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Eixo Temático 4: Práticas Educativas na Formação

AS FONTES ORAIS E O CONHECIMENTO HISTÓRICO EM


SALA DE AULA: uma narrativa africana
Rayane Aparecida Castro Silva1 – ICHPO/UFU
Sara Pestana Scarparo Silva2 – ICHPO/UFU

Este trabalho tem o objetivo de descrever uma das atividades realizadas na Escola
Estadual Coronel João Martins, Ituiutaba – MG, durante o projeto Residência Pedagógica,
subprojeto História do Pontal, no ano de 2019. A atividade em questão foi o planejamento
e desenvolvimento de uma sequência didática, a fim de que os alunos compreendam que
as diversas fontes históricas, não somente a escrita, agregam valor a essa ciência.
Devemos salientar que nosso trabalho seguiu a metodologia baseada na obra de Antoni
Zabala (1998), que caracteriza a sequência didática como um conjunto de atividades com
objetivos educacionais, nos quais os estudantes e professores aprendem através de
variadas atividades metodológicas. É necessário que o professor saiba os conhecimentos
prévios dos estudantes e através desses saberes construa seu trabalho, conseguindo
conciliar pedagogicamente as três competências dessa metodologia: os saberes
conceituais, os procedimentais e os atitudinais. No qual, ele deve trabalhar os conceitos,
ensinar como fazer e saber quais atitudes quer desenvolver com o grupo.
Como já era planejado no currículo, trabalhamos com o ensino de História da
África nas turmas de sétimos anos. Nossos objetivos basearam-se em apresentar aos
estudantes o trabalho com a fonte oral e sua importância para a compreensão da história
africana.
Como já havíamos trabalhado com os estudantes as diversas fontes históricas
escritas e imagéticas, resolvemos após interesse dos próprios, que seria importante trazer
para a discussão as fontes orais. No primeiro momento, procuramos conhecer o que os
estudantes sabiam sobre a África, os resultados foram: fome, miséria, escravidão e não

1
Rayane Aparecida Castro Silva é bolsista do programa de Residência Pedagógica, subprojeto História, da
Universidade Federal de Uberlândia. ICH/UFU. rayane.castro96@hotmail.com
2
Sara Pestana Scarparo Silva é bolsista do programa de Residência Pedagógica, subprojeto História, da
Universidade Federal de Uberlândia. ICH/UFU. scarparo.sara@gmail.com
sabiam sua localização. Como a dificuldade em compreender geograficamente o lugar de
onde nossas aulas tratariam foi perceptível, fizemos uma apresentação do continente
africano e de sua extensão, com apoio do mapa Mundi atual. Logo após esse momento,
para questionar e apresentar uma outra África daquela mencionada por eles, foi solicitado
aos estudantes que copiassem um pequeno texto de nossa autoria, sobre os griôts, nesse
excerto apresentamos a importância cultural, política e social desses sujeitos e de suas
narrativas. Após o texto eles responderam algumas atividades para auxiliar nosso debate
e desenvolver a interpretação daquilo que foi escrito.
Adiante, no último momento da aula reunimos os estudantes em círculo, sentados
no chão, como os antigos griôts e contamos a eles a história do Baobá (uma árvore nativa
e sagrada da região africana). Os griôts, conforme Vansina (2010), são contadores de
história, e até na atualidade são respeitados e portadores da memória africana e fazem
isso através da oralidade. São importantes instrumentos para que possamos compreender
como as diversas sociedades africanas se formaram e até mesmo sucumbiram.
Ao longo da narrativa eles podiam intervir com questões e até complementações
dos elementos que destacávamos. Ao fim da leitura, ressaltamos como deve ser o trabalho
com as fontes orais, que elas trazem subjetividades de quem a transmite e que deve ser
analisada em suas nuances. É importante ressaltar que essas narrativas foram as
responsáveis para que possamos compreender na atualidade a história africana através do
olhar de seu próprio povo. Como produção final, foi solicitado aos discentes que
elaborassem, ali mesmo na aula, uma entrevista com as pessoas mais velhas de sua família
ou conhecidos sobre as histórias que já haviam ouvido sobre o continente africano, e
através dessas questões poderíamos compreender como é possível interpretar a oralidade.
Como resultado da atividade, na última aula tivemos algumas respostas positivas e outras
nem tanto, visto que poucos alunos trouxeram as questões respondidas.
Após essas quatro aulas, percebemos que os estudantes, no início, tiveram bastante
interesse, se levantaram, foram até o mapa Mundi tentando mostrar onde se localizava o
continente, por mais que expressassem dificuldades. Quando levamos o texto para ser
lido, questionado e utilizado para responder algumas questões teóricas, tivemos certa
resistência. No entanto, eles realizaram o trabalho. Em outro momento, no qual fizemos
o círculo para a narrativa da história, percebemos que alguns alunos não viam aquilo como
uma atividade avaliativa e nem sequer quiseram entrar na roda, entretanto isso se
caracterizou em alguns casos isolados. A maioria se sentou, ouviu, questionou e até
mesmo chamavam a atenção daqueles que, em algum momento, tumultuavam a turma. A
última atividade nos deixou apreensivas, já que eles tinham a autonomia de criar as
próprias perguntas, motivando sua individualidade e curiosidade, entretanto a grande
maioria nem se preocupou em questionar e procurar respostas.
Considerando essa sequência de quatro aulas, percebemos os resultados positivos,
que em nossa opinião, foram: eles conseguiram compreender o termo griôt e seu
importante papel na história africana através da oralidade. Entretanto, identificamos que
os estudantes têm dificuldades em compreender outras atividades que vão além de giz,
quadro e caderno. Barreira que a nosso ver, deve ser questionada a todo momento dentro
do ambiente escolar.

Referências

Livros
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Trad. Ernani Rosa. São Paulo:
Artmed, 1998.

Capítulos de livros
VANSINA, J. A tradição oral e sua metodologia. In: KI-ZERBO, Joseph(Org) História
geral da África I: metodologia e pré-história da África. São Paulo, Editora Ática/Paris:
UNESCO, 2010, Vol. 1.

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