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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

ICHS – DHRI / CURSO DE HISTÓRIA


TH 554 – HISTÓRIA DO BRASIL II
PROFESSORA: ADRIANA BARRETO
DISCENTE: LETÍCIA SAMPAIO VIANA 201631022-5
TALITA BOURGUIGNON PIRES GUEDES RENOVATO 201631039-1

INTRODUÇÃO:
Compreendemos que o problema a partir do qual o livro se constrói está pautado na
relação entre a produção de uma precária liberdade diante do retorno a escravidão e
ainda como essa prática se sustentava diante de costumes que blindavam a própria
questão no período da ilegalidade.

Ressaltamos que diante do debate historiográfico e das respectivas obras que


influenciaram o autor não conseguimos enxergar quais foram, pois ele não nos deixa
explicito impossibilitando maior argumentação sobre o tema nos colocado neste
trabalho. Concluímos isso diante do exposto e também por termos analisado as
características da obra como um livro ensaístico assim como o autor nos aponta.

OBJETIVOS E HIPÓTESES:
Diante da organização das hipóteses do livro, podemos perceber que o autor se preocupa
em primeiramente apontar as fontes nas quais ele se utiliza e em seguida construir suas
hipóteses diante do debate com elas. Dentre elas, apontamos a primeira hipótese, de
acordo com o consenso do grupo não necessariamente alinhado a ordem do livro, que a
escravidão se manteve e se ampliou pelos costumes senhoriais amparados pelo Estado
mesmo diante da ilegalidade e ainda era considerada como um direito senhorial. A
segunda hipótese, ligada a lei de 1831, que acabava com o tráfico no Brasil, e o
consequente aumento dessa prática na década seguinte a sua expedição pela forma como
era fluída em seu cumprimento, apoiado pelo ímpeto por parte dos senhores em não
cumpri-la e o papel do Estado em silenciar e não ver o descumprimento da mesma na
medida em que não punia as pessoas fora da lei (tanto senhores de escravos quanto os
próprios comerciantes que realizavam o tráfico). Observamos que isso fora tão
deveramente discutido que houvera tentativa de anular a própria lei em 1837 devido a
sua ineficácia. A terceira hipótese, se insere na ótica da maleável documentação que
comprovava a compra do escravo antes de 1831, ou seja, no período da legalidade do
Tráfico. A falta de comprovação acerca da liberdade escrava influenciava diretamente a
experiência do escravo com a liberdade, uma vez que essa era lhe furtada na falta de
comprovação. A nossa quarta hipótese, está diretamente relacionada a esse assunto, uma
vez que o autor aponta essa relação conturbada para com a liberdade como uma via de
mão dupla, tal qual o escravo por vezes para fugir de uma realidade mais cruel, como
ser recrutado para marinha ou exército se dizia ainda escravo de algum senhor mesmo
sendo liberto. Dessa forma, que ausência de documentos era uma via de mão dupla, já
que influenciava tanto a favor da escravidão como em detrimento da realidade escrava.
A quinta hipótese observada pela dupla está na questão da precariedade da liberdade,
isto é, a suspeita constante de ser escravizado, pois um negro era suspeito de ser escravo
até que fosse provado. A prova de “ser escravo” ou liberto passava de obrigação
senhorial para “escrava”. A sexta e última hipótese, trata-se de que o objetivo de
Memórias Póstumas de Brás Cubas é refletir em como o tráfico africano ilegal e a
propriedade de gente escravizada refletem diretamente nas relações sociais na formação
do Estado e da Nação brasileira oitocentista.

Analisada as hipóteses, conseguimos capturar alguns dos objetivos centrais: entender o


que possibilitou a precariedade da liberdade, como os interesses senhoriais e do Estado
convergiram na manutenção da escravidão, analisar como a experiência da escravidão
influenciou nas atitudes do libertos, analisar como desde 1831 houvera uma tentativa
insistente em fazer não cumprir as leis referentes ao tráfico e posteriormente a própria
escravidão, como o tráfico se ampliou diante da ilegalidade, como os costumes
senhoriais reforçavam a prática da escravidão e ainda como o debate político a cerca da
escravidão montava um paradigma no qual forças contraditórias confluíam para
manutenção dessas práticas (nos referimos a disputas políticas entre liberais e
conservadores).

METODOLOGIA E FONTES:
A primeira fonte escolhida pela dupla fora a fala do Marquês Barbacena, no Senado
(contida Anais do Senado, 1837, sessão de 30 de junho, pp. 175-8). Apontamos que
nosso critério para escolha dela está na relação efetiva que esta proposição tivera na
modificação da lei de 1831 e em como o autor a utiliza como parte fundamental da sua
argumentação no capítulo IV, chamado “Modos de silenciar e de não ver”. E
entendemos, que esse capítulo fora um dos mais importantes para a compreensão de
como houvera no âmbito político uma espécie de “manobra”, tal qual a discussão em
secreto da modificação da lei de 1831, para que não chegasse a uma questão que poderia
causar mal estar internacional. E ainda para que não fosse a público a forma como o
Estado se impunha para manutenção do tráfico, uma vez que partes da lei proposta por
Barbacena em 1837 fora incorporada com modificações a lei de 1831. Diante desse
capítulo, norteado por essa fonte compreendemos como houvera um aparato social para
que a lei fosse discutida em âmbito mais fechado para que essa realidade não invadisse
a vida dentro da própria escravidão, isto é, dos escravos. Por isso, a escolha dessa fonte,
pois fora um ponto chave para a compreensão da dupla de como efetivamente houvera
um esforço em não enxergar e burlar a ilegalidade.

Já a segunda fonte trata-se dos dados provenientes dos livros da Casa de Detenção da
Corte (contidos no Maço IJ6-171, ANRJ) e dela nasce um novo critério. A escolha
dessa fonte se deu porque mostra como a precariedade da liberdade, conceito que o
autor trata durante todo o texto, era tão presente através da vivência dos próprios negros,
ao passo que ser negro no Brasil é ter sua liberdade o tempo todo testada, contradita e
descredibilizada. Pois, os órgãos de poder acreditavam mais numa pessoa que se dizia
escrava, mesmo não havendo provas, do que em alguém que se dizia liberto, ignorando
totalmente a premissa de presunção da inocência de um indivíduo. O autor se utiliza
dessa fonte pra mostrar na prática como a experiência de liberdade dos negros no Brasil
permaneceu constrangida pela força da escravidão, que é a ideia central da obra. A
exemplo disso está o caso de Maria Helena, uma liberta que cumpria as formalidades da
época para mudar de residência, mas no momento em que deixou em aberto sua carta de
liberdade, tudo dito anteriormente passou a ser descredibilizado pelos agentes da lei,
pautados em padrões culturais, como o modo de se vestir, o jeito de falar, para alegar
que indiscutivelmente e naturalmente que Maria Helena, ou qualquer outro negro nessa
situação, seria escrava, teria fugido e deveria ser levada para Casa de Detenção. O que
mostra que a experiência em comum que aqueles indivíduos viviam era de precariedade
da liberdade.

QUADRO TEÓRICO:
Nesse tópico, encontramos certas dificuldades, pois o autor muitas vezes não atribui a
utilização de conceitos aos seus devidos autores e nem aponta diretamente a utilização
desses conceitos os explicando. Entretanto, com uma leitura um pouco mais minuciosa
identificamos alguns deles, mas salientamos que não houvera como destacar
efetivamente de que maneira fora feita a discussão dos mesmos.

Feita essas ressalvas prosseguimos, apresentando o primeiro conceito destacado o da


“Segunda Escravidão” do Dale Tomich. Nesse ponto observamos que sua argumentação
coincide com a questão principal desse conceito que se insere em apontar o crescimento
da escravidão no século XIX e estabelecimento de uma perspectiva econômica na qual
se alimentava do sistema escravista nas regiões periféricas, principalmente, no que
tange a região cafeeira do Brasil descrevendo assim como o autor como algo lucrativo.
Sendo dessa forma, por isso uma das razões pelas quais ela se fortaleceu em algumas
regiões. E ainda, diante desse conceito, salientamos que no decorrer do texto ele não é
citado de forma explícita ou repetidas vezes, apenas uma vez e nas notas.

Outro conceito utilizado por ele é o de “Africanos Livres” da Beatriz Mamigonian.


Entretanto, assim como acima referido o autor não nos da um aparato para
compreendermos de que forma o utilizou. Ele apenas cita sem muitas delongas ou
debates. Apesar disso apresentamos a nossa compreensão a cerca desse conceito, estava
pautado em que “africanos livres” eram aqueles negros que estavam nos navios
apreendidos a partir da lei de proibição do tráfico em 1831. Ele utiliza esse conceito
para explicar como os ingleses enxergavam seu tratamento.

O autor também utiliza o conceito de “Africanos Novos”, de Robert Slenes, que serve
pra explicar em como os negros se sentiam em relação a pessoas que tinham “causas
humanitárias” na proposição de leis. Pois, mesmo que essas leis propostas fossem mais
por cunho econômico do que propriamente por preocupação com o bem-estar de negros,
tanto escravizados quanto novamente reduzidos à escravidão, havia uma espécie de
crédito e “esperança” dessas pessoas que fossem tratadas como “Africanos Novos”, ou
seja, providos de sua liberdade.

Apontamos ainda que as explicações mencionadas como a da “Segunda Escravidão”,


“Africanos Novos” e “Africanos Livres” são provenientes de uma pesquisa externa,
uma vez que o autor não explica o conceito no qual ele faz uso no texto.

CONCLUSÃO:

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