicos exigentes que superam as regras prescritas em manuais
de atuação profissional, o mais apropriado a fazer é ficar sob controle das
contingências da sessão, utilizando os conhecimentos dos princípios com-
portamentais (Delliti, 2010).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 23
Sr. João. ficou em terapia durante quatro meses, devido a outras compli-
cações em sua saúde e dificuldades em chegar até o endereço no consultório,
encerrou as sessões. Em nosso último encontro Sr. João. se despediu, agra-
deceu e pediu orações. Solicitei que enviasse mensagens sobre seu estado de
saúde e como estava o tratamento, respondia nas mensagens algo como “estou
bem, vamos ver o que Deus reserva a mim...”. No dia de seu falecimento um
de seus filhos foi até o consultório avisar do velório, disse ainda que o Sr.
João. agradeceu novamente o tempo em terapia, “diga para ele que obrigado
por ter me ouvido”.
Julie
Julie, 30 anos de idade, casada e mãe de dois filhos (na época, um menino
de 5 anos e uma menina de 8 anos). Procurou terapia em função de ter perdido
a mãe, que repentinamente sofreu um infarto. Inicialmente relatou sentir muita
falta da mãe e de conversas que tinham. Relatou dificuldades em lidar com
sentimentos de luto em decorrência da morte de sua mãe.
Sessão 12
Paciente – “Está muito difícil viver sem minha mãe, lembro dela toda
hora. Não sei o que fazer. Era a pessoa que eu mais confiava, conversava. Às
vezes eu ia na casa dela, pra ficar lá mesmo. E ela adorava os meninos. Fica
um vazio lá agora. Tá sem graça demais.”
Terapeuta – (pausa). “Estou tentando compreender seus sentimen-
tos, estou imaginando o quanto está sendo difícil para você passar por esse
momento, esse vazio”.
Paciente – “Me sinto mal até de estar aqui falando para você a mesma
coisa já tem uns dois meses, a mesma coisa e esse sentimento não sai, esse
vazio fica, tem dias que tudo bem, tem dias que bate forte demais.”
Terapeuta – “Você está aqui, isso importa, você tem um lugar para falar,
expressar um pouco o que sente. Você está tentando dar voz a uma dor. Nem
sempre tenho uma reposta, estou aqui ouvindo... você compreende?”
Paciente – “Sim, saio daqui melhor toda vez que venho.”
Terapeuta – “Ótimo. Você toca em um assunto difícil, a morte de sua
mãe, vejo uma coragem de falar e sentir essa dor aqui na terapia. Trata-se
de um processo de luto, do seu processo de luto, a seu modo, ao seu ritmo.”
Paciente – “É, cada pessoa tem um jeito.”
Terapeuta – “Sim, sim. Outra coisa que venho notando, você está
fazendo coisas, cuidando dos seus filhos, arrumado suas coisas, mesmo sen-
tindo esse vazio.”
24
Gustavo
Gustavo, 27 anos de idade, casado há três anos, pai de um filho de aproxi-
madamente 2 anos de idade. Procurou terapia por estar se sentindo estressado no
trabalho, além de problemas no casamento e faculdade. Relatou a morte de seu pai.
Sessão 3
Paciente – “Não vim para a terapia semana passada por causa que eu
perdi meu pai, te falei pelo telefone”.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 25
Assim sendo, a terapia passa a ser um lugar seguro para a vivência de emo-
ções relacionadas ao luto. Lidar com sentimentos de luto pode ser um fator de
experiência profunda e ampliação de repertórios comportamentais, como com-
preensão, conexão amorosa e manejo da dor. A história de uma pessoa em sessão
pode evocar sentimentos e pensamentos variados no terapeuta (Banaco, 1993),
pois o terapeuta naturalmente é afetado pelos mesmos princípios comportamen-
tais de seus clientes (Dimeff & Koerner, 2007; Linehan, 2018; Koerner, 2020).
Vale ressaltar que casos clínicos, como a história de Gustavo, devem ser
abordados com cuidado. O terapeuta deve estar atendo para não invalidar os
sentimentos de luto do cliente, com posturas como a de “igualar os sentimen-
tos de perda” (“eu sinto o mesmo que você, tenho uma história parecida”),
ou, como o sofrimento é inerente à natureza humana, “todo mudo vai sofrer
um dia, é assim mesmo”. Em casos em que o sofrimento do paciente toca
26
REFERÊNCIAS
Abreu, P. R., Abreu, J. H. S. S. (2020). Ativação comportamental na depres-
são. Manole.
Hayes, S. C. & Smith, S. (2022). Saia da sua mente e entre na sua vida: a
nova terapia de aceitação e compromisso. Synopsys.
Holman, G., Kanter. J., Tsai, M. & Kohlenberg, R. (2017). Functional analytic
psychotherapy made simple: a practical guide to therapeutic relationships.
Springer Publishers.
Stroebe, M. Schut, H. (1999). The dual process model of coping with bereave-
ment: relationale and description. Death Studies, 23(3), 197-224. https://doi.
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Tsai, M., Kohlenberg, R. j., Kanter, J. W & Waltz, J. (2010). Técnica terapêu-
tica: as cinco regras. In M. Tsai, R. J. Kohlenberg, J. W. Kanter, B. Kohlenberg,
W. C. Follete & G. M. Callaghan. Um guia para a psicoterapia analítica func-
tional (FAP): consciência, coragem, amor e behaviorismo (p. 8-137). ESETec.
2. CONTINGÊNCIAS DE
REFORÇAMENTO QUE
ENVOLVEM O LUTO
João Eduardo Cattani Vilares
Luciano Barbosa de Queiroz
Existe uma diferença importante entre “Fulana faleceu, sofro muito. Eu não
vou dar conta da minha vida. Parece que acabou” e “Fulana faleceu, sofro
muito e está muito difícil, mas perdê-la me fez perceber que todos nós vamos
morrer. Acho que me fez acordar, refletir mais e dar mais valor à minha vida
e à vida dos que ficaram e que eu amo muito também”.
Na terceira tarefa, ajustar-se a um mundo sem a pessoa morta, o cliente
revê papéis, funções e rotinas em um mundo sem aquele ente querido. O
falecimento de alguém é também o luto daquela vida conhecida, daquela
rotina, daquela organização interpessoal existente. Agora, o cliente precisará
reorganizar o seu ambiente, expor-se a novas contingências. Isso, é claro,
pode eliciar respostas de ansiedade, mas é um passo fundamental para poder
extrair novos reforçadores.
Em encontrar conexão duradoura com a pessoa morta em meio ao início
de uma nova vida, o cliente alcança a aceitação plena da perda. O cliente não
tenta mais “preencher” o tempo ou “não pensar” no evento. O luto é aceito
e vivido em totalidade: tanto a dor da perda quanto uma nova sabedoria de
vida, uma sabedoria pessoal. O cliente aprende vivenciando diretamente o
que é a finitude, conhece o sentimento de saudade e é capaz de criar novas
regras para viver de agora em diante. Ele inicia um novo momento em sua
história sem “abrir mão” do afeto que tem pelo falecido (Nascimento et al.,
2015). Por exemplo, “Fulano se foi e ninguém poderá substituí-lo. Fica uma
saudade! Mas, para mim, fica também uma lição: precisamos amar e viver
hoje, agora. Dizer todo o amor que deve ser dito e cuidar sempre de si e do
outro. A dor é inevitável, mas é mais fácil aceitá-la quando, em vida, você
viveu realmente junto àquela pessoa”.
As teorizações sobre o luto em uma perspectiva analítico-comportamental
são escassas. Para contribuir com a formulação exposta neste trabalho, será
apresentado a seguir um caso clínico4 com as informações relevantes para uma
análise de contingências. Em seguida, será feita uma discussão articulando os
aspectos essenciais da teoria existente com os dados relevantes do atendimento
psicoterapêutico de modo a contribuir para a prática com clientes enlutados.
4 Todos os dados que poderiam identificar a cliente foram omitidos ou alterados. A. autorizou, por escrito, o uso
de sua história e de sua psicoterapia para a criação deste capítulo.
36
Identificação da Cliente
Histórico de Contingências
suicídio do primo P., depressão da mãe e a regra: “Um dia você vai chegar
em casa e eu vou ter feito o que o P. fez”.
Tabela 1
História de Contingências de Reforçamento
Operações
Antecedente Resposta Consequência Efeito
Motivadoras
- Perda de um filho; Estímulos que dão - Ficar próxima fisica- - Parente diz que vai Alívio;
- Sinais de depres- acesso a informa- mente da mãe; checar a mãe; Fortalecimento do
são da mãea; ções e controle so- - Ligar e verificar seu es- - Colega de trabalho diz comportamento de
- Informação que a bre a mãe: tado várias vezes ao dia; que a mãe está em um verificar motivados
mãe saiu mais cedo Telefone, mensa- - Pedir que inspecionas- dia bom; pelas respostas da
do trabalho. gens, pessoas que sem a casa para prevenir - Psiquiatra diz que não mãe.
têm contato com a suicídio; há perigos. Processo
mãe. - Sonhar com a mãe
morta; Reforçamento
- Pensar em si mesma negativo
morrendo.
a
Reflexiva. Segundo Michael (1982), a operação estabelecedora reflexiva é a
mudança no ambiente que estabelece a sua própria remoção como reforçadora.
Tabela 2
Contingências de Reforçamento presentes após a Morte do Irmão
Resposta 2 /
Consequência
Antecedente Resposta 1 Consequência 1 Consequência Efeito
para a cliente
para a mãe
Convite para sair. Dizer à mãe “Saia e pegue esse Deixar de ir à Mãe parar de cri- Cliente:
que vai sair. vírus e é bom que festa. ticar e ameaçar. - Alívio por não contrair o ví-
eu vou e encontro rus, alívio do sentimento de
o S” (Sp-). culpa por não prejudicar e
desagradar os pais. Fortale-
cimento de comportamento
de aquiescência.
Mãe:
- Alívio de a filha não sair,
fortalecimento de comporta-
mentos coercitivos usando a
morte do irmão.
Processo
Reforçamento negativo.
Tabela 3
Contingências de Reforçamento Negativas
História de Operação Antecedentes Respostas Consequências Efeito
contingências de motivadora
reforçamento
Controle coercitivo; Privação de Pessoas na festa; Sentir culpa Evitar olhares; Alívio por ir embora e
Regras sobre res- contato social. olhares em dire- e demais Agir de acordo com não desapontar os pais;
ponsabilizar-se de ção a A. responden- as regras dos pais; For talecimento de
forma generalizada tes; Esquivar-se de aquiescência perante
pelo que ocorrer Pensamen- eventuais críticas; os pais e, supersticio-
com o outro, em tos de que samente, perante as
especial a mãe. não deveria pessoas.
estar ali; Processo
Evitar
interações; Reforçamento
Ir embora. negativo
estavam pareados com o irmão também eliciavam choro nas sessões, como
por exemplo assuntos da faculdade, encontros sociais e datas comemorativas.
Outros operantes, tais como dizer ao psicoterapeuta que entendia, devido
aquela experiência de perda, pessoas que passaram por isso. Dizia também
conseguir se colocar agora no lugar dessas pessoas. Relatou ter quebrado
regras como “Essas coisas não acontecem com a gente” e outras.
tinha certeza que alguém ia se matar. Quando tem um caso de suicídio na família,
você pensa nisso”. A cliente passou a ficar em alerta constante com familiares,
em especial a mãe, tias e primas. Relatou não mais andar de ônibus: “Tenho
medo da BR [...], tremia ao ver um ônibus”. A família passou a evitar viajar.
Datas comemorativas também passaram a ser aversivas, pois muitos
estímulos do ambiente evocavam o irmão e a falta dele. Por exemplo, o
aniversário do irmão ocorreu por volta de trinta dias após seu falecimento:
“Foi um dia em que a gente chorou o dia todo, pensando em coisas que eu
não iria ver mais”.
Os estímulos da faculdade também passaram a ter função aversiva, eli-
ciando respondentes e evocando comportamentos de fuga e esquiva. O velório
do irmão foi realizado em um local da faculdade, pois ele e a cliente eram
alunos daquela instituição. “Foi uma luta [para entrar na faculdade] as pri-
meiras três semanas”. Acrescenta: “Passei a ter calafrio ao passar na portaria
[...]. Aquele canto deixou de ser um canto qualquer e passou a ser ‘O’ canto
[em que ocorreu o velório]”.
Encontrar pessoas na faculdade também foi desafiador para a cliente,
pois os amigos e outros conhecidos do irmão, que estavam junto no acidente
e que sobreviveram, estavam por toda a parte: “Tudo que você vê te remete
ao acidente, um sobrevivente faz você se lembrar do dia do acidente e passa
a ser algo ruim”.
Socialmente a cliente também descreveu maiores condições aversivas.
Disse ao psicoterapeuta: “Onde eu ia alguém queria falar comigo sobre o meu
irmão. Então, eu saía para distrair, mas ouvia muita coisa”. Dizia que não
se sentia à vontade para ver as pessoas. Ao ir a certos lugares, “todo mundo
virava descaradamente para mim, todo mundo me olhava, sem disfarçar”.
A. disse que se sentia julgada e que as pessoas esperavam que ela demons-
trasse sofrimento: “As pessoas ficam olhando para ver como você está, aí se
você vai fazer alguma coisa, elas acham que ‘Olha lá, acabou de perder o
irmão e já está na farra’”.
As interações na família nuclear, composta por pai, mãe e a cliente,
passaram também a serem mais aversivas. Os pais, impactados pela perda do
filho, passaram a oferecer mais restrições e imposições à cliente, para que essa
não saísse, não corresse riscos: “Passei a ser a única filha”, desabafa a cliente.
Durante a pandemia, a perda do irmão passou a estar presente em situações
em que a cliente queria sair e era confrontada com frases como: “Não tem
nem cinco meses que seu irmão morreu, e você já quer ir pra farra?”. A cliente
descreveu outras situações que presenciava em casa: “Por muito tempo minha
mãe não saía porque ela achava que não podia se divertir. Ela não foi em nada
por meses, ela achava que não tinha o direito de se divertir. Meus pais, nem
42
escutar música eles escutavam mais. Então, eu pensava que eu ia ser ruim
se eu saísse. Nem minha mãe e nem meu pai deixaram eu ir para o carnaval
e eu concordei. Se todos estão assim, eu vou desrespeitar? Por muito tempo
fiquei com esse peso na consciência, por estar me divertindo”.
Até o momento em que este capítulo era escrito, o que corresponde a
aproximadamente um ano e meio após o acidente, o quarto do irmão estava
praticamente inalterado. A cliente dizia querer “ressignificar” a relação com
o quarto, mas não estar “pronta ainda” para expor-se aos aversivos: “Minha
mãe falou para a gente dar algumas coisas, mas só de pensar no quarto sem as
coisas dele... é um sentimento de que não vai voltar. Ainda não estou pronta”.
Objetivos Terapêuticos
Intervenções e Procedimentos
Resultados
Considerações finais
5 A passagem do tempo não é determinante para o amadurecimento e para o que se chama de superação do
luto conforme descrevemos neste capítulo. O responder para produzir reforçadores sob controle de novas
contingências, sim. Naturalmente, o ajuste do responder para as novas contingências leva tempo, mas não
é causado pela passagem do tempo. O raciocínio exposto aqui pode ser considerado em casos em que se
diz que o luto não foi superado, isto é, no sentido de buscar pelas contingências que mantêm o responder
do cliente sob controle da ausência da pessoa falecida.
46
REFERÊNCIAS
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e terapia cognitivista (pp. 182-190). ESETec Editores Associados.
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Laraway, S., Snycerski, S., Michael, J., & Poling, A. (2003). Motivating
operations and terms to describe them: some further refinements. Journal
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Meyer, S. B., Del Prette, G., Zamignani, D. R., Banaco, R. A., Neno, S., &
Tourinho, E. Z. (2010). Análise do comportamento e terapia analítico-compor-
tamental. In E. Z. Tourinho, & S. V. Luna (Eds.), Análise do comportamento:
Investigações históricas, conceituais e aplicadas (pp. 153-174). Roca.
Introdução
passa pelo entendimento de que não haverá novos encontros, mesmo que,
por vezes, durante o processo, se acredite ouvir a voz do falecido, ou vê-lo
andando nos lugares em que gostava de estar. O enlutado, com auxílio do
terapeuta buscará compreender que tais percepções, e os relatos sobre elas
são comportamentos verbais controlados por suas consequências reforçadoras
frente à perda (Bueno & Britto, 2012), isto é, o reforço dos repertórios de
esquiva vem do processo de fala, além de tais percepções também estarem
sob controle de outros estímulos, gerando uma discriminação condicional de
estímulos que lembrem o falecido (Oliveira, 2014).
A aceitação da realidade da perda pode evitar, em casos mais leves, a
emissão de repertórios que são classificados verbalmente como descrença,
assim como pode evitar que, em casos mais graves de não aceitação da perda,
o enlutado permaneça com o corpo do falecido em casa, ou fique junto ao
túmulo por vários dias. Tais repertórios teriam como consequência principal
o processo de reforçamento negativo, através de esquiva da separação, porque
mesmo a morte sendo irreversível, o sujeito, ao permanecer junto do corpo ou
do túmulo, se esquiva da ausência física do falecido. Dessa forma, tal reper-
tório é mantido, enquanto outros, tal como realizar atividades prazerosas, são
suprimidos (Bueno & Britto, 2012).
Outra forma de se esquivar da dor da perda é por meio dos relatos verbais
classificados socialmente como negativos, referentes ao falecido. O sujeito
pode emitir verbalizações como “ele não era uma boa pessoa/pai/amigo”,
ou emitir respostas de fuga frente a estímulos que lembrem o falecido (i.e.,
negação), como, nesse caso em específico, doar ou jogar no lixo os objetos
e roupas relacionadas a quem morreu, assim como, emitir respostas de fuga/
esquiva de quaisquer estímulos que venham a lembrar a perda (Nascimento
et al., 2015). Essas respostas de fuga/esquiva podem avançar para a negação
da própria irreversibilidade da morte e a criação de repertórios supersticiosos
relacionados a comportamentos religiosos, fruto do contato com religiões que
postulam a conversa com os espíritos como algo factual, independentemente
de ser ou não. Dessa forma, o sujeito pode frequentar grupos religiosos em
busca da possibilidade de um reencontro com o falecido, sob controle dos
reforçadores relacionados a tal encontro e/ou a notícias sobre como o ente
querido está após a morte, segundo as regras descritas nesse contexto religioso
(Oliveira, 2014; Worden, 2018).
O processo de aceitação não é apenas verbal ou cognitivo, mas também
emocional (Worden, 2018). A aceitação emocional se dá por meio do contato
direto com as contingências aversivas e com as sensações geradas por elas,
evitando mudar a frequência ou a forma dos eventos, isto é, experienciar o aqui
e agora, sem que se julgue as reações frente a um evento (Hayes, 2004). Este
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 55
processo pode ser alcançado por meio dos rituais fúnebres, dado a percepção
de realidade que o ritual traz aos sujeitos, como uma confirmação da morte
(Gennep, 2012), visão corroborada por Smith, que diz que “rituais são, acima
de tudo, asserções de diferença” (Smith, 1987, p. 109), ou seja, são marcas no
tempo através de práticas que trazem concretude para essa percepção abstrata
da temporalidade.
Na segunda tarefa do luto, processar a dor do luto (Worden, 2018), o
enlutado deve buscar permitir-se sentir a dor, ou seja, entrar em contato com
as contingências aversivas (Oliveira, 2014). É papel do psicólogo bloquear
as esquivas do sujeito, entendidas como respostas ao estímulo aversivo, em
que o sujeito se comporta de modo a não entrar em contato com o estímulo
(Gouveia et al., 2017).
Na esquiva experiencial (Hayes, 2004), o sujeito, por meio do condi-
cionamento social, tem por definição que seus problemas e sentimentos são
frutos de seus eventos privados. A comunidade verbal o leva a se comportar
em função desses eventos, buscando controlá-los. Dessa forma, não se permite
que o valor aversivo dos eventos privados diminua, culminando na perda do
contato com reforçadores positivos, visto que a esquiva é mantida por reforço
negativo. Verifica-se ainda a generalização de tais respostas, restringindo
assim o repertório comportamental do sujeito mantido por reforços positivos.
Por sua vez, a terceira tarefa, ajustar-se a um mundo sem o falecido
(Worden, 2018), envolve ajustes em relação ao cumprimento de papéis que
antes eram desempenhados pelo falecido. Dessa maneira se faz necessário que
o enlutado varie seu comportamento de forma a realizar satisfatoriamente o
que é requisitado. Para o cumprimento dessa tarefa, o psicólogo, em auxílio
ao enlutado, pode se utilizar de estratégias terapêuticas como a resolução de
problemas (Nezu & Nezu, 2003), focando nas reservas comportamentais do
sujeito, para auxiliá-lo nas formas como ele lida com as novas situações; ou
o treino de habilidades sociais (Caballo, 2003), em que o sujeito é ensinado a
lidar com situações sociais de forma menos aversiva para si e para os demais.
A quarta tarefa, encontrar conexão duradoura com o falecido em meio
ao início de uma nova vida (Worden, 2018), tem como premissa a ideia de
que o sujeito ao realizar as tarefas do luto, não irá esquecer o morto, mas sim
modificar a forma como se comporta interna e externamente em relação às
classes de estímulos relacionadas ao falecido. Dessa forma, o enlutado buscará
estabelecer novas relações com sua comunidade verbal, continuando sua vida
após a perda. É nessa tarefa que o sujeito terá estabelecido o que foi construído
durante a terapia ou acompanhamento do luto e irá realizar a manutenção de
tais repertórios (Hayes, 2004; Worden, 2018).
56
Dado as tarefas do luto, é importante salientar que não existe uma forma
correta de se viver o luto, apesar das teorias trazerem o que é esperado desse
momento. Ademais, se faz necessário compreender como o psicólogo deve
agir frente ao processo de luto. Para tanto, a visão da Análise do Compor-
tamento se faz útil, devido ao olhar para as contingências e as alterações
causadas nessas por um evento de tamanha intensidade como a perda de um
ente querido, que traz consigo um conjunto de contingências aversivas, acar-
retando na supressão de repertórios reforçados positivamente (Nascimento
et al., 2015).
Isto posto, coloca-se também como objetivo do presente capítulo apre-
sentar, por meio da revisão da literatura disponível em bancos de dados online,
uma descrição do uso das terapias analítico-comportamentais com sujeitos
enlutados conforme apresentado na literatura, buscando identificar quais prá-
ticas estão sendo utilizadas, seus benefícios e suas limitações.
Método
nos critérios de elegibilidade, passando então para uma leitura completa das
publicações selecionadas, focando nos métodos adotados nas intervenções,
com o objetivo de identificar as bases filosóficas das intervenções. Todo o
processo foi registrado no diagrama PRISMA (Figura 1; Galvão et al., 2015).
Resultados
Tabela 1
Informações Sobre Os Artigos Selecionados Para Revisão
Tipo de Grupo
Principais
Autor Revista Ano Objetivo estudo clínico e
Conclusões
controle
Acierno et al. American 2011 Apresentação do de- Empírico Clínico: Sim Aumento do repertório
Journal of senvolvimento e do Controle: pró-social dos envolvi-
Hospice ensaio clínico de uma Não dos, o ensaio clínico foi
& Palliative intervenção compor- considerado promissor
Medicine tamental de 5 sessões e de fácil exportação,
para luto complicado, com uma intervenção
Fator de utilizando como inter- multimídia. O trata-
impacto 2019: venção Ativação com- mento produziu efei-
1.638 portamental e Terapia tos próximos aos das
de Exposição. intervenções formais.
Jackupack & Cognitive and 2011 Discute o risco de Estudo Clínico: Sim Terapeutas deveriam
Varra Behavioral suicídio em veteranos de caso Controle: priorizar o engaja-
Practice com Transtorno do Es- (fictício) Não mento no tratamento
tresse Pós-Traumático aplicando interven-
(TEPT) e a aplicação
Fator de ções baseadas em
de Terapia Comporta-
impacto 2019: mental Dialética para evidência.
2.096 reduzir tais riscos.
Luoma & Cognitive and 2012 Revisar teorias e evi- Revisão Clínico: Sim Necessário mais pes-
Villate Behavioral dencias que explicam sistemática Controle: quisas, contudo, min-
Practice o suicídio e apresentar e empírico Não dfulness aparenta ter
Fator de dois estudos de caso, bons resultados com
impacto 2019: envolvendo a aplica- pacientes suicidas
ção do mindfulness
2.096
em pacientes suicidas.
Papa et al. Behavior 2013 Buscou investigar a Empírico Clínico: Comparado com ne-
Therapy confiança viabilidade Sim nhum tratamento, ati-
da Ativação compor- Controle: vação comportamental
Fator de tamental em dificulda- Sim foi associada a grandes
reduções no luto pro-
impacto 2019: des pós luto
longado, complicado
3.243 ou traumático; TEPT; e
sintomas de depressão
no grupo com intenção
de se tratar.
continua...
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 59
continuação
Tipo de Grupo
Principais
Autor Revista Ano Objetivo estudo clínico e
Conclusões
controle
Eisma et al. Behavior 2015 Buscou verificar a efe- Empírico Clínico: Exposição se mostrou
Therapy tividade e confiança Sim mais efetiva na redu-
viabilidade de inter- Controle: ção dos sintomas de-
Fator de venção com exposição Sim pressivos, de fácil en-
impacto 2019: e ativação comporta- gajamento e de maior
efetividade a curto
3.243 mental aplicados pela
prazo para luto com-
internet em sujeitos
plicado, depressão
com luto complicado e ruminação do luto
e ruminação. que a Ativação Com-
portamental, para os
sujeitos que realiza-
ram o tratamento por
completo.
Fassbinder Frontiers in 2016 Busca comparar Te- Empírico Clínico: Sim Ambas as interven-
et al. Psychology rapia dos Esquemas Controle: ções tiveram resulta-
e Terapia Comporta- Não dos dentro do espe-
Fator de mental Dialética em rado possibilitaram
impacto 2019: relação à regulação o estabelecimento
2.067 das emoções e psi- do repertório de re-
copatologias, em gulação emocional,
específico Transtorno não sendo possível
de Personalidade definir qual tem teve
Borderline mais eficácia
Nota: Fator de impacto com base nas informações dos portais Elsevier (https://
www.elsevier.com/) e SAGE (https://journals.sagepub.com).
processo, lhe foi explicado sobre o foco da DBT ser na aquisição de habilida-
des de regulação emocional. Durante a terapia, seguindo o modelo da DBT,
Mona aprendeu a compreender variáveis que se relacionavam à construção e
manutenção de seus comportamentos o que causava e mantinha seus repertó-
rios, assim como suas consequências, e, dessa forma, após algumas análises de
cadeias, foi possível estabelecer repertórios para substituir os comportamentos
problema, ou seja, geradores de consequências aversivas. Em específico, a
habilidade de aceitação radical se mostrou de vital importância para Mona
lidar com a perda de sua mãe e irmã.
Outro artigo que aborda a DBT (Jackupack & Varra, 2011) teve foco
na diminuição de comportamentos suicidas em veteranos das operações no
Afeganistão e Iraque, utilizando como exemplo o caso de Eric, cuja ideação
suicida se iniciou após a morte em combate de dois amigos. O tratamento foi
constituído por três fases, sendo essas: (a) avaliação, compromisso de trata-
mento e planejamento inicial de segurança; (b) redução do risco de suicídio
e desenvolvimento de habilidades para lidar com suicídio; (c) terapia com-
portamental para TEPT e comorbidades. Na primeira fase foram identificados
os fatores de risco para o comportamento suicida, e Eric apontou que suas
estratégias para lidar com os sintomas de estresse e luto não estavam sendo
efetivas. Na segunda fase, além do estabelecimento de um profissional da
equipe para acompanhar Eric, o mesmo foi encorajado a identificar familiares
e amigos que seriam informados sobre o plano de segurança e que também
auxiliariam no cumprimento do mesmo. Além disto, junto do terapeuta, Eric
identificou os antecedentes da ideação suicida, assim como os estímulos que
mantinham tais repertórios. Eric relatou sentir culpa por estar vivo, e seus
amigos terem morrido, alegando pensar que poderia ter feito algo para evitar
a perda. Por fim, na terceira parte foi realizado tratamento para tolerância ao
estresse seguindo o modelo da DBT, apresentando melhora nos sintomas de
TEPT e aumento na flexibilidade psicológica de Eric em relação à perda de
seus amigos.
Em relação às pesquisas que utilizaram BA como estratégias de interven-
ção, o trabalho de Acierno et al. (2011), trouxe como resultado que, antes do
tratamento, 34,6% da população pesquisada atingiu todos os critérios diag-
nósticos de Luto Complicado, e no pós-tratamento apenas 7,7% atingiu os
critérios. E demonstrou também que a intervenção planejada em torno das
técnicas de BA se mostrou efetiva na redução dos sintomas de Luto Com-
plicado, TEPT e Transtorno Depressivo Maior, além de possibilitar a fácil
implementação de tal intervenção em centros de Cuidados Paliativos e outros
locais que auxiliam sujeitos enlutados, dado sua característica de fácil usa-
bilidade e baixo custo.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 61
8 Intente-to-treat: Método de análise de dados no qual os resultados de todos os participantes são considerados
para seu grupo de origem, independentemente de haver desistências, não aderência ou outras intercorrências.
62
Por fim, em relação ao artigo que aborda mindfulness (Luoma & Villate,
2012) o caso de Mark é apresentado. O paciente traz como queixa comporta-
mentos suicidas relacionados ao seu processo de luto, em que descreve culpa
frente ao acidente que levou sua esposa e filhas à óbito. Ele acreditava que
caso entrasse em contato com emoções positivas, não mais estaria lembrando
e cuidando de sua família. A terapia se iniciou validando tais verbalizações,
afirmando ser um cenário onde não se poderia ganhar e objetivando reconhecer
que tentar controlar a dor emocional resultava em aumento do sofrimento.
Ao início do tratamento com mindfulness, Mark alegava ter problemas para
sentar e se concentrar e o terapeuta intervinha apontando serem perfeitas
oportunidades para experienciar pensamentos e emoções sem lhes reagir. Ao
longo do processo, desfusão, aceitação e self-como-contexto foram elementos
adicionados conforme necessário. Como resultados, aponta-se que, após seis
meses de intervenção, Mark retornou a suas atividades diárias, além de voltar
a trabalhar e a ter interações significativas com familiares e amigos.
Discussão e conclusão
dos artigos (Luoma & Villate, 2012; Worden, 2018), que utilizou mindfulness
como intervenção. Nos outros dois artigos, observa-se a resolução apenas da
primeira tarefa do luto (Fassbindes et al., 2016; Worden, 2018) e da segunda
tarefa do luto (Jackupack & Varra, 2011; Worden, 2018), através do modelo
da Terapia Comportamental Dialética (Linehan, 1993a, 1993b). Sugere-se,
assim, a necessidade de desenvolvimento de proposta de tratamento mais
focado no luto, o que é apontado nos três artigos de estudos clínicos (Acierno
et al., 2011; Papa et al., 2013; Eisma et al., 2015).
Segundo Acierno et al. (2011), a perda é o evento traumático que leva aos
sintomas de TEPT, incluindo sintomas depressivos e pânico, tal como ocorre
com outros transtornos de ansiedade. Os estímulos presentes no ambiente
durante o evento estressor se tornam ansiogênicos, por pareamento e genera-
lização, eliciando assim respostas similares às emitidas frente à situação da
perda, adquirindo assim, função aversiva e, diante deles, aumenta a proba-
bilidade de respostas de fuga/esquiva no sujeito, tal como ocorre na esquiva
experiencial (Hayes, 2004).
Dessa forma, há a diminuição do contato com estímulos reforçadores,
o que, consequentemente, se relaciona aos sintomas depressivos, visão essa
corroborada pelos outros artigos (Papa et al., 2013; Eisma et al., 2015). Esse
foi o motivo da escolha da Ativação Comportamental com foco na exposição
aos estímulos aversivos, dos quais o sujeito enlutado se esquiva (Eisma et al.,
2015), buscando ampliar a flexibilidade do repertório dos sujeitos de forma
que eles entrem em contato com reforços positivos nos ambientes relacionados
à perda (Acierno et al., 2011; Papa et al., 2013).
Em todos os artigos se obteve a diminuição significativa dos sintomas
de luto complicado, TDM e TEPT (Acierno et al., 2011; Papa et al., 2013) e
a redução de ruminação do luto e reflexão depressiva. No entanto, a Ativação
Comportamental foi menos eficaz no estudo comparativo com a Terapia de
Exposição para os sintomas depressivos (Eisma et al., 2015).
Todos os estudos apresentaram um número pequeno de participantes, o
que demonstra uma limitação (Luoma & Villate, 2012; Jackupack & Varra,
2011; Fassbindes et al., 2016; Acierno et al., 2011; Papa et al., 2013; Eisma
et al., 2015). Outras limitações foram a necessidade de se realizar os testes em
população com sintomas moderados de luto (Acierno et al., 2011), presença
maior de mulheres enlutadas e de sujeitos com alta educação formal, assim
como, participantes sem diagnóstico clínico de Transtorno do Luto Complexo
Persistente/Luto Complicado (Eisma et al., 2015), e a utilização de partici-
pantes cuja perda ocorreu há no mínimo 6 meses (Acierno et al., 2011; Papa
et al., 2013; Eisma et al., 2015).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 65
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Worden, J. W. (2018). Grief counseling and grief therapy: a handbook for the
mental health practitioner (5ª ed.). Springer Publishing Company.
4. LUTO EM TEMPOS DE
COVID-19: o adeus sem despedidas
Nione Torres
“Eu disse adeus a seu corpo físico. Mas, seu corpo emocional vive e
pulsa dentro de mim e ao meu redor. O mesmo amor, a mesma cumplicidade,
o mesmo afeto, os mesmos conselhos, e porque não dizer, as pequenas frus-
trações também continuam aqui e tão intensos como antes. Você está aqui”
(R. Cecchini, comunicação pessoal, maio, 2018).
Todos os seres humanos, no que tange ao viver, experienciam o estabele-
cimento de vínculos e, ao mesmo tempo, as experiências de perda deles e entre
essas experiências, está o morrer – evento inevitável e que faz parte do jogo
da vida. A morte é considerada um evento natural que gera naquele que ficou
intensa vulnerabilidade diante do mundo, uma vez que ela modifica significa-
tivamente o ambiente. A morte é vista como um evento traumático que retira
a credibilidade do ser humano com relação à segurança, ao valor e ao controle
pessoal, sendo, por si só, suficiente para gerar sérias dificuldades emocionais
(Jasper, 1932, como citado em Gabardo, 2012).
Há diversos tipos de perdas (e.g, materiais financeiros, separações, liber-
dade, morte), que geralmente produzem importante sofrimento denominado
luto – o qual é considerado um fenômeno natural e universal. Neste capítulo,
o enfoque dado será ao luto por morte que ocorre a partir da perda de uma
pessoa com quem se estabelecia um vínculo significativo (Oliveira, 2014;
Torres, 2010).
Por algum tempo, o luto foi interpretado como um fenômeno potencial-
mente causador de doença física ou mental. No entanto, tal conceito tem sido
revisado e avaliado como um processo normal, produto do rompimento de
um vínculo especialmente importante para aquele indivíduo, então vivenciá-
-lo é a condição que dá ao indivíduo a garantia da sobrevivência diante da
separação pela perda.
Os objetivos deste estudo caminharam no sentido de traçar aspectos
teórico-conceituais sobre o tema luto, assim como compreender o atraves-
samento que a pandemia gerada pela COVID-19 instituiu nos rituais de
despedidas nesse processo, demonstrando como tal interferência pode agir
significativamente no processo do luto natural. Também foi alvo deste,
descrever a condução de intervenções terapêuticas baseadas em evidências
clínicas e exemplificado por meio de um caso de um cliente em processo
de enlutamento.
72
Considerações teórico-conceituais
Cumpre, a priori, assinalar que, até então, parece não existir uma única
teoria que abranja o fenômeno luto e suas consequências para a vida do ser
humano. Observa-se uma carência de dados científicos que embasem a teoria
e a prática clínica com relação a esse tema, em especial no que se refere à
Análise do Comportamento, mesmo considerando o pilar robusto validado
por sua efetividade diante das demandas comportamentais do ser humano
que essa abordagem demonstra. Na verdade, a sistematização dos estudos
relacionados ao tema continua sendo um desafio aos profissionais analistas
do comportamento que atuam nessa área. Para este estudo, lançou-se mão
das evidências clínicas da Análise do Comportamento, sem deixar de levar
em consideração aspectos de outras propostas teóricas que também mostram
intervenções efetivas na área.
No caminho da compreensão desse fenômeno, surge um modelo já
conhecido entre os estudiosos do processo de luto. Stroebe e Schut (2010)
observaram esse processo como sendo um movimento dinâmico e regulatório
entendendo que o enlutado oscila entre a fase de enfrentamento “orientado à
perda” e outra fase “orientado à restauração”. O foco na perda – em que há
a busca pela pessoa perdida – requererá a aceitação da realidade da perda,
tristeza e estresse pertinentes à mudança gerada no relacionamento com aquele
que se foi. Por outro lado, o foco na restauração será o tempo utilizado à
reorganização da vida se relacionando com um mundo mudado. Para Stroebe
e Schut (2010), no luto considerado natural/saudável, existirá a alternância
equilibrada entre esses dois tipos de enfrentamento, cada um com seus res-
pectivos estressores. Vale atentar que a dificuldade na vivência do processo de
luto se dará caso um dos dois enfrentamentos esteja em exacerbação (Stroebe
& Schut, 2010). O enlutado, incapaz de abrir mão do que é perdido, poderá
experienciar o chamado luto complicado10.
Nesse continuum teórico, encontram-se também os relevantes estudos de
Bowlby (1969/1990), demonstrando que o comportamento de apego é visto
como uma forma especial de vinculação – o resultado de uma necessidade
inata de aquisições que trazem uma duplicidade de funções: (a) função de
proteção: segurança trazida pelo adulto capaz de defender o bebê vulnerável
contra toda agressão; (b) função de socialização: o apego desloca-se, na traje-
tória dos ciclos da vida, dos pais às pessoas. Entende-se que essa vinculação
promoverá o desenvolvimento de laços afetivos estabelecidos inicialmente
na infância com esses pais e, posteriormente, na vida adulta com o parceiro
10 Luto complicado: o indivíduo enlutado não entra em contato com emoções, pensamentos, lembranças e
sentimentos naturalmente gerados pela perda o que gera uma exacerbação de problemas físicos, psicológicos
e sociais, podendo apresentar níveis consideráveis de comorbidade e mortalidade (Iglewicz et al., 2019).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 73
e outros adultos que estão ao seu entorno, seguido aos estranhos e, por fim, a
grupos cada vez maiores. Dado esse olhar é que parece fazer sentido o aspecto
de que o luto é visto como um processo natural de resposta do organismo
diante do rompimento de um vínculo significativo, o qual proporcionará a
garantia da sobrevivência diante da separação pela perda.
Ressalta-se notadamente as considerações teórico-contextuais vindas
do modelo analítico-comportamental demonstrando que comportamento é a
característica maior dos seres vivos – possível, inclusive, nomeá-lo como a
própria vida. Assim, tudo que o organismo faz constitui comportamento, seja
ele privado (e.g., amar; sentir; pensar; sonhar), seja ele público (e.g., chorar;
correr; abraçar; falar) (Skinner, 1953). Cabe ampliar essa definição identifican-
do-o como sendo uma relação do organismo com o ambiente, este que remete
ao conjunto de tudo aquilo que afeta o responder do organismo (Tourinho,
2001). Daí o entendimento do conceito de comportamento social – de que
outros organismos também farão parte do ambiente e as situações em que a
emissão e o reforçamento do comportamento de um indivíduo dependem, por
assim dizer, do comportamento de outro (Banaco et al., 2013).
Dessa forma, Hoshino (2006) e Torres (2020) assinalam que os indivíduos
podem apresentar função de estímulo discriminativo, estímulo reforçador e
operação estabelecedora tanto para reforçadores sociais quanto para acesso
a outros reforçadores. A função de estímulo do outro seria estabelecida de
acordo com a história de vida do organismo e, com sua morte, deixaria de
fazer parte do ambiente do enlutado, que perderia os reforçadores gerados por
essa relação (Torres, 2010). Assim, o primeiro autor identifica o fenômeno
luto como um processo natural do organismo diante do rompimento unilateral
de um vínculo significativo, desencadeando a perda de um contexto gerador
de reforços. Em outras palavras, a morte pressupõe significativa mudança
comportamental na vida daquele que ficou, uma vez que as contingências
de reforçamento vigentes se alteraram na vida da pessoa. Segue, então, um
período de intenso sofrimento que afetará o bem-estar físico e emocional do
enlutado de forma negativa; algo visivelmente constatado por meio de res-
postas, tanto públicas quanto privadas, diretamente relacionadas ao evento
da perda, ao qual a comunidade verbal dá o nome de luto.
O comportamento humano, no que se refere à forma de ser e de agir,
é visto como selecionado por aspectos biológicos, pelas consequências das
nossas próprias ações e pelos processos culturais. Dado que o luto humano
é um processo resultante da relação que se estabelece entre o organismo e
o seu ambiente, a influência desses aspectos estará presente nesse enfrenta-
mento. Explicitando, o primeiro nível, a filogênese, manifesta-se por meio de
encadeadas mutações biológicas preservadas por conta do valor adaptativo, o
que favorecerá a sobrevivência de quem ficou; o segundo nível, a ontogênese,
74
provê o repertório construído por meio dos contextos sócio verbais com que
o ser humano irá lidar diante das perdas e/ou dos rompimentos de vínculos; o
terceiro nível, a cultura, estabelece como a comunidade enxerga o fenômeno
morte (finitude da vida, crenças religiosas, tipos de rituais, entre outros). Em
conjunto, é possível notar que o modelo de seleção e variação por consequên-
cias modela e molda todo e qualquer comportamento e, consequentemente, a
maneira como cada humano reage à vida, neste caso, à morte. Assim, o luto
será determinado de acordo com o repertório comportamental do indivíduo,
que se estabelece por meio dos três níveis de seleção acima expostos.
Cabe, por fim, descrever o papel do vínculo e sua influência na expe-
riência do comportamento de enlutar-se. O vínculo na perspectiva analítico-
-comportamental é visto como de fato um comportamento. No entanto, faz-se
necessária uma observação mais minuciosa no contexto social, pois ele (o
vínculo) é um comportamento que envolve um ser humano em contato com
outro ser humano. Assim, pode-se dizer que as contingências que envolvem
esse comportamento levam: (a) a uma tendência de aproximar-se e permanecer
próximo da pessoa à qual se está vinculado; (b) a comportamentos que evitam
o afastamento dessa pessoa (Instituto de Terapia e Estudo do Comportamento
Humano [ITECH], n. d.).
Quanto ao primeiro item, nota-se que as contingências de reforçamento
positivo, produzidas por meio do outro, dão suporte ao comportamento de
se manter próximo a esse outro. E esse processo tem como consequência
respostas emocionais, como as sensações de prazer, segurança, amor e ale-
gria. Referindo-se ao segundo item, as contingências de reforços negati-
vos estão ligadas ao comportamento de evitar que o outro se afaste e são
acompanhados por outras respostas emocionais, principalmente, de alívio.
Entretanto, em uma situação na qual as contingências não foram eficientes
para evitar o afastamento, observam-se as respostas emocionais, tais como
medo, tristeza e ansiedade.
Pode-se dizer, portanto, que tal perda pressupõe uma modificação de
um contexto ambiental que anteriormente gerava bem-estar e, conforme já
assinalado acima, essa modificação foi gerada como resultado de a pessoa
deixar de ter o que tinha (na maioria das vezes, algo ou alguém do ambiente
com o qual ou com quem tinha vínculo afetivo), ou seja, as contingências
da interação foram drasticamente modificadas. Assim, a ausência da fonte
de reforços e os efeitos da perda súbita são tipicamente graves, notadamente
quando a fonte reforçadora perdida mantinha uma proporção razoável de
repertório comportamental do indivíduo (Daugher & Hackebert, 2003).
Dados esses aspectos, nota-se uma questão de grande relevância na vivên-
cia do luto – o papel dos vínculos na vida do ser humano, pois seres humanos
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 75
não sentem falta de algo/de alguém se não tiverem uma proximidade com este
algo/este alguém. O vínculo existirá sempre que os comportamentos de duas
pessoas ou mais se influenciarem reciprocamente e redundarem em respostas
emocionais de afetividade, ou seja, é um relacionamento quando as pessoas
que interagem se reforçam mutuamente.
“Nosso amor e nosso luto formam nosso caminho. As feridas e as cicatri-
zes de meu coração contam a mais bela história da minha vida” (R. Cecchini,
comunicação pessoal, maio, 2018).
Quando a pessoa faz o enfrentamento do conjunto de reações aversivas
e da irreversibilidade da perda de reforçadores (e, eventualmente, o ganho de
alguns outros), ela está vivenciando o processo de enlutamento – uma expe-
riência viva, dado que o enlutado entrará em contato com as contingências
da perda. Esse experienciar se dá mediante a vivência das fases do luto e não
é possível precisar quanto tempo durará o processo.
No que se refere às fases do luto, Bowlby (1969/1990) identifica as prin-
cipais características de cada fase: (a) aflição, negação da realidade e desespero
(que podem se manter por horas ou semanas) acontecem na primeira fase, tam-
bém denominada de fase de choque ou entorpecimento; (b) desejo e busca da
presença da pessoa (sonhos com ela podem ocorrer), porém, ao compreender
que houve a morte, surgem manifestações de insônia, muita inquietação e raiva.
Essas são manifestações da segunda fase, também chamada de anseio e busca
da pessoa perdida e pode permanecer por longo de tempo; (c) sentimentos de
raiva e culpa tornam-se mais intensos levando o enlutado ao desespero ainda
maior e desorganização – aqui se está diante da terceira fase. Após vivenciar
esses momentos de choque, dor e tristeza é que o enlutado alcança um sentido
àquela perda, redimensiona valores, adapta-se às mudanças que acompanham
a morte e constrói um legado a partir dela. As fases do luto não são lineares e
podem não acontecer nessa ordem, como também não é possível considerá-las
como um mapa, apenas permitem uma plataforma para acessar este mundo
totalmente desconhecido (Kübler-Ross & Kessler, 2014).
Nesse continuum, perguntar sobre o tempo de duração de um processo de
enlutamento é deparar-se com uma resposta inexata. As esparsas considerações
na literatura sobre esse aspecto buscam demonstrar que esse período é visto
como especialmente crítico, uma vez que as primeiras datas após a partida
de um ente querido estimulam muitas lembranças, saudades e pesar (Ilário,
2020). A dor emocional desse primeiro ano se apresenta significativamente
mais aguda, o que faz com que a resolução de um luto dificilmente se dê em
menos de um ano, além disso, há uma noção de quando ele acaba, ou seja,
isso se dá no momento em que a pessoa aceita a nova realidade da sua vida,
ressignifica-a em vários aspectos e consegue retomá-la, agora na ausência
daquele ente de amor (Torres, 2020).
76
“Em outros contextos, afastar-se da dor pode fazer muito sentido, mas
quando a dor está relacionada, por exemplo, à perda de um ente querido,
ou das coisas como antes eram, como acontece agora pelo Covid-19, essa
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 79
dor está tentando nos dizer que as coisas mudaram, e precisamos fazer
mudanças em nossas vidas e em nosso mundo interior. O fato de tentar
fugir dessa dor apenas adia as mudanças inevitáveis que
precisam ser fei-
tas. Essa dor é natural, normal e esperada quando se perde algo ou alguém
que é importante. [...] O primeiro passo para abordar a experiência de luto
a partir de uma postura de aceitação, envolve perceber e reconhecer sua
própria experiência interna, identificando como você se sente e de que
maneira surgem, e como os impulsos de evitar as situações desconfortáveis
aparecem. O segundo passo é a disposição, que se refere a parar de lutar
com essa dor e permitir experimentar sem tentar neutralizar ou alterar,
implica deixar a dor entrar na vida, sem julgá-la como boa ou ruim, apenas
reconhecendo que você está aqui e agora. E finalmente, o compromisso,
que se refere à manutenção dessa posição ao longo do tempo, é aplicado
porque é importante, não como uma maneira de controle, nem como uma
punição, é para trabalhar nas coisas que são importantes e das que você
quer em sua vida, procurando adaptar-se a essa nova fase [...] mantendo
comportamentos saudáveis, apesar do que não pode ser mudado.” (J. I. C.
Gaitán, comunicação pessoal, 7 abril, 2020).
11 A. C. Q. Arantes (02 maio, 2020). A morte na era da Covid-19 é uma morte desamparada. Entrevista
disponível em https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/300135/morte-na-era-da-covid-19-e-uma-morte-
desamparada.htm
12 Luto antecipatório é um tipo de luto que acontece antes da perda real da pessoa e apresenta-se com reações
emocionais como torpor, atordoamento, anseio e desespero (Worden, 1998), tal como se dá na primeira
fase do luto. Ele tem grande importância na adaptação dos familiares perante a realidade da morte, que
pode ocorrer quando da comunicação que o quadro do familiar adoecido é irreversível.
82
discrimine outros propósitos de vida; (i) atentar para sinais de doenças físi-
cas e também incentivar a prática constante do autocuidado como meta para
diminuir a vulnerabilidade emocional.
O outro olhar para intervenções terapêuticas no processo de luto pela
COVID-19 é lançado para a priorização da conexão virtual no contexto hos-
pitalar, como uma proposta de criar alternativas para a família enlutada “dizer
adeus”. Nesses contextos, um dos maiores desafios desse trabalho específico
com o luto vem da dimensão da terminalidade, ou seja, o quadro é irreversível
e a morte já foi anunciada, contudo há o isolamento tanto da pessoa conta-
minada quanto dos familiares, dificultando sobremaneira as conversações
no final da vida. Crispim et al. (2020) nomeiam de “visita virtual” algumas
estratégias advindas de estudos recentes que podem ser implementadas nesse
ritual de despedida: (a) o psicólogo (hospitalar ou da clínica particular) poderá
incentivar o contato entre o familiar enfermo e seus familiares por meio de
aparelhos celulares ou tablets, se a interação face a face não se faz possível
(Crepaldi et al., 2020); (b) dependendo das condições clínica e cognitiva do
familiar internado e com a presença do psicólogo, efetuar chamadas de vídeo
de 5 a 10 minutos ou enviar cartas e objetos que possam representar vínculo
emocional entre ambos – a pessoa enferma e sua rede socioafetiva (Crepaldi
et al., 2020) – tornam-se bastante viáveis; (c) para pacientes conscientes,
porém com dificuldades de comunicação verbal, sugere-se o envio de mensa-
gens de áudio que deverão ser ouvidas na presença do psicólogo; (d) quando
o paciente se encontra inconsciente, o psicólogo pode sugerir à família que
encaminhe mensagens de áudio para serem reproduzidas à beira do leito (os
itens c e d estão de acordo com as recomendações da Fundação Oswaldo
Cruz, 2020). Cabe a ele, nesse caso e ainda assim, informar previamente ao
paciente sobre o procedimento, justificando as razões da ausência das visitas
e, após o procedimento, retornar à família.
Na sequência desses olhares, também é desafiador o trabalho de interven-
ção no processo de enlutamento pela COVID-19 no que se refere às dimensões
da morte e do luto. Dado esse cenário pandêmico, esses rituais precisarão de
uma nova configuração, todavia sem perder de vista que eles precisarão estar
de acordo com a história do vínculo que se perdeu. As estratégias de despe-
dida nos rituais fúnebres podem acontecer em duas vertentes: as remotas e
as individuais. As estratégias remotas se apresentam de forma a estimular os
familiares e amigos do ente querido a expressarem seu luto por meio do uso
de tecnologias, tais como ligações por vídeo, mensagens de voz e e-mails de
despedida ao ente querido (Fundação Oswaldo Cruz, 2020), ou, até mesmo,
a criação de memoriais online, tornando ali um espaço para que familiares,
amigos e outras pessoas possam expressar suas condolências, enviar mensa-
gens e compartilhar pensamentos, lembranças e sentimentos com relação ao
86
Caso clínico
14 As falas aqui trazidas foram autorizadas pelo cliente para fins dessa publicação.
88
Dados de identificação
Queixa
Dados da história de R.
Análise funcional
O vínculo entre ambos era visto por ele como sendo de baixa aversividade,
portanto, com alta frequência de uma variedade de reforçadores. R. se esqui-
vava acentuadamente de entrar em contato com emoções, lembranças e sen-
timentos gerados pela perda de seu ente de amor, assim como não aceitava
a imutabilidade do evento, apresentando comportamentos de desamparo e o
humor significativamente deprimido.
Comportamento-alvo
Objetivos
Diário do Luto: “Mais um dia que a rotina é essa dor que sinto e que
tento esconder dos meus filhos e principalmente de mim. Hoje quero aqui
falar com você, minha amada, sobre o dia que você se foi para sempre! Meu
Deus, que dia! Queria um minuto daquele dia tão difícil para tocar sua mão,
ficar ao seu lado e dizer que sempre a amarei! Mas, não me deixaram dizer
adeus! Você num leito do hospital sem ninguém... sem mim! Você que cuidou
tanto de mim quando fiquei doente. Ficou do meu lado o tempo todo, lembra?
Eu jamais esquecerei! Quero sumir… desaparecer. Me perdoe por não ter
cuidado de você como devia! Eu chego a passar mal quando penso. Como
90
você foi embora sem se despedir de mim e dos nossos filhos? Escolhi seu
vestido de despedida – aquele novo que você comprou para usar em nosso
aniversário de casamento, lembra? Mas, você foi embora vestida num saco
de lixo! Como? Eu não a vi mais... não a toquei... Me desesperei; falei com
nossos filhos e nada puderam fazer – agora é normal. Meu amor, você não
merecia um tratamento desse; você não! Tão cruel e desumano. Senti tanta
raiva... tanta revolta... dor e culpa! Sabe, agora sei que essa dor é que chamam
de culpa... ela é minha companheira 24 horas por dia. O que posso construir
sem você? Que faço da minha vida sem a nossa vida”?
“Cadê uma homenagem para você? Despedida digna para um ser humano
digno? E, agora, onde está você? Chamo por você...Grito pelo seu nome e
você não me responde... Procuro por você e não encontro. Uma saudade louca;
não durmo, a cama está vazia. Dói... dói... meu Deus! Hoje eu tenho medo
do mundo porque era você minha segurança, meu porto seguro. Eu não me
despedi de você; nem um beijo de até logo eu dei”.
“Sabe o que me dizem? Que você foi fazer uma longa e incrível viagem
e que você está feliz. Me dizem também que eu vou fazer essa mesma viagem
e vou lhe encontrar. Não quero mais esperar a viagem chegar... quero ir ao
seu encontro! Estou pronto! Pegue minha mão e me conduza para a alegria
que perdi. Minha dor lateja na minha alma e no meu corpo”.
Fase intermediária:
Diário do Luto: “Minha amada... sua cadeira esteve vazia no Natal. O que
faço? Devo deixá-la vazia e devolver ao Pai o presente que Ele me confiou
e que por 50 anos dei a você? O dom de amá-la? Sinto saudades de te ver, te
tocar, te ouvir...
“As feridas e cicatrizes do meu coração contam a mais bela história da
minha vida: nós dois”.
Fase final:
história. Tudo impregnado da presença viva do meu amor que se foi. Você,
minha querida, sempre estará guardadinha no meu coração”.
“Minha amada, estou aprendendo a parar de andar na escuridão de meu
luto acendendo uma vela de esperança”.
Nos relatos acima apresentados, foi possível observar no Diário do
Luto de R. que os sentimentos e emoções que ele apresentava com frequên-
cia significativa eram culpa, aflição, angústia, tristeza, revolta, indignação,
raiva, saudade, tristeza, solidão, vulnerabilidade, pesar. Face ao exposto, a
intervenção propriamente dita, ou seja, o exercício experiencial da Aceitação
foi a estratégia aplicada e que se deu da forma descrita a seguir. Através da
leitura do Diário do Luto na sessão pelo cliente e ou pela terapeuta, busca-
va-se identificar, passo a passo, junto ao cliente, cada um desses eventos
dolorosos. Isso se deu por meio de perguntas, validação e pelo parafrasear
da terapeuta, ao mesmo tempo em que ela solicitava a R. a descrição desses
eventos orientando a retirada de qualquer julgamento, tornando, assim, mais
clarificada a emoção ou o sentimento e as sensações físicas eliciadas (choro,
batimento cardíaco acelerado, tremores pelo corpo); após, era solicitado ao
cliente treinar perceber cada uma dessas sensações, convidando-o a permane-
cer nela (“ficar firme na emoção” era a solicitação da terapeuta) permitindo,
então, que aquele sentimento ou aquela emoção chegasse ao seu ápice sem
se esquivar, mantendo, dessa forma, a ação de observar a curva da emoção.
Por fim, a terapeuta estimulava o cliente a treinar observar o sentir quando
surgissem lembranças, emoções ou sentimentos dolorosos relacionados à
perda da esposa ou mesmo a outros eventos (Saban, 2015a).
Resultados apresentados após 08 meses do início do processo terapêu-
tico: o cliente aprendeu identificar sentimentos e emoções, nomeá-los sem
julgamentos, apresentando coragem e abertura para observá-los e, assim, per-
mitiu senti-los. Ele conseguiu clarificar mais acentuadamente os valores que
pautavam sua vivência, bem como buscou resgatá-los e torná-los conectados
com a realidade que agora se faz presente em sua vida. Exemplos: o cliente
retomou a atividade profissional, escrevendo e publicando artigos, orientando
teses, formando equipes de pesquisa e assumindo projetos e voltou para sala
de aula; passou a se encontrar com amigos do casal, está participando da
equipe pastoral que o casal coordenava e tem ampliado sua rede social com
a ajuda dos filhos, frequenta reuniões familiares e envolve-se em atividades
de lazer com os netos; viaja com os filhos frequentemente e retomou a prática
de atividade física. Enfim, R. tem apresentado comportamentos de autocui-
dado (prioriza qualidade de vida), autocompaixão ao dar conta das próprias
vulnerabilidades e compaixão ao discriminar vulnerabilidades nos filhos e
netos, como também de autoconhecimento (notadamente quando discrimina
92
que atua com mais flexibilidade e leveza diante de contingências que se apre-
sentam de forma mais densas e difíceis nos mais diferentes contextos de sua
vida); também tem buscado ressignificar vários aspectos de sua vida tendo
como base seus valores pessoais e o legado que a esposa deixou. Apresenta
atualmente um sentimento acentuado de esperança com relação à vida e o
que dela possa vir. Desde maio desse ano, R. está em processo de follow-up.
Concluindo, foi possível aqui observar de forma evidenciada na fala,
mesmo fragmentada, do cliente enlutado, a dor dilacerante que foi gerada pela
ruptura abrupta de uma experiência de amor, assim como suas tentativas de
evitá-las; assim como, a vivência de uma sensação de irrealidade aumentada
pelo não reconhecimento da morte como consequência da ausência ou restri-
ção dos rituais de despedidas exigidas pelas medidas sanitárias. Ressalta-se,
por conseguinte, que a ferramenta usada, o Diário do Luto, tornou possível
revisitar essa dor, ao mesmo tempo em que se viabilizou intervir terapeutica-
mente a partir dos procedimentos já assinalados.
“Dai palavras à dor. Quando a tristeza perde a fala, sibila ao coração,
provocando de pronto uma explosão” (William Shakespeare, Macbeth, Ato
4, Cena 3)
No que tange ao papel do terapeuta, tem-se o argumento consistente de
T. DuBose (comunicação pessoal, 17 Abril, 2020)15 ao considerar que o foco
pessoal desse profissional precisa ser a autoconsciência – aqui compreendida
como a capacidade de atender às necessidades do cliente e do ambiente sem
perder de vista o autocuidado – ampliada pelas suas habilidades no que se
refere a comportar-se por meio de uma comunicação de profundo respeito e
cuidado com o enlutado e seus familiares, ao mesmo tempo em que se busca:
a) lançar mão das estratégias de Validação (Linehan, 2010) com genuinidade e
autenticidade com o enlutado; b) validar e amparar a experiência emocional e
dificuldades do cliente nas crises implacáveis de sua vida, transmitindo a ideia
clara de que ele não está sozinho; c) balancear de forma constante as estraté-
gias de Validação com as estratégias de Solução de Problemas (Linehan, 2010).
Por fim, ao aplicar as intervenções, o terapeuta precisa alcançar uma síntese
com seu cliente em luto, ou seja, é preciso levá-lo a ser capaz de viver sua
experiência de perda de forma profunda e encerrá-la a partir de um propósito
maior - a construção e reconstrução de sua vida à luz das realidades atuais.
15 T. Dubose (17 Abril, 2020). Tony Dubose fala das habilidades DBT frente à COVID-19 (versão em português). Comporte-
-se. https://comportese.com/2020/04/tony-dubose-fala-das-habilidades-dbt-frente-a-covid-19-versao-em-portugues
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 93
Considerações finais
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dados como os coletados por Beck e Madresh (2008) e Meehan et al. (2017)
sugerem que esta relação pode prover o humano de sensações de segurança e
proteção, situando os animais como tão próximos quanto vínculos da família
nuclear, podendo exercer também a função de afastar os tutores de relações
humanas indesejadas.
Em relação à Teoria do Apego e o luto, aponta-se que a forma com que
o indivíduo lida com as perdas está ligada à maneira com que as relações de
apego foram estabelecidas com a figura de cuidado primário, o que influen-
ciará no manejo e enfrentamento de situações de sofrimento no processo de
luto (Meireles & Lima, 2016).
Parkes (1998) analisa as reações de luto entre os diferentes padrões de
apego, lembrando da complexa relação entre apego e perda. Situa a perda e
o luto como reações conectadas ao amor, ou seja, à vinculação entre a pessoa
e aquele que faleceu. Parkes (1998) recorda que estas reações à perda, que
se assemelham às da criança diante das separações com a figura de apego
como observadas por Bowlby, por exemplo o choro, o protesto e o desapego,
também despertam novos sentimentos, o que o conduziu a formular a teoria
das transições psicossociais. Assim, o autor conduz uma discussão sobre o
rompimento da ideia de mundo presumido (o mundo tido como verdadeiro
para cada um) e a necessidade que o enlutado tem de replanejar sua vida.
Segundo Franco (2021), esta definição de luto proposta por Parkes,
enquanto processos contínuos de adaptação que ocorrem a partir de uma
perda (por morte ou outro rompimento), não se contrapõe às perspectivas de
Bowlby, mas a complementa de forma dinâmica e com foco na adaptação
após um evento de implicações duradouras. O próprio Parkes, estabelecendo,
assim, uma ponte entre a Teoria do Apego e a Teoria das Transições Psicos-
sociais, afirma que “o teste mais árduo de um relacionamento de amor pode
muito bem estar no sucesso que obtemos ao sobreviver à morte daqueles que
amamos” (Parkes, 2009, p. 48). Assim, destaca-se aqui que a intensidade do
vínculo, estabelecido em múltiplas interações responsivas, exerce grande
influência sobre a forma com que os sujeitos lidam com a morte, inclusive
de seus animais de companhia.
demais relações (Casellato, 2018). Esta autora prevê que, de certa maneira,
grande parte das pessoas que experienciam alguma perda podem já ter se sen-
tido invalidadas em emoções correlacionadas. Na revisão de Franco (2021),
os lutos não reconhecidos revelam falha de empatia, isto é, a insensibilidade
àquilo que não conheço ou que não faz parte de meu contexto cultural.
A maneira como experienciamos o luto e nos expressamos é moldada
por certas expectativas sociais e pela história de aprendizagem individual.
Ou seja, o sujeito pode não se sentir autorizado, reconhecido e/ou apoiado
pelas pessoas ao seu redor; ou, de acordo com sua autopercepção, vivenciar
certa autocensura por meio de autorregras rígidas em relação ao valor de suas
emoções. Dessa forma, observa-se que as manifestações de perda sofrem
muita influência cultural, espiritual, socioeconômica e com base em regras
sociais (por exemplo, de acordo com o gênero do sujeito). A sociedade cria
normas próprias de experiência do luto, questionando onde, como e quando
as pessoas podem sofrer (Casellato, 2018).
Outro aspecto importante para a análise do luto é o tempo. O tempo de
enlutamento também pode ser um fator determinante para a invalidação. Por
isso, percebe-se que podemos considerar todos os lutos como não autorizados
por certa decorrência de tempo (Doka, 2002; Casellato, 2018), como se as
experiências de luto tivessem prazo determinado.
A presença de uma rede de apoio é importante também para uma possível
elaboração do luto. A rede de apoio é um mecanismo de proteção e promoção
de resiliência, sendo formada por pessoas que podem apoiar o sujeito em
sofrimento, como familiares, amigos, profissionais de saúde, dentre outros
(Juliano & Yunes, 2014). Importante frisar que os animais de estimação tam-
bém podem fazer parte do apoio emocional dos sujeitos que experienciam
sofrimento. O que ocorre muitas vezes em casos de luto não reconhecido é que
as pessoas não se sentem validadas pelas relações ao seu redor, ou seja, suas
respostas emocionais são punidas socialmente; dessa forma, a identificação
ou o reconhecimento de uma rede de apoio pode ser um fator importante para
auxílio, uma vez que tal rede reforça o comportamento da expressão emocional
e pode proporcionar o enfrentamento de novas contingências a partir da perda.
Em razão da falta de suporte que o sujeito em sofrimento experiencia,
muitas vezes, apenas uma rede formal (ou seja, de profissionais de saúde men-
tal) acaba validando o sofrimento da perda. É importante que cada pessoa que
vivencia um luto não autorizado desenvolva novas autorregras reconhecendo
seu direito de sentir o luto, e um foco possível para a Psicologia seja o suporte
psicossocial e as intervenções preventivas (Casellato, 2018).
A educação para a morte é também uma das saídas possíveis para o enfren-
tamento do luto e falar sobre as perdas humanas é uma ação preventiva de um
110
luto complicado. O luto não reconhecido pode ser um fator de risco para um
luto complicado, além de possibilitar o desenvolvimento de outros problemas
de saúde física e/ou mental (Casellato, 2018). Este risco se dá justamente pela
posição de vulnerabilidade que o enlutado se encontra pelo não reconhecimento
de seu sofrimento por outros ou pelo próprio enlutado (Franco, 2021), portanto,
a ajuda primária mais eficiente provém da validação do sofrimento.
Entre os exemplos de luto não reconhecido socialmente temos as perdas
puerperais, as perdas de um vínculo empregatício, términos de relaciona-
mentos e a perda de animais de companhia. A partir da revisão realizada por
Franco (2021), destaca-se que há pouco suporte social para quem perde um
pet, o que se nota inclusive pela ausência de rituais de despedida.
A sociedade, em termos gerais, não é validante para o sofrimento da
perda do animal de companhia. Em razão da ausência de identificação social
do sofrimento, muitos tutores sofrem em silêncio. De acordo com pesquisa
realizada com enlutados pela morte do animal de estimação, verificou-se
que 52,5% dos participantes, em algum momento da vivência do luto, não se
sentiram validados pelas pessoas ao redor (Oliveira & Franco, 2015).
Em nossa experiência, em relação ao luto do animal de companhia,
alguns relatos dos tutores revelavam seu profundo pesar, como “choro todos
os dias” (sic), “chorei mais quando ele morreu do que quando um familiar
morreu” (sic), “naquele momento eu queria que ele me levasse junto” (sic),
“foi o pior dia da minha vida” (sic), “fiquei um mês sem comer” (sic). Ainda,
sobre o que era dito por terceiros em relação à perda do animal, era corriqueiro
o relato de “é só comprar/adotar outro” (sic) e “era só um animal” (sic), o
que ressaltava a invalidação do sofrimento do enlutado. Isto revela quanto é
comum que o enlutado seja pressionado a logo se desfazer dos objetos e lem-
branças do animal perdido, incentivado também a substituí-lo e prontamente
não expressar mais seu sofrimento publicamente.
16 Agradecemos a Profª Carolina Zaghi Cavalcante e demais colaboradores, alunos e professores do curso
de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná pela oportunidade de inserção de
trabalho interdisciplinar na temática.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 111
17 3
Coping são formas de enfrentamento desenvolvidas pelos sujeitos para lidar com situações adversas (Dias
& Ribeiro, 2019).
114
Considerações finais
também destaca que o intenso pesar pela perda do animal de estimação é ainda
um campo de discussão entre pesquisadores, por ser uma área de pesquisa
recente e também pelo tabu que este luto representa.
Entretanto, em nossa revisão teórica e experiência, apesar da relação
entre humanos e pets propiciar experiências cada vez mais íntimas, quando se
aborda a morte ou perda desse animal, ainda existe socialmente o fenômeno
do luto não reconhecido; ou seja, o sofrimento pela perda não é validado cole-
tivamente. O não reconhecimento pode ser fator de risco para o aparecimento
do luto complicado, dificultando a elaboração da perda e podendo resultar em
sofrimentos emocionais mais graves, como a depressão.
Nesse sentido, o psicólogo possui possibilidades de ação diante dessa
temática. A importância de tais interpretações, a partir do olhar da abordagem
da Análise do Comportamento, consiste no melhor direcionamento das inter-
venções e na produção de material científico que correlacione as temáticas do
apego, família multiespécie e luto não reconhecido pela morte do animal de
companhia. Além de intervenções individuais, uma possibilidade é a inter-
venção grupal, ou seja, o Grupo de Luto.
Com base na experiência das autoras, o Grupo de Luto proporcionou um
espaço em que os participantes puderam se sentir confortáveis em comparti-
lhar a dor da perda do seu pet tendo seus sentimentos acolhidos e validados.
Apesar disso, vale ressaltar que o grupo obteve pouca adesão e uma hipótese
levantada foi sobre o receio do julgamento de estarem participando de um
grupo com tal proposta, reforçando a presença do luto não reconhecido.
Devido a importância da temática, é necessária a existência de uma rede
de apoio que possa proporcionar um acolhimento adequado e um não julga-
mento do enlutado. Profissionais de saúde mental podem fazer parte de uma
rede de apoio por oferecerem uma escuta qualificada e orientações fundamen-
tadas para cada caso. Além disso, é indispensável uma maior conscientização
da sociedade sobre o tema do luto pela perda do animal de companhia para
trazer uma legitimidade, validação coletiva e suporte emocional e social. Por
último, mas não menos importante, é necessário a continuidade da produção
de pesquisas e conhecimentos na área que ainda estão sendo consolidados.
116
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18 Situações difíceis incluem tipos de perdas por morte que podem acometer indivíduos ou grupos populacionais
tanto por morte repentina (aquela que ocorre de forma súbita e inesperada) ou por mortes que podem ser
esperadas ou até mesmo compreendidas como resultado do ciclo vital (como morte de avós ou pais já
idosos) (Kinijnik & Zavaschi, 1994).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 121
20 Na visão analítico- comportamental desenvolvimento pode ser compreendido como mudanças progressivas
nas interações entre comportamento e ambiente (Bijou & Baer, 1961).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 125
estratégias lúdicas podem ser ótimas aliadas, uma vez que, permitem que a
criança reproduza o que vive no cotidiano, dando ao psicoterapeuta a opor-
tunidade para que realize análises que são mais próximas do que a criança
consegue entender.
O uso da ludoterapia e do brincar funcional21 pode auxiliar crianças
enlutadas a falar sobre seus sentimentos, desejos e anseios (de Rose & Gil,
2003), principalmente quando eles são desagradáveis. A criança também pode
apresentar comportamentos que são produtos de uma história de punição e ao
brincar, é possível parear a terapia e o psicoterapeuta com atividades agradá-
veis (de Moura & Venturelli, 2004) fortalecendo o vínculo e estabelecendo
contexto para falar sobre experiências difíceis.
Ao utilizar fantasias, jogos, desenhos ou histórias, o psicoterapeuta deve
selecionar este material com cuidado para que sirvam como ferramentas auxi-
liares apropriadas aos objetivos de cada etapa do processo terapêutico. Tam-
bém devem permitir análises funcionais, tanto do contexto externo à criança
quanto da própria relação terapêutica. Isso quer dizer que ao brincar ou utilizar
recursos lúdicos, o psicoterapeuta deve fazê-lo com objetivos claros, levando
em consideração as peculiaridades dos comportamentos apresentados pelo
enlutado (Borges et al., 2012).
Utilizando as estratégias lúdicas como ferramentas de avaliação e inter-
venção comportamental e considerando a criança como parte do processo
terapêutico, será descrita uma intervenção realizada com uma criança enlu-
tada, em uma clínica particular22. Serão destacados alguns pontos importantes
sobre o processo terapêutico: a) quais objetivos devem ser trabalhados no
que concerne ao atendimento de crianças em sofrimento pela perda de um
ente querido; b) quais estratégias lúdicas podem ser utilizadas em diferentes
momentos do processo terapêutico e; c) com quais objetivos devem ser utili-
zadas tais estratégias. Vale destacar que os exemplos utilizados e as sugestões
sobre os recursos lúdicos não se constituem em regras sobre a Terapia Analíti-
co-comportamental Infantil. São constituintes de uma proposta de intervenção
que foi desenvolvida e adaptada para as necessidades do caso atendido, tendo
como base o modelo triádico23 de atendimento com crianças (Regra, 2000).
Relato do caso
D. é uma criança de 9 anos, filho único, que reside com o pai e a avó
(que está junto da família temporariamente). Estuda em uma escola particular
e já havia passado por um processo psicoterapêutico, há 2 anos. Os pais eram
casados há mais de 15 anos e, nos últimos quatro anos (desde a descoberta
do câncer da mãe), a família vivia cercada de cuidados e suporte social. A
criança passou por atendimento psicológico porque a família compreendia que
todo o processo da doença era altamente desgastante e promotor de condições
aversivas, que poderiam trazer prejuízos para a sua vida.
Queixa principal para identificação do problema. O pai procurou aten-
dimento porque D. estava apresentando comportamentos de fuga e esquiva em
relação a falar sobre a mãe ou sobre a morte. Quando o pai tentava iniciar o
assunto, a criança direcionava a conversa para outro tema, mesmo quando o
relato do pai era sobre momentos gostosos que haviam passado juntos (viagens
e passeios, por exemplo). A criança também passou a pedir ao pai para que
retirasse as fotos da mãe de casa, dizendo que outras deveriam ser colocadas
no lugar. D. também estava evitando festas de aniversário dos amigos (que
antes eram acompanhadas pela mãe) ou frequentar a casa dos avós maternos
sozinho. Também vinha apresentando falta de interesse em realizar atividades
que antes gostava muito de fazer (como a prática de esportes, por exemplo).
Histórico da queixa para identificação de eventos críticos, desenca-
deadores, mantenedores, competitivos, tentativas de solucionar o problema,
reações da criança, habilidades e déficits parentais. D. começou a apresentar
tais comportamentos seis meses após a morte da mãe. Durante os quatro anos
em que ela esteve em tratamento, os pais evitavam falar sobre qualquer assunto
que sinalizasse um contexto aversivo, sempre dizendo “estarem trabalhando
para a cura” (sic). O assunto morte ou possibilidade da perda não foi introdu-
zido nas conversas com a criança, pois acreditavam que falar sobre a morte ou
sobre a doença poderia deixá-los (principalmente a mãe) mais tristes e que isso
“diminuiria a força e motivação para o processo de melhora no tratamento do
câncer” (sic). O pai conta que esse padrão de comportamento foi mantido até o
último minuto, uma vez que ele mesmo acreditava que precisava “esperar por
um milagre” (sic). Esse tipo de crença fez com que a família ensinasse para
a criança que ela deveria tentar fugir de qualquer pensamento ou sentimento
que minimamente sinalizasse tristeza, medo ou angústia.
Na fase terminal da doença, a criança foi levada para a casa dos avós
paternos, que fica em outra cidade, para que o pai pudesse permanecer cui-
dando da mãe. Quando a mãe morreu, a criança não se despediu dela e no dia
do velório ele ficou na casa de uma tia, pois recusou-se a vê-la. O pai conta que
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 127
quando ele deu a notícia, D. chorou muito, abraçou-o (eles choraram juntos),
mas logo conseguiu acalmar-se e foi jogar videogame, não demonstrando, a
partir deste momento, qualquer emoção. D. não fez mais perguntas sobre a
mãe ou chorou pela sua perda.
De acordo com o relato do pai, a psicóloga que antes acompanhava o
caso orientou a família que “respeitasse” o momento que a criança estava
vivendo e que disponibilizasse cuidado, atenção e a percepção de que a vida
“seguiria em frente” (sic.), independente do que havia acontecido. O pai
atendeu prontamente às orientações da profissional, mas passou a questionar
tais condições quando percebeu que D. não falava mais sobre a mãe e que ele
estava “recusando-se a viver” (sic.).
Variáveis organísmicas para identificar variáveis orgânicas potencial-
mente relacionadas à queixa. Não foram identificadas.
Ambiente e contexto atual para identificar antecedentes e consequen-
tes atuais da queixa e como o contexto é favorável ou não para a criança
e a família. D. estava inserido em um contexto de cuidado e proteção. A
família disponibilizava cuidados físicos, atenção, carinho e apoio para suas
necessidades. O pai parecia apresentar um comportamento bastante prove-
dor, porém evitava que a criança entrasse em contato com qualquer situação
aversiva. Quando D. relatava que não queria participar de alguma atividade,
como o aniversário dos amigos, o pai sempre comprava um presente para
o amigo, ligava para os pais do mesmo e explicava que D. não queria ir
ao aniversário. Levavam o presente para o amigo, evitando que ele ficasse
chateado. Tal padrão de comportamento do pai era sempre justificado pelo
fato de D. estar triste pela morte da mãe e servia como modelo para que a
criança evitasse qualquer situação que pudesse lhe trazer algum desconforto.
D. também não praticava mais os esportes que antes gostava e, quando alguém
comenta alguma coisa sobre a mãe, afastava-se e ia jogar videogame, não
demonstrando nenhuma emoção.
Recursos e comportamentos do cliente (para verificar os recursos
pessoais do cliente que podem ajudar na superação do problema). O pai
descreveu D. como uma criança muito esperta, comunicativa e inteligente.
Disse que ele não tem dificuldades para fazer amigos e expor sua opinião,
principalmente nas relações familiares mais próximas.
Fontes de gratificação para identificar os eventos que podem conse-
quenciar positivamente os comportamentos apropriados da criança. D. gosta
de conversar e receber atenção e quando o assunto envolve seus games favo-
ritos, esportes ou brinquedos, aumenta seu interesse.
Expectativas quanto à terapia. O nível de expectativa em relação à
terapia era alto, haja vista que passaram por outro processo terapêutico e não
conseguiram observar melhoras. O desejo do pai era que ele conseguisse
expressar melhor seus sentimentos em relação à morte da mãe e que pudesse
128
conversar sobre o assunto com naturalidade, sem fugir dele. Também tinha o
desejo de que D. conseguisse retomar suas atividades físicas e sociais.
Um breve relato sobre o início do processo terapêutico com a criança e
das avaliações iniciais sobre os comportamentos diretamente relacionados
à queixa. As sessões iniciais com D. foram fundamentais para o estabeleci-
mento do vínculo terapêutico e serviram como ponto de partida para a coleta
de informações com a criança, tanto no que se refere ao que ela entendia sobre
as dificuldades que foram relatadas na entrevista com o pai, quanto para a
observação e análise de comportamentos que apresentava na interação com
a psicoterapeuta. Na primeira sessão, ao compartilhar os objetivos da terapia
com a criança, ela relatou que não gostaria de falar sobre a mãe (fuga de falar
sobre o assunto mãe e consequentemente sobre a morte).
Neste caso, como o principal objetivo da sessão era o estabelecimento
de vínculo Terapeuta (T) tornar-se uma figura reforçadora para a criança
(D), a psicoterapeuta sinalizou que compreendia o quanto era difícil para ele
(demonstrando empatia e carinho) e que, em algum momento, quando ele se
sentisse mais confortável, iriam fazê-lo juntos (tentando estabelecer uma rela-
ção de confiança e bloqueando a esquiva de D.). A terapeuta também procurou
deixar claro para a criança que as atividades realizadas tinham como objetivo
conhecê-lo melhor e ajudá-lo a expressar seus sentimentos e pensamentos
através dos desenhos, jogos e brincadeiras.
A Tabela 1 resume as atividades lúdicas desenvolvidas com a criança,
de acordo com os objetivos propostos nas primeiras sessões para estabele-
cimento de vínculo e avaliação da queixa, tendo como ponto de partida a
perspectiva da criança:
24 Fonseca & Pacheco (2010) descrevem que os aspectos básicos para a realização de uma análise funcional
do comportamento são: (a) identificar aspectos comportamentais; (b) definir precisamente o comportamento
de interesse; (c) identificar eventos ambientais; (d) identificar relações ordenadas entre variáveis ambientais
e o comportamento de interesse; (e) identificar e descrever o efeito comportamental; e (f) formular predições
sobre os efeitos de manipulações dessas variáveis e desses outros comportamentos sobre o comportamento
de interesse.
25 A hierarquia dos comportamentos pode ser estabelecida pelo terapeuta levando em consideração algum tipo
de critério, como, por exemplo, de comportamentos mais simples a mais complexos, ou dos comportamentos
que a criança considera mais fáceis de modificar até os mais difíceis. A criança e a família podem participar do
processo de escolha, a depender de cada caso. No caso D., a hierarquia foi estabelecida com a ajuda do pai.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 133
continuação
Identificação das ca- Compreensão das Dados de observação do Organização dessas
racterísticas do cliente características de acordo cliente que podem contri- características em princípios
em uma hierarquia de com a História de Con- buir para a compreensão comportamentais
importância clínica tingências do indivíduo dos comportamentos
Fase 2. - Desde a descoberta da - Em algumas sessões, - Restrição ambiental e dé-
2.1 Dificuldades para doença da mãe diminuíram apresentou dificuldades ficit comportamental, princi-
relacionar sentimentos consideravelmente os mo- para escolher os brinquedos palmente no que se refere a
avaliados pela criança mentos de interação na fa- demonstrando insegurança falar ou enfrentar situações
como aversivos aos mília (pai contou que a mãe e necessidade de agradar a aversivas;
eventos do cotidiano e ficou extremamente deprimida terapeuta. - Falta de correspondência en-
relatá-los ao pai e para e limitava-se a conversar so- - Em alguns momentos, não tre o dizer e o fazer;
a terapeuta. bre assuntos cotidianos com havia correspondência entre - Comportamento de fuga e es-
a criança, perguntando se ele o dizer e o fazer . Por exem- quiva durante as sessões com
havia ido a escola ou reali-
plo, ao ser questionado se a T. quando ela fazia perguntas
zado as tarefas, por exemplo);
estava triste ou chateado e tentava relacionar o que ele
- Os contatos com amigos e
porque havia perdido no estava sentindo com eventos
parentes também diminuíram
jogo, D. dizia que não, mu- aversivos;
e a criança interagia somente
com poucos amigos da es- dava de assunto e pedia
cola ou que não favoreceu para realizar outra atividade.
ampliação desse repertório
comportamental;
- A criança sempre pergun-
tava aos pais se eles estavam
tristes, mas eles querendo
poupar a criança diziam que
não, que estava tudo bem, di-
minuindo a correlação entre
o que a criança percebia no
ambiente e o que ela relatava;
- A criança passou a evitar
qualquer situação que pu-
desse gerar desagrado ou o
que ela interpretava “poder
deixar os pais tristes”.
Fase 3. - A família tentou proteger a - Quando perdia em algum - Apresentava comportamento
3.1 Necessidade de criança de situações aversi- jogo competitivo, não queria de recusa (fuga) diante de
aprender a tolerar emo- vas relacionadas à doença e jogar novamente. Dizia que situações que avaliava como
ções avaliadas pela morte da mãe. o jogo era chato e pedia chatas ou difíceis (medo de
criança como aversivas - Quando a mãe entrou em para trocar de atividade. não conseguir, sensação de
e descrevê-las ao tera- estágio terminal a criança foi frustração diante da condição
peuta (falar dos medos, levada para a casa dos avós de perder em um jogo, por
situações difíceis viven- que ficava em outra cidade, exemplo);
ciadas no cotidiano); evitando que ele entrasse - Dificuldade para entrar em
3.2 Fazer enfrentamen- em contato com situações e contato com situações difíceis
tos de situações coti- eventos aversivos. e tolerar a aversividade provo-
dianas consideradas cada por elas;
difíceis ou aversivas; - Comportamento de fuga e/
3.3 Conversar sobre a ou esquiva de pensamentos,
morte da mãe com a sentimentos ou lembranças
terapeuta – relacionados à mãe.
(8 sessões)
continua...
134
continuação
Identificação das ca- Compreensão das Dados de observação do Organização dessas
racterísticas do cliente características de acordo cliente que podem contri- características em princípios
em uma hierarquia de com a História de Con- buir para a compreensão comportamentais
importância clínica tingências do indivíduo dos comportamentos
Fase 4. - Não houve uma despedida - Apresentava recusa para - Repertório pobre para com-
4.1 Conversar sobre a da mãe antes de ela falecer; experimentar jogos ou ativi- portamentos de enfrentamento,
morte da mãe com o - D . não participou do veló- dades que ele não conhe- fazer pedidos ou solicitações;
pai, familiares e amigos; rio e do enterro da mãe (ficou cia. Dizia que eram chatos, - Dificuldade para entrar em
(6 sessões) brincando na casa do tio); sem ao menos ter entrado contato com situações difíceis
- Diante de provas ou ativida- em contato com a atividade e tolerar a aversividade provo-
des avaliadas como difíceis, ou experimentado a situa- cada por elas;
o pai disponibilizava ajuda ou ção proposta; - Comportamento de fuga e/
evitava que ele ficasse tole- ou esquiva de pensamentos,
rando qualquer aversividade; sentimentos ou lembranças
- Dormia no quarto com o pai. relacionados à mãe.
D: De quase tudo, tia. Ela brincava bastante. Só quando ficou muito doente
que não conseguia mais brincar (conseguindo contar mais um pouquinho).
T: E parece que você sente falta disso, de brincar com ela. Você sabe
como esse sentimento chama D.? Já falamos sobre ele...
D: É saudade, né tia?!
T: Isso, meu amor (gerando mais aproximação e afeto). E lembra do
que conversamos sobre a saudade? Que às vezes dói muito, aperta o nosso
coração, mas nos conta coisas muito especiais sobre o que já vivemos (ten-
tando ajudá-lo a ampliar o seu repertório expressivo e ajudando-o a tolerar
um pouquinho mais)...
D: Acena com a cabeça... e fica olhando para a T. (Apresentando com-
portamento de enfrentamento)
T: Me conta então uma brincadeira bem legal que você fazia com a
mamãe? Vamos tentar fazer juntos?
D. contou sobre um jogo que costumavam brincar chamado “Pula Pirata”.
Contou que eles davam risada quando brincavam (comparando com as minhas
risadas no início da interação, que provavelmente serviram como estímulo
discriminativo para a criança lembrar desse momento com a mãe). D. aceitou
trazê-lo na sessão seguinte, na qual brincamos e conversamos um pouco mais.
A partir dessa interação com a terapeuta, D. aceitou falar um pouco mais sobre
a morte da mãe e fazer pequenos enfrentamentos de situações cotidianas que
considerava difíceis, como falar com o pai, por exemplo.
A Tabela 3, resume as estratégias lúdicas que foram utilizadas na Fase
3.3 da intervenção, dando ênfase às que foram especificamente utilizadas para
conversar sobre a morte.
Considerações finais
O terapeuta analítico-comportamental infantil tem sua prática baseada
nos pressupostos da Análise do Comportamento (Silvares, 1996; Rossi et al.,
2020). No que diz respeito ao atendimento de crianças enlutadas, é possível
auxiliar não só as crianças como suas famílias a expressar sentimentos sobre
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 139
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7. LUTO INIBIDO APÓS A
MORTE DO PAI: estudo de caso
Lêda Cristina Pinheiro Milazzo
A história de Anne26
Anne (20 anos), como ela própria se descrevia, era uma menina ansiosa
e insegura. Filha única, muito protegida pelos pais. No contato inicial, relatou
que buscava a terapia em função do estágio na faculdade. O processo terapêu-
tico de Anne ocorreu em 46 sessões com frequência semanal.
No primeiro encontro, a cliente se comportou de maneira bastante formal,
incluindo o modo de se sentar e o relato verbal. Descreveu que sentia muita
dificuldade em relacionar com rapazes e quando conseguia, não passava de
três meses. Anne era categórica ao afirmar que tinha que casar até os 24 anos,
porque depois já estaria velha e não conseguiria ninguém que quisesse “me
26 Nome fictício para resguardar a identidade da cliente, que autorizou o relato e publicação do caso, por meio
de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
148
levar ao altar” (sic). O casamento era idealizado como nos contos de fada,
com carruagem e príncipe.
Nesse primeiro encontro, também descreveu seus comportamentos res-
pondentes em relação aos momentos em que se sentia ansiosa, entre eles, boca
seca, mãos geladas e sorriso incontrolável. Pontuou que o pai havia morrido
há dois anos, de infarto, diante dela e, sem pausa afirmou que sua mãe chorava
muito e ficou dependente dela. Nesse momento sua verbalização foi “Ela me
suga, não me deixa viver, me prende”. Colin Parkes (2009) esclarece que o
luto traz ameaças à segurança, mudanças na vida e na família. Segundo o
mesmo autor, muitas pesquisas que investigam o luto e suas consequências
psicológicas para o enlutado, confirmam que as mortes súbitas e inesperadas
apresentam maiores riscos de complicação na elaboração.
Na sessão seguinte, Anne hierarquizou seus objetivos terapêuticos por
duas vezes. Na primeira vez listou que o objetivo principal era abordar a
dificuldade em manter um relacionamento e se sentir segura com os rapazes,
depois a morte do pai e por fim, a ansiedade. Após algum tempo em silêncio,
priorizou a ansiedade e, a morte do seu pai foi colocada como objetivo menos
prioritário do seu processo. Diante do luto inibido é comum o paciente buscar
o processo terapêutico apontando como queixa outros fatos e não o luto. O
terapeuta, após avaliação, consegue identificar que a demanda central é o
luto (Silva et al., 2011).
Respeitando a decisão da cliente, iniciou-se a psicoeducação sobre a
ansiedade explicando a sua psicofisiologia. Em seguida, ensino e treino da
respiração diafragmática com hiperventilação para que a cliente aprendesse
a identificar e extinguir comportamentos respondentes em situações ansio-
gênicas e comportamentos operantes decorrentes desse contexto, bem como
estimular o sistema nervoso parassimpático para controle da ansiedade (Lipp,
1997/2000; Guimarães, 2011; Vera & Vila, 1996/2016).
A psicoeducação é apontada por diversos estudiosos como sendo parte
fundamental da psicoterapia, especialmente com pessoas que tiveram uma
perda significativa (Zwielewski & Sant’ana, 2016; Silva & Nardi, 2011a;
Silva & Nardi, 2011b; Silva et al., 2011): A psicoeducação tem a função de
ensinar, esclarecer e orientar o cliente referente a diversos temas e contextos
para promover a compreensão a respeito do que está ou será vivenciado.
Mesmo priorizando a ansiedade, Anne sempre trazia a temática dos rela-
cionamentos para a sessão. Um dos procedimentos interventivos bastante
utilizados, quando o assunto surgia, foi o questionamento reflexivo. Em con-
sequência dessas intervenções, alguns pontos foram elucidados pela cliente
quanto à emissão de seus comportamentos: repetição de padrão para conhecer
novos garotos, conversava apenas com garotos da academia; rigidez quanto
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 149
aos padrões físicos, incluindo cor dos olhos e forma de vestimenta “olhos
verdes e blusa de botãozinho” (sic).
Por questionamento reflexivo, Medeiros e Medeiros (2012) des-
crevem que
27 Nota: Autoria desconhecida. Muitas vezes atribuído de forma errônea a Mário Quintana, a autoria do pensa-
mento não está confirmada. Por vezes também é atribuído a Katia Cruz, com o título “Recomeçar”. A frase:
“O segredo não é correr atrás das borboletas...” é uma adaptação de uma outra frase de Walter D. Elhers.
150
falam (mas é muito difícil), alguém que não está satisfeita com a vida que
leva, em alguns aspectos, e resolveu procurar ajuda”.
Utilizando o questionamento reflexivo foi possível constatar que sua
postura e comportamentos de rigidez poderiam contribuir para o afastamento
das pessoas. Tal postura se dá por Anne não querer se expor, não querer “ter
que ser 100% assertiva” (sic) e apresentar um padrão comportamental de
baixa autoconfiança. A cliente se esquiva de situações de exposição a críticas
e julgamentos, como faltar aula para não apresentar trabalho. Aos poucos, no
decorrer do processo terapêutico, esse comportamento foi extinto em decor-
rência de reforços sociais positivos de colegas da faculdade e amigos, quando
se expunha a contingências aversivas, como os seminários do curso.
Desde o início do processo, a terapeuta hipotetizou que Anne precisaria
aprender a manejar sua ansiedade e se conhecer melhor para entrar em contato
com o assunto referente à morte do pai. Outra questão levantada foi que, a difi-
culdade da cliente em se relacionar com rapazes poderia advir de dois fatores:
1) comportamentos aprendidos na relação familiar, que pode ser emba-
sado nas pesquisas de Parkes (2009) nas quais constatou que pessoas com
dificuldades de expressão de sentimentos tenderiam a ter problemas nos rela-
cionamentos com parceiros;
2) na fuga e esquiva do assunto morte do pai, o que contribuiu para mais
uma hipótese, a de que o luto pela perda do pai ainda não havia sido elaborado.
Parkes (2009) pontua que fugir ou se esquivar dos pensamentos em relação à
pessoa que morreu, bem como pessoas ou situações que remetem ao falecido
é uma tentativa de minimizar a dor do luto.
Ao constatar que sua ansiedade poderia ser manejada e que os eventos,
inicialmente ansiogênicos, já não eram mais contingências aversivas, a tera-
peuta utilizou-se do Questionário de História Vital (Lázarus, 1975/1980). Um
instrumento autoaplicável com o objetivo de pesquisar a história de vida da
cliente. A atividade foi executada por Anne em sua casa. Por meio da leitura
das respostas da cliente, iniciou-se um diálogo sobre a família de Anne.
Questionada sobre como era seu pai, Anne relatou: “Era bom. Ele cui-
dava de mim. Sempre fui motivo de orgulho pra ele. Raramente ele fazia
carinho. Não tinha toque, mas ele demonstrava muito amor. Eu me sentia
amada e protegida” (Sic). Enquanto falava começou a chorar e, imediata-
mente, tentou interromper dizendo; “Que raiva de estar chorando, não gosto
de chorar. Não gosto de demonstrar sentimento”.
Nesse instante, a terapeuta interveio questionando o porquê de não gostar
de demonstrar seus sentimentos. Anne relatou que as pessoas iriam enxergá-la
como “coitadinha, frágil, incapaz” e completou: “Não gosto que as pessoas
sintam pena de mim”. Em outro momento, pontuou que, sem o pai, precisava
ser mais forte e independente. Em suas pesquisas, Parkes (2009) constatou
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 151
[...] Não te esqueci, apenas resolvi deixar guardado num canto aqui
dentro desse meu interior que nunca soube bem mostrar para o mundo tudo
o que sente [...] lembrar ainda não é muito suportável para mim, dá um
aperto tão grande no peito, um nó na garganta, daí eu começo a chorar...
Não é uma sensação boa, por isso prefiro não lembrar e quando falam de
você procuro logo mudar de assunto [...] durante muitos meses, todas as
noites nos meus sonhos, todo aquele desespero continuou a me atormentar,
te ver inquieto, sofrendo (mesmo que por poucos instantes), ficando pálido,
suando excessivamente, dando seus últimos suspiros, olhando para mim de
forma tão intensa e comovente, deixando de respirar e o corpo ficando frio
até o coração parar de bater... TE VER MORRENDO doeu tanto em mim [...]
os piores instantes da minha existência. ‘Te perder foi a dor mais doída que
eu senti na vida...’[...] você não vai me ver realizando os nossos objetivos,
não vai me levar como noiva ao altar (se acontecer), não vai poder se fazer
presente na vida dos meus filhos como fez na minha [...].
Ao expressar suas emoções, reconhecer e compartilhar a perda e os rela-
tos sobre o luto, o cliente percorre e se adapta ao processo de elaboração para
lidar com a perda vivenciada (Abreu & Abreu, 2015; Bostiocco & Thompson,
2005 como citado em Arruda-Colli, Perina, Mendonça & Santos, 2015; Silva
et al., 2011; Bittencourt et al., 2011; Basso & Marin, 2010).
A técnica da colagem é um recurso com efeito terapêutico de grande rele-
vância uma vez que permite a reflexão e interpretação dos eventos ocorridos
no decurso da vida do cliente (Machado, 2020). A colagem e confecção do
cartaz foi uma das condições criadas pela terapeuta para que Anne entrasse em
contato com as contingências da perda, de forma mais lúdica, mesmo sendo, a
princípio, um evento estressor. Os questionamentos evocadores que a terapeuta
emitiu foram; “O que é a morte?” e “O que a morte representa?”.
Anne confeccionou o cartaz com recortes que fez de revistas. Ao finalizar
a colagem e narrativa criada no cartaz, respondeu o questionamento proposto:
“A morte é uma catástrofe”. Durante suas explicações sobre a atividade,
algumas verbalizações foram destacadas: “[a morte] Desorganiza a vida da
gente por um tempo, depois você acorda, levanta a cabeça e segue em frente.
Vai ficar remoendo pro resto da vida??”; “Quando eu estava desorganizada
chorava escondido, na frente dos outros demonstrava ser forte”; “Sentia
aflição, solidão, saudade, momento de tristeza”. Anne constatou que, mesmo
não aceitando, perceber o momento que se encontrava, ainda em sofrimento,
foi muito bom. Em seguida disse: “Eu preferia não ter feito o cartaz. Faz
sentido, mas eu não quero aceitar”.
Apesar de Anne ter relatado que “preferia não ter feito o cartaz”, per-
cebeu-se o quanto a atividade foi enriquecedora para o processo terapêutico.
Durante os relatos da cliente ficou evidente o quanto ela negava a morte e
todos os sentimentos relacionados ao fato. O que estava encoberto se tornou
154
público para a própria Anne, sendo estímulos para que ela e a terapeuta pros-
seguissem com o processo.
Como atividade para casa propôs-se que a cliente refletisse sobre o “não
aceitar” e “não querer expor seus sentimentos”, porém, se esquivou de entrar
em contato com essas contingências, que são tão aversivas a ela. Tentando se
justificar, contrapôs que viu uma postagem nas redes sociais que falava sobre
verdades que curam, que havia feito sentido a ela em função da atividade de
colagem e que quis trazer para a terapia. Depois de alguns instantes, Anne,
mesmo com essa constatação, se abraçou e disse: “Estou me protegendo. Estou
fechada, não quero, não gosto de falar sobre esse assunto”. Em conformidade
com a proposta de Skinner (1953/2000), o comportamento humano diante da
morte é multideterminado e é selecionado pelas suas consequências, assim
como qualquer outro comportamento operante.
A terapeuta auxiliou que fizesse uma reflexão sobre a evolução estabele-
cida em seu processo, uma vez que no início da terapia, a cliente não permitia
sequer tocar no assunto, nem falava do seu pai. E nessa sessão foi a própria
Anne quem quis trazer algo para a terapeuta sobre o tema luto, se permitindo
expor aos seus sentimentos e sofrimentos.
O livro “Conversando sobre o luto”, de Soares & Mautoni (2013) foi
fonte de recurso para trabalhar sobre o choro e a expressão de sentimentos, já
que Anne não se permitia fazê-los. A terapeuta fez a leitura de um trecho do
capítulo 02, intitulado “Não chorar faz um mal danado”. E posteriormente,
foi feita a reflexão e Anne fez algumas pontuações: “Até me identifiquei”;
“Acho que é demonstração de fraqueza, não sei se quero chorar”; “Não
quero demonstrar sentimentos”. Sobre não demonstrar sentimentos, Anne
elencou algumas situações. No seu processo de luto: “Se não fala, não dói”;
em relação à mãe: “Se eu não falar, não brigar, ela para de pegar no meu
pé”; e em situações de relacionamento com garotos: “Tenho medo de não dar
certo, se não demonstro o que sinto e me afasto deles, vou sofrer menos”.
Como recurso interventivo utilizou-se o questionamento reflexivo, que auxi-
liou a cliente a discriminar o quanto a fuga e a esquiva de determinadas
contingências estavam privando-a de entrar em contato com reforçadores e
empobrecendo a sua vivência.
De acordo com Oliveira (2014), é comum pessoas enlutadas se esquiva-
rem de sentimentos, uma vez que as contingências aversivas são frequentes e
impedem o contato com os sentimentos de grande dor. Uma maneira alterna-
tiva de expressão, quando o cliente apresenta dificuldades para se manifestar
verbalmente, é o desenho. Conforme relatado por vários autores (Klepsch &
Logie, 1984; Di Leo, 1985; Fávero & Salim, 1995; Weschsler & Schelini,
2002; Weschsler, 2003; Greig, 2004 citados por Menezes, Moré & Cruz, 2008)
o desenho é uma das mais primitivas formas de comunicação humana e que
permite a representação gráfica de pensamentos e sentimentos
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 155
28 CRBs 2 – progressos do cliente que acontecem na sessão. (Para maiores informações acessar Kohlenberg
& Tsai, 2006).
156
É hora de avaliar e
Estabelecer novos planos, novas metas.
Inicialmente metas simples
Para não desistir, pois o importante
Agora é seguir.
Seguir a vida, apesar da ausência,
Com sabedoria e paciência.
REFERÊNCIAS
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laghan, G. M. (2008). A guide to functional analytic psychotherapy. Awareness,
courage, love, and behaviorism. Springer.
Introdução
29 Skinner compreendeu o comportamento humano como um resultado complexo da relação entre os três
níveis de seleção por consequência. São eles, a herança genética (nível filogenético), o desenvolvimento
comportamental (nível ontogenético) e a aprendizagem social (nível cultural). O mesmo concebeu, então,
que o comportamento humano foi e é multi influenciado por estes três determinantes da origem e evolução
da espécie humana (Skinner, 1981).
170
Casos clínicos
Tabela 1
ANTECEDENTE RESPOSTA CONSEQUÊNCIA
Estímulo Pré-Aversivo Respostas com funções Apresentação da condição aversiva.
de remoção de aversivo ou
de prevenção de retirada
de reforçadores
30 Alguns estímulos funcionam como avisos e precedem os estímulos aversivos, tornando-se estímulos aversivos
condicionados ou pré-aversivos. Nestes casos, pode ocorrer redução do responder mantido por reforçamento
positivo, porém aumentar o responder da esquiva discriminada. (Catania, 1999).
31 Considerando que as respostas de fuga e esquiva produziam a retirada de aversivos no passado.
178
Tabela 2
ANTECEDENTE RESPOSTAS (FASES DO LUTO) FUNÇÃO DAS CONSEQUÊNCIA
RESPOSTAS
S Pré-Av 1 – Negação - Comportamento (Efeito: Ext.)
Equipe médica diz Ex de C.: Questionar a competência dos médi- Operante de fuga e Equipe médica con-
que Carolina precisa cos que fizeram os exames anteriores admissio- de esquiva tinua dizendo que
fazer parto prema- nais; pedir que exames fossem repetidos antes - Comportamento Carolina precisa fazer
turo e que Daniel da decisão da cesárea. Respondente parto prematuro e que
não sobreviverá 2 – Raiva i) Manifestação Daniel não sobreviverá
Ex de C.: Falar de forma ríspida com equipe de emocional
saúde; dizer que não gosta de ser consolada ii) Agressão reflexa
pelas pessoas (familiares e equipe). (Azrin32)
3 – Barganha
Ex de C.: Fazer orações/preces sozinha e com
o marido; questionar sobre o que poderia ter
feito ou poderia fazer para desfecho favorável.
4 – Depressão
Ex de C.: Chorar e ficar triste com más notícias;
pedir que outros familiares não comparecessem
ao hospital (isolamento).
5 – Aceitação - Comportamento
Ex de C.: Aceitar opinião médica final sobre Operante de aquies-
necessidade da cesárea; colaborar com pro- cência ao aversivo
cedimentos da equipe de saúde nos últimos
dias antes da cesárea.
32 Estudos prévios, realizados com ratos e macacos (Ulrich e Azrin, 1962; Azrin, Hutchinson e Hake, 1967),
encontraram que a estimulação aversiva pode ter como efeito secundário a eliciação de comportamentos
de ataque a outro organismo/animal.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 179
e atenta que importava ser para Samuel e foi possível ser em vida até seu fim.
Joana compartilhou lembranças, histórias de Samuel, homenageou o filho e
agradeceu a equipe de saúde pelo cuidado prestado.
O acompanhamento psicológico à Joana encerrou-se no hospital após
o óbito de Samuel.
Considerações Finais
É comum ouvir que as perdas parentais são as mais difíceis. Sabe-se que
amor, dor e luto são sentimentos e relações que não devem ser mensuradas
nem, tampouco, comparadas. Mas é fato que perder um filho é algo marcante
e que impacta com intensidade as relações perdidas e seu entorno. A forma
como é vivenciado este luto pode atuar como contexto para a prevenção da
evolução de um luto complicado.
Na análise dos casos, percebe-se como o ambiente pode favorecer ou
agravar o processo de vivência do luto, tanto em hospitais quanto no âmbito
clínico. A preparação dos profissionais de saúde em lidar com nuances das per-
das e do luto resulta em ações de cuidado adequadas. Essas ações podem favo-
recer contextos de aceitação, pois fornecem cuidados e fatores protetivos ao
luto diante da aversividade da perda, estimulando respostas de enfrentamento
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 187
REFERÊNCIAS
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logical Association.
Família
Irmãos
a atenção dos pais com o irmão hospitalizado, depressão e até mesmo res-
sentimentos em relação à criança doente, como no exemplo do menino que,
ao visitar o irmão durante uma internação, comentou: “meu irmão é o rei da
casa. Tudo é pra ele, sabe? Parece até que a mamãe só gosta dele. Ele pode
fazer tudo o que quer e, pra mim, a resposta é sempre ‘não’”. Dessa forma,
faz-se necessária a implementação de espaços de suporte aos irmãos, bem
como sugere-se o potencial benefício do seu envolvimento no cuidado com
o paciente (Craig & Bayliss, 2015).
Corroborando essa perspectiva, Kübler-Ross (1991/2003) refere que os
irmãos são um aspecto relevante e delicado quando se trabalha com crianças que
estão morrendo. A autora enfatiza a importância de que estes possam participar
ativamente dos cuidados da criança, uma vez que isso pode contribuir para
que não se sintam rejeitados ou negligenciados, como se sentem grande parte
dos irmãos ou irmãs de crianças gravemente doentes. Todavia, a despeito de
tudo que se sabe sobre as necessidades dos irmãos de pacientes pediátricos, os
pais que participaram da pesquisa de Contro et al. (2002) afirmaram que seus
outros filhos não receberam o apoio e a assistência de que precisavam. Toda
gentileza e atenção dispensadas pela equipe aos irmãos eram valorizadas pelos
familiares. Os pais acreditam que as crianças devem ser incluídas nas discussões
e que deve haver um serviço voltado para o atendimento de suas necessidades.
Complementando, ainda em relação à participação de irmãos no pro-
cesso de adoecimento e morte de familiares, Quinteiro (2010) destaca que um
analista do comportamento (ou qualquer profissional que tenha contato com
a criança irmã de um paciente oncológico) deve coletar informações sobre
história passada e atual da criança, como a criança e os adultos vêm lidando
com o adoecimento e a possibilidade de morte, assim como possíveis quei-
xas/comportamentos-problema ou comportamentos-alvos que a criança vem
apresentando. Observação direta dos comportamentos; registros de comporta-
mentos e contextos, pela criança e pela família; falar abertamente sobre morte
e modelação de comportamentos, a partir da utilização de recursos lúdicos,
são formas de favorecer o processo de comunicação equipe-família-criança.
Equipe
para aqueles que cuidam de crianças que estão morrendo e disseram também
que gostariam de receber mais suporte emocional, psicológico e social. Esses
profissionais apontaram que suas maiores dificuldades ao cuidar de crianças
em Cuidados Paliativos é lidar com o próprio sofrimento e a falta de suporte
para tal. Afirmaram ainda que sentem falta de um espaço para reflexão e
discussão a respeito das perdas. Assim, os autores concluem que a falta de
treinamento e competência no manejo de sintomas e em habilidades de comu-
nicação pode exacerbar o estresse dos membros da equipe e afetar a qualidade
do tratamento. Ademais, destacam a necessidade de suporte psicossocial não
só para pacientes e familiares, mas também para a equipe, uma vez que, para
os profissionais de saúde, também é difícil lidar com a morte.
Em adição, a despeito de reconhecer-se a enorme importância de que os
profissionais responsáveis pelos Cuidados Paliativos trabalhem em equipes
multidisciplinares, há a necessidade de mais interação entre membros de
diferentes áreas, tendo em vista a grande complexidade inerente ao tema e
o aspecto estressante do cuidar quando já não há chances realísticas de cura
(Solomon et al., 2005). Dessa maneira, ainda que tenha havido avanços na
compreensão do impacto da morte e da perda, muito pouco tem sido feito
para aplicar esse conhecimento na preparação de profissionais cuidadores
no que concerne aos desafios dos Cuidados Paliativos em pediatria (Contro
et al., 2004; Vasconcelos et al., 2019). O INCA (2002) ressalta a importância
de que os profissionais de saúde se tornem cientes de sua limitação, deixando
de pensar na finitude como um fracasso, uma vez que o alívio da dor e do
sofrimento também são metas da Medicina e das demais áreas da saúde.
Destaca-se ainda que as impressões dos pais sobre os cuidados recebidos
podem durar anos após o tratamento, favorecendo ou dificultando o trabalho
do luto. Neste contexto, Santos et al. (2019) realizaram uma análise retros-
pectiva da experiência de pais que perderam um filho por câncer no ambiente
hospitalar. O objetivo foi compreender como famílias vivenciavam o final da
vida de um filho no hospital por meio da análise dos significados atribuídos
por pais enlutados aos relacionamentos com profissionais de saúde ao longo
do período de hospitalização da criança. Embora o foco do estudo tenha sido
a relação entre pais e profissionais nos últimos dias de vida de uma criança, os
resultados mostraram que esses momentos finais foram afetados pelas relações
desenvolvidas ao longo de todo o tratamento. Os significados construídos na
relação com os profissionais incluíram categorias como: memórias do filho
(subdividida em perpetuando a memória do filho, sentimentos positivos e
deixando um legado); emoções negativas (remete às lembranças do tratamento
e dos profissionais, envolvendo dúvidas a respeito das condutas realizadas
com o filho ou do cuidado à família) e arrependimento (questões pendentes
e mal resolvidas acerca do tratamento ou do cuidado, como uma avaliação
198
ainda que nunca tivesse tido qualquer condição de saúde, Anna, a criança
gestada para salvar Kate, desde bebê, foi submetida a diversos exames e pro-
cedimentos invasivos, às vezes dolorosos, que afetavam sua qualidade de vida.
Assim, as escolhas dos pais ficaram sob controle da regra de que seu papel,
como bons pais, era prolongar a vida da filha Kate a todo custo. Kate, apesar
de se ver também exausta pela exposição a inúmeros diferentes tratamentos
sem sucesso, tinha receio de confrontar os pais e magoá-los.
No contexto de saúde, uma regra comumente observada é a de que a vida
deve ser preservada a todo custo, o que contribui para uma maior resistên-
cia à proposta dos Cuidados Paliativos, que são erroneamente classificados
como uma forma de restrição dos cuidados adequados ao paciente, de forma
a abreviar sua vida. A partir dessa regra, para a família, aceitar os Cuidados
Paliativos significaria desistir do paciente, o que poderia se relacionar a sen-
timento de culpa e dúvida sobre a possibilidade de obter um resultado dife-
rente caso os tratamentos com objetivos curativos fossem mantidos. Dessa
maneira, uma investigação sobre sentimentos e percepções dos familiares
quanto ao prognóstico e o significado de Cuidados Paliativos pode favorecer
a compreensão mais acurada de reações durante o processo de luto levando,
portanto, a um atendimento mais efetivo e adequado às necessidades reais de
cada caso (Steinhauser et al., 2001; Wolfe et al., 2002).
Em conclusão, a discussão apresentada nesta seção não se propõe a
esgotar o tema, porém pode ser útil como modelo de análise. Recomenda-se,
assim, que, diante de um paciente sem prognóstico de cura no contexto da
Oncologia Pediátrica ou de familiares/profissionais de saúde enlutados pela
morte de uma criança, o profissional analista do comportamento responsá-
vel pelo manejo do cuidado aborde as queixas descritas a partir do modelo
de causalidade interacionista, externalista e selecionista, em acordo com
a perspectiva do Behaviorismo Radical, levando em consideração os três
níveis de variação e seleção: filogenético, ontogenético e cultural. Por meio
das análises funcionais, serão identificadas as funções de comportamentos
relevantes, levantadas hipóteses, estabelecidos objetivos e planejadas inter-
venções coerentes (Delitti, 2001).
35 Conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos
que ele quer, ou não, receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente,
sua vontade, em condições de doenças ameaçadoras à vida (Conselho Federal de Medicina [CFM], 2012).
36 Situação em que mensagens ambivalentes são transmitidas entre equipe, família e pacientes com evitação
da abordagem de temas como terminalidade e morte. Em geral, como justificativa para a esquiva, aponta-se
a tentativa de proteção dos entes queridos de reações consideradas negativas, como depressão (Silva &
Araújo, 2012).
208
Considerações finais
37 Tanatologia é uma área de conhecimento transdisciplinar cujo objeto de estudo é a morte, o luto e as perdas
envolvidas. Leva em consideração diferentes dimensões: histórica, social, cultural, biológica, entre outras
(Fischer et al., 2007).
210
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Imagine que você foi vendado, recebeu uma sacola de ferramentas e foi
mandado a viver sua vida em um campo de árvores, grama, riachos e
prados. Ah, também existem alguns buracos profundos aqui e ali. Alguns
dos buracos são pequenos e outros bastante grandes. Um dia, você atra-
vessa um riacho e vira à direita depois de uma árvore de casca bem áspera
quando, de repente, bum! Você cai em um buraco, está escuro, mas mesmo
se não estivesse, lembre-se, você está vendado e não pode realmente ver o
que está acontecendo. Você senta um pouco e pensa sobre a situação e até
mesmo fica bravo com toda a situação. Depois de um tempo, você decide
que precisa sair desse buraco. Bem, a primeira coisa a fazer é enfiar a
mão na sacola de ferramentas e descobrir que só há uma ferramenta: uma
pá. Você sabe que a pá é boa para cavar, e aqui está a vida lhe entregando
uma pá, então você começa a cavar. Você é um trabalhador esforçado e
cava muito rápido e sem parar. Você tenta cavar para a direita, mas não
encontra a saída. Você tenta cavar para a esquerda. Você tenta cavar sob
seus pés. Todo esse esforço é em vão. Aí, exausto você decide pensar o
seguinte: “o problema é que eu atravessei o riacho. Eu não deveria ter
atravessado o riacho. E, aí eu virei logo depois da árvore tosca. Eu não
deveria virar à direita. Isso foi uma idiotice!” Depois de muito pensar sobre
isso, você percebe que ainda está no buraco. Você então começa a pensar
em como conseguiu sair do buraco (embora muito menor) da última vez
usando sua pá e começa a ficar com raiva de como a pá não parece estar
funcionando desta vez. Talvez alguém tenha feito algo com sua pá. Depois
de todo esses pensamentos, você para e decide palpar o caminho ao redor,
e a princípio há espaço suficiente ao seu redor e você até pensa que está
fora do buraco. Mas então você percebe que simplesmente ficou maior,
com todos os tipos de cavernas e túneis laterais que são até interessantes
por enquanto. Interessante ou não, você ainda está no buraco. (Traduzida
e adaptada de Hayes et al., 1999, p. 101).
224
Esta metáfora espelha muito bem o processo de luto vivido pela segunda
autora depois de 3 perdas consecutivas de entes queridos. Durante grande parte
de sua vida conviveu com o medo de perder seus pais, pois estes a tiveram
quando já estavam na faixa dos quarenta anos. Assim, sabia que provavelmente
estaria órfã jovem. Nessa condição de medo e grande sofrimento, passou a
evitar muitas situações durante sua adolescência. Sentia que deveria estar
mais próxima deles e curtir momentos com eles, em detrimento de momentos
com suas amigas. Depois de seu casamento, aos vinte três anos, este medo
ficou menor, mas ainda existia. Aos 29 anos se deparou em uma condição de
luto que jamais esperava, perdeu uma gestação de 7 meses. Sua filha Letícia
(assim iria se chamar) estava totalmente formada e saudável, mas um vírus
que a mãe gestante contraiu acarretou no adoecimento da placenta, que parou
de nutrir Letícia, levando-a à morte fetal. Quando recebeu a notícia da morte
fetal, seu mundo desabou. Entrou em um processo de choque. A princípio, não
podia acreditar que isso estivesse acontecendo. Disse a si mesma que havia
algum engano, que os médicos não estavam fazendo uma avaliação correta e
que durante a cesariana tudo iria se resolver, com o choro da pequena Letícia.
Infelizmente isso não aconteceu. Letícia não chorou. Lembra-se de que a não
aceitação do que havia perdido não a ajudava a passar por este momento tão
devastador. Sentia-se muito ansiosa e muito triste, depois da realização da
cesariana. Durante a vivência e enfrentamento do luto, passou por momen-
tos de intensa raiva: raiva de Deus, do seu obstetra, de si (porque acreditava
que deveria ter feito algo diferente), raiva de mães que abortam seus filhos e
daquelas que colocam seus filhos para adoção. Enfim, a dor era imensa e seu
sofrimento só aumentava quanto mais se envolvia com questionamentos e
pensamentos que, em nada, mudariam a situação, e que tornavam mais difícil a
sua aceitação. Não estava aberta à experiência da morte, o que a deixava mais
inflexível ao processo natural da vida. Alguns dias eram de grande tristeza,
em outros, tentava se consolar dizendo que “Deus sabe o que faz”.
Ainda compartilhando parte da experiência de luto da segunda autora,
dois meses depois, o câncer e o enfisema pulmonar, com o qual seu pai estava
lutando por muito tempo, tomaram conta de sua saúde e ele entrou em estágio
terminal. Como a situação exigia, ela precisou se converter na cuidadora de
seu pai, já que a sua mãe, ao ver seu companheiro de 53 anos de casados nesta
condição, ficou debilitada e sem condições de cuidar dele e de si. Quatro meses
depois da perda da Letícia, seu pai faleceu. Sentiu seu mundo desabar outra
vez. Não sabia dizer nem como se sentia. Então, para lidar com a dor, mer-
gulhou no processo de esquiva experiencial, se envolvendo de forma intensa
com toda a parte burocrática após a morte de uma pessoa, se ocupava com as
necessidades de sua mãe e com a vida cotidiana de uma forma frenética para
não ter contato com a dor. Às vezes, até parecia resolver.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 225
Quatro meses depois da morte do seu pai teve a certeza de que a vida é
imprevisível: sua mãe faleceu. Com o falecimento dela, se sentiu totalmente
no fundo do buraco, como descreve a metáfora acima. Tentou cavar para todos
os lados, mas a sua ferramenta – a esquiva experiencial – não a ajudava. Sentia
que cada vez mais o buraco era maior. Aceitação foi um processo importante
para que pudesse retornar a viver a vida de uma forma alegre, satisfatória e
engajada em seus valores. Aos poucos foi entendendo que o luto não se resume
a um sentimento e sim muito mais a um processo que, mesmo depois de 20
anos, tem lhe ensinado como viver a vida de uma forma mais significativa,
ainda que com a dor da ausência de pessoas amadas.
A ACT descreve aceitação como estar atento e responsivo aos seus senti-
mentos, suas emoções, suas memórias e sua história por meio de uma postura
amorosa, sem julgar, simplesmente observar atentamente a própria experiên-
cia. Aceitar proporciona espaço para poder respirar e ver a vida em perspectiva
(Hayes & Smith, 2005). A seguir, será abordado como a ACT explica de que
forma alguns processos comportamentais ocorrem, especialmente em situações
dolorosas e de perdas e, finalmente, serão propostas algumas intervenções
da ACT para lidar com o luto, a partir do desenvolvimento de processos de
maior flexibilidade psicológica.
mais nada! Sinto-me muito triste e sem vontade. Sou tão fraca... Fico pensando
o que meu marido estaria pensando de mim se me visse lidar com tudo desta
maneira... Então, estou aqui porque quero que você me ajude a não sentir mais
tudo o que estou sentindo para que eu possa dar conta de seguir em frente”.
Estas supostas justificativas para o próprio comportamento podem ter
implicações importantes e evidenciam o problema com este sistema verbal,
segundo Polk et al. (2016), levando a conclusões como:
• “Remova seus sentimentos e pensamentos indesejáveis”, já que eles
são a “causa” do comportamento.
• “Controle seus sentimentos e pensamentos e assim terá uma vida à
frente a ser vivida”.
• Passamos a nos avaliar e sermos avaliados em função do que sentimos.
• A expressão de sentimentos é punida.
• Passamos a acreditar que devemos suprimir nossos pensamentos e
sentimentos. Como isto não é possível, para não lembrar de algo,
você evita uma série de circunstâncias. Para não sentir a dor da perda,
você pode se envolver em comportamentos de fuga como, beber,
usar drogas, fumar, comer ou qualquer outro que tenha a função de
te distrair ou de anestesiar a dor emocional. O paradoxo é que você
foge dos sentimentos para se sentir seguro, e isso funciona algumas
vezes a curto prazo, mas acaba construindo novos problemas, a longo
prazo. Você quer ser feliz, mas seus comportamentos não produzem
consequências que levam a este sentimento.
Conclusões como estas podem obscurecer os processos comportamentais
envolvidos (Polk et al., 2016) que realmente deveriam ser o foco da análise
no processo de luto. Ao auxiliar o cliente a identificar tais processos, a ACT
procura quebrar o sistema verbal rígido aprendido na história de aprendizagem,
partindo de estratégias como metáforas, paradoxos terapêuticos e vivências nas
sessões (Hayes & Hayes, 1992; Stoddard & Afari, 2014; Blackledge, 2015).
ele, você percebe que ele mia sem parar e então percebe que deve estar
com fome. Você dá a ele um pouco de carne, já que você imagina que é
isso que os tigres deveriam comer. Você faz o mesmo todos os dias e, dia
após dia, seu animal de estimação tigre cresce um pouco mais. Depois de
dois anos, a comida diária do seu tigre vai de pedaços de hambúrguer a
bifes inteiros. Em pouco tempo, seu tigre não mia mais quando está com
fome, em vez disso, ele ruge ferozmente para você quando pensa que é
hora de comer. Seu adorável animal de estimação se transformou em uma
fera incontrolável, pronta para destruí-lo se não conseguir o que deseja.
Sua luta com seus pensamentos e emoções dolorosos pode ser comparada
a este tigre imaginário. Cada vez que você fortalece sua dor alimentando-a
com a carne da esquiva experiencial (isto é, tudo o que você faz para evitar
pensamentos e emoções dolorosas), você ajuda seu tigre da dor a crescer
e se fortalecer. Alimentá-lo dessa forma parece a coisa certa a se fazer. O
tigre da dor ruge ferozmente dizendo para você alimentá-lo com o que ele
quiser ou ele o comerá. No entanto, cada vez que você o alimenta, você
ajuda a dor a se tornar mais forte, mais intimidante e com mais controle
sobre sua vida. (Traduzida e adaptada de Hayes et al., 1999, p. 148).
que eles se afastassem dela), medo de nunca mais voltar ao “normal”. Nesta
intervenção, ela conseguiu pela primeira vez na sessão, passar mais tempo em
contato com seus sentimentos de medo. Começava a experienciar a aceitação
(abraçar o sofrimento limpo).
Importante notar que a esquiva experiencial não é boa nem ruim por si
mesma. É ruim quando nos paralisa e nos impede de viver a vida que quere-
mos (Harris, 2011). Era o que estava acontecendo na vida desta cliente. Ela
estava se afastando de coisas e pessoas que lhe eram importantes porque não
queria ser avaliada como fraca, não queria chorar na frente delas e mostrar
seu momento de vulnerabilidade.
Outra metáfora que pode ser utilizada quando o processo de luto dá
espaço à depressão é a da ponte, conforme abaixo:
Imagine que você está caminhando numa ponte super alta, mas também
super forte. Ela é feita de aço reforçado, é super larga e tem vários apoios
para você equilibrar. Como a ponte é segura, você caminha tranquilo e
curte a vista. Nos raros momentos em que a ponte treme, você firma os
pés e se equilibra rapidinho. Só que um belo dia, depois de um tremor
estranho, a ponte muda. Ela começa a ficar estreita, você vê cada vez mais
madeira em vez de aço e os apoios somem. Em vez de olhar a vista, agora
você tem que rastejar. Você sente muito medo quando se depara com um
buraco na ponte que te faz olhar para a queda mortal lá embaixo. Às vezes,
você pensa em desistir e simplesmente cair. Talvez fosse mais fácil. Talvez,
doesse menos do que passar o dia rastejando, desesperado. Rastejar dói
os seus joelhos, as suas mãos e te impede de ver em volta. Tudo parece
difícil e você lembra de como era bom andar naquela ponte larga e segura
lá do início. Entrar em depressão é como ver a ponte mudando. Viver com
depressão é como rastejar nela depois que ela se desfaz. E o único jeito
de superar é fazer a ponte ser segura de novo... é fazer a sua vida voltar
a ter estrutura, espaço e equilíbrio (Traduzida e adaptada de Stoddard &
Afari, 2014, p. 54).
Esta metáfora foi bastante útil para trabalhar com um cliente, Pedro
(nome fictício), 27 anos, que enfrentava um processo de depressão após per-
der seu namorado. Este suicidou-se com overdose provocada pela ingestão
de medicamentos. O cliente relatou que se conheciam há 2 anos, estavam
quase morando juntos. Percebia uma certa melancolia do namorado, desde o
princípio do namoro, mas que, segundo ele, piorou muito desde o advento da
pandemia pela COVID-19. Ele era um médico formado há pouco tempo que
trabalhava na linha de frente de pacientes graves contaminados pelo Coro-
navírus. Relatava cansaço, exaustão emocional e dificuldade em lidar com
situações graves no sistema público de saúde, como ter que escolher quem
232
Pegue uma de suas mãos e coloque-a nesta parte do seu corpo (coração).
Imagine que isso é uma mão curadora ... a mão de um amigo amoroso ou
de seu pai ou de uma enfermeira ... e sinta o calor fluindo da sua mão para
o seu corpo, não para se livrar da sensação, mas para fazer sala para esta ...
Seja gentil e se solte em torno dela. (Pausa de 10 segundos.)
Segure-a suavemente, como se fosse um bebê chorando ou um cachorrinho
assustado. (Pausa de 10 segundos.)
E deixando sua mão cair, mais uma vez, respire no sentimento e expanda-
-se ao redor dele. (Pausa 10 segundos.). (Traduzido e adaptado de Stoddard
& Afari, 2014, p. 87).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 233
Pedro chorou bastante nesta vivência. Relatou ter sentido acariciar o “bebê”
(sua culpa) com toda delicadeza e gentileza e que havia dito a ele várias vezes que
a culpa não era dele, que ele não tinha condições de avaliar o risco de suicídio, já
que seu companheiro não dividia isto com ele. Conseguiu ser mais compassivo
consigo e também entrou em contato com a tristeza que isso tudo lhe causara.
A terapeuta lhe disse para pensar ali, naquele momento, que ela era como
uma salva-vidas numa praia, mas que seu trabalho não era resgatá-lo, mas
ensiná-lo a resgatar a si mesmo. Afirmou que na vida podemos ser sugados
por uma correnteza a qualquer momento. E que ele estava sendo sugado pela
depressão, pela dor da perda, pela experiência de sua ponte desmoronando. Se
ofereceu para nadar ao seu lado. Reafirmou que, ao permitir isso, sua mente
lhe mostraria todos os tipos de cenários de medo: “Isso é o que as mentes
fazem. A minha também. Não estou pedindo que você não tenha medo ou
depressão. Peço que você nade enquanto experimenta esses pensamentos e
sentimentos. Eventualmente, você vai conseguir acalmar as águas e poder
continuar aproveitando o seu dia de praia.” (Metáfora traduzida e adaptada
de Stoddard & Afari, 2014, p. 165). O cliente se dispôs a pensar nisto e tentar
pensar em meios de resgatar a si mesmo.
Trabalhando a clarificação de valores. Aceitação e vida valorosa andam
juntas. Para vivermos de acordo com o que é importante para nós, teremos que
aceitar as emoções, sentimentos, os pensamentos, as lembranças, “as pedras”
que surgirão no trajeto (Harris, 2011; Luoma et al., 2018). Na ACT, valores
são o porquê da terapia, são a razão de todo o trabalho duro da terapia e tem
a ver com a promoção de qualidade de vida.
Valores são construídos verbalmente, desejados, globais e representam
direções de vida escolhidas (Luoma et al., 2007). Desse modo, valores são a
bússola da vida nos orientando para nosso verdadeiro norte, para o que real-
mente nos importa. Valores são diferentes de metas, pois não os alcançamos,
mas orientamos as nossas escolhas e ações com base neles, como uma linha no
horizonte para onde olhamos quando nos dirigimos em direção a algum lugar.
Na vivência do luto, a habilidade de ter clareza e seguir uma direção pode
estar obscurecida por outros processos de inflexibilidade psicológica, como
a fusão cognitiva (quando a pessoa toma seus pensamentos como se fossem
fatos, Luoma et al., 2007) e a esquiva experiencial, ou ainda pela intensidade
da dor que, muitas vezes, pode levar à sensação de estar temporariamente
desconectado daquilo que realmente importa na vida. Daí a importância da
clarificação dos valores, do trabalho terapêutico de auxiliar o indivíduo a
andar em direção ao que lhe é importante.
Clarificar valores é essencial no processo terapêutico uma vez que ao defi-
nir o que verdadeiramente é importante na vida, pode facilitar a identificação e
234
Ao usar esta ferramenta com o cliente, Polk et al. (2016) sugerem que
se apresente uma folha em branco e se risque as duas linhas: uma vertical e
outra horizontal. Na parte superior da linha vertical, escreve-se “comporta-
mentos observáveis”; já na parte inferior, “comportamentos privados”. Do
lado esquerdo da linha vertical, a palavra “afastando”; e no lado direito,
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 237
Suponha que você está começando uma jornada para uma bela monta-
nha que você pode ver claramente à distância. Assim que você começar
a caminhada, percebe que você acaba encontrando um pântano que se
estende até onde você pode ver em todas as direções. Você diz para si
mesmo: “Puxa, eu não sabia que eu ia ter que passar por um pântano. Está
tudo fedido, e a lama está toda mole nos meus sapatos. É difícil levantar
meus pés da lama e colocá-los para a frente. Estou molhado e cansado.
Por que ninguém me contou sobre esse pântano? Quando isso acontece,
você tem uma escolha: abandonar a viagem ou entrar no pântano. Terapia
é assim. A vida é assim. Vamos para o pântano, não porque queremos ficar
enlameados, mas porque ele fica entre nós e para onde estamos indo.”
Quanto mais a vida do cliente era ocupada com ações com as quais
estava comprometido, mantendo-se alinhado aos seus valores, mais o cliente
movia-se em direção a incorporar em sua existência as qualidades do seu
pai querido. Seguir navegando é preciso, desbravar muitos mares e expandir
nosso repertório, dentre os lutos e as perdas, adaptando-se às mudanças, pois
seguir vivendo uma vida com sentido também é preciso.
Conclusão
A maioria de nós não está preparada para lidar com perdas significativas
em nossas vidas. Quando isso acontece, passamos um tempo de intensa difi-
culdade e incerteza. Contrariamente à crença popular, luto não é tristeza, nem
uma emoção específica. Luto é um processo psicológico de reação a perdas
que vivenciamos. Durante um processo de luto, podemos sentir uma variedade
de emoções como tristeza, raiva, ansiedade, culpa, além de reações físicas
como perturbações no sono, fadiga, letargia, apatia e mudanças no apetite.
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Nos últimos 20 anos, com uma infinidade de adjetivos usados para des-
crever variações do luto “normal” pode-se encontrar na literatura termos como:
ausente, anormal, complicado, distorcido, mórbido, desadaptativo, atípico,
intensificado e prolongado, não resolvido, neurótico, disfuncional, crônico,
atrasado e inibido (Lobb et al., 2012).
O luto por suicídio possui especificidades e diferenças importantes ao
se comparar com processos de luto por outras causas. Além disso, há a pre-
sença de ideação suicida como fator de risco e complicador, o que exige uma
cautelosa atenção clínica (Molina et al., 2019). Como supracitado, a adapta-
ção à perda de um ente querido devido ao suicídio pode ser complicada por
sentimentos de culpa, vergonha, responsabilidade, rejeição e estigmatização.
Portanto, as pessoas enlutadas por suicídio têm maior probabilidade de desen-
volver luto complicado (Linde et al., 2017).
Neste capítulo, optou-se por utilizar o termo “luto complicado”38 ao se
referir a uma tipologia comum vista em pessoas enlutadas por suicídio, com-
preendendo a importância de avaliar fatores ambientais e complicadores de
um processo de luto. Nesse sentido, o luto complicado é definido como uma
condição caracterizada por intenso sofrimento, com duração de tempo supe-
rior ao que seria esperado, de acordo com as normas sociais, sobretudo pelos
prejuízos causados no funcionamento cotidiano do indivíduo (Shear, 2015).
Com exceção de alguns trabalhos mais conhecidos de autoria de pes-
quisadores renomados no tema de luto por suicídio como “Sobreviventes
enlutados por suicídio: cuidados e intervenções” de Fukumitsu (2019) e “E
agora? um livro para crianças em luto por suicídio” de Scavacini (2015),
materiais e referências acabam sendo escassos em nosso país e precisam ser
desenvolvidos devido à especificidade desse tipo de luto, a fim de abordar,
compreender, informar e validar, levando-se em consideração também carac-
terísticas específicas da cultura brasileira.
Para o terapeuta entrar em contato com o assunto, recomendam-se leituras
que o aproximem da experiência como “Vida após suicídio: encontrando cora-
gem, conforto e acolhimento após a perda de uma pessoa querida” (Ashton,
2020), “Sem tempo de dizer adeus: como sobreviver ao suicídio de uma pessoa
querida” (Fine, 2018), “Pequeno dicionário do luto: uma reflexão sobre as
Considerações finais
No contexto atual, o suicídio é um tema que deve ser discutido com urgên-
cia em razão das altas taxas ao redor do mundo e por se tratar de uma questão
de saúde pública (Scavacini, 2011). Considerando que cada morte é diferente,
e que as respostas a ela variam amplamente, mesmo que dentro de uma mesma
família, o processo de luto pode tomar variadas formas (Webb, 2017).
É necessário que enquanto terapeutas, fiquemos sensíveis culturalmente,
ou seja, que compreendamos as especificidades dos contextos onde intera-
gimos e o que espera-se de nós diante do rompimento de vínculos, dentro
da comunidade, da empresa, e do nosso país. É preciso, principalmente, que
estejamos disponíveis a variar nosso repertório. Propostas aqui postuladas
como a Terapia de Aceitação e Compromisso e a Psicoterapia Analítica Fun-
cional ajudam a pessoa do terapeuta a lidar com uma ampla gama de eventos
adversos na relação terapêutica, tais como o não saber o que falar, já que para
muitas perguntas feitas por nossos clientes não teremos respostas, especial-
mente quando se trata de uma questão complexa como o suicídio.
É fundamental o uso de recursos que facilitem a expressão e o compar-
tilhamento da dor. Exemplos de estratégias são: a participação do enlutado
em grupos informativos, de apoio (presenciais e on-line), escrita terapêutica
(de diários, poesias e cartas ao falecido), assim como a prática de atenção
plena – mindfulness (Kreuz & Bredemeier, 2021; Stang, 2018).
É importante que estejamos disponíveis para a escuta, de forma que o/a
cliente tenha a possibilidade, apesar da intensa dor, de vivenciar um luto sem
censura (Freire et al., no prelo). Se o suicídio é multifatorial e complexo, assim
como as respostas para as diversas perguntas sucitadas por ele, a intervenção
deve ser pautada na singularidade e no compartilhamento da dor. O cuidado
ao luto não deve ser solitário, e sim, multidisciplinar.
Terapeutas fazem parte de contextos sociais que emitem julgamentos
de valor quanto ao suicídio e isso requer o dobro da nossa atenção para não
reproduzirmos no consultório o que a sociedade já faz de forma tão invali-
dante. Isso posto, terapeutas devem sempre estar atentos aos próprios compor-
tamentos. É de suma importância, ao atender demanda de luto por suicídio,
que o terapeuta parta do pressuposto de que não sabe e não tem respostas para
os questionamentos do cliente. Sendo assim, é importante tolerar silêncios
e sentimentos incômodos (aversivos) que possam ocorrer no terapeuta. O
principal, portanto, é estar junto do cliente e ser suporte.
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LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 265
Grande parte dos(as) clientes que buscam terapia o faz motivada por
desafios, dificuldades, insatisfações, conflitos ou perdas que envolvem rela-
cionamentos amorosos/conjugais (Babo & Jablonski, 2002; Perel, 2006/2018,
2017; Pergher, 2010). Skinner (1953/2003) compreende o amor como uma
predisposição recíproca de duas pessoas a reforçarem mutuamente compor-
tamentos uma da outra. Nesse caso, o amor, enquanto uma emoção social,
seria definido como uma tendência a agir de uma maneira que provavelmente
será positiva ou negativamente reforçadora para o outro e, ao mesmo tempo,
produzirá consequências reforçadoras para o próprio indivíduo. Entretanto, é
relevante destacar que relações amorosas envolvem algumas características
peculiares que a diferenciam de outros tipos de relacionamentos. Embora
Skinner tenha enfatizado o caráter reforçador do amor, diferentes tipos de
controles comportamentais estão envolvidos na construção e manutenção de
um relacionamento amoroso, sendo que alguns, em geral, predominam em
relação a outros, dependendo do tipo de vínculo que se estabelece e/ou do
estágio do relacionamento, por exemplo, o “ficar”/“pegar” apenas uma vez, o
rolo (“estar ficando/saindo com alguém”), o namoro, o noivado, o casamento
em seu período inicial, o casamento após vários anos de união, o casamento
na velhice e o flashback (relacionamento esporádico com um ex.). Cada um
desses tipos de relacionamento é caracterizado por controles diferentes.
Alguns reforçadores positivos frequentemente presentes em um relacio-
namento amoroso são disponibilidade de sexo, contato afetivo/físico (e.g.,
carinho, beijos, abraços), companhia e momentos compartilhados (o que,
frequentemente, permite acesso a outros reforçadores, como ir a lugares inte-
ressantes – cinema, teatro, parques, viagens, boates, academia etc. –, realizar
novas atividades, comer em lugares diferentes, conhecer pessoas legais), aten-
ção do(a) parceiro(a) (palavras bonitas, elogios, cartinhas, músicas dedicadas,
promessas), alguém com quem contar e conversar em momentos desafiadores,
268
40 Operações estabelecedoras ou operações motivadoras se referem a variáveis que podem evocar certos
comportamentos ao alterar temporariamente a efetividade reforçadora de um evento ambiental (Michael,
1982,1993; Miguel, 2000). Para exemplificar, consequências como a concretização de planos e sonhos ou
conversas sobre a morte/sobre outros temas significativos da vida podem ter seu valor temporariamente
aumentado, diante de um diagnóstico de doença que ameaça a continuidade da vida (OE).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 271
resolve no final, por força do destino, com algum ato heroico, provavelmente
do mocinho, já que o amor tudo supera. A lista de mitos românticos nos
modelos midiáticos não tem fim. Ademais, os poucos conflitos apresentados
nestes mesmos modelos de relacionamento amoroso são geralmente externos
à interação do casal, muitas vezes envolvendo mal-entendidos ou armações
de outras pessoas – os famosos vilões – para separar o mocinho e a mocinha.
De acordo com Bucay e Salinas (2000/2006), é impossível um relaciona-
mento íntimo sem conflitos, as dificuldades necessariamente fazem parte da
construção de um relacionamento amoroso. A fantasia do casal ideal, sem
problemas e eternamente apaixonado é, na perspectiva dos autores, imatura e
produtora de sofrimento, uma vez que, na prática, relacionamentos perfeitos
são inatingíveis.
Voltando à análise da importância das regras, apesar de seu papel faci-
litador na aquisição de repertórios, muitas vezes estas podem ser inacura-
das, isto é, incoerentes em relação às contingências em vigor ou podem ser
excessivamente simplórias, negligenciando a complexidade de determinadas
contingências, o que pode favorecer o estabelecimento de repertórios com-
portamentais pouco adaptativos ao se seguirem essas regras (e.g., Paracampo
et al., 2001; Rosenfarb et al., 1992). Para exemplificar a baixa sensibilidade
às contingências que pode ser favorecida ao se seguir uma regra, no clássico
filme “Love Story – Uma História de Amor”, lançado em 1970, uma regra
muito marcante é dita por Jennifer, a personagem feminina do par romântico
principal do filme: “Amar é nunca ter que pedir perdão”. Ela diz essa frase
quando seu marido volta para casa, muito arrependido, depois de um desen-
tendimento dos dois, e lhe pede perdão. Desenvolvendo melhor a contingência
descrita por essa regra, o que ela diz é que “Se você ama, se comporta sempre
da maneira adequada/correta e, consequentemente, sempre agrada o(a) par-
ceiro(a), ao mesmo tempo em que evita magoá-lo(a)”. Assim, essa regra está
relacionada ao mito de que, quando alguém ama de verdade, sabe tudo o que
deve fazer para agradar o outro e nunca o desaponta. É como se o outro fosse
uma extensão de nós mesmos, uma alma-gêmea, como referiu uma cliente
que disse que o marido deveria saber do que ela precisava sem que fosse
necessário que ela falasse qualquer coisa, o que, conforme destacam Bucay
e Salinas (2000/2006), é pouco coerente com as contingências em vigor nos
relacionamentos da vida real, os quais necessariamente envolvem conflitos,
uma vez que os membros de um casal têm histórias de vida diferentes e estão
sempre sob controle de contingências diversas, além daquelas que envolvem
o relacionamento amoroso. A regra de que é possível viver acertando sempre,
de modo que nunca seja necessário pedir desculpas, portanto, pode favorecer
que as pessoas se comportem de forma pouco coerente com a complexidade
276
mesmo tempo, parece que me tornei uma estranha em mim mesma, já não
me reconheço… Nem quando me olho no espelho… Sei lá… Não pareço eu.
Você me pergunta o que eu gostaria de fazer por mim, e não faço ideia. Será
que algum dia terei de novo uma vida além disso? Terei outra chance de ser
eu mesma? E se meu parceiro também não me reconhecer mais?”.
Apesar de ser uma das experiências mais transformadoras para uma
família, ter filhos põe em risco tanto o amor quanto o sexo na relação de casal
(Botton, 2012). Homem e Calligaris (2019) acrescentam que, em nossa cultura,
há a regra “Agora que você é mãe, não será mulher”, a qual pode contribuir
para que, ao tornarem-se mães, muitas mulheres tenham a impressão de que
perderam sua identidade e tenham dificuldade de se reconhecerem em qual-
quer papel que não seja o materno. Contudo, a primeira autora destaca que,
embora muito didática, trata-se de uma regra pouco acurada a que divide a
sexualidade entre mãe e mulher, como se uma categoria excluísse a outra,
de forma a negligenciar as diversas formas de experimentação da libido e
do prazer acessíveis às mulheres ao se tornarem mães. Os autores destacam,
ainda, que parte significativa das mulheres pode apresentar quadro sintoma-
tológico denominado depressão pós-parto – ou baby blues, na versão mais
leve – o qual também pode estar relacionado aos lutos relativos à necessidade
de elaboração das perdas e transformações decorrentes da chegada de um
bebê numa relação de casal.
Em adição, vale enfatizar que muitas mulheres acabam acumulando
um sem fim de jornadas de trabalho ao se tornarem mães, e a sobrecarga de
compromissos e responsabilidades – pessoais, profissionais, domésticos e
familiares – pode acentuar o comprometimento de sua qualidade de vida,
intensificando o processo de enlutamento. De acordo com o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 2019), no Brasil, as mulheres tradicio-
nalmente dedicam o dobro de tempo, em comparação aos homens, a tarefas
domésticas e de cuidado. Estudo recente da Fiocruz (2020) mostra que a
sobrecarga das mulheres foi ainda mais acentuada desde que começou a pan-
demia da COVID-19.
Infidelidades
agora que o casamento não é mais apenas um arranjo econômico, mas também
uma conexão romântica, uma traição representa mais que uma ameaça à segu-
rança financeira de uma pessoa: trata-se de ameaça à sua segurança emocional,
ao seu senso de valor. Destaca-se, que a morte da confiança em uma relação
pode acontecer de inúmeras formas, além da infidelidade amorosa/sexual,
como nos casos em que há desrespeito, desinteresse, indiferença, negligência,
invalidação, violência (Botton, 2012; Perel, 2017; The School of Life, 2018).
A susceptibilidade de um casal a situações de infidelidade não necessa-
riamente está relacionada a desgaste na qualidade de sua interação, tampouco
à perda de interesse/afeto pelo(a) parceiro(a). Relações extraconjugais podem
ter diferentes funções: permitem o contato com reforçadores dos quais os
indivíduos ficam privados ao se comprometerem com relações monogâmicas
de médio/longo prazo, como novidade, variabilidade, intensidade, sensação de
liberdade/autonomia; oferecem uma chance de quebra de uma rotina monó-
tona e cheia de compromissos; possibilitam que a pessoa se resgate e entre
em contato com partes de si mesma que ficaram adormecidas em uma relação
de longo prazo (como seu poder de sedução, sua atratibilidade); permitem
conhecer e estabelecer conexão com novas e interessantes pessoas. Ademais,
a aventura de uma relação extraconjugal pode ter a função de fuga/esquiva
diante de uma situação que confronta o indivíduo com a própria mortalidade
(concreta ou simbólica), por exemplo, um diagnóstico de doença grave, um
aniversário que marca o início de uma nova década, o nascimento de um filho,
a aproximação da aposentadoria etc. Enfatiza-se ainda que as privações impos-
tas por uma relação exclusiva de longo prazo, assim como a regra de que “é
proibido se envolver com outras pessoas” podem funcionar como operações
estabelecedoras ao favorecerem comportamentos que permitam que as pes-
soas se engajem em novas relações em que se sintam especiais/importantes/
desejadas e possam satisfazer sua necessidade de aventuras (Ansari, 2016;
Botton, 2012; Perel, 2017). Assim, infidelidades podem frequentemente ser
interpretadas como uma forma de lidar com lutos que surgem ao longo de
um relacionamento.
Para exemplificar, um caso interessante foi o de uma moça que, ao des-
cobrir que estava gestante do segundo filho, envolveu-se com um antigo
namorado e afirmava: “Eu amo demais meu marido, ele é tudo o que sempre
sonhei, mas fiquei muito assustada com a notícia de que ia ter um novo bebê
sem planejarmos, fiquei com medo de nunca mais poder ser eu mesma de
novo. Como isso foi acontecer logo agora que eu estava começando a me
resgatar depois que me tornei mãe? Busquei contato com meu ex, mas eu
não fiz isso porque não amo meu marido, entende? Acabei me envolvendo
porque não sabia mais amar a mim mesma, tinha me perdido de mim”. O
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 285
Términos/separações/divórcios
Considerações finais
2016; Parkes, 2009; Luz, 2021; Yalom & Yalom, 2021). De acordo com Luz
(2021), “luto é outra palavra para falar de amor” (p. 19). E Chimamanda
Adichie complementa: “a dor era a celebração do amor, aqueles que sentiam
dor verdadeira, tinham sorte de ter amado” (p. 82). Viva o amor! E a coragem
daqueles que, para desfrutá-lo com inteireza, dispõem-se a viver também seus
riscos, suas perdas, suas mortes… Seus diferentes lutos.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 293
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O eu-como-contexto do terapeuta
A sessão extra
A cliente admirada
Crescimento profissional
A filha do cliente
Uma mulher contatou a terapeuta para agendar uma sessão para seu pai
que, depois do término de um relacionamento, estava com dificuldades para
retomar atividades do cotidiano. Em razão do contexto pandêmico, a tera-
peuta estava trabalhando somente online, mas abriu uma exceção a pedido
do cliente. Na primeira sessão, ela observou a profunda tristeza do homem.
Ele tinha sido invalidado por pessoas importantes em sua vida e marcado por
uma longa história de instabilidade profissional e afetiva. Tinha se sacrificado
para não ser um desgosto para seus pais; depois para sustentar as filhas e, por
fim, para prestar contas com a mulher com quem se relacionava. Abusava de
substâncias para fugir da pessoa que tinha se tornado. Disse que aceitou fazer
terapia por respeito à filha, apesar de não entender a preocupação dela. Depois
de uma conversa com a terapeuta sobre o estado de vulnerabilidade do cliente,
a filha foi morar com ele, para cuidar dele. Quando, duas semanas depois, o
cliente agendou uma segunda sessão, a terapeuta que tinha se preparado para
iniciar o processo psicoterápico, ficou surpresa que o cliente foi apenas para
agradecê-la. A terapeuta novamente expôs sua preocupação junto à filha do
cliente que continuaria a cuidar dele. Um tempo depois, ela recebeu a notícia
de que ele havia se suicidado.
Eu-como-conteúdo: A terapeuta se sentiu assustada e desolada. Pensou
sobre os dois encontros com o homem, se questionando acerca da relevância
da psicologia e da sua atuação como psicoterapeuta em ajudar pessoas que
enfrentam problemas graves.
Eu-como-contexto: “Ainda sinto pesar pelo ocorrido, no entanto, não
questiono mais o sentido ou a utilidade da psicologia. Não houve a oportu-
nidade de atuar nesse caso, mas consegui auxiliar outras pessoas com tempo
e qualidade de trabalho. Como diz o preceito da terapia comportamental
dialética: estamos fazendo o melhor possível com os recursos que temos.
Viver esse susto e esse desolamento me deixou mais sensível às pessoas que
estão sob meus cuidados.”
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 307
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Nascimento et al. (2015) esclarece que a pessoa que morreu, não sendo
mais pertencente ao ambiente do enlutado, deixa de ser um antecedente que
possa sinalizar reforçamento para os comportamentos emitidos pela pessoa
em luto. Portanto, esses comportamentos têm alta probabilidade de entrarem
em extinção, já que não estão sendo reforçados, ainda que, em determinados
contextos, o enlutado manifeste alguns comportamentos, que anteriormente
à morte do ente, eram emitidos (Martin & Pear, 2009).
Os comportamentos humanos, o que inclui a manifestação e vivência
do luto, sofrem influência dos três níveis de seleção. O primeiro nível é a
filogênese, que tem relação com a sobrevivência das espécies e com a carga
genética que vai sendo transmitida às gerações subsequentes. O segundo
nível se trata da ontogênese, que está vinculada à história pregressa de apren-
dizagem, o repertório comportamental adquirido ao longo da vida. E por
fim, o nível da cultura, que diz respeito à influência de práticas culturais no
comportamento (Skinner, 1981).
A vivência do luto, sob a ótica da Análise do Comportamento, é descrita
por Oliveira (2014) como sendo:
[...] entrar em contato com as contingências da perda, com os estímulos
aversivos, com a perda de reforçadores e eventualmente o ganho de reforçadores
também (como quando uma viúva recebe uma boa herança do marido), e lidar
com essas novas contingências de forma que não haja sofrimento que impeça a
pessoa de realizar suas atividades rotineiras e que lhe são reforçadoras (p. 12).
Entretanto, as novas contingências e a perda do reforço positivo podem ser
tão aversivas que o enlutado não consegue lidar com essa nova realidade que se
apresenta. E esse fato será uma espécie de barreira para a expressão da dor e do
sofrimento, dificultando a elaboração saudável (natural) do luto, isto é, a pessoa
tem dificuldade em vivenciar seu pesar e “retomar sua atividade de vida diária e
se colocar na posição de quem viveu uma perda e a enfrentou” (Prigerson, 2004;
Rando, 2013 citado por Franco, 2021). Em consequência, o luto poderá não ser
elaborado e entrar em processo de luto complicado (não elaborado). Por luto
complicado, Franco (2021) discorre “com sofrimento específico do luto, com
reações emocionais desconcertantes, lembranças invasivas do falecido, sensação
de vazio e falta de sentido, além de incapacidade para aceitar a perda” (p. 124).
Torres (2013) aponta que quanto maior for o vínculo com o ente que mor-
reu, maior será a dor sentida em função dessa perda. Dessa forma, de acordo
com Albanezi (2016), a dificuldade surge quando o enlutado não consegue
desempenhar as atividades que eram realizadas antes da perda, causando
maior angústia e sofrimento.
Nos atendimentos clínicos, por vezes, o luto não elaborado permeia o pro-
cesso terapêutico sem que o próprio cliente enlutado faça essa discriminação
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 313
Ainda sobre audiência não punitiva vale destacar que, o terapeuta ao não
punir e nem julgar os comportamentos do cliente – que seriam punidos no
ambiente externo ao setting terapêutico – possibilita que as respostas e controles
aversivos condicionados a esses comportamentos comecem a se extinguirem
(Alves & Isidro-Marinho, 2010; Silva & de-Farias, 2010). E o terapeuta passa
a desempenhar um papel de fonte reforçadora (Skinner, 1953/2000). Por sua
vez, o cliente ao discriminar que o terapeuta não é fonte de punição, verá nele
316
será constituído como audiência não punitiva e, por isso, ambiente no qual
o cliente poderá vivenciar a dor, a tristeza e o pesar da perda por meio da
expressão de seus comportamentos encobertos e assim sentir-se acolhido
e amparado em sua dor, apoio que, por vezes, sua rede social (família e
amigos) pode não fornecer (p. 454).
o que falar diante do enlutado, além de ansiarem por uma rápida melhora
e não terem que ‘ouvir a mesma coisa’. Por conseguinte, o enlutado se vê
desamparado. A recusa ou falta de possibilidade de expressar pensamentos e
sentimentos que permeiam a morte e o luto, traz limitações a forma como o
enlutado lidará com as contingências da perda (Kovács, 2012).
Por ser permeado de contingências aversivas e ausência de reforçado-
res importantes que foram perdidos, o luto pode suscitar comportamentos
evitativos de contato com possibilidades de mais sofrimento. Diante disso,
o enlutado tende a se isolar, se recusar a executar tarefas do dia a dia que
anteriormente eram reforçadoras e com isso não se expõem a contingências
que poderiam trazer novos reforçadores, aumentando os comportamentos de
esquiva (Nascimento et al., 2015).
Oliveira (2014) ressalta a relevância de não fugir ou se esquivar das
contingências aversivas e sentimentos avaliados como desagradáveis:
É tentador e pode parecer uma boa opção a esquiva dos sentimentos de dor
e saudade [...]. Mas no caso do luto é importante que o terapeuta conduza
a manutenção do contato do cliente com as contingências aversivas do
luto e que possa direcioná-lo, seja por meio das tarefas, da explicação das
fases do luto e de qualquer outra estratégia que possibilite a vivência do
luto, para que se alcance a resolução do luto, a reorganização da vida e a
investida em uma vida saudável (p. 1).
Oliveira (2014) ressalta que o terapeuta que trabalha com as questões rela-
tivas às perdas e luto, precisa estar em constante reflexão sobre a própria morte,
seus medos, anseios e enfrentamentos possíveis. Dessa forma, poderá desenvolver
um repertório para lidar com tais questões, tanto próprias quanto dos clientes.
Refletir sobre essas temáticas nos coloca em contato com a vida e os aconteci-
mentos dela. Com uma linguagem informal, Milazzo (2021) relata consequências
que podem ocorrer em função da falta de contato com tais contingências:
Últimas considerações
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43 No contexto experimental, o termo operandum (no plural, operanda) descreve qualquer estímulo que pode
ser operado pelo organismo, cuja operação leva a algum tipo de efeito no ambiente, isto é, algum tipo de
consequência. Exemplos de operanda no contexto experimental são barras, alavancas, botões, discos.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 331
44 Na literatura sobre funcionalidade, atividades de vida diária (AVDs) são tarefas que o indivíduo deve
executar no seu cotidiano; o grau de dificuldade ou necessidade de apoio na realização dessas tarefas é
um grande indicativo de sua autonomia. As AVDs podem ser divididas em atividades básicas de vida diária
(ABVDs, que consistem em tarefas essenciais para a sobrevivência e higiene pessoal, como se alimentar)
e atividades instrumentais de vida diária (AIVDs, que incluem tarefas mais complexas, não diretamente
ligadas à sobrevivência, como cozinhar uma refeição; Alves et al., 2008).
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 335
O relato do caso Pedro45, que será descrito abaixo, pode ajudar a ilustrar
as reações de extinção frente ao insucesso na aprovação de uma prova de resi-
dência médica. No presente caso, essas reações são suficientemente intensas e
problemáticas, a ponto de serem aqui consideradas como uma reação de luto
pela não aprovação; isto é, a não aprovação figura-se como a perda de tudo
aquilo que a “aprovação” simbolizava para essa pessoa. Naturalmente, para
supor tal interpretação há de se considerar a história de vida de Pedro, a razão
pela qual a aprovação figura como um reforço condicionado crítico, e sua
longa história comportamental de sucessos após muito tempo despendido em
estudos (e.g., seu sucesso acadêmico e a aprovação no vestibular em primeiro
lugar para medicina). Considerando todas essas relações, seu insucesso poderia
figurar como um exemplo da perda de um reforçador condicionado crítico,
cujos valores sociais foram estabelecidos pelas relações simbólicas às quais
ele, sua família e a sociedade sempre emolduravam como sucesso, competên-
cia e retidão. A descrição do caso também pretende ilustrar as intervenções
baseadas em aceitação, integrando assim o que vem sendo discutido até aqui.
Pedro (nome fictício), 25 anos, médico recém-formado. Atualmente tra-
balha como médico plantonista no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência). Procurou a psicoterapia queixando-se de ansiedade e choro
fácil após não ter passado na residência médica de oftalmologia para a qual
tanto se preparou. Pedro era irmão do meio de três filhos. Desde a infância,
era considerado um bom menino, doce, amável e gentil. Ainda quando muito
pequeno, Pedro desenvolveu uma leucemia, fato que causou grande desespero
em sua família, portanto houve um bom prognóstico de seu caso e Pedro se
cura da doença. A família de Pedro acredita se tratar de um milagre, um pre-
sente que Pedro recebe de Deus, e, portanto, ele “nunca mais poderia reclamar
de nada”, “nem sentir pesares pelos futuros fatos da vida, pois recebeu um
presente de Deus’. O cliente também relata que nunca podia dizer palavrões,
sendo sempre repreendido com falas como, “um rapaz tão abençoado não
pode xingar”, “você está entristecendo a Deus”. Em sua adolescência, Pedro
era dedicado e proficiente nas atividades escolares, ganhando atenção de seus
colegas e familiares. Ao inspirar-se em seu irmão que já tinha se formado
em medicina e era muito admirado e respeitado por essa competência, Pedro
também escolheu a medicina. Seu histórico acadêmico foi de sucesso, tendo
passado em primeiro lugar no vestibular de seu curso. O cliente relata que,
ao longo do processo de preparação para a prova de residência médica, todas
45 O cliente foi consultado e consentiu com o relato como segue. O nome empregado é fictício. Outras
informações que poderiam eventualmente trazer qualquer risco à identificação do caso foram alteradas,
com o objetivo de preservar a confidencialidade e sigilo do cliente e suas informações.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 341
ganha atenção, admiração, carinho por parte dos familiares e amigos. Em con-
trapartida, sentir e demonstrar emoções avaliadas pela cultura como erradas,
como, raiva, desapontamento e tristeza, eram comportamentos punidos pelo
seu contexto socioverbal. Observa-se, Pedro acaba se tornando e aceitando
o papel de uma figura perfeita e idealizada, onde ter sucesso acadêmico, ser
carinhoso e não sentir e verbalizar emoções negativas corresponde a ser a
figura idealizada e equivale a ganhar carinho, afeto e reforços sociais. Em
contrapartida, qualquer coisa que o afasta desse “lugar idealizado”, acaba
sinalizando para ele “desvio”, ou seja, sentir raiva, frustração e tristeza, são
entendidas como imperfeição e são aversivos pois o afasta da figura idealizada.
O sofrimento de Pedro reside em sentir respondentes aversivos, que
aparecem pareados aos estímulos aversivos, fazendo com que ele evite não
apenas os estímulos, mas também aos sentimentos. Ao sentir esses aversivos,
Pedro utilizou-se de estratégias de controle, que além de contraproducentes,
fizeram com que ele se engajasse em estratégias de evitação, como sair e
consumir álcool em excesso, que tiveram pouco eficiência até mesmo a curto
prazo, visto que logo ele começava a entrar em um contexto de racionalização
e ruminação sobre seus eventos privados, culpando-se e questionando o porquê
de ter sentido e agido daquela maneira com seus amigos.
Os controles sociais por parte da família e amigos contribuíram para que
Pedro desenvolvesse uma grande preocupação com seu desempenho acadê-
mico, ao passo que, não favoreceu o desenvolvimento de seu repertório social.
Outra estratégia que o cliente utilizou para se esquivar de seus sentimen-
tos foi trabalhar em excesso. Pedro ocupou seus dias de vários plantões, em
que cansava-se muito. Ocupava assim a maior parte do tempo de seus dias
de folga dormindo. Percebe-se também que o cliente passou a identificar-se
com seus pensamentos: “sou uma pessoa invejosa”, “sou uma pessoa má”,
agindo de forma fusionada. Levando em consideração as regras advindas de
sua história de vida, como “sou uma boa pessoa”, “sou temente a Deus”, logo
não poderia sentir raiva ou fazer comparações com outras pessoas.
Ao esquivar-se dos eventos aversivos, as funções de estímulos alteram-se
tornando-se incompatíveis com as contingências e fazendo com que Pedro
encare eventos de forma mais aversiva do que são, como no exemplo da via-
gem e passeio com os amigos. Percebe-se também, na tentativa de controle,
que ele restringe seu repertório e afasta as coisas que são importantes para
ele, como a viagem para a praia tão desejada, se divertir com os amigos e
retomar os estudos para uma futura prova de residência. No entanto, suas
tentativas de estudar para a prova também tiveram insucessos na medida em
que os pensamentos como “sou incompetente”, “não vou conseguir’, como
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 343
46 A distanásia refere-se à atuação médica que prolonga desnecessariamente a vida de uma pessoa com
quadro irreversível, frequentemente gerando dor e sofrimento, sem garantir qualidade de vida.
346
disso, uma vez que a cirurgia era uma possibilidade considerada pela equipe, a
atuação da Psicologia incluiu a preparação de Dona Sandra para uma possível
cirurgia, antes de qualquer menção sobre o procedimento da equipe médica à
paciente. Devido à sua longa permanência no hospital, houve oportunidade
para o estabelecimento de um vínculo robusto entre a paciente e toda a equipe
de saúde, capaz de prover suporte social e aumentar a adesão da paciente às
orientações da equipe. A princípio, quando a psicóloga solicitava à Dona San-
dra que ela imaginasse como se sentiria e o que faria diante da necessidade
de algum dia precisar de cirurgia, ela negava a possibilidade e mostrava-se
discretamente irritada com a sugestão. De maneira gradual, foram realizadas
intervenções psicoeducativas a respeito do seu quadro clínico, do possível
procedimento cirúrgico, e dos prognósticos no caso de realizar a cirurgia e
no caso de manter um tratamento conservador com antibióticos. Simulta-
neamente, o tratamento incluiu intervenções visando promover aceitação do
seu quadro clínico, das opções de tratamento, e da própria vulnerabilidade. A
atuação psicológica aliada à inevitável exposição constante à dor causada pela
ITU possibilitou aumento da tolerância ao mal-estar, que contribuiu para que
Dona Sandra enfrentasse os efeitos aversivos da extinção, e seria de grande
valor para um cenário pós-cirúrgico. Assim, ao longo de algumas semanas,
a paciente teve a oportunidade de vivenciar os estágios do luto e atingir uma
posição mais próxima à aceitação, ou retorno ao nível operante. Quando a
equipe médica estava disposta a propor uma intervenção cirúrgica, a paciente
também estava preparada para aderir e pôde realizar o procedimento sem
qualquer intercorrência ou nível exacerbado de ansiedade.
A situação de incerteza descrita acima exige flexibilidade por parte do
paciente, e a intervenção acaba por gerar prevenções secundárias ou terciá-
rias47. Todavia, quando o paciente recebe a notícia de que seu prognóstico
é reservado, de que não há cura para sua doença, ou ainda uma estimativa
de tempo de vida restante, mesmo tendo sido preparado, é prudente esperar
alguma reação semelhante à da extinção (podendo variar em grau de acordo
com diferentes fatores, como o repertório comportamental, a história prévia
de perdas, as regras sobre saúde, doença e morte, a preparação realizada pela
equipe, entre outros). Desse momento em diante, inicia-se uma nova etapa:
acompanhar o paciente até o momento da morte. E, ainda no contexto dos
47 Prevenção primária é a intervenção que busca remover causas e fatores de risco de um problema de
saúde antes do desenvolvimento de uma condição clínica. Prevenção secundária é a intervenção que
objetiva detectar um problema de saúde em estágio inicial, para prevenir seu agravo. Prevenção terciária
é a intervenção que busca reduzir agravos já presentes, incluindo reabilitação. Prevenção quaternária diz
respeito a evitar intervenções excessivas e/ou inapropriadas (Ministério da Saúde, 2013).
348
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17. ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
E A RELAÇÃO ENTRE LUTO, CRISE,
EMERGÊNCIAS E DESASTRES
Dafne Rosane Oliveira
Henrique do Nascimento Ricardo
Introdução
Conceitos
proporções de afetados que são beneficiados com tais ações. A pirâmide repre-
senta em patamares as variadas necessidades em saúde mental de diferentes
populações de afetados. Cada patamar apresenta um grau de especificidade
e complexidade crescente, na medida em que chegam ao topo. A pirâmide
é seccionada em quatro planos, e cada parcela da população é classificada
conforme o grau de complexidade das ações em saúde mental necessárias.
No nível inferior, na base da pirâmide, estão alocadas a maior parte da
população. Embora esse grupo apresente efeitos emocionais do desastre,
haverá uma recuperação a curto prazo e não demandará auxílio especializado.
As ações básicas para esse grupo são caracterizadas por informações sobre
o evento, serviços básicos e de segurança. O segundo plano é representado
por uma população que apresentará reações esperadas de estresse, mas que
superará os sintomas nos primeiros meses. As necessidades do segundo nível
caracterizam-se pelo apoio à comunidade e às famílias. No terceiro nível,
já se encontram afetados que demandarão cuidados mais focados, mas que
ainda não necessitarão de atenção especializada em saúde mental. O cuidado
desse público visa ao não desenvolvimento de quadros crônicos de estresse.
A população do terceiro plano precisará de acompanhamento mais sistema-
tizado a curto e médio prazo. Nesse nível são recomendados os Primeiros
Socorros Psicológicos.
Por fim, no último plano da pirâmide, no topo e em menor número, está a
população em maior vulnerabilidade para questões relacionadas à saúde men-
tal, que necessariamente requisitará serviços especializados. São exemplos
de profissionais que atuam com essa população os psicólogos e psiquiatras.
A análise do modelo da pirâmide do IASC permite concluir que os afetados
demandam ações diferentes a depender de seu grau de vulnerabilidade.
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 381
O comportamento de enlutar-se
Estudo de caso
Caracterização
Relato
Hoje eu vejo um velório é uma coisa triste, mas é uma coisa que precisa
ter, porque é um ciclo que se rompe e nós não tivemos isso. [...] O vizinho
que não olhava na cara do outro foi o que socorreu, o que achava que
era muito importante que tinha carro importado, teve que ir pra fila do
abrigo pegar um prato de comida, porque ainda que ele tivesse dinheiro
na conta, não tinha comida no mercado, que foi embora com tudo. [...]
Mas, em relação à morte, eu mudei muito, antes eu via como uma coisa
muito dolorosa, hoje eu acho que é uma coisa normal. O fato de eu ter
perdido 14 pessoas de uma vez só me fez mudar de pensamento. Porque
o que dói é a saudade, não a morte, porque a dor da saudade a cada dia
ela aumenta. (Valencio et al., 2011, p. 50).
Importante destacar que, qualquer luto, seja pela perda que for, deve ser
respeitado e acolhido. Expressões tais como: “agradeça que você está vivo”,
“podia ser pior”, “isso você recupera”, fatalmente invalidam o sofrimento e
não permitem a expressão do luto tal como ele está sendo sentido. Portanto,
é oportuna a discussão trazida por Caselatto (2015) sobre o luto não reco-
nhecido, mostrando que o reconhecimento social do luto é um fenômeno
psicossocial com o desafio da legitimação do sofrimento humano mediante
uma perda, independente das condições envolvidas: quem está vivenciando
o luto, quando, como, o porquê e por quem.
Um ponto muito discutido sobre o enfrentamento de desastres decorre
do que é chamado de protagonismo dos afetados. Segue-se a lógica de que os
envolvidos devem participar ativamente como agentes de mudança e atores
centrais no gerenciamento de riscos e no enfrentamento aos desastres. Na
dimensão da prática psicológica, há uma preocupação com a vitimização ou
patologização dessas pessoas. É preciso que haja uma conduta ética baseada
na defesa da garantia de direitos, sendo vedada a indução ou manipulação de
qualquer natureza desse protagonismo (Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, 2013; Conselho Federal de Psicologia, 2013). No
relato, percebemos a importância de que as pessoas afetadas tenham recursos
para seu enfrentamento. Isso deveria ser trabalhado em planos de prevenção
e preparação, com treinamentos, estudo das áreas de risco, rotas de fuga,
sistemas de alerta, visando a mitigação dos riscos de desastres.
Ademais, o apoio a comunidade é relatado: “...o primeiro que socorre é
o do lado, é o vizinho do lado, mesmo quando ele não precisa ser socorrido
também, isso eu vivi na minha família.” (Valencio et al., 2011). Conforme
mencionado, o apoio da comunidade está na base da pirâmide do IASC, como
fator categórico na proteção dos afetados (IASC, 2007).
É feita a denúncia da precariedade do atendimento às necessidades
básicas, como falta de água, energia, higiene e alimentação. Os Primeiros
Socorros Psicológicos têm por base a atenção especial à garantia dos direitos
humanos, da dignidade humana e necessidades básicas de sobrevivência como
390
Considerações finais
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A
Aceitação 8, 10, 17, 20, 21, 24, 26, 27, 29, 33, 34, 35, 44, 51, 52, 53, 54,
60, 62, 72, 76, 77, 78, 79, 84, 86, 87, 89, 91, 96, 97, 99, 100, 108, 111, 113,
114, 117, 152, 170, 171, 173, 174, 178, 182, 186, 189, 193, 206, 209, 221,
222, 223, 224, 225, 226, 229, 231, 232, 233, 234, 235, 248, 251, 252, 257,
261, 291, 317, 323, 327, 329, 331, 332, 335, 337, 338, 339, 340, 343, 345,
346, 347, 349, 350, 351, 352, 354, 358, 359, 369, 370, 372, 381, 384, 385,
403, 406, 409
Aceitação e compromisso 8, 10, 20, 21, 24, 29, 51, 76, 96, 97, 99, 108, 117,
182, 189, 206, 221, 222, 225, 235, 251, 257, 261, 323, 335, 337, 339, 358,
359, 369, 403, 406, 409
Aconselhamento do luto e terapia do luto 48, 190, 220, 396
Análise 3, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 18, 28, 31, 32, 34, 35, 42, 44, 45, 46, 47, 48,
49, 50, 51, 53, 56, 61, 62, 66, 68, 69, 70, 72, 86, 88, 94, 99, 101, 103, 104,
106, 108, 109, 115, 119, 122, 123, 128, 130, 132, 134, 138, 141, 142, 143,
163, 164, 168, 169, 172, 173, 174, 175, 181, 183, 186, 188, 189, 197, 198,
199, 200, 201, 204, 213, 214, 215, 217, 218, 228, 243, 249, 253, 255, 258,
259, 260, 261, 262, 263, 265, 275, 277, 286, 288, 294, 297, 298, 308, 312,
315, 316, 322, 323, 325, 326, 327, 329, 332, 354, 356, 357, 359, 361, 362,
369, 372, 373, 374, 375, 380, 382, 383, 385, 386, 388, 391, 392, 394, 396,
403, 405, 406, 407, 408, 409, 410, 411, 412
Análise comportamental clínica 163, 214, 215, 217, 218, 259, 322, 323, 325,
403, 405, 410
Análise do comportamento 3, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 18, 31, 32, 42, 46, 47, 48,
49, 50, 51, 53, 56, 62, 68, 69, 70, 72, 94, 99, 101, 103, 106, 108, 115, 122,
138, 142, 143, 164, 169, 172, 174, 175, 188, 189, 198, 200, 201, 214, 217,
243, 258, 260, 262, 263, 294, 297, 298, 308, 312, 316, 325, 326, 327, 329,
356, 357, 359, 361, 369, 372, 373, 374, 375, 391, 392, 394, 403, 405, 406,
407, 408, 409, 410, 411, 412
Análise do comportamento e terapia cognitivista 46, 101, 374
Analítico comportamental 50, 140, 143, 168, 178, 262, 324, 376, 382, 409, 413
Animal de companhia 103, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 112, 113, 114, 115
Associação brasileira de psicologia e medicina 163, 329, 355, 357
Atuação da psicologia na gestão integral 376, 378, 391, 393
398
C
Casos em análise comportamental 214, 215, 217, 323, 403, 410
Casos em análise comportamental clínica 214, 215, 217, 323, 403, 410
Comportamentos de fuga e esquiva 38, 41, 42, 126, 132, 175, 252
Conselho federal de psicologia 314, 318, 378, 389, 393, 396
Contato 15, 25, 28, 34, 37, 39, 40, 43, 45, 51, 54, 55, 62, 63, 64, 72, 74, 75,
81, 83, 85, 89, 108, 112, 120, 121, 127, 132, 133, 134, 136, 147, 150, 151,
152, 153, 154, 155, 159, 172, 181, 182, 187, 192, 193, 195, 196, 198, 199,
202, 206, 209, 210, 211, 216, 224, 228, 229, 230, 231, 232, 233, 238, 246,
248, 252, 253, 254, 256, 267, 268, 269, 272, 274, 277, 282, 284, 287, 288,
289, 290, 291, 301, 305, 307, 311, 312, 316, 318, 319, 320, 321, 338, 341,
362, 366, 368, 370, 384
Contexto 7, 9, 10, 13, 14, 16, 18, 24, 26, 27, 33, 49, 51, 54, 62, 73, 74, 76,
78, 80, 81, 83, 85, 87, 96, 108, 109, 117, 120, 124, 125, 126, 127, 129, 130,
143, 145, 146, 148, 167, 168, 169, 170, 171, 173, 174, 175, 182, 183, 184,
185, 186, 187, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 200, 201, 202, 203,
204, 205, 206, 210, 217, 226, 244, 245, 248, 251, 254, 255, 257, 268, 269,
270, 272, 274, 276, 277, 279, 286, 288, 289, 290, 294, 301, 302, 303, 304,
305, 306, 307, 308, 311, 330, 335, 336, 337, 338, 339, 341, 342, 343, 344,
345, 346, 348, 354, 357, 361, 362, 363, 364, 365, 367, 368, 369, 370, 377,
378, 379, 381, 382, 384, 385, 390, 412
Contexto da oncologia pediátrica 10, 195, 196, 198, 204, 210, 217
Contingências 7, 9, 14, 15, 22, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 42, 43, 44,
45, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 68, 73, 74, 75, 86, 92, 106, 107, 109, 120, 121,
122, 123, 132, 135, 137, 138, 139, 145, 147, 150, 151, 153, 154, 155, 159,
167, 172, 174, 175, 178, 187, 199, 200, 203, 210, 218, 223, 225, 227, 229,
230, 251, 268, 274, 275, 276, 277, 278, 279, 280, 285, 297, 301, 302, 308,
311, 312, 313, 315, 318, 319, 320, 321, 329, 333, 335, 336, 338, 342, 345,
346, 349, 351, 353, 354, 356, 361, 362, 363, 364, 365, 368, 369, 370, 378,
382, 383, 384, 385, 388, 391, 392
Contingências de reforçamento 7, 9, 31, 33, 36, 37, 38, 39, 43, 44, 50, 68,
73, 74, 106, 200, 277, 308, 368
Criando relações terapêuticas intensas e curativas 29, 46, 142, 162, 261, 324
Cuidados paliativos 60, 96, 107, 191, 192, 195, 196, 197, 200, 204, 207, 208,
209, 212, 214, 216, 217, 219, 271, 294, 296, 324, 345, 348, 368, 403
E
Emergência em saúde pública 376, 377, 391, 393
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 399
Emergências e desastres 8, 10, 375, 376, 377, 378, 379, 381, 386, 391, 392,
393, 407, 408
Ente querido 32, 33, 34, 35, 44, 51, 52, 54, 56, 75, 76, 78, 81, 82, 83, 84, 85,
86, 93, 114, 119, 125, 147, 155, 158, 159, 161, 168, 173, 192, 209, 237, 246,
248, 249, 250, 254, 272, 311, 318, 322, 328, 330, 331, 349, 350, 353, 354,
364, 365, 367, 368, 369, 370
F
Família 18, 19, 36, 37, 38, 40, 41, 43, 44, 51, 62, 80, 84, 85, 88, 90, 103,
104, 105, 106, 114, 115, 117, 119, 120, 122, 124, 125, 126, 127, 132, 133,
134, 138, 148, 150, 157, 173, 176, 179, 180, 181, 183, 184, 185, 186, 187,
191, 194, 195, 197, 198, 199, 200, 201, 204, 207, 208, 209, 234, 237, 257,
268, 274, 278, 279, 280, 282, 283, 286, 287, 288, 289, 294, 299, 300, 316,
319, 333, 340, 341, 342, 344, 345, 348, 349, 350, 351, 352, 367, 368, 381,
383, 387, 389, 390, 410
Formulação de casos em análise comportamental clínica 214, 215, 217, 323,
403, 410
G
Gestão integral de riscos 376, 377, 378, 391, 392, 393
Gestão integral de riscos e desastres 376, 377, 378, 391, 392, 393
Guia para a psicoterapia analítica funcional 264, 322, 324, 326
H
História de contingências de reforçamento 36, 37, 39, 44, 50, 68
História de vida 9, 15, 17, 26, 32, 36, 68, 73, 107, 146, 150, 172, 174, 176,
179, 199, 200, 222, 243, 247, 249, 304, 319, 320, 337, 340, 342, 384
I
Início de uma nova vida 34, 35, 55, 172
Instituto brasiliense de análise do comportamento 297, 326, 403, 405, 410
L
Luto complicado 44, 58, 59, 60, 61, 63, 64, 65, 72, 81, 83, 84, 93, 110, 115,
117, 121, 147, 161, 174, 186, 213, 246, 312, 368, 370, 386
Luto e análise do comportamento 260, 294, 327, 407
400
M
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos 66, 355, 372
Morte de um ente querido 93, 147, 159, 168, 173, 311, 318, 349, 354, 364, 367
P
Perda de um ente querido 51, 56, 78, 119, 125, 161, 209, 246, 272, 322, 349,
350, 353, 365, 369
Perdas 9, 11, 13, 24, 26, 32, 36, 46, 49, 53, 71, 74, 79, 86, 105, 108, 109,
110, 119, 120, 124, 140, 146, 161, 167, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 182,
184, 186, 188, 189, 192, 193, 194, 196, 197, 199, 205, 206, 208, 209, 211,
221, 222, 224, 225, 235, 239, 260, 267, 268, 269, 270, 271, 272, 280, 281,
282, 283, 287, 290, 291, 292, 311, 313, 318, 319, 320, 322, 328, 329, 334,
347, 363, 376, 377, 379, 381, 384, 385, 386, 388, 390, 391
Perspectiva analítico comportamental 376
Perspectiva biológica do luto 12, 97, 162, 169, 189, 216, 295, 323, 373, 394
Pessoa 9, 16, 17, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 33, 34, 35, 37, 38, 45, 47,
53, 54, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 105,
106, 109, 114, 120, 121, 122, 130, 136, 145, 146, 147, 149, 150, 155, 158,
160, 163, 167, 169, 172, 173, 174, 192, 198, 200, 206, 210, 221, 222, 223,
224, 226, 227, 229, 230, 233, 235, 237, 240, 242, 243, 244, 245, 246, 247,
248, 249, 251, 252, 254, 255, 256, 257, 259, 260, 268, 269, 270, 271, 272,
273, 274, 278, 279, 284, 286, 287, 288, 289, 290, 302, 303, 305, 306, 307,
311, 312, 313, 316, 319, 323, 327, 328, 330, 331, 332, 333, 334, 335, 336,
337, 340, 341, 342, 344, 345, 349, 350, 353, 362, 365, 367, 376, 383, 384, 385
Pessoa que morreu 76, 122, 145, 150, 174, 210, 244, 247, 248, 251, 254,
255, 271, 312, 384
Processo 7, 8, 9, 10, 16, 18, 23, 27, 29, 33, 34, 37, 38, 39, 40, 43, 49, 51, 52,
53, 54, 55, 56, 57, 59, 60, 61, 62, 63, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80,
81, 83, 84, 85, 86, 87, 89, 91, 92, 93, 94, 96, 97, 99, 100, 101, 105, 106, 108,
111, 112, 113, 114, 117, 119, 120, 122, 123, 125, 126, 127, 128, 129, 132,
134, 138, 140, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 156, 157,
158, 159, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 181, 182, 185,
186, 187, 188, 189, 192, 193, 194, 195, 198, 199, 200, 204, 205, 206, 208,
209, 210, 211, 212, 217, 221, 222, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 230, 231,
232, 233, 234, 235, 239, 245, 246, 247, 248, 249, 251, 252, 254, 255, 256,
257, 260, 261, 268, 269, 270, 271, 272, 278, 283, 285, 286, 287, 291, 294,
301, 302, 304, 306, 311, 312, 313, 314, 315, 316, 317, 318, 319, 320, 321,
322, 325, 327, 328, 329, 330, 331, 332, 337, 338, 339, 340, 343, 344, 345,
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 401
350, 351, 353, 354, 358, 367, 368, 369, 370, 372, 378, 381, 382, 383, 384,
385, 386, 388, 391, 392
Processo de elaboração do luto 122, 156, 158, 185, 198
Processo de extinção 53, 178, 198, 248, 301, 302, 329, 345, 350, 353, 354,
382, 384
Processo e a prática da mudança 29, 97, 117, 189, 261, 358
Processo e a prática da mudança consciente 29, 97, 117, 189, 261, 358
Processo terapêutico 27, 33, 84, 87, 89, 91, 125, 127, 128, 129, 138, 140,
147, 148, 149, 150, 153, 158, 159, 226, 230, 233, 234, 252, 254, 255, 256,
271, 291, 304, 312, 313, 314, 315, 316, 317, 319, 321, 339
Proteção e defesa civil 377, 378, 392, 393, 394
Psicologia 9, 12, 14, 28, 32, 36, 47, 49, 53, 68, 69, 70, 99, 100, 101, 109,
110, 114, 116, 118, 122, 140, 142, 143, 144, 161, 162, 163, 164, 184, 188,
189, 192, 200, 203, 208, 212, 213, 217, 219, 220, 261, 262, 265, 288, 294,
296, 297, 306, 308, 314, 318, 322, 324, 325, 326, 329, 345, 346, 347, 348,
350, 351, 352, 355, 356, 357, 372, 374, 376, 378, 389, 391, 392, 393, 395,
396, 403, 405, 406, 407, 408, 409, 410, 411, 412, 413
Psicologia na gestão integral de riscos 376, 378, 391, 393
Q
Qualidade de vida 81, 83, 91, 95, 145, 191, 194, 199, 204, 215, 230, 233,
249, 250, 252, 253, 255, 256, 283, 305, 313, 345, 348
R
Raízes do luto e suas complicações 12, 164, 189, 218, 263, 297
Rede de apoio 106, 109, 112, 115, 117, 122, 168, 185, 187, 244, 250, 282,
288, 346, 351, 385
Reflexões sob a perspectiva da análise 12, 47, 69, 99, 142, 164, 189, 263,
297, 325, 359, 394
Relação terapêutica 8, 10, 20, 21, 22, 25, 26, 43, 51, 124, 125, 141, 151, 179,
250, 253, 254, 256, 257, 259, 265, 308, 311, 313, 314, 315, 316, 317, 319,
320, 321, 322, 323, 324, 325, 326, 336, 410
Respostas 10, 26, 32, 33, 34, 35, 37, 39, 40, 43, 45, 49, 50, 52, 53, 54, 55,
59, 61, 63, 64, 68, 73, 74, 75, 76, 78, 82, 83, 84, 86, 87, 104, 107, 109, 113,
114, 122, 134, 138, 149, 150, 152, 158, 168, 171, 172, 176, 177, 178, 179,
180, 184, 186, 198, 222, 240, 248, 249, 251, 252, 254, 257, 276, 301, 302,
402
307, 315, 317, 330, 331, 332, 341, 343, 346, 352, 361, 362, 363, 364, 365,
366, 367, 369, 371, 382, 383, 385
Respostas de fuga e de esquiva 177, 178
Revista brasileira de análise do comportamento 46, 48, 357, 359, 374, 394
Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva 30, 66, 67, 68, 69,
96, 140, 141, 142, 164, 188, 261, 324, 325, 360, 372
S
Saúde 13, 14, 22, 23, 31, 37, 44, 66, 67, 80, 83, 84, 93, 96, 102, 107, 109,
110, 111, 115, 116, 117, 118, 120, 121, 139, 141, 143, 152, 164, 170, 171,
173, 175, 176, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184, 186, 187, 188, 189, 190,
191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205,
208, 209, 210, 212, 213, 214, 215, 216, 218, 220, 221, 224, 231, 234, 244,
257, 259, 260, 261, 263, 264, 270, 272, 293, 294, 300, 305, 325, 328, 337,
346, 347, 348, 355, 356, 359, 362, 363, 366, 375, 376, 377, 378, 379, 380,
381, 383, 386, 388, 390, 391, 393, 394, 395, 396, 403, 405, 406, 407, 408,
409, 410, 411
Sentimentos 15, 16, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 38, 42, 43, 44, 55, 72, 75,
76, 77, 78, 81, 82, 84, 85, 87, 88, 89, 91, 105, 106, 107, 108, 111, 112, 113,
115, 121, 124, 125, 128, 131, 132, 133, 134, 135, 138, 139, 141, 142, 150,
153, 154, 155, 156, 158, 168, 170, 171, 180, 181, 182, 186, 189, 194, 197,
198, 200, 204, 205, 206, 208, 209, 210, 222, 223, 225, 226, 228, 229, 230,
231, 232, 233, 237, 246, 248, 249, 250, 252, 253, 254, 256, 257, 272, 276,
277, 291, 302, 303, 306, 307, 311, 315, 317, 318, 329, 336, 337, 338, 341,
342, 343, 345, 346, 351, 369, 370, 379, 386
Sentimentos e pensamentos 16, 21, 22, 25, 27, 121, 128, 131, 222, 225, 228,
229, 237, 302, 303, 307, 338, 341, 343, 351
Sofrimento 12, 14, 15, 17, 18, 20, 22, 25, 26, 32, 33, 41, 42, 62, 71, 73, 76,
77, 78, 79, 80, 83, 84, 88, 103, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 115,
119, 120, 121, 122, 124, 125, 153, 155, 167, 168, 172, 173, 179, 180, 181,
187, 191, 193, 197, 199, 200, 202, 205, 211, 222, 223, 224, 225, 226, 227,
229, 230, 231, 243, 245, 246, 247, 248, 250, 251, 252, 255, 260, 268, 269,
273, 274, 275, 276, 278, 280, 281, 286, 287, 291, 312, 313, 315, 318, 320,
327, 336, 337, 338, 342, 345, 348, 350, 351, 369, 370, 378, 379, 383, 384, 389
T
Tempo 12, 15, 16, 17, 23, 33, 35, 39, 40, 41, 42, 45, 55, 71, 72, 75, 76, 77,
78, 79, 80, 81, 82, 83, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 101, 109, 111, 114, 124,
130, 139, 144, 148, 153, 155, 156, 158, 165, 174, 181, 185, 191, 193, 198,
LUTO: Teoria e Intervenção em Análise do Comportamento 403
200, 201, 202, 203, 220, 222, 223, 224, 227, 230, 231, 232, 234, 235, 236,
239, 240, 246, 249, 254, 260, 267, 268, 270, 272, 274, 275, 277, 279, 280,
281, 282, 283, 285, 286, 287, 302, 303, 306, 307, 321, 330, 340, 341, 342,
343, 344, 346, 347, 350, 352, 353, 354, 377, 381, 382, 389
Terapia analítico comportamental 140, 143, 178, 262, 324, 409, 413
Terapia analítico comportamental infantil 140, 143, 413
Terapia cognitivo comportamental 409
Terapia comportamental 7, 9, 12, 13, 14, 20, 21, 27, 29, 30, 36, 47, 48, 51,
58, 59, 60, 64, 66, 67, 68, 69, 96, 98, 140, 141, 142, 143, 144, 161, 162, 163,
164, 165, 188, 220, 236, 253, 261, 306, 308, 322, 323, 324, 325, 335, 336,
360, 372, 405, 406, 407, 408, 409, 410, 411, 412
Terapia comportamental dialética 20, 29, 51, 58, 59, 64, 98, 162, 306, 335,
409, 410, 412
Terapia de aceitação 8, 10, 20, 21, 29, 51, 76, 96, 97, 99, 108, 117, 182, 189,
206, 221, 222, 225, 235, 251, 257, 261, 323, 335, 337, 339, 358, 359, 369,
403, 406, 409
Terapias comportamentais de terceira geração 20, 29, 70, 96, 98, 100, 161,
162, 323, 359
Trabalho 10, 13, 14, 17, 20, 21, 24, 30, 32, 35, 36, 37, 45, 46, 47, 60, 65, 67,
70, 80, 84, 85, 87, 93, 95, 96, 102, 107, 108, 110, 111, 121, 123, 124, 128,
134, 138, 139, 142, 143, 150, 151, 159, 162, 163, 165, 186, 189, 190, 192,
193, 195, 197, 208, 212, 213, 216, 218, 219, 221, 222, 226, 228, 233, 234,
235, 236, 241, 244, 248, 270, 271, 279, 280, 283, 288, 295, 301, 302, 303,
304, 305, 306, 307, 322, 324, 325, 326, 327, 330, 349, 354, 356, 358, 359,
365, 372, 373, 375, 376, 382, 388, 406, 407
Trabalho original 30, 46, 47, 70, 95, 143, 162, 163, 165, 189, 190, 212, 213,
216, 219, 241, 324, 326, 356, 358, 359, 372, 373
SOBRE OS ORGANIZADORES
Anna Laura Leal Freire:
Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), espe-
cializou-se em Clínica Comportamental pelo Instituto Goiano de Análise do
Comportamento (IGAC) e atualmente está finalizando o mestrado em Psicolo-
gia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Na sua atuação profissional
clínica tem se dedicado, sobretudo, à promoção da saúde emocional com os
seus clientes na terceira idade. E, paralelamente, no mestrado, a sua pesquisa
contemplou a realização de um grupo terapêutico com idosos enlutados sob
o viés das terapias comportamentais contextuais.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1374129594313538
Fabrícia Prado:
Trabalhadora Social Clínica Licenciada (LCSW) no estado da Geórgia nos
Estados Unidos. Obteve seu mestrado em Serviço Social pela Kennesaw State
University. Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de
Goiás, PUC-GO, Brasil. Trabalha com a comunidade latina na Geórgia desde
o início de seu programa de pós-graduação em 2010, quando concluiu seu
estágio facilitando avaliações biopsicossociais para latinos em suas casas,
avaliações de abuso de substâncias para clientes ordenados pelo tribunal e
grupos de esclarecimento de valores e manejo da raiva para mulheres latinas.
Atua em clínica privada na Prado Counseling and Consulting.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2687966484070977
Gabriela Bertelli:
Graduanda em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Inte-
resse em Análise do Comportamento e nas seguintes áreas de atuação: Acom-
panhamento Terapêutico, Clínica, Hospitalar e Pesquisa. Foi membro da Liga
Acadêmica de Farmacodependências da Unifesp em 2020; e pesquisadora
bolsista PIBIC-MackPesquisa sobre o fenômeno Homofobia a partir de uma
Perspectiva Analítico-Comportamental (2020-2021). Atualmente é Acompa-
nhante Terapêutica (AT) da Pró-Estudo; membro da comissão organizadora
da JAC-Mackenzie 2021; e aluna do curso de Aprimoramento: Formação
em AT pelo Paradigma Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9692962974746743
Luc Vandenberghe:
Psicólogo, com graduação e mestrado pela Universidade de Gent (Bélgica)
e doutorado pela Universidade de Liège (Bélgica). Fez formação em terapia
de casal e psicoterapia comportamental pela Universidade de Gent. Trabalha
em consultório particular em Goiânia (GO) e dá aula na PUC Goiás, onde
orienta no mestrado e doutorado de Psicologia e no mestrado em Ciências
Ambientais e de Saúde.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5143352856295345
Mariana Troesch:
Psicóloga graduada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestranda
no Centro de Estudos de Transtornos do Humor e Ansiedade - Programa de
Pós-graduação em Medicina e Saúde - UFBA sob orientação de Dra. Angela
Scippa. Especialista em Terapia Comportamental pela Universidade de São
Paulo (USP). Pós-graduação em Psicologia Hospitalar pela Faculdade Ruy
Barbosa. Atualmente é psicóloga clínica analítico-comportamental no Instituto
de Ciências e Tecnologia do Comportamento.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6726122995006690
Nione Torres:
Mestre em Psicologia Clínica na Análise do Comportamento-PUC - Campi-
nas. Especialista em Docência do Ensino Superior - Universidade Estadual
de Londrina. Formação em Terapia Comportamental Dialética (DBT) pelo
Behavioral Tech/The Linehan Institute-Seattle-EUA. Formação em Terapias
Contextuais - Centro de Pesquisas Paradigma. Criou o Instituto de Análise
do Comportamento em Estudos e Psicologia de Londrina (IACEP), atuando
até a presente data como terapeuta, coordenadora de projetos e supervisora
clínica. Membro da Associação Brasileira de Medicina e Terapia Comporta-
mental (ABPMC) e sócia-fundadora da Associação Brasileira de Stress. Autora
de artigos e capítulos de livros relacionados à área. Professora convidada
em Cursos de Pós-Graduação na área da Psicologia Clínica da Análise do
Comportamento. Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Luto do IACEP.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7312479000370108
Valeska Chester:
Psicóloga (Unifacs), Especialista em Psicologia Hospitalar (CFP), Especialista
em Terapia Analítico Comportamental (Unijorge). Aprimoramento Terapia
Analítico Comportamental Infantil (Instituto Transformação). Experiência e
atuação na área clínica e hospitalar.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/208792047692045
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Offset 90 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)