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No livro “Mulheres, raça e classe”, a autora e ativista Angela Davis discutem a relação

entre esses três fatores constituintes de um individuo que o caracterizam dentro de uma

sociedade capitalista. Durantes os dois capítulos lidos, é apresentado ao leitor, como a relação

desses três fatores afetam a percepção do individuo naquela sociedade e, até, como se

identificavam dentro de movimentos sociais. Portanto, tendo como foco de análise as

mulheres pretas, Davis discute questões como a emancipação, movimento sufragistas e direito

trabalhistas.

Por tratar de uma sociedade capitalista, que teve como base econômica por anos a

escravidão, a questão do racismo se torna o argumento principal da autora e fator

indissociável da discussão. Logo, no capítulo cinco, a autora debate sobre a emancipação da

população negra, mostrando como naquele sistema, a emancipação se assemelha a um projeto

que nunca saiu do papel, já que os corpos pretos continuam sendo restritos a locais,

condições, abusos e opressões, principalmente a mulher preta. Nesse sentido, Angela Davis

discute como leis segregacionistas e políticas racistas, como Jim Crow contribuiu para essa

restrição.

Dialogando com W. E. B. Dubois, a autora debate como a classe empresarial focava

no sistema carcerário e, principalmente, como as mulheres pretas, até o evento da segunda

guerra mundial, estavam restritas ao trabalho doméstico. Como apresentado no texto, as

ocupações domésticas, e os abusos que carregavam consigo, eram ocupadas majoritariamente

por negros. Por isso, era comumente uma pauta muito importante dentre os grupos negros da

época, mostrando uma resistência a esses tratamentos e uma busca ativa por seus direitos

trabalhistas.

Além disso, a autora faz questão de destacar como trabalhos domésticos eram

percebidos por aquela sociedade, citando Dubois que atesta que um pai de família preferiria
cortar a própria garganta a ter uma filha servente. Esse pensamento, logicamente, herança de

um passado escravocrata, não se concentrava no sul, se apresentando também nos estados do

norte. Tal herança na pós-abolição se fez muito presente nas relações entre brancos e pretos,

mesmo tendo destaque nos estados do sul.

Nesse sentido, percebemos que essa herança racista se espalha em todos os setores da

sociedade, inclusive dentro de movimentos feministas. Como trabalhado pela autora, o

racismo não era exclusivo do patriarcado, sendo as mulheres brancas, também perpetuadoras

dessa problemática. Vemos que as questões trabalhistas das mulheres brancas da época pouco,

ou quase nunca, incluíam mulheres negras em suas perspectivas, mostrando que a raça surtia

uma influencia indesejável sobre os outros fatores que as constituía na sociedade.

Outro aspecto trabalhado por Davis foi à dificuldade de acesso a educação por pessoas

negras, devido ao contexto de escravidão ainda recente dentro da sociedade estadunidense.

Reflexo direto das políticas durante o a escravidão que impedia crianças negras de ter contato

com a alfabetização. Essa proibição era mais uma das políticas veladas que pretendiam

perpetuar a lógica escravocrata, só que com uma percepção de liberdade.

Logo, a proibição e exclusão das populações pretas do meio acadêmico, podem ser

identificadas como mais uma das estratégias para restringir a mulher preta e o homem preto a

um ambiente de servidão e doméstico. Dialogando com as experiências de Frederick

Douglass, de Lucy Prince e de Myrtilla Miner, percebemos a luta da população negra para ter

acesso à educação. Podemos ver isso com o dado de que a maioria da população negra era

analfabeta no pós abolição e pela iniciativa de professoras brancas e pretas em fazer uma

campanha de alfabetização nos estados do sul.

Portanto, percebemos ao longo dos capítulos que a abolição, assim como exposto por

Dubois, foi mais uma abstração do que uma real mudança. Dialogando com o documentário

“13º emenda”, podemos perceber que Davis traz para os debates da perspectiva das mulheres
pretas essas políticas e essas heranças escravocratas que visavam restringir o avanço preto.

Assim, a partir dessa perspectiva, Angela Davis mostra como o sistema apesar de ter assinado

uma abolição, continua, de forma velada, querendo manter os pretos longe de sua

emancipação. Dessa forma, conseguimos identificar criticas aos setores brancos de classe

média, inclusive setores militantes, por sua perspectiva excludente e, por conseqüência,

racista, a partir da perspectiva de mulher preta marxista de Davis. Dentro desses fatores, que

permeiam a sociedade americana usada como objeto de análise, percebemos como a educação

é vista pela população negra como um meio para sua emancipação e por isso é tão procurado

e palco de disputa.

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