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A MUDANÇA DA CONDIÇÃO FEMININA DURANTE A INQUISIÇÃO

Luis Felipe Schimith da Silva

Resumo: Esse trabalho buscou mostrar como a condição feminina mudou durante a inquisição
católica, assim como as causas e consequências que isto trouxe para a sociedade naquela época,
para a realização contei com a ajuda das pesquisas de João Davi Avelar Pires (2013), Francisco
Bettencourt (2000), Cláudio Fernandes (2021), Daniel Luciano Gevehr e Vera Lucia Trevisan
de Souza (2014) e o livro de Rose Marie Muraro (“Malleus Malleficarum: o martelo das
feiticeiras”, 1484) após a pesquisa conclui que durante os seis séculos em que houve a
inquisição (XIII-XIX), as mulheres foram o principal alvo da inquisição católica, sendo
acusadas constantemente de bruxaria, passando pelo interrogatório, sofrendo torturas físicas e
psicológicas, e posteriormente o auto-de-fé, onde eram queimadas em lugares públicos em
feriados ou dias santos, como exemplo para “outras” como ela.
Palavras-Chave: Inquisição; Feitiçaria; Tortura; Condição feminina na Idade Média; Bruxaria.

Abstract: This work sought to show how the female condition changed during the Catholic
Inquisition, as well as the causes and consequences that this brought to society at that time, for
the realization I counted with the help of the researches of João Davi Avelar Pires (2013),
Francisco Bettencourt (2000), Cláudio Fernandes (2021), Daniel Luciano Gevehr and Vera
Lucia Trevisan de Souza (2014) and the book by Rose Marie Muraro ("Malleus Malleficarum
: the hammer of the sorceresses", 1484) after the research concludes that during the six centuries
in which there was the Inquisition (XIII-XIX), women were the main target of the Catholic
Inquisition, being constantly accused of witchcraft, undergoing interrogation, suffering
physical and psychological torture, and later the self-faith, where they were burned in public
places on holidays or holy days , as an example for "others" like her.
Keywords: Inquisition; Sorcery; Torture; Female condition in the Middle Ages; witchcraft.

INTRODUÇÃO

Deste antigamente as mulheres foram alvo de preconceito por parte dos homens, porém
durante a idade média, a inquisição católica começou a praticar além do preconceito, atos de
violência e de injustiça, jugando-as e acusando sem as devidas evidências, apenas por estarem
céticos em acreditar estar fazendo isso em nome de Deus.
Neste trabalho, eu parti do pressuposto de que as mulheres foram as principais afetadas
pela inquisição católica que se estendeu por 4 séculos, mostrando como foi mudado a forma de
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Luis Felipe Schimith da Silva – Aluno do 2º Automação – ETEC Prof. Armando Bayeux da Silva, Av. 5,
445 - Centro, Rio Claro - SP, 13500-380. E-mail: schimith160@gmail.com
tratamento e como foi instituída a condição feminina na época, assim como mostrar como as
mulheres eram mal vistas pelos homens, sendo sua única serventia a procriação e a realização
de tarefas de casa, muitas vezes nem isso era aceito, pois, a mulher passou a ser vista como a
primeira e maior pecadora, a origem de todas as ações nocivas ao homem, à natureza e aos
animais (MALLEUS, 1484).
E para afirmar isso, temos esta citação de Daniel Luciano Gevehr e Vera Lucia Trevisan
de Souza:
Esse olhar teológico-machista se conservou por toda a Idade Média e,
mesmo com a chegada do Renascimento, no contexto das descobertas
científicas, na sociedade, continuavam arraigados os preconceitos
medievais cristãos. O mundo e o universo ainda continuaram por muito
tempo sendo interpretados a partir de Deus e da Bíblia. No Medievo, a
figura feminina foi muito discriminada pelo homem e por algumas
instituições como a Igreja. Na época, a identidade do pecado original,
principalmente na história do cristianismo, pesou para a mulher até o
século XVIII, conferindo-lhe um grau de inferioridade (GEVERH;
SOUZA, 2014, p. 115).

1. Contexto da Inquisição Católica


1.1. Crescimento do poder da Igreja
A partir do século XIII, o feudalismo foi obrigado a centralizar o poder, para se manter
e organizar, e, a Igreja Católica foi importante para essa centralização do poder, e de acordo
com Rose Marie Muraro (MALLEUS, p. 14), o fizeram através dos tribunais da Inquisição, que
varreram a Europa, torturando e assassinando em massa aqueles que eram julgados hereges ou
bruxos.
E considerando isso temos que: “em alguns países seus tribunais eram utilizados como
um braço do estado e do governante” (PIRES, 2013, p. 5), nos mostrando quanto poder a igreja
detinha, portanto podemos dizer que a igreja tinha permissão de atuar por seus próprios meios,
afim de cumprir seu dever, porem apenas em 1215 no “IV Concílio de Latrão” quando o papa
Inocêncio III (1161-1216) aprovou um decreto contra as heresias, começou-se a inquisição por
parte da igreja que buscava acabar com todas as formas de heresia em nome de Deus.
1.2. Criações da Igreja
Com este poder obtido pela igreja, ela começou a criar artifícios para manter sua
hegemonia e com isso seu poder. Com isso, após o “IV Concilio de Latrão”, um sacerdote
espanhol chamado São Domingos de Gusmão criou a Ordem Dominicana, que tinha a violência
como principal meio para manter a hegemonia da Igreja.
Outro ponto de destaque foi a criação do “Édito de Pádua” pelo papa Gregório IX (1145-
1241), que instituiu a pena de morte na fogueira para hereges.

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E por fim em 1252 o papa Inocêncio IV (1195-1254) institucionalizou a inquisição como
um tribunal em que não só os hereges seriam punidos, mas os seus cumplices também, sendo
os interrogatórios acompanhados de tortura e após isso provavelmente a pessoa seria morta,
principalmente pela fogueira em praça pública em dias festivos para aquilo servir de exemplo
para outros praticantes de heresias.

2. As mulheres e a Inquisição
2.1. O preconceito masculino e a Igreja
Os homens desde a antiguidade se consideravam melhores que as mulheres, pois na
visão deles, a mulher servia apenas para a reprodução e para cuidar dos afazeres domésticos,
porém durante a inquisição este preconceito se acentuou na forma de desconfiança e tortura.
“Já vem de tempos imemoriais a imagem negativa das mulheres na sociedade ocidental”
(GEVERH; SOUZA, 2014). Com isso elas passaram a ser perseguidas e tiveram sua condição
de geradora da vida tomada e passaram a ser tratadas como “as primeiras e maiores pecadoras,
a origem de todas as ações nocivas ao homem, à natureza e aos animais” (MALLEUS, 1484, p.
16).
[...] por serem mais fracas na mente e no corpo, não surpreende que se
entreguem com mais frequência aos atos de bruxaria. [...] a razão
natural está em que a mulher é mais carnal do que o homem, o que se
evidencia pelas suas muitas abominações carnais. E convém reconhecer
que houve uma falha na formação da primeira mulher, por ter sido ela
criada a partir de uma costela recurva [...] contrária a retidão do homem
[...] em virtude dessa falha, a mulher é animal imperfeito, sempre
decepciona e mente (MALLEUS, 1484, p. 116).
Como podemos ver neste trecho retirado de um documento da época, a sociedade era
extremamente masculina, com seus princípios e dogmas instituídos pela igreja, porém devemos
considerar que a mulher não tinha voz na sociedade e muito menos na igreja, cabendo aos
homens a função de criar, julgar e executar as leis.
2.2. Interrogatório, tortura e pena
Após serem acusadas, as mulheres eram submetidas a interrogatórios, como veremos a
seguir, haviam duas condenações/opiniões acerca da acusação de má reputação da bruxa com
base nas palavras das testemunhas e as evidencias do fato, vejamos:
[...] Alguns sustentam que se a acusada é de má reputação notória, e
paira sobre ela grave suspeita em virtude de evidência e inequívoca do
crime; e se ela própria é em si grande fonte de perigo, por ser líder de
outras bruxas, então pode-se prometer-lhe a vida sob as condições
seguintes: que seja condenada à prisão perpétua, pão e água, desde que
forneça evidência que leve à condenação de outras bruxas. E não se
dirá, ao prometer-lhe a vida, que será aprisionada dessa forma; que se
deixe a acusada imaginar que alguma outra pena, como o exílio, lhe será
imposta como castigo. [...] Outros pensam que, depois de ter sido
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condenada à prisão perpétua, a promessa de poupar-lhe a vida deve ser
mantida por algum tempo, mas que depois seja queimada (MALLEUS,
1484, p. 432).
Como dito acima, há duas condenações/opiniões acerca da pena da bruxa que serão
listadas a seguir:

• Na primeira, temos que deve ser prometido a vida a bruxa, caso confessasse ou
entregasse evidências que levassem à condenação de outras bruxas, após isso,
ela seria presa perpetuamente;
• Na segunda se diverge da primeira no sentido que após ser condenada ela ainda
teria sua vida poupada, porem após algum tempo a esta promessa seria quebrada
e ela seria queimada.
Podemos ver como os direitos femininos eram mínimos na época e ressaltar o grande
poder e a grande influencia que a igreja tinha nas pessoas. Além disso a ignorância por parte da
humanidade em interpretar literalmente os ensinamentos Bíblicos na época, é um ponto a se
destacar, por exemplo, neste contexto, processos biológicos como as lagrimas, que são um
processo orgânico passou a ser considerado um dom concedido por Deus, e utilizado como
método para ver se a acusada era uma bruxa ou não, sendo o não derramamento de lagrimas
durante o julgamento ou as sessões de tortura considerado um poder maléfico e a confirmação
de bruxaria como podemos ver a seguir:
[...] que repare se ela é capaz de soltar lágrimas ao ficar em sua
presença, ou quando estiver sendo torturada. Pois aprendemos tanto
pelas palavras dos velhos sábios quanto pela própria experiência que
este é sinal quase inequívoco: verifica-se que mesmo quando a acusada
é premida e exortada por conjurações solenes a derramar lágrimas, se
for de fato uma bruxa não vai chorar, não obstante assuma um aspecto
choroso e molhe as bochechas e os olhos com saliva para dar a
impressão de lacrimejamento; pelo que deve ser diligentemente
observada pelos presentes. [...]O motivo da incapacidade de derramar
lágrimas talvez esteja no fato de que a graça das lágrimas é um dos
principais dons concedidos ao penitente; pois S. Bernardo nos diz que
as lágrimas dos humildes podem penetrar os céus e conquistar o
inconquistável. Portanto, não há dúvida de que estejam desagradando
ao demônio, e que ele usa de todos os seus poderes para conte-las, para
impedir que a bruxa por fim atinja o estado de penitência (MALLEUS,
1484, p. 435).
Este trecho nos mostra tamanha ignorância da população da época em pensar que
estavam cumprindo a vontade de Deus, torturando e matando pessoas.
2.3. Condição feminina da época
Como pudemos ver a mulher durante a inquisição sofreu constante pressão física e
psicológica, constantemente temendo por sua vida, pois qualquer deslize que cometesse poderia
ser denunciada e consequentemente interrogada, torturada e queimada.
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Milhares de mulheres foram mortas durante a inquisição, não só mulheres mas homens
também em menor quantidade, porém isso nos mostra o que acontece quando uma organização
com tanto poder quanto a igreja naquela época é deixada agir livremente sem leis que possar a
limitar de fazer tais atrocidades.
Como veremos a seguir, houve uma repreensão do feminino pela igreja católica, que
matou milhares de mulheres e em seguida farei a realização de uma comparação para termos
uma base do numero de mulheres mortas:
No período que se estende do século XIII até meados do século XIX,
época da Inquisição, uma repressão sistemática do feminino foi
empreendida pela Igreja Católica. Durante estes séculos, milhares de
mulheres foram queimadas vivas em locais públicos sob a acusação de
serem bruxas e de praticarem atos demoníacos (BAIGENT; LEIGH,
2001).
De acordo com uma notícia no site BBC NEWS, “em um período de cerca de 50 anos
que começou em 1628, mais de 200 mulheres (além de cinco homens) foram queimadas na
fogueira somente em Lemgo”, uma pequena cidade alemã.
Levando isto em consideração, façamos uma comparação através de cálculos
matemáticos para obter uma média de quantas mulheres foram mortas na Itália no mesmo
período (vale ressaltar que este número não deve ser considerado como dado real, apenas uma
média para termos base de quantas mulheres morreram naquela época em uma cidade maior),
temos que, a cidade de Lemgo tem área 101Km2 e morreram cerca de 200 mulheres, com isso
temos uma media de 2 mulheres mortas por Km2, e considerando que a area da Italia é de cerca
de 301.340 Km2, multiplicando ambos temos a média de mulheres que morreram na época,
chegando em cerca de: 602.680 mulheres mortas no mesmo período, o equivalente a 1% da
população atual da Itália. (dados obtidos através do banco de dados do GOOGLE).
Além disso, acoes como o orgasmo feminino, e a ambição feminina também eram atos
cabíveis de punição como veremos abaixo, confirmando a transformação da condição feminina
durante a inquisição:
Durante três séculos, o Malleus Malleficarum foi o livro de cabeceira
dos inquisidores e esteve na banca de todos os julgamentos. Quando
cessou a caça as bruxas, no século XIX, a condição feminina haviam
sofrido grandes transformações. As mulheres tornaram-se frígidas, pois
o orgasmo era coisa do diabo e passível de punição. Ficaram reduzidas
ao âmbito doméstico, pois sua ambição também podia ser punida. Os
saberes femininos caíram na clandestinidade, e os saberes médicos,
foram assimilados pelo poder médico masculino já solidificado. As
mulheres não têm mais acesso a educação, como na Idade Média, e
passam a transmitir aos filhos valores patriarcais já então totalmente
introjetados por elas (MALLEUS, 1484, p. 16).

CONCLUSAO
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Como pudemos ver ao longo deste trabalho a condição feminina durante a inquisição
foi alterada, as mulheres foram de geradora de vidas a primeira e maior pecadora, e isso foi
passado ao longo de gerações, temos também a influência da igreja nos ideais da população,
além disso, vimos como a população da época era fria nestas questões, por acreditar estar
fazendo estas ações em nome de Deus, algumas pessoas até mesmo comemoravam a morte na
fogueira que era considerada uma forma de limpeza da alma.
Espero ter mostrado a forma com que a mulher era tratada e como a influência católica
teve vital impacto neste acontecimento, assim como demonstrar como a sociedade na época era
totalmente machista e ignorante, a ponto de considerar ações biológicas, atos divinos e cabíveis
de punição.
Encontrei dificuldades na realização do trabalho, uma vez que é a primeira vez que
realizo um trabalho neste formato, porém achei interessante a iniciativa para nos preparar para
os trabalhos universitários e o TCC que devemos realizar no próximo ano letivo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

6
PIRES, João Davi Avelar. A INQUISIÇÃO E A FEITIÇARIA: A RITUALIZAÇÃO DO
INTERROGATÓRIO E DA TORTURA. Revista História e Cultura, v. 2, p. p.560-573.
Trabalho de Conclusão de Curso (Programa de Pós-graduação em História Social) -
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. Disponível em:
https://ojs.franca.unesp.br/index.php/historiaecultura/article/view/1121/1073. Acesso em: 25
nov. 2013.
MURARO, Rose Marie. Prefácio. In: “MALLEUS MALLEFICARUM: O MARTELO DAS
FEITICEIRAS” [1484]. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1995.
GEVERH, D. L; SOUZA, V. L. AS MULHERES E A IGREJA NA IDADE MDIA:
misoginia, demonização e caça as bruxa, 2014. Disponível em:
http://www.ieduc.org.br/ojs/index.php/licenciaeacturas/article/view/38/34
BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard. A Inquisição. Imago Editora: Rio de Janeiro, 2001.
UCHOA, Pablo. “Minha antepassada foi queimada como bruxa, mas limpei seu nome 350
anos depois”. BBC World Service, 2020. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-
54784941#:~:text=Em%20um%20per%C3%ADodo%20de%20cerca,na%20fogueira%20som
ente%20em%20Lemgo.
FERNANDES, Cláudio. "Inquisição"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/inquisicao-na-idade-media.htm. Acesso em 31 de
maio de 2021.

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