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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História
Disciplina: História do Brasil Colônia – semestre letivo 2022.1
Código da disciplina: HI547
Docente: George Félix Cabral de Souza
Discente: Natally Sara Oliveira Nascimento Souza

Resumo
ALMEIDA, S. C. C. DE. Vida íntima entre senhores e escravos no Recife e na Lisboa
setecentista: três histórias, três memórias. Afro-Ásia, n. 43, 28 jan. 2011.

Primeiramente, o autor destaca que a definição de vida privada definida por G.


Duby, como "um território onde se aloja o que temos de mais precioso", não deve ser
rigidamente aplicado ao período colonial pois durante esse período não existia o limite entre
vida pública e privada como é conhecido hoje. Para escrever esse artigo, além de G. Duby,
também é utilizado ideias de Serge Gruzinski quanto ao cotidiano daquela época e Carlo
Ginzburg, quanto aos vestígios que podem ser usados para a construção da história.
Essa dificuldade em separar público e privado levou a vida íntima das pessoas
daquela época a serem divulgadas, acionando até instituições e instrumentos legais da
administração portuguesa na América e no reino. As fontes usadas para diversas pesquisas
saíram tanto de documentação eclesiástica quanto de civis. Devido a falta de diferenciação
entre público e privado, não existia reserva ao falar sobre os temas íntimos, como pode ser
visto ao longo do artigo, com a demonstração das narrativas.
Após explicar a diferença entre a atual definição de público e privado existente
durante o período colonial, o autor fala sobre a realidade vivenciada pela mulher nesse
período que independente de sua posição social ou cor devia ser reconhecida pelo nome do
marido ou dono, pois era vista como uma propriedade e devia ter sua intimidade mantida
fora das dimensões públicas. Por isso, para começar a contar as histórias das mulheres que
apareceram nos registros da documentação usada para fazer o artigo, ele explica a ligação
entre elas e os homens que aparecem em suas histórias.
Começando pela história de duas escravas da qual não se sabe o nome, que se
arrependeram de seus atos ilícitos através do missionário Gabriel Malagrida, que pregava
preocupado em retirar as mulheres do pecado da carne, levando elas a casas de
recolhimento, e isso atraiu muito escrava e prostitutas, pois elas se convertam visando ter
uma vida menos dolorosa e buscando alguém para falar em nome de seus interesses.
O segundo homem a aparecer é o Bispo de Pernambuco, Dom Frei Luis de Santa
Tereza, conhecido também como, Bispo Carmelita Descalço, que foi conhecido levar as
histórias das mulheres escravas que sofriam violência perante a justiça, porque sabia que a
lei permitia o direito de até mesmo os escravos denunciarem seus senhores se sofressem
algum tipo de violência cruel, isso, segundo a fala de Stuart Schwartz, podia forçar os
senhores a venderem seus escravos. Então ele levou a história dessas escravas perante o
conselho ultramarino pois era seu dever, "zelar pelas alma da escravas oprimidas".
Além disso, durante seus ensinamentos, haviam escravas e mulatas que segundo
ele reconheciam seu estado de pecado e se recusaram a continuar dormindo com seus
senhores, o que gerava uma reação de violência dos mesmos. Isso, segundo o autor, pode
ter sido uma estratégia para conseguir uma melhora na situação das escravas e de seus
filhos, porque era um meio de exigir casamento reconhecido perante o sagrado. As
mulheres também usavam o sexo como meio de controlar um pouco o homem, por meio da,
"abstinência para oração, dedicação a jejuns e penitências", isso também gerou bastante
represália. As duas escravas que foram citadas até aqui, usaram o pecado para mudar a
postura do senhor na relação que mantinham.
Foi isso que a mulata pertencente a Antônio de Araújo fez, ela se absteve de
relações com seu senhor e por isso sofreu diversos castigos, sua situação chegou aos
ouvidos do bispo que comprovou a situação, mas os castigos pioraram, então a escrava e
sua filha fugiram e foram acolhidas por ele. Depois disso, a denúncia feita pelo Bispo para
conseguir que as escravas fossem vendidas passou pelo conselho ultramarino, que passou
para a Mesa da Consciência e Ordem, que mostrou ser a favor das escravas, mas era
preciso justificar legitimamente.
Nessa hora que o direito do escravo era dificultado pois era preciso que alguém o
defendesse e fosse contra o seu senhor. Esse processo voltou para as mãos do conselho
ultramarino, e depois não se tem mais registros sobre o que aconteceu, mas acredita-se
que as escravas conseguiram se livrar das crueldades do seu senhor.
A segunda história fala sobre, algo que era mais proibido dentro da sociedade
colonial, a relação entre senhora e escravo, isso aconteceu entre o escravo Manuel Bonfim
e a filha de Domingos da Silva Só, que abriu uma denúncia contra seu escravo, que já
estava preso por ser mestre de ser mandingueiro, acusando-o de estuprar sua filha, além
de acusar o mesmo do aborto que ocorreu com sua filha. Por Manuel ser escravo,
propriedade de alguém, não tinha como um julgamento segundo as leis do reino para
estupro acontecer.Isso porque segundo a lei do reino, ele já devia ter sido morto, mas
escolheram denunciar, talvez por medo dele ser um feiticeiro temido e respeitado e uma
morte violenta trazer revoltas e represálias mágicas.
Ele foi julgado pela Mesa de Desembargo que se compadeceu dele, e pediu
misericórdia ao rei para livrá-lo da morte, então ele foi condenado ao cárcere perpétuo.
Porque a sentença não devia causar só medo no condenado mas também atuar como
inibidor para outros crimes futuros. Essa relação entre os dois pode ter ocorrido por conta
da solidão da mulher, que despertou uma paixão, e eles enfrentam as consequências. E
isso, segundo o autor, pode sido apagado para não deixar rastros.
A terceira história tem relação também com questões de liberdade e reescravização
além da intimidade entre casal. A carta de alforria que dava liberdade ao escravo, podia ser
emitida somente por alguém que tivesse o domínio de suas faculdades mentais, e a
reescravização era um medo desses libertos. Nessa história as escravas Josefa Maria de
Gusmão e Caetana Tereza de Gusmão foram libertadas por seu senhor, Domingos Felipe
de Gusmão, e foram enviadas com sua filha Tereza de Jesus e Gusmão, quando ela se
casou com Thomaz Vieira da Silva, que também reconheceu a liberdade delas.
Mas essa liberdade veio com um preço que era o de servir a sua senhora até a
morte, isso acontecia porque dentro da sociedade colonial, mesmo a mulher liberta ela
estava em posição inferior ao homem liberto, então elas buscavam todos os meios
possíveis para se proteger. Depois de um tempo, Tereza de Jesus acusou seu marido de
maus tratos e também, de ser levada de Pernambuco à força e sem sindicância do Bispo e
as escravas também o acusaram de ameaças físicas e psicológicas, dizendo que eram
ameaçadas de serem vendidas, mesmo sendo liberta.
Após isso, Thomaz também procurou as autoridades dizendo que não estava
satisfeito com seu casamento pois ele foi forçado pela justiça eclesiástica, provavelmente
por estupro ou sedução. Devido a situação de violência vivida pelas três, elas se aliaram
para fugir dessa situação, visto que não tinham voz na sociedade. Essa história mostra que
para a mulher a liberdade era mais difícil, porque elas sofriam, além de tortura física,
também a tortura psicóloga. O resultado dessa denúncia foi que ou a mulher escolhia voltar
para Pernambuco ou ir para uma casa de recolhimento sendo sustentada pelo marido, e
das escravas não é dito mais nada, porém o autor acredita que elas ficaram nas mãos de
sua senhora, porque estavam presas a ela até a morte.

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