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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED


DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

Ficha para Catálogo


Artigo Final
Professor PDE/2010

Título A MÁSCARA E SUAS FACES

Autor Helena de Fátima Castanheira Facio

Escola de Atuação Escola Estadual Regente Feijo, Ensino Fundamental

Município da Escola Doutor Camargo

Núcleo Regional de Educação Maringá

Orientador José Henrique Rollo Gonçalves

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá - UEM

Área do Conhecimento/Disciplina História

Relação Interdisciplinar Arte

Público Alvo Alunos da 6ª série do Escola Estadual Regente Feijo, Ensino


Fundamental

Localização Rua Xavier da Silva, 998, Doutor Camargo – Pr.

Resumo: Trata-se de um relato de experiência que contempla a


Implementacão do Material Didático Pedagógico “A máscara e
suas faces”. A intervenção foi desenvolvida durante o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) no ano de
2010 e implementada no ano de 2011 na 6ª série ‘A’ do
período matutino, da Escola Estadual Regente Feijó Ensino
Fundamental em Doutor Camargo-PR. O assunto pesquisado
foi “A Historicidade da Arte através das Máscaras Africanas”,
com o objetivo de promover reflexões sobre a utilização e
significado das máscaras, por meio de discussões teórico-
práticas, direcionadas pelos resultados da implementação, de
acordo com a aplicação da Lei 10639/03, a partir da relação
com os conteúdos da Proposta Curricular de História. Almejou-
se a compreensão da historicidade e cultura de alguns povos
africanos em relação ao uso das máscaras, bem como a
reflexão sobre a presença africana e suas representações ao
longo da história.

Palavras-chave África; Cultura; Máscaras.


A MÁSCARA E SUAS FACES

1
Helena de Fátima Castanheira Facio
2
José Henrique Rollo Gonçalves

“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” Martin Luther King
Resumo

Trata-se de um relato de experiência que contempla a Implementacão do Material


Didático Pedagógico “A máscara e suas faces”. A intervenção foi desenvolvida
durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) no ano de 2010 e
implementada no ano de 2011 na 6ª série ‘A’ do período matutino, da Escola
Estadual Regente Feijó Ensino Fundamental em Doutor Camargo-PR. O assunto
pesquisado foi “A Historicidade da Arte através das Máscaras Africanas”, com o
objetivo de promover reflexões sobre a utilização e significado das máscaras, por
meio de discussões teóricas-práticas, direcionadas pelos resultados da
implementação, de acordo com a aplicação da Lei 10639/03, a partir da relação com
os conteúdos da Proposta Curricular de História. Almejou-se a compreensão da
historicidade e cultura de alguns povos africanos em relação ao uso das máscaras,
bem como a reflexão sobre a presença africana e suas representações ao longo da
história.

Palavras- chave: África; Cultura; Máscaras.

Abstract

This is an experience report that includes the Implementation of the didactic-


pedagogical material "The mask and its faces in history." The intervention was
developed for the Educational Development Program (EDP) in 2010 and
implemented in 2011, in 6th grade A in the morning and in the afternoon at the
Elementary State School” Regente Feijó” in Doutor Camargo-PR. The subject
studied was "The Historicity of Art through African Masks" with the objective of
promoting reflections about the use and meaning of masks, through theoretical and
practical discussions, directed by the results of implementation, according to the
application of Law 10639/03, from the relation with the contents of the Proposal of
History Course The purpose of this work was to understand the history and culture
of some African people in relation to the use of masks, as well as the reflections on
the African presence and its representations through history.

Keywords: Africa, Culture, Masks.

1
Graduada em Geografia pela FAFIJAN - PR e História pela FAFIMAM - PR; Especialização em Didática e
Metodologia de Ensino pela Unopar - PR. Professora efetiva da SEED/PR na Escola Estadual Regente Feijó em
Doutor Camargo - PR.
2
Professor/Pesquisador: Programa de Estudos de Populações-Laboratório de arqueologia, Etnologia e Etno-
História pela UEM - PR
1. Introdução

A Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003 estabelece a obrigatoriedade do ensino


da “História e Cultura Afro-brasileira e Africana” na educação básica em todo o país,
trazendo a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o assunto. (BRASIL,
2003) Torna-se importante obedecê-la principalmente para que as novas gerações
conheçam a riqueza que a cultura africana proporciona em nosso país e também
para desconstruir o desinteresse ocasionado pela visão distorcida de que a África é
somente um país paupérrimo que sofreu dominação europeia.
Para que então estudar essa temática? Ao se valorizar esse conhecimento
nas escolas procura-se conhecer e aplicar o artigo 5° da Carta Magna, o qual relata
que “Todos são iguais perante a lei, portanto não há desigualdades”. É importante
ressaltar o respeito, valorizando a diferença, assim, ao conhecer a África observar-
se-á a contribuição desse povo e seus ancestrais na literatura, arte, dança, política,
economia e no vocabulário.
A instituição escolar é o melhor local para se desenvolver essa parte da
História, pois assim, valorizar-se-á a cultura do povo africano que muito contribuiu
para a humanidade. Cabe a nós professores fazermos com que os alunos
aprendam a respeitar e exercer a cidadania, tornando-os responsáveis pelas
próprias atitudes. Neste sentido, Souza (2008) afirma que:

Abordar conteúdos que trazem para a sala de aula a história da África e do


Brasil africano é fazer cumprir nossos grandes objetivos como educadores:
levar à reflexão da diversidade étnica, gerar debates, estimular valores e
comportamentos de respeito, solidariedade e tolerância. E é também a
oportunidade de levantar a bandeira de combate ao racismo e às
discriminações que atingem em particular a população negra, afro-brasileira
e afro-descendente.

A escola hoje tem um papel de grande relevância, uma vez que contribui na
construção dos valores sociais e morais e possibilita a inserção de conhecimentos
de uma África considerada como o berço da civilização humana.
É essencial ter o olhar voltado para a História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, pois a África hoje não é referida apenas como um continente que só tinha a
oferecer negros para a escravidão, mas sim como o berço dos nossos
antepassados.
Falar da historicidade da arte através das máscaras não se trata
simplesmente de trabalhar o assunto por estar no contexto, pois, desta forma, não
traz entendimento e reflexão. Torna-se importante reconhecer a historicidade por
detrás de quem utiliza a máscara e compreender algo que não se conhece.
Segundo a simbologia, a máscara é um objeto que protege quem a carrega
sendo destinada a captar a força vital. (Portaldaarte, 2009). Para compreender
melhor essa definição e suas correlações práticas, formularam-se alguns
questionamentos direcionadores: Por que os povos usavam máscaras desde a
antiguidade? Que importância tem as máscaras para os gregos, romanos, egípcios e
africanos?
Durante a execução do projeto, verificou-se que diversas são as dificuldades
encontradas pelos professores para desenvolver o trabalho sala de aula e tornar a
aprendizagem significativa. Dentre elas, pode-se citar a elaboração e confecção das
atividades.
Segundo Paraná (2008) o professor de História precisa construir um novo
olhar sobre a história nacional/local, ressaltando a contribuição dos africanos e
afrodescendentes na constituição da nação brasileira, de forma que sugerem para a
disciplina de História, entre outros temas, o trabalho com os grandes reinos
africanos e as organizações culturais, políticas e sociais de Mali, do Congo, do
Zimbábue, do Egito, etc.
O livro didático, que é um dos instrumentos de apoio ao professor em sala de
aula, torna-se também um problema, já que a maioria traz as máscaras sem
aprofundar o assunto. Por isso buscou-se a pesquisa referente a historicidade da
arte através das máscaras africanas. Objetivava-se que o aluno se motivasse na
aprendizagem, no despertar e no resgate da historicidade, promovendo a reflexão
sobre a importância da magia das máscaras que havia e que ainda há para os
povos, ressaltando o mistério existente para quem as utilizavam.
Este artigo foi desenvolvido contendo os seguintes itens: fundamentação
teórica, histórico da elaboração do projeto, material didático de implementação na
escola, análise e discussão dos resultados e conclusão.

2. Fundamentação teórica
A educação tem passado por grandes transformações, deste modo, uma das
preocupações da escola e dos educadores é despertar o interesse dos alunos para
uma aprendizagem participativa.
As máscaras sempre marcaram presença entre os seres humanos, desde o
começo da história da humanidade. A utilização delas está relacionada a rituais e
teatros/apresentações, nos quais o corpo também era trabalhado/enfeitado.
Quando o homem passa por esta mudança, abandona o “eu” por um tempo e
passa a representar o espírito simbolizado através da máscara. O corpo transcende
a sua corporeidade e se torna testemunha de sua:

[…] existência, (é) documento vivo. A figura é o que a gente vê,


compartilhando com a imagem e a representação o significado daquilo que
o corpo emana, sendo no mundo. A figura representa a imagem do corpo ao
outro, e nessa comunicação silenciosa reinam as personas, as máscaras
sociais, a figura que a gente constrói de si para o mundo. O corpo é
efêmero, a figura é eterna ao edificar sua imagem e sua representação.
(DERDYK 1990, p.31 apud ZAMPERETTI, 2010, p.66).

Através dos tempos os grupos humanos tem deixado suas marcas de


criatividade, procurando obter diversidade nas expressões. No Egito Antigo, as
múmias recebiam máscaras adornadas com pedras preciosas. Para algumas tribos
africanas, esses objetos serviam para assegurar colheitas férteis, fator muito
importante que representava um papel sagrado na vida do indivíduo africano vindo
desde a sua infância até o momento de seu enterro. Ter quatro olhos (utilizar a
máscara) representa a capacidade de captar os reinos, o visível e invisível da
existência.
Em latim, máscara significa “persona”, definição fundamental para o
desenvolvimento do teatro com rituais dionisíacos (apresentações) das tragédias e
comédias gregas. A tradição grega atribui a invenção do teatro à Téspis, o qual criou
o conceito de “monólogo” ao se apresentar na grande Dionísica da Grécia Antiga, no
século V a.C., em Atenas, munido de máscara e vestindo uma túnica. Tanto nessa
sociedade quanto em Roma, as máscaras foram utilizadas no teatro e festivais com
finalidades artísticas. (KLINTOWITZ,1986 apud ZAMPERETTI, 2010, p.66).

Persona é a raiz da palavra personalidade. Persona é um conceito utilizado


por Carl Jung (2000) para definir uma máscara psicológica, isto é, os modos
de ser diferentes dos quais nos valemos em situações variadas em nossa
vida. A máscara serve ao ego para estabelecer contato com o mundo
exterior; é como uma forma de defesa. Jung (2002) definiu duas estruturas
complementares, dois polos presentes na personalidade adulta: a persona
ou máscara, com a função de adaptação social, e a sombra, que apresenta
símbolos de difícil aceitação pela consciência. (ZAMPERETTI, 2010).

Para Jung (1964), “o Homem moderno mantém a relação simbólica com a


máscara ainda que não a utilize como no passado, pois esta permanece no
inconsciente e demarca a presença humana no mundo.”

2.1 O teatro e as máscaras na Grécia Antiga

Na Grécia Antiga as máscaras tinham o mesmo valor de um rosto verdadeiro.


“To prosopon” (aquele diante de meus olhos) era o termo utilizado para designar
tanto o rosto quanto a máscara. Essa ideia contrasta com as nações modernas,
como aquela da psicologia freudiana, na qual a máscara é uma metáfora do eu
exterior ocultando a realidade interior. Para Oliveira (2010):

As máscaras eram parte do teatro grego desde muito antes de Ésquilo e


Aristófanes. A tradição grega atribui a invenção do teatro à Téspis. De
acordo com a história, este ator arquetípico fez sua primeira atuação da
tragédia disfarçando seu rosto com chumbo branco, antes de formalizar a
maquiagem pela utilização de verdadeiras máscaras. As evidências sobre
as máscaras nas tragédias de Ésquilo, Sófocles ou Eurípides são escassas,
advindo em sua maioria de pinturas em vasos. Aparentemente as máscaras
cobriam toda a cabeça, como um capacete.

Nesse sentido, Jenkins (1994 apud OLIVEIRA, 2010) afirma que “O tipo facial
era centrado numa expressão vazia, ao contrário das máscaras de teatro
helenísticas ou romanas. Estas máscaras representavam um tipo geral, formas
idealizadas de jovem sem barba, cidadão barbado, rei, mulher ou deus, etc”.
Mais que uma manifestação artística o teatro era para os gregos uma
instituição social, pois sua representação fazia parte das festividades cívicas que
reuniam cidadãos das cidades-Estado que as financiavam. Além disso, seus
enredos remetiam a temas da vida social e política, como os conflitos entre os
interesses da cidade-Estado e os direitos das famílias.
O teatro surgiu em Atenas no período clássico e estava inicialmente ligado à
religião. Nessa fase, as apresentações eram realizadas durante as festas em
homenagem a Dionísio, deus do vinho, da colheita e da fertilidade. Os gêneros
comédia e tragédia foram criados pelos gregos, sendo o primeiro formado por sátiras
e contestações a determinadas classes atenienses, enquanto o segundo tratava de
mitos antigos que ainda preocupavam, como as guerras e as relações entre
atenienses.

2.2 Cultura

A história da população afro-brasileira vem sendo construída a partir de


diversos fatores, sob várias óticas e atendendo a interesses que impõe determinada
forma se de divulgar os fatos históricos ao longo do tempo, pois até o modo de se
nascer tem relação com a cultura. “Esdta” é constituída, entre outros itens, por
gestos, fala, comida, vestimentas, hábitos, religião, medicina, tipos de trabalho,
modo de compreender a morte, filosofias, ensinamentos e manifestações artísticas.
O significado da palavra “cultura” pode no âmbito acadêmico se confundir
com a noção popular como algo produzido por elites. O termo pode ser
compreendido em relação com “raça”, cuja noção foi base para o pensamento
racialista surgido no final do século XIX.
Para Levi-Strauss (1940 apud SOUZA et al, 2006) cultura é “ uma reunião de
sistemas simbólicos (a linguagem, as regras matrimoniais, as relações econômicas,a
a arte, a ciência, a religião).” Souza et al (2006) complementa que

De acordo com seu pensamento, a cultura é a capacidade simbólica de


atribuir significados através dos modos de pensar, sentir, agir. Toda
sociedade ou grupo social elabora estratégias para a interiorização de
modelos culturais nos seus descendentes. É isto que garante a
conservação das crenças e valores do grupo e, principalmente a estima do
grupo por si mesma.

Em muitas culturas de origem africana o visível constitui manifestações do


invisível, por isso pode haver uma energia viva nas pedras e folhas, nos rios,
fenômenos temporais, animais e alimentos. Entre as civilizações “bantu” essa
energia denomina-se “bamba”, já para o povo “iorubá” é “axé”. As pedras e árvores
não são adoradas pela matéria que são, mas por serem sagradas, acrescidas de
significados simbólicos. Quando um objeto ou acontecimento é visto como sagrado
ele permanece o mesmo, mas passa a ser e a possuir outra força. No universo
africano e afro-brasileiro revela-se uma dimensão criadora e ancestral, uma vez que
os costumes, valores e as memórias são revividos, por exemplo, em cada cantiga,
dança, ritual e narrativas que expressam as marcas culturais.

Na Europa, de modo geral, principalmente após o século XV, pressupunha-


se que a produção artística, para ser considerada como tal,
necessariamente deveria ser executada ou por alguém dotado de
habilidades especiais ou segundo modelo de produção artística.(SOUZA et
al, 2006).

Sob esse julgamento, as produções estéticas marcadas por traços étnicos indígenas
e africanos, eram desvalorizadas e incompreendidas, permanecendo distantes dos
espaços destinados aos fenômenos artísticos, como museus, galerias de arte, salas
de concerto e afins.
Foi então a partir do século XX que a crítica da arte europeia passou a
considerar algumas produções visuais africanas como obra de arte. Entretanto,
muitos objetos de barro ou madeira foram destruídos porque a preferência foi dada
às peças que continham materiais de valor como ouro, pedras preciosas, bronze e
marfim, trabalhados segundo técnicas desconhecidas na Europa.
A expressão “arte africana” foi cunhada por pesquisadores e artistas
ocidentais no final do século XIX, designando as produções de todo o território
africano sem considerar as peculiaridades estéticas, culturais e filosóficas.
A arte é o produto simbólico que o ser humano criador realiza com intenção
determinada. O ato criador não se manifesta de modo isolado, pois é no conjunto de
relações entre artista e contexto no qual se insere que surge a necessidade e o
processo de elaboração.
Como sujeito em diálogo com o meio ambiente, ampliando sua concepção a
respeito do universo, o artista não é um iluminado que, por ser tomado por forças de
um mundo além, produz uma obra de arte imune às influências e exigências do meio
em que se insere. Fazer arte é uma das muitas maneiras que o ser humano tem de
expor seus sentimentos em relação ao mundo que o cerca.
Uma obra de arte é sintomática da cultura de seu tempo e de seu lugar,
portanto, a linguagem das máscaras só pode ser analisada em seu caráter universal
quando se está atento para conhecer o contexto histórico e sócio cultural nos quais
cada obra foi realizada.
Na África Negra a imagem e representação estão ligadas a uma mensagem
social, educativa e humana, evocando um tipo de comportamento. Muito além da
adequação ao que é real, a aparência e ao invisível, o africano se relaciona com
forças que se superam e que se referem ao destino do ser humano no consumo.
Um dos pontos em comum entre as produções africanas é o culto às origens
ancestrais e aos elementos da natureza. A máscara é a forma mais conhecida da
arte africana e constitui um processo de transformação, o qual tem um papel
sagrado em sua representação. Trata-se de um objeto com origem religiosa que
ainda hoje carrega a crença de manifestar a divindade e transmitir ao portador todo
o seu poder, pois, quando o homem cobre o rosto, sua intenção pode ser a de
preservar sua identidade. Isto é discutido por Máscara (19??) ao referir que:

Em cavernas pré-históricas, de mais ou menos 2000 anos, encontram-se


desenhos de figuras humanas que dançam com máscaras de animais. Por
que um homem há de querer assemelhar-se a um animal? A crença em
forças sobrenaturais, com domínio exclusivo dos espíritos sobre o mundo, é
comum entre os povos de cultura material (instrumentos e técnicas) pouco
elaboradas. Não conhecendo as causas reais dos fenômenos da natureza -
doença, germinação das plantas, dor, chuva, etc – e não sabendo, por isso,
como beneficiar-se deles ou contorná-los, os primitivos lhes atribuem como
causa misteriosos entes superiores.

2.3 Representatividade/ finalidade das máscaras africanas

Segundo Lindomar (2007), as máscaras são utilizadas para fins cerimoniais,


rituais e de homenagem e, embora essa prática ocorra na atualidade, é advinda de
tempos remotos. O processo de confecção na África envolve um ritual de
“purificação” no qual o confeccionador pede permissão para utilizar a matéria-prima,
em geral a madeira, e chama pelos espíritos ancestrais para que a força e o poder
sejam transferidos para a máscara e seu portador. (AGUIAR, 2009).
Há muitos tipos de máscaras identificadas por sua finalidade e também
origem/etnia. Alguns exemplos são: Dan, Senufo, Ashanti, Baule, entre outros.
A máscara da etnia “Baule”, originária da República da Costa do Marfim, país
do oeste africano, é categorizada como máscara de entretenimento, presentes em
eventos com dança. É de uso exclusivo dos homens, embora sejam inspiradas nos
dois gêneros, desde que neles haja beleza e talento para a dança. (RABELLO,
2009).
A “Ashanti” tem origem ganense, do oeste africano e se supõe que seja
inspirada na etnia de Luba. Tem por finalidade a decoração e o entretenimento,
sendo confeccionada na modernidade com miçangas. (RABELLO, 2009).
Já a “Dan”, originária da Costa do Marfim. É esculpida em madeira,
identificada pelos furos nos olhos e utilizada para entretenimento em festivais da
vila. É também máscara de corrida, usada em uma espécie de jogo no qual o
portador persegue outras pessoas e ao encostar em alguém, repassa-a para ele.
Historicamente, essas corridas treinam homens para lutar e o vencedor ganha
reconhecimento social. (RABELLO, 2009).
As máscaras zoomórficas representam diversos animais. A “Borboleta”,
pertencente a etnia “Bobo”, de origem Burkina Fasso, do oeste africano é utilizada
para cerimônias de agradecimento pela nova safra, rituais de iniciação e funerais,
objetiva afastar maus espíritos e reverenciar os deuses por seus presentes. Podem
ainda simbolizar espíritos e animais que trazem boa sorte na agricultura. (RABELLO,
2009).
Por fim, a máscara “Guro”, originária da Costa do Marfim, da etnia “Guro”.
Utilizada por sociedades secretas, são polidas e geralmente policrômicas. A
existência de chifres, totens de animais e da figura do pássaro Calao ocorrem devido
a tendência de zoomorfizar a face humana. Podem ser usadas por dançarinos nas
ruas ou guardadas em residências como objeto de adoração. (RABELLO, 2009).

3. Desenvolvimento

Este trabalho apresenta resultados da aplicação do Projeto de Pesquisa e


Intervenção Pedagógica por meio do Material Didático, ocorrida no segundo
semestre de 2011, com carga horária de 32 aulas e envolvimento dos alunos da 6ª
série ‘A’ do período Matutino, da Escola Estadual Regente Feijó Ensino
Fundamental, localizada em Doutor Camargo- PR.
Por solicitação da Secretaria de Estado da Educação, a Proposta de
Intervenção Pedagógica foi apresentada na semana pedagógica de julho de 2011 ao
diretor, à equipe pedagógica e administrativa e aos professores da escola, os quais
foram convidados a colaborar com o presente projeto. O grupo considerou o estudo
interessante, principalmente os professores de história e de artes por já trabalharem
com o tema. A proposta também foi apresentada aos alunos da 6ª série com
explanação sobre o tema e modo como seria desenvolvida, e também aos
professores do grupo de trabalho em rede (GTR), que colaboraram para a
Implementação da mesma.
Optou-se pela elaboração do material didático por compreender que serviria
como apoio para o professor no processo ensino aprendizagem e que os mesmos
poderiam acompanhar no próprio impresso (fornecido pela escola) o
desenvolvimento dos conteúdos mediante textos, atividades, questionamentos, sites
para pesquisas, livros didáticos, entre outros.
A Implementação da proposta em sala de aula partiu de questionamentos e do
levantamento prévio do que os alunos sabiam sobre máscaras, sendo instigados a
refletir e participar. Foram enumeradas no quadro as citações dos alunos e comentei
que a máscara era uma forma de expressão que esconde o rosto de quem a utiliza,
possibilitando a incorporação. Dentre as diversas respostas, destacam-se a fala da
aluna (IL), a qual definiu máscara como “algo que se coloca no rosto” e dos alunos
(C.P) e (H.D.S) que a conceituaram como “uma máscara de carnaval” e “igual a
nossa (deles) fisionomia, de quando são bons ou ruins, ou seja, que eles se
escondem atrás de máscaras”, respectivamente.
Para dar continuidade às atividades foram feitas as seguintes indagações:
Por que os gregos utilizavam máscaras no teatro?
Por que os povos de alguns reinos africanos utilizavam máscaras?
Além dos gregos e africanos, que quem mais utilizava máscaras?
Que importância tem as máscaras para os povos?
De que materiais as máscaras eram confeccionadas?
Isto abriu espaço para a dúvida da aluna (J.C.H), que disse: “Mas não são só
as máscaras africanas que vamos estudar?” Frente a esse questionamento, foi
esclarecido que estaríamos estudando alguns povos que utilizavam máscaras até
chegar às africanas.
Para dar prosseguimento ao trabalho, fez-se uma retomada do conteúdo,
retornando a Pré-história e pinturas rupestres, com a solicitação de que os alunos
observassem bem os desenhos feitos nas paredes das cavernas e refletissem sobre
o possível significado delas para aqueles homens. Enquanto estávamos somente
nos textos a participação deles não era muito expressiva, porém, ao ser divulgado o
site em que poderiam visitar a Caverna de Lascaux apenas com poucos cliques,
surgiram perguntas como: “Será mesmo professora?”
Nas outras aulas não se falava em outra coisa a não ser a visita da Caverna
de Lascaux, com visualização das pinturas e inclusive da deterioração por fungos.
Aproveitando o entusiasmo, estendi a discussão e eles entenderam então que o
homem desenhava o animal sendo abatido e usava uma máscara feita dele, pois
cria que ao sair para a caça o encontraria debilitado.
Percebi então que realmente havia aumentado o interesse pela implantação
do projeto assim, para não perder a oportunidade, foi explicado para os alunos o
conteúdo referente à Cultura Grega e o teatro. Ao estudarem e pesquisarem sobre o
teatro grego, sobre o motivo pelo qual usavam máscaras e o que estavam
encenando, ocorreu um fato interessante: os alunos de outra turma que estavam
confeccionando máscaras para o teatro grego juntamente com a professora de Arte
passaram em frente a sala e os deixaram maravilhados, pois perceberam que os
colegas tinham executado aquele trabalho. Nesse momento eu percebi que este
trabalho sobre “máscaras e suas faces” estava cada vez mais envolvente e com
crescente interesse devido ao conhecimento de que também fariam máscaras, mas
que seriam as africanas.
Por opção dos próprios alunos, cada aula e conteúdo eram registrados em
cadernos diferenciados das demais disciplinas, já que aquele era um material a ser
guardado separadamente por conter pesquisas, atividades e até mesmo desenhos
feitos por eles.
Ao trabalhar a África, fez-se uma explanação com destaque para o período
entre os séculos VIII ao XVI e para os Reinos de Mali e Gana, ressaltando que a
esse continente era habitado por povos que sabiam ler e escrever, eram
conhecedores de técnicas de produção agrícola e artística, entre outras. Este tema
aguçou ainda mais a curiosidade deles, pois por meio das explicações e pesquisas
realizadas, eles comentavam nas aulas sobre as contribuições que os africanos
trouxeram consigo quando vieram para o Brasil e diante desse entusiasmo pedi que
se dividissem em grupos e fizessem na sala de aula a abordagem da pesquisa.
Houve então aqueles que falaram sobre as vestimentas, outros que apresentaram
penteados e os demais que abordaram, entre outros temas, a alimentação. Vale
lembrar que todas as apresentações continham imagens icnográficas e os reinos
estudados.
Seguindo o plano estabelecido, foi solicitado que os educandos
pesquisassem sobre as máscaras africanas das etnias Baule, Ashanti, Dan, Bobo e
Guro. Ao realizar essa atividade eles constataram que antes mesmos de começar a
fazer a máscara há um ritual a ser cumprido. Segundo a aluna (E.C), ela percebeu o
respeito e o culto aos ancestrais, ou seja, o carinho dedicado para entrar e sair da
mata.
Após este processo, chegou a hora tão esperada por eles: Cada equipe com
materiais necessários e disponíveis (inclusive a imagem) desenvolveriam as
máscaras na capa de telha. Contamos com o apoio da professora de Arte, Gislaine
Bom, uma vez que haviam 7 equipes.
Esse trabalho superou a expectativa, pois houve a participação de 98% dos
alunos, mesmo aquele que muitas vezes não demonstrou interesse, deixou em
algum momento “sua marca”. Foi surpreendente ver passo a passo a transformação
da simples capa de telha em uma máscara e perceber no olhar e na fisionomia dos
alunos a alegria e o entusiasmo embutidos no que estavam fazendo. Isso foi notado
desde o momento de fazer papel machê até o acabamento final, que era a pintura
das máscaras.
Chegou o tão esperado dia da exposição dos trabalhos, que foi na semana da
Consciência Negra. Todos queriam ficar ao lado de suas máscaras e eu acredito
que o objetivo era mostrar a obra para os demais colegas da escola e dizer: “foi eu
quem fez!”
Contamos com a visitação dos alunos do 1º ao 5º da Escola Municipal Padre
Mateus Elias, de Doutor Camargo-PR e também da comunidade em geral.
A avaliação da aprendizagem sobre o tema foi desempenhada durante todo o
processo de implantação do projeto, por meio da observação das atividades,
pesquisas e confecção das máscaras realizadas por eles. Após discorrermos sobre
a implementação da proposta e a relevância do estudo para a aprendizagem dos
estudantes da escola pública, fez-se um relato sobre o trabalho realizado durante o
curso on-line GTR (Grupo de Trabalho em Rede), visto que este estava sendo
desenvolvido paralelamente.
O GTR consistiu de atividades em que os cursistas (professores da rede
pública dos Núcleos de Maringá, Telêmaco Borba, Pitanga e Curitiba) analisaram a
proposta de intervenção pedagógica bem como o material elaborado por mim e
contribuíram com opiniões e interações a respeito da relevância e aplicabilidade da
mesma. Como exemplo, tem-se a participação da professora (E.A. S. R), a qual diz
que: “O projeto é de suma importância, uma vez que a nossa atual legislação torna
obrigatório trabalhar o tema da Cultura Afro-Brasileira e Africana e que o tema
máscara torna-se mais fácil abordar a questão do racismo, preconceito, pois a forma
de trabalhar será agradável, despertando atenção e entusiasmo nos alunos em
aprender, interagir, opinar, enfim participar ativamente das atividades propostas,
bem como entender a cultura de um povo que ajudou a formar nossa identidade”.
Foram conduzidos discussões a respeito da temática, pedindo para que
analisassem a produção Didática – Pedagógica e considerassem toda a estrutura do
Trabalho. Assim, de acordo com (A.A.R) “a Produção Didática – Pedagógica
incentiva a importância de novas gerações em conhecer a riqueza que a Cultura
Afro-Brasileira e Africana proporcionou e ainda proporciona aos educandos tais
como a construção dos valores sociais e morais, acrescento ainda que as utilizações
de trabalhos práticos através da utilização de materiais extraídos da natureza
aprendem a respeitar e valorizar o meio ambiente”; já para (S.D): “acredito que a
proposta de reflexão lançada pelo trabalho é ótima, pois aborda o estudo sobre
cultura africana através do estudo das máscaras tornando o trabalho mais
interessante e a própria palavra máscara nos remete uma infinidade de discussões,
sendo esta proposta extremamente enriquecedora.
Estas participações, além das sugestões de atividades e dos relatos postados
pelos cursistas no Fórum “Vivenciando a Prática” contribuíram para a construção do
nosso trabalho, já que por meio desse projeto estaríamos fazendo com que os
educandos se tornassem responsáveis, pois estariam estudando o teórico e o
concreto, abordando ao mesmo tempo os valores éticos e morais.

4. Conclusão

Concluímos com esse trabalho que a estratégia de ensino utilizada nesse


projeto contribuiu para que as aulas de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
se tornassem mais atraentes e agradáveis, tanto para o professor quanto para os
alunos.
Optou-se pela Máscara e suas Faces, visando à superação dos desafios que
se apresentam na Educação Básica e assim, os alunos pertencentes à série em que
a atuação estava proposta ficaram interessados em participar, realizar as atividades,
discutir os textos e principalmente confeccionar as máscaras, mesmo que em grupo.
Essa reação também foi notada nos demais integrantes da escola, principalmente os
educandos de outras turmas, que expressavam a vontade de estudar e confeccionar
as máscaras.
Com o trabalho de intervenção pedagógica e o GTR, todos os alunos e
professores cursistas entenderam que é possível inovar para que ocorra à
assimilação do conteúdo e ensino-aprendizagem.
5. Referências

BRASIL. Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de


dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História
e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Portal do Planalto, 09 jan.
2003.Disponível em: <>. Acesso em: 22 de set. 2010.

JUNG, C. G. (Org.). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,


1964.

MÁSCARAS. In: Conhecer: dicionário enciclopédico. São Paulo: Abril S.A


Cultural e Industria, 19??). p. 457-460.

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<http://www.portaldarte.com.br/arte>. Acesso em 15 de jul. 2012.

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em:< http://corpoesociedade.blogspot.com/2010/09/entre-o-rosto-e-mascara.html>.
Acesso em: 23 de set. 2010.

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Curitiba: SEED-PR, 2008. 45p.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares nacionais


para a educação das relações étnico raciais e para o ensino de história e
cultura afro-brasileira. Curitiba: SEED.

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Internet]. 2009. Disponível em:
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SOUZA, A. L. de et al. De olho na Cultura: pontos de vistas afro-brasileiros.


Disponível em:<http://www.ceao.ufba.br/2007/livrosvideos.php>. Acesso em: 22 de
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São Paulo: Ática, 2008. Cap. 2, p. 31-45.

ZAMPERETTI, M.P. A arte e o saber de si no uso Pedagógico das máscaras –


práticas e Pesquisa na sala de aula. Revista Contrapontos, v. 10, n. 1, Jan./Abr.
2010. Disponível em:
<www6.univali.br/seer/index.php/rc/article/download/1728/1556>. Acesso em: 15 de
jul. 2012.
APÊNDICE A

Confecção das máscaras por alunos das sextas-séries


APÊNDICE B

Semana da Consciência Negra: Exposição de História e Arte

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