Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2024
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
Conselho Editorial:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro)
Carmen Tereza Velanga (UNIR)
Celso Conti (UFSCar)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Três de Febrero – Argentina)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB)
Élsio José Corá (UFFS)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR)
Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba)
Guillermo Arias Beatón (Universidade de La Havana – Cuba)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ)
João Adalberto Campato Junior (UNESP)
Josania Portela (UFPI)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)
Lourdes Helena da Silva (UFV)
Luciano Rodrigues Costa (UFV)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar)
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
Comitê Científico:
Adriane Piovezan (Faculdades Integradas Espírita)
Alexandre Pierezan (UFMS)
Andre Eduardo Ribeiro da Silva (IFSP)
Antonio Jose Teixeira Guerra (UFRJ)
Antonio Nivaldo Hespanhol (UNESP)
Carlos de Castro Neves Neto (UNESP)
Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO)
Edilson Soares de Souza (FABAPAR)
Eduardo Pimentel Menezes (UERJ)
Euripedes Falcao Vieira (IHGRRGS)
Fabio Eduardo Cressoni (UNILAB)
Gilmara Yoshihara Franco (UNIR)
Jairo Marchesan (UNC)
Jussara Fraga Portugal (UNEB)
Karla Rosário Brumes (UNICENTRO)
Leandro Baller (UFGD)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)
Luciana Rosar Fornazari Klanovicz (UNICENTRO)
Luiz Guilherme de Oliveira (UnB)
Marcel Mendes (Mackenzie)
Marcio Jose Ornat (UEPG)
Marcio Luiz Carreri (UENP)
Maurilio Rompatto (UNESPAR)
Mauro Henrique de Barros Amoroso (FEBF/UERJ)
Michel Kobelinski (UNESPAR)
Rafael Guarato dos Santos (UFG)
Rosangela Aparecida de Medeiros Hespanhol (UNESP)
Sergio Murilo Santos de Araújo (UFCG)
Simone Rocha (UnC)
Sylvio Fausto Gil filho (UFPR)
Valdemir Antoneli (UNICENTRO)
Venilson Luciano Benigno Fonseca (IFMG)
Vera Lúcia Caixeta (UFT)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem de capa: Saulo Duque McComb
Revisão: O Autor
S762
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-5667-5
ISBN Físico 978-65-251-5672-9
DOI 10.24824/978652515672.9
ÍNDICE REMISSIVO
SOBRE OS AUTORES
APRESENTAÇÃO
Como usar as roupas para pesquisar e ensinar história? De que maneira
os vestuários usados pelas pessoas e que estão nas imagens das obras
pictóricas, nas gravuras, nas fotografias podem ser os veículos para explicar
a história, contribuindo para a compreensão de conceitos como de espaço e
tempo e as diferenças que acompanham as noções de passado e de
presente? Como as temáticas e questões sociais, culturais, políticas e até
mesmo de saúde, que compõem a grade do conhecimento histórico em suas
temporalidades e fenômenos podem ser acompanhados pelas
transformações nas visualidades, nas aparências das pessoas? Como captar
e entender as variações nos padrões estéticos, as relações entre os artefatos
e os mecanismos de consumo com o crescimento das tecnologias virtuais?
Não menos importante, como usar as fontes impressas, os arquivos pessoais
e públicos, as plataformas virtuais e todo o arcabouço tecnológico presente
na sociedade contemporânea para pesquisar e ensinar história? E a moda,
que lugar ocupa ou pode ocupar nas narrativas históricas?
O desafio que propomos aos autores (as) foi o de responder a essas
interrogações de forma muito particular: transformar os conhecimentos das
pesquisas desenvolvidas durante a graduação, o mestrado e o doutorado ou
aquelas em curso, em quaisquer daqueles níveis, em insumos para a escrita
dos textos que auxiliassem os profissionais do ensino médio e superior de
história, a absorverem as roupas que formatam as aparências e visualidades
das pessoas no tempo para o ensino e a pesquisa. Nas respostas, os
encaminhamentos teóricos e metodológicos sobre como problematizar os
documentos, como deles extrair informações e obter pistas para evidenciar
os papéis desempenhados pelas roupas nas dinâmicas sociais, culturais e
políticas.
De certa maneira, o desafio lançado faz parte de um projeto maior que
vem sendo desenvolvido junto à Universidade Estadual de Maringá no
Laboratório de estudos e pesquisas em Moda. O La-moda, laboratório de
estudos e pesquisas em história, moda e cultura teve atuação ativa nos
últimos anos junto à graduação e pós-graduação em História (PPH-UEM),
na formação de estudantes e no desenvolvimento de pesquisas voltadas para
as temáticas da moda, dos gêneros e das aparências na história, inserindo as
roupas como fonte e objeto de múltiplas análises. Foi e é deste modo que o
La-Moda vem contribuindo para os avanços nos estudos sobre as roupas e a
moda no Brasil.
Durante os anos de 2020 e 2022, ocorreu uma significativa expansão do
laboratório. Com a pandemia do Covid 19, a realização de palestras pelo
Google Meet, com convidados(as) de diversas instituições de Ensino
Superior que pesquisavam temáticas da moda fez com que o laboratório
ficasse conhecido no Brasil. A difusão de informações sobre as palestras no
Instagram (@lamodauem), despertou o interesse e a curiosidade de
estudantes, pesquisadores e de pessoas em conhecer o que é a moda e como
esta podia ser estudada.
O estabelecimento de parecerias com estudantes, mestres e doutores(as)
de diversas universidades brasileiras foi crucial para o crescimento do
laboratório. Profissionais que atuavam no ensino de moda e de
historiadores/as que haviam construído suas trajetórias pessoais como
pesquisadores(as) sobre a história do vestir e das roupas ao serem
convidados(as) para palestrar, puderam apresentar os resultados de seus
estudos e oferecer uma rica coleção de temas que podiam se tornar novos
objetos de pesquisa. Assim, eram criadas as condições para muitas trocas de
experiências teóricas, metodológicas e historiográficas entre palestrantes e
participantes.
Foi no decorrer dos eventos do LA-moda que surgiu a ideia de produzir
o livro “As roupas na história: pesquisar, narrar e ensinar”. A ideia surge
quando o público presente nos encontros comentava sobre o interesse ou o
desejo de concretizar estudos, que considerassem como princípio basilar de
que a roupa é história e que por meio delas estudamos e conhecemos o que
é história. Segundo afirmavam, as graduações em História não contribuem
com as formações dos estudantes no sentido de ensinar a atentar, a observar,
a olhar e a valorizar as roupas nos documentos. Com isso, nas narrativas
produzidas como conhecimento histórico o que as pessoas vestiram ou
vestem passam desapercebidas, constituindo-se em meras ilustrações de
suas existências e presenças históricas. A carência na preparação durante a
graduação e pós-graduação se transformam, assim, em círculo vicioso. Isso
porque, se a formação pecou em não fornecer os subsídios para a leitura e
interpretação das imagens das vestimentas, o despreparo se espraia para as
salas de aulas, quando, como professores(as), devem e ensinar o que
aprenderam. Embora os livros didáticos e todo o arsenal pedagógico como
os filmes, os jornais, as revistas, os conteúdos televisivos possam ser
mobilizados para o ensino, o fato de o(a) professor(a) não saber lidar com
os conteúdos do vestir e dos usos que podem ser feitos das vestimentas
vestidas pelos(as) personagens na sala de aula faz que um rico material de
ensino seja inutilizado ou sequer considerado.
Para este público, que chamamos de interessado e que enfrenta
dificuldade em saber como executar os projetos de pesquisa e de ensino que
priorizem o que é dado a ver e a conhecer sobre os corpos dos personagens
que transformamos em históricos porque integrantes e atuantes nas
situações e circunstâncias que, no presente, são concebidas como
pertencentes ao passado é que o livro se dirige.
A narrativa do primeiro capítulo, “Incroyables et Merveilleuses. A moda
como objeto de pesquisa e ensino de História”, de Gabrielle Mello e Carlo
Romani pode ser lida como documento-depoimento dos interesses que o
conhecimento histórico-político desperta e as maneiras como orientanda e
orientador equacionaram as fontes e criaram um roteiro teórico,
metodológico e historiográfico para analisar as imagens da Revolução
Francesa adotando como foco de análise Les Incroyables et Merveilleuses.
É o resultado de trabalho acadêmico que tem aplicabilidade na sala de aula
para tratar de tópicos sobre os movimentos políticos e as roupas. Os
conceitos-chave das análises históricas, por exemplo, as lutas e as
correlações de forças, as disputas pelo poder, as diferentes posições
políticas, os embates entre as classes e/ou segmentos sociais e políticos, as
caracterizações de masculino e feminino, os pertencimentos às camadas
pobres e ricas da população quando examinados sob a perspectivas das
roupas podem ser exercitados, compreendidos e ensinados.
O capítulo descrito faz parte do conjunto de textos que integram a
primeira parte do livro. Denominada de “Pesquisar e ensinar”, a separação
tem uma razão de ser, dialogar mais diretamente com os profissionais de
história que atuam no ensino médio. Embora os recortes temáticos e
temporais ofereçam ideias e sugestões de encaminhamentos direcionados às
práticas pedagógicas, neles estão pistas significativas para futuras pesquisas
acadêmicas, tanto no aspecto bibliográfico quanto ao manuseio de fontes
primárias que podem conduzir a novos aproveitamentos, mediante novas
leituras e interpretações.
É preciso esclarecer que o livro foi pensado e organizado no amplo
debate sobre as Diretrizes educacionais para o ensino médio. Por isso, o
cuidado que tivemos foi o de tentar evitar o debate aprofundado sobre o
assunto, optando por oferecer estratégias de ensino que podem ser
ajustadas, adaptadas, remodeladas sem perder de vista o objetivo central, a
mobilização das práticas de vestir e das roupas como elemento fundamental
das análises e das narrativas.
No segundo capítulo, “A História da Moda como recurso didático no
contexto do novo Ensino Médio: O vestir e a modernização das cidades”,
conforme sugerido no título apresenta algumas reflexões que ajudam a
entender o debate atual. Escrito por Guilherme Telles da Silva, o panorama
traçado para o ensino e por meio do qual alguns pontos do debate se tornam
claros serve para costurar a proposta didática que tem por princípio de que a
moda pode ser o veículo para acompanhar as transformações das cidades,
decorrentes do processo de urbanização, da formação de rede comercial e
de serviços para a população, da ampliação das ofertas de estudo, trabalho e
lazer que exigem novas roupas, novos comportamentos, novos estilos de
vida.
Trata-se de texto que traz a experiência do pesquisador que durante o
mestrado escreveu a história da cidade de Maringá, adotando as lentes das
modificações que o crescimento urbano provocou nas aparências dos
homens, de como os motores da moda foram acionados na cidade para
favorecer a elegância e a beleza masculinas. A leitura pode oferecer muitas
ideias de como os(as) professores(as) de história podem aproveitar a
história da cidade para levar os(as) estudantes a pensarem de como as
passagens do rural para o urbano ou os compassos observados nos modos
como surgiram e cresceram transformaram as roupas e as aparências das
pessoas. É uma maneira de transformar as ideias contidas em uma proposta
pedagógica em outras tantas intervenções didáticas com o objetivo de
desenvolver o gosto e o interesse dos estudantes pela disciplina de História.
Dois capítulos que trilham os caminhos de projeto didático-pedagógico,
indicando os benefícios que os(as) professores(as) podem extrair das roupas
e da moda na sala de aula para ensinar história são: Eva Perón como
proposta de eletiva na perspectiva dos estudos da moda, de Ivana Aparecida
Marques Cunha e de Larissa Klosowski de Paula e o capítulo Moda, Ensino
de História e a Primeira Guerra Mundial, de Letícia Fernochi.
O ponto de partida que fundamenta a proposta sobre Eva Perón (1919-
1952), traz algo, como pano de fundo, de suma importância que é o papel
das primeiras-damas na política ou os poderes que delas emanam como
esposas dos Presidentes da República. A consideração que sustenta a
argumentação para levar Evita para a sala de aula é a de que a personagem
não ocupa lugar de destaque nas narrativas dos livros didáticos, aparecendo
como apêndice da figura de Juan Perón (1895-1974). Todavia, a ideia
defendida para construir a dinâmica pedagógica que visa aproximar os(as)
estudantes da personagem é o de reconhecer o significado que a moda
praticada pela primeira-dama foi parte integrante da política peronista.
Acompanhar as transformações corporais de Eva Perón conectadas à
moda que praticava e disseminava, influenciando as mulheres argentinas faz
parte do método de ensino de história desenvolvido pelas autoras.
Levantando questões e posicionando-se sobre o ensino de história e, ao
mesmo tempo, oferecendo um roteiro para integrar Evita ao conhecimento
histórico como parte da história da América latina são estabelecidas as
etapas e as estratégias didáticas. Elas são orientadas pela instrumentalização
das roupas, das aparências, os modos de vestir e de usar os artefatos pela
personagem para produzir efeitos de beleza e elegância sobre o corpo. É
assim que a moda se torna em recurso explicativo para a compreensão do
significado que a personagem para a história das mulheres e do primeiro-
damismo.
De certo modo, o texto oferece uma pauta de análise que pode ser
mobilizada para o estudo de personagens na história, particularizando e
estudando trajetórias de homens e mulheres e os papéis que as aparências,
os cuidados estéticos, as intervenções sobre os corpos com adornos e
enfeites tiveram nas produções e perpetuações de imagens. Merece
destaque, ainda, os benefícios que as metodologias biográficas podem
extrair das aparências para entender as trajetórias quando examinadas sobre
o enfoque das mudanças resultantes do tempo. O corpo e a roupa são
históricos. Empregado como princípio pode ser ensinado e explorado para a
percepção da passagem do tempo e das sucessivas mudanças físicas,
medidas pelos tipos e estilos de roupas. As roupas se tornam, assim, em
marcadores biográficos que permitem dimensionar a passagem do tempo e
as transformações operadas sobre as aparências, delimitando a infância, a
juventude e a velhice em suas múltiplas faces, familiares, escolares,
profissionais etc.
Outra face da relação entre os fenômenos políticos e a moda é deslindada
pela Letícia Fernochi ao deter-se sobre as transformações na moda feminina
durante os anos da Primeira Guerra mundial. Foi a constatação da falta de
abordagens sobre a moda e o ensino de história que movimentou a pesquisa
desenvolvida no mestrado do ProfHistória polo da Universidade Estadual
de Maringá (UEM) e cujos resultados, como soma de levantamento de
informações no Jornal das Moças (1914-1918), e de aportes históricos e
historiográficos sobre/para a Primeira Guerra Mundial, com foco nas
mulheres, forneceram as condições para o desenvolvimento da sequência
didática destinada ao terceiro ano do ensino médio. Além da sequência, o
retorno obtido, como resultado/resposta do público discente faz parte do
relato da professora-autora.
Como relato da experiência, como prática pedagógica, os pontos altos da
narrativa estão na descrição pormenorizada acerca de como usar as fontes
impressas na sala de aula, quais mecanismos de leitura e de interpretação
podem ser mobilizados para que os(as) estudantes captem as diferenças
entre as abordagens encontradas nos livros didáticos e em outros artefatos
históricos, como os jornais e as revistas. Associado a este aspecto, é a
potencialidade das roupas e da moda para facilitar a compreensão das
mudanças nos vestuários que acompanham e traduzem os tempos de
conflitos mundiais que se mostra bem-marcada no texto. Ao enfocar as
mulheres, as roupas e a moda são instituídas a pauta da estratégia narrativa
e pedagógica que traz para a cena dos fatos, o feminino, preenchendo
lacunas presentes em outros artefatos pedagógicos bem como ajudando
os(as) estudantes a entenderem que os assuntos e as questões dos homens
são veículos para mudanças nos visuais e nos comportamentos dos
segmentos femininos.
Finalmente, fechando a primeira parte do livro, os capítulos sobre o
carnaval e as tecnologias de ensino tratam de aspectos relativos à história
do tempo presente. No capítulo, “O carnaval das escolas de samba e o
ensino de história”, Pedro Covre Marchiori sugere encaminhamentos para
utilizar os materiais produzidos nos desfiles das escolas de samba, em
particular, da Mangueira, como recurso didático-pedagógico. Nas
entrelinhas, a noção de desfile feito de música e fantasias sobre o corpo
servem para relacionar os conteúdos musicais e imagéticos que, levados
para a sala de aula, possibilitam a reflexão de temáticas políticas, sociais e
culturais do tempo presente, aproximando os estudantes da realidade
brasileira.
Um ponto que aparece de forma tangencial no texto do Pedro e é
esmiuçado no capítulo da Vandete Almeida [Negavan], “Tecnologias no
Ensino de História e Moda na Cibercultura” diz respeito às difusões de
informações nas redes de comunicação virtuais e como elas beneficiam as
pesquisas na contemporaneidade, facilitando o acesso e o levantamento de
dados necessários às investigações, como é o caso dos Carnavais. Os sites,
as plataformas virtuais que permitem o acesso aos jornais e revistas são
ferramentas que contribuem com as pesquisas e o ensino de História.
Além disso, e de forma precisa, Negavan analisa a tecnologia no tempo
presente da educação e da moda. Ao enfocar o Cibermoda, como relação
entre moda e tecnologia, são detalhadas as mudanças na produção e
consumo de roupas físicas e digitais. Um campo de pesquisas de grande
interesse para o/a historiador(a) da moda. Não somente. É campo e
instrumento de investigação para os/as estudantes que, acostumados/as com
as redes sociais podem entender os usos da tecnologia da moda para
estimular as práticas de consumo, para expandir e globalizar o mercado e,
portanto, a internacionalização do gosto e do estilo de vestir.
Chegamos, assim, a segunda parte do livro Explicar e narrar. Composto
por três capítulos, “As roupas como modelos explicativos nas máquinas de
tecer a história”, de Ivana Guilherme Simili e Paula Linke; “O uso das
fontes na construção do vestuário”, de Laiana Pereira da Silveira e
Frantieska Huszar Schneid; “Lygia Clark e Helena Almeida: vestir a obra
de arte”, de Flavia Jakemiu Araujo Bortolon.
Nesta parte, o foco central é o de ajustar as lentes mediante a retomada e
o incremento de pontos tratados na anterior, porém, ampliando-os com o
objetivo de enriquecer conceitos, práticas de pesquisa e de ensino, como
complementares e associadas para o bom desempenho dos(as)
estudantes(as) na realização de investigações acadêmicas e dos(as) docentes
que, estimulados pela leitura queiram aproveitar as ideias com as quais
entraram em contato e queiram desenvolver outras dinâmicas pedagógicas
na sala de aula.
Se em alguns textos da primeira parte a proposta da narrativa foi a de
construir um guia para as intervenções pedagógicas, esta face não está
ausente na segunda. Todavia, como o(a) leitor(a) perceberá, é possível a
partir das sugestões oferecidas numa parte, encontrar outros apoios teóricos,
metodológicos, históricos e historiográficos na outra.
Isto posto, “As roupas como modelos explicativos nas máquinas de tecer
a história”, instrumentaliza duas peças indumentárias, o vestido e o tailleur
para relacionar as transformações históricas com as mudanças no vestir.
Logo, nas roupas, as autoras encontram os suportes materiais para explicar
a história. A lógica é, o surgimento de um estilo indumentário, como o
vestido e as subsequentes alterações que nele se processam é a própria
história se fazendo, introduzindo mudanças, ajustando-as e adequando-as de
acordo com o tempo, com as exigências sociais, culturais e políticas que
repousam sobre os indivíduos como homens e mulheres. Como
consequência, as roupas, como conjunto de peças que se alteram com o
tempo, explicam a história, como períodos feitos por indumentárias, com os
surgimentos, as permanências, as mudanças, as manutenções, os
redimensionamentos e as atualizações.
Laiana Pereira da Silveira e Frantieska Huszar Schneid oferecem vários
caminhos para os usos das fontes nas investigações sobre vestuários. Os
cuidados conceituais e o detalhamento minucioso sobre os empregos das
fontes, transformados em documentos são os pontos altos da narrativa. O
olhar detido sobre o jornal Diário Popular, as operações e estratagemas
criados para o levantamento e sistematização das informações sobre o vestir
em Pelotas nos anos 1980 e todo o aparato desenvolvido para confrontar e
explicar as imagens, com ênfase nas fotografias de casamento faz que o
leitor(a) acompanhe a metodologia que amparou o processo de pesquisa.
Memória, cultura material, fotografias, vestir de forma geral e nos
casamentos, em particular, são conceitualmente e empiricamente
explicados. Na narrativa, os parâmetros como critérios e ações
desenvolvidas durante a pesquisa contribuem para a compreensão e
inspiração para futuros estudos e manuseios pelos docentes no ensino de
história.
E a arte, o que tem a dizer sobre o vestir e as roupas? A resposta é dada
por Flávia Jakemiu Araujo Bortolon, por intermédio de duas personagens,
Lygia Clark e Helena Almeida. Nas trajetórias das mulheres-artistas e
produtoras visuais, a autora esmera-se por explicar como a arte é um
veículo para a exploração do corpo, do espaço e as complexidades do que
podemos chamar de experiências feminino no tempo e nas produções
artísticas. Entre os méritos do texto, os potenciais que o estudo apresenta
para refletir os significados da arte, o que é arte e como a arte é vestida nas
produções artísticas e visuais de mulheres e os matizes das diferenças
quando confrontadas com aquelas produzidas pelos homens. Outro ponto a
destacar é como as mulheres-artistas instrumentalizam a arte para
denunciar, questionar e reivindicar direitos, combater as violências e se
posicionarem no enfrentamento das desigualdades sociais, culturais e
políticas. Sem dúvida, um leque de temas se abre por meio da arte como
objeto de pesquisa e de ensino de história pautada na explicação das
mulheres e seus fazeres e afazeres na sociedade e na cultura.
Esperamos que o livro seja lido e compreendido como conjunto de
ideias, sugestões, propostas que contribuam para fortalecer o interesse e a
vontade de conhecer a história por meio de algo que faz parte de nossas
vidas, desde que nascemos e que nos acompanham a vida toda, que são as
roupas com as quais caminhamos pela vida, contando a nossa história e das
pessoas que o habitam.
Acreditamos que levar a roupa e a moda para a sala de aula pode
contribuir para que a história ganhe formas e cores, para que os enredos
históricos ganhem vida. Isto porque as roupas dão vida, é a vida que se faz e
que se narra por meio do que usamos, quando e como usamos, para quem e
com que objetivo. Por intermédio das roupas, os personagens do passado e
do presente deixam de ser anônimos, adquirindo as identidades dos
contextos sociais, culturais e políticos em que viveram ou vivem e, com
eles, suas ações no tempo e no espaço.
(Elsa Schiaparelli).
2022! Ano de eleição e ano de copa, dois eventos com suas diferenças e
uma peça de roupa em comum o marcaram: a camisa da seleção brasileira
de futebol. A famosa camisa canarinho teve um novo significado agregado
a ela. Apoiadores do presidente Bolsonaro puderam ser identificados por
utilizá-la nas situações mais diversas e na maioria das vezes eles realmente
queriam ser assim reconhecidos. Nos últimos anos essa peça de roupa, tão
comum no guarda-roupa da população, foi vetada por alguns e vangloriada
por outros. Entretanto, com a realização da Copa do Mundo no Catar, em
novembro de 2022 após a derrota de Bolsonaro nas urnas, o uso dessa peça
de roupa, um verdadeiro símbolo do país, continuou entrando em pauta nas
várias conversas cotidianas. Nesse contexto, alguns até cogitaram trajar a
versão azul da camisa para não haver nenhum tipo de problema ou de
identificação com o governo Bolsonaro3.
Esse caso da camisa amarela da CBF exemplifica claramente o peso e o
simbolismo que uma peça de roupa pode carregar. A moda está próxima de
todos nós sempre, cada decisão de roupa para ser usada em um evento ou
para seus fazeres diários é uma escolha de como queremos nos apresentar
para a sociedade. Quando, por exemplo, vemos um álbum de família, na
maioria das vezes conseguimos reconhecer os eventos ocorridos pelos trajes
das pessoas em cada foto e ainda especular a época e situação que elas
retratam. É isso que a história e a moda, quando misturadas, nos permitem
trilhar: caminhos para explorar mais detalhes sobre o passado e suas
repercussões no presente.
Retornando à França, lugar de onde surgiu a motivação para este texto,
diferentemente de outras edições, nas quais os mascotes escolhidos foram
animais, para as Olimpíadas de 2024, a serem sediadas em Paris, o “barrete
frígio” foi escolhido como mascote dos jogos olímpicos. Tony Estanguet,
presidente dos Jogos de Paris 2024 justificou a escolha das “Phryges” com
o intuito de representar um ideal e a visão do país, expandindo essas ideias
para o mundo junto com a identidade e o espírito francês. A história da
França com os famosos tipos de chapéu nos leva de volta à Revolução
Francesa. Os barretes frígios não foram uma exclusividade da República
francesa, provieram dos escravos libertos na Grécia e Roma antigas e de
marinheiros e condenados das galés navegando no Mediterrâneo. Foi
justamente essa conexão com o ideal de liberdade contido em um simples
chapéu que inspirou os revolucionários franceses a adicioná-lo à sua própria
história. Segundo Paulo Morais-Alexandre, ao usá-lo “os revolucionários
estabeleciam uma comparação com a própria libertação do que
consideravam ser a opressão do Antigo Regime e o próprio rei Luís XVI
teria sido forçado a usá-lo” (Morais-Alexandre, 2008, p. 6).
Quando se estuda a Revolução Francesa, muitos professores e os livros
didáticos colocam ênfase nos sans-culottes, os homens e mulheres francesas
das camadas baixas, revolucionários por excelência. O apelido destes,
dados por membros da aristocracia francesa, devia-se à diferença das calças
utilizadas pelas duas classes. Os sans-culottes vestiam calças mais simples e
com um corte reto bem diferente daquelas das classes mais altas, que
usavam calças justas na altura do joelho. Junto com o barrete e a insígnia
tricolor esses homens se tornaram um dos símbolos da luta revolucionária.
As mulheres sans-culotte também se caracterizavam pelas seus vestidos
simples, cobrindo todo seu corpo e pelo uso de toucas na cabeça e de
tamancos nos pés.
Figura 2 – The Pretty Sans-Culotte under Arms with The Sans-Culotte of August 10th
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:La_Faction_IncroyableC%27est_affreux_par_un_tems_co
mme_cela_._G.26213.jpg (wikicommons).
Tempo de
10 aulas
execução:
Materiais
Conforme disposto em cada uma das atividades
necessários:
ATIVIDADE 1
ATIVIDADE 2
Imprensa feminina no Brasil durante o período da
Conteúdo
Belle Époque
Tempo estimado 1 aula
Objetivos específicos
• Caracterizar a imprensa feminina no Brasil durante o período da
Belle Époque;
• Refletir sobre o papel das revistas destinadas ao público feminino;
• Evidenciar a revista Jornal das Moças.
Metodologias e estratégias
Nessa aula o(a) professor(a) poderá iniciar indagando aos(às)
estudantes sobre seus conhecimentos a respeito de periódicos em geral e
por meio das colocações dos(as) estudantes levar a reflexão sobre a
origem deles, chegando ao momento da Belle Époque. Nesse período
existe um grande aumento dos periódicos destinados às mulheres,
principalmente revistas com conteúdos sobre casa, moda, culinária,
eletrodomésticos, conselhos amorosos ou sentimentais etc., uma dessas
revistas que vale a pena o(a) professor(a) destacar seria o Jornal dos
Moças.
O(a) professor(a) pode basear essa aula no artigo Revistas femininas e
educação da mulher: o Jornal das Moças de Nukácia M. Araújo de
Almeida. E assim, através de reflexões realizadas em conjunto com os(as)
alunos(as), debateriam as temáticas dessas revistas e as motivações para
seu crescimento no período trabalhado pela sequência didática, deixando
as hipóteses anotadas no quadro e os(as) estudantes iriam registrando no
caderno.
O(a) professor(a) poderia selecionar uma ou duas edições da revista
Jornal das Moças. Aqui sugerimos as edições n.4 e/ou n.14, levando para a
sala de aula através do projetor multimídia, ou página imprensa se houver
a possibilidade. Tudo para que os(as) estudantes tenham contato com o
material, analisem seu conteúdo e consigam elencar quais das hipóteses
levantadas na discussão acima eram verdadeiras, quais não eram temas
colocados em publicações destinadas às mulheres. O(a) professor(a) pode
estimular os(as) estudantes a relatarem aquilo que mais os surpreenderam
na revista original.
Recursos didáticos
Quadro, giz, projetor multimídia ou TV pen-drive, texto de apoio.
Referências
ALMEIDA, Nukácia Araújo de. Revistas femininas e educação da
mulher: o jornal das moças. Anais do Simpósio ALB, 2014.
BUITONI, Dulcília Shroeder. Imprensa feminina. São Paulo: Editora
Ática, 1986.
JORNAL DAS MOÇAS. Rio de Janeiro. Menezes, Filho & C. Ltda. 1914-
1965. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/jornal-
mocas/111031. Acesso em: 14 jan. 2021.
ATIVIDADE 3
Conteúdo Introdução à Primeira Guerra Mundial
Tempo estimado 2 aulas
Objetivos específicos
• Contextualizar a situação dos principais países do início do século
XX;
• Debater os motivos que motivaram a Primeira Guerra Mundial e
eclodir;
• Como estava o Brasil no mesmo período;
• A situação de vida das mulheres nesse mesmo momento.
Metodologias e estratégias
Nesse momento, o(a) professor(a) irá introduzir para os(as) estudantes
o tema Primeira Guerra Mundial, começando pela contextualização dos
anos antes da guerra começar, os fatores que geravam tensões entre os
países, os motivos das rivalidades, a formação das alianças, entre outros
aspectos. Também fará uma breve explanação sobre a situação do Brasil
no período, relembrando junto aos estudantes as aulas anteriores. Refletirá
junto com os(as) estudantes sobre o papel atribuído às mulheres naquele
momento e como seria a rotina de mulheres de classe baixa e mulheres de
classe média e alta. Assim, o(a) professor(a) irá anotando no quadro as
principais indagações e constatações e juntos aos estudantes vai
analisando e refletindo sobre o tema. Nesse momento, pode-se fazer uso
do livro didático no capítulo sobre o tema para ler junto com os(as)
alunos(as) e destacar os pontos considerados mais importantes.
Em seguida, o(a) professor(a) poderá colocar como a guerra se iniciou e
os primeiros passos dados pelas alianças a partir daí. Para auxílio
pedagógico nessa temática e também como uma forma de mostrar aos
estudantes características da época trabalhada, como as roupas por
exemplo, o(a) professor(a) poderá usar uma parte do documentário
Primeira Guerra Mundial: o fim de uma era que é facilmente encontrado
no Youtube (sugiro os primeiros 20 a 30 minutos).
Recursos pedagógicos
Quadro, giz, TV pen-drive ou projetor multimídia, livro didático.
Referências
Livro didático utilizado pelo Colégio.
PRIMEIRA Guerra Mundial: o fim de uma era. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=s25JGNCSu4M. Acesso em: 18 jan.
2021.
EVA PERÓN COMO PROPOSTA DE
ELETIVA NA PERSPECTIVA DOS
ESTUDOS DA MODA
Ivana Aparecida Marques Cunha
Larissa Klosowski de Paula
Eva Perón: a -
madona dos Catalogação
descamisados básica dos
(1997) - Apresentação geral da biogra a; dados
(EM13CHS101) apresentados
- Solicitar que os/as estudantes escolham leiam uma produção
Eva Perón: a (EM13CHS104) no formato
acadêmica sobre a obra bibliográ ca.
madona dos (EM13LGG101) digital
Sugestão:
descamisados (EM13LGG201) escolhido
https://domalberto.edu.br/wp-
(1997) (EM13LGG202) pelos/as
content/uploads/sites/4/2017/06/Representatividade-dos-media-na-
(EM13LGG401) estudantes;
Eva Perón: a biogra a-de-Eva-Per%C3%B3n.pdf - Criação de
madona dos conteúdo
descamisados sobre a
(1997) temática.
Análise
imagética – -
Revista Catalogação
Mundo básica dos
Peronista dados
- Apresentação das 18 capas da Revista Mundo Peronista em que
apresentados
Análise Eva Perón é representada; (EM13CHS101)
formato
imagética – - Solicitar que os grupos de estudantes selecionem pelo menos (EM13CHS104)
digital
Revista duas capas de revista para analisar e representar em conteúdo (EM13LGG101)
escolhido
Mundo digital. (EM13LGG201)
pelos/as
Peronista Acesso à revista: (EM13LGG202)
estudantes;
Análise https://www.upcndigital.org/micrositios/CIPER/ciper2/politics/mp.html
- Criação de
imagética – conteúdo
Revista sobre a
Mundo temática.
Peronista
Competência
Tema Desenvolvimento da Proposta Produto
da BNCC
Documentário -
A Tumba sem Catalogação
Paz (1997) básica dos
Documentário - Assistir ao documentário; dados
A Tumba sem - Solicitar que os/as estudantes façam uma apresentação do (EM13CHS101)
apresentados
Paz (1997) documentário em formato digital (vídeo, colagens, entre outros); (EM13CHS104)
no formato
- Apresentação, pelos/as estudantes das cenas que mais os/as digital
(EM13LGG101)
impactaram. escolhido
(EM13LGG201)
Acesso em: pelos/as
Documentário https://www.youtube.com/watch? (EM13LGG202)
estudantes;
A Tumba sem v=Wp3vStUKt9A&ab_channel=TomGil - Criação de
Paz (1997) conteúdo
sobre a
temática.
A conexão -
entre Eva Catalogação
Perón e as básica dos
mulheres dados
trabalhadoras - Tradução e leitura de texto acadêmico que aborda as temáticas; apresentados
(EM13LGG101) no formato
- Divisão do texto entre os grupos para tradução;
A importância - Criação de conteúdo para compartilhamento. (EM13LGG202) digital
da inserção Sugestão de texto: (EM13CHS101) escolhido
de Eva Perón https://www.econstor.eu/bitstream/10419/84327/1/663858399.pdf (EM13CHS603) pelos/as
no espaço estudantes;
público - Criação de
conteúdo
Criação de sobre a
conteúdo temática.
- Preparação
do produto
Preparação
para Competências nal com
Momento para os grupos prepararem os produtos idealizados e auxílio do/a
culminância gerais 2 e 7 da
concretizados por eles/as, relacionando o que fora apreendido com professor/a
Área de
formas de apresentação para os/as demais estudantes e a
Linguagens regente.
comunidade escolar.
Preparação (EM13CHS103) - Alinhamento
para nal das
culminância propostas
Competência
Tema Desenvolvimento da Proposta Produto
da BNCC
-
Apresentação
dos produtos;
- Realização
das
Competências
avaliações
Momento de demonstração das produções estudantis para os/as gerais 2 e 7 da
Culminância das formas
demais estudantes da unidade escolar e comunidade Área de
de
Linguagens
apresentação
propostas
(pelos/as
próprios/as
estudantes)
Fonte: As autoras.
MANGUEIRA, TIRA A POEIRA DOS PORÕES Ô, ABRE ALAS PROS TEUS HERÓIS
DE BARRACÕES DOS BRASIS QUE SE FAZ UM PAÍS DE LECIS, JAMELÕES SÃO
VERDE E ROSA AS MULTIDÕES.
A segunda estrofe ainda conta com a parte “DESDE 1500 / TEM MAIS
INVASÃO DO QUE DESCOBRIMENTO / TEM SANGUE RETINTO,
PISADO / ATRÁS DO HERÓI EMOLDURADO / MULHERES,
TAMOIOS, MULATOS /EU QUERO UM PAÍS QUE NÃO TÁ NO
RETRATO”, que questiona o termo usado para a chegada dos portugueses
ao Brasil, afirmando que esse processo foi de invasão e não de descoberta,
uma vez que aqui já estavam presentes povos indígenas, lançando luz ao
processo colonial violento.
A história brasileira foi escrita pelo olhar do homem branco colonizador, assim, o seu ponto
de vista foi usado para descrever fatos históricos do Brasil e a narrativa dessa escrita colocou
esse personagem como aquele que venceu na história, como o herói nacional (Silva, 2021, p.
42).
“A História,− talvez a menos estruturada das ciências do homem, aceita todas as lições de
sua múltipla vigilância e esforça-se por repercuti-las”
(BRAUDEL, 1965).
Introdução
A grande tecnologia do século XX, uma máquina que se convencionou
denominar computador ou personal computer17, destinada ao tratamento e
armazenamento de informações, acoplada a outros meios de comunicação,
como a televisão e o cinema, originou novas linguagens, códigos, conceitos
e produtos que influenciaram em diferentes campos e em diversificadas
atividades se políticas, econômicas, sociais e culturais, também
educacionais.
No campo da cultura, alterou as formas de comunicação e interação
humanas, constituindo mudanças nas produções artístico-culturais
transformando, significativamente, comportamentos e costumes
considerados seculares como a produção e os padrões de consumo, a
transmissão e disseminação de informações e de códigos históricos,
congregando em um mesmo espaço (cibernético ou ciberespaço), as
faculdades orais, escritas e audiovisuais da escrita e das linguagens naturais,
matizando novas terminologias como cibercultura e cultura da virtualidade
real (Lévy, 1999; Castells, 2000).
Na área educacional, já não é recente o uso de tecnologias em processos
que impliquem transmissão de saberes, práticas de ensino e atividades
cognitivas de aprendizagem inerentes ao raciocínio humano. A Informática
Aplicada à Educação, ou o ensino mediado por tecnologia, datam da década
de 1950 com trabalhos e abordagens em torno da aprendizagem humana,
cuja evolução acompanhou processos de desenvolvimento e
aperfeiçoamento de novos produtos tecnológicos, de hardwares e softwares,
com a incorporação de técnicas de inteligência artificial e a origem de
novos métodos educacionais.
Daí por diante, ou mais recentemente, a espécie humana passou a dispor
de um complexo arsenal tecnológico que a atende não somente no ato de
registrar a passagem dos tempos, mas, e, sobretudo, tem sido atendida em
condições que exige o processar, o armazenar, o distribuir e transmitir os
resultados de sua produção material e intelectual. Atingindo várias faces das
atividades humanas a tecnologia, ou mais contemporaneamente, as
tecnologias de informação e comunicação, tem e vem revolucionando as
condições nas quais atuam os profissionais das mais diferentes áreas do
saber-fazer, da produção e transmissão do conhecimento, do ensinar e do
aprender.
Assim, se o uso de novas tecnologias tem provocado mudanças nas
formas e meios de registro da “evolução” humana, produção, transmissão e
aquisição de novos conhecimentos, também as roupas e o vestuário, por
intermédio da moda, tornaram visíveis e palpáveis os avanços em
tecnologia e as transformações e mudanças pelas quais se tem registrado a
passagem dos tempos e os códigos culturais que imprimiram mutações em
diferentes instâncias da criação e do consumo, material e imaterial,
ocasionado alterações no funcionamento de grupos e, consequentemente,
alterando processos de organização e originando diferentes conotações e
denominações para as sociedades humanas, como sociedade industrial, do
conhecimento, da informação ou, a recém sociedade em rede18. Termos que
ressaltam a histórica relação e interação entre sociedade e tecnologia, bem
como, a pujante presença e mediação dos sistemas midiáticos de
informação e comunicação que contribuíram com a origem e a emergência
de novos paradigmas contemporâneos, denominados eletrônicos ou
designados virtuais. De paradigmas, que se relacionam com a evolução de
técnicas e o desenvolvimento de tecnologias, com o estudo histórico dos
meios de comunicação e das diferentes mídias que influenciaram e se
desenrolaram em sincronia com cenários e contextos de transformações
sociais, culturais, educacionais, econômicas e políticas.
Considerando, portanto, um tal cenário de mudanças e transformações, o
que sucintamente se propõe explorar nesta sumária proposta de análise
histórica e socioeducacional, consiste em discorrer sobre uma realidade
mediada por distintas teorias que buscam captar os efeitos, ou as mudanças,
que diferentes tecnologias têm e vêm provocando nos padrões de
sociabilidade, nas relações que os indivíduos estabelecem com as distintas
áreas da educação, do ensino e transmissão do conhecimento. Sobre teorias
e tecnologias que imprimiram consideráveis alterações em vários aspectos
das formações educacionais e profissionais, em especial no ensino de
história que, além de outros objetos de ensino e aprendizagem também
contempla linguagens, conceitos e temas diversos, como o estudo do uso de
roupas e a moda na evolução das sociedades humanas, ora mediadas por
ferramentas tecnológicas emergentes. Por tecnologias de informação e
comunicação tanto suscetíveis da investigação historiográfica, quanto do
fazer didático e pedagógico. Assim, e não menos relevante, também busca
aludir sobre o ensinar, o aprender e o fazer humanos, seja em um mundo
real, ou virtual, por onde perpassam espaços de produção e transmissão de
saberes que viabilizam ímpares possibilidades de construções narrativas,
bem como, alguns níveis de entendimento da relação ou conexão entre
passado e presente, ou entre passados-presentes.
Sistemas de Informação na Educação e Tecnologias na História
Ao final do século XX e início do século XXI, o valor e poder da
informação se evidenciaram tendo como substrato a exploração e utilização
de equipamentos eletrônicos que provocaram a origem e o aparecimento de
novas ciências multidisciplinares, de novas tecnologias e de novos sistemas
para a produção e acúmulo de conhecimentos, determinando e definindo a
atual organização social mais tradicional, ou convencionalmente,
denominada Sociedade da Informação19.
Sob este devir social, científico e tecnológico, estudos e registros de
diferentes áreas do conhecimento apontam que as pesquisas e a utilização
de computadores, recursos da informática e de sistemas informatizados no
âmbito da educação surgem com trabalhos e abordagens em torno da
aprendizagem humana. Sua evolução acompanhou processos de
desenvolvimento, aperfeiçoamento, propagação e comercialização de novos
produtos tecnológicos, como softwares e hardwares, a incorporação de
técnicas de inteligência artificial (IA) que resultaram no estabelecimento de
paradigmas educacionais.
Sob o paradigma educacional baseado em tecnologia, os primeiros
sistemas e abordagens que contemplavam o uso de computadores para fins
educacionais foram classificados de Instrução Assistida por Computador ou
Sistemas CAI (Computer Assisted Instrucion). No entanto, essa abordagem
apresentava deficiências do ponto de vista pedagógico, dentre elas, a
inadequação às características específicas dos aprendizes.
Com o avanço tecnológico e aplicação de inteligência artificial, surgem
os sistemas denominados de ICAI (Intelligent Computer Assisted
Instruction) ou Sistemas Tutores Inteligentes (STI). As abordagens
denominadas de Instrução Assistida por Computador (IAC) fundamentaram
os primeiros sistemas e softwares educacionais. Considerados apenas como
simples programas “viradores de páginas eletrônicos”, esses sistemas foram
denominados de programas lineares por terem sido desenvolvidos segundo
as teorias comportamentalistas behavoristas estímulo-resposta de Skinner20.
Dentre as principais deficiências apresentadas pelos sistemas CAI
apontava-se, dentre outros aspectos, a rigidez pedagógica, a falta de
capacidade de adaptação às características dos diferentes aprendizes e a
escassez de recursos didáticos.
Ainda nesta linha de evolução, a abordagem Micromundos21 e a
linguagem de programação Logo22 desenvolvida ao final dos anos 1960,
também foram “ferramentas” que abriram caminhos para a inserção de
computadores e tecnologias emergentes na Educação e em processos de
ensino-aprendizagem. Desenvolvida no Massachussets Institute of
Tecnology (MIT), pelos cientistas americanos da computação Wallace
Feurzeig (1927-2013) e Daniel Bobrow (1935-2017), e pelo matemático e
educador sul-africano Seymour Papert (1928-2016), inspirava-se nos
modelos construtivistas do psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896-
1980)23 tendo Papert como o principal incentivador para o uso da linguagem
enquanto recurso de aprendizagem, sendo daí a estrutura filosófica
implementada à Logo.
Nos anos de 1970 e 1980 a revolução informacional, ou tecnológica, se
intensificou com os primeiros computadores à base de microprocessadores
e silício e o aperfeiçoamento das telecomunicações, se fortalecendo nos
anos de 1990, com a popularização da comunicação em rede de
computadores, propagação da Internet e concepção do sistema hipermídia
para obter e disponibilizar informações, a World Wide Web ou rede mundial
de computadores interligados.
Ainda na década de 1970 surgem, no campo da instrução assistida por
computador, os programas denominados de adaptativos ou gerativos. Eram
sistemas que apresentavam capacidade em gerar problemas ao nível de
conhecimento, adaptar o conteúdo e apresentar respostas ao aprendiz; muito
utilizados em áreas como a Aritmética.
Em decorrência das deficiências e limitações apresentadas pelos sistemas
CAI ocorre, em 1980, o nascimento dos Sistemas Tutores Inteligentes
(STI). Incorporando técnicas de Inteligência Artificial (IA), tratava-se de
programas de computador com propósitos educacionais e com
“inteligência” suficiente para decidir métodos de ensino, modelar e avaliar a
aprendizagem do aluno, ou seja, aproximar-se do comportamento de um
professor humano e de proporcionar um ensino adaptado ao perfil de cada
aprendiz, para o qual a arquitetura clássica do sistema era composto por
quatro entidades básicas, ou módulos, em cujo funcionamento, visava-se a
transmissão de conhecimento ao usuário-aprendiz.
Nesta mesma linha ou sequência evolucionista de tecnologias projetadas
para fins educacionais, a história recente do e-Learning, ou da educação
online, registra que a constituição de sistemas para o gerenciamento da
aprendizagem está diretamente relacionada com a formação de equipes de
trabalho compartilhando das mesmas informações e recursos
computacionais – os groupwares24.
Considera-se que o primeiro sistema eletrônico desenvolvido com
objetivo de propiciar a comunicação entre pessoas nas mais diversas
localidades e apoiar o processo de gestão do ensino e da aprendizagem foi o
EIES (Electronic Informationand Exchange System – Sistema de Troca de
Arquivos e Informações Eletrônicas) projetado em 1973 por Murray
Turoff25. Desde então, muitos foram os sistemas e aplicações desenvolvidas
para dar suporte às ações de implementação, planejamento, execução e
avaliação de processos inerentes à aprendizagem. Tais sistemas de gestão da
aprendizagem apresentavam, dentre as características próprias da
organização e execução de cursos, funcionalidades que permitiam a
constituição de salas de aulas virtuais e a realização de atividades
interativas, utilizando-se da estrutura de banco de dados para recuperação
de informações armazenadas, relativas aos cursos e respectivos aprendizes.
Com a expansão da Internet, do e-learning e consequente utilização do
ambiente Web, outros termos também são atribuídos aos LMS´s, como
CMS (Content Management System – Sistema de Gerenciamento de
Conteúdo) e LCMS (Learning Content Management Systems - Sistema de
Gerenciamento de Conteúdo de Aprendizado).
Terminologias que inauguram uma nova categoria de sistemas projetados
e incrementados para a criação, publicação e gestão eletrônica de conteúdos
e informações, em formatos diversos, como textos, imagens e som, de modo
integral ou progressivamente na forma de objetos de aprendizagem26. Um
aparato tecnológico, representado pelos recursos da Telemática27, pelos
derivados e associados da informática, como computadores, periféricos e
softwares, que atende as necessidades de processamento, armazenamento e
distribuição da criação artística, científica e cultural.
Sistemas de informação e “novas” tecnologias que provocaram impactos
e transformações nos processos de produção do conhecimento, de ensino-
aprendizagem; nos processos de comunicação e transmissão de
informações. Equipamentos ou sistemas e tecnologias de informação e
comunicação responsáveis pela emergência de plataformas de
aprendizagem, bibliotecas digitais, arquivos online, museus e ambientes
virtuais, dentre outras conexões e alternativas em transmitir e receber
conhecimento que afetaram e que alteraram significativamente o
aprendizado, a leitura, a pesquisa e a escrita, do mesmo modo,
competências e formações profissionais, além de influenciar nas atuais
necessidades humanas em produzir conhecimento e transmitir informação,
em ensinar e aprender, em aprender a aprender28; em registrar, ensinar e
disseminar os estudos da ciência que registra a passagem dos tempos.
Técnicas ou tecnologias29 que também implicaram mudanças na criação,
fabricação e uso de roupas. No vestuário e na história da moda que, em
contrapartida, também caracterizaram transformações no desenvolvimento e
organização das sociedades humanas.
Tecnologias no Ensino de História e Moda na Cibercultura
Muito embora ainda sejam relativamente recentes as transformações
provocadas pela revolução digital das tecnologias reunidas sob a
terminologia da informação e comunicação e as inovações daí advindas,
suas múltiplas formas de utilização produziram alterações significativas nos
processos de produção e de desenvolvimento científico e tecnológico das
nações, impulsionando tudo e todos rumo à um novo cenário de
organização social, produção cultural, formação educacional e profissional.
A caminho deste cenário, novos conceitos, práticas educacionais, processos
de ensino-aprendizagem e “novos” padrões culturais geram mudanças nas
relações pessoais, sociais e políticas, in loco, ou em conexão mundial via
redes mundiais de computadores e das redes sociais.
Essas transformações, em direção ao avanço tecnológico, resultaram em
mudanças que se constituem como desafios, não apenas no campo da
educação, do ensino e da aprendizagem, como também da pesquisa, do
resgate e registro histórico das organizações, dos percursos e percalços
humanos ao longo do tempo, e mais ainda, em categorias socioestruturais
como trabalho, saúde e lazer. Em desafios do presente, que se apresentam
reais e significativos com a incorporação e a “existência”, mesmo que
intangível, das tecnologias de informação e comunicação, digitais e virtuais,
como também, nas atuais formas e meios de produção, aquisição,
preservação e produção de novos conhecimentos.
Sob tal perspectiva, a educação na atualidade, bem como o ensino de
história enquanto disciplina, ou mesmo, enquanto área do conhecimento
que se dedica em compreender o ser humano e registrar os rumos de suas
sociedades já não pode, como também não deve, ignorar as “atuais”
realidades mediadas por novas ou renovadas tecnologias. Enquanto
disciplina, com as atuais ferramentas digitais, se faz preciso rever as
tradicionais formas de ensino que ainda se baseiam, ou se mantém,
enfatizando metodologias que privilegiam tão-somente transmissão de
dados e de informações (Pavanati, 2009, grifos nossos).
Sendo assim, e tendo que lidar com diferentes temáticas e novas
realidades “irreais”, como também preparar alunos e novos profissionais
para os desafios de um mundo em constante transformação, especialmente
quando se trata das origens, das possibilidades, potencialidades e
finalidades que “novas” tecnologias, e mesmo metodologias, assumem com
a emergência de novas temáticas ou de campos de estudo ainda muito
pouco privilegiados no leque de interesses ou arcabouço teórico da
historiografia, se torna necessário considerar a relevância que a cultura, mas
especificamente a cultura digital, que emerge dos espaços e mundos
virtuais, tem e vem assumindo nas diferentes áreas do conhecimento, e não
menos relevante, para a escrita narrativa e o ensino da história.
Sob tais aspectos, em especial aqueles que considerem os fenômenos que
implicam mudanças na sociedade, ou daqueles que afloram da evolução de
novas tecnologias, com o consequente desenvolvimento das mídias
eletrônicas, a cultura contemporânea e digital, que tem o poder de alterar
comportamentos e costumes, a cultura da virtualidade real (Castells, 2000)
ou a cibercultura30 (Lévy, 1999), se explicam as recém-dinâmicas sociais,
econômicas e políticas que emergiram do advento das tecnologias digitais,
também exemplificam o conjunto das manifestações e fenômenos culturais
que, se configuraram novos moldes, ou padrões, ainda romperam com os
tradicionais meios e formas de expressão, representação e comunicação,
seja na literatura, na música, no cinema ou na moda.
Na moda, com os atuais e “onipresentes” recursos tecnológicos, as
roupas e o vestuário passaram a dialogar com os espaços cibernéticos31 da
cultura contemporânea e da cibercultura. Na convergência entre tecnologia
e moda, novas tendências são amplamente anunciadas, desde tecidos
“inteligentes”32, computadores “vestíveis”33 e os recentes desfiles de moda
digitais que, além de digitalizar a cenografia, tem se realizado em mundos
virtuais.
Amplamente anunciada e divulgada pelas revistas “top” do mundo no
setor, a recém primeira Semana de Moda do Metaverso (MVFW) aconteceu
em março do ano de 2022 como um “grande experimento da moda digital”.
Aberta ao público, a primeira Metaverse Fashion Week, foi realizada em
quatro dias de desfiles, showroons, lojas, palestras e eventos virtuais.
Hospedada na plataforma de realidade virtual Decentraland34, o evento
reuniu marcas famosas, além de grifes emergentes e criadores digitais.
Considerando a plataforma do mundo virtual como um meio de teste
para as marcas, avatares35 desfilaram itens que, tanto podiam ser
comprados, como vestidos no mundo virtual, com a possibilidade de
aquisição das versões das peças no mundo físico. Mas as novidades e
inovações em tecnologia ainda estão longe de cessar no mundo da moda
digital, é o que prometem as grandes marcas.
No entanto, a realização do grande experimento em uma plataforma ou
em um mundo virtual tridimensional só se tornou “executável”, ou viável,
graças à evolução das tecnologias que “materializaram” a internet e suas
redes de informação e comunicação.
Sob tais signos evolucionistas, e refletindo sobre mundos virtuais em
terceira dimensão, a cientista e antropóloga social Débora Leitão (2012),
além de buscar compreender os saberes e fazeres, a aprendizagem dos
usuários do mundo virtual, como também procurando melhor discutir os
modos de participação no ciberespaço e a relação dos sujeitos
contemporâneos com as tecnologias digitais, elege o Second Life36 enquanto
ambiente virtual para direcionar suas reflexões para o que tem se
denominado de antropologia digital ou ciberantropologia, o estudo das
comunidades virtuais.
No que concerne à aprendizagem, ainda esclarece a antropóloga, que a
mesma acontece por meio da socialização, e em suas palavras observa que:
A socialização no SL acontece através dos encontros iniciais com outros residentes, das trocas
de objetos e roupas, das trocas de informações e de aprendizados de como se vestir ou ajustar
sua aparência. Também é nessa fase que o novato entra em contato pela primeira vez com
outros aprendizados, como aqueles que dizem respeito aos padrões estéticos, às regras de
conduta, à linguagem empregada nas conversas, e uma série de outras noções que regem as
interações na plataforma. Por ainda estar aprendendo, o noob (novato) torna explícitos – pela
ausência – hábitos e regras normalmente naturalizados [...] Esse saber fazer é transmitido de
modo difuso, em contextos que não são imediatamente identificados como de aprendizagem,
dizendo respeito mais a vivências do que propriamente ao recebimento direto de informações
(Leitão, 2012, p. 276).
Neste caso, ou sob tais perspectivas, o que se pode considerar é que há,
em metaversos, a exemplo do Second Life, a possibilidade de se praticar
pedagogias “inovadoras”, que auxiliem docentes e discentes no trabalho
com conteúdos ou objetos diversos, de forma interativa, sem obstáculos,
livres para novas possibilidades de praticar o saber e o fazer, o ensinar e o
aprender, em tempo real, online ou blended37.
Em se tratando do ensino de História, todo esse aparato tecnológico pode
prescindir e resultar em um melhor preparo de docentes e discentes
mediante o “aprender a aprender” de novos e atualizados conhecimentos
que os prepare para os desafios das recentes “realidades” reais e virtuais,
para o potencial informacional digital produzido e compartilhado,
ininterruptamente, nos ambientes de sociabilidade eletrônicos.
Sendo assim, e mediante os avanços das tecnologias e alavancagem de
novos temas e problemáticas sociais, muitos são os profissionais da
docência que tem buscado por novas formas, meios ou métodos de ensino
que aproximem seu alunado do conhecimento histórico. Dentre outros
métodos, se sobressaem na literatura e no leque de possibilidades, além das
metodologias ativas, o ensino híbrido ou blended e o trabalho colaborativo
que são, em certa medida, os de maior recorrência ou que se fazem mais
presentes nos espaços formais de ensino na atualidade.
Assim, e mesmo que haja controvérsias, dentre ímpares possibilidades,
as metodologias ativas com as salas de aula invertida, as aulas pautadas em
desafios, os projetos interdisciplinares, a pesquisa de campo, o trabalho em
colaboração, os jogos ou a gamificação são e estão, a cada dia, mais e mais
presentes no fazer docente, nos ambientes educacionais formais e informais,
como também em diferentes atividades que envolvam ensino e
aprendizagem. Neste ínterim, o que se tem buscado com tal cabedal
metodológico é oportunizar ao aluno, individual ou coletivamente, sob a
supervisão e orientação docente, o aprendizado em seu próprio tempo, de
modo que se considerem as especificidades de sua aprendizagem.
Avanços ou inovações de relevância para o ensino de História que,
mesmo mediado tecnologicamente, se por um lado tem transposto os limites
da sala de aula, por outro, tem oportunizado e potencializado as reflexões e
as vivências do aprender a aprender, do aprender a fazer, e do pensar sobre
e para a vida. E, não menos relevante, para o desenvolvimento e
amadurecimento de uma “atualizada” consciência histórica, tanto para as
crueldades quanto para as sensibilidades e mazelas humanas. Para as reais
condições de evolução da sociedade mediada por novas e potenciais
tecnologias que requerem, a todo instante, serem observadas, analisadas e
avaliadas com educação, conhecimento, informação, criatividade e
criticidade.
Considerações Finais
No atual contexto de organização social, é inegável e irreversível o uso
de tecnologias, em especial, das tecnologias reunidas sob o arcabouço de
informação e comunicação. Na educação, o protagonismo de tais
tecnologias tem e vem definindo novos rumos e contornos para o que se
concebe como educação, ensino, aprendizagem, conhecimento, informação
e sociedade.
Intrinsicamente inseridas no contexto educacional, o que se tem
percebido e registrado é que os profissionais de diversas disciplinas do
conhecimento científico ainda apresentam dificuldades no uso de
tecnologias em sua prática e atividade docente. Deste modo, o que se faz
possível perceber, em especial nos estudos que tratam do tema, é que os
problemas e dificuldades abordadas, revelam a necessidade e importância
em adequar o conteúdo, ou o objeto de aprendizagem, ao planejamento
pedagógico considerando, neste sentido, que o professor possa planejar e
desenvolver estratégias diferenciadas de atividades didáticas e pedagógicas
estimuladas pelo acesso e uso de tecnologias e que, ainda assim, também
possam incentivar a capacidade, a autonomia, curiosidade, criatividade e,
portanto, uma melhor aprendizagem de seus discentes.
Com a irreversibilidade que a presença imaterial de tecnologias de
informação e comunicação provocam na práxis social se faz, urgente e
emergente, rever seu uso na educação, não somente como recurso didático
mas, sobretudo, como prática pedagógica ou “ferramenta” para novas
formas de pensar e agir, de educar para uma formação cidadã e profissional,
que conscientize sobre si e sobre o mundo em seu entorno, se real ou
virtual.
Na Cibermoda, ou na indissolúvel união e recente combinação entre
moda e tecnologia, já se fazem perceptíveis as mudanças que tendem a
influenciar o produzir e o consumir roupas, sejam estas peças físicas ou
digitais. Uma tendência que tem evoluído sob a apreciação e aprovação das
grandes marcas, que investem grandes somas em marketing e lojas virtuais,
focadas em reverter seus produtos físicos em NFTs38, constituindo o que a
mídia especializada do setor tem denominado de “cyberespaço utópico”.
Uma tendência que corrobora com as assertivas de que “novas”
tecnologias têm e vêm invadindo a “realidade real” com pouca ou nenhuma
resistência consciente. Uma realidade virtual que tem ressaltado a
relevância de uma cultural visual e digital para uma geração altamente
conectada e que, com efeito, mantém relação “naturalizada” com o uso de
tecnologias.
Sobre tais perspectivas, o historiador francês Roger Chartier ao tratar de
uma cultura comunitária e criadora, no século XX, para uma cultura das
massas imposta pelos meios de comunicação, alega que:
[...] uma cultura dominada consegue preservar algo de sua coerência simbólica, mesmo que
seja diante a força de modelos culturais dominantes, e encontra uma brecha, segundo o
pensamento de deCerteau (1990), por onde se insinuam as reformulações, os desvios, as
apropriações e as resistências (Chartier, p. 46-47).
Considerações iniciais
O capítulo tem como principal objetivo apresentar as formas de
utilização de diferentes fontes históricas na construção dos estudos acerca
do vestuário, para tanto, as bases conceituais desta pesquisa são a memória
(Candau, 2019) e a cultura material (Riello, 2011). Partimos da ideia
apresentada por Peter Stallybrass (2016) que “pensar sobre roupa, sobre as
roupas, significa pensar sobre a memória [...] a roupa tende, pois, a estar
fortemente associada à memória” (Stallybrass, 2016, p. 16), sendo o
vestuário um suporte material para nossas memórias.
Joel Candau (2019) evidencia que a memória é algo reconstruído sobre o
nosso passado, mas de uma forma sempre atualizada (Candau, 2019),
enquanto para Giorgio Riello (2011), “a cultura material é a atribuição de
significado aos objetos pelas pessoas que os produzem, usam, consomem,
vendem e colecionam” (Riello, 2011, p. 3). Reforçamos a linha de
raciocínio optada por seguir com relação a objetificação, onde Jan Assmann
(2016) aponta que, “coisas não “têm” uma memória própria, mas podem
nos lembrar, podem desencadear nossa memória, porque carregam as
memórias de que as investimos” (Assmann, 2016, p. 119), portanto, a
mediação realizada pelo indivíduo é de suma importância.
O vestuário enquanto fenômeno de produção de sentidos e articulador
das relações entre indivíduo e sociedade, é uma das formas mais visíveis de
consumo e possui um papel importante na construção das sociedades
(Crane, 2006), representando a cultura de origem do indivíduo (Miller,
2013), sendo também um ato de significação (Barthes, 2005). As
possibilidades de estudos acerca do vestuário são diversas, bem como as
fontes que podem ser utilizadas. Neste capítulo vamos ver como o uso de
fontes históricas do tipo: documental e visual auxiliaram nos estudos sobre
as formas de sociabilidade de determinadas épocas.
É importante observar as descobertas nas relações existentes entre o
vestuário, a memória e a cultura material a partir destas fontes históricas.
No caso das fontes documentais, aqui o jornal Diário Popular ao longo do
ano de 1980, servirá de base para o estudo; quanto a fonte visual é referente
a um acervo particular composto por fotografias de família e fotografias
órfãs (1920-1969).
Diante do exposto, o capítulo estará dividido em três momentos, onde
cada um deles terá como foco um dos tipos de fontes históricas
mencionados acima, e será exemplificado através de um passo a passo
metodológico as formas de utilização de tais fontes para estudos voltados à
história do vestuário. Tornando possível através de estudos já realizados,
demonstrar, unindo teoria e prática, como pesquisar em fontes históricas
pode ser positivo para conhecer um pouco mais sobre os modos de vestir de
determinada sociedade.
A pesquisa documental em fonte primária, neste caso, o jornal local
Diário Popular, forneceu através de suas colunas diárias e também das
esporádicas, informações acerca do lazer, dos lugares de sociabilidade, das
práticas de consumo, o que era comercializado na cidade, entre outros
elementos importantes para a história do vestir do lugar. Sabemos da
importância que o jornal enquanto documento fonte de pesquisa possui, a
partir disso, foram traçados alguns pontos importantes de análise que serão
expostos ao longo do estudo.
Quanto as fotografias, demonstrando através de fichas de sistematização
de dados, como observar todas as informações visuais e técnicas que podem
constar num só objeto. De caráter ilustrativo, as fotografias são suportes
para o estudo dos modos de vestir, neste caso, voltado ao rito do casamento.
Em vista disso, a última parte deste estudo, oferece essa possibilidade de
visualizar um momento já no passado, não existente mais, mas ancorado
nesse suporte físico.
Logo, reforçamos que o capítulo terá como objetivo fundamental,
elucidar as diversas formas do uso de fontes históricas nos três suportes
apresentados acima, como meio para se aprofundar nos aspectos
vestimentares de determinada sociedade e período. Acima de tudo,
possibilitando instruir o leitor através dos diferentes caminhos
metodológicos trilhados.
Pesquisando em fontes históricas: o jornal local Diário Popular
A realização da pesquisa documental em fonte primária como o jornal,
auxilia nos estudos de vestuário pois, através das observações feitas nas
leituras, podemos identificar elementos que caracterizam a sociedade na
época estudada. Para além de aspectos culturais, sociais e econômicos, é
possível descobrir as práticas de consumo de determinada região através
desse tipo de estudo. No caso aqui apresentado, a pesquisa documental no
jornal foi realizada como forma de complementar o levantamento
bibliográfico da pesquisa de mestrado O vestuário como suporte de
recordação: lembranças da juventude pelotense (1980-1989), desenvolvida
entre os anos de 2020-2022, no Programa de Memória Social e Patrimônio
Cultural, da Universidade Federal de Pelotas, com financiamento da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.
A pesquisa teve como recorte espacial a cidade de Pelotas, no interior do
Rio Grande do Sul, e como recorte temporal a década de 1980. Diante
disso, a coleta de dados foi realizada no Acervo de Documentação da
Bibliotheca Pública Pelotense, onde o material está disponível para consulta
local gratuita mediante agendamento, dentre outros diversos tipos de
suportes documentais. Considerando o período do recorte temporal e o
objetivo da pesquisa documental, optamos por investigar no jornal local
Diário Popular39, fundado em 1980 (Silveira, 2022). Outro ponto importante
é que, “a partir da década de 1980 os jornalistas ficavam incumbidos de
investigar o cotidiano da sociedade” (Barbosa, 2007 apud Silveira, 2022, p.
48).
O jornal, ao fornecer informações do cotidiano diário nos mais diversos
aspectos, possibilita que conheçamos a sociedade em diferentes
perspectivas. Desde os hobbies, como eventos pontuais de determinadas
épocas do ano. No verão, por exemplo, nesta década havia concursos de
beleza para Miss Pelotas e Rainha do Carnaval, e a nível estadual havia o
Garota Verão, organizado pela afiliada da Rede Globo no estado, a RBS
(Jornal Diário Popular, Pelotas, 1980), trazendo possibilidades de conhecer
as vestimentas da época através de desfiles. No verão havia também um
movimento muito grande na praia de água doce da cidade, o Laranjal como
é chamada, “o verão de 1980 trazia recorde de público para praia do
Laranjal, maior número de turistas dos últimos anos” (Jornal Diário
Popular, Pelotas, 19 de janeiro de 1980, p. 04), recebia turistas de diversas
cidades da volta, e dos países vizinhos.
Conforme o que pode ser analisado a nível nacional e local, cada região
estava adotando diferentes práticas de vestir dos banhistas, como o topless.
Enquanto nas praias de outros estados era permitido a prática, vista como
revolucionária para as mulheres, em Pelotas ainda não havia sido adotada
(Figura 1). Através do estudo realizado no jornal, descobrimos que “nas
praias do laranjal o topless não chegou ainda, em compensação, enquanto
os seios estão levemente cobertos – nem tanto – a parte inferior foi sofrendo
uma redução brusca. Chegou à tanga e ela, já está sendo segura por finas
tiras coloridas ou de contas brilhantes e espelhadas” (Jornal Diário Popular,
Pelotas, 17 de janeiro de 1980, p. 4).
Figura 1 – Notícia referente ao movimento na Praia do Laranjal, 17 de janeiro de 1980, p. 4
No dia seguinte, ainda se falava sobre o topless no jornal, mas não mais
sobre a praia do Laranjal, e sim sobre algumas praias em Salvador onde a
prática estava sendo liberada, ainda evidenciada no jornal como uma
atividade revolucionária das mulheres (Jornal Diário Popular, Pelotas, 18 de
janeiro de 1980). Nessa situação, é importante ressaltar a reflexão que
Riello (2011) faz sobre trajes de praia:
O biquíni não é apenas um pedaço de pano que a mulher veste para se bronzear, mas é um
objeto-chave em uma determinada prática social da segunda metade do século XX: refere-se a
um determinado estilo de vida, à emancipação da mulher, à oposição contra o preconceito de
direta nas décadas de 1950 e 1960, mas também ao olhar de glamour de Brigitte Bardot ou as
curvas de Pamela Anderson mais recentemente. Enquanto a história da vestimenta inscreve
um objeto como o biquíni dentro de um curso estilístico e evolutivo de maiôs, que vai dos
long-johns do final do século XIX ao topless, a cultura material busca, em vez disso, entender
o papel desse traje dentro de uma sociedade específica e tempo e pergunta, por exemplo, de
que maneiras essa vestimenta ajudou a promover a mudança social ao escandalizar os
puritanos na sociedade e divertir os mais ousados (Riello, 2011, p. 6, tradução nossa).
Sendo assim, observamos nessa coluna que, para além de assuntos sobre
os modos de vestir feminino, outras questões como: sugestões de receitas
culinárias, dicas de como recepcionar as visitas, orientação de como cuidar
dos filhos, do marido e da casa, entre outros assuntos que não se encaixam
na temática do vestuário, porém, era para ser visto pelo público feminino.
Mas questões sobre como utilizar o blazer, informações referentes a seda, o
veludo, o tweed, a malha e o nylon como tecidos da década também
estavam presentes (Jornal Diário Popular, Pelotas, 13 de abril de 1980).
Portanto, apesar desses assuntos diversos estarem nessa coluna - o que
diz muito sobre a sociedade no período -, a relação da coluna de moda
voltada ao público feminino neste período remete a um dos apontamentos
levantados por Perrot (2019), no século XX todas as mulheres podem ser
belas, através do uso de maquiagens e cosméticos, de acordo com revistas
femininas (Perrot, 2019), e também por meio do vestuário e da moda, que
modela as aparências.
Enquanto, também foi possível através da pesquisa em jornal, identificar
quais lojas de vestuário estavam em funcionamento durante o período,
através de anúncios admissionais, por exemplo, as lojas Mesbla e Hermes
Macedo foram duas identificadas, sendo a primeira com vaga para vitrinista
(Jornal Diário Popular, Pelotas, 13 de abril de 1980). Já outras lojas mais
conhecidas, como a Loja Renner, tinham no jornal um aliado para veicular
suas novidades. Como um meio de chegar ao seu público exibindo os novos
produtos que tinha a oferecer, além de aproveitar do uso de imagens e de
um slogan criativo.
Sendo a sazonalidade um aspecto importante para a indústria do
vestuário, na sua produção e comercialização de novas coleções, a
propaganda no jornal é fundamental para essa divulgação. A loja Renner,
além de apresentar no verão de 1980 sua nova coleção, como observado na
edição de 10 de janeiro de 1980, através da chamada de anúncio “Verão
numa boa” (Jornal Diário Popular, Pelotas, 10 de janeiro de 1980, p. 06),
em outros momentos apresentava junto a imagens dos produtos por meio de
um editorial de moda, um release de sua coleção bem atraente como é
possível visualizar na imagem abaixo.
Em setembro de 1980, com a chegada da nova estação - primavera - a
loja propagandeou: “a primavera já está florindo em Lojas Renner. Nos
tailleurs, nos macacões em seda e em algodão, nas calças de brim, nos
vestidos e blusas alegres como você. Vista a moda de Lojas Renner para
esta temporada e deixe a vida mais bonita” (Jornal Diário Popular, Pelotas,
9 de setembro de 1980, p. 7).
Figura 2 – Propaganda Lojas Renner, 9 de setembro de 1980, p. 7
c) Conservação (Figura 5)
Quanto ao estado de conversação: Utilizou-se o conceito de Cândido
(2006, p. 55-56): ótimo – a peça encontra-se em excelentes condições de
conservação, estando totalmente na íntegra, bom – a peça apresenta
características físicas e estéticas originais em boas condições, mesmo que já
tenha sido restaurada, regular – a peça possui sujeira aderida, pequenas
perdas e/ou passa por processo inicial de deterioração e péssimo – a peça
apresenta-se em processos graves de degradação, tais como grandes e
irreversíveis perdas de sua matéria original.
Segundo Pavão (1990) as formas de deterioração das fotografias são:
Da imagem de prata: amarelecimento, espelho de prata, desvanecimento. “Sobretudo nas
extremidades, o negativo apresentava cor de chumbo e um brilho prateado”. Da imagem a
cor: alteração do equilíbrio cromático, desvanecimento, mancha amarela. Do meio ligante:
abrasão, aderências, perdas. Do suporte papel: rasgos, sujidades, vincos, fragilização (Pavão,
1990, p. 8).
d) Informações (Figura 6)
Em relação ao fotógrafo e ateliê fotográfico, se está identificado e de que
forma: assinatura, carimbo, cartão, etiqueta, marca d’água, ou não
identificado. Neste local também há um campo para inserir o nome do
fotógrafo ou ateliê quando houver.
Transcrição da dedicatória/legenda: quando consta na fotografia (frente
ou verso) ou no cartão a mensagem é transcrita neste espaço. Candido
(2006) fala sobre marcas e inscrições e orienta como deve ser feita a
transcrição: “Transcrever, entre aspas, inscrições, legendas, gravações e
marcas simbólicas, conforme redação, ordem e grafias existentes na peça”
(p. 55).
Figura 6 - Ficha de sistematização das fotografias - informações.
Fonte: Schneid, 2020.
e) Local (Figura 7)
Onde a fotografia foi tirada: igreja, estúdio, festa, rua ou não
identificado. Aqui há uma lacuna para a descrição do cenário. Lembrando
mais uma vez que para a descrição das fotografias utilizou-se Albuquerque
(2006; 2012; 2015), Cândido (2006), dicionários e glossários de termos
usados em conservação (Pavão, 1990) e termos têxteis (Costa, 2004; Cruz,
2013), além dos Tesauros para acervos museológicos (Ferrez, 1987) e
Tesauro de objetos do patrimônio cultural brasileiro (Ferrez, 2016).
Em relação aos tipos de fundo que apareceram: liso, cortina, painel-
desenho e papel/tecido de parede. Os elementos cênicos que
frequentemente estão presentes nas fotografias: almofada, cortina,
esculturas, flores, móveis, tapete, velas.
Figura 7 – Ficha de sistematização das fotografias – local
g) Traje (Figura 9)
Este campo servirá de base para a construção da ficha de sistematização
específica do traje. Em relação ao vestuário da noiva: vestido, duas peças,
indefinido, véu e grinalda. Quanto aos acessórios: joias, luvas, óculos,
terço/rosário, meias. Vestuário do noivo: terno, smoking, fraque,
camisa/calça, colete, farda. Quanto aos acessórios do noivo: gravata, lenço,
óculos, luvas, relógio, joias, chapéu. Aliança: se está aparente no noivo, na
noiva, se não consta ou não está aparente. Bouquet da noiva: redondo,
cascata, braçada, flor única, com fitas, indefinido ou não consta. Flor no
traje do noivo: sim ou não. Gravata: social, kipper, borboleta.
Figura 9 – Ficha de sistematização das fotografias – traje
Fonte: Schneid (2020).
Para a escolha das categorias criadas, foi utilizado como base o livro
Termos para a Catalogação de Vestuário (Benarush, 2014), porém apenas
ele não foi suficiente para contemplar todas as categorias e assim, se
recorreu para o livro Modelagem: organização e técnicas de interpretação
(Osório, 2007), que descreve com melhor precisão todos os componentes de
uma roupa. Nestas fichas não constam todas as categorias citadas nestes
livros de referência, mas foram feitas adaptações de acordo com o acervo
analisado.
Na sessão dos vestidos, por exemplo, Benarush (2014) cita balonê,
chemisier, império, sereia, tubo, túnica, vestido-avental, vestido-casaco e
vestido de chá, porém estes modelos não aparecem em nenhum nos trajes
analisados, então estes termos não constam nas fichas na categoria: estilo de
vestido. Insere-se da bibliografia de Osório (2007) os estilos: princesa,
painel e baby look (o que Benarush chama de trapézio). Ainda nesta
categoria adaptou-se o que Benarush (2014) chama de transpassado, para
cache-coeur e de reto para anatômico.
Neste momento a fotografia foi dissecada para se trabalhar com cada
parte dos componentes separados: traje da noiva – acessórios, decote,
manga, saia, bouquet – e traje do noivo: lapela, casaco, gravata – conforme
mostra a figura 13.
Figura 13 – Fotos (des)fiadas
Fonte: Schneid (2020).
t) Bouquet (figura 21): braçada, com fitas, cascata, flor única, redondo,
não apresenta, não identificado. Em relação aos bouquets também não se
encontrou nada referente às suas nomenclaturas na bibliografia consultada e
novamente recorre-se aos sites de internet que abordam temas relacionados
ao casamento. Esta categoria não apresenta todas as nomenclaturas
encontradas nos sites, mas apenas aquelas que aparecem nas fotografias do
acervo.
Figura 21 – Ficha de sistematização dos trajes – bouquet
Fonte: Schneid (2020).
a) Vestuário – noivo (figura 23): colete, fraque, smoking farda, terno, não
identificado. Em relação ao estilo da roupa do noivo ela pode ser social
(fraque, smoking ou terno) ou militar (Marinha, Exército, Aeronáutica ou
Polícia Militar) e ainda ter uma peça extra que é o colete.
b) Abotoamento do casaco (figura 23): duplo, simples, não identificado.
Abotoamento é a maneira como os botões do casaco se apresenta, sozinhos
ou em duplas.
c) Cor (figura 23): calça escura, casaco escuro, calça clara, casaco claro.
Aqui o que se pretende é descrever se há diferença na cor do casaco para a
calça, ou seja, se a calça é mais clara que o casaco e vice-versa. Já que não
se pode precisar as cores das peças, se tenta saber se há diferenças entre
elas.
d) Padronagem (figura 23): na calça, no casaco, não apresenta. Se utiliza
o termo padronagem para se referir a alguma estampa, desenho ou padrão
de tecimento que não seja liso, como por exemplo, uma calça risca de giz.
e) Acessórios (figura 23): chapéu, gravatas, joias, lenço, luvas, óculos,
relógio, não apresenta, não identificado, outros.
Figura 23 – Ficha de sistematização dos trajes – vestuário do noivo, abotoamento do casaco,
cor, padronagem, acessórios
Fonte: Schneid (2020).
39 Através do site o cial do jornal, “o Diário Popular é o jornal mais antigo do Rio Grande do Sul e o terceiro do
Brasil com circulação diária ininterrupta. Sua trajetória está diretamente ligada ao desenvolvimento de
Pelotas e região. [...] circula nos 23 municípios da Zona Sul” (DIÁRIO POPULAR, 2022). Caetano (2013)
ainda diz que, “a data de sua fundação remonta ao ano de 1890, quando surgira propondo-se a ser um
jornal “independente”. Contudo, logo nos primeiros meses de circulação, foi vendido ao Partido Republicano
Rio-grandense (PRR) [...] e desta forma, como órgão do PRR, tornou-se veículo o cial do da governança já
em seu primeiro ano. Nesta condição permaneceu até o início dos anos 1930, quando perdeu o posto para
O Liberal, marcando aproximadamente 40 anos de ligação partidária o cialmente declarada, de nindo seu
per l inicial e tornando-se especialmente interessante para aqueles que buscam na imprensa escrita de
Pelotas algumas de nições da ideologia republicana e suas relações com as demais” (Caetano, 2013, p.
361).
40 Quando uma imagem é prenhe de outras imagens.
41 Tese de doutorado: Memórias Costuradas: O traje da noiva em fotogra as de casamento (1920-1969) de
Frantieska Huszar Schneid.
42 Passepartout com costas: embalagem protetora para provas fotográ cas e outros objetos planos. É
geralmente formada por um par de cartões ligados ao longo do lado maior por uma ta adesiva, exível e
resistente que atua como dobradiça. Em geral o cartão da frente tem uma abertura ou janela que permite
ver a fotogra a sem abrir o artefato. O cartão traseiro é inteiriço. A prova fotográ ca pode estar colada ao
cartão traseiro, ou presa apenas pelos cantos, ou suspensa por charneiras. O cartão da janela pode cobrir
as margens ou não, dizendo-se então que a prova utua (Pavão, 1997).
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Catalogação e descrição de
documentos fotográficos em bibliotecas e arquivos: uma aproximação
comparativa dos códigos AACR2 e ISAD (G). 2006. Dissertação (Mestrado
em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual paulista, Marília, 2006.
ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. A classificação de documentos
fotográficos: um estudo em arquivos, bibliotecas e museus. 2012. Tese
(Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista, Marília, 2012.
ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Tratamento temático da informação e a
documentação museológica: aspectos e reflexões referentes à classificação.
In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM PÓS-GRADUAÇÃO
EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – INFORMAÇÃO, MEMÓRIA E
PATRIMÔNIO: DO DOCUMENTO ÀS REDES, 16., 2015, João Pessoa.
Anais [...]. João Pessoa, 2015.
ASSMANN, Jan. Memória comunicativa e memória cultural. Tradução:
Méri Frotscher. História Oral, v. 19, n. 1, p. 115-128, 2016.
BARTHES, Roland. Inéditos, volume 3: imagem e moda. Tradução: Ivone
Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
BARROS, Myriam Moraes Lins de. Memória e família. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 29-42, 1989.
BENARUSH, Michelle Kauffmann. Termos para a Catalogação de
Vestuário. Secretaria de Estado de Cultura; Rio de Janeiro, 2014.
BORGES, Maria Eliza Linhares. História e fotografia. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005.
BRUNO, Fabiana. Potencialidades da experimentação com as grafias no
fazer antropológico: imagens, palavras e montagens. In: REUNIÃO
BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, 31., 2018, Brasília. Anais [...].
BRUNO, Fabiana. Fotografias órfãs e insurgências: supervivências dos
arquivos de imagens. In: Atas do III ICHT – COLÓQUIO
INTERNACIONAL DO IMAGINÁRIO. Construir e habitar a terra:
deformações, deslocamentos e devaneios. 2019, São Paulo. Atas [...].
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução: Vera
Maria Xavier dos Santos. Bauru: EDUCS, 2004.
CANDAU, Joel. Memória e identidade. Tradução: Maria Letícia Ferreira.
1. ed., 5. reimp. São Paulo: Contexto, 2019.
CÂNDIDO, Maria Inez. Documentação Museológica. In: CADERNO de
diretrizes museológicas 1. 2. ed. Brasília: Ministério da Cultura, IPHAN;
Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura, 2006.
COSTA, Manuela Pinto da. Glossário de termos têxteis e afins. Revista da
Faculdade de Letras. Ciências e técnicas do patrimônio. Porto, I série, v.
3, p. 137-161, 2004. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4088.pdf. Acesso em: 23 mar. 2023.
CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das
roupas. Tradução: Cristina Coimbra. São Paulo: Senac, 2006.
CRUZ, Cleide lemas da Silva. Glossário de Terminologias do Vestuário.
Brasília: Editora IFB, 2013.
FERREZ, Helena Dodd. Thesaurus para acervos museológicos. Rio de
Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória, Coordenadoria Geral de Acervos
Museológicos, 1987.
FERREZ, Helena Dodd. Tesauro de objetos do patrimônio cultural nos
museus brasileiros. Rio de Janeiro: Fazer Arte. Gerência de Museus da
Secretaria Municipal de Cultura, 2016.
KOSSOY, Boris. Fotografia e memória: reconstituição por meio da
fotografia. In: SAMAIN, Etienne (org.). O fotográfico. São Paulo: Editora
Hucitec/Editora Senac São Paulo, 2005. p. 39-45.
HASKELL, Francis. L’historien et lesimages. Tradução: Daniela Novelli.
Paris: Gallimard, 1995.
LACERDA, Aline Lopes de. A fotografia nos arquivos: a produção de
documentos fotográficos da Fundação Rockefeller durante o combate à
Febre Amarela no Brasil. 2008. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-
Graduação em História Social. Área de concentração: História Social –
Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: LE GOFF, Jacques.
História e Memória. Tradução: Bernardo Leitão et al. Campinas, São
Paulo: Editora da Unicamp, 2003.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família: leitura da fotografia
histórica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993.
MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história interfaces.
Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 73-98, 1996.
MAUAD, Ana Maria. Fotografia e história – possibilidades de análise. In:
CIAVATTA, Maria; ALVES, Nilda (org.). A leitura de imagens na pesquisa
social: história, comunicação e educação. São Paulo: Cortez, 2004.
MEDEIROS, Elisabeth Weber. Ensino de história: fontes e linguagens para
uma prática renovada. Vidya, Santa Maria, v. 25, n. 2, p. 59-71, 2005.
MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas: estudos antropológicos sobre a
cultura material. Tradução: Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
NERY, Olivia Silva. Leal, Santos & C. – A história da fábrica através do
seu biscoito: produção, venda, consumo e musealização. 2020. Tese
(Doutorado em História) – Escola de Humanidades, Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020.
NOVAES, Sylvia Caiuby. O uso da imagem na antropologia. In: SAMAIN,
Etienne (org.). O fotográfico. São Paulo: Editora Hucitec; Editora Senac
São Paulo, 2005. p. 113-119.
NOVELLI, Daniela. Vogue Brasil: o periódico de moda como fonte e
objeto da pesquisa histórica. In: BONADIO, Maria Claudia; MATTOS,
Maria de Fátima (org.). História e Cultura de Moda. São Paulo: Estação
das Letras e Cores, 2011. p. 258-279.
ORMEN-CORPET, Catherine. L’album de famille: almanac des modes.
Paris: Hazan, 1999.
OSÓRIO, Ligia. Modelagem: organização e técnicas de interpretação.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2007.
PAVÃO, Luís. Conservação de colecções de fotografia. Dinalivro, Lisboa,
1997.
PAVÃO, Luís. Dicionário e glossário de termos técnicos usados em
conservação fotográfica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.
RIELLO, Giorgio. The object of fashion: methodological approaches to
the history of fashion. Journal of Aesthetics & Culture. v. 3, n. 1, 2011.
RIFFEL, Renato; GEVAERD, Eduardo Neto. Mão que dominam, mãos que
enlaçam: encenações de masculinidades nos retratos de casamento do Vale
do Itajaí – Mirim na segunda metade da década de 1940. Maiêutica –
Curso de História, v. 1, n. 1, p. 73-86, 2013.
ROUILLÉ, André. A fotografia: entre documento e arte contemporânea.
São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009.
SAMAIN, Etienne. Questões Heurísticas em torno do uso das Imagens nas
Ciências Sociais. In: BIANCO, Bela-Feldman; MOREIRA Leite; MIRIAM,
L. (org.). Desafios da Imagem: fotografia, iconografia e vídeo nas ciências
sociais. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2006.
SANT’ANNA. Mara Rúbia. Vestindo Clio – A produção do conhecimento
histórico em Moda. Moda Palavra e-Periódico, ano 7, n. 14, p. 51-71,
2014.
SANTOS, Rochelle Cristina dos; SANT’ANNA-MULLER, Mara Rúbia.
Vestido “jornal”: Imagens de um objeto de moda às possibilidades de um
objeto histórico. História em Revista, v. 17, n. 18, p. 287-299, 2011; 2012.
SCHNEID, Frantieska Huszar. Vestidos da memória: os registros de
casamento em um álbum de família. Curitiba: Prismas, 2018.
SCHNEID, Frantieska Huszar. Memórias costuradas: O traje da noiva em
fotografias de casamento (1920-1969). Tese (Doutorado em Memória
Social e Patrimônio Cultura) – Instituto de Ciências Humanas,
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2020.
SILVA, Armando. Álbum de família: a imagem de nós mesmos. Tradução:
Sandra Marha Dolinsk. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
SILVEIRA, Laiana Pereira da. O vestuário como suporte de recordação:
lembranças da juventude pelotense (1980-1989). 2022. Dissertação
(Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Memória Social e
Patrimônio Cultural) Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal
de Pelotas, 2022.
STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupa, memória, dor.
Tradução: Tomaz Tadeu. 5. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
ZAMBONI, Ernesta. Representações e linguagens no ensino de história.
Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 18, n. 36, 1998.
Fontes documentais
Diário Popular, Pelotas, RS, 10 jan. 1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
Diário Popular, Pelotas, RS, 17 jan. 1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
Diário Popular, Pelotas, RS, 19 jan. 1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
Diário Popular, Pelotas, RS, 13 abr. 1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
Diário Popular, Pelotas, RS, 9 set.1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
Diário Popular, Pelotas, RS, 7 dez.1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
Diário Popular, Pelotas, RS, 28 dez. 1980. Acervo Bibliotheca Pública
Pelotense.
LYGIA CLARK E HELENA ALMEIDA:
vestir a obra de arte
Flavia Jakemiu Araujo Bortolon