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Contemporaneidade
RESUMO:
ABSTRACT:
The theme of the following article is modern witchcraft and their practice, and the
focus of this theme is going to be about female empowerment. The main objective of this
article is to understand how modern witchcraft is linked to women's empowerment in
contemporary times. To analyze how this link occurs, a qualitative exploratory research was
made using the following references: books and articles that talks about modern witchcraft,
cinematographic productions such as series and films to analyze the plot of these works and
discuss the representation of witches and their practice, and then, how it has aroused interest
in the female audience. In addition to the cited references above, we also made interviews
with women who are witchcraft practitioners.
1. INTRODUÇÃO
símbolo político de luta. É importante ressaltar que o feminismo é bastante plural e contém
diversos segmentos, o que será analisado é uma parte dele na qual a bruxaria serve de
ferramenta e inspiração para ativistas.
O objetivo geral deste artigo é compreender como a bruxaria possui vínculos com o
empoderamento feminino na contemporaneidade. Portanto, apresentaremos como a bruxaria
era vista no período europeu, e sua consolidação como um estilo de vida na sociedade,
exemplificando características e particularidades da doutrina. Sabemos que a bruxaria não é
uma religião constituída apenas por mulheres, porém o nosso recorte é investigar a associação
da religião com o empoderamento feminino e quais maneiras isso acontece.
A Idade Média foi um período da história da Europa que durou entre os séculos V e
XV, período expresso também como “Idade das trevas”. De acordo com a professora de
História Souza (2020), o cristianismo surgiu durante as transformações decorrentes da queda
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do Império Romano, uma crise em que foi questionada a situação social e política de uma
sociedade escravista, na qual o feudalismo estava em processo de estruturação. (SOUZA).
Após o decreto Edito de Milão, o cristianismo foi consagrado pela Igreja Católica, que se
tornou a instituição mais poderosa da Europa. No artigo Cristianismo e política na Idade
Média, Barros (2009) descreve a Inquisição como um movimento instaurado pela Igreja
Católica, com o objetivo de subjugar qualquer indivíduo que negasse o Catolicismo, no qual
seria excomungado e entregue às autoridades. (BARROS). Souza (2020) cita que a Europa
medieval era marcada pelas mazelas das adversidades e sentenciava mulheres pobres, viúvas
e/ou solteiras às péssimas condições de vida. (SOUZA). Muitas eram camponesas que viviam
em casebres miseráveis e sobreviviam como curandeiras, fazendo remédios naturais,
simpatias e feitiços. Nessa época, as mulheres tinham pouca voz ativa e exerciam funções
restritas apenas ao ambiente doméstico. O receio da Igreja em perder a influência sobre a
sociedade foi a base para instaurar o tribunal denominado Inquisição. O clero usava
justificativas próprias para validar suas ações de genocídio que puniam mulheres acusadas
de bruxaria.
Quando presa sob acusação de bruxaria, a mulher era mantida acorrentada à parede
por meio de um método de tortura no qual é privada do sono por semanas. O carrasco
costumava ser um padre que detinha o direito de mantê-la acordada, o que causava
alucinações que se tornava o motivo para serem consideradas bruxas. Em última etapa havia
o julgamento e a condenação de morte nas fogueiras em praças públicas, para servir de
exemplo de como a Igreja lidava com heresias. A caça às bruxas foi um dos maiores
movimentos de perseguição religiosa, cerca de 13 milhões de mulheres morreram acusadas
de magia negra, a herança desse processo é uma marca na psique difícil de ser reparada e que
continua sendo reforçada em vários lugares do mundo mesmo após o fim da inquisição.
Pactos com demônios, magia negra e sacrifícios de crianças são elementos exclusivos
das produções cinematográficas inspirados nos aspectos diabólicos que a Igreja Católica
fomentou durante a inquisição, não foi mudada a índole das bruxas, mas sim a visão que o
mundo tem delas. Segundo o autor do artigo “Identidade e processos de identificação: um
apanhado teórico”:
De acordo com a autora de Laurie Cabot: "a religião é sobre criação e, por esse
motivo, a religião deve ser a respeito da terra" (O poder da bruxa, 1992, p.32). Na bruxaria,
a terra é representada pela Deusa e as duas são consideradas a Mãe Divina de todas as coisas,
outra interpretação é a semelhança entre a mulher e a terra; é um fato biológico que as duas
repartem entre si o grande papel da maternidade. O corpo feminino é um instrumento de
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transformação e possui a capacidade de gerar e conceber uma nova vida humana, além de
produzir leite e sangrar de acordo com ciclos da lua.
Uma mulher que se torna consciente do seu ciclo e das suas energias adquire também
a consciência de um nível de vida além do visível. Ela desenvolve uma ligação
intuitiva com as energias da vida, do nascimento e da morte, e percebe a Divindade
na própria Terra e dentro dela mesma. (MIRANDA, 2017, p.108)
A bruxaria é sobre saberes ancestrais e rituais de cuidado pessoal, é uma arte
terapêutica que usa a magia para proteção e purificação, focada no estudo da força dos
elementos naturais e reconexão com o espírito divino que reside dentro dos seres humanos.
A religião é um resgate de tradições que busca alcançar a conexão espiritual e fortalecer o
poder intuitivo. Todos esses objetivos são impulsionados pelo autoconhecimento e a
reconexão com o poder interior do sagrado feminino. Dentro da bruxaria, o empoderamento
está ligado a uma consciência unificada: as mulheres recuperam sua autonomia através de
mudanças individuais que reverberam em ações coletivas.
“Basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres
sejam questionados”, (BEAUVOIR, 1949, SEGUNDO SEXO). Beauvoir é um dos símbolos
de alguns segmentos dos movimentos feministas, a francesa era ativista política, filósofa
existencialista, teórica social e feminista, e utilizava seus escritos para manifestar a
desigualdade de gêneros na sociedade. O que Simone Beauvoir ressalta na frase acima é
reflexo dos acontecimentos na época da caça às bruxas. Os clérigos buscavam responsabilizar
alguém pelas consequências que a peste negra tinha causado, dentre elas as ameaças de
descentralização do poder da Igreja.
Nos dias atuais, mulheres continuam lutando para obter autonomia sobre seus corpos,
igualdade salarial, e principalmente, a diminuição da violência sexual e física.
A verdade é que mulheres sempre foram vetadas do seu poder total. Em todos
os momentos que dispuseram mostrar sua participação na sociedade ou
empoderamento, foram recriminadas, repudiadas e punidas. Antigamente,
eram mortas nas fogueiras da inquisição, hoje são xingadas como loucas.
(VITÓRIA, 2020)
A obra “A bruxa não vai para fogueira nesse livro”, ( LOVELACE, 2018) é um
exemplo de como a imagem da bruxa vem ocupando espaço na modernidade. Diversas frases
da obra ganharam espaço nas redes sociais e em blusas comercializadas por lojas
personalizadas, como a frase: “Bruxas são mulheres que venceram o preconceito e opressão,
e deixaram sua raiva-fogo incendiarem o mundo.” (LOVELACE, 2018, p.34). Contas no
Instagram juntamente focaram no tema, o perfil “Somos as netas das bruxas” é administrado
por uma mulher intitulada negra, feminista, nordestina e bruxa. Ela fala como a luta
transcende de uma influência para uma questão de identidade, pois não pratica a bruxaria
como religião mas se identifica como bruxa por todas as suas características políticas estarem
em um campo de minoria; como a imagem da bruxa esteve durante séculos.
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Desse modo, é evidente que o vínculo entre feminismo e bruxaria não é coincidência,
ocasionalmente, mulheres feministas podem carregar outras vulnerabilidades como;
orientação sexual, classe social, raça e/ou etnia. As bruxas, sejam elas da Idade Média ou da
modernidade, representam coragem, força e rebeldia, são mulheres que buscam o resgate do
poder feminino e a igualdade entre os gêneros, agindo em conjunto com movimentos ativistas
e ampliando lutas sociais.
O uso da magia para propagação do mal e rituais de invocação a demônios são alguns
dos estereótipos relacionados a religião da bruxaria, a relação foi fortalecida através da
figuração das bruxas disseminada pelas mídias, principalmente filmes e séries. Contudo, ao
entender que a doutrina está ligada ao autoconhecimento, celebração da natureza e adoração
de Deusas, o interesse do público pelas particularidades da bruxaria aumentou. Esse foi o
caso das praticantes Emily Correia, Maria Vitoria e a Influencer Digital Fernanda Medeiros,
que veem a bruxaria como ligação direta para o empoderamento feminino na
contemporaneidade.
O cinema é uma forma comum de obter informações sobre bruxaria, visto que a
temática é popular em filmes de suspense e terror. Hereditário, lançado em 2018, dirigido
por Ari Aster e protagonizado por Toni Collette e Gabriel Bryne, apresenta as bruxas como
antagonistas dos seus familiares, reforçando que o público alimente a imagem da bruxaria
como maléfica e demoníaca. Entretanto, existem longas que retratam a bruxaria de uma
maneira mais fiel, e hoje em dia são utilizados como referencial. As Bruxas de Salém (1996)
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O filme A Bruxa, lançado em 2015, dirigido por Robert Eggers e protagonizado por
Anya Taylor Joy, é outro exemplo que evidencia a imagem das bruxas perante a sociedade
da época. A protagonista é a filha mais velha de uma família extremamente religiosa,
Thomasin, é acusada de bruxaria no momento que começa a se impor contra as vontades dos
pais e a expor suas opiniões. Tanto em A Bruxa de Salém quanto em A Bruxa, as mulheres
acusadas de bruxaria são solteiras, independentes e possuem conhecimentos medicinais.
Apesar do silenciamento e dos estereótipos criados por uma sociedade patriarcal, seja
na Idade Média ou nos dias atuais, bruxaria é sinônimo de empoderamento e fortalecimento
do poder feminino. De acordo com o artigo Conceituando Empoderamento na Perspectiva
Feminista, de Cecília M.B Sardenberg:
Na entrevista realizada com Maria Vitória, praticante de bruxaria, ela conta: “Séries
como Sabrina são importantes para pessoas que não possuem um contato com a religião e
querem conhecer mais. ” Para ela, o enredo conseguiu explorar características essenciais dos
rituais de bruxaria. Emily Correia, conta sobre a sua percepção do filme As Bruxas de Salém:
“Ele expressa em detalhes as injustiças sofridas pelas bruxas, isso incentiva as pessoas a
buscarem entender melhor e defender a causa. ”
Emily Correia recomenda a série “Luna Nera (2020)'' por possuir uma boa
representatividade acerca das mulheres bruxas. Luna Nera foi inteiramente escrita, dirigida
e protagonizada por mulheres. Uma das criadoras, Tiziana Triana, falou sobre a série numa
entrevista concedida ao Notícias da TV, por e-mail.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao estudar a história da bruxaria, é possível entender que como religião medieval, ela
correspondeu às necessidades da sua época. Suas bases foram construídas sob uma visão
campestre; plantio, caça e ciclos da natureza como plano de fundo para a sua espiritualidade.
Entretanto, o preconceito com a religião começou com a perseguição da Igreja Católica
contra todos aqueles que se opunham às suas leis. Eram consideradas bruxas mulheres idosas
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e/ou pobres com comportamentos considerados fora do padrão, aquelas que possuíam
conhecimentos medicinais ou que exerciam as funções de parteira e/ou curandeira.
REFERÊNCIAS
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