Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MOVIMENTOS SOCIAIS
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
DESENVOLVIMENTO
OBJETIVOS/RESULTADOS
1
MALCOLM X, “The ballot or the bullet”, [1964]. Tradução. Disponível em: https://elibrary.tips/o-
discurso-abaixo-foi-realizado-por-malcolm-x-meses-antes-de-seu-assassinato-
le121e2db2f5c7da858b2167f4520d7cb0-23328.html. Acesso em: 27 set. 2020.)
benefício da dúvida de sua inocência, portanto, cria-se a raiz de uma cultura ao redor
da criminalidade, que foi atrelada à imagem do homem negro.
Após a emenda constitucional estadunidense entrar em vigor, tanto
empregadores como autoridades estatais adquiriram um forte interesse econômico em
ampliar a população carcerária. Desde então, pessoas negras têm sido alvos de
autoridades policiais, inclusive pelos motivos mais irrisórios, para serem encarceradas
e se tornarem mão de obra barata, promovendo encarceramento em massa de
populações marginalizadas pela sociedade. A partir disso, se dá espaço para a
brutalidade policial, que, além da questão racial estrutural, também conta com o
incentivo de autoridades estatais para cumprir a cota de presidiários e alimentar o
sistema capitalista.
Para fomentar essa imagem deturpada, criaram-se mitologias ao redor da figura
da pessoa preta, como o mito do estuprador negro, inventado e incentivado pelas
mídias, ao exemplo do filme racista Birth of a Nation (1983) que retrata a imagem da
população negra, principalmente do homem negro, como criminoso, estuprador,
ameaça à mulher branca, e inimigo da civilização a ser eliminado pelo herói e salvador
branco. O filme reacendeu a popularidade do Ku Klux Klan na época, o que trouxe o
renascimento dos linchamentos de pessoas negras, que eram julgadas e executadas
por esse grupo, sem consequências, o que evidentemente demonstra o poder da mídia
em espalhar clichês e construir a imagem negativa de toda uma raça, ao representar
pessoas negras, por exemplo, como animais sendo presos.
Quanto ao papel do governo, como a própria Ângela Davis comenta no
documentário A 13ª Emenda (2016, 15:07- 15:15): “Na era Nixon e no período de lei e
ordem, o crime começa a ser definido pela raça”. É nesse governo que se inicia a
suposta guerra às drogas, implantada também no Brasil. Todavia, o subproduto dentro
dessas questões é que, na realidade, negros são atingidos como foco velado das
guerras antidrogas – algo que se tornou cultural. Ademais, foi exposta, ainda na época,
como uma clara guerra do presidente Nixon contra a população negra, admitido pelo
membro do seu governo, John Ehrlichman, como sendo um genocídio das
comunidades não brancas (ELIAS & SCOTSON, 2000).
Uma outra grande política contra essa população advinda do Estado foi a Lei
Jim Crow, que promovia a segregação racial, impedindo pessoas negras de
conviverem nos mesmos espaços que pessoas brancas, assim como operou o
apartheid na África do Sul. As consequências sociais e segregativas dessa Lei, mais
tarde, influenciaram a luta pelos direitos civis negros nos anos 1970. Sobre a relação
entre racismo e política, Almeida (2019, p. 74) afirma: “O racismo é processo político.
Político porque, como processo sistêmico de discriminação que influencia a
organização da sociedade, depende de poder político; caso contrário seria inviável a
discriminação sistemática de grupos sociais inteiros”.
Para as mulheres negras, os ataques dos sistemas político e judiciário eram
ainda mais brutais. Davis (2016) retrata como o legado da escravidão ficou marcado
nos corpos dessas mulheres e como os abusos sexuais rotineiros sofridos nesse
período não se interromperam pelo advento da emancipação, os homens brancos
continuavam acreditando que possuíam algum tipo de direito de violentá-las. Caso
elas resistissem aos ataques, com frequência eram jogadas na prisão, para servir a
um sistema prisional parecido ao escravocrata, como dito anteriormente.
Outras formas de opressão para as mulheres negras trabalhadoras, igualmente
marcadas pela escravidão, trazida por essa autora ao expor o funcionamento do
racismo de modo intricado, é o serviço doméstico. Essas mulheres passavam mais de
catorze horas servindo a família branca, podendo visitar raramente a própria família,
recebendo salários abaixo do que era justo, sem receber respeito pela sua posição
como profissional e tendo ainda o seu corpo objetificado, seja para cuidar das crianças
que não eram suas, seja para estar suscetível a abusos sexuais cometido pelo homem
da casa, mostrando a condição de vulnerabilidade, que acabou por ser usado contra
elas ao sustentar o mito da imoralidade e da promiscuidade das mulheres negras.
Essas ideias ainda eram apoiadas pela literatura e a mídia nos Estados Unidos e em
outros países do mundo, ao retratar mulheres negras como gratas por servir a boa
patroa/patrão branco.
O filme E o vento levou (1939), retrata a população negra liberta após a Guerra
Civil estadunidense como dependente de seus antigos senhores, insinuando que a
vida pós escravidão era mais difícil para eles. Por isso, dois negros recém libertos
decidem voltar a servir a mocinha branca e heroína da história, pelo simples fato de
ela ser uma boa patroa e precisar de ajuda para reerguer sua fazenda destruída pela
guerra, atribuindo aos personagens negros do filme apenas o papel de coadjuvantes
ao dar suporte à missão da garota branca principal. Ou seja, a romantização das
formas de opressão e das relações de poder desiguais como artifícios da ideologia
racista, que, com frequência, converge com o sexismo.
Nos anos de 1970, como retratado no documentário She’s beautiful when she’s
angry (2014), ocorreu uma explosão de movimentos sociais, seja pelo sentimento de
antiguerra (acarretado pela guerra do Vietnã), seja pelos estudantes universitários,
seja pelos direitos civis, que desencadeou uma nova onda pela aclamação da
libertação negra. Todos esses movimentos inspiraram também o movimento pela
libertação da mulher, cinquenta anos após a conquista do direito ao voto. Porém, agora
como um foco do movimento das mulheres surge a pauta dos direitos trabalhistas e,
principalmente, como uma forma de emancipação e direito ao próprio corpo, a pauta
do controle de natalidade, a partir da defesa da ideia da “maternidade voluntaria” –
com uma visão associada ao privilegio que gozavam as mulheres de classe média e
da burguesia – e com o apelo por aborto legalizado e de fácil acesso.
Entretanto, a verdade está escondida nas bases ideológicas do próprio
movimento pelo controle da natalidade. Davis (2016) escancara o fracasso da
campanha em fazer uma autoavaliação sócio-histórica, do que significa o aborto para
a trajetória da mulher negra, “se algum dia as mulheres viessem a desfrutar do direito
de planejar sua gravidez, tanto as medidas legais e facilmente acessíveis de controle
de natalidade quanto o aborto teriam de ser complementados pelo fim da prática
abusiva da esterilização” (Ibdem, p. 206). Incluindo o fato de que a maioria das mortes
causadas por abortos ilegais envolvem mulheres negras e latinas.
O aborto era levado ao interior de uma discussão entre conservadorismo e
liberalismo, enquanto isso as esterilizações cirúrgicas forçadas abusivas, das
mulheres não-brancas, principalmente as negras, as porto-riquenhas (que serviam
como “teste”), as indígenas e as mexicanas eram apoiadas pelas ideias do movimento
eugenista.
Relacionando Ângela Davis como marxista, em suas ideias sobre as lutas de
classes, a autora relata como o capitalismo implantado sistematizou a opressão
estrutural racista moderna, separando a economia familiar doméstica, definido como
forma inferior, e a economia voltada ao lucro do capitalismo, como evidência do conflito
entre as relações sociais provocadas. O filme de 2019, Os Miseráveis, traz a urgência
que uma luta de classes precisa para ter sua premissa discutida em pleno século XXI,
mostrando um retrato do contraste social que acomete a França, escancarando a
marginalização coesiva dessa população. A obra de Victor Hugo, com mais de cento
e cinquenta anos, ganha roupagem sutil e útil às discussões que ultrapassam os muros
de Paris.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS